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Ficha Técnica

Comissão Organizadora do XXII CBP Natal 2011


Presidente: Narendra Kumar Srivastava (UFRN)
Secretária: Marcela Marques Viera (UFRN)
Tesoureiro: Eduardo Henrique Roesner(Petrobras)
Diretor de Publicação: Ismar de Souza Carvalho (UFRJ)

Sociedade Brasileira de Paleontologia


Presidente: Roberto Iannuzzi
Vice- Presidente: Max Cardoso Langer
1ª Secretária: Marina Bento Soares
2ª. Secretária: Soraia Girardi Bauermann
1ª Tesoureira: Patrícia Hadler Rodrigues
2ª Tesoureira: Carolina Saldanha Scherer
Diretora de Publicações: Ana Maria Ribeiro

Coordenação estudantil
Ana Karoliny Alves de Medeiros (UFRN)
Ana Karoline Bezerra (UFRN)
Herminio Ismael de Araújo Jr (UFRJ)

Coordenação de apoio
Kleberson de Oliveira Porpino (UERN)
Vladimir Cruz de Medeiros (CPRM)
Carlos Magno Bezerra Cortez (DNPM)
Maria de Fátima Cavalcante (MCC/UFRN)
Marcelo Tavares Gurgel (UFERSA)
Sávio Samri Luna Paschoal (UFRN)
Rosiney Araújo Martins (IFRN)
Werner Farkatt (UnP)

Conselho científico
Alcina Magnolia França Barreto, Ana Maria Ribeiro, Antonio Carlos Sequeira Fernandes,
Antônio Celso Campos, Cecília Cunha Lana, Cesar Leandro Schultz, Claudia Gutterres Vilela,
Cristina Veiga, Dimas Dias Brito, Dermeval A. Carmo, Marcelo de Araujo Carvalho, Edilma de
Jesus Andrade, Édison Vicente Olivera, Eduardo Koutsoukos, Felipe Mesquita de Vasconcelos,
Francisco de Castro Bonfim Júnior, Franci sco Idalécio de Freitas, Fresia Ricardi-Branco,
Geraldo Moura, Gerson Fauth, Giuseppe Leonardi, Irma Tie Yamamoto, João Graciano
Mendonça Filho, Jorge Luiz Lopes da Silva, Karen Adami, Katia Leite Mansur, Lílian Paglarelli
Bergqvist, Leonardo Fonseca Borghi de Almeida, Leonardo Morato Duarte, Leonardo dos
Santos Avilla, Leonardo Salgado, Luiz Anelli, Luiz Carlos Borges Ribeiro, Manoel Alfredo Araú
jo Medeiros, Marcelo de Araujo Carvalho, Marcello Guimarães Simões, Marcelo Adorna
Fernandes, Mario Suarez Riglos, Margot Guerra Sommer, Maria Antonieta da Conceiçâo
Rodrigues, Maria Dolores Wanderley, Maria Eugênia Marchesini Santos, Maria Judite Garcia,
Maria Helena Henriques, Maria Helena Hessel, Maria Inês Feijó Ramos, Maria Helena Zucon,
Maria Somália Sales Viana, Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Mary Elizabet h Cerruti
Bernardes de Oliveira, Oscar Strohschoen, Paulo Alves de Souza, Paulo Marques Machado
Brito, Rita de Cássia Tardin Cassab, Roberto Iannuzzi, Rogério Antunes, Tânia Lindner Dutra,
Thomas Rich Fairchild, Vera Maria Medina da Fonseca, Valesca Maria Portilla Eilert, Vladimir
de Araújo Távora, Wagner Souza-Lima.

Editoração eletrônica: Fabrício Ribeiro Martins


Capa: Clênio Luiz

ISBN: 978-85-7273-806-4
Mini-Cursos
1. Paleontologia Geral (Prof. Dr. Antonio Carlos S. Fernandes – MN/UFRJ);
2. Caminhando com os Camelos nas Dunas de Genipabu – RN
(Prof. Dr. Ismar de Souza Carvalho – UFRJ);
3. Metodologia do Trabalho Científico (Profa. Dra. Maria Helena Hessel – UFC);
4. Nanofósseis Calcários no Tempo Geológico (Dr. Rogério Loureiro Antunes & Dr. Cleber
Fernandes Alves – CENPES – PETROBRAS);
5. Paleobotânica (Profs. Drs. Tânia Linder Dutra – UNISINOS & Roberto Iannuzzi – UFRGS);
6. Biotas triássicas e origem dos dinossauros (Profs. Dr. Max Cardoso Langer – FFCLRP/USP &
Dr. César Schultz – UFRGS);
7. Mamíferos Pleistocênicos no Rio Grande do Norte (Profs. Dr. Kleberson de Oliveira Porpino –
UERN & Herminio Ismael de Araújo Jr. – UFRJ)

Simpósios
Simpósios – sobre temas de interesse do público participante e dos patrocinadores do evento, tais
como:

1. Educação: Museus, Coleções e Ensino da Paleontologia


(Drª. Maria de Fátima Brito fatima@casadaciencia.ufrj.br);
2. Educação: Patrimônio, Geoparques e Difusão do Conhecimento
(Drª. Kátia Leite Mansur – kmansur@drm.rj.gov.br & Geol. Antônio José Dourado Rocha –
antonio.dourado@cprm.gov.br);
3. Simpósio Ibero-Americano de Paleontologia
(Drª.Maria Antonieta Rodrigues – tutucauerj@gmail.com);
4. Microbialitos (Dr. Leonardo Borghi – lborghi@geologia.ufrj.com);
5. Micropaleontologia (Drª.Claudia Gutterres Vilela – claudiagvilela@gmail.com);
6. Paleobotânica ( Drª. Margot G.Sommer – margot.sommer@ufrgs.br &
Drª. Tânia Lindner Dutra – dutratl@gmail.com);
7. Bioestratigrafia e Paleogeografia do Cretáceo
(Dr. Wagner Souza Lima – wagner@phoenix.org.br & MSc. Cecília Lana – lana@petrobras.com);
8. Paleogeografia, Paleoecologia e Paleoclimatologia
(Drª. Norma M. da Costa Cruz – ncruz@rj.cprm.gov.br /
Dr. Rafael Costa da Silva – rcsilva@rj.cprm.gov.br);
9. Paleoinvertebrados (Profs. Dr. Vladimir de Araújo Távora – vladimir@ufpa.br & Dr. Antonio
Carlos Sequeira Fernandes – fernande@acd.ufjr.br);
10. Paleontologia Industrial (Dr. Oscar Strohschoen – oscarsj@petrobras.com.br / Prof. Dr. João
Graciano Mendonça Filho – graciano@geologia.ufrj.br);
11. Paleovertebrados (Cenozoico) (Profs. Dr. Édison Vicente Olivera – vicenteedi@gmail.com /
Dr. Leonardo dos Santos Avilla – leonardo.avilla@gmail.com);
12. Paleovertebrados (Paleozoico & Mesozoico) (Dr. Felipe Mesquita de Vasconcelos – UFRJ –
felipe.crocodilo@gmail.com – Jonas Souza Filho – Marina Bento Soares)
Exposição
Exposição Internacional de Paleoarte
Fernando Correa

Excursões
1. Bacia do Araripe (Ceará)
Francisco Idalécio de Freitas
2. Sedimentologia, Paleontologia e Neotectônica do Litoral Norte do Rio Grande do Norte
Francisco Hilário Rego Bezerra
3. Bacia Potiguar (Rio Grande do Norte)
Narendra Kumar Srivastava
Apresentação

O
XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA, após 50 anos, retorna
ao Estado do Rio Grande do Norte, sendo marcado pela homenagem póstuma ao Professor
Vingt-Un Rosado, natural de Mossoró (1913-2005), e um importante incentivador da
paleontologia do Rio Grande do Norte. Em 1961, por sua iniciativa, realizava-se o segundo Congresso
Brasileiro de Paleontologia, em Mossoró, na Escola Superior de Agronomia (ESAM), atual Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
O tema do presente evento,“Paleontologia: Caminhando pelo Tempo”, demonstra não só o transcorrer
da diversidade da vida ao longo da história geológica da Terra, mas a determinação de uma comunidade
científica que transborda em ideias e ideais ao longo de sua própria história. O símbolo escolhido, para este
momento de confraternização de nossa comunidade científica, um equinóide (Rosadosoma riograndensis)
da Formação Jandaíra, Cretáceo Superior (Bacia Potiguar), tem grande significado para a paleontologia
brasileira, especialmente para o Rio Grande do Norte, pois o nome do gênero é uma homenagem ao
Professor Vingt-Un Rosado e a espécie refere-se ao Estado do Rio Grande do Norte.
As ATAS do XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA apresentam-se
divididas em sessões temáticas que abrangem:
• Educação, Museus, Coleções e Ensino
• Educação, Ensino, Patrimônio e Geoparques
• Ibero-Americano de Paleontologia
• Microbialitos
• Micropaleontologia
• Paleobotânica
• Bioestratigrafia do Cretáceo
• Paleogeografia, Paleoecologia e Paleoclimatologia
• Paleoinvertebrados
• Paleontologia Industrial
• Paleovertebrados (Cenozoico)
• Paleovertebrados (Paleozoico e Mesozoico)
• Brasil-Índia “Glimpses of Gondwana”

Nestas sessões temáticas encontram-se a contribuição de mais de trezentos e oitenta pesquisadores


em paleontologia, de instituições nacionais e estrangeiras, que apresentam aspectos relevantes da
Paleontologia, na perspectiva do desenvolvimento da ciência, dos aspectos sócio-econômicos e do homem,
conduzindo a inclusão social, com a aproximação do meio científico e a sociedade.

Narendra Kumar Srivastava


Comissão Organizadora
XXII Congresso Brasileiro de Paleontologia, Natal – Outubro de 2011
Agradecimentos

G
ostaríamos de agradecer a colaboração de todos os coordenadores dos diversos simpósios,
excursões e mini-cursos. Nossos agradecimentos especiais vão aos alunos do Curso de
Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Empresa Geologus Jr
(Ana Karoline Bezerra, Marília Barbosa Venâncio, Ana Karoliny Alves de Medeiros, Robson Rafael de
Oliviera e Carlos Adriano Fernandes da Silva) que tanto fizeram para que estas ATAS, com resumos
expandidos, saíssem em tempo. Agradecemos também a Fabricio Ribeiro (diagramador) e Clênio Luiz
(webmaster). Nossos agradecimentos ao CNPq, Petrobras, CAPES, CPRM e UFRN pela contribuição e
apoio.
À Alcina Magnólia Franca Barreto, Ana Karoline Bezerra, Ana Karoliny Alves de Medeiros, Ana
Maria Ribeiro, Antonio Carlos Sequeira Fernandes, Antônio Celso Campos, Carlos Magno Bezerra
Cortez, Cesar Leandro Schultz, Claudia Gutterres Vilela, Cristina Veiga, Denize Santos Costa, Dimas
Dias Brito, Dermeval A. Carmo, Edilma de Jesus Andrade, Édison Vicente Olivera, Eduardo Henrique
Roesner, Eduardo Koutsoukos, Felipe Mesquita de Vasconcelos, Francisco de Castro Bonfim Júnior,
Francisco Idalécio de Freitas, Fresia Ricardi-Branco, Geise de Santana dos Anjos-Zerfass, Geraldo Moura,
Gerson Fauth, Giuseppe Leonardi, Herminio Ismael de Araújo Jr., Irma Tie Yamamoto, Jeanine Lacerda
Grillo, João Graciano Mendonça Filho, Jorge Luiz Lopes da Silva, José Ricardo Maizatto, Karen Adami,
Katia Leite Mansur, Kleberson de Oliveira Porpino, Lílian Paglarelli Bergqvist, Leonardo Fonseca Borghi
de Almeida, Leonardo Morato Duarte, Leonardo dos Santos Avilla, Leonardo Salgado, Luiz Anelli, Luiz
Carlos Borges Ribeiro, Manoel Alfredo Araújo Medeiros, Marcela Marques Vieira, Marcelo de Araujo
Carvalho, Marcello Guimarães Simões, Marcelo Adorna Fernandes, Marcelo Tavares Gurgel Mario
Suarez Riglos, Margot Guerra Sommer, Maria Antonieta da Conceiçâo Rodrigues, Maria de Fátima
Cavalcante, Maria Dolores Wanderley, Maria Eugênia Marchesini Santos, Maria Judite Garcia, Maria
Helena Henriques, Maria Helena Hessel, Maria Inês Feijó Ramos, Maria Helena Zucon, Maria Somália
Sales Viana, Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, Marta Claudia Viviers, Mary Elizabeth Cerruti
Bernardes de Oliveira, Paulo Alves de Souza, Paulo Marques Machado Brito, Ralph Molnar, Rita de
Cássia Tardin Cassab, Roberto Iannuzzi, Rogério Antunes, Rosiney Araújo Martins, Sávio Samri Luna
Paschoal, Seirin Shimabukuro, Tânia Lindner Dutra, Thomas Rich Fairchild, Vera Maria Medina da
Fonseca, Valesca Maria Portilla Eilert, Vladimir Cruz de Medeiros, Vladimir de Araújo Távora, Wagner
Souza-Lima, Werner Farkatt, Ubiraci Manoel Soares.
Sumário

• S-01: Educação, Museus, Coleções e Ensino

A COLEÇÃO DE PALEONTOLOGIA E O FÓSSIL:


A CONSTRUÇÃO COMO OBJETO MUSEOLÓGICO................................................................................... 31
Isabella de Souza Neto Teixeira (isabellasnt@gmail.com), Luiza Freire de Farias (lulucau@gmail.com),
Raysa Shtorache Cabral (ysashtorache@gmail.com), Deusana Maria da Costa Machado (deusana@gmail.com)

A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E PALEONTOLÓGICO NA BACIA SEDIMENTAR


DE SERGIPE NO TRECHO IMPACTADO PELA DUPLICAÇÃO DA BR-101.................................................... 35
Paulo Roberto da Silva Santos (proberto@petrobras.com.br), Cristiano Mundstock Fischer
(cristianomfischer@yahoo.com.br)

ATIVIDADES LÚDICAS NO ENSINO DE MICROPALEONTOLOGIA.............................................................. 36


Sarah Alegretti Marques Lima (sarah_aml@hotmail.com), Mariana Oliva Tomazella (mariana.tomazella@usp.br),
Mariane Valerio Gonzales (mari_gonzales3@usp.br), Felipe Antônio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br),
Karen Badaraco Costa (karen.costa@usp.br)

AULA DE CAMPO POTENCIALIZA O ENSINO DE PALEONTOLOGIA NA UESB........................................... 39


Rita de Cássia Anjos Bittencourt Barreto (ritabitten.uesb@yahoo.com.br)

COLEÇÃO DE ICNOFÓSSEIS DO MUSEU DOM JOSÉ, SOBRAL-CE............................................................. 44


Sérgio Augusto Santos Xavier (sergio.s.xavier@hotmail.com), Gina Cardoso de Oliveira
(gina.caroly@hotmail.com), Maria de Jesus Gomes de Sousa (marryesousa@yahoo.com.br),
Robbyson Mendes Melo (robbyson_bio@hotmail.com), Thiago de Albuquerque Lima
(thiago.albuquerquelima@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana (somalia_viana@hotmail.com)

COLEÇÃO OSTEOLÓGICA DE RECENTES DO MUSEU DOM JOSÉ (SOBRAL-CE) PARA ANATOMIA


COMPARADA DE FÓSSEIS QUATERNÁRIOS............................................................................................ 47
Gina Cardoso de Oliveira (gina.caroly@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana (somalia_viana@hotmail.com),
Paulo Victor de Oliveira (victoroliveira.paleonto@gmail.com), Thiago Lima de Albuquerque
(thiago.albuquerquelima@hotmail.com)

CONSERVAÇÃO DA COLEÇÃO DE FÓSSEIS DO MUSEU DOM JOSÉ (SOBRAL, CEARÁ):


UM INCENTIVO ÀS INVESTIGAÇÕES PALEONTOLÓGICAS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO................ 50
Maria Somália Sales Viana (somalia_viana@hotmail.com), Robbyson Mendes Melo
(robbyson_bio@hotmail.com), Thiago de Albuquerque Lima (thiago.albuquerquelima@hotmail.com),
Gina Cardoso de Oliveira (gina.caroly@hotmail.com), Maria de Jesus Gomes de Sousa
(marryesousa@yahoo.com.br), Sérgio Augusto Santos Xavier (sergio.s.xavier@hotmail.com)
CONSTRUÇÃO DE UM MATERIAL DE ESTUDO EXTRACLASSE SOBRE FÓSSIL DIAGÊNESE........................ 53
Gabriel de Souza Franco (gabrielfranco9@yahoo.com.br), Maria Júlia Estefânia Chelini (jchelini@unb.br),
Raphael Teixeira de Paiva Citon (raphaelciton@yahoo.com.br)

DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTAS EDUCATIVAS PARA O ESTUDO


DA PALEONTOLOGIA: CD-ROM............................................................................................................. 56
Beatriz Bueno Arenghe (biaarenghe@gmail.com), Maria Paula Delicio (mpaula@degeo.ufop.br),
Diana Cunha da Sé (dianageologia@gmail.com)

FAÇA UM FÓSSIL MUITO FÁCIL............................................................................................................. 59


Mariane Valerio Gonzales (mari_gonzales3@yahoo.com.br), Mariana Oliva Tomazella
(mariana.tomazella@usp.br), Sarah Alegretti Marques Lima (sarah.lima@usp.br), Caio Cabezas Aragon
(caio_aragon@hotmail.com), Felipe Antônio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br), Karen Badaraco Costa
(karen.costa@usp.br)

FÓSSEIS DE PTEROSSAUROS NOS MUSEUS DO CARIRI CEARENSE,


TERRITÓRIO DO “GEOPARK ARARIPE”.................................................................................................. 62
Nathália De Sousa Fernandes (natymsyc@gmail.com.br), Alexandre Magno Feitosa Sales(amfsales@uol.com.br),
Marciana Cláudio da silva (marciabiologia2007@hotmail.com), Karla Janaisa Gonçalves Leite
(karlinhaaurora@hotmail.com), Pedro Hudson Teixeira Rodrigues (pedrobiologo@hotmail.com),
João Kerensky (kerenskysuchus@gmail.com)

GEOTURISMO NA CAPITAL CEARENSE DA PALEONTOLOGIA, MUSEU DE PALEONTOLOGIA


E PERFIL DO TURISTA............................................................................................................................ 65
Ludmila Alves Cadeira do Prado (ludmila.alves_bio@yahoo.com), Alexandre Magno Feitosa Sales
(amfsales@uol.com.br), Aline Mouniele Bezerra Santos (alinecratobio@gmail.com),
Pedro Hudson Rodrigues Teixeira (pedrohudson@yahoo.com.br)

NOVA PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO-INSTRUCIONAL COMO METODOLOGIA


COMPLEMENTAR AO APRENDIZADO DA PALEONTOLOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL ....................... 69
Lílian Paglarelli Bergqvist (bergqvist@geologia.ufrj.br), Stella Barbara Serodio Prestes (telababi@gmail.com)

O PRIMEIRO CENTENÁRIO DE ESTUDOS PALEONTOLÓGICOS DO ARARIPE............................................ 73


Ana Paula dos Santos Bruno (apsbruno@yahoo.com.br), Maria Helena Hessel (mhhessel@gmail.com),
José de Araujo Nogueira Neto (nogueira@ufc.br)

PALEOARTE – LIBERDADE E EPISTEMOLOGIA ....................................................................................... 81


Felipe Mesquita de Vasconcellos (fmv@geologia.ufrj.br), Patrícia Danza Greco, Luisa Vidal de Oliveira,
Roberta Delecróde de Souza, Matheus Machado Grimião, Thadeu dos Anjos Reis,
Jhonatta de Oliveira Vicente, Joana Martins de Vasconcelos

REVISÃO CRÍTICA DE TERMINOLOGIAS E EPISTEMOLOGIA ENVOLVENDO PALEOARTE, PARTE I:


RECONSTRUÇÃO, RESTAURAÇÃO OU RECONSTITUIÇÃO........................................................................ 84
Leonardo Morato (gepaleo@yahoo.com.br)

REVISÃO CRÍTICA DE TERMINOLOGIAS E EPISTEMOLOGIA ENVOLVENDO PALEOARTE, PARTE II:


ANALISANDO O PALEODESIGN............................................................................................................. 87
Leonardo Morato (gepaleo@yahoo.com.br)
TURISMO PALEONTOLÓGICO NO BRASIL: REFLEXÕES E DEMANDAS..................................................... 90
Bernardo de Campos Pimenta e Marques Peixoto (bionardu@hotmail.com), Aline Marcele Ghilardi
(alinemghilardi@yahoo.com.br), Tito Aureliano (titossauro@gmail.com), Marcelo A. Fernandes
(marcelicno@yahoo.com.br)

TRABALHO PRELIMINAR DE REORGANIZAÇÃO DA COLEÇÃO DIDÁTICA DE


PALEONTOLOGIA DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO............................................................................................ 99
Gomes, P.B.F. (paty7012@hotmail.com), Mota, I.A. & Souto, P.R.F. (prfsouto@ig.com.br)

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS COMO A JORNADA


DISCENTE DO DGP DO MUSEU NACIONAL/UFRJ................................................................................... 102
Luciano G. Machado (lucianogmachado@ufrj.br), Elaine B. Machado (machado.eb@gmail.com),
Aline M. da Cunha (aline.meneguci@gmail.com), Arthur G. G. Rodrigues (arthurgravato@yahoo.com.br),
Clarissa Mattana (cla.mattana@gmail.com), Luis H. P. Barros ( luishpb@gmail.com), Márcia F.de A. Santos
(marcia.aquino42@gmail.com), Rodrigo G. Figueiredo (rodrigo.giesta@gmail.com), Tiago R. Simões
(tiagorodriguessi@hotmail.com)

OS FÓSSEIS DO MUNICÍPIO DE QUIJINGUE, BAHIA: UM EXEMPLO DA IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO


DA CULTURA PARA A REALIZAÇÃO DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO DA PALEONTOLOGIA......................... 106
Simone Souza de Moraes (smoraes@ufba.br), Morgana Drefahl (morgana.drefahl@gmail.com)

• S-02: Educação, Ensino Patrimônio e Geoparques

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE OS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E


PALEONTOLÓGICO................................................................................................................................ 115
Kátia Leite Mansur (kátia@geoloia.ufrj.br)

ANÁLISE ESPACIAL APLICADA À PESQUISA PALEONTOLÓGICA DE AFLORAMENTO, APOIADA POR


MÉTODOS GEOFÍSICOS......................................................................................................................... 119
Henrique Zimmermann Tomassi (HZTomassi@gmail.com), Bernardo Costa Ferreira (bernardo@unb.br),
Fátima Praxedes Rabelo Leite (fprleite@gmail.com), José Mendes Gama-Júnior (prof.mendes.uft@gmail.com),
Michelly Amorim da Silva (michelly.amorim@gmail.com), Poliana Marcolino Correa
(polianacorrea@norteenergiasa.com.br)

ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E AMBIENTAL VISANDO A PRESERVAÇÃO DOS


FÓSSEIS E DA CAATINGA NO ALTO SERTÃO DE ALAGOAS...................................................................... 123
Ana Paula Lopes da Silva (lakes_br@yahoo.com.br), Jorge Luiz Lopes da Silva (jluizlopess@uol.com.br),
Erica Omena (erica.omena@gmail.com), YumiAsakura Bezerra de Oliveira (yumi_oliveira@hotmail.com)

COMÉRCIO ILEGAL DE FÓSSEIS: UMA PERDA IRREPARÁVEL DO PATRIMÔNIO


PALEOBIOLÓGICO DA REGIÃO DA BACIA DO ARARIPE........................................................................... 126
Francisca Odachara Machado Bezerra do Carmo (odachara@yahoo.com.br),
Alexandre Magno Feitosa Sales (amfsales@uol.com.br)

COMO COLETAR E ESTUDAR FÓSSEIS BRASILEIROS? REQUISITOS LEGAIS PARA COOPERAÇÃO


INTERNACIONAL.................................................................................................................................. 130
Michelly Amorim da Silva (michelly.amorim@gmail.com)
EFEITOS SOCIOAMBIENTAIS DO GEOTURISMO SEGUNDO A PERCEPÇÃO POPULACIONAL:
O CASO DE SÃO JOSÉ DE ITABORAÍ (ITABORAÍ – ESTADO DO RIO DE JANEIRO)...................................... 133
Wellington Francisco Sá dos Santos (tonlingeo@yahoo.com.br), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br)

INVENTARIAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E PALEONTOLÓGICO DA FORMAÇÃO RIO


BONITO NA REGIÃO DA BACIA CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA...................................................... 137
Felipe Barbi Chaves (felipe.chaves@dnpm.gov.br), Irma Tie Yamamoto, Jesse Otto Freitas,
Andrea Cristina Giongo Hauch, Karen Cristina de Jesus Pires, Cristian Neilor Ceron, Roberto Iannuzzi,
Michel Marques Godoy

MUSEUS E FÓSSEIS DA REGIÃO SUL DO BRASIL, UMA EXPERIÊNCIA VISUAL COM


A PALEONTOLOGIA............................................................................................................................... 140
Luiz Carlos Weinschütz (luizcw@mfa.unc.br), Paulo César Manzig (paulomanzig@geotematica.com.br)

O QUE É FÓSSIL? DIFERENTES CONCEITOS NA PALEONTOLOGIA........................................................... 143


Henrique Zimmermann Tomassi (HZTomassi@gmail.com), Cláudio Magalhães de Almeida
(claudio.magalhaes@ueg.br)

PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO LOCAL DOS POSSÍVEIS BENEFÍCIOS SOCIAIS DO GEOTURISMO


FRENTE À REVITALIZAÇÃO DO PARQUE PALEONTOLÓGICO DE SÃO JOSÉ DE ITABORAÍ
(ITABORAÍ – ESTADO DO RIO DE JANEIRO)............................................................................................ 148
Wellington Francisco Sá dos Santos (tonlingeo@yahoo.com.br), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br)

• S-03: Ibero-Americano de Paleontologia

O NATURALISTA SIMÃO PIRES SARDINHA E O MONSTRO DE PRADOS:


PRIMEIRO RELATÓRIO SOBRE UM FÓSSIL BRASILEIRO.......................................................................... 155
Antonio Carlos Sequeira Fernandes (fernande@acd.ufrj.br), Miguel Telles Antunes (migueltellesantunes@gmail.com),
José Manuel Brandão (josembrandao@gmail.com), Renato Rodriguez Cabral Ramos (rramos@mn.ufrj.br)

• S-04: Microbialitos

ANÁLISE DOS SEDIMENTOS ASSOCIADOS AOS ESTROMATÓLITOS DA LAGOA SALGADA/RJ................... 161


Fresia Soledad Ricardi Torres Branco (fresia@ige.unicamp.br), Flavia Callefo (flacallefo@yahoo.com.br),
Rafael Amaral Cataldo (rac_oasis@yahoo.com.br)

BIOMARCADORES DA FAZENDA CRISTAL, MESOPROTEROZOICO DA


CHAPADA DIAMANTINA, BRASIL.......................................................................................................... 163
Frederico Alves dos Santos Lopes (fred.alves@lafo.geologia.ufrj.br), Luiz Guilherme Costa dos Santos
(guilhermecostaj@gmail.com), Milton Cézar da Silva (milton@lafo.geologia.ufrj.br), Taís Freitas da Silva
(taisfreitas@lafo.geologia.ufrj.br), João Graciano Mendonça Filho (graciano@geologia.ufrj.br),
Narendra Kumar Srivastava2 (narendra@geologia.ufrn.br)

ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS DE FÁCIES MICROBIANA DA


FORMAÇÃO TERESINA, NORTE DO PARANÁ ......................................................................................... 166
Johanna Méndez Duque (johanamendezduque@usp.br), André Oliveira Sawakuchi (andreos@usp.br)
ESTRUTURAS SEDIMENTARES MICROBIANAS NA FORMAÇÃO SERGI,
BACIA DO RECÔNCAVO, BRASIL............................................................................................................ 170
Maiana Cláudia Kreff Avalone (mayavalom@gmail.com), Leonardo Borghi (lborghi@geologia.ufrj.br),
Anderson Iespa (iespa.bio@uol.com.br)

EXPLORING THE EARLIEST SIGNS OF CELLULAR LIFE ON EARTH ............................................................ 172


Martin Brasier (martinbrasier@yahoo.co.uk)

MICROBIAL CARBONATE SEDIMENTS................................................................................................... 175


Robert Riding (rriding@utk.edu)

O USO DE MICROFÓSSEIS SIMPLES NA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS ESTRATIGRÁFICOS COMPLEXOS:


EXEMPLO DO NEOPROTEROZOICO DA REGIÃO CENTRO-OESTE BRASILEIRA.......................................... 178
Evelyn Aparecida Mecenero Sanchez (evelynsb@usp.br), Thomas Rich Fairchild (trfairch@hotmail.com)

ESTROMATOLITOS Y PRECIPITADOS MINERALES EN LAGOS DE ALTURA EN LOS


ANDES DE CATAMARCA (ARGENTINA): UN ANÁLOGO MODERNO PARA EL
REGISTRO DE LA VIDA PRIMITIVA Y SU POTENCIAL ASTROBIOLÓGICO.................................................. 180
Fernando J. Gomez (fgomez@efn.uncor.edu)

• S-05: Micropaleontologia

ANÁLISE PALINOLÓGICA PRELIMINAR DE SEDIMENTOS QUATERNÁRIOS DA


BACIA DE SANTOS, BRASIL.................................................................................................................... 185
Thièrs Wilberger (thiersw@gmail.com), Carolina Jardim Leão (carolinaj@unisinos.br),
Fabricio Ferreira (fabferreira@unisinos.br), Itamar Ivo Leipnitz (itamar@unisinos.br)

ANÁLISE QUALI/QUANTITATIVA DE PALINOFORAMINÍFEROS DO CRETÁCEO SUPERIOR


DA BACIA DE SANTOS........................................................................................................................... 188
Brandaly Staudt (brandalys@hotmail.com), Alessandra da Silva dos Santos (alessandrass@unisinos.br),
Aline Aurich (ali.aurich@gmail.com), Carlos Eduardo Lucas Vieira (carlosev@unisinos.br), Gerson Fauth
(gersonf@unisinos.br)

ANÁLISES MULTIVARIADAS DE FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS DURANTE OS ÚLTIMOS


15 MIL ANOS NA BACIA DE SANTOS: APLICAÇÕES PALEOCLIMÁTICAS................................................... 193
Ana Cláudia Aoki Santarosa (anasantarosa@gmail.com), María Alejandra Gómez Pivel (mariale1973@yahoo.com.br),
Felipe A. L. Toledo (ftoledo@usp.br), Karen Badaraco Costa (karen.costa@usp.br)

ASSEMBLEIA DE FORAMINÍFEROS EM TESTEMUNHOS NA LAGUNA DE SAQUAREMA, RJ...................... 197


Regina Lucia Machado Bruno (regina_forams@yahoo.com.br), Claudia Gutterres Vilela (vilela@geologia.ufrj.br),
José Antônio Baptista Neto (jneto@igeo.uff.br)

BIOESTRATIGRAFIA DO QUATERNÁRIO DA BACIA DE SANTOS COM BASE EM FORAMINÍFEROS


PLANCTÔNICOS.................................................................................................................................... 201
Fabricio Ferreira (fabferreira@unisinos.br), Itamar Ivo Leipnitz (itamar@unisinos.br), Marco Aurelio Vicalvi
(vicalvi.gorceix@petrobras.com.br), Eduardo da Silva Aguiar (eds@unisinos.br), Antonio Enrique Saião Sanjinés
(antonio.sanjines@petrobras.com.br)
CARACTERIZAÇÃO DOS SEDIMENTOS BIOGÊNICOS DA PLATAFORMA CONTINENTAL ORIENTAL
DO RIO GRANDE DO NORTE, ENTRE AS REGIÕES DE MARACAJAÚ A TOUROS....................................... 205
Alanny Christiny Costa de Melo (alannymelo@gmail.com), Ricardo Farias do Amaral (projetocorais@yahoo.com.br),
Vinícius Nóbrega de Miranda (vinicius.n.miranda@gmail.com)

DIATOMÁCEAS DO DIATOMITO BASAL DO PALEOLAGO CEMITÉRIO, GOIÁS, BRASIL.............................. 209


Daniela Bes (danielabes@gmail.com), Lezilda C. Torgan, Roberto Iannuzzi

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE DINOFLAGELADOS (DIVISÃO DINOFLAGELLATA,


CLASSE DINOPHYCEAE) NO CRETÁCEO DO BRASIL E SUAS IMPLICAÇÕES PALEOBIOGEOGRÁFICAS........ 213
Mitsuru Arai (arai@petrobras.com.br)

DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DA MICROFAUNA DE FORAMINÍFEROS DO ESTUÁRIO DO RIO


CARAVELAS, BAHIA.............................................................................................................................. 217
Altair de Jesus Machado (altair@ufba.br), Helisângela Acris Borges de Araújo

ESTUDO PRELIMINAR DOS OSTRACODES DA FORMAÇÃO CANTAURE (MIOCENO INFERIOR),


PENÍNSULA DE PARAGUANÁ, VENEZUELA............................................................................................ 221
Anna Andressa Evangelista Nogueira (bioanna@gmail.com), Maria Inês Feijó Ramos (mramos@museu-goeldi.br)

FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS DO TALUDE CONTINENTAL DA BACIA DE SANTOS, BRASIL:


INTERPRETAÇÕES PALEOECOLÓGICAS................................................................................................... 225
Carolina Jardim Leão (carolinaj@unisinos.br), Itamar Ivo Leipnitz (itamar@unisinos.br),
Renata Moura de Mello (renata.mello@petrobras.com.br)

GÊMULAS FÓSSEIS DE ESPONJAS CONTINENTAIS NO PALEOLAGO CEMITÉRIO, CATALÃO, GOIÁS........... 230


Vanessa de Souza Machado (biologavsm@gmail.com), Cecília Volkmer-Ribeiro (cvolkmer@fzb.rs.gov.br),
Roberto Iannuzzi (roberto.iannuzzi@ufrgs.br)

INTERPRETAÇÕES PALEOAMBIENTAIS E BIOESTRATIGRÁFICAS DE OSTRACODES NEÓGENOS DA


FORMAÇÃO SOLIMÕES, AMAZONAS, BRASIL....................................................................................... 234
Ana Paula Linhares (biolinhares@yahoo.com.br), Maria Inês Feijó Ramos (mramos@museu-goeldi.br)

METODOLOGIA PARA VISUALIZAÇÃO DE CONCHOSTRÁCEOS EM MICROSCÓPIO ÓPTICO..................... 238


Alice Ferreira Souza (alicefsouza@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br)

NOVA TÉCNICA DE RECONHECIMENTO, EM SEÇÃO DELGADA, DE CONODONTES E


FORAMINÍFEROS DA FORMAÇÃO ITAITUBA, PENSILVANIANO DA BACIA DO AMAZONAS...................... 241
Sara Nascimento (aiatha@yahoo.com.br), Luciane Profs Moutinho (luprofs@yahoo.com.br),
Ana Karina Scomazzon (akscomazzon@yahoo.com.br), Cristiane Pakulski (crispakulski@yahoo.com.br),
Valesca Brasil Lemos (valesca.lemos@ufrgs.br)

NOVAS INTERPRETAÇÕES BIOESTRATIGRÁFICAS DE NANOFÓSSEIS CALCÁRIOS DO CRETÁCEO


NA BACIA DE PELOTAS, BRASIL............................................................................................................. 245
Rodrigo do Monte Guerra (rmguerra@unisinos.br), Gerson Fauth (gersonf@unisinos.br),
Lucio Riogi Tokutake (tokutake@petrobras.com.br)
OCORRÊNCIA DE CONODONTES NO FOLHELHO LONTRAS – GRUPO ITARARÉ,
PERMOCARBONÍFERO DA BACIA DO PARANÁ, MAFRA, SC................................................................... 249
Ana Karina Scomazzon (akscomazzon@yahoo.com.br), Everton Wilner (evertonwilner@yahoo.com.br),
Luiz Carlos Weinschütz (luizcw@mfa.unc.br), Sara Nascimento (aiatha@yahoo.com.br)

OCORRÊNCIA DO GÊNERO CYTHERELLA JONES, 1849 (CRUSTÁCEA-OSTRACODA) NA


FORMAÇÃO PIRABAS, MIOCENO INFERIOR, ESTADO DO PARÁ, BRASIL................................................. 253
Nathália Carvalho da Luz (nluz@museu-goeldi.br)

OSTRACODES DA FORMAÇÃO ESTRADA NOVA NA REGIÃO DE ALTO GARÇAS,


MATO GROSSO, BRASIL........................................................................................................................ 257
Ana Lídia Soares Bezerra da Silva (aninha_lidia@hotmail.com),
Jackson Douglas Silva da Paz (jacksdpaz@yahoo.com.br)

OSTRACODES DO CRETÁCEO-PALEÓGENO DA BACIA DE PELOTAS, BRASIL............................................. 263


Daiane Ceolin (daianeceolin@yahoo.com.br), Gerson Fauth (gersonf@unisinos.br)

PALINOLOGIA DE ESTRATOS DO DEVONIANO TERMINAL E DO CARBONÍFERO INFERIOR


DA BACIA DE TUCANO – NE BRASIL...................................................................................................... 268
Rodolfo Dino (dino@petrobras.com.br), Felipe Gonzáles (fbarrio@aldoc.uhu.es), Luzia Antonioli
(luantonioli@ig.com.br), Paulo da Silva Milhomen (milhomen@petrobras.com.br), Carmen Moreno
(carmor@uhu.es), Reinaldo Sáez (saez@uhu.es)

PALINOMORFOS DO INTERVALO ALBIANO SUPERIOR - CENOMANIANO


(ODP SITE 1258) – DEMERARA RISE...................................................................................................... 272
Patrícia Maria Krauspenhar (patriciakrauspenhar@yahoo.com.br), Marcelo de Araujo Carvalho
(mcarvalho@mn.ufrj.br), Gerson Fauth (gersonf@unisinos.br)

REGISTRO DE MICROFÓSSEIS CALCÁRIOS NO PERFIL LACHMAN CRAGS, NEOCRETÁCEO DA


ILHA JAMES ROSS, ANTÁRTICA............................................................................................................. 276
Leonardo Santos Florisbal (florisba@yahoo.com.br), Gerson Fauth (gersonf@unisinos.br),
Marta Cláudia Viviers (mcviviers@petrobras.com.br), Marcelo de Araújo Carvalho (mcarvalho@mn.ufrj.br),
Leonardo Niedersberg da Silva (leons157@yahoo.com.br), Renato Rodriguez Cabral Ramos (rramos@mn.ufrj.br)

• S-06: Paleobotânica

A NEW MIDDLE-LATE JURASSIC COMPRESSION FLORA ASSOCIATED WITH THE SAN AGUSTÍN
HOT-SPRING DEPOSIT, SOUTHERN PATAGONIA, ARGENTINA................................................................ 281
Zamuner A. (azamuner@yahoo.com), Channing A., Sagasti A. J., Edwards D., Guido D.

ADAPTATIONS OF EARLY CRETACEOUS FLORAS TO DIFFERING CLIMATE REGIMES................................. 284


Barbara A. R. Mohr (barbara.mohr@mfn-berlin.de), Mary E. C. Bernardes de Oliveira (maryeliz@usp.br),
Clément Coiffard (ccoiffar@hotmail.com), Paula A. Sucerquia (psucerquia@gmail.com)

ASSOCIAÇÃO BOTRYOCOCCUS/PSEUDOSCHIZAEA EM SEDIMENTOS CONTINENTAIS DO


QUATERNÁRIO (DISTRITO MINEIRO DE AMETISTA DO SUL, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL).................... 286
Gabrielli Teresa Gadens Marcon (gabigadens@yahoo.com.br), Margot Guerra Sommer (margot.sommer@ufrgs.br),
João Graciano Mendonça Filho (graciano@geologia.ufrj.br)
BENNETTITALES IN A TRIASSIC DICROIDIUM FLORA FROM SOUTHERN BRAZIL, PARANA BASIN............ 290
Tatiana Pastro Bardola (tatiana.bardola@ufrgs.br), Margot Guerra Sommer (margot.sommer@ufrgs.br)

CARACTERIZAÇÃO ORGANOGEOQUÍMICA DOS SEDIMENTOS TURFOSOS DO QUATERNÁRIO


DE IRAÍ, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.................................................................................................. 292
Gabrielli Teresa Gadens Marcon (gabigadens@yahoo.com.br), João Graciano Mendonça Filho
(graciano@geologia.ufrj.br), Margot Guerra Sommer (margot.sommer@ufrgs.br)

CLIMA E DISTRIBUIÇÃO PALEOFLORÍSTICA DO GONDWANA NO NEOPALEOZOICO NA


BACIA DO PARANÁ............................................................................................................................... 298
Isabel Cortez Christiano de Souza (isabel.cortez@ige.unicamp.br), Fresia Ricardi-Branco (fresia@ige.unicamp.br),
Rafael de Souza Silva (souza.phael@gmail.com)

COMPLEXOS BRÁCTEA-ESCAMA DA FAMÍLIA ARAUCARIACEAE DA FORMAÇÃO CRATO:


CONSIDERAÇÕES TAXONÔMICAS E NOMENCLATURAIS........................................................................ 302
Paula Andrea Sucerquia Rendon (psucerquia@gmail.com),
Mary Elizabeth Cerruti Bernardes de Oliveira (maryeliz@usp.br)

ESPOROS FÓSSEIS DE ANEMIACEAE (CICATRICOSISPORITES E AFINS) NO BRASIL:


ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA PRELIMINAR................................................................................................ 305
Sarah Gonçalves Duarte (sarahpalino@yahoo.com.br), Maria Dolores Wanderley (doloreswanderley@msn.com),
Mitsuru Arai (arai@petrobras.com.br)

ESTUDOS AMBIENTAIS NA LAGOA DO PARQUE ECOLÓGICO HERMÓGENES DE FREITAS


LEITÃO FILHO, BARÃO GERALDO, CAMPINAS........................................................................................ 308
Melina Mara de Souza (melina@ige.unicamp.br), Frésia Ricardi-Branco (fresia@ige.unicamp.br),
Sueli Yoshinaga Pereira (sueliyos@ige.unicamp.br), Zázera Francioso (zazera_geologo@yahoo.com.br)

FOLÍOLOS E FRUTOS DE FABACEAE DA BACIA DE BOA VISTA (OLIGOCENO-MIOCENO),


PARAÍBA, BRASIL.................................................................................................................................. 312
Alex Borba Duarte (alexborbaduarte@gmail.com), Thièrs Wilberger (twilberger@gmail.com),
Tânia Lindner Dutra (dutratl@gmail.com), Cleide Moura (cmoura@re.cprm.gov.br),
Geysson de Almeida Lages (geysson.lages@cprm.gov.br)

LEÑO Y ESTRUCTURAS REPRODUCTIVAS DE CONIFERALES EN LA FORMACIÓN CATURRITA, TRIÁSICO


SUPERIOR-JURÁSICO?, SUL DE BRASIL.................................................................................................. 317
Alexandra Crisafulli (alexandracrisafulli@hotmail.com), Tânia Lindner Dutra (tdutra@unisinos.br)

NOVA ESPÉCIE DO MORFOGÊNERO PHYLLOTHECA NO AFLORAMENTO MORRO DO PAPALÉO,


MARIANA PIMENTEL, RS (PERMIANO INFERIOR, GRUPO ITARARÉ SUL DA BACIA DO PARANÁ)............. 323
Guilherme Arsego Roesler (guilherme.paleonto@yahoo.com.br), Roberto Iannuzzi (roberto.iannuzzi@ufrgs.br)

NOVO REGISTRO DE LENHOS FÓSSEIS DO MIOCENO DA FORMAÇÃO SOLIMÕES, RIO JURUÁ,


ACRE, AMAZÔNIA, BRASIL.................................................................................................................... 326
Adriana Cabral Kloster (klosterdri@gmail.com), Silvia Cristina Gnaedinger (scgnaed@hotmail.com),
Karen Adami-Rodrigues (karen.adami@gmail.com)
NOVOS ACHADOS PALINOLÓGICOS NA BACIA DE ITABORAÍ E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O
ENTENDIMENTO DA DIETA DE ALGUNS MAMÍFEROS PALEOCÊNICOS.................................................... 330
Carla Terezinha Serio Abranches (abranches.cts@gmail.com), Maria Judite Garcia (mgarcia@ung.br),
Lílian Paglarelli Bergqvist (bergqvist@geologia.ufrj.br), Bruno Aquino (aquino_bio@oi.com.br)

O ESTUDO DE CUTÍCULAS VEGETAIS PARA CARACTERIZAÇÃO DE PALEOCLIMAS CRETÁCEOS


NO NORDESTE BRASILEIRO................................................................................................................... 333
Maria Helena Hessel (mhhessel@gmail.com), Andrea Limaverde de Araújo (a.limaverde@uol.com.br)

PALYNOFACIES ANALYSES OF WHISKY BAY FORMATION (ALBIAN-TURONIAN) OF THE LARSEN BASIN,


JAMES ROSS ISLAND, ANTARCTICA ...................................................................................................... 337
Marcelo de Araujo Carvalho, Renato Rodriguez Cabral Ramos, Rafaela Couto de Rezende, Susan Paiva de Castro

PLANT FOSSIL AND AN UPPER CRETACEOUS AGE TO THE VOLCANIC DEPOSITS OF NELSON ISLAND,
NORTHERN ANTARCTICA PENINSULA................................................................................................... 341
Cristine Trevisan (cristrevisan@hotmail.com), Thièrs P. Wilberger (thiersw@gmail.com), Tânia L. Dutra
(tdutra@gmail.com), Roberto Iannuzzi (roberto.iannuzzi@ufrgs.br)

PRIMEIRO REGISTRO DE LENHO FÓSSIL DE PODOCARPACEAE NA BACIA DOS PARECIS, FORMAÇÃO


UTIARITI (CRETÁCEO SUPERIOR), RONDÔNIA, BRASIL........................................................................... 344
Rodrigo Villa Lelis Ribeiro (villabio@yahoo.com.br), Silvia Gnaedinger (scgnaed@hotmail.com),
Adriana Kloster (klosterdri@gmail.com), Sylvio de Almeida Oliveira, Karen Adami Rodrigues (karen.adami@gmail.com)

REGISTRO DE INTERAÇÃO INSETO-PLANTA (GALHAS E MINAS) EM NÍVEIS DO MESOZOICO BASAL


DA FORMAÇÃO CATURRITA, SUL DO BRASIL......................................................................................... 348
Karen Adami Rodrigues (gerarus@hotmail.com), Ronaldo Barboni (ronaldobarboni@hotmail.com),
Tânia Lindner Dutra, Thiérs P. Wilberger

REGISTRO DE LICÓFITA ARBORESCENTE DOS SISTEMAS FORMADORES DE CARVÃO DO PERMIANO


INFERIOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA (BACIA DO PARANÁ, BRASIL)............................................. 355
Joseline Manfroi (joselinemanfroi@universo.univates.br), André Jasper (ajasper@univates.br),
Mariela Inês Secchi (maries@universo.univates.br), Margot Guerra Sommer (margot.sommer@ufrgs.br),
Dieter Uhl (dieter.uhl@senckenberg.de)

REGISTRO DE PALEOINCÊNDIOS VEGETACIONAIS NO AFLORAMENTO MORRO DO PAPALÉO,


RIO GRANDE DO SUL, BRASIL............................................................................................................... 359
Joseline Manfroi (joselinemanfroi@universo.univates.br), André Jasper (ajasper@univates.br),
Mariela Inês Secchi (maries@universo.univates.br), Dieter Uhl (dieter.uhl@senckenberg.de),
Abdalla M.B. Abu Hamad (m.alabdallah@ju.edu.jo)

SPECIFICITY OF LEAF DAMAGE IN THE PERMIAN “GLOSSOPTERIS FLORA”:


A QUANTITATIVE APPROACH................................................................................................................ 363
Esther R S Pinheiro (esther.pinheiro@ufrgs.br), Roberto Iannuzzi, Graciela P. Tybusch

TAFONOMIA DE LENHOS FÓSSEIS DA FORMAÇÃO CORUMBATAÍ, ANGATUBA, SP


(PERMIANO DA BACIA DO PARANÁ)..................................................................................................... 367
Rafael Souza Faria (rafaelfaria@ige.unicamp.br), Fresia Ricardi-Branco (fresia@ige.unicamp.br)
METODOLOGIA DE PREPARAÇÃO DE LENHOS FÓSSEIS SILICIFICADOS: UTILIZAÇÃO DE BLOCOS
ANATÔMICOS PARA A OBSERVAÇÃO EM MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA ......................................... 370
Luciano Gandin Machado (lucianogmachado@ufrj.br), Rita Scheel-Ybert (scheelybert@mn.ufrj.br),
Luis Pereira Barros (luishpb@gmail.com), Marcelo de Araujo Carvalho (mcarvalho@mn.ufrj.br)

• S-07: Bioestratigrafia do Cretáceo

DENTES DE CANDIDODON ITAPECURUENSE DA ILHA DO CAJUAL (FORMAÇÃO ALCÂNTARA),


CRETÁCEO DO MARANHÃO.................................................................................................................. 379
Bruno Rafael de Carvalho Santos (bruno.rafael@gmx.com), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br),
Manuel Alfredo Araújo Medeiros (medeirosalf@gmail.com), Ronny Anderson Barros Santos (rooneysmall@gmail.com)

FAMÍLIAS CRETÁCEAS DE HIMENÓPTEROS............................................................................................ 384


Maria Helena Hessel (mhhessel@gmail.com), Gabriela Karine Rocha de Carvalho (decarvalho_gabi@hotmail.com)

FORAMINÍFEROS, MICROFAUNA, SEDIMENTOLOGIA, PALINOFÁCIES E PERFIS ELÉTRICOS,


NA ANÁLISE DE ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS - CRETÁCEO – EXEMPLO DA BACIA DE SE-AL.............. 387
Carol Coutinho Johnsson, Maria Rosilene Ferreira Menezes Santos, Paulo César Galm,
Paulo Roberto da Silva Santos, Taíssa Rego Menezes

SIMILARITIES BETWEEN VERTEBRATE-BEARING DEPOSITS FROM THE LATE CRETACEOUS


OF SOUTH AMERICA ............................................................................................................................ 388
Yuri Modesto Alves (alves_modesto@yahoo.com.br), Miguel Rodrigues Furtado (migueltupa@gmail.com),
Francisco Edinardo Ferreira de Souza (edinardo.souza@yahoo.com.br)

SNACKING CROCODILES – THE EVOLUTION OF JAW MECHANISM AND ORAL FOOD PROCESSING IN
HETERODONT CROCODYLIFORMS........................................................................................................ 392
Attila Ösi (hungaros@freemail.hu)

• S-08: Paleogeografia, Paleoecologia e Paleoclimatologia

DEPOSIÇÃO PALINOLÓGICA EM SEDIMENTOS DE SUPERFÍCIE NO OESTE DO RS.................................... 397


Andreia Cardoso Pacheco Evaldt (andreia.pacheco@ulbra.br), Soraia Girardi Bauermann

ESTUDO PRELIMINAR DOS PALEOAMBIENTES COM BASE NOS DEPÓSITOS CENOZOICOS


DA BACIA DO RIO PIRANGA - MG......................................................................................................... 400
Fernanda Mara Fonseca da Silva (nandaslv@yahoo.com.br), Maria Paula Delicio (mpaula@degeo.ufop.br),
Maria De Fátima Rodrigues Sarkis (sarkis.fatima@gmail.com), Renato Ribeiro Mendonça (renato.degeo@gmail.com),
João Paulo Marques Machado Teixeira (joaopmachado@gmail.com)

ICNITOS CONTINENTAIS DO SÍTIO AFLORAMENTO MORRO DO PAPALÉO, (FORMAÇÃO RIO BONITO),


PERMIANO, BACIA DO PARANÁ, RIO GRANDE DO SUL.......................................................................... 403
Pâmela Silveira Costa (pamela.scosta@hotmail.com), Karen Adami-Rodrigues (karen.adami@gmail.com),
Camile Urban (camile.urban@gmail.com), Ana Karina Scomazzon (akscomazzon@yahoo.com.br)
OCORRÊNCIA DE ICNOFÓSSEIS NA LOCALIDADE DE DONA FRANCISCA, FORMAÇÃO SANTA MARIA
(TRIÁSSICO MÉDIO), RIO GRANDE DO SUL............................................................................................ 408
Alan Gregory Jenisch (alan.jenisch@gmail.com), Karen Adami Rodrigues (karen.adami@gmail.com),
Ana Karina Scomazzon (akscomazzon@yahoo.com.br)

ORGANIC FACIES CHARACTERIZATION OF THE LOWER PERMIAN BONITO COALSEAM (ARTINSKIAN)


FROM THE SANTA CATARINA COALFIELD, BRAZIL.................................................................................. 412
João Graciano Mendonça Filho (graciano@geologia.ufrj.br), Margot Guerra-Sommer (margot.sommer@ufrgs.br),
Miriam Cazzulo-Klepzig (miriam.klepzig@ufrgs.br), Joalice Oliveira Mendonça (joalice@lafo.gologia.ufrj.br),
André Jasper (ajasper@univates.br), Marcio L. Kern (marciokern@yahoo.com.br),
Tais Freitas da Silva (taisfsilva@lafo.geologia.ufrj.br), Taíssa Rêgo Menezes (taissa.menezes@petrobras.com.br)

QUITINOZOÁRIOS E MEIO AMBIENTE................................................................................................... 417


Norma Maria da Costa Cruz (norma.cruz@cprm.gov.br)

RECONSTITUIÇÃO PALEOCEANOGRÁFICA NO ATLÂNTICO SUDOESTE COM BASE EM


COCOLITOFORÍDEOS DURANTE OS ÚLTIMOS 130 MIL ANOS................................................................. 421
Adriana Leonhardt (adriana.leonhardt@yahoo.com.br), Felipe Antonio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br),
João Carlos Coimbra (joao.coimbra@ufrgs.br)

REGISTRO INÉDITO DE ASSOCIAÇÃO FOSSILÍFERA EM AFLORAMENTO NO RIO ENVIRA,


FORMAÇÃO SOLIMÕES, CENOZOICO DA BACIA DO ACRE...................................................................... 425
Fernanda Luft de Souza (felufts@hotmail.com), Karen Adami-Rodrigues (karen.adami@gmail.com),
Ana Karina Scomazzon (akscomazon@yahoo.com.br), Camile Urban (camile.urban@gmail.com)

SÍTIO LEVERGUINI, UMA NOVA LOCALIDADE FOSSILÍFERA PARA O PENSILVANIANO DA BACIA DO


AMAZONAS, MUNICÍPIO DE URUARÁ, PARÁ, BRASIL............................................................................ 429
Joyce Celerino de Carvalho (joyce.celerino@hotmail.com), Ademilson Leverguini (leverguini@hotmail.com),
Artemos José Maria dos Santos (artemos.j@gmail.com), Marcos Sobral Santana (penteado12@hotmail.com),
Ana Karina Scomazzon (akscomazzon@yahoo.com.br), Luciane Profs Moutinho (luprofs@yahoo.com.br),
Francisco Ricardo Negri (frnegri@ufac.br), Janice Muriel Cunha (janice@ufpa.br)

THE OLDEST FOSSILS FROM PARAGUAY: CLOUDINA - CORUMBELLA ASSEMBLAGE IN THE


ITAPUCUMI GROUP, EDIACARAN.......................................................................................................... 433
Lucas Veríssimo Warren (warren@usp.br), Marcello Guimarães Simões (btsimoes@ibb.unesp.br),
Thomas Rich Fairchild (trfairch@hotmail.com), Claudio Riccomini (riccomin@usp.br),
Fernanda Quaglio (quaglio@usp.br), Paulo César Boggiani (boggiani@usp.br)

UTILIZAÇÃO DE DINOCISTOS NA INTERPRETAÇÃO PALEOAMBIENTAL DE SEDIMENTOS


QUATERNÁRIOS, LOCALIZADOS NO TALUDE DA BACIA DE CAMPOS RJ/BRASIL..................................... 436
Antonio Donizeti de Oliveira (donizeti@lafo.geologia.ufrj.br), João Graciano Mendonça Filho
(graciano@geologia.ufrj.br), Gisele Giseé Furukawa (gisele@lafo.geologia.ufrj.br),
Jaqueline Torres de Souza (jaqueline@lafo.geologia.ufrj.br)

VEGETAÇÃO E CLIMA DO NEOPLEISTOCENO NA REGIÃO CENTRO-NORTE DO ESTADO


DO ESPÍRITO SANTO (RESULTADOS PRELIMINARES).............................................................................. 439
Thiago de Carvalho Nascimento (thiago.dnascimento@edu.ung.br), Maria Judite Garcia (mgarcia@ung.br),
Paulo Eduardo de Oliveira (paulo@bjd.com.br), Luiz Carlos Ruiz Pessenda (pessenda@cena.usp.br),
Claúdio Limeira Mello (limeira@igeo.ufrj.br)
NOVOS DADOS GEOCRONOLÓGICOS A PLANÍCIE COSTEIRA NORTE DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL... 441
Matias do Nascimento Ritter (mnritter@gmail.com), Fernando Erthal (delodontus@yahoo.com.br)

• S-09: Paleoinvertebrados

ANÁLISE TAFONÔMICA DE CORUMBELLA WERNERI HAHN ET AL. 1982 (FORMAÇÃO TAMENGO,


GRUPO CORUMBÁ, MATO GROSSO DO SUL): ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS E IMPLICAÇÕES NO
ESTABELECIMENTO DE AFINIDADES TAXONÔMICAS............................................................................. 449
Mírian Liza A. Forancelli Pacheco (Bolsista FAPESP), Juliana de M. Leme Basso,
Thomas R. Fairchild (forancelli@gmail.com)

DÍPTEROS FÓSSEIS DA FORMAÇÃO TREMEMBÉ, BACIA DE TAUBATÉ, SÃO PAULO, BRASIL..................... 453
Diogo Jorge de Melo (diogojmelo@gmail.com), Luanda Mariano Rodrigues dos Santos (luandamariana@hotmail.com)

ECHINODERMATA DA FORMAÇÃO ERERÊ (EIFELIANO TARDIO – GIVETIANO INICIAL, BACIA DO


AMAZONAS), ESTADO DO PARÁ, BRASIL............................................................................................... 456
Sandro Marcelo Scheffler (schefflersm@yahoo.com.br), Antonio Carlos Sequeira Fernandes (fernande@acd.ufrj.br),
Vera Maria Medina da Fonseca (vmmedinafonseca@gmail.com)

ESPECTROSCOPIA EM FÓSSEIS DA FORMAÇÃO SANTANA, BACIA DO ARARIPE...................................... 460


Ana Cristina Laurentino de Oliveira (aninha_tina.l.o@hotmail.com), Alexandre Magno Feitosa Sales
(amfsales@uol.com.br), Alexandre Magno Rodrigues Teixeira, João Hermínio da Silva,
Paulo de Tarso Cavalcante Freire, Bruno Tavares de Oliveira Abagaro

ICNOFÓSSEIS EM SISTEMAS COSTEIROS CENOZOICOS DA REGIÃO METROPOLITANA


DE BELÉM, PARÁ, BRASIL...................................................................................................................... 463
Rafael Costa da Silva (rafael.costa@cprm.gov.br), Victor Hugo Dominato (victordominato@hotmail.com),
Antonio Carlos Sequeira Fernandes (fernande@acd.ufrj.br), José Guilherme Oliveira (jose.oliveira@cprm.gov.br),
Regina Célia Silva (regina.santos@cprm.gov.br)

ICNOLOGIA DA FORMAÇÃO IPU (SILURIANO DA BACIA DO PARNAÍBA) NA REGIÃO DE


CARNAUBAL-CE: CARACTERIZAÇÃO DE AMBIENTE ESTUARINO............................................................ 466
Francisco Rony Gomes Barroso (ronybarroso@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana (somalia_viana@hotmail.com),
Maria de Jesus Gomes de Sousa (marryesousa@hotmail.com), Sonia Maria Oliveira Agostinho (sonia@ufpe.br)

INSECT TRACE FOSSILS ASSEMBLAGES FROM PALEOSOLS (LATE CRETACEOUS-PALEOGENE)


OF URUGUAY....................................................................................................................................... 469
Mariano Verde¹ (verde@fcien.edu.uy)

MODELO TAFONÔMICO PARA OS PYGOCEPHALOMORPHA BEURLEN, 1930,


CRUSTACEA-PERACARIDA, SUBGRUPO IRATI, PERMIANO, BACIA DO PARANÁ, BRASIL.......................... 472
Suzana Aparecida Matos da Silva (sumatos.s@gmail.com), Marcello Guimarães Simões (profmgsimoes@gmail.com),
Flavio Augusto Pretto³ (flavio_pretto@yahoo.com.br)

NOVA ABORDAGEM SOBRE AS CLASSES TAFONÔMICAS DOS PORÍFEROS DO AFLORAMENTO


CAMPALEO, FOLHELHO LONTRAS, SANTA CATARINA............................................................................. 476
Lucas del Mouro (delmouro@ufrj.br), Eliseu Vieira Dias (Eliseu.Dias@unioeste.br),
Antonio Carlos Sequeira Fernandes (fernande@acd.ufrj.br), Daniel Wagner Rogério (danielwr@ufrj.br),
Breno Leitão Waichel (breno@cfh.ufsc.br), Ana Tereza Bittencourt Guimarães (anat@brturbo.com.br)
NOVA OCORRÊNCIA DE ICNOFÓSSEIS DO GRUPO SERRA GRANDE
(SILURIANO DA BACIA DO PARNAÍBA) NO ESTADO DO CEARÁ.............................................................. 479
Felipe Augusto Correia Monteiro (felipebioufc@yahoo.com.br), Paula C. Dentzien-Dias (pauladentzien@gmail.com),
Danielle Sequeira Garcez (dsgarcez@gmail.com), Lidriana de Souza Pinheiro (lidriana.lgco@gmail.com)

NOVAS OBSERVAÇÕES SOBRE ICNOFÓSSEIS DEVONIANOS DA FORMAÇÃO PIMENTEIRA,


BACIA DO PARNAÍBA, BRASIL............................................................................................................... 483
Rafael Costa da Silva (rafael.costa@cprm.gov.br), Victor Hugo Dominato (victordominato@hotmail.com),
Antonio Carlos Sequeira Fernandes (fernande@acd.ufrj.br)

NOVOS CRINÓIDES DA FORMAÇÃO MAECURU (EIFELIANO MÉDIO, BACIA DO AMAZONAS),


ESTADO DO PARÁ, BRASIL ................................................................................................................... 486
Sandro Marcelo Scheffler (schefflersm@yahoo.com.br), Antonio Carlos Sequeira Fernandes
(fernande@acd.ufrj.br), Vera Maria Medina da Fonseca (vmmedinafonseca@gmail.com)

O REGISTRO DE INSETO EPHEMEROPTERA E A CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO PALEOCLIMÁTICO NO


FOLHELHO LONTRAS, PERMOCARBONIFERO DA BACIA DO PARANÁ, MAFRA, SC.................................. 490
Karen Adami-Rodrigues (karen.adami@gmail.com), João Henrique Zahdi Ricetti (joao.ricetti@hotmail.com),
Luiz Carlos Weinschütz (luizcw@mfa.unc.br), Everton Wilner (evertonwilner@yahoo.com.br), Ricardo Smaga
(ricardosmaga@gmail.com)

O REGISTRO DE UROPYGI AO LONGO DO TEMPO (NEOCARBONÍFERO, EOCRETÁCEO E RECENTE):


IMPLICAÇÕES PALEONTOLÓGICAS E ECOLÓGICAS NA ESTASE EVOLUTIVA DO GRUPO........................... 494
Gabriel Ladeira Osés (gabriel.oses@usp.br), Setembrino Petri (spetri@usp.br),
Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco (forancelli@gmail.com), Regiane Saturnino Ferreira (sf.regiane@gmail.com)

PALEOECOLOGY OF FOSSILS FROM THE CAPE MELVILLE FORMATION (EARLY MIOCENE,


KING GEORGE ISLAND, WEST ANTARCTICA).......................................................................................... 499
Fernanda Quaglio¹ (quaglio@usp.br), Marcello Guimarães Simões (btsimoes@ibb.unesp.br),
Luiz Eduardo Anelli (anelli@usp.br)

PRELIMINAR STUDY OF COCHLIOPIDAE (GASTROPODA) FROM SOLIMÕES FORMATION,


NEOGENE OF WESTERN AMAZONIA..................................................................................................... 502
Lívia Isadora de Almeida Guimarães (lica2000@gmail.com), Maria Inês Feijó Ramos (mramos@museu-goeldi.br),
Luiz Ricardo Lopes de Simone (lrsimone@usp.br)

PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE BIVALVOS NA ASSOCIAÇÃO FOSSILÍFERA DO PASSO DO SÃO BORJA,


FORMAÇÃO IRATI, RIO GRANDE DO SUL............................................................................................... 506
Bruno de Almeida Goetze (brunogoetze@gmail.com), Camile Urban (camile.urban@gmail.com),
Ana Karina Scomazzon (akscomazzon@yahoo.com.br), Karen Adami-Rodrigues (karen.adami@gmail.com),
Rafael Fernandes e Silva (rafaelfernandesesilva@hotmail.com)

PRIMEIRA OCORRÊNCIA DO CORAL ESCLERACTÍNEO DO GÊNERO SIDERASTREA NO


CRETÁCEO BRASILEIRO (APTIANO/ALBIANO DA FORMAÇÃO RIACHUELO/SUB-BACIA DE SERGIPE)....... 509
Grace B. C. Mascarenhas (gracemascarenhas@yahoo.com.br), Zelinda M. A. N. Leão (zelinda@ufba.br),
Wagner Souza Lima (wagnerl@hotmail.com)

PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE ICNOFÓSSEIS DA FORMAÇÃO PIMENTEIRA, BACIA DO PARNAÍBA,


NO ESTADO DO CEARÁ: I- CACHOEIRA DO ENGENHO VELHO................................................................ 513
Maria de Jesus Gomes de Sousa (marryesousa@yahoo.com.br), Sérgio Augusto Santos Xavier
(sergio.s.xavier@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana (somalia_viana@hotmail.com),
Francisco Rony Gomes Barroso (ronybarroso@hotmail.com),
Thiago de Albuquerque Lima (thiago.albuquerquelima@hotmail.com)

SYSTEMATIC REVISION AND PROVINCIAL AFFINITIES OF THE RIO DA AREIA BIVALVE FAUNA,
RIO DO SUL FORMATION (ITARARÉ GROUP, LOWER PERMIAN): SOME PRELIMINARY RESULTS............. 517
Jacqueline Peixoto Neves (nevesjp.unesp@gmail.com), Marcello Guimarães Simões (btsimoes@ibb.unesp.br),
Luiz Eduardo Anelli (anelli@usp.br)

THE IMPORTANCE OF ITABORAÍ BASIN (PALEOCENE) AS THE HOME TO EARLY RECORDS OF MANY
PULMONATE SNAIL FAMILIES............................................................................................................... 521
Rodrigo Brincalepe Salvador (salvador.rodrigo.b@gmail.com), Luiz Ricardo Lopes de Simone (lrsimone@usp.br)

THE PERMIAN TIARAJU BIVALVE FAUNA REVISITED, AND ITS BIOSTRATIGRAPHIC SIGNIFICANCE.......... 525
Juliana Machado David (julianamdavid@gmail.com), Marcello Guimarães Simões (profmgsimoes@gmail.com),
Luiz Eduardo Anelli (anelli@usp.br)

TRILOBITES (PHACOPIDA) NOS ARREDORES DO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA,


FORMAÇÃO PIMENTEIRA (DEVONIANO), BACIA DO PARNAÍBA, PIAUÍ, BRASIL..................................... 528
Juliana de Moraes Leme (leme@usp.br), Sabrina Pereira Soares (spereirasoares@yahoo.com.br),
Andre Mori Di Stasi Soares (andr_mori@hotmail.com), Felipe van Enck Meira (fvemeira@gmail.com)

OCORRÊNCIA DE BOTRYOCRINIDAE (CRINOIDEA) NA FORMAÇÃO PONTA GROSSA


(PRAGUIANO, BACIA DO PARANÁ), ESTADO DO PARANÁ, BRASIL......................................................... 533
Antonio Carlos Sequeira Fernandes (fernande@acd.ufrj.br), Vera Maria Medina da Fonseca
(vmmedinafonseca@gmail.com), Sandro Marcelo Scheffler (schefflersm@yahoo.com.br)

• S-10: Paleontologia Industrial

AGE OF DROWNING OF THE EARLY CRETACEOUS CARBONATE PLATFORMS IN NORTHERN


MEXICO BY MEANS OF AMMONITES (AMMONOIDEA, ZITTEL 1884)..................................................... 539
Ricardo Barragán-Manzo (ricardor@geologia.unam.mx), Fernando Núñez-Useche

ANÁLISE DA MICROESTRUTURA DE INOCERAMÍDEOS DO CRETÁCEO SUPERIOR DAS BACIAS


DE CAMPOS E SANTOS, SUDESTE DO BRASIL........................................................................................ 543
Geise de Santana dos Anjos Zerfass (denizesc@petrobras.com.br),
Leonardo Ribeiro Tedeschi (leonardo.tedeschi@petrobras.com.br),
Marta Cláudia Viviers (mcviviers@petrobras.com.br), Denize Santos Costa (mcviviers@petrobras.com.br)

ANÁLISE DA SEDIMENTAÇÃO DA MATERIA ORGANICA PARTICULADA DE SEDIMENTOS


HOLOCÊNICOS DA BACIA DE SANTOS: RESULTADOS PRELIMINARES...................................................... 547
Luis Henrique Pereira Barros (luishpb@gmail.com), Marcelo de Araujo Carvalho (mcarvalho@mn.ufrj.br)

ANÁLISES PALINOFACIOLÓGICAS E PALINOLÓGICAS DA FORMAÇÃO TREMEMBÉ – POÇO TMB-01-SP –


BACIA DE TAUBATÉ............................................................................................................................... 550
Carolina Oliveira de Castro (carolina.castro@petrobras.com.br), Luzia Antonioli (luantonioli@ig.com.br),
Rodolfo Dino (dino@petrobras.com.br)
BIOESTRATIGRAFÍA DEL APTIANO ALBIANO EN POZOS EXPLORATORIOS DE LA ZONA
MARINA DEL GOLFO DE MÉXICO.......................................................................................................... 556
Marcelo Aguilar Piña, Nicté A. Gutiérrez Puente, María E. Gómez Luna, Julio C. González Lara

CARACTERIZAÇÃO PALEOCEANOGRÁFICA DO ATLÂNTICO TROPICAL OESTE AO LONGO DOS ÚLTIMOS


130.000 ANOS COM BASE EM FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS E NANOFÓSSEIS CALCÁRIOS.............. 559
Edmundo Camillo Jr. (edmundo@paleolapas.org), Juliana Pereira Quadros (juliana@paleolapas.org),
Karen Badaraco Costa (karen@paleolapas.org), Felipe Antonio de Lima Toledo (felipe@paleolapas.org)

CARACTERIZAÇÃO PALINOFACIOLÓGIA EM SEDIMENTOS DA REGIÃO DE ARAMARI –


POÇO 9-FBA-79-BA, CRETÁCEO INFERIOR, BACIA DO RECÔNCAVO........................................................ 563
Helena Antunes Portela (helenaportela@gmail.com), Luzia Antonioli (luantonioli@ig.com.br),
Rodolfo Dino (dino@petrobras.com.br)

CORRELAÇÃO ENTRE O TEOR DE CARBONATO E DOIS MÉTODOS DISTINTOS NO ESTUDO DE


NANOFÓSSEIS CALCÁRIOS OBTIDOS ATRAVÉS DA PREPARAÇÃO DE LÂMINAS
CONVENCIONAL E DA DECANTAÇÃO ALEATÓRIA.................................................................................. 567
Lucas Makowski Bariani (ss_icha@yahoo.com.br), Karen Badaraco Costa (karen.costa@usp.br),
Felipe Antonio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br) 567

DINOFLAGELLATE CYST ANALYSIS OF A LATE QUATERNARY MARINE SEDIMENT CORE FROM


THE CAMPOS BASIN............................................................................................................................. 571
Oliver P.R. Bazely (obazely@paetro.org), Mauro B. de Toledo, Monica B. Crud,
Taísa C. de Souza, Renata de Souza

DISTRIBUIÇÃO ESTRATIGRAFICA E VARIAÇÕES NA DOMINÂNCIA DE AUSTRALOECIA ATLANTICA


MADDOCKS 1977 (OSTRACODA) FURO GL-451, BACIA DE CAMPOS...................................................... 575
Ariany de Jesus e Sousa (arianyj.sousa@gmail.com), Lucio Riogi Tokutake (tokutake@petrobras.com.br),
Demétrio Dias Nicolaidis (demetriodn@gmail.com), Cristianini Trescastro Bergue (ctbergue@gmail.com),
João Villar de Queiroz Neto (joaovq@petrobras.com.br), Elizabete Pedrão Ferreira (elizabete@petrobras.com.br)

ESTUDO QUANTITATIVO DE GLOBOROTALIA TRUNCATULINOIDES E VARIAÇÕES PALEOCEANOGRÁFICAS


NOS ÚLTIMOS 30.000 ANOS EM TRÊS TESTEMUNHOS DA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA:
RESULTADOS PRELIMINARES................................................................................................................ 579
Fabio de Sousa Pais (paisfs@gmail.com), Karen Badaraco Costa (karen.costa@usp.br),
Felipe Antonio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br)

EVIDÊNCIA DE DIACRONISMO DO RESTABELECIMENTO DO PLEXO MENARDIIFORME


NO ATLÂNTICO SUL NO FIM DO ÚLTIMO GLACIAL................................................................................. 584
Fabiane Sayuri Iwai (sayuri.iwai@gmail.com), Ana Cláudia Aoki Santarosa (anasantarosa@gmail.com),
Edmundo Camillo Jr. (edmundocamillo@gmail.com), Felipe Antonio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br),
Karen Badaraco Costa (karen.costa@usp.br)

EVIDÊNCIAS PALEOAMBIENTAIS DO HOLOCENO NA PLATAFORMA CONTINENTAL


DE ITAJAÍ (SC), BRASIL.......................................................................................................................... 587
Júnior Bispo de Menezes (junior.menezes@edu.ung.br), Maria Judite Garcia (mgarcia@ung.br),
Marcelo Araújo Carvalho (mcarvalho@ufrj.br), Silva Helena de Mello e Sousa (smsousa@usp.br),
Poliana Carvalho de Andrade (poli.oceano@gmail.com), Michel M. de Mahiques (mahiques@usp.br),
Carlos Alberto Bistrichi (cabistrichi@uol.com.br), Rosana Saraiva Fernandes (rsfernandes@ung.br)
MICROBIOFÁCIES: ANÁLISE BIOESTRATIGRÁFICA APLICADA EM LÂMINAS DELGADAS DE ROCHAS
CALCÁRIAS........................................................................................................................................... 589
Francisco Henrique de Oliveira Lima (henriquel@petrobras.com.br),
Antonio Enrique Sayão Sanjinés (antonio.sanjines@petrobras.com.br),
Oscar Strohschoen Júnior (oscarsj@petrobras.com.br)

MICROPALEONTOLOGÍA APLICADA EN LA EXPLORACIÓN DE LOS HIDROCARBUROS EN MÉXICO........... 593


González Lara Julio César, Gómez Luna Maria Eugenia, Aguilar Piña Marcelo

OS ISÓTOPOS ESTÁVEIS EM ROCHA-TOTAL E NA FRAÇÃO FINA DOS SEDIMENTOS MARINHOS SÃO


EFETIVOS COMO INDICADORES PALEOCEANOGRÁFICOS?..................................................................... 597
Carla Nishizaki (carla@paleolapas.org), Karen Badaraco Costa (karen@paleolapas.org),
Felipe Antonio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br)

OSTRACODES DO CRETÁCEO-PALEÓGENO DA BACIA DE PELOTAS, BRASIL............................................. 601


Daiane Ceolin (daianeceolin@yahoo.com.br), Gerson Fauth (gersonf@unisinos.br)

REMARKS ON THE SEQUENCE STRATIGRAPHY AND TAPHONOMY OF THE RELICTUAL


MALVINOKAFFRIC FAUNA DURING THE KAČÁK EVENT IN THE PARANÁ BASIN, BRAZIL......................... 605
Rodrigo Scalise Horodyski (rodrigo.geo@gmail.com), Michael Holz (michael.holz.ufba@gmail.com),
Elvio Pinto Bosetti (elvio.bosetti@pq.cnpq.br)

TAXONOMIA – ETAPA CRUCIAL PARA O ESTUDO DE FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS ............................. 608


Mello, R.M. (renata.mello@petrobras.com.br), Thomas, E.

VARIAÇÕES DE PRODUTIVIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS SOBRE O TALUDE CONTINENTAL


DA BACIA DE SANTOS AO LONGO DOS ÚLTIMOS 15 MIL ANOS A PARTIR DE ESTUDO
QUANTITATIVO DE NANOFÓSSEIS CALCÁRIOS...................................................................................... 610
Heliane Bevervanso Ferrarese (helianeferrarese@yahoo.com.br), Felipe Antonio de Lima Toledo (ftoledo@usp.br)

• S-11: Paleovertebrados (Cenozoico)

A PALEOMASTOFAUNA DO QUATERNÁRIO TARDIO DO MUNICÍPIO DE MANARI, PERNAMBUCO,


NORDESTE DO BRASIL.......................................................................................................................... 617
Fabiana Marinho da Silva (fabirk26@yahoo.com.br), Laiza de Oliveira Pessoa (lala.oli.pessoa@gmail.com),
Édison Vicente Oliveira (edison.vicente@ufpe.br), Alcina Magnólia Franca Barreto (alcina@ufpe.br)

AFLORAMENTO “SÍTIO”: UMA NOVA LOCALIDADE FOSSILÍFERA PARA O PLEISTOCENO DA BAHIA........ 621
Cristina Bertoni Machado (cristina.bertoni@gmail.com), Carolina Saldanha Scherer
(carolina_scherer@yahoo.com.br), Téo Veiga de Oliveira (teovoli@yahoo.com.br)

ANÁLISE DAS FEIÇÕES DE INTEMPERISMO EM FÓSSEIS DA MEGAFAUNA DO QUATERNÁRIO


TARDIO DA LAGOA DO RUMO, BAIXA GRANDE, BAHIA, BRASIL............................................................ 625
Fábio Henrique Cortes Faria (fabiocortes22@gmail.com), Ricardo da Costa Ribeiro (ricardomito@hotmail.com),
Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br)
ANÁLISE MACROSCÓPICA DE LESÃO INFECCIOSA EM VÉRTEBRA DE MAMÍFERO PLEISTOCENICO DO
NORDESTE DO BRASIL.......................................................................................................................... 629
Fernando Henrique de Souza Barbosa (fhsbarbosa@rocketmail.com), Uiara Gomes Cabral (uiara.gomes@gmail.com),
Édison Vicente Oliveira (vicenteedi@gmail.com)

ASPECTOS BIOESTRATINÔMICOS DE FÓSSEIS DE VERTEBRADOS PLEISTOCÊNICOS DO TANQUE


DO JIRAU, ITAPIPOCA, CEARÁ, BRASIL.................................................................................................. 632
Hermínio Ismael de Araújo Júnior (herminio.ismael@yahoo.com.br), Celso Lira Ximenes (clx.ximenes@gmail.com),
Kleberson de Oliveira Porpino (kleporpino@yahoo.com.br), Lílian Paglarelli Bergqvist (bergqvist@geologia.ufrj.br)

ASSEMBLEIA HOLOCÊNICA DE VERTEBRADOS DE PEQUENO PORTE DO SÍTIO ALCOBAÇA,


ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL....................................................................................................... 636
Patrícia Hadler Rodrigues (patricia.hadler@cfh.ufsc.br), José Darival Ferreira dos Santos (darival.fds@gmail.com),
Ana Karoline Barros Silva (karolbarros.biologia@gmail.com)

CONSIDERAÇÕES PALEOEBIOLÓGICAS SOBRE OS PEIXES FÓSSEIS DA FORMAÇÃO TREMEMBÉ,


BACIA DE TAUBATÉ (SP)........................................................................................................................ 639
Diogo Jorge de Melo (diogojmelo@gmail.com), Lílian Paglarelli Bergqvist (bergqvist@geologia.ufrj.br)

DIDELPHIMORPHIA DA BACIA DE S. J. DE ITABORAÍ, RIO DE JANEIRO (PALEOCENO):


DOS DENTES AO CORPO....................................................................................................................... 643
Lilian Paglarelli Bergqvist (bergqvist@geologia.ufrj.br), Priscilla Tinoco (pritinoco@yahoo.com.br)

ESTUDO DA MEGAFAUNA DO PLEISTOCENO DE MATINA, BAHIA, BRASIL.............................................. 647


Leonardo Souza Lobo (leolobo_@hotmail.com), Carolina Saldanha Scherer (carolina_scherer@yahoo.com.br),
Mario André Trindade Dantas (matdantas@yahoo.com.br), Andréia Lima Sanches (alsanches@yahoo.com.br),
Eduardo Silveira Bernardes (edusbstein@gmail.com)

GRUTA DO URSO FÓSSIL (NORDESTE DO BRASIL) E SUA FAUNA QUATERNÁRIA:


DADOS PRELIMINARES......................................................................................................................... 651
Paulo Victor de Oliveira (victoroliveira.paleonto@gmail.com), Gisele Lessa (gislessa@yahoo.com.br),
Maria Somália Sales Viana (somalia_viana@hotmail.com), Celso Lira Ximenes (clx.ximenes@gmail.com),
Ana Maria Ribeiro (amaria_ribeiro@yahoo.com.br), Édison Vicente Oliveira (vicenteedi@gmail.com),
Antônio Sílvio Teixeira dos Santos (antsiltei@hotmail.com), Annie Hsiou (anniehsiou@ffclrp.usp.br),
Elizete Celestino Holanda (elizete.holanda@gmail.com), Leonardo Kerber (leonardokerber@gmail.com)

LESÃO OSTEOLÍTICA EM FRAGMENTO DE ÚMERO DE STEGOMASTODON WARINGI


(MAMMALIA, PROBOSCIDEA) DO QUATERNÁRIO DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL........................ 654
Fernando Henrique de Souza Barbosa (fhsbarbosa@rocketmail.com), Kleberson de Oliveira Porpino
(kleporpino@yahoo.com.br), Ana Bernadete Lima Fragoso (abfrafroso@gmail.com),
Maria de Fátima Cavalcante Ferreira dos Santos (mfatima@ufrnet.br)

NOVO REGISTRO DE MOURASUCHUS AMAZONENSIS PRICE, 1964, NO MIOCENO-SUPERIOR


DO ESTADO DO ACRE, BRASIL............................................................................................................... 656
Jonas Pereira de Souza-Filho (jpdesouzafilho@hotmail.com), Edson Guilherme (guilherme@ufac.br)

PALEOECOLOGIA DO MIOCENO SUPERIOR DA AMAZÔNIA SUL OCIDENTAL.......................................... 660


Nei Ahrens Haag (nei.meco@gmail.com)
OBSERVAÇÕES FOSSILDIAGENÉTICAS EM FÓSSEIS DE VERTEBRADOS PLEISTOCÊNICOS
DO TANQUE DO JIRAU, ITAPIPOCA, CEARÁ, BRASIL.............................................................................. 670
Hermínio Ismael de Araújo Júnior (herminio.ismael@yahoo.com.br), Julio Cezar Mendes (julio@geologia.ufrj.br),
Lílian Paglarelli Bergqvist (bergqvist@geologia.ufrj.br), Kleberson de Oliveira Porpino (kleporpino@yahoo.com.br)

RESGATE DE FÓSSEIS EM DEPÓSITO DE TANQUE NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO CEARÁ


(MAMÍFEROS DO PLEISTOCENO TARDIO).............................................................................................. 674
Robbyson Mendes Melo (robbyson_bio@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana (somalia_viana@hotmail.com)

RESTAURAÇÃO DE FÓSSEIS DA MEGAFAUNA DO QUATERNÁRIO TARDIO DE BAIXA GRANDE, BAHIA.... 678


Simone Silva de Santana (simonesb33@gmail.com), Ricardo da Costa Ribeiro (ricardomito@hotmail.com),
Fábio Henrique Cortes Faria (fabiocortes22@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br)

SÍNTESE SOBRE OS SQUAMATA (LEPIDOSAURIA) DO MIOCENO DO SUDOESTE DA


AMAZÔNIA BRASILEIRA: INFERÊNCIAS PALEOAMBIENTAIS E BIOESTRATIGRÁFICAS.............................. 681
Annie Schmaltz Hsiou (anniehsiou@ffclrp.usp.br)

VARIAÇÕES INTRAESPECÍFICAS NOS OSSOS TARSAIS DE MASTODONTE DO NORDESTE BRASILEIRO...... 685


Fernanda Porcari Molena (nan.porcari@gmail.com), Elizabeth Höfling (ehofling@ib.usp.br),
Herculano Alvarenga (halvarenga@uol.com.br)

A PRESENÇA DE EREMOTHERIUM LAURILLARDI (MAMMALIA, XENARTHRA, MEGATHERIIDAE)


NO QUATERNÁRIO DE UBERABA, TRIÂNGULO MINEIRO, BRASIL.......................................................... 688
Agustín Guillermo Martinelli, Patrícia Fonseca Ferraz, Gabriel Cardoso Cunha, Isabella Cardoso Cunha,
Luiz Carlos Borges Ribeiro, Francisco Macedo Neto, Camila Lourencini Cavellani,
Vicente de Paula Antunes Teixeira, Mara Lúcia da Fonseca Ferraz, Ismar de Souza Carvalho

• S-12: Paleovertebrados (Paleozoico e Mesozoico)


ASPECTOS CURSORIAIS EM DINOSSAUROS THEROPODA-COELUROSAURIA DO PALEODESERTO
BOTUCATU (JURÁSSICO SUPERIOR-CRETÁCEO INFERIOR) DA BACIA DO PARANÁ.................................. 693
Marcelo Adorna Fernandes (mafernandes@ufscar.br), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br)

ASPECTOS DIAGENÉTICOS DE VERTEBRADOS DA BACIA BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR......................... 697


Karine Lohmann Azevedo (karine.lohmann@gmail.com), Cristina Silveira Vega (cvega@ufpr.br),
Luiz Alberto Fernandes (lufernandes@ufpr.br)

BREVE NOTA SOBRE NOVOS MATERIAIS PÓS-CRANIANOS DE TAPEJARIDAE (PTEROSAURIA,


PTERODACTYLOIDEA)........................................................................................................................... 700
Alex Sandro Schiller Aires, Alexander Wilhelm Armin Kellner, Sérgio Dias-Da-Silva

“DE VOLTA AO RIACHO PEDRA DE FOGO”: VERTEBRADOS PERMIANOS DA BACIA DO


PARNAÍBA NO LESTE DO MARANHÃO.................................................................................................. 703
Max Cardoso Langer (mclanger@ffclrp.usp.br), Roberto Iannuzzi (roberto.iannuzzi@ufrgs.br), Martha Richter
(M.Richter@nhm.ac.uk), Carolina R. Laurini (xirra.carolina@gmail.com), Estevan Eltink (estevaneltink@yahoo.com.br),
Marco Aurélio G. de França (marquinhobio@yahoo.com.br), Mário Bronzati (mariobronzati@yahoo.com.br)

EGGSHELL, CRANIAL CRESTS AND SEXUAL DIMORPHISM IN PTEROSAURS............................................ 707


Alexander W. A. Kellner (kellner@mn.ufrj.br), Xiaolin Wang, Juliana Manso Sayão,
Taissa Rodrigues Fabiana R. Costa
O SÍTIO PALEONTOLÓGICO FAZENDA TRÊS ANTAS, UMA NOVA LOCALIDADE FOSSILÍFERA
DO CRETÁCEO SUPERIOR (GRUPO BAURU) NO MUNICÍPIO DE CAMPINA VERDE, TRIÂNGULO
MINEIRO (BRASIL): CONSIDERAÇÕES GERAIS ....................................................................................... 708
Ismar de Souza Carvalho, Vicente de Paula Antunes Teixeira, Mara Lúcia da Fonseca Ferraz,
Luiz Carlos Borges Ribeiro, Agustín Guillermo Martinelli, Francisco Macedo Neto, Joseph J. W. Sertich,
Gabriel Cardoso Cunha, Isabella Cardoso Cunha, Patrícia Fonseca Ferraz

IMPORTÂNCIA E LIMITAÇÃO DO ESTUDO DOS ANUROS CRETÁCEOS..................................................... 710


Karla Janaisa Gonçalves Leite (karlapaleo@gmail.com), Maria Helena Hessel (mhhessel@gmail.com),
José Araújo de Nogueira Neto (nogueira@ufc.br)

NOVO ESPÉCIME DE BAURUSUCHIDAE (CROCODYLIFORMES, MESOEUCROCODYLIA) DE GENERAL


SALGADO-SP (GRUPO BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR)........................................................................... 714
Pedro Lorena Godoy (pedro-godoy@hotmail.com), Felipe Montefeltro (felipecm@pg.ffclrp.usp.br),
Estevan Eltink (estevaneltink@hotmail.com), Bruno Vila Nova (bruno.vilanova@gmail.com),
Julio Marsola (juliomarsola@gmail.com), Mario Bronzati (mariobronzati@yahoo.com.br),
Vitor Venâncio (vb.venancio@gmail.com), Thiago Fachini (schineider@hotmail.com),
Max Cardoso Langer (mclanger@ffclrp.usp.br)

NOVO REGISTRO OOLÓGICO ATRIBUÍDO À CROCODYLIFORMES NO GRUPO BAURU (FORMAÇÃO


PRESIDENTE PRUDENTE, CRETÁCEO SUPERIOR).................................................................................... 717
Júlio Cesar de Almeida Marsola (juliomarsola@usp.br), Felipe Chinaglia Montefeltro (felipecm@pg.ffclrp.usp.br),
Max Cardoso Langer (mclanger@ffclrp.usp.br)

OCORRÊNCIA DE CARENA DUPLA EM DENTES DE THEROPODA DO AFLORAMENTO SANTA IRENE,


CRETÁCEO SUPERIOR DA BACIA BAURU, MONTE ALTO ESTADO DE SÃO PAULO..................................... 721
Sandra Aparecida Simionato Tavares (sandraastavares@uol.com.br), Fresia Ricardi Branco (fresia@ige.unicamp.br),
Paulo Gilberto da Rocha Tavares (pg-tavares@uol.com.br), Antonio Celso de Arruda Campos
(mpaleo@montealto.sp.gov.br)

OCORRÊNCIA DE PEIXES FÓSSEIS NA FORMAÇÃO SÃO SEBASTIÃO, CRETÁCEO INFERIOR


DA BACIA DE TUCANO, BAHIA, BRASIL................................................................................................. 725
Hanna Carolina Lins de Paiva (carolinalpaiva@yahoo.com.br), Rafael Costa da Silva (rafael.costa@cprm.gov.br),
Carolina Reis (carolina@cprm.gov.br), Caroline Couto Santos (caroline.santos@cprm.gov.br)

OCORRÊNCIA DE PEPESUCHUS DEISEAE (CROCODYLIFORME) NO MUNICÍPIO DE CATANDUVA,


ESTADO DE SÃO PAULO (BACIA BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR)............................................................. 728
Fabiano Vidoi Iori (biano.iori@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br),
Edvaldo Fabiano dos Santos (efs.75@ig.com.br), Laércio Fernando Doro (fernando@unimedcatanduva.com.br),
Antonio Celso de Arruda Campos (mpaleo@montealto.sp.gov.br)

OS CINODONTES NÃO-MAMALIAFORMES E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O REFINAMENTO


BIOESTRATIGRÁFICO DO TRIÁSSICO MÉDIO-SUPERIOR DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL..................... 731
Marina Bento Soares (marina.soares@ufrgs.br), Cesar Leandro Schultz (cesar.schultz@ufrgs.br),
Teó Veiga de Oliveira (teovoli@yahoo.com.br), Tomaz Panceri Melo

PEIROSSAURÍDEOS NO MUNICÍPIO DE IBIRÁ, ESTADO DE SÃO PAULO


(BACIA BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR).................................................................................................. 736
Fabiano Vidoi Iori (biano.iori@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho (ismar@geologia.ufrj.br),
Marcelo Adorna Fernandes (marcelicno@yahoo.com.br), Aline Marcele Ghilardi (alinemghilardi@yahoo.com.br)
PREPARAÇÃO QUÍMICA PARA REMOÇÃO DE MATRIZ SEDIMENTAR CONTENDO FÓSSEIS
DE VERTEBRADOS DA FORMAÇÃO PEDRA DE FOGO, PERMIANO SUPERIOR, BACIA DO
PARNAÍBA, TOCANTINS, BRASIL........................................................................................................... 739
Francisco Edinardo Ferreira de Souza (edinardo.souza@yahoo.com.br), Etiene Fabbrin Pires (tinadefel@yahoo.com.br),
Yuri Modesto Alves (alves_modesto@yahoo.com.br)

WATER VAPOR CONDUCTANCE IN FOSSIL EARLY BIRD EGGS AND NON-AVIAN THEROPODS:
IMPLICATIONS FOR THE EVOLUTION OF MODERN BIRDS EXPOSED NEST STRUCTURE........................... 742
Rodrigo Brincalepe Salvador (salvador.rodrigo.b@gmail.com), Lucas Ernesto Fiorelli (lfiorelli@crilar-conicet.com.ar)

• S-13: Brasil-Índia “Glimpses of Gondwana”


AN APPRAISAL OF THE LOWER GONDWANA FLORA OF INDIA.............................................................. 749
Rajni Tewari (rajni.tewari@gmail.com)

ANÁLISE DAS PALEOXILOFLORAS PERMIANAS DO GONDWANA............................................................ 750


Francine Kurzawe (franly_k@hotmail.com), Roberto Iannuzzi (roberto.iannuzzi@ufrgs.br),
Sheila Merlotti (sheilamerlotti@hotmail.com)

DIVERSITY OF SPHENOPHYTES IN THE PALAEOZOIC ROCKS OF INDIA.................................................... 753


Kamal Jeet Singh (kamaljeet31@hotmail.com), Anju Saxena (anju.geol@gmail.com)

EARLY PERMIAN PLANT FOSSIL ASSEMBLAGES FROM SATPURA GONDWANA BASIN,


CENTRAL INDIA.................................................................................................................................... 756
A.K. Srivastava, Deepa Agnihotri (deepa_302033@yahoo.com)

“ESQUEMA MAITHY” DE CLASSIFICAÇÃO ARTIFICIAL DE SEMENTES DO GONDWANA:


NOVAS PROPOSIÇÕES.......................................................................................................................... 757
Juliane Marques de Souza (juliane.marques.souza@gmail.com), Roberto Iannuzzi

MESOZOIC VEGETATIONAL SCENARIO OF PENINSULAR INDIA............................................................... 760


Amit K. Ghosh (akghosh_in@yahoo.com)

PALAEOGENE AND NEOGENE CALCAREOUS ALGAE FROM INDIA .......................................................... 762


Amit K. Ghosh and Suman Sarkar (akghosh_in@yahoo.com)

PALYNOFLORAL PATTERN THROUGH UPPER COAL MEASURES OF LOWER GONDWANA


SEQUENCE IN PENINSULAR INDIA........................................................................................................ 764
Neerja Jha (neerjajha@yahoo.co.uk)

RECENT SIGNIFICANT PALAEOBOTANICAL FINDINGS FROM PRECAMBRIAN TO RECENT


AT BIRBAL SAHNI INSTITUTE OF PALAEOBOTANY.................................................................................. 766
Naresh C. Mehrotra

STRATIGRAPHIC STATUS OF PARSORA FORMATION IN SOUTH REWA BASIN,


MADHYA PRADESH, INDIA: A PALYNOLOGICAL OVERVIEW................................................................... 767
Ram-Awatar
S-01:
Educação, Museus,
Coleções e Ensino
A COLEÇÃO DE PALEONTOLOGIA E O FÓSSIL:
A CONSTRUÇÃO COMO OBJETO MUSEOLÓGICO
Isabella de Souza Neto Teixeira1 (isabellasnt@gmail.com), Luiza Freire de Farias1 (lulucau@gmail.com),
Raysa Shtorache Cabral1 (ysashtorache@gmail.com), Deusana Maria da Costa Machado1 (deusana@gmail.com)
1
Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozoicas, Departamento de Ciências Naturais, UNIRIO

RESUMO sinal de imaturidade da ciência, uma indicação de


uma fase “descritiva” ainda não completamente
O presente trabalho discutiu os objetos
desenvolvida: pelo contrário, os museus são
paleontológicos à luz da Museologia, evidenciando
necessariamente uma característica central da
os processos de musealização e as apropriações
atividade do estudo dos fósseis, originada pela
dos objetos. Os fósseis são indubitavelmente
natureza inerente do material”. Dentro desse
importantes registros do processo de evolução
panorama, foi importante explorar questões sobre
e evidências da história da Terra; entretanto,
coleções paleontológicas, tendo como foco o
a sua inserção numa coleção o faz adquirir
fóssil como objeto museológico, e os processos de
re-significações. Desta forma, serão discutidos
incorporação, tentando identificar, quando o objeto
os conceitos de objeto e coleção, relacionando-as
fóssil toma forma de bem museológico. Atrelada a
com os processos que torna os fosseis em objetos
essas questões, o conceito de objeto museológico,
museológicos.
os processos museológicos, as conceituações de
Palavras-chave: Objeto Museológico,
coleção e a importância da coleção paleontológica
Coleção, Paleontologia, Fóssil
foram discutidos, tentando mostrar a intercessão
dessas questões e suas relações e contribuições
ABSTRACT para o campo científico.
The present study discussed the
paleontological object under a museological view, O CONCEITO DE OBJETO E SUA
showing museology processes and the object ELEVAÇÃO A OBJETO MUSEOLÓGICO
appropriation. The fossils are very important
registers of evolution and Earth history. Therefore, Inicialmente para se entender o papel das
when the fossils are deposited in a collection, it coleções paleontológicas e a caracterização do
gains others meanings. The discussion passes by fóssil como objeto museológico, é necessário buscar
the object and collection concepts related to the a origem da palavra e sua significação no campo
processes which become fossils a museological da Museologia. O objeto é chave central para o
object. desenvolvimento das teorias Museológicas, pois
o seu ingresso em uma instituição gera processos
Keywords: Museologicla object,
informacionais, no sentido das apropriações e
Collection, Paleontology, Fossil
re-significações do mesmo. Portanto, é necessário
entender o que é o objeto segundo o documento
INTRODUÇÃO de Terminologia Museológica do ICOFOM
As coleções paleontológicas são pouco 2000 (Comitê Internacional para Museologia).
trabalhadas no âmbito da Museologia, por Pode-se observar a conceituação de objeto como:
não haver uma naturalidade no tratamento termo do latim “objectum”, de onde deriva o
dessa tipologia de acervo, sendo que a mesma, termo objeto é o particípio passado (tempo
inicialmente deu origem aos Museus, através dos verbal) do verbo “objicere” = atirar adiante, mover
gabinetes de curiosidades. Sendo que Rudwick à frente, atirar adiante [...]. De onde: objeto que
(1987) “considerou difícil imaginar sua construção se apresenta ao olhar, espetáculo. No sentido
sem o estabelecimento da tradição de preservação figurado, utilizava-se a palavra “objectum” como
dos museus. A importância dos museus não é um equivalente de “proposto”, como “causa”, “que

31
inspira”, um pensamento ou um sentimento, que se A ORIGEM DAS COLEÇÕES E O CASO:
opõe em auto-defesa, que se situa para esclarecer e COLEÇÃO PALEONTOLÓGICA
dar sentido. Geralmente “objectum” significa que
este se opõe ao sujeito. Exemplo: “ O objeto é uma O objeto é legitimado pelo museu, ao
coisa de dimensão limitada e destinado a certo integrar uma coleção, sendo assim, é necessário
uso” ( DESVALLÉES, 2000, p 68). compreender sua origem. Coleção tem origem do
latim collectĭo, -ōnis e está relacionada a conjunto,
Podemos ver que o objeto é restrito a sua
compilação e grupo, sendo definido por Pomian
utilização, possui uma função para determinada
(1984) como: “[...] qualquer conjunto de objetos
finalidade, sendo efêmero, possuindo um fim. A
naturais ou artíficiais, mantidos temporária ou
partir do momento que um objeto é selecionado
definitivamente fora do circuito de atividades
e passa a integrar uma coleção de museu, é
econômicas, sujeitas a uma proteção especial, num
atribuído a ele um valor diferenciado, uma nova
local fechado preparado para esse fim e expostos
significação. Pomian (1984) diferenciava os
ao olhar do público”.
objetos de duas formas: aqueles que seriam as
coisas úteis, que se consomem, e os semióforos, O ato de colecionar é antigo e data a Pré
objetos “dotados de um significado”, os quais, história, e é refletido até os dias de hoje nos museus.
por não serem manipulados, mas simplesmente Os processos museológicos, como documentação,
expostos ao olhar, não sofreriam usura. Os objetos catalogação, exposição, promovem e divulgam
dotados de um significado, os semióforos são os os objetos dessa coleção, possibilitando o acesso
objetos museológicos, que compõem uma coleção. informacional dessa coleção, e sua aplicação na
Podendo ser definido como: ciência, pesquisa e educação.
Elemento bidimensional ou tridimensional A história recente das coleções cita o
ou “coisa verdadeira” tomada de seu ambiente de “gabinete de curiosidades” como meio propagador
origem, que seja natural ou cultural, e recolhido de elementos exóticos (fósseis, espécies exóticas,
em um local apropriado à função museal. Por rochas, entre outros) que despertavam nos
extensão são considerados como objetos de museu visitantes a curiosidade. A acumulação desses
por um lado unidades ecológicas, tomadas em sua objetos exóticos gerou aos pensadores a vontade
totalidade, de outro lado as réplicas/cópias das de entender e compreender a existência dos
coisas reais e, igualmente por extensão, as unidades mesmos. Tendo como exemplo o fóssil, vestígio
de reconstruções e evocações. Nesses casos, nas enigmático de um ser vivo do passado. A partir
unidades ecológicas mantidas in situ, o objeto não do século XVII se desdobraram inúmeras
é transferido, mas simplesmente relatado no local. coleções particulares de acadêmicos, que
(DESVALLÉES, 2000, p36). procuravam agrupar os objetos, e ao mesmo
tempo, compreender sua história e existência.
Sendo assim, o objeto ao integrar uma
Dessa forma pode-se entender o nascimento dos
coleção, se reveste de uma nova significação,
Museus de Ciências, tendo como exemplo o Brasil,
é musealizado, anulando seu valor utilitário.
onde as instituições museológicas antecedem as
Atribui-se um valor diferenciado se tornando
universidades (Vieira et al., 2007). Segundo Vieira
único. Esses objetos em uma narrativa museológica,
et al. (2007), através de suas coleções, os museus
conectam suas características sígnicas, com as
foram de imensa importância para os estudos
significações e valorações dadas pela sociedade,
das Ciências Naturais, onde exerceram um papel
a partir do momento que esse objeto passa a
pioneiro na institucionalização de certas áreas de
comunicar. Estando diretamente ligados com
conhecimento no país, como a Paleontologia.
os processos museológicos, museográficos,
documentais, possibilitando a disseminação, Quando se trata de coleções científicas,
que contribui para o resgate e formação de uma se observa uma lacuna no saber da sociedade,
memória e identidade individual e coletiva. pois muitos desconhecem previamente o assunto,
devido ao seu formato científico, acadêmico.
Assim, o acervo fica restrito aos pesquisadores,
pois não realizam um diálogo com a sociedade.
Kellner (2005) apontou, em relação ao acervo,

32
“que a situação de armazenamento em muitas Os fósseis, quando separados de seu
instituições é totalmente insatisfatória”. No caso contexto original, para integrar uma coleção
dos fósseis, sabemos que não sofrem intempéries científica de um museu, não deixam de ser
como as de um papel, mas suas necessidades representantes estratigráficos e de biodiversidade
específicas devem ser analisadas e pesquisadas, de seus sítios paleontológicos. O processo de
afinal, alguns espécimes apresentam caracteres musealização o reveste de uma nova significação
tão delicados como de um tecido orgânico. As que transcende seu sentido específico do local e
coleções científicas brasileiras desempenham idade que representa. Passa a ter uma importância
papel fundamental no ensino de geociências e nos para a história da Terra, para a história da área
campos de pesquisa, pois as instituições entendem de conhecimento e para a história da instituição.
que seu acesso deve ser facilitado e normatizado. Assim, o museu passa a ter uma missão de
Os processos de identificação, classificação e disseminar a informação contida nesse objeto
catalogação devem atender aos moldes da área, no para a sociedade, que passará a valorá-lo.
caso da paleontologia nos termos das geociências Ao entrar em uma coleção didática, esse
e biologia. Assim a coleção deve ser divulgada objeto oferece aos discentes e pesquisadores um
em favor da sociedade, objetivando elevar o nível fragmento desse universo. Mas, já no museu, são
educacional da mesma, e criando diálogos com o caracterizados como objetos museológicos, por
acervo, e a valoração do objeto, conseqüentemente possuírem essa nova significação, sem perder seu
a importância de Museu de História Natural. caráter científico-paleontológico. Assim, esse
objeto passa a construir no espaço musealizado,
uma memória, que não foi criada pelo cientista,
OBJETO PALEONTOLÓGICO: OS FÓSSEIS
mas interpretada por ele, dentro de um contexto
E SEU PROCESSO DE MUSEALIZAÇÃO histórico-socio-político.
Na paleontologia, definem-se como
fósseis restos ou vestígios de organismos,
preservados naturalmente e que viveram em CONCLUSÕES
épocas anteriores ao Holoceno. Entretanto o O objeto de coleção, tendo como estudo
objeto de estudo dessa área do conhecimento de caso os fósseis, encontra-se no processo
pode ser interpretado de maneira mais abstrata: museológico e expressa uma importância, não só
[...] são os testemunhos da cultura e do meio para a Paleontologia ou para a história evolutiva
ambiente que interessam à Museologia como da Terra, mas para toda a sociedade. Dentro dessa
suportes de informações, como representações realidade, os museus desempenham o papel de
de memória, é isto o que justifica a preservação, disseminadores dessa informação ao público, seja
a pesquisa e a exposição dos mesmos. (Chagas, através de uma base documental ou exposição, de
1996). sensibilização ou de significação para a memória
Por meio dos fósseis a História Natural do individuo e do coletivo. O fóssil traz à luz
é resgatada, pois são elementos que registraram questões acadêmicas, científicas e culturais, pois
momentos da evolução da vida, e que compõem desperta a curiosidade e gera questionamentos
a memória da Terra. Pode-se dizer que possuem da sociedade, através dos processos do Museu e a
“voz própria”, pois naturalmente preservaram função do objeto. Portanto, o objeto de estudo da
e perpetuaram uma história que nunca poderia paleontologia é também, um objeto museológico
ser contada sem sua presença. Segundo Mensch que permite a documentação, preservação e
(1992), “objetos de museus são objetos separados a construção de uma memória que deve ser
de seu contexto original (primário), e transferidos propagada.
para uma nova realidade (o museu) a fim de
documentar a realidade da qual foram separados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[...] Como tal, ele se torna fonte para a pesquisa
ou elemento de uma exposição’. BARAÇAL, A.B. 2008. Objeto da Museologia: a via
conceitual aberta por ZbynekZbyslavStránský.
Rio de Janeiro. Disponível em: <http://

33
re v i s t a mu s e o l o g i ae p a t r i m on i o. m a s t . POMIAN, K. 1984. Colecção. Enciclopédia
br/index.php/ppgpmus/article/ Einaudi. Imprensa Nacional, Casa da Moeda.
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CHAGAS, M. 1996. Museália. Rio de Janeiro: JC RUDWICK,M.1987.The meaning of fossils: episodes


Editora. p. 90. in the history of paleontology.The University
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DESVALLÉES, A. 2000. dir. Terminologia < http://books.google.com.br/books?id=
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S/l: ______, maio 2000.[Tradução Luiza de 2011.
Souza Maués].
VIEIRA, A.C.M.; NOVAES, M.G.L.N.;
KELLNER, A.W.A. 2005. Museus e a Divulgação MATOS, J.S.; FARIA, A.C.G.;
Científica no Campo da Paleontologia. MACHADO, D.M.C. & PONCIANO,
Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, 28 L.C.M.O. 2007. A Contribuição dos
(1): 116-130.2005. Disponível em: < http:// Museus para a Institucionalização e Difusão
www.anuario.igeo.ufrj.br/anuario_2005_1/ da Paleontologia. Anuário do Instituto
Anuario_2005v01_116_130.pdf> Acesso de Geociências – UFRJ, Rio de janeiro.
em: jun. Disponível em: < http://www.anuario.igeo.
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MENSCH, P.V. 1992. Towards a Methodology of pdf>. Acesso em: jun.
Museology. Tese (Doutorado) - University of
Zagreb. Zagreb.

34
A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E
PALEONTOLÓGICO NA BACIA SEDIMENTAR DE SERGIPE NO
TRECHO IMPACTADO PELA DUPLICAÇÃO DA BR-101
Paulo Roberto da Silva Santos1 (proberto@petrobras.com.br), Cristiano Mundstock Fischer2 (cristianomfischer@yahoo.com.br)
1
PETROBRAS, UO-SEAL/EXP/SE; 2SERHTEC

RESUMO ABSTRACT
A Bacia de Sergipe-Alagoas é tida como The Sergipe-Alagoas basin is known as
uma das mais importantes produtoras de óleo no one of the most important Brazilian oil producers.
Brasil. Além disso, ela contém o registro geológico Beyond that, it contains a complete geological
completo dos eventos que separaram a África record of events that separates South America
da América do Sul e que, consequentemente, from Africa and therefore creates the South
criaram o Oceano Atlântico Sul. Some-se a Atlantic Ocean. In addition, a unique feature for
essas características o fato de que na Bacia de this basin is that most of the referred record is
Sergipe-Alagoas grande parte desse registro easily accessed in a bunch of outcrops, while in
encontra-se aflorante, enquanto que nas demais all other Brazilian basins this kind of information
bacias brasileiras o contato com rochas (e todas as can only be accessed in subsurface, by drills. Most
informações obtidas através delas, destacando-se of data achieved by Petrobras in the discovery of
o conteúdo fossilífero) muitas vezes só é possível petroleum fields in Sergipe, as well as in other
com a perfuração de poços de petróleo. Grande Brazilian states and maybe all over the world,
parte dos dados obtidos pela Petrobras na are in part due to the study of this outcrops,
descoberta de campos petrolíferos em Sergipe, considering similar depositional environments
bem como em outros estados e até mesmo em and tectonic framework for them. In this context,
outros países, são, em parte, devidos aos estudos the main focus of this work is to describe the
desses afloramentos. Nesse sentido, o principal impact of the BR-101 road duplication between
objetivo deste trabalho é relatar o impacto da the cities of Aracaju and Propriá, and by that, try
duplicação da BR-101 entre as cidades de Aracaju to preserve some of the most important outcrops
e Própria, e com isso, tentar preservar alguns dos in Sergipe, used by geologist for more than fifty
mais importantes afloramentos no Estado de years within exploration studies purposes.
Sergipe – alguns deles utilizados em estudos com Keywords: BR-101, outcrops, Propriá
fins exploratórios há mais de cinqüenta anos.
Palavras-chave: BR-101, afloramentos,
Propriá

35
ATIVIDADES LÚDICAS NO ENSINO DE MICROPALEONTOLOGIA
Sarah Alegretti Marques Lima1 (sarah_aml@hotmail.com), Mariana Oliva Tomazella1 (mariana.tomazella@usp.br),
Mariane Valerio Gonzales1 (mari_gonzales3@usp.br), Felipe Antônio de Lima Toledo1 (ftoledo@usp.br),
Karen Badaraco Costa1 (karen.costa@usp.br)
Universidade de São Paulo
1

RESUMO INTRODUÇÃO
O projeto Faça Um Fóssil Muito Fácil O projeto de cultura e extensão da
desenvolvido pelos alunos de graduação do Universidade de São Paulo, Faça um Fóssil
Instituto Oceanográfico da Universidade de São Muito Fácil, surgiu com o intuito de disseminar
Paulo teve início em 2010 com a proposta de levar conceitos de micropaleontologia para alunos
a micropaleontologia até os estudantes do ensino do ensino fundamental através da utilização de
fundamental utilizando-se de recursos lúdicos. moldes e réplicas de microfósseis. Essas réplicas,
Jogos e brincadeiras podem ser aliados da educação feitas de gesso, demoram de 20-30 minutos para
quando aplicados corretamente, levando-se em ficarem prontas, o que levou à necessidade de se
conta as diferentes faixas-etárias. O nível de elaborar outras atividades de suplementação, os
escolaridade varia o que resulta na necessidade denominados jogos lúdicos.
de se adaptar conhecimentos complexos da área Para cada faixa-etária foram elaboradas
da ciência em jogos criativos, simples e eficazes. atividades específicas uma vez que alunos de
O presente trabalho apresenta as técnicas criadas diferentes faixas etárias possuem níveis de
pela equipe do Laboratório de Paleoceanografia escolaridade diferenciados, impossibilitando o
do Atlântico Sul (LaPAS) para atingir tal objetivo uso de algumas brincadeiras em mais de uma
de acordo com os critérios estipulados nos delas. Quanto maior o nível de escolaridade dos
Parâmetros Curriculares Nacionais. jogadores, mais elaborada pode ser a brincadeira.
Palavras-chave: micropaleontologia, Notou-se que para potencializar o
lúdico, jogos, fóssil aprendizado, antes de se começar os jogos
devem ser ministrados conteúdos educativos que
ajam como facilitadores no processo de ensino-
ABSTRACT
aprendizado. Os utilizados por este projeto foram
The Project Make a Fossil Very Easily o que são microfósseis, os locais que habitam, o
developed by undergraduate students from the processo de fossilização dos micro-organismos e a
Oceanographic Institute of the University of utilização desses para estudos climatológicos.
Sao Paulo began in 2010 with the intention
of presenting the Micropaleontology to the
elementary students using recreational resources. MATERIAIS E MÉTODOS
Games and activities can be allies of education As brincadeiras foram elaboradas de
when applied correctly. Tracks for different acordo com o conteúdo proposto pelos Parâmetros
age-levels of education vary wich results in the Curriculares Nacionais, PCN (MEC, 1997),
need to adapt complex knowledge of the area of para o ensino das Ciências Naturais no ensino
science in creative, simple and effective games. fundamental brasileiro. Segundo este:
This paper scale techniques created by the “Para a estruturação da intervenção
staff of the Laboratory of the South Atlantic educativa é fundamental distinguir o nível de
Paleoceanography (LaPAS) towards this goal desenvolvimento real do potencial. O nível de
in accordance with the criteria stipulated in the desenvolvimento real se determina como aquilo
National Curriculum. que o aluno pode fazer sozinho em uma situação
Keywords: micropaleontology, determinada, sem ajuda de ninguém.”
recreational, games, fóssil

36
Além disso, a função do professor de • 10 a 12 anos
acordo com o mesmo é propor claramente o que, Quebra-testa: o quebra-testa é composto
quando e como ensinar e avaliar, planejando as por uma foto com os estágios de formação do
atividades com antecedência e da forma mais fóssil, a fossilização, impressa em papel duro e
adequada o possível. recortada em diversas peças, cujo número deve
variar de acordo com a complexidade da figura e a
• 3 a 5 anos quantidade de alunos presentes na atividade.
Sítio paleontológico: a turma deve ser Se a turma for muito grande há a
dividida por gênero e posta em fila, por ordem possibilidade de se trabalhar com um maior
de altura. Bandejas contendo réplicas de fósseis, número de peças, portanto a figura não precisa
confeccionadas com gesso e enterradas em areia ser complexa, evitando que os jogadores se
devem ser posicionadas a uma certa distância desestimulem a terminar o jogo. Porém, se a
das filas, de maneira que os participantes possam turma for pequena, pode-se diminuir o número
correr. Aquele que for o primeiro de sua fila deve e aumentar a dificuldade de resolução criando-se
direcionar-se à bandeja de sua equipe, encontrar formas variadas para as peças encaixantes.
uma réplica e andar para o final da fila. Cada Essa relação inversa entre o número de peças e
aluno tem o direito de pegar apenas uma réplica dificuldade serve para aplacar a concepção que
para que não haja o risco de outro ficar sem. se tem de que quebra-cabeças com poucas peças
Assim que o primeiro retornar, o segundo parte. são mais facilmente resolvidos. Para se testar
É vitorioso o grupo o qual todos os integrantes previamente a dificuldade do jogo podem ser
tiverem retornado com seus respectivos fósseis usados programas disponibilizados na internet
primeiro. pelos quais se criam quebra-cabeças a partir
Após o término da brincadeira as réplicas de uma figura desejada. O usado e indicado
podem ser pintadas e levadas para casa. Para pelo projeto é o, Magic Jigsaw Puzzle, que está
evitar problemas organizacionais, é indicado que disponível para download em seu site.
as bandejas tenham sido preparadas antes dos Há ainda duas propostas para o
alunos chegarem ao local no qual a atividade será desenvolvimento de tal atividade, a primeira
realizada, evitando que os mesmos se dispersem consiste em trabalhar com todo o grupo de
enquanto esperam pelo início do jogo. estudantes de uma única vez. Para tal recomenda-se
um quebra-testa com um número de peças duas
• A partir de 6 anos vezes maior do que o número de participantes,
Kit Faça Um Fóssil Muito Fácil: feita para que se atinja um grau maior de dinamismo.
uma breve explicação sobre o que são e como se Cada fase do processo de fossilização completada
formam os microfósseis, os monitores fornecem deve ser explicada fazendo com que os integrantes
um kit confeccionado pelos integrantes do projeto do jogo associem o conteúdo ministrado ao
que inclui: o molde, uma quantidade de gesso e aprendizado da dinâmica.
de água pré-determinada - para que não haja A segunda proposta consiste em dividir a
desperdício de material- o recipiente e um palito turma em dois ou mais grupos e distribuir para
de sorvete para mistura. cada um deles um quebra-cabeça com uma etapa
Acredita-se que a partir dessa idade já é diferente da fossilização. Estes podem conter
possível que o estudante confeccione seu próprio poucas peças, porém com um grau de dificuldade
fóssil, portanto, esses serão responsáveis pela maior incitando a interação entre os alunos para
confecção de suas réplicas. Enquanto o gesso seca solucionar o problema de montá-lo.
no molde, outras atividades podem ser realizadas, Neste caso o grupo que solucionar o seu
recomenda-se que estas sejam escolhidas dentre quebra-testa primeiro é o grande vitorioso. Os
as propostas para faixa-etárias menores que a da demais grupos devem terminar de montar seu jogo,
turma em questão, de maneira a não comprometer ao passo que depois que todos tiverem acabado,
o seu entendimento. eles devem posicionar os seus respectivos jogos
um ao lado do outro de acordo com a sequência

37
que acharem correta das fases de fossilização. Ou espécies diferentes habitam oceanos em latitudes
seja, montar um novo quebra-cabeça, porém, de diferentes dependendo da sua adaptação às
maior escala. condições climáticas e ambientais.
É interessante nesse momento apresentar
• 12 a 14 anos a profissão do paleontólogo, mostrando que esses
Memória microscópica: tal atividade profissionais também trabalham com amostras
consiste basicamente em um jogo da memória, marinhas estudando as espécies de microfósseis e
neste, cartas são distribuídas viradas ao longo de correlacionando-as com o ambiente marinho que
uma superfície plana, sendo que cada peça possui habitam tirando desses dados a informação de
uma réplica. É pontuado o participante que virar como eram os paleoceanos e, portanto, o clima da
consecutivamente a carta e sua duplicata. Cada Terra em diferentes períodos do tempo geológico.
ponto equivale a uma tampa de garrafa PET, no
final, o jogador com o maior número de tampas CONCLUSÕES
(ou pontos) vence.
As atividades estão em fase de teste e
Para a memória microscópica as cartas
evolução, pela pouca oportunidade de visitas a
foram formuladas utilizando-se imagens de
creches e escolas fundamentais, algumas delas
nanofósseis calcários e foraminíferos estudados
ainda não puderam ser aplicadas. Mas o sítio
pela equipe do LaPAS. O critério para a
paleontológico, testado em duas oportunidades,
escolha das espécies foi o formato. Como os
uma em Outubro de 2010 e outra em Maio de
micro-organismos são, em alguns casos, muito
2011, mostrou que as atividades lúdicas são ótimas
semelhantes optou-se por aqueles que tinham
aliadas da educação. Notou-se um crescente
características visualmente distintivas, de maneira
interesse por parte dos estudantes atingidos
a facilitar a identificação dos pares.
em ambas as ocasiões depois que eles puderam
As peças são na verdade envelopes que participar da brincadeira e pintar suas réplicas. Os
contém uma carta guardada. Nela há informações resultados prévios portanto são excelentes, pois
sobre a espécie na imagem, que inclui: habitat, atingiu-se todas as expectativas que se tinha para
distribuição geográfica, registro e curiosidades. ambas as visitas.
Foram produzidos 30 pares diferentes
de organismos, 15 pares de nanofósseis calcários
e 10 de foraminíferos. Além disso, as imagens REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
foram transformadas em figuras 3D através do BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
programa Free 3D PhotoMaker, que pode ser 1998. Parâmetros curriculares nacionais:
obtido gratuitamente em seu site. Para usufruir Ciências Naturais / Secretaria de Educação
de tal tecnologia foi necessário confeccionar Fundamental. Brasília : MEC / SEF.
óculos especiais. Uma vez feito o molde da Disponível em:
armação, foram anexadas as lentes vermelha (lado
esquerdo) e azul (lado direito), esta ferramenta é ROCHA, R. L. & LACERDA, J. L. 2009. Vamos
indispensável para a visualização correta e deve ser Brincar de Queimada? Diferentes formas de
distribuída antes de se iniciar a atividade. jogar. Disponível em:
Uma vez terminada a brincadeira cada
jogador deve retirar a carta que está no interior do
envelope de suas peças e ler as características de
sua espécie. Depois, utilizando o velcro presente
na parte de trás, ele fixa suas peças, nos lugares
aos quais pertencem, em um quadro no qual
estão desenhados os oceanos existentes e suas
respectivas profundidades.
Depois que todas as peças foram
posicionadas, explica-se, por exemplo, que

38
AULA DE CAMPO POTENCIALIZA O ENSINO DE PALEONTOLOGIA NA UESB
Rita de Cássia Anjos Bittencourt Barreto1 (ritabitten.uesb@yahoo.com.br)
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB campus Jequié), Departamento de Ciências Biológicas (DCB)
1

RESUMO 1m aonde cada grupo coletou sedimentos a uma


profundidade de 20 cm. Após coleta, o sedimento
As atividades de campo são fundamentais
foi armazenado em sacos e etiquetados. Em
na construção do conhecimento científico porque
Laboratório, os grupos peneiraram os sedimentos
possibilitam aos estudantes o contato direto com
usando a peneira granulométrica, de 10 mm a
o objeto de estudo maximizando a capacidade de
0,036 mm, e separaram os ossículos e dentículos
observação e análise acerca do que pretende-se
encontrados. Após este procedimento, o material
estudar. Em Paleontologia, estas aulas têm um
foi lavado em água corrente, e classificado no
excelente efeito na aprendizagem e assumem
menor grupo taxonômico possível. Conforme
um papel ainda mais importante, porque muitas
cronograma final da disciplina, os estudantes
vezes, os laboratórios não dispõem de uma bom
apresentaram seus resultados na forma de
acervo de espécimes fósseis para realização das
artigo, evidenciando a potencialidade da caverna
aulas práticas e assim, a aula de campo passar a
para estudos tafonômicos. As aulas de campo
ser uma grande oportunidade de aprendizagem
realizadas semestralmente no município de Morro
concreta despertando em todos, o desejo de coletar
do Chapéu tem sido um excelente instrumento
e preparar os fósseis. Desta forma, descrevemos
de incentivo à pesquisa para os estudantes da
aqui a aula de campo desenvolvida pelas turmas
UESB ao despertar em cada um o interesse pela
de Paleontologia do Curso de Licenciatura em
paleontologia e ao assegurar uma aprendizagem
Ciências Biológicas da Universidade Estadual
significativa numa área do conhecimento que em
do Sudoeste da Bahia (UESB) campus de Jequié,
nossa instituição, encontra-se em crescimento.
no município de Morro do Chapéu, Bahia.
Esta atividade objetivou conhecer os sítios Palavras-chave: Aula de campo,
paleontológicos e coletar subfósseis na Gruta Paleontologia, Subfósseis, Aprendizagem
Cristal. Para realização desta aula de campo, Significativa
algumas atividades foram executadas com o
propósito de preparar os estudantes e garantir o ABSTRACT
êxito da mesma. A primeira atividade antecedeu a
The field activities are fundamental in
aula de campo e teve como meta discutir conceitos
the construction of scientific knowledge because
básicos sobre coleta, preparação de fósseis,
they allow students direct contact with the
cuidados com o transporte e conhecer os aspectos
object of study to maximize the capacity for
geomorfológicos, espeleológicos e paleontológicos
observation and analysis of what we intend to
do município. Em campo, os estudantes foram
study. In paleontology, these classes have a great
distribuídos em grupos de quatro componentes
effect on learning and assume a more important
para executar atividades de observação, descrição,
role, because often, the labs do not have a good
coleta de subfósseis em caverna e armazenamento.
collection of fossil specimens for conducting
Em Laboratório, os grupos fizeram a triagem,
practical classes and thus the class field to become
e a identificação do material e por fim, em sala
a great opportunity to learn real awakening in all,
de aula, apresentaram os resultados. Na Gruta
the desire to collect and prepare the fossils. Thus,
Cristal, os estudantes observaram, fotografaram
we describe here the class field developed by the
os aspectos geológicos do local e descreveram as
groups of Paleontology Degree in Biological
características tafonômicas dos restos coletados.
Sciences, State University of Southwest Bahia
Para a coleta, foi estabelecido um quadrante de

39
(UESB) Jequié campus in the city of Hat Hill, observação e análise acerca do que pretende-se
Ontario. This activity aimed to identify and collect estudar, além de contribuir para a superação da
subfósseis paleontological sites in the Crystal Cave. fragmentação do conhecimento.
For realization of this class field, some activities Em Paleontologia, estas aulas têm uma
were carried out in order to prepare students and grande contribuição na aprendizagem e assumem
ensure its success. The first activity prior to the um papel ainda mais importante, porque muitas
class field and sought to discuss basic concepts of vezes, os laboratórios não dispõem de um bom
collection, preparation of fossils, transportation acervo de espécimes fósseis para realização das
and care to know the geomorphological, aulas práticas e assim, a aula de campo passa a
palaeontological and caving in the city. In the ser uma grande oportunidade de aprendizagem
field, students were divided into groups of four significativa despertando em todos o desejo de
components to perform activities of observation, coletar e preparar os fósseis.
description, collection and storage subfósseis A atividade de campo da disciplina
cave. Laboratory, the groups did the screening Paleontologia na UESB é realizada no município
and identification of the material and finally, in de Morro do Chapéu- Bahia, que localiza-se a
the classroom, the results presented. In Crystal 384km a noroeste da capital do estado, na zona
Cave, the students observed, photographed the oriental da Chapada Diamantina e possui altitude
geological features of the site and described the média de 1.100 m. A cidade oferece um clima
characteristics of debris collected Taphonomic. dos mais agradáveis, com uma média anual de
For collection, we established a 1m quadrant temperatura em torno de 20ºC e foi escolhida
where each group has collected sediment to a para realização da atividade de campo por ser
depth of 20 cm. After collection, the sediment considerada a cidade da Chapada Diamantina com
was stored in bags and labeled. Laboratory, the grande potencial paleontológico e espeleológico.
group sifted sediments using the sieve particle A Gruta Cristal I, escolhida para realização
size from 10mm to 0.036 mm, and separated the da atividade de coleta de subfósseis, descrita
ossicles and denticles found. After this procedure, por Born e Horta (1995), localiza-se no sitio
the material was washed with running water, and da fazenda Cristal, 37Km a sudoeste de Morro
ranked in the lowest possible taxonomic group. do Chapéu. Ela é praticamente desprovida de
As end of the course schedule, students presented espeleotemas e tem como principal característica
their results in the form of articles, highlighting um padrão de desenvolvimento espacial do tipo
the potential of the cave to Taphonomic studies. labiríntico reticulado. Esta gruta possui cerca de
The field classes held semiannually in the city of 3 km de extensão, com altura entre menos de
Hat Hill has been an excellent tool to encourage um e mais de 30 metros. A grande espessura de
students to research the UESB to awaken in each sedimentos existentes nesse local pode representar
one’s interest in paleontology and to ensure a um potencial fossilífero, o que constitui um dos
meaningful learning in an area of ​​knowledge that aspectos de maior relevância para essa caverna.
in our institution, is growing. Esta atividade de campo é realizada
Keywords: Class field, Paleontology, semestralmente com os discentes do Curso de
Subfósseis, Meaningful Learning Licenciatura e Bacharelado em Biologia da
UESB e objetiva o reconhecimento dos sítios
INTRODUÇÃO paleontológicos, bem como sua importância e a
coleta de subfósseis na Gruta Cristal.
As atividades de campo são fundamentais
na construção do conhecimento científico porque
desenvolvidas em ambientes naturais, torna-se METODOLOGIA
uma excelente ferramenta de aprendizagem ao Para realização desta aula de campo,
promover o envolvimento e a motivação dos algumas atividades foram executadas com o
estudantes (SENICIATO & CAVASSAM, propósito de preparar os estudantes e garantir o
2004), possibilitando o contato direto destes, com êxito da mesma.
o objeto de estudo, maximizando a capacidade de

40
A primeira atividade antecedeu a aula que estuda os restos esqueléticos coletados pelos
de campo e teve como meta discutir conceitos discentes a cada semestre, buscando fazer um
básicos sobre coleta, preparação de fósseis, inventário preliminar da Fauna Hipógea da Gruta
cuidados com o transporte e conhecer os aspectos Cristal.
geomorfológicos, espeleológicos e paleontológicos A atividade de campo proposta pela
do município. disciplina Paleontologia na UESB possibilita
A segunda atividade foi a coleta em campo aos estudantes do curso de Licenciatura e
aonde os estudantes foram distribuídos em grupos Bacharelado em Biologia, uma experiência
para executar atividades de observação, descrição, de aprendizagem interdisciplinar e assegura a
coleta de subfósseis em caverna e armazenamento. aquisição de conhecimentos no campo da iniciação
A terceira atividade aconteceu em à pesquisa, uma vez que coloca o discente diante
Laboratório onde os grupos fizeram a triagem, e de procedimentos de investigação que são comuns
a identificação do material, e a quarta atividade na pesquisa de campo em Paleontologia.
aconteceu em sala de aula, com a apresentação dos
resultados pelos grupos.
CONCLUSÕES
Na Gruta Cristal, os estudantes
observaram, fotografaram o ambiente interno e As contribuições da aula de campo
externo, descreveram os aspectos geomorfológicos para a Paleontologia são muitas, uma vez que
do local e também as características tafonômicas torna possível aos estudantes aprender a partir
dos restos coletados (Figs. 1 e 2). do real, interagindo com o objeto de estudo e
possibilitando uma aprendizagem interdisciplinar,
Para a coleta, foi estabelecido como
onde os conceitos não estão isolados porque são
amostragem, um quadrante de 1m² aonde cada
compreendidos a partir da relação com outros
grupo coletou sedimentos a uma profundidade de
conceitos das Geociências, já trabalhados em
20 cm. Após coleta, o sedimento foi armazenado
semestres anteriores.
em sacos e etiquetados para posterior triagem e
identificação em laboratório (Figs. 3 e 4). Esta atividade de campo também é
reconhecida pelos discentes como uma ótima
Em Laboratório, os grupos peneiraram
oportunidade de aperfeiçoar o perfil do pesquisador
os sedimentos usando a peneira granulométrica,
que faz-se necessário para a formação acadêmica
de 10mm a 0,036mm, e separaram os ossículos e
do Biólogo.
dentículos encontrados. Após este procedimento,
o material foi lavado em água corrente, organizado
e classificado no menor grupo taxonômico possível REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(Figs. 5, 6, 7 e 8).
BORN, M.B. & HORTA, L.S. Espeleologia.
Conforme cronograma final da disciplina,
1995. In: ROCHA, A.J.D. & COSTA,
os estudantes apresentaram seus resultados na
I.V.G. Projeto Mapas Municipais de Morro
forma de artigo, evidenciando a potencialidade da
do Chapéu, (BA). Informações Básicas para o
caverna para estudos tafonômicos.
Planejamento e Administração do Meio Físico.
Salvador; CPRM. 3v. 213 p. il.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CARVALHO, I.S. Paleontologia. Vol. 2. 2ª Edição.
Ao final da atividade, os grupos escrevem
Editora Interciência: Rio de Janeiro: 2004.
artigos científicos sobre o material coletado,
a fim de apresentá-los em eventos científicos SENICIATO,T.; CAVASSA, O. Aulas de Campo
das Geociências, buscando ao longo do curso, em ambientes naturais e aprendizagem em
construir experiências científicas que tenham Ciências – um estudo com alunos do ensino
valor para seu currículo. fundamental Ciência & Educação, v. 10, n. 1,
A partir desta atividade de campo, os p. 133-147, 2004.
discentes dão continuidade aos estudos sobre a
Gruta Cristal I, fazendo parte do grupo de pesquisa

41
SRIVASTAVA, N.K. & ROCHA, A.J.D. 2002. do Brasil. 1. ed. Brasilia: DNPM/CPRM -
Fazenda Cristal (Bahia) - Estromatólitos Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
mesoproterozoicos.In: SCHOBBENHAUS, Paleobiológicos (SIGEP), 2002. v. 01: 63-71.
C.; CAMPOS, D.A.; QUEIROZ, E.T.; [Acessar em http://www.unb.br/ig/sigep/
WINGE, M. & BERBERT-BORN, M.L.C. sitio093/sitio093.pdf ]
(eds.) Sítios Geológicos e Paleontológicos

Figura 1. Entrada da Gruta Cristal. Figura 2. Ambiente interno da Gruta Cristal I. Estudantes
observam aspectos geomorfológicos da Gruta.

Figura 4. Coleta de Sedimentos na Gruta Cristal I.

Figura 3. Estudantes delimitando amostragem para


coleta na Gruta Cristal I.

42
Figura 6. Etapa de Identificação do material após
triagem. Subfósseis de gastrópodos coletados na Gruta
Cristal.

Figura 5. Etapa de Identificação . Restos esqueléticos


coletados na Gruta Cristal I. Organizados conforme
grupo taxonômico.

Figura 7. Etapa de Identificação do material após triagem. Mandíbulas de Vertebrados coletadas na Gruta Cristal.

Figura 8. Fase de Identificação do material após triagem. Exoesqueleto de Invertebrados.

43
COLEÇÃO DE ICNOFÓSSEIS DO MUSEU DOM JOSÉ, SOBRAL-CE
Sérgio Augusto Santos Xavier1 (sergio.s.xavier@hotmail.com), Gina Cardoso de Oliveira1 (gina.caroly@hotmail.com),
Maria de Jesus Gomes de Sousa2 (marryesousa@yahoo.com.br), Robbyson Mendes Melo1 (robbyson_bio@hotmail.com),
Thiago de Albuquerque Lima1 (thiago.albuquerquelima@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana1 (somalia_viana@hotmail.com)
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA; 2Bióloga autônoma
1

RESUMO INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta a coleção de O Museu Dom José (MDJ), localizado
icnofósseis do Museu Dom José em Sobral-Ce, em Sobral-CE, apesar de ser um museu histórico
a qual representa um importante registro de arte sacra, principalmente, apresenta um rico
paleontológico e paleoambiental das unidades acervo de fósseis e icnofósseis. Os icnofósseis,
litoestratigráficas onde ocorrem (Bacia do Parnaíba, registro da atividade de organismos antigos,
Bacia de Lima Campos e Bacia do Araripe). O possuem grande relevância científica para
acervo consta de 117 espécimes, sendo ao todo, interpretações paleoecológicas e paleoambientais,
12 icnogêneros identificados e catalogados, e fornecendo dados sobre hábitos dos organismos,
ainda quatro possíveis novidades taxonômicas. As batimetria, salinidade, oxigenação, taxa de
amostras são oriundas de terrenos do Siluriano sedimentação, além do reconhecimento de
e Devoniano da Bacia do Parnaíba, além do depósitos marinhos, marginais e continentais.
Cretáceo das bacias do Araripe e Lima Campos, no Dessa forma, o estudo de anatomia comparada
Estado do Ceará. Essa coleção facilitará pesquisas de pistas fósseis é extremamente importante para
de paleontologia e estratigrafia, servindo de base a observação de variações estruturais que podem
em estudos de anatomia comparada de traços estar correlacionadas às mudanças de tipos de
fósseis e tornando-se referência para investigações ambientes e modos de vida.
paleoicnológicas. A coleção de icnofóssseis do Museu
Palavras-chave: coleção de icnofósseis, Dom José representa um importante registro
Museu Dom José, Sobral, Ceará paleontológico e paleoambiental das unidades
litoestratigráficas onde ocorrem (Bacia do
Parnaíba, Bacia de Lima Campos e Bacia do
ABSTRACT Araripe). Objetiva-se com este trabalho, apresentar
This paper shows the ichnofossil a coleção científica de icnofósseis do MDJ.
collection of the Dom José Museum in Sobral,
that represents an important paleontological and
paleoenvironmental record of the lithostratigrphfic METODOLOGIA
units where they occur (Parnaíba, Lima Campos Durante missões paleontológicas
and Araripe Basins). The collection has 117 realizadas em diferentes localidades no estado,
specimens, where 12 ichnogenus could be foram coletados espécimes que se encontram
identified, having yet 4specimens of taxonomic depositados no acervo do MDJ, onde está
novitaties. The samples was collected at the instalado o Laboratório de Paleontologia
Silurian and Devonian terrains of Parnaíba Basin, (LABOPALEO) da Universidade Estadual Vale
beyond at the Cretaceous of the Lima Campos do Acaraú – UVA. A rotina de preparação para a
and Araripe Basins, in Ceará State. This collection inclusão dos espécimes na coleção do MDJ inclui
will help paleontological and stratigraphical limpeza, análise morfométrica, identificação
researches, compared anatomy of the trace fossils taxonômica baseada em literatura especializada
and becaming reference to the paleoichnological (Frey &Pemberton, 1984; Bromley, 1996;
studies. Nogueira et al., 1999; Netto, 2001; Fernandes et
Keywords: ichnofossil collection, Dom al., 2002; Netto et al., 2002; Buatois et al., 2002;
José Museum, Sobral, Ceará Rindsberg& Martin, 2003; Carvalho et al., 2003;

44
Brandt et al., 2010), tombamento e catalogação A coleção consta ainda com 38 amostras
informatizada, além da manutenção periódica da (MDJ/Ic-080-117) procedentes da Formação
coleção com armazenamento adequado de todas Malhada Vermelha, da Bacia de Lima Campos,
as amostras em armários de aço deslizantes sobre que se encontram em fase de estudo; e mais
trilhos. quatro exemplares oriundos da Formação
Santana, da Bacia do Araripe, correspondentes a
três icnogêneros: GordiaEmmons, 1844 – MDJ/
RESULTADOS Ic-001; HelminthopisHeer, 1877 – MDJ/Ic-002 e
Todo o material armazenado na coleção Lockeia James, 1879 – MDJ/Ic-003-004.
de icnofósseis do MDJ foi coletado através de O LABOPALEO ainda mantém projetos
missões paleontológicas em sete municípios do em cooperação com a Universidade Federal do Rio
estado: Pacujá, Reriutaba, Santana do Acaraú, Grande do Sul – UFRGS e Universidade Federal
contendo afloramentos pertencentes ao Grupo de Pernambuco – UFPE, no estudo dessas bacias.
Serra Grande (Formação Ipu – Siluriano); Viçosa
do Ceará, com afloramentos do Grupo Canindé
(Formação Pimenteira - Devoniano); Iguatu e AGRADECIMENTOS
Orós, com afloramentos da Formação Malhada Os autores agradecem à Universidade
Vermelha (Neocomiano) e Nova Olinda, com Estadual Vale do Acaraú - UVA pelo auxílio com
afloramentos da Formação Santana (Cretáceo o transporte; ao Museu Dom José pela infra-
Inferior). estrutura básica da pesquisa; ao diretor do Museu de
O material procedente do Grupo Serra Pacujá, pedagogo AntonioAlancardéLeopoldino
Grande, da Bacia do Parnaíba, corresponde a por guiar a equipe em missões na região de
seis icnogêneros, onde três foram identificados Pacujá; aos professores da UVA Elnatan Bezerra
(Palaeophycus Hall, 1847 – MDJ/Ic-061; de Souza e Hermeson Cassiano de Oliveira, do
Planolites Nicholson, 1873 - MDJ/Ic-005; Biólogo Henrique Ziegler, e aos ex-bolsistas
NeoskolithosHaldemann, 1840 – MDJ/Ic-006), do Laboratório de Paleontologia da UVA,
e os outros são possíveis novidades taxonômicas Arquimedes Chaves, Paulo Marcelo Teixeira,
(Icnogênero A – MDJ/Ic-007, MDJ/Ic-012- Aleandra Furtado, Larissa Rocha, Paulo Victor
015, MDJ/Ic-017-024, MDJ/Ic-026-027, MDJ/ de Oliveira, Francisco Rony Barroso e Vanessa
Ic-029-032, MDJ/Ic-034-039, MDJ/Ic-041- Vasconcelos, pela participação em trabalho de
048; Icnogênero B – MDJ/Ic-008-011, MDJ/ campo.
Ic-016, MDJ/Ic-025, MDJ/Ic-028, MDJ/Ic-033;
Icnogênero C – MDJ/Ic-040) - (Viana et al.,
2010).
CONCLUSÕES
Já os exemplares provenientes do Grupo O acervo icnofossilífero do MDJ consta
Canindé, da Bacia do Parnaíba, correspondem a de 117 espécimes, sendo ao todo, 12 icnogêneros
nove icnogêneros preliminarmente identificados identificados e catalogados, e ainda quatro
(Arthrophycus Hall, 1852 - MDJ/Ic-049 e 050; possíveis novidades taxonômicas. As amostras são
ArenicolitesSalter, 1857 – MDJ/Ic-053, MDJ/ oriundas de terrenos do Siluriano e Devoniano da
Ic-079; ConichnusMyannil, 1966 - MDJ/Ic-055- Bacia do Parnaíba, além do Cretáceo das bacias
058, MDJ/Ic-062-065, MDJ/Ic-072-078; do Araripe e Lima Campos, no Estado do Ceará.
Cruziana d`Orbigny, 1842 – MDJ/Ic-068; Lockeia Essa coleção facilitará pesquisas de paleontologia
James, 1879 - MDJ/Ic-060; MonocraterionTorell, e estratigrafia, servindo de base em estudos
1870 - MDJ/Ic-054a-d; Neoskolithos(?) Kegel, de anatomia comparada de traços fósseis e
1966 – MDJ/Ic-052, MDJ/Ic-059, MDJ/Ic-066, tornando-se referência para investigações
MDJ/Ic-071; Planolites Nicholson, 1873 – MDJ/ paleoicnológicas.
Ic-069; Thalassinoides Ehrenberg, 1944 – MDJ/
Ic-051; e um exemplar ainda indeterminado
- MDJ/Ic-070.

45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e formas modernas comparativas, São
Leopoldo, Gráfica da Unisinos, p.41-46.
BRANDT, D.; SEITZ, M.; MCCOY,
V.; CSONKA, J.; BARRINGER, J.; NOGUEIRA, A.C.R.; TRUCKENBRODT, W.
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BUATOIS, L.A., MÁNGANO, M.G. & fossils. Palaeogeography, Palaeoclimatology,
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BORGHI, L. 2003. Diferenciação das & CHAVES, A.P.P. 2010. Ocorrências
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C.L.M. & NOGUEIRA, M.S. 2002.
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e procedimentos para o trabalho com fósseis

46
COLEÇÃO OSTEOLÓGICA DE RECENTES DO MUSEU DOM JOSÉ (SOBRAL-
CE) PARA ANATOMIA COMPARADA DE FÓSSEIS QUATERNÁRIOS
Gina Cardoso de Oliveira1 (gina.caroly@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana2 (somalia_viana@hotmail.com),
Paulo Victor de Oliveira3 (victoroliveira.paleonto@gmail.com), Thiago Lima de Albuquerque4 (thiago.albuquerquelima@hotmail.com)
1
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA; 2LABOPALEO/MDJ/UVA; 3Pós Graduação em Geociências – UFPE/CNPq; 4Bolsista
PIBIC/CNPq

RESUMO INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta a coleção de Desde o ano de 2003 a Região Noroeste do
organismos recentes para estudos de anatomia Estado do Ceará tem seus dados paleontológicos
comparada no Laboratório de Paleontologia revelados, a partir dos trabalhos desenvolvidos
da Universidade Estadual Vale do Acaraú - pela equipe de pesquisadores do Laboratório de
LABOPALEO/UVA, instalado no Museu Dom Paleontologia da Universidade Estadual Vale
José - MDJ. O material foi coletado durante do Acaraú (LABOPALEO/UVA), instalado
missões paleontológicas na região noroeste no Museu Dom José (MDJ). Os estudos de
do estado do Ceará. A coleção consta de 35 vertebrados na região concentram-se em dois tipos
exemplares e correspondem a táxons pertencentes de depósitos fossilíferos: os tanques, desenvolvidos
às seguintes ordens: Xenarthra, Rodentia, sob o embasamento cristalino pré-cambriano,
Marsupialia, Artiodactyla, Ungulata, Squamata, onde são comuns achados de megamamíferos
Anura, Chiroptera e Primata. Foram identificadas pleistocênicos; e as cavernas, de menor expressão,
as seguintes espécies: Sus escrofa Linnaeus, 1758; mas não menos importantes, responsáveis por
Kerodon rupestris Wied, 1820; Phyllostomus hastatus encerrar em seu interior, ao contrário dos tanques,
Pallas, 1767; Coendou prehensilis Linnaeus, 1758; restos ósseos de micro e médio mamíferos pleisto-
Equs sp. Linnaeus, 1758; Tayassusp. Link, 1795. holocênicos, principalmente.
Palavras-chave: Coleção osteológica, A identificação dos espécimes tem sido
Recente, Museu Dom José, Sobral-CE de grande importância para o conhecimento da
fauna pré-histórica local e possível correlação com
as faunas de outros estados do Nordeste brasileiro
ABSTRACT bem como a atualmente encontrada na área. No
This paper shows the collection of recent entanto, a identificação do material coletado
organisms for comparative anatomy studies in the esbarra na dificuldade da falta de exemplares
Laboratório de Paleontologia of the Universidade recentes para estudos de anatomia comparada; e
Estadual Vale do Acaraú - LABOPALEO/UVA, quando estes existem encontram-se depositados
installed on Dom José Museum - MDJ. The em coleções científicas da região Sudeste, o que na
material was collected during paleontological maioria das vezes torna-se empecilho à conclusão
missions in the northwestern of the state of Ceará. das pesquisas.
The collection is contained of 35 specimens O estudo da anatomia comparada entre
belonging to following orders: Xenarthra, organismos fósseis e recentes se torna importante
Rodentia, Marsupialia, Artiodactyla, Ungulates, pelo fato de que as modificações estruturais
Squamata, Anura, Chiroptera and Primate. They observadas referem-se a mudanças funcionais
were identified the following species:Susescrofa sofridas pelos vertebrados, mudanças essas
Linnaeus, 1758; KerodonrupestrisWied, correlacionadas com os diversos ambientes e
1820; Phyllostomushastatus Pallas, 1767; modos de vida encontrados no decorrer de sua
Coendouprehensilis Linnaeus, 1758; Equs sp. longa e acidentada história (Romer & Parsons,
Linnaeus, 1758; Tayassu sp. Link, 1795. 1977).
Keywords: Osteological collection, Apresentam-se neste trabalho os dados
Recent, Dom José Museum, Sobral-CE oriundos da criação e organização da coleção
científica de organismos recentes no MDJ para

47
estudos de anatomia comparada. Espera-se, pois, de que tenham adentrado a caverna em busca de
que esta coleção venha a se tornar referência água e abrigo do sol e tenha-se perdido, morrendo
no tocante à fauna cearense, e que a partir da de fome (Cartelle, 1994).
contribuição advinda desta coleção, seja possível Somente foram identificados ao nível
entender melhor a evolução faunística ocorrida no específico os seguintes exemplares: Sus escrofa
noroeste do Ceará pelo menos nos últimos 10.000 Linnaeus, 1758 (MDJ Mr-011a e b); Kerodon
anos. rupestris Wied, 1820 (MDJ Mr-002); Phyllostomus
hastatus Pallas, 1767 (MDJ Mr- 031); Coendou
prehensilis Linnaeus, 1758 (MDJ Mr-003); Equs
METODOLOGIA
sp. Linnaeus, 1758 (MDJ Mr-033); Tayassu sp.
O estudo do material, resultante de Link, 1795 (MDJ Mr-001) (Fig. 1).
coletas durante missões paleontológicas realizadas
pela equipe do LABOPALEO, consistiu na
preparação dos espécimes em laboratório CONCLUSÕES
(limpeza e armazenamento), sua identificação e A coleção de recentes para estudos de
organização da coleção de recentes no MDJ. A anatomia comparada consta, até o momento, de
limpeza dos exemplares foi feita com a utilização 55 espécimes de esqueletos completos ou não, já
de pincéis, pinças e agulhas, além de lavagem utilizados em estudos comparativos. Das espécies
mecânica, quando possível, para retirar o excesso recentes que puderam ser identificadas (Sus
de sedimento. Após a limpeza, os espécimes escrofa, Kerodon rupestris, Coendou prehensilis, Equs
foram identificados, fotografados, catalogados e sp. Tayassu sp. e Phyllostomus hastatus), Coendou
acondicionados em depósitos plásticos para sua prehensilis, Kerodon rupestris, Tayassu sp. E Equs sp.
melhor proteção. Para identificação dos espécimes também são encontradas como fósseis na Região
e interpretação paleoambiental utilizou-se: Nordeste do Brasil. De acordo com a análise
Aberdi, Leone & Tonni (1995), Romer & Parsons comparativa, as espécies fósseis não tiveram
(1977), Paula-Couto (1979), Pough, Heiser & necessidade de adaptação para sua sobrevivência,
McFarland (1993), Orr (1986) e Cartelle (1999). pois possui a mesma morfologia óssea e o mesmo
habitat desde o início do Holoceno.
RESULTADOS Os estudos de organismos recentes são de
fundamental importância, pois fornecem subsídios
De acordo com o estudo bibliográfico para a identificação dos exemplares fósseis, para
levantado, 55 espécimes foram preparados e observação de variações anatômicas (entre animais
catalogados na coleção científica de recentes da mesma espécie), observação de patologias,
do LABOPALEO, e correspondem a táxons incluindo a possibilidade de se estabelecer uma
pertencentes às seguintes ordens: Xenarthra, relação entre estes e o seu ambiente de vida.
Rodentia, Marsupialia, Artiodactyla, Ungulata,
Squamata, Anura, Chiroptera e Primata. O
material coletado a céu aberto consta de 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
exemplares, oriundos de Viçosa (Pirapora e ALBERDI, M. T.; LEONE, G. & TONNI, E.
Engenho Velho), Carnaubal, Sobral (Taperuaba), P. 1995. Evolución Biológica y Clima de
e Irauçuba. Enquanto o material coletado nas La Región Pampeana Durante los Últimos
cavernas do Parque Nacional de Ubajara consta Cinco Millones de Años. Madrid: (Ed.)
de 42 exemplares. A análise dos espécimes Museu Nacional de Ciencias Naturales
coletados nas cavernas permitiu distinguir os Consejo Superior de Investigaciones
organismos que não possuíam hábitos cavernícolas Científicas, 423p.
(troglófilos) de outros com hábitos cavernícolas
(troglóbios). Os organismos troglófilos foram CARTELLE, C. 1999. Pleistocene mammals
levados provavelmente por enxurradas, após a of the Cerrado and Caatinga of Brazil. In:
morte, ou mesmo por seus predadores para o EISENBERG, J.F. & REDFORD, K.H.
interior da caverna. Também há a possibilidade (eds.) Mammals on the Neotropics. The

48
University of Chicago Press, Chicago, p. 27- ORR. R.T. 1986. Biologia dos Vertebrados. Roca.
43. São Paulo. 508p.

CARTELLE. C. 1994. Tempo Passado. ROMER, A.S. & PARSONS, T.S. 1977.
Mamíferos do Pleistoceno em Minas Gerais. Anatomia comparada dos vertebrados. Ed.
Belo Horizonte: Editora Palco, 131p. Atheneu. São Paulo. 559p.

POUGH, F.H., HEISER, J.B. &McFARLAND. PAULA-COUTO, C. 1979. Tratado de


1993. A Vida dos Vertebrados. Ed. Atheneu. Paleomastozoologia. Academia Brasileira de
São Paulo. 839 p. Ciências, Rio de Janeiro, 590 p.

Figura 1. Exemplares da coleção osteológica de recentes. F1.1 Equs caballus; F1.2 Tayassu sp.; F1.3 Coendo ruprehensilis;
F1.4 Phyllostomus hastatus; F1.5 Sus escrofa; F1.6 Kerodon rupestris.Escalas: 2 cm.

49
CONSERVAÇÃO DA COLEÇÃO DE FÓSSEIS DO MUSEU DOM
JOSÉ (SOBRAL, CEARÁ): UM INCENTIVO ÀS INVESTIGAÇÕES
PALEONTOLÓGICAS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO
Maria Somália Sales Viana1 (somalia_viana@hotmail.com), Robbyson Mendes Melo1 (robbyson_bio@hotmail.com), Thiago de
Albuquerque Lima1 (thiago.albuquerquelima@hotmail.com), Gina Cardoso de Oliveira1 (gina.caroly@hotmail.com), Maria de
Jesus Gomes de Sousa2 (marryesousa@yahoo.com.br), Sérgio Augusto Santos Xavier1 (sergio.s.xavier@hotmail.com)
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA; 2Bióloga autônoma
1

RESUMO al., 2002; Santos & Carvalho, 2009, Viana et al.,


2010) e do Quaternário em depósitos de tanques
Esse trabalho apresenta medidas de
e cavernas (Cartelle, 1999; Viana et al., 2008;
conservação da coleção de fósseis do Museu
Ximenes, 2008), que são pouco estudados e que
Dom José, em Sobral-Ce, como um incentivo as
necessitam de conservação e do conhecimento do
investigações paleontológicas na região noroeste do
público em geral.
estado. Para a melhoria do trabalho com a coleção
científica a aquisição de materiais adequados e A região norte do estado conta com
equipamentos básicos foi implementada. Até dois museus que guardam e expõem coleções
o momento, cumpriram-se as seguintes metas: paleontológicas: o Museu da Pré-História de
1.Incremento do acervo fossilífero do MDJ (cerca Itapipoca (MUPHI), em Itapipoca, que se
de 125 espécimes); 2.Aumento do conhecimento encontra em fase de ampliação e o Museu Dom
a respeito dos fósseis da região; 3.Incremento do José (MDJ), em Sobral, que apesar de ser um museu
número de ocorrências fossilíferas descritas (três histórico e de arte sacra, principalmente, mantém
novas ocorrências); 4.Formação de Recursos uma equipe de investigação paleontológica e um
Humanos com o desenvolvimento de projeto de Laboratório (LABOPALEO).
IC, de uma dissertação e de uma tese. Com a pesquisa, a coleção científica do
Palavras-chave: Coleção de fósseis, MDJ vem aumentando, suscitando ampliações
Museu Dom José, Sobral, Ceará e melhorias nas condições de manipulação e
conservação do acervo, incluindo mobiliário mais
moderno, com materiais e espaços adequados,
ABSTRACT garantindo a integridade dos fósseis.
This paper shows some conservation A equipe do LABOPALEO elaborou um
measures of Museu Dom José fossil collection, projeto cujo objetivo é melhorar as condições de
in Sobral, as an incentive to the paleontological conservação dos espécimes fósseis do acervo do
researches at northwestern Ceará. One of these MDJ assegurando a continuidade das pesquisas
measures was the acquisition of appropriate paleontológicas na região noroeste do Estado
materials and basic equipaments. Until now, it do Ceará. O projeto foi aprovado pelo Conselho
was made: 1. increase of the collection (about 125 Nacional do Desenvolvimento Científico e
specimens); 2. increase of the knowledge about Tecnológico (CNPq), em 2010 (em vigor até
the regional fossils; 3. increase of the fossiliferous 2012), com número de processo 401781/2010-0,
localities number (three new localities); 4. concorrente no Edital MCT/CNPq nº 32/2010
treaining of human resources (three students in - Fortalecimento da Paleontologia Nacional /
graduate and post graduate). Edital 32/2010 - Faixa B. Pretende-se também
Keywords: fossil collection, Dom José como metas: 1. Aumentar o acervo fossilífero
Museum, Sobral,Ceará do MDJ em, pelo menos, 25%, através de
trabalho de campo (coleta) e de laboratório
(preparação), incrementando conseqüentemente
INTRODUÇÃO o conhecimento a respeito dos fósseis da região;
A região noroeste do Ceará apresenta 2. Aumentar o número de ocorrências fossilíferas
alguns sítios fossilíferos importantes do Siluriano- descritas em, pelo menos, 25%, através de
Devoniano da Bacia do Parnaíba (Fernandes et trabalho de campo; 3. Apresentar um diagnóstico

50
paleontológico da região, com representantes na três últimas previstas em projetos de iniciação
coleção científica do MDJ. 4; Preparar um artigo científica na UVA e mestrado na UFPE, que estão
científico para publicação e divulgar o projeto em sendo realizadas com recursos próprios da UVA
diários locais; E 5. Cadastrar a coleção no banco e da UFPE, respectivamente. O objetivo desta
de dados da CPRM. Essas ações incentivarão os etapa é checar ocorrências e coletar fósseis para a
esforços empreendidos em pesquisa, melhorando a coleção científica do MDJ.
qualidade do museu e valorizando a paleontologia A pesquisa paleontológica de laboratório
da região. Este artigo apresenta resultados parciais tem o objetivo de preparação dos fósseis para
do desenvolvimento do projeto. identificação, catalogação e tombamento.
Os dados obtidos estão sendo analisados,
METODOLOGIA comparados, quantificados, qualificados,
tabulados e expressos em gráficos, em figuras e
O projeto está sendo desenvolvido nas tabelas. O tratamento dos dados servirá de base
dependências do (LABOPALEO/MDJ/UVA), para a publicação dos resultados.
cuja metodologia baseia-se em sete etapas de
Notícias sobre o projeto deverão ser
desenvolvimento: 1. Atualização dos dados;
divulgadas em diários locais para que a sociedade
2. Aquisição dos materiais e equipamentos; 3.
tome conhecimento da iniciativa. Um artigo
Missões de campo; 4. Trabalho de Laboratório; 5.
científico completo será elaborado para a
Tratamento dos dados; 6. Divulgação do projeto e
publicação dos resultados da pesquisa junto à
preparação de publicação científica; 7. Relatórios.
comunidade científica. Dois relatórios técnicos
Os materiais e equipamentos básicos para serão confeccionados ao financiador, o primeiro
a melhoria do trabalho com a coleção científica, com caráter parcial e o segundo com caráter final.
incluindo a conservação e a manipulação dos Relatórios de prestação de contas também serão
espécimes referem-se a: mobiliário próprio, feitos.
versátil e polivalente que ofereça guarda segura, e
adequada com economia de espaço como armários
de aço deslizantes sobre trilhos; luminária de RESULTADOS
mesa (para auxiliar na iluminação na observação Foi feita a compra e instalação dos
macroscópica dos espécimes); desumificador armários de aço deslizantes sobre trilhos, onde a
(para manter as condições de umidade do local coleção de fósseis foi reorganizada.
como medida de conservação do acervo); armário Até o momento foram realizadas duas
sob pia (para ajudar na organização dos materiais missões paleontológicas: A primeira missão foi à
utilizados em pesquisa, otimizando o espaço Fazenda Maurício, no Município de Sobral, para
físico); estereomicroscópio com equipamento coleta em um depósito de tanque pleistocênico já
fotográfico (para observação de pequenas exumado há muito tempo e visitado pela equipe
estruturas e seu registro fotográfico em espécimes anteriormente. A maioria dos exemplares foi
estudados); câmara clara (para a reprodução em obtida através de peneiramento e investigação
desenho dos detalhes morfológicos dos espécimes no rejeito resultante da exumação do tanque
estudados); bancada de granito. e consta de fragmentos isolados de difícil
Estão programadas cinco missões de identificação; alguns puderam ser identificados
campo em bimestres alternados, sendo duas como fragmentos de dentes de gonfoterídeos e
para as cavernas do Parque Nacional de Ubajara megaterídeos, de membros de macrauqueniídeos,
(prevista em um projeto financiado pela Fundação além de osteodermos de gliptodontídeos. Cerca
Cearense de Apoio ao Desenvolvimento de cem fragmentos foram coletados, estão sendo
Científico e Tecnológico – FUNCAP e em um preparados para serem incorporados ao acervo do
projeto de cooperação com a Universidade Federal MDJ e estão descritos em outro trabalho deste
de Pernambuco – UFPE, para o desenvolvimento volume.
de uma Tese de Doutorado), uma para depósito de A outra missão foi ao Município de
tanque e mais duas para a Bacia do Parnaíba; essas Viçosa do Ceará para verificar uma ocorrência

51
comunicada verbalmente por um aluno da UVA (eds.) Mammals on the Neotropics. The
(Henrique Ziegler) em terrenos da Bacia do University of Chicago Press, Chicago, p. 27-
Parnaíba. De fato, três novas localidades com 43.
abundantes níveis bioturbados, foram observadas
em três cachoeiras: Pirapora, Pinga e Engenho FERNANDES, A.C.S.; BORGHI, L.;
Velho. Constam de inúmeros icnofósseis, CARVALHO, I. S. & ABREU, C. J. 2002.
provavelmente de invertebrados bentônicos, Guia de Icnofósseis de Invertebrados do
habitantes de mar raso, que ficaram conservados Brasil. Ed. Interciência, Rio de Janeiro, 260p.
em camadas da Formação Pimenteira (Devoniano
da Bacia do Parnaíba) e cujo material está descrito SANTOS, M. E. C. M. & CARVALHO,
em outro trabalho deste volume. Cerca de vinte M.S.S. 2009. Paleontologia das Bacias do
e cinco espécimes foram coletados e estão sendo Parnaíba, Grajaú e São Luís: Reconstituições
preparados para serem incorporados ao acervo do Paleobiológicas. CPRM. Serviço Geológico
MDJ. do Brasil, Rio de Janeiro, 215p.
Com este projeto, também foi aprovada VIANA, M.S.S.; ANDRADE, I.M. & ROCHA,
uma Bolsa de Iniciação Científica para o segundo L.A.S. 2008. Os fósseis Pleistocênicos
autor deste artigo. do Nordeste do Brasil e seu significado
paleoclimático. In: COSTA FALCÃO,
AGRADECIMENTOS C.L.; FALCÃO SOBRINHO, J.; SOUSA,
R.N.R. & MOTA, F.A. (eds.) Semi-árido:
Os autores agradecem a participação
diversidades naturais e culturais. Fortaleza,
em trabalho de campo dos professores da UVA
Expressão Gráfica. p. 65-76.
Elnatan Bezerra de Souza e Hermeson Cassiano
de Oliveira, do doutorando da UFPE Paulo Victor VIANA, M.S.S; OLIVEIRA, P.V.;
de Oliveira e do estudante da UVA Henrique SOUSA, M.J.G.; BARROSO, F.R.G.;
Ziegler. VASCONCELOS, V.A.; MELO, R.M.;
LIMA,T.A.; OLIVEIRA,G.C.& CHAVES,
CONCLUSÕES A.P.P. 2010. Ocorrências icnofossilíferas do
Grupo Serra Grande (Siluriano da Bacia
Este trabalho apresenta os resultados
do Parnaíba), noroeste do Estado do Ceará.
parciais de um projeto e até o momento,
Revista Geologia, Fortaleza, 23(1): 77-89.
cumpriram-se as seguintes metas:
• Incremento do acervo fossilífero do XIMENES, C.L. 2008. Tanques Fossilíferos de
MDJ (cerca de 125 espécimes). Itapipoca, CE – Bebedouros e cemitérios de
• Incremento do conhecimento a megafauna pré-histórica. In: WINGE, M.;
respeito dos fósseis da região. SCHOBBENHAUS, C.; SOUZA, C.R.G.;
FERNANDES, A.C.S.; BERBERT-
• Incremento do número de ocorrências BORN, M. & QUEIROZ, E.T.; (eds.)
fossilíferas descritas (três novas Sítios Geológicos e Paleontológicos do
ocorrências). Brasil. Disponível em: http://www.unb.br/
• Formação de Recursos Humanos com ig/sigep/sitio014/sitio014.pdf
o desenvolvimento de projeto de IC, de
uma dissertação e de uma tese.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARTELLE, C. 1999. Pleistocene mammals
of the Cerrado and Caatinga of Brazil. In:
EISENBERG, J.F. & REDFORD, K.H.

52
CONSTRUÇÃO DE UM MATERIAL DE ESTUDO
EXTRACLASSE SOBRE FÓSSIL DIAGÊNESE
Gabriel de Souza Franco1 (gabrielfranco9@yahoo.com.br), Maria Júlia Estefânia Chelini2 (jchelini@unb.br),
Raphael Teixeira de Paiva Citon1 (raphaelciton@yahoo.com.br)
1
Instituto de Geociências - IG/UnB; 2Museu de Geociências da Universidade de Brasília

RESUMO pensou-se na criação de uma ferramenta que


auxiliasse na sua compreensão.
Percebeu-se que os alunos de graduação que
cursam disciplinas relacionadas a Paleontologia Ademais, idealizou-se que o referido
apresentam dificuldades com o tema da fóssil material pudesse vir a ser disponibilizado em um
diagênese. Em 2009, idealizou-se um kit didático local que possuísse ao mesmo tempo facilidade
sobre o assunto para uso extraclasse, como forma de acesso e possibilidade de controle de seu
de material de apoio a estes estudantes. E é este manuseio. A Biblioteca do Museu de Geociências
material que descreve e discute o presente trabalho. da UnB (MGeo) dispõe de sala de estudo com
as características desejadas, o que a tornou
Palavras-chave: ensino de Paleontologia,
candidata nata para esta disponibilização. Cabe
material didático, fóssil diagênese
ressaltar aqui que o MGeo, enquanto museu
universitário inserido em uma unidade de ensino,
ABSTRACT tem uma relação muito próxima com os alunos de
It has been observed that undergraduates graduação dos cursos de Geologia e Geofísica. O
who attend Paleontology courses, have difficulties uso de seus espaços pelos alunos é variado, alguns
when it comes to fossil diagenesis. In 2009, as a o consideram espaço de lazer, outros espaço de
way of helping these students in their studying consulta ou mesmo de estudo, o que veio reforçar
time, a kit on the subject was conceived. It is this a proposta de confecção do material em questão.
material that is now presented and discussed. Em 2009, editais do Decanato de
Keywords: Paleontology teaching, didactic Graduação da UnB, vinculados ao Programa
material, fossil diagenesis REUNI com objetivo, entre outros, de melhorar
o rendimento acadêmico dos estudantes desta
Universidade viabilizaram a organização do
INTRODUÇÃO material didático aqui descrito por meio da
A fóssil diagênese é um ramo da tafonomia concessão ao MGeo de bolsas para graduandos.
que trata dos eventos envolvidos na preservação
direta ou indireta dos restos dos organismos
ESTRATÉGIA DE APRESENTAÇÃO
(Mendes, 1988), e seus vestígios de atividade
biológica. A diagênese é o conjunto de processos, DO MATERIAL
geralmente de natureza química, que ocorrem após Inicialmente, foi necessário selecionar a
o soterramento do resto biológico até o momento forma de apresentação do conteúdo disponibilizado
de sua eventual coleta pelo pesquisador. Neste no material. Diversas possibilidades surgiram
sentido, a fóssil diagênese é parte fundamental do levantamento de projetos desenvolvidos por
da paleontologia, sendo geralmente abordada no outras universidades e/ou museus. E, foi a partir
início dos cursos da área. da análise do material levantado que pudemos
Tem-se observado, contudo, a dificuldade traçar a estratégia apresentada neste trabalho.
por parte dos estudantes que cursam as disciplinas Uma das maneiras mais utilizadas para
de Paleontologia em relação à temática da fóssil este tipo de material é o formato de jogo, uma
diagênese. Considerando a importância do assunto vez que atividades lúdicas tendem a criar um
não só para a Paleontologia, mas até mesmo para ambiente estimulante para concretização do
outras áreas como Sedimentologia e Estratigrafia, processo de aprendizagem. Este modelo não nos

53
pareceu, contudo, a forma mais viável e eficaz de Quanto ao material escrito, inicialmente
apresentar as modalidades de fossilização, uma pensou-se em construir apenas uma chave de
vez que pensou-se em disponibilizar, através do identificação na forma de um fluxograma que, por
material, amostras reais que apresentassem as meio de perguntas e respostas, conduzisse a um
modalidades de fossilização aliadas a um material diagnóstico da modalidade de fossilização. Para
escrito, bem embasado teoricamente, que pudesse tal, foram consultadas chaves de identificação já
servir de fonte alternativa de consulta para os existentes como as de Hessel (1982) e Carvalho
estudantes. &Babinski (1985) e decidiu-se que a ênfase na
Assim sendo, concluiu-se que a melhor identificação das feições resultantes dos diferentes
forma para apresentar este material seria um kit processos de fossilização seria mais eficiente.
com amostras de fósseis que apresentasse o maior Isso porque esta estratégia poderia facilitar
número possível de modalidades fóssil diagênicas, simultaneamente um diagnóstico prático e o
até mesmo as menos comuns. Como o material entendimento dos processos atuantes.
seria consultado fora do ambiente de sala de aula Como exercício alternativo e visando
e sem mediação de monitor, foram elaborados atender estudantes que porventura não se
textos complementares que propunham atividades adaptassem à primeira atividade, foram elaboradas
dirigidas e fornecessem as informações necessárias fichas com a descrição das amostras. Tais fichas
sobre as modalidades de fossilização e o jargão apontam características necessárias ao diagnóstico
científico a estas relacionado. da modalidade de fossilização, que funcionam
como pistas que guiam o aluno objetivamente
através dos pontos principais dos exemplares
CONFECÇÃO DO KIT DE presentes no kit. Desta forma, o estudante pode
FÓSSIL DIAGÊNESE se limitar a ler algumas características constantes
O trabalho foi iniciado pelos alunos nas fichas e tentar identificar as demais, exercendo
de graduação Raphael Teixeira de Paiva Citon raciocínio crítico. Cabe ressaltar ainda que, ao final
e Emílio Castro de Araújo que selecionaram de cada ficha de descrição, consta a modalidade de
amostras da coleção didática de paleontologia fóssil diagênese mais representativa da amostra,
para compor o kit, de modo que as principais de forma que a mesma funciona também como
modalidades de fossilização fossem representadas gabarito.
por ao menos um exemplar. Cabe ressaltar que Além disso, o material contém uma
as amostras foram escolhidas de modo a que breve descrição das diferentes modalidades de
as características necessárias ao diagnóstico da fossilização existentes, estejam elas representadas
respectiva modalidade de fossilização pudessem nos exemplares do kit ou não. Isso por que,
ser identificadas macroscopicamente com bastante imaginou-se que, como o material será manipulado
facilidade. por alunos nem sempre cuidadosos, será necessária
Inicialmente, as amostras foram a reposição ou o acréscimo de novos exemplares.
acondicionadas dentro de caixas em alvéolos Assim, ao não excluir nenhuma modalidade deste
escavados em manta de polietileno expandido material, o kit torna-se mais versátil garantindo a
(etaflon). Todavia, houve preocupação com o fácil agregação de novos exemplares, mesmo que
material das caixas em que estavam acondicionados de modalidades hoje ausentes na coleção. Nesta
os exemplares em função da possibilidade de os seção estão detalhados principalmente: processos
compostos comumente utilizados na confecção geradores, feições ocasionadas e condições
de caixas poderem reagir com os constituintes necessárias para a formação das modalidades
das amostras (principalmente carbonatos). Assim, abordadas.
buscou-se informações para a seleção de caixas A última parte constante do material
estáveis, do ponto de vista de seus constituintes, escrito é um glossário com o objetivo de esclarecer
destinadas ao acondicionamento final da coleção os termos do jargão científico envolvidos
que será disponibilizada aos alunos. nos processos de fóssil diagênese. Também
há explanações sobre como termos comuns

54
e com significado usual conhecido tais como CHELINI, M.J.E. & LOPES, S.G.B.C. 2010.
alteração de volume, ornamentação e substrato Textos em museus de ciência: discurso
são aplicados no contexto da fóssil diagênese e, científico, didático ou de divulgação? In:
consequentemente, ao longo do resto do material MAGALHÃES, A.M.; BEZERRA, R.Z.
escrito que acompanha o kit. & BENCHETRIT, S.F. (org.) Museus e
Por fim, cabe ainda ressaltar que a atenção comunicação: exposições como objeto de
não se restringiu ao conteúdo, mas também a estudo. Rio de Janeiro, Museu Histórico
linguagem utilizada em sua apresentação. Houve Nacional p. 369-392
grande preocupação no momento da redação para
que a linguagem utilizada não fosse uma barreira
na compreensão do conteúdo e popularização do
kit entre os alunos da graduação. Uma das opções
adotadas foi o uso de diversos recursos didatizantes
(como comparações, definições, nomeações e
exemplificações) que, segundo Chelini& Lopes
(2010), tornam o texto mais acessível e próximo
do leitor.

CONCLUSÕES
O material escrito como um todo se
encontra pronto e está sendo submetido a diversas
revisões antes de sua impressão final. As amostras,
por sua vez, ainda encontram-se acondicionadas
nas caixas antigas, aguardando as embalagens
estáveis já selecionadas.
Assim, podemos dizer que o material está
em fase final de montagem e espera-se em uma
próxima etapa avaliar seu uso e aceitação pelo
público alvo. Para tanto, é necessário que o Museu
de Geociências da UnB, que vem passando por
extensa reforma de seu espaço físico, seja reaberto
ao público, o que deve ocorrer ainda no segundo
semestre de 2011.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, R.G. & BABINSKI, M.E.C.B.O.
1985. Paleontologia dos Invertebrados (guia
de aulas práticas). Instituto Brasileiro do
Livro Científico, São Paulo, 181 p.

HESSEL, M.H.R. 1982. Curso Prático de


Paleontologia Geral. Porto Alegre, Editora
da Universidade, UFRGS.

MENDES, J.C. 1988. Paleontologia Básica. São


Paulo, Editora da Universidade de São Paulo,
347 p.

55
DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTAS EDUCATIVAS
PARA O ESTUDO DA PALEONTOLOGIA: CD-ROM
Beatriz Bueno Arenghe1 (biaarenghe@gmail.com), Maria Paula Delicio1 (mpaula@degeo.ufop.br),
Diana Cunha da Sé1 (dianageologia@gmail.com)
Universidade Federal de Ouro Preto
1

RESUMO Keywords: Paleontology, Teaching


Materials, CD-ROM
Observou-se a necessidade produzir
um referencial no estudo dos graduandos
de Engenharia Geológica e Biologia, nas INTRODUÇÃO
disciplinas de Paleontologia I, Paleontologia II e De acordo com Mendes (1965) a
Paleontologia Geral na Universidade Federal de Paleontologia (gr. Palaios = antigo + ontos = ser +
Ouro Peto. O presente trabalho buscou reunir o logos = estudo) pode ser definida como a ciência
conteúdo programático oferecido em sala de aula que estuda os fósseis, isto é, restos ou vestígios de
em um CD-ROM, além de fotos dos principais animais ou vegetais que viveram antes dos tempos
fósseis do acervo do Setor de História Natural históricos e que se conservaram nas rochas. Em
do Museu de Ciências e Técnica (MCT/UFOP), outras palavras é o estudo dos restos orgânicos da
curiosidades bibliográficas, vídeos, entre outros. biosfera que foram conservados na litosfera.
Os levantamentos e pesquisas bibliográficas e
Até a primeira metade do século XIX, as
estruturação do material foram realizados em
noticias sobre fósseis brasileiros foram esporádicas
conjunto pelos bolsistas e professora orientadora
e limitaram-se apenas a notificar o encontro
envolvidos no projeto. O uso do CD-ROM
destes. Segundo consta na literatura, de acordo
como ferramenta de auxílio didático-pedagógico,
com Cassab (2010), o primeiro trabalho que
mostrou-se inovador e de grande importância
menciona a presença de fósseis no Brasil data de
dentro desta instituição.
1817. Relata a ocorrência de restos de mamíferos
Palavras-chave: Paleontologia, Material pleistocênicos nos arredores da vila de Minas do
Didático, CD-ROM Rio de Contas, na Bahia. Enquanto disciplina,
a Paleontologia possui uma identidade própria
ABSTRACT no meio acadêmico, sobretudo nos cursos de
Geologia e Ciências Biológicas.
There is a need to produce a reference in
the study of graduates of Engineering Geology Como consta em Costa (1999), vivemos
and Biology, Paleontology in the disciplines of I, hoje numa sociedade multimídia que prima pela
II and Paleontology Paleontology General at the multiplicidade de linguagens e formas expressão.
Federal University of OuroPeto. This study aimed Assim, quando o professor utiliza-se de um
to meet the curriculum offered in the classroom recurso tecnológico como fonte de informação ou
on a CD-ROM, along with photos of the main como recurso didático para a atividade de ensino,
collection of fossils from the Department of está também, possibilitando aos alunos que
the Natural History Museum of Science and aprendam sobre as práticas das ciências, inclusive
Technology (MCT / UFOP), bibliographical da Paleontologia.
curiosities, videos, among others. The surveys and Com o objetivo de incrementar a ação
literature searches and structure of the material educativa dentro destas disciplinas, surgiu a ideia
were carried by the grantees and guiding teacher de montagem de um CD-ROM que difere de um
involved in the project. The use of CD-ROM livro didático, pois este pode armazenar um numero
as a tool for teaching, teaching aid, proved to be muito maior de informações na forma de texto,
innovative and of great importance within this fotos, imagens, vídeos e arquivos complementares.
institution. O uso do CD-ROM como material didático traz

56
grandes vantagens no ambiente universitário, pois além de bibliografia complementar e referências
ele pode ser utilizado tanto em sala de aula como (Figura 02).
em outros locais.
Segundo Reis et al. (2005) já foram
RESULTADOS E DISCUSSÕES
desenvolvidos trabalhos semelhantes a este, como
por exemplo, um que ofereceu informações sobre Analisando o processo de ensino-
a Geologia e a Paleontologia da Bacia de São José aprendizagem, observou-se que o aluno melhorou
de Itaboraí no Rio de Janeiro. em seu aprendizado através de um ambiente
Enfim, o presente CD-ROM sobre melhor estruturado proporcionado pela grande
Paleontologia foi criado para ser utilizado nos quantidade de material didática apresentada,
cursos de Engenharia Geológica e Ciências ou seja, sem limitar-se ao sistema tradicional de
Biológicas da Universidade Federal de Ouro opções fechadas, tais como livros, slides e pesquisas
Preto, como forma de contribuir para o melhor sem referencias na internet.
aprendizado dos alunos, favorecendo um ensino Pois segundo Sobral &Zucon (2010), a
mais dinâmico e mais abrangente. utilização da multimídia na educação, ao invés
de meramente aplicar nova tecnologia para
produzir um material instrucional de melhor
MATERIAIS E MÉTODOS aparência, eleva o potencial, no aspecto de auxiliar
Este trabalho vem oferecer a estes discentes no conhecimento teórico dos alunos, fazendo-os
o maior número de referencias bibliográficas a fim conhecer a Paleontologia e seus pressupostos,
enriquecer o estudo da Paleontologia. No decorrer com objetivo de compartilhar e construir novos
da estruturação deste foram utilizados para conhecimentos.
pesquisa: livros de didáticos, matérias da internet
e materiais cedidos por outras universidades, além
CONCLUSÕES
de vídeos e fotos ilustrativas. Posteriormente
para verificar a aceitação do CD-ROM; foi feita Entre os tradicionais processos de
uma pesquisa, na forma de questionário a fim de aprendizagem fundamentais, tais como, textos,
avaliar os conteúdos apresentados, com o objetivo aulas expositivas, aulas práticas e livros não
de possibilitar melhorias neste material didático resumem a enorme diversidade de recursos
em outras edições. que podem ser utilizados, onde a construção de
Este projeto, que envolve a participação recurso didático, pode e deve ter a participação
de duas bolsistas e uma professora Orientadora, dos alunos, onde estes podem opinar e até mesmo
teve inicio no segundo semestre de 2010 e sendo fornecer materiais como vídeos e textos que sejam
renovado até fim de 2011, apoio da Programa pertinentes ao programa das disciplinas. Enfim a
de Atividades Acadêmicas (PROATIVA). Na utilização do CD-ROM no contexto didático-
montagem deste CD-ROM foi utilizado o educativo, serve como fonte de informação e
software AutoPlay Media Studio 5.0 e um editor interação entre professor-aluno no processo de
HTML. Para ilustrá-lo e acrescentar material ensino-aprendizagem a fim de estimular um
foram usadas fotografias e imagens de fósseis do maior conhecimento dentro desta disciplina.
Laboratório de Paleontologia da Universidade
Federal de Ouro Preto e do acervo do Setor de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
História Natural do Museu de Ciências e Técnica
(MCT/UFOP). CASSAB, R.C.T. 2010. Histórico das Pesquisas
Paleontológicas no Brasil. In: CARVALHO,
O multimídia ilustrado e didaticamente
I.S. (3 ed.) Paleontologia, vol. 1, Rio de
segmentado é composto por Menu Inicial, que
Janeiro, p. 3-18.
a partir das divisões permitem chegar a aula
desejada (Figura 01). Todas as aulas forneceram COSTA, M.C.C.C. 1999. Comunicação e
as notas de aula ministradas em sala pela docente, educação. In: II Fórum Comunicação
e Educação A comunicação na Escola.

57
Associação Educacional e Cultural, Oficina atual para a divulgação da Paleontologia no
de Imagens, Belo Horizonte. Ensino Fundamental e Médio. Anuário do
Instituto de Geociências, UFRJ 28(1): p. 70-79.
MENDES, J.C. 1965. Introdução a Paleontologia.
1ª ed. São Paulo, MEC/INL – RJ, 388 p. SOBRAL, A.C.S.; SÁ D.R. & ZUCON
M.H. 2010. Multimídia: conteúdos de
REIS, M.A.F.; CARVALHO, C.V. de A.; Paleontologia na forma de CD-ROM
CARVALHO, J.V.; RODRIGUES, M.A. para a Educação Básica, Vol. 06, Num. 06.
da C.; MEDEIROS, M.A.M.; VILLENA, Disponível em: <http://www.scientiaplena.
H.H.; OLIVEIRA, F.M. & DORNELAS, org.br>.
V.R. 2005. Sistema Multimídia Educacional
para o Ensino de Geociências - Uma estratégia

Figura 1. Modelo esquemático do multimídia.

Figura 2. Exemplo de um slide das notas de aula.

58
FAÇA UM FÓSSIL MUITO FÁCIL
Mariane Valerio Gonzales1 (mari_gonzales3@yahoo.com.br), Mariana Oliva Tomazella1 (mariana.tomazella@usp.br),
Sarah Alegretti Marques Lima1 (sarah.lima@usp.br), Caio Cabezas Aragon1 (caio_aragon@hotmail.com),
Felipe Antônio de Lima Toledo1 (ftoledo@usp.br), Karen Badaraco Costa1 (karen.costa@usp.br)
Universidade de São Paulo
1

RESUMO química, que aportam conceitos vitais porém


pouco explorados para o conhecimento e interesse
A escassez de atividades lúdicas na área de
por parte da criança, em relação a natureza na qual
micropaleontologia faz com que tentar disseminar
vive.
os objetivos dessa ciência para o público geral, seja
uma tarefa no mínimo desafiadora. O projeto As teorias científicas, por sua
“Faça um Fóssil Muito Fácil” tenta cumprir essa complexidade e alto nível de abstração, não
missão de um modo simples e eficiente, focando-se são passíveis de comunicação direta aos alunos
em alunos do ensino fundamental. Para auxiliar de ensino fundamental. São grandes sínteses,
nessa tarefa foram elaborados recursos didáticos, distantes das ideias de senso comum. Seu ensino
como banners e moldes de silicone, que além de sempre requer adequação e seleção de conteúdos,
apresentarem ao público-alvo os microfósseis, pois não é mesmo possível ensinar o conjunto de
também fazem uma comparação entre os micro e conhecimentos científicos acumulados (BRASIL,
macro fósseis. Os resultados prévios mostram que 1998). Portanto, o manuseio de objetos que
os jogos auxiliam não só no entendimento mas representem a natureza e suas formas de vida,
também na memorização. atuais ou passadas, auxiliam na fixação do
conteúdo apresentado em teoria.
Palavras-chave: micropaleontologia,
moldes, fósseis, atividades lúdicas O projeto “Faça um Fóssil Muito Fácil”
surgiu neste contexto com o intuito de apresentar
e divulgar a paleontologia, com enfoque na
ABSTRACT micropaleontologia, de forma dinâmica e lúdica
To disseminate the objectives of a alunos do ensino fundamental, utilizando como
Micropalaeontology to the general public is at recurso matrizes, moldes e réplicas de nanofósseis
least, a challenging task, due the lack of ludic calcários e foraminíferos em tamanho aumentado,
activities. The “Make a Fossil Very Easy” project tornando esses microfósseis passíveis de manuseio
tries to accomplish this mission focusing on pelas próprias crianças.
elementary students. To assist in this task were
prepared teaching resources such as banners MATERIAIS E MÉTODOS
and silicone molds, which besides introducing
microfossils to the audience also establish a A metodologia para intervenção foi
comparison between the micro and macro fossils. baseada na teoria de Mascarenhas (2000), segundo
The previous results have shown that games not a qual o método é o caminho para o alcance
only help in understanding but also in memory. dos objetivos. Sua organização tem referência
na relação que mantém com estes e com os
Keywords: micropaleontology, molds,
conteúdos. É construído a partir da necessidade
fossils, ludic activities
e características do grupo, tempo pedagógico e
recursos disponíveis.
INTRODUÇÃO Com a brincadeira simples na qual cada
O ensino da paleontologia nas escolas criança faz uma réplica de gesso a partir de um
de ensino fundamental e médio brasileiras se molde de microfóssil, procuramos introduzir
resume às ciências da terra, comumente associado conceitos de sua formação e o que eles podem
à disciplinas como biologia, geografia, física e representar, mostrando sua importância. Segundo

59
Alves et al. (2005) desenvolver atividades variadas e posteriormente resina de silicone. Para montar
e interessantes, construindo produtos ao longo um molde de curativo de gaze coloca-se sobre a
do processo torna visível o que foi aprendido matriz uma camada de gaze e uma de cola branca,
e os participantes tomam consciência do que sucessivamente até que se totalizem cerca de dez
conquistaram. camadas de gaze, depois de completamente seco
Para auxiliar a fixação do conhecimento aplica-se o gesso e o deixa secar. A retirada do
sobre a micropaleontologia bem como para gesso moldado mostrou-se difícil e exige força, a
fins de divulgação, foi desenvolvido um folder réplica formada tem baixa qualidade e molde com
explicativo composto por alguns conceitos como o pouca durabilidade sendo possível confeccionar
processo de formação dos fósseis, o que são e qual apenas duas réplicas com cada molde, acredita-se
a importância dos foraminíferos e nanofósseis que este se deforma devido à cola branca ser
calcários, bem como as atividades do projeto e solúvel em água e o gesso ser hidratado.
do Laboratório de Paleoceanografia do Atlântico No caso da resina de silicone, que vem
Sul (LaPAS), onde o mesmo foi desenvolvido. na forma pastosa, deve-se mistura-la com um
Também foi elaborado um banner com fotos catalizador e coloca-la sobre a matriz, esta dentro
de foraminíferos e o processo de formação dos de uma caixinha delimitadora e untada com
fósseis, este com fim de auxiliar na explicação dos vaselina sólida. Depois de vinte e quatro horas
conceitos ministrados antes da atividade. o molde está pronto e a matriz intacta. Por sua
A ideia do participante produzir a sua maleabilidade, ao aplicar o gesso e esperar que
própria réplica de um fóssil surgiu através da esteja seco, a réplica é facilmente desenformada,
observação de outros projetos que somente fiel á matriz e tem grande durabilidade.
apresentavam-na. O fato de a criança levar o seu A produção das réplicas é feita a partir de
fóssil para casa, mostrar aos pais e amigos, pode gesso, por ser um material atóxico, inodoro, não
despertar mais curiosidade tanto nela quanto nas inflamável e de baixo custo, além de reproduzir
pessoas próximas. O desafio era descobrir uma fielmente o molde, independente do seu
maneira fácil de tornar isso possível. material. Para confecção da réplica, cada criança
A confecção das matrizes dos microfósseis participante receberá um kit contendo moldes,
foi manual, baseada em imagens produzidas gesso suficiente, copos, palitos de sorvete e um
no LaPAS sendo necessário a utilização de um manual explicativo, bastando somente misturar a
material resistente, atóxico e inerte, por isso foram água ao gesso, aplicar no molde e esperar secar.
testados dois tipos de materiais: massa de biscuit e
Durepoxi®. O primeiro, embora de fácil manuseio,
CONCLUSÕES
não apresentou resultados favoráveis devido ao fato
de após a secagem a massa se tornar quebradiça; Os integrantes do projeto realizaram duas
já o segundo se mostrou mais resistente, secagem visitas nesta etapa inicial na creche Quacatú em
mais rápida alem de melhor manuseio e grande São Paulo. A primeira, em dezembro de 2010,
durabilidade. Nele foram moldadas quatro contou com cerca de 30 crianças, com idade entre
espécies de foraminíferos (Globigerinoidesr uber, 3 e 4 anos. As réplicas, levadas prontas, tinham
Globorotalia menardii, Globorotaliacrassa formis, formato de seis animais marinhos: golfinho,
Globigerinita iota, Globigerinellas phonifera) e uma polvo, cavalo marinho, tartaruga, caranguejo
espécie de nanofóssil calcário (Coccolithuspelagicus) e peixe, escondidos em três bandejas com dez
com tamanho em torno de cinco centímetros e quilos de areia distribuídos entre elas, nas quais as
sem escala com os organismos originais. crianças deveriam procurar uma réplica e pintá-las
Para a reprodução em grande escala posteriormente. Nesta visita não foram utilizadas
observou-se ser necessário a confecção de moldes réplicas de microfósseis, pois se acreditava que
que produzissem réplicas fiéis à matriz, com as crianças não tinham idade suficiente para
durabilidade e que pudessem ser manuseadas pelas reconhecer e assimilar tais representações.
crianças participantes. Foram testados dois tipos A segunda visita foi realizada no mesmo
de materiais: curativos de gaze com cola branca local, em maio de 2011, com as crianças já com

60
4 e 5 anos. Após uma breve explicação utilizando REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
o banner as crianças puderam observar através
de uma lupa alguns exemplares de foraminíferos. ALVES, V.F.N.; GOMES, C.L. & REZENDE,
Além disso, elas tiveram a oportunidade de R. 2005. Lazer, lúdico e educação. 1ª ed.
participar da confecção de réplicas e uma vez Brasília, SESI/DN, 85 p. (Lazer e Cultura,
que a atividade estava concluída puderam levar 3).
um exemplar, feito anteriormente em laboratório,
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
para casa.
1998. Parâmetros curriculares nacionais :
Após a primeira visita, as crianças e Ciências Naturais / Secretaria de Educação
professores se interessaram sobre o tema da Fundamental. Brasília : MEC / SEF.
paleontologia, por isso a creche optou por
desenvolver em 2011, com os alunos do G4 (4 MASCARENHAS, F. 2000. Lazer e grupos
anos de idade), o tema dinossauros e seus fósseis, o sociais: concepções e métodos. Programa
que fez com que a segunda experiência fosse mais de Pós-Graduação em Educação Física,
dinâmica e proveitosa. Universidade Estadual de Campinas,
dissertação de Mestrado, 50 p.

61
FÓSSEIS DE PTEROSSAUROS NOS MUSEUS DO CARIRI
CEARENSE, TERRITÓRIO DO “GEOPARK ARARIPE”
Nathália De Sousa Fernandes1 (natymsyc@gmail.com.br), Alexandre Magno Feitosa Sales1(amfsales@uol.com.br),
Marciana Cláudio da silva1 (marciabiologia2007@hotmail.com), Karla Janaisa Gonçalves Leite1 (karlinhaaurora@hotmail.com),
Pedro Hudson Teixeira Rodrigues1 (pedrobiologo@hotmail.com), João Kerensky2 (kerenskysuchus@gmail.com)
Universidade Regional do Cariri-URCA; 2Museu de Paleontologia URCA/ Programa de Pós-Graduação / UFC
1

RESUMO Keywords: Pterosaurs, Museum, Geopark


Araripe
Esta pesquisa (ainda ativa) consiste no
levantamento dos fósseis de pterossauros (répteis
alados extintos) da Formação Santana, da Bacia INTRODUÇÃO
do Araripe, nas coleções dos museus da Região Os fósseis de pterossauros da Formação
do Cariri cearense, no território do “Geopark Santana despontam como um dos principais
Araripe”: Museu de Paleontologia da URCA, na atrativos para o turismo científico e geoturismo da
cidade de Santana do Cariri (135 fósseis); Museu região da bacia do Araripe, inclusive contribuindo
de fósseis do DNPM, na cidade de Crato (07 para a divulgação e reconhecimento cientifico do
fósseis); Museu da Fundação Casa Lima Botelho “Geopark Araripe”, no sul do Estado do Ceará.
(25 fósseis) e Museu Municipal Joaquim Pereira
Esta pesquisa consiste no levantamento
Alves (03 fósseis), ambos na cidade de Jardim.
dos fósseis de pterossauros da Formação Santana,
Os pterossauros, primeiros vertebrados a alçarem
da Bacia do Araripe, nas coleções dos museus
vôo, de esqueleto frágil, são de difícil preservação,
da Região do Cariri cearense, no território do
devido aos eventos tafonômicos e dependem de
“Geopark Araripe” (CARDOSO et al, 2008).
condições especiais para sua fossilização. Na bacia
Os museus de paleontologia são responsáveis
do Araripe são um dos atrativos para o turismo
por grande pare do fluxo de turistas e cientístas
científico e geoturismo contribuindo para a
interessados em estudar e ou conhecer os fósseis
divulgação do “Geopark Araripe”.
da região (SALES et al., 2000; 2004).
Palavras-chave: Pterossauros, Museu,
O registro de pterossauros (répteis alados
“Geopark Araripe”
extintos) é restrito a poucas áreas do planeta e,
no Cretáceo da Bacia do Araripe, na Formação
ABSTRACT Santana, Nordeste do Brasil, um significativo
This research (in activity) is a survey número de fósseis de pterossauros ocorre em
of the fossil pterosaurs (winged reptiles rochas calcáreas (Membro Crato) e em concreções
extinct) in the Santana Formation, Araripe carbonáticas (Membro Romualdo) (SENSU
Basin, in the collections of museums in the BEURLEN, 1971 IN PONTE & APPI, 1990),
region of CaririCeará, in the territory of the sendo conhecida mundialmente pela qualidade dos
“GeoparkAraripe”: Museum of Paleontology fósseis encontrados, muitas vezes com preservação
URCA in the city of Santana Cariri (135 fossils), inclusive de tecidos moles e com exemplares até
fossils DNPM Museum in the town of Crato (07 em três dimensões (KELLNER, 2002; VIANA
fossils); Foundation Museum Casa Lima Botelho & NEUMANN, 2002). Os pterossauros foram os
(25 fossils) and Municipal Museum Joaquim primeiros vertebrados a alçarem vôo, de esqueleto
Pereira Alves (03 fossils), both in Garden city. frágil, são de difícil preservação, devido aos eventos
Pterosaurs, the first vertebrates to soar, fragile tafonômicos e dependem de condições especiais
skeleton, are difficult to preserve, Taphonomic para sua fossilização.
due to events and depend on special conditions for A biodiversidade encontrada no registro
their fossilização. At Araripe Basin is one of the fóssil da Bacia do Araripe mostra um evento
attractions for tourism and scientific geotourism biológico singular com acentuado índice de macro
helping to spread the “GeoparkAraripe.” evolução, representada pelo surgimento de novos

62
gêneros entre as populações principalmente de território do “Geopar Araripe”. Tendo o Museu
insetos, peixes e répteis. No caso dos pterossauros, de Paleontologia da URCA, na cidade de Santana
surgiram até mesmo novas famílias. Havia do Cariri, 135 fósseis (mas até o momento
um ambiente bastante favorável à vida, que catalogados nesta pesquisa, 57 fósseis); o Museu de
associado às condições especiais pós-morte, fósseis do DNPM, na cidade de Crato, 07 fósseis;
possibilitou a preservação excepcional dos fósseis o Museu da Fundação Casa Lima Botelho, 25
(CARVALHO, 2005). fósseis e o Museu Histórico Municipal Joaquim
Na bacia do Araripe, os espécimes de Pereira Alves, 03 fósseis, ambos na cidade de
pterossauros descritos pertencem a dois grupos: Jardim, corroborando com os dados levantados
os Anhanguerídeos e os Tapejarídeos. O grupo por RODRIGUES (2010).
(Família) Anhangueridae: os Anhanguerídeos Com relação a tafonomia dos exemplares
mediam cerca de 4 a 5 metros de envergadura presentes nos museus (estudos em estágio inicial),
de asas, para uma altura de cerca de 1,5 metros notadamente percebe-se a preservação de ossos
no solo, sendo os pterossauros do gênero ocos com estruturas internas de sustentação
Anhanguera os maiores pterossauros de sua época. denominadas trabéculas. Na sua maioria são
Alimentavam-se de peixes. O Grupo (Família) peças desarticuladas (fragmentos ósseos,) e
Tapejaridae: os Tapejarideos possuíam uma crista secundariamente peças parcialmente articuladas
óssea formada principalmente pelos ossos pré- (membros anteriores e ou membros posteriores) e
maxilar da ponta da mandíbula superior. Também finalmente em menor número partes de mandíbulas
podem caracterizados pela sua grande fenestra e crânios, mostrando varias feições tafonômicas:
nasoantorbital (KELLNER, 2008). bioestratigráficas (morte, decomposição,
transporte, desarticulação e fragmentação) e
fóssil-diagêneticas (recristalização).
MÉTODOS
Quanto a exposição, apesar dos esforços
A pesquisa, sobre os fósseis de pterossauros dos museus, ainda faltam boas condições para
dos museus sul cearenses, encontra-se com as coleções expostas, como: textos, dioramas,
a sua primeira etapa concluída (revisão de ilustrações, iluminação preparação das peças,
literatura) e a segunda etapa (catalogação dos expositores apropriados, vídeos, etc.. Somente o
exemplares e registro fotográfico dos fósseis) museu de Paleontologia da URCA, em Santana do
em estágio final de desenvolvimento. Foi Cariri, apresenta uma exposição mais organizada,
formatada uma ficha técnica descritiva, para e lá se tem o conforto de uma visita climatizada,
descrição das informações pertinentes ao fóssil com a possibilidade de guias que acompanham
e do material produzido a partir do mesmo e grupos.
futura análisetafonômica de exemplares. Essa Apesar dos fósseis de Pterossauros
ficha foi desenvolvida exclusivamente para este brasileiros se concentrarem na região do Araripe,
estudo e nos museus já começa a ser utilizada. nordeste do Brasil, o depósito fossilifero da
As informações dizem respeito: quanto a rocha, Formação Santana mostra uma exuberância
se calcário, concreção, outros; quanto ao fóssil: de espécimes e espécies que o faz despontar
vertebrado ou invertebrado; quanto ao exemplar no cenário mundial. Em virtude do intenso
fóssil: se completo/ incompleto; articulado/ comércio ilegal de exemplares, atualmente,
desarticulado, fragmentado; quanto a presença poucos exemplares dos museus foram utilizados
de tecido: mole, duro, icnofóssil; quanto ao tipo em discussões e na publicação de artigos. Sendo
de fóssil: pterossauro, peixe, vegetal, outros; utilizados principalmente em abordagens que
quanto ao material: 1-exposição; 2-iluminação; envolvem escolhas de caráteres diagnósticos para
3-identificação; 4-coleção; 5-publicação. famílias e ordens (KELLNER, 2008).
Esta pesquisa visa contribuir para
CONCLUSÕES pesquisadores, estudiosos e alunos da
Na pesquisa foram catalogados fósseis paleontologia, entusiasmados em estudar e
de pterossauros de quatro museus na região do conhecer a paleofauna de pterossauros (répteis

63
alados) da Formação Santana, dos museus de SALES, A.M.F.; ANDRADE, J.A.F.G.;
paleontologia, contribuindo com o conhecimento NUVENS, P.C. 2000. Museus da região
científico na região do “Geopark” Araripe, sul do do Cariri cearense e o turismo científico como
Estado do Ceará. ferramentas de difusão da Paleontologia. In:
Paleo-2000-PR-SC, 2000, Mafra-Rio
Negro. UnC, 2000. v. 1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARDOSO, A.L.H; SALES, A.M.F. & SALES, A.M.F.; ANDRADE, J.A.F.G. &
HILLLMER, G. 2008. The UNESCO COUTINHO JUNIOR, J. 2004. Museus
Araripe Geopark: a short story about evolution de Paleontologia na região do Araripe e a
of life, rocks and continents. 1. ed. Fortaleza: geração de pólo turismo científico. In: Reunião
Expressão Gráfica e Editora, 2008. v. 1500. Anual Regional da Sociedade Brasileira de
80 p., Ilust. Paleontologia, 2004, Recife, PE. Boletim de
Resumos, 2004. p. 18-18.
CARVALHO, M.S.S. & SANTOS, M.E.C.M.
2005. Histórico das Pesquisas Paleontológicas na VIANA, M.S. & NEUMANN, V.H.L. 2002.
Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Anuário Membro Crato da Formação Santana,
do Instituto de Geociências – UFRJ, Vol. Chapada do Araripe, CE – Riquíssimo
28-1 / 2005. registro de fauna e flora do Cretáceo. In.:
SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.;
KELLNER, A.W.A. 2006. Pterossauros: os QUEIROZ, E. T.; WINGE, M.; BERBET-
senhores do céu do Brasil. Vieira & Lent, BORN, M. L. C. (Edits.) Sítios Geológicos
2006. e Paleontológicos do Brasil. 1. ed. Brasília:
DNPM/CPRM – Comissão Brasileira
KELLNER, A.W.A. 2002. Membro Romualdo de Sítios Geológicos e Paleontológicos
da Formação Santana, Chapada do (SIGEP), 2002. V. 01: 113-120.
Araripe, CE – Um dos mais importantes
depósitos fossíliferos do Cretáceo brasileiro
SIGEP 6 In.: SCHOBBENHAUS, C.;
CAMPOS, D.A.; QUEIROZ, E. T.;
WINGE, M. & BERBET-BORN, M.L.C.
(Eds.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do
Brasil. 1. ed. Brasília: DNPM/CPRM –
Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleontológicos (SIGEP), 2002. V. 01: 121-
130.

PONTE, F. C. & APPI, C. J. 1990. Proposta de


revisão da coluna litoestratigráfica da Bacia
do Araripe. In: Congresso Brasileiro de
Geologia, 36, Natal, 1990, Anais... Natal,
SBG. v. 1, p. 221-226.

RODRIGUES, P. H. T. 2010. Levantamento da


fauna fóssil de vertebrados expostos nos museus
do cariri cearense. Monografia de Conclusão
em Ciências Biológicas, Universidade
Regional do Cariri – URCA, Inédito, não
publicado, 56 p., ilust.

64
GEOTURISMO NA CAPITAL CEARENSE DA PALEONTOLOGIA,
MUSEU DE PALEONTOLOGIA E PERFIL DO TURISTA
Ludmila Alves Cadeira do Prado1 (ludmila.alves_bio@yahoo.com), Alexandre Magno Feitosa Sales2 (amfsales@uol.com.br),
Aline Mouniele Bezerra Santos1 (alinecratobio@gmail.com), Pedro Hudson Rodrigues Teixeira1 (pedrohudson@yahoo.com.br)
Curso de Ciências Biológicas, URCA; 2Departamento de Ciências Biológicas
1

RESUMO INTRODUÇÃO
O Geoturismo destaca-se como um O geoturismo destaca-se como um novo
novo segmento da indústria turística responsável segmento da indústria turística responsável em
em explorar de forma sustentável o patrimônio explorar de forma sustentável o patrimônio
geológico e paleontológico de uma determinada geológico e paleontológico de uma determinada
região. Na região do “Geopark Araripe”, Santana região (Nascimento, et al., 2008). Este seu caráter
do Cariri, a Capital Cearense da Paleontologia geocientifico já notado e divulgado em eventos de
é uma cidade localizada no extremo sul do cunho paleontológico (SALES et al., 2000; 2004)
Ceará, com aproximadamente 8 mil habitantes. representa um referencial de grande interesse
As feições geológicas e a paleontologia são os para o geoturismo; no cenário paleontológico a
principais destaques para o turismo local e sem sua geobidiversidadecretácica figura como uma
dúvidas, o Museu de Paleontologia da URCA, das mais importantes do mundo, isto pode ser
tem papel o mais importante para o geoturismo observado com a análise da expressiva visitação
regional e local e agrega valor para um roteiro na que o museu de paleontologia recebe anualmente.
cidade e geossítios das cercanias. Este seu caráter Na região do “Geopark Araripe” (CARDOSO
geocientifico representa um referencial de grande et al., 2008), em Santana do Cariri, destacam-se
interesse para o geoturismo. os geossítioscretácicos da Formação Santana
Palavras-chave: Geoturismo, Santana do (Membros Crato (VIANA & NEUMANN,
Cariri,Geopark, Araripe 2002), Ipubi e Romualdo (KELLNER, 2002)
(SENSU BEURLEN, 1971 IN PONTE &
APPI, 1990), com seus famosos e belíssimos
ABSTRACT registros de alta qualidade, de uma biota fóssil de
The Geotourism stands out as a new organismos petrificados no período do Cretáceo
segment of the tourism industry responsible (aptiano-Albiano) (MAISEY, 1991), da coluna
for sustainably exploit the geological and litoestratigráfica da Bacia do Araripe Nesses,
paleontological heritage of a particular region. In o turista pode visitar lavras atuais e antigas,
the region of “GeoparkAraripe,” Santana Cariri, além de conhecer uma das principais atividades
the capital of Ceara Paleontology is a city located econômicas da região, o extrativismo mineral,
in southern Ceará, with approximately 8000 onde associado as rochas (SANTOS, 2010).
inhabitants. The geological and paleontological Os turistas também procuram os geossítios da
features are the main highlights for the local Formação Exu, de idade Cenomaniana, aflorante
tourism and sure enough, the Museum of na região do município de Santana do Cariri, e
Paleontology URCA, is the most important role que ocupa o último registro sedimentar da Bacia
for regional and local Geotourism adds value to do Araripe, com escarpas, anfiteatros naturais,
a script on the outskirts of the city and geosites. paredões para escalada, furnas e grutas areníticas,
This character represents a geoscience reference pinturas rupestres, fontes naturais, trilhas e vales,
of great interest to geotourism. com destaque para o geossítio Exu, localizado no
Keywords: Geotourism, Santana Cariri, Pontal da Santa Cruz, com bons afloramentos e
Araripe Geopark valores culturais e paisagísticos, além de contar
com o complexo turístico, com trilha ecológica,
artesanato, restaurante e capela (Santos, 2010).

65
Além do geoturismo, a cidade Desta maneira, impossibilitou de ser visitado
apresenta outros atrativos. Possui rico durante parte do período desta pesquisa e
patrimônio imaterial (apresentações populares, confecção deste trabalho, entretanto o Professor
artesanato e festas anuais que reverenciam Alexandre Magno Feitosa Sales, ex-diretor
seus santos padroeiros) e que desenvolvem, do museu, no período de 2005 a 2007, cedeu
em parte, estreita relação com a paleontologia. gentilmente dados da catalogação dos fósseis
No ano de 2005, por decretos estaduais do expostos no museu, no período de sua gestão.
Governo do Estado do Ceará, Santana do Encontram-se expostos no Museu de
Cariri foi reconhecida como a Capital Cearense Paleontologia da Universidade Regional do
da Paleontologia, e, no mesmo ano, criou o Cariri, em Santana do Cariri, rochas e grande
Geoparque Nacional do Araripe, onde Santana quantidade de fósseis. Exemplificando os vegetais:
do Cariri foi considerada uma das porções mais dentre as gimnospermas no museu, têm-se 78
importantes, dentro do território do projeto do peças soltas (folhas, caules e estróbilos) além de
geoparque. No ano de 2006, a região do cariri foi troncos silicificados de araucárias e coníferas. As
reconhecida e certificada pela UNESCO, como o angiospermas contam com cerca de 26 partes
“Geopark Araripe”, pertencente à Rede Global de isoladas (folhas, galhos, sementes, flores). Os
Geoparques (GGN), sendo, a época, o primeiro vertebrados fósseis expostos no museu apresentam
do hemisfério sul e das Américas (CARDOSO formas tridimensionais, com excelente preservação
et al., 2008). de tecidos ósseos e não ósseos de peixes, anfíbios
(rãs) e répteis (tartarugas, lagartos, dinossauro,
crocodilianos e pterossauros). 345 fósseis expostos
MÉTODOS de peixes. Os anuros contam com 06 exemplares.
Visando identificar as principais Dentre os pterossauros, tem-se 135, entre
características históricas e/ou científicas dos fragmentos de ossos, fragmentos do bico, crânios
principais pontos turísticos de Santana do e asas. As tartarugas contam com 10 exemplares
Cariri, assim como a carência na infra-estrutura Ressalta-se que há diariamente acréscimos de
do município, foi realizado um levantamento fósseis às coleções do museu e, que esses números,
bibliográfico e entrevistas com moradores locais, já não refletem, o acervo atual.
dentre os meses de Fevereiro e Junho de 2011,
além de a aplicação de um questionário para se
avaliar o geoturismo, em específico durante a visita PERFIL DO TURISTA VISITANTE
de grupos ao Museu de Paleontologia da URCA. Somente o Museu de Paleontologia da
Com intuito de identificar o perfil dos URCA, recebe anualmente mais de vinte e quatro
grupos de visitantes do museu de paleontologia, mil visitantes. O que representa três vezes mais do
foi realizada uma entrevista com o responsável que a quantidade de moradores locais da cidade.
de cada excursão, no total de vinte e sete grupos, A amostragem revelou público de
durante quinze dias. diferentes localidades, faixa etária e níveis de
escolaridade. 77,78 % grupos pertenciam a cidades
circunvizinhas, 7,41% a outras cidades do estado
MUSEU DE PALEONTOLOGIA do Ceará e 14,81% a cidades de outros estados
O Museu de Paleontologia da URCA foi nordestinos. 81,48% constituíam instituições de
criado no município de Santana do Cariri pela Lei ensino: 7,41 % do fundamental 1, 33,33% do
197 de 18 de abril de 1985, oriunda da Mensagem fundamental 2, 29,63% do Médio, 11,11% superior
municipal e doado à URCA por força da Lei 263, e, 7,41% referia-se a grupo de amigos e 11,11% de
de 16 de abril de 1988,sendoinaugurado em 26 de outros. 70,37% dos grupos afirmaram terem sido
julho de 1988. A URCA Assumiu efetivamente o informados da possibilidade de visita ao museu
museu em 1991. por outras pessoas e apenas 14,81% pelo Geopark
Nos anos de 2009 e 2010 o Museu Araripe, 7,41% pela internet e 7,41 % por outros.
de paleontologia da URCA passou por uma Dos grupos escolares, 39,13% opinaram que a
reforma em sua estrutura, na qual ficou fechado. visita ao museu de paleontologia deve ser realizada

66
uma vez ao semestre, 34,78 % por uma vez ao REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ano e 26,09 % duas ou mais vezes. Perguntou-se
quem realizou visitas a geossítiosfossilíferos: CARDOSO, A.L.H; SALES, A.M.F. &
62,96% responderam que sim e 37,04% que não. HILLLMER, G. 2008. The UNESCO
Alguns afirmaram não ter realizado a visita por Araripe Geopark: a short story about evolution
desconhecimento da existência dos geossítios of life, rocks and continents. 1. ed. Fortaleza:
e outros por não conseguir localizar o geossítio, ExpressãoGráfica e Editora, 2008. v. 1500.
por falta de informações e sinalização nas vias de 80 p., Ilust.
acesso.
KELLNER, A.W.A. 2002. Membro Romualdo
Quanto à aprendizagem da paleontologia da Formação Santana, Chapada do
pelo grupo durante as visitas, 66,67% afirmaram Araripe, CE – Um dos mais importantes
compreendê-la e, 33,33% em parte. 33,33% depósitos fossíliferos do Cretáceo brasileiro
disseram ter participado de alguma atividade SIGEP 6 In.: SCHOBBENHAUS, C.;
oferecida e, 66,67% não. Apenas 18,52 % dos CAMPOS, D.A.; QUEIROZ, E.T.;
grupos visitava o museu pela primeira vez. WINGE, M. & BERBET-BORN, M.L.C.
Considerando-se apenas as instituições escolares, (eds.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do
78,26% dos grupos entrevistados apresenta a Brasil. 1. ed. Brasília: DNPM/CPRM –
paleontologia com explicações prévias, 91,30% Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
com vídeos e documentário, 39,13% com réplicas Paleontológicos (SIGEP), 2002. v. 01: 121-
de fósseis, 34,78% com apostilas, 8,70% com fósseis 130.
e, 13,04% com folders. 47,83% concordam que a
maior dificuldade em se trabalhar paleontologia MAISEY, J.G. (Ed.). 1991. Santana
em sala de aula é carência de material didático, Fossil an illustrated atlas.Tropical
43,48% de material fóssil, 34,78 % de realização FishHobbyistPublications, New Jersey,
de passeios e visitas a sítios e museu, 13,04 % USA, 459 pp.
de todos os itens . 95,65% desejam participar de
projetos do museu, com material didático, fósseis NASCIMENTO, M.A.L.; RUCHEKYS, U.A.
e monitores para seus alunos, apenas 4,35% & NETO, V.M. 2008. Geodiversidade,
afirmam não ter interesse. Geoconservação e Geoturísmo: Trimônio
Importante para a Proteção do Patrimônio
geológico. 2008... SBG 44 Congresso
CONCLUSÕES brasileiro de Geologia, Curitiba - PR, 2008.
Com aplicação de questionários, é p. 84, ilust.
necessário dar continuidade a pesquisa para
tornar os resultados ainda mais confiáveis para PONTE, F.C. & APPI, C.J. 1990. Proposta de
o geoturismo, na cidade de Santana do Cariri, a revisão da coluna litoestratigráfica da Bacia
Capital Cearense da Paleontologia. Os turistas do Araripe. In: Congresso Brasileiro de
procuram o Museu de Paleontologia, visitam Geologia, 36, Natal, 1990, Anais... Natal,
geosítios, quando localizados e expressam SBG. v. 1, p. 221-226.
desejo de interagir com atividades educativas e
científcas do museu e do “Geopark”. Verificou-se RODRIGUES, P.H.T. 2010. Levantamento da
deficiências principalmente em relação às vias fauna fóssil de vertebrados expostos nos museus
de acesso e sinalização dos sítios. Conclui-se do cariri cearense. Monografia de Conclusão
que, mesmo com a relevância do Museu de em Ciências Biológicas, Universidade
Paleontologia, geossítios e do “Geopark Araripe”, Regional do Cariri – URCA, Inédito, não
de acordo com os turistas, a cidade ainda não se publicado, 56 p.,ilust.
encontra devidamente preparada para suprir as
SALES, A.M.F.; ANDRADE, J.A.F.G. &
necessidades para a prática do geoturismo.
NUVENS, P.C. 2000. Museus da região
do Cariri cearense e o turismo científico como

67
ferramentas de difusão da Paleontologia. In: Ciências Biológicas, Universidade Regional
Paleo-2000-PR-SC, 2000, Mafra-Rio do Cariri – URCA, Inédito, não publicado,
Negro. UnC, 2000. v. 1. 67 p.,ilust.

SALES, A.M.F.; ANDRADE, J.A.F.G. & VIANA, M.S. & NEUMANN, V.H.L. 2002.
COUTINHO JUNIOR, J. 2004. Museus Membro Crato da Formação Santana,
de Paleontologia na região do Araripe e a Chapada do Araripe, CE – Riquíssimo
geração de pólo turismo científico. In: Reunião registro de fauna e flora do Cretáceo. In.:
Anual Regional da Sociedade Brasileira de SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS,
Paleontologia, 2004, Recife, PE. Boletim de D.A.; QUEIROZ, E.T.; WINGE, M.
Resumos, 2004. p. 18-18. & BERBET-BORN, M.L.C. (eds.)
Sítios Geológicos e Paleontológicos do
SANTOS, A.M.B. 2010. Geobiodiversidade Brasil. 1. ed. Brasília: DNPM/CPRM –
Cretácica da Chapada do Araripe e sua Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
potencialidade para o geoturismo (porção Paleontológicos (SIGEP), 2002. v. 01: 113-
cearense). Monografia de Conclusão em 120.

68
NOVA PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO-INSTRUCIONAL
COMO METODOLOGIA COMPLEMENTAR AO APRENDIZADO
DA PALEONTOLOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Lílian Paglarelli Bergqvist¹ (bergqvist@geologia.ufrj.br), Stella Barbara Serodio Prestes¹ (telababi@gmail.com)
¹Laboratório de Macrofósseis, Departamento de Geologia/UFRJ

RESUMO Keywords: Educational and instructional


material, Pirabas Formation, São José de Itaboraí
A quase totalidade das escolas do Ensino
Basin
Fundamental II não dispõe de material para
aulas práticas de Ciências e História sobre temas
relacionados à Paleontologia. Este trabalho INTRODUÇÃO
apresenta as primeiras etapas de um projeto Os estudos paleontológicos permitem o
de preparação de dois kits para aulas práticas entendimento da biodiversidade, interpretação
mostrando aos alunos a utilidade dos fósseis para de tempo geológico, evolução das espécies,
a identificação dos ambientes pretéritos e para características climáticas e outras particularidades
a datação das camadas sedimentares. Os kits do passado (Cruz & Bossetti, 2007). Apesar
consistem em réplicas dos fósseis brasileiros e de do estudo da paleontologia e da geologia estar
uma cartilha com as informações necessárias para incluídos no ensino de Ciências, de História
o desenvolvimento das atividades práticas. Com e de Geografia no Ensino Fundamental, as
esse intuito foram replicados fósseis procedentes informações proporcionadas aos estudantes
da Bacia de Itaboraí, no estado do Rio de Janeiro, normalmente se restringem ao disponível em
de idade paleocênica, e um bloco de rochas da livros didáticos, ensinados teoricamente em sala
Formação Pirabas, no estado do Pará, de idade de aula (Schwanke & Silva, 2004). As atuais
miocênica. abordagens do tema limitam a observação de
Palavras chave: Material didático- materiais, havendo pouca ou nenhuma interação
instrucional, Formação Pirabas, Bacia de São José do estudante com o material proposto. Existe,
do Itaboraí assim, a necessidade de criação de ferramentas
mais eficazes para o estudo da paleontologia nas
ABSTRACT escolas.
De acordo com Tamir (2010), a participação
Almost all high schools do not have
dos estudantes em investigações reais proporciona
satisfactory material for laboratory classes
o desenvolvimento de habilidades próprias do
in Science and History on topics related to
processo de produção do conhecimento científico,
Paleontology. This work deals with the first steps
ampliando a oportunidade dos estudantes se
in the preparation of kits for laboratory classes,
depararem com questões relacionadas à natureza
emphasizing to the students the importance of the
da ciência e de se desenvolver habilidades de
fossils for the identification of past environments
análise e solução de problemas.
and for dating of sedimentary layers. The kits
contain casts of fossils and a booklet with Este trabalho tem como objetivo
necessary information for the development of apresentar uma proposta de confecção de um kit
the lab classes. For this aim, fossils recovered at paleontológico associado a uma cartilha para servir
Itaboraí Basin, in the state of Rio de Janeiro, of como ferramenta ativa no estudo paleontológico no
Paleocene age, and a block of rock from Pirabas Ensino Fundamental. Os kits têm como princípio
Formation in the state of Pará, of Miocene age, serem ferramentas para um aprendizado de forma
have been replicated. investigativa, já que a cartilha não apresentará as
respostas, mas induzirá a elas pela comparação
e reflexão entre as características presentes nas

69
réplicas e o conteúdo disponível na própria grupos de invertebrados para ampliar o leque de
cartilha. Os kits têm como fim ajudar os alunos informações biológicas que fornecerão subsídios
a compreender como os fósseis são ferramentas aos alunos para as interpretações paleoambientais.
fundamentais para desvendar a história evolutiva Fósseis de bivalves, gastrópodes, corais e
da Terra. equinóides são bastante comuns nesta formação.
Dentre a diversidade de fósseis da Bacia
de Itaboraí selecionou-se representantes de
MATERIAIS E MÉTODOS
grupos que apresentam diferentes longevidades,
Este projeto, ainda em desenvolvimento, mas também que ilustrassem um pouco da
é construído de quatro etapas: (1) definição dos riqueza paleontológica da bacia fluminense.
temas a serem trabalhados nas aulas práticas; Assim, foram selecionados um representante das
(2) seleção dos fósseis a serem replicados; (3) ordens de mamíferos Condylarthra, Notoungulata,
elaboração da cartilha e, por fim, (4) avaliações Xenungulata e Marsupialia, um gastrópode e
junto aos alunos e ajustes. uma semente. Devido ao pequeno tamanho dos
(1) Fósseis são restos ou vestígios de fósseis de Itaboraí houve a necessidade de fazer
seres outrora vivos. Fósseis são enigmáticos, pois esculturas ampliadas em epóxi de cada fóssil.
mesmo quando completos, revelam apenas parte Estas ampliações, que serão replicadas, facilitarão
de si e de sua história e, por esse motivo, tornam-se a visualização e o manuseio no momento da aula
muito atrativos, pois instigam a curiosidade prática.
humana. A preparação de kits de réplicas de As réplicas serão confeccionadas com
fósseis para escolas não é uma novidade (Ribeiro uma mistura de gesso, cimento branco e cola
et al., 2007), mas estes têm sido montados com Cascorez, que são de baixo custo, resistentes a
o fim de apenas revelar um pouco da diversidade possíveis choques, e permite a pintura com as
pretérita, para serem apenas observados e ilustrar, cores próximas a dos fósseis originais. Pintados o
tridimensionalmente, algumas das imagens material se tornará mais atrativo para os alunos,
encontradas em livros. Nesta proposta pensamos contrapondo-se à maioria das réplicas ofertadas,
nos fósseis como ferramentas que podem ajudar que geralmente são monocromáticas, menos fieis
os alunos a desvendar um pouco da história da material ao original e, consequentemente, atraem
Terra. Dentre o leque de possibilidades elegeu-se menos a atenção desinteressante.
mostrar aos alunos como os fósseis podem revelar (3) A principal função da cartilha é
o ambiente que existia no local onde foram direcionar o aluno a atingir o objetivo traçado,
encontrados e como podem ser utilizados para mas também fornecer subsídios para que ele
determinar a idade da rocha onde se encontram. possa tirar suas próprias conclusões dos fósseis
Para o primeiro fim elegeu-se a Formação Pirabas, observados. Estão sendo confeccionadas de forma
devido à sua riqueza paleontológica (Távora et al. a constar informações científicas e imagens sobre
2010) principalmente de invertebrados marinhos, os fósseis e bacias sedimentares, em linguagem
que são facilmente associáveis ao seu ambiente de didática. Constarão das informações científicas
vida. Para o desenvolvimento do segundo objetivo a localização geográfica, a idade das unidades
elegeu-se a Bacia de Itaboraí, primeiramente geológicas relacionadas com a atividade, imagens
por estar situada no Rio de Janeiro (local onde dos fósseis ou fósseis afins, representantes
inicialmente será testada e implantada a proposta), recentes do grupo ou reconstituições dos mesmos,
por sua riqueza fossilífera e por possuir elementos a distribuição cronológica destes, informações
que permitem mostrar aos estudantes como os taxonômicas, características ecológicas e modo
fósseis são fundamentais na determinação da de vida desses animais, entre outras. Tais
idade de rochas sedimentares. características fornecerão subsídios aos estudantes
(2) Os fósseis da Formação Pirabas são para que tirem suas próprias conclusões sobre a
frequentemente representado por moldes de seu utilidade e importância dos fósseis.
exoesqueleto. Assim, elegeu-se para ser replicado (4) A última etapa, avaliação e ajustes da
um bloco de rochas com a maior diversidade de proposta, ocorrerá tão logo as etapas 2 e 3 sejam

70
concluídas. Os kits e a cartilha serão avaliados diferentes séries ou até mesmo em mais de uma
em atividades práticas realizada no laboratório de disciplina. Desta forma, os estudantes tendem a
Ciências, em no máximo dois tempos de aula, em achar que são assuntos que não possuem relação
estudantes do Ensino Fundamental do 6º ano da dificultando assim um raciocínio científico.
Escola Estadual de Ensino Fundamental Visconde
de Mauá, situado na Zona Norte da cidade do Rio
de Janeiro. Foi escolhido o 6º ano porque neste
CONCLUSÕES
período as disciplinas de Ciências e de Geografia A abordagem da paleontologia e da
abordam ao mesmo tempo temas como a origem geologia no Ensino Fundamental não tem se
dos seres vivos, solo, tempo geológico e deriva mostrado eficiente. Estes temas são comumente
continental. utilizados de forma demonstrativa e fragmentado,
devido à distribuição da paleontologia e geologia
em diferentes anos e a temática estar inserida
RESULTADOS ESPERADOS E DISCUSSÃO em três disciplinas: Ciências Naturais, História e
Pedrancini et al. (2007) observou que Geografia. Esta fragmentação, além de dificultar
nem sempre o ensino promovido no ambiente a compreensão do assunto pelos estudantes,
escolar possibilita que o estudante se aproprie tem limitado a utilização de novas abordagens
dos conhecimentos científicos de modo a metodológicas. A utilização exclusiva de fotos
compreendê-los, questioná-los e utilizá-los, pois e réplicas restringe o estudante a espectador,
grande parte do saber científico transmitido na despertando pouco interesse e produzindo pouca
escola é rapidamente esquecido, por causa da interação. Sendo assim, há necessidade de geração
forma como isso ocorre. de ferramentas ativas na educação, que possam
Grande parte das alternativas para a ser associadas às metodologias atuais oferecendo
introdução à ciência paleontologia no Ensino ao estudante o estimulo para constituição de um
Fundamental tem como estratégia apenas raciocínio científico. A proposta aqui apresentada
a visualização e demonstração de materiais, visa preencher um pouco esta lacuna.
como fotos e réplicas (Silva et al. 2010). Esta
metodologia não deve ser descartada, mas sim
AGRADECIMENTOS
complementada com novas formas de abordagem
que levem à maior interação com os estudantes. Ao Dr. Vladmir de Araújo Távora, do
O desafio para o ensino atual é a participação Instituto de Geociências da Universidade Federal
ativa dos estudantes, possibilitando o estimulo do Pará, pela identificação dos fósseis da Formação
do raciocínio e a assimilação de conteúdos da Pirabas e ao M.Sc. André Eduardo Piacentini
educação formal de maneira espontânea. Pinheiro (Tatu), do Laboratório de Macrofósseis,
O kit que se está propondo transcende o Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela
conceito de jogo educativo ou brincadeira, mas ampliação artística dos fósseis.
se constitui numa forma divertida e instigante de
realizar uma aula prática para fixação de conceitos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de paleontologia.
CRUZ, S.F.C.F. & BOSETTI, E.P. 2007. A
Os fósseis selecionados para compor o kit
geografia e a paleontologia: perspectivas
e a cartilha servirão como um meio educacional
de inter-relações no ensino fundamental.
interativo e ativo, e funcionarão como uma via de
Revista Terr@ Plural, Ponta Grossa, 1 (2):
mão dupla: os estudantes pesquisam nos fósseis
129-128.
as questões levantadas na cartilha e buscam na
cartilha os subsídios para a interpretação que
devem realizar.
No Ensino Básico normalmente a
abordagem de temas como evolução, morfologia
e ecologia ocorre de forma fragmentada, em

71
PEDRANCINI, V.D.; CORAZZA-NUNES, SILVA, S.D.; ILHA, A.L.R.; LUCHO,
M.J.; GALUNCH, M.T.B.; MOREIRA, A.P.B.; PERDOMO, J.D.; SANTOS,
A.L.O.R. & RIBEIRO, A.C. 2007. Ensino E.; IZAGUIRRY, B.B.D.; MARÇAL,
e aprendizagem de Biologia no ensino L.I.; FURLAN, F.R.; GALLON, F.I.;
médio e a apropriação do saber científico SILVA, F.C. & SULEIMAN, A.A. 2010.
e Biotecnológico. Revista Electrónica de A Paleontologia como Instrumento de
Enseñanza de las Ciencias, 6 (2):, 299-309. Educação Patrimonial. In: 28° Seminário
de Extensão Universitária da Região
RIBEIRO, A.M.; FERIGOLO, J.; Sul. Florianópolis, 2010. Disponível em:
RODRIGUES, P.H.; SCHERER, C.S.; <http://200.135.112.124/seurs/anais/
HSIOU, A.S. & MATUSIAK, M.A. Educação/Oficinas/UNIPAMPA/ >.
2007. Atividades Educacionais na Seção
de Paleontologia do Museu de Ciências TAMIR, P. 1990. Pratical Work in Scool:
Naturais, fundação Zoobotânica do Rio An Analysis of Current Practice. In:
Grande do Sul. Paleontologia: Cenários da WOOLNOGH, B. (ed.), Pratical Science.
Vida, Editora Interciência, p. 3-12. Milton Keynes: Open University Press.

