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RBGEA
REVISTA BRASILEIRA DE
GEOLOGIA DE ENGENHARIA
E AMBIENTAL
REVISTA BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Publicação Científica da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Editor
Lázaro Valentim Zuquette – USP
Co Editor
Fernando F. Kertzman – GEOTEC
Revisores
Antonio Cendrero – Univ. da Cantabria (Espanha)
Alberto Pio Fiori - UFPR
Candido Bordeaux Rego Neto - IPUF
Clovis Gonzatti - CIENTEC
Eduardo Goulart Collares – UEMG
Emilio Velloso Barroso – UFRJ
Fabio Soares Magalhães – BVP
Fabio Taioli - USP
Frederico Garcia Sobreira - UFOP
Guido Guidicini - Geoenergia
Helena Polivanov – UFRJ
Jose Alcino Rodrigues de Carvalho – Univ. Nova de Lisboa (Portugal)
José Augusto de Lollo - UNESP
Luis de Almeida Prado Bacellar – UFOP
Luiz Nishiyama - UFU
Marcilene Dantas Ferreira - UFSCar
Marta Luzia de Souza – UEM
Newton Moreira de Souza – UnB
Oswaldo Augusto Filho – USP
Reinaldo Lorandi – UFSCar
Ricardo Vedovello – IG/SMA
Foto da Capa
Obras do Rodoanel trecho sul, nas proximidades da represa Billings.,
tirada em 08 de julho de 2008 . Fabrício Araujo Mirandola - IPT
Edição Especial
Tiragem: 2.500
ISSN 2237-4590
São Paulo/SP
Novembro/2011
Av. Prof. Almeida Prado, 532 – IPT (Prédio 11) 05508-901 - São Paulo - SP
Tel.: (11) 3767-4361 - Telefax: (11) 3719-0661 - E-mail:abge@ipt.br - Home Page: http://www.abge.com.br
CONSELHO DELIBERATIVO
Elaine Cristina de Castro, Elisabete Nascimento Rocha, Fabio Canzian da Silva, Fabrício Araújo Mirandola, Fer-
nando Facciolla Kertzman, Fernando Ximenes T. Salomão, Gerson Almeida Salviano Filho, Ivan José Delatim,
Kátia Canil, Leonardo Andrade de Souza, Luiz Antonio P. de Souza, Luiz Fernando D’Agostino, Marcelo Fis-
cher Gramani, Newton Moreira de Souza, Selma Simões de Castro.
REPRESENTANTES REGIONAIS UF
ROBERTO FERES AC
HELIENE FERREIRA DA SILVA AL
JOSÉ DUARTE ALECRIM AM
CARLOS HENRIQUE DE A.C. MEDEIROS BA
FRANCISCO SAID GONÇALVES CE
NORIS COSTA DINIZ DF
JOÃO LUIZ ARMELIN GO
MOACYR ADRIANO AUGUSTO JUNIOR MA
ARNALDO YOSO SAKAMOTO MS
KURT JOÃO ALBRECHT MT
CLAUDIO FABIAN SZLAFSZTEIN PA
MARTA LUZIA DE SOUZA PR
LUIZ GILBERTO DALL’IGNA RO
CEZAR AUGUSTO BURKERT BASTOS RS
CANDIDO BORDEAUX REGO NETO SC
JOCÉLIO CABRAL MENDONÇA TO
APRESENTAÇÃO
9 BOÇOROCAS
Ernesto Pichler (In memorian)
Sérgio N. A. de Brito
BVP Engenharia
Paulo R. C. Cella
BVP Engenharia
Rodrigo P. Figueiredo
UFOP, MG
Resumo Abstract
Discutem-se os requisitos mais importantes das vá- THE IMPORTANCE OF ENGINEERING GEOLOGY
rias etapas de estudo e projeto de empreendimentos AND GEOMECHANICS IN MINING DESIGN
em mineração. Em seguida, à luz de alguns compor-
tamentos singulares de maciços de rocha branda ou In the first part of this paper, the most important requi-
competente evidenciados durante a lavra, examinam- rements to develop a sound mining project are shortly
se aspectos teóricos e práticos no campo da geologia discussed accordingly to distinct phases of studies and
de engenharia e projeto geomecânico que explicam design. In the second part, singular mechanical beha-
tais comportamentos. Fica demonstrado que o envol- vior of either weak or competent rock masses as esta-
vimento do projetista no acompanhamento da lavra, blished in real mines are closely analyzed upon theore-
por vezes durante anos, apoiado no mapeamento ge- tical and practical aspects of engineering geology and
otécnico de detalhe e nos dados do monitoramento geotechnical design. It is shown that the mining pro-
de maciços intemperizados ou sãos acarretam adap- cess usually allows the designer to be closely involved
tações importantes no projeto inicial. O fruto disso in supervision of excavation over years in some cases,
é que soluções práticas e mais confiáveis podem ser so that detailed geotechnical mapping of large volumes
alcançadas em casos de grande complexidade ou na of weathered or fresh rock masses along with monito-
ocorrência de feições geológicas adversas, não ante- ring entail important adjustments to the initial design.
