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A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA
SOB DIFERENTES OLHARES
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2019
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Editora CRV
Revisão: Os Autores
C743
Bibliografia
ISBN 978-85-444-3268-6
DOI 10.24824/978854443268.6
2019
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Adriane Piovezan (Faculdades Integradas Espírita)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Alexandre Pierezan (UFMS)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Andre Eduardo Ribeiro da Silva (IFSP)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Antonio Jose Teixeira Guerra (UFRJ)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Antonio Nivaldo Hespanhol (UNESP)
Carmen Tereza Velanga (UNIR) Carlos de Castro Neves Neto (UNESP)
Celso Conti (UFSCar) Carlos Federico Dominguez Avila (UNIEURO)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Edilson Soares de Souza (FABAPAR)
Três de Febrero – Argentina) Eduardo Pimentel Menezes (UERJ)
Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Euripedes Falcao Vieira (IHGRRGS)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Fabio Eduardo Cressoni (UNILAB)
Élsio José Corá (UFFS) Gilmara Yoshihara Franco (UNIR)
Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Jairo Marchesan (UNC)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Jussara Fraga Portugal (UNEB)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Karla Rosário Brumes (UNICENTRO)
Gloria Fariñas León (Universidade Leandro Baller (UFGD)
de La Havana – Cuba) Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO)
Guillermo Arias Beatón (Universidade Luciana Rosar Fornazari Klanovicz (UNICENTRO)
de La Havana – Cuba) Luiz Guilherme de Oliveira (UnB)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Marcel Mendes (Mackenzie)
João Adalberto Campato Junior (UNESP) Marcio Jose Ornat (UEPG)
Josania Portela (UFPI) Marcio Luiz Carreri (UENP)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Maurilio Rompatto (UNESPAR)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Mauro Henrique de Barros Amoroso (FEBF/UERJ)
Lourdes Helena da Silva (UFV) Michel Kobelinski (UNESPAR)
Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US) Rosangela Aparecida de Medeiros
Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC) Hespanhol (UNESP)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Sergio Murilo Santos de Araújo (UFCG)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Simone Rocha (UnC)
Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG) Sylvio Fausto Gil filho (UFPR)
Renato Francisco dos Santos Paula (UFG) Valdemir Antoneli (UNICENTRO)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Venilson Luciano Benigno Fonseca (IFMG)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Vera Lúcia Caixeta (UFT)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
APRESENTAÇÃO............................................................................................ 13
PREFÁCIO....................................................................................................... 17
Demetrios Christofidis
CAPÍTULO 1
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL.............. 23
Michele Benetti Leite
CAPÍTULO 2
A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DO
MUNICÍPIO DE ITAARA................................................................................... 47
Eliane Maria Foleto
CAPÍTULO 3
AS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL – RPPN....... 63
Suzane Bevilacqua Marcuzzo
Eliane Maria Foleto
CAPÍTULO 4
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS TRILHAS DA ÁGUA: interpretando o
patrimônio natural da RPPN Estadual MO’Ã em Itaara (RS)........................... 85
Letícia Ramires Corrêa
Adriano Severo Figueiró
CAPÍTULO 5
O GEOPATRIMÔNIO: as quedas d’água do Município de Itaara...................111
André Ademir Weber
Greice Kelly Perske da Silva
André Weissheimer de Borba
CAPÍTULO 6
A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A
CONSERVAÇÃO DA SAÚDE DA ÁGUA EM ITAARA (RS)........................... 127
Adriano Severo Figueiró
CAPÍTULO 7
RESTAURAÇÃO FLORESTAL EM PROPRIEDADES RURAIS:
nascentes e matas ciliares............................................................................. 153
Ana Paula Moreira Rovedder
Bruna Balestrin Piaia
Rafaela Badinelli Hummel
CAPÍTULO 8
INVENTÁRIO, DINÂMICA E CONSERVAÇÃO DAS
PLANTAS AQUÁTICAS.................................................................................. 173
Marina Deon Ferrarese
Renata Azevedo Xavier
Olímpio Rafael Cardoso
Thais Scotti do Canto-Dorow
CAPÍTULO 9
A FLORA VASCULAR DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO
NATURAL ESTADUAL MO’Ã: composição, importância e aspectos
de manejo....................................................................................................... 191
Marina Deon Ferrarese
Thais Scotti do Canto-Dorow
CAPÍTULO 10
ÓLEO PRIME: projeto piloto de descarte correto do resíduo óleo de
cozinha no município de Itaara-RS................................................................ 213
Graciela Schmidt Disconzi
Jussara Cabral Cruz
CAPÍTULO 11
PRÁTICAS DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS............... 243
André Ademir Weber
Greice Kelly Perske da Silva
Thaimon da Silva Socoloski
CAPÍTULO 12
MONITORAMENTO QUALI-QUANTITATIVO DA ÁGUA
DE NASCENTES........................................................................................... 261
Marciano Friedrich
Raul Todeschini
Jussara Cabral Cruz
CAPÍTULO 13
COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: publicização do projeto
saúde da água................................................................................................ 289
Mara Matiuzzi Kunzler
Imaruí Mallmann de Oliveira de Lima
Giuliana Seerig
1 Formação: Doutor em Gestão do Ambiental / Gestão dos Recursos Hídricos pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável,
da Universidade de Brasília – Brasil.
Terapeuta Ambiental: Colégio Internacional dos Terapeutas – Paris.
Pós-Doutorado: Água, Ambiente e Saúde – Gestão das Águas em Sintonia com a Natureza – FIOCRUZ – ENSP / Rio de
Janeiro – Brasil (em curso).
Atuação: Professor da Universidade de Brasília – Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
Especialista – Recursos Hídricos, atuando na Secretaria Nacional de Segurança Hídrica do Ministério de
Desenvolvimento Regional.
CAPÍTULO 1
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E A
CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
Michele Benetti Leite
Recreativo
Uso Medicinal
Espiritualidade
Purificação do ar
Controle da erosão
Ciclagem de nutrientes
Conservação da biodiversidade
longo período de estudos fora do país e tendo contato com outros autores,
atualmente optamos pela terminologia de “Serviços Ecossistêmicos”: pri-
meiramente para deixar claro que estamos nos referindo às funções que nos
são prestadas pelos ecossistemas, para não confundir com os “serviços am-
bientais” prestados por empresas que trabalham na área ambiental (como
no tratamento de água ou coleta de resíduos). Este termo também foi ra-
tificado na tese desenvolvida por Espinal Gómez (2011) e na pesquisa de
Martínez de Anguita y Flores Velasquez (2011): “Em relação ao nome hoje
se aceita o adjetivo ecossistêmico no lugar de ambiental, para especificar
que os serviços considerados são aqueles que procedem exclusivamente
dos ecossistemas”.
Normalmente, quando tratamos da conservação ambiental focamos em
aspectos apenas técnicos e algumas vezes legais. Porém o tema relacionado
aos serviços ecossistêmicos é complexo e exige o conhecimento de aspectos
de várias áreas, como técnico, econômico, político e social. É o que quere-
mos trazer para esta discussão, ainda que de uma forma pontual e não apro-
fundada, pois não é o objetivo deste capítulo.
Esta epígrafe serve para recordar-nos que, ainda que vivamos em co-
munidade, lamentavelmente há alguns princípios básicos de convivência (e
que também estão relacionados à preservação ambiental), que estão sendo
esquecidos ou nem sequer são conhecidos, apesar de sua enorme importân-
cia. O entendimento destes é primordial para uma mudança de postura frente
às questões ambientais e consequentemente para uma posterior implantação
de projetos de conservação ambiental.
3.2 Subsidiariedade
grupo, e em um âmbito mais amplo, a que cada estado, contribua ao bem co-
mum mediante o exercício de sua função própria (GUITIÁN, 2014). E ambos
são fundamentais na construção das ações voltadas ao meio ambiente, para
um maior envolvimento da comunidade e buscando resultados mais globais.
Não é nossa intenção colocar preço na natureza ou em seus servi-
ços, entretanto, ao aprofundar no estudo deste tema vimos a importân-
cia de entender alguns dos princípios aqui expostos. Os bem comum e
a subsidiariedade podem marcar a ordem moral e o ordenamento jurídi-
co necessário para que a economia permita que a conservação tenha uma
dimensão superior à monetária, ou seja, que forme parte de nossos valores
humanos mais profundos. Para seguir nosso entendimento mais amplo da
conservação ambiental é preciso agora tratar de alguns dos princípios de
economia ambiental.
3.3.1 Externalidade
oportunidade que suporia para manter tais áreas para a produção e a compe-
titividade econômica.
A primeira vez que se aplicou este princípio foi no começo do século,
na cidade de Nova York. Suas autoridades avaliaram que restaurar a bacia
hidrográfica de Catskill, que abastece de água a cidade, era mais barato que
investir em uma planta de pré-tratamento para manter a água pura (TEEB,
2010). Assim, desenharam um pacote de ajudas aos fazendeiros das monta-
nhas. Estas medidas não consistiam somente em pagamentos, mas também
em ajudas, subsídios e obras (como a construção de pontes) que melhoras-
sem as condições de vida e o escoamento dos seus produtos.
Muitas comunidades proveem serviços ecossistêmicos gratuitamente em
áreas indígenas, parques, unidades de conservação (como a RPPN Estadual
MO’Ã), sem que, em a maior parte dos casos, recebam uma justa compensação
pelo custe de oportunidade ao que renunciam (LOUREIRO, 2002).
Nos famosos projetos de Pagamento por Serviços Ecossistêmicos (PSE)
ou Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) há a transferência, monetária
ou não, a partir de um ente pagador, que são dirigidas aos provedores de um
ou mais tipo de serviço ecossistêmico, conforme o esquema simplificado na
figura 1.
Pagadores
Provedores Beneficiários
4. Tipos de incentivos
Ainda que o conceito que ficou mais conhecido supõe que o incentivo
para os provedores seja através de um pagamento em efetivo, sempre gostamos
de destacar que este pode tomar diferentes formas como a Compensação por
Serviços Ecossistêmicos (CSE), os Incentivos por Serviços Ecossistêmicos
(ISE) ou inclusive a Gratificação pelos Serviços Ecossistêmicos (GSE).
Para Bennett e Gosnell (2015), a retribuição pode ser por compensa-
ções, ajudas e incentivos, com alguns nuances que os diferenciam, como
exemplificamos no quadro 2.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 33
TIPOS DE INCENTIVOS
Instrumentos Econômicos
Juros diferenciados
Créditos de carbono
Fundos
Subsídios governamentais
continua...
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 35
continuação
Instrumentos Técnicos
Inventários florestais
Informação técnica
Formação/capacitação
Planos de gestão
Monitoramento
Instrumentos Fiscais
Deduções fiscais
Isenções tributárias
Instrumentos Legais
Legislação específica
Marco legal
Regulamentação
Arranjo institucional
5. Políticas brasileiras
Existem inúmeras políticas governamentais brasileiras (monetária,
agrária, tributária) para fomentar a produção agrícola, como por exemplo, a
taxa de câmbio, o preço internacional das “commodities”1 ou a alta oferta de
crédito agrário, sem que este leve em consideração uma exigência de controle
ambiental, que podem estar dificultando a ampliação dos investimentos e da
priorização pelas atividades mais sustentáveis, de conservação e preservação
do meio ambiente.
1 Commodities são bens negociáveis no mercado de valores, com um baixo nível de diferenciação ou especialização.
36
6. O exemplo brasileiro
Entretanto, proteger este “bem comum” não é simples. Por isso, é urgente
a ação pública, privada e da sociedade civil organizada para a alteração deste
cenário que tem, entre outras muitas consequências, a degradação dos ciclos
naturais e da provisão de serviços vitais que a natureza nos brinda.
Atualmente existem numerosos programas, projetos e atividades rela-
cionadas aos serviços ecossistêmicos que se realizam em diferentes etapas e
escalas de maneira desconectada pelo país. Porém, a primeira ideia que nos
vem à cabeça quando falamos em preservação ambiental é a de que não temos
dinheiro para isso. Contudo, a análise realizada pelo grupo da pesquisadora
Banks-Leite (2014) concluiu algo diferente. Esta afirma que para preservar o
bioma Mata Atlântica seriam necessários $198 milhões (de dólares) por ano, o
que equivale a 6,5% dos gastos anuais em subsídios agrícolas ou aproximada-
mente 0,0092% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (naquele período).
Segundo pesquisa desenvolvida em Leite (2016) listamos 101 fontes de
recursos que encontramos para o financiamento ambiental no Brasil. Além dis-
so, o correspondente aos estados, como o Fundo Estadual de Meio Ambiente e
o Fundo Estadual de Recursos Hídricos, há que se multiplicar pelo número de
estados brasileiros. A pesquisa de Informações Básicas Municipais revelou que,
até o ano de 2012, cerca de 2.070 dos municípios brasileiros possuíam Fundo
Municipal de Meio Ambiente e 2.674 possuíam Conselho Municipal de Meio
Ambiente ativo (IBGE, 2015). Ou seja, o número de possíveis fundos aumen-
taria ainda mais do que os listados anteriormente.
Muitos defendem que a “moeda de troca” da Lei de Proteção da Vegetação
Nativa nº 12.651/2012, também conhecida como o “Novo Código Florestal”
(que teve uma discussão muito polêmica), foi justamente seu Artigo 41 que tra-
ta do pagamento pelos serviços ambientais. Podemos dizer que a lei autorizou
ao poder executivo federal estabelecer um programa de apoio e o fomento da
conservação do meio ambiente, através dos PSA, como retribuição às ativida-
des que geram estes serviços. Porém, passados sete anos, até hoje não há um
decreto que regulamente e especifique como devem funcionar estes programas.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 37
No caso brasileiro, que ainda não possui uma legislação nacional especí-
fica e onde alguns estados estão muitos mais avançados que o governo federal
na definição de seus marcos legais de políticas relacionadas aos serviços dos
ecossistemas, uma política nacional pode fomentar a criação de leis em outros
estados e em outros níveis, como o municipal.
Tudo isso produz efeitos no desenvolvimento de uma região que, em
longo prazo, pode ser explicado como o resultado da interação de copiosas
forças como: a atribuição de recursos, um mecanismo político, uma política
econômica, a sensibilização por uma causa e a ativação social. Para Oliveira
e Lima (2003) estas forças mantêm uma relação de dependência mútua ou de
retroalimentação.
A experiência é que o Estado joga um papel chave em estruturar esque-
mas de Incentivo por Serviços Ecossistêmicos (ISE). Para Hajek (2012) isto se
aplica tanto aos casos que relacionam atores governamentais e privados (por
exemplo, o Fundo Nacional Florestal da Costa Rica – FONAFIFO) ou mesmo
entre atores privados (como o Fundo de Água de Quito, no Equador). A expe-
riência da Costa Rica mostra que a criação de entidades públicas ou público-
-privadas para, pelo menos, algumas das funções dos PSE, permite uma gestão
mais eficiente (ARMAS et al., 2009). Como constatamos em (LEITE, 2016),
além da Costa Rica, países como Peru e Guatemala, que possuem dimensões
menores e com muito menos recurso financeiros que o Brasil, já alcançaram um
esquema legal e financeiro para o fomento da proteção dos serviços ecossistê-
micos, muito antes que nós, com numerosos exemplos de programas e inclusive
de políticas nacionais.
Alguns exemplos de organizações que podem colaborar nestas deci-
sões e que possuem uma formação diversificada são: as Organizações Não
Governamentais (ONGs), fundações, instituições de proteção do meio ambien-
te, os Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente (CONDEMA), os
Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas, entre outros.
Como exemplo concreto já existente no país podemos destacar o Projeto
Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Água (ANA).
Tem como objetivo o estímulo à política de pagamento pelos serviços ecos-
sistêmicos dos recursos hídricos. Para isso apoia, orienta e certifica projetos
que orientem à redução da erosão e da sedimentação de mananciais no meio
rural, através de boas práticas de manejo do solo, propiciando uma melhoria
da qualidade, o aumento da quantidade e a regularização da oferta de água. É
um programa “guarda-chuva” que possui projetos em vários lugares do ter-
ritório brasileiro, sendo o mais conhecido o projeto Conservador das Águas,
no município de Extrema-MG.
38
Este programa conta com o apoio do poder público municipal (com a uti-
lização de recursos próprios do orçamento desde 2006), da Agência Nacional
de Águas (ANA), do Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais, do
Comitê de Gerenciamento do PCJ (Bacias Hidrográficas do Rio Piracicaba,
Capivari e Jundiaí), das ONGs The Nature Conservancy (TNC) e SOS Mata
Atlântica, além da Iniciativa Verde e da IUCN (International Union for
Conservation of Nature).
Um dos êxitos do projeto foi o estabelecimento de uma Lei Municipal
(2.100/2005), pioneira no país, regulamentada pelo Decreto nº 1.703/2006, que
determina os requisitos prévios e as metas para que os proprietários recebam
apoio financeiro:
Conclusões
REFERÊNCIAS
WWF. World Wide Fund For Nature. Iniciativa Diretrizes para a Política
Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Brasília-DF, 2014.
CAPÍTULO 2
A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO
CONTEXTO DO MUNICÍPIO DE ITAARA
Na Região Central do Rio Grande do Sul, o alto curso dos Rios Vacacaí-
Mirim e Ibicuí-Mirim, no município de Itaara e Santa Maria estão inseridos
na área da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecida pelo poder
público estadual através do Projeto “RS Biodiversidade”, como área prio-
ritária, número um, no Estado, para instituir unidades de conservação. Três
Unidades de Conservação Estadual sob responsabilidade da Secretaria do
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável/Departamento de Biodiversidade/
Divisão de Unidades de Conservação: Reserva Biológica do Ibicuí-Mirim,
Reserva Particular do Patrimônio Natural MO’Ã, Parque da Quarta Colônia
e o Parque Municipal Natural dos Morros, estão localizadas na Reserva da
Biosfera, e para “conectar” as Unidades foi instituído o “Corredor Ecológico
da Quarta Colônia”.
O Corredor Ecológico da Quarta Colônia, delimitado no território dos
municípios da Quarta Colônia de Colonização Italiana, Itaara e Santa Maria
constitui-se em uma paisagem diferenciada pela beleza cênica, composta por
uma geodiversidade, ímpar, se considerar a faixa de transição geomorfológi-
ca, do contato das rochas vulcânicas do Planalto com as rochas sedimenta-
res, especialmente, as da bacia do Paraná, que ocorre, de modo geral, através
de um relevo escarpado (ROBAINA; CRISTO; TRENTIN, 2011, p. 21).
Este relevo escarpado é conhecido como Rebordo do Planalto Meridional,
compondo a área de contato/transição entre as “terras altas” do Planalto gaú-
cho e as “terras baixas” da Depressão Central. A geodiversidade, associadas
ao clima, favorecem a Floresta Estacional Subtropical Decidual, que devido
à variação térmica por um período do ano (baixas temperaturas), apresenta
mais de 50% de perda foliar do estrato superior da floresta, isto, devido a
uma “seca fisiológica” (KILCA; LONGHI, 2011).
A disposição da rede de drenagem, influenciada pela geomorfologia,
com afloramento de água subterrânea, forma rios em vales encaixados, com
rupturas de declive escoando em cachoeiras, cascatas e acumulando em
lagos naturais, estruturando a paisagem na “cidade dos balneários” valori-
zando as atividades turísticas. Além dos lagos naturais, outros reservatórios
foram construídos para compor a paisagem dos balneários nos condomínios
fechados. O lago da sede campestre da SOCEPE (Sociedade Concórdia
52
principal uso da água nesta bacia se destina a irrigação. Este uso pode
ocasionar insuficiência hídrica nos meses de verão, principalmente de-
vido à irrigação do arroz.
que definem o que querem para o rio, para a Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH) o enquadramento visa “assegurar às águas com qualidade
compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas” e a “dimi-
nuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes”. Este deve ser definido considerando as classes estabelecidas
pela Resolução 357/05 do CONAMA, que estabelece parâmetros para a qua-
lidade as águas doces, salobras e salinas para o território nacional.
O enquadramento representa um mecanismo de controle do uso e de
ocupação da terra, já que restringe a implantação de empreendimentos cujos
usos possam ser incompatíveis com a qualidade e quantidade de água dispo-
nível ou comprometa a qualidade do manancial enquadrado.
Como a água é um bem público, o seu uso pressupõe a outorga, que é
a autorização do poder público, para o controle da quantidade retirada dos
mananciais (seja superficial ou subterrâneo), com objetivo da distribuição
equitativa entre os usuários, e para reservar a vazão ecológica ao meio am-
biente (uma fração adequada para que se mantenha a vida dos ecossistemas
aquáticos). O Estado disponibiliza uma ferramenta on-line “SIOUT” no site
da SEMA para cadastrar usuários de água, para então, analisar a possibili-
dade de conceder outorga, de maneira segura, garantindo a vazão ecológica.
A cobrança pelo uso da água deve ser atribuída tanto para a captação de
águas superficiais, quanto subterrâneas, e se propõe a minimizar os desper-
dícios, buscando o seu uso racional, preservando e mantendo a qualidade.
De acordo com a PNRH, a cobrança pelo uso da água tem como objetivos
principais: “reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma
indicação de seu valor real; incentivar a racionalização do uso da água; ob-
ter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções
contemplados nos planos de recursos hídricos” (BRASIL, 1997, art. 19).
A cobrança pelo uso da água é um importante instrumento para o processo
de gerenciamento das águas, e demonstra a maturidade na implantação do
Sistema. Os recursos arrecadados, pela cobrança, devem subsidiar financei-
ramente o Plano de ações previsto nos planos de Bacia Hidrográfica (BH),
sendo que os valores só poderão ser aplicados na BH onde foram cobrados.
O site SEMA, seção Recursos Hídricos, disponibiliza informação do con-
texto dos instrumentos de gerenciamento, das bacias hidrográficas do estado,
da Bacia Rio Ibicuí-Mirim, através do: Relatório Técnico do Plano de Bacia:
diagnóstico e prognóstico; enquadramento; relatório final. Os estudos para a
elaboração do Plano das Bacias dos Rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim estão em
andamento. Apesar da informação disponível, o SERH do Rio Grande do Sul,
como estado pioneiro na elaboração de uma política para os recursos hídricos,
ainda necessita de um esforço muito grande para atingir o objetivo previsto na
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 57
REFERÊNCIAS
Por sua vez, são os inúmeros fatores relevantes sobre o papel das
RPPNs para a conservação da biodiversidade, tais como serem aliadas na
proteção do entorno das UCs públicas.
As áreas protegidas na categoria de reservas privadas são essenciais
para a conservação da biodiversidade e atuam como a pedra angular das
estratégias de conservação, funcionando como refúgios para as espécies
e protegendo os diferentes processos ecológicos, onde ocorrem em geral
em fragmentos remanescentes em paisagens muito alteradas e são comple-
mentares aos esforços mais amplos de proteção dos ecossistemas, cobrindo
lacunas nas estratégias de conservação (DUDLEY, 2008).
Suas funções incluem a manutenção dos serviços ecossistêmicos e, em
muitos casos, é a última esperança para evitar a extinção de espécies amea-
çadas e endêmicas. De acordo com Pinto et al. (2012), a Mata Atlântica é o
domínio fitogeográfico com o maior número de RPPN, fato de importância
fundamental uma vez que 80% dos remanescentes naturais se encontram
em terras privadas. Esta importância é corroborada por dados de Oliveira et
al. (2010) que analisaram 127 RPPN do Bioma e encontraram pelo menos
3.000 espécies de plantas e animais, assim como uma fração significativa
das espécies da fauna e flora brasileira ameaçadas de extinção. Muitas es-
pécies endêmicas do bioma estão amplamente representadas nessas reser-
vas particulares, como no caso da bromélia Lymania spiculata e, algumas
espécies de plantas e animais da Mata Atlântica encontram em RPPNs o
seu último refúgio, considerando que só se tem registro delas em proprie-
dades particulares (Dyckia pernambucana e Vriesea limae consideradas
66
2. Benefícios ao proprietário
sentido, estados e municípios veem nas RPPN seu destaque nas estratégias
de conservação da biodiversidade e proteção dos serviços ecossistêmicos.
Em alguns estados, como Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, as
RPPN recebem deferência especial nas políticas de promoção e reco-
nhecimento dos serviços ecossistêmicos. Em São Paulo, o governo do
estado tomou a iniciativa de implementar legislação de pagamento por
serviços ambientais a posicionar formalmente as RPPN como requisito
para o recebimento de repasses relacionados à serviços ambientais. Até o
presente momento, o RS não apresenta nenhuma política pública relacio-
nada a incentivos diretos à RPPNs e no que diz respeito à programa de
serviços ambientais, o mesmo é citado como instrumento da Política de
Conservação do Solo e da Água do Rio Grande do Sul, art. 4, inciso XV
do Decreto 52.751/2015.
Outro benefício que incentiva a criação de unidades de conservação
nos municípios, incluindo as reservas particulares, é o ICMs Ecológico.
Esta é uma arrecadação que faz parte da composição dos percentuais a que
os municípios, que abriguem unidades de conservação, ou seja, diretamen-
te influenciados por elas, ou aqueles com mananciais de abastecimento
público, têm direito a receber do ICMS arrecadado pelos estados. Os esta-
dos devem elaborar suas próprias leis sobre a distribuição e os percentuais
do ICMS Ecológico que será repassado aos municípios, que, mediante lei
municipal, podem celebrar convênios, acordos de mútua cooperação e inte-
resse recíproco com instituições para que estas apliquem aos proprietários
de RPPNs. É feita então, uma “Transferência Voluntária Municipal”, que
é a entrega de valores públicos a outro ente, que não decorre de determi-
nação constitucional legal. As instituições conveniadas com as prefeituras
para receberem o repasse do ICMS, devem ser de utilidade pública e sem
fins lucrativos.
Uma das maiores possibilidades que se abrem com o ICMS Ecológico
é a possibilidade de parceria entre os gestores municipais e os gestores pú-
blicos e privados de Unidades de Conservação localizados nos municípios,
com vista a incrementar a gestão dessas Unidades. Nesse sentido, associa-
ções de proprietários de reservas privadas, como a associação de RPPN
do estado do Paraná (RPPN Paraná), tomaram a iniciativa de trabalhar em
parceria com determinadas municipalidades no sentido da utilização de
parte dos recursos do ICMS Ecológico em prol de reservas particulares. O
estado do Paraná foi pioneiro em direcionar esses recursos às RPPN. As
negociações e os arranjos institucionais efetuados envolveram, à época,
a Secretaria de Meio Ambiente, o IAP – Instituto Ambiental do Paraná,
a RPPN Paraná – Associação Paranaense de Proprietários de Reservas
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 69
Via de regra, para uma área se tornar uma RPPN deve apresentar rele-
vante importância pela sua biodiversidade, guardar ecossistemas naturais
e modificados que são essenciais na manutenção dos sistemas mantene-
dores da vida, conservar características biofísicas importantes para a re-
gulação dos ciclos hidrológicos e climáticos local e/ou regional, dispor de
oportunidades para educação e pesquisa científica, possuir relevante im-
portância por seu aspecto paisagístico, pelos atributos relacionados com
serviços ecossistêmicos ou ter características ambientais que justifiquem
sua recuperação.
As RPPNs podem ser criadas pelos órgãos integrantes do Sistema
Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA nos âmbitos federal, estadual
e municipal.
Contudo, a criação da RPPN é de iniciativa do proprietário do imóvel,
mas necessita da homologação da autoridade ambiental. O processo de
reconhecimento de uma propriedade ou de parte dela como RPPN envolve
basicamente as etapas de análise técnica, consulta pública, vistoria técni-
ca, análise jurídica, averbação do Termo de Compromisso e publicação de
instrumento legal de reconhecimento, conforme a regulamentação do Dec.
5.746, de 5 de abril de 2006.
Como a averbação de uma RPPN constitui um ato jurídico que cria
um direito real sobre os imóveis, independente dos seus titulares, esta aver-
bação precisa ser feita individualmente, sobre cada escritura ou título de
propriedade. É por esta razão também que não é possível instituir RPPN
sobre áreas de posse, pois seria precário, do ponto de vista legal, o estabe-
lecimento de obrigações reais sem um título ou uma escritura definitiva.
Considerando que a RPPN implica em restrição voluntária do direito
de propriedade, é necessário que o Oficial de Registro de Imóveis observe
se todos os titulares de direito real comparecem no termo de compromisso,
bem como se estão no pleno exercício de sua capacidade jurídica, sendo
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 71
cercar e impedir a entrada de pessoas pode não ser o suficiente para garantir a
perpetuidade da proteção de uma dada área.
Ao contrário do poder público, que tem a obrigação de fazer o que a legis-
lação lhe atribui como responsabilidade, os cidadãos, as empresas e as organi-
zações da sociedade civil têm a liberdade de optar pelas atividades que melhor
lhes aprouver, obviamente respeitando os limites estabelecidos pelos atos legais,
regulatórios e normativos existentes. Sendo a RPPN uma área protegida criada
voluntariamente pelo proprietário, a mesma deve preservar a flexibilidade inerente
à livre iniciativa, no que tange ao seu modelo de planejamento, de gestão e de uso.
Entretanto, é recomendável, porém, que pelo menos algumas ações de
Educação Ambiental sejam desenvolvidas com os vizinhos e a comunidade do
entorno, até para se garantir a proteção da área e diminuir os problemas com
queimadas, caça e extrativismo, sobretudo de palmito, lenha e cipós.
É fundamental entender também que os objetivos de gestão de uma uni-
dade de conservação são limitados pelos atributos naturais da mesma, ou seja,
dependem diretamente das características naturais da área, incluindo seu ta-
manho, o tipo de ecossistema, o grau de conservação do mesmo, a presença
de espécies endêmicas e/ou ameaçadas, a existência de sítios históricos e/ou
arqueológicos, a ocorrência de áreas de interesse turístico e recreacional em
seu interior, a presença de pessoas, as atividades atualmente desenvolvidas na
mesma (compatíveis ou incompatíveis com a conservação dos recursos naturais
e da biodiversidade) e outras.
Além de ter sido a primeira categoria regulamentada após a criação do
SNUC, as RPPN foram também as primeiras a contar com um roteiro me-
todológico próprio, contendo diretrizes metodológicas e de procedimentos,
para orientar os proprietários e seus parceiros durante a elaboração dos planos
de manejo.
Neste sentido, podem surgir arranjos diferenciados de plano de manejo,
adequados a vocação de cada RPPN, possibilidade e interesse do proprietário
para implementar atividades de uso público e os que devem ser elaborados para
as reservas que não têm estas características. Para estas últimas, o plano de ma-
nejo a ser elaborado de forma a orientar o proprietário e/ou gestor apenas para
as atividades de preservação e conservação da biodiversidade.
ambiente desde que foi instituída, no ano de 1996, idealizada por profissionais
com amplo conhecimento e militância na área ambiental, têm se dedicado a
atender o que é preconizado pelo termo MO’Ã, que significa em Tupi-guarani,
proteger, com sede administrativa no município de Santa Maria, no estado do
Rio Grande do Sul. Por seu histórico de atuação junto ao município de Itaara,
no ano de 2007, recebeu por doação do casal instituidor, Eleonora Diefenbach
Müller, cirurgiã dentista, Rainer Oscar Müller, economista, uma área de 24
hectares, localizada no Rincão dos Minellos, no município de Itaara, Região
Central do Rio Grande do Sul.
No RS os municípios da região central, dentre eles, Santa Maria e Itaara,
estão localizados na Reserva da Biosfera, definida pela Política Ambiental do
Estado, como área prioritária para a criação de unidades de conservação no
estado, os Planos Diretores Municipais dedicam artigos específicos a área de
abrangência da Mata Atlântica, reconhecem e salientam a necessidade de pro-
teção e conservação de remanescentes, e práticas que promovam o desenvolvi-
mento sustentável, mas pouco fazem neste sentido.
O reconhecimento da importância da conservação ambiental da Mata
Atlântica também motivou os instituidores e mantenedores da Fundação MO’Ã,
a doarem a área de 24 ha para a Fundação, trabalhando exaustivamente para que
fosse instituída, através da Portaria nº 80 da SEMA – Secretaria do Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Rio Grande do Sul, publicada
no diário Oficial em 15 de junho de 2015, a Reserva Particular do Patrimônio
Natural Estadual MO’Ã/RPPN Estadual MO’Ã, com 22 ha na fração denomi-
nada Caminho das Pedras, no Rincão do Minellos, município de Itaara.
A RPPN destaca-se pela sua geobiodiversidade , com remanescentes de
vegetação do Bioma da Mata Atlântica, na área do Rebordo do Planalto Sul-
Rio-Grandense, com amplitude altimétrica de aproximadamente 200 metros,
de relevo escarpado, caracterizado pela inclinação de vertentes, com Área de
Preservação Permanente de encosta além de margens e nascentes no interior
da propriedade, caracterizando-se como zona núcleo da Reserva da Biosfera,
evidenciado a necessidade de conservação.
Outro aspecto relevante da área, é a biodiversidade de flora e fauna típicos
do bioma Mata Atlântica, poucos fragmentos na região possuem extensão e
qualidade ambiental como encontrados no interior da propriedade. Constata-se
que pela declividade, dinâmica fluvial do rio, composição dos remanescentes
florestais e espécies de fauna, apresenta significativa relevância, configurando
uma condição propícia à existência de Unidade de Conservação da tipologia
de RPPN, destinada a pesquisas e educação ambiental, atividades previstas nas
diretrizes do Plano de Manejo, aprovada pelo conselho Administrativo e em
processo de elaboração pela Fundação MO’Ã.
76
REFERÊNCIAS
Creio que ainda não temos a consciência clara de algo que me parece
muito importante: é o fato de que os direitos da natureza e os direitos
humanos são dois nomes da mesma dignidade. Mais de cinco séculos
fomos oferecendo recursos naturais, concedendo em troca de nada,
86
recursos naturais que depois se vão. Se vão sem dizer adeus, sem dizer
sequer obrigado, deixando para trás imensas crateras, milhares de mor-
tos, nos sumidouros, nas plantações. Fantasmas, palácios vazios (p. 34).
Legenda
Unidades de Conservação
PE Quarta Colônia
RB Ibicui Mirin
RPPN MO´Ã
Corredor Ecológico da 4º Colônia
Corredor
Zona de amortecimento
Zona de transição
Alvos de Conservação
Municípios abrangidos pelo Corredor
Fontes: SEMA, 2014
Fundação MO´Ã, 2013
Malha digital IBGE, 007
Org.: Weber, A. A. 2016
RPP
NE
stad
ual
MO
´Ã
área, havendo apenas duas UCs nesta condição no estado do RS, a RPPN
MO’Ã e a Barba Negra (em Barra do Ribeiro). As atividades permitidas nas
RPPNs são a pesquisa científica e a visitação com objetivos turísticos, recre-
ativos e educacionais, conforme dispõe a legislação e seu Plano de Manejo.
PROCESSOS FASES
Planejamento participativo
Diagnóstico do local
1. Planejamento participativo e
Delimitação da área da trilha diagnóstico da trilha
Custo de investimento
Administração
Monitoramento e manutenção
6
5
Legenda:
1 O arroio Manuel Alves 4 A mata ciliar
RPPN Estadual MO´Ã Arroio Manuel Alves
2 Você está entrando em uma RPPN 5 Poço dos lambaris
Área de manejo Trilha Interpretativa
3 É nativa ou exótica? 6 Fungo do ar puro
Você já deve ter visto uma destas arvores. Porém sabe qual é nativa e
qual é exótica? Espécies nativas são aquelas naturais de uma determinada
região que, durante milhares de anos, vêm interagindo com o ambiente
Ponto 3
e, assim, passou por um rigoroso processo de seleção natural que gerou
Se a UVA é
(29°37’44.41”S/ espécies geneticamente resistentes e adaptadas ao local onde ocorrem. E
do-JAPÃO,
53°44’18.25”O) sobre as espécies exóticas que são aquelas introduzidas de outras regiões,
a Araucária
como de outro país, por exemplo, não sofreram esse processo de seleção
é da onde?
natural e, dessa forma, não servem de substituto ideal para a flora nativa,
uma vez que não desempenham as mesmas funções dentro do ecossiste-
ma (CAMPOS et al., 2006).
continua...
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 99
continuação
O que veremos neste ponto vai além da beleza cênica! Sabe de onde
vem a água deste poço? Este poço é formado pelo extravasamento do rio.
Quando chove muito o rio extravasa seu leito, e inunda sua área de várzea,
que por sinal...
São elas que dissipam as forças erosivas do escoamento superficial de
Ponto 5
(29°37’40.39”S/ águas pluviais, funcionando como importantes controladores de enchentes
De olho no
53°44’19.84”O) e em época de chuva intensa forma pequenos córregos que deságuam no
poço!
Arroio Manuel Alves, caracterizando canais entrelaçados, típicos de zonas
montanhosas, com planície, formada a partir de depósitos coluvionares
sob constante retrabalhamento pela complexa rede de canais de menor
porte que são constantemente desativados/reativados de acordo com o
período chuvoso (KORMANN et al., 2009)
Figura 4 – O folder tem como objetivo ser um apoio para o visitante, guiá-lo
e oferecer mais autonomia ao visitante que fará sua própria interpretação
8 cm 8 cm
8c
8c
m
m
m
m
8c
8c
m
m
8c
8c
8c
8c
m
8 cm 8 cm
Legenda:
O Arroio Manuel Alves A Mata Ciliar
RPPN Estadual MO’Ã Arroio Manuel Alves
Você está entrando em uma RPPN Poço dos Lambaris
Área de Manejo Trilha Interpretativa
É nativa ou exótica? Fungo do Ar Puro
E sobre as espécies
Ponto 3 exóticas que são aquelas
Se a UVA é do JAPÃO, a Araucária é da onde? introduzidas de outras
regiões, como de outro
Você já deve ter visto uma país, por exemplo, não
destas árvores. Porém, sabe sofreram esse processo
qual é nativa e qual é exótica? de seleção natural e,
Espécies nativas são aquelas dessa forma, não servem
naturais de uma determinada A dispersão de H.
de substituto ideal para a dulcis ocorre por seus
região que, durante milhares flora nativa, uma vez frutos, carnosos ao
de anos, vêm interagindo com que não desempenham madurar, com sabor
o ambiente e, assim, passaram as mesmas funções doce e agradável. Em
função disso, as aves
por um rigoroso processo de dentro do ecossistema preferem seus frutos e
seleção natural que gerou (CAMPOS et al., 2006). não os das nativas.
espécies geneticamente
resistentes e adaptadas ao
local onde ocorrem.
A gimnosperma nativa Araucaria
angustifolia, conhecida como Araucária
é nativa do Rio Grande do Sul e
dominante nas partes elevadas do
Grande disseminação da Uva-do-Japão na RPPN MO’Ã
Planalto, podendo ocorrer na Serra do
Uva do Japão (Hovenia dulcis Thunb.), originária da China, Japão
Sudeste, e está presente na RPPN MO’Ã
e Coréias. Estes tipos de plantas produzem descendentes em
(FLORA DIGITAL, 2009). número muito elevado.
Ponto 4
Já imaginou nossos olhos sem cílios? Em função disso neste
ponto observa-se um
Chegamos no ponto principal da nossa trilha. arbusto característico de
Neste ponto vamos descobrir “o que é” e qual mata ciliar, o Sarandi
a função da MATA CILIAR. Já imaginou (Colliguaja brasiliensis
nossos olhos sem cílios? O que aconteceria? Klotzsch ex Baill.)
Todo e qualquer tidpo de sujeira entraria em encontrado nas margens
contato com nossos olhos, não é? O mesmo do recursos hídricos
acontece com os rios, lagos, córregos e (FERRARESE, 2016).
lagoas, se a MATA CILIAR.
Sarandi presente na
RPPN MO'Ã. Possui
importância por
amenizar a erosão.
Indicado para o
reflorestamento das
margens de rios.
Poço
REFERÊNCIAS
Legenda
Limite municipal
Reserva Biológica Ibicuí-Mirim
RPPN MO´Ã
Barragens e lagos
Área urbana
Remanescentes florestais
Escala: 1:150.000
Sistema de Coordenadas:
SIRGAS 2000 UTM ZONA 22S
Projeção: UTM
Datum: SIRGAS 2000
Convenções Cartográficas
Legenda
Limite municipal
Ferrovia
BR-158
Barragens e lagos
Área urbana
Rede hidrográfica
Rios intermitentes
Rios perenes
Bacias hidrográficas
Ibicuí
Vacacaí - Vacacaí Mirim
Escala: 1:150.000
Sistema de Coordenadas:
SIRGAS 2000 UTM ZONA 22S
Projeção: UTM
Datum: SIRGAS 2000
Convenções Cartográficas
Legenda
Limite municipal
Compartimentosgeomorfológicos
29º30’30”S
Escala: 1:150.000
29º34’30”S
Sistema de Coordenadas:
SIRGAS 2000 UTM ZONA 22S
Projeção: UTM
Datum: SIRGAS 2000
0 1 2 4 6 8
km
I II
III IV
Formação
Litologia
geológica
Derrames de
Fácies Caxias
vitrófiro e
Gramado
basalto e
Fácies
andesito,
soleiras de
diabásio
Arenito médio
a fino, com
Formação camadas de
Caturrita silitito argiloso
em direção ao
topo
Convenções Cartográficas
Legenda
Limite Municipal Corpos d´água
RFFSA Rios perenes
BR - 158
Escala: 1:150.000 Fonte: CPRM, 2009
Quedas d’água
1. Recanto da Vovó 1 2 3
2. 1ª Arroio Biriba
3. 2ª Arroio Biriba
4. Três Quedas
5. 1ª Arroio Taboão
4 5 6
6. 2ª Arroio Taboão
7. 3ª Arroio Taboão
8. 4ª Arroio Taboão
9. 5ª Arroio Taboão
10. Cascata Pozzobom 7 8
11. Cascata da Curva
12. Cascata do Banrisul
13. Cascata da Usina 10
14. 3ª Manuel Alves 9 11
15. 4ª Manuel Alves
16. 5ª Manuel Alves
17. 6ª Manuel Alves
12 14
13
15
16 17
Considerações finais
REFERÊNCIAS
pois, cerca de dois terços das pessoas que não dispõem de água para suas
necessidades básicas vivem com menos de US$ 2 por dia (SACHS, 2008).
Isso, em um cenário no qual, segundo relatório da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), se estima que as
reservas hídricas globais possam encolher 40% até 2030 (UNESCO, 2015)
em função das transformações no uso da terra e das mudanças climáticas.
Uma redução de oferta de água que é fisicamente incompatível e assustadora
frente à estimativa de que a demanda aumente 55% até 2050, o que enca-
minha para um inevitável acirramento dos conflitos relacionados à água nas
próximas décadas (WELZER, 2016).
No entanto, frente aos 10 milhões de quilômetros cúbicos de água que
transitam entre a atmosfera e a terra, em ciclos de evaporação e precipitação,
estas estimativas apontam muito mais para uma crise global de governança
da água do que propriamente para uma crise de disponibilidade de recurso
hídrico; apenas nas últimas décadas o consumo de água cresceu duas vezes
mais do que a população mundial. Contaminação de aquíferos, impermeabi-
lização de áreas de recarga, falta de proteção de nascentes e matas-galeria,
expansão descontrolada de áreas agrícolas com produção de sedimentos e
assoreamento de canais, desperdício de água na irrigação e no abastecimento
urbano mal planejados, alteração de canais e de regimes hídricos e privatiza-
ção de mananciais são alguns dos elementos que definem um quadro bastan-
te complexo para as próximas décadas.
No Brasil, em que pese a abundância total dos recursos hídricos em ter-
ritório nacional, a sua distribuição irregular somada à criação de um rentável
e cada vez maior mercado da água e a uma cultura da má gestão (38,1% da
água tratada no Brasil é desperdiçada segundo o Ministério das Cidades –
BRASIL, 2018), acende todos os sinais de alerta. Este quadro, dentro de um
projeto de desenvolvimento em que mais de 70% da água doce utilizada é
controlada pelo agronegócio, cria uma produção social da escassez hídrica
no campo, atrelando a formação da cidadania à condição de uma seletiva
categoria econômica de produtividade (CHÁVEZ et al., 2017).
A mudança progressiva na concepção acerca dos mecanismos de acesso
aos recursos hídricos, do direito universal de uso de um patrimônio compar-
tilhado à uma mercadoria cuja circulação é mediada pelas relações de mer-
cado, define uma mudança substancial na proteção e conservação da água;
isto, em última instância, coloca em risco a sobrevivência da própria espécie
humana na Terra, na medida em que nos pautamos pelas características da
demanda sem levarmos em conta os limites da oferta.
É exatamente este o contexto que sustentou a entrada da Educação
Ambiental como um eixo transversal estratégico dentro do Projeto Saúde da
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 129
SAÚDE DA ÁGUA
UM PROJETO DA FUNDAÇÃO MO’Ã
SUBPROJETOS
POLÍTICA DE
RESÍDUOS / DESCARTE
DE ÓLEO DE COZINHA
RESTAURAÇÃO FLORESTAL
EM PROPRIEDADES RURAIS
MATAS CILIARES E
NASCENTES
MONITORAMENTO QUALI-
QUANTITATIVO DOS RECURSOS
HÍDRICOS
EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
p. 71). Assim, educar sobre o que é o homem e como ele se constitui coleti-
vamente, é a primeira das tarefas da educação ambiental.
É preciso, como afirma Novo (2003), criar uma “solidariedade
sincrônica” no tempo histórico, que permita que as pessoas reaprendam a
cooperar, a respeitar as diferenças e construir com elas. Afinal, “estamos na
era planetária; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer
que se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum
e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é
humano” (MORIN, 2000, p. 47).
Esta é uma capacidade que tem se reduzido de forma sistemática na
medida em que avançamos na modernidade reflexiva; o processo de tecni-
ficação da vida e “coisificação do mundo” (LEFF, 2001) tende à individua-
lidade e ao isolamento. O computador pessoal, o celular individual, o carro
particular, as várias televisões dentro de casa para que cada um possa assistir
o seu programa, a possibilidade de se comprar uma programação televisiva
individual, a redução dos espaços e rituais coletivos e a construída falta de
tempo e de paciência das pessoas para com estes rituais, são exemplos de
elementos que comprometem enormemente a capacidade de organização e
de intervenção dos seres humanos na construção do seu futuro. Logicamente
que este é um mecanismo que interessa diretamente ao modo de produção
dominante, já que desarticula o potencial coletivo de organização da socie-
dade e a torna refém das decisões dos gestores do sistema.
Então, a escola, enquanto espaço de construção de um “homem novo”,
precisa oportunizar esta experiência revolucionária e radical (porquanto incita
um retorno às raízes da própria humanidade e sua evolução) da socialização.
E nesse caso, não podemos deixar de lembrar a importância que a dimensão
emocional assume dentro deste processo, já que para Maturana (1998) é do
entrelaçamento entre o racional e o emocional que advém as coerências opera-
cionais de nosso sistema de argumentação a partir do qual construímos nossa
compreensão de mundo e nossa estratégia de intervenção nele.
No que se refere à ética ecológica, é preciso compreender que o desen-
volvimento da racionalidade humana não nos deu a primazia sobre todos
os outros seres. Precisamos recuperar a capacidade de vivermos no mundo
sem nos considerarmos donos dele, mas, pelo contrário, compreendendo que
devemos nossa existência à existência do outro.
Enquanto relação interespecífica, a ética ecológica pressupõe o aban-
dono de uma lógica utilitarista e antropocentrista, colocando a natureza (e
o homem como parte dela) no centro das relações, outorgando-lhe o papel
de sujeito de direito, tal como propõe Michel Serres: “[...] o antigo contrato
social deveria desdobrar-se num contrato natural: [...] não há outra saída
134
Portanto, a educação ambiental não deveria ser “uma coisa a mais” den-
tro da escola; ela deveria ser, na verdade, uma forma da escola olhar para o
mundo em que está inserida e, ao mesmo tempo, uma orientação para balizar
o seu comportamento dentro desse mundo.
A transversalidade da educação ambiental não deveria implicar em pe-
ríodos adicionais de envolvimento extraclasse, como se isso fosse algo dife-
rente daquilo que devemos aprender; pelo contrário, deveria ser uma oportu-
nidade para que a matemática fosse aprendida no pátio da escola, as ciências
na horta, o português com as notícias do bairro, a geografia no supermercado
etc. Em relação a isso, comenta Morin (2003):
Por vezes nos preocupamos tanto com a mudança interior dos indivídu-
os, que esquecemos que quando esta mudança não se reflete igualmente em
mudanças exteriores, seja no plano individual, mas, principalmente, no pla-
no coletivo, enquanto identidade política de atuação do ser, estes indivíduos
tendem cada vez mais ao isolamento e à frustração diante de um mundo que
insiste em não se transformar para acompanhar a mudança interior que ele,
indivíduo, tem se esforçado para implementar.
O desafio político da educação ambiental consiste, antes de mais nada,
em compreendermos que os indivíduos são, ao mesmo tempo, produto e pro-
dutores da sua própria condição de existência. Esta compreensão lhe confere
o intransferível papel de sujeito do processo, capaz de fazer escolhas, de
enfrentar contradições, de organizar coletivamente um caminho, de reivin-
dicar. Tal como afirma Morin (1996), os indivíduos produzem a sociedade e
esta produz os indivíduos. Claro que isso não se dá em um plano metafísico
de retroalimentação harmoniosa; pelo contrário, isso se dá em um processo
dialético de enfrentamentos e superações, e este é o grande desafio sobre o
qual se buscou compreender e discutir sobre a saúde da água no município
de Itaara, já que “é a ação que cria a consciência das contradições para
rejeitá-las, e é a ação que busca uma forma de superá-las de maneira a não
reproduzi-las, mas de inaugurar o novo” (BOFF, 2012, p. 248).
ESCOLA COMUNIDADE
Oficina de Sensibilização
SENSIBILIZAÇÃO
Trabalhos Construção
de do livro
campo Observatório da água “Histórias do
Manoel Alves”
Oficina de
Vídeo
Jogo
AÇÃO
“Pela Trilha
das Águas”
Tempo
Fonte: Organização do autor.
2 A discussão acerca de uma educação ambiental “rizomática” extrapola em muito os limites possíveis para este texto,
mas, de qualquer forma, podemos definir esta perspectiva de trabalho como uma teia de atividades cujo crescimento
polimorfo vai explorando as reentrâncias das oportunidades oferecidas a partir do diálogo, anseios e realidade de cada
comunidade. Não há, portanto, um “kit” de formação padronizada que possa ser desenvolvido de forma propedêutica
e genérica para qualquer público ou realidade. A característica central deste processo aponta para um processo de
planejamento participativo e horizontalizado sobre aquilo que se quer ou se precisa conhecer para enfrentar a realidade.
Um maior aprofundamento sobre a aplicação destes princípios em educação Ambiental pode ser encontrado em Santos
(2005) e Azevedo (2013).
140
(SANTOS apud NOVO, 2003) que sobrepõe o tempo circular ao linear, como
também porquê nos remete a uma perspectiva autocontida dentro de uma geo-
metria em que a compreensão dos limites e da finitude representa parte essen-
cial do entendimento do equilíbrio da sustentabilidade.
Tendo por base esta figura simbólica que afronta a ontologia do pen-
samento moderno, desafiando o indivíduo e a coletividade para o retorno a
uma “ética primitiva”, a mandala da ecopedagogia se propõe a oferecer uma
arquitetura de enfrentamento das questões e conflitos socioambientais a par-
tir de três dimensões complementares: os princípios, os campos temáticos e
os eixos de ação (figura 7).
3. Atividades Artísticas
A Arte, como manifestação da cultura humana, favorece a formação da
identidade e a construção da cidadania. Assim, crianças e jovens vivenciam e
compreendem a realidade utilizando os problemas como desafios, opondo-se
ao conformismo, construindo relações entre o mundo interior e exterior por
meio das emoções e da sensibilidade, sendo, a partir disso, capaz de atuarem
eticamente no ambiente.
As atividades artísticas realizadas buscaram levar os estudantes a in-
vestigar, inventar e explorar a expressividade e a criatividade, tornando-os,
dessa forma, indivíduos mais sensíveis às belezas e aos problemas que os
cercam. Assim, buscando explorar as diferentes formas de expressão sensí-
vel potencializada pela arte, diversas atividades foram organizadas nas esco-
las (figura 10), envolvendo trabalhos de arte e natureza, máscaras de animais
e plantas, construção de instrumentos musicais com materiais recicláveis,
formatos da natureza em moldes de gelatina, exposições fotográficas etc.
Durante todas estas atividades, os estudantes vivenciaram, na prática,
diferentes conceitos da arte envolvendo a sensibilidade, a percepção, a cons-
ciência estética, a imaginação, a leitura de imagens, a emoção, a investigação
e a reflexão como ferramentas para construir uma concepção da realidade
capaz de transcender o conceito pronto que, via de regra, é o que se transmite
em uma educação “bancária” e conteudista.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
1. Introdução
2. Região do estudo
O município de Itaara está localizado no topo da Serra Geral, na re-
gião central do Rio Grande do Sul e ocupa uma área de 172 km². Faz divisa
ao norte com o município de Júlio de Castilhos, ao sul e leste com Santa
Maria e a oeste com São Martinho da Serra (IBGE, 2018).
De acordo com a classificação climática de Köppen, o município se
enquadra no tipo Cfa, clima subtropical úmido, com verões quentes, sem
estação seca definida. A temperatura média do mês mais frio é de 12,2ºC e
a do mês mais quente é de 22,9ºC (ALVARES et al., 2013). A precipitação
média anual varia entre 1.500 e 1.750 mm, sendo bem distribuída durante
todo o ano.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 155
29º30’0”S
29º33’0”S
29º36’0”S
0 2 4 8 29º39’0”S
km
Legenda
Sub-bacia Nascentes BR - 158 Sistema de Projeção Geográfica:
SIRGAS 2000
Arroio Manuel Alves Perímetro Urbano Lago SOCEPE
Itaara Elaboração:
André Ademir Weber, 2015
CTC CTC
P K Al Ca Mg V M MO Arg
ef ph7
Áreas pH
mg/L cmolc/L %
N1 4,83 5,38 67,50 1,69 4,01 0,99 6,88 13,84 37,31 29,74 2,75 24,25
N2 5,13 5,29 115,00 0,74 6,72 1,89 9,66 14,29 57,63 16,63 2,94 20,13
N3 4,75 3,93 92,00 2,39 1,64 0,79 5,04 8,93 30,93 49,35 1,69 24,25
N4 4,75 6,80 97,00 1,36 3,49 1,07 6,16 13,09 36,01 27,89 3,79 24,38
N5 4,56 10,50 66,50 1,73 2,57 0,69 5,16 13,24 25,10 47,23 3,75 16,00
N6 4,81 5,95 166,00 1,51 4,35 0,97 7,28 14,05 43,34 24,11 3,05 26,75
Mata ciliar 5,11 9,16 204,5 1,00 5,08 1,97 8,57 14,3 55,07 13,74 2,65 31,87
Em que: N1: nascente isolada + plantio em núcleos; N2: nascente isolada + plantio em área total; N3: nascente
testemunha degradada; N4: nascente isolada, servindo de testemunha preservada; N5: nascente isolada (cercamento);
N5: nascente isolada a 8 anos; mata ciliar: mata ciliar degradada onde se aplicou a semeadura direta. Ca: Cálcio; Mg:
Magnésio; K: potássio; Al: alumínio; m: saturação por alumínio (%); V: saturação por base (%); CTC. ef.: Capacidade
de troca de cátions efetiva; CTC pH 7: Capacidade de troca de catiônica potencial; MO: matéria orgânica; P: fósforo.
Fonte: Adaptado de Giacomini (2016).
Ma- Mi-
CC PMP K Dp Ds Pt RP
cro cro
Áreas Classe textural
(cm 3
(cm 3
(mm (g (g (cm 3
(cm 3
(cm 3
(Mpa)
cm-3) cm-3) h-1) cm-3) cm-3) cm-3) cm-3) cm-3)
N1 0,445 0,18 84,66 2,46 1,225 0,055 0,46 0,51 2,31 Franco Argiloso
N2 0,445 0,19 219,90 2,415 1,21 0,055 0,465 0,51 3,71 Franco Siltoso
N3 0,415 0,195 1,915 2,47 1,275 0,06 0,425 0,48 4,55 Franco Siltoso
N4 0,415 0,165 171,90 2,445 1,01 0,145 0,43 0,57 1,56 Franco Siltoso
N5 0,475 0,165 74,04 2,425 1,03 0,075 0,49 0,57 1,56 Franco Siltoso
N6 0,415 0,16 117,42 2,555 1,15 0,11 0,43 0,54 1,68 Franco Siltoso
Mata ciliar 0,41 0,18 352, 42 2,53 1,27 0,08 0,42 0,50 2,05 Franco Argiloso
Em que: N1: nascente isolada + plantio em núcleos; N2: nascente isolada + plantio em área total; N3: testemunha
degradada; N4: nascente isolada, servindo de testemunha mais preservada; N5: nascente isolada (cercamento);
N6: nascente isolada a 8 anos; mata ciliar: mata ciliar degradada onde se aplicou a semeadura direta. CC:
Capacidade de campo (cm³/cm³); PMP: ponto de murcha permanente (cm³/cm³); k: condutividade hidráulica
(mm/h); Dp: densidade de partícula (g/ cm³); Ds: densidade do solo (g/ cm³); Macro: macroporisidade (cm³/
cm³); Micro: microporosidade (cm³/cm³); Pt: porosidade total (cm³/cm³); RP: resistência à penetração (Mpa).
Fonte: Adaptado de Giacomini (2016).
160
Altura
Nome científico Família Nome popular TxG TxS
(cm)
100,0 P. ca�leianum
S. tereben�folius
80,0
C. vernalis
60,0 E. involucrata
40,0 A. edulis
20,0 C. xanthocarpa
0,0 P. myr�folia
plantio 3 6 9 12 E. uniflora
Fonte: Autoras.
continua...
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 167
continuação
Espécie Família Nome popular N TxS (%)
Luehea divaricata Malvaceae açoita-cavalo 16 100,0
Parapiptadenia rigida Fabaceae angico-vermelho 29 100,0
Prunus myrtifolia Rosaceae pessegueiro-do-mato 16 80,0
Psidium cattleianum Mytaceae araçá-vermelho 16 100,0
Schinus
Anacardiaceae aroeira-vermelha 14 92,9
terebentifolius
Vitex megapotamica Lamiaceae tarumã 3 100,0
Fonte: Autoras.
120,0
100,0 A. edulis
A. angus�folia
80,0 B. salicifolius
Altura (cm)
C. vernalis
60,0 E. involucrata
E. uniflora
40,0 L divaricata
P. rigida
20,0 P. myr�folia
P. ca�leianum
0,0 S. tereben�folius
plantio 3 6 9 12 V. megapotamica
Meses após o plantio
Fonte: Autoras.
168
4. Considerações finais
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
por-cidade-estado-estatisticas.html?t=destaques&c=4310538>. Acesso
em: 10 abr. 2018.
KORMANN, T. C.; THOMAS, B. L.; NASCIMENTO, D. B.; FOLETO,
E. M. Contribuição geográfica na criação de uma Reserva Particular do
Patrimônio Natural (RPPN) em Itaara – RS. Revista Geografar, v. 5, n. 2,
p. 13-31. 2010.
LEAL DA SILVA, M. P. K. Monitoramento de estratégias de nucleação
para restauração ecológica no bioma Mata Atlântica, sul do Brasil.
2017. 65 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2017.
MARCHIORI, J. N. C. Fitogeografia do Rio Grande do Sul: enfoque
histórico e sistemas de classificação. Porto Alegre: EST, 2002. 118 p.
PIAIA, B. B.; GIACOMINI, I. F.; ROVEDDER, A. P. M. Restauração
ecológica de nascentes e matas ciliares: cartilha. Fundação MO’Ã. Santa
Maria, 52 p., 2015a.
PIAIA, B. B.; ROVEDDER, A. P. M.; GIACOMINI, I. F.; STEFANELLO,
M. de M. Florística de Áreas de Preservação Permanente em nascentes com
diferentes níveis de conservação na sub-bacia do Arroio Manoel Alves, em
Itaara, RS. Enciclopédia Biosfera, v. 11, n. 22, p. 1306-1320, 2015b.
PINTO, L. V. A.; BOTELHO, S. A.; DAVIDE, A. C.; FERREIRA, E. Estudo
das nascentes da bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Cruz, Lavras, MG.
Scientia Forestalis, n. 65, p. 197-206, 2004.
REIS, A.; BECHARA, F. C.; TRES, D. R.; TRENTIN, B. E. Nucleação:
concepção biocêntrica para a restauração ecológica. Ciência Florestal,
Santa Maria, v. 24, n. 2, p. 509-518, abr./jun. 2014.
Fonte: Cartilha As Plantas Aquáticas e a Saúde da Água (FERRARESE; XAVIER; CANTO-DOROW, 2015).
29º36’45”S
29º30’0”S
29º35’10”S
29º36’55”S
29º32’30”S
29º35’12”S
29º37’5”S
29º35’0”S
29º36’30”S
29º37’30”S
29º36’36”S
29º40’0”S
29º36’42”S
Legenda
Município de Itaara-RS Recurso Hídricos 53º45’40”W 53º45’30”W 53º45’20”W
Mancha Urbana Lagos Urbanos Estudados
Rodovia BR-158
diversas áreas dos lagos. As macrófitas são ainda representadas por plantas que
flutuam sobre a coluna d’água, mas possuem as raízes fixas no solo (Figura 6),
como a ninfeia (Nymphoides humboldtiana (Kunh) Kuntze).
Considerações finais
Ressalta-se aqui, a riqueza e beleza das macrófitas aquáticas encontra-
das nos ambientes lacustres estudados no município de Itaara, compostas
por samambaias, gramíneas, juncos, aguapé, lentilha-d’água, ninfeia, cruz-
-de-malta, orquídeas, dentre outras, com diversas formas, adaptações, cores
e flores singulares. Além da vasta diversidade de animais que as utilizam
como fonte de alimento, como substrato ou para refúgio. Cabe destacar a
importância deste estudo no sentido de “conhecer para preservar”, além
de “conhecer para manejar”, em que programas de gestão, monitoramento
e manejo específicos poderão ser desenvolvidos. No entanto, para obten-
ção de êxito, é necessária a cooperação entre pesquisadores, comunidade e
poder público.
Ao identificar e combater as fontes de contaminação dos lagos urbanos
e realizar o manejo adequado para controlar o crescimento excessivo das
populações de macrófitas aquáticas, será possível assegurar a conservação
da biodiversidade local, a boa qualidade da água, impactando diretamente na
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 187
REFERÊNCIAS
1. Introdução
29º30’0”S
29º33’0”S
29º36’0”S
Legenda 29º39’0”S
Itaara Remanescentes
53º51’0”W 53º48’0”W 53º45’0”W 53º42’0”W
RPPN MO’Ã Mata Atlântica Sistema de Projeção Geográfica:
SIRGAS 2000
Antropização Pampa Fonte: SOS Mata Atlântica
Elaboração:
Weber, A.A. 2016
3 4
6 7
10
9 11
8 12 13
1 2 3
5 6 7
8 9
4
1 2
4 5
4
8 9
4 5
3
6
10
7
8 8
Considerações finais
REFERÊNCIAS
4. Estratégia de ação
OBJETIVOS
QUESTÕES METODOLOGIAS
ESPECÍFICOS
NORTEADORAS
Legenda
0.16 0.14
0.14 0.12
0.12 0.1
0.1
0.08
0.08
0.06
0.06
0.04
0.04
0.02 0.02
0 0
21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 acima de 21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 acima de
0 - 20 anos 0 - 20 anos
anos anos anos anos 61 anos anos anos anos anos 61 anos
FEM - Estação Pinhal 8% 8% 10% 14% 4% FEM - Parque Pinhal 2% 2% 14% 2% 10% 10%
MASC - Estação Pinhal 2% 2% 2% MASC - Parque Pinhal 2% 4% 4%
28% 44%
30% 45%
40%
25% 32%
20% 35%
20% 16% 16% 30%
25%
15%
20%
Ensino Fundamental Completo 8% 8% 12%12%
10% 15%
Ensino Fundamental Incompleto 4% 10%
Ensino Médio Completo 5%
5%
Ensino Médio Incompleto
0% 0%
Ensino Superior Completo
SIM NÃO SIM NÃO
Ensino Superior Incompleto
Outros Estação Pinhal Parque Pinhal
Composição Familiar
0,35 32%
0,3 28%
24% 24% 2 integrantes
0,25 3 integrantes
20% 20%
0,2 4 integrantes
16% 5 integrantes
0,15 12% 6 integrantes
0,1 8% 8% 7 integrantes
4% 4% 8 integrantes
0,05
0
Parque Pinhal Estação Pinhal
50%
50%
45%
40%
35% Água
30% Solo
22%
25% Atmosfera
20% Floresta
15% 10% 10%
8% Outro
10%
5%
0%
Meio ambiente ameaçado por poluição resíduo
óleo de cozinha
25 1% Plásticos
24% Óleo
20 45%
1% Lixo eletrônico
10% Lixo orgânico
15
9% Lixo tóxico
10
Metais
5 Vidros
4% 2% 4%
0
Parque Pinhal Estação Pinhal
SIM NÃO
Diante da figura 09, é percebido que 10% dos entrevistados não sabem
que o óleo pode ser reciclado. Dessa forma, fica a sugestão à inclusão e a
orientação no intuito de fazê-los entender a necessidade da participação de-
les como agentes de mudanças na solução de problemas ambientais.
Na figura 10 a indicação é de que 66% dos 50 entrevistados afirmam sa-
ber o local de descarte do resíduo óleo de cozinha pela população. E citaram
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 225
20% 20%
16%
10% 10%
6% 6% 6% 6%
4%
5% 5%
0% 0% 0%
0% 0%
Estação Pinhal Estação Pinhal
Deslocamento até
um PEV
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Cooperativas ONGs Prefeituras Cia de Outros
Saneamento
Estação Pinhal 52% 4% 36% 8%
Parque Pinhal 16% 68% 12% 4%
meio ambiente. Neste sentido, são necessários esforços e ações para que a
informação se dissemine entre toda a população e, com isso, este resíduo
tenha um destino mais adequado que o atual.
Figura 20 – (a) PEV Expedito Lanches, (b) Restaurante Elizete’s Gourmet, (c)
Lancheria X do Negão, (d) SOCEPE, (e) Supermercado Colina- Grupo Rede Fort
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ANEXO
ANEXO A Você
( )N
ENTREVISTA SOCIOAMBIENTAL SOBRE O DESCARTE DE ÓLEO DE COZINHA
USADO NO MUNICÍPIO DE ITAARA-RS Quan
( )m
NÚCLEO/BAIRRO: ( )2
ENDEREÇO: N° CASA:
Quan
CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA ( )m
( )2
ENTREVISTA DOMICILIAR: Você
( )N
Idade:______ Sexo: ( ) Feminino ( )Masculino
O óle
Escolaridade: destes
( ) Fundamental completo ( ) Fundamental incompleto
( ) Ensino médio completo ( ) Ensino médio incompleto Se os
( ) Superior completo ( ) Superior incompleto ( )N
( ) Outros
Estari
Composição Familiar:______________ Profissão: _____________________ ( )N
Renda familiar (salário mínimo): Possui acesso à internet: ( ) SIM ( ) NÃO Você
____________________________________ cozin
( ) 0 – 5 salários
( ) 5 – 10 salários
( ) 10 – 15 salários
( ) 15 – 20 salários
Você
( ) acima de 20 salários
Quanto litros de óleo de cozinha usado você acha que sobra por mês em sua casa para ser descartado?
( ) menos de 1 litro ( ) ≈ 1 litro ( ) 1 a 2 litros
( ) 2 a 4 litros ( ) mais de 4 litros ( ) Não sei
Você sabia que o óleo de cozinha depois de usado pode ser reciclado?
( ) NÃO ( ) SIM. Em que?________________________________________________
O óleo de cozinha usado pode ser transformado em biodiesel, sabão e detergente. Você compraria algum
destes produtos? ( ) NÃO. Por quê?___________( ) SIM. Qual?_____________
Estaria disposto(a) a doar o óleo usado de sua residência para ser reciclado?
( ) NÃO ( ) SIM. Por quê?________________________________________________
NÃO Você sabe que parte do meio ambiente pode ser poluído se houver descarte inadequado do óleo de
____ cozinha? ( ) NÃO ( ) SIM. Qual(ais)?_________________________________________
Você acha que deveria haver uma coleta de óleo de cozinha usado em Itaara?
( ) NÃO ( ) SIM Por que?__________________
a? Quem você acha que deveria fazer as coletas desse resíduo?
________ ( ) Cooperativa ( ) Prefeitura ( ) ONGs ( ) CORSAN ( ) Outros:___________
1 Na Figura 1, a lista dos PEV’s foi substituída pelos pontos localizados na UFSM.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 249
Considerações finais
REFERÊNCIAS
www.pucgoias.edu.br/ucg/prope/cpgss/ArquivosUpload/36/file/Continua/
COLETA%20SELETIVA%20DE%20%C3%93LEO%20RESIDUAL%20
DE%20FRITURA%20PARA%20AP%E2%80%A6.pdf>. Acesso em: 22
jan. 2018.
1. Introdução
Nas últimas décadas as discussões sobre a preservação do meio am-
biente, tem sido pauta crescente e recorrente entre as contendas acerca desse
tema. No que concerne a esse contexto, debates relacionados aos recursos
hídricos é notadamente um dos mais evidenciados. Isso porque a água é um
recurso indispensável para todos os seres vivos e, não obstante, o acesso a
água potável tem se tornado cada vez mais escasso em muitas regiões do
planeta, o que de maneira semelhante ocorre no Brasil. E, embora, existam
novas tecnologias associadas a produção de conhecimento para melhoria da
gestão das águas, o aprimoramento necessário para alcançar a conservação
e a manutenção da qualidade e, consequentemente, o acesso aos recursos hí-
dricos qualitativamente e quantitativamente satisfatórios, ainda requer gran-
des avanços, sobretudo no que tange a gestão desse recurso.
No Brasil, um dos maiores problemas relacionado à poluição dos re-
cursos hídricos está associado à carência de saneamento, principalmente em
função do lançamento de efluentes sem tratamento, destacando-se os de ori-
gem doméstica (ARAÚJO, 2013). Somam-se ao lançamento de efluentes, as
atividades agrícolas e pecuárias, bem como a eliminação das matas ciliares.
Em se tratando de áreas rurais, a deficiência na coleta e tratamento de
esgoto sanitário é ainda maior, onde grande parcela das residências faz o uso
de tanques sépticos (COSTA; GUILHOTO, 2014), podendo ser fontes de
contaminação dos lençóis freáticos e, consequentemente, dos cursos hídricos
localizados em áreas de nascentes. Soma-se a isso, a crescente degradação
e a retirada da vegetação circundante às nascentes resultando, não raramen-
te, em locais extremamente vulneráveis a poluição ambiental. Ressalta-se,
ainda, o fato de que as comunidades rurais têm o seu abastecimento hídrico,
geralmente, proveniente de águas de nascentes ou de poços subterrâneos,
uma maior parcela desses, são poços rasos.
262
Padrões de qualidade
Parâmetros Unidade
Classe
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4
Especial
Sólidos Dissol-
mg.L-1 - ≤500 ≤500 ≤500 -
vidos Totais
Nitrito mg.L-1 - ≤1 ≤1 ≤1 -
Parâmetro Características
Atua como um catalisador de reações químicas, interfere na solubilidade das substâncias e no
metabolismo dos organismos aquáticos. Sua variação depende, de maneira geral, da radiação
Temperatura
solar, pela influência do clima e, quando de origem antrópica, do lançamento de efluentes in-
dustriais. Responsáveis pela alteração da solubilidade de oxigênio dissolvido no meio aquático.
Diretamente relacionada a quantidade de sólidos presentes na água, o que, por sua vez, in-
terfere na passagem de luz solar no maciço aquático e, consequentemente, pode ocasionar
Turbidez
a redução da fotossíntese das vegetações submersas e das algas, resultando na limitação da
produção de oxigênio.
Influi no grau de solubilidade e no potencial de toxicidade de diversas substâncias. As alte-
Potencial hidro- rações de pH nos cursos d’água podem ser decorrentes de atividade algal (fotossíntese ou
geniônico (pH) respiração dos organismos), da dissolução de rochas e do lançamento de efluentes domésticos
e industriais.
A condutividade elétrica constitui na capacidade de a água transmitir corrente elétrica em de-
Condutividade corrência da presença de sais dissolvidos. Representa uma medida indireta da concentração de
Elétrica (CE) poluentes, relacionando-se com a concentração de sólidos dissolvidos, uma vez que, à medida
que mais sólidos dissolvidos são adicionados, a condutividade elétrica tende a aumentar.
Considerado um dos principais indicadores de qualidade da água, o oxigênio dissolvido é funda-
mental para a manutenção dos organismos nos ambientes aquáticos. Águas encontradas sob
Oxigênio
maior pressão atmosférica terão maior concentração de OD. Quanto maior a temperatura, menor
Dissolvido (OD)
a concentração de gás dissolvido na água. Em relação à salinidade, à medida que a concentra-
ção aumenta, podendo ser decorrente de atividades poluidoras, a solubilidade de OD diminui.
A Demanda Bioquímica de Oxigênio corresponde à quantidade de oxigênio necessário aos
Demanda
microrganismos para oxidar a matéria orgânica biodegradável presente no ambiente aquático.
Bioquímica de
Elevados teores de DBO indicam a presença de matéria orgânica na água, normalmente prove-
Oxigênio (DBO)
niente do despejo de efluentes.
A determinação da potencialidade de uma água transmitir doenças pode ser feita de forma indi-
reta, por meio dos organismos indicadores de contaminação fecal, pertencentes, principalmente,
ao grupo dos coliformes. Os coliformes totais englobam um amplo grupo de bactérias de origem
Coliformes Totais exclusivamente fecal, podendo ser encontrados naturalmente em amostras de plantas, águas
e Escherichia coli e solos poluídos e não poluídos, bem como de fezes de seres humanos e animais de sangue
quente. O grupo de coliformes termotolerantes, representados predominantemente pelos gru-
pos Escherichia coli, são encontrados em fezes humanas e de animais, bem como nos solos,
plantas ou qualquer efluente que contenha matéria orgânica.
Em se tratando de sólidos nas águas, admite-se que, esses, correspondem a toda matéria
que permanece como resíduo após processos de evaporação, secagem ou calcinação de uma
amostra. A soma dos sólidos dissolvidos e dos sólidos em suspensão definem a concentração
Sólidos Totais,
dos sólidos totais. O aumento da concentração de sólidos nos cursos d’água, em muitos casos,
em Suspensão
pelos processos erosivos decorrentes dos períodos chuvosos. A ausência de mata ciliar, somada
e Dissolvidos
às atividades agrícolas, seguidas de técnicas inadequadas de preparo e conservação de solo,
faz com que grande quantidade de solo seja levada para dentro dos rios, contribuindo com esse
aumento.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 273
A B
278
Nascente Caracterização
Nascente cercada, em meio à mata nativa. Ocorre a presença de gramíneas, uma pequena estrada de
N1
chão e floresta de eucalipto à montante.
N2 Nascente cercada, em meio à mata nativa e floresta de eucalipto.
Nascente considerada degradada devido à perda da sua cobertura florestal original. Situada em meio
N3 à floresta de eucalipto, tendo livre acesso de animais, especialmente o gado. Possui mata nativa, área
agrícola, gramíneas, estrada de chão, além de um pequeno reservatório à montante.
Nascente com cercamento, situada em meio à mata nativa, com grande concentração de araucárias. À
N4
montante, ocorre a presença de floresta de eucalipto e fragmentos de mata nativa.
Nascente preservada, ou seja, aquela que possui suas características nativas conservadas. Estabe-
lecida em meio à floresta de eucalipto e mata nativa, tendo livre acesso de animais, principalmente o
N5 gado. À montante, estão dispostas áreas de cultivo de eucalipto, além de perfazer pequenas estradas
de chão e áreas de gramíneas. Ponto de coleta localizado 100 m à jusante da origem da nascente, em
razão da topografia.
Nascente cercada, em meio à vegetação densa em estágio sucessional avançado. Presença de resi-
N6 dências, gramíneas, área agrícola, estrada de chão, cultivo de eucalipto e fragmentos de mata nativa
à montante.
Exutório da microbacia em estudo. Recebe contribuição das nascentes, bem como dos demais cursos
CC
hídricos. À montante estão distribuídas todas as classes de solo identificadas.
Nota: Cercamento constitui no isolamento das nascentes, com a finalidade de evitar o acesso de animais.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 279
Arroio Manoel
Alves
Monitoramento
Quali-quantitativo
Análise da
qualidade da água
ao longo do tempo
Fluxo
d’água
para indicar a qualidade das águas, são apresentados, sendo eles: a Turbidez
(Turb.), Sólidos Dissolvidos Totais, Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO5,20) e Escherichia coli (Figura 5). Nesta, apresenta-se a diluição das
cargas médias dos parâmetros apresentados nas curvas de permanência para
as áreas de estudo, assim como os limites das classes de enquadramento pro-
postos pela Resolução 357/2005 do CONAMA. Uma síntese desses resulta-
dos pode ser observada na Tabela 6. Verifica-se que, segundo as classes da
Resolução 357/2005 do CONAMA, que em aproximadamente 3% do tempo
de permanência, a N6 esteve dentro dos limites para classe 1, 4% para classe
2, cerca de 7% para classe 3 e 86% do tempo na classe 4. A N5 demonstrou-
-se compatível com os limites de qualidade da classe 1 em 19% do tempo,
classe 2 em 23% do tempo, 26% na classe 3 e 32% na classe 4. As nascentes
N1, N2, N3 e N4 estiveram em consonância com a classe 1 em 71%, 80%,
62% e 40% do tempo de permanência, respectivamente. Percebe-se, ainda,
que essas, permaneceram dentro dos limites para classe 2 em 14%, 9%, 17%
e 22% do tempo monitorado, além dos 11%, 6%, 13% e 21% para classe 3.
Na classe 4, essas nascentes se mantiveram em 4%, 5%, 8% e 17% do tempo
de permanência.
O manancial localizado na Calha Champagnat permaneceu em acordo
com os limites da classe 1 em 6% do tempo monitorado, 23% do tempo em
classe 2, 30% em classe 3 e 41% em classe 4.
C1, C2
Áreas C1 C2 e C3 C4 C1 C2 C3 C4 C1 C2 C3 C4 C4
e C3
N1 99% 1% - 71% 14% 11% 4% 98% 2% - - 100% -
N2 100% - - 80% 9% 6% 5% 100% - - - 100% -
N3 98% 2% - 62% 17% 13% 8% 100% - - - 100% -
N4 100% - - 40% 22% 21% 17% 100% - - - 100% -
N5 89% 10% 1% 19% 23% 26% 32% 80% 20% - - 99% 1%
N6 100% - - 3% 4% 7% 86% - 7% 44% 49% 100% -
CC 72% 24% 6% 6% 23% 30% 41% 13% 67% 18% 2% 95% 5%
tem relação com as maiores vazões registradas nesse ponto, o que pode indi-
car a influência do arreste do material superficial ao curso d’água.
O exutório (Calha Champagnat), área que recebe contribuição de to-
dos os afluentes da microbacia, caracterizou-se pelas maiores concentrações
médias de DBO5,20, entretanto, apresentou melhora em boa parte dos demais
parâmetros de qualidade da água.
No intento de relacionar a qualidade da água das nascentes investiga-
das, bem como do exutório, com as causas possíveis relacionadas à quali-
dade apresenta-se, na Tabela 8, uma síntese dos fatores que classificaram os
principais componentes por meio de testes estatísticos.
Tabela 8 – Síntese da caracterização da qualidade da água para
as áreas monitoradas em função da análise fatorial
Considerações finais
REFERÊNCIAS
Ainda que em contextos diferentes, a comunicação pode ser uma aliada signi-
ficativa para que se atinja a visibilidade esperada das práticas de preservação.
Uma agência de publicidade, mais especificamente, tem como função
mediar a relação entre aquele que oferece algo e seus públicos, buscando
realizá-lo de forma eficaz e criativa, com ética e competência.
A Art/Meio Propaganda atua há 37 anos no mercado local e regional,
trabalhando múltiplas ferramentas: propaganda, design, promoção, eventos,
trade, PDV (ponto de venda) e marketing digital. Para proporcionar a seus
clientes orientação para o planejamento e gerenciamento das marcas, con-
ta com uma equipe qualificada que mescla profissionais experientes e jo-
vens distribuída, nas áreas de direção de arte, redação, atendimento, mídias
digitais, planejamento e mídia. Com isso, a empresa busca compreender o
universo do cliente, do mercado, das tendências, dos concorrentes e dos con-
sumidores, criando processos para consolidar ações e apontar soluções em
comunicação, demonstrando a agilidade necessária ao dia a dia, tanto nas
suas ações institucionais quanto de varejo.
Além disso, desde sua fundação a Art/Meio busca marcar sua presença
também com uma forte atuação em campanhas de cunho social e cultural.
Cumprindo seu papel na sociedade, a agência entende que deve contribuir de
forma voluntária para a promoção e divulgação de ideias que possam trazer
benefícios às pessoas, promovendo o bem-estar de todos.
Assim, em meados de 2013, a Art/Meio recebeu a visita da Engenheira
Florestal Michele Benetti Leite, que estava a cargo da organização do Projeto
Saúde da Água para a Fundação MOÃ e buscava parcerias para o planejamento,
visando cumprir exigências do edital do “Programa Petrobras Socioambiental”.
embora o Projeto Saúde da Água já existisse desde 2012 com ações desenvol-
vidas em Itaara e região, a decisão de inscrevê-lo neste programa específico
e submetê-lo à aprovação exigia o trabalho de vários profissionais, entre eles
uma empresa que Pudesse atender às demandas relacionadas à comunicação do
Projeto Saúde da Água, um trabalho de grande importância para que os objetivos
do projeto pudessem ser alcançados. O edital previa também o cumprimento de
todas as contrapartidas do patrocinador, no caso, a Petrobras.
Ainda que a Art/Meio já tivesse trabalhado com temas sociais e cul-
turais, o envolvimento direto com questões relacionadas ao meio ambien-
te ainda era algo inédito para a agência, por isso essa parceria se mostrou
uma oportunidade única. Nela, a missão não era propriamente publicizar
um serviço, um produto ou um evento, mas buscar sensibilizar as pessoas
para as questões essenciais sobre o meio ambiente e tentar obter a sintonia
comunicativa para que o projeto Saúde da Água alcançasse o público mais
amplo possível.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 291
Camiseta Institucional
Squeeze Boné
294
5 PEÓN, Maria Luísa. Sistemas de Identidade Visual. 3. ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2003. p. 45.
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 295
6 PEÓN, Maria Luísa. Sistemas de Identidade Visual. 3. ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2003. p. 46.
296
Folder, Guardiões das Nascentes. Camiseta, Clube de Ecologia Guardiões das Nascentes.
adequada de descarte de óleo de cozinha usado. Esse eixo foi de extrema im-
portância para conscientizar a população sobre o aproveitamento desse resí-
duo através de materiais didáticos e atividades como a Oficina de Fabricação
de Sabão Caseiro. Esse subprojeto teve como colaboradores: Instituições
de Ensino, Prefeituras, Associações Comunitárias, Clubes e Empresas. A
Universidade Federal de Santa Maria, por exemplo, recebeu 16 coletores de
óleo no campus da instituição.
Figura 1.2 – Política Nacional de Resíduos Sólidos
Cartilha
Cartilha
Considerações finais
Como vimos nos relatos acima, foram inúmeras as atividades realiza-
das, envolvendo a integração de comunidade, entidades, associações, cor-
po técnico e diretores da Fundação MO’Ã. Promovemos a distribuição de
materiais educativos como cartilhas e folders, palestras e espaços de diá-
logo, oficinas e muitos outros encontros, sempre mirando o mesmo objeti-
vo: disseminar conceitos de cuidados com o meio ambiente. Como exemplo
A CONSERVAÇÃO DA ÁGUA SOB DIFERENTES OLHARES 305
REFERÊNCIAS
Giuliana Seerig
Escritora, bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal de
Santa Maria e acadêmica de Letras (Português e Espanhol) da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
E-mail: giuliana.seerig@usp.br
Marciano Friedrich
Engenheiro Sanitarista e Ambiental. Doutorando em Engenharia Civil
– PPGEC/UFSM, Área de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.
Professor Substituto na Universidade Federal de Santa Maria, Departamento
de Engenharia Florestal, Campus de Frederico Westphalen. Atua em
pesquisas na área de Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto.
Possui experiência profissional na área de Hidrologia, Monitoramento
Ambiental e Geoprocessamento.
Raul Todeschini
Graduado em EngenhariaAmbiental e Sanitária pela Universidade Franciscana
– UFN. Mestrado em Engenharia Civil, área de concentração em Recursos
Hídricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria
– UFSM. Possui experiência nas áreas hidrologia, geoprocessamento,
gestão de recursos hídricos, gestão de resíduos sólidos. Atua profissional-
mente no desenvolvimento de projetos, relatórios e estudos técnicos voltados
aos processos de licenciamento ambiental, recuperação de áreas degradadas,
gerenciamento de resíduos sólidos, assessoria ambiental, monitoramento
de ETEs, entre outros, etc. Professor do curso de engenharia ambiental da
Faculdade Horizontina – FAHOR.