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ISSN 1981-979X
Volume 42
Número 2
Maio/agosto de 2016
www.sbcs.org.br
A biofortificação
em debate
os eventos da SBCS
Publicação editada pela Secretaria Executiva da
SBCS. Tem por objetivos esclarecer as principais
atividades da Sociedade e difundir notícias de
interesse dos associados. Os conceitos emitidos
em artigos assinados são de exclusiva respon-
sabilidade de seus autores, não refletindo,
necessariamente, a opinião da SBCS. Permite-
se a reprodução, total ou parcial, dos artigos e
reportagens, desde que seja, explicitamente,
indicada a sua origem.
O Boletim da SBCS é vendido, separadamente,
a R$20,00 mais o valor de postagem.
Disponível para download no site da SBCS.
www.sbcs.org.br
www.facebook.com/sbcs.solos
Ficha catalográfica
Quadrimestral.
A partir do vol. 22, n.3 publicado em Viçosa.
ISSN a partir do vol. 32, n.3.
ISSN 1981-979X
Esta edição do Boletim Informativo da SBCS, referente ao período maio/agosto de 2016 chega
com um pequeno atraso e pedimos desculpas por isso. Um problema na edição dos artigos da seção
temática provocou o atraso e, por isso, a Comissão Editorial decidiu incluir aqui os eventos da SBCS
que aconteceram no mês de setembro. Para quem coleciona as edições ou para pesquisadores que,
no futuro, vão buscar dados sobre a história da nossa Sociedade esta é uma informação importante.
A Comissão Editorial sempre teve o zelo de pensar nesta publicação como um meio de informação,
mas também como um registro histórico importante para a memória da SBCS.
O atraso na edição nos faz pensar em outra questão. Todos nós, pesquisadores e professores
estamos sobrecarregados em nosso do dia a dia. Assumimos cada vez mais atividades necessárias
ao nosso trabalho. Mas isso não pode tirar de nós o compromisso de zelar pelo desenvolvimento
e pelo fortalecimento da nossa Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. É ela que nos representa.
É ela quem zela pela qualidade das nossas publicações e pela valorização do nosso trabalho. Com
ela somos mais fortes e fazemos mais sólida a ciência do solo no Brasil. É por isso que não cansa-
mos de repetir, neste espaço, a necessidade de nos dedicarmos aos nossos eventos, publicações e
aos nossos Núcleos Regionais e Estaduais e às nossas Comissões e Divisões Especializadas. Cada
uma destas unidades precisa nos representar para que, somadas, sejam uma sociedade científica
realmente representativa. Em meio à crise política que assola nosso país é preciso pensar com mais
carinho na nossa responsabilidade cidadã e a participação efetiva em órgãos que nos representa.
Além de escolher representantes, seja em que estância for, é preciso participar, acompanhar e fazer
nossa parte. Que a falta de tempo e excessos de atividades não nos afaste de nosso compromisso
de zelar pela nossa SBCS.
Esta edição traz as notícias deste período, com ênfase nos eventos promovidos por nossos Nú-
cleos Regionais. Estes eventos devem acontecer sempre em anos pares, quando não há o Congresso
Brasileiro de Ciência do Solo. É assim, atuando regionalmente, que a SBCS se faz presente e atuante
em todo o Brasil. Parabéns aos organizadores e diretores dos Núcleos que têm se empenhado, cada
vez mais, em promover eventos de qualidade técnica com ênfase nos problemas regionais e com
grande participação do público. Parabéns aos palestrantes, pesquisadores experientes, que se deslo-
caram de suas cidades até as cidades interioranas, aonde se realizaram os eventos, para compartilhar
suas experiências com uma audiência, composta principalmente por estudantes de todos os níveis
mas também por agricultores. Foi emocionante e gratificante ver como ficaram durante todo o even-
to discutindo temas relevantes para cada região, muita generosidade. E finalmente parabéns a audi-
ência motivada e participativa, que dará continuidade a importante tarefa de cuidar de nossos solos.
Na seção opinião, temos o tema Biofortificação de alimentos. Como sempre, o Boletim procura
abordar temas contemporâneos da Ciência do Solo e os desafios que eles impõem à pesquisa. Co-
nhecer, atualizar-se ou refletir sobre novas áreas de pesquisa, a multidisciplinaridade e as interfaces
da ciência é nossa maneira de contribuir para ajudar a resolver os problemas do país. O combate à
fome, explícita ou oculta, a desnutrição e má qualidade da alimentação é um dos exemplos do que
nossas pesquisas podem fazer pelo país.
Esperamos encontrá-los na FertBio, em Goiânia e na Reunião Brasileira de Manejo e Conservação
do Solo e da Água, em Foz do Iguaçu nos próximos meses para que possamos conversar pessoal-
mente sobre tudo o que dissemos aqui.
Uma boa leitura a todos
Vice-presidente
Antonio Rodrigues Fernandes (UFRA)
5 Takashi Kosaki
será o novo presidente da IUSS
des (UFV)
Tesoureiro: Igor Rodrigues de Assis (UFV)
9
Divisão 1: Solo no Espaço e no Tempo XI Reunião Sul Brasileira
Lucia Helena Cunha dos Anjos (UFRRJ)
Divisão 2: Processos e Propriedades do Solo de Ciência do Solo
Dalvan José Reinert (UFSM)
Divisão 3: Uso e Manejo do Solo
SECRETARIA DA SBCS
Cíntia Fontes
Denise Cardoso
Denise Machado
AO PEDÓLOGO PAULO
KLINGER
Em cerimônia realizada dia 8 de ju- profissional à pedologia dando grandes
nho, a Universidade Federal do Recôn- contribuições para o aperfeiçoamento
cavo da Bahia (UFRB) concedeu o título do Sistema Brasileiro de Classificação
Doutor Honoris Causa ao engenheiro dos Solos. Ele é também reconhecido
agrônomo Paulo Klinger Tito Jacomi- pelos colegas como o profissional que
ne. O evento contou com a presença melhor conhece a pedologia no país.
de professores, alunos de graduação e Além dessas características profissio-
pós-graduação e técnicos-administrati- nais, Paulo Klinger é também um gran-
vos da instituição, pesquisadores e ou- de incentivador do fortalecimento de
tros especialistas da área, além de fa- nossa sociedade científica.
miliares e amigos do homenageado.A À UFRB a gratidão da SBCS pelo
honraria é um reconhecimento a per- justo e honroso reconhecimento ao
sonalidades que se destacam nas ci- mérito de Paulo Klinger Tito Jacomine.
