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BOLETIM INFORMATIVO

ISSN 1981-979X
Volume 42
Número 2
Maio/agosto de 2016
www.sbcs.org.br

A biofortificação
em debate

os eventos da SBCS
Publicação editada pela Secretaria Executiva da
SBCS. Tem por objetivos esclarecer as principais
atividades da Sociedade e difundir notícias de
interesse dos associados. Os conceitos emitidos
em artigos assinados são de exclusiva respon-
sabilidade de seus autores, não refletindo,
necessariamente, a opinião da SBCS. Permite-
se a reprodução, total ou parcial, dos artigos e
reportagens, desde que seja, explicitamente,
indicada a sua origem.
O Boletim da SBCS é vendido, separadamente,
a R$20,00 mais o valor de postagem.
Disponível para download no site da SBCS.

BOLETIM INFORMATIVO SBCS


Editor-chefe: Raphael B.A Fernandes (UFV)
Co-editor:Reinaldo Bertola Cantarutti
Produção e Jornalismo: Léa Medeiros MTb
5084
Revisão: João Batista Mota
Projeto gráfico: Izabel Morais
Diagramação e capa: Victor Godoi
Foto da capa: Elpídio Inácio Fernandes Filho

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Ficha catalográfica

Boletim informativo Sociedade Brasileira de Ciência


do Solo / Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - vol.1,
n. 1 (jan./abr. 1976). - Campinas: SBCS.1976.
v.: il. (algumas col.); 26 cm.

Quadrimestral.
A partir do vol. 22, n.3 publicado em Viçosa.
ISSN a partir do vol. 32, n.3.
ISSN 1981-979X

1. Solos - Periódicos. I. Sociedade Brasileira de Ciência


do Solo.
Editorial
Caros sócios

Esta edição do Boletim Informativo da SBCS, referente ao período maio/agosto de 2016 chega
com um pequeno atraso e pedimos desculpas por isso. Um problema na edição dos artigos da seção
temática provocou o atraso e, por isso, a Comissão Editorial decidiu incluir aqui os eventos da SBCS
que aconteceram no mês de setembro. Para quem coleciona as edições ou para pesquisadores que,
no futuro, vão buscar dados sobre a história da nossa Sociedade esta é uma informação importante.
A Comissão Editorial sempre teve o zelo de pensar nesta publicação como um meio de informação,
mas também como um registro histórico importante para a memória da SBCS.
O atraso na edição nos faz pensar em outra questão. Todos nós, pesquisadores e professores
estamos sobrecarregados em nosso do dia a dia. Assumimos cada vez mais atividades necessárias
ao nosso trabalho. Mas isso não pode tirar de nós o compromisso de zelar pelo desenvolvimento
e pelo fortalecimento da nossa Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. É ela que nos representa.
É ela quem zela pela qualidade das nossas publicações e pela valorização do nosso trabalho. Com
ela somos mais fortes e fazemos mais sólida a ciência do solo no Brasil. É por isso que não cansa-
mos de repetir, neste espaço, a necessidade de nos dedicarmos aos nossos eventos, publicações e
aos nossos Núcleos Regionais e Estaduais e às nossas Comissões e Divisões Especializadas. Cada
uma destas unidades precisa nos representar para que, somadas, sejam uma sociedade científica
realmente representativa. Em meio à crise política que assola nosso país é preciso pensar com mais
carinho na nossa responsabilidade cidadã e a participação efetiva em órgãos que nos representa.
Além de escolher representantes, seja em que estância for, é preciso participar, acompanhar e fazer
nossa parte. Que a falta de tempo e excessos de atividades não nos afaste de nosso compromisso
de zelar pela nossa SBCS.
Esta edição traz as notícias deste período, com ênfase nos eventos promovidos por nossos Nú-
cleos Regionais. Estes eventos devem acontecer sempre em anos pares, quando não há o Congresso
Brasileiro de Ciência do Solo. É assim, atuando regionalmente, que a SBCS se faz presente e atuante
em todo o Brasil. Parabéns aos organizadores e diretores dos Núcleos que têm se empenhado, cada
vez mais, em promover eventos de qualidade técnica com ênfase nos problemas regionais e com
grande participação do público. Parabéns aos palestrantes, pesquisadores experientes, que se deslo-
caram de suas cidades até as cidades interioranas, aonde se realizaram os eventos, para compartilhar
suas experiências com uma audiência, composta principalmente por estudantes de todos os níveis
mas também por agricultores. Foi emocionante e gratificante ver como ficaram durante todo o even-
to discutindo temas relevantes para cada região, muita generosidade. E finalmente parabéns a audi-
ência motivada e participativa, que dará continuidade a importante tarefa de cuidar de nossos solos.
Na seção opinião, temos o tema Biofortificação de alimentos. Como sempre, o Boletim procura
abordar temas contemporâneos da Ciência do Solo e os desafios que eles impõem à pesquisa. Co-
nhecer, atualizar-se ou refletir sobre novas áreas de pesquisa, a multidisciplinaridade e as interfaces
da ciência é nossa maneira de contribuir para ajudar a resolver os problemas do país. O combate à
fome, explícita ou oculta, a desnutrição e má qualidade da alimentação é um dos exemplos do que
nossas pesquisas podem fazer pelo país.
Esperamos encontrá-los na FertBio, em Goiânia e na Reunião Brasileira de Manejo e Conservação
do Solo e da Água, em Foz do Iguaçu nos próximos meses para que possamos conversar pessoal-
mente sobre tudo o que dissemos aqui.
Uma boa leitura a todos

Fatima Maria de Souza Moreira


Presidente da SBCS
Notícias
4 UFRB concede título de Doutor Honoris
Causa ao pedólogo Paulo Klinger

CONSELHO DIRETOR 2015/2017


5 Conselho Diretor da SBCS
reúne-se em Belo Horizonte
PRESIDENTE
Fatima Maria de Souza Moreira (UFLA)

Vice-presidente
Antonio Rodrigues Fernandes (UFRA)
5 Takashi Kosaki
será o novo presidente da IUSS

SECRETARIA EXECUTIVA (UFV)


Secretário Geral: Reinaldo Bertola Canta-
rutti (UFV)
Secretário Adjunto: Raphael B.A Fernan-
6 Lançamentos

des (UFV)
Tesoureiro: Igor Rodrigues de Assis (UFV)

CONSELHEIROS 7 SBCS participa da Global Soil


Partnership
José Araújo Dantas (EMPARN)
Gonçalo Signorelli de Farias (IAPAR)
Flávio A. Camargo (UFRGS)
José Miguel Reichert (UFSM 8 II Amazon Soil é realizado em
Capanema

DIRETORES DAS DIVISÕES ESPECIALIZADAS

9
Divisão 1: Solo no Espaço e no Tempo XI Reunião Sul Brasileira
Lucia Helena Cunha dos Anjos (UFRRJ)
Divisão 2: Processos e Propriedades do Solo de Ciência do Solo
Dalvan José Reinert (UFSM)
Divisão 3: Uso e Manejo do Solo

11 I Reunião de Ciência do Solo


Ildegardis Bertol (UDESC)
Divisão 4: Solo, Ambiente e Sociedade do Núcleo Noroeste
Cristine Carole Muggler (UFV)

DIRETORES DOS NÚCLEOS DA SBCS


Núcleo Regional Amazônia Ocidental
(Amazônia e RR):
José Frutuoso do Vale Júnior (UFRR)
12 Reunião Nordestina de Ciência do Solo
homenageou o professor Ignácio Hernán
Salcedo
Núcleo Regional Amazônia Oriental (MA,
TO, PA, AP)
Eduardo do Valle Lima (UFRA)
Núcleo Regional Noroeste (AC e RO)
Alaerto Luiz Marcolan (Embrapa Rondônia)
Núcleo Regional Nordeste (BA, SE, AL, PB,
13 Simpósio Brasileiro de Educação em
Solos debate solos no meio urbano
PE, CE, RN, PI)
Júlio César Azevedo Nóbrega (UFRPE)
Núcleo Regional Centro-Oeste (MT, MS, GO, DF)
Milton Ferreira de Moraes (UFMT)
Núcleo Regional Leste (MG, ES, RJ)
14 XX RBMCSA reunirá especialistas
renomados das diferentes áreas de
Marcos Gervasio Pereira (UFRRJ) conservação do solo
Núcleo Estadual São Paulo (SP)
Zigomar M. Souza (Unicamp)
Núcleo Estadual do Paraná
Arnaldo Colozzi Filho (IAPAR)
Núcleo Regional Sul (RS e SC)
15 FertBio 2016
“Rumo aos novos desafios”
Vanderlei R. Silva (UFSM)

SECRETARIA DA SBCS
Cíntia Fontes
Denise Cardoso
Denise Machado

2 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


Biofortificação de alimentos:
saúde ao alcance de todos 20
opinião
24
Biofortificação de O progresso das ações de
alimentos no Brasil
biofortificação no Brasil

Por que biofortificar os


alimentos com zinco? 28
Os teores de proteína da soja e
a qualidade para a indústria 30
Integração da biofortificação
genética e agronômica de 33
culturas com selênio

Carne bovina nutritiva e mais


saudável 33

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 3


NOTÍCIAS

UFRB CONCEDE TÍTULO DE DOUTOR


HONORIS CAUSA

AO PEDÓLOGO PAULO
KLINGER
Em cerimônia realizada dia 8 de ju- profissional à pedologia dando grandes
nho, a Universidade Federal do Recôn- contribuições para o aperfeiçoamento
cavo da Bahia (UFRB) concedeu o título do Sistema Brasileiro de Classificação
Doutor Honoris Causa ao engenheiro dos Solos. Ele é também reconhecido
agrônomo Paulo Klinger Tito Jacomi- pelos colegas como o profissional que
ne. O evento contou com a presença melhor conhece a pedologia no país.
de professores, alunos de graduação e Além dessas características profissio-
pós-graduação e técnicos-administrati- nais, Paulo Klinger é também um gran-
vos da instituição, pesquisadores e ou- de incentivador do fortalecimento de
tros especialistas da área, além de fa- nossa sociedade científica.
miliares e amigos do homenageado.A À UFRB a gratidão da SBCS pelo
honraria é um reconhecimento a per- justo e honroso reconhecimento ao
sonalidades que se destacam nas ci- mérito de Paulo Klinger Tito Jacomine.
ências, nas artes ou nas relações com
Para o reitor da UFRB, Silvio So-
a sociedade e foi proposta pela Área
glia, “esse é um dia festivo para a
de Conhecimento de Ciência do Solo,
nossa instituição. Dar o título Dou-
pelo Colegiado do Programa de Pós-
tor Honoris Causa a Paulo Klinger
-Graduação em SQE e pela Direção do
significa reafirmar para todo o Brasil
CCAAB, e aprovada por unanimidade
o laço estreito e forte que a UFRB tem “Eu me sinto honrado com esse título que
pelo Conselho Universitário (CONSU-
com a ciência desse país. Conhecer servirá de estímulo para continuidade dos tra-
NI), em reunião ocorrida no dia 18 de balhos de classificação de solos iniciados ain-
essa bela história de vida pessoal e
dezembro de 2015. da na década de 1950”, disse Paulo Klinger.
profissional só nos enche de orgulho
Durante a solenidade, foi lida a car- e confirma o quão foi acertada essa
ta da atual presidente da Sociedade decisão”, disse.
Brasileira de Ciência do Solo (SBCS),
Durante a cerimônia, o professor
Fatima Moreira, em que a instituição
Joelito Rezende apresentou um re-
parabeniza a UFRB pelo título dado a
sumo da carreira do pedólogo, que
paulo Paulo Klinger. Nesta correspon-
fundamentou a concessão do título, e
dência, a presidente diz o seguinte:
frisou que a universidade se sente hon-
“A Sociedade Brasileira de Ciência do
rada ao concedê-lo. “É inquestionável
Solo (SBCS) congratula-se com a Uni-
o reconhecimento da UFRB, represen-
versidade Federal do Recôncavo da
tando a sociedade brasileira como um
Bahia pela nobre decisão de conceder
todo, a tudo que ele realizou pela Ciên-
à Paulo Klinger Tito Jacomine o título
cia do Solo no país”, afirmou.
de Doutor Honoris Causa desta insti-
tuição. Nascido no Rio de Janeiro, natural
de Fidélis, Paulo Klinger é hoje o pe-
Paulo Klinger é um dos mais atu-
dólogo com mais serviços prestados à
antes sócios da SBCS, tendo recebido,
Ciência do Solo no Brasil, tendo par-
em 2009, a Medalha Antonio Carlos
ticipado da formação de vários profis-
Moniz, honraria máxima concedida
sionais na área e contribuído significa-
pela SBCS aos que muito contribuem
tivamente para elaboração do Mapa de
para a ciência do solo no Brasil. O pro-
Solos do Brasil. ( Fonte: UFRB)
fessor Klinger dedicou toda a sua vida

4 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


NOTÍCIAS
Conselho Diretor da SBCS
reúne-se em Belo Horizonte
O Conselho Diretor da SBCS reuniu-se em, Belo Horizon-
te, dias 28 e 29 de junho, para avaliar ações e perspectivas da
Sociedade em 2016. A reunião ordinária é definida pelo Esta-
tuto e a Secretaria Executiva achou por bem que acontecesse
numa capital de fácil acesso para todos os conselheiros. A
reunião foi presidida pela professora Fatima Moreira, presi-
dente da SBCS. “Esta reunião, que já está consolidada em sua
7ª edição, tem sido o fórum de deliberações e avaliações per-
manentes nas ações administrativas e gerenciais da SBCS”,
disse o Secretário Geral, Reinaldo Cantarutti.
Durante a reunião, os conselheiros avaliaram as ações da
SBCS para as comemorações do Ano Internacional do Solo,
em 2015 e as projeções nacional e internacional que a SBCS O Conselho Diretor da SBCS é formado pelos membros da Secretaria
alcançou nos últimos anos. No cenário nacional, eles destaca- Executiva, Diretores das Divisões Especializadas, ex-presidentes e Di-
ram a ativa participação da SBCS como parceira do Tribunal retores dos Núcleos Regionais e Estaduais.
de Contas da União na realização da Conferência de Gover-
nança do Solo, em 2015. No cenário internacional, foi desta- posta da Secretária Executiva obteve o aval de todos os Coor-
cada a inserção da SBCS na Global Soil Partnership (Aliança denadores dos 12 cursos de pós-graduação em solos no Brasil.
Mundial pelo Solo) e na Alianza Sudamericana por el Suelo. Um grupo de trabalho formado pelos professores Flávio
Também foi destacada a significativa inserção que a SBCS Camargo (UFRGS), Lúcia dos Anjos (UFRRJ), Reinaldo Canta-
tem hoje na IUSS. rutti (UFV) e Júlio Nóbrega(UFRB) que deverá consolidar este
Durante a Reunião, o Conselheiro e presidente do XXXVI Fórum até o XXXVI CBCS ,em 2017, quando ocorrerá o seu
CBCS, Antonio Rodrigues, apresentou as primeiras ações primeiro encontro.
para a organização do Congresso de 2017. Ficou indicado que
os diretores das Comissões Especializadas participem ativa Avaliando a RBCS
na composição da programação científica do evento. Tam-
A Secretaria Executiva da SBCS também promoveu, dia
bém nesta reunião foi aprovada a recomposição da Secreta-
26 de junho, uma Reunião de Editores de Áreas da Revista
ria Executiva que ficou assim definida: Reinaldo Bertola Can-
Brasileira de Ciência do Solo. A reunião foi presidida pelo
tarutti (Secretário Geral), Raphael Bragança Alves Fernandes
editor José Miguel Reichert. Para ele, a reunião foi uma boa
(Secretário Adjunto) e Igor Rodrigues de Assis (Tesoureiro).
oportunidade para promover uma cuidadosa avaliação dos
resultados alcançados com a mudanças implementadas na
Fórum Nacional Permanente de revista desde 2014, que culminou com publicação exclusi-
Coordenadores de Pós-Graduação em Solos vamente em formato eletrônico e em inglês e a liberação
Um marco relevante da Reunião do Conselho foi a criação, dos artigos com em fluxo contínuo. Também foi uma opor-
no âmbito da SBCS, do Fórum Nacional Permanente de Coor- tunidade para ampliar os debates sobre as perspectivas
denadores de Programas de Pós-Graduação em Solos. A pro- para a Revista.