cipadas. As a result more reliable and practical solutions can be
achieved as well the designer is allowed to tackle with
Palavras-chaves: mineração, geomecânica, projeto, com- unforeseen adverse conditions or complex behavior of
plexidade geológica. geological materials.
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
Reconhecimento superficial
Estudo de volume de contenção
do local da disposição
Vale de fechamento em
Distância em relação à Pilha
solo ou rocha,
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
Rebatimento de taludes,
Controle de escoamento e erosões no topo e nos taludes, Recupera-
Controle do arranjo geométrico
ção dos ‘greides’ e revegetação, Integridade da drenagem periférica e
encontro nas encostas
Isto coloca a operação de mina em uma situa- de detalhe e das especificações técnicas finais. No
ção completamente diferente das outras atividades descomissionamento, a carga de estudo é bastante
da engenharia, onde os proprietários têm desman- variável dependendo muito das condições no final
telado suas equipes e hoje dependem quase que da lavra, do risco de contaminantes e no estado
integralmente de equipes terceirizadas. As empre- de conservação das estruturas auxiliares. Todas as
sas de mineração têm cada vez mais ampliado suas intervenções na área deverão ser restauradas para
equipes de geologia de engenharia e geotecnia tan- a condição permanente com os respectivos planos
to para acompanhar seus projetos como para dar de monitoramento. Não é intenção neste trabalho
assistência permanente a suas operações. discorrer sobre todas estas atividades. Preferimos
A fase de engenharia detalhada consiste no selecionar alguns casos históricos que ilustram de
refinamento das soluções da etapa de engenha- que maneira a geologia de engenharia e a geotec-
ria básica, na elaboração do projeto geométrico nia vêm sendo usadas em nossos projetos.
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
1.1 Caso 1 - ruptura de cunhas volumosas analítico de relaxação proposto por J. W. Bray
numa lavra subterrânea (apud. Brady e Brown, 1985, 2004) que leva em
conta a contribuição da tensão lateral na equação
A queda de grandes cunhas rochosas do teto de equilíbrio.
de um nível de desenvolvimento em uma lavra O procedimento determina a força vertical
subterrânea quando da escavação dos realces la- Pl necessária para o equilíbrio-limite, a partir de
terais, era algo inusitado. As cunhas eram altas e uma condição inicial elástica, na qual a tensão la-
estreitas, e haviam sido ancoradas com cabos de teral σHo atuante impõe um esforço horizontal Ho
aço. Até a abertura dos realces nenhuma instabi- idêntico nos dois planos da cunha. Para simpli-
lidade foi registrada. Na retroanálise das ruptu- ficação do problema, foi admitido apenas o caso
ras procurou-se avaliar a magnitude da redução mais provável em que a rigidez normal nos pla-
das tensões laterais que atuavam nos planos das nos da cunha é consideravelmente mais elevada
cunhas devido à abertura dos realces. que a rigidez tangencial - equação (1). A expres-
A mina já havia ultrapassado a profundidade são reduz-se a:
de 500 m e o fenômeno ocorreu quase no fundo
da lavra na El. -300 m, onde a tensão gravitacional
podia atingir magnitudes acima de 15 MPa.