ências, nas artes ou nas relações com
Para o reitor da UFRB, Silvio So-
a sociedade e foi proposta pela Área
glia, “esse é um dia festivo para a
de Conhecimento de Ciência do Solo,
nossa instituição. Dar o título Dou-
pelo Colegiado do Programa de Pós-
tor Honoris Causa a Paulo Klinger
-Graduação em SQE e pela Direção do
significa reafirmar para todo o Brasil
CCAAB, e aprovada por unanimidade
o laço estreito e forte que a UFRB tem “Eu me sinto honrado com esse título que
pelo Conselho Universitário (CONSU-
com a ciência desse país. Conhecer servirá de estímulo para continuidade dos tra-
NI), em reunião ocorrida no dia 18 de balhos de classificação de solos iniciados ain-
essa bela história de vida pessoal e
dezembro de 2015. da na década de 1950”, disse Paulo Klinger.
profissional só nos enche de orgulho
Durante a solenidade, foi lida a car- e confirma o quão foi acertada essa
ta da atual presidente da Sociedade decisão”, disse.
Brasileira de Ciência do Solo (SBCS),
Durante a cerimônia, o professor
Fatima Moreira, em que a instituição
Joelito Rezende apresentou um re-
parabeniza a UFRB pelo título dado a
sumo da carreira do pedólogo, que
paulo Paulo Klinger. Nesta correspon-
fundamentou a concessão do título, e
dência, a presidente diz o seguinte:
frisou que a universidade se sente hon-
“A Sociedade Brasileira de Ciência do
rada ao concedê-lo. “É inquestionável
Solo (SBCS) congratula-se com a Uni-
o reconhecimento da UFRB, represen-
versidade Federal do Recôncavo da
tando a sociedade brasileira como um
Bahia pela nobre decisão de conceder
todo, a tudo que ele realizou pela Ciên-
à Paulo Klinger Tito Jacomine o título
cia do Solo no país”, afirmou.
de Doutor Honoris Causa desta insti-
tuição. Nascido no Rio de Janeiro, natural
de Fidélis, Paulo Klinger é hoje o pe-
Paulo Klinger é um dos mais atu-
dólogo com mais serviços prestados à
antes sócios da SBCS, tendo recebido,
Ciência do Solo no Brasil, tendo par-
em 2009, a Medalha Antonio Carlos
ticipado da formação de vários profis-
Moniz, honraria máxima concedida
sionais na área e contribuído significa-
pela SBCS aos que muito contribuem
tivamente para elaboração do Mapa de
para a ciência do solo no Brasil. O pro-
Solos do Brasil. ( Fonte: UFRB)
fessor Klinger dedicou toda a sua vida
II Amazon Soil
“O solo como base do sistema produti-
vo sustentável na Amazônia, proferida
pelo ex-chefe da Embrapa Amazônia
O encontro reuniu 280 pesquisadores e estudantes dos estados do Pará, Tocantins, Amazonas
e Maranhão
de Ciência do Solo
A XI Reunião Sul Brasileira de Ciên-
cia do Solo (XI RSBCS) foi realizada en-
tre os 31 de agosto a 02 de setembro de
2016, marcando 20 anos de realização
das reuniões do Núcleo Regional Sul
(NRS). A reunião foi realizada na cidade
de Frederico Westphalen-RS e organi-
zada com a participação da Universida-
de Federal de Santa Maria, Universida-
de Regional Integrada do Alto Uruguai
e das Missões e pelo Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia, si-
tuadas no município de Frederico Wes-
tphalen.
O tema “Qualidade do Solo & Am- Componentes da mesa de abertura do evento
biente de Produção remeteu a reflexão
sobre o ambiente de produção: será to, com destaque para a conferência palestras, da qualidade dos palestran-
que todo o conhecimento gerado nas de abertura feita pela presidente da tes, da infraestrutura disponibilizada e
instituições de ensino e de pesquisa SBCS. Na palestra, Fatima Maria de de toda equipe de apoio que ajudaram
está sendo aplicado na busca pela qua- Souza Moreira apresentou os indi- antes e durante o evento.
lidade do solo? Será que o ambiente de cadores de qualidade dos solos nos Durante o evento também foram
produção é sustentável? ambientes de produção. Os organiza- abordados temas relacionados à Dinâ-
Estes e outros questionamentos dores também destacam a palestra na mica do Carbono no Ambiente de Pro-
propostos pela Comissão Organiza- qual o professor João Kaminski rela- dução, pelo professor Cimélio Bayer,
dora foram discutidos durante todo o tou a trajetória da Ciência do Solo no
evento que contou com 426 participan- sul do Brasil, promovendo, assim, um
resgate desta importante história da No dia da abertura do evento
tes. Destes, 32 % eram estudantes de
ciência do solo. também foi realizado o lançamento
graduação e 25 % de pós-graduação,
da nova edição do Manual de Cala-
indicando uma grande participação de Mais de 95 % dos participantes do
gem e Adubação para os Estados do
jovens pesquisadores. Foram selecio- XI RSBCS avaliaram a organização do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
nados 216 trabalhos científicos, apre- evento como bom e ótimo. A Comis-
sentados na forma de pôsteres e que se são Organizadora reconhece que este As principais atualizações reali-
encontram nos anais do evento. sucesso somente foi possível pelo es- zadas no sistema de recomendação
forço em conjunto das três instituições de calagem e adubação foram expli-
No total foram proferidas oito pa-
envolvidas, do tema abortado para as cadas pelo professor Leandro Souza
lestras relacionadas ao tema do even-
da Silva, da UFSM.
do Núcleo Noroeste
A organização foi encabeçada pelos
sócios Fábio Régis de Souza, Anderson
Cristian Bergamin e Jairo Rafael Macha-
do Dias, todos professores do curso de
Agronomia, da Universidade Federal de
Rondônia, campus de Rolim de Moura.
O Núcleo Noroeste da SBCS é dirigido
pelo Chefe-Geral da Embrapa Rondô-
nia, Alaerto Luiz Marcolan.
Embora seja a primeira Reunião or-
ganizada pelo Núcleo Noroeste, a equi-
pe organizadora atua desde 2012 na re-
alização de eventos na região, quando
os pesquisadores ainda pertenciam ao
Núcleo Regional Amazônia Ocidental,
atualmente composto pelos estados
Este foi a primeiro evento realizado pelo Núcleo Noroeste, criado em 2015 do Amazonas e de Roraima. Em 2012,
o evento foi realizado em Humaitá-AM,
A I Reunião de Ciência do Solo do priedades e potencialidades. Segundo e, em 2014, em Porto Velho, então de-
Núcleo Noroeste da SBCS foi realizada os organizadores, o evento reuniu mais nominados como I e II Reuniões de Ci-
entre os dias 13 a 16 de setembro, na 300 pessoas, entre estudantes de Agro- ência do Solo da Amazônia Ocidental.