Takashi Kosaki será o novo presidente da IUSS


O professor da Tokyo Metropolitan University, Takashi Ko- Conselho Diretivo e adjunto do atual Presidente-Eleito,
saki, recebeu a maioria dos votos para a Presidência da União Rattan Lal que, por sua vez, será empossado como
Internacional de Ciência do Solo – IUSS – para o mandato Presidente Efetivo.
2019/2020. A posse está marcada para o dia 1º de janeiro de As regras para o processo de inscrição, seleção e votação
2017. dos candidatos foram estabelecidas pelo Comitê Eleitoral,
O Estatuto da IUSS estabelece que seu Presidente sirva formado por Roger Swift/Austrália, Jae Yang/Coreia, Donald
à Sociedade por um período de seis anos, sendo dois como Sparks/EUA, JohanBouma/Holanda e Gonçalo Farias/Brasil).
presidente eleito, outros dois como presidente efetivo e Segundo o ex-presidente da SBCS, Gonçalo Farias, o proces-
ainda mais dois como presidente anterior. Assim, Takashi so foi muito tranquilo e de alto nível para o bem da Ciência
Kosaki atuará em 2017-2018 na condição de membro do do Solo mundial.

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 5


Lançamentos
NOTÍCIAS

Atlas Global da tégias para ampliar a discussão sobre a do-pelo-centro-de-pesquisa-da-comis-


Biodiversidade do Solo perda de biodiversidade e a degrada- sao-europeia-ilustra-a-biodiversidade-
ção de ecossistemas, ao mesmo tempo -do-solo-publicacao-tem-a-participa-
em que pretende amparar o desenvol- cao-da-ufla/
vimento e a produção sustentável de
alimentos. “A relevância da publicação
está justamente no assunto, que tem Nova edição do livro
ganhado destaque nos últimos anos, Química do Solo e
em virtude da necessidade de haver Disponibilidade de
mais estudos sobre a biodiversidade Nutrientes
nos solos, já que se estima que apenas O profes-
1% das espécies de micro-organismos sor Paulo Ro-
do solo foram identificadas e relativa- berto Ernani,
mente pouco se sabe ainda sobre as- da UDESC,
pectos funcionais de todos os grupos acaba de lan-
A presidente da SBCS é a única autora brasi-
leira a participar da publicação sejam eles microscópicos ou macros- çar a segunda
cópicos, incluindo aspectos ecológi- edição do livro
cos”, disse a presidente da SBCS. `Química do
O que é a biodiversidade do solo e
qual o impacto na sociedade? Quais as Outro fato destacado pela professo- Solo e Dispo-
principais ameaças à biodiversidade do ra Fatima é que a publicação é on-line nibilidade de
solo? O que podemos fazer para preser- tem acesso livre e gratuito. Os autores Nutrientes`.A
vá-la? Essas são algumas das questões vêm de diferentes áreas de atuação, re- nova edição
abordadas pelo Atlas Global da Biodi- sultando em nove capítulos temáticos tem 256 páginas e foi atualizada e am-
versidade do Solo lançado durante a 2ª com informações atualizadas e muito pliada em relação à primeira, lançada
Assembleia do Programa ambiental da bem ilustradas. O Atlas também regis- em 2008.
Organização das Nações Unidas (Unea/ tra um agradecimento a mais de 100 O livro aborda conceitos de Quími-
ONU), em Nairobi, no dia 25 de maio. colaboradores, que enviaram informa- ca do Solo de forma simples, relacio-
ções e imagens de solos e organismos nando-os, sempre que possível, com a
O Atlas Global da Biodiversida-
característicos de diferentes partes do disponibilidade de nutrientes em solos
de do Solo (Global SoilBiodiversity
mundo. Entre os colaboradores, os pro- com predomínio de carga elétricas vari-
Atlas) é uma publicação global, cons-
fessores da UFLA Julio Neil Cassa Lou- áveis, que existem nas regiões tropicais
truída de forma coletiva e editorada
zada (DBI) e Ronald Zanetti Bonetti Filho e subtropicais do planeta. Grande parte
por cientistas de 24 instituições de
(DEN). dos dados utilizados para exemplificar
todo o mundo. Trata-se de um esfor-
ço coordenado para avaliar a vida no O Atlas inclui informações atua- as reações e os fenômenos abordados
solo, a necessidade de melhorar a lizadas, textos explicativos, imagens é originária de experimentos realizados
conservação do solo e a diversidade surpreendentes e mapas e vem sendo nos solos da região Sul do Brasil, espe-
da vida dentro dele. A publicação é do construído desde 2013, quando a pro- cialmente localizados nos estados do
Centro de Pesquisa da Comissão Euro- fessora Fátima Moreira participou de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O
peia em colaboração com a Iniciativa um workshop internacional da (GSBA), livro foi escrito com o propósito princi-
Global de Biodiversidade do Solo (Glo- na Universidade do Colorado (EUA). pal de atender as necessidades de estu-
bal Soil Biodiversity Initiative). Entre Depois desse evento, foram realiza- dantes de graduação em Agronomia e
as instituições parceiras da publicação das reuniões na Itália e França para áreas afins. Alguns tópicos, entretanto,
está a Universidade Federal de Lavras conclusão dos trabalhos.A publicação foram abordados com mais detalhes,
(UFLA) - única representante brasileira, propicia ao leitor um aprendizado inu- com o objetivo de auxiliar estudantes
tendo a professora Fatima Moreira, sitado sobre os solos e sobre as incrí- iniciais de pós-graduação em Ciência
do Departamento de Ciência do Solo veis criaturas que vivem neles. O con- do Solo.
(DCS/UFLA) e presidente da SBCS, teúdo revela os fatores que influenciam
Os conteúdos foram agrupados
como membro do comitê editorial. a distribuição dos organismos do solo,
em oito capítulos. O primeiro capítu-
como a biodiversidade do solo suporta
Fatima Moreira também é a única lo descreve a origem dos nutrientes e
a produção de alimentos, as pressões
representante brasileira no grupo sele- as formas em que eles se encontram
que afetam a vida do solo e as possíveis
to de cientistas de diversos países que no solo. No segundo capítulo, são
intervenções para preservá-lo.
compõem o Comitê Diretor da Global apresentados aspectos relacionados
Soil Biodiversity Assessment (GSBA), Acesse o Atlas em: com a constituição mineralógica do
da Global Soil Biodiversity Initiative. h t t p : / / w w w. u f l a . b r / a s - solo, com ênfase nas estruturas dos
Para ela, a publicação é uma das estra- com/2016/06/02/atlas-global-produzi- minerais de argila. No capítulo 3, é

6 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


NOTÍCIAS
demonstrada a criação de cargas elé- energia dessa ligação. No capítulo 5, bilidade de nutrientes e técnicas para
tricas no solo e a importância delas na são descritas as reações que contro- minimizar os efeitos fitotóxicos de
retenção de nutrientes, além dos tipos lam a disponibilidade de ânions, espe- íons. No capítulo 8, são abordados as-
de adsorção de íons no solo e a des- cialmente adsorção especifica e pre- pectos relacionados com a dinâmica
crição dos modelos que predizem a cipitação, bem como os fatores que da matéria orgânica e seus efeitos em
adsorção eletrostática de cátions. No afetam a energia de ligação. O sexto atributos químicos, na disponibilidade
capítulo 4, são descritas as reações capítulo aborda a solução do solo e de nutrientes e na sustentabilidade do
que controlam a disponibilidade de os fatores que afetam sua composi- solo.
cátions, com ênfase para a adsorção ção química. No capítulo 7, é descrita Mais informações com o autor pelo
eletrostática e os fatores que afetam a a acidez, sua relação com a disponi- e-mail: paulorobertoernani@gmail.com

Gonçalo Signorelli de Farias representou a SBCS no evento, em Roma

SBCS participa da Global


Soil Partnership
O ex-presidente da SBCS, Gonçalo Signorelli de Farias atuação de indivíduos e comunidades no uso sustentável do
representou a SBCS na IV Assembléia Geral da Global Soil solo. Além de medalha e diploma, o prêmio agrega a quantia
Partnership/GSP (Aliança Mundial pelo Solo/AMS), ocorrida de US$ 15.000,00, doados pelo Governo Russo.
entre os dias 23 e 25 de maio, em Roma, na sede da FAO. A Ainda segundo Gonçalo Farias, ficou definido que os pa-
participação do ex-presidente não implicou em custos para a íses representados no GSP deverão adotar o slogan “Carin-
SBCS. gofthe Planet Starts from the Ground” para a celebração do
A GSP é uma parceria interativa e voluntária, aberta a go- Dia Mundial do Solo em 2016. Assim como fez em 2015 com
vernos, organizações regionais, instituições e outras partes o estabelecimento do Ano Internacional dos Solos, a FAO de-
interessadas, criada pela Organização de Alimentação e Agri- cretou 2016 como Ano Internacional das Leguminosas. Para
cultura das Nações Unidas (FAO) em 2012 e da qual a SBCS é adequar-se a isso, a orientação é que os interessados em par-
membro desde então. ticipar incentivem debates e trabalho com o tema “Soilsand
A Assembleia aprovou o texto final das Diretrizes Volun- Pulses: Symbiosis for Life”.
tárias para o Manejo Sustentável do Solo, baseadas na Car- Para Gonçalo, a participação da SBCS na Global Soil Par-
ta de Princípios do Uso do Solo/ World Soil Charter, lançada tnership é importante porque uma sociedade científica com
pela FAO em 1982 e atualizada em 2014. O documento servirá dimensão intelectual e experiência que ela tem não pode ficar
como base para a formulação de políticas públicas para o uso à margem das grandes discussões e formulações de políticas
sustentável do solo. globais/nacionais/locais sobre o ambiente e sobre o protago-
Segundo o representante da SBCS, entre outras delibera- nismo do Solo.
ções, a Assembleia também criou o Prêmio Mundial de Solos Mais informações no site:
“Konstantyn Glinka”, uma homenagem ao grande cientista http://www.fao.org/global-soil-partnership/overview/ple-
russo, falecido em1930, e uma forma de destacar e divulgar a nary-assembly/fourth-session-2016/en/

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 7


NOTÍCIAS

II Amazon Soil
“O solo como base do sistema produti-
vo sustentável na Amazônia, proferida
pelo ex-chefe da Embrapa Amazônia

é realizado em Capanema Oriental e ex-secretário de Agricultura


do Pará, Ítalo Cláudio Falesi. A progra-
mação contou com a participação de
pesquisadores, produtores, estudan-
tes e profissionais ligados à área, lo-
cais e nacionais.
Além de palestras, houve apresen-
tação de trabalhos de trabalhos cientí-
ficos em e-posters, mesas redondas e
apresentações culturais. O Fórum “De-
safios e Oportunidades para o Desen-
volvimento do Agronegócio no Pará”,
realizado antes da abertura oficial, com
o apoio da Federação de Agricultura
do Estado do Pará, teve entrada gra-
tuita e aberta ao público, tendo como
objetivo estabelecer um diálogo entre
o meio científico/acadêmico e a cadeia
A SBCS, a Universidade Federal Ru- do o debate para o interior dos esta- produtiva.
ral da Amazônia (UFRA) e a Prefeitura dos. O II Amazon Soil foi presidido pelo Segundo os organizadores, o II
Municipal de Capanema–PA realiza- professor da UFRA, Eduardo do Valle Amazon Soil ofereceu uma programa-
ram, de 10 a 13 de agosto, o II Amazon Lima que também é o atual diretor do ção científica de elevado padrão, tra-
Soil, em Capanema , no Pará. O evento, Núcleo Regional Amazônia Oriental. A zendo importantes contribuições dos
composto do Fórum “Desafios e Opor- SBCS foi representada do evento pela palestrantes e congressistas consoli-
tunidades para o Desenvolvimento do presidente, Fatima Moreira, e pelo Se- dando-se como o maior e mais impor-
Agronegócio no Pará” e do II Encontro cretário Geral, Reinaldo Cantarutti, que tante fórum de debates e discussões
Regional de Ciência do Solo na Ama- aproveitaram o evento para promover sobre Ciência do Solo na Amazônia.
zônia Oriental, buscou a disseminação reuniões e colaborar na organização
da Ciência do Solo e o desenvolvimen- do XXXVI Congresso Brasileiro de Ci-
to sustentável da região. ência do Solo, que será realizado em
O último dia do Amazon Soil foi reservado
O encontro reuniu pesquisadores Belém do Pará, em 2016.
para as excursões técnicas: uma para a área
e estudantes dos estados do Pará, To- A abertura do II Amazon Soil ocor- de um produtor rural no município de Capi-
cantins, Amazonas e Maranhão, levan- reu no dia 10 de agosto, com a palestra tão Poço-PA, com análise de perfil de solo e
discussões sobre manejo do solo e manejo
das culturas, e outra para visitas de minas de
fosfato, no município de Bonito-PA, e calcário
no munícipio de Primavera-PA.

O encontro reuniu 280 pesquisadores e estudantes dos estados do Pará, Tocantins, Amazonas
e Maranhão

8 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


NOTÍCIAS
XI Reunião Sul Brasileira

de Ciência do Solo
A XI Reunião Sul Brasileira de Ciên-
cia do Solo (XI RSBCS) foi realizada en-
tre os 31 de agosto a 02 de setembro de
2016, marcando 20 anos de realização
das reuniões do Núcleo Regional Sul
(NRS). A reunião foi realizada na cidade
de Frederico Westphalen-RS e organi-
zada com a participação da Universida-
de Federal de Santa Maria, Universida-
de Regional Integrada do Alto Uruguai
e das Missões e pelo Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia, si-
tuadas no município de Frederico Wes-
tphalen.
O tema “Qualidade do Solo & Am- Componentes da mesa de abertura do evento
biente de Produção remeteu a reflexão
sobre o ambiente de produção: será to, com destaque para a conferência palestras, da qualidade dos palestran-
que todo o conhecimento gerado nas de abertura feita pela presidente da tes, da infraestrutura disponibilizada e
instituições de ensino e de pesquisa SBCS. Na palestra, Fatima Maria de de toda equipe de apoio que ajudaram
está sendo aplicado na busca pela qua- Souza Moreira apresentou os indi- antes e durante o evento.
lidade do solo? Será que o ambiente de cadores de qualidade dos solos nos Durante o evento também foram
produção é sustentável? ambientes de produção. Os organiza- abordados temas relacionados à Dinâ-
Estes e outros questionamentos dores também destacam a palestra na mica do Carbono no Ambiente de Pro-
propostos pela Comissão Organiza- qual o professor João Kaminski rela- dução, pelo professor Cimélio Bayer,
dora foram discutidos durante todo o tou a trajetória da Ciência do Solo no
evento que contou com 426 participan- sul do Brasil, promovendo, assim, um
resgate desta importante história da No dia da abertura do evento
tes. Destes, 32 % eram estudantes de
ciência do solo. também foi realizado o lançamento
graduação e 25 % de pós-graduação,
da nova edição do Manual de Cala-
indicando uma grande participação de Mais de 95 % dos participantes do
gem e Adubação para os Estados do
jovens pesquisadores. Foram selecio- XI RSBCS avaliaram a organização do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
nados 216 trabalhos científicos, apre- evento como bom e ótimo. A Comis-
sentados na forma de pôsteres e que se são Organizadora reconhece que este As principais atualizações reali-
encontram nos anais do evento. sucesso somente foi possível pelo es- zadas no sistema de recomendação
forço em conjunto das três instituições de calagem e adubação foram expli-
No total foram proferidas oito pa-
envolvidas, do tema abortado para as cadas pelo professor Leandro Souza
lestras relacionadas ao tema do even-
da Silva, da UFSM.

Manual de Calagem e Adubação para os


estados do Rio Grande do Sul e Santa Ca-
tarina, edição 2016, revisada e atualizada.
O evento que contou com 426 participantes

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 9


NOTÍCIAS

da UFRGS; Limites Críticos Ambientais


de Fósforo no Ambiente de Produção,
pelo professor Luciano Colpo Gatiboni,
da UDESC/Lages; Qualidade do Am-
biente de Produção, pelo professor Ed-
son Bortoluzzi,da UPF; Perdas de Solo
e Água no Ambiente de Produção, pelo
professor Jean Paolo Minella, da UFSM
e Difusão do Conhecimento para a
Qualidade do Ambiente de Produção,
pelo professor Paulo Roberto Ernani,
da UDESC.
Durante o jantar de confrater-
nização, oferecido a todos os par-
ticipantes, o Núcleo Regional Sul
homenageou dois professores e pes-
quisadores que se destacaram em sua
trajetória profissional em contribuição
à Ciência do Solo. Foram homenage-
ados os professores João Kaminski, O professor João Kaminski foi um dos homenageados durante o evento
da UFSM e Paulo Roberto Ernani, da
UDESC. geados. A homenagem é também o O evento também prestou uma
Segundo os organizadores do even- resultado da relevância das contribui- homenagem póstuma ao técnico de
to, a homenagem representa o profun- ções dos professores à inovação do laboratório Luiz Francisco Alves Fi-
do reconhecimento daqueles que con- conhecimento científico nos contextos namor (1947-2015). O profissional foi
vivem ou que tiveram a oportunidade e regional, nacional e internacional e da referência na dedicação ao trabalho
a satisfação de conviver e de aprender importância da trajetória deles no ensi- nos laboratórios de solos da UFGRS
com os ensinamentos dos homena- no acadêmico. e da UFSM.