Essa mina sempre teve a conotação de ser uma (1)
lavra em maciço com elevado estado de tensões
naturais. Ensaios de medida de tensões (domi-
nantemente induzidas), retroanálises e deduções A Figura 2 ilustra a geometria da cunha típica
de geologia estrutural, feitos entre 1990 e 1995, em de análise.
diversos estudos, apontaram coeficientes K (σh/
σv) entre 2 e 4 e um estudo sugeriu uma tensão
armazenada (‘locked in’) superior a 50 MPa. Ape-
nas como referência, o menor coeficiente sugerido
levaria facilmente a tensão horizontal para cerca
de 30 MPa, o que tornaria a queda de cunhas com
alturas de até 5-6 metros (Figura 1) uma grande
surpresa. A Figura 1 mostra uma cunha rompida.
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
A Tabela 4 mostra as combinações mais pro- as paredes da galeria chegaram a ceder por com-
váveis dos parâmetros geométricos e geomecâni- pressão e flambagem na queda de cunhas pouco
cos em jogo mais largas que o vão (Figura 3).
O Coeficiente de Equilíbrio (CE) é expresso pela
diferença entre a força virtual Pl e o peso da cunha.
Quando Pl iguala o peso do bloco, tem-se o equilí- 1.1.1 Avaliação da Perda da Capaci-
brio-limite e CE tende ao valor unitário. Valores de dade de Ancoragem dos Cabos
CE negativos ou muito baixos exigem a aplicação de
O desempenho dos cabos é afetado pela varia-
suporte. A razão Pl/W pode ser adotada como pró-
ção da tensão de confinamento no maciço. A Figura
xima do conceito de Fator de Segurança (FS), sendo
4 mostra a variação da tensão horizontal induzida
aceitáveis valores acima de FS=1,3. Na retroanálise,
na galeria da El. -240 m pela escavação dos realces
valores da razão Pl/W muito baixos (em módulo)
laterais, calculada por elementos finitos. Para um
indicam quais são as combinações mais prováveis
dos ângulos de atrito mobilizados com os ângulos campo gravitacional hidrostático a tensão horizon-
apicais e alturas medidos. A compatibilidade foi en- tal in situ seria da ordem de 18 MPa. Assumindo
contrada com adoção do σHo de 0,4 MPa. uma concentração de tensões mínima no entorno
Cerca de quatro anos depois deste estudo, fo- da galeria de duas vezes, chega-se a tensões da or-
ram feitas determinações das tensões próximas aos dem de 36 MPa previamente à abertura do realce
realces a 700 m de profundidade e o resultado en- vizinho. Observando a Figura 4, verifica-se um va-
contrado, conforme relatório interno da mina, foi lor médio para as tensões atuantes no teto da refe-
de 0,8 MPa para a menor tensão principal. A tensão rida galeria de -8,5 MPa (faixa em azul claro), o que
vertical era tão mais elevada que a horizontal que indica um desconfinamento total de 44,5 MPa.
Tabela 4 – Combinações de φ, α e altura das cunhas e valores da razão de Pl/Peso da cunha (W)
expressos como Coeficiente de Equilíbrio (CE).
Retroanálise
CE = Pl/W
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 7 – Exemplo de cálculo para definição da largura mínima da berma necessária para conter na bancada o alcan-
ce (d) da cunha instável, de alta freqüencia, e o ‘backbreak’ na berma superior (L).
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
O risco indicado em três categorias cromáticas ou também com uso de técnica de desmonte ajus-
corresponde às faixas de probabilidade estimadas tada ao padrão de compartimentação estrutural
de que rupturas potenciais possam gerar escombros do setor específico.
que excedem a largura da berma praticada na cava. No segundo caso, o risco deverá ser identi-
Esse nível de risco é mais importante porque os es- ficado no mapeamento depois do desmonte e da
combros cuja distância de lançamento ultrapassa a remoção dos blocos soltos. A solução ideal deverá
largura da berma de contenção podem atingir níveis ser definida caso a caso.