SCHWANKE, C. & SILVA, M.A.J. 2004. TÁVORA, V.A.; SANTOS, A.A.R. & ARAÚJO,
Educação e Paleontologia. In: CARVALHO, R.N. 2010. Localidades fossilíferas da
I.S. (ed.) Paleontologia, Editora Interciência, Formação Pirabas (Mioceno Inferior).
2ª Edição p. 123-130. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi,
Belém, v. 5, n. 2, p. 207-224

72
O PRIMEIRO CENTENÁRIO DE ESTUDOS PALEONTOLÓGICOS DO ARARIPE
Ana Paula dos Santos Bruno1 (apsbruno@yahoo.com.br), Maria Helena Hessel1 (mhhessel@gmail.com),
José de Araujo Nogueira Neto1 (nogueira@ufc.br)

RESUMO based on collections and geological informations


of Brazilians.
A Bacia do Araripe, no nordeste do
Brasil, possue fósseis eocretáceos conhecidos Keywords: Araripe Basin, Ceará, History
internacionalmente. Com base na revisão of Paleontology
bibliográfica dos trabalhos publicados desde a
descoberta de fósseis em suas camadas até o final INTRODUÇÃO
de 1909, foram arrolados 48 títulos e reconstituída
A Bacia do Araripe, situada nos Estados
a evolução inicial de seu conhecimento
do Ceará, Pernambuco e Piauí, nordeste do Brasil,
paleontológico. A maioria dos trabalhos se
é uma bacia sedimentar predominantemente
constitue em relatos de descobertas e visitas
mesozóica, ainda que registre depósitos siluro-
à região ou menção de fatos já conhecidos. A
ordovicianos da Formação Cariri. Há uma
primeira obra publicada é de um brasileiro, João
sequência neojurássica, representada pelos
da Sylva Feijó. Conchostráceos fósseis foram
clásticos das formações Brejo Santo e Missão
descritos por Thomas Rupert Jones (1887) e
Velha, esta com notáveis troncos silicificados.
peixes por Louis Agassiz (década de 1840), Sir
Acima destas unidades, ocorrem estratos
Arthur Woodward (1887), Francisco de Paula
cretáceos, correspondentes às formações Abaiara
Pessôa (1905) e David Jordan (1907). Assim, nos
(Valangiano-Hauteriviano), Barbalha e Santana
100 anos iniciais, quase todo o conhecimento
(Aptiano-Albiano), e Araripina e Exu (Albiano-
paleontológico adveio do exterior, embasado em
Cenomaniano; Assine, 2007), das quais as três
coletas e informações geológicas de brasileiros.
primeiras são fossilíferas.
Palavras-chave: Bacia do Araripe, Ceará,
Os fósseis da Formação Santana são
História da Paleontologia
mundialmente conhecidos, quer sejam eles
provenientes dos calcários laminados, quer das
ABSTRACT concreções carbonáticas. Os mais abundantes
The Araripe Basin, in the northeast of são os peixes ósseos, ainda que também ocorram
Brazil, has internationally known by their Early formas cartilaginosas. Pterossauros também são
Cretaceous fossils. Based on a literature review motivo de grande interesse científico, pois a Bacia
since the discovery of fossils in its beds until the do Araripe é a única bacia sul-americana que
end of 1909, were listed 48 titles and reconstituted preservou seus restos sob formas tridimensionais
the initial development of his paleontological e com tecidos moles. Outros vertebrados
knowledge. Most papers are reports of discoveries presentes no Cretáceo do Araripe são dinossauros,
and visits to the region or mention of occurrences crocodilomorfos, quelônios e rãs. Penas, talvez
already known. The first published work come pertencentes a aves primitivas, também ocorrem
from a Brazilian, João da Sylva Feijó. Fossil nos calcários laminados.
conchostraceans have been described by Thomas A fauna de insetos e de outros artrópodos do
Rupert Jones (1887), and fossil fishes by Louis Araripe tornou-se internacionalmente conhecida
Agassiz (1840s), Sir Arthur Woodward (1887), pela extrema variedade e abundância de espécimes
Francisco de Paula Pessôa (1905), and David encontrados nos calcários laminados da Formação
Jordan (1907). Thus, in 100 years, almost all the Santana. Já foram reconhecidas quase 300
paleontological knowledge came from abroad, espécies de insetos, principalmente pertencentes

73
ao grupo dos grilos, gafanhotos, baratas e dos trabalhos foi examinada em seu original.
libélulas. Também são conhecidas ocorrências de Alguns estudos não diretamente relacionados
aranhas e escorpiões, caranguejos e copépodos. à Paleontologia da Bacia do Araripe foram
Outros invertebrados encontrados na bacia são consultados para complementar a descrição do
moluscos e equinóides. Microorganismos fósseis cenário histórico ou para preencher lacunas de
são naturalmente abundantes, especialmente os informação. As principais fontes nesta etapa foram:
ostracodes, polens e esporos. Hooker (1848), Nogueira (1888), Branner (1909),
Entre os vegetais, além dos palinomorfos, Gonsalves (1928), Iglesias (1943), Camargo
dinoflagelados e restos de algas caráceas Mendes (1945), Nash (1950), Leonardos (1970,
encontram-se preservados em diversas litologias 1973), Nobre (1978), Fittkau (2001), Paiva
e idades. Há abundantes fragmentos de troncos (2002), Pinheiro & Lopes (2002, 2006), Lopes &
silicificados de coníferas neojurássicas da Silva (2003), Telles (2004) e Carvalho & Santos
Formação Missão Velha, e folhas e ramificações (2005).
de samambaias, gimnospermas e gnetales, dos
quais também frutificações foram fossilizadas Os primórdios da
nos calcários laminados da Formação Santana. Paleontologia do Araripe
Vários espécimes de angiospermas, muitas vezes Coube ao tenente-coronel e naturalista
com raízes, caules, folhas, flores e frutos ainda carioca João da Sylva Feijó o primeiro registro
conectados se encontram também na Formação sobre os fósseis existentes na Bacia do Araripe, no
Santana. Icnofósseis são menos frequente, mas ‘Preâmbulo para um ensaio filosófico e político
há bioturbações de invertebrados nas formações sobre a capitania do Ceará para ser usado em sua
Cariri, Barbalha e Arajara, e coprólitos em história geral’, publicado pela Imprensa Regia do
concreções calcárias da Formação Santana. Rio de Janeiro, em 1810. Neste ensaio, Feijó, que
A história geológica da vida no Araripe era membro da Real Academia de Ciências de
foi deduzida por diversos geocientistas ao Lisboa, relata uma expedição que realizara pelo
investigarem suas rochas e fósseis. Alguns bons interior do Ceará, entre 1799 e 1800, e a coleta
livros sobre os fósseis da Bacia do Araripe foram de diversas petrificações de peixes em terras
editados, revelando para o grande público a do engenho Gameleira, entre Missão Velha e
riqueza escondida no subsolo nordestino. No Milagres. Nesta ocasião, Feijó, enviou um exemplar
presente trabalho, é dada ênfase aos pioneiros que de seu trabalho ao governador da capitania do
colaboraram para reconstruir sua história geológica Ceará, juntamente com uma coleção de concreções
desta importante região paleontológica do Brasil, fossilíferas acomodada em um caixote. Quatro
apresentando a dimensão histórica do primeiro anos depois, detalhou esta notícia num artigo
centenário de investigações paleontológicas da publicado na revista carioca ‘O Patriota’, onde
Bacia do Araripe. descreve “as mais raras e curiosas petrificações
vagas de peixes” que encontrou na serra dos cariris.
MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi re-publicado em 1889 na Revista
Trimestral do Instituto do Ceará, de Fortaleza.
Uma revisão bibliográfica exaustiva, que se Em 1815, no ano em que foi publicado em Londres
inicia nos primórdios do século 19, foi realizada o primeiro mapa geológico do mundo, o Brasil
como base para a construção dos primórdios do foi elevado a reino. E pouco tempo depois, em
conhecimento paleontológico do Cariri. Foram 1818, foi criado o Museu Real no Rio de Janeiro,
arrolados 48 títulos com referências à paleontologia local de referência para naturalistas estrangeiros
e sedimentologia da Bacia do Araripe desde 1810 que vinham coletar material científico para levar
até o final do ano de 1909, representando 100 para suas pátrias. Assim, pouco tempo depois, em
anos de pesquisas. Nesta compilação de trabalhos, 1822, ano em que o Brasil tornou-se império, o
não foram incluídas listas bibliográficas, descrição barão e tenente-coronel alemão Wilhelm Ludwig
de mapas geológicos, artigos de jornais diários Freiherr von Eschwege relata este achado de
e suplementos de revistas. A grande maioria Feijó em uma nota sobre a geologia do Brasil

74
publicada em Weimar, Alemanha. Um ano depois, em Neuchâtel. Em 1843, Gardner noticia, em
esta nota foi traduzida também para o francês Glasgow, detalhes da geologia da área onde foram
(editada em Paris) e, uma súmula, para o inglês encontrados os peixes fósseis, pois ele é o primeiro
(em Edinburgh). Von Eschwege não chegou a cientista europeu a visitar o Cariri e a descrever
visitar o Cariri, mas esteve no sul da Capitania de sua geologia. Um ano depois (1844), em Paris,
Pernambuco (parte que hoje pertence ao Estado Agassiz acrescenta, introduzido por François de
da Bahia), onde soube desta descoberta. Chabrillac, novos dados sobre esta descoberta,
A publicação seguinte provém de outros datando os peixes como cretáceos, baseando-se em
viajantes alemães que também não estiveram suas escamas. E em 1846, é publicado em Londres
na chapada do Araripe. É o extenso relato de o relato completo das viagens de Gardner, que
viagem ao Brasil chefiada pelo médico e zoólogo teve grande repercussão editorial, sendo pouco
Johann Baptist Ritter von Spix com a colaboração depois reeditado em Dresden (Alemanha, 1848)
do jovem botânico Karl Friedrich Philipp von e em Londres (1849). Neste mesmo ano, Gardner
Martius, publicado em 1823, em München, na falece aos 37 anos num sanatório do Sri Lanka.
Alemanha. Em 1819, estes cientistas estiveram As publicações brasileiras desta época,
em Oeiras, Piauí, talvez por sugestão de von tecendo comentários sobre os fósseis do Ceará,
Eschwege, de quem eram amigos. Nesta ocasião, encontram-se no livro de Geologia Elementar
receberam uma coleção de concreções calcárias, do naturalista Nereo Boubée (1846), editado pela
comunicando este fato no primeiro volume de Typographia Nacional no Rio de Janeiro para
seu relatório encaminhado ao rei da Baviera estudantes de Agronomia, no qual há duas breves
Maximilian Joseph I. Neste relatório, porém em notícias sobre esta inusitada ocorrência fossilífera:
outro volume (publicado em 1831) se encontra uma assinada por von Eschwege e outra por
a primeira ilustração de uma concreção calcária Gardner.
contendo um peixe fóssil do Araripe. O relato foi Em 1856, foi organizada no Brasil a
reeditado ainda no século 19 em Londres (1824) primeira Comissão Científica de Exploração,
e Augsburg (1846). Em 1825, uma súmula desta formando-se uma expedição de pesquisadores
viagem fora publicada numa revista de Nürnberg, nacionais para reconhecer as riquezas naturais
comprovando mais uma vez o sucesso desta obra das províncias brasileiras menos conhecidas e
e a curiosidade científica então existente sobre as coletar material para o Museu Real. O Ceará
riquezas naturais do Brasil. foi escolhido para ser a primeira província a ser
visitada. O setor geológico e mineralógico desta
Novidades vindas do exterior expedição ficou a cargo do engenheiro e major
Em 1841 surgem na Inglaterra novas mineiro Guilherme Schüch Capanema, primeiro
publicações sobre a paleontologia da região do e único Barão de Capanema, que relatou suas
Araripe, nas obras do jovem médico e botânico observações sobre a geologia do Ceará em diversos
escocês George Gardner. São dois relatórios artigos publicados no jornal ‘Diário do Rio de
nos quais o autor comenta a coleta de diversas Janeiro’. Mais tarde, em 1868, esta companhia
concreções calcárias com peixes e ostracodes jornalística reuniu estes relatos de Capanema em
fósseis por ele efetuada em 1838 em Barra um livro, onde há breves notícias sobre os peixes
do Jardim, Mundo Novo, Santana do Brejo fósseis do Araripe. Em 1863, fora publicado pela
Grande e na fazenda Massapé, todas localidades Typographia B. de Mattos de Fortaleza um ensaio
do Ceará. Ainda neste mesmo ano, o médico estatístico sobre o Ceará redigido pelo advogado
suíço naturalizado norteamericano Jean Louis e senador cearense Thomaz Pompeu de Souza
Rodolphe Agassiz descreve e designa em Brazil, onde há referências ao trabalho de Feijó.
Edinburgh, com base nos espécimes levados Um relato de viagens com notícias dos já bastante
por von Spix e von Martius, os primeiros peixes conhecidos peixes fósseis do Ceará surgiu
fósseis sul-americanos, todos relacionados a em 1870, em Boston, publicado pelo geólogo
espécies novas, e brevemente mencionados canadense naturalizado norteamericano Charles
por Agassiz também num trabalho publicado Frederic Hartt. Dois brasileiros fizeram eco a

75
estas notas no Rio de Janeiro: o político baiano professor Thomaz Pompêo de Sousa Brasil (filho
Felisberto Caldeira Brant Pontes Barbacena, do senador já citado) em seu livro ‘O Ceará no
segundo Visconde de Barbacena (1877) e o começo do século XX’ (1909). Em 1906, venho
deputado provincial cearense Marcos Antonio a lume no Rio de Janeiro o livro de John Casper
de Macedo (1878). Na década iniciada em 1880, Branner ‘Geologia elementar preparada com
surgiram dois trabalhos científicos descrevendo os referencia especial aos estudantes brazileiros’, um
fósseis da Bacia do Araripe: o do inglês Thomas ano antes de ser criado o Serviço Geológico e
Rupert Jones sobre conchostráceos (1887) e o de Mineralógico do Brasil.
Sir Arthur Smith Woodward sobre peixes (1887).
José Pompeu de A. Cavalcanti (1888) e John
Casper Branner (1889) também referiram em
CONCLUSÕES
suas publicações os fósseis do Cariri. Nos cem anos iniciais de estudos sobre os
fósseis do Araripe, há quase cinquenta trabalhos
No limiar dos séculos 19 e 20 publicados, a maioria deles se constituindo em
relatos de descobertas ou visitas pela região ou
Na década final do século 19, Sir Arthur
menção de ocorrências já conhecidas ou estudos
Smith Woodward publicou dois estudos sobre
geológicos das unidades estratigráficas fossilíferas
peixes (1890 e 1895). Pouco depois, em 1896,
da bacia. A produção científica foi muito variada,
este renomado paleontólogo inglês visitou o
ora sem qualquer publicação (como as décadas de
Brasil, mas não esteve no Araripe. Desta época,
1830 e 1850) ora com até onze publicações (como
há menções aos fósseis do Araripe baseadas em
a década de 1840 e a primeira do século 20).
relatos e estudos anteriores, como os trabalhos
Entretanto, é notável que a primeira obra publicada,
do norteamericano John Casper Branner (1893,
assim como a primeira coleção de fósseis efetuada,
em Aracaju), do inglês William H. Brown (1890,
seja de um brasileiro, João da Sylva Feijó, motivo
em Londres), do engenheiro francês Louis Émile
de legítimo orgulho para nosso país. Depois de
Dombré (1893, em Recife), do paleontólogo
três décadas deste registro, surgem as primeiras
francês Charles Eugéne Bertrand (1898, em
descrições e datações dos peixes fósseis do Araripe,
Lille), do geólogo norteamericano Charles
através dos trabalhos de Louis Agassiz na década
Rochester Eastman (1898, em Chicago), e do
de 1840, época em que fora publicado em Viena
norteamericano naturalizado brasileiro Orville
o primeiro mapa geológico do Brasil, elaborado
Adelbert Derby (1895 e 1900, no Rio de Janeiro),
pelo geólogo austríaco Franz Fötterle, sem
este último incluído no livro Resumo de Geologia
indicações sobre o Araripe. Novas descrições de
de Albert Felix de Lapparent.
fósseis foram efetuadas quatro décadas depois, em
No início do século 20, o engenheiro de 1887, os peixes por Sir Arthur Smith Woodward
minas francês Joseph Henri Ferdinand Douvillé e conchostáceos por Thomas Rupert Jones. Já no
(1900) relaciona preliminarmente as camadas século 20, há mais dois trabalhos descritivos de
cretáceas do Ceará com outras já conhecidas em peixes: o do cearense Francisco de Paula Pessôa
países da Europa e América do Norte. Nos anos (1905) e do norteamericano David Starr Jordan
vindouros, Bertrand (1901 e 1906) e Branner (1907). Assim, nos primeiros 100 anos, quase
(1906) continuam a noticiar a ocorrência de todo o conhecimento paleontológico adveio do
fósseis no Araripe, enquanto surgem novos exterior, embasado em coletas e informações
nomes: o do geólogo austríaco Friedrich Katzer geológicas de brasileiros, todos empenhados em
(1902 e 1903), e do ictiologista norteamericano divulgar a rara ocorrência dos fósseis cretáceos do
David Starr Jordan (1907). Em meio a estes Araripe, ainda que então só fossem reportados
estrangeiros, na primeira década do século 20, há peixes, conchostráceos e ostracodes.
três notas nacionais redigidas por cearenses: uma
sobre a gipsita do Ceará, noticiada pelo jornalista
carioca Virgilio Brigido (1903), outra sobre um
peixe do gênero Notelops redigida pelo cearense
Francisco de Paula Pessôa (1905), e outra do

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80
PALEOARTE – LIBERDADE E EPISTEMOLOGIA
Felipe Mesquita de Vasconcellos1 (fmv@geologia.ufrj.br), Patrícia Danza Greco1, Luisa Vidal de Oliveira1,
Roberta Delecróde de Souza1, Matheus Machado Grimião1, Thadeu dos Anjos Reis1, Jhonatta de Oliveira Vicente1,
Joana Martins de Vasconcelos1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu da Geodiversidade, CCMN/IGEO
1

RESUMO a popularização da Geologia e da Paleontologia,


que representa, em última instância, o
É proposta uma abordagem mais
cumprimento da função social da Ciência em
autônoma e libertária do conceito tradicional
geral e da Universidade enquanto produtora
de paleoarte. É suportada uma visão mais
de conhecimento. Daí ser imprescindível uma
abrangente onde os atores-autores das obras ajam
reflexão metodológica e epistemológica acerca da
em codominância, possibilitando artistas maior
Paleoarte, que constitui o objetivo desse trabalho.
liberdade estilística e pessoal na construção das
obras. È observado que onde esta liberdade se Sabe-se que a Paleontologia é uma
estende as abordagens das obras em si se tornam das ciências privilegiadas em sua divulgação e
mais acessíveis e, portanto, mais eficientes em popularização pela curiosidade que desperta
divulgar, popularizar, sensibilizar, deslumbrar o no público e pelo apelo visual de seus produtos.
público para a Paleontologia e geociências em Tanto as formas e texturas quanto as reflexões
geral. filosóficas suscitadas fizeram desta ciência um
tema explorado e presente na cultura de massas,
Palavras-chave: paleoarte, popularização
recentemente também através das imagens
da ciência, autonomia
digitais, 3D e Cinema.
Tradicionalmente o tema gira em torno
ABSTRACT de dinossauros e de mamíferos gigantes. Na
Herein is proposed a more autonomous “construção” das obras, pesquisadores e artistas,
and free approach to the traditional paleoart teoricamente em sinergia, desenvolvem o tema.
concept. A broader perspective is supported, where Pesquisadores propõem e descrevem os objetos
artwork´s author-agents act in co-dominance, e objetivos, suas nuances e particularidades, e o
enabling more personal and stylistic freedom artista contribui esteticamente para a obra, com
in the artwork constructions. It´s noted that técnica e percepção (Vasconcellos et al., 2010)
this freedom widens the artworks perspectives, O artista, em geral, se encontra no lugar
allowing broader audience accessibility and, de simples executor, raramente tendo papel crítico
therefore, more efficient ways to popularize, na elaboração e criação. Percebe-se então uma
sensitize and awe the public to Paleontology and postura hermética na linguagem da ilustração
other geosciences. paleoartística e na exposição de Paleoarte,
Keywords: paleoarte, science proposta hoje, baseada num naturalismo/realismo
popularization, autonomy morfológico, onde é falada uma linguagem
incompreensível para o público. A primeira
questão que surge da análise dessa situação é se
INTRODUÇÃO a paleoarte e a divulgação científica, baseadas
É proposta aqui uma discussão crítica nesses princípios, são efetivamente comunicativas
acerca das metodologias e das finalidades da e sensibilizadoras. A segunda é saber em que
Paleoarte. É de senso comum que a Paleoarte momento da criação das obras, da exploração dos
tem como principal foco a sensibilização para temas, da elaboração dos objetivos realmente o
os conceitos das ciências geológicas, em especial artista-designer se insere (Grimião et al., 2010,
para a Paleontologia. Diferentes formas de Delecróde et al., 2010)
sensibilização têm como resultado a divulgação e

81
Uma resposta para estas pergunta é a R; PEREIRA, E. & DIOGO, M.C. 2010. A
proposta metodológica aqui exposta, que busca Arte de Ilustrar: divulgação paleontológica
a ênfase na sensibilização e comunicação com através de jogos educativos. In: 7 Congresso
o público, através de uma exposição interativa, de Extensão da UFRJ, 2010, Rio de Janeiro.
poética e com a participação de mais atores na Anais do 7º Congresso de Extensão da
composição das obras (artistas-pesquisadores- UFRJ, p. 222-222.
educadores-público), conferindo liberdade criativa
associada a objetivos claros de comunicação, DELECRÓDE, R.; GRECO, P.D.; CASTRO,
ensino e popularização da Paleontologia e das A. R; PEREIRA, E.M.R.; DIOGO, M.C.
Geociências. & VASCONCELLOS, F.M. 2010. O Uso
As obras seguintes (Figuras 1, 2, 3 e de Materiais Recicláveis no Aprendizado das
4) foram concebidas segundo esta perspectiva, Geociências. In: 7 Congresso de Extensão
mais libertária e autônoma, para o artista e da UFRJ, 2010, Rio de Janeiro. Anais do 7º
simultaneamente para o geocientista maior Congresso de Extensão da UFRJ, p. 241-241.
possibilidade de exploração de conceitos
VASCONCELLOS, F.M.; VIDAL, L. &
complexos e sensibilização efetiva ao tema
REIS, T.A. 2010. Paleoarte - uma discussão
“macrofósseis”.
aberta e franca. In: V Jornada Fluminense
de Paleontologia, 2010, Rio de Janeiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Paleonotícias, p. 63-63.
GRIMIÃO, M.; SILVA, C.; GRECO, P.D.;
VASCONCELLOS, F. M.; CASTRO, A.

Figura 1. Xilogravuras de Thadeu Reis (a) Trilobita devoniano, (b) Vegetal oriundo da Fm. Santana da Bacia do Araripe,
(c) Icnofóssil (pegada) de dinossauro oriundo da Bacia de Souza e (d) Dastilbe sp. oriundo da Fm. Santana da Bacia do
Araripe.

82
Figura 2. (a) Ilustração científica de Deverson da Silva com tema fóssil de Baurusuchus salgadoensis Carvalho, Campos,
Nobre 2005 e (b) um estudo-abstração geométrica (cubista) em aquarela por Roberta Delecróde.

Figura 3. (a) Pinturas em tecido por Jhonatta Vicente


retratando perfis de Crocodyliformes do Cretáceo e (b)
processo de criação do artista com os diversos modelos-
base recortados. Figura 4. Ilustrações de Matheus Grimião para um jogo
da memória utilizado nas atividades de extensão do
Museu da Geodiversidade do Instituto de Geociências
– UFRJ, com os temas: (a) Evolução de tetrápodos, (b)
Anomalocaris sp., (c) Pegada de dinossauro com vegetal,
(d) Vulcanismo e extinção K/T, (e) Extinção K/T e os
pterossauros e (f) Nascimento de dinossauro.

83
REVISÃO CRÍTICA DE TERMINOLOGIAS E EPISTEMOLOGIA
ENVOLVENDO PALEOARTE, PARTE I: RECONSTRUÇÃO,
RESTAURAÇÃO OU RECONSTITUIÇÃO
Leonardo Morato1 (gepaleo@yahoo.com.br)
1
Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável, UFBA

RESUMO INTRODUÇÃO
Diversas tentativas de padronizar Quando Hallett (1987) descrevera os
termos relacionados ao trabalho ilustrativo procedimentos utilizados na execução de uma
em Paleontologia já foram publicadas, mas obra paleoartística, mencionava a importância de
a utilização indistinta de expressões como efetuar diversos tipos de trabalho interpretativo,
reconstrução e restauração ainda é observada. como a reconstrução esquelética de vertebrados
Dificuldades em se estabelecer tais termos que se deseje reconstituir a aparência em vida.
residem: no desconhecimento das publicações De fato, há várias possibilidades de trabalhos
anteriores, levando a uma profusão de definições; reconstrutivos em Paleontologia, que envolvem
na tentativa de formalizar termos de senso a participação de ilustradores ou escultores,
comum que admitem utilizações variadas; e/ou facilitando a representação dos temas das
na aplicabilidade tendenciosa à Paleozoologia pesquisas científicas.
de Vertebrados, e não à Paleontologia como um Ghilardi et al. (2007) chamam a atenção
todo. Clareza na exposição do tema do trabalho da comunidade paleontológica brasileira para
ainda é a melhor abordagem, evitando acepções a necessidade de determinar termos próprios
terminológicas conflitantes entre autores distintos. para essas diferentes tarefas, envolvendo desde
Palavras-chave: Paleoarte, reconstrução, a remontagem de fósseis fragmentários, a
restauração interpretação de porções mal-preservadas ou
mesmo ausentes, e até a representação artística
da aparência em vida dos organismos extintos,
ABSTRACT pois tais etapas comumente são referidas com
Several attempts to standardize the termos indistintos. Para os três primeiros tipos
terminology involving illustrative works or de trabalhos, envolvendo mais diretamente os
disciplines in Paleontology were published, espécimes fósseis, esses autores propõem os termos
although the indistinct use of expressions such paleoreconstrução [sic], paleorestauração [sic] e
as reconstruction and restoration can still be paleoreconstituição [sic], respectivamente. Porém
observed. Difficulties in the establishment of eles não foram os primeiros a tentar formalizar
such terms arise from: the non-acknowledgement tais expressões (ou ao menos suas correlatas em
of anterior publications, leading to a profusion of línguas estrangeiras: e.g., Waterhouse Hawkins,
designations; the attempt to formalize common 1853-1854; Abel, 1925; Swinton, 1969; Czerkas,
sense expressions that admit other uses; and/or the 1997; Debus & Debus, 2002).
biased applicability to Vertebrate Paleozoology, Mesmo com várias definições formais na
rather than to Paleontology as a whole. Clarity in literatura paleontológica, percebemos ainda uma
the exposition of subjects is still the best approach, irregularidade na utilização dos termos propostos,
avoiding conflicting terminological meanings certamente pelo geral desconhecimento das
amongst different authors. publicações anteriores. Embora Ghilardi et al.
Keywords: Paleoart, reconstruction, (2007) não tenham citado fontes específicas, é
restoration possível fazer uma sondagem rápida e confirmar
a variedade de usos de expressões correlatas,
ignorando tais definições. Os autores brasileiros
utilizam com frequência “reconstituição” ou

84
“reconstrução” indistintamente, embora em muitos Em prol da clareza, é sempre preferível
casos possam expressar de forma suficientemente grafar por extenso, como por exemplo “restauração
clara o tipo de trabalho a que se referem, ao paleontológica” no presente caso, expressões que
utilizarem expressões adicionais. fazem referência à Paleontologia e não a tempos
O desconhecimento das definições formais pretéritos. A prefixação como contração de
acaba gerando novas propostas que basicamente “paleontológico” é geralmente adequada apenas
reinventam os termos pré-estabelecidos, não em caráter informal, mesmo no Inglês. Benton
raramente com significados distintos, o que (1988) criticava tanto o termo paleoartist de Hallett
desfavorece a manutenção de quaisquer das (1987) quanto paleorestoration de Paul (1987),
expressões. Swinton (1969) e Czerkas (1997), por provavelmente nesse sentido. Tal informalidade
exemplo, formalizam no inglês o uso dos termos pode levar a utilizações variadas de palavras com
reconstruction e restoration em Paleontologia, a mesma grafia. Um exemplo ocorre na indústria
basicamente para separar os trabalhos de do petróleo, onde o termo paleorrestauração
remontagem de fósseis (incluindo a reconstituição (ou paleorestoration) é comumente utilizado,
de suas partes ausentes ou a restauração de porções referindo-se a restaurações de condições pretéritas
danificadas, intrinsecamente relacionadas) dos de bacias sedimentares e das trapas de sistemas
trabalhos de reconstituição de aparência em petrolíferos, podendo incluir restaurações tanto
vida de organismos extintos, enquanto que para paleotectônicas quanto paleogeomecânicas
Ghilardi et al. (2007) a ideia de restauração parece (Lowrie et al., 2002).
estar mais relacionada a uma parte do conceito Possivelmente o insucesso das sugestões
de reconstruction como definido, enquanto que de regularizar tais terminologias em trabalhos
utilizam termos como paleodesign no sentido de paleontológicos também está na própria tentativa
restoration. de formalizar termos corriqueiros, ou mais
Ainda assim, poderia se dizer especificamente na busca de dar significados
que expressões com prefixo paleo, como estanques para expressões dicionarizadas e de
paleorestauração [sic] sensu Ghilardi et al. (2007), senso comum, às quais semanticamente são
não foram utilizadas por autores em português, admitidas interpretações gerando usos diversos
mesmo em meios de divulgação científica, a não ser daqueles propostos. Poderíamos imbuir à ideia de
talvez oralmente, de modo informal. Paul (1987) restauração tanto consertar fósseis danificados ou
é quem costumeiramente passa a denominar distorcidos quanto recuperar a condição original
paleontological restoration (Paul, 1987, p. 5), ou de tecidos moles não preservados, gerando
mais ainda em sua contração paleorestoration, produtos distintos, embora ambos se devam a
como a disciplina da Paleontologia envolvida na modificações devido a processos tafonômicos.
representação da aparência externa de organismos Reconstituir também poderia se referir à inclusão
extintos (ao contrário de Ghilardi et al., 2007, de parcelas não preservadas de um espécime
que relacionam mais essa disciplina aos termos tanto em relação ao fóssil em si como aos demais
paleodesign e paleoarte). O simples acréscimo do tecidos do organismo, que assim levarão à
prefixo paleo não leva necessariamente a uma maior reconstituição de sua aparência em vida. Assim,
especificidade ou correção dos termos. A própria no caso de Ghilardi et al. (2007), pode não haver
construção de tais palavras no Português pode ser distinção no produto obtido sob seus conceitos
caracterizada como uma forma de estrangeirismo, de “paleoreconstituição”, paleodesign e paleoarte.
pois o uso de prefixo paleo como contração de Se os termos não identificam diferentes divisões
“paleontológico” é mais coerente e costumeiro do trabalho paleontológico, então suas definições
com as regras ortográficas da língua inglesa, que acabam sendo também maleáveis, e acrescentam
antecedem o posicionamento dos adjetivos e os pouco aos usos já corriqueiros.
contraem sem uso de hífen, enquanto na língua Outro problema inerente às propostas
portuguesa o prefixo é normalmente utilizado de terminológicas é que muitas vezes tais termos
acordo com a etimologia da palavra, atribuindo o são discerníveis apenas sob a óptica da
significado de “antigo”. Paleozoologia de Vertebrados, e mesmo sob tal

85
aspecto é equivocado pensar que tais distinções Jefferson, McFarland & Company, Inc., 285
são universalmente possíveis, uma vez que no p.
trabalho reconstrutivo em Paleontologia existem
múltiplas interações. Mesmo que sigamos os GHILARDI, R.P., RIBEIRO, R.N.S. & ELIAS,
conceitos supostamente restritivos de Ghilardi et F. 2007. Paleodesign: uma nova proposta
al. (2007), no trabalho final nem sempre é possível metodológica e terminológica aplicada à
discernir a remontagem de fósseis fragmentários reconstituição em vida de espécies fósseis.
de uma ilustração da aparência em vida do In: CARVALHO, I.S., CASSAB, R.C.T.,
organismo preservado como fóssil, como pode SCHWANKE, C., CARVALHO, M.A.,
ser o caso em fósseis de organismos de corpo FERNANDES, A.C.S., RODRIGUES,
mole permineralizados ou mesmo em algumas M.A.C., CARVALHO, M.S.S., ARAI, M.
compressões-impressões. & OLIVEIRA, M.E.Q. (eds.). Paleontologia:
Ter clareza na exposição do tema de cenários de vida. Rio de Janeiro, Editora
um trabalho ilustrativo acaba sendo muito mais Interciência, vol. 2, p. 61-70.
prático que citar padronizações terminológicas
HALLETT, M. 1987. Bringing dinosaurs to life.
artificiais, muitas vezes pouco justificadas e não
In: CZERKAS, S.J. & OLSON, E.C. (eds.)
aplicáveis universalmente, com a acepção de
Dinosaurs Past and Present. Volume I. Los
autores específicos que nem sempre refletirão
Angeles, Natural History Museum of Los
o senso comum para as expressões sugeridas.
Angeles County, p. 94-113.
Cremos que um dos objetivos expressos de
Ghilardi et al. (2007, p. 63), o de discutir as LOWRIE, A.; KOZLOV, E.; HAYDUKOV,
convenções de termos previamente aplicados V.; WATKINS, J.; GARAGASH, I.;
aos trabalhos ilustrativos em Paleontologia, não MAKAROV, V. & MALYAROVA, T.
foi apropriadamente alcançado em seu trabalho 2002. 2D/3D geophysical modeling of
original, arriscando ter sua importância eclipsada Mezozoic onshore rocks and Tertiary
devido às incongruências com a literatura pré- offshore sediments. In: AAPG Annual
existente. Mas sua maior contribuição talvez Meeting, Houston, Texas, March, 2002. p.
resida em terem ao menos suscitado tal discussão, 1-13. (AAPG Search and Discovery Article
e ampliado a atenção a temas relacionados com a #90007.)
epistemologia em paleoarte.
PAUL, G.S. 1987. The science and art of restoring
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS the life appearance of dinosaurs and their
relatives: a rigorous how-to guide. In:
ABEL. O. 1925. Geschichte und methode der CZERKAS, S.J. & OLSON, E.C. (eds.)
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Jefferson, McFarland & Company, Inc., 285 Angeles, Natural History Museum of Los
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BENTON, M. 1988. Dinosaurs, living and SWINTON, W.E. 1969. Dinosaurs. London,
breathing. New Scientist, 23 de junho de British Museum (Natural History), 4th. ed.,
1988, v. 118, n. 1618, p. 70. 44 p. (Publication No. 542).

CZERKAS, S.J. 1997. Reconstruction and WATERHOUSE HAWKINS, B. 1853-1854.


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K. Encyclopedia of dinosaurs. San Diego, Journal of the Society of Arts (London), II:444-
Academic Press, p. 626-629. 449 + 1 prancha.

DEBUS, A.A. & DEBUS, D.E. 2002.


Paleoimagery: the evolution of dinosaurs in art.

86
REVISÃO CRÍTICA DE TERMINOLOGIAS E EPISTEMOLOGIA
ENVOLVENDO PALEOARTE, PARTE II: ANALISANDO O PALEODESIGN
Leonardo Morato1 (gepaleo@yahoo.com.br)
1
Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável, UFBA.

RESUMO INTRODUÇÃO
A falta de uma definição explícita do A palavra paleoarte é um neologismo
termo paleoarte levou a seu emprego em diversas originário do inglês que, utilizada informalmente,
situações ao longo do tempo, além de propostas passou a compor o vocabulário paleontológico em
de expressões alternativas que tentavam dar um línguas latinas1. Sua origem deriva da expressão
aspecto mais ou menos rigoroso a trabalhos paleoartist, criada por Hallett (1987) em referência
ilustrativos em Paleontologia. São comentados a sua própria forma de trabalho (Debus & Debus,
os usos de termos como ilustração paleontológica, 2002). Ele aludia à ideia de artistas paleontológicos,
paleontografia, paleoimagens e iconografia pré- artífices capazes de trabalhar juntamente com
histórica, além de paleodesign. Nesse último caso, a informação científica disponível (obtida de
se propõe não só a manutenção de termos pré- forma autodidata e/ou com a colaboração de
existentes (como restauração paleontológica ou pesquisadores) para gerar restaurações embasadas
mesmo paleoarte) para a disciplina própria do da aparência em vida de organismos extintos e
trabalho ilustrativo que recupera a aparência em de seus ambientes pretéritos; por conseguinte,
vida de organismos extintos, como se comenta paleoart passou a determinar as obras geradas por
usos mais adequados ao senso comum de design. tais artistas. Essa definição, entretanto, está apenas
Palavras-chave: Paleoarte, paleodesign, implícita no texto de Hallett (1987), e mesmo pelo
restauração paleontológica desconhecimento de tal texto geraram-se diversas
interpretações livres do que seria paleoarte.
Assim, arte paleontológica se caracteriza
ABSTRACT como um ramo particular da ilustração
The lack of an explicit definition of the científica, especificamente incluída na ilustração
term paleoart led to several uses in different paleontológica (na qual podemos acrescentar o
situations, as well as to alternative proposals desenho figurativo dos próprios fósseis – e não
of expressions to the illustrative work in dos organismos outrora vivos que eles registram),
Paleontology that were more or less rigorous. We e não deve ser destituída da informação científica,
trace comments on terms such as paleontological primariamente fornecida pelos fósseis (como
illustration, paleontography, paleoimagery and pode ser interpretado da proposta de Reis &
prehistoric iconography, as well as paleodesign. In Vasconcellos, 2010). Uma série de procedimentos
this last case, it is proposed to maintain preexisting importantes para a execução de uma obra
terms (for instance paleontological restoration or genuinamente paleoartística são mencionados
even paleoart) to a discipline within scientific tanto por Hallett (1987) quanto por outros
illustration involved with the recuperation of life autores (exemplos antecedem até mesmo a criação
appearance of extinct organisms, as it is indicated do termo paleoarte, como Abel, 1925, e depois
more proper uses of the idea of design with com Paul, 1987; Paul & Chase, 1988).
Paleontology.
Keywords: Paleoart, paleodesign,
paleontological restoration
1 No caso, há ainda um neologismo semântico, pois a expres-
são paleoarte já foi empregada em Arqueologia e História
também com o significado de arte antiga, produzida por
populações humanas em tempos pré-históricos. Nos con-
centraremos apenas na sua utilização em Paleontologia.

87
Diferentes termos já foram utilizados que destinam a criação desse tipo de restauração
para tipos alternativos de abordagem artística aos à estética de objetos, embora isso seja na verdade
motivos paleontológicos, quando destituída de muito mais afim ao senso comum de design. O uso
critérios científicos. Um exemplo foi a forma de arte de imagens icônicas em camisetas faz parte do
já referida como “paleontografia”, uma maneira de design de moda, por exemplo, que normalmente
descrever o tempo através da plástica com leituras faz interface com o design gráfico ao assimilar
particulares da vida (Branchelli, 2004), que informações textuais e simbólicas estampadas nos
pode ser interpretado como uma representação produtos (Gomes Filho, 2006).
artística livre, embora calcada sobre motivos Outro problema inerente à acepção de
paleontológicos. Outra expressão já utilizada que Ghilardi et al. (2007) é o pré-uso de termos afins
poderia ser confundida aqui é a “iconografia pré- a paleodesign. Debus & Debus (2002) diferenciam
histórica” de Gould (1993), que pode abranger paleoarte/paleoartistas de design/designers de
representações de seres pré-históricos imbuídas dinossauros (op. cit., pp. 190, 194), expressões
ou não de rigor científico. Sentido semelhante essas que podem facilmente ser ampliadas para
está na expressão “paleoimagens populares” o sentido de design/designer paleontológico,
(popular paleoimagery) de Debus & Debus (2002), quando não exclusivas a dinossauros. Em Debus
aplicável a artes muitas vezes condicionadas ao & Debus (2002), a expressão design se encontra
entretenimento mais que à divulgação e instrução. normalmente associada ao trabalho de entusiastas,
Paralelos do significado, escopo e alcance nem sempre acompanhados de paleontólogos,
da arte paleontológica podem ser feitos com que projetam esculturas, com frequência em
outras formas de arte intimamente interligadas escala natural, e exibições para parques temáticos
a ciências, como a arte forense (Taylor, 2001) e ao ar livre. Na acepção desses autores, design de
a arte aplicada à Astronomia, ou mesmo com a dinossauros é um termo de aplicação com menor
arte de vida selvagem. No caso particular da arte rigidez que paleoarte, pois o compromisso com a
forense, ela claramente se afasta de representações acuracidade científica é por vezes comprometido
artísticas dissociadas de procedimentos legais, pelas demandas do projeto ou do intuito da obra.
mesmo que essas apresentem cadáveres ou Existem ainda exemplos de práticas
testemunhem uma causa mortis. de design baseado em material paleontológico
Nenhuma dessas formas de arte, embora que se afastam cada vez mais dos fósseis e
envolvam técnicas, parâmetros, premissas e de representações dos organismos extintos,
procedimentos rigorosos, pode ser caracterizada utilizando-os apenas como fonte de inspiração
apenas como design. Entretanto, foi nesse sentido para criação de produtos diversos, indo desde
que Ghilardi et al. (2007) atribuíram à paleoartes artefatos de uso comum (desde peças de vestuário
executada de forma rigorosa o termo paleodesign. a cadeiras, mesas, luminárias e aspiradores de pó,
Ghilardi & Ribeiro (2010) afirmam que “the entre outros objetos domésticos e de decoração,
term paleodesign is better that[sic] ‘paleoart’ because com formatos inspirados em fósseis) até partes
this last could show stuffs[sic] like mugs, ceramics ou mecanismos de objetos maiores. Nesse caso,
and clothes with dinosaurs to paleontologists, for nos referimos ao significado estrito de design
example”. Com isso, se parece tentar revigorar como área de atuação, no senso comum, que alia
um preconceito que alguns paleontólogos podem questões estéticas da forma com uma atribuição
ter com a paleoarte, como algo não científico e de funcionalidade, uma utilização humana.
destinado em primeira ou última instância ao uso Assim, cremos que seria até mais condizente à
comercial. Entretanto, uma obra de “paleodesign” etimologia da palavra, se referir uma disciplina
está tão propensa a ser impressa “em uma caneca” de paleodesign às práticas corriqueiras de design
quanto qualquer forma de ilustração científica, baseadas em dados paleontológicos. Nessa visão,
se envolver alguma beleza estética e atingir um paleodesign poderia ser visto como um ramo
consumidor potencial desse tipo de imagem. Em do bio-design, quando baseado exclusivamente
verdade, tal vínculo comercial ao termo paleoarte em organismos fósseis. Entretanto, para evitar
é próprio da acepção de Ghilardi et al. (2007), conflito com o termo proposto por Ghilardi et

88
al. (2007), propomos como alternativa design & OLIVEIRA, M.E.Q. (eds.). Paleontologia:
paleontomórfico, em acordo com uma tradução cenários de vida. Rio de Janeiro, Editora
corrente para o bio-design (Gomes Filho, 2006), Interciência, vol. 2, p. 61-70.
e em inglês a expressão paleo-inspired design, em
abreviação a paleontologically inspired design. GOMES FILHO, J. 2006. Design do objeto: bases
Princípios de prioridade, uso comum conceituais. São Paulo, Escrituras Editora.
e propósito, como utilizados em quaisquer
GOULD, S.J. 1993. Reconstructing (and
disciplinas de nomenclatura, também se aplicam
deconstructing) the past. In: _____ (ed.). The
nesses casos. A menos que seja realmente
book of life. London: Ebury-Hutchinson, p.
demonstrada a pertinência do termo paleodesign de
6-21.
Ghilardi et al. (2007), afastado de outras acepções
prévias, e que termos como paleoarte se tornaram HALLETT, M. 1987. Bringing dinosaurs to life.
obsoletos e não servem mais a seus propósitos, é In: CZERKAS, S.J. & OLSON, E.C. (eds.)
preferível manter os termos anteriores e tudo que Dinosaurs Past and Present. Volume I. Los
abarcam. Angeles, Natural History Museum of Los
Angeles County, p. 94-113.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PAUL, G.S. 1987. The science and art of restoring
ABEL. O. 1925. Geschichte und methode der the life appearance of dinosaurs and their
rekonstruktion vorzeitlicher wirbeltiere. relatives: a rigorous how-to guide. In:
Jefferson, McFarland & Company, Inc., 285 CZERKAS, S.J. & OLSON, E.C. (eds.)
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paleontografia. In: COIMBRA, J.C.,
LEMOS, V.B., SOUZA, P.A., SCHULTZ, PAUL,G.S.& CHASE,T.L.1988.Reconstructing
C.L. & IANNUZZI, R. Antes dos dinossauros: extinct vertebrates. In: HODGES, E.R.S.
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GHILARDI, R.P. & RIBEIRO, R.N. 2010. ARTÍSTICA E CULTURAL, XXXII, Rio
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medium, 1(2010): 1-20. consulta/relatorio.stm?app=jic_publicacao_
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GHILARDI, R.P., RIBEIRO, R.N.S. & ELIAS,
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metodológica e terminológica aplicada à Boca Raton, CRC Press, 608
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In: CARVALHO, I.S., CASSAB, R.C.T.,
SCHWANKE, C., CARVALHO, M.A.,
FERNANDES, A.C.S., RODRIGUES,
M.A.C., CARVALHO, M.S.S., ARAI, M.

89
TURISMO PALEONTOLÓGICO NO BRASIL: REFLEXÕES E DEMANDAS
Bernardo de Campos Pimenta e Marques Peixoto¹ (bionardu@hotmail.com), Aline Marcele Ghilardi¹
(alinemghilardi@yahoo.com.br), Tito Aureliano¹ (titossauro@gmail.com), Marcelo A. Fernandes¹ (marcelicno@yahoo.com.br)
¹Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos

RESUMO INTRODUÇÃO
O turismo paleontológico pode oferecer De maneira geral pode-se definir turismo
uma oportunidade sustentável de geração de renda paleontológico como o ato de deslocar-se a um
para comunidades regionais. O aproveitamento de determinado local, a fim de desfrutar de atividades
jazigos fossilíferos como atrações turísticas tem o que envolvam o conhecimento paleontológico
potencial de mover a economia local e promover de alguma forma. Estão incluídas dentro dessa
mudanças sócio/econômicas e culturais. Além modalidade de turismo, desde a visitação a
disso, pode permitir a preservação do patrimônio clássicos Museus de História Natural localizados
histórico e ambiental e favorecer a realização de em grandes pólos urbanos, até expedições a
estudos científicos contínuos nas localidades jazigos fossilíferos realizadas por pesquisadores e
fossilíferas. Todavia, para o desenvolvimento deste seus alunos.
segmento no Brasil são necessários estudos mais Trata-se de um seguimento relativamente
aprofundados sobre o impacto dessa atividade heterogêneo e amplo, porém que será abordado aqui
nas comunidades, a fim de embasar trabalhos em apenas uma de suas facetas. Consideraremos
técnicos sobre o desenvolvimento sustentável o turismo paleontológico que envolve o ato de
desse seguimento. deslocar-se para lugares onde existam fósseis, por
Palavras-chave: Turismo Paleontológico, causa dos fósseis, existindo ou não estrutura para
Patrimônio Cultural, Museus Regionais visitação, seja ela qual for (museus, centros de
visitantes, parques etc.).
O objeto deste trabalho é realizar uma
ABSTRACT
reflexão sobre os impactos sócio-econômicos
Paleontological Tourism can provide an que esse deslocamento de pessoas tem para
opportunity for sustainable income generation for a comunidade local e também para quem
regional communities. The use of fossil outcrops as desfruta deste tipo de turismo (BONFIM, 2010;
touristic attractions has the potential to move the GUEDES, 2004).
local economy and promote social and economical
change, as well as cultural development. Moreover,
it can allow the preservation of the Historical DELINEAMENTO DO PROBLEMA
and Environmental Patrimony and encourage Schwanke & Jonis-Silva (2004) discorrem
continuous scientific studies in the fossil localities. sobre turismo paleontológico sob o sugestivo
However, for the development of this segment in título “O Turismo Paleontológico: aliado ou
Brazil further studies are needed on the impact ameaça?”. Isso porque justamente se pensava no
of this activity on the communities, in order to turismo paleontológico como algo que poderia ser
serve as a basis for technical works on sustainable danoso ao patrimônio fossilífero de uma região, o
development of this segment. que é salientado também por Kellner (2002) e da
Keywords: Paleontological Tourism, Rosa (2008).
Cultural Heritage, Regional Museum De acordo com a legislação brasileira,
Decreto-Lei 4146, de 4 de março de 1942, o qual
dispõe sobre a proteção dos depósitos fossilíferos,
os fósseis são propriedade da Nação. Sendo
assim, não podem ser comercializados e, como

90
tal, sua extração e trânsito dentro e para fora do arrocho na fiscalização, como aqueles que apóiam
país dependem de autorização do Departamento mudanças na legislação, defendendo a venda
Nacional da Produção Mineral (DNPM). lícita (SALES et al., 2010). O presente artigo não
Todavia, diversos autores defendem pretende posicionar-se definitivamente quanto à
que, apesar da legislação, a realidade brasileira questão legal do comércio de fósseis brasileiros,
é a de que os fósseis são alvo do comércio na mas pleiteia discutir a questão social que a prática
forma de souvenires para coleções particulares está envolvida, levantando as seguintes questões: é
(CARVALHO & DA ROSA, 2008a; KELLNER, viável que o patrimônio fossilífero de uma região
2002) ou como objetos de estudo em outros países possa gerar benefícios econômicos para ela, sem
(ANTONIO & VEGA, 2009; CAMPOS, 2011; que isso aconteça de forma ilícita?
KELLNER, 2002; SALES et al., 2010). Outra questão importante está relacionada
Ignorando-se a questão jurídica, é preciso à forma com que a maioria das pesquisas
pensar em duas facetas importantes associadas à paleontológicas eram levadas a cabo no Brasil:
venda de fósseis no Brasil: equipes de grandes museus e centros de pesquisa
1 - Com o contrabando, a tendência é - geralmente localizados em pólos econômicos -
de que muitos fósseis raros, em bom estado de se deslocam para regiões afastadas para prospectar
conservação e relevantes cientificamente saiam e coletar fósseis, que são retirados do local de
do país e acabem em instituições além de nossas origem e depositados em suas dependências. Ali
fronteiras. Isso dificulta o aspecto logístico de estes fósseis são mantidos para posterior estudo,
acesso e estudo desses fósseis por brasileiros o que refletirá em geração de conhecimento,
(KELLNER, 2002; SALES et al., 2010). Mesmo publicações expressivas e exposições, que, no
com a legislação atualmente proibindo o comércio entanto, tendem a não dar retorno econômico,
de fósseis, 21 dos 41 holótipos de tetrápodes cultural e educacional significativo para o local
retirados da Bacia do Araripe se encontram em de onde o fóssil veio. Seria possível que uma
instituições estrangeiras. Eles são, até mesmo, comunidade próxima a um jazigo fossilífero se
exemplares em melhores condições de preservação beneficiasse social, cultural e educacionalmente
do que aqueles encontrados em instituições por essa propriedade, assim como a comunidade
brasileiras (i.e. Tupuxuara sp. e Araripesuchus próxima aos museus e grandes centros de pesquisa
gomesii) (SALES et al., 2010). tradicionais?
2 - Existe uma importante questão
social por trás do comércio de fósseis. Alguns CARACTERIZAÇÃO DO
dos mais importantes jazigos fossilíferos do
APROVEITAMENTO DA QUALIDADE
Brasil estão localizados dentro de propriedades
particulares e em áreas sócio/economicamente DE JAZIGO FOSSILÍFERO PELA
desfavorecidas (CARVALHO & DA ROSA, COMUNIDADE DE UMA REGIÃO
2008a; SCHWANKE & JONIS-SILVA, 2004), Uma comunidade próxima a um jazigo
isso os leva a ser alvo de cidadãos buscando uma fossilífero pode ser ativa em diferentes graus quanto
fonte alternativa de subsistência ou lucro. É o caso ao aproveitamento dessa qualidade regional. Ela
da Bacia do Araripe. Sales et al. (2010) salienta também pode fazer uso dessa qualidade de forma
que, normalmente, as coletas de fósseis para venda lícita ou ilícita, sustentável ou insustentavelmente.
nessa região visam complementar a pequena renda Algumas regiões fossilíferas do Brasil
familiar nas épocas de entressafra. Pode-se dizer, são alvos da exploração ilícita dos fósseis como
então, que o contrabando de fósseis no Brasil, na mercadorias. No entanto, esse problema parece
Bacia do Araripe, está ligado a uma questão de ser maior em algumas localidades com destacada
desigualdade sócio/econômica que condiciona as abundância de fósseis - ou ainda grande qualidade
pessoas a buscarem renda de uma forma paralela. e/ou raridade dos espécimes - associadas a baixos
A questão da venda de fósseis envolve uma índices sociais e fiscalização insuficiente (i.e.
discussão profunda e os pesquisadores têm diversos Chapada do Araripe) (CARVALHO & DA
posicionamentos. Há os que defendem tanto o ROSA, 2008a; SALES et al., 2010). Entretanto,

91
o mais comum por parte da comunidade TURISMO PALEONTOLÓGICO E A
próxima à maioria dos jazigos fossilíferos é EXPLORAÇÃO CIENTÍFICA ATIVA
um aproveitamento pouco ativo e lícito dessa
qualidade.
DOS JAZIGOS FOSSILÍFEROS
Com pouca ou nenhuma estrutura A partir dos anos 80 houve um movimento
turística relacionada, os jazigos são visitados por em diversas localidades fossilíferas no Brasil
pesquisadores, professores e alunos de graduação visando um aproveitamento mais ativo e lícito do
e pós-graduação de cursos ligados a Biologia e patrimônio fossilífero local. Na maioria das vezes, o
Geociências, que comumente se deslocam a essas estopim para esse aproveitamento são descobertas
jazidas objetivando coletar amostras ou mesmo paleontológicas no lugar, que implicam na
conhecer a geologia regional. Desta forma, o necessidade de proteger o patrimônio fossilífero
aproveitamento do jazigo fossilífero consiste da região contra a depredação e também estudar
apenas no aporte de capital na cidade através de os fósseis da área de forma mais intensiva, sem
serviços como alimentação, combustível, compra depender de caras e esparsas saídas de campo dos
de mantimentos, estadia em hotéis e pousadas e, pólos de estudo.
eventualmente, um guia, requerido pelos que se Primeiramente, os sítios podem ser
deslocam ao jazigo fossilífero. demarcados e protegidos juridicamente na
Lugares cujas descobertas paleontológicas forma de Unidades de Conservação e/ou
são importantes e/ou peculiares, que detenham reconhecidos como sítios relevantes, por meio
também alguma estrutura ligada à visitação e de vários mecanismos como os Geoparks da
estadia, são beneficiados financeiramente, pois são Unesco; SIGEP da Comissão Brasileira de Sítios
alvos freqüentes de saídas de campo acadêmicas, Geológicos e Paleobiogeológicos ou PaleoParks
visto que as fazem mais simples (i.e. O Parque da International Palaeontological Association,
do Varvito em Itu, SP; o Centro de Pesquisas que dão visibilidade internacional ao sítio e,
Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, Uberaba, no caso dos dois primeiros, cobram do país um
MG, etc.). Podemos então inferir que, quanto compromisso de proteger e preservar o sítio.
maior a estrutura para visitação de determinado Diversos museus, parques e centros
sítio fossilífero, maior será a chance dele ser alvo paleontológicos, que chamaremos aqui
de saídas acadêmicas. Dificilmente pessoas outras, genericamente de ‘estruturas’, foram então criados
que não diretamente ligadas à paleontologia (ou em várias regiões fossilíferas do Brasil, os quais
áreas afins), se deslocam para lugares fossilíferos podem estar ligados a instituições de ensino
por causa dos fósseis se a localidade não detém (i.e. Museu de Paleontologia da Universidade
nenhuma estrutura turística relacionada (museus, Regional do Cariri), a Prefeituras (i.e. Museu
centros de visitantes, parques etc.) (LAWS & de Arqueologia e Paleontológico de Araraquara,
SCOTT, 2003). Museu Paleontológico de Marília), ao Governo
Havendo investimento para que essa do Estado (i.e. Centro de Pesquisa de História
estrutura tome forma de atração turística - uma Natural e Arqueologia do Maranhão) ou mesmo
exploração ativa do jazigo fossilífero - pessoas a fundações próprias e independentes (i.e. Museu
fora do meio acadêmico teriam um estímulo de História Natural de Taubaté, SP). Muitas vezes,
para visitar o local e o fluxo de visitantes geraria instituições de ensino superior ajudam na criação
demanda para sustentar outros setores econômicos dessas estruturas com parcerias, cursos, estímulo e
associados (serviços, gastronômica, hotelaria etc.). consultorias.
É cultural e intelectualmente muito benéfico que Essas estruturas possibilitam coletas
turistas desfrutem de atividades de lazer ligadas periódicas de fósseis e também a prospecção de
ao conhecimento científico (BONFIM, 2010). novos sítios nas redondezas. A coleta e curadoria
constantes atuam na proteção do patrimônio
retirando do ambiente os fósseis antes que sejam
destruídos pelas intempéries, assim como antes
de serem coletados para fins não científicos. Eles

92
são acondicionados de forma segura, se possível e atividades ligadas ao ensino, ela atua como um
perpetuamente, para futuro estudo e consulta. pólo cultural, da mesma forma que os museus
Recursos vindos dos turistas podem ainda ajudar convencionais nas capitais, podendo ser usada
a custear a pesquisa e exploração científica do regionalmente na educação formal (por meio de
sítio, como acontece na Argentina (PERINI & excursões de escolas) e informal ao promover um
CALVO, 2008). turismo cultural e intelectualmente enriquecedor
O acervo de fósseis regionais reunidos (Bonfim, 2010). A estrutura direcionada às
nessas estruturas possibilita a investigação atividades paleo-turísticas pode estar intimamente
científica intensa por pessoas da própria associada ao jazigo fossilífero (i.e. Vale dos
localidade, o que é muito importante no que se Dinossauros, Souza, PB (LEONARDI &
refere a promover mudanças sociais e educacionais, CARVALHO, 2002) e Proyecto Dino, Neuquen,
visto que induz um contato enriquecedor com Argentina (PERINI & CALVO, 2008), tendo a
a pesquisa científica. Existem publicações de vantagem de ir além do museu, com atividades
expressão, além de muitos resumos em congressos recreativas e educacionais realizadas onde foram
submetidos por pesquisadores dessas estruturas, coletados os fósseis, mostrando in situ o que é
em conjunto com instituições maiores e com paleontologia e aproximando os turistas dessa
tradição em pesquisa na área. Essa cooperação ciência.
também pode ser encarada como um retorno dos Quando a estrutura atua também
grandes centros à comunidade. na pesquisa e expõe isso ao público, existe a
Algumas publicações mostram que essas oportunidade de se conhecer todas as fases da
estruturas regionais exercem importante pressão construção do conhecimento ligado aos fósseis
política, voltando a atenção das autoridades (LOPES & DIAS, 2008; PERINI & CALVO,
locais para a comunidade envolvida e para a 2008): desde a coleta e a interpretação geológica
preservação do patrimônio histórico e ambiental (e então o deslumbre com o trabalho básico
(CARVALHO & DA ROSA, 2008a; LOPES & do paleontólogo), passando pelo tratamento
DIAS, 2008; DA ROSA, 2008). e curadoria das peças, até interpretações
paleoecológicas, evolutivas e paleoambientais
embasadas nos fósseis, o que é ainda mais
PONTE ENTRE OS FÓSSEIS E O interessante sob o ponto de vista educacional.
PÚBLICO: EDUCAÇÃO E RECREAÇÃO Ao conhecer os locais onde são coletados
Para que exista turismo paleontológico fósseis, invariavelmente existe o contato do
direcionado ao público geral, necessariamente turista com a geologia do local. É uma chance de
deve existir alguma estrutura ou atividade ensinar sobre as Ciências da Terra. Dinâmicas de
direcionada ao tema. Um centro de visitantes, sedimentação relacionadas aos ambientes e climas
um museu, percursos guiados, placas explicativas pretéritos podem ser demonstradas visualmente
(como no Museu a Céu Aberto de Araraquara, nos afloramentos. Também é possível abordar o
SP) ou mesmo uma rota por vários locais paleo- processo de fossilização, mostrando justamente
turísticos, como no estado do Rio Grande do Sul a matriz que envolve o fóssil, além dos fósseis in
(DA ROSA, 2008), algo que apresente, explique, situ, (LOPES & RIBEIRO, 2006), algo que nem
ou traduza o conhecimento contido nas rochas de sempre está presente em exposições de museus
forma significativa, recreativa e atraente. convencionais.
Essa estrutura não só é um atrativo
turístico, mas também tem função educacional e MUDANÇAS SÓCIO/ECONÔMICAS E
cultural importante na localidade, como difusor
e facilitador do conhecimento científico, a CULTURAIS PARA A COMUNIDADE
exemplo dos museus e parques em outros países DO JAZIGO FOSSILÍFERO
(KELLNER, 2005; LAWS & SCOTT, 2003; O turismo paleontológico traz recursos
LIPPS & GRANIER, 2009). Ao realizarem uma públicos, na forma de incentivos e estrutura
atividade eficaz de extensão na forma de exposições (CARVALHO & DA ROSA, 2008a;

93
LEONARDI & CARVALHO, 2002; LOPES, Podem existir ainda iniciativas para a
2008; SANTOS & CARVALHO, 2008), e instrução sobre a confecção de réplicas para a
privados, vindos dos turistas que procuram venda e para compor coleções didáticas. Estas
entretenimento e cultura, assim como do poderiam ser usadas em atividades escolares
turismo científico e educacional (como escolas (SCHWANKE & JONIS-SILVA, 2004). O
e universidades). Ademais, parcerias com a interessante sobre a confecção de réplicas é que
iniciativa privada também podem ser positivas ela não destrói os fósseis e também, se realizada
(LOPES, 2008; LOPES & DIAS, 2008; PERINI por meio de determinados métodos, permite a
& CALVO, 2008; DA ROSA, 2008). confecção de inúmeras peças com uma só matriz.
Quando uma estrutura paleo-turística Estas poderiam ser vendidas a turistas e até
é instalada em uma localidade há a demanda usadas para estudos em outras instituições. Seria
por monitores e guias turísticos, o que poderia muito mais rentável vender apenas as réplicas, as
proporcionar dois tipos de retorno aos cidadãos quais podem ser comercializadas inúmeras cópias
que se disponham a trabalhar nessa área. (como acontece no Proyecto Dino, na Argentina),
Primeiramente, a renda vinda por um meio uma alternativa rentável e mais sustentável.
lícito e com possibilidade de crescimento (como O uso turístico do patrimônio fossilífero
relatado em Peirópolis, MG, por Lopes e Dias, teria benefícios muito profundos, justamente
2008 e como salienta Carvalho e da Rosa, 2008; porque ele tem necessariamente estar ligado a
da Rosa, 2008; Perini & Calvo, 2008) e segundo, o iniciativas educacionais e culturais relevantes e
treinamento nas áreas de paleontologia, geologia direcionadas à comunidade (CARVALHO &
e curadoria, visando fazer a manutenção das DA ROSA, 2008a). Economicamente seriam
exposições e guiar os visitantes. Essa capacitação envolvidos vários outros seguimentos (hotelaria,
traria grandes benefícios pessoais e profissionais alimentação, transporte, comércio de réplicas
em termos de cultura, conhecimento acadêmico, e souvenires, serviço de guia) (LOPES &
experiência profissional e inclusão social. O que DIAS, 2008) e, desta forma, haveria uma maior
poderia, no futuro, culminar na continuidade dos distribuição de riqueza. Ademais, seria uma
estudos nessa área ou em outras, além de serem atividade que poderia ser exercida por muito tempo,
disseminados conhecimentos à família, pessoas ou seja, sustentável. Teria um caráter recreativo
próximas e visitantes. e atraente, educacional e científico, resultando
Projetos de educação ambiental ligados em ganhos para a população mais profundos do
ao patrimônio fossilífero teriam papel na que o financeiro: cultura, conhecimento e auto-
conscientização da população (SCHWANKE valorização (LOPES & DIAS, 2008).
& JONIS-SILVA, 2004), também auxiliando Enquanto os grandes museus são ligados
na instrução e implementação de atividades a instituições de pesquisa e ensino, que têm
economicamente viáveis para aproveitar o turismo ajuda governamental fortemente direcionada, os
como um novo setor econômico (LOPES & museus regionais são dependentes do turismo
DIAS, 2008). Lopes (2008) salienta a importância e precisam da demanda (visitação, procura), do
dessa comunicação para que haja integração com reconhecimento e de doações para manter-se.
a comunidade. A ideia é utilizar a peculiaridade Carvalho & da Rosa (2008a) ressaltam que muitas
regional de ser um jazigo fossilífero de forma vezes o centro de visitantes ou o museu em si
lícita e rentável para a comunidade. podem não ser auto-suficientes financeiramente,
A conscientização da população regional e no entanto, sua existência estimula a geração e
a prática econômica não predatória evidenciariam desenvolvimento de outros empreendimentos
a importância dos fósseis da região para a projeção adjacentes como lanchonetes, bares e hotéis,
da pesquisa científica brasileira no mundo, sustentados pelo dinheiro de turistas. Um bom
acarretando uma valorização da identidade regional exemplo disso é o comércio de alimentos que se
(CARVALHO & DA ROSA, 2008a; LOPES & desenvolve com base no movimento trazido pelo
DIAS, 2008) e, em última instância, a proteção turismo paleontológico em Peirópolis, distrito
do patrimônio fossilífero, não só por causa da de Uberaba, MG (LOPES, 2008; LOPES &
conscientização e valorização, mas principalmente DIAS, 2008). A integração com a comunidade
porque existiriam atividades sócio-econômicas é necessária para que possa haver distribuição de
ligadas a sua proteção (SCHWANKE & JONIS- riqueza vinda direta ou indiretamente da atividade
SILVA, 2004). do turismo paleontológico (LOPES, 2008).

94
Lopes & Dias (2008) e Santos & defendem que é necessário, em se tratando de
Carvalho (2008), levantando dados frutos da comunidades afastadas, com pouca ou nenhuma
análise dos impactos sócio/econômicos e culturais opção de lazer além do turismo paleontológico, que
do desenvolvimento do turismo paleontológico se desenvolvam outras atividades. Isso se justifica
na região de Peirópolis, mostram o quão benéfico porque são poucas as pessoas, além de cientistas
para a localidade é o turismo paleontológico em e estudantes, que vão a um determinado local
termos socioeconômicos, culturais e também na
somente pelos fósseis. É necessário que o turismo
exploração científica do lugar. Da Rosa (2008)
paleontológico faça parte de um contexto maior de
e Carvalho & Da Rosa (2008) mostram outros
exemplos pelo Brasil, assim como Perini & Calvo lazer. Esse é um exemplo, apesar de estrangeiro, de
(2008) na Argentina. que o turismo paleontológico precisa ser pensado
de uma forma singular, principalmente em casos
assim, em lugares remotos. É importante salientar,
CONCLUSÕES como Kellner (2005) o fez com os museus, que
Diversos autores sul-americanos essa estrutura precisa ter atenção em como expõe
publicaram a partir dos anos 90 trabalhos que o conhecimento ao público, para que de fato
pensam a paleontologia como um atrativo haja construção de conhecimento significativo, e
turístico local. Esses autores enumeram exemplos não se apresente os fósseis de forma meramente
de viabilidade, benefícios e possibilidades. No contemplativa.
entanto, sem fazer referência direta a trabalhos de Visando o crescimento deste seguimento
descrição e desenvolvimento técnico do turismo no Brasil pode-se dizer que existem dois hiatos
paleontológico no Brasil. Sendo eles próprios importantes em termos de estudos:
referência para trabalhos que abordam o assunto. 1 - Faltam estudos sócio/econômicos e
Constata-se, por meio da análise das referências multidisciplinares sobre o impacto do turismo
bibliográficas, que é comum nesses trabalhos o uso paleontológico na comunidade dos vários jazigos
de conceitos vindos do ecoturismo, geoturismo e fossilíferos do Brasil. Trabalhos como Lopes,
do turismo científico, apostando nas estratégias (2008); Lopes & Dias (2008); Lopes & Ribeiro
desses setores tão semelhantes - e de fato (2006) Santos & Carvalho, (2007); Santos
sobrepostos – com a finalidade de desenvolver e & Carvalho, (2008); Santos et al., (2010) em
estruturar esse setor. Peirópolis, distrito de Uberaba, MG; Santos et
De fato, são teorias aplicáveis e se al., (2011) em Sousa, PB, Santos & Carvalho,
mostram eficientes. Ao situar e definir o (2011); Castro & Machado, (2009) em Itaboraí,
turismo paleontológico, ele se enquadra de RJ, são essenciais para se entender de que forma
alguma forma nessas três vertentes, mas ainda o turismo paleontológico afeta uma determinada
assim pode-se dizer que se trata de um tipo de comunidade, quais são seus aspectos positivos
turismo diferenciado e específico, que, por causa e negativos. Esse conhecimento é essencial
das suas peculiaridades, demanda um estudo para entender o porquê de algumas regiões
diferenciado. Justifica-se, então, a proposição de aproveitarem tão bem o turismo paleontológico,
que ele deve ser pensado de forma mais profunda, como Peirópolis, MG, e a Paleo-Rota, RG, e por
não só a fim de formular estratégias didáticas e que em outras áreas ele se mostra tão precário,
pedagógicas significativas para o seu uso, mas como em Souza, PB - onde atualmente existe
também pensar no setor como um seguimento um centro de visitantes com enorme potencial
econômico com um papel importante em âmbito turístico, mas que está abandonado (Gomes,
cultural, científico, educacional e social, fazendo 2011). Neste último caso trata-se claramente
com que ele se desenvolva, funcione e torne-se da falta de continuidade de investimentos
sustentável, podendo cumprir integralmente seu públicos, visto que, no começo houve abundante
papel pedagógico, recreativo e de mudança sócio/ investimento (CARVALHO & DA ROSA,
econômica. 2008b; LEONARDI & CARVALHO, 2002;
Laws & Scott (2003), analisando esse SANTOS et al., 2011). É necessário saber por
seguimento de turismo nos EUA e na Austrália, que isso aconteceu, e como evitar episódios

95
semelhantes. Esses estudos seriam a base para BRASIL.1942. Dispõe sobre a proteção dos
preencher o outro hiato discutido a seguir. depósitos fossilíferos – Decreto-Lei 4.146,
2 - Falta bibliografia técnica sobre o Rio de Janeiro, 4 de março de 1942.
assunto: “O que fazer?” e “como fazer?”. Estas
guiariam as estratégias para a criação e fomento BONFIM, M.V.S. 2010. Por uma Pedagogia
deste seguimento específico de mercado. Os Diferenciada : Uma reflexão acerca do
estudos básicos de impacto sócio/econômico turismo pedagógico como prática educativa.
dariam embasamento para propor estratégias que Turismo: Visão e Ação, 12(1): 114 - 129.
considerariam as particularidades econômicas,
CAMPOS, H.B.N. 2011. Arcossauros da Bacia
culturais, políticas e sociais de cada região,
do Araripe : uma revisão. Tarairiú - Revista
prevendo-se possíveis problemas e analisando
Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e
o estado do seguimento, quando vigente, para
Paleontologia da UEPB, 1(2).
propor melhorias. Para isso, é necessária uma
estratégia interdisciplinar de estudo, mesclando CARVALHO, I.S., & DA ROSA, A.A.S. 2008a.
o conhecimento de profissionais de áreas como Paleontological Tourism in Brasil: Examples
turismo, administração, educação e paleontologia. and Discussion. Arquivos do Museu
Existem estudos dessa natureza referentes Nacional, 66(1): 271-283.
a outros países (i.e. LAWS & SCOTT, 2003).
Entretanto, estes analisam realidades diferentes e CARVALHO, I.S. & DA ROSA, A.A.S.
não podem ser aplicados integralmente ao Brasil 2008b. Patrimônio Paleontológico no
por causa de particularidades político/econômicas Brasil: Relevância para o desenvolvimento
e sociais. Considerações gerais e estudos em países sócio-Econômico. Memórias e Notícias -
sócio/economicamente semelhantes (LIPPS Publicações do Departamento de Ciências da
& GRANIER, 2009; PERINI & CALVO, Terra e do Museu Mineralógico e Geológico
2008) podem representar um ponto de partida da Universidade de Coimbra, 3 (Nova Sé:
interessante para se pensar o setor no Brasil. 15-28.
É necessária coordenação entre o poder
público, a iniciativa privada, a sociedade civil CASTRO, A.R.S.F. & MACHADO, D.M.C.
e a comunidade científica, a fim de gerar um 2009. Múltiplos Olhares para um Patrimônio:
ambiente propício para o desenvolvimento dessas o estudo de caso do Parque Paleontológico
atividades (CARVALHO & DA ROSA, 2008a; de São José de Itaboraí. X ENANCIB -
DA ROSA, 2008). Então, com os estudos de Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência
impactos sócio/econômicos e a produção de da Informação. João Pessoa.
conhecimento técnico, seria possível desenvolver
GOMES, L.C.S. 2011. O vale dos Dinossauros
o turismo paleontológico em diversas regiões
está abandonado. Sociedade Brasileira
fossilíferas do país onde a comunidade tenha
de Paleontologia. http://www.sbpbrasil.
interesse em aproveitar ativa e licitamente essa
org/portal/imagens/vale_dinossauros_
qualidade regional.
abandonado.doc.

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Semana do Dinossauro: uma Forma Lúdica (Brasil). 1 Simpósio de Geoparques y
de Ensinar a Importância do “Turismo Geoturismo: 135-138. Melipeuco.
Paleontológico.” IV SeminTUR – Seminário

97
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Estado de Minas Gerais ( Brasil ). Anuário
do instituto de geociências - UFRJ, 33(2):
74-86.

98
TRABALHO PRELIMINAR DE REORGANIZAÇÃO DA COLEÇÃO DIDÁTICA
DE PALEONTOLOGIA DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Gomes1, P.B.F. (paty7012@hotmail.com), Mota1, I.A. & Souto, P.R.F.1 (prfsouto@ig.com.br)
1
Departamento de Ciências Naturais, Instituto de Biociências da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

RESUMO INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem intenção de divulgar a Hoje as coleções são caracterizadas como
importância da coleção didática de paleontologia uma fonte permanente de aprendizado sem fins
do Departamento de Ciências Naturais do lucrativos, que leva a população o desenvolvimento
Instituto de Biociências/UNIRIO, cuja aquisição cultural e cientifico. Em termos práticos, as
dos primeiros exemplares data do final do coleções são relacionadas a três atividades básicas:
século passado, a fim de apoiar as praticas das pesquisa, guarda e exposição (Schwanke e Silva,
disciplinas de geologia e paleontologia dos cursos 2004).
de graduação. Ao longo dos anos a coleção foi Um dos aspectos relacionados às coleções
ampliada em conseqüência das continuas coletas paleontológicas, diz respeito à conservação dos
de campo e pelas doações recebidas. Recentemente exemplares presentes, devido a sua importância
foi iniciado o processo de digitalização do acervo, tanto para posteriores estudos como pelo seu
que atualmente tem catalogado cerca de mil caráter ilustrativo destinado ao ensino. A maneira
exemplares dentre os quais de micro e macrofósseis correta de armazenamento de fósseis em coleções
que atualmente estão sendo reorganizados e acadêmicas garante sua conservação e a ampliação
atualizadas. do conhecimento, permitindo que os materiais
Palavras-chave: acervo paleontológico, possam ser utilizados em pesquisas futuras. Assim
curadoria, coleção didática os métodos curatoriais são fundamentais na
manutenção das coleções paleontológicas (Nobre
e Carvalho, 2004; Henriques e Magno, 2006).
ABSTRACT
A coleção de fósseis do Departamento
This study intent to promote the de Ciências Naturais do Instituto de Biociências
importance of teaching paleontology collection da Universidade Federal do Estado do Rio de
of the Departamento de Ciências Naturais Janeiro, foi iniciada pelas professoras Maria Célia
do Instituto de Biociências/UNIRIO, whose Elias Senras e Deusana Maria da Costa Machado
acquision of the first specimens date the end of desde do ano de 1988.
last century, to support the practices class of the Atualmente, a instituição possui um
geology and paleontology disciplines from the laboratório próprio para realização de suas aulas
academic courses. Over the years the collection práticas, o que contempla um espaço destinado
was expanded as a result of continuous field as atividades que auxiliam na fixação dos
collections and the donations received and conteúdos das aulas teóricas, entretanto, o escasso
recently, the collection began the process of e inadequado armazenamento dos materiais
digitization of cataloged materials and now the não conseguem atender a demanda crescente
collection has about a thousand copies of micro- de aulas, em conseqüência da ampliação dos
and macrofossils that are being reorganized and turnos, tornado necessárias ações que consolidem
updated. o trabalho de manutenção do acervo através
Keywords: paleontological archive, da otimização, organização e armazenamento
curator, teaching collection dos inúmeros materiais da coleção, aos quais os
conteúdos disciplinares estão vinculados (Figuras
1a, b, c).

99
A aplicação de recursos externos 2.1.4 Equinodermas
concedidos pela Fundação de Amparo a Pesquisa A coleção de equinodermas é constituída
do Rio de Janeiro (FAPERJ) tem sido fundamental por 56 exemplares, a maioria com a predominância
na modernização do Laboratório, possibilitando a Formação Jandaíra e a Formação Pirábas ambas
a reforma do mobiliário e procedimentos de da Bacia Potiguar.
acondicionamento dos materiais. Permitindo a 2.2 Vertebrados
consolidação dos trabalhos de curadoria da coleção 2.2.1 Peixes
didática, envolvendo professores, monitores e Os peixes constituem os fósseis mais
bolsistas. abundantes da coleção, atingindo 283 exemplares,
Principais Grupos Taxonômicos adquirido em 1997. Merecem destaque os
Representados no Acervo Paleontológico do importantes fósseis da Formação Santana
Departamento de Ciências Naturais do Instituto (Membro Crato, Membro Romualdo) e Formação
de Biociências/UNIRIO Brejo Santo, ambos da Bacia do Araripe, e também
2.1 Invertebrados os da Formação Tremembé da Bacia de Taubaté.
2.1.1 Moluscos 2.3 Paleobotânica
2.1.1.1 Bivalves Esse grupo com 74 exemplares se referente,
O acervo inclui 119 exemplares de bivalves. aos vegetais fósseis, entre os quais estão caules
Neste grupo temos a predominância de fósseis fósseis e raízes A maioria destes, é proveniente
da Formação Jandaíra e da Formação Cabeças, da Formação Missão Velha e Formação Santana,
ambos da Bacia Potiguar. ambas da Bacia do Araripe .
2.1.1.2 Gastrópodes 2.4 Icnofósseis
É o segundo maior grupo da coleção, Esse táxon é composto por pista de
constituída de 241 exemplares, sendo o primeiro invertebrados e vertebrados e coprólitos,
adquirido em 1995. Destaca-se grande parte totalizando 27 exemplares ao todo.
proveniente da Bacia de São José de Itaboraí. 2.5 Microfósseis
2.1.1.3 Cefalópodes A coleção possui exemplares de
Possuindo 24 exemplares, todos Foraminídeos, Radiolários, Diatomáceas,
provenientes da Formação Riachuelo da Bacia do Ostracodes, Palinpomorofos (pólen e esporos),
Sergipe-Alagoas. Quitinozoários, Acritarcos, Conodontes e
2.1.1.4 Tentaculites Conchostraceos, sendo este composto por 18
Com apenas 13 exemplares, é o menor exemplares, provenientes da Bacia do Padre
grupo da coleção que é proveniente, em sua Marcos e da Bacia de Sergipe-Alagoas.
maioria , da Formação Ponta Grossa, Bacia do O objetivo deste trabalho é divulgar a
Paraná. importância do acervo didático de paleontologia
2.1.2 Artrópodes do Departamento de Ciências Naturais do
Neste táxon temos os exemplares Instituto de Biociências/UNIRIO na difusão do
referentes aos insetos e aos trilobitas, totalizando conhecimento geocientífico. Até o momento o
28 espécimes. Sendo a maioria proveniente da maior número de exemplares presentes na coleção,
Formação Cabeças da Bacia do Parnaíba e da pertence a invertebrados, em conseqüência das
Formação Santana da Bacia do Araripe. linhas de projeto relacionadas a paleocomunidade
2.1.3 Braquiópodes de invertebrados do Paleozoico. Entretanto
é expressiva a quantidade de vertebrados e
A coleção possui 188 exemplares de
vegetais do Cretáceo Superior, especificamente
braquiópodes (articulados e inarticulados), sendo
procedentes da Bacia do Araripe. Em conseqüência
bem representada pela Formação Ponta Grossa,
disso este trabalho tem como objetivo otimizar as
Bacia do Paraná e a Formação Cabeças, Bacia do
informações e armazenamento dos materiais a
Parnaíba.
serem adquiridos especificamente e outras idades
cronológicas,bem como de grupos ainda pouco

100
representados ou inexistentes, abarcando assim NOBRE, P.C. & CARVALHO, I.S. 2004. Fósseis:
todos os aspectos relativos a uma coleção de coleta e métodos de estudo. In: Carvalho,
Paleontologia. I.S. (ed). Paleontologia. 2a ed., Rio de Janeiro,
Interciência, p. 27-42.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SCHWANKE, C. & SILVA, M.A.J. 2004.
HENRIQUES, M.H. & MAGNO, C. 2006. Educação e Paleontologia, In: Carvalho, I.S.
Práticas sustentáveis num laboratório (ed). Paleontologia. 2a ed., Rio de Janeiro,
de paleontologia. In: Seminário “Saúde, Interciência, p. 123-130
ambiente e desenvolvimento sustentável”,
Livro de resumos, Coimbra, 2006. Reitoria
da Universidade de Coimbra, p.23.

101
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA REALIZAÇÃO DE EVENTOS CIENTÍFICOS
COMO A JORNADA DISCENTE DO DGP DO MUSEU NACIONAL/UFRJ
Luciano G. Machado (lucianogmachado@ufrj.br), Elaine B. Machado (machado.eb@gmail.com),
Aline M. da Cunha (aline.meneguci@gmail.com), Arthur G. G. Rodrigues (arthurgravato@yahoo.com.br),
Clarissa Mattana (cla.mattana@gmail.com), Luis H. P. Barros ( luishpb@gmail.com), Márcia F.de A. Santos
(marcia.aquino42@gmail.com), Rodrigo G. Figueiredo (rodrigo.giesta@gmail.com), Tiago R. Simões (tiagorodriguessi@hotmail.com)
Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional/UFRJ – Quinta da Boa Vista s/n – São Cristóvão, Rio de Janeiro – RJ
CEP: 20-940-040

INTRODUÇÃO grupos de discussão científica, complementando


as atividades práticas exercidas nos laboratórios.
A divulgação do conhecimento
É relevante destacar ainda a divulgação do evento
paleontológico e geológico para a sociedade
para outras universidades do Rio de Janeiro,
brasileira é realizada atualmente através de
no intuito de manter e ampliar os vínculos de
exposições em museus, meios de comunicação em
colaboração entre o Museu Nacional/UFRJ e
massa (internet, revistas, jornais, rádio, e TV) e
demais instituições.
atividades lúdicas como jogos educativos, oficinas
de dobradura e de desenhos (FARIA, et al., 2007;
MELO, et al., 2007). Programas computacionais MATERIAL E MÉTODOS
interativos também podem ser utilizados com a O Departamento de Geologia e
mesma finalidade (REIS, et al., 2005). Informações Paleontologia (DGP) conta hoje com sete setores
sobre geologia e paleontologia também são de pesquisa. Estes foram agrupados nas seguintes
encontradas em livros didáticos, mas os conceitos categorias: setores de Estratigrafia, Sedimentologia
e os temas presentes nestes livros muitas vezes & Geologia Histórica; Meteorítica;
estão desatualizados ou até mesmo com erros Mineralogia; e Petrografia - sob a categoria
conceituais (SCHWANKE, 2002; JUNIOR & “Geologia”; Paleobotânica & Paleopalinologia
PORPINO, 2010). - “Paleobotânica”; e Paleoinvertebrados e
No meio acadêmico a divulgação Paleovertebrados em categorias de mesmo nome.
científica é realizada principalmente através de Trabalhos relacionados a atividades de curadoria
eventos como jornadas, congressos, simpósios ou ensino foram agrupadas em “Outros”.
e encontros temáticos. No Museu Nacional A Jornada foi realizada nos dias 14, 15 e
do Rio de Janeiro - UFRJ é realizada a Jornada 16 de junho de 2011, no período de nove horas
Discente do Departamento de Geologia e da manhã às dezessete horas, com intervalos para
Paleontologia ( JD-DGP) que têm como objetivo o almoço e coffee-breaks, no Auditório Roquette
principal a divulgação destas áreas ao público não Pinto, Museu Nacional do Rio de Janeiro, UFRJ.
especializado formado por estudantes de diversos
Devido à participação de alunos externos
níveis. Ao invés de restringir o evento aos alunos
ao DGP nesta edição, os dados sobre o perfil
dos programas de pós-graduação oferecidos pelo
dos participantes foram divididos em: “internos”,
MN/UFRJ, desejou-se alcançar também alunos de
com valores referentes exclusivamente aos
Ensino Médio e Graduação que desejam realizar
alunos internos do DGP (utilizado na análise
pesquisa científica e ainda estão em processo de
da participação dos diferentes setores do DGP
escolha de uma área mais específica de atuação.
no evento) e “total”, onde foram inclusos tanto
Outro objetivo relevante foi o de difundir as linhas
alunos internos quanto externos ao Departamento
de pesquisa de cada setor deste departamento,
(utilizado na análise do nível de formação
permitindo maior integração profissional e
acadêmica dos participantes).
acadêmica dentre os seus membros.
Todas as apresentações dos resumos
O evento possibilitou também uma
enviados a Jornada foram realizadas de forma
oportunidade aos estudantes mais jovens, como
oral, e cada apresentação teve o tempo total de
os do Programa de Iniciação Científica Júnior,
vinte minutos sendo os cinco minutos finais
MN/UFRJ - Colégio Pedro II, de participarem de

102
destinados a observações e perguntas direcionadas No perfil educacional dos participantes que
ao apresentador do trabalho. Este formato foi apresentaram ao menos um trabalho, é exorbitante
preferido por permitir a oportunidade a muitos o número de alunos de graduação na edição de
alunos de realizar, pela primeira vez, uma 2004. Excluindo-se este valor, que é destoante
apresentação pública de um trabalho de pesquisa. dos outros anos, ainda se observa um predomínio
destes alunos sobre os de outros níveis de formação.
Isto indica que, apesar de não possuírem cursos de
RESULTADOS E DISCUSSÕES graduação, os estagiários de iniciação científica do
Apesar da dificuldade na comparação com Museu Nacional/UFRJ já possuem uma produção
os dados das edições anteriores da JD-DGP, em acadêmica ativa e significante, mesmo quando
função do espaço de tempo entre a edição de 2011 comparados aos alunos de pós-graduação.
e as anteriores, algumas inferências puderam ser
realizadas. Em primeiro lugar, destaca-se o maior
número de participantes e trabalhos apresentados, CONSIDERAÇÕES FINAIS
em função do maior número do dias do evento Jornadas discentes, como a do presente
(três) em relação aos anos anteriores, apenas um estudo, permitiram levantar ou comprovar dados
dia, (figura 1). Porém, apesar de mais de 90% de antes desconhecidos sobre os alunos da instituição.
freqüência dos participantes inscritos nos dois Além disso, conseguiu-se ter uma participação
primeiros dias, houve uma queda neste valor no significativa de alunos externos ao DGP e ao
terceiro dia, indicando que uma redução para dois MN/UFRJ, indicando a capacidade do evento
dias de evento possa ser considerada a ideal para na divulgação de trabalhos dos alunos do mesmo.
futuras edições. Para a próxima edição, pretendemos divulgar
Os dados de participação obtidos no evento o evento de modo mais amplo dentre alunos de
permitiram a identificação do perfil dos alunos Ensino Médio e, desta forma, potencializar a
internos ao DGP-MN/UFRJ. Nele, constatamos capacidade da Jornada na divulgação da Geologia
um importante aumento no número de trabalhos e Paleontologia nas escolas. Portanto, a IV Jornada
relacionados com as temáticas: curadoria e Discente do DGP-MN/UFRJ permitiu não
educação (categoria “Outras”), que não passaram apenas a aquisição de experiência na organização
de 6% do total de trabalhos inscritos em edições de eventos científicos pelos alunos do mesmo, mas
anteriores, mas que atingiram 17% em 2011 também o reconhecimento do potencial deste tipo
(Figura 2). Isto indica um maior interesse dos de evento para uma maior integração e divulgação
alunos do DGP para exercer atividades não usuais destas áreas do conhecimento.
dentro da pesquisa acadêmica, como a divulgação
científica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Outras características no perfil dos
participantes são o predomínio, em níveis FARIA, A.C.G.; VIEIRA, A.C.M.;
absolutos e relativos, de temas dentro da MACHADO, D.M.C.; MATOS, J.S.;
área de Paleovertebrados. Houve também a PONCIANO, L.C.M.O. & NOVAES,
manutenção relativamente proporcional de M.G.L. 2007. Utilização de Veículos
trabalhos provenientes da maioria dos setores do Alternativos de Comunicação para aDifusão
DGP. Porém, nesta edição, ocorreu um declínio do Conhecimento Paleontológico. Anuário do
acentuado de trabalhos na área de Geologia, com Instituto de Geociências - UFRJ, 30(1): 168-
17%, em relação às edições anteriores (cerca de 174.
25%). Outro aspecto interessante foi o aumento e
manutenção significativa na produção de trabalhos JUNIOR, H.I.A. & PORPINO, K.O. 2010.
da Paleobotânica a partir da segunda edição da Análise da Abordagem do Tema Paleontologia
Jornada, em 2004, quando esta se tornou uma das nos Livros Didáticos de Biologia. Anuário do
áreas de maior destaque no evento. Instituto de Geociências – UFRJ, 33 (1): 63-72.

103
MELO, D.J.; BASTOS, A.C.F.; RODRIGUES, Atual para a Divulgação da Paleontologia no
V.M.C. & MONÇÃO, V.M. 2007. Ensino Fundamental e Médio. Anuário do
Desenvolvimento de Atividade Lúdica para Instituto de Geociências – UFRJ, 28 (1): 70-79.
o Auxílio do Ensino e Divulgação Científica
da Paleontologia. Anuário do Instituto de SCHWANKE, C. A divulgação da Paleontologia
Geociências – UFRJ, 30 (1): 73-76. através de atividades de ensino e extensão.
In: ENCONTRO DE ENSINO DE
REIS, M.A.F.; CARVALHO, C.V.A.; BIOLOGIA “PERSPECTIVAS DO
CARVALHO, J.V.; RODRIGUES, M.A.C.; ENSINO DE BIOLOGIA”, 7, São Paulo,
MEDEIROS, M.A.M.; VILLENA, H.H.; 2002. Cd-rom- Encontro “Perspectivas do
OLIVEIRA, F.M. & DORNELAS, V.R. Ensino de Biologia”, 2002, São Paulo.
Sistema Multimídia Educacional para o
Ensino de Geociências: uma Estratégia

Figura 1. Valores absolutos de trabalhos de alunos internos ao DGP apresentados ao longo dos anos na JD – DGP,
distribuídos nas diferentes áreas do conhecimento.

104
Figura 2.1. Valores relativos de trabalhos por temas dos alunos internos ao DGP. 2.2 Nível de formação educacional de
todos os participantes que apresentaram trabalhos.

105
OS FÓSSEIS DO MUNICÍPIO DE QUIJINGUE, BAHIA: UM EXEMPLO
DA IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DA CULTURA PARA A
REALIZAÇÃO DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO DA PALEONTOLOGIA
Simone Souza de Moraes1,2 (smoraes@ufba.br), Morgana Drefahl1,3 (morgana.drefahl@gmail.com)
1
Grupo de Estudos de Paleovertebrados (GEP/IGEO/UFBA). E-mail: gepufba@gmail.com
2
Instituto de Geociências da UFBA.
3
Museu Geológico da Bahia (MGB/SICM).

RESUMO Keywords: Science Popularization,


Culture and Fossils
Em 2009, o Grupo de Estudos de
Paleovertebrados (GEP) foi informado da
descoberta de fósseis no Município de Quijingue, INTRODUÇÃO
nordeste da Bahia. Um astrágalo, um elemento Em uma época de crescentes agressões
dentário molariforme e uma concentração ecológicas, cresce também a importância da
fossilífera foram localizados, gerando estudos divulgação científica junto aqueles (muitos) cujo
e vários trabalhos científicos. O interesse da saber é escasso (ou mesmo inexistente), sendo das
população pela descoberta dos fósseis estimulou instituições universitárias a obrigação de, através
a realização de outros trabalhos de pesquisa e de seus pesquisadores e professores, desenvolver
extensão no Município, mas o principal resultado meios para divulgar, em linguagem simples e
desta parceria foi conhecer as concepções da acessível, o saber que vão adquirindo (Chelini &
comunidade a cerca dos registros geológicos e Lopes, 2008). Contudo, ao se desenvolver ações
fossilíferos da região e perceber a importância de divulgação científica é fundamental considerar
dos aspectos culturais para a divulgação científica, também o contexto cultural da comunidade
especialmente no que concerne à valorização do (Candotti, 2002).
patrimônio fossilífero.
Segundo Bussab & Ribeiro (1998) o ser
Palavras-chave: Popularização da Ciência, humano possui um modo de vida cultural altamente
Cultura e Fósseis especializado, o qual permite uma acumulação de
informações dentro do grupo (que são transmitidas
ABSTRACT de geração a geração) ao mesmo tempo em que
aceita a adição de novas aprendizagens decorrentes
The Grupo de Estudos de Paleovertebrados
das experiências de cada um. Este arranjo parece
(GEP)/Paleovertebrates Studies Group had notice
possibilitar o ajustamento a uma grande variedade
a fossil discover in Quijingue city, northern of
de desafios do meio, como a própria história da
Bahia in 2009. An astragalus, a molariform teeth
humanidade pode atestar.
and a fossil concentration were located and the
following studies allowed the production of many Neste contexto, os fósseis sempre
scientific works. The population’s interest for desempenharam um papel importante na cultura.
these fossils discovered, stimulated the realization Sua presença na natureza é conhecida pelo homem
of another works involving scientific and cultural desde a pré-história, sendo nítida a sua ligação
projects in this city, but the main result of this com o comportamento e religiosidade dos povos.
partnership was the understanding on the Trata-se de uma relação com impressionante
community’s conceptions about fossiliferous and conotação no folclore popular que revela
geologic records in the region as well as importance informações inestimáveis, por vezes não escritas,
about cultural aspects for scientific divulgation, sobre a história da comunidade (Fernandes, 2005).
especially those regarding fossiliferous patrimony Em 2009, o Sr. Flávio Santos, funcionário
valorization. da Secretaria de Ação Social do Município de
Quijingue, Bahia, informou ao Grupo de Estudos

106
de Paleovertebrados (GEP) a descoberta de fósseis No que tange à importância paleontológica,
no distrito de Lagoinha das Pedras. Em 1982, a a primeira descoberta de fósseis em Quijingue
comunidade encontrou ossos fossilizados neste ocorreu em 1982 e foi realizada por moradores do
mesmo local, porém as peças foram levadas por distrito de Lagoinha das Pedras em um depósito
moradores e por outras pessoas, sem que eles do tipo tanque que se formou sobre ortognaisse
soubessem do que se tratava. Entretanto, para este de idade arqueana pertencente ao Complexo Santa
novo achado, eles decidiram requisitar a presença Luz. Todavia, este material foi disperso e seu
de especialistas para a identificação do material e destino permanece desconhecido.
o fornecimento de explicações sobre o animal que Em 2009, os moradores fizeram nova
viveu neste local (Sr. Flávio Santos, comunicação descoberta e, desta vez, comunicaram-na ao GEP,
pessoal). motivando a realização de uma expedição neste
Assim foi organizada uma expedição do local. A equipe foi constituída pelas pesquisadoras
GEP no intuito de resgatar as peças encontradas, Morgana Drefahl e Simone Moraes, pelo aluno
realizar uma nova coleta de material na localidade de iniciação científica Gustavo Martins (bolsista
e dar à comunidade uma resposta sobre os fósseis PIBIC-UFBA 2009-2010) e pelo motorista, Sr.
encontrados no Município de Quijingue, nordeste Claudionor Viana do Instituto de Geociências da
da Bahia, de modo que, no presente trabalho, UFBA (IGEO-UFBA).
são relatados os resultados desta experiência O Sr. Flávio Santos mediou as colaborações
e a importância dos aspectos culturais para a da Prefeitura do Município de Quijingue, através
divulgação científica, especialmente no que de sua Secretaria de Ação Social, e do Sindicato
concerne à valorização do patrimônio fossilífero. dos Trabalhadores Rurais de Quijingue que
forneceram todo o apoio logístico para a realização
O início da parceria das atividades de campo.
Quijingue é um município de 12.071
km² situado a 333 km de Salvador e que possui A pesquisa dos fósseis de Quijingue
uma população de 27.243 habitantes (IBGE, Ao chegar à cidade, a equipe fez o
2010) (Figura 1.1 em Anexo). Geologicamente, a reconhecimento das peças recolhidas pelos
cidade está inserida no Cráton do São Francisco, moradores. Em sua maioria, tratava-se de
sendo sua área constituída essencialmente por fragmentos de ossos de tamanhos variados e
ortognaisse migmatítico com paragênese da fácies sem elementos diagnósticos, mas a confirmação
anfibolito do Complexo Santa Luz que possui do achado de um astrágalo esquerdo (GEP01)
idades variando entre 2.954 e 3.152 Ma, recoberto (Figura 1.2 em Anexo), com as típicas superfícies
a leste por estreita faixa sentido norte-sul da de articulação e medindo aproximadamente
Unidade Vulcânica Máfica do Greenstone Belt do 22,5cm de eixo proximal-distal e 25cm de eixo
Rio Itapicuru que data de 2.209 Ma (Carvalho & antero-posterior, permitiu a sua identificação como
Oliveira, 2003; Dalton de Souza et al. 2003), o que pertencente a Eremotherium laurillardi (Drefahl et
ressalta sua importância como um testemunho da al. 2009), devido a provável exclusão geográfica em
constituição dos primeiros continentes da Terra. relação a Megatherium sp relatado por Cartelle &
Além disso, em 1984, um fazendeiro Iuliis (1995).
encontrou na região um meteorito de 59 kg a uma No dia seguinte, a equipe se dirigiu ao
profundidade de cerca de 1 metro, o Meteorito Tanque da Gameleira (Figura 1.3 em Anexo)
Quijingue, composto principalmente por olivina para o reconhecimento inicial do tanque
(69%) e metal Fe-Ni (28%) e regularmente natural considerando seus aspectos geológicos
distribuídos na chamada textura pallasítica, cujos e geomorfológicos. Em seguida, a equipe foi
fragmentos encontram-se depositados no Museu encaminhada pelos moradores até o local de
Geológico da Bahia e em outras instituições descarte da lama que é retirada do tanque para
nacionais e internacionais, sendo o único do Brasil aumentar a captação de água pluvial, onde foram
que pertence ao grupo dos pallasitos (Coutinho et encontrados fragmentos de ossos variados.
al., 1999; Grossman, 1999).

107
No bordo norte-nordeste deste tanque científica, é necessário que haja a circulação de
de feição retangular, uma moradora, a Sra. Isabel seus resultados. Somente através do livre debate e
Modesta da Silva descobriu ossos aflorando confronto de ideias é possível perceber a influência
superficialmente, o que motivou escavações da que a descoberta do novo exerce sobre os vínculos
equipe do GEP na área,revelando uma concentração e valores culturais. Nesse sentido, a divulgação não
fossilífera com aproximadamente 1 m2 (Figura é apenas a publicação do artigo científico, mas um
1.4 em Anexo). Os bioclastos encontrados exercício de reflexão sobre os impactos sociais e
apresentavam-se muito fraturados e pobremente culturais da pesquisa realizada.
selecionados com comprimento variando de 3 a Sendo assim, enquanto as escavações
20 cm. Dada à descrição preliminar do arcabouço eram realizadas pela equipe do GEP, alguns
sedimentar desta concentração fossilífera - moradores trouxeram os fósseis que eles haviam
destacando-se a presença de fragmentos rochosos guardado e outros iniciaram buscas ao redor do
do tamanho de cascalho a matacão – constatou-se tanque, coletando mais fragmentos. À medida
que a mesma foi depositada em um ambiente com que o material era levado ao conhecimento
energia hidrodinâmica relativamente alta, que dos pesquisadores, estes forneciam, sempre que
pode ser de natureza fluvial (Martins et al. 2009). possível, explicações em linguagem simples e
Além desta concentração fossilífera, foram acessível de ordem anatômica, sistemática e
selecionados e embalados para o transporte o cronológica, o que atraiu o interesse da população
astrágalo esquerdo (GEP 01), um fragmento de (Figura 2.1 em Anexo).
elemento dentário típico molariforme (GEP 02) Ao final do trabalho, foi proferida a
(Figura 1.5 em Anexo) e outros fragmentos ósseos palestra “De quem são os ossos encontrados em
para a complementação dos estudos. Quijingue?” por Morgana Drefahl, no auditório
Uma amostra do astrágalo (GEP01) foi da Secretaria de Ação Social do Município de
datada em 15.770±40 anos (UGAMS 6136) Quijingue, onde estavam presentes algumas
através do método C14 (Drefahl, 2010). As autoridades, como a Primeira Dama Sra. Sélia
análises tafonômica e paleoambiental preliminares Alves e demais representantes da Prefeitura,
sugerem que há aproximadamente 15 mil anos, além de cidadãos do Município (Figura 2.2 em
na região de Quijingue, onde atualmente ocorre Anexo). Em linguagem acessível, a explanação
o típico bioma de caatinga no semi-árido, existia versou sobre a Paleontologia como ciência, a
um clima comparativamente mais úmido e fresco fauna pleistocênica do Brasil com ênfase na Bahia,
que suportava vegetação do porte arbóreo e/ou características morfológicas e paleoecológicas dos
arbustivo (Martins et al., 2009; Drefahl, 2010). espécimes de preguiças terrícolas, procedimentos
para o diagnóstico do astrágalo de E. laurillardi, a
A troca de experiências entre os importância dos fósseis e dos sítios fossilíferos, e
pesquisadores e a comunidade o significado do achado de Lagoinha das Pedras.
Segundo Candotti (2002), educar e prestar Durante a explanação, alguns dos ouvintes
contas do que se estuda e investiga é imperativo citaram fatos da história do Município e também
e fundamental nas sociedades democráticas, sendo trechos do folclore local que eles acreditavam ter
que a divulgação das pesquisas científicas para o relação com os fósseis da região. Estes relatos foram
público, quando possível, deveria ser vista como discutidos com a equipe na tentativa de distinguir
parte das responsabilidades do pesquisador, do eventos naturais de acontecimentos culturalmente
mesmo modo que o é a publicação de artigos em interpretados e, na medida do possível, apresentar-
revistas especializadas. lhes explicações científicas para os fatos, tais
Este mesmo autor argumenta ainda que como as diferenças entre as condições climáticas
a cultura - as condições, os hábitos, os jogos, as comparativamente mais amenas na época em
histórias e as tradições locais - deveriam merecer que esta paleomastofauna quaternária existia em
maior atenção nas discussões do papel da relação ao semiárido atual. Contudo, o principal
divulgação científica na educação de todos, já que, resultado deste debate foi conhecer as concepções
para avaliar o impacto social e cultural da pesquisa da população relativas aos registros geológicos e

108
fossilíferos de sua região e, com eles, descobrir a CONSIDERAÇÕES FINAIS
importância que estes aspectos culturais têm para a
Do ponto de vista científico, as principais
valorização dos fósseis pela comunidade, uma vez
contribuições desta prospecção paleontológica
que esta os incorpora ao seu patrimônio cultural.
do GEP em Quijingue, nordeste da Bahia, são:
Ao final da palestra, a equipe foi indagada o primeiro registro fóssil para o município; a
quanto ao destino final dos fósseis encontrados, descoberta do potencial fossilífero do Tanque
tendo a plateia sido informada de que o GEP da Gameleira e de outros tanques na região;
solicitou ao Sr. Flávio Santos, na condição de a elaboração de um dos primeiros trabalhos
representante da comunidade que encontrou os tafonômicos realizados com fósseis no nordeste
fósseis no Município, a doação das peças para e o primeiro da Bahia a utilizar análise em
que estas fossem estudadas e tombadas. Além microscópio petrográfico de seções delgadas de
disso, firmou-se o compromisso de que todos os ossos; a realização de datação absoluta do astrágalo
trabalhos oriundos da pesquisa com estes fósseis (material inédito) através de Carbono 14; a análise
fossem enviados ao Sr. Flávio Santos, o qual se isotópica de carbono inédita no nordeste em
encarregaria de manter a comunidade informada fóssil de E. laurillardi, a qual forneceu subsídios
sobre andamento dos estudos e seus resultados. para estudos, ainda incipientes no Brasil, sobre as
Desse modo, foi bem aceito o primeiro reconstituições paleoecológicas, paleobotânicas
número do GEP NOTÍCIAS, o Boletim e paleoclimáticas para o Quaternário; e a
Informativo do Grupo de Estudos de interpretação destes resultados, juntamente com
Paleovertebrados (Drefahl & Ximenes, 2010) a do paleoambiente deposicional da concentração
que descreve a realização e primeiros resultados fossilífera, sugerem condições climáticas diferentes
da pesquisa, o qual foi distribuído durante as das atuais na região.
comemorações do 48º aniversário do município Além disso, o interesse da população pela
festejado em 2010 (Sr. Flávio Santos, comunicação descoberta dos fósseis e sua receptividade a todas
pessoal). Além da sua disponibilização no as ações de divulgação científica (a palestra e os
site do GEP (https://sites.google.com/site/ informes dos resultados da pesquisa) realizadas
gepaleovertebrados/publicacoes), também foram pelo GEP estimulou o desenvolvimento de novos
enviadas à população as publicações realizadas em trabalhos de pesquisa e extensão nesta e em outras
eventos locais (Martins et al., 2009; Martins et al. regiões da Bahia. Desse modo, estão previstas
2010; Moraes et al., 2010), na PALEO Nordeste novas expedições de pesquisa paleontológica
(Drefahl et al. 2009) e em eventos nacionais em Quijingue contando com a participação da
(Drefahl, 2010). população que, devido à sua compreensão da
Além disso, a realização desta atividade importância da preservação deste patrimônio
motivou o desenvolvimento do projeto “‘Pedras e nacional e confiança no trabalho da equipe, tem
fósseis: uma história pra contar’ - conhecimentos colaborado com o GEP por meio de relatos de
de Paleontologia e valorização dos fósseis como novas ocorrências de fósseis.
patrimônio sociocultural dos municípios da Bahia” Todavia, o principal resultado da parceria
(financiado pelo CNPq - Edital N° 32/2009), ao firmada com a população de Quijingue foi
qual estão vinculados dois bolsistas de iniciação conhecer suas concepções a cerca dos registros
à extensão do Programa Permanecer da UFBA geológicos e fossilíferos desta região e perceber
(Edição 2011), que visa levantar informações a importância disto para as ações de divulgação
técnico-científicas e culturais relativas à história do conhecimento paleontológico e valorização
geológica e registros de fósseis das Bacias do do patrimônio fossilífero, já que a comunidade
Tucano e do Recôncavo no intuito de ministrar intuitivamente incorpora estes conhecimentos ao
um curso para os gestores municipais, líderes seu patrimônio cultural.
comunitários e professores dos municípios de
Quijingue e Cruz das Almas.

109
AGRADECIMENTOS CARTELLE, C. & IULIIS, G. 1995.
Eremotherium laurillardi: the Pan American
Ao Sr. Flávio P. dos Santos da Secretaria
Late Pleistocene Megatheriide Sloth. Journal
de Ação Social de Quijingue, ao Prefeito Sr.
of Vertebrate Paleontology, 15(4): 830-841.
Joaquim M. Santos e à Primeira Dama Sra. Sélia
Alves do Município de Quijingue, ao Sr. José R. CHELINI, M.J.E. & LOPES, S.G.B.C. 2008.
do Nascimento do Sindicato dos Trabalhadores Exposições em museus de ciências: reflexões e
Rurais de Quijingue e Dr. Luís R. B. Leal, na época critérios para análise. Anais do Museu Paulista,
Diretor do Instituto de Geociências da UFBA, que 16(2): 205-238.
juntos viabilizaram a realização da expedição; e aos
moradores da comunidade de Lagoinha das Pedras COUTINHO, J.M.V.; QUITETE, E.B. &
que colaboraram na escavação, especialmente ao OLIVEIRA, M.C.B. 1999. The Quijingue
Sr. Lourival A. dos Santos, Sra. Isabel M. da Silva, Meteorite: a pallasite from Bahia, Brazil.
Sr. José B. da Silva e Sr. Jacinto B. da Silva. Artigos do Museu de Geociências da USP.
Agradecemos também ao Programa Disponível em: <http://www2.igc.usp.br/
PIBIC-UFBA 2009-2010 e ao CNPq pela museu/artigos05.htm>. Acesso em 15 abr.
concessão da bolsa de iniciação científica (CNPq
115823/2009-3); à Drª. Olga Maria F. Otero e ao DALTON DE SOUZA, J.; KOSIN, M.; MELO,
Sr. Valfredo S. Santos do Laboratório de Preparação R.C.; SANTOS, R.A.; TEIXEIRA, R.L.;
de Amostras do IGEO-UBA por aceitarem sem SAMPAIO, A.R.; GUIMARÃES, J.T.;
ônus o desafio de preparar as primeiras lâminas BENTO, R.V.; BORGES, V.P.; MARTINS,
delgadas de ossos; à Drª. Ângela Beatriz de M. A.A.M.; ARCANJO, J.B.; LOUREIRO,
Leal pelo acesso aos microscópios petrográficos do H.S.C. & ANGELIM, L.A.A. 2003.
Laboratório de Mineralogia Óptica e Petrografia Mapa Geológico do Estado da Bahia. Escala
do IGEO-UBA; e a Guilherme Lück (GEP) pela 1:1.000.000. Salvador, CPRM. Versão1.1.
colaboração. Programas Carta Geológica do Brasil ao
Milionésimo e Levantamentos Geológicos
Básicos do Brasil (PLGB). Convênio de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cooperação e Apoio Técnico Científico
BUSSAB, V.S. & RIBEIRO, F.L. 1998. CBPM–CPRM.
Biologicamente cultural. In: SOUZA, L. et
al. (org.) Psicologia: reflexões (im)pertinentes, DREFAHL, M. 2010. Implicações
São Paulo, Casa do Psicólogo. Disponível em: paleoambientais preliminares da análise de
<http://www.pet.vet.br/puc/vera%20bussab. 13C em osso de paleomastofauna procedente
pdf>. de Quijingue, Bahia. In: Simpósio Brasileiro
de Paleobotânica, e Palinologia, 13, Salvador,
CANDOTTI, E. 2002. Ciência na educação 2010. Anais, Feira de Santana, Print Mídia
popular. In: MASSARANI, L.; MOREIRA, Gráfica Editora, vol. 1. p. 239-239.
I. C. & BRITO, F. (Org.). Ciência e público:
caminhos da divulgação científica no Brasil, DREFAHL, M. & XIMENES, C. 2010.
Rio de Janeiro, Casa da Ciência - Centro Expedição ao Município de Quijingue, Bahia.
Cultural de Ciência e Tecnologia da UFRJ, GEP NOTÍCIAS - Boletim Informativo do
p. 15-23. Grupo de Estudos de Paleovertebrados, (1):
2. Disponível em: < https://sites.google.com/
CARVALHO, M.J. & OLIVEIRA, E.P. 2003. site/gepaleovertebrados/gep-noticias>.
Geologia do Tonalito Itareru, Bloco Serrinha,
Bahia: Uma Intrusão Sin-Tectônica do Início DREFAHL, M.; MORAES, S.S.; MARTINS,
da Colisão Continental no Segmento Norte G.A. & MACHADO, A.J. 2009. Primeiro
do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. registro de paleomastofauna do Pleistoceno
Revista Brasileira de Geociências, 33(1):55-68. no Município de Quijingue, Bahia. In:
PALEO NE 2009, Crato, CE, 2009. Boletim

110
de Resumos, Aracaju, Fundação Paleontológica (SEMPPG), 11, Salvador, 2010. Livro
Phoenix, v. 1, p. 10. de Resumos, SEMP/SEMPPG-UFBA.
Disponível em: <https://www.download.
FERNANDES, A.C.S. 2005. Fósseis: Mitos e ufba.br/download/ pibic/noticia/37.pdf>.
Folclore. Anuário do Instituto de Geociências,
28(1):101-115. MARTINS, G. A.; DREFAHL, M. &
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ocorrência fóssil em Quijingue, Bahia. In: Salvador, UNIJORGE.
Seminário Estudantil de Pesquisa (SEMEP),
29, e Seminário de Pesquisa e Pós-Graduação

Figura 1. A pesquisa de fósseis em Quijingue, nordeste da Bahia. 1.1 Localização do Município; 1.2 Astrágalo esquerdo
de E. laurillardi (GEP01); 1.3 Tanque da Gameleira; 1.4 Concentração fossilífera; 1.5 Elemento dentário molariforme
(GEP02).

111
Figura 2. A troca de experiências os pesquisadores e a comunidade de Quijingue. 2.1 Mosaico de fotos da população
durante as escavações do GEP, com destaque para a foto do canto inferior direito com a equipe do GEP (centro), Flávio
Santos (esquerda) e José Santana (direita), que viabilizaram a realização do trabalho; 2.2 Público de Quijingue na palestra
“De quem são os ossos encontrados em Quijingue?”.

112
S-02:
Educação, Ensino
Patrimônio e Geoparques
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE OS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO
DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E PALEONTOLÓGICO
Kátia Leite Mansur1 (kátia@geoloia.ufrj.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia
1

RESUMO INTRODUÇÃO
A conservação do patrimônio geológico Com base na análise das várias formas
e paleontológico ainda é uma medida de pouca de proteção do patrimônio cultural, Flores
discussão na literatura relativa à Geoconservação. (2011) define Preservação como todas as
Este texto busca introduzir a necessidade de ações que beneficiam a manutenção do bem
métodos e metodologias para conservação e cultural, incorporando, inclusive, a legislação.
restauração de geossítios. São destacados casos Conservaçãoé o conjunto de medidas destinado
de proteção contra ameaças naturais e antrópicas a conter as deteriorações de um objeto ou
utilizando-se medidas que muitas vezes resguardá-lo de danos. Restauração é o trabalho
deterioram a qualidade estética do sítio. Desta de recuperação feito em construção ou em objeto
forma, são sugeridas linhas de ação para controle parcialmente destruído ou é a intervenção que se
de erosão, utilização de técnicas semelhantes realiza num objeto com a finalidade de recompô-lo
àquelas utilizadas no patrimônio construído, (http://www.revistamuseu.com.br/glossario/
educação patrimonial e, também, a participação glos.asp). Para Flores (2011) a conservação
de profissionais de variadas competências para visa interromper os processos de deterioração,
a conservação e restauro de sítios geológicos / conferindo estabilidade à obra, enquanto a
paleontológicos. restauração atua sobre um objeto para não apenas
Palavras-chave: Conservação, Ameaças conferir-lhe estabilidade, mas recuperar, ao
Naturais e Antrópicas, Restauração máximo possível, as informações nele contidas.
Todas estas definições foram apropriadas de
análises sobre os bens culturais e conclui-se que a
ABSTRACT preservação envolve a conservação (prevenção ou
The conservation of geological and manutenção) e a restauração (recuperação).
paleontological heritage remains a measure O patrimônio cultural conta com a
of little discussion in the literature on the preocupação sistemática para sua proteção desde a
Geoconservation. This text intents to introduce Revolução Francesa com a tomada de consciência
the need for methods and methodologies to após a destruição de bens artístico-culturais e a
conservation and restoration of geosites. Cases decisão de restaurá-los, além da expropriação dos
are highlighted for protection against natural and bens do clero, dos imigrados e da monarquia, o que
anthropogenic threats which often deteriorate the configura, inclusive, o valor público do patrimônio
aesthetic quality of the site. Thus, lines of action (Choay, 2001).
are suggested for (a) use of techniques of erosion O restauro possui, inclusive, uma Carta
control; (b) utilization of techniques similars to Patrimonial específica, a Carta de Veneza, de
those used in the built heritage to restoration / 1964, embora o tema seja tratado desde a Carta de
conservation; (c) development of programs of Atenas, de 1931, que foi a primeira a ser instituída
heritage education; and (d) the participation of no âmbito da Sociedade das Nações, organismo
professionals of varied skills for conservation and internacional que antecedeu à Organização das
restoration of geological / paleontological sites. Nações Unidas – ONU. Para Choay (2001) a
Keywords: Conservation, Natural and Itália foi a primeira nação a se preocupar com a
Anthropogenic Threats, Restoration conservação in situ dos seus monumentos, ainda
no século XIX.

115
Os métodos hoje utilizados para restauro para contenção do processo erosivo do mar ou,
são cada vez mais eficientes e consideram o aspecto então, observar seu desabamento.
final do bem restaurado de formas variadas, desde Num contexto de “restauração do
o retorno à aparência original até a utilização de geossítio”, entendida como as intervenções
material que deixa evidente que o bem passou por realizadas com a finalidade de recomposição, uma
um processo de restauração. linha de pesquisa que deve ser buscada é a de
estudos para adequação de métodos de restauro de
objetos e edifícios para que possam ser aplicados
CONSERVAÇÃO DE SÍTIOS
aos geossítios. Isto seria particularmente útil num
GEOLÓGICOS / PALEONTOLÓGICOS sítio como o de Souza (Figura 2b – petroglifo).
A Geoconservação, ou proteção do Por outro lado, no que se refere ao
patrimônio geológico, pressupõe a adoção de geovandalismo, ou danos antrópicos aos
medidas como inventário, quantificação, proteção patrimônios, é fundamental a realização de
legal, conservação, divulgação e monitoramento programas de educação patrimonial com vistas à
de geossítios (Brilha, 2005). Existem diversas diminuição de danos, por ausência de consciência
publicações tratando destas medidas. No entanto, da sua importância e, também, de ações de
pouco material encontra-se disponível sobre a fiscalização em geossítios de alta relevância.
conservação in situ do patrimônio geológico / Em locais de visitação turística, um projeto de
paleontológico na forma de geossítios ameaçados interpretação deve ser elaborado para buscar
pela ação antrópica ou natural. esta relação entre o usuário e a preservação do
Talvez por esta falta de tradição, observa-se patrimômio.
que, por vezes, na tentativa de conservar um Por fim, entende-se que os aspectos
geossítio, são utilizados métodos que podem funcionais e estéticos de um sítio devem ser
colocá-lo em maior risco ou comprometer perseguidos ao máximo. Para tanto, um elenco de
seu caráter estético. As Figuras 1 e 2 mostram competências profissionais devem ser utilizadas,
alguns sítiosnaturais geológicos, paleontológicos como as dos engenheiros, geólogos, geógrafos,
e arqueológicos, ameaçados por ação natural e arquitetos, museólogos, turismólogos, entre
outros que sofreram intervenções com objetivo de outros.
conservação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE A
BRILHA, J.B. 2005. Património Geológico e
NECESSIDADE DE ESTABELECIMENTO Geoconservação: A Conservação da Natureza
DE MÉTODOS E METODOLOGIAS na sua Vertente Geológica. Braga, Palimage
DE CONSERVAÇÃO Editores, 190 p.
Observando esta realidade, fica claro
que são necessários levantamentos de métodos CHOAY, F. 2001. A alegoria do patrimônio. São
de contenção de erosão e proteção contra o Paulo, Editora UNESP, 2001. 282 p.
intemperismo, como controle de fluxo de água, FLORES, G. 2005. Caderno do Professor.
consolidação de rocha, preenchimento de Calendário Museológico. Superintendência
fraturas/fissuras, entre outros. Cada caso deverá de Museus do Estado de Minas Gerais.
ter sua análise e solução própria. Isto fica muito Disponível em: <http://www.conservacao-
evidente quando se observa a Pedra do Índio, restauracao.com.br/por_que_preservar.pdf>.
na Baía de Guanabara, em Niterói (Figura 3). Acesso em: 12 abr. 2011.
Este monumento natural foi tombado como
patrimônio estadual e encontra-se em franco
processo de erosão. Uma decisão urgente a ser
tomada é quanto a realização de uma intervenção

116
Figura 1. (a) Geoparque Lesvos, Grécia: tronco petrificado, cercado e coberto (Foto: José Brilha); (b) Costão do Santinho,
Florianópolis: cobertura feita com cordas para proteção dos petroglifos (Fonte http://trilhasemfronteiras.blogspot.
com/2009/06/sitio-arqueologico-no-costao-do.html); (c) Geoparque Aliaga, Espanha: argamassa preenchendo fraturas
na rocha; (d) Volta Redonda, Rio de Janeiro: construção de praça e tentativa de conter erosão em afloramento de
depósitos sedimentares com evidências de neotectônica; (e) Espanha: afloramento de depósito glacial com dropstones,no
Parque Alto Tajo, protegido com grades para evitar geovandalismo (Foto: Luis Carcavilla); (f) Geoparque Haute-Provence,
França: afloramento fossilífero protegido com vidro (Fonte: http://paleopolis.rediris.es/cg/CG2009_BOOK_03/CG2009_
BOOK_03_Chapter03.pdf).

117
Figura 2. (a) Laetoli, Tanzânia: pegadas de humanoides com 3,7 milhões de anos impressas sobre cinza vulcânica e
que foram recobertas por solo para impedir a erosão. Posteriormente, sementes presentes no solo usado no
recobrimentobrotaram e colocaram novamente a área em risco. Discute-se, inclusive, a retirada das placas com as
pegadas para sua (re)colocação em um museu (Foto: http://www.african-archaeology.net/news/news.html). (b) Souza,
Paraíba: erosão fluvial no pavimento que contém as pegadas de dinossauros e desgaste e erosão do local onde uma
pegada está reproduzida em petroglifo (Foto: Ismar de Souza Carvalho).

Figura 3. Pedra do Índio em Niterói, tombada pelo Estado, por parecer do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural –
INEPAC. Esquerda: foto de 1894 (acervo do Museu Histórico Nacional). Direita: foto de 2008.

118
ANÁLISE ESPACIAL APLICADA À PESQUISA PALEONTOLÓGICA
DE AFLORAMENTO, APOIADA POR MÉTODOS GEOFÍSICOS
Henrique Zimmermann Tomassi¹ (HZTomassi@gmail.com), Bernardo Costa Ferreira² (bernardo@unb.br),
Fátima Praxedes Rabelo Leite³ (fprleite@gmail.com), José Mendes Gama-Júnior4 (prof.mendes.uft@gmail.com),
Michelly Amorim da Silva5 (michelly.amorim@gmail.com), Poliana Marcolino Correa6 (polianacorrea@norteenergiasa.com.br)
¹Museu de Geociências da Universidade de Brasília; ²Departamento de Geografia, Universidade de Brasília; ³Terragraph;
4
Universidade Federal do Tocantins; 5Terragraph; 6Norte Energia S/A

RESUMO or interference in the magnetic field and the GPR


would provide the confirmation of the anomalies
Desde o desenvolvimento dos
detected by the capability for imaging and real-
equipamentos e métodos geofísicos poucas
time view, the reduction of errors made when
escavações em paleontologia fizeram uso destas
identifying magnetic anomalies not generated
ferramentas a fim de otimizar a busca pelos
by features related to paleontological research.
fósseis. A análise espacial geoestatística consistiria,
The experimental method will be applied in
portanto, na coleta de dados pontuais pelo
excavations of the paleontological rescue on UHE
Método Magnético integrada ao uso do GPR
Belo Monte, Pará State, which may present itself
(GroundPenetration Radar). Assim, pelo uso do
as being of high importance in helping recognition
primeiro método seriam indicados os locais de
of burried fossil concentrations, especially of
distorção ou interferência do campo magnético
invertebrates, thus directing the excavation, and
e a confirmação das anomalias detectadas por
directly affecting the expenditure of time and
meio do GPR proporcionaria, o pela capacidade
resources in the field, as well as increasing the
de geração de imagens e visão em tempo real,
probability of identifying fossil occurrences.
a diminuição de erros cometidos quando da
identificação de anomalias magnéticas não geradas Keywords: geophysics, GPR,
por feições ligadas à pesquisa paleontológica. O magnetometry, field sampling, paleontological
método experimental será aplicado nas escavações rescue
de salvamento paleontológico da UHE de Belo
Monte, Estado do Pará, o qual poderá apresentar-se INTRODUÇÃO
como sendo de elevada importância no auxílio
O uso de métodos geofísicos, comum
do reconhecimento de concentrações de fósseis,
em pesquisas arqueológicas, ainda é discreto no
especialmente de invertebrados, orientando assim,
auxílio a escavações paleontológicas (Davis &
a escavação, e afetando diretamente no dispêndio
Annan, 1989; Mellet, 1993; Crosby et al., 2002;
detempo e recursos em campo, além de aumentar
Main&Hammon III, 2003). Main&HammonIII
a probabilidade da identificação de ocorrências
(2003) realizaram experimentos em campo e
fósseis.
desenvolveram método eficiente para a coleta
Palavras-chave: geofísica, GPR, de macrofósseis de vertebrados. Com o uso de
magnetometria, coleta em campo, salvamento GPR (Ground Penetrating Radar – Radar de
paleontológico Penetração de Solo), a coleta de dinossauros foi
orientada e fósseis com tamanho mínimo de um
ABSTRACT metro, preservados a menos de dois metros de
profundidade em relação à superfície, puderam ser
Since the development of equipment and
identificados pelo método.
geophysical methods, paleontology excavations
made little use of these tools to optimize the Com exceção dos levantamentos de
fossil remains search. The geostatistical spatial grande escala para a exploração de recursos
analysis would, therefore, punctual collect data by minerais e energéticos, desde o desenvolvimento
the use of integrated magnetic and GPR (Ground dos equipamentos e métodos geofísicos poucas
Penetration Radar) methods. Thusby the use of the escavações em paleontologia fizeram uso destas
first method would show the spots of distortion ferramentas a fim de otimizar a busca pelos

119
restos fósseis. Este trabalho vem anunciar o e proporcionar, pela capacidade de geração de
desenvolvimento de experimentos de campo imagens e visão em tempo real, a diminuição de
apoiados por métodos geofísicos, principalmente erros cometidos quando se identificar anomalias
com GPR e magnetometria desenvolvidos por magnéticas que não são causadas por feições
Ferreira & Bandeira (2008a; 2008b; 2010) para ligadas à pesquisa paleontológica. Para tanto
pesquisa arqueológica em áreas de pesquisa será usado um SIR-3000 da GSSI com antenas
do IPHAN no Estado do Maranhão a serem que variam de 100 a 1.600 MHZ, calibrado
aperfeiçoadas e adaptadas à paleontologia durante para o solo local por meio de método Ponto de
as escavações de salvamento paleontológico Controle Médio (enterrando um objeto a uma
da UHE de Belo Monte, Estado do Pará. As profundidade conhecida no local das pesquisas
pesquisas orientadas nestas áreas indicaram e para adquirir seu comportamento). O uso das
possibilitaram o resgate de vestígios arqueológicos antenas citadas visa à obtenção de dados em largo
tais como esqueletos e instrumentos, bem como espectro de profundidade e resolução, posto que
construções antigas soterradas. quanto maior a frequência, menor a profundidade
A coleta será realizada em canteiros e maior a resolução, e vice-versa.
de obras que exponham rochas com potencial Devido à resolução dos sistemas e a
fossilífero e em áreas em que as mesmas sejam impossibilidade de identificar fósseis pequenos a
inundadas pelos reservatórios ou afetadas por baixa profundidade (maiores que 0,5 cm até 1,3
obras de infraestrutura, conforme exigência do m) por métodos geofísicos, o sistema pode ser útil
Departamento Nacional de Produção Mineral para a identificação de ocorrência de concentrações
(DNPM) à empresa Norte Energia S/A, empresa fossilíferas ou fósseis maiores (a partir de 50
responsável pela construção do empreendimento. cm em profundidades de até 10 metros). As
anomalias identificadas por estes métodos podem
Análise espacial e métodos geofísicos orientar a escavação no sentido de aumentar a
A análise espacial consiste na coleta de chance de descoberta de fósseis, uma vez que a
dados pontuais tendo em vista a caracterização procura deixa de ser aleatória, além de reduzir o
de áreas potenciais, uma vez que a utilização de volume de remoção de rocha e diminuir o tempo
métodos magnéticos possibilita a observação dos de coleta. Como os fósseis paleozoicos (marinhos)
locais com maior probabilidade de presença de ocorrentes na região dificilmente ultrapassam 15
fósseis ou de comportamentos minerais ligados centímetros de dimensão máxima, o foco das
a este. Estes métodos subsidiarão, portanto, uma buscas será o de lentes e camadas com maiores
modelagem de áreas potenciais e mais propícias concentrações fossilíferas.
à escavação.
O Método Magnético tem como Área de estudo
fundamento a teoria do potencial, baseando-se Este trabalho será realizado no âmbito
na capacidade de concentração de que minerais do Projeto de Salvamento do Patrimônio
magnéticos nas rochas da crosta (como a magnetita, Paleontológico da UHE Belo Monte, elaborado
a pirrotita e ilmenita) têm em produzir distorções pela Norte Energia S.A. e apoiado em sua
ou interferências locais no campo magnético execução pela empresa Terragraph. O salvamento
(Silva, 1983). As medidas de susceptibilidade paleontológico ocorrerá nos arredores do
magnética serão realizadas no campo sobre municípios de Altamira e Vitória do Xingu (PA),
afloramentos e em amostras de afloramentos e nas áreas da bacia sedimentar do Amazonas
testemunhos para correção do equipamento, neste afetadas pela construção da unidade hidrelétrica.
caso um Magnetômetro de Precessão de Prótons. Os trabalhos de campo ocorrerão em três diferentes
Estas medidas então serão testadas para encontrar frentes de resgate: às margens de rodovias, de
locais potenciais em um modelo que indique áreas rios e igarapés, áreas baixas com afloramentos
para escavação. de rocha da bacia do Amazonas (sujeitas à
Já o GPR será utilizado para confirmar as inundação) e porções em que as obras da usina
anomalias detectadas pelas medidas magnéticas hidrelétrica exponham rochas sedimentares. Este

120
trabalho mostra-se mais relevante pela escassez de conhecimento possuem similaridade de
de afloramentos rochosos na região Amazônica, comportamento. O Método Magnético fornece
onde o intemperismo químico intenso produz locais mais propícios para a escavação, dando a
coberturas pedológicas espessas. possibilidade de mapeamento e análise espacial por
A assemblagemfossilífera da área meio de Geoestatística. O GPR dá a possibilidade
é composta por palinomorfos, vegetais, de formar uma imagem desses locais e atestar a
invertebrados, vertebrados e icnofósseis de idades presença ou ausência de vestígios ligados ao
siluriana, devoniana e cretácea. Os macrofósseis objeto da pesquisa. Este projeto poderá trazer
registrados nas sete unidades litológicas com resultados quanto à aplicabilidade e eficiência
ocorrência nos arredores de Altamira e Vitória destes métodos para a pesquisa paleontológica.
do Xingu (PA) são: 1 - Formação Pitinga:
braquiópodes, (Grahn& Melo, 1990). 2 - Formação
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FERREIRA, B. C & BANDEIRA, A. 2008a.
bivalves, gastrópodes, cefalópodes, peixes e plantas
Relatório do Levantamento Topográfico e
(Loboziak et al., 1997; Melo &Loboziak, 2003;
Geofísico do Forte São Sebastião. Alcântara
Wanderley Filho et al., 2005) 6 - Formação Curiri:
– MA. IPHAN.
vegetais e icnofósseis (Loboziak et al., 1997; Melo
&Loboziak, 2003; Wanderley Filho et al., 2005). FERREIRA, B. C & BANDEIRA, A. 2008b.
7 - Formação Alter do Chão: impressões foliares, Relatório do Levantamento Topográfico e
âmbar e dinossauros (Price, 1960; Pereira et al., Geofísico do Sítio do Físico. São Luís – MA.
2007). IPHAN.
Desta forma, o método pode mostrar
importância no auxílio do reconhecimento FERREIRA, B. C & BANDEIRA, A. 2010.
de concentrações de fósseis, especialmente de Relatório do Levantamento Topográfico e
invertebrados, orientando a escavação, fator que Geofísico do Forte do Calvário. Rosário –
economiza tempo e recursos em campo, além MA. IPHAN.
de aumentar a probabilidade da identificação de
ocorrências fósseis. GRAHN, Y. & MELO, J.H.G. 1990.
Bioestratigrafia dos quitinozoários do Grupo
Trombetas nas faixas marginais da Bacia do
CONCLUSÕES Amazonas. Rio de Janeiro, PETROBRAS/
Os métodos geofísicos GPR e magnético CENPES/DIVEX/SEBIPE, 43 pp.,
obtêm atualmente os dados mais avançados em Anexos 1-2, il. (Relatório produzido para a
termos de suporte a mapeamento arqueológico, Eletrobras Eletronorte).
entre outras áreas, que igualmente o utilizam
com sucesso. Portanto pretende-se obter JANVIER, P. & MELO, J.H.G. 1988. A
verificar o emprego destes métodos aplicados canthodian fish remains from the Upper
à pesquisa paleontológica, posto que essas áreas Silurianor Lower Devonian of the Amazon
Basin, Brazil. Palaeontology, 31, p. 771-777.

121
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& VIEIRA, A.C.M. 2007b. Hábitos de
vida da associação Mucrospiriferkatzeri

122
ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E AMBIENTAL
VISANDO A PRESERVAÇÃO DOS FÓSSEIS E DA
CAATINGA NO ALTO SERTÃO DE ALAGOAS
Ana Paula Lopes da Silva1,2 (lakes_br@yahoo.com.br), Jorge Luiz Lopes da Silva2 (jluizlopess@uol.com.br),
Erica Omena2 (erica.omena@gmail.com), YumiAsakura Bezerra de Oliveira2 (yumi_oliveira@hotmail.com)
Universidade Federal de Alagoas - Instituto de Geografia Desenvolvimento e Meio Ambiente - Museu de História Natural;
1

Universidade Federal de Alagoas - Museu de História Natural


2

RESUMO individualmente ou em conjunto, portadores


de referência à identidade, à ação, à memória
O projeto foi desenvolvido ao longo de
dos diferentes grupos formadores da sociedade
um ano no semi-árido alagoano, Município de
brasileira”, onde se inclui no inciso V “os conjuntos
Maravilha. Identificar as potencialidades locais
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
e explorar de forma sustentável os recursos, de
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico
modo a conservar o relevante patrimônio cultural
e científico.”
e ambiental ali existente, foram uns dos objetivos
alcançados durante o projeto. A capacitação
da população e dos estudantes da rede pública ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO
municipal foi realizada utilizando a paleontologia PATRIMONIAL EM
como ferramenta, tornando-os agentes protetores
MARAVILHA - ALAGOAS
e multiplicadores deste conhecimento.
Palavras-chave: Educação patrimonial, A educação patrimonial é definida por
meio ambiente, caatinga, fósseis Grunberg (2007) como sendo um “processo
permanente e sistemático de trabalho educativo,
que tem como ponto de partida e centro
ABSTRACT o Patrimônio Cultural com todas as suas
The project was developed over one manifestações”, e é um processo ativo e contínuo
year in the city of Maravilha. Identify the locals de valorização da cultura, partindo do contato
potentialities and explore in a sustainable way direto com as manifestações da herança cultural,
their resources, to conserve the relevant cultural de modo a capacitar as partes envolvidas para a
and environmental patrimony, was one of many geração de novos conhecimentos, proporcionando
achievements of the project. The training of the aprendizado sobre as manifestações da cultura de
population and the students were made using modo a despertar o indivíduo para as questões
paleontology as a main tool, in order to build locais, a partir de estímulos do próprio contexto
agents to protect and multiply this knowledge. em que está inserido.
Keywords: Patrimonial education, Nesta conjuntura, a pesquisa científica
environment, caatinga, fósseis aliada à Educação Patrimonial e Ambiental
mostra parte da potencialidade turística do
interior de Alagoas, estado que hoje ainda é
INTRODUÇÃO explorado apenas como turismo de sol e praia, mas
Segundo o Instituto do Patrimônio que detém vasta riqueza de patrimônio cultural
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ainda inexplorada, como depósitos fossilíferos
patrimônio cultural é “o conjunto de manifestações, da megafauna pleistocênica, que detém grande
realizações e representações de um povo, de uma importância histórica e científica. Como foi
comunidade” e é crucial para o desenvolvimento dito por Silva (2008), pouco se sabe sobre estes
de identidade e sentimento de pertença de um mamíferos pré-históricos e seu paleoambiente
povo. de Alagoas, a não ser por algumas citações de
A Constituição brasileira de 1988, em seu ocorrência (Burlamaqui, 1855; Branner, 1906;
art. 216, define patrimônio cultural como sendo Oliveira, 1920; Brandão, 1937; Simpson & Paula-
“bens de natureza material e imaterial, tomados Couto, 1957; Paula-Couto, 1979; Santos, 1982,

123
1971; Bergqvist, 2004; Oliveira, 2010) e mais a produção de artesanatos e alimentos regionais
recentemente o trabalho de Silva (2001). Além também foi estimulada durante o projeto.
do pouco conhecimento sobre estes depósitos, A primeira atividade desenvolvida
outro agravante significativo é a destruição destes consistiu na identificação, junto à comunidade,
por moradores locais, que retiram os sedimentos das habilidades voltadas para a confecção do
do interior dos tanques para acumular água da artesanato, agregando valor à cultura local.
chuva. Como conseqüência desta prática, tem-se Na segunda etapa foi realizada uma reunião
perdido este valioso patrimônio paleontológico, com as lideranças locais, aberta à população,
chegando a limitar e até mesmo a impedir o com o objetivo de apresentar a relevância do
desenvolvimento de estudos de reconstituição patrimônio fossílifero, assim como o potencial do
paleoambiental, paleoecológica e paleoclimática, desenvolvimento econômico local, a conservação
tanto a nível local quanto regional. dos sítios paleontológicos e a legislação referente
Este trabalho, baseado no projeto à preservação desse patrimônio.
“Atividades de Educação Patrimonial e Ambiental
Visando a Preservação dos Fósseis e da Caatinga
no Alto Sertão de Alagoas”, servirá para consolidar
RESULTADOS E DISCUSSÃO
a criação de um Parque Temático de Paleontologia Ao longo do desenvolvimento do projeto
no município de Maravilha/AL, o qual será uma foram atendidos os moradores aproximadamente
alternativa a mais de sustentabilidade para a 15 famílias que vivem ao entorno das áreas de
população da área e garantirá a preservação destes escavação e 60 alunos do Ensino Médio de escolas
sítios paleontológicos e da Caatinga. Além disso, da rede pública do município de Maravilha,
com o desenvolvimento do presente trabalho, selecionados para participarem da primeira
pretende-se estimular o conhecimento sobre o capacitação realizada no ano de 2009, tendo como
patrimônio histórico e cultural da população do prioridade formar multiplicadores com base nos
município de Maravilha – Alagoas, ajudando objetivos do projeto, tais como: conservação do
a desenvolver o sentimento de pertença e a bioma de caatinga, proteção dos mananciais,
capacidade de proteger e explorar de forma desenvolvimento de agricultura sustentável, uso
sustentável as riquezas naturais disponíveis, do fogão solar, arranjos produtivos locais e o
atraindo retorno econômico através de artesanatos ecoturismo.
e outros produtos que contribuam para o Diante da sensibilização da comunidade o
fortalecimento da cultura local. gestor público municipal viabilizou a construção
de esculturas em áreas públicas, como a réplica
da preguiça gigante, tigre dentre de sabre e, na
METODOLOGIA área rural local das escavações, uma réplica de
Durante o período de um ano, estudantes toxodonte. Aliado a esses exemplos se destaca
da Universidade Federal de Alagoas, dos cursos também a padronização de lixeiras com a temática
de Ciências Biológicas e Geografia, capacitaram do projeto; pavimentação de acesso e no interior
estudantes, guias, monitores do Museu da cidade; escolha popular da árvore símbolo do
Paleontológico de Maravilha e a comunidade município, o umbuzeiro, e a produção de vídeos
do município de Maravilha, implementando um educativos para serem exibidos nas escolas e para
processo educacional participativo e contínuo, que a população do município. Diante das etapas
buscou sensibilizar a população local de maneira concluídas foi idealizado e construído o Museu
que esta pudesse desenvolver uma consciência Paleontológico Otaviano Floriano Rittir, onde
crítica sobre a problemática ambiental, bem se encontram alocados os fósseis descobertos
como o reconhecimento da importância de seu no município para exposição desse acervo à
patrimônio paleontológico, preparando-os para comunidade de Maravilha e aos visitantes.
ações de conservação e preservação do patrimônio
natural, através de palestras, discussões e estímulos
a comunidade. A iniciativa local para desenvolver
atividades que tragam retorno econômico com

124
CONCLUSÕES HORTA, M.L.P. Educação Patrimonial.
Disponível em:
O patrimônio paleontológico é geralmente
desconhecido ou pouco abordado nas escolas, e a MAFRA, G.A. 2010. Sinalização interpretativa
possibilidade de ter a comunidade e os estudantes como ferramenta de educação patrimonial
como agentes na proteção do patrimônio cultural em parques urbanos: o caso do Parque da
e natural (incluindo-se aí os fósseis) acaba sendo Serra do Curral de Belo Horizonte. Revista
perdida. Para preservar uma riqueza é preciso, Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v. 3, n.
antes de tudo, conhecê-la. Desta forma, a presente 2, pp. 315-330.
pesquisa procurou relacionar de forma efetiva
o conhecimento gerado na academia (ensino SCHWANKE, C. & SILVA, M.A.J. 2004.
e pesquisa) com a comunidade de Maravilha, Educação e Paleontologia. In: SOUZA,
sertão de Alagoas. Através das oficinas realizadas I.C. (ed.). Paleontologia. Interciência, Rio de
pode-se perceber a intensa participação dos Janeiro. p. 123-130.
estudantes durante a apresentação dos temas
e a curiosidade acerca do mesmo. A atividade SILVA, J.L.L. 2008. Reconstituição
proporcionou a aproximação do conhecimento Paleoambiental Baseada no Estudo de
paleontológico dos estudantes e professores, Mamíferos Pleistocênicos de Maravilha
tornando-os potenciais agentes multiplicadores e Poço das Trincheiras,Alagoas, Nordeste
deste ramo do conhecimento junto à sociedade do Brasil. Programa de Pós-Graduação
e na sensibilização dos cidadãos na preservação em Geociências, Universidade Federal de
desse relevante patrimônio. Pernambuco, Tese de Doutorado, 229 p.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GRUMBERG, E. 2007. Manual de atividades
práticas de educação Patrimonial. Brasília,
DF: IPHAN, 24p.

125
COMÉRCIO ILEGAL DE FÓSSEIS: UMA PERDA IRREPARÁVEL DO
PATRIMÔNIO PALEOBIOLÓGICO DA REGIÃO DA BACIA DO ARARIPE
Francisca Odachara Machado Bezerra do Carmo1 (odachara@yahoo.com.br),
Alexandre Magno Feitosa Sales2 (amfsales@uol.com.br)
Curso de Ciências Biológicas (URCA); 2Departamento de Ciências Biológicas (URCA)
1

INTRODUÇÃO FÓSSEIS DA FORMAÇÃO SANTANA


O Brasil possui uma das mais importantes Historicamente, os fosseis da Formação
bacias sedimentares fossilíferas do mundo, a Bacia Santana, representam um dos primeiros
Sedimentar do Araripe, localizada nas porções depósitos descritos da paleontologia brasileira
limítrofes dos Estados do ceará, Pernambuco (Agassiz, 1841, 1844). A Formação Santana,
e Piauí, na região geográfica da Chapada do composta por três membros, da base para o
Araripe. Essa importância deve-se a diversidade topo respectivamente: membros Crato, Ipubí
e quantidade dos fosseis encontrados, na e Romualdo, onde estratigraficamente a
Formação Geológica de Santana, com fósseis nomenclatura mais utilizada é a proposta por
de vertebrados, invertebrados e vegetais, em Beurlen (1971) que diferenciou os três membros,
excelente estado de preservação, até encontrados depositados entre 120 a100 M.A. (Figura 01). Nos
em três dimensões (SANTOS, 1968; SANTOS. Membros Crato e Romualdo encontram-se os
& Valença, 1968; DUARTE, L. 1985; Maisey, dois maiores depósitos fossilíferos (e.g. Lagerstäten
1991; Kelnner, 2002). Mas lamentavelmente, sensu SEILACHER, 1970 in MARTILL, 1990)
somente uma parte desses fósseis podem ser mundialmente famosos ( Jordan, D. S. & Branner,
vistos em museus de paleontologia da região, com J. C. 1908; D’ERASMO, 1938; MAISEY, 1991;
acervos que contribuem com pesquisa e turismo MARTILL, 1988, 1993; Carvalho e Santos,
científico (Sales, et al., 2000, 2004, Sales et al., 2005; KELNNER, 2006; dentre outros). Esses
2006), de inestimável valor científico, conhecidos depósitos fosilíferos (VIANA. & CAVALCANTI,
mundialmente.e favoreceram e possibilitaram 1990) são de grande importância para o meio
a região ser reconhecida e chancelada, como acadêmico, pois apresentam riquezas de detalhes
pertencente a rede mundial de Geoparques da que possibilitam o estudo apurado do antigos
UNESCO, desde 2006 (Cardoso et al., 2008a, b). ambientes, da ecologia, estratégias evolutivas de
Tendo em vista os valores científico, biológico- organismos e caracteres físicos do período da
evolutivo, histórico-cultural e turístico-econômico fragmentação do antigo continente “Gondwana” e
dos fósseis para a região do Araripe, pretende-se do surgimento do Oceano Atlântico Sul, durante
apresentar o levantamento, com base em matérias a era Mesozóica (Cardoso, et al., 2008a, b).
escritas, reportagens, trabalhos científicos e de
relatórios dos órgãos de fiscalização e repreensão
sobre o tráfico de fósseis, do patrimônio
OBJETIVOS
paleobiológico da Bacia Sedimentar do Araripe Levantar as ocorrências na literatura,
e pefil do turista comrelação ao patrimônio sobre o comércio ilegal de fósseis da região
paleontológico do Araripe, ao conhecimento da paleontológica da Bacia Sedimentar do Araripe,
legislação pertinente e ao comércio de fósseis ressaltando sua importância científica, educacional,
na região. Visando no futuro, com essa pesquisa, cultural, sócio-econômica. Divulgar o perfil dos
contribuir na formatação de ações para inibir o sítios locais com relação a legislação, e órgão legais
comércio ilegal de fósseis na região da Bacia para a salvaguarda do patrimônio paleontológico
Sedimentar do Araripe. no Brasil, no território do “Geopark Araripe”.
Identificar nos principais sítios paleontológicos
da região (VIANA. & CAVALCANTI, 1990),
o nível de informação da população, acerca do

126
assunto. E contribuir para futuras estratégias de geoturísticas a museus); somente 4 questionários
preservação e proteção e inibição do comercio disseram conhecer pessoas ligadas ao comércio de
ilegal de fósseis, nos sítios da região. fósseis, sempre em número superior a 5 indivíduos
, inclusive todos já apreendidos pelo crime. Com
relação a pergunta: como se avalia o valor de
MÉTODOS um fóssil? Aa pesquisa questionário mostrou as
Os trabalhos da pesquisa estão sendo seguintes respostas: 03 pela beleza da peça, 34 pela
realizados em três etapas: Primeiro, o levantamento raridade do fóssil, 1 pelo tamanho do exemplar,
Bibliográfico em mídia impressa e digital, acerca 2 afirmaram que fóssil não tem valor comercial
da legislação sobre o patrimônio paleontológico, e 1 afirmou desconhecer. 23 afirmaram pesquisar
sobre o comércio ilegal de fósseis da região do sobre apreensões e comércio ilegal de fósseis; sobre
Araripe (fósseis da Bacia do Araripe), dos sítios estudos paleoevolutivos envolvendo interesse na
(locais) de origem (ex.: Departamento Nacional biota fóssil, somente 11 o fizeram; 15 afirmaram
de Pesquisa Mineral-DNPM, Serviço Geológico conhecer as leis sobre a proteção a patrimônio
do Brasil- CPRM e da Sociedade Brasileira fossilífero; sobre a pergunta quem é responsável
de Paleontologia- SBP). Segundo, visitas aos pela fiscalização do património fossilífero,
principais sítios fossilíferos da Baca do Araripe 28 afirmaram corretamente ser o DNPM, 8
(VIANA. & CAVALCANTI, 1990) e museus de apontaram erroneamente a PF e 4 desconhecem;
paleontologia quando existentes, com aplicação de com relação a responsabilidade de apreensão, 34
questionários junto a população local, pesquisando mostraram conhecimento ser a PF, 4 apontaram
sobre os conhecimentos dos fósseis, importância eroneamente ser o DNPM e 4 deconhecem. E
científica, leis, orgãos, instituições e comércio finalmente quando perguntados sobre a opinião
ilegal. Sendo os principais nos municípios de: com relação aocomércio de fósseis, todos afirmam
Crato, Barbalha, Abaiara, Missão Velha, Porteiras, ser contra o comércio ilegal de fósseis.
Jardim, Nova Olinda e Santana do Cariri, no
Estado do Ceará. E, finalmente, a confecção de
relatórios (fase atual da pesquisa) e de resumos e/ CONCLUSÕES
ou artigos para participação de eventos científicos Há presença de um Escritório Regional do
e publicação. Além desses, a pesquisa também está Departamento da Produção Mineral (DNPM),
possibilitando dados para trabalho de final de curso órgão de fiscalização, na cidade do Crato e da
de Bacharelado em Ciências Biológicas e de pré- Delegacia Regional da Polícia Federal, órgão de
projeto para mestrado na área de paleontologia. repreensão, na cidade de Juazeiro do Norte, região
Metropolitana do Crajubar (Crato, Juazeiro do
Norte e Barbalha), que inibem e fiscalizam e ainda
RESULTADOS realizam apreensões do comércio ilegal de fósseis
Com relação ao questionário, tendo como na região, algumas chegando a 20mil peças fósseis,
exemplo a cidade de Santana do Cariri, onde 40 sendo grande maioria dos fósseis comercializados
questionários foram aplicados a 4 moradores e 36 de vertebrados (peixes e pterossauros), sendo os
turistas, tem-se que: em sua maioria, apresentam sítios de origem, principalmentet: Santana do
com escolaridade de nível superior (31) 4 do Cariri e Nova Olinda. Apesar disso, o comércio de
ensino fundamental 2 e 5 do ensino médio;com fósseis na região do Araripe (Albuquerque et al.,
relação ao tema da pesquisa todos afirmaram saber 2002; Porto, et al., 2008), possibilitou o extravio
que o comércio de fósseis é ilegal; 33 afirmam ter de muitos exemplares fósseis da Formação
conhecimento de máterias sobre o comércio ilegal Santana, descritos na literatura científica por
de fósseis do Araripe; sobre a origem da notícias pesquisadores estrangeiros e não pesquisadores
as fontes são variadas (09 através de conversas, brasileiros. Finalmente afirma-se com base nas
10 leram em revistas e jornais; 5 visualizaram na respostas que o público de moradores e turistas
internet e 5 assistiram em noticiarios na TV; 10 tem conhecimento e discutem sobre o comércio
souberam em palestras ou em aulas e 8 tomaram ilegal de fósseis, na região da Bacia Sedimentar do
conhecimento emeventos científicos ou visitas Araripe. Sendo 100% contra o comércio de fósseis,

127
independente do grau de escolaridade, o tema tem DUARTE, L. 1985. Vegetais fósseis da Chapada
repercussão na Paleontologia, em especial para a do Araripe, Brasil. In: Coletânea de Trabalhos
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128
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SANTOS, R.S. 1968. A paleoictiofauna da


Formação Santana - Euselachi. Anais da
Academia Brasileira de Ciências, Rio de
Janeiro, 40(4): 491-497.

SANTOS, R.S. & VALENÇA, J.G. 1968. A


Formação Santana e sua paleoictiofauna.
Anais da Academia Brasileira de Ciências,
Rio de Janeiro, 40 (3): 339-360.

129
COMO COLETAR E ESTUDAR FÓSSEIS BRASILEIROS? REQUISITOS
LEGAIS PARA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Michelly Amorim da Silva1 (michelly.amorim@gmail.com)
Terragraph
1

RESUMO Keywords: Scientific Expedition, scientific


cooperation, Decree n° 98.830/1990, Ordinance
A “Expedição Científica” representa
n° 55/1990
as atividades de intercâmbio entre instituições
brasileiras e estrangeiras por meio de projetos
conjuntos de pesquisa científica, inclui-se nesse rol INTRODUÇÃO
a coleta de dados, materiais, espécimes biológicos A cooperação científica internacional
e minerais realizada por estrangeiros no Brasil, possibilita aprimorar o estudo científico dos países
assim como a remessa desse material ao exterior. envolvidos no projeto, bem como confere aos
No Brasil, as atividades são regulamentadas profissionais a mobilidade no desenvolvimento
pelo Decreto nº 98.830/1990 e pela Portaria nº conjunto de pesquisas científicas, tal prática
55/1990 do Ministério da Ciência e Tecnologia, representa um avanço para o desenvolvimento
órgão responsável por autorizar a cooperação científico, tecnológico e cultural dos países.
científica. O Decreto regulamenta a coleta, por
A “Expedição Científica”, segundo
estrangeiros, de dados e materiais científicos no
o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Brasil. A Portaria, por sua vez, regulamenta a
Científico e Tecnológico (CNPq), representa
coleta por pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras
as atividades de cooperação, envolvendo o
ou organizações internacionais governamentais
intercâmbio entre instituições brasileiras e
ou não governamentais, domiciliadas no exterior
estrangeiras, por meio de projetos conjuntos de
e em atividade no Brasil.
pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico,
Palavras-chave: Expedição Científica, incluído nesse rol a coleta de material científico
cooperação científica, Decreto 98.830/1990, realizada por estrangeiros no Brasil, assim como a
Portaria 55/1990 remessa desse material ao exterior.

ABSTRACT A COOPERAÇÃO ENTRE INSTITUIÇÕES


The “Scientific Expedition” is the BRASILEIRAS E ESTRANGEIRAS
exchange activities between Brazilian and foreign
No Brasil, as Expedições Científicas são
institutions through joint projects of scientific
regulamentadas pelo Decreto n°. 98.830, de 15
research, included in this list the data collection,
de janeiro de 1990, e pela Portaria n°. 55, de 14
materials, biological and mineral specimens done
de março de 1990, do Ministério da Ciência e
by foreigners in Brazil, as well as the remittance
Tecnologia, órgão responsável por autorizar a
abroad of this material. In Brazil, the activities
cooperação científica. Para obter tal autorização, a
are regulated by Decree n° 98.830/1990 and
instituição brasileira responsável pela coleta e/ou
Ordinance n° 55/1990 of the Ministry of Science
remessa deve encaminhar um pedido ao CNPq.
and Technology. The Decree regulates data and
scientific materials collection, by foreigners, in O Decreto nº 98.830/1990 regulamenta
Brazil. The Ordinance regulates the collection by a coleta, por estrangeiros, de dados e materiais
foreign individuals or legal entities or international científicos no Brasil. Incluem-se, ainda, as
organizations and nongovernmental, domiciled atividades de campo exercidas por pessoa física ou
abroad and working in Brazil. jurídica estrangeira em todo o território nacional,
conforme estabelece o artigo 1º do Decreto.

130
Segundo o artigo 3° do citado Decreto, participação de estrangeiros que envolvam
as atividades de pesquisa e coleta somente serão coleta de dados e materiais no País, inclusive de
autorizadas se possuírem a participação e a encaminhar ao MCT os respectivos pedidos de
corresponsabilidade de uma instituição brasileira autorização”.
de “elevado e reconhecido conceito técnico-
científico” no campo de pesquisa correlacionado
com o trabalho a ser desenvolvido, sendo conferido
PROCEDIMENTOS PARA A
à instituição brasileira o dever de acompanhar e COOPERAÇÃO CIENTÍFICA
fiscalizar as atividades a serem desenvolvidas. Para que haja a cooperação internacional
em pesquisas científicas devem ser observados os
requisitos constantes da Portaria nº 55/1990.
A COLETA POR ESTRANGEIROS
Inicialmente, devem ser encaminhados
EM TERRITÓRIO NACIONAL ao CNPq, em três vias, o ofício e o formulário
Os pedidos de autorização para coleta e específico para coleta de material científico e
pesquisa serão dirigidos ao Ministério de Ciência remessa de material ao exterior juntamente com
e Tecnologia (MCT) que proferirá autorização os documentos descritos na Portaria.
com prazo determinado, podendo tal prazo ser Após, o CNPq emitirá um parecer
prorrogado a pedido da instituição brasileira técnico-científico acerca do pedido. Caso a
co-participante e co-responsável. instituição solicitante tenha cumprido todas as
O MCT aprovou especificamente a exigências e requisitos preliminares constantes
Portaria nº 55/1990, para regulamentar coleta no regulamento, será aprovada a concessão da
por estrangeiros de dados e materiais científicos autorização por meio de Portaria, a ser publicada
no Brasil. Esse instrumento foi consequência das no Diário Oficial da União.
regulamentações dispostas nos artigos 14 e 15 É vedado o início das atividades de coleta
do Decreto n.º 98.830/1990. A portaria se aplica sem a devida autorização do MCT, ainda que em
às “pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras ou caráter preparatório, nos termos do artigo 28 da
organizações internacionais governamentais ou Portaria nº 55/1990. A pesquisa em desacordo
não governamentais, domiciliadas no exterior”, com o disposto no Decreto nº 98.830/1990
“pessoas jurídicas estrangeiras ou organizações poderá ser penalizada com a suspensão das
internacionais, governamentais ou não atividades, o cancelamento da autorização, dentre
governamentais, exercendo atividades no País”, outras medidas previstas no artigo 13 do Decreto
dentre outras. Não sendo aplicada, entretanto, às nº 98.830/1990.
coletas ou pesquisas incluídas no monopólio da Após o término das atividades autorizadas,
União. as instituições brasileiras deverão encaminhar
No que pertine à extração de material ao MCT relatórios que conterão informações
fóssil por entidades, somente instituições sobre eventuais resultados, parciais ou finais, das
nacionais de ensino e pesquisa podem realizar a pesquisas realizadas com o material coletado.
coleta em cooperação. No caso de participação
de entidades estrangeiras, somente podem atuar
sob cooperação e supervisão das instituições REMESSA DE FÓSSEIS
brasileiras supracitadas e sob autorização do BRASILEIROS AO EXTERIOR
Departamento Nacional de Produção Mineral No caso de remessa de qualquer material
(DNPM), segundo a Portaria nº 55/1990 e o coletado ao exterior, o MCT deverá conceder
Decreto-lei nº 4.146/1942. prévia autorização que somente será concedida
A coparticipação e a corresponsabilidade se a utilização do material for exclusivamente
de instituição brasileira constitui requisito para estudos, pesquisas e difusão, conforme
indissociável da cooperação internacional, ensinamento dos artigos 9° e 10° do Decreto nº
cabendo-lhe, como define o artigo 14, o “papel 98.830/1990. Caso não haja tal autorização as
relevante nas atividades científicas com a pessoas física ou jurídica que enviarem fósseis

131
brasileiros ao exterior estarão cometendo crime REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
contra o patrimônio cultural da União.
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Nos casos de “permuta, empréstimo ou
Científico e Tecnológico. Cooperação
doação do material destinado a fins científicos,
Internacional - Expedição Científica / 1993.
educacionais ou culturais”, os acordos poderão ser
Disponível em: lba.cptec.inpe.br/lba/port/
realizados pela instituição brasileira diretamente
documentos/sciexpp.htm.
com os participantes estrangeiros, devendo os
compromissos estar expressos na documentação Decreto-lei n° 4.146, de 04 de março de
que instruirá o pedido de autorização ao MCT. 1942. Disponível em: www.planalto.gov.
O MCT, por intermédio da instituição br/ccivil_03/Decreto-L ei/1937-1946/
técnico-científica brasileira, reterá uma parcela Del4146.htm.
do material coletado, nos termos do artigo 42 da
Portaria nº 55/1990, obedecendo, ainda, o disposto Ministério da Ciência e Tecnologia. Decreto nº
no Decreto nº 98.830/1990. As instituições 98.830, de 15 de janeiro de 1990. Disponível
brasileiras em coparticipação são responsáveis em: www.mct.gov.br/index.php/content/
por prestar apoio às instituições estrangeiras, por view/15172.html.
efetuar o reconhecimento prévio, pela triagem e
a seleção do material coletado, por assegurar a Ministério da Ciência e Tecnologia. Portaria nº
retenção de exemplares ou peças que devam ficar 55, de 14 de março de 1990. Disponível
no país obrigatoriamente, por enviar relatórios ao em: www.mct.gov.br/index.php/content/
MCT e por zelar pelo cumprimento do Decreto view/19340.html.
nº 98.830/1990 e da Portaria nº 55/1990. E,
conforme citado no Decreto nº 98.830, o material
será enviado ao exterior “a expensas da parte
estrangeira”.

CONCLUSÕES
A cooperação científica entre instituições
nacionais e estrangeiras depende de aprovação
do Governo Brasileiro, por meio do Ministério
de Ciência e Tecnologia. Para que isso ocorra, há
importantes instrumentos normativos que tratam
dos procedimentos prévios ao trabalho de campo,
da coleta de dados e de materiais científicos,
incluindo-se, ainda, as eventuais responsabilidades
pelo desempenho da pesquisa. Assim sendo, o
Decreto nº 98.830/1990 e a Portaria n° 55/1990
representam avanço no desenvolvimento
científico nacional e estrangeiro ao possibilitar
a troca de informações relacionadas aos dados
e espécimes biológicos e minerais do país. Por
fim, vale a pena ressaltar que o descumprimento
de tais normas pode caracterizar crime contra o
patrimônio da União e que, independentemente
da responsabilidade civil e penal, pode ensejar,
ainda, punições administrativas, como exemplo,
a suspensão das atividades, o cancelamento da
autorização, dentre outras medidas.

132
EFEITOS SOCIOAMBIENTAIS DO GEOTURISMO SEGUNDO
A PERCEPÇÃO POPULACIONAL: O CASO DE SÃO JOSÉ DE
ITABORAÍ (ITABORAÍ – ESTADO DO RIO DE JANEIRO)
Wellington Francisco Sá dos Santos¹ (tonlingeo@yahoo.com.br), Ismar de Souza Carvalho¹ (ismar@geologia.ufrj.br)
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Instituto de Geociências, Departamento
de Geologia

RESUMO determinada localidade, é necessária a superação


dos problemas econômicos sem a existência de
Para que uma atividade turística seja
exclusão social e degradação ambiental (Souza,
realizada de maneira sustentável é importante que
2000).
não ocorram impactos ambientais na comunidade
receptora. Nesse sentido, buscou-se analisar, por Nesse contexto se insere o caso de São
meio de entrevistas, a percepção populacional dos José de Itaboraí, um bairro do 6º distrito do
possíveis efeitos socioambientais do geoturismo município de Itaboraí (Estado do Rio de Janeiro),
frente à revitalização do Parque Paleontológico de o qual possui uma pequena bacia sedimentar
São José de Itaboraí. (Figura 1) preenchida por rochas calcárias e ricas
em fósseis de invertebrados e vertebrados, com
Palavras-chave: Patrimônio geológico,
destaque para a fauna continental de mamíferos
geoturismo, impactos ambientais
do Paleoceno tardio (57 Ma). A área foi explorada
economicamente de 1933 a 1984 pela Companhia
ABSTRACT de Cimento Portland Mauá, que foi responsável
The tourism activity, in a sustainable way, pela descoberta dos fósseis e por melhorias
has to present low environmental impacts. In this sociais e econômicas no bairro. Todavia, durante
study is analized the public understanding of the o funcionamento, acarretou a destruição da
possible socioenvironmental effects of geotourism maior parte dos afloramentos e os remanescentes
in the Parque Paleontológico de São José de encontram-se atualmente inundados ou cobertos
Itaboraí. pela vegetação. Um lago se formou na depressão
Keywords: Geological heritage, deixada pela mineração (Figura 2). Com o fim
geotourism, environmental impacts desta atividade, São José de Itaboraí entrou
num processo de decadência socioeconômica
(Bergqvist et al., 2006).
INTRODUÇÃO Buscando a geoconservação do patrimônio
O geoturismo utiliza os aspectos geológico, pesquisadores fluminenses lutaram
geológicos de uma região promovendo uma pela criação do Parque Paleontológico de São
interpretação ambiental e cultural da área, com José de Itaboraí. A instituição foi inaugurada em
benefício para a comunidade local (Brilha, 2005). 1995 e, atualmente, passa por um processo de
O turismo, assim como outras atividades que revitalização. Essa atitude poderá acarretar um
usufruem do ambiente, pode causar impactos novo impulso social e econômico em São José de
tanto positivos quanto negativos. Benefícios Itaboraí por meio da intensificação do geoturismo.
especialmente importantes desta atividade são a Dessa forma buscou-se a percepção da população
geração de emprego, renda e infraestrutura, que local dos possíveis efeitos socioambientais da
podem acarretar um crescimento socioeconômico atividade geoturística em São José de Itaboraí. O
do lugar. No entanto, sem o devido planejamento presente estudo pode ser utilizado em estratégias
e gerenciamento do turismo, o crescimento pode de geoconservação do patrimônio geológico, no
ocorrer junto a taxas ascendentes de degradação planejamento e ordenamento do território, em
ambiental, associado a um progresso tecnológico medidas mitigadoras de impactos ambientais e
acompanhado de desemprego e exclusão. em propostas para melhor atender aos geoturistas.
Assim, para um verdadeiro desenvolvimento de

133
METODOLOGIA à geoconservação. Nesse sentido, não podemos
afirmar que os geoturistas têm consciência de
Entre os dias 19 e 27 de janeiro de 2009
preservação do patrimônio.
foram realizadas 100 entrevistas com abordagens
diretas e de maneira aleatória com a população
de São José de Itaboraí. Estas davam-se pela Possíveis impactos ambientais
visita às casas e comércios, além de transeuntes, do geoturismo
no centro da localidade. Participaram moradores A Figura 3 mostra que 28,8% das
e pessoas que possuíam vínculos (afetivos, 59 citações de 34 entrevistados referiram-se
familiares ou empregatícios) com o lugar. De ao aumento do lixo com a intensificação do
início os entrevistados foram indagados se com a geoturismo. A quantidade de lixo deixado pelos
revitalização do parque paleontológico aumentaria turistas durante a visita pode fazer com que as
o fluxo de geoturistas em São José de Itaboraí. áreas percam seus atrativos. Torna-se necessária
Posteriormente, se o aumento do geoturismo a educação ambiental dos visitantes, a construção
poderia acarretar degradações no espaço físico de lixeiras e de placas informando que é proibido
local. Por fim, os que acreditavam nos impactos jogar lixo. Um total de 16,9% das citações
do geoturismo, foram questionados sobre quais relacionou-se a possível destruição do patrimônio
degradações poderiam ocorrer. por meio de atos de vandalismo, enquanto
que 6,8% das citações referiram-se à perda de
Perfil dos entrevistados materiais (fósseis e rochas) do patrimônio, através
da retirada para fins não científicos, como uma
Dos 100 participantes da pesquisa 50%
possível degradação. Os parques naturais e sítios
eram do sexo feminino e 50% do sexo masculino. A
arqueológicos e históricos podem ser deteriorados
faixa etária dos entrevistados variou de 15 a acima
por atos de vandalismo, pichações e remoção ilegal
de 70 anos. O nível escolar que possuem é baixo e a
de itens do patrimônio se não houver um controle
comunidade possui um reduzido poder aquisitivo.
do número de visitantes (Brilha, 2005).
A grande maioria dos entrevistados (85%) reside
em São José de Itaboraí, a outra parcela em São Averiguou-se que 8,5% das citações
Gonçalo, Cabuçu, Itaboraí, Niterói e Maricá. mencionaram a existência de violência e assaltos
como possíveis degradações no espaço físico de São
José de Itaboraí pelo crescimento do geoturismo.
Revitalização do parque, geoturismo
Os entrevistados possuem a percepção de que
e degradações ambientais
muitas pessoas de fora se deslocarão para a área,
Dentre os 100 entrevistados,95% acreditam podendo intensificar a criminalidade. O tópico
no aumento do geoturismo em consequência da destruição da fauna e flora abrangeu 15,2% das
revitalização do parque paleontológico. Destes indicações (Figura 3). Os participantes creem
95 participantes, 35,8% creem no surgimento que com o aumento do geoturismo, os animais e
de impactos ambientais com a intensificação do a vegetação da região poderão ser afetados pelo
geoturismo, enquanto que 61,1% não acham que a grande trânsito de visitantes. O tópico destruição
atividade geoturística possa gerar deteriorações no das moradias obteve 8,5% das 59 citações de 34
espaço físico de São José de Itaboraí. Apenas 3,1% entrevistados preocupados que atos de vandalismo
não souberam responder à questão. De maneira e badernas possam acarretar a destruição de suas
geral, os entrevistados que não acreditam nos moradias. Um total de 11,9% das indicações se
impactos ambientais do geoturismo consideraram referiu ao aumento do consumo de drogas ilícitas
que esta atividade contribuiria para o crescimento com a intensificação do geoturismo. O assunto
socioeconômico da localidade. Discorreram que os fim da “lagoa” foi abordado em 3,4% das citações.
geoturistas não causam degradações, pois possuem A lagoa serve de abastecimento de água local.
consciência ambiental. Contudo, segundo Hose Então, a população está preocupada que com o
(2000), o perfil do geoturista médio baseia-se na aumento do geoturismo o abastecimento possa
visita casual e sem planejamento ao geossítio e cessar devido à retomada dos estudos científicos.
na pouca familiarização com temas relacionados

134
CONCLUSÕES HOSE, T.A. 2000. European Geotourism
– geological interpretation and
Pode-se concluir que é necessária a
geoconservation promotion for tourists. In:
elaboração de um plano diretor para que se tenha
Barettino D.; Wimbledon, W.A.P & Gallego
noção das áreas em que o geoturismo irá atuar e
E. (eds.) Geological Heritage: Its Conservation
dos empreendimentos para atender a esta prática,
and Management. Sociedad Geologica de
o que contribuirá para a mitigação dos impactos
Espana/Instituto Technologico GeoMinero
de uma possível intensificação desta atividade.
de Espana/ProGEO, Madrid, p. 127-146.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SANTOS, W.F.S. 2010. Diagnóstico para o


uso geoturístico do patrimônio geológico de
BRILHA, J.B. 2005. Património Geológico e São José de Itaboraí – Itaboraí (Estado do
Geoconservação: a conservação da natureza Rio de Janeiro): subsídio às estratégias de
na sua vertente geológica. Coimbra, Viseu geoconservação. Programa de Pós-Graduação
palimage. 190 p. em Geologia, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 252 p.
BERGQVIST, L.P.; MOREIRA, A.L. &
PINTO, D.R. 2006. Bacia de São José de SOUZA, M.L. 2000. O Turismo como desafio
Itaboraí 75 anos de História e Ciência. Rio ao desenvolvimento. In: RODRIGUES,
de Janeiro, Serviço Geológico do Brasil – A.B. (ed.) Turismo e Desenvolvimento Local.
CPRM. 81 p. Editora Hucitec, p. 17-22.

Figura 1. Localização do parque paleontológico com destaque para a bacia sedimentar.

135
Figura 2. Bacia de São José de Itaboraí. Note o lago formado na depressão (junho, 2011).

Figura 3. Degradações que poderão ocorrer em São José de Itaboraí pelo geoturismo.

136
INVENTARIAÇÃO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E
PALEONTOLÓGICO DA FORMAÇÃO RIO BONITO NA REGIÃO
DA BACIA CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA
Felipe Barbi Chaves1 (felipe.chaves@dnpm.gov.br), Irma Tie Yamamoto2, Jesse Otto Freitas3, Andrea Cristina Giongo Hauch4,
Karen Cristina de Jesus Pires4, Cristian Neilor Ceron5, Roberto Iannuzzi6, Michel Marques Godoy7
Departamento Nacional de Produção (DNPM) - DPDF/DIFIS – Brasília; 2DNPM, Museu de Ciências da Terra – RJ; 3DNPM -
Superintendência de Santa Catarina; 4DNPM - Superintendência do Rio Grande do Sul; 5Ibrap AS – Urussanga; 6Departamento de
Paleontologia e Estratigrafia do IGeo-UFRGS; 7Serviço Geológico do Brasil - Superintendência de Porto Alegre

RESUMO brasileiro segundo o previsto no Art. 216 da


Constituição Federal de 1988.
Esta contribuição teve como principal
objetivo aplicar a planilha de inventariação de A geodiversidade enfrenta diversas
geossítios, desenvolvida pelo Serviço Geológico do ameaças (a maior parte provém da atividade
Brasil – CPRM, no levantamento dos principais humana) e, por isso, é necessária a implementação
geossítios fitofossilíferos associados aos depósitos de estratégias de geoconservação que consistem
de carvão em Criciúma e municípios vizinhos, em na concretização de uma metodologia de trabalho
Santa Catarina. que visa sistematizar as tarefas de inventariação,
quantificação, classificação, conservação,
Palavras-chave: Inventariação de
valorização, divulgação e monitoramento no
geossítios, Geoconservação, sul de Santa Catarina
âmbito da conservação do Patrimônio Geológico
de uma dada área (país, estado, área protegida,
ABSTRACT etc.) (Brilha, 2005).
The main goal of this contribution was to Há interesse de vários países, inclusive
apply the method for survey of geosites, developed o Brasil, por informação sobre as práticas
by Geological Survey of Brazil – CPRM, in the de geoconservação, sendo a inventariação
main phytofossiliferous geosites associated with de geossítios considerada primordial para o
coal deposits from the town of Criciúma and desenvolvimento e implementação de uma
neighboring towns, in Santa Catarina state. estratégia de geoconservação (Lima, 2008).
Keywords: Survey of geosites,
Geoconservation, southern Santa Catarina state MATERIAIS E MÉTODOS
Lima (2008) propôs um método de
INTRODUÇÃO inventariação do patrimônio geológico brasileiro
Compete ao DNPM a fiscalização dos na sua tese de mestrado, tendo como base o
depósitos fossilíferos (Decreto-Lei nº 4.146 trabalho de Brilha (2005). Segundo a autora,
de 04/03/42) e na nova Estrutural Regimental é extremamente importante que todos os
do DNPM consta que cabe à Diretoria de Estados brasileiros utilizem o mesmo método
Fiscalização da Atividade Minerária promover a de inventariação do patrimônio geológico para
proteção dos depósitos fossilíferos (Decreto 7.092 que possa alcançar o inventário nacional a partir
de 02/02/10). de comparação dos geossítios dos estados. Esse
Para atribuir a verdadeira importância de inventário nacional poderá servir, além de outros,
um depósito fossilífero que mereça ser protegido, para embasar discussões de políticas públicas,
é necessário primeiro identificar, selecionar e integrar oficialmente os planejamentos territoriais
caracterizar os geossítios que possuam potenciais necessários para gestão e ocupação do espaço, em
para ações de conservação (inventariação). No caso harmonia com a conservação e o uso racional dos
do patrimônio paleontológico, os sítios fossilíferos recursos naturais.
inventariados são classificados como geossítios No Estado de Santa Catarina ocorre
relevantes para o estudo e conhecimento da uma rica flora gondwânica pós-glacial associada
Paleontologia, e constituem patrimônio cultural a depósitos de carvão (Formação Rio Bonito,

137
Permiano da Bacia do Paraná). O Sítio do Estado de Santa Catarina (Criciúma e
Paleontológico Afloramento Bainha, Criciúma – municípios vizinhos). Como a equipe do DNPM
SIGEP 82 (Iannuzzi, 2002), por exemplo, possui é composta por geólogos e paleontólogos que não
uma diversidade e abundância de vegetais fósseis são especialistas em Paleobotânica, o Prof. Dr. R.
que possibilitam uma franca correlação com Iannuzzi foi convidado para integrar a equipe de
associações florísticas provenientes de outras áreas trabalho do DNPM.
carboníferas tanto da Bacia do Paraná (floras de
algumas localidades nos estados do Paraná e Rio
Grande do Sul), bem como de outras bacias da
RESULTADOS
América do Sul (Argentina) e demais continentes O objetivo do trabalho em Santa Catarina
gondvânicos (África do Sul, Índia, Austrália e foi alcançado com a realização das três etapas
Antártica). de campo (período de 07 a 11/06/10, 27/09
O trabalho desenvolvido pelo DNPM a 01/10/10 e 23 a 27/05/11) pela equipe de
teve como objetivo aplicar uma metodologia geólogos do DNPM, tendo como convidados o
com base nas orientações do Prof. Dr. José Geól. Michael M. Godoy do Serviço Geológico
Brilha da Universidade do Minho (Portugal) do Brasil – CPRM (na 1ª etapa) e o Paleontólogo
para a inventariação do patrimônio geológico de Dr. Roberto Iannuzzi da UFRGS. Houve
Santa Catarina, que compreende os elementos também uma importante participação do Sr.
paleontológicos e estratigráficos, na região dos Cristian Neilor Ceron, morador do município de
depósitos de carvão (sul do Estado). Urussanga, que mostrou as localidades fossilíferas
Tendo em vista que o Serviço Geológico em Urussanga.
do Brasil – CPRM vem desenvolvendo e No total, foram visitados 21 pontos cujos
aprimorando uma planilha de inventariação dados de campo (Criciúma, Treviso, Urussanga,
nacional como base na proposta de Ficha de Lauro Muller e Orleans) foram inseridos no
Cadastro de Geossítios da ProGeo-The European Cadastro de Geossítios (desenvolvida pela
Association for the Conservation of the Geological CPRM). Apenas um geossítio teve importância
Heritage, com adaptações feitas por Brilha (2005) Internacional: o Marco Nº. 1 da Coluna White
e Pereira & Brilha (2008), foi feito um convite (Lauro Muller). Os geossítios de importância
ao Geól. Michael M. Godoy da CPRM, a fim Nacional foram três: Marcos Nºs. 2 e 3 da
de que os geólogos do DNPM pudessem ser Coluna White (Lauro Muller) e o Afloramento
treinados no uso desse método e assim aplicá-lo Bainha (Criciúma). Os demais tiveram relevância
no trabalho de inventariação em Santa Catarina. Regional, destacando-se os que obtiveram
A importância do uso por parte do DNPM dessa médias acima de 3,00: Escadaria do Bairro 20
metodologia aplicada pela CPRM é para que haja (Criciúma), Mina São Simão (Criciúma), Mina
uma uniformização do método de inventariação Esperança Leste (Treviso), Mina Itanema “I”,
a ser adotado preferencialmente por uma maior “II” e “III” (Urussanga), Mina Santana (ao lado
quantidade de instituições e órgãos que tratam dos do Rio Carvão, em Urussanga), Mina Veloso
estudos e pesquisas das Geociências no território (Urussanga), Antiga Mina Portão (Lauro Muller)
nacional. Além disso, como mencionado, seriam e Afloramento Matacão “pingado” (Orleans).
aplicados critérios semelhantes aos usados pela
Comunidade Europeia para cadastramento e CONCLUSÕES
hierarquização dos geossítios.
Notou-se neste trabalho de inventariação
Por fim, para a execução das atividades
da Bacia Carbonífera de Santa Catarina, que a
de inventariação era fundamental também a
classificação de um geossítio como de relevância
presença na equipe de um especialista na área
internacional ou nacional, se deve principalmente,
de Paleobotânica visto que a identificação,
ao grau de conhecimento científico da localidade
seleção e caracterização dos sítios fitofossilíferos
(contemplado em tese de doutorado, dissertação
(geossítios) refere-se aos sítios que contêm restos
de mestrado, capítulo de livro, artigo de revista
de vegetais fósseis associados ao carvão mineral
nacional ou estrangeira) e se é reconhecido como

138
localidade - tipo na área em análise. Nestes casos, uso do programa “Cadastro de Geossítios”, e ao
é muito provavel que geossítio se aproxime da senhor José Carlos Frantz, Diretor do Instituto
nota máxima 5, que é conferida pela planilha de de Geociências da Universidade Federal do Rio
inventariação adotada pela CPRM. Quando o Grande do Sul, por permitir a participação do
geossítios não possui tais características, o local Prof. Dr. Roberto Iannuzzi neste trabalho.
tende a apresentar somente relevância regional.
Em relação às medidas de preservação dos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
geossítios considerados relevantes pela equipe e
confirmado alguns deles pelo programa Cadastro BRILHA, J. 2005. Património Geológico e
de Geossítios da CPRM, foi encaminhado um Geoconservação: A Conservação da Natureza
Memorando à Superintendência do DNPM na sua Vertente Geológica. Braga: Palimage
– SC, com a localização dos pontos para que Editores, 190 p.
permaneçam expostos (para estudo científico e
didático) no processo de recuperação ambiental IANNUZZI, R. 2002. Afloramento Bainha,
das respectivas minas. Criciúma, SC. Flora Glossopteris do
Outros geossítios deste trabalho já estão Permiano Inferior. In: WINGE, M.;
cadastrados no banco de dados da Comissão SCHOBBENHAUS, C.; SOUZA, C.R.G.;
Brasileira dos Sítios Geológicos e Paleobiológicos FERNANDES, A.C.S.; BERBERT-
– SIGEP, que tem a principal atribuição de BORN, M. & QUEIROZ, E.T. (eds.) Sítios
selecionar os sítios naturais do país (geológico/ Geológicos e Paleontológicos do Brasil.
paleobiológico) propostos para a sua conservação, Brasília: DNPM, p. 23-31.
são eles: “Afloramento Bainha, Criciúma,
LIMA, F.F. 2008. Proposta Metodológica para
SC” (SIGEP 82) e os Marcos Nºs. 1, 2 e 3 da
a Inventariação do Patrimônio Geológico
Coluna White, em Lauro Muller (SIGEP 24).
Brasileiro. Programa de Pós-Graduação em
De qualquer forma, membros da equipe estão
Patrimônio Geológico e Geoconservação da
tratando com a Prefeitura de Criciúma e com a
Universidade do Minho – Portugal. Tese de
Fundação Cultural de Criciúma do Município
mestrado. 103 p.
de Criciúma a questão do tombamento legal do
Afloramento Bainha. PEREIRA, R.F. & BRILHA, J. 2008.
Com exceção do Afloramento Matacão Geoconservação e desenvolvimento
“pingado” (em Orleans) que está associado ao sustentável na borda oriental da Chapada
ambiente glacial da Formação Rio do Sul (Grupo Diamantina. Relatório de atividades da
Itararé), todos os outros pontos tem como unidade viagem de campo da tese de doutoramento,
estratigráfica a Formação Rio Bonito. Núcleo de Ciências da Terra, Universidade
Em relação ao programa Cadastro de de Minho, Braga, Portugal, 2008.
Geossítios da CPRM, os geossítios Mina dos
Ingleses (Lauro Muller), Mina Bonito (Lauro
Muller) e “Gruta Rio América” (Urussanga)
obtiveram médias abaixo de 3. No entanto, a
preservação deles foi considerada relevante pela
equipe de trabalho.

AGRADECIMENTOS
A equipe de trabalho agradece aos
senhores José Alcides Fonseca Ferreira, Norberto
Lessa Dias e Carlos Schobbenhaus, do Serviço
Geológico do Brasil (CPRM), por permitirem
a participação do Geól. Michel M. Godoy e

139
MUSEUS E FÓSSEIS DA REGIÃO SUL DO BRASIL, UMA
EXPERIÊNCIA VISUAL COM A PALEONTOLOGIA
Luiz Carlos Weinschütz1 (luizcw@mfa.unc.br), Paulo César Manzig2 (paulomanzig@geotematica.com.br)
CENPÁLEO/UnC - Mafra, SC; 2PRO-IMAGEM - Curitiba, PR
1

RESUMO book a great didactic potencial for educational


institutions mainly primary and collegial.
A região Sul do Brasil é rica em
ocorrências fossiliferas, algumas mundialmente Keywords: Museums, Fossils, Southern
conhecidas, mas boa parte da população não tem Region
conhecimento desta riqueza. Visando diminuir a
distância deste conhecimento com a população INTRODUÇÃO
leiga, está sendo produzido o livro “Museus e
Dinossauros despertam visível interesse
Fósseis da Região Sul do Brasil”, baseado nos
no público em geral, mais ainda em crianças e
acervos paleontológicos expostos em museus
adolescentes. Entretanto poucos sabem que a
dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio
Região Sul do Brasil pode ter sido o berço destes
Grande do Sul. Como fator de atração além
fantásticos animais há mais de 200 milhões
de fotografias normais, o livro terá o emprego
de anos, assim como que há pouco mais de
fotografias em 3-D, visualizadas com utilização
10.000 anos, mastodontes e preguiças gigantes
de óculos especiais fornecidos juntos com cada
de 4 metros de altura também vagavam por
exemplar do livro. A utilização de fotografias
aqui e poderiam até mesmo ter convivido com
dos acervos expostos propicia a divulgação dos
os primeiros ocupantes da América do Sul.
museus e possibilita a observação das peças no
A paleontologia, entretanto vai muito além dos
próprio museu, tornando o livro uma ferramenta
Dinossauros, e nos revela toda uma fascinante
de grande potencial didático principalmente para
história da vida no planeta Terra, e estes museus
instituições de ensino.
têm nos seus acervos peças de valor científico e
Palavras-chave: Museus, Fósseis, Região patrimonial inestimáveis, muitas vezes esquecidas
Sul dentro de suas salas.
Num momento em que o aquecimento
ABSTRACT global e outros fatores de descontrole colocam em
The southern region of Brazil is rich in risco o estado atual da civilização humana, é sempre
fossiliferous occurrences, some world famous, but bom resgatar uma visão do passado mais remoto,
much of the population is unknown of this wealth. e verificar a fragilidade dos sistemas naturais que
To decrease the gap of knowledge with lay people, sustentam a vida. As espécies evoluem, atingem
the book is being produced “Museums and fossils seu domínio máximo, e depois declinam e se
of southern Brazil”, based on paleontological extinguem. E nós não somos diferentes.
collections in museums in the states of Parana, Disseminar o conhecimento da História
Santa Catarina and Rio Grande do Sul. As a da Terra é fundamental para tornar a população
factor of attraction besides normal pictures, the melhor preparada para entender o papel do
book will have the photographs in 3-D high- homem no planeta em que habita. Por isso está
resolution, viewed using special glasses provided sendo desenvolvido um livro de divulgação da
with each book. The use of photographs of the paleontologia, centrado nos acervos de museus
collections exposed promotes the dissemination afins dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio
of museums and enables people to observe the Grande do Sul. Este projeto foi aprovado pelo
piece of interest in the museum, making the Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet
para captação de recursos, conforme número

140
084474 (Pronac), publicado no D.O.U. em 13 de do acervo de museus afins, é estritamente
novembro de 2009, e sua execução foi viabilizada necessário o conhecimento desses acervos. Para
devido a captação integral dos recursos oriubdos tanto foram programadas diversas viagens de
COPEL DISTRIBUIÇÃO S.A. (Companhia de reconhecimento, onde os museus alvo foram
Energia Elétrica do Estado do Paraná). previamente selecionados pela importância
regional e área de abrangência, também foi levado
em consideração a acessibilidade do público ao
ABRANGÊNCIA acervo, a sua importância para paleontologia
O projeto prevê a impressão inicial regional, e a fotogenia da peça, que embora seja
de 2.000 exemplares do livro “MUSEUS & um parâmetro subjetivo é de grande importância
FÓSSEIS DA REGIÃO SUL DO BRASIL”, para o sucesso do livro.
que através de fotografias e ilustrações apresentará Após o reconhecimento prévio, diversos
o acervo de Museus e Instituições localizadas museus e peças foram selecionados para serem em
na Região Sul, introduzindo ao conceito de uma segunda etapa fotografadas com a qualidade
“Patrimônio Paleontológico” e revelando o valor necessária, sendo que algumas foram fotografadas
científico mundial dessas peças. Estes livros serão para serem posteriormente transformadas
distribuídos gratuitamente para instituições digitalmente em imagens “3D”.
de ensino fundamental e médio na região de Paralelamente ficou estabelecida a linha
abrangência dos museus visitados e cujo acervo básica do projeto, onde a definição de Patrimônio
foi utilizado para confecção do livro. Existe a Paleontológico e a possibilidade do livro ser
possibilidade da busca por recursos extras na uma ferramenta de didática e de divulgação da
iniciativa privada e assim aumentar a tiragem, e paleontologia deveria ser o prumo do projeto.
conseqüentemente sua distribuição e abrangência.
A Figura 1 mostra as cidades com museus
referentes ao tema e cidades abrangentes. CONCLUSÕES
O Livro “MUSEUS & FÓSSEIS DA
CARCTERÍSTICAS DO LIVRO REGIÃO SUL DO BRASIL” vem ocupar
parcialmente uma lacuna nas publicações
Esta obra terá entre 200 e 300 páginas, específicas da paleontologia nacional, este
impressa no formato 22,5 x 29 cm, papel couché projeto além de contribuir com a divulgação da
fosco 150 gramas, policromia 4 x 4, costurado em paleontologia, poderá servir de incentivo a novas
capa dupla e guarda. Será escrita em linguagem iniciativas similares para outras regiões.
coloquial, acessível ao público não especializado,
bilíngüe (português e inglês), e apoiada em
fotografias de forte apelo visual e artístico. Como REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
inovação o livro trará o emprego de fotografias MANZIG, P.C. & WEINSCHÜTZ, L.C. 2009.
3-D em alta resolução, onde a visualização será Projeto – Museus & Fósseis da Região Sul
feita com utilização de óculos especiais fornecidos do Brasil.Disponível em:
juntos com cada exemplar do livro.
Cada capítulo apresentando os fósseis terá
na seqüência um anexo com algumas de suas fotos
em 3-D, revelando a forma e volume do fóssil,
recurso este amplamente usado pela NASA, e que
produz forte motivação visual, com o propósito de
despertar em escolares o interesse pelo tema.

METODOLOGIA
Como o projeto do livro compreende a
divulgação da paleontologia baseada em imagens

141
Figura 1. Mapa de Abrangência do projeto, Manzig (2009).

142
O QUE É FÓSSIL? DIFERENTES CONCEITOS NA PALEONTOLOGIA
Henrique Zimmermann Tomassi¹ (HZTomassi@gmail.com), Cláudio Magalhães de Almeida² (claudio.magalhaes@ueg.br)
¹Museu de Geociências da Universidade de Brasília; ²Universidade Estadual de Goiás, Unidade Anápolis

RESUMO INTRODUÇÃO
Há muito os paleontologistas conceituam A humanidade sempre se deparou com
fósseis em livros didáticos e especializados, mas restos fósseis. Discípulos da Escola Aristotélica
vários conceitos são polêmicos e discordantes. De interpretaram os fósseis como estruturas formadas
maneira geral, conceitos restritivos tendem a ser por virtudes plásticas no interior das rochas,
problemáticos, enquanto que os mais abrangentes segundo a teoria da abiogênese, e não restos de
tendem a ser menos contestados. Estes conceitos seres vivos. Esta concepção, por vir ao encontro
evoluem à medida que a Paleontologia avança, e do criacionismo pregado pela Igreja Católica,
mesmo as conceituações modernas deverão ser foi imposta à sociedade europeia e prevaleceu
revistas sistematicamente pelos paleontologistas até o século XVII (Melendez, 1947). Apenas no
do futuro. A conceituação de fóssil deve abarcar século XVII o dinamarquês Niels Stensen daria
todas as variações observadas na natureza, seja na ao termo “fóssil” o seu significado atual, excluindo
classificação biológica do ser que produziu o resto dele os objetos de origem exclusivamente mineral
ou vestígio, nas idades tão diversas em que os fósseis (Melendez, 1947).
se formam, nas diversas composições químicas
(originais e alteradas) que os caracterizam, ou na Os problemas nos conceitos de fóssil
influência do homem na conservação de restos Há muito os paleontologistas conceituam
biológicos. fósseis em livros didáticos e especializados, mas
Palavras-chave: Fóssil, Conceito, Filosofia vários conceitos são polêmicos e discordantes. De
da Ciência maneira geral, conceitos restritivos tendem a ser
problemáticos, enquanto que os mais abrangentes
ABSTRACT tendem a ser menos contestados. Estes conceitos
são controversos e evoluem à medida que a
There are many palaeontologistswhich Paleontologia avança, e mesmo as conceituações
conceptualize fossils in specialized and didatic modernas deverão ser revistas sistematicamente
textbooks, but several concepts are controversial pelos paleontologistas do futuro.
and conflicting. In general, restrictive concepts
Alguns autores restringem o conceito de
tend to be problematic, while broader concepts
fósseis a restos de “animais e plantas” (Mendes,
tend to be less contentious. These concepts
1977; 1982; Cassab, 2000; 2004; 2010) ou de
evolve as palaeontology advances, and even the
“organismos” (Furon, 1951; Meléndez, 1955;
modern concepts must be reviewed systematically
Aubouin et al. 1981; Gayrard-Valy, 1984;
by palaeontologists in the future. The concept
Simões & Rodrigues, 2010). Estas restrições
of fossil should cover all variations observed in
são desaconselháveis, pois muitos dos registros
nature, whether in the biological classification
fósseis são compostos por restos de seres que
of the being that produced the remnant or trace,
não pertencem aos reinos animal e vegetal,
in the many ages in which fossils are formed,
como os protistas. Os protistas também não são
the various chemical compositions (original and
considerados organismos por algumas correntes
altered) that characterize it or the man’s influence
da Biologia, pois são unicelulares, desprovidos de
in biological remains conservation.
tecidos ou órgãos.
Keywords: Fossil, Concept, Science
Phylosophy

143
Alguns autores conceituam fósseis como Pleistoceno-Holoceno ou história-pré-história,
restos preservados apenas nas rochas (Furon, talvez a diferenciação de fósseis e subfósseis se
1951; Meléndez, 1955; Swinnerton, 1961; justificaria. Mas isto não ocorre em muitas partes
Mendes, 1977; 1982; Aubouin et al. 1981; Cassab, do globo. Se nem mesmo a explosão cambriana,
2000; 2004; Simões & Rodrigues, 2010), outra que produziu mudanças profundas na biosfera,
restrição desaconselhável. A maior parte dos no limite Ediacarano-Cambriano, não justificou
fósseis é recuperada de rochas sedimentares, mas uma mudança na terminologia adotada pela
eles também podem ser encontrados em rochas Paleontologia, porque esta passagem dentro do
magmáticas (Rasmussen, 2000; Banerjee et al. Período Quaternário justificaria? Esta separação
2006), metamórficas (Mojzsis et al. 1996; Bernard se mostra arbitrária e sem base paleoecológica
et al. 2007; Kazmierczak & Kremer, 2009; que a justifique. Segundo Goldring (1950), a
Hara&Kurihara, 2010) (Figura 1) ou sedimento vida atual se funde gradualmente à do passado, o
inconsolidado. Apesar de menos comuns, os tempo geológico é contínuo, o desenvolvimento
fósseis também estão presentes em cavernas, solos, da vida é progressivo e as mesmas leis naturais que
piche, âmbar e gelo. operam hoje o fizeram no passado.
A atribuição de composição química para A espécie de ostracode Eucypris mareotica,
definir o fóssil também pode ser considerada por exemplo, coletada em sedimentos do lago
inadequada. Não é incomum encontrar definições Kuhai, no nordeste do platô tibetano, mostra
que indicam fósseis como restos “orgânicos” ocorrência abundante e persistente há mais de
ou “petrificados” (Moreira, 1999). Muitos dos 15.000 anos (Mischke et al., 2010). Os conceitos
fósseis não possuem composição orgânica, pois de fósseis que excluem os restos formados no
o esqueleto mineralizado é a parte do corpo Holoceno considerariam apenas as carapaças dos
mais resistente à degradação, sendo o resto mais níveis inferiores como fósseis. Seria inadequado
provável a ser preservado. Da mesma forma, considerar fósseis apenas as carapaças de alguns
inúmeros fósseis não são restos petrificados. Os níveis, pois todo o material preservado registra
palinomorfos, por exemplo, se preservam com o ecossistema do passado do lago Kuhai,
poucas alterações na composição química original. gradativamente, do Pleistoceno ao Recente.
Há exemplos de acritarcas e biomarcadores que Portanto, atualmente a Paleontologia tem
mantém a composição orgânica original por desconsiderado limites de tempo para a definição
bilhões de anos (Mojzsis et al. 1996; Brocks et al. de fósseis, pois os estudos paleontológicos
1999; 2003; Sergeev et al. 2007; Buick, 2010). descrevem a evolução das espécies da origem da
Certos autores estabelecem limites de vida até o recente, intervalo que inclui o Holoceno.
tempo para a definição de fósseis.É comum observar Em adição, muitas pesquisas paleontológicas
nas definições a restrição para restos formados incluem ou se restringem ao Holoceno (Churchill
“antes da época atual ou Recente” (Mendes, 1960), &Sargeant, 1962; Sarr et al. 2009; El Hmaidi et al.
“antes do Holoceno” (Moreira, 1999; Hoffmann, 2010; Mischke et al. 2010; Wrozyna et al. 2010).
2006; Cassab, 2010), “do passado” (Swinnerton, A Paleontologia contemporânea considera
1961; Simões & Rodrigues, 2010, “pré-históricos” como fósseis apenas os restos e vestígios
(Mendes, 1965; 1977; 1982) ou “há muito tempo” preservados em contextos que não envolvam
(Parker, 1990). Alguns pesquisadores definem os atividades humanas. A exclusão de restos cuja
restos de seres do Holoceno como “subfósseis”, preservação envolve atividade antrópica não é
numa tentativa de diferenciá-los dos fósseis e simples, pois é difícil de se estabelecer o limite
dos restos biológicos do Recente (Eronen, 1979; conceitual coerente que justifique a exclusão.
Larocque-Tobler et al. 2010; Cassab, 2010). Os É crescente o número de pesquisadores que
fósseis são o registro contínuo que evidencia admitem que os restos e vestígios preservados com
a evolução biológica gradual, desde a origem o auxílio de ações antrópicas devem ser admitidos
da vida até o Recente (Goldring, 1950). Caso como fósseis, pois o homem é um animal gerado
houvesse descontinuidade biológica marcante ou pela natureza, interage com ela em todos os níveis
os ecossistemas fossem contrastantes na passagem ecológicos e não deve ser considerado como parte

144
isolada do mundo biológico. A espécie humana BANERJEE, N.R.; FURNES, H.;
interage com o meio ambiente em atividades que MUEHLENBACHS, K.; STAUDIGEL,
promovem o assoreamento. Praticamente todos H. & DE WIT, M. 2006. Preservation of
os corpos d’água continentais sofrem o processo ~3.4–3.5 Ga microbial biomarkers in pillow
de sedimentação por assoreamento, há seculos, lavas and hyaloclastites from the Barberton
em maior ou menor grau. As margens egípcias do Greenstone Belt, South Africa. Earth and
rio Nilo são cultivadas há pelo menos 7500 anos Planetary Science Letters, 241:707-722.
(Araújo, 2000), e a agricultura altera o aporte de
sedimentos para o sistema fluvial. Seria incorreto BERNARD, S.; BENZERARA, K.; BEYSSAC,
não atribuir a condição de fósseis a estes restos O.; MENGUY, N.; GUYOT, F. BROWN
apenas porque a atividade humana aumentou a JR., G.E. & GOFFÉ, B. 2007. Exceptional
taxa de sedimentação, pelo assoreamento, pois preservation of fossil plant spores in high-
estes restos representam o ecossistema e podem pressure metamorphic rocks. Earth and
ser usados por estudos de Paleontologia. Portanto, Planetary Science Letters, 262:257-272.
a atividade antrópica não descaracteriza o fóssil,
uma vez que é difícil imaginar ambientes nos BROCKS, J.J.; BUICK, R.; SUMMONS, R.E.
quais estas atividades não exerçam qualquer & LOGAN, G.A. 2003. A reconstruction
influência, mesmo que indireta. Segundo of Archean biological diversity based on
Aubouin et al. (1981) até mesmo os vestígios de molecular fossils from the 2.78 to 2.45
atividade humana são fósseis, pois são vestígios de billion-year-old Mount Bruce Supergroup,
atividades biológicas, apesar de seu estudo ficar Hamersley Basin, Western Australia.
tradicionalmente restrito à ciência da arqueologia. GeochimicaetCosmochimicaActa,
67(22):4321-4335.

CONCLUSÕES BROCKS, J.J.; LOGAN, G.A.; BUICK, R. &


Frente às concepções da Paleontologia SUMMONS, R.E. 1999.Archean Molecular
contemporâniea, a conceituação de fóssil Fossils and the Early Rise of Eukaryotes.
deve abarcar todas as variações observadas na Science, 285:1033.
natureza, seja na classificação biológica do ser
BUICK, R. 2010. Ancient acritarchs. Nature,
que produziu o resto ou vestígio, nas idades tão
463(18):885-886.
diversas em que os fósseis se formam, nas diversas
composições químicas (originais e alteradas) que CASSAB, R.C.T. 2000.Objetivos e Princípios.
os caracterizam, ou na influência do homem na In: CARVALHO, I.S. (ed.) Paleontologia.
conservação de restos biológicos. A definição deve Editora Interciência, Rio de Janeiro, p.3-11.
ser restritiva ao mínimo, para que todos os restos
de seres vivos e vestígios de atividades sejam CASSAB, R.C.T. 2004. Objetivos e Princípios.
considerados objetos de estudo em potencial, pela In: CARVALHO, I.S. (ed.) Paleontologia. 2ª
Paleontologia. ed. Editora Interciência, Rio de Janeiro, p.
3-11.
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Paleontologia na sala de aula. Disponível em

147
PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO LOCAL DOS POSSÍVEIS BENEFÍCIOS
SOCIAIS DO GEOTURISMO FRENTE À REVITALIZAÇÃO DO
PARQUE PALEONTOLÓGICO DE SÃO JOSÉ DE ITABORAÍ
(ITABORAÍ – ESTADO DO RIO DE JANEIRO)
Wellington Francisco Sá dos Santos1 (tonlingeo@yahoo.com.br), Ismar de Souza Carvalho1 (ismar@geologia.ufrj.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
1

RESUMO Mauá. Esta atividade contribuiu na descoberta


dos fósseis e na melhoria dos aspectos sociais e
O Parque Paleontológico de São José de
econômicos de São José de Itaboraí. Contudo,
Itaboraí foi construído em 1995 com o objetivo
as intensas escavações acarretaram a destruição
da geoconservação do patrimônio geológico local.
da maioria dos afloramentos e os remanescentes
Atualmente a instituição passa por um processo
estão inundados ou cobertos pela vegetação. Um
de revitalização, o que poderá elevar o número de
lago se desenvolveu na depressão formada pela
geoturistas e contribuir para o desenvolvimento
atividade mineradora (Figura 2). Além disso,
socioeconômico do lugar. Nesse contexto
com o fim da mineração, o lugar entrou em um
buscou-se entender por meio de entrevistas
processo de decadência socioeconômica.
a percepção da população local dos possíveis
benefícios sociais do geoturismo. Pesquisadores fluminenses buscando a
geoconservação do patrimônio geológico lutaram
Palavras-chave: Patrimônio geológico,
pela construção do Parque Paleontológico de
geoturismo, desenvolvimento socioeconômico
São José de Itaboraí. A área de preservação
permanente foi criada em 1995 e atualmente
ABSTRACT passa por um processo de revitalização. O projeto
The Parque Paleontológico de São José possui investimentos da Petrobras e do Instituto
de Itaboraí was established in 1995 with the goal Virtual de Paleontologia e vem sendo construído
of geological heritage geoconservation. Currently um centro cultural (Centro de Referência
the institution is in a revitalization process which Ambiental, Paleontológica e Arqueológica). Este
may increase the geotourism and contribute to projeto poderá acarretar um novo impulso social
the socioeconomic development of the area. In e econômico em São José de Itaboraí a partir do
this context we analyze the public understanding aumento do geoturismo.
of the possible social benefits of geotourism. Nesse contexto buscou-se entender
Keywords: Geological heritage; a percepção da população local dos possíveis
geotourism; socioeconomic development benefícios sociais do geoturismo, frente ao processo
de revitalização do Parque Paleontológico de
São José de Itaboraí. A presente pesquisa possui
INTRODUÇÃO aplicação em programas de educação popular, em
São José de Itaboraí é um bairro do 6º instrumentos de planejamento e ordenamento
distrito do município de Itaboraí (Estado do Rio de do território e em medidas para atender ao
Janeiro) que possui uma pequena bacia sedimentar geoturismo.
(Figura 1) preenchida por rochas calcárias ricas em Metodologia
fósseis de moluscos, répteis, anfíbios, aves, vegetais Foram realizadas 100 entrevistas com
e principalmente mamíferos, com destaque para a abordagens diretas e de maneira aleatória com
fauna continental de mamíferos que se irradiou moradores de São José de Itaboraí, além de pessoas
pela Terra após os últimos eventos de extinção do que possuíam vínculos (afetivos, familiares ou
Cretáceo há cerca de 57 Ma. empregatícios) com o lugar, entre os dias 19 e 27
Essas rochas calcárias foram utilizadas de janeiro de 2009. As entrevistas davam-se pela
de 1933 a 1984 para a fabricação de cimento visita às casas e comércios, além de transeuntes, no
pela Companhia Nacional de Cimento Portland centro da localidade. Inicialmente os entrevistados

148
foram questionados se a revitalização do parque acesso ao parque paleontológico. As estradas são
paleontológico poderia intensificar o fluxo de terra, esburacadas (Figura 4) e em épocas de
de geoturistas interessados em conhecer o chuva ficam intransitáveis.
patrimônio geológico de São José de Itaboraí. Os transportes (Figura 3) foram
Posteriormente, se acreditavam que o geoturismo considerados em 22,2% das 284 citações como
poderia ocasionar melhorias na infraestrutura serviços que precisam de aprimoramento. Apenas
da região. Por fim, todos os entrevistados que uma linha de ônibus circula na comunidade (viação
acreditavam no geoturismo, foram indagados Rio Ita), sendo que os ônibus estão em péssimas
sobre o que precisava melhorar em infraestrutura condições, completamente desconfortáveis, sujos
para atender aos visitantes e consequentemente e são poucos os horários disponíveis. O comércio,
aprimorar a qualidade de vida da população local. mesmo não sendo um tipo de infraestrutura,
obteve 10,6% das 284 citações, demonstrando a
Perfil dos entrevistados precariedade deste setor econômico em São José
Dentre os 100 entrevistados 50% eram de Itaboraí. O saneamento básico, que consiste
do sexo masculino e 50% do sexo feminino. A no tratamento de esgotos e na distribuição de
faixa etária destes indivíduos variou de 15 a acima água abrangeu 8,1% das citações. São José de
de 70 anos, possibilitando a opinião de pessoas Itaboraí possui problemas relacionados à falta
com diferentes estilos de vida e percepções sobre de água encanada. A distribuição é feita pela
o espaço geográfico de São José de Itaboraí. COOPERÁGUA (cooperativa de moradores,
Analisou-se que o nível de escolaridade dos sem fins lucrativos) através da retirada de água
participantes é baixo e a população local possui da lagoa (Figura 2). No entanto, não se sabe
um reduzido poder econômico. Verificou-se que qual tratamento é realizado com essa água. A
85% dos entrevistados residem em São José de questão da saúde obteve 9,5% das 284 citações. A
Itaboraí e o restante em São Gonçalo, São José comunidade possui um posto de saúde, mas que
de Itaboraí, Cabuçu, centro de Itaboraí, Niterói e não funciona 24 horas, sendo carente de médicos
Maricá. e enfermeiros.
A iluminação pública abrangeu 4,6% das
Revitalização do parque, indicações. Os entrevistados reclamaram que
aumento do geoturismo e as ruas são muito escuras à noite. A educação
melhorias em infraestrutura obteve 4,2% das 284 citações. Os participantes
comentaram da deficiência do ensino local.
Averiguou-se que 95% dos 100
O tópico segurança teve 3,9% das indicações.
entrevistados acreditam no aumento do fluxo de
Os entrevistados explanaram a necessidade de
geoturistas por meio da concretização do projeto
construção de um posto policial em São José de
de revitalização do Parque Paleontológico de São
Itaboraí, pois só existe um batalhão de polícia no
José de Itaboraí. Dentre estes 95 entrevistados,
bairro vizinho Cabuçu. A necessidade de áreas de
95,8% creem que com a revitalização do parque
lazer compreendeu 2,1% das citações. O lazer mais
paleontológico e aumento do geoturismo
tradicional do bairro é o futebol aos domingos
melhorias em infraestrutura serão geradas na
entre times da região (Figura 3). Um total de 0,7%
região.
das 284 citações dos entrevistados referiu-se a
urgência de hospedagens em São José de Itaboraí.
Percepção local dos tipos O tópico necessidade de telecomunicações teve
de infraestrutura que 0,7% das citações. Os participantes comentaram
necessitam de melhorias da carência de antenas de celular.
A Figura 3 apresenta as opiniões dos
entrevistados sobre a infraestrutura necessária para
atender ao geoturismo e melhorar a qualidade de CONCLUSÕES
vida das populações locais. Nesse sentido, 33,4% Pode-se concluir que existe uma ampla
das 284 citações dos entrevistados se referem à área de ação no que diz respeito à melhoria da
necessidade de pavimentação das estradas que dão

149
infraestrutura de São José de Itaboraí para atender Itaboraí 75 anos de História e Ciência. Rio
ao geoturismo e aprimorar a qualidade de vida da de Janeiro, Serviço Geológico do Brasil –
população local. Apenas a revitalização do parque CPRM. 81 p.
paleontológico não será capaz de intensificar o
número de visitantes, tornando-se necessária a SANTOS, W.F.S. 2010. Diagnóstico para o
elaboração de projetos que incentivem a aplicação uso geoturístico do patrimônio geológico de
de capital privado integrado a investimentos São José de Itaboraí – Itaboraí (Estado do
públicos, para benefícios em infraestrutura Rio de Janeiro): subsídio às estratégias de
na região. Dessa forma a proposta do parque geoconservação. Programa de Pós-Graduação
paleontológico poderá ter sucesso. em Geologia, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 252 p.

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Dissertação de Mestrado, 155 p.
BERGQVIST, L.P.; MOREIRA, A.L. &
PINTO, D.R. 2006. Bacia de São José de

Figura 1. Localização do parque paleontológico com destaque para a bacia sedimentar.

150
Figura 2. Bacia de São José de Itaboraí. Note o lago formado na depressão (junho, 2011).

Figura 3. Opiniões dos entrevistados sobre o que precisa melhorar em infraestrutura em São José de Itaboraí para
atender ao geoturismo.

151
Figura 4. Estrada de acesso ao parque paleontológico. Note que a via é de terra e está esburacada (junho, 2011).

152
S-03:
Ibero-Americano de
Paleontologia
O NATURALISTA SIMÃO PIRES SARDINHA E O MONSTRO DE
PRADOS: PRIMEIRO RELATÓRIO SOBRE UM FÓSSIL BRASILEIRO
Antonio Carlos Sequeira Fernandes1 (fernande@acd.ufrj.br), Miguel Telles Antunes2 (migueltellesantunes@gmail.com),
José Manuel Brandão3 (josembrandao@gmail.com), Renato Rodriguez Cabral Ramos1 (rramos@mn.ufrj.br)
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional;2Academia das Ciências de Lisboa;3Centro de Estudos de História e
Filosofia da Ciência, Universidade de Évora

RESUMO INTRODUÇÃO
Descoberto em uma lavra nas cercanias No rastro da mineração de ouro no
do pequeno arraial de Prados na comarca do rio território brasileiro, as últimas décadas do
das Mortes, o esqueleto de um enorme animal século XVIII foram marcadas pelo encontro
desconhecido dos habitantes locais foi alvo do de ossadas fósseis de animais de grande porte,
interesse do governador da capitania de Minas representantes da megafauna pleistocênica. Estes
Gerais, Luis da Cunha Menezes, em 1785. Para primeiros achados ficaram registrados nos relatos
estudá-lo, o governador enviou o sargento-mor de viagens de exploração como a de Alexandre
e naturalista Simão Pires Sardinha que elaborou Dias Ferreira (vide Ferreira, 1972) ou através de
um primoroso relatório sobre a ocorrência do ofícios encaminhados a Lisboa, normalmente
gigantesco animal, posteriormente conhecido acompanhados de parte dos exemplares coletados,
como o “monstro de Prados”. Pouco conhecido já que o governo português, através do primeiro-
da comunidade paleontológica brasileira, o ministro do Reino, Martinho de Melo e Castro,
relatório revela a importância de Simão Pires e também seu sucessor, o Conde de Linhares,
Sardinha como um naturalista atualizado com possuía um grande interesse pelo conhecimento
o conhecimento científico da época, das últimas científico do Brasil. De todos os registros, nada se
descrições de fósseis à Química pré-Lavoisierense. compara à importância dada por diversos autores
Palavras-chave: Simão Pires Sardinha, desde meados do século XIX (e.g., Burlamaque,
Monstro de Prados, século XVIII 1855; Varnhagen, 1857; Vale, 1985; Barbosa,
1995; Lopes, 2005) ao ofício encaminhado em
1785 por Luis da Cunha Menezes, governador
ABSTRACT da capitania de Minas Gerais, a Melo e Castro,
After being found in a mining site in the que relata o achado de um esqueleto de grandes
surroundings of a small village named Prados, dimensões nas cercanias de Prados. Entretanto,
located at the County of Rio das Mortes, the apesar da frequente alusão e transcrição do
skeleton of a huge animal yet unknown to local ofício do governador, o relatório de Simão Pires
inhabitants drew the attention of the captaincy Sardinha, que o acompanhava, careceu de uma
governor of Minas Gerais in 1785. In order análise detalhada quanto à famosa ocorrência,
to study it, he called the seargent-major and conhecida como o “monstro de Prados”. O resgate
naturalist Simão Pires Sardinha who wrote de suas informações, ressaltando o importante
an exquisite report on the occurrence of this trabalho de Simão Pires Sardinha, é o objetivo do
huge animal later known as the “monster of presente texto.
Prados”. This report, which is little known by
the Brazilian paleontological community, reveals
the importance of Simão Pires Sardinha as a O NATURALISTA
naturalist updated with the scientific knowledge Simão Pires Sardinha nasceu no Tejuco
at that time, from the last descriptions of fossils to (atual cidade de Diamantina) em 1751, fruto
the pre-Lavoisian Chemistry. da união da ainda escrava Chica da Silva com
Keywords: Simão Pires Sardinha, monster o médico português Manuel Pires Sardinha,
of Prados, 18th century seu proprietário. Embora não tenha assumido a
paternidade, Manuel Sardinha lhe concedeu a

155
alforria na pia batismal e, quatro anos depois, o tamanho do animal que possuía a ossatura,
nomeou como seu herdeiro. Em 1753, Chica da calculada em 56 palmos de comprimento e 46
Silva foi vendida ao contratador de diamantes palmos de altura (respectivamente 12,32 m e 10,12
português João Fernandes de Oliveira que logo m), medidas certamente exageradas. Sobre o tipo
depois a alforriou e com ela manteve longa relação. de animal, entretanto, Sardinha o atribuiu a um
Com o apoio do padrasto, Sardinha iniciou seus gigante, após considerá-los como restos humanos
estudos no Tejuco posteriormente concluiu seus com base nos dentes encontrados associados.
estudos em Lisboa, graduando-se em Artes. Sardinha deve ter reconhecido alguma semelhança
Ainda em Portugal “tornou-se sargento-mor com os dentes humanos, o que, descontadas as
das ordenanças das Minas Novas, em Minas dimensões, é verdade para os molares bunodontes
Gerais” (Furtado, 2003, p. 252). Eleito membro dos mastodontes, diferenciando-os radicalmente
correspondente da Real Academia das Ciências dos de grandes preguiças ou de grandes cetáceos,
de Lisboa em 22 de maio de 1780, publicou seu motivo pelo qual acredita-se pertencerem a um
primeiro trabalho em 31 de julho de 1782 sobre mastodonte.
as experiências realizadas com um modelo de No relatório Sardinha demonstrou
termômetro náutico pela Academia das Ciências ter ciência das descrições sobre ossos fósseis
no ano anterior (Sardinha, 1782). Em 1784, por filósofos da época como M. Gaillard de
retornou ao Brasil junto com a comitiva do Charentonneau, patrono da Botânica na França
governador Luís da Cunha Menezes que, então, (em 1773), Guyton de Morveau (em 1776),
o reputava como um grande naturalista (Furtado, “Robert de Paul de Simanon”(em 1780),“Berniard”
2003; Vale, 1985), certamente o motivo pelo qual (em 1782) e “Coudrenier” (s/d), entre outros, e,
indicou-o para o estudo do esqueleto encontrado também, dos processos de oxidação e redução
em Prados. então conhecidos como “teoria do flogisto”, já
que descreveu as espectaculares alterações da cor
(branco-azul forte) de fosfatos ao passarem de
O RELATÓRIO
meio redutor a meio oxidante.
Simão Pires Sardinha elaborou um Ao indicar a localização da lavra, Sardinha
relatório primoroso sobre a ocorrência em Prados fez referências a outras ocorrências de fósseis em
(Sardinha, 1785). Incumbido pelo governador lavras na região há pelo menos quatro ou cinco
de examinar a ossada, deslocou-se ao local da anos, mas cujos achados não ficaram preservados.
ocorrência, uma lavra referida ao “padre Joaquim Ciente das descobertas, Sardinha visitou pelo
Lopes”, verificando as características litológicas menos uma das lavras, ao que tudo indica junto
do sítio em questão, conhecido como “Coqueiro ao rio das Mortes, mas, lá, nada mais encontrou.
do Córrego da Beta” (provavelmente “da Bêta”, Tal material deve ter sido descartado durante as
antigo termo mineiro para filão aurífero) e escavações e, assim, muitas ossadas devem ter se
situado ao sul de Prados. Com a indicação da perdido.
espessura do desmonte realizado, ressaltou a
litologia das camadas presentes, compostas por AGRADECIMENTOS
uma sequência de sedimentos argilosos: um solo
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
vegetal avermelhado, uma camada misturada de
Científico e Tecnológico (CNPq) pelo auxílio
argila esverdeada e branca, e uma terceira camada financeiro (Proc. 401762/2010-6/Edital
de argila preta onde se encontravam os ossos. Fortalecimento da Paleontologia Nacional e
Sobre sua ocorrência, relatou terem sido estes Proc. 301328/2009-9, Bolsa de Produtividade em
confundidos pelos escravos que trabalhavam na Pesquisa). A Bernardo Jerosh Herold (Academia
lavra como fragmentos de uma grande árvore das Ciências de Lisboa) pelos seus valiosos
enterrada e podre, a qual cortavam com golpes comentários a respeito de Simão Pires Sardinha.
de enxada. Situação semelhante deve ter ocorrido À Judite Alves (Museu Bocage/Museu Nacional
em outros achados que, consequentemente, de História Natural) e Isabel Amado (Arquivo
se perderam. Examinados os fragmentos por Histórico Ultramarino) pelo auxílio no acesso à
Sardinha, este confirmou a evidência do grande documentação original.

156
CONCLUSÕES LOPES, M.M. 2005. “Raras petrificações”:
registros e considerações sobre os fósseis na
Não existem notícias do atual paradeiro dos
América Portuguesa. In: CONGRESSO
ossos e dentes do “monstro de Prados” analisados
INTERNACIONAL ATLÂNTICO
por Sardinha e encaminhados a Portugal, devendo
DO ANTIGO REGIME: PODERES E
ter se perdido há um longo tempo. O conhecimento
SOCIEDADE, Lisboa, 2005. Actas, Lisboa,
de sua existência deve-se à preservação das duas
p. 1-17.
cópias do relatório do naturalista, presentes no
Museu Bocage/Museu Nacional de História SARDINHA, S.P. 1782. Observaçoens do
Natural da Universidade de Lisboa e no Arquivo Termometro do mar feitas conforme o
Histórico Ultramarino. Supõe-se que a cópia metodo, e invensam de Mr. Jaco Chrisostomo
presente na primeira instituição possa ser, quem Praetorium Capitam de Bombeiros ao
sabe, o relatório original de Simão Pires Sardinha, servisso de S.M.Fma. da Academia Real de
enquanto que a do Arquivo Histórico Ultramarino, Sciencias de Lisboa. In: PRAETORIUS, C.
onde se encontram os originais do ofício de Experiencias feitas com hum termometro
Luis da Cunha Menezes, tenha certamente sido n’huma viagem para o Brazil, pelo Snr.
escrita por um calígrafo. A ausência dos ossos Simão Pirez de Sardinha, socio da Academia
não permite a identificação definitiva do tipo das Sciencias de Lisboa, juntamente com as
de animal a que pertencia, muito provavelmente Resultas, que dellas se podem tirar. Lisboa,
um mastodonte pelas razões acima invocadas, Academia das Ciências de Lisboa, Ms. Azul,
mas seu relatório permite reconhecer um Simão 373, p. 244-248.
Pires Sardinha ciente das últimas divulgações da
ciência na Europa, tanto do conhecimento das SARDINHA, S.P. 1785. Descripção de huns
últimas descrições de fósseis, como da Química Ossos não conhecidos, que apparecerao em
pré-Lavoisierense. Simão Pires Sardinha era, Mayo de 1785 na Cappitania de Minas
certamente, um grande naturalista. Geraes do estado do Brazil. Lisboa, Arquivo
Histórico Ultramarino (AHU_CU_011,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cx. 123, D. 9762) e Museu Bocage/Museu
Nacional de História Natural (Rem. 579).
BARBOSA, W.A. 1995. Dicionário histórico-
geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, VALE, D.C. 1985. Memória Histórica de Prados.
Itatiaia, 382 p. Belo Horizonte, D.C. Vale, 344 p.

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em vários pontos do Brasil. Trabalhos vol. 2, 484 p.
da Sociedade Vellosiana (Bibliotheca
Guanabarense), p. 1-16.

FERREIRA, A.R. 1972. Viagem Filosófica pelas


capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato
Grosso e Cuiabá. Memórias: Zoologia e
Botânica. Brasília, Conselho Federal de
Cultura, 246 p.

FURTADO, J.F. 2003. Chica da Silva e o


contratador dos diamantes. O outro lado do
mito. São Paulo, Companhia das Letras, 403
p.

157
S-04:
Microbialitos
ANÁLISE DOS SEDIMENTOS ASSOCIADOS AOS
ESTROMATÓLITOS DA LAGOA SALGADA/RJ
Fresia Soledad Ricardi Torres Branco1 (fresia@ige.unicamp.br), Flavia Callefo1 (flacallefo@yahoo.com.br),
Rafael Amaral Cataldo1 (rac_oasis@yahoo.com.br)
1
Departamento de Geologia e Recursos Naturais, I. Geociências – UNICAMP

RESUMO número e granulometria correspondente a cada


amostra, para posteriores estudos relacionados
Estromatólitos são definidos como
à identificação e origem marinha e/ou lagunar
estruturas biossedimentares laminadas atribuídas
desses elementos. Resultados preliminares
à união e aprisionamento de sedimentos pela ação
mostram que as amostras são constituídas
química microbiana em ambientes aquáticos rasos,
principalmente por quartzo, variando de sub-
principalmente marinhos, estando presentes desde
angular a sub-arredondados, com presença rara de
o Arqueano até os dias atuais. Para este trabalho
feldspatos (microclínio). A presença de calcita foi
foram coletadas amostras de estromatólitos junto
confirmada através da reação das amostras com
à Lagoa Salgada, localizada entre os municípios
HCL diluído (10%). Obsevou-se também nas
de Campos dos Goyatacazes e São João da Barra,
lâminas delgadas a presença de microgastrópodes.
no estado do Rio de Janeiro (Silva e Silva et al.,
Notou-se também laminações concêntricas
2002; Srivastava, 2002), com o objetivo de separar
em torno de grãos de quartzo caracterizando a
e identificar os elementos biogênicos presentes
presença de oólitos, porém de ocorrência muito
nos sedimentos retirados de seus interstícios,
rara. As análises junto às lâminas secas mostraram
pretendendo-se obter dados que possam ser
que os biogênicos são formados por fragmentos de
utilizados na reconstituição do paleoambiente da
conchas de microgastrópodes da espécie Heleobia
lagoa, bem como as condições que propiciaram
australis d ‘ Orbigny, 1835, bivalves, escamas de
a formação destes estromatólitos. Portanto, a
peixes, espinhos de ouriço-do-mar, briozoários,
importância deste estudo encontra-se na possível
crustáceos da classe Malacostraca, crustáceos da
correlação dos resultados obtidos junto a estes
classe Ostracoda, foraminíferos, carófitas e outros
estromatólitos com reservatórios carbonáticos
elementos ainda não identificados. Também
de origem microbiana. O método utilizado
foram encontrados fragmentos de carapaça dos
baseou-se no recolhimento de sedimentos junto
crustáceos citados e de outros artrópodes não
aos interstícios dos estromatólitos, que foram
identificados. Na Lagoa Salgada foi constatada a
divididos, após peneiramento, em frações grossa
ocorrência de um crustáceo da família Talitridae,
(> 1 mm), média (entre 1 mm e 0,5mm) e fina
possivelmente pertencentes ao gênero Orchestia
(< 0,5mm). Para todas as frações foram coletadas
(Ordem Amphipoda, Subordem Gammaridae),
porções representativas dos taxa observados,
alguns conhecidos popularmente como pulgas
as quais foram acomodadas em stubs de 2 mm
de praia. Estes crustáceos encontravam-se
no caso da fração grossa, e em lâminas secas
abundantes na areia e nos intestícios dos
no caso das frações médias e finas. Também
estromatólitos. Entre os crustáceos malacostracos
foram confeccionadas lâminas petrográficas
foram identificadas três ordens: Tanaidacea,
com intuito de auxiliar no estudo mineralógico
Amphipoda (família Gammaridae, Cordoso&
e na identificação dos biogênicos presentes.
Veloso, 1996; Lowry&Springthorpe, 2001; Rosa
Estas lâminas foram impregnadas com epoxy
et al., 2007) e Isopoda (família Sphaeromatidae).
azul para facilitar a localização e identificação
*Projeto financiado pela Rede de caracterização
dos espaços porosos. Foi utilizado microscópio
e modelagem de reservatórios (CARMOD),
estereoscópico (aumento de 8 a 32 x) para a
PETROBRAS.
análise dos minerais e biogênicos, os quais foram
separados por sua classificação biológica e colados Palavras-chave: Lagoa Salgada,
em celas numeradas de lâminas identificadas com Estromatólito, Biogênicos

161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA e SILVA, L.H; IESPA, A.A.C &
DAMAZIO-IESPA, C.M. 2008.
CARDOSO, R.S. & VELOSO, V.G. Composição dos Estromatólitos
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LOWRY, J.K. & SPRINGTHORPE, R.T. D.A.; QUEIROZ, E.T.; WINGE, M.
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do Brasil: Distribuição espacial e abundância.
Brazilian Journal of Aquatic Sciences and
Technology, 11(1): 37-41.