Faculdade de Rolim de Moura - FAROL. nomia e Engenharia Florestal, profes- O local da próxima Reunião ainda
O evento é promovido pelo Núcleo Re- sores, produtores rurais, consultores e não foi definido. Segundo o diretor Ala-
gional Noroeste da SBCS que abran- outros profissionais interessados. erto Marcolan, “as Reuniões Regionais
ge os estados do Acre e Rondônia. A O evento contou com 19 palestras são importantes porque tornam acessí-
Secretaria Executiva da SBCS foi re- de profissionais da região e de outros veis palestrantes renomados para regi-
presentada pela presidente da SBCS, estados, entre pesquisadores, profes- ões onde, normalmente, não ocorrem
Fátima Moreira, que também foi pales- sores e consultores, além de apresen- grandes eventos, promovendo a troca
trante. tação de trabalhos na forma de banner de conhecimento e o interesse pela Ci-
A ideia é que a Reunião seja pro- e oral. Foram recebidos 98 trabalhos na ência do Solo.”
movida a cada dois anos para reunir forma de resumo expandido. Além dos Para acessar os anais, visite o site
profissionais e cientistas ligados às Ci- anais, que já estão disponíveis no site do evento:
ências Agrárias, em especial à Ciência do evento, os organizadores também https://sites.google.com/a/unir.br/i-
do Solo. Este ano, a Reunião teve como planejam elaborar um livro com pales- -reuniao-de-ciencia-do-solo-do-nucleo-
tema: Solos no Noroeste do Brasil: pro- tras que foram apresentadas. -noroeste/palestras
O evento reuniu mais 300 pessoas divulgando a Ciência do Solo no A SBCS foi representada pela presidente da SBCS, Fatima Moreira,
Acre e Rondônia que também foi palestrante
Prêmio
O presidente do Núcleo Regional Nordeste da SBCS,
Júlio Nóbrega, destacou a primeira edição do Prêmio Nor-
deste de Ciência do Solo, que homenageou o professor
Ignácio Hernán Salcedo. “Estamos reconhecendo o traba-
lho de um pesquisador que vem dedicando toda sua vida
ao ensino, pesquisa, extensão e o avanço da ciência do
solo no Nordeste”, frisou Nóbrega.
Ignácio Hernán Salcedo é graduado em agronomia
pela Universidad de Buenos Aires (1970), com mestrado
(1973) e doutorado (1976) em Ciência do Solo pela Michi-
gan State University, nos Estados Unidos e foi diretor do
Instituto Nacional do Semiárido (INSA) entre 2011 e 2015.
(Fonte: Grupo Cultivar e Núcleo Nordeste de Ciência
O encerramento do Simpósio contou com homenagem à Professo-
do Solo) ra Déborah Oliveira feita pelo professor Attila Miklés em nome dos
participantes do evento.
solos no meio
urbano
A SBCS promoveu, entre os dias 7 e 10 de setembro, na
USP, o VIII Simpósio Brasileiro de Educação em Solos (SBES).
O evento, organizado pela Divisão 4 da SBCS e pelo Departa-
mento de Geografia da USP e presidido pela professora Dé-
borah Oliveira, reuniu estudantes e pesquisadores vinculados
às instituições de ensino superior que investigam e desen-
volvem trabalhos na área de ensino e pesquisa de Solos. A
realização do Simpósio reforça a importância do ensino do
solo e de uma visão pedagógica para o trabalho de uso e
conservação do solo de formas sustentáveis.
O Simpósio teve como tema principal “A educação em so-
los no meio urbano e a popularização da Ciência do Solo” As
palestras, oficinas e grupos de trabalho buscaram estimular
a articulação e a troca de ideias, informações, experiências e
conhecimentos entre os participantes do simpósio, formado
por pedagogos, geógrafos, agrônomos, biólogos, geólogos
e químicos, professores, pesquisadores, acadêmicos e pro-
fissionais das demais áreas voltadas para a temática do sim-
pósio.
Segundo a presidente do evento, a realização do Simpó-
sio em uma grande cidade como São Paulo foi uma oportu-
nidade para divulgação das pesquisas e ações relacionadas à
educação sobre o uso e conservação dos solos desenvolvi-
das a partir da realidade do meio urbano.
Uma das visitas técnicas realizadas foi no Parque Estadual Jaraguá,
A Diretoria da SBCS foi representada no evento pelo Se-
orientada pelo Prof. Fernando Nadal Junqueira Villela e por Marcos Ro-
berto Pinheiro (GEOGRAFIA-USP). cretário Geral da SBCS, Reinaldo Bertola Cantarutti e pela Di-
retoria da Divisão 4 da SBCS, Cristine Carole Mugler.
O próximo SBES será realizado em Dois Vizinhos, no Pa-
Durante o evento, os organizadores concederam o prê- raná, em 2018. Em 2020, o evento será realizado em Petro-
mio Inovação em Educação em Solos para diversas ca- lina, Pernambuco.
tegorias: Confira os vencedores:
Categoria Apresentação Oral:
Lygia de Oliveira Lopes com o trabalho: Dialogan-
do sobre solos no rádio: interações com o agricultor.
Nicole Geraldine de Paula Marques Witt com o traba-
lho: O solo e o ambiente como sujeito do processo for-
mativo.
Categoria Painel:
Jerusa Schneider com o trabalho: Ensino-aprendiza-
gem sobre conservação do solo e da água: uma expe-
riência no programa PIBIC- ensino médio da UNICAMP.
Categoria Artes:
Grupo Teatrinho do Solo, coordenado pela Professora
Adriana de Fátima Meira Vital (UFCG)
Parabéns a todos os ganhadores! Os melhores trabalhos foram agraciados com o
prêmio Inovação em Educação em Solos
FertBio 2016
“Rumo
aos novos
desafios”
O Núcleo Regional Centro-Oeste desafios”, o objetivo do evento será mentos e produtos para laboratórios,
da Sociedade Brasileira de Ciência do destacar o estágio atual do conheci- livros, fertilizantes e vários outros ser-
Solo, em parceria com a Universidade mento científico e sua aplicação nas di- viços ligados às áreas de Fertilidade,
Federal de Goiás, Universidade Federal ferentes áreas que o constituem, assim Nutrição de Plantas e Biologia do Solo.
de Mato Grosso, Instituto Federal Goia- como estimular debates em torno de Nas manhãs do evento serão realiza-
no, Embrapa Arroz e Feijão, Embrapa temas relevantes e, a partir disso, pro- das conferências e mesas redondas
Cerrados e a Universidade de Brasília, por soluções para os problemas atuais, com objetivo de integrar as áreas de
estão organizando a FertBio 2016, que assim como delinear perspectivas para Fertilidade, Nutrição de Plantas e Bio-
será realizada no Centro de Conven- o futuro. logia do Solo. No período da tarde, se-
ções de Goiânia, Goiás, de 16 a 20 de Na composição da equipe de pa- rão realizados os quatro eventos que
outubro de 2016. lestrantes e moderadores, a comissão compõem a FertBio de forma paralela,
A FertBio é um evento tradicional organizadora pretendeu somar a ex- cada um deles também no formato de
da SBCS que congregará quatro im- periência de profissionais do Brasil e mesa-redonda.
portantes eventos: a XXXII Reunião do exterior, integrando os destaques A programação da FertBio 2016
Brasileira de Fertilidade do Solo e Nu- emergentes da Ciência do Solo. Além enfatiza duas grandes vertentes: “Qua-
trição de Plantas, a XVI Reunião Brasi- disso, serão apresentados trabalhos lidade do solo e sua importância em
leira sobre Micorrizas, o XIV Simpósio de pesquisa na forma de pôsteres e ambientes tropicais” e “A nova visão
Brasileiro de Microbiologia do Solo e promovidos minicursos e visitas de de fertilidade solo para o século XXI”.