inferiores da cava com grande impacto destrutivo, É importante discutir qual faixa de probabi-
mesmo de blocos de dimensões reduzidas. lidade pode ser considerada satisfatória para a
Em um segundo nível, considerando o universo condição de operação. Em tese, qualquer ruptu-
complementar de rupturas que seriam contidas nas ra cujo lançamento excede a largura da berma é
bermas existirá blocos potencialmente instáveis no indesejável e deveria ser evitada. Porém, como
talude cuja ruptura mesmo que contida inteiramen- se sabe, se o talude for dimensionado para ‘ris-
te na largura da berma representa risco operacional co zero’, adotando-se largura de berma capaz
para o tráfego local de pessoas e equipamentos. de conter o espalhamento de qualquer ruptura
No primeiro caso, o risco pode ser reduzido potencial, a lavra certamente se tornaria inviável
com o aumento da largura da berma de contenção economicamente.
O que resta então é reconhecer nos setores de ■■ Minimizar a penetração da onda de choque
maior risco quais são os tipos de ruptura poten- no maciço da bancada, já que as instabilida-
cial que estão associados com os maiores volumes des de grande volume são mais profundas e,
de instabilidade e adotar condições operacionais por isso, mais confinadas, com maior chance
mais adequadas à situação local. As medidas pos- de preservarem o encaixe original das pare-
síveis são: des das descontinuidades e o coeficiente de
■■ Ajustar a geometria do plano de fogo de modo atrito natural. Com isso apenas os blocos mais
a reduzir o dano para uma compartimentação superficiais, de menor volume, sofrem maior
específica do maciço; abalo;
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
de cerca de 30 m no topo do talude, com volume em torno de 25-26º e reforçou a suspeita da existên-
aproximado de 360.000 m³ a serem removidos no cia de uma superfície de fraqueza pré-existente mais
prazo aproximado de 3 meses, com o objetivo de profunda, afetando a porção superior do talude e já
desacelerar o movimento, o que surtiu efeito. submetida a movimentações prévias.
As análises de estabilidade realizadas desde A deformação global do talude foi, portanto,
1996, incluindo as de suporte ao retaludamento, explicada por cisalhamento conjugado em planos
examinaram diversas configurações possíveis do de foliação com mergulho de 40-50º no topo da
talude bem como vários parâmetros de resistência cava e transferência de carga para o bloco inferior
para o filito decomposto (A4), que incorporavam do filito alterado, que se deformava ou sofria rup-
resultados de ensaios de 1998 e resultados de vá- tura localizada. Inúmeras retroanálises de rupturas
rias retroanálises de rupturas de bancadas. Ocor- na escala de duas e até três bancadas levaram à
reu sistematicamente uma tendência ao abatimento adoção de valores de resistência para a superfície
do ângulo médio de inclinação do talude global de global paralela à foliação, com c=15 kPa e φ=26,5º.
38º, com FS mais baixo, até 31º, desde 1996 até 2002. O talude de filito foi sempre considerado seco
Durante a fase operacional, FS=1,2 foram aceitos e devido ao efeito drenante que o rebaixamento da
se mostraram adequados, pois as rupturas pude- cava exercia sobre ele. A partir de certa profundi-
ram ser controladas antes de se tornarem graves. dade começou a surgir água na face do talude. Fu-
Essa tendência está associada à evolução do ros horizontais profundos foram feitos e pôde-se
Modelo Geológico, calcado inicialmente em algu- rever o modelo hidrogeológico com a descoberta
mas sondagens e depois em observações do com- de camadas permeáveis de metachert dentro do
portamento real do talude. As feições que indu- filito e que podiam reter a água. Este modelo foi
ziram a avaliação inicial da resistência mais alta então incorporado nas análises.