II Competição Sul Brasileira de Identificação


de Solos
Anteriormente à XI Reunião Sul Brasileira de Ciência do Solo,
nos dias 29 e 30 de agosto, foi realizada a II Competição Sul Brasi-
leira de Identificação Solos, na UFSM, campus de Frederico Wes-
tphalen, organizadas pelo Setor de Pedologia do Departamento
de Solos da Universidade Federal de Santa Maria, com apoio do
Núcleo Regional Sul.
Segundo os organizadores, a II edição da Competição foi um
sucesso, ganhando forças para se tornar um evento oficial da
SBCS-NRS,
A primeira Competição foi organizada pelo Departamento de
Solos da UFSM, em 2015, de forma inédita na América Latina. Este
evento tem como principal objetivo estimular os alunos a prática
da Ciência do Solo, promovendo a integração entre alunos e pro-
fessores, a divulgação da Ciência do Solo e o reconhecimento dos
solos e suas relações ambientais da região sede da competição.
Inscreveram-se cinco equipes: três da Universidade Federal de
Santa Maria, duas do campus Sede, uma do campus de Frederico
Westphalen e uma da Universidade Federal de Pelotas) e uma da
Universidade da Fronteira Sul, campus de Cerro Largo. Na classifi-
cação individual, o competidor Luciano Campos Cancian ficou em
terceiro lugar. O segundo lugar ficou com competidor Nicolas Au-
gusto Rosin. O primeiro lugar ficou com Taciara Zborowski Horst,
do campus de Santa Maria.

10 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


NOTÍCIAS
I Reunião de Ciência do Solo

do Núcleo Noroeste
A organização foi encabeçada pelos
sócios Fábio Régis de Souza, Anderson
Cristian Bergamin e Jairo Rafael Macha-
do Dias, todos professores do curso de
Agronomia, da Universidade Federal de
Rondônia, campus de Rolim de Moura.
O Núcleo Noroeste da SBCS é dirigido
pelo Chefe-Geral da Embrapa Rondô-
nia, Alaerto Luiz Marcolan.
Embora seja a primeira Reunião or-
ganizada pelo Núcleo Noroeste, a equi-
pe organizadora atua desde 2012 na re-
alização de eventos na região, quando
os pesquisadores ainda pertenciam ao
Núcleo Regional Amazônia Ocidental,
atualmente composto pelos estados
Este foi a primeiro evento realizado pelo Núcleo Noroeste, criado em 2015 do Amazonas e de Roraima. Em 2012,
o evento foi realizado em Humaitá-AM,
A I Reunião de Ciência do Solo do priedades e potencialidades. Segundo e, em 2014, em Porto Velho, então de-
Núcleo Noroeste da SBCS foi realizada os organizadores, o evento reuniu mais nominados como I e II Reuniões de Ci-
entre os dias 13 a 16 de setembro, na 300 pessoas, entre estudantes de Agro- ência do Solo da Amazônia Ocidental.
Faculdade de Rolim de Moura - FAROL. nomia e Engenharia Florestal, profes- O local da próxima Reunião ainda
O evento é promovido pelo Núcleo Re- sores, produtores rurais, consultores e não foi definido. Segundo o diretor Ala-
gional Noroeste da SBCS que abran- outros profissionais interessados. erto Marcolan, “as Reuniões Regionais
ge os estados do Acre e Rondônia. A O evento contou com 19 palestras são importantes porque tornam acessí-
Secretaria Executiva da SBCS foi re- de profissionais da região e de outros veis palestrantes renomados para regi-
presentada pela presidente da SBCS, estados, entre pesquisadores, profes- ões onde, normalmente, não ocorrem
Fátima Moreira, que também foi pales- sores e consultores, além de apresen- grandes eventos, promovendo a troca
trante. tação de trabalhos na forma de banner de conhecimento e o interesse pela Ci-
A ideia é que a Reunião seja pro- e oral. Foram recebidos 98 trabalhos na ência do Solo.”
movida a cada dois anos para reunir forma de resumo expandido. Além dos Para acessar os anais, visite o site
profissionais e cientistas ligados às Ci- anais, que já estão disponíveis no site do evento:
ências Agrárias, em especial à Ciência do evento, os organizadores também https://sites.google.com/a/unir.br/i-
do Solo. Este ano, a Reunião teve como planejam elaborar um livro com pales- -reuniao-de-ciencia-do-solo-do-nucleo-
tema: Solos no Noroeste do Brasil: pro- tras que foram apresentadas. -noroeste/palestras

O evento reuniu mais 300 pessoas divulgando a Ciência do Solo no A SBCS foi representada pela presidente da SBCS, Fatima Moreira,
Acre e Rondônia que também foi palestrante

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 11


NOTÍCIAS

Reunião Nordestina de Ciência do Solo


homenageou o professor Ignácio Hernán Salcedo
O Núcleo Regional Nordeste da SBCS promoveu, de 12 a
15 de setembro, na Universidade Tiradentes, em Aracaju, a III
Reunião Nordestina de Ciência do Solo (III RNCS). O evento
teve como tema central a “Integração e uso do conhecimento
para uma agricultura sustentável no Nordeste” e foi realizado
em parceria com a Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju,
SE) e a Embrapa Solos – UEP Nordeste (Recife, PE).
A Reunião contou com mais de 250 participantes entre
pesquisadores, professores e estudantes, além de 290 traba-
lhos inscritos. A abertura ocorreu na manhã do dia 12 e con-
tou com a presença do chefe-geral da Embrapa Tabuleiros
Costeiros, Manoel Moacir Macedo, do chefe-adjunto de Pes-
quisa e Desenvolvimento da Embrapa Tabuleiros Costeiros, A Reunião contou com mais de 250 participantes entre pesquisadores,
Marcelo Fernandes, do presidente do Núcleo Regional Nor- professores e estudantes, além de 290 trabalhos inscritos.
deste da SBCS, Júlio Nóbrega, da coordenadora da UEP/Rio
Largo, Walane Ivo, e do coordenador da UEP Solos, André
Júlio Amaral.
O SBES também promo-
A coordenadora da III RNCS, Walane Ivo, afirmou que “a veu uma oficina Confec-
Embrapa está colaborando com o Núcleo Regional Nordeste ção de macromonolitos
para a formação de redes de pesquisa, fortalecendo toda a de solo com o professor
parte de sustentabilidade dos sistemas de produção do Nor- Ricardo Simão Diniz Dal-
deste e dos biomas naturais da região”. molin (UFSM) e um ofici-
na Identificação da fauna
do solo com a pesquisa-
dora Natália Nunes Pa-
tucci (USP) e um passeio
educativo pelos solos da
Cidade Universitária com
o professor Andreas Atti-
la de Miklós (USP)

Prêmio
O presidente do Núcleo Regional Nordeste da SBCS,
Júlio Nóbrega, destacou a primeira edição do Prêmio Nor-
deste de Ciência do Solo, que homenageou o professor
Ignácio Hernán Salcedo. “Estamos reconhecendo o traba-
lho de um pesquisador que vem dedicando toda sua vida
ao ensino, pesquisa, extensão e o avanço da ciência do
solo no Nordeste”, frisou Nóbrega.
Ignácio Hernán Salcedo é graduado em agronomia
pela Universidad de Buenos Aires (1970), com mestrado
(1973) e doutorado (1976) em Ciência do Solo pela Michi-
gan State University, nos Estados Unidos e foi diretor do
Instituto Nacional do Semiárido (INSA) entre 2011 e 2015.
(Fonte: Grupo Cultivar e Núcleo Nordeste de Ciência
O encerramento do Simpósio contou com homenagem à Professo-
do Solo) ra Déborah Oliveira feita pelo professor Attila Miklés em nome dos
participantes do evento.

12 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


NOTÍCIAS
Simpósio Brasileiro de
Educação em Solos debate

solos no meio
urbano
A SBCS promoveu, entre os dias 7 e 10 de setembro, na
USP, o VIII Simpósio Brasileiro de Educação em Solos (SBES).
O evento, organizado pela Divisão 4 da SBCS e pelo Departa-
mento de Geografia da USP e presidido pela professora Dé-
borah Oliveira, reuniu estudantes e pesquisadores vinculados
às instituições de ensino superior que investigam e desen-
volvem trabalhos na área de ensino e pesquisa de Solos. A
realização do Simpósio reforça a importância do ensino do
solo e de uma visão pedagógica para o trabalho de uso e
conservação do solo de formas sustentáveis.
O Simpósio teve como tema principal “A educação em so-
los no meio urbano e a popularização da Ciência do Solo” As
palestras, oficinas e grupos de trabalho buscaram estimular
a articulação e a troca de ideias, informações, experiências e
conhecimentos entre os participantes do simpósio, formado
por pedagogos, geógrafos, agrônomos, biólogos, geólogos
e químicos, professores, pesquisadores, acadêmicos e pro-
fissionais das demais áreas voltadas para a temática do sim-
pósio.
Segundo a presidente do evento, a realização do Simpó-
sio em uma grande cidade como São Paulo foi uma oportu-
nidade para divulgação das pesquisas e ações relacionadas à
educação sobre o uso e conservação dos solos desenvolvi-
das a partir da realidade do meio urbano.
Uma das visitas técnicas realizadas foi no Parque Estadual Jaraguá,
A Diretoria da SBCS foi representada no evento pelo Se-
orientada pelo Prof. Fernando Nadal Junqueira Villela e por Marcos Ro-
berto Pinheiro (GEOGRAFIA-USP). cretário Geral da SBCS, Reinaldo Bertola Cantarutti e pela Di-
retoria da Divisão 4 da SBCS, Cristine Carole Mugler.
O próximo SBES será realizado em Dois Vizinhos, no Pa-
Durante o evento, os organizadores concederam o prê- raná, em 2018. Em 2020, o evento será realizado em Petro-
mio Inovação em Educação em Solos para diversas ca- lina, Pernambuco.
tegorias: Confira os vencedores:
Categoria Apresentação Oral:
Lygia de Oliveira Lopes com o trabalho: Dialogan-
do sobre solos no rádio: interações com o agricultor.
Nicole Geraldine de Paula Marques Witt com o traba-
lho: O solo e o ambiente como sujeito do processo for-
mativo.
Categoria Painel:
Jerusa Schneider com o trabalho: Ensino-aprendiza-
gem sobre conservação do solo e da água: uma expe-
riência no programa PIBIC- ensino médio da UNICAMP.
Categoria Artes:
Grupo Teatrinho do Solo, coordenado pela Professora
Adriana de Fátima Meira Vital (UFCG)
Parabéns a todos os ganhadores! Os melhores trabalhos foram agraciados com o
prêmio Inovação em Educação em Solos

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 13


NOTÍCIAS

XX RBMCSA reunirá especialistas renomados


das diferentes áreas de conservação do solo
Objetivo do evento, que acontecerá
no Paraná, é debater os sistemas sus-
tentáveis de uso do solo e água para
todos os biomas brasileiros
A conservação dos solos é vital
para a humanidade. Para lembrar a
importância desses recursos naturais,
a XX Reunião Brasileira de Manejo e
Conservação do Solo e da Água, trará
especialistas renomados das diferen-
tes áreas de conservação de solo para
debater ossistemas sustentáveis de
uso dos recursos solo e água para to- palestra de abertura terá como tema: ambientais e na sustentação da biodi-
dos os biomas brasileiros. Consolidada “É possível conciliar a conservação do versidade.
como um dos eventos mais importan- solo e da água com o agronegócio”?
tes da área, a XX RBMCSA acontecerá No segundo dia do evento será abor- Visitas e minicursos
de 20 a 24 de novembro no Centro de dada “A dificuldade de controle da
A programação do evento mescla a
Eventos do Golden Park, em Foz do erosão em solos agrícolas em pleno
apresentação de novos conhecimentos
Iguaçu (PR). século XXI”.
científicos com temas de cunho educa-
Realizada pelo Instituto Agronômi- Entre os palestrantes mais espe- cional, de difusão de tecnologia e até
co do Paraná (Iapar) com apoio do Nú- rados está o pesquisador Rattan Lal, mesmo aspectos legais que envolvem
cleo Estadual Paraná da SBCS (NEPAR- da The Ohio State University. Ele será a conservação do solo. Os trabalhos
-SBCS), o evento traz o tema “O solo palestrante no terceiro dia do evento científicos serão apresentados na forma
sob ameaça: conexões necessárias ao com o tema: “A pressão econômica oral ou de pôsteres, com resultados de
manejo e conservação do solo e água”, sobre o uso e ocupação do solo: con- pesquisa atuais e inovadores de todas
com o objetivo é suscitar discussões sequências ambientais e sociais”. Di- as subcomissões científicas ligadas ao
acerca da conservação do solo e da retor do Centro de Gestão e Sequestro manejo e conservação do solo.
água, além de contribuir com soluções de Carbono (Carbon Managament and
Estão programados, para os quatro
sobre o aumento de produção aliado à Sequestration Center), Rattan Lal toma
dias de evento, a realização de 4 con-
conservação das terras agrícolas. posse como presidente eleito da Inter-
ferências, 3 mesas redondas, 10 ses-
A organização da XX RBMCSA des- national Union of Soil Science no dia
sões técnicas, 3 minicursos e visitas
taca a importância que o evento terá primeiro de janeiro de 2017.
técnicas. Para participar dos minicursos
para a construção do conhecimento e E para fechar as conferências, no e das visitas é necessário estar inscrito
popularização da preservação dos so- terceiro dia de evento, será abordadoo no evento (no site www.rbmcsa2016.
los e da água no Brasil. O evento con- tema “Governança do solo no Brasil”. com.br). No dia 24 de novembro, estão
tribuirá, por meio do conhecimento Ainda neste dia pela manhã será apre- programadas visitas à Usina Hidrelé-
científico e tecnológico, na formulação sentado o Projeto Pronasolo e o Mode- trica de Itaipu e às ações do Programa
de políticas públicas para o combate a lo de Governança do Programa Culti- Cultivando Água Boa, no município de
degradação dos solos. A falta de práti- vando Água Boa. Santa Terezinha.
cas conservacionistas compromete os Vale destacar que os debates sobre Também estão agendados os mini-
serviços ambientais, os sistemas pro- a governança e a gestão dos recursos cursos: Perfil Cultural e Avaliação Visual
dutivos e a conservação da biodiversi- naturais, são imprescindíveis para pro- da Estrutura do Solo (VESS), Potencia-
dade dessas áreas. mover a integração entre produção lidades do uso de Veículo Aéreo não
Serão quatro dias de intensos deba- agrícola e conservação do solo e da Tripulado (VANT) no monitoramento da
tes, com palestras em sessão plenária água, e para levar o agronegócio brasi- erosão hídrica e da cobertura vegetal e,
única e painéis de discussão técnica, leiro ao status de produtivo e sustentá- por último, o Uso de práticas mecâni-
o que irá proporcionar aos congres- vel. Portanto, a importância do solo vai cas para o controle da erosão em áreas
sistas a discussão e a apropriação de além da produção de alimentos, fibras de produção e em estradas não pavi-
extenso conteúdo técnico. No primeiro e energia, sendo necessário considerar mentadas.
dia de evento, no dia 20, domingo, a o seu papel na prestação de serviços

14 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


NOTÍCIAS
Inscrições superam expectativas dos
organizadores
As inscrições na XX RBMCSA superaram as expectati-
vas dos organizadores. Mais de 600 pessoas e mais de 400
trabalhos científicos foram inscritos no evento, que é consi-
derado um dos mais importantes da área em 2016. A comis-
são organizadora comemora o número de inscritos antes
mesmo de encerrar as inscrições e atribui a grande procura
ao fato do evento reunir especialistas de alto nível para fa-
lar sobre o tema. Não temos dúvida deque será um evento
de grande impacto científico e de inovação que oferecerá
oportunidade para o público brasileiro e também de outros
países da América Latina.
As inscrições prosseguem até o dia 20 de outubro e es-
tão abertas para pesquisadores, extensionistas, professo-
res, estudantes, produtores rurais, assim como toda a co-
munidade que esteja interessada em conhecer mais sobre A organização do evento prevê visitas à Usina Hidrelétrica de Itaipu
a Ciência do Solo.