a XI Reunião Brasileira de Biologia do campo. Paralelamente ao evento cien- Na palestra de abertura, o ex-Minis-
Solo. Com o tema “rumo aos novos tífico, haverá exposição de equipa- tro da Agricultura, Roberto Rodrigues
(FGV), falará sobre os “Desafios da pesquisador do CIAT (Colômbia). A agricultura sustentável e de eleva-
agropecuária brasileira no cenário polí- construção e o compartilhamento da produtividade. A insuficiência do
tico e econômico atual: oportunidades do conhecimento sobre serviços am- conceito mineralista para descrever
e ameaças”. bientais na paisagem rural brasileira integralmente o que é fertilidade de
Os avanços e fronteiras do conhe- será o tema da palestra da pesquisa- solo será objeto da palestra da pro-
cimento serão tema das conferências dora Rachel Prado, da Embrapa So- fessora Margarete Nicolodi, da UFR-
especiais. Guntur Subbarao, do JIR- los. GS. Uma mesa redonda com o tema
CAS (Japão) falará sobre o poten- O uso da fauna como indicadora “Novos olhares sobre a fertilidade
cial de uso da inibição biológica da da qualidade do solo em sistemas na- agrícola em sistemas agrícola tro-
nitrificação visando o aumento da turais e agroecossistemas será abor- picais” fechará a discussão sobre o
eficiência de uso de N pelas cultu- dado por renomados cientistas que tema.
ras. Por sua vez, Douglas Karlen, do trabalham com o tema em diferentes A matéria orgânica terá destaque
ARS/USDA, responsável pelo grupo biomas brasileiros. Outros importan- na programação da FertBio. O pes-
da Sociedade Americana de Ciência tes cientistas falarão sobre a impor- quisador Julio Salton, da Embrapa
do Solo que consolidou, há 20 anos, tância dos serviços ecossistêmicos Agropecuária Oeste, falará sobre o
o conceito de qualidade do solo, fará prestados por esses organismos em “Papel da matéria orgânica do solo
uma palestra mostrando a história ecossistemas naturais e cultivados. na intensificação sustentável”. Nas
e as perspectivas desta temática. Várias palestras enfocarão a visão mesas redondas intituladas “Microre-
A pesquisadora da Embrapa Cerra- de fertilidade solo para o século XXI, voluçao verde em sistemas agrícolas
dos, Ieda Mendes, dissertará sobre a com destaque para a importância da tropicais: rompendo paradigmas -
construção da memória do solo em matéria orgânica e do componente Parte I e II” serão discutidas as contri-
diferentes sistemas de manejo e sua microbiano nos sistemas agrícolas buições da microbiologia do solo na
relação com as avaliações de quali- tropicais. A pesquisadora Mariangela revolução nos sistemas de produção
dade de solo Hungria, da Embrapa Soja, abordará agrícola modernos, como o uso da
Philip J. White, do James Hutton o uso de microrgansimos para uma FBN, a inoculação com Azospirillum,
Institute (Escócia), abordará o tema
“Novos conhecimentos na absorção,
transporte e redistribuição de nu-
trientes em plantas”. O primeiro dia
encerra-se com a palestra “Como re-
duzir o impacto do estresse hídrico e
outros estresses abióticos no desen-
volvimento e nutrição das plantas”,
proferida por José Arnulfo Polania,
A agricultura e as belezas do
cerrado são motivos a mais para
conhecer a região de Goiânia
durante o evento.
e a saúde humana
A relação entre os solos e a saúde iniciou-se a explosão do crescimento um “efeito de diluição” dos nutrientes
humana aparentemente foi percebida populacional, gerando massiva deman- na parte comestível dos alimentos.
há milhares de anos. Há relatos bíblicos da por alimentos, que foi suprida pelo Recentemente, tem ganhado noto-
de 1400 a.C. sugerindo que o bem-estar advento da chamada “Revolução Ver- riedade a linha de pesquisa chamada
das civilizações dependiam da qualida- de” ocorrida entre as décadas de 1950 “biofortificação”, que visa a obtenção
de dos solos que habitavam. Durante e 1970. Esta revolução tecnológica ba- de variedades melhoradas que apre-
os séculos XVII e XVIII foram escritos seou-se na seleção de cultivares de ce- sentam maior teor de vitaminas e mine-
os primeiros textos relacionando o solo reais de porte baixo e com grande nú- rais na parte comestível dos alimentos.
com a saúde humana e animal. Neste mero de afilhos, capazes de responder Em outras palavras, no melhoramento
período diversas anomalias e doen- ao adubo nitrogenado sem se acamar. de plantas e/ou manejo das culturas,
ças, tais como a do músculo branco e Desta forma, em poucos anos foi possí- passou-se a considerar a composição
o bócio. Várias outras anomalias foram vel dobrar a produtividade das culturas nutricional e não somente os ganhos
reconhecidas e a ocorrências delas as- e aumentar a produção de alimentos em produtividade. Com a forte neces-
sociadas a elementos minerais (nutrien- proporcionalmente à grande demanda sidade de melhorar a qualidade dos
tes) do solo. gerada pelo crescimento populacional. alimentos, observou-se que é preciso
A concentração de minerais nos A produção de alimentos em larga eliminar a raiz do problema fazendo
solos pode até mesmo determinar o escala derrubou teorias e mitos sobre com que os alimentos venham do cam-
desenvolvimento de espécies em cer- possíveis problemas de fome generali- po para a mesa do consumidor com
tas regiões. Um exemplo é o caso da zada no mundo, cita-se por exemplo, a melhor qualidade nutricional. Esta alter-
ausência de grandes herbívoros na “Teoria Populacional Malthusiana” que nativa tem se mostrado mais sustentá-
Austrália, o que é relacionado às defi- apregoava que a população iria crescer vel e complementar, embora não seja
ciências de iodo, cobalto e selênio nos em progressão geométrica e a produ- recomendado, atualmente, eliminar as
solos daquele país. Outro exemplo foi o ção de alimento em progressão aritmé- outras intervenções como a fortificação
sério problema de ocorrência de bócio tica, o que levaria a futuros problemas industrial e suplementação. Isso requer
na Região Central do Brasil, devido a de fome generalizada no mundo. Por que os profissionais das ciências agrá-
deficiência de iodo nos solos. Embora o outro lado, paradoxalmente, tem se rias trabalhem mais da “porteira para
problema do bócio tenha sido em par- notado um crescimento acentuado nos fora”, interagindo com profissionais de
te resolvido devido à adição de iodo ao casos de desnutrição em todo o mun- outras áreas como medicina, ciência de
sal, por outro lado, tem sido frequente do. Dados da Organização Mundial de alimentos, nutrição, educação, econo-
relatos do excesso de iodo, que tam- Saúde (OMS) mostram que entre qua- mia doméstica, entre outras.