foram intercalações de filito moderadamente alte- Nessa etapa da lavra, a parede inferior da
rado e ferruginizações nos planos de foliação por cava já avançava praticamente em filito com fo-
percolação. As primeiras não se mostraram contí- liação subvertical. A interpretação do processo
nuas exceto por dois corpos e as ferruginizações global de deformação envolveu cisalhamento na
não penetravam mais que 30-40 m no maciço. foliação com mergulho médio na zona superior
Neste período a trinca aumentou de 400 para do talude e flexão da foliação na zona inferior de
500 m de extensão, mas adquiriu-se um conhe- altos ângulos de mergulho. O cisalhamento na
cimento bem mais abalizado sobre a origem dos foliação parecia empurrar o maciço na zona de
movimenros e o modelo geológico foi substancial- inflexão do ângulo médio para o ângulo mais ín-
mente alterado. greme de mergulho. Por ser esta zona de inflexão
O aparecimento de deslizamentos afetando conformada em filito brando, ela não se rompeu
duas bancadas (h=30 m) condicionados por superfí- subitamente e evoluiu por ruptura progressiva da
cies espelhadas assinala pela primeira vez a possibi- massa na zona inferior do talude.
lidade de resistências bem mais baixas na escala das A Figura 10 mostra as principais característi-
dezenas de metros, com o ângulo de atrito avaliado cas geológicas da cava.
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
O modelo final idealizado da deformação do talude no filito alterado é sintetizado na Figura 11.
Este modelo foi adaptado de Baczynski (2000), O talude foi então objeto de um novo di-
que considera apenas o caso de corpo rígido, não mensionamento, usando o modelo que se esta-
sujeito as grandes deformações. No caso do fili- beleceu e vem sendo retaludado para as suas
to, alterado, o comportamento é mais plástico e a dimensões finais. Como esta escavação é feita
zona de plastificação penetra paulatinamente até de cima para baixo, a parte inferior do talude
níveis mais internos na base do talude. não pôde ser conformada ainda segundo a in-
A Figura 12 ilustra o cisalhamento reverso clinação global prevista de 28º. Mas como a es-
dos planos externos da foliação em relação aos cavação tem que prosseguir, para liberação do
planos internos causado pela expansão na zona de minério, taludes provisórios localmente instá-
inflexão da foliação, na porção basal do talude. veis são adotados. Novas rupturas localizadas
A evolução do mecanismo decorre inicial- são observadas que têm permitido a confirma-
mente da transferência de carga para o pé do ta- ção do modelo.
lude em virtude do cisalhamento pela foliação na Este caso coloca em relevo um aspecto mui-
zona superior. Com aprofundamento da cava, a to peculiar da mineração: de como a evolução
concentração de tensões no pé do talude leva a gradual do conhecimento do modelo geológi-
rupturas localizadas, o que causa a transferência co e do mecanismo de deformação mediante o
gradual do excesso de tensão para zonas mais e acompanhamento sistemático da lavra ao longo
mais internas, caracterizando uma região de fra- de anos foi decisivo na busca de condições de
queza na base do talude. Pelo fato do filito se apre- segurança no momento mais crítico, quando a
sentar com consistência branda C4 e C3, a ruptura cava se aproxima de sua altura máxima. A razão
ocorre de modo progressivo. O alívio no plano de estéril-minério pôde ser bastante otimizada até
cisalhamento na foliação em razão da remoção de praticamente mais da metade do tempo de lavra
uma massa no topo com altura de apenas 20% da com a prática de talude mais íngreme, com gran-
altura total na época do aparecimento da trinca de deformação, mas mantendo a funcionalidade
explica porque ocorreu forte redução na acelera- do talude, apenas requerendo a antecipação de
ção do movimento, uma vez que a transferência uma parcela menor do ‘push back’ que fatalmen-
de carga excessiva cessou. te ocorreria mais adiante.
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
c
Rc
MATERIAL LITOLOGIA RMR Q GSI mi φ E (MPa)
(MPa)
(MPa)
HW afastado Tufo 30-40 0,21-0,64 55 60 16 0,6 49º 3.540
HW imediato Andesito 20-30 0,07-0,21 30 30 25 0,32 39,6º 528
Minério Andesito Sulfetado <20 <0,07 15 30 25 0,19 31º 315
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Importância da geologia de engenharia e geomecânica na mineração
Isto levou à utilização de suportes cedentes As análises que permitiram dimensionar este su-
(“yielding”). Foram selecionadas as cambotas com porte foram também feitas usando o PHASE 2
perfil TH com três elementos e duas juntas de (www.rocscience.com).