FertBio 2016

“Rumo
aos novos
desafios”
O Núcleo Regional Centro-Oeste desafios”, o objetivo do evento será mentos e produtos para laboratórios,
da Sociedade Brasileira de Ciência do destacar o estágio atual do conheci- livros, fertilizantes e vários outros ser-
Solo, em parceria com a Universidade mento científico e sua aplicação nas di- viços ligados às áreas de Fertilidade,
Federal de Goiás, Universidade Federal ferentes áreas que o constituem, assim Nutrição de Plantas e Biologia do Solo.
de Mato Grosso, Instituto Federal Goia- como estimular debates em torno de Nas manhãs do evento serão realiza-
no, Embrapa Arroz e Feijão, Embrapa temas relevantes e, a partir disso, pro- das conferências e mesas redondas
Cerrados e a Universidade de Brasília, por soluções para os problemas atuais, com objetivo de integrar as áreas de
estão organizando a FertBio 2016, que assim como delinear perspectivas para Fertilidade, Nutrição de Plantas e Bio-
será realizada no Centro de Conven- o futuro. logia do Solo. No período da tarde, se-
ções de Goiânia, Goiás, de 16 a 20 de Na composição da equipe de pa- rão realizados os quatro eventos que
outubro de 2016. lestrantes e moderadores, a comissão compõem a FertBio de forma paralela,
A FertBio é um evento tradicional organizadora pretendeu somar a ex- cada um deles também no formato de
da SBCS que congregará quatro im- periência de profissionais do Brasil e mesa-redonda.
portantes eventos: a XXXII Reunião do exterior, integrando os destaques A programação da FertBio 2016
Brasileira de Fertilidade do Solo e Nu- emergentes da Ciência do Solo. Além enfatiza duas grandes vertentes: “Qua-
trição de Plantas, a XVI Reunião Brasi- disso, serão apresentados trabalhos lidade do solo e sua importância em
leira sobre Micorrizas, o XIV Simpósio de pesquisa na forma de pôsteres e ambientes tropicais” e “A nova visão
Brasileiro de Microbiologia do Solo e promovidos minicursos e visitas de de fertilidade solo para o século XXI”.
a XI Reunião Brasileira de Biologia do campo. Paralelamente ao evento cien- Na palestra de abertura, o ex-Minis-
Solo. Com o tema “rumo aos novos tífico, haverá exposição de equipa- tro da Agricultura, Roberto Rodrigues

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 15


NOTÍCIAS

O Centro de Convenções onde será realizado o evento, em Goiânia

(FGV), falará sobre os “Desafios da pesquisador do CIAT (Colômbia). A agricultura sustentável e de eleva-
agropecuária brasileira no cenário polí- construção e o compartilhamento da produtividade. A insuficiência do
tico e econômico atual: oportunidades do conhecimento sobre serviços am- conceito mineralista para descrever
e ameaças”. bientais na paisagem rural brasileira integralmente o que é fertilidade de
Os avanços e fronteiras do conhe- será o tema da palestra da pesquisa- solo será objeto da palestra da pro-
cimento serão tema das conferências dora Rachel Prado, da Embrapa So- fessora Margarete Nicolodi, da UFR-
especiais. Guntur Subbarao, do JIR- los. GS. Uma mesa redonda com o tema
CAS (Japão) falará sobre o poten- O uso da fauna como indicadora “Novos olhares sobre a fertilidade
cial de uso da inibição biológica da da qualidade do solo em sistemas na- agrícola em sistemas agrícola tro-
nitrificação visando o aumento da turais e agroecossistemas será abor- picais” fechará a discussão sobre o
eficiência de uso de N pelas cultu- dado por renomados cientistas que tema.
ras. Por sua vez, Douglas Karlen, do trabalham com o tema em diferentes A matéria orgânica terá destaque
ARS/USDA, responsável pelo grupo biomas brasileiros. Outros importan- na programação da FertBio. O pes-
da Sociedade Americana de Ciência tes cientistas falarão sobre a impor- quisador Julio Salton, da Embrapa
do Solo que consolidou, há 20 anos, tância dos serviços ecossistêmicos Agropecuária Oeste, falará sobre o
o conceito de qualidade do solo, fará prestados por esses organismos em “Papel da matéria orgânica do solo
uma palestra mostrando a história ecossistemas naturais e cultivados. na intensificação sustentável”. Nas
e as perspectivas desta temática. Várias palestras enfocarão a visão mesas redondas intituladas “Microre-
A pesquisadora da Embrapa Cerra- de fertilidade solo para o século XXI, voluçao verde em sistemas agrícolas
dos, Ieda Mendes, dissertará sobre a com destaque para a importância da tropicais: rompendo paradigmas -
construção da memória do solo em matéria orgânica e do componente Parte I e II” serão discutidas as contri-
diferentes sistemas de manejo e sua microbiano nos sistemas agrícolas buições da microbiologia do solo na
relação com as avaliações de quali- tropicais. A pesquisadora Mariangela revolução nos sistemas de produção
dade de solo Hungria, da Embrapa Soja, abordará agrícola modernos, como o uso da
Philip J. White, do James Hutton o uso de microrgansimos para uma FBN, a inoculação com Azospirillum,
Institute (Escócia), abordará o tema
“Novos conhecimentos na absorção,
transporte e redistribuição de nu-
trientes em plantas”. O primeiro dia
encerra-se com a palestra “Como re-
duzir o impacto do estresse hídrico e
outros estresses abióticos no desen-
volvimento e nutrição das plantas”,
proferida por José Arnulfo Polania,

A agricultura e as belezas do
cerrado são motivos a mais para
conhecer a região de Goiânia
durante o evento.

16 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


NOTÍCIAS
tra do professor Martin Broadley, da nha) falará sobre avanços recentes no
University of Nottingham (Inglaterra), entendimento dos fatores que afetam
que apresentará a importância dos a absorção foliar de nutrientes.
fertilizantes com Zn na redução da O tema “Intensificação ecológica
desnutrição em alguns países. José em sistemas de produção agrícola tro-
Luiz Viana de Carvalho, da Embrapa pical” será abordado em conferência
Agroindústria de Alimentos, discutirá e mesa redonda, quando serão discu-
os avanços e contribuição da biofor- tidas a importância da matéria orgâni-
tificação de alimentos para a redução ca, manejo de nematóides, integração
da desnutrição no mundo. de sistemas de produção e manejo de
Duas mesas redondas serão dedi- plantas de cobertura.
cadas à caracterização e construção Uma seção será dedicada à apre-
de ambientes de produção e a ava- sentação e trabalhos com compro-
liação e desenvolvimento de tecnolo- vação/validação de tecnologias, que
gias em fertilizantes. Especial tópico comporão a “Mostra de validação e
sobre nanofertilizantes será proferido eficiência de novas tecnologias para
por Christian Dimkpa, do Virtual Ferti- agricultura”.
lizer Research Center (EUA).
a nanotecnologia, o uso de microal- Os temas “Avanços no conheci-
gas e as novas revelações dos estu- Uma seção será especialmente de- mento sobre “micronutrientes e nu-
dos de metagenoma sobre a diversi- dicada ao “Uso eficiente de nutrientes trientes secundários na agricultura” e
dade microbiana dos solos tropicais. em sistemas de produção”. A confe- “Fontes alternativas de nutrientes para
rência, proferida pelo professor do agricultura” serão tratados em mesas
Um dos pontos fortes na progra-
Instituto Agronômico de Campinas, redondas, onde serão abordados o “
mação na área de fertilidade do solo e
Heitor Cantarella, abordará sua expe- Uso de biofertilizantes e bioestimulan-
nutrição de plantas será a conferência
riência na eficiência de uso de N em tes na agricultura, Rochas (reminera-
“Desafios para produção em sistemas
sistemas agrícolas tropicais. Na mesa lizadores) como fontes de nutrientes,
tropicais”, proferida pelo pesquisa-
redonda desta seção o papel do ma- eficiência de utilização de fosfatos
dor do IPNI Brasil, Eros Francisco. Na
nejo na eficiência de uso de nutrientes naturais, novas tecnologias de fertili-
mesa redonda “Gargalos tecnológicos
será o tema da palestra do professor zantes fontes de enxofre, magnésio e
para produção agrícola” serão discu-
Carlos Crusciol, da UNESP Botucatu. níquel”.
tidos os temas: “Agricultura de preci-
Já a influência climática na obtenção
são: estado atual e perspectivas futu- Duas seções especiais tratarão de
de altos rendimentos será o tema da
ras”, “Interação física e fertilidade do micorrizas na agricultura, abordando
palestra do professsor da ESALQ/USP,
solo” e “Construção de perfil do solo”, desde processos moleculares e de
Paulo Sentelhas.
a partir da vasta experiência de pales- interação com ambiente a possíveis
trantes que apresentarão resultados A ciclagem de nutrientes e a inte- vias para registro de produtos comer-
de pesquisas recentes e de soluções gração lavoura-pecuária-floresta tam- ciais contendo micorrizas junto ao Mi-
para agricultores e profissionais/téc- bém terá espaço na FertBio. Lawrence nistério da Agricultura.
nicos. Datnoff, da Louisiana State University
A Comissão organizadora do even-
(EUA), apresentará a contribuição da
A qualidade de alimentos e se- to espera a participação de todos e
nutrição das plantas para a resistência
gurança alimentar será tema de uma coloca o site do evento à disposição
a doenças. Por usa vez, Heiner Gold-
conferência e uma mesa redonda. O para mais informações: http://www.
bach, da University of Bonn (Alema-
destaque especial para será a pales- eventosolos.org.br/fertbio2016

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 17


Qualidade de alimentos,
ciência do solo

e a saúde humana
A relação entre os solos e a saúde iniciou-se a explosão do crescimento um “efeito de diluição” dos nutrientes
humana aparentemente foi percebida populacional, gerando massiva deman- na parte comestível dos alimentos.
há milhares de anos. Há relatos bíblicos da por alimentos, que foi suprida pelo Recentemente, tem ganhado noto-
de 1400 a.C. sugerindo que o bem-estar advento da chamada “Revolução Ver- riedade a linha de pesquisa chamada
das civilizações dependiam da qualida- de” ocorrida entre as décadas de 1950 “biofortificação”, que visa a obtenção
de dos solos que habitavam. Durante e 1970. Esta revolução tecnológica ba- de variedades melhoradas que apre-
os séculos XVII e XVIII foram escritos seou-se na seleção de cultivares de ce- sentam maior teor de vitaminas e mine-
os primeiros textos relacionando o solo reais de porte baixo e com grande nú- rais na parte comestível dos alimentos.
com a saúde humana e animal. Neste mero de afilhos, capazes de responder Em outras palavras, no melhoramento
período diversas anomalias e doen- ao adubo nitrogenado sem se acamar. de plantas e/ou manejo das culturas,
ças, tais como a do músculo branco e Desta forma, em poucos anos foi possí- passou-se a considerar a composição
o bócio. Várias outras anomalias foram vel dobrar a produtividade das culturas nutricional e não somente os ganhos
reconhecidas e a ocorrências delas as- e aumentar a produção de alimentos em produtividade. Com a forte neces-
sociadas a elementos minerais (nutrien- proporcionalmente à grande demanda sidade de melhorar a qualidade dos
tes) do solo. gerada pelo crescimento populacional. alimentos, observou-se que é preciso
A concentração de minerais nos A produção de alimentos em larga eliminar a raiz do problema fazendo
solos pode até mesmo determinar o escala derrubou teorias e mitos sobre com que os alimentos venham do cam-
desenvolvimento de espécies em cer- possíveis problemas de fome generali- po para a mesa do consumidor com
tas regiões. Um exemplo é o caso da zada no mundo, cita-se por exemplo, a melhor qualidade nutricional. Esta alter-
ausência de grandes herbívoros na “Teoria Populacional Malthusiana” que nativa tem se mostrado mais sustentá-
Austrália, o que é relacionado às defi- apregoava que a população iria crescer vel e complementar, embora não seja
ciências de iodo, cobalto e selênio nos em progressão geométrica e a produ- recomendado, atualmente, eliminar as
solos daquele país. Outro exemplo foi o ção de alimento em progressão aritmé- outras intervenções como a fortificação
sério problema de ocorrência de bócio tica, o que levaria a futuros problemas industrial e suplementação. Isso requer
na Região Central do Brasil, devido a de fome generalizada no mundo. Por que os profissionais das ciências agrá-
deficiência de iodo nos solos. Embora o outro lado, paradoxalmente, tem se rias trabalhem mais da “porteira para
problema do bócio tenha sido em par- notado um crescimento acentuado nos fora”, interagindo com profissionais de
te resolvido devido à adição de iodo ao casos de desnutrição em todo o mun- outras áreas como medicina, ciência de
sal, por outro lado, tem sido frequente do. Dados da Organização Mundial de alimentos, nutrição, educação, econo-
relatos do excesso de iodo, que tam- Saúde (OMS) mostram que entre qua- mia doméstica, entre outras.
bém afeta o funcionamento da tireoide, tro e cinco bilhões de pessoas têm al- Esta edição do Boletim Informativo
ocasionando o “hipotireoidismo”. Fica gum grau de deficiência de ferro. Cerca traz iniciativas de pesquisas visando
uma indagação, até que ponto é susten- de 1,5 bilhão de pessoas têm deficiên- melhorar a qualidade de alimentos por
tável a iodação do sal? Poderíamos re- cia de zinco. Entre meio e um bilhão de meio de melhoramento de plantas e/
solver o problema adicionando o iodo pessoas têm deficiência de selênio, e ou práticas de manejo, em benefício da
via fertilizante? Sabemos que homens mais de 800 milhões de pessoas têm saúde humana e animal.
e animais obtém todos os nutrientes deficiência de iodo. O mais preocupan-
Aos autores que gentilmente acei-
que necessitam para seu metabolismo te nestes dados é que as estatísticas ofi-
taramo convite para escrever sobre o
via alimentos, os quais, por sua vez, são ciais de problemas de desnutrição não
tema, a gratidão da SBCS
reflexo das características dos solos em revelam tendência de redução de casos
que foram produzidos. de deficiência. Aparentemente, houve
Milton Ferreira Moraes
Estas relações entre solos e qualida- perda da qualidade nutricional dos ali-
Universidade Federal de Mato Grosso
de de alimentos foram estudadas por mentos em razões proporcionais aos Editor temático desta edição
muitos anos. Entretanto, no século XIX, aumentos de produtividade, sugerindo E-mail: moraesmf@ufmt.br

18 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


Cultivar BRS Xiquexique, enriquecida com Zn.
Imagem: Rede BioFort, Embrapa

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 19


OPINIÃO

Figura 1: Estimativa global da incidência de anemia em crianças entre 6 e 59 meses de idade.


Fonte: WHO

Biofortificação de alimentos:
saúde ao alcance de todos
Leonardus Vergütz
José Maria Rodrigues da Luz
Marliane de Cássia Soares da Silva
Maria Catarina Megumi Kasuya

A fome, infelizmente, ainda é um Embora a oferta desses alimentos causam anemia (Figura 1), nanismo,
problema que afeta milhões de pes- resolva o problema da fome propria- baixo desenvolvimento motor e cog-
soas no mundo, especialmente em mente dita, o seu consumo não fornece nitivo, maior risco de mortalidade in-
países pobres e/ou em conflito. A ne- as quantidades mínimas de nutrientes fantil e materna, sistema imunológico
cessidade básica dessas pessoas com requeridas pelo homem. Assim, uma enfraquecido, dentre outras. De acordo
limitado acesso à comida é a ingestão alimentação baseada apenas nesses com órgãos internacionais, como a Or-
de calorias em quantidade adequada alimentos gera outro grave problema ganização Mundial da Saúde (OMS) e a
para satisfazer a sua demanda diária de saúde pública mundial conhecido Organização das Nações Unidas para
por energia. como fome oculta ou malnutrição, do a Alimentação e a Agricultura (FAO), a
A solução de muitos desses países inglês hidden hunger ou malnutrition. fome oculta representa um dos fatores-
para o problema da fome foi justamen- A fome oculta caracteriza-se justamen- -chave para a perpetuação da pobreza
te o uso de políticas públicas que au- te pela deficiência de nutrientes essen- no mundo.
mentaram a produção e distribuição ciais, especialmente Fe, Zn, I e vitamina As principais causas da fome ocul-
de alimentos básicos (do inglês staple A, para o bom desenvolvimento e fun- ta são basicamente dietas pobres, com
foods), especialmente milho, arroz e cionamento do corpo humano. E, como pouca variedade de alimentos, e a bai-
trigo. Esses alimentos representam o próprio nome diz, essa grave doença, xa qualidade nutricional dos alimentos.
ótimas fontes de energia e atendem à que atinge principalmente os mais vul- Como regra geral, a baixa qualidade
necessidade básica da população. Po- neráveis, em especial mulheres e crian- nutricional dos alimentos está intima-
rém, são muito pobres em termos nu- ças, é silenciosa. mente relacionada à baixa biodisponi-
tricionais, com baixos teores e/ou dis- Estima-se que aproximadamente bilidade dos nutrientes mineirais nos
ponibilidade de vitaminas e minerais três bilhões de pessoas no mundo so- solos. Em especial, os solos dos países
essenciais aos seres humanos. fram com a deficiência de Fe e Zn, que de clima tropical - bastante desenvolvi-

20 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


OPINIÃO
dos e intemperizados, não conseguem manter quantidades
satisfatórias dos nutrientes na solução que permitam o enri-
quecimento dos alimentos. E, embora a fome oculta seja um
problema recorrente e comum em países pobres, a popula-
ção carente de qualquer país do mundo é afetada por ela, vis-
to que uma dieta variada e rica nutricionalmente geralmente
tem custo mais elevado.
Existem várias alternativas para mitigar os efeitos da fome
oculta, as quais são representadas por diferentes maneiras de
fornecimento dos nutrientes para a população. Em primeiro
lugar, a principal alternativa seria a adoção de uma dieta mais
diversificada por parte da população. Dietas ricas em frutas,
legumes, cereais, peixes, carnes, etc. representam uma das
melhores maneiras de se combater a fome oculta. Porém, a
adoção de uma dieta rica esbarra em problemas financeiros,
culturais e de educação. Não é fácil modificar hábitos alimen-
tares de uma população.
Outras maneiras de combate à fome oculta seriam a suple-
mentação e a fortificação de alimentos, que na realidade são
práticas semelhantes. Enquanto a primeira prevê a ingestão
direta de suplementos, a segunda basicamente visa à incor-
poração de nutrientes aos alimentos básicos. São alternativas
eficientes no combate à fome oculta, como bem exemplifica-
do pelo caso do sal de cozinha no Brasil, cuja adição de iodo
é obrigatória por lei, desde 1953. Porém, para que realmente
funcionem, o fornecimento dos nutrientes deve ser constante
e ocorrer ao longo de toda vida. Além disso, depende tam-
bém de subsídios do governo, aceitação por parte da popula-
ção, qualidade e disponibilidade dos nutrientes adicionados, Figura 2: Golden rice – arroz biofortificado genetica-
dentre outras. mente com maiores concentrações de beta caroteno.