bém afeta o funcionamento da tireoide, tro e cinco bilhões de pessoas têm al- Esta edição do Boletim Informativo
ocasionando o “hipotireoidismo”. Fica gum grau de deficiência de ferro. Cerca traz iniciativas de pesquisas visando
uma indagação, até que ponto é susten- de 1,5 bilhão de pessoas têm deficiên- melhorar a qualidade de alimentos por
tável a iodação do sal? Poderíamos re- cia de zinco. Entre meio e um bilhão de meio de melhoramento de plantas e/
solver o problema adicionando o iodo pessoas têm deficiência de selênio, e ou práticas de manejo, em benefício da
via fertilizante? Sabemos que homens mais de 800 milhões de pessoas têm saúde humana e animal.
e animais obtém todos os nutrientes deficiência de iodo. O mais preocupan-
Aos autores que gentilmente acei-
que necessitam para seu metabolismo te nestes dados é que as estatísticas ofi-
taramo convite para escrever sobre o
via alimentos, os quais, por sua vez, são ciais de problemas de desnutrição não
tema, a gratidão da SBCS
reflexo das características dos solos em revelam tendência de redução de casos
que foram produzidos. de deficiência. Aparentemente, houve
Milton Ferreira Moraes
Estas relações entre solos e qualida- perda da qualidade nutricional dos ali-
Universidade Federal de Mato Grosso
de de alimentos foram estudadas por mentos em razões proporcionais aos Editor temático desta edição
muitos anos. Entretanto, no século XIX, aumentos de produtividade, sugerindo E-mail: moraesmf@ufmt.br
Biofortificação de alimentos:
saúde ao alcance de todos
Leonardus Vergütz
José Maria Rodrigues da Luz
Marliane de Cássia Soares da Silva
Maria Catarina Megumi Kasuya
A fome, infelizmente, ainda é um Embora a oferta desses alimentos causam anemia (Figura 1), nanismo,
problema que afeta milhões de pes- resolva o problema da fome propria- baixo desenvolvimento motor e cog-
soas no mundo, especialmente em mente dita, o seu consumo não fornece nitivo, maior risco de mortalidade in-
países pobres e/ou em conflito. A ne- as quantidades mínimas de nutrientes fantil e materna, sistema imunológico
cessidade básica dessas pessoas com requeridas pelo homem. Assim, uma enfraquecido, dentre outras. De acordo
limitado acesso à comida é a ingestão alimentação baseada apenas nesses com órgãos internacionais, como a Or-
de calorias em quantidade adequada alimentos gera outro grave problema ganização Mundial da Saúde (OMS) e a
para satisfazer a sua demanda diária de saúde pública mundial conhecido Organização das Nações Unidas para
por energia. como fome oculta ou malnutrição, do a Alimentação e a Agricultura (FAO), a
A solução de muitos desses países inglês hidden hunger ou malnutrition. fome oculta representa um dos fatores-
para o problema da fome foi justamen- A fome oculta caracteriza-se justamen- -chave para a perpetuação da pobreza
te o uso de políticas públicas que au- te pela deficiência de nutrientes essen- no mundo.
mentaram a produção e distribuição ciais, especialmente Fe, Zn, I e vitamina As principais causas da fome ocul-
de alimentos básicos (do inglês staple A, para o bom desenvolvimento e fun- ta são basicamente dietas pobres, com
foods), especialmente milho, arroz e cionamento do corpo humano. E, como pouca variedade de alimentos, e a bai-
trigo. Esses alimentos representam o próprio nome diz, essa grave doença, xa qualidade nutricional dos alimentos.
ótimas fontes de energia e atendem à que atinge principalmente os mais vul- Como regra geral, a baixa qualidade
necessidade básica da população. Po- neráveis, em especial mulheres e crian- nutricional dos alimentos está intima-
rém, são muito pobres em termos nu- ças, é silenciosa. mente relacionada à baixa biodisponi-
tricionais, com baixos teores e/ou dis- Estima-se que aproximadamente bilidade dos nutrientes mineirais nos
ponibilidade de vitaminas e minerais três bilhões de pessoas no mundo so- solos. Em especial, os solos dos países
essenciais aos seres humanos. fram com a deficiência de Fe e Zn, que de clima tropical - bastante desenvolvi-
minerais quanto de pró-vitamina A, castanha-do-pará, com Zn, Fe e Se. Luiz de crescimento. O grupo de pesquisa
betacaroteno e proteínas, por exem- Roberto Guilherme é hoje um dos pes- coordenado pela professora Maria Ca-
plo, a biofortificação agronômica visa quisadores mais atuantes nessa área tarina Megumi Kasuya, do Programa de
principalmente ao enriquecimento dos no Brasil, coordenador do INCT Segu- Pós-graduação em Microbiologia Agrí-
alimentos com nutrientes minerais, es- rança de Solo e de Alimento e também cola da UFV, tem explorado essa ca-
pecialmente Fe e Zn. do projeto HarvestZinc no Brasil, que é racterística e produzido cogumelos co-
A origem dos trabalhos sobre bio- vinculado ao HarvestPlus e visa à bio- mestíveis (Figura 3) enriquecidos com
fortificação de alimentos encontra-se fortificação agronômica dos alimentos minerais essenciais à saúde humana,
no início dos anos 1990, quando o jo- com Zn. especialmente Se, Li, Fe e Zn.
vem economista Howarth Bouis, do Como parte dos esforços no comba- Dentre esses trabalhos, destacam-
Instituto Internacional de Pesquisa em te à fome oculta, foi criado oficialmente, se os de enriquecimento de cogumelos
Políticas Alimentares (IFPRI), refletindo em 2015, na Universidade Federal de com Se e Li. Quando absorvido e
sobre os trabalhos de combate à fome Viçosa (UFV), o Instituto de Estudos e metabolizado pelos cogumelos, o
oculta conduzidos na época perguntou Pesquisas em Fortificação de Alimen- Se encontra-se em formas orgânicas
a si mesmo: e se as plantas pudessem tos e Combate à Fome Oculta (IPAF), (selenoproteínas) que apresentam
fazer parte desse trabalho por nós? Essa que teve elevada biodisponibilidade. Além de
simples pergunta deu origem à bioforti- proposta de evitar doenças, o Se apresenta grande
ficação de alimentos propriamente dita criação de e se as plantas poder antioxidante, atenuando os
assim como ao HarvestPlus, reconheci- um Institu- pudessem efeitos do processo de envelhecimento
do programa internacional que promo- to Nacional fazer parte do do organismo humano. Já o Li tem
ve e coordena ações de biofortificação de Ciência e trabalho de sido utilizado na medicina há mais
de alimentos no mundo todo. Essa e Tecnologia combate à fome de 50 anos, particularmente na área
outras histórias e informações podem (INCT) re- por nós? Essa da psiquiatria. Ele tem importantes
ser encontradas no site do próprio Har- comendada simples pergunta efeitos terapêuticos no tratamento
vestPlus (www.harvestplus.org). em 2016 e deu origem à de várias doenças neurais, sendo
No Brasil, os trabalhos sobre biofor- é coorde- biofortificação efetivo no tratamento de pacientes
tificação de alimentos tiveram início em nado pelo de alimentos que sofrem de transtorno bipolar.
meados dos anos 2000, quando a Em- professor propriamente Mas o principal medicamento de Li
brapa consolidou uma rede de pesquisa José Benício dita utilizado (Li2CO3) causa uma série de
que recebeu o nome de Rede BioFORT Paes Cha- efeitos colaterais ao ser humano. Em
(www.biofort.com.br), também vincu- ves. O IPAF testes preliminares, substituindo o
lada ao HarvestPlus. E desde o seu iní- conta com uma equipe multidisciplinar Li2CO3 por cogumelos enriquecidos
cio, a Rede BioFORT concentrou seus envolvendo pesquisadores dos depar- com Li, atestou-se a eficiência do
esforços no melhoramento genético tamentos de Tecnologia de Alimentos, cogumelo enriquecido como fonte
convencional das culturas, ou seja, bio- Nutrição e Saúde, Economia Domésti- de Li. Mas o mais interessante é que,
fortificação genética. Sob coordenação ca, Zootecnia, Fitotecnia, Microbiologia quando o Li é ministrado na forma de
da pesquisadora Marília Nutti, a Rede e Solos, além de pesquisadores de ou- cogumelos enriquecidos, os efeitos
BioFORT conseguiu cultivares melhora- tras instituições, como FAO e Fiocruz. colaterais são muito brandos ou até
das de milho, trigo, feijão, feijão-caupi, Dentre os trabalhos atualmente desen- mesmo inexistentes. Portanto, o
arroz, batata-doce, abóbora e mandio- volvidos por esse grupo no âmbito da enriquecimento de cogumelos com
ca, com maiores concentrações de pró- biofortificação, encontram-se aqueles minerais potencializa suas propriedades
-vitamina A, carotenóides, Fe e Zn. envolvendo a biofortificação agronômi- nutricionais e também medicinais,
Já a biofortificação agronômica no ca do feijão e soja com Zn e de cogu- podendo ser um bom substituto para
Brasil é ainda mais recente. Pesquisa- melos, comestíveis com Fe, Zn, Se e Li. medicamentos tradicionais.
dores, como Milton Ferreira de Mora- Cogumelos, em geral, apreentam No trabalho que talvez tenha sido
es (UFMT) e Luiz Roberto Guimarães alto valor nutritivo e diversos com- o primeiro a estudar a biofortificação
Guilherme (UFLA), dentre outros, têm postos bioativos, com propriedades agronômica do feijão comum com Zn,
realizado trabalhos visando ao enri- antioxidantes conhecidas. Além disso, a doutoranda do Programa de Pós-
quecimento de alimentos, especial- apresentam elevada capacidade de ab- -Graduação em Solos e Nutrição de
mente milho, trigo, alface, mandioca e sorver minerais presentes no substrato Plantas da UFV (PPGSNP/UFV), Thaís
BIOFORTIFICAÇÃO NO BRASIL
Marilia Regini Nutti
José Luiz Viana de Carvalho
Pedro Santiago Mello Rodrigues
Calcula-se que mais de 868 milhões tos com esses nutrientes (WHO, 1994). relação a outros países: é o único onde
de pessoas não consomem alimentos A introdução de cultivos biofortificados, oito culturas diferentes são estudadas,
o suficiente para suprir suas neces- variedades obtidas por melhoramento ao mesmo tempo: abóbora, arroz, bata-
sidades calóricas. Além disso, uma tradicional de modo a apresentar maio- ta-doce, feijão, feijão-caupi, mandioca,
população estimada em dois bilhões res conteúdos de minerais e vitaminas, milho e trigo. O objetivo é desenvolver
de pessoas sofre como deficiência de complementará as intervenções em nu- cultivares mais nutritivas, com boas
micronutrientes (FAO, 2013). A maioria trição existentes e proporcionará uma qualidades agronômicas (rendimento,
dos esforços para combater a deficiên- maneira sustentável e de baixo custo resistência à seca, pragas e doenças) e
cia de micronutrientes nos países em no combate à desnutrição (Nutti et al., boa aceitação no mercado, focando em
desenvolvimento baseia-se no forne- 2006). alimentos que já fazem parte da dieta
cimento de suplementos de vitaminas A pesquisa e desenvolvimento de da população, para que não sejam ne-
e minerais para gestantes, lactantes e alimentos biofortificados no Brasil apre- cessárias alterações em seus hábitos de
crianças, além da fortificação de alimen- sentam um aspecto diferenciado em consumo.
e a qualidade para
a indústria
Antonio Eduardo Pípolo
José Marcos G. Mandarino
Dados de literatura indicam que terísticas, mas pouco tem sido feito
a soja apresenta em torno de 40 % comercialmente para enfrentar essa
de proteína e 20 % de óleo, em base tendência. Isso se deve, em primeiro
seca. Dados coletados em diversas lugar, à maior ênfase dada ao aumen-
regiões do Brasil na safra 2014/2015 to da produtividade (kg/ha de grãos)
mostram que os valores estão em tor- e da resistência às doenças, do que à
no de 36% para proteína e 22% para composição química dos grãos. Em
óleo, em base seca (Tabela 1). Esse segundo lugar, devido à existência
trabalho, liderado pela Embrapa Soja de correlação negativa entre concen-
com parcerias espalhadas por todo tração de proteína e a produtividade,
o Brasil, pretende mapear, nos próxi- e entre as concentrações de proteína
mos quatro anos, a qualidade da soja e óleo, requerendo mais tempo e es-
nos 33 milhões de hectares de planta- forço em melhoramento genético. Em
ção distribuídos nas principias regiões terceiro lugar, devido à ausência de
edafoclimáticas do país. incentivo econômico (prêmio), para a
Essa situação não é nova, pois o utilização de genótipos com alto teor
setor industrial de soja vem observan- proteico, visto que o produtor recebe
do esse comportamento desde o final pela quantidade produzida, e não pe-
da década de 1990. Este também não los teores de proteína e óleo.