deslizamento, que permitem absorver deforma- O modelo computacional foi desenvolvi-
ções tanto verticais como horizontais, com um fe- do em 4 estágios: (1) aplicação da carga devi-
chamento de até 0,5m, aliviando desta maneira as da ao estado de tensão natural (gravitacional
cargas atuantes (Figura 16). e hidrostático); (2) simulação de uma condição
equivalente à escavação da frente; (3) simulação
da condição do momento de instalação das cam-
botas cedentes, 1m atrás da frente; (4) situação
final depois de uma convergência total da seção
escavada e mobilização da reação completa do
suporte.
Para representar os estágios (3) e (4), pres-
sões internas foram aplicadas à superfície de
escavação, com valores equivalentes a uma res-
trição existente à convergência do túnel, impos-
ta pela proximidade da frente de escavação. Os
valores aproximados dessas pressões foram obti-
das pelo método de convergência-rocha-suporte
implementado no programa RocSupport (versão
Figura 16 – Seção típica com cambota cedente.
3.0 (www.rocscience.com).
A Figura 17 mostra os resultados da análise,
A seção de escavação foi aumentada de modo de uma galeria de 3,3m, que com um desloca-
a permitir manter o vão necessário, após as defor- mento radial de ~15cm levou a uma seção final
mações de cedência. As análises consideraram a de ~3m, como desejado, sem ruptura das cambo-
seção sem “invert” e com ele, rígido ou cedente. tas (cor azul).
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
O caso da mina no Peru, com a intensa defor- seção de alteamento de uma barragem de rejeitos
mação induzida pela lavra subterrânea no maciço possa ser modificada ou não, a depender do com-
de baixa qualidade sobreposto aos realces, ilustra portamento observado da estrutura inicial.
o desencadeamento do fenômeno de “squeezing”
em nível pouco profundo, uma situação oposta ao
maciço competente e elástico em ambiente de re-
Agradecimentos
laxação de tensões apresentado no Caso 1.
Aos colaboradores da BVP Engenharia, geól. Maria
Teresa Pazzini, eng. Laura Ferrari e aos ex-colabora-
2 Comentário Final dores eng. Felipe N. dos Santos, geól. Fábio Maga-
lhães, geól. João E. Tosetti e geól. Dominique Daman,
Os casos apresentados realçam uma carac- que tiveram importante participação no desenvolvi-
terística peculiar dos projetos de mineração: a de mento desses projetos.
possibilitar o envolvimento contínuo do projetista
com a gama de fenômenos que rege o comporta-
mento dos maciços durante a lavra. O acompa-
BIBLIOGRAFIA
nhamento sistemático e criterioso das escavações
Baczynski, N.R.P., 2000. STEPSIM4 Step-path meth-
propicia ganho gradual de informações que vão
od for slope risks, Geo Eng, Proc. Intern. Conference
sendo incorporadas no Modelo Geológico e Geo-
on Geotech. & Geol. Engin., Melbourne, 6.
técnico durante a operação das minas. Isso permi-
te que se façam adaptações do projeto e, quando Brady, B.H.G. & E.T. Brown, 1985 e 2004. Rock
necessário, correções de rota. Essas particularida- mechanics for underground mining, Dordrecht: Klu-
des da mineração a diferem substancialmente dos wer Academic Publishers, 628 p.
projetos de obras civis, que devem ser completa-
mente definidos na fase de engenharia detalhada, Cella, P.R.C. et al., 2008. Dimensionamento de ban-
e explicam a maior flexibilidade em trabalhar com cadas em rocha na mina de cobre do Sossego, Vale, no
margens de segurança aparentemente mais estrei- Estado do Pará, 12 Congr. Bras. Geol. Eng., ABGE,
tas nas lavras. Porto de Galinhas, 13p..
Nas obras auxiliares como barragens de re-
jeitos ou de água e diques de contenção de finos Santos, F. Neiva dos – Dissertação de Mestrado,
a semelhança com obras civis é maior, embora a em preparação, UFOP, 2011
140
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