Uma técnica mais recente que tem se mostrado muito in-


Fonte: www.irri.org
teressante no combate à fome oculta é a biofortificação dos
alimentos. Basicamente, ela consiste no enriquecimento nu-
tricional dos alimentos no campo, durante seu processo pro-
dutivo. E isso pode ser feito basicamente de duas maneiras: Com o surgimento da biofortificação de alimentos, final-
pelo melhoramento genético das culturas (convencional ou mente a qualidade dos alimentos está sendo levada em con-
transgenia) e/ou pelo manejo da cultura, em especial da adu- sideração. A biofortificação representa um conjunto de téc-
bação. O enriquecimento dos alimentos via melhoramento nicas para justamente melhorar a qualidade nutricional dos
genético recebe o nome de biofortificação genética (Figura alimentos produzidos no campo. E talvez um dos aspectos
2). Já o enriquecimento via manejo da cultura recebe o nome mais importantes da biofortificação comparada às demais
de biofortificação agronômica. técnicas empregadas no combate à fome oculta é que, uma
É interessante lembrar que um bordão comum na agricul- vez desenvolvida e implementada, é uma técnica sustentável
tura é que o objetivo de qualquer empreendimento agrícola e que não necessita modificar hábitos alimentares da popu-
é sempre ”produzir mais alimentos e com maior qualidade”. lação.
Porém, embora a primeira parte seja sempre verdade, cada Embora ambos os aspectos da biofortificação sejam im-
vez queremos (e precisamos) produzir mais, a parte da quali- portantes, a biofortificação genética representa um processo
dade, na maioria das vezes, é deixada de lado. Com certeza o mais caro e de longo prazo, incluindo a qualidade nutricional
aspecto da produtividade é influenciado por questões finan- dos alimentos como um dos objetivos do processo continua-
ceiras e ambientais (otimização dos recursos), mas também do de melhoria das culturas. Já a biofortificação agronômica
pelo fantasma da fome, que sempre foi a preocupação maior. é uma ferramenta mais barata, acessível e de implementação
Lógico que temos problemas sociais e de distribuição de ren- instantânea, modificando-se apenas o manejo da cultura, em
da e alimentos que influenciam muito o problema da fome especial a adubação.Mas enquanto a biofortificação genéti-
no mundo, mas esses são assuntos para outro(s) trabalho(s). ca nos permite aumentar tanto a concentração de nutrientes

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 21


OPINIÃO

minerais quanto de pró-vitamina A, castanha-do-pará, com Zn, Fe e Se. Luiz de crescimento. O grupo de pesquisa
betacaroteno e proteínas, por exem- Roberto Guilherme é hoje um dos pes- coordenado pela professora Maria Ca-
plo, a biofortificação agronômica visa quisadores mais atuantes nessa área tarina Megumi Kasuya, do Programa de
principalmente ao enriquecimento dos no Brasil, coordenador do INCT Segu- Pós-graduação em Microbiologia Agrí-
alimentos com nutrientes minerais, es- rança de Solo e de Alimento e também cola da UFV, tem explorado essa ca-
pecialmente Fe e Zn. do projeto HarvestZinc no Brasil, que é racterística e produzido cogumelos co-
A origem dos trabalhos sobre bio- vinculado ao HarvestPlus e visa à bio- mestíveis (Figura 3) enriquecidos com
fortificação de alimentos encontra-se fortificação agronômica dos alimentos minerais essenciais à saúde humana,
no início dos anos 1990, quando o jo- com Zn. especialmente Se, Li, Fe e Zn.
vem economista Howarth Bouis, do Como parte dos esforços no comba- Dentre esses trabalhos, destacam-
Instituto Internacional de Pesquisa em te à fome oculta, foi criado oficialmente, se os de enriquecimento de cogumelos
Políticas Alimentares (IFPRI), refletindo em 2015, na Universidade Federal de com Se e Li. Quando absorvido e
sobre os trabalhos de combate à fome Viçosa (UFV), o Instituto de Estudos e metabolizado pelos cogumelos, o
oculta conduzidos na época perguntou Pesquisas em Fortificação de Alimen- Se encontra-se em formas orgânicas
a si mesmo: e se as plantas pudessem tos e Combate à Fome Oculta (IPAF), (selenoproteínas) que apresentam
fazer parte desse trabalho por nós? Essa que teve elevada biodisponibilidade. Além de
simples pergunta deu origem à bioforti- proposta de evitar doenças, o Se apresenta grande
ficação de alimentos propriamente dita criação de e se as plantas poder antioxidante, atenuando os
assim como ao HarvestPlus, reconheci- um Institu- pudessem efeitos do processo de envelhecimento
do programa internacional que promo- to Nacional fazer parte do do organismo humano. Já o Li tem
ve e coordena ações de biofortificação de Ciência e trabalho de sido utilizado na medicina há mais
de alimentos no mundo todo. Essa e Tecnologia combate à fome de 50 anos, particularmente na área
outras histórias e informações podem (INCT) re- por nós? Essa da psiquiatria. Ele tem importantes
ser encontradas no site do próprio Har- comendada simples pergunta efeitos terapêuticos no tratamento
vestPlus (www.harvestplus.org). em 2016 e deu origem à de várias doenças neurais, sendo
No Brasil, os trabalhos sobre biofor- é coorde- biofortificação efetivo no tratamento de pacientes
tificação de alimentos tiveram início em nado pelo de alimentos que sofrem de transtorno bipolar.
meados dos anos 2000, quando a Em- professor propriamente Mas o principal medicamento de Li
brapa consolidou uma rede de pesquisa José Benício dita utilizado (Li2CO3) causa uma série de
que recebeu o nome de Rede BioFORT Paes Cha- efeitos colaterais ao ser humano. Em
(www.biofort.com.br), também vincu- ves. O IPAF testes preliminares, substituindo o
lada ao HarvestPlus. E desde o seu iní- conta com uma equipe multidisciplinar Li2CO3 por cogumelos enriquecidos
cio, a Rede BioFORT concentrou seus envolvendo pesquisadores dos depar- com Li, atestou-se a eficiência do
esforços no melhoramento genético tamentos de Tecnologia de Alimentos, cogumelo enriquecido como fonte
convencional das culturas, ou seja, bio- Nutrição e Saúde, Economia Domésti- de Li. Mas o mais interessante é que,
fortificação genética. Sob coordenação ca, Zootecnia, Fitotecnia, Microbiologia quando o Li é ministrado na forma de
da pesquisadora Marília Nutti, a Rede e Solos, além de pesquisadores de ou- cogumelos enriquecidos, os efeitos
BioFORT conseguiu cultivares melhora- tras instituições, como FAO e Fiocruz. colaterais são muito brandos ou até
das de milho, trigo, feijão, feijão-caupi, Dentre os trabalhos atualmente desen- mesmo inexistentes. Portanto, o
arroz, batata-doce, abóbora e mandio- volvidos por esse grupo no âmbito da enriquecimento de cogumelos com
ca, com maiores concentrações de pró- biofortificação, encontram-se aqueles minerais potencializa suas propriedades
-vitamina A, carotenóides, Fe e Zn. envolvendo a biofortificação agronômi- nutricionais e também medicinais,
Já a biofortificação agronômica no ca do feijão e soja com Zn e de cogu- podendo ser um bom substituto para
Brasil é ainda mais recente. Pesquisa- melos, comestíveis com Fe, Zn, Se e Li. medicamentos tradicionais.
dores, como Milton Ferreira de Mora- Cogumelos, em geral, apreentam No trabalho que talvez tenha sido
es (UFMT) e Luiz Roberto Guimarães alto valor nutritivo e diversos com- o primeiro a estudar a biofortificação
Guilherme (UFLA), dentre outros, têm postos bioativos, com propriedades agronômica do feijão comum com Zn,
realizado trabalhos visando ao enri- antioxidantes conhecidas. Além disso, a doutoranda do Programa de Pós-
quecimento de alimentos, especial- apresentam elevada capacidade de ab- -Graduação em Solos e Nutrição de
mente milho, trigo, alface, mandioca e sorver minerais presentes no substrato Plantas da UFV (PPGSNP/UFV), Thaís

22 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


OPINIÃO
oculta. Dada a relativa facilidade e baixo custo de implanta-
ção, qualquer produtor, desde os altamente tecnificados aos
agricultores familiares seriam capazes de produzir alimentos
biofortificados.
No caso dos produtores altamente tecnificados, seria in-
teressante algum tipo de selo ou certificação que atestasse a
concentração desses nutrientes de interesse nos alimentos
produzidos. Isso geraria um diferencial de mercado que im-
pulsionaria a produção de alimentos biofortificados em larga
escala. Mas no caso do pequeno produtor os benefícios da
biofortificação agronômica são ainda maiores. Ao produzir
um alimento biofortificado, o produtor, sua família e também
sua rede de vizinhos que consomem esse alimento seriam
beneficiados, apresentando menos problemas de saúde.
Além disso, esses alimentos biofortificados, quando utiliza-
dos como sementes para novo plantio, apresentam potencial
produtivo superior, aumentando o retorno financeiro ao pro-
dutor.
Figura 3: Cogumelos comestíveis: Pleurotus ostreatus (A - Hiratakee B E essas melhorias na qualidade de vida da população
– Shimeji), Pleurotus citrinopileatus (C) e Pleurotus djamor (D) produzi- mais carente acarretam menores gastos com saúde pública
dos em resíduos agroindustriais e Lentinula edodes (Shiitake) produzi- e aumentam a produtividade da população. Adultos mais
do em toras artificiais a base de serragem (E) e em tora de eucalipto (F).
saudáveis têm menos doenças, demandam menos remédios
e consultas médicas, tiram menos licenças médicas e têm
maior capacidade produtiva. Em especial para as crianças,
Lopes Leal Cambraia, conseguiu atingir o máximo potencial além desses mesmos benefícios, quando bem nutridas, elas
de enriquecimento do feijão carioquinha com Zn, partindo de apresentam menor taxa de mortalidade e maior desenvolvi-
uma concentração inicial de 15,0 mg kg-1 e atingindo a con- mento motor e cognitivo. Isso se traduz em um adulto mais
centração de 67,5 mg kg-1 de Zn no grão de feijão. Para se ter saudável e produtivo, mas também com maior capacidade de
uma ideia da importância desse enriquecimento para a popu- discernimento, aprendizagem e tomada de decisões. Como a
lação carente brasileira, cuja base da alimentação é o arroz fome oculta é um dos componentes do ciclo vicioso da po-
com feijão do dia a dia, caso o feijão disponível no mercado breza, isso é, ela gera pobreza e a pobreza gera mais fome
brasileiro apresentasse essa concentração de Zn, seria capaz oculta, resolver esse problema é etapa importante para resol-
de suprir quase a totalidade da demanda diária de Zn da po- ver o problema da pobreza propriamente dita.
pulação, assumindo-se disponibilidade de 100 %. Da mesma Assim, a produção de alimentos com qualidade finalmen-
maneira, o mestrando do PPGSNP/UFV, Geovani do Carmo te está ganhando a devida atenção em virtude dos trabalhos
Copati da Silva, também conseguiu alcançar o máximo de en- de biofortificação. E se a causa da fome oculta é justamente a
riquecimento com Zn de uma cultivar comercial de soja, cuja baixa qualidade nutricional dos alimentos, não existe melhor
concentração máxima foi semelhante à do feijão, atingindo alternativa de combate à ela que a melhoria da qualidade des-
68,5 mg kg-1 de Zn. ses alimentos. Para isso, bastam políticas públicas de cons-
Como todos esses experimentos são relativamente re- cientização do problema e de apoio ao serviço de assistência
centes, em particular no Brasil, ainda faltam estudos sobre a técnica agropecuária, que seriam os veículos de difusão das
biodisponibilidade desses nutrientes para o homem. Por isso, práticas de biofortificação agronômica, especialmente aos
a importância de redes de pesquisa multidisciplinares. Outra pequenos produtores, garantindo uma vida mais saudável a
etapa extremamente importante a ser conduzida é a tradu- essas pessoas.
ção desses experimentos conduzidos em condições contro-
ladas para as condições de campo. Ou seja, devemos gerar Autores: Leonardus Vergütz é professor do Departamento de Solos
as recomendações de fertilizantes e de manejo para que os da Universidade Federal de Viçosa (UFV)
José Maria Rodrigues da Luz, Marliane de Cássia Soares da
agricultores possam produzir esses alimentos biofortificados
Silva e Maria Catarina Megumi Kasuya são do Departamento de
no campo. E esse é justamente um dos aspectos mais interes- Microbiologia da UFV.
santes da biofortificação agronômica para o combate da fome Contato: E-mail:leonardus.vergutz@ufv.br

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 23


OPINIÃO

Dia de Campo no Maranhão destaca


milho biofortificado
Foto: Tarcila Viana (Rede BioFORT)

O PROGRESSO DAS AÇÕES DE

BIOFORTIFICAÇÃO NO BRASIL
Marilia Regini Nutti
José Luiz Viana de Carvalho
Pedro Santiago Mello Rodrigues

Calcula-se que mais de 868 milhões tos com esses nutrientes (WHO, 1994). relação a outros países: é o único onde
de pessoas não consomem alimentos A introdução de cultivos biofortificados, oito culturas diferentes são estudadas,
o suficiente para suprir suas neces- variedades obtidas por melhoramento ao mesmo tempo: abóbora, arroz, bata-
sidades calóricas. Além disso, uma tradicional de modo a apresentar maio- ta-doce, feijão, feijão-caupi, mandioca,
população estimada em dois bilhões res conteúdos de minerais e vitaminas, milho e trigo. O objetivo é desenvolver
de pessoas sofre como deficiência de complementará as intervenções em nu- cultivares mais nutritivas, com boas
micronutrientes (FAO, 2013). A maioria trição existentes e proporcionará uma qualidades agronômicas (rendimento,
dos esforços para combater a deficiên- maneira sustentável e de baixo custo resistência à seca, pragas e doenças) e
cia de micronutrientes nos países em no combate à desnutrição (Nutti et al., boa aceitação no mercado, focando em
desenvolvimento baseia-se no forne- 2006). alimentos que já fazem parte da dieta
cimento de suplementos de vitaminas A pesquisa e desenvolvimento de da população, para que não sejam ne-
e minerais para gestantes, lactantes e alimentos biofortificados no Brasil apre- cessárias alterações em seus hábitos de
crianças, além da fortificação de alimen- sentam um aspecto diferenciado em consumo.