é um problema só do Brasil, mas tam- Wilson et al. (2014) conduziram es-
bém grandes produtores mundiais tudo a campo com cultivares de soja
de soja, como EUA e Argentina, têm lançadas nos EUA de 1923 a 2008,
verificado a queda dos teores de pro- Grupos de Maturidade (GM) II e III,
teína em seus produtos. A preocupa- visando estudar, entre outras coisas,
ção resulta da dificuldade da indústria a interação entre ano de lançamen-
em conseguir produzir farelo de soja
com teores mínimos de 46 % e 48 %
de proteína, esse último denominado
Tabela 1: Teor médio proteína e óleo (base seca) determinado em 869 amostras de grãos de
Hipro, o que leva os fabricantes a reti- soja provenientes de nove estados brasileiros na safra 2014/2015
rarem o tegumento da soja - que apre-
ESTADOS % ÓLEO % PROTEINA
senta menor teor de proteína - para
conseguir elevar os teores no farelo, RS 22,41 36,38
redundando em aumento de custos SC 22,04 37,21
para a indústria. PR 22,34 36,14
A variação do teor de proteína e SP 22,68 35,36
óleo é determinada principalmente MG 21,88 35,83
por fatores genéticos, mas com forte
GO 22,62 35,56
influência ambiental, principalmente
àqueles ocorridos no período de en- MS 22,08 37,21
chimento de grãos. As empresas de MT 22,91 35,84
melhoramento de plantas têm traba- BA 22,23 36,13
lhado com a melhoria dessas carac- BRASIL 22,44 36,10
maximizar a aquisição de N pelos dois de 3000 kg ha-1 de soja com 40 % de DALL’AGNOL, AMÉLIO. A Embrapa
mecanismos: N-mineral e FBN (fixa- proteína resultará em 1200 kg de pro- Soja no contexto do desenvolvimento
ção biológica de nitrogênio). teína ha-1 em aproximadamente 120 da soja no Brasil: histórico e contribui-
Apesar de ainda existir discus- dias de ciclo da soja. Como exemplo, ções. Brasília, DF: Embrapa 2016, 71p.
sões sobre os possíveis benefícios do uma produtividade de 3.500 kg ha-1 de GAN, y.; STULEN, I.; van KEULEN,
uso do N mineral na cultura da soja, soja com concentração de proteína de H.; KUIPER, P.J.C. Effect of N fertil-
a maioria dos resultados experimen- 38 % resultará em 1.330 kg ha-1 de pro- izer topdressing at various reproduc-
tais obtidos em condições de campo teína nos mesmos 120 dias, ou seja, tive stages on growth, N2 fixation and
demonstram que a sua aplicação, seja 130 kg de proteína a mais por hecta- yield of three soybean (glycine max
em adubação de base ou de cobertu- re. Por ou- (L) merr.) genotypes. Field Crops Res,
ra, via solo e/ou foliar, em diferentes tro lado, o v.80, p.147-155, 2003.
apesar da
estádios de desenvolvimento da soja, aumento
importância HUNGRIA, M.; CAMPO, R.J. &
não traz ganhos significativos de pro- no teor de
comercial da MENDES, I.C. A importância do pro-
dutividade, aumentando os custos de proteína
concentração cesso de fixação biológica do nitrogê-
produção e o impacto ambiental (Ba- deve ser
de proteína no nio para a cultura da soja: componen-
rker & Sawyer, 2005; Gan et al., 2003; associado
grão, também é te essencial para a competitividade do
Hungria et al., 2006, 2007). com es-
fundamental a produto brasileiro. Londrina, Brasil,
tudos de
Portanto, atenção especial deve produtividade de Embrapa Soja, 2007. 80 p. (Embrapa
verificação
ser dada às tecnologias que propi- proteína, ou seja, Soja. Documentos, 283).
da real me-
ciam a máxima eficiência do processo quantos quilos HUNGRIA, M.; CAMPO, R.J.;
lhoria do
de FBN, como o uso de sementes e de proteína são MENDES, I.C. & GRAHAM, P.H. Contri-
valor nutri-
inoculantes de alta qualidade, a corre- produzidos por bution of biological nitrogen fixation
cional, em
ção da acidez do solo, a distribuição hectare. to the N nutrition of grain crops in the
função da
de nutrientes no perfil do solo, a uti- tropics: the success of soybean (Gly-
possível
lização do Sistema de Plantio Direto cine max L. Merr.) in South America.
alteração no perfil de aminoácidos,
(SPD) com cobertura do solo visando In: SINGH, R.P.; SHANKAR, N.; & JAI-
bem como a avaliação da influência
reduzir picos de temperatura e manu- WA, P.K. (ed.) Nitrogen nutrition and
do manejo do solo e da fertilidade, na
tenção da umidade, o suprimento de sustainable plant productivity. Hous-
qualidade da soja e nos teores de pro-
cobalto (Co) e mobilidênio (Mo), entre ton, TX, USA, Studium Press, LLC,
teína nos grãos.
outros fatores que favoreçam o cres- 2006. p.43-93.
cimento radicular e a FBN. Em novembro de 2015, a Embra-
pa Soja promoveu o Workshop sobre ROWNTREE, S.C.; SUHRE, J.J.;
Embora a situação demande pre- WEIDENBENNER, N.H.; WILSON,
Proteína de Soja, em Londrina (PR).
ocupação, devido à importância da E.W.; DAVIS, V.M.; NAEVE, S.L.; CAS-
O evento teve caráter técnico-cientí-
commodity no mercado interno e ex- TEEL, S.N.; DIERS, B.W.; ESKER, P.D.;
fico e reuniu instituições de pesquisa
terno, a situação dos Estados Unidos e SPECHT, J.E.; CONLEY, S.P. Genetic
públicas e privadas, universidades,
Argentina também não é confortável. gain x management interaction in soy-
cooperativas e entidades de classe,
Estudos conduzidos por Thakur & Hur- bean: I. Planting date. Crop science,
envolvidas com a cadeia produtiva
burgh (2007) compararam a qualidade v.53, p.1128-1138, 2013.
da soja. O workshop teve como fi-
da soja dos EUA, Brasil e Argentina a
nalidade discutir a situação atual e a THAKUR, M.; HURBURGH, C.R.
partir de amostras coletadas nesses
evolução dos teores de proteína na Quality of US soybean meal compa-
países. A soja do Brasil apresentou
soja no país e os possíveis reflexos no red to the quality of soybean meal
a maior concentração de proteína
mercado. Nessa ocasião, a indústria from other origins. J. Am. Oil Chem.
(35,5 %, na base 13 % de umidade,
pleiteou teores de 36 % para proteína Soc., v.84, p.835-843, 2007.
n = 35), seguida pela soja americana
e 19 % para óleo, na base de umidade WILSON, E.W.; ROWNTREE,
e pela soja Argentina (p=0,05). A soja
de 14 %. Também foi produzido o Co- S.C.; SUHRE, J.J.; WEIDENBENNER,
do Brasil apresentou teor de óleo de
municado Técnico 86, na tentativa de N.H.; CONLEY, S.P.; DAVIS, V.M.; DI-
19,5 %, na base 13 % de umidade, n
incentivar e embasar a discussão do ERS, B.W.; ESKER, P.D.; NAEVE, S.L.;
= 35) e não diferiu dos teores de óleo
tema, e que se encontra disponível no SPECHT, J.E.; CASTEEL, S.N. Genetic
da soja Argentina, sendo ambas supe-
site da Embrapa Soja. gain x management interaction in
riores às amostras dos EUA (p=0,05).
soybean: II. Nitrogen utilization. Crop
Por usa vez, apesar da importância
comercial da concentração de prote-
Bibliografia science, v.54, p.340-348, 2014.
Tabela 1: Variação genotípica na acumulação de ferro, zinco e selênio por diversas culturas
Tipo de planta No variedades Fe (mg/kg) Zn (mg/kg) Se (µg/kg1) Referência
Festuca - pastagem 15 - - 82 -147 McQuinn et al. (1991)
Arroz (grãos) 1138 6-24 14-58 - Gregório et al. (2000)
Pimentão 24 - - 133 - 1.197 Golubkina et al. (2000)
Trigo (grãos) 324 25-73 25-92 - Monasterio e Graham (2000)
Soja (grãos) 06 - - 12 - 45 Yanling et al. (2002)
Milho (grãos) 1814 10-63 13-58 - Banziger e Long (2000)
Trigo (grãos) 100 - - 9 - 244 Lyons et al. (2003)
Soja (grãos) 322 48-110 29-67 - Wolnik et al. (1983)
Trigo (grãos) 40 - - 37 - 120 Lyons et al. (2005)
Feijão (grãos) 1000 34-89 21-54 - Beebe et al. (2000)
Trigo (grãos) 175 - - 33-440 Zhao et al. (2009)
Mandioca (tubérculo) 162 4-49 4-18 - Maziya-Dixon et al. (2000)
Trigo (grãos) 42 - - 24-116 Bona et al. (2009)
Triticale (grãos) 96 - - 22-140 Bona et al. (2009)
Arroz (grãos) 151 - - 29 - 103 Zhang et al. (2006)
Arroz (grãos) 35 - - 15 - 122 Moraes et al. (2009)
Brócolis - híbridos 20 - - 50 - 95 Farhnham et al. (2007)
Brócolis - linhagens 15 - - 34 - 89 Farhnham et al. (2007)
Fonte: Ampliado de Moraes et al. (2011)
e mais saudável
Marcus Antonio Zanetti
Lisia Bertonha Corrêa
tamina no sangue, apresentaram teor diário de 200 gramas da carne suple- maior do que nos animais que não fo-
desse mineral na carne quase seis mentada com o selênio, como a ob- ram suplementados. A vitamina E tem
vezes maior do que a de bovinos que tida no estudo apresentado, é capaz sido reconhecida como nutriente es-
não tiveram a ração suplementada. O de fornecer a dose diária recomenda- sencial para o crescimento e saúde de
selênio tem sido associado com fun- da de consumo do mineral, que é de todas as espécies animais. Também é
ções como a prevenção de doenças, 50 microgramas. Mesmo consumindo importante para saúde humana tendo
melhoria da imunidade e, por fazer apenas 100 gramas da carne, uma em vista sua contribuição como antio-
parte de uma enzima chamada gluta- pessoa xidante em sistemas biológicos, auxi-
tiona peroxidase, auxilia no combate a d u l t a liando no combate aos radicais livres,
de radicais livres, prevenindo o enve- atingiria 50 na biossíntese de prostaglandina, na
lhecimento e a morte de tecidos. O colesterol na % de suas prevenção das doenças cardiovascu-
carne diminuiu necessi- lares e na melhora da resposta imune.
Os poucos estudos realizados no
significativamente dades di-
Brasil com humanos indicam que a Os animais que receberam óleo
nos animais que árias do
maior parte da população possui ní- de canola na dieta apresentaram car-
receberam ração mineral,
veis de selênio no sangue abaixo do ne com menor teor de ácidos graxos
suplementada com p o d e n d o
recomendado, com exceção da região saturados e maior de insaturados, in-
níveis elevados de completar
Norte. A principal explicação para isto clusive maior concentração de ôme-
selênio e vitamina E as exigên-
é o teor mais elevado de selênio nos ga 3. Esses resultados são de grande
solos daquela região, aumentando o cias com importância por indicar a possiblidade
teor nos alimentos. os demais de se melhorar um dos fatores mais
alimentos da dieta. negativos da carne bovina, que é a
Neste sentido, o desenvolvimento
de produtos como a carne suplemen- Os animais que receberam suple- presença de gordura saturada.
tada com selênio pode contribuir para mentação com vitamina E também O colesterol na carne diminuiu
melhorar o nível desse mineral na die- apresentaram aumento da sua concen- significativamente nos animais que
ta da população brasileira. O consumo tração no sangue dos bovinos. Na car- receberam ração suplementada com
ne o teor da vitamina E foi duas vezes
Foto:Lisia B. Corrêa
Confinamento
ARTIGO
Bifes para teste de prateleira
níveis elevados de selênio e vitamina E apresentaram menores valores de tamina E tiveram um aumento desses
E. A carne vermelha é apontada como TBARS em relação àqueles que não nutrientes no sangue, além do que
uma das principais inimigas de uma foram suplementados, sugerindo o houve uma tendência de diminuição
dieta saudável desde a década de efeito antioxidante desses elementos. do colesterol em todos os grupos ava-
1960, quando pesquisas sobre o au- Ao diminuir o tempo de oxidação do liados. No grupo que consumiu a car-
mento dos ataques cardíacos indica- produto, a adição de selênio e vita- ne de animais tratados com selênio e
ram uma relação entre o alto teor de mina E na vitamina E, a redução no colesterol no
gordura saturada e o crescimento dos ração de bo- sangue foi significativa. Os resultados
níveis de colesterol ruim, o LDL. En- vinos pode Um resultado desse trabalho repercutiram no Brasil
tretanto, ela é necessária para a cons- contribuir inédito - sem e no exterior, uma vez que a produ-
trução muscular e o fortalecimento para aumen- similar no ção de carne enriquecida com selênio
do sistema imunológico, além de ser tar o prazo mundo - foi que e vitamina E, com menos colesterol e
importante fonte de ferro e de vitami- de valida- os idosos que com maior vida útil, trará vantagens
nas. A carne com menos colesterol, de, também consumiram tanto mercadológicas como do ponto
portanto, é mais saudável aos seres conhecido a carne com de vista de saúde pública. Esperamos
humanos. como “vida selênio e que, em breve, esse tipo de produto
de pratelei- vitamina E possa ser disponibilizado para a po-
Por combater os radicais livres, o
ra” da carne. tiveram um pulação. Dessa forma, todos poderão
selênio e a vitamina E também pro-
No estudo aumento desses usufruir desses benefícios, além do
movem a redução da oxidação dos
não foi me- nutrientes no que os produtores de carne terão um
lipídios da carne, o que pode ser
dido quanto sangue incentivo a mais para investir em um
mensurado por meio de um método
chamado TBARS. Com o passar do tempo seria produto de melhor qualidade no mer-
tempo, é inevitável que ocorra oxida- aumentado e conclusões neste senti- cado.
ção dos lipídios da carne. Entretanto, do são impossíveis de precisar.
para os três tipos de armazenamento Um resultado inédito - sem simi- Autores: Marcus Antonio Zanetti é professor
da FZEA-USP e Lísia Bertonha Corrêa é
utilizados no estudo, os animais su- lar no mundo - foi que os idosos que zootecnista.
plementados com selênio e vitamina consumiram a carne com selênio e vi-
Contato: mzanetti@usp.br
http://www.sbcs.org.br/a-sbcs/lista-de-socios/
http://www.secsuelo.org/