162
BIOMARCADORES DA FAZENDA CRISTAL, MESOPROTEROZOICO
DA CHAPADA DIAMANTINA, BRASIL
Frederico Alves dos Santos Lopes1 (fred.alves@lafo.geologia.ufrj.br), Luiz Guilherme Costa dos Santos1 (guilhermecostaj@gmail.com),
Milton Cézar da Silva1 (milton@lafo.geologia.ufrj.br), Taís Freitas da Silva1 (taisfreitas@lafo.geologia.ufrj.br),
João Graciano Mendonça Filho1 (graciano@geologia.ufrj.br), Narendra Kumar Srivastava2 (narendra@geologia.ufrn.br)
Laboratório de Palinofácies e Fácies Orgânica - Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2Universidade Federal do Rio Grande do
1

Norte

RESUMO Gerais, seus limites são delimitados pelos faixas


dobrados durante a orogênese brasiliana: as faixas
O Cráton do São Francisco abrange
Riacho do Pontal e Sergipano a faixa Araçuaí, faixa
os estados da Bahia e de Minas Gerais e
Brasília e a faixa Rio Preto (Barbosa et al., 2003).
contém depósitos sedimentares que datam do
Neste Cráton estão depositadas rochas Paleo a
Proterozoico. A Formação Caboclo é conhecida
Neoproterozóicas em duas principais bacias, a do
por seus estromatólitos, com destaque para os
Espinhaço e São Francisco, podendo-se também
descritos na Fazenda Cristal, Estado da Bahia.
considerar o nome Espinhaço - São Francisco
Os biomarcadores, também chamados de fósseis
(Danderfer et al., 2009). A bacia do Espinhaço
químicos, são uma ferramenta útil para auxiliar
- São Francisco evoluiu durante um intervalo de
a compreensão de paleoambientes, podendo
tempo superior a 1 bilhão de anos (Dominguez,
trazer importantes informações onde não ocorre
1993).
conteúdo fossilífero. O objetivo deste estudo é
verificar o conteúdo de carbono orgânico total A Formação Caboclo compõe junto com as
(COT) e enxofre total (ST) bem como analisar Formações Tombador e Morro do Chapéu o Grupo
os biomarcadores (fósseis químicos) extraídos dos Chapada Diamantina e integra o Supergrupo
estromatólitos estratiformes presentes na Fazenda Espinhaço de idade Mesoproterozóica (Rocha,
Cristal. 1998). De acordo com Pedreira da Silva (1994)
a Formação Caboclo abrange sedimentos de
Palavras-chave: Biomarcadores,
origem marinha, planície de maré e plataformais
Estromatólitos, Fazenda Cristal
e importantes ocorrências de carbonatos na forma
de biohermas de estromatólitos ocorrem nessa
ABSTRACT formação. O trabalho de Babinski et al.(1993)
São Francisco Craton covers the states of datou as rochas do topo da Formação Caboclo,
Bahia and Minas Gerais and contains sedimentary obtendo para tais idades de 1140 ± 140Ma.
deposits of Proterozoic age. Caboclo Formation Estromatólitos são estruturas
is known for the stromatolites, especially those biossedimentares formadas pelo aprisionamento
described at Fazenda Cristal, Bahia. Biomarkers, e precipitação de sedimentos induzidos por
also known as chemical fossils are a useful tool organismos não formadores de estruturas
for comprehension of paleoenvironments, they esqueletais (Hofmann, 1973).
can reach information where fossils are absent. A Fazenda Cristal é uma localidade
The aim of this study is to verify the total organic conhecida e já previamente descrita por
carbon (TOC) and total sulfur (ST) and analyze Srivastava& Rocha (2002), sendo um importante
the biomarkers (chemical fossils) extracted from sítio para o estudo e preservação das construções
the stratiformisstromatolites of Fazenda Cristal. estromatolíticas no território brasileiro.
Keywords: Biomarkers, Stromatolites, Entretanto, os estudos já realizados na localidade
Fazenda Cristal não encontraram microfósseis nessas estruturas.
Biomarcadores são fósseis moleculares de
origem lipídica e podem ocorrer em sedimentos,
INTRODUÇÃO rochas e óleos. O estudo dos biomarcadores é uma
O Cráton do São Francisco abrange ferramenta utilizada para elucidar: as condições
principalmente os estados da Bahia e de Minas paleoambientais, diagenéticas, evolução térmica,

163
biodegradação e até mesmo litologia da rocha RESULTADOS E DISCUSSÃO
fonte (Peters&Moldowan, 1993), podendo ficar
As três amostras analisadas revelaram
preservados por até bilhões de anos (Brocks et al.,
baixos conteúdos de carbono orgânico total e
1999). O estudo dos biomarcadores em rochas do
enxofre preservados (0,05%/0,01%; 0,06%/0,02%
Proterozoico pode contribuir para o entendimento
e 0,08%/0,03). A razão Pristano/Fitano (Pr/Fi) e
da evolução biológica na Terra primitiva.
a predominância de de n-alcanos de baixa massa
Este trabalho teve por objetivo verificar molecular, sugere que o ambiente de deposição dos
o conteúdo de carbono orgânico total e enxofre estromatólitos estratiformis da Formação Caboclo
total preservado nesses estromatólitos assim como fora um ambiente marinho, possivelmente com
analisar os fósseis moleculares (biomarcadores) condições redutoras, por vezes oxidante, pois em
presentes em três amostras provenientes da uma amostra o valor da razão Pristano/Fitano
Fazenda Cristal. elevou-se até próximo a 1 (0,93).
No cromatograma de massas do ion
MATERIAL E MÉTODO m/z 191 foi observada a predominância H29
Para o presente estudo foram utilizadas e H30 (terpanospentacíclicos). A presença de
três amostras de estromatólitos estratiformes hopanos estendidos H31-H35, possivelmente
retiradas dos afloramentos da associação provém de cianobactérias e bactérias. A presença
de litofáciesLaminitoAlgal-Calcarenito- do gamacerano indica um ambiente de coluna
Estromatólito Colunar em diferentes horizontes d’água estratificada (Sinninghe-Damsté et al.,
estratigráficos com auxílio de furadeira equipada 1995). Foi identificado o gamacerano nas três
com broca circular de extremidade diamantada amostras, porém em baixas concentrações. Não
com sistema de resfriamento a água. Esse tipo de estando muito abundante, a simples presença do
amostragem resulta em um plug de rocha. gamacerano sugere que a salinidade no ambiente
não era muito elevada. Peng et al.(1998),
Em laboratório, os plugs de rocha foram
que analisaram rochas do Paleoproterozoico,
triturados e posteriormente o material foi pesado,
sugerem que o precursor do gamacerano pode
e um montante de 50g de rocha foi separado para
ser bacteriano, podendo-se inferir portanto que a
a extração dos biomarcadores, enquanto 2g de
fonte de gamacerano na Formação Caboclo pode
rocha foram encaminhados para determinação
ser bacteriana.
do carbono orgânico total (COT) e enxofre (S)
utilizando-se o aparelho WR-12 LECO. A razão Hopanos/Esteranos (6,08; 6,48;
6,18) é indicativa que ocorria a predominância
Para a obtenção dos biomarcadores foi
de componentes microbianos, com uma menor
utilizado sistema de extração por “sohxlet”, no
contribuição de componentes de origem de
qual é usado um conjunto sohxlet – condensador –
eucariotos (Peters&Moldowan, 1993).
balão. O betume é extraído com solvente orgânico
(diclorometano) por oito horas. O extrato obtido Na análise de esteranos observou-se a
foi posteriormente submetido à cromatografia predominância de C29 esterano de configuração
líquida (CL) para separação dos hidrocarbonetos R, sugerindo maior contribuição é proveniente
saturados, aromáticos e compostos polares (NSO). de algas verdes (C29), A baixa concentração
de diasteranos confirma o caráter carbonático
Para o presente trabalho a fração saturada
do ambiente, com baixa quantidade materiais
foi analisada por cromatografia gasosa acoplada
silicáticos.
à espectrometria de massas (CG-EM), em
equipamento Agilent Technologies modelo 7890
e espectrômetro de massas triplo quadrupolar CONCLUSÕES
modelo 7000B no Laboratório de Palinofácies A análise dos biomarcadores extraídos dos
e Fácies Orgânica (LAFO/UFRJ). Foram estromatólitos estratiformes da Fazenda Cristal
analisados os íons m/z 85 para alcanos, m/z 191 sugere que os mesmos foram depositados em um
para terpanos e hopanos e m/z 217 e 218 para ambiente marinho de deposição carbonática e
esteranos e diasteranos. salinidade normal para ambientes marinhos em

164
condições redutoras a levemente oxidantes com J.M.L. & MISI A. (Eds). Sociedade
baixa quantidade de sedimentação silicática. A Brasileira de Geologia, 1993, 213p.
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O CRÁTON DO SÃO FRANCISCO:
TRABALHOS APRESENTADOS NA
REUNIÃO PREPARATÓRIA DO II
SIMPÓSIO SOBRE O CRÁTON DO
SÃO FRANCISCO. DOMINGUEZ

165
ESTRUTURAS E CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS DE FÁCIES
MICROBIANA DA FORMAÇÃO TERESINA, NORTE DO PARANÁ
Johanna Méndez Duque1 (johanamendezduque@usp.br), André Oliveira Sawakuchi1 (andreos@usp.br)
1
Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo

RESUMO Neste trabalho, é descrito um intervalo


continuo de calcário com feições estromatolíticas
No município de Santo Antônio da Platina,
estratiformes da Formação Teresina no município
no Estado Brasileiro do Paraná, afloramentos
de Santo Antônio da Platina (PR).
da Formação Teresina revelaram a presença
de estratomatólito estratiforme (bioestroma).
A estrutura está composta por alternância de GEOLOGIA
laminas de calcita e dolomita, com concentrações A Formação Teresina (Neopermiano da
de conchas de ostracodes e sedimentos terrígenos. Bacia do Paraná) na área de estudo é composta
Se infiere que o Arco de Ponta Grossa teria por siltitos e arenitos finos com laminação
influenciado o desenvolvimento de estromatólitos heterolítica, calcários (calcilutitos, coquinas,
na região de estudo. calcarenitos oolíticos e estromatólitos) e silexitos.
Palavras-chave: estromatólitos, calcita, O nível de estromatólito foi identificado
dolomita em afloramento do km 319 da rodovia PR-092,
próximo ao trevo de Santo Antônio da Platina –
ABSTRACT Joaquim Távora. No local de estudo, esta fácies
apresenta geometria tabular, 53 cm de espessura e
In the municipality of Santo Antônio da
está associada a fácies de arenitos com laminações
Platina, in the Brazilian State of Paraná, outcrops
heterolíticas, coquinas e níveis de silexito, os quais
of the Teresina Formation (Permian) revealed the
são interpretados como evaporitos substituídos
presence of stratiform stromatolites. The structure
por sílica (Méndez et al., 2011).
is composed of alternating calcitic and dolomitic
laminae, the latter possessing concentrations
of ostracode shells, together with terrigenous MATERIAIS E MÉTODOS
sediments. It is inferred that the Ponta Grossa O estudo petrográfico envolveu a confecção
Arch may have influenced the development of de17 lâminas delgadas a partir de amostras
stromatolites in the study area. coletadas no afloramento. As lâminas foram
Keywords: stromatolite, calcite, dolomite impregnadas com resina epóxi para caracterização
da porosidade. Foi realizado o tingimento das
INTRODUÇÃO seções delgadas com o corante Alizarina, para
discriminar minerais carbonáticos (calcita,
Estromatólitos são estruturas sedimentares
calcita ferrosa, dolomita e dolomita ferrosa). As
resultantes da captura e precipitação de sedimentos
laminas delgadas foram submetidas analizadas em
produzida por comunidades microbiais. Os
microscópio óptico com luz transmitida branca e
ambientes de formação dos estromatólitos se
epifluorescência com luz ultravioleta.
caracterizam por gradientes químicos altos,
abundância de microorganismos fototróficos e a
separação de populações microbiais em diferentes DESCRIÇÃO
camadas (Riding & Awramik, 2000), sendo a Os estromatólitos são formados por
formação dos estromatólitos pela precipitação de intercalações de lâminas micrométricas de calcita
calcita é influenciada pela atividade bacteriana. e dolomita. A disposição das bandas de calcita
e dolomita pode ser horizontal a subhorizontal,

166
ondulada ou caótica (sem laminação definida). As do APG, na borda sul da depressão NW. Nesta
laminações horizontais, subhorizontal e ondulosas área, a Formação Teresina apresenta uma maior
variam entre 10 e 700 μm. As lâminas onduladas freqüência e espessura das fácies evaporíticas e
estão associadas à presença de nódulos de sílex carbonáticas. Isto seria produto da restrição da
(Figura 2B). circulação e do aporte terrígeno no Mar Passa
As lâminas de dolomita (de cor amarelo Dois, resultantes da influênçia do APG sobre o
com polarizadores paralelos e cruzados) paleorelevo da bacia (Méndez et al, 2011).
apresentam maior concentração de sedimentos
terrigenos que as lâminas de calcita (marrom
CONCLUSÕES
a roxo). Entre os sedimentos terrígenos, foram
reconhecidos grãos angulosos a subangulosos A presença de estromatólitos na região
de quartzo, plagioclásio e muscovita, com de estudo estaria associada à influência do APG
granulação entre 5 e 40 μm (Figura 2A). Foram na sedimentação da BP durante o Permiano. A
reconhecidos níveis contínuos compostos por área estudada estaria situada na borda sul da sub-
conchas de ostracodes, a maioria desarticulada, bacia norte da BP, com profundidade batimétrica
com a convexidade para cima e quase horizontais reduzida.
(Figura 2C). Esta conchas estão concentradas A elevada continuidade lateral das fácies
principalmente em níveis de dolomita. de estromatólitos indicariam condições de
A microscopia sob luz ultravioleta revelou alta luminosidade e salinidade e baixa ação de
a presença de níveis com maior concentração de correntes, em zona próxima à borda do corpo de
matéria orgânica (Figura 3). água.
A maior concentração de sedimentos
terrígenos nas lâminas de dolomita poderia
DISCUSSÃO sugerir uma relação entre a atividade das bactérias
A extensa continuidade lateral dos e o aprisionamento destes sedimentos na esteira
estromatólitos estratiformes estudados indicaria microbiana, e a origem da dolomita estaria
condições de alta luminosidade em águas influenciada também a esta atividade, mas esta
rasas calmas e limpas (baixo aporte terrígeno). hipótese requer um estudo mais profundo.
Entretanto, a intercalação com fácies terrígenas
indica que estas condições seriam temporárias.
AGRADECIMENTOS
A variação do conteúdo de sedimentos
terrígenos, principalmente nas lâminas de Os autores agradecem ao Professor Dr.
dolomita, estaria relacionada com mudanças do Thomas Rich Fairchild e Felipe Meira por suas
regime hidrodinâmico. Dentre os bioclastos, observações e suas sugestões. Este trabalho
foram reconhecidos somente ostracodes. Isto teve o apoio financeiro da FAPESP (processo:
indicaria que a variedade faunistica era baixa, 09/52270-6)
provavelmente pela alta salinidade.
Desde o Carbonífero, o Arco de Ponta REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Grossa (APG) teria atuado como uma barreira
geográfica que dividiu a Bacia do Paraná (BP) BEURLEN, K. 1955. As formações gondwânicas
em duas depressões, uma ao sul e outra a norte. do sul do Estado do Paraná. DNPM, DGM,
Durante o Neopermiano, a sedimentação na Bol. 153, 52p.
região ao norte do Estado do Paraná e sudeste
BEURLEN, K. 1957. Faunas salobras fósseis e o
do Estado de São Paulo foi afetada pelo Arco
tipo paleogeográfico das faunas gondwânicas
de Ponta Grossa (APG). Isto teria provocado o
do Brasil. Anais da Academia Brasileira de
isolamento da porção do Mar Passa Dois (Beurlen,
Ciências. 29 (2): 229-241.
1955; 1957) localizada ao norte do APG.
Durante o Neopermiano, a região de estudo MÉNDEZ, J.; SAWAKUCHI, A. & RICO, J.
se encontrava próxima ao limite setentrional 2011. Influência do Arco de Ponta Grossa

167
sobre a distribuição das fácies evaporíticas RIDING, R. & AWRAMIK, S. 2000. Microbial
da Formação Teresina (Neopermiano da Sediments. Springer
Bacia do Paraná). In: SNET, XIII Simpósio
Nacional de Estudos Tectônicos, Campinas,
Anais, Arquivo digital.

Figura 1. Afloramento do nível de estromatólito estudado.

Figura 2. Níveis mais ricos em m matéria orgânica alternam-se com níveis mais ricos em calcita e dolomita. (A) e (C)
foram tomadas sob luz ultravioleta. (B) e (D) com luz transmitida e polarizadores plados.

168
Figura 3. (A) Intercalação de lâminas de calcita (Ca) e dolomita (Do). Polarizadores cruzados. (B) Deformação das lâminas
por nódulos de sílex (N). Polarizadores paralelos. (C) Conchas de ostracodes em lâminas de dolomita. Polarizadores
Paralelos. (D) Deformação das lâminas por nódulos de sílex (N) e ostracode substituído por quartzo (Os). Polarizadores
cruzados. (E) Laminação ondulosa a subhorizontal em amostra.

169
ESTRUTURAS SEDIMENTARES MICROBIANAS NA
FORMAÇÃO SERGI, BACIA DO RECÔNCAVO, BRASIL
Maiana Cláudia Kreff Avalone1 (mayavalom@gmail.com), Leonardo Borghi1 (lborghi@geologia.ufrj.br),
Anderson Iespa1 (iespa.bio@uol.com.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia
1

RESUMO passando normalmente desapercebidas em estudos


sedimentológicos e estratigráficos de detalhe.
Estruturas microbiais em sedimento e
A formação sob estudo envolve a deposição de
rochas sedimentares são pouco conhecidas por
arenitos em antigos ambientes de sedimentação
geólogos e paleontólogos no país. O objetivo
eólicos durante o neojurássico, onde a presença de
do presente trabalho é reconhecer as estruturas
água é discutível, em função da possibilidade de
microbianas presentes na Formação Sergi, na Bacia
modelos deposicionais eólicos secos ou úmidos
do Recôncavo, e através desse reconhecimento
(q.v. Torres Ribeiro, 2003).
inferir sobre seu significado paleoambiental e
tafonômico. Esses microbiais formam o que é chamado
de “esteira microbiana” ou “esteira algal” e liberam
Palavras-chave: Miss, Microbiais,
uma substância polimérica extracelular (EPS)
Formação Sergi
que proporciona maior resistência ao sedimento
contra agentes erosivos. A presença de tais
ABSTRACT estruturas em rochas da Formação Sergi foi
Microbial structures in sediments and apontada recentemente pelos trabalhos de Borghi
sedimentary rocks are poorly known by geologists & Paula-Freitas (2010) e de Carvalho et al (2010).
and paleontologists in the country. The objective Todavia, tais estruturas são pouco conhecidas
of this work is to recognize microbial structures pelos geólogos e mesmo por paleontólogos no
present in the Formation Sergi,in Recôncavo país, passando normalmente desapercebidas
Basin, and through that recognition infer its em estudos sedimentológicos e estratigráficos
meaning paleoenvironmental and taphonomic. de detalhe. A formação sob estudo envolve a
Keywords: Miss, Microbially, Formation deposição de arenitos em antigos ambientes de
Sergi sedimentação eólicos durante o neojurássico,
onde a presença de água é discutível, em função
da possibilidade de modelos deposicionais eólicos
INTRODUÇÃO secos ou úmidos (q.v. Torres Ribeiro, 2003).
Microbially Induced Sedimentary
Structures (MISS, cf. Noffke et al. 2001) são CONCLUSÕES
estruturas primárias em rochas sedimentares
formadas pela interação entre fatores físicos e Tais estruturas, então, podem ser a
microbiais em sedimento siliciclástico (Noffke, N., chave para esclarecer, em termos tafonômicos
2010). Esses microbiais formam o que é chamado e paleoambientais, este problema, bem como
de “esteira microbiana” ou “esteira algal” e liberam contribuir para aspectos geológicos de rocha
uma substância polimérica extracelular (EPS) que reservatório, já que a Formação Sergi é um
proporciona maior resistência ao sedimento contra importante reservatório de petróleo, e podendo
agentes erosivos. A presença de tais estruturas estender essa mesma linha de pesquisa a Formação
em rochas da Formação Sergi foi apontada Botucatu, que é análoga e correlata, de água
recentemente pelos trabalhos de Borghi&Paula- (Aquífero Guarani).
Freitas (2010) e de Carvalho et al (2010). Todavia,
tais estruturas são pouco conhecidas pelos
geólogos e mesmo por paleontólogos no país,

170
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NOFFKE, N. 2010. Geobiology – Microbial
mats in sandy deposits from the Archean era
BORGHI, L. & PAULA-FREITAS, A.B.L. to today. Springer, 193p.
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in some distinct siliciclastic depositional NOFFKE, N.; GERDS, G.; KLENKE, T. &
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SEPM Field Conference Microbial Mats in induced sedimentary strutures – a new
Sandy Deposits (Archean to Today), Denver, category within the classification of
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CARVALHO, I.S.; BORGHI, L. & 649-656.
LEONARDI, G. 2010. Microbial mat
preservation of dinosaur tracks from the RIBEIRO, M.T. 2002. Fácies sedimentares e
Sousa Basin (Lower Cretaceous, Brazil) In: arquitetura deposicional da Formação Sergi
International Sedimentological Congress, ( Jurássico Superior), bacia do Recôncavo.
18, p.226. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação
em Geologia) - Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Agência Nacional do Petróleo.

171
EXPLORING THE EARLIEST SIGNS OF CELLULAR LIFE ON EARTH
Martin Brasier1 (martinbrasier@yahoo.co.uk)
1
Department of Earth Sciences, South Parks Road, Oxford, OX1 3AN,UK

ABSTRACT pathways using NanoSIMS, FIB and Laser


raman; and testing against the null hypothesis
In Darwin´s Lost World (Brasier 2009),
of an abiogenic origin. These approaches have
I have dared to suggest that the quality of fossil
allowed us to confirm the presence of hollow
preservation actually gets better not worse as we
cell lumens, carbonaceous cell walls enriched in
travel back in time, in part because biogeochemical
nitrogen, taphonomic degradation, organization
process in the Precambrian were much more
into chains and clusters, and 13C values ranging
conducive to early diagenesis of the sediment
from d 33 to 46 PBD. All this provides evidence
surface, and hence to cellular preservation. It
for an early start to sulphur-metabolising bacteria
was evolution of the through-gut during the
along shorelines of the early Earth. By this time,
Cambrian explosion that progressively destroyed
therefore, life was thriving on the beach.
high quality preservation of cells, except in some
marginal habitats. The Precambrian fossil record Confirmation of microbes living within
therefore tells us largely about the evolution pores of beach sandstones before 3400 Ma raises
of cells and their growing complexity (Brasier the possible potential of beach habitats for the
2012, Secret Chambers). In this talk, examples of origins of life itself. New evidence from both
remarkable cellular preservation in the Proterozoic modern and ancient rocks suggests that extensive
will be shown from current work on the Ediacara rafts of glassy, porous, and gas-rich pumice could
biota of Avalonia (an Amazonian terrane), as well have played a significant role in the origin of life
as from early terrestrial fossils  in ~1000 Ma lakes and provided a habitat for the earliest communities
of Scotland (Strother et al. 2011), and from the of microorganisms (Brasier et al. 2011b). This is
~1900 Ma Gunflint chert of Canada (work in because pumice has four remarkable properties.
progress). First, during eruption it develops the highest
surface-area-to-volume ratio known from any
Until recently, the quality of Archaean
rock type. Second, it is the only known rock type
fossil preservation has seemed poor by comparison
that floats as rafts at the air-water interface and
with younger examples from the Proterozoic.
then becomes beached in the tidal zone for long
Continuing work on the famous 3460 Ma
periods of time. Third, it is exposed to an unusually
old fossils from the Apex chert, for example,
wide variety of conditions, including dehydration.
confirms that they can best be interpreted as
Finally, from rafting to burial, it has a remarkable
mineral growths that grew within a deep, hot
ability to adsorb metals, organics, and phosphates
hydrothermal vein system (Brasier et al. 2011a).
as well as to host organic catalysts such as zeolites
One explanation for this poor early record could
and titanium oxides. The advantage of this
be that scientists have been looking in the wrong
hypothesis over some others is that pumice-like
places at cherts, which often have very complex
deposits are common in the early rock record.
histories rather than looking at less complex
This new pumice hypothesis can therefore be
siliceous sediments. A fine example of the latter is
tested not only in the laboratory but also in the
provided by the ~3430 Ma pyrite-rich sandstones
fossil record itself.
recently described from Strelley Pool in Western
Australia (Wacey et al. 2011). Arguably, these Keywords: bacteria, cellular life,
StrelleyPool fossils are the earliest cells in the Precambrian
fossil record for which there are multiple lines
of supporting evidence. This evidence includes
mapping and petrography of the habitat, at
scales from kilometres to nanometres; 3D
micromapping of microfossils and their metabolic

172
REFERENCES BRASIER, M.D.; MATTHEWMAN, R.;
MCMAHON, S. & WACEY, D. 2011b.
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University Press. In press. Publication in June non-marine eukaryotes. Nature, 473, 505-
2012. 509.
BRASIER, M.D.; GREEN, O.R.; LINDSAY, WACEY, D.; KILBURN, M.; SAUNDERS,
J.F.; MCLOUGHLIN, N.; STOAKES, M.; CLIFF, J. & BRASIER, M.D. 2011.
C.A.; BRASIER, A.T. & WACEY, D. Microfossils of sulphur metabolizing cells
2011a. Geology and putative microfossil in 3.4-billion-year-old rocks of Western
assemblage of the c. 3460 Ma Apex chert,¸ Australia. Nature Geosciences.
Chinaman Creek, Western Australia, Field
and Petrographic Guide. Geological Survey
of Western Australia, 200/7, 60pp.

Figure 1. (Fossil tubes) - Fossilized tubular structures esembling the sheaths of bacteria, from within chert-filled pores
in the ~3400 Ma Strelley Pool arenite. (Ruptured vesicle) - Spheroidal microfossils showing rupture of the cell wall from
within chert-filled pores in the ~3400 Ma Strelley Pool arenite.. (Attached cells) - Spheroidal cells attached to a sand grain
from ithin the ~3400 Ma Strelley Pool arenite. (Fossil tubes) - Fossilized tubular structures resembling the sheaths of
bacteria, from within chert-filled pores in the ~3400 Ma Strelley Pool arenite.

173
Figure 2. (Ruptured vesicle) - Spheroidal microfossils showing rupture of the cell wall from within chert-filled pores in
the ~3400 Ma Strelley Pool arenite.

Figure 3. (Attached cells) - Spheroidal cells attached to a sand grain from within the ~3400 Ma Strelley Pool arenite.

174
MICROBIAL CARBONATE SEDIMENTS
Robert Riding1 (rriding@utk.edu)
1
Department of Earth and Planetary Sciences, University of Tennessee, Knoxville, USA

ABSTRACT In addition to microfabric formation,


important questions surround macrofabric
Synsedimentary microbial carbonates
development, controls on spatial and secular
include products of bacterially bio-induced
abundance, and the record of metabolic
precipitation that form within sediments
development and seawater carbonate saturation
(e.g., at cold methane seeps), at the sediment-
state reflected in microbial carbonates.
water interface (e.g., in biofilm-mats), and as
allochthonous water-column precipitates (e.g., Precambrian stromatolites reflect the rise
biogenic whitings). They have a long record of bacterial mats and metabolisms that influenced
and wide distribution in aquatic environments. microfabric development, and progressive
Microbial carbonate development particularly decline in abiogenic seafloor crust precipitation.
reflects: (i) environmental controls (e.g., carbon Suggestions for investigation include: (i)
dioxide, light and nutrient availability; carbonate millimetric dark-light couplets are seasonal
saturation); (ii) evolution of bacterial metabolisms alternations of abiogenic crust and lithified
that promote precipitation (e.g., sulphate microbial mat (Hybrid Stromatolites); (ii) clotted-
reduction, oxygenic photosynthesis and carbon peloidal microfabrics increased with sulphate
dioxide concentrating mechanisms, CCM); and availability that promoted bacterial sulphate
(iii) interactions with eukaryotes (e.g., grazers, reduction; (iii) cyanobacterial in vivo sheath
mat- and reef-builders). calcification was triggered by CCM induction in
response to decline in carbon dioxide. These latter
Microbial calcification is environmentally
filamentous fabrics contributed to thrombolite
mediated. Key factors include carbonate saturation
development that transformed macrofabrics
state and, in cyanobacteria, the induction of
in the mid-Proterozoic. Phytoplanktic CCM
CO2-concentrating mechanisms (CCMs) when
induction at this time could also have increased
CO2 is low. Saturation state appears to have
whiting precipitation, contributing to carbonate
undergone fluctuating decline over the past 2000
mud substrates in which ‘molar tooth’ structures
Ma. Cyanobacteria developed CCMs in response
developed. In addition, increase in background
to mid-Proterozoic fall in CO2. Thus, although
sedimentation would have reduced stromatolite
cyanobacteria may well have been important
relative accretion rate, promoting late-Proterozoic
primary producers in microbial mats since the
diversification of digitate forms.
early Proterozoic, their calcification reflects
interaction of these two controls. Consequently, In the Early Palaeozoic, cyanobacteria
cyanobacterial sheath-calcification has a more and other calcimicrobes contributed significantly
limited time distribution, and is most conspicuous to thrombolite-dendrolite formation. Domes and
in marine environments ~1000-100 Ma ago. columns declined in the Ordovician as algal-
In contrast, in enclosed micro-environments metazoan reefs increased. Subsequently, these
within mats extracellular polymeric substances morphotypes only developed extensively in marine
and cell material can be calcified by elevated environments when or where skeletal encrusters
carbonate saturation due to bacterial sulphate were reduced, as in the immediate aftermaths of
reduction (BSR). This produces clotted-peloidal Mass Extinction events and in ecologic refuges.
fabrics that can be more abundant than calcified Reefs limited overall microbial carbonate
cyanobacterial filaments. habitats, but provided cryptic substrates where
heterotrophic communities developed reefal

175
microbial crusts, often with distinctive clotted These suggestions have several
fabrics. Late Devonian decline in carbon dioxide implications: (a) Long-term decline in marine
stimulated cyanobacterial sheath calcification, and microbial carbonate abundance mainly reflects
also whitings that contributed to Late Devonian- decline in seawater saturation that has slowed
Early Carboniferous carbonate mud mound lithification and therefore accretion. (b)
formation. In addition to competition, episodic Grazing may not have been a dominant factor
Phanerozoic decline in microbial carbonate so long as microbial mats were well-lithified.
abundance reflects fluctuating reduction in (c) Thrombolites developed at least twice: in
seawater carbonate saturation that slowed classic form when CCM-induction triggered
lithification and therefore accretion. Present- widespread cyanobacterial calcification in
day thrombolitic stromatolites with weak initial the Mesoproterozoic, and as thrombolitic
lithification that largely accrete by grain trapping stromatolites trapping coarse grains as carbonate
are grazing prone; but grazing probably has saturation declined in the Cenozoic. (d) Fine
reduced influence on early-lithified mats. grained microbialite fabrics are more likely to be
Present-day examples provide valuable in situ precipitates than trapped carbonate mud.
insights. ‘Cyanobacteria’ and ‘trapping’ are (e) In general, stromatolites are dominated by
common key words in microbial carbonate studies, heterotrophic (e.g., BSR) calcification, whereas
yet cyanobacteria and trapped grains can both be classic thrombolites reflect cyanobacterial
difficult to recognize with confidence in many calcification.
ancient examples. This paradox arises from long- Keywords: carbonate, bacteria,
term changes in microbes, their metabolisms and stromatolite
environments. As a result, present-day examples
that have significantly influenced concept
development are often not typical of many
REFERENCES
ancient marine microbialites. Cyanobacterial RIDING, R. 2011. Microbialites, stromatolites,
mat calcification is well-developed in calcareous and thrombolites. In: REITNER, J. &
streams and lakes but weak in marine environments, THIEL, V. (eds), Encyclopedia of Geobiology,
reflecting dependence on elevated carbonate Springer, pp. 635-654.
saturation. Marine calcification is sustained better
by sulphate reducers in more enclosed substrates,
as in methane seeps and reefal crusts. Large marine
domes are restricted to shallow wave-swept bays
and channels, protected from reef encrustation by
hypersalinity (Shark Bay) and/or mobile sediment
(Lee Stocking Island). Their accretion relies on
production of extracellular polymeric substances,
stimulated by high illumination, that promote
grain trapping and on heterotroph-dominated
sub-mat lithification.
Extensive grain trapping depends on soft
surface mats and is well-seen in present-day Shark
Bay and Exuma thrombolitic stromatolites; but
similar ancient examples are scarce. These coarse-
grained columns appear to reflect conditions that
have developed since the late Mesozoic, notably
lower seawater carbonate saturation and the rise
of uncalcified microalgae such as diatoms, both
of which help maintain soft surface mats and
enhance grain trapping.

176
Figure 1. Suggested relationships between processes (trapping, abiotic precipitation, microbial calcification) and major
categories of microbial carbonates and related deposits (Riding 2011, fig. 4).

177
O USO DE MICROFÓSSEIS SIMPLES NA SOLUÇÃO DE
PROBLEMAS ESTRATIGRÁFICOS COMPLEXOS: EXEMPLO DO
NEOPROTEROZOICO DA REGIÃO CENTRO-OESTE BRASILEIRA
Evelyn Aparecida Mecenero Sanchez1 (evelynsb@usp.br), Thomas Rich Fairchild2 (trfairch@hotmail.com)
1
Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Geotectônica, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo;
2
Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo

RESUMO fosse igual, tanto na composição, quanto na


preservação.
Na Fazenda Funil, próximo à cidade
de Cabeceiras, Goiás, afloram três unidades A análise das assinaturas tafonômicas
sedimentares de idade proterozoica. Na base ocorre foi essencial, tanto para estabelecer o grau de
o topo do Grupo Paranoá (ca. 1 Ga), representado preservação, quanto para a identificação dos
por ardósias e dolomitos com estromatólitos espécimes. Devido à morfologia simples, a
do tipo Conophyton. Acima, encontram-se taxonomia de espécimes pré-cambrianos é
diamictitos da Formação Jequitaí (ca. 900 Ma) uma taxonomia de morfotáxons ou epécies
com clastos de diversas litologias. Estes, por sua paleontológicas. Esta taxonomia baseia-se em
vez, são sucedidos pela Formação Sete Lagoas, poucos caracteres disponíveis para identificação,
base do Grupo Bambuí, cuja variedade litológica que em geral são bainhas, envelopes ou
inclui, da base para o topo, um espesso pacote paredes celulares das bactérias e cianobactérias.
de folhelhos, ritmitos de margas e folhelhos e, Dependendo da abundância, da qualidade de
no topo, carbonatos estromatolíticos. Nas três preservação celular e inferências autecológicas
unidades ocorre sílex negro microfossilífero (descontados os efeitos tafonômicos), estes
oriundo de esteiras microbianas compostas por táxons podem representar: 1) uma forma comum
bactérias e cianobactérias, os principais seres a diversas espécies biológicas; 2) apenas uma
bentônicos do Proterozoico. O sílex ocorre na parte vegetativa ou reprodutiva do ciclo de vida
forma de lentes decimétricas no Grupo Paranoá, de uma espécie biológica; ou até 3) os restos de
clastos na Formação Jequitaí e como uma extensa uma única espécie biológica. Portanto, para que
camada de aproximadamente 25 cm de altura e a taxonomia reflita o mais fielmente possível
500 metros de extensão lateral na Formação Sete relações biológicas da biota, deve-se realizar estudo
Lagoas. Mesoscopicamente as três ocorrências cauteloso e amplo da degradação (tafonomia),
silicosas são caracterizadas por cor e aspecto das relações espaciais (ecológicas) e dos aspectos
textural e laminar muito semelhantes, se não morfométricos dos espécimes encontrados, já que
idênticos. Tendo em vista esta semelhança e estes podem representar tanto indivíduos que
claras evidências de dobramento e falhamento foram silicificados logo em seguida a morte quanto
significativos local e regionalmente em função do outros em diversos estágios de decomposição já
tectonismo Brasiliano na borda do Cráton do São há algum tempo (Oehler, 1976; Schopf, 1976;
Francisco no final do Neoproterozoico, surgiu a Butterfield et al., 1994).
ideia de investigar se estas ocorrências de sílex Os resultados obtidos mostram o mesmo
tiveram a mesma origem, ou seja, pertencem à padrão tafonômico-microfossilífero para as três
mesma unidade litoestratigráfica. A implicação ocorrências de sílex. Duas populações microbianas
desta hipótese implicaria na necessidade de uma distintas foram encontradas, uma de formas
revisão da estratigrafia local. cocoides e outra filamentosa, que habitavam
Para testar esta hipótese, analisaram-se diferentes microambientes.
lâminas petrográficas espessas (> 50 µm) afim As formas cocoides exibem morfologia
de comparar microfósseis preservados no sílex simples, sem ornamentação ou escultura
das três unidades, levando em consideração sua superficiais, com tamanho pequeno, que raramente
morfologia, tamanho e grau de preservação. Se a ultrapassa 20 µm de diâmetro (tamanho máximo
origem das ocorrências silicosas fosse a mesma, de 85 µm). De acordo com critérios sugeridos por
então o esperado é que o conteúdo microfossilífero Schopf (1992), essas são características típicas de
microrganismos procarióticos.

178
A análise tafonômica aplicada à taxonomia espécimes, tendo em vista a semelhança de suas
teve grande importância para a classificação formas assinaturas tafonômicas. Com base nesses dados,
cocoidais. Duas classes de cocoides de parede complementados por dados sedimentológicos,
simples foram reconhecidas. A primeira classe demonstrou-se que a origem do sílex da Fazenda
consiste de estruturas que apresentam algum tipo Funil é a mesma nas três ocorrências. Assim,
de estrutura interna. Neste caso a estrutura mais acredita-se que a camada de sílex hoje atribuída
externa foi interpretada como invólucro (bainha à Formação Sete Lagoas é, na verdade, uma lasca
ou envelope indiferenciado) e a mais interior, a tectônica do Grupo Paranoá inserida na base do
parede celular. Estes espécimes foram, portanto, Grupo Bambuí. Assim, níveis de sílex do Grupo
classificados como Eoentophysalissp. A segunda Paranoá teriam dado origem aos clastos de sílex
classe refere-se a estruturas vazias, subdivididas encontrados na Formação Jequitaí.
em dois grupos: (a) as densamente empacotadas Palavras-chave: microfósseis, esteiras
dentro de mucilagem comum, presentes em meio microbianas, sílex, tafonomia, Neoproterozoico,
a invólucros contendo células. Neste caso as Grupo Paranoá, Supergrupo São Francisco
estruturas vazias são consideradas invólucros cujas
células não foram preservadas, e portanto, foram
atribuídas a Eoentophysalis sp.; e (b) estruturas CONCLUSÕES
vazias individuais, ou frouxamente agrupadas sem Por fim, conclui-se que a preservação
organização colonial e sem preservação de células, por sílex em fase extremamente precoce da
que neste caso representam Myxococcoides diagênese determinou a fidelidade de preservação
sp. Além destes dois gêneros cocoides, outros destes microfósseis e permitiu decifrar processos
dois táxons foram identificados, sendo tafonômicos que afetaram a biota. Isto feito,
Gloeodiniopsislamellosa e Eosynechococcussp. os dados sobre a paleobiota tornaram-se mais
Os espécimes filamentosos, em sua confiáveis. A tafonomia foi essencial para a
maioria, têm forma cilíndrica sem preservação classificação taxonômica dos microfósseis
de estruturas celulares internas e, por isso, e no estabelecimento de alguns aspectos
são interpretadas como bainhas tubulares.
autoecológicos, e, por consequência, desempenhou
Localmente, podem ocorrer tricomas, fileiras
papel-chave na comparação dos três níveis de
de células dentro das bainhas mais finas, ou,
mais raramente, desprovidas de bainha. Por sílex e na re-avaliação estratigráfica da Fazenda
convenção a classificação taxonômica destes Funil, demonstrando que fósseis simples podem
espécimes se baseia em dados morfométricos, ser utilizados como ferramentas de comparação
que são diretamente modificados por aspectos estratigráfica.
tafonômicos. Assim, largas bainhas vazias
constituem um táxon paleontológico, diferente REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do táxon paleontológico de bainhas estreitas,
que por sua vez é um táxon diferente daquele BUTTERFIELD, N.J.; KNOLL, A.H. &
de tricomas, sendo que dentre esses, tricomas SWETT, K. 1994. Paleobiology of the
dentro de bainhas são um táxon diferente dos NeoproterozoicSvanbergfjellet Formation,
tricomas desprovidos de bainha. Dentre os táxons Spitsbergen. Fossil Strata, 34: 1-84.
filamentosos estão Archaeotrichioncontortum, cf.
Biocatenoides sp., várias espécies de Siphonophycus OEHLER, J.H. 1976. Experimental studies in
e Veteronostocaleamoenum. Precambrian paleontology: structural and
Dos gêneros identificados, todos são chemical changes in blue-green algae during
comuns às formações Jequitaí e Sete Lagoas, simulated fossilization in synthetic chert.
enquanto o gênero Eoentophysalis sp. foi Geological Society of America Bulletin, 87:
encontrados nas três ocorrências. 117-129.
Através dos dados obtidos foi possível
demonstrar que a paleobiota dos três níveis de SCHOPF, J.W. 1976. Are the oldest ‘fossils’,
sílex da Fazenda Funil são muito semelhantes, fossils?. Origins of Life and Evolution of the
tanto do ponto de vista da composição Biosphere, 7: 19-36.
microbiana, quanto do modo de preservação dos

179
ESTROMATOLITOS Y PRECIPITADOS MINERALES EN LAGOS DE ALTURA EN
LOS ANDES DE CATAMARCA (ARGENTINA): UN ANÁLOGO MODERNO PARA
EL REGISTRO DE LA VIDA PRIMITIVA Y SU POTENCIAL ASTROBIOLÓGICO
Fernando J. Gomez1 (fgomez@efn.uncor.edu)
1
LAC-Laboratorio de Análisis de Cuencas, CICTERRA (CONICET-UNC) Centro de Investigaciones en Ciencias de la Tierra,
FCEFyN-Universidad Nacional de Córdoba, (Córdoba) Argentina.

LOS ESTROMATOLITOS ha sido principalmente por precipitación de


COMO INDICADORES DE minerales (generalmente carbonatos), rara
vez preservan evidencias directas de actividad
ACTIVIDAD BIOLÓGICA biológica y suelen presentar una gran diversidad
Estromatolitos son estructuras órgano- morfológica. Todo esto lleva a pensar que al menos
sedimentarias laminadas que fueron muy algunos estromatolitos del Precámbrico han sido
comunes en el pasado distante de nuestro planeta, formados por precipitación química siendo el
particularmente el Precámbrico, y constituyen una control biológico marginal o ausente poniendo
de las primeras evidencias de vida en la Tierra. en dudas su utilidad como evidencias de actividad
Los estromatolitos disminuyeron notablemente biológica. Morfología per se no es un buen bio-
durante el Fanerozoico, siendo su registro en indicador, sobre todo cuando señales primarias son
ambientes marinos actuales relativamente escaso. a su vez alteradas por diagénesis y metamorfismo.
Como se ha observado en ambientes modernos Es por estas razones que el estudio de análogos
los estromatolitos se forman como resultado de la modernos donde pueden descartarse procesos de
interacción de comunidades microbianas (tapetes y alteración secundarios o al menos cuantificarse
biofilms microbianos) con procesos sedimentarios y donde procesos pueden estudiarse in situ,
y físico-químicos. Su disminución en el registro constituyen una poderosa herramienta.
sedimentario posiblemente estuvo vinculada a
cambios en la química de los océanos como así
también a la aparición de otros organismos que se LOS ESTROMATOLITOS Y SU
alimentan de los tapetes microbianos que conducen RELEVANCIA EN LA BÚSQUEDA
a su formación. Uno de los problemas en el estudio DE VIDA EN OTROS PLANETAS
de estromatolitos antiguos, particularmente del Evidencias geomorfológicas, sedimentarias,
Precámbrico, es que estructuras morfológicamente mineralógicas y geoquímicas indican que Marte
similares a los estromatolitos pueden asimismo tuvo una persistente actividad de fluidos acuosos
formarse por procesos no biológicos. Por sobre su superficie, particularmente durante su
ejemplo la precipitación mineral en ambientes historia temprana equivalente a cuando la vida
sobresaturados puede generar estructuras en la Tierra apareció. Depósitos evaporíticos
laminadas marcadamente similares siendo en (por ejemplo carbonatos y sulfatos) indican la
ocasiones difícil su diferenciación. Debido a presencia de soluciones acuosas cargadas de
que los estromatolitos son el producto final de solutos que por evaporación o congelamiento
la interacción compleja entre procesos físicos- habrían sido concentradas precipitando las fases
químicos (ej. fijado y atrapado de partículas, grado minerales documentadas. Asimismo depósitos
de saturación de minerales) y biológicos (actividad silíceos, posiblemente asociados a sistemas
metabólica y su control en la biogeoquímica local hidrotermales, implica la presencia de fluidos
y precipitación de minerales), diferenciar tales acuosos sobresaturados en sílice que habría
procesos a partir de las estructuras y texturas precipitado al disminuir la temperatura, como en
resultantes suele resultar extremadamente difícil. sistemas hidrotermales actuales. Esto es de central
En los estromatolitos del Precámbrico, a diferencia
de estromatolitos recientes, la acreción de láminas

180
importancia desde un punto de vista astrobiológico esta región tiene marcadas reminiscencias a lo que
pues: se supone fueron sistemas sedimentarios de la
• El agua es un ingrediente esencial para tierra primitiva y potencialmente de Marte lo que
la vida. lo hace un excelente laboratorio natural útil desde
el punto de vista Geo/Astro-biológico. Estas
• Solutos en solución implican la
condiciones son:
presencia y disponibilidad de nutrientes,
• Un sustrato rocoso volcánico que
y amplía el rango de temperaturas en
sugiere interacciones fluido-roca,
que el agua es estable en estado líquido,
procesos sedimentarios y productos de
particularmente en la gélida superficie
meteorización análogos.
de Marte.
• Condiciones ambientales extremas:
• Fuentes de energía electromagnética
alto influjo de rayos UV, extremos de
(fotones de luz) o química (reacciones
temperatura y salinidad, baja actividad
redox) necesarias para la vida habrían
de agua, baja tensión de oxigeno y
estado presentes.
ozono.
• La precipitación de minerales en
• Vida esencialmente microbiana
sistemas hidrotermales y lagos
(asociada a estromatolitos).
hipersalinos suele ser rápida y puede
preservar microfósiles y compuestos • Hidroquímica saturada en carbonatos,
orgánicos fácilmente proveyendo pH neutro a acido y niveles de sulfatos
ventanas tafonómicas favorables. comparables a los océanos del Arqueano.
• Este tipo de ambientes extremos • Estromatolitos: acreción de
(por analogía con nuestro planeta) laminas fuertemente controlada
suelen albergar una activa biota por precipitación mineral, típico de
microbiana ocasionalmente asociada a estromatolitos del Precámbrico.
estromatolitos.
Una de las particularidades de la Laguna
En ambientes sedimentarios donde hay Negra es la presencia de comunidades microbianas
fluidos acuosos cargados de solutos e intensa adaptadas a las condiciones extremas mencionadas,
evaporación y precipitación mineral, la formación particularmente de hipersalinidad y alto influjo de
de estructuras comparables a los estromatolitos es radiación UV. Estas se desarrollan en la zona de
algo posible, incluso en Marte. De esto se desprende mezcla entre el agua del lago propiamente dicho y
la necesidad de ser cuidadosos en considerarlos el agua surgente de acuíferos subterráneos. Es en
estructuras exclusivamente biogénicas y la única esta zona donde, por el efecto de mezcla y dilución,
forma de hacerlo es tener una comprensión se generan condiciones más favorables (menor
profunda de los procesos que llevan a su formación. estrés salino, influjo de nutrientes, etc) para el
desarrollo de comunidades microbianas. Asimismo
es en esta zona donde se producen interacciones
ANÁLOGOS ACTUALES DE LA TIERRA químicas que conducen a la precipitación de
AQUEANA Y DE MARTE: LAGOS DE carbonatos, facilitando la mineralización de tapetes
ALTURA EN LA PUNA CATAMARQUEÑA microbianos y la formación de estromatolitos lo
La Laguna Negra forma parte del que constituyen ventanas tafonómicas favorables.
Complejo Salino de la Laguna Verde, localizada Zonas análogas donde potencialmente hubo
en la Puna de la Provincia de Catamarca interacción entre fluidos subterráneos y sistemas
(Argentina). Estas lagunas se formaron luego de lacustres han sido documentadas en Marte por
la última glaciación y desde entonces han sufrido lo que son objetivos de exploración interesantes.
intensa evaporación dadas la extrema aridez, altas Debido a que biomoléculas diagnosticas (ej.
temperaturas y la altura (4500 m.s.n.m.). Las ADN-ARN) se degradan fácilmente, en el
condiciones ambientales y geológicas que muestra estudio del registro de vida primitiva es crucial

181
entender que es lo que queda registrado de todas de ambientes como La Laguna Negra puede
las interacciones entre procesos microbiológicos y ayudarnos a comprender el registro geológico
sedimentarios que ocurren en los estromatolitos. en forma más profunda y darnos algunas pistas
Esto destaca el potencial que tiene el uso de fundamentales para saber dónde y cómo enfocar
ambientes modernos análogos para comprender nuestros esfuerzos en la búsqueda de Vida más allá
como se generan y preservan bioindicadores de las fronteras de nuestro planeta.
geoquímicos o morfológicos que puedan ser de
utilidad en nuestras interpretaciones. El estudio

Figura 1. Estromatolitos y precipitados minerales carbonaticos de la Laguna Negra (Puna de Catamarca, Argentina).

Figura 2. Comparación ilustrativa de las similitudes entre ambientes volcano-sedimentarios de la Tierra primitiva, Marte
y Laguna Negra.

182
S-05:
Micropaleontologia
ANÁLISE PALINOLÓGICA PRELIMINAR DE SEDIMENTOS
QUATERNÁRIOS DA BACIA DE SANTOS, BRASIL
Thièrs Wilberger1 (thiersw@gmail.com), Carolina Jardim Leão1 (carolinaj@unisinos.br),
Fabricio Ferreira1 (fabferreira@unisinos.br), Itamar Ivo Leipnitz1 (itamar@unisinos.br)
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
1

RESUMO though preliminary, show that those recognized


intervals have paleoecological significance and
Uma das ferramentas mais utilizadas na
must be studied in other cores for biostratigraphic
bioestratigrafia é a Palinologia, tendo como seu
purposes.
objeto de estudo todos os tipos de palinomorfos
encontrados em resíduo orgânico resultante da Keywords: Palynology, Quaternary,
eliminação por meio de ataque químico das frações Santos Basin
minerais das rochas sedimentares. O material
analisado consta de 17 amostras do testemunho A, INTRODUÇÃO
coletado com Piston-Core no talude continental
Uma das ferramentas mais utilizadas na
da Bacia de Santos. Os fitólitos foi o grupo mais
bioestratigrafia é a Palinologia, tendo como seu
abundante, perfazendo um total de 37%. Os
objeto de estudo todos os tipos de palinomorfos
cistos de dinoflagelados foi o segundo grupo
recuperados a partir da eliminação por meio
mais abundante alcançando 31,4% do total dos
de ataque químico das frações minerais de
palinomorfos no testemunho. Os grãos de pólen
rochas sedimentares (Arai & Lana, 2004).
representaram 21% no testemunho. Os esporos de
Os palinomorfos correspondem a todas as
pteridófitas representaram 5,7%. Esporos de fungo
estruturas de matéria orgânica, taxonomicamente
foi o grupo menos representativo no testemunho
identificáveis ao microscópio, basicamente,
perfazendo 4,5%. Os resultados obtidos, apesar
são estruturas relacionadas a plantas vasculares
de preliminares, demonstram que os intervalos
(esporos e grãos de pólen), algas, fungos (hifas
reconhecidos têm significado paleoecológico,
e esporos), cistos de protistas (dinoflagelados e
devendo ser rastreados em outros testemunhos
acritarcos), testas quitinosas de foraminíferos
para efeitos bioestratigráficos.
(palinoforaminíferos), restos orgânicos de alguns
Palavras-chave: Palinologia, Quaternário, metazoários (quitinozoários, escolecodontes,
Bacia de Santos graptolitos, copépodes e conchostráceos), entre
outros.Essa diversidade tanto de natureza ecológica
ABSTRACT como biológica, amplitude temporal e seu alto
potencial de preservação, faz dos palinomorfos
Palynology is one of the most usefull
excelentes fósseis para estudos bioetratigráficos,
tools in biostratigraphy. Its study object is all
paleoecológicos e paleoclimáticos (Arai & Lana,
kinds of palynomorphs find after chemical
2004).
attack on mineral fractions of sedimentary rocks.
The material analyzed consists of 17 samples O objetivo deste trabalho foi realizar uma
of the core, collected with Piston-core in the análise da distribuição do conteúdo palinológico
continental slope of the Santos Basin. Phytoliths e suas relações com as oscilações climáticas
were the most abundant group, comprising ocorridas ao longo do Quaternário resultando nas
a total of 37%. Dinoflagellate cysts were the variações do nível relativo do mar.
second most abundant group reaching 31.4%.
Pollen grains represent 21% in the core. The ÁREA DE ESTUDO
fern spores represent 5.7% and fungal spores
A Bacia de Santos ocupa uma área
were the less representative group consisting
de 275.000 km2 e está localizada na margem
of 4.5% of the whole core. These results, even
continental sudeste-sul brasileira, entre os

185
paralelos 23º e 28º Sul. Seu limite norte com a de gimnospermas. Quando estes elementos
bacia de Campos é marcado pelo alto de Cabo são encontrados com maior abundância em
Frio, enquanto o Alto de Florianópolis marca o sedimentos marinhos, essa associação sugere
limite sul com a bacia de Pelotas (Moreira et al., um rebaixamento do nível relativo do mar que
2007 ). proporciona um maior fluxo de sedimentação
continental devido à exposição da plataforma
e transporte para região de talude (Santos et al.,
MATERIAIS E MÉTODOS 2007).
O material analisado consta de 17 Já o I2 (15,91 - 13,47m) é caracterizado
amostras do testemunho P#A que foi cedido pelo domínio de cistos de dinoflagelado do gênero
pela PETROBRAS e coletado com “Piston- Operculodinium que é considerado cosmopolita,
Core” no talude continental da Bacia de vivendo em diversos ambientes, tolerando a
Santos, em cota batimétrica de 2.141 m e com variações de salinidade e temperatura (Wall et
recuperação aproximada de 20 m. As amostras al, 1977, Marret & Zonneveld, 2003), enquanto
foram preparadas pelos métodos padrões para no I3 (12,87 – 11,95m) ocorre o predomínio de
estudos em palinologia do Quaternário, onde fitólitos bioestruturados, seguidos de esporos de
preparamos 1 cm3 de material representativo pteridófitas, grãos de pólen, esporos de fungo e
das distintas fácies do testemunho. Foi realizada palinoforaminíferos. Esta associação sugere, como
análise qualitativa e quantitativa do material para no I1, um rebaixamento do nível relativo do mar
identificação e classificação dos palinomorfos. A que proporcionou um maior fluxo de sedimentos
análise paleoclimática consistiu em correlacionar continentais transportados para região do talude.
os resultados obtidos dos grupos de palinomorfos Para o I4 (11,54 – 7,94) ocorre o
com os estágios isotópicos realizados a partir de predomínio de cistos de dinoflagelados dos
foraminíferos bentônicos. gêneros Operculodinium e Spiniferites. O gênero
Spiniferites é encontrado em regiões de águas
RESULTADOS E DISCUSSÃO quentes, vivendo em ambientes neríticos
oligotróficos a mesotróficos (Wall et al, 1977,
O grupo de palinomorfo mais abundante
Marret & Zonneveld, 2003). Já no intervalo I5
ao longo do testemunho foram os fitólitos,
(0,90 – 0,30 m) é caracterizado pela presença de
perfazendo um total de 37% das amostras
esporos de pteridófitas, esporos de fungo e cistos
analisadas, alcançando o maior valor percentual
de dinoflagelados dos gêneros Operculodinium e
na amostra 1.753 representando 80% do total.
Spiniferites sugerindo um ambiente marinho com
Os cistos de dinoflagelados foi o segundo grupo
aporte de palinomorfos continentais.
mais abundante alcançando 31,4% do total
dos palinomorfos no testemunho sendo mais
abundante na amostra 1.549 representando 97 CONCLUSÕES
%. Os grãos de pólen representaram 21% no O padrão de sedimentação no Quaternário
testemunho, sendo mais abundante na amostra da Bacia de Santos é refletido na distribuição do
1.195 representando 42%. Os esporos de conteúdo palinológico das amostras estudadas,
pteridófitas representaram 5,7% do testemunho, controladas essencialmente oscilações climáticas
sendo mais abundantes na amostra 1.195 e consequentes variações do nível relativo do mar.
correspondendo a 7%. Esporos de fungo foi Os resultados obtidos, apesar de preliminares,
o grupo menos representativo no testemunho demonstram que os intervalos reconhecidos
perfazendo 4,5%, sendo mais abundantes na têm significado paleoecológico, devendo ser
amostra 1.195 correspondendo a 6%. estudados em outros testemunhos para efeitos
Através da análise foi possível estabelecer bioestratigráficos.
cinco intervalos de deposição, onde o I1 (20,57-
16,62m) é caracterizado pelo domínio de esporos
de pteridófitas, seguido de esporos de fungos,
fitólitos e grão de pólen de angiospermas e

186
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SANTOS, A.S.; CARVALHO, M.A. &
MENDONCA FILHO, J.G. 2007.
ARAI, M. & LANA, C.C. 2004. Histórico do Associações palinológicas de sedimentos
estudo de dinoflagelados fósseis no Brasil: quaternários da Formação Ubatuba, Bacia
sua relação com a evolução da exploração de Campos Brasil. In: CARVALHO, I.S.;
petrolífera no Cretáceo das bacias da margem CASSAB, R.C.T.; SCHWANKE C.;
continental. Boletim de Geociências da CARVALHO, M.A.; FERNANDES
Petrobras, 12(1)175-189. A.C.S.; RODRIGUES, M.A.C.;
CARVALHO, M.S.S.; ARAI, M. &
MARRET, F. & ZONNEVELD, K.A.F.
OLIVEIRA M.E.Q. (eds.). Paleontologia:
2003. Atlas of modern dinoflagellate
Cenários de Vida. 1 ed. Rio de Janeiro,
cyst distribution, Amsterdam. Review of
Interciência, v. 2, p. 443-455.
Palaeobotany and Palynology. 125(1-2):1–
200. WALL, D.; DALE B.; LOHMANN G.P. &
SMITH W.K., 1977. The environmental and
MOREIRA, J.L.P.; MADEIRA, C.V.; GIL, J.A.
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& MACHADO, M.A.P. 2007. Bacia de
in modern marine sediments from regions in
Santos. Boletim de Geociências da Petrobras,
the North and South Atlantic Oceans and
15(2):531-549.
adjacent seas. Marine Micropaleontology,
2:121-200.

Figura 1. 1.1 - Perfil do testemunho, distribuição estratigráfica dos palinomorfos e intervalos propostos. 1.2 - Mapa de
localização do testemunho na Bacia de Santos.

187
ANÁLISE QUALI/QUANTITATIVA DE PALINOFORAMINÍFEROS
DO CRETÁCEO SUPERIOR DA BACIA DE SANTOS
Brandaly Staudt1 (brandalys@hotmail.com), Alessandra da Silva dos Santos1 (alessandrass@unisinos.br), Aline Aurich2
(ali.aurich@gmail.com), Carlos Eduardo Lucas Vieira1 (carlosev@unisinos.br), Gerson Fauth1 (gersonf@unisinos.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS - Laboratório de Micropaleontologia; 2Universidade do Vale do Rio dos Sinos –
1

UNISINOS - Graduação do Curso de Geologia

RESUMO palinoforaminíferos são partes orgânicas de


foraminíferos, mais especificamente, películas
Foram estudadas 90 amostras de calha do
quitinosas que revestem internamente a carapaça
Cretáceo Superior da Bacia de Santos (margem
carbonática. Os palinoformainíferos possuem
continental sudeste brasileira) com o objetivo
uma classificação informal proposta por
de realizar uma análise quali/quantitativa dos
Stancliffe (2002), a qual se baseia no arranjo das
morfogrupos de palinoforaminíferos ocorrentes
câmaras e distingue os seguintes morfogrupos:
no poço PSC-13. Dentre todos os palinomorfos
câmara simples, unisserial, bisserial, espiral
encontrados no intervalo estudado, 6,08%
(plana e sobreposta) e composto (Fig.1). O
correspondem a palinoforaminíferos; destes
objetivo principal do trabalho foi realizar uma
foram encontrados cinco morfogrupos, onde
análise quali/quantitativa dos morfogrupos de
o mais abundante foi o grupo dos espiralados,
palinoforaminíferos ocorrentes no poço PSC-13
principalmente o morfotipo planoespiral (12,30%),
e investigar quais padrões estratigráficos podem
sendo os tipos II e IV os mais abundantes. Embora
ainda esteja em fase inicial, o presente trabalho estar condicionando os resultados obtidos.
conseguiu correlacionar os palinoforaminíferos às
litologias mais finas (folhelhos). MATERIAIS E MÉTODOS
Palavras-chave: Palinoforaminíferos,
Foram estudadas 90 amostras de calha
Bacia de Santos, Cretáceo Superior
oriundas do Neocretáceo da Bacia de Santos
(Fig.2), com profundidade de 2.901m até
ABSTRACT 3.702m. O processamento químico do material
palinológico foi feito através da eliminação dos
Ninety cutting samples from the Upper carbonatos (HCl 37%), dos silicatos (HF 40%). A
Cretaceous of Santos Basin (Brazilian southeast fim de concentrar a matéria orgânica, o material
continental margin) were studied in order to foi então separado segundo sua densidade através
perform a qualitative/quantitative analysis of the da utilização de cloreto de zinco (ZnCl2). A
foraminiferal linings morphogroups from the leitura de lâminas palinológicas foi feita através
well PSC-13. About 6.08% of the palynomorphs de microscopia de luz branca transmitida. As
recorded are foraminiferal linings, which were fotomicrografias foram adquiridas através do
classified into five morphogroups, being the sistema de captura de imagens Axiovision
coiled one the most abundant, especially the 6.0 da Zeiss. Os critérios utilizados para a
planispiral (12.30%), while the types II and IV are determinação dos tipos de palinoforaminíferos
the most abundant. Though still in its beginning, fundamentaram-se na observação de seus
caracteres morfológicos com base em Stancliffe
it was possible to correlate the occurrence of
(1989, 2002) e as distribuições estratigráficas dos
foraminiferal linings to the shales. palinomorfos foram realizadas a partir de gráficos
Key words: foraminiferal linings, Santos gerados no software Pangea PanPlot.
Basin, Upper Cretaceous.

CONTEXTO GEOLÓGICO
INTRODUÇÃO
A Bacia de Santos está localizada na
Neste trabalho são estudados os região sudeste da margem continental brasileira,
palinoforaminíferos do poço PSC-13 da Bacia
defronte aos estados do Rio de Janeiro, São Paulo,
de Santos (Margem Continental Brasileira).
Paraná e Santa Catarina, englobando uma área de
De acordo com Pantic & Bajaktarevic (1988),

188
352.000 km2 e contendo espessuras sedimentares conduzidos a fim de melhor definir as possíveis
superiores a 10 km nos principais depocentros relações ecológicas destas formas.
(Chang et al. 2008). De acordo com este autor,
a bacia foi formada a partir de processos de
rifteamento durante a separação afro-americana
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
no Mesozoico. A acumulação de sedimentos BIZZI, L.A.; SCHOBBENHAUS, C.;
ocorreu inicialmente em condições flúvio- VIDOTTI, R.M. & GONÇALVES,
lacustres, passou posteriormente por estágio de J.H. (eds.). 2003. Bacias Sedimentares da
bacia evaporítica, até evoluir para o atual estágio Margem Continental Brasileira. Geologia,
de bacia de margem passiva (Bizzi et al., 2003). Tectônica e Recursos Minerais do Brasil.
O poço estudado se encontra em um CPRM, Brasília.
intervalo do Cretáceo Superior, na Formação
Itajaí-Açu, Membro Ilha Bela. A Formação CHANG, H.K.; ASSINE, M.L.; CORRÊA,
Itajaí–Açu é conhecida como um pacote pelítico F.S.; TIENEN, J.S.; VIDAL, A.C.; KOIKE,
interditigitado com os clásticos das Formações L. 2008. Sistemas Petrolíferos e Modelos de
Jureia e Santos. Ela é composta por uma seção Acumulação de Hidrocarbonetos na Bacia de
de clásticos finos, predominando folhelhos cinza- Santos. Revista Brasileira de Geociências;
escuros. O Membro Ilha Bela é conhecido como 38(2 - suplemento): 29-46, junho de 2008.
arenitos turbidíticos médios, que se encontram
PANTIC, N. & BAJAKTAREVIC, Z. 1988.
disperso, segundo Chang et al. (2008).
“Nannoforaminifera” in palynological
preparations and semar-slides from Mesozoic
RESULTADOS and Tertiary deposits in Central and
Dentre todos os palinomorfos encontrados Southeast Europe.Revue de Paléobiologie,
no intervalo estudado, 6,08% correspondem a Genève, Benthos’86, Special, 2: 953-959.
palinoforaminíferos, 14,23% a palinomorfos
PEREIRA, M.J., MACEDO, J.M. 1990. A
continentais e 79,69% de cistos de dinoflagelados
Bacia de Santos: perspectivas de uma
(Fig. 3). A análise qualitativa revelou cinco
nova província petrolífera na plataforma
morfogrupos (Fig. 4), onde o mais abundante
continental sudeste brasileira. Boletim de
foi o grupo dos espiralados, principalmente o
Geociências da PETROBRAS, 4(1): 3-11.
morfotipo planoespiral (12,30%), sendo os Tipos
II e IV os mais significativos (Fig.5). Em todo STANCLIFFE, R.P.W. 1989. Microforaminiferal
o poço ocorrem exemplares fragmentados e/ linings: Their classification, biostratigraphy
ou indefinidos devido à má preservação, onde a and paleoecology, with special reference to
maioria não apresenta prolóculo (primeira câmara), specimes from British Oxfordian sediments.
dificultando a distinção entre os morfotipos Micropaleontology, New York, v. 35, n. 4, p.
planoespiral e troncoesprial. O intervalo apresenta 337-352.
níveis com litologia predominantemente composta
por folhelhos interdigitados por arenitos. Nos STANCLIFFE, R.P.W. Chapter 13D. In:
arenitos encontramos baixa recuperação de JANSONIUS, J. & MCGREGOR, D.C.
palinoforaminíferos. (Eds). 2002. Palynology: principles and
applications; American Association of
CONCLUSÕES stratigraphic Palynologists Foundation, v. 1,
p. 373-379.
Embora ainda esteja em fase inicial,
o presente trabalho permitiu identificar os 5
morfogrupos existentes de palinoforaminíferos,
sendo possível correlacioná-los, preliminarmente
também, às litologias mais finas (folhelhos).
Estudos paleoecológicos mais detalhados serão

189
Figura 1. Palinoforaminíferos do Poço PSC-13 da Bacia de Santos: A-Câmara única; B-Unisserial (Tipo II); C-Unisserial
(Tipo I); D-Bisserial (Tipo I); E- Planoespiral (Tipo II); F-Planoespiral (Tipo IV); G-Planoespiral (Tipo III) sem prolóculo; H-
Planoespiral (Tipo III).

Figura 2. Localização da área de estudo na Bacia de Santos (modificado de Pereira & Macedo, 1990).

190
Figura 3. Relação de palinoforaminíferos com dinoflagelados e palinomorfos
continentais do poço PSC-13 da Bacia de Santos.

191
Figura 4. Relação dos morfogrupos de palinoforaminíferos do poço PSC-13 da Bacia de Santos.

Figura 5. Relação dos morfotipos de palinoforaminíferos registrados no poço PSC-13 da Bacia de Santos.

192
ANÁLISES MULTIVARIADAS DE FORAMINÍFEROS
PLANCTÔNICOS DURANTE OS ÚLTIMOS 15 MIL ANOS NA
BACIA DE SANTOS: APLICAÇÕES PALEOCLIMÁTICAS
Ana Cláudia Aoki Santarosa1 (anasantarosa@gmail.com), María Alejandra Gómez Pivel1 (mariale1973@yahoo.com.br),
Felipe A. L. Toledo1 (ftoledo@usp.br), Karen Badaraco Costa1 (karen.costa@usp.br)
1
Laboratório de Paleoceanografia do Atlântico Sul do Instituto Oceanográfico da USP

RESUMO recognized in the late deglaciation until 8 Kyr


B.P. It was also possible to identify two periods of
Para auxiliar a compreensão das variações
weaker stratification conditions (between 15 and
paleoceanográficas ocorridas nos últimos 15
11 ky B.P. and from 5 ky B.P. until the present).
mil anos, análises estatísticas multivariadas
Highly stratified water-column conditions were
(Agrupamentos e de Componentes Principais)
recorded between 11 and 5ky B.P.
foram aplicadas aos dados de abundância relativa
de foraminíferos planctônicos de um testemunho Keywords: multivariate analysis,
de alta resolução, coletado no talude da Bacia planktonic foraminifera, paleoceanography,
de Santos. A análise de agrupamentos revelou 4 Santos Basin
subgrupos principais (A1, A2, B1 e B2) de espécies.
A análise de componentes principais mostrou que INTRODUÇÃO
a temperatura superficial marinha e a estabilidade
A comparação apenas visual da oscilação
da coluna de água foram os principais parâmetros
da freqüência das várias espécies de foraminíferos
responsáveis pelas variações observadas nas
planctônicos que compõem um registro
assembleias de foraminíferos planctônicos.
sedimentar pode ser tendenciosa no sentido de
Condições mais frias foram encontradas no início
dar-se maior importância para aquelas espécies
do registro até aproximadamente 8 mil anos A.P.
com valores mais expressivos de freqüência (por
Estimou-se dois períodos de maior mistura da
exemplo, Globigerinoides ruber), mas que nem
coluna de água (entre 15 e 11 mil anos A.P. e a
sempre são as espécies de maior importância para
partir de 5 mil anos A.P. até o final do registro)
análises das oscilações climáticas e hidrográficas
e um período de maior estabilidade da coluna de
(Toledo, 2000).
água (entre 11 e 5 mil anos A.P.).
Dessa forma, faz-se uso das técnicas de
Palavras-chave: análises multivariadas,
estatística para uma análise mais fundamentada
foraminíferos planctônicos, paleoceanografia,
dessas variações.
Bacia de Santos
A Análise de Agrupamentos é uma das
técnicas de análise multivariada mais difundida
ABSTRACT e utilizada na literatura de foraminíferos. Ela
In order to attain the comprehension of segrega as entidades (amostras, espécies, medidas)
paleoceanographic changes occurred in the last em grupos de maior semelhança e quantifica a
15 ky, multivariate statistical analysis (cluster and relação entre esses grupos. Pode ser aplicada então
principal component analysis) were carried out on para explorar as similaridades entre as amostras
the planktic foraminifera relative abundance data (modo- Q) ou entre as espécies (modo- R) (Parker
from a high-resolution core retrieved on the slope e Arnold, 1999).
of Santos Basin. The R-mode cluster analysis A Análise de Componentes Principais
revealed 4 main species subgroups (A1, A2, B1 and (ACP) é uma técnica estatística multivariada
B2). The principal component analysis showed que explica a variação dos dados observados em
that sea surface temperature and water-column termos de variáveis independentes, chamadas
stability were the main responsible parameters componentes. O processo extrai, idealmente,
for the variations observed on the planktic o mesmo número de dimensões das entidades
foraminifera assemblage. Colder conditions were originais (por exemplo, fatorando uma matriz que

193
contém 10 entidades, 10 componentes principais Para a Análise de Agrupamentos (modo-
ou fatores serão obtidos). As componentes então R), aplicou-se o Método de Ward, que utiliza
são ranqueadas de acordo com o valor da variância a análise das variâncias para determinar as
incorporada por elas; cada uma conta com uma distâncias entre os agrupamentos, como método
parte ou valor decrescente da informação do dado de agregação. Complementarmente às medidas
original (Parker e Arnold, 1999). A análise de de distância, a medida de similaridade (coeficiente
componentes principais (ACP) foi aplicada aos de Pearson) também foi utilizada na construção
dados de fauna dos foraminíferos planctônicos a do dendograma. A escolha por esse método e
fim de se comparar objetivamente as variações nas coeficiente de similaridade se deve ao fato da
freqüências das espécies. sua vasta utilização na literatura (eg, Rohling
et al., 1993; Triantaphyllou, 2009) e por ter
apresentado também os melhores resultados, ou
MATERIAIS E MÉTODOS seja, agrupamentos melhor definidos.
As técnicas de análise multivariada
descritas anteriormente foram aplicadas aos dados
de abundâncias relativas das principais espécies RESULTADOS E DISCUSSÕES
de foraminíferos planctônicos encontrados ao A Análise de Agrupamentos revelou 2
longo do testemunho KF-02, coletado na Bacia grupos principais, A (subgrupo A1 e A2) e B
de Santos. De acordo com Pivel (2009) este (subgrupos B1 e B2). No grupo A são observadas
testemunho compreende os últimos 15 mil anos as espécies Globorotalia menardii, Globigerinoides
A.P. conglobatus, Orbulina universa, Pulleniatina
Para a recuperação dos foraminíferos dos obliquiloculata, Globigerina bulloides, Globigerinoides
sedimentos, as amostras foram processadas no ruber (white), Globigerinoides sacculifer (com saco),
Laboratório de Paleoceanografia do Atlântico Globigerinoides sacculifer (sem saco). O grupo B
Sul (LaPAS) do Instituto Oceanográfico da está representado pelas espécies Globigerinoides
Universidade de São Paulo. A amostragem ruber (pink), Globigerinita glutinata, Globorotalia
paleontológica foi coletada com espaçamento truncatulinoides, Neogloboquadrina dutertrei, e
médio de 4 cm. As 108 amostras foram pesadas Globorotalia inflata.
e secas em estufa. Este procedimento é efetuado O subgrupo A1 (plexo G. menardii,
para facilitar a desagregação dos sedimentos que G. conglobatus, Orbulina universa, Pulleniatina
não estão inconsolidados. Em seguida, as amostras obliquiloculata e G. bulloides) apresenta as espécies
foram lavadas com água corrente em peneira que habitam águas tropicais e subtropicais e
de 0,063 mm. Estas amostras, após a secagem apresentam maior preferência a ambientes mais
em estufa em temperatura em torno de 50°C, quentes e habitam camadas mais profundas da
foram novamente pesadas e então armazenadas coluna de água. O subgrupo A2 (G. ruber white, G.
em frascos previamente etiquetados com a sacculifer com saco e sem saco) também agrupou
identificação de cada amostra. Posteriormente, na espécies típicas de ambientes mais quentes, porém
fase de triagem, o sedimento seco foi peneirado que estão associadas à porção mais superficial da
na malha de 0,150mm. Nas amostras, o resíduo camada de mistura. O subgrupo B1 (G. ruber pink
foi quarteado e despejado sobre uma bandeja e G. glutinata) agrupou espécies que mostraram
(picktray), onde os foraminíferos planctônicos uma leve diminuição de sua abundância em
foram contados e re-quarteados até que a fração direção ao topo do testemunho. O subgrupo B2 (G.
obtida ficasse com pelo menos 300 espécimes truncatulinoides, N. dutertrei, e G. inflata) é formado
de foraminíferos planctônicos. Em seguida, pela assembleia de foraminíferos planctônicos
procedeu-se à classificação das espécies, contagem com preferências a menores temperaturas e cuja
e subseqüente conversão dos valores absolutos em distribuição geográfica está mais restrita a regiões
porcentagem em relação à fauna total daquela temperadas e até subpolares. Todas essas espécies
amostra. apresentaram diminuição de sua abundância em
direção ao recente.

194
A Análise de Componentes Principais (1,7) no testemunho é atingido ao fim do registro,
gerou 4 componentes, considerando apenas os em aproximadamente 489 anos A.P.
autovalores maiores que 1,0. Esses 4 componentes Já as cargas fatoriais da componente
são suficientes para explicar 68,4% da variância principal 2 apresentaram valores mais variados
total dos dados. ao longo do tempo. De 15 a 11 mil anos A.P.
A matriz de escores gerada a partir desses observam-se valores relativamente mais baixos.
valores revela quanto cada espécie contribuiu A partir dos 11 mil anos A.P aproximadamente,
proporcionalmente em cada um dos componentes os valores se tornam essencialmente positivos,
principais. As espécies G. menardii, O. universa atingindo valores máximos e apresentando uma
(com cargas positivas), G. truncatulinoides, G. certa constância dos valores até 5 mil anos A.P.
inflata e N. dutertrei (com cargas negativas) A partir desse momento os valores decrescem
apresentaram as maiores contribuições ao gradualmente. Em 2,3 mil anos A.P. os valores
Componente Principal (CP)1. Dessa forma, esse voltam a crescer, tornando-se positivos até 1,9
componente pode ser relacionado claramente com mil anos A.P., quando nova queda é observada,
a temperatura das águas superficiais marinhas. atingindo os valores mais baixos durante o
Já o CP 2 é dominado pelas espécies G. Holoceno superior. Os baixos valores antes de 11
sacculifer (com saco e sem saco) e G. ruber. Essas mil anos A.P. e a queda dos valores a partir de 5
espécies são encontradas em maior abundância mil anos A.P. poderiam estar relacionados com o
na porção mais superior da camada de mistura maior aporte de nutrientes do continente ou com
onde há uma zona eufótica bem estratificada, a quebra da estratificação da coluna de água e
relativamente oligotrófica e presença de uma possível advecção de nutrientes para as zonas mais
termoclina mais profunda (Rohling et al, 1993, superficiais, o que desfavoreceria espécies como G.
Watkins et al., 1996). Ravelo et al. (1990) e ruber e G. sacculifer, as principais representantes
Toledo (2000) encontraram esse mesmo grupo da CP 2. A importância da fotossíntese dos
de espécies e mais G. glutinata (que no presente simbiontes para o crescimento e sobrevivência
estudo mostrou também um valor relativamente da espécie G. sacculifer tem sido demonstrada
alto de escore, 0,4) classificando as assembleias de em experimentos laboratoriais de cultura (Caron
foraminíferos planctônicos por análise fatorial nas et al., 1981). Esses simbiontes requerem luz, a
regiões tropical e subtropical, respectivamente. qual poderia ser reduzida a níveis limitados na
Dessa forma, o CP 2 pode ser interpretado coluna de água pela turbidez causada por alta
como “camada de mistura”. Os valores maiores concentração de fitoplâncton em regiões mais
indicam maior estabilidade da coluna de água, produtivas (Watkins et al., 1996).
mostrando maior estratificação da mesma, com
uma termoclina profunda.
CONCLUSÕES
Os outros componentes principais gerados
não foram utilizados neste estudo por apresentarem As análises estatísticas auxiliaram na
valores de variância bem mais baixos que os dois interpretação do grande conjunto de dados
primeiros, sendo estes considerados suficientes disponíveis, contribuindo para a compreensão do
para explicar as variações das associações de cenário paleoceanográfico do oeste do Atlântico Sul
foraminíferos planctônicos. nos últimos 15 mil anos. Os resultados fornecidos
pela análise das assembleias de foraminíferos
As cargas fatoriais da componente principal
planctônicos sugerem o restabelecimento
1 mostram valores negativos, indicando menores
completo da circulação termohalina em torno
temperaturas do início do registro (15 mil A.P.) até
de 8 mil anos A.P. e variações na estratificação
aproximadamente 8 mil anos A.P. Após essa idade,
da coluna de água ao longo do tempo, sendo
possivelmente relacionado ao restabelecimento da
encontrados dois períodos de menor estabilidade
circulação termohalina, segue-se um período com
(entre 15 e 11 mil anos A.P. e a partir de 5 mil
valores positivos e aproximadamente constantes
anos A.P. até o final do registro) e um período de
até o recente. O valor máximo da componente 1
maior estratificação da coluna de água (entre 11 e
5 mil anos A.P.).

195
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROHLING, E.J.; JORISSEN, F.J.; GRAZZINI,
V.C. & ZACHARIASSE, W.J. 1993.
CARON, D.A.; BÉ, A.W.H. & ANDERSON, Northern Levantine and Adriatic Quaternary
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196
ASSEMBLEIA DE FORAMINÍFEROS EM TESTEMUNHOS
NA LAGUNA DE SAQUAREMA, RJ
Regina Lucia Machado Bruno1 (regina_forams@yahoo.com.br), Claudia Gutterres Vilela1 (vilela@geologia.ufrj.br),
José Antônio Baptista Neto2 (jneto@igeo.uff.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2Universidade Federal Fluminense
1

RESUMO INTRODUÇÃO
Foram realizadas três testemunhagens O sistema lagunar de Saquarema é
na laguna de Saquarema (Fora), Rio de Janeiro, composto por quatro sub-lagunas, Urussanga,
para analisar a assembleia de foraminíferos e sua Jardim, Boqueirão e Fora (Lamego, 1945), sendo
distribuição em associação aos dados geoquímicos o canal de comunicação da laguna de Fora com o
(COT e enxofre). Nos testemunhos T1 (174 mar designado de Barra Franca (Fig. 1). Estudos
cm) e T2 (134 cm) foram observadas espécies micropaleontológicos nas lagunas fluminenses
abundantes como Ammonia parkinsoniana, A. têm corroborado informações relevantes quanto
tepida e Elphidium excavatum, entre outras, típicas aos aspectos paleoambientais e costeiros (Turcq et
de ambiente confinado, sendo que o testemunho al. 1999; Barbosa et al. 2005).
T3 (134 cm), localizado no canal da Barra Este trabalho tem como principal objetivo
Franca, apresentou espécies mais marinhas como analisar a composição taxonômica de foraminíferos
Poroeponides lateralis, Pseudononion papillatum e da laguna de Saquarema, RJ, e associar os dados
Nonion spp, além de outras. Os teores de carbono geoquímicos de carbono orgânico total (COT) e
orgânico total (COT) e enxofre (S) analisados enxofre (S) para detectar possíveis mudanças nas
não foram significativos, e quando comparados condições ambientais.
à assembleia microfossilífera não demonstraram
correspondência significativa. Área de Estudo
Palavras-chave: foraminíferos, laguna, A laguna de Saquarema tem uma área
geoquímica aproximada de 21,2 km2, e estende-se por cerca
de 11,8 km ao longo do litoral. Nas extremidades,
ABSTRACT estão os sacos de Urussanga e de Fora, e no meio,
os de Jardim e Boqueirão. O saco de Urussanga,
Three cores were drilled at the Saquarema
é circundado por brejos ao norte e recebe os rios
(Fora) lagoon, Rio de Janeiro, in order to analyze
Mato Grosso (ou Roncador), Tingui e o Jundiá.
the foraminiferal assemblage and its distribution
O saco Jardim recebe o rio Seco, que em todo o
in association with geochemical data (TOC
seu baixo curso é margeado por brejos. O saco
and sulfur). In cores T1 (174 cm) and T2 (134
do Boqueirão não tem rios afluentes. No saco de
cm) were observed abundant species such as
Saquarema ou de Fora, deságuam os rios Padres e
Ammonia parkinsoniana, A. tepida and Elphidium
o Bacaxá (Moreira, 1989; Guimarães, 2007).
excavatum, among others, typical of coastal
environments. Core T3 (134 cm), located at the Segundo Barbiére & Coe Neto (1999),
Barra Franca channel, had more marine species a região de Saquarema possui índice de
like Poroeponides lateralis, Pseudononion papillatum pluviosidade média anual menor que 1000 mm,
and Nonion spp, among others. The levels of sendo o território de Saquarema com média anual
total organic carbon (TOC) and sulfur (S) were de 934,4 mm. Este baixo índice pluviométrico
not considered significant, and when associated provavelmente relaciona-se à hipersalinidade
with the foraminiferal assemblage showed no do complexo lagunar de Saquarema. Índices
significant correspondence. de hipersalinidade na região também foram
assinalados por Miranda et al. (2002).
Keywords: foraminífera, lagoon,
geochemical

197
MATERIAIS E MÉTODOS o T1 e o T2 apresentaram semelhanças na
composição taxonômica, espécies típicas de
Com a utilização de tubos de PVC,
ambientes confinados, enquanto que o T3
foram realizadas três testemunhagens na laguna
apresentou espécies mais marinhas em razão da
de Saquarema (Fora). O primeiro testemunho
provável localização no canal da Barra Franca,
T1, (22°55’ S e 42°29’ W), possui 174 cm de
próximo a abertura do mar. Em geral, o T1 e
comprimento, o testemunho T2 (22°55’ S e 42°30’
o T3 apresentaram baixa abundância (< 100
W) 134 cm e o testemunho T3 (22°56’ S e 42°29’
indivíduos) e significativa quantidade de espécies.
W) 134 cm. O teor de salinidade foi mensurado
Enquanto que o T2 exibiu alta abundância (> 100
no momento da coleta, com valores entre 40,5-
indivíduos) e reduzido número de espécies. Os
43,0 ppt.
valores totais de foraminíferos não demonstraram
No MicroCentro, Laboratório de Análise
padrão na distribuição ao longo dos testemunhos,
Micropaleontológica/UFRJ, os testemunhos
provavelmente em razão do excesso de salinidade
foram subamostrados a cada 10 cm, com
que ocasiona diminuição na concentração de
alíquota de 2 cm e volume padrão de 30 ml,
oxigênio, e consequente redução na ocorrência de
sendo as amostras lavadas, peneiradas na fração
indivíduos.
maior que 0,062 mm e secas na estufa a 50 °C.
A assembleia encontrada na laguna de
Posteriormente, de cada amostra ou fração de
Saquarema principalmente nos testemunhos
quarteamento foram retirados os primeiros 100
T1 e T2 (regiões lagunares mais internas), foi
foraminíferos para as análises e identificação
semelhante a encontrada por Debenay et al.
taxonômica segundo referências especializadas.
(2001) na laguna hipersalina de Araruama,
Separadamente, as mensurações de COT e
sendo encontradas também em outros ambientes
enxofre (S) foram analisadas pelo laboratório de
confinados. No testemunho T3, foi encontrada
Palinofácies e Fácies Orgânicas – LAFO/UFRJ.
uma microfauna mais marinha, com destaque
para a abundância da espécie P. lateralis. Segundo
RESULTADOS E DISCUSSÃO Bhalla & Gaur (1987), esta espécie é comumente
No testemunho T1 (174 cm) as espécies encontrada em regiões de praia, sendo assim,
mais abundantes foram Ammonia parkinsoniana, relacionada à influência marinha.
A. tepida, Elphidium excavatum, E. galvestonensis,
entre outras. Os valores de COT para T1 não CONCLUSÕES
foram significativos, pois variaram entre 0,07 e
As espécies A. parkinsoniana, A. tepida
0,22%.
e E. excavatum, foram as mais abundantes e
O testemunho T2 (134 cm) obteve
características do ambiente lagunar (restrito),
assembleia semelhante ao encontrado no T1.
principalmente nos testemunhos T1 e T2.
As espécies mais representativas foram A.
Enquanto que o testemunho T3 exibiu assembleia
parkinsoniana, A. tepida, E. excavatum, entre
mais marinha em razão da provável localização no
outras. Enquanto que as mensurações de COT,
canal da Barra Franca, próximo ao mar.
da base ao topo variaram de 0,07 a 0,60%, com
Os três testemunhos quando comparados,
exceção do intervalo de 34 cm que obteve 2,15%.
não demonstraram um padrão de distribuição
A microfauna presente no T3 foi
de ocorrência de indivíduos. No entanto, T1 e
diferente da encontrada no T1 e T2, em razão
T2 exibiram semelhanças quanto à composição
da provável localização de coleta no canal da
microfaunística, devido provavelmente a
Barra Franca, próximo ao mar. Assim, as espécies
localização mais interna da laguna de Saquarema.
mais abundantes foram Poroeponides lateralis,
Os dados de COT e enxofre (S), em
Pseudononion papillatum e Nonion spp, além de
geral, foram baixos nos três testemunhos, não
outras. Este testemunho foi predominantemente
apresentando diferenças marcantes quando
arenoso, sendo 0,07% o valor médio de COT.
associados aos valores de indivíduos e aspectos
Comparando os três testemunhos
taxonômicos. Sendo assim, pode-se inferir que
em relação aos aspectos quali-quantitativos,

198
o sistema lagunar de Saquarema não apresentou GUIMARÃES, M.B.C. 2007. A Ocupação Pré-
significativo estresse ambiental. colonial da Região dos Lagos, RJ: Sistema
de Assentamento e Relações Intersocietais
entre Grupos Sambaquianos e Grupos
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Acesso em: 03 mar. 2011.

199
Figura 1. Localização da laguna de Saquarema: A) Urussanga, B) Jardim, C) Boqueirão e D) Fora (Google, 2011).

200
BIOESTRATIGRAFIA DO QUATERNÁRIO DA BACIA DE SANTOS
COM BASE EM FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS
Fabricio Ferreira1 (fabferreira@unisinos.br), Itamar Ivo Leipnitz1 (itamar@unisinos.br), Marco Aurelio Vicalvi2
(vicalvi.gorceix@petrobras.com.br), Eduardo da Silva Aguiar1 (eds@unisinos.br), Antonio Enrique Saião Sanjinés2
(antonio.sanjines@petrobras.com.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, 2CENPES/PDGEO/BPA – PETROBRAS
1

RESUMO intervalo Pleistoceno/Holoceno (Vicalvi, 1997 e


1999; Portilho-Ramos et al., 2006).
O estudo da fauna de foraminíferos
planctônicos quaternários de dois testemunhos Por apresentar espécies sensíveis a
coletados no talude da Bacia de Santos permitiu alterações ambientais, a análise de foraminíferos
o reconhecimento de sete zonas (T, U, V, W, X, planctônicos permite indicar com precisão
Y e Z) e 14 subzonas (U2, U1, V3, V2, V1, W2, eventos glaciais e interglaciais ocorridos ao longo
W1, X3, X2, X1, Y2, Y1, Y1B e Y1A). Destas é o do Pleistoceno/Holoceno, estes representados
primeiro registro das zonas / subzonas T, U (U2, pelas zonas de Ericson & Wollin (1968) Q, R,
U1), V (V3, V2 e V1), que com exceção da Zona S, T, U, V, W, X, Y e Z. As zonas Q, S, U, W e
T, presente apenas no testemunho #C, permitiu a Y representam intervalos glaciais, enquanto R,
correlação entre os testemunhos. T, V e X intervalos interglaciais e Z ou Recente
(pós-glacial).
Palavras-chave: Quaternário,
Bioestratigrafia, Foraminíferos planctônicos Este zoneamento é baseado na presença/
ausência/abundância relativa de espécies e/ou
associações chaves, como os plexos G. menardii e
ABSTRACT Pulleniatina, o que permite a correlação regional
The study of the Quatenary planktonic entre poços e auxilia a compreensão dos eventos
foraminifera from two piston cores collected on associados à evolução das bacias sedimentares
the slope of the Santos Basin demonstrated the (Vicalvi, 1999). Os estudos realizados até o
existence of seven zones (T, U, V, W, X, Y e Z) and momento nas bacias brasileiras abrangem
14 subzones (U2, U1, V3, V2, V1, W2, W1, X3, apenas o intervalo mais recente do Quaternário,
X2, X1, Y2, Y1, Y1B e Y1A). Is the first record of representado pelas zonas W, X, Y e Z (e.g. Vicalvi,
the zones/ subzones T, U (U2, U1), V (V3, V2 e 1997 e 1999, Toledo, 2000; Portilho-Ramos et al.
V1), which the exception of T Zone, present only 2006; Sanjinés, 2006; Oliveira et al., 2007).
in the core #C, allowed the correlation between Este trabalho objetiva correlacionar os
the cores. testemunhos analisados através do zoneamento
Keywords: Quaternary, Biostratrigraphy, estabelecido com base em foraminíferos
Planktonic foraminifera planctônicos, assim como identificar possíveis
hiatos e outras descontinuidades estratigráficas.

INTRODUÇÃO
Devido a sua importância no cenário
ÁREA DE ESTUDO
econômico nacional,em termos de hidrocarbonetos, A Bacia de Santos é definida
a margem continental brasileira vem sendo alvo de geologicamente como uma depressão localizada
diversas pesquisas relacionadas à bioestratigrafia, à entre os paralelos 23º-28º Sul ocupando uma área
paleoecologia e à paleoceanografia, principalmente de 350.000 km2 que limita-se ao norte com a Bacia
em intervalos pré-pliocênicos. Além de aplicações de Campos no Alto de Cabo Frio, ao sul com a
em geotecnia, este estudo contribui também para Bacia de Pelotas na Plataforma de Florianópolis,
o entendimento da evolução do paleoclima e a leste na cota batimétrica de 3.000 m e a oeste
da paleoceanografia do Atlântico Sul durante o com a Serra do Mar, sendo uma bacia confinada
ao domínio marinho (Moreira et al., 2007).

201
Os depósitos quaternários marinhos demais espécies (Neogloboquadrina dutertrei,
de águas profundas da bacia estão inseridos Globigerinoides conglobatus e Orbulina universa)
no contexto litoestratigráfico da Formação são utilizadas de forma complementar para a
Marambaia (sequência N50-N60) onde correlação bioestratigráfica (Vicalvi, 1997 e 1999).
predominam os sedimentos lamosos, cortados por
cânions preenchidos por sedimentos lamosos e
arenosos finos de origem turbidítica (Moreira et
RESULTADOS E DISCUSSÃO
al., 2007). As análises micropaleontológicas
permitiram o reconhecimento de sete zonas (T,
U, V, W, X, Y e Z) de Eriscon & Wollin (1968)
MATERIAIS E MÉTODOS e 14 subzonas, sendo U2, U1, V3, V2 e V1 de
Os testemunhos são provenientes do Martins et al. (1990); W2 e W1 de Kennett &
talude da Bacia de Santos e coletados em Hudlestum (1972); X3, X2, X1, Y2, Y1 de Vicalvi
profundidades superiores a 2.100 m (Fig. 1a), (1997 e 1999) e Sanjinés (2006); Y1B e Y1A de
objetivando caracterizar o fundo oceânico das Kowsmann & Vicalvi (2003). Vale ressaltar que é
regiões profundas e ultraprofundas da bacia o primeiro registro das zonas T e U e das subzonas
(Kowsmann et al. 2008). U2, U1, V3, V2 e V1 para as bacias brasileiras. A
Os testemunhos apresentam recuperação Zona V foi observada por Ferreira et al. (2010)
contínua superior a 20 m de onde foram retiradas nos testemunhos #A e #B localizados na mesma
186 amostras (#C -107; #D - 79). As amostras área de estudo.
foram coletadas em intervalos regulares de 30 cm No poço #C foram reconhecidos três
ou onde houvesse alteração litológica, e tratadas episódios interglaciais (T, V e X) e três episódios
em laboratório a partir da metodologia padrão glaciais (U, W e Y) e 14 Subzonas (U2, U1, V3,
para a preparação de microfósseis calcários. V2, V1, W2, W1, X3, X2, X1, Y2, Y1, Y1B e Y1A).
O material analisado (fração > 125 μm) No poço #D foram reconhecidos dois episódios
foi quarteado, quando necessário, para a obtenção interglaciais (V e X) e três episódios glaciais (U,
de no mínimo 300 espécimes. Este resíduo W e Y), e 14 Subzonas (U2, U1, V3, V2, V1, W2,
foi utilizado para a construção do arcabouço W1, X3, X2, X1, Y2, Y1, Y1B e Y1A). Em ambos
bioestratigráfico por concentrar as espécies de os poços foi reconhecido o episódio pós-glacial,
foraminíferos planctônicos de maior interesse representado pela Zona Z.
bioestratigráfico (Vicalvi, 1997 e 1999). O O zoneamento obtido através do controle
resíduo não triado foi analisado de forma expedita dos plexos e espécies selecionados permitiu a
para verificar a presença de representantes do correlação entre as seções. Estas apresentaram
plexo Pulleniatina, que devido a sua particular continuidade lateral entre as zonas e subzonas
tolerância a alterações ocorridas na coluna d’água reconhecidas, exceção a Zona T (interglacial)
auxilia a interpretação e a definição das biozonas. que está representado apenas na base do poço
Este procedimento é indispensável para a correta #C (Fig. 1b). Apesar da presença de algumas
identificação de possíveis limites entre zonas/ lâminas arenosas, não foi observado à ausência de
subzonas e datuns (e.g. YP.4, YP.3, YP.2 e YP.1) nenhuma zona/subzona.
existentes ao longo do Quaternário.
As espécies utilizadas foram selecionadas
CONCLUSÕES
de acordo com a sua tolerância as variações
ambientais onde os plexos Globorotalia menardii A partir da construção do biozoneamento
(G. menardii menardii, G. menardii flexuosa, observou-se que o intervalo analisado abrange
G. tumida, G. fimbriata) e Pulleniatina (P. zonas e subzonas pouco conhecidas e/ou ainda
obliquiloculata, P. primalis, P. finalis) representam não relatadas para a margem brasileira (zonas T, U
intervalos tipicamente quentes, enquanto e V; subzonas V3, V2, V1, U2 e U1). A correlação
as espécies G. inflata, G. truncatulinoides, G. entre todas as zonas/subzonas identificadas nas
crassaformis representam intervalos frios. As seções reflete a estabilidade relativa nas regiões
onde estes testemunhos estão localizados.

202
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS planctônicos. Estudos Geológicos, 17(2):41-
50.
ERICSON, D.B. & WOLLIN, G. 1968.
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FERREIRA, F.; LEIPNTIZ, I.I.; AGUIAR, E.S. Superior da Bacia de Santos com base em
& SANJINÉS, A.E.S. 2010. Bioestratigrafia foraminíferos planctônicos. Revista Brasileira
do Neógeno da Bacia de Santos – de Paleontologia 9(3):349-354.
Resultados preliminares. In CONGRESSO
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Rio Grande, 2010. CD-ROM. de foraminíferos em três testemunhos da
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KENNETT, J.P. & HUDDLESTUN, P. da Bacia de Campos, RJ – Brasil. Rio de
1972. Late Pleistocene paleoclimatology, Janeiro, UFRJ, Dissertação de Mestrado, 119
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tephrochronology, Western Gulf od Mexico.
Quaternary Research, 2:38-69. TOLEDO, F.A.L. 2000. Variação
paleoceanográficas nos últimos 30.000
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Descrição e datação dos furos da campanha de oxigênio, assembleia de foraminíferos
Bucentaur 2003. PDEXP/PETROBRAS. planctônicos e nanofósseis calcários. São
Relatório interno RT 08/2003, 17 p. Paulo, USP, Tese de Doutorado, 245 p.
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PETROBRAS. Relatório Interno RT Boletim de Geociências da Petrobrás,
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MARTIN, R.E.; JOHNSON, G.W.; NEFF, VICALVI, M.A. 1999. Zoneamento
E.D. & KRANTZ, D.E. 1990. Quaternary bioestratigráfico e paleoclimático do
planctonic foraminiferal assemblages zones Quaternário Superior do talude da Bacia de
of the northest Gulf of México, Colombia Campos e Platô de São Paulo adjacente, com
basin (Caribbean Sea), and tropical Atlantic base em foraminíferos planctônicos. Tese de
Ocean: Graphic correlation of microfossil and Doutorado – Curso de Pós-Graduação em
oxygen isotope datums. Paleoceanography, Geologia, Universidade Federal do Rio de
5(4):531-555. Janeiro, 183 p.
MOREIRA, J.L.P.; MADEIRA, C.V.; GIL,
J.A. & MACHADO, A.P. 2007. Bacia de
Santos. Boletim de geociências da Petrobras,
15(2):531-549.

OLIVEIRA, D.H.; MELLO, R.M.; BARRETO,


A.M.F. & STROHSCHOEN JR., O. 2007.
O limite Pleistoceno/Holoceno no Campo
de Marlin Leste da bacia de Campos - RJ,
com base na bioestratigrafia de foraminíferos

203
Figura 1. a. Mapa de localização da Bacia de Santos e dos testemunhos analisados; b. Biozonas identificadas e correlação
entre os testemunhos.

204
CARACTERIZAÇÃO DOS SEDIMENTOS BIOGÊNICOS DA
PLATAFORMA CONTINENTAL ORIENTAL DO RIO GRANDE DO
NORTE, ENTRE AS REGIÕES DE MARACAJAÚ A TOUROS
Alanny Christiny Costa de Melo1 (alannymelo@gmail.com), Ricardo Farias do Amaral1 (projetocorais@yahoo.com.br), Vinícius
Nóbrega de Miranda1 (vinicius.n.miranda@gmail.com)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal (RN)
1

RESUMO Keywords: biogenic sediments, GIS,


continental shelf
Esta pesquisa foi executada no âmbito do
projeto Levantamento Batimétrico e Faciológico
da Plataforma Continental Rasa do Estado do INTRODUÇÃO
Rio Grande do Norte – Folha Touros (SB.25- Os sedimentos biogênicos da plataforma
VC-II) – CPRM/UFRN), localizada na continental são aqueles de composição
plataforma continental, na porção norte do Rio carbonática, constituídos por algas calcárias
Grande do Norte. A qual teve como objetivo a (Halimeda  e  Lithothamnium) ou por fragmentos
localizar e caracterizar dos sedimentos biogênicos de conchas (coquinas e areias carbonáticas)
presentes no fundo marinho. A metodologia segundo Dias (2000).
utilizada constata-se de levantamento
Para este estudo foram utilizados
bibliográfico, seleção das amostras coletadas no
sedimentos biogênicos da plataforma continental
levantamento batimétrico, fotografias digitais,
na porção nordeste do Rio Grande do Norte e
análise, identificação utilizando um Sistema de
os quais foram coletados no âmbito do projeto
Informações Geográficas e geração de um banco
Levantamento Batimétrico e Faciológico da
de dados. Os resultados parciais indicam uma
Plataforma Continental Rasa do Estado do Rio
predominância de algas calcárias verdes, seguidas
Grande do Norte– Folha Touros (SB.25-VC-II)
por algas calcárias vermelhas, algas calcárias
– CPRM/UFRN (Figura 1).
antigas e carapaças de moluscos.
A plataforma continental estudada
Palavras-chave: sedimentos biogênicos,
apresenta uma dominância de fácies carbonática
SIG e plataforma continental
com predomínio da fração areno-casalhosa em
função da composição biogênica segundo Santos
ABSTRACT (2010).
This study was performed under the As amostras foram selecionadas de perfis
project Levantamento Batimétrico e Faciológico perpendiculares a linha de costa, a escolha dos
da Plataforma Continental Rasa do Estado do Rio destes pontos permitirá que se tenha uma ideia de
Grande do Norte – Folha Touros (SB.25-VC-II) possíveis variações no conteúdo dos biogênicos à
– CPRM/UFRN),located on the continental medida que se afasta da costa em direção ao litoral
shelf in the northern portion of Rio Grande do e também de norte para sul (Figura 1).
Norte.Which was aimed at the location and A classificação dos sedimentos foi feita
characterization of these biogenic sediments on the utilizaram-se doze classes previamente definidas
seabed.The methodology notes to a bibliographic por Tinoco (1988) e utilizada para estudos na
survey, selection of samples from the bathymetric mesma área por Melo et al (2010).
survey, digital photos, analysis, identification
using a Geographic Information System and the METODOLOGIA
creation of a database.Partial results indicate a
predominance of calcareous green algae, followed
by red calcareous algae, calcareous algae and shells Preparação das Amostras
of ancient mollusks. As amostras recolhidas em campo foram
previamente lavadas e secadas. Em seguida, cada

205
amostra foi quarteada e então as frações fração RESULTADOS OBTIDOS
cascalho fino a areia muito grossa (diâmetro de 1
Dentre as amostras analisadas obtivemos
a 4 mm) foram separadas por peneiramento.
os seguintes resultados parciais:
Classe de sedimento % encontrada nas amostras
Fotografias Algas calcárias verdes 49,92%
Para fotografar as amostras foi utilizado Algas calcárias vermelhas 16,32%
uma lupa digital, utilizando as frações separadas. Algas Antigas 9,99%
Para cada amostra foram retiradas duas fotos com Artrópodes 0,01%
Briozoários 0,02%
ampliações de 30 vezes (Figura 2), sendo necessário
Corais 0,04%
para algumas amostras utilizar ampliação de 40 Equinodermas 0,46%
vezes (Figura 2). Esponjas 0%
Foraminíferos 1,15%
Moluscos 6%
CLASSIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO Tubos de verme 0,68%
DOS SEDIMENTOS BIOGÊNICOS Graõs minerais 10,98%
Outros 4,65%

Classificação
A identificação é feita utilizando os CONCLUSÕES
cinqüenta primeiros grãos aleatórios de cada fração As algas calcárias, verdes, vermelhas
com o auxílio de uma lupa binocular ou digital, ou antigas predominam seguidas por grãos
facilitando a quantificação da porcentagem da minerais. O crescimento dos organismos citados
composição total. Nesse procedimento é possível, anteriormente foi favorecido devido a pouca
também, observar se os sedimentos são antigos ou entrada de sedimentos terrígenos, como areia e
novos segundo Lima (2008). lama, pois águas barrentas não apenas interferem
Os grãos são classificados como no como também diluem a contribuição
algas calcárias vermelhas, verdes ou antigas, de carbonato biogênico na composição dos
foraminíferos (bentônicos ou planctônicos), tubos sedimentos de fundo de plataforma segundo
de vermes, briozoários, moluscos (gastrópodes ou Santos (2010). Uma ativa produção carbonática,
bivalves na maioria), equinoderma (espinho de favorece o desenvolvimento de um amplo
ouriço ou fragmentos de carapaças), esponjas e fundo de algas calcárias, representando, a nível
suas espículas, artrópodes (patas ou fragmentos de global, a maior extensão coberta por sedimentos
carapaças de crustáceos), corais ou grão minerais carbonáticos de acordo com Alveirinho Dias
(quartzo ou mineral pesado) de acordo com Melo (2004).
et al (2010).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Identificação
Para auxiliar na identificação das classes ALVEIRINHO DIAS, J. A análise sedimentar e os
biogênicas foram utilizadas fotografias adquiridas conhecimentos dos sistemas marinhos rasos. 1 ª
a partir de uma lupa digital e do SIG Quantun GIS Ed. Faro, Ed. Univresidade do Algarve Faro,
utilizado como apoio na análise das imagens para 80p.
a determinação de um sistema de coordenadas,
DIAS. G.T.M. 2010. Granulados Bioclásticos
armazenamento e visualização dos dados obtidos.
– Algas calcárias. Revista Brasileira de
A identificação dos grãos é feita com o Geofísica. Vol. 8(3), p. 307-318.
auxilio do software “Quantun Gis”. Para cada
amostra foram identificados 50 grãos. WENTWORTH, C.K. 1922. A scale of grade
and class terms for clastic sediments. Journal of
Geology. 30: 377-392.

206
LIMA, R.O. 2008. Caracterização dos sedimentos download.osgeo.org/qgis/doc/manual/qgis-
superficiais biogênicos da Plataforma equatorial 1.3.0_user_guide_en.pdf >.
Brasileira adjacente ao RN, entre a região de
Porto do Mangue e galinhos. Universidade SANTOS, J.R. 2010. Caracterização
Federal do Rio Grande do Norte, Relatório Morfodinâmica e Sedimentologica da
de Graduação em Geologia,79. Plataforma Continental Rasa na APA Estadual
dos Recifes de Corais – RN. Programa de Pós-
MELO, A.C.C. AMARAL, R.F. & SANTOS, Graduação  em  Geodinâmica  e Geofísica,
A.B. 2010. Identificação e classificação Universidade Federal do Rio Grande do
dos sedimentos biogênicos da plataforma Norte, Dissertação de Mestrado, 85 p.
continental do Rio Grande do Norte - Folha
Touros – Fração areia muito grossa a cascalho TINOCO, I.M. 1988. Introdução ao estudo dos
fino. In: Congresso Brasileiro de Geologia, componentes bióticos dos sedimentos marinhos
Belém, PA. 2010. Resumos. recentes. 1 ª ed. Pernambuco, Ed. Universitária
da UFPE, 219p.
QUANTUM, G.I.S. 2009. User Guide. Versão
1.3.0 Mimas, 217p. Disponível em: < http://

Figura 1. Mapa de Localização da área e pontos coletados.

207
Figura 2. Fotografia com ampliação 40x na qual podemos observar algas verdes e vermelhas, grãos minerais , fragmento
de equinoderma (A). Ampliação de 30x na qual podemos observar algas verdes , vermelhas e antigas, e carapaças de
moluscos.

208
DIATOMÁCEAS DO DIATOMITO BASAL DO
PALEOLAGO CEMITÉRIO, GOIÁS, BRASIL
Daniela Bes1 (danielabes@gmail.com), Lezilda C. Torgan2, Roberto Iannuzzi3
1
Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2Museu de Ciências Naturais, Fundação
Zoobotânica do Rio Grande do Sul; 3Instituto de Geociências, Departamento de Paleontologia, Universidade do Rio Grande do Sul.

RESUMO além de restos vegetais (Cardoso & Iannuzzi,


2006; Cardoso, 2007; Machado, 2009). Foram
A presente contribuição teve como objetivo
detectadas ao longo da exposição várias camadas
o levantamento da composição taxonômica de
de rocha contendo restos dessas microalgas,
diatomáceas encontradas no diatomito basal do
além de uma relativamente espessa camada de
depósito quaternário do Paleolago Cemitério, em
diatomito, dada à concentração encontrada de
Catalão, Goiás. A análise das amostras revelou
frústulas (cerca de 30 milhões de valvas/g). O sítio
a presença de 43 espécies distribuídas em 19
do Paleolago Cemitério pode ser considerado, na
gêneros, incluindo entre elas formas planctônicas,
atualidade, a melhor seção aflorante de um lago em
meroplanctônicas e bentônicas. Aparentemente,
relevo cárstico no país. A atuação da Mineradora
todas correspondem às espécies ainda viventes
Vale Fertilizantes (antiga Fosfértil) possibilitou
as quais poderão ser úteis para a reconstrução do
a exposição de grande parte da seqüência
paleoambiente.
deposicional deste paleolago e a obtenção de
Palavras-chave: diatomito, ambiente
amostras frescas em grande quantidade ao longo
lacustre, Quaternário
de toda seção. A presente investigação teve por
objetivo avaliar a composição taxonômica de
ABSTRACT diatomáceas do diatomito basal da seqüência
The main goal of this contribution is the deposicional.
survey of taxonomic composition of diatoms found
in the lower diatomite of the Quaternary deposit MATERIAIS E MÉTODOS
of the Cemitério Paleolake, Catalão county, Goiás
O depósito Paleolago Cemitério
state. The analysis indicated the occurrence of
situa-se no Complexo Ultramáfico-Alcalino-
43 species distributed in 19 genera, including
Carbonatítico de Catalão I, da Província Ígnea
amongst them planktonic, meorplanktonic and
do Alto Paranaíba, entre as coordenadas 18°08’S
bentic diatoms. Apparently, all of them correspond
e 47°48’O, à sudeste do Estado de Goiás (Fig.
to still alive species which could be useful to
1). Trata-se de um depósito lacustre, com grande
paleoenvironmental reconstructions.
exposição contínua de cerca de 300 m de largura por
Keywords: diatomite, lacustrine 30 m de espessura, originado pelo preenchimento
environment, Quaternary de uma depressão situada na parte central do
Complexo Carbonatítico de Catalão I, onde as
INTRODUÇÃO rochas sedimentares assentam discordantemente
(Fig. 2) sobre um domo de rocha magmática
Recentemente, foi descoberto um espesso
carbonatítica do Cretáceo tardio (Ribeiro et al.,
depósito lacustre, denominado de Paleolago
2001).
Cemitério. Este depósito desenvolveu-se em
relevo cárstico sobre um domo carbonatítico no O método para a preparação das amostras
município de Catalão, Goiás, região central do de sedimento utilizado está detalhado em
Brasil. Sua base foi datada do Quaternário, mais Battarbee (1986). Este consiste na pesagem de
precisamente do Pleistoceno tardio (Ribeiro et al., 1 g de sedimento em béquer, adição de 50 mL
2001). Os sedimentos do paleolago revelaram a de peróxido de hidrogênio e aquecimento sobre
revelou a presença de espongilitos e diatomitos, placa aquecedora. Posteriormente, as amostras

209
são lavadas com água destilada e secas em estufa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Este procedimento foi escolhido a fim de evitar
eventual perda de material, bem como danos às BATTARBEE, R.W. 1986. Diatom Analysis.
valvas, já que as frústulas presentes em sedimento In: BERGUND, B.E. (ed.), Handbook of
são normalmente mais frágeis e suscetíveis à Holocene Palaeoecology and Palaeohydrology.
fragmentação. O sedimento oxidado é diluído em John Wiley & Sons, New York, p. 527-570.
150 mL de água destilada e uma fração de 0,1 mL
CARDOSO, N. 2007. Paleoecologia da flora de
é colocada na lamínula (20 x 20 mm), deixando-a
Catalão, Paleolago Cemitério, Estado de Goiás.
secar naturalmente para assegurar a distribuição
2007. 148 f. Tese (Doutorado), Instituto de
homogênea da amostra em toda a lamínula. As
Geociências, Curso de Pós-Graduação em
lâminas permanentes são seladas com a resina
Geociências, Universidade Federal do Rio
Naphrax para a observação em microscópio óptico.
Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.
Para a observação em microscópio eletrônico
de varredura, parte do material é colocado sob CARDOSO, N. & IANNUZZI, R. 2006.
suportes de alumínio. As lâminas permanentes Pteridium catalensis sp. nov., uma nova
estão depositadas no Herbário Prof. Dr. Alarich Pteridófita fóssil do Complexo Carbonatítico
Schultz (HAS) da Fundação Zoobotânica do Rio Catalão I, Goiás. Revista Brasileira de
Grande do Sul. O enquadramento taxonômico Paleontologia, 9 (3): 303-310.
das espécies foi feito com base em Round et al.
(1990). MACHADO, V.S. 2009. Espongofauna do
Paleolago Cemitério, Catalão, Goiás.
Dissertação (Mestrado em Geociências),
RESULTADOS
Instituto de Geociências, Curso de Pós-
O resultado da avaliação taxonômica Graduação em Geociências, Universidade
das amostras revelou a presença de 43 espécies Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
distribuídas em 19 gêneros. Os gêneros mais 99 f.
representativos em número de espécies foram
Eunotia Ehrenberg, Gomphonema Ehrenberg, RIBEIRO, C.C.; BROD, J.A.; PETRINOVIC,
Pinnularia Ehrenberg e Navicula Bory. I.A.; GASPAR, J.C. & BROD, T.C.J. 2001.
Constatou-se a predominância de táxons de Pipes de brecha e atividade magmática
pequeno tamanho, planctônico, pertencente ao explosiva no complexo alcalino-carbonático
gênero Discostella (Cleve & Grunow) Houk de Catalão, Goiás. Revista Brasileira de
& Klee, bentônicos como Fragilaria Lyngbye, Geociências, 31 (4): 417-426.
Staurosirella Williams & Round e Achanthidium
Kützing e também meroplanctônico, como ROUND, F.E.; CRAWFORD, R.M. & MANN,
Aulacoseira Thwaites. Aparentemente, todas as D.G. 1990. The Diatoms: biology & morphology
espécies encontradas são ainda viventes. Neste of the genera. Cambridge: Cambridge
sentido, será possível estabelecer alguns dos University Press. 747 p.
parâmetros sobre o paleoambiente através da
análise da autoecologia das espécies observadas.

AGRADECIMENTO
Os autores agradecem à Capes, ao Museu
de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do
Rio Grande do Sul, ao Grupo Anglo American/
Copebrás e à Vale Fertilizantes.

210
Figura 1. Mapa de localização do Complexo Ultramáfico-alcalino-carbonatítico de Catalão I, onde se situa o depósito do
Paleolago Cemitério. Fonte: Cardoso & Iannuzzi (2006).

211
Figura 2. Perfil estratigráfico do Paleolago Cemitério, Catalão, Goiás.

212
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE DINOFLAGELADOS (DIVISÃO
DINOFLAGELLATA, CLASSE DINOPHYCEAE) NO CRETÁCEO DO
BRASIL E SUAS IMPLICAÇÕES PALEOBIOGEOGRÁFICAS
Mitsuru Arai1 (arai@petrobras.com.br)
1
Petrobras

RESUMO categorização de seu caráter, se é global, regional


ou local. Um exemplo típico disso é o arcabouço
Apesar da maioria dos dinoflagelados
bioestratigráfico de Williams & Bujak (1985)
ser de natureza planctônica, eles não possuem
que, sendo originário do Hemisfério Norte,
distribuição uniforme ao redor do mundo.
contém relativamente poucas espécies conhecidas
Excetuando espécies francamente cosmopolitas,
no Brasil. Já o arcabouço de Helby et al. (1987),
apresentam distribuições geográficas diferenciadas
proposto para o Mesozoico da Austrália, contém
que podem levar à caracterização de províncias
muitas das espécies-guias familiares no Brasil; (2)
biogeográficas. A situação no Cretáceo não foi
o provincialismo é reflexo direto da diferenciação
diferente, e os estudos de dinoflagelados fósseis
biogeográfica e, portanto, constitui um dado
vêm revelando padrões que podem contribuir
importante na paleogeografia que pode incluir
muito à interpretação paleobiogeográfica.
as reconstituições de fatores maiores, como as
Palavras-chave: Dinoflagelado, Cretáceo, zonas climáticas oceânicas e paleocorrentes
Paleobiogeografia marítimas globais, além das barreiras fisiográficas;
O presente trabalho deriva de um (3) o registro de associações biogeograficamente
levantamento exaustivo das associações de compatíveis, em pontos hoje distantes entre si,
dinoflagelados do Cretáceo do Brasil e serve de pode indicar que essas localidades estiveram mais
preliminar para um modelo paleobiogeográfico próximas num passado geológico, auxiliando na
do Atlântico Sul primitivo. Para que o modelo reconstituição dos paleocontinentes.
seja coerente em contexto maior, incluindo dados Estudos de dinoflagelados com algum
do Atlântico Norte/Central e do Tétis, o trabalho enfoque biogeográfico, publicados com base nos
contou também com dados publicados fora do dados oriundos de bacias sedimentares brasileiras,
Brasil. A maioria dos dinoflagelados fósseis são ainda escassos (e.g., Lana & Botelho
provém de espécies planctônicas, e, por esta razão, Neto, 1989; Arai et al., 2000; Lana et al., 2002;
acreditava-se que todos eles fossem cosmopolitas. Arai, 2007). Uma boa representação disso é a
Mas, na prática, o que se observa é uma notável distribuição dos furos realizados pelo Deep Sea
diferenciação paleobiogeográfica, constituindo Drilling Project (DSDP) e pelo Ocean Drilling
províncias distinguíveis ao redor do mundo. A Program (ODP) que, visualizada no mapa, torna
existência de provincialismo reconhecido por patente a limitação de dados na porção ocidental
meio de associação de dinoflagelados fósseis vem do Atlântico Sul setentrional. Nesse sentido, os
sendo confirmada por vários trabalhos produzidos dados provenientes dos poços perfurados para fins
nas últimas décadas (Norris, 1975; Lentin & de exploração petrolífera nas bacias da margem
Williams, 1980; Lana & Botelho Neto, 1989; continental brasileira constituem preciosas fontes
Riding & Ioannides, 1996; Arai et al., 2000; Lana de informações que servem para dirimir lacunas
et al., 2002; Masure et al., 2004). do panorama paleobiogeográfico global.
O reconhecimento do provincialismo Dinoflagelados são conhecidos em quase
tem importância basilar pelas seguintes razões: todos os ambientes aquáticos, em especial nos
(1) o conhecimento do comportamento habitats pelágicos marinhos, com destaque na
biogeográfico é fundamental na escolha adequada zona epipelágica nerítica. Dentre as espécies atuais
de espécies-guias utilizadas na consecução de conhecidas, 90% são marinhas, constituindo cerca
biozoneamentos, pois, fora da área-tipo, nem de 20% do fitoplâncton marinho (Taylor, 1987).
todos os fósseis-guias consagrados ocorrem ou Juntamente com diatomáceas e cocolitoforídeos,
possuem o mesmo comportamento estratigráfico. os dinoflagelados constituem a parcela
Assim, o estabelecimento do limite geográfico significativa do fitoplâncton eucariótico marinho
da validade de um fóssil-guia pode permitir a

213
e portanto importante base da cadeia alimentar. amplas em nível global, pois, sendo praticamente
São particularmente abundantes em alguns onipresentes em todos os estratos coevos a suas
oceanos (e.g., Mar Vermelho e Oceano Índico), amplitudes estratigráficas, não servem para
onde podem perfazer 70% do fitoplâncton. identificar diferenciações paleobiogeográficas.
Os ciclos vitais dos dinoflagelados são Enquadram-se neste caso as espécies com ampla
controlados por diversos fatores, sendo os mais distribuição geográfica, tais como Alisogymnium
importantes a temperatura, a salinidade, a euclaense, Cerodinium diebelii, Circulodinium
luminosidade, a disponibilidade de nutrientes distinctum, Coronifera oceanica, Hystrichodinium
e a quantidade de oxigênio na água. Destes, pulchrum, Isabelidinium cooksoniae, Odontochitina
a temperatura é o mais importante, pois os costata, Odontochitina operculata, Oligosphaeridium
dinoflagelados são organismos termófilos. Para a complex, O. pulcherrimum, Palaeohystrichophora
maioria das espécies viventes, a isoterma 15 – 16°C infusorioides, Pervosphaeridium cenomaniense,
é uma fronteira de distribuição geográfica. São Xenascus ceratioides e Xiphophoridium alatum.
notadamente mais abundantes e diversificados Em oposição às espécies cosmopolitas,
nas águas tropicais, mornas, do que nas existem as endêmicas de ocorrência geográfica
temperadas, sendo muito raras espécies que vivem restrita, tais como: Gordiacysta coronata e Walvisia
exclusivamente em águas frias (Wall et al., 1977). woodii (endêmicas no Atlântico Meridional do
Podem ser distinguidas espécies cosmopolitas, Albiano terminal); Occisucysta victorii e Tenua
temperadas, tropicais e intertropicais, cujas americana (endêmicas no Atlântico Austral do
distribuições são controladas pelas grandes faixas Aptiano); Subtilisphaera almadaensis (endêmica
de isotermas latitudinais. no Tétis Tropical do Aptiano); e Subtilisphaera
Neste trabalho, a afinidade biogeográfica codoensis (endêmica no Tétis Equatorial do
das associações de dinoflagelados do Cretáceo foi Aptiano).
determinada pela caracterização binária (presença Entre os dois extremos, existem diversas
e ausência) de táxons conhecidos em cada nível espécies com comportamentos intermediários.
estratigráfico (= datum bioestratigráfico), em cada Alguns são semicosmopolitas, e outros são
bacia. A presença de uma mesma espécie num semiendêmicas.
conjunto de bacias contíguas indicaria afinidade As espécies semicosmopolitas podem ser
biogeográfica entre estas no tempo representado subdivididos em dois grupos: (1) Equatorial/
pelo datum em apreço ( Jablonski et al., 1985; Tropical (ocorrência em paleolatitudes menores
Cecca, 2002). E, as bacias que não contêm do que 50°N/S); e (2) Tropical/Temperado
essa mesma espécie dentro do mesmo datum (ocorrência em todas as zonas climáticas, exceto
pertenceriam a uma província biogeográfica na faixa equatorial). Pertencem ao primeiro grupo
distinta. A diferenciação biogeográfica seria Atopodinium iuvene spp.; e ao segundo pertencem
evidenciada ainda mais, caso as bacias do segundo Heterosphaeridium heteracanthum, Leberidocysta
conjunto apresentassem espécies ausentes no chlamydata e Litosphaeridium siphoniphorum que
primeiro conjunto. ocorrem amplamente em nível global, exceto na
faixa equatorial.
Algumas espécies de ocorrência quase
COMPORTAMENTO global podem ser considerados semicosmopolitas
PALEOBIOGEOGRÁFICO DOS em função de algumas restrições: Cyclonephelium
DINOFLAGELADOS CRETÁCEOS vannophorum, que se torna escasso nas altas
O banco de dados utilizado conta com 193 latitudes; e Dinogymnium acuminatum, que parece
táxons de dinoflagelados cretáceos, mas muitos não atingir as altas latitudes do Hemisfério Sul.
deles não foram considerados para este estudo, Já Ovoidinium diversum parece ser mais restrito,
por serem táxons recentemente identificados pois, além de não ocorrer em paleolatitudes
no Brasil, cujos registros de ocorrência se maiores do que 45°N/S, não ocorre também na
restringem unicamente às bacias onde foram faixa equatorial.
realizados os trabalhos de detalhe. Igualmente, Espécies semiendêmicas exibem
não foram levados em consideração os táxons distribuições que refletem fielmente as zonas
francamente cosmopolitas que apresentam climáticas oceânicas, mas não são propriamente
distribuições paleogeográficas muito regulares e endêmicas, pois suas distribuições geográficas são
supra-regionais. Os dinoflagelados semiendêmicos

214
podem ser classificados em três grupos, de and continental temperature data. In:
acordo com a faixa climática: (a) Equatorial: BARRERA, E. & JOHNSON, C. (ed.).
Florentinia khaldunii; (b) Equatorial-Tropical: Evolution of the Cretaceous Ocean-Climate
Yolkinigymnium spp. e Andalusiella spp. (Figura 1); System, Boulder: Geological Society of
e (c) Tropical-Temperado: Odontochitina singhii. America, p. 49-57 (Geological Society of
Além desses, poder-se-ia admitir um America, Special Paper, 332).
quarto grupo representado por espécies que
ocorrem apenas em um dos hemisférios, sendo HELBY, R., MORGAN, R. & PARTRIDGE,
Ascodinium acrophorum, exclusivo da Faixa A.D. 1987. A palynological zonation of the
Tropical/Temperada do Hemisfério Sul, seu Australian Mesozoic. In: JELL, P.A (ed.).
exemplo mais típico. Outros são nitidamente
Studies in Australian Mesozoic Palynology.
mais frequentes no Hemisfério Sul, mas ocorrem
Sidney, Association of Australasian
esporadicamente no Hemisfério Norte, como
no caso de Balteocysta perforata, Conosphaeridium Palaeontologists, p. 1-94.
striatoconum e Nelsoniella spp..
JABLONSKI, D.; FLESSA, K.W. &
Ao contrário das associações atuais, não
VALENTINE, J.W. 1985. Biogeography
foi constatada a existência de espécies polares ou
subpolares no Cretáceo. Isto condiz com a hipótese and paleobiology. Paleobiology, 11(1): 75-90.
de que no Cretáceo teriam existido apenas as
LANA, C.C.; ARAI, M. & ROESNER, E.H.
zonas tropicais e temperadas, não existindo as
polares (Norris, 1975; Lentin & Williams, 1980). 2002. Dinoflagelados fósseis da seção
Segundo Frakes (1999), teriam existido calotas cretácea marinha das bacias marginais
polares no Eocretáceo, até o Aptiano, mas, como brasileiras: um estudo comparativo entre as
no Brasil o início do surgimento de províncias margens equatorial e sudeste. In: SIMPÓSIO
condicionadas a zonas climáticas oceânicas se deu SOBRE O CRETÁCEO DO BRASIL, 6.,
apenas no Neocretáceo, o presente estudo fica 2002. São Pedro-SP, Boletim...Rio Claro,
livre dessa discussão. UNESP, p.247-252.

LANA, C.C. & BOTELHO NETO, J. 1989.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Evidências de provincialismo entre os
ARAI, M. 2007. Sucessão das associações de dinoflagelados peridinióides do Cretáceo
dinoflagelados (Protista, Pyrrhophyta) ao Superior - Paleoceno das bacias de Santos
longo das colunas estratigráficas do Cretáceo das e Potiguar, Brasil. In: CONGRESSO
bacias da Margem Continental Brasileira: uma BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
análise sob o ponto de vista paleoceanográfico 11., Curitiba, 1989. Anais...Curitiba:
e paleobiogeográfico. Programa de pós- Sociedade Brasileira de Paleontologia, v.1, p.
graduação em Geociências, Universidade 353-371.
Federal do Rio Grande do Sul, Tese de
Doutorado, 241 p. LENTIN, J.K. & WILLIAMS, G.L. 1980.
Dinoflagellate provincialism with emphasis
ARAI, M.; BOTELHO NETO, J.; LANA, on Campanian Peridiniaceans. American
C.C. & PEDRÃO, E. 2000. Cretaceous Association of Stratigraphic Palynologists
dinoflagellate provincialism in Brazilian Foundation Contribution Series, 7: 1-46.
marginal basins. Cretaceous Research, 21: 351-
366. MASURE, E.; VRIELYNCK, B. & FIET, N.
2004. Albian dinoflagellates as indicators
CECCA, F. 2002. Palaeobiogeography of marine of oceanic climates and thermal front. In:
fossil invertebrates - concepts and methods. Reunião de Paleobotânicos e Palinólogos,
London, Taylor & Francis, 273 p. 11., Gramado, 2004. Boletim de Resumos…
Gramado: UFRGS-UNISINOS, p.97.
FRAKES, L.A. 1999. Estimating the global
thermal state from Cretaceous sea surface

215
NORRIS, G. 1975. Provincialism of Callovian WALL, D.; DALE, B.; LOHMANN, G.P. &
– Neocomian dinoflagellate cysts in the SMITH, W. K. 1977. The environment and
northern and southern hemispheres. climatic distribution of dinoflagellate cysts
American Association of Stratigraphic in modern marine sediments from regions
Palynologists Foundation Contribution Series, in the North and South Atlantic Oceans
4: 29-35. and adjacent seas. Marine Micropaleontology,
2:121-200.
RIDING, J.B. & IOANNIDES, N.S. 1996.
A review of Jurassic dinoflagellate cyst WILLIAMS, G.L. & BUJAK, J.P. 1985. Mesozoic
biostratigraphy and global provincialism. and Cenozoic dinoflagellates. In: BOLLI,
Bulletin Societé Géologique France, 167(1): H.M; SAUNDERS, J.B. & PERCH-
3-14. NIELSEN, K. (ed.). Plankton Stratigraphy,
Cambridge, Cambridge University Press, p.
TAYLOR, F.J.R. 1987. The biology of dinoflagellates. 847-1032.
London, Blackwell Scientific Publications,
785p. (Botanical Monographs, 21)

Figura 1. Mapa paleogeográfico do Campaniano (reconstituição a 75 Ma). Os quadrados pretos representam as


ocorrências de Andalusiella spp., e os círculos, as de Yolkinigymnium spp.; as linhas contínuas indicam os limites da
Província Equatorial-Tropical do Neocretáceo (Arai, 2007), e as tracejadas são os limites da “Suíte de Malloy” de Lentin
& Williams (1980). Nota-se a área da Província Equatorial-Tropical expandida em relação à da “suíte”, em função do
deslocamento do limite norte para o norte, devido provavelmente à “Paleocorrente do Golfo”, e do limite sul para o sul,
devido à “Paleocorrente do Brasil”.

216
DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DA MICROFAUNA DE FORAMINÍFEROS
DO ESTUÁRIO DO RIO CARAVELAS, BAHIA
Altair de Jesus Machado1 (altair@ufba.br), Helisângela Acris Borges de Araújo1
Universidade Federal da Bahia
1

RESUMO como ferramenta para obter informações sobre o


sistema estuarino. Nestes ecossistemas, variações
O presente estudo tem por objetivo
espaciais e temporais de salinidade ajudam a
identificar alterações significativas na dinâmica
definir a composição da microfauna, tornando
do estuário do Rio Caravelas, a partir de
possível avaliar alterações na dinâmica destes
modificações na distribuição vertical das espécies
ambientes.
de foraminíferos. Para tanto, foram identificadas
as 100 primeiras testas de foraminíferos triadas Nas regiões estuarinas brasileiras, os
a partir de amostras coletadas a cada 2 cm de foraminíferos têm sido utilizados, sobretudo, em
da coluna sedimentar TCV1A. Os valores de trabalhos que realizam diagnósticos ambientais de
abundância relativa das espécies foram avaliados hidrodinâmica dos ecossistemas parálicos (Duleba
ao longo da coluna sedimentar, permitindo & Debenay, 2003) e que estabelecem zonação
subdividir o testemunho em três intervalos, ecológica de estuários e lagunas com diferentes
caracterizados, da base até topo, por apresentarem, graus de influência de salinidade (Duleba et al.,
respectivamente, menor, maior e menor influência 1999; Rodrigues et al., 2003).
marinha.
Palavras-chave: Foraminíferos, ÁREA DE ESTUDO
distribuição vertical, estuário O estuário do Rio Caravelas (17º43’S;
39º15’W) está localizado no extremo sul do estado
ABSTRACT da Bahia, estendendo-se para o continente, onde
forma o segundo maior complexo de manguezal
The present study aims to identify
da região Nordeste do Brasil, com uma área de
significant changes in the dynamics of the
66 km2 (Herz, 1991) (Figura 1). Este estuário
estuary Caravelas from changes in the vertical
está associado à desembocadura do Rio Peruípe,
distribution of species of foraminifera. To this end,
através de pequenos canais meandrantes, e possui
we identified the first 100 foraminifers tests from
uma barra de entrada de aproximadamente 2 Km.
samples collected every 2 cm of the sedimentary
column TCV1A. The values of relative abundance Considerando a sua localização geográfica,
of species were evaluated along the sedimentary a área de estudo está sob o regime climático
column, allowing the testimony split into three Tropical Úmido tipo AF de Köppen (SEI, 1998),
intervals, characterized, from bottom to top, com temperatura média do ar oscilando entre
presenting, respectively, minor, major and minor 28ºC e 30ºC no verão e 20ºC a 22ºC no inverno.
marine influence. A média anual de precipitação é de 1750 mm,
sendo março, abril e maio, os meses mais chuvosos,
Keywords: Foraminifera, vertical
concentrando 37% de toda a precipitação anual.
distribution, estuary.

INTRODUÇÃO MATERIAIS E MÉTODOS


Foi utilizado um testemunho (TCV1A),
Os foraminíferos que habitam ecossistemas
com 60cm de comprimento, coletado na área
parálicos evidenciam notável sensibilidade às
estuarina do Rio Caravelas. Em laboratório,
variações nos fatores abióticos atuantes nos
a coluna foi aberta e descrita com base na
ambientes costeiros, sendo possível utilizá-los
coloração e textura do sedimento. Em seguida,

217
foi sub-amostrada, a cada 2 cm, para o estudo Trochammina inflata e Ammotium salsum se mantêm
de foraminíferos. As 29 amostras resultantes próximos, com troca de representatividade entre
foram destinadas ao estudo da microfauna de essas espécies ao longo desse intervalo. A partir
foraminíferos, sendo submetidas ao processo de 30 cm, em direção ao topo, ocorre redução nos
padrão de lavagem em água corrente, em peneira percentuais de Trochammina inflata e aumento
com malha de 0,062 mm, e secagem em estufa à nos percentuais de Ammotium salsum, com nova
50oC. tendência de decréscimo entre 6 cm e o topo.
Para a determinação da diversidade Observando-se a distribuição da espécie
faunística foram recolhidas, armazenadas Ammonia beccarii f. tepida nota-se uma
e identificadas as 100 primeiras testas de tendência de redução nos percentuais entre 58 e
foraminíferos. Os valores de abundância relativa 52 cm. A partir de 52 cm, em direção ao topo,
das espécies foram utilizados para avaliar a observa-se um comportamento irregular na
distribuição vertical dos taxa ao longo da coluna distribuição vertical dessa espécie, apresentando
sedimentar. dois picos de abundância (nas profundidades de
28 e 20 cm), com suave tendência decrescente em
direção às camadas mais superficiais. O mesmo
RESULTADOS padrão de distribuição irregular, registrado para
A análise da distribuição vertical das ordens Ammonia beccarii f. tépida, foi demonstrado pela
revela um comportamento diferenciado ao longo espécie Arenoparrella mexicana, que evidenciou
do testemunho. Considerando-se primeiramente diferentes intervalos de instabilidade em sua
as ordens Lituolida e Trochamminida, nota-se distribuição vertical, com aumentos pontuais de
uma evidente alternância de dominância. Os representatividade nas profundidades de 46, 30,
intervalos sedimentares entre 58 e 52 cm e entre 26 e 16 cm.
16 e 4 cm caracterizam-se pelo domínio da ordem
Lituolida. O intervalo entre 52 e 16, porção central
do testemunho, caracteriza-se pelo domínio da DISCUSSÃO
ordem Trochamminida. Analisando a distribuição Na base da coluna TCV1A (entre 50 e 52
da ordem Rotaliida, nota-se uma tendência cm) a significativa diminuição de espécies calcárias
decrescente da base (58 cm) até, aproximadamente, e o domínio da Ordem Lituolida, representada
30 cm. Entre 30 cm e 18 cm ocorre uma suave por espécies dos gêneros Miliammina,
tendência de aumento nos percentuais dessa Haplophragmoides, Ammobaculites e Ammotium,
ordem, com decréscimo a partir de 18 cm, em revela uma condição de menor salinidade no
direção ao topo. A ordem Textulariida, por sua momento de deposição desse intervalo sedimentar.
vez, evidencia forte tendência decrescente em Associação semelhante foi relatada em zonas de
direção ao topo do testemunho. manguezais temperados ( Jennings et al. 1995) e
Analisando-se individualmente as espécies tropicais (Duleba & Debenay, 2003), indicando
mais abundantes (percentual superior a 10% no ambientes influenciados, significativamente,
testemunho), observa-se que Trochammina inflata por água doce. A alta abundância da espécie
e Ammotium salsum apresentam comportamento Ammotium salsum nesse mesmo trecho indica
oposto ao longo da coluna sedimentar, que a base do testemunho foi possivelmente
alternando estágios de representatividade. Na formada sob uma condição de altas concentrações
base do testemunho, entre 58 e 52 cm, a espécie de material em suspensão (Scott et al., 2001).
Ammotium salsum é mais representativa. Entre 52 Segundo Barbosa et al. (2005), associações com
e 44 observa-se uma tendência de redução nos expressiva quantidade de Ammotium salsum
percentuais de Ammotium salsum, com elevação ocorrem em áreas com elevada turbidez e alto
nos percentuais de Trochammina inflata, que fluxo de matéria orgânica no sedimento.
apresenta maior representatividade nesse intervalo A mesma descrição apresentada para o
do testemunho. No trecho da coluna sedimentar trecho da coluna TCV1A, entre 50 e 52 cm, se
entre 44 e 32 cm nota-se que os percentuais de repetiu na porção superior do testemunho, entre

218
16 e 4 cm de profundidade, evidenciando um Brazilian mangroves and marshes. The
retorno à condição já descrita. No intervalo entre Journal of Foraminiferal Research, 35(1):
52 e 16 cm, entretanto, observa-se uma condição 22-43.
contrária, com aumento na representatividade
das espécies calcárias, sobretudo no trecho DULEBA, W. & DEBENAY, J.P. 2003.
entre 30 e 18 cm, e domínio da Ordem Hydrodynamic circulation in the estuaries
Trochamminida, representada por espécies dos of estação ecológica Jureia-Itatins, Brazil,
gêneros Trochammina, Arenoparrella e Jadammina. inferred from foraminifera and thecamoebian
Os dois primeiros gêneros são característicos de assemblages. Journal of foraminiferal
zonas de manguezais, com presença registrada Research, 33(1): 62-93.
nesses ambientes por diferentes autores (Scott
et al., 2001; Duleba & Debenay, 2003). Neste DULEBA W., DEBENAY J.P. & EICHLER
sentido, é possível avaliar que no momento de B.B. 1999. Foraminíferos e tecamebas com
deposição deste intervalo do testemunho TCV1A bioindicardores da circulação hidrodinâmica
o ambiente esteve sujeito a maior influência do estuáriro do rio verde e do lago Itacolomi,
marinha, fato que pode ser confirmado em função Estação Ecológica Jureia Itatins, Brasil. Anais
da elevação na contribuição de formas calcárias. do VII Brasilian Association for Quaternary
Studies (ABEQUA) – Porto Seguro, Brasil.
A subdivisão do testemunho TCV1A em
três intervalos, caracterizados, da base até topo, HERZ, R. 1991. Manguezais do Brasil. Instituto
por apresentarem, respectivamente, menor, maior Oceanográfico, Universidade de São Paulo,
e menor influência marinha, pôde ser confirmada São Paulo. 233 pp.
através da análise de agrupamento das sub-
amostras dessa coluna sedimentar, que revelou a JENNINGS A.E.; NELSON A.R.; SCOTT
mesma subdivisão, através da definição de grupo D.B. & AREVENA, J.C. 1995. Marsh
1 (base), subgrupo 2A (porção intermediária) foraminifera assemblages in the Valdiva
e junção entre os subgrupos 2B e 2C (porção estuary, south-central Chile, relative to
superior). vascular plants and sea-level. Journal of
Coastal Research 11:107–123.
CONCLUSÕES RODRIGUES A.R.; EICHLER P.B. &
Os dados faunísticos revelam uma EICHLER B.B. 2003. Utilização de
condição de menor salinidade durante a deposição foraminíferos no monitoramento do Canal
da base (entre 50 e 52 cm) e do topo (52 e 16 cm) de Bertioga (SP, BRASIL). Revista Atlântica,
do testemunho TCV1A. 25(1): 35-51.
A microfauna revela, também, que a porção
intermediária do testemunho TCV1A, entre 52 e SCOTT, D.B.; MEDIOLI, F.S. & SCHAFER,
16 cm, foi depositada em condição de salinidade C.T. 2001. Monitoring in coastal
superior aos extremos da coluna. environments using foraminífera and
Análises estatísticas de agrupamento thecamoebian indicators. Cambridge
permitiram confirmar a subdivisão da coluna University Press. 177p.
sedimentar descrita com base na microfauna de
SEI. 1998. Análise dos atributos Climáticos do
foraminíferos.
Estado da Bahia. Salvador, Superintedência
de estudos Econômicos e Sociais da Bahia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (SEI), 85 p. (Série Estudos e Pesquisas, 38).
BARBOSA, C.F.; SCOTT, D.B.; SEOANE,
J.C.F & TURCQ, B.J. 2005. Foraminiferal
zonations as base lines for Quaternary
sea-level fluctuations in south-southeast

219
Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.

220
ESTUDO PRELIMINAR DOS OSTRACODES DA FORMAÇÃO CANTAURE
(MIOCENO INFERIOR), PENÍNSULA DE PARAGUANÁ, VENEZUELA
Anna Andressa Evangelista Nogueira1 (bioanna@gmail.com), Maria Inês Feijó Ramos2 (mramos@museu-goeldi.br)
Universidade Federal do Pará; 2Museu Paraense Emílio Goeldi
1

RESUMO foraminíferos e nanofósseis (Hunter & Bartok,


1974; Díaz de Gamero, 1974; e Castro, 1993)
Este trabalho é o primeiro registro
permitiram estabelecer a divisão da sequência
da ostracofauna na localidade de San José de
sedimentar neógena da Península de Paraguaná
Cocodite, Formação Cantaure (Mioceno Inferior),
em duas unidades: Formação Cantaure (Mioceno
Venezuela permitindo a identificação preliminar
Inferior) e Formação Paraguaná (Mioceno Médio
de aproximadamente 31 gêneros e 37 espécies.
a Mioceno Superior). A Formação Cantaure
A identificação da espécie Costa variabilocostata
representa um evento regional transgressivo que
recticostata,principalmente,associada com Puriana
pode ser visto em todo o norte de Fálcon. Esta
cf. P. minuta, Cativella navis e Actinocythereis tesca,
unidade apresenta características litológicas
registradas anteriormente para o Mioceno da
representadas por calcários, argilas cinza, areias
região caribeana além dos gêneros Quadracythere,
amareladas friáveis e areias amareladas a negras
Haplocytheridea, Xestoleberis e Aurila indicam
compactadas, posicionando-se geograficamente
paleoambiente tipicamente marinho raso infra-
nas coordenadas lat.11º30’N-long. 70º00’W
litoral do neógeno tropical com salinidade normal.
(ver Fig.1), cujas seções aflorantes restringem-se
Palavras-chave: ostracodes, Formação
próximo a casa Cantaure (a 4,1 km), oeste da
Cantaure, Venezuela
Igreja de San José de Cocodite. A topografia
baixa dos afloramentos desta localidade torna
ABSTRACT limitado e difícil o acesso a seção completa da
This paper is the first record of the Formação Cantaure (Rey, 1996). Os estudos
ostracofauna in the San José de Cocodite location, paleocológicos por meio da microfauna de
Cantaure Formation (Early Miocene), Venezuela moluscos em conjunto com foraminíferos
allowing preliminary identification of about 31 ( Jung, 1965; Morris, 1976) estabeleceram que a
genera and 37 species. The indentification of the unidade corresponde a ambientes relativamente
species Costa variabilocostata recticostata, mainly, rasos desde zona litorânea a plataforma interna
associated with Puriana cf. P. minuta, Cativella e externa (Phleger, 1951). Poucos são os estudos
navis and Actinocythereis tesca, previously recorded com microfósseis nesta região os quais se
for the Miocene in the region caribean including restringem à década de 50 a 60, com exceção
others genera Quadracythere, Haplocytheridea, de Smith (2008) o qual cita a ocorrência de
Xestoleberis and Aurila, typically indicate shallow foraminíferos e ostracodes na localidade estudada.
marine paleoenvironment infralitoral Neogene Desse modo, a unidade em questão carece de
tropical coast of normal salinity. trabalhos de identificação sistemática detalhada
da ostracofauna, o que reforça a importância do
Keywords: ostracods, Cantaure Formation,
presente estudo. Além disto, o conhecimento
Venezuela.
da ostracofauna do Mioceno da Venezuela irá
auxiliar para as correlações paleobiogeográficos,
INTRODUÇÃO bioestratigráficos, paleoecológicos e com outras
A Península de Paraguaná extende-se ao unidades sincrônicas adjacentes principalmente
norte da Bacia de Fálcon e representa a porção da Região Caribeana.
nordeste do Alto Paraguaná-Coro. Estudos
anteriores com microfósseis, principalmente,

221
MATERIAIS E MÉTODOS Fm. La Rosa e permitiu inferir um paleoambiente
com águas rasas e quentes de salinidade normal.
O material de estudo é proveniente de
coletas realizadas na localidade de San José
de Cocodite da porção mais superior do perfil REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
estratigráfico (ver Fig. 2). Inicialmente, três
CASTRO, M. 1993. Proyecto de ayuda Técnica
amostras foram tratadas por métodos usuais
Especializada al Departamento de Geologia
para os estudos de microfósseis calcários no
de la Universidad Central de Venezuela.
Laboratório de Polimento do CCTE/MPEG;
Informe Inédito de Lagoven, 59p.
30g de sedimento das frações ≥ 0.80 mesh);
fotografias realizadas em MEV (Microscopia DÍAZ DE GAMERO, M. L. 1974. Microfauna y
Eletrônica de Varredura) com o auxílio de um edad de la Formación Cantaure, Peninsula de
microscópio esteroscópio da Zeiss do Museu Paraguaná, Venezuela, Bol. Inf. A.V.G.M.P.,
Paraense Emílio Goeldi. 17: 41-47.

RESULTADOS HUNTER, V.F. & BARTOK, P. 1974. The age


y correlation of Tertiary sediments of the
O estudo preliminar da ostracofauna Paraguaná Península, Venezuela. Asoc. Ven.
permitiu o registro de 31 gêneros e 37 espécies, Geol. Min. Petrol. Bol. Inf. 17(7-9); 13-154.
sendo que 11 já foram descritas para outras
unidades neógenas da região caribeana; 26 JUNG, P. 1965. Miocene mollusca from the
espécies permanecem em nomenclatura aberta. Paraguaná Península, Venezuela. Bull. Amer.
A amostra 2 é a mais abundante e diversa. As Paleont., 49(223): 389-652. Resumen (1965)
espécies Cativella navis, Costa variabilocostata en: Asoc. Venez. Geol., Min. y Petról., Bol.
recticostata, Actinocythereis tesca, Puriana cf. P. Inform. 8(11): 330.
minuta, Cytherella sp. e Costa? sp.2 são as mais
abundantes com um total de 85% nas amostras. MORRIS, P.A. 1976. A field guide to shell. 3ºed.,
Embora as espécies como Munseyella punctata, Ed. Houghton Mifflin Company, Boston,
Costa? quadrata, Pelucistoma kingmai entre outras 330p.
(Ver figs.3 e 4), sejam menos abundantes, porém
foram registrada anteriormente para a Fm. La PHLEGER, F.B. 1951. Ecology of foraminifera,
Rosa (Panamá) e Seção Pózon (Fálcon, Venezuela) northwest Gulf of Mexico, pt. 2,
do Mioceno Inferior (ver figs.3 e 4). Foraminiferal species: Geological Society of
America Memoir, v. 46, 64 pp.

CONCLUSÕES REY, O. 1996. Estratígrafia de la Península de


O estudo preliminar da ostracofauna Paraguaná, Venezuela. Revista de la Faculdad
da unidade Cantaure permitiu registrar um de Ingeniería (Universidade Central de
conteúdo diverso e abundante. As espécies Venezuela, Caracas), 11(1), 35-45.
identificadas indicaram paleoambiente marinho
raso infralitoral (~68m), principalmente, com SMITH , C.J. 2008. Biogeographic Comparisons
a presença de uma espécie do grupo Costa of Neogene Benthic Foraminifera of
variabilocostata (característica da Sub-província Venezuela, Costa rica, Panama and Ecuador.
Sul caribeana) e Cativella (abundantes e comuns Master Of Science In Geosciences. Florida
ao período Neógeno), associadas à Puriana cf. P. International University.
minuta registradas nas unidades da Costa Rica e
Panamá. Portanto, a ostracofauna aqui registrada
apresentou também grande semelhança à
ostracofauna de Vecinas também registradas na

222
Figura 1. Mapa de localização da área de estudo (*) Localidade San José de Cocodite – Fm. Cantaure (Modificado de
Smith, 2008).

Figura 2. Coluna Estratigráfica da seção do Poço da Formação Cantaure: (A) Vista Geral da Localidade San José de Cocodite
e sua baixa topografia; (B) Detalhe da abundância de fósseis na localidade em estudo (Modificado de Rey, 1996).

Figura 3. Distribuição das espécies nas amostras.

223
Figura 4. Ostracodes da Fm. Cantaure: 4.1, 4.2 ,4.3, 4.4 e 4.5- Actinocythereis tesca, fêmea e macho, respectivamente. 4.6 e
4.12 – Cytherella sp., fêmea e macho, respectivamente. 4.7 a 4.10 - Orionina vaughani, fêmea e macho, respectivamente.
4.11 – Cytherelloidea sp.2. 4.21 e 4.22 – Cytherolloidea sp3. 4.23 e 4.24 – Cytherelloidea sp.1. 4.13, 4.14 e 4.15 - Cativella
navis. 4.16, 4.17 e 4.18 - Puriana cf. P. minuta. 4.19 e 4.20 - Quadracythere sp. 4.25 e 4.26 - Pelucistoma kingmai. 4.27
e 4.28 - Costa cubana. 4.29, 4.30 e 4.41 – Costa sp.1 4.31 e 4.32 – Cytheridea sp. 4.33 e 4.34 – Haplocytheridea sp.
2. 4.35 e 4.36 – Haplocytheridea sp.1. 4.37 e 4.38 – Bairdopillata sp. 4.39 e 4.40 – Paradoxostoma sp. 4.42 – Costa?
quadratata. 4.43 a 4.47 – Cornucoquimba sp. 4.48, 4.53 e 4.54 – Costa variabilocostata recticostata: macho e fêmea,
respectivamente. 4.49 e 4.50 – Xestoleberis sp. 4.51 e 4.52 – Munseyella punctata. 4.55 e 4.56 – Costa? sp.2. 57 e 58 –
Loxocorniculum sp. 4.59 – Loxoconcha sp. 4.60 – Pontocypris sp. 4.61 – Basslerites sp. 4.62 e 4.63 – Paracytheridea sp.
4.64 – Aurila sp. 4.65 – Cytherura sp. 4.66 – Semicytherura sp. 4.67 e 4.68 – Pemulocytheridea venezolana. 4.69, 4.70,
4.75 e 4.76 – Caudites sp.1.: macho e fêmea, respectivamente. 4.71 e 4.72 – Caudites sp.2. 4.73 e 4.74 – Jugosocythereis
pannosa. 4.77 e 4.78 – Krithe?sp.: fêmea e macho, respectivamente.

224
FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS DO TALUDE CONTINENTAL DA BACIA
DE SANTOS, BRASIL: INTERPRETAÇÕES PALEOECOLÓGICAS.
Carolina Jardim Leão1 (carolinaj@unisinos.br), Itamar Ivo Leipnitz1 (itamar@unisinos.br),
Renata Moura de Mello2 (renata.mello@petrobras.com.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2CENPES/PDEXP/BPA-Petrobras
1

RESUMO alto, e a análise de sua abundância em faunas


fósseis pode ser usada para estimativas de
A fauna de foraminíferos bentônicos
paleoprodutividade (Herguera & Berger, 1991). 
proveniente de 31 amostras de um testemunho do
Este trabalho teve como objetivo analisar a fauna
talude continental da Bacia de Santos foi analisada
de foraminíferos bentônicos do testemunho BS-B,
quantitativamente e identificou-se quatro
bem como utilizá-la na identificação de períodos
intervalos baseados na flutuação da abundância
com diferentes intensidades de input orgânico no
relativa de Pseudoparrella exigua (espécie
talude continental da Bacia de Santos.
fitodetrítica). Juntamente com a observação dos
picos de abundância de Alabaminella weddellensis
foi possível identificar períodos de input orgânico ÁREA DE ESTUDO
de diferentes intensidades na área. A Bacia de Santos (Fig. 1) está localizada
Palavras-chave: Foraminíferos na porção sudeste da margem brasileira, entre os
bentônicos, Bacia de Santos, Paleoecologia paralelos 23° e 28° Sul. Geologicamente, trata-se
de uma depressão limitada a norte pelo alto de
ABSTRACT Cabo Frio e a sul pelo Alto de Florianópolis. A
bacia recobre uma área de cerca de 350.000km²,
Benthic foraminiferal fauna from 31
dos quais 200.000km² encontram-se em
samples of a core from continental slope of the
lâminas d’água até 400m e 150.000km² entre
Santos Basin was quantitatively analyzed and
as cotas de 400 e 3.000m (Mohriak, 2003). O
identified four intervals based on the fluctuation
testemunho analisado está inserido no contexto
of the relative abundance of Pseudoparrella exigua
litoestratigráfico da Formação Marambaia
(a phytodetrital species). Together with the
(sequência N50-N60), na qual predominam
observation of peak abundance of Alabaminella
sedimentos lamosos, intercalados com arenitos
weddellensis was possible to identify periods of
finos turbidíticos (Mohriak, 2003).
organic input of different intensities in the area.
Keywords: Benthic foraminifera, Santos
Basin, Paleoecology MATERIAIS E MÉTODOS
O testemunho BS-B, piston-core
INTRODUÇÃO cedido pela PETROBRAS, foi coletado no
talude continental da Bacia de Santos, numa
Foraminíferos bentônicos são profundidade de aproximadamente 2.000 metros
extensivamente usados em interpretações de lâmina d’água. Foram coletadas 31 amostras
paleoceanográficas e paleoecológicas para em intervalos de 30 cm (ou em pontos de alteração
determinar condições ambientais no oceano litológica) e preparadas em laboratório segundo a
(Fariduddin & Loubere, 1997). Nas últimas metodologia padrão para microfósseis calcários.
décadas, estudos tem enfatizado a forte influência O material a ser analisado foi quarteado até a
que o input de matéria orgânica, principalmente obtenção de aproximadamente 300 foraminíferos
aquela originada da produtividade superficial, bentônicos.
exerce nas comunidades bentônicas. Certas
associações de espécies são características
de áreas onde o fluxo de matéria orgânica é

225
RESULTADOS O intervalo 4 compreende a faixa que vai
da amostra 500 até a amostra 10 e é marcado
Nesse testemunho foram computados
pelo considerável aumento na abundância de
28.447 espécimes, pertencentes a 119 espécies.
P. exigua, que varia de 18,9 a 51,2%, estando
A abundância de foraminíferos bentônicos
ausente na amostra 10. A. weddellensis tem pico
por grama de sedimento variou entre 33 e 882,
de abundância (22,6%) também nessa amostra,
com média de 116 espécimes. Três espécies se
porém nos demais pontos do intervalo não chega
destacaram tanto pela abundância quanto pela
a 10%, sendo o mínimo de 1,6%. C. californica
distribuição ao longo do testemunho (Fig. 2). As
oscilou entre 5,5 e 37,2%, apresentando uma
espécies mais abundantes são Pseudoparrella exigua
amplitude semelhante à dos demais intervalos.
com abundância relativa variando entre 0,58% e
62,47% e Alabaminella weddellensis, que varia entre
0,63 e 38,27%. Destaca-se também a ocorrência DISCUSSÃO
de Cassidulina californica, cuja abundância relativa Um grande número de estudos tem
se mostrou bastante expressiva, variando entre sugerido que a abundância de Alabaminella
5,51 e 47,10%. weddellensis e Pseudoparrella exigua, chamadas
Foram identificados quatro intervalos, “espécies fitodetríticas”, podem ser usadas para
baseados na variação quantitativa de P. exigua, reconhecer pulsos de matéria orgânica no registro
uma espécie associada a depósitos de fitodetritos fóssil (Thomas & Gooday,1996; Jorissen et al.,
(Smart, 2008) e amplamente relacionada com a 2007). Porém, neste trabalho observou-se que as
flutuação sazonal de fluxo orgânico (Thomas & abundâncias das duas espécies são negativamente
Gooday, 1996; Sun et al., 2006). correlacionadas, trazendo à tona a necessidade de
O intervalo 1 se estende da amostra 2030 uma interpretação mais acurada.
a amostra 1590. A abundância relativa de P. exigua A acentuada abundância de Pseudoparrella
é baixa, variando de 0,58 a 6,9%. Alabaminella exigua nos intervalos 2 e 4, pode ser interpretada
weddellensis tem abundância bem mais expressiva, como indicativa de uma maior sazonalidade no
entre 23,8 e 38,3%. Cassidulina californica oscilou input de matéria orgânica no fundo oceânico
entre 7,8 e 31,3%. nesses períodos. Segundo Sun et al. (2006), essa
O intervalo 2, posicionado entre as espécie parece responder ao fluxo intermitente de
amostras 1520 e 1300, é caracterizado pelo fitodetritos derivados dos episódios de bloom do
notável aumento da abundância de P. exigua. A fitoplâncton. Da mesma forma, a baixa abundância
espécie tem um pico de 62,5% e oscila ao mínimo de P. exigua no intervalo 1, sugere um aporte mais
de 26,3%, enquanto A. weddellensis varia de 0,6 a alto de material orgânico. A presença marcante
10,7%. C. californica oscilou de 6,5 a 35,1% nesse de Alabaminella weddellensis reforça essa
intervalo. interpretação, pois essa espécie é característica de
O intervalo 3 se estende da amostra 1250 a ambientes com alta produtividade e grande fluxo
amostra 590. Esse intervalo se destaca dos demais de fitodetritos (Fariduddin & Loubere, 1997).
pela ausência de um padrão na abundância das O intervalo 3 apresenta os únicos
duas espécies mais representativas. Observa-se momentos (amostras 768 e 660) em que tanto
uma grande variação na abundância de P. exigua P. exigua quanto A. weddellensis tem abundância
(de 0,8 a 40,6%) e também de A. weddellensis (0,6 relativa extremamente baixa na mesma amostra. A
a 33%). Cabe salientar que ambas as espécies tem falta de estudos mais aprofundados sobre a ecologia
sua menor abundância na mesma amostra (768), de ambas as espécies impede uma interpretação
o que não havia sido registrado até então nesse acurada sobre esse fenômeno (Gooday, 1993).
testemunho.Também na amostra 660 ambas as Nas amostras apontadas, a expressiva abundância
espécies tem menos de 10% de abundância. C. de Cassidulina californica pode estar indicando
californica variou entre 7 e 47%, sendo que este um aporte de nutrientes maior que o normal para
máximo ocorreu também na amostra 768 e a a área (Schmiedl & Mackensen, 1997). Porém,
segunda maior abundância (40,8%) foi observada a presença escassa de táxons característicos de
na amostra 660.

226
ambientes com input orgânico acentuado, como Geologia, Tectônica e Recursos Minerais do
Uvigerina spp., Bolivina spp. e Bulimina spp. Brasil. CPRM, p. 87-94.
tornam inconclusiva essa interpretação.
SCHMIEDL, G. & MACKENSEN, A. 1997.
Late Quaternary paleoproductivity and deep
CONCLUSÕES water circulation in the eastern South Atlantic
Os resultados sugerem que a intensidade Ocean: evidence from benthic foraminifera.
de deposição e, possivelmente, a origem da matéria Palaeogeography, Palaeoclimatology,
orgânica depositada no talude continental da Palaeoecology, 130:43-80.
Bacia de Santos influenciem de maneira diferente
o desenvolvimento de Pseudoparrella exigua e SMART, C.W. 2008. Abyssal NE Atlantic benthic
Alabaminella weddellensis. Segundo a abundância foraminifera during the last 15 kyr: relation
dessas espécies, os intervalos 2 e 4 representam to variations in seasonality of productivity.
períodos de deposição intermitente de matéria Marine Micropaleontology, 69:193-211.
orgânica, enquanto os intervalos 1 e 3 sugerem
um aporte massivo de nutrientes. SUN, X.; CORLISS, B.H.; BROWN, C.W.
& SHOWERS, W.J. 2006. The effect of
primary productivity and seasonality on the
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS distribution of deep-sea benthic foraminifera
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FARIDUDDIN, M. & LOUBERE, P. 1997.
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GOODAY, A.J. 1993. Deep-sea benthic
foraminiferal species which exploit
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HERGUERA, J.C. & BERGER, W.H. 1991.


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1173–1176.

JORISSEN,F.J.; FONTANIER,C.& THOMAS,


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Pt. 2: Biological Tracers and Biomarkers,
Elsevier, p. 263-326.

MOHRIAK, W.U. 2003. Bacias Sedimentares


da Margem Continental Brasileira. In:
BIZZI L.A.; SCHOBBENHAUS R.M.
VIDOTTI, GONÇALVES J.H. (ed.)

227
Figura 1. Área de estudo e localização aproximada do testemunho BS-B.

228
Figura 2. Intervalos propostos e abundância relativa por amostra das espécies mais representativas.

229
GÊMULAS FÓSSEIS DE ESPONJAS CONTINENTAIS NO
PALEOLAGO CEMITÉRIO, CATALÃO, GOIÁS
Vanessa de Souza Machado1 (biologavsm@gmail.com), Cecília Volkmer-Ribeiro2 (cvolkmer@fzb.rs.gov.br),
Roberto Iannuzzi3 (roberto.iannuzzi@ufrgs.br)
1
Programa de Pós-graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); 2Museu de Ciências Naturais
(MCN), Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB); 3Departamento de Paleontologia e Estratigrafia da UFRGS

RESUMO os sedimentos são encontrados numerosos


microfósseis, como frústulas de diatomáceas,
No depósito quaternário do Paleolago
espículas de esponjas continentais e grãos de pólen,
Cemitério, Catalão, Goiás, foram identificadas
além disso, ocorrem macrofósseis, constituídos
inúmeras gêmulas fósseis articuladas pertencentes
por restos de vegetais (Cardoso & Iannuzzi, 2006)
às espécies Corvoheteromeyenia australis (Bonetto
e vertebrados (anfíbios). O estudo das apreciáveis
& Ezcurra de Drago, 1966), Dosilia pydanieli
quantidades de espículas desarticuladas
Volkmer-Ribeiro (1992), Heterorotula fistula
preservadas nas rochas do Paleolago Cemitério
Volkmer-Ribeiro & Motta (1995), Radiospongilla
levou à identificação de comunidade autóctone ao
amazonensis Volkmer-Ribeiro & Maciel (1983)
paleolago e composta por Metania spinata (Carter,
e Corvomeyenia thumi (Traxler, 1895). Dadas
1881), Dosilia pydanieli Volkmer-Ribeiro (1992),
as condições inéditas de preservação dessas
Radiospongilla amazonensis Volkmer-Ribeiro &
gêmulas, conclui-se que seu soterramento ocorreu
Maciel (1983), Trochospongilla variabilis Bonetto
em paleoambiente lêntico calmo, no qual não
& Ezcurra de Drago (1973), Corvomeyenia thumi
ocorreram retrabalhamentos posteriores.
(Traxler, 1895), Heterorotula fistula Volkmer-
Palavras-chave: gêmulas de esponjas de
Ribeiro & Motta (1995) e Corvoheteromeyenia
água doce, paleoambiente lêntico, Quaternário
australis (Bonetto & Ezcurra de Drago, 1966)
(Machado, 2009; Machado et al., no prelo). Na
ABSTRACT ocasião, foi constatada, em algumas camadas, a
In the Quaternary Cemitério Paleolake presença de gêmulas preservadas de esponjas,
deposit, Catalão, Goiás, were recovered several cujo estudo reservou-se para etapa posterior.
articulated fossil gemmules of the following Esse constitui objeto do presente trabalho, que
species: Corvoheteromeyenia australis (Bonetto contém os resultados da análise taxonômica e
& Ezcurra de Drago, 1966), Dosilia pydanieli morfológica com que se identificaram as espécies
Volkmer-Ribeiro (1992), Heterorotula fistula produtoras de tais gêmulas. Fósseis articulados de
Volkmer-Ribeiro & Motta (1995), Radiospongilla esponjas continentais são raríssimos no registro
amazonensis Volkmer-Ribeiro & Maciel (1983) paleontológico e inéditos para o Brasil.
and Corvomeyenia thumi (Traxler, 1895). Given
the extraordinary conditions of preservation MATERIAIS E MÉTODOS
of these gemmules the conclusion is apparent
O Afloramento Paleolago Cemitério é
that their burial took place in a calm, lentic
um depósito lacustre com exposição contínua,
paleoenvironment, without later reworked of
datado de, no mínimo, 39.700 anos AP (Cardoso,
sediments.
2007; Machado et al., no prelo). Localiza-se na
Keywords: gemmules of freshwater parte central do Complexo Ultramáfico-alcalino-
sponges, lentic paleoenvironment, Quaternary Carbonatítico de Catalão I, a 15 km do centro do
município de Catalão, Goiás (18°08’S 47°08’W -
INTRODUÇÃO Fig. 1). Três perfis estratigráficos, Seções 1, 2 e 3,
foram amostrados em distintos locais da exposição
O depósito Paleolago Cemitério, Catalão,
do Paleolago Cemitério, compostos por 21, 19 e
Goiás, possui rochas sedimentares quaternárias
13 camadas, respectivamente. A identificação das
ricas em micro e macrofósseis. Compondo
estruturas articuladas de esponjas nos sedimentos

230
foi realizada com a observação ao Microscópio lêntico calmo, com acúmulo lento de sedimentos,
Estereoscópico dos planos de acamamento de cada sem fluxos ou movimentos maiores de água, o
camada das três seções. Depois de fotografadas que certamente transportaria as gêmulas. Além
com Câmera Fotográfica Digital Sony P-73, as disso, a preservação inédita dessas gêmulas indica
gêmulas foram separadas da matriz rochosa com que os sedimentos que as contém não sofreram
auxílio de um bisturi, coladas com esmalte incolor retrabalhamentos posteriores.
nos suportes do Microscópio Eletrônico de
Varredura (MEV), visando o estudo morfológico
e a identificação taxonômica. As análises e fotos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ao MEV foram feitas no Centro de Microscopia CARDOSO, N. 2007. Paleoecologia da flora
da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). de Catalão, Paleolago Cemitério, estado
A identificação das espécies seguiu Volkmer- de Goiás. Pós-Graduação em Geociências,
Ribeiro (1992), Volkmer-Ribeiro & Motta (1995), Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Machado (2009) e Machado et al. (no prelo). Tese de Doutorado, 148 p.

CARDOSO, N & IANNUZZI, R. 2006.


RESULTADOS Pteridium catalensis sp. nov., uma nova
Foi identificada grande quantidade Pteridófita fóssil do Complexo Carbonatítico
de gêmulas fósseis preservadas nas rochas das Catalão I, Goiás. Revista Brasileira de
Camadas 12 e 15 da Seção 2 (Fig. 2), pertencentes Paleontolologia, 9(3):303-310.
às espécies Corvoheteromeyenia australis
(Bonetto & Ezcurra de Drago, 1966) (Figs. 3, MACHADO, V.S. 2009. Espongofauna do
4), Dosilia pydanieli Volkmer-Ribeiro (1992), Paleolago Cemitério, Catalão, Goiás. Pós-
Radiospongilla amazonensis Volkmer-Ribeiro & Graduação em Geociências, Universidade
Maciel (1983) (Figs. 5, 6), Corvomeyenia thumi Federal do Rio Grande do Sul, Dissertação
(Traxler, 1895) e Heterorotula fistula Volkmer- de Mestrado, 108 p.
Ribeiro & Motta 1995. Essas espécies ocorrem
também com espículas desarticuladas na matriz MACHADO, V.S.; VOLKMER-RIBEIRO, C.
rochosa ao longo de todo o depósito (Machado, & IANNUZZI, R. Inventary of the sponge
2009; Machado et al., no prelo), confirmando fauna of the Cemitério Paleolake, Catalão,
os resultados já propostos da ocorrência de Goiás, Brazil. Anais da Academia Brasileira
uma comunidade espongológica autóctone no de Ciências, no prelo.
Paleolago Cemitério. O processo de preservação
VOLKMER-RIBEIRO, C. 1992. The freshwater
dessas gêmulas mostrou diferenças. Na maioria
sponges in some peat-bog ponds in Brazil.
das espécies, as gêmulas mantiveram a forma
Amazoniana, 12(2):317-335.
esférica (Figs. 3, 5), permitindo mensurar seu
diâmetro aproximado, a espessura do que seria o VOLKMER-RIBEIRO, C. & MOTTA, J.F.M.
espaço ocupado pela camada pneumática e, ainda, 1995. Esponjas formadoras de espongilitos
observar o posicionamento das gemoscleras nessa em lagoas no Triângulo Mineiro e
camada (Fig. 4). Noutras, perdeu-se a disposição adjacências, com indicação de preservação de
radial original das gemoscleras. habitat. Biociências, 3(2):145-169.

CONCLUSÕES
As diferenças observadas na preservação
dos distintos espécimes são devidas, em primeiro
lugar, às estruturas dessas gêmulas, peculiares a
cada uma das espécies detectadas. De qualquer
modo, conclui-se que o soterramento dessas
estruturas deva ter ocorrido em paleoambiente

231
Figura 1. Mapa de localização do Complexo Ultramáfico-alcalino-carbonatítico de Catalão I, onde se situa o depósito do
Paleolago Cemitério. Fonte: Cardoso & Iannuzzi (2006).

232
Figura 2. Perfil Litoestratigráfico da Seção 2, indicando as camadas onde as gêmulas fósseis foram encontradas.
Modificado de Machado et al. (no prelo).

Figura 3, 4, 5, 6. Fotografias ao Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) das gêmulas fósseis do Paleolago Cemitério.
3, 4. Corvoheteromeyenia australis (Bonetto & Ezcurra de Drago 1966): 3, gêmula fóssil; 4, detalhe mostrando as
gemoscleras ainda alinhadas. 5, 6. Radiospongilla amazonensis Volkmer-Ribeiro & Maciel 1983: 5, preservação de três
gêmulas; 6, detalhe mostrando as gemoscleras.

233
INTERPRETAÇÕES PALEOAMBIENTAIS E BIOESTRATIGRÁFICAS DE
OSTRACODES NEÓGENOS DA FORMAÇÃO SOLIMÕES, AMAZONAS, BRASIL
Ana Paula Linhares1 (biolinhares@yahoo.com.br), Maria Inês Feijó Ramos2 (mramos@museu-goeldi.br)
Universidade Federal do Pará, 2Museu Paraense Emílio Goeldi
1

RESUMO (Muñoz-Torres et al., 2006; Ramos, 2006),


malacofauna (Wesselingh et al., 2006), peixes
A análise de 93 amostras da perfuração
(Monsch 1998), e de aspectos geológicos em
1AS-31-AM permitiu verificar a abundância
geral (Hoorn et al., 2010). Contudo, a evolução
e diversidade da ostracofauna na Formação
dos ambientes deposicionais e as evidências
Solimões, registrando a presença de 5 famílias
apontadas sobre as incursões marinhas ainda são
distribuídas em 5 gêneros e 22 espécies. O gênero
debatidas. Diante disto, o estudo de ostracodes
Cyprideis é o mais abundante, representando 96%
do testemunho de sondagem 1AS-31-AM (lat.
da ostracofauna. A distribuição estratigráfica
05°18’S - long. 71°02´W), localizado as margens
dos ostracodes bem como da microfauna
do Rio Ituí, no sudoeste do Estado do Amazonas,
associada permitiu a reconstrução da evolução
Brasil (ver Figura 1), vem a contribuir para o
paleoambiental destes depósitos, além do
refinamento destas interpretações.
estabelecimento de três biozonas com idade entre
o final do Mioceno Inferior e início do Mioceno
Superior. MATERIAIS E MÉTODOS
Palavras-chave: Cyprideis, Formação O material compreende 93 amostras do
Solimões, evolução paleoambiental testemunho 1AS-31-AM (302,05m), as quais
caracterizam-se por argilitos e siltitos finamente
ABSTRACT laminados ou maciços associados a delgadas
camadas de arenitos, linhito e calcário (ver Figura
Analysis of 93 samples of well 1AS-31-AM
1). Estas foram processadas com técnicas usuais
showed abundance and diversity of ostracods in
para microfósseis calcários. Foram utilizadas
Solimões Formation, recording the presence of
as frações de malhas 32, 60 e 80 Mesh. As
5 families distributed in 5 genera and 22 species.
fotomicrografias foram obtidas através de um
Cyprideis genus is the most abundant representing
microscópio eletrônico de varredura LEO modelo
96% of total ostracods. The stratigraphic
1450VP do Museu Paraense Emilio Goeldi.
distribution of species ostracods and the
associated microfauna allowed the reconstruction
of the paleoenvironmental evolution of these RESULTADOS E DISCUSSÕES
deposits, and the establishment of three biozone A ostracofauna mostrou-se abundante,
aged between the later Early Miocene to early com 1.255 espécimes, e diversa com 22 espécies
Late Miocene. (ver Figura 2), das quais 13 já haviam sido descritas
Keywords: Cyprideis, Solimões Formation, em trabalhos anteriores e 09 táxons permanecem
paleoenvironmental evolution ainda em nomenclatura aberta. As espécies estão
representadas por 5 gêneros (Candona, Cypria,
INTRODUÇÃO Cytheridella, Cyprideis e Darwinula) e 4 famílias,
onde Cytherideidae é a mais representativa. O
Diversas ferramentas metodológicas vêm gênero Cyprideis, com 18 espécies, é o mais diverso
sendo utilizadas na busca da reconstrução do e mais abundante (96%). Além dos ostracodes,
passado do Neógeno da Amazônia Ocidental, ocorrem ainda microfósseis associados, os quais
como a exemplo os estudos palinológicos (Silva- incluem foraminíferos, briozoários, ictiólitos de
Caminha et al., 2010), com a ostracofauna peixes, moluscos, raras carófitas e fragmentos

234
de decápodas (ver Figura 2). A distribuição dos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
microfósseis permitiu verificar variações dos
paleoambientes na coluna estratigráfica, onde na HOORN, C. 1993. Marine incursions and the
base do testemunho a assembleia de microfósseis influence of Andean tectonics on the Miocene
é característica de ambientes lacustres, ocorrendo depositional history of northwestern
exclusivamente Cyprideis, gradando para a Amazonia: results of a palynostratigraphic
porção mediana de assembleia mista, com study. Palaeogeography, Palaeoclimatology,
elementos tipicamente marinhos (foraminíferos Palaeoecology, 105: 267-309.
planctônicos e bentônicos, briozoários, moluscos
HOORN, C.; WESSELINGH, F.P.;
e peixes), transicionais (foraminíferos aglutinantes
HOVIKOSKI, J. & GUERRERO, J. 2010.
e ostracodes) e não-marinhos (ostracodes dos
The development of the Amazonian mega-
gêneros Candona e Cytheridella). Esta porção
wetland (Miocene; Brazil, Colombia, Peru,
evidencia um episódio de curta ingressão marinha
Bolívia) In: HOORN C. & WESSELINGH
com intercalação de ciclos de água salobra e
F.P. (eds) Amazonia: Lanscape and species
de água doce para o Neógeno da Amazônia
evolution, a look into the past, Wiley-
Ocidental, conferindo com as interpretações
Blackwell publications, p.123-142.
de Hovikoski et al., (2010), e que já havia sido
registrada na porção noroeste do Amazonas por HOVIKOSKI, J.; WESSELINGH, F.P.;
Hoorn 1993. O topo da seqüência apresenta RÄSÄNEN, M.; GINGRAS, M. &
maior influência continental, suportada pela VONHOF, H.B. 2010. Marine influence
presença de espécies típicas de água doce, além in Amazonia: evidence from the geological
de representantes do gênero Cyprideis. Com base record. In: HOORN C. & WESSELINGH
em trabalhos bioestratigráficos realizados por F.P. (eds) Amazonia: Lanscape and species
Hoorn 1993 (polens) e Munoz-Torres et al., 2006 evolution, a look into the past, Wiley-
(ostracodes) foi possível datar a porção estudada Blackwell publications. p. 143-161.
entre o final do Mioceno Inferior a início do
Mioceno Superior. A distribuição estratigráfica MAIA, R.G.N.; GODOY, H.O.; YAMAGUTY,
das espécies de Cyprideis permitiu estabelecer H.S.; MOURA, P.A.; COSTA, F.S.F.;
três biozonas denominadas OS1, OS2 e OS3, HOLANDA, M.A. & COSTA, J.A. 1977.
as quais correspondem respectivamente ao final Projeto Carvão no Alto Solimões; Relatório
do Mioceno Inferior/início do Mioceno Médio, Final. Manaus: CPRM, DNPM, 1:142 p.
Mioceno Médio e final do Mioceno Médio/início
do Mioceno Superior. MONSCH, K.A. 1998. Miocene fish faunas
from the northwestern Amazonia Basin
(Colombia, Peru, Brazil) with evidence
CONCLUSÕES of marine incursions. Palaeogeograhy,
O predomínio do gênero Cyprideis indica Palaeoclimatology, Palaeoecology, 143: 31-
condições paleoambientais muito peculiares 50.
para a seqüência estudada. Tais condições
estão relacionadas a rápidas ingressões do mar MUÑOZ-TORRES, F.; WHATLEY, R.
evidenciadas pela ocorrência de uma fauna & HARTEN, VAN. D. 2006. Miocene
tipicamente marinha associada a elementos não ostracod (Crustacea) bioestratigraphy of the
marinhos, alterando bruscamente o gradiente upper Amazon Basin and evolution of the
de salinidade do ambiente. Com base no genus Cyprideis. Journal of South American
biozoneamento dos depósitos estudados, é Earth Sciences, 21: 75-86.
possível inferir que este episódio provavelmente
ocorreu durante o Mioceno Médio. RADAMBRASIL. 1977. Folha SB.19 Juruá:
geologia, geomorfologia, pedologia,
vegetação e uso potencial da terra. DNPM,
Brasil, 436.

235
RAMOS, M.I.F. 2006. Ostracods from the 2006. Stratigraphy of Miocene Amazonian
Neogene Solimões Formation (Amazonas, deposits. Scripta Geologica, 133: 291-322.
Brazil). Journal of South American Earth
Sciences, 21: 87-95. WANDERLEY FILHO, J.R.W.; EIRAS, J.F.;
CUNHA, P.R.C. & VAN DER VEN, P.H.
SILVA-CAMINHA, S.A.F.; JARAMILLO, 2010. The Paleozoic Solimões and Amazonas
C.A. & ABSY, M.L. 2010. Neogene basins and the Acre foreland basin of Brazil.
palynology of the Solimões Basin, Brazilian In: HOORN C. & WESSELINGH F.P.
Amazonia. Palaeontographica, Abteilung B: (eds) Amazonia: Lanscape and species
Palaeobotany–Palaeophytology, 283, 1–3: evolution, a look into the past, Wiley-
1-67. Blackwell publications, p. 29-37.

WESSELINGH, F.P.; HOORN, M.C.;


GUERRERO, J.; RÄSÄNEN, M.E.;
ROMERO PITTMANN, L. & SALO, J.

Figura 1. Localização da área de estudo e coluna estratigráfica do testemunho 1AS-31-AM (modificado de RADAMBRASIL
1977 e Maia et al., 1977).

236
Figura 2. Assembleia de ostracodes e grupos fósseis associados- Ostracodes: 2.1. Cyprideis amazonica Purper, 1979;
2.2. C. aulakos Muñoz-Torres et al., 1998; 2.3. C. caraionae Purper & Pinto, 1985; 2.4. C. cyrtoma Muñoz-Torres et al.,
1998; 2.5. C. graciosa Purper, 1979; 2.6. C. inversa Purper & Pinto, 1983; 2.7. C. lacrimata Muñoz-Torres et al., 1998;
2.8. C. machadoi Purper, 1979; 2.9. C. olivencai Purper, 1979; 2.10. C. pebasae Purper, 1979; 2.11. C. sulcosigmoidalis
Purper, 1979; 2.12. Cyprideis sp. 1; 2.13. Cyprideis sp. 2; 2.14. Cyprideis sp. 3; 2.15. Cyprideis sp. 4; 2.16. Cyprideis sp.
5; 2.17. Cyprideis sp. 6; 2.18. Cyprideis sp. 7; 2.19. Candona sp.; 2.20. Cytheridella sp.; 2.21. Cypria aqualica Shepard &
Bate, 1980; 2.22. Darwinula fragilis Purper, 1979; Foraminíferos: 2.23. Amphistegina sp.; 2.24. Globorotalia sp.; 2.25.
Quinqueloculina sp.; 2.26. Planorbulina sp.; 2.27. Textularia sp.; 2.28. Briozoário indeterminado; 2.29. Ictiólito de Peixe:
escama de tubarão; Molusco: 2.30. Melongena sp.

237
METODOLOGIA PARA VISUALIZAÇÃO DE
CONCHOSTRÁCEOS EM MICROSCÓPIO ÓPTICO
Alice Ferreira Souza1 (alicefsouza@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho1 (ismar@geologia.ufrj.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia
1

RESUMO impregnada por carbonato de cálcio. Pelo seu


tamanho diminuto, têm sido identificados em
Amostras de folhelhos betuminosos,
testemunhos de sondagem, podendo fornecer
oriundas da Formação Maceió (Cretáceo
informações sobre o fóssil e o ambiente em que
Inferior), Bacia de Sergipe-Alagoas, processadas
se deu a deposição dos sedimentos. Seus ovos
para recuperação de matéria orgânica, indicaram
podem ser submetidos a longos períodos de seca,
a presença de uma fauna monoespecífica de
podendo se dispersar através do vento e da água.
conchostráceos (Cyzicus pricei) e palinomorfos.
Quando o ambiente volta a ser favorável, os ovos
Tal situação possibilita a avaliação de novos
eclodem e o organismo passa por uma fase larvar
procedimentos metodológicos para a identificação
até chegar à fase adulta. É nessa fase que se forma
de conchostráceos. A análise das lâminas em
a carapaça e o organismo começa a viver sobre o
microscopia ótica permitiu identificar e reconhecer
substrato dos corpos aquáticos (Carvalho, 1993).
os fragmentos de conchostráceos, com os padrões
Essas características tornam os conchostráceos
de suas respectivas linhas de crescimento, e
bons indicadores ambientais e a identificação
ornamentações variadas, não perceptíveis em
das espécies a partir de fragmentos de carapaça
fósseis submetidos à iluminação direta.
em lâminas palinológicas amplia sua aplicação
Palavras-chave: Conchostráceos,
paleoambiental e bioestratigráfica.
Metodologia, Microscopia Óptica
Os conchostráceos, como todos os
artrópodes possuem uma cutícula, exoesqueleto,
ABSTRACT que recobre toda a superfície do corpo e de seus
Bituminous shale, from the Maceió apêndices, com função de suporte para as inserções
Formation (Early Cretaceous), Sergipe-Alagoas musculares e proteção para o corpo do animal.
Basin, processed for the recovery of organic A cutícula pode ser subdividida em epicutícula,
matter, indicated the presence of a monospecific rica em lipídeos e pró-cutícula, constituída
conchostracan fauna (Cyzicus pricei) and por quitina embebida por uma matriz proteica
palynomorphs. This situation enable the (Brusca & Brusca, 2007). Esta carapaça está presa
evaluation of new methodological procedures ao corpo do organismo apenas por um simples
for identifying conchostraceans. The analysis of músculo, o que faz com que periodicamente ela
optical microscopy laminae allowed to identify sofra um acréscimo, enquanto o animal troca
and to recognize the fragments of conchostraceans todo seu exoesqueleto quitinoso. Essas linhas são
with the pattern of their respective lines of grows, denominadas de linhas de crescimento, cuja função
and varied ornamentation, not discernible in fossil é ampliar o tamanho da carapaça para acompanhar
subjected to direct light. o crescimento do animal, refletindo, portanto,
Keywords: Conchostraca, Methodology, as fases de desenvolvimento desses crustáceos.
Optical Microscopy As características apresentadas por essas linhas
constituem-se no principal foco do estudo da
paleobiologia desse grupo de organismos.
INTRODUÇÃO Os fósseis oriundos da Formação Maceió,
Os conchostráceos são crustáceos que Bacia de Sergipe-Alagoas, estão presentes nos
possuem o corpo inteiramente protegido por níveis de siltitos argilosos e folhelhos betuminosos,
uma carapaça quitinosa, que geralmente está onde ocorre uma fauna monoespecífica (Figura

238
1) de conchostráceos (Cyzicus pricei). Todos os retido na mesma para o béquer. Faz-se esse
exemplares pertencem à mesma espécie, pois procedimento até que a água esteja neutralizada.
apresentam o mesmo padrão de ornamentação c) O mesmo procedimento é realizado
microalveolar carenado, característico da espécie com o ácido fluorídrico concentrado (HF) a
Cyzicus pricei. Este padrão caracteriza-se por 40%, visando à eliminação de silicatos. Neste a
apresentar os minúsculos alvéolos impregnados amostra permanece por 12 h em repouso. Após
por carbonato de cálcio. a neutralização completa do mesmo, a amostra
Exemplares com diferentes tamanhos é acidificada com HCl a 10% por 3 h, para a
indicam que o estágio embrionário de cada eliminação do fluorsilicato, formado durante o
ovo em estado de latência era diferente quando processo anterior e repete-se o procedimento
ocorreu a eclosão. Possivelmente existiram vários anterior.
fluxos d’água intermitentes. d) No intuito de eliminar a fração
mais grossa do resíduo, e consequentemente
proporcionar a concentração dos fragmentos de
METODOLOGIA
conchostráceos, faz-se uso de peneira com malha
O desenvolvimento de uma metodologia de 200 μm.
para a recuperação de fragmentos dessa cutícula e) Em seguida, o material sofre ataque com
possibilita a identificação de conchostráceos ácido nítrico concentrado (HNO3) juntamente
através da observação ao microscópio óptico da com clorato de potássio (KClO3) com duração de
ornamentação intra-alveolar. A metodologia foi 15 min.
desenvolvida com amostras de siltitos argilosos
f ) Posteriormente é adicionado cloreto
e folhelhos betuminosos, oriundos da Praia de
de zinco por 20 min, objetivando a separação do
Japaratinga ( Japaratinga, Alagoas) da Formação
material pesado do material mais leve (separação
Maceió, Bacia de Sergipe-Alagoas, através de
por flotação). Após a separação por flotação,
processamento para recuperação de matéria
seguida da decantação, adiciona-se ácido HCl
orgânica seguindo a metodologia de Oliveira et al.,
diluído a 10%.
(2006), para maior recuperação de fragmentos de
g) O material é então peneirado com malha
conchostráceos, possibilitando a sua identificação
de 10 μm, e após a lavagem com água destilada,
e a melhor visualização da ornamentação
são preparadas as lâminas usando-se uma chapa
intra-alveolar.
aquecedora à temperatura de aproximadamente
Foram preparadas lâminas para
30° e entellan para a colagem da lamínula.
obtenção de palinomorfos, tomando como
As lâminas preparadas tomam como base o
base o processamento de amostras para análise
processamento de amostras para análise de
palinológica. O material sofreu uma sequência
palinofácies e fácies orgânica com o intuito de
de ataques químicos a fim de se obter um resíduo
obter amostras com conchostráceos, seguindo
isento de material inorgânico e húmico, contendo
como base a metodologia de Oliveira et al., (2006).
apenas material orgânico concentrado em
O processo consiste das seguintes etapas:
palinomorfos com a presença de conchostráceos.
O processo consiste das seguintes etapas: a) Com béqueres de vidro de 250 ml,
acrescenta-se 40 g de sedimento e logo em seguida
a) Coloca-se 40 g de sedimento em um
inicia-se a acidificação com ácido clorídrico (HCl)
béquer de vidro de 250 ml e logo em seguida
a 37%.
inicia-se a acidificação com ácido clorídrico
concentrado (HCl) a 32% para se eliminar o b) Deixa-se em repouso por 18 h. Após
carbonato. esse tempo, acrescenta-se água destilada para
iniciar o processo de neutralização e espera-se
b) Deixa-se em repouso por 2 h. Após esse
o material decantar. Peneira-se a solução ácida,
tempo, acrescenta-se água destilada para iniciar o
e retorna-se o material retido na mesma para o
processo de neutralização e espera-se o material
béquer. Faz-se esse procedimento até que a água
decantar. Com uma peneira de malha de poliéster,
esteja neutralizada.
peneira-se a solução ácida, e retorna-se o material

239
c) O mesmo procedimento é realizado amostras e a toda sua equipe, em especial, Antônio
com o ácido fluorídrico (HF) a 40%. Neste a Donizeti de Oliveira, Joalice de Oliveira Medonça
amostra permanece por 24 h em repouso. Após e Jaqueline Torres de Souza pela colaboração na
a neutralização completa do mesmo, a amostra é preparação e confecção das lâminas e pela análise
acidificada com HCl a 10% por 3 h e novamente e fotografia das amostras.
utiliza-se o mesmo procedimento anterior.
d) Com o material neutralizado e diluído,
CONCLUSÕES
passa-se o mesmo para um tubo de ensaio de 250
ml, centrifuga-se por 3 min com velocidade de A recuperação de fragmentos de carapaças
1.500 rpm. Usa-se a peneira para verter o líquido de conchostráceos pelo método de obtenção de
sobrenadante, retornando o material retido na palinofácies é possível com a preparação de lâminas,
peneira novamente para o tubo de ensaio. tomando como base o processamento de amostras
e) Acrescenta-se cloreto de zinco (ZnCl2) para análise de palinofácies e fácies orgânica.
no tubo de ensaio e agita-se. Usa-se a centrífuga As lâminas preparadas para obtenção de fragmentos
por 30 min ou deixa-se o material em repouso por de conchostráceos com preservação de suas linhas
12 h para que a matéria orgânica seja separada do de crescimento e ornamentações intra-alveolar,
material inorgânico. tomando como base o processamento de amostras
para análise palinológica mostrou ser eficiente
f ) Com a matéria orgânica separada
para identificação desses microorganismos e suas
passa-se para outro tubo de ensaio, acrescenta-se
estruturas em bom estado de preservação.
algumas gotas de HCl a 10%, agita-se bem,
coloca-se o tubo na centrífuga por 3 min a
velocidade de 1.500 rpm, em seguida verte-se o REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
líquido sobrenadante para a peneira, retornando o
BRUSCA, R.C. & BRUSCA. G.J. 2007.
material retido novamente para o tubo de ensaio.
Invertebrates.2nd edition.Sinauer Associates,
Inc. Library of Congress Cataloging. 936 p.
RESULTADOS
CARVALHO, I.S. 1993. Os Conchostráceos
A utilização deste método possibilitou
Fósseis das Bacias Interiores do Nordeste
a recuperação de fragmentos de carapaças de
do Brasil. Programa de Pós-graduação em
conchostráceos, de forma indireta através do
Geociências, Universidade Federal do Rio de
método de obtenção de palinofácies, fácies
Janeiro, Tese de Doutorado, 310p.
orgânicas e palinomorfos.
A análise das lâminas em microscopia OLIVEIRA, A.D.; MEDONÇA-FILHO,
óptica permitiu identificar e reconhecer J.G.; SANT’ANNA, A.J.; SOUZA, J.T.;
fragmentos de conchostráceos, com suas FREITAS, A.G. & MENEZES, T.R. 2006.
respectivas linhas de crescimento e ornamentações Inovação no processamento químico para
intra-alveolar (Figura 2). Os fragmentos de isolamento da matéria orgânica sedimentar.
conchostráceos permitiram a observação em In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
luz transmitida de ornamentações variadas, não GEOLOGIA, 43, Aracaju, 2006. Boletim
reconhecidas em fósseis submetidos à iluminação de Resumos, Aracaju, Sociedade Brasileira
direta (Figuras 3, 4 e 5). Tal proposição amplia os de Geologia, p. 324.
procedimentos metodológicos para a identificação
de conchostráceos.

AGRADECIMENTOS
À João Graciano Medonça Filho, por
disponibilizar o laboratório de Palinofácies e
Fácies Orgânicas (LAFO) para preparação das

240
NOVA TÉCNICA DE RECONHECIMENTO, EM SEÇÃO DELGADA,
DE CONODONTES E FORAMINÍFEROS DA FORMAÇÃO
ITAITUBA, PENSILVANIANO DA BACIA DO AMAZONAS
Sara Nascimento1 (aiatha@yahoo.com.br), Luciane Profs Moutinho1 (luprofs@yahoo.com.br), Ana Karina Scomazzon2
(akscomazzon@yahoo.com.br), Cristiane Pakulski1 (crispakulski@yahoo.com.br), Valesca Brasil Lemos1 (valesca.lemos@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS; 2Universidade Federal de Pelotas - Nepale, Pelotas, RS
1

RESUMO biochronostratigraphic framework of the basin


containing them.
São aqui apresentados resultados
preliminares obtidos em uma metodologia Keywords: Thin-Sections, Conodonts,
adaptada para confecção de seções delgadas de Foraminifera
elementos conodontes e foraminíferos bentônicos,
advindos de carbonatos marinhos da Formação INTRODUÇÃO
Itaituba, Pensilvaniano da Bacia do Amazonas.
O Grupo Tapajós é a unidade
O enfoque principal é testar sua utilidade no
litoestratigráfica correspondente ao intervalo
conhecimento e entendimento de sua morfologia
permocarbonífero na Bacia do Amazonas, e é
interna e, consequentemente, a aplicação
constituído por quatro unidades litoestratigráficas
das informações obtidas na sua classificação
que incluem, em ordem estratigráfica ascendente,
sistemática. Ambos os grupos de microfósseis
às formações Monte Alegre, Itaituba, Nova
são importantes ferramentas de análise
Olinda e Andirá. Dentre os pacotes sedimentares
bioestratigráfica e partindo-se do pressuposto
que compõem o Grupo Tapajós, os estratos da
de que quanto maior for o entendimento
Formação Itaituba são os mais estudados até o
de suas características morfológicas mais
momento, já que estes são acessíveis através da
consistentes e confiáveis serão os dados gerados
seção pensilvaniana aflorante na porção sul da
através de seu estudo, o que poderá contribuir
bacia e caracterizam-se pela excelente qualidade de
significativamente no entendimento do arcabouço
material sedimentar e abundante conteúdo fóssil,
biocronoestratigráfico das bacias que os contêm.
com uma rica fauna de invertebrados marinhos
Palavras-chave: Seção delgada, e menos diversos vertebrados, representados por
Conodontes, Foraminíferos assembleias de conodontes, dentes e escamas
de peixes. A idade pensilvaniana (Andares
ABSTRACT Morrowano ao Desmoinesiano) estimada para
a Formação Itaituba vem sendo tentativamente
Are herein presented preliminary results
estabelecida com base em diferentes grupos de
of a methodology adapted for analysis of benthic
importância biostratigráfica. Entre os microfósseis,
foraminifera and conodont elements in thin
merecem destaque os conodontes (Nascimento et
sections, from marine carbonates of Itaituba
al., 2010) e foraminíferos bentônicos (Altiner &
Formation, Pennsylvanian of the Amazonas
Savini, 1995).
Basin. The main focus is to test its usefulness in
knowledge and understanding of their internal Neste trabalho pretende-se apresentar
morphology and hence the application of os resultados preliminares obtidos em uma
information obtained in systematic classification. metodologia adaptada para confecção de seções
Both groups of microfossils are important tools delgadas de elementos conodontes e foraminíferos
for biostratigraphic analysis. Assuming that the bentônicos, sendo o enfoque principal testar sua
greater understanding of their morphological utilidade no conhecimento e entendimento de
characteristics is more consistent and reliable data sua morfologia interna e, consequentemente,
generated through study, which may contribute a aplicação das informações obtidas na sua
significantly to the understanding of the classificação sistemática. Esperamos, desta forma,
apresentar uma metodologia que possa vir a

241
ampliar o conhecimento sobre a estrutura interna fragmentos de rochas sedimentares carbonáticas.
dos conodontes e o melhor entendimento de Neste período entendemos que o desenvolvimento
sua posição filogenética. Auxiliar na sistemática de procedimentos laboratoriais pioneiros recai
de foraminíferos paleozoicos, os quais são em dificuldades técnicas as quais somente são
classificados através de lâminas petrográficas, superadas através da aplicação tentativa de
onde, por vezes, a posição do fóssil na lâmina, diferentes rotinas, até o estabelecimento daquela
que é fundamental para o diagnóstico do mais adequada aos objetivos propostos. Desta
espécime, não favorece sua determinação. Desta forma, a rotina de laboratório que melhor
forma, a utilização das seções delgadas para apresentou resultados está sintetizada no item que
diagnósticos refinados dos microfósseis poderá se segue.
futuramente contribuir para o refinamento
biocronoestratigráfico da seção pensilvaniana,
na Bacia do Amazonas. Conhecimento este que
MATERIAIS E MÉTODOS
poderá ser desdobrado a diferentes bacias que Como melhor resultado entende-se a
contenham esses microfósseis e estender a técnica elaboração de seções delgadas que permitam a
para outros fósseis. observação de estruturas histológicas internas dos
elementos conodontes através de luz transmitida.
Igualmente, que permitam a observação das
ESTUDOS PRÉVIOS EM CONODONTES E estruturas morfológicas internas de foraminíferos,
FORAMINÍFEROS EM SEÇÃO DELGADA em diferentes orientações de corte, através de luz
refletida, ambos em microscópio petrográfico.
Lindstrom (1964) sugere que a estrutura Sinteticamente, a metodologia de
interna dos elementos conodontes possuía um preparação das referidas seções consiste na prévia
potencial taxonômico tão grande ou maior em desagregação da rocha sedimentar por meio de
relação a sua morfologia externa. Apesar deste metodologias específicas e seleção dos elementos
interesse inicial no conhecimento dos tecidos conodontes,foraminíferos bentônicos e fragmentos
duros que compõem os elementos conodontes, de rochas contendo estes últimos através de
estudos mais elaborados tardaram a acontecer. Este catação em estereomicroscópio. Para a realização
atraso decorreu, principalmente, em função das do processo de impregnação os fragmentos de
dificuldades no entendimento da microestrutura rocha sedimentar ou microfósseis selecionados
interna dos elementos conodontes, o qual depende são depositados sobre uma base para preparação
de pastilhas, ou sobre uma lâmina laboratorial de
da confecção de seções delgadas. Bengston (1976)
vidro e recobertos por aproximadamente 2 mm
analisou a estrutura interna de conodontes do de resina (Figura 1). Existem diferentes resinas
Cambriano. Sansom et al. (1992, 1994), Sansom disponíveis no mercado, sendo a aqui utilizada
(1996), Smith et al. (1996), re-estabeleceram generalizadamente denominada resina Epóxi
os estudos histológicos envolvendo elementos transparente. Posteriormente, a pastilha e ou a
conodontes e demonstraram não somente a lâmina é levada à estufa, a temperatura de 40ºC
existência de homologias entre os tecidos duros por aproximadamente 2 horas, etapa essencial
destes com os de vertebrados, como também sua para a total eliminação de bolhas que podem se
utilidade na distinção de padrões de crescimento formar na resina.
nos elementos conodontes. Para as amostras preparadas em pastilhas,
Com base nestas referências foram a etapa seguinte a impregnação consiste na
aqui desenvolvidas diferentes tentativas de preparação da superfície que será fixada na
confecção de lâminas delgadas para estudo das lâmina. Para tanto é realizado o alisamento desta
superfície através da utilização de lixas d’água em
estruturas histológicas de elementos conodontes.
um gradiente de granulometrias decrescentes, de
Adicionalmente, os mesmos procedimentos maneira que se vai de um maior desgaste para um
metodológicos foram estendidos à preparação menor. Nesta etapa e nas demais que incluem a
de seções delgadas visando à observação de utilização de lixas ou abrasivos é imprescindível
espécimes de foraminíferos bentônicos tanto a utilização de óleo mineral durante o desgaste.
desagregados quanto ainda incluídos em Com a superfície devidamente desgastada e

242
alisada, o bloco de resina é afixado a uma lâmina de limites cronoestratigráficos relacionados às
de vidro laboratorial, através da aplicação de uma seções que os contêm, sendo que a integração
fina camada de resina transparente, preparada em destas ferramentas poderá auxiliar na identificação
concentração distinta, mais espessa do que aquela e correlação lateral de horizontes estratigráficos
utilizada para a impregnação. Nas amostras potencialmente úteis na exploração de bens
preparadas diretamente sobre as lâminas de vidro minerais, água e hidrocarbonetos
laboratoriais este procedimento é dispensável.
A etapa final consiste no desgaste do excesso
de resina através da utilização de lixas d’água de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
granulometria mais fina, fazendo uso de óleo ALTINER, D. & SAVINI, R. 1995. Pennsylvanian
mineral e atentos para não perder os microfósseis foraminifera and biostratigraphy of the
durante o processo de aplainamento. Finalmente, Amazonas and Solimões Basin (North
para o aplainamento final e subsequente polimento
Brazil). Revue de Paleobiologie, 14 (2): 417-
é utilizado o abrasivo óxido de alumínio, aplicado
453.
sobre placa de vidro, incluindo o óleo mineral.
As seções delgadas devem ser desgastadas até a
BENGTSON, S. 1976. The structure of some
exposição das lamelas de crescimento interno dos
elementos conodontes ou das câmaras internas Middle Cambrian conodonts, and the early
das carapaças de foraminíferos bentônicos, evolution of conodont structure and function.
processo que é realizado sob acompanhamento no Lethaia, 185-206.
microscópio petrográfico. O resultado final pode
ser observado na Figura 2. LINDSTROM, M. 1964. Conodonts. 196 p.
Elsevier, Amsterdam.

CONCLUSÕES NASCIMENTO, S.; SCOMAZZON, A.K.;


Apresentam-se aqui os resultados LEMOS, V.B.; MOUTINHO, L.P. &
preliminares obtidos através da aplicação de uma MATSUDA, N.S. 2010. Bioestratigrafia
metodologia adaptada de confecção de seções e paleoecologia com base em conodontes
delgadas de elementos conodontes e foraminíferos em uma seção de carbonatos marinhos do
bentônicos. O método para preparação de Pensilvaniano inferior, Formação Itaituba,
seções aqui apresentado mostrou resultados borda sul da Bacia do Amazonas, Brasil.
satisfatórios, fornecendo novos elementos Pesquisas em Geociências, 37(3): 243-256.
que poderão contribuir significantemente
na classificação sistemática dos microfósseis SANSOM, I.J.; SMITH, M.P.; ARMSTRONG
analisados. Comprovamos assim, a utilidade desta H.A. & SMITH, M.M. 1992. Presence
metodologia no conhecimento e entendimento of the earliest vertebrate hard tissues in
da morfologia interna e, consequentemente, na conodonts. Science, 256:1308–1311.
aplicação das informações obtidas na melhor
classificação sistemática destes grupos de SANSOM, I.J.; SMITH, M.P. & SMITH,
microfósseis. Adicionalmente, o uso desta técnica, M.M. 1994. Dentine in conodonts. Nature,
também possibilita uma análise mais complexa do 368:591.
IAC - Índice de Alteração de Cor dos elementos
conodontes, uma vez que permite a passagem SANSOM, I.J. 1996. Pseudooneotodus: a
da luz transmitida através do bloco de resina, histological study of an Ordovician to
conservando o material indefinidamente para
Devonian vertebrate lineage. Zoological
consultas posteriores.
Journal of the Linnean Society, 118:47-57.
Desta forma, vislumbramos algum
avanço nos conhecimentos estabelecidos sobre SMITH, M. M; SANSOM, I.J. & SMITH, M.P.
a morfologia e classificação sistemática dos
1996. ‘Teeth’ before armour: the earliest
elementos conodontes e foraminíferos bentônicos
pensilvanianos. Além desta contribuição, a vertebrate mineralized tissues. Modern
integração futura dos dados gerados pelos Geology, 20: 303-319.
distintos grupos poderá ser útil no entendimento

243
Figura 1. Principais etapas na preparação de seções delgadas (lâminas histológicas) para observação de microfósseis.

Figura 2. Fotografias de lâminas histológicas. 2.1 Parte de um elemento conodonte (original 0,5 mm); 2.2 Detalhe da
Figura 2.1; 2.3 Carbonato bioclástico contendo foraminíferos; 2.4 Foraminífero bentônico (original 1 mm). Amostras,
rocha e fósseis provenientes da Formação Itaituba, Bacia do Amazonas.

244
NOVAS INTERPRETAÇÕES BIOESTRATIGRÁFICAS DE NANOFÓSSEIS
CALCÁRIOS DO CRETÁCEO NA BACIA DE PELOTAS, BRASIL
Rodrigo do Monte Guerra1 (rmguerra@unisinos.br), Gerson Fauth1 (gersonf@unisinos.br),
Lucio Riogi Tokutake2 (tokutake@petrobras.com.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, 2PETROBRAS
1

RESUMO INTRODUÇÃO
Este estudo apresenta inferências A Bacia de Pelotas localiza-se no extremo
bioestratigráficas baseadas na distribuição de sul do Brasil, entre o Alto de Polônio (no Uruguai)
nanofósseis calcários em três poços perfurados na e o Alto de Florianópolis (em Santa Catarina)
plataforma continental da Bacia de Pelotas, sul do (Figura 1). Os poços perfurados em sua plataforma
Brasil. Estudos bioestratigráficos na bacia foram continental apresentam rara oportunidade de
realizados no final da década de 1980, porém nos estudo de rochas que registram o fraturamento
últimos trinta anos o arcabouço bioestratigráfico do Gondwana, assim como a evolução do Oceano
com nanofósseis calcários para as bacias marginais Atlântico Sul. Segundo Conceição et al. (1988),
brasileiras obteve um refinamento significativo, o primeiro ciclo de rifteamento no Gondwana
justificando a elaboração de um novo estudo. A teria se propagado de sul (Argentina) para norte,
sucessão é composta principalmente por rochas do Platô das Malvinas até a Bacia de Pelotas.
siliciclásticas provenientes de amostras de calha Desta forma, a Bacia de Pelotas é considerada
com pequenos intervalos de testemunhos. Foram a precursora das bacias brasileiras de margem
reconhecidas onze biozonas atingindo a seção passiva, tendo uma evolução geológica totalmente
Albiano superior/Maastrichtiano, o resultado distinta das demais bacias. Dentre as diferenças
das análises produziu uma melhor resolução mais marcantes está a falta de rochas evaporíticas,
principalmente para o Turoniano e o Campaniano importantes nos estudos atuais de prospecção de
da bacia. hidrocarbonetos.
Palavras-chave: Nanofósseis calcários, Gomide (1989) realizou um importante e
Cretáceo, Bacia de Pelotas, Bioestratigrafia pioneiro estudo bioestratigráfico com nanofósseis
calcários do intervalo Cretáceo-Quaternário na
Bacia de Pelotas. O zoneamento proposto pelo
ABSTRACT autor vem sendo utilizado como base para todas
This study reports biostratigraphic as pesquisas posteriores na bacia, porém nos
inferences based on the distribution of calcareous últimos vinte anos a distribuição bioestratigráfica
nannofossils in three wells drilled in Pelotas dos nanofósseis calcários nas bacias marginais
Basin continental shelf, southern Brazil. The first brasileiras vem sendo constantemente aprimorada
biostratigraphic study in the basin comes from (Cunha, 1990; Antunes, 1996; Oliveira & Costa,
late 1980’s, however the Brazilian nannoplankton 1997; Antunes, 1998; Antunes et al., 2004).
biostratigraphic framework reached a higher O uso do arcabouço bioestratigráfico atual,
resolution in the last thirty years, justifying the divulgado em Antunes et al. (2004), proporciona
development of a new study. The successions are uma resolução superior a que Gomide (1989)
composed mainly by siliciclastic rocks coming dispunha na época do seu estudo. No final da
from cutting samples and short intervals of cored década de 1980 somente oito biozonas eram
samples. Eleven biozones were recognized, within conhecidas para o Cretáceo nas bacias marginais
the upper Albian and Maastrichtian interval, the brasileiras, o arcabouço atual propõem vinte
analyses provided a higher resolution mainly for biozonas, demonstrando a importância de um
Turonian and Campanian strata in the basin. novo estudo na Bacia de Pelotas.
Keywords: Calcareous nannofossils,
Cretaceous, Pelotas Basin, Biostratigraphy

245
MATERIAIS E MÉTODOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Este estudo é baseado em amostras de ANTUNES, R.L. 1996. Biozonas de nanofósseis
três poços perfurados pela PETROBRAS na do cretáceo da margem continental brasileira:
plataforma continental da Bacia de Pelotas problemas e possíveis soluções. Boletim de
(1-RSS-2, 2-RSS-1 e 1SCS-3B). Ao todo Geociências da Petrobrás, 10(1/4):19-42.
foram examinadas 391 amostras compostas
principalmente por rochas siliciclásticas, ANTUNES, R.L. 1998. Nanofósseis calcários e
provenientes de amostragem de calha e pequenos sua bioestratigrafia no Cretáceo da Margem
intervalos de testemunhos. Continental Brasileira - Bacias do Ceará e
As amostras foram preparadas no Potiguar. Programa de Pós-graduação em
Laboratório de Micropaleontologia da Geociências, Universidade Federal do Rio de
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Janeiro, Tese de Doutorado, 193 p.
UNISINOS, segundo a metodologia descrita por
Antunes (1997). As análises bioestratigráficas ANTUNES, R.L.; SHIMABUKURO, S.;
basearam-se no arcabouço bioestratigráfico OLIVEIRA, L.C.V.; ROSA, A.L.Z.;
proposto por Antunes et al. (2004). COSTA, S.O.; CUNHA, A.A.S. & LIMA,
F.H.O. 2004. Em busca da bioestratigrafia
de alta resolução - a performance do
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS zoneamento de nanofósseis calcários da
Foram reconhecidas onze biozonas, Petrobrás. Boletim de Geociências da
atingindo a seção Albiano superior/ Petrobras, 12(2):421-427.
Maastrichtiano. As biozonas reconhecidas foram
N-250, N-260.3, N-260.4, N-260.5, N-260.9, CONCEIÇÃO, J.C.J.; ZALÁN, P.V. &
N-265, N-270, N-280, N-290.1, N-290.3a WOLFF, S. 1988. Mecanismo, Evolução e
e N-290, marcadas pela última ocorrência de Cronologia do Rifte Sul-Atlântico. Boletim
Nannoconus truitti, Radiolithus planus, Eprolithus de Geociências da Petrobras, 2(2):255-265.
moratus (=Eprolithus eptapetalus), Eprolithus floralis,
CUNHA, A.A.S. 1990. Bioestratigrafia de
Lithastrinus grillii, Eiffellithus eximius, Broinsonia
nanofósseis calcários da sub-bacia Mundaú
parca, Uniplanarius trifidus (=Quadrum trifidum),
(bacia do Ceará). Programa de Pós-
Reinhardtites levis, Zeugrhabdotus bicrescenticus
graduação em Geociências, Universidade
(=Glaukolithus compactus) e Arkhangelskiella
Federal do Rio Grande do Sul, Dissertação
cymbiformis, respectivamente. Foram definidos
de Mestrado, 151 p.
hiatos nos intervalos: Cenomaniano médio/
superior - Turoniano inferior (Poços 1-RSS-2 e GOMIDE, J. 1989. Bacia de Pelotas -
1-SCS-3B) e Coniaciano superior - Santoniano Biocronoestratigrafia baseada em
inferior/médio (Poço 1-SCS-3B). No Poço nanofósseis calcários. In: CONGRESSO
1-RSS-2 a seção Santoniano - Campaniano BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
não foi registrada com nanofósseis calcários 11, Curitiba, 1989, Resumos expandidos, p.
provavelmente devido a sedimentos não favoráveis 338-351.
a preservação deste grupo fóssil. Os resultados
das análises bioestratigráficas produziram OLIVEIRA, L.C.V. & COSTA, S.O. 1997.
uma melhor resolução principalmente para o Proposal of new biostratigraphic units
Turoniano e o Campaniano da bacia (Figura based on calcareous nannofossils for the
2). Novos estudos envolvendo outros grupos de Maastrichtian of the Santos Basin (Brazil).
microfósseis, como os foraminíferos planctônicos, Anais da Academia Brasileira de Ciências,
podem auxiliar num refinamento bioestratigráfico 69(1):37-58.
e melhor entendimento da evolução sedimentar
do Cretáceo na Bacia de Pelotas.

246
Figura 1. Mapa simplificado da Bacia de Pelotas mostrando seus limites e os três poços estudados. Modificado do
Google Earth.

247
Figura 2. Comparação entre a bioestratigrafia de Gomide (1989) e a proposta neste estudo, mostrando uma melhor
resolução e a presença de alguns hiatos.

248
OCORRÊNCIA DE CONODONTES NO FOLHELHO LONTRAS – GRUPO
ITARARÉ, PERMOCARBONÍFERO DA BACIA DO PARANÁ, MAFRA, SC
Ana Karina Scomazzon¹ (akscomazzon@yahoo.com.br), Everton Wilner² (evertonwilner@yahoo.com.br),
Luiz Carlos Weinschütz² (luizcw@mfa.unc.br), Sara Nascimento³ (aiatha@yahoo.com.br)
¹Universidade Federal de Pelotas - NEPALE; ²Universidade do Contestado, Campus Mafra;
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO compreendem principalmente fragmentos de


peixes paleoniscídeos, enquanto insetos são os
A ocorrência inédita de conodontes para a
invertebrados não marinhos mais comuns. Fósseis
Bacia do Paraná, encontrados na região de Mafra,
marinhos, tais como bivalvos, foraminíferos,
Santa Catarina, consiste, até o momento, em
gastrópodes Peruvispira delicata, braquiópodes
aproximadamente 200 exemplares de aparelhos
Atenuatella e Langella e a primeira ocorrência
alimentares preservados na forma de moldes
de conodontes, identificados como Gondollela,
e restos. Estratigraficamente a ocorrência está
caracterizam as seções marinhas transgressivas
inserida em um folhelho da base da Sequência
dentro desta unidade.
Rio do Sul (Folhelho Lontras), Grupo Itararé,
Pensilvaniano/Cisuraliano da Bacia do Paraná, Conodontes são encontrados nas bacias
e estão associadas a ocorrências de peixes paleozóicas brasileiras do Amazonas, Solimões e
paleoniscídeos, esponjas silicosas, braquiópodes, Parnaíba, em depósitos marinhos pensilvanianos,
restos vegetais e insetos. Este registro inédito de de águas calmas, quentes e límpidas (Scomazzon
conodontes, para a Bacia do Paraná auxilia no & Lemos, 2005, Nascimento et al., 2010). São
posicionamento bioestratigráfico e interpretações microvertebrados exclusivamente marinhos,
paleoecológicas para a área de estudo. habitantes de mares de águas calmas e quentes
(warm waters), até águas amenas (cool waters),
Palavras-chave: Bacia do Paraná,
províncias de águas amenas do norte (North
Conodontes, Permocarbonífero, Grupo Itararé
Cool Water Province), águas quentes equatoriais
(Equatorial Warm Water Province) e mais
ABSTRACT recentemente encontrados na província peri-
The conodonts occurrence in the Paraná Gondwana de águas amenas (peri-Gondwana
Basin, Mafra region, Santa Catarina, consists Cool Water Province) na China. São utilizados
until now in 200 specimens of feeding apparatuses como indicadores paleoambientais com gêneros
remains. Stratigraphically the occurrence is característicos de águas rasas de intermaré superior
inserted into the base of the shales of the Rio como Adetognathus e Idioprioniodus, águas
do Sul Sequence (Lontra Shale), Itararé Group, quentes e profundidade média – inframaré como
Pennsylvanian/Cisuralian of Paraná Basin, and Idiognathodus, Diplognathodus, Sweetognathus e
is associated with occurrences of paleoniscideous Iranognathus e águas mais profundas e amenas
fish, siliceous sponges, brachiopods, insects and tais como Gondolella e Merrillina, gêneros do
plant debris. The discovered conodonts help Carbonífero e Permiano. São potencialmente
to obtain biostratigraphic and paleoecological úteis para bioestratigrafia por terem uma ampla
interpretations for the study area. ocorrência mundial e uma grande variação
Keywords: Paraná Basin, Conodonts, morfológica no tempo, tornando-os excelente
Permocarboniferous, Itararé Group ferramenta no zoneamento bioestratigráfico e
excelentes fósseis guias durante a Era Paleozóica.
Recentemente foram encontrados na Bacia
INTRODUÇÃO do Paraná (Wilner et al., 2008) e descritos
Em diferentes níveis estratigráficos genericamente como Gondolella, um gênero
do Grupo Itararé são reportados fósseis de característico do Permiano.Estes microvertebrados
animais, plantas e palinomorfos. Os vertebrados auxiliam nos estudos biocronoestratigráficos e

249
paleoambientais que estão sendo realizados no LOCALIZAÇÃO E GEOLOGIA DA ÁREA
intervalo estratigráfico aqui referido, pelos autores
O Folhelho Lontras aflora na área de
deste trabalho.
pesquisa de campo do Centro Paleontológico
Estudos palinológicos têm se destacado de Mafra/SC, ás margens da BR-280; no
como importante ferramenta geológica por bairro Faxinal (Figura 1). Apresenta biotas
fornecer dados para a compreensão e reconstituição excepcionalmente bem preservadas, tendo sido
dos ambientes sedimentares, datação relativa e encontradas impressões fósseis de peixes e
correlação estratigráfica. Na Bacia do Paraná, esponjas em níveis próximos ao nível onde estão
o intervalo Permocarbonífero é o melhor os aparelhos alimentares de conodontes (Figura
estudado nesse aspecto e, apesar de existirem 2).
várias propostas bioestratigráficas baseadas em
Segundo Milani et al. (2007), a porção
macrofitofósseis, vertebrados e invertebrados
superior do Grupo Itararé é representada pela
e na palinologia, ainda não há consenso quanto
Formação Taciba, Membro Rio do Sul. Este
ao posicionamento cronoestratigráfico das
membro, denominado Seqüência Rio do Sul por
unidades lito e bioestratigráficas. A raridade de
Weinschutz & Castro (2005), compreende duas
elementos biomarcadores, a escassez de datações
unidades: uma de folhelhos fossilíferos (Folhelho
absolutas e a pouca compreensão do significado
Lontras) com peixes paleoniscideos, coprólitos,
paleoambiental das biotas são os principais fatores
braquiópodes inarticulados Orbiculoidea,
responsáveis por esta limitação.
esponjas e conodontes do gênero Gondolella,
Embora dados bioestratigráficos sejam e siltitos bioturbados; e a segunda unidade de
disponíveis para o intervalo estratigráfico em folhelhos e arenitos sílticos (turbiditos). Tais
questão, onde o Folhelho Lontras é demarcado unidades marinhas constituem, respectivamente,
entre a Zona de Crucisaccites monoletus e a culminância transgressiva do processo de
Vittatina costabilis, as idades são relativas e não deglaciação e o trato de mar alto, Weinschutz &
encontram apoio na coluna internacional, baseada Castro (2005).
exclusivamente em fósseis dos continentes
euroamericano e laurásia. Há uma significativa
carência de registros de fósseis marinhos de CONCLUSÕES
ampla distribuição geográfica e resolução Os espécimes de conodontes encontrados
bioestratigráfica na caracterização das idades na região de Mafra são extremamente importantes
do intervalo Carbonífero e Permiano das bacias por ser a primeira ocorrência de fossilização
sedimentares do Gondwana. de aparelhos alimentares dispostos em planos
Dessa forma, os conodontes inéditos paralelos e perpendiculares, muito peculiares de
registrados no Grupo Itararé, os quais estão sendo conodontes encontrados no Brasil e na América
estudados pelas especialistas em conodontes no do Sul.
Brasil, em parceria com os pesquisadores da UnC/ O posicionamento cronoestratigráfico
Mafra, e com importante parceria com Dr. Mark da Bacia do Paraná apresenta dúvidas devido
Purnell Leicester/UK, especialista em conodontes à falta efetiva de elementos bioestratigráficos
do Reino Unido, auxiliarão no estabelecimento de amarração às cartas cronoestratigráficas
biocronoestratigráfico mais efetivo, a ser internacionais. Assim, esse trabalho refere-se às
também calibrado com a realização de datações associações naturais de conodontes encontradas
radiométricas inéditas para este intervalo na área em Mafra/SC, os quais, através de estudos
de estudo, obtendo-se idades absolutas e podendo, de caracterização paleontológica, geoquímica
assim, ainda melhor posicionar as biozonas e estratigráfica de detalhe irão auxiliar no
reconhecidas através dos palinomorfos. posicionamento biocronoestratigráfico e
paleoambiental da seção analisada.

250
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Formation, Amazonas Basin, Brazil. Revista
Brasileira de Paleontologia, 8(3):203-208.
MILANI, E.J.; MELO, J.H.G.; SOUZA,
P.A.; FERNANDES, L.A. & FRANÇA, WEINSCHÜTZ, L.C. & CASTRO, J.C. 2005.
A.B. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de A Seqüência Mafra Superior \ Rio do Sul
Geociências da Petrobras, 15(2):265-287. Inferior (Grupo Itararé, Permocarbonífero)
em sondagens testemunhadas da Região
NASCIMENTO, S.; SCOMAZZON, A.K.; de Mafra (SC), margem Leste da Bacia do
MOUTINHO, L.P.; LEMOS, V.B. & Paraná. Geociências, 24(2):131-141.
MATSUDA, N.S. 2010. Bioestratigrafia
e paleoecologia com base em conodontes WILNER, E.; WEINSCHÜTZ, L.C.;
em uma seção de carbonatos marinhos do COSTA, W.L. & GONÇALVES, E. 2008.
Pensilvaniano inferior, Formação Itaituba, Ocorrência de conodontes na Formação Rio
borda sul da Bacia do Amazonas, Brasil. do Sul, Grupo Itararé, Permiano inferior da
Revista Pesquisas em Geociências, 37(3): Bacia Sedimentar do Paraná na região de
243-256. Mafra, SC. Boletim da Sociedade Brasileira
de Paleontologia n. 62, p. 7.
SCOMAZZON, A.K. & LEMOS, V.B. 2005.
Diplognathodus occurrence in the Itaituba

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo (Weinschütz & Castro, 2005).

251
Figura 2. Perfil litoestratigráfico do afloramento que contém o folhelho fossilífero de ocorrência dos conodontes.

252
OCORRÊNCIA DO GÊNERO CYTHERELLA JONES, 1849
(CRUSTÁCEA-OSTRACODA) NA FORMAÇÃO PIRABAS,
MIOCENO INFERIOR, ESTADO DO PARÁ, BRASIL
Nathália Carvalho da Luz1 (nluz@museu-goeldi.br)
1
Museu Paraense Emílio Goeldi - Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia

RESUMO paleontológico e sedimentológico, os depósitos


correspondentes a esta formação são atribuídos
A Formação Pirabas possui um dos
a ambientes que variam de plataforma externa a
mais expressivos registros paleontológicos do
restrita e lagunar, litorâneo (shoreface/foreshore)
cenozoico marinho brasileiro, estendendo-se do
com fácies de manguezais (Góes & Rossetti,
Amapá até o Pará. O conteúdo paleontológico
2004). Os ostracodes encontrados nesta unidade,
e sedimentológico desta formação pode ser
assim como outros microfósseis, são elementos
atribuído a ambientes que variam de plataforma
que possibilitam a reconstrução paleoambiental
externa a restrita e lagunar, litorâneo (shoreface/
e a correlação entre unidades afins. O gênero
foreshore) com fácies de manguezais. O presente
Cytherella Jones, 1849 foi estudado nos depósitos
estudo registra a ocorrência do gênero Cytherella
miocênicos da Formação Pirabas expostos na Mina
Jones, 1849, representada por seis espécies, na
B-17, pertencente a Cimentos Brasil S/A (ver
Mina B17, município de Capanema.
Figura 1). O sítio paleontológico e paleoambiental
Palavras-chave: Cytherella, Formação
Mina B-17 representa o mais completo e contínuo
Pirabas, Mioceno
registro de uma paleolaguna cenozóica marinha
brasileira. A paleolaguna Capanema é formada
ABSTRACT por uma alternância de litofácies carbonáticas
Pirabas Formation has one of the de coloração cinza, entre margas, calciruditos,
greatest riches of marine Cenozoic of Brazil biocalcarenito não estratificados, biocalciruditos
and extends from Amapá to Pará States. Based e argilitos, além de arenitos maciços no topo da
on the paleontological and sedimentological seção (ver Figura 2). O presente trabalho visa
content, the formation deposits can be attributed auxiliar nas interpretações paleoambientais para a
to environmental ranging from outer shelf to Formação Pirabas.
restricted and lagoon, shoreface/foreshore and
mangrove facies. This study records the genre MATERIAIS E MÉTODOS
Cytherella Jones, 1849, represented by six species,
O material de estudo constitui-se de 20
in the B17 mine, Capanema town.
amostras (enumeradas de B0 a B13B, da base para
Keywords: Cytherella, Pirabas Formation, o topo), processadas pelos métodos usuais para
Miocene microfósseis calcários. A triagem foi realizada
com o auxílio de um microscópio esteroscópio
INTRODUÇÃO de Zeiss. Os melhores espécimes de cada espécie
fotografados no MEV (Microscópio Eletrônico
A Formação Pirabas é uma unidade
de Varredura).
neógena que possui uma das maiores riquezas
fossilíferas do cenozoico marinho brasileiro.
Juntamente com a Formação Barreiras forma RESULTADOS
a seqüência Pirabas/Barreiras, proveniente de O estudo do gênero Cytherella na
um ciclo transgressivo-regressivo (Távora et al., Formação Pirabas (Mina B-17, Capanema)
2007). Esta formação distribui-se ao longo da permitiu o registro de seis espécies, dentre
plataforma continental do norte do Brasil, desde estas uma foi identificadas como Cytherella
o Amapá até o Pará. De acordo com o conteúdo cf. C. stainforthi Bold, 1960, permanecendo a

253
outras em nomenclatura aberta. Este gênero é possível verificar a ciclicidade na ocorrência das
freqüentemente encontrado, ocorrendo em quase espécies, sendo estas mais abundantes no topo e
todas as amostras analisadas, com exceção da B3, na base da sequência, níveis atribuídos a ambientes
embora seja menos abundante no intervalo de marinho marginal a lagunar. A distribuição de
B2 a B9 e nas amostras B11B e B12. A espécie espécimes do gênero estudado apontou intervalos
Cytherella cf. C. stainforthi é muito semelhante à de maior abundância possivelmente associados à
espécie C. stainforthi Bold, 1960, registrada no ambiente litorâneo.
Eoceno de Trinidad, principalmente no formato
e na sobreposição de valvas. No entanto a espécie
encontrada na Formação Pirabas apresenta um
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
achatamento na região dorso-mediana, mais BOLD, W.A. VAN DEN. 1960. Eocene
acentuado na valva direita da fêmea, o qual não é and Oligocene Ostracoda of Trinidad.
descrito na espécie de Bold. Micropaelontology, New York, v. 6, n. 2,
p.145-196.
DISCUSSÃO GÓES, A. M. & ROSSETTI, D.F. 2004.
O gênero Cytherella é essencialmente Geologia. In: ROSSETTI, D.F. & GÓES,
marinho, mas algumas espécies podem ser A.M. (Eds). O neógeno da Amazõnia
encontradas próximas à costa (Bold, 1960). A Oriental. 1.ed. Belém-Pará: Museu Paraense
espécie Cytherella stainforthi, semelhante a uma das Emílio Goeldi, 225 p. p. 13-52.
espécies encontrada na Mina B-17, foi registrada
por Bold (1960) no Eoceno de Trinidad, associada RAMOS, M.I.F.; TÁVORA, V.A.; PINHEIRO,
à fácies de plataforma interna, condizentes com M.P. & BAIA, N.B. Microfósseis. In:
as interpretações paleoambientais de estudos ROSSETTI, D.F. & GÓES, A.M. (Eds).
anteriores para a Formação Pirabas. O gênero 2004. O neógeno da Amazônia Oriental.
Haplocytheridea estudado por Nogueira (2010) 1 ed. Belém-Pará: Museu Paraense Emílio
na Mina B17 é abundante nas mesmas porções Goeldi, 225 p. p. 93-131.
onde gênero Cytherella também ocorre em
maior quantidade. Segundo a autora, estes níveis TÁVORA, V.A.; SILVEIRA, E.S.F.;
representam ambientes de plataforma restrita a MILHOMEM NETO, J.M. 2007. Mina
lagunar, pois o gênero está associado à linha de B-17, Capanema, PA - Expressivo Registro
costa. As informações obtidas através do estudo de uma Paleolaguna do Cenozoico Brasileiro.
do gênero Cytherella reforçam as interpretações In: WINGE, M.; SCHOBBENHAUS,
paleoambientais atribuídas à seqüência sedimentar C.; BERBERT-BORN, M.; QUEIROZ,
da Mina B17, onde é possível verificar ciclicidade E.T.; CAMPOS, D.A.; SOUZA, C.R.G.
na ocorrência das espécies aqui estudadas, estando & FERNANDES, A.C.S. (Eds.) Sítios
sua maior abundância e diversidade na base e Geológicos e Paleontológicos do Brasil.
no topo da sequência cujos ambientes foram Disponível em.
interpretados como marinho marginal a lagunar.

CONCLUSÕES
Foram identificadas seis espécies do gênero
Cytherella. Dentre elas registrou-se uma espécie
semelhante à Cytherella stainforthi Bold, 1960, no
Eoceno de Trinidad, mantida preliminarmente
como Cytherella cf. C. stainforthi Bold, 1960.
O estudo do gênero Cytherella, através das
espécies identificadas, reforça as interpretações
paleoambientais atribuídas à Mina B-17, onde foi

254
Figura 1. Mapa da localização da Mina B17.

Figura 2. Perfil estratigráfico da Mina B-17, município de Capanema, estado do Pará (modificado de Távora et al., 2007).

255
Figura 3. Espécies do gênero Cytherella encontradas na Formação Pirabas. Cytherella cf. C. stainforthi – A) Macho, vista
lateral esquerda. B) Fêmea, vista lateral direita. Cytherella sp. 1 - C) Fêmea, vista lateral esquerda; D) Fêmea, vista lateral
direita. Cytherella sp. 2 – E) Macho, vista lateral esquerda. F) Macho, vista lateral direita. Fig. G) Fêmea, vista lateral
direita. Cytherella sp. 3 – H) Vista lateral esquerda. Fig. I) Vista lateral direita. Cytherella sp. 4 – J) Vista lateral esquerda;
K) vista lateral direita. Cytherella sp. 5 – L) vista lateral direita.