24 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


OPINIÃO
Método para gerar o material adequado a ser servação de micronutrientes é mais
utilizado pela equipe de transferência um passo igualmente importante.
No campo, as cultivares mais
de tecnologia. Para isto, o BioFORT vem trabalhan-
promissoras são selecionadas para
Após a aprovação dos comitês de do, mediante parcerias, para desen-
reprodução. Este processo é repe-
ética das universidades, os pesquisa- volver soluções de embalagem que,
tido até que os níveis desejáveis do
dores avaliam a aceitação dos alimen- acima de tudo, garantam a preserva-
micronutriente-alvo sejam obtidos.
tos. O feijão, a mandioca, a batata- ção dos micronutrientes nos produtos
Concomitantemente, estudos de bio-
-doce e o feijão-caupi já estão sendo processados.
disponibilidade são realizados nos
laboratórios da Embrapa e universida- testados na merenda escolar, com O projeto priorizou os estados do
des parceiras, para avaliar se o corpo bons resultados de aceitação (SILVA Maranhão, Piauí e Sergipe, onde já
humano será capaz de absorver os et al., 2015). Receitas elaboradas com foram entregues sementes, caules
micronutrientes presentes nas cultiva- feijão-caupi e milho biofortificado e mudas de cultivares de maior ní-
res melhoradas. também demonstraram boa aceitação vel nutricional. Esta escolha não foi
(COSTA et al., 2015; WARTHA et al., aleatória, já que esses estados têm
Uma vez obtidas as variedades
2015). o menor Índice de Desenvolvimento
biofortificadas, as sementes, ramas
Outras equipes do projeto desen- Humano (IDH) do país. O Maranhão
e manivas são multiplicadas por par-
volvem produtos com maior valor já apresentou considerável evolução,
ceiros, a fim de serem distribuídas
agregado, como pães, lanches, sopas transferindo aos pequenos produto-
para escolas agrícolas, municípios,
instantâneas, pré-cozidos e mingaus, res locais as culturas do feijão-caupi
programas de merenda escolar e agri-
visando ampliar a oferta de alimentos (BRS Aracê), mandioca (BRS Jari), mi-
cultores familiares. Os multiplicadores
mais nutritivos. O desenvolvimento lho (BRS 4104) e batata-doce (Beaure-
recebem treinamentos abrangendo os
de soluções tecnológicas para a pre- gard). Os alimentos biofortificados es-
aspectos de produção de qualidade,
tão em fase de expansão no território
dos Cocais, abrangendo atualmente
Alto Alegre, Codó, Caxias, Peritoró,
Coroatá, São Mateus, Timbiras, Presi-
dente Dutra e Dom Pedro, impactando
300 famílias, aproximadamente. A re-
gião de Cocais é composta por 17 mu-
nicípios, com uma população total de
cerca de 750 mil habitantes, dos quais
30 % vivem em áreas rurais, segun-
do o Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA). A meta do projeto é
atingir 80 % dessa população rural
nos próximos dois anos.
No Piauí, já foram implementa-
das 37 unidades demonstrativas e as
ações no estado são desenvolvidas
usando um método que tem base em
pequenas áreas irrigadas por goteja-
mento ou outros sistemas com baixo
consumo de água, para ser implanta-
do principalmente no semiárido brasi-
leiro, com aplicabilidade em qualquer
situação em que o pequeno produtor
Figura 1: Famílias atingidas e Unidades Demonstrativas implantadas até 2014 não possua as condições mínimas

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 25


OPINIÃO

para garantir êxito em seus sistemas


produtivos.
No Rio Grande do Sul há mais de
370 mil crianças com menos de sete
anos de idade e cerca de 18 mil ges-
tantes ou nutrizes em risco nutricional
- esses indivíduos são, em sua maioria,
membros de grupos indígenas ou de
pequenos agricultores. Neste estado
optou-se pela promoção do consumo
de feijões, batatas-doces e milho bio-
fortificados, que já fazem parte da cul-
tura desses povos. Foram instaladas
16 Unidades de Validação de Tecnolo-
gias em reservas indígenas e cinco em
áreas de agricultores familiares tradi-
cionais (PERERA et al., 2015).
Em Minas Gerais, as perspectivas
têm sido também animadoras, haven-
do a cobertura de 700 famílias com 28
unidades demonstrativas instaladas.
No Rio de Janeiro, no município de
Magé, uma comunidade rural carac-
terizada como uma das mais voltadas
para a produção de orgânicos no es-
tado, aderiu rapidamente às cultivares
biofortificadas. Os bons resultados
agronômicos durante o plantio do ma-
terial ocasionaram uma maior procura
e, consequentemente, um aumento de
100 % no preço de venda, em compa- Progresso das Publicações da Rede BioFORT
ração com a batata-doce comum.

Resultados Por meio de parceria com diferen- volvimento de produtos, biodisponi-


Ao todo, cerca de 200 pesqui- tes municípios do país, cultivos bio- bilidade, transferência de tecnologia
sadores, técnicos e parceiros estão fortificados já foram consumidos em e avaliação de impacto. A equipe do
envolvidos na rede BioFORT, que programas de merenda escolar, nos projeto também vem promovendo
também conta com mais de 100 ins- quais cerca de 4.500 crianças experi- eventos, como apresentações, semi-
tituições. Foram obtidos 11 cultivares mentaram os benefícios de alimentos nários e dias de campo para agriculto-
com maiores teores de ferro, zinco biofortificados até o final de 2014. res, empresários e pesquisadores. Os
ou pró-vitamina A desde 2005. Cerca Os esforços de comunicação e pu- principais resultados e as atividades
de 120 unidades demonstrativas fo- blicação obtiveram grande progresso do projeto tornaram-se uma fonte de
ram implementadas, atingindo cerca nos últimos dez anos, com 1398 inser- temas para os meios de comunicação
de 18.000 produtores até 2016 com ções na mídia e 559 publicações (re- (rádio, TV, jornais, revistas e internet)
a distribuição, plantio e teste de cul- sumos em anais de congressos e pe- e isso tem contribuído para o estabe-
tivos biofortificados, principalmente riódicos revisados por especialistas). lecimento de novas parcerias e apoio
de batata-doce, mandioca e milho As publicações de pesquisa informam de formadores de opinião.
com maiores teores de pró-vitamina sobre os resultados do projeto em
A, além de feijão e feijão-caupi com melhoramento, difusão, composição,
maiores teores de ferro e zinco. retenção, avaliação sensorial, desen-

26 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


OPINIÃO
Dia de Campo no Maranhão destaca batata-
doce biofortificada e um folder do projeto
Foto: Tarcila Viana (Rede BioFORT)

Referências Academic Symposium, Nutrition- de Biofortificação no Brasil, São Paulo,


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Italy, 2013. da V Reunião Anual de Biofortificação Programmes. Report of the WHO/UNI-
no Brasil, V Reunião de Biofortificação CEF/UNU Consultation. Geneva, Swit-
NUTTI, M.R. Progress of Publica-
no Brasil, São Paulo, Outubro, 2015. zerland, 6–10 December, 1993.
tions and Communications of the Har-
vestPlus Project in Brazil. HarvestPlus SILVA, C.C.O.; DELIZA, R.; NUTTI,
agreement 6332 final report, July 2015. M.R.; CARVALHO, J.L.V. Introdução de Autores: Marilia Regini Nutti e José Luiz Viana
alimentos biofortificados na merenda de Carvalho são pesquisadores da Embrapa
NUTTI, M.R; CARVALHO, J.L.V.
escolar: as crianças gostam dos pro- Agroindústria de Alimentos
How Embrapa is working in food bio-
dutos? In: Anais da V Reunião Anual Pedro Santiago Mello Rodrigues é consul-
fortification in Brazil: The BioFORT tor, Rede BioFORT.
de Biofortificação no Brasil, V Reunião
network. Proceedings of 535th XSSC Contato: pedro.biofort@gmail.com

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 27


ARTIGO

Cultivar BRS Aracê, enriquecida com Zn.

Por que biofortificar


os alimentos
com zinco?
Ana Paula Branco Corguinha
Paulo Fernandes Boldrin
Luiz Roberto Guimarães Guilherme

O zinco (Zn) é um micronutriente que atua no organis-


mo humano em diferentes processos bioquímicos. Esse
nutriente é componente de diversas proteínas e enzimas
(Nriagu, 2007), participa da síntese dos ácidos nucleicos,
do crescimento e diferenciação celular (Mayer et al., 2008),
da saúde reprodutiva e da função sensorial (Hotz & Brow,
2004). A ingestão diária de Zn recomendada para humanos
é em média 12 mg, variando de acordo com a idade, gêne-
ro, tipo de dieta e outros fatores (Hotz & Brow, 2004).
Em virtude da sua essencialidade, a deficiência de Zn
Figura 1: Mapa de deficiência de zinco em humanos no mundo. Dados
é um dos maiores problemas que afetam a humanidade, da WHO, imagem HarvestPlus
atingindo uma em cada três pessoas no mundo (Figura 1)
(Cakmak et al., 2010). A deficiência de Zn encontra-se na
11ª posição de fator de risco à saúde humana, saltando
para a 5ª posição em países em desenvolvimento (WHO,
2002). Tal deficiência é capaz de causar danos às funções
cerebrais, ao sistema imunológico e ao crescimento e de-
senvolvimento físico (Cakmak et al., 2010).
Acredita-se que a deficiência de Zn na população mun-
dial esteja relacionada à ingestão de alimentos de origem
vegetal com baixos teores e biodisponibilidade desse nu-
triente, somado à elevada deficiência de Zn encontrada na
maioria dos solos do mundo (Figura 2) (Cakmak, 2008). No
Brasil, solos deficientes em micronutrientes são muito co-
muns, especialmente os de Cerrado, os quais detêm gran-
de parte da produção agrícola do país (Lopes & Guilherme,
1994). Esse cenário reflete na baixa qualidade nutricional
dos alimentos, desencadeando os problemas da deficiên- Figura 2: Áreas afetadas pela deficiência de zinco no solo. Disponível
cia de Zn (Graham et al., 2001). em: http://www.zinc.org/crops/

28 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


ARTIGO
Sendo assim, a disponibilidade de Zn no solo influencia
fortemente o sucesso dos programas de biofortificação
com esse nutriente (Cakmak, 2008).
Portanto, a combinação do manejo da adubação e do
melhoramento genético é uma importante estratégia para
o enriquecimento de alimentos. Tal estratégia deve ser con-
siderada uma política pública com o objetivo de diminuir o
problema da desnutrição de micronutrientes na população
(Graham et al., 2001). Diversos programas de sucesso vêm
sendo realizados no mundo nesse sentido, com destaque
para o de pesquisa HarvestPlus, o qual promove a bioforti-
ficação com zinco, ferro e vitamina A em diversas culturas.
Com a utilização da biofortificação de alimentos, tanto
Imagem: Rede BioFort, Embrapa
agronômica quanto genética, espera-se contribuir para ga-
rantir segurança alimentar e nutricional da população mun-
Diversas estratégias podem ser utilizadas para contor-
dial, sobretudo daquela de baixa renda.
nar a deficiência de Zn. Dentre elas, podemos citar a di-
versificação da dieta, suplementação alimentar (uso de
complexos vitamínicos) e fortificação de alimentos pela Referências
indústria. Entretanto, essas técnicas apresentam elevado GREEN, A. Zinc Fertilizer Program. Joint ESD/TMD
custo e não são eficazes como política pública para atin- meeting Toronto, 2009.
gir toda a população, especialmente aquela de baixa renda CAKMAK, I. Enrichment of cereal grains with zinc: ag-
(Alloway, 2008). ronomic or genetic biofortification? Plant and Soil, v.302,
Por outro lado, a biofortificação de alimentos, que con- n.1-2, p.1-17, 2008.
siste no aumento do teor do nutriente desejado nas cultu- CAKMAK, I. et al. Biofortification and localization of zinc
ras agrícolas, é uma estratégia menos onerosa e capaz de in wheat grain. Journal of Agricultural and Food Chemistry,
abranger toda a população e pode ser realizada de duas v.58, n.16, p.9092-9102, 2010.
formas: biofortificação agronômica ou biofortificação ge- GRAHAM, R.D.; WELCH, R.M.; BOUIS, H.E. Addressing
nética. A primeira refere-se ao fornecimento do nutriente, micronutrient malnutrition through enhancing the nutri-
por meio do manejo de adubações, e a segunda refere-se tional quality of staple foods: principles, perspectives and
à seleção de materiais genéticos com maior potencial de knowledge gaps. Advances in Agronomy, v.70, n.1, p.77-
absorver e acumular o nutriente (White & Broadley, 2005). 142, 2001.
Para explorar o potencial genético das cultivares, é ne- HOTZ, C.; BROWN, K.H. Assessment of the risk of zinc
cessário manter quantidades suficientes do nutriente no deficiency in populations and options for its control. Food
solo que permitam aumentar a sua absorção pelas raízes and Nutrition, v.25, n.1, p.91-204, 2004.
e seu armazenamento nas partes comestíveis das plantas.
LOPES, A.S.; GUILHERME, L.R.G. Solos sob Cerra-
do: Manejo da fertilidade para a produção agropecuária.
ANDA, 56p.
MAYER, J.E.; PFEIFFER, W.H.; BEYER, P. Biofortified
crops to alleviate micronutrient malnutrition. Current Opin-
ion in Plant Biology, v.11, n.2, 166-170, 2008.
NRIAGU, J.; Zinc Toxicity in Humans, Amsterdam: Else-
vier, 2007, 7p.
WHITE, P.J.; BROADLEY, M.R. Biofortifying crops with
essential mineral elements. Trends in Plant Science, v.10,
n.12, p.586-593, 2005.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. The World
Health Report 2002: Reducing risks, promoting healthy life.
Geneva: WHO, 2002. 230p.

Autores: Luiz Roberto Guimarães é professor da Universidade Federal de


Lavras
Ana Paula Branco Corguinha, Paulo Fernandes Boldrin Guilherme
são pesquisadores do Departamento de Ciência do Solo da Universi-
dade Federal de Lavras.
Figura 8 : Alimentos ricos em Zn Contato: anapaulacorguinha@hotmail.com

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 29


ARTIGO

Os teores de proteína da soja

e a qualidade para
a indústria
Antonio Eduardo Pípolo
José Marcos G. Mandarino

Dados de literatura indicam que terísticas, mas pouco tem sido feito
a soja apresenta em torno de 40 % comercialmente para enfrentar essa
de proteína e 20 % de óleo, em base tendência. Isso se deve, em primeiro
seca. Dados coletados em diversas lugar, à maior ênfase dada ao aumen-
regiões do Brasil na safra 2014/2015 to da produtividade (kg/ha de grãos)
mostram que os valores estão em tor- e da resistência às doenças, do que à
no de 36% para proteína e 22% para composição química dos grãos. Em
óleo, em base seca (Tabela 1). Esse segundo lugar, devido à existência
trabalho, liderado pela Embrapa Soja de correlação negativa entre concen-
com parcerias espalhadas por todo tração de proteína e a produtividade,
o Brasil, pretende mapear, nos próxi- e entre as concentrações de proteína
mos quatro anos, a qualidade da soja e óleo, requerendo mais tempo e es-
nos 33 milhões de hectares de planta- forço em melhoramento genético. Em
ção distribuídos nas principias regiões terceiro lugar, devido à ausência de
edafoclimáticas do país. incentivo econômico (prêmio), para a
Essa situação não é nova, pois o utilização de genótipos com alto teor
setor industrial de soja vem observan- proteico, visto que o produtor recebe
do esse comportamento desde o final pela quantidade produzida, e não pe-
da década de 1990. Este também não los teores de proteína e óleo.
é um problema só do Brasil, mas tam- Wilson et al. (2014) conduziram es-
bém grandes produtores mundiais tudo a campo com cultivares de soja
de soja, como EUA e Argentina, têm lançadas nos EUA de 1923 a 2008,
verificado a queda dos teores de pro- Grupos de Maturidade (GM) II e III,
teína em seus produtos. A preocupa- visando estudar, entre outras coisas,
ção resulta da dificuldade da indústria a interação entre ano de lançamen-
em conseguir produzir farelo de soja
com teores mínimos de 46 % e 48 %
de proteína, esse último denominado
Tabela 1: Teor médio proteína e óleo (base seca) determinado em 869 amostras de grãos de
Hipro, o que leva os fabricantes a reti- soja provenientes de nove estados brasileiros na safra 2014/2015
rarem o tegumento da soja - que apre-
ESTADOS % ÓLEO % PROTEINA
senta menor teor de proteína - para
conseguir elevar os teores no farelo, RS 22,41 36,38
redundando em aumento de custos SC 22,04 37,21
para a indústria. PR 22,34 36,14
A variação do teor de proteína e SP 22,68 35,36
óleo é determinada principalmente MG 21,88 35,83
por fatores genéticos, mas com forte
GO 22,62 35,56
influência ambiental, principalmente
àqueles ocorridos no período de en- MS 22,08 37,21
chimento de grãos. As empresas de MT 22,91 35,84
melhoramento de plantas têm traba- BA 22,23 36,13
lhado com a melhoria dessas carac- BRASIL 22,44 36,10

30 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


ARTIGO
to e produtividade de grãos e teores tiveram resultados semelhantes. No para 3.000 kg ha-1 nas últimas safras
de óleo e proteína. Com o passar dos GM II, o ganho de produtividade foi (Dall’agnol, 2016).
anos, no GM II, o ganho de rendimen- de 18,5 kg ha-1 ano-1 e o teor de pro- Ao analisar particularmente a influ-
to foi de 17,2 kg ha-1 ano-1, enquanto teína diminuiu 0,191 g kg-1 ano-1. No ência ambiental no teor de proteína,
no teor de proteína houve uma re- GM III, o ganho de produtividade foi apesar de a literatura internacional
dução total de 9,6 g kg-1. No GM III, da ordem de 19,6 kg ha-1 ano-1 e o teor sugerir a existência de um padrão ge-
o ganho de rendimento foi de 22,8 kg de proteína diminuiu 0,242 g kg-1 ano-1. ográfico para a variação dos teores
ha-1 ano-1 e, no teor de proteína hou- O teor de óleo aumentou 0,142 g kg-1 de óleo e proteína da soja, em que
ve uma redução total de 21,0 g kg-1. ano-1 e 0,127 g kg-1 ano-1 nos GM II e a temperatura do ar no período de
A concentração de óleo aumentou li- III, respectivamente. Os autores suge- enchimento de grãos teria um papel
nearmente tanto no GM II quanto no rem que a tendência de aumento no importante, diferentes trabalhos mos-
Grupo III, com taxas anuais de 0,13 e teor de óleo e decréscimo no teor de tram que grande parte das diferenças
0,12 g kg-1, respectivamente. Rown- proteína é resultado da seleção feita observadas a campo pode ser explica-
tree et al. (2013) trabalhando com a para produtividade de grãos. Cabe da pela variação na disponibilidade de
mesma base de dados, mas avaliando salientar que a produtividade média nitrogênio à planta. Para se maximizar
duas épocas de plantio, 1º de maio da soja no Brasil na década de 1960 tanto a produtividade quanto os teo-
(plantio antecipado) e 1º de junho, ob- era em torno de 1000 kg ha-1 e passou res de proteína no grão, é necessário

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 31


ARTIGO

maximizar a aquisição de N pelos dois de 3000 kg ha-1 de soja com 40 % de DALL’AGNOL, AMÉLIO. A Embrapa
mecanismos: N-mineral e FBN (fixa- proteína resultará em 1200 kg de pro- Soja no contexto do desenvolvimento
ção biológica de nitrogênio). teína ha-1 em aproximadamente 120 da soja no Brasil: histórico e contribui-
Apesar de ainda existir discus- dias de ciclo da soja. Como exemplo, ções. Brasília, DF: Embrapa 2016, 71p.
sões sobre os possíveis benefícios do uma produtividade de 3.500 kg ha-1 de GAN, y.; STULEN, I.; van KEULEN,
uso do N mineral na cultura da soja, soja com concentração de proteína de H.; KUIPER, P.J.C. Effect of N fertil-
a maioria dos resultados experimen- 38 % resultará em 1.330 kg ha-1 de pro- izer topdressing at various reproduc-
tais obtidos em condições de campo teína nos mesmos 120 dias, ou seja, tive stages on growth, N2 fixation and
demonstram que a sua aplicação, seja 130 kg de proteína a mais por hecta- yield of three soybean (glycine max
em adubação de base ou de cobertu- re. Por ou- (L) merr.) genotypes. Field Crops Res,
ra, via solo e/ou foliar, em diferentes tro lado, o v.80, p.147-155, 2003.
apesar da
estádios de desenvolvimento da soja, aumento
importância HUNGRIA, M.; CAMPO, R.J. &
não traz ganhos significativos de pro- no teor de
comercial da MENDES, I.C. A importância do pro-
dutividade, aumentando os custos de proteína
concentração cesso de fixação biológica do nitrogê-
produção e o impacto ambiental (Ba- deve ser
de proteína no nio para a cultura da soja: componen-
rker & Sawyer, 2005; Gan et al., 2003; associado
grão, também é te essencial para a competitividade do
Hungria et al., 2006, 2007). com es-
fundamental a produto brasileiro. Londrina, Brasil,
tudos de
Portanto, atenção especial deve produtividade de Embrapa Soja, 2007. 80 p. (Embrapa
verificação
ser dada às tecnologias que propi- proteína, ou seja, Soja. Documentos, 283).
da real me-
ciam a máxima eficiência do processo quantos quilos HUNGRIA, M.; CAMPO, R.J.;
lhoria do
de FBN, como o uso de sementes e de proteína são MENDES, I.C. & GRAHAM, P.H. Contri-
valor nutri-
inoculantes de alta qualidade, a corre- produzidos por bution of biological nitrogen fixation
cional, em
ção da acidez do solo, a distribuição hectare. to the N nutrition of grain crops in the
função da
de nutrientes no perfil do solo, a uti- tropics: the success of soybean (Gly-
possível
lização do Sistema de Plantio Direto cine max L. Merr.) in South America.
alteração no perfil de aminoácidos,
(SPD) com cobertura do solo visando In: SINGH, R.P.; SHANKAR, N.; & JAI-
bem como a avaliação da influência
reduzir picos de temperatura e manu- WA, P.K. (ed.) Nitrogen nutrition and
do manejo do solo e da fertilidade, na
tenção da umidade, o suprimento de sustainable plant productivity. Hous-
qualidade da soja e nos teores de pro-
cobalto (Co) e mobilidênio (Mo), entre ton, TX, USA, Studium Press, LLC,
teína nos grãos.
outros fatores que favoreçam o cres- 2006. p.43-93.
cimento radicular e a FBN. Em novembro de 2015, a Embra-
pa Soja promoveu o Workshop sobre ROWNTREE, S.C.; SUHRE, J.J.;
Embora a situação demande pre- WEIDENBENNER, N.H.; WILSON,
Proteína de Soja, em Londrina (PR).
ocupação, devido à importância da E.W.; DAVIS, V.M.; NAEVE, S.L.; CAS-
O evento teve caráter técnico-cientí-
commodity no mercado interno e ex- TEEL, S.N.; DIERS, B.W.; ESKER, P.D.;
fico e reuniu instituições de pesquisa
terno, a situação dos Estados Unidos e SPECHT, J.E.; CONLEY, S.P. Genetic
públicas e privadas, universidades,
Argentina também não é confortável. gain x management interaction in soy-
cooperativas e entidades de classe,
Estudos conduzidos por Thakur & Hur- bean: I. Planting date. Crop science,
envolvidas com a cadeia produtiva
burgh (2007) compararam a qualidade v.53, p.1128-1138, 2013.
da soja. O workshop teve como fi-
da soja dos EUA, Brasil e Argentina a
nalidade discutir a situação atual e a THAKUR, M.; HURBURGH, C.R.
partir de amostras coletadas nesses
evolução dos teores de proteína na Quality of US soybean meal compa-
países. A soja do Brasil apresentou
soja no país e os possíveis reflexos no red to the quality of soybean meal
a maior concentração de proteína
mercado. Nessa ocasião, a indústria from other origins. J. Am. Oil Chem.
(35,5 %, na base 13 % de umidade,
pleiteou teores de 36 % para proteína Soc., v.84, p.835-843, 2007.
n = 35), seguida pela soja americana
e 19 % para óleo, na base de umidade WILSON, E.W.; ROWNTREE,
e pela soja Argentina (p=0,05). A soja
de 14 %. Também foi produzido o Co- S.C.; SUHRE, J.J.; WEIDENBENNER,
do Brasil apresentou teor de óleo de
municado Técnico 86, na tentativa de N.H.; CONLEY, S.P.; DAVIS, V.M.; DI-
19,5 %, na base 13 % de umidade, n
incentivar e embasar a discussão do ERS, B.W.; ESKER, P.D.; NAEVE, S.L.;
= 35) e não diferiu dos teores de óleo
tema, e que se encontra disponível no SPECHT, J.E.; CASTEEL, S.N. Genetic
da soja Argentina, sendo ambas supe-
site da Embrapa Soja. gain x management interaction in
riores às amostras dos EUA (p=0,05).
soybean: II. Nitrogen utilization. Crop
Por usa vez, apesar da importância
comercial da concentração de prote-
Bibliografia science, v.54, p.340-348, 2014.

ína no grão, também é fundamental BARKER, D.W.; SAWYER, J.E. Ni-


Autores: Antonio Eduardo Pípolo e José
a produtividade de proteína, ou seja, trogen application to soybean at early
Marcos G. Mandarino são pesquisadores da
quantos quilos de proteína são produ- reproductive development. Agrono- Embrapa Soja- Londrina, PR
zidos por hectare. Uma produtividade my Journal, v.97, p.615-619, 2005. Contato: antonio.pipolo@embrapa.br

32 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


ARTIGO
Coloração e localização do
zinco no grão de trigo

Foto: João Augusto Lopes Pascoalino


Integração da
biofortificação
genética
e agronômica de culturas
com selênio
João Augusto Lopes Pascoalino
André Rodrigues dos Reis
Milton Ferreira Moraes

A produção de cereais tem se mantido na mesma taxa do crescimento popula-


cional mundial. Embora o fornecimento de cereais tenha sido satisfatório em quan-
tidade, não se pode dizer o mesmo para a questão da qualidade nutritiva desses
alimentos, uma vez que problemas de deficiência nutricional atingem quase meta-
de da população mundial (Graham et al., 2007). As deficiências ocasionadas pela
falta de zinco (Zn), ferro (Fe), selênio (Se), iodo (I) e vitamina A são atualmente as
que causam maior preocupação em relação à saúde humana, principalmente nos
países em desenvolvimento, como o Brasil (Allen et al., 2006).
Diversas abordagens têm sido utilizadas para contornar esse problema, como:
fortificação, suplementação e, mais recentemente, a biofortificação. Essa última
baseia-se no estudo dos alimentos com intuito de melhorar a qualidade dos pro-
dutos agrícolas por meio do melhoramento genético convencional de plantas e/ou
transgenia/biotecnologia (White e Broadley, 2005). Essa linha de pesquisa foi de-
nominada de “biofortificação genética” e tem se mostrado como um caminho pro-

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 33


ARTIGO

Figura 1: Principio e tos agrícolas alimentares são altamente


Biofortificação genética Biofortificação agronômica foco da biofortificação dependentes de sua concentração nos
genética e agronômica
solos, o que caracteriza potencial res-
posta quando o elemento é aplicado
Melhoramento de plantas Principalmente adubação junto com a adubação (Moraes et al.,
2010). Sendo assim, a biofortificação
agronômica é uma prática mais eficien-
Prático
Viável
te nesse caso.
aumento da qualidade nutricional dos alimentos Nesse contexto, vale ressaltar que o
Se é considerado um elemento escasso
no ambiente, com concentração média
Melhor nutrição humana nas rochas de aproximadamente 0,05
mg/kg (Krauskopf, 1982), concentração
menor do que a verificada para qual-
missor para melhorar a concentração complementar, ela se destaca pela prati- quer outro elemento nutricional. Em
de nutrientes e vitaminas nos alimentos cidade, agilidade e viabilidade, uma vez solos do Brasil não é diferente. Estudos
vegetais (Graham et al., 2007). Essa prá- que é realizada diretamente no campo, realizados com diversos tipos de solos
tica prioriza o desenvolvimento de cul- sendo a adubação a mais comumente agrícolas demonstraram baixos níveis
tivares que combinam níveis mais ele- adotada (Figura 1). de Se, variando de 0,001 a 0,80 mg/kg,
vados de micronutrientes e vitaminas Apesar de os estudos sobre biofor- o que caracteriza uma distribuição não
essenciais sem, contudo, alterar seu tificação estarem voltados com maior homogênea desse elemento nos solos.
desempenho agronômico. atenção para os micronutrientes Zn e Esse fato tem sido apontado como a
A biofortificação inclui outra linha de Fe, nota-se um significativo aumento causa de alimentos com níveis de Se
pesquisa, denominada de “biofortifica- nas pesquisas com o elemento selênio abaixo dos padrões internacionais, sen-
ção agronômica”, que tem sido utilizada (Se). Apesar de ainda não ser conside- do menores que 50 µg/kg para os grãos
como prática complementar para am- rado essencial às plantas, ele é reconhe- de cereais. Tal motivo tem desperta-
pliar o potencial de enriquecimento dos cido como micronutriente na nutrição do interesse de pesquisadores com a
teores de nutrientes e vitaminas na par- humana e animal. Diferentemente do biofortificação agronômica com o Se,
te comestível das culturas. Várias prá- observado para Zn e Fe, o selênio apre- embora exista alimentos naturalmente
ticas podem compor a biofortificação senta baixa regulação genética, ou seja, ricos nesse elemento, como a castanha
agronômica, entre elas, as que influen- pouco efeito da biofortificação genética do Brasil, cuja concentração pode va-
ciam no aumento dos teores de Zn, Fe, sobre ele nas plantas. Entretanto, nota- riar de 40 a 560 µg/kg (Reis et al., 2014)
Se e I, além de outras que colaboram -se certa variação genotípica em sua (Figura 2).
de forma geral na qualidade nutricional acumulação em partes comestiveis das Sobre a biofortificação com Se, al-
das plantas (Reis et al., 2014). Embora a culturas, como observado para Zn e Fe guns dados recentes e promissores
biofortificação agronômica seja prática (Tabela 1). Os níveis de Se nos produ- (Boldrin et al., 2012; Poblaciones et al.,

Tabela 1: Variação genotípica na acumulação de ferro, zinco e selênio por diversas culturas
Tipo de planta No variedades Fe (mg/kg) Zn (mg/kg) Se (µg/kg1) Referência
Festuca - pastagem 15 - - 82 -147 McQuinn et al. (1991)
Arroz (grãos) 1138 6-24 14-58 - Gregório et al. (2000)
Pimentão 24 - - 133 - 1.197 Golubkina et al. (2000)
Trigo (grãos) 324 25-73 25-92 - Monasterio e Graham (2000)
Soja (grãos) 06 - - 12 - 45 Yanling et al. (2002)
Milho (grãos) 1814 10-63 13-58 - Banziger e Long (2000)
Trigo (grãos) 100 - - 9 - 244 Lyons et al. (2003)
Soja (grãos) 322 48-110 29-67 - Wolnik et al. (1983)
Trigo (grãos) 40 - - 37 - 120 Lyons et al. (2005)
Feijão (grãos) 1000 34-89 21-54 - Beebe et al. (2000)
Trigo (grãos) 175 - - 33-440 Zhao et al. (2009)
Mandioca (tubérculo) 162 4-49 4-18 - Maziya-Dixon et al. (2000)
Trigo (grãos) 42 - - 24-116 Bona et al. (2009)
Triticale (grãos) 96 - - 22-140 Bona et al. (2009)
Arroz (grãos) 151 - - 29 - 103 Zhang et al. (2006)
Arroz (grãos) 35 - - 15 - 122 Moraes et al. (2009)
Brócolis - híbridos 20 - - 50 - 95 Farhnham et al. (2007)
Brócolis - linhagens 15 - - 34 - 89 Farhnham et al. (2007)
Fonte: Ampliado de Moraes et al. (2011)

34 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


ARTIGO
Figura 2: Castanha do Brasil, alimento consi- INOCENCIO M.F. Frações de zinco
derado mais rico em selênio (Cortesia do Prof. no solo e biofortificação agronômica
André Rodrigues dos Reis) com selênio, ferro e zinco em soja e tri-
go. Tese de Doutorado em Ciência do
Solo, Universidade Federal de Lavras –
UFLA. p.1-71, LAVRAS-MG, 2014.
práticas agrícolas que oferece condi-
ções favoráveis para o bom desenvol- KRAUSKOPF, K.B. Introduction to
vimento das plantas e qualidade dos geochemistry, 2nd. ed. Singapore:
produtos agrícolas. McGraw-Hill Book Company, 1982: Ap-
pendix 3, p.546.
Do exposto, tem-se que, em virtu-
MORAES, M.F.; ABREU Jr, C.H.;
de das adversidades ambientais, bem
HART, J.J.; WELCH, R.M.; KOCHIAN,
como da realidade em cada campo
L.V. Genotypic variation in micronutrient
agrícola, o sucesso e a maior eficiência
and cadmium concentrations in grains
da biofortificação tornam-se específi-
of 35 upland rice cultivars. In: World
cos para cada ambiente de produção, o
Congress of Soil Science, 19., 2010,
qual nos direciona ao entendimento de
Brisbane, Australia. Proceedings... Bris-
que se trata de um processo complexo,
bane: Queensland Government, 2010.
e não generalista. 3p. (CD-ROM).
2014) indicam que a adubação com Se MORAES, M.F.; RAMOS, S.J.; GUIL-
no solo pode proporcionar maiores Referências HERME, L.R.G. Beneficial roles of se-
concentrações desse elemento nos ALLEN, L.; BENOIST, B.; DARY, O.; lenium in plants. In: BANUELOS, G.R.,
grãos de trigo e arroz de terras altas. HURRELL, R. Guidelines on food forti- LIN, Z.Q., YIN, X.B. (Eds). Second Inter-
De forma semelhante, a aplicação de fication with micronutrients. Geneva: national Conference on Selenium in the
Se via foliar também promoveu au- WHO/FAO, 2006. 341p, 2006. Environment and Human Health, 2011.
mento nas concentrações do elemento BOLDRIN, P.F.; FAQUIM, V.; RA- Suzhou. Selenium: Global perspectives
nos grãos (Inocêncio, 2014). Há poucas of impacts on humans, animals and the
MOS, S.J.; GUILHERME, L.R.G.; BAS-
informações, mas são grandes as evi- environment. Hefei: University of Sci-
TOS, C.E.A.; CARVALHO, G.S.; COSTA,
dências da eficiência da bioforticação ence and Technology of China Press,
E.T.S. Selenato e selenito na produção e
desse micronutriente nas culturas. Adi- 2011. p.111-112.
biofortificação agronômica com selênio
cionalmente, pesquisas apontam que, POBLACIONES, M.J.; RODRIGO,
em arroz. Pesq. agropec. bras., Brasília,
para potencializar o efeito da biofortifi- S.; SANTAMARÍO, O.; CHEN, Y.; MC-
v.47, n.6, p.831-837, 2012.
cação, mais estudos são necessários e GRATH, S.P. 2014. Agronomic selenium
com o contínuo processo de integração GRAHAM, R.D.; WELCH, R.M.;
biofortification in Triticum durum under
da bioforticação genética com a agro- SAUNDERS, D.A.; ORTIZ-MONASTE-
Mediterranean conditions: from grain
nômica, além de se considerar fatores RIO, I.; BOUIS, H.E.; BONIERBALE, M.; to cooked pasta, Food Chem. v.146,
inerentes ao solo, planta e ambiente de HAAN, S.; BURGOS, G.; THIELE, G.; p.378-384.
produção (Figura 3). Esses fatores es- LIRIA, R.; MEISNER, C.A.; BEEBE, S.E.;
REIS, A.R.; FURLANI Jr., E.; MORA-
tão intimamente associados à interação POTTS, M.J.; KADIAN, M.; HOBBS, P.R.;
ES, M.F.; MELO, S.P.M. Biofortificação
de cada elemento nutricional com o GUPTA, R.K.; TWOMLOW, S. Nutritious
agronômica com selênio no Brasil
ambiente e conhecimento dos mesmos subsistence food systems. Advances in
como estratégia para aumentar a qua-
dará subsídios o direcionamento das Agronomy, v.92, p.1-74, 2007.
lidade dos produtos agrícolas. Brazilian
Journal of Biosystems Engineering, v.8,
Figura 3: Fatores n.2, p.128-138, 2014.
Fatores que influenciam a Biofortificação
que podem afetar e
potencializar a biofor- WHITE, P.J.; BROADLEY, M.R. Bio-
tificação fortifying crops with essential mineral
fator solo fator planta fator ambiente elements. Trends in Plant Science, v.10,
p.586-593, 2005.

Autores: João Augusto Lopes Pascoalino é


Material de origem arquitetura da planta Intensidade luminosa
pH do solo Morfologia da raiz Temperatura professor da Universidade Federal do Paraná.
Matéria orgânica associação simbiótica (raiz e fungos) Precipitação
Umidade Exsudados radiculares Evaporação
André Rodrigues dos Reis é professor da
Potencial redox Mecanismos fisiológicos Universidade Estadual Paulista.
Salinidade do solo
Tipo de argilominerais Milton Ferreira Moraes é professor da Uni-
Textura versidade Federal do Mato Grosso.
Microorganismos
Contato: moraesmf@ufmt.br

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 35


ARTIGO

Carne bovina nutritiva

e mais saudável
Marcus Antonio Zanetti
Lisia Bertonha Corrêa

Mesmo com a agitação da vida nantes pode alterar o perfil de ácidos


moderna, parcela considerável da graxos da carne, tornando-a mais
população tem se preocupado em saudável. Em experimento realizado
buscar uma alimentação mais saudá- na USP de Pirassununga, foi demons-
vel, alicerçados nas comprovações trando que a adição do mineral selê-
científicas que atestam que grande nio e da vitamina E na ração de vacas,
parte das doenças poderia ser evita- além de enriquecer o leite, aumenta-
da a partir da adoção de hábitos ali- ram os níveis desses nutrientes no
mentares mais adequados. Dentre as sangue de crianças que o ingeriram.
enfermidades mais preocupantes, as O selênio e a vitamina E são dois
doenças cardiovasculares (DCV) são nutrientes com propriedades antioxi-
consideradas como um dos principais dantes, que protegem o organismo
problemas de saúde pública, em fun- do envelhecimento, atuando no com-
ção da redução da qualidade de vida, bate aos radicais livres. Agindo como
do grande dispêndio financeiro com antioxidantes, eles têm um papel im-
o sistema de saúde, e por serem res- portante na prevenção de doenças
ponsáveis por cerca de 30% do total cardiovasculares, principalmente por
de mortes no Brasil. evitar a oxidação do colesterol e a for-
Apesar de ser um alimento muito mação de coágulos. O selênio apre-
rico em proteína, minerais e vitami- senta ainda uma série de outras pro-
nas - importante para se obter uma priedades muito interessantes, como,
dieta balanceada -, a carne bovina é por exemplo, aumentar a resposta do
frequentemente relacionada às DCV organismo contra as doenças, poten-
pela sua proporção de ácidos graxos cializar a resposta à insulina reduzindo
saturados e pelo teor de colesterol. o nível de açúcar no sangue) e auxiliar
Alguns profissionais da saúde têm até o bom desempenho da tireoide . Out- Carcaças dos animais
mesmo sugerido a retirada da carne ra ação interessante é que o selênio,
bovina da dieta, principalmente para em doses elevadas, pode reduzir o
pessoas com predisposição às DCV, colesterol (atua nos compostos GSH-
enquanto outros procuram restringir Glutationa reduzida/GSSG-glutationa
a sua ingestão. Nos últimos anos, tem oxidada).
se pesquisado muito e, inclusive, ve- Os especialistas em nutrição hu-
rificado que a utilização de diferentes mana têm afirmado que, atualmente,
fontes de gordura na dieta de rumi- é preocupante a falta na dieta dos hu-

36 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


ARTIGO
manos de um ácido graxo essencial, com dieta total contendo 30 % de vo-
o ômega 3. Esse ácido é encontrado lumoso (silagem de milho) e 70 % de
em quantidade relativamente alta em concentrado, na matéria seca.
óleos de peixes e em quantidades As dietas dos animais foram for-
menores nos óleos vegetais de lin- muladas para atender às exigências
haça e de canola. Enriquecendo as nutricionais recomendadas pelo Con-
rações dos animais com esses óleos,
selho Nacional de Pesquisa dos Esta-
é possível obter carne e leite com
dos Unidos (NRC, 1996), com exceção
maior teor de ômega 3. A diminuição
do selênio, que estava aumentado. Os
de colesterol, o aumento de ácidos
seguintes tratamentos foram avalia-
graxos insaturados e de agentes an-
dos: Controle (dieta base); Controle
tioxidantes como selênio e vitamina
+ Antioxidantes (adição de Se e Vi-
E na carne para o consumo humano,
tamina E); Controle + Óleo (adição
podem trazer benefícios tanto merc-
de óleo de canola); Antioxidantes +
adológicos, como do ponto de vista
Óleo. O selênio utilizado foi o selê-
de saúde pública, visto que a carne é
nio levedura (® Selplex). Coletas de
um alimento de grande importância
sangue foram efetuadas no decorrer
em função do seu excelente valor nu-
tricional. do experimento para análises de co-
lesterol, Se e vitamina E. Ao final do
experimento, os bovinos foram aba-
Avaliação experimental tidos no Matadouro-Escola da Pre-
Considerando todos estes fatores, feitura do Campus Administrativo de
um experimento financiado pela Fun- Pirassununga (PCAPS), que utiliza o
dação de Amparo à Pesquisa do Esta- Sistema de Inspeção Estadual (SISP).
do de São Paulo (Fapesp) visou avaliar Durante a desossa foram colhidos
a melhoria na qualidade da carne em bifes do contrafilé, dos quais foram
resposta à suplementação da dieta retiradas amostras para posterior ava-
dos bovinos com selênio, vitamina E
liação do Se, vitamina E, colesterol e
e óleo de canola. Posteriormente, a
substâncias oxidantes determinadas
carne obtida foi fornecida a idosos de
pela análise de TBARS. Alguns bifes
uma casa de repouso no município de
foram destinados às análises de “Dis-
Leme (SP). A pesquisa foi conduzida
play Life” (DL) em balcão expositor
no Departamento de Zootecnia, da
por até seis dias para simular a vida
Faculdade de Zootecnia e Engenharia
de prateleira da carne, semelhante ao
de Alimentos da Universidade de São
que ocorre nos supermercados.
Paulo, em Pirassununga (SP). Foram
Foto:Lisia B. Corrêa utilizados 48 bovinos da raça Nelore
em fase de terminação, com aproxi- Resultados
madamente dois anos de idade, peso Os resultados obtidos foram bas-
médio de 350 kg, e que foram con- tante interessantes. Os bovinos que
finados durante 12 semanas em sis- receberam a ração suplementada com
tema tipo “Calan-Gate”, com cochos uma dose elevada de selênio orgâni-
individuais que permitem controlar a co durante o período de três meses de
quantidade exata que cada animal in- engorda, além de apresentarem au-
gere. Os bovinos foram alimentados mento na quantidade de selênio e vi-

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 37


ARTIGO

tamina no sangue, apresentaram teor diário de 200 gramas da carne suple- maior do que nos animais que não fo-
desse mineral na carne quase seis mentada com o selênio, como a ob- ram suplementados. A vitamina E tem
vezes maior do que a de bovinos que tida no estudo apresentado, é capaz sido reconhecida como nutriente es-
não tiveram a ração suplementada. O de fornecer a dose diária recomenda- sencial para o crescimento e saúde de
selênio tem sido associado com fun- da de consumo do mineral, que é de todas as espécies animais. Também é
ções como a prevenção de doenças, 50 microgramas. Mesmo consumindo importante para saúde humana tendo
melhoria da imunidade e, por fazer apenas 100 gramas da carne, uma em vista sua contribuição como antio-
parte de uma enzima chamada gluta- pessoa xidante em sistemas biológicos, auxi-
tiona peroxidase, auxilia no combate a d u l t a liando no combate aos radicais livres,
de radicais livres, prevenindo o enve- atingiria 50 na biossíntese de prostaglandina, na
lhecimento e a morte de tecidos. O colesterol na % de suas prevenção das doenças cardiovascu-
carne diminuiu necessi- lares e na melhora da resposta imune.
Os poucos estudos realizados no
significativamente dades di-
Brasil com humanos indicam que a Os animais que receberam óleo
nos animais que árias do
maior parte da população possui ní- de canola na dieta apresentaram car-
receberam ração mineral,
veis de selênio no sangue abaixo do ne com menor teor de ácidos graxos
suplementada com p o d e n d o
recomendado, com exceção da região saturados e maior de insaturados, in-
níveis elevados de completar
Norte. A principal explicação para isto clusive maior concentração de ôme-
selênio e vitamina E as exigên-
é o teor mais elevado de selênio nos ga 3. Esses resultados são de grande
solos daquela região, aumentando o cias com importância por indicar a possiblidade
teor nos alimentos. os demais de se melhorar um dos fatores mais
alimentos da dieta. negativos da carne bovina, que é a
Neste sentido, o desenvolvimento
de produtos como a carne suplemen- Os animais que receberam suple- presença de gordura saturada.
tada com selênio pode contribuir para mentação com vitamina E também O colesterol na carne diminuiu
melhorar o nível desse mineral na die- apresentaram aumento da sua concen- significativamente nos animais que
ta da população brasileira. O consumo tração no sangue dos bovinos. Na car- receberam ração suplementada com
ne o teor da vitamina E foi duas vezes

Foto:Lisia B. Corrêa

Confinamento

38 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


Foto:Lisia B. Corrêa

ARTIGO
Bifes para teste de prateleira

níveis elevados de selênio e vitamina E apresentaram menores valores de tamina E tiveram um aumento desses
E. A carne vermelha é apontada como TBARS em relação àqueles que não nutrientes no sangue, além do que
uma das principais inimigas de uma foram suplementados, sugerindo o houve uma tendência de diminuição
dieta saudável desde a década de efeito antioxidante desses elementos. do colesterol em todos os grupos ava-
1960, quando pesquisas sobre o au- Ao diminuir o tempo de oxidação do liados. No grupo que consumiu a car-
mento dos ataques cardíacos indica- produto, a adição de selênio e vita- ne de animais tratados com selênio e
ram uma relação entre o alto teor de mina E na vitamina E, a redução no colesterol no
gordura saturada e o crescimento dos ração de bo- sangue foi significativa. Os resultados
níveis de colesterol ruim, o LDL. En- vinos pode Um resultado desse trabalho repercutiram no Brasil
tretanto, ela é necessária para a cons- contribuir inédito - sem e no exterior, uma vez que a produ-
trução muscular e o fortalecimento para aumen- similar no ção de carne enriquecida com selênio
do sistema imunológico, além de ser tar o prazo mundo - foi que e vitamina E, com menos colesterol e
importante fonte de ferro e de vitami- de valida- os idosos que com maior vida útil, trará vantagens
nas. A carne com menos colesterol, de, também consumiram tanto mercadológicas como do ponto
portanto, é mais saudável aos seres conhecido a carne com de vista de saúde pública. Esperamos
humanos. como “vida selênio e que, em breve, esse tipo de produto
de pratelei- vitamina E possa ser disponibilizado para a po-
Por combater os radicais livres, o
ra” da carne. tiveram um pulação. Dessa forma, todos poderão
selênio e a vitamina E também pro-
No estudo aumento desses usufruir desses benefícios, além do
movem a redução da oxidação dos
não foi me- nutrientes no que os produtores de carne terão um
lipídios da carne, o que pode ser
dido quanto sangue incentivo a mais para investir em um
mensurado por meio de um método
chamado TBARS. Com o passar do tempo seria produto de melhor qualidade no mer-
tempo, é inevitável que ocorra oxida- aumentado e conclusões neste senti- cado.
ção dos lipídios da carne. Entretanto, do são impossíveis de precisar.
para os três tipos de armazenamento Um resultado inédito - sem simi- Autores: Marcus Antonio Zanetti é professor
da FZEA-USP e Lísia Bertonha Corrêa é
utilizados no estudo, os animais su- lar no mundo - foi que os idosos que zootecnista.
plementados com selênio e vitamina consumiram a carne com selênio e vi-
Contato: mzanetti@usp.br

BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016 39


Você conhece
os sócios da SBCS?
Agora é possível conhecer melhor quem são os sócios da
SBCS e a que Divisão Científica e Núcleo Regional ou Esta-
dual eles pertencem.
A lista geral de sócios pode ser consultada no link “ A
SBCS Lista de sócios “no site da SBCS. Também é possível
consultar as listas por Divisão Especializada e por Núcleo
Regional ou Estadual.
O objetivo de tornar a lista pública e valorizar o orgulho
de pertencer à uma Sociedade Científica de renome como
a SBCS.
As listas também destacam os novos sócios.
Para tornar-se sócios da SBCS consulte o site em “Área
do Sócio Quero me associar no alto da página à direita. Seja
bem-vindo.

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cia do solo e da pesquisa no Brasil e no mundo.
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40 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS | MAI - AGO 2016


IUSS InterCongress
Meeting 2016
A União Internacional das Sociedades de
Ciência do Solo (IUSS) e Sociedade Brasilei-
ra de Ciência do Solo realizam, entre os dias
20 e 25 de novembro o IUSS InterCongress
Meeting 2016. O encontro será realizado no
Rio de Janeiro.

Este é um evento oficial da IUSS para definir a organização e o planejamento lo-


gístico e científico do Congresso Mundial em 2018.

Durante o evento, fechado para as reuniões de trabalho, haverá um Simpósio


aberto a todos os que pretendem participar. O Simpósio terá como tema: Soil
Science: Beyond food and fuel.

Saiba mais sobre o evento no site: http://www.21wcss.org/ic2016/index.php

Visite o site e acompanhe a organização do XXI Con-


gresso Latinoamericano de Ciência do Solo que será
realizado entre os dias 24-28 de outubro, em Quito,
Equador.

http://www.secsuelo.org/

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