256
OSTRACODES DA FORMAÇÃO ESTRADA NOVA NA REGIÃO
DE ALTO GARÇAS, MATO GROSSO, BRASIL
Ana Lídia Soares Bezerra da Silva1 (aninha_lidia@hotmail.com), Jackson Douglas Silva da Paz1 (jacksdpaz@yahoo.com.br)
UFMT-Universidade Federal de Mato Grosso
1

RESUMO articulated and disarticulated shells and surface


fragmentation.
Este trabalho apresenta a taxonomia de
ostracodes da Formação Estrada Nova. Foram Keywords: Ostracodes, Permian, Estrada
ilustradas quinze espécies de ostracodes marinhos: Nova Formation
Basslerella sp. 1, Basslerella sp. 2, Praepilatina sp. 1,
?Praepilatina sp. 2, Silenites sp. 1, Silenites sp. 2, INTRODUÇÃO
Bythocypris sp. 1, Bythocypris sp. 2, Bairdiacypris
Neste trabalho, foram descritos e ilustrados,
sp. 1, ?Microcheilinella sp. 1, ?Miltonella sp. 1,
os microfósseis de ostracodes provenientes de
Langdaia sp. 1. Sendo distribuídas nas famílias
afloramentos expostos na porção mais setentrional
Bairdiacyprididae, Pachidomellidae, Bairdiidae,
da Bacia do Paraná, no estados de Mato Grosso
Miltonellidae e Knoxitidae (além de Incertae),
e Goiás, mais especificamente nas regiões de
as quais ilustram um amplo espectro de variação
Alto Garças (MT). Estes microfósseis fósseis
da salinidade, hábito, substrato e profundidade,
são pertencentes ao Grupo Passa Dois (formação
sendo que tal variação permite considerar que
Estrada Nova) e sua identificação contribuiu
as famílias ilustradas viviam em uma plataforma
para o melhor entendimento das condições
marinha provavelmente próxima à linha de costa.
paleoambientais prevalentes durante a deposição
Os ostracodes não estão in situ o que é registrado
desta unidade. Os afloramentos estão localizados
por meio de valvas isoladas, carapaças articuladas
nas minas a céu aberto da Império Mineração
e desarticuladas e fragmentação superficial.
LTDA (em Alto Garças e Portelândia) e corte de
Palavras-chave: Ostracodes, Permiano, estrada ao longo da Fazenda São Lourenço em
Formação Estrada Nova Alto Garças. As vias acesso para as áreas de estudo
são por meio da BR-364 que entrecorta o estado
ABSTRACT de Mato Grosso passando pela cidade de Alto
Garças e indo até o Estado de Goiás onde se liga
This paper presents the taxonomy
GO-122 que dá acesso à cidade de Portelândia
of ostracods from Estrada Nova Formation.
(Figura 1).
Fifteen marine ostracod species were illustrated:
Basslerella sp. 1, Basslerella sp. 2, Praepilatina sp.
1, ?Praepilatina sp. 2, Silenites sp. 1, Silenites sp. CONTEXTO GEOLÓGICO
2, Bythocypris sp. 1, Bythocypris sp. 2, Bairdiacypris A borda norte da Bacia do Paraná
sp. 1, ?Microcheilinella sp. 1, ?Miltonella sp. 1, está encerrada numa estrutura conhecida por
Langdaia sp. 1. These species have been distributed plataforma de Alto Garças com mais de 1.000 m
in the Bairdiacyprididae, Pachidomellidae, de espessura (Milani, 2004). Durante o Pemo-
Bairdiidae, Miltonellidae and Knoxitidae, which carbonífero, uma significativa sucessão de rochas
are families that illustrate a spectrum of salinity, sedimentares pelítico-carbonáticas e arenosas
habit, substrate and depth variations. Such se depositaram sobre esta plataforma, gerando a
variations suggest these families to have lived into sucessão de rochas permo-carboníferas incluídas
a probably marine plataform near to the coastline. na supersequência Gondwana I (Milani et al.,
The ostracods are not in situ, suggesting some 2007), a qual, por sua vez, na área de estudo,
sort of transport and reworking which has been inclui as formações Aquidauana, Palermo, Irati
inferred from the presence of isolated valves, e Estrada Nova. Estas duas últimas fazem parte

257
do Grupo Passa Dois. A Formação Irati se contramoldes de ostracodes. A sistemática
constitui de calcários e folhelhos, enquanto a supragenérica segue Whatley et al., 1993.
Formação Estrada Nova é formada por siltitos e
arenitos. O ambiente deposicional é controverso e
atribuído a ambiente que variam desde marinho
PALEOECOLOGIA
de águas calma, lagunas e ambientes costeiros Nas amostras estudadas, a fauna fóssil de
(p.e., Schneider et al., 1974. A Formação Estrada ostracodes é caracterizada pelas famílias marinhas:
Nova, contudo, inclui ambientes de lagunas Bairdiacyprididae, Pachidomellidae, Bairdiidae,
com extensas planícies de maré e marinho raso Miltonellidae e Knoxitidae. Estas famílias são
(Suguio & Souza, 1985). O conteúdo fóssil caracterizadas como de ambiente marinho e que
descrito para as formações Irati e Estrada Nova viviam em condições ambientais similares (Melnyk
é bem diversificado, incluindo dentes e espinhos & Maddoks, 1988), são predominantemente
de peixes condrichthyes, escamas lisas e costeladas eurihalinas, ou seja, os indivíduos podiam
junto com dentes e ossos de osteichtyes, ossos viver numa gama larga de salinidade, ocupar
de Mesosauridae (Mesosauros, Brazilosauros diferentes substratos como arenosos e pelíticos e
e Stereosternum), ostracodes (Sohn & Rocha apresentar hábitos endobiontes. Exceto a família
Campos, 1990; Almeida, 2005; Tomassi, 2009), Bairdiidae cujo habitat é mais estenohalino e
lenhos fósseis, polens e esporos, coquinas de seus hábitos rastejadores (Melnyk & Maddoks,
bivalves e espículas de esponjas. 1988; Crasquin, et al., 1999; Crasquin-Soleau, et
al., 2005; Chitarin et al., 2008. Os ostracodes da
área de estudo apresentam baixa diversidade e não
MATERIAIS E MÉTODOS estão in situ, devido a evidencias de transporte e
As amostras coletadas para a recuperação retrabalhamento, isso depreendido do registro
de microfósseis na área de estudo foram de valvas isoladas, carapaças articuladas e
separadas e reduzidas a uma porção de 100g, com desarticuladas e fragmentação superficial das
fragmentação mecânica em pequenas partes e mesmas. Os ostracodes ilustrados para a área
desagregação química, por meio de ataque com de estudo pertencem a Formação estrada Nova,
peróxido de hidrogênio (35%), a fim de separar os sendo estes recuperados de arenitos, siltitos e
microfósseis. Após 24 horas, a reação do peróxido calcirrudito (Figura 3).
de hidrogênio com a matéria orgânica se exauriu.
Em seguida ocorre a lavagem do material em
peneiras nas frações 0,5 mm, 0,25 mm, 0,125 mm
CONCLUSÕES
e 0,062 mm. O material recuperado passa por Na área de estudo, foram descritas e
uma secagem a 50º em estufa. O passo seguinte ilustradas quinze espécies de ostracodes, além da
é a triagem em microscópio estereoscópico e presença de ostracodes na forma de contramoldes.
os espécimes recuperados são armazenados A partir dos ostracodes ilustrados foi possível a
em células porta-microfósseis para posterior identificação das famílias Bairdiocyprididae,
identificação taxonômica. Pachydomellidae, Miltonellidae, Knoxitidae e
Bairdiidae. A reunião dessas familias em um
único depósito como o da área de estudo implica
SISTEMÁTICA transporte e retrabalhamento das espécies, uma vez
Foram descritas e ilustradas 12 espécies de que estas famílias ocupavam ambientes ecológicos
ostracodes a partir dos afloramentos estudados, com características tais como profundidade,
sendo estes recuperados apenas das amostras da salinidade, substratos e hábitos bem distintos. Os
Formação Estrada Nova . São elas: Basslerella sp. ostracodes ilustrados reforçam a ideia de que estes
1, Basslerella sp. 2, Praepilatina sp. 1, ?Praepilatina não se formaram in situ nos depósitos estudados,
sp. 2, Silenitis sp. 1, Silenites sp. 2, Bythocypris pois os ostracodes apresentam desarticullção
sp. 1, Bythocypris sp. 2, Bairdiacypris sp. 1, e baixa qualidade de preservação das valvas e
?Microcheilinella sp. 1, ?Miltonella sp. 1, Langdaia carapaças.
sp. 1 (Figura 2), também foram recuperados

258
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259
Figura 1. Mapa de localização da área de estudo, nas regiões de Alto Garças (MT) e Portelândia (GO).

260
Figura 2. Ostracodes da Bacia do Paraná, Grupo Passa Dois, Formação Estrada Nova. Basslerella sp.1, A1 vista lateral
direita, A2 vista lateral esquerda, A3 vista dorsal. Basslerella sp. 2, B1 vista lateral esquerda, B2 vista interna da valva
esquerda. Praepilatina sp. 1, C1 vista lateral direita, C2 vista lateral esquerda, C3 vista dorsal. ?Praepilatina sp. 2, D1 vista
lateral esquerda. Silenites sp. 1, E1 vista lateral direita, E2 vista lateral esquerda, E3 vista dorsal. Silenites sp.2, F1 vista
lateral direita, F2 vista lateral esquerda, F3 vista dorsal. ?Microcheilinella sp. 1, G1 vista lateral direita, G2 vista lateral
esquerda, G3 vista dorsal. Bythocypris sp.1, H1 vista lateral direita, H2 vista lateral esquerda, H3 vista dorsal. Bythocypris
sp. 2, I1 vista lateral direita, I2 vista lateral esquerda, I3 vista dorsal. Bairdiacypris sp. 1, J1 vista lateral direita, J2 vista
lateral esquerda, J3 vista dorsal. ?Miltonella sp. 1, K1 vista lateral direita, K2 vista lateral esquerda, K3 vista dorsal.
Langadaia sp. 1, L1 vista lateral direita, L2 vista lateral esquerda, L3 vista dorsal. Escala = 200 µm.

261
Figura 3. Seção estratigráfica composta das formações Irati e Estrada Nova, nas regiões de Portelândia (GO) e Alto Garças
(MT).

262
OSTRACODES DO CRETÁCEO-PALEÓGENO DA BACIA DE PELOTAS, BRASIL
Daiane Ceolin1 (daianeceolin@yahoo.com.br), Gerson Fauth1 (gersonf@unisinos.br)
1
Laboratório de Micropaleontologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS, Brasil.

RESUMO 2005; Keller, 2005; Aumond et al., 2009). Em


El-Kef, na Tunísia, está localizada a seção-tipo
Esse estudo apresenta os aspectos
do limite K–Pg. Outras seções conhecidas desse
paleoecológicos para o Cretáceo–Paleógeno
limite estão localizadas no Texas, Espanha, Itália,
(K-Pg) da bacia de Pelotas, baseado na análise
México, Argentina, Brasil e ODP 738.
taxonômica de ostracodes marinhos. Foram
utilizadas 479 amostras de calha provenientes de Existem vários locais que apresentam
cinco poços perfurados na década de 1980. A bons registros da passagem K–Pg, entretanto,
análise dessas amostras resultou na recuperação poucas destas seções contêm ostracodes. No Brasil
de 98 espécimes, distribuídos em 9 famílias, exite, até o momento, o registro de apenas quatro
21 gêneros e 34 espécies. O limite Cretáceo– seções estudadas com a passagem K–Pg bem
Paleógeno (K-Pg) na bacia de Pelotas foi marcado preservada e estão situadas nas bacias de Campos
por uma mudança faunística e a assembleia e Pernambuco (Albertão et al., 1993; Fauth et al.,
de ostracodes registrada sugere um ambiente 2005) e atualmente na bacia de Pelotas (Ceolin et
marinho nerítico com águas quentes. al., 2011).
Palavras-chave: Ostracodes, Cretáceo- A bacia de Pelotas localiza-se entre os
Paleógeno, Bacia de Pelotas paralelos 28º e 34º sul (Milani et al., 2000), tendo
como limites ao norte a bacia de Santos sobre o
Alto de Florianópolis, e ao Sul o Alto de Polônio,
ABSTRACT no Uruguai (Bueno et al., 2007) (Figura 1). A
This study reports the paleoecological perfuração de poços realizados na bacia constituiu
aspects of the Cretaceous-Paleogene (K-Pg) uma exelente oportunidade para a compreensão
inteval of Pelotas Basin, considering the da evolução do Oceano Atlântico, visto que o
taxonomic study of marine ostracods. A total processo de rifteamento do Gondwana iniciou-se
of 479 cutting samples coming from five wells do sul (Platô das Malvinas) para o norte na bacia
drilled at the 1980’s were examined. The analysis de Pelotas (Conceição et al., 1988l).
of the samples resulted in the identification of 98 Um dos estudos pioneiros realizados na
specimens distributed in 9 families, 21 genus and porção offshore da bacia de Pelotas foi realizado
34 species. The Cretaceus-Paleogene (K-Pg) in por Gomide (1989) que, através do estudo com
the Pelotas Basin is marked by significant faunal nanofósseis calcáreos, estabeleceu o mais completo
changes and the ostracod assemblages registered estudo bioestratigráfico marinho para a bacia de
suggest a neritic marine environment with warm Pelotas e que vem sendo utilizado como base para
water temperatures. os estudos micropaleontológicos recentes na bacia
Keywords: Ostracod, Cretaceous- (Ceolin et al., 2011; Guerra et al., 2010; Coimbra
Paleogene, Pelotas Basin et al., 2007; Anjos e Carreño 2004; Carreño et al.,
1999) .

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o limite K–Pg tem
MATERIAIS E MÉTODOS
sido estudado mundialmente em sedimentos Para o desenvolvimento deste estudo, foram
marinhos por meio de diversos grupos de analisadas 479 amostras de calha provenientes
microfósseis (e.g., Bertels, 1995; Fauth et al., de cinco poços (1-RSS-2, 1-RSS-3, 2-RSS-1,

263
1-SCS-3B e 1-SCS-2) perfurados pela Petrobras Pernambuco-Paraíba (PE/PB), Nordeste do
na plataforma continental da Bacia de Pelotas. Brasil – Inferências paleoambientais. Acta
As amostras foram preparadas no Laboratório geologica leopoldensia, 39:131-145.
de Micropaleontologia da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos - UNISINOS, segundo a ANJOS, G.S. & CARREÑO, A.L. 2004.
metodologia adotada para microfósseis calcáreos.. Bioestratigrafia (foraminiferida) da
sondagem 1-SCS-3B, Plataforma de
Florianópolis, Bacia de Pelotas, Brasil.
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS Revista Brasileira de Paleontologia 7:127-
Um total de 98 spécimens foram 138.
reconhecidos representando nove famílias,
21 gêneros e 34 espécies. Os gêneros mais AUMOND, G.; KOCHHANN, K.G.D.;
diversificados foram Cytherella (7 espécies) FLORISBAL, L.S.; FAUTH, S.B.;
e Paracypris (4 espécies). Trachyleberididae e BERGUE, C.T. & FAUTH, G. 2009.
Cytherellidae foram as famílias mais abundantes Maastrichtian-Early Danian radiolarians
na bacia de Pelotas. and ostracodes from ODP Site 1001b,
A fauna de ostracodes registrada durante Caribbean sea. Revista Brasileira de
o Cretáceo-Paleógeno (K-Pg) na bacia de Pelotas Paleontologia 12 (3):195-210.
mostrou uma distribuição irregular ao longo dos
BERTELS, A. & POSOTKA. 1995. The
poços estudados, além de uma maior abundância
Cretaceous-Tertiary boundary in Argentina
e riqueza no Cretáceo do que no Pealeógeno. O
and its ostracodes. Ostracoda and
limite Cretáceo-Paleógeno (K-Pg) é marcado
Biostratigraphy. 163-170 (Riha J (ed)).
por uma mudança faunística que registra o
desaparecimento local dos gêneros Cytherelloidea, BERTELS, A. 1973. Ostracodes of the type
Argilloecia, Cythereis, Brachycythere, Majungaella, locality of the Lower Tertiary (lower Danian)
Pondoina e Rostrocytheridea e a primeira ocorrência Rocanian Stage and Roca Formation of
local de Neonesidea, Bairdoppilata, Ambocythere, Argentina. Micropaleontology, 19:308-340.
Buntonia, Langiella?, Trachyleberis e Krithe (Figura
2).Entretanto,os gêneros Wichmannella, Paracypris, BUENO, G.V.; ZACHARIA, A.A.; OREIEO,
Actinocythereis e Cytherella são registrados tanto no S.G.; CUPERTINO, J.A.; FALKENHEIN,
Cretáceo quanto no Paleógeno da bacia. U.H. & NETO MAM. 2007. Bacia de
Baseado na análise faunística, podemos Pelotas. Boletim de Geociências da Petrobras,
considerar que a bacia de Pelotas registrou, Rio de Janeiro 15:551-559.
para o Limite Cretáceo-Paleógeno (K-Pg), um
ambiente nerítico com condições normais de CEOLIN, D.; FAUTH, G. & COIMBRA,
salinidade através da seção estudada. A presença J.C. 2011. Cretaceous- Lower Paleogene
de Brachycythere sp. 1, Brachycythere gr. sapucariensis ostracodes from the Pelotas Basin, Brazil.
Krömmelbein, 1964 e Cytherelloidea spirocostata Palaeobiodiversity and Palaeoenvironment
Bertels, 1973, pode indicar um ambiente com 91: 111-128.
temparaturas quentes, similar àquelas registradas
para as regiões equatoriais. COIMBRA, J.C.; CARREÑO, A.L. & ANJOS-
ZERFASS, G.S. 2007. Biostratigraphy and
paleoceanographical significance of the
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264
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BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,

265
Figura 1. Mapa de localização da Bacia de Pelotas mostrando seus limites e os cinco poços estudados. Modificado de
Anjos e Carreño, 2004.

266
Figura 2. Estampa de algumas espécies de ostracodes da Bacia de Pelotas. MEV. Escala 100 µ. (1) Cytherella cf. C. araucana,
carapaça, vista lateral esquerda; (2) Cytherella sp. 1, carapaça, vista lateral esquerda; (3) Cytherelloidea spirocostata,
carapaça, vista lateral direita; (4) Bairdoppilata triangulata, carapaça, vista lateral direita; (5) Paracypris sp. 1, carapaça,
vista lateral direita; (6) Paracypris? sp. 4, carapaça, vista lateral direita; (7) Actinocythereis indígena, carapaça, vista lateral
direita; (8) Actinocythereis sp., carapaça, vista lateral direita; (9) Cythereis sp., carapaça, vista lateral esquerda; (10)
Langiella? sp., carapaça, vista lateral esquerda; (11) Trachyleberis sp., carapaça, vista lateral esquerda; (12) Wichmannella
araucana, carapaça, vista lateral direita; (13) Wichmannella meridionalis, carapaça, vista lateral esquerda; (14) Brachycythere
gr. sapucariensis, carapaça, vista lateral direita; (15) Majungaella sp., carapaça, vista lateral direita.

267
PALINOLOGIA DE ESTRATOS DO DEVONIANO TERMINAL E DO
CARBONÍFERO INFERIOR DA BACIA DE TUCANO – NE BRASIL
Rodolfo Dino1 (dino@petrobras.com.br), Felipe Gonzáles2 (fbarrio@aldoc.uhu.es), Luzia Antonioli3 (luantonioli@ig.com.br),
Paulo da Silva Milhomen1 (milhomen@petrobras.com.br), Carmen Moreno2 (carmor@uhu.es), Reinaldo Sáez2 (saez@uhu.es)
1
PETROBRAS / UERJ; 2Universidad de Huelva, Spain; 3UERJ

RESUMO In chronostratigraphic terms the miospore results


allowed to define, for the Devonian section, the
Depósitos do Paleozoico Inferior na
LN palynozone (Late Famennian), and the age
bacia dominantemente cretácea de Tucano são
Tournasian for the Carboniferous sequence.
conhecidos desde a publicação de Regali (1964)
reportando preliminarmente resultados de estudos Keywords: Palynomorphs, Paleozoic,
palinológicos no poço Ibimirim (2-IMst-1-PE). Jatobá Basin
Contudo, estas ocorrências, dada as prioridades
no estudo da seção cretácea, permaneceram INTRODUÇÃO
pouco estudadas, com conteúdo em palinomorfos
Registros de fragmentários depósitos do
definidos a nível genérico e com baixo grau de
Paleozoico, aflorantes ou não, nas bacias cretáceas
definição bioestratigráfica.
interiores têm sido mencionados de longa data.
Reportamos aqui uma associação Não obstante, as ocorrências aflorantes, por
palinológica presente em material testemunhado se apresentarem normalmente alteradas e/ou
e de calha de dois poços da Bacia de Jatobá que oxidadas, normalmente têm resultado estéreis para
atingiram a seção paleozóica. Esta associação o método palinológico. Por outro lado, as seções
apresenta-se rica em esporos, acritarcos e algas equivalentes em subsuperfície, são provenientes
prasinofíceas; contendo, em menor número das companhias de petróleo e mineração, com
escolecodontes e quitinozoários. Os dados interesses voltados principalmente para a seção
obtidos permitem enquadrar a seção devoniana na cretácea. Em conseqüência, os dados referentes a
palinozona LN de idade Fammeniana Superior; e esses estratos são escassos e consistem na maioria
a seção carbonífera na idade Tournasiano. de citações de palinomorfos a nível genérico,
Palavras-chave: Palinomorfos, Paleozoico, parcamente ilustrados e sem descrição.
Bacia de Jatobá São apresentados neste trabalho os
resultados de análises palinológicas em amostras
ABSTRACT de calha e de testemunhos dos poços Ibimirim
e Inajá da Bacia de Jatobá (Fig.1). Trata-se de
Lower Paleozoic deposits in a dominantly
material referente às Formações Inajá e Curituba,
Cretaceous Tucano basin are known since the
constituídos, respectivamente, por um pacote
publication of Regali (1964) which reported
essencialmente arenitos, com níveis caulínicos,
preliminary results of palynological studies in the
e com inúmeras intercalações de argilitos cinza
Ibimirim well. However, these occurrences, given
escuros a avermelhados (Formação Inajá);
the priorities on studies of the Cretaceous section,
sotoposto a uma seção de litologia variegada,
remain poorly studied, with few illustrations on the
onde se incluem arenitos finos, arenitos argilosos,
palynomorphs, without description, and with low
folhelhos negros a avermelhados e calcáreos
biostratigraphic definition. Diverse and fairly well
(Formação Curituba). A maioria das amostras
preserved palynological assemblages occur in cores
apresentaram-se férteis, com abundância variada
and cuttings sections from two wells in the Jatobá
e estado de preservação variando de pobre a bom,
Basin, northeasthern Brazil. In the Uppermost
e com espécies diagnósticas de ambiente e idade.
Devonian cored section the miospores, acritarchs
and prasinophytes are abundant, and contains a
small number of chitinozoans and scolecodonts.

268
TRABALHOS ANTERIORES pouco diversa, rara e mal preservada, constituída
apenas por esporos e matéria orgânica lenhosa,
A despeito da importância estratigráfica
algo carbonizada. A presença das espécies
e provavelmente econômica em se detalhar os
Cordylosporites marciae, Vallatisporites verrucosus, V.
conhecimentos dos estratos paleozoicos das
vallatus, Verrucosisporites nitidus, sugerem a idade
bacias dominantemente cretáceas terrestres, dado
Tournaisiano para a seção (Fig.2).
que podem representar um sistema petrolífero
ativo nestas bacias, são raras as informações A presença de acritarcos, quitinozoários
bioestratigráficas publicadas. Em relação à e algas prasinofíceas na seção devoniana, atestam
Bacia de Jatobá, parte dos estratos analisados condições marinhas à época de deposição destes
no presente trabalho foi apresentada de modo estratos. Já na seção carbonífera a ausência de
informal por Regali (1964), onde a autora ilustra elementos do paleomicroplâncton marinho,
os palinomorfos mais comuns da associação, aliada a presença expressiva de matéria orgânica
correlacionando a palinoflora encontrada com lenhosa de origem continental sugerem uma forte
associações da Bacia do Parnaíba (Muller, 1962) influência continental à época da deposição.
e posicionando-os do Devoniano Médio ao
Carbonífero Inferior. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Posteriormente Quadros (1980),
QUADROS, L.P. 1980. Ocorrência de
analisando a mesma sequência de Regali (1964)
palinomorfos em sedimentos Paleozoicos
ilustrou algumas espécies diagnósticas de idade
da Bacia de Jatobá (Pernambuco). Revista
e ambiente, correlacionando-as com formas das
Brasileira de Geociências, 10 (1) 68-72.
bacias do Paraná e de Mac Mahon do Saara
Algeriano; caracterizando as idades do Struniano LOBOZIAK, S.; STREEL, M.; CAPUTO,
ao Tournasiano/Viseano. M.V. & MELO, J.H.G. 1992. Middle
Devonian to Lower Carboniferous miospore
CONCLUSÕES stratigraphy in the central Parnaiba Basin
(Brazil). Annales de la Société Géologique
A palinoflora devoniana identificada se
de Belgique 115: 215-226.
caracteriza por uma associação diversa, abundante
e bem preservada constituída por abundantes MELO, J.H.G. & LOBOZIAK, S. 2003.
esporos, acritarcos e algas prasinofíceas; além Devonian–Early Carboniferous miospore
de escassos quitinozoários, escolecodontes, e biostratigraphy of the Amazon Basin,
abundante matéria orgânica amorfa. Northern Brazil. Review of Palaeobotany
Do ponto de vista cronoestratigráfico and Palynology 124: 131-202.
a presença das espécies Retispora lepidophyta,
Verrucosisporites nitidus, Indotriradites REGALI, M.S.P. 1964. Resultados palinológicos
explanatus, Knoxisporites literatus, de amostras Paleozóicas da Bacia Tucano-
Pustulatisporites dolbii, Rugospora flexuosa, Jatobá. Bol. Téc. Petrobras, 7 (2) 165-180.
Vallatisporites hystricosus, V. vallatus e V.
verrucosus na palinoflora nos permite enquadrar a STREEL, M.; HIGGS, K.; LOBOZIAK,
seção na Biozona LN definida para o Devoniano S.; RIEGEL, W. & STEEMANS, P.
terminal (topo do Fammeniano Superior para o 1987. Spore stratigraphy and correlation
Oeste Europeu por Streel et al. (1987). Ressalta-se with faunas and floras in the type marine
que esta biozonas tem sido identificada também Devonian of the Ardenne-Rhenish regions.
em outras regiões do Gondwana, incluindo as Review of Palaeobotany and Palynology, 50:
bacias brasileiras do Amazonas (Melo y Loboziak 211-229.
2003) Parnaíba (Loboziak et al., 1992) e Paraná
(Loboziak et al., 1995).
Por outro lado a palinoflora eocarbonífera
identificada se caracteriza por uma associação

269
Figura 1. Mapa de localização da Bacia de Jatobá e dos poços estudados.

Figura 2. Zoneamento palinoestratigráfico da seção - Poço 2-IMst-1-PE.

270
Figura 3. 3.1 Retispora lepidophyta (Kedo) Playford 1976; 3.2. Vallatisporites hystricosus (Winslow) Byvsheva 1985;
3.3. Punctatisporites solidus Hacquebard 1957; 3.4. Vallatisporites vallatus Hacquebard 1957; 3.5. Vallatisporites
verrucosus Hacquebard 1957; 3.6. Knoxisporites literatus (Waltz) Playford 1963; 3.7. Cordylosporites marciae Playford &
Satterthwait 1985; 3.8. Punctatisporites glaber (Naumova) Playford 1962 ; 3.9. Verrucosisporites nitidus Playford 1964;
3.10. Indotriradiates explanatus (Luber) Playford 1991; 3.11.Rugospora flexuosa (Jushko) Streel in Becker, Bless, Streel
& Thorez; 3.12. Umbellasphaeridium saharicum Jardiné, Combaz, Magloire, Peniguel & Vachey 1972; 3.13. Veryhachium
polyaster Staplin 1961; 3.14. Maranhites mosesii (Sommer) Brito emend. González 2009; 3.15. Gorgonisphaeridium
condensum Playford 1981; 3.16. Stellinium micropolygonale (Stockmans & Willière) Playford 1977; 3.17. cf. Hapsidopalla
chela Wicander & Wood 1981; 3.18. Navifusa bacillum (Deunff) Playford 1977.

271
PALINOMORFOS DO INTERVALO ALBIANO SUPERIOR -
CENOMANIANO (ODP SITE 1258) – DEMERARA RISE
Patrícia Maria Krauspenhar1 (patriciakrauspenhar@yahoo.com.br), Marcelo de Araujo Carvalho2 (mcarvalho@mn.ufrj.br),
Gerson Fauth1 (gersonf@unisinos.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, 2Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
1

RESUMO da plataforma em direção á escarpa nordeste,


onde a profundidade da coluna d’água aumenta
O presente trabalho, de caráter ainda
consideravelmente de 1000 m para mais de 4.500
preliminar, tem por objetivo registrar a
m. Enquanto na margen noroeste forma uma
ocorrência de palinomorfos de idade neoalbiana
rampa suave atingindo profundidades de 3000 a
a cenomaniana do Site 1258, (ODP Leg 207)
4000 m. (Shipboard Scientific Party, 2004a).
Demerara Rise. A assembleia de palinomorfos
apresentou baixa diversidade e abundância e O Platô de Demerara Rise foi uma das
um grau de preservação muito bom. Foram últimas áreas em contato com o oeste da África
registrados 15 gêneros e 12 espécies, sendo que durante a abertura do Atlântico Equatorial. Os
as mais abundantes foram Elaterosporites klaszi, processos de rifteamento e as falhas transformantes
Cribroperedinium muderongensis, Odontochitina relacionadas separaram os Platôs de Guinea e
operculata, Oligosphaeridium cf. complex, e Demerara Rise ao longo de uma falha leste-oeste
Coronifera oceanica. durante o Cretáceo Inicial (Shipboard Scientific
Party, 2004a).
Palavras-chave: Palinomorfos, Cretáceo,
Demerara Rise Dentre os cinco sites perfurados no
Platô de Demerara Rise durante a expedição do
Deep Sea Drilling, o site 1258 é o mais distal
ABSTRACT e mais profundo atingindo 3192 m abaixo do
The aim of this study was registered the nível do mar. Os sedimentos recuperados são
occurrence of palinomorphs assemblage from compostos, litologicamente, por argilas calcárias
neoalbian to cenomanian age from Site 1258, com laminações de matéria orgânica e folhelhos
(ODP Leg 207) Demerara Rise. The assemblage negros (Shipboard Scientific Party, 2004b).
showed a low diversity and abundance and O presente trabalho, de caráter ainda
a very good preservation. 15 generas and 12 preliminar, tem por objetivo registrar a
species were registered, and the most abundant ocorrência de palinomorfos de idade neoalbiana
were Elaterosporites klaszi, Cribroperedinium a cenomanaina do Site 1258, (ODP Leg 207)
muderongensis, Odontochitina operculata, Demerara Rise.
Oligosphaeridium cf. complex, and Coronifera
oceanica.
METODOLOGIA
Keywords: Palinomorphs, Cretaceous,
Demerara Rise As 33 amostras analisadas são provenientes
do Deep Sea Drilling Program e correspondem ao
Leg 207, Site 1258, poço C perfurado em lâmina
INTRODUÇÃO d’agua de 443 à 484 m.
Demerara Rise é um extenso e proeminente As amostras foram processadas
Platô submarino localizado aproximadamente no Laboratório de Micropaleontologia da
entre a latitude 9°N e longitude 54°W (Figura UNISINOS, de acordo com a metodologia
1) no Oceano Atlântico Norte Tropical. Este palinológica padrão de Uesugui (1979), que
Plâto possui uma extensão de 380 km ao longo consiste na acidificação, não oxidativa, com HCL
da costa de Suriname e da Guiana Francesa e e HF. A leitura das lâminas palinológicas foi
atinge uma largura de 220 km a partir da quebra efetuada em microscópio Zeiss Axioskop 40, sob

272
luz transmitida e luz ultravioleta incidente, com assembleias de outros lugares situados na região
oculares de 10X e objetivas de 20X e 100X. O equatorial apontam que a idade da assembleia é
registro fotomicrográfico dos palinomorfos foi definida como Albiano superior - Cenomaniano
realizado com o auxílio de câmara Canon A 620, devido à presença e abundância de Elaterosporites
acoplada ao microscópio acima descrito, e através klaszi. De acordo com Dino et al., (1999), espécies
do sistema de captura de imagem Axio Vision do complexo elaterado são encontrados apenas na
6.0 Microsoft, em aumento de 40X e 100X. As região equatorial e ocorrem apenas do Albiano
lâminas palinológicas encontram-se depositadas superior ao Cenomaniano. Entretanto, Erbacher et
no Laboratório de Micropaleontologia al. (Shipboard Scientific Party, 2004a) definiram a
da Universidade do vale do Rio dos Sinos sessão estudada como Albiano inferior à superior
- UNISINOS. com base nas assembleias de foraminíferos e
nanofósseis calcários.
Segundo Dino et al. (1999), a associação
RESULTADOS
de grãos de pólen elaterados com o gênero
A assembleia palinológica apresentou Classopolis evidencia um clima quente e árido.
baixa abundância e diversidade, mas um grau
de preservação muito bom. Os palinomorfos
recuperados no poço incluem elementos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
continentais (esporos e grãos de pólen) e marinhos DINO et al. 1999. Morphology and ultrastructure
(cistos de dinoflagelados, palinoforaminíferos of elater-bearing pollen from the Albian
e escolecodontes). Foi observado também to Cenomanian of Brazil and Ecuador:
o predomínio de matéria orgânica amorfa implications for botanical affinity. Review of
(MOA) em todas as amostras analisadas. Outras Paleobotany and Palynology, 105(3-4):201-
partículas orgânicas observadas, embora em 235.
menor abundância, foram do grupo Fitoclastos:
membranas, cutículas, opacos (equidimensional EISENACK, A. & KJELLSTRÖM, G. 1964.
e alongado), não opacos bioestruturados Katalog der fossilen Dinoflagellaten
(perfurados) e não opacos não bioestruturados. Os Hystrichosphären und verwandten
palinomorfos, bem como as partículas orgânicas Mikrofossilien. E. Schweizerbart’sche
recuperadas, são apresentados na Figura 2. Verlagsbuchhandlung, Stuttgart. 904 p.
Das trinta e três amostras analisadas,
cinco amostras não apresentaram recuperação de EISENACK, A. & KJELLSTRÖM, G. 1975.
palinomorfos. Entre os palinomorfos continentais Katalog der fossilen Dinoflagellaten
a maior abundância registrada foi da espécie Hystrichosphären und verwandten
Elaterosporites klaszi. Já entre os palinomorfos Mikrofossilien. E. Schweizerbart’sche
marinhos observa-se a predominância de Verlagsbuchhandlung, Stuttgart. 904 p.
Cribroperedinium muderongensis, Odontochitina
operculata, Oligosphaeridium cf. complex, e Coronifera HERNGREEN, G.F.W. 1973. Palynology of
oceanica. Foram identificados 15 gêneros e 12 Albian-Cenomanian strata of borehole
espécies com base na consulta de catálogos de 1-QS-1-MA, State of Maranhão, Brazil.
Eisenack (1964, 1975), além de outros trabalhos Pollen Spores, v. 15(3-4):515-555.
realizados na região do Atlântico Sul Equatorial
JARDINE, S. & MAGLOIRE, L. 1965.
(EG. Herngreen, 1973; Regali, 1974; Jardine &
Palynologie et sttratigraphie Du
Magloire, 1965).
Crétacé des bassins du Sénégal et de
Côte’Ivoire. In : COLOQUE DES
CONCLUSÕES MICROPALÉONTOLOGIE, Dakar,
Embora ainda preliminares, os resultados 1963. Mém. Bur. Rech. Géol. Min. 32, 187-
até então obtidos a partir do reconhecimento da 245.
assembleia de palinomorfos e a sua comparação com

273
KULHANEK, D.K. & WISE JR., S.W. 2006. Drilling Program. Texas A & M University,
Albian calcareous nannofossils from College Station, TX, USA.
ODP Site 1258, Demerara Rise. Revue de
Micropaléontologie, 49(3):181-195. SHIPBOARD SCIENTIFIC PARTY. 2004b.
Site 1258. In: ERBACHER, J.; MOSHER,
REGALI, M.S.P.; UESUGUI, N. & SANTOS, D. C. & MALONE, M. J. et al. (eds.).
A.S. 1974. Palinologia dos sedimentos Proceedings ODP, Initial Reports, 207,
meso-cenozoicos do Brasil. Boletim Técnico 1-117 (CD-ROM). Available from: Ocean
da Petrobras, 17(3):177-191. Drilling Program. Texas A & M University,
College Station, TX, USA.
SHIPBOARD SCIENTIFIC PARTY. 2004a.
Leg 207 summary. In: ERBACHER, J.; UESUGUI, N. 1979. Palinologia; técnicas de
MOSHER, D.C. & MALONE, M.J. et al. tratamento de amostras. Boletim técnico da
(eds.). Proceedings ODP, Initial Reports, Petrobras, 22(4):229-240.
207, 1-89 (CD-ROM). Avaible from: Ocean

Figura 1. Platô de Demerara Rise evidenciando as posições geográficas dos Sites 1257 – 1261, inclusive o Site 1258 alvo
deste estudo. (ODP Leg 207). (Modificado de Kulhanek; Wise Jr. 2006).

274
Figura 2. Palinomorfos e partículas orgânicas recuperados do Site 1258, poço C. 1-2) Spiniferites beju i(Masure et al., 1998);
1258 C, 32 RCC, 11-13cm. 3) Dinopterygium cladoides (Deflandre, 1935); 1258C, 33R1, 46-47 cm. 4) Oligosphaeridium cf.
complex (Davey & Williams, 1966), White, 1842; 1258C, 27RCC, 10-12 cm. 5) Coronífera oceânica (May, 1980),Cookson
& Eisenack,1958; 1258C, 27 RCC, 10-12 cm. 6) Ciclonephelyum vannophorum (Fauconnier & Masure,2004) Davey, 1969;
1258C, 33R1, 46-47 cm. 7) Araucariacites australis (Cookson, 1947); 1258 C, 31R2, 48-50 cm. 8) Cyathidites sp. (Couper,
1953); 1258C, 34R2, 37-39 cm. 9) Cribroperedinium muderongensis (Davey, 1969), Cookson & Eisenack, 1958; 1258C,
32R2, 28-30 cm. 10-11) Odontochitina operculata (Deflandre & Cookson, 1955), Wetzel, 1933; 1258C, 33R1, 46-47
cm. 12) Steevesipollenites binodosus (Stover, 1964); 1258C, 31R1, 48-50 cm. 13-14) Elaterosporites klaszi (Jardine et
Magloire), Jardiné, 1967; 1258C, 33R2, 48-50 cm. 15) Classopolis classoides (Pocock et Jansonius, 1961); 1258C, 27R1,
93-95 cm. 16) Perotriletes sp. (Couper, 1953); 1258C, 27RCC, 10-12 cm. 17) Fitoclasto não opaco perfurado, 1258C, 28R2,
27-29 cm. 18) MOA, 1258 C, 28R1, 25-27 cm. 19) Cutícula, 1258 C, 31RCC, 5-7 cm. 20-21) Palinoforaminífero, 1258C,
26R1, 37-39 cm.

275
REGISTRO DE MICROFÓSSEIS CALCÁRIOS NO PERFIL LACHMAN
CRAGS, NEOCRETÁCEO DA ILHA JAMES ROSS, ANTÁRTICA
Leonardo Santos Florisbal1 (florisba@yahoo.com.br), Gerson Fauth1 (gersonf@unisinos.br),
Marta Cláudia Viviers2 (mcviviers@petrobras.com.br), Marcelo de Araújo Carvalho3 (mcarvalho@mn.ufrj.br),
Leonardo Niedersberg da Silva1 (leons157@yahoo.com.br), Renato Rodriguez Cabral Ramos3 (rramos@mn.ufrj.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos; 2Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CENPES-PETROBRAS);
1

Universidade Federal do Rio de Janeiro – Museu Nacional


3

RESUMO INTRODUÇÃO
Apesar dos raros registros de microfósseis A Ilha James Ross, localizada ao norte
no Cretáceo da Antártica, sua ocorrência contribui da Península Antártica (Figura 1), possui uma
para a compreensão da evolução geológica e espessa seção sedimentar e fossilífera, chave para
paleobiogeográfica da região. A Formação Santa a compreensão das mudanças paleoambientais
Marta possui grande abundância de fósseis, ocorridas em altas latitudes durante o Cretáceo.
englobando desde amonóides, troncos fósseis A melhor exposição litológica da sub-bacia James
e restos de vertebrados. O principal objetivo Ross encontra-se na ilha homônima, onde pode
desse trabalho é a identificação taxonômica dos ser encontrada uma das mais completas seqüências
ostracodes e foraminíferos encontrados nos sedimentares do Cretáceo na Antártica (Riding
sedimentos do Membro Lachman Crags, base da & Crame, 2002). Estudos que contemplem
Formação Santa Marta, situado a noroeste da Ilha ostracodes e foraminíferos do Cretáceo são
James Ross. A associação de ostracodes, embora escassos na Península Antártica, e seu registro
pouco conhecida, permite inferir um ambiente pode contribuir para o melhor conhecimento da
marinho. Os foraminíferos recuperados são todos área.
bentônicos, variando de carapaças aglutinantes a As amostras analisadas nesse trabalho
calcárias. estão inseridas na base da Formação Santa Marta
Palavras-chave: Ilha James Ross, (FSM) - Membro Lachman Crags (MLC),
Cretáceo, microfósseis, ostracodes, foraminíferos posicionado no Grupo Marambio (Crame et al.,
1991). As idades para o MLC abrangem desde
o Santoniano inicial ao Campaniano inicial, de
ABSTRACT acordo com estudos com base em palinomorfos
Despite the few records of microfossils for (Keating, 1992). Para a FSM, a idade indicada por
the Cretaceous of Antarctica, their occurrences amonóides é dada como campaniana (Crame et
contribute to understanding both the geological al., 1991).
and paleobiogeographical evolution of the region. Esse trabalho tem como objetivo principal
The Santa Marta Formation provides huge fazer a identificação taxonômica dos ostracodes e
abundance of fossils, encompassing ammonites, foraminíferos recuperados.
fossil wood and remains of vertebrates. The
main objective of this work is the taxonomic
identification of foraminifera and ostracodes MATERIAIS E MÉTODOS
recovered in sedimentary rocks of the Lachman O material de estudo se constitui de 102
Crags Member, base of Santa Marta Formation, amostras coletadas ao longo de um perfil de
located northwest of the James Ross Island. The 149 metros de extensão vertical, constituídas de
association of ostracodes, though insufficiently arenitos finos com intercalações de argilitos e
known, allows to inffer a marine environment. siltitos. A preparação do material foi realizada de
Foraminifera are all benthic, ranging from acordo com os métodos usuais para microfósseis
agglutinated and calcareous shells. calcários: imersão da rocha em uma solução de
Keywords: James Ross Island, Cretaceous, 29% de peróxido de hidrogênio por 24h com a
microfossils, ostracodes, foraminifera posterior lavagem e separação das amostras em
peneiras de malhas 45, 63, 180 e 250 µm.

276
CONCLUSÕES Española de Micropaleontología, 41 (1-
2):145-196.
A microfauna analisada (Figura 2)
é composta de ostracodes e foraminíferos FAUTH, G.; SEELING J. & LUTHER, A.
bentônicos, encontrados em 8 amostras em 2003. Campanian (Upper Cretaceous)
diferentes intervalos ao longo do perfil. ostracods from southern James Ross Island,
Foram observados 7 exemplares de Antarctica. Micropaleontology, 49:95-107.
ostracodes pertencentes aos gêneros Cytherella,
Majungaella, Bythocypris, Rostrocytheridea e HUBER, B.T. 1988. Upper Campanian -
Paracypris, ocorrendo em diferentes níveis ao Paleocene foraminifera from the James
longo do perfil. Todos eles característicos de Ross Island region, Antarctic Peninsula. In:
ambiente tipicamente marinho e já anteriormente FELDMANN, R.M. & WOODBURNE,
encontrados em trabalhos para a região antártica M.O. (eds.) Geology and Paleontology
e Ilha James Ross, entre eles os de Fauth et al. of Seymour Island, Antarctic Peninsula,
(2003) e Dingle (2009). Geological Society of America, Memoir
Os foraminíferos apresentam maior Series 169, p. 163-252.
quantidade nas amostras e somente ocorrem
exemplares bentônicos, variando entre formas KEATING, J.M. 1992. Palynology of the
calcárias e aglutinantes. Até o momento, foram Lachman Crags Member, Santa Marta
classificados os gêneros Haplophragmoides, Formation (Upper Cretaceous) of North-
Spiroplectinella, Gaudryina, Dorothia, Saracenaria, west James Ross Island In: Palynology of the
Lenticulina, Textularia, Lagena, Gavelinella, James Ross Island area, Antarctic Peninsula,
Gyroidinoides e Enantiodentalina. Os mais Antarctic Science, 4(3):293-304.
abundantes pertencem aos gêneros Dorothia
e Gyroidinoides. Huber (1988) observou a MURRAY, J. 2006. Ecology and applications
ocorrência de espécies e gêneros na Ilha James of benthic foraminifera. 1ª ed. New York,
Ross e Ilha Vega que apresentam similaridade Cambridge University Press, 426 p.
com a microfauna observada nesse trabalho.
Tendo como base o trabalho de Murray (2006), os PIRRIE, D. 1989. Shallow marine sedimentation
gêneros Gaudryina, Haplophragmoides, Lenticulina within an active margin basin, James Ross
e Textularia possivelmente indicam um ambiente Island, Antarctica. Sedimentary Geology,
marinho plataformal à batial superior. Os trabalhos 63:61-82.
de Pirrie (1989) e Pirrie et al. (1991) sugerem um
PIRRIE, D.; WHITHAM, A.G. & INESON,
ambiente marinho plataformal de baixa energia,
J.R. 1991. The role of tectonics and eustacy in
tendo como base os sedimentos finos do Grupo
the evolution of a marginal basin: Cretaceous-
Marambio, depositados através do processo de
Tertiary Larsen Basin, Antarctica. In:
raseamento pela qual passou a Bacia James Ross
MACDONALD, D.I.M. (ed.) Sea Level
durante o Cretáceo Superior.
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and Products, International Association
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CRAME, J.A.; PIRRIE, D.; RIDING, J.B. &
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148:1125-1140. 259-266.

DINGLE, R.V. 2009. Implications for high RIDING J.B. & CRAME J.A. 2002. Aptian
latitude gondwanide palaeozoogeographical to Coniacian (Early-Late Cretaceous)
studies of some new Upper Cretaceous palynostratigraphy of the Gustav Group,
marine ostracod faunas from New Zealand James Ross Basin, Antarctica. Cretaceous
and the Antarctic Peninsula. Revista Research, 23(6):739-760.

277
Figura 1. Mapa geológico da Ilha James Ross. O ponto de coleta está representado pelo triângulo preto (Mapa modificado
de Pirrie et al., 1992).

Figura 2. Microfósseis identificados no Mb. Lachman Crags (Formação Santa Marta). A - Cytherella sp. (vista lateral
esquerda); B - Majungaella sp. 1 (vista lateral esquerda); C – Paracypris sp. (vista lateral direita); D - Bythocypris sp.
(vista lateral direita); E – Dorothia sp. 1; F- Saracenaria sp. 1; G – Saracenaria sp. 2; H – Globulina sp.; I – Cyclogyra sp.;
J – Haplophragmoides sp.; K – Gyroidinoides sp.; L – Siphogenerinoides sp.

278
S-06:
Paleobotânica
A NEW MIDDLE-LATE JURASSIC COMPRESSION FLORA
ASSOCIATED WITH THE SAN AGUSTÍN HOT-SPRING
DEPOSIT, SOUTHERN PATAGONIA, ARGENTINA
Zamuner A.1,2 (azamuner@yahoo.com), Channing A.3, Sagasti A. J.1, Edwards D.3, Guido D.2,4
1
División Paleobotánica, Facultad de Ciencias Naturales y Museo, UNLP; 2CONICET;
3
School of Earth and Planetary Sciences, Cardiff University, Wales, UK; 4Instituto de Recursos Minerales, UNLP

ABSTRACT Systematic Paleobotany


We describe a new Middle-Late Clade Lygnophyta.
Jurassic flora from the La Matilde Formation Division Gymnospermophyta
(Bahía Laura Group) associated with the San Order Corystospermales: Family
Agustín hot-spring deposit, western Deseado Corystospermaceae; Pachypteris crassa
Massif, Southern Patagonia, Argentina. The Order Bennettitales: Dictyozamites falcatus
7 genera and 14 morphospecies, preserved as Oldham et Morris 1863 emend. Harris 1969; D.
impressions, record a relatively diverse woodland cf. crassinervis Menéndez, 1966; Dictyozamites sp
plant community dominated by conifers and A. and Dictyozamites sp. B.
bennettitaleans growing adjacent to herbaceous Order Coniferales
lake margin communities. Family Araucariaceae: (seeds) Araucarites
Keywords: Middle-Late Jurassic, cutchensis Feistmantel, 1877; Araucarites sp. A;
Paleobotany, Southern Patagonia Araucarites sp. (female cones)
Family Cheirolepidiaceae? Pagiophyllum
INTRODUCTION sp.
Middle to Late Jurassic cherts, recently Coniferales Incertae Sedis Brachyphyllum
discovered at the San Agustín locality (Guido sp.
et al., 2010) in southern Patagonia (Santa Cruz Clades Monilophyta and Lycophyta
province, Argentina) were deposited as brackish, Class Sphenopsida Order Equisetales
heavy-metal and silica-rich water from terrestrial Family Equisetaceae Equisetum aff. E. thermale
hot springs flowed into areas of dense plant- Class Lycopsida Order Isoetales Isoetites sp
growth. The high abundance but low diversity
flora preserved was overwhelmingly dominated DISCUSSION
by two hydrophytes, Equisetum thermale
and a fern (Channing et al., 2011). A fluvial- Sedimentology of the plant-bearing
lacustrine sequence occurring laterally adjacent unit strongly supports an interpretation of
to the physically and chemically stressed hot accumulation in a shallow, oxygenated freshwater
spring habitat represents more widespread lake, where low depositional energy favoured
palaeoenvironments where “more-normal” the good preservation of plant features. The
conditions of plant-growth likely prevailed. flora is characterized by transported, non-
An impression flora preserved in fine grained articulated samples representing 7 genera and
siltstones within this unit provides an indication 14 morphospecies. Conifers and bennettitaleans
of regional plant diversity during this stratigraphic dominate with lesser numbers of lycophytes,
interval and an opportunity to compare different sphenophytes and ferns. Common elements
but geographically closely-related ecosystems. include microphyllous leafy branches of conifers,
The fossil plants comprise leafy branches, isolated dispersed winged seeds (Fig. 1) and female cones
leaflets, dispersed seeds, and less common seed of araucarians and various types of pinnules
cones, fronds and stems. They were described and (entire or fragmented) of bennettitalean fronds
illustrated using standard macrophotographic (Fig. 2). Less common elements are small, heavily-
techniques. sculptured, articulated Equisetum stems, two

281
relatively intact Isoetites plants and a fragment of plants: towards a synthesis. Plant Ecology &
bipinnate pteridosperm frond. Scarce fragments Diversity 2: 111-143.
of carbonized wood are present but too poorly
preserved for identification. Whilst diversity in CHANNING, A.; ZAMUNER, A.;
general terms (e.g. c.f. regional flora tabulated in EDWARDS, D. & GUIDO, D. 2011.
Channing et al., 2007) might be considered to be Equisetum thermale sp. nov. (Equisetales)
medium-low; diversity is high relative to the hot from the Jurassic San Agustín hot spring
spring influenced plant association suggesting deposit, Patagonia: Anatomy, paleoecology
strong partitioning of the local flora between and paleoecophysiology. American Journal
stressed and “normal” settings as is observed in of Botany 98: 680-697.
active thermal areas (Channing & Edwards 2009).
The assemblage appears to represent woodland DE BARRIO, R.; ARRONDO, O.; ARTABE, A.
habitats with araucarians in the canopy and an & PETRIELLA, B. 1982. Estudio Geológico
understory dominated by bennettitaleans with y Paleontológico de los alrededores de la
lesser cheirolepideans and corystosperms. The Estancia Bajo Pellegrini, Provincia de Santa
herbaceous components, represented by relatively Cruz. Asociación Geológica Argentina,
intact equisetaleans and isoetaleans, probably Revista 37: 285-299.
formed lake-margin communities. The presence
ESCAPA, I.H.; STERLI, J.; POL, D. &
of small equisetaleans in both lacustrine and
NICOLI, L. 2008. Jurassic tetrapods and
thermal environments suggest recruitment of this
flora of Cañadón Asfalto Formation in Cerro
dominant hot spring plant from the regional flora
Cóndor area, Chubut Province. Revista de la
rather than the presence of a hot spring specialist
Asociación Geológica Argentina 63: 613 -
or endemic (Channing & Edwards 2009).
624
The Jurassic and Lower Cretaceous are
usually considered as the time of the supremacy of GUIDO, D.; CHANNING, A.; CAMPBELL,
Gymnosperms, being conifer and bennettitalean K.A. & ZAMUNER, A. 2010. Jurassic
clades in Argentina a high abundance and Geothermal Landscapes and fossil
diversity (e.g. De Barrio et al., 1982; Quattrocchio ecosystems at San Agustín, Patagonia,
et al., 2007; Escapa et al., 2008). The geographic Argentina. Journal of the Geological Society,
and stratigraphic relationship of the clastic London, Vol. 167: 11-20.
sequence containing this flora with the San
Agustín hot spring deposit, specially the presence GUIDO, D. & CAMPBELL, K. 2011. Jurassic
of Dictyozamites falcatus and Araucarites hot spring deposits of the Deseado Massif
cutchensis, and age suggested from regional (Patagonia, Argentina): Characteristics and
volcanism and geothermal activity distribution controls on regional distribution. Journal of
(Guido & Campbell 2011) confirm a Middle- Volcanology and Geothermal Research 203:
Late Jurassic age for the hot spring activity. 35–47.

QUATTROCCHIO, M.E.; MARTÍNEZ,


REFERENCES M.A. & VOLKHEIMER, W. 2007. Las
CHANNING, A.; ZAMUNER, AB. & floras jurásicas de la Argentina. Asociación
ZÚÑIGA A. 2007. A new Middle–Late Paleontológica Argentina. Publicación
Jurassic flora and hot spring chert deposit Especial 11 Ameghiniana 50º aniversario:
from the Deseado Massif, Santa Cruz 87-100.
province, Argentina Geological Magazine
144: 401–411.

CHANNING, A. & EDWARDS, D. 2009.


Yellowstone hot spring environments and
the palaeoecophysiology of Rhynie chert

282
Figure 1. 1 - Araucarites cutchensis. 2 - Dictyozamites falcatus. Scale bar: 1cm.

283
ADAPTATIONS OF EARLY CRETACEOUS FLORAS
TO DIFFERING CLIMATE REGIMES
Barbara A. R. Mohr1 (barbara.mohr@mfn-berlin.de), Mary E. C. Bernardes de Oliveira2,3 (maryeliz@usp.br),
Clément Coiffard1 (ccoiffar@hotmail.com), Paula A. Sucerquia2 (psucerquia@gmail.com)
1
Museum of Natural History, Invalidenstr. 43,10115 Berlin,Germany; 2IGc/USP – São Paulo;
3
Mestrado em Análise Geoambiental - UnG - Guarulhos

ABSTRACT way. Yet, various aspects of ecological adaptations


have not been studied in detail.
In general, the Early Cretaceous was a
time period with globally warm, more or less ice Early Cretaceous floras from Northern
free climates, but with episodes of cool climate Gondwana, in contrast, were adapted to seasonal
culminating even in icehouse episodes. Thus drought. First of all, the composition was rather
vegetation stretched much further north and different from northerly sites. Ginkgophytes were
south than today. Several distinct vegetation missing, and the Cycad/Bennettitales group was
belts were developed based on the differences of relatively rare. Conifers were clearly present, but
the climate regime. Climate models for the Late not diverse, Gnetophytes played a major role in
Jurassic to Early Cretaceous suppose a tropical these floras, and angiosperms also seem to have
belt at low latitudes extending relatively far to developed much more rapidly, as seen in the Crato
the north. Cold temperature zones were limited Flora of Brazil or floras of northern Africa,. Many
to the North and South Polar Zones. The Early of the adaptations to this specific environment are
Cretaceous was a time period of unusually high seen in the morphology and anatomical features as
tectonic activity, especially sea floor spreading, well. Coriaceous leaves were developed in various
combined with volcanic outgasing. This groups. Leaf size was reduced and many taxa of
phenomenon increased the CO2 levels that had various taxonomical groups, such as conifers and
an effect on the vegetation at large, characterized angiosperms produced glands and trichomes, plus
by high productivity. The highest productivity sunken stomata.
was in the northern area, while the low latitudes Floras from Southern Gondwana,
belonged to an arid belt with a less complete especially Patagonia were dominated by ferns
vegetation cover. A comprehensive overview on and gymnosperms (pteridosperms and conifers,
Mesozoic climate models is given in Sellwood among them a high amount of Cheirolepidaceae).
and Valdes (2007). Angiosperms were still less prominent during
European Lower Cretaceous vegetation the Early Cretaceous. Typical (palaeo)tropical
is known since more than a century, especially (palyno) elements such as Dicheiropollis/Afropollis
from strata in Great Britain (Wealden strata) that and Elaterates are missing. Nevertheless these
comprise sediments of Berriasian to Barremian floras shared several typical elements with those
age. The composition of these floras that stretch of northern Gondwana, seen in the palynological
from England to northern Germany is clearly (Barreda & Archangelsky 2006) and macroscopic
different from the one in more southern areas record. One element is for example the conifer
(Mediterranean area, northern and Central Africa taxon Tomaxellia (Kunzmann et al., 2006), a
and northern part of South America). In these cheirolepidiacean conifer. The southern most
Wealden strata the floral composition differs continents Antarctica, Australia and India
dramatically from the one to the south. Three belonged to the so called „Trisaccates Province“
groups dominate clearly: Conifers, Ginkgophytes with its own distinct vegetation, dominated by
and Bennettitales/Cycadales. The distribution of ferns, various Podocarpaceae, Araucariaceae and
these groups varied according to their habitat and very few angiosperm taxa
ecology. Based on their general habit, drought Keywords: Cretaceous Floras,
and/or water stress was most likely not a condition paleoclimate, Crato Flora
to which these plants had to adapt to in a major

284
REFERENCES (Brazil). II. Cheirolepidiaceae. Fossil Record,
9: 213-225.
BARREDA, V. & ARCHANGELSKY, S. 2006.
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& SCHMIDT, D.N. (eds.). Deep-time
KUNZMANN, L.; MOHR, B.A.R.; perspectives on climate change: marrying the
BERNARDES-DE-OLIVEIRA, M.E.C. signal from computer an biological proxies.
& WILDE, V. 2006. Gymnosperms from Geological Society, pp. 201-224, Bath.
the Early Cretaceous Crato Formation.

285
ASSOCIAÇÃO BOTRYOCOCCUS/PSEUDOSCHIZAEA EM SEDIMENTOS
CONTINENTAIS DO QUATERNÁRIO (DISTRITO MINEIRO DE
AMETISTA DO SUL, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL)
Gabrielli Teresa Gadens Marcon1 (gabigadens@yahoo.com.br), Margot Guerra Sommer1 (margot.sommer@ufrgs.br),
João Graciano Mendonça Filho2 (graciano@geologia.ufrj.br)
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro

RESUMO o Recente (Batten & Grenfell, 1996). Esse táxon


é típico de ambientes lacustres dulciaquícolas e de
O presente trabalho apresenta dados
baixa energia (Mendonça-Filho, 2010), adaptado
preliminares da análise de palinofácies realizada
a suportar grandes variações no teor de salinidade
em sedimentos quaternários provenientes do
(del Papa, 2002).
Distrito Mineiro de Ametista do Sul (noroeste do
Rio grande do Sul) e avalia a relação Botryococcus x O gênero Pseudoschizaea, por sua
Pseudoschizaea visando estabelecer interpretações vez, compreende um grupo incertae sedis,
paleoambientais e acrescentar informações à possivelmente de origem algálica, associado a
ecologia do gênero incertae sedis. Os resultados ambiente lacustre de água doce (Christopher,
obtidos evidenciam que as variações na freqüência 1976). O status taxonômico do grupo tem sido
destes organismos poderiam ser utilizadas como objeto de constantes revisões, especialmente com
ferramenta auxiliar na inferência de períodos relação à nomenclatura. Formas compatíveis,
de maior ou menor umidade em ambientes porém com diferentes designações genéricas têm
deposicionais estritamente continentais. sido registradas desde o Jurássico até o Recente (Yi,
1997), embora Pseudoschizaea, particularmente,
Palavras-chave: palinofácies,
seja característico de depósitos do Plioceno,
paleoambiente, palinomorfos
Pleistoceno e Holoceno (Christopher, 1976).
O presente trabalho apresenta resultados
ABSTRACT preliminares a respeito das variações na freqüência
This paper presents preliminary data of de Botryococcus e Pseudoschizaea em sedimentos
palynofacies analysis held in Quaternary sediments lamosos provenientes de um banhado ocorrente
from the Distrito Mineiro of Ametista do Sul no Distrito Mineiro de Ametista do Sul(27º21’S
(northwest of Rio Grande do Sul) and assesses x 53º10’W), município gaúcho conhecido por
the relationship Botryococcus x Pseudoschizaea to suas jazidas de ametista, as quais são hospedadas
establish paleoenvironmental interpretations and por rochas basálticas da Formação Serra Geral,
add information to the ecology of the incertae correspondente ao topo da Bacia vulcano-
sedis genus. The results show that variations in sedimentar do Paraná.
the frequency of these organisms could be used O estudo visa acrescentar informações
as auxiliary tool for the inference of greater or à ecologia do gênero incertae sedis e inferir
lesser periods of moisture in strictly continental uma relação entre Botryococcus e Pseudoschizaea
depositional environments. no estabelecimento de interpretações
Keywords: palynofacies, paleoambientais, fornecendo subsídios ao
palaeoenvironment, palynomorphs estudo de depósitos sedimentares de origem
exclusivamente continental.

INTRODUÇÃO
O gênero Botryococcus (Divisão
MATERIAIS E MÉTODOS
Chlorophyta, Ordem Chlorococcales) ocorre O ponto de coleta selecionado está
como colônias de células cônico-cilíndricas localizado em um banhado associado a gossan
densamente unidas, registradas em um amplo (segundo Hartmann, 2008) e identificado
intervalo estratigráfico, desde o Ordoviciano até como “Mina Modelo”, de acordo com o nome

286
popularmente dado à mina de extração de ametista variáveis ecológicas comuns a ambos os gêneros
localizada logo abaixo dele. atuam promovendo ou restringindo sua expansão.
Para a coleta do testemunho foram Embora possam responder da mesma forma a
utilizados tubos de PVC de 7,0 cm de diâmetro certas variáveis ambientais, estes dois organismos
e de até 200 cm de comprimento. O testemunho parecem não reagir da mesma maneira a outras,
analisado tem 160 cm de profundidade, tendo havendo um limite ecológico que, quando
sido selecionado para o presente estudo apenas atingido, promove a expansão de um grupo em
o intervalo de profundidade entre 80-10 cm detrimento do outro (Figura 1, B, I, J). Embora
por compreender sedimentos lamosos (com Pseudoschizaea seja frequentemente associada ao
granulometria variando de argilo-síltica a síltico- grupo caracterizado informalmente como algas,
argilosa), de coloração escura, com maior potencial o aumento da freqüência deste gênero ocorre
para a preservação de matéria orgânica (Figura 1). justamente em sincronia com o aumento de
O processamento químico das amostras esporomorfos derivados de macrófitas terrestres.
para preparação das lâminas organopalinológicas Essa relação permite inferir a predominância
foi efetuado de acordo com os procedimentos de períodos mais secos nas porções superficiais
palinológicos não-oxidativos descritos por Tyson do intervalo, uma vez que as condições de
(1995) e Mendonça-Filho et al. (2010).A contagem saturação da lâmina d’água passam a sustentar
e classificação da matéria orgânica particulada mais biomassa de origem terrestre e menos
basearam-se no sistema de classificação proposto biomassa algálica. Esta tendência é corroborada
por Tyson (1995) e Mendonça-Filho et al. (2010), pela diminuição na freqüência de Botryococcus.
sendo realizada em microscopia de luz branca Partindo dessas observações é possível inferir que
transmitida e luz azul incidente (fluorescência). o teor de umidade e, consequentemente, a sua
influência sobre a espessura da lâmina d’água,
corresponde a uma variável mais limitante ao
RESULTADOS E DISCUSSÃO gênero Botryococcus do que a Pseudoschizaea. Com
De acordo com a análise palinofaciológica, base nesta constatação, Pseudoschizaea poderia ser
a frequência de Botryococcus é superior à de considerado um gênero algáceo mais resistente a
Pseudoschizaea ao longo de todo o intervalo. períodos secos, ou um táxon vinculado a vegetais
Contudo, as variáveis que interferem no terrestres com hábito hidrófilo ou higrófilo.
desenvolvimento de cada grupo parecem ser
distintas. De acordo com a Figura 1 (intervalo
CONCLUSÕES
A-M), a freqüência de Botryococcus diminui
gradativamente no sentido base-topo, ocorrendo Os resultados preliminares obtidos no
o oposto com Pseudoschizaea. De um modo geral, presente estudo sugerem a ocorrência de variações
o declínio de Botryococcus parece coincidir com nas relações entre Botryococcus e Pseudoschizaea em
uma mudança na granulometria do sedimento um ambiente de banhado de altitude localizado no
(Figura 1, J-M), que passa a ser dominado pela Planalto Sul-riograndense. Os dados levantados
fração silte no terço final do intervalo. Todavia, até o momento sugerem que essas relações
a alteração mais drástica na freqüência de ambos poderiam ser utilizadas como ferramenta auxiliar
os palinomorfos ocorre antes mesmo que esta na inferência de períodos de maior ou menor
mudança textural se estabeleça (Figura 1, I). umidade em ambientes deposicionais estritamente
Essa evidência indica a interferência de mais de continentais, quando da ausência de palinomorfos
uma variável, possivelmente de caráter ambiental cuja razão tenha um significado ambiental já
ou climático, que se mantém, de forma mais ou consagrado (ex. Botryococcus x Pediastrum).
menos estável, no restante do intervalo. Em
alguns níveis (Figura 1, A, C, G, H), contudo, é REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
possível observar um fluxo sincrônico de aumento
e diminuição na freqüência de Botryococcus e BATTEN, D.J. & GRENFELL, H.R. 1996.
Pseudoschizaea. Isto indica que determinadas Botryococcus. In: JANSONIUS, J. &
McGREGOR, D.C. (Eds.). Palynology:

287
principles and applications. American MENDONÇA-FILHO, J.G.; MENEZES,
Association of Stratigraphic Palynologists T.R.; MENDONÇA J.O.; OLIVEIDA,
Foundation, 1: 205-214. A.D.; CARVALHO, M.A.; SANT’ANNA,
A.J. & SOUZA, J.T. 2010. Palinofácies. In
CHRISTOPHER, R.A. 1976. Morphology Carvalho, I.S. (ed.). Paleontologia: conceitos
and taxonomic status of Pseudoschizaea e métodos, v. 1. Rio de Janeiro: Interciência,
Thiergart and Frantz ex R. Potonié emend. p. 289-323.
Micropaleontology, 22 (2): 143-150.
TYSON, R.V. 1995. Sedimentary Organic
DEL PAPA, C.; GARCÍA, V. & Matter: organic facies and palynofacies.
QUATTROCCHIO, M. 2002. Sedimentary London: Chapman & Hall, 615 p.
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northwest Argentina. Journal of South freshwater algae from the Upper Cretaceous
American Earth Sciences, 15: 553-569. of the Yellow Sea Basin, southwest coast of
Korea. Cretaceous Research, 18: 515-544.
HARTMANN, L.A. 2008. Geodos com ametistas
formados por água quente no tempo dos
dinossauros. Porto Alegre: UFRGS, 60 p.

288
Figura 1. Perfil sedimentar do Testemunho T2 (Mina Modelo) com os gráficos exibindo a porcentagem de Botryococcus
e Pseudoschizaea (calculada do total de palinomorfos) presentes no sedimento.

289
BENNETTITALES IN A TRIASSIC DICROIDIUM FLORA
FROM SOUTHERN BRAZIL, PARANA BASIN
Tatiana Pastro Bardola1 (tatiana.bardola@ufrgs.br), Margot Guerra Sommer1 (margot.sommer@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
1

RESUMO Exesipollenites tumulus) atributted to Bennetitalles


were reported by Lima (1990) from Cretaceous
The present work deals with impressions
sediments of the Icó Basin. The study area is
of related to Bennettitales and concerns to flower-
included in the Santa Maria I Sequence (Ladinian)
like structures referred to the Williansoniaceae
of the Santa Maria Supersequence, (Zerfass et al.,
which are complementary elements of a typical
2003) which corresponds to a lithostratigraphic
Dicroidium Flora plant assemblage from the
unit previously defined by Bortoluzzi (1974)
Triassic of Parana Basin (Passo das Tropas outcrop
as Santa Maria Formation. The best outcrop
Santa Maria municipallity, Brazil). The taxon was
of leaf impressions is close to the city of Santa
previously cited in different papers ( e. g. Guerra-
Maria, named by Bortoluzzi (1974) as Passo das
Sommer et al., 1999; Guerra-Sommer et al., 2007)
Tropas (29°44’49” S – 53°47’31” W). The name
but was not properly described.. Their presence is
Williamsonia erected by Carruther (1870), was
restricted to rare forms, representing, less than 2%
given to the whole plant but later Saporta (1891)
of the floristic composition.
and Nathorst (1913) limited it to the flowers.
Palavras-chave: Williamsonia, Gondwana,
Much later Harris (1967, 1969) further restricted
provincialism
it to the solitary, unisexual female flower and
it is in this sense that the name is widely used
ABSTRACT today. Sharma (1976) estimated that 75 or more
The present work deals with impressions species have been described from Mesozoic rocks
of related to Bennettitales and concerns to flower- throughout the world, though he stated that this
like structures referred to the Williansoniaceae number may also include some male flowers.
which are complementary elements of a typical
Dicroidium Flora plant assemblage from the DESCRIPTION
Triassic of Parana Basin (Passo das Tropas outcrop
The present description is based on
Santa Maria municipallity, Brazil). The taxon was
two incomplete specimens of the female
previously cited in different papers (e. g. Guerra-
bennettitalean flower mixed with Dicroidium
Sommer et al., 1999; Guerra-Sommer et al., 2007)
forms, with unknown counterparts. Their similar
but was not properly described. Their presence is
characteristics of the gross morphology indicate
restricted to rare forms, representing, less than 2%
that must be vinculated to a single taxon. The
of the floristic composition.
preservation corresponds in both specimens to
Keywords: Williamsonia, Gondwana, medial impressions with the proximal side of the
provincialism receptacle of the inflorescence. The diameter of
the biggest receptacle is about 28 mm in diameter
INTRODUCTION and without visible peduncle scar. No other surface
features of the receptacle are preserved. Three
The occurrence of Bennetitalles in
bracts are visible and are considered as part of a
Brazilian Mesozoic sequences has been previously
receptacle. The bracts are 8 to 11 mm wide and 20
reported by the presence of frond of Otozamites sp.
to 23 mm long, broadly espatulated, attached very
and Zamites sp. informally described by Sucerquia
close together, maybe fusioned but its apex ending
(2007) for the Lower Cretaceous of Santana
cannot clearly observed, suggesting oblique end
Formation (Araripe basin). Pollen grains (e. g.
walls.

290
CONCLUSION A question of nomenclature. Geologiska
Föreningens i Stockholm Förhandlingar,
By the present considerations it can be
35:361-366.
concluded that the presence of Williamsonia sp.
in Upper Triassic Dicroidium Flora at Southern SAPORTA, G. 1891. Paléontologie française ou
Brazilian Gondwana testify for the cosmopolitan description des fossils de la France (2, Végétaux).
pattern distribution of the Bennettitales at the Plant Jurassiques, 4:355-548.
Mesozoic. Otherwise, the scarcity of these plants
as components in Southern Brazil (45° S) in SHARMA, B.D. 1976. Fruit developmentin
a warm temperate belt is attributed mainly to Williamsonia Carr. (Bennettitales). Géobios,
paleoclimatic provincialism. 9:503–507.

SUCERQUIA, R.P.A. 2007. Gimnospermas


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NATHORST, A.G. 1913. How are the names


Williamsonia and Wielandiella to be used?

291
CARACTERIZAÇÃO ORGANOGEOQUÍMICA DOS SEDIMENTOS
TURFOSOS DO QUATERNÁRIO DE IRAÍ, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Gabrielli Teresa Gadens Marcon1 (gabigadens@yahoo.com.br), João Graciano Mendonça Filho2 (graciano@geologia.ufrj.br),
Margot Guerra Sommer1 (margot.sommer@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2Universidade Federal do Rio de Janeiro
1

RESUMO ratio C:S (<5) indicating that such values could


be related to a high amount of sulfur and anoxic
O presente estudo objetiva caracterizar
events.
organogeoquimicamente os sedimentos
turfosos, amostrados através do testemunho T3, Keywords: stagnant pool area, continental
provenientes do município de Iraí (Quaternário do environment, Total Organic Carbon (TOC),
noroeste do Rio Grande do Sul). Nesse município Total Sulphur (TS)
ocorrem fontes de água mineral e também
sedimentos ricamente orgânicos, conhecidos INTRODUÇÃO
como “lama medicinal”. Os dados, obtidos através
A caracterização organogeoquímica
de análises granulométricas e organogeoquímicas,
(Carbono Orgânico Total – COT) dos sedimentos
indicaram grandes variações nos teores de COT
expressa a quantidade de matéria orgânica contida
e ST, as quais poderiam estar vinculadas com
nos mesmos (Tyson, 1995). Embora os parâmetros
interferência antrópica e/ou influência climática.
organogeoquímicos sejam amplamente aplicados
A razão C:S também variou consideravelmente,
em depósitos de origem marinha e epicontinental
mas na maioria das amostras foi condizente com
(objetivando, especialmente, a prospecção de
a presença de um ambiente dulciaquícola que
rochas geradoras de hidrocarbonetos), são raros
sofreu, contudo, acentuadas variações no teor de
os trabalhos envolvendo áreas estritamente
salinidade. Duas amostras apresentaram uma
continentais e que evoluíram sem influência de
baixa razão C:S (< 5) indicando que tais valores
variações eustáticas. Contudo, de acordo com
poderiam estar relacionados à uma quantidade
Tyson (2001, p. 333), “a fim de dar sentido aos
elevada de enxofre e a eventos anóxicos.
dados de COT devemos apreciar a maneira como
Palavras-chave: área de charco, ambiente estas três variáveis (o imput, a preservação e a
continental, Carbono Orgânico Total (COT), diluição da Matéria Orgânica) interagem, e isto só
Enxofre total (ST) pode ser feito através da análise de sedimentos do
Recente, uma vez que somente nesses sedimentos
ABSTRACT há uma possibilidade de quantificar o conjunto
completo de parâmetros críticos com precisão
The present study aims to characterize
suficiente”.
geochemically the peaty sediments, sampled
through the core T3, from the Iraí city (Quaternary A área de estudo está localizada sobre
of the northwest of Rio Grande do Sul). This os basaltos pertencentes à Formação Serra
municipality holds mineral water springs and also Geral (Bacia vulcano-sedimentar do Paraná), os
organic sediments, known as “medicinal mud.” quais são conhecidos por abrigar fontes termais
The data, obtained through of granulometric and contendo água mineral. No município de Iraí
geochemical analysis, indicated wide variations in (27°11’S x 53º15’02W), além de fontes de
TOC and TS, which could be linked to antrophyc água mineral, ocorrem sedimentos ricamente
interference and/or climatic influence. The ratio orgânicos, conhecidos popularmente por “lama
C:S also varied considerably, but most of the medicinal”, os quais são extraídos de uma área
samples was consistent with the presence of a de charco em campo aberto, frequentemente
freshwater environment that has, however, marked saturada em água (à exceção de períodos de seca
variations in salinity. Two samples showed a low prolongada), por influência do regime de chuvas

292
que ocasionam o transbordamento do nível do rio RESULTADOS E DISCUSSÃO
Uruguai. A lama, utilizada com fins terapêuticos (GRANULOMETRIA)
junto ao Balneário Municipal da cidade, é retirada
de um poço aberto para esta finalidade; contudo, Os resultados das análises granulométricas
toda a área circundante apresenta o mesmo atestaram o predomínio da fração silte ao longo de
tipo de sedimento, o qual se estende por alguns todo o intervalo selecionado, indicando ambiente
metros dentro de uma propriedade. Essa “lama de baixa a moderada energia, onde a deposição se
medicinal” ocorre na superfície dos basaltos, dá principalmente por decantação. A percentagem
sendo possivelmente oriunda da intemperização de areia é baixa (menos de 10%) enquanto a de
dos mesmos, em áreas de relevo mais baixo, onde argila tende a decrescer no sentido base-topo, o
o sedimento gerado mistura-se aos fragmentos que poderia estar correlacionado ao decréscimo
vegetais. O presente estudo objetiva caracterizar nos teores de COT e ST no mesmo sentido.
organogeoquimicamente o sedimento amostrado
através do testemunho de sondagem T3, RESULTADOS E DISCUSSÃO
proveniente do já referido charco. (TEORES DE COT E ST)
Os teores de COT variam muito nas
MATERIAIS E MÉTODOS porções basais do intervalo (Figura 2), desde 3,10%
O depósito amostrado está localizado nas (valor mínimo) até 27,10% (valor máximo). Os
proximidades do poço de onde é retirada a “lama teores de ST também variam consideravelmente,
medicinal” no município de Iraí. Para a coleta atingindo valor mínimo de 0,24% e valor máximo
do testemunho T3 foram utilizados tubos de de 5,10% (Figura 2). De maneira geral, as
alumínio de 10 cm de diâmetro e de até 200 cm concentrações de COT e ST são mais altas na
de comprimento. O testemunho tem 115 cm de porção basal do intervalo, diminuindo em direção
comprimento. Apenas o intervalo correspondente ao topo (Figura 1 e 2). Essa evidência pode estar
a 115-10 cm de profundidade foi selecionado relacionada à atividade antrópica, dada a remoção
para estudo, por tratar-se de sedimento lamoso de grande parte da vegetação da área visando a
turfáceo, com maior potencial para a preservação exploração econômica da “lama medicinal”, o que
de matéria orgânica. O intervalo de 10-0 cm, pode ter resultado em uma diminuição do imput
por sua vez, corresponde a porção de solo, com de matéria orgânica no meio.
presença de pequenas raízes, restos vegetais e Análises palinofaciológicas, ainda
algumas bioturbações (Figura 1). inéditas, têm revelado a presença de cutículas
As análises granulométricas se embasaram que evidenciam padrões variados de organização
no método de peneiramento e pipetagem, com epidérmica, indicando a existência de maior
intervalos de classe de 1 e ¼ de f, respectivamente, diversidade florística no passado, em relação ao
segundo o método proposto por Folk e Ward domínio das gramíneas, atualmente observado
(1957). no local. Essas análises demonstram que, no
A preparação do material para análise início da sedimentação do intervalo, a área em
de Carbono Orgânico Total (COT) seguiu as estudo deveria abrigar uma vegetação mais
normas de referência da ASTM (American densa, como uma mata ciliar, por exemplo.
Society Testing and Materials) e o equipamento Essa evidência é reforçada pela geomorfologia
utilizado para a determinação de COT foi o local, que compreende uma área de depressão,
analisador SC 144DR da LECO, que quantifica, constantemente úmida e próxima às margens de
simultaneamente, o conteúdo de carbono e um rio. Tais constatações permitem inferir que a
enxofre através de um detector de infravermelho. interferência antrópica na dinâmica da paisagem
e, consequentemente, na produtividade de matéria
orgânica, se refletiu nos dados organogeoquímicos.
A redução dos teores de COT e ST nas porções
superficiais do intervalo também pode estar
associada ao aumento da oxidação de compostos

293
orgânicos, uma vez que valores de COT e ST valores anômalos na razão C:S para este ambiente
baixos tendem a ser relacionados com fácies (estritamente continental), segundo o modelo
óxicas (Tyson, 2001). O impacto antrópico de paleosalinidade, podem estar relacionados ao
pode ter contribuído, adicionalmente, para a tipo de sedimento, o qual apresenta características
diminuição na espessura da lâmina d’água (através turfosas. Dessa forma, fica demonstrada a
da drenagem artificial dos depósitos visando a fragilidade do modelo de Berner&Raiswell
extração da “lama medicinal”), o que resultaria (1984), quando aplicado a este tipo particular
em uma maior exposição (e degradação) da de ambiente deposicional, mesmo considerando
matéria orgânica. Além dos fatores antrópicos, que os autores alertam que o modelo proposto é
outras variáveis podem ter contribuído com as inadequado quando aplicado na distinção entre
acentuadas oscilações na concentração de COT e sedimentos de água salobra e marinha, também
ST do sedimento, tal como a influência climática, não sendo aplicável em carbonatos puros e
reguladora do regime de chuvas e de inundação rochas com conteúdo muito baixo de carbono
da área. orgânico (abaixo de 1%). Análises de palinofácies
(em andamento) poderão elucidar se, além do
ambiente deposicional, o tipo de matéria orgânica
RESULTADOS E DISCUSSÃO (RAZÃO C:S) presente no sedimento poderia estar influenciando
A razão C:S auxilia na identificação de os resultados anômalos obtidos. A determinação
paleoambientes sulfato-redutores: valores abaixo das variáveis que regulam a baixa razão C:S
de 3 indicam ambientes redutores e acima de 3, das amostras mencionadas é importante, pois
ambientes óxicos (Berner, 1995; Borrego et al., poderá servir de subsídio ao aperfeiçoamento
1998). Com base neste modelo, é possível inferir ou regulação do modelo proposto por Berner &
que os processos anóxicos de sulfato-redução Raiswell (1984).
podem ter sido expressivos naquelas porções do As variações observadas na razão C:S ao
intervalo onde a razão C:S é baixa (3,6 e 0,65) longo de todo o intervalo também permitem inferir
e coincide com as concentrações de enxofre mais que o corpo d’água em questão pode ter sofrido
altas. alterações consideráveis no seu teor de salinidade
De acordo com Berner & Raiswell ao longo do tempo em virtude de oscilações na
(1984) os sedimentos derivados de ambientes espessura da lâmina d’água, a qual, por sua vez, é
dulciaquícolas caracterizam-se por uma alta regulada tanto por influência pluvial como fluvial.
razão C:S (> 10) enquanto que sedimentos O aporte de sedimentos e matéria orgânica,
marinhos são caracterizados por uma baixa razão subsidiado pelo transbordamento do rio Uruguai e
C:S, com valores que variam de 0,5-5,0. Este por períodos chuvosos intensos e/ou prolongados
modelo indicador de paleosalinidade, segundo podem estar diretamente relacionados com as
os referidos autores, também serve para inferir variações relatadas; admitindo-se, inclusive, a
fases mais salinas em lagos antigos. No intervalo interferência antrópica sobre tais inferências.
analisado, à exceção de apenas duas amostras,
todas as demais apresentam uma razão C:S > 5,
sendo que a grande maioria tem uma razão C:S CONCLUSÕES
> 10 (Figura 2), o que indica a presença de um A análise organogeoquímica dos
ambiente dulciaquícola, porém com acentuadas sedimentos turfosos provenientes do município
variações no teor de salinidade. Naquelas amostras de Iraí (Quaternário do noroeste do Rio Grande
onde razão C:S é igual a 3,6 e 0,65 (Figura 2), a do Sul) permitiu concluir que ao longo de todo
quantidade de enxofre presente no sedimento é o intervalo analisado as acentuadas oscilações
bastante alta em relação à quantidade de carbono na concentração de COT e ST podem estar
orgânico, revelando as fases de maior anoxia do relacionadas a diferentes fatores, cujas causas
intervalo. Especificamente nestes dois casos, a podem ter origem na interferência antrópica e/
baixa razão C:S poderia estar mais diretamente ou influência climática. As alterações na dinâmica
relacionada a eventos anóxicos do que a aumentos da paisagem resultariam na diminuição do imput
súbitos e intensos no teor de salinidade. Os de matéria orgânica no meio, enquanto que o

294
aumento da oxidação seria resultante de oscilações TYSON, R.V. 1995. Sedimentary Organic
na espessura da lâmina d’água. As elevadas Matter: organic facies and palynofacies.
concentrações de enxofre indicam condições London: Chapman & Hall, 615 p.
anóxicas com possibilidade dos processos
de sulfato-redução terem sido significativos, TYSON, R.V. 2001. Sedimentation rate,
especialmente naquelas porções do intervalo onde dilution, preservation and total organic
a razão C:S é baixa. A razão C:S foi >10 na maioria carbon: some results of a modeling study.
das amostras, apesar da intensa variação observada, OrganicGeochemistry, 32: 333-339.
o que condiz com a presença de um ambiente
dulciaquícola, porém com acentuadas variações no
teor de salinidade. A baixa razão C:S (< 5) poderia
estar relacionada, mais diretamente, a eventos de
anoxia do que a aumentos súbitos e intensos no
teor de salinidade do ambiente deposicional. Os
resultados obtidos demonstram a fragilidade de
determinados modelos interpretativos quando
aplicados a ambientes peculiares, tais como
os sedimentos turfosos da área presentemente
investigada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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e métodos, v. 1. Rio de Janeiro: Interciência,
p. 289-323.

295
Figura 1. Perfil sedimentar do Testemunho T3 (Iraí) com os gráficos exibindo a porcentagem de COT (Carbono Orgânico
Total) e ST (Enxofre Total) presentes no sedimento.

296
Figura 2. Tabela exibindo os valores percentuais de COT e ST do T3 (Iraí) exibindo a porcentagem de COT (Carbono
Orgânico Total) e ST (Enxofre Total) presentes no sedimento.

297
CLIMA E DISTRIBUIÇÃO PALEOFLORÍSTICA DO GONDWANA
NO NEOPALEOZOICO NA BACIA DO PARANÁ
Isabel Cortez Christiano de Souza1 (isabel.cortez@ige.unicamp.br), Fresia Ricardi-Branco1 (fresia@ige.unicamp.br),
Rafael de Souza Silva1 (souza.phael@gmail.com)
1
Instituto de Geociências da Unicamp

RESUMO in the interval mentioned here, in the different


formations from the Upper Paleozoic of Paraná
O registro fossilífero do Neopermiano
Basin.
possibilitou concluir que a Paleoflora do
Paleozoico tardio na Bacia do Paraná era Keywords: Neopaleozoic, Glossopteris
composta por gêneros de briófitas, licófitas, flora, GIS (georeferenced information system)
esfenófitas, pteridófitas e gimnospermas. Essa
Paleoflora desapareceu devido a um evento que INTRODUÇÃO
é considerado responsável pela maior extinção
Através do uso de registros fósseis, assim
em massa planetária já documentada. Porém, esta
como de registros sedimentares sensíveis ao clima,
Paleoflora não demonstra continuidade lateral
foi possível concluir que os padrões climáticos
quando se trata do seu registro fóssil. O que se
do Carbonífero Superior e Permiano no
pretende no presente trabalho é oferecer alguns
paleocontinente Gondwana respeitam a mesma
resultados referentes a elaboração de um banco de
distribuição latitudinal atual (do equador para os
dados com todos os dados publicados referentes
pólos), associável a um ciclo glacial/interglacial
a esta Paleoflora, para assim extrair a maior gama
(Ziegler, 1990; Rees et al., 2002). Mas ao
de dados possíveis da Bacia, promovendo uma
examinar localmente os registros das Paleofloras
compreensão da sua distribuição espacial no
e as compararmos entre si, poderemos inferir
intervalo aqui citado, para as diversas formações.
mudanças climáticas ao longo do tempo. Porém,
Palavras-chave: Neopaleozoico, flora esse dado precisa ser manipulado com cautela,
de Glossopteris, SIG (Sistema de informação uma vez que a deriva continental pode afetar o
geográfica) clima em virtude das alterações de latitude. (Rees
et al., 2002).
ABSTRACT
The fossil record of Late Permian of the DISTRIBUIÇÃO DA PALEOFLORA DE
Paraná Basin allowed us to conclude that at that GLOSSOPTERIS NO NEOPALEOZOICO
time its palaeoflora was mainly composed of
Durante final do Carbonífero ocorreu
genera of bryophytes, lycophytes, sphenophytes,
uma grande glaciação, que tem sua origem
pteridophytes and gymnosperms. Many of the
concomitante com o início da orogenia de
elements from this palaeoflora disappeared at the
cadeias montanhosas ao norte do paleocontinente
Permian/Triassic boundary (when there was what
Gondwana, decorrentes da sua colisão com
is considered the greatest global mass extinction
o extremo sul da Laurásia, o que levou ao
already documented). The fossil record does not
estabelecimento do supercontinente Pangea.
show lateral continuity of all elements along the
Isto promoveu a remoção do CO2 da atmosfera
basin, so we have diferent local situations among
(Veevers et al., 2002). Entretanto, outros autores
the outcrops. The aim of this study is to present
(por exemplo Shobbenhaus & Brito Neves, 2003)
some of the results regarding the development
colocam a formação da Pangea no inicio do
of a database with all published data from this
Triássico, negando a hipótese da relação entre um
paleoflora. This database intends to extract the
evento tectônico e uma glaciação.
greatest possible ammount of data and promote
an understanding of their spatial distribution

298
Já no período Permiano, os glaciares desenvolvimento de novas espécies. Tal Paleoflora
que encobriam até então parte da porção sul do se extinguiu no final do período Permiano.
Gondwana retrocederam, e a bacia do Paraná se Os estudos de suas seqüências sedimentares
tornou um ambiente de deposição transitório, até evidenciaram que a evolução paleoflorística esteve
por fim terminar o ciclo com a formação de um relacionada tanto com mudanças paleoecológicas
imenso deserto no Triássico (representado pela quanto paleoclimáticas. A composição
Formação Botucatu). homogênea das assembleias de macrofitofósseis
Em 1908, White já havia identificado o do final do Carbonífero e início do Permiano,
pacote de conglomerados na porção basal da serra caracterizadas por plantas que iam de herbáceas
do Rio do Rasto (citado como Conglomerado à arbustivas, pode ser considerada como reflexo
Orleans, como tendo origem glacial, e que de um ambiente rigoroso (periglacial - e.g.
futuramente seria denominado Grupo Itararé). Botrychiopsis plantiana), sugerindo a persistência
Associado a esse conglomerado também foram de um clima temperado frio. Primeiramente há
encontrados registros de uma flora, que White dominância de gêneros como Gangamopteris,
denominou de Flora de Gangamopteris, e concluiu que progressivamente é substituído pelo gênero
que os registros encontrados na América do Sul Glossopteris (Guerra-Sommer & Cazzulo-
correspondiam ou poderiam ser correlacionados Klepzig, 2000).
com outros do mesmo período, observados no sul A dominância de folhas de Rubidgea e
da África. Já na Formação Rio Bonito, onde se Gangamopteris com venação palmada, associadas à
podem observar níveis de carbonatos e arenitos Glossopteris com venação reticulada, parece indicar
alternados com níveis carvão, os sedimentos a transição para condições climáticas mais amenas;
indicam um ambiente rico em matéria orgânica fato que fica evidente nos estratos e níveis ricos
(vida) não mais relacionado com o ambiente em carvão (como siltitos carbonosos) presentes
glacial (Ricardi-Branco, 1997), e registros desta na bacia, onde as glossopterídeas reticuladas
Paleoflora Glossopteris persistem até o final da relacionadas à Glossopteris communis, por exemplo,
Formação Rio do Rasto. são muito abundantes, enquanto Gangamopteris
Mas as unidades da Bacia do Paraná não e Rubigdea (formas palmadas) apresentam baixa
são espacialmente uniformes. Dada a extensão da ocorrência. Em um momento posterior ocorreu
bacia, não se espera uma deposição homogênea, repentino aumento das herbáceas articuladas, além
assim como não se pode identificar uma de frondes e troncos de filicófitas arborescentes e de
continuidade lateral em todas as formações. No coníferas. Tais fósseis são considerados elementos
mais, a porção aflorante no intervalo discutido típicos da “Paleoflora de Glossopteris”, associados
neste trabalho é representada por uma faixa, a comunidades de pteridófitas (Guerra-Sommer
que apresentam algumas interrupções, uma vez & Cazzulo-Klepzig, 2000). Já na Formação Rio do
que processos posteriores afetaram as camadas Rasto encontramos o registro de uma Paleoflora
inferiores, tais como erosão, vulcanismo e de Glossopteris madura, caracterizada pela
tectonismo. Dessa forma, a análise das unidades e presença de poucos gêneros, em ambiente talvez
dos seus respectivos fósseis devem ser feita tanto relacionado a estágios anteriores ao processo de
numa escala regional quanto em uma escala local aridização. Gêneros como Ilexoidephyllum, muito
da bacia. semelhante à Glossopteris, porém com a margem
A Paleoflora de Glossopteris habitou serrada (morfologia característica de climas
áreas territoriais hoje situada nos continentes áridos), pode ser encontrado nesta Formação.
Africano, Sul-Americano, Antártico, na É interessante ressaltar ainda que, apesar
Austrália e na Índia, estendendo-se assim por de a Paleoflora de Glossopteris ser considerada
todo o paleocontinente Gondwana. Apesar de distinta da afluente nos antigos terrenos que
ser tratada como homogênea, esta Paleoflora ocupavam a porção norte das terras emersas
existiu por 50 milhões de anos, durante os quais durante o final do Paleozoico, Rohn e Rösler
ocorreram mudanças radicais no âmbito climático (1987) colocam que alguns elementos dessa
— fator que promoveu migrações, adaptações e Paleoflora, relacionados principalmente a

299
pteridófitas, são idênticos aos das Paleofloras propícia aos processos de fossilização. Nela é
nórdicas, fato geralmente relacionado à maior encontrada grande quantidade de níveis e estratos
possibilidade de adaptação e migração do grupo. de carvão, ou seja, biomassa proveniente da flora
Também se pode considerar um paralelismo aprisionada no registro geológico.
morfológico, de acordo com o qual as mesmas As formações Irati e Corumbataí ocorrem
condições climáticas desenvolveram folhas com principalmente no estado de São Paulo; são
características semelhantes, embora de famílias formações que sofreram influência marinha, e
diferentes, até por fim se extinguir no final do onde se encontram fósseis de vertebrados como
Permiano (Erwin, 1993). mesossauros, além de uma série de ocorrências de
A abordagem que se pretende nesta estromatólitos. É interessante ressaltar que a maior
trabalho é o mapeamento da Paleoflora parte dos troncossilicificados que ocorrem na
Glossopteris através de ferramentas SIG de todos bacia do Paraná se concentram nessas formações,
os dados bibliográficos publicados na literatura. o que poderia indicar origem alóctone, tendo sido
Dessa maneira será possível extrair informações transportados, uma vez que troncos podem ser
espaciais, temporais, e inter-relacionar dados carregados por grandes distâncias, diferentemente
locais da própria Paleoflora (como gêneros, das folhas, que são no máximo para-autóctones.
espécies, etc.) extraindo maior quantidade de
dados possíveis.
CONCLUSÕES
Assim o trabalho em andamento irá
discutir como se desenvolveu a Paleoflora de Os gêneros que apresentaram maior
Glossopteris na bacia do Paraná utilizando SIG, representatividade (a partir de 20 ocorrências
a partir de um estagio anterior (Neocarbonífero), na planilha) foram os seguintes: Botrychiopsis,
passando por seu surgimento, clímax, até seu Cordaicarpus, Dizeugotheca, Gangamopteris,
declínio no Neopermiano. Essa abordagem ainda Glossopteris, Lycopodiopsis, Paracalamites,
é pouco usada para tal objetivo, e inédita ainda Pecopteris, Phyllotheca, Samaropsis, Schinozeura,
em escala tão ampla de tempo e espaço. Toda Sphenophyllum, Sphenopteris. Dentre os gêneros,
a metodologia aqui proposta foi desenvolvida destaca-se o Glossopteris como o mais significativo,
durante o progresso do trabalho, uma vez que como era de se esperar. Os gêneros Paracalamites,
tal metodologia nunca foi utilizada com essa Pecopteris e Gangamopteris também merecem
finalidade. destaque. Gangamopteris não ocorre no Grupo
Seguem algumas informações a respeito da Passa Dois, apesar de White (1908) ter sugerido
base de dados. Optou-se por onstruí-la, conforme o nome “Flora de Gangamopteris” para a flora
já se disse, no Microsoft Excel e OpenOffice.org permiana observada na bacia do Paraná, tal a sua
Calc. freqüência (e cabe ressaltar ainda que o gênero
Gangamopteris também apresenta caracteres
De maneira geral, estima-se que
muito semelhantes à Glossopteris, sendo muitas
aproximadamente 95% dos dados paleobotânicos
vezes difícil distinguir os dois gêneros).
relativos a macrofitofósseis disponíveis para
o Neopaleozoico da bacia do Paraná foram
pesquisados e plotados na planilha, resultando um REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
total de 1.208 dados/linhas (cada dado concerne
ERWIN, D.H. 1993. The Great Paleozoic Crisis:
a uma espécie, em um determinado local),
Life and Death in the Permian. Columbia
pesquisados em 156 referências bibliográficas
University Press, New York, 327 p.
(entre dissertações, artigos de revistas nacionais
e internacionais, e resumos de congressos). O GUERRA-SOMMER, M. & CAZZULO-
gráfico 1 reproduz a distribuição das ocorrências KLEPZIG. 2000. Early Permian Palaeofloras
por Formação. from southern Brazilian Gondwana: A
A maioria dos dados (linhas da planilha), Palaeoclimatic Approach. Revista Brasileira de
como era previsível, pertence a Formação Rio Geociências. 30(3):486-490.
Bonito, já que esta apresenta uma situação muito

300
REES, P.M.; ZIEGLER, A.M.; GIBBS, Plataforma Sul-Americana. In: BIZZI, L.A.;
M.T.; KUTZBACH, J.E.; BEHLING, SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R.M.
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Rio Bonito (Eopeniano), no Município de tectonics via stratigraphy and radiometric
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2003. A Geologia do Brasil no Contexto da

Gráfico 1. Distribuição dos dados por unidades litoestratigraficas estudadas (bacia do Paraná).

301
COMPLEXOS BRÁCTEA-ESCAMA DA FAMÍLIA ARAUCARIACEAE DA
FORMAÇÃO CRATO: CONSIDERAÇÕES TAXONÔMICAS E NOMENCLATURAIS
Paula Andrea Sucerquia Rendon1 (psucerquia@gmail.com), Mary Elizabeth Cerruti Bernardes de Oliveira1 (maryeliz@usp.br)
Universidade de São Paulo
1

RESUMO masculinos. O gênero Alkastrobus designa cones


portando grãos de pólen do gênero Cyclusphaera,
As coníferas da família Araucariaceae
enquanto o gênero Notopehuen foi erigido para
estão catalogadas em apenas três gêneros viventes,
cones portando grãos de pólen de Araucariacites
Araucaria, Agathis e Wollemia, que configuram um
em conexão com ramos folhosos do gênero
grupo monofilético, com aproximadamente 40
Brachyphyllum. Para lenhos é, geralmente,
espécies restritas ao hemisfério sul. Entretanto,
usado o gênero Araucarioxylon que, por suas
durante o Mesozoico, essa família foi muito
semelhanças no xilema secundário, muitas vêzes,
diversificada e amplamente distribuída nos dois
foi considerado o equivalente mesozoico e
hemisférios, principalmente durante o Jurássico
cenozoico do gênero paleozoico Dadoxylon das
e Eocretáceo (Stockey, 1982; Setoguchi et al.,
Cordaitales. Doliostrobus, Dammara, Dammarites
1998; Kershaw & Wagstaff, 2001; Kunzmann,
e Protodammara são gêneros usados para fósseis
2007). Dos três gêneros viventes que compõem a
com afinidade ao gênero Agathis e Wairarapaia
Família Araucariaceae, Araucaria é o que tem o
é um gênero estabelecido para cones femininos
registro fóssil mais completo. Das quatro seções
com afinidade ao gênero atual Wollemia. (Stockey,
nas quais os representantes atuais deste gênero
1982; Kunzmann et al., 2004, Del Fueyo &
estão divididos (Eutacta, Araucaria, Intermedia
Archangelsky, 2005; Kunzmann, 2007).
e Bunya), a que tem o registro fossilífero mais
extenso e a maior quantidade de espécies atuais Na bacia do Araripe, a Formação Crato
é a seção Eutacta (Stockey, 1982; Dettmann & apresenta abundantes fósseis afins à Família
Clifford, 2005). Araucariaceae, dentre os quais tem sido descritos:
folhas isoladas (Duarte, 1993); complexos bráctea-
Muitos tipos de fósseis têm sido
escama (Duarte, 1989, 1993); cone feminino do
relacionados com Araucariaceae, porém dentre eles
gênero Araucaria e masculino juvenil do gênero
alguns são morfogêneros com afinidade duvidosa à
Araucariostrobus (Kunzmann et al., 2004). Ramos
família. Estes fósseis são encontrados na forma de
folhosos do gênero Brachyphyllum, também estão
ramos folhosos, folhas destacadas, lenhos, cones,
presentes (Duarte, 1985, 1989, 1993; Kunzmann
complexos bráctea-escama destacados, sementes
et al., 2004), embora a atribuição à família para
e grãos de pólen. Ramos folhosos e folhas com
os fósseis deste gênero não tenha sido confirmada
afinidades à atual Araucaria são geralmente
por características cuticulares. Resinas fósseis
atribuídos aos gêneros Araucaria, Araucarites,
(âmbar) ocorrentes dentro de cones e associadas
Brachyphyllum e Pagiophyllum. Ressalta-se aqui
a macrorrestos de plantas araucarianas foram
que estes dois últimos também têm sido colocados
descritas e relacionadas ao gênero Agathis por
dentro da Família Cheirolepidiaceae e, assim, sua
Martill et al. (2005). Pereira et al. (2006) analisaram
real afinidade familiar só pode ser determinada
a composição química de amostras de âmbar da
com base em características cuticulares ou pela
Formação Crato e encontraram compatibilidade
conexão com cones contendo grãos de pólen do
com a Família Araucariaceae.
tipo Araucariacites ou Classopollis. Os gêneros
Araucaria e Araucarites são também usados para Os complexos bráctea-escama presentes
cones e complexos bráctea-escama destacados na Formação Crato, do Eocretáceo da Bacia do
com afinidade ao gênero atual Araucaria. Araripe, apresentam uma clara afinidade com a
Família Araucariaceae, que pode ser estabelecida
Araucariostrobus é um gênero usado,
indiscriminadamente, para cones femininos e

302
com base na existência de uma única semente na de Nomenclatura Botánica, ICBN (McNeill
fusão da bráctea com a escama ovulífera.  et al. 2006), uma vez que, para a mesma espécie
Os espécimes estudados neste trabalho, foram atribuídos dois holótipos: um referente a
possuem os caracteres diagnósticos da espécie um complexo bráctea-escama e outro a uma folha,
Araucarites vulcanoi erigida por Duarte (1989, que embora associados na mesma amostra, não
Pl. III, fig. 3) embora nem todos apresentem estão conectados organicamente.
a totalidade das características, faltando a Baseado no anterior, os complexos bráctea-
semente ou a apófise apical ou a lígula. O gênero escama da Formação Crato, Eocretáceo da Bacia
Araucarites é, frequentemente, usado para designar do Araripe receberam uma nova designação
fragmentos de vegetais de idade permiana a específica com indicação de um único holótipo e
cenozóica, mas principalmente mesozoicos que atendendo as exigências do ICBN.
possam sugerir alguma afinidade com o gênero Palavras-chave: Formação Crato,
Araucaria, com reservas à falta de conhecimento Araucariaceae, Complexos Bráctea-Escama,
sobre as demais partes da planta, tendo sido Eocretáceo
usado, indiscriminadamente, para impressões
ou petrificações de ramos, cones e também
para complexos bráctea-escama dispersos. Mais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
recentemente foi recomendado restringir o AXSMITH, B.J.; ESCAPA, I.H. & HUBER,
gênero Araucarites a cones femininos completos e P. 2008. An araucarian conifer bract-
complexos bráctea-escama destacados (Zijlstra & scale complex from the Lower Jurassic of
van Konijnenburg-van Cittert, 2000). Entretanto, Massachusetts: implications for estimating
embora Axsmith et al. (2008) recomendam a phylogenetic and stratigraphic congruence
utilização dessa designação genérica só para in the Araucariaceae. Palaeontologia
representantes muito antigos ou pobremente Electronica, 11(3):1-9. Disponível em:
preservados da família Araucariaceae e nunca http://palaeo-electronica.org
para exemplares que possam ser atribuidos a uma
seção em particular do gênero Araucaria. DEL FUEYO, G.M. & ARCHANGELSKY, S.
Complexos bráctea-escama do gênero 2005. A new araucarian pollen cone with in
Araucarites tem sido registrados em sedimentos situ Cyclusphaera Elsik from the Aptian of
mesozoicos dos dois hemisférios. São comuns Patagonia, Argentina. Cretaceous Research,
no Jurássico da Índia e Inglaterra, no Cretáceo 26: 757–768.
Inferior de Portugal, da Argentina, da Antártica, da
África do Sul e dos Estados Unidos. Foram feitas DETTMANN, M. & CLIFFORD, T. 2005.
comparações morfoanatômicas com as espécies de Biogeography of Araucariaceae. In: History
cada uma destas ocorrências, para estabelecer as of the Araucarian Forests, Australian Forest
semelhanças e diferenças que individualizam os History Society, Queensland Museum, 9
complexos bráctea-escama da Formação Crato do p. Disponível em: http://cres.anu.edu.au/
Eocretáceo da Bacia do Araripe. environhist/anzfh2dettmann&clifford.pdf
A boa qualidade da preservação, que DUARTE, L. 1989. Remains of the Lower
permite identificar as estruturas dos complexos Cretaceous plants of North-East of Brazil.
bráctea-escama presentes na Formação Crato In: XI Congresso Brasileiro de Paleontologia,
do Eocretáceo da Bacia do Araripe, a idade Curitiba, 1989. Anais do XI Congresso
não muito antiga (~ 100 Ma), a possibilidade Brasileiro de Paleontologia, Curitiba, 1989,
de classificação dentro de uma seção do gênero I: 223-225.
Araucaria, indicariam uma maior afinidade destes
complexos bráctea-escama com este gênero. DUARTE, L. 1993. Restos de Araucariáceas
Por outro lado, a designação específica da Formação Santana – Membro Crato
Araucarites vulcanoi, não constitue um nome (Aptiano), NE do Brasil. Anais da Academia
válido do ponto de vista do Código Internacional Brasileira de Ciências, 65: 357-362.

303
KERSHAW, P. & WAGSTAFF, B. 2001. The Araucariaceae based on RBCL gene
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sedis). Mitteilung aus dem Museum für (Fossil Gymnospermae, Coniferales,
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304
ESPOROS FÓSSEIS DE ANEMIACEAE (CICATRICOSISPORITES E
AFINS) NO BRASIL: ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA PRELIMINAR
Sarah Gonçalves Duarte1 (sarahpalino@yahoo.com.br), Maria Dolores Wanderley1 (doloreswanderley@msn.com),
Mitsuru Arai2 (arai@petrobras.com.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro/Instituto de Geociências; 2Petrobras/CENPES
1

RESUMO dados da literatura. Destes, têm importância


especial as obras de Lima & Coelho (1987) e Arai
Levantamento exaustivo de ocorrências
(2011), por abordar intervalos não analisados no
brasileiras de esporos fósseis de Anemiaceae
presente trabalho – respectivamente Neocomiano
(Appendicisporites, Cicatricosisporites, Nodosisporites
(Grupo Rio do Peixe, Cretáceo Inferior) e Jurássico
e Plicatella) permitiu elaborar um inventário
(Formação Missão Velha, Andar Dom João).
que abrange 43 espécies formais e 54 espécies
Já as obras de Lima (1978), Pons et al. (1996) e
informais (em nomenclatura aberta). A análise
Portela (2008) foram importantes por fornecerem
dos dados levantados, integrada com os dados
dados da Formação Santana, reconhecidamente
disponíveis na literatura, permitiu traçar um
portadora de esporos de Cicatricosisporites e afins,
panorama bioestratigráfico e paleobiogeográfico
que, no entanto, não foi estudada aqui. Igualmente,
da família Anemiaceae. O presente trabalho, que
foi consultado o trabalho de Dino (1992), para
reúne dados brasileiros, tem importância especial
sondar as espécies de Cicatricosisporites presentes
pelo fato da América do Sul ter sido centro de
na Formação Alagamar.
diversidade da Anemiaceae ao longo do tempo
geológico. Nas lâminas analisadas,foram reconhecidos
e contados, ao todo, 18.148 espécimes, incluindo
Palavras-chave: Anemiaceae fóssil,
esporos do gênero Cicatricosisporites, grãos
Cicatricosisportes, Brasil
afins a Cicatricosisporites e grãos acessórios
Este trabalho deriva do projeto de
(grãos preservados nas lâminas juntamente com
mestrado da primeira autora, no qual foram
Cicatricosisporites, mas que não têm qualquer
analisadas 113 lâminas palinológicas oriundas
afinidade com Anemiaceae). Desse total, 683
de diversas unidades estratigráficas do Brasil:
exemplares foram de Cicatricosisporites e gêneros
Formação Areado, Bacia Sanfranciscana (5
afins, contendo 97 espécies, distribuídas entre os
lâminas); Formação Codó, Bacia do Parnaíba
seguintes gêneros: Appendicisporites (6 espécies),
(21 lâminas); Grupo Bauru, Bacia do Paraná (1
Cicatricosisporites (65 espécies), Nodosisporites (4
lâmina); Formação Urucutuca, Bacia de Almada
espécies) e Plicatella (22 espécies).
(11 lâminas); Formação Gramame, Bacia
Dessas 97 espécies, 43 foram relacionadas
Pernambuco-Paraíba (15 lâminas); Formação
às espécies formais e as demais foram registradas
Maria Farinha, Bacia Pernambuco-Paraíba (5
sob nomenclatura aberta (“cf.”, “aff.” e “sp.1”, “sp.2”,
lâminas); Formação Resende, Bacia de Resende
“sp.3”, etc.). As espécies formais identificadas são:
(9 lâminas); Formação Tremembé, Bacia de
Taubaté (6 lâminas); Formação Itaquaquecetuba, Appendicisporites erdtmanii Pocock, 1965
Bacia de São Paulo (24 lâminas); Formação São Cicatricosisporites angicanalis Döring, 1965
Paulo, Bacia de São Paulo (1 lâmina); Formação Cicatricosisporites annulatus, Archangelsky
Pirabas/Grupo Barreiras, Bacia de Bragança- & Gamerro, 1966
Viseu (10 lâminas); Formação Solimões, Bacia do Cicatricosisporites avnimelechi Horowitz,
Acre (2 lâminas); e do Quaternário (3 lâminas). 1970
A coleta das amostras foi norteada basicamente Cicatricosisporites brevilaesuratus Couper,
por dois critérios: a acessibilidade do material e 1958 emend. Kemp, 1970
a representatividade na coluna estratigráfica do Cicatricosisporites crassistriatus Burger,
Cretáceo Inferior ao Quaternário. Para garantir a 1966
abrangência do estudo, foram incorporados alguns

305
Cicatricosisporites crassiterminatus Nodosisporites macrobaculatus Archangelsky
Hedlund, 1966 & Llorens, 2005
Cicatricosisporites cristatus Regali, Uesugui Plicatella baconica (Deak, 1963) Davies,
& Santos, 1974 1985
Cicatricosisporites dorogensis Potonié & Plicatella insignis (Markova in Ivanova &
Gelletich, 1933 Markova, 1961) Davies, 1985
Cicatricosisporites gracilis Li, 1980 Plicatella irregularis (Pocock, 1965) Davies,
Cicatricosisporites hallei Delcourt & 1985
Sprumont, 1955 Plicatella lucifera (Hughes & Moody-
Cicatricosisporites hughesii Dettmann, 1963 Stuart, 1967) Davies, 1985
Cicatricosisporites jiaoheensis Li, 1980 Plicatella macrorhyza (Maljavkina 1949)
Cicatricosisporites macrocostatus Sah & Zhang 1965
Dutta, 1968 Plicatella parviangulata Döring, 1966)
Cicatricosisporites magnus Döring, 1965 Dörhöfer, 1977
Cicatricosisporites mediostriatus Plicatella problematica (Burger, 1966)
(Bolchovitina, 1959) Pocock, 1965 Davies, 1985
Cicatricosisporites microstriatus Jardiné & Plicatella singhii (Pocock, 1965) Davies,
Magloire, 1965 1985
Cicatricosisporites minor (Bolchovitina, Plicatella tricostata (Bolchovitina,1953)
1959) Pocock, 1965 Davies, 1985
Cicatricosisporites minutaestriatus Entre as espécies formais de
(Bolchovitina, 1961) Pocock, 1965 Cicatricosisporites, as mais frequentes são
Cicatricosisporites mohrioides Delcourt & Cicatricosisporites brevilaesuratus, Cicatricosisporites
Sprumont, 1955 crassistriatus, Cicatricosisporites dorogensis e
Cicatricosisporites myrtellii Burger, 1966 Cicatricosisporites subrotundus que estão presentes
em pelo menos cinco formações diferentes.
Cicatricosisporites potomacensis Brenner,
Cicatricosisporites brevilaesuratus está presente na
1963
Formação Gramame, na Formação Urucutuca,
Cicatricosisporites pseudotripartitus na Formação Santana, na Formação Codó
(Bolchovitina, 1961) Dettmann,1963 e na Formação Alagamar. Cicatricosisporites
Cicatricosisporites puberckensis Norris, 1969 crassistriatus está presente na Formação Maria
Cicatricosisporites regularis Nakoman, 1966 Farinha, na Formação Gramame, na Formação
Cicatricosisporites shalmaricus Srivastava, Alagamar, no Grupo Rio do Peixe e na Formaçao
1975 Missão Velha. Cicatricosisporites dorogensis está
Cicatricosisporites sternum van Ameron, presente na Formação Itaquaquecetuba, na
1965 Formação São Paulo, na Formação Tremembé, na
Cicatricosisporites stoverii Pocock, 1965 Formação Resende, o que confirma sua amplitude
Cicatricosisporites subrotundus Brenner, estratigráfica circunscrita no intervalo Eoceno
1963 – Oligoceno, em consonância com os estudos
Cicatricosisporites tersus (Kara-Murza, palinoestratigráficos clássicos (e.g., Regali et
1951, ex. Kara-Murza, 1954) Pocock, 1964 al., 1974; Muller et al., 1987). Cicatricosisporites
subrotundus está presente na Formação Maria
Nodosisporites baculatus (Regali, Uesugui
Farinha, na Formação Gramame, na Formação
& Santos, 1974) Davies, 1985
Urucutuca e no Grupo Rio do Peixe.
Nodosisporites crenimurus (Srivastava,
Cicatricosisporites avnimelechi,
1972) Davies, 1985
Cicatricosisporites microstriatus e Cicatricosisporites
Nodosisporites dentimarginatus (Brenner,
puberckensis são relativamente menos
1963) Davies, 1985
freqüentes, mas, por outro lado, eles parecem

306
ser estratigraficamente restritas, o que os torna LIMA, M.R. & COELHO, M.P.C.A. 1987.
bons fósseis-guias. Cicatricosisporites avnimelechi Estudo palinológico da sondagem
ocorre apenas no Albo-aptiano, já que foi estratigráfica de Lagoa do Forno, Bacia
registrado apenas nas formações Codó, Santana do Rio do Peixe, Cretáceo do Nordeste do
e Alagamar. Cicatricosisporites microstriatus Brasil. Boletim do Instituto de Geociências-
também sugere ser exclusivo do Albo-Aptiano, USP (Série Científica), 13: 67-83.
estando também presente nas formações Santana,
Codó (Lima, 1982; Antonioli, 2001; Rossetti et PONS, D.; BERTHOU, P.-Y.; MELO
al., 2001) e Alagamar (Dino, 1992), mas ocorre FILGUEIRA, J.B. & ALCANTARA
desde o Aptiano inferior, dada a sua presença na SAMPAIO, J.J. 1996. Palynologie des unités
Formação Areado também. Cicatricosisporites lithostratigraphiques “Fundão”, “Crato”
puberckensis está presente nas formações Santana et “Ipubi” (Aptien supérieur à Albien
(Lima, 1978; Portela, 2008), Formação Codó e inférieur-moyen, Bassin d’Araripe, NE du
Formação Missão Velha (Arai, 2011), o que sugere Brésil): enseignements paléoécologiques,
sua ocorrência restrita no intervalo Jurássico – stratigraphiques et climatologiques. In:
Cretáceo Inferior. JARDINÉ, S.; KLASZ, I. & DEBENAY, J.-
P. (eds.) Géologie de l’afrique et de l’Atlantique
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PORTELA, H.A. 2008. Estudo palinológico e
Programa de pós-graduação em Geologia,
palinofaciológico da Formação Santana, Bacia
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tese
do Araripe, Nordeste do Brasil. Faculdade de
de Doutorado, 265 p.
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do Araripe (Formações Missão Velha e
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meso-cenozoicos do Brasil. I. Boletim Técnico
Cenários de Vida, v. 3, Rio de Janeiro, Editora
PETROBRAS, 17(3): 177-191.
Interciência (no prelo).
MULLER, J.; DI GIACOMO, E. & VAN
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ERVE, A.W. 1987. Palynological zonation
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for the Cretaceous, Tertiary, and Quaternary
da Bacia Potiguar, Nordeste do Brasil. Instituto
of northern South America. American
de Geociências, Universidade de São Paulo,
Association of Stratigraphic Palynologists
Tese de Doutoramento, 299 p.
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LIMA, M. R. 1978. Palinologia da formação
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Santana (Cretáceo do nordeste do Brasil) -
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Introdução geológica e descrição sistemática
Bacia do Grajaú, MA. In: ROSSETTI,
dos esporos da subturma Azonotriletes.
D.F.; GÓES, A.M. & TRUCKENBRODT,
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LIMA, M. R. 1982. Palinologia da Formação Grajaú, Belém, Museu Paraense Emílio
Codó na região de Codó, Maranhão. Boletim Goeldi, Coleção Friedrich Katzer, p. 101-
do Instituto de Geociências-USP, 13: 116-128. 117.

307
ESTUDOS AMBIENTAIS NA LAGOA DO PARQUE ECOLÓGICO HERMÓGENES
DE FREITAS LEITÃO FILHO, BARÃO GERALDO, CAMPINAS
Melina Mara de Souza1 (melina@ige.unicamp.br), Frésia Ricardi-Branco1 (fresia@ige.unicamp.br),
Sueli Yoshinaga Pereira1 (sueliyos@ige.unicamp.br), Zázera Francioso1 (zazera_geologo@yahoo.com.br)
1
Unicamp

RESUMO Barão Geraldo, como também da Universidade e


a expansão urbana da cidade de Campinas, que
Este trabalho faz parte de um projeto
passa de uma área natural de Cerrado para uma
criado pela Pró-Reitoria de Desenvolvimento
área urbana residencial.
Universitário (Projeto Parque Amigo) da
UNICAMP (Universidade Estadual de Nesta pesquisa procurou-se identificar
Campinas), Campinas (SP), que visou à a suspeita de contaminação dos sedimentos
revitalização do parque através de diversos de fundo da lagoa e mudanças da vegetação
estudos multidisciplinares. Com o objetivo de do entorno. Assim, foi retirado 1 testemunho,
avaliar o assoreamento da lagoa, por meio de denominado T2, raso de 65cm de profundidade,
estudo ecobatimétrico e palinológico, procurando no qual foram identificados níveis com abundante
identificar a suspeita de contaminação dos materia orgânica. Desses níveis foram realizadas
sedimentos de fundo da lagoa e mudanças da pesquisas palinólogicas com a finalidade de
vegetação do entorno. auxiliar nos estudos ambientais apontando
mudanças na vegetação desde o início do registro
Palavras-chave: Estudos Ambientais,
sedimentar da lagoa na decada de 50 do século
Palinologia, Sedimentos
passado, possibilitando associar e conhecer o grau
da preservação das assembleias de palinomorfos
ABSTRACT em bacias com alta influencia antrópica, problema
This work is part of a project created by hoje enfrentado por muitas áreas sedimentares
the Pró-Rectory of University Development com registro palinológico ativo.
(Friend Park Project), UNICAMP (State
University of Campinas), Campinas (SP), which ÁREA DE ESTUDO
aimed to revitalize the park through a number of
O Parque Hermógenes de Freitas Leitão
multidisciplinary studies. In order to evaluate the
Filho está localizado no município de Campinas
siltation of the pond is made a study using echo
(SP), bairro Cidade Universitária II em área
sounder and pollen grains, trying to identify the
vizinha à UNICAMP, no distrito de Barão
suspected contamination of the bottom sediments
Geraldo, cuja população é hoje estimada em 60
and changes of the surrounding vegetation.
mil habitantes (IBGE, 2006). O Parque tem área
Keywords: Studies, Palynology, Sediment
estimada em 123.901,06 m2, sendo que deste total
80.111,17 m2 correspondem à superfície de uma
INTRODUÇÃO lagoa formada pelo represamento de dois córregos:
O Parque Hermógenes de Freitas Leitão um deles passa pelo Campus da UNICAMP
Filho coordenadas 22°48’40.20” S e 47°04’11.86” drenando uma área de 325.813m2, na qual se
W, é umas das áreas verdes presentes no entorno da insere o Hospital das Clinícas da UNICAMP
Universidade Estadual de Campinas, Campinas que circula por dia em média de 10.000 pessoas,
(SP) e de lazer do Distrito de Barão Geraldo. além dos efluentes dos institutos de pesquisa da
O Parque e ás áreas em volta experimentaram Universidade e suas áreas de experimentação.
mudanças significativas na sua cobertura vegetal e A vegetação do entorno é representada
uso da terra nos últimos 50 anos, principalmente por fragmentos de vegetação remanescentes e
por causa do crescimento do bairro e Distrito de

308
degradada, pertencente a dois tipos distintos de como também pela erosão do solo exposto nos
vegetação florestal: cerrado e floresta de planalto. terrenos descobertos do entorno.
Dos dados das análises palinológicas no
testemunho T2, foram identificados grãos de
MATERIAIS E MÉTODOS
pólens em 2 níveis: T2/32-35 e T2/42-46. A
O T2 foi alocado próximo à saída Figura 2 mostra, em ordem alfabética os principais
pluvial do bairro Cidade Universitária II. Este tipos polínicos encontrados, dos quais 18 de
apresentou uma recuperação de aproximadamente Angiospermas e 3 de Pteridófitas. Foi observada
65 centímetros, sendo o material coletado a existência de 446 grãos de pólens distribuídos
predominantemente de granulometria argilo- em 18 tipos polínicos, e 36 esporos de pteridófita.
arenosa fina. Dentre as diferentes categorias taxonômicas
No campo foram coletados sedimentos de considerou-se como indeterminados aqueles que
fundo para análise química de metais pesados e não puderam ser identificados a nível de família,
análise palinológica. Procedeu-se a abertura do os quais perfizeram 41 grãos de pólens.
tubo e descrição do material coletado, de 10 em O intervalo 42 e 46 cm é caracterizado
10 centímetros, foram processadas 6 amostras principalmente pela baixa concentração dos
para palinologia. grãos de pólens e pela presença de esporos. Neste
As amostras para palinologia foram nível observamos principalmente a presença de
processadas segundo o método clássico de Faegri Cyperaceae, Araliaceae, Poaceae e Myrtaceae.
& Iversen (1989) para sedimentos quaternários, Quanto aos esporos, encontramos as famílias:
que compreende as seguintes etapas: Polypodiaceae e Cyatheaceae.
- Dissolução de silicatos por HF; No nível 32-35 cm, é caracterizado por
- Remoção de colóides de sílica com HCL uma maior concentração e quantidade de grãos
diluído (a quente); de pólens e a freqüência dos taxa indicadores
- Destruição de ácidos húmicos por de Cerrado. Não há um número significativo de
solução de KOH 10%; esporos de pteridófitas. As famílias predominantes
- Centrifugação e lavagem dos resíduos neste nível foram: Araliaceae, Asteraceae,
com água destilada; Rubiaceae, Malpiguiaceae, Myrtaceae, Fabaceae e
- Montagem de lâmina, com 50 Cyperaceae, caracterizando o Cerrado, tal como
microlitros do resíduo, para observação em hoje conhecemos. Quanto aos esporos, registramos
Estereomicroscópio. a presença de Cyatheaceae, Polypodiaceae e
Dicksoniaceae.
Na base do testemunho no intervalo de
CONCLUSÕES 65-51,5 cm, onde a área era menos urbanizada, a
Este estudo sobre a Lagoa do Parque areia representa o canal do começo da UNICAMP
Hermógenes Leitão Filho, no que concerne (Figura 1).
à caracterização da forma, profundidade e No intervalo 51,5-40 cm e 40-20 cm
assoreamento, estima que o mesmo seja resultado observa-se uma maior proporção de argila num
de todos os processos que o entorno da lagoa ambiente redutor com matéria orgânica, o que
sofreu, desde desmatamentos de sua vegetação favorece a retenção dos metais pesados como
nativa, cultivos, períodos de construções de vias, Níquel, Cromo, Arsenio, Cobre e Zinco. As
casas e edificações no entorno. Provavelmente, maiores concentrações desses metais ocorrem
o assoreamento continuou e se intensificou com nas profundidades 40-30, entre os níveis 50-40
a instalação de saídas de galerias pluviais da cm acontecem às maiores concentrações dos
UNICAMP e do bairro Cidade Universitária II, elementos químicos As, Cr, Cu e Ni(CO)4.
onde se observa maior espessura de sedimento de No intervalo 51,5–20 cm também foi
fundo acumulado. Acredita-se que o assoreamento encontrado grãos de pólens, o que indica a
continue por meio das saídas destas galerias existência vegetação nativa, onde os efluentes
principalmente durante o período de chuvas, eram lançados na lagoa sem qualquer medida de

309
tratamento. Assim a preservação das assembleias matéria orgânica pela contaminação da lagoa
polínicas pode acontecer, uma vez que não naquele local.
haja a possibilidade de degradação da matéria
orgânica em virtude da elevada contaminação dos
sedimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
De 20 – 0 cm verifica-se alta concentração FAEGRI, K. & IVERSEN, J. 1989. Textbook of
de ZnCl e concentrações significativas de metais Pollen Analysis. John Wiley & Sons, LTD,
pesados, no entanto não houve preservação da Chichester, 328 pp.

Figura 1. Coluna estratigráfica representativa do T2.

310
Figura 2. 1) Apocynaceae. Barra = 5 µm. 2) Araceae. Barra = 5 µm. 3) Araliaceae. Barra = 5 µm. 4) Araliaceae. Barra = 5
µm. 5) Arecaceae. Barra = 5 µm. 6) Bombacaceae. Barra = 5 µm. 7) Asteraceae. Barra = 5 µm. 8) Convolvulaceae. Barra
= 5 µm. 9) Cyperaceae. Barra = 5 µm. 10) Euphorbiaceae. Barra = 5 µm. 11) Fabaceae. Barra = 5 µm. 12). Mimosoideae.
Barra = 10 µm. 13) Myrtaceae. Barra = 5 µm.

311
FOLÍOLOS E FRUTOS DE FABACEAE DA BACIA DE BOA
VISTA (OLIGOCENO-MIOCENO), PARAÍBA, BRASIL
Alex Borba Duarte1 (alexborbaduarte@gmail.com), Thièrs Wilberger1 (twilberger@gmail.com),
Tânia Lindner Dutra1 (dutratl@gmail.com), Cleide Moura2 (cmoura@re.cprm.gov.br),
Geysson de Almeida Lages2 (geysson.lages@cprm.gov.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos; 2CPRM - Serviço Geológico do Brasil
1

RESUMO the leaflets resemble those found in some species


of the tribes Cassieae and Caesalpinieae, and
As Fabaceae são hoje a terceira maior
the fruit, the ones that characterize the species
família de angiospermas e com distribuição ampla
of Parapiptadenia (Mimosoideae) and Albizia
e global. O registro fóssil da família é igualmente
(Caesalpinioideae).
abundante e bem distribuído, e confirmado a partir
do Paleoceno, embora formas duvidosas de fruto, Keywords: Fabaceae, paleobotany, Boa
pólen e lenho tenham sido identificadas em níveis Vista basin
do Cretáceo. O objetivo deste trabalho é descrever
novos fósseis de frutos e folhas/folíolos, isolados INTRODUÇÃO
e preservados como impressões, para níveis do
A família Fabaceae é considerada hoje
limite Oligoceno-Mioceno ou Mioceno basal da
a terceira maior entre as angiospermas, e só no
Bacia de Boa Vista, PB, Brasil. Sua comparação
Brasil, já conta com cerca de 175 gêneros e
com formas previamente descritas para as bacias
aproximadamente 1500 espécies (Lewis et al.,
brasileiras atesta seu caráter exclusivo, em termos
2005). Além disto, é amplamente distribuída, e
de morfologia e venação dos prováveis folíolos,
exceto nas regiões polares, seus representantes
e no tipo de fruto. Entre as formas modernas
ocorrem desde os desertos das altas latitudes, até
da família os folíolos assemelham-se a algumas
as regiões tropicais úmidas, onde está sua maior
espécies das tribos Cassieae e Caesalpinieae,
diversidade (Marchiori, 1997).
e o fruto aos encontrados em Parapiptadenia
O registro fóssil da família é também
(Mimosoideae) e Albizia (Caesalpinioideae).
abundante e diverso, embora a literatura proponha
Palavras-chave: Fabaceae, paleobotânica,
diferentes momentos e locais para seu primeiro
bacia de Boa Vista
registro. Srivastava & Mehrotra (2010) comentam
a possível ocorrência do fruto uma Fabaceae
ABSTRACT (Sonajoricarpon rajmahalensis Banerji) em níveis
The Fabaceae are today the third largest do Albiano-Aptiano de Rajmahal, na Índia, mas
family of angiosperms with large and global colocam em dúvida a suas relações com a família.
distribution. The fossil record of the family is Banerji (2000), também havia duvidado desta
equally abundant and well spread and confirmed ocorrência, pela antiguidade dos restos, anterior
to levels so old than the Paleocene, although ao Paleoceno. Igualmente controverso é o registro
doubtful forms of fruit, pollen and wood have de grãos de pólen (tipo Sindora), citados para o
been identified in Cretaceous levels. The aims Maastrichitiano da Sibéria, Canadá e Colômbia
of this study is the description of new fossils (Sirivastava, 1969; Muller, 1981; Orchard et
related with this family, represented by isolated al., 2001). Contudo, não é possível descartar
fruits and leaflets preserved as impressions of the completamente a possibilidade de sua ocorrência
Oligocene-Miocene boundary or Lower Miocene em níveis mesozoicos, diante do achado do lenho
at the Boa Vista Basin, PB, Brazil. When Mimosoxylon tenax, no Cretáceo de Oaxaca,
compared with previously described forms from no México (Cevallos-Ferriz & Gonzáles-
Brazil, the leaflets show an exclusive morphology Torres, 2005) e, no Brasil, de um fruto similar a
and venation character, the same occurring with Caesalpinoideae, preliminarmente apontado para
the fruits. Among modern forms of the family,

312
a Formação Santana, na Chapada do Araripe de Boa Vista, estado da Paraíba (Fig. 1B). Os
(Cristalli et al., 1999). exemplares encontram-se depositados no acervo
A presença de Fabaceae no registro do Laboratório de História da Vida e da Terra
torna-se segura a partir do Paleoceno com flores, (LaViGæa-UNISINOS). Neste trabalho são
frutos, folhas, folíolos, lenhos e grãos de pólen, analisadas impressões de folíolo isolado, e de
identificados em praticamente todos continentes dois frutos, igualmente isolados, mas um deles
(Herendeen & Dilcher, 2001; Kamal El-Din & bastante completo. Para as descrições foi utilizada
El-Saadawi, 2004; Wing et al., 2009; Schmidt et a nomenclatura proposta por Hickey (1974), Ellis
al., 2010). No Brasil, as mais antigas ocorrências, et al. (2009) e Gonçalves & Lorenzi (2007).
exceto a já citada para a Formação Santana, datam
do limite Oligoceno-Mioceno, com abundantes
RESULTADOS
restos de folhas e frutos (Hollick & Berry, 1924;
Berry, 1935 e 1937; Duarte & Mello-Filha, 1980; As impressões de folhas ou folíolos mostram
Duarte & Martins, 1987; Mello et al., 2002). tamanho nanofilico (2,5 cm de comprimento e
O objetivo deste trabalho é analisar e descrever 1,3 cm de largura, em média) e, aparentemente,
novos fósseis, provenientes de níveis da Bacia mantém parte do pecíolo. O formato da lâmina é
de Boa Vista, Paraíba. As idades radiométricas oblongo-obovado e assimétrico, o que se manifesta
disponíveis, também sugerem uma deposição em sua porção medial. A base e o ápice são
entre o final do Oligoceno e início do Mioceno. arredondados e com ângulos obtusos. A venação é
pinada, broquidódroma simples, com 6-7 pares de
secundárias, irregularmente espaçadas, de inserção
ARCABOUÇO GEOLÓGICO suboposta ou alterna, que divergem da primária
Segundo Lages (2011), a Bacia de Boa de modo excurrente, em ângulos agudos (60º a
Vista está estruturada sobre rochas pré-cambrianas 40º). Em direção à margem foliar, gradativamente
da Província Borborema e consiste de um meio- atenuam em largura, unindo-se em um arco à
gráben controlado por uma reativação extensional secundária suprajacente, ou diluindo em terciárias
nas terminações das zonas de cisalhamento São externas de curso arqueado. Intersecundárias,
José dos Cordeiros e Cabaceiras. É preenchido por embora raras e irregularmente distribuídas, tem
uma seqüência vulcano-sedimentar, caracterizada curso paralelo ao das secundárias. As nervuras
por derrames basálticos, argilitos bentoníticos de terceira ordem são opostas percurrentes e de
e arenitos arcoseanos, com grandes fragmentos disposição perpendicular à venação principal. A
de lenho, incluída na Formação Campos Novos venação de quarta ordem é percurrente oposta (Fig.
(Holder Neto & Silva, 1974). Uma idade K-Ar 1C). Os frutos são do tipo legume, pedunculados,
e 40Ar-39Ar de 20.5 Ma foi obtida nos basaltos oblongos e longilíneos (8,8 cm de comprimento e
sobrepostos (Lages, 2011), sugerindo uma idade 1,9 cm de largura). As valvas sugerem uma textura
Mioceno basal, ou um pouco mais antiga, para pouco lenhosa, já que permitem visualizar o lugar
os níveis sedimentares sotopostos (Roesner et al., ocupado pelas sementes, marcado por constrições
2004). Entre as fácies dos argilitos bentoníticos, marginais e entre 6-7 depressões ovaladas (7 mm
os fósseis aqui discutidos provêm daquela x 5 mm), provavelmente correspondentes aos
composta por argilitos marrom claro (Agmc). lóculos. Nas margens manteve-se a sutura que
Estudos anteriores em áreas da bacia já haviam marca a deiscência. (Fig. 1D).
comunicado a presença de fragmentos de lenho,
frutos, impressões de folhas e grãos de pólen
CONCLUSÕES
(Roesner et al., 2004; Moura et al., 2008).
Os prováveis folíolos foram comparados
com formas fósseis já descritas na literatura
MATERIAIS E MÉTODOS para as bacias cenozóicas do Brasil (Hollick &
A fácies de argila bentonítica laminada Berry, 1924; Berry, 1935; Berry, 1937; Duarte e
de cor marrom claro (Agmc, Fig. 1A), está Mello-Filha, 1980; Duarte & Rezende-Martins,
exposta nos níveis basais da Mina Juá I, Bacia 1983), e mostram caracteres exclusivos. Quando

313
comparados a formas modernas de Fabaceae, DUARTE, L. & MARTINS, A.F.F.R. 1983.
assemelham-se aos encontrados entre algumas Contribuição ao conhecimento da flora
espécies das tribos Cassieae e Caesalpinieae. cenozóica do Brasil. Jazigo Vargem Grande
Os frutos (legumes), também quando do Sul, SP. Anais Academia Brasileira de
comparados aos previamente descritos, como Ciências, 55(1):109-121.
os propostos por Cristalli et al. (1999), para
a Bacia do Araripe, e Duarte & Mandarim- DUARTE, L. & MELLO FILHA, M.C. 1980.
de-Lacerda (1989), Bacia de Tremembé, não Flórula cenozoica de Gandarela, Minas
mostraram morfologia e estrutura compatível. Gerais. Anais da Academia Brasileira de
Porém, entre os comparativos modernos da Ciências, 52(1):77-91.
família, tipos semelhantes ocorrem nas formas do
ELLIS, B.; DALY, D.C.; HICKEY, L.J.;
gênero Parapiptadenia (Mimosoideae) e Albizia
JOHNSON, K.R.; MITCHELL, J.D.;
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315
Figura 1. A- perfil litoestratigráfico da Mina Jua I, indicando as posições onde foram recuperados os fósseis vegetais. B-
mapa de localização da área de estudo. C- impressões foliares, escala 0,5 cm. D- fruto tipo legume, escala 1 cm.

316
LEÑO Y ESTRUCTURAS REPRODUCTIVAS DE CONIFERALES EN LA
FORMACIÓN CATURRITA, TRIÁSICO SUPERIOR-JURÁSICO?, SUL DE BRASIL
Alexandra Crisafulli1 (alexandracrisafulli@hotmail.com), Tânia Lindner Dutra2 (tdutra@unisinos.br)
Universidad Nacional del Nordeste, CECOAL – CONICET, Corrientes, Argentina;
1

Programa de Pós-Graduação em Geologia, UNISINOS


2

RESUMO shows, in the longitudinal section, several female


reproductive structures, preserving the ovule and
En esta contribución se describe la
megagametophyte, the nucellus in micropylar
anatomía de fragmentos leñosos silicificados
region, the integument, chalaza and peduncle.
pertenecientes al orden Coniferales, hallados
Those characters allowed the comparison
en los sedimentos de la Formación Caturrita,
with woods and seeds of Araucariaceae found
Faxinal do Saturno, Rio Grande do Sul. El
in the Jurassic Cerro Cuadrado Formation,
tronco analizado mide aproximadamente 1,5 m
from Argentine Patagonia, and other genera
de largo y ha preservado la médula compacta,
of Coniferales sensu lato, like Nipaniostrobus y
heterogénea, el xilema primario cuneiforme, y
Sciadopitys, respectively registered, in India and
el xilema secundario con anillos de crecimiento.
Japon. Those findings expand the knowledge
En uno de los fragmentos, correspondiente a
of the paleoxylotaphoflora of this unit and the
la parte basal del leño, la sección longitudinal
knowledge about the diversification and evolution
permitió identificar estructuras reproductivas
of gymnosperms in this south-central part of
femeninas, donde están preservados el óvulo
Gondwana.
con el megagametofito, el nucelo en la región
micropilar, el integumento, la chalaza y el pedicelo. Keywords: conifer, stem, reproductive
Por sus caracteres afines se comparó con maderas structure, Caturrita Formation, Triassic-Jurassic,
y semillas de Araucariaceae halladas en el Jurásico Southern Brazil
de Cerro Cuadrado (Patagonia, Argentina), y con
géneros de otras familias de Coniferales sensu lato, INTRODUÇÃO
como Nipaniostrobus y Sciadopitys, encontrados
El propósito de este trabajo es dar a
en India y Japón. Estos hallazgos enriquecen el
conocer la anatomía de fragmentos leñosos de
conocimiento de la variada paleoxilotafoflora de
gimnospermas con buena preservación de los
esta Formación, a la vez que permite conocer la
tejidos, hallados en los sedimentos de Faxinal do
diversificación y evolución de las Gimnospermas
Saturno, pertenecientes a la Formación Caturrita
en este sector del centro-sur del Gondwana.
y expuestos exclusivamente en áreas del sur de
Palavras-chave: Conífera, leño, estructura Brasil (Figura 1). En unos de los fragmentos se
reproductiva, Formación Caturrita, Upper encuentran además, estructuras reproductivas
Triassic-Jurassic?, Brasil femeninas que otorgan un mas grande interés a
este hallazgo. Las estructuras del leño y femeninas
ABSTRACT son asignadas a las Coniferales y comparables a
otros materiales atribuibles a las Araucariaceae,
In this contribution the anatomy of
identificados para otras localidades de América
several portions of a silicified conifer wood, from
del Sur (Stockey, 1977, 1978; Stockey & Taylor,
Caturrita Formation, Faxinal do Saturno county,
1978). En la misma Formación se hallaron
state of Rio Grande do Sul, are described. The
impresiones asignadas a Pagiophyllum, troncos de
stem, with 1, 50 m in length, is characterized
Kaokoxylon zalesskyi (Crisafulli & Dutra, 2009) y
by a compact, heterogeneous pith, with wedge
estructuras fructíferas afines a las Bennettitales
shaped primary xylem, and secondary xylem
(Barboni & Dutra, 2011).
with growth rings. The studied fragment was
obtaining from the basal part of the wood and also

317
MATERIALES Y MÉTODOS se preservó el integumento, la chalaza y el
pedúnculo de la estructura fructífera (Figura 5).
Los materiales estudiados son maderas
Este material reproductivo es comparable con los
silicificadas con buena preservación de los tejidos.
géneros Nipaniostrobus Rao, 1943, del Jurásico de
Se han estudiado de acuerdo a la metodología
Rajamahal (India) y Sciadopitys Saiki, 1992, del
clásica basada en cortes petrográficos montados
Cretácico de Japón. Con Pararaucaria patagonica
y pulidos en las tres secciones: transversal,
Wieland (Stockey, 1997), uno de los cones
longitudinal radial y longitudinal tangencial. No
petrificados del Jurassico de Cerro Cuadrado,
se obtuvo resultados favorables con el método del
comparte similitudes en la sección longitudinal
“peel”en papel de acetato. La terminología utilizada
del eje portador de la estructura reproductiva y
es del Glosario de Términos de la Asociación de
aún se relaciona con las Araucariaceae estudidas
Anatomistas de Maderas (IAWA Comittee, 2004;
por Stockey & Taylor (1978), en los rasgos del eje
Stockey, 1978a y 1978b). Los leños coleccionados
del cono. En la sección longitudinal es semejante
están depositados en la colección paleobotánica
al óvulo de Mikasastrobus hokkaidoensis (Saiki y
del Museo de la Universidad do Vale do Rio dos
Kimura, 1993).
Sinos (UNISINOS), bajo el acrónimo UMVT
8352.
CONCLUSIONES
RESULTADOS Y COMPARACIONES El hallazgo de una asociación de estructuras
vegetativas y reproductivas de Coniferales en
1. Leño: el material corresponde a un
niveles de la Formación Caturrita constituye un
leño decorticado silicificado de color claro, con
interesante dato por aportar nuevas informaciones
aproximadamente de 1,5 m de longitud y con una
y ampliar el registro en fósiles y la composición
probable bifurcación en la parte média (Figura
paleoflorística en esta unidad, contribuyendo en
2). En sección transversal se observa la médula
las discusiones de su edad y para la distribución
ovoidal, el xilema primario endarco y el secundario
y evolución de las gimnospermas del Mesozoico
picnoxílico con anillos de crecimiento marcados
en Brasil.
(Figura 3). La médula es compacta, heterogénea,
compuesta de células parenquimáticas circulares
a poligonales y células esclerenquimáticas. El REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
xilema primario endarco forma proyecciones
BARBONI, R. & DUTRA, T.L. 2011.
cuneiformes. Las células del protoxilema y
Williamsonia potyporanae and
metaxilema son poligonales. El xilema secundario
Pterophyllum?, new bennettites in the latest
tiene anillos de crecimiento con buen desarrollo
Upper Triassic-Early Jurassic? deposits from
del leño temprano, con respecto al tardío, y las
South Brazil. Ameghiniana (submitted).
células traqueidales poseen un amplio lúmen
(Figura 4). Hay un promedio de 7 traqueidas CRISAFULLI, A. & DUTRA, T. 2009.
que separan los radios entre sí. En sección Kaokoxylon zaleeskyi (Sahni) Maheshwari
longitudinal radial se observan punteaduras en los niveles superiores de la Secuencia
circulares, biseriadas, alternas y uniseriadas de tipo Santa María 2 (Formación Caturrita),
araucarioide principalmente, aunque hay algunas Cuenca de Paraná, Brasil. GAEA Journal of
punteaduras uniseriadas espaciadas. Pocos campos Geoscience, 5(2):61-69.
de cruzamiento han preservado la punteaduras
de tipo araucarioide. En sección longitudinal FACCINI , U.F.; GIARDIN, A. & MACHADO,
tangencial los radios son bajos y uniseriados y se J.L.F. 2003. Heterogeneidades
observa el corte de una semilla bien preservada litofaciológicas e hidroestratigrafia do
2. Semilla: el óvulo, de 3,2 mm de largo Sistema Aquífero Guarani na região central
está incluso en una cavidad completada por el do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. In:
tejido megagametofítico y se pueden ver restos PAIM, P.S.G., FACCINI, U. & NETTO,
de la nucela en la región micropilar. También R.G. (eds.) Geometria, arquitetura e

318
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SAIKI, K. & KIMURA, T. 1993. Permineralized
taxodiaceous seed cones from the Upper

Figura 1. Mapa de ubicación del sitio fossilífero, modificado de Faccini et al. (2003).

319
Figura 2. Aspecto general del leño y su ubicación en los niveles basales de la intercalación de pelitas laminadas de la
Formación Caturrita.

Figura 3. Fragmento de la superficie pulida de la porción basal del leño, en corte transversal, mostrando la médula
ovoidal, el xilema primario con proyecciones cuneiformes y el xilema secundario picnoxílico, con anillos de crecimiento.

320
Figura 4. Detalle de la médula compacta, las cuñas del xilema primario y el xilema secundario con anillos de crecimiento
marcados.

Figura 5. Corte de la semilla, en una sección longitudinal del leño, evidenciando el óvulo y sus integumentos.

321
Figura 6. Detalle de las partes de la semilla, con micrópila, nucelo, tejido megagametofítico, chalaza, pedúnculo e
integumento.

Figura 1. Micrografias em microscopia ótica de luz transmitida (a, c, e), em microscopia ótica de luz refletida (b, d, f, g)
[planos transversais] e em microscopia eletrônica de varredura (h, i) [plano longitudinal tangencial]. Exemplares NR491
(a-b); NR573 (c-d) e NR570 (e-f, h-i); PB168 (g). Escalas 500mµ (a, c, d, e, f), 200mµ (b), 100mµ (g), (exceto h-i).

322
NOVA ESPÉCIE DO MORFOGÊNERO PHYLLOTHECA NO AFLORAMENTO
MORRO DO PAPALÉO, MARIANA PIMENTEL, RS (PERMIANO
INFERIOR, GRUPO ITARARÉ SUL DA BACIA DO PARANÁ)
Guilherme Arsego Roesler1 (guilherme.paleonto@yahoo.com.br), Roberto Iannuzzi1 (roberto.iannuzzi@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul/Departamento de Paleontologia e Estratigrafia, RS
1

RESUMO associação do tipo auto-parautóctone de membros


do grupo (Iannuzzi et al., 2006, 2007). Neste
Apresenta-se aqui uma nova morfoespécie
sentido, os autores têm se dedicado à classificação
de esfenófita para o Permiano Inferior da Bacia
taxonômica das Sphenophyta desta localidade,
do Paraná (topo do Grupo Itararé), Phyllotheca
a fim de possibilitar a realização de trabalhos
sp. 1, a qual se caracteriza por apresentar folíolos
futuros com um enfoque mais paleoecológico,
extremamente longos em suas porções livres que
evolutivo e bioestratigráfico. Deve-se destacar que
são fusionados na base formando uma bainha em
os seguintes táxons, referentes às Sphenophyta,
forma de copo. Estes caracteres a aproxima de
já foram assinalados para Afloramento Morro
formas assinaladas aos morfogêneros Phyllopitys e
do Papaléo: Phyllotheca australis (= P. indica) (in
Annulina, táxons típicos da “Flora Angárica”.
Cazzulo-Klepzig & Guerra-Sommer, 1983,
Palavras-chave: Phyllotheca, Bacia do
Iannuzzi et al., 2007), Stephanophyllites cf. S.
Paraná, Permiano Inferior
sanpaulensis (in Iannuzzi, 2000) e Phyllotheca
brevifolia (in Roesler et al., 2008). Deste modo,
ABSTRACT este trabalho traz a continuidade ao estudo das
A new species of Sphenophyta from Lower formas de Sphenophyta presentes no referido
Permian strata of the Paraná Basin (uppermost afloramento, acrescentando assim mais um táxon
Itararé Group) is recorded herein, Phyllotheca a estas associações únicas na Bacia do Paraná.
sp.1, which is characterized by its very long free-
leaves, fused at base, forming sheaths in a cup-like MATERIAIS E MÉTODOS
shape. These characters resemble ones found in
Durante o estudo foram analisados cerca de
forms assigned to morphogenera Phyllopitys and
40 espécimes, preservados na forma de impressões
Annulina, typical taxa from “Angaria Flora”.
e contra-moldes achatados. Os contra-moldes
Keywords: Phyllotheca sp. 1, Paraná Basin, encontram-se, por vezes, impregnados de óxidos
Lower Permian enquanto que as impressões apresentam-se com
contornos esbranquiçados, bastante contrastantes
INTRODUÇÃO com a matriz síltico-argilosa de cor avermelhada,
o que garante um bom nível de observação dos
Em termos do registro no Rio Grande do
detalhes dos espécimes. As amostras foram
Sul, a localidade do Morro do Papaléo, situada a
preparadas através de procedimentos corriqueiros
aproximadamente 100 km de Porto Alegre, possui
utilizados na preparação paleobotânica, ou seja,
uma riqueza ímpar de restos e vestígios de plantas
desbastadas e limpas com o auxílio de espátulas,
fósseis, constituindo-se em um dos principais
estiletes, martelos e talhadeiras de diversos
afloramentos do estado (síntese em Iannuzzi et
tamanhos, sendo posteriormente analisadas com
al., 2003a, 2003b, 2006, 2007). Neste contexto,
o auxílio de estereomicroscópio do tipo Wild. As
o grupo das Sphenophyta é um dos mais bem
principais amostras também foram registradas
representados nesta localidade, ocorrendo em dois
através de fotografias digitais. O material
níveis estratigráficos (N2 e N4), apresentando uma
estudado encontra-se depositado na “Coleção de
diversidade aparentemente incomum de formas,
Paleobotânica” do Museu de Paleontologia (MP)
além da preservação in situ (= em posição de vida)
do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia
de diversos espécimes em um raro registro de uma
do Instituto de Geociências da Universidade

323
Federal do Rio Grande do Sul (DPE-IG- uninervados, com nervura mediana pouco
UFRGS), sob prefixo MP-Pb. nítida, inseridos perpendicularmente em relação
ao eixo do caule ou ramo que os sustentam. Na
base, os folíolos formam uma bainha contínua,
DISCUSSÕES E CONCLUSÕES que raramente ultrapassa mais do que a metade
Nossa forma apresentou semelhança com do comprimento dos folíolos e que apresentam
os gêneros angáricos Phyllopitys e Annulina. Mas, ranhuras de comissuras as quais não atingem a
problemas com a diagnose original do material base dos folíolos. Uma característica da bainha
relacionado à Phyllopitys (ver Meyen, 1971), e a foliar, que se repete nas diversas formas atribuídas
presença de bainhas nítidas, além da distribuição ao gênero, é o formato afunilado de sua porção
dos folíolos em verticilos e não aos pares, no proximal, bem como sua expansão para além do
material brasileiro, são suficientes para distinguir caule, formando uma lâmina em forma de disco
estas duas formas. (Boureau, 1964). Normalmente, cada bainha que
O morfogênero Annulina, que foi se origina em um nós, recobre todo o entre-nó
originalmente registrado para o Permiano Inferior subseqüente de forma adpressa, afastando-se do
das bacias de Kuznetzk, Gorlovsk, Petchora e ramo apenas ao atingir a altura do próximo nó
Tunguska (Boureau, 1964), é considerado uma (Boureau, 1964; Meyen, 1971).
forma próxima à Phyllopitys. Porém, Meyen Uma vez que os espécimes estudados
(1971) afirmou que existem diferençam entre os conferem com a caracterização feita acima para
morfogêneros Annulina e Phyllopitys. Segundo o forma de Phyllotheca, justifica-se aqui sua inclusão
autor (op. cit., 21), apesar de algumas características neste morfogênero. Em relação às morfoespécies
em comum, como as bordas foliares paralelas, de Phyllotheca, existe alguma semelhança dos
bainhas muito curtas em relação às partes livres folíolos de nossos espécimes com os de Phyllotheca
dos folíolos, as formas incluídas em Annulina se stellifera Schmalhausen, 1879 (in Boureau, 1964),
diferenciavam por ter as partes distais de seus mas nesta morfoespécie a bainha é adpressa,
folíolos acentuadamente encurvadas em direção ao ou tenuamente afastada do caule, enquanto na
ápice dos ramos, e por apresentarem os verticilos forma aqui descrita as bainhas são bem mais
inseridos em uma disposição obliqua em relação desenvolvidas. Existe também alguma semelhança
ao eixo caulinar. Estas mesmas características da forma estudada com P. deliquescens (Goeppert,
diferenciam os espécimes analisados das formas 1843), principalmente, no formado das bainhas
de Annulina, pois no material brasileiro os folíolos e dos folíolos. Entretanto, essa morfoespécie
apresentam lâminas quase retas que podem, às apresenta partes férteis e tem como característica
vezes, serem suavemente encurvadas em direção os folíolos mais largos na base e mais longos que a
ao ápice nas suas extremidades, mas a sua inserção nervura mediana; ambas as características não são
se dá sempre perpendicular ao eixo caulinar que observadas nos nossos espécimes.
os sustentam. Deste modo sugere-se o estabelecimento
Por fim, há similaridades entre os de uma nova morfoespécie, cujas características
espécimes do material em análise e formas distintivas que a separam de outras similares são:
classificada no morfogênero Phyllotheca. (i) a robustez e o longo comprimento dos folíolos,
Este morfogênero foi erigido por Brongniart que apresentam formato oblongo e terminando
(1828), referindo-se ao material proveniente de em um ápice arredondado; (ii) a parte livre das
Hawkesbury River, Austrália. Posteriormente, bainhas curtas e em formato de copo; (iii) a
Townrow (1955) propôs uma emenda à diagnose presença de verticilos foliares ao longo dos caules
original, considerando outras formas relacionadas mais robustos (principais?).
ao gênero, e indicou P. australis Brongniart como Conclui-se, por conseguinte, que se
a espécie-tipo. trata de uma nova espécie de Phyllotheca,
Phyllotheca se distingue dos demais morfologicamente semelhante a algumas formas
morfogêneros por possuir folíolos de dimensões angáricas.
homogêneas, finos, planos, de margens inteiras,

324
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & BARBOZA, E.G. 2006. Afloramento
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242.

IANNUZZI, R; SCHERER, C.M.S.; SOUZA,


P.A.; HOLZ, M.; CARAVACA, G.;
ADAMI-RODRIGUES, K.; TYBUSCH,
G.P.; SOUZA, J.M.; SMANIOTTO,
L.P.; FISCHER, T.V.; SILVEIRA, A.S.;
LIKAWKA, R.; BOARDMAN, D.R.;

325
NOVO REGISTRO DE LENHOS FÓSSEIS DO MIOCENO DA
FORMAÇÃO SOLIMÕES, RIO JURUÁ, ACRE, AMAZÔNIA, BRASIL
Adriana Cabral Kloster1 (klosterdri@gmail.com), Silvia Cristina Gnaedinger2 (scgnaed@hotmail.com),
Karen Adami-Rodrigues3 (karen.adami@gmail.com)
CECOAL-CONICET e Universidad Nacional de Córdoba, Argentina; 2CECOAL-CONICET e Universidad Nacional del Nordeste,
1

Argentina; 3 Universidade Federal de Pelotas

RESUMO inúmeras investigações tem sido feitas acerca da


paleontologia da região. Este trabalho consiste
Este trabalho contribui com novo registro
em um novo registro de madeiras fósseis para
de madeiras fósseis para a região do vale do
o Mioceno da Formação Solimões, Rio Juruá,
Juruá, Acre, Amazônia, Brasil. São inúmeros
estado do Acre, Amazônia, Brasil. Os exemplares
os afloramentos e lenhos coletados ao longo do
provêem da localidade Mississipi, região entre a
rio Juruá, as madeiras descritas neste trabalho
cidade de Marechal Thaumaturgo e o limite com
apresentam características anatômicas com
o Peru (Fig. 1). Os principais antecedentes desta
afinidades às famílias Leguminosae e Myrtaceae.
região são estudos geológicos e paleontológicos
Este é o primeiro de uma série de estudos
desta região da Amazônia correspondem a Mussa
realizados com as madeiras miocenicas desta
(1959); Latrubesse et al. (2010); Hoorn et al. (in
região da Amazônia e que tem por objetivo
press); entre outros. As estruturas litoestratigráficas
agregar conhecimento não apenas à Paleoflora,
da localidade Mississipi são de difícil visualização;
mas também compará-la com o restante da
o afloramento possui intercalações de sedimentos:
vegetação neotrópica da América do Sul.
argila cinza e vermelha com uma camada basal
Palavras-chave: lenhos, fósseis, rio Juruá
arenosa, com rica presença de ferro. Os fósseis são
coletados na porção mediana do rio, em pequenas
ABSTRACT ilhas formadas por conglomerado de cor preta.
This work contributes to new record of
fossil woods for the valley of Juruá, Acre, Amazon, MATERIAIS E MÉTODOS
Brazil. There are countless outcroppings and
Os cortes foram feitos obedecendo aos
petrified woods collected over Juruá, the fossils
três planos anatômicos: transversal, longitudinal
described here have affinities with anatomical
e radial. O estudo anatômico foi realizado com
features to the families Leguminosae and
o auxílio de microscópio óptico Leica DM500
Myrtaceae. This is the first one of a series of
e microscópio eletrônico de varredura da
studies on the Miocene woods of the Amazon
Universidade Nacional do Nordeste (UNNE),
region and aims to add knowledge not only for
Corrientes, Argentina. As descrições macro
Paleoflora, but also compare it with the rest of
e microscópicas dos exemplares seguem as
neotropical vegetation of South America.
recomendações da Associação Internacional de
Keywords: fossil, woods, Juruá River Anatomistas de Madeira IAWA (1989), Metcalf
& Chalk (1950) e Carlquist (2001). Este trabalho
INTRODUÇÃO registra uma nova ocorrência de duas madeiras de
Angiospermas.
Estudos paleontológicos realizados sobre
a Amazônia, maior sistema fluvial meandrante
do mundo, são de fundamental importância RESULTADOS
para a compreensão das mudanças ambientais A análise da primeira amostra revelou
ocorridas desde o Cenozoico inferior até os dias anéis de crescimento visíveis, porosidade do tipo
atuais. No sudoeste da Amazônia, principalmente difusa, vasos arredondados, numerosos solitários
no estado do Acre muitos sítios fossilíferos e múltiplos de 2 e 3, e de diâmetro tangencial
tem sido registrados (Iannuzzi et al., 2008) e médio, placas de perfuração simples, pontuações

326
intervasculares alternas e ornamentadas, presença 2009. Primeiro registro de interação de
de tilose nos vasos, parênquima axial do tipo Nepticulidae (Lepidoptera) em Angiosperma
paratraqueal, unilateral, vasicêntrico, alifome do Mio-Plioceno do Alto Juruá, Amazônia
e confluente formando faixas irregulares, raios Sul Ocidental, Acre. In: LIVRO DE
estratificados em algumas porções, fibras não RESUMOS XXI CONGRESSO
septadas e de espessura mediana raios homogêneos BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
tipo I B de Kribs, 1-2 seriados, presença de cristais Belém, 2009. Resumo Pará, p. 77.
do tipo estilóides e romboédricos em câmaras. Por
todos os caracteres apresentados, relacionamos BOUREAU, E. 1957. Anatomie Végétale. France,
o fóssil ao gênero Zollernioxylon Mussa 1959, Press Universitaries de France, p 210, (tomo
pertencente à família Leguminosae (Fig. 2A-D). 3).
A segunda amostra revelou anéis de
BRITO DE OLIVEIRA, M.D.; KLOSTER, A.;
crescimento distintos porosidade difusa, vasos
ADAMI-RODRIGUES, K.; CARDOSO,
solitários de contornos arredondados ou levemente
N. & BARBOSA, S.R. Registro inédito de
elípticos, elementos de vasos curtos, placas de
paleoflora do Mio-Plioceno do Vale do Rio
perfuração simples, pontuações intervasculares
Juruá Acre. In: LIVRO DE RESUMOS
alternas, conteúdo semelhante a tilose presente
XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE
nos vasos, fibras aparentemente não septadas
PALEONTOLOGIA, Belém, 2009. Resumo
parênquima axial apotraqueal difuso a escasso e
Pará, p. 92
paratraqueal vasicêntrico tendendo a aliforme de
poucas células de altura, raios heterogêneos de HOORN, C.; WESSELING, F.P.; TER
maioria 2-seriado, traqueídes vasculares presentes. STEEGE, H.; BERMUDEZ, M.; MORA,
Pelas características apresentadas, relacionamos o A.A.; SEVINK, J.; SANMARTIN,
espécime fóssil com afinidade à família Myrtaceae I.; SANCHEZ-MESEGUER, A.;
(Fig. 2E-G). ANDERSON, C.L.; FIGUEIREDO, J.P.;
JAMARILLO, C.; RIFF, D.; NEGRI, F.R.;
CONCLUSÕES HOOGHIEMSTRA, H.; LUNDBERG,
J.; STANDLER, T.; SARKINEN, T.
Neste estudo são descritas a anatomia de
& ANTONELLI, A. In press. Change,
madeiras com afinidades às famílias Leguminosae
Landscape Evolution, and Biodiversity
e Myrtaceae. A primeira família foi descrita
Amazonia Through Time: Andean Uplift,
para o Mioceno da Formação Solimões por
Climate.
Mussa (1959). No entanto, com relação à familia
Myrtaceae, esta foi apenas citada em um resume CARLQUIST, S. 2001. Comparative Wood:
por Machado et a.l (2008). Novos registros de anatomy systematic, ecological, and evolutionary
folhas e pólen fósseis demonstram a presença aspects of dicotyledon wood. 2nd. ed., completely
das famílias Annonaceae, Lauraceae, Rubiaceae rev., Berlin, Springer, 448 p.
Euphorbiaceae, Rosaceae e Caryocaceae, (Cardoso
et al., 2009; Brito et al., 2009). Constitui-se neste CUNHA, P. R.C. 2007. Bacia do Acre. Rio de
trabalho a primeira contribuição da pesquisa Janeiro, Boletim de Geociências. Petrobras. vol.
dedicada a xilotafoflora miocenica do Acre 15. N.2, p. 207-215.
contribuindo ao conhecimento da paleoflora e
paleocologia da América do Sul, sendo esta uma GOMES, O.J.; FERREIRA, S. J.; ADAMI-
parte significativa para a reconstrução da história RODRIGUES, K.; NEGRI, F.R.;
evolutiva da vegetação neotrópica. SCHMALTZ, H.A. & HAAG, A.N.
Análise tafonômica de Testudines, Mioceno
Superior do Alto Juruá, Acre. In: LIVRO
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327
IAWA Committe. 1989. IAWA list of microscopic MACHADO, L.; SCHEEL-YBERT, G.R.;
features for hardwood identification. (Ed) E.A. BOLZON, R.T.; CARVALHO, M.A. &
Wheeler P. Bass., and P.E. Gasson. int. assoc. CARVALHO, I.S. 2008. Caracterização
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Figura 1. Área de estudo ao longo do Rio Juruá onde esta registrado o afloramento fossilífero Missispi.

328
Figura 2. Vasos e parênquima axial do tipo paratraqueal, unilateral, vasicêntro. Figura 2A-D. Leguminosae e Figura 2E-G.
Myrtaceae.

329
NOVOS ACHADOS PALINOLÓGICOS NA BACIA DE ITABORAÍ
E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O ENTENDIMENTO DA
DIETA DE ALGUNS MAMÍFEROS PALEOCÊNICOS
Carla Terezinha Serio Abranches1 (abranches.cts@gmail.com), Maria Judite Garcia2 (mgarcia@ung.br),
Lílian Paglarelli Bergqvist1 (bergqvist@geologia.ufrj.br), Bruno Aquino1 (aquino_bio@oi.com.br)
1
Laboratório de Macrofósseis, Departamento de Geologia/UFRJ916; 2CEPP-LabGeo-UnG

RESUMO INTRODUÇÃO
Análises de microdesgaste dentário A assembleia paleontológica da Bacia
realizadas em mamíferos pertencentes à fauna de Itaboraí, localizada no estado do Rio de
de Itaboraí sugerem uma alimentação abrasiva, Janeiro, é uma das mais antigas do Cenozoico
o que os relaciona a indivíduos pastadores. Com sulamericano. Esta assembleia constitui um
o intuito de verificar qual vegetação presente ecossistema complexo, onde estão presentes todas
nesta bacia poderia estar relacionada a este tipo as classes de tetrápodes, sendo os mamíferos os
de desgaste, foi realizada uma revisão nas lâminas mais abundantes e diversificados (Bergqvist et al.,
palinológicas. Os resultados revelaram a presença 2006).
de pólens de Poaceae, Thyphaceae, Arecaceae, Apesar de esta biota ser conhecida desde
Liliaceae e Ulmaceae em Itaboraí, vegetais que meados do século passado, poucos estudos revelam
produzem grande quantidade de fitólitos e que a diversidade paleoflorística da região. Dentre
poderiam justificar a abundância de ranhuras estes, descatam-se aqui os trabalhos de Souza-
nos dentes desses mamíferos. Sendo assim, tanto Cunha et al. (1980), relatando a primeira e única
Paulacoutoia protocenica e Otinielmarshia pritina, descoberta de um nível de linhito em posição
que viveriam em matas ou em campos, quanto superior aos calcários argilosos da bacia e Lima &
Carodnia vieirai que viveria em áreas alagadas ou Souza-Cunha (1986), que reestudaram este nível,
abertas poderiam se alimentar desses vegetais. reconhecendo uma associação microflorística
Palavras-chave: Bacia de Itaboraí, composta por 28 palinomorfos pertencentes
palinomorfos, microdesgaste dentário a fungos, esporos de pteridófitas, grãos de
pólen de gimnospermas atribuídos a família
Araucariaceae e de angiospermas com afinidades
ABSTRACT com Arecaceae, Bombacaceae, Cyrillaceae,
Microwear analyses performed in some Ulmaceae, Myrtaceae e Restionaceae. Mussa et al.
mammalian teeth belonging to the fauna of (1987) identificou os restos macroscópicos deste
Itaboraí Basin suggested an abrasive diet suggestive linhito como pertencentes à família Bombacacea.
of grazer habits. Seeking for discovering which Foram registradas também em Itaboraí uma
vegetation present in the basin could have caused folha atribuída a Myrtacea (Magalhães, 1948),
this wear pattern, a careful review was conducted sementes pertencentes a Ulmaceae (Beurlen
on pollen glasses. The results revealed the & Sommer, 1954), cutículas de gramíneas em
presence of palinomorfs of Poaceae, Thyphaceae, coprólitos (Santos et al., 2007; Souto, 2007) e
Arecaceae, Liliaceae and Ulmaceae. These plants lenhos carbonizados pertencentes a Combratacea
produce large amounts of phytoliths which could e Leguminosae (Barros et al., 2007, 2008).
justify the large amount of grooves in the teeth Nos últimos anos, estudos voltados para o
of these mammals. Thus, both Paulacoutoia entendimento do hábito alimentar dos mamíferos
protocenica and Othinielmarshia pritina, who could herbívoros de Itaboraí estreitaram a relação entre
inhabit woods or fields, and Carodni. vieirai that os vegetais conhecidos para a bacia e estes animais.
may have liveed in wetlands or open areas, could Avilla et al. (2007a) associaram os coprólitos
eat these vegetables. contendo cutículas de Poaceae (gramíneas) ao
Keywords: São José de Itaboraí Basin, Xenungulata Carodnia vieirai Paula-Couto, 1952,
palynomorphs, dental microweare sugerindo que esta espécie incluísse gramíneas

330
na sua alimentação. No mesmo volume, Avilla Poaceae, Thyphaceae, Arecaceae e Liliaceae
et al., (2007b), após analisarem a biomecânica (monocotiledôneas) e Ulmaceae (dicotiledôneas)
do aparato mastigatório do Astrapotheria são produtoras de fitólitos e, se fizerem parte da
Tetragonostylops apthomasi (Price & Paula-Couto, dieta destas espécies, podem ser as responsáveis
1950), sugeriram que este animal provavelmente pelo microdesgaste abrasivo encontrado nos
se utilizava de gramíneas em sua dieta. mamíferos estudados por Abranches et al. (2011)
Estudos recentes do microdesgaste e Aquino et al. (2011).
dentário foram realizados em algumas espécies de As espécies das famílias Poaceae,
mamíferos de Itaboraí, sugerindo que Carodnia Thyphaceae e Liliaceae são herbáceas enquanto
vieirai, Paulacoutoia protocenica (Paula-Couto, espécies de Arecaceae e Ulmaceae possuem hábito
1952) e Othinielmarshia pristina (Paula-Couto, arbustivo-arbóreo. As Thyphaceae são plantas
1978), devido ao microdesgaste caracterizado características de habitats úmidos.
por maior densidade de ranhuras, possuissem P. protocenica e O. pristina são mamíferos
uma dieta abrasiva e possivelmente associada de médio e pequeno porte, respectivamente, e
a vegetais produtores de fitólitos - estruturas possivelmente viviam no interior da mata. C.
silicosas encontradas em determinadas famílias, vieirai possui grande tamanho e, provavelmente
com função de proteção (Abranches et al., 2011; vivia em locais de vegetação mais aberta e parte
Aquino et al., 2011). do tempo dentro do lago, como sugerem estudos
O pequeno registro de vegetais em do esqueleto pós-craniano em desenvolvimento
Itaboraí, que pudessem produzir tal padrão de por L.P. Bergqvist. Ambos os nichos são ricos em
microdesgaste, levou à necessidade de se buscar vegetação produtora de fitólitos, o que poderia
mais dados sobre a vegetação desta bacia. Desta causar o padrão de microdesgaste dentário
forma, o objetivo deste trabalho foi reanalisar encontrado nestas espécies.
as lâminas palinológicas estudadas por Lima A presença de pólens de Poaceae reforçam
& Souza-Cunha (1986), que desde então não os trabalhos de Avilla et al. (2007a, 2007b) que
foram revisadas, na procura de novos registros sugerem, de forma indireta, a presença desta
palinológicos para a região que pudessem auxiliar família na dieta dos mamíferos estudados e a
no entendimento do padrão de microdesgaste presença de gramíneas no Paleoceno superior da
encontrado nestes mamíferos. America do Sul.

MATERIAL CONCLUSÕES
As lâminas aqui estudadas estão Apesar de sugerido indiretamente por
depositadas no Instituto de Geociências da autores prévios, este trabalho confirma, através
Universidade de São Paulo, sob os números de registros polínicos, a presença definitiva de
GP/4T – 153, 154 e155. Poaceae na Bacia de Itaboraí. Também revela que
além das gramíneas, outros vegetais produtores
de fitólitos também estão presentes na paleoflora
RESULTADOS
de Itaboraí. Certamente todos ou alguns destes
Uma nova e atenta observação das lâminas faziam parte da dieta dos mamíferos de Itaboraí
palinológicas revelou a presença de palinomorfos até então estudados.
não documentados anteriormente, mostrando
que a paleoflora de Itaboraí é mais diversificada
do se supunha. Aos registros já existentes foram REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
adicionados palinomorfos atribuídos às famílias ABRANCHES, C.T.S.; AQUINO, B.
Fabacea, Liliaceae, Poaceae (Gramineae) e & BERGQVIST, L.P. 2011. Dental
Thyphaceae. microwear and isotopic analyses for
De acordo com a literatura (Baker et al., investigating the diet of Carodnia vieirai
1959), de todas as famílias vegetais registradas (Mammalia: Xenungulata). In: Actas del IV
como fósseis na Bacia de Itaboraí, as famílias CONGRESO LATINOAMERICANO

331
DE PALEONTOLOGÍA DE E PALINÓLOGOS, 12. Boletim de
VERTEBRADOS, San Juan, Argentina, Resumos... Florianópolis, p. 16.
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SIMPÓSIO DE PLAEOBOTÂNICOS

332
O ESTUDO DE CUTÍCULAS VEGETAIS PARA CARACTERIZAÇÃO
DE PALEOCLIMAS CRETÁCEOS NO NORDESTE BRASILEIRO
Maria Helena Hessel1 (mhhessel@gmail.com), Andrea Limaverde de Araújo1 (a.limaverde@uol.com.br)
Universidade Federal do Ceará
1

RESUMO A concentração de CO2 atmosférico tem


sido considerado como o fator determinante da
A concentração de CO2 atmosférico,
temperatura e do clima nos últimos 500Ma da
considerada como o fator determinante no clima
história da Terra. Mas é provável que vários outros
da Terra, pode ser avaliada pelo estudo da cutícula
fatores contribuam para as alterações climáticas
de vegetais clorofilados. A cutícula vegetal é um
observadas ao longo da história de nosso planeta,
elemento frequente em depósitos sedimentares
como mudanças na configuração dos continentes
e tem um grande potencial para determinar
e formação de montanhas, padrão de circulação
paleoclimas. Entretanto, no Brasil ainda não há
oceânica, alterações na órbita ou na posição do eixo
trabalhos versando sobre a ultraestrutura cutículas
terrestre, assim como as variações da intensidade
cretáceas com este objetivo.
de radiação solar. Modelos atuais adotados para
Palavras-chave: Cutícula vegetal,
correlacionar níveis de gás carbônico e clima
Paleoclimas, Cretáceo, Nordeste do Brasil
baseiam-se principalmente no estudo do ciclo do
carbono e em medições geoquímicas que podem,
ABSTRACT por inferência, revelar temperaturas médias globais
The concentration of atmospheric CO2, e níveis de CO2 atmosférico, por vezes gerando
considered as the determining factor in the dados conflitantes. Em face disso, surgiram novas
Earth’s climate, can be assessed by studies of plant propostas de investigação, como a de Retallack
cuticle. The plant cuticle is a frequent element in (2001), que utiliza o índice e a anatomia de
sedimentary deposits, and has a great potential to estômatos foliares como sensores biológicos dos
determine paleoclimates. However, in Brazil there níveis de CO2 atmosférico.
is still no paper on the Cretaceous ultrastructure A relação existente entre fisiologia das
cuticle with this goal. plantas e as condições ambientais, conhecida
Keywords: Plant cuticle, Paleoclimates, empiricamente há milhares de anos, foi
Cretaceous, Northeastern Brazil definitivamente comprovada na segunda metade
do século passado, com estudos sobre a cutícula
foliar e epitelial dos vegetais clorofilados atuais e
INTRODUÇÃO a concentração de CO2 atmosférico e de outros
A temperatura média global tem parâmetros climáticos. Deste modo, sob uma
aumentado claramente desde o início da revolução ótica interdisciplinar, a análise cuticular de plantas
industrial, caracterizando um fenômeno de fósseis pode oferecer excelentes informações sobre
aquecimento da Terra como o já ocorrido no paleoclimas. As cutículas representam uma fonte
passado, mormente no Cretáceo. As principais preciosa para a compreensão das interações entre
causas imputadas a esse efeito hoje em dia os meios abiótico e biótico, considerando que os
relacionam-se aos gases promotores do efeito estômatos exercem relevante controle nos ciclos
estufa, especialmente o enriquecimento de CO2 da água e do CO2 na superfície terrestre, através
atmosférico. A inferência das causas de ocorrência da regulação de suas difusões atmosféricas.
de períodos climáticos bastante quentes no A transição da água para áreas emersas foi
passado geológico, quando não existiam humanos, um dos maiores eventos evolutivos enfrentados
pode auxiliar no entendimento do atual evento de pelos seres fotossintetizantes em relação às
aquecimento global. adaptações necessárias à sua sobrevivência em

333
um ambiente tão seco. Assim, desenvolveram da temperatura média atual dos oceanos, de
uma camada cuticular que auxiliava na prevenção 27ºC. Assim, no Neojurássico, existia um clima
à dessecação em determinadas regiões ou bastante seco no interior do grande continente
períodos anuais, e estômatos que realizavam as gonduânico onde hoje se localiza o nordeste do
trocas gasosas. Estas adaptações a diferentes Brasil, e que se tornaram paulatinamente mais
níveis de disponibilidade hídrica ambiental úmidos no início do Eocretáceo (Berriasiano ao
ficaram evidenciadas principalmente na forma Barremiano), quando se iniciava a separação da
e estrutura das folhas e de sua cutícula epitelial, América do Sul e África. Porém gradativamente
podendo assim ser utilizadas com segurança para o clima evoluiu para tempos extremamente secos
inferências climáticas e paleoclimáticas. Ademais, no Apiano e Albiano (Lima, 1983; Suguio, 1996),
a cutícula de vegetais é bastante resistente à com formação de extensas camadas de evaporitos,
decomposição, apresentando alto potencial de talvez por um significativo aquecimento global.
fossilização, o que as torna elementos comuns A partir do Cenomaniano, o clima no nordeste
em depósitos fossilíferos e oferece um potencial brasileiro torna-se novamente mais ameno e
de investigação muito interessante, pois guarda úmido, estabelecendo-se ao final do Cretáceo
feições particulares da evolução e do ambiente (Campaniano e Maastrichiano) uma tendência
onde determinada planta se desenvolveu. de climas úmidos próximo ao litoral e mais
secos no interior do continente. Considerando
a posição paleogeográfica do nordeste brasileiro,
PALEOCLIMAS CRETÁCEOS NO que no Eocretáceo se encontrava entre cerca de
NORDESTE BRASILEIRO 6ºS e 17ºS, uma posição bastante equatorial, e no
O clima pode ser caracterizado pela média Neocretáceo, entre cerca de 15º a 25ºS, migrando
em longo prazo de eventos atmosféricos variáveis para posições mais subtropicais (Mabesoone,
em curto prazo, como temperatura, umidade e 1975), pode-se também inferir esta tendência de
dinâmica atmosférica.Para inferir climas pretéritos, climas mais amenos à medida que se aproxima o
podem-se analisar vários elementos encontrados final do Cretáceo.
nas rochas, como biomarcadores moleculares, Crane et al. (1995) enfatizaram que
isótopos de carbono (d13C) e oxigênio (d18O) de o estudo de elementos polínicos, epidermes
bioclastos, estruturas sedimentares e alguns grupos foliares e estruturas reprodutivas fósseis, além
de fósseis, dos quais as plantas terrestres são um dos de fornecer boas indicações paleoclimáticas
mais importantes por estarem em contato direto documenta a diversificação das angiospermas
com a atmosfera, realizando diuturnamente trocas no Eocretáceo. Como neste tempo o nordeste
gasosas. As evidências sedimentares de mais fácil brasileiro encontrava-se na zona equatorial
interpretação são as encontradas em depósitos árida, considerada por Vakrameev (1984) a
glaciais ou eólicos, enquanto que evidências de área de origem das angiospermas, a análise da
climas úmidos conservam-se precariamente nas ultraestrutura destas partes vegetais preservadas
rochas, em razão da própria natureza do clima. em camadas eocretáceas, como as do Membro
Estudos paleoclimáticos na região Crato da Formação Santana (Bacia do Araripe),
nordestina brasileira durante o Cretáceo baseiam-se poderia detalhar o conhecimento já existente
em evidências principalmente sedimentológicas e tanto do clima da região como da evolução inicial
palinológicas. Segundo estas investigações, neste das plantas com flores.
período o clima era dominantemente quente, cerca
de 10ºC acima da temperatura global média atual
(Petri, 1998). As principais flutuações climáticas
O ESTUDO DAS CUTÍCULAS
parecem ter sido relacionadas ao teor de umidade, CRETÁCEAS BRASILEIRAS
trazida por ventos marítimos, pois o Atlântico As partes aéreas de todos os vegetais
estava começando a se formar. As temperaturas vasculares são recobertas por uma contínua e fina
oceânicas equatoriais no final do Cretáceo eram camada serosa, amorfa e não celular denominada
de aproximadamente 32ºC, um pouco acima cutícula, constituída de cutina. Deste modo, a

334
cutícula é um molde perfeito da epiderme, como clorofilados, pois elas traduzem a interação entre
uma digital, preservando suas feições e permitindo estes e a atmosfera, considerando que os estômatos
reconhecê-las em fragmentos isolados. As exercem relevante controle nos ciclos da água e
cutículas são muito resistentes à decomposição e CO2.
representam uma das poucas partes não lenhosas b) A cutícula vegetal é bastante resistente
da planta que são preservadas na diagênese. à decomposição, apresentando alto potencial de
No registro geológico, os primeiros registros fossilização, o que as torna elementos frequentes
de cutículas vegetais datam do Neossiluriano, em depósitos de origem continental e transicional,
enquanto que os estômatos são conhecidos a partir e oferece um potencial de investigação
do Eodevoniano. A partir de então são frequentes paleoclimática muito interessante.
em rochas sedimentares de origem continental e c) A despeito do inegável potencial que
transicional. as cutículas vegetais fósseis possuem para revelar
A análise cuticular de vegetais fósseis climas pretéritos, no Brasil não há trabalhos
desenvolveu-se principalmente depois da década versando sobre a ultraestrutura cutículas cretáceas
de ’70, quando o Microscópio Eletrônico de com este objetivo.
Varredura (MEV) passou a ser adotado em d) Estudos paleoclimáticos na região
seu estudo, relacionando fisiologia vegetal e nordestina brasileira durante o Cretáceo
climatologia. No Brasil, há poucos trabalhos baseiam-se em evidências principalmente
versando sobre a ultraestrutura cutículas fósseis, sedimentológicas e palinológicas, podendo a
como o de Klippel & Sommer (1984) sobre folhas análise da ultraestrutura de cutículas vegetais
de Glossopteridales eopermianas da Bacia do preservadas em camadas eocretáceas, como na
Paraná e o de Wilderger et al. (2008) sobre restos Formação Santana da Bacia do Araripe, detalhar
de coníferas triássicas do Rio Grande do Sul. o conhecimento existente tanto do clima da região
Recentemente, Sucerquia et al. (2008) examinaram como da evolução inicial das plantas com flores.
epidermes foliares cretáceas da Formação Santana,
Bacia do Araripe, e identificaram estruturas
relacionadas à ação de microorganismos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Deste modo, a despeito do inegável CRANE, P.R.; FRIIS, M.E. & PEDERSEN,
potencial que as cutículas vegetais fósseis possuem K.R. 1995. The origin and early diversification
para revelar climas pretéritos, no Brasil pouco of angiosperms. Nature, London, 374: 27-33.
foram analisadas com este objetivo. No nordeste
brasileiro, onde há um dos mais importantes KLIPPEL, L.R. & SOMMER, M.G. 1984.
depósitos fossilíferos de vegetais eocretáceos do Estudo de cutículas fósseis de Glossopteridales
mundo, no Membro Crato da Formação Santana do Gondwana brasileiro em Microscópio
(Bacia do Araripe), estudos sobre as cutículas Eletrônico de Varredura. Boletim do Instituto
de ramos, folhas e flores de diferentes taxa ali de Geologia [USP], São Paulo, 15: 38-45
excepcionalmente bem preservados poderiam
auxiliar no esclarecimento de questões ainda LIMA, M.R. 1983. Paleoclimatic reconstruction of
controversas da história geológica do nordeste the Brazilian Cretaceous based on palynological
brasileiro. data. Revista Brasileira de Geociências, São
Paulo, 13(4): 223-228.

CONCLUSÕES MABESOONE, J.M. 1975. Desenvolvimento


Com o desenvolvimento deste trabalho, paleoclimático do nordeste brasileiro. Simpósio
podem ser listadas as seguintes conclusões: de Geologia do Nordeste, 7, Fortaleza, Atas,
a) A concentração de CO2 atmosférico, SBG: 75-93.
considerada como o fator determinante da
PETRI, S. 1998. Paleoclimas da era mesozóica
temperatura e clima na Terra, pode ser avaliada
do Brasil: evidências paleontológicas e
por estudos da cutícula foliar e epitelial de vegetais

335
sedimentológicas. Revista Universidade de Simpósio sobre o Cretáceo, 4, Rio Claro,
Guarulhos, São Paulo, 3(6): 22-38. Boletim de Resumos, UNESP: 257-260.

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plant cuticles. Nature, London, 411: 287-290. light of palaeobotanical data. Palaeontology,
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SUCERQUIA, P.; BERNARDES DE
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Preservação de finos detalhes epidérmicos e R. 2008. Análise de ultraestruturas da epiderme
estruturas anatômicas em macrofitofósseis da em folhas de coníferas preservadas de modo
Formação Crato. Simpósio de Paleobotânicos autigênico no Triássico do Rio Grande do Sul.
e Palinólogos, 12, Florianópolis, Boletim de Simpósio de Paleobotânicos e Palinólogos,
Resumos, ALPP: 213. 12, Florianópolis, Boletim de Resumos,
ALPP: 229.
SUGUIO, K. 1996. The Brazilian Cretaceous
climates in the context of global climatic changes.

336
PALYNOFACIES ANALYSES OF WHISKY BAY FORMATION (ALBIAN-
TURONIAN) OF THE LARSEN BASIN, JAMES ROSS ISLAND, ANTARCTICA
Marcelo de Araujo Carvalho1, Renato Rodriguez Cabral Ramos2, Rafaela Couto de Rezende1, Susan Paiva de Castro1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional – Departamento de Geologia & Paleontologia/Laboratório de Palinologia
1

Aplicada, RJ; 2Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional – Departamento de Geologia & Paleontologia/Setor de
Geologia Sedimentar e Ambiental, RJ

RESUMO and the depositional environments. Organic


matter is viewed as sedimentary components
Partículas orgânicas obtidas de um
that reflect original conditions in the source area
afloramento atribuído à Formação Whisky Bay na
and the depositional environments. The term
Ilha de James Ross, Antártica com a finalidade de
palynofacies was first introduced by Combaz
reconhecer e reconstruir a história paleoambiental
(1964) to describe the “total microscopic image of
da formação. A ocorrência desse material que foi
the organic components”.
submetido à análise de agrupamento permitiu
a identificação de três palinofácies e quatro In the austral summer of 2006/2007, the
intervalos. A distribuição estratigráfica das Museu Nacional/UFRJ was awarded a grant from
palinofácies indica mudanças no paleoambiente the Brazilian council (CNPq - Conselho Nacional
relacionadas a um progressivo aumento da de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
influência continental na área estudada. trough the program Brazilian Antarctic Program
(PROANTAR). After 37 days camping close
Palavras-chave: palinofácies, Formação
to the Bibby Point and the Czech Polar Station
WHISKY BAY, Antártica
in northern James Ross Island, Antarctica,
over 2,500 kg of fossils and rock samples were
ABSTRACT collected, mostly consisting of invertebrates and
In order to reconstruct the depositional plant material and only a few vertebrate fossils.
environments of the Whisky Bay Formation The interpretation of different
in the James Ross Island, Antarctica, kerogen paleoenvironments using palynofacies analysis
particles were analyzed on the basis of outcrop was the main objective of this study, based on the
samples. The occurrence of kerogen categories succession recovered from one outcrop located
that were submitted to cluster analyses, allowed along the Prince Gustav Channel shoreline. This
the recognition of three palynofacies and is the first time that such an approach has been
four intervals. These intervals reflect the applied in this area.
depositional history of the succession. The
stratigraphic distribution of palynofacies GEOLOGICAL SETTING
indicates paleoenvironmental changes related to
the progressive increase of land-derived materials The James Ross sub-basin was formed as
in the area. a back-arc basin relative to the magmatic-arc
Keywords: palynofacies, WHISKY BAY created during the subduction of the
FORMATION, Antarctica Protopacific plate beneath Southern Gondwana.
The continuous volcanic activity of this arc resulted
in the accretion of clastic and volcaniclastic marine
INTRODUCTION sediments, forming a 5 km thick succession from
Palynofacies analysis is an interdisciplinary Late Jurassic to Late Eocene in the James Ross
approach in that not only the palynomorphs in Island region (Pirrie et al., 1992; Crame et al.,
the palynological slides are investigated, but 2004). This constitutes one of the most complete
the entire organic content of the slides. The Jurassic-Paleogene stratigraphic successions in
particles are viewed as sedimentary components the southern hemisphere (Pirrie et al., 1997).
that reflect original conditions in the source area

337
The Whisky Bay Formation is an and pollen grains; Palynofacies 2: resin, cuticles,
extremely variable unit, exhibiting rapid lateral amorphized cuticles and Botryococcus; and
facies changes and a variation in total thickness Palynofacies 3: opaque lath and equidimensional,
from 720 to 950 m. It comprises clast-supported translucent biostructured and non-biostructured.
breccias andconglomerates and pebbly sandstones, Four intervals were revealed based on
interbedded with finer-grained sandstones and cluster analysis by Q-mode (I1 to I4) (Figure
silty mudstones (Riding & Crame, 2002). This 2). The combination of the R- and Q-mode
formation has been interpreted as slope apron and analyses (two-way) shows that the Palynofacies
submarine fan deposits. 2 is mainly included in intervals 1 and 4. The
Palynofacies 1 shows high percentages in Interval
2. In this palynofacies occurs with high content
MATERIAL AND METHODS
of palynomorphs, in particular with the marine
The outcrop studied belongs to Whisky palynomorph. The high percentages of the
Bay Formation and locally is formed by clast- Palynofacies 3 occur in Interval 3. The major
supported breccias, laminated to massive wackes break that occurred between intervals 3 and 4 is
and subordinate pelitic layers. The sedimentary strongly related to the relative abundance of the
succession crops out at the beach and has ca. 200 phytoclast group.
m.
The palynofacies analyses were carried
out on 56 samples. The scheme used to classify CONCLUSION
dispersed organic matter in transmitted-light The palynofacies analyses allowed
microscopy is derived and simplified from the recognizing a long-term regressive trend in
Tyson (1995) and Mendonça Filho et al. (2010). the intervals. The paleoenvironmental history is
In each sample 300 particles were strongly marked by the progressive increase of
counted using transmitted light microscopy and land-derived inputs into the marine area. The
transformed in percentages, which were analyzed data confirm that the changes were controlled
using the multivariate statistical techniques of by sea-level during the deposition of the Whisky
cluster analysis, in order to establish groupings and Bay Formation.
to recognize the relationship between the ones.
To identify the divisions of the studied succession
REFERENCES
Q-mode (cluster of samples) and R-mode (cluster
of kerogen groups) were performed on counts COMBAZ, A.1964. Les palynofacies. Revue de
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The sedimentary succession of is
PIRRIE, D.; CRAME, J.A.; LOMAS, S.A.
characterized by a high contents of phytoclasts
& RIDING, J.B. 1997. Late Cretaceous
(68,2%),following by palynomorphs with 17,1%
lithostratigraphy and palynology of the
and AOM with 14,7%. The cluster analysis
Admiralty Sound region, James Ross Basin,
based on R-mode revealed three palynofacies:
Palynofacies 1: AOM, spores, dinoflagellates

338
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James Ross Basin, Antarctica. Cretaceous
Research, 23:739-760.

Figure 1. Geological map of James Ross Island, Antarctica. The sampled point represented by black point (WB) (modificado
de Whitham et al., 2006).

339
Figure 2. Palynofacies distribution in the studied succession.

340
PLANT FOSSIL AND AN UPPER CRETACEOUS AGE TO THE VOLCANIC
DEPOSITS OF NELSON ISLAND, NORTHERN ANTARCTICA PENINSULA
Cristine Trevisan1 (cristrevisan@hotmail.com), Thièrs P. Wilberger1 (thiersw@gmail.com), Tânia L. Dutra1 (tdutra@gmail.com),
Roberto Iannuzzi2 (roberto.iannuzzi@ufrgs.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS; 2Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
1

RESUMO with primitive Nothofagus, conifers, ferns and


fungi. The pteridophytic remain is represented
Fósseis de plantas são registrados em
by sterile and probable fertile foliage that exhibits
camadas no norte da ilha Nelson, arquipélago
a morphology related with Coniopteris genus,
South Shetland. A associação provém de uma
a fern also common and restricted to Mesozoic
exposição próxima ao nível do mar correspondente
strata from many parts of the world. The dark
aos níveis basais do afloramento Rip Point e
tuffitic lithologies, with evidences of alteration
possui baixa diversidade, restringindo-se a troncos
and recrystallization, and comparisons with other
carbonizados, pólens e frondes de pteridófitas.
fossil assemblages from Antarctic Peninsula
A análise palinológica mostra uma típica flora
supports the Late Cretaceous age. Species of
Mesozóica para a Antártica, com Nothofagus
Coniopteris were typical from the end of Triassic
primitivos, coníferas, pteridófitas e fungos. Os
to Middle Jurassic ages. Its presence in the end of
restos pteridofíticos estão relacionados ao gênero
Cretaceous in Antarctic areas, similar to that they
Coniopteris Brongniart, pteridófita comum e
have in Arctic ones, suggests a refuge behaviour
restrita aos extratos Mesozoicos em diversas
in the highly moist and cold latitudes and insular
regiões do mundo. As litologias tufíticas possuem
environments, before its complete extinction.
evidências de alteração e recristalização, e as
comparações com outras associações fósseis da Keywords: fossil plant, Antarctic
Península Antártica, corrobora a idade Cretáceo Peninsula, Upper Cretaceous
Superior. Espécies de Coniopteris são típicas
entre o final do Triássico e Jurássico Médio. Sua INTRODUCTION
presença até o final do Cretáceo em áreas da
A new fossil plant occurrence is here
Antárica semelhantes as encontradas no Ártico
discussed to Nelson Island, one of the South
sugerem que Coniopteris tinha uma distribuição
Shetland Islands, in Antarctic Peninsula, and until
limitada a poucas áreas, se refugiando nas altas
unknown in its geological and paleontological
latitudes que ainda mantinham um clima muito
context. The paleofloristic remains are included
úmido e frio, especialmente nos ambientes
in a volcanic succession exposed at Rip Point, in
insulares, até sua completa extinção no fim deste
a near-sea area located in the northern part of
período.
Nelson Island (Figure). In terms of geography and
Palavras-chave: paleobotânica, Península chronology of the deposits, the island occupies
Antártica, Cretáceo Superior an intermediary position between the fore-arc
tectonic contexts of the Antarctic Peninsula
ABSTRACT region. The northern King George Island (KGI),
contains an Upper Cretaceous to Miocene
Fossil plants are reported from beds from
fossiliferous succession (Birkenmajer, 1980;
northern Nelson Island, South Shetland Islands.
Shen Yanbin, 1994), meanwhile the southern
The assemblage come from a near sea exposition
islands have a Middle Jurassic-Lower Cretaceous
and correspond to basal levels of the profile exposed
deposition (Smellie, 1981). Those data seems to
at Rip Point. The macrofossil assemblage shows to
confirm a renewal of the lithologies along the
be limited in diversity and restrict to charcoalified
Peninsula, from South to North like proposed by
woods and isolated pinnae. Yet the palynological
(Thompson, 1982).
analysis shows a typical Mesozoic Antarctic flora,

341
GEOLOGICAL ASPECTS others and have a parallel orientation to the beds
(10 to 12 mm long, 3.5 to 5 mm broad, length/
The rock beds exposed at Rip Point begins
width ratio nearly 3.1). The upper ones are more
at sea level with debris-flow breccias containing
simple and with elongated forms. The week
pieces of charcoalified fossil wood and rock
venation mislead with the sharp folders of the
fragments of distinct volcanic related origins. It
segments, but apparently consist of a central vein
is covered by a thin level of fine dark gray tuffs
that diverges from the main rachis, and bifurcate
that preserves the fern frond here discussed, its
one or two. Few ovoid structures were observed,
exclusive macrofloristic remain. A slightly thick
attached to two lateral lobe endings and probably
upward coarsening lapilli-tuff interval follows
corresponds to bad preserved sporangia.
those basal deposits and is separated from the
uppermost tuffitic and lava beds succession by an In the palynological analysis, the
unconformity. assemblage shows to be composed by many
fern, accompanied by nearly equal proportion of
diverse and primitive Nothofagus pollen grains,
MATERIAL AND METHODS rare conifers and fungi. The main components
The material herein discussed was were found in the Rip Point Fractisporonites
collected during the activities of Brazilian sp., Multicellaesporites sp., Cyathidites minor,
Antarctic Program using the support of Crulls Leiotriletes sp., Araucariacites australis,
Refuge (Brazil), nearly 1 km far from Rip Point. Nothofagidites brachyspinulosus, Nothofagidites
All specimens are housed at the Paleontological senectus, Nothofagidites endurus and Nothofagidites
Museum, section Antarctica, from the LaViGæa kaitangataensis.
(Laboratório de História da Vida e da Terra),
Graduate Program in Geology, UNISINOS, CONCLUSION
under the prefixes RIP 07. The material was
examined under an Olympus SZH-10 stereo The plant fossils from Rip Point,
microscope; the line drawings were made using an composed by primitive Nothofagus, rare conifers
attached camera lucida and photographed using a and fern fronds of Coniopteris supports an Upper
Canon digital camera. Cretaceous age for the succession and a humid and
temperate climate, similar to that found today in
Tasmania, New Zealand and Andean Patagonia,
RESULTS where grows similar biomes, like were suggested
The plant fossils refers to parts of sterile by Dutra & Batten (2000).
frond-like leaves (maximum measured length up The scarce record of life at the basal levels
to 12 cm and 8 cm wide) and to a probable fertile of Rip Point, restricted to few kinds of life (since
one, characterized by a tapering from base to apex, when the palynological elements are include),
two order segments, and a relatively straight main confirms its proximal recovering in relation to the
axis, a millimetre wide. The original and general volcanic vents, also supported by the petrographic
non-planar (angular) and asymmetric character analysis. Attest also the distorted picture of
of the pinnae insertion was maintained by the the original assemblage that was proposed by
taphonomic process. Alternated tertiary pinnae Gastaldo (1988), to the death in volcanic contexts.
exhibits variation in size (21 mm long and 15
mm wide, axis 0.5 mm wide), tapering strongly
REFERENCES
and highly reducing distally. Each catadromic
sphenopterid pinnules are also alternate and BIRKENMAJER, K. 1980. Tertiary volcanic-
closely inserted, with relatively constricted bases sedimentary succession at Admiralty Bay,
and obovate rounded apices, slight incurved King George Island (South Shetland Islands,
basiscopic margin and few dissected lobes. Antarctica). Studia Geologica Polonica, 64,
The basal pinnules are larger and with better 7-65.
developed lobes (normally seven) than all the

342
DUTRA, T.L. & BATTEN, D.J. 2000. In: SHEN, YANBIN (ed.) Stratigraphy
Upper Cretaceous floras of King George and Palaeontology of Fildes Peninsula, King
Island, West Antarctica, and their George Island, Antarctica. Monograph,
palaeoenvironmental and phytogeographic Beijing Science Press, China,1-36.
implications. Cretaceous Research, 21, 181-
209. SMELLIE, J.J. 1981. A complete arc-trench
system recognized in Gondwana sequences
GASTALDO, R.A. 1988. A conspectus of of the Antarctic Peninsula region. Geological
phytotaphonomy. In DIMICHELE, Magazine, 118, 139-159.
W.A. & WING, S.L. eds. Methods and
applications of plant paleoecology: notes THOMPSON, M.R.A. 1992. Stratigraphy and
for a short course. Paleontological Society Age of the Pre-Cenozoic Stratified Rocks
Special Publication, 3, 14-28. of the South Shetland islands: Review. In:
LOPEZ-MARTINEZ, ed. Geologia de
SHEN YANBIN. 1994. Subdivision and la Antártida Occidental (Simpósio T3, III
correlation of Cretaceous to Paleogene Congresso Geologico de España y VIII
volcano-sedimentary sequence from Fildes Congresso Latinoamericano de Geologia),
Peninsula, King George Island, Antarctica. 75-92.

Figure 1. Nelson Island and southern King George Island (Fildes Peninsula), South Shetland Islands, Antarctic Peninsula,
and the location of Rip Point.

343
PRIMEIRO REGISTRO DE LENHO FÓSSIL DE PODOCARPACEAE
NA BACIA DOS PARECIS, FORMAÇÃO UTIARITI
(CRETÁCEO SUPERIOR), RONDÔNIA, BRASIL
Rodrigo Villa Lelis Ribeiro1 (villabio@yahoo.com.br), Silvia Gnaedinger2 (scgnaed@hotmail.com),
Adriana Kloster3 (klosterdri@gmail.com), Sylvio de Almeida Oliveira4, Karen Adami Rodrigues5 (karen.adami@gmail.com)
1
FACIMED - Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal; 2Centro de Ecología Aplicada del Litoral-Área de Paleontología-Consejo
Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas. FACENA-UNNE; 3Centro de Ecología Aplicada del Litoral-Área de Paleontología-
Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CECOAL-CONICET); 4Ex-professor de Paleontologia e Geologia da
FACIMED - Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal, falecido no dia 18-10-2010; 5Universidade Federal de Pelotas UFPel.

RESUMO only for paleontological studies, but also for


understand the diversity and distribution patterns
Este trabalho apresenta o primeiro registro
of Cretaceous paleoflora of Brazil.
de uma lenho fóssil de conífera relacionado às
Podocarpáceas, proveniente da Bacia dos Parecis, Keywords: Paleobotany, fossil wood,
Formação Utiariti (Cretáceo Superior), Rondônia, Parecis Basin
Brasil. O material estudado foi coletado na região
entre os municípios de Vilhena e Colorado, INTRODUÇÃO
estado de Rondônia, nessa área da bacia estão
A bacia sedimentar dos Parecis é uma das
representadas as rochas do Grupo Parecis
maiores bacias intracratônicas do Brasil, possui
(formações Corumbiara, Rio Ávila e Utiariti)
aproximadamente 500.000 Km2 divididos entre
depositadas durante o mesozoico. Os caracteres
os estados do Mato-grosso e Rondônia (Pedreira
anatômicos observados permitem relacionar
e Bahia, 2004) e seu conteúdo paleontológico
este lenho a família das Podocarpáceas, mais
ainda é pouco conhecido. Nessa área da bacia
precisamente, ao morfogênero Podocarpoxylon
estão representadas as rochas do Grupo Parecis
Gothan. O conhecimento e entendimento da
(formações Corumbiara, Rio Ávila e Utiariti)
vegetação pretérita Amazônica são de fundamental
possuem uma espessura estimada de 280m e
importância não apenas para estudos de cunho
são constituídos pelos arenitos que sustentam
paleontológico, mas também para entendimento
os platôs da Chapada dos Parecis, depositadas
da diversidade e padrões de distribuição da
durante o mesozoico (Quadros e Rizzotto, 2007).
paleoflora Cretácea do Brasil.
Os primeiros registros paleobotânicos foram
Palavras-chave: Paleobotânica, madeira feitos por Oliveira (1915) quando participou
fóssil, Bacia dos Parecis da ”Expedição Cientifica Roosevelt-Rondon”
e relatou a ocorrência de lenhos fósseis no
ABSTRACT planalto dos Parecis, municípios de Campos
Novos e Ribeirão Guanandy, estado no Mato-
This paper presents the first record of a
grosso e publicou um trabalho em 1935. Apenas
Conifer wood related to Podocarpáceas from
recentemente esses lenhos fósseis voltaram a
the Parecis basin, Utiariti Formation (Upper
ser alvo de estudos por Rizzotto (2010) e Villa
Cretaceous), Rondônia, Brazil. The material
(2010) identificando os espécimes coletados
studied comes from the region between Colorado
como Coníferas, sem uma descrição anatômica
and Vilhena, Rondônia state, the area of the
detalhada e identificação taxonômica. Portanto,
basin is represented in the group seemed to rock
esse trabalho tem como objetivo registrar
(formations Corumbiara, Avila River and Utiariti)
a ocorrência de lenhos fósseis associadas às
deposited during the Mesozoic. The anatomical
Podocarpáceas para o Cretáceo Superior da
features observed allow us to relate this wood
formação Utiariti, estado de Rondônia.
with the Podocarpaceae family, more precisely,
the morfogenus Podocarpoxylon Gothan. More
knowledge and understanding of the past Amazon
vegetation are of fundamental importance not

344
MATERIAIS E MÉTODOS pontuações. O sistema radial é homogêneo, com
raios homocelulares, unisseriados e baixos 1-6, 8
O presente estudo foi realizado na Bacia
células, com uma média de três células de altura;
sedimentar dos Parecis em sua porção noroeste
Parênquima axial abundante, na maioria em pares
pertencente ao estado de Rondônia entre os
(Figura 2).
municípios de Vilhena e Colorado do Oeste
(Figura 1). A formação Utiariti é composta A presença de caracteres anatômicos
de arenitos e folhelhos ou arenito argiloso, na mencionados acima indica que esse lenho
seqüência intermediária o arenito têm diversos pode estar relacionado aos membros atuais da
canais preenchidos por conglomerados com família Podocarpaceae. No registro fóssil, os
mais de sete metros de largura e um metro de morfogêneros com estrutura secundária tipo
profundidade, existem também lentes de argilito abietinóide relacionados às Podocarpáceas são:
e no topo da coluna estratigráfica argilito, arenito Podocarpoxylon Gothan,Phyllocladoxylon Gothan,
argiloso e arenito com estratificação cruzada de Circoporoxylon Kraüsel e Metapodocarpoxylon
grande porte (Bahia et al., 2006). Padilha et al. (Edwards) Laudoueneix e Pons. A diferença
(1974) interpreta o ambiente deposicional como principal entre estes morfogêneros é o tipo de
sendo fluvial-lacustrino. Os fósseis estudados pontuação nos campos de cruzamento (Bamford
consistem em lenhos permineralizados coletados e Philippe, 2001, Gnaedinger, 2007). Por tais
nos conglomerados da formação Utiariti, motivos o exemplar analisado é relacionado à
encontrado na Fazenda Nossa Senhora de Lourdes Podocarpoxylon por que possui pontuações do
próximo ao município de Colorado do Oeste, nas tipo podocarpóide (cupressóide) nos campos
coordenadas 13°01’23.7’’ S e 60°30’09.2’’ W. de cruzamento. De acordo com a comparação
realizada com as 24 espécies de Podocarpoxylon
Os cortes foram feitos obedecendo aos
descritas para Gondwana (Gnaedinger 2007,
três planos anatômicos: transversal, longitudinal
Tabela 1), o espécime analisado é relacionado
e radial, utilizando serra de disco diamantado.
estritamente a P. trichinopoliense (Varma) Bose e
O estudo anatômico foi realizado com o
Maheshwari do Cretáceo da Índia.
auxílio de microscópio óptico Bioval L2000C e
fotografados com câmera digital Sony Cybershot
DSC-W70 7.2 megapixels. As descrições macro CONCLUSÕES
e microscópicas dos exemplares seguem as Tais registros aumentam o número de
recomendações da Associação Internacional de informações referentes às gimnospermas fósseis
Anatomistas de Madeira IAWA,(Richter et al., no Brasil, mais especificamente para Bacia dos
2004)e (Greguss, 1955) glossary of terms. Parecis. Com esta contribuição se descreve pela
primeira vez um lenho secundário relacionado
RESULTADOS às Podocarpáceas para o Neocretáceo da
formação Utiariti, estado de Rondônia, Brasil.
Se descreve um fragmento de lenho
O conhecimento e entendimento da vegetação
permineralizado medindo 40 cm de comprimento,
pretérita Amazônica são de fundamental
25 cm de diâmetro maior, 24 cm de diâmetro
importância não apenas para estudos de cunho
menor e 31 cm de circunferência, representando
paleontológico, mas também para entendimento
uma secção cilíndrica do tronco em bom estado
da diversidade e padrões de distribuição da
de conservação onde se podem visualizar
paleoflora do Cretáceo do Brasil.
os pontos de inserção dos galhos e anéis de
crescimento. Em corte transversal, se observa
que os traqueídes possuem contorno circular REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a poligonal. Em corte longitudinal radial, as
BAHIA, R.B.C.; MARTINS-NETO, M.A.;
paredes dos traqueídes apresentam pontuações
BARBOSA, M.S.C. & PEDREIRA, A.J.
areoladas circulares unisseriadas, abietinóides, tipo
2006. Revisão estratigráfica da Bacia dos
adjacentes e espaçadas. Campos de cruzamento
Parecis – Amazônia. Revista Brasileira de
do tipo cupressóide (=podocarpóide), com 1-2
Geociências, v. 36, n. 4, p. 692-703.

345
BAMFORD, M. & PHILIPPE, M. 2001. RIZZOTTO, G.J. 2010. Revisão litoestratigráfica
Jurassic-Early Cretaceous Gondwanan e os lenhos fósseis da formação Utiariti
homoxylous woods: a nomenclatural revision (Grupo Parecis) – RO. 45° CONGRESSO
of the genera with taxonomic notes. Review of BRASILEIRO DE GEOLOGIA. Belém –
Palaeobotany and Palynology 113, 287-297. PA, 2010. Resumos, p. 355.

GNAEDINGER, S. 2007. Podocarpaceae woods VILLA, L.R.R. 2010. Ocorrências de madeiras


(Coniferales) from middle Jurassic La Matilde fósseis na bacia dos parecis, Formação Utiariti
formation, Santa Cruz province, Argentina (Cretáceo Superior), Rondônia, Brasil.
Review of Palaeobotany and Palynology 147, Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal
77-93. – FACIMED. Artigo de conclusão do curso
em Bacharelado e Licenciatura de Ciências
GREGUSS, P. 1955. Identification of living Biológicas. 12 p.
gymnosperms on the basis of xylotomy.
Akadémiai Kiado 508 pp.

OLIVEIRA, E.P. 1915. Reconhecimento geológico


do noroeste de Mato Grosso. Expedição
Científica Roosevelt-Rondon. Comissão
Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato
Grosso ao Amazonas, Rio de Janeiro, v. 50,
p.1-82.

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Centro-Oeste de Mato Grosso. Relatório Final.
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BAHIA, R.B.C. Estratigrafia e Evolução da
Bacia dos Parecis-Região Amazônica, Brasil:
integração e síntese de dados dos Projetos Alto
Guaporé, Serra Azul, Serra do Roncador,
Centro-Oeste de Mato Grosso e Sudeste
de Rondônia. Brasília: CPRM. Serviço
Geológico do Brasil/ DEPAT/DIEDIG,
2004. 39p.

QUADROS, M.L.E.S. & RIZZOTTO, G.J.


2007. Geologia e recursos minerais do Estado de
Rondônia: Sistema de Informações Geográficas
– SIG: Texto Explicativo do Mapa Geológico e
de Recursos Minerais do Estado de Rondônia -
Porto Velho: CPRM, 153p.

RICHTER, H.G.; GROSSER, D.; HEINZ,


I. & GASSON, P.E. (eds.). 2004. List of
microscopic features for softwood identification.
International Association of Wood
Anatomists Bulletin. IAWA J. vol. 25 (1), pp.
1–70.

346
Figura 1. Localização da Bacia Sedimentar dos Parecis (Tomado de Bahia et al., 2006).

Figura 2. A. fragmento de lenho permineralizado com pontos de inserção dos galhos (seta) B. anéis de crescimento em
seção transversal; C. traqueídes em seção transversal; D. pontuações podocarpóides em campos de cruzamentos. E-G.
pontuações nas paredes radiais dos traqueídes; H. raios e parênquima axial (seta). Escala. A= 15 cm; B= 5 cm; C= 120
μm; D-H= 40 μm.

347
REGISTRO DE INTERAÇÃO INSETO-PLANTA (GALHAS E MINAS) EM NÍVEIS
DO MESOZOICO BASAL DA FORMAÇÃO CATURRITA, SUL DO BRASIL
Karen Adami Rodrigues1 (gerarus@hotmail.com), Ronaldo Barboni2 (ronaldobarboni@hotmail.com),
Tânia Lindner Dutra2, Thiérs P. Wilberger2
Curso de Engenharia de Petróleo e Engenharia Geológica, UFPel - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil;
1

Programa de Pós-Graduação em Geologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil
2

RESUMO minings and galls, the last aligned between the


oldest known. Three main types of interactions
A pesquisa realizada nos últimos anos nas
were found, circular gall due to ovipositors,
sucessões que caracterizam o extremo sul da Bacia
serpentinoid mining due to probable nepticulid
do Paraná tem atestado a riqueza em fósseis dos
insects, and circular minings of a yet unknown
níveis atribuídos a Formação Caturrita, comparável
producer. The presence of galls in those alleged
a outras importantes ocorrências mundiais para o
Triassic sediments is noteworthy, by giving support
Mesozoico basal, e reunindo restos de vertebrados,
to a possible more young age to the levels and to
invertebrados (inclusive asas de insetos) e plantas.
probable xeric seasonal conditions of climate in
Neste trabalho é pela primeira vez registrada a
those Gondwana areas that today corresponds to
presença de interações planta-inseto, em folhas
southernmost Brazil, in the latest Triassic or Early
de gimnospermas, na forma de minações e galhas,
Jurassic.
as últimas entre as mais antigas reconhecidas.
As interações são de três tipos principais: Keywords: Plant-insect interactions,
galhas circulares, ligadas à oviposição, minas Upper Triassic-Jurassic?, Caturrita Formation,
serpentinóides provavelmente atribuídas a insetos Brazil
Nepticulidae, e minas circulares produzidas por
uma forma ainda não determinada. A presença INTRODUCTION
destas interações em níveis atribuídos ao Triássico
The plant-insect interactions, for the
é de especial importância por suas implicações
first time registered to the Caturrita Formation
temporais e por apoiar as condições de climas
oryctocoenose, was detected over leaf impressions
secos sazonais, igualmente sugeridas pelas feições
related with typical Mesozoic gymnosperms,
deposicionais e o conteúdo paleobotânico, para a
and are represented by leaf minings and galls,
região que hoje corresponde ao sul do Brasil, entre
the last not common in strata from the begging
o final do Triássico e/ou Jurássico.
of this period (Chaloner et al., 1991), yet been
Palavras-chave: Interação inseto- previously found in Molteno Formation from
planta, Triássico Superior-Jurássico?, Formação South Africa (Scott et al., 2004) and in some
Caturrita, Brasil levels of latest Paleozoic (Labandeira & Phillips,
1996; Labandeira, 2006; Stone et al., 2008). Galls
ABSTRACT and mines are evidences that the leaf provided
shelter and food for insect eggs and larvae
The research made during the last years in
(Currano, 2010). The galls are mainly related to
the sedimentary successions that characterize the
the necessity of create a protected environment
southern expositions (state of Rio Grande do Sul)
against pathogens, predators and parasites, or to
of Paraná Basin been attested the paleontological
food supplement (Labandeira et al., 2007). To
richness of the Caturrita Formation, joining
Nieves –Aldrey (1998), nearly 98% of galls are
vertebrates, invertebrates, including insect wings,
today associated to angiosperms and provided by
and plant remains, comparable to other worldwide
distinct insects groups (Tysanoptera, Hemiptera,
important Lower Mesozoic expositions. In
Heteroptera, Coleoptera, Lepidoptera,
this work is for the first time registered insect
Diptera and Hymenoptera). In Triassic and
interaction over gymnosperms leaf remains
Jurassic the insect fauna are also diversified
preserved at this unit. They are represented by leaf

348
and well documented in Gondwanaland, with that generates low sinuous and ephemeral river
Auchenorrhyncha, Blattodea, Coleoptera, Diptera, system, associated with alluvial plains or lakes
Ephemeroptera, Heteroptera, Hymenoptera, during an extensional phase. The plant fossils with
and Neuropterida (Mostovski & Jarzembowski, preserved insect interactions were identified in a
2000; Schlüter, 2003). In those galls preserved restricted laminated mudstone-siltstone interval
over leaf impressions, however, the diagnostic (Figure 1), inserted in a dominant massive sandy
morphologies of the real insect productor are of deposition (crevasse splay deposits) from Caturrita
difficult establishment. Also to Nieves-Aldrey Formation. Also contains invertebrates (wings
(1998) gall producers are globally abundant in of yet undescribed Blattoptera and Gryllidae,
association with sclerophyllous plants, and in and Conchostracea) and fish scales (Barboni &
habitats subjected to water and nutritional stress, Dutra, 2011). The deposition attests a tectonic
independent of latitude, attesting a preference by calmer phase, and the establishment of a more
xeric areas, where the insect mortality decreases, permanent lake, propitiating vegetation grow and
due to the absence of parasites. reflect a minor interval (seasonal) of humidity, in
Leaf mining, for otherwise, is the form a regional dry climate, informed by depositional
how insects obtain food from the internal features and mains plant groups preserved
tissues of plants (endophytic) and were also, (conifers and bennettites). From associated sandy
or simultaneously, used like a refuge during deposits came the vertebrate fauna that led the
life against predators and dryness (Connor & establishment of Mammaliamorpha Association
Taverner, 1997). They becomes common in Zone, considered Early to Late Norian-Rhaetian
the fossil record in Triassic (Labandeira et al., in age (Schultz et al., 2000; Langer et al., 2010;
2005; Labandeira, 2006), and normally allow Soares et al., 2011).
the identification of the responsible insect until
the generic level. One of the two main patterns
RESULTS
of minings are here detected, the sinuous marks
in the plant tissue (serpentine leaf-mine), The samples exhibiting evidences of
without uniform chambers, generally due to plant-insect interactions (deposited at the
the Nepticulidae, a basal family of Lepidoptera Paleontological Museum of UNISINOS, under
(Labandeira et al., 2005). But the main basal the acronym UMVT), seems to be diversified.
lineages of leaf mining insects (mining caterpillar) Those referring to galls and mining are here
only establishes with the angiosperm radiation preliminarily presented and show two kinds of
in the Middle Cretaceous, and most of them insect activity, testimony mainly in gymnosperm
persisting until today associated to basal flowering leaves linked to primitive Mesozoic groups of
plants (Labandeira, 2006). To South America leaf uncertain affinity. They are of three types: i)
mining and other plant-insect interactions was galls, showing circular form and located between
found since the Triassic, in Chile and Argentina the main parallel venation, where produces a
(Martins-Neto et al., 2003; Adami-Rodrigues et tissue hypertrophy, probably due to egg postures
al., 2008; Gnaedinger et al., 2008). (Labandeira et al., 2007; McLoughlin, 2011). Is
characterized by roughened surfaces and irregular
contour, with a external ridge and a central cavity
STUDIED AREA AND (total diameter of 1,5 mm) been classified like a
GEOLOGICAL CONTEXT covering type or endophytic deposition (Figure
First considered a basal member of the 2); ii) serpentinoid mining, showing a sinuous
Botucatu Formation, the Caturrita Formation was tunnel with distinct expansions of internal cavities
established as an independent unit by Andreis et (Figure 3). The foliar hypertrophy in the mining
al. (1980) and Faccini (1989), which also point to area corresponds to 30% of the leaf fragment
a Norian-Rhaetian age to the deposits. To Zerfass preserved and its sinuosity and the proportion
et al. (2004) corresponds to a transgressive tract of leaf affected indicates the action of nepticulid
system in a tectonic and structural disturbed area insects; iii) circular mining, cameral, 2,5 mm of
diameter (Figure 4). The irregular border and

349
sizes, and the marginal disposition parallel to the BARBONI, R. & DUTRA, T.L. 2011.
leaf margin, confirm this type (Labandeira et al., Williamsonia potyporanae and
2007). Pterophyllum?, new bennettites in the latest
Upper Triassic-Early Jurassic? deposits from
South Brazil. Ameghiniana (submitted).
CONCLUSION
The presence of diversified plants CHALONER, W.G.; SCOTT, A.C. &
remains, interactions and insect wings, in an STEPHENSON, J. 1991. Fossil evidence for
exclusive mud interval from the sandy deposition plant-arthropod interactions in the Paleozoic
of Caturrita Formation, suggest a floodplain area and Mesozoic. Philosophical Transactions:
and a more permanent body water. The absence Biological Sciences, 333:177-186
of a preferencial orientation in the leaf fragments
and its diversity and delicate character, indicates CONNOR, E.F. & TAVERNER, M.P. 1997. The
also an authochthounous or parautochthonous evolution and adaptative significance of leaf-
depositional condition, in calm waters, only mining habit. Oikos 79: 6-25.
occasionally disturbed. The record of galls in
levels so ancient than the Triassic is noteworthy, CURRANO, E.D. 2010. Green food through
taking in account its production by basal groups time. Palaios, 25(9):547-549
of insects, the Nepticulidae, and the information
FACCINI, U. 1989. O Permo-Triássico do Rio
about caterpillar action million years before was
Grande do Sul: uma análise sob o ponto
accepted and also before the appearing of the well
de vista das seqüências deposicionais.
established Lepidoptera and basal angiosperms.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
The alternative to this is that, like informed by the
Curso de Pós-Graduação em Geociencias,
floral content, the levels of Caturrita Formation
Porto Alegre. Dissertação de Mestrado, 121
could be younger than until now proposed. Taking
pp.
in account the ecological appeals suggested by the
plant-insect interactions, mainly those referring GNAEDINGER, S.; ADAMI – RODRIGUES,
to galls, is also possible to suggests a general dry K. & GALLEGO, O.F. 2008. Insect
climate to South Brazil in the end of Triassic egg ovipositions on leaves from the
or basal Jurassic, with episodic events of intense Upper Triassic from northern Chile. In:
rain fall, also in agree with the information SIMPÓSIO DE PALEOBOTÂNICOS E
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351
Figure 1. Section of São Luiz outcrop at Faxinal do Soturno county, state of Rio Grande do Sul, detaching the mud interval
with plant fossils (modified from Barboni & Dutra, 2011). Black arrows indicate levels with evidences of plant-insect
interaction.

352
Figure 2. Linear leaf (1 cm of width, 20 parallel veins), related to the morphogenus Desmiophyllum (Coniferales incertae
sedis), showing a covering type gall (McLoughlin, 2011), due to endophytic deposition of eggs. Scale bar: 5 mm.

Figure 3. A serpentinoid mining over a leaf blade of an undetermined gymnosperm. Scale bar: 10 mm.

353
Figure 4. Circular mining preserved over a leaf of Pelourdea (Gymnospermopsida insertae sedis), a common Triassic –
Jurassic morphogenus. Scale bar: 10 mm.

354
REGISTRO DE LICÓFITA ARBORESCENTE DOS SISTEMAS
FORMADORES DE CARVÃO DO PERMIANO INFERIOR DO
ESTADO DE SANTA CATARINA (BACIA DO PARANÁ, BRASIL)
Joseline Manfroi1 (joselinemanfroi@universo.univates.br), André Jasper2 (ajasper@univates.br), Mariela Inês Secchi2
(maries@universo.univates.br), Margot Guerra Sommer3 (margot.sommer@ufrgs.br), Dieter Uhl4 (dieter.uhl@senckenberg.de)
1
Setor de Botânica e Paleobotânica do Museu de Ciências Naturais do Centro Universitário Univates; 2Programa de Pós-Graduação
em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD/UNIVATES); 3Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
4
Senckenberg Forschungsinstitut und Naturmuseum Frankfurt

RESUMO Lower Permian coal-seams. In this paper, caulinar


fragments of arborescent lycophytes (preserved as
A representatividade do grupo das
fossil casts), coming from a clastic level which
licófitas na flora atual está restrita a poucas
overlies the coal level of the Bonito I mine in the
formas herbáceas. Este grupo, todavia, possui um
Santa Catarina coalfield (Santa Catarina state,
vasto registro fóssil, constituído por elementos
Brazil) are analyzed. The material was identified
herbáceos e arborescentes que ocorrem,
as Brasilodendron pedroanum, a taxon already
principalmente, nas associações paleoflorísticas
known from a number of outcrops in the coal
do Paleozoico Superior. As formas arborescentes
bearing interval of the Paraná Basin (Sakmarian/
deste grupo constituíram-se em importantes
Artinskian). The present study supports the
elementos geradores da biomassa de carvões
interpretation that this group was an important
do Pensilvaniano do Hemisfério Norte e do
paleofloristic component of the coastal peat
Permiano do Hemisfério Sul. No presente
forming swamps during the Lower Permian in
trabalho, são descritos fragmentos caulinares de
the Paraná Basin.
licófitas arborescentes (moldes e contra-moldes)
provenientes de nível clástico suprajacente à Keywords: Paraná Basin, Permian,
camada de carvão da mina Bonito I (Lauro arborescent lycophytes, Brasilodendron
Müller/SC) aflorante nas imediações da Mina.
O material foi identificado como pertencente a INTRODUCTION
Brasilodendron pedroanum, espécie já registrada em
According to Gensel & Berry (2001),
diferentes afloramentos no intervalo de deposição
lycophytes are vascular cryptogamic plants
de carvão da Bacia do Paraná (Sakmariano/
characterized by mono or dichotomical branching,
Artinskiano). Fica confirmado, dessa forma,
densely covered by helically arranged microphylls
que este grupo foi componente relevante das
which are vascularized by a vein without
associações paleoflorísticas relacionadas a turfeiras
interruption from the caulinar stele. The group
desenvolvidas em ambientes costeiros durante o
originated during the Silurian (Kotyk et al., 2002),
Permiano Inferior na Bacia do Paraná.
reaching its climax in Euramerica during the
Palavras-chave: Bacia do Paraná, Carboníferous. Today lycophytes are represented
Permiano inferior, licófitas arborescentes by three families (Lycopodiaceae, Selaginellaceae
and Isoetaceae), four genera (Selaginella,
ABSTRACT Lycopodium, Phylloglossum and Isoetes) and about
1,250 species, all herbaceous and belonging to
In the modern flora, lycophytes are
the order Lycopodiales ( Judd et al., 2002). They
restricted to a few herbaceous forms. The fossil
have a large geographical distribution and can be
record of this group is significantly larger, with
found on almost all continents (Wagner & Beitel,
numerous herbaceous, but also arborescent
1992; Ollgaard, 1992).
representatives, the latter mostly originating
from Late Palaeozoic deposits. These arborescent Despite their relatively low diversity in the
forms were important contributors to the biomass modern flora, the lycophytes have a large fossil
which was the base for the Northern Hemisphere record, with a peak diversity of arborescent forms
Pennsylvanian and the Southern Hemisphere during the Permo-Carboniferous interval (Taylor

355
et al., 2009). However, at the Permian/Triassic stems is slightly decorticated, but the leaf cushions
boundary the diversity of arborescent forms are well preserved. The stems are between 42.0
declined strongly and only a few larger forms like to 147.0 mm long, 21.0 to 130.0 mm wide and
Pleuromeia and Nathorstiana occurred during the 8.0 to 138.0 mm thick. The leaf cushions are
Mesozoic (e.g. Taylor et al., 2009). helically arranged (lepidodendroid phyllotaxis)
and no ligule or parichnos or vascular-bundle scar
In the Permian of the Paraná Basin,
could be observed. The leaf cushions are fusiform,
herbaceous [e.g. Lycopodites (Salvi et al., 2008)], without extensions at the top or at the bottom,
arbustive [e.g. Lycopodiopsis (Renault, 1890)] and are between 56.4 to 86.6 mm high and 40.9
and arborescent [e.g. Brasilodendron (Chaloner et to 67.0 mm wide at the middle portion (Fig. 2A).
al. (1979)] forms have been described. Guerra- Poorly preserved rhombic leaf scars, with 1.0 to
Sommer et al. (1995), based on lycophyte 2.0 mm in length and 2.0 to 3.0 mm in width, are
impression-compressions and palynological data, present above the midpoint of some leaf cushions
suggested that the group could be an excellent (Fig. 2B). The presence of leaf petioles in organic
indicator for the paleoclimatic evolution of connection with the leaf cushions or evidence of
Gondwana. leaf abscission were not observed in any specimen.
With the intent to increase the knowledge Despite the absence of anatomical
about the arborescent lycophytes of the Paraná features, taxonomical affinities can be established
Basin, in this study material provides from an with other arborescent lycophytes morphogenera
from Gondwana which had been described based
outcropping light gray silty layer, which overlies
on morphological characteristics by authors like
the Bonito coal seam at the Bonito I mine [Lauro Renault (1890), Meyen (1978), Archangelsky et
Müller municipality, Santa Catarina State, Brazil al. (1981), Chaloner (1979) and Pant & Srivastava
(Fig. 1)] is analyzed and the taxonomic affinities (1995). According to Taylor et al. (2009), the
are established. lepidodendroid phyllotaxis and the absence
of a ligule, parichnos or vascular-bundle scars,
is common to all the genera from Gondwana
MATERIAL AND METHODS (Pseudobumbudendron, Bumbudendron and
A total amount of 15 fragments Basilodendron). Because of this fact the authors also
(impression-compressions) of stems belonging include this group of taxa into Lycopodiales and
to arborescent lycophytes were collected at the not into Lepidodendrales as the other arborescent
Bonito I mine and subsequently catalogued in the lycophytes from the northern hemisphere.
collection of the Setor de Botânica e Paleobotânica Considering these characteristics, the
do Museu de Ciências Naturais da UNIVATES, lycophytes here studied can be related to the
under the acronym PbU. genus Brasilodendron (Chaloner et al., 1979). So
The morphology of the samples was far only a single species Brasilodendron pedroanum
investigated using a Leica MS 5 stereomicroscope. Chaloner et al. (1979) has been assigned to this
Morphological details were photographed using genus. As there are no distinctive characteristics
this equipment and a camera lucida. Measurements visible in our material that would necessitate the
were taken using a standard ruler for the larger erection of a new species, we can formally classify
dimensions (e.g. size of complete fragments) and a our material as Brasilodendron pedroanum.
6”/ 150mm Stainless Hardened Electronic Digital
Caliper, for smaller details (e.g. leaf cushions).
Taxonomical affinities were established using CONCLUSION
Thomas & Meyen (1984) identification key and Based on the analyzed data is possible to
Taylor et al. (2009) evolutionary position. conclude that:
• the studied samples belong to
RESULTS AND DISCUSSION Brasilodendron pedroanum;

The material is composed of caulinar • the importance of this specie is


impression-compressions belonging to confirmed for the Permian coal
arborescent lycophytes which were submitted to forming environments of the Paraná
a tridimensional fossilization. The surface of the Basin.

356
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Figure 1. Simplified geological map of the Paraná Basin in Brazil with major tectonic elements and geographic positions
of the studied localities with indication of the Santa Catarina Coal Basin (modified from Jasper et al., 2011).

Figure 2. Surface of a studied caulinar impression-compression (PbU 766): A) detail of the leaf cushions lepidodendroid
phyllotaxis (scale bar corresponding to 15.0 mm); B) detail of the leaf cushions with leaf scars (arrow) (scale bar
corresponding to 7.0 mm).

358
REGISTRO DE PALEOINCÊNDIOS VEGETACIONAIS NO AFLORAMENTO
MORRO DO PAPALÉO, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Joseline Manfroi1 (joselinemanfroi@universo.univates.br), André Jasper2
(ajasper@univates.br), Mariela Inês Secchi2 (maries@universo.univates.br), Dieter Uhl3 (dieter.uhl@senckenberg.de),
Abdalla M.B. Abu Hamad4 (m.alabdallah@ju.edu.jo)
1
Setor de Botânica e Paleobotânica do Museu de Ciências Naturais do Centro Universitário Univates; 2Programa de Pós-Graduação
em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD/UNIVATES); 3Senckenberg Forschungsinstitut und Naturmuseum Frankfurt, Frankfurt
am Main, Alemanha; 4 The University of Jordan, Amman, Jordan

RESUMO registers could be considered rare for the South


Hemisphere. So, the studies for different
No presente trabalho apresenta-se
localities are really important to recognize that
análise anatômica de fragmentos de charcoal
paleowildfires occurred more frequently as
macorcópico fóssil provenientes do Afloramento
considered before in the Upper Paleozoic of the
Morro do Papaléo, Paleozoico Superior do Rio
Western Gondwana.
Grande do Sul, Brasil. O material encontrado
possui afinidade gimnospérmica, o que coincide Keywords: Macroscopic fossil charcoal,
com a composição das paleofloras preservadas em Upper Paleozoic, Paleowildfires
níveis correlatos. A análise foi realizada nos níveis
associados à Formação Rio Bonito no afloramento INTRODUÇÃO
e confirmam a ocorrência de paleoincêndios
A ocorrência de incêndios vegetacionais
vegetacionais nos ecossistemas responsáveis pela
durante o Paleozoico Superior da Bacia do Paraná
deposição das camadas de carvão observadas no
já foi comprovada por Jasper et al. (2007, 2008);
local. Existem diversos estudos sobre o tema para
Uhl et al. (2008). Todavia, a concepção geral é de
o Permiano do Hemisfério Norte, porém registros
que este tipo de evento, confirmado pela ocorrência
de charcoal macroscópico fóssil no Hemisfério
de “fragmentos carbonizados de material vegetal”
Sul eram relativamente raros, o que torna os
ou seja, charcoal macroscópico fóssil (Scott , 2000;
estudos de diferentes localidades de fundamental
Jones & Chaloner, 1991; Scott & Glasspool,
importância para o reconhecimento da ocorrência
2007), e sua manifestação no Gondwana durante
de incêndios vegetacionais de modo mais
o Paleozoico Superior, é considerada rara. Sendo
frequente do que se supunha durante o Paleozoico
assim a presença de charcoal macroscópico fóssil
Superior no Gondwana Ocidental.
em sedimentos específicos da Bacia do Paraná,
Palavras-chave: Charcoal macroscópico principalmente em depósitos permianos, deve ser
fóssil, Paleozoico Superior, incêndios vegetacionais considerada uma evidência importante e que, até
o momento, vinha sendo negligenciada ( Jasper et
ABSTRACT al., 2007; 2008). Desta forma, o presente trabalho
visa avaliar a ocorrência de charcoal macroscópico
Anatomical characteristics of macroscopic
fóssil no Afloramento Morro do Papaléo, pacote de
fossil charcoal remains coming from the Morro do
sedimentos permianos localizado no Rio Grande
Papaléo Outcrop (Upper Paleozoic of Rio Grande
do Sul, com vistas a auxiliar a solucionar a lacuna
do Sul, Brazil) are presented. The materials have
de informações sobre incêndios vegetacionais no
gymnospermic affinities, coinciding whit the
Gondwana durante esse período.
paleobotanical material preserved in correlated
levels. The study was made at the levels correlated
to the Rio Bonito Formation at the Outcrop MÉTODO
and confirms the occurrence of paleowildfires Os charcoal macroscópicos fósseis
in the ecosystems responsible for the coal levels estudados no presente trabalho foram coletados
deposition on the area. There are several studies em nível fitofossilífero do afloramento Morro do
about paleowildfires for the North Hemisphere Papaléo, Bacia do Paraná, Formação Rio Bonito,
Permian, however the macroscopic fossil charcoal localizado no município de Mariana Pimentel, Rio

359
Grande do Sul. As amostras foram processadas fitoclastos à manifestação de paleoincêndios nas
no Setor de Botânica e Paleobotânica do Museu áreas de entorno ou no próprio local de deposição.
de Ciências Naturais da UNIVATES, sendo que Em ambientes atuais similares, os
os fragmentos com características definitivas de incêndios apenas ocorrem se há uma estação
charcoal macroscópico fóssil foram analisados seca que dure, no mínimo, dois meses, secando
sob Microscópio Eletrônico de Varredura o combustível ali depositado (Beckage & Platt,
(MEV) JEOL JSM 6490 LV, no Senckenberg 2003). Porém ambientes pantanosos não são os
Forschungsinstitut und Naturmuseum em mais propícios para a manifestação de eventos
Frankfurt, Alemanha. de incêndios vegetacionais. Apesar da presença
de uma grande quantidade de combustível nessas
áreas, o ambiente anóxico impediria que o fogo
RESULTADOS E DISCUSSÃO
se alastrasse (Flannigan et al., 2009). Com base
O material identificado como charcoal nisto, é possível inferir que, durante a deposição
macroscópico fóssil foi baseado nas seguintes da camada N6 em específico, as condições
características, coloração preto-listrada levemente climáticas foram secas o suficiente para que
lustrosa e sedosa, com boa preservação de detalhes o fogo se espalhasse apartir de um ponto de
anatômicos, definadas por Jones & Chaloner ignição (relâmpagos, por exemplo). A presença
(1991); Scott (1989, 2000). de charcoal macroscópico fóssil relacionado
Com base no grau de desgaste, a origem a formas gimnospérmicas e o domínio deste
dos fragmentos foi considerada autóctone/ grupo nas associações fitofossilíferas descritas
parautóctone. A análise em Microscópio anteriormente, pode ser interpretada como um
Eletrônico de Varredura demonstrou que os indicativo de que o paleoincêncidos vegetacionais
charcoal macroscópicos fósseis em estudo atingiram a vegetação arborescente da área.
apresentavam estruturas celulares bem preservadas. Apesar da degradação dos tecidos ser clara nas
Além disso, utilizando como base a pontuação amostras, o que se deve ao processo diagenético,
dupla e a presença de feixes de vaso simples, foi a baixa fragmentação apresentada pelos charcoal
possível inferir que eles provêm de lenhos com macroscópicos fósseis indica que os mesmos não
afinidade gimnospérmica (Fig.1 e Fig.2). Esta foram transportados por uma longa distância.
caracterização taxonômica permite associar os Assim, uma deposição autóctone/parautóctone
fragmentos a composição paleoflorística registrada pode ser aceita.
no nível fitofossilífero em que foram encontrados, Outro aspecto fundamental é o grau de
o que permite dizer que esta vegetação estava fusão (homogeneização) observado nas paredes
sujeita a incêndios vegetacionais periódicos. celulares. Com base em análises experimentais,
Nas reconstituições paleoecológicas já o mesmo indica uma temperatura de queima
realizadas para o afloramento em questão é variando entre 340°C e 600°C, o que coaduna
proposto um ambiente lêntico com influência com as temperaturas produzidas por um incêndio
marinha para a deposição da seção aflorante de topo, ou seja, que atinge, inclusive, a porção
associada ao Itararé, e um ambiente lacustre superior da vegetação ( Jones & Chaloner, 1991).
pantanoso para a porção da Formação Rio Bonito Por fim, o presente estudo, demonstra que os
(Pasqualinni, et al. (1986); Guerra-Sommer registros de charcoal macroscópico fóssil como
& Cazzulo – Klepzig, (2000); Smaniotto et indicativos de incêndios vegetacionais na Bacia do
al. (2006); Iannuzzi et al. (2006)). Além disso, Paraná é mais comum do que se imaginava.
Smaniotto et al. (2006) já comprovou a abundante
presença de fitoclastos opacos, angulosos e mal
selecionados no mesmo nível, o ques corrobora um CONCLUSÕES
processo sedimentar de baixa energia (lacustre/ Através da pesquisa realizada foi possível
pantanoso) . Torna-se importante destacar que, confirmar a ocorrência de charcoal macroscópico
com a descoberta do charcoal macroscópico fóssil fóssil no Afloramento Morro do Papaléo e,
aqui estudado, é possível associar este domínio de conseqüentemente, a ocorrência de incêndios

360
vegetacionais no sistema que lhe deu origem. vegetacionais durante Paleozoico Superior da
Os charcoal macroscópicos fósseis coletados Bacia do Paraná. Artigo completo do XX
no Afloramento Morro do Papaléo são de Congresso Nacional de Paleontologia, RJ,
origem gimnospérmica, além disso, através Brazil.
da comprovação da ocorrência de incêndios
vegetacionais pretéritos no local de estudo, JASPER, A.; UHL, D. & GUERRA-SOMMER,
pode-se afirmar que o ambiente registrado estava M.V. 2008. Palaebotanical evidence of wildfires
sujeito a uma estação seca. in the Late Palaeozoic of South America-Early
O estado de preservação dos fragmentos Permian, Rio Bonito Formation, Paraná Basin,
estudados atesta uma deposição au-tóctone/ Rio Grande do Sul, Brazil.
parautóctone para o material. Os ambientes
JONES, T.P. & CHALONER, W.G. Fossil
fitofossilíferos do Permiano no Sul do Brasil
charcoal, its recognition and Paleoatmospheric
estavam sujeitos a ocorrência incêndios
significance. Paleo 3. (1991) 91: 39-50.
vegetacionais, mais frequentes do que se supunha.
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361
Figura 1. Imagem em Microscópio Eletrônico de Varredura de fragmentos de charcoal macroscópico fóssil provenientes
do Afloramento Morro do Papaléo: A) Estruturas celulares em ótimo estado de conservação.

Figura 2. Imagem em Microscópio Eletrônico de Varredura de fragmentos de charcoal macroscópico fóssil provenientes
do Afloramento Morro do Papaléo: B) Presença de feixes de vaso simples, o que demostra afinidade gimnospérmica.

362
SPECIFICITY OF LEAF DAMAGE IN THE PERMIAN
“GLOSSOPTERIS FLORA”: A QUANTITATIVE APPROACH
Esther R S Pinheiro1 (esther.pinheiro@ufrgs.br), Roberto Iannuzzi1, Graciela P. Tybusch1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, IG, Departamento de Paleontologia e Estratigrafia
1

RESUMO available plant organ in the fossil record. In


this study we focused on the plant community,
Este estudo tratou das evidências de
specifically on megaphylls of the “Glossopteris
interação inseto-planta identificadas nos gêneros
Flora”. The Paleozoic fossil evidence of plant-
de folhas da “Flora Glossopteris”, i.é Glossopteris
insect interactions includes herbivory, galls,
sp., Gangamopteris sp. e Cordaites sp. Os principais
possible mines, and leaf skeletonization (Back
objetivos foram analisar a distribuição dos tipos de
and Labandeira, 1998; Adami-Rodrigues et
danos foliares nos diferentes gêneros de folhas e
al., 2004a). To recognize herbivory in the fossil
analisar se os gêneros que possuem danos diferem
record, it is normally necessary to detect the
em relação aos padrões de herbivoria, usando de
presence of plant reaction tissues such as calluses
análises estatísticas (Análise de Coordenadas
or anomalous tissues induced by trauma while the
Principais e MANOVA). Em conclusão, a
plant organ was alive (Meyer and Maresquelle,
distribuição dos tipos de danos nos gêneros de
1983 apud Labandeira, 1998).
folhas indicou especificidade na herbivoria e
seletividade dos grupos de insetos em relação às Direct evidence of plant-insect associations
plantas que estiveram disponíveis para o consumo. is relatively rare for the Permian “Glossopteris
Flora” in Gondwana. Guerra-Sommer (1995) and
Palavras-chave: Flora de Glossopteris,
Adami-Rodrigues et al. (2004a, 2004b) described
Permiano, Bacia do Paraná
evidence of phytophagy in glossopterids from
the Lower Permian in Brazil. For the Indian
ABSTRACT Permian, Chauhan et al. (1985), Srivastava
This study focused on the plant-insect (1987), Maheshwari and Bajpai (1990), and
interaction evidences identified in leaf genera Banerji and Bera (1998) reported evidence of
of the “Glossopteris Flora”, e.g. Glossopteris sp., plant consumption by arthropods. Prevec et al.
Gangamopteris sp. and Cordaites sp. The main goals (2009) identified new evidence of plant-insect
were to analyze the distribution of foliar damage associations in the South African Upper Permian
types in the different leaf genera and analyze if beds. However, these studies were all descriptive,
damage-bearing leaf genera differ in relation and none analyzed herbivory specificity on the
to herbivory patterns, using for this statistical community scale or used a quantitative approach.
analyses (PCoA and MANOVA). In conclusion, Therefore, our main goals is this study were to:
the distribution of damage types in leaf genera 1) analyze the distribution of foliar damage types
indicated specificity in herbivory and a selectivity in the different genera of leaves forming the
of insect groups in relation to the plants that were “Glossopteris Flora”, and 2) analyze if damage-
available for consumption. bearing genera of leaves forming the “Glossopteris
Keywords: Glossopteris Flora, Permian, Flora” differ in relation to herbivory patterns,
Paraná Basin using for this statistical analyses that are well
established in ecological studies, but are still
underused in paleobotanical studies.
INTRODUCTION
In paleontology, plant-insect interaction
is normally studied with leaf compressions
and impressions, since leaves are the most

363
MATERIAL AND METHODS in the literature for the Permian were present.
The removal of the foliar edge was the most
The specimens studied were collected
common, found in 36 of the 68 specimens. Ovoid
from five localities of the Lower Permian strata
removal of the foliar lamina was detected in 22
from the Paraná Basin, in the states of Rio Grande
leaves, as was linear removal of the foliar lamina.
do Sul (RS) and Santa Catarina (SC), southern
Feeding activity at the foliar apex was present in
Brazil: Morro do Papaléo (levels N3/4, Faxinal
5 samples, mines in 3 leaves, and skeletonization
section and levels N7/8), Quitéria, Minas do
in 2. Oviposition, punctures, and galls were each
Leão (highway BR 290) and Faxinal Mine, from
found in only 1 sample.
RS; and Rio da Estiva, from SC. Stratigraphically,
the localities show strata distributed from the The PCoA ordination showed the
uppermost Itararé Group (Taciba Formation) to association between the leaf genera and the
the Irati / Serra Alta formations. A time interval damage types. The genus Cordaites sp. is
from the Late Sakmarian to Early Artinskian associated with ovoid consumption of foliar
can be accepted for deposits of the Rio Bonito lamina and margin feeding. Gangamopteris sp.
Formation, Guatá Group, from RS and SC is related to linear removal of foliar lamina,
(Iannuzzi, 2010). Radiometry dating studies margin feeding, oviposition scars, and galls.
indicate a Late Artinskian age for the Irati Glossopteris sp. is associated with seven damage
Formation (Santos et al., 2006). types: feeding activity at the foliar apex, removal
of the foliar edge, ovoid and linear removal of
Nine types of damages caused by insects
the foliar lamina, skeletonization, punctures, and
were identified in leaves of Glossopteris sp.,
mines. The analyses of variance indicated that the
Gangamopteris sp. and Cordaites sp., as follows:
foliar genera differed significantly in relation to
margin feeding, hole feeding, linear feeding,
herbivory patterns (P = 0.006). Glossopteris sp. and
apex feeding, skeletonization, oviposition, small
Cordaites sp. differed from each other (P = 0.008),
punctures, possible galls and possible mines (Back
and Gangamopteris sp. differed from Cordaites sp.
and Labandeira, 1998; Adami-Rodrigues et al.,
(P = 0.04). However, Glossopteris sp. did not differ
2004a). We carried out a Principal Coordinates
from Gangamopteris sp.
Analyses (PCoA) of sampling units in order to
detect the principal axes of variation of leaf genera
in relation to damage types (variables). We also DISCUSSION AND CONCLUSIONS
used MANOVA with permutation tests (Pillar Of the three genera analyzed, Glossopteris
and Orlóci, 1996) to evaluate the effects of the sp. was the leaf genus with the most direct
factors “genera” in relation to the types of damage evidence of consumption, showing seven of the
found in leaf impressions, described as a presence/ nine damage types found. We can explain this
absence data matrix. The sum of squares between in four ways: 1) Glossopteris sp. was a dominant
groups (Qb statistics) was used as the test criterion. component in Gondwana forests, and because of
In both analyses, the Sørensen coefficient was this shows the most leaves with evidence of plant-
used as the similarity index between sample insect interaction. There are theories suggesting
units (Legendre and Legendre, 1998), and was that the more common species have an increased
calculated using the software MULTIV 2.63 susceptibility to herbivory (Givnish, 1999); 2)
(Pillar, 2006). Glossopteris leaves were more palatable than
leaves of the Gangamopteris-type. and Cordaites-
RESULTS type, and because of this were more consumed;
3) leaf-bearing plants of Glossopteris interacted
In total, 850 specimens of fossil leaves were
with more insect taxa; actually, there are studies
analyzed. Evidence of insect-plant interactions
suggesting that cuticles of Glossopteris spp. have
was present in only 68 of these specimens
more papillae and trichomes (Fitppaldi and
(8%): 53 impressions/compressions belonged to
Rösler, 1985; Guerra-Sommer, 1992), which
Glossopteris sp., 8 to Gangamopteris sp., and 7 to
could be related to a defense mechanism against
Cordaites sp. All nine damage types described
herbivores (Guerra-Sommer, 1992, 1995); 4)

364
specimens of Glossopteris sp. are more abundant BANERJI, M. & BERA, S. 1998. Record
as a consequence of a fossilization process that of zoocecidia on leaves of Glossopteris
favored their preservation (= taphonomic bias). browniana Brongn. from Mahuda Basin,
The differences in damage recorded Upper Permian, Indian Lower Gondwana.
among the leaves analyzed might be the result Indian Biologist, 30: 58-61.
of differences in the palatability of each plant
species and/or the feeding preferences of BARONE, J.A. 1998. Host-specificity of
dominant generalist herbivores (White and folivorous insects in a moist tropical forest.
Whitham, 2000). The differences in palatability Journal of Animal Ecology, 67: 400-409.
may be associated with the plant age (younger X
BASSET, Y. 1991. Spatial distribution of herbivory
mature leaves) (Basset, 1991; Aide, 1993). The
mines and galls within an Australian rain
phylogenetic relationship is also an important
forest tree. Biotropica, 23: 271-281.
aspect in differences in herbivory patterns between
the leaf genera Glossopteris and Cordaites, as well BECK, L.B. & LABANDEIRA, C.C. 1998. Early
as Gangamopteris and Cordaites. Barone (1998) Permian insect folivory on a gigantopterid-
suggested that most species of chewing herbivores dominated riparian flora from north-central
are limited to feeding on a few closely related Texas. Palaeogeography, Palaeoclimatology,
species of host plants. This conclusion explains Palaeoecology, 142: 139-173.
the absence of differences in herbivory patterns
between Glossopteris-type and Gangamopteris-type CHAUHAN, D.K.; TIWARI, S.P. & MISRA,
leaves, since they belong to the same taxonomic D.R. 1985. Animal and plant relationship
group, the Glossopteridales, while Cordaites-type during Carbo-Permian Period of India.
leaves belong to another group of gymnosperms, Bionature, 5: 5-8.
the Cordaitales.
Our findings on the distribution of damage FITTIPALDI, F.C. & RÖSLER, O. 1985.
types in leaf genera of the “Glossopteris Flora” A cutícula de Glossopteris communis da
indicate specificity in herbivory and a selectivity Formação Rio Bonito no Estado do Paraná.
of insect groups in relation to the plants that were Coletânea de Trabalhos Paleontológicos: Série
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366
TAFONOMIA DE LENHOS FÓSSEIS DA FORMAÇÃO CORUMBATAÍ,
ANGATUBA, SP (PERMIANO DA BACIA DO PARANÁ)
Rafael Souza Faria1 (rafaelfaria@ige.unicamp.br), Fresia Ricardi-Branco1 (fresia@ige.unicamp.br)
Unicamp
1

RESUMO completely destroyed. In most cases, the texture


corresponds to microcrystalline quartz and in
Foram analisados três lenhos silicificados
the most preserved areas to chalcedony. The
provenientes da Formação Corumbataí
good preservation of the anatomy characters
(Permiano da Bacia do Paraná), coletados no
(associated with this fine texture) shows that the
município de Angatuba, SP. Em nenhuma
precipitation of minerals probably was fast which
amostra evidenciaram-se anéis de crescimento
indicates a shallow depositional system where the
bem nítidos. Os anéis observados a olho
silica could be concentrated.
desarmado muitas vezes se tratavam de diferentes
bandas de coloração ou mais comumente de Keywords: Fossil wood, silicification,
anéis de compressão. Os lenhos mostram um Permian, Paraná Basin
mosaico de características das diferentes fases da
diagênesis, em algumas porções os lúmens não INTRODUÇÃO
estão preenchidos, em outras estão, e em outras
Foram analisados três lenhos silicificados
partes os tecidos se encontram destruídos. Na
provenientes da Formação Corumbataí (Permiano
maioria dos casos pode se notar a presença de
da Bacia do Paraná), coletados no município de
quartzo microcristalino nas áreas mais destruídas
Angatuba, SP. Os espécimes (todos depositados
e quartzo mais fino, calcedônico, nas áreas onde a
na Coleção Paleobotânica IG/Unicamp)
parede celular foi mais preservada. Considerou-se,
correspondem a fragmentos de traqueidóxilos
que pela boa preservação dos caules (pelas texturas
(lenhos sem corpo primário preservado) de
microcristalinas associadas) a silicificação tenha
grandes dimensões (de 15 a 20 cm de largura).
ocorrido com precipitação rápida e que portanto,
Foram seccionados e polidos nos três planos usuais
as lâminas de água, no sistema deposicional, eram
(transversal, longitudinal radial e longitudinal
finas para que houvesse uma alta concentração de
tangencial) para o estudo em estereomicroscópio,
sílica.
além de obtidas pequenas lascas (em geral de 5 X
Palavras-chave: Lenhos fósseis, 5 cm) pela clivagem natural da amostra, os quais
silicificações, Permiano, Bacia do Paraná foram analisados em MEV.

ABSTRACT SOBRE A CARACTERIZAÇÃO


It was analyzed three specimens of silicified DOS LENHOS
wood from Corumbataí Formation (Permian of
A sistemática dos traquedóxilos está sendo
the Paraná Basin), which were collected in the
abordada em outro trabalho mas cabe ressaltar
municipality of Angatuba, SP. There are no true
alguns pontos sobre sua caracterização. Eles foram
growth rings in any of the samples. The rings
agrupados em três morfotipos diferentes: um
observed with naked eye actually correspond to
deles se destaca por apresentar raios parcialmente
different bands of distinct colors, or commonly
bisseriados, pontoações nas paredes radiais
to shearing zones (sensu Erasmus, 1976). The
quase em totalidade unisseriadas e pontoações
wood show a mosaic of characteristics from the
contíguas nos campos de cruz enquanto os
different phases of diagenesis, in some portions
outros dois possuem apenas raios unisseriados,
the lumen are not filled in, while in other
uma variação entre uma maioria de unisséries de
portions they are, and in others the tissues were

367
pontoações radiais e muitas regiões bisseriadas; e removido de modo a restar apenas um molde dos
pontoações espaçadas nos campos de cruz. Dentre mesmos e o tórus bem nítido no centro. Mussa
os dois morfotipos mais semelhantes as diferenças (1985) encontrou texturas similares em espécimes
também se dão pelos campos de cruzamento: um da Formação Corumbataí coletados em Tambaú,
deles apresenta pontoações em geral distribuídas Conchas e Fartura (SP).
em número diferente entre as células periféricas
e as internas do raio. O outro possui pontoações
sem qualquer distribuição diferencial entre as
CONCLUSÕES
células periféricas e as internas do raio. Considerou-se, que pela boa preservação
dos caules (pelas texturas microcristalinas
associadas) a silicificação tenha ocorrido com
TAFONOMIA DOS LENHOS ESTUDADOS precipitação rápida e que portanto, as lâminas
Em nenhuma amostra evidenciou-se de água, no sistema deposicional, eram rasas.
anéis de crescimento bem nítidos. Os anéis Folk e Pittman (1972) argumentam que texturas
observados a olho desarmado muitas vezes se microcristalinas representam um ambiente
tratavam de diferentes bandas de coloração deposicional com alta concentração de sílica,
ou mais comumente de anéis de compressão indício de uma lâmina de água rasa.
(shearing zones sensus Erasmus, 1976). Os anéis
de compressão são regiões de deformação por
estresse mecânico em que as fileiras de células estão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
todas deslocadas tangencialmente e em muitos BOLZON, R.T.; SILVA, J.L.S. & MACHADO,
casos destruídas. Segundo Bolzon et al. (2004) L.G. 2004. Fossildiagênese de lenhos do
tal carcaterística é típica dos primeiros estágios Mesozoico do estado do Rio Grande do Sul,
diagenéticos assim como a separação das paredes Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia
e a fragmentação das mesmas, também observadas 7(2):103-110.
nos lenhos aqui estudados. O preenchimento dos
lúmens é tido como um estágio subsequente na BUURMAN, P. 1972. Mineralization of fossil
diagênese e finalmente a destruição do tecido (a wood. Scripta Geologica 12: 1-43.
partir da degradação completa da lignina e de
recristalizações) se caracteriza dentre os estágios ERASMUS, T. 1976. On the anatomy of
finais. Nos lenhos estudados é possível de se notar Dadoxylon arberi Seward, with some
um mosaico de características das diferentes fases remarks on the phylogenetical tendencies of
da silicificação, em algumas porções os lúmens não its tracheid pits. Palaeontologia Africana 19:
estão preenchidos, em outras estão, e em outras 127-133.
partes o tecido se encontra destruído formando as
FOLK, R. & PITTMAN, J.S. 1972. Length-slow
chamadas áreas “fantasmas” (Bolzón et al., 2004).
chalcedony: a new testamen for vanished
As áreas destruídas são de qualquer forma a menor
evaporates. J. Sedim. Petrol. 41: 1045-1058.
parcela da amostra, isso condiz com a presença de
planos de clivagem preferenciais, essenciais para MUSSA, D. 1985. Lignitafofloras permianas
os estudos em MEV. Buurman (1972) afirma da Bacia do Paraná, Brasil (Estados de São
que quando um lenho sofre recristalização é Paulo e Santa Catarina). Tese de Doutorado.
difícil que ele se clive radialmente com facilidade. Instituto de Geociências, Universidade de
Em relação à textura da silicificação, na maioria São Paulo
dos casos pode se notar a presença de quartzo
microcristalino nas áreas mais destruídas e
quartzo mais fino, calcedônico nas áreas onde a
parede celular foi mais preservada. Há ainda uma
tendência da textura mais fina nas pontoações
em relação à textura da parede do traqueíde. Em
algumas regiões o rebordo das pontoações foi

368
Figura 1. Secção longitudinal radial da amostra CP1/271 1. Traqueídes numa porção terminal. Algumas das pontoações
radiais (que são areoladas) possuem o rebordo preservado enquanto outras deixam apenas o molde dos mesmos. 2.
Detalhe da parede dos traqueídes onde se observam as pontoações e onde se pode notar a textura da silicificação:
quartzo microcristalino e calcedônia. 3. Traqueídes preenchidos 4. Porção onde se nota um raio vascular. 5. Traqueídes
preenchidos em dois níveis. Num deles observa-se um raio cruzando-os, no outro nota-se que houve preenchimento
do espaço entre os traqueídes. 6. Raio vascular. 7. Detalhe das pontoações dos campos de cruzamento entre o raio e os
traqueídes. Algumas pontoações foram preenchidas e não se pode observar a abertura.

369
METODOLOGIA DE PREPARAÇÃO DE LENHOS FÓSSEIS
SILICIFICADOS: UTILIZAÇÃO DE BLOCOS ANATÔMICOS PARA
A OBSERVAÇÃO EM MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA
Luciano Gandin Machado1,2 (lucianogmachado@ufrj.br), Rita Scheel-Ybert2 (scheelybert@mn.ufrj.br),
Luis Pereira Barros1,2 (luishpb@gmail.com), Marcelo de Araujo Carvalho2 (mcarvalho@mn.ufrj.br)

RESUMO resources observation of the structures anatomy of


silicified fossil wood in light microscopy reflected.
O estudo anatômico de lenhos fósseis
silicificados é realizado através de secções delgadas Keywords: Wood anatomy, anatomical
ou pela técnica “peel” (película de acetato), blocks, fossil woods
com posterior observação em microscopia de
luz transmitida da estruturas anatômicas. As INTRODUÇÃO
metodologias empregadas na laminação são em
A consulta à literatura especializada no
geral adequações de um conjunto de procedimentos
estudo dos lenhos fósseis demonstra que não há
de diversas áreas (geologia, paleontologia, botânica)
metodologia padronizada para a confecção de
e que compreendem de diversas etapas como:
lâminas delgadas. A maioria dos trabalhos não
seleção da região de corte; redução; impregnação;
cita as referências bibliográficas utilizadas na
secções; acabamento; coloração; colagem; desbaste
metodologia de laminação. Muitos ocultam os
final. Com o objetivo de suprir a deficiência de
procedimentos comentando que estes são os usuais
uma metodologia padronizada voltada para apenas
para o estudo de madeiras fósseis. Em poucos
para o estudo de lenhos fósseis, este trabalho
trabalhos há uma preocupação em descrever
apresenta a metodologia para a confecção de
os procedimentos para a obtenção de secções
blocos anatômicos e os recursos de observação
delgadas, os planos anatômicos, a quantidade,
das estruturas anatômicas dos lenhos fósseis
e o modo de análise das estruturas anatômicas
silicificados em microscopia de luz refletida.
da madeira (p.ex. microscopia ótica, MEV).
Palavras-chave: Anatomia da madeira, Alguns trabalhos citados na literatura constituem
blocos anatômicos, lenhos fósseis adequações metodológicas, pois se referem a
material botânico atual (Poole & Francis, 1999;
ABSTRACT Sutherland, 2003; Steppe et al., 2004; Pires, et al.,
2005) ou a outros tipos de fósseis vegetais (Poole
The anatomical study of silicified fossil
& Wilkinson, 1999; Hass & Rowe, 1999).
wood is accomplished through thin sections or by
the “peel” technique (acetate peel), with subsequent São poucos os trabalhos que apresentam
microscopic observation in the transmitted light efetivamente a metodologia utilizada. Por exemplo,
of anatomical structures. The methodologies Hass & Rowe (1999) descreveram detalhadamente
used in thin section are generally adequacy uma metodologia de confecção de lâminas
of a set of procedures in many areas (geology, delgadas utilizada para material silicificado do
paleontology, botany) and comprising of several Eodevoniano de Rhynie Chert (Escócia).
steps like: selection of the cutting area; reduction; Figueiral (1999) apresentou uma
impregnation; sections; finishing; staining, glue; metodologia para a laminação de lenhos
closing thinning. Aiming to meet the deficiency carbonificados. Para tanto, os exemplares foram
of a standardized methodology oriented only embebidos em resina epóxi, a fim de preencher os
to study of fossil wood, this paper presents a espaços vazios e assim aumentar a sua resistência
methodology for making anatomical blocks and para o corte.
Moore & Wallace (2000) utilizaram
pequenos blocos opacos orientados anatomicamente

370
para estudarem cerca de 160 lenhos petrificados Gustav, e também na Formação Santa Marta do
do Mioceno do Norte de Nova Zelândia. Os Grupo Marambio (Santoniano-Campaniano),
blocos foram observados em microscopia de luz na Ilha de James Ross. Todas as três formações
refletida. Para aqueles com pouca preservação possuem sedimentos marinhos, depositados em
foram preparadas secções delgadas, examinadas ambientes de leque submarinho (Ineson, 1989),
em microscopia de luz transmitida. plataforma continental abaixo e acima do nível de
Steppe et al. (2004) propuseram uma nova ondas respectivamente (Pirrie et al., 1991; Crame,
técnica não invasiva para a determinação das 1992).
características anatômicas da madeira, com o uso
de microtomografia computadorizada de raio-X.
MATERIAL DE ESTUDO
Os autores analisaram pequenos blocos de lenhos
atuais de Fagus sylvatica e Quercus robur, nos quais Os exemplares analisados da Bacia do
determinaram automaticamente com o programa Acre provêm dos Rios Acre, Juruá (município de
µCTanalysis, a média dos diâmetros dos vasos, a Cruzeiro do Sul), Purus, Riozinho (afloramento
área dos vasos, a densidade e a porosidade. do Embira, município de Feijó) e Santa Rosa
O objetivo do presente trabalho é propor (município de Canutama) e do Vale do Rio Moa
uma metodologia de blocos anatômicos específica (município de Cruzeiro do Sul). Os lenhos estão
para estudos de lenhos fósseis silicificados, bem todos silicificados, a preservação das estruturas
como apresentar os métodos de observação celulares é variada, ocorrendo células preservadas,
da estrutura anatômica em microscopia de luz comprimidas, torcidas e rompidas. Nesta bacia
refletida. forma analisados seis lenhos fósseis (Pb746,
NR404, NR570, NR573, NR491, Pb168.).
Os lenhos fósseis coletados na Ilha James
ÁREA DE ESTUDO Ross, Antártica Oriental, totalizam 101 lenhos
As amostras utilizadas no desenvolvimento sendo 57 da Formação Santa Marta, 35 da
desta metodologia de trabalho provêm da Bacia do Formação Hidden Lake e 9 da Formação Whisky
Acre e da Bacia de Itaboraí, no Brasil e da Sub Bay. Os lenhos estão preservados com graus
Bacia James Ross na Antártica. variáveis de silicificação e carbonificação.
Os lenhos fósseis provenientes da Bacia
do Acre foram coletados na Formação Solimões Metodologia de confecção
constituída litologicamente por argilitos cinzas dos blocos anatômicos
e cinza-esverdeados, intercalados com bancos de Plantas silicificadas são estudadas
arenito, camadas de linhito e gipsita (Oliveira & geralmente por peels ou secções delgadas (Hass &
Souza, 2001), com estratificações plano-paralelas Rowe, 1999). As secções delgadas são largamente
e cruzadas tabulares e acanaladas de pequena, utilizadas para pesquisas anatômicas, sendo um
média e grande amplitude (Cavalcante 2005). A método mais efetivo que o peeling quando as
idade desta formação é controversa, não havendo paredes das células foram substituídas por sílica ou
consenso entre os pesquisadores que estudaram se o material apresenta pouca matéria orgânica.
a fauna de vertebrados (Negri & Ferigolo, 1999), Os procedimentos usados nesta
metodologia basearam-se em trabalhos com
contudo os últimos trabalhos palinológicos
fósseis (Bolzon, 1999; Hass & Rowe, 1999) e para
determinaram a idade como do Mioceno final
madeiras atuais (Burger & Richter, 1991; Paula &
(Silva et al., 2004; Latrubesse et al., 2007). Alves, 1997).
Durante a expedição do projeto “Prospecção A confecção de um bloco anatômico
de fósseis do Cretáceo da Bacia de James Ross, consistiu das seguintes etapas:
Antártica Oriental”, no verão austral de 2006- 1) Seleção da região de corte – Foram
2007, na Bacia de James Ross, Antártica Oriental, selecionadas as regiões mais bem preservadas do
foram coletados lenhos fósseis nas Formações exemplar, ou seja, aquelas nas quais as estruturas
Whisky Bay (Albiano-Coniaciano) e Hidden Lake anatômicas da madeira encontravam-se bem
(Coniaciano-Santoniano) pertencentes ao Grupo

371
definidas, com parede e lúmen passíveis de 5) Acabamento – As faces orientadas dos
observação macroscópica ou em estereomicroscópio. blocos foram polidas em discos rotatórios com
2) Redução – Os lenhos que apresentavam abrasivos de óxido de alumínio com granulometria
grandes proporções tiveram fragmentos extraídos de classes variado de 320 a 600 ou em disco de
para facilitar a obtenção das secções anatômicas. desbaste diamantado, e posteriormente acabadas
Para isso, cortes transversais, os quais podem ser em vidro jateado com abrasivos mais finos, com
orientados macroscopicamente através dos padrões granulometria de classe 800 a 1000. Entre a
estruturais externos da madeira, foram realizados utilização das diferentes granulometrias de abrasivos
em máquina com serra diamantada. para o desbaste, os blocos foram sempre lavados
3) Impregnação – Esta técnica foi utilizada em água corrente para retirar os resíduos e assim
quando o material apresentou alguns pontos de evitar contaminações de diferentes granulometrias
fragilidade, como poros e fraturas não preenchidos. de abrasivos. Encerrados os procedimentos de
Os fragmentos selecionados foram impregnados desgaste as secções foram lavadas novamente com
com resina epóxi para preencher e envolver água corrente e em seguida levados ao ultrasom, e
os lenhos, aumentando assim sua resistência e permaneceram na estufa por cerca de oito horas
possibilitando a obtenção de secções íntegras. A para secagem.
resina e a amostra foram aquecidas em uma estufa,
com os objetivos de retirar a umidade e a resina Observação
atingir uma viscosidade que lhe permitiria fluir A descrição morfométrica do material deve
facilmente para dentro dos poros e das fraturas.
ser feita de acordo com terminologia estabelecida
Atingindo este ponto de viscosidade a amostra
foi mergulhada na resina, permanecendo em uma internacionalmente (IAWA Committee, 1989).
estufa com temperatura e umidade controlada, até Os exemplares foram analisados macro e
o endurecimento que depende do tipo e marca de microscopicamente. As observações macroscópicas
resina utilizada. foram realizadas em estereomicroscópio com
4) Blocos – Com os fragmentos dos lenhos aumento de até 40x. Para o exame microscópico
selecionados, reduzidos, impregnados e orientados foram utilizados microscópio de luz transmitida,
transversalmente foi possível obter os blocos microscópio de luz refletida e microscópio
anatômicos com os três planos fundamentais eletrônico de varredura.
da madeira (transversal, longitudinal radial e O uso de diferentes formas observação,
longitudinal tangencial). Os planos transversais como a microscopia de luz transmitida associada
foram obtidos seguindo o corte de redução,
à de luz refletida, tem se mostrado muito útil. A
eventualmente com pequenas correções. Em
microscopia de luz refletida, recurso ainda pouco
seguida, linhas de corte orientadas paralelamente
aos raios foram traçadas sobre a face transversal usado em análises paleobotânicas, especialmente no
com uso de microscópio estereoscópico, as quais Brasil, se revelou bastante eficiente na evidenciação
resultaram nos planos longitudinais radiais; das estruturas anatômicas analisadas (Fig. 1). Seu
linhas perpendiculares aos raios resultaram nos uso é particularmente interessante, pois ao permitir
planos longitudinais tangenciais. Os cortes foram a análise de secções espessas com mais de 0,1mm,
realizados em máquina com serra diamantada. propicia a preservação de estruturas que muitas
Além das variações de orientação das estruturas vezes são perdidas em secções mais finas. A placa
anatômicas em vida, como a proximidade a galhos de perfuração escalariforme na secção transversal
e torções, há também fatores diagenéticos como do exemplar Pb168 é um exemplo (Fig. 1g).
o metamorfismo, que pode comprimir, torcer Por outro lado, a captura de imagens em
romper e até mesmo destruir as células do lenho
microscopia eletrônica de varredura permite
dificultando a orientação dos planos anatômicos.
As dimensões dos blocos dependem diretamente a observação de detalhes estruturais que
das características do exemplar (porosidade, geralmente são muito dificilmente identificados
resistência), dos equipamentos de corte (serra em microscopia ótica (p.ex., as pontoações
diamantada) e de microscopia. Deve-se atentar intervasculares – vide Fig. 1h-i), além de permitir
para a capacidade de foco na platina do microscópio a obtenção de micrografias de muito melhor
de luz refletida a ser utilizado. Neste trabalho resolução.
optou-se em utilizar blocos com cerca de 8cm3.

372
RESULTADOS E DISCUSSÃO do Rio Grande do Sul. Quatro estágios foram
definidos: 1) destruição do tecido lenhoso anterior
Para obter bons resultados com o
à infiltração e precipitação de minerais; 2) início
processo de produção de blocos anatômicos ou
da infiltração de minerais com precipitação e
mesmo lâminas delgadas de lenhos silicificados
nucleação no lúmen celular a partir das superfícies
é importante conhecer os processos tafonômicos
das paredes celulares; 3) alterações na parede
que preservaram o fóssil e atuaram sobre ele.
celular com a degradação de elementos orgânicos
A fossilização pode ocorrer através residuais; e 4) preenchimento e/ou precipitação de
de quatro processos distintos (Schopf, 1975; minerais a partir da superfície dos lúmens celulares.
Iannuzzi & Vieira, 2005): permineralização
Devido a esta gama de condições
celular (petrificação), compressão carbonificada
diagenéticas que um lenho fóssil pode sofrer ao
(impressões), preservação autigênica (cimentação)
longo do tempo que permanecer no afloramento,
e preservação durapártica (de partes duras). As
diferentes passos devem ser seguidos para a
madeiras fósseis são preservadas mais comumente
adequada preparação em laboratório. Portanto, foi
por permineralização ou por compressão
proposta uma chave dicotômica com o objetivo
carbonificada.
de definir estes passos de preparação, evitando
A permineralização celular é o modo de passos desnecessários e redução no de tempo de
preservação mais informativo para a paleobotânica. preparação dos blocos anatômicos.
Os interiores e os interstícios celulares são
Chave para a determinação dos passos
permeados por minerais da matriz no momento
necessários para a preparação de um bloco
ou logo após a deposição. Os colóides silicosos
anatômico de um lenho fóssil.
depositam a sílica na forma de calcedônia ou
microcristais de quartzo, os calcarenosos formam A’) Lenho íntegro, com resistência
concreções de microcristais de calcita ou dolomita, estrutural aparente para realizar um corte sem
mas deposições de pirita, limonita, fosfatos, e a fragmentação do todo, geralmente com alta
ocasionalmente outros tipos de permineralização permineralização das estruturas celulares, sem
também podem ocorrer (Schopf, 1975). fraturas e porosidade evidente................................
....................................................................B
A silicificação, uma vez ocorrida, permite
considerar os lenhos como um tipo especial de A’’) Lenho frágil, com fraturas nítidas,
rocha silicosa (Mussa & Coimbra, 1984). O evento não preenchidas pela permineralização,
de silicificação é mais uma função do ambiente de com alta porosidade e fragmentação externa
sedimentação do que propriamente da natureza evidente..........................................seguir os
dos tecidos. Segundo os autores, a predominância passos de1 a 5
de algumas texturas sobre outras nos lignispécimes, B’) Amostra com mais de 20cm em sua
por localidades ou por níveis estratigráficos, numa maior dimensão..................seguir os passos 1,2,4
seqüência, informa sobre variações ambientais e5
ocorridas durante o ciclo. B’’) Amostra com menos de 20cm em sua
Bolzon & Machado (2002) definiram maior dimensão.................seguir os passos 1,4 e 5
categorias de preservação para células do xilema
secundário de coníferas do Mesozóico do Rio
CONCLUSÕES
Grande do Sul: parede e lúmen (parede bem
definida e lúmen preenchido); lúmen (a parede se Este trabalho não ambiciona definir
confunde com a das células adjacentes, mas lúmen técnicas de referência para o estudo de
bem definido); parede (bem definida e o interior lenhos silicificados, mas sim contribuir para o
da célula vazio, não mineralizado); fantasma (não estabelecimento de procedimentos metodológicos
é possível definir a parede e o lúmen, o limite padronizados, o que é uma etapa fundamental
da parede é inferido, mas não delimitado); raios em qualquer disciplina. É de se esperar que os
(observação ou não de suas células com a parede e procedimentos aqui descritos possam ser testados
o lúmen) células torcidas (todas as categorias com e aperfeiçoados no quadro de diferentes trabalhos,
células compactadas e forma modificada).
e que a partir daí uma metodologia padrão, de uso
Bolzon et al. (2004) estabeleceram um
mais difundido, venha a ser definida.
modelo relacionando alguns processos diagenéticos
com a preservação de células de lenhos fósseis Em particular, a metodologia para análise
em microscopia de luz refletida deverá ser mais bem

373
testada e refinada, na medida em que este recurso significance: Biotic and geolocial evidence.
poderá eventualmente, em alguns casos, dispensar Journal of South American Earth Sciences. no
o uso de lâminas. Com isso, seria possível uma prelo.
simplificação dos procedimentos, o que implica
MOORE, P.R. & WALLACE, R. 2000. Petrified
em ganho de tempo e numa maior eficiência do
wood from the Miocene volcanic sequence
processo de descrição e identificação do material.
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Figura 1. Micrografias em microscopia ótica de luz transmitida (a, c, e), em microscopia ótica de luz refletida (b, d, f, g)
[planos transversais] e em microscopia eletrônica de varredura (h, i) [plano longitudinal tangencial]. Exemplares NR491
(a-b); NR573 (c-d) e NR570 (e-f, h-i); PB168 (g). Escalas = 500mµ (a, c, d, e, f), 200mµ (b), 100mµ (g), (exceto h-i).

375
S-07:
Bioestratigrafia do Cretáceo
DENTES DE CANDIDODON ITAPECURUENSE DA ILHA DO CAJUAL
(FORMAÇÃO ALCÂNTARA), CRETÁCEO DO MARANHÃO
Bruno Rafael de Carvalho Santos¹ (bruno.rafael@gmx.com), Ismar de Souza Carvalho² (ismar@geologia.ufrj.br),
Manuel Alfredo Araújo Medeiros¹ (medeirosalf@gmail.com), Ronny Anderson Barros Santos¹ (rooneysmall@gmail.com)
¹Universidade Federal do Maranhão; ²Universidade Federal do Rio de Janeiro

RESUMO found. The teeth exhibit strong similarities with


the ones previously described for Candidodon
Notosuchia é um grupo de Crocodyliformes
itapecuruense Carvalho & Campos, 1988 from
de pequeno porte com postura ereta, heterodontia
Itapecuru Formation (Aptian-Albian) and are
e hábitos estritamente terrestres. A América do
here considered as pertaining to this species
Sul apresenta um destacado registro deste grupo,
which has its chronological distribution extended
com registros na Bolívia, Uruguai, Argentina e
to the beginning of Cenomanian.
no Brasil, onde têm sido coletados nas bacias do
Araripe, Bauru e São Luís-Grajaú. Neste trabalho Keywords: Cretaceous, Candidodon
são descritos três dentes coletados na Ilha do itapecuruense, Alcântara Formation, Feeding
Cajual (Formação Alcântara, Cenomaniano, habits
Maranhão) e discutida suas implicações no que
diz respeito a hábitos alimentares, inferido como INTRODUÇÃO
onívoro.. Pela morfologia dentária foram feitas
Notosuchia é um grupo de crocodilos
inferências acerca de sua dieta, interpretada como
terrestres, caracterizado pelo rostrum curto e
onívora. Foi também evidenciado que o animal
robusto e uma marcada heterodontia. Possuíam
era capaz de realizar movimentos propalinais
uma ampla distribuição por todo o Gonduana
na mandíbula. Os três dentes exibem forte
durante o Cretáceo, e.g.: Notosuchus terrestris
semelhança aos de Candidodon itapecuruense
Woodward, 1986 da Argentina, Candidodon
Carvalho & Campos, 1988, previamente descrita
itapecuruense Carvalho & Campos, 1988 do
para a Formação Itapecuru (Aptiano-Albiano),
Nordeste do Brasil, Mariliasuchus amarali
e são aqui considerados como desta espécie, que
Carvalho & Bertini, 1990 do Sudeste do Brasil
tem agora sua distribuição cronológica estendida
e Anatosuchus minor Sereno; Sidor; Larsson &
ao início do Cenomaniano.
Gado, 2003 do norte da África, Malawisuchus
Palavras-chave: Cretáceo, Candidodon mwakasiungutiensis Gomani, 1997 do sudoeste da
itapecuruense, Formação Alcântara, Hábitos África.
alimentares
A heterodontia sugere uma dieta
diversificada em Notosuchia. A maioria das regiões
ABSTRACT onde representantes do grupo foram descritos
Notosuhia is group of small sized geralmente possuía paleoclimas semiáridos
Crocodylifoms with upright posture, heterodonty a áridos, quentes com chuvas sazonalmente
and strictly terrestrial life. South America has a bem marcadas (e.g: Carvalho & Bertini, 2000;
remarkable diversity of this group,with records Carvalho; Avilla & Ribeiro, 2005; Carvalho et al.,
in Bolivia, Uruguay, Argentina and Brazil, where 2010).
they have been collected in Araripe, Bauru and As sequências cretáceas da Formação
São Luís-Grajaú basins. In this work we describe Alcântara afloram no norte maranhense, na Bacia
three teeth found at Cajual Island (Alcântara de São Luís-Grajaú (Mesner & Wooldridge,
Formation, Cenomanian, Maranhão State) and 1964; Rossetti, 2001), onde foram datadas como
discuss their implications regarding feeding Eocenomanianas (Klein & Ferreira, 1979; Pedrão
habit that was inferred as omnivore. Evidence et al., 1993) e documentam eventos relacionados
of propalinal movement on mandible was also à separação dos continentes Sul Americano e

379
Africano (Aranha et al., 1990; Góes & Rossetti, que ogival. Este dente apresenta morfologia
2001). O ambiente dominante inferido para o compatível com o padrão de Candidodon, mas
norte do Maranhão seria árido ou semiárido também representa um tipo ainda não descrito
(Pedrão et al., 1993; Rossetti & Toledo, 1996), para o gênero. A vista mesial (Figura 1.4) é
mas com chuvas torrenciais em curto período do semelhante à vista distal.
ano, mantendo grande quantidade de água restrita O dente UFMA 1.20.581/3 (Figura1.5)
ao perímetro estuarino, na região da baía de São é um molariforme. Possui uma cúspide principal
Marcos (Medeiros & Schultz, 2002; Medeiros et maior, cercada de várias cúspides estilares
al., 2007). Neste ambiente, a vegetação de grande dispostas na face mesial do dente, ao longo de um
porte, dominada por coníferas e samambaias cíngulo. A coroa tem um aspecto bulboso com
arborescentes, se concentrava na faixa litorânea estreitamento na base que sugere constrição entre
(Araújo, 2009). coroa e raiz. Na vista distal (Figura 1.6), apresenta
desgastes e estriações na cúspide principal, que
sugerem abrasão por mastigação ou oclusão. As
MATERIAIS E MÉTODOS
cúspides estilares são em número de 9 (Figura
Foram descritos três dentes de 1.8), com tamanho reduzido em relação à cúspide
crocodiliformes notossuquídeos coletados no principal, sendo levemente arredondadas e com
afloramento Falésia do Sismito (-2° 29’ 34.82”, -44° facetas desgastadas.
28’ 10.65”) , Ilha do Cajual (Formação Alcântara)
(Figura 2). Os espécimes estão depositados na Implicações da Morfologia
Coleção Paleontológica da Universidade Federal dentária na dieta
do Maranhão em um lote sob o número UFMA
1.20.581, sendo que cada dente individual é O caráter multicuspidado dos dentes
denominado aqui como UFMA 1.20.581/1, sugere dieta onívora e a presença de estrias,
UFMA 1.20.581/2 e UFMA 1.20.581/3. facetas desgastadas e perfurações nos dentes
O material foi fotografado em microscópio analisados são evidências de mastigação (Leucona
eletrônico de varredura (MEV) Zeiss. A descrição & Pol, 2008), sugerindo uma capacidade de
dos dentes seguiu a terminologia de Romer (ver movimentação da mandíbula no sentido ântero-
Sereno & Larsson, 2009). posterior (movimentos propalinais). Para
Bonaparte (1991), o processamento intraoral em
Notosuchus terrestris teria mais similaridades com
RESULTADOS E DISCUSSÃO hábitos alimentares de mamíferos do que com os
demais Crocodylomorpha.
Descrição do Material A dentição de Pakasuchus kapilimai
O dente UFMA 1.20.581/1 (Figura 1.1) O’Connor; Sertich; Stevens; Roberts; Gottfried;
é um pré-molariforme. Possui uma constrição Hieronymus; Jinnah; Ridgely; Ngasala & Tempa,
evidente entre raiz e coroa, o que lhe confere 2010 (Formação Galula, Médio Cretáceo,
um formato bulboso. O dente é uniradiculado Tanzânia) e de Yacarerani boliviensis Novas; Pais;
e unicuspidado, com raiz sem ornamentações. Pol; Carvalho; Scanferla; Mones & Riglos, 2009
A coroa apresenta pequenas estriações verticais (Formação Cajones, Turoniano-Santoniano da
próximas ao ápice do dente, melhor visualizadas Bolívia) também é de uma sofisticação comparável
em vista mesial (Figura 1.2). Em vista oclusal somente à de mamíferos e inclui desgastes que
(Figura 1.7), mostra-se curvado mesialmente, sugerem mastigação (Novas et al., 2009; O’Connor
com um ápice abruptamente aplainado. et al., 2010).
O dente UFMA 1.20.581/2 (Figura 1.3) é
um pré-molariforme. Apresenta uma morfologia CONCLUSÕES
externa semelhante à do espécimen UFMA O material encontrado na Ilha do Cajual
1.20.581/1, porém, mostrando-se mais robusto. possui caracteres diagnósticos de dentes de
A constrição entre a raiz e a coroa está melhor crocodilomorfos Notosuchia e sua análise permitiu
definida e a coroa apresenta-se mais abobadada

380
identificá-los como pertencentes a C. Itapecuruense, Climate’s role in the distribution of the
confirmando que esta espécie seria onívora e Cretaceous terrestrial Crocodyliformes
capaz de processar alimento intra-oralmente. Sua throughout Gondwana. Palaeogeography,
presença na Ilha do Cajual (Formação Alcântara) Palaeoclimatology, Palaeoecology, 297: 252–
amplia a distribuição temporal do gênero para o 262.
início do Cenomaniano.
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Figura 1. 1: UFMA 1.20.581/1 vista distal; 2: UFMA 1.20.581/1 vista mesial; 3: UFMA 1.20.581/2 vista distal; 4: UFMA
1.20.581/2 vista mesial; 5: UFMA 1.20.581/3 vista distal; 6: UFMA 1.20.581/3 vista mesial; 7: UFMA 1.20.581/1 vista
oclusal; 8: UFMA 1.20.581/3 vista oclusal.

382
Figura 2. A: Detalhe mostrando a localização da Ilha do Cajual no Brasil; B: Mapa mostrando a da Falésia do Sismito (2)
e Laje do Coringa (1) na Ilha do Cajual.

383
FAMÍLIAS CRETÁCEAS DE HIMENÓPTEROS
Maria Helena Hessel¹ (mhhessel@gmail.com), Gabriela Karine Rocha de Carvalho¹ (decarvalho_gabi@hotmail.com)
¹Universidade Federal do Ceará

RESUMO O exoesqueleto bem esclerosado, frequentemente


é revestido por pelos ou cerdas, às vezes plumosas
Os himenópteros, representados pelas
ou ramificadas. O aparelho bucal é do tipo
vespas, formigas e abelhas, são insetos conhecidos
mastigador ou mandibulado. Na grande maioria
desde o Neotriássico. Das 74 famílias registradas
dos himenópteros, as antenas são longas e
no Cretáceo, a maioria tem representantes atuais
constituídas por dez ou mais segmentos. Os
e apenas 24 são extintas. As famílias da subordem
tarsos dos três pares patas usualmente têm cinco
Symphyta são minoria (oito), sendo as demais
segmentos. As fêmeas são sempre mais robustas
pertencentes aos Apocrita. Das famílias cretáceas,
do que os machos.
29 foram registradas no Araripe, (Brasil), 22
famílias na Sibéria (Rússia) e 21 na Mongólia Os himenópteros reúnem duas subordens:
(China, Rússia e Cazaquistão). Symphyta e Apocrita. Os membros dos Symphyta
possuem o tórax ligado largamente ao abdômen,
Palavras-chave: Hymenoptera, Cretáceo,
uma proeminência do fêmur (trocânter) com dois
ocorrência
segmentos, e no mínimo três células fechadas nas
nervuras da base da asa posterior, como se observa
ABSTRACT nos vespões e vespas-da-madeira. Os Apocrita se
The Hymenoptera are insects, represented caracterizam pela fusão do primeiro segmento
by wasps, ants and bees, known since Early Triassic. abdominal com o tórax (propódeo), o trocânter do
From 74 families recorded in the Cretaceous, fêmur com um ou dois segmentos, e no máximo
mostly has extant representatives and only 24 are duas células fechadas nas nervuras da base da asa
extinct. The families of the suborder Symphyta posterior, como são as verdadeiras vespas, formigas
are minor (eight), being the others belonging e abelhas.
to Apocrita. From the Cretaceous families, 29 Os mais antigos himenópteros conhecidos
were recorded in the Araripe Basin (Brazil), 22 foram registrados no Neotriássico da Austrália,
in Siberia (Russia), and 21 in Mongolia (China, África e Ásia central, tendo desde então se
Russia and Kazakhstan). diversificado de forma exponencial. É um dos
Keywords: Hymenoptera, Cretaceous, grupos de insetos mais difíceis para estabelecer
ocurrence relações filogenéticas por conter uma mistura de
traços primitivos e autapomorfias que deixam
poucas evidências do grupo ao qual estão
INTRODUÇÃO intimamente relacionados (Grimaldi & Engel,
Os himenópteros constituem uma 2005). De modo geral, ocorrem em rochas
ordem da classe Insecta, sendo representados calcárias ou em âmbar.
pelas vespas, formigas e abelhas. Nas formas O clima no Cretáceo era bem mais
aladas, há dois pares de asas membranosas com quente e uniforme do que o atual, possibilitando
pouca nervação, por vezes quase ausente. As asas a formação de vastos depósitos de evaporitos em
posteriores são menores do que as anteriores, diversas partes do mundo. As regiões polares
que possuem estruturas similares a pequenos eram desprovidas de calotas de gelo e as águas
ganchos na borda posterior, permitindo ambas marinhas transgrediram sobre áreas emersas
as asas serem ligadas. As nervuras anais da asa mais baixas, formando grandes extensões
anterior não atingem a margem posterior da asa. de mares epicontinentais. A vegetação era

384
predominantemente formada por samambaias Tenthredinidae e Trigonalidae, ainda com
herbáceas e arbustivas, árvores de gimnospermas representantes atuais. A família Formicidae (das
e pequenas angiospermas, estas principalmente formigas) é encontrada a partir do Hauteriviano,
localizadas em regiões tropicais. A final do sendo registradas neste andar da Austrália, no
período, com o estabelecimento do Atlântico, o Aptiano do Brasil e no Turoniano dos Estados
clima tornou-se mais sazonal e as temperaturas Unidos. A família Mymaridae, também surgida
mais amenas. no Hauteriviano, ocorre no Canadá e França,
tendo representantes atuais.
Exclusivamente aptianas são as famílias
FAMÍLIAS DE HIMENÓPTEROS
Archaeocynipidae, registrada na Mongólia
CRETÁCEOS russa e Brasil, e Eoichneumonidae encontrada
Das 74 famílias de himenópteros existentes na Sibéria russa, Mongólia chinesa e sudeste
no Cretáceo, a maioria (29) foi registrada nos da Austrália. Mais oito famílias surgiram no
calcários laminados do Membro Crato (Aptiano) Aptiano, todas ainda existentes, principalmente
da Formação Santana, Bacia do Araripe, descritas da Formação Santana do Brasil, mas
aflorantes no sul do Estado do Ceará, Brasil, também com ocorrências na Rússia siberiana,
única região com himenópteros mesozoicos neste Cazaquistão, nordeste da China, leste da
país. Outros locais com significativa diversidade Austrália, Canadá e França: Figitidae, Diapriidae,
da himenopterofauna cretácea encontram-se na Scelionidae, Tiphiidae, Rhopalosomatidae,
região do Taymyr e Okhotsk, Sibéria russa (22 Mutillidae, Vespidae e Mymarommatidae. No
famílias), e na Mongólia, tanto chinesa quanto Albiano surgem três novas famílias ainda com
russa (Transbaikalia), onde ocorrem 21 famílias. representantes atuais: os Cephidae, encontrados
Os mais antigos himenópteros na Mongólia, e os Xiphydriidae e Masaridae, de
cretáceos ocorrem já no Berriasiano, sendo 14 ocorrência mais ampla. Outra família surgida no
famílias extintas no Eocretáceo: Xyelydidae, Albiano, Armaniidae, foi registrada em terrenos
Paroryssidae e Gigasiricidae (registradas na siberianos do norte e nordeste da Rússia, assim
Ásia), e Praeichneumonidae, Ephialtitidae e como no Cazaquistão (oeste da Mongólia), tendo
Praeaulacidae, que também ocorrem na Sibéria desaparecido no Turoniano.
russa, Mongólia, Brasil, Espanha e Austrália, No início do Neocretáceo, Cenomaniano,
todas desaparecida no Aptiano, com exceção dos aparecem novas cinco famílias distribuídas em
Xyelydidae. Outras famílias também ocorrentes latitudes bem setentrionais: Scolebythidae,
no Berriasiano, porém extintas no Albiano são: Tetracampidae (Canadá), Cynipidae (Canadá e
Mesoserphidae e Proctotrupidae (registradas no Estados Unidos), Orussidae (norte da Sibéria)
Brasil e Mongólia), Xyelotomidae, Gasteruptiidae, e Spheconyrmidae (Canadá, Estados Unidos
Aulacidae, Pamphilidae e Baissodidae, bem e também norte da Sibéria), esta desaparecida
representadas na Mongólia chinesa e russa, no no Campaniano. No Turoniano, surgem quatro
leste da Austrália, norte da Sibéria e Inglaterra. famílias, quase todas com representantes
A família Sepulcidae extinguiu-se pouco mais encontrados em bolotas de âmbar do Alaska
tarde, no Cenomaniano, tendo sido registrada ou Canadá: Eupelmidae (desaparecida no
principalmente na Mongólia e Madagascar. Campaniano), Ceraphronidae, Eulophidae
Ainda presentes no início do Cretáceo, são e Eumenidae, esta registrada em camadas
as famílias que ocorrem principalmente no sedimentares da América do Sul. No Santoniano,
Brasil, Sibéria e Mongólia, mas também na novas cinco famílias aparecem: Ibaliidae,
Austrália, Espanha, Inglaterra, França e Canadá: Plumariidae, Pteromalidae, Torymidae e
Anaxyledidae e Sphecidae (extintas no Albiano), Maimetsheidae (Sibéria), esta desaparecida um
Serphitidae, Ichneumonidae e Cretevaniidae andar antes do final do período, tendo as demais
(extintas no Maastrichtiano), Austroniidae, ainda representantes atuais. No Campaniano, já
Braconidae, Drynidae, Pompilidae, Megaspilidae, próximo ao término do Cretáceo, surgem quatro
Stigamaphronidae, Chalcididae, Scoliidae, famílias, uma delas de grande importância na

385
era vindoura: os Apidae (abelhas), registrados b) Das famílias cretáceas de himenópteros,
em depósitos neocretáceos do Uruguai, Estados 29 foram registradas no Membro
Unidos e Europa. As demais famílias, conhecidas Crato (Aptiano) da Formação Santana
do Canadá, inclusive em âmbar, são: Ormyridae, da Bacia do Araripe, Brasil, 22 famílias
Trichogrammatidae e Vanhorniidae. nos calcários do norte e nordeste da
As restantes famílias registradas em terrenos Sibéria, Rússia, e 21 na Mongólia, na
cretáceos são menos conhecidas: Falsiformicidae, China, Rússia e Cazaquistão.
Chrysididae, Pelecinidae, Xyelidae, Bethylidae, c) No Neocretáceo surgiram 19 famílias
Praesiricidae, Heloridae e Siricidae, ocorrentes de himenópteros, algumas conhecidas
principalmente em terrenos russos (Sibéria e leste através da preservação no âmbar, entre
do lago Baikal, ao norte da Mongólia) e chineses as quais a família Apidae (abelhas),
(Mongólia e região de Hebei, nordeste do país). apenas registrada no Campaniano,
Os Chrysididae também ocorrem no Canadá. bem mais tarde do que as angiospermas
Três outras famílias cretáceas são mencionadas por (Aptiano).
Labandeira (1994): Megalyridae, Monomachidae
e Roproniidae. Com exceção dos Falsiformicidae, d) No Cretáceo, os representantes da
extintos no Santoniano, as demais atingiram os subordem Symphyta são minoria, com
dias atuais. apenas oito famílias, sendo todas as
demais 66 famílias pertencentes aos
Os himenópteros são conhecidos de
Apocrita.
quase todos os andares do Cretáceo, com exceção
do Barremiano e Coniaciano. Das 74 famílias
registradas, a maioria ainda tem representantes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
atuais e apenas 24 são extintas. Os representantes
da subordem Symphyta são minoria, com GRIMALDI, D. & ENGEL, M.S. 2005.
apenas oito famílias: Xyelydidae, Pamphilidae, Evolution of insects. New York, Cambridge
Anaxyledidae, Tenthredinidae, Siricidae, já University, 770p.
conhecidas desde o início do Cretáceo, Cephidae
e Xyphydriidae, surgidas no Albiano, e Orussidae, LABANDEIRA, C.C. 1994. A compendium
que apareceu no Cenomaniano. Todas as demais of fossil insect families. Contributions in
66 famílias pertencem aos Apocrita. As formigas Biology and Geology, Milwaukee Public
são encontradas a partir do Eocretáceo, as Museum, 88: 1-71.
mais antigas do Grupo Korumburra, Austrália
(Hauteriviano). No Neocretáceo 19 novas
famílias de himenópteros surgiram, algumas
conhecidas através da preservação de indivíduos
dentro do âmbar. No Campaniano, já próximo
ao término do Cretáceo, surgem as abelhas, bem
mais tarde do que as angiospermas com flores,
que se desenvolveram no Aptiano, sugerindo que
o surgimento dos Apidae pode ter sido anterior.

CONCLUSÕES
Com a realização do presente trabalho
podem ser listadas as seguintes conclusões:
a) Das 74 famílias de himenópteros
registradas no Cretáceo, a maioria
ainda tem representantes atuais e
apenas 24 são extintas.

386
FORAMINÍFEROS, MICROFAUNA, SEDIMENTOLOGIA, PALINOFÁCIES
E PERFIS ELÉTRICOS, NA ANÁLISE DE ESTRATIGRAFIA DE
SEQUÊNCIAS - CRETÁCEO – EXEMPLO DA BACIA DE SE-AL
Carol Coutinho Johnsson1, Maria Rosilene Ferreira Menezes Santos1,
Paulo César Galm1, Paulo Roberto da Silva Santos1, Taíssa Rego Menezes2
1
Petrobras, UO-SEAL/EXP/SE; 2Petrobras, CENPES/PDGEO/GEOQ

RESUMO ABSTRACT
A utilização da Riqueza Específica The Specific Richness of foraminifers
de foraminíferos, na definição da Superfície was used in Cretaceous intervals of the Calumbi
de Inundação Máxima (SIM) e de ciclos Formation, from Sergipe-Alagoas Basin, to
regressivos e transgressivos é exemplificada em support the definition of the maximum flooding
intervalos Cretácicos da Formação Calumbi, surface (MFS) and transgressive and regressive
na Bacia de SE-AL. A correlação destes cycles, is exemplified in Cretaceous intervals
dados com os nanofósseis, palinologia, perfis of the Calumbi Formation, from Sergipe-
elétricos radioativos, e caracterização das fácies Alagoas Basin. The correlation of these data
deposicionais, corroboram a importância da with nanofossils, palynology, electric radioactive
utilização dos microfósseis na identificação logs, and depositional facies characterization,
dos ciclos deposicionais. A presença, em águas corroborate the importance of microfossils on the
profundas, de foraminíferos bentônicos de identification of depositional cycles. The presence
batimetria mais rasa e de biofácies com maior of shallower benthic forams, and biofacies with
ocorrência de fragmentos de equinóides, equinoids and inocerams fragments, ostracodes,
inoceramídeos, ostracodes e foraminíferos and oxidized forams, show evidence of transported
oxidados, apontam para intervalos de sedimentos sediments from shallower bathymetries, even
transportados de batimetrias mais rasas, mesmo when they occur within the slope.
quando ocorrem dentro do talude (batial superior Keywords: foraminifers, correlation,
e médio). depositional cycles
Palavras chave: foraminíferos, correlação,
ciclos deposicionais

387
SIMILARITIES BETWEEN VERTEBRATE-BEARING DEPOSITS
FROM THE LATE CRETACEOUS OF SOUTH AMERICA
Yuri Modesto Alves¹ (alves_modesto@yahoo.com.br), Miguel Rodrigues Furtado¹ (migueltupa@gmail.com),
Francisco Edinardo Ferreira de Souza² (edinardo.souza@yahoo.com.br)
¹Universidade Federal do Rio de Janeiro, IGEO-CCMN, Departamento de Geologia, Programa de Pós Graduação em Geologia;
2
Universidade Federal do Tocantins, Campus de Porto Nacional, Laboratório de Paleobiologia

ABSTRACT fossils have belonged to the western Gondwana


paleocontinent, and are found overspread in
In this work was realized a comparative
countries such as Brazil, Argentina and Bolivia,
study of vertebrate fauna of fossiliferous deposits
and include marine, continental and freshwater
from Late Cretaceous of South America through
taxa.
Hierarchical Agglomerative Clustering Analysis.
A preliminary comparison at a supragenerical These paleofauna were represented
level suggested strong affinities among South by: sclerorhynchids, dasyatid and rhombontid
American vertebrate-bearing units. However, chondrichthyans; lepisosteid, polypterid,
more fieldworks must be realized to increase semionotid, pycnodontid and gyrodontid
diversity and distribution of these groups. pycnodontiforms, osteoglossid, charachoid,
diplomystid, andinichthyid, arioid, doradid and
Keywords: vertebrate fauna, Clustering
other indeterminate siluriforms, clupeiforms,
Analysis, South America
enchodontid aulopiforms, latid, percoid
and percichthyid perciforms, ceratodontid,
RESUMO lepidosirenid and asiatoceratodontid
Neste trabalho foi realizado um estudo osteichthyans; pipid, leptodactylid and
comparativo da fauna de vertebrados, pertencentes notepertodontid anurans; gymnophionans;
a depósitos fossilíferos do Cretáceo Superior da chelid, podocnemidid and meilonid turthes;
América do Sul, através da Análise de Cluster sphenodonts; madtsoiid, anilioidea and iguanian
Hierarquica Aglomerativa. Uma comparação squamates; elasmosaurid and policotylid
preliminar em um nível supra genérico sugere plesiosaurs; and hadrosaurid, titanosaurid,
forte afinidade entre os vertebrados dos depósitos carcharodontosaurid, abelisaurid, spinosaurid
da América do Sul. Contudo, mais trabalhos de and dromeosaurid dinosaurs; enantiornith birds;
campo devem ser realizados para aumentar a dryolestoid, gondwanatherid, multituberculate
diversidade e distribuição destes grupos. and euthere mammals.
Palavras-chave: Fauna de vertebrados, Despite vertebrates being well known, few
Análise de cluster, América do Sul studies documenting the diversity and similarities
of taxa have been published (e.g. Bertini et
al., 1993; González Riga, 1999; Martinelli &
INTRODUCTION Forasieppi, 2005; Candeiro et al., 2006). However
The increasing knowledge on the none of the authors cited above have made
Late Cretaceous vertebrates fauna, coastal to such analyses on a global basis. In this work,
continental deposits from South America has we realized a similarity analyses at fossiliferous
improved dramatically over the past years (e.g. deposits from South America, based on each one
Bertini et al., 1993; Gayet et al., 2001 Martinelli of their vertebrate faunas.
& Forasiep, 2005; Candeiro et al., 2006; Candeiro
& Rich, 2009) and have open new windows, not
MATERIAL AND METHODS
only for the information based on new taxa, but
also for the evolutionary, paleobiogeographic, The data used on these study were pick
biochronological, and compositional aspects up of expert literature regarding vertebrate fauna
which populated this continent. These vertebrate of seven fossiliferous Late Cretaceous deposits

388
from Western Gondwana (Figure 1) sited on are not endemic but a sample of widespread
Brazil (Bauru Group: e.g. Bertini et al., 1993; Gondwanan lineages. The other unit of the
Candeiro & Rich, 2009), Argentina (Loconche: Patagonian region, La Colonia Formation, is
e.g. Previtera & González Riga, 2008; Los not represent on this cluster, because it presents
Alamitos: e.g. Salgado et al., 1997; Bonaparte, insufficient fossil remains recovered or different
1996; Powell, 2003; La Colonia: e.g. Bonaparte et paleoenvironmental conditions (Allen, Los
al., 1990; Salta Group: e.g. Bonaparte & Powell, Alamitos, Loconche formations are continental,
1980; Powell, 2003; Allen: Martinelli & Forasiep, brackish and marine deposits, while La Colonia is
2004 ), and Bolívia (El Molino Formation: e.g. only continental).
Gayet et al., 2001) . Another cluster observed was composed
It was included on these analyses only by Salta and Bauru Groups, but the similarity
supragenerical taxonomic groups of vertebrates coefficient is only 42 %. This cluster is justified
more possibly reach. The similarities between by the absence of many taxa on both stratigraphic
vertebrate fauna have been estimated through units.
Hierarchical Agglomerative Clustering Analysis In the vertebrate bearing El Molino
(HAC). It was used the similarity coefficient Formation, is the most diversified fauna known
of Jaccard and the Unweigthed pair-group to South America. Its vertebrate fauna, with
average (UPGA) as an agglomerative method coastal and continental deposits yielded taxa
for the construction dendrograms that show like: Myliobatiformes, Polypteridae, Andinithyidae,
the co-occurrence of vertebrate fauna on the Enchodontidae, Latidae, Lepidosirenidae,
geological formations. A Cluster Analysis with Notepertodontidae and Gymnophiona indet., which
vertebrate faunas was realized using PAST are only present in this formation. Probably, many
software (Hammer et al., 2001) of these taxa might be found in other South
America formations through further excavations.
RESULTS AND FINAL CONSIDERATIONS The vertebrate record from the Late
Cretaceous of South America is mainly composed
The available evidence from Campanian- of continental (terrestrial) and freshwater
Maastrichthian vertebrate bearing formations taxa, and a few marine elements (rajiform and
of South America provide a more complex and myliobatiform chondrichthyans; semiodontid,
diverse vertebrate association than that reported Pycnodontidae, Enchodontidae and Arid
until the present in other gondwanan localities. osteichthyans; elasmosaurid and polycotylid
The entire information available from several marine reptiles)
units of South America such as: the Loncoche,
A preliminary comparison at a
Los Alamitos, La Colonia, Salta and Bauru
suprageneric level suggests strong affinities among
groups show similar fossil vertebrate composition,
South American vertebrate-bearing units (Figure
with relatively few differences.
2), however, more fieldworks must be realized in
The units of Patagonian region, Allen and order to increase the knowledge on the diversity
Los Alamitos formations present 63% of similarity, and the distribution of vertebrates.
and they cluster with Loconche Formation with
45% of similarity. According by Rougier et al.
(2001, 2002), the Patagonian area represents an REFERENCES
endemic region, because some taxonomic groups BERTINI, R.J.; MARSHALL, L.G.; GAYET,
are so far only recognized in Patagonia. Among M. & BRITO, P. 1993. Vertebrate faunas
them are Chelidae, Meiolanidae, Sphenodontia, from the Adamantina and Marília formations
Gondwanatheria and Multituberculata. In (Upper Bauru Group, late Cretaceous, Brazil)
contrast, Bonaparte (2002), based not only on the in their stratigraphic and paleobiogeographic
record of mammals but also in other vertebrates, context. Neues Jahrbuch für Geologie und
criticized this hypothesis concluding that those Paläontologie - Abhandlungen, 188 (1): 71-
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de Santa Rosa (Allen Formation), Río Negro
province, Argentina, with the description of
a new sauropod dinosaur (Titanosauridae).
Revista del Museo Argentino de Ciencias
Naturales, 6 (2): 257-305.

PREVITERA, E. & GONZALEZ-RIGA, B.J.


2008. Vertebrados cretácicos de la Formación
Loconche en Camul-Co, Mendoza,
Argentina. Ameghiniana, 45(2):349-359.

390
Figure 1. Geographic distribution of selected continental vertebrate taxa in South America during Late Cretaceous
(1- Group Bauru; 2- El Molino Formation; 3- Group Salta; 4- Loconche Formation; 5- Allen Formation; 6-Los Alamitos
Formation and; 7- La Colonia Formation. Figure 2. Hierarchical Agglomerative Clustering Analysis of vertebrates-bearing
deposits of South America.

391
SNACKING CROCODILES – THE EVOLUTION OF JAW MECHANISM AND
ORAL FOOD PROCESSING IN HETERODONT CROCODYLIFORMS
Attila Ösi1 (hungaros@freemail.hu)
1
Hungarian Academy of Sciences – Hungarian Natural History Museum, Research Group for Palaeontology

ABSTRACT oral food processing appeared in all main lineages


of the Crocodyliformes (Protosuchia, Notosuchia,
Twenty extinct and one extant species of Neosuchia). In most cases, however, these cranial
heterodont crocodyliforms from protosuchisans and dental specializations, and the functional
to modern eusuchians have been analysed in detail morphological background of mechanisms
concerning the cranial and dental morphology, operating jaw movements have not been studied
dental wear facets and their details, construction in detail.
of the jaw joint and mandibular symphysis, and My investigation, summarized here, is a
reconstruction of the jaw adductors that are key comprehensive study of the cranial and dental
characters to provide insight into the process of morphology, dental wear facets and their details,
dental occlusion, the phases of jaw mechanism construction of the jaw joint and mandibular
and oral food processing. symphysis, and reconstruction of the jaw
Keywords: evolution; oral food processing; adductors of heterodont crocodyliforms that are
heterodont crocodyliforms key characters to provide insight into the process
of dental occlusion, the phases of jaw mechanism
and oral food processing. Twenty extinct and
RESUMO one extant species of heterodont crocodyliforms
from protosuchisans to modern eusuchians have
Vinte espécies extintas e uma atual de
been analysed in detail. These studies revealed
crocodiliformes heterodontes, desde protosúquios at least four different types of jaw mechanism
a eusúquios contemporâneos foram analisados em (orthal, proal, palinal, transverse movements),
detalhe no que concerne à morfologia craniana some of which appeared more than once and
e dentária, desgaste das facetas dentárias e seus independently in different lineages of the group.
detalhes, estrutura da junta entre a mandíbula e The direction of movements and phases are likely
a sínfese mandibular e reconstrução dos músculos to have been similar in various aspects to those
adutores da mandíbula que são os caracteres-chave operating in the jaw mechanisms of mammals.
para prover o entendimento dos processos de Although in the latter group the dentition,
oclusão dentária, fases do mecanismo mandibular muscular system and neural control are more
e do processmento oral de alimentos. advanced, their extant representatives provide
useful analogues to understand the mechanism of
Palavras-chave: evolução, processamento
these movements and to reconstruct the different
oral de alimentos, crocodiliformes heterodontes
phases of powerstroke in crocodyliforms.

INTRODUCTION DISCUSSION
In the last two decades a great number
The most common type is orthal jaw
of unusual, mostly small-bodied crocodyliforms
closure that occured in heterodont protosuchians
have been discovered mainly from Cretaceous
(Edentosuchus, Kayenta form) and more derived,
beds of South America and Africa that possess
globidont neosuchian forms. During this
complex, heterodont dentition sometimes with
movement the mandible opens and closes
multicusped teeth. Most of these species are
simply in the vertical plane and this movement
characterized by well-controlled dental occlusion
is avoid of any significant antero-posterior or
and complex jaw mechanism. By now, it is evident
latero-medial mandibular components. In this
that these cranial and dental specializations along
constitution quadrate condyles precizely fit in the
with adaptations manifested by different kinds of

392
usually highly positioned jaw joint, lateral wings is characteristic for Mariliasuchus, Sphagesaurus,
of the pterygoid are wide to prevent latero-medial and Armadillosuchus. In contrast to proal
movement of the mandibles, and among the movement, the main cranial adductors are not
cranial adductors the pterygoid muscles are just as the pterygoid muscles but the external adductors.
well-developed as in all other, functionally non- Architecture of the upper and lower dentitions
heterodont crocodyliforms. Dental wear is usually in some forms (sphagesaurids) indicates the
heavy and apically positioned with a great number occurrence of an alternate dental occlusion. In
of irregular pits and short scratches. Whereas the these forms, however, during side switching of
occlusion of the upper and lower molariform the working and balancing sides (i.e. some kind of
teeth clearly occured in protosuchians, in various latero-medial movement also existed) the upper
globidont forms heavy dental wear is simply the and lower teeth did not occlude with each other.
result of the erosion caused by food particles and The fourth type of complex mandibular
not by direct tooth–tooth contact. Extensive wear movement was described in the hylaeochampsid
facets present already in the Early Jurassic North Iharkutosuchus. It is characterized by an orthal
American Kayenta form represents the earliest movement that is combined with significant
evidence of dental wear produced by effective latero-medial movement and perhaps some short
food processing in a crocodyliform and indicates antero-posterior sliding of the unfused mandibles.
that the effective food processing existed already Wear facets on the large and flat multicusped
in the most basal forms of the group. grinding teeth are extensive, close to horizontal
Antero-posterior (pro-palinal) mandibular and they bear numerous transversely oriented,
movement was frequently noted in a great number relatively long scratches. Along with the powerful
of primarily Gondwanan notosuchians. In most pterygoid muscles, m. adductor mandibulae
cases, however, the functional background and the posterior was particularly developed. Latero-
exact process of jaw movement were not clarified. medial movement was accomplished by rotation
Comparison of the position of the dental wear of the mandibles around the quadrate condyle
facets and the orientation of scratches among that was assisted by slight movements of the
these taxa revealed two basically different types unfused symphysis. In contrast to sphagesaurids,
of mandibular movement with antero-posterior the latero-medial movement revealed in the jaw
components. The first type is proal movement mechanism of Iharkutosuchus was more effective,
(seen e.g. in extant kangaroos and rodents) in because dental occlusion existed not only to
which jaw closure during the powerstroke is alternate the working and balancing sides but also
completed with the significant forward shifting of to grind the food item in this phase.
the mandibles. This mechanism resulted in dental
wear on the distal carinae of the upper teeth and
on the mesial carinae of the lower teeth, and CONCLUSIONS
also apically both on the upper and lower teeth. It is evident that in crocodyliforms,
Pterygoid muscles were the main adductors which, a dominantly predatory group of archosaurs,
among others, motorized the anterior shifting of effective oral food processing along with a complex
the mandibles to bring the complementary tooth jaw mechanism was not as essential, wide-
carinae into antagonistic contact. This type of spread and highly specialized as in mammals.
movement occured for example in Malawisuchus, However, it seems that in a number of Mesozoic
Notosuchus and in the Asian Chimaerasuchus. and perhaps Cenozoic ecosystems (especially in
The other type of mandibular movement Gondwanan habitats or on some islands of the
completed with an antero-posterior component European archipelago) the diverse niches filled
is palinal movement. This mechanism is in dominantly by mammalian groups in North
characterized by retractive powerstroke in which America and Asia were occupied by highly
the strongly fused mandibles are pulled backwards specialized, mostly small-bodied crocodyliforms.
in the last stage of jaw closure. Dental wear is These results unambiguously demonstrate that
complex with dominantly lingual and labial wear crocodyliforms had much more diverse ecological
facets of the upper and lower conical, carinate roles in these habitats than previously thought.
teeth, respecitvely, and the relatively long, parallel
scratches on the lower wear facets are mesio-basal
– apico-distally oriented. This type of movement

393
S-08:
Paleogeografia, Paleoecologia
e Paleoclimatologia
DEPOSIÇÃO PALINOLÓGICA EM SEDIMENTOS
DE SUPERFÍCIE NO OESTE DO RS
Andreia Cardoso Pacheco Evaldt1 (andreia.pacheco@ulbra.br), Soraia Girardi Bauermann1
Ulbra, Laboratório de Palinologia
1

RESUMO concentrations and accessories taxa were observed


in all samples.
A região da Campanha Gaúcha é carente
de estudos palinológicos, embora a vegetação Keywords: Pollen, Calibration pollen,
campestre possua um bom potencial para ser Quaternary
utilizada como indicadora ambiental. Entretanto,
pouco se conhece sobre a deposição palinológica INTRODUÇÃO
desta região. Este trabalho tem como objetivo
A utilização de análises de conjuntos
conhecer a dispersão dos grãos de pólen em
polínicos recentes como fonte primária de
sedimentos superficiais dos ambientes campestres
recursos para entendimento e interpretação de
da Campanha Oeste do RS. Sedimentos
ambientes análogos pretéritos está cada vez mais
holocênicos foram coletados em três diferentes
freqüente (Evaldt et al., 2009). Este processo
localidades (Uruguaiana, Quaraí e Barra do
de transferência de informação exige acurada
Quaraí) totalizando cinco amostras que foram
identificação das assembleias polínicas fósseis que
processadas pela metodologia usual para amostras
é realizada por comparação com a flora polínica
de superfície. Os resultados demonstraram
atual.
predomínio de grãos de pólen de Poaceae (>39%)
Estudos recentes em palinologia já têm
e outros táxons campestres, refletindo a vegetação
avançado sobre este tema buscando uma calibração
atual. Entretanto diferenças nas concentrações e
entre as assembleias polínicas modernas e as fósseis.
nos táxons acessórios puderam ser observadas em
Este ajuste é realizado com base em amostras de
todas as amostras.
assembleias polínicas modernas comparadas com
Palavras-chave: Pólen, Calibração
comunidades vegetacionais atuais com objetivo
polínica, Quaternário
de obter interpretações paleoambientais mais
fidedignas.
ABSTRACT A Campanha Gaúcha é carente de
The region of Campanha Gaúcha estudos palinológicos tendo somente um
palynological studies is lacking, although the resumo publicado para área (Neves et al., 2001).
grassland has a good potential to be used as Os resultados obtidos mostraram que a região
environmental indicator. However, little is know fisiográfica da Campanha foi continuamente
about the pollen deposition in this region. This vegetada por ervas desde o Pleistoceno até os
work aims to evaluate the dispersion of pollen dias de hoje. Entretanto, os estudos desenvolvidos
grains in surface sediments of the grasslands west nesta região trouxeram ao palco das discussões
of the Campanha RS. Holocene sediments were paleoambientais novas necessidades, uma vez
collected in three different locations (Uruguaiana, que a região é hegemonicamente campestre
Quaraí and Barra do Quaraí) totaling five samples desde os 22ka portanto não há como realizar
that were processed by the usual methodology análises palinológicas sob a óptica do confronto
for surface samples. The results showed a entre assembleias polínicas arbóreas e herbáceas.
predominance of pollen grains of Poaceae (> 39%) Todavia a vegetação campestre possui um bom
and other taxa by field formation, reflecting the potencial para ser utilizada com indicadora
current vegetation. However differences in the ambiental já que possui ciclo de vida curto

397
e provavelmente respondem rapidamente as Cyperaceae, Justicia lavelinguis, Lamiaceae,
mudanças de temperatura. Malvaceae, Myrtaceae Pfaffia, Poaceae, Tillandsia).
Este trabalho tem como objetivo Poaceae foi o elemento polínico mais importante
conhecer a deposição palinológica em sedimentos atingindo 74,3%, dominando o espectro polínico.
superficiais dos ambientes campestres do oeste do Segue Asteraceae Subf. Asteroidae com 7,3% e
RS, visando a modelagem do espectro polínico Cyperaceae com 4,7%. Foi registrado também,
atual, possibilitando assim maior acuracidade na 2% de grãos de pólen de Aspidosperma quebracho-
análise dos sedimentos pretéritos e maior precisão blanco, elemento arbóreo típico da região que é
nas reconstituições paleoambientais. característico de formações vegetacionais do tipo
Savana Estépica.
MATERIAIS E MÉTODOS 2.2 Mata
Foram analisadas cinco amostras polínicas Foram encontrados 12 tipos polínicos
de diferentes localidades (Uruguaiana, Barra do (Amaranthus/Chenopodiaceae, AsteraceaeSubf.
Quaraí e Quaraí). As amostras foram coletadas Asteroidae, Cyperaceae, Fabaceae, Lamiaceae,
aleatoriamente, nos dois centímetros superiores Mimosa, Monocotiledônea, Paffia, Poaceae,
do solo, após a remoção da serrapilheira e são Rubiaceae, Sapium, Tillandsia). Nesta amostra, o
provenientes de solo e depressões inundáveis, tipo polínico predominante foi Poaceae com 77%,
todas coletadas em ambientes minimamente seguido de Cyperaceae com 5,8% e Asteraceae Subf.
perturbados e áreas não cultivadas. O Asteroidae e Fabaceae, ambas com 3,5%.
processamento químico do material foi realizado
de acordo com a metodologia proposta por Faegri
Localidade 3. Município
& Iversen (1989). Foram contados no mínimo
Barra do Quaraí/RS
200 grãos de pólen por amostra. A identificação
dos palinomorfos amostrados foi realizada por 3.1 Campo
comparações com seus equivalentes modernos Foram encontrados 16 tipos polínicos,
através de consultas à coleção de referência do sendo a amostra de maior riqueza (Aspidosperma
Laboratório de Palinologia da ULBRA, além de quebracho-blanco, Asteraceae Subf. Asteroidae,
consulta a literatura especializada. Cyperaceae, Fabaceae, Heimia myrtifolia,
Hypochaeris, Lamiaceae, Loranthaceae, Malvaceae,
RESULTADOS Mimosaceae, Monocotiledônea, Myrtaceae, Poaceae,
Prosopis), 1 tipo polínico de macrófita aquática
(Lemnaceae) e 1 tipo polínico de um taxon
Localidade 1. Município exótico (Pinus). O tipo polínico predominante
Uruguaiana/RS foi Poaceae com 62,7%, seguido de Cyperaceae
Nesta localidade foram encontrados com 14,4% e Fabaceae com 8%. Destaca-se nesta
10 tipos polínicos (Asteraceae Subf. Asteroidae, amostra o registro de 1,9% de grãos de pólen
Cyperaceae, Fabaceae, Malpighiaceae, de Pinus. Registrou-se 1,1% de grãos de pólen
Monocotiledônea, Myrtaceae, Poaceae, Tillandsia), 1 correspondentes a Aspidospermaquebracho-
tipo polínico de macrófita aquática (Sagittaria) e blanco e Prosopis, elementos arbóreos típicos da
1 tipo polínico de táxon exótico (Pinus). O tipo região Savana Estépica.
polínico predominante foi Poaceae com 69,9%,
seguido de Sagittaria com 9,7%. 3.2 Mata
Foram encontrados 13 tipos polínicos,
Localidade 2. Município Quaraí/RS sendo segunda amostra de maior riqueza
2.1 Campo (Alophyllus, Asteraceae Subf. Asteroidae, Fabaceae,
Heimia myrtifolia, Loranthaceae, Mimosaceae,
Foram encontrados 12 tipos polínicos
Monocotiledônea, Myrtaceae, Poaceae, Prosopis,
(Allophyllus, Anacardiaceae, Aspidosperma
Sapium) tipo polínico de macrófita aquática
quebracho-blanco, Asteraceae Subf. Asteroidae,

398
(Lemnaceae) e 1 tipo polínico de táxon exótico AGRADECIMENTOS
(Pinus). O elemento polínico melhor representado
As autoras agradecem ao Conselho
é Poaceae com 39,9%, seguido de Fabaceae com
Nacional de Desenvolvimento Científico e
16,6%, Myrtaceae com 14,3%, Sapium com 5,4% e
Tecnológico (CNPq) pelo financiamento do
Allophyllus com 3,9%. Foi registrado também 5%
projeto “Estudo Integrado do Quaternário na
dos grãos de pólen de Prosopis e Pinus (1,9%).
Região Oeste do Rio Grande do Sul, Região
Mesopotâmica e Pampeana da Argentina e
CONCLUSÕES noroeste do Uruguai” (490299/2008-3).
O predomínio de Poaceae na totalidade
das amostras reflete a paisagem campestre da REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Campanha Gaúcha (Bioma Pampa). Entretanto,
o registro de grãos de pólen de Pinus em BAUERMANN, S.G.; MACEDO, R.B.;
Uruguaiana e Barra do Quaraí atestam a ação BEHLING, H.; PILLAR, V. & NEVES,
antrópica na região. P.C.P Dinâmicas vegetacionais, climáticas e
do fogo com base em palinologia e análise
Na Localidade de Uruguaina/RS foram
multivariada no Quaternário Tardio no sul
encontrados menor quantidade de grãos de pólen
do Brasil. Revista Brasileira de Paleontologia
possivelmente devido a processos tafonômicos
11(2): 87-96, Maio/Agosto 2008.
que dificultam a preservação dos mesmos. A alta
porcentagem de grãos de pólen de Sagittaria BEHLING, H.; PILLAR, V.D. &
(9,7%) na amostra de Uruguaiana demonstra BAUERMANN, S.G. Late Quaternary
a sazonalidade da área, uma vez que a região é grassland (Campos), gallery forest, fire and
banhada por muitos corpos d’água que inundam a climate dynamics, studied by pollen, charcoal
mesma periodicamente. and multivariate analysis of the São Francisco
O espectro polínico das localidades de de Assis core in western Rio Grande do Sul
Quaraí e Barra do Quaraí refletem a Savana (Southern Brazil). Review of Palaeobotany
Estépica ocorrente na área. Entretanto em Quaraí and Palynology, v. 133, p. 235-248, 2005.
a Mata Ciliar está representada por grãos de pólen
de Sapium e Allophyllus e em Barra do Quaraí, o EVALDT, A.C.P.; BAUERMANN, S.G.;
espectro polínico na Mata Ciliar reflete a vegetação FUCHS, S.C.B.; DIESESL, S. &
atual que é composta quase que exclusivamente CANCELLI, R.R. 2009. Grãos de pólen
por Myrtaceae e Fabaceae. esporos do Vale do Rio Caí, nordeste do
A variação dos tipos polínicos da flora Rio Grande do Sul, Brasil: descrições
rio-grandense ainda não foi capturada em sua morfológicas e implicações paleoecológicas.
totalidade nos registros Quaternários do Rio Gaea, 5(2): 86-106.
Grande do Sul. Assim, o conhecimento dos
tipos polínicos e sua provável associação a alguns NEVES, P.C.P; BACHI, F.A; ROSSONI, M.G.;
ecossistemas podem auxiliar na interpretação dos BAUERMANN, S.G.; BORDIGNON,
registros fósseis, além de melhorar o entendimento S.A.L.; KROEFF, V.N.; GROFF, A. &
espaço-temporal das formações vegetacionais. SOUZA, A.L.F. 2001. Palinologia de um
O melhor entendimento do espectro polínico depósito paludoso na região do Banhado
campestre abre novas possibilidades no âmbito do Jacaré, campanha do Estado do Rio
da reconstituição vegetacional pretérita do Rio Grande do Sul, Brasil. In: CONGRESSO
Grande do Sul e possibilita refinar a resolução DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
taxonômica para estudos polínicos em novos ESTUDOS QUATERNÁRIOS, 8, 2001.
sítios paleontológicos. Resumos expandidos, Imbé, UFRGS, p. 365-
367.

399
ESTUDO PRELIMINAR DOS PALEOAMBIENTES COM BASE NOS
DEPÓSITOS CENOZOICOS DA BACIA DO RIO PIRANGA - MG.
Fernanda Mara Fonseca da Silva1 (nandaslv@yahoo.com.br), Maria Paula Delicio1 (mpaula@degeo.ufop.br),
Maria De Fátima Rodrigues Sarkis2 (sarkis.fatima@gmail.com), Renato Ribeiro Mendonça1 (renato.degeo@gmail.com),
João Paulo Marques Machado Teixeira (joaopmachado@gmail.com)
Universidade Federal de Ouro Preto; 2Universidade Federal de Alfenas
1

RESUMO INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como principal A Palinologia constitui-se uma das
objetivo apresentar uma análise preliminar da ferramentas empregáveis em estudos retrospectivos
paleobotânica da bacia do rio Piranga – MG, com que proferem a respeito de mudanças ambientais e
finalidade de contribuir para a compreensão dos à influência do homem sobre a paisagem (Barberi,
eventos ambientais advindos da evolução recente 2000). Em estudos de paleopalinologia, que visam
da paisagem da região. A ocupação da área e as interpretar o paleoclima e o paleoambiente, a
transformações antrópicas na vegetação estão caracterização palinológica está fundamentada na
presentes, sugeridas pela presença do eucalipto, superposição estratigráfica, no estudo do conteúdo
elemento exótico na região. A continuidade dos de cada estrato, pois este representa o ecossistema
estudos palinológicos possibilitará a obtenção local e regional (Mello et al., 2003).
de maiores informações a respeito da vegetação
durante o Cenozoico em Minas Gerais, bem
como sobre condições climáticas e de ambientes
OBJETIVO
deposicionais do rio Piranga, principal afluente da O interesse da proposta desse trabalho
bacia do rio Doce. está na tentativa de aproveitar o máximo às
Palavras-chave: Palinologia, informações contidas nos depósitos sedimentares
paleobotânica, Rio Doce-MG proveniente do rio Piranga – MG, com a
identificação dos palinomorfos para estabelecer as
condições paleoambientais nas diferentes épocas
ABSTRACT de deposição desses sedimentos.
This paper has as main objective to present
a preliminary analysis of river basin paleobotany
ÁREA DE ESTUDO
Piranga – MG, aiming to contribute to the
understanding of environmental events arising Os depósitos sedimentares em estudo
from recent developments in the region’s landscape. no rio Piranga, do ponto de vista regional, estão
The occupation of the area and anthropogenic posicionados na porção sudeste da Província
changes invegetationare present, suggested by Geotectônica Mantiqueira (Pinto, 1995),
the presence of eucalyptus, exotic element in the envolvendo o alto curso da bacia do Rio Doce,
region. The continuity of palynological studies entre os paralelos 20º38’52” e 20º40’28” S e
allow to obtain more information about the meridianos 43º05’12” e 43º29’37” W (município
vegetation during the Minas Gerais Cenozoic, as de Piranga) (Figura 01).
well as on climatic conditions and depositional
environments of the Piranga river Basin, the main METODOLOGIA
tributary of the Doce river.
Foram levantados 03 perfis estratigráfico
Keywords: Palynology, paleobotany, River
(T1,T2 e T3), sendo o T2 delineado o ponto
Doce-MG
para amostragem de sedimentos, que serão
detalhadamente estudados, pois apresenta-se com
elevado nível de matéria orgânica. Assim este
perfil selecionado foi inicialmente limpo, retirando

400
a vegetação e a camada superficial oxidada. O Piranga. Observou-se que nos estratos inferiores
material foi coletado utilizando canaletas de (2A e 2B), houve abundância de esporos de
alumínio, sendo estas retiradas cuidadosamente pteridófitos, indicando uma presença significativa
e acondicionadas imediatamente em filme de umidade na área. Já nos estratos superiores
PVC, com o objetivo de não haver perda nem (2C, 2D, 2E. 2F e 2G), foram encontrados
contaminação por pólens e esporos recentes no diversos tipos polínicos, ressaltando as famílias
material coletado. As canaletas foram conservadas Asteraceae, Myrtaceae e Poaceae, indicando que
sob refrigeração a uma temperatura aproximada o clima tornou-se mais seco. A presença antrópica
de 4°C até a etapa do tratamento químico, para foi associada ao registro do elemento exótico
evitar o desenvolvimento de fungos nas amostras. Eucalyptussp. (Myrtaceae) e de vários tipos
Posteriormente, as amostras foram submetidas a polínicos de gramíneas (Poaceae).
tratamento químico seguindo o método padrão Assim,espera-se que com o prosseguimento
de preparação com HCl, KOH, HF, acetólise desse estudo, correlacionar às informações já
(Salgado-Labouriau, 2007) e montagem de obtidas com dados futuros, como datações por
lâminas glicerinada. A análise foi realizada em radiocarbono, para elaboração de diagramas
microscopia óptica. polínicos em Ecozonas, com a finalidade de
contribuir para o entendimento paleoambiental
do período Cenozoico do estado de Minas Gerais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A coluna estratigráfica constitui-se de 08
estratos (Figura 2), sendo realizada uma lâmina REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de cada estrato para observação preliminar dos BARBERI, M.; SALGADO-LABOURIAU,
palinomorfos. Em relação à distribuição dos valores M.L. & SUGUIO, K. 2000.
das classes modais dos sedimentos utilizou-se Paleovegetationandpaleoclimateof “Vereda
a classificação de Wentworth (1922). Após o de Águas Emendadas”, central Brazil.
procedimento de peneiramento a úmido,utilizando Journal of South American Earth Sciences,
as peneiras com variação granulométrica de 30, 13(2000): 241-254
60, 120 e 200 mesh, observou a predominância
em todos os estratos de silte/argila (2A: 80,6%, MELLO, C.L. & CHAVES S.A.M. 2003.
2B: 67,9%; 2C: 61,7%; 2D: 94,8%; 2E: 62,7%; Caracterização palinológica de sedimentos
2F: 33,2%; 2G: 47,9% e 2H: 87,1%), portanto os fluviais recentes da região do médio Vale
depósitos são predominantemente compostos de do Rio Doce (MG). In: ANUÁRIO DO
argila intercalada com silte, indicando o registro INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, 26,
de uma lagoa de cheia. Rio de janeiro, 2003, UFRJ, p.78.
Os palinomorfos foram identificados em
nível de família e quando possível, de gênero, PINTO, P.C. 1995. Petrologia de rochas alcalinas,
descritos com base nas suas características cálcio-alcalinas e toleiticas da Serra da
morfológicas. Foram identificados vários Mantiqueira em Minas Gerais – Brasil.
tipos palinológicos, variando de esporos de Programa de Pós-graduação em Geociências,
pteridófitos, como monoletepsilado, Cyatheacea Universidade Federal de Minas Gerais,
e Pteridaceae, a representantes das famílias Dissertação de Mestrado, 171p.
Bignoniaceae, Anacardiaceae, Asteraceae,
Fabaceae, Balsaminaceae, Myrtaceae, Poaceae, SALGADO-LABOURIAU, M.L. 2007.
Cucurbitaceae e Malvaceae. Critérios e técnicas para o Quaternário. 1º
ed. São Paulo, Edgard Blucher LTDA, 387p.

CONCLUSÕES WENTWORTH, C.K. 1922. A scale of grade


Através das análises das laminas com and class terms for clastic sediments. Journal
pólens e esporos, foi possível identificar mudanças of Geology, 30: 377-392.
na vegetação e ocupação humana próxima ao rio

401
Figura 1. Ponto de amostragem no tributário a margem direita do rio Piranga – Córrego João Ferreira.

Figura 2. Testemunho T2.

402
ICNITOS CONTINENTAIS DO SÍTIO AFLORAMENTO MORRO
DO PAPALÉO, (FORMAÇÃO RIO BONITO), PERMIANO,
BACIA DO PARANÁ, RIO GRANDE DO SUL
Pâmela Silveira Costa1 (pamela.scosta@hotmail.com), Karen Adami-Rodrigues1 (karen.adami@gmail.com),
Camile Urban1 (camile.urban@gmail.com), Ana Karina Scomazzon1 (akscomazzon@yahoo.com.br)
Universidade Federal de Pelotas – NEPALE
1

RESUMO INTRODUÇÃO
Este estudo versa sobre a ocorrência de As estruturas sedimentares biogênicas
icnofósseis já apontados, porém pela primeira vez são evidencias de atividades desempenhadas por
descritos, em depósitos de pelito no afloramento organismos no comprimento de suas funções
Morro do Papaléo, Formação Rio Bonito, Bacia vitais. São representadas por perturbações das
do Paraná. O afloramento está localizado no características primárias dos sedimentos (e.g.
município Mariana Pimentel no estado do estratificações), pelas atividades desenvolvidas
Rio Grande do Sul. Os tubos oblíquos, de sobre ou dentro de substratos inconsolidados,
estruturas simples, pertencem ao icnogênero como pegadas ou pistas e escavações (Barreto et
do tipo Skolithos e inferem atividade de inseto, al., 2002).
provavelmente de larva de coleóptero, registrando A seção colunar do afloramento Morro
estágios de desenvolvimento até o indivíduo adulto. do Papaléo mostra-se única por apresentar numa
Este registro de Skolithos na seção estratigráfica mesma exposição tridimensional e contínua a
estudada permite a reconstrução paleoambiental sucessão estratigráfica de três fitozonas. Esta
de ambiente subaquoso em planície de inundação condição não é observada em outros sítios ao
e ou um ambiente fluvial de baixa energia. longo de toda a Bacia do Paraná e possibilita
Palavras-chave: Icnofósseis, Permiano, estabelecer os parâmetros que governam as
Rio Bonito mudanças florísticas em termos bioestratigráficos.
A atual exposição do Morro do Papaléo não só
permite um fácil e adequado acesso ao conteúdo
ABSTRACT fossilífero, bem como a visualização em três
This study deals about the trace fossil dimensões de todo o pacote da porção superior
occurrences already appointed, but herein dessa seção (Iannuzzi et al., 2009).
described by the first time, in pelitic deposits of O contexto deposicional descrito neste
Morro do Papaléo outcrops, Rio Bonito Formation, afloramento é marcado pela passagem do Grupo
Paraná Basin. The outcrop is located in Mariana Itararé para o Grupo Guatá - Formação Rio Bonito.
Pimentel County, Rio Grande do Sul state. The Nesta formação onde já foi apontada a presença de
oblique tubes, of simple structures, probably icnofósseis (Iannuzzi et al., 2009), está aqui sendo
belongs to the Skolithosichnogenera and infers descrito pela primeira vez, o icnogênero Skolithos,
about insect activity, probably of coleoptera beetle representado por tubos oblíquos, relacionados a
larvae, registering development stages to the adult invertebrados subaquáticos, os quais permitem
individual. This Skolithos record in the studied um delineamento estratigráfico e de evolução
stratigraphic section allows the reconstruction of da sucessão sedimentar pós-glacial da Bacia do
the paleoenvironment of subaquatic plains or a Paraná.
fluvial environment of low energy.
Keywords: tracefossil, Permian, Rio
Bonito MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado na Bacia
do Paraná, no Afloramento Morro do Papaléo
(Figura 1), Sitio 101 SIGEP localiza-se nas
coordenadas 30°21’S e 51°34’W à 8 km sentido

403
noroeste do centro do município de Mariana e catalogadas com numeração LNPP404 à
Pimentel (Figura 2). Milani et al. (2007) definiu LNPP447.
6 supersequências a partir da relação destes
ciclos tectono-eustáticos da bacia, e o intervalo
estratigráfico aqui estudado compreende parte da
CONCLUSÕES
Supersequência Gondwana I proposta por aquele Se descreve o registro de icnofósseis
autor correspondendo à Formação Rio Bonito (Figura 4) no nível cinco do Sítio Mariana
que se estende do Permiano Inferior a Médio. Pimentel representados por tubos horizontais,
Esta sedimentação Eomesopermiana da Bacia formados por pelitos caracterizando um
do Paraná compreende a parte essencialmente ambientesub-aquoso fluvial de baixa energia ou
marinha da Supersequencia Gondwana I, e mostra em bacia de inundação. A presença de caracteres
a deposição de sedimentos predominantemente como a presença de câmara interior, indica estar
pelíticos ao longo de ciclos de variação relativa do relacionada a escavações de insetos.
nível do mar. Os coleópteros são produtores de icnitos
A completa seção da Formação Rio caracterizando escavações endoestratais de pouca
Bonito, do Grupo Guatá, é pontuada por níveis profundidade, simples e que podem apresentar
marinhos em grande parte representados por mudanças significativas em suas estruturas
tempestitos (Castro, 1991) e a sua unidade produzidas de acordo com os seus diferentes
superior compreende arenitos finos, siltitos e estágios de desenvolvimento. Estes têm seu
siltitos carbonosos que se intercalam a camadas registro mais acentuado a partir do Permiano,
de carvão (Bortoluzzi et al., 1987). com esparsos registros no Carbonífero.
Este contexto deposicional, que marca O registro de icnofósseis permite a análise
a passagem do Grupo Itararé e Formação Rio de cunho paleoecológico e paleoambiental,
Bonito, é registrado no nível cinco do afloramento já que ocorrem in situ. Em ambientes fluviais
Morro do Papaléo (Ianuzzi et al., 2009) pela caracterizados por planícies e níveis de inundação
presença de icnofósseis representados por tubos registram-se vários icnitos: Skolithos, Taenidium e
horizontais, formados por pelitos. Scoyenia (Fernandes & Carvalho, 2007).
No afloramento Morro do Papaléo Os icnofósseis do Sitio Morro Papaléo
são registrados no nível cinco (Ianuzzi et al., contidos no nível cinco, posicionado em um
2009), icnofósseis que caracterizam escavações ambiente de planície de inundação,caracterizam-se
endoestratais de estrutura simples, em forma de como icnogênero do tipo Skolithos, considerando as
tubos horizontalizados, de pouca profundidade, dimensões e estrutura, principalmente a presença
mantendo-se dentro do extrato (Figura 3). As de câmara na extremidade das escavações onde se
dimensões dos icnofósseis foram estabelecidas atribui a produção por larvas de coleópteros.
pela extensão, diâmetro do tubo externo, diâmetro As diferenças dos diâmetros internos
do tubo interno e peso. apresentados nos tubos inferem atividade de
Os exemplares analisados e larva de coleóptero, icnogênero do tipo Skolithos,
fotografados variam quanto a sua extensão registrando estágios de desenvolvimento até o
de 0,5 cm a 5 cm, diâmetro externo de 2 cm a indivíduo adulto. Sua Icnofácie remete a um
6 cm, e diâmetro interno de 0,5 cm a 3 cm. ambiente de sedimentação continental com
A presença de uma câmara inicial a escavação transição de subaérea para subaquática, de baixa
permite a classificação de icnito continental energia, apresentando de forma a ser ainda um
produzido por insetos. As câmaras de estudo preliminar IcnofácieScoyenia.
tamanhos diferentes levam a interpretação de
desenvolvimento ontogenético. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
As amostras estão depositadas na coleção
paleontológica do NEPALE (Núcleo de Estudos BARRETO, A. M. F.; SUGUIO, K.; ALMEIDA,
Paleontológicos e Estratigráficos), da UFPel J. A.C. & BEZERRA, F.H.R. A presença da
icnoespécieOphiomorpha nodosa Lundgren

404
em rochas sedimentares pleistocênicas da HOLZ, M.; FRANÇA, A.B.; SOUZA, P.A.;
costa norte-riograndense e suas implicações IANNUZZI, R. & ROHN, R. A stratigraphic
paleoambientais. Revista Brasileira de chart of the Late Carboniferous/Permian
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Texto explicativo e mapa –Escala 1:500.000. G.P.; SOUZA, J.M.; SMANIOTTO,
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Tese (Doutorado) - Universidade Estadual
Paulista, São Paulo, 1991.

Figura 1. Afloramento Morro do Papaléo.

405
Figura 2. Mapa de localização do Afloramento Morro do Papaléo, município de Mariana Pimentel, Rio Grande do Sul.
Modificado de Iannuzzi et al. (2006).

Figura 3. Perfil estratigráfico do afloramento Morro do Papaléo detalhando os níveis fossilífero.Modificado de Iannuzzi
et al. (2006).

406
Figura 4. As imagens 4.1 à 4.4 registram os diferentes estágios de desenvolvimento de coleóptero.

407
OCORRÊNCIA DE ICNOFÓSSEIS NA LOCALIDADE DE DONA FRANCISCA,
FORMAÇÃO SANTA MARIA (TRIÁSSICO MÉDIO), RIO GRANDE DO SUL
Alan Gregory Jenisch1 (alan.jenisch@gmail.com), Karen Adami Rodrigues2 (karen.adami@gmail.com),
Ana Karina Scomazzon2 (akscomazzon@yahoo.com.br)
Universidade Federal de Pelotas – NEPALE; 2Universidade Federal de Pelotas
1

RESUMO Keywords: Trace fossils, Upper Triassic,


coprolites, Santa Maria Formation
A presente contribuição consiste em
estudo de coprólitos de “répteis mamaliformes”
do Triássico Médio da localidade de Dona INTRODUÇÃO
Francisca, Formação Santa Maria, Membro Icnofósseis constituem uma evidência
Alemoa, no Estado do Rio Grande do Sul. Os da vida nos tempos geológicos. São, por vezes,
dois exemplares registrados foram descritos e abundantes em níveis estratigráficos onde fósseis
analisados por difratometria de raios-x para de organismos são ausentes, em especial em
obtenção de informações relativas à composição rochas clásticas, cujo potencial de preservação dos
do coprólito. O tamanho dos coprólitos indica a organismos é geralmente mais baixo. Em função
extrusão por indivíduos juvenis e a impressão de dos fatores ambientais terem grandes influencias
um fragmento de Dicroidium revela o substrato sobre os mecanismos comportamentais dos
deposicional. Um dos coprólitos possui impressão organismos, a análise icnológica pode então auxiliar
de uma pegada que pelo tamanho não pertence na interpretação das condições paleoambientais
ao indivíduo produtor e sim a um animal menor, (Carvalho & Fernandes, 2007). O estudo de
possivelmente um Lacertílio. A análise detalhada coprólitos, considerados parte integrante da
destes icnofósseis auxilia na determinação de icnologia, analisa o resultado das atividades
informações paleoambientais para o Triássico da heterótrofas de organismos com o ambiente,
Formação Santa Maria. permitindo inferir desde hábitos alimentares a
Palavras-chave: Icnofósseis, Triássico reconstrução paleoambiental e paleoclimática.
Médio, Coprólito, Formação Santa Maria Os coprólitos são preservados desde o início
do Paleozoico, sendo que os registros de maior
ABSTRACT significância são identificados em depósitos de
terra firme (estratos continentais) do Permiano e
This contribution consists in a study of
Triássico (Souto, 2001b).
coprolites from “mamaliformes reptiles” of the
O primeiro registro de coprólito da
Middle Triassic of the village of Dona Francisca,
Formação Santa Maria, no Rio Grande do Sul,
Santa Maria Formation, Member Alemoa in
foi obtido na região de Chiniguá em 1928 Huene
the state of Rio Grande do Sul. Both exemplars
(1990, apud Da Rosa, 2009). Ocorrências de
registered are described and analyzed by X-Ray
coprólitos foram assinaladas por Price (1942,
diffraction. The size of the coprolites indicates
1945, 1949 apud Da Rosa, 2009) na região de
the extrusion by juvenile individuals and an
Candelária, sendo somente em 1990 desenvolvidos
impression of a Dicroidium fragment reveal the
o estudo detalhado de coprólitos desta formação
depositional substratum. One of the coprolites
(Souto, 1998).
has a footprint impression a that judging by the
size does not belong the producer, but a smaller Os coprólitos da Formação Santa Maria
animal, possibly a Lacertílio. Detailed analysis apresentam aspectos similares aos de vertebrados
of these trace fossils assists in determining registrados em afloramentos do mesmo período
paleoenvironmental information for the Triassic na Índia, África e Estados Unidos, onde
Santa Maria Formation. são registradas ocorrências de coprofácies e
circunstancialmente associadas a fósseis de

408
vertebrados em ambientes fluviais e clima semi- Classificam-se os cropólitos em I e II:
árido (Smith, 1996; Chatterjee, 1978; Hunt, 1992 I - LNPP 448: a amostra apresenta-se
apud Carvalho, 2009). em massa aglomerada, indicando um bolo fecal
Dois diferentes coprólitos, aqui em única extrusão (Figura 1.5) com um aporte
identificados, coletados na localidade de Dona seqüencial de 24,5 cm, pensando 122,3g, com
Francisca, estão sendo classificados quanto ao seu espessura média de cada segmento de 1,5cm
conteúdo sedimentológico, definição taxonômica a 2,0cm, sendo atribuída, pelas dimensões, se
e terminológica. O registro de impressão tratar de indivíduo ainda jovem, uma vez que
de fragmento foliar em uma das amostras e “répteis mamaliformes” adultos apresentam
parte de uma pegada, irão auxiliar nos estudos aproximadamente 40 cm de extensão no aporte
paleobiológicos e paleoecológicos relacionados ao sequencial, como exemplo nos Dicinodontes. Pela
estrato sedimentar aqui analisado. forma final, o tipo morfológico se classifica como
cilíndrico, sendo o caráter morfológico classificado
como isopolar, sendo que o ultimo segmento
MATERIAIS E MÉTODOS apresenta terminação em pino (extrusão).
O afloramento da área de estudo localiza-se O coprólito apresenta rachaduras que
no Estado do Rio Grande do Sul (Figura 1.1) e são classificadas morfologicamente pelas fendas
pertence ao município de Dona Francisca na BR superficiais como rachaduras de sinérise com
287(Figura 1.2), sob coordenadas geográficas muitas ramificações distribuídas por toda estrutura
29°37’40”/ 53°22’04”. Este estudo refere-se a do coprólito. Essas feições caracterizam o deposito
Supersequência Gondwana II (Milani, 1997) da em ambiente subaquoso em clima úmido.
Bacia do Paraná, onde localizam-se os estratos Descrevendo a morfologia da deformação
flúvio-lacustres da Formação Santa Maria. Os pode-se identificar na amostra dobras com
icnofósseis estão localizados no Membro Alemoa, ranhuras transversais dispersas ao longo de
caracterizado pela presença de lutitos vermelho- toda a estrutura do coprólito geradas durante
escuro maciço e laminados, ricos em nódulos e a evacuação (Figura 1.6). Entre as marcas
veios carbonáticos (Figura 1.3 e 1.4). Essas fácies superficiais observadas está aquela produzida pela
representam depósitos lacustres, que compunham impressão de uma extremidade de pata (pegada)
os sistemas distais de uma bacia fluvio-lacustre possivelmente de Lacertílio (Figura 1.7). Outra
intracontinental. Esses lagos eram formados impressão observada ao longo do bolo fecal é a de
durante episódios de extravasamento de canais e um fragmento foliar de Dicroidium (Figura 1.8)
rompimento de diques marginais, assim indicando supostamente fazendo parte do substrato onde foi
clima semi-árido, com alternância de períodos depositado o excremento. Nessa amostra pode-se
secos e úmidos. observar também a ação de atividade coprófoga
representada pela presença de perfurações na
CONTEÚDO ICNOLÓGICO massa fecal (Figura 1.9) executadas por larvas
provavelmente de besouro de esterco (“rola bosta”;
Nesse afloramento foram encontrados
Scarabaeidae).
vestígios icnológicos da presença de dois animais
distintos que defecaram nesse local. Os coprólitos II – LNPP 449: apresenta aporte
foram provavelmente preservados por processo de sequencial de 6,5 cm, indicando pertencer a um
permineralização, no qual os espaços vazios foram indivíduo muito jovem. A amostra é composta de
preenchidos por substância mineral havendo assim dois excrementos em única extrusão (Figura 1.10)
uma substituição da matéria orgânica original. com um aporte sequencial de 6,5 cm, pesando
24,6g, com espessura média dos segmentos de
Analisando mais detalhadamente as
1,23cm sendo atribuída, pelas dimensões, se tratar
amostra pode-se observar que são formados por
de indivíduo muito jovem. Pela forma final, se
aglomerados de massas fecais com morfologias
classifica como ovóide e isopolar, sendo que um
diferenciadas. As amostras apresentam coloração
dos segmentos apresenta terminação em pino
avermelhada conferida pela localização onde
(extrusão).
foram encontradas.

409
Este exemplar apresenta as mesmas Mesozoicos. Programa de Pós-Graduação
características morfológicas (Figura 1.11) do em Geociências,Universidade Federal do
coprólito I, infere um deposito em ambiente Rio Grande do Sul,Dissertação de Mestrado,
subaquoso em clima úmido. 66 p.

MORIA. L.O. 2006. Tafonomia em sistemas


RESULTADOS fluviais:um estudo de caso na Formação
Para determinar a composição Santa Maria,Triássico do RS.Programa de
mineralógica dos coprólitos foi executado uma Pós-graduação em Geociência,Universidade
análise de difratometria de raios-x que indicou a Federal do Rio Grande do Sul, Dissertação
presença de calcita, quartzo e feldspato (Figura de Mestrado,128 p.
1.12)como principais constituintes da amostra.
Esse resultado então ajuda a inferir informações RUBERT, R.R. & SCHULTZ, C.L. 2004.
da diagênese ocorrida no processo de fossilização, Um Novo Horizonte de Correlação para o
corroborando para a hipótese de permineralização Triássico Superior do Rio Grande do Sul.
devido a presença de calcita. Porto Alegre.Pesquisas em Geociências,
31(1):71-88.

CONCLUSÕES SCHWANKE, C. & KELLNER, A.W.A. 2009.


A preservação de pegada impressa na Ecossistema Terrestres do Triássico:os
superfície de um dos exemplares e o registro de tipos exemplos de Santa Maria e região.In:
morfológicos diferentes de coprólitos registrados Vertebrados Fósseis de Santa Maria e
no afloramento Dona Francisca, indicam que os Região.Santa Maria, p. 279-300. SOUTO,
“répteis mamaliformes” estabeleciam atividade P.R.F. 2007. Coprólitos. In: Icnologia. São
populacional gregária. A impressão de Dicroidium Paulo, Sociedade Brasileira de Paleontologia,
reforça as características paleoambientais inferidas p. 84-87.
pela litologia para o Membro Alemoa, sendo
o afloramento para este registro um depósito
de lago temporário, estabelecido após eventos
episódios de extravasamento de canais de planície
de inundação.
Os resultados das análises por difratometria
revelaram que a estrutura interna dos coprólitos
foi substituída por calcita mineral proveniente
de águas meteóricas ricas em sais que com a
variação do nível freático formam paleoalteração
pedogênica.Essas informações vem então junto
com a análise geológica dos depósitos confirmar
a paleo - interpretação deste paleoambiente
pretérito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, I.S. et al. 2009. Icnofósseis de
Vertebrados. In:Vertebrados Fósseis de Santa
Maria e Região.Santa Maria, p. 253-277.

DENTZIEN-DIAS, P.C. 2009. O estado atual


do conhecimento sobre coprólitos, tocas
e pegadas de vertebrados Paleozoicos e

410
Figura 1. Registro Icnológico do Triássico Médio da Fm. Sta Maria: 1.1 e 1.2 – Localização da área de estudo; 1.3 –
Afloramento onde foram encontrados os icnofósseis; 1.4 – Horizonte onde foram encontrados os coprólitos; 1.5 –
Amostra de coprólito I – LNPP 448; 1.6 – Diagrama morfoestrutural da amostra LNPP 448; 1.7 – Registro de impressão de
pata; 1.8 – Registro de impressão de Dicroidium; 1-9 – Registro de ação coprófoga; 1.10 – Amostra de coprólito II – LNPP
449; 1.11 – diagrama morfoestrutural amostra LNPP 449; 1.12 – Cromatograma da análise de difratometria de raio-x
com indicação dos principais minerais identificados.

411
ORGANIC FACIES CHARACTERIZATION OF THE LOWER PERMIAN BONITO
COALSEAM (ARTINSKIAN) FROM THE SANTA CATARINA COALFIELD, BRAZIL
João Graciano Mendonça Filho1 (graciano@geologia.ufrj.br), Margot Guerra-Sommer2 (margot.sommer@ufrgs.br),
Miriam Cazzulo-Klepzig2 (miriam.klepzig@ufrgs.br), Joalice Oliveira Mendonça1 (joalice@lafo.gologia.ufrj.br),
André Jasper3 (ajasper@univates.br), Marcio L. Kern1 (marciokern@yahoo.com.br),
Tais Freitas da Silva1 (taisfsilva@lafo.geologia.ufrj.br), Taíssa Rêgo Menezes4 (taissa.menezes@petrobras.com.br)
Laboratório de Palinofácies e Fácies Orgânica, IGEO, UFRJ; 2Departamento de Paleontologia e Estratigrafia, IGEO, UFRGS; 3Centro
1

Universitário UNIVATES; 4CENPES, PETROBRAS

ABSTRACT RESUMO
Coal and shales from Bonito coal seam O presente estudo demonstra a múltipla
(Santa Catarina Coalfield) were sampled at mine análise de amostras de carvão e sedimentos
face of the coal bed of the Bonito I underground associados provenientes da camada de carvão
mine (Lauro Muller municipality). The coal Bonito, Jazida carbonífera de Santa Catarina
microscopic analysis evidences a predominance (mina de carvão Bonito I, município de Lauro
of lipitinite and vitrinite over inertinite, Müller). A análise microscópica do carvão
among the maceral groups; carbargilite are the evidenciou a predominância de liptinita e
microlithotypes more abundant. Palynological vitrinita sobre inertinita entre os macerais,
analyses showed a dominance of bissaccate constituindo a carbargilita o microlitotipo
pollen grains from gymnosperms and arborescent mais abundante. Resultados palinológicos
lycopsid spores. Arborescent lycophyta compressed demonstraram o predomínio de grãos bissacados
stems showing a surface covered with charred relacionados a gimnospermas e esporos de
material and macroscopic gymnosperm wood licófitas arborescentes. Fragmentos de caules de
charcoal, associated to shales, are considered as a licófitas arborescentes, muito comprimidos, com
direct evidence of wildfires in the peat-forming superfície carbonizada e charcoal macroscópico,
system. Palynofacies showed the dominance of provenientes de sedimentos de base e de topo do
phytoclasts over palynomorphs and indicated carvão foram considerados como evidência direta
changes in palaeoenvironmental conditions, de incêndio vegetacional no ambiente formador
from gimnosperm dominated plant community da turfa. Análises de palinofácies mostraram a
to arborescent lycopsid plant community. The predominância de fitoclastos sobre o grupo dos
mean random reflectance of the vitrinites (Rr) palinomorfos indicando mudanças nas condições
varies from 0.88 to 0.94%. The liptinite spectral ambientais que evoluiram desde uma comunidade
fluorescence parameters show the max values vegetal dominada por gimnospermas na base
varying from 610 to 650, indicating equivalent para uma comunidade dominada por lycopsidas
vitrinite reflectance values from 0.83 to 1.10%. no topo da camada. O valor médio da refletância
Through these results it can be observed that da vitrinita varia de 0,88 a 0,94%. O espectro de
the equivalent vitrinite reflectance for samples fluorescência da vitrinita mostram valores de
presents an excellent correlation with the vitrinite max variando de 610 a 650, indicando valores de
reflectance measured. The coal fits in the category refletância equivalentes ao da vitrinita de 0,83 a
of “High-Volatile A Bituminous Coal” of the 1,10%. Esses resultados permitem observar que a
ASTM classification. Total organic carbon varies refletância equivalente da vitrinita apresenta nas
from 2.4 to 44.0wt% and Sulphur is present in amostras excelente correlação com a refletância
high contents. GC-MS analyses evidenced a da vitrinita medida. O carvão enquadra-se
predominance of even saturated hydrocarbons na categoria “Betuminoso Alto Volatil A”, na
and the presence of -hopanes and -steranes. classificação ASTM. O COT varia de 2,4 a
Keywords: organic facies, Bonito coal 44,0wt%, com alto conteúdo de enxofre. Análises
seam, Santa Catarina coalfield de GC-MS evidenciaram a predominância
constante de hidrocarbonetos saturados e a
presença de -hopanos e -esternanos.

412
Palavras-chave: facies orgânica, camada The presence of dense associations of highly
de carvão Bonito, jazida carbonífera de Santa compressed stems, preserved in horizontal
Catarina disposition without preferential orientation at the
roof of the mine, allowed for the identification
of arborescent lycophytes as components of the
INTRODUCTION lowland plant community. SEM analysis of leaf
The South Santa Catarina coalfield, cushion of these fragments evidenced a surface
considered of Artinskian age by Holz et al. (2010), covered with charred material (Fig. 4) indicating
is located in the southeastern portion of the Paraná the presence of fire.
Basin, in a polygon of approximately 1,200km2, Macroscopic fossil gymnosperm charcoal
with a length of 95 km and an average width of from a silty layer at the base of the coal seam
20 km (Fig. 1). The coal seams from the top to evidenced the presence of secondary xylem with
the base are designated as: Barro Branco, Irapuá, coniferous abietinean bordered pits and true spiral
“A” and “B”, Ponte Alta, Bonito, and the minor thickenings (Fig. 4). The absence of abraded
coal layers Pre-Bonito “C” and “D (CIESESC, edges (autochthonous/hypautochtonous origin)
2008). The Bonito I mine area, object of the suggests that the mire and near surroundings
present study, lie near the municipality of Lauro were regularly subject to wildfires ( Jasper et al.,
Müller and exploits the Bonito coal seam, with 2011). The joint occurrence of inertodetrinite in
2m thickness. the Bonito Coal and macroscopic fossil charcoal
In this study, coal and coal shales samples in associated shale leads to the hypothesis that the
from the Bonito coal seam were analyzed in order occurrence of this coal maceral can be considered
to discuss their petrographical, geochemical, as an indirect evidence of mire fire, as accepted by
palynological and palaeobotanical characteristics, Scott (2002, 2010).
and also to detect the presence of macroscopic Total organic carbon varies from 2.4 to
charcoal. The organic facies analysis of the coal- 44.0wt% and Sulphur is present in high contents.
bed will help in the characterization of this GC-MS analyses evidenced a predominance of
mineral resource and set its real potential to assist odd even saturated hydrocarbons and the presence
in increasing the Brazilian energy matrix. of -hopanes and -steranes. Biomarker ratios
such the 20S/(20S+20R) and /( + ) for
RESULTS C29 regular steranes (Fig. 5), confirm the maturity
of the organic matter as determined by vitrinite
Palynological analyses demonstrated
reflectance (R0 0.88-1.04%). This result confirm
compositional changes along the coal seam. The
to petrographic coal classification in bituminous
basal coal is composed mainly by bissacate pollen
high volatile – A.
grains produced probably by gymnosperms,
while in the top level the palynoflora is marked
by the predominance of pteridophytic spores, CONCLUSION
mainly produced by lycopsids. Intermediary levels The organic facies analysis of the Bonito
showed high carbonified material undeterminable coal seam allows establishing the following
(Fig. 2). Palynofacies analyses evidenced that conclusions:
the Bonito coal seam is essentially formed by - Palynofacies and palynological results
phytoclasts; the high degree of preservation of the indicated changes in the biomass composition that
palynomorph group testify for the composition reflect an evolution in the plant community from
of the peat-forming flora in coastal swamp the base, dominated by gymnosperms, to the top,
environments during the deposition of the Rio dominated by lycopsids. Paleobotanical data from
Bonito Formation. associated shale corroborated this interpretation.
Petrographic analysis from coal samples - Biomarker ratios such the 20S/
shows that the coal is a trimaceralic association (20S+20R) and /( + ) for C29 regular
with varying composition. Carbagilite are steranes confirm the maturity of the organic
the more abundant microlithotypes (Fig. 3).

413
matter as determined by vitrinite reflectance SCOTT, A.C. 2002. Coal petrology and the
(R0 0.88-1.04%). The coal fits in the category origin of coal macerals: a way ahead? Int. J.
of “High-Volatile A Bituminous Coal” of the Coal Geol. 50, 119–134.
ASTM classification. Total organic carbon varies
from 2.4 to 44.0wt% and Sulphur is present in SCOTT, A.C. 2010. Charcoal recognition,
high contents. taphonomy and uses in palaeoenvironmental
- The joint occurrence of inertodetrinite analysis. Palaeogeo. Palaeocl. Palaeoec. 291,
in the Bonito Coal and macroscopic fossil 11–39.
charcoal, which indicates wildfires in associated
JASPER, A.J.; UHL, D.; GUERRA-SOMMER,
shale, leads to the hypothesis that the occurrence
M.; BERNARDES-DE-OLIVEIRA,
of inertodetrinite can be considered as a direct
M.E.C. & MACHADO, N.T.G. 2011.
evidence of mire fire.
Upper Paleozoic charcoal remains from
South America: multiple evidences of fire
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the Paraná Basin, Brazil, South America. J.
South Am. Earth Sci. 29, 382–399.

Figure 1. Location of study area, stratigraphical position of the coal bearing Rio Bonito Formation in Paraná Basin, and
geological log of the Bonito coal seam.

414
Figure 2. Palynological assemblage showing saccate pollen grains and trilete spores.

Figure 3. Maceralic composition of the Bonito coal seam: 1) vitrinite particles (VT) whith pyrite inclusions and
inertodetrinite (ID) and mineral matter (MM); 2) funginite (FG), inertodetrinite (ID), liptodetrinite (LD) circunded
gelovitrinite (VT); 3) bands of the liptodetrinite (LD), sporinite (ES) vitrinite (VT) and inertodetrinite (ID) with small
inclusions of the feamboidal pyrite (PI); 4) bands of the liptodetrinite (LD) e cutinite (CT) interspersed with vitrinite (VT)
bands and inertodetrinite (ID) whith small pirite inclusions; 5) Lamella of cuticles (CT), sporinite (ES) liptodetrinite (LD)
involving the mineral matter (MM); 6) Esporinite (ES) and cutinite (CT); 7) Fusinite (FS) with mineral matter (MM); 8)
Fusinite and mineral matter (MM) (Micrographies in white and blue light immersion oil).

415
Figure 4. a) lycophyte compressed stem at the roof of the coalseam; b) details of the surface showing leaf cushions; c)
charred surface; d) charred wood with gymnospermic affinity.

Figure 5. Gas chromatograms of n-alkanes, isoprenoids, terpanes, and steranes of Bonito coal extracts and ternary
diagrams showing the geochemistry characteristics of the coal samples from Santa Catarina Coalfield.

416
QUITINOZOÁRIOS E MEIO AMBIENTE
Norma Maria da Costa Cruz¹ (norma.cruz@cprm.gov.br)
¹Serviço Geológico do Brasil-CPRM/DEGEO/DIPALE-Rio de Janeiro

RESUMO INTRODUÇÃO
Uma avaliação dos dados referentes às Os quitinozoários constituem um grupo
ocorrências de assembleias de quitinozoários extinto de organismos marinhos, microscópicos,
e suas variações qualitativas e quantitativas dotados de testa orgânica de natureza quitinóide.
permitiram o reconhecimento de conceitos gerais São dotados de simetria radial ao longo de um
sobre as suas afinidades biológicas e alterações eixo central, geralmente em forma de pequenas
morfológicas, ao longo do seu processo evolutivo. garrafas de 600 a 2.0000 µm de comprimento.
Modificações estruturais e populacionais, Apresentam formas lisas ou podem ser dotadas
observadas em associações provenientes de várias de ornamentações e apêndices de tipos variados,
localidades brasileiras, demonstraram a grande podendo ocorrer em forma de testas isoladas ou
influência do meio ambiente sobre esse grupo agrupados em cachos ou cadeias lineares de dois
de microorganismos extintos, os quais, através ou mais indivíduos.
dos tempos (Ordoviano Inferior ao Devonino
Médio) e do espaço (ampla distribuição
geográfica), constituíram importantes elementos
RESULTADOS E DISCUSSÃO
do paleoplancton marinho. Esse grupo foi assinalado pela primeira
Palavras-chave: quitinozoários, afinidades vez por Eisenack (1930), no primeiro de uma série
biológicas, meio ambiente de trabalhos referentes aos microfósseis silurianos
e devonianos da região báltica. Descreveu vários
gêneros e espécies, mas nada concluiu em relação
ABSTRACT a sua afinidade biológica, propondo apenas que
Studies from the data of the chitinozoans poderiam ser relacionados a protozoários.
assemblages and their qualitate and quantitate Vários trabalhos de diversos autores
variations has archieved the reconnaissance of the se sucederam, tanto sob o ponto de vista
general concepts about the biological affinities bioestratigráfico quanto taxonômico. Muitos
and the morphological changes through of the se dedicaram às afinidades biológicas do
evolution process. Modifications in the structure grupo e varias hipóteses foram levantadas.
and in the population, observed in brazilian Assim, Koslowski (1963), considerou que
associations from various localities, have shown os quitinozoários representariam cistos ou
the large influence of the paleoambient on ovos de algum metazoário marinho. Laufeld
these extinct microorganisms, that, thought the (1974) reforçou essa teoria, sugerindo uma
geological times (lower Ordovician to Middle origem polifilética para o grupo argumentando
Devonian) and the space (large geographical que poderiam ter sido ovos de poliquetas ou
distribution), were very important elements from gastrópodes. Locquin (1981) sugeriu afinidades
the marine paleoplankton. com fungos e denominou-os “Chitinomycetes”;
Keywords: chitinozoans, biological enquanto Cashman (1990) propôs afinidades com
affinities, environment Rhyzopoda. Cramer & Diez (1970), em função
de evidências de uma reprodução assexuada e um
espessamento secundário da parede da vesícula,
concluiu serem os quitinozoários compatíveis
com os protozoários. Jenkins (1970), efetuando

417
correlações estratigráficas entre grupos fósseis organismos marinhos. Paris e Nolvak (1999)
que ocorriam num mesmo intervalo de tempo, estão desenvolvendo um projeto que trata da
encontrou similaridade na ocorrência de diversidade global dos quitinozoários, desde a sua
chitinozoários e graptólitos sugerindo que, os origem (final do Tremadociano) até a sua extinção
primeiros poderiam ser estágios pré-prosicular (Devoniano Superior) usando 1078 espécies
de graptólitos. Posteriormente, em seus mais (descritas até 1997) cujos dados foram reunidos
recentes trabalhos, inclinou-se a considerá- no banco de dados CHITINIVOSP.
los ovos. Jaglin & Paris (1992) afirmaram que, No seu ciclo evolutivo, de uma maneira
os quitinozoários seriam ovos de metazoários geral, surgiram como vesículas de morfologia
marinhos, que foram expelidos para o ambiente simples, com paredes lisas e de grandes dimensões
marinho já com a forma e tamanho definido. (até 2000 µm de comprimento). Posteriormente,
Gabbott, Aldridge & Theron (1998) propuseram concomitantemente com a diminuição de tamanho
que os quitinozoários poderiam ter sido ovos de surgiram os elementos ornamentais como cristas,
um conodonte prioniodontideo, ao passo que pelos,espinhos, e afins, até apêndices simples a
Dzik (1992) considerou o fato de que cefalópodes extremamente elaborados , no Devoniano.
recentes produzem ovos de vários tipos e Durante este tempo os quitinozoários
tamanhos, sugerindo poder haver afinidades com tiveram variações qualitativas e quantitativas
os quitinozoários. máximas e mínimas, alcançando os picos máximos
Paris & Nolvak (1999) introduziram uma no Caradociano, Ludloviano e Devoniano Inferior
nova hipótese para a teoria dos ovos. Quando as e o mínimo no Ashgiliano.
vesículas se encontrassem reunidas em cadeias, Além desses fatores de ocorrências
poderiam representar apenas um estágio de gerais e comprovados em centenas de trabalhos
desenvolvimento, dentro de um oviduto do publicados até a presente data, alterações locais
organismo preexistente que não foi fossilizado. foram observadas, no decorrer da rápida evolução
Por outro lado, a morte desse organismo precursor e ampla distribuição geográfica deste grupo.
teria ocorrido antes de ter tido a chance de liberar No Brasil, os quitinozoários foram
os quitinozoários no ambiente marinho, na forma assinalados do Ordoviciano ao Devoniano Médio
de vesículas individuais. No entanto, nenhum em várias bacias sedimentares e suas associações
grupo fóssil tem exatamente o mesmo período foram correlacionadas entre bacias intra e
de ocorrência temporal dos quitinozoários, o que intercontinentais, coevas.
significa que nenhum organismo de corpo mole No entanto, interessantes formas e
poderia ter sido o único provedor desses ovos. assembleias anômalas foram observadas em
Assim, os autores também concluíram que, até distintas regiões do Brasil. No rio Tapajós, no estado
aquela data, não se sabia verdadeiramente, qual o do Pará, em sedimentos da Formação Barreirinha,
organismo que havia produzido os ovos e por que do grupo Curuá, uma faúnula característica
não foi preservado. do Neodevoniano, reunindo representantes
Brigs & Kear (1993) apresentaram dos gêneros Ancyrochitina, Plectochitina,
um trabalho onde demonstraram que os Cladochitina, Sphaerochitina, Angochitina,
poliquetas (um grupo que tem sido associado Alpenachitina e Anthochitina engloba
aos quitinozoários) vivem, atualmente, durante exemplares de morfologia e desenvolvimento
apenas 8 dias a 20º C. Esta poderia ser uma das anormais. Suas formas colônias apresentam-se,
razões pela qual o progenitor dos quitinozoários algumas vezes, com ligações anormais, sugerindo
não foi preservado. Porém, segundo Gabbott et um desordenamento no processo reprodutivo,
al. (1998), Howevwr Lagerstattern, contrariando formando brotos diametralmente opostos. Formas
esta hipótese, encontrou cadeias ao redor de gigantes, com morfologia excêntrica, foram
corpos de animais moles, excepcionalmente bem observadas na mesma associação.
conservados. Também em sedimentos do grupo Curuá,
Enfim, se os quitinozoários são ovos, aflorantes à margem do rio Mapuera, no estado
eles pertenceram a um ciclo ontogênico de do Pará, foi observada uma fáunula atípica de

418
quitinozoários caracterizada pelas pequenas extintos, há que se considerar as variações obtidas
dimensões de seus constituintes. com poucas e pequenas oscilações do meio
Várias hipóteses foram levantadas, em ambiente.
ambos os casos, à procura da identificação dos Estas oscilações, como verificado nos
fatores causadores dessas anomalias, sejam exemplos citados, demonstram a importância da
bióticos ou abióticos. Os primeiros incluiriam integridade do meio ambiente, tanto em pequenos
todos os fenômenos biológicos naturais ao nichos ecológicos como em grandes ambiências.
desenvolvimento do |indivíduo (metabolismo,
processos reprodutivos, alterações genéticas, etc.),
e os segundos representariam os processos de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
natureza física ou química. Entre estes, o caráter do BRIGGS. D.E.G & KEAR, A.J. 1993. Decay
substrato, luz, temperatura, salinidade, oxigenação, and preservation of polychaetes: taphonomic
profundidade, nutrientes, pH, ocorrência anômala theresholds in soft-bodied organisms.
de elementos como chumbo, mercúrio, cádmio, Paleobiology, 19(1):107-135.
arsênio, além elementos radioativos.
No caso de Barreirinhas, determinou-se a CASHMAN, B.C. 1990. The affinity of the
presença de condições extremamente favoráveis chitinozoans: new evidence. Modern
ao desenvolvimento desses organismos, o que Geology, 5:59-69.
ocasional um intenso processo reprodutivo, e
CRAMER, F.H. & DIEZ, M.C.M. 1970.
consequentemente uma proliferação desordenada
Rejuvenation of Silurian chitinozoans
que formou uma população anômala.
from the Florida. Revista Espanola de
No caso inverso, ocorrido no rio Mapuera,
Micropaleontologia, 2:45-54.
em que a fáunula, é caracterizada pelas formas
de dimensões reduzidas, deve ter acontecido CRUZ, N.M.C. 1993. Uma forma aberrante de
o oposto. Condições não favoráveis ao seu Quitinozoários do devoniano do Brasil. In:
desenvolvimento geraram formas raquíticas. A 13° CONGRESSO BRASILEIRO DE
ausência ou insuficiência de micronutrientes PALEONTOLOGIA, São Leopoldo, RS.
podem ser influído diretamente nesse fato. É Bol. Res.:184.
sabida a importância de determinados elementos
como Boro, Cobre, Ferro, Manganês, Molibdênio CRUZ, N.M.C. 1994 Afinidades Biológicas dos
e Zinco no crescimento, desenvolvimento e Quitinozoários. Novas Hipóteses. Anais
reprodução de animais e vegetais. Portanto, a da Academia Brasileira de Ciências, 66(2):
carência ou insuficiência de um ou vários desses 2556-2556.
micronutrientes pode ter sido responsável pelo.
pequeno desenvolvimento dessa fáunula. CRUZ, N.M.C. 1995. Uma associação
Outro fator a considerar, seria a palinológica atípica do Devoniano do Estado
possibilidade da ocorrência de bruscas mudanças do Pará, Brasil. In: XIV CONGRESSO
ambientais, danosas à população. Assim, algum BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
desses fatores, ou a somatória deles, certamente Uberaba.Bol.Res.36.
poderia ter determinado a formação dessa
EISENACK, A. 1930. Neue
associação dotada de características tão peculiares.
Mikrofossilien des baltischen Silurs.
Naturwissenschaften,18:180-181.
CONCLUSÕES
EISENACK, A. 1931. Neue Mikrofossilien
Além das grandes mudanças globais que
des baltischen Silurs I. Paläontologisches
atingiram o nosso planeta durante este curto espaço
Zeitschrist, 13:74-118.
de tempo em que viveram os quitinozoários, quer
como ovos ou como espécimes individualizados, GABBOTT, S.E.; ALDRIDGE, R.J. &
e quando de alguma forma foram afetados ou THERON, J.N. 1998. Chitinozoan chains

419
and cocoons from the Upper Ordovician PARIS, F. 1996. Chitinozoan biostratigrapgy
Soom Shale lagerstatte,South Africa: and paleoecology. In: JANSONIUS, J.
implications for affinity. Journal of the & MCGREGOR, D.C. Palynological
Geological Society, 155:447-452. principles and applications. American
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GRAHN,Y. 1981. Parasitism on Ordovician Foundation, 2: 531-552.
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PARIS, F. & NOLVAK, J. 1999. Biological
JAGLIN & PARIS. 1992. Examples of Terology interpretacion and palrobiodiversity of
in the Vhitinozoa from the Pridoli of Libya a criptic fossil group : The “chitinozoan
and implications for biological significance animal”. Geobios: 32(2): 315-324.
of this group. Lethaia,25:151-164.
PARIS, F.; GRAHN, Y.; NESTOR, V. &
JENKINS, W.A.M. 1970. Chitinozoa. Geoscience LAKOWA, I. 1999. A revised chitinozoan
and Man,1:1-21. classification. Journal of Paleontology:
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Polonica:8:425-449.

LAUFELD, S. 1974. Silurian Chitinozoan from


Gothland . Fossil and Strata, 5:1-130.

420
RECONSTITUIÇÃO PALEOCEANOGRÁFICA NO ATLÂNTICO SUDOESTE COM
BASE EM COCOLITOFORÍDEOS DURANTE OS ÚLTIMOS 130 MIL ANOS
Adriana Leonhardt1 (adriana.leonhardt@yahoo.com.br), Felipe Antonio de Lima Toledo2 (ftoledo@usp.br),
João Carlos Coimbra3 (joao.coimbra@ufrgs.br)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Geociências; 2Universidade de São Paulo, Instituto
1

Oceanográfico; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências

RESUMO Atlântico Sudoeste foram reconstituídas para os


últimos 130 mil anos.
Assembleias fósseis de cocolitoforídeos
foram utilizadas como indicadoras das condições
paleoceanográficas no Atlântico Sudoeste MATERIAIS E MÉTODOS
durante os últimos 130 mil anos. Os estágios O testemunho estudado foi coletado no
interglaciais stricto sensu são menos produtivos talude da Bacia de Campos. A área estudada está
que o estágio glacial, que contém muita variação. sob influência da Corrente do Brasil (Figura 1).
A produtividade máxima é atingida entre 14 - 6,5 As águas superficiais da região (onde vivem os
mil anos (durante a deglaciação). cocolitoforídeos) são oligotróficas, e as águas
Palavras-chave: cocolitoforídeos, sub-superficiais constituem a principal fonte de
produtividade, Atlântico Sudoeste nutrientes, seja pela ressurgência induzida pelos
ventos de nordeste (intensificados nos meses
ABSTRACT de verão), seja pela ressurgência de quebra de
plataforma induzida por ciclones formados na
Fossil assemblages of coccolithophorids
Corrente do Brasil (Silveira et al., 2000).
were used as indicators of paleoceanographic
As amostras para análise paleontológica
conditions of the Southweast Atlantic during the
foram preparadas conforme Koch & Young
last 130 ×103 years. The strict sensu interglacial
(2007). As lâminas foram examinadas ao
stages are less productive than the glacial stage,
microscópio óptico, com aumento de 1000×.
which contains a lot of variation. Maximum
Para cada amostra, foram contados 300 cocólitos,
productivity is achieved between 14 – 6.5×103
excetuando-se os de Florisphaera profunda.
years (during deglaciation).
Estes foram contados em paralelo por serem
Keywords: coccolithophorids,
frequentemente muito abundantes em sedimentos
productivity, Southweast Atlantic
quaternários. O modelo de idade utilizado foi
estabelecido por Iwai (2010). Para avaliar a
INTRODUÇÃO paleoprodutividade primária, influenciada pela
As interações entre oceano e atmosfera profundidade da nutriclina, foi calculada a Taxa N
são responsáveis por grande parte das mudanças (Flores et al., 2000), representada pela razão entre
climáticas da Terra. A paleoceanografia busca a abundância de “reticulofenestrídeos” (Emiliania
reconstituir estas interações, a fim de elucidar huxleyi e Gephyrocapsa spp. - indicadores de alto
padrões destas mudanças e, assim, auxiliar nas conteúdo de nutrientes) e de reticulofenestrídeos
suas previsões. Neste trabalho, foram utilizados e Florisphaera profunda (habitante da zona fótica
como indicadores as assembleias fósseis de inferior).
cocolitoforídeos. Estas algas caracterizam-se
por produzirem um exoesqueleto composto RESULTADOS
de diminutas placas calcárias, os cocólitos, que
A abundância absoluta de cocólitos (Figura
ao se sedimentarem no fundo oceânico ficam
2) foi maior nos estágios interglaciais stricto sensu
preservadas ao longo do tempo. Com base nisto,
(Estágios Isotópicos Marinho (EIM) 5e e 1),
as condições das águas superficiais no oceano
atingindo um máximo de 26,4 ×108; as menores
abundâncias foram registradas ao redor de 11 mil

421
anos. Em todo o intervalo estudado, apenas cinco Glacial (UMG). Durante o UMG a retração da
táxons são responsáveis pelo comportamento da linha de costa chegou ao máximo, expondo grande
curva de abundância absoluta total de cocólitos: parte da plataforma continental brasileira à erosão,
Gephyrocapsa “grande”, “média”, e “pequena”, aumentando o aporte de nutrientes terrígenos.
Emiliania huxleyi e Florisphaera profunda. A Taxa No entanto, evidências apontam que pode haver
N (Figura 3) comportou-se de forma oposta à uma defasagem entre causa e efeito, com aumento
abundância absoluta, sendo baixa durante os de produtividade no fim de glaciais/início de
estágios interglaciais e atingindo o máximo ao interglaciais (Filippelli et al., 2007).
redor de 12,8 mil anos.
CONCLUSÕES
DISCUSSÃO Nos últimos 130 mil anos, mudanças
A aparente incongruência entre Taxa N e gerais em relação à alternância de estágios glacial/
abundância absoluta de cocólitos deve-se ao fato interglaciais são percebidas. Pode-se dizer que
de que cocolitoforídeos são adaptados a condições os estágios interglaciais stricto sensu são menos
oligotróficas, que caracterizam a área de estudo produtivos que o restante, sendo que existem
atualmente. Com o aumento na concentração muitas variações dentro deste último intervalo de
de nutrientes, as espécies oportunistas dominam tempo. Estas variações refletem principalmente
a assembleia de cocolitoforídeos. Em termos flutuações na intensidade da ressurgência por
absolutos, no entanto, não conseguem competir vórtices ciclônicos. No intervalo estudado, a
com diatomáceas, que têm taxas de reprodução produtividade máxima é atingida durante a
mais alta (Broerse et al., 2000; Andruleit et al., deglaciação, podendo estar relacionada aos eventos
2003; Chen et al., 2007). ocorridos durante o UMG.
De forma geral, pode-se dizer que os
estágios interglaciais stricto sensu (EIMs 5e e 1)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
são menos produtivos que os demais (EIMs 5d-a,
4, 3 e 2). A Zona de Convergência Intertropical ANDRULEIT, H.; STÄGER, S.; ROGALLA, U.
(ZCIT) migra sazonalmente em direção ao & CEPEK, P. 2003. Living coccolithophores
hemisfério mais aquecido, e podemos utilizar in the northern Arabian Sea: ecological
esse comportamento moderno para entender tolerances and environmental control.
a dinâmica climática no passado. No intervalo Marine Micropaleontology, 49: 157-181.
glacial, a ZCIT estaria em média deslocada
para o sul. Os ventos de nordeste associados à BROERSE, A.T.C.; ZIVERI, P.; HINTE, J.E.
Alta Superficial do Atlântico Sul estariam mais & HONJO, S. 2000. Coccolithophore
intensos, favorecendo a ressurgência costeira. A export production, species composition, and
bifurcação da Corrente Sul Equatorial se daria coccolith CaCO3 fluxes in the NE Atlantic
mais ao norte, fortalecendo a CB e aumentando (34ºN 21ºW and 48ºN 21ºW). Deep-Sea
a incidência de vórtices ciclônicos. Assim, a Água Research II, 47: 1877-1905.
Central do Atlântico Sul (ACAS), a massa d’água
CHENG, X. & WANG, P. 1997. Controlling
que fica abaixo das camadas superficiais, afloraria
factors of coccolith distribution in surface
de forma constante e eficiente, resultando neste
sediments of the China seas: marginal sea
intervalo de aumento de produtividade. Nos
nannofossil assemblages revisited. Marine
intervalos interglaciais, as condições opostas
Micropaleontology, 32: 155-172.
levam à estratificação das águas, com nutriclina
profunda. FILIPPELLI, G.M.; LATIMER, J.C.;
Ao longo dos últimos 130 mil anos, a MURRAY, R.W. & FLORES, J.A. 2007.
produtividade máxima é atingida entre 14 - 6,5 Productivity records from the Southern
mil anos (durante a deglaciação), podendo ser um Ocean and the equatorial Pacific Ocean:
reflexo dos acontecimentos do Último Máximo

422
testing the glacial shelf-nutrient hypothesis. KOCH, C. & YOUNG, J.R. 2007. A simple
Deep-Sea Research II, 54: 2443-2452. weighing and dilution technique for
determining absolute abundance of
FLORES, J.A.; BÁRCENA, M.A. & SIERRO, coccoliths from sediment samples. Journal of
F.J. 2000.Ocean-surface and wind dynamics Nannoplankton Research, 29(1): 67-69.
in the Atlantic Ocean off Northwest Africa
during the last 140000 years. Palaeogeography, PETERSON, R.G. & STRAMMA, L. 1991.
Palaeoclimatology, Palaeoecology, 161: 459- Upper-level circulation in the South Atlantic
478. Ocean. Progress in Oceanography, 26: 1-73.

IWAI, F.S. 2010. Assembleias de foraminíferos SILVEIRA, I.C.A.; SCHMIDT, A.C.K.;


planctônicos: Implicações paleoceanográficas CAMPOS, E.J.D.; GODOI, S.S. & IKEDA,
nos últimos 450.000 anos em testemunhos Y. 2000. A Corrente do Brasil ao largo da
do sudoeste do Atlântico Sul. Dissertação de costa leste brasileira. Revista Brasileira de
mestrado. Universidade de São Paulo – Oceanografia, 48: 171-183.
USP. Programa de Oceanografia Química e
Geológica, São Paulo, SP, Brasil. 135 p.

Figura 1. Representação esquemática da circulação oceânica superficial do Atlântico Sul e localização aproximada do
testemunho (modificado de Peterson &Stramma, 1991).

423
Figura 2. Abundância absoluta total de cocolitoforídeos durante os últimos 130 mil anos. EIMs 1 a 5 indicados na figura.

Figura 3. Paleoprodutividade medida pela Taxa N durante os últimos 130 mil anos. EIMs 1 a 5 indicados na figura.

424
REGISTRO INÉDITO DE ASSOCIAÇÃO FOSSILÍFERA EM AFLORAMENTO NO
RIO ENVIRA, FORMAÇÃO SOLIMÕES, CENOZOICO DA BACIA DO ACRE
Fernanda Luft de Souza1 (felufts@hotmail.com), Karen Adami-Rodrigues1 (karen.adami@gmail.com),
Ana Karina Scomazzon1 (akscomazon@yahoo.com.br), Camile Urban1 (camile.urban@gmail.com)
Universidade Federal de Pelotas – Nepale
1

RESUMO Cenozóica, principalmente do Mioceno da


América do Sul (Negri, 2004).
Os afloramentos ao longo do rio Envira
revelam uma diversidade de fósseis para a Na área de estudo afloram rochas
Formação Solimões, Cenozoico da Bacia do Acre, sedimentares que compõem a Formação Solimões,
com uma variedade de táxons de vertebrados, e são constituídas predominantemente por siltitos
invertebrados e fitofosséis. Destaca-se neste e argilitos. Esses sedimentos foram depositados
trabalho o registro inédito de associação fossilífera em ambiente fluvio-lacustre durante o Cenozoico.
na Formação Solimões em um afloramento às Nestes depósitos se encontra a maior parte da
margens do rio Envira. Os fósseis coletados diversidade de fósseis, relacionados à megafauna
neste afloramento encontram-se distribuídos bem como crustáceos, aves e peixes (Negri, 2004).
em duas diferentes tanatocenoses. O estudo Os fósseis são coletados em afloramentos
preliminar destes fósseis associados aos dados nas margens dos rios atuais, sendo somente
litoestratigráficos irão fornecer elementos para prospectados no verão amazônico, na extrema
o refinamento paleoecológico, paleoclimático e seca dos rios. Desta forma, a exposição de fósseis
biocronoestratigráfico dessa seção analisada. no rio Envira (Figura 1), permitiu o registro de
Palavras-chave: Fósseis, Cenozoico, uma assembleia inédita de fósseis encontrados
Formação Solimões no afloramento, denominado PRE06 (Figura 2),
contendo insetos, aves, molusco, peixes, “répteis”,
dente de crocodiliano e carapaça de tartaruga
ABSTRACT (Figura 3). Este registro está sendo analisado e
The fossil diversity registered in Solimões possibilitará futuros estudos de refinamento e
Formation, Cenozoic, Acre Basin, reveals reconstrução dos paleoambientes e paleoclima da
fossiliferous outcrops along the Envirariver Amazônia Sul Ocidental.
with a variety of vertebrates, invertebrates and
phytofossils. This study aim to register a new LOCALIZAÇÃO E GEOLOGIA DA ÁREA
fossiliferous association studied in an outcrop along
that river. The collected material is obtained from A Bacia do Acre localiza-se no noroeste
two different tanatocenosis. The paleontological brasileiro, entre os paralelos6° S e 9°, meridianos
analysis in addition with lithostratigraphic 72° 30’ W e 74° W e tem proximidades com a
data provides information about paleoecology, fronteira do Peru. É a única região do território
paleoclimatology and biocronostratigraphy to the brasileiro efetivamente submetido à tectônica
analyzed section. andina, afetada por falhas reversas que registram
uma complexa história evolutiva iniciada no
Keywords: Fossils, Cenozoic, Solimões
Paleozoico e que estende-se até o Recente, sempre
Formation
sob influência de eventos tectônicos compressivos
atuantes na margem oeste do continente (Cunha,
INTRODUÇÃO 2007).
A riqueza fossilífera registrada no Estado O arcabouço estratigráfico é constituído
do Acre é conhecida mundialmente e suas por onze sequências estratigráficas de segunda
coleções paleontológicas são importantes para o ordem. Conforme Cunha (2007), a última
melhor conhecimento da paleofauna e paleoflora sequência é definida como sendo – sequência

425
Eoceno Inferior/Plioceno, onde há uma ocorrência A associação fito-faunística identificada
deposional de folhelhos de ambiente marinho nos estratos A, B e C e a sucessão sedimentar
raso a lacustre, intercalado com níveis arenosos, descrita neste trabalho auxiliam na caracterização
seguido de depósitos de redbeds. de um sistema deposicional fluvial, com planícies
O ponto PRE06 (Figura 3.1) ocorre de inundação de média e alta energia, onde
às margens do rio Envira e contém depósitos estão depositados fragmentos de vertebrados
sedimentares relacionados a uma parte dessa (estrato B); e os de baixa energia, caracterizado
última sequência estratigráfica. Na base da seção pela preservação de fitofósseis e invertebrados
PRE06 (Figura 2), são descritos dois estratos (estratos A e C). Sugere-se que tenham ocorrido
fossilíferos identificados como A e B, focos de oscilações de períodos de seca e cheia, onde
estudo deste trabalho, onde se encontram as duas eram transportados organismos ao longo do
tanatocenoses aqui apresentadas. O estrato A é rio e depositados em meandros distantes do
caracterizado por argilito de aproximadamente local da própria fossilização. Os invertebrados
1 metro de espessura e de coloração cinza claro e fitofósseis depositados em ambientes de baixa
com ocorrência de folhas e carapaça de tartaruga energia caracterizam fossilização autóctone,
(Figura 3.2.). No nível B, ocorre uma camada de devido a excelente preservação dos fragmentos
conglomerado com espessura aproximada de 30 a de folhas e asas de insetos, após um período de
40 cm, com grânulos e seixos mal selecionados, que cheia do sistema fluvial. Ainda, as ocorrências
variam de 2 a 5 cm. Neste estrato, estão preservados de troncos fósseis de Angiosperma coletados,
dentes de crocodilianos (Figura 3.3), ossos de auxiliam na inferência de um paleoambiente de
crocodilianos (Figura 3.4), fragmentos de peixes floresta tropical com um clima quente e úmido
(Figura 3.5), moluscos (Figura 3.6), fragmentos estabelecido durante o Mioceno em um sistema
de ossos de aves (Figura 3.7) e troncos fossilizados de planície de inundação. A identificação precisa
(Figura 3.8). O estrato C, também fossilífero, dos fósseis coletados e datações radiométricas
de aproximadamente 70 cm de espessura, é em andamento irão corroborar esses dados
caracterizado por um argilito correspondente ao preliminares.
estrato A, no qual são registrados folhas e insetos
bem preservados (Figura 3.9).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Correlacionando este estudo com os
trabalhos de Negri (2004), Ferreira (2010) e Souza CUNHA, P.R.C. 2007. Bacia do Acre. Boletim
(2010), que estudaram a Formação Solimões em de Geociências da Petrobras, 15(2): 207-215.
outras regiões, estabeleceu-se preliminarmente
FERREIRA, J.S. 2010. Os Toxodontídeos
que os depósitos do ponto PRE06 são relacionados do Alto Juruá, Acre - Amazônia Centro
ao Mioceno. Multidisciplinar, Curso de Bacharelado em
Ciências Biológicas, Universidade Federal
CONCLUSÕES do Acre, Monografia, 44 p.

Estudos realizados nas últimas décadas NEGRI, F.R. 2004. Os Tardigrada (Mammalia,
sobre a paleofauna e paleoflora da Bacia do Xenarthra) do Neógeno, Amazônia
Acre, com depósitos sedimentares do Mioceno, Sul-Ocidental, Brasil. Programa de Pós-
demonstram que há necessidade de um Graduação em Zoologia, Pontifícia
refinamento e aprofundamento do assunto. Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, Doutorado, 156 p.
Os estratos analisados no afloramento
PRE06 permitem obter informações SOUZA, R.B. 2010. Estudo Paleontológico e
paleoambientais, onde se observa a predominância Geológico de Afloramentos da BR-364 e
de sistema fluvial, com níveis de baixa energia, Rio Envira. Centro Multidisciplinar, Curso
caracterizado pelos depósitos de argilito e um de Bacharelado em Ciências Biológicas,
nível de mais alta energia caracterizado pela Universidade Federal do Acre, Monografia,
deposição do conglomerado. 47 p.

426
Figura 1. Localização do ponto PRE06 no rio Envira, Vale do Juruá, Estado do Acre.

Figura 2. Detalhamento da Seção Estratigráfica do ponto PRE06.

427
Figura 3. Fotografia do afloramento e de fragmentos fósseis coletados no ponto PRE06. 3.1 – Visão geral do afloramento;
3.2 – Carapaça de tartaruga; 3.3 – Dente de Purussaurus; 3.4 – Ossos de crocodilianos; 3.5 - peixes; 3.6 – molusco; 3.7 –
Osso de ave; 3.8 – Tronco fossilizado; 3.9 – Folhas e insetos fossilizados.

428
SÍTIO LEVERGUINI, UMA NOVA LOCALIDADE FOSSILÍFERA
PARA O PENSILVANIANO DA BACIA DO AMAZONAS,
MUNICÍPIO DE URUARÁ, PARÁ, BRASIL
Joyce Celerino de Carvalho1 (joyce.celerino@hotmail.com), Ademilson Leverguini1 (leverguini@hotmail.com),
Artemos José Maria dos Santos1 (artemos.j@gmail.com), Marcos Sobral Santana1 (penteado12@hotmail.com),
Ana Karina Scomazzon2 (akscomazzon@yahoo.com.br), Luciane Profs Moutinho3 (luprofs@yahoo.com.br),
Francisco Ricardo Negri4 (frnegri@ufac.br), Janice Muriel Cunha5 (janice@ufpa.br)
Universidade Federal do Pará, Campus Altamira; 2Universidade Federal de Pelotas; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
1

Universidade Federal do Acre, Campus Floresta-Cruzeiro do Sul; 5Universidade Federal do Pará, Campus Bragança
4

RESUMO INTRODUÇÃO
Uma nova localidade fossilífera Trabalhos de campo realizados na Rodovia
denominada de Sitio Leverguini é descrita no Transamazônica (BR 230) entre os municípios
município de Uruará, Estado do Pará, Brasil. de Altamira e Uruará, Pará, tem gerado novas
A localização dos afloramentos no contexto informações sobre ocorrências de fósseis nesta
geológico da Bacia do Amazonas, a presença região. Em 2007, uma nova localidade fossilífera
de nódulos carbonáticoscentimétricos e a fauna foi descoberta próximo ao município de Uruará
obtida, composta por braquiópodes atribuídos e foi denominada Sítio Leverguini, coordenadas
tentativamente as ordens Strophomenida e 53°54’07,6”W/03°50’21,0”S. Este sítio é uma
Spiriferida e corais rugosos solitários comumente pedreira desativada localizada na BR 230,
presentes nos afloramentos do município de Itaituba, Uruará-Santarém, Km 201, faixa Sul (Figura 1).
sugere que esta nova localidade provavelmente se Inclui-se, desta forma, no contexto geológico
relacione cronoestratigraficamente aos depósitos compreendido pela Bacia do Amazonas, a qual
fossilíferos de origem marinha do Grupo Tapajós, localiza-se na região norte do Brasil e abrange
principalmente as formações Itaituba e Nova uma área de aproximadamente 600.000 km2. Tem
Olinda, Pensilvaniano da Bacia do Amazonas. como limites o Escudo das Guianas ao Norte, o
Palavras-chave: Grupo Tapajós, Bacia do Escudo Brasileiro ao Sul, o Arco de Purus a Oeste
Amazonas, Pensilvaniano e o Arco de Gurupá a Leste. Suas feições morfo-
estruturais mais importantes correspondem a
uma calha central mais subsidente, que ocupa a
ABSTRACT região mais profunda, no centro da bacia e duas
A new fossiliferous location called áreas de plataforma, as plataformas norte e sul,
Leverguini place is described for Uruará County, que são limitadas por zonas de falhas normais
Pará State, Brazil. The outcrops location within (Scomazzon, 2004; Moutinho, 2006). Na
the geologic context of the Amazonas Basin, plataforma sul, principalmente nas adjacências
the presence of centimetric carbonate nodules das cidades de Itaituba e Santarém e ao longo
and the associated fauna obtained, composed do Rio Tapajós, estão localizadas diferentes áreas
by brachiopods tentatively assigned to the de afloramentos, dentre as quais inclui-se a nova
orders Strophomenida and Spiriferida and localidade fossilífera aqui descrita.
solitary rugose corals commonly found in the A presença de nódulos
Itaituba County outcrops, suggests that this carbonáticoscentimétricos no sítio onde os fósseis
new location of fossiliferous marine deposits is estão inseridos e a fauna identificada, permite
chronostratigraphically related to the Tapajós inferir que as rochas sedimentares aflorantes,
Group, mainly Itaituba and Nova Olinda possivelmente carbonatos, correspondem a
Formations, Pennsylvanian of the Amazonas depósitos fossilíferos de origem marinha e
Basin. provavelmente correlatos aos depósitos do Grupo
Keywords: Tapajós Group, Amazonas Tapajós, principalmente as formações Itaituba
Basin, Pennsylvanian e Nova Olinda. Estas formações são compostas

429
litoestratigraficamente por carbonatos marinhos nadadeira pélvica de um peixe encontrada em um
e evaporitos de planície de maré, incluindo nódulo rochoso, próximo ao local de coleta.
delgados e menos comuns intervalos siliciclásticos. O material coletado encontra-se
Abrangem o Pensilvaniano inferior a médio depositado na Coleção Paleontológica da
da Bacia do Amazonas e caracterizam-se pela Faculdade de Ciências Biológicas do Campus
ocorrência de abundantes e diversas assembleias Universitário de Altamira, Universidade Federal
de invertebrados fósseis marinhos, especialmente do Pará, Município de Altamira, sendo que parte
contidas nos carbonatos (Scomazzon, 2004; dele ainda está em processo de preparação e
Moutinho, 2006; Nascimento et al., 2010). estudo.
O objetivo do presente trabalho é dar
a conhecer esta nova localidade fossilífera
para a região da Rodovia Transamazônica no
CONCLUSÕES
município de Uruará, Pará, contribuindo para As rochas carbonáticas do Sítio
o conhecimento da geologia e fauna e visando Leverguini, além de estarem localizadas dentro
futuros trabalhos, haja vista que o conhecimento do contexto geológico que inclui a Bacia do
Amazonas, são litologicamente semelhantes
dos aspectos paleontológicos para esta região é
aquelas de origem marinha do Grupo Tapajós,
raro. principalmente relacionadas as formações
Itaituba e Nova Olinda, Pensilvaniano da Bacia
MATERIAIS E MÉTODOS do Amazonas. Destas, a Formação Itaituba possui
os estratos carbonáticos mais espessos do Grupo
A região, no entorno do sítio Leverguini, Tapajós e contém os depósitos fossilíferos mais
apresenta uma cobertura de vegetação secundária, diversos e abundantes do Pensilvaniano da Bacia
com árvores de pequeno porte e gramíneas. A do Amazonas com organismos que representam
descoberta só foi possível pelo fato de ali estar uma fauna de ambiente marinho raso, incluindo
sendo retirado material rochoso para composição conodontes, fragmentos de peixes, foraminíferos,
de base asfáltica de ruas. A rocha é extremamente braquiópodes, equinodermos, gastrópodes,
dura, de cor cinza azulado, de aspecto maciço, briozoários, trilobitas, corais, ostracodes,
onde os fósseis encontram-se inseridos, às vezes escolecodontes, esponjas e flora caracterizada
em bloco. A retirada dos fósseis, na maioria das por palinomorfos. Com base nestas informações,
vezes, só é possível após a utilização de material e no material fóssil coletado, principalmente
nos braquiópodes atribuídos tentativamente
explosivo visando fraturar os grandes blocos e
as ordens Strophomenida e Spiriferida, bem
originar pedaços menores. Assim, o processo de
como a semelhança dos espécimes de coral
coleta consiste primeiramente na perfuração dos rugoso solitário da ordem Rugosa encontrado,
blocos, onde é inserido um cartucho carregado comumente presente nas pedreiras do município
com pólvora ligado a um pavio, que é aceso. Após de Itaituba, sugere-se que esta nova localidade
a explosão, pedaços de rocha ficam soltos, de onde fossilífera, Sítio Leverguini, pertença a depósitos
então podem ser coletados os espécimes fósseis. fossilíferos de origem marinha provavelmente
Para esta etapa é necessário o uso de marretas e relacionados as formações Itaituba e/ou Nova
talhadeiras para retirada de pedaços de rochas Olinda, Pensilvaniano da Bacia do Amazonas.
contendo os fósseis. Às vezes, é possível retirá- O desenvolvimento de novos estudos
los diretamente de pequenos blocos que estão sedimentológicos, bem como o estabelecimento
cobertos por sedimentos e matéria orgânica. de identificações sistemáticas mais precisas do
Uma análise preliminar do material material coletado, poderão fornecer elementos
adicionais no entendimento da geologia e da
fóssil coletado permite identificar espécimes de
fauna dos depósitos do Sítio Leverguini, na
braquiópodes atribuídos com dúvidas às ordens
região do município de Uruará. Da mesma forma,
Strophomenida e Spiriferida e espécimes de coral o estabelecimento de estudos bioestratigráficos
rugoso solitário da ordem Rugosa (c.f. Moutinho, auxiliará na confirmação da idade pensilvaniana
2006; Figura 2), bem como gastrópodes de grande sugerida, contribuindo no refinamento
porte. Além desses, foi identificada a região da biocronoestratigráfico dos depósitos em questão.

430
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS em uma seção de carbonatos marinhos do
Pensilvaniano inferior, Formação Itaituba,
MOUTINHO, L.P. 2006. Assinaturas borda sul da Bacia do Amazonas, Brasil.
tafonômicas dos invertebrados da Formação Pesquisas em Geociências, 37(3): 243-256.
Itaituba - Aplicação como ferramenta de
análise estratigráfica e paleoambiental na SCOMAZZON, A.K. 2004. Estudo de
seção Pensilvanianaaflorante na porção sul conodontes em carbonatos marinhos do
da Bacia do Amazonas, Brasil. Programa de Grupo Tapajós, Pensilvaniano Inferior a
Pós-graduação em Geociências, Instituto de Médio da Bacia do Amazonas com aplicação
Geociências, Universidade Federal do Rio de isótopos de Sr e Nd neste intervalo.
Grande do Sul, Tese de Doutorado, 325p. Programa de Pós-graduação em Geociências,
Instituto de Geociências, Universidade
NASCIMENTO, S.; SCOMAZZON, A.K.; Federal do Rio Grande do Sul, Tese de
LEMOS, V.B.; MOUTINHO, L.P. & Doutorado, 294p.
MATSUDA, N.S. 2010. Bioestratigrafia
e paleoecologia com base em conodontes

Figura 1. Imagem de satélite com a localização da pedreira na BR 230, onde está situada a localidade fóssilífera Sítio
Leverguini, entre os municípios de Uruará e Santarém, Estado do Pará.

431
Figura 2. 2.1, vista parcial da localidade fossilífera Sitio Leverguini, Município de Uruará, Pará. 2.2, molde de braquiópode
da ordem Strophomenida? em rocha sedimentar, provavelmente carbonato. 2.3. Molde de braquiópode da ordem
Spiriferida?. 2.4, espécimes de coral rugoso solitário da ordem Rugosa.

432
THE OLDEST FOSSILS FROM PARAGUAY: CLOUDINA - CORUMBELLA
ASSEMBLAGE IN THE ITAPUCUMI GROUP, EDIACARAN
Lucas Veríssimo Warren1 (warren@usp.br), Marcello Guimarães Simões2 (btsimoes@ibb.unesp.br),
Thomas Rich Fairchild1 (trfairch@hotmail.com), Claudio Riccomini1 (riccomin@usp.br),
Fernanda Quaglio1 (quaglio@usp.br), Paulo César Boggiani1 (boggiani@usp.br)
1
Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo – USP;
2
Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista – UNESP

ABSTRACT Hoffman & Schrag, 2002).The appearance of soft-


bodied metazoans and the advent of the earliest
Molds, fragments, and complete specimens skeletal organisms significantly changed the
of Cloudina lucianoi, as well as fragments of ecological dynamics of Ediacaran environments.
Corumbella werneri, stratiform stromatolites and Within this context, Cloudina is considered the
thrombolites were found in carbonate rocks of the most important guide fossil of Ediacaran time
Itapucumi Group, in Paraguay. The assemblage as it delimits an interval biozone between 548
described here corresponds to the oldest fossil and 542 Ma at the very top of the Proterozoic
record found in this country and figures as one record (Grotzinger et al., 1995; Amthor et
of the most complete Ediacaran metazoan al., 2003). In the Itapucumi Group, Paraguay,
occurrences in South America. The association Cloudina was first described in float samples
is comparable to other latest Neoproterozoic by Boggiani & Gaucher (2004). The discovery
occurrences worldwide, and comprises an of new of outcrops containing this and other
important discovery for elucidating the diversity fossils, such as Corumbella, allowed correlation
of these occurrences with similar assemblages
and distribution of shelled organisms in the late
from Namibia, Brazil, Oman, Canada and China
Ediacaran. (Germs, 1972; Zaine & Fairchild, 1985; Conway-
Keywords: Ediacaran, Metazoan, Morris et al., 1990; Hoffman & Mountjoy,
Paraguay 2001). The occurrence of these archaic skeletal
organisms and microbialites in Paraguay opens
a new window for research on the paleobiology
RESUMO and paleogeography of late Neoproterozoic
Rochas carbonáticas do Grupo Itapucumi, successions in South America.
Paraguai Oriental, contêm fósseis de moldes,
fragmentos e espécimes completos de Cloudina
lucianoi, fragmentos do organismo Corumbella GEOLOGICAL SETTING
werneri, estromatólitos estratiformes e trombólitos. The Itapucumi Group crops out in
A assembleia aqui descrita corresponde ao mais northeastern Paraguay as a marginal thrust-and-
antigo registro fossilífero encontrado neste país e fold belt and a sedimentary cover of the Rio Apa
figura como umas das mais completas ocorrências Block (Fig. 1.1).The Rio Apa Block is delimited on
de metazoários ediacaranos na América do the east by the Paraguay Belt, a W-vergent thrust-
Sul. Esta associação pode ser comparada com and-fold belt involving the Ediacaran successions
outras ocorrências neoproterozoicas ao redor do of the Corumbá Group. The Itapucumi Group
mundo e constitui importante descoberta para a is about 400 m thick and comprises siliciclastic
compreensão da diversidade e distribuição dos rocks of the Vallemi Formation at the base,
organismos esqueletais do final do Ediacarano. followed by limestones and dolomites of the
Palavras-chave: Ediacarano, Metazoários, Camba Jhopo and Tagatiya Guazu Formations,
Paraguai and marls and mudstones of the Cerro Curuzu
Formation at its top (Warren, 2011). Close to
the Paraguay River, to the west, the Itapucumi
INTRODUÇÃO Group is metamorphosed at the greenschist
The end of the Neoproterozoic Era is facies and intensely deformed. This Western
marked by important climatic, tectonic and Domain of the Itapucumi Group is characterized
evolutionary events (Hoffman et al., 1998; by shelf successions of ooid-grainstones of

433
the Camba Jhopo Formation, deposited as relatively rigid shells of Cloudina and the more
beach spits and proximal coastal facies. To the flexible ones in Corumbella.
east, rocks of the Tagatiya Guazu Formation
comprise inter- to supratidal facies associated
with stratiform stromatolites and thrombolites CONCLUSION
containing fossils of Cloudina and Corumbella The discovery of Cloudina and Corumbella
(Fig. 1.2). This sedimentary succession is made fragments in the Itapucumi Group corroborates
up of calcareous facies bearing massive, laminated findings of similar associations around the
and cross-stratified grainstones, followed by world and expands significantly our knowledge
heterolithic (calcareous) mudstone/grainstone on the depositional setting and composition of
facies, mudstones, laminated microbial mats,
Ediacaran-age shelly metazoan assemblages.
domical thrombolites (Fig. 1.3) and subaerial
desiccation breccias. This facies association The discovery also expands the geographic
suggests deposition in a peritidal evaporitic range of Corumbella outside its type-area of
lagoonal environment upon a protected carbonate Corumbá, Brazil. Moreover, it bears important
platform. paleogeographic implications for carbonate
platforms in the very early history of western
Gondwana. Thus, the Itapucumi Group represents
EDIACARAN FOSSILS a potential landmark deposit in the paleontology
Fossils of the Itapucumi Group include of the latest Neoproterozoic of South America.
abundant fragments and nearly complete
specimens of Cloudina lucianoi and short segments
of Corumbella werneri. The succession of nested, ACKNOWLEDGEMENTS
eccentrically emplaced, ring-like wall segments The authors thank the “Viceministerio de
observed in some specimens is typical of the Minas y Energía de Paraguay” for logistic support
genus Cloudina Germs 1972. Cloudina shells may in the field; IGCP – 478 “Neoproterozoic-Early
occur in thin accumulations (Fig. 1.4) in troughs Events in SW Gondwana”; CNPq, CAPES
between low-amplitude, wave-generated ripples, and FAPESP (projects 2010/02677-0 and
and surrounding thrombolitic domes. Cloudina
2010/19584-4) for financial support. LWR is
also occurs in very fine grainstone as fragments
and as prostrate, relatively complete individuals a post-doctoral scholarship of FAPESP. FQ is
(Fig. 1.5), together with in-place basal portions doctorate student of the IGC-USP and is funded
of shells between thrombolitic domes. Corumbella by CNPq. CR, MGS and PCB are researchers of
is recorded as parautocthonous fragments and CNPq.
disarticulated segments along with fragmentes of
Cloudina shells, a preservational pattern recorded
by previous authors (Zaine 1991), but very rare,
REFERENCES
in the Tamengo Formation, Corumbá Group, AMTHOR, J.E.; GROTZINGER, J.P.;
Brazil. The specimens of Corumbella in the SCHRÖDER, S.; BOWRING, S.A.;
Itapucumi Group occur as flattened fragments RAMEZANI, J.; MARTIN, M.W. &
of tubes, consisting of articulated, probably MATTER, A. 2003. Extinction of Cloudina
organic annular elements (Fig. 1.6). Cloudina and and Namacalathus at the Precambrian-
Corumbella fossils were preserved in place or very Cambrian boundary in Oman. Geology,
nearly so in obrution deposits when unconfined 31(5):431-434.
suspended lime mud and fine calcareous sand
flowed into protected areas as overwash fans. BOGGIANI, P.C. & GAUCHER, C.
The differences observed in abundance and 2004. Cloudina from the Itapucumi
biostratinomic signatures in the fossil assemblages Group (Vendian, Paraguay): age and
of the Itapucumi Group reflect differences in both correlations In: SYMPOSIUM ON
habitat preference - protected carbonate settings NEOPROTEROZOIC - EARLY
for Cloudina and shaley settings for Corumbella PALEOZOIC EVENTS IN SW-
werneri, and in the taphonomic response of the GONDWANA, 1, São Paulo, 2004.
Abstracts, São Paulo, USP, p. 13-15.

434
CONWAY-MORRIS, S.; MATTES, B.W. HOFMANN, H.J. & MOUNTJOY, E.W.
& MENGE, C. 1990. The early skeletal 2001. Namacalathus-Cloudina assemblage
organism Cloudina: new occurrences from in Neoproterozoic Miette Group (Byng
Oman and possibly China. American Journal Formation), British Columbia: Canada’s
of Science, 290: 245-260. oldest shelly fossils. Geology, 29:1091-1094.

GERMS, G.J.B. 1972. New shelly fossils from WARREN, L.W. 2011. Tectônica e sedimentação
Nama Group, South West Africa. American do Grupo Itapucumi (Ediacarano, Paraguay
Journal of Science, 272:752-761. Setentrional). University of São Paulo,
Unpublished Ph.D. Thesis, Brazil, 215p.
GROTZINGER, J.P.; BOWRING, S.A.;
SAYLOR, B.Z. & KAUFMAN, A.J. ZAINE, M.F. & FAIRCHILD, T.R. 1985.
1995. Biostratigraphic and geochronologic Comparison of Aulophycus lucianoi Beurlen
constraints on early animal evolution. & Sommer from Ladário (MS) and the genus
Science, 270:598-604. Cloudina Germs, Ediacaran of Namibia.
Anais da Acadêmia Brasileira de Ciências,
HOFFMAN, P.F., & SCHRAG, D.P. 2002 The 57: 130.
snowball Earth hypothesis: testing the limits
of global change. Terra Nova, 14(3):129-155. ZAINE, M.F. 1991. Análise dos fósseis de parte
da Faixa Paraguai (MS, MT) e seu contexto
HOFFMAN, P.F.; KAUFMAN, A.J.; temporal e paleoambiental. University of
HALVERSON, G.P. & SCHRAG, D.P. São Paulo, Unpublished Ph.D. Thesis, Brazil,
1998. A Neoproterozoic Snowball Earth. 218p.
Science, 281:1342-1346.

Figure 1. Location, stratigraphy and fossils from the Ediacaran-age Itapucumi Group, northeastern Paraguay. 1.1, Location
map.1.2, Stratigraphic sections.1.3, Shell concentration of Cloudinalucianoi.1.4, Domical thrombolites. 1.5, Close-up
view of Cloudina lucianoi showing cone-in-cone arrangement.1.6, Fragment of Corumbella werneri.

435
UTILIZAÇÃO DE DINOCISTOS NA INTERPRETAÇÃO
PALEOAMBIENTAL DE SEDIMENTOS QUATERNÁRIOS,
LOCALIZADOS NO TALUDE DA BACIA DE CAMPOS RJ/BRASIL
Antonio Donizeti de Oliveira1 (donizeti@lafo.geologia.ufrj.br), João Graciano Mendonça Filho1 (graciano@geologia.ufrj.br),
Gisele Giseé Furukawa1 (gisele@lafo.geologia.ufrj.br), Jaqueline Torres de Souza1 (jaqueline@lafo.geologia.ufrj.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia
1

RESUMO INTRODUÇÃO
A Bacia de Campos é umas das bacias A Bacia de Campos encontra-se na parte
mais petrolíferas do Brasil, possui uma reserva sudoeste do Oceano Atlântico Sul e ocupa uma
total de óleo aproximada de 17 bilhões de barris porção da margem continental brasileira entre o
de óleo, com exploração voltada cada vez mais para Alto de Vitória (20.5º S) e o Alto de Cabo Frio (24º
reservatórios de águas profundas. A determinação S) em uma área superior a 100.000 Km2 (Viana
dos parâmetros paleoceanográficos e suas variações et al., 1997). Sua evolução tectono-estratigráfica
no talude recente são valiosas ferramentas a serem se dá a partir do Cretáceo, com a separação dos
utilizadas na modelagem deste tipo de depósito. continentes sul-americano e africano.
Porém, o estudo da evolução do Quaternário Os sedimentos de idade quaternária de-
marinho brasileiro tem sido consideravelmente sta bacia são interpretados como de ambiente
aplicado nas províncias neríticas, enquanto as marinho e agregam diversos tipos de palino-
oceânicas permanecem pouco conhecidas. O morfos, os quais representam importantes fon-
presente trabalho utilizou amostras do poço tes de informações paleoambientais e de grande
GL-77, localizado no talude médio da Bacia de relevância para estudos de hidrocarbonetos.
Campos e aplica tratamentos palinológicos com Dentre os palinomorfos estão os dinocistos,
o objetivo de estudar os microfósseis de parede cistos derivados de microplâncton do grupo dos
orgânica, dando ênfase a observação de cistos de dinoflagelados, que contribuem para o forneci-
dinoflagelados. mento de informações paleoclimáticas e paleo-
Palavras-chave: Bacia de Campos, cistos ecológicas da região.
de dinoflagelados, Quaternário Este trabalho tem como objetivo anal-
isar quantitativa e qualitativamente os palino-
ABSTRACT morfos, identificar as espécies de dinocistos
The Campos Basin is the most petrolific e interpretar o paleoambiente da região, utili-
basin in Brazil, keeping approximately 17 billion zando amostras do poço GL-77, localizado no
barrels of oil, with exploration even more focused talude médio da Bacia de Campos.
on deep water reservoirs. The determination of
paleoceanography parameters and their variations MATERIAIS E MÉTODOS
on recent slope are valuable tools to be used for No presente trabalho foram empregadas
modeling this type of deposit. Notwithstanding, as técnicas de preparação palinológica adotadas
the study of Brazilian marine Quaternary por Oliveira et al. (2004), que consistem em
evolution has been considerably applied in neritic maceração ácida com posterior eliminação
provinces, whilst the ocean remains poorly known. mecânica dos minerais (bateamento) e confecção
The present paper used samples of the GL-77 well, de lâminas palinológicas das 74 amostras do
located at the medium slope of Campos Basin. It poço GL-77 com profundidades variando de
also applied palynology focusing on microfossils 2 a 1811cm. A caracterização microscópica
of organic wall, especially dinoflagellate cysts. da matéria orgânica visando principalmente a
Keywords: Campos Basin, dinoflagellate identificação dos dinocistos seguiu a classificação
cysts, Quaternary

436
de Wall et al. (1977). As amostras onde o total de CONCLUSÕES
palinomorfos alcançou valores absolutos menores
Baseado no estudo científico dos
que 30 partículas foram excluídas da contagem.
palinomorfos e das espécies de dinocistos, pode-se
inferir que o poço GL-77 está localizado em uma
RESULTADOS paleoplataforma que sofreu mudanças climáticas,
A partir da leitura e interpretação das tendo como uma das conseqüências a variação do
lâminas observou-se uma predominância de nível do mar.
palinomorfos marinhos, prevalecendo entre estes Os intervalos A, B e C corroboram com os
o grupo de dinocistos autotróficos. períodos glaciais e interglacial determinados por
Dentre o grupo de autotróficos observados, Vicalvi (1997).
os mais representativos foram Lingulodinium O intervalo A, correspondente a
machaerophorum, Operculodinium centrocarpum e um período glacial, apresenta significativa
Spiniferites mirabilis, expostos na Figura 1. predominância de palinomorfos continentais. A
No poço estudado foi possível verificar abundância da O. centrocarpum, localiza o poço na
uma alternância na abundância relativa das parte nerítica interna da plataforma.
espécies, evidenciadas em três intervalos (A, B e A diminuição significativa de palinomorfos
C), os quais acompanharam os períodos glaciais continentais em relação aos marinhos, expressa
e interglacial expostos na curva de isótopos de pelo incremento percentual de dinocistos,
oxigênio, definida por Vicalvi (1997). sobretudo das espécies S. mirabilis, seguida por
Ao longo de quase todo o intervalo A L. machaerophorum sugere um aumento gradativo
observou-se uma predominância na espécie O. da temperatura no intervalo B, classificado como
centrocarpum, ocorrendo em menor percentagem sendo de um clima interglacial e o infere entre a
L. machaerophorum. O intervalo B é subdividido plataforma nerítica externa e o oceano.
em 2 partes, a primeira (B1) está relacionada a um O intervalo C compreende um pequeno
aumento no percentual de S. mirabilis, enquanto aumento na porcentagem de palinomorfos
a segunda (B2) é caracterizada por uma maior continentais e um retorno na dominância da
abundância de L. machaerophorum. O intervalo espécie O. centrocarpum, localizando o poço entre
C apresenta também 2 subintervalos, onde o a plataforma nerítica interna e a externa, durante
primeiro (C1) é caracterizado por uma variação um novo período glacial.
entre S. mirabilis e O. centrocarpum e o segundo A interpretação climática e paleogeográfica
(C2) pela dominância de O. centrocarpum. dos intervalos possibilitou a classificação dos
O maior predomínio de O. centrocarpum tratos de sistemas dos mesmos. Logo os intervalos
nos intervalos A e C está relacionado ao período A, B e C são interpretados como trato de sistema
glacial, enquanto os declínios no seu percentual, transgressivo, trato de mar alto e trato de sistema
ocorridos nos mesmos intervalos, seguem as regressivo, respectivamente.
quedas do nível relativo do mar. O decréscimo
desta espécie acontece concomitantemente ao REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
aumento relativo de S. mirabilis, no subintervalo
C1. OLIVEIRA, A.D.; MENDONÇA FILHO,
A abundância de S.mirabilis no J.G.; CARVALHO, M.A.; MENEZES,
subintervalo B1 pode definir uma fase transicional T.R.; LANA, C.C. & BRENNER,
entre o período glacial e interglacial, sugerindo W.W. 2004. Novo método de preparação
temperaturas mais amenas. Um possível aumento palinológica para aumentar a recuperação
na temperatura pode ter ocasionado a mudança de dinoflagelados. Revista Brasileira de
da dominância para a espécie L. machaerophorum Paleontologia, 7(2):169-175.
no subintervalo B2.
VIANA, A.R.; FAUGÉRES, J.C.;
KOWSMANN, R.O.; LIMA, J.A.M.;
CADDAH, L.E.G. & RIZZO, J.G. 1998.

437
Hydrology, morphology and sedimentology WALL, D.; DALE, B.; LOHMANN, G.P. &
of the campos continental margin, offshore SMITH, W.K. 1977. The environment and
brazil. Sedimentary Geology, 115: 133-157. climatic distribution of dinoflagellate cysts
in modern marine sediments from regions in
VICALVI, M.A. 1997. Zoneamento the North and South Atlantic Oceans and
Bioestratigráfico e Paleoclimático dos adjacent seas. Marine Micropaleontology, 2:
sedimentos do Quaternário Superior do 121-200.
Talude da Bacia de Campos, RJ, Brasil.
Boletim de Geociências PETROBRAS, Rio
de Janeiro, 11 (1/2): 132-165.

Figura 1. Gráfico das Espécies de Dinocistos em relação aos palinomorfos marinhos.

438
VEGETAÇÃO E CLIMA DO NEOPLEISTOCENO NA REGIÃO CENTRO-NORTE
DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (RESULTADOS PRELIMINARES)
Thiago de Carvalho Nascimento¹ (thiago.dnascimento@edu.ung.br), Maria Judite Garcia¹ (mgarcia@ung.br),
Paulo Eduardo de Oliveira² (paulo@bjd.com.br), Luiz Carlos Ruiz Pessenda³ (pessenda@cena.usp.br),
Claúdio Limeira Mello4 (limeira@igeo.ufrj.br)
¹Palinologia e Paleobotânica / CEPP – UnG; ²Universidade São Francisco; 3Laboratório de C14 - CENA/USP;
4
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia

RESUMO quantitative results and ecological requirements


of the taxa found. The results obtained illustrate
O presente estudo é uma contribuição para
the alternation of arboreal/shrub vegetation
o entendimento das oscilações paleoclimáticas e
and herbaceous since 22,200 years B. P. These
paleovegetacionais na região Centro-Norte do
oscillations may be related to climate change and/
Estado do Espírito Santo desde o Neopleistoceno.
or geological processes since Neopleistocene.
Para tanto foi realizado a coleta de um testemunho
com 275 cm no lago Durão, localizado a nordeste Keywords: Palynology, Quaternary,
do centro urbano de Linhares. A base do Paleoclimate, Vegetation, Espirito Santo State
testemunho foi datada por C14 e revelou a idade
de 22.200 anos A.P. Amostras de 2cm3 foram INTRODUÇÃO
coletadas em intervalos de 5 cm e submetidas
O lago Durão cujos sedimentos foram
ao tratamento palinológico padrão. Foram
utilizados para esta pesquisa situa-se no setor
identificados e quantificados diversos táxons
centro-norte do Estado do Espírito Santo,
de angiospermas, gimnospermas, pteridófitas e
detentor de duas das mais importantes reservas
algas. As interpretações paleoambientais foram
naturais de Floresta Atlântica, em estado primário,
realizadas com base nos resultados quantitativos e
do Brasil: a Reserva Biológica de Sooretama e a
requerimentos ecológicos dos táxons encontrados.
Reserva Natural da Companhia Vale do Rio Doce
Os resultados obtidos até o momento mostram
(GARAY; RIZZINI, 2004). Portanto a análise
alternância entre a vegetação de porte arbóreo/
palinológica dos sedimentos do lago Durão
arbustivo e herbáceo desde 22.200 anos A. P. Estas
permitem o reconhecimento da história ambiental
oscilações podem estar relacionadas a mudanças
da mata atlântica desde o Neopleistoceno. Durante
climáticas e/ou a processos geológicos ocorrentes
o período de glaciações do Neopleistoceno, no
desde o Neopleistoceno.
hemisfério norte, entre 22.000 e 14.000 anos
Palavras-chave: Palinologia, Quaternário, antes do Presente, o nível marinho global atingiu
Paleoclima, Vegetação, Espírito Santo valores negativos de até 100 metros (DAWSON,
1992). Segundo Suguio (2010), no Holoceno em
ABSTRACT grande parte da planície costeira brasileira o nível
do mar atingira aproximadamente 5 m acima do
This study is a contribution to
seu valor atual. Assim outro aspecto importante
the understanding of paleoclimatic and
da presente pesquisa trata de verificar a influência
paleovegetacion fluctuations in the Centre-North
da variação do nível do mar durante o Holoceno
of Espírito Santo State since the Neopleistocene.
e Neopleistoceno na vegetação do entorno do
For this a testimony of 275 cm was collected
lago Durão. Estas mudanças no nível relativo
in the Lake Durão, located northeast of urban
do mar no Quaternário podem ter afetado
center of Linhares. The base C14 dating,
consideravelmente a composição da vegetação
revealing on base age of 22.200 years B. P. Were
na região Centro-Norte do Estado do Espírito
collected samples with the volume of 2cm3 at
Santo.
intervals of 5 cm for pollen analysis. In these
samples identified and quantified various taxa
of angiosperms, gymnosperms, ferns and algae.
Paleoenvironmental interpretations were based on

439
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O testemunho com 275 cm foi obtido no COLINVAUX, P.; DE OLIVEIRA, P.E. &
Lago Durão, por uma equipe de pesquisadores PATIÑO, J.E.M. 1999. Amazon Pollen
da UFRJ com o amostrador do tipo Bate-estaca. Manual and Atlas. New York: Harwood
Amostras ricas em material orgânico foram Publishers, 180 p.
selecionadas para datação 14C no Laboratório
Beta Analytic, em Miami, EUA. As amostras DAWSON, A.G. 1992. Ice Age Earth: late
de sedimentos foram selecionadas para análise Quaternary geology and climate. New York:
palinológica, respeitando-se o intervalo de 5 cm e Routledge, 293 p.
posteriormente tratadas quimicamente segundo o
protocolo palinológico internacional, encontrado GARAY, I. & RIZZINI, C.M.A. 2004. Floresta
em Colinvaux et al. (1999). A identificação dos Atlântica de Tabuleiros: diversidade
palinomorfos foi realizada através de comparação funcional da cobertura arbórea. Petrópolis:
morfológica entre os elementos subfósseis e os Editora Vozes, 255 p.
encontrados na Palinoteca Atual de Referência
do Laboratório de Palinologia e Paleobotânica da GRIMM, E.C. 1987. CONISS: A Fortran 77
UnG, com mais de 3.000 táxons polínicos da flora program for stratigraphically constrained
brasileira. Os dados brutos das contagens foram cluster analysis by the method of the
inseridos no programa computacional Tília/ incremental sum of squares. Computers and
TiliaGraph (GRIMM, 1987). Estes convertidos Geosciences. v. 13, n. 1, p. 13-35.
em valores porcentuais e de concentração
SUGUIO, K. 2010. Geologia do Quaternário e
e subsequentemente representados em
mudanças ambientais. São Paulo: Oficina de
palinodiagramas com o emprego do subprograma
textos, 408p.
TiliaGraph. A identificação de zonas polínicas
nos diagramas, indicadoras de mudanças de
mudanças paleoambientais, é realizada pelo
subprograma CONISS, pertencente ao programa
Tília/TiliaGraph.

CONCLUSÕES
Os resultados das datações sedimentares
do lago Durão revelaram a idade de 22.200
anos A. P., porém o atual sistema de lago teria
se estabelecido por volta de 7.000 anos A. P.
Os sedimentos do Lago Durão indicam que a
vegetação na região Centro-Norte do Estado do
Espírito Santo foi dominada por ervas em grande
parte do período correspondente ao último
máximo glacial, porém, a vegetação de floresta
permanece presente em valores baixos durante
esta fase, o que indicaria a dominância de um
clima frio nesta época com chuvas esporádicas. No
Holoceno a vegetação é dominada por elementos
arbóreos e arbustivos sob a ação de um clima
quente e úmido. Até o presente momento não
foram encontrados palinomorfos associados a alto
teor de salinidade como dinoflagelados, acritarcas
e palinoforaminíferos, sugestivo de que o lago
Durão possui sua gênese relacionada a outro
evento diferente de uma transgressão marinha.

440
NOVOS DADOS GEOCRONOLÓGICOS A PLANÍCIE COSTEIRA
NORTE DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Matias do Nascimento Ritter1 (mnritter@gmail.com), Fernando Erthal2 (delodontus@yahoo.com.br)
1
Bolsista de IC CNPq/PROPESQ/UFRGS, Porto Alegre, RS; Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (CECLIMAR/IB/
UFRGS).
2
Programa de Pós-graduação em Geociências, Instituto de Geociências, UFRGS, Porto Alegre, RS.

RESUMO Keywords: Carbon-14, late Holocene,


fossils mollusks, PCRS
Neste trabalho são apresentadas idades
carbono-14 (AMS) em conchas de moluscos
bivalves originários de afloramentos na Planície INTRODUÇÃO
Costeira do Rio Grande do Sul (PCRS), porção A Planície Costeira do Rio Grande
Norte. Os afloramentos são constituídos de do Sul (PCRS) desenvolveu-se sob o controle
sedimentos arenosos com lentes de turfa no topo das variações climáticas e eustáticas ocorridas
e sedimentos lamosos na base. Duas amostras com durante o Quaternário (Tomazelli et al. 2000).
Erodona mactroides e uma concha de Amiantis A PCRS, embora bem descrita, ainda carece de
purpurata foram datadas (Beta Analytic, Miami), informações paleoambientais durante o Holoceno
obtendo respectivamente as seguintes idades tardio. Conchas de moluscos têm sido utilizadas
calibradas (anos calendário): 1230 ± 30 anos AP, em estudos relacionados à evolução geológica da
1200 ± 30 anos AP e 1450 ± 30 AP. Os depósitos PCRS. Dillenburg (1996) obteve idades variando
da PCRS, no intervalo de tempo após o último em torno de 6730 ± 90 anos AP em conchas
máximo transgressivo, carecem de detalhamento de Erodona mactroides oriundas de furos de
geocronológico, o que também impede sondagem com 3,5 m de profundidade. Esta idade
interpretações paleoambientais mais detalhadas. é próxima ao máximo transgressivo holocênico
Este estudo oferece este tipo de informação que, registrado para a região, segundo Dillenburg et al.
apesar de pontual, é de grande relevância para o (2009).
entendimento da evolução da PCRS.
O presente estudo foi realizado na porção
Palavras-chave: Carbono-14, Holoceno norte da PCRS em depósitos sedimentares
superior, moluscos fósseis, PCRS lagunares holocênicos ricos em conchas de
Erodona mactroides (Figura 1). Estes depósitos
ABSTRACT sedimentares estão associados ao mais recente
sistema deposicional do tipo laguna-barreira da
This paper presents carbon-14 AMS
PCRS, que atingiu seu desenvolvimento mais
ages in bivalve mollusks recovered from outcrops
amplo durante o máximo transgressivo, há cerca
localized in the northern Coastal Plain of the Rio
de 5000 anos AP (Tomazelli et al. 2000).
Grande do Sul State (= PCRS), southern most
Brazil. The top of the outcrops are constituted O objetivo deste trabalho é fornecer
of sandy sediments with lenses of peat, while detalhamento geocronológico para as sucessões
the base possess muddy sediments. Two samples sedimentares mais recentes da PCRS na porção
with Erodona mactroides shells and one shell norte. Para tanto são utilizadas idades carbono-14
of Amiantis purpurata were dated, yielding obtidas com o método de AMS (sigla em inglês
respectively the following ages (calendar age): para espectrometria de massa acelerada) em
1230 ± 30 yr. BP, 1200 ± 30 yr. BP and 1450 ± 30 conchas de moluscos de afloramentos localizados
yr. BP. The most recent deposits of the study area nas proximidades do sistema estuarino-lagunar de
need more geochronological analysis to ensure a Tramandaí.
better paleoenvironmental interpretation, which
is fairly achieved in this paper.

441
MATERIAL E MÉTODOS de São Francisco, Califórnia, Malamud-Roam
et al. (2006) obtiveram idades semelhantes às
Foram enviadas para datação (14C, AMS)
encontradas no presente estudo. Esse sistema
três amostras com conchas de afloramentos:
formou-se em um evento transgressivo por volta
uma contendo conchas de Erodona mactroides do
de 6000 anos AP, de maneira análoga à PCRS. A
afloramento 1; outra amostra com conchas de E.
partir disto o sistema foi caracterizado por uma
mactroides do afloramento 2; e uma terceira com
fase regressiva, com influência fluvial/marinha,
uma concha de Amiantis purpurata do afloramento
determinando a formação de áreas pantanosas
2 (Figura 2). As datações foram realizadas nos
adjacentes ao estuário.
laboratórios da Beta Analytic© (Miami, Florida,
EUA). As datações apresentadas no presente
trabalho são muito diacrônicas em relação à
A idade em radiocarbono (idade
idade obtida por Dillenburg (1996). Processos
convencional) deve ser convertida em anos de
de retrabalhamento poderiam ter misturados
calendário. Para isso, utiliza-se curvas de calibração
às conchas do afloramento 1, em detrimento
obtidas com base em dados dendrocronológicos
da dinâmica do ambiente costeiro. Contudo, há
(entre 0 e 10,5 ka) e marinhos (14C em
uma lacuna, não apenas em datações do período
foraminíferos e U/Th em corais; Radiocarbon,
compreendido entre 5000 a 1500 anos AP, mas
2004). Para a calibração das idades convencionais
também de condições paleoambientais deste
aqui obtidas foi utilizada a curva mais recente,
período, o que limita interpretações mais acuradas.
Marine04, que permite a calibração para anos de
calendário de idades em radiocarbono entre 0 e
26000 anos (Figura 3). A calibração é necessária CONCLUSÃO
porque, na realidade, um ano em radiocarbono (o Os resultados apresentam dados
que é mensurado diretamente no material fóssil) radiocarbônicos inéditos em relação à evolução
é menor que um ano em calendário. Além disso, geológica da porção setentrional da PCRS durante
como há um certo grau de incerteza embutido na o final da sua fase regressiva. A compreensão
curva de calibração, a idade calibrada final deve da história paleoambiental recente na porção
ser expressa como um intervalo de confiança, e norte da PCRS necessita maior detalhamento
por isso são adotados os dois desvios padrão a geocronológico, como as idades radiocarbônicas
partir da idade (2 sigma). e calibradas apresentadas aqui. O detalhamento
estratigráfico existente em todo sistema
RESULTADOS E DISCUSSÃO deposicional costeiro do Rio Grande do Sul
poderá ser melhor atrelado com as informações
As idades obtidas nas conchas estão
paleoclimáticas e paleobiológicas, quando existir
detalhadas na Tabela 1.
maior controle com base em idades absolutas.
Tabela 1. Idades (em anos AP) das três amostras de
moluscos datadas com o método AMS.

Razão 12C/13C Idade14C Idade 14C


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amostra
estimada Convencional Calibrada AP DILLENBURG, S.R. 1996. Oscilações
MVd-01-Em -3,9 ‰ 1580 ± 30 AP 1230 ± 30
holocênicas do nível relativo do mar
Pal-01-Em -4,3 ‰ 1540 ± 30 AP 1200 ± 30
Pal-03-Amp +0,7 ‰ 1870 ± 30 AP 1450 ± 30 registradas na sucessão de fácies lagunares na
região da laguna de Tramandaí, RS. Pesquisas,
Em estudo conduzido por Dillenburg 23: 17-24.
et al. (2004) conchas que estavam a 7 m de
DILLENBURG, S.R.; BARBOZA, E.G.;
profundidade, na perfuração mais distante do
TOMAZELLI, L.J.; HESP, P.A.; CLEROT,
nível atual do mar, apresentaram idade de 6750 ±
L.C.P. & AYUP-ZOUAIN, R.N. 2009. The
anos AP. Conchas da perfuração mais próxima à
holocene coastal barriers of Rio Grande do
linha de praia atual apresentam idade de 3450 ± 50
Sul. In: DILLENBURG. S. R. & HESP,
anos AP. Estudo conduzido no sistema baía-delta
P. A. (eds.). Geology and Geomorphology of

442
Holocene Coastal Barriers of Brazil. Berlim, MARTINHO, C.T.; DILLENBURG, S.R. &
Springer-Verlag, p. 53-92. HESP, P.A. 2008. Mid to late Holocene
evolution of transgressive dunefields from
DILLENBURG, S.R.; TOMAZELLI, L,J.; Rio Grande do Sul coast, southern Brazil.
HESP, P.A.; BARBOZA, E.G.; CLEROT, Marine Geology, 256(1/4):49-64.
L.C.P. & DA SILVA, D.B. 2004. Stratigraphy
and evolution of a prograded tansgressive RADIOCARBON. 2004. IntCal04: Calibration
dunefield barrier in southern Brazil. Journal Issue. Radiocarbon, 46(3):1029-1333.
of Coastal Research, 39:132-135.
TOMAZELLI, L.J.; DILLENBURG, S.R. &
HUGHEN, K.A.; BAILLIE, M.G.L.; VILLWOCK, J.A. 2000. Late quaternary
BARD, E. et al. 2004. Marine04 Marine geological history of Rio Grande do Sul
Radiocarbon Age Calibration, 0–26 cal kyr coastal plain, southern Brazil. Revista
BP. Radiocarbon, 46(3):1059-1086. Brasileira de Geociências, 30(3):474-476.

MALAMUD-ROAM, F.P.; INGRAM, B.L.; YBERT, J-P.; BISSA, W.M. & KUTNER,
HUGHES, M. & FLORSHEIM, J.L. 2006. M. 2001. Relative sea level variations and
Holocene paleoclimate records from a large climatic evolution in southeastern and
California estuarine system and its watershed southern Brazil during the late Holocene.
region: linking watershed climate and bay Pesquisas em Geociências, 28(2):75-83.
conditions. Quaternary Science Reviews,
25(13/14): 1570-1598.

443
Figura 1. Mapa de localização (A) e fotos dos dois afloramentos conchíferos (B).

444
Figura 2. Espécies de bivalves enviadas para datação. A: Erodona mactroides em vista externa. B: Erodona mactroides
em vista interna. C: Amiantis purpurata em vista externa. D: Amiantis purpurata em vista interna. Escalas: 10 mm.

Figura 3. Curva de calibração da amostra MVd-01-Em, utilizando a base de dados MARINE04 (Hughen et al. 2004).

445
S-09:
Paleoinvertebrados
ANÁLISE TAFONÔMICA DE CORUMBELLA WERNERI HAHN ET
AL. 1982 (FORMAÇÃO TAMENGO, GRUPO CORUMBÁ, MATO
GROSSO DO SUL): ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS E IMPLICAÇÕES
NO ESTABELECIMENTO DE AFINIDADES TAXONÔMICAS
Mírian Liza A. Forancelli Pacheco1 (Bolsista FAPESP), Juliana de M. Leme Basso1, Thomas R. Fairchild1 (forancelli@gmail.com)
Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências
1

RESUMO Keywords: Corumbella werneri, ediacaran


fauna, Tamengo Formation
Neste trabalho foram descritas as
classes tafonômicas observadas nos espécimes
de Corumbella werneri, e as implicações da INTRODUÇÃO
tafonomia na alteração de estruturas morfológicas Corumbella werneri foi, inicialmente,
imprescindíveis para as interpretações taxonômicas documentada na pedreira calcária Saladeiro,
deste fóssil. Para tanto, foram analisadas 413 situada nos limites dos municípios de Corumbá
amostras provenientes da Formação Tamengo, e Ladário, em Mato Grosso do Sul. Hahn et al.,
Grupo Corumbá. De acordo com a reconstituição 1982 realizaram a descrição original deste táxon,
proposta neste estudo, a compactação constituiu reconhecendo duas partes principais em seu
um viés tafonômico em espécimes de geometria corpo: (1) uma região proximal, constituída de
prismática e simetria tetrâmera, alterando, assim, um tubo peridérmico, espesso curvo e alongado,
tanto a descrição original proposta por Hahn et não ramificado, denominado pólipo primário,
al. (1982) quanto a interpretação alternativa que composto de anéis quitinosos isolados, espessados
remete este táxon aos vendobiontes. A análise externa e internamente nos seus bordos, com
tafonômica básica permitiu concluir que C. quatro pequenas e curtas saliências internas - os
werneri é um Cnidaria, Scyphozoa e compartilha esclerosseptos; e (2) uma região distal, estruturada
características morfológicas tanto com coronados por um arranjo bisseriado de pólipos secundários,
como com conulários. relativamente curtos, de campo axial estreito,
Palavras-chave: Corumbella werneri, ordenados em seqüência empilhada, cada qual
fauna ediacarana, Formação Tamengo com um tubo peridérmico quitinoso pequeno
e distinto, sem nítida formação de anéis e sem
ABSTRACT esclerosseptos visíveis. O gênero Corumbella foi
então inserido na classe Scyphozoa (filo Cnidaria).
This study describes taphonimic
Entretanto, a passagem de uma porção proximal
classes observed in Corumbella werneri, and
unisseriada, de pólipos primários, para uma
the taphonomy implications by change in
porção distal bisseriada, de pólipos secundários,
morphological structures essential for taxonomic
também arredondados em secção, observados
interpretation of this fossil. Thus, we analyzed
exclusivamente em C. werneri, foi considerada
413 samples from Tamengo Formation, Corumbá
suficiente para incluir este táxon como o único
Group. According to the reconstruction proposed
membro da nova subclasse Corumbellata, que
in this study, compression is a taphonomic bias of
compreende a ordem Corumbellida e a família
specimens with prismatic geometry and fourfold
Corumbellidae (Hahn et al., 1982; Walde et al.,
symmetry, thereby altering both the original
1982).
description proposed by Hahn et al. (1982) and
Estudos subseqüentes de Zaine &
the alternative interpretation that refers this
Fairchild (1987) e Zaine (1991) levantaram novas
taxon to vendobionts. The basic taphonomy
questões sobre a sistemática e a reconstituição
analysis concluded that C. werneri is a Cnidaria,
deste táxon. Segundo estes autores, os espécimes
Scyphozoa and shares morphological features
de C. werneri não mostraram indícios de
with both Coronate and Conulariid.
polaridade de crescimento ou bisseriação, nem

449
do modo de reprodução ou estruturas de fixação. Isto posto, foram descritas neste
Também não foram constatados os esclerosseptos, trabalho as classes tafonômicas observadas nos
que justificariam a inclusão de C. werneri entre espécimes de C. werneri, e as implicações da
os Scyphozoa. Os espécimes deste fóssil foram tafonomia na alteração e no reconhecimento de
descritos como portadores de uma a quatro séries estruturas morfológicas imprescindíveis para as
longitudinais, aproximadamente cilíndricas, interpretações taxonômicas deste fóssil. Para o
subdivididas em compartimentos (ou segmentos) efeito deste estudo, a resolução dos problemas
vazios dispostos de forma oposta ou alternada, tafonômicos e, conseqüentemente, morfológicos
com aspecto imbricado ao longo do espécime. deste táxon foi estruturada em descrições e
Zaine (1991) associou, então, Corumbella aos comparações entre espécimes bem preservados e
Vendobionta, designação sugerida por Seilacher exemplares do mais amplo e variado espectro de
(1989) para o extinto grupo de organismos, preservação possível.
que ainda não representaria os metazoários, no
sentido atual, mas outro reino de seres de corpo
mole, suficientemente achatados para realizar as
MATERIAIS E MÉTODOS
funções metabólicas de difusão. Foram analisadas 401 amostras
Posteriormente, Babcock et al. (2005) depositadas na Coleção Científica do IGc/USP
afirmaram que C. werneri secretava um tubo e 12 amostras da Coleção de Paleontologia,
alongado, estreito, com simetria tetrarradial, do DNPM, RJ. Os fósseis destas coleções são
a partir de uma região apical de fixação. A provenientes da Formação Tamengo, aflorante na
reinterpretação da morfologia do tubo e as novas região de Corumbá, MS, nas pedreiras Saladeiro
evidências da reprodução por brotamento em e Lajinha.
Corumbella indicariam semelhanças com os
Stephanoscyphus (moderno), e, possivelmente, ANÁLISE TAFONÔMICA BÁSICA
com os conulários (fósseis). Adicionalmente, esta
Foram reconhecidas duas classes
espécie foi descrita como um grupo de organismos
tafonômicas principais para os espécimes de C.
predadores, bentônicos coloniais que se fixariam
werneri: tridimensionais e bidimensionais. Os
em uma “massa orgânica”. No entanto, Babcock et
espécimes tridimensionais foram caracterizados
al. (2005) não ilustraram as feições morfológicas
por exemplares de geometria cilíndrica ou
nas quais estas interpretações foram baseadas,
prismática, conservados como moldes internos e
tais como, o espessamento na linha mediana, a
externos, com ou sem preservação da carapaça.
estrutura de fixação (ápice), e a seção quadrangular,
que indicaria simetria tetrarradial, essenciais para A priori, o exame dos espécimes
a elucidação das afinidades com os Scyphozoa cilíndricos resultou em uma interpretação de C.
e para as interpretações paleoecológicas. Esta werneri como cônico-cilíndrica, circular em seção
ausência de evidências tornou precária a base transversal. Esta hipótese encontrou sustentação
de sustentação das interpretações filogenéticas e nas comparações estabelecidas entre Corumbella
paleoecológicas sugeridas por estes autores. e os fósseis conotubulares da China, tais como
Conotubus (Ding et al., 1992) e Gaojiashania
Diante disso, é provável que as
(Zhang & Hua, 2000;). Dentre as similaridades
interpretações sobre as características morfológicas
entre estes fósseis estaria a conformação tubular
e as afinidades deste táxon tenham sido limitadas
anelada (Bernd-Dietricherdtman, 2004).
por processos tafonômicos, uma vez que os vários
modos de soterramento e diagênese podem afetar Alguns moldes internos analisados
a morfologia do fóssil, obscurecer estruturas apresentavam certo grau de compactação, com
morfológicas diagnósticas e criar artefatos que evidencia do sulco,característico na região mediana,
podem ser mal interpretados como características bem demarcado, com fragmentos da inserção
morfológicas (Lucas, 2001; Simões et al., 2003; alternada das anelações nesta região, separando
Leme et al., 2004). dois compartimentos tubulares, com sutil
evidenciação de arestas nas extremidades de uma
face. Este fóssil pôde foi definido como um tubo

450
prismático inflado, e posteriormente compactado, mediana evidente, na maioria das vezes. Não raro,
de C. werneri. Este tipo de conformação esclareceu também foram evidenciados espécimes uni, tri e
a constatação quase constante de linha mediana tetrasseriados.
em espécimes bidimensionais interpretados como A comparação de características
compactados. A compactação dos espécimes de C. morfológicas entre os exemplares tri e
werneri pode ocorrer de modo em que duas faces bidimensionais de C. werneri revelou que estes
paralelas se sobreponham, continuando evidente últimos constituem espécimes compactados.
uma das faces e sua linha mediana, enquanto Deste modo, em espécimes bidimensionais, a
as outras duas faces paralelas constituam zona linha mediana constituiria uma característica
de fraqueza para quebra ou dobra no efeito do morfológica dos tubos de C. werneri e não um
colapso, provavelmente, na zona de inserção das artefato de colapso deposicional do organismo,
linhas medianas. conforme salientado por Bernd-Dietricherdtman
A documentação de molde interno (2004). Portanto, de acordo com a reconstituição
excepcionalmente bem preservado, de proposta neste estudo, a compactação constitui
conformação prismática, sem constatação de um viés tafonômico e estes espécimes apresentam
cavidades infladas, foi de relevante interesse para a simetria tetrâmera, alterando, assim, tanto
reconstituição das características morfológicas de a descrição original proposta por Hahn e
C. werneri. Neste espécime foram observadas duas colaboradores quanto a interpretação alternativa
arestas bem demarcadas, circunscrevendo uma que remete este táxon aos vendobiontes. De
região análoga às faces dos conulários. Também de modo similar aos conulários, fósseis de C. werneri
modo semelhante ao relatado para os conulários, tridimensionais apresentam uma geometria
na porção mediana da face, foi observada uma prismática, aproximadamente quadrangular em
seqüência ininterrupta e quase alternada de seção transversal, organizada em arestas e faces,
moldes em “u”, atribuídos às confluências das com delimitação da linha mediana, atribuída à
anelações (denominados “cordões” para o grupo confluência alternada dos segmentos na região
dos conulários) nos tubos, em uma região definida longitudinal das faces. Os segmentos de C. werneri,
como linha mediana. De fato, em algumas porções de forma semelhante a conulários e coronados,
dessa linha mediana foram verificados fragmentos encontram-se organizados de forma lateralmente
de anelações nas regiões de inserção dos anéis. contínua. A observação do arranjo de alguns
A documentação de espécimes tubulares espécimes mais longos deste táxon confirmou
tridimensionais unisseriados, antes interpretados uma possível articulação da carapaça, evidenciada
como pólipos primários de uma estrutura em coronados, mas não em conulários.
bipartite, pode ser remetida a existência de uma
região aboral unisseriada, sem evidência de
CONCLUSÕES
linha mediana, que grada a uma porção distal
prismática com demarcação visível de linha Diante do exposto, a análise tafonômica
mediana. Embora não encontradas associadas, básica, permitiu concluir que, C. werneri é um
nas análises realizadas por Babcock et al. (2005) Cnidaria, Scyphozoa e compartilha características
as conformações unisseriadas também foram morfológicas tanto com coronados como com
interpretadas como estruturas de fixação aboral, conulários.
denominadas “regiões apicais” por esses autores.
Os espécimes unisseriados cilíndricos também REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
podem ser resultantes de quebras e cisões na região
mediana ou constituírem espécimes em que uma BABCOCK, L.E.; GRUNOW, A.M.;
das regiões da face foi encoberta por sedimento. SADOWSKI, G.R. & LESLIE, S.A.
Os espécimes bidimensionais, de 2005. Corumbella, na Ediacaran-grade
conformação, geralmente, bisseriada, apresentaram organism from the Late Neoproterozoic of
conservação total ou parcial da carapaça por Brazil. Palaeogeography, Palaeoclimatology,
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452
DÍPTEROS FÓSSEIS DA FORMAÇÃO TREMEMBÉ,
BACIA DE TAUBATÉ, SÃO PAULO, BRASIL
Diogo Jorge de Melo¹ (diogojmelo@gmail.com), Luanda Mariano Rodrigues dos Santos² (luandamariana@hotmail.com)
¹Universidade Federal do Pará, Faculdade de Artes Visuais e Museologia; ²Universidade Severino Sombra

RESUMO instalação de um sistema lacustre, constituída de


folhetos pirobetuminosos e argilas bentoníticas.
O trabalho consiste no levantamento
Com relação à idade, foram atribuídas diversas
dos dípteros fósseis da Formação Tremembé,
datações, porem prevalece uma idade respectiva ao
Bacia de Taubaté, no Estado de São Paulo e sua
final do Oligoceno (Bergqvist & Ribeiro, 1998).
paleobiologia. Foram encontradas sete famílias
O objetivo do trabalho é fazer um levantamento
e dezessete espécies, sendo uma indeterminada.
bibliográfico dos dípteros descritos para a
A paleobiológia dos grupos indica um ambiente
Formação Tremembé, fazer um levantamento das
úmido, com a presença de um corpo aquoso, solos
características biológicas do grupo, para apontar
com grande quantidade de matéria orgânica e
inferências sobre paleobiológia e paleoecologia.
serrapilheira e a existência de uma alta diversidade
vegetal.
Palavras-chave: Diptera, Formação LEVANTAMENTO DOS DÍPTEROS
Tremembé, Paleobiologia DA FORMAÇÃO TREMEMBÉ
O levantamento será apresentado por
ABSTRACT família, sendo todos os exemplares coletados nos
The work is a survey of diptera fossils folhelhos pirobetuminosos da Fazenda Santa
and its paleobiology from Tremembé formation, Fé e pertencentes a Coleção Paleontológica da
Taubaté basin, State of São Paulo. We found Universidade Guarulhos (UnG).
seven families and seventeen species, with an Família Chironomidae – representada por
indeterminated. The paleobiology indicates a um espécime indeterminado, sendo ele descrito
humid environment, with the presence of an por Martins-Neto et al. (1992a). Seu número de
aqueous body, large amounts of soil organic coleção não foi determinado no trabalho, mas
matter and lither-fall and the existence of a large pertence à Universidade de Guarulhos. Também
vegetal diversity. foram identificados incnofósseis atribuídos ao
Keywords: Diptera,Tremembé Formation, grupo (Andrade-Morraye, 2003)
Paleobiology Família Diastatidae – representada pela
espécie Prodiastatinops pulchra Martins-Neto,
1999. Holótipo (UnG/1T-86), constituído de
INTRODUÇÃO uma asa de 4,5mm.
Dípteros fósseis são amplamente Família Empididae – representada por três
registrados na Formação Tremembé da Bacia de espécies: Taubatempis trompetilia Martins-Neto,
Taubaté, localizada no estado de São Paulo. Essa 1999, holótipo (UnG/1T-87), com 3,1mm de
bacia sedimentar se divide em três formações: comprimento e 1,4mm de largura, norma lateral.
Formação Resende, Formação São Paulo e a Taubatempis gracilis Martins-Neto, 1999, holótipo
Formação Tremembé, que é a mais fossilífera (UnG/1T-98), com 6,5mm de comprimento
das três. Segundo Ricomini et al. (1987) e 2,1mm de largura; Taubatempis elonganata
esses sedimentos são divididos em três fases Martins-Neto, 1999, holótipo (UnG/1T-99),
deposicionais, sendo a segunda fase a de nosso espécime preservado de forma dorsal com 3,4mm
maior interesse, pois se caracteriza os sedimentos de comprimento e 1,1mm de largura.
da Formação Tremembé, que representa a

453
Família Hybotidae – representada por CONSIDERAÇÕES PALEOBIOLÓGICAS
seis espécies: Archaeodrapetiops nefera Martins-
Os dípteros são uma das maiores ordem
Neto, Kucera-Santos & Fragoso 1992, holótipo
da classe Insecta, consistem em animais voadores
(UnG/1T-09), espécime relativamente completo,
pequenos, que sofrem metamorfose completa,
preservado em norma dorsal, com cabeça de
com larvas vermiformes (Borror et al., 1989).
0,7mm de comprimento, tórax com 2,4mm
A família Chironomidae, se constitui de
de comprimento e abdômen com 1,8mm de
insetos cosmopolitas, com tamanho entre 1 a
comprimento e asas com 4,4mm de comprimento
10mm de comprimento. Costumam ocorrer em
(parátipo UnG/1T-13); Archaeodrapetiops
grandes enxames noturnos, a procura de uma
mezzalirai Martins-Neto, Kucera-Santos &
fêmea. Quando adultos, nunca se alimentam e
Fragoso 1992, holótipo (UnG/1T-11), com
colocam seus ovos na água, mas algumas larvas
4,8mm de comprimento e asa com 3,8mm
ocorrem em pústulas, no solo e em baixo de cascas
de comprimento; Archaeodrapetiops trasnversa
ou ambientes úmidos e ricos em matéria orgânica.
Martins-Neto, Kucera-Santos & Fragoso 1992,
Constituem o principal alimento de peixes
holótipo (UnG/1T-12), com corpo de 3,4mm
pequenos e insetos aquáticos (Borror et al., 1989).
de comprimento e asa em torno de 2,5mm
de comprimento; Archaeodrapetiops? Elongata Os Diastatidae constituem um pequeno
Martins-Neto, Kucera-Santos & Fragoso 1992, grupo, semelhante a família Drosophilidae.
holótipo (UnG/1T-14), com corpo de 5,2mm de Possuem usualmente coloração escura e ainda
comprimento e asa de 3,5mm; Tremembella gracilis pouco se sabe sobre o grupo (Borror et al., 1989).
Martins-Neto, Kucera-Santos & Fragoso 1992, O fóssil apresentado foi o primeiro registro no
holótipo (UnG/1T-10), espécime preservado hemisfério sul (Martins-Neto, 1999).
em norma lateral com 2,6mm de comprimento Os Empididae compreendem uma
e asa com 1,5mm; Eternia papaveroi Martins- grande família pouco conhecida. Sabe-se que
Neto, Kucera-Santos & Fragoso 1992, holótipo no acasalamento o macho presenteia a fêmea
(UnG/1T-10), espécime preservado em norma com um inseto preso a uma bolsa sedosa,
lateral, com 1,35mm e asa com 3,8mm. método de distração, para não o atacá-lo e
Família Mycetophilidae – foram descritas come-lo. São popularmente conhecidos como
duas espécies: Taubatemya oligocaenica Martins- dançarinas voadoras, por formarem enxames com
Neto, 1999, holótipo (UnG/1T-8), consiste movimentos de baixo pra cima. Encontrados
em um espécime com cabeça, olhos, antenas, em diversos ambientes, associados a vegetações
tórax, membros, asa anterior e dez seguimentos abundantes. São predadores de pequenos insetos,
preservados e ?Sackenia elonganata Martins-Neto, mas frequentemente se alimentam de néctar
1999, cujo holótipo (UnG/1T-85) é um fragmento (Borror et al., 1989). As larvas vivem em lugares
isolado da asa com 8mm de comprimento. úmidos e são carnívoras.
Família Tabanidae – representada pela Os gêneros da família Hybotidae habitam
espécie Tabanus? tremembensis, Martins-Neto, diferentes tipos de ambientes, mas a maioria se
1997. O holótipo (UnG/1T-49) é um espécime restringe a ambiente próximo à água, úmido.
praticamente completo, preservado em norma Os adultos são predadores e se encontram em
dorsal, com 17mm de comprimento. folhagens, troncos de árvores ou na terra úmida,
estando normalmente próximos de rios, pântanos
Família Tipulidae – representada por
e lagos (Borror et al., 1989; Martins-Neto et al.,
duas espécies: Tipula? Tremembeensis Martins-
1992b).
Neto, 1999, holótipo (UnG/1T-100) é um
espécime preservado em norma dorso-lateral com A família Mycetophilidae possui
5,1mm de comprimento e Helius? Oligocenicus o tamanho médio de um mosquito e são
Martins-Neto, 1999, holótipo (UnG/1T-101) é normalmente encontrados em locais úmidos onde
um espécime preservado em norma dorso-lateral tenha serrapilheira e fungos. As larvas habitam o
com 2,6mm de comprimento. mesmo ambiente e podem ser predadoras ou se
alimentar de fungos (Borror et al.,1989).

454
Os Tabanidae são animais grandes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e robustos, podendo chegar a 30mm de
ANDRADE-MORRAYE, M. 2003. Oligocene
comprimento. As fêmeas são sugadoras de sangue
chironomidae, díptera, trace fóssil from
e consequentemente vetores de doenças. Os
Tremembé formation, southeasth Brazil.
machos se alimentam de pólen e néctar. Colocam In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
seus ovos nas folhagens sobre riachos e lagos, para PALEONTOLOGIA, 18, Boletim de
as larvas cairem na água. As larvas são predadoras resumos, SBP,p.19.
de moluscos, insetos e outros organismos (Borror
et al., 1989). BERGQVIST, L.P. & RIBEIRO, A.M. 1998
Maior família da ordem, os Tipulidae são A paleomastofauna das bacias Eoterciárias
confundidos com mosquitos grandes, mas com brasileiras e sua importância na datação das
pernas longas. São encontrados em ambientes bacias de Itaboraí e Taubaté. Associação
Paleontológica da Argentina 5 (publicação
úmidos com vegetação abundante. As larvas
especial): 19-34.
são aquáticas ou semi-aquáticas, mais exceções,
ocorrem no solo, fungos, musgos e madeira morta. BORROR, D.; TRIPLEHORN, C. &
As larvas se alimentam de fungos de folha e raízes JOHNSON, N. 1989. An introduction
ou plantas jovens, as aquáticas são predadoras. Os to the study of insects. Saunders College
adultos não costumam se alimentar, mas podem Publishing, Philadelphia, EUA.
sugar néctar (Borror et al., 1989).
MARTINS-NETO, R.G. 1999. Dípteros,
insecta, da formação Tremembé, bacia de
CONCLUSÕES Taubaté, oligoceno do Estado de São Paulo,
Sabendo que o registro fossilífero não II Famílias Mycetophilidae, Empidae e
preserva a paleobiota em sua totalidade, logo, Tipulidae. Revista Universidade Guarulhos,
Geociências, 4(6): 116-129.
considera-se alta a diversidade de dípteros
encontrada, com sete famílias e dezessete MARTINS-NETO, R.G.; KUCERASANTOS,
espécies, sendo uma indeterminada. Das famílias J.C.; VIEIRA, F.R.M.; FRAGOSO, L.M.C.
encontradas, Hybotidae é a mais diversificada, 1992(a). Dípteros, insecta, da formação
com seis espécies, seguida de Empididae, com Tremembé, bacia de Taubaté, oligoceno
três espécies. Essa alta diversidade demonstra do Estado de São Paulo, II famílias
que o grupo já era abundante e diversificado no Tipulidae, Empididae e Chironomidae.
Oligoceno da América do Sul, fato de grande In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
relevância paleoecológica, pois os dípteros GEOLOGIA, 37, Boletim de resumos,
constituem-se a base da cadeia alimentar, sendo SBG, p. 494-49.
presas para diversos animais em sua fase larval e
MARTINS-NETO, R.G.; KUCERA-
adulta. Por exemplo, as larvas de Chironomidae
SANTOS, J.C. & FRAGOSO, L.M.C.
são a principal fonte alimentícia de peixes 1992(b). Dípteros, insecta, empidoidea,
pequenos e insetos. A família Empididae se da formação Tremembé, bacia de Taubaté,
destaca por serem animais predadores, inclusive oligoceno do Estado de São Paulo, I família
se alimentando de outros dípteros e a Tabanidae, Hybotidae. Acta Geológica Leopoldensia,
por serem sugadores de sangue, podendo ter sido 36(15): 31-48.
vetores de doenças. Com relação aos aspectos
biológicos do grupo, permitem inferir um RICOMINI, C.; APPI, C.J.; FREITAS, E.L. &
paleoambiente úmido, com solos ricos em matéria ARAI, M. 1987. Tectônica e sedimentação
orgânica, com uma cobertura de serrapilheira, no sistema de rifts continentais da Serra do
Mar: bacias de Volta Redonda, Resende,
presença de um corpo aquoso, o paleolago, além
Taubaté e São Paulo. In: SIMPÓSIO DE
de uma alta diversidade vegetal. Todos esses
GEOLOGIA RJ ES, 1, Rio de Janeiro, 1987.
dados são extremamente pertinentes aos dados
Anais, Rio de Janeiro, SBG, p.253-298.
paleontológicos e geológicos da Bacia de Taubaté,
Formação Tremembé.

455
ECHINODERMATA DA FORMAÇÃO ERERÊ (EIFELIANO TARDIO –
GIVETIANO INICIAL, BACIA DO AMAZONAS), ESTADO DO PARÁ, BRASIL
Sandro Marcelo Scheffler1 (schefflersm@yahoo.com.br), Antonio Carlos Sequeira Fernandes2 (fernande@acd.ufrj.br),
Vera Maria Medina da Fonseca2 (vmmedinafonseca@gmail.com)
1
Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Biologia, Setor de Ciências Ambientais, Rua Prof. Artur Riedel, 275, Jardim
Eldorado, 09972-270, Diadema, São Paulo, SP, Brasil;
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Departamento de Geologia e Paleontologia, Quinta da Boa Vista, São
Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO column, with current speeds of weak to moderate


and soft substrate.
O primeiro registro de ocorrência e a
primeira identificação de crinóide para o Devoniano Keywords: Middle Devonian, Ererê
brasileiro foram feitos, respectivamente, em Formation, crinoids
1875 e 1903, ambos na Formação Ererê.. Desde
esta data os equinodermas desta formação não INTRODUÇÃO
haviam sido mais estudados, representando uma
O primeiro registro de ocorrência de
lacuna de mais de um século de estudos. Com
crinóide no Devoniano brasileiro foi feito
base em pluricolunais e colunais isoladas foi
por Hartt & Rathbun (1875) quando citam a
descrito ø Botryocrinus sp. A, o primeiro registro
presença de “fragmentos de colunas crinoidais”
não duvidoso do gênero para a América do Sul.
em sedimentos da Formação Ererê. Da mesma
Além desta espécie outros dois tipos morfológicos
forma, a primeira identificação taxononômica
foram identificados: ø Tjeecrinus? sp. e ø
de crinóides no Brasil também foi feita para esta
Morfotipo AM/Er-01. A forma de ocorrência do
formação, quando em 1903
material de equinodermas e a paleoautoecologia
Friedrich Katzer atribui ao gênero
de ø Botryocrinus sp. A permitiu caracterizar
Ctenocrinus pedúnculos coletados nas formações
preliminarmente o ambiente de vida como um
Maecuru e Ererê (Katzer, 1933).
ambiente de coluna d’água moderadamente
profunda, com correntes de velocidades fracas a Nenhum equinoderma foi identificado ou
moderadas e substrato mole. descrito após o trabalho de F. Katzer na Formação
Ererê, ocorrendo, portanto, um hiato de mais de
Palavras-chave: Devoniano Médio,
cem anos no estudo deste filo na formação2.
Formação Ererê, crinóide
O material analisado foi coletado em
1986, pela Expedição Orville A. Derby, em
ABSTRACT dois afloramentos situados no Rio Maecuru,
The first occurrence of the crinoid to the Município de Monte Alegre, estado do Pará:
Devonian of Brazil was made ​​in 1875 and the first Afloramento Igarapé Ipixuna (Amostras 110a
identification was made ​​in 1903, both in Ererê da expedição), localizado na margem direita
Formation. Since that date the Ererê Formation do Igarapé Ipixuna, algumas dezenas de metros
echinoderms had not been more studied, acima de sua foz; e Afloramento Jusante do
representing a gap of over a century of study. Igarapé Ipixuna (Amostras 110 ou Ponto OAD
Based on pluricolunais and isolated columns was 22 da expedição), localizado na margem direita do
described ø Botryocrinus sp. A, the first record Rio Maecuru, cerca de 2 km a jusante da foz do
of the genus not doubtful for South America. Igarapé Ipixuna. As amostras estão depositadas
Two other morphological types were identified: ø nas coleções de paleontologia do Departamento
Tjeecrinus? sp. and morphotype AM/Er-01. The
form of occurrence of the material of echinoderms
2 As únicas identificações e descrições recentes se referem
and the paleoautoecologia of the ø Botryocrinus a um resumo, que apresenta preliminarmente os resulta-
sp. A preliminarily allowed to characterize the dos do presente trabalho, no qual o material é identificado
como Botryocrinus? sp. (Fernandes et al., 2008), e a Tese de
environment of living as a moderately deep water
Doutorado do primeiro autor (Scheffler, 2010).

456
de Paleoinvertebrados do Museu Nacional/ indícios de abrasão. Este variado grau de articulação
UFRJ (sigla MN) e do Laboratório de Estudos e sua forma de ocorrência possivelmente indicam
de Comunidades Paleozóicas da Universidade que os mesmos permaneceram um tempo variado
Federal do Estado do Rio de Janeiro (sigla de exposição na interface água-sedimento, em
UNIRIO). ambiente calmo.
A fauna de equinodermas da Formação
Ererê é muito menos diversificada em relação à
DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
da Formação Maecuru e bem menos abundante,
A primeira forma identificada foi ø apresentando formas diferentes, e praticamente
Botryocrinus sp. A (Figuras 1.3 a 1.6), que dominada por apenas uma espécie: Botryocrinus
ocorre em diversas amostras (UNIRIO-020-EQ sp. A. A drástica redução no número de táxons
a, b; UNIRIO-058-EQ; UNIRIO-055-EQ-B; de macroinvertebrados da Formação Maecuru
UNIRIO-049-EQ a). Apresenta pedúnculo para a Formação Ererê já foi apontada para
heteromórfico, circular a pentagonal arredondado. outros grupos de macroinvertebrados (eg. Melo,
Nodal, primeira e segunda internodais portando 1988; Wanderley Filho et al., 2005). Esta redução
cinco tubérculos alongados. Aréola dividida em pode estar relacionada com a grande mudança
cinco lobos lanceolados, posicionados nos lados do no ambiente de vida destes organismos, de um
lúmen pentagonal a pentaestrelado, de tamanho ambiente marinho raso, próximo à costa, agitado,
médio. bem oxigenado, acima do nível de base de onda
A segunda forma identificada foi ø de tempo bom para um ambiente marinho mais
Tjeecrinus? sp. (Figura 1.1), encontrado em apenas profundo, afastado da costa, com menor energia,
uma amostra (MN6865-Ic). Apresenta pedúnculo como já comentado por Faria et al. (2007).
circular. Látera da colunal levemente convexa, Conforme Le Menn (1985), Botryocrinus
lisa e simétrica. Faceta articular circular, plana, montguyonensis, uma espécie armoricana
portando crenulário bem desenvolvido ocupando com morfologia de pedúnculo muito similar
praticamente toda a faceta. Crenulário com 13 a Botryocrinus sp. A, apresenta caracteres
cúlmens longos, retos, normalmente bifurcados morfológicos que permitem a adoção da postura
e cúlmens intercalares que partem da periferia. de leque de filtração parabólico. Admitindo que
Aréola pequena, circular, plana, circundando um a morfologia da coroa entre os dois táxons fosse
lúmen diminuto, circular? similar, o que é bem possível, isto implicaria na
A última forma consiste em um necessidade da existência de correntes, mesmo que
equinoderma com classe incerta nomeado como fracas, para que o animal adquirisse seu alimento.
ø Morfotipo AM/Er-01 (Figura 1.2) encontrado Além disso, a família Botryocrinidae apresenta
nas amostras UNIRIO-059-EQc; MN6673-Ia sempre um modo de fixação através de cirros,
e MN6665-Ia. Apresenta pedúnculo circular, que estão normalmente restritos a porção final
pequeno, com colunais altas. Látera lisa, reta e do pedúnculo, na dististele. Este modo de fixação
simétrica. Faceta articular circular composta por serve para ancoragem do animal em substrato
crenulário bem desenvolvido e lúmen composto, inconsolidado, indicando que a postura deste
formado por spatium e claustrum. Crenulário crinóide seria com a parte distal do pedúnculo
constituido por poucos cúlmens (10-20) retos, enterrado no substrato mole e a coroa elevada
longos e simples. verticalmente na coluna d’água. A ausência,
até o momento, de cirros no material analisado
CONCLUSÕES pode estar relacionada apenas com a pequena
quantidade de colunais cirrais no pedúnculo.
As colunais e pluricolunais ocorrem de
Portanto, poderíamos caracterizar
forma bastante esparsa no sedimento. Os ossículos
preliminarmente o ambiente de vida de
do pedúnculo podem ser encontrados articulados,
Botryocrinus sp. A como um ambiente de coluna
em número bastante variável (com poucas dezenas
d’água moderadamente profunda, com correntes
a centenas de colunais articuladas), ou isolados,
normalmente paralelos ao acamamento e sem

457
de velocidades fracas a moderadas e substrato HARTT, C.F. & RATHBUN, R. 1875. Devonian
mole. Trilobites and Mollusks of Ereré (Trilobitas
O gênero Botryocrinus apresenta duas e Molluscos devonianos do Ereré). Annal. of
outras citações para a América do Sul. Branisa the Lyc. of Nat. Hist., pag. 110.
(1965, Lamine 23, fig. 3) registra com incerteza
Botyocrinus? sp. para o Devoniano Inferior da KATZER, F. 1933. Geologia do Estado do Pará.
Bolívia. A outra citação foi realizada por Kirk Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi
(in Clarke, 1913, p. 317), que descreve e figura de História Natural e Etnografia, 9:1-269.
Botryocrinus doubleti,para o Devoniano Inferior (Tradução frei Hugo Mense, do original
das Ilhas Malvinas, no entanto, este espécimen foi alemão: KATZER, F., 1903. Grundzüge der
posteriormente renomeado por McIntosh (1983) Geologie Unteren Amazonasgebietes).
como Pyrenocrinus (?) doubleti, um gênero similar
LE MENN, J. 1985. Les crinoïdes du Dévonien
a Botryocrinus.
Inférieur et Moyen du Massif Armoricain:
Portanto, Botryocrinus sp. A representa systématique, paléobiologie, evolution,
a primeira ocorrência atribuída com certeza a paléoécologie, biostratigraphie. Mém. Soc.
este gênero na América do Sul, apresentando Gól. Minéral. Bretagne, (30):1-268.
afinidade com as formas do Devoniano Inferior
do Maciço Armoricano, principalmente com B. McINTOSH, J.C. 1983. Nuxocrinus e
montguyonensis. Pyrenocrinus, two new Devonian cladid
inadunate crinoid genera. Journal of
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Paleontology, 57(3):495-513.

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22 da Formação Ererê (Bacia do Amazonas, Geociências - UFRJ, Tese de Doutorado,
Brasil): análises sistemática, paleoecológica e 278 p.
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(Eds.) Paleontologia: cenários da vida, Rio de WANDERLEY FILHO, J.R.; MELO, J.H.G.;
Janeiro, Editora Interciência, p. 83-91. FONSECA, V.M.M. & MACHADO,
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FONSECA, V.M.M. 2008. Ocorrência de (82):1-6.
crinóide na Formação Ererê (Devoniano da
Bacia do Amazonas). In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ZOOLOGIA, 27,
Curitiba, 2008. Trabalhos Científicos,
Curitiba, Sociedade Brasileira de Zoologia,
2008, v. 1, p. 1269-1269.

458
Figura 1. Tjeecrinus? sp.: 1 - faceta articular formada por crenulário e pequeno lúmen (MN6865-Ic). Morfotipo AM/
Er-01: 2 - faceta articular (UNIRIO-059-Eq). Botryocrinus sp. A.: 3 - pluricolunal (UNIRIO-055-Eq); 4 - faceta articular
de indivíduo adulto (UNIRIO-020-Eq); 5 - pluricolunal (UNIRIO-058-Eq); 6 - faceta de colunal da proxistele de indivíduo
adulto (UNIRIO-049-Eq).

459
ESPECTROSCOPIA EM FÓSSEIS DA FORMAÇÃO
SANTANA, BACIA DO ARARIPE
Ana Cristina Laurentino de Oliveira1 (aninha_tina.l.o@hotmail.com), Alexandre Magno Feitosa Sales2 (amfsales@uol.com.br),
Alexandre Magno Rodrigues Teixeira2, João Hermínio da Silva3, Paulo de Tarso Cavalcante Freire4,
Bruno Tavares de Oliveira Abagaro5
Curso de Ciências Biológicas, URCA; 2Departamento de Ciências Biológicas, URCA; 3Departamento de Física, URCA;
1

Campus Cariri-UFC; 5Departamento de Física, UFC


4

RESUMO INTRODUÇÃO
A pesquisa conta com uma aluna-bolsista Situada na região nordeste do Brasil e
FUNCAP de graduação e professores da URCA, de inquestionável patrimônio paleontológico,
UFC, UFC - Cariri e congrega pesquisadores levando-se em consideração que possui
de múltiplos setores do conhecimento (Biologia, importantes sítios fossilíferos, a Bacia Sedimentar
Paleontologia e Física), que poderão fornecer do Araripe, localizada na região do Cariri, situada
resultados, a curto e a médio prazo, para ao sul do estado do Ceará, noroeste de Pernambuco
futuras correlações e melhor entendimento dos e leste do Piauí. Com aproximadamente 10.000
componentes químicos presentes nos organismos km2, e considerada a maior bacia sedimentar do
fossilizados, no antigo ambiente e nos processos interior do nordeste brasileiro (SALES, 2005,
de fossilização do Cretáceo da bacia do Araripe. Cardoso et al., 2008).
A pesquisa selecionará e colecionará fósseis com Na sua história geológica ocorreram
controle tafonômico e litoestratigráfico, para o uso importantes eventos que influenciaram na
de técnicas espectroscópicas como infravermelho, formação de depósitos fossilíferos com excepcional
Raman e difração, energia dispersiva e fluorescência preservação, entre eles destacam-se os depósitos
de raios-X, para identificar e caracterizar os fossilíferos cretácicos da Formação Santana (sensu
compostos que constituem o material fossilizado. Beurlen, 1971), da sequência Aptiana-Albiana,
Palavras-chave: Fósseis, Formação que contribui na paleogeografia do Gondwana,
Santana, Espectroscopia fragmentado à aproximadamente, 100 M.A., com
a consequente formação do Oceano Atlântico Sul
(Maisey, 1991).
ABSTRACT
Sua seqüência cretácea foi depositada ao
The survey has a student and alumnus longo de quase 50 milhões de anos, na qual se
FUNCAP undergraduate and teachers URCA, encontram calcários laminados, bancos de gipsita,
UFC, UFC - Cariri that together researchers folhelhos, margas e arenitos, todos fossilíferos. As
from multiple sectors of knowledge (biology, condições ambientais durante a Era Mesozóica,
paleontology and physics), which can provide principalmente no período geológico do Cratáceo,
results in the short to medium term, for future na Bacia do Araripe destacam-se por favorecer o
correlations and a better understanding of the desenvolvimento de mecanismos de fossilização.
chemical components present in the organisms Tais mecanismos levaram a ótimas condições na
fossilized in the old environment and the preservação de sua biota fóssil, ao ponto, da mesma
processes of fossilization of the Cretaceous ser reconhecida como um dos principais depósitos
basin Araripe. The survey will select and collect fossilíferos do país e do mundo (MAISEY, 1991;
fossils and taphonomy lithostratigraphic control, MARTIL, 1993, VIANA & NEUMANN, 2002;
for the use of spectroscopic techniques such as Carvalho, 2004; SALES, 2005, CARDOSO et
infrared, Raman and diffraction, energy dispersive al., 2008).
X-ray fluorescence to identify and characterize
compounds that are the fossilized material.
Keywords: Fossils, Santana Formation, TAFONOMIA
Spectroscopy A fossilização de um organismo é
considerada um evento raro na natureza, isso

460
porque, após o estudo de sua morte (tanatalogia), (Infravermelho, Raman e Raios-X), a ser realizada
geralmente o organismo fica sujeito à atuação de em colaboração com os Departamentos de
processos biológicos (necrólise) que propiciam a Ciências Biológicas (URCA e de Física (UFC).
sua decomposição em um curto instante temporal
relativamente à sua escala de vida, não deixando
qualquer sinal de sua existência. Já na fossilização
ESPECTROSCOPIA
entram em cena, além da necrólise, outros A técnica de espectroscopia possibilitará,
processos que envolvem a história sedimentar principalmente,inferências com relação aos eventos
dos restos orgânicos até o soterramento fóssil-diagenéticos, do processo de fossilização
(Bioestratinomia) e os processos físicos e químicos e melhor entendimento de características
após o soterramento (diagênese). O conjunto de mineralógicas do antigo ambiente de vida do
todos esses processos resulta na composição atual organismo fossilizado. O conhecimento dessas
do fóssil. Portanto, o estudo da composição do etapas durante a fossilização do organismo será de
material fossilífero pode fornecer importantes grande valia para a realização de pesquisas futuras.
informações na determinação de quais foram Além disso, haverá a formatação de uma coleção
os processos envolvidos na fossilização (Holz & de fósseis que exemplificará, tafonomicamente, os
Simões, 2000; Carvalho, 2004). estágios bioestratinômicos e fóssil-diagenéticos.
Nas rochas do Membro Romualdo, da O polissacarídeo Quitina que é formado
Formação Santana, uma das unidades geológicas por unidades de N-acetilglucosamina. Essa
que constitui a bacia sedimentar do Araripe, são substância é o constituinte principal das carapaças
encontradas concreções calcárias que preservam dos artrópodes e é também o constituinte principal
uma grande quantidade de fósseis de peixes, das paredes celulares nos fungos que deixaram
répteis e vegetais, onde o processo de fossilização muitos palinomorfos preservados na bacia do
tem predominância de calcita (CaCO3), Araripe.
(Maisey, 1991). Os fósseis, dessas formações, A Cutina é outro composto orgânico que
são constituídos tanto por restos originais dos pode ser encontrado em materiais fossilizados. É
organismos como por minerais que ocupam o seu uma substância lipídica que entra nos espaços entre
lugar ou ainda por uma combinação de ambos. as microfibrilas de celulose da parede tangencial
Na maioria dos casos a matéria orgânica se externa da célula epidérmica, tornando-a
degrada e é substituída por compostos minerais. cutinizada. Num artigo recente (Schweitzer
Na bacia sedimentar do Araripe os fósseis podem & Staedter, 1997), cientistas da Universidade
apresentar processos de substituição por pirita, Estadual de Montana (Montana State University),
por goethita (Ricardi-Branco, 2004 in Carvalho, reportaram a ocorrência de vestígios de células
2004) e por limonita, (Viana & Neumann, 2002) sanguíneas em ossos fossilizados.
e silica (Sales, 2005). Tendo em vista sua constituição química
geral, os fósseis podem ser adequadamente
estudados por técnicas espectroscópicas como
MÉTODOS infravermelho, Raman e difração, energia
As pesquisas envolvendo coletas dispersiva e fluorescência de raios-X, para
tafonômicas corretas para o estudo de fósseis podem identificar e caracterizar os compostos que
fornecer inúmeras informações com diversas constituem o material fossilizado. No que se refere
aplicações. Metodologias a serem empregadas ao estudo de animais fossilizados, dentro dessa
serão adaptadas de livros como (Carvalho, 2004, linha de pesquisa, já são reportados trabalhos na
Holz & Simões, 2000). A proposta deste projeto literatura (Botha et al., 2004; Michel et al., 1995;
é realizar coletas paleontológicas sistemáticas Sponheimer & Lee–Thorp, 1999).
com aplicação de metodologias próprias (Simões
& Ghilardi, 2000; Sales 2005), que possam
possibilitar melhores estudos tafonômicos; com CONCLUSÕES
uma seleção e formatação de uma coleção de fósseis Compostos orgânicos podem ser
para utilização de técnicas de espectroscopias encontrados em fósseis. Esse fato pode ser

461
avaliado pelas recentes publicações que tratam da JEHLICKA, J.; JORGE-VILLAR, S.E.;
caracterização espectroscópica de fósseis (Lima EDWARDS, H.G.M. 2004. Fourier
et al., 2007a ,b; Jehlicka et al., 2004). Tendo em transform Raman spectra of Czech and
vista sua constituição química geral, os fósseis da Moravian fossil resins from freshwater
Formação Santana, na bacia do Araripe podem sediments. Journal of Raman Spectroscopy, 35,
ser adequadamente estudados por técnicas físicas 761-767.
de caracterização de materiais como a difração de
raios-x, a espectroscopia Raman e a espectroscopia LIMA, R.J.C.; SARAIVA, A.A.F.; LAMFRED,
no infravermelho. Visando identificar e S.; NOBRE, M.A.L.; FREIRE, P.T.C.
caracterizar os compostos que constituem o & SASAKI, J.M. Caracterização
material fossilizado para uma compreensão dos espectroscópica de peixe do período cretáceo
vários mecanismos de fossilização e das condições (Bacia Do Araripe). Química Nova, v. 30, p.
e processos (Tafonomia) que propiciaram a 22-24, 2007.
preservação de restos de animais ou de vegetais
pré-históricos. LIMA, R.J.C.; FREIRE, P.T.C.; SASAKI, J.M.;
SARAIVA, A.A.F.; LANFREDI, S. &
NOBRE, M.A.L. Estudo de coprólitos da
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS bacia sedimentar do Araripe por meios de
espectroscopia FT-IR e difração de raios-x.
ANDRADE, N.A.M.; SARAIVA, A.A.F.;
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M. 2004. An Examination of Triassic
Cynodont Tooth Enamel Chemistry Using
Fourier Transform Infrared Spectroscopy.
Calcif Tissue Int. 74:162 – 169.

CARDOSO, A.L.H.; SALES, A.M.F. &


HILLLMER, G. 2008. The UNESCO
Araripe Geopark: a short story about evolution
of life, rocks and continents. 1. ed. Fortaleza:
Expressao Grafica e Editora, 2008. v. 1500.
80 p., Ilust.

CARVALHO, I.S. 2004. In: Paleontologia vol. 1,


Editor . Editora Interciência. 861 p.

CARVALHO, I.S. 2004. In: Paleontologia vol. 2,


Editor . Editora Interciência. 258 p.

462
ICNOFÓSSEIS EM SISTEMAS COSTEIROS CENOZOICOS DA
REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM, PARÁ, BRASIL
Rafael Costa da Silva1 (rafael.costa@cprm.gov.br), Victor Hugo Dominato2 (victordominato@hotmail.com),
Antonio Carlos Sequeira Fernandes3 (fernande@acd.ufrj.br), José Guilherme Oliveira4 (jose.oliveira@cprm.gov.br),
Regina Célia Silva4 (regina.santos@cprm.gov.br)
1
CPRM - Serviço Geológico do Brasil, DEGEO/DIPALE; 2Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em
Geologia, Instituto de Geociências, CCMN; 3Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional;
4
CPRM - Serviço Geológico do Brasil, DEGEO, Gerência de Recursos Minerais

RESUMO ao acentuado intemperismo e descontinuidade


dos afloramentos, dificulta o estabelecimento
Estudos de icnofósseis presentes em
de correlações estratigráficas e a compreensão
localidades da Região Metropolitana de Belém
dos sistemas deposicionais que a originaram.
mostraram-se particularmente importantes devido
Entretanto, diversas ocorrências de icnofósseis
à frequente ausência de macrofósseis corporais
têm sido de grande valia no estudo da Formação
diagnósticos para a interpretação paleoambiental.
Barreiras (Netto & Rossetti, 2003; Rossetti,
Foram identificados os icnogêneros Skolithos,
2006). Assim, este trabalho tem como objetivo o
Arenicolites, Thalassinoides e Ophiomorpha, com
reconhecimento dos icnofósseis e de seu contexto
representação das icnofácies Skolithos e Cruziana.
icnofaciológico, auxiliando na caracterização
A baixa diversidade e grande concentração de
paleoambiental do cenozoico desta região.
icnofósseis nas localidades estudadas, associadas à
faciologia, permitiram relacioná-los a ambientes
costeiros estressantes devido à influência de marés. OS PONTOS ANALISADOS
Palavras-chave: Icnofósseis, Cenozoico, E SEUS RESULTADOS
Formação Barreiras
Foi realizada uma pesquisa de campo
em junho de 2009 na área determinada pela
ABSTRACT folha SA.22-X-D-III, Região Metropolitana
Studies on trace fossils from the de Belém, na qual foram observados seis pontos
Metropolitan Region of Belém were particularly com associações icnofossilíferas. O ponto SS15
important because of the frequent absence of (01º06’16,20”S/48º09’38,16”O; Santo Antônio
diagnostics macrofossils for paleoenvironmental do Tauá) corresponde a uma cavidade artificial em
interpretation. Were identified Skolithos, cuja base ocorre um conjunto de camadas pelíticas
Arenicolites, Thalassinoides and Ophiomorpha, com laminação horizontal ricas em escavações
with representation from Cruziana and verticais cilíndricas aneladas, sem parede e com
Skolithos ichnofacies. The low diversity and fundo arredondado. Estes icnofósseis foram
high concentration of trace fossils in the studied identificados como Skolithos isp. e correspondem a
localities, associated with faciology, allow us to estruturas de habitação (Domichnia) de pequenos
relate them to stressful coastal environments with invertebrados. O índice de bioturbação é alto,
tidal influence. atingindo o nível 4 segundo a classificação de
Droser & Bottjer (1986; 1987).
Keywords: Ichnofossils, Cenozoic,
Barreiras Formation O ponto EV232
(01º10’07,86”S/48º06’17,49”O; Santo Antônio
do Tauá) apresenta uma camada superior de 3
INTRODUÇÃO m a 4 m de espessura de pelitos laterizados onde
A Região Metropolitana de Belém abrange é possível ver, em alguns pontos, a laminação
uma área coberta em grande parte por depósitos horizontal. Lateralmente ocorrem arenitos grossos
sedimentares de origem costeira ou parálica da conglomeráticos e mal selecionados. Abaixo desta
Formação Barreiras, de idade miocênica. O pobre camada ocorrem exposições pontuais de pelitos
conteúdo fossilífero desta unidade, associado com laminação horizontal, superficialmente

463
muito fraturados e ricos em escavações do tipo a escavações verticais retilíneas ou em forma de
Skolithos. Esta ocorrência é similar aos pelitos U, atribuíveis a Skolithos e Arenicolites. Acima
bioturbados do ponto SS15, também com nível dessas camadas ocorre Ophiomorpha. No topo
4 de bioturbação. Devido à conformação do do afloramento ocorrem camadas bastante
afloramento, os icnofósseis foram observados bioturbadas onde foram registrados Skolithos e
apenas em superfície horizontal e dessa forma não Arenicolites. O índice de bioturbação atinge o
é possível afirmar se ocorrem outros icnogêneros. nível 4.
Outra localidade corresponde a vários
pontos situados ao longo da praia Brasília,
DISCUSSÃO
na ilha de Outeiro, às margens da baía de
Guajará, em Belém. As exposições consistem As diversas ocorrências observadas nos
em afloramentos em falésias e apresentam uma afloramentos visitados podem ser agrupadas
cobertura de sedimentos mosqueados laterizados em associações icnofossilíferas de acordo com
de vários metros de espessura. Três pontos desta os icnotáxons registrados. As associações de
localidade apresentaram icnofósseis. O ponto Skolithos encontradas nos pontos SS15, EV232 e
SS100 (01º16’0,95”S/48º28’33,78”O), com um SS69 apresentam tipicamente baixa diversidade e
nível inferior pelítico maciço com marcas de alta densidade de escavações verticais simples ou
paleorraízes e níveis com acamamento lenticular em forma de U. A predominância de estruturas
e wavy, apresenta apenas um icnofóssil isolado, de habitação é característica de comunidades
que corresponde a uma galeria vertical com oportunistas formadas por poucas espécies
cerca de 40 cm de profundidade e de 2 cm a 3 de organismos r-estrategistas, ou seja, pouco
cm de espessura, preenchida por areia. Não especializados. Frequentemente os animais
foram observadas características suficientes produtores são suspensívoros ou predadores
para uma identificação icnotaxonômica. No passivos. Este tipo de comunidade geralmente
ponto SS108 (01º15’53,00”S/48º28’27,87”O), se forma quando há recolonização do substrato
ocorrem pelitos maciços com estruturas após retrabalhamento ou erosão de camadas
verticais e horizontais de conformação variada; previamente depositadas ou, o que seria mais
geralmente cilíndricas e ramificadas, podendo compatível com o contexto deposicional estudado,
ser preenchidas ou ocas com paredes areníticas em condições inóspitas à maior parte das formas
espessas e ornamentadas. Sugere-se aqui que as de vida, tais como ambientes disaeróbicos ou
estruturas sólidas ou preenchidas correspondam anaeróbicos com variação de salinidade ou com
aos moldes de paleorraízes, ao passo que as taxas de sedimentação não uniformes (Bromley,
estruturas ocas correspondam ao icnogênero 1996).
Thalassinoides, caracterizado por ramificações O ponto SS69 apresenta também
em forma de Y com câmaras, predominância de camadas com associações monoespecíficas de
galerias horizontais, terminações arredondadas, Ophiomorpha. Este tipo de associação geralmente
paredes com ornamentação peloidal e ausência é formado por organismos marinhos oportunistas
de ramificações típicas de raízes. O ponto SS99 em barras de areia depositadas pela maré
(01º15’50,8”S/48º28’27,1”O) apresenta uma enchente em ambiente subtidal, com altas taxas de
camada de pelito cinza claro moderadamente deposição e alta energia, sendo similar à icnotrama
bioturbada (entre os níveis 3 e 4) com pequenas (ichnofabric) de Ophiomorpha-Diplocraterion
escavações atribuíveis a Thalassinoides, abaixo de descrita por Netto & Rossetti (2003) para rochas
uma lente rica em matéria orgânica com folhas da Formação Barreiras no estado do Maranhão.
fossilizadas. As associações estudadas apresentam
O ponto SS69 evidências de produção em ambientes salobros
(01º17’40,4”S/47º59’26,5”O; Castanhal) ou com flutuações frequentes de salinidade, tais
corresponde a uma cava parcialmente alagada onde como a baixa diversidade e alta densidade de
ocorrem pelo menos três conjuntos de ritmitos bioturbações, além do fato de as escavações serem
com icnofósseis. No mais basal, correspondem simples e profundas, produzidas por generalistas

464
tróficos para habitação e alimentação. As for Paleoenvironmental Interpretation. Los
associações de Skolithos e de Ophiomorpha podem Angeles, SERM Pacific Section, p. 29-33.
ser interpretadas como pertencentes à icnofácies
Skolithos, mesmo que de forma empobrecida. NETTO, R.G. & ROSSETTI, D.F. 2003.
Esta icnofácies é produzida em sistemas Ichnology and salinity fluctuations: a case
marinhos costeiros em condições de litoral study from the Early Miocene (Lower
inferior a sublitoral, tipicamente em foreshore e Barreiras Formation) of São Luís Basin,
shoreface médio a superior, em regimes de energia Maranhão, Brazil. Revista Brasileira de
moderada a alta. Ophiomorpha e Thalassinoides Paleontologia, 6:5-18.
podem ainda ocorrer de forma secundária na
icnofácies Cruziana, mas seu caráter dominante ROSSETTI, D.F. 2006. Evolução Sedimentar
nas associações encontradas permite interpretá- Miocênica nos Estados do Pará e Maranhão.
los como icnofácies Skolithos. As associações de Geologia USP, Série Científica, 6(2):7-18.
Thalassinoides registradas nos pontos SS108 e
SS99 possivelmente correspondem à icnotrama
de Thalassinoides-Ophiomorpha e à icnofácies
Cruziana empobrecida, típica de ambientes
em bacias restritas, como lagoas e baías, com
salinidade baixa mas com influência marinha.

CONCLUSÕES
O estudo dos icnofósseis em localidades
da Região Metropolitana de Belém mostrou-se
importante devido à virtual ausência de
macrofósseis corporais diagnósticos para a
interpretação paleoambiental. A baixa diversidade
e grande concentração de icnofósseis nas
localidades estudadas, associadas à faciologia,
permitem relacioná-los a ambientes costeiros
estressantes devido à influência de marés.

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Use of Biogenic Sedimentary Structures

465
ICNOLOGIA DA FORMAÇÃO IPU (SILURIANO DA BACIA DO PARNAÍBA) NA
REGIÃO DE CARNAUBAL-CE: CARACTERIZAÇÃO DE AMBIENTE ESTUARINO
Francisco Rony Gomes Barroso¹ (ronybarroso@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana² (somalia_viana@hotmail.com),
Maria de Jesus Gomes de Sousa³ (marryesousa@hotmail.com), Sonia Maria Oliveira Agostinho¹ (sonia@ufpe.br)
¹Universidade Federal de Pernambuco-UFPE; ²Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA; ³Bióloga autônoma

RESUMO INTRODUÇÃO
Recentemente foram descobertos O Município de Carnaubal, extremo oeste
icnofósseis na Formação Ipu, Bacia do Parnaíba, do Estado do Ceará, está incluído na borda leste
localizados no Balneário Cachoeira Park, da Bacia Sedimentar do Parnaíba, onde afloram
Município de Carnaubal-CE. O principal objetivo rochas do Grupo Serra Grande, a unidade
deste trabalho é a caracterização do paleoambiente estratigráfica mais antiga na Bacia, de idade
na área estudada a partir da análise do conteúdo Siluriano (Santos & Carvalho, 2009). A Formação
icnofossilífero. A baixa icnodiversidade no Ipu, que contém os icnofósseis deste estudo, é
Balneário é representada por dois icnogêneros composta de arenitos com seixos, conglomerados
identificados, como Cylindrichnus Toots in com matriz areno-argilosa e matacões de quartzo
Howard, 1966 e Conichnus Myannil, 1996, que ou quartzito, além de arenitos finos a grossos (Vaz
se revelaram bastante abundantes, totalizando 58 et al., 2007); corresponde ao resultado de deposição
e 18 icnogêneros, respectivamente. A análise do em uma variedade de ambientes fluviais e glaciais
conteúdo icnofossilífero, em associação com os (Caputo & Lima, 1984). Recentemente, foram
aspectos sedimentológicos forneceram dados para descobertos icnofósseis no balneário Cachoeira
caracterização de um ambiente estuarino. Park (S 4°10’05,5’’/W 40°55’33,1’’) em Carnaubal,
Palavras-chave: Icnofósseis, Balneário pela equipe do Laboratório de Paleontologia da
Cachoeira Park, Ambiente Estuarino Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA
(Viana et al., 2010), que identificou os icnogêneros
Cylindrichnus Toots in Howard, 1966 e Conichnus
ABSTRACT Myannil, 1966. Alguns estudos icnofaciológicos
Trace fossils were recently discovered in (Fernandes et al., 2002; Netto, 2001) podem
Ipu Formation, Parnaíba Basin, located in the conduzir a inferências paleoambientais e
Waterfall Park balneary, City of Carnaubal-CE. paleoecológicas (taxas de sedimentação,
The main objective of this study is to characterize batimetria, salinidade e oxigenação). Buatois et
the palaeoenvironment in the area, from the al., (2002) ainda consideraram as flutuações de
content analysis ichnofossils. Low ichnodiversity salinidade e a oxigenação da água intersticial como
is represented by two ichnogenera identified influencia direta sobre a icnodiversidade. Com
as Cylindrichnus Toots in Howard, 1966 and este trabalho, pretende-se realizar um estudo dos
Conichnus Myannil, 1996, which proved to be icnofósseis encontrados no balneário Cachoeira
quite abundant, totaling ichnogenera 58 and 18, Park, para reconhecer alterações significativas
respectively. The content analysis ichnofossils no padrão comportamental e sugerir a variação
in association with sedimentological aspects nos parâmetros ambientais condicionantes da
provided data for characterization of an estuarine distribuição da fauna bentônica.
environment.
Keywords: Trace fossils, Waterfall Park
MATERIAIS E MÉTODOS
Balneary, Estuarine Environment
Os icnofósseis descobertos pela equipe do
Laboratório de Paleontologia/UVA não puderam
ser coletados devido às características litológicas
do afloramento, que incluíam extensos blocos de

466
arenitos grossos e a abundância de icnofósseis CONCLUSÕES
dispersos. Portanto, além de comprometer a
Uma rápida análise de estruturas e do
integridade do material, a coleta limitaria a visão
caráter sedimentar apresentada pela estratificação,
associativa dos padrões comportamentais.
granulometria e seleção, permite interpretar o
A descrição no campo forneceu paleoambiente relacionado com região estuarina.
informações sobre os fatores físico-químicos
Como o ambiente deposicional refere-se
responsáveis pela presença do organismo no
a icnofácies Skolithos, podemos inferir que
substrato, bem como certos condicionamentos
os depósitos eram aquáticos, de alta energia
biológicos do bioturbador, auxiliando na
hidrodinâmica e com processos erosivos
reconstituição da fauna endobentônica. Toda
freqüentes;
a área que continha os icnofósseis foi medida e
A baixa icnodiversidade e abundância
subdivida em setores contendo 1m2 cada, a fim de
de somente dois icnogêneros Conichnus e
facilitar a contagem e verificar a icnodiversidade
Cylindrichnus pode estar associado a fatores
e abundância. Cada espécime também foi
críticos e limitantes para o desenvolvimento de
medido. Além disso, observaram-se estruturas
outros icnogêneros:
sedimentares na área em estudo que pudessem
auxiliar na interpretação ambiental. - A depender da salinidade que controla
a icnodiversidade, as rochas aflorantes
no balneário Cachoeira Park tratam-
RESULTADOS se do registro de ambiente estuarino,
Na margem direita do rio Inhuçu, na com variações bruscas de salinidade
altura da cachoeira do balneário, observou-se um e condições estressantes para a fauna
afloramento rochoso de arenito muito grosso, cor bentônica.
creme, com seixos de quartzo angulosos a sub- - Condições de oxigenação deficientes
arredondados, apresentando estratificação cruzada junto ao substrato.
acanalada e um nível localizado com icnofósseis.
- A icnofauna encontrava-se
A análise do local revelou uma baixa
provavelmente na cabeceira do estuário
icnodiversidade, sendo grande a abundância
onde eram maiores as variações de
de dois traços identificados como: Conichnus
salinidade, influenciadas pelas marés.
e Cylindrichnus representados por 18 e 58
espécimes, respectivamente, e distribuídos numa A predominância de Cylindrichnus,
área de aproximadamente 10m2. A classificação estruturas de habitação de suspensívoros, e a
etológica de ambos refere-se à icnito de habitação, escassa bioturbação do substrato corrobora a
em ambiente deposicional de icnofácies Skolithos, ocorrência em um ambiente estressante.
diferindo quanto aos organismos geradores.
Conichnus pode ser gerado por organismos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sésseis que se deslocavam verticalmente para cima
em resposta a sedimentação local. As escavações BUATOIS, L.A.; MÁNGANO, M.G. &
são verticais, cônicas, sem preenchimento, de ACEÑOLAZA, F.G. 2002. Trazas fósiles:
base arredondada e borda da abertura transversal señales de comportamiento en el registro
circular a oval, com diâmetro médio de 2 cm e estratigráfico. Editora Interciência, Rio de
profundidade de 4 cm. Janeiro, 382p.
Cylindrichnus é atribuído a organismos
CAPUTO, M.V. & LIMA, E.C. 1984.
suspensívoros, cujas escavações são inclinadas,
Estratigrafia, idade e correlação do grupo
subcônicas, com parede exterior composta de
Serra Grande, Bacia do Parnaíba. In:
camadas concêntricas de contorno circular a oval,
CONGRESSO BRASILEIRO DE
com média de diâmetro externo igual a 1,7 cm.
GEOLOGIA, 33, Rio de Janeiro, 1984.
Anais, Rio de Janeiro, SBG, v. 2, p. 740-753.

467
FERNANDES, A.C.S.; BORGHI, L.; VAZ, P.T.; REZENDE, N.G.A.M.; FILHO,
CARVALHO, I.S. & ABREU, C.J. 2002. J.R.W. & TRAVASSOS, W.A.S. 2007.
Guia de Icnofósseis de Invertebrados do Bacia do Parnaíba. Boletim de Geociências
Brasil. Editora Interciência, Rio de Janeiro, da Petrobrás, Rio de Janeiro, 15 (2): 253-263.
260p.
VIANA, M.S.S.; OLIVEIRA, P.V.;
NETTO, R.G. 2001. Icnologia e Estratigrafia SOUSA, M.J.G.; BARROSO, F.R.G.;
de Sequências. In: RIBEIRO, H.J.P.S. (ed.) VASCONCELOS, V.A.; MELO,
Estratigrafia de Sequências: fundamentos e R.M.; LIMA, T.A.; OLIVEIRA, G.C.
aplicações. Editora Unisinos, p.219-259. & CHAVES, A.P.P. 2010. Ocorrências
icnofossilíferas do Grupo Serra Grande
SANTOS, M.E.C.M. & CARVALHO, M.S.S. (Siluriano da Bacia do Parnaíba), Noroeste
2009. Paleontologia das Bacias do Parnaíba, do Estado do Ceará. Revista de Geologia.
Grajaú e São Luís: Reconstituições 23(1): 77-89.
Paleobiológicas. CPRM. Serviço Geológico
do Brasil, Rio de Janeiro, 215p.

Figura 1. Afloramento localizado no balneário cachoeira Park, em Carnaubal - CE, contendo representantes do icnogênero
Cylindrichnus (Cy) - F 1.1; e Conicnhus (Co) - F 1.2.

468
INSECT TRACE FOSSILS ASSEMBLAGES FROM PALEOSOLS
(LATE CRETACEOUS-PALEOGENE) OF URUGUAY
Mariano Verde¹ (verde@fcien.edu.uy)
¹Universidad de la República, SNI-ANII, Instituto de Ciencias Geológicas, Facultad de Ciencias, Uruguay

ABSTRACT and belong to the Celliforma Ichnofacies. Several


authors treated these trace fossil assemblages
Emblematic cases of the Coprinisphaera
partially ichnotaxonomically or geographically.
Ichnofacies (Asencio Formation, Eocene) and
During this work, new ichnotaxa and localities
Celliforma Ichnofacies (Mercedes Formation,
have been recorded.
Cretaceous, Queguay Formation, Paleogene) are
present in Uruguay. These units were surveyed
to study their insect trace fossil assemblages in Studied Localities
paleosols. They proved to be highly ichnodiverse Natural outcrops are neither abundant nor
when compared to other units around the world. well exposed for paleontological surveys in the
New localities were recorded for these units, and studied units. Thus, the best outcrops are roadcuts
nearly duplicated the previously known ones. and specially quarries. Despite there are several
A wider sample of specimens was achieved for previous paleontological works by different
ichnotaxa only know by one or a few specimens authors for the Asencio Formation, Mercedes
(e.g. Elipsoideichnus, Rebuffoichnus, amongst Formation and the Queguay Formation, they
other). New ichnotaxa were also recorded for have been always focused on a few localities. In
these units, Cellicalichnus isp., unnamed bee nests, the case of the Asencio Formation, they were
and Celliforma spirifer are the most remarkable. also concentrated mainly in a small geographic
Keywords: Ichnology, paleosols, Uruguay area near Nueva Palmira (Colonia County)
comprising five to six main quarries aproximately.
The limestone units had only a few documented
INTRODUCTION fossiliferous localities in the bibliography. In this
Uruguay has several lithostratigraphic study, several new fossiliferous localities (mainly
units bearing paleosols with insect trace fossils. To quarries) have been added, and also expanded the
this respect, the most remarkable units are perhaps geographic range for them through the survey
those ranging in age from the Late Cretaceous in other counties. For the Asencio Formation,
to the Eocene (Paleogene). Amongst these 26 localities were surveyed, being all of them
ichnofossils, insect nests (Calichnia) and pupal fossiliferous, and 17 for the limestone units, being
chambers (Pupichnia) are the most common fossiliferous only 10 of them. These outcrops were
ones. Also present are cleptoparasites traces on located in Colonia, Soriano, Paysandú, Durazno,
nests and pupal chambers, some meniscated tubes Flores and Canelones Counties.
(Fodinichnia) and rhizoliths. One of these units
has the most diverse insect trace fossil assemblages The Asencio Formation Assemblages
in paleosols in the world (Genise & Bown, 1995), This is perhaps the most diverse unit in
belonging to the Coprinisphaera Ichnofacies, that terms of insect trace fossils in paleosols (Genise
is the Asencio Formation (Eocene). The other & Bown, 1995). See Table 1 for occurrences (note
one is the Queguay Formation (Paleogene) and many of the ichnotaxa are endemic of this unit).
bears a high diversity assemblage of insect trace Body fossils are very scarce, and the only ones
fossils in calcareous paleosols. The upper part found until present are silicophytoliths recorded
of the Mercedes Formation (Cretaceous) is less during this study. In this unit multi celled bee
diverse compared to the Queguay Formation. nests (clusters) like Uruguay ispp. are specially
Both of these units bear calcareous paleosols, abundant. Also abundant are other bee nests like

469
Palmiraichnus a kind of one celled bee nest. Other comprise terrestrial and freshwater gastropods,
common components of these ichnoassemblages ostracods, characean oogonia, dinosaur eggshells,
are Monesichnus (a not well understood trace Celtis endocarps and wood fragments.
fossil) and Teisseirei (a lepidopteran pupal
chamber). Other pupal chambers belonging to Ichnofacies Represented
coleopterans or himenopterans like Rebuffoichnus
casamiquelai are abundant only in some outcrops.
In These Units
Corimbatichnus, a bee nest endemic of the As shown above, the assemblages found in
Asencio Formation is relativeley common. Other the units treated here are very different in terms
ichnofossils like Elipsoideichnus (a rare fossil bee of ichnotaxonomical composition. The reason for
nest) is scarce and also endemic of the Asencio this different composition is a consequence of
Formation Cellicalichnus isp. (another rare bee different paleoenvironments and paleoclimates.
nest) is also present and documented with only The Asencio Formation is a high diversity
one specimen in this unit. Celliforma s. Str. has case of the Coprinisphaera Ichnofacies and is a
not been recorded inequivocally yet, but this typical case study of this Ichnofacies (Genise
situation may represent a bias in the preservation et al., 2000). The ichnofossil assemblages of
rather than its absence. Dung beetle brood balls, the Asencio Formation are in several outcrops,
Coprinisphaera, are not among the most abundant notoriously high in diversity, and the unit is
traces in the Asencio Formation, nevertheless, perhaps the most diverse around the world in
they are an important component that make terms of insect trace fossils in paleosols (Genise &
possible to distinguish ichnoacies. Coprinisphaera Bown, 1995). This ichnofacies represents palesols
ichnospecies present are: C. murguiai (=C. developed in ecosystems characterized by a
ecuadoriensis), C. kraglievichi and C. kheprii. variety of herbaceous communities. As originally
Other trace fossils like meniscated tubes are defined, it ranges from warmer and more humid
scarce and present only in a few outcrops. Termite environments (tropical savannas) where termite
nest (Krausichnidae indet., aff. Krausichnus) are nest may be present, to more temperate and arid
also rare members of the Asencio Formation environments (stepees) where hymenopterous
ichnoassamblages. Some cleptoparasite traces nests are dominant (Genise et al., 2000). The
(e.g. Tombownichnus and Lazaichnus) are present Asencio Formation shows virtually absence of
in some nests and pupal chambers. termite nests (a few Krausichnidae indet.) and a
relative dominance by bee nests.
The Limestone Units Assemblages The uruguayan limestone units, specially
the Queguay Formation are emblematic cases
When comparing these limestons units of the Celliforma Ichnofacies, Genise et al.
to the Asencio Formation, it is easy to see that (2004; 2010). The Queguay Formation is a high
they are less diverse. See Table 1 for occurrences. diversity case of The Celliforma Ichnofacies. This
Despite this, when compared to other units with ichnofacies is characterized by Celliformidae, in
calcareous paleosols, these units equal or even the case study: Celliforma germanica, C. spirifer and
surpass all of them in terms of insect trace fossil C. rosellii. Other dominant traces are the Pupichnia
diversity. Simple bee nests (one celled nest) are the Rebuffoichnus and Fictovichnus. Compared to
dominant elements of these ichnoassemblages. other calcareous paleosol assemblages around
These comprise Celliforma germanica, C. rosellii the world , the uruguayan ichnoassemblages
and C. spirifer. Other bee nests like Caenohalictini are highly diverse. This ichnofacies represents
paleoenvironments with poor vegetation coverage
nest not formally described yet, are very
in terrestrial settings and bare soil when developed
scarce. Pupal chambers are another dominant on palustrine carbonates under subhumid to sub-
elements of these limestone units. These include arid climates (Genise et al., 2010).
Rebuffoichnus sciuttoi and Fictovichnus gobiensis. A
few specimens of Coprinisphaera cf. C. murguiai
were also found in only one locality, which could ACKNOWLEDGEMENTS
represent a rare case of ichnofacies overlapping. This is a synthesys of the doctoral studies
Pallichnus isp. may be present also in this units with of M.V. who thanks Sergio Martínez and Jorge
some degree of doubts. Body fossils in this unit Genise as advisor and coadvisor respectively. Ana

470
María Alonso Zarza helped with the limestone GENISE, J.F.; MÁNGANO, M.G.; BUATOIS,
units. PEDECIBA, DINACYT (FCE 2005-10), L.A.; LAZA, J.H. & VERDE, M. 2000.
ANII (FCE 2007-44) and CSIC financed this Insect trace fossil associations in paleosols:
work. The Coprinisphaera ichnofacies. Palaios, 15:
49-64.

REFERENCES GENISE, J.F.; MÁNGANO, M.G. &


BUATOIS, L.A. 2004. Ichnology moving
ALONSO-ZARZA, A.M., GENISE, J.F. & out of the water: a model for terrestrial
VERDE, M. 2011. Sedimentology, diagenesis ichnofacies. In: ICHNIA 2004, FIRST
and ichnology of Cretaceous and Palaeogene INTERNATIONAL CONGRESS ON
calcretes and palustrine carbonates from ICHNOLOGY, Trelew, 2004. Abstract Book,
Uruguay. Sedimentary Geology, 236: 45-61. p. 38.
BELLOSI, E.S.; GONZÁLEZ, M.G. GENISE, J.F.; MELCHOR, R.N.; BELLOSI,
& GENISE, J.F. 2004 Origen y E.M. & VERDE, M. 2010. Invertebrate and
desmantelamiento de lateritas paleógenas Vertebrate Trace Fossils from Continental
del oeste de Uruguay (Formación Asencio). Carbonates. In ALONSO-ZARZA, A.M.
Revista del Museo Argentino de Cienciencias & TANNER, L.H. (eds.), Carbonates in
Naturales (n.s.), 6(1): 25-40. Continental Settings: Facies, Environments,
and Processes, Developments in Sedimentology,
GENISE, J.F. & BOWN, T.M. Memorial.
Francisco Lucas Roselli (1902-1987). Volume 61: 319-369.
Homage to “Don Lucas”. Ichnos, 3: 311-312
(1995).

Table 1. Occurrences of ichnotaxa in the studied units. X: presence. ?: doubtful occurrences. E: ichnotaxa endemic of
the unit.
Ichnotaxa Mercedes Formation. Asencio Formation. Queguay Formation.
Cellicalichnus isp. X
Celliforma spirifer X X
C. rosellii X
C. germanica X X
Coprinisphaera murguiai X? X
C. kraglievichi X
C. kheprii X
Corimbatichnus fernandezi X (E)
Eatonichnus isp. X?
Elipsoideichnus meyeri X (E)
Fictovichnus X X X
Krausichnidae indet. X
Lazaichnus fistulosus X
Monesichnus ameghinoi X (E)
Pallichnus X?
Palmiraichnus castellanosi X
Rebuffoichnus casamiquelai X X
R. sciuttoi X
Rosellichnus isp. X
Teisseirei barattinia X
Tombownichnus parabolicus X
T. plenus X
Uruguay rivasi X (E)
U. auroranormae X (E)
Caenohalictini nests X (E)

471
MODELO TAFONÔMICO PARA OS PYGOCEPHALOMORPHA
BEURLEN, 1930, CRUSTACEA-PERACARIDA, SUBGRUPO
IRATI, PERMIANO, BACIA DO PARANÁ, BRASIL
Suzana Aparecida Matos da Silva¹ (sumatos.s@gmail.com), Marcello Guimarães Simões² (profmgsimoes@gmail.com),
Flavio Augusto Pretto³ (flavio_pretto@yahoo.com.br)
¹Universidade Estadual Paulista/Rio Claro IGCE; ²Universidade Estadual Paulista/Botucatu;
³Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO storm wave base. In the Type 2, the remains were


exposed in the sediment/water interface, prior the
É apresentado um modelo tafonômico
final burial by muddy blankets associated to storm
para crustáceos Pygocephalomorpha, Subgrupo
events. Finally, the Type 3 includes transported/
Irati, Permiano, com base em ocorrências dos
reworked remains, also accumulated by storms
estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Três
events.
padrões de preservação foram identificados:
Tipo 1- Indivíduos completos, com corpo Keywords: Taphonomy,
esticado/flexionado, alguns com partes moles Pygocephalomorpha, Permian
preservadas, associados a pelitos; Tipo 2-
Indivíduos parcialmente articulados, esticados/ INTRODUÇÃO
flexionados, e Tipo 3- Restos desarticulados
Os crustáceos da Ordem
(carapaça e abdômen), dispersos ou concentrados
Pygocephalomorpha Beurlen, 1930, extinta,
em micro-coquinas, às vezes associados a
foram comuns no Carbonífero e Permiano, sendo
estratificações cruzadas hummocky. O tipo 1 foi
registrados nas Américas do Norte e do Sul,
gerado em condições de baixa energia, fundos
Rússia, Europa, África e China. Vários estudos de
anóxicos, possivelmente hipersalinos, abaixo do
cunho taxonômico (Pinto & Adami Rodrigues,
nível de base de ondas de tempestades. O tipo 2
1996; Taylor et al., 1998) existem na literatura,
representa restos expostos por algum tempo no
mas a tafonomia do grupo permanece pouco (ou
substrato. O tipo 3 inclui restos em decomposição,
nada) explorada. A partir de alguns atributos da
transportados e/ou retrabalhados e, finalmente,
tafonomia de artrópodes, podem ser inferidos
soterrados durante tempestades.
parâmetros físicos, químicos e biológicos do
Palavras-chave: Tafonomia, meio onde foram geradas as ocorrências de
Pygocephalomorpha, Permiano Pygocephalomorpha. Tais dados podem fornecer
pistas importantes com relação à palaeoecologia
ABSTRACT e paleobiologia do grupo. Nesse contexto, é
apresentado aqui um “Modelo Tafonômico”,
Pygocephalomorpha crustaceans found
na tentativa de entender os diferentes modos
in deposits of the Irati Subgroup, Permian, and
de preservação dos Pygocephalomorpha e seu
coeval rocks, from the states of São Paulo and Rio
significado paleoambiental. O modelo está
Grande do Sul show three main preservational
fundamentado nas ocorrências do Subgrupo Irati
patterns, as follow: Type 1 – Complete individuals
do Estado de São Paulo e dados da literatura,
with outstretched/reflexed body, associated to
complementados por dados de rochas coevas do
pelitic rocks, some of them with preserved soft
Estado do Rio Grande do Sul.
tissues, Type 2 – Partially articulated individuals
with outstretched/reflexed body, and Type
3 – Disarticulated individuals (carapaces and MATERIAIS E MÉTODOS
abdomens), dispersed or concentrated, sometimes
forming cm thick shell beds associated to OS PYGOCEPHALOMORPHA
hummocky cross stratification or not. The first BEURLEN 1930
type was generated under low-energy, anoxic Os Pygocephalomorpha são atribuídos
and possibly hypersaline conditions, below the à Classe Malacostraca, Superordem Peracarida,

472
proximamente relacionados aos Mysida e amostras foram coletadas roladas na pedreira
Lophogastrida (Taylor et al., 1998). Não existe Partecal Partezani, no município de Rio Claro, SP,
consenso com relação ao número de famílias e as demais amostras provêm de pedreiras situadas
dentro de Pygocephalomorpha, nem à validade nos municípios de Limeira, Tietê, Cesário Lange,
de alguns dos gêneros (Paulocaris Clarke, 1920; Angatuba e Pereiras no Estado de São Paulo.
Liocaris Beurlen 1931; Pygaspis Beurlen 1934) As amostras do Irati do Rio Grande do Sul são
da Bacia do Paraná (Pinto & Adami-Rodrigues, provenientes do clássico afloramento de Passo do
1996). Conforme observado por Taylor et al. São Borja (vide Lavina et al., 1991).
(1998), a confusão taxonômica reinante deve-se,
em grande parte, aos problemas tafonômicos
relativos ao grupo. Isso porque a taxonomia dos
MODELO TAFONÔMICO
Pygocephalomorpha está fundamentada em Os dados tafonômicos obtidos a partir de
número reduzido de exemplares, na maioria amostras provenientes dos afloramentos acima
dos casos incompletos (Taylor et al., 1998). mencionados e compilações de dados da literatura
Em especial, Liocaris e Paulocaris não foram forneceram o espectro das diferentes condições
encontrados ainda hoje completos e seu registro de preservação dos pigocefalomórfos. Os estados
é composto, predominantemente, por carapaças de preservação observados/identificados foram
isoladas, com raros conjuntos de somitos então comparados/correlacionados, na medida do
abdominais e fragmentos muito pequenos de possível, com os conhecidos para a tafonomia de
partes indistinguíveis do exoesqueleto. Assim outros artrópodes (vide Speyer & Brett, 1986),
sendo, nessa contribuição, eles serão tratados possibilitando o estabelecimento de um modelo
coletivamente como pigocefalomórfos ou de preservação para os pigocefalomórfos. Os
peracáridos. padrões de preservação identificados foram os
seguintes: Tipo 1- Pygocephalomorpha completo,
PROCEDÊNCIA DAS AMOSTRAS ocorrendo com corpo esticado (=complete
outstreched bodies, senso Speyer & Brett, 1986)
Na área de estudo, no Estado de São Paulo,
ou flexionado (Fig. 1), os quais estão associados,
a porção basal da Formação Assistência, Membro
normalmente a concreções, lamitos ou folhelhos
Morro do Alto apresenta a Camada de Dobras
negros e, em raros casos, com as partes moles
Enterolíticas, composta por folhelhos e carbonatos
preservadas. Alguns dos melhores exemplos desse
altamente perturbados. Na parte superior deste
tipo de ocorrência são observados nos folhelhos
membro, encontra-se a Camada Laje Azul, que
negros e lamitos do afloramento de Passo São
é composta de folhelhos síltico-argilosos a siltitos
Borja, RS, e de fósseis de Pygaspis, preservados
arenosas, com acamamento lenticular. Na porção
exclusivamente em folhelhos, na Formação
basal do Membro Ipeúna, há a Camada Bairrinho,
Assistência; Tipo 2- Pygocephalomorpha
que se destaca por ser constituída de um banco
parcialmente articulado (carapaça e abdômen com/
carbonático com lâminas pelíticas muito finas.
sem leque caudal), esticado ou flexionado (Fig. 1).
Os litótipos acima apresentam faciologia
Um possível exemplo de variação desse padrão
bastante complexa, tendo sido depositados em
de preservação inclui espécime de Paulocaris
condições de mar restrito, com salinidade variável
ilustrado em Pinto & Adami-Rodrigues (1996),
geográfica e temporalmente (Hachiro, 1991).
faltando o leque caudal, mas preservando antenas,
As amostras estudadas do Estado de São Paulo
as quais estão parcialmente desarticuladas, e
são, em sua maioria, da porção superior do banco
Tipo 3- Pygocephalomorpha desarticulado, com
de calcário dolomítico, Camada Bairrinho. As
escleritos isolados (apenas carapaças, abdômen ou
amostras são constituídas por dolomitos de cor
segmentos do abdômen) (Fig.1): Esse modo de
creme (com exceção de Limeira onde possui
preservação inclui restos isolados, desarticulados,
cor acinzentada), com concentrações densas
especialmente da carapaça e do abdômen ou ainda
de carapaças de crustáceos. A maior parte das
formando acumulações densas, associadas à micro-
amostras estudadas provém da Pedreira Amaral
coquinas ou estruturas sedimentares, tais como as
Machado, no município de Saltinho, SP. Outras
estratificações cruzadas do tipo hummocky.

473
CONCLUSÕES predominante nas amostras estudadas. Os restos
podem ocorrer tanto dispersos em folhelhos,
Os crustáceos pigocefalomórfos completos
lamitos e camadas de carvão, ou ainda nos
(tipo 1) são encontrados dispersos e ocorrem
calcários, isolados ou densamente empacotados.
preferencialmente em folhelhos, lamitos e
Representam mudas ou restos de indivíduos
concreções. Lâminas ou estratos contendo formas
mortos já em decomposição no substrato, talvez
completas devem representar, portanto, intervalos
por algumas semanas, os quais foram, em parte,
onde houve aumento das taxas de decantação, em
transportados e/ou retrabalhados. A qualidade
certos casos por ação de tempestades, gerando
de preservação desses restos é altamente variável,
coberturas suficientemente espessas para recobrir
desde carapaças ou escleritos isolados, sem sinais de
os restos recém mortos no fundo. Ocorreriam,
desgaste, até restos completamente fragmentados
portanto, nos paleoambientes de baixa energia,
e com intensa abrasão. Parece haver preservação
principalmente em fundos anóxicos, abaixo do
diferencial, com predomínio das carapaças,
nível de base de ondas de tempestades. O grau
levando a um registro enviesado. O terceiro tipo
de articulação dos exoesqueletos, a ausência de
de preservação corresponde, possivelmente, a
fragmentação, abrasão e reorientação sugerem
ocorrências parautóctones a alóctones.
que essas ocorrências constituem assembleias
autóctones (senso Kidwell et al., 1986), com os
indivíduos rapidamente soterrados após a morte REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e mínimo distúrbio de fundo. Talvez o principal
ALLISON, P.A. 1988. The role of anoxia in the
fator responsável pelo registro desses crustáceos
decay and mineralization of proteinaceous
muito bem preservados seja a diagênese
macro-fossils. Paleobiology. 14(2): 139-154
precoce, resultado de um rápido soterramento e
decomposição anaeróbica da matéria orgânica, HACHIRO J. 1991. Litotipos, associações
possivelmente em condições de hipersalinidade faciológicas e sistemas deposicionais da
(Piñeiro et al., in press). É interessante observar Formação Irati no Estado de São Paulo.
que nos casos onde os crustáceos estão articulados, Instituto de Geociências, Universidade de
mas os pereópodes estão aparentemente São Paulo. Dissertação de Mestrado , 175p.
desarticulados, estes podem estar encobertos na
porção ventral da carapaça. Já os pigocefalomórfos KIDWELL, S.M.; FURSICH, F.T. &
com padrão de preservação do tipo 2 (carapaça AIGNER, T. 1986. Conceptual framework
e abdômen com/sem leque caudal), esticados for the analysis and classification of fossil
ou não, devem representar indivíduos expostos concentrations. Palaios, 1: 228-238.
na interface água/sedimento. O interessante
desse padrão de preservação é o fato de que em LAVINA, E.L.; ARAUJO-BARBERENA, D.C.
estudos de tafonomia experimental, realizados & AZEVEDO, S.A.K. 1991. Tempestades
principalmente com camarões, uma das primeiras de inverno e altas taxas de mortalidade de
articulações perdidas é a que liga o cefalotórax répteis mesossauros. Um exemplo a partir
ao abdômen (Allison, 1988). Assim sendo, a do afloramento Passo de São Borja, RS.
preservação de indivíduos com esse padrão implica Pesquisas. 18(1): 64-70.
ainda no soterramento relativamente rápido
dos restos ou mudas. Esse tipo de preservação é PIÑEIRO, G.; RAMOS, A.; SCARABINO,
observado, por exemplo, em pelitos associados C.G.F. & LAURIN, M. In press. Unusual
às estratificações cruzadas do tipo hummocky, environmental conditions preserve a Permian
do afloramento de Passa do São Borja, onde mesosaur-bearing Konservat-Lagertätte
esses fósseis devem representar bioclastos recém from Uruguay. Acta Paleontologica Polonica.
incorporados ao sistema e decantados com a
lama, pós-tempestade. Esses devem corresponder, PINTO, I.D. & ADAMI-RODRIGUES, K.
portanto, a elementos autóctones a parautóctones. 1996. Pygocephalomorph crustacea: new
Finalmente, o tipo 3 de preservação é o data and interpretations with emphasis

474
on Brazilian and South African forms. TAYLOR, R.S.; YAN-BIN, S. & SCHRAM, F.R.
Pesquisas, 23:41-50. 1998. New pygocephalomorph crustaceans
from the Permian of China and their
SPEYER, S.E. & BRETT, C.E. 1986. Trilobite phylogenetic relationships. Palaeontology,
taphonomy and Middle Devonian 41: 815-834.
taphofacies. Palaios, 1:312-327.

Figura 1. Modelo tafonômico para crustáceos Pygocephalomorpha, segundo o espectro de condições preservacionais
observadas para o grupo, de acordo com o registro do Subgrupo Irati e dados de literatura. 1 a 3 correspondem aos
modos de preservação (explicação no texto).

475
NOVA ABORDAGEM SOBRE AS CLASSES TAFONÔMICAS DOS PORÍFEROS
DO AFLORAMENTO CAMPALEO, FOLHELHO LONTRAS, SANTA CATARINA
Lucas del Mouro¹ (delmouro@ufrj.br), Eliseu Vieira Dias² (Eliseu.Dias@unioeste.br),
Antonio Carlos Sequeira Fernandes³ (fernande@acd.ufrj.br), Daniel Wagner Rogério1 (danielwr@ufrj.br),
Breno Leitão Waichel4 (breno@cfh.ufsc.br), Ana Tereza Bittencourt Guimarães5 (anat@brturbo.com.br)
¹Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Geologia, Instituto de Geociências; ²Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, Laboratório de Geologia e Paleontologia; ³Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional;
4
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Geociências; 5Universidade Federal do Paraná

RESUMO classes, there are four classes with subclasses in


two of them.
O afloramento CAMPALEO está
situado no pacote sedimentar do Folhelho Keywords: Porifera, Lontras Shale, Rio do
Lontras (Formação Rio do Sul, Grupo Itararé) Sul Formation
e é caracterizado pela presença de uma grande
diversidade de fósseis, dentre eles fragmentos INTRODUÇÃO
vegetais, peixes, insetos e poríferos. Coletas
A Formação Rio do Sul representa a
controladas realizadas anteriormente com o
parte superior do Grupo Itararé e encontra-se
enfoque voltado para a ocorrência de poríferos
dividida em três intervalos: inferior, médio e
subdividiram a porção superior do afloramento
superior (Weinschütz, 2001). A porção inferior
CAMPALEO em 17 níveis (do topo para a
é compreendida por duas unidades: a primeira
base). Foram propustas oito classes tafonômicas
é fossilífera e denominada Folhelho Lontras e a
para dois morfótipos de poríferos encontrados.
segunda, é constituída por um turbidito, afossilífero
Contudo, após reavaliação dos dados já existentes
(Weinschütz & Castro, 2005). Segundo estes
e a grande proximidade entre algumas das classes
últimos autores, essas unidades constituem,
tafonômicas, propõe-se a existência de quatro
respectivamente, a culminância transgressiva do
classes tafonômicas com a presença de subclasses
processo de deglaciação e o trato de mar alto. Holz
em duas delas.
et al. (2010) reposicionaram geocronologicamente
Palavras-chave: Porifera, Folhelho a Formação Rio do Sul, anteriormente datada
Lontras, Formação Rio do Sul como sakmariana–artinskiana (294–275 Ma,
segundo Petri & Souza, 1993), como asseliana-
ABSTRACT sakmariana (299–284 Ma). O afloramento
CAMPALEO, localizado às margens da rodovia
The CAMPALEO outcrop which is
BR-280, na cidade de Mafra, estado de Santa
situated on the sedimentary rocks of Lontras
Catarina (26°09’30,22”S, 49°48’52,82”W;
Shale (Rio do Sul Formation, Itararé Group) is
Figura 1), é constituído pelo pacote sedimentar
charactized by the presence of a large diversity of
do Folhelho Lontras, sendo caracterizado pela
macrofossils, including plant fragments, fishes,
ocorrência de uma grande diversidade de fósseis,
insects and sponges. Mouro et al. (2010) made
dentre eles fragmentos vegetais, peixes, insetos e
a controlled collection where the occurrence of
poríferos.
sponge were the main point, the authors subdivided
the upper portion of the CAMPALEO outcrop Trabalhos sobre poríferos são escassos
in 17 levels (from top to base) and obtained about no Brasil, normalmente restritos a menções de
217 pieces. They proposed eight taphonomic ocorrência de espículas silicosas isoladas em
classes for two distinct sponges morphotypes. algumas formações do Paleozoico brasileiro,
However, after revaluation of the data showed by como as formações Trombetas, Uerê e Rio do Sul
the authors and the proximity between some of (Ruedemann, 1929; Silva, 1987; Cardoso, 2005).
the classes, it is propose a new distribution for the Ruedemann (1929) foi o primeiro a registrar a
taphonomic classes. Instead of eight taphonomic presença de espículas na Formação Rio do Sul; no
entanto seus dados foram ignorados até meados

476
de 2002, pois, segundo Disaró et al. (2003), fósseis CONCLUSÕES
mais completos de poríferos desta formação eram
Como resultado das análises realizadas,
considerados coprólitos de peixes paleosnicídeos
na nova proposta a classe tafonômica 1 (C1) é
e crossopterigianos. Recentemente Mouro et al.
composta por quatro subclasses: SC1, porífero
(2010) realizaram uma coleta controlada com o
completo; SC2, porífero sem a porção superior;
enfoque voltado para a ocorrência de poríferos,
SC3, porífero sem a porção inferior (tufo de
onde os autores subdividiram a porção superior
fixação); e SC4, porífero sem a porção superior e
do afloramento CAMPALEO em 17 níveis de
inferior. A classe tafonômica 2 é formada por duas
coleta (do topo para a base).
subclasses: SC1, fragmentos de porífero em que é
possível determinar de qual região é procedente;
AS CLASSES TAFONÔMICAS e SC2, fragmento de porífero sem a possibilidade
Mouro et al. (2010) propuseram oito de determinar de qual parte do porífero é oriundo.
classes tafonômicas para dois morfótipos de As classes tafonômicas 3 (C3) e 4 (C4) são,
poríferos encontrados: C1, porífero completo; C2, respectivamente, correspondentes às classes C7 e
porífero sem a porção superior; C3, porífero sem C8, propostas por Mouro et al. (2010).
a porção inferior (tufo de fixação); C4, porífero
sem a porção superior e inferior; C5, fragmento REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de porífero que é possível determinar de qual
região é procedente; C6, fragmento de porífero CARDOSO, T.R.M. 2005. Acritarcos
sem a possibilidade de determinar de qual do Siluriano da Bacia do Amazonas:
parte do porífero é oriundo; C7, fragmento de Bioestratigrafia e Geocronologia. Arquivos
pinacoderme; e C8, espículas livres. Contudo, após do Museu Nacional, 63(4): 727-759.
reavaliação dos dados apresentados pelos autores e
DISARÓ, S.T.; SEDOR, F.A. & WITTIG, E.O.
notou-se uma grande proximidade entre algumas
2003. New Porifera at Rio do Sul formation,
das classes tafonômicas, propondo-se uma nova
Itararé Subgroup (Upper Paleozoic), Paraná
distribuição das classes. Para a nova proposta
Basin. In: CONGRESSO BRASILEIRO
os dados de frequência das classes tafonômicas
DE PALEONTOLOGIA, 19, Brasília,
foram analisados em relação ao nível de coleta
2003. Boletim de Resumos, Brasília, p. 115-
por meio da Análise de Correspondência (AC),
116.
com objetivo de avaliar quais classes estavam
associadas aos níveis de coleta. Em seguida, foi HOLZ, M.; FRANÇA, A.B.; SOUZA, P. A.;
realizada a Análise Canônica de Correspondência IANNUZZI, R. & ROHN, R. 2010. A
(ACC) para avaliar a correspondência entre os stratigraphic chart of the Late Carboniferous/
fósseis associados e as classes tafonômicas em Permian succession of the eastern border of
seus respectivos níveis. Ao invés de oito classes the Paraná Basin, Brazil, South America.
tafonômicas, verificou-se a existência de quatro Journal of South American Earth Sciences,
classes com a presença de subclasses em duas 29: 381-399.
delas.
MOURO, L.D. 2010. Análise tafonômica de
Porifera e fósseis associados no Afloramento
AGRADECIMENTOS
CAMPALEO, Formação Rio do Sul, Mafra,
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento SC. Universidade Estadual do Oeste do
Científico e Tecnológico (CNPq; Proc. Paraná, Monografia, 44 p.
301328/2009-9, Bolsa de Produtividade em
Pesquisa) e à Coordenação de Aperfeiçoamento MOURO, L.D.; DIAS, E.V.; ROGÉRIO, D.W.;
de Nível Superior (CAPES, Bolsas de Mestrado) WAICHEL, B.L. & GUIMARÃES, A.T.B.
pelo auxílio financeiro. A Luis Carlos Weinschutz 2010. Classes Tafonômicas dos Porifera
(CENPALEO/Universidade do Contestado) (Hexactinellida) do Folhelho Lontras
pelo apoio à pesquisa com críticas e sugestões. (Formação Rio do Sul, Grupo Itararé) em

477
Mafra, SC. In: REUNIÃO REGIONAL BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
DE PALEONTOLOGIA, 12 PALEO PR/ 10, Rio de Janeiro, 1987. Anais, Rio de
SC, 2010. Resumos, Cascavel, UNIOESTE, Janeiro, p. 983-999.
p. 6.
WEINSCHÜTZ, L.C. 2001. Sucessões
PETRI, S.; SOUZA, P.A. 1993. Síntese dos Estratigráficas do Grupo Itararé na região
conhecimentos e novas concepções sobre a de Mafra-SC e Rio Negro-PR. Revista
bioestratigrafia do subgrupo Itararé, Bacia Brasileira de Paleontologia, 2: 135-136.
do Paraná, Brasil. Revista do Instituto
Geológico, 14: 7-18. WEINSCHÜTZ, L.C. & CASTRO, J.C. 2005.
A sequência Mafra Superior/ Rio do Sul
RUEDEMANN, R. 1929. Fossils from the Inferior (Grupo Itararé, PermoCarbonífero)
Permian Tillite of São Paulo, Brazil, and their em sondagens testemunhadas da região
bearing on the origin of tillite. Geological de Mafra(SC), margem leste da Bacia do
Society of America Bulletin, 40: 417-425. Paraná. Revista de Geociências, UNESP,
24(2): 131-141.
SILVA, O.B. 1987. Espongiários do Devoniano
da Bacia do Solimões. In: CONGRESSO

Figura 1. Visão do Afloramento Campaleo. O ponto em vermelho indica o local do afloramento, coordenadas
26°09’30,22”S, 49°48’52,82”W.

478
NOVA OCORRÊNCIA DE ICNOFÓSSEIS DO GRUPO SERRA GRANDE
(SILURIANO DA BACIA DO PARNAÍBA) NO ESTADO DO CEARÁ
Felipe Augusto Correia Monteiro1 (felipebioufc@yahoo.com.br), Paula C. Dentzien-Dias2 (pauladentzien@gmail.com),
Danielle Sequeira Garcez1 (dsgarcez@gmail.com), Lidriana de Souza Pinheiro1 (lidriana.lgco@gmail.com)
Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar, LABOMAR; 2Universidade Federal do Piauí
1

RESUMO afloramentos são exclusivos de uma estreita faixa


na extremidade leste da Bacia, na fronteira entre
No presente trabalho foi descrita uma
os estados do Piauí e Ceará (Santos & Carvalho,
nova ocorrência de icnofósseis do gênero
2009; Viana et al., 2010). Esses afloramentos
Palaeophycus em rochas do Grupo Serra Grande
formam grandes elevações, a principal delas é
da Bacia do Parnaíba no estado do Ceará. O
o planalto, ou serra, da Ibiapaba, que margeia o
material foi encontrado na região do município de
oeste do estado do Ceará (Figura 1).
Crateús, estado do Ceará, na região do Planalto
da Ibiapaba. Dentro da área da Reserva Particular Esse grupo se divide em três formações
do Patrimônio Natural (RPPN) Serra das Almas dispostas da base para o topo: Formação Ipu,
(Coordenadas Geográficas 5° 8’ 30” S / 40° 54’ 58” Formação Tianguá e Formação Jaicós (Figura
W). 2) (Santos & Carvalho, 2009; Viana et al, 2010).
A primeira formação apresenta arenitos finos a
Palavras-chave: Palaeophycus, Formação
grossos com seixos que representam ambientes de
Ipu, Planalto da Ibiapaba
gláciofluviais. Sua idade é estimada, por correlação
geológica, entre o Ordoviciano e Siluriano, entre
ABSTRACT 450 e 440 milhões de anos.
In this study was described a new A Formação Tianguá apresenta de
occurrence of ichnofossils of the genus folhelhos, siltitos e arenitos finos depositados
Palaeophycus in rocks of the Serra Grande Group, em ambienes marinhos rasos a plataforma rasa.
Parnaíba Basin, on Ceará state. The material was A ocorrência dos gráptolitos Monograptus sp. E
found in the Crateús city, state of Ceará. On the Climacograptus cf. scalaris indica a idade siluriana,
Ibiapaba Plateau, in a Private
​​ Reserve (RPPN) entre 440 a 430 milhões de anos (Santos &
Serra das Almas (Geographic Coordinates 5 ° 8 Carvalho, 2009; Viana et al., 2010).
‘30 “S / 40 ° 54’ 58” W). A Formação Jaicós apresenta arenitos
Keywords: Palaeophycus, Ipu Formation, grossos que apresentam estratificação cruzada
Ibiapaba Plateau depositados em sistemas fluviais. Sua idade
estimada, por correlação geológica, entre 430 a
410 milhões de anos.
INTRODUÇÃO As ocorrências fossilíferas para o
A Bacia Sedimentar do Parnaíba recobre Grupo Serra Grande são escassas. Santos &
uma área de 600 mil quilômetros quadrados Carvalho (2009) citam a presença de gráptolitos
cobrindo os estados do Maranhão, Piauí e parte na Formação Tianguá e microfósseis de
dos estados de Tocantins, Pará, Bahia e Ceará. quitinozoários e acritarcos presentes no intervalo
Esse deposito é composto, principalmente, por entre as Formações Tianguá e Jaicós. Entretanto
sedimentos de origem siliciclástica com idades nenhuma dessas ocorrências foi realizada no
que vão Siluriano ao Cretáceo (Viana et al., 2010 estado do Ceará. Viana et al. (2010) foram os
). primeiros a registrar a presença de icnofósseis na
O Grupo Serra Grande corresponde a Formação Ipu desse grupo e a primeira ocorrência
Sequência Siluriana (ciclo transgressivo-regressivo em território cearense.
completo). Ocorre em praticamente toda a O objetivo do presente trabalho foi
extensão da Bacia do Parnaíba, entretanto seus descrever uma nova ocorrência de icnofósseis

479
em rochas do Grupo Serra Grande da Bacia do DISCUSSÃO
Parnaíba no estado do Ceará.
Viana et al (2010) foram os primeiros
pesquisadores a descrever a presença de icnofósseis
MATERIAIS E MÉTODOS no Grupo Serra Grande. Esse registro também foi
O material foi encontrado na região do importante por se tratar da primeira ocorrência de
município de Crateús, estado do Ceará, na região fósseis na Formação Ipu e a primeira de fósseis
do Planalto da Ibiapaba. Dentro da área da Reserva da Bacia do Parnaíba em território cearense. Estes
Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra fósseis são os mais antigos já encontrados no
das Almas (Coordenadas Geográficas 5° 8’ 30” S / estado. Estes autores encontraram dez localidades
40° 54’ 58” W) (Figura 1). com ocorrências fossilíferas nos municípios
de Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Pacujá,
Os icnofósseis foram observados em
Reriutaba, Santana do Acaraú e Ubajara. Todos
dois blocos rolados de arenito (medindo
localizados na região norte do estado (Figura 1)
aproximadamente 2,00 x 1,00m e 1,80 x 0,50m)
(IPECE, 2007).
que se encontravam próximos a casa sede da
reserva (Figura 3.1 e 3.2). Devido as grandes O icnogênero Palaeophycus foi reportado
dimensões o material não pode ser coletado. A no levantamento de Viana et al. (2010).
identificação e descrição foi realizada com base Entretanto esses autores não citam sua ocorrência
nos trabalhos de Fernandes et al. (2002) e Viana no município de Crateús, localizado ao sul da
et al. (2010). A geologia local é composta por região estudada por esses autores (Figura 1). Esse
arenitos que compõem o Grupo Serra Grande icnogênero também foi registrado em rochas
(Santos & Carvalho, 2009). das Formações Pimenteira e Longá, ambas do
Devoniano da Bacia do Parnaíba (Fernandes et al.,
2002; Santos & Carvalho, 2009). Fernandes et al.
SISTEMÁTICA PALEONTOLÓGICA (2002) determinam uma icnoespécie presente na
Icnogênero Palaeophycus Hall, 1847 Formação Pimenteira como Palaeophycustubularis.
O icnofóssil encontrado nesse trabalho
Descrição – Escavações retas a levemente
indica paleoambientes marinhos rasos de baixa
curvas, ligeiramente onduladas a flexuosas,
energia, abaixo do nível de base das ondas.
de superfície lisa, cilíndricas e dispostas
Um ambiente de plataforma próxima a distal,
horizontalmente em relação à estratificação.
icnofácie Cruziana (Fernandes et al., 2002). O
Preenchimento semelhante ao da rocha-matriz.
que corresponde às transgressões do Siluriano
Variavam muito em comprimento podendo
na Bacia do Parnaíba (Santos & Carvalho,
atingir até 60cm, com uma largura média de 1cm.
2009). Contudo Viana et al (2010) caracterizam
Observações – Palaeophycus é semelhante Palaeophycus nas icnofácies Psilonichnus e Skolithos
à Planolites, sendo diferenciado pelo sedimento produzidos, respectivamente, em um ambiente
que preenche a escavação. O primeiro corresponde estuarino de baixa diversidade e o outro em uma
a escavações preenchidas passivamente enquanto região litorânea protegida.
o segundo ativamente, assim o sedimento
que preenche os tubos de Palaeophycus é bem
semelhante ao da rocha a qual ele está presente. CONCLUSÕES
Palaeophycus são icnitosde habitação (Domichnia), Por se tratarem de blocos de rocha
ou alimentação (Fodinichnia), produzidos encontrados rolados não foi possível se estabelecer
por organismos vermiformes suspensívoros, precisamente um contexto estratigráfico preciso
ou predadores, em ambientes marinhos rasos, da amostra. Contudo a litologia e a localização
na interface entre o sedimento e a água. geográfica das amostras levam a crer que o
Icnofácies – Cruziana material possa ser oriundo do Siluriano, Grupo
Distribuição Estratigráfica – Pré-Cambriano Serra Grande, da Bacia Sedimentar do Parnaíba.
Superior ao Pleistoceno. No Brasil foi encontrado Essa nova ocorrência indica que ainda se conhece
em rochas do Devoniano ao Plioceno.

480
pouco sobre a diversidade desses fósseis que são os SANTOS, M.E.C.M. & CARVALHO, M.S.S.
mais antigos no Estado do Ceará. 2004. Paleontologia das bacias do Parnaíba,
São Luís e Grajaú. Rio de Janeiro, CPRM,
212 p.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNANDES, A.C.S.; ALMEIDA, L.F.B.; VIANA, M.S.S.; OLIVEIRA, P.V.;
CARVALHO, I.S. & ABREU, C.J. 2002. SOUSA, M.J.G.; BARROSO, F.R.G.;
Guia de icnofósseis de invertebrados do VASCONCELOS, V.A.; MELO, R.M.;
Brasil. 1ª ed. Rio de Janeiro, InterciênciaLtda, LIMA,T.A.; OLIVEIRA,G.C.& CHAVES,
260 p. A.P.P. 2010. Ocorrências Icnofossilíferas do
Grupo Serra Grande (Siluriano da Bacia do
IPECE, 2007. Ceará em mapas. Disponível em: Parnaíba), Noroeste do Estado do Ceará.
Revista de Geologia. (23):77-89.

Figura 1. Mapa do estado do Ceará indicando a localização geográfica do Planalto da Ibiapaba com a localização dos
municípios onde foram encontrados fósseis do Grupo Serra Grande e a localização da nova ocorrência na Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Serra das Almas, na região do município de Crateús (Mapa modificado a partir
de IPECE, 2011).

481
Figura 2. Sequência litoestratigráfica do Siluriano-Devoniano da Bacia do Parnaíba (Adaptado de Viana et al., 2010).

Figura 3. 3.1 e 3.2; Blocos alóctones de arenito com icnofósseis do gênero Palaeophycus localizados próximo a casa sede
na RPPN Serra das Almas no Planalto da Ibiapaba, município de Crateús, estado do Ceará. As duas fotos in loco.

482
NOVAS OBSERVAÇÕES SOBRE ICNOFÓSSEIS DEVONIANOS DA
FORMAÇÃO PIMENTEIRA, BACIA DO PARNAÍBA, BRASIL
Rafael Costa da Silva¹ (rafael.costa@cprm.gov.br), Victor Hugo Dominato² (victordominato@hotmail.com),
Antonio Carlos Sequeira Fernandes³ (fernande@acd.ufrj.br)
¹CPRM - Serviço Geológico do Brasil, DEGEO/DIPALE; ²Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em
Geologia, Instituto de Geociências, CCMN; ³Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional

RESUMO enfoque taxonômico e os aspectos icnofaciológicos


e paleoambientais só recentemente têm sido
Estudos icnológicos na Formação
estudados (e.g. Agostinho, 2005). Este trabalho
Pimenteira permitiram o reconhecimento de novas
tem como objetivo descrever novas ocorrências de
localidades com icnofósseis e novos registros de
icnofósseis na Formação Pimenteira e enquadrá-
icnogêneros tais como Bergaueria, Isopodichnus
los no contexto icnofaciológico e paleoambiental
e Protovirgularia. Os icnofósseis enquadram-se
do Devoniano da bacia.
nas icnofácies Cruziana e Zoophycus definidas
como um ambiente marinho que varia de águas
plataformais rasas a planícies de maré de energia ICNOFÓSSEIS REGISTRADOS NA
baixa. FORMAÇÃO PIMENTEIRA
Palavras-chave: Icnofósseis, Formação
Uma pesquisa de campo foi realizada em
Pimenteira, Devoniano
agosto de 2009 em cinco municípios do estado
do Piauí: Coronel José Dias, João Costa, Picos,
ABSTRACT Itainópolis e Pimenteiras (Tabela 1), sendo
Ichnologic studies in Pimenteira georeferenciados dez pontos com associações
Formation allowed the recognition of new sites icnofossilíferas.
with trace fossils and new records of ichnogenera Dentre as localidades estudadas
such as Bergaueria, Isopodichnus and foram identificados ao todo vinte icnotáxons:
Protovirgularia. The trace fossils fit in Cruziana Arenicolites, Bergaueria, Bifungites munizi,
and Zoophycos ichnofacies defined as a marine Bifungites piauiensis, Cruziana, Diplichnites,
environment ranging from shallow shelf waters to Isopodichnus, Lockeia, Lophoctenium,
tidal flats of low energy. Muensteria?, Neoskolithos Palaeophycus,
Keywords: Ichnofossils, Pimenteira Phycosiphon, Planolites, Protopalaeodictyon,
Formation, Devonian Protovirgularia, Rusophycus, Scolicia, Skolithos e
Zoophycos, além de estruturas de escape (Tabela
1).
INTRODUÇÃO
A Formação Pimenteira (Devoniano, DISCUSSÃO
Bacia do Parnaíba), bem estudada do ponto de
vista litológico e estratigráfico, apresenta um Os depósitos da Formação Pimenteira
registro relativamente pobre de fósseis corporais, correspondem a sistemas deposicionais marinhos
mas uma quantidade considerável de icnofósseis de de águas plataformais rasas, infraneríticas a
invertebrados (Fernandes et al., 2002; Agostinho, litorâneas, e planícies de maré de baixa energia (e.g.
2005). Importantes estudos icnológicos vêm sendo Agostinho, 2005; Vaz et al., 2007), com oscilações
conduzidos nessa formação e novas icnoespécies do nível do mar causando prováveis períodos
têm sido descritas, além do registro de novas de exposição nas áreas sobrelevadas. O estudo
ocorrências para os icnogêneros já conhecidos das icnofácies apóia essas interpretações. Os
(e.g. Agostinho et al., 2004; Agostinho, 2005). icnofósseis registrados na Formação Pimenteira
são típicos das icnofácies Cruziana e Zoophycos
Tradicionalmente, os estudos icnológicos
(Agostinho, 2005). A primeira compreende
conduzidos na formação tinham um maior

483
estruturas horizontais, inclinadas e verticais registrados os icnogêneros Bergaueria, Isopodichnus
de uma ampla gama de categonias etológicas, e Protovirgularia, não reconhecidos anteriormente
incluindo pistas de locomoção epiestratais e para essa unidade estratigráfica (Fernandes et al.,
endoestratais, pistas de descanso, estruturas de 2002; Agostinho, 2005).
habitação e de alimentação. Os icnogêneros mais
típicos desta icnofácies a ocorrer na Formação
Pimenteira são Cruziana, Diplichnites, Rusophycus,
AGRADECIMENTOS
Lockeia e Scolicia. Os animais produtores eram Ao Conselho Nacional de
predadores, suspensívoros, depositívoros ou Desenvolvimento Científico e Tecnológico
detritívoros. Embora ocorram domicílios (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento
permanentes, a maioria das estruturas representa de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
ocupação temporária, evidenciando a grande apoio financeiro. À Dra. Vera Medina da Fonseca
mobilidade dos elementos da fauna bentônica. A (DGP-MNRJ), Dr. Sandro Marcelo Scheffler
diversidade e abundância são caracteristicamente (UNIFESP-Diadema) e aos doutorandos Luiza
altas. A icnofácies Cruziana é típica de ambientes Corral Martins de Oliveira Ponciano (PPGL-
marinhos rasos situados entre acima do nível de UFRJ) e Luciano Gandin Machado (PPGL-
base de ondas de tempestade até acima do nível UFRJ) pelo auxílio durante a pesquisa de campo,
de base de ondas normais, na zona compreendida especialmente durante a coleta dos icnofósseis
entre shoreface inferior e offshore inferior. As aqui analisados.
condições de energia são moderadas a baixas.
A icnofácies Zoophycos é caracterizada CONCLUSÕES
pela dominância de estruturas de alimentação
Foram registradas novas ocorrências
relativamente complexas, geralmente com
de icnofósseis da Formação Pimenteira no
estruturas de acúmulo conhecidas como spreite.
estado do Piauí. O estudo dos icnofósseis
Esta icnofácies é característica de ambientes
mostrou ser uma importante ferramenta para a
rasos paleozoicos, porém no Mesozoico atingiu
interpretação paleoambiental da região. Além
ambientes marinhos profundos. Os icnogêneros
disso, o reconhecimento das icnofácies Cruziana e
mais típicos desta icnofácies a ocorrer na
Zoophycos corroboram as informações indicadas
Formação Pimenteira são Zoophycos, Lophoctenium
pelas litofácies, sugerindo um ambiente marinho
e Phycosiphon. Reflete a atividade de uma fauna
que varia de águas plataformais rasas a planícies
majoritariamente depositívora. A icnodiversidade
de maré de baixa energia.
é tipicamente baixa. Esta icnofácies ocorre mais
comumente em ambientes marinhos desde abaixo
do nível de base das ondas de tempestade até REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
águas ligeiramente profundas, em condições de
AGOSTINHO, S. 2005. Icnofósseis de
baixa oxigenação e alto aporte de nutrientes.
invertebrados da Formação Pimenteira,
Dentre os pontos analisados neste
Devoniano da Bacia do Paraíba, estado
trabalho, dois deles coincidem com localidades
do Piauí. Programa de Pós-graduação em
estudadas por Agostinho (2005). Contudo, há
Geologia, Universidade Federal do Rio de
diferenças na composição icnológica observada.
Janeiro, Tese de Doutorado, 140 p.
No afloramento da rodovia BR-316, Km 318,
município de Picos, foram registrados Skolithos, AGOSTINHO, S.; VIANA, M.S.S. &
Lophoctenium e Rusophycus, icnogêneros não FERNANDES, A.C.S. 2004. Duas novas
reconhecidos anteriormente nessa região. Já na icnoespécies de Bifungites Desio, 1940 na
localidade próxima a São João Vermelho foram Formação Pimenteira, Devoniano da Bacia
registrados Skolithos, Bergaueria? e Muensteria?. do Parnaíba, Brasil. Arquivos do Museu
Entretanto, Agostinho (2005) registrou nessa Nacional, 62(4): 519-530.
localidade Lockeia e Phycosiphon, que não foram
observados neste estudo. Além disso, foram

484
FERNANDES, A.C.S.; BORGHI, L.; VAZ, P.T.; REZENDE, N.G.A.M.;
CARVALHO, I.S. & ABREU, C.J. 2002. WANDERLEY-FILHO, J.R. &
Guia dos icnofósseis de invertebrados do TRAVASSOS, W.A.S. 2007. Bacia do
Brasil. Rio de Janeiro: Interciência, 260 p. Parnaíba. Boletim de Geociências da
Petrobrás, 15(2): 253-263.
SILVA, W.M.; ALVES, Y.M. & CANDEIRO,
C.R.A. 2010. Coleção de icnofósseis da
Bacia do Parnaíba depositada no Laboratório
de Paleobiologia da Universidade Federal do
Tocantins. Revista de Biologia e Ciências da
Terra, 10(1): 67-77.

Tabela 1. Localidades icnofossilíferas estudadas na Formação Pimenteira no estado do Piauí.

485
NOVOS CRINÓIDES DA FORMAÇÃO MAECURU (EIFELIANO
MÉDIO, BACIA DO AMAZONAS), ESTADO DO PARÁ, BRASIL
Sandro Marcelo Scheffler1 (schefflersm@yahoo.com.br), Antonio Carlos Sequeira Fernandes2 (fernande@acd.ufrj.br),
Vera Maria Medina da Fonseca2 (vmmedinafonseca@gmail.com)
1
Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Biologia, Setor de Ciências Ambientais, Rua Prof. Artur Riedel, 275, Jardim
Eldorado, 09972-270, Diadema, São Paulo, SP, Brasil;
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Departamento de Geologia e Paleontologia, Quinta da Boa Vista, São
Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO INTRODUÇÃO
A fauna da Formação Maecuru é Desde os primeiros trabalhos com
reconhecida como muito diversa. No entanto, macroinvertebrados da Formação Maecuru, que
apenas quatro espécies de equinodermas eram datam do final do século XIX (e.g. Clarke, 1896),
conhecidas até o momento, todas da classe seu conteúdo fossilífero é considerado bastante
Crinoidea. No presente artigo esta diversidade diversificado. Há várias décadas já se reconhece
é praticamente triplicada com a descrição que esses sedimentos provavelmente constituem
de oito espécies de crinóides, incluindo o a unidade litoestratigráfica que apresenta os
reposicionamento sistemático de uma espécie restos da mais rica e diversificada paleofauna
já descrita anteriormente para a formação de macroinvertebrados marinhos bentônicos
(Exaesiodiscus aff. E. dimerocrinosus), cinco do Devoniano brasileiro. Entretanto, apesar
prováveis espécies novas (ø Laudonomphalus da reconhecida diversidade de braquiópodes,
sp. E, ø Marettocrinus sp. B, ø Marettocrinus sp. trilobitas, e moluscos, entre outros invertebrados,
C, ø Exaesiodiscus sp. C e ø Pentaridica sp. A), apenas quatro espécies de crinóides constam da
além de duas mantidas em nomenclatura aberta literatura especializada.
(Thylacocrinus? sp., ø Eurax cf. E. opercularis). O primeiro registro de ocorrência de
Palavras-chave: Crinóide, Formação crinóides nos arenitos da formação Maecuru
Maecuru, Devoniano Médio foi feito por Frederich Katzer, em 1903,
que citou a presença de pedúnculos por ele
atribuídos ao gênero Ctenocrinus (Katzer, 1933).
ABSTRACT Esse material foi revisto posteriormente e
The fauna of the Maecuru Formation is identificado como Laudonomphalus regularis
acknowledged as being very diverse. However, (Scheffler et al., 2006). Outras três espécies de
only four species of echinoderms were known so crinóides foram formalmente identificadas:
far, all of the Crinoidea class . In this paper this Laudonomphalus ornatus, Exasiodiscus aff.
diversity almost tripled with the description of minutus e Monstrocrinus securifer (Scheffler
eight species of crinoids. This included systematic et al., 2006). Informalmente, no entanto, já se
repositioning of a species previously described for reconhecia uma diversidade morfológica maior
the formation (Exaesiodiscus aff. E. dimerocrinosus), de equinodermas pedunculados. Scheffler, em
five probable new species (ø Laudonomphalus sua Tese de Doutorado em 2010, identificou
sp. E ø Marettocrinus sp. B ø Marettocrinus sp. outras sete formas de crinóides encontradas nos
C, ø Exaesiodiscus sp C, and ø Pentaridica sp. sedimentos da Formação Maecuru.
A), and two mantained in open nomenclature As amostras estudadas provêm de
(Thylacocrinus? sp. Eurax ø cf. E. opercularis). afloramentos situados no Rio Maecuru, Município
Keywords: Crinoid, Maecuru Formation, de Monte Alegre, Estado do Pará e de localidade
Middle Devonian incerta no Rio Cajari, estado do Pará. Foram
coletadas pela Comissão Geológica do Império
do Brasil, em 1876, e pela Expedição Orville
Adelbert Derby, em 1986. Os afloramentos
conhecidos ao longo do Rio Maecuru, de onde

486
provém as amostras do presente trabalho, são o Nas amostras MN4254-I; MN7574-I;
Ponto 92, 94, 94A e 94B, situados respectivamente MN 5173b; MN5173d; MN8254-I foi
a 900 metros a montante da cachoeira Teuapixuna identificado ø Exaesiodiscus aff. E. dimerocrinosus
ou Alagação, a 400 metros a montante e os dois Scheffler et al., 20102 (Figuras 1.4 a 1.8), que
últimos ao lado da cachoeira. apresenta pedúnculo fortemente heteromórfico,
circular, apresentando noditaxe com 5 a 6 ciclos
de colunais; nodal e priminternodal com grande
DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA epifaceta convexa e faceta articular muito
O material identificado como deprimida para recepção de duas a três internodais;
Thylacocrinus sp.3 (Figura 1.1), encontrado nas menores internodais de menor diâmetro, com
amostras MN5173a 26, 27, 28 e MN4549-If1, forma côncavo-convexa ou plano-convexa, se
consiste de placas calicinais isoladas. As placas são encaixando na forma de pilha de pratos, total
hexagonais, grandes, lisas e levemente convexas na ou parcialmente dentro da faceta da nodal e da
superfície externa. Bastante robustas e espessas. priminternodal; crenulário com crênulas muito
A placa apresenta cristas largas posicionadas finas, longas, retas e simples (60 a 80); lúmen de
radialmente a partir do centro para as laterais. tamanho médio pentagonal a quinqüelobado.
As amostras MN8254-Ic, MN4549-Ih1, ø Exaesiodiscus sp.4 C (Figuras 1.15 e
MN4254-If, MN3412-Im e UNIRIO-036-EQ 1.16), encontrado nas amostras MN7585-Id,
apresentaram material identificado como ø MN4254-Id e MN4549-Ij, apresenta pedúnculo
Laudonomphalus sp. E1 (Figuras 1.13 e 1.14). fortemente heteromórfico, circular; nodal
Apresentam colunal circular, com ampla epifaceta, com grande epifaceta, muito convexa, lisa e
lisa e muito convexa; faceta articular muito simétrica; nodal com faceta articular levemente
côncava, fornecendo aspecto bicôncavo a colunal deprimida, que aloja a tertinternodal e parte da
em corte transversal; perilúmen pentagonal secundinternodal; faceta articular plana; crênulas
arredondado, sem dentículos no topo; lúmen retas, longas e simples, grossas e pouco numerosas
pequeno, pentagonal. (18 a 25); lúmen grande e pentagonal.
Também foi identificado ø Marettocrinus Nas amostras MN3326-Ib e MN3412-Ia
sp. B (Figuras 1.9 e 1.10) em diversas amostras foi identificado ø Eurax cf. E. opercularis Le Menn,
(MN7385-Ib; MN7385-Ia; MN8259-Ia, b, c; 1970 (Figuras 1.2 e 1.3), que apresenta colunal em
MN8260-Ia; MN8261-Ia). Apresenta pedúnculo forma de opérculo ou aproximadamente elíptica;
circular, heteromórfico (N1); nodal com pequena látera da colunal levemente convexa e lisa; faceta
epifaceta, assimétrica e portando 6 a 12 tubérculos articular divida em duas áreas bem distintas por
arredondados; faceta plana, apresentando aréola uma região eleveda com superfície pustulosa; em
bem desenvolvida, circular e lisa; crenulário cima desta situa-se o lúmen diminuto, em posição
situado na periferia da faceta e composto por 24 a bem excêntrica; na maior área está situado o
26 crênulas largas, curtas; lúmen circular. crenulário, em superfície plana, abaixo do plano
da área pustulosa; o crenulário apresenta em torno
ø Marettocrinus sp. C (Figura 1.11),
de 25 a 35 cúlmens, muito longos, curvos, finos e
encontrado nas amostras MN5173a12,
ramificados; duas a três projeções da látera podem
MN3412-Id e MN7487-Ih, apresenta
estar presentes.
colunal circular com látera lisa; faceta articular
relativamente plana; crenulário formando um E por último foi identificado ø Pentaridica
estreito anel próximo a periferia, portando em sp. (Figura 1.12), na amostra UNIRIO-066-BV,
torno de 75 crênulas finas, retas, curtas e simples; que apresenta pedúnculo heteromórfico,
aréola muito ampla, circular, plana; perilúmen pentagonal; látera reta, lisa, simétrica, com cinco
pequeno, mas bem evidente, portando em torno tubérculos arredondados nos ângulos; crenulário
de 25 finos dentículos no topo; lúmen pequeno com cinco pentâmeros, com 8 a 10 cúlmens finos,
circular a pentagonal. curtos e retos; aréola levemente penta-estrelada;
lúmen pequeno e pentagonal.

3 A denominação das espécies na nomenclatura aberta segue


Scheffler (2010) para evitar proliferação indesejada de no- 4 Esta espécie havia sido identificada em Scheffler et al.
mes para o mesmo padrão morfológico. (2006) como E. aff. minutus.

487
CONCLUSÕES FONSECA, V.M.M. & MELO, J.H.G. 1987.
Ocorrência de Tropidoleptus carinatus
O presente trabalho eleva de quatro para
(Conrad) (Braquiopoda, Orthida) na
dez o número de espécies conhecidas para a
Formação Pimenteira, e sua importância
formação, confirmando a elevada diversidade da
paleobiogeográfica. In: CONGRESSO
fauna desta unidade geológica.
BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
Fato interessante é a presença de Eurax
10, Rio de Janeiro, 1987. Anais..., Rio de
cf. E. opercularis. Esta espécie foi descrita para
Janeiro, SBP, p. 505-537.
o Siegeniano a Emsiano da França (Le Menn,
1985) e Emsiano superior da Argélia (Le Menn, KATZER, F. 1933. Geologia do Estado do Pará.
1989), Esta espécie parece apresentar padrão de Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi
distribuição similar a Monstrocrinus securifer, que de História Natural e Etnografia, 9:1-269.
ocorre em idade mais antiga na Europa (Emsiano) (Tradução frei Hugo Mense, do original
do que na Formação Maecuru (Eifeliano médio) alemão: KATZER, F., 1903. Grundzüge der
(ver Scheffler et al., 2006). Da mesma forma, o Geologie Unteren Amazonasgebietes).
gênero Thylacocrinus parece adentrar a Bacia do
Amazonas no Eifeliano, possivelmente vindo LE MENN, J. 1985. Les crinoïdes du Dévonien
das regiões do norte da África, pois ocorre no Inférieur et Moyen du Massif Armoricain.
Devoniano Inferior do Maciço Armoricano Mém. Soc. Gól. Minéral. Bretagne, (30):1-
(França e Espanha) e no norte do Gondwana 268.
africano (Argélia, Marrocos), além de ocorrer
no Devoniano Médio da América do Norte e da LE MENN, J. 1989. Controle de La sécrétion
Bélgica (Le Menn, 1997). stéréomique dans lês stolons d’um Crinóide
Portanto, a presença dos gêneros nouveau Du Dévonien inferieur d’Algérie.
Monstrocrinus e Thylacocrinus e de Eurax Lethaia, 22:395-404.
opercularis no Devoniano Inferior do norte do
LE MENN, J. 1997. Crinoïdes. In:
Gondwana e no Devoniano Médio da Bacia do
BOUMENDJEL, K.; BRICE, D.;
Amazonas reforça a hipótese de que o mar eifeliano
COPPER, P.; GOURVENNEC, R.;
dessa bacia brasileira se estenderia até as bacias
JAHNKE, H.; LAURDEUX, H.; LE
do noroeste e norte da África. O mesmo padrão
MENN, J.; MELOU, M.; MORZADEC,
de distribuição parece ocorrer com Exasiodiscus
P.; PARIS, F.; PLUSQUELLEC, Y.
aff. dimerocrinosus (ver discussão em Scheffler et
& RACHEBOEUF, P. Les Faunes du
al., 2010). Exasiodiscus dimerocrinosus também
Dévonien de l’Ougarta (Sahara Occidental,
ocorre no noroeste da Bacia do Paraná e na Bacia
Algérie). Annales de Societé Géologique du
do Parnaíba e, conforme Scheffler et al. (2010), a
Nord, 5:113-114.
ocupação do norte da Bacia do Paraná (estado de
Mato Grosso) provavelmente foi conseqüência da SCHEFFLER, S. M.; FERNANDES, A.C.S.
forte transgressão que ocorreu durante o Eifeliano & FONSECA, V.M.M. 2006. Crinoidea da
tardio, possibilitando que organismos dos mares Formação Maecuru (Devoniano da Bacia Do
mais quentes da Bacia do Amazonas, Bacia Amazonas), Estado do Pará, Brasil. Revista
do Parnaíba e inclusive do Domínio do Velho Brasileira de Paleontologia, 9(2):235-242.
Mundo adentrassem no Domínio Malvinocáfrico,
fenômeno também já relatado para Tropidoleptus SCHEFFLER, S.M.; DIAS-DA-SILVA, S.;
carinatus por Fonseca & Melo (1987). GAMA JÚNIOR, J.M.; FONSECA,
V.M.M. & FERNANDES, A.C.S. 2010.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Middle Devonian crinoids from the Parnaiba
Basin on the western margin (Pimenteira
CLARKE, J. M. 1896. As trilobitas do grez de Formation), Tocantins State, Brazil. Journal
Ereré e Maecuru, Estado do Pará, Brazil. of Paleontology (no prelo).
Archivos do Museu Nacional, 9:1-58.

488
Figura 1. Thylacocrinus? sp.: 1 - placa calicinal (MN5173a26). Eurax cf. E. opercularis: 2 - molde interno de colunal
(MN3326-Ib); 3 - vista de faceta articular (MN3412-Ia). Exaesiodiscus aff. E. dimerocrinosus: 4 - faceta articular
(MN7574-Ia); 5 - vista de colunal nodal (MN8254-Ia); 6 - pluricolunal da mesistele (MN4254-Ib); 7 - faceta articular
(MN5173d4); 8 - pluricolunal da dististele de indivíduo jovem (MN5173b10). Marettocrinus sp. B: 9 e 10- faceta articular
e epifaceta da nodal (MN7385-Ib). Marettocrinus sp. C: 11 - faceta articular (MN5173a12). Pentaridica sp. A: 12 - faceta
articular com desenho esquemático da forma da aréola (UNIRIO-066-BV b). Laudonomphalus n. sp. E: 13 e 14 - nodal
isolada (MN4549-Ih1). Exaesiodiscus sp. C: 15 - vista de nodal de indivíduo adulto (MN7585-Id); 16 – colunal nodal
isolada (MN4549-Il).

489
O REGISTRO DE INSETO EPHEMEROPTERA E A CONTRIBUIÇÃO
AO ESTUDO PALEOCLIMÁTICO NO FOLHELHO LONTRAS,
PERMOCARBONIFERO DA BACIA DO PARANÁ, MAFRA, SC
Karen Adami-Rodrigues¹ (karen.adami@gmail.com), João Henrique Zahdi Ricetti² (joao.ricetti@hotmail.com), Luiz Carlos
Weinschütz² (luizcw@mfa.unc.br), Everton Wilner² (evertonwilner@yahoo.com.br), Ricardo Smaga2 (ricardosmaga@gmail.com)
¹NEPALE/UFPel; ²CENPÁLEO/UnC

RESUMO dados úteis para inferências paleoambientais,


paleoclimáticas, paleobiogeográficas e
O registro de inseto Ephemeroptera
cronoestratigráficas.
na Bacia do Paraná, na região de Mafra, Santa
Catarina, preservada na forma de impressão Na América do Sul, diversos afloramentos
inserida em um folhelho da base da Sequência portadores de insetos fósseis, do permocarbonífero
Rio do Sul (Folhelho Lontras), Grupo Itararé, são conhecidos, sendo formalmente descritos
Pensilvaniano/Cisuraliano da Bacia do e revisados por Martins – Neto (2005),
Paraná, esta associada a ocorrências de peixes distribuídos em dez localidades correspondentes,
paleoniscídeos, esponjas silicosas, braquiópodes, principalmente, a afloramentos das Formações
restos vegetais e conodontes. Este registro para Irati e Teixeira Soares, nos estados de Mato
a Bacia do Paraná auxilia no posicionamento Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
bioestratigráfico e interpretações paleoecológicas Rio Grande do Sul, com pelo menos 20 espécies
para a área de estudo. descritas por diversos autores revelando novos
táxons para o Paleozoico Brasileiro.
Palavras-chave: Bacia do Paraná, insetos,
Permocarbonífero, Ephemeroptera Na Bacia do Paraná, o intervalo
Permocarbonífero apresenta inúmeras propostas
bioestratigráficas baseadas em macrofitofósseis,
ABSTRACT vertebrados, invertebrados e na palinologia,
The Ephemeroptera insect record in porém ainda não há consenso quanto ao
Paraná basin, Mafra region, Santa Catarina, posicionamento cronoestratigráfico das
leaved fossil impressions into the base of shale unidades lito e bioestratigráficas. Neste trabalho,
sequence Rio do Sul (Shale Lontras), Itararé ressalta-se o significado do contexto do registro
Group, Pennsylvanian/Cisuralian of the Paraná fossilífero no intervalo Permocarbonífero
basin. It is associated with the occurrence of de Ephemeroptera e do estrato portador da
paleoniscideous fish, siliceous sponges, shells, paleoentomofauna, na porção superior do Grupo
plant debris and conodonts. This record for the Itararé, na Sequência Rio do Sul em Mafra, o que
Paraná basin assists in biostratigraphic position contribui significativamente para interpretações
and paleoecological interpretations for the study paleoambientais e paleoclimáticas.
area.
Keywords: Paraná Basin, insects, LOCALIZAÇÃO E GEOLOGIA DA ÁREA
Permocarboniferous, Ephemeroptera
O Folhelho Lontras aflora na área de
pesquisa de campo do Centro Paleontológico
INTRODUÇÃO de Mafra/SC, ás margens da BR-280; no bairro
Existem em torno de 1.275 famílias de Faxinal (Figura 1). No folhelho são encontrados
insetos conhecidas no registro fossilífero e em fósseis de peixes, espículas de esponjas,
torno de 967 presentes hoje na natureza, das conodontes, braquiópodes e escolecodontes em
quais 70% são conhecidas também como fósseis níveis próximos ao que são registradas asas de
( Jarzembowski, 2001). A análise detalhada do insetos em diversidade e quantidade excepcional
registro de insetos fósseis pode revelar padrão de para os registros do Permocarbonífero do Brasil.
crises bióticas e de estresse ambiental, gerando (Figura 2). Segundo Milani et al. (2007), a porção

490
superior do Grupo Itararé é representada pela desde grupo de insetos, que teriam preferência,
Formação Taciba, Membro Rio do Sul. Na porção como atualmente, clima úmido e quente. Cabe
superior do Grupo Itararé, a sequência Rio do Sul reforçar que estes insetos na atualidade tem um
(Weinschutz & Castro 2005), compreende duas curto ciclo de vida, quando adultos vivem poucas
unidades: uma de folhelhos fossilíferos (Folhelho horas até dois dias e as ninfas por varias semanas
Lontras) e a segunda unidade de folhelhos e até três anos, sendo desta forma o seu registro
arenitos sílticos.Tais unidades caracterizadas um marcador de evento de morte em massa da
como marinhas constituem, respectivamente, Paleoentomofauna local.
a culminância transgressiva do processo de A morte em massa de vários grupos de
deglaciação e o trato de mar alto, Weinschutz & insetos com preferências diferenciadas quanto ao
Castro (2005). ambiente de ninfas e adultos e com uma fauna
associada característica de ambiente marinho do
Permocarbonífero, em período de culminância
RESULTADOS
transgressiva do processo de deglaciação, reforça
A paleoentomofauna de Mafra se para a o registro fossilífero no folhelho Lontras
constitui atualmente em um dos documentos a ocorrência de uma importante transgressão
mais importantes no registro geológico do marinha atingindo um ambiente proximal de
Permocarbonífero na Bacia do Paraná, não só lagos interligados, onde fósseis foram bem
pela sua abundância e diversidade, como também preservados devido ao pouco transporte. Nos
pela qualidade de preservação. Alguns grupos estratos portadores da Paleoentomofauna estão
de insetos ali representados são especialmente associados fósseis de bivalvos, gastrópodes,
úteis em termos de bioestratigrafia, correlações foraminíferos, fragmentos de paleoniscídeos,
e idade. Na localidade desde estudo, foram conodontes e espiculas de esponja, o que reforça a
descritos na ultima década, três novos insetos questão da transgressão marinha atingindo lagos
para Carbonífero Superior do Estado de Santa proximais e interligados.
Catarina, respectivamente um Blattoptera (Pinto
& Sedor, 2000) e dois outros Grylloblattida
(Martins – Netto, 2005). Para efeito deste estudo, CONCLUSÕES
foi selecionado um dos grupos pela primeira vez O registro de Ephemeroptera em folhelhos
citado e registrado, Ephemeroptera. encontrados na região de Mafra tem importância
A paleoentomofauna de Mafra é bastante por ser a primeira ocorrência para o Carbonífero
peculiar, pois todos os insetos analisados estão Superior, Permocarbonífero no Brasil, pela
preservados com asas ligeiramente deslocadas, qualidade de preservação dos inseto por impressão,
o que é perfeitamente compatível com um por ser um dos poucos registros fósseis no mundo
curto transporte. Bem preservados, os insetos e pela condição de refino no posicionamento
apresentam-se articulados, sendo poucos com cronoestratigráfico aos fósseis associados. Assim,
alguma parte do corpo faltando e outros poucos vem a contribuir significativamente para as
somente com asas. Os substratos ocupados pelas interpretações paleoambientais e paleoclimáticas
ninfas de insetos apresentam especificidades, no intervalo Permocarbonífero da Bacia do Paraná,
há grupos específicos para águas paradas e durante o período de culminância transgressiva
lodosas, outros específicos para águas correntes, do processo de deglaciação, no folhelho Lontras,
os Odonatoptera, por exemplo, as ninfas variam interpretado como um possível sistema de lagos
suas preferências por hábitats específicos, já interligados proximais a ambiente marinho.
os Heteroptera habitam hoje águas salobras,
e Ephemeroptera em ambientes diversos de
águas doces ou em bancos arenosos no fundo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de lagos, ou lodo, com águas rasas e correntes. DUTRA, T.L.; CHAVES, R.; SILVA, S.;
O registro de ephemerópteros se dá a partir do BOARDMAN, D.; FALLGATTER, C.;
final do Carbonífero e inicio do Permiano , onde MEUCCI, N.; LIMA, L. & MARTINS-
a mudança climática favorece o aparecimento NETO, R.G. In press. Taiophlebiidae n. fam.

491
(Grylloblattida, Narkeminidea n. sensu), PINTO, I.D. & SEDOR, F.A. 2000. A new
a new insect family for Itararé Formation Upper Carboniferous blattoid from Mafra
(Paraná Basin, Upper Carboniferous), Taió Formation, Itararé group, Paraná Basin,
locality (Santa Catarina State, Brazil): Brazil. Pesquisas 27 (2): 45–4.
systematic and phylogenetical implications.
Gaea. WEINSCHÜTZ, L.C. & CASTRO, J.C. 2005.
A Seqüência Mafra Superior \ Rio do Sul
JARZEMBOWSKI, E.A. 2001a. The Inferior (Grupo Itararé, Permocarbonífero)
Phanerozoic record of insects. Acta em sondagens testemunhadas da Região
Geologica Leopoldensia, 24(52/53): 73-79. de Mafra (SC), margem Leste da Bacia do
Paraná. Geociências, 24(2):131-141.
MARTINS-NETO, R. 2005. Estágio atual da
Paleoartropodologia Brasileira: Hexápodes, WILNER, E.; WEINSCHÜTZ, L.C.;
Miriápodes, Crustáceos (Isopoda, Decapoda, COSTA W.L. & GONÇALVES, E. 2008.
Eucrustacea e Copepoda) e Quelicerados. Ocorrência de conodontes na Formação Rio
Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, do Sul, Grupo Itararé, Permiano inferior da
v.63, n.3, p.471-494. Bacia Sedimentar do Paraná na região de
Mafra, SC. Boletim da Sociedade Brasileira
MILANI, E.J.; MELO, J.H.G.; SOUZA, de Paleontologia n. 62, p. 7.
P.A.; FERNANDES, L.A. & FRANÇA,
A.B. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de
Geociências da Petrobras, 15(2):265-287.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo (Weinschütz & Castro, 2005).

492
Figura 2. 2.1 Perfil litoestratigráfico do afloramento que contém o folhelho fossilífero de ocorrência da paleoentomofauna.
2.2 Fotografia em estereomicroscópio de Ephemeridae.

493
O REGISTRO DE UROPYGI AO LONGO DO TEMPO (NEOCARBONÍFERO,
EOCRETÁCEO E RECENTE): IMPLICAÇÕES PALEONTOLÓGICAS
E ECOLÓGICAS NA ESTASE EVOLUTIVA DO GRUPO
Gabriel Ladeira Osés¹ (gabriel.oses@usp.br), Setembrino Petri¹ (spetri@usp.br), Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco¹
(forancelli@gmail.com), Regiane Saturnino Ferreira² (sf.regiane@gmail.com)
¹Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências; ²Museu Paraense Emílio Goeldi, Laboratório de Aracnologia

RESUMO homogêneo e adaptativamente conservativo, cuja


biologia é pobremente conhecida. As espécies
O registro dos escorpiões-vinagre ao longo
viventes estão distribuídas por todo o mundo, mas
do tempo geológico revela que estes organismos
o pico de diversidade é alcançado na Ásia e no
constituem um grupo extremamente homogêneo,
arquipélago Malaio (Rowland & Adis, 2002).
característica que pode ser compreendida pela
relativa estase evolutiva apresentada pelo grupo. Os fósseis de escorpiões-vinagre, por sua
Dados preliminares apresentados na presente vez, são praticamente restritos a rochas formadas
contribuição são compatíveis com esta tendência em ambientes úmidos do Neocarbonífero
evolutiva, a qual pode ser explicada por meio de dos Estados Unidos e da Europa. O sistema
informações obtidas tanto do estudo de fósseis deposicional de Mazon Creek, Illinois, dominado
como de organismos atuais. por deltas, apresenta aracnídeos fósseis de
florestas pantanosas, conhecidos pelo excepcional
Palavras-chave: aracnídeos fósseis,
estado de preservação, inclusive, de partes moles
escorpiões-vinagre, estase evolutiva
(Nitecki, 1979; Shabica, 1979). O número de
espécies fósseis descritas e consideradas válidas
ABSTRACT diverge entre alguns autores: Harvey (2003) cita
Whip scorpions temporal register reveals nove espécies, enquanto Tetlie & Dunlop (2008)
that these organisms constitute an extremely reconheceram apenas sete espécies, e citam outra
homogeneous group, characteristic which can provável do Mioceno na Califórnia.
be understood by the relative evolutionary stasis A descoberta de Mesoproctus rowlandi
shown by this group. Preliminary data herein Dunlop (1998) em estratos de rocha do Eocretáceo
presented are compatible with this evolutionary da Chapada do Araripe e a descrição de outros
trend, which can be explained by means of três escorpiões-vinagre da mesma região (Dunlop
information obtained through the study of fossils & Martill, 2002) revelam que estes organismos
and of living organisms. habitavam ambientes mais áridos do que os
Keywords: fossil arachnids, whip dos fósseis carboníferos. Os fósseis do Membro
scorpions, evolutionary stasis Crato (Formação Santana, Bacia Sedimentar do
Araripe) apresentam, também, excepcional estado
de preservação obtido por meio dos processos
INTRODUÇÃO de substituição por goethita ou por pirita e de
A ordem Uropygi engloba aracnídeos carbonização (Viana & Neumann, 2002; Menon
predadores que possuem grandes pedipalpos & Martill, 2007). Os fósseis do Eocretáceo da
raptoriais e um longo flagelo segmentado Chapada do Araripe são encontrados em placas de
na porção terminal do opistossoma (Harvey, rocha carbonática formada em ambiente lacustre
2002). São vulgarmente conhecidos como (Viana & Neumann, 2000; Heimhofer & Martill,
escorpiões-vinagre, em função de sua aparência 2007). O estudo das condições paleoambientais
e comportamento de defesa, que consiste na desse lago ou sistema de lagos (Kellner, 2002)
liberação de ácido acético quando ameaçados. A revelou que o fundo deste (s) corpo (s) d’água
diversidade do grupo é baixa, contando com 103 apresentava condições anóxicas, característica
espécies descritas em 16 gêneros e apenas uma intensificada pela alta salinidade, evidências
família (Harvey, 2002). Consiste de um grupo que podem explicar o estado de preservação

494
dos fósseis de organismos. O registro fóssil do e, portanto, todos os gêneros atuais e a espécie
Membro Crato é constituído essencialmente por descrita para o Eocretáceo, M. rowlandi (Dunlop,
organismos alóctones (Menon & Martill, 2007) 1998). Entre o Carbonífero e o Cretáceo há um
que habitaram o local (Heimhofer & Martill, hiato no registro fóssil de Uropygi. A espécie M.
2007). Esta informação pode ser justificada pelo rowlandi foi escolhida por representar a única
caráter inóspito do ambiente e pela presença de ocorrência entre o Carbonífero e o Recente. Esta
organismos terrestres (e.g. Uropygi). espécie apresenta, em geral, características bem
A análise da morfologia dos escorpiões- mais próximas às verificadas nos espécimes do
vinagre revela que estes organismos não Recente (Dunlop & Martill, 2002). No intervalo
apresentaram mudanças morfológicas expressivas de tempo compreendido entre o Cretáceo e o
ao longo de sua trajetória evolutiva (Dunlop et Cenozoico também não há fósseis de escorpiões-
al., 2007), a qual pode ser caracterizada, portanto, vinagre. O gênero vivente Mastigoproctus foi
pela ocorrência de estase evolutiva. selecionado visto que é o único explicitado
nas comparações realizadas por outros autores
(Dunlop, 1998). Este autor sugere que os
OBJETIVOS E UNIVERSO DE INTERESSE membros atuais de Uropygi sejam denominados
Um dos objetivos da presente publicação “fósseis-vivos” dado o grau de semelhanças entre
é tentar ilustrar a estase evolutiva por meio de os organismos viventes e os fósseis, sobretudo os
comparações morfológicas entre alguns fósseis do Cretáceo. O gênero Mastigoproctus está incluso
do grupo e os indivíduos atuais baseando-se em na subfamília Mastigoproctinae, à qual é atribuído
dados fornecidos nas publicações de Dunlop o gênero Mesoproctus do Cretáceo (Dunlop et al.,
(1998), Dunlop & Martill (2002) e Tetlie & 2007). Ambos possuem as maiores dimensões
Dunlop (2008). As informações utilizadas dentre todos os escorpiões-vinagre fósseis e
restringem-se somente aquelas em que a menção viventes, estão relacionados ao mesmo tipo de
comparativa entre fósseis e organismos viventes ambiente e apresentam distribuição geográfica
foi completamente explicitada pelos autores dos semelhante (Crawford & Cloudsley- Thompson,
artigos acima citados. 1971; Dunlop, 1998; Dunlop & Martill, 2002).
Geralinura carbonaria Scudder, 1884
(Pensylvanniano dos Estados Unidos) foi
RESULTADOS E DISCUSSÃO
selecionada para as comparações já que os
mais variados caracteres morfológicos deste Do número total de características
táxon foram sistematicamente correlacionados compartilhadas (32) entre os grupos fósseis (G.
aos dos grupos atuais em Tetlie & Dunlop carbonaria e M. rowlandi) e os espécimes atuais, 24
(2008). De acordo com estes autores, os fósseis são semelhantes. Quando a comparação é restrita
do Neocarbonífero como, por exemplo, G. aos fósseis do Eocarbonífero e aos organismos
carbonaria e o gênero Prothelyphonus Fric, viventes, há 11 características morfológicas
1904 apresentam diversas características em semelhantes de um total de 18 analisadas para o
comum com os escorpiões-vinagre do Recente. período correspondente ao final do Carbonífero. O
Prothelyphonus, não considerado na comparação mesmo padrão geral se repete para a comparação
aqui exposta apresenta espécimes que, de modo entre os fósseis do Eocretáceo e os escorpiões-
semelhante aos organismos atuais possuem vinagre atuais: 13 semelhanças de um total de 14
grandes pedipalpos e trocânter com presença de características consideradas.
dentículos. Contudo, segundo estes autores, os Este resultado ajuda a corroborar a
gêneros do Neocarbonífero constituem membros inclusão, apenas dos organismos do Mesozoico
basais (externos) de Thelyphonidae, visto que não e do Cenozoico na família Thelyphonidae, uma
apresentam pedipalpos (grandes e raptoriais nos vez que apesar de predominar estase evolutiva há
escorpiões-vinagre atuais) subquelados, a quela maior similaridade entre os escorpiões-vinagre
formada por grandes apófises patelares e tibiais, do Eocretáceo e do Recente do que entre os
conjunto de caracteres que define essa família organismos do Eocarbonífero e do Recente. As
maiores diferenças verificadas para o caso do

495
Carbonífero estão relacionadas a modificações a poucas mudanças globais ou estase evolutiva
sofridas pelos pedipalpos, cujas características são (Lieberman et al., 1995).
justamente aquelas que definem Thelyphonidae. A construção de tocas como estratégia de
A conquista de ambientes mais áridos proteção contra desidratação e o comportamento
pelos escorpiões-vinagre constitui exceção à agressivo apresentado pelos escorpiões-vinagre
regra verificada no passado geológico e atual: (elevação do opistossoma, compreendida como
ocupação de habitats de florestas tropicais postura agressiva semelhante aquela realizada
úmidas (Dunlop et al., 2007). A invasão de locais por escorpiões e a liberação de substância
secos, verificada primeiramente no Eocretáceo, irritante como estratégias de defesa) (Crawford
pode ser fundamental para a compreensão do & Cloudsley-Thompson, 1971; Dunlop et al.,
estabelecimento de Thelyphonidae por meio da 2007) podem explicar as baixas taxas de extinção
quebra momentânea de estase. Estabelecidos estes verificadas para o grupo ao longo de sua trajetória
pressupostos, pode-se inferir que o surgimento de evolutiva (Eldredge et al., 2005), sobrevivendo
pedipalpos subquelados totalmente desenvolvidos, inclusive, à extinção em massa permotriássica.
característica esta que contribui para alimentação De todos os mecanismos de estase
mais eficiente, pode ter sido resultado das evolutiva, um ainda é potencialmente aplicável
necessidades adaptativas frente à conquista de no caso específico dos organismos aqui tratados.
ambientes mais áridos por parte dos escorpiões- Segundo Foote & Miller (2007), o conceito
vinagre. Entretanto, segundo Gomulkiewicz & de habitat tracking sustenta a ideia de que
Holt (1995) isso ocorre somente se o grupo em populações migram para outros ambientes após
questão apresentar característica adaptativa prévia, variações nas condições locais, mantendo-se
caso contrário há a tendência de extinção já que as assim, em estase. A ampla distribuição geográfica
pressões ambientais são maiores do que as taxas dos escorpiões-vinagre é resultante de sua alta
de mudança adaptativa. No caso dos escorpiões- capacidade de dispersão. Este padrão foi gerado,
vinagre, uma dessas características pode ser o provavelmente, no Eocarbonífero, período em que
hábito de cavar (proteção contra a desidratação), as massas terrestres estavam unidas, constituindo o
provavelmente já presente em organismos do supercontinente Pangea. Segundo Scotese (2002),
carbonífero, visto que organismos atuais tanto no Eocarbonífero, a região que corresponde ao atual
de climas secos como de climas úmidos possuem hemisfério norte estava concentrada no Equador.
esse comportamento (Crawford & Cloudsley- Por outro lado, outras regiões como a América
Thompson, 1971; Dunlop, 1998). do Sul, a África e a Austrália encontravam-se ao
A descoberta de fósseis de Thelyphonidae sul do Equador, em latitudes mais altas do que
em rochas que representam paleoambiente árido as atuais. Assim, enquanto florestas eram comuns
também se reveste de importância no sentido na América do Norte e na Europa, as áreas mais
de explicar parcialmente o padrão evolutivo ao sul do planeta estavam cobertas por gelo. Estes
do grupo aqui tratado (principalmente para cenários diametralmente opostos podem estar
a grande semelhança entre M. rowlandi e M. relacionados à presença de fósseis de escorpiões-
giganteus Lucas, 1835) verificado após a quebra vinagre em rochas do Carbonífero da Europa
de estase registrada no Eocretáceo: tendência de e dos Estados Unidos, enquanto os fósseis do
estase evolutiva, resultando na existência da alta grupo que aparecem em áreas correspondentes
homogeneidade (Tetlie & Dunlop, 2008) dos ao hemisfério sul, datam somente do Eocretáceo,
gêneros atuais. Segundo Lieberman et al. (1995), período em que a Terra apresentava temperatura
como as espécies são fragmentadas em ambientes bem superior à atual.
distintos e, portanto, sujeitas a mudanças
evolutivas, a variação total verificada para uma
espécie é igual a todas essas mudanças menores.
CONCLUSÕES
Consequentemente, a distribuição de uma espécie Algumas hipóteses aqui formuladas
em ambientes distintos (no caso dos escorpiões- sustentam uma conclusão fundamental em
vinagre ambiente úmido x ambiente árido) leva relação à evolução de Uropygi: mecanismos

496
comportamentais, ecológicos, biogeográficos e HARVEY, M.S. 2002. The neglected cousins:
adaptativos podem auxiliar tanto na compreensão What do we know about the smaller arachnid
da característica estase evolutiva, apresentada orders? The Journal of Arachnology, 30:357-
pelo grupo, como na explicação do surgimento 372.
de caracteres morfológicos que definem a família
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498
PALEOECOLOGY OF FOSSILS FROM THE CAPE MELVILLE FORMATION
(EARLY MIOCENE, KING GEORGE ISLAND, WEST ANTARCTICA)
Fernanda Quaglio¹ (quaglio@usp.br), Marcello Guimarães Simões² (btsimoes@ibb.unesp.br), Luiz Eduardo Anelli¹ (anelli@usp.br)
¹Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências;
²Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências Departamento de Zoologia

RESUMO INTRODUÇÃO
As preferências ecológicas de Ecological requirements for fossil and
representantes modernos dos invertebrados extant representatives are important to support
fósseis registrados na Formação Cape Melville sedimentological interpretations of a given
(Mioceno inicial, Ilha Rei George, Antártica deposit. In Antarctica, this approach is especially
Ocidental) foram investigadas visando a important to accomplish questions related to the
comparação com a análise sedimentológica e o Cenozoic cooling history of the continent. Indeed,
cenário paleoambiental previamente propostos the scarcity of good expositions due to the huge
para a sucessão. A estrutura interna simples das areas covered by ice is a key limiting factor to the
assembleias, preservadas principalmente em fácies geological knowledge of that region.
pelíticas, a ocorrência de fósseis articulados, com The South Shetland Islands, mainly the
baixa seleção de tamanho e nenhuma evidência King George Island, preserve some key records of
de abrasão mecânica ou fragmentação, sugerem the Cenozoic glacial events related to the onset
assembleias de vida geradas por eventos únicos de of East Antarctic Ice Sheet. Those are deposits
sedimentação. A presença de bivalves infaunais, of the Early Oligocene Polonez Cove Formation
bem como outros invertebrados típicos de águas and the Early Miocene Cape Melville Formation
profundas corrobora o ambiente deposicional (CMF). The CMF succession provides the single
quiescente em baixas temperaturas. western record of the earliest Miocene glaciation
Palavras-chave: Formação Cape Melville, episode in Antarctica (Dingle & Lavelle, 1998),
paleoecologia, Antártica which is coupled with global glaciation evidenced
by oxygen-isotope data (event Mi-1 of Miller et
al., 1991).
ABSTRACT
We focused on the Cape Melville
Ecological preferences of extant Formation fossil representatives, particularly
representatives of invertebrate fossils recorded in the ecological information, to evaluate previous
the Cape Melville Formation (Early Miocene,King sedimentological data and environmental scenario.
George Island, West Antarctica) were investigated
in order to evaluate previous sedimentological
analysis and environmental scenario of the THE CAPE MELVILLE FORMATION
succession. The simple internal structure of The CMF is the youngest unit of the Moby
assemblages, preserved mostly in pelitic facies, Dick Group (Birkenmajer, 1984) and comprises
the occurrence of articulate fossils, with low size- a 190m thick succession cropping out along the
sorting and no evidence of mechanical abrasion Melville Peninsula, at east side of King George
or fragmentation suggest single-events census Island, West Antarctica (Figure 1). Lithofacies
assemblages. The presence of infaunal bivalves and sedimentary environment of the unit were
as well as other invertebrates typical of deep described and interpreted by Birkenmajer (1984)
depths and cold waters corroborates a quiescent and reviewed by Troedson & Riding (2002). The
depositional setting in cold temperatures. unit is composed by diamictites at the base that
Keywords: Cape Melville Formation, grade to silty sandstones to sandy mudstones
paleoecology, Antarctica with glacigenic debris, and is interpreted as a
glaciomarine succession, recording a maximum

499
glacial event at the base followed by a glacial be byssate or reclinant with somewhat swimming
retreat with distal glaciomarine facies at the top. abilities and tolerate substrates from mud to gravel
( Jonkers, 2003). The other groups are epibenthic
and occur both in muddy to gravelly substrates
TAPHONOMY x SEDIMENTOLOGY (Roniewicz & Moricowa, 1987; EOL).
The marine fossil invertebrates, mainly The high number of nuculids (sites
molluscs, corals, decapods, crabs, bryozoans, D, E, F and M, Figures 1B, C) suggests an
polychaetes, brachiopods and echinoids, were open to outer shelf environment. Many of all
found in several sites along the plateau of the extant representatives are euribathic (as Yoldia,
peninsula (see Figure 1.1 and references herein). Archimediella, Natica, Margarites, Beringius,
Specimens are preserved in low number, disperse Neptunea, Cancellaria), but most of them are
or as small clusters in each site, but mostly in commonly found in deeper depths (as Ennucula,
pelitic facies, which is the common preferred Leionucula, Adamussium, Natica, Margarites,
substrate-type of extant representatives (especially Liomesus, Beringius, Sipho, Neptunea, Nassarius,
infaunal bivalves and corals). The simple internal Aforia, Flabellum) (EOL). Most extant taxa are
structure of fossil concentrations, occurring also eurithermic (as Gibbula, Turritella, Natica,
mostly in massive pelitic facies, indicates a single Margarites, Nassarius, Mitrella, Cancellaria), and
depositional event dominated by suspension in many occur commonly in cold waters (as Liomesus,
each of all sites. The increased sandy or gravelly Beringius, Neptunea, Aforia), with exception of
(by exotic clasts) influence in some sites (as sites Archimediella, Scaphella and Ficus, which occur
D and M, Figures 1.2, 1.3), with no apparent preferentially in tropical waters (EOL).
sedimentary structures, confirm the ice-rafting
influence or oscillation of bottom flux or even
action of hiperpycnal flux (‘turbidites’) in those ACKNOWLEDGMENTS
upper levels (Troedson & Riding, 2002). FQ is PhD student of the Post Graduation
Most specimens are preserved as complete Programm of IGc-USP and is funded by CNPq
articulated individuals (as all bivalves, except (Conselho Nacional de Desenvolvimento
for Adamussium). In most of sites, specimens Científico e Tecnológico) with a Doctorate
are randomly oriented. The only clear evidence scholarship.
of in situ preservation is of those assemblages
including the scleractinian coral Flabellum and
the homolodromiid crab Antarctidromia (site
CONCLUSÕES
D, Figures 1.2, 1.3). These indicate that none The mode of preservation and ecological
or fairly short transport occurred, corroborating preferences of extant representatives of fossil
a quiescent depositional setting (Troedson & invertebrates of the CMF indicate that each
Riding, 2002). Moreover, the occurrence of assemblage may represent singe-event census
articulate fossils, with low size-sorting, and rare assemblages. The paleoecological approach
evidence of mechanical abrasion or fragmentation supports that fossils comprise deep-depth species
imply that specimens were not reworked or even of cold waters, which corroborates previous
underwent any sorting prior to deposition. This facies analysis of Troedson & Riding (2002).
corroborates interpretation by Troedson & Riding Species preferences that partially disagree with
(2002) which discards any winnowing process such scenario would be consequence of poorly
previously to the final deposition. constrained taxonomy of fossils, incomplete
understanding of extant species or even resulting
of ice rafting deposition.
PALEOECOLOGY
The bivalves are mainly represented by
infaunal species that commonly occur in muddy
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
substrates. The exceptions are Limopsis and ANELLI, L. E.; ROCHA-CAMPOS, A.C.;
Adamussium, whose extant representatives may DOS SANTOS, P.R.; PERINOTTO, J.D.

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Pectinidae (Mollusca: Bivalvia) of the

501
PRELIMINAR STUDY OF COCHLIOPIDAE (GASTROPODA) FROM
SOLIMÕES FORMATION, NEOGENE OF WESTERN AMAZONIA
Lívia Isadora de Almeida Guimarães1,2 (lica2000@gmail.com), Maria Inês Feijó Ramos2 (mramos@museu-goeldi.br),
Luiz Ricardo Lopes de Simone3 (lrsimone@usp.br)
Universidade Federal do Pará (UFPA); 2Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG); 3Universidade de São Paulo (USP)
1

RESUMO Miocene, defined by Wesselingh & Ramos (2010)


as Pebas stage.
O estudo de gastrópodes neógenos da
Amazonia Ocidental brasileira, através da análise Mollusks represent one of the best studied
de amostras coletadas da perfuração 1AS-34-AM, groups of Western Amazonia Neogene, whose
às margens do rio Jutaí, estado do Amazonas pioneering paper was made by Gabb (1868).
(Brasil), permitiu o registro de três gêneros da In Brazil, studies with mollusks from neogene
família Cochliopidae: Dyris, Onobops e Tryonia. outcrops or boreholes are rare (e.g. Roxo, 1924,
Destes, Dyris é o mais abundante e diverso com 1937; Costa, 1979, 1980; Wesselingh & Ramos,
oito espécies identificadas preliminarmente, in press), comparing to other localities in Peru
seguido de Tryonia, com quatro espécies, e and Colombia. For this reason, this paper
Onobops com apenas uma espécie. aims contributions on the study of gastropods
from the Brazilian Neogene Amazonia to
Palavras-chave: Amazônia Ocidental,
clarify the evolution of mollusks and of the
Gastrópodes, Neógeno, Cochliopidae
paleoenvironments associated.

ABSTRACT MATERIAL AND METHODS


The study of neogene gastropods of
The material comprises 16 samples from
Brazilian Western Amazonia, through analyzes
core 1AS-34-AM (Figure 1), drilled on Jutaí
of samples collected from 1AS-34-AM, at Jutaí
riverbank,Amazonas state,Brazil (Maia,1977).The
riverbank, Amazonas state (Brazil), allowed
samples were collected following the lithological
the register of three genus belonging to family
and paleontological characteristics as well as their
Cochliopidae: Dyris, Onobops and Tryonia. The
storage condition. The following depth intervals
first one was the most diverse, with at least 8
were examined: 169.65m; 130.85m; 128.82m;
species preliminarily identified, followed by
124.87m; 122.49m; 121.09m; 115m; 115.3m;
Tryonia, with four species, and Onobops with just
113.8m; 113.1m; 98.6m; 95.38m; 91m; 88.71m;
one species.
86.72m; and 85.29m. Samples were processed
Keywords: Western Amazonia, Neogene, following the conventional micropaleontological
Gastropods, Cochliopidae techniques (~250g of dry sediment, mesh size
of sieves ≥ 250μm). Microfossils were extracted
INTRODUCTION under the binocular from the sieve residual, the
photographs were obtained by using SEM LEO
The Solimões Formation comprises 1450VP (Museu Paraense Emilio Goeldi, Belem,
neogene deposits of Western Amazonia in Para). The core samples were loaned by DNPM
Brazil and is correlated with Pebas Formation, in (8o Distrito, Manaus).
Peru and Colombia; and Curaray Formation, in
Ecuador (Wesselingh, 2006a).
The western Amazonia was, during RESULTS
Miocene, marked by different phases that exerted The study of gastropods in the analyzed
quite influence upon neogene Amazonian samples from 1AS-34-AM allowed the register
fauna and flora (Hoorn et al., 2010) These of the families Thiaridae and Cochliopidae,
processes contributed to the development of being the last one the most abundant and diverse
an endemic mollusk fauna, whose diversity (Figure 2 and 3). It is represented by 3 genera:
reached its maximum peak inside mega-wetland
environments between Early to early Late

502
Dyris Conrad 1871, Tryonia Stimpson 1865, and GABB, W.M. 1869. Descriptions of new species
Onobops Thompson 1968. of South Amarican fossils. American Jornal of
Among them, Dyris was the most diverse Conchology, 4: 197-200.
with eight species so far identified: D. gracilis
Conrad 1874, D. mattii Wesselingh 2006a, D. HOORN, C.; WESSELINGH, F.P.;
elongatus Wesselingh 2006a, D. hauxwelli Nuttall HOVIKOSKI, J. & GUERRERO, J. 2010.
1990, D. ariei Wesselingh 2006a, D. ortoni Gabb The development of the Amazonian mega-
1869, D. bicarinatus sofiaensis Wesselingh 2006a, wetland (Miocene; Brazil, Colombia, Peru,
D. hershleri Wesselingh 2006a. Other three species Bolívia) In: HOORN C. & WESSELINGH
remain in open nomenclature and will be subject F. (eds) Amazonia: Lanscape and species
of future papers. The species recognized to the evolution, a look into the past, Wiley-Blackwell
studied area have been recorded from outcrops of publications. p. 123-142.
Neogene Western Amazonia, in Colombia and
MAIA, R.G.; GODOY, H.K.; YAMAGUTI,
Peru (Nuttall, 1990; Wesselingh, 2006a).
H.S.; MOURA, P.A.; COSTA, F.S.;
The genus Tryonia is also abundant HOLANDA, A.M. & COSTA, J. 1977.
although it presents a lower diversity with 4 species Projeto de Carvão no Alto Solimões. Relatório
recognized. T. scalarioides scalarioides (Etheridge, Final. Rio de Janeiro, CPRM-DNPM, 137
1879) has been recorded to Peru, Colombia and p.
Brazil in deposits attributed to late Middle-early
Late Miocene (Wesselingh, 2006a). The other NUTTALL, C.P. 1990. A review of the Tertiary
three remain in open nomenclature, however it is non-marine molluscan faunas of the
quite possible that they belong to new species. Pebasian and other inland basins of north-
The genus Onobops is represented by only western South America. Bulletin of the
one species, whose identification is doubtfully British Museum of Natural History (Geology
in ?Onobops communis Wesselingh 2006. This series), 45: 165-371.
species was recorded to Middle-Early Middle
Miocene in many outcrops in Colombia and Peru ROXO, M.G.O. 1924. Breve noticea sobre os
(Wesselingh, 2006a). fosseis terciario do Alto Amazonas. Boletim
Serviço Geologico e Mineralogico do Brasil, 11:
41-52.
CONCLUSIONS
ROXO, M.G.O. 1937. Fósseis Pliocênicos do Rio
The present study allowed the register of
Juruá, Estado do Amazonas, Brasil. Notas
three genus, belonging to family Cochliopidae,
preliminares e Estudos do Serviço Geológico
in the 1AS-34-AM borehole of Solimoes
e Mineralógico do Brasil. Rio de Janeiro, 17:
Formation: Dyris, Tryonia and Onobops. Among
1-16.
these, Dyris is the most diverse and abundant,
with eight species. Tryonia was represented by WESSELINGH, F.P. 2006a. Molluscs from the
four species, and Onobops just by one species. Miocene Pebas Formation of Peruvian and
Colombian Amazonia. Scripta Geologica,
133: 19-290.
REFERENCES
COSTA, E.V. 1979. Gastrópodes cenozoicos do WESSELINGH, F.P. & RAMOS, M.I.F.
Alto Amazonas. Programa de pós-graduação 2010. Development of Amazonian aquatic
do Instituto de Geociências, Universidade invertebrate faunas (Mollusca, Ostracoda)
Federal do Rio Grande do Sul. Dissertação in the past 30 million years. In: HOORN
de Mestrado. 90p. C. & WESSELINGH F. (eds.). Amazonia
Landscape and Evolution. The Netherlands:
COSTA, E.V. 1980. Gastrópodes Cenozoicos Blackwell publishing, capitulo 18, p.302-316.
do Alto Amazonas (Estado do Amazonas),
Brasil. Anais Academia brasileira de Ciencias, WESSELINGH, F.P. & RAMOS, M.I.F. in press.
52: 867-891. Miocene Molluscs from Benjamin Constant.
(Amazonas, Brazil). Ameghiniana (accepted,
with no date for publishing).

503
Figure 1. Location of 1AS- 34-AM core at Amazonas State (Brazil).

Figure 2. Vertical section of 1 AS 34-AM, with occurrences of Dyris, Tryonia and Onobops.

504
Figure 3. Cochliopidae specimens here identified. 3.1: Dyris gracilis; 3.2: Dyris elongatus; 3.3: Dyris hauxwelli; 3.4: Dyris
mattii; 3.5: Dyris bicarinatus sofianensis; 3.6: Dyris ariei; 3.7: Dyris hershleri; 3.8: Dyris ortoni; 3.9: Tryonia scalarioides
scalarioides; 3.10: ? Onobops communis. Scales: A- 250μm; B: 500μm; C- 200μm; D- 500μm; F-G: 0,35cm; I-500 μm;
J- 500μm.

505
PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE BIVALVOS NA ASSOCIAÇÃO FOSSILÍFERA
DO PASSO DO SÃO BORJA, FORMAÇÃO IRATI, RIO GRANDE DO SUL
Bruno de Almeida Goetze1 (brunogoetze@gmail.com), Camile Urban1 (camile.urban@gmail.com),
Ana Karina Scomazzon1 (akscomazzon@yahoo.com.br), Karen Adami-Rodrigues1 (karen.adami@gmail.com),
Rafael Fernandes e Silva1 (rafaelfernandesesilva@hotmail.com)
1
Universidade Federal de Pelotas - CDTEC - NEPALE

RESUMO Nesta unidade estão preservados diversos


fósseis de sauropsidas, crustáceos, insetos, peixes,
Este trabalho aborda o registro fossilífero
anfíbios (Chahud, 2010), restos de vegetais,
do afloramento Passo do São Borja, próximo
icnofósseis e bivalvos. Constitui-se em um
a cidade de São Gabriel, RS. Os litotipos que
importante marco estratigráfico da Bacia do
afloram pertencem a Formação Irati, caracterizada
Paraná, devido a correlação biocronoestratigráfica
como um paleoambiente marinho controverso. O
estabelecida por fósseis de mesossauros com bacias
registro fóssil de bivalvos no afloramento pode
sedimentares do continente Africano (White,
fornecer novos indícios do paleoambiente, como
1908 apud Brito el al,. 1982) - reforçada por
paleobatimetria e salinidade, e possibilitar novas
maior detalhamento paleofaunístico (crustáceos),
inferências paleoecológicas, bioestratigráficas e
palinológicos e geoquímicos - e da América do
crono-correlações, contribuindo com a discussão
Sul, onde estão presentes no Brasil, Paraguai e
na comunidade científica e visando a reconstituição
Uruguai.
do Cisulariano da Bacia do Paraná.
De acordo comChahud (2010), esta
Palavras-chave: Irati, bivalvos, Permiano
formação também pode ter sua história
deposicional associada à Formação Pedra de Fogo
ABSTRACT da Bacia do Parnaíba, no estado do Maranhão,
onde correlações biocronoestratigráficas baseadas
This work concerns to the fossil record of
em Chondrichthyes foram propostas por
the Passo do São Borja outcrops, near the city of
Ragonha (1978), Silva Santos (1990) e Chahud
São Gabriel, RS. The lithotypes outcrop belongs
(2007), e são corroboradas por seu trabalho em
to Irati Formation, characterized as a controversial
paleovertebrados.
marine paleo-environment. The fossil record of
bivalves in this outcrop could provide new paleo- O presente trabalho faz o primeiro
environment evidence, such as paleobathymetry registro da ocorrência de bivalvos na assembleia
e salinite, and allow new paleoecologic, fossilífera do afloramento Passo do São Borja, que
biostratigraphic and chronocorrelations integra o conteúdo geológico da Formação Irati.
inferences, contributing with the discussion in Estes dados visam ampliar o conhecimento acerca
the scientific community and aiming the Permian do Cisulariano desta bacia e permitir maiores
reconstitution of the Paraná Basin Cisularian. inferências paleoecológicas e biocronocorrelações,
além de fomentar as discussões com a
Keywords: Irati, bivalves, Permian comunidade científica, adicionando contribuições
a reconstituição do paleoambiente em projetos
INTRODUÇÃO desenvolvidos pelos autores.
Segundo Milani et al. (2007) o registro
estratigráfico da Bacia do Paraná compreende MATERIAIS E MÉTODOS
um depósito sedimentar-magmático que totaliza
A Bacia do Paraná representa uma
aproximadamente sete mil metros de espessura.
extensa área sedimentar da América do Sul a qual
Esta bacia é dividida em seis unidades de
compreende Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai,
ampla escala ou Supersequências. A Formação
representando uma área de aproximadamente
Irati, objeto de estudo desta pesquisa, está
1.500.000 km² de extensão. A Formação Irati –
inserida na Supersequência Gondwana I, e é
Grupo Passa Dois, é subdivida em dois membros:
cronoestratigraficamente situada no Permiano,
Taquaral e Assistência, que apresentam contato
andar Artinskiano (Santos et al., 2006).
concordante. O contato com a Formação Serra

506
Alta, sobrejacente, e com a Formação Palermo, impressões de bivalvos, asa de inseto e lenhos
subjacente, é geralmente transicional. As litologias (Figura 6). A mineralogia que predomina é
que predominam na porção norte da Formação calcítica (forte reação ao HCl proporção 10:1) e
Irati são carbonatos e evaporitos, na porção sul é pequenas porções de micáceos e clásticos. Este é
são folhelhos betuminosos (Milani et al., 2007). classificado como conglomerado carbonático.
O afloramento Passo do São Borja (Figura
1), localizado nas coordenadas UTM zona 21J
leste 719211 m e sul 6628087 m, está situado na RESULTADOS
margem do rio Santa Maria, a oeste do município Os estratos de folhelhos são indicativos de
de São Gabriel, no estado do Rio Grande do Sul. ambiente transicional, e os estratos carbonáticos
Na localidade ocorrem rochas sedimentares com aqui descritos, de ambiente marinho calmo a
estratificação plano-paralela, onde os estratos depósitos de alta energia - ambiente este capaz de
apresentam 2 centímetros a 1 metro de espessura. transportar um tronco com grandes dimensões -,
Os litotipos são compostos por folhelhos as lentes de argilito estão possivelmente associadas
betuminosos e não betuminosos, arenitos, a drenagem continental.
siltitos, argilitos e conglomerados carbonáticos, A assembleia fóssil desta camada é
empilhados em uma sucessão vertical de 8 metros classicamente destacada pela presença da
e extensão horizontal de dezenas de metros em paleofauna de messossauros, crustáceos, insetos
exposição ao longo da margem do rio. e paleoflora de lenhos. É proposta a ampliação
Em levantamento de campo no do registro fóssil da assembleia descrita para o
afloramento foram coletadas amostras da camada afloramento com a inclusão do táxon bivalvo, por
fossilífera (identificada com seta na Figura 2), as enquanto indeterminado. Devido a intensidade dos
quais foram descritas em laboratório, utilizando processos diagenéticos e tafonômicos, alto grau de
imagens macroscópicas capturadas por câmera coesão da matriz sedimentar e soterramento em
Sony, modelo DSC-H2, e imagens microscópicas ambiente de alta energia, os vestígios encontrados
com auxílio do estereoscópio Meiji, modelo apresentam elevada deformação e retrabalho, o
EMZ-13TR, e câmera Casio, modelo EX-Z100. que dificulta a identificação de gênero. Os fósseis
A amostra LNPP450 (Figura 3) apresenta e litotipos estudados indicam possibilidade de
granulação de argila a cascalho dispostos em ocorrência de diferentes tanatocenoses.
laminações milimétricas (1 a 5 mm) a centimétricas
(1 a 10 cm). Alternam-se em níveis estratificados
plano-paralelos. Os níveis milimétricos são de CONCLUSÕES
granulometria argila a areia fina, com gradação A correlação bioestratigráfica com
normal e inversa, grãos bem selecionados, as formações africanas Huab e Whitehill,
arredondados e maturos texturalmente. A esclarece algumas informações a respeito desta
mineralogia que predomina é calcítica (forte configuração paleogeográfica da bacia, como
reação a HCl proporção 10:1) com pequenas extensão bastante ampla do depocentro, da
proporções de minerais micáceos, clásticos e ordem de milhares de quilômetros quadrados. A
delgadas lentes constituídas predominantemente correlação bioestratigráfica com a formação Pedra
por bioclastos imbricados, possivelmente conchas de Fogo pode ser um indicativo de um canal
de bivalvos e carapaças de crustáceos tamanho estreito interligando as bacias por via continental
areia (Figura 4). Estes níveis são classificados (Chahud 2010), possivelmente em uma fase
como siltitos e argilitos carbonáticos. Os níveis inicial do depósito.
centimétricos são suportados pela matriz, de grãos O registro geológico aponta para uma
tamanhosilte e areia grossa de coloração amarelo sucessão de ambientes deposicionais em meio
ocre, e arcabouço tamanho grânulo a bloco, com aquoso, de energia e profundidade da lâmina
seleção muito pobre, angulosa e imatura. Este é d’água bastante variada. As condições de salinidade
composto por fragmentos de bioclastos de 2 mm podem ser bastante variáveis e discutíveis para esse
a 12 cm de tamanho, e fragmentos angulosos de ambiente aquoso, principalmente no que tangem
rocha sedimentar estratificada de até 18 cm de a sua distribuição paleogeográfica (caracterização
comprimento e 10 cm de largura. São identificados do corpo d’água, comunicação com o mar aberto,
fósseis de mesossauros desarticulados, carapaças influência de rios e ligação com outras bacias
de crustáceos transportados e in situ (Figura 5), deposicionais contemporâneas) e é onde os autores

507
estudam uma investigação estratigráfica de alta L.M. 2006. Shrimp U–Pb zircon dating
resolução para as diferentes localidades do Irati, and palynology of bentonitic layers from
numa abordagem paleofaunística, identificando the Permian Irati Formation, Paraná Basin,
as superfícies de inundação máxima e distribuição Brazil.GondwanaResearch9:456-463
geográfica dos eventos.
CHAHUD, A. & PETRI, S. 2010. O tubarão
Taquaralodusalbuquerquei (SILVA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SANTOS, 1946) do Membro Taquaral
(Permiano, Formação Irati) no Estado de
MILANI, E.J; MELO, J.H.G; SOUZA,
São Paulo. Acta Biol. Par. 39(1-2):1-17
P.A; FERNANDES, L.A & FRANÇA,
A.B. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de BRITO, I.M & BERTINI, R.J. 1982. Estatigrafia
Geociências Petrobras 15(2):265-287 da Bacia do Paraná – III O Grupo Passa
Dois. Anais da Academia Brasileira de
SANTOS, R.V.; SOUZA, P.A.; ALVARENGA,
C.J.S.; DANTAS, E.L.; PIMENTEL, Ciências 54(2): 56-81
M.M.; OLIVEIRA, C.G. & ARAÚJO,

Figura 1. Mapa de afloramentos da Formação Irati nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina com localização
do afloramento estudado (assinalado no centro do mapa), (modificado de Soares 2003). Figura 2. Foto com visão geral
do afloramento e destaque camada que contém a assembleia fóssil do Passo do São Borja. Figura 3. Amostra coletada
LNPP450.

Figura 4. Fotomicrografia detalhando bioclastos imbricados. Figura 5. Foto de crustáceo in situ. Figura 6. Lenhos e
fragmentos fóssil de mesossauro.

508
PRIMEIRA OCORRÊNCIA DO CORAL ESCLERACTÍNEO DO GÊNERO
SIDERASTREA NO CRETÁCEO BRASILEIRO (APTIANO/ALBIANO
DA FORMAÇÃO RIACHUELO/SUB-BACIA DE SERGIPE)
Grace B. C. Mascarenhas1 (gracemascarenhas@yahoo.com.br), Zelinda M. A. N. Leão1 (zelinda@ufba.br),
Wagner Souza Lima2 (wagnerl@hotmail.com)
CPGG/IGEO/UFBA; 2Fundação Paleontológica Phoenix
1

RESUMO (Fernandes, 2001). Os corais zooxantelados são


excelentes bioindicadores contribuindo, de forma
Exemplares do coral zooxantelado do gênero
significativa, nas reconstituições peleoambientais.
Siderastrea foram identificados em afloramentos
Sua presença é um bom indicativo de um ambiente
da Formação Riachuelo nos Membros Angico
exclusivamente marinho, de águas claras e pouco
e Maruim. As colônias apresentam-se de forma
profundas.
maciça e/ou incrustante. Estes corais auxiliam
na reconstituição do paleoambiente da formação O objetivo desse trabalho é a identificação,
Riachuelo, podendo-se inferir que o antigo mar de classificação e a descrição destes corais fósseis
Sergipe possuía uma porção constituída por águas presentes na Formação Riachuelo.
quentes e rasas, típicas de um ambiente tropical
com uma possível bioconstrução carbonática ÁREA DE ESTUDO
recifal.
A sub-bacia de Sergipe faz parte da bacia
Palavras-chave: Siderastrea, Cretáceo, Sergipe-Alagoas, a qual está situada na costa
paleoecologia leste da região Nordeste do Brasil (Figura 1), e
está localizada entre as sub-bacias de Alagoas
ABSTRACT e do Jacuípe (Souza-Lima, 2001). Sua seção
marinha é composta pela Formação Calumbi
Specimens of a zooxanthellae coral of the
(pós-Coniaciano), Formação Cotinguiba
genus Siderastrea were identified in outcrops of the
(Cenomaniano-Coniaciano) e pela Formação
Riachuelo Formation in the Maruim and Angico
Riachuelo (Aptiano-Albiano). A sub-bacia de
Members. The colonies had massive and/or
Sergipe foi originada durante a abertura do oceano
incrusting forms. These corals help to reconstruct
Atlântico Sul. A Formação Riachuelo (Aptiano/
the paleoenvironment of the Riachuelo Formation,
Albiano) constitui a unidade estratigráfica inferior
which could infer that the ancient Sergipe Sea
da sequência marinha franca.
had a portion consisting of warm, shallow waters,
typical of a tropical environment with a possible
carbonate reef construction. MATERIAIS E MÉTODOS
Keywords: Siderastrea, Cretaceous, O material estudado corresponde a
paleoecology exemplares de corais da coleção paleontológica
da Fundação Paleontológica Phoenix, Aracaju –
INTRODUÇÃO Sergipe. A identificação dos exemplares foi feita
através do estudo das estruturas morfológicas
Os corais escleractíneos apresentam-se em
dos espécimes de acordo com Bengtson (1983).
dois grupos ecológicos: os corais zooxantelados
Trabalhos mais específicos foram consultados,
que possuem algas simbiontes (zooxantelas), e
para auxiliar a classificação, a exemplo de Vaughan
os azooxantelados, sem estas algas. As espécies
& Wells (1943) e Laborel (1969).
zooxanteladas caracterizam-se por possuírem
corallum arborescente submaciço ou incrustante,
restringem-se às águas tropicais rasas e temperaturas
máximas variando entre 25°C e 29°C, já as espécies
azooxanteladas apresentam corallum reduzido

509
RESULTADOS E DISCUSSÕES 30 cm de diâmetro. Comparando as descrições dos
espécimes fósseis estudados com as descrições das
Sistemática: formas viventes, os corais do gênero Siderastrea
Filo Cnidaria; Classe Anthozoa da Formação Riachuelo podem representar
Ehrenberg, 1834; Subclasse Hexacorallia uma fácies recifal de águas rasas (profundidades
Haeckel 1896; Ordem Scleractinia Bourne, inferiores a 30 m), em analogia com as formas
1900; Subordem Fungiina Verrill, 1865; Família atuais dos corais que habitam os bancos recifais
Siderastreiidae Koby, 1890; Gênero Siderastrea submersos da plataforma continental brasileira.
Blainville, 1830 (Figura 2).
Diagnose do gênero: Coral apresentando
colônia maciça e/ou incrustante, corallum cerióide;
CONCLUSÕES
coralitos bem definidos, formato sinapticular. Nas amostras estudadas foram
Seus cálices medem de 3 a 5 mm de diâmetro, identificados 15 exemplares pertencentes ao
com aproximadamente 23 septos. A colônia do gênero Siderastrea. Corais zooxantelados, que
exemplar CFZ-01-17 mede 30 cm de diâmetro, indicam para a Formação Riachuelo a presença de
as colônias dos demais exemplares são pequenas recifes coralinos. Os Membros Angico e Maruim
medindo de 3 a 6 cm. representam, assim, ambientes rasos, onde
construções recifais do coral Siderastrea formam
Material estudado: “patch-reefs” nas porções interna e média de uma
rampa carbonática.
Exemplares: CFZ-01-01 a 03; CFZ-01-
05; CFZ-01-08; CFZ-01-09; CFZ-01-11; CFZ-
01-17; MSJ-01-01; MSJ-01-02; MSJ-01-03; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MSJ-01-06; MSJ-01-08 a 12; MSJ-01-15; MSJ-
BENGTSON, P. 1983. The Cenomanian-
01-17; MSJ-01-18; ES-02-11; PB-02-1032.
Coniacian of Sergipe Basin, Brasil. Fossils
and strata, 12: 1-78.
Ocorrência:
Este coral surgiu no Cretáceo e é FERNANDES, A.C.S. 2001. Os Fósseis da Bacia
encontrado até os dias atuais, está presente nos de Sergipe-Alagoas: Os Corais e demais
depósitos cretáceos do mar de Tethys e no Eoceno Cnidários. Phoenix, 25: 1-2.
do Caribe. Ocorre também no Mar Vermelho e
nas ilhas Filipinas (Laborel, 1969; Leão, 1986; LABOREL, J.L. 1969. Madreporaires et
Veron, 1995; Vaughan & Wells, 1943). No hydrocoralliaires recifaux des côtes
Cretáceo brasileiro este é o primeiro registro brésiliennes. Systematique, ecologie,
do gênero, na Sub-bacia de Sergipe, Formação repartition verticale et geographie. Annales
Riachuelo (Albiano). Nos recifes atuais este de l’Institut Oceanographique, Paris, 47:
gênero é encontrado em toda a costa tropical do 171-229.
Brasil, nas ilhas de Fernando de Noronha e no
Atol das Rocas. Desaparecem completamente LEÃO, Z.M.A.N. 1986. Guia para identificação
em Cabo Frio, Rio de Janeiro. Além da espécie dos corais do Brasil. Programa de Pesquisa
Siderastrea stellata, a primeira registrada nos recifes e Pós-Graduação em Geofísica. Instituto de
brasileiros, Neves (2004) registrou a ocorrência Geociências, Universidade Federal da Bahia,
de mais duas espécies de corais pertencentes ao Salvador, Bahia, Brasil. 57 p.
gênero Siderastrea no Brasil, a espécie S. radians
NEVES, G.E. 2004. The occurrence of Siderastrea
Pallas, 1766 e a espécie S. siderea Ellis & Solander,
species (Scleractinia, Anthozoa) in Brazil.
1786.
Abstract of the 10th International Coral reef
Os corais do gênero Siderastrea Symposium. Okinawa, Japan 1: 300.
identificados nos registros fósseis da sub-bacia
de Sergipe formam bioconstruções com colônias SOUZA-LIMA, W. 2001. Macrofaunas
maciças e/ou incrustantes com dimensões de até campanianas e ambientes deposicionais

510
da Formação Calumbi, Bacia de Sergipe- Scleractinia. Geological Society of America,
Alagoas, Brasil. Instituto de Geociências, Special Papers, 44: 360.
Programa de Pós-Graduação em Geologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio VERON, J. 1995. Corals in space and time:
de Janeiro, Tese de Doutorado, 366 p. The biogeography and evolution of the
Scleractinia. UNSW Press, Sydney, 321 p.
VAUGHAN, T.W. & Wells, J.W. 1943. Revision
of the subordens families, and genera of the

Figura 1. Mapa de localização da Sub-bacia de Sergipe.

511
Figura 2. A, bioconstrução de coral hermatípico do gênero Siderastrea (CFZ-01-17); B, detalhe da colônia do mesmo
exemplar; C, colônia pequena incrustante do coral Siderastrea (MSJ-01-17); D, desenho esquemático da colônia (MSJ-01-
11); E, desenho esquemático de parte da colônia (MSJ-01-17) e F, desenho esquemático da colônia inteira do exemplar
(PR-10-17).

512
PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE ICNOFÓSSEIS DA FORMAÇÃO
PIMENTEIRA, BACIA DO PARNAÍBA, NO ESTADO DO
CEARÁ: I- CACHOEIRA DO ENGENHO VELHO
Maria de Jesus Gomes de Sousa¹ (marryesousa@yahoo.com.br), Sérgio Augusto Santos Xavier² (sergio.s.xavier@hotmail.com),
Maria Somália Sales Viana² (somalia_viana@hotmail.com), Francisco Rony Gomes Barroso³ (ronybarroso@hotmail.com),
Thiago de Albuquerque Lima² (thiago.albuquerquelima@hotmail.com)
¹Bióloga autônoma; ²Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA; ³Universidade Federal de Pernambuco

RESUMO with traces of benthonic invertebrates in shallow


sea environment with reasonable oxygenation.
Este trabalho apresenta a primeira parte
do estudo realizado com descoberta inédita de Keywords: ichnofossil, Devonian,
icnofósseis do Grupo Canindé (Devoniano da Parnaíba Basin, Ceará
Bacia do Parnaíba) para o Estado do Ceará, no
Município de Viçosa do Ceará. Os exemplares INTRODUÇÃO
foram coletados na cachoeira do Engenho Velho
No extremo oeste do Ceará, aflora uma
e depositados na coleção científica do Museu
estreita faixa da Formação Pimenteira do Grupo
Dom José, em Sobral-Ce. Dos 18 espécimes
Canindé, pertencente à Seqüência Devoniana da
analisados, foram identificados oito icnogêneros
Bacia do Parnaíba (Santos & Carvalho, 2009).
(sendo metade novas ocorrências para a Formação
Essa unidade é composta predominantemente de
Pimenteira - sublinhados): Arenicolites Salter,
folhelhos cinza-escuros a pretos, esverdeados e em
1857; Arthrophycus Hall, 1852; ConichnusMyannil,
parte bioturbados com intercalações de siltitos e
1966; Cruziana d`Orbigny, 1842; Lockeia James,
arenitos depositados em ambiente de plataforma
1879; MonocraterionTorell, 1870; Neoskolithos(?)
rasa, dominado por tempestades; repousa sobre
Kegel, 1966 e Thalassinoides Ehrenberg, 1944.
folhelhos da Formação Itaim, passa lateralmente
A icnocenose é compatível com traços de
e é recoberta pelos arenitos da Formação Cabeças
invertebrados bentônicos em ambiente de mar
(Vaz et al., 2007).
raso com razoável oxigenação.
Agostinho (1999 e 2005) estudou os
Palavras-chave: icnofóssil, Devoniano,
icnofósseis da Formação Pimenteira no Estado
Bacia do Parnaíba, Ceará
do Piauí, não havendo até então nenhum registro
deste grupo para o Estado do Ceará. Este trabalho
ABSTRACT mostra os primeiros achados de icnofósseis desta
This paper shows the first part of the unidade, encontrados no Município de Viçosa do
study made with the inedit discovery of trace Ceará, no leito do Rio Pirangi e apresentados em
fossils at the Canindé Group (Devonian of the duas etapas de estudo, correspondentes às duas
Parnaíba Basin) for the State of Ceará, in the localidades: I. Cachoeira do Engenho Velho e II.
municipality of Viçosa do Ceará. The specimens Cachoeira Pirapora.
were collected in Engenho Velho waterfall and
are deposited in the scientific collection of the METODOLOGIA
Dom Jose Museum, in Sobral-Ce. 18 specimens
O material observado nesta etapa de
were analyzed, includind eight ichnogenus (half
estudo ocorre em afloramentos na cachoeira do
of them is new occurences for the Pimenteira
Engenho Velho (3º32’ 36”S/41º23’W), distante
Formation - underlined): Arenicolites Salter,
cerca de 35 km da sede do Município de Viçosa do
1857; Arthrophycus Hall, 1852; Conichnus
Ceará. Poucos exemplares puderam ser coletados
Myannil, 1966; Cruziana d `Orbigny, 1842,
(17 espécimes) devido estarem em patamares
Lockeia James, 1879; MonocraterionTorell, 1870;
rochosos muito endurecidos que, quando
Neoskolithos (?) Kegel, 1966 and Thalassinoides
quebrados, poderiam comprometer a integridade
Ehrenberg, 1944. The icnocenosis is compatible
do fóssil. Os espécimes foram incorporados ao

513
acervo do Museu Dom José (MDJ), instituição CONCLUSÕES
mantida pela Universidade Estadual Vale do
Com a pesquisa pode-se concluir que: 1. O
Acaraú (UVA), onde foram analisados, medidos,
conteúdo paleontológico da região é abundante e
descritos e identificados no Laboratório de
diversificado em icnofósseis, mas sem a ocorrência
Paleontologia (LABOPALEO/MDJ/UVA). A
de fósseis corporais; 2.
identificação baseou-se em anatomia comparada
As rochas e seus icnofósseis indicam
na literatura especializada (Frey & Pemberton,
ambiente de deposição em mar raso proximal
1984; Bromley, 1996; Nogueira et al., 1999;
com razoável oxigenação a qual permitia a
Netto, 2001; Fernandes et al., 2002; Netto et al.,
abundância de invertebrados bentônicos, que
2002; Buatois et al., 2002; Rindsberg& Martin,
apresentavam relacionamento com o substrato
2003; Carvalho et al., 2003; Brandt et al., 2010).
arenoso, onde deixaram seus rastros; 3. As
A classificação etológica foi fundamentada
constantes descobertas de novos icnogêneros na
nos padrões comportamentais refletidos pelo
área atestam a importância da pesquisa sobre
icnogênero, de acordo com a morfologia do
icnologia no Estado do Ceará; 4. Além das
organismo gerador.
novas ocorrências de icnofósseis no Ceará, foram
encontrados também novos icnogêneros para a
RESULTADOS Formação Pimenteira: Arthrophycus, Conichnus,
Dos 18 espécimes analisados, foram Monocraterion e Thalassinoides.
identificados oito icnogêneros (Fig. 1) compatíveis
com traços de invertebrados bentônicos em REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ambiente de mar raso: ArenicolitesSalter, 1857
(MDJ/Ic-053); Arthrophycus Hall, 1852 (MDJ/ AGOSTINHO, S.M. 1999. Icnofósseis da
Ic-049 e 050); Conichnus Myannil, 1966 (MDJ/ Formação Pimenteira, Devoniano da Bacia
Ic-055-058, MDJ/Ic-062-065); Cruziana do Parnaíba, Município de Pimenteiras,
d`Orbigny, 1842 (amostra descrita in situ); Lockeia Piauí. Pós-Graduação em Geociências,
James, 1879 (MDJ/Ic-060); Monocraterion Torell, Universidade Federal de Pernambuco,
1870 (MDJ/Ic-054a-d); Neoskolithos(?) Kegel, Dissertação de Mestrado, 46p.
1966 (MDJ/Ic-052; MDJ/Ic-059; MDJ/Ic-066);
AGOSTINHO, S.M. 2005. Revisão sistemática
e Thalassinoides Ehrenberg, 1944 (MDJ/Ic-051).
de Icnofósseis da Formação Pimenteira,
A maioria dos traços representa estruturas de
Devoniano da Bacia do Parnaíba, no Estado
habitação ou alimentação, sugerindo ambiente
do Piauí. Programa de Pós-Graduação em
rico em nutrientes e com boa oxigenação.
Geologia, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Tese de Doutorado, 123p.
AGRADECIMENTOS
BRANDT, D.; SEITZ, M.; MCCOY,
Agradecemos à Universidade Estadual
V.; CSONKA, J.; BARRINGER, J.;
Vale do Acaraú-UVA pelo auxílio com o
HOLMQUIST, E.; KRAIG, S.; MORGAN,
transporte; ao Museu Dom José pela infra-
R.; MYERS, J. & PAQUETTE, L. 2010. A
estrutura básica da pesquisa; às várias pessoas que
New Ichnospecies of Arthrophycus from
nos ajudaram nos trabalhos de campo como o
the Late Carboniferous (Pennsylvanian) of
Biólogo Henrique Ricardo Sousa Ziegler que nos
Michighan, USA.Ichnos, 17(1):12-19.
apresentou os afloramentos icnofossilíferos e foi
nosso guia; ao Msc. Paulo Victor de Oliveira; aos BROMLEY, R.G. 1996. Trace fossils. Biology,
estagiários do Laboratório de Paleontologia da taphonomy and applications.1ªed. Londres,
UVA: Thiago de Albuquerque Lima, Robbysson Chapman & Hall, 361 p.
Mendes Melo, Vanessa Ávila Vasconcelos e Gina
Cardoso de Oliveira; aos professores da UVA, BUATOIS, L.A., MÁNGANO, M.G. &
Dr. Elnatan Bezerra de Souza e Msc. Hermeson ACEÑOLAZA, F.G. 2002.Trazasfósiles:
Cassiano de Oliveira. señales de comportamientoenel registro

514
estratigráfico. 1ªed. Rio de Janeiro, Editora SANTOS, M.E.C.M. & CARVALHO, M.S.S.
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515
Figura 1. Amostras contendo os seguintes icnogêneros: Arenicolites (A) – F 1.1 e F 1.4; Arthrophycus – F 1.2; Conichnus
(Co) – F 1.3 e F 1.5; Cruziana (C) – F 1.4; Lockeia (L) – F 1.1; Monocraterion (Mo) – F 1.5; Neoskolithos(?) – F 1.6;
Thalassinoides – F 1.7. Traço mede 3cm.

516
SYSTEMATIC REVISION AND PROVINCIAL AFFINITIES OF THE RIO
DA AREIA BIVALVE FAUNA, RIO DO SUL FORMATION (ITARARÉ
GROUP, LOWER PERMIAN): SOME PRELIMINARY RESULTS
Jacqueline Peixoto Neves¹ (nevesjp.unesp@gmail.com), Marcello Guimarães Simões¹ (btsimoes@ibb.unesp.br),
Luiz Eduardo Anelli² (anelli@usp.br)
¹Universidade Estadual Paulista, IGCE-UNESP/Rio Claro e Universidade Estadual Paulista, IBB-UNESP/Botucatu; ²Universidade de
São Paulo, Instituto de Geociências -São Paulo

ABSTRACT podem ser contemporâneas, mas não apresentam


espécies em comum. De fato, Eurydesma e outros
The Rio da Areia bivalve fauna at the top of
elementos conspícuos da Formação Bonete ainda
the Rio do Sul Formation, Itararé Group, Teixeira
não foram registrados na Formação Rio do Sul.
Soares Municipality, Paraná State, is here revised.
At least seven species were tentatively identified: Palavras-chave: Bivalve, Sistemática,
Volsellina sp., Pleurophorella sp., Leptodesma Permiano
(Leptodesma) sp., Selenimyalina? sp., Myalina
(Myalinella) sp., Atomodesma (Aphanaia) sp., and INTRODUCTION
Aviculopecten (or Hillaepecten) multiscalptus. This
Contrary to Argentina, where thick Lower
bivalve fauna shows general affinities with those of
Carboniferous up to Permian sequences yield
the Amotape Mountains, Tarma Group, Middle
abundant fossiliferous occurrences (González &
Pennsylvanian, Peru, and the Bonete Formation,
Saraíva, 2010; Pagani & Taboada, 2010), coeval
Sauce Grande Basin, Lower Permian, eastern
assemblages in the Brazilian portion of the huge,
Argentina. However, even though these basins are
intracratonic Paraná Basin are rare and poorly
very close, our results demonstrate that there are
diversified (Rocha-Campos & Rösler, 1978;
no evidences of marine connection between them.
Simões et al., 1998). In the last decade, various
Hence, the faunas may be contemporaneous
papers on the marine invertebrate faunas of
but do not have species in common. Indeed,
the Gondwana succession of Argentina were
Eurydesma and other conspicuous members of
published. Thus, there were recent advances in
the Bonete Formation were not recorded in the
our understandings of the paleobiogeography
Rio do Sul Formation yet.
and biostratigraphy of those faunas with
Keywords: Bivalve, Systematic, Permian obvious biostratigraphic and paleobiogographic
implications (see Pagani and Taboada, 2010).
RESUMO Despite of this, the use of the Late Paleozoic
marine invertebrate faunas of South America
A fauna de bivalves do topo da Formação
to regional scale correlations, especially among
Rio do Sul, Grupo Itararé, Teixeira Soares, Paraná,
the records of the intraplate basins (i.e., Paraná,
é aqui revisada. Até o momento, sete espécies
Chaco-Paraná, Sauce Grande-Colorado basins)
foram tentativamente identificadas: Volsellina
is limited, since many of the Brazilian faunas
sp., Pleurophorella sp., Leptodesma (Leptodesma)
remain undescribed and/or poorly described or
sp., Selenimyalina? sp., Myalina (Myalinella)
illustrated. Among those faunas, the assemblages
sp., Atomodesma (Aphanaia) sp., e Aviculopecten
of “Rio da Areia” sandstone, “Baitaca” siltstone, and
(ou Hillaepecten) multiscalptus. A fauna mostra
“Passinho” shale, all informal names (see Simões
afinidades com as das Montanhas Amotape,
et al., 1998), in the upper most portion of the
Grupo Tarma, Pensilvaniano Médio, Peru, e da
Itararé Group are of particular interest to regional
Formação Bonete, Bacia Sauce Grande, Permiano
correlations. These assemblages are associated
Inferior, leste da Argentina. Entretanto, mesmo
to a short transgressive-regressive episode at
havendo grande proximidade entre essas bacias,
the end of the Late Paleozoic glaciation in the
os resultados demonstram que não há evidências
Paraná Basin (Simões et al., 1998), recording the
de conexão marinha entre elas. Portanto, as faunas
first appearance of typical Gondwanan marine

517
bivalves in the basin (Rocha-Campos and Rösler, RESULTS
1978; Simões et al., 1998).
Table 1, below, summarizes the results
gathered by our taxonomic study and provides
AIMS AND SCOPE an overview of the taxonomic names applied
Although known since the pioneer to the bivalves by distinct authors. At least
work of Lange (1944), the bivalves assemblages seven species were recorded, three of them
mentioned above were poorly studied and a high [Volsellina sp., Pleurophorella sp., Leptodesma
number of undescribed/unidentified species (Leptodesma) sp.] may be new. The other species
exist in the literature. In reality, since Rocha- are Selenimyalina? sp., Myalina (Myalinella) sp.,
Campos (1969) most of data available appears Atomodesma (Aphanaia) sp., and Aviculopecten
only in taxonomic check-lists (i.e., Rocha- (or Hillaepecten) multiscalptus. The fauna is
Campos and Rösler, 1978). Therefore, the aim dominated by epifaunal, sessile, suspension
of the present contribution is threefold: first, to feeding Pterioida bivalves, with subordinated
describe the fauna of “Rio da Areia” sandstone infaunal, shallow burrower anomalodesmatans.
of the Rio do Sul Formation; second, to add
new palaeobiogeographic and biostratigraphic CONCLUSION
information to Late Paleozoic bivalves of western
Rocha-Campos (1969) and Rocha-
Gondwana, and third, to encourage colleagues
Campos and Rösler (1978) compared the Rio da
working in the Itararé Group in different areas of
Areia fauna with those of the Bonete Formation
Paraná Basin, to collect further material or search
of eastern Argentina. Although these faunas
for new occurrences.
may be contemporaneous, none species in
common are shared. In other words, despite the
GEOLOGICAL SETTING AND close proximity of both basins the presence of
MATERIAL AND METHODS conspicuous members of the Bonete Formation
(e.g., Eurydesma and others) was not recorded in
The fossil material amassed in two
the Permian succession of the Paraná Basin yet
Brazilian public scientific collections, namely
(see also González and Saravia, 2010).
(a) Institute of Geosciences/USP, São Paulo,
SP, and (b) Institute of Biosciences, São Paulo
State University-IBB/UNESP, Botucatu, SP, is REFERENCES
herein analyzed. Additionally, new fossils were
BEURLEN,K.1954.As faunas de Lamilibrânquios
collected by the authors during the 2010 (IBB-
do Sistema Gondwânico no Paraná. In:
UNESP/IGc-USP) exploring expedition into
LANGE, F.W. (ed.). Paleontologia do
Teixeira Soares region, Paraná State. The main
Paraná – Volume Comemorativo do 1o
locality explored was the Rio da Areia fossil site
Centenário do Estado do Paraná, Curitiba,
(50˚23`24``W, 25˚27`49``S), 14 km SE from
PR, p.107-136.
Teixeira Soares, and just along the Rio da Areia
stream margins (Fig. 1). This is the same locality GONZÁLEZ, C.R. & DÍAZ SARAVIA, P. 2010.
where the geologist F.W. Lange found the marine Bimodal character of the Late Paleozoic
fauna, in 1944. The fauna is recorded in a 2 meters glaciations in Argentina and bipolarity
thick sandy interval at the top of the Rio do Sul of climatic changes. Palaeogeography,
Formation. The fossil-bearing sandstone beds are Palaeoclimatology, Palaeoecology, 298
transitionally succeeded by siltstones and shales, (2010) 101–111.
indicating a transgressive event. Most of the shells
are represented by internal and external moulds LANGE, F.W. 1944. Novas localidades fossilíferas
and then latex casts, plus plasticine moulds were da Série Itararé no Estado do Paraná. Anais
prepared for all shells. da Academina Brasileira de Ciências, 16(4):
279-280.

518
PAGANI, M.A. & TABOADA, A.C. ROCHA-CAMPOS, A.C. & RÖSLER, O.
2010. The marine upper Palaeozoic in 1978. Late Paleozoic faunal and floral
Patagonia (Tepuel–Genoa Basin, Chubut successions in the Paraná Basin, southern
Province, Argentina): 85 years of work Brazil. Boletim IG-USP, 9:1-16.
and future prospects. Palaeogeography,
Palaeoclimatology, Palaeoecology 298: 130– SIMOES, M. G.; ROCHA-CAMPOS, A. C.
151. & ANELLI, L. E. 1998. Paleoecology and
evolution of Permian bivalve faunas (Paraná
ROCHA-CAMPOS, A.C. 1969. Moluscos e Basin) In Brazil. In: JOHNSTON, P.A. &
braquiópodes Eogondvânicos do Brasil e HAGGART, J.W. (Org.). Bivalves - An
Argentina. São Paulo. Universidade de São Eon of evolution - paleobiological studies
Paulo. 158p. Tese de Livre-Docência. honoring Norman D. Newell. 1 ed. Canada:
Calgary University Press, p. 443-452.

Figure 1. Location map of the study area in the Teixeira Soares Municipality, Paraná State, Brazil.

519
Table 1. Taxonomic composition of Rio da Areia sandstone fauna, Rio do Sul Formation.

520
THE IMPORTANCE OF ITABORAÍ BASIN (PALEOCENE) AS THE HOME
TO EARLY RECORDS OF MANY PULMONATE SNAIL FAMILIES
Rodrigo Brincalepe Salvador¹ (salvador.rodrigo.b@gmail.com), Luiz Ricardo Lopes de Simone¹ (lrsimone@usp.br)
¹Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia (MZUSP)

RESUMO INTRODUCTION
Os calcários da Bacia de Itaboraí The limestone formation of the Itaboraí
(Paleoceno Médio a Superior), Rio de Janeiro, Basin at São José de Itaboraí, Rio de Janeiro,
Brasil, são famosos por sua abundante fauna Brazil, is better known by its abundant mammalian
de mamíferos, mas também possuem uma rica fauna (Bergqvist et al., 2006). However, this tiny
fauna de 17 espécies de gastrópodes pulmonados. basin also harbors a rich fauna of well-preserved
Os registros fósseis mais antigos das famílias pulmonate snails: 18 species have been described
Orthalicidae e Strophocheilidae são de Itaboraí. to date, mainly in Bulimulidae/Orthalicidae
Cerionidae, Clausiliidae, Ellobiidae e Urocoptidae (Fig. 1; Simone & Mezzalira, 1994). Following
não possuem representantes vivos que chegam tão mammal correlations, the Itaboraí limestones are
ao sul da América do Sul como no Rio de Janeiro; now agreed to be of Upper Paleocene although
além disso, os registros de Charopidae, Clausiliidae, the S1 stratigraphic sequence sensu Medeiros
Cerionidae, Urocoptidae e Vertiginidae estão & Bergqvist (1999), where all molluscs can be
entre os mais antigos conhecidos no mundo. found, has been considered as Middle Paleocene
Considerando esse registro tão diverso, é estranho (Medeiros & Bergqvist, 1999). Some of the
que essa fauna seja pouco conhecida, já que pode molluscan species found in sequence S1 can also
ajudar a responder diversas perguntas sobre be found in sequence S2, where the majority of
biogeografia e sistemática. the mammalian fauna is (Bergqvist et al., 2006).
Palavras-chave: Biogeografia, Pulmonata, Itaboraí’s early Cenozoic age and location make
Rio de Janeiro its fossils critical in understanding the evolution
of South American taxa and their biogeographic
history. The Itaboraian fauna presents some of
ABSTRACT the first record for extant molluscan families
The limestones of Itaboraí Basin (Middle and records of past distribution where the living
to Upper Paleocene), Rio de Janeiro, Brazil, are relatives can not be found today anymore.
famous for the abundant mammalian fauna,
but they also harbor a rich fauna of 17 species
of pulmonate snails. The oldest fossil records of THE PULMONATE FAMILIES
the families Orthalicidae and Strophocheilidae OF ITABORAÍ BASIN
are from Itaboraí. Cerionidae, Clausiliidae, CERIONIDAE: Cerionidae was not
Ellobiidae and Urocoptidae do not have living present in Itaboraí Basin until recently: a revision
representatives so far south in South America of the genus Brasilennea, formerly in Streptaxidae,
as Rio de Janeiro; additionally, the records of has placed it in Cerionidae and made it the second
Charopidae, Clausiliidae, Cerionidae, Urocoptidae genus in the family besides Cerion (Salvador et al.,
and Vertiginidae are among the oldest known in submitted). There are two Brasilennea species in
the world. Considering such diverse record, it is Itaboraí (a third one was recently found; Salvador
strange that this fauna is not well known since & Simone, in preparation), B. arethusae Maury,
it can help answering many biogeography and 1935 (Fig. 1A) and B. minor (Trindade, 1956)
systematics questions. (Fig. 1B), but the first fossil record of the family
Keywords: Biogeography, Pulmonata, Rio is a probable Cerion acherontis from the Upper
de Janeiro Cretaceous of Montana, USA (Roth & Hartman,

521
1998). Even if Brasilennea is not the family’s fluminensis (Brito, 1967) (Fig. 1M), a record inside
first record, it is an interesting record on its own the distribution of living representatives of the
for Itaboraí Basin is far from the family’s recent family. Planorbidae has an extensive fossil record,
distribution, i.e., southernmost North America the oldest being from the Jurassic of Wyoming,
(islands south of Florida) and the Caribbean USA (Yen & Reeside, 1946); although Meier-
Islands. Brook (1984) considers planorbid fossils earlier
CHAROPIDAE: Austrodiscus lopesi than Cenozoic as doubtful.
Ferreira & Coelho, 1989 was originally classified STROPHOCHEILIDAE: Eoborus
as Endodontidae but, as the genus was transferred sanctijosephi (Maury, 1935) (Fig. 1N) is currently
to Charopidae (Fonseca & Thomé, 1993), so is the only strophocheilid species in Itaboraí
this species. This record is the second oldest (another Eoborus species was recently found;
known for the family (the oldest being from the Salvador & Simone, in preparation) and represents
Cretaceous of Argentina; Morton, 1999) and the family’s oldest record together with Eoborus
Itaboraí’s locality is slightly off to the east of the charruanus, a species from the Paleocene of
family’s recent distribution (the Americas, St. Uruguay very similar to E. sanctijosephi (Martínez
Helena Island, southern Africa, the Asian Pacific et al., 1997). These records fall within the family’s
Islands and Oceania). recent distribution.
CLAUSILIIDAE: The only clausiliid UROCOPTIDAE: The only urocoptid
from Itaboraí is Clausilia magalhaesi Trindade, known in Itaboraí is Brachypodella britoi Ferreira
1953 (Fig. 1C), a record that is somewhat remove & Coelho, 1971 (Fig. 1O), however the oldest
from the present distribution of the family (the records of the family come from the Upper
South American species are restricted to the Cretaceous of Canada and Mexico (Tozer, 1956;
northwestern part of the continent). The family Perrilliat et al., 2000). Still, B. britoi is a record far
is known since the Cretaceous of Europe (Solem, away from that of recent urocoptids (southernmost
1976), but this is the oldest record for South North America, Central America, the Caribbean
America. Islands, and northernmost South America).
ELLOBIIDAE: Carychium sommeri VERTIGINIDAE: Vertigo mezzalirai
Ferreira & Coelho, 1971 (Fig. 1D) is the only Ferreira & Coelho, 1971 (Fig. 1P). Vertiginidae
ellobiid in Itaboraí and it’s outside the family’s has a worldwide distribution and recent species
recent distribution, since there are no extant occur in Brazil. The family is known since the
ellobiid in Brazil. The family is known since the Cretaceous of Japan (Isaji, 1976), but this is the
Jurassic of USA and Europe (Yen & Reeside, oldest record for South America.
1946; Solem, 1976).
ORTHALICIDAE: This family shows
CONCLUSION
a extensive record in Itaboraí, with almost half
of the basin’s fauna: Bulimulus fazendicus Maury, The oldest fossil records of the families
1935 (Fig. 1E), B. ferreirai Palma & Brito, 1974 Orthalicidae and Strophocheilidae comes from
(Fig. 1F), B. sommeri Palma & Brito, 1974 (Fig. the limestones of Itaboraí Basin. Cerionidae,
1G), Itaborahia carvalhoi (Brito, 1967) (Fig. 1H), Clausiliidae, Ellobiidae, Urocoptidae do not have
I. coelhoi (Palma & Brito, 1974) (Fig. 1I), I. lamegoi living representatives reaching so far south in
Maury, 1935 (Fig. 1J), I. trindadeae (Ferreira & South America as Rio de Janeiro. Moreover the
Coelho, 1971) (Fig. 1K). Additionally, a possible records of Charopidae, Clausiliidae, Cerionidae,
Cyclodontina was found recently (Salvador & Urocoptidae and Vertiginidae are among the
Simone, in preparation). The records are the oldest known in the world. Considering such a
oldest known for the family and fall well within vast and diverse record of pulmonates in Itaboraí,
its current distribution. it is strange that this fauna is not well known and
PLANORBIDAE: There are two it is even ignored in some works dealing with the
planorbids in Itaboraí Biomphalaria itaboraiensis fossil record of the very families present in Itaboraí.
(Mezzalira, 1946) (Fig. 1L) and Vorticifex The basin’s fossil record is rich enough to answer

522
many questions of molluscan paleobiogeography MORTON, L.S. 1999. El genero Radiodiscus
and systematics. (Gastropoda-Endodontoidea) en el
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marine Mollusca. E.J. Brill. Leiden, The
Netherlands. p. 23–37.

523
Figura 1. A. Brasilennea arethusae (MZSP 86322); shell length 21.0 mm. B. Brasilennea minor (DGM 4999); shell length
11.5 mm. C. Clausilia magalhaesi (DGM 4997); shell length 14.8 mm. D. Carychium sommeri (MNRJ 5017); shell length
2.5 mm. E. Bulimulus fazendicus (DGM 4993); shell length 12.2 mm. F. Bulimulus ferreirai (MN 5186); shell length 10.8
mm. G. Bulimulus sommeri (DGM 5411); shell length 20.5 mm. H. Itaborahia carvalhoi (DGM 4995); shell length 30.5
mm. I. Itaborahia coelhoi (MNRJ 5187); shell length 11.8 mm. J. Itaborahia lamegoi (DGM 5001); shell length 25.7 mm.
K. Itaborahia trindadea (MNRJ 5022); shell length 9.4 mm. L. Biomphalaria itaboraiensis (DGM w/nº); shell diameter
3.6 mm. M. Vorticifex fluminensis (DGM 5003); shell length 7.6 mm. N. Eoborus sanctijosephi (DGM 4992); shell length
44.6 mm. O. Brachypodella britoi (MNRJ 5026); shell length 4.2 mm. P. Vertigo mezzalirai (DGM 5018); shell length 1.7
mm. Institutional abbreviations: DGM: Museu de Ciências da Terra, Rio de Janeiro, Brasil. MNRJ: Museu Nacional, Rio de
Janeiro, Brasil. MZSP: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

524
THE PERMIAN TIARAJU BIVALVE FAUNA REVISITED,
AND ITS BIOSTRATIGRAPHIC SIGNIFICANCE
Juliana Machado David¹ (julianamdavid@gmail.com), Marcello Guimarães Simões² (profmgsimoes@gmail.com),
Luiz Eduardo Anelli¹ (anelli@usp.br)
¹Universidade de São Paulo; ²Universidade Estadual Paulista, Campus de Botucatu

ABSTRACT Indeed, most of the studies dealing with the


systematics of the Permian bivalves of the Paraná
Systematic revision of the Tiaraju bivalve
Basin have focused on the faunas preserved in
assemblage revealed the presence of the genus
rocks of the Teresina and Corumbataí formations,
Pinzonella plus Holdhausiella elongata, Cowperesia
while the bivalves from the Serra Alta and Rio
emerita and Terraia altissima. The record of C.
do Rasto formations are still poorly studied and
emerita and T. altissima indicate a biocorrelation
described (see Simões et al., 2010). Additionally,
with deposits of the Permian Gai-As Formation,
most of these studies are based on materials that
in the Huab area, Namibia, suggesting that the
were collected in outcrops of the eastern border of
deposits of the Tiaraju bivalve fauna may represent
the Paraná Basin, especially in the Brazilian states
an age no younger than mid-Permian.
of São Paulo and Paraná. Systematic revision of
Keywords: Permian, Paraná Basin, Bivalve
the Tiaraju bivalve assemblage (Cunha, 1972;
Klein, 1997), the only known occurrence of
RESUMO Permian bivalves in the Passa Dois Group of
A revisão sistemática da assembleia de Rio Grande do Sul State, Brazil, can improve
bivalves de Tiaraju revelou a presença do gênero knowledge of the systematics, biostratigraphy, and
Pinzonella, além das espécies Holdhausiella paleobiogeographical distribution of members
elongata, Cowperesia emerita e Terraia altissima. of the “endemic” Permian bivalve fauna of the
A ocorrência de C. emerita e T. altissima indica Paraná Basin.
biocorrelação com depósitos da Formação Gai-As,
Permiano, área de Huab, Namíbia, sugerindo THE ISSUE
que os depósitos da fauna de bivalves de Tiaraju Very recently, new Permian bivalve faunas
podem representar uma idade não mais jovem do of the Rio do Rasto Formation, Serrinha Member,
que o Permiano médio. Passa Dois Group, and the Permian Gai-As
Palavras-chave: Permiano, Bacia do Formation in Namibia were described (Anelli et
Paraná, Bivalves al., 2010; David et al., 2010). These faunas are
dominated by shallow burrowing bivalves, mainly
megadesmids and crassatellaceans. In particular,
INTRODUCTION fossil bivalves from the Gai-As Formation were
The Permian bivalve mollusk fauna of the tentatively correlated with mid-Permian taxa of
Paraná Basin evolved in a shallow inland sea, under the Rio do Rasto Formation. The Namibian fauna
conditions of geographical isolation and variable includes Huabiella compressa, Terraia sp. cf. T.
salinity regimes (Simões et al., 1998). This is one altissima, Terraia sp. cf. T. curvata and Cowperesia
of the oldest known examples of a long-lived emerita. Surprisingly, during a re-examination
molluscan fauna that evolved in an epeiric sea of the Permian bivalve faunas of the Passa Dois
(Wesselingh, 2007). Although this bivalve fauna Group, we noted a close resemblance between
has received renewed attention in the last decade, some of the Namibian specimens (David et al.,
the true evolutionary history of this unique fauna 2010) and those of Tiaraju fauna illustrated by
is still obscure because of incomplete and biased Klein (1997). Most importantly, following Klein’s
information on its systematics (Simões et al., study, the placing of the Tiaraju assemblage in the
2010). biostratigraphic scheme of the bivalve biozones

525
of the Passa Dois Group (see Rohn, 1994) is CONCLUSION
still in dispute. Hence, the main purpose of this According to our preliminary results,
contribution is to present a systematic review of the Tiaraju bivalve fauna is poorly diversified
the Tiaraju fauna, in order to elucidate this issue. and composed of four species, including a new
species of the genus Pinzonella plus Holdhausiella
elongata, Cowperesia emerita and Terraia altissima
MATERIAL AND METHODS
(Fig. 1a-d). The possible presence of Naidopsis
GEOLOGICAL SETTING and Jacquesia sp. was not confirmed. Hence, the
According to Klein (1997), the Permian fauna is clearly more diversified than previously
succession in Tiaraju, São Gabriel Municipality, characterized by Cunha (1972), but very similar
comprises dark-gray mudstones (distal offshore to that listed by Klein (1997).
deposits) and mudstones with wavy linsen H. elongata is a typical member of the
bedding associated with hummocky cross- Pinzonella illusa Biozone (Rohn, 1994), of which
stratification (proximal offshore deposits), the stratigraphic range corresponds to the upper
overlain by laminated mudstone (distal offshore portion of the Serra Alta Formation and the lower
deposits). Sandstones with cross-stratification and middle portions of the Teresina Formation.
associated with red mudstones are found above However, individuals of this species can reach the
the laminated mudstone in abrupt contact (Klein, stratigraphic interval of the Pinzonella neotropica
1997). Stratigraphically, the dark-gray mudstone Biozone (Rohn, 1994; Simões et al., 1997), on
represents the Serra Alta Formation, and the the upper portion of Teresina Formation. On
mudstones with wavy linsen bedding, hummocky the other hand, Cowperesia emerita and Terraia
cross-stratification and laminated mudstones altissima are commonly present in deposits of
correspond to the Teresina Formation. Finally, the lower portion (Serrinha Member) of the Rio
the sandstones with cross-stratification associated do Rasto Formation. The presence of C. emerita
with red mudstones may represent facies of the and T. altissima is also worthy of mention, since
Rio do Rasto Formation (Klein, 1997). these species indicate a biocorrelation with
deposits of the Permian Gai-As Formation, in
the Huab area, Namibia. Radiometric dating of
BACKGROUND
zircon grains from tuff beds found in the upper
The Tiaraju bivalve assemblage is found part of the Gai-As succession provide U/Pb
in carbonate concretions in the upper portion ages of 265±2.5 Ma (Wanke, 2000), an interval
of the laminated mudstones that are tentatively equivalent to the Wordian-Capitanian boundary
placed in the Teresina Formation. This fauna was of the Guadalupian. In other words, the deposits
first described by Cunha (1972), who assigned of the Tiaraju bivalve fauna may represent an age
the specimens to the genus Cowperesia? sp. Later, no younger than mid-Permian.
Klein (1997) presented a taxonomic list including
the following species: Pinzonella tiarajuensis
(nomen nudum), Terraia altissima, Jacquesia REFERENCES
elongata, Jacquesia sp., Pyramus? emerita and
Naidopsis? sp. Unfortunately, the Tiaraju bivalve ANELLI, L.E.; SIMÕES, M.G. & DAVID,
fauna was not officially described, according to J.M. 2010. A New Permian Bivalve
the rules of the International Code of Zoological (Megadesmidae, Plesiocyprinellinae)
Nomenclature. from the Serrinha Member, Rio do Rasto
Formation, Paraná Basin, Brazil. Revista do
Instituto de Geociências, 10(2): 13-21.
THE BIVALVE COLLECTION
Here we revisited the bivalve collection CUNHA, M.C.L. 1972. Contribuição à
made by Klein (1997), on the basis of the material Paleontologia Estratigráfica do Grupo Passa
amassed in the Paleontological collection of the Dois no Rio Grande do Sul. Universidade
Laboratory of Paleontology, Department of Federal do Rio Grande do Sul, Dissertação
Zoology, São Paulo State University, Botucatu de Mestrado, 103p.
campus. This collection is filed under the code DAVID, J.M.; SIMÕES, M.G.; ANELLI, L.E.;
DZP, and at least 25 specimens were re-examined. ROHN, R. & HOLZFOERSTER, F. 2010.

526
Permian bivalve mollusks from the Gai-As Eon of evolution: paleobiological studies
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do Vale do Rio dos Sinos, Dissertação de and biostratigraphical significances. Revista
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São Paulo, Tese de Doutorado, 250p. Tese de Doutorao, 116p. (unpublished)

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Figure 1. A-D, Bivalves from the Tiaraju fauna. A, Holdhausiella elongata David et al., 2010, right valve, x 2.0; B, Pinzonella
sp.n., left valve, x 2.8; C, Terraia altissima (Holdhaus, 1918), left valve, x 1.5; D, Cowperesia emerita (Reed, 1929), right
valve, x 5.6. E-F, Bivalves from the Gai-As Formation, Huab area, Namibia. E, Terraia cf. T. altissima, left valve, x 3.6; F,
Cowperesia emerita (Reed, 1929), left valve, x 4.5.

527
TRILOBITES (PHACOPIDA) NOS ARREDORES DO PARQUE
NACIONAL SERRA DA CAPIVARA, FORMAÇÃO PIMENTEIRA
(DEVONIANO), BACIA DO PARNAÍBA, PIAUÍ, BRASIL
Juliana de Moraes Leme¹ (leme@usp.br), Sabrina Pereira Soares² (spereirasoares@yahoo.com.br),
Andre Mori Di Stasi Soares³ (andr_mori@hotmail.com), Felipe van Enck Meira³ (fvemeira@gmail.com)
¹Instituto de Geociências/USP; ²Departamento de Educação/UNESP-Bauru; ³Programa de Pós-Graduação em Geotectônica, IGc/USP

RESUMO ABSTRACT
A fauna de macroinvertebrados marinhos The macroinvertebrate fauna of marine
fósseis do Devoniano da Bacia do Parnaíba é uma fossils from the Devonian of the Parnaíba Basin
das mais diversificadas do Paleozoico brasileiro. is one of the most diverse in the Paleozoic of
Nos últimos anos, revisões importantes para a Brazil. In recent years, major revisions to the
fauna de macroinvertebrados do Devoniano da macroinvertebrate fauna of Parnaíba Basin
Bacia do Parnaíba envolveram os trilobites do (Devonian) involved trilobites of the state
Estado do Piauí, município de Picos, Formações of Piauí, Picos city, Pimenteira and Cabeças
Pimenteira e Cabeças. No presente trabalho são formations. In this study are present new records
apresentadas novas ocorrências de trilobites do of Devonian trilobites Parnaíba Basin in the
Devoniano da Bacia do Parnaíba, no município João Costa city, distant about 70 km from São
de João Costa, distante cerca de 70 km de São Raimundo Nonato city, in the region of the
Raimundo Nonato, nos arredores do Parque Serra da Capivara National Park, state of Piauí.
Nacional Serra da Capivara, estado do Piauí. A From the examination of 40 specimens from
partir do exame de 40 espécimes provenientes da the Pimenteira Formation, Parnaíba Basin, two
Formação Pimenteira, Bacia do Parnaíba, foram species were recognized Burmeisteria noticus and
reconhecidas duas espécies Burmeisteria noticus Metacryphaeus cf. australis. The wide occurrence
e Metacryphaeus cf. australis. A ampla ocorrência of these genera in the Malvinokaffric Realm
desses gêneros no Domínio Malvinocáfrico shows that during part of the Devonian, there
mostra que durante parte do Devoniano, havia was faunal communication between the Andean,
comunicação faunística entre as províncias Brazilian and South African provinces. Thus,
Andina, Brasileira e Sul-africana, fato amplamente during transgressive events, conditions would be
conhecido. Desse modo, durante os eventos favorable to the dispersion by the reduction of
transgressivos, materializados pelos depósitos geographical barriers. Finally, although trilobites
de inundação marinha que contêm Burmeisteria studies of the Pimenteira Formation are relatively
e Metacryphaeus, as condições seriam favoráveis recent, this unit is still providing new stratigraphic
à dispersão, pela diminuição das barreiras and paleontological data that, taken together,
geográficas. Finalmente, embora os estudos contribute to the refinement of the faunal
dos trilobitas da Formação Pimenteira sejam composition and paleobiogeographical affinities
relativamente recentes, essa unidade continua of fossils assemblages and their paleoecological
ainda fornecendo novos dados paleontológicos e significance.
estratigráficos que, em seu conjunto, contribuem Keywords: Trilobites, Devonian,
para o refinamento da composição faunística e Pimenteira Formation, Parnaíba Basin
afinidades paleobiogeográficas das assembleias
fósseis e seu significado paleoecológico.
Palavras-chave: Trilobites, Devoniano,
INTRODUÇÃO
Formação Pimenteira, Bacia do Parnaíba A fauna de macroinvertebrados marinhos
fósseis do Devoniano da Bacia do Parnaíba é uma
das mais diversificadas do Paleozoico brasileiro.
Uma fauna variada de invertebrados marinhos,
incluindo braquiópodes, trilobitas, ostracodes,

528
biválvios, gastrópodes, hiolitídeos e tentaculítidas, MATERIAIS E MÉTODOS
ocorre nos arenitos dessa formação, juntamente
A Formação Pimenteira está inserida no
com restos de peixes elasmobrânquios e plantas.
Grupo Canindé, Bacia do Parnaíba, juntamente
As faunas de seções intermediárias da Formação
com as formações Itaim, Cabeças, Longá e Poti.
Pimenteira aflorantes no Piauí são aparentemente
Representa a maior ingressão marinha na bacia
dominadas pelo Chonetoidea Montsenetes cf.
do Parnaíba e está representada por folhelhos
M. boliviensis, incluindo, além disso, bivalves,
e arenitos finos, depositados em ambiente
gastrópodes, trilobites e conulários (Castro, 1968;
deposicional característico de plataforma marinha
Melo, 1988; Carvalho, 1995; Siviero, 2002).
dominada por tempestades (Goés & Feijó, 1994).
Nos últimos anos, revisões importantes Normalmente os folhelhos são avermelhados
para a fauna de macroinvertebrados do Devoniano devido à oxidação do ferro contido na siderita
da Bacia do Parnaíba envolveram os braquiópodes e pirita, e apresentam-se bastante bioturbados.
(Fonseca, 2001, 2004; Gama Jr, 2008), os Cnidaria, Nesses folhelhos ocorrem principalmente em
Conulariida (Siviero, 2002). Já os trilobites subsuperfície leitos e nódulos de siderita, nódulos
foram revisados por Castro (1968), Carvalho de fosfato e oolitos ferruginosos. Intercalados aos
(1995) e Carvalho et al. (1997) com enfoque nos folhelhos ocorrem camadas de siltitos e arenitos
trilobites do Estado do Piauí, município de Picos, grossos, interpretados como fácies tempestística
Formações Pimenteira e Cabeças. (Della Fávera, 1990).
A ocorrência de trilobites no Devoniano O presente trabalho envolveu o exame
da Bacia do Parnaíba (Formação Pimenteira, de 40 espécimes provenientes da Formação
Neoeifeliano-Frasniano Grahn et al., 2006) vem Pimenteira (Neoeifeliano -Frasniano, Santos &
sendo citada desde Caster (1948) ao apresentar Carvalho, 2004; Grahn et al., 2006), Bacia do
a presença de homalonotídeos e dalmanitídeos Parnaíba, município de João Costa, cerca de 70km
na Formação Pimenteira. Kegel (1953) visitou e de São Raimundo Nonato, Estado do Piauí. As
coletou fósseis na Bacia do Parnaíba, sobretudo coletas foram feitas nos afloramentos do Morro
nas regiões das cidades de Picos e Pimenteiras, do Ranulfo e Morro do Joaquim, município de
no Estado do Piauí, citando a ocorrência de João Costa, PI. Os exemplares encontram-se
Homalonotus e Asteropyge. Dessa forma, as preservados em nódulos de ferro (siderita).
referências aos trilobites da Bacia do Parnaíba
Os espécimes aqui descritos pertencem
restringiam-se, até então, a citações e listagens
todos à coleção científica da FUMDHAM
em trabalhos estratigráficos (Kegel, 1953),
(Fundação Museu do Homem Americano),
paleobiogeográficos (Melo, 1985, 1988). A partir
São Raimundo Nonato, PI, cuja preparação foi
de 1980, numerosos trabalhos de campos foram
realizada de acordo com as técnicas usualmente
executados no flanco leste da bacia, incluindo a
empregadas em estudos paleontológicos de
visita, em 1986, da Expedição Orville A. Derby.
macrofósseis marinhos (Feldmann, et al., 1989;
Apenas nos últimos 20 anos, trabalhos mais
Nobre & Carvalho, 2004). Já a identificação
detalhados sobre a sistemática e paleobiogeografia
sistemática levou em consideração a terminologia
dos trilobites dessa região foram publicados
morfológica usualmente empregada para os
(Carvalho, 1995; Carvalho et al., 1997).
trilobites (Eldredge & Branisa, 1980; Lieberman,
No presente trabalho são apresentadas et al., 1991; Lieberman, 1993; Whittington et
novas ocorrências de trilobites do Devoniano da al., 1997; Sandford, 2005). Os espécimes foram
Bacia do Parnaíba, no município de João Costa, observados sob estereomicroscópio Zeiss e
distante cerca de 70 km de São Raimundo fotografados através de câmera digital Canon
Nonato, nos arredores do Parque Nacional Serra SX10.
da Capivara, estado do Piauí.

CONCLUSÕES
A partir do exame de 40 espécimes
provenientes da Formação Pimenteira,

529
Bacia do Parnaíba, foram reconhecidas duas estratigráficos que, em seu conjunto, contribuem
espécies Burmeisteria noticus (Clarke, 1913) e para o refinamento da composição faunística e
Metacryphaeus cf. australis (Clarke, 1913). Essas afinidades paleobiogeográficas das assembleias
espécies já foram reconhecidas em trabalhos fósseis e seu significado paleoecológico.
prévios para a Formação Pimenteira, Bacia do
Parnaíba, município de Picos (Castro, 1968;
Carvalho, 1995).
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70km de São Raimundo Nonato, Estado do Piauí 282.
(Formação Pimenteira, Bacia do Parnaíba) indica
tratar-se de elementos com apreciável distribuição CARVALHO, M.G.P. 1995. Trilobitas
paleobiogeográfica, no contexto do Domínio devonianos da Bacia do Parnaíba (Formações
Malvinocáfrico. Isso porque Burmeisteria e Pimenteira, Cabeças e Longá). Tese de
Metacryphaeus são comuns na fauna devoniana da Doutoramento.Universidade Federal do Rio
Bolívia, África do Sul, Ilhas Falkland, Argentina, de Janeiro, Instituto de Geociências, 132p.
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1976; Copper, 1977; Cooper, 1982; Carvalho,
1995; 2006; Carvalho et al., 1994). Burmeisteria é CARVALHO, M.G.P.; EDGECOMBE, G.D.
comum no Brasil (Bacias do Paraná e Parnaíba), & LIEBERMAN, B.S. 1994. Devonian
na África do Sul e Gana. As formas sulafricanas Calmoniid Trilobites from Parnaíba Basin,
são mais diversificadas incluindo B. herschelii Piauí State, Brazil. Annais da Academia
(Murchison, 1839), B. noticus (Clarke, 1913) e Brasileira de Ciências, 66(1):119.
B. fontinalis (Reed, 1925). Adicionalmente, B.
noticus é uma espécie amplamente distribuída nas CARVALHO, M.G.P.; EDGECOMBE, G.D.
unidades devonianas do Gondwana (Argentina, & LIEBERMAN, B.S. 1997. Devonian
Uruguai e Bolívia). Metacryphaeus ocorre nos Calmoniid trilobites from the Parnaíba
sedimentos devonianos das três bacias brasileiras Basin, Piauí State, Brazil. American Museum
e é considerado um gênero cosmopolita no Novitates, 3192:1-11.
Domínio Malvinocáfrico. A presença de
Metacryphaeus na Bacia do Parnaíba é de grande CASTER, K.E. 1948. Excursão Geológica ao
significado paleobiogeográfico, evidenciando Estado do Piauí. Mineração e Metalurgia,
influência austral na fauna de trilobitas. 12(72):271-272.
A ampla ocorrência desses gêneros no
Domínio Malvinocáfrico mostra que durante parte CASTRO, J.S. 1968. Trilobitas da Formação
do Devoniano, havia comunicação faunística entre Pimenteiras, Devoniano do estado do Piauí.
as províncias Andina, Brasileira e Sul-africana, Annais da Academia brasileira de Ciências,
fato amplamente conhecido. Desse modo, durante 40(4):481-489.
os eventos transgressivos, materializados pelos
CLARKE, J.M. 1913. Fósseis devonianos do
depósitos de inundação marinha que contêm
Paraná. Monografia do Serviço Geológico e
Burmeisteria e Metacryphaeus, as condições seriam
Mineralógico do Brasil, 1:1-353.
favoráveis à dispersão, pela diminuição das
barreiras geográficas. COOPER, M. 1982. A revision of the Devonian
Finalmente, embora os estudos dos (Emsian-Eifelian) trilobita from Bokkeveld
trilobitas da Formação Pimenteira sejam Group of South Africa. Annals of the South
relativamente recentes, essa unidade continua African Museum, 89:1-174.
ainda fornecendo novos dados paleontológicos e

530
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531
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Memoirs of Museum Victoria, 62(1):1-66.

532
OCORRÊNCIA DE BOTRYOCRINIDAE (CRINOIDEA) NA FORMAÇÃO PONTA
GROSSA (PRAGUIANO, BACIA DO PARANÁ), ESTADO DO PARANÁ, BRASIL
Antonio Carlos Sequeira Fernandes1 (fernande@acd.ufrj.br), Vera Maria Medina da Fonseca1 (vmmedinafonseca@gmail.com),
Sandro Marcelo Scheffler2 (schefflersm@yahoo.com.br)
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional, Departamento de Geologia e Paleontologia, Quinta da Boa Vista, São
Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
2
Universidade Federal de São Paulo, Setor de Ciências Ambientais, Departamento de Biologia, Rua Prof. Artur Riedel, 275, Jardim
Eldorado, 09972-270, Diadema, São Paulo, SP, Brasil

RESUMO indet. A sistemática formal dos crinoides é


fundamentada nos caracteres do cálice. Devido ao
A primeira descrição de crinóide para a
tipo de preservação dos crinóides do Paleozóico
Formação Ponta Grossa foi realizada em 1943 por
brasileiro, constituído fundamentalmente por
Frederico W. Lange. Desde aquela época apenas
colunais desarticuladas e pequenas pluricolunais,
um crinóide foi identificado dentro da sistemática
os poucos estudos que se seguiram consistem
formal em nível genérico (Ophiucrinus stangeri).
em identificações feitas utilizando-se a
O encontro de um cálice permitiu a revisão de ø
parassistemática de Moore & Jeffords (1968).
Ciclocaudex paranaensis, uma espécie descrita com
base no pedúnculo dentro da parassistemática, Apenas uma espécie de crinoide classificada
como Costalocrinus? sp., dentro da sistemática dentro da sistemática formal, Ophiucrinus stangeri
formal do grupo. A forma de alimentação do Salter, 1856, descrita originalmente para o
organismo e a morfologia do pedúnculo sugere um Devoniano da África do Sul, era conhecida do
ambiente de vida com substrato mole e correntes Devoniano da Bacia do Paraná.
moderadas. A coleta recente de um cálice no
Palavras-chave: Devoniano Inferior, afloramento Jaguariaíva, município de Ponta
Formação Ponta Grossa, crinóide Grossa, estado do Paraná, permitiu a revisão da
paraespécie ø Ciclocaudex paranaensis Scheffler
& Fernandes 2007, descrita com base no
ABSTRACT pedúnculo. Os caracteres preservados permitiram
First description of crinoid of the Ponta classificá-lo na família Brotryocrinidae como
Grossa Formation was conducted in 1943 by Costalocrinus? sp. Embora a designação genérica
Frederick W. Lange. Since that time only a tenha sido em nomenclatura aberta, devido ao
crinoid was identified in the systematic formal in estado de preservação do exemplar, a descoberta
generic level (Ophiucrinus stangeri). The finding é importante, devido a raridade de cálices no
of the calix allowed the review ø Ciclocaudex registro fossilífero brasileiro.
paranaensis, a species described from the peduncle O material analisado é procedente do
into the parassistemática, as Costalocrinus? sp. clássico corte da estrada de ferro de Jaguariaíva,
within the formal sistematic of the class. The way Km 3,0 e km 4,4, do estado do Paraná e está
of feeding the organism and the morphology of depositado nas coleções de paleontologia do
the stalk suggests a living environment with soft Laboratório de Geociências da Universidade de
substrate and moderate currents. Guarulhos (sigla CPg) e do Departamento de
Keywords: Lower Devonian, Ponta Geologia da Universidade Federal do Paraná
Grossa Formation, crinoid (sigla CT).

INTRODUÇÃO DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA


A primeira descrição de um crinóide da Neste item será realizada uma descrição
Formação Ponta Grossa deve-se a Lange (1943) apenas do cálice e dos braços de Costalocrinus? sp.
que referiu pedúnculos e colunais a Crinoidea Para uma descrição mais detalhada do pedúnculo

533
ver a descrição feita por Scheffler & Fernandes Costalocrinus, típico do Devoniano Inferior ao
(2007) para Cyclocaudex paranaensis. Carbonífero inferior da Europa e dos Estados
O material identificado como Costalocrinus? Unidos.
sp. ocorre em três amostras, sendo que em duas
apenas está presente o pedúnculo (CT081A-B,
MORFOLOGIA FUNCIONAL
CT046A-B) e em outra o cálice articulado aos
braços e pedúnculo (CPg004a). O cálice apesar E HÁBITOS DE VIDA
de completo, está muito mal preservado e não Com relação à morfologia dos braços é
é possível visualizar com certeza a posição das interessante comentar que a grande largura do
placas. É baixo e globoso, mais largo que alto, sulco adoral indica uma especialização em direção
aparentemente formado por cinco radiais grandes a uma dieta constituída por presas maiores que
que se tocam, formando quase todo o copo dorsal. a maioria dos crinóides. Conforme McIntosh
Faceta de articulação entre a radial e a primeira (1984) este tipo de dieta é característico
primibraquial declivada, larga, porém menor que dos membros da família Botryocrinidae que
a largura total da radial e em forma de ferradura provavelmente se alimentavam tanto de presas
com uma leve crista transversa. Não ocorrem maiores (1.0 - 8.0 mm), levadas diretamente à
braquiais fixas. Braços robustos, que se ramificam boca pelas râmulas bem desenvolvidas, quanto de
pelo menos duas vezes isotômicamente? Primeira partículas menores, levadas [à boca] através dos
primibraquial axilar. Três secundibraquiais, a pódios pelo canal ambulacral, como normalmente
terceira axilar. As braquiais são tão ou menos altas ocorre nos crinóides. Ainda segundo McIntosh
quanto largas, apresentando grande sulco adoral. (1984), essa família capturaria sua presa através de
Superfície articular portando uma crista fulcral um grande leque de filtração parabólico bastante
leve, como na radial; aboralmente a esta crista se elevado acima do substrato.
situa o canal neural, rodeado por oito pequenos Com relação ao pedúnculo, o tipo de
dentículos. Saco anal de tamanho médio, restrito estrutura de ancoragem com cirros ramificados
ao inter-raio CD, fino e afilando lentamente para o na dististele, disposto radialmente, daria a
topo. Colunais do tipo pentâmeras com látera lisa, esses crinóides uma grande estabilidade em
simétricas, levemente convexas longitudinalmente substratos moles (McIntosh, 1984), permitindo a
na região proximal e retas na região distal; permanecerem elevados a alturas consideráveis do
superfície articular com aproximadamente 40 substrato. A mesma interpretação para este tipo de
a 50 cúlmens relativamente largos, compridos, estrutura de ancoragem já havia sido feita por Brett
retos e simples; aréola côncava pentalobada, com (1981), para o qual é muito provável que o grande
os lobos coincidentes com os pentâmeros, lúmen número de formas paleozóicas nas quais os cirros
circular, muito largo; nodais apresentando cirros estão mais ou menos simetricamente distribuídos
no terço distal da pluricolunal; cirros duplamente e restritos a região distal do pedúnculo, servem
ou triplamente bifurcados. para que mantenham uma postura vertical, com
Apesar da disposição das placas do cálice esta extremidade distal enterrada no substrato
não poderem ser visualizadas, diversos caracteres mole.
nos levam a enquadrar os exemplares da Formação A postura alimentar em leque de filtração
Ponta Grossa na família Botryocrinidae (sensu parabólico com captura “ativa” de presas de grande
McIntosh, 1984), entre eles: cálice baixo e globoso, tamanho, levadas diretamente a boca por fortes
presença de tubo anal (plicado?), faceta da radial râmulas; o pedúnculo bastante desenvolvido, com
ocupando mais da metade da largura da radial, grande diâmetro e comprimento considerável,
braços se ramificando na parte mais proximal e os cirros na região distal indicam que os
e pedúnculo pentamérico com cirros na região Brotryocrinidae em geral, e em especial
distal. Costalocrinus? sp., viveriam em ambientes com
Dos gêneros aceitos para Botryocrinidae substrato mole, sujeitos a correntes moderadas.
por McIntosh (1984), aquele que mais se
assemelha ao material do Paraná é o gênero

534
CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Costalocrinus? sp. representa o segundo BRETT, C. E. 1981. Terminology and functional
cálice identificado em nível genérico na Formação morphology of attachment structures in
Ponta Grossa, sendo o primeiro Botryocrinidae pelmatozoan echinoderms. Lethaia, 14:343-
identificado nesta formação. Isto lhe confere 370.
grande importância, apesar de sua identificação
ter sido mantida em nomeclatura aberta, devido a LANGE, F.W. 1943. Novos fósseis Devonianos
raridade das ocorrências de cálices no Devoniano do Paraná. Arquivos do Museu Paranaense,
brasileiro. 3(8): 215-231.
Os caracteres morfológicos do material
indicam que o mesmo viveria em ambientes com McINTOSH, G.C. 1984. Devonian Cladid
substrato mole e sujeitos a alguma corrente. Estas Inadunate Crinoids: Family Botryocrinidae
correntes, no entanto, deveriam ser relativamente Bather, 1899. Journal of Paleontology, 58(5):
fracas, pois a forma de ocorrência do material, 1260-1281.
apresentando pequena desarticulação, com
MOORE, R.C. & JEFFORDS, R.M. 1968.
ossículos dispostos paralelamente em relação ao
Classification and nomenclature of fossil
plano de acamamento e sem seleção hidrodinâmica
crinioids based on studies of dissociated parts
ou abrasão, indicam um ambiente de vida bastante
of their columns. The University of Kansas
calmo para Costalocrinus? sp.
Paleontological Contributions, 9(46):1-86.

SCHEFFLER, S.M. & FERNANDES, A.C.S. 2007. Crinoidea da Formação Ponta Grossa (Devoniano,
Bacia do Paraná), Brasil. Arquivos do Museu Nacional, 65(1): 83-98.

Figura 1. Costalocrinus? sp: 1 - cálice articulado à fragmentos dos braços e à proxistele do pedúnculo (CPg004a); 2 -
detalhe do cálice da figura 1 (CPg004a); 3 - detalhe da proxistele do pedúnculo (as setas indicam as nodais, CT081B);
4 - morfologia da braquial e de diversos pentâmeros do pedúnculo (CT081B).

535
S-10:
Paleontologia Industrial
AGE OF DROWNING OF THE EARLY CRETACEOUS
CARBONATE PLATFORMS IN NORTHERN MEXICO BY MEANS
OF AMMONITES (AMMONOIDEA, ZITTEL 1884)
Ricardo Barragán-Manzo¹ (ricardor@geologia.unam.mx), Fernando Núñez-Useche
1
Instituto de Geología, Universidad Nacional Autónoma de México, Ciudad Universitaria, Delegación Coyoacán

ABSTRACT 1961). However, the exact age of this Mexican


Aptian stratigraphic unit remained uncertain,
The sedimentary cover of northern
because most of the published fauna lacked precise
Mexico consists mainly of Upper Jurassic to
stratigraphic control impeding the recognition
Lower Cretaceous marine facies that crop out
of standard biozones and consequently broad
along the Sierra Madre Oriental fold belts. The
regional correlations (Barragán, 2000).
Barremian-Aptian interval was characterized by
the development of widely extended carbonate Further stratigraphic works by Wilson and
platforms, when those paleogeographic elements Pialli (1977), Smith (1981), Goldhammer et al.
reached their maximum extent around the Gulf (1991) and Wilson and Ward (1993) argued that
of Mexico coast (Scott, 1990; Wilson and Ward, the carbonate deposition of the Cupido Platform
1993). Excellent outcrops of Barremian-Aptian was abruptly terminated by terrigenous input that
sequences are particularly well-exposed within changed previous conditions into those that led to
the Sierra Madre Oriental Transverse in Nuevo facies of the La Peña Formation. This event can be
León and Durango States (Figure 1), and were associated with a global transgressive episode that
selected for this study. began in the late-early Aptian, which eventually
drowned the Mexican carbonate platforms that
Both localities include well-established
had been flourished since the Barremian, as is
lithostratigraphic units formally described as
recorded in other parts of the world (Barragán,
the Cupido Formation (Imlay, 1937; Humphrey,
2001).
1949) of Barremian-early Aptian age, and the La
Peña Formation (Imlay, 1936; Humphrey, 1949) Recent bed-by-bed sampling of two
of late Aptian age. The rocks of the Cupido stratigraphic sections of the Cupido-La Peña
Formation are thick-bedded (decimeter to meter formational contact has been carried out in
scale) shallow-water deposits typical of a lagoon our areas of study in northern Mexico. High-
associated to the development of a carbonate resolution sampling and careful recovery of the
platform. These facies are consistently overlain by ammonites at the basal strata of the La Peña
the La Peña Formation, characterized by thinly- Formation in both sections yielded a distinctive
bedded (centimeter to decimeter scale) limestones, assemblage of index ammonite species within
marly limestones, marls, and calcareous shales the first levels immediately in contact with the
typical of deeper environments, with abundant infrajacent Cupido Formation.
ammonites (Figure 2). The detailed systematic analysis of
The La Peña Formation facies represent the ammonites reveals a rich assemblage
a transgressive unit that crops out over an representative of the local biozone indicative
extensive area of northern Mexico, and was of the uppermost level of the early Aptian, the
assigned a late Aptian age on the basis of Dufrenoyia justinae Taxon-Range-Zone, sensu
ammonite occurrences (Cantú-Chapa, 1963; the local biostratigraphic scheme (Barragán-
Young, 1969; Cantú-Chapa, 1976; Contreras- Manzo and Méndez-Franco, 2005). The lower
Montero, 1977). This original assignment of Aptian assignment of this Mexican biozone is
age was based on the bipartite subdivision of the further corroborated by its distinctive ammonite
stage into lower and upper Aptian in accordance assemblage characteristic of the early Aptian
with the biochronostratigraphic standard scheme standard ammonite zone of the stage, namely the
established for northeastern Europe (Casey, Dufrenoyia furcata Zone, of the Mediterranean

539
standard scheme (Reboulet et al., 2011) (Figure el Area de Monterrey, N. L.: Revista del
3). Instituto Mexicano del Petróleo, 8 (4), 7-16.
Thus, in Mexico, the shift of deposition
CASEY, R. 1961.The Stratigraphical Paleontology
from a shallow carbonate platform locally
of the Lower Greensand: Palaeontology, 3,
represented by facies of the Cupido Formation, to
487-621.
the deeper facies of the La Peña Formation took
place sometime during the late-early Aptian and CONTRERAS-MONTERO, B. 1977.
not in the late Aptian as previously assigned. Bioestratigrafía de las Formaciones Taraises
To avoid diachronic interpretations of y La Peña (Cretácico Inferior) de La Goleta,
the Cupido-La Peña formational contact, the Coahuila y Minillas, Nuevo León: Revista
ammonites analyzed from the two sections of this del Instituto Mexicano del Petróleo, 9 (1),
study for biochronostratigraphic purposes, were 8-17.
compared to other coeval assemblages reported
GOLDHAMMER, R.K.; LEHMANN, P.J.;
from the basal strata of the La Peña Formation TODD, R.G.; WILSON, J.L.; WARD,
on a regional scale. W.C. & JOHNSON, C.R. 1991. Sequence
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Ammonite Working Group, the “Kilian

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Society, Publication 81-74, 1-27. ZITTEL, K.A. VON. 1884, Cephalopoda,
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Mexico, in Bebout, D. C., Loucks, G. (eds.),
Cretaceous carbonates of Texas and Mexico
- Applications to subsurface exploration:

Figure 1. Map of Mexico displaying the location of the two areas of study.

541
Figure 2. Lithostratigraphic units and their typical facies of the Barremian-Aptian carbonate platform drowning event in
northern Mexico. Note the lagoonal facies for the Cupido Formation and open marine facies for the La Peña Formation.

Figure 3. Ammonites of the uppermost early Aptian Dufrenoyia furcata Zone (Biozonation sensu Reboulet et al., 2011)
sampled from the basal strata of the La Peña Formation from the studied sections. A: Pseudohaploceras reesidei;
B-C: Dufrenoyia justinae; D: Burckhardtites nazasensis; E:Burckhardtites ehlersi; F: Colombiceras spathi; G: Penaceras
rursiradiatus; H: Kazanskyella aff. arizonica.

542
ANÁLISE DA MICROESTRUTURA DE INOCERAMÍDEOS DO CRETÁCEO
SUPERIOR DAS BACIAS DE CAMPOS E SANTOS, SUDESTE DO BRASIL
Geise de Santana dos Anjos Zerfass1 (denizesc@petrobras.com.br),
Leonardo Ribeiro Tedeschi1 (leonardo.tedeschi@petrobras.com.br),
Marta Cláudia Viviers1 (mcviviers@petrobras.com.br), Denize Santos Costa1 (mcviviers@petrobras.com.br)
1
Petrobras/CENPES/PDGEO/BPA

RESUMO à sua distribuição cosmopolita. Como diversas


espécies desses organismos se adaptaram a
Uma avaliação da preservação de
condições de baixa oxigenação, os inoceramídeos
fragmentos de conchas de inoceramídeos foi
se tornaram um dos grupos fósseis mais estudados
realizada em amostras provenientes de dois
visando à compreensão de eventos anóxicos
poços perfurados nas bacias de Campos e Santos,
(Grosskopf, 2010).
margem continental brasileira. Este estudo
tem como objetivo a seleção de material para As conchas dos inoceramídeos apresentam
a realização de análises isotópicas, visando à estrutura complexa e mineralogia mista, sendo
obtenção de idades e parâmetros paleoecológicos. compostas por duas camadas: uma camada
Técnicas de imageamento, espectrometria de interna calcítica composta por cristais prismáticos
raios-X e catodoluminescência foram utilizadas alongados separados entre si por uma matriz
para avaliar os efeitos da diagênese na textura e orgânica e, uma camada externa aragonítica que
composição dos fragmentos de inoceramídeos. raramente é preservada (Simkiss & Wilbur, 1989;
Graus variáveis de recristalização, cimentação e Gómez-Alday et al., 2008).
silicificação foram verificadas ao longo das seções A composição isotópica das conchas
estudadas. de inoceramídeos tem sido empregada como
Palavras-chave: Inoceramídeos, Textura, indicador de parâmetros paleocológicos e na
Diagênese cronoestratigrafia de seções cretácicas (McArthur,
1994; MacLeod et al., 1996; Jimenéz-Berrocoso
et al., 2008). O estudo dos efeitos da diagênese na
ABSTRACT estrutura da parede das conchas de inoceramídeos
An evaluation of the preservation of pode fornecer critérios para a seleção de material
inoceramid shell fragments was carried out in adequado às análises isotópicas. Por esse motivo,
samples from two wells drilled in the Campos and a análise da preservação das conchas desses
Santos Basin, Brazilian continental margin. This organismos tem sido amplamente estudada
study aims the selection of the more appropriate (Elorza & García-Garmilla, 1996; Jiménez-
material to perform isotopic analysis. Imaging Berrocoso et al., 2006).
techniques, energy-dispersive X-ray spectrometry O presente trabalho tem como objetivo
and cathodoluminescence were used to appraise apresentar os resultados da análise da preservação
the diagenetic effects on the texture and de fragmentos da camada prismática de conchas
composition of the studied samples. Different de inoceramídeos recuperados de dois poços
degrees of recrystallization, cementation and perfurados pela Petrobras nas bacias de Campos
silicification were observed through the studied e Santos, visando à seleção de material adequado
sections. para as análises isotópicas.
Keywords: Inoceramids, Texture,
Diagenesis MATERIAIS E MÉTODOS
Foram analisadas 25 amostras, sendo
INTRODUÇÃO 16 provenientes de um testemunho do poço
Os inoceramídeos são bivalves cretácicos CAM-1A e nove amostras de calha do poço
amplamente utilizados em bioestratigrafia devido SAN-1A (Figura 1). No poço CAM-1A, a seção

543
estudada corresponde a folhelhos e siltitos de dos prismas a branco leitoso na porção apical.
idade campaniana, enquanto a seção analisada do Manchas de óxido(s), pirita granular e cimentação
poço SAN-1A é constituída por intercalações de por carbonato ocorrem disseminadas ao longo
arenitos e folhelhos de idade maastrichtiana. da superfície dos fragmentos (Figuras 2B e 2C).
Os fragmentos de inoceramídeos foram Localmente ocorre substituição do carbonato por
avaliados sob estereomicroscópio para analisar sílica, evidenciada através de análises de EDS
as variações de coloração, textura e grau de (Figura 3).
compactação dos cristais individuais. Fragmentos Nestes intervalos, a catodoluminescência
representando diferentes estados de preservação indica a ocorrência uma fase mineral
foram selecionados para análise em microscopia diagenética ocupando as áreas que apresentaram
eletrônica de varredura (MEV) e análises de EDS luminescência vermelha escura (e.g. Almeida
(Energy Dispersive Spectrometry). Análises de et al., 2007). O espaço entre os prismas
catodoluminescência (CD) foram efetuadas em provavelmente foi cimentado com calcita pura,
seções polidas de cortes transversais ao eixo maior evidenciado pela luminescência amarela. Vale
dos cristais. ressaltar que a catodoluminescência se constitui
em um método de análise não-destrutiva e rápida
para o reconhecimento de diferentes gerações de
RESULTADOS E DISCUSSÃO carbonatos e áreas recristalizadas.
As análises MEV, EDS e CD das amostras Não é possível precisar as dimensões
provenientes dos poços estudados possibilitaram originais dos espaços entre os prismas devido à
a identificação de três grupos representando atuação de fatores pós-deposicionais. Entretanto,
diferentes graus de preservação. uma avaliação qualitativa mostra que apenas
Nível I (poço CAM-1A; intervalo: 2989,1 nas amostras da parte superior do testemunho
– 2994,3 m): Representa o intervalo de melhor coletado no poço CAM-1A verifica-se um
preservação dos fragmentos. A maior parte do espaçamento compatível com condições de
material é composta por prismas individuais de mínima compactação.
coloração branca a amarelo pálido, indicando um
baixo grau de compactação. A Figura 2A mostra
um fragmento cujo espaçamento entre os prismas CONCLUSÕES
foi preservado. Com base nos resultados
Nível II (poço CAM-1A; intervalo: preliminares apresentados, verificou-se que a
2994,3 – 3000,9 m): Representa material catodoluminescência representa a ferramenta
levemente recristalizado de coloração amarelo mais adequada em termos de precisão, rapidez
claro, apresentando, localmente, cimentação por e de conservação da amostra para a avaliação
carbonato e manchas de óxido(s). O material é da qualidade do material estudado, visando à
composto tanto por prismas isolados quanto por realização de análises isotópicas. Recomenda-se a
fragmentos compostos, sendo que estes últimos realização de análises isotópicas através de Laser
apresentam grau de compactação baixo a médio. Ablation, após selecionar áreas bem preservadas.
Esse tipo de preservação é mostrado nas figuras
2D, 2E e 2F, onde se apresenta, em diferentes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
aumentos, um mesmo fragmento moderadamente
recristalizado, em que observa o contorno dos ALMEIDA, S.H.M.; MACAMBIRA, M.J.B.;
prismas individuais (Figura 2D e 2E) e cimentação MCREATH, I. 2007. Catodoluminescência
local (Figura 2F). como instrumento de refinamento
petrográfico de calcários da Formação
Nível III(poço CAM-1A, intervalo: 3000,9
Itaituba (PA), Bacia do Amazonas. In:
– 3004,8 m / poço SAN-1A, intervalo: 3858,0 – CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D
4509,0 m): fragmentos recristalizados. Variações EM PETRÓLEO E GÁS, 4, Campinas,
de coloração ocorrem ao longo do mesmo 2007. Resumos expandidos, 6p.
fragmento, gradando de cinza escuro na base

544
ELORZA, J. & GARCÍA-GARMILLA, F. Rise (Late Cretaceous Western Tropical
1996. Petrological and geochemical evidence North Atlantic). Paleoceanography, 23,
for diagenesis of inoceramid bivalve shells in PA3212.
the Plentzia Formation (Upper Cretaceous,
Basque-Cantabrian region, northern Spain). JIMÉNEZ-BERROCOSO, A.; OLIVERO,
Cretaceous Research, 17:479-503. E.B. & ELROZA, J. 2006. New petrographic
and geochemical insights on diagenesis
GÓMEZ-ALDAY, J.J.; CRUZ ZULUAGA, M. and paleoenvironmental stress in Late
& ELORZA, J. 2008. 87Sr/86Sr ratios in Cretaceous inoceramid shells from James
inoceramids (Bivalvia) and carbonate matrix Ross Basin, Antarctica. Antarctic Science,
as indicators of differential diagenesis during 18(3): 357-376.
burial. Early Maastrichtian Bay of Biscay
sections (Spain and France). Potential use for MACLEOD,K.G.; HUBER,B.T.& WARD,P.D.
chemostratigraphy? Cretaceous Research, 1996. Biostratigraphy and paleobiogeography
29(4): 563-576. of Maastrichtian inoceramids. In: New
Developments regarding the K/T event and
GROSSKOPF, J.F. 2010. Using inoceramid other catastrophes. Geological Society of
bivalve taphonomy as a paleoenvironmental America Special Papers, 307:361-373.
indicator across the Cenomanian/Turonian
horizon at the Pueblo, Colorado GSSP. MCARTHUR, J.M. 1994. Recent trends in
Master Thesis, Agricultural and Mechanical strontium isotope stratigraphy. Terra Nova,
College, Louisiana State University, 65p. 6: 331-358.

JIMENÉZ-BERROCOSO, A.; MACLEOD, SIMKISS, K. & WILBUR, K.M. 1989.


K.G.; CALVERT, S.E. & ELORZA, J. Biomineralization: Cell biology and mineral
2008. Bottom water anoxia, inoceramid deposition. San Diego, Academic Press Inc.,
colonization and benthopelagic coupling 337p.
during black shale deposition on Demerera

Figura 1. Localização dos poços estudados nas bacias de Campos e Santos.

545
Figura 2. A. Fragmento bem preservado mostrando espaçamento entre os prismas; B. Superfície de prisma com feições
de dissolução e pirita granular; C. Cimentação em fragmento composto; D,E e F. Fragmento composto moderadamente
recristalizado e localmente cimentado em diferentes aumentos.

Figura 3. Fragmento localmente silicificado. 1. Composição equivalente a um carbonato com impurezas. 2 – Sílica
associada a um baixo teor de carbonato.

546
ANÁLISE DA SEDIMENTAÇÃO DA MATERIA ORGANICA
PARTICULADA DE SEDIMENTOS HOLOCÊNICOS DA
BACIA DE SANTOS: RESULTADOS PRELIMINARES
Luis Henrique Pereira Barros1 (luishpb@gmail.com), Marcelo de Araujo Carvalho2 (mcarvalho@mn.ufrj.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geologia IGEO
1

Universidade Federal do Rio de Janeiro – Museu Nacional


2

RESUMO orgânica na biosfera, dos processos ecológicos e


sedimentológicos que controlam a distribuição
Análise de palinofácies foi realizada com
e decomposição da matéria orgânica, dos fatores
objetivo de identificar e caracterizar pela primeira
geomicrobiológicos e biogeoquímicos que
vez a matéria orgânica particulada contida em
influenciam na preservação da matéria orgânica,
um testemunho coletado na Bacia de Santos.
bem como, dos processos geoquímicos e físicos
Os 3 pricipais grupos foram identificados e uma
que determinam a modificação da matéria
comparação entre a base da seção e o topo mostra
orgânica durante sua incorporação na geosfera,
que na base ocorreu uma maior contribuição
nesta perspectiva surge à análise de palinofácies.
terrígena que no topo confirmada também pelos
elementos marinhos que são mais abundantes no O conceito de palinofácies foi introduzido
topo da seção. por Combaz (1964) e sua definição pode ser
entendida como o estudo palinológico da
Palavras-chave: matéria orgânica
assembleia total de matéria orgânica contida
particulada, Holoceno, Bacia de Santos
em um sedimento. A análise por palinofácies
envolve o estudo integrado de todos os aspectos
ABSTRACT das assembleias de matéria orgânica como:
Palynofacies analysis was performed identificação dos componentes particulados
to identify and characterize the first time the individuais (querogênio), determinação de suas
particulate organic matter contained in a core proporções relativas e absolutas, suas dimensões e
collected in the Santos Basin. The three main estado de preservação.
groups and subgroups were identified and a A palinofácies é provavelmente a única
comparison between the base and the top of the técnica discriminante mais simples que pode
section shows that the base has an intense input providenciar todas as respostas para o estudo
of land-derived than the top. This is confirmed by e explicação dos modelos de fácies orgânica.
marine elements that are most abundantly at the Além disso, dados de palinofácies podem gerar
top of the section. parâmetros mais diversos e numerosos que
Keywords: particulate organic matter, dados geoquímicos, permitindo a análise muito
Holocene, Santos Basin mais detalhada e sutil de variações no ambiente
sedimentar e da matéria orgânica e seu estado de
preservação. O objetivo desse estudo preliminar é
INTRODUÇÃO identificar a matéria orgânica particulada (MOP)
A caracterização da matéria orgânica presentes nas amostras.
contida em sedimentos e rochas sedimentares é
uma questão importante para diversas áreas do
ÁREA DE ESTUDO
conhecimento, em especial aqueles que tratam a
matéria orgânica como uma partícula sedimentar. A Bacia de Santos constitui uma ampla
Para o estudo da matéria orgânica tem depressão na margem continental brasileira, entre
sido particularmente utilizada à integração de as latitudes 23° e 28° Sul, ocupando uma área
técnicas de microscopia e geoquímica orgânica, próxima a 275 000 km2. Seu limite geográfico a
o que requer um entendimento dos fatores oeste é dado pelo Maciço da Carioca, Serras do
ambientais que controlam a produção de matéria Mar e da Mantiqueira; a leste com o Platô de

547
São Paulo (Macedo, 1990); a norte limita-se com na borda e não apresentam fluorescência e,
a Bacia de Campos pelo alto do Cabo Frio e a portanto de origem continental.
sul, o limite com a Bacia de Pelotas é dado pela Deve ser destacado que existe uma
Plataforma de Florianópolis (Pereira & Feijó, diferença marcante entre as amostras do topo e da
1994). base na seção estudada. Na média geral mostrada
A área de estudo localiza-se no setor no Quadro 1 nota-se que, especialmente os
morfológico conhecido como Platô de São Paulo, elementos marinhos são conspicuamente mais
o qual segundo se estende entre 23°e 28° de abundante no topo da seção o que pode está
latitude Sul, ao longo da margem Leste brasileira. relacionado com uma subida do nível do mar e ou
O testemunho KF02 (25° 50’ 15,25”S, 45° 11’ diminuição do fluxo terrígeno na área estudada. A
53,72W) foi coletado na plataforma externa e MOA de origem continental que na base apresenta
na parte superior do talude da região Sudeste do uma média de 84,7 diminui sensivelmente no
Brasil sob uma lâmina d’água entre 827 metros de topo, 65,6%. Os resultados indicam que a base
profundidade. recebeu uma maior contribuição de material
terrígeno e que o processo de transformação de
fitoclastos para MOA tem uma relação direta
MATERIAIS E MÉTODOS com o transporte.
Para o presente trabalho foi estudado
amostras sedimentares do testemunho KF02, de
489 cm, datado por carbono 14. Oitenta e sete CONCLUSÕES
lâminas foram preparadas para o estudo, dentre • A análise da MOP permitiu reconhecer
estas 10 foram selecionadas para uma análise os três principais grupos da MOP amostras
inicial. As cinco primeiras amostras do topo seção: estudadas.
7, 11, 15, 19 e 23 cm e cinco amostras da base: • Existe uma diferença substancia
466, 470, 478, 482 e 486 cm. A preparação do entre a base e topo. A base é caracterizada pelo
material para análise de palinofácies foi realizada maior conteúdo de material orgânico de origem
utilizando os procedimentos palinológicos não continental e o topo com maior influencia
marinha indicada pela maior abundância de
oxidativos padrões descritos por Tyson (1995)
elementos marinhos e diminuição dos elementos
e Mendonça Filho et al. (2010). As lâminas
continentais.
foram analisadas com microscopia em luz branca
transmitida e fluorescência. Para cada lâmina
foi contado, quando possível, 300 partículas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
orgânicas, transformadas posteriormente em
COMBAZ, A.1964. Les palynofacies. Revue de
valores percentuais. Micropaléontologie, 7 : 205-218.

MENDONÇA FILHO, J.G.; MENEZES,


RESULTADOS E DISCUSSÃO T.R.; MENDONÇA, J.O.; OLIVEIRA,
Os três principais grupos e subgrupos da A.D.; CARVALHO, M.A.; SANT’ANNA,
MOP fora identificados: fitoclastos (fitoclastos A.J. & SOUZA; J.T. 2010. Palinofácies. In:
opacos, fitoclastos não opacos bioestruturados CARVALHO, I.S. (ed.), Paleontologia, 3°
e não opacos não bioestruturados), matéria ed. Rio de Janeiro, Interciência, v. 2, p. 379-
orgânica amorfa e palinomorfos (esporos, grãos 413.
de pólen, cistos de dinoflagelados, escolecodontes,
PEREIRA, M.J. & FEIJÓ, F. J. 1994. Bacia de
palinoforaminíferos). Notavelmente a matéria
Santos. In: FEIJÓ, F.J. (ed.). Estratigrafia
orgânica amorfa foi a mais abundante com
das Bacias Sedimentares do Brasil. Rio de
uma média de 75,2%. Deve ser ressaltado que Janeiro: Boletim de Geociências: 219-234.
provavelmente a MOA tem origem do fitoclasto,
visto que grande parte apresenta resquícios de TYSON, R.V. 1995. Sedimentary Organic
tecidos que lembram cutículas, regiões angulares Matter: organic facies and palynofacies. 1°
ed. London, Chapman and Hall, 615 p.

548
Figura 1. Mapa de localização do Platô de São Paulo. Testemunho KF02 indicado pela estrela preta.

Figura 2. Média dos três principais grupos da matéria orgânica particulada e os elementos marinhos.

549
ANÁLISES PALINOFACIOLÓGICAS E PALINOLÓGICAS DA FORMAÇÃO
TREMEMBÉ – POÇO TMB-01-SP – BACIA DE TAUBATÉ
Carolina Oliveira de Castro1 (carolina.castro@petrobras.com.br), Luzia Antonioli2 (luantonioli@ig.com.br),
Rodolfo Dino1 (dino@petrobras.com.br)
Petrobras;
1

Universidade do Estado do Rio de Janeiro


2

RESUMO species and to correlate it with the Parvisaccites?


sp. (Regali et al., 1974) palynozone, which is
Aplicaram aqui técnicas de petrografia
Oligocene in age.
orgânica e palinologia no testemunho do
poço TMB-01-SP, na porção central da Bacia Keywords: Palynofacies, Paleopalynology,
de Taubaté. A análise visual de 41 lâminas Tremembé Formation
organopalinológicas e palinológicas permitiu
individualizar três palinofácies. Observou-se INTRODUÇÃO
o predomínio de matéria orgânica amorfa de
A Bacia de Taubaté, localizada no leste do
origem lacustre. Subordinadamente foram
Estado de São Paulo é uma depressão alongada
identificados grãos de pólen, esporos, fitoclastos
na direção NE-SW entre as Serras do Mar e da
e tecidos cuticulares. A matéria orgânica amorfa
Mantiqueira. Contém o mais espesso registro
apresentou fluorescência moderada a alta na maior
sedimentar aluvial-lacustre do Rift Continental
parte da seção (palinofácies 1 e 3) indicando um
do Sudeste do Brasil (RCSB) – (Riccomini, 1989).
ambiente de sedimentação redutor predominante.
Estende-se por cerca de 170 km de comprimento
O índice de coloração dos esporos (ICE) mostra
e tem entre 10 e 25 km de largura. Os altos
valores entre 1,5 e 2,5. Foi possível observar uma
estruturais de Caçapava e de Pindamonhangaba
rica e diversificada associação palinológica com
são considerados zonas de transferência que
49 espécies identificadas e correlacionar a seção
subdividem a bacia em três compartimentos
analisada à palinozona Parvisaccites? sp. (Regali et
alongados denominados de SW para NE: São
al., 1974) que corresponde ao Oligoceno.
José dos Campos, Taubaté e Aparecida (Figura
Palavras-chave: Palinofácies, 1). O sítio paleontológico Fazenda Santa Fé, onde
Paleopalinologia, Formação Tremembé foi perfurado o poço estudado, localiza-se no
município de Tremembé (SP) na porção central
ABSTRACT da bacia. Trata-se de uma referência para estudos
paleontológicos no Paleógeno. Sob o ponto
We applied the organic petrography and
de vista econômico, há interesse na exploração
palynology techniques on a cored section of the
industrial por pirólise de folhellhos betuminosos
well TMB-01-SP, central portion of the Taubate
como é realizado na planta industrial SIX da
Basin. Visual analysis of 41 organopalynological
Petrobras, em São Mateus no Paraná.
and palynological slides allowed to individualize
three palynofacies. There was a predominance of
amorphous organic matter of lacustrine origin. In FORMAÇÃO TREMEMBÉ
addition, were perceived the presence of: pollen O sistema lacustre da Formação
grains, spores, phytoclasts and cuticles. It was Tremembé grada lateral e verticalmente para os
possible to classify the kerogen as types I and III. leques aluviais da Formação Resende. A Formação
The amorphous organic matter had a moderate Tremembé ocorre na porção central da Bacia de
to high fluorescence in most of the section Taubaté e centro-norte da Bacia de São Paulo.
(palynofacies 1 and 3) indicating a reducing Caracterizava-se por flutuações do nível d’água,
environment. The spore color index (ICE) was expondo e inundando o fundo (Torres-Ribeiro,
between 1.5 and 2.5. It was possible to observe 2004). As principais litofácies reconhecidas
a rich and diverse palynoflora with 49 identified

550
são: argilitos verdes maciços, folhelhos, margas, COT. Caracterizada pelo domínio de fitoclastos,
dolomitos e arenitos. seguidos por grãos de pólen e esporos. A matéria
orgânica amorfa apresenta-se dispersa com
coloração marrom-clara a preta e fluorescência
METODOLOGIA moderada a baixa, caracterizando o intervalo
Foram analisadas 41 amostras provenientes de maior exposição à oxidação durante a fase
do testemunho TMB-01-SP de 55,40m de diagenética. Palinofácies 3: Apresenta os mais
comprimento, cujos estratos atravessados foram baixos valores percentuais de COT (1% a 8%) e
correlacionados à Formação Tremembé. Estas de IH (150 a 600 mg HC/g COT). Destaca-se
amostras, do topo para a base são compostas das palinofácies 1 e 2 por apresentar os mais altos
por: folhelhos cinza-escuros e pretos, localmente percentuais de algas lacustres (Pediastrum sp. e
papiráceos, com microfraturas; concreções Botryococcus braunii) e os mais baixos percentuais
carbonáticas milimétricas e finas camadas de de matéria orgânica amorfa. Entretanto o
siltitos e argilitos cinza-esverdeados. Vale ressaltar material orgânico mostra-se bem preservado
que análises geoquímicas obtidas anteriormente com fluorescência moderada a alta. As análises de
por Freitas 2007, indicaram valores de Carbono maturação térmica demonstraram valores de ICE
Orgânico Total (COT) compreendidos ente 5% e entre 1,5 e 2,5, indicando um estágio imaturo
10 % (Figura 4). No processamento das amostras, para geração de hidrocarbonetos.
tanto para palinologia quanto para os estudos
palinofaciológicos foram aplicados procedimentos
palinológicos não-oxidativos (Tyson 1995) a PALINOLOGIA
fim de se obter um resíduo concentrado em Foram identificadas 49 espécies de
material orgânico. As lâminas foram observadas palinomorfos, sendo: 24 espécies de grãos de pólen,
utilizando-se microscopia óptica sob luz branca 14 grãos de esporos de briófitas e pteridófitas, nove
transmitida e ultravioleta refletida. fungos e duas espécies de algas. Há predomínio
de talófitas, representadas por Botryococcus braunii,
integrante do grupo das algas Chlorophyceae de
PALINOFÁCIES água doce. Entre os palinomorfos diagnósticos de
O material é dominado por matéria idade foram identificados as espécies: Catinipollis
orgânica amorfa seguida por algas Botryococcus geiseltalensis, Cicatricosisporites dorogensis,
brauni e Pediastrum sp. (Figura 2). Fazem Dacrydiumites florinii, Echitriletes muelleri,
parte ainda dos constituintes do querogênio, Ephedripites tertiarius, Perisyncolporites pokornyi,
porém com percentuais menores, palinomorfos, Podocarpidites marwickii, Polypodiaceiosporites
fitoclastos não-opacos, e tecidos cuticulares potoniei, Psilatricolporites operculatus, Quadraplanus
(Figura 3). As análises permitiram individualizar sp., Ulmodeipites krempii e Verrucatosporites
três palinofácies distintas: 1, 2 e 3 do topo para usmensis. A associação palinológica identificada
a base da seção (Figuras 4 e 5). Palinofácies 1: nos permitiu correlacionar a seção analisada à
Corresponde aos valores mais elevados de COT (≥ palinozona Parvisaccites? sp. (Regali et al., 1974),
9%) assim como de IH (entre 600 e 800 mg HC/g de idade correspondente ao Oligoceno (Figura 6).
COT). Predomina a matéria orgânica amorfa
globosa, com frequências mais baixas de algas
lacustres. A matéria orgânica amorfa apresenta as CONCLUSÕES
mais altas intensidades de fluorescência de toda Alternância entre as palinofácies pode estar
a seção, caracterizando um ambiente disóxico/ relacionada às variações no nível do lago, de tal
anóxico. Embora os fitoclastos, grãos de pólen e forma que a palinofácies 3 representaria condições
tecidos cuticulares representem menos de 10% do mais rasas do que as vigentes durante a deposição
total, suas variações podem ser correlacionadas às da palinofácies 1. Em praticamente toda a seção,
mudanças no aporte de constituintes alóctones. predominam os teores de carbono orgânico total
Palinofácies 2: Compreende valores de COT (% COT) superiores a 2% e valores de índice
entre 2% e 8% e IH entre 200 e 600 mg HC/g de hidrogênio (IH) superiores a 300 mg HC/g

551
COT, os quais indicam potencial para geração REGALI, M. S. P.; UESUGUI, N. & SANTOS,
de óleo. Integrando-se estes resultados com os A.S. 1974. Palinologia dos sedimentos
dados de pirólise, percebe-se que a palinofácies meso-cenozoicos do Brasil (11). BoI. Téc.
1 é a mais indicada ao aproveitamento industrial Petrobras.. 17 (4): 263 - 301.
para extração de hidrocarbonetos. Os resultados
palinológicos concordam, de modo geral, com as TORRES-RIBEIRO, M. 2004. Fácies
associações encontradas em trabalhos anteriores microclásticas de um sistema lacustre
(Lima et al., 1985; Yamamoto, 1995; Antonioli oligocênico do sudeste do Brasil (Formação
et al., 2008). De acordo com a maior freqüência Tremembé, bacia de Taubaté). Instituto
de coníferas, representadas por Dacrydiumites de Geociências, UFRJ, Rio de Janeiro,
florinii e Podocarpidites spp., e a existência de Dissertação de Mestrado. 122p.
cutículas com estômatos preservados, sugere-se a
existência de clima temperado úmido para época TYSON, R.V. 1995. Sedimentary organic
de deposição. Os resultados palinoestratigráficos matter: organic facies and palynofacies. Publ.
permitiram correlacionar a seção analisada às Chapman & Hall, London, 1995. p. 615.
palinozona Parvisaccites? sp., correspondente ao
YAMAMOTO, I.T. 1995. Palinologia das
Oligoceno.
bacias tafrogênicas do sudeste (bacias de
Taubaté, São Paulo e Resende): análise
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS bioestratigráfica integrada e interpretação
paleoambiental. Rio Claro. Dissertação de
ANTONIOLI, L.; ABREU, C.J.; DINO, Mestrado, Programa de Pós-Graduação,
R.; APPI, C.J. & GARCIA, M.J. 2008. Universidade Estadual Paulista. 200p.
Caracterização Palinoestratigráfica e
Paleoambiental da Bacia de Taubaté. In:
44 Congresso Brasileiro de Geologia,
2008, Curitiba. 44 Congresso Brasileiro de
Geologia, 2008.

FERNANDES, F.L. & CHANG, H.K. 2003.


Arcabouço estrutural da Bacia de Taubaté
- SP. In: SBG, Simp. Nac. Est. Tect., 9,
International Symposium on Tectonics, 3,
Armação de Búzios, 2003. B. Res..., Armação
de Búzios, p. 367-370.

FREITAS, M.S. 2007. Estratigrafia de alta


resolução e geoquímica orgânica da
Formação Tremembé, Terciário da Bacia de
Taubaté, região de Taubaté-Tremembé-SP.
Dissertação de Mestrado, UERJ. 80p.

LIMA, M.R; SALARD-CHEBOLDAEFF, M.


& SUGUIO, K. 1985. Estude Palynologique
de la Formation Tremembé, Tertiaire du
Basin de Taubaté, (Etat de São Paulo, Brèsil),
D’aprés les echantillions du sondage nº 42
DUNCP. MME – DNPM, ser Geologia
nº 27 – Paleontologia/ Estratigrafia nº 2, p.
379-393.

552
Figura 1. Arcabouço estrutural da Bacia de Taubaté com a localização do poço estudado (modificado de Fernandes &
Chang, 2003).

Figura 2. Gráficos com as variações das freqüências relativas de matéria orgânica amorfa e de algas lacustres (Botryococcus
braunii e Pediastrum spp.).

553
Figura 3. Gráficos com as variações das freqüências relativas de fitoclastos não-opacos, grãos de pólen e tecidos
cuticulares.

Figura 4. Perfil sedimentológico do Poço com a curvapercentual de COT e individualização das palinofácies 1, 2 e 3

554
Figura 5. Fotomicrografias das palinofácies em microscopia em luz branca transmitida (A) e luz ultravioleta (B).1 =
Palinofácies 1 (10,55 m); 2 = Palinofácies 2 (40 m); 3 = Palinofácies 3 (51,65 m)

Figura 6. Distribuição temporal dos palinomorfos diagnósticos de idade na seção estudada.

555
BIOESTRATIGRAFÍA DEL APTIANO ALBIANO EN POZOS
EXPLORATORIOS DE LA ZONA MARINA DEL GOLFO DE MÉXICO
Marcelo Aguilar Piña1, Nicté A. Gutiérrez Puente1, María E. Gómez Luna1, Julio C. González Lara1
1
Instituto Mexicano del Petróleo

RESUMEN similis;Zona Colomiella con las siguientes


subzonas: Colomiella recta, Calpionellopsella
En las rocasdel sureste del Golfo de
maldonadoi, Colomiella coahuilensis, Colomiella
México, los principales grupos que se utilizan para
mexicana y Deflandronella;Zona Nannoconus
realizar estudios bioestratigráficos en el intervalo
truitti y la Zona Nannoconus wasalli (Figura 2).
Aptiano-Albiano, son foraminíferos planctónicos,
nanofósiles, colomiélidos y calcisferúlidos. En En los pozos exploratorios de la Región
el análisis se incorporan también descripciones Marina del Golfo de México las biozonas que
petrográficas, registros geofísicos y gráficas se han encontrado con mayor frecuencia para el
de correlación para generar además del marco Albiano superior son: Zona Rotalipora appenninica,
biocronológico, interpretaciones paleoambientales que se infiere por la última aparición estratigráfica
y cicloestratigráficas, que proporcionen elementos de Planomalina buxtorfi, Ticinella madecassiana,
de correlación. T. primula, y Ticinella sp.; Zona Rotalipora
ticinensis, por la última aparición estratigráfica
Para establecer las columnas
deTicinella roberthi. Para el Albiano Medio
bioestratigráficas delos pozos exploratorios del
generalmente se encuentra la Zona Calcisphaerula
Cretácico, se observan láminas delgadas de
con laSubzona Bishopellaque se infiere por el
muestras de canal y de núcleo para identificar
evento de abundancia deBishopella ornelasae,
géneros y especies de foraminíferos planctónicos,
Bishopella alatayBishopella diazi.En el Albiano
calpionélidos, calcisferúlidos y nanocónidos de
Inferior se ha identificadola ZonaStomiosphaera
acuerdo a los siguientes autores: Sliter(1994),
similis,por la última aparición estratigráfica
Premoli y Sliter (1995), y Trejo (1960, 1975, 1983).
deColomiella recta; la ZonaColomiellacon las
Posteriormente los datos se capturan en cuadros
subzonas:Colomiella recta, por la última aparición
de distribución, donde se identifican loseventos
estratigráfica de Capionellopsella maldonadoi; la
de primera y última aparición estratigráfica
SubzonaCalpionellopsella maldonadoi, por la última
de los fósiles índice. Las biozonas se infieren
aparición estratigráfica deColomiella semiloricata;
de acuerdo al modelo de Ornelas et al. (2001)
y la SubzonaColomiella coahuilensis, que se infiere
modificado de Sliter(1994) que para el Aptiano-
por la presencia del taxón nominal.
Albiano integra 11 zonas y 2 subzonas: Zona
Rotalipora appenninica; Zona Rotalipora ticinensis; Para el Aptiano las biozonas que se
Zona Biticinella breggiensis, Subzona Rotalipora encuentran con mayor frecuencia son: Ticinella
subticinensis, SubzonaTicinella praeticinensi;Zona bejaouaensis que se identifica por la última
Ticinella primula;Zona Hedbergella planispira;Zona aparición estratigráfica de Globigerinelloides
Ticinella bejaouaensis;Zona Hedbergella ferreolensis; Zona Globigerinelloides algerianus por
trocoidea;Zona Globigerinelloides algerianus;Zona la última aparición estratigráfica de G. algerianus
Globigerinelloides ferreolensis;Zona Leupoldina y G. barri; Zona Globigerinelloides ferreolensis por
cabri y Zona Globigerinelloides blowi (Figura 1). la última aparición estratigráfica de G. cepedai; y la
Para los grupos de calpionélidos, calcisferúlidos Zona Nannoconus truitti por la última aparición
y nanocónidos integra un esquema de 6 zonas estratigráfica de Nannoconus bucheri y Nannoconus
y 9 subzonas: Zona Pithonella trejoi; Zona kamptneri.
Calcisphaerula, con las Subzonas Pithonella En la mayoría de los pozos estudiados en
ovalis, Calcisphaerula innominata, Bishopella la Zona Marina no sería posible diferenciar la
y Stomiophaera sphaerica;Zona Stomiophaera parte inferior y media del Albianosi el esquema

556
biozonal se controlara únicamente con el Quinta actualización. En: Banco de datos
registro fósil de foraminíferos planctónicos, que paleontológicos del Mesozoico. Integración y
únicamente permite identificar dos biozonas del correlación de Eventos del Jurásico Superior-
Albiano Superior; sin embargo el incluir el registro Cretácico en las secuencias mesozoicas del
fósil de colomiélidos y calcisferúlidos aumenta la Golfo de México, mediante el método de
resolución al permitir reconocer cuatro biozonas Correlación Gráfica. PEMEX Exploración
que corresponden al Albiano Inferior y una del y Producción – Instituto Mexicano del
Albiano Medio. Petróleo – Exploración. Proyecto F.53951
Debido a que la paleontología muestra (inédito).
predominantemente microfósiles pelágicos y la
petrografía y los registros geofísicos muestran PREMOLI, I. & SLITER, W. 1995. Cretaceous
litofacies que varían de mudstone, mudstone planktonic foraminiferal biostratigraphy and
arcilloso a wackestone, se considera que las evolutionary trends from the Bottaccione
condiciones de depósito para el Aptiano-Albiano section, Gubbio Italy.Paleontographia Italica,
de los pozos estudiados corresponden a un 82: 1-89.
paleoambiente de cuenca.
SLITER, W. 1994. Cretaceous planktic
En algunos casos, la columna
foraminifers examined in thin section. U. S.
bioestratigráfica del pozo en estudio se compara
Geological Survey. U. S. A.
con el Estándar Compuesto del Mesozoico para
generar la línea de correlación, que proporciona TREJO, M. 1960. La Familia Nannoconidae y su
información sobre la tasa de acumulación de alcance estratigráfico en América. (Protozoa,
sedimentos o las interrupciones de su depósito, incertae saedis).Boletín de la Asociación
es decir, permite detectar superficies que pueden Mexicana de Geólogos Petroleros, 12: 259-313.
ser correlacionables como: límites de secuencia,
superficies de inundación, de máxima inundación TREJO, M. 1975. Tintínidos mesozoicos de
y secciones condensadas, información que puede México (Taxonomía y datos paleobiológicos).
ser de utilidad en los estudios de secuencias Boletín de la Asociación Mexicana de Geólogos
estratigráficas y el análisis de cuencas. Petroleros, 27: 329-449.
Palabra clave: Bioestratigrafia, biozonas,
foraminiferos planctonicos, Aptiano, Mexico TREJO, M. 1983. Paleobiología y taxonomía de
algunos fósiles mesozoicos de México.Boletín
de la Sociedad Geológica Mexicana, 44: 1-82.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ORNELAS, M.; AGUILERA, N.; FRANCO,
S.; GRANADOS, M.; BERLANGA,
J.; JIMÉNEZ, D.; GRANADOS, O.;
CASTILLO, R.; QUINTANILLA, G.;
SEGURA, A. & CUEVAS, M. 2001.
Integración y correlación de eventos del
Jurásico Superior-Cretácico en las cuencas
mesozoicas del Golfo de México mediante
el método de correlación gráfica. Pemex
Exploración y Producción-Instituto
Mexicano del Petróleo-Exploración.
Proyecto F.53957 (inédito).

ORNELAS, M.; FRANCO, S.; GRANADOS,


M. & FRANCO, D. 2003-2006.
Estándar Compuesto del Mesozoico.

557
Figura 1. Alcances estratigráficos de Foraminíferos planctónicos del Aptiano – Albiano, quese usan para la determinación
de biozonas de acuerdo a Ornelas et al. (2003-2006). Los alcances estratigráficos marcados* se tomaron de Sliter (1994).

Figura 2. Alcances estratigráficos de Microfósiles Diverso del Aptiano – Albiano, quese usan para la determinación de
biozonas de acuerdo a Ornelas et al. (2003-2006).

558
CARACTERIZAÇÃO PALEOCEANOGRÁFICA DO ATLÂNTICO TROPICAL
OESTE AO LONGO DOS ÚLTIMOS 130.000 ANOS COM BASE EM
FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS E NANOFÓSSEIS CALCÁRIOS
Edmundo Camillo Jr.1 (edmundo@paleolapas.org), Juliana Pereira Quadros1 (juliana@paleolapas.org),
Karen Badaraco Costa1 (karen@paleolapas.org), Felipe Antonio de Lima Toledo1 (felipe@paleolapas.org)
1
Laboratório de Paleoceanografia do Atlântico Sul (LaPAS)

RESUMO higher ∂13C values indicating, probably, lower


surface productivity during these periods. These
Análises micropaleontológicas de
changes are addressed to significant changes of
foraminíferos planctônicos e nanofósseis calcários
the mixed layer depth.
foram realizadas em um testemunho de mar
profundo (KF-B) do Atlântico Tropical oeste Keywords: planktonic foraminifera,
ao longo dos últimos 130.000 anos. A partir das calcareous nannoplankton, last 130 ky, Western
análises da estratigrafia isotópica do oxigênio Tropical Atlantic
(∂18O) e da curva de abundância de G. menardii,
foi possível reconhecer os últimos cinco estágios INTRODUÇÃO
isotópicos marinhos assim como as Zonas X, Y
A reconstituição de parâmetros
e o início da Z de Ericson e Wollin. As análises
oceanográficos no passado é fundamental para a
quantitativas desses dois grupos de microfósseis
compreensão das mudanças globais, para tanto se
apresentam padrões de distribuição de frequência
faz necessário a escolha de métodos satisfatórios
distinguíveis em períodos glaciais e interglaciais,
que se apliquem ao objeto de estudo. Os mais
assim como as estimativas de paleotemperatura
difundidos proxies utilizados na estimativa de
(paleo-TSM) por redes neurais artificiais (RNA).
parâmetros oceanográficos são a distribuição
Os intervalos de maior TSM apresentam maiores
e composição de assembleias de microfósseis
valores isotópicos de carbono (∂13C) indicando,
marinhos, principalmente foraminíferos e
provavelmente, menor produtividade superficial
cocolitoforídeos (Baumann et al., op. cit.; Toledo,
durante estes períodos. Estas variações devem
2000) e a composição isotópica de oxigênio e
estar relacionadas às mudanças da profundidade
carbono em suas carapaças calcárias (Shackleton
da camada de mistura.
1987; Duplessy et al., 2002). Os microfósseis
Palavras-chave: foraminiferos marinhos são considerados portadores de sinais
planctônicos, nanofósseis calcários, últimos ambientais e seu estudo tem como base informações
130.000 anos, Atlântico Tropical Oeste quantitativas a respeito das propriedades físicas e
químicas do ambiente em que estes organismos
ABSTRACT viveram (Kucera, 2003).
Quantitative analysis of planktonic Nesta perspectiva, este estudo pretende
foraminífera and calcareous nannofossils contribuir para a melhor compreensão da história
assemblages were carried out on core KF-B paleoceanográfica do Atlântico Tropical oeste
(Western Tropical Atlantic) along the last 130 nos últimos 130.000 anos com base em análises
ky. The last five marine isotopic stages (MIS) and qualitativas e quantitativas de associações de
the Ericson & Wollin Zones X, Y and Z were foraminíferos planctônicos e nanofósseis calcários
recognized by oxygen isotopic analysis (∂18O) ao longo do testemunho de mar profundo KF-B.
and G. menardii abundance curve. We identify Foram utilizados dados isotópicos de oxigênio
different distribution pattern of both planktonic e carbono em carapaças de foraminíferos
foraminífera and calcareous nannofossil species planctônicos no auxílio às interpretações
between glacial and interglacial intervals, as paleoceanográficas, bem como estimativas de
well as ANN paleotemperature (paleo-SST) paleotemperatura por redes neurais artificiais
estimatives. Higher SST intervals well agree with (RNA).

559
Caracterização Oceanográfica Para estabelecer uma cronologia para KF-B
De acordo com os dados do WOA09, a foram efetuadas análises de isótopos de oxigênio
porção oeste do Oceano Atlântico Sul Tropical, em foraminíferos planctônicos (Globigerinoides
que abrange a área de interesse deste estudo, é ruber var. branca) em conjunto com duas datações
atualmente uma região de águas quentes, com de radiocarbono (14C). As idades de 14C foram
alta salinidade, camada de mistura profunda e a corrigidas para efeito reservatório de acordo com
termoclina localizada abaixo da zona fótica. Estas Butzin et al. (2005), em seguida foi efetuada a
características denotam condições ambientais conversão para idades calendário com base na
oligotróficas. curva de calibração proposta por Fairbanks et al.
A área de estudo é caracterizada por um (2005). Para as demais amostras as idades foram
sistema de correntes oceânicas conhecido como estimadas por interpolação linear, no programa
Correntes do Oceano Atlântico Equatorial. A de análise de séries temporais (AnalySeries 2.0.4)
Corrente Sul Equatorial, cruza o Atlântico no tendo como base de referência a curva isotópica
sentido leste-oeste em direção ao promontório da padrão LR04 (Lisieki & Raymo, 2005).
América do Sul (Cabo de São Roque) e bifurca-se As análises micropaleontoógicas seguiram
em Corrente Norte do Brasil e Corrente do as recomendações do CLIMAP (1981) Antunes
Brasil. A Corrente Norte do Brasil, mais intensa, (1997) e Toledo (2000), contabilizando-se
é responsável pelo transporte de calor entre o não menos que 300 espécimes de cada grupo
Atlântico Sul e o Atlântico Norte (Peterson e de microfósseis. De acordo com a ocorrência
Stramma, 1991; Silveira et al., 1994; Philander, de G. menardii ao longo do KF-B, foi possível
2001). estabelecer a bioestratigrafia climática de Ericson
O sistema equatorial de correntes é e Wollin (1968), tendo como critério distintivo
caracterizado por responder fortemente às o valor percentual de 2%. As estimativas de
mudanças no campo de ventos sobrejacente. paleotemperatura por redes neurais artificiais
Essas variações sazonais estão associadas aos (RNA) foram processadas com base nos dados
movimentos (norte-sul) da Zona de Convergência referentes às abudâncias relativas (%) das espécies
Intertropical (ZCIT). Variações na intensidade de foraminíferos planctônicos observadas neste
dos ventos alísios exercem controle sobre as estudo.
variações na intensidade de ressurgências e
downwelling e, desta forma, na profundidade RESULTADOS PRELIMINARES
da camada de mistura e da termoclina (Hüttl e
De acordo com os dados percentuais do
Böning, 2007).
plexo G. menardii, a estratigrafia isotópica e as
datações de radiocarbono, foi possível reconhecer
MATERIAIS E MÉTODOS o penúltimo interglacial (MIS 5/Biozona X), a
O testemunho KF-B última glaciação (MIS 4 – MIS 2/Biozona Y) e
(07°29’37.0”S/34°20’27.1”W) foi coletado o início do presente interglacial (MIS 1/Biozona
a pistão pela Texas University, em 1996, a Z).
bordo do R/V Powell, em uma campanha de A base do KF-B teve idade estimada em
prospecção geoquímica nas bacias da costa 130.000 anos, enquanto o topo apresentou idade
brasileira coordenada pelo Centro de Pesquisas da de 3.000 anos. Foram observadas associações
PETROBRAS. O KF-B é proveniente do talude calcárias de espécies tropicais ao longo deste
da Bacia Pernambuco-Paraíba, a 1.261m de período, indicando uma relativa estabilidade das
profundidade. O KF-B teve 398 cm recuperados, condições oceanográficas na porção oeste do
dos quais 247 cm foram utilizados neste estudo Atlântico Sul. No entanto, as análises quantitativas
totalizando 31 amostras. Os procedimentos de de foraminíferos planctônicos e nanofósseis
descrição e amostragem dos testemunhos estão calcários apresentam padrões de distribuição de
descritos em Toledo (2000) e Costa (2000). frequência distinguíveis em períodos glaciais e
interglaciais.

560
No período interglacial correspondente REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ao MIS 5 (biozona X) as seguintes espécies
apresentaram maior destaque: G. menardii, G. ANTUNES, R.L. 1997. Introdução ao estudo
calida, G. siphonifera, G. bulloides e N. dutertrei dos nanofósseis calcários. Rio de Janeiro:
(foraminíferos planctônicos) e Helicosphaera UFRJ. 115p.
spp., C. leptoporus e espículas de ascídias. No
BAUMANN, K.-H.; CEPEK, M. & KINKEL, H.
período glacial consecutivo, que compreende
1999. Coccolithophores as indicator of ocean
o MIS 4, MIS 3 e MIS 2 (Biozona Y) espécies
water masses, surface-water temperature, e
como G.sacculifer, G. inflata e Pulleniatina spp. e
paleoprodutivity from the South Atlantic. In:
R. clavigera, D. tubifera, Syracosphaera spp. e C.
FISCHER, G. & WEFER, G. (Eds.). Use
murrayi apresentam aumento na sua freqüência
of proxies in Paleoceanography: Examples
relativa.
from the South Atlantic. Berlin: Springer-
O atual interglacial (MIS 1/Biozona Z) Verlag. p. 117-144.
está bastante reduzido no KF-B, sendo provável
a perda do topo do testemunho durante a coleta BUTZIN, M.; PRANGE, M. & LOHMANN,
ou um reflexo da baixa sedimentação na área de G. 2005. Radiocarbon simulations for the
estudo. Intervalos menores foram considerados glacial ocean: the effects of wind stress,
relevantes para a análise micropaleontológica Southern Ocean sea ice and Heinrich events.
devido ao padrão de oscilação de abundância das Earth and Planetary Science Letters, 235,
espécies. Estes intervalos podem dar indicações 45-61.
das variações em escala regional ou local.
Os dados de paleotemperatura anual CLIMAP. 1981. Seasonal Reconstructions of
(paleo-TSM) apresentaram duas tendências ao the Earth’s Surface at the Last Glacial
longo do KF-B, durante o MIS 5 a temperatura Maximum. Geological Society of America
foi mais elevada e estável e a partir da última Map and Chart Series, MC-36, 1-18.
glaciação até o topo a temperatura estimada
foi menor e mais oscilante, apresentando um COSTA, K. B. 2000. Variações Paleoceanográficas
único pico em 50cm. Além disso, observou-se na Porção Oeste do Atlântico Sul entre
uma relação inversa entre esse parâmetro termal o Último Máximo Glacial e o Holoceno:
e os dados isotópicos de carbono (∂13C). Os Isótopos Estáveis do Oxigênio e Carbono e
intervalos de maior TSM apresentam maiores Razão Cd/Ca em Foraminíferos Bentônicos.
valores de ∂13C indicando, provavelmente, menor In: Instituto de Geociências, Universidade
produtividade superficial. Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Tese de Doutorado, pp. 250.

CONCLUSÕES DUPLESSY, J.C.; BLANC, P.-L. & BE, A.W.H.


Os resultados deste estudo estão de 1981. Oxygen-18 Enrichment of Planktonic
acordo com a hipótese sustentada pela variação Foraminifera Due to Gametogenic
latitudinal da ZCIT, que quando deslocada para a Calcification Below the Euphotic Zone.
posição meridional é acompanhada pelas maiores Science, 213, 1247-1250.
TSM subjacente, maior intensidade dos ventos
ERICSON, D.B. & WOLLIN, G. 1968.
alísios de NE e maior profundidade da camada
Pleistocene climates and chronology in
de mistura e termoclina sazonal. Estas condições
deep-sea sediments. Science, 162(3859),
climáticas caracterizam um ambiente marinho
1227-1234.
oligotrófico nesta região. O intervalo de maior
produtividade (menores valores de ∂13C) está FAIRBANKS, R.G.; MORTLOCK, R.A.;
associado às menores TSM estimadas durante CHIU, T.-C.; CÃO, L.; KAPLAN, A.;
a última glaciação, incluindo o Último Máximo GUILDERSON, T.P.; FAIRBANKS,
Glacial. T.W.; BLOOM, A.L.; GROOTES, P.M.

561
& NADEAU, M.-J. 2005. Radiocarbon PETERSON, R.G. & STRAMMA, L. 1991.
calibration curve spanning 0 to 50,000 years Upper-level circulation in the South Atlantic.
BP based on paired 230Th/234U/238U and Proceedings in Oceanography, 26, 1-73.
14C dates on pristine corals. Quaternary
Science Reviews, 24 (16-17), 1781-1796. PHILANDER, S.G. 2001. Atlantic Ocean
Equatorial Currents. Encyclopedia of Ocean
HÜTTL, S. & BÖNING, C.W. 2007. Sources Sciences, 188-191.
and fate of the off-equatorial undercurrents
in Atlantic Ocean. Geophysical Research SHACKLETON, N.J. 1987. Oxygen isotopes,
Abstracts vol.9. European Geosciences ice volume and sea level. Quaternary Science
Union. Reviews, 6, 183-190.

KUCERA, M. 2003. Numerical approach to SILVEIRA, I.C.A.; MIRANDA, L.B. &


microfossil proxy data. Lecture notes for BROWN, W.S. 1994. On the origins of the
Summer School Paleoceanography: theory North Brazil Current. Journal of Geophysical
and field evidence. IAMC Geomare 2003, Research, 99 (c11), 22,501-22,512.
pp.66-90.
TOLEDO, F.A.L. 2000. Variações
LISIECKI, L.E. & RAYMO, M.E. 2005. A Paleoceanográficas nos últimos 30.000
Pliocene-Pleistocene Stack of 57 Globally anos no oeste do Atlântico Sul: isótopos
Distributed Benthic ∂18O Records. de oxigênio, assembleias de foraminíferos
Paleoceanography, 20, PA 1003, dói planctônicos e nanofósseis calcários. Tese
10.1029/2004PA001071. de doutorado. Universidade Federal do
Rio Grande do Sul – UFRGS. Instituto de
Geociências. Curso de Pós Graduação em
Geociências, Porto Alegre, RS, Brasil. 245p.

562
CARACTERIZAÇÃO PALINOFACIOLÓGIA EM SEDIMENTOS
DA REGIÃO DE ARAMARI – POÇO 9-FBA-79-BA,
CRETÁCEO INFERIOR, BACIA DO RECÔNCAVO
Helena Antunes Portela1 (helenaportela@gmail.com), Luzia Antonioli1 (luantonioli@ig.com.br),
Rodolfo Dino2 (dino@petrobras.com.br)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2Petrobras
1

RESUMO qualitative and quantitative palynofaciological


analysis and TOC data allowed the recognition of
O presente trabalho apresenta os resultados
three distinct palynofacies.
palinofaciológicos do poço 9-FBA-79-BA, na
região de Aramari, Bacia do Recôncavo. Foram Keywords: Palynofacies, Recôncavo Basin,
utilizadas 26 amostras de testemunhos, buscando Early Cretaceous
identificar e caracterizar os tipos dos constituintes
orgânicos e determinar o grau potencial gerador INTRODUÇÃO
de hidrocarbonetos para a seção. Foram utilizadas
A área de estudo localiza-se na porção NE
técnicas de microscopia em luz branca transmitida
do Estado da Bahia, na cidade de Aramari, em
e luz ultravioleta; e de geoquímica orgânica.
região próxima ao limite com a Bacia do Tucano
As análises mostram um domínio de material
(Figura 1). A bacia corresponde a um sistema rifte
orgânico amorfo em bom estado de preservação.
intracontinental, que se alonga na direção norte-sul
Altos teores de COT atingindo níveis de até 47%
por aproximadamente 450 km, desde a zona agreste
foram detectados. Os resultados de ICE indicam
pernambucana até o litoral baiano. Do ponto de
que o material orgânico atingiu a janela de geração
vista estrutural e tectônico, a Bacia do Recôncavo
de hidrocarbonetos com valores entre 5,0 e 5,5. A
constitui um gráben assimétrico, inclinado para
partir da integração das análises palinofaciológicas
leste com área de aproximadamente 1.500 km2. A
tanto qualitativas quanto quantitativas e dos teores
história da evolução tectono-sedimentar da Bacia
de COT, foi possível individualizar, 3 Palinofácies
do Recôncavo está relacionada ao evento rifte
distintas.
Eo-Cretáceo que culminou com a separação das
Palavras-chave: Palinofácies, Bacia do Placas Africana e Sul-Americana (Figueiredo et
Recôncavo, Cretáceo Inferior al., 1994).
O principal objetivo do estudo foi
ABSTRACT caracterizar os tipos de constituintes orgânicos
This paper presents the palynofaciological presentes nos sedimentos, verificar o estado de
results of the 9-FBA-79-BA well in the Aramari preservação e o grau de maturação térmica atingida
region, Recôncavo Basin. A total of 26 samples a fim de reconstituir a história deposicional desses
were used seeking to identify and characterize estratos e determinar o seu grau potencial gerador
the types of organic constituents in order to de hidrocarbonetos.
determine the hydrocarbon generating potential
degree for the section. Transmitted white light ANÁLISE PALINOFACIOLÓGICA
and ultraviolet light microscopy techniques
Foram aplicadas aqui, as técnicas de
were used; as well as the organic geochemistry
preparação das amostras palinológicas descritas
techniques. The analysis shows a dominance
por Uesugui (1979) e Tyson (1995). A identificação
of amorphous organic material in a moderate
dos componentes orgânicos foi obtida, utilizando
to high preservation degree. The TOC present
microscopia óptica de luz branca e luz ultravioleta.
high percentages, reaching levels of up to 47%.
Fazem parte dos constituintes do querogênio,
ICE data indicate that the organic material
o grupo dos fitoclastos (opacos, não opacos),
penetrated in the oil generation “window” with
palinomorfos (grãos de pólen e esporos) e material
values between 5.0 and 5.5. The integration of
orgânico amorfo (Figura 2). Ao longo de toda a

563
seção, observa-se o domínio do material orgânico CONCLUSÕES
amorfo, seguido pelo grupo de fitoclastos. Os
Ao longo de toda a seção, observa-se o
representantes dos palinonomorfos mostram
predomínio de matéria orgânica amorfa sobre os
baixa representatividade em toda seção. Os teores
fitoclastos e palinomorfos. Os teores de Carbono
de COT (Carbono Orgânico Total) variam de
Orgânico Total variam entre 0,12% a 4,71%,
0,12% a 4,71%, onde os mais elevados valores
onde os mais elevados valores encontram-se na
encontram-se na porção mais inferior da seção. Os
porção mais inferior da seção. O predomínio do
índices de maturação térmica foram baseados nas
grupo da matéria orgânica amorfa e contribuição
análises de ICE (Índice de Coloração de Esporos),
de vegetais superiores, aliado aos resultados
e mostram que o material encontra-se em uma
das análises de fluorescência, nos permitiu
fase matura para geração de hidrocarbonetos com
classificar o querogênio como sendo do tipo I
valores entre 5,0 e 5,5.
e I/III. Os resultados das análises de índice de
Em termos de correspondência esses coloração de esporos (ICE) mostram que os
valores equivalem a 0,5% e 0,6% da Reflectância sedimentos pertencentes ao intervalo estudado
da Vitrinita (%Ro). Através da integração dos encontram em um estágio maturo de evolução
teores de COT e da observação em microscopia térmica, tendo atingido a janela de geração
em luz branca transmitida e luz ultravioleta, foi de hidrocarbonetos. Baseados na associação e
possível caracterizar os tipos de constituintes caracterização dos constituintes do querogênio
orgânicos presentes, seu estado de preservação, foram individualizados três unidades distintas de
e o grau de maturação térmica. Desse modo foi Palinofácies (palinofácies 1, 2 e 3). A Palinofácies
possível individualizar três tipos de palinofácies 2 se destaca por corresponder a unidade de maior
(Figura 3): Palinofácies 1: Correspondente potencial gerador de hidrocarboneto, onde se
aos intervalos de 20,80 m a 31,10 m e 96,50 observam os maiores teores de COT, melhor
m e 98,80 m. Caracteriza-se por apresentar qualidade e preservação de matéria orgânica.
maior contribuição de fitoclastos em relação a
outras palinofácies, e baixo percentual de MOA
em relação ao restante da seção. A MOA se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
apresenta dispersa, mal preservada e com grau FIGUEIREDO, A.M.F.; BRAGA, J.A.E.;
de fluorescência regular. Neste intervalo os teores ZABALAGA, J.C.; OLIVEIRA, J.J.;
de COT mostram valores entre 0,12% a 3,62 %. AGUIAR, G.A.; SILVA, O.B.; MATO, L.F.;
Palinofácies 2: Correspondente as profundidades DANIEL, L.M.F.; MAGNAVITA, L.P. &
de 59,30 m a 93,50 m. Destaca-se por deter a maior BRUHN, C.H.L. 1994. Recôncavo basin,
proporção de MOA e os mais baixos percentuais Brazil: a prolific intracontinental rift basin.
de fitoclastos e palinomorfos. O material The American Association of Petroleum
orgânico amorfo apresenta alta fluorescência Geologists Memoir n.59, p.157-203.
indicando o bom estado de preservação da matéria
orgânica, durante a fase deposicional. Intervalo TYSON, R.V. 1995. Sedimentary Organic
mais anóxico de toda a seção com teores de COT Matter. Organic facies and palynofacies.
atingindo valores de até 4,71 %. Palinofácies 3: Chapman & Hall. Londres, 1 ed. 615p.
Correspondente as profundidades 32,30 m a
56,30 m. Intervalo com baixo percentual de MOA UESUGUI, N. 1979. Palinologia-Técnicas de
e fitoclastos; e com maior aporte de palinomorfos tratamento de amostras. Bol. Téc. Petrobras,
em relação as palinofácies 1 e 2. A matéria Rio de Janeiro, v. 22, p. 229-240.
orgânica mostra-se oxidada, mal preservada e com
ausência de fluorescência. Observam-se teores de
COT entre 0,41 % a 3,31%.

564
Figura 1. Localização da Bacia do Recôncavo e área de estudo.

Figura 2. Constituintes do querogênio; 2.1- matéria orgânica amorfa dispersa; 2.2- matéria orgânica amorfa globosa;
2.3- resina; 2.4- fitoclasto não opaco; 2.5- fitoclasto opaco; 2.6- tecido vegetal; 2.7- grão de pólen; 2.8 e 2.9- esporos.

565
Figura 3. Percentual relativo dos grupos de querogênio (Fitoclastos, MOA e Palinomorfos), teores de COT, e individualização
das Palinofácies 1, 2 e 3.

566
CORRELAÇÃO ENTRE O TEOR DE CARBONATO E DOIS
MÉTODOS DISTINTOS NO ESTUDO DE NANOFÓSSEIS
CALCÁRIOS OBTIDOS ATRAVÉS DA PREPARAÇÃO DE LÂMINAS
CONVENCIONAL E DA DECANTAÇÃO ALEATÓRIA
Lucas Makowski Bariani1 (ss_icha@yahoo.com.br), Karen Badaraco Costa1 (karen.costa@usp.br),
Felipe Antonio de Lima Toledo1 (ftoledo@usp.br)
1
Laboratório de Paleoceanografia do Atlântico Sul – IOUSP

RESUMO in previously core analyzed with the Antunes


method (1997).
Utilizando o método de Flores & Sierro
(1997) é possível obter dados sobre as abundâncias Keywords: carbonate content, random
relativas da microflora, abundâncias absolutas settling, calcareous nannofossils
(unidade de nanoplâncton calcário por grama
de sedimento) e quantidade de carbonato por INTRODUÇÃO
grama de sedimento, possibilitando reconstruir
A metodologia empregada no Laboratório
um cenário paleoclimático/paleoceanográfico
de Paleoceanografia do Atlântico Sul do Instituto
bastante detalhado. Por outro lado o método
Oceanográfico da Universidade de São Paulo
descrito por Antunes (1997) permite apenas obter
(LaPas-IOUSP) para o estudo dos nanofósseis
as abundâncias relativas. Os resultados para este
calcários até 2010 era como descrito por Antunes
último método pode ser ampliado com auxilio da
(1997), através do qual se obtêm os dados de
técnica do teor de carbonato, permitindo inferir
abundância relativa das espécies de nanoplâncton
a concentração de cada espécie em gramas de
calcário por amostra. A partir dos estudos
carbonato por grama de sedimento. A correlação
de Ferrarese (2010), utilizando o método de
entre os dois métodos se mostrou muito boa,
decantação aleatória de nanofósseis calcários de
permitindo o uso do novo método proposto para
Flores & Sierro (1997), foi possível obter dados
testemunhos já analisados a partir da técnica de
como: abundância relativa da microflora (do
Antunes (1997).
mesmo modo que Antunes,1997), abundância
Palavras-chave: teor de carbonato, absoluta (unidade de nanoplâncton calcário por
decantação aleatória, nanofósseis calcários grama de sedimento) e quantidade de carbonato
por grama de sedimento. A obtenção destas
ABSTRACT informações adicionais é uma grande vantagem,
pois podem auxiliar na reconstrução de um cenário
Through the Flores & Sierro method
paleoclimático/paleoceanográfico mais detalhado.
(1997), it is possible to obtain nannoflora´s
relative abundance, absolute abundance (number Através da análise do teor de carbonato
of coccoliths per gram of sediment) and nas amostras da fração de tamanho menor 0,063
carbonate content per grams of sediment. These mm, podemos obter a quantidade de carbonato da
parameters enable the reconstruction of a detailed amostra. Mesclando os resultados do carbonato
paleoclimatic/paleoceanographic scenario. The com a abundância relativa de Antunes (1997)
Antunes method (1997), on the other hand, torna-se possível separar a concentração total
provides only the relative abundances, but it can do carbonato por cada espécie e, deste modo,
be extended with the use of the complementary a respectiva representatividade em gramas de
carbonate content technique. It will make possible CaCO3.
the quantification of each species in grams of Segundo Broeker & Clark (2009),
carbonate per grams of sediment. The correlation uma grande parte do sedimento carbonático
between both methods has proven to be very da fração de tamanho menor que 0,063 mm
good, allowing the use of the proposed method é composto por foraminíferos diminutos e
nanofósseis calcário, com isso, é possível inferir

567
a representatividade das espécies no peso do teor com o auxílio do bálsamo do Canadá sintético
do carbonato, pois o padrão da curva manterá sua (Ferrarese, 2010).
proporção independentemente da concentração O teor de carbonato foi obtido por Bariani
da microflora no sedimento. (2009), cujos passos se resumem a: pesar um
béquer vazio e 1 g do sedimento da fração menor
que 0,063 mm no béquer, despejar cerca de 30 mL
OBJETIVO
de ácido clorídrico a 10% no béquer que contém
O objetivo principal deste trabalho é a amostra pesada, esperar decantar o material e
verificar a existência da correlação entre os teores iniciar a lavagem para remoção do ácido excedente
de carbonato da fração menor que 0,063 mm e com água destilada, depois de lavado dispor na
abundância relativa dos nanofósseis calcários estufa para secar o sedimento e obter o peso seco
obtidas pelo método de Flores & Sierro (1997) sem carbonato. Pela diferença dos pesos, obtêm-se
e Antunes (1997), em relação aos dados de o peso do carbonato que continha na amostra.
abundância absoluta, estimados somente pelo O método proposto neste trabalho foi
primeiro método mencionado. obtido através dos seguintes cálculos em cada uma
das 44 amostras:
MATERIAIS E MÉTODOS Para o carbonato de cálcio:
Para alcançar o objetivo proposto foram Peso do béquer vazio (V);
realizadas, em 44 amostras do testemunho KF - 2, Peso do béquer + amostra antes da
análises do teor de carbonato na fração menor que acidificação (AA);
0,063 mm e análise de decantação aleatória dos Peso do béquer + amostra depois da
nanofósseis calcários (Flores & Sierro, 1997), que acidificação (DA);
inclui dados de abundância relativa e absoluta e Peso do carbonato em gramas (Ca);
quantidade de carbonato por grama de sedimento. Porcentagem do carbonato (Ca%);
O testemunho utilizado neste estudo, com Ca=(AA-DA)-V
comprimento de 489 cm, foi cedido e coletado Ca%= (Ca x 100)/((AA-V))
pela Petrobras e armazenado no LaPAS-IOUSP.
O mesmo foi coletado no talude da Bacia de Para a concentração de
Santos, sob lâmina d’água de 827 m e amostrado carbonato por espécie (CC):
a cada 4 cm. Os dados de decantação aleatória
foram cedidos por Ferrarese (2010) e os dados de Abundância relativa de cada espécie obtida
teor de carbonato efetuados por Bariani (2009). pelo método de decantação aleatória (PN);
A preparação das lâminas seguiu o Peso do carbonato em gramas (Ca) [obtido
método descrito por Flores & Sierro (1997) para no passo anterior];
obtenção dos dados de decantação aleatória. Este CC=(Ca x PN)/100
processo consiste em pesar 0,100 g do sedimento
seco (fração menor que 0,063 mm); desagregar RESULTADOS E DISCUSSÕES
em almofariz de porcelana, diluir em 10 mL de
As espécies escolhidas para mostrar a
água preparada (0,2 g de NaHCO3 + 0,15 g
comparação dos resultados foram a Gephyrocapsa
de Na2CO3 + 0,08 g de gelatina). Acrescentar
oceanica e a Florisphaera profunda, por
a mistura (água preparada + sedimento), com
representarem importantes espécies nos estudos
auxílio de micropipeta, em uma placa de petri
dos nanofósseis calcários.
preenchida com água preparada. Depois de 24
horas de repouso o excedente da água deve ser A população de G. oceanica habita as
escoado através de capilaridade com auxílio de um camadas superficiais dos oceanos e aumenta
pedaço de papel absorvente, para então o restante sua concentração em condições de aumento do
da água preparada ser completamente evaporada aporte de nutrientes no meio, embora esta espécie
em estufa. Depois de coletar a lamínula da placa seja capaz de se desenvolver num ambiente que
de petri, esta é fixada na lâmina para microscopia apresente baixas concentrações de Ferro, Zinco

568
e Manganês (Brand, 1994). Dessa forma, a CONCLUSÕES
espécie pode ser utilizada como indicadora de
Os resultados alcançados com a
produtividade.
utilização do Teor de Carbonato se mostraram
A espécie F. profunda habita a região mais com boa correlação, quando comparado
profunda da zona fótica (cerca de 120-200 m) e com os resultados da abundância absoluta.
ambientes abertos, distribuídos na plataforma Embora a correlação tenha sido boa, para uma
externa inferior até profundidades abissais, o análise mais detalhada onde a intensidade das
que destaca sua distribuição preferencial com o variações tem importância, é preferível que seja
aumento da profundidade e com a maior distância escolhido o método de Flores & Sierro (1997).
da costa. (Okada, 1983). A espécie reflete,
Para casos onde o testemunho tenha sido
segundo Molfino & McIntyre (1990), variações
analisado apenas pela preparação convencional
da profundidade da nutriclina/termoclina.
de lâminas de nanofósseis (Antunes, 1997), a
Os resultados da variação relativa dos aplicação do método realizado neste trabalho se
nanofósseis (CC) obtidos através do peso do mostrou um excelente meio para ampliar a base de
carbonato em gramas (Ca) estão correlacionados dados de um testemunho, uma vez que depende
com a curva de abundância absoluta de Ferrarese de menos tempo para obtenção dos resultados.
(2010) nas Figuras 1a (F. profunda) e 1b (G.
Vale a ressalva que os resultados são
oceanica).
qualitativos e apenas expressam a variação do
Analisando as Figuras 1a e 1b nota-se que carbonato por espécie, não podendo ser feita
os padrões das curvas de abundância absoluta e nenhum tipo de comparação entre os resultados
obtida para o presente trabalho apresentam boa da decantação aleatória e deste trabalho em
correlação, tanto para F. profunda quanto para G. âmbito quantitativo.
oceanica. Em ambos os casos as tendências foram
mantidas ao longo do testemunho.
Nas curvas de F. profunda, nota-se que da REFERÊNCIAS BLIOGRÁFICAS
base até o topo do testemunho há a tendência ANTUNES, R.L. 1997. Introdução ao estudo
geral de aumentar sua abundância absoluta (eixo dos nanofósseis calcários. Rio de Janeiro:
principal da Figura 1a) e o seu peso representativo UFRJ. 115p.
no carbonato (eixo secundário da Figura 1a). A
tendência inversa pode ser observada para G. BARIANI, L.M. 2009. Variação da sedimentação
oceanica, onde sua concentração diminui da base ao longo dos últimos 15.000 anos em um
para o topo do testemunho, tanto para a abundância testemunho da Bacia de Santos. Programa
absoluta quanto para o peso representativo no de graduação do Instituto Oceanográfico,
carbonato. Trabalho de conclusão de curso. 43 p.
As variações dos valores para ambas as
espécies podem ser atribuídas aos erros embutidos BRAND, L.E. 1994. Physiological ecology of
nos métodos utilizados e também ao fato de que há marine coccolithophores. In: WINTER, A.
variações entre os espécimes de cada espécie, onde & SIESSER, W. (eds). Coccolithophores.
a quantidade de carbonato de cada cocólito pode Cambrige University Press, Cambrige, pp
variar devido às condições climáticas (ambientes 39-49.
mais frios e/ou ácidos causam a dissolução do
carbonato em diferentes graus para cada cocólito) FERNANDES, B.B. 2010. Variações do conteúdo
e quantidade de nutrientes que também influencia de carbonato em estudos paleoceanográficos:
na quantidade e tamanho dos cocólitos numa um exemplo na Bacia de Campos. Programa
mesma espécie. de Pós-Graduação do DOF, Universidade de
São Paulo, Dissertação de Mestrado, 79 p.

FERRARESE, H.B. 2010. Variações de


produtividade da porção oeste do Atlântico
Sul ao longo dos últimos 15 mil anos a

569
partir de estudo quantitativo de nanofósseis MOLFINO, B. & MCINTYRE, A. 1990.
calcários. Programa de Pós-Graduação Precessional Forcing of nutricline dynamics
do DOF, Universidade de São Paulo, in the Equatorial Atlantic. Science, 249,
Dissertação de Mestrado, 94 p. 766-769.

FLORES, J.A. & SIERRO, F.J. 1997. OKADA, H. 1983. Modern nannofossil
Revised technique for calculation of assemblages in sediments on coastal and
calcareous nannofossil accumulation rates. marginal seas along the western Pacific
Micropaleontology, 43 (3), pp 321-324. ocean. Utrecht Micropaleontology Bulletin,
30, pp 171-187.

Figura 1. a/b: Curvas obtidas segundo dados de abundância absoluta e o proposto pelo trabalho (CC).

570
DINOFLAGELLATE CYST ANALYSIS OF A LATE QUATERNARY
MARINE SEDIMENT CORE FROM THE CAMPOS BASIN
Oliver P.R. Bazely1 (obazely@paetro.org), Mauro B. de Toledo1, Monica B. Crud1, Taísa C. de Souza1, Renata de Souza1
Universidade Federal Fluminense, Instituto de Geociências – Grupo de Paleoecologia Tropical
1

RESUMO the Holocene. This may be indicative of a wider


non-analogous climate configuration in the region
Um testemunho marinho coletado na
during MIS 5e. This study forms part of a multi-
Bacia de Campos está sendo analisado quanto
proxy paleoclimatic investigation, including pollen
ao seu conteúdo de cistos de dinoflagelados. Os
analysis, diatom analysis, foraminiferal analysis
dados gerados estão sendo confrontados com
and geochemical approaches. The integration
um modelo de idade independente baseado em
of these complementary lines of evidence will
datações de radiocarbono a fim de permitir uma
permit the robust reconstruction of paleoclimate
resolução temporal suficientemente alta para
in the RJ / ES region.
detecção de eventos climáticos abruptos que
afetaram a região de estudo. Até o momento foram Keywords: dinoflagellate cysts, Rio de Janeiro,
analisadas 45 amostras, e os resultados sugerem paleoclimatology, Campos Basin
que as condições hidrodinâmicas foram diferentes
durante o Estágio Isotópico Marinho 5e (MIS INTRODUCTION
5e) – ultimo interglacial – em comparação com
Dinoflagellates are small, mostly
o Holoceno – interglacial atual. Isto pode indicar
unicellular, often photosynthetic protists, which
uma configuração climática mais abrangente
are primary producers in both lacustrine and
e não-análoga que prevalesceu durante o MIS
marine environments. Some dinoflagellate
5e na região. Este estudo é parte de um projeto
species produce a resistant resting cyst whose
maior que visa a reconstrução paleoclimática e
resilient and often uniquely ornamented outer
paleoambiental através da utilização de vários
wall protects the organism during dormancy
“proxies”, entre eles, análise palinológica, de
and allows it to survive unfavourable seasons or
diatomáceas, foraminíferos planctônicos,
events. Following excystment, the discarded cyst
microcarvões, e marcadores geoquímicos. A
wall becomes incorporated into marine sediment,
integração de todas estas linhas de evidência
where it may be preserved. The tabulation on the
permitirá uma reconstrução paleoclimática
wall of the motile stage is often expressed in the
e paleoambiental da região RJ/ES bem mais
shape and/or ornamentation of the cyst, and these
robusta.
variations permit interspecies differentiation. The
species compositions of cyst assemblages in the
ABSTRACT sedimentary record can be used to reconstruct
A marine core from the Campos basin, past hydrological environmental conditions,
located off-shore from Espirito Santo state, has particularly with respect to temperature, salinity,
been analysed for dinoflagellate cyst content. nutrient availability, shoreline proximity and
The microfossil data has been placed in an vertical stratification.
independently-dated chronological framework, This project is part of a study that aims
which is intended to permit resolution of any to reconstruct the paleoenvironment of RJ
abrupt climate events that may have influenced the during the Late Quaternary, based on a multi-
region. Presently, 45 samples have been analysed proxy analysis of two marine cores from the
for dinoflagellate cyst content. Results indicate Campos Basin. Studies of pollen will provide
that hydrographic conditions were different information on terrestrial climates, while studies
during the MIS 5e interglacial, in comparison to of dinoflagellate cysts, foraminifers and diatoms

571
will provide information on paleoceanography. although, due to the lack of certainty associated
The microfossil data will be placed in an with these features, the age model for this section
independently-dated chronological framework, remains tentative (Vicalvi, 1997)
which is intended to permit resolution of any
abrupt climate events that may have influenced
the region. This presentation provides a report
RESULTS
of on-going results and preliminary conclusions Presently, 45 samples have been analysed
associated with the dinoflagellate cyst record. for dinoflagellate cyst content. The most abundant
cyst is that of Operculodinium centrocarpum,
which is a cosmopolitan species found today
MATERIAL AND METHODS at all temperatures and all depths. Due to this
GL-74 is a 19.75m long core, recovered broad tolerance, its use in palaeoenvironmental
from the base of the continental slope of the reconstruction is limited. The emerging patterns
Campos Basin (-40.02362,-21.15225), at a depth of cyst abundance indicate a significant difference
of 1279 m. The sedimentary regime appears between the paleoenvironments of the present
to have been stable, as no core disturbances are Holocene interglacial with the penultimate
observable. The core is primarily composed of Eemian interglacial. The Eemian assemblage
grey/brown lutite, with occasional carbonate includes high levels of cysts from the genus
deposits.The core is located near several submarine Spiniferites, Tuberculodinium vancampoae,
canyons and palaeofluvial channels. The core has Nematosphaeropsis labyrinthus, and Lingulodinium
been quantitatively analysed for dinoflagellate machaerophorum. These taxa are all indicative of
cyst abundance. Samples were first treated with sub-tropical to tropical waters with high salinities.
HCl, to remove carbonates. Clays were then In contrast, the Holocene assemblage
disaggregated with sodium pyrophosphate, prior to contains elevated abundances of Bitectatodinium
silica dissolution in HF. Samples were then sieved spongium, which exhibits a preference for
at 10ɥm to remove any remaining fine particles. well-mixed or upwelling water masses and a
When necessary, samples were further cleaned corresponding high level of nutrients. This may
using <10 seconds of ultrasound. Residues were indicate a difference in oceanic circulation during
mounted using glycerol, to enable cyst rotation. the penultimate interglacial. Another significant
Dinoflagellate cysts were identified to species observation is the incidence of high frequency
level, and genus level where further taxonomic fluctuations in the glacial period. The timing of
classification was impossible (Fensome, 2004; these fluctuations are uncertain, and it is possible
Marret & Zonneveld, 2003). Approximately 35 these patterns are due to non-climatic causes.
taxa have been identified, with 20 taxa commonly However, primary interpretation suggests that
present. these oscillations could be related to changes in
oceanic circulation operating on Dansgaard-
Oeschger (D-O) timescales, or possibly triggered
AGE MODEL
by North Atlantic Heinrich events. Integration of
The palaeoclimatological information for this data with the other lines of evidence will help
GL-74 is placed in a chronological framework, to elucidate this hypothesis.
based on several radiocarbon dates obtained
from bulk planktonic foraminifers. Raw ages
were calibrated using the Marine09 calibration FUTURE WORK
curve, including a local ΔR reservoir correction of More samples will be counted from this
±17 yr (Reimer et al., 2009; Angulo et al., 2005). core in the coming months. This will enhance the
Dates were integrated using BCal (Buck et al., resolution of the palaeoclimatic reconstructions.
1999), a program that exploits Bayesian statistical The environmental categorization of the
methods. For the section of the core beyond the individual cyst species will also be further refined,
radiocarbon age range, biostratigraphic marker eliminating some of the ambiguities evident in
horizons (planktonic foraminifers) are used, the record.

572
REFERENCES REMIER, P.J.; BAILLIE, M.G.L.; BARD, E.;
BAYLISS, A.; BECK, J.W.; BLACKWELL,
ANGULO, R.J.; DE SOUZA, M.C.; REIMER, P.G.; RAMSEY, C.B.; BUCK, C.E.; BURR,
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Petrobras Bulletin of Geosciences, v. 11, p. 132-
MARRET, F. & ZONNEVELD, K.A.F. 165.
2003. Atlas of modern organic-walled
dinoflagellate cyst distribution: Review of
Palaeobotany and Palynology, v. 125, p. 1-200.

Figure 1. Map showing core sites, with bathymetry and topography. Contours are 100m (bold) and 25m (normal).

573
Figure 2. The latest results from the dinoflagellate cyst analysis, plotted with individual species cyst abundance as a
percentage of the total cyst sum.

574
DISTRIBUIÇÃO ESTRATIGRAFICA E VARIAÇÕES NA
DOMINÂNCIA DE AUSTRALOECIA ATLANTICA MADDOCKS
1977 (OSTRACODA) FURO GL-451, BACIA DE CAMPOS
Ariany de Jesus e Sousa1 (arianyj.sousa@gmail.com), Lucio Riogi Tokutake2 (tokutake@petrobras.com.br),
Demétrio Dias Nicolaidis3 (demetriodn@gmail.com), Cristianini Trescastro Bergue3 (ctbergue@gmail.com),
João Villar de Queiroz Neto4 (joaovq@petrobras.com.br), Elizabete Pedrão Ferreira4 (elizabete@petrobras.com.br)
1
Fundação GORCEIX/PETROBRAS/CENPES/BPA; 2PETROBRAS/Unidade Operacional do Espírito Santo;
3
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Laboratório de Micropaleontologia; 4PETROBRAS/CENPES/BPA

RESUMO espécie Australoecia atlantica Maddocks 1977 foi


descrita originalmente em águas ultra-profundas
O estudo da distribuição da espécie
(2644-4630 m) na baia de Walvis em Luanda,
Australoecia atlantica Maddocks 1977, com
Angola (Maddocks, 1977) e no Brasil em estratos
fins paleoecológicos no furo GL-451, na Bacia
lamosos batiais do Pleistoceno-Holoceno das
de Campos visou o registro das variações no
bacias de Santos (Bergue & Coimbra, 2008) e de
padrão de dominância. As carapaças recuperadas
Campos (Nicolaidis, 2008; Sousa, 2010; Sousa et
apresentaram bom estado de preservação. A maior
al., 2010), sob lâminas d’água variando entre 1000
abundância das espécies encontra-se em fases
e 1500 m.
glaciais marcadas pelas zonas de foraminíferos
planctônicos W e Y e são caracterizados por O objetivo desse trabalho é analisar a
mudanças na abundância de foraminíferos dominância de A. atlantica ao longo do furo
bentônicos e no sinal de O18. GL-451, a associação microfossílifera que
acompanha a sua ocorrência e sua relação com as
Palavras-chave: Australoecia,
mudanças climáticas.
Paleoecologia, Bacia de Campos

ABSTRACT ÁREA DE ESTUDO E MATERIAIS


A Bacia de Campos está localizada
The pattern distribution of the species
na porção sudeste da margem continental
Australoecia atlantica Maddocks 1977 along
brasileira (Figura 1). O material provém de um
the piston core GL-451 (Campos Basin) was
testemunho a pistão de 16,9m (furo GL-451),
studied aiming at changes in the dominance
coletado no talude inferior (Kowsmann &
for paleoecologic application. The shells picked
Vicalvi, 2003). Sessenta e uma amostras com 20
presented good preservation. Their higher
g foram preparadas com peróxido de hidrogênio,
abundance occurred during glacial phases (W and
fracionadas sob lavagem e posteriormente
Y planktic foraminifer zones) and are characterized
triadas. Espécimes representativos de A. atlantica
by changes in the benthic foraminifera fauna and
foram selecionados para registro fotográfico em
O18 signal.
microscopia eletrônica de varredura (MEV).
Keywords: Austroloecia, Paleoecology,
Pela associação de foraminíferos planctônicos, as
Campos Basin
lamas carbonáticas que compõem este furo foram
depositadas durante Neopleistoceno–Holoceno
INTRODUÇÃO (zonas glaciais W e Y; interglaciais X e Z sensu
O gênero Australoecia Mckenzie 1967 Vicalvi, 2003 in Kowsmann & Vicalvi, 2003 e
tem como espécie tipo A. victoriensis Mckenzie, Marins, 2009). O intervalo também foi datado
habitante de poças de maré na costa australiana com base em nanofósseis calcários e por estágios
(Mckenzie, 1967). Estudos posteriores, contudo, isotópicos de oxigênio por Tokutake (2005)
revelaram a existência de espécies fósseis para (Figura 2).
este táxon, que habitaram, predominantemente,
ambientes de águas profundas. Dentre elas, a

575
RESULTADOS & Coimbra (2008) na de Bacia de Santos. Porém
alguns gêneros relatados pelos referidos autores
Nas amostras do furo GL-451 foram
não foram reconhecidos no presente trabalho,
recuperadas 79 espécies de ostracodes distribuídas
como por exemplo, Heinia e Eucytherura. Essas
em 39 gêneros. A espécie A. atlantica é uma das
diferenças faunísticas podem ser atribuídas à
mais abundantes e constantes, permitindo a
posição paleobatimétrica do GL-451 (1503 m),
recuperação em 25 amostras de 91 valvas, tanto
mais profunda que os demais furos (630 m- 1287
adultas como juvenis (Figura 3). Alguns exemplares
m). As ocorrências de A. atlantica no sudeste
possuem marcas de predação (Figura 3.11), mas
do Brasil (630 – 1503 m) encontram-se em
em geral os espécimes obtidos apresentam bom
condições paleobatimétricas mais rasas do que às
estado de preservação.
registradas na Angola, que variam de 2600 a 4600
As maiores concentrações de A. atlantica
m (Maddocks, 1977).
ocorrem no intervalo correspondente ao último
Com o estudo do furo GL-451 concluiu-se
período glacial, representadas pela zona Y
que A. atlantica tem preferência por ambientes
(Figura 2). Essas concentrações de maneira geral
frios (fases glaciais). Sua dominância ocorre
acompanharam as variações de abundância da
preferencialmente em momentos de mudança de
associação de ostracodes recuperada no furo, porém,
temperatura da água.
na passagem do Interglacial para o Glacial (Zona
X para Y) é registrado um nível de dominância
de A. atlantica (50%) que é concomitante com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
o aumento positivo nos valores de O18. Outro
BERGUE, C.T. & COIMBRA J.C. 2008. Late
nível de dominância de A. atlantica (75% dos
Pleistocene and Holocene bathyal ostracodes
espécimes) ocorre na passagem da subzona de
from the Santos Basin, southeastern Brazil.
foraminíferos planctônicos Y4 para Y3,. Esta
Palaeontographica, 285(4-6): 101-144.
mudança precedeu valores mais positivos de O18,
que denotam resfriamento (Figura 2). KOWSMANN, R.O. & VICALVI, M.A. 2003.
O nível de maior dominância de A. Descrição e datação dos furos da campanha
atlantica (75%) é precedido por um aumento de Bucentaur 2003 na área de Jubarte/Cachalote
abundância de foraminíferos bentônicos (dentro (Bloco BC-60). PDEXP/Petrobras. Relatório
do intervalo das zonas Y4 e Y3), mostrando assim interno RT GEOF n 008/2003, 1-17. p.
uma relação entre esses dois organismos e as
condições de fundo. Na curva de abundância total MADDOCKS, R.S. 1977. Anatomy of
de ostracodes é verificada uma relação inversa Australoecia (Potocyprididae, Ostracoda).
com a curva de foraminíferos bentônicos. Micropaleontology, 23(2): 206-215.
Observou-se que dos aumentos na
dominância de A. atlantica precedem os maiores MARINS, G.M. 2009. Foraminíferos planctônicos
picos de abundância de ostracodes, indicando do Quaternário da Bacia de Campos, poço GL-
eventos de repopulação. Estes eventos têm como 451: aspectos bioestratigráficos. Programa de
causa mudanças nas condições ambientais em Graduação em Geociências. Universidade
especial na temperatura da água, a qual é indicada Federal Rural do Rio de Janeiro. Trabalho de
pelas variações na associação de foraminíferos Conclusão de Curso. 43p.
planctônicos e de O18.
McKENZIE, K.G. 1967. Recent Ostracoda
A espécie A. atlantica ocorre associada a
from Port Phillip Bay, Victoria. Royal Society
outros ostracodes típicos de ambientes batiais,
Victoria, Proceeding, 80(1): 61-106.
destacando-se os gêneros Argilloecia, Bythocypris,
Cytheropteron, Krithe, Henryhowella, Macropyxis e NICOLAIDIS, D.D. 2008. Ostracodes de águas
Poseidonamicus, por serem quantitativamente mais profundas do Pleistoceno/Holoceno da Bacia
expressivos. Esta associação também foi registrada de Campos: isótopos estáveis de oxigênio vs.
em intervalo do Pleistoceno-Holoceno por mudanças faunísticas. Programa de Pós-
Nicolaides (2008) na Bacia de Campos e Bergue

576
Graduação em Geociências, Universidade BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 45,
Federal do Rio Grande do Sul. Dissertação Belém, 2010. Anais... Belém, SBG, 1005.
de mestrado, 65p.
TOKUTAKE, L.R. 2005. Bioestratigrafia de
SOUSA, A.J. 2010. Ostracodes marinhos de águas nanofósseis calcários e estratigrafia de isótopos
profundas do Pleistoceno-Holoceno, Bacia (C e O) do talude médio, Quaternário, porção
de Campos: interpretações paleoambientais e N da Bacia de Campos, ES. Programa de Pós-
paleoclimáticas. Programa de Graduação em Graduação em Geociências, Universidade
Geociências. Universidade Federal Rural do Federal do Rio Grande do Sul. Dissertação
Rio de Janeiro, Trabalho de Conclusão de de mestrado. 96p.
Curso, 126p.
VICALVI, M.A. 2003. Informações
SOUSA, A.J.; NICOLAIDIS, D.D.; BERGUE, biocroestratigráficas com base em foraminíferos
C.T. & QUEIROZ-NETO, J.V. 2010. do furo GL-451. In: KOWSMANN, R.O &
Resposta de ostracodes marinhos de águas VICALVI, M.A. 2003. Descrição e datação
profundas a mudanças climáticas (glacial/ dos furos da campanha Bucentaur 2003 na
interglacial) durante o Pleistoceno/Holoceno, área de Jubarte/Cachalote (Bloco BC-60).
Bacia de Campos. In: CONGRESSO PDEXP/Petrobras. Relatório interno RT
GEOF n 008/2003, 1-17. p.

Figura 1. Figura de localização do furo GL-451, norte da Bacia de Campos.

577
Figura 2. Arcabouço biocronoestratigráfico de foraminíferos planctônicos, distribuição total de ostracodes, dominância
e distribuição estratigráfica de Australoecia atlantica e curva de δO18.

Figura 3. Fotomicrografias em MEV de Australoecia atlantica. 1-2: valva esquerda adulta; 3-4: valva direita adulta; 5-6:
valva esquerda juvenil (A-1?); 7,10 e 13: detalhe das impressões musculares adutoras; 8-9: valva esquerda juvenil (A-2?);
11-12: valva esquerda juvenil com marcas de predação na região anteromediana; 14: valva esquerda juvenil (A-2?).

578
ESTUDO QUANTITATIVO DE GLOBOROTALIA TRUNCATULINOIDES
E VARIAÇÕES PALEOCEANOGRÁFICAS NOS ÚLTIMOS 30.000
ANOS EM TRÊS TESTEMUNHOS DA MARGEM CONTINENTAL
BRASILEIRA: RESULTADOS PRELIMINARES
Fabio de Sousa Pais1 (paisfs@gmail.com), Karen Badaraco Costa1 (karen.costa@usp.br),
Felipe Antonio de Lima Toledo1 (ftoledo@usp.br)
Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico/ LaPAS – Laboratório de Paleoceanografia do Atântico Sul
1

RESUMO ABSTRACT
As associações de determinadas faunas no The associations of certain faunas in
registro fóssil podem ser úteis em reconstruções the fossil record can be useful in paleoclimatic
paleoclimáticas, pois muitos organismos têm reconstructions, because many organisms have
seu habitat de vida confinado em climas bem life confined to their habitat in climates well
definido permitindo inferir o passado climático defined allowing to infer the past climate of the
do ambiente em que este organismo vivia. environment in which this organism lived. Before
Antes disso é indispensável determinar quando that is indispensable to determine when these
estes organismos viveram através de dados organisms lived through geochronological data
geocronológicos e de cronoestratigrafia. As and chronostratigraphy. Variations in the coiling
variações no sentido de enrolamento apresentadas direction presented in specimens of planktonic
nos espécimes do foraminífero planctônico foraminifera Globorotalia truncatulinoides are
Globorotalia truncatulinoides, estão de relacionadas related to climate change, according to the
a mudanças climáticas, conforme a literatura literature emphasizes the relation-morphology-
ressalta, a relação ocorrência-morfologia- temperature occurrence is variable, being
temperatura é variável, sendo observada tanto em observed in both biogeographic differences and
diferenças biogeográficas quanto em variações variations in time and local. In order to uncover
locais temporais. No intuito de desvendar estas these differences, this study analyzes specimens of
diferenças, este trabalho analisa espécimes de Globorotalia truncatulinoides classifying them into
G. truncatulinoides classificando-os em espécies genetic species (subspecies), amount and coiling
genéticas (subespécies), quantidade e sentido de direction for the last 30,000 years in three cores of
enrolamento para os últimos 30.000 anos em the Southwest Atlântic (8 ° S to 24 ° S). Until this
três testemunhos do Atlântico Sudoeste (8°S moment was done only quantitative analysis of
a 24°S). Até o presente momento do trabalho specimens by depth, and few organisms observed
foi feita apenas a análise quantitativa dos in the last 6,000 years, but with significant
espécimes por profundidade, sendo observados variations up to 30,000 years, with two peaks
poucos organismos nos últimos 6.000 anos, of high values of abundance identified, but in
mas apresentando variações significativas até different calendar ages between the three cores,
30.000 anos, com dois picos de altos valores suggesting a diachronic weather events.
de abundância identificados, porém em idades Keywords: Globorotalia truncatulinoides,
calendário diferentes entre os três testemunhos, coiling direction, Paleoceanography, South
sugerindo que houve diacronismo de eventos Atlântic
climáticos.
Palavras-chave: Globorotalia
truncatulinoides, Sentido de Enrolamento,
INTRODUÇÃO
Paleoceanografia, Atlântico Sul As associações de determinadas faunas no
registro fóssil podem ser úteis em reconstruções
paleoclimáticas, pois muitos organismos têm
seu habitat de vida confinado em climas bem
definido. Assim, quando eles são encontrados no

579
registro fóssil, pode-se inferir o passado climático das testas ocorrem provavelmente por habitarem
do ambiente em que este organismo vivia. diferentes profundidades da coluna d’água.
Antes disso é indispensável determinar quando
estes organismos viveram através de dados
geocronológicos e de cronoestratigrafia.
OBJETIVO PRINCIPAL
Algumas espécies de foraminíferos O principal objetivo deste trabalho é
planctônicos podem apresentar variações tentar inferir, através do estudo quantitativo da
morfológicas periódicas, como o sentido de espécie de foraminífero planctônico Globorotalia
enrolamento das câmaras. A análise das frequências truncatulinoides como esta espécie reagiu às
dos sentidos de enrolamento ao longo do tempo mudanças climáticas e/ou oceanográficas através
foi base para muitos trabalhos paleoambientais dos últimos 30.000 anos em três testemunhos
tornando-se ferramenta muito utilizada para marinhos profundos recuperados da Margem
correlações entre testemunhos, por exemplo, Continental Brasileira em diferentes latitudes.
Kennett (1968) que acreditava que as mudanças Posteriormente será analisado o sentido de
no sentido de enrolamento de Globorotalia enrolamento da testa dos diferentes morfotipos
truncatulinoides ocorriam em resposta à variação desta espécie.
da temperatura da superfície do mar.
O foraminífero planctônico Globorotalia ÁREA DE ESTUDO
truncatulinoides (d´Orbigny) possui, na última
Os testemunhos utilizados foram coletados
volta, cinco a seis câmaras alongadas ventralmente
a pistão na Margem Continental Brasileira em
em arranjo trocoespiralado que podem apresentar
profundidades de lâmina d’água que variam entre
dois sentidos de enrolamento: dextral, caso as
965m e 1682m e em latitudes entre 8°S e 24°S
câmaras cresçam em sentido horário ou sinistral
(ver tabela da Figura 1).
(anti-horário) quando vista dorsalmente.
A plataforma continental na margem
Globorotalia truncatulinoides teve sua
leste (5˚S – 21˚S) tem largura média de 53,5 km,
origem entre 2,8 e 2,3 Ma na região subtropical
contrastando com as regiões norte (~135 km) e
do oceano Pacífico Sul, a partir da espécie
sul (~130 km). O talude continental tem início na
Globorotalia crassaformis (Hills & Thierstein,
quebra da plataforma, apresentando largura média
1989). Estudos detalhados sobre a ecologia de
de 85 a 105 km e declividade entre 1:2,5 e 1:130
Globorotalia truncatulinoides sugeriram que a
na região leste. É mais largo na região Sul, com
espécie vive e cresce ocupando grande intervalo
120 a 150 km de largura. A hidrografia superficial
de profundidade, desde a camada de mistura
da área é representada pela Corrente Norte do
superficial, onde se reproduz durante os meses de
Brasil (CNB) e Corrente do Brasil (CB). Estas
inverno, até mais de 800m de profundidade, onde
iniciam ao redor de 10˚S e são principalmente
habita preferencialmente, calcificando sua testa
abastecidas por águas da Corrente Sul Equatorial
no topo da termoclina. (Lohmann & Schweitzer
(CSE). As correntes são conectadas próximas
1990).
à plataforma. As estruturas vorticais da CB
Bolli et al. (1985) definiram três subespécies induzem “ressurgência de quebra de plataforma”
em testemunhos do Caribe e do oceano Pacífico trazendo águas ricas em nutrientes para a região
Sul. As testas maiores e mais espessas foram oligotrófica da Bacia de Santos (Campos et al.,
definidas como G. truncatulinoides pachyteca, as 1995).
menores, mais cônicas e pouco espessas como G.
Baseado em dados do World Ocean
truncatulinoides excelsa e as que se apresentaram
Atlas 2009 (WOA09) a região de estudo foi
com padrão intermediário de espessura e tamanho
caracterizada, sendo que a média da salinidade
como sendo G. truncatulinoides truncatulinoides.
superficial está em torno de 37 na porção central
Os autores afirmaram que estas subespécies
e 36,4 ao norte e sul da área de estudo. Para as
viveram durante o mesmo período e na mesma
temperaturas da água superficial do mar (SST)
região, e sugerem que as diferenças de espessura
inferiram-se médias anuais de 27˚C ao norte e
23˚C ao sul da área de estudo, exibindo domínio

580
de diferentes regimes climáticos. A profundidade DISCUSSÃO
da termoclina na região dos testemunhos é
Os gráficos da Figura 2, quando
50-75m (SAN-76), 150-200m (PAR-36 e CMU-
comparados, indicam diminuição da ocorrência
14). Na área de estudo, através da concentração
de Globorotalia truncatulinoides nos três locais em
média anual de nitrato e fosfato, observou-se
estudo no período de 6.000 anos até o período
que a superfície é oligotrófica, apresentando
mais recente (2.000 anos). De 6.000 a 30.000 anos
baixas concentrações de nitrato (0,25µmol/l) e
os testemunhos PAR-36 e SAN-76 apresentaram
fosfato (0,5µmol/l), contrastando com maiores
padrão inverso, de forma que, no momento de
valores a 200m, 20,0µmol/l (nitrato) 1,0µmol/l
maior abundância no PAR-36 (27.000 anos) no
(fosfato). Portanto, há o surgimento da Nutriclina
SAN-76 houve menor ocorrência de Globorotalia
no norte da área de estudo a partir de 150m de
truncatulinoides e, quando SAN-76 apresentou
profundidade.
maior abundância (7.000 anos) o PAR-36
demonstrou valores mínimos de ocorrência.
MATERIAIS E MÉTODOS
Por terem sido utilizadas em trabalhos CONCLUSÕES
anteriores todas as amostras se encontravam
Observando as curvas dos testemunhos na
previamente lavadas (malha 63μm) e peneiradas
Figura 2 verifica-se que cada um deles exibe dois
(malha 150μm). Os procedimentos de
picos de maior abundância, porém em períodos
processamento das amostras estão descritos
diferentes. A análise deste padrão permite supor
em Toledo (2000) e Costa (2000). Portanto,
que ocorreu diacronismo de dois eventos: o
todo material retido na fração >150μm, de cada
primeiro em 27.000 anos (PAR-36), 21.000 anos
profundidade, foi pesado e todas as testas de
(CMU-14) e 18.500 anos (SAN-76); o segundo
Globorotalia truncatulinoides triadas sob lupa
em 16.000 anos (PAR-36), 10.000 anos (CMU-
binocular e posteriormente armazenadas em
14) e 7.000 anos (SAN-76).
lâminas micropaleontológicas.
O estudo dos três testemunhos amostrados
na Margem Continental Brasileira, apenas através
RESULTADOS PARCIAIS da abundância apresentada por Globorotalia
A cronologia para os testemunhos truncatulinoides ao longo dos últimos 30.000
foi estabelecida a partir das datações de anos, demonstra que significativas alterações
radiocarbono (14C) em foraminíferos paleoambientais ocorreram no Atlântico Sul
planctônicos (Globigerinoides ruber) efetuadas Meridional, reforçando ainda mais a hipótese
no National Ocean Science Accelerator Mass de que variações na abundância e no sentido de
Spectrometer Facility (NOSAMS) no Woods enrolamento nos diferentes morfotipos da espécie
Hole Oceanographic Institution (WHOI), possam estar relacionadas às mudanças climáticas
EUA. As idades de radiocarbono (14C) obtidas do passado.
previamente por Toledo (2000) e Costa (2000)
foram corrigidas para o efeito reservatório de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
acordo com Butzin et al. (2005). A conversão para
idades calendário foi efetuada com base na curva BUTZIN, M.; PRANGE, M. & LOHMANN,
de calibração proposta por Fairbanks et al. (2005). G. 2005. Radiocarbon simulations for the
Para padronização dos dados, foi feita glacial ocean: the effects of wind stress,
a normalização dos pesos através do peso da Southern Ocean sea ice and Heinrich events.
amostra de maior peso de cada testemunho. Em Earth & Planet. Sci. Lett., 235, p. 45-61.
seguida, foi gerado um gráfico do número de testas
FAIRBANKS, R.G.; MORTLOCK, R.A.;
de Globorotalia truncatulinoides (normalizado pelo
CHIU, T.-C.; CAO, L.; KAPLAN, A.;
maior peso) pelas idades calendário (ver Figura 2).
GUILDERSON, T.P.; FAIRBANKS,
T.W.; BLOOM, A.L.; GROOTES, P.M.

581
& NADEAU, M.-J. 2005. Radiocarbon HILLS, S.J. & THIERSTEIN, H.R. 1989.
calibration curve spanning 0 to 50,000 years Plio-Pleistocene calcareous plankton
BP based on paired 230Th/234U/238U and biochronology. Marine Micropaleontology
14C dates on pristine corals. Quaternary 14. p.67–69.
Science Reviews 24 p. 16-17, 1781-1796.
BOLLI, H.M.; SAUNDERS, J.B. & PERCH-
WORLD OCEAN ATLAS - WOA09, 2009. NIELSEN, K. 1985. Plankton Stratigraphy:
Através de http://www.nodc.noaa.gov. planktic foraminifera, calcareous nannofossils
Acessado em 05/06/2011. and calpionellids. (volume 1). Cambridge
Earth Science Series. Cambridge University
TOLEDO, F.A.L. 2000. Variações Press. p.234-237.
paleoceanográficas nos últimos 30.000
anos no oeste do Atlântico Sul: isótopos CAMPOS, E.J.D. 1995. Estudos da circulação
de oxigênio, assembleias de foraminíferos oceânica no Atlântico tropical e região
planctônicos e nanofósseis calcários. oeste do Atlântico Subtropical Sul. Tese de
2000. 250p. Dissertação (Doutorado em livre docência. Universidade de São Paulo,
Geociências). Univ. Federal do Rio Grande Instituto Oceanográfico. 114p.
do Sul, Rio Grande do Sul, 2000.
COSTA, K.B. 2000. Variações paleoceanográficas
LOHMANN, G.P. & SCHWEITZER, P.N. na porção oeste do Atlântico Sul entre o
1990. Globorotalia truncatulinoides: Último Máximo Glacial e o Holoceno:
growth and chemistry as probes of the past Isótopos estáveis de oxigênio e carbono e a
thermocline. 1. Shell size. Paleoceanography razão Cd/Ca em foraminíferos bentônicos.
5: p.55-75. 236p. Dissertação (Doutorado em
Geociências). Univ. Federal do Rio Grande
KENNETT, J.P. 1968. Globorotalia do Sul, Rio Grande do Sul.
truncatulinoides as a paleooceanographic
index. Science., 159. p.1461-1463.

582
Figura 1. Tabela de dados de profundidade, latitude, longitude e comprimento dos testemunhos.

Figura 2. Gráficos dos números de testas de Globorotalia truncatulinoides (normalizado pelo maior peso) pelas idades
calendário, para cada testemunho (2.1 SAN-76; 2.2 CMU-14; 2.3 PAR-36).

583
EVIDÊNCIA DE DIACRONISMO DO RESTABELECIMENTO DO PLEXO
MENARDIIFORME NO ATLÂNTICO SUL NO FIM DO ÚLTIMO GLACIAL
Fabiane Sayuri Iwai1 (sayuri.iwai@gmail.com), Ana Cláudia Aoki Santarosa1 (anasantarosa@gmail.com),
Edmundo Camillo Jr.1 (edmundocamillo@gmail.com), Felipe Antonio de Lima Toledo1 (ftoledo@usp.br),
Karen Badaraco Costa1 (karen.costa@usp.br)
Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico -Laboratório de Paleoceanografia do Atlântico Sul
1

RESUMO do plexo menardiiforme vem sendo utilizadas


na bioestratigrafia e biocronologia desde sua
Os limites definidos pela ocorrência ou
primeira observação em sedimentos marinhos
abundância de espécies individuais ou grupos
por Schott (1935). O último restabelecimento
foraminíferos planctônicos tem sido utilizados
definido por este plexo é associado ao início do
para delimitar biozonas e na biocronologia.
Holoceno (~11.000 anos). Porém, o presente
A bioestratigrafia é baseada nas preferências
estudo apresenta evidências de que a datação
ecológicas de cada espécie e as associa aos
desse limite é variável ao longo da margem
limites cronológicos nos quais as mudanças
continental brasileira. Porém, os resultados do
ecológicas ocorreram no ambiente. O complexo
presente trabalho evidenciam diacronismo deste
menardiiforme engloba as espécies Globorotalia
último restabelecimento ao longo da margem
menardii menardii, G. menardii tumida, G.
continental brasileira.
menardii flexuosa e G. menardii fimbriata; estas
espécies são raras ou ausentes durante a maior Palavras-chave: paleoceanografia,
parte dos períodos glaciais e suas populações foraminíferos planctônicos, Vazamento da
aumentam nos períodos interglaciais. O último Agulhas, Atlântico Sul
restabelecimento do plexo menardiiforme no
oceano Atlântico é associado ao limite Pleistoceno/ ABSTRACT
Holoceno, que também é o limite entre o último
Limits defined by occurrence or abundance
glacial e o interglacial atual. Investigações em
of single species/groups of planktonic foraminifera
sete testemunhos a pistão da margem continental
have long been used in biostratigraphy and
brasileira, de 7 ˚S (Bacia de Paraíba-Pernambuco)
biochronology. Biostratigraphy is based on
a 25 ˚S (Bacia de Santos), evidenciam
ecological preferences of each species which
diacronismo no último restabelecimento do plexo
is associated to the time boundary when the
menardiiforme. Apesar dos modelos de idade dos
ecological change had occurred. The Globorotalia
testemunhos serem baseados em poucas datações
menardii complex comprehends the species
de radiocarbono, duas em cada testemunho, é
G. menardii menardii, G. menardii tumida, G.
possível evidenciar que o restabelecimento do plexo
menardii flexuosa and G. menardii fimbriata;
menardiiforme é mais recente em direção ao sul.
these species are very rare or absent during most
No momento, o objetivo do trabalho é especular
of glacial intervals and their populations raise
quais padrões climáticos e/ou oceanográficos
during interglacial intervals. The last G. menardii
podem ter causado este diacronismo, que pode ser
complex restablishment in the Atlantic Ocean
relacionado às variações regionais de condições
is associated with the Pleistocene/Holocene
das águas como produtividade, salinidade e
boundary, which also is the boundary between the
temperatura ou à variações de circulação como
last glacial and the present interglacial interval.
a força do Vazamento das Agulhas, assim como
Investigations on seven piston cores retrieved
tornar as interpretações mais robustas através
from brazilian continental margin, from 7 ˚S
de medidas adicionais nos sedimentos dos
(Paraíba-Pernambuco Basin) to 25 ˚S (Santos
testemunhos; mais datações de radiocarbono
Basin), evidence diachronism in the last G.
serão obtidas, especialmente próximo ao limite
menardii complex restablishment. Although the
do restabelecimento do plexo menardiiforme.
current piston cores age models are based on few
As biozonas determinadas pela abundância

584
radiocarbon dating, two in each core, it is possible RESULTADOS
to evidence that the restablishment of G. menardii
Foram utilizadas análises microfossilíferas
complex is increasingly younger to south. At this
de sete testemunhos distribuídos ao longo da
stage, it is our aim to speculate which climatic
margem continental brasileira; desde a Bacia de
and/or oceanographic patterns may have caused
Pernambuco/Paraíba até a Bacia de Santos em
this diachronism, which can be related to regional
profundidades de lâmina d’água variando de 827
water conditions variations such as productivity,
a 1995 m. Em cada testemunho foram realizadas
salinity and temperature or circulation variations
cerca de duas a quatro datações por radiocarbono,
such as Agulhas Leakage strenght, as well as to
permitindo a elaboração de um modelo de idade
strengthen the interpretation by futhergoing
preliminar, a partir do qual foi estimada a idade em
measurements on the sediment cores; more
que foi observado o último restabelecimento do
radiocarbon datings will be obtained, especially
plexo menardiiforme em sedimentos da margem
near the G. menardii complex restablishment.
oeste do Atlântico Sul. A partir da identificação
Keywords: paleoceanography, planktonic do último reaparecimento da G. menardii nos
foraminifera, Agulhas Leakage, South Atlantic sete testemunhos é possível observar que a idade
do reaparecimento se torna sucessivamente mais
INTRODUÇÃO recente em direção a latitudes mais altas do
Atlântico Sul, variando de ~8000 a ~16000 anos.
As espécies de foraminíferos planctônicos
do plexo menardiiforme (Globorotalia menardii
menardii; G. menardii flexuosa, G. menardii DISCUSSÃO
tumida e G. menardii fimbriata) são os principais As idades encontradas para o último
indicadores dos limites entre períodos glaciais e restabelecimento do plexo menardiiforme ao
interglaciais no Quaternário do oceano Atlântico. longo da costa brasileira torna questionável a
A afinidade ecológica destas espécies coincide utilização da biocronologia em áreas extensas. O
aproximadamente com a transição entre estes sucesso de uma espécie em diferentes partes de
períodos, estando presente em abundância durante uma mesma bacia oceânica pode ser diferenciado
períodos interglaciais e raros ou ausentes durante devido às condições oceanográficas regionais, que
a maior parte dos períodos glaciais. Porém, ainda podem incluir produtividade, salinidade, padrões
não é conhecido especificamente o motivo pelo de circulação oceânica entre outros.
qual esta espécie se reduz no Atlântico já que as
As condições climáticas são consideradas
variações da temperatura superficial do último
os principais fatores que afetam a distribuição dos
glacial parecem não terem sido maiores do que
foraminíferos planctônicos e outros organismos
2 ˚C (Berger & Wefer 1996). A população dessa
marinhos. Porém, as mudanças no padrão de ventos
espécie se reduz drasticamente no Atlântico,
e circulação oceânica também são fatores muito
porém quando as condições oceânicas se tornam
importantes por atuarem tanto como condutores
mais favoráveis para o seu desenvolvimento, sua
de organismos entre diferentes locais como
população se restabelece rapidamente; não se
também por transportar águas com propriedades
tratando portanto de uma extinção da espécie.
mais favoráveis ao seu desenvolvimento.
As biozonas determinadas pela abundância
Já foi sugerido anteriormente por Berger
do plexo menardiiforme vem sendo utilizadas na
& Wefer (1996) que o repovoamento de G.
bioestratigrafia e biocronologia desde sua primeira
menardii no Atlântico Sul se desse pela entrada
observação em sedimentos marinhos por Schott
de indivíduos do oceano Índico através da
(1935). O último restabelecimento definido por
comunicação entre os dois oceanos ao sul da África
este plexo é associado ao início do Holoceno
pelo Cabo da Boa Esperança. Esse fenômeno,
(~11.000 anos). Porém, os resultados do presente
conhecido como Agulhas Leakage (Vazamento das
trabalho evidenciam diacronismo deste último
Agulhas), consiste no desprendimento de grandes
restabelecimento ao longo da margem continental
anéis de águas quentes e salinas a partir da
brasileira.

585
Retroflexão das Agulhas que também carregariam REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
consigo indivíduos do plexo menardiiforme.
BERGER, W.H. & WEFER, G. 1996.
As idades encontradas para o último
Expeditions into the Past: Paleoceanographic
restabelecimento do plexo menardiiforme ao
Studies in the South Atlantic. In: WEFER,
longo da costa brasileira corroboram com essa
G. et al. (ed.). The South Atlantic: Present
hipótese; indivíduos de G. menardii seriam
and Past Circulation. Springer-Verlag. Berlin
introduzidos no Atlântico Sul através da Agulhas
Heidelberg. p. 363-410.
Leakage junto a esses giros. Os grandes giros de
águas quentes gerados a partir da retroflexão da SCHOTT, W. 1935. Die Foraminiferen in dem
corrente da Agulhas contendo indivíduos de G. äquatorialen Teil des Atlantischen Ozeans.
menardii seriam então dispersados pelo Atlântico Deutl Atl Exped Meteor 1925-1927, 3: 43-
Sul no mesmo sentido do Giro Subtropical do 134.
Atlântico Sul, em sentido anti-horário, sendo
seu reaparecimento provavelmente observado
primeiramente na costa norte do Brasil e, por
último, na costa sul do Brasil.
Apesar dos modelos de idade terem sido
construído a partir de uma baixa quantidade
de datações de radiocarbono, acredita-se que
a diferença de idade entre o reaparecimento
do plexo menardiiforme ao longo da margem
continental brasileira seja real. Pretende-se realizar
novas datações de radiocarbono, especialmente
próximo ao limite do restabelecimento do plexo
menardiiforme, para que o diacronismo possa ser
seguramente demonstrado.

CONCLUSÕES
A inadequação do uso de foraminíferos
planctônicos para bioestratigrafia e biocronologia
em áreas extensas não compromete seu uso
em estudos paleoceanográficos. As mudanças
climáticas e de padrões de circulação tem grande
influência sobre a distribuição de organismos
marinhos. Através da recuperação do registro fóssil
da distribuição de organismos marinhos ao longo
do tempo geológico é possível consequentemente
obter pistas das mudanças climáticas e dos padrões
de circulação ocorridos.
A partir da análise dos sete testemunhos
da margem continental brasileira do Atlântico
Sul foi possível obter dados que podem apontar,
em associação a outros dados como isótopos de
oxigênio e análise da assembleia de foraminíferos,
o processo pelo qual a população do foraminífero
planctônico G. menardii pode ter sido restabelecida
no Atlântico Sul que é também fundamental na
compreensão da circulação termohalina global.

586
EVIDÊNCIAS PALEOAMBIENTAIS DO HOLOCENO NA
PLATAFORMA CONTINENTAL DE ITAJAÍ (SC), BRASIL
Júnior Bispo de Menezes1 (junior.menezes@edu.ung.br), Maria Judite Garcia1 (mgarcia@ung.br),
Marcelo Araújo Carvalho2 (mcarvalho@ufrj.br), Silva Helena de Mello e Sousa3 (smsousa@usp.br),
Poliana Carvalho de Andrade3 (poli.oceano@gmail.com), Michel M. de Mahiques3 (mahiques@usp.br),
Carlos Alberto Bistrichi4 (cabistrichi@uol.com.br), Rosana Saraiva Fernandes1 (rsfernandes@ung.br)
1
Lab. Palinologia e Paleobotânica / CEPP – Universidade Guarulhos;
2
Museu Nacional – UFRJ; Depto de Geologia e Paleontologia; 3IO/USP; 4PUC/SP

RESUMO The palynoforaminiferous and copepods eggs


were only counted. Based on qualitative and
No presente estudo foram analisados
quantitative data, palynodiagrams of concentration
dinocistos, palinoforaminíferos e ovos de
and percentage were made and five biozones were
copépodes presentes em um testemunho com
defined. The gotten results throughout the core
506 cm, proveniente da plataforma continental
allowed to conclude that the sea level fluctuations
de Itajaí, em Santa Catarina (26º59´16,8´´S e
over the last 7600 years, showing phases of
48º04´33,6´´W), onde a lâmina d´água possui
proximal and distal to the coastal environments.
60 m de espessura. Nesse testemunho foram
realizadas várias datações por C14, revelando Keywords: Marine Palynomorphs, Itajaí
na base 7.600 anos A.P. Foram identificados e Continental plataform
contados as espécies de dinocistos Lingulodinium
machaerophorum, Operculodinium centrocarpum INTRODUÇÃO
processos longos e curtos, O. israelianum,
A região de coleta do testemunho ora
Spiniferites bentorii, S. membranaceus, S. mirabilis
analisado localiza-se no extremo sul do setor
e S. pachydermus. Os palinoforaminíferos e ovos
morfológico conhecido como Embaiamento de
de copépodes foram apenas contados. Com
São Paulo, que se estende de 23º a 28º de latitude
os resultados qualitativos, quantitativos e as
Sul (ZEMBRUSCKI, 1979).
características ecológicas, foram confeccionados
Algumas espécies de dinoflagelados
palinodiagramas de concentração e porcentagem,
caracterizam condições ambientais (padrões
com os quais definiram-se cinco biozonas., Os
constantes e variações dos fatores limitantes),
dados obtidos ao longo do testemunho permitiram
permitindo que as espécies encontradas em
constatar oscilações do nível do mar ao longo
uma determinada localidade sejam utilizadas na
dos últimos 7600 anos, com fases de ambiente
identificação das características ambientais. Entre
proximal e distal à costa.
esses fatores destaca-se a disponibilidade de
Palavras-chave: Palinomorfos marinhos,
nutrientes, salinidade, temperatura e luminosidade.
Plataforma continental de Itajaí
Estas peculiaridades, em associação, governam
a presença de espécies que são adaptadas a
ABSTRACT um determinado ambiente e, quando essas
In the present study dynocists, características são alteradas os dinoflagelados
palynoforaminiferous and copepods eggs were entrem na fase de cisto.
analyzed from samples collected along a core with A partir da identificação, contagem e
506 cm of depth from the continental platform ecologia dos indivíduos encontrados, ao longo
in Itajai, Santa Catarina (26 º 59’16, 8’’S, 48 ° do testemunho, foram efetuadas interpretações
04’33, 6’’W), where the water sheet has 60 m of paleoambientais da área estudada.
thickness. The Lingulodinium machaerophorum,
Operculodinium centrocarpum long and short MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
processes, O. israelianum, Spiniferites bentorii, S.
As subamostras foram extraídas de um
membranaceus, S. mirabilis and S. pachydermus
testemunho marinho proveniente da plataforma
dynocists species were identified and quantified:

587
interna da região de Itajaí, com 506 cm, sob uma a 4.900, entre 2690 e 2565, a 2498, de 2166 até
lâmina d’água de 60 m, que foi coletado pelo 2090, a 1010 e a 857 anos Cal. A.P., e distal à
Instituto Oceanografia da Universidade São Paulo. costa entre 5721 e 5195, a 3.737, a 3261, a 2.879,
Após a separação do material, as subamostras entre 2090 e 1492 anos Cal. A.P.
foram submetidas ao tratamento químico de
acordo com o preconizado por OLIVEIRA et al.
(2004). As 38 subamostras sofreram ataque de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ácidos clorídrico e fluorídrico, seguido de três a FURTADO, V.V; BONETTI FILHO, J. &
quatros lavagens; a seguir se adicionaram pastilhas CONTI, L.A. 1996. Paleoriver morphology
de esporo exótico, Lycopodium clavatum. Em and sea level changes at southeastern
seguida o material foi passado em peneira de malha Brazilian continental shelf. Anais da
de monil com adição do detergente EXTRANS, Academia Brasileira de Ciências, 68:163-
para desaglutinar e eliminar a matéria orgânica 169.
amorfa. Depois dessa etapa, as amostras ainda
foram colocadas em ultrasson por cerca de dois OLIVEIRA,A.D; FILHO,J.G.M; CARVALHO,
minutos. M.A; MENEZES, T.R; LANA, C.C. &
As subamostras foram coradas com BRENNER, W.W. 2004. Novo método
Safranina e montadas lâminas permanentes de de preparação palinólogica para aumentar
Entelan, que foram submetidas à análise em a recuperação de dinoflagelados. Revista
microscopia de luz branca e de fluorescência, para Brasileira de Paleontologia, 7( 2):169-175.
identificação e contagem dos palinomorfos. Com
ZEMBRUSCKI, S.G. 1979. Geomorfologia da
os resultados qualitativos e quantitativos, foram
margem continental sul brasileira e das bacias
elaborados palinodiagramas de concentração e de
oceânicas adjacentes. In: CHAVES, H.A.F.
porcentagem.
(ed.). Geomorfologia da margem continental
brasileira e áreas oceânicas adjacentes.
CONCLUSÕES REMAC Project Series, Petrobrás, p 129-
Os dinocistos identificados constam 177.
das espécies: Lingulodinium machaerophorum,
Operculodinium centrocarpum de processos curtos
e longos, O. israelianum, Spiniferites bentorii,
S. membranaceus, S. mirabilis, S. pachydermus;
foram também observados ovos de copépodes e
palinoforaminíferos. As três primeiras espécies de
dinocistos estão presentes em todas as amostras.
Todas as espécies presentes nas amostras são
encontradas no limite litorâneo/nerítico e
nerítico/oceânico.
A análise desses indivíduos
permitiu elaborar as seguintes conclusões:
Existência de águas ricas em nutrientes,
estratificadas (quentes e frias), devido à
ressurgência, é evidenciada pela presença de
Lingulodinium machaerophorum e Spiniferites
pachydermus, fato que corrobora com a ressurgência
do Cabo de Santa Marta.
Constatou-se que nos últimos 7.600
anos o nível relativo do mar oscilou com fases de
ambiente proximal à costa entre 7.645 e 6.371,

588
MICROBIOFÁCIES: ANÁLISE BIOESTRATIGRÁFICA APLICADA
EM LÂMINAS DELGADAS DE ROCHAS CALCÁRIAS
Francisco Henrique de Oliveira Lima¹ (henriquel@petrobras.com.br),
Antonio Enrique Sayão Sanjinés¹ (antonio.sanjines@petrobras.com.br), Oscar Strohschoen Júnior¹ (oscarsj@petrobras.com.br)
¹PETROBRAS/CENPES

RESUMO para o entendimento da evolução do processo de


ruptura Brasil-África.
A análise de microbiofácies em seções
muitas vezes consideradas sem recuperação de Os benefícios do detalhamento
microfósseis calcários enfatiza o grande potencial bioestratigráfico de sucessões rochosas, através
deste método no reconhecimento de inúmeros do reconhecimento e determinação de inúmeros
táxons com aplicação bioestratigráfica direta, táxons com aplicação direta em bioestratigrafia, nas
tanto na escala local como regional. escalas local e regional, têm reflexos importantes
na determinação e correlação das biozonas. Tais
Palavras-chave: Lâminas delgadas,
resultados contribuem também para a análise
bioestratigrafia, cretáceo, bacia de Pernambuco-
de proveniência e inferências paleogeográficas,
Paraíba, Formação gramame
paleoecológicas e paleoclimáticas, constituindo-se
assim, em um poderoso elemento de apoio à
INTRODUÇÃO exploração de hidrocarbonetos. Existem estudos
Microbiofácies consiste na caracterização de microbiofácies nas bacias de: Campos, Santos,
da idade geológica das rochas sedimentares a partir Espírito Santo, Jequitinhonha, Sergipe-Alagoas,
do conjunto de elementos fósseis e características Pernambuco-Paraíba, Potiguar e Barreirinhas
mineralógicas reconhecidos em lâminas delgadas, (Lima, 2002).
observadas sob o microscópio óptico. Baseia-se
na identificação de diversos microfósseis ESTUDO DE CASO: BACIA DE
e biodetritos, em especial foraminíferos,
PERNAMBUCO-PARAÍBA
ostracodes, calcisferulídeos, moluscos, radiolários,
microcrinóides, elementos de algas calcárias, entre Destaca-se como estudo de caso o trabalho
outros. desenvolvido na Bacia de Pernambuco-Paraíba,
mais especificamente Formação Gramame.
Foram analisadas 121 lâminas delgadas e 18
MICROBIOFÁCIES: APLICAÇÕES amostras convencionais, provenientes de quatro
E BENEFICIOS pedreiras: CIMEPAR, CIPASA, Nassau e Poty
O estudo de microbiofácies pode ser (Figura 1). Nas lâminas delgadas o total de táxons
aplicado em todas as bacias brasileiras, do de foraminíferos planctônicos por amostra variou
Paleozoico ao Cenozoico, em seções muitas vezes entre 4 e 20. Nas amostras convencionais, este total
consideradas estéreis para outros microfósseis. foi de 3 a 5 táxons de foraminíferos planctônicos
Entretanto, são utilizados com maior freqüência por amostra.
no estudo das seções cretáceas. Estudos desta Macroscopicamente a Formação
natureza começaram a ter destaque no Brasil a Gramame, nas seções estudadas, é muito
partir da década de 60. Inicialmente os trabalhos homogênea, consistindo na alternância rítmica
tinham um cunho petrográfico, o conteúdo de duas litofácies, Mudstone/Wackestone Argiloso
fossilífero foi ganhando destaque ao longo do (M/Wa) e Mudstone/Wackestone (M/W),
desenvolvimento da análise e tornou-se tão individualizadas pela quantidade relativa de
importante que possibilitou reconhecimento de argila. Nos afloramentos, a litofácies M/Wa
espécies-índice consideradas ausentes ou raras apresenta-se como feição negativa enquanto
no Atlântico Sul, com implicações importantes a litofácies M/W distingui-se como feição

589
positiva. Eventualmente são encontradas feições nas lâminas delgadas, como formas associadas,
côncavas métricas semelhantes a canais. O outras espécies de foraminíferos planctônicos,
conjunto de estruturas sedimentares constitui-se além de foraminíferos bentônicos, microcrinóides,
de: bioturbações atribuídas aos icnogêneros ostracodes, fragmentos de moluscos e
Thalassinoides e Phycosiphon; fitas de dissolução; equinodermos.
estilólitos; concreções carbonáticas; nódulos
de pirita; e cavidades de dissolução. Ocorrem
também mineralizações de fosfatos e pirita.
CONCLUSÕES
No estudo ao microscópio óptico foram A partir destes resultados obtidos
individualizadas cinco microbiofácies, de acordo e da integração com dados petrográficos e
com o constituinte mais representativo: Mudstone quimioestratigráficos, conclui-se que a Bacia
com Radiolários (Mr); Mudstone/Wackestone com de Pernambuco-Paraíba era dominada, durante
foraminíferos Planctônicos (M/Wfp); Mudstone o Maastrichtiano, por climas quentes e secos,
com Foraminíferos Bentônicos; Wackestone com com reduzido aporte de materiais siliciclásticos.
Foraminíferos Bentônicos Calcários (Wfb); e Estas condições foram fundamentais para
Wackestone/Packstone com Equinodermos (W/ o desenvolvimento de bancos e plataformas
Pe). A microbiofácies M/Wfp é dominante em carbonáticas.
todas as pedreiras (Figura 2). Tais microbiofácies
contêm parcelas significativas de lama carbonática, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
variando entre 50 e 90%.
A ocorrência dos foraminíferos LIMA, F.H.O. 2002. Estratigrafia integrada
planctônicos Gansserina gansseri, G. wiedenmayeri, do Maastrichtiano (Formação Gramame)
Guembelitria cretacea e Rugoglobigerina da Bacia de Pernambuco-Paraíba – NE do
macrocephala indicaram idades correspondentes ao Brasil: caracterização faciológica e evolução
Andar Maastrichtiano. Tal datação é corroborada paleoambiental. Porto Alegre: UFRGS,
pelos resultados das análises bioestratigráficas de 2002. Tese de Doutorado. 2 vols.
nanofósseis calcários (Figura 2). Ocorrem ainda

590
Figura 1. Mapa de localização e acesso aos afloramentos estudados.

Figura 2A. Distribuição das microbiofácies (ver Figura 2B) entre as pedreiras CIMEPAR, CIPASA, Nassau e Poty, a partir
do arcabouço bioestratigráfico de nanofósseis calcários. Biozonas CC25A a CC26B: Maastrichtiano, Formação Gramame;
Biozona NP1: Paleoceno, Formação Maria Farinha.

591
Figura 2B. Microbiofácies e litofácies observados nas pedreiras CIMEPAR, CIPASA, Nassau e Poty (ver Figura 2A).

592
MICROPALEONTOLOGÍA APLICADA EN LA EXPLORACIÓN
DE LOS HIDROCARBUROS EN MÉXICO
González Lara Julio César1, Gómez Luna Maria Eugenia1, Aguilar Piña Marcelo1
1
Instituto Mexicano del Petróleo

RESUMEN micropaleontológico operativo, pasando por la


actualización de apéndices micropaleontológicos,
En la historia de la Exploración Petrolera
hasta la generación e integración de datos
de México no existe otra disciplina con mayor
bioestratigráficos que son parte primordial en los
tradición que la Micropaleontología Aplicada, con
estudios de “plays”.
una trayectoria de desarrollo de más de un siglo.
Las compañías extranjeras iniciaron su aplicación, Esto ha provocado que la
en la búsqueda de los hidrocarburos en el Noreste micropaleontología en México haya evolucionado,
de México, y fue posteriormente impulsada en el de tal manera, que ha producido mayor dominio
resto del país por la Expropiación Petrolera en y conocimiento de los grupos taxonómicos de
1938. aplicación, así como, mejor control estratigráfico
(Fig. 2) y batimétrico de las principales
En la última década la exploración en
especies planctónicas (biocronomarcadores y
México ha requerido de la participación de
marcadores zonales) y bentónicas (indicadores
equipos multidisciplinarios, donde los estudios
paleobatimétricos y fósil de facies), permitiéndonos
micropaleontológicos comprenden una de las
adecuar cuadros cronoestratigráficos y
disciplinas imprescindibles de aplicar, y esto
paleoecológicos de mayor aplicación en el
se ha fundado en su uso preponderante en los
conocimiento genético de las Cuencas Petroleras
estudios biocronológicos y paleoambientales de
de México (Fig. 3). Además, ha originado el
facies de plataforma y cuenca del Mesozoico y
surgimiento de nuevas herramientas de mayor
Cenozoico, ofreciendo un apoyo invaluable en el
impacto exploratorio, como lo es la Bioestratigrafía
conocimiento estratigráfico-sedimentario de las
de Alta Resolución, la cual apoya directamente
rocas potencialmente generadoras y productoras
en: la definición de marcos estratigráficos de
de aceite y gas. Siendo la planicie costera del
alta resolución a nivel de cuenca, estimaciones
sureste de México y las aguas someras del Golfo
temporales de sedimentos erosionados o no
de México las de mayor potencial económico-
depositados en áreas estructuralmente complejas,
petrolero. Las rocas de interés corresponden a
predicciones precisas de localizaciones, control
los principales yacimientos explotados hoy en día
de la perforación en pozos de desarrollo, y la
en los estados de Tamaulipas, Veracruz, Tabasco
biocorrelación del yacimiento a una escala fina,
y Campeche (Fig. 1), y cuyos sedimentos van
entre otros.
desde el Jurasico Superior (Oxfordiano, Aptiano
- Cenomaniano y las brechas del KS) al Mioceno De esta manera se pone de manifiesto la
Medio-Superior, y en los últimos años las arenas gran utilidad de los estudios micropaleontológicos
del Plioceno Medio comienzan a presentar interés en la Industria Petrolera, que al aplicarse con todo
petrolero. su potencial, apoyan de manera definitiva en la
toma de decisiones para definir nuevas áreas de
Derivado que cada vez es más compleja
interés estratégico, adaptándose de mejor manera
la búsqueda de los yacimientos de hidrocarburos,
con los requerimientos del negocio.
los estudios y análisis micropaleontológicos
involucrados en la exploración, exigen una Palabras clave: Micropaleontologia
mayor resolución en los resultados, forzando aplicada, Exploracion de hidrocarburos, Mexico
así la necesidad de mejorar, actualizar e
innovar las técnicas de aplicación y análisis.
Innovación que se aplica desde el primer dato

593
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS NUMS. 5-12, mayo-diciembre de 1981. pp.
71-98.
AYALA, A. 1956. Consideraciones sobre
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GONZÁLEZ-LARA J.C. 2001. Le Paléocène du Caracterización Bioestratigráfica del
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Géologie Alpine, mémoire H. S. No. 36, 139 p. de Bioestratigrafía en la Exploración Petrolera
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Petroleum Congress, Topic 2, Forum with Petroleum Exploration. BP Exploration
posters, p. 1-10, Buenos Aires, Argentina. (Frontier & International) Uxbridge One,
Harefield Road, Uxbridge, Midd lesex UB8
LÓPEZ-ORTIZ, R. 1970. Compilación de las IPD 432p.
Manifestaciones de Hidrocarburos y su
importancia en la zona Sur de Petróleos
Mexicanos. Boletín de la Asociación
Mexicana de Geólogos Petroleros. Vol. XXII,

594
Figura 1. Principales Cuencas Petroleras de México (tomado de González y Holguín, 1991).

Figura 2. Grafico que muestra la técnica del control estratigráfico insitu de las ocurrencias de las especies en los pozos.

595
Figura 3. Ejemplo del dominio paleobatimétrico de los principales indicadores bentónicos y su aportación en el
conocimiento estratrigráfico-sedimentario de las áreas de interés petrolero.

596
OS ISÓTOPOS ESTÁVEIS EM ROCHA-TOTAL E NA FRAÇÃO
FINA DOS SEDIMENTOS MARINHOS SÃO EFETIVOS
COMO INDICADORES PALEOCEANOGRÁFICOS?
Carla Nishizaki1 (carla@paleolapas.org), Karen Badaraco Costa1 (karen@paleolapas.org),
Felipe Antonio de Lima Toledo1 (ftoledo@usp.br)
Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico
1

RESUMO species related to sea surface temperature. On


the other hand, the potential of bulk 13C
A partir de amostras de sedimentos
and fine fraction 13C as proxies of nutrient
provenientes de dois testemunhos a pistão, KF02
availability in seawater is quite complex since
e SAN76, coletados na Bacia de Santos, obteve-se
there is no correlation between 13C and another
a razão isotópica de carbono e oxigênio. Estes
paleoproductivity indicator.
dados foram avaliados quanto a sua eficiência
como indicadores da composição química da água Keywords: stable isotopes,
do mar no momento da precipitação do conteúdo paleoceanographic indicators, foraminifera,
carbonático dos sedimentos, através de correlações calcareous nannofossils
lineares entre os dados isotópicos e abundâncias
relativas de foraminíferos e nanofósseis calcários INTRODUÇÃO
indicadores de condições ambientais. Foram
No fundo marinho, os sedimentos têm se
observadas tendências similares nas flutuações
acumulado de modo relativamente contínuo por
de 18O em rocha-total, na fração fina dos
milhares, ou até milhões de anos. Os sedimentos
sedimentos, em foraminíferos planctônicos e
marinhos profundos tendem a ser mais finos e são
bentônicos, e flutuações de abundâncias relativas
predominantemente constituídos pela acumulação
de foraminíferos relacionados a mudanças de
de material biogênico composto, na sua maioria,
temperatura, embora os valores absolutos sejam
por restos esqueletais de microrganismos
diferentes. Em contrapartida, o potencial de 13C
calcários que viviam nas águas oceânicas. Eles
em rocha-total e na fração fina dos sedimentos
contêm microorganismos reconhecíveis, por
como proxies da disponibilidade de nutrientes
exemplo, foraminíferos e nanofósseis calcários,
mostrou-se bastante complexo, uma vez que não
que fornecem registros da circulação oceânica,
foram encontradas correlações entre 13C e outro
temperatura da água, teor de nutrientes e outros
indicador de paleoprodutividade.
proxies dos oceanos no passado (Lowe &
Palavras-chave: isótopos estáveis, Walker, 1997). As evidências mais detalhadas
indicadores paleoceanográficos, foraminíferos, das variações ambientais ocorridas nos oceanos
nanofósseis calcários durante o Pleistoceno não vêm dos sedimentos
terrígenos, e sim do conteúdo químico e isotópico
ABSTRACT dos microrganismos do conteúdo carbonático. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a aplicabilidade
Through bulk and frine fraction (<63µm)
dos dados isotópicos de oxigênio ( 18O) e carbono
sediment samples from two Santos basin piston
( 13C) obtidos em rocha-total (Toledo, 2000)
cores, KF02 e SAN76, carbon and oxygen isotopic
e na fração fina dos sedimentos (Bariani, 2009)
compositions were acquired. These data was
em estudos paleo-oceanográficos, através de sua
analyzed for its efficiency as seawater chemical
comparação com as razões isotópicas em testas
composition proxy at moment of the calcification,
de foraminíferos planctônicos (Toledo, 2000 -
by linear correlation with foraminifera and
testemunho SAN76; Pivel, 2010 - testemunho
calcareous nannofossils relative abundances.
KF02), bentônicos (Costa, 2000 - SAN76; este
Similars trends were observed in bulk 18O, fine
trabalho - KF02) e também com a abundância
fraction 18O, planktic and benthic foraminifera
relativa das espécies de nanofósseis calcários
18O and relative abundances of foraminifera

597
(Toledo, 2000 - SAN76; Ferrarese, 2010 - KF02) de oxigênio e carbono foram efetuadas através
e das espécies de foraminíferos planctônicos do espectrômetro de massa Finnigan MAT 252
(Toledo, 2000 - SAN76; Santarosa, 2010 - com um sistema automatizado KIEL. Segundo
KF02), indicadoras de características ambientais, o National Bureau of Standards (NBS), o desvio
tais como temperatura e disponibilidade de padrão dos valores isotópicos do carbonato
nutrientes. Segundo Shackleton et al. (1993), padrão NBS-19 é ±0,08‰. Os valores isotópicos
em rocha-total, a amostragem do testemunho de NBS-19 são calibrados de acordo com o Pee
para estas análises é efetuada em três horas. Para Dee Belemnite (PDB): 18O = −2,2‰ Vienna
lavar e peneirar (análise da fração fina) o mesmo Pee Dee Belemnite (VPDB).
número de amostras são necessários sete dias
completos de trabalho. E a identificação e triagem
de espécimes para análise de foraminíferos podem
RESULTADOS E DISCUSSÃO
consumir adicionais quatro dias de trabalho. Os valores de correlação (r) obtidos na
Assim, se comprovada a eficiência em estudos análise comparativa entre os dados isotópicos de
paleoceanográficos do sinal isotópico em rocha- oxigênio e carbono na fração fina dos sedimentos
total, ou mesmo na fração fina dos sedimentos, ao (testemunho KF02) e em rocha-total (testemunho
representar características físico-químicas da água SAN76) mostraram diferenças evidentes nas
do mar, otimizaria-se os processos laboratoriais correlações com dados de 13C daquelas de 18O.
em tais estudos. Mesmo o menor valor r de 18O ( 18O em rocha-
total com a espécie de foraminífero Globorotalia
inflata) igual a 0,49 é maior que as correlações
MATERIAIS E MÉTODOS usadas para 13C. Globorotalia menardii representa
Foram utilizados dois testemunhos a um grupo que habita águas subsuperficiais com
pistão compostos de sedimentos do Quaternário: temperaturas mais altas, representando assim,
KF02 e SAN76 (ver Figura). O testemunho períodos quentes. Já a espécie Globorotalia inflata
KF02, coletado em 25°50,254S e 45°15,895W, apresenta comportamento inverso à G. menardii,
recuperou 489 cm de sedimentos sob coluna de sendo mais abundante em períodos mais frios. O
água de 827m e alcançou até 15.000 anos antes 18O correlaciona-se inversamente à temperatura,
do Presente. Este testemunho foi originalmente assim, razões isotópicas mais baixas estão
amostrado de 2 em 2cm. Já o testemunho SAN76, associadas a temperaturas mais elevadas.
o qual foi coletado em 24°26,659S e 42°17,890W, Foram realizadas análises de correlação
recuperou 419cm de sedimentos sob coluna de entre as razões isotópicas de carbono e os índices
água de 1682m alcançando até 30.000 anos antes de paleoprodutividade, como a razão Globigerina
do Presente, e foi amostrado a cada 5cm. bulloides/Globigerinoides ruber (variedade branca),
A fase de triagem consistiu basicamente e o índice de nutrientes (IN) calculado através
da separação dos foraminíferos bentônicos dos da fórmula de Herrle et al. (2003),onde divide-se
sedimentos retidos na peneira de malha 150µm. porcentagens das espécies de alta fertilidade pela
Assim, foram separados um a dois espécimes, soma destas com as espécies de baixa fertilidade,
dependendo do tamanho individual, de o resultado multiplica-se por cem. Entre as
foraminíferos bentônicos das espécies Cibicidoides correlações realizadas com 13C da fração fina
wuellerstorfi (preferencialmente), Cibicidoides dos sedimentos, o maior valor obtido foi 0,22,
pachyderma ou Cibicidoides kullenbergi (Costa, correlação com o índice de nutrientes. No caso
2000). Apenas duas espécies de foraminíferos de 13C em rocha-total, a maior correlação
bentônicos foram coletadas nas amostras do encontrada foi com a razão Cd/Ca (r=-0,34), a
testemunho KF-02: Cibicidoides wuellerstorfi qual está relacionada a processos controladores dos
e Cibicidoides kullenbergi. Os espécimes foram teores de nutrientes das águas oceânicas de fundo
acondicionados em microtubos tipo eppendorf (Boyle, 1988). A análise dos elementos cádmio e
e enviados ao Laboratório de Isótopos Estáveis cálcio não foram realizadas no testemunho KF02.
(Universidade da Califórnia – Ciências Os valores isotópicos de oxigênio e
Planetárias e da Terra). As análises de isótopos carbono podem ser influenciados por vários

598
fatores como temperatura e profundidade em que COSTA, K.B. 2000. Variações paleoceanográficas
vivem as espécies analisadas, dissolução seletiva, na porção oeste do Atlântico Sul entre o
taxa de produtividade, diferentes processos de Último Máximo Glacial e o Holoceno:
fracionamento, efeitos vitais, etc. (Goodney et Isótopos estáveis de oxigênio e carbono e a
al., 1980). Este trabalho mostra a dificuldade razão Cd/Ca em foraminíferos bentônicos.
do uso de 13C como proxie das características Tese de Doutorado, Univ. Federal do Rio
oceanográficas na época em que o carbonato foi Grande do Sul, 236 pp.
precipitado.
FERRARESE, H.B. 2010. Variações de
produtividade da porção oeste do Atlântico
CONCLUSÕES Sul ao longo dos últimos 15 mil anos a
Através de correlações entre δ18O em partir de estudo quantitativo de nanofósseis
rocha-total, na fração fina dos sedimentos, calcários. Dissertação de Mestrado, Inst.
em foraminíferos planctônicos e bentônicos e Oceanográfico, Univ. de São Paulo. 85 pp.
entre as espécies ecologicamente relacionadas à
temperatura, observou-se uma semelhança entre GOODNEY, D.E.; MARGOLIS, S.V.;
as tendências das curvas, apesar da diferença na DUDLEY, W.C.; KROOPNICK, P. &
magnitude dos valores. Assim, a razão isotópica WILLIAMS, D.F. 1980. Oxygen and carbon
de oxigênio, tanto na fração fina dos sedimentos isotopes of recent calcareous nannofossils
como em rocha-total parecem ser úteis como as paleoceanographic indicators. Marine
ferramenta em estudos paleoceanográficos, pois Micropaleontology, 5, 31–42.
parecem reter os valores isotópicos de oxigênio
LOWE, J.J. & WALKER, M.J.C. 1997.
originais da água do mar, demonstrando o potencial
Reconstructing Quaternary Environments
destes materiais como proxies importantes da
(2ª ed.). Prentice Hall, 446 pp.
composição química original da água do mar. Em
contrapartida, o potencial de 13C em rocha-total PIVEL, M.A.G. 2010. Reconstrução da
e na fração fina como proxies da química original hidrografia superficial do Atlântico Sul
da água do mar é bastante complexo, uma vez que Ocidental desde o Último Máximo
não foi encontrada correlação de 13C em rocha- Glacial a partir do estudo de foraminíferos
total e na fração fina com 13C em foraminíferos planctônicos. Tese de Doutorado, Inst.
bentônicos e planctônicos, nem com a abundância Oceanográfico, Univ. de São Paulo, 164 pp.
relativa de espécies ecologicamente relacionadas
à disponibilidade de nutrientes. A pesquisa SANTAROSA, A.C.A. 2010. Caracterização
demonstrou que muitos fatores ambientais e paleoceanográfica de um testemunho da
geoquímicos parecem estar associados ao sinal Bacia de Santos com base em foraminíferos
de carbono em rocha-total e na fração fina e, planctônicos durante o Holoceno.Dissertação
portanto, estudos mais detalhados são necessários de Mestrado, Inst. Oceanográfico, Univ. de
para comprovar o seu pleno potencial como proxy São Paulo. 81 pp.
paleoceanográfico.
SHACKLETON, N.J.; HALL, M.A. &
PATE, D. 1993. High-resolution stable
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS isotope stratigraphy from bulk sediments.
BARIANI, L. M. 2009. Variações da sedimentação Paleoceanography, 8(2), 141–148.
ao longo dos últimos 15.000 anos em um
testemunho da Bacia de Santos. Monografia TOLEDO, F.A.L. 2000. Variações
de Graduação, Instituto Oceanográfico, paleoceanográficas nos últimos 30.000
Univ. de São Paulo. 39 pp. anos no oeste do Atlântico Sul: isótopos
de oxigênio, assembleias de foraminíferos
BOYLE, E.A. 1988. Cadmium: Chemical planctônicos enanofósseis calcários. Tese de
tracer of deepwater paleoceanography. Doutorado, Univ. Federal do Rio Grande do
Paleoceanography, 3, 471–489. Sul, 250 pp.

599
Figura 1. Localização dos testemunhos KF-02 e SAN-76 na Bacia de Santos, região sudeste do Brasil.

600
OSTRACODES DO CRETÁCEO-PALEÓGENO DA BACIA DE PELOTAS, BRASIL
Daiane Ceolin1 (daianeceolin@yahoo.com.br), Gerson Fauth1 (gersonf@unisinos.br)
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Laboratório de Micropaleontologia
1

RESUMO Keller 2005; Aumond et al., 2009). Em El-Kef, na


Tunísia, está localizada a seção-tipo do limite K–
Esse estudo apresenta os aspectos
Pg. Outras seções conhecidas desse limite estão
paleoecológicos para o Cretáceo–Paleógeno
localizadas no Texas, Espanha, Itália, México,
(K-Pg) da bacia de Pelotas, baseado na análise
Argentina, Brasil e ODP 738.
taxonômica de ostracodes marinhos. Foram
utilizadas 479 amostras de calha provenientes de Existem vários locais que apresentam
cinco poços perfurados na década de 1980. A bons registros da passagem K–Pg, entretanto,
análise dessas amostras resultou na recuperação poucas destas seções contêm ostracodes. No Brasil
de 98 espécimes, distribuídos em 9 famílias, exite, até o momento, o registro de apenas quatro
21 gêneros e 34 espécies. O limite Cretáceo– seções estudadas com a passagem K–Pg bem
Paleógeno (K-Pg) na bacia de Pelotas foi marcado preservada e estão situadas nas bacias de Campos
por uma mudança faunística e a assembleia e Pernambuco (Albertão et al., 1993; Fauth et al.,
de ostracodes registrada sugere um ambiente 2005) e atualmente na bacia de Pelotas (Ceolin et
marinho nerítico com águas quentes. al., 2011).
Palavras-chave: Ostracodes, Cretáceo- A bacia de Pelotas localiza-se entre os
Paleógeno, Bacia de Pelotas paralelos 28º e 34º sul (Milani et al., 2000), tendo
como limites ao norte a bacia de Santos sobre o
Alto de Florianópolis, e ao Sul o Alto de Polônio,
ABSTRACT no Uruguai (Bueno et al., 2007) (Figura 1). A
This study reports the paleoecological perfuração de poços realizados na bacia constituiu
aspects of the Cretaceous-Paleogene (K-Pg) uma exelente oportunidade para a compreensão
inteval of Pelotas Basin, considering the da evolução do Oceano Atlântico, visto que o
taxonomic study of marine ostracods. A total processo de rifteamento do Gondwana iniciou-se
of 479 cutting samples coming from five wells do sul (Platô das Malvinas) para o norte na bacia
drilled at the 1980’s were examined. The analysis de Pelotas (Conceição et al., 1988l).
of the samples resulted in the identification of 98 Um dos estudos pioneiros realizados na
specimens distributed in 9 families, 21 genus and porção offshore da bacia de Pelotas foi realizado
34 species. The Cretaceus-Paleogene (K-Pg) in por Gomide (1989) que, através do estudo com
the Pelotas Basin is marked by significant faunal nanofósseis calcáreos, estabeleceu o mais completo
changes and the ostracod assemblages registered estudo bioestratigráfico marinho para a bacia de
suggest a neritic marine environment with warm Pelotas e que vem sendo utilizado como base para
water temperatures. os estudos micropaleontológicos recentes na bacia
Keywords: Ostracod, Cretaceous- (Ceolin et al., 2011; Guerra et al., 2010; Coimbra
Paleogene, Pelotas Basin et al., 2007; Anjos e Carreño 2004; Carreño et al.,
1999) .

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o limite K–Pg tem
MATERIAIS E MÉTODOS
sido estudado mundialmente em sedimentos Para o desenvolvimento deste estudo, foram
marinhos por meio de diversos grupos de analisadas 479 amostras de calha provenientes
microfósseis (e.g., Bertels 1995, Fauth et al., 2005, de cinco poços (1-RSS-2, 1-RSS-3, 2-RSS-1,

601
1-SCS-3B e 1-SCS-2) perfurados pela Petrobras Pernambuco-Paraíba (PE/PB), Nordeste do
na plataforma continental da Bacia de Pelotas. Brasil – Inferências paleoambientais. Acta
As amostras foram preparadas no Laboratório geologica leopoldensia, 39:131-145.
de Micropaleontologia da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos - UNISINOS, segundo a ANJOS, G.S. & CARREÑO, A.L. 2004.
metodologia adotada para microfósseis calcáreos.. Bioestratigrafia (foraminiferida) da
sondagem 1-SCS-3B, Plataforma de
Florianópolis, Bacia de Pelotas, Brasil.
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS Revista Brasileira de Paleontologia 7:127-138.
Um total de 98 spécimens foram
reconhecidos representando nove famílias, AUMOND, G.; KOCHHANN, K.G.D.;
21 gêneros e 34 espécies. Os gêneros mais FLORISBAL, L.S.; FAUTH, S.B.;
diversificados foram Cytherella (7 espécies) e BERGUE, C.T. & FAUTH, G. 2009.
Paracypris (4 espécies). Trachyleberididae e Maastrichtian-Early Danian radiolarians
Cytherellidae foram as famílias mais abundantes and ostracodes from ODP Site 1001b,
na bacia de Pelotas. Caribbean sea. Revista Brasileira de
A fauna de ostracodes registrada durante Paleontologia 12 (3):195-210.
o Cretáceo-Paleógeno (K-Pg) na bacia de Pelotas
BERTELS, A. 1973. Ostracodes of the type
mostrou uma distribuição irregular ao longo dos
locality of the Lower Tertiary (lower Danian)
poços estudados, além de uma maior abundância
Rocanian Stage and Roca Formation of
e riqueza no Cretáceo do que no Pealeógeno. O
Argentina. Micropaleontology, 19:308-340.
limite Cretáceo-Paleógeno (K-Pg) é marcado
por uma mudança faunística que registra o BERTELS, A. & POSOTKA. 1995. The
desaparecimento local dos gêneros Cytherelloidea, Cretaceous-Tertiary boundary in
Argilloecia, Cythereis, Brachycythere, Majungaella, Argentina and its ostracodes. Ostracoda and
Pondoina e Rostrocytheridea e a primeira ocorrência Biostratigraphy. 163-170 (Riha J (ed)).
local de Neonesidea, Bairdoppilata, Ambocythere,
Buntonia, Langiella?, Trachyleberis e Krithe (Figura BUENO, G.V.; ZACHARIA, A.A.; OREIEO,
2). Entretanto, os gêneros Wichmannella, Paracypris, S.G.; CUPERTINO, J.A.; FALKENHEIN,
Actinocythereis e Cytherella são registrados tanto U.H. & NETO MAM. 2007. Bacia de
no Cretáceo quanto no Paleógeno da bacia. Pelotas. Boletim de Geociências da Petrobras,
Baseado na análise faunística, podemos Rio de Janeiro 15:551-559.
considerar que a bacia de Pelotas registrou, para o
Limite Cretáceo-Paleógeno (K-Pg), um ambiente CARREÑO, A.L.; COIMBRA, J.C. & DO
nerítico com condições normais de salinidade CARMO, D.A. 1999. Late Cenozoic sea
através da seção estudada. A presença de level changes evidenced by ostracodes in the
Brachycythere sp. 1, Brachycythere gr. sapucariensis Pelotas basin, southernmost Brazil. Marine
Krömmelbein, 1964 e Cytherelloidea spirocostata Micropaleontology 37:117-129.
Bertels, 1973, pode indicar um ambiente com
temparaturas quentes, similar àquelas registradas CEOLIN, D.; FAUTH, G. & COIMBRA,
para as regiões equatoriais. J.C. 2011. Cretaceous- Lower Paleogene
ostracodes from the Pelotas Basin, Brazil.
Palaeobiodiversity and Palaeoenvironment 91:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 111-128.
ALBERTÃO, G.A.; KOUTSOUKOS, E.A.M.;
COIMBRA, J.C.; CARREÑO, A.L.; ANJOS-
REGALI, M.S.; ATTREP, M. 1994. O
ZERFASS, G.S. 2007. Biostratigraphy and
registro micropaleontológico, com base
paleoceanographical significance of the
em foraminíferos e palinomorfos, no
Neogene planktonic foraminifera from the
limite Cretáceo–Terciário (K–T), Bacia de

602
Pelotas Basin, southernmost Brazil. Revue de 11, Curitiba, 1989, Resumos expandidos, p.
micropaléontologie 52:1-14. 338-351.

CONCEIÇÃO, J.C.J.; ZALÁN, P.V. & WOLFF, GUERRA, R.; TOKUTAKE, L.R. & FAUTH,
S. 1988. Mecanismo, Evolução e Cronologia G. 2010. Upper Campanian calcareous
do Rifte Sul-Atlântico. Boletim de Geociências nannnofossils from a core of well 2-RSS-1,
da Petrobras, 2(2):255-265. Pelotas Basin, Brazil. Revista Brasileira de
Paleontologia 13(3): 181-188.
FAUTH, G.; COLIN, J.P.; KOUTSOUKOS,
E.A.M. & BENGTSON, P. 2005. KELLER, G. 2005. Biotic effects of late
Cretaceous-Tertiary boundary ostracodes Maastrichtian mantle plume volcanism:
from the Poty quarry, Pernambuco, implications for impacts and mass
northeastern Brazil. Journal of South American extinctions. Lithos, 79:317-341.
Earth Sciences 19:285-305.
KRÖMMELBEIN, K. 1964. Ostracodes
GOMIDE, J. 1989. Bacia de Pelotas - marinhos do Cretáceo costeiro brasileiro
Biocronoestratigrafia baseada em (trad). Senckenbergiana lethaea. Frankfurt 45:
nanofósseis calcários. In: CONGRESSO 489-495.
BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,

Figura 1. Mapa de localização da Bacia de Pelotas mostrando seus limites e os cinco poços estudados. Modificado de
Anjos e Carreño, 2004.

603
Figura 2. Estampa de algumas espécies de ostracodes da Bacia de Pelotas. MEV. Escala 100 µ. (1) Cytherella cf. C.
araucana, ,carapaça, vista lateral esquerda; (2) Cytherella sp. 1, carapaça, vista lateral esquerda; (3) Cytherelloidea
spirocostata, carapaça, vista lateral direita; (4) Bairdoppilata triangulata, carapaça, vista lateral direita; (5) Paracypris
sp. 1, carapaça, vista lateral direita; (6) Paracypris? sp. 4, carapaça, vista lateral direita; (7) Actinocythereis indígena,
carapaça, vista lateral direita; (8) Actinocythereis sp., carapaça, vista lateral direita; (9) Cythereis sp., carapaça, vista
lateral esquerda; (10) Langiella? sp., carapaça, vista lateral esquerda; (11) Trachyleberis sp., carapaça, vista lateral
esquerda; (12) Wichmannella araucana, carapaça, vista lateral direita; (13) Wichmannella meridionalis, carapaça, vista
lateral esquerda; (14) Brachycythere gr. sapucariensis, carapaça, vista lateral direita; (15) Majungaella sp., carapaça,
vista lateral direita.

604
REMARKS ON THE SEQUENCE STRATIGRAPHY AND TAPHONOMY
OF THE RELICTUAL MALVINOKAFFRIC FAUNA DURING
THE KAČÁK EVENT IN THE PARANÁ BASIN, BRAZIL
Rodrigo Scalise Horodyski1 (rodrigo.geo@gmail.com), Michael Holz2 (michael.holz.ufba@gmail.com),
Elvio Pinto Bosetti3 (elvio.bosetti@pq.cnpq.br)
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Geociências; 2Universidade Federal da Bahia,
Instituto de Geociências; 3Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Geociências

RESUMO INTRODUCTION
O presente trabalho teve como objetivo The KAČÁK Event (House 1989)marks
diagnosticar as condições em que os processos the Eifelian–Givetianpassage and records a
tafonômicos e os eventos sedimentares controlaram brief period of global anoxia causing widespread
a gênese da fauna relictual Malvinocáfrica (efeito deposition of black shale in hemipelagic to
Lilliput), através da estratigrafia de seqüências, neritic environmental setting.The huge marine
durante o evento KAČÁK na Bacia do Paraná. transgression registered in the Paraná Basin
Foram identificadas quatro seqüências de terceira during the Eifelian–Givetian passage caused
ordem. Através da análise tafonômica foi possível drastic changes to the environment, including
diagnosticar que a tafocenose em estudo pode alterations in bottom oxygenation, in temperature
ser considerada como parautoctone e que a baixa and, consequently, to the primary production. The
diversidade e o desaparecimento de determinados Lilliput Effect reported by Bosetti et al. (2011)
taxa não são resultados de tendenciamento reflect a real adaptive response to post-event
tafonômico, e sim, evidência de uma crise biótica ecologic stress of the relictual Malvinokaffric
causada pela grande transgressão marinha na fauna. The target of the present paper is to deepen
passagem Eifeliana/Givetiana. and to refine the knowledge of the preservation
Palavras-chave: Estratigrafia de conditions of the fossil record, using sequence
Sequências, Tafonomia, Devoniano stratigraphic concepts to investigate the role of
the stratigraphic controls on fossil preservation
and on taphonomic signatures.
ABSTRACT
The present paper deals the diagnosis
of the stratigraphic and taphonomic controls GEOLOGIC SETTING
on the formation of the Middle Devonian The stratigraphic interval studied herein
Malvionocaffrictaphocoenosis duringthe corresponds to the topmost portion of the second
KAČÁK Event (lilliput Effect) in the Brazilian sequence of Milani et al. (2007), named as “Paraná
intracratonic Paraná Basin. Four third-order Supersequence”, a second-order sequence ranging
depositional sequences were identified in the from the Early to Middle Devonian. In the
studied succession. The low diversity and the Paraná basin(Paraná State) the Devonian strata
disappearance of certain taxa are not result of a arecharacterizedby an origin in marine conditions
taphonomic bias but reflect the KAČÁK Event. represented by transgressives-regressives cycles of
This taphonomican alysis, it can be concluded sedimentary successions boundary to oscillations
that the Lilliput fauna is parautochthonous being of relative level sea. The data were acquired in
preserved essentially in a near life position with different regions of the Tibagi County, Paraná
little or no evidence of transportation. State, southernBrazil, where seven outcrops have
Keywords: Sequence Stratigraphy, been studied. All the outcrops correlate to the
Taphonomy, Devonian São Domingos Formation (Grahn, 1992) of late
Eifelian – early Givetian age. Figure 1 shows a
composite stratigraphic profile of these outcrops,
herein referred to as the Barreiro Section.

605
SEQUENCE STRATIGRAPHY HST of this sequence, the presence of Pennaia
paulianna and of Lingulids indet. is diagnosed,
Sequence 1 – the sequence boundary of
demonstrating the return of a normal-sized fauna.
that sequence is not present in the study area.
These observations ratify the Lilliput Effect
A lowstand and a transgressive systems tract are
theory of Urbanek (1993).
recognized.
5- The association of huge quantities of
Sequence 2 – the boundary is marked
Phycosiphon isp with body fossils resulting of the
by coarse foreshore/upper shoreface sandstone,
Lilliput Effect corroborate the hypothesis that the
representing the lowstand systems tract of that
decline of the primary production caused by the
sequence. The transgressive systems tract encloses
Eifelian/Givetian transgression allowed empty
the record of the KAČÁK event.
ecological spaces to be occupied by immigrants,
Sequence 3 – the base is marked by a
which even under unfavorable conditions would
thin coarse-grained foreshore/upper shoreface
have their feeding needs satisfied. Yet, this
sandstone, followed by a slightly progradational
association evidences the ecosystem occupation
succession of shoreface deposits, representing
through the recolonization of the substrate
the lowstand systems tract of that sequence.
right after the biotic crises which caused the
Deposits of the transgressive and the highstand
Malvinokaffric fauna collapse.
systems tracts are mapped on the basis of the
New locations in Paraná state, with the
retrogradational to progradational patterns of
presence of subnormal-size phenotype occurring
the faciessucession, separated by a muddy section
in similar facies and systems tract as described
where the maximum flooding surface is marked.
herein have already been found by the authors
Sequence 4 - the base is marked by a
and will be target of future studies.
coarse-grained fluvial sandstone, interpreted
as a lowstand systems tract. This sequence is of
Carboniferous age, hence, the limit between REFERENCES
sequences 3 and 4 is actually a second order
BOSETTI, E.P.; GRAHN, Y.; HORODYSKI,
boundary, separating the Paraná Super-Sequence
R.S.; MENDLOWICS MAULLER,
from the Gondwana 1 Super-Sequence in the
P.; BREUER, P. & ZABINI, C. 2011.
scheme of Milaniet al. (2007).
An earliest Givetian “Lilliput Effect” in
the ParanáBasin, and the collapse of the
RESULTS AND CONCLUSIONS Malvinokaffric shelly fauna. Paläontoloische
The results obtained of the taphonomic Zeitschrift, 85:49–65.
signatures of the “Lilliput fauna” in the Devonian
GRAHN, Y. 1992. Revision of Silurian and
succession of the Paraná Basin in this research
Devonian Strata of Brazil. Palynology, 16:
allow the following conclusions:
35-61.
1 - The original habitat of this
autochthonous to parautochthonous fauna was a HOUSE, M.R. 1989. Analysis of mid-Palaeozoic
low-energy environment between the fair weather extinctions. Bulletin de laSocieté Beige de
wave-base (FWWB) and the storm wave- base Geologie, 98-2, 99-107.
(SWB) of the Devonian epicontinental sea;
2 - In Sequence 1, the presence of a typical MILANI, E.J.; MELO, J.H.G.; SOUZA,
normal-sized Malvinokaffric fauna is recorded; P.A.; FERNANDES, L.A. & FRANÇA,
3 - In the TST of Sequence 2, the A.B. 2007. Bacia do Paraná. Boletim de
fossil record is absent, which is interpreted as a Geociências da Petrobrás, 15: 265-287.
stratigraphic marker of an event of significant
URBANEK, A. 1993. Biotic crises in the
paleoenvironmental alteration (KAČÁK event);
history of Upper Silurian graptoloids: a
4 - In Sequence 3, the LST hold a
palaeobiological model. Historical Biology,
notoriously high amount of bioclasts, which
7: 29-50.
become rarer topwards the section (TST). In the

606
Figure 1. Composite stratigraphic profile of the study area showing taxonomic distribution (modificated from Bosetti
et al., 2011), taphonomic signatures and sequence stratigraphic interpretation as discussed in the text. LST = lowstand
systems tract, TST = transgressive systems tract; HST = highstand systems tract; MRS = maximum regressive surface; MTS
= maximum transgressive surface.

607
TAXONOMIA – ETAPA CRUCIAL PARA O ESTUDO
DE FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS
Mello, R.M.1 (renata.mello@petrobras.com.br), Thomas, E.2
1
BPA/Cenpes/ Petrobras; 2Yale University

RESUMO serem encontrados. Esta etapa demanda muito


trabalho do micropaleontólogo e está diretamente
A correta etapa de classificação taxonômica
relacionada à experiência do mesmo.
é fundamental nos estudos paleoecológicos e
paleoceanográficos com foraminíferos bentônicos. A partir de uma visita técnica ao
A comparação com as coleções tipos nesta etapa Smithsonian Institute National Museum of
é uma ferramenta primordial e que dever ser a Natural History (Washington, EUA) para
rotina para estudos desta finalidade. estudar as coleções de foraminíferos bentônicos
de várias referências foi possível avaliar não só o
Palavras-chave: foraminíferos bentônicos,
quão importante é a etapa de classificação, mas
taxonomia, metodologia de classificação
também a comparação com holótipos destas
coleções. Dentre as coleções estudadas incluem-se
ABSTRACT as seguintes coleções som maior importância
Taxonomic classification is one of the para foraminiferos bentonicos do Cenozoico:
most important steps to make possible to use The Cushman Collection, Loeblich & Tappan
paleoecological and paleocaenographic proxies Collection, F. van Morkhoven Collection, entre
based on benthic foraminifera. Comparison outras.
of specimens with foraminiferal primary or No trabalho de van Morkhoven et al.
secondary type specimens in collections or type (1986) estes autores compararam vários espécimes
material is recommended to improve taxonomic de foraminíferos bentônicos cosmopolitas do
understanding. Cenozoico com os holótipos das coleções. Alegret
Keywords: benthic foraminfera, taxonomy, & Thomas estudaram bentônicos do México e
classification methodology Ortiz & Thomas (2006) analisaram bentônicos
da Espanha e também fizeram a comparação com
as coleções.
INTRODUÇÃO Como exemplo tem-se alguns espécimes
Estudos paleoecológicos e do gênero Cibicidoides (Thalmann) do
paleoceanográficos utilizando foraminíferos Cenozoico das bacias marginais do sudeste do
bentônicos são de grande importância para a Brasil. Dentre os espécimes classificados foram
interpretação e reconstituição geológica das bacias separados em grupos das seguintes espécies: C.
marginais brasileiras. Este tipo de estudo abrange tuxpamensis (Cole), C. perlucidus (Nuttall) e C.
conhecimentos tanto da área de biologia quanto eocaenus (Gumbell). No entanto, ao compara com
da geologia e a etapa de classificação taxonômica os holótipos e parátipos destas espécies chega-se
é fundamental como base para tais estudos. a conclusão que são todas sinônimas, de acordo
Diversos trabalhos já foram publicados inclusive com o que comenta van Morkhoven
sobre as aplicações dos estudos de foraminíferos et al. (1986) de que C. perlucida (Nuttall) e C.
bentônicos nas bacias marginais brasileiras eocaenus (Gumbell) são sinônimas.
(Barbosa, 2002; Sousa et al., 2004; Mello, 2006).
Nestes estudos a etapa de classificação taxonômica
é normalmente omitida ou pouco documentada,
especialmente para aqueles onde os holótipos
não foram bem documentados ou são difíceis de

608
METODOLOGIA PARA A taxonomia pode auxiliar muito no
entendimento mais refinado da ecologia/
CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DE
paleoecologia das espécies, melhorando a
FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS qualidade dos estudos paleoceanográficos e
Assim, sugere-se que para um melhor paleoecológicos;
resultado nos trabalhos com foraminíferos Formar uma base de dados das espécies
bentônicos, a seguinte metodologia seja seguida: do Atlântico Sul, principalmente da margem
Durante a triagem, utilizar as peneiras de brasileira, criando uma coleção-tipo com espécies
de foraminíferos bentônicos em um museu no
500, 250 e 125mm para uma melhor visualização
Brasil.
e facilitar a classificação.
Agrupar os espécimes morfologicamente
similares, como por exemplo, em gêneros. Se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
houver muitos espécimes do mesmo gênero, criar
ALEGRET, L. & THOMAS, E. 2001. Upper
subgrupos com base na semelhança morfológica. Cretaceous and lower Paleogene benthic
Buscar na literatura disponível as possíveis foraminifera from northeastern Mexico.
espécies para os grupos e subgrupos anteriormente Micropaleontology, 47: 296-316.
separados. Tentar buscar sempre as descrições
originais das espécies, não se atendo apenas a BARBOSA, V.P. 2002. Sistemática,
figuras e fotos. Bioestratigrafia e Paleoceanografia de
Sempre que possível comparar os Foraminíferos do Quaternário do talude
continental das bacias de Santos e Campos.
espécimes classificados com os espécimes das
Tese de Doutorado, Instituto de Geociências
coleções tipo (holótipos, parátipos, topótipos). – UFRJ. 455p.
Descrever as similaridades ou diferenças
entre os espécimes analisados com os holótipos MELLO, R.M. 2006. Caracterização da fauna
comparados, deixando registrado em um item de foraminíferos bentônicos do talude
como notas taxonômicas (artigo) ou no capítulo da Bacia de Campos, RJ, e sua correlação
de taxonomia (teses e dissertações). com os parâmetros de massas d´água do
Atlântico Sul. Programa de Pós-graduação
em Geologia, Universidade Federal do Rio
CONSIDERAÇÕES FINAIS de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 190p.
É importante ressaltar que outras coleções
de foraminíferos estão disponíveis para consulta, MORKHOVEN, F.P.C.M. VAN; BERGGREN,
além do Smithsonian Institute (EUA), existem as W.A. & EDWARDS, A.S. 1986.
coleções do Natural History Museum, (Londres); Cenozoic comopolitan deep-water benthic
do American Museum of Natural History foraminifera. Bull. Centers Rech. Explor.-
(Nova Iorque); do Museo Argentino de Ciencias Prod. Elf-Aquitaine, Mem.11. 421 p.,
Naturales Bernardino Rivadavia (Argentina); pls.126.
entre outros.
ORTIZ, S. & THOMAS, E. Lower-middle
Assim, esta metodologia visa aprimorar Eocene benthic foraminifera from
alguns pontos no estudo taxonômico dos the Fortuna Section (Betic Cordillera,
foraminíferos bentônicos, tais como: southeastern Spain). Micropaleontology, 52
Ao longo dos anos muitas espécies de (2): 97-150.
foraminíferos foram descritas, e é necessário
comparar as descrições para reduzir os casos de SOUSA, S.H.M.; PASSOS, R.; FUKUMOTO
sinonímia; M.; FIGUEIRA,R.C.L.; KLEIN, D.;
Estabelecer uma taxonomia sólida MAHIQUES, M. & KOUTSOUKOS E.
na tentativa de estabelecer corretamente os 2004. Holocene Benthic Foraminifera In
surgimentos e extinções das espécies, além de The Campos Basin: Ecological Inferences.
estabelecer melhor a gravidade de períodos com In: 32nd IGC Florence 2004 - Scientific
mudanças na taxonomia (por exemplo, limite K-T Sessions: abstracts (part 1) - pp. 522-523
ou Paleoceno-Eoceno);

609
VARIAÇÕES DE PRODUTIVIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS
SOBRE O TALUDE CONTINENTAL DA BACIA DE SANTOS AO
LONGO DOS ÚLTIMOS 15 MIL ANOS A PARTIR DE ESTUDO
QUANTITATIVO DE NANOFÓSSEIS CALCÁRIOS
Heliane Bevervanso Ferrarese1 (helianeferrarese@yahoo.com.br), Felipe Antonio de Lima Toledo1 (ftoledo@usp.br)
Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico - Laboratório de Paleoceanografia do Atlântico Sul (LaPAS)
1

RESUMO Keywords: Calcareous nannofossils,


paleoproductivity, paleoceanography
Análises quantitativas de nanofósseis
calcários foram realizadas em testemunho coletado
no talude continental da Bacia de Santos a fim INTRODUÇÃO
de se obter variações de produtividade ao longo A composição da atmosfera e o clima do
dos últimos 15.000 anos nas águas superficiais da planeta são produtos da coevolução da biosfera
margem continental SE brasileira. O testemunho e dos sistemas climáticos. Durante a história da
de 488 cm, coletado a 827 metros de profundidade Terra, a composição atmosférica evoluiu pouco a
possui alta resolução, com análises de 13C e 18O pouco como resultado de forçantes externas como
a cada 2 centímetros e contagens de nanofósseis irradiação solar e padrões orbitais, e “feedbacks”
calcários, teor de carbonato de cálcio e razão Fe/ internos entre atmosfera e biosfera (Riebesell,
Ca a cada 8. Os resultados apontaram mudanças 2004).
de produtividade e foram relacionadas a possíveis
Um dos mecanismos responsáveis está
alterações no aporte continental e na profundidade
relacionado à captura de dióxido de carbono
da termoclina/nutriclina. As variações de
(CO2) por organismos fotossintetizantes em águas
δ13C foram relacionadas à produtividade dos
superficiais e exportação para águas profundas,
cocolitoforídeos em diferentes profundidades da
como por exemplo, os cocolitoforídeos, produtores
camada fótica.
primários marinhos capazes de converter CO2
Palavras-chave: nanofósseis calcários, dissolvido em carbonato de cálcio. As alterações
paleoprodutividade, paleoceanografia de produtividade destes organismos, bem como
de sua produção celular de calcita, podem afetar
ABSTRACT significativamente o ciclo do carbono oceânico, e
então a troca de CO2 entre a superfície do oceano
Quantitative calcareous nannofossils
e a atmosfera (Zondervan, 2007).
analyses were carried out on in a core retrieved
on the slope of Santos Basin in order to estimate Dessa forma, a reconstrução de condições
possible changes in surface water productivity pretéritas das águas superficiais é de extrema
of SE brazilian continental margin for the last importância para o melhor entendimento dos
15.000 years. The 488 cm high resolution core, processos responsáveis por tais processos de
collected at 827 meters water depth has analysis interação (Benthien et al., 2005).
of oxygen and carbon stable isotopes every 2
cm and countings of calcareous nannofossils, OBJETIVO
calcium carbonate content and Fe/Ca ratios
O objetivo do presente estudo é estimar
approximately each 8 cm. Results pointed out
as possíveis variações na produtividade das
paleoproductivity variations which were related
águas superficiais da porção oeste do oceano
to possible changes in the continental input
Atlântico Sul ao longo dos últimos 15.000 anos,
and thermocline/nutricline depth. Carbon
contribuindo para a melhor compreensão das
stable isotopes indicated relationship with the
variações oceanográficas ocorridas na região no
productivity of coccolithophorids in different
decorrer deste tempo.
depths of the photic zone.

610
ÁREA DE ESTUDO sedimento entre 10.603 e 6.114 anos AP, entre
3.438 e 2.887 anos AP e entre 481 e 434 anos
A área de estudo encontra-se banhada em
AP. O teor de carbonato apresentou tendência
superfície pela Corrente do Brasil (CB), a corrente
geral de variação similar às variações de
de contorno oeste associada ao Giro Subtropical
abundâncias absolutas dos nanofósseis calcários,
do Atlântico Sul. No talude continental, por
como esperado, considerando que a maior parte
onde flui a CB, encontram-se empilhadas, nos
do carbonato na fração fina é representada pelos
primeiros três quilômetros, a Água Tropical (AT),
mesmos. Estas variações estão principalmente
a Água Central do Atlântico Sul (ACAS), a Água
registradas por Gephyrocapsa spp., Florisphaera
Intermediária Antártica, a Água Circumpolar e a
profunda e Emiliania huxleyi, as quais somaram
Água Profunda do Atlântico Norte (Silveira et al.,
até 97% da composição da nanoflora calcária.
2000).
A Figura 1 ilustra as variações de abundância
Na região, a AT domina a maior parte da
absoluta total dos nanofósseis calcários, relativas
zona eufótica das áreas oceânicas e possui boa
de Gephyrocapsa spp. e F. profunda, assim como
iluminação, entretanto é pobre em nutrientes
as curvas da razão Fe/Ca, teor de CaCO¬3, δ18O
e a fonte principal destes se encontra abaixo da
e δ13C.
termoclina, nos domínios da ACAS (Gaeta e
Os períodos de maior produtividade das
Brandini, 2006). Alguns processos físicos que
camadas superficiais são sugeridos anteriores a
podem romper a termoclina e fertilizar a zona
10.600 anos AP, entre 3.400 e 2.900 anos AP e
fótica são ressurgências, vórtices ciclônicos e
entre 480 e 430 anos AP. Apesar de os maiores
ondas internas. Longe da influência de aportes
valores de abundâncias absolutas se encontrarem
continentais, esses processos são considerados os
entre 10.603 e 6.114 anos AP, estes aumentos
geradores da alta produtividade biológica (Braga
foram interpretados como relativos devido a uma
e Niencheski, 2006).
menor diluição dos carbonatos pelos sedimentos
terrígenos, como sugerido pela razão Fe/Ca. Neste
MATERIAIS E MÉTODOS período, os valores da razão Fe/Ca são os menores
As análises quantitativas de nanofósseis do testemunho, o que poderia ser explicado por
calcários foram realizadas a partir da técnica de uma menor contribuição continental, tanto pelo
decantação aleatória descrita por Flores e Sierro distanciamento da costa devido à subida do nível
(1997) em um testemunho do talude da Bacia relativo do mar, como por uma redução no volume
de Santos, coletado e cedido pela Petrobras. de chuvas.
O testemunho de 488 cm foi recuperado a 827 Considerando a subida do nível relativo
metros de profundidade e possui alta resolução, do mar e o desenvolvimento de condições
com análises de isótopos estáveis de oxigênio menos úmidas entre 10.600 e 6.000 anos
(δ18O) e carbono (δ13C) e a cada 2 centímetros AP aproximadamente, menor quantidade de
e contagem de nanofósseis, teor de carbonato nutrientes estaria disponível para as espécies de
de cálcio (CaCO3) e razão Fe/Ca cada 8 cm cocolitoforídeos da camada fótica superficial.
aproximadamente. Estas análises foram realizadas Entretanto, as condições mais estáveis
em sedimentos da fração inferior a 63µm, da coluna d’água, devido ao espessamento da
correspondentes à fração onde se encontram os camada de mistura pelo aumento da temperatura,
nanofósseis calcários. O teor de carbonato e as indicada pela queda nos valores de δ18O,
razões Fe/Ca foram obtidos de Bariani (2009) e a podem ter favorecido a produção de F. profunda,
cronologia de Pivel (2009). a qual habita estratos inferiores da camada
fótica. A diminuição dos valores de δ13C neste
momento possivelmente registrou o aumento
RESULTADOS E DISCUSSÕES de produtividade de F. profunda na zona fótica
Os resultados da análise quantitativa inferior.
de nanofósseis calcários apresentaram maiores A redução da representatividade de
abundâncias dos nanólitos por grama de Gephyrocapsa spp. a partir de 10.600 anos também

611
sugere uma diminuição da concentração de BRAGA, E.S. & NIENCHESKI, L.F.H. 2006.
nutrientes nas camadas mais superficiais da zona Composição das Massas de Água e seus
fótica e concomitante ao aumento de F. profunda, Potenciais Produtivos entre o Cabo de São
o aprofundamento da termoclina em direção ao Tomé (RJ) e o Chuí (RS). In: Wongtschowski,
presente. C. L. B. e Madureira, L. S-P. O ambiente
Oceanográfico da Plataforma Continental e
do Talude na Região Sudeste-Sul do Brasil.
CONCLUSÕES São Paulo. Ed. Edusp, p. 161-218.
Os resultados apontaram para variações
de produtividade primária das águas superficiais FLORES, J.A. & SIERRO, F.J. 1997.
ao longo dos últimos 15.000 anos e sugeriram o Revised technique for calculation of
desenvolvimento de condições mais oligotróficas calcareous nannofossil accumulation rates.
a partir do início do Holoceno. Períodos de maior Micropaleontology, 43 (3), p. 321-324.
produtividade são sugeridos anteriores a 10.600
anos AP, entre 3.400 e 2.900 anos AP e entre GAETA, S.A. & BRANDINI, F.P. 2006.
480 e 430 anos AP, aproximadamente. Variações Produção primária do fitoplâncton na região
no aporte continental e na profundidade da entre o Cabo de São Tomé (RJ) e o Chuí (RS).
termoclina/nutriclina devem ter influenciado In: Wongtschowski, C. L. B. e Madureira,
as condições das águas superficiais da região, L. S-P. O ambiente Oceanográfico da
e conseqüentemente, a produtividade dos Plataforma Continental e do Talude na
cocolitoforídeos. Estimou-se que a produtividade Região Sudeste-Sul do Brasil. São Paulo. Ed.
da camada fótica superior tenha diminuído desde Edusp, p. 219-264.
o início do Holoceno. Anterior a este período, uma
maior contribuição continental teria propiciado PIVEL, M.A.C. Reconstrução da hidrografia
condições mais favoráveis ao desenvolvimento superficial do Atlântico Sul Ocidental desde
dos cocolitoforídeos que habitam as camadas mais o Último Máximo Glacial a partir do estudo
superficiais do oceano. A variação dos isótopos de foraminíferos planctônicos. Programa
estáveis de carbono em fração fina mostrou-se útil de Pós-Graduação em Oceanografia
na avaliação da produtividade primária na camada Geológica, Universidade de São Paulo. Tese
superficial do oceano, e neste estudo indicou de Doutorado. 164 p.
relação entre os mesmos e a produtividade dos
RIEBESELL, U. 2004. Effects of CO2 enrichment
cocolitoforídeos. Suas variações foram associadas
on marine phytoplankton. Journal of
a alterações de produtividade em diferentes
Oceanography, 60, p.. 719-729.
profundidades da zona fótica.
SILVEIRA, I.C.A.; SCHIMIDT, A.C.K.;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMPOS, E.D.; GODOI, S.S. & IKEDA,
Y. 2000. A Corrente do Brasil ao Largo da
BARIANI, L. M. 2009. Variações da sedimentação Costa Leste Brasileira. Revista brasileira de
ao longo dos últimos 15.000 anos em um Oceanografia, 48(2), p. 171-183.
testemunho da Bacia de Santos. Trabalho de
Graduação. Universidade de São Paulo. 39p. STEINMETZ, J.C. 1994. Sedimentation of
cocolithophores .In: Winter, A. e Siesser,
BENTHIEN, A.; ANDERSEN, N.; SCHULTE, W. (eds). Coccolithophores. Cambrige
S.; MÜLLER, P.J.; SCHENEIDER, University Press, Cambrige, p. 179-197
R.R. & WEFER, G. 2005. The carbon
isotopic record of the C37:2 alkenone in ZONDERVAN, I. 2007. The effects of light,
the South Atlantic: Last Glacial Maximum macronutrients, trace metals and CO2 on the
(LGM) vs. Holocene. Palaeogeography, production of calcium carbonate and organic
Palaeoclimatology, Paleoecology, vol. 221, p. carbon in coccolithophores – A review.
123-140. Deep-Sea Research, 54, p. 521-537.

612
Figura 1. Variações dos isótopos estáveis de oxigênio (∂18O) e carbono (∂13C), das abundâncias absoluta total de
nanofósseis calcários, teor de carbonato de cálcio (CaCO3), abundâncias relativas de Gephyrocapsa spp. (linha tracejada)
e F. profunda (linha contínua) e razão Fe/Ca. Reparar os valores decrescentes de ∂18O e o aumento relativo de F.
profunda de 15.000 anos AP em direção ao presente, indicando aquecimento; as relações positivas entre as abundâncias
absolutas e teor de CaCO3 e negativas destes parâmetros em relação à razão Fe/Ca e as variações de ∂13C. A área
sombreada indica os períodos entre 10.603 e 6.114 anos AP, entre 3.438 e 2.887 anos AP e entre 481 e 434 anos AP. As
linhas pontilhadas indicam o intervalo do testemunho não quantificado.

613
S-11:
Paleovertebrados (Cenozoico)
A PALEOMASTOFAUNA DO QUATERNÁRIO TARDIO DO MUNICÍPIO
DE MANARI, PERNAMBUCO, NORDESTE DO BRASIL
Fabiana Marinho da Silva1 (fabirk26@yahoo.com.br), Laiza de Oliveira Pessoa2 (lala.oli.pessoa@gmail.com),
Édison Vicente Oliveira1 (edison.vicente@ufpe.br), Alcina Magnólia Franca Barreto1 (alcina@ufpe.br)
Universidade Federal de Pernambuco; 2Universidade Federal Rural de Pernambuco
1

RESUMO o início do século passado e estão relatadas em


trabalhos como os de Branner (1902), Vidal
Este trabalho traz informações inéditas
(1946), Rolim (1974), Silva et al., (2006), Oliveira
sobre os mamíferos fósseis encontrados no
et al. (2009; 2010).
município de Manari (8º57’57’’S e 37º37’45’’W),
Estado de Pernambuco. O depósito fossilífero Este trabalho fornece dados inéditos sobre
encontra-se na localidade Exu, sobre uma pequena os mamíferos fósseis encontrados no município
depressão circular no embasamento. O material de Manari colaborando com informações
estudado faz parte da coleção de Macrofósseis do paleobiogeográficas das espécies.
DGEO-CTG-UFPE e consiste de osteodermos
de Glyptotherium, Panochthus e dentário LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
fragmentado de Stegomastodon waringi. O estudo
O município de Manari (8º 57’57”S e
contribui com informações sobre a distribuição
37º 37’45”W) localiza-se na Mesorregião Sertão
desses grupos no Estado de Pernambuco.
e Microrregião Sertão do Moxotó do Estado de
Palavras-chave: Cingulata, Proboscidea, Pernambuco a 330 km da capital Recife.
Pernambuco

METODOLOGIA
ABSTRACT
O material estudado faz parte da Coleção
This work bring new informations about de Macrofósseis do DGEO-CTG-UFPE
fossil mammals found in the city of Manari provenientes da localidade Exu, município de
(8º57’57”S and 37º37’45”W), Pernambuco State. Manari, Sertão do Estado de Pernambuco.
The fossil deposit is Exu on a small circular
depression in the basement. The fossils studied is
Sistemática Paleontológica
part of the Collection of Macrofossils DGEO-
CTG-UFPE and consists of the osteoderms Ordem CINGULATA Illiger, 1811
Glyptotherium, Panochthus and dental fragmented Família GLYPTODONTIDAE Gray,
Stegomastodon waringi. The study contributes 1869
information on the distribution of these groups in Subfamília GLYPTODONTINAE
the Pernambuco State. Gray, 1869
Keywords: Cingulata, Proboscidea, Gyptotherium Osborne, 1903
Pernambuco Material referido. 6801 DGEO-CTG-
UFPE - Osteodermo da região dorsal (Figura 01
A). 7051 DGEO-CTG-UFPE – Osteodermo do
INTRODUÇÃO anel caudal (Figura 01 D).
No Estado de Pernambuco encontra-se Descrição. O osteodermo da região dorsal
registro de paleomastofauna quaternária em apresenta-se fragmentado com diâmetro de
pelo menos 38 municípios (Silva et al., 2010). 40.4mm e espessura de 18.4, figura central plana
Atualmente no Estado de Pernambuco as ordens maior que as figuras periféricas. Apesar do alto
Cingulata e Proboscidea estão registradas em pelo grau de fragmentação observa-se um número de
menos 13 e 27 desses municípios, respectivamente figuras periféricas de sete a oito. O sulco principal
e a descoberta dessas ocorrências data desde apresenta forames profundos na intersecção com

617
os sulcos radiais. O osteodermo do anel caudal, forma de trevo além de maior desgaste na face
espessura de 5.41 mm e diâmetro de 5.98, com lingual.
formato hexagonal, superfície externa com Discussão. Apesar do alto grau de
proeminência cônica e bastante pontuada, o que fragmentação, é possível observar na superfície
lhe atribui um aspecto rugoso. oclusal desgaste em forma de duplo trevo, que são
Discussão. O osteodermo aqui referido compatíveis com Stegomastodon waringi, de acordo
é atribuído a Glyptotherium, pois possui com Prado et al. (2005) é uma das principais
características diagnósticas do gênero, que difere características que diferencia S. waringe de outras
de Glyptodon como menor espessura, sulcos radiais espécies.
pouco profundos e maior número de figuras
periféricas, que em Glyptodon variam de seis a
sete. O osteodermo do anel caudal de Glyptodon
CONCLUSÕES
possui protuberância mais proeminente que em O material analisado nos permite conhecer
Glyptotherium (Carlini et al., 2008 & Oliveira et um pouco da paleomastofauna do município de
al., 2009). Manari contribuindo com informações sobre
Família PANOCHTHIDAE Castellanos, a distribuição dos Cingulata e Proboscidea no
1927 Estado de Pernambuco.
Subfamília PANOCHTHINAE
Castellanos, 1927 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Panochthus jaguaribensis Moreira, 1965
BRANNER, J. C. 1902. On the ocurrence of fóssil
Material referido. 6800 DGEO-CTG-
remains of mammals in the interior of the
UFPE – osteodermo fragmentado (Figura 01
states of Pernambuco and Alagoas, Brazil.
B); 6803 DGEO-CTG-UFPE – fragmento de
American Journal of Science, v. 13, 132-137.
osteodermo (Figura 01 C).
Descrição. O osteodermo fragmentado CARLINI, A.A.; ZURITA, A.E. &
apresenta um diâmetro de 41.7 mm, uma figura AGUILERA, O.A. 2008. North American
central circundada de dez figuras menores, Glyptodontines (Xenarthra, Mammalia)
espessura de 20.5. O fragmento de osteodermo in Upper Pleistocene of northern South
tem espessura de 19.1 e um tamanho médio America. Paläontologische Zeitschrift 82(2):
27.5 mm, ornamentado por figuras de mesmo 125-138.
tamanho, dispostas de maneira uniforme.
Discussão. Os osteodermos de P. IBGE, 2005. Divisão política do Brasil: http://
jaguaribensis possuem menor espessura que em www.ibge.gov.br/mapas_ibge/pol.php .
P. greslebini, além de apresentar ornamentação
característica como figura central. OLIVEIRA, E.V.; BARRETO, A.M.F. &
ALVES, R.S. 2009. Aspectos sistemáticos,
Ordem PROBOSCIDEA Illiger, 1811
paleobiogeográficos e paleoclimáticos dos
Família GOMPHOTHERIIDAE
mamíferos quaternários de Fazenda Nova,
Cabrera, 1929
PE, Nordeste do Brasil. GAEA – Journal of
Subfamília ANANCINAE Hay, 1922 Geocience 5(2): 75-85.
Gênero Stegomastodon Pohlig, 1912
Stegomastodon waringi (Holland, 1920) OLIVEIRA, E.V.; BARRETO, A.M.F. &
Material referido. 5744 DGEO-CTG- PORPINO, K.O. 2010. Primeiro registro
UFPE – Fragmento de dentário com molariforme do gênero Glyptotherium no Pleistoceno
implantado de Stegomastodon waringi (Figura 02). Tardio do Brasil. Paleontologia em Destaque:
Descrição. Fragmento de dentário com VII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de
molariforme implantado apresentando apenas Vertebrados, p. 100.
dois lófidos. As póstrites são mais desenvolvidas
PRADO, J.L.; ALBERDI, M.T.; AZANZA, B.
que as prétrites apresentando um desgaste em
& SÁNCHEZ, B. 2005. The Pleistocene

618
Gomphotheriidae (Proboscidea) from South SILVA, F.M.; FILGUEIRAS, C.F.C.;
America. Quaternary International 126- BARRETO, A.M.F. & OLIVEIRA, E.V.
128: 21-30. 2010. Mamíferos do Pleistoceno Superior
de Afrânio, Pernambuco, Nordeste do Brasil.
ROLIM, J.L. 1974. Paleontologia e Estratigrafia Quaternary and Environmental Geosciences
do Pleistoceno Continental do Nordeste 2(2): 01-11. Disponível em: <http: www.
Brasileiro “Formação Cacimbas”. Programa abequa.org.br>
de Pós-Graduação em Geociências,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, VIDAL, N. 1946. Contribuição ao conhecimento
Dissertação de Mestrado, 117p. da paleontologia do Nordeste brasileiro:
notícia sobre a descoberta de vertebrados
SILVA, F.M.; ALVES, R.S.; BARRETO, pleistocênicos no município de Pesqueira –
A.M.F.; SÁ, F.B. & LINS E SILVA, A.C.B. PE. Boletim do Museu Nacional, Geologia,
2006. A megafauna pleistocênica do estado 6: 1-15.
de Pernambuco. Estudos Geológicos 16(2):
55-66.

Figura 1. Osteodermo de Glyptotherium; B. Osteodermo de Panochthus jaguaribensis; C. Fragmento de osteodermo de


Panochthus; D. Osteodermo caudal de Glyptotherium. Escala: 20mm.

619
Figura 2. Fragmento mandibular de Stegomastodon waringi.Escala: 50mm.

620
AFLORAMENTO “SÍTIO”: UMA NOVA LOCALIDADE
FOSSILÍFERA PARA O PLEISTOCENO DA BAHIA
Cristina Bertoni Machado1 (cristina.bertoni@gmail.com), Carolina Saldanha Scherer2 (carolina_scherer@yahoo.com.br),
Téo Veiga de Oliveira3 (teovoli@yahoo.com.br)
Universidade Federal da Bahia; 2Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; 3Universidade Estadual de Feira de Santana
1

RESUMO Vários trabalhos trataram dos fósseis


coletados em tanques, referindo táxons de
Aqui se apresenta a ocorrência de um novo
Xenarthra, Litopterna, Notoungulata, Carnivora,
tanque fossilífero, localizado na Bahia, datado
Artiodactyla e Perissodactyla para os estados
do Pleistoceno, contendo diversos elementos da
de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Alagoas, Rio
megafauna brasileira, além de breves inferências
Grande do Norte, Sergipe e Piauí (e.g. Bergqvist
tafonômicas a respeito da gênese e preservação da
et al., 1997; Dantas & Zucon, 2003; Porpino et
tafocenose.
al., 2004; Dantas et al., 2005; Marinho-Silva et
Palavras-chave: Pleistoceno, Tafonomia,
al., 2006, 2010; Ximenes, 2008; Dias-Neto et al.,
Bahia
2008; Guérin & Faure, 2008). Também o Estado
da Bahia é bastante abundante em depósitos de
INTRODUÇÃO tanques com fósseis da megafauna pleistocênica,
O Nordeste do Brasil é bastante conhecido conhecidos desde a década de 1950 (Paula-
pela abundância de fósseis da megafauna Couto, 1953; Simpson & Paula Couto, 1957).
pleistocênica, os quais ocorrem principalmente Recentemente, novas localidades fossilíferas
em cavernas e depósitos do tipo tanque (Paula- foram registradas nos municípios de Vitória da
Couto, 1953). Aqui se registra a descoberta de Conquista (Dantas & Tasso, 2007), Coronel
uma nova localidade fossilífera para o Pleistoceno João Sá (Dantas & Zucon, 2007), Palmas do
no interior do Estado da Bahia. Monte Alto (Dantas et al., 2008), Matina (Riff
et al., 2008), Quijingue (Drefahl et al., 2009) e
Os depósitos denominados tanques são
Baixa Grande (Ribeiro & Carvalho, 2009). Estes
depressões naturais existentes em rochas cristalinas
trabalhos assinalaram, dentre outros, táxons como
(rochas magmáticas ou metamórficas) de idade
Toxodontidae, Gomphotheriidae, Megatheriidae.
geralmente pré-Cambriana (Bergqvist et al.,
1997), geralmente, com formato elíptico e paredes
íngremes. Na maioria dos casos, encontram-se Localização e Geologia
preenchidos por sedimentos cascalhosos e Aqui se registra a descoberta de uma nova
arenosos, em meio aos quais são preservados os localidade fossilífera no interior do Estado da
fósseis de animais pleistocênicos. A gênese destas Bahia. O Afloramento Sítio recebe este nome
depressões pode ser explicada através da erosão da por estar situado no Povoado de mesmo nome,
rocha cristalina por águas pluviais e sedimentos localizado no interior do município de Quijingue,
mais grossos (Oliveira, 2010) ou por erosão o qual se situa a aproximadamente 350 km a
produzida ao longo de fraturas, por meio de ação noroeste de Salvador.
física e química (Ximenes, 2008). Por se tratarem de cavidades naturais,
A ocorrência destes fósseis no interior dos compostas por rocha cristalina, os tanques
tanques pode ser explicada através do transporte geralmente são escavados para servir como
dos mesmos, juntamente com sedimentos, para reservatório de água para uso das populações
o interior dos tanques, em eventos de enxurradas locais. O tanque basáltico existente na localidade
(Marinho-Silva et al., 2006). Outra possibilidade aqui registrada também foi utilizado para este fim.
é a de que alguns animais, utilizando estes locais Seu preenchimento, de idade Quaternária, foi
como bebedouro, possam ter caído e ali ficado removido quando o tanque secou, em 1981. Todo o
preservados (Marinho-Silva et al., 2006). material do fundo, um sedimento conglomerático

621
inconsolidado, foi depositado, juntamente com Pelo fato de os fósseis terem sido exumados
os fósseis, no entorno do tanque, em pequenos quando da escavação do tanque, houve perda de
barrancos de até 2m de altura. muitas informações tafonômicas. Além disso,
o fato de o sedimento ser inconsolidado (solo)
Conteúdo Paleontológico faz com que a água da chuva percole facilmente,
O material coletado foi depositado nas atacando diretamente a estrutura óssea. Assim,
coleções paleontológicas da Universidade Federal grande parte do material encontra-se em péssimo
da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal do estado de preservação, altamente friável, sem
Recôncavo da Bahia (UFRB). estruturas e ornamentações diagnósticas.
Os fósseis coletados apresentam-se bastante Aparentemente os materiais apresentam
fragmentados, de forma que a grande maioria dois tipos de preservação: alguns estão incrustados
ainda aguarda identificação. Dentre os poucos com uma fina camada que preliminarmente foi
espécimes que puderam ser preliminarmente atribuída a óxido de manganês, enquanto outros
identificados, há muitos fragmentos de vértebras não parecem ter nenhum tipo de mineralização
(principalmente centros vertebrais e processos incrustando. Não são observados cristais nos poros,
espinhosos), epífises e diáfises de ossos longos lamelas ou medulas. Tais diferenças poderiam ser
isoladas e fragmentadas e alguns fragmentos indicativas de: (a) diferentes idades de deposição
que podem pertencer a crânios. Embora uma no tanque ou (b) diferenças em uma pré-diagênese,
identificação mais precisa ainda não tenha sido onde os ossos mineralizados poderiam ter passado
feita, estes fragmentos seguramente pertencem algum tempo dentro do sedimento, sofrendo as
a um animal de grande porte (Proboscidea ou primeiras transformações químicas quando foram
Xenarthra). Há ainda alguns fragmentos de reexumados e transportados para o tanque. De
diáfises de menor tamanho, que podem pertencer qualquer forma, ambas as hipóteses indicam uma
a representantes de Carnivora ou Artiodactyla. mistura temporal nesta tafocenose.
Os espécimes mais completos que puderam Mesmo com a retirada dos fósseis de
ser identificados tratam-se de fragmentos de seu sítio de deposição original, especula-se,
molares e um fragmento de mandíbula de preliminarmente, que o tanque atuou como uma
Gomphotheriidae, um osteoderma incompleto pequena bacia sedimentar, que recebia os ossos dos
de Glyptodontidae, uma falange média do dígito elementos da megafauna que morriam no entorno
II ou IV de Macraucheniidae, um fragmento do tanque. O alto grau de desarticulação deve ser
proximal de ulna de Toxodontidae e um fragmento anterior à exumação, pois em entrevista com os
proximal de metatarsal III de Megatheriidae. moradores que fizeram a limpeza do tanque há
30 anos, todos afirmam que os fósseis já estavam
desarticulados. Tal grau de desarticulação deve ser
Considerações tafonômicas
decorrência do transporte aquoso sofrido desde o
De uma forma geral, os espécimes local de morte até a deposição no tanque. Soma-se
coletados apresentam-se desarticulados a isto o fato de que grande parte das fraturas
e fragmentados, com algumas feições de encontradas apresenta-se na forma de bordas
desgaste. São encontradas peças de poucos lisas, mais comumente encontradas em materiais
centímetros (fragmentos de ossos e dentes) até onde o processo diagenético já havia iniciado.
aproximadamente 20-30 cm (e.g. fragmentos
Este tipo de preservação vai de acordo com
de ossos longos e de vértebras, fragmento de
o citado por Santos et al. (2002) quando afirmam
mandíbula). De forma preliminar pode-se dizer
que as associações fossilíferas apresentam quebras
que a maior parte do material, aproximadamente
e desgastes compatíveis com um certo período de
60 ossos coletados, é de elementos pós-cranianos,
exposição e com o transporte posterior à morte e
como falanges, fragmentos de vértebras e de ossos
a desarticulação, para dentro do tanque.
longos. Associados aos fósseis foram encontradas
conchas de moluscos gastrópodes, variando de 0,5
cm a 2 cm.

622
CONSIDERAÇÕES FINAIS DANTAS, M.A.T.; SANCHES, A.L. & TASSO,
M.A.L. 2008. Nota sobre a ocorrência de
Apesar da tafocenose do afloramento
fósseis da megafauna do Pleistoceno final-
Sítio ser bastante fragmentada e com poucas
Holoceno em Palmas de Monte Alto, Bahia,
informações tafonômicas e taxonômicas, a
Brasil. Revista de Geologia, 21(1):109-114.
descoberta deste jazigo é de extrema importância à
paleontologia baiana, que vem sendo enriquecida DANTAS, M.A.T. & ZUCON, M.H. &
por esta e por outras contribuições recentes RIBEIRO, A.M. 2005. Megafauna
sobre novas localidades fossilíferas e sobre a pleistocênica da Fazenda Elefante, Gararu,
fauna que habitou esta região. Estas recentes Sergipe, Brasil. Geociências, 24(3):277-287.
contribuições são valiosas, pois ressaltam a
necessidade de se investir esforços em trabalhos DIAS-NETO, C.M.; BORN, P.A. & CHAHUD,
deste tipo, realizando resgate de material em A. 2008. Ocorrência de mamíferos extintos
tanques escavados pela população para reserva de do Pleistoceno na localidade de Lagoa da
água. Além disso, verifica-se a importância deste Pedra, município de Igaci, Alagoas. Revista
novo sítio fossilífero devido ao registro de alguns Universidade de Guarulhos, Geociências,
táxons, pela primeira vez, em depósitos de tanques 7(1):110-115.
no Estado da Bahia (e.g. Macraucheniidae).
DREFAHL, M.; MORAES, S.; MARTINS,
G.A. & MACHADO, A.J. 2009. Primeiro
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Grande/Paraíba. Estudo Comparativo, GUÉRIN, C. & FAURE, M. 2008. La biodiversité
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Universidade de Guarulhos, Geociências, Holocène ancien dans la Région du Parc
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Brésil). Fumdhamentos, 7:80-93.
DANTAS, M.A.T. & TASSO, M.A.L. 2007.
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623
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de Geociências – UFRJ, 32(2):42-50. megafauna pré-histórica. In: WINGE, M.;
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2008. Boletim de resumos, Ribeirão Preto,
USP, p.177-178.

624
ANÁLISE DAS FEIÇÕES DE INTEMPERISMO EM FÓSSEIS
DA MEGAFAUNA DO QUATERNÁRIO TARDIO DA LAGOA
DO RUMO, BAIXA GRANDE, BAHIA, BRASIL
Fábio Henrique Cortes Faria¹ (fabiocortes22@gmail.com), Ricardo da Costa Ribeiro¹ (ricardomito@hotmail.com),
Ismar de Souza Carvalho¹ (ismar@geologia.ufrj.br)
1
1Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Departamento de Geologia

RESUMO Os bioclastos aqui analisados são oriundos


de sedimentos quaternários, do município de
Neste estudo foi realizado uma descrição
Baixa Grande, Bahia, sendo o primeiro registro
dos estágios de intemperismo nos fósseis da
dessas mastofauna do Quaternário Tardio.
mastofauna do Quaternário tardio, oriundos
Ribeiro (2010) realizou estudos tafonômicos da
do jazigo fossilífero de Lagoa do Rumo, Baixa
assembleia aqui analisada, constatando que tal
Grande, Estado da Bahia. Esta classificação
depósito é caracterizado como uma assembleia
baseia-se nos seis estágios de intemperismo, em
parautóctone, politípica e poliespecífica.
restos ósseos expostos em superfícies subaéreas,
visando à determinação do tempo de exposição Foram selecionadas 110 amostras,
aos agentes do intemperismo. Os resultados tendo sido realizada uma descrição das feições
da análise realizada indicaram uma mistura no de intemperismo dos ossos, de acordo com a
cenário de morte de um período de pelo menos metodologia de Behrensmeyer (1978), indicando
15 anos. o tempo de exposição antes do soterramento
final. Este estudo visa diagnosticar o tipo de
Palavras-chave: intemperismo em fósseis,
concentração fossilífera e a dinâmica ambiental
restos ósseos, Megafauna
que estes restos foram submetidos antes do
soterramento final.
ABSTRACT
This study analyses the weathering ÁREA DE ESTUDO
stages in fossil mammals of Late Quaternary
O município de Baixa Grande localiza-se
from Lagoa do Rumo, Baixa Grande, Bahia
no Estado da Bahia a 250 km da capital Salvador,
State, Northeastern Brazil. This classification
na mesorregião do centro-norte Baiano. O
is based on the six weathering stages in skeletal
depósito fossilífero situa-se nas coordenadas
remains exposed to subaerial surface, which allow
geográficas 11°52’07” de latitude Sul, e 40°07’11”
evaluating the exposure time to weathering. The
de longitude Oeste (Datum SAD 69), com cota
result indicates a range time for the bioclast
altimétrica de 386 m, na propriedade rural do Sr.
accumulation of at least 15 years.
João França, em Lagoa do Rumo (Figura 1).
Keywords: fossil weathering, skeletal
O jazigo fossilífero caracteriza-se como
remains, Megafauna
tanque ou caçimba, sendo este o principal
ambiente deposicional dos fósseis da Mastofauna
INTRODUÇÃO do Quaternário do Nordeste do Brasil. Estes
O processo de decomposição de carcaças depósitos são caracterizados como depressões
de vertebrados em superfícies subaéreas faz parte naturais nas rochas do embasamento, tendo sua
do processo de ciclagem de nutrientes do solo, já origem relacionada ao intemperismo químico nas
que o processo de fossilização depende fortemente fraturas e diaclases do embasamento cristalino.
da intensidade, taxa de variação dos processos Os processos de formação desses depósitos estão
destrutivos que afetam os ossos e da probabilidade associados ao final do Pleistoceno e início do
de soterramento final antes de sua total destruição Holoceno, período marcado pela transição de um
frente aos agentes externos (Behrensmeyer, 1978). clima mais úmido para o semiárido nordestino.

625
MATERIAIS E MÉTODOS Os danos físicos causados por agentes
bióticos podem ser resultantes da atividade de
O material aqui analisado é composto
carnívoros e carniceiros, além de outros danos
por 110 amostras da coleção do Laboratório de
causados pelo tipo de transporte sofrido pelo
Macrofósseis do Departamento de Geologia
material. Os principais efeitos de degradação
da UFRJ, que correspondem a fragmentos de
dos ossos são produzidos pelas flutuações
crânio, mandíbula, dentes, corpos vertebrais,
de temperatura, umidade, como também as
membros anteriores e posteriores, costelas, além
características da vegetação no local, que podem
de uma grande parte de fósseis não identificados.
catalisar ou retardar tal processo.
A classificação do material seguiu os estágios
de intemperismo propostos por Behrensmeyer
(1978), que são: RESULTADOS E DISCUSSÕES
• Estágio 0: A superfície do osso De acordo com as análises realizadas, 79
encontra-se inalterada. (73,1% do total) das 110 amostras fossilíferas,
• Estágio 1: Os ossos apresentam leves apresentaram características de um único estágio
rachaduras em sua superfície, sendo de intemperismo. O estágio 3, com 33 amostras,
geralmente paralelas à estrutura do tem o maior percentual (41,7%), demonstrando
osso. que esses restos ficaram expostos na superfície do
solo por no mínimo 4 anos.
• Estágio 2: Apresenta sinais de
O estágio 2, com 22,7 % das amostras,
escamação da superfície, expondo a
indica exposição de no máximo 6 anos. Amostras
camada interna, apresentando quebras
nos estágios 4 e 5, com um percentual de 30 %,
angulosas nas extremidades.
apontam para um tempo de exposição de 6 a 15
• Estágio 3: A superfície do osso torna- anos ou mais, o que irá depender da temperatura,
se áspera, com rachaduras que podem umidade e vegetação onde esses restos estão
expor partes da textura fibrosa. A expostos. O estágio 1, com o menor percentual
atividade do intemperismo ataca (5,6 %) indica tempo de exposição de no
principalmente o tecido externo do máximo 3 anos. Nenhuma amostra apresentou
osso. características do estágio 0 (Figura 2).
• Estágio 4: O intemperismo estilhaça e Nesta análise foram identificadas
lasca a superfície óssea, penetrando nas amostras com características de dois estágios bem
cavidades. A superfície torna-se fibrosa, definidos, representando 25,4% das amostras. Isto
podendo se romper parcialmente indica uma possível posição do fóssil na superfície
quando o osso é movimentado. do solo, como também a ação diferenciada dos
processos de intemperismo. Esta diferença na
• Estágio 5: O osso está bastante alterado
degradação indica um forte controle das condições
pelos agentes do intemperismo,
de temperatura, umidade e vegetação. Também
dificultando sua identificação. Pode
foram identificadas 3 amostras com um mosaico
facilmente quebrar-se caso seja
de características dos estágios de intemperismo.
movimentado.
Isto representa que a ação do intemperismo atua
de forma diferenciada, sendo que tal processo pode
Processos de Intemperismo estar relacionado ao processo de necrólise, danos
Os processos de intemperismo em ossos causados por agentes bióticos e abióticos, como
são definidos como os efeitos que alteram a também a estrutura dos tecidos que compõem o
micro e macrocospia original dos ossos, onde osso.
os componentes orgânicos e inorgânicos são Através desta análise das feições de
separados e destruídos in situ, durante o processo intemperismo podemos dividir as amostras
de ciclagem de nutrientes do solo. em dois grupos que são: pouco intemperizadas,
representadas pelos estágios 1-2 (24,5 %), e

626
significativamente intemperizadas, pelos estágios antes de serem transportados e depositados de
3-5 (75,5 %), o que significa que esta assembleia forma não seletiva. Houve uma mistura temporal
é do tipo “attritional”, a qual consiste em neste cenário de morte em que a tanatocenose
acumulações de ossos (carcaças) compostas por representa um intervalo de tempo de muitos
restos de animais devido à morte por doenças, anos. Os estágios de intemperismo e o transporte
predação, fome e sede (Behrensmeyer, 1978). sofrido pelo material explicam a ausência de
exemplares com preservação completa e da grande
maioria dos ossos serem fragmentos de pequenas
CONCLUSÕES dimensões.
A análise das feições de intemperismo dos
ossos é uma ferramenta de grande utilidade nos
estudos paleoecológicos. Estas feições fornecem REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
evidências de alguns processos tafonômicos que BEHRENSMEYER, A.K. 1978. Taphonomic
podem ser diferenciados das feições abrasivas and ecologic information from bone
produzidas pelo transporte, como também dos weathering. Paleobiology, 4(2): 150 – 162.
efeitos da diagênese. Assim, características da
superficie subaérea em que esses restos foram RIBEIRO, R.C. 2010. Aspectos tafonômicos dos
expostos, tais como o tempo de exposição aos fósseis da megafauna do Quaternário tardio
agentes do intemperismo, antes do soterramento da Lagoa do Rumo, Baixa Grande, Bahia.
total, podem ser avaliados. Programa de Pós-Graduação em geologia,
Os fósseis encontrados na assembleia Universidade Federal do Rio de Janeiro,
fossilífera da Lagoa do Rumo ficaram expostos Dissertação de Mestrado, 111 p.
na superficie do solo aos agentes intempéricos,

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.

627
Figura 2. Número de amostras com o respectivo estágio e tempo de exposição.

628
ANÁLISE MACROSCÓPICA DE LESÃO INFECCIOSA EM VÉRTEBRA
DE MAMÍFERO PLEISTOCENICO DO NORDESTE DO BRASIL
Fernando Henrique de Souza Barbosa1 (fhsbarbosa@rocketmail.com), Uiara Gomes Cabral2 (uiara.gomes@gmail.com),
Édison Vicente Oliveira1 (vicenteedi@gmail.com)
Universidade Federal de Pernambuco; 2Universidade Federal do Rio de Janeiro
1

RESUMO apresenta – se desarticulado e bastante


fragmentado, sugerindo uma origem alóctone
Estuda – se neste trabalho uma vértebra
e retrabalhamento no seu interior. Todavia, a
de espécie indeterminada, procedente de
fragmentação presente nos fósseis não impede
depósito de tanque natural, localizado no
que feições paleopatológicas sejam observadas e
município de Barcelona/RN. Ela apresenta sinais
analisadas de forma contundente, mesmo quando
macroscópicos de lesão infecciosa, possivelmente
tais feições estejam relacionadas a fraturas. Neste
relacionada à osteomielite. São necessários dados
trabalho é relatado um caso de infecção em uma
radiológicos por imagem no exemplar, para que
vértebra de mamífero quaternário, oriundo de
esse diagnóstico seja corroborado. Foi realizado
tanque localizado no município de Barcelona,
estudo comparativo com outros exemplares
Estado do Rio Grande do Norte.
pertencentes ao Museu Nacional/UFRJ e revisão
da literatura específica.
Palavras-chave: osteomielite, tanque, MATERIAIS E MÉTODOS
Barcelona/RN O material consiste de uma vértebra ainda
não descrita, mas provavelmente pertencente à
ABSTRACT espécie Eremotherium laurillardi, procedente de
tanque localizado no município de Barcelona/RN.
In this paper is studied a vertebra of
O exemplar está depositado na coleção Onofre
undeterminate species of megamammal from
Lopes do Museu Câmara Cascudo – Universidade
a thank deposit, located at the municipality
Federal do Rio Grande do Norte. A vértebra
of Barcelona/RN. It presents macroscopic
encontra-se fragmentada faltando parte do corpo
signals of an infection lesion, possibly related
vertebral (região caudo – ventral) e extremidades
to osteomyelitis. In order to corroborate this
dos processos transversos. O arco neural, processo
diagnostic are necessary radiologic data. Was
espinhoso, pré- e pós-zigapófises estão totalmente
realized a comparative study with other specimens
ausentes devido a quebras tafonômicas (Figura 1).
from Museu Nacional/UFRJ and with the specific
Foi realizada análise macroscópica do
literature.
material, com observação das características
Keywords: osteomyelitis, tank, Barcelona/
anormais proeminentes. Após esta etapa, o
RN
exemplar foi submetido à comparação com
exemplares da megafauna de mamíferos da
INTRODUÇÃO Coleção de Paleovertebrados do Museu Nacional/
A região Nordeste do Brasil apresenta Universidade Federal do Rio de Janeiro, que já
por todo seu interior um grande número de possuem descritas diversas feições paleopatológicas
pequenos depósitos sedimentares, localizados (Cabral & Henriques, 2007; Cruz & Henriques,
sobre rochas do embasamento, denominados 2008; Cruz, Henriques & Cabral, 2008, Cabral,
de tanques naturais. Estes depósitos tem um 2009). Também foram realizadas comparações
importante significado paleontológico, uma vez com a literatura existente (Ortner, 2008; Waldron
que representam o principal sítio fossilífero da 2009).
megafauna pleistocênica da região (Porpino,
2002). O conteúdo fóssil dos tanques, geralmente,

629
RESULTADOS E DISCUSSÃO determinação do tipo de microrganismo causador
da patologia fica prejudicada em virtude da
Na superfície do corpo vertebral, face
natureza do exemplar, porém na literatura atual
caudal, observamos uma grande lesão de dimensões
geralmente está relacionada à Staphylococcus
7,0 x 2,0 cm. A mesma possui margens irregulares,
aureus (Auferderheide & Rodríguez-Martín,
arredondadas e com sinais de remodelação
1998). Os osteófitos observados na região dorsal
(destruição e neoformação óssea). A superfície
são indicativos de sobrecarga no corpo vertebral,
da lesão possui aspecto rugoso característico de
provavelmente devido ao processo infeccioso
remodelação óssea, sinalizando a existência de
presente na vértebra exigindo um esforço maior
um processo ativo de cicatrização no momento
da região não afetada.
da morte do animal. Apresenta ainda orifícios de
tamanhos variados caracterizados como cloacas, A utilização de ferramentas médicas,
canais através dos quais os abscessos podem como radiografia e tomografia computadorizada,
drenar o pus para fora do osso (Auferderheide & no diagnóstico das paleopatologias poderão
Rodríguez-Martín, 1998). Tal feição indica focos corroborar estes resultados, ao permitir a análise
de infecção na região analisada. A observação das da extensão da lesão, possíveis focos no interior
trabéculas ósseas foi possível graças a sua exposição do osso e a observação mais precisa das estruturas
devido à ação tafonômica. Elas mostraram-se ósseas.
espessadas e com arranjo desorganizado em
relação ao padrão esperado. O padrão trabecular CONCLUSÕES
espessado e desorganizado também é esperado
A vértebra de mamífero analisada neste
em casos de infecção óssea (Auferderheide &
trabalho apresenta características que estão
Rodríguez-Martín, 1998; Rothschild & Martin,
relacionadas à infecção óssea, possivelmente, por
2006). A vértebra exibe ainda, na mesma região
microorganismos piogênicos (haja vista a presença
do corpo vertebral, outra lesão (8,5 x 1,5 cm) que
de cloacas). A possibilidade de se referir tal infecção
se configura como uma escavação na superfície
à osteomielite existe, porém são necessários
da cortical, de orientação retilínea, que cruza o
exames de diagnóstico por imagem para se testar
exemplar no sentido dorso-ventral. Sugere – se
esta possibilidade. É importante também destacar,
que tal anomalia não possui origem tafonômica.
que, apesar da origem deposicional do exemplar
A lesão se funde com a maior, descrita aqui
ser de uma região caracterizada por material fóssil
anteriormente e apresenta características muito
desarticulado, fragmentado e desgastado, este
semelhantes: bordos irregulares e arredondados
conjunto de ações não foi suficiente para suprimir
e processo de destruição e neoformação óssea,
as feições paleopatológicas aqui estudadas.
estando à cicatrização, aparentemente neste
caso, em estágio mais adiantado. Ainda no
corpo vertebral, contudo na região dorsal, foram REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
observados pequenos crescimentos ósseos em
AUFDERHEIDE, A.C. & RODRÍGUEZ-
forma de osteófitos.
MARTÍN, C. 1998. The Cambridge
De acordo com o conjunto de sinais Encyclopedia of Human Paleopatology.
observados no exemplar aqui estudado: Cambridge, University Press, 478p.
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neoformação óssea paralelo, ação de destruição CABRAL, U.G. & HENRIQUES, D.D.R.
óssea mais rápida do que a de formação e 2006. Estudo de caso anátomo-patológico
desenvolvimento de canais para drenagem de e tafonômico de material pertencente ao
pus, o cenário de infecção é o diagnostico mais gênero Lestodon Gervais, 1855, coletado no
aceitável para as duas lesões existentes na face Estado de São Paulo e depositado na coleção
caudal do corpo vertebral. Estudos de caso sobre do Museu Nacional/UFRJ. In: III Jornada
este tipo de patologia possuem um registro amplo Fluminense de Paleontologia, Rio de Janeiro,
e bem embasado na literatura paleopatológica 2006. Resumos Anuário do Instituto de
(Rothschild & Martin, 1992). Contudo a Geociências, v. 1, p. 252.

630
CABRAL, U.G. & HENRIQUES, D.D.R. 2007. Latino-americano de Paleontologia de
Estudos anátomo-patológico e tafonômico Vertebrados, p .
de exemplares de Lestodon armatus Gervais,
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do Sul, Brasil. In: CARVALHO, I.S. et al. em crocodiliformes fósseis. Programa de
(ed.). Paleontologia - Cenários da Vida, Rio Pós-graduação em Ciências Biológicas
de Janeiro, Interciência, v. 2, p. 09-317. (Zoologia), Universidade Federal do Rio de
Janeiro, dissertação de mestrado, xx+98 p.
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the Pleistocenic giant sloth Eremotherium Pathological Conditions In Human Skeletal
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laurillardi (Xenarthra, Megatheriidae) -
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Museum of Natural History and Science
de exemplares provenientes do Município de
Bulletin, 33: 1-226.
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In: III Congresso Latino-americano de WALDRON, T. 2009. Palaeopathology.
Paleontologia de Vertebrados, Neuquén, Cambridge University Press, New York,
2008. Livro de resumos do III Congresso 298p.

Figura 1. Vértebra de espécie indeterminada com lesões indicativas de infecção.

631
ASPECTOS BIOESTRATINÔMICOS DE FÓSSEIS DE VERTEBRADOS
PLEISTOCÊNICOS DO TANQUE DO JIRAU, ITAPIPOCA, CEARÁ, BRASIL
Hermínio Ismael de Araújo Júnior1 (herminio.ismael@yahoo.com.br), Celso Lira Ximenes2,3 (clx.ximenes@gmail.com),
Kleberson de Oliveira Porpino4 (kleporpino@yahoo.com.br), Lílian Paglarelli Bergqvist5 (bergqvist@geologia.ufrj.br)
1
Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro;
2
Museu de Pré-história de Itapipoca; 3Programa de Pós-graduação em Geologia, Universidade Federal do Ceará;
4
Departamento de Ciências Biológicas, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
5
Departamento de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro

RESUMO são expressivas a quantidade de elementos


esqueletais coletados e a diversidade de táxons até
Neste trabalho foi realizada uma análise
o momento registrados.
bioestratinômica dos fósseis de vertebrados
pleistocênicos provenientes do Tanque do Neste trabalho é apresentada uma análise
Jirau, Itapipoca, Ceará. Os resultados obtidos tafonômica preliminar da acumulação fossilífera
sugerem ampla exposição do material antes do de vertebrados do Tanque do Jirau, em Itapipoca,
soterramento, curto transporte da tanatocenose e Estado do Ceará, com a finalidade de incrementar
retrabalhamento da acumulação fossilífera. o conhecimento sobre a paleoecologia de
vertebrados do Pleistoceno tardio do Estado do
Palavras-chave: Bioestratinomia, Tanque
Ceará e compreender os processos tafonômicos
do Jirau, Vertebrados pleistocênicos
atuantes na preservação de fósseis de vertebrados
em depósitos de tanques naturais.
ABSTRACT
In this work, a bioestratinomic analysis MATERIAIS E MÉTODOS
of the fossils of Pleistocene vertebrates from
O Tanque do Jirau está localizado a 35 km
the Tank of the Jirau, Itapipoca, Ceará State,
a noroeste da cidade de Itapipoca, no Norte do
was developed. Obtained results suggest wide
Estado do Ceará, sob as coordenadas 03º21’23.1”
exposition of bones before burial, short transport
S 39º42’20.2” W. O depósito foi escavado e os
of the tanathocoenosis and reworking of the fossil
fósseis preparados entre os anos de 2003 e 2008,
accumulation.
estando depositados na coleção paleontológica do
Keywords: Bioestratinomy, Tank of the
Museu de Pré-história de Itapipoca (MUPHI).
Jirau, Pleistocene vertebrates
Os fósseis do Tanque do Jirau são atribuídos
ao Pleistoceno tardio pela presença das espécies
INTRODUÇÃO Stegomastodon waringi e Xenorhinotherium
Análises tafonômicas de acumulações bahiense (Cartelle, 1999).
fossilíferas de vertebrados de tanques do A coleta dos dados tafonômicos seguiu
Nordeste do Brasil têm sido realizadas com os métodos sugeridos por Shipman (1981) e
base em observações superficiais das evidências Behrensmeyer (1991). As feições macroscópicas
disponíveis. Porém, a ausência de análises avaliadas foram: (A) representatividade óssea;
tafonômicas acuradas dificulta o reconhecimento (B) padrões de quebra; (C) intemperismo; e (D)
de padrões deposicionais e preservacionais, abrasão e aspectos de transporte. Uma trincheira
resultando em estudos paleoecológicos pouco foi aberta dentro do depósito do tanque, a qual
confiáveis e superficiais. Durante a última permitiu a visualização das camadas presentes no
década novos tanques naturais começaram a ser depósito, inclusive de fósseis.
escavados no Nordeste brasileiro. No Estado do
Ceará, fósseis coletados em um tanque natural,
conhecido como “Tanque do Jirau”, localizado no
município de Itapipoca, permanecem ainda sem
qualquer análise tafonômica. Para esse depósito

632
RESULTADOS E DISCUSSÃO No que se refere às quebras, Shipman
et al. (1981) e Bergqvist et al. (2011) propõem
Representatividade óssea que tanto as perpendiculares lisas quanto as
Os elementos esqueletais mais abundantes irregulares podem ser produzidas na fase pós-
na concentração fossilífera do Jirau são costelas fossilização. Segundo Shipman (1981), nessa fase
(37,39%), vértebras (17,72%) e úmeros (15,30%). os principais fatores capazes de gerar quebras nos
Por outro lado, escudos de carapaça de quelônios ossos são as forças de compressão induzidas por
(0,07%), calcâneos (0,21%), escápulas (0,28%), sobrecargas de peso durante o aporte sedimentar.
clavículas (0,28%) e astrágalos (0,49%) são A observação do afloramento dentro do depósito
encontrados em menor quantidade. Costelas do tanque permitiu evidenciar a presença de
e vértebras são os elementos mais abundantes elementos esqueletais quebrados in situ, alguns
no esqueleto dos vertebrados (Moore, 1994) e dos quais têm blocos de granito (desabados da
provavelmente este deve ter sido o motivo para parede do tanque) e grandes seixos de quartzo
a abundância desses elementos na acumulação como material sedimentar sobrejacente (Figura
fossilífera do Jirau. 1.2). Essa evidência suporta a conclusão de que a
Podiais, metapodiais e falanges são os maioria das quebras observadas nos fósseis foram
elementos mais completos do depósito do Jirau. produzidas após o soterramento. As quebras
Bergqvist et al. (2011) observaram um padrão colunares, segundo Shipman et al. (1981), são
semelhante para uma acumulação de vertebrados produzidas quando os ossos ainda conservam
paleocênicos de Itaboraí/RJ e atribuíram esse fato alguma elasticidade original, possivelmente
ao pequeno tamanho desses ossos, o que implica antes do soterramento. Os principais fatores
em superfície de impacto reduzida. No Jirau, responsáveis pela fragmentação de ossos durante
costelas, vértebras, fêmures, úmeros, crânios e essa fase são o transporte hidráulico, o pisoteio
mandíbulas são os elementos mais fragmentados. (trampling) e a atuação de carniceiros (Shipman,
Estão presentes em maior quantidade 1981).
fósseis com tamanho entre 51 e 100 mm (52,59%),
enquanto que os elementos esqueletais com Intemperismo
tamanho acima de 301 mm são menos comuns A análise do grau de intemperismo dos
(4,98%). O padrão de tamanho observado não se fósseis analisados mostra um padrão polimodal
configura como o resultado de agentes seletivos na no Tanque do Jirau (Figura 1.3). Estão presentes
história deposicional da acumulação, mas do alto fósseis com marcas de dessecação bastante
grau de fragmentação dos elementos esqueletais. acentuadas em quantidade elevada (inclusive
Dessa forma, o padrão observado para o tamanho no estágio 5 de Behrensmeyer, 1978), porém
dos bioclastos sugere amplo tempo de exposição elementos esqueletais sem essas feições também
da acumulação antes do soterramento ao invés de são comuns. Os fósseis com grau intermediário
seleção durante o transporte. de intemperismo são encontrados em maior
quantidade na assembleia analisada.
Padrões de quebras A presença de fósseis com avançado estágio
As quebras irregulares perpendiculares de intemperismo na acumulação do Jirau sugere
à diáfise são as mais comuns na acumulação ampla exposição de parte da tanatocenose antes do
fossilífera do Jirau (61,2%) e são mais frequentes soterramento (Behrensmeyer, 1978). Além disso, a
em costelas, úmeros, tíbias e fêmures (Figura 1.1). associação entre elementos esqueletais sem marcas
Quebras lisas perpendiculares à diáfise perfazem de dessecação e aqueles bastante intemperizados
um total de 34,7% das quebras observadas e são aponta para a ocorrência de mistura temporal
mais comuns em costelas, úmeros e fêmures. (time-averaging) no depósito em estudo.
Elementos esqueletais com quebras colunares Behrensmeyer (1978), em estudos atualísticos
também são observadas no Jirau, correspondendo com tanatocenoses de mamíferos em ambiente
a 4,1% das quebras. de savana, observou que ossos enquadrados no
“estágio 5” de sua escala ficaram expostos durante

633
cerca de ±15 anos. Considerando-se as propostas Não se descarta a hipótese de pisoteio. As
paleoambientais para o Pleistoceno final do evidências apresentadas suportam a ideia de
Nordeste brasileiro, as quais sugerem a presença curto transporte da tanatocenose até o tanque,
de ambientes de savana nessa região (Cartelle, permitindo a classificação da acumulação como
1999), é possível inferir que a taxa de mistura parautóctone. É possível que esse depósito tenha
temporal mínima para a tanatocenose do Jirau sofrido ciclos de retrabalhamento, resultando na
seria de ±15 anos. No entanto, só a realização de fragmentação e desgaste diferenciais observados
datações absolutas dos fósseis poderá quantificar no material analisado.
o grau de time-averaging envolvido na formação
da acumulação do Jirau.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abrasão e aspectos de transporte
No Tanque do Jirau 95% dos ossos BEHRENSMEYER, A.K. 1978. Taphonomic
apresentam grau de abrasão moderado, enquanto and ecologic information from bone
que 1,2% foram altamente abradidos e 3,8% não weathering. Paleobiology, 4: 150-162.
apresentam sinais de abrasão (Figura 1.4). Os ossos
altamente abradidos também coincidem com os BEHRENSMEYER, A.K. 1991. Terrestrial
que estão com grau de intemperismo elevado e vertebrate accumulations. In: ALLISON,
alto grau de fragmentação. Retrabalhamento na P.A. & BRIGGS, D.E.G. (Eds.).
acumulação fossilífera ou transporte dos ossos Taphonomy: Releasing the Data Locked in
podem ser inferidos a partir do padrão observado the Fossil Record, New York, Plenum Press,
(Shipman, 1981). p. 291-335.
Através da aplicação do Fluvial Transport BERGQVIST, L.P.; ALMEIDA, E.B. &
Index (FTI; Frison & Todd, 1986) foi observado ARAÚJO-JÚNIOR, H.I. 2011. Tafonomia
que elementos esqueletais menos transportáveis da assembleia fossilífera de mamíferos da
são abundantes na assembleia (19,72%), “Fenda 1968”, Bacia de São José de Itaboraí,
enquanto que os ossos mais transportáveis são Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Revista
menos comuns (0,70%). Os ossos de valor de Brasileira de Paleontologia, 14(1): 75-86.
FTI intermediário (entre 50 e 74) são os mais
abundantes na acumulação (79,58%). A maior CARTELLE, C. 1999. Pleistocene Mammals
proporção de elementos menos transportáveis of the Cerrado and Caatinga of Brazil. In:
em relação aos mais transportáveis no depósito EISENBERG, J.F. & REDFORD, K.H.
estudado aponta para um curto transporte dos (Eds.). Mammals of the Neotropics – Vol. 3.
ossos até o interior do tanque. Porém, a baixa Chicago, The University of Chicago Press, p.
quantidade de elementos muito transportáveis 13-46.
é incomum e pode estar relacionada a fatores
fossildiagenéticos, e não ao transporte. FRISON, G.C. & TODD, L.C. 1986. The
Colby Mammoth Site: Taphonomy and
Archaeology of a Clovis Kill in Northern
AGRADECIMENTOS Wyoming. 1ª ed. Albuquerque, University of
A Antônio Sílvio Teixeira dos Santos, New Mexico Press, 238 p.
diretor do Museu de Pré-história de Itapipoca,
por ceder o material do Jirau para este estudo e à SHIPMAN, P. 1981. Life History of a Fossil:
FAPERJ pelo financiamento da pesquisa. An Introduction to Taphonomy and
Paleoecology. 1ª ed. Cambridge, Harvard
University Press, 222 p.
CONCLUSÕES
A tanatocenose do Jirau ficou exposta SHIPMAN, P.; BOSLER, W. & DAVIS, K.L.
por tempo prolongado antes do soterramento, 1981. Butchering of giant geladas at an
sofrendo a ação do intemperismo e misturando-se Ancheulian site. Current Anthropology, 46:
com bioclastos recém-incorporados à acumulação. 77-86.

634
Figura 1. Padrões tafonômicos observados na acumulação fossilífera do Jirau; 1. Tipos de quebras (A= perpendicular e lisa;
B= perpendicular e irregular; C= colunar); 2. Parede do tanque desabada sobre osso longo; 3. Estágios de intemperismo
de Behrensmeyer (1978); 4. Padrão de abrasão.

635
ASSEMBLEIA HOLOCÊNICA DE VERTEBRADOS DE PEQUENO PORTE
DO SÍTIO ALCOBAÇA, ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL
Patrícia Hadler Rodrigues1 (patricia.hadler@cfh.ufsc.br), José Darival Ferreira dos Santos2 (darival.fds@gmail.com),
Ana Karoline Barros Silva2 (karolbarros.biologia@gmail.com)
Universidade Federal de Santa Catarina; 2Universidade Federal Rural de Pernambuco
1

RESUMO INTRODUÇÃO
O registro de pequenos vertebrados para o O Estado de Pernambuco apresenta
Holoceno da região Nordeste do Brasil é bastante grande quantidade de depósitos fossilíferos
escasso, ficando restrito a trabalhos de cunho quaternários, porém os trabalhos se concentram
arqueológico. O material estudado constitui-se de principalmente na megafauna pleistocênica
fragmentos cranianos e mandibulares de lagartos, (Silva et al., 2006). O estudo dos pequenos
mamíferos marsupiais e roedores caviomorfos vertebrados holocênicos fica restrito a citações
provenientes do Sítio Alcobaça, Município de em trabalhos arqueológicos (e.g. Nascimento,
Buíque, Estado de Pernambuco. O sítio possui 2001; Queiroz & Carvalho, 2008). Apesar disso
datações radiocarbônicas abrangendo desde 4.851 os grupos de pequenos vertebrados constituem-se
± 30 anos AP até 888 ± 25 anos AP. Registrou-se em excelentes indicadores paleoambientais por
Kerodon rupestris, Galea spixii (Caviidae), possuírem necessidades ecológicas mais restritas
Thrichomys apereoides, Phyllomys sp. (Echimyidae), (Rodrigues, 2008; Camolez & Zaher, 2010).
Monodelphis sp. (Didelphidae), Tropidurus sp. Este trabalho objetivou identificar
(Tropiduridae), Tupinambis sp.e Teiinae (Teiidae). taxonomicamente o material crânio-mandibular
Phyllomys sp. constitui-se no primeiro registro da fauna holocênica de pequenos vertebrados
para o Quaternário do Nordeste do Brasil. Essa (Rodentia, Didelphimorphia, e “Lacertilia”)
fauna sugere um paleoambiente muito similar ao provenientes do sítio arqueológico Alcobaça.
atual, caracterizado como brejo de altitude. O sítio Alcobaça localiza-se no Município
Palavras-chave: Caviomorpha, Holoceno, de Buíque (ver Figura 1), na área do Parque
Paleoambiente Nacional do Catimbau, situado na região central
do Estado de Pernambuco, sob as coordenadas
8°32’24”S e 37°11’39” O. Trata-se de um abrigo
ABSTRACT sob rocha escavado em arenito, localizado na meia
The record of small vertebrates from encosta de uma serra e próximo a um corpo de
the Holocene of Northeast of Brazil is very água permanente. O ambiente circunvizinho ao
scarce, being restricted to archaeological studies. sítio é caracterizado como um brejo de altitude
The studied material consists of cranial and (Nascimento, 2001). São conhecidas 05 datações
mandibular fragments of lizards, marsupials and para o sítio que abrangem desde 4.851 ± 30 anos
caviomorph rodents excavated from Alcobaça AP até 888 ± 25 anos AP (Nascimento, 2001).
Site, Buíque County, Pernambuco State. The site
has radiocarbon datings ranging from 4,851 ± 30
years BP to 888 ± 25 years BP. Kerodon rupestris, MATERIAIS E MÉTODOS
Galea spixii (Caviidae), Thrichomys apereoides, O material pertence ao Núcleo de
Phyllomys sp. (Echimyidae), Monodelphis sp. Estudos Arqueológicos da Universidade Federal
(Didelphidae), Tropidurus sp. (Tropiduridae), de Pernambuco (NEA-UFPE) e constitui-se
Tupinambis sp.e Teiinae (Teiidae) were recorded. de fragmentos crânio-mandibulares, com
Phyllomys sp. constitutes the first record for the ou sem dentes inclusos provenientes das
Quaternary of Northeastern Brazil. This fauna quadrículas 203F e 204E. O material foi triado
suggests a paleoenvironment very similar to the manualmente e limpo com pincel, água e agulha
current one, characterized as “brejo de altitude”. histológica sob estereomicroscópio. O material
Keywords: Caviomorpha, Holocene, foi então armazenado em tubos plásticos do tipo
Paleoenvironment “eppendorf ” ou em tubos criogênicos, numerado e
posteriormente estudado sob estereomicroscópio.

636
A identificação se baseou na comparação com da Caatinga, como Kerodon rupestris, Galea spixii e
material recente e com fotografias de material outros bem adaptados as condições do meio como
recente e fóssil. Thrichomys apereoides, são os predominantes.
Phyllomys sp., característico da Mata Atlântica,
indica a presença de maior umidade e de uma
RESULTADOS formação florestal. Dessa maneira, pode-se
O material, no geral, está em bom estado sugerir um mosaico entre um ambiente de área
de conservação. Na assembleia foram registrados mais aberta e de floresta coexistindo, mais ou
lacertílios das famílias Tropiduridae, Tropidurus menos, como é a localidade atualmente, o que
sp. Wied-Neuwied, 1825 (03 espécimes) e poderia indicar que não houveram modificações
Teiidae, Teeinae (01 espécime) e Tupinambis importantes no ambiente em torno do sítio nos
sp. Daudin, 1802 (02 espécimes), marsupiais da últimos 5.000 anos. Os dados palinológicos
família Didelphidae, Monodelphis sp. Burnett, indicam a predominância de vegetação de
1830 (02 espécimes) e roedores caviomorfos das Caatinga no nordeste brasileiro desde 42.000
famílias Caviidae, Kerodon rupestris (Wied, 1820) anos AP, sendo que em alguns momentos foram
(18 espécimes) e Galea spixii (Wagler, 1831) (36 registrados períodos de maior umidade, como por
espécimes) e Echimyidae, Thrichomys apereoides exemplo, entre 15.500 e 11.800 anos, favorecendo
(Lund, 1839) (44 espécimes) e Phyllomys sp. Lund, a expansão das florestas (Behling et al., 2000).
1839 (02 espécimes), sendo este último registrado É provável que os brejos de altitude, localizados
pela primeira vez para o Quaternário do Nordeste na Caatinga em áreas mais elevadas e úmidas,
brasileiro. tenham surgido da retração dessas florestas.
O grande número de espécimes de roedores Dessa maneira os dados aqui apresentados
caviomorfos em oposição ao de marsupiais confirmam os da Palinologia. Indicações de maior
e lacertílios, pode estar refletindo algumas umidade na Caatinga durante o Holoceno (9.000
questões tafonômicas. Queiroz & Carvalho anos AP) também foram fornecidos por dados
(2008) identificaram marcas de predação humana paleoparasitológicos obtidos através de ovos de
em pequenos vertebrados do sítio Alcobaça, Trichuris Roederer, 1761em coprólitos de Kerodon
principalmente em mamíferos, ao contrário do rupestris (Araújo et al., 1993).
que é observado em restos coletados em sítios O registro dos táxons de vertebrados de
arqueológicos da região sul e sudeste. pequeno porte permite ampliar o conhecimento
sobre a distribuição temporal e geográfica deles e
sobre o Quaternário do Estado de Pernambuco.
CONCLUSÕES Além disso, fornece dados para um melhor
Para o Brasil, os registros da fauna entendimento futuro da formação da Caatinga,
holocênica são pontuais estando localizados bioma de ocorrência exclusiva no Brasil.
principalmente em Minas Gerais, Bahia e
Rio Grande do Sul (Hadler et al., 2009). No
entanto, muitas dessas localidades não possuem REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
datações, e as que existem, muitas vezes, ARAÚJO, A.; RANGEL, A. & FERREIRA,
indicam mistura temporal, o que prejudica a L.F. 1993. Climatic Change in Northeastern
inferência paleoambiental em escala regional Brazil- Paleoparasitologia Data. Memórias
(Auler et al., 2006). Nesse sentido destacam-se do Institudo Oswaldo Cruz, 88(4):577-579.
os trabalhos em sítios arqueológicos, como o
Alcaboça, com grande número de datações. AULER,A.S.; PILÓ,L.B.; SMART,P.L.;WANG,
A assembleia holocênica de pequenos vertebrados X.; HOFFMANN, D.; RICHARDS,
não difere de maneira importante daquela D.A.; EDWARDS, R.L. NEVES, W.A.
atualmente encontrada no Vale do Catimbau por & CHENG, H.U. 2006. Series dating
Muniz & Dos Santos (2009) e Geise et al. (2010), and taphonomy of Quaternary vertebrates
com exceção de Phyllomys sp., o qual não foi from Brazilian caves. Palaeogeography,
registrado para a localidade até o momento. Em Palaeoclimatology, Palaeoecology, 240(1):
relação ao paleoambiente, os dados fornecidos pela 508-522.
fauna remetem a vegetação de Caatinga, a qual
predomina nos dias atuais na área. Táxons típicos

637
BEHLING, H.; ARZ, H.W.; PATZOLD, J. In: JORNADA DE ENSINO PESQUISA
& WEFER, G. 2000. Late Quaternary E EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE
vegetational and climate dynamics in FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO,
northeastern Brazil, inferences from marine 9, Recife, 2009. Resumos, Recife, UFRPE, p.
core GeoB 3104-1. Quaternary Science 2-4.
Reviews, 19:981-994.
NASCIMENTO,A.L.2001.O sítio Arqueológico
CAMOLEZ, T. & ZAHER, H. 2010. Alcobaça: Buíque, Pernambuco – Estudo
Levantamento, identificação e descrição da das Estruturas Arqueológicas. Programa de
fauna de Squamata do Quaternário brasileiro Pós-Graduação em História, Universidade
(Lepidosauria). Arquivos de Zoologia, Federal de Pernambuco, Tese de Doutorado,
41(1):1-96. 186p.

GEISE, L.; PARESQUE, R.; SEBASTIÃO, H.; QUEIROZ, A.N. & CARVALHO, O.A. 2008.
SHIRAI, L.T.; ASTÚA, D. & MARROIG Problems in the interpretation of Brazilian
G. 2010. Non-volant mammals, Parque archaeofaunas: different contexts and the
Nacional do Catimbau, Vale do Catimbau, important role of taphonomy. Quaternary
Buíque, state of Pernambuco, Brazil, with International, 180(1):75-89.
karyologic data. Checklist, Journal of Species
Lists and Distribution, 6(1):180-186. RODRIGUES, P.H. 2008. Didelphimorphia,
Chiroptera e Rodentia (Mammalia) do
HADLER, P.; FERIGOLO, J. & GOIN, Holoceno do Estado do Rio Grande do
F.J. 2009. Mamíferos de pequeno porte Sul, Brasil. Progama de Pós-Graduação em
(Didelphimorphia, Chiroptera e Rodentia) Geociências, Universidade Federal do Rio
do Pleistoceno final/Holoceno do Brasil, Grande do Sul, Tese de Doutorado, 203p.
com ênfase no Rio Grande do Sul. In:
Quaternário do Rio Grande do Sul: SILVA, F.M.; ALVES, R.S.; BARRETO,
integrando conhecimentos, Porto Alegre, A.M.F.; SÁ, F.B. & SILVA, A.C.B.L.
SBP, p. 155-170. (Série Monografias da 2006. Megafauna Pleistocênia do Estado de
SBP). Pernambuco. Estudos Geológicos, 16(2):55-
66.
MUNIZ, S.L.S. & DOS SANTOS, E.M. 2009.
Répteis do Vale do Catimbau, Buique/PE.

Figura 1. Localização geográfica do sítio Alcobaça. A, mapa da América do Sul mostrando a localização do Estado de
Pernambuco. B, mapa do Estado de Pernambuco mostrando a localização do Município de Buíque e do sítio Alcobaça
(estrela).

638
CONSIDERAÇÕES PALEOEBIOLÓGICAS SOBRE OS PEIXES FÓSSEIS
DA FORMAÇÃO TREMEMBÉ, BACIA DE TAUBATÉ (SP)
Diogo Jorge de Melo1 (diogojmelo@gmail.com), Lílian Paglarelli Bergqvist2 (bergqvist@geologia.ufrj.br)
Universidade Federal do Pará, Faculdade de Artes Visuais e Museologia, Campus Guamá;
1

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia/Laboratório de Macrofósseis


2

RESUMO busca apresentar uma lista atualizada das espécies


de peixes fósseis da Formação Tremembé, assim
Na Formação Tremembé, Bacia de
como apresentar inferências paleobiológicas com
Taubaté, no estado de São Paulo estão presentes
base na biologia recente dos grupos encontrados.
seis famílias e dez espécies de peixes fósseis. A
análise paleobiológica sugere que os níveis tróficos Siglas das coleções: DGM, Museu de
do paleolago eram extremamente complexos, Ciências da Terra, Departamento Nacional
ainda que os peixes não sejam considerados bons da Produção Mineral, Rio de Janeiro; MCP,
indicadores paleoambientais. Museu de Ciências da Pontifica Universidade
Católica do Rio Grande do Sul; B.M.N.H.,
Palavras-chave: Peixes, Paleobiologia,
British Museum Natural History, Londres; MN,
Formação Tremembé
Museu Nacional da Universidade Federal do Rio
de Janeiro; DBAV, Departamento de Biologia
ABSTRACT Animal e Vegetal da Universidade Estadual do
From Tremembé Formation, Taubaté Rio de Janeiro; A.M.N.H, American Museum of
Basin, in the state of São Paulo were collected Natural History, Nova Iorque; MZUSP, Museu
fossil fish specimens belonging to six families de Zoologia da Universidade Estadual de São
and ten species. Paleobiological considerations Paulo. Peixes fósseis da Formação Tremembé
suggest that the trophic levels of the ancient lake
were extremely complex, although fishes are not Ordem Characiforme
good paleoenvironmental indicators. Família Characidae: Magacheirodun
Keywords: Fishes, Paleobiology, unicus Travassos & Santos, 1955, cujo holótipo,
Tremembé Formation DGM 605-P, consiste em um esqueleto completo,
foi coletado no folhelho da Mina Nossa Senhora
da Guia. Após a descoberta de um segundo
INTRODUÇÃO exemplar parcialmente completo (MCP 3086-
A Bacia de Taubaté, localizada no estado PV), ambos foram identificados, respectivamente,
de São Paulo, encontra-se dividida em três como macho e fêmea por Malabarba (2000).
formações: Formação Resende, Formação São Brycon avus Woodward, 1898, cujo holótipo, P.
Paulo e a Formação Tremembé. Esta ultima é 9222 B.N.H.H., consiste em um esqueleto quase
conhecida por sua alta diversidade fossilífera, e completo, foi coletado no folhelho, provavelmente
segundo Ricomini et al. (1987), se caracteriza por na Fazenda Santa Fé. É o maior Characiforme
sedimentos de um sistema lacustre constituído da Formação Tremembé, com aproximadamente
de folhelhos pirobetuminosos (interpretado 22cm. Lignobrycon ligniticus Woodward, 1898,
como a parte marginal do paleolago) e argilas cujo holótipo, P. 9012 B.N.H.H., consiste em um
bentoníticas (interpretadas como sendo uma pequeno peixe completo, foi coletado no folhelho,
área mais profunda do paleolago; Melo, 2007). provavelmente na Fazenda Santa Fé. É o peixe
Sua datação vem sendo atribuída como o final mais abundante da formação (Malabarba, 2000).
do Oligoceno, correspondendo a SALMA Família Curimatidae: Cyphocharax
Deseadense (Bergqvist & Ribeiro, 1998). Dentre mosesi Travassos & Santos, 1955, cujo holótipo,
os vertebrados fósseis são registrados peixes, DGM 620-P, consiste em um esqueleto quase
anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Este trabalho completo, coletado no folhelho da Mina Nossa

639
Senhora da Guia, é uma espécie desprovida de encontrados na argila bentonítica) haviam sido
dentes. Plesiocurimata alvarengai Figueiredo & descritos anteriormente por Malabarba (1988),
Costa-Carvalho, 1999, cujo holótipo, DBAV mas com classificação indeterminada (MCP
405-A UERJ, consiste em parte e contraparte de 2778-PV, 2873-PV, 3874-PV e 3875-PV).
um esqueleto completo, coletado no folhelho da
Fazenda Santa Fé. . É considerado por Malabarba
(2000) uma das formas mais primitivas da
BIOLOGIA DOS GRUPOS
formação, devido à presença de dentes no dentário. ENCONTRADOS
Os membros da ordem Characiforme
Ordem Perciformes pertencem a um grupo diversificado, todos
Família Percichthyidae: Da série tipo ocorrentes em ambientes dulce-aquícolas,
de Santosius antiquus Woodward, 1898, apenas ocorrendo exclusivamente nas Américas
os parátipos são conhecidos e encontram-se no (Malabarba, 2000). A família Characidae
Museu Senckenberg na Alemanha e no Museu representa cerca de 50% das espécies de água
Britânico. O primeiro está representado por um doce da América do Sul e ocupa diversos nichos
esqueleto quase completo e o segundo pela parte ecológicos, sendo normalmente onívoros e
dorsal do tronco. O trabalho não menciona o predadores (Reis et al., 2003). Já os representantes
número de coleção, nem a localidade de coleta, da família Curimatidae se distinguem por não
porém sabe-se que ele provém do folhelho possuírem dentição na fase adulta, possuindo
pirobetuminoso. Pode atingir atéde 14 cm. um hábito alimentar detritívoro ou raspador.
Família Cichlidae: Tremembichthys Constituem uma alta biomassa em ambientes
pauloensis Schaeffer, 1947, cujo holótipo, ribeirinhos e lacustres e comumente andam em
A.M.N.H. 10095, consiste em um esqueleto quase cardumes e fazem migração para desova (Reis et
completo sem a nadadeira anal e a extremidade al., 2003).
caudal, foi coletado no folhelho na Fazenda Santa A ordem Perciforme possui representantes
Fé. Pode atingir até 19 cm (Malabarba, 2000). marinhos e de água doce em todos os oceanos e
continentes (Malabarba, 2000), mas os membros
da família Percichthyidae são típicos da região
Ordem Siluriforme
austral da América do Sul, onde vivem em rios
Família Pimelodidae: Steindachneridion e lagos de água doce. Os Cichlidae são peixes
iheringi Woodward, 1898, cujo holótipo, de água doce com tolerância a salinidade e
B.M.N.H. 9220, consiste em uma impressão de constituem a maior família de vertebrados.
crânio, foi coletado no folhelho na Fazenda Santa Apresentam tamanhos variando de 2,5 a 100
Fé. Steindachneridion silvasantosi Figueiredo cm. Possuem uma ampla distribuição geográfica
& Costa, 1999, cujo holótipo, DGM 1291-P, e normalmente são encontrados em ambientes
consiste em um crânio parcialmente completo, lênticos, mas raramente são encontrados em rios.
foi coletado no folhelho da Mina Nossa Senhora No geral são onívoros, mas existem predadores e
da Guia. Outros espécimes de ambas as espécies até planctônicos (Reis et al., 2003).
foram coletados na argila nas duas localidade.
Os Siluriformes são encontrados nas
Família Loricaridae: Taubateia paraiba Américas e na África e algumas espécies
Malabarba, 2007, cujo holótipo. DGM 17-P suportam salinidade. Não possuem escamas,
consiste em uma impressão ventral da parte sendo revestidas por placas ósseas e o primeiro
anterior do peixe, incluindo neurocrânio e raio da nadadeira dorsal é modificado em espinho
primeiras vértebras articuladas. A porção (Galvis et al., 1997). A família Pimelodidae é
preservada do crânio permitiu inferir um exclusiva de ambientes de água doce, incluindo os
comprimento de aproximadamente 55 mm. Não maiores peixes da América do Sul. São carnívoros,
há informação sobre a procedência da coleta nem carniceiros, coprófagos ou onívoros. Podem chegar
da litologia, mas aparentemente ele provém do até 2m de comprimento e costumam habitar
folhelho. Outros materiais (fragmentos de placas fundo de rios de águas turvas, mas alguns habitam
dérmicas e espinhos, que provavelmente foram

640
ambientes pantanosos e lagos, onde costumam Tremembé), podendo alcançar até 60 cm de
fazer migrações para desova em certas épocas do comprimento, diferentemente dos Loricaridae
ano (Galvis et al., 1997; Reis et al., 2003). que possuíam um porte menos avantajado.
A família Loricaridae é encontrada Esses animais provavelmente transitavam nos
em todos os ambientes de água doce da região ambientes lóticos que desaguavam no paleolago,
neotropical, normalmente em águas correntes, com finalidades reprodutivas. Os Siluriformes são
mas existem grupos de ambientes lênticos, como um dos poucos fósseis que ocorrem claramente
charcos e lagoas quase anóxicas. Possuem boca em nas duas litologias – folhelhos pirobetuminosos
forma de ventosa, usada para aderir em troncos e e argilas bentoníticas. Este fato provavelmente é
rochas onde se alimentam. São vegetarianos, mas decorrente de aspectos tafonômicos, uma vez que a
podem se alimentar de lama, algas filamentosas e preservação é distinta nas duas litologias e as outras
microorganismos (Galvis et al., 1997). espécies possuem uma estrutura morfológica mais
delicada que a dos Siluriformes, o que favoreceria
a destruição em ambientes mais agitados. Cabe
CONCLUSÕES destacar que esses animais parecem ser mais
Segundo Melo & Bergqvist (2010), os abundantes na argila bentonítica, se isso não for
vertebrados fósseis da Formação Tremembé decorrente de efeitos tafonômicos, pode indicar
representam 36% das espécies registradas, sendo uma preferência deste grupo por ambientes mais
os peixes 10% das espécies de vertebrados. Das profundos, como observados no comportamento
dez espécies registradas, 50% são da ordem dos grupos atuais. Enfatizando que a fossilização
Characiformes, 20% da ordem Perciformes e 30% nas duas litologias parece ser bem distinta, os
são Siluriformes. Das seis famílias registradas, fósseis do folhelho, normalmente são encontrados
a mais diversificada é a Characidae com três inteiros, articulados e achatados enquanto que nas
espécies, seguida por Curimatidae e Pimelodidae argilas normalmente são encontrados fragmentos
com duas espécies cada. de ossos. Contudo, pouco se pode afirmar sobre os
Com relação à paleobiologia dos aspectos tafonômicos dos materiais coletados na
Characiformes, pode-se inferir que existia argila, pois normalmente são retirados dos rejeitos
dimorfismo sexual em Megacheirodum unicus; das mineradoras.
que Brycon avus era o maior Characiforme da Os peixes aqui apresentados não são um
formação e deveria se comportar mais como um bom indicador paleoambiental, indicando apenas
predador do que como uma forma onívora; que a presença de um ambiente aquático, que deve ter
Lignobrycon ligniticus era a espécie mais abundante; sido bastante complexo, como sugerem os aspectos
que Cyphocharax mosesi deveria ser detritívoro paleobiológicos, que indicam a existência de uma
devido à ausência de dentes, diferentemente teia ecologia complexa, com diversos animais com
de Plesiocurimata alvarengai, que é considerado características semelhantes, que provavelmente
filogeneticamente primitivo por apresentar dentes ocupavam nichos muito semelhantes.
no dentário.
As famílias de Perciformes encontradas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
na formação são de grupos típicos de ambiente
de água doce. As duas espécies apresentam BERGQVIST, L.P. & RIBEIRO, A.M. 1998
distintos tamanhos, sendo Tremembichthys A paleomastofauna das bacias Eoterciárias
pauloensis de maior porte, aproximadamente brasileiras e sua importância na datação das
40% maior que Santosius antiquus. Ambas as bacias de Itaboraí e Taubaté. Associação
espécies devem ter sido onívoras ou predadores. Paleontológica da Argentina 5 (publicação
Apesar das famílias de Siluriformes encontradas especial): 19-34.
não serem exclusivas de ambientes lênticos,
possuem espécies com hábitos típicos deste GALVIS, G.; MOJICA, J.I. & CAMARGO,
ambiente. Os Pimelodiae possuíam um grande M. 1997. Peces da Catatumbo. Associação
porte (o maior dentre os peixes da Formação Cravo Norte, Colômbia, 118p.

641
MALABARBA, M.C.S.L. 1988. Loricariid Formação Tremembé, Bacia de Taubatér/
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MALABARBA, M.C.S.L. 2000. Os peixes da
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Paulo. Revista Universidade Guarulhos, fishes of South and Central America, Porto
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MELO, D.J. 2007. Significado Paleoambiental da RICOMINI, C.; APPI, C.J.; FREITAS, E.L. &
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Pós-graduação em Geologia, Universidade Mar: bacias de Volta Redonda, Resende,
Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Taubaté e São Paulo. In: SIMPÓSIO DE
Mestrado, 198p. GEOLOGIA RJ ES, 1, Rio de Janeiro, 1987.
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MELO, D.J. & BERGQVIST, L.P. 2010.
A paleobiodiversidade de vertebrados
e inferências paleoecológicas da

642
DIDELPHIMORPHIA DA BACIA DE S. J. DE ITABORAÍ, RIO
DE JANEIRO (PALEOCENO): DOS DENTES AO CORPO
Lilian Paglarelli Bergqvist1 (bergqvist@geologia.ufrj.br), Priscilla Tinoco2 (pritinoco@yahoo.com.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Departamento de Geologia/Laboratório de Macrofósseis;
1

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Curso de Medicina Veterinária


2

RESUMO 20% between 1 and 2 kg. The raised data for this
study revealed that the Itaboraí marsupais do not
A Bacia de Itaboraí é uma das menores
comprise a single population.
bacias brasileiras, mas abriga uma rica e
diversificada fauna de vertebrados, principalmente Keywords: Marsupialia, Itaboraí basin,
de mamíferos. Dentre estes, os marsupiais body mass
compreendem aproximadamente 50% das
famílias, mas são notavelmente menos abundantes INTRODUÇÃO
que os ungulados. As espécies de mamíferos
A Bacia de São José de Itaboraí, ou Bacia de
de Itaboraí, com uma exceção, foram definidas
Itaboraí, como é freqüentemente denominada na
sobre dentes isolados ou in locus. O objetivo deste
literatura, está localizada no Município de Itaboraí,
trabalho é, utilizando-se de equações de regressão
no Estado do Rio de Janeiro. É uma das menores
pré-estabelecidas, estimar a massa corporal dos
bacias brasileiras e o mais antigo registro da
Didelphimorphia da bacia. O resultado revelou
fauna continental cenozóica do Brasil (Paleoceno
que o menor marsupial da bacia é cerca de 50%
superior, ~57 milhões de anos). Por mais de 50
menor que o menor marsupial vivo, e que o maior
anos (de 1933 a 1984) o calcário que preenche
é do tamanho de um macho grande de diabo da
a bacia foi explorado pela Companhia Nacional
tasmânia. Dentre as demais espécies, mais da
de Cimento Portland Mauá. Esta exploração foi
metade tem menos de 100g e cerca de 20% tem
responsável pela descoberta de abundante fauna
entre 1 e 2 kg. O levantamento de dados para este
de gastrópodes terrestres, tetrápodes e alguns
trabalho revelou que o marsupais de Itaboraí não
vegetais (vide Bergqvist et al., 2005 e Bergqvist
formam uma única população.
et al., 2009 para mais informações sobre a biota,
Palavras-chave: Marsupialia, Bacia de geologia e história da Bacia de Itaboraí). Dentre os
Itaboraí, massa corpórea tetrápodes, os mamíferos são os mais abundantes
e diversos, estando representados na bacia por
ABSTRACT fósseis de marsupiais, cingulados e ungulados.
The Itaboraí basin is one of the smaller Os marsupiais são o grupo de mamíferos
basins in Brazil, but is home of a rich and diverse mais diversificado (~50% das famílias registradas
vertebrate fauna, especially mammals. Among em Itaboraí), mas notavelmente menos
these, the marsupials comprise about 50% of abundantes que os ungulados (os cingulados
the families, but are notably less abundant than estão representados por pouco mais de dez
ungulates. The Itaboraí mammal species, with espécimes apenas). Dentre os marsupiais, a ordem
one exception, were defined on isolated or in Didelphimorphia é a mais bem representada.
locus teeth. The goal of this work is, using pre- Os restos dos diferentes grupos de
established regression equations, estimates the tetrápodes registrados na bacia foram encontrados
body mass of Itaboraí basin Didelphimorphia. misturados e com seu esqueleto desarticulado e
The result revealed that the smallest marsupial dissociado. Quase todas as espécies de mamíferos
is about 50% smaller than the smallest extant foram fundadas sobre mandíbulas e maxilas
marsupial and that the bigger, is the size of a large completas ou fragmentadas e dentes isolados.
male of the Tasmanian Devil. Among the other Poucos crânios ou partes deste foram preservados.
species, over half are less than 100g and about Desde a descoberta dos primeiros mamíferos,

643
com poucas exceções, os estudos sobre a biota molares superiores e inferiores e inclusão dos
de Itaboraí tem sido de cunho essencialmente valores (convertidos em log) nas 24 equações de
sistemático. regressão estabelecidas pela autora (três para cada
O objetivo deste trabalho é estimar a massa um dos molares superiores e inferiores). Cada
corporal das espécies de Didelphimorphia da dente forneceu três estimativas diferentes a partir
Bacia de Itaboraí com o fim de fornecer subsídios do comprimento, largura e área. Foi tirada a média
para futuras inferências fisiológicas e ecológicas, aritmética dos valores estimados sobre a mesma
como também possibilitar uma “visualização dimensão, no caso de mais de um espécime de
tridimensional” das espécies conhecidas apenas cada molar. A massa de cada espécie foi definida
por seus dentes. como o range compreendido entre o menor e o
maior valor estimado pelas diversas medidas.
Oliveira (1998) descreveu quatro espécies
MATERIAL E METODOLOGIA novas em sua tese de doutorado. Para não invalidar
Gordon (2003) observou que existe uma as designações propostas, tais espécies foram aqui
relação entre o tamanho dos molares com o tratadas como “Espécie nova 1, 2, 3 e 4”.
tamanho corporal nos Didelphidae. Molares de
30 espécies de Didelphimorphia coletados em
Itaboraí encontram-se depositados nas coleções RESULTADOS
do Departamento Nacional da Produção Mineral A estimativa das massas dos
(DNPM) e no Departamento de Geologia e Didelphimorphia da Bacia de Itaboraí encontra-se
Paleontologia do Museu Nacional (MN). De na Tabela 1.
acordo com Paula-Couto (1949, 1950), os fósseis O levantamento dos dados e da ocorrência
depositados no MN foram retirados de dois das espécies para o cálculo das massas possibilitou
canais de dissolução que cortavam os calcários novas considerações sobre esta fauna: (1) não se
verticalmente, existentes no nível mais profundo pode tratar os Didelphimorphia de Itaboraí como
de exploração daquela época (1948-49). Com o uma única população. Das quatorze espécies
esgotamento dos fósseis nestes canais, a parte alta coletadas na fenda 1948/49, apenas seis foram
das barrancas da pedreira passou a ser explorada também encontradas na fenda 1949, onde foram
pelo DNPM, ainda em 1949. Os fósseis retirados registradas dez espécies. Considerando o pequeno
deste canal estavam mais completos que aqueles tamanho da Bacia de Itaboraí (1km2), ao fato de
levados para o Museu Nacional. Um único todas as fendas de dissolução terem se formado
exemplar de Didelphimorphia foi levado para nos 2/3 centro-leste da bacia, e a riqueza de
o Museu de Ciências Naturais da Fundação fósseis em Itaboraí, a ausência de uma espécie em
Zoobotânica no Rio Grande do Sul (MCN) por determinada fenda deve estar mais relacionada à
Paula-Couto, na década de 70. Lamentavelmente, sua inexistência nos arredores da bacia durante o
diversos espécimes incluídos posteriormente na preenchimento de tal fenda, do que a um transporte
coleção do DNPM não tem informação quanto seletivo. Ainda que não haja evidências, é muito
a sua data de coleta; alguns poucos espécimes provável que as fendas tenham sido formadas
do MN foram coletados em outras datas (1952, em momentos diferentes e que abriguem biotas
1964,1967). Todos estes foram agrupados na não sincrônicas. Estudos em desenvolvimento
Tabela 1 como “outras datas”. pelo autor sênior observam o mesmo padrão de
Para estimar a massa corpórea foram presença/ausência de espécies pelas fendas dentre
medidos 242 dentes, entre molares superiores os ungulados. Outro suporte a esta hipótese
e inferiores, isolados ou in locus. Dentre os 150 é a inexistência na natureza de populações de
espécimes analisados (50 mandíbulas/maxilas e marsupiais com tão grande número de espécies.
100 dentes isolados), 131 dentes pertencem ao Na mata atlântica de Santa Teresa/ES, p. ex., só
DNPM, 110 ao MN e 1 ao MCN. foram encontrados oito espécies (Passamani et al.,
A metodologia utilizada seguiu a proposta 2000) e no Pantanal/MT, apenas seis (Aragona &
de Gordon (2003), que consiste na medição dos Marinho-Filho, 2009). (2) O range de variação da

644
massa corporal na grande maioria das espécies das range pode chegar a 85%. A variação de 94% no
fendas 1948/49 e 1949, que devem ter pertencido tamanho de Gaylordia macrocynodonta pode ser
à mesma população, ficou abaixo de 50%. No indicativa de uma classificação equivocada de um
entanto, de acordo com Rossi et al. (2006), este espécime depositado no DNPM.

Tabela 1. Maior e menor massa (em gramas) estimada para cada uma das espécies de Didephimorphia da Bacia de
Itaboraí. Os fósseis coletados em 1948/1949 estão depositados no Museu Nacional e os coletados em 1949 no DNPM.
M = molar superior; m = molar inferior.

  1948/49 1949 OUTRAS DATAS


Protodidelphidae
Bobbschaefferia fluminensis 240,3 (m4) - 336,9 (m3) 37,3 (m4)
Bobbschaefferia sp. 117,7 (m3) - 156 (m2)
Carolocoutoia ferigoloi 2539,3 (M3)
Guggenheimia cf. G. crocheti 253,0 (M1) - 484,5 (m3)
Guggenheimia aff. G. crocheti 239,9 (m4) - 331,1 (m3)
Guggenheimia brasiliensis 229,7 (m4) - 245,8 (m2)
Protodidelphis mastodontoidea 1467,8 (M2) - 1488 (m1) 828,6 (M1) 1106,6 (M2) - 1996,8 (m1)
Protodidelphis cf. 1303,0 (M4)
P. mastodontoidea
Protodidelphis vanzolinii 1337,5 (m2) - 1802,2 (M4) 1005,2 (M1) - 2602 (M4) 1542,5 (m2)
Zeusdelphys complicatus 9083,4 (M1)
Didelphidae
Didelphopsis cabrerai 750,2 (M4) - 811,0 (m1) 643,5 (m4) - 1126,0 (m2) 632,1 (m4) - 1393,4 (M2)
Gaylordia doelloi 24,0 (m2) 35,8 (m3) - 42,6 (m4)
Gaylordia macrocynodonta 66,0 (m3) - 106,0 (m1) 29,2 (M2) - 489,6 (m1)
Itaboraidelphys camposi 288,4 (m1) - 543,7 (M2) 490,3 (M3) - 609,8 (m1) 432,0 (M3) – 715,0 (m2)
Itaboraidelphys aff. I. camposi 362,6 (M1) - 470,1 (M3)
Marmosopsis juradoi 16,6 (M2) – 24,0 (m1) 21,8 (m1)
aff. Marmosopsis 50,0 (m4) - 74,9 (m3) 34,7 (m3) - 35,8 (m4)
Minusculodelphis minimus 3,6 (m2) - 4,9 (m3)
Monodelphopsis travassosi 98,4 (m1)
Sternbergia itaboraiensis 55,5 (m3) - 67,8 (m1) 33,0 (M3) - 75,8 (m4)
Sternbergia sp. 25,0 (m2) - 30,6 (m3)
Espécie nova 2 59,0 (M3) - 91,8 (m4)
Espécie nova 3 10,9 (m2) - 15,4 (m3) 9,1 (M2)
Espécie nova 4 913,5 (m4) – 1554,0 (M1) 798,4 (m3) - 1322,9 (m1)
Derorhynchidae
Chaishullenia sp. 62,2 (m2) - 62,3 (m3)
Derorhynchus singularis 51,5 (m4) - 57,2 (m2) 29,5 (M4) - 47,3 (M1)
Derorhynchus cf. D. singularis 53,5 (m4) - 67,5 (m1)
Metarhynchus sp. 35,8 (M1) - 77,5 (m2)
Espécie nova 1 25,8 (m3) - 31,4 (m2)
(3) Minusculodelphis minimus é cerca 50% menor que o menor marsupial atual (Planigale maculata) e Zeusdelphis
complicatus possui o tamanho de um grande macho de diabo da tasmânia, destacando-se dos demais marsupiais em
tamanho. Dentre as demais espécies, mais da metade tem menos de 100g e cerca de 20% tem entre 1 e 2 kg.

(4) Quando a massa foi estimada por dentes superiores e inferiores, na quase totalidade das vezes a massa maior foi
aquela derivada dos dentes inferiores.

645
CONCLUSÕES Teresa, Espírito Santo. Boletim do Museu de
Biologia Mello Leitão, 11/12: 215-228.
O tamanho do corpo de um animal é
um dos fatores ecológicos mais importantes, PAULA-COUTO, C. 1949. Novas Observações
pois influencia nas preferências alimentares, Sobre Paleontologia e Geologia do
comportamento predatório e no particionamento Depósito Calcário de São José de Itaboraí.
de nicho ecológico. Notas Preliminares e Estudos – Divisão de
Apesar do dimorfismo sexual observado Geologia e Mineralogia, DNPM, Rio de
em muitos táxons de marsupiais, essas diferenças Janeiro, 49: 1-13.
parece não terem efeito sobre o poder preditivo da
relação entre o tamanho corporal e o dentário. No PAULA-COUTO, C. 1950. Novos Elementos na
entanto, o peso corpóreo predito é provavelmente Fauna Fóssil de São José de Itaboraí. Boletim
muito baixo para os machos e muito alto para as do Museu Nacional, Geologia, 12: 1-7.
fêmeas (Gordon, 2003). Apesar disso, vale ressaltar
que a massa corpórea prevista é apenas uma média
para a espécie e assim uma super e subestimação
para machos e fêmeas, respectivamente, é esperado
(Gingerich et al., 1982).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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M; Schobbenhaus, C.; Souza. C.R.G.;
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Paleontológicos do Brasil, v. 2. Brasília:
Serviço Geológico do Brasil – CPRM. P.
413-432.

PASSAMANI, M. 2000. Análise da Comunidade


de Marsupiais em Mata Atlântica de Santa

646
ESTUDO DA MEGAFAUNA DO PLEISTOCENO DE MATINA, BAHIA, BRASIL
Leonardo Souza Lobo¹ (leolobo_@hotmail.com), Carolina Saldanha Scherer¹ (carolina_scherer@yahoo.com.br),
Mario André Trindade Dantas² (matdantas@yahoo.com.br), Andréia Lima Sanches³ (alsanches@yahoo.com.br),
Eduardo Silveira Bernardes³ (edusbstein@gmail.com)

RESUMO Na Bahia, já foi registrada a presença de


fósseis da megafauna em tanques nos municípios
O Nordeste do Brasil é bastante
de Vitória da Conquista (Dantas & Tasso, 2007),
conhecido pela grande abundância de fósseis
Coronel João de Sá (Dantas & Zucon, 2007),
de mamíferos pleistocênicos, procedentes, na
Palmas de Monte Alto (Dantas et al., 2008),
maior parte, de cavernas e tanques. Dessa forma,
Matina (Riff et al., 2008), Quijingue (Drefahl et
apresenta-se aqui novos materiais procedentes
al., 2009) e Baixa Grande (Ribeiro & Carvalho,
do Município de Matina-BA, pertencentes
2009).
aos táxons Gliptodontidae, Macraucheniidae e
Camelidae. Este registro amplia o conhecimento No tanque Sitio Novo, localizado no
da paleomastofauna pleistocênica para o referido município de Matina, Bahia, Riff et al. (2008)
município, bem como para o Estado da Bahia. registrou duas espécies: Notiomastodon platensis
(=Stegomastodon waringi (Holand, 1920); Mothé
Palavras-chave: Pleistoceno, Bahia,
et al., 2011) e Eremotherium laurillardi (Lund,
Megafauna
1842).
A presente comunicação tem como
ABSTRACT finalidade contribuir com o conhecimento acerca
The Brazilian Northeast is known by the da megafauna de mamíferos, presente no estado
abundance of Pleistocene mammalian fossils, da Bahia, através do registro de mais três táxons
which came from caves and tanks (water role). para a localidade Sitios Novos, Matina, Bahia.
New material from the Matina Municipality is
presented here, which pertains to Gliptodontidae, MATERIAIS E MÉTODOS
Macraucheniidae and Camelidae. This record
expands the knowledge about Pleistocene giant O tanque estudado encontra-se no
mammals for this municipality as well Bahia município de Matina, cidade localizada a 720 km
State. de Salvador, sudoeste da Bahia, na porção limítrofe
com a região do médio São Francisco. O tanque
Keywords: Pleistocene, Bahia State,
estudado situa-se na localidade “Sítio Novo”, de
Megafauna
coordenadas (13°54’38”S; 42°55’28”W).
Riff et al. (2008) caracterizou o tanque
INTRODUÇÃO como constituinte do batólito Guanambi,
Os trabalhos sobre mamíferos apresentando idade Proterozóica. O sedimento
pleistocênicos encontrados em tanques do que o preenche, e onde estavam depositados os
Nordeste brasileiro tem se intensificado nos fósseis, trata-se de um solo mais arenoso, com
últimos anos, abrangendo assim quase todo o sedimentos grosseiros ricos em feldspato e quartzo
Nordeste. Sendo encontrados em Sergipe (e.g. (até o tamanho de seixos).
Goes et al., 2002), Alagoas (e.g. Dias Neto et al., O tanque foi escavado por uma
2008), Pernambuco (e.g. Oliveira et al., 2009), retroescavadeira, com intuito de ser utilizado
Paraíba (e.g. Bergqvist et al., 1997), Rio Grande como reserva de água pela população da
do Norte (e.g. Oliveira et al., 1989), Ceará (e.g. comunidade. Assim, os fósseis foram resgatados
Ximenes, 2008), Piauí (e.g. Guérin et al., 1996) e no sedimento que ser encontra ao lado do tanque
Bahia. (rejeito do tanque). Eles apresentam um alto

647
grau de fragmentação, que pode ser tanto pré- Comentários. Os Gliptodontidae são
fossilização, por causa do transporte desses fósseis abundantes no nordeste brasileiro, porém são
para o tanque, como pós-fossilização, pela retirada ainda poucos os registros em tanques no Estado
utilizando a retroescavadeira. da Bahia, e estão representados em Matina
O material estudado pertence à Coleção somente por fragmentos de osteodermos (Figura
de Paleontologia do Laboratório de Geologia 1.4). Porém, os táxons Hoplophorus euphractus,
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Glyptodon clavipes e Panochthus greslebini já
(LGUESB). foram registrados paras as cavernas deste estado
(Cartelle, 1992). Para os tanques da Bahia, Ribeiro
& Carvalho (2009), relataram a ocorrência
SISTEMÁTICA PALEONTOLÓGICA da espécie P. greslebini no município de Baixa
Ordem LITOPTERNA Ameghino, 1889 Grande, Bahia. Por estar bastante incompleto, não
Família MACRAUCHENIIDAE Gill, foi possível identificar o espécime a nível genérico.
1872
Material. Fragmento distal do úmero
CONCLUSÕES
direito LGUESB 0039 (Figura 1.1); fragmento
proximal da ulna LGUESB 0033 (Figura 1.2). O registro de Gliptodontidae,
Comentários. No fragmento de úmero Macraucheniidae e Camelidae amplia a
(Figura 1.1), pode-se visualizar os côndilos e a paleomastofauna do município de Matina.
fossa olecraniana, enquanto que no fragmento Assim, também contribui para a ampliação do
de ulna (Figura 1.2), está presente somente o conhecimento da megafauna oriunda de tanques
processo anconeal. Percebe-se que o material aqui do estado da Bahia.
encontrado está bastante incompleto, porém pode
pertencer a Xenorhinotherium bahiense, já que REFERÊNCIAS BIBIBLIOGRÁFICAS
este é o táxon frequentemente encontrado nos
estados do Nordeste do Brasil (Cartelle & Lessa, BERGGVIST, L.P.; GOMIDE, M.;
1988; Bergqvist et al, 1997). CARTELLE, C. & CAPILLA, R. 1997.
Ordem ARTIODACTYLA Marsh, 1884 Faunas-locais de mamíferos pleistocênicos de
Itapipoca/Ceará,Taperoá/Paraíba e Campina
Subordem TYLOPODA Owen, 1848
Grande/Paraíba. Estudo Comparativo,
Família CAMELIDAE Gray, 1821 bioestrationômico e paleoambiental. Revista
Material. Fragmento de calcâneo Universidade de Guarulhos, Geociências,
LGUESB 0068 (Figura 1.3). 2(6): 23-32.
Comentários. O espécime trata-se da
porção posterior do calcâneo (Figura 1.3), CARTELLE, C. 1992. Edentata e
apresentando somente a tuberosidade calcanear. Megamamíferos Herbívoros extintos da
O táxon de Camelidae mais comum no Nordeste Toca dos Ossos (Ourolândia, BA, Brasil).
do Brasil é Palaeolama major, inclusive já tendo Tese (Doutorado) - Universidade Federal de
sido referido para a Bahia (Cartelle, 1992; Scherer, Minas Gerais, Belo Horizonte, 301f.
2009). Cartelle (1994) também descreveu material
pertencente à Lama guanicoe para estado. O CARTELLE, C. 1994. Presença de Lama
material coletado está bastante incompleto e por (Artiodactyla, Camelidae) no Pleistoceno
isso não permite uma identificação específica. Final – Holoceno da Bahia. Acta Geologica
Ordem CINGULATA Illiger, 1811 Leopoldensia, 17(39/1): 399-410.
Família GLIPTODONTIDAE CARTELLE, C. & LESSA, G. 1988.
Burmeister, 1866 Descrição de um novo gênero e espécie de
Material. Fragmento de osteodermo Macraucheniidae (Mamalia, Litopterna) do
LGUESB 0074 (Figura 1.4). Pleistoceno do Brasil. Paula-Coutiana, 3:3-
26.

648
DANTAS, M.A.T. & ZUCON, M.H. 2005. OLIVEIRA, E.V.; BARRETO, A.M.F. &
Sobre a ocorrência de dois taxa pleistocênicos ALVES, R.S. 2009. Aspectos sistemáticos,
na Fazenda Tytoya, Poço Redondo, Sergipe. paleobiogeográficos e paleoclimáticos dos
Sciencia Plena, 1(4): 92-97. mamíferos quaternários da Fazenda Nova,
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Megafauna do Pleistoceno final de Vitória
da Conquista, Bahia: taxonomia e aspectos OLIVEIRA, L.D.D.; DAMASCENO,
tafonômicos. Scientia Plena, 3(3):30-36. J.M.; LINS, F.A.P.; WALTER, E.M.
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DANTAS, M.T.; SANCHES, A.L. & TASSO, macrofossilífero dos tanques da Fazenda
M.A.L. 2008. Nota sobre ocorrência de Capim Grosso, São Rafael-RN, auxiliado
fosseis da megafauna do Pleistoceno final – por métodos geofísicos. In: Congresso
Holoceno de Palmas de Monte Alto, Bahia, Brasileiro de Paleontologia, Ed. 11°. Anais,
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PALEO 2009: Reunião Anual Regional registros de megafauna de mamíferos para o
da Sociedade Brasileira de Paleontologia. sertão do sudoeste baiano. In: VI Simpósio
Resumos, Crato, Ceará, 2009, Fundação Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados,
Paleontológica Phoenix, p. 10. VI, Boletim de Resumos, 2008, Ribeirão
Preto, USP, p. 177-178.
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CARTELLE, C. & TEODÓSIO, C. 2002. SCHERER, C.S. 2009. Os Camelidae Lamini
Ocorrência de mamíferos Pleistocênicos em (Mammalia, Artiodactyla) do Pleistoceno
Sergipe, Brasil. Arquivos do Museu Nacional, da América do Sul: Aspectos Taxonômicos
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MOTHÉ, D.; AVILLA, L.S.; COZZUOL, M. & BORN, M. & QUEIROZ, E. T. (Eds.)
WINCK, G.R. 2011. Taxonomic revision of Sítios Geológicos e Paleontológicos do
the Quaternary gomphotheres (Mammalia: Brasil, SIGEP. Disponível em:
Proboscidea: Gomphotheriidae) from the
South American lowlands. Quaternary
International, volume em prensa.

649
Figura 1. Macraucheniidae, fragmento distal do úmero direito (LGUESB 0039) em vista anterior (1), fragmento proximal
da ulna direita (LGUESB 0033) em vista medial (2); Camelidae, fragmento de calcâneo (LGUESB 0068) em vista lateral;
Gliptodontidae, fragmento de osteodermo (LGUESB 0074) em vista dorsal (4). Escala: 40mm.

650
GRUTA DO URSO FÓSSIL (NORDESTE DO BRASIL) E SUA
FAUNA QUATERNÁRIA: DADOS PRELIMINARES
Paulo Victor de Oliveira1 (victoroliveira.paleonto@gmail.com), Gisele Lessa2 (gislessa@yahoo.com.br),
Maria Somália Sales Viana3 (somalia_viana@hotmail.com), Celso Lira Ximenes4 (clx.ximenes@gmail.com),
Ana Maria Ribeiro5 (amaria_ribeiro@yahoo.com.br), Édison Vicente Oliveira6 (vicenteedi@gmail.com),
Antônio Sílvio Teixeira dos Santos4 (antsiltei@hotmail.com), Annie Hsiou7 (anniehsiou@ffclrp.usp.br),
Elizete Celestino Holanda8 (elizete.holanda@gmail.com), Leonardo Kerber9 (leonardokerber@gmail.com)
1
Pós-graduação em Geociências CTG-DGEO-PALEOLAB-UFPE, CNPq; 2 UFV-MG; 3LABOPALEO/MDJ/UVA; 4MUPHI; 5MCN/FZBRS;
6
CTG-DGEO-PALEOLAB-UFPE; 7FFCLRP/USP; 8UFRR; 9UFRGS

ABSTRACT apresentamos um breve panorama sobre a fauna


quaternária encontrada nesta gruta,principalmente
The northeastern region of Brazil is
de vertebrados (Squamata e Mammalia), idades
very well marked by late Pleistocene-early
absolutas (8.000 ± 990 AP; 8.200 ± 980 AP e
Holocene fossil records, represented by bioclastics
31.200 ± 3.530 AP) e discutimos a relevância
accumulated in continental deposits, mostly tanks
destes dados para a compreensão da evolução
and caves. Neoproterozoics limestone deposited in
faunística durante o intervalo Pleistoceno final –
the northwest of the Ceará State to appear under
Holoceno inicial desta região.
form the hills in the base of Ibiapaba Cuesta, in
the area of National Park of Ubajara. These hills Palavras-chave: Ceará, Quaternário,
to shelters caves of great importance by contained cavernas, fauna, sistemática, inferências
Quaternary vertebrates and invertebrates remains Paleoambientais
inside, stands out between them, the Pendurado
Hill, where is the Urso Fóssil cave. This paper INTRODUÇÃO
presents a brief overview of the Quaternary O Parque Nacional de Ubajara (PNU), no
fauna found in this cave, especially of vertebrates Município de Ubajara, região noroeste do Ceará
(Squamata and Mammalia), absolute ages (8.000 abriga o conjunto cárstico mais significativo do
± 990 BP; 8.200 ± 980 BP and 31.200 ± 3.530 Estado. As cavernas da região apresentam-se
BP) and discuss the relevance of these data for como cavidades de pouco desenvolvimento (40
understanding faunal evolution during the late a 1.120m), apesar de estarem em processo ativo
Pleistocene – early Holocene this region. de formação. A gruta do Urso Fóssil (GUF)
Keywords: Ceará, Quaternary, caves, destaca-se paleontologicamente entre as 14
fauna, systematic, environmental inference cavidades conhecidas na área do parque. Seu
paleoambientais potencial fossilífero foi revelado em 1978 quando
na ocasião foram encontrados crânio e mandíbula
de um urso da espécie Arctotherium brasiliense,
RESUMO posteriormente descrito por Trajano & Ferrarezzi
(1994) e de idade possivelmente pleistocênica.
A região nordeste do Brasil é bem marcada
Alguns outros achados, porém de idade
por registros fósseis Pleistoceno final – Holoceno
mais recente e pertencentes a vertebrados de
inicial, representados por bioclastos acumulados
pequeno e médio porte foram reportados por
em depósitos continentais, principalmente em IBAMA (2002) e Ximenes & Machado (2004).
tanques e cavernas. Calcários neoproterozoicos Desde o ano de 2009, coletas sistemáticas têm
depositados no noroeste do Estado Ceará afloram sido realizadas com o intuito de melhor se
sob a forma de morros no sopé da Chapada da conhecer a fauna do Pleistoceno final – Holoceno
Ibiapaba, na área do Parque Nacional de Ubajara. inicial da região. Estas pesquisas culminaram
Estes morros apresentam grutas/cavernas de com publicações sobre a fauna quaternária
grande importância por conter em seu interior encontrada em sedimentos datados pelo método
restos de vertebrados e invertebrados quaternários, de Termoluminescência, apresentando idades
destacando-se o Morro do Pendurado, onde se de 8.000 e 8.200 anos AP (Hsiou et al., 2009;
encontra a gruta do Urso Fóssil. Neste trabalho Oliveira, 2010; Oliveira et al., 2010a, 2010b,

651
2010c; Oliveira & Viana, 2011; Oliveira et al., no Termoluminescência apresentaram idades
prelo). de 8.200 ± 980 e 8.000 ± 990 anos AP. Estas
Neste trabalho apresentamos um breve datações são coerentes com a fauna encontrada
panorama sobre a fauna quaternária encontrada na nos níveis amostrados, nos quais ainda não
gruta do Urso Fóssil, idades absolutas e discutimos foram encontrados vertebrados exclusivamente
a relevância destes dados para a compreensão da pleistocênicos.
evolução faunística durante o Pleistoceno final – O estudo sistemático e taxonômico do
Holoceno inicial desta região. material coletado encontra-se em andamento. No
entanto, os táxons catalogados até o momento
correspondem a 150 espécimes de invertebrados
METODOLOGIA (Mollusca) e vertebrados (Squamata e Mammalia).
O material estudado provém do complexo Dentre os Squamata foram identificados até o
cárstico do PNU, coletado na GUF, durante duas momento Colubridae e Viperidae, Crotalus. Já
expedições a campo: uma entre 1998-1999; e a os Mammalia são constituídos pelos seguintes
outra em julho de 2009. Os espécimes coletados grupos: Marsupialia, Didelphis, Monodelphis;
pertencem, conforme a ordem cronológica Xenarthra, Dasypodinae, Dasypus, Euphractus,
de coleta, às coleções científicas, do Museu Cabassous; Rodentia, Caviidae, Kerodon,
de Pré-História de Itapipoca (MUPHI), em Echimyidae, Thrichomys, Erethizontidae, Coendou;
Itapipoca-CE, e do Laboratório de Paleontologia Artiodactyla, Tayassuidae, Tayassu e Cervidae,
do Museu Dom José, da Universidade Estadual Mazama; Perissodactyla, Tapiridae, Tapirus.
Vale do Acaraú (LABOPALEO/MDJ-UVA), Dentre os principais achados está o primeiro
em Sobral-CE. registro material de Tapirus terrestris para o
As escavações referentes à segunda Neoquaternário do Ceará (Oliveira et al., 2010).
expedição foram realizadas com controle
estratigráfico e radiométrico com coleta
de material orgânico fragmentário. As CONCLUSÕES
amostras sedimentológicas coletadas foram Com as incursões paleontológicas
processadas e datadas através de análises por desenvolvidas no PNU e através do estudo dos
Termoluminescência (TL) no Laboratório de fragmentos orgânicos encontrados principalmente
Vidros e Datação da Faculdade de Tecnologia de no interior da gruta do Urso Fóssil estão sendo
São Paulo. O material estudado até o momento é revelados dados importantes a cerca da evolução
composto por fragmentos ósseos, dentes isolados, faunística ocorrida na região noroeste do Ceará
conchas de gastrópodes completas e fragmentadas. nos últimos 10.000 anos. Este programa de
Estes espécimes foram limpos e preparados no pesquisa em desenvolvimento é relevante no
LABOPALEO através da utilização de pincéis, sentido em que os fósseis vêm sendo coletados
pinças e agulhas para a retirada de sedimentos e com rigoroso controle estratigráfico, o que tem
posterior impermeabilização e tombamento junto sido pouco realizado em sistemas cársticos aqui no
às coleções científicas dos museus supracitados. Brasil. A utilização de metodologia desta natureza
Para a identificação foram realizados fornece dados mais fidedignos para uma melhor
estudos de anatomia comparada com espécimes interpretação temporal dos fósseis e dos processos
das coleções científicas de recentes e fósseis sedimentares que atuaram na área, permitindo
do Museu de Ciências Naturais da Fundação inferir aspectos sobre a evolução ambiental da
Zoobotânica do Rio Grande do Sul (MCN/ região com base em sua paleofauna.
FZBRS), do Museu Nacional (MN), da Fundação Como a fauna encontrada, tem se mostrado
Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e semelhante à atualmente presente na área,
do Museu Dom José (MDJ). pode-se inferir que as mudanças paleoambientais
e paleoclimáticas ocorridas no Quaternário
não afetaram de forma muito significativa a
RESULTADOS diversidade da região estudada.
A fauna quaternária encontrada na gruta Baseado nos dados até então colhidos, e
do Urso Fóssil é bastante diversificada e apresenta na importância deles para se melhor entender a
certa afinidade com a atualmente encontrada passagem Pleistoceno final – Holoceno inicial
na região. Datações obtidas pelo método de na área, tem-se dado continuidade as pesquisas

652
através de uma equipe de pesquisadores REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
interinstitucionais. BRASILEIRA DE PALEONTOLOGIA
– PALEONE, 2010, Vitória de Santo Antão.
Resumos... SBP, 2010b. p. 21.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq (processo OLIVEIRA, P.V.; RIBEIRO, A.M.; XIMENES,
473952/2008-4) e FUNCAP (processo 0341- C.L.; SANTOS, A.S.T.; VIANA, M.S.S.
1.07/08) pelo auxílio financeiro através de projetos & LESSA, G. Potencial paleontológico
de pesquisa; à CAPES e CNPq pela concessão de do Parque Nacional de Ubajara, Ceará. In:
bolsas de pós-graduação (PVO; LK); ao IBAMA REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
e ICMBio pela autorização dada para a pesquisa; BRASILEIRA DE PALEONTOLOGIA
à UVA pela infraestrutura disponibilizada; à Dra. – PALEONE, 2010, Vitória de Santo Antão.
Niéde Guidon (FUMDHAM), à Dra. Márcia Resumos... SBP, 2010c. p. 39.
Jardim (MCN/FZBRS) e ao Dr. João Oliveira
(MN) pelo acesso às coleções sob seus cuidados; às OLIVEIRA, P.V.; RIBEIRO, A.M.; XIMENES,
Dras. Patrícia Hadler (UFSC) e Carolina Scherer C.L.; VIANA, M.S.S. & HOLANDA, E.C.
(UFRB) pelo auxílio com os estudos de anatomia Os Tayassuidae, Cervidae e Tapiridae da
comparada; aos funcionários do PNU: o diretor gruta do Urso Fóssil (Quaternário), Parque
Sr. Humberto, ao vigilante Eziano da Silva e, em Nacional de Ubajara, Ceará, Brasil. Revista
especial à bióloga Nágila Pereira, bem como aos Brasileira de Geociências. No prelo.
guias da Cooperativa de Trabalho e Assistência ao
Turismo (COOPTUR) Daniel Lima e Luciano OLIVEIRA, P.V.; RIBEIRO, A.M.; KERBER,
Souza pelo auxílio durante os trabalhos de campo. L.; LESSA, G. & VIANA, M.S.S. Late
Quaternary Caviomorph Rodents (Rodentia:
Hystricognathi) from Ceará State, Northeast
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brazil. Journal of Cave and Karst Studies. No
prelo.
IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Renováveis. Parque Nacional OLIVEIRA, P.V.; VIANA, M.S.S. & SIMONE,
de Ubajara: Plano de Manejo. Brasília, 2002: L.R.L. Eoholocene Malacofauna
Ministério do Meio Ambiente. 1 CD-ROM. (Gastropoda, Pulmonata) from a cave of
National Park of Ubajara, Ceará State, Brazil.
OLIVEIRA, P.V. Mamíferos do Neopleistoceno Revista Estudos Geológicos, UFPE. No prelo.
– Holoceno do Parque Nacional de Ubajara,
Ceará. 2010. 166 f. Dissertação (Mestrado OLIVEIRA, P.V. & VIANA, M.S.S. Pesquisas
em Geociências) - Instituto de Geociências, Paleontológicas no Quaternário do Estado
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do Ceará. In: FÓRUM DO SEMI-ÁRIDO,
Porto Alegre, 2010. III., 2011, Sobral. No prelo.
OLIVEIRA, P.V.; RIBEIRO, A.M.; XIMENES, TRAJANO, E. & FERRAREZZI, H. A fossil
C.L.; SANTOS, A.S.T.; VIANA, M.S.S. & bear from northeastern Brazil, with a
LESSA, G. Mamíferos do Neopleistoceno phylogenetic analysis of the South American
– Holoceno do Parque Nacional de extinct Tremarctinae (Ursidae). Journal of
Ubajara, Ceará. In: REUNIÃO ANUAL Vertebrate Paleontology, v. 14, n. 4, p. 552-561,
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE 1994.
PALEONTOLOGIA – PALEONE, 2010,
Vitória de Santo Antão. Resumos... SBP, XIMENES, C.L. & MACHADO, D.A.N.
2010a. p. 20. Diagnóstico paleontológico da Província
Espeleológica de Ubajara, estado do Ceará.
OLIVEIRA, P.V.; HOLANDA, E.C.; RIBEIRO, In: ENCONTRO BRASILEIRO DE
A.M.; XIMENES, C.L. & SANTOS, ESTUDOS DO CARSTE, 1., 2004, Belo
A.S.T. Primeiro registro de Tapirus terrestris Horizonte. Resumos... SBE, 2004. p. 40.
Linnaeus, 1758 (Mammalia, Perissodactyla)
do Neoquaternário do Estado do Ceará. In:

653
LESÃO OSTEOLÍTICA EM FRAGMENTO DE ÚMERO DE
STEGOMASTODON WARINGI (MAMMALIA, PROBOSCIDEA)
DO QUATERNÁRIO DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL
Fernando Henrique de Souza Barbosa1 (fhsbarbosa@rocketmail.com), Kleberson de Oliveira Porpino2 (kleporpino@yahoo.com.br),
Ana Bernadete Lima Fragoso3 (abfrafroso@gmail.com), Maria de Fátima Cavalcante Ferreira dos Santos2 (mfatima@ufrnet.br)
Universidade Federal de Pernambuco; 2Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; 3Universidade Federal do Rio Grande do Norte
1

RESUMO infecciosas, elas devem, preferencialmente, ter


corrido um curso crônico, assim havendo tempo
Neste trabalho foi analisado um
suficiente para que os ossos possam ser lesionados
úmero pertencente à espécie Stegomastodon
e marcados (Waldron, 2009).
waringi (MAMMALIA, PROSBOCIDEA)
do Quaternário potiguar, depositado no Osteomielite é um termo utilizado para
Departamento de Geologia/UFRN, o qual identificar infecções ósseas com lesões destrutivas,
apresenta um orifício proeminente na diáfise. sendo originadas no próprio osso ou na medula
Através do exame de feições macroscópicas e de óssea (Ortner, 2008 e Waldron, 2009). É uma
evidências radiológicas, conclui-se que o orifício das patologias mais comuns, quando se trata de
no espécime em questão corresponde a uma infecções, e pode ter um papel significativo na
lesão osteolítica, na forma de uma cavidade de morte de animais. Staphylococcus aureus é o agente
drenagem de pus (cloaca), causada por infecção. etiológico mais comum neste tipo de infecção,
A presença desta cloaca, associada à remodelagem não sendo o único. Seu diagnóstico deve ser feito
óssea e lesão cortical atingindo o canal medular, a partir de análise diferencial, tomando caracteres
indica uma osteomielite. diagnósticos para sua identificação e, quando
possível, associar análise macroscópica com
Palavras-chave: Quaternário,
Proboscídea, Rio Grande do Norte, Osteomielite exames de imagens (Grauer, 2008).

ABSTRACT MATERIAIS E MÉTODOS


In this work a humerus of Stegomastodon O material é procedente da Fazenda
waringi (MAMMALIA, PROSBOCIDEA) Lagoa da Cruz no município de Nova Cruz/RN.
from the Quaternary of Rio Grande do Norte state, O local onde o úmero foi coletado é uma “lagoa”,
belonging to Departamento de Geologia/UFRN, possivelmente resultante da associação de vários
which bears a prominent cavity in its diaphysis is tanques naturais. Os fósseis foram coletados por
analyzed. The study of macroscopic features and trabalhadores da referida fazenda, durante uma
radiographic evidence led to the conclusion that longa estiagem. Oliveira & Damasceno (1987)
the anomalous cavity on the specimen studied is publicaram o achado com a descrição de peças
an osteolitic lesion, corresponding to a cloaca for e identificaram, preliminarmente, para o local,
pus drainage generated by infection. The presence uma associação de Megatheriidae, Toxodontidae
of a cloaca, associated with bone remodeling e Gomphoteriidae. Os fósseis fazem parte da
and cortical lesion reaching the medullar canal, coleção paleontológica do Departamento de
indicates an osteomyelitis. Geologia da UFRN.
Keywords: Quaternary, Proboscidea, Rio O material analisado consiste na porção
da diáfise do úmero direito pertencente a
Grande do Norte, Ostemyelitis
um espécime de Stegomastodon waringi do
Quaternário. A diáfise do úmero apresenta
INTRODUÇÃO um orifício proeminente em sua porção látero
– proximal.
Doenças infecciosas podem ter acometido
diversos organismos no passado, inclusive Para a interpretação das feições
mamíferos Pleistocênicos, causando a morte paleopatológicas foi feita uma análise
dos mesmos, especialmente em se tratando macroscópica do exemplar, bem como exame
de infecções agudas. Contudo, para que os radiológico, com objetivo de visualizar caracteres
paleontólogos possam analisar fósseis com feições internos não observáveis a olho nu. A observação

654
macroscópica do orifício e o exame por imagem CONCLUSÕES
permitiram inferir uma possível causa para a
A diáfise do úmero de Stegomastodon
feição paleopatológica registrada nesta peça.
waringi da Fazenda Lagoa da Cruz/RN apresenta
características macroscópicas e radiológicas
RESULTADOS E DISCUSSÃO compatíveis com lesão osteolítica decorrente
de uma possível infecção por microorganismos
O orifício presente na diáfise do
piogênicos, caracterizando uma osteomielite, pois
úmero apresenta crescimento ósseo no seu
foi possível observar uma cloaca proeminente
entorno. A análise macroscópica mostra
e remodelagem no seu entorno, além de lesão
evidências de remodelagem óssea no entorno
cortical estendendo-se pelo canal medular.
do orifício derivado de lise óssea. Os indícios
são compatíveis com um canal de drenagem de
pus (cloaca), possivelmente como consequência REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de infecção por microorganismos piogênicos,
tais com Staphylococcus aureus (ver Figura 1). GRAUER, A.L. Macroscopic Analysis and
As radiografias da peça permitiram observar Data Collection in Palaeopathology. In:
características internas do osso, como a extensão do PINHASI, R., MAYS, P. 2008. Advances in
comprometimento cortical, que adentrou no canal Human Palaeopathogy. Jonh Wiley & Sons
medular por cerca de 20cm. Embora não sendo Ltd. p. 57 – 76.
possível afirmar que esta lesão infecciosa tenha
causado a morte do espécime, pode-se supor que, OLIVEIRA, L.D.D. & DAMASCENO,
com a invasão do canal medular pela infecção, ela J.M. 1987. Registro de novos espécimes
pode ter se estendido para outras partes do corpo, de mamíferos fósseis em Lagoa da Cruz
levando a um quadro de septicemia ou debilidade – Nova Cruz (RN). In: CONGRESSO
do animal. BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
10, 1987.

AGRADECIMENTOS ORTNER, D.J. 2003. Identification of


Pathological Conditions In Human Skeletal
Ao Departamento de Geologia da UFRN, Remains. Academic Press, San Diego, 647p.
pela cessão da peça para estudo e a Clínica de
Raio-X e Ultra-Som, na pessoa do Dr. Fernando WALDRON, T. 2009. Palaeopathology.
José Vieira de Sousa, que gentilmente realizou as Cambridge University Press, New York, 298
radiografias que fundamentam este trabalho. p.

Figura 1. Fragmento de úmero de Stegomastodon waringi apresentando lesão osteolítica decorrente de infecção
piogênica.

655
NOVO REGISTRO DE MOURASUCHUS AMAZONENSIS PRICE,
1964, NO MIOCENO-SUPERIOR DO ESTADO DO ACRE, BRASIL
Jonas Pereira de Souza-Filho1,2 (jpdesouzafilho@hotmail.com), Edson Guilherme1,2 (guilherme@ufac.br)
Universidade Federal do Acre, Centro de Ciencias Biológicas e da Natureza; 2Laboratório de Pesquisas Paleontológicas
1

RESUMO Bocquentin & Souza Filho (1990) no Estado do


Acre, achados de M. amazonensis jamais voltaram
O presente trabalho teve como objetivo
a ser identificados com clareza na região. Em
estudar um osso jugal de um Crocodylia-
uma revisão preliminar, Oliveira & Souza Filho
Nettosuchidae de idade Mioceno Superior,
(2001), indicaram a possibilidade de haver a
registrado no acervo de paleovertebrados da
presença de outros espécimes de M. amazonensis
Universidade Federal do Acre sob o número
entre os fósseis de Nettosuchidae depositados
UFAC-5269. O estudo osteológico e taxonômico
no Laboratório de Pesquisas Paleontológicas
do achado possibilitou: (a) identificá-lo como
(LPP) da Universidade Federal do Acre (UFAC).
pertencente à espécie Mourasuchus amazonensis;
Contudo, a má qualidade da fossilização e a
(b) ratificar sua presença nos sedimentos
enorme fragmentação das peças, impediram, à
cenozoicos da Formação Solimões, no Estado do
época, a realização de uma identificação precisa.
Acre e (c) ampliar sua distribuição geográfica na
bacia amazônica. O presente trabalho objetiva dar a conhecer
um novo elemento craniano, correspondente ao
Palavras-chave: Mourasuchus amazonensis,
osso jugal esquerdo de M. amazonensis, ratificando
Mioceno-Superior, Estado do Acre
o registro de sua ocorrência na Formação Solimões,
no Estado do Acre.
ABSTRACT
This work aimed at studying the jugal MATERIAL ESTUDADO
bone of a Crocodylia Nettosuchidae from
Osso jugal esquerdo (Fig.1), tombado
Upper Miocene age, housed in the Paleontology
na coleção de paleovertebrados do LPP sob
Laboratory of the Federal University of Acre
o número UFAC-5269, proveniente do sítio
under number UFAC-5269. The taxonomic and
fossilífero “Morro do Careca”, localizado na
osteological study of the fossil (UFAC-5269)
BR-364, a aproximadamente 15 Km da cidade de
allowed: (a) identifying it as belonging to the
Feijó (Sent. Tarauacá), no Estado do Acre, Brasil.
species Mourasuchus amazonensis, (b) confirming
its presence in the Cenozoic sediments of the
Solimões Formation, in the State of Acre, and (c) DESCRIÇÃO
extending their geographic distribution within O espécime UFAC-5269 (Fig. 1)
the Amazon basin. trata-se de um fragmento de crânio levemente
Keywords: Mourasuchus amazonensis, ornamentado, correspondente a uma porção do
Upper Miocene, State of Acre osso jugal esquerdo, rompido na sua região anterior
próximo ao seu limite sutural com o osso maxilar.
INTRODUÇÃO Contém reduzida parcela do bordo lateral externo
da órbita que se mostra elevada e circundada por
Mourasuchus amazonensis (Price 1964), foi
bordo proeminente como em todas as espécies do
o primeiro Nettosuchidae descrito para a ciência
gênero Mourasuchus.
(Langston, 1966) a partir de um crânio quase
completo encontrado em sedimentos Cenozoicos,
atribuídos à Formação Solimões, da região do alto
Rio Juruá. Não obstante o registro de M. nativus

656
CONCLUSÕES In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
PALEONTOLOGIA, XVII, Rio Branco,
Atribui-se a peça UFAC-5269 a M.
Acre, 2001. Livro de Resumos, Rio Branco,
amazonensis pelo fato desta apresentar conservada
UFAC, p. 150.
na margem lateral esquerda, uma marcada
reentrância, que se localiza em um ponto PRICE, L.I. 1964. Sobre o crânio de um grande
equivalente a porção média da órbita (Figuras 1 crocodiliano extinto do Alto Rio Juruá,
e 2). Estado do Acre. An. Acad. Brasil. Ciênc., 36:
Observando, no sentido ântero-posterior, 59-66.
o crânio completo de M. amazonensis (Price 1964)
vê-se que suas margens laterais se apresentam
mais ou menos paralelas até um ponto anterior
as órbitas, nos ossos jugais. A partir deste ponto,
os jugais apresentam uma forte e bem marcada
reentrância em forma de um “C”.
A partir desta reentrância, a fração
posterior dos mencionados ossos, lembrando um
“cotovelo”, se projetam para fora do plano lateral,
tornando o crânio daí para trás, mais alargado em
relação ao rostro. Esta característica observada em
M. amazonensis aparece bem marcada no exemplar
UFAC-5269. Em M. arendsi e em outras espécies
do gênero Mourasuchus, tal reentrância não
está presente, o que torna este detalhe condição
diagnóstica de M. amazonensis.
O registro deste achado e sua atribuição à
espécie M. amazonensis, ratifica sua presença nos
sedimentos cenozoicos da Formação Solimões,
no Estado do Acre, amplia sua distribuição
geográfica dentro da região amazônica e oferece
novos subsídios para os estudos acerca dos
mourasuquídeos Sul Americanos.

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2001. Distribuição Geográfica da Família
Nettosuchidae (Crocodyliformes) na
Amazônia Sul-Ocidental (Estado do Acre).

657
Figura 1. Osso jugal esquerdo UFAC – 5269.

658
Figura 2. Desenho esquemático do crânio de Mourasuchus amazonensis destacando a peça UFAC – 5269.

659
PALEOECOLOGIA DO MIOCENO SUPERIOR DA AMAZÔNIA SUL OCIDENTAL
Nei Ahrens Haag1 (nei.meco@gmail.com)
Universidade Federal do Acre
1

RESUMO Keywords: Paleoecological, Upper


Miocene, Acre and Solimões Basins
Vista a escassez de estudos paleontológicos
sobre a fauna e flora nas Bacias do Acre e Solimões,
durante o Mioceno superior, este trabalho tem por INTRODUÇÃO
objetivo apresentar um modelo paleoecológico para A Amazônia, maior celeiro da
a Amazônia Sul-Ocidental, com base em análise biodiversidade do mundo, abriga uma variada
de fósseis, principalmente de crocodilianos e fauna forma de vida animal e vegetal, contudo, devido à
associada. Grande parte da fauna sobreviveu até o sua extensão geográfica, a densa cobertura vegetal
Mioceno superior/Plioceno, quando ocorreram e dificuldades de acesso, ainda é pouco estudada, o
mudanças drásticas do clima na região, devido que dificulta nas pesquisas para o conhecimento da
a uma grande glaciação, rebaixando o nível dos sua história geológica, paleoecológica e o melhor
oceanos e, por conseqüência, o nível dos lençóis entendimento da sua evolução, principalmente
freáticos, levando muitas espécies à extinção. A no que diz respeito à região Sul-Ocidental,
fauna de Crocodilianos na América do Sul foi especificamente do Acre.
marcada por uma alta diversidade de espécies que
O enfoque, aqui dispensado aos
foram, na sua grande maioria, extintas durante o
crocodilianos, deve-se ao fato de que os
Mioceno superior/Plioceno.
mesmos sejam formas atuais que morfológica
Palavras-chave: Paleoecologia, Mioceno e ecologicamente pouco divergem ao longo
superior, Bacias do Acre e Solimões da evolução, portanto, capazes de favorecer à
inferências e formulação de novas teorias a partir
ABSTRACT do estudo de seu habitat, hábitos e alimentação.
Due to the lack of paleontological data Além das variações abióticas que existiram
concerning the Upper Miocene in the Acre na região, tais como influência marinha, mudanças
and Solimões Basins, the present study aimed drásticas na temperatura e padrões de pluviosidade,
in constructing a paleoecological model for o isolamento da região, seja por deslocamento de
Southwestern Amazon, based on fossil analyses terras ou existência de barreiras físicas, duas outras
of crocodilians and associated fauna. A great part evidências geológicas importantes são abordadas:
of the fauna survived up to the Upper Miocene to a ausência de ligação entre as Américas do Norte
Pliocene, when drastic climatic changes occurred e do Sul até o fim do Neógeno, permanecendo
in the region, due to a great glaciation, lowering isolada por aproximadamente 65 milhões de anos,
sea level, and thereafter, also the water table in desde o Cretáceo até o Plioceno (Labouriau,
the soils, leading many species to extinction. The 1994); e a colisão das Placas de Nazca e Sul-
extinction of many mammal species during the Americana, dando origem a Cordilheira dos
Cenozoic has been debated and documented, but Andes (Cavalcante, 2006). A conseqüência direta
pos-Mesozoic reptiles have not been given too deste isolamento faunístico em relação às demais
much attention. The crocodilian fauna in South faunas do restante do Planeta resultou numa
America was marked by a high species diversity singular fauna pretérita, registrada através dos
that was in its majority extinct during Upper achados fósseis por todo esse continente (Negri,
Miocene and Pliocene. 1997).

660
Posteriormente, a ligação entre os dois 2.2.1 Familia Gavialidae – UFAC-5298
continentes, através do Istmo do Panamá, Gryposuchus jessei foram animais de
possibilitou o intercâmbio faunístico, contribuindo grande porte, podendo atingir até sete metros de
para profundas modificações do meio ambiente, comprimento e que habitavam águas profundas.
tanto na fauna, quanto na flora (Haug & O rostro alongado, estreito e em forma de “pinça”,
Tiedemann, 1998). acomodava uma dentição numerosa, pontiaguda
Discutindo os estudos e os achados fósseis e frágil. O crânio deste espécime possui 66,5
relacionados ao Mioceno superior/Plioceno centímetros de comprimento e 38 centímetros de
da Amazônia Sul-Ocidental, este trabalho nos largura entre os quadrados-jugais.
permite levantar a hipótese de como era a região
Amazônica no final do Neógeno, período em 2.2.2 Família Nettosuchidae
que, de acordo com Mörner et al. (2001) e Van – UFAC-1799
der Hammen (2001), iniciou a biodiversidade
Mourasuchus amazonensis, e Mourasuchus
amazônica ou até mesmo suportou uma
nativus foram animais de grande porte, podendo
diversidade maior que a atual.
atingir de sete a dez metros de comprimento.
Possuíam rostro longo, largo e achatado, lembrando
MATERIAIS E MÉTODO um “bico de pato”, com mandíbulas finas, frágeis
e anteriormente semicirculares, com numerosos
2.1 Bacia do Acre dentes sem grandes variações morfológicas,
provavelmente adaptadas à filtração. O crânio
A área de estudo compreende parte
possui 118,4 centímetros de comprimento e 48
da Bacia do Acre, unidade geotectônica mais
centímetros entres os quadrados-jugais
importante, que têm, em território brasileiro,
cerca de 150.000 km2 e está separada da Bacia do
Solimões pelo Arco de Iquitos, com sedimentos 2.2.3 Família Alligatoridae
de idade Mioceno superior/Plioceno, atribuídos – UFAC-1403
à Formação Solimões, de grande extensão, que É representada pela maioria das espécies
abrange grande parte das Bacias do Acre e Solimões coletadas, abrigando o maior jacaré jamais
(Radambrasil, 1976) e onde estão localizados os encontrado, Purussaurus brasiliensis. Os indivíduos
principais sítios fossilíferos do estado do Acre, deste gênero chegaram a atingir 18 metros de
principalmente de vertebrados, sendo datada com comprimento; apresentavam um crânio compacto,
idade Cenozóica (Santos, 1976). mandíbulas muito fortes e dentes robustos,
chegando a medir 15 centímetros de comprimento.
2.2 Amostras de Estudo O crânio deste espécime possui 149 centímetros
de comprimento e 82 centímetros de largura entre
Os fósseis de crocodilianos e demais
os quadrados-jugais.
vertebrados coletados para estudo estão
Caiman brevirostris e Caiman
depositados no Laboratório de Pesquisas
pachytemporalis: os indivíduos deste gênero, de
Paleontológicas – LPP, da Universidade Federal
pequeno a médio porte, possuíam rostro compacto,
do Acre – UFAC, Campus de Rio Branco. O
com mandíbulas e dentes fortes, podendo medir
material tem sido datado em três idades distintas:
até cinco metros.
os coletados na borda oeste da Bacia do Acre,
na região do Alto Rio Môa, Serra do Divisor,
são de idade Cretáceo Superior e estão expostos 2.2.4 Família Crocodylidae
em sedimentos atribuídos à Formação Divisor; Charactosuchus: o registro de indivíduos
os fósseis coletados na região Sul-Ocidental da deste gênero é ainda pouco representado, muito
Formação Solimões, variam entre duas idades, embora não existam dúvidas sobre sua existência
Mioceno/Plioceno e Pleistoceno/Holoceno, na Amazônia Sul-Ocidental. Contudo, os
sendo esta última representada por uma grande achados existentes não nos oferecem dados
variedade de mamíferos (Ranzi, 2000).

661
complementares ao presente estudo, por se zonas palinológicas que dataram o Mioceno:
encontrarem muito fragmentados. (zona Verrutricolporites e zona Retitricolporites),
Mioceno inferior/médio; (zona Psiladiporites
– Crototricolpites), Mioceno médio; (zona
PALEOFAUNA ASSOCIADA Crassoretitriletes) e (zona Grimsdalea), Mioceno
A associação fossilífera encontrada na médio/superior, propondo duas fases ambientais
Formação Solimões é composta por uma grande características, definidas por fases de planícies
variedade de espécies de peixes, répteis, aves, costeiras, representadas por vegetação típica de
mamíferos e invertebrados, como observado na mangue e pteridófitas dos gêneros Deltoidospora
literatura: (Paula-Couto, 1956; Maia et al., 1977; e Crassoretitriletes, e uma fase de planície aluvial,
Vonhof et al., 1998; Ranzi, 2000; Carvalho et contendo palmeiras e vegetação arbórea. Hoorn
al., 2002), entre outros. As primeiras coletas (1993) estabeleceu um modelo paleoambiental,
paleontológicas nessa área foram iniciadas no que consiste em três tipos vegetacionais: i)
século XIX por Chandless (1866) no Rio Acre, planície costeira, composta por Rhizophora
e os achados foram identificados por Agassiz e Acrostichum; ii) vegetação típica de planície
(1868) apud Ranzi (2000), como pertencentes ao aluvial, representada por palmeiras e gramíneas e
Cretáceo Superior. iii) vegetação de floresta.
As assemblages de répteis e peixes indicam Para Silva (2004), não foram encontrados
um sistema de lagos interconectados, maiores indicadores de ambiente marinho, como
que os atuais e com ampla disponibilidade de microforaminíferos e dinoflagelados, contrariando
oferta trófica, devido à presença de formas em estudos realizados por Räsänen et al. (1995),
média maiores em tamanho do que as atualmente que por meio de interpretação de estruturas
encontradas. A ocorrência de certos grupos, como sedimentares, afirmam a presença de um mar
Crocodylidae, Nettosuchidae, Alligatoridae e (seaway), que cobriu parte da Amazônia durante
Gavialidae, indica temperaturas ligeiramente o Neógeno. Ainda para a autora, para o estado do
mais altas que as atuais nas mesmas áreas (Souza Acre, a associação permite inferir ambiente úmido
Filho & Boquentin, 1989). a alagadiço, devido à abundância de esporos de
A fauna do Acre para o Mioceno superior pteridófitas.
está representada na Figura 1, com algumas
atualizações e correções feitas no decorrer deste
trabalho. PALEOCLIMATOLOGIA
Durante o Mioceno superior houve
esfriamento global, como definido por Kennett
PALEOFLORA ASSOCIADA (1982), por meio de registros paleoceanográficos;
Os registros vegetais na região foram no entanto, o clima predominante na Amazônia
demonstrados por estudos palinológicos realizados durante o Mioceno superior permanece tropical
no Alto Rio Solimões, em amostras de sedimentos úmido, representado principalmente por
de vários poços, coletados pelo Projeto Carvão registros de elementos florestais e de ambientes
no Alto Solimões (1977), que estabeleceu três pantanosos, uma vez que a presença de Grimsdalea
zonas palinológicas, correspondendo ao Mioceno, magnaclavata e aumento em elementos aquáticos
Mioceno/Plioceno e Plioceno (Cruz, 1984). dependentes de umidade durante este período
Durante o Mioceno superior, a vegetação evidenciam um aumento da umidade para a região
predominante era constituída por elementos (Hoorn, 1993).
aluviais, composta por palmeiras, pteridófitas e Hoorn (1994) e Monsh (1998) sugerem
gramíneas (Germeraad et al., 1968; Hoorn, 1993; que o clima na Amazônia durante o Mioceno
Collinson, 2002). médio/superior foi quente e úmido, fato justificado
Estudos de cunho bioestratigráficos e pela presença de gramíneas aquáticas e palmeiras,
paleoambientais, desenvolvidos por Hoorn (1993, indicadores de ambientes alagadiços, assim como
1994), permitiram o estabelecimento de cinco a presença de várias espécies de crocodilianos.

662
Devido à falta de pesquisas na área, de floresta estão representadas por grupos de
principalmente para o Mioceno superior/Plioceno, mamíferos como roedores, especialmente das
os dados para inferências sobre o clima na região famílias Erethizontidae e Echimyidae, primatas
foram baseados em pesquisas de paleobotânica e da família Cebidae e preguiças, como Xenarthra
paleopalinologia. e Pilosa.
A existência de ambientes abertos é
evidenciada pela presença de mamíferos terrestres
PALEOECOLOGIA
como gliptodontes e tatus pampaterinos,
Ao iniciar este capítulo, reafirmo que a pertencentes às famílias Glyptodontidae e
proposta aqui apresentada não objetiva apresentar Pampatheriidae, respectivamente; notoungulados
uma fotografia fiel da região estudada durante da família Toxodontidae; roedores Dinomyidae,
o Mioceno superior/Plioceno. Propõem-se, a Neoepiblemidae e Caviidae, e Liptoternos da
partir de novas e mais completas informações, um família Macraucheniidae (Ranzi, 2000).
possível ambiente durante o Mioceno superior/ A presença de Proboscidea
Plioceno, na porção Sul-Ocidental da Amazônia, Gomphotheriidae (Amahuacatherium peruvium)
contribuindo, assim, para futuros estudos e aves, representadas pela família Anhingidae,
paleoecológicos. sugere ambientes abertos com dependência de
Para tanto, na relação entre os organismos vegetação arbórea (Campbell et al., 2000).
e o ambiente, três aspectos são mais importantes: Grupos de hábitos aquáticos e semi-
i) a área, representada pelo espaço geográfico aquáticos,como capivaras,família Hydrochoeridae,
ocupado por uma espécie; ii) o habitat, como cetáceos odontocetos, da família Iniidae, e peixes-
sendo o espaço físico onde vive, que pode ser bois, da família Trichechidae, indicam ambientes
definido pela localização geográfica ou pelo tipo flúvio-lacustres. A assemblage de moluscos,
de vegetação; e iii) o nicho, que inclui, além do encontrada por Nuttal (1990), Vonhof et al. (1998)
espaço físico (habitat), o papel funcional do e Wesselingh et al. (2001), sugere deposição em
organismo na comunidade (Ricklefs, 1990). Para ambiente lacustre.
explicar a grande variedade de formas, é necessário
Diferentemente do registro atual, durante
avaliar a probabilidade de que, durante certo
o Período Mioceno superior/Plioceno, os
momento do Mioceno superior, quando o clima
crocodilianos estiveram agrupados nas famílias
e o ambiente se tornaram estáveis e sem grandes
Crocodylidae, Alligatoridae, Nettosuchidae e
perturbações, houve condições e tempo suficientes
Gavialidae, representadas por várias espécies,
para que esses animais passassem por processos
como demonstrados na Figura 1, com diferentes
de especiação, evoluindo para espécies de grande
tamanhos e, dentre estas, estão registradas as
porte, devido ao habitat e à disponibilidade de
espécies de grande porte, como Purussaurus
alimento, uma vez que o clima, a geografia e a
brasiliensis, Gryposuchus jessei e Mourasuchus
vegetação da região estudada eram favoráveis e
amazonensis, que pela grande dependência que
totalmente distintos da atual.
teriam com a água, podem corroborar com as
As contribuições geopaleontológicas propostas sobre um grande sistema hidrográfico
apontam para um sistema rico em corpos naquele paleoambiente (Souza Filho, 1998).
lacrustres, com a presença de vários lagos e rios
meandrantes, que se distinguiam em tamanho,
correnteza, profundidade e coloração, com CONCLUSÕES
registros de megaleques aluviais; por outro lado, Fundamentado em dados
a existência de terrenos secos e pantanosos, com geopaleontológicos, paleobotânicos e
a presença de vegetação rasteira, representada paleoclimáticos, percebe-se que o ambiente, hoje
por gramíneas e florestas com palmeiras (Hoorn, ocupado pela floresta Amazônica, teve um sistema
1994; Monsh, 1998). hidrográfico e uma cobertura vegetal totalmente
De acordo com Ranzi (2000), as formas distintos do atual, que sustentava uma enorme
indicadoras de ambientes de floresta e bordas riqueza de espécies de animais, principalmente de

663
crocodilianos. Grande parte da fauna sobreviveu REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
até o Mioceno superior/Plioceno, quando
ocorreram mudanças drásticas do clima na região, CAMPBELL, K.E.; FRAILEY, C.D. &
devido a uma grande glaciação, rebaixando o PITTMAN, L.R. 2000. The late Miocene
nível dos oceanos e, por conseqüência, o nível Gomphothere, Amahuacatherium peruvium
dos lençóis freáticos, modificando todo aquele (Proboscidea: Gomphotheriidae) from
paleoambiente, levando muitas espécies à extinção amazonian Peru: implications for the great
(Fischer, 1960; Haq et al., 1987; Mörner, 1987). American faunal interchange. Instituto
Geológico Minero y Metalúrgico. Lima,
Muito se tem tentado explicar a evolução
Peru. 152p.
da paisagem em seus aspectos físicos e bióticos
a partir das alterações climáticas ocorridas, CARVALHO, P.; BOCQUENTIN, J. & BROIN,
sobretudo no Cenozoico. Vários autores F. 2002. Um novelle espécie de Podocnemis
(Räsänen et al., 1987; Räsänen et al., 1995), (Pleurodira, Podocnemididae) provenant Du
destacam a evolução geológica como um fator tão Néogène de la formation Solimões, Acre,
condicionante quanto o clima. Brésil. Geobios. Vol. 35: 677-686.
Torna-se praticamente impossível inferir
sobre um ambiente marinho na Bacia do Acre CAVALCANTE, L.M. 2006. Geologia e
durante o Mioceno, pois são raros os estudos geomorfologia do Estado do Acre. In:
com palinomorfos nessa região, principalmente ACRE. Secretaria de Estado de Estado,
na porção sul-ocidental, tornando tais resultados, Ciência e Tecnologia. Programa Estadual
apresentados por outros autores, totalmente de Zoneamento Ecológico-Econômico do
inconsistentes. Estado do Acre: 2ª fase. Rio Branco.
A paleofauna de crocodilianos das Bacias
do Acre e Solimões parece ter sofrido com COLLINSON, M.E. 2002. The ecology of
grandes mudanças, que culminou com a extinção Cenozoic ferns. Review Palaeobotany and
da maioria das espécies. É provável que a extinção Palynology. Vol. 119: 51-68.
das famílias de Crocodylidae, Nettosuchidae
COZZUOL, M.A. 2006. The Acre Vertebrate
e Gavialidae esteja relacionada provavelmente
Fauna: Diversity and Geography. Journal
com profundas modificações climáticas que
of South American Earth Sciences. Vol. 21:
determinaram a diminuição do volume das
185-203.
águas, alterando todo aquele paleoambiente.
Uma melhor compreensão deve ser encontrada no CRUZ, N.M.C. 1984. Palinologia do Linhito do
estudo e conhecimento dos grupos de crocodilianos Solimões no Estado do Amazonas. Anais do
durante o Mioceno superior/Plioceno, e que II Simpósio Amazônico. Manaus. p. 473-
poderão ser a chave para o entendimento da 480.
paisagem do final do Neógeno. Quais seriam os
fatores desta extinção é o que precisamos começar FISCHER, A.G. 1960. Latitudinal variations in
a entender. Sendo assim, faz-se necessário estudos organic diversity. Evolution. Vol. 14(1): 44-
mais aprofundados sobre a evolução e ecologia das 81.
espécies atuais, para que haja uma correlação mais
detalhada entre a extinção dos grupos estudados GERMERAAD, J.H.; HOPPING, C.A. &
e os atualmente encontrados, uma vez que não MULLER, J. 1968. Palynology of Tertiary
existem registros fósseis desses animais, o que sediments from tropical areas. Review of
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666
Ampullarius sp.

667
668
Figura 1. Fauna do Acre para o Mioceno Superior. Fonte: Cozzuol (2006), modificado de Haag (2009).

669
OBSERVAÇÕES FOSSILDIAGENÉTICAS EM FÓSSEIS DE VERTEBRADOS
PLEISTOCÊNICOS DO TANQUE DO JIRAU, ITAPIPOCA, CEARÁ, BRASIL
Hermínio Ismael de Araújo Júnior1 (herminio.ismael@yahoo.com.br), Julio Cezar Mendes2 (julio@geologia.ufrj.br),
Lílian Paglarelli Bergqvist2 (bergqvist@geologia.ufrj.br), Kleberson de Oliveira Porpino3 (kleporpino@yahoo.com.br)
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geologia;
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia;
3
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte , Departamento de Ciências Biológicas

RESUMO O Tanque do Jirau, localizado em


Itapipoca/CE, é o depósito com maior número
Neste trabalho, lâminas petrográficas
de elementos esqueletais e de táxons conhecidos
evidenciam os processos de permineralização
no Nordeste do Brasil. Uma identificação
por carbonatos de cálcio e de ferro e minerais
taxonômica preliminar desse material foi realizado
opacos e de substituição por calcita em fósseis de
por Ximenes et al. (2010), enquanto análises
vertebrados pleistocênicos do Tanque do Jirau,
bioestratinômicas foram realizadas por Araújo-
Itapipoca, Ceará, Brasil. Elementos químicos de
Júnior et al. (2010a, 2010b). Por outro lado, os
cristais formadores da rocha que compõe o tanque
processos de fossilização que ocorreram durante
provavelmente contribuíram para a geração dos
a diagênese desse material ainda não foram
minerais identificados nos ossos fossilizados. Tal
identificados e, consequentemente, informações
associação de minerais indica um clima úmido
paleoambientais com base nesses processos não
após o soterramento desses ossos.
foram extraídas.
Palavras-chave: Fossildiagênese,
Neste trabalho foram feitas observações
Vertebrados, Tanques naturais
fossildiagenéticas em fósseis de vertebrados
pleistocênicos provenientes do Tanque do Jirau,
ABSTRACT com o objetivo de identificar os possíveis processos
In this work, petrographic sections show de fossilização. Além disso, algumas informações
permineralization by calcium and iron carbonates paleoambientais foram inferidas com base na
and opaque minerals and substitution by calcite fossildiagênese desse material.
in Pleistocene fossil vertebrates from the Tank of
the Jirau, Itapipoca, Ceará State, Brazil. Chemical MATERIAIS E MÉTODOS
elements present in crystals from the rocks of the
Os fósseis coletados no Tanque do
tank were probably important for the formation
Jirau compreendem dentes isolados, ossos
of the minerals identified in the fossilized bones.
cranianos, pós-cranianos e dérmicos. Todos esses
Such minerals indicate semi-arid climate after
elementos encontram-se depositados na coleção
burial of the bones.
paleontológica do Museu de Pré-história de
Keywords: Fossildiagenesis, Vertebrates,
Itapipoca.
Natural tanks
O material do Jirau apresenta cinco
colorações distintas: branca, preta e branca, bege,
INTRODUÇÃO vermelha e azul. Um fragmento de osso longo de
Estudos tafonômicos em fósseis de cada coloração foi selecionado para a confecção das
vertebrados do Pleistoceno tardio de tanques lâminas petrográficas, na tentativa de reconhecer
naturais do Nordeste brasileiro têm aumentado processos fossildiagenéticos associados a cada
nos últimos anos, porém a maior parte dessas coloração.
análises são bioestratinômicas (e.g., Alves et
al., 2007; Araújo-Júnior, 2010). Observações RESULTADOS E DISCUSSÃO
fossildiagenéticas, principalmente as que visam a
Nos fósseis de coloração azulada foi
identificação dos processos de fossilização, ainda
observado o preenchimento dos canais de Havers
são poucas (e.g., Santos et al., 2002).

670
em maior quantidade por calcita (carbonato de fossildiagênese por minerais de ferro é facilitada
cálcio – CaCO3) e em menor quantidade por um sob condições de umidade.
mineral opaco, provavelmente um óxido de ferro A presença de fósseis com colorações
(Figura 1.1). e processos de fossilização muito distintos na
Na lâmina petrográfica do fóssil acumulação fossilífera do Jirau representa uma
de coloração avermelhada foi verificada a evidência de mistura temporal (time-averaging).
permineralização dos canais principalmente por Feições bioestratinômicas observadas pelos
mineral opaco, porém, também é observada a autores neste material (Araújo-Júnior et al., neste
presença de um carbonato de ferro (siderita? – volume) também são evidências a favor dessa
FeCO3). Além da permineralização, observou-se hipótese. Além disso, em outros trabalhos também
algum grau de substituição no tecido ósseo, a qual foi identificado time-averaging em outros tanques
é feita por calcita (Figura 1.2). nordestinos (Araújo-Júnior & Porpino, 2009).
Para o material de coloração bege, a
permineralização ocorre em menor intensidade
AGRADECIMENTOS
que nos fósseis de outras colorações, sendo
produzida principalmente por carbonato de ferro Os autores agradecem ao Msc. Celso
(siderita?), de cálcio (calcita) e minerais opacos. L. Ximenes e a Antônio Sílvio T. Santos pelo
Por outro lado, no material com esta coloração o empréstimo do material do Jirau para este estudo
grau de substituição por calcita no tecido ósseo é e ao Dr. Aristóteles M. Rios-Netto por conceder o
bem maior do que aquele observado para o osso microscópio petrográfico e câmera para fotografia
avermelhado (Figura 1.3). das lâminas; à FAPERJ pela concessão da bolsa de
Nos fósseis de coloração preta e branca mestrado ao primeiro autor.
observa-se apenas o processo de permineralização,
que é feito por mineral opaco e carbonato de CONCLUSÕES
ferro, ocorrendo o primeiro em maior quantidade
Processos distintos de fossilização são
(Figura 1.4).
observados em fósseis de diferentes colorações do
Na lâmina petrográfica do material Tanque do Jirau, sugerindo a ocorrência de mistura
de coloração branca também foi verificada temporal na acumulação fossilífera. Predomina a
permineralização, feita por carbonato de ferro permineralização por carbonatos de cálcio e de
e mineral opaco. A substituição por calcita ferro e por minerais opacos. Adicionalmente,
observada neste exemplar acontece em maior ocorre a substituição de tecido ósseo por calcita em
grau que nos fósseis de coloração avermelhada e fósseis de algumas colorações. A fossildiagênese
em menor que naqueles de cor creme (Figura 1.5). por minerais de ferro, que provavelmente foram
Suguio (2003) aponta que os óxidos de gerados a partir do intemperismo das paredes do
ferro (mineral opaco observado) são mais comuns próprio tanque, indica um ambiente mais úmido
em rochas pré-cambrianas. Cabe ressaltar que após o soterramento dos elementos esqueletais.
rochas dessa era compõem o embasamento onde
o Tanque do Jirau se desenvolveu. Provavelmente,
o seu intemperismo liberou elementos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
químicos para a formação dos minerais opacos ALVES, R.S.; BARRETO, A.M.F.; BORGES,
responsáveis pela permineralização observada. L.E.P. & FARIAS, C.C. 2007. Aspectos
A participação desses minerais na fossilização tafonômicos no depósito de mamíferos
de ossos de mamíferos pleistocênicos também pleistocênicos de Brejo da Madre de
foi observada por Santos et al. (2002), porém Deus, Pernambuco. Estudos Geológicos,
em um depósito cárstico. Soubiès et al. (1991) e 17(2):114-122.
Suguio (2003) consideram comum a ocorrência
de carbonatos de ferro (siderita) em ambientes ARAÚJO-JÚNIOR, H.I. 2010. Taphonomic
lacustres quaternários. Para Medeiros (2010), a and paleoecological aspects of the fossil
assemblage of Pleistocene vertebrates from

671
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672
Figura 1. Lâminas petrográficas dos fósseis de vertebrados pleistocênicos do Tanque do Jirau; 1. Osso com coloração
azulada; 1. Osso com coloração avermelhada; 3. Osso com coloração creme; 4. Osso com coloração preta e branca; 5.
Osso com coloração branca. Escala = 500µm.

673
RESGATE DE FÓSSEIS EM DEPÓSITO DE TANQUE NA REGIÃO NOROESTE
DO ESTADO DO CEARÁ (MAMÍFEROS DO PLEISTOCENO TARDIO)
Robbyson Mendes Melo1 (robbyson_bio@hotmail.com), Maria Somália Sales Viana1 (somalia_viana@hotmail.com)
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA
1

RESUMO Keywords: Tank deposit, Mammals,


Pleistocene, Ceará
Este artigo notifica o resgate de fósseis
em um depósito de tanque na Fazenda Maurício,
em Sobral-Ce, bem como apresenta os grupos de INTRODUÇÃO
organismos identificados a partir dos espécimes O Pleistoceno Tardio no nordeste é
coletados e acrescentados na coleção científica marcado tanto pela ocupação do território por
do Museu Dom José. A metodologia aplicada grandes mamíferos e seu desaparecimento,
consistiu de três fases distintas: vistoria no depósito como pelas modificações no clima afetando
de tanque com coleta de material, trabalho de consideravelmente a paisagem e a biota da região
laboratório e anatomia comparada em literatura (Viana et al., 2008). Nesse período a formação de
especializada. O material coletado totalizou pequenos depósitos sedimentares tornou possível
mais de 60 peças, constando de fragmentos o acúmulo e a preservação de restos esqueletais
independentes e de pequeno tamanho, dificultando pertencentes à mastofauna local, destacando-se:
a identificação ou tornando-a impossível. megaterídios, gliptodontídeos, gonfoterídeos,
Contudo, foram identificados quatro grupos macrauquenídeos e toxodontídeos (Guérin, 1991;
de mamíferos pleistocênicos: gliptodontídeos; Cartelle, 1999; Bergqvist et al., 1997; Ximenes,
gonfoterídeos; megaterídeos; e macrauquenídeos. 2008; Galindo et al., 1994).
A área em estudo indica um considerável potencial
Em todo Nordeste do Brasil é comum a
para pesquisas paleontológicas.
ocorrência de mamíferos fósseis em estruturas
Palavras-chave: Depósito de tanque, geológicas denominadas de tanques. Tais
Mamíferos, Pleistoceno, Ceará construções naturais correspondem a pequenas
depressões que se formam na superfície de rochas
ABSTRACT cristalinas de idade Pré-Cambriano (Bigarella et
al., 1994).
This paper notifies the recovery of
fossils in a tank deposit at Maurício farm, in Até o momento, no Ceará, a ocorrência
Sobral-Ce, and shows the groups of organisms de mamíferos pleistocênicos compreende 40
identified from specimens collected and added municípios (Viana et al., 2007). Para a região
to the scientific collection of the Dom José noroeste do estado destacam-se seis localidades
Museum. The methodology consisted of three em três municípios: Engenho Queimado, em
distinct phases: inspection of the tank deposit Mucambo; fazenda Oiticica, em Santa Quitéria;
with sample collection, laboratory work and pedreira Mata, fazenda Valentin, fazenda Lagoa
comparative anatomy in literature. The material das Pedras e fazenda Maurício, em Sobral.
collected totaled more than 60 pieces, consisting Pesquisas com os depósitos de tanques
of independent fragments and small size, difficult e os fósseis encontrados na região, vêm sendo
to identify or making it impossible. However, desenvolvidas pelo Laboratório de Paleontologia
four groups of pleistocene mammals were da Universidade Estadual Vale do Acaraú
identified: gliptodontids; gonfoterids; megaterids (LABOPALEO/UVA), em parceria com
and macrauquenids. The studied area indicates o Conselho Nacional de Desenvolvimento
a considerable potential for paleontological Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do
researches. projeto: “Conservação da coleção de fósseis do

674
Museu Dom José (Sobral, Ceará): Um incentivo ocorrência dos fósseis, as escavações dos depósitos
às investigações paleontológicas na região noroeste foram realizadas por moradores da região, com o
do Estado”. Os fósseis coletados são depositados objetivo de represar água em períodos chuvosos e
no acervo do Museu Dom José (MDJ), que embora posteriormente utilizá-la em períodos de escassez.
possua destaque em Arte Sacra e Decorativa no O tanque de onde foi retirado o material fossilífero,
Estado do Ceará, tem desenvolvido importantes corresponde a uma depressão de forma elipsóide
estudos paleontológicos na região, através de ações com cerca de 50 m de comprimento por 6 m de
de valorização da paleontologia, contribuindo de largura e 5 m de profundidade, aproximadamente.
forma expressiva para a conservação dos espécimes Ele foi exumado em 1948 e seu conteúdo
fósseis. fóssil, bastante representativo, foi coletado e
Objetiva-se com esta pesquisa notificar depositado no Museu Dom José. Seis décadas
o resgate de fósseis em um depósito de tanque depois, no mesmo local, duas missões de campo
na Fazenda Maurício, no município de Sobral, foram realizadas pela equipe do Laboratório de
bem como apresentar os grupos de organismos Paleontologia da Universidade Estadual Vale do
identificados, a partir dos espécimes coletados Acaraú (UVA), na tentativa de resgatar fragmentos
e acrescentados na coleção científica do Museu de ossos que se encontravam abandonados junto
Dom José. aos sedimentos retirados do tanque. Em campo,
uma análise prévia dos ossos possibilitou a
identificação de alguns fragmentos, apontando
METODOLOGIA grandes possibilidades para estudos taxonômicos
A metodologia aplicada consistiu de três e subsequentes inferências paleoambientais.
fases distintas, descritas a seguir: O material coletado totalizou mais de 60
Em um primeiro momento foi realizada peças, constando de fragmentos independentes e
uma vistoria próximo ao tanque, em busca de de pequeno tamanho, dificultando a identificação
ossos perdidos deixados por escavações anteriores. ou tornando-a impossível. Contudo, foram
Posteriormente, o trabalho desenvolvido envolveu identificados 13 ossos, pertencentes a quatro
o desmonte de blocos aleatórios seguido da grupos de mamíferos pleistocênicos: seis
técnica de peneiramento dos sedimentos que se osteodermos de tatus, (MDJ-M752; MDJ-
encontravam amontoados. M753; MDJ-M754; MDJ-M755; MDJ-M756;
Após a coleta em campo, no laboratório MDJ-M757), gliptodontídeos; um fragmento de
os fósseis foram preparados mecanicamente, por dente (esmalte) de mastodonte (MDJ-M764),
meio da lavagem em água corrente, retirada de gonfoterídeos; três fragmentos de dentes (MDJ-
grãos de areia dos poros e foramens dos ossos, e M745; MDJ-M758; MDJ-M759) e uma falange
por fim a impermeabilização com verniz acrílico, (MDJ-M760) de preguiça, megaterídeos; uma
seguida de seu tombamento passando a integrar rótula (MDJ-M703) e uma falange (MDJ-M761)
a coleção do Laboratório de Paleontologia do de macrauquenídeos.
Museu Dom José.
Através da análise de anatomia comparada,
AGRADECIMENTOS
utilizando-se de bibliográfica especializada (Paula
Couto, 1979) foi possível a obtenção de dados Os autores agradecem à Universidade
anatômicos e identificação somente para alguns Estadual Vale do Acaraú (UVA) por tornar
espécimes fósseis. possíveis os trabalhos de campo; ao Museu Dom
José (MDJ) por oferecer as condições básicas
para a realização dos estudos paleontológicos;
RESULTADOS ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Os materiais fossilíferos analisados são Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio
provenientes de um depósito de tanque localizado financeiro; aos estagiários do Laboratório de
na Fazenda Maurício (Figura 01), município Paleontologia da UVA Sérgio Augusto Xavier,
de Sobral, região noroeste do estado do Ceará Gina Cardoso de Oliveira e Thiago Albuquerque
(3° 42’ 2,3’’S/40° 07’ 43,6’’W). Nos locais de Lima; às biólogas Maria de Jesus Gomes de Sousa

675
e Vanessa Ávila Vasconcelos pela contribuição na Arqueológico/Paleontológico Lagoa das
coleta do material fossilífero. Caraíbas, Salgueiro. Revista de Arqueologia,
8(1): 117-131.
CONCLUSÕES GUÉRIN, C.; CURVELLO, M.A.; FAURE,
A paleomastofauna preservada na M.; HUGUENEY, M. & MOURER-
Fazenda Maurício, representada pelos espécimes CHAUVIRÉ, C. 1996. A fauna
pertencentes aos grupos de gonfoterídeos, Pleistocênica do Piauí (Nordeste do Brasil):
megaterídeos,macrauquenídeos,e gliptodontídeos, relações paleoecológicas e biocronológicas.
constitui um importante registro de mamíferos Fundhamentos, São Raimundo Nonato, v. 1,
fósseis para a região noroeste do estado do Ceará. n. 1, p. 55-103.
Além do mais indicam também um considerável
potencial para estudos paleontológicos, revelando PAULA COUTO, C. 1979. Tratado de
a necessidade de maiores investigações acerca do Paleomastozoologia. Rio de Janeiro:
passado pré-histórico dá área em questão. Já os Academia Brasileira de Ciências, 590 p.
trabalhos de conservação dos espécimes fósseis
desenvolvidos pelo Laboratório de Paleontologia VIANA, M.S.S. et al. 2007. Distribuição
da UVA no Museu Dom José, com o apoio do geográfica da megafauna pleistocênica no
CNPq representa um ponto de partida para o nordeste brasileiro. In: CARVALHO, I.S. et
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GALINDO, M.; VIANA, M.S.S. &


AGOSTINHO, S. 1994. Projeto

676
Figura 1. Localização da Fazenda Maurício com destaque para as ocorrências de fósseis no município de Sobral e o
trabalho de campo no resgate do material fossilífero; PM, pedreira Mata; FM, fazenda Maurício; LP, lagoa das Pedras;
FV, fazenda Valentin; F1.1, depósito de tanque; F1.2, peneiramento dos sedimentos; F1.3, escavação e desmonte de
sedimentos consolidados.

677
RESTAURAÇÃO DE FÓSSEIS DA MEGAFAUNA DO
QUATERNÁRIO TARDIO DE BAIXA GRANDE, BAHIA
Simone Silva de Santana¹ (simonesb33@gmail.com), Ricardo da Costa Ribeiro² (ricardomito@hotmail.com),
Fábio Henrique Cortes Faria² (fabiocortes22@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho² (ismar@geologia.ufrj.br)
¹Universidade Federal do Vale do São Francisco, Licenciatura em Ciências da Natureza. Centro Cultural Sergio Motta;
²Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia

RESUMO A restauração dos restos fósseis é um


trabalho minucioso, o qual exige do restaurador
Este trabalho realiza a descrição de técnicas
atenção, habilidades manuais específicas, além
utilizadas na restauração de fósseis da megafauna
de um conhecimento anatômico do fóssil a ser
do Quaternário tardio, provenientes do município
restaurado, para realizar de maneira adequada a
de Baixa Grande, Bahia. São métodos que visam
colagem dos fragmentos. Desta forma reduz-se
restaurar um material fossilífero fragmentado, em
consideravelmente o risco de se realizar uma
alguns casos bastante friável, tendo como objetivo
colagem indevida do material. Um restauro mal
auxiliar na classificação taxonômica do fóssil,
realizado pode ocultar ou destruir informações
além de contribuir para a sua preservação em uma
relevantes para a análise paleontológica, como é
coleção científica.
a de registros tafonômicos, tais como patologias,
Palavras-chave: fóssil, megafauna,
marcas de predação, marcas de carniceiros, entre
restauração
outras informações paleoecológicas que podem
estar presentes nos bioclastos
ABSTRACT
This study holds a description of the METODOLOGIA
restoration techniques applied in fossils of the
Para que se venha facilitar o trabalho de
megafauna from the late Quaternary of Baixa
restauração, é importante o registro fotográfico
Grande County, Bahia State. These methods have
em detalhes do material fóssil ainda in situ.
the purpose to restore fragmented fossiliferous
Esses registros podem se tornar ferramentas
material, in some cases in a friable condition,
importantes para o restaurador no momento da
to allow the systematic identification and to
colagem dos restos fósseis. Assim que houver o
contribute to its preservation in a scientific
recebimento do material em laboratório, ao se
collection.
retirar da embalagem, é necessário que se façam
Keywords: fossil, megafauna, restoration novamente registros fotográficos. Dessa forma o
restaurador pode realizar um paralelo de como
INTRODUÇÃO o material estava in situ, e de como chegou ao
laboratório.
O primeiro registro de fósseis da megafauna
do Quaternário tardio de Baixa Grande, Bahia No momento da retirada do fóssil da rocha
(Figura 1), descoberto em um tanque fossilífero ou do sedimento, deve-se escolher a ferramenta
na localidade de Lagoa do Rumo, possui alguns mais adequada, para que marcas não sejam criadas
aspectos tafonômicos semelhantes aos observados ou até mesmo piorar o estado de preservação do
em outros depósitos nordestinos do mesmo tipo. material. Em fósseis envolvidos por sedimentos
Trata-se de um material desarticulado e em inconsolidados, como ocorre com o material
sua maior parte fragmentado (Bergqvist, 1993; proveniente de Baixa Grande, é possível realizar
Santos, 2001; Porpino et al., 2004; Silva et al., a limpeza somente com palitos de madeira e
2006; Silva, 2008 e Ribeiro & Carvalho, 2009), pequenas escovas. Já uma ferramenta de metal
dificultando em muitos casos a sua classificação pode produzir facilmente marcas no fóssil em um
taxonômica e o seu posterior acondicionamento mínimo descuido por parte do restaurador.
em uma coleção científica ou museológica.

678
Em muitos casos pode haver uma grande REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quantidade de fragmentos de uma única peça
bastante friáveis, inviabilizando a colagem dos BERGQVIST, L.P. 1993. Jazimentos
fragmentos. Para manusear este material é muito Pleistocênicos do Estado da Paraíba e seus
importante realizar o processo de consolidação Fósseis. Revista Nordestina de Biologia, 8(2):
dos fragmentos a partir da submersão destes 143-158.
em uma solução de Paralóide B72 e acetona.
DANTAS, M. A. T. & Tasso, M. A. L. 2007.
Esta solução deve possuir boa solubilidade para
Megafauna do Pleistoceno final de Vitória
que possa se infiltrar nos fragmentos através do
da Conquista. Scientia Plena, 3(3): 30-36.
preenchimento dos poros. Após este tratamento
se torna viável realizar a colagem dos mesmos. PORPINO, K.O.; SANTOS, M.F.C.F. &
Por vezes, devido à destruição parcial do BERGQVIST, L.P. 2004. Registro de
fóssil no processo de fossilização ou no momento Mamíferos Fósseis no Lagedo de Soledade,
de escavação, podem faltar pequenos pedaços em Apodi, Rio Grande do Norte. Revista
uma peça, impossibilitando a união de alguns Brasileira de Paleontologia, 7 (3): 349 – 358.
fragmentos. O preenchimento dessas lacunas é
feito utilizando gesso odontológico. Um fêmur RIBEIRO, R.C. & CARVALHO, I.S. 2009.
de Eremotherium laurillardi (Figura 2) passou Megafauna do Quaternário tardio de Baixa
por este procedimento para que a sua restauração Grande, Bahia, Brasil. Anuário do Instituto de
fosse concluída. Geociências UFRJ, 32 (2): 42-50.

SANTOS, M.C.C.F. 2001. Geologia e Paleontologia


CONCLUSÕES de depósitos fossilíferos Pleistocênicos do
O trabalho de restauro de fósseis de Rio Grande do Norte. Programa de Pós-
vertebrados de grande porte, tais como os Graduação em Geodinâmica e Geofísica,
elementos da megafauna do Quaternário tardio Universidade Federal do Rio Grande do
de Baixa Grande, Bahia, demanda do técnico Norte, Dissertação de Mestrado, 70p.
restaurador os seguintes conhecimentos: 1)
anatomia dos grupos fósseis a serem restaurados; 2) SILVA F.M.; ALVES, R.S.; BARRETO, A.M.F.;
dominar uma ampla gama de técnicas específicas BEZERRA DE SÁ, F. & LINS E SILVA,
para diferentes materiais fossilíferos, em diferentes A.C.B. 2006. A Megafauna Pleistocênica no
estágios de degradação; 3) habilidade manual, Estado de Pernambuco. Estudos Geológicos,
além de paciência e esmero. 16 (2): 55-66.
O trabalho de restauro pode em muitos
SILVA, J.L.L. 2008. Reconstituição paleoambiental
casos auxiliar o paleontólogo no momento de
baseada no estudo de mamíferos pleistocênicos
identificação taxonômica do fóssil restaurado,
de Maravilha e Poço das Trincheiras, Alagoas,
além de contribuir para o acervo de coleções
Nordeste do Brasil. Programa de Pós-
científicas e museológicas. Isto torna possível o
Graduação em Geociêcias, Universidade
estudo paleontológico e a divulgação científica
Federal de Pernambuco, Tese de Doutorado,
e cultural de fósseis que, devido ao estado de
229p.
degradação no qual estes se encontram, seja por
razões tafonômicas, por uma coleta realizada de
maneira indiscriminada, ou por más condições
de armazenamento, estariam relegados ao
WEBGRAFIA
esquecimento. www.ibge.gov.br/cidadesat

679
Figura 1. Mapa de localização do município de Baixa Grande, Estado da Bahia (mapa plotado a partir de dados do IBGE,
2005).

Figura 2. Estágios de preparação de um fêmur de Eremotherium laurillardi – UFRJ DG 422-M – em restauração,


proveniente de Baixa Grande, Bahia. A, retirada do gesso; B, restauração da epífise distal; C, restauração da epífise
proximal e diáfise; D, colagem dos fragmentos; E, peça finalizada (vista lateral).

680
SÍNTESE SOBRE OS SQUAMATA (LEPIDOSAURIA) DO MIOCENO
DO SUDOESTE DA AMAZÔNIA BRASILEIRA: INFERÊNCIAS
PALEOAMBIENTAIS E BIOESTRATIGRÁFICAS
Annie Schmaltz Hsiou1 (anniehsiou@ffclrp.usp.br)
Universidade de São Paulo, FFCLRP – Departamento de Biologia
1

RESUMO INTRODUÇÃO
Recentemente uma inédita fauna de Uma nova assembleia de escamados fósseis
escamados fósseis foi descrita para a Formação foi recentemente descrita para o Mioceno superior
Solimões, Mioceno superior do sudoeste da da Formação Solimões, sudoeste da Amazônia
Amazônia brasileira composta por lagartos Brasileira, região norte da América do Sul
Teiidae, serpentes aletinofídeas basais, Boidae e (Hsiou, 2010). Os fósseis são restos mandibulares
“Colubridae”. Essa nova associação de escamados e vertebrais de lagartos Teiidae (cf. Paradracaena
encontrada na Formação Solimões indicou sp., Hsiou et al., 2009), e vértebras isoladas de
uma similaridade ecológica entre outras faunas serpentes Boidae (Eunectes sp., cf. Eunectes sp., aff.
miocênicas do norte da América do Sul, tais como Epicrates sp. e Waincophis sp., Hsiou & Albino,
La Venta e região de Urumaco. Estes escamados 2009, 2010), “Colubridae” (Hsiou & Albino,
representam o primeiro registro do grupo para 2010), além de prováveis serpentes basais do
o Neógeno do sudoeste da Amazônia brasileira, gênero Colombophis (C. portai e C. spinosus, Hsiou
contribuindo para um melhor entendimento et al., 2010). A associação de lagartos e serpentes
sobre a distribuição, paleoambientes e inferências encontrada na Formação Solimões indica uma
bioestratigráficas dos mesmos para região norte similaridade ecológica entre outras faunas
da América do Sul. miocênicas do norte da América do Sul, tais como
Palavras-chave: Squamata, Mioceno, La Venta (Colômbia) e Urumaco (Venezuela).
região norte da América do Sul O sudoeste da Amazônia brasileira exibe um
paleoambiente continental que inclui uma diversa
fauna de vertebrados (roedores, crocodilomorfos,
ABSTRACT tartarugas e peixes de água doce), onde os dados
Recently a new squamate fossil fauna has palinológicos indicam áreas abertas e florestas de
been described for the Solimões Formation, late galeria ao longo de rios, pântanos e lagos rasos,
Miocene of southwestern Brazilian Amazon, and sendo que o cenário paleoambiental poderia
consists of Teiidae lizards, and snakes, represented estar sujeito a variação sazonal do nível d’água
by basal alethinophidian snakes, Boidae and em um clima tropical seco-úmido (Latrubesse
“Colubridae” remains. This new squamate et al., 2007). Comparavelmente, a fauna de
assemblage found in Solimões Formation indicates Urumaco, principalmente aquela observada na
an ecological similarity between the faunas of the Formação Socorro, o cenário paleoambiental
northern Miocene South Ameirca, such as La inclui depósitos deltaicos e fluviais (Hambalek
Venta and the region of Urumaco. As a whole, et al., 1994), com a presença de crocodilomorfos,
the squamate fauna reported here, represents tartarugas de água doce e bagres (catfishes) que
the first record of the group for the Neogene of habitavam pântanos, associados com tubarões e
southwestern Brazilian Amazonia, and perhaps sirênios, freqüentes em ambientes estuarinos e
a contribution for a better understanding em grandes rios de água doce (Aguilera, 2004;
of the distribution, paleoenvironmental and Sánchez-Villagra & Aguilera, 2006). Já a Fauna
biostratigraphy inferences of the group in the de La Venta é um depósito continental, com
northern South America. uma diversa e abundante fauna de peixes de água
Keywords: Squamta, Miocene, northern doce, tartarugas, e crocodilomorfos, que indicam
region of South America habitat aquáticos que se desenvolveram em uma

681
floresta tropical, combinada com mosaicos de atribuída ao Huayqueriense (Mioceno superior),
florestas/pradarias e áreas abertas de pradarias e possivelmente alcançando o Montehermosense
(Kay & Madden, 1997). Segundo alguns autores (Mioceno superior/Plioceno inferior). Os recentes
essas três regiões do norte da América do Sul dados palinológicos sugerem apenas a idade
exibem uma grande similaridade faunística, sendo Mioceno superior para os depósitos da Formação
esta semelhança principalmente evidenciada Solimões para a mesma região (Latrubesse et
pelos fósseis de mamíferos, porém, encontram al., 2007). O material inédito de escamados
mais afinidades entre o sudoeste da Amazônia deste trabalho foi principalmente coletado na
brasileira com Urumaco do que com La Venta localidade Talismã, considerada por alguns
(Cozzuol, 2006; Negri et al., 2010). A Fauna de autores como Huayqueriense-Montehermosense
La Venta e a Formação Socorro são atribuídas ao (Mioceno superior/Plioceno inferior) pela
Mioceno médio, enquanto a Formação Solimões presença dos roedores Potamarchus murinus
é atribuída ao Mioceno superior. Além disso, e Neopliblema horridula (Santos et al., 1993;
a predominância de elementos tropicais, bem Negri, 2004). Segundo Santos & Negri (1993),
como o desenvolvimento de grandes sistemas o conjunto faunístico de xenartros (Tardigrada)
fluviais é coincidente com o presumível modo sugere uma provável afinidade com a fauna de
de vida dos lagartos e serpentes registradas para idade Santacruzense da Argentina (Mioceno
estas regiões (Hsiou, 2010). A fauna de lagartos e inferior-médio) e, por outro lado, uma relação
serpentes fósseis compartilhada entre o sudoeste com a idade Laventense da Colômbia (Mioceno
da Amazônia brasileira, Urumaco e La Venta é médio). A fauna local de Tardigrada no Talismã
consistente com estas suposições paleombientais. poderia indicar uma idade mais antiga (Negri,
Os fósseis de escamados encontrados na Formação 2004), correlacionável ou similar ao Laventense
Solimões, são quase que exclusivamente semi- (13.5-11.8 Ma, Madden et al., 1997). Por esta
aquáticos o que reforçaria a hipótese de uma razão, existem duas hipóteses para a presença dos
maior similaridade ecológica entre essas faunas escamados da Formação Solimões: a) os registros
miocênicas. Isto parece ser sustentado pela presença anteriores de escamados para o Mioceno do norte
do boídeo Eunectes e do teídeo Paradracaena em da América do Sul seriam na grande maioria do
La Venta e no sudoeste da Amazônia brasileira, Mioceno médio da Colômbia e Venezuela (e.g.
bem como pela presença de Colombophis nas Paradracaena e Colombophis), enquanto que os
três faunas. A fauna de escamados recentemente fósseis reportados neste manuscrito seriam do
descrita para o Mioceno superior da Formação Mioceno superior. Assim, alguns táxons poderiam
Solimões representa os primeiros registros do ter persistido até o Mioceno superior na região
grupo para o Neógeno do sudoeste da Amazônia sudoeste da Amazônia brasileira; ou b) os
brasileira, bem como para o Neógeno brasileiro. escamados fósseis deste sítio poderiam corroborar
com a hipótese de Negri (2004) de uma idade
Inferências bioestratigráficas Laventense.
acerca dos escamados do
sudoeste da Amazônia brasileira: CONCLUSÕES
a localidade Talismã
Entre os táxons de escamados descritos
A idade dos fósseis encontrados na
para a Formação Solimões, três são extintos:
Formação Solimões e sua relação com outras
Paradracaena, Colombophis e Waincophis, além da
localidades fossilíferas da América do Sul é ainda
presença de táxons com representantes viventes,
controversa, devido ao fraco estabelecimento de
tais como Eunectes e Epicrates, que ocorrem
correlação entre os diferentes níveis estratigráficos
atualmente na Bacia Amazônica. O extinto gênero
das distintas localidades onde a formação é
Paradracaena representa o primeiro registro de
exposta, o que é agravado pela carência de datações
lagartos para o Mioceno superior do sudoeste da
(Latrubesse et al., 2007). Segundo Latrubesse et
Amazônia brasileira, bem como o mais antigo
al. (1997) a associação faunística de mamíferos
registro para o Néogeno do Brasil. A ocorrência
da região sudoeste da Amazônia brasileira
dos boídeos recentes Eunectes e Epicrates para a

682
Formação Solimões sugere uma provável origem de la Humanidad. Caracas: Editora Arte,
anterior ou até mesmo no Mioceno, corroborando 148 p.
com os dados moleculares propostos (Noonan &
Chipindale, 2006). A revisão taxonômica do extinto COZZUOL, M.A. 2006. The Acre vertebrate
gênero Colombophis permitiu a alocação tentativa fauna: age, diversity, and geography. Journal
deste gênero entre serpentes aletinofídeas basais of South American Earth Sciences, 21: 185-
não-anilióideas, e o reconhecimento de uma nova 203.
espécie, C. spinosus. Anteriormente, Colombophis
havia sido registrado apenas para o Mioceno HAMBALEK,N.;RULL,V;,DE DIGIACOMO,
médio da Colômbia e Venezuela (Hoffstetter & E. & DÍAZ DE GAMERO, M.L. 1994.
Rage, 1977; Hecht & Laduke, 1997; Head, et Evolución paleoecológica y paleoambiental
al., 2006) e agora é reportado pela primeira vez de la secuencia del Neógeno en el surco de
para o Mioceno superior do Brasil, bem como a Urumaco. Estudio palinológico y litológico.
nova espécie C. spinosus também registrada para Boletín de La Sociedad Venezolana de
o Mioceno da Colômbia, Venezuela e Brasil. Geología, 191: 7-19.
Os registros das serpentes extintas Waincophis
HEAD, J.J.; SÁNCHEZ-VILLAGRA, M.R. &
e Colombophis para o sudoeste da Amazônia
AGUILERA, O.A. 2006. Fossil snakes from
brasileira implicam pelo menos a sobrevivência
the Neogene of Venezuela (Falcón State).
destes até o Mioceno superior, bem como o registro
Journal of Systematic Palaeontology, 4: 233-
de aff. Epicrates, cuja identificação taxonômica
240.
estiver correta, representaria o registro mais antigo
do gênero para a América do Sul. Da mesma HECHT, M.K. & LADUKE,T.C. 1997. Limbless
forma, os restos de “Colubridae” representam tetrapods. In: KAY, R.F.; MADDEN R.H.;
como um todo os mais antigos registros desta CIFELLI, R.L. & FLYNN, J.J. (eds.)
família para o Neógeno do Brasil. A associação de Vertebrate Paleontology in the Neotropics –
escamados para o Mioceno superior do sudoeste The Miocene Fauna of La Venta, Colombia,
da Amazônia brasileira demonstra similaridades Washington and London, Smithsonian
ecológicas entre as faunas miocênicas do norte da Institution Press, p. 95-99.
América do Sul (e.g. La Venta fauna na Colombia
e região de Urumaco na Venezuela), evidenciada HOFFSTETTER, R. & RAGE, J.C. 1977. Le
pela presença de Eunectes e Paradracaena, bem gisement de vertébrés miocènes de La Venta
como a presença de Colombophis nestas regiões. A (Colombie) et sa faune de serpents. Annales
predominância de elementos faunísticos tropicais de Paléontologie (Vertébrés), 63: 161-190.
e ambientes associados combinam com o suposto
estilo de vida dos lagartos e serpentes registrados HSIOU, A.S. 2010. Lagartos e serpentes
para essas regiões. Da mesma forma, os escamados (Lepidosauria, Squamata) do Mioceno
do sudoeste da Amazônia brasileira poderiam médio-superior da região norte da América
ter persistido até o Mioceno superior na região do Sul. Programa de Pós-Graduação em
sudoeste da Amazônia brasileira; ou os escamados Geociências, Universidade Federal do Rio
fósseis registrados para o sudoeste da Amazônia Grande do Sul, Tese de Doutorado, 278 p.
brasileira (principalmente aqueles provenientes
do sítio Talismã) poderiam estar alocados no HSIOU, A.S. & ALBINO, A.M. 2009. Presence
Mioceno médio (Laventense). of the genus Eunectes (Serpentes, Boidae)
in the Neogene of southwestern Amazonia,
Brazil. Journal of Herpetology, 43: 612-619.
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AGUILERA, O.A. 2004. Tesoros Paleontológicos
J. 2009. First lizard remains (Teiidae) from
de Venezuela: Urumaco, Patrimonio Natural
the Miocene of Brazil (Solimões Formation).

683
Revista Brasileira de Paleontologia, 12: 225- Universidade Católica do Rio Grande do
230. Sul, Tese de Doutorado, 156 p.

HSIOU, A.S. & ALBINO, A.M. 2010. New NEGRI, F.R.; VILLANUEVA, J.B.;
snake remains from the Miocene of northern FERIGOLO, J. & ANTOINE, P.O. 2010. A
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in southwestern Amazonia and its regional alguns Tardigrada (Edentata, Mammalia) da
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23: 61-80. CONGRESSO BRASILEIRO DE
PALEONTOLOGIA E SIMPÓSIO
MADDEN, R.H.; GUERRERO, J.; KAY, PALEONTOLÓGICO DO CONE SUL,
R.F.; FLYNN, J.J.; SWISHER III, C.C. 13 e 1, 1993. Boletim de Resumos, São
& WALTON, A.H. 1997. The Laventan Leopoldo, UNISINOS, p. 137.
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R.H.; CIFELLI, R.L. & FLYNN, J.J. (ed.)
Vertebrate Paleontology in the Neotropics –
The Miocene Fauna of La Venta, Colombia,
Washington and London, Smithsonian
Institution Press, p 499-519.

NEGRI, F.R. 2004. Os Tardigrada (Mammalia,


Xenarthra) do Neógeno, Amazônia
Sul-Ocidental, Brasil. Programa de Pós-
Graduação em Zoologia, Pontifícia

684
VARIAÇÕES INTRAESPECÍFICAS NOS OSSOS TARSAIS
DE MASTODONTE DO NORDESTE BRASILEIRO
Fernanda Porcari Molena1,2 (nan.porcari@gmail.com), Elizabeth Höfling1 (ehofling@ib.usp.br),
Herculano Alvarenga2 (halvarenga@uol.com.br)
Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências; 2Museu de História Natural de Taubaté
1

RESUMO Na face plantar, a borda lateral da superfície


articular astrágalo-calcaneana-medial pode ser
Uma análise morfológica de astrágalos e
evidentemente côncava (Figura 1.A), retilínea
calcâneos de mastodontes do Nordeste brasileiro
(Figura 1.B), ou mesmo convexa (Fig. 1.C). Esta
revela que as diferenças intraespecíficas são
mesma face articular ainda pode variar em suas
de grande amplitude no grupo. O melhor
proporções de comprimento e largura. Em vista
conhecimento das variações individuais de todo
distal, a articulação com o navicular pode atingir
esqueleto, incluindo em exemplares de outras
o extremo lateral do astrágalo (Fig. 2.B), ou pode
procedências, pode ser de grande importância no
ser mais reduzida, deixando um prolongamento
reconhecimento da real diversidade que habitava
lateral sem superfície articular (Figura 2.A).
o Pleistoceno da América do Sul.
Em decorrência da variação supracitada, a
Palavras-chave: diferenças
separação das superfícies articulares do navicular
intraespecíficas, mastodontes, Pleistoceno
e a subastragalina lateral pode ser bem estreita ou
amplamente afastada. Outras variações menores,
INTRODUÇÃO ou decorrentes daquelas acima citadas, dispensam
Em estudo preliminar de ossos de mais comentários.
megafauna de mamíferos típicos do Pleistoceno, No calcâneo, as superfícies articulares
coletados por um dos autores (HA), no Estado medial e lateral para o astrágalo, sob vista dorsal,
de Pernambuco, Brasil, em 2003 e depositados apresentam também grande variação na forma e
no Museu de História Natural de Taubaté, SP, extensão, resultando em diferenças na extensão,
Brasil, foram analisados os ossos atribuídos a largura e profundidade do sulco localizado entre
mastodontes. Todos procedem de uma única elas (Figura 3). Ainda nessa vista, pode-se observar
coleta, da mesma cacimba e atribuídos a uma que o tubérculo do calcâneo mostra variações,
única espécie, Stegomastodon waringi, com base podendo ser mais longo e estreito ou mais curto e
na distribuição geográfica (Paula-Couto, 1979; largo. Na borda lateral, a superfície articular para
Alberdi & Prado, 1995). Com o objetivo de a fíbula pode ser oval, quase esférica (Figura 4.A)
conhecer as variações intraespecíficas no pós- ou muito alongada, com o comprimento sendo
crânio, foram analisados oito ossos tarsais, que o dobro da largura (Figura 4.B), com formas
consistem de quatro astrágalos esquerdos e quatro intermediárias. A face articular para o cuboide
calcâneos, dos quais três são esquerdos e um apresenta variações quanto à inclinação em relação
direito. ao eixo longitudinal do osso (Figura 5).

RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÕES


O estudo do material demonstrou As amplitudes de variações intraespecíficas
grande variação intraespecífica entre os ossos são de grande importância no conhecimento de
homólogos. Algumas variações foram destacadas um táxon e possibilitam comparação mais segura
e são descritas abaixo, sendo desconsideradas as com seus similares.
diferenças de tamanho. No astrágalo, a superfície
articular com a tíbia pode ser levemente côncava
ou convexa, no sentido transverso do osso.

685
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS millones de anos. Un ensayo de correlación
con el Mediterraneo occidental. p. 279-291.
ALBERDI, M.Y. & PRADO, J.L. 1995. Los
mastodontes de America del Sur. In: PAULA-COUTO, C. 1979. Tratado de
ALBERDI, M. T.; LEONE, G. & TONNI, Paleomastozoologia. Academia Brasileira de
E.P. Evolucion biológica y climática de la Ciências, Rio de Janeiro. 590 p.
Región Pampeana durante los últimos 5

Figura 1. Astrágalos esquerdos de Stegomastodon waringi em vista plantar. Observar a forma da borda lateral da
articulação astrágalo-calcaneana-medial (seta). A) MHNT-VT 1646. B) MHNT-VT 1644. C) MHNT-VT 1642.

Figura 2. Astrágalos esquerdos de Stegomastodon waringi em vista distal. A articulação para o navicular não atinge o
extremo lateral do osso (seta) em A. A) MHNT-VT 1642. B) MHNT-VT 1646.

Figura 3. Calcâneos esquerdos de Stegomastodon waringi em vista dorsal. Observar variações na extensão e largura
das articulações para o astrágalo (em destaque) e no sulco localizado entre elas. A) MHNT-VT 1641, B) MHNT-VT 1640.

686
Figura 4. Calcâneos esquerdos de Stegomastodon waringi em vista dorso-lateral. Observar a forma da articulação para
a fíbula (em destaque). A) MHNT-VT 1639. B) MHNT-VT 1641.

Figura 5. Calcâneos de Stegomastodon waringi em vista plantar. Observar a forma do tubérculo (seta 1) e a inclinação da
articulação para o cubóide (seta 2) em relação ao eixo longitudinal do osso. A) MHNT-VT 1640, esquerdo. B) MHNT-VT
1638, direito (invertido para comparação).

687
A PRESENÇA DE EREMOTHERIUM LAURILLARDI (MAMMALIA,
XENARTHRA, MEGATHERIIDAE) NO QUATERNÁRIO
DE UBERABA, TRIÂNGULO MINEIRO, BRASIL
Agustín Guillermo Martinelli¹, Patrícia Fonseca Ferraz¹, Gabriel Cardoso Cunha¹, Isabella Cardoso Cunha¹, Luiz Carlos Borges
Ribeiro¹, Francisco Macedo Neto¹, Camila Lourencini Cavellani¹, Vicente de Paula Antunes Teixeira¹, Mara Lúcia da Fonseca
Ferraz¹, Ismar de Souza Carvalho²
1
Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP/UFTM). Centro de Pesquisas
Paleontológicas L.I. Price. Rua Frei Paulino, 30. Abadia, 38.025-180 Uberaba – MG. Brasil;
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Geologia, CCMN/IGEO. 21.949-900 Cidade Universitária. Ilha do
Fundão. Rio de Janeiro – RJ. Brasil

RESUMO encontra-se depositado no Centro de Pesquisas


Paleontológicas Llewellyn Ivor Price (CPP) do
No presente trabalho é apresentado
Complexo Cultural e Científico de Peirópolis,
material fóssil do pleistoceno atribuído à preguiça
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
gigante Eremotherium laurillardi (Mammalia,
(CCCP/UFTM), Uberaba (MG), Brasil.
Xenarthra, Megatheriidae). O material provém
da malha urbana da cidade de Uberaba, MG, A descoberta provém da localidade
sendo composto por ossos cranianos e pós- conhecida como Córrego da Saudade situado
cranianos, depositados no Centro de Pesquisas próximo ao bairro Grande Horizonte. Os fósseis
Paleontológicas L. I. Price/UFTM (Peirópolis, foram achados em um nível de sedimentos
Uberaba, MG). Constituem os primeiros registros arenosos, pouco consolidados, de cor cinza, com
fósseis da megafauna pleistocênica de Uberaba no clastos arredondados de quartzo e angulosos de
Triângulo Mineiro. arenitos da Formação Uberaba (Grupo Bauru).
Às vezes estes depósitos possuem abundante
Palavras-chave: Megatheriidae,
presença de material orgânico na forma de
Eremotherium, Uberaba, Minas Gerais,
fragmentos de vegetais. O nível fossilífero tem
Quaternário
espessura entre 0,60 e 1,70 metros, preenchendo
discordantemente o paleorelevo composto
ABSTRACT de arenitos verdes da Formação Uberaba que
In this paper, Pleistocene fossil material constitui o leito atual da drenagem. A jusante
attributed to the giant ground sloth Eremotherium sentido Rio Uberaba, estes depósitos sobrepõem
laurillardi (Mammalia, Xenarthra, Megatheriidae) discordantemente os basaltos da Formação Serra
is communicated. The material comes from Geral. Este contexto geológico possivelmente
the city of Uberaba, MG, and is composed constitui uma haloformação até então não
of cranial and postcranial bones deposited at descrita na bibliografia possuindo distribuição
CPP/UFTM (Peirópolis, Uberaba, MG). This local. Recobrindo o nível fossilífero, há uma
finding constitutes the first record of Pleistocene capa argilosa negra turfácea que varia de 2 à 4 m.
megamammals in Uberaba District and in the Análises palinológicas dos sedimentos turfáceos
Triângulo Mineiro region. apontam para vegetais do bioma Cerrado atual.
Keywords: Megatheriidae, Eremotherium,
Uberaba, Minas Gerais State, Quaternary RESULTADOS E CONCLUSÕES
Numerosos materiais achados (CPP
INTRODUÇÃO 1122) na cidade de Uberaba indicam a presença
O presente trabalho vem noticiar da preguiça gigante Eremotherium laurillardi. O
a primeira ocorrência de materiais fósseis material inclui fragmentos cranianos, dentários e
na região relacionado à preguiça terrestre pós-cranianos. O comprimento proximal maior
gigante Eremotherium laurillardi (Xenarthra, do fêmur (405 mm) se comparado com outros
Megatheriidae). O material apresentado espécimens de Eremotherium laurillardi (Tito,

688
2008) sugere que CPP 1122 constitui um individuo CARTELLE, C. & DE IULIIS, G. 1995.
sub-adulto ou adulto de grande tamanho. Baseado Eremotherium laurillardi: the panamerican
no nível alveolar dos alvéolos do M1-M2 direito Late Pleistocene megatheriid sloth. Journal
de CPP 1122, o arco zigomático e a orbita estão of Vertebrate Paleontology, 15(4):830-841.
numa posição mais ventral em comparação com a
condição de M. americanum. O processo ventral CARTELLE, C. & DE IULIIS, G. 2006.
da mandíbula é menor que em M. americanum, Eremotherium laurillardi (Lund) (Xenarthra,
de proporções similares a E. laurillardi. Como Megatheriidae), the Panamerican giant
na espécie brasileira, a sínfise mandibular se ground sloth: taxonomic aspects of the
desenvolve posteriormente ate o nível do M1; ontogeny of skull and dentition. Journal of
em M. americanum o desenvolvimento é mais Systematic Palaeontology, 4 (2):199-209.
posterior. Outra característica típica da mandíbula
de Eremotherium é a posição mais ventral do TITO, G. 2008. New remains of Eremotherium
processo angular em comparação a condição de M. laurillardi (Lund, 1842) (Megatheriidae,
americanum. Estes caracteres sugerem a inclusão Xenarthra) from the coastal region of
de CPP 1122 na espécie brasileira E. laurillardi. Ecuador. Journal of South American Earth
Sciences, 26:424-434.
Os achados de material Quaternário
na região de Uberaba (Triângulo Mineiro)
abrem uma nova linha de pesquisa já que até o
presente, os estudos de paleovertebrados estavam
principalmente focados na assembléia fóssil do
Cretáceo Superior do Grupo Bauru. Prospecções
sistemáticas em afloramentos quaternários
da região poderão aportar novos dados, o que
possibilitará comprovar ou não a extensão destes
depósitos fossilíferos em escala regional e, por
conseguinte, nortear projetos futuros destinados
aos estudos pormenorizados da paleomastofauna
quaternária na região de Uberaba.

AGRADECIMENTOS
Esta contribuição foi desenvolvida
com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG),
o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e a Fundação de Ensino e Pesquisa de
Uberaba (FUNEPU/UFTM).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARTELLE, C. 1994. Tempo Passado. Mamíferos
do Pleistoceno em Minas Gerais. Editorial
Palco, Belo Horizonte, MG.

CARTELLE, C. 2000. Preguiças terrícolas, essas


desconhecidas. Ciência Hoje, 27(161):18-25.

689
S-12:
Paleovertebrados
(Paleozoico e Mesozoico)
ASPECTOS CURSORIAIS EM DINOSSAUROS THEROPODA-
COELUROSAURIA DO PALEODESERTO BOTUCATU (JURÁSSICO
SUPERIOR-CRETÁCEO INFERIOR) DA BACIA DO PARANÁ
Marcelo Adorna Fernandes1 (mafernandes@ufscar.br), Ismar de Souza Carvalho2 (ismar@geologia.ufrj.br)
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar; 2Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
1

RESUMO planeta, registrado pela Formação Serra Geral


Para compreender o comportamento (Almeida & Melo, 1981).
cursorial de dinossauros bípedes, foi realizado A Pedreira São Bento, de onde foram
um experimento simples de observação de aves coletadas as lajes contendo icnofósseis atribuídos
ratitas atuais, especificamente da Rhea americana a Theropoda-Coelurosauria, apresenta a secção de
(ema), cujos autopódios são parecidos com os de uma grande duna com 20 m de altura e 100 m
dinossauros Theropoda. Aspectos preservacionais de comprimento, exibindo a feição de foreset com
e locomotoriais foram analisados. As variações mergulho de 29º aproximadamente em direção
preservacionais das pegadas fossilizadas nos S-SW.
arenitos da Formação Botucatu refletem as Com o intuito de melhor aferir as
condições relacionadas à consistência do substrato interpretações sobre o comportamento cursorial
em função da umidade e também das velocidades de dinossauros bípedes, foi realizado um
e direções diferentes, adotadas pelos animais experimento simples de observação de aves
durante o percurso através das paleodunas. ratitas atuais, especificamente da Rhea americana
Palavras-chave: Neoicnologia, Formação (ema) (Figuras 1A - H), cujos autopódios são
Botucatu, Theropoda excepcionalmente parecidos com os de dinossauros
Theropoda.
ABSTRACT
Discussão sobre os icnitos de
To understand the behavior of cursorial
dinossauros Theropoda-Coelurosauria
bipedal dinosaurs, an experiment was conducted
watching ratites birds, specifically the Rhea As pegadas de Coelurosauria são tridáctilas,
americana, whose autopodia are exceptionally mais compridas do que largas, digitígradas e
similar to the dinosaur Theropoda. Locomotion mesaxônicas. Relação comprimento da pegada/
and preservational aspects were analyzed. largura da pegada em torno de 1,7. Relação largura
The preservational variations of the fossilized da pista/largura da pegada em torno de 1,6. O dígito
footprints in sandstones of the Botucatu III possui ligeira curvatura em relação ao eixo da
Formation are consistent with aspects related to pegada. Dígitos II e IV curtos em comparação ao
the consistency of the substrate as a condition dígito III, porém o dígito II é maior que o IV.
of humidity and also the speeds and different Aparentemente os dígitos II e IV apresentam
directions taken by the animals during the journey pequeno encurvamento interno à pegada. Na
through the paleodunes. maioria das pegadas a garra do dígito III é bem
evidente e curvada. Nas formas pequenas os três
Keywords: Neoichnology, Botucatu
dígitos apresentam garras evidentes. O hypex é em
Formation, Theropod
forma de “V”. Existe o intumescimento na porção
proximal do dígito III, porém com afinamento
INTRODUÇÃO pronunciado nas extremidades, onde se inserem as
A Formação Botucatu representa um garras. Apresenta o padrão de pegadas atribuíveis
extenso campo de dunas iniciado no Jurássico, ao grupo dos Coelurosauria. Ângulos interdigitais
sobre o antigo continente Gondwânico, que foi entre 20o e 30o. Apresenta divergência total entre
recoberto no Eocretáceo pelo mais volumoso os dígitos II e IV de 40º a 50º.
episódio de vulcanismo intracontinental do

693
A pista de 213,0 cm de extensão e 20,0 cm Janeiro (IVP-FAPERJ) pelo suporte financeiro.
de largura, produzida por uma ema com 90,0 cm As Universidades Federais do Rio de Janeiro e de
de altura (cintura pélvica) apresenta pegadas com São Carlos pelo suporte técnico e infra-estrutura.
14,6 cm de comprimento e 12,0 cm de largura,
com passo oblíquo e meio-passo de 50,0 cm. A
relação entre o comprimento de uma pegada e sua
CONCLUSÕES
largura é de 1,2 e a divergência entre os dígitos A maior ocorrência de pegadas de
II e IV é de 70º. A partir do movimento destas Coelurosauria pode ser um reflexo das condições
aves em velocidades diferentes sobre o substrato preservacionais do ambiente, que favoreceria a
arenoso inconsolidado, foi possível estabelecer preservação de pegadas, ou undertracks, com
o padrão morfométrico das pistas produzidas proporções menores produzidas por dinossauros
por emas e compará-lo com os dos grupos de com pequena massa corporal e que também
dinossauros estudados. A pista produzida pela dependeriam da maior ou menor umidade em
ema muito se assemelha com a pista MPA 205 subsuperfície.
(Figura 2A), com ângulos de passo elevados e da Dependendo da consistência das areias
ordem de 170º. no foreset e da velocidade desenvolvida pelos
Leonardi (1991) estudando as icnofaunas animais, os ângulos interdigitais poderiam variar
sul-americanas observou que havia uma consideravelmente. A direção do movimento em
freqüência de dinossauros Theropoda de até relação ao plano inclinado também poderia fazer
87%, com predominância de Coelurosauria para variar os ângulos e até mesmo a morfologia dos
paleoambientes desérticos, sugerindo que este dígitos.
grupo seria mais bem adaptado às regiões áridas e As variações preservacionais das
desérticas que outros grupos de dinossauros. pegadas fossilizadas nos arenitos da Formação
Segundo Thulborn (1990) podem ocorrer Botucatu condizem com aspectos relacionados à
variações dos ângulos interdigitais, dentro de uma consistência do substrato em função da umidade
mesma espécie, dependendo da consistência do e também das velocidades e direções diferentes,
substrato. adotadas pelos animais durante o percurso através
As imagens correspondendo às pistas de das paleodunas.
MPA-231A e MPA-200 foram redimensionadas
de forma a ocorrer uma sobreposição total, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
revelando a semelhança de padrões morfométricos
(Figuras 2B). Isso certamente se deve ao fato ALMEIDA, F.F.M. & MELO, C. 1981. A
de que dentro do grupo ocorre uma mesma Bacia do Paraná e o vulcanismo Mesozoico.
icnoespécie, diferindo apenas no tamanho. In: BISTRICHI, C.A.; CARNEIRO,
Portanto considerados aqui como estádios C.D.R.; DANTAS, A.S.L. & PONÇANO
ontogenéticos distintos, dentro da mesma W.L. (eds.) Mapa Geológico do Estado de
categoria parataxonômica. Então coexistiram São Paulo – nota explicativa. Instituto de
formas juvenis e formas consideradas adultas de Pesquisas Tecnológicas, 1, p. 46-47.
Coelurosauria neste contexto paleoambiental.
LEONARDI, G. 1991. Inventory and statistics of
the South American dinosaurian ichnofauna
AGRADECIMENTOS and its paleobiological interpretation. In:
Ao Professor Dr. Giuseppe Leonardi pelo GILLETTE, D.D. & LOCKLEY, M.G.
material cedido para consulta e referência. A Dra. (eds.) Dinosaur tracks and traces. Cambridge
Luciana Bueno dos Reis Fernandes pelas sugestões University Press, p. 165-178.
e auxílio na elaboração das figuras. Ao Conselho
THULBORN, T. 1990. Dinosaur tracks. London,
Nacional de Desenvolvimento Científico e
British Library Cataloguing in Publication
Tecnológico (CNPq) e Fundação Carlos Chagas
Data, 409 p.
Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de

694
Figura 1. A, B, C, sequência de locomoção de uma ema (Rhea americana); D, E, autopódios tridáctilos de uma ema em
detalhe; F, pegada tridáctila de uma ema impressa em substrato arenoso, posteriormente umedecida para realçar os
detalhes morfológicos; G, pista produzida por ema em substrato arenoso; H, esquema de uma pista produzida por uma
ema. Escalas em centímetros.

695
Figura 2. A, sobreposição da pista produzida por uma ema (Rhea americana) com MPA-205 (Coelurosauria); B,
sobreposição de MPA-231A com MPA-200, ambas de dinossauros Coelurosauria.

696
ASPECTOS DIAGENÉTICOS DE VERTEBRADOS DA
BACIA BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR
Karine Lohmann Azevedo1 (karine.lohmann@gmail.com), Cristina Silveira Vega1 (cvega@ufpr.br),
Luiz Alberto Fernandes1 (lufernandes@ufpr.br)
Universidade Federal do Paraná
1

RESUMO nordeste do Paraguai correspondendo a uma área de


aproximadamente 370.000 km2. O preenchimento
A Bacia Bauru, Cretáceo Superior, abrange
da bacia se deu em clima semi-árido a árido,
uma área de aproximadamente 370.000 km2,
durante o Cretáceo Superior. Desenvolveu-se
ocupando parte dos estados de São Paulo, Paraná,
como bacia continental interior, pós-ruptura
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
do continente gondwânico, acumulando uma
Goiás e ainda o nordeste do Paraguai. Entre os
sequência sedimentar essencialmente arenosa
vertebrados fósseis estão crocodilos e dinossauros
e está dividida nas formações Uberaba, Vale do
em maior abundância, e também peixes,anuros,q
Rio do Peixe, Araçatuba, São José do Rio Preto,
uelônios,Squamata, aves e mamíferos. Em relação
Presidente Prudente e Marília. Entre os registros
à tafonomia, alguns estudos têm sido realizados.
fósseis, os crocodilos e dinossauros têm maior
Essa comunicação traz uma breve abordagem
abundância, todavia também há bons registros
sobre características diagenéticas dos fósseis de
de quelônios e peixes. Já anuros, Squamata, aves
vertebrados registrados na Bacia Bauru. Para isso
e mamíferos têm registros escassos. Carófitas
foram analisadas em microscópio petrográficosob
e invertebrados são citados com freqüência,
luz normal e polarizada, 19 seções delgadas de
mostrando serem abundantes, porém, muitas vezes
fósseis da bacia. A analise indicou que, em geral,
aparecem citados em trabalhos de descrições de
as estruturas ósseas estão bem preservadas, com
vertebrados e não são discutidos especificamente.
preenchimento de vazios por calcita espática e
Também ocorrem icnofósseis, ovos, gastrólitos e
manutenção da matéria fosfática original. Na
coprólitos. Alguns trabalhos sobre tafonomia têm
maioria dos casos é possível o reconhecimento
sido feitos na bacia sendo que a maioria dos fósseis
da laminação concêntrica, lamelas e vazios dos
encontra-se fragmentada e os melhores registros
osteócitos, porém, existem particularidades de
estão entre os répteis, principalmente crocodilos
acordo com a unidade geológica. O Membro
e tartarugas.
Echaporã. Formação Marília,é o que apresenta
menor preservação das estruturas e da composição
fosfática decorrente de uma acentuada cimentação ASPECTOS DIAGENÉTICOS
carbonática. Na Formação Uberaba, a cimentação DE VERTEBRADOS DA BACIA
por óxidos/hidróxidos ocorre em maior quantidade
BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR
e está relacionada à proximidade com os basaltos
da Formação Serra Geral, sotopostos. O estudo Essa comunicação traz uma breve
de lâminas petrográficas de fósseis auxilia na abordagem sobre características diagenéticas
contextualização paleoambiental previamente dos fósseis de vertebrados registrados na Bacia
fundamentada em estudos geológicos. Bauru. Foram analisadas 19 seções delgadas de
Palavras-chave: Bacia Bauru, análise fósseis encontrados durante trabalho de campo
petrográfica, diagênese na região de Uberaba (MG), assim como de
fósseis doados pelos Museus de Paleontologia
de Monte Alto (SP), Museu dos Dinossauros
INTRODUÇÃO de Uberaba (MG) e de acervo do terceiro autor.
A Bacia Bauru abrange ocupa parte dos Foram analisadas quatro lâminas petrográficas da
estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Formação Vale do Rio do Peixe, três da Formação
Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e ainda o Uberaba, dez da Formação Marília e duas da

697
Formação Presidente Prudente. As lâminas foram por fragmentos, neste afloramento, o que indica
observadas com microscópio petrográficosob luz transporte e exposição, e em contrapartida pela
normal e polarizada, no qual foram feitas imagens ótima preservação das estruturas observadas em
digitais das estruturas osteológicas e minerais mais lâminas petrográficas, pode-se supor que ocorreu
relevantes para a análise tafonômica/diagenética. um retrabalhamento do material previamente
As lâminas, assim como as amostras ósseas, foram soterrado e fossilizado, corroborando com a ideia
cadastradas no Laboratório de Paleontologia do de Fernandes (1998) para a interpretação da
Setor de Ciências da Terra da UFPR. A análise presença de rios entrelaçados, com momentos de
indicou que, em geral, as estruturas ósseas estão enxurradas.
bem preservadas, com preenchimento de vazios Em relação à preservação, o Membro
por calcita espática e manutenção da matéria Echaporã (Formação Marília) é o que
fosfática original. Na maioria dos casos é possível apresenta-se mais distinto em relação às demais
o reconhecimento da laminação concêntrica, unidades, visto que a preservação da composição
lamelas e vazios dos osteócitos com algumas fosfática é relativamente menor, tendo sido
particularidades de acordo com a formação substituída pela calcita. Nos fragmentos ósseos
geológica. analisados, verificou-se maior quantidade de
Nas amostras das formações Vale do Rio material sedimentar imaturo preenchendo vazios
do Peixe e Presidente Prudente ocorre calcita da estrutura óssea, indicando que estes ossos
espática, e é possível a observação das estruturas. permaneceram mais expostos e foram fraturados
No arcabouço do arenito da primeira formação, antes do soterramento, possibilitando a entrada
foram observados fragmentos de rochas ígneas de material detrítico. Fernandes (1998) também
provavelmente provenientes dos basaltos do enfatizou que no Membro Echaporã a calcita
embasamento da bacia, da Formação Serra Geral substituiu em grande parte o material fosfático,
(Figuras 1.1 e 1.2). Na segunda formação, há como decorrência da maior disponibilidade de
óxido/hidróxido com aspecto pontiagudo (Figura Ca e CO3 no ambiente. Apesar da cimentação
1 .3). carbonática intensa neste membro, foram
Na Formação Uberaba, a cimentação por mantidos os contornos originais dos ossos e é
óxidos/hidróxidos ocorre em maior quantidade possível identificar as estruturas (Figura 1.6).
e é posterior à calcítica. Provavelmente isto se
deve à proximidade com os basaltos da Formação
CONCLUSÕES
Serra Geral, sotopostos. A presença destes óxidos
já havia sido comentada por Goldberg (1995) As estruturas ósseas estão bem preservadas
independente da formação de proveniência
para essa formação. Ainda em uma das lâminas,
do fóssil. Sempre há preenchimento de vazios
há prováveis cristais zonados de dolomita,
por calcita espática e manutenção da matéria
relacionados a temperaturas altas (Figura 1.4). fosfática original. Na maioria dos casos é possível
No Membro Serra da Galga, Formação o reconhecimento da laminação concêntrica,
Marília, destaca-se o afloramento no km 153 da lamelas e vazios dos osteócitos com algumas
BR 050, entre Uberaba e Uberlândia (MG). Nesta particularidades de acordo com a formação
localidade, os fósseis são encontrados em diversos geológica.
intervalos estratigráficos, praticamente em toda A presença de cimento calcítico em
a seção exposta, quase sempre desarticulados todas as amostras é condizente com o ambiente
e fragmentados, com exceção do dinossauro continental interior semi-árido a árido, admitido
Uberabatitanribeiroi. Em análise petrográfica, a por estudos da evolução sedimentar da bacia.
estrutura dos ossos está bem preservada, tendo Momentos de chuvas intensas e períodos secos
ocorrido primeiro a entrada do material detrítico se intercalavam, e durante estes últimos, a água
era rapidamente evaporada, favorecendo a
imaturo, depois do carbonato espático, e por
precipitação do carbonato (Holz& Schultz, 1998).
último uma percolação dos óxidos/hidróxidos
O estudo de lâminas petrográficas, considerando
de ferro e manganês (Figura 1.5). Considerando a estrutura óssea e o sedimento associado, pode
que a maior parte do registro está caracterizada auxiliar na contextualização paleoambiental.

698
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Dissertação de Mestrado, Universidade do
Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS, RS, 181
FERNANDES L.A. 1998. Estratigrafia e p.
evolução geológica da parte oriental da
Bacia Bauru (Ks, Brasil).Tese de Doutorado, HOLZ, M. & SCHULTZ, C.L. 1998.Taphonomy
Instituto de Geociências, Universidade de of the south Brazilian Triassic herpetofauna:
São Paulo (USP). São Paulo. 216 p. fossilization mode and implications for
morphological studies. LETHAIA n. 31,
GOLDBERG, K. 1995. Reconstituição 335- 345.
paleoambiental do Cretáceo continental
brasileiro na região do Triângulo Mineiro.

Figura 1. 1: Fotomicrografia do material proveniente da Formação Vale do Rio do Peixe (UFPR 0157 PV B), com nicóis
cruzados. A. Calcita espática B. Vazio dos osteócitos. 2. Fotomicrografia do material proveniente da Formação Vale do
Rio do Peixe (UFPR 0155 PV B). A. Feldspato. B. Fragmento de rocha ígnea. 3. Fotomicrografia do material proveniente
da Formação Presidente Prudente (UFPR 0126 PV B), com nicóis cruzados. A. Estrutura óssea. B. Calcita espática. C.
Óxido com aspecto pontiagudo. 4. Fotomicrografia do material proveniente da Formação Uberaba (UFPR 0159 PV B).
A. Dolomita. B. Ósteons. C. Óxido. 5. Fotomicrografia do material proveniente do Membro Serra da Galga, Formação
Marília (UFPR 0129 PV B). A. Carbonato esparítico. B. Carbonato micrítico. C. Microfraturas. 6. Fotomicrografia do
material proveniente do Membro Echaporã, Formação Marília (UFPR 0136 PV B). Notar a baixa preservação da matéria
orgânica, A. calcita espática e B. óxido.

699
BREVE NOTA SOBRE NOVOS MATERIAIS PÓS-CRANIANOS DE
TAPEJARIDAE (PTEROSAURIA, PTERODACTYLOIDEA)
Alex Sandro Schiller Aires1,2, Alexander Wilhelm Armin Kellner3, Sérgio Dias-Da-Silva1
¹Laboratório de Paleobiologia, Universidade Federal do Pampa; ²Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da
Universidade Federal do Pampa; ³Laboratório de Sistemática e Tafonomia de Répteis Fósseis,Departamento de Geologia e
Paleontologia, Museu Nacional/UFRJ

RESUMO individual reached between two and three meters.


The arrangement of the bones indicates that they
O estudo de tapejarídeos (Pterosauria,
were exposed for some time before burrial which
Pterodactyloidea, Tapejaridae) do nordeste do
leaded to the loss of several elements. This is a
Brasil é baseado na sua maioria em elementos do
rare record of post-cranial bones for Tapejaridae
crânio. Esta contribuição descreve brevemente
in Brazil and contributes to a better knowledge of
e faz comentários sobre a condição tafonômica
the pterosaurs classified in that clade.
sobre alguns materiais pós-cranianos referidos a
estes pterossauros, que foram preservados em um Keywords: Romualdo Formation,
nódulo calcário da Formação Romualdo (Aptiano, Pterosaurs, Postcranial-elements
Bacía do Araripe, Ceará). O material compreende
um úmero direito, escápulas, notarium, processo INTRODUÇÃO
coracóide, um esterno parcial, fragmentos de Fósseis de tapejarídeos foram encontrados
ossos longos, algumas poucas vértebras, costelas e em depósitos do Cretáceo Inferior (Aptiano-
elementos ainda não identificados. As medições Albiano) tanto no nordeste do Brasil (com
destes elementos sugerem que a envergadura da quatro espécies na Formação Romualdo e
asas do indivíduo era de dois à três metros. O uma na Formação Crato), quanto na África
arranjo dos ossos indica que eles foram expostos (Cenomaniano) e na China (Aptiano) (Wellnhofer
por algum tempo antes que o material fosse & Buffetaut, 1999; Wang & Zhou, 2003; Lu &
soterrado, havendo a perda de vários elementos. Yuan, 2005; Kellner & Campos, 2007). Dentre os
Este é um registro raro de ossos do pós-crânio para tapejarídeos brasileiros, materiais pós-cranianos
Tapejaridae do Brasil e contribui para um melhor são bastante raros e conhecidos apenas em
conhecimento dos pterossauros classificados neste Tupuxuara leonardii (Kellner & Campos, 1994),
clado. Tupuxuara longicristatus (Kellner & Campos,
Palavras Chave: Formação Romualdo, 1988), e Tapejara wellnhoferi (Kellner,1989).
Pterossauro, Elementos pós-craniais Outros tapejarídeos são baseados apenas em
material craniano como Tupandactylus imperator
(Campos & Kellner, 1997) e Talassodromeus sethi
ABSTRACT (Kellner & Campos, 2002). Nesta contribuição
The study of tapejarids (Pterosauria, novos materiais pós-cranianos provenientes da
Pterodactyloidea, Tapejaridae) from northeastern Formação Romualdo, bem como considerações
Brazil are mostly based on cranial elements. This sobre seu estado tafonômico são apresentados.
contribution briefly describes and comments on
the taphonomic condition of some postcranial
material referable to those pterosaurs which
CONTEXTO GEOLÓGICO
were preserved in a limestone nodule from the A Formação Romualdo (Grupo Santana,
Romualdo Formation (Aptian, Araripe Basin, Bacia do Araripe, CE) compõe-se de camadas
Ceará)The material comprises a right humerus, argilosas e sílticas, depositadas durante o
scapulae, notarium, coracoids, a partial sternum, Cretáceo Inferior, mais especificamente durante o
fragments of long bones, a few vertebrae, ribs and Aptiano-Albiano (Maisey, 1991) Representa um
elements not yet identified. The measurements of ecossistema formado por lagunas com diversas
those elements suggest thatthe wing span of this litologias, sendo que as concreções calcárias são

700
encontradas em folhelhos e margas calcárias. pode-se estimar que o espécime atingiria um
O registro fóssil é extenso e composto de uma tamanho mediano, entre dois e três metros de
grande quantidade de vertebrados fósseis muito envergadura das asas, conferindo com o padrão
bem preservados, como peixes, crocodilomorfos, de desmembramento e dispersão do esqueleto
testudines, dinossauros e pterossauros (alguns com observado para pterossauros de médio à grande
tecidos moles), além de plantas e algas (Maisey, porte, formando nódulos separados ou não
1991; Feitosa et al., 2006; Valença et al., 2003; ocorrendo preservação, diferentemente dos
Kellner & Campos, 2006; Assine, 2007). pequenos, que normalmente se conservam inteiros
em um único bloco.
Os Tapejaridae são divididos em
MATERIAIS E MÉTODOS
Tapejarinae e Thalassodrominae (Kellner &
O exemplar estudado consiste em Campos, 2007). O primeiro grupo possui
úmero direito, escápulas, notário, coracóides, representantes não apenas no Brasil, mas
um fragmento de esterno, fragmentos de ossos particularmente na China (Wang & Zhou, 2003).
longos, algumas vértebras, extremidades de Com exceção de Tupandactylus, todos os demais
costelas e elementos ainda não identificados são de pequeno porte, com uma abertura alar
elementos preservados em um nódulo calcário. O bem atingindo pouco mais de 1.5 metros. Pelo
material está depositado no American Museum apresentado, o novo exemplar possivelmente
of Natural History (AMNH) e emprestado ao representa um membro de Thalassodrominae,
Museu Nacional/UFRJ. A preparação mecânica o que é baseado no momento apenas pelo seu
se encontra em andamento e consiste no uso de tamanho.
martelo pneumático, pequenas ponteiras, agulhas
e talhadeiras, seguindo a técnica de May et al.
(1994). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSINE, M.L. 2007. Bacia do Araripe. Boletim
RESULTADOS E DISCUSSÃO de Geociências da Petrobrás, 15(2): 371-389.
No Brasil, descrições de materiais pós- FEITOSA, A.A.S.; GOBBO-RODRIGUES,
cranianos de Tapejaridae ainda são escassas na S.R.; KELLNER, A.W.A. 2003. Partes
literatura, com a maioria dos exemplares descritos vegetativas de carófitas fossilizadas no
representando o crânio dos animais. A disposição Membro Romualdo (Albiano, Formação
dos ossos no nódulo sugere que se passou um Santana), Bacia do Araripe, Nordeste
intervalo de tempo pré-soterramento, o que Brasileiro. Boletim do Museu Nacional, 70:
causou um rearranjo espacial dos mesmos e perda 1-7.
de vários elementos de seu esqueleto.
Com relação aos elementos, o húmero KELLNER, A.W.A. & CAMPOS, D.A. 2006.
exibe uma crista delto-peitoral alongada e Santana Formation (Araripe Basin): The
levemente curvada para a região ventro-posterior. best-preserved Cretaceous ecosystems
A escápula é alongada com as margens anterior from Brazil. In: 2 INTERNATIONAL
nd

e posterior sub-paralelas. O coracoide é mais PALAEONTOLOGICAL CONGRESS,


curto do que a escápula e possui um tubérculo 2006, Beijing. Abstracts of the 2nd International
largo na margem ventro-posterior que permite Palaeontological Congress. Beijing, China. p.
a identificação como pertencendo a Tapejaridae 437.
sensu Kellner & Campos (2007). As vértebras
dorsais encontram-se parcialmente fusionada KELLNER, A.W.A. & CAMPOS, D.A. 2007.
formando um notário, que é apenas observado Short note on the ingroup relationships of the
nos Thalassodrominae e não foi registrado até a Tapejaridae (Pterosauria, Pterodactyloidea).
presente data nos Tapejarinae (Kellner, 2003). Boletim do Museu Nacional, Nova Série
Através da medição e análise da disposição Geologia, 75: 1-15.
das peças contidas no material deste estudo,

701
LÜ, J. & YUAN, C. 2005. New tapejarid pterosaur of northeast Brazil: onshore stratigraphic
from western Liaoning, China.Acta Geologica record of the opening of the southern
Sinica, 79(4): 453-458. Atlantic. Geological Acta, 1(3): 261-275.

MAISEY, J.G. 1991. Santana Fossils – An WANG, X. & ZHOU, Z. 2003.A new pterosaur
Illustrated Atlas. New Jersey, Neptune: T.F.H. (Pterodactyloidea, Tapejaridae) from the
Publications. 459p. Early Cretaceous Jiufotang Formation of
western Liaoning, China and its implications
MAY, P.; RESER, P. & LEIGGI, P. 1994. for biostratigraphy. Chinese Science Bulletin,
Macrovertebrate Preparation.Vertebrate 48: 116-23.
Paleontological Techniques, Vol.
1Cambridge University Press.p.113-12. WELLNHOFER, P. & BUFFETAUT, E. 1999.
Pterosaur remains from the Cretaceous of
VALENÇA, L.M.M.; NEUMANN, V.H. & Morocco. Paläontologische Zeitschrift, 73:
MABESOONE, J.M. 2003. Na overview on 133-142.
Callovian-Cenomanian intracratonic basins

702
“DE VOLTA AO RIACHO PEDRA DE FOGO”: VERTEBRADOS
PERMIANOS DA BACIA DO PARNAÍBA NO LESTE DO MARANHÃO
Max Cardoso Langer1 (mclanger@ffclrp.usp.br), Roberto Iannuzzi2 (roberto.iannuzzi@ufrgs.br), Martha Richter3
(M.Richter@nhm.ac.uk), Carolina R. Laurini4 (xirra.carolina@gmail.com), Estevan Eltink4 (estevaneltink@yahoo.com.br),
Marco Aurélio G. de França4 (marquinhobio@yahoo.com.br), Mário Bronzati4 (mariobronzati@yahoo.com.br)
1
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP; 2Instituto de Geociências, UFRGS;
3
Department of Palaeontology, Natural History Museum; 4Departamento de Biologia, FFCLRP, Universidade de São Paulo

INTRODUÇÃO RESULTADOS
Como parte do Projeto de Pesquisa Localidade # 1: na Pedreira “J. G. de A.
intitulado “Vertebrados permo-triássicos Ferreira”, margem leste da rodovia MA-369, foram
das bacias do Paraná e Parnaíba: filogenia e coletados icnofósseis e fósseis isolados de “peixes”
correlações estratigráficas”, financiado pela em bone-beds, incluindo uma placa de Dipnoi
Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de e um espinho de “tubarão” Ctenacanthiformes,
São Paulo (FAPESP), a equipe do Laboratório grupos já previamente registrados na região
de Paleontologia de Ribeirão Preto (LPRP), (Santos & Carvalho, 2004).
FFCLRP-USP, entre os dias 16 e 29 de agosto de Localidade # 2: na localidade designada
2010, empreendeu trabalho de prospecção e coleta “Costela”, cerca de doze quilômetros a sudoeste
de fósseis em sedimentos da Formação Pedra de de Nova Iorque, foram coletadas frondes de
Fogo (Permiano da Bacia do Parnaíba) no leste do Rhachiphyllum (Figura 2), uma “gimnosperma
Maranhão. Foram visitadas diversas localidades basal” do grupo das calipterídeas, e de samambaias
nos municípios de Pastos Bons, Nova Iorque, São do gênero Pecopteris. Pela primeira vez
Domingos do Azeitão e Benedito Leite, sendo reconhecidas na América do Sul, calipterídeas
prospectado o entorno das rodovias MA-369 (que eram previamente registradas apenas em porções
interliga Pastos Bons e Nova Iorque) e MA-371 equatoriais (América do Norte, Europa e norte da
(que interliga São Domingos do Azeitão e África) ou setentrionais (Sibéria) do Pangeia, ou
Benedito Leite) e lavras de calcário tanto a oeste de ainda em blocos menores que se situavam a leste do
Nova Iorque (pedreira informalmente designada supercontinente (norte da China, sudeste asiático e
como “Costela”) quanto ao sul de Pastos Bons arquipélago malaio) durante o Eopermiano (Booi
(Pedreira “J. G. de A. Ferreira”). Esta última se et al., 2009). Estando em paleolatitudes tropicais,
encontra na área drenada pelo Riacho Pedra de a ocorrência de calipterídeas no NE brasileiro
Fogo (Figura 1), onde se encontra a sessão-tipo da trata-se da mais meridional do grupo. De grande
unidade estratigráfica homônima (Plummer et al., importância paleobiogeográfica, este registro pode
1948). Essa região fora explorada, entre os anos complementar os modelos de evolução florística
de 1945-46, por pesquisadores do DNPM e do do Gondwana durante Permiano.
extinto Conselho Nacional do Petróleo, incluindo Localidade # 3: na margem leste da
Llewellyn I. Price, que posteriormente descreveu rodovia MA-369 (Figura 3) foi coletada cerca
o temnospôndilo Prionosuchus plummeri de uma dúzia de espécimes (alguns bastante
Price, 1948 a partir de material coletado em tais completos) de um “peixe” com cerca de 20 cm de
expedições. No início dos anos setenta, L. I. Price comprimento (Figura 4). Este não se trata de um
revisitou a região juntamente com paleontólogos “paleonisciforme” como Brasilichthys macrognathus,
ingleses, quando se coletou o material-tipo do mas de um novo táxon de Semionotiformes. Até
paleonisiforme Brazilichthys macrognathus Cox & então, os mais antigos registros de tal grupo
Hutchinson, 1991. Foi em busca de tais fósseis e datavam do Triássico Inferior da França e Europa
localidades que se empreendeu o trabalho de coleta central (Lopez-Arbarello et al., 2008), enquanto os
aqui reportado. Se, por um lado, a expectativa de mais antigos do Brasil eram do Jurássico Superior
encontrar material adicional de tais táxons não se (Gallo & Brito, 2004). Evidentemente, o registro
concretizou, outros importantes espécimes fósseis do único semionotiforme paleozoico conhecido
foram coletados, como sumarizado a seguir.

703
é de grande importância no entendimento da GALLO, V. & BRITO, P.M. 2004. An overview
irradiação basal dos Neopterygii. of the Brazilian semionotids. In: Mesozoic
Localidade # 4: na margem oeste da Fishes 3 – Systematics, Paleoenvironments
rodovia MA-369 foram coletados fósseis isolados and Biodiversity, G. Arratia & A. Tintori
de “peixes” em bone-beds, incluindo um dente de (eds.): pp. 253-264.
“tubarão” Xenacanthiformes, uma placa de Dipnoi
e um espinho de “tubarão” Ctenacanthiformes, JAIN, S.J. 1985. Some new observations
grupos já previamente registrados na região on Lepidotes maximus (Holostei:
(Santos & Carvalho, 2004), além de um possível Semionotiformes) from the German Upper
conodonte e de placas dentárias (Figura 5A), Jurassic. Journal of the Palaeontological
“filodontes” (Estes 1969), que podem inclusive Society of India. 30: 18-25
pertencer a Semionotiformes ( Jain, 1984) como
LOPEZ-ARBARELLO, A. & ALVARADO-
os da Localidade #3.
ORTEGA, J. 2011. New semionotiform
Localidade # 5: na localidade de “Riacho
(Neopterygii) from Tlayúa Quarry (Early
dos Quatis”, às margens da rodovia MA-371, foram
Cretaceous, Albian), México. Zootaxa. 2749:
coletados fósseis isolados de “peixes” em bone-
1-24.
beds, um dente de “tubarão” Ctenacanthiformes
(Figura 5B), grupo já previamente registrado na PLUMMER, F.B.; PRICE, L.I. & GOMES,
região (Santos & Carvalho, 2004). F.A. 1948. Estados do Maranhão e Piauí
(Geologia). In: Conselho Nacional do
CONCLUSÕES Petróleo. Relatório de 1946. Rio de Janeiro,
1948. p. 87-134.
A identificação de tais localidades com
potencial fossilífero pode direcionar futuros PRICE, L.I. 1948. Um anfíbio labirintodonte
trabalhos de coleta na região, que claramente da Formação Pedra de Fogo, Estado do
merece um mais detalhado inventário Maranhão. Ministério da Agricultura,
palaeontológico. Por fim, cabe ressaltar o apoio da Departamento Nacional da Produção
Prefeitura Municipal de Pastos Bons, na pessoa Mineral Divisão de Geologia e Mineralogia,
do secretário municipal, Sr. Paulo Emílio Ribeiro, Boletim. 124: 7-32.
que auxiliou a equipe durante o desenvolvimento
de todo trabalho de campo. SANTOS, M.E.C.M. & CARVALHO, M.S.S.
2004. Paleontologia das Bacias do Parnaíba,
Grajaú e São Luís. CPRM-Serviço
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Geológico do Brasil, Rio de Janeiro. 226 pp.
BOOI M.; VAN WAVERENA I.M. & VAN
KONIJNENBURG-VAN CITTERTA,
J.H.A. 2009. Comia and Rhachiphyllum
from the early Permian of Sumatra,
Indonesia. Review of Palaeobotany and
Palynology. 156: 418-435.

COX, C.B. & HUTCHINSON, P. 1991. Fishes


and amphibians from the Late Permian
Pedra do Fogo Formation of northern of
Brazil. Paleontology. 34: 561-573.

ESTES, R. 1969. Studies on Fossil Phyllodont


Fishes: Interrelationships and Evolution in
the Phyllodontidae (Albuloidei). Copeia,
1969: 317-331.

704
Figura 1. Prospecção no Riacho Pedra de Fogo.

Figura 2. Frondes de Rhachiphyllum da pedreira “Costela”. Escala = 10cm.

Figura 3. Vista geral da localidade #3.

705
Figura 4. Novo semionotiforme da localidade #3. Escala = 10cm.

Figura 5. Restos de “peixes” isolados em bone-beds. A - Placa dentária “filodonte” da localidade #4. B – Bloco contendo
dente de Ctenacanthifomes da localidade #5. Escalas = 20mm.

706
EGGSHELL, CRANIAL CRESTS AND SEXUAL DIMORPHISM IN PTEROSAURS
Alexander W. A. Kellner1 (kellner@mn.ufrj.br), Xiaolin Wang2, Juliana Manso Sayão3, Taissa Rodrigues4 Fabiana R. Costa1
1
Setor de Paleovertebrados, Museu Nacional/UFRJ; 2Key Laboratory of Evolutionary Systematics of Vertebrates, Institute of
Vertebrate Paleontology and Paleoantropology, Chinese Academy of Sciences; 3Universidade Centro Acadêmico de Vitória,
Universidade Federal de Pernambuco; 4Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias;

ABSTRACT with different crests being species specific. Those


shortcomings severely undermine the use of
Recently a very interesting pterosaur
presence or absence of bony cranial crests in sexual
specimen associated with an egg was recovered
dimorphism within pterosaurs. Regarding the
from the Tiaojishan Formation, China. This
egg, the calcification of the eggshell is the result
deposit, whose age is disputed (Middle
of a precipitation phenomenon occurring on the
to Late Jurassic or Early Cretaceous), has
eggshell membrane, which takes place during
yielded the following non-pterodacyloid taxa:
passage of the egg through distinct regions of the
Changchengopterus, Wukongopterus, Darwinopterus
oviduct. If it was unnaturally expelled one cannot
(D. modularis and D. linglongtaensis) and
be sure about its size neither about the nature of
Kunpengopterus. Without proper justification,
the eggshell after oviposition. These observations
the new specimen (and the egg) which is housed
clearly show that more work has to be done in
at the Zhejiang Museum of Natural History,
order to understand sexual dimorphism and
Hangzhou, Zhejiang Province, China (ZMNH
reproduction strategies in this fascinating extinct
M8802), was referred to Darwinopterus (without
group of volant reptiles known as pterosaurs.
specifying the species). Based on the fact that this
individual lacked a cranial crest, Darwinopterus Keywords: eggshell, cranial crests, sexual
was regarded to exhibit a strong sexual dimorphism dimorphism, pterosaurs
with males having and females lacking cranial
crests, respectively. However, the limitation in
identifying this material at the generic level does
not allow any statement applicable at the species
level such as distinction between males and
females. Furthermore, as has been pointed out in
the literature, there are two Darwinopterus species
with developed cranial crests and the genus
Kunpengopterus lacking a crest - all from the same
deposit. Other differences between these genera
include the shape of the posterior region of the
skull, proportions, and the curvature of the second
pedal phalanx of the fifth toe - information not
presented for ZMNH M8802 but paramount
for its identification. Up to date, there is no
direct evidence that the presence and absence of
cranial crests is linked with sexual dimorphism in
pterosaurs. Even for Pteranodon, the best attempt
to suggest cranial crests a sexually dimorphic, it
is not the presence or absence of the crest that
supposedly distinguishes males and females,
but its expression in size and shape. There is
also a recent study that demonstrates a higher
taxonomic diversity in the Pteranodon-complex,

707
O SÍTIO PALEONTOLÓGICO FAZENDA TRÊS ANTAS, UMA
NOVA LOCALIDADE FOSSILÍFERA DO CRETÁCEO SUPERIOR
(GRUPO BAURU) NO MUNICÍPIO DE CAMPINA VERDE,
TRIÂNGULO MINEIRO (BRASIL): CONSIDERAÇÕES GERAIS
Ismar de Souza Carvalho1, Vicente de Paula Antunes Teixeira2, Mara Lúcia da Fonseca Ferraz2, Luiz Carlos Borges Ribeiro2,
Agustín Guillermo Martinelli2, Francisco Macedo Neto2, Joseph J. W. Sertich2, Gabriel Cardoso Cunha2,
Isabella Cardoso Cunha2, Patrícia Fonseca Ferraz2
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Geologia, CCMN/IGEO. 21.949-900, Cidade Universitária, Ilha do
Fundão, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
2
Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP/UFTM). Centro de Pesquisas
Paleontológicas L. I. Price. Rua Frei Paulino, 30. Abadia, 38.025-180, Uberaba, MG, Brasil

RESUMO INTRODUÇÃO
Uma nova localidade no Município de O Triângulo Mineiro é reconhecido pelo
Campina Verde (Triângulo Mineiro) de grande seu grande potencial fossilífero associado às
importância é apresentada, o Sítio Paleontológico litologias do Cretáceo Superior do Grupo Bauru.
Fazenda Três Antas. Nesta região foi descoberto Apesar dos achados frequentemente ocorrerem
e recentemente descrito o baurusuchideo como materiais isolados (e.g., Monte Alegre de
Campinasuchus dinizi, baseado em numerosos Minas, Iturama, Veríssimo) (Huene, 1931), os
exemplares bem preservados. O abundante principais sítios investigados até o presente estão
material possibilitará amplos estudos sistemáticos, localizados em Uberaba (Carvalho et al. 2004;
paleo-ecológicos, tafonômicos, entre outros. Esta Salgado & Carvalho, 2008), Prata (Kellner et al.
localidade constituirá local de referência para o 2006) e Campina Verde (Carvalho et al. 2011).
melhor entendimento da paleobiota do Grupo Escavações em desenvolvimento desde dezembro
Bauru bem como dos ecossistemas continentais de 2009 no Município de Campina Verde pelas
do Cretáceo Superior na região do Triângulo equipes técnicas do CCCP/UFTM (Uberaba) e
Mineiro. UFRJ (Rio de Janeiro), possibilitaram a descoberta
Palavras-chave: Campina Verde, de novo jazigo fossilífero com numerosos
Crocodyliformes, Fósseis, Cretáceo, Grupo Bauru, materiais de crocodyliformes bem preservados,
Triângulo Mineiro incluindo diversos crânios e esqueletos. Esta
ocorrência insere-se no contexto geológico do
Grupo Bauru, Formação Adamantina/Vale do
ABSTRACT Rio do Peixe, composta localmente por arenitos
A new important locality from the finos, marrom-claros a arroxeados, com óxido
Campina Verde Municipality (Triângulo Mineiro de ferro e eventuais níveis de siltitos arenosos
region): Paleontological Site Fazenda Três laminados. Subordinadamente estão presentes
Antas, is presented. It provided well preserved clastos centimétricos, subarredondados de
and abundant material of the recently described rochas vulcânicas alcalinas. As principais feições
baurusuchid Campinasuchus dinizi. The abundant sedimentares são estruturas de escape de fluidos,
material will permit broad studies on systematic, convolutas, feições de carga e estratificações
paleoecology, and tafonomy, among others. cruzadas de pequeno porte. A presença de
Furthermore, this locality will be fundamental to gastrólitos compostos provavelmente de
the understanding of the Late Cretaceous biota analcimitos encontrados em dois dos indivíduos
of the Bauru Group in the Triângulo Mineiro de Campinasuchus, poderá abrir novas perspectivas
region. para a datação isotópica, possibilitando o aporte de
Keywords: Campina Verde, valiosos dados para a resolução da temporalidade
Crocodyliformes, Fossils, Cretaceous, Bauru dos eventos biológicos e físicos que se faziam
Group, Triângulo Mineiro presentes nesta porção da Bacia Bauru.

708
CONCLUSÃO da Fazenda Três Antas, o Sr Amarildo Martins
Queiroz por permitir as escavações paleontológicas
Recentemente, nesta localidade foi descrito
na propriedade.
o táxon Campinasuchus dinizi (Carvalho et al.
2011), considerado um novo baurusuquideo basal
(Archosauria, Mesoeucrocodylia, Baurusuchidae). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Seus aspectos anatômicos indicam indivíduos
CARVALHO, I.S.; RIBEIRO L.C. & AVILLA,
com crânios altos e comprimidos lateralmente,
L.S. 2004. Uberabasuchus terrificus sp. nov.,
dentição zifodonte com número reduzido de
a new Crocodylomorpha from the Bauru
dentes; terceiro dente maxilar e o quarto do
Basin (Upper Cretaceous), Brazil. Gondwana
dentário extremamente grande em relação aos
Research,7:975-1002.
restantes; frontais com uma crista medial dorsal;
contato nasal-frontal extremadamente reduzido, CARVALHO, I.S.; TEIXEIRA, V.P.A.;
e depressão bem marcada no palatino entre as FERRAZ, M.L.F.; RIBEIRO, L.C.B.;
fenestras palatinas. Face aos caracteres presentes, MARTINELLI, A.G.; NETO, F.M.;
este animal deveria ser essencialmente terrestre SERTICH, J.J.; CUNHA, G.C.; CUNHA,
corroborado pelos olhos laterais, narinas frontais, I.C. & FERRAZ, P.F. 2011. Campinasuchus
membros longos e retos, cauda cilíndrica e curta e dinizi gen. et sp. nov., a new Late Cretaceous
poucos osteodermos,o que o tornava mais leve e ágil. baurusuchid (Crocodyliformes) from the
Os materiais coletados incluem vários espécimes Bauru Basin, Brazil. Zootaxa, 2871: 19-42.
que se encontram parcialmente articulados o que
possibilitará estudos pormenorizados da biologia HUENE, F.V. 1931. Verschiedene mesozoische
deste táxon. Wirbeltierreste aus Südamerika. Neus
O Sítio Paleontológico Fazenda Três Jahrbuch für Mineralogie, Geologie und
Antas, trata-se do mais novo “Lagerstatten” Paläontologie, Beilagen, Bd, 66:181-198.
continental brasileiro. Tem alta concentração de
fósseis em bom estado de preservação, materiais KELLNER, A.W.A.; CAMPOS, D.A.;
completos, articulados e que nos contam detalhes AZEVEDO, S.A.K.; TROTTA, M.N.F.;
da história biológica durante o Cretáceo Superior. HENRIQUES, D.D.R.; CRAIK, M.M.T.
O contexto tafonômico das assembléias fossilíferas & SILVA, H.P. 2006. On a new titanosaur
denotam ambientes grande mortandade de sauropod from the Bauru Group, Late
indivíduos, provavelmente advinda de momentos Cretaceous of Brazil. Boletim do Museu
de total ausência de água em períodos efêmeros Nacional, Nova Série Geologia, 74:1-32.
de extrema aridez e estresse térmico, nesta porção
da bacia. Além do material de crocodyliformes, SALGADO, L. & CARVALHO, I.S. 2008.
foram achados restos, ainda em preparação, de Uberabatitan ribeiroi, a new titanosaur from
outros vertebrados tais como peixes e material the Marília Formation (Bauru Group,
indeterminado. Upper Cretaceous), Minas Gerais, Brazil.
Palaeontology, 51: 881-901.

AGRADECIMENTOS
Esta contribuição foi desenvolvida
com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG),
o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), a Fundação de Ensino e Pesquisa de
Uberaba (FUNEPU/UFTM) e a HENKEL do
Brasil. Especial agradecimento ao proprietário

709
IMPORTÂNCIA E LIMITAÇÃO DO ESTUDO DOS ANUROS CRETÁCEOS
Karla Janaisa Gonçalves Leite1 (karlapaleo@gmail.com), Maria Helena Hessel1 (mhhessel@gmail.com),
José Araújo de Nogueira Neto1 (nogueira@ufc.br)
Universidade Federal do Ceará
1

RESUMO para a reprodução. Respiram pela pele e pelos


pulmões, donde a necessidade de viverem tanto
Atualmente são conhecidas cerca de 39
na água quanto na terra. Organismos desse grupo
famílias de anuros, reunindo sapos, rãs e pererecas.
sofrem predação por muitos outros animais, seja
Algumas destas famílias parecem ter se originado
na fase de ovo, girino, juvenil ou adulta.
no Jurássico ou Cretáceo, mas têm um registro
fóssil pontual, devido a sua construção esqueletal, Atualmente são conhecidas cerca de 39
condições paleoecológicas e restrição do ambiente famílias de anuros (Deullman & Trueb, 1994),
de deposição preservados nas rochas cretáceas. reunindo os sapos, as rãs e pererecas. Os sapos
possuem a pele rugosa e os membros posteriores
Palavras-chave: Anura, Cretáceo,
mais curtos do que os demais anuros, bem como
Registro fossilífero
uma concentração de glândulas venenosas nas
laterais da cabeça (glândulas paratóides). As
ABSTRACT rãs são animais de pele lisa e geralmente têm
Currently there are approximately 39 membranas bem desenvolvidas nos membros
families of Anura, collecting toads and frogs. posteriores que servem para a natação, pois
Some of these families appear to have originated são bastante relacionadas à água. As pererecas
in the Jurassic and Cretaceous. The fossil record também possuem a pele lisa e membros bastante
is incomplet, due to its skeletal construction, desenvolvidos, mas estes são adaptados a grandes
paleoecological conditions of life, and restriction saltos e à firme adesão nas mais diversas superfícies,
of the depositional environment preserved in the com expansões em forma de disco na ponta dos
Cretaceous rocks. dedos.
Keywords: Anura, Cretaceous, fossil A história geológica dos anuros é cheia
Record de lacunas, pois sua preservação é incomum.
Algumas famílias atuais parecem ter se originado
no Jurássico ou Cretáceo, mas têm um registro
INTRODUÇÃO fóssil incompleto, o que dificulta o estudo de
Os anuros compõem a maioria dos anfíbios, sua evolução. O sapo mais antigo conhecido
um grupo de animais vertebrados que sempre é do gênero Triadobatrachus, do Neotriássico
despertou muito interesse por representar o elo de Madagascar (Benton, 2008). No panorama
entre a vida dos ambientes aquático e terrestre. mundial, não é muito frequente o registro de
Frágeis e curiosos, até hoje são investigados sobre anuros fósseis no Mesozoico, sendo mais comuns
suas variadas formas de adaptação a diferentes as espécies descritas no Cenozoico, a partir do
nichos ecológicos, especialmente porque sofreram Terciário.
a competição de outros animais terrestres mais
evoluídos, sendo obrigados a buscar formas
MORFOLOGIA E PRESERVAÇÃO
alternativas de sobrevivência. E nesta tarefa
parecem ser muito bem sucedidos, pois de 5000 Osteologicamente os anuros apresentam
espécies de anfíbios conhecidas, cerca de 4500 uma série de características relacionadas à aquisição
são de anuros. Apresentam cores variadas e um da locomoção por saltos, como ossos finos e leves.
coachar característico para cada espécie, emitido Em relação à maioria dos tetrápodes, os anuros
apenas pelos machos, que assim atraem as fêmeas possuem um baixo número de vértebras e um

710
crânio muito fenestrado, com muitos ossos do teto água quando expostos às altas temperaturas ou a
craniano ausentes. O acetábulo se encontra muito ambientes de baixa umidade (Deullman & Trueb,
posterior à articulação ílio-sacral, e as vértebras 1994). Assim, vivem próximos a lagos ou rios,
caudais foram substituídas por uma estrutura pântanos, florestas úmidas e, algumas raras espécies,
rígida, uma adaptação para a vida saltatória. enterradas nas areias dos desertos próximas a
Tanto os membros anteriores como os posteriores oásis. Ocorrem em todos os continentes, à exceção
apresentam ossos fusionados. A combinação destas da Antártida, devido às temperaturas que nunca
estruturas morfológicas, mecanismos fisiológicos e ultrapassam 0oC, mantendo o ambiente sempre
respostas comportamentais permitem a adaptação congelado.
dos anuros aos mais variados ambientes, em geral Transportado para o mundo geológico,
próximos a águas doces. estes ambientes úmidos onde vivem os anuros
Por possuírem um esqueleto pequeno e se traduzem pela deposição de sedimentos
frágil, sua preservação como fósseis é bastante de granulação muito fina, como os calcários
rara. Entretanto, como os anuros vivem em micríticos depositados em ambientes rasos,
diversos ambientes, inclusive no meio aquático, calmos e pouco salinos, que oferecem condições
isto pode favorecer sua fossilização. Quase bastante favoráveis a preservação. Por outro
todos os anfíbios fósseis, incluindo os anuros, lado, para que tenham seus restos preservados,
ocorrem em sedimentos tipicamente continentais, os anuros devem ser soterrados após a morte
especialmente nos de origem dulceaquícola perto do local onde viviam, pois sua estrutura
(Bedani et al., 2006). O processo de preservação frágil óssea não suportaria o transporte por
mais comumente encontrado é o da substituição longas distâncias, o que provocaria sua completa
mineralógica de seus ossos. Neste processo, fragmentação. Assim, apesar de serem organismos
também conhecido como petrificação, ocorre a com esqueletos articulados de ossos finos que
substituição de moléculas de origem orgânica vivem em ambientes úmidos, duas condições
por moléculas inorgânicas do meio sedimentar. pouco favoráveis à fossilização, se caírem num
Conforme o mineral que substitui, pode-se ter ambiente calmo, com alta taxa de sedimentação,
silicificação, calcificação, piritização, etc. Por teriam boas chances de serem preservados, o que
vezes observa-se a incrustação de sílica, carbonato é demonstrado por seu registro fossilífero, onde
de cálcio ou pirita sobre a superfície externa do a grande maioria dos espécimes se encontra com
fóssil, ou a adição de novos elementos minerais ossos articulados.
nos poros dos ossos, processo conhecido como
permineralização. Bem menos frequente é a Anuros cretáceos
preservação de partes moles, em geral como O Cretáceo não é um período muito
uma impressão mais escurecida no sedimento. favorável para o estudo da diversidade e evolução
Por exemplo, os anuros do Aptiano-Albiano dos anuros, com menos de 50 espécies descritas.
preservados no calcário laminado da Bacia do Mas naquela época, deveria haver muito mais
Araripe (Membro Crato da Formação Santana) espécies, pois os anuros haviam surgido há cerca de
têm mais comumente o fosfato de cálcio de seus 60 milhões de anos (Neotriássico de Madagascar)
esqueletos originais substituídos por calcita ou e atualmente são conhecidas quase 4.500 espécies.
piroluzita (Martill et al., 2007), um mineral de Entretanto, esta baixa diversidade conhecida de
dióxido de manganês. anuros cretáceos não surpreende, considerando
que a vasta maioria dos depósitos sedimentares
Ambientes de vida e preservação deste período é de origem marinha, um
Os Anura se caracterizam por apresentar ambiente caracteristicamente hostil aos anfíbios.
em seu ciclo de vida duas fases bem distintas: Naturalmente também as restritas condições
uma na água (girinos) e outra na terra (adulto). ambientais necessárias à vida dos anuros e sua
Por questões fisiológicas e reprodutivas, precisam osteologia devem ter contribuído para o reduzido
habitar na fase adulta áreas alagadas ou próximas número de espécimes conservados.
da água, pois têm dificuldade de retenção de

711
No Brasil o registro mais antigo de 80 milhões de anos de duração do Cretáceo
anuros cretáceos provém dos calcários rítmicos em todo o mundo foram encontrados menos
aptianos do Membro Crato, Formação Santana de 500 exemplares, é um registro pontual, com
da Bacia do Araripe, com três espécies já descritas: muitas lacunas temporais, como na passagem
Arariphrynus placidoi Leal & Brito 2006, Eo-Neocretáceo.
Cratia gracilis Báez, Gómez & Moura 2009, Devido à raridade de restos de anuros
Eurycephalella alcinae Báez, Gómez & Moura fossilizados, mormente no início de sua
2009. De unidades mais recentes, em siltitos diversificação no Mesozoico, o achado de um
neocretáceos da Bacia do Paraná, há o registro de exemplar se reveste de grande importância, não só
anuros neobatráquios (sapos) preservados nos da para melhor entender suas relações filogenéticas
Formação Adamantina em São Paulo, de onde foi e história geológica, mas principalmente pelas
mencionada a ocorrência uma espécie ainda não informações de cunho paleoambiental que podem
descrita, e da Formação Marília em Minas Gerais, ser deduzidas pela sua morfologia funcional.
de onde foi descrito Baurubatrachus pricei Báez Suas variadas formas de adaptação a diferentes
& Peri 1989. nichos ecológicos, especialmente porque sofreram
Em outras regiões do mundo também são a competição de outros animais terrestres mais
conhecidos anuros cretáceos, como, por exemplo, desenvolvidos, sendo obrigados a buscar formas
Saltenia ibanezi Reig 1959 da Formação Las alternativas de sobrevivência, transforma os
Curtiembres (Campaniano da Argentina), e anuros em excelentes bioindicadores ambientais.
Vulcanobatrachus mandelai Trueb, Ross & Smith Os novos espécimes cretáceos, que têm sido
2005 ocorrente em camadas eocretáceas em encontrados graças à busca diligente e sorte de
Marydale, África do Sul. No Hemisfério Norte, alguns cientistas, tornam seu estudo dinâmico
o registro é mais amplo, tanto geográfica como e interessante para elucidar parte da história
temporalmente. Há formas descritas nos Estados geológica, inclusive de regiões brasileiras sobre as
Unidos, como Theatonius lancensis Fox 1976 da quais não há consenso paleoecológico, como na
Formação Lance (Maastrichtiano), na Europa, Formação Santana da Bacia do Araripe.
como Neusibatrachus wilferti Saiffert 1972 de
Montsec Range (Berriasiano-Valangiano) na
Espanha, e Shomronella jordanica Estés, Spinar
CONCLUSÕES
& Nevo 1978 da Formação Tayasir (Barremiano) Com o desenvolvimento do presente
de Israel, e na Ásia, onde as ocorrências são trabalho podem ser listadas as seguintes
principalmente do Eocretáceo: Gobiatoides conclusões:
parvus Röcek & Nessov 1993 da Formação a. Apesar de serem organismos com
Bissekty (Turoniano-Coniaciano) do Uzbeskistão, esqueletos articulados de ossos finos que vivem
Gobiates khermeentsavi Spinar & Tatarinov em ambientes úmidos, duas condições pouco
1986 da Formação Barun Goyot (Campaniano) favoráveis à fossilização, os anuros podem ser
da Mongólia, e Callobatrachus sanyanensis Wang preservados se caírem em ambiente calmo, com
& Gao 1997 da Formação Yxian (Eocretáceo) do alta taxa de sedimentação, próximo ao local onde
nordeste da China (Liaoning). viviam, o que é demonstrado por seu registro
fossilífero;
Limitações e importância do b. O registro fossilífero de anuros em
estudo dos anuros fósseis rochas cretáceas é bastante raro, devido as questões
O registro fossilífero de anuros em rochas relacionadas à sua própria construção esqueletal,
cretáceas é bastante limitado, devido a questões às condições paleoecológica necessárias à sua
relacionadas à sua própria construção esqueletal, sobrevivência e a restrição de rochas deste período
às condições paleoecológica necessárias à sua que conservaram estes ambientes;
sobrevivência e a restrição de rochas deste período c. Os anuros têm um registro geológico
que conservaram estes ambientes. Além de ser pontual, pois em quase 80 milhões de anos de
um registro relativamente raro, pois em quase duração do Cretáceo foram encontrados em

712
todo o mundo menos de 500 exemplares, com base na ocorrência de pipídeos (Amphibia,
muitas lacunas temporais, como na passagem Anura). Simpósio do Cretáceo do Brasil, 7,
Eo-Neocretáceo; Serra Negra, Boletim de Resumos, UNESP:
d. Devido à raridade de restos de 18.
anuros fossilizados, mormente no início de
sua diversificação no Mesozoico, o achado BENTON, M.J. 2008. Paleontologia de
de exemplares de anuros se reveste de grande vertebrados. São Paulo, Atheneu, 446p.
importância, principalmente pelas informações de
DEULLMAN, W.E. & TRUEB, L. 1994.
cunho paleoambiental que podem ser deduzidas
Biology of amphibians. Baltimore, John
pela sua morfologia funcional, pois são excelentes
Hopkins University, 670p.
bioindicadores paleoecológicos.
MARTILL, D.M.; BECHLY, G. &
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C.F.B. 2006. Contribuições ao entendimento 625p.
paleoambiental da América do Sul, com

713
NOVO ESPÉCIME DE BAURUSUCHIDAE (CROCODYLIFORMES,
MESOEUCROCODYLIA) DE GENERAL SALGADO-
SP (GRUPO BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR)
Pedro Lorena Godoy1 (pedro-godoy@hotmail.com), Felipe Montefeltro1 (felipecm@pg.ffclrp.usp.br),
Estevan Eltink1 (estevaneltink@hotmail.com), Bruno Vila Nova1 (bruno.vilanova@gmail.com),
Julio Marsola1 (juliomarsola@gmail.com), Mario Bronzati1 (mariobronzati@yahoo.com.br),
Vitor Venâncio1 (vb.venancio@gmail.com), Thiago Fachini1 (schineider@hotmail.com), Max Cardoso Langer1 (mclanger@ffclrp.usp.br)
Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
1

RESUMO características no crânio (Figura 1) sugeridas


como potencialmente diagnósticas para
A Formação Vale do Rio do Peixe é a
Baurusuchidae (Price, 1945; Carvalho et al., 2005;
unidade estratigráfica com maior exposição
Montefeltro et al., in press). Entre elas estão: rostro
superficial do Grupo Bauru (Fernandes &
comprimido lateralmente; número reduzido
Coimbra, 2000). Esta corresponde a grande parte
de dentes maxilares; dentição zifodonte sensu
da Formação Adamantina na subdivisão de Soares
Prasad & Lapparent de Broin (2002); dentes
et al. (1980), para a qual são sugeridas idades
maxilares hipertrofiados; entalhe no rostro para
turoniano-santoniana (Gobbo-Rodrigues et al.,
encaixe dos dentes caniniformes do dentário;
2003) ou campaniano-maastrichtiana (Santucci
em vista lateral, margem alveolar da maxila
& Bertini, 2001). De seu rico conteúdo fossilífero
arqueada anteriormente aos dentes caniniformes;
(Gayet & Brito, 1989; Candeiro, 2005), o registro
aproximação mediana dos pré-frontais.
dos Crocodyliformes configura-se como um dos
os mais diversos do Cretáceo em escala global A localidade de coleta do novo espécime
(Candeiro & Martinelli, 2006). Dentre os grupos corresponde à localidade-tipo de Baurusuchus
encontrados na Formação Vale do Rio do Peixe albertoi, encontrando-se a cerca de 300 metros
destaca-se a família Baurusuchidae (Price, 1945), da localidade-tipo de B. salgadoensis. O material-
com registro de seis táxons (Baurusuchus pachecoi tipo de B. albertoi é formado por um crânio parcial
Price, 1945; Baurusuchus salgadoensis Carvalho e pós-crânio praticamente completo, enquanto
et al., 2005; Baurusuchus albertoi Nascimento & que o holótipo de B. salgadoensis compreende
Zaher, 2010; Stratiotosuchus maxhechti Campos somente um crânio; o abundante material pós-
et al., 2001; Campinasuchus dinizi Carvalho et al., craniano atribuído ao táxon (Vasconcellos &
2011; Pissarrachampsa sera Montefeltro et al., in Carvalho, 2010) não foi descrito até o momento.
press) que representa a maior diversidade do grupo O estudo do espécime aqui apresentado, que
em uma única unidade estratigráfica. Para a região possui sobreposição de regiões anatômicas com
de General Salgado-SP, foram descritas duas ambos os táxons, representa uma oportunidade
espécies associadas ao gênero Baurusuchus (Price, de reavaliar a diversidade de Baurusuchidae da
1945): B. salgadoensis (Carvalho et al., 2005) e B. região de General Salgado. Caso seja evidenciada
albertoi (Nascimento & Zaher, 2010). a afinidade do novo material a algum dos dois
táxons supracitados, as partes anatômicas ausentes
Reportamos preliminarmente um novo
nos respectivos holótipos serão descritas, de modo
material de Baurusuchidae (LPRP/USP 0229)
a complementar as informações disponíveis
composto por crânio e pós-crânio associados,
para tais táxons. Alternativamente, se os estudos
coletados em rochas da Formação Vale do Rio
comparativos identificarem características
do Peixe, na área do Córrego Buriti, General
autapomórficas que justifiquem a proposição de
Salgado-SP (20º34’0” S - 50º27’55” O), em
um novo táxon, este será descrito em detalhe,
duas expedições (de 16 a 18 de março e de 15 a
apresentando-se como mais uma evidência
18 de maio de 2011) da equipe do Laboratório
da grande diversidade de Baurusuchidae da
de Paleontologia de Ribeirão Preto, FFCLRP-
Formação Vale do Rio do Peixe.
USP. Até o momento, a ainda parcial preparação
laboratorial permitiu o reconhecimento de

714
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS XVIII Congresso Brasileiro de Paleontologia.
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715
Figura 1. Crânio do novo espécime de Baurusuchidae (LPRP/USP 0229) em fase de preparação, vista dorsal. Escala =
10cm.

716
NOVO REGISTRO OOLÓGICO ATRIBUÍDO À CROCODYLIFORMES NO GRUPO
BAURU (FORMAÇÃO PRESIDENTE PRUDENTE, CRETÁCEO SUPERIOR)
Júlio Cesar de Almeida Marsola1 (juliomarsola@usp.br), Felipe Chinaglia Montefeltro1 (felipecm@pg.ffclrp.usp.br),
Max Cardoso Langer1 (mclanger@ffclrp.usp.br)
Universidade de São Paulo – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
1

INTRODUÇÃO mesmos depósitos são também registrados restos


fragmentários de Titanosauria e dentes e restos
Registros oológicos de Crocodyliformes
esqueletais de Mesoeucrocodylia, incluindo o
são componentes recorrentes de assembleias
recentemente descrito Peirosauridae Pepesuchus
fossilíferas Mesozóicas e Cenozóicas em todo o
mundo. Estes são, contudo, bem menos comuns deiseae (Campos et al., 2011).
que os fósseis esqueletais associados ao grupo.
Esta escassez relativa é geralmente atribuída a CONCLUSÕES
fatores intrínsecos à composição dos ovos de
Crocodyliformes, mais frágeis que aqueles de Coletado no “tartaruguito”, o espécime
outros amniotas (Grellet-Tinner et al., 2006). aqui reportado se encontra depositado na coleção
No Brasil, ovos e fragmentos de cascas de ovos do Laboratório de Paleontologia da Faculdade
fossilizados de Crocodyliformes foram registrados de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
apenas nos estados de São Paulo e Minas Gerais Preto–USP, LPRP-USP 0052 (Figura 1), e se
(tabela 1). Reportamos aqui uma nova ocorrência compõe de um ovo praticamente completo,
oológica de Crocodyliformes proveniente da com uma das extremidades intemperizada. A
Formação Presidente Prudente, município de associação do espécime aos Crocodyliformes é
Pirapózinho, região de Presidente Prudente-SP. dada por diversas características macroscópicas
diagnósticas do grupo, tais como formato elíptico
e extremidades de seu eixo maior acentuadamente
CONTEXTO GEOLÓGICO E arredondadas, superfície externa da casca lisa e
PALEONTOLÓGICO de pequena espessura (Mikhailov, 1991; Hirsch
& Kohring, 1992; Kohring & Hirsch, 1996;
A Formação Presidente Prudente Mikhailov, et al., 1996). O espécime mede 5,1
corresponde à grande parte das rochas aflorantes cm em seu eixo maior e 2,9 cm em seu eixo
do Grupo Bauru na região da cidade homônima, menor, perceptivelmente comprimido. Uma mais
estando esta subordinada à Formação Adamantina precisa avaliação das afinidades do espécime
na subdivisão clássica de Soares et al. (1980). Esta incluirão análises ultraestruturais, mas faltam
unidade estratigráfica tem sua gênese associada a dados comparativos para confirmar uma possível
depósitos de um sistema fluvial meandrante, com atribuição a P. deiseae. Não obstante, o registro
canais rasos e sinuosidade relativamente baixa, de ovos de Crocodyliformes no “Tartaruguito”
sendo caracterizada pela alternância de depósitos apresenta-se como evidência adicional que poderá
de preenchimento de canais amplos com auxiliar na interpretação acerca do paleoambiente
depósitos de planície de inundação e rompimento em que este depósito singular se formou.
de diques marginais, onde os restos esqueletais
são potencialmente encontrados (Fernandes &
Coimbra, 2000). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Uma particularidade do registro fóssil da
ANTUNES, M.T.; TAQUET, P.V. & RIBEIRO,
Formação Presidente Prudente corresponde ao
V. 1998. Upper Jurassic dinosaur and
extraordinário depósito tratado informalmente
crocodile eggs from Pai Mogo nesting
como “Tartaruguito”. Este possui uma
site (Lourinhã -Portugal.). Memórias da
concentração única de elementos esqueletais de
Academia das Ciências de Lisboa. 37: 83-99.
quelônios dispostos em um arranjo imbricado
(Suarez, 2002), relacionados majoritariamente ARRUDA, J.T.C.; CARVALHO, I.S.
ao táxon Bauruemys elegans, e mais raramente à & VASCONCELLOS, F.M. 2004.
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“A complete crocodylian egg from the Upper Sítios Geológicos e Paleobiológicos. 1: 554.
Miocene (Chinji Beds) of Pakistan and its

Tabela 1. Registro oológico fóssil global de Crocodyliformes.

719
Figura 1. Fotos (“a” e “c”) e desenho esquemático (“b” e “d”) do espécime LPRP-USP 0052. Linhas tracejadas sugerem
o formato original da extremidade intemperizada. Cinza = casca do ovo preservada; Branco = superfície intemperizada
(onde a casca foi perdida).

720
OCORRÊNCIA DE CARENA DUPLA EM DENTES DE THEROPODA
DO AFLORAMENTO SANTA IRENE, CRETÁCEO SUPERIOR DA
BACIA BAURU, MONTE ALTO ESTADO DE SÃO PAULO
Sandra Aparecida Simionato Tavares1 (sandraastavares@uol.com.br), Fresia Ricardi Branco1 (fresia@ige.unicamp.br) ,
Paulo Gilberto da Rocha Tavares2 (pg-tavares@uol.com.br), Antonio Celso de Arruda Campos2 (mpaleo@montealto.sp.gov.br)
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Instituto de Geociências; 2Museu de Paleontologia de Monte Alto
1

RESUMO para os Theropoda, são dentes lateralmente


achatados, bordos serrilhados, dentículos
No afloramento da fazenda Santa Irene,
apresentando morfologias distintas e com sulcos
em Monte Alto, interior do estado de São Paulo,
(BENTON,1990; BERTINI et al., 1997),
foram coletados, nos anos de 1997 e 1998, dentes
porém, com a presença de carena dupla, ou seja, a
de dinossauros Theropoda isolados sem a presença
disposição de duas fileiras de dentículos ao longo
de ossos da pré-maxila, maxila e mandíbula. Neste
das carenas.
estudo são descritos dois dentes de Theropoda
que apresentam carena dupla ao longo dos seus
bordos serrilhados anterior e posterior. OBJETIVO
Palavras-chave: Carena Dupla, Identificar a presença de carena dupla em
Theropoda, Monte Alto dentes de Theropoda, encontrados no afloramento
Santa Irene, Monte Alto, estado de São Paulo.
ABSTRACT
In outcrop from the Santa Irene farm, CONTEXTO GEOLÓGICO
in Monte Alto, São Paulo state, in 1997 and Na região de Monte Alto ocorrem
1998, isolated teeth of Theropoda dinosaur were duas unidades litoestratigráficas: as Formações
collected without the presence of bones of the Adamantina e Marília. A Formação Adamantina
premaxilla, maxilla and mandible. This study aflora em praticamente toda a área de ocorrência
describe two Theropoda teeth that have split do Grupo Bauru, estando recoberta parcialmente
carina along their anterior and posterior serrated pela Formação Marília no compartimento centro
edges. oriental da bacia (PAULA E SILVA et al., 2003).
Keywords: Split Carina, Theropoda, O afloramento Santa Irene, segundo
Monte Alto Bertini et al. (1999), constitui-se de arenitos
fluviais avermelhados do topo da Formação
INTRODUÇÃO Adamantina (Campaniano–Maastrichitiano).
É interpretado como depósitos fluviais
Escavações paleontológicas realizadas no
com deposição sazonal de sedimentos e
município de Monte Alto, estado de São Paulo,
desenvolvimento de solos, dando origem à
têm revelado interessantes assembleias fossilíferas,
formação de calcretes, resultado de períodos secos
como a do afloramento Santa Irene. Este campo
marcantes (Figura 1).
fossilífero possui uma quantidade expressiva
de fósseis bem preservados que se apresentam
associados, como dentes isolados de Theropoda MATERIAIS E MÉTODOS
e Mesocrocodylia a partes do pós-crânio de Para a análise geral dos dentes, das
um titanosaurídeo. Os exemplares envolvidos superfícies das carenas, bordos serrilhados e
neste estudo compõem o acervo do Museu dentículos, foram realizadas diversas imagens
de Paleontologia de Monte Alto e possuem dos dentes no decorrer do estudo, obtidas por
número de registro MPMA-12-00D1-97 e estereomicroscópio com câmera acoplada. Para
MPMA-12-0D12-97 e correspondem a dois as mensurações da base/topo e seção basal dos
exemplares de dentes com características descrita dentes, foi utilizado um paquímetro MAUb-CH

721
stainless. Para fins didáticos e melhor visualização carena posterior e não apresentam uma quebra
dos detalhes dos dentes estudados, as imagens central no dentículo.
obtidas foram organizadas através do editor de
imagens Adobe Photoshop CS5.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENTON, M. J. Vertebrate Paleontology. Harper –
DESCRIÇÃO DOS DENTES DE
Collins Academic, London, 1990.
THEROPODA COM CARENA DUPLA
BERTINI, R.J. ; FRANCO, A.C.; TOLEDO,
C.E.V. & CAMPOS, A.C.A. Theropod
MPMA-12-00D1-97 teeth from the Adamantina Formation,
Coroa fragmentada no ápice, altura de Upper Cretaceous of São Paulo State.
31,6 mm, sendo comprimida lábio-lingualmente. Analysis of dental morphology. In: XV
Face labial e lingual levemente convexa. Seção Congresso Brasileiro de Paleontologia, 1997,
basal antero-posterior elíptica, com 17,0 mm de São Pedro. Boletim de Resumos do XV
comprimento e 7,0 mm de espessura. Inclinação Congresso Brasileiro de Paleontologia. São
da carena posterior maior que 90º. Carenas, Pedro, 1997 p. 103-103.
anterior e posterior, com 2,9 e 2,2 dentículos
por milímetro respectivamente na região mesial, PAULA E SILVA, F. 2003. Geologia de superfície e
presença de carena dupla na região medial da hidroestratigrafia do Grupo Bauru no Estado de
carena anterior (Figura 2). São Paulo. Programa de Pós-Graduação em
Geologia, Universidade do Estado de São
Paulo – Rio Claro, Tese de Doutorado, 166 p.
MPMA-12-0D12-97
Coroa completa, altura de 13,6 mm, sendo BERTINI, R.J.; SANTUCCI, R.M. &
comprimida lábio-lingualmente. Face labial ARRUDA-CAMPOS, A.C. Firts
convexa e lingual côncava. Seção basal antero- occurrence of Aeolosaurus (Sauropoda,
posterior de forma elíptica, com 7,7 mm de Titanosauridae) in Bauru Group of the
comprimento e 4,8 mm de espessura. Inclinação Paraná Basin, Brasil. In: Congresso Brasileiro
da carena posterior maior que 90º. Carenas, de Paleontologia, 16., 1999, Crato. Boletim de
anterior e posterior, com 2,6 e 2,6 dentículos Resumos. Crato:Urca, p. 27-28, 1999.
por milímetro respectivamente na região mesial,
presença de carena dupla na carena posterior
(Figura 3).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo foi possível observar
que os exemplares de número MPMA-12-
00D1-97 e MPMA-12-0D12-97, apresentam
carenas duplas, com a disposição de duas fileiras
de dentículos. Nos exemplares MPMA-12-
00D1-97 e MPMA-12-0D12-97, coletados
no afloramento Santa Irene, pode-se observar a
presença de carena dupla nos bordos anterior e
posterior. A carena dupla no exemplar MPMA-
12-00D1-97 está presente na região medial da
carena anterior, enquanto no exemplar MPMA-
12-0D12-97, esta característica é observada na

722
Figura 1. Perfil geológico do afloramento Santa Irene, Monte Alto, Estado de São Paulo.

723
Figura 2. 1-Vista geral da carena anterior do exemplar MPMA-12-00D1-97; 2- vista da carena dupla; 3- Detalhe dos
dentículos que formam a carena dupla.

Figura 3. 1-Vista geral da carena anterior MPMA-12-0D12-97; 2- vista da carena dupla; 3- Detalhe dos dentículos que
formam a carena dupla.

724
OCORRÊNCIA DE PEIXES FÓSSEIS NA FORMAÇÃO SÃO SEBASTIÃO,
CRETÁCEO INFERIOR DA BACIA DE TUCANO, BAHIA, BRASIL
Hanna Carolina Lins de Paiva1 (carolinalpaiva@yahoo.com.br), Rafael Costa da Silva2 (rafael.costa@cprm.gov.br),
Carolina Reis2 (carolina@cprm.gov.br), Caroline Couto Santos2 (caroline.santos@cprm.gov.br)
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biociências, IBIO; 2CPRM – Serviço Geológico do Brasil, Sureg/SA –
1

GEREMI, DIPALE/DEGEO

RESUMO grossos, intercalados com argilitos sílticos, datados


do Eocretáceo, do Berriasiano ao Aptiano (Costa
Estudos recentes revelaram a ocorrência
et al., 2007). A biota presente nessa formação é
de peixes fósseis até então desconhecidos na
pouco estudada e a ictiofauna é desconhecida até
Formação São Sebastião, Bacia de Tucano. O
o momento.
material consiste em escamas e ossos isolados,
além de um exemplar em posição de articulação. Estudos paleontológicos realizados
Os exemplares correspondem ao gênero Lepidotes durante um trabalho de mapeamento na região
(Osteichthyes, Actinopterygii, Semionotiformes), revelaram a ocorrência de elementos osteológicos
típico de ambientes fluviais. Os espécimes tendem de peixes fósseis, sendo objetivo deste estudo
a ser transportados e desarticulados após a morte, a análise e identificação desses exemplares. O
mas o exemplar articulado provavelmente sofreu material consiste em oito amostras contendo
um soterramento rápido. escamas e ossos isolados, além de um exemplar
em posição de articulação encontrado rolado e
Palavras-chave: Ictiofauna, Cretáceo,
fragmentado em 14 amostras. Os exemplares
Tafonomia
procedem de um afloramento situado em uma
encosta de morro no Município de Canudos
ABSTRACT (10º01’53,62”S; 38º56’30,12”O).
Recent studies revealed the occurrence
of fossil fish until then unknown in the São RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sebastião Formation, Tucano Basin. The material
Os ossos isolados ocorrem associados
consists of isolated bones and scales, as well as an
a escamas e apresentam-se fragmentados e
articulated specimen. The fishes correspond to the
desgastados, não sendo possível uma identificação
genus Lepidotes (Osteichthyes, Actinopterygii,
precisa. As escamas isoladas são do tipo ganóide e
Semionotiformes), typical of fluvial environment.
de forma rômbica (Figura 1A). O bordo posterior,
The specimens tend to be transported and
quando preservado, é liso e a porção anterior é
disarticulated after death, but the articulated
mais delgada. Em uma das escamas analisadas
specimen was probably suffered a faster burial.
foi observada ornamentação em forma de sulcos
Keywords: Ichthyofauna, Cretaceous,
paralelos na porção posterior (fig. 1A). O exemplar
Taphonomy
articulado (Figuras 1B e 1C) encontra-se
preservado em três dimensões, mas ainda em fase
INTRODUÇÃO de preparação, não sendo observáveis porções
A Bacia de Tucano apresenta sequências craniais ou caudais. Entretanto, é possível observar
deposicionais do Neojurássico e Eocretáceo, a imbricação e grande espessura das escamas,
ocupando uma área de aproximadamente além da posição posterior da superfície externa
30500 km² no Nordeste do Brasil. O arcabouço (Figura 1D). Ocorre também um osso alongado,
estrutural relaciona-se ao processo de rifteamento cilíndrico e sem fenômenos ósseos, representando
que resultou na fragmentação do Gondwana possivelmente um raio de nadadeira (Figura 1E).
durante o Eocretáceo (Costa et al., 2007). Na sub Essas características permitem atribuir
bacia Tucano Central, a Formação São Sebastião os espécimes estudados ao gênero Lepidotes
é caracterizada por depósitos fluviais de arenitos (Osteichthyes, Actinopterygii, Semionotiformes),

725
porém ainda é inviável uma identificação específica. CONCLUSÕES
O gênero Lepidotes é um dos mais característicos
Os exemplares estudados correspondem ao
dentre a ictiofauna brasileira do Mesozoico, entre
gênero Lepidotes (Osteichthyes, Actinopterygii,
o Neojurássico e Neocretáceo (Gallo & Brito,
Semionotiformes), típico de ambientes fluviais.
2004). A descrição frequentemente é baseada em
Até o momento o registro fóssil de peixes da
escamas, fragmentos de ossos e dentes isolados,
Formação São Sebastião era desconhecido.
embora as características diagnósticas se refiram a
Os atuais resultados permitem ampliar o
exemplares inteiros.
conhecimento paleontológico sobre as biotas
Os peixes do gênero Lepidotes são típicos cretácicas do Nordeste e revelam o potencial da
de ambiente fluviais, onde há constante renovação região para a pesquisa científica.
hídrica. Os peixes tendem a ser transportados e
desarticulados após a morte, seguindo o fluxo das
correntes. O exemplar articulado provavelmente REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sofreu pouco transporte e um soterramento BRITO, P. & GALLO, V. 2003. Presença e
rápido. Já a ocorrência de escamas e os ossos Lepidotes Agassiz, 1832 (Actinopterygii,
desarticulados indica que os outros indivíduos Semionotidae) na Formação Santana,
sofreram necrólise, desarticulação e transporte em Cretáceo Inferior da Bacia do Araripe,
variados graus antes de serem soterrados. O fato de Nordeste do Brasil. Boletim do Museu
encontrar espécimes inteiros associados a outros Nacional, nº 67. 7 p.
fragmentados e desarticulados permite sugerir
que a associação fossilífera seria parautóctone ou COSTA, I.P.; MILHOMEM, P.S.; BUENOS,
mais provavelmente uma mistura de elementos G.V.; SILVA, H.S.R.L. & KOSIN, M.D.
autóctones e alóctones (Holz & Simões, 2002). 2007. Sub bacias de Tucano Sul e Central.
Várias espécies de Lepidotes compartilham Boletim de Geociências da Petrobrás,
características morfológicas das escamas, tais 15(2):433-443.
como tipo de bordo e ornamentação, o que
dificulta a distinção dentre elas. O exemplar GALLO, V. & BRITO, P.M. 2004. An overview
articulado descrito neste estudo é inédito, pois of Brazilian semionotids. In: ARRATIA,
até então só eram conhecidos espécimes de G. & TINTORI, A. (ed.), Mesozoic Fishes
Lepidotes piauhyensis Roxo e Löfgren, 1936 e 3 – Systematics, Paleoenvironments and
Lepidotes roxoi Santos, 1953 encontrados nessa Biodiversity, Verlag Dr. Friedrich Pfeil,
condição nas localidades de Pastos Bons e Ilhas, München (2004), p. 253-264.
respectivamente, além de Araripelepidotes
temnurus Santos, 1985, da bacia do Araripe (CE). HOLZ, M. & SIMÕES, M.G. 2002. Elementos
Uma das escamas isoladas estudadas fundamentais de Tafonomia. Porto Alegre:
apresenta ornamentações em forma de sulcos de UFRGS. 240 p.
forma semelhante à Lepidotes llewellyni Santos,
ROXO, M. & LÖFGREN, A. 1936. Lepidotus
1953, diferindo assim de Lepidotes oliverai Santos,
piauhyensis, sp. nov. Notas Preliminares e
1969, Lepidotes wenzae Brito & Gallo, 2003 e
Estudos, DGM/ DNPM, 1:7-12.
Lepidotes dixseptiensis Santos, 1963. Outra das
escamas isoladas é espessa como em Lepidotes SANTOS, R.S. 1953. Lepidotus llewellyni, nova
mawsoni Woodward, 1888 e L. roxoi, com o espécie, da Formação Santo Amaro, Estado
bordo posterior liso como em Lepidotes oliverai da Bahia. Notas Preliminares e Estudos,
Santos, 1969 e as escamas da região caudal em L. DGM/ DNPM, 67:1–12.
piauhyensis.
SANTOS, R.S. 1963. Peixes do Cretácico do
Rio Grande do Norte. Anais da Academia
Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro,
35(1):67-74.

726
SANTOS, R.S. 1969. Sobre um Lepidotes PALEONTOLOGIA, Rio de Janeiro, 1985.
da Formação Itaparica, Estado da Bahia. 2:141-145.
Boletim de Geologia do Instituto de
Geociências da UFRJ, 4: 43-46. WOODWARD, A.S. 1888. Notes on some
vertebrate fossils from the province of Bahia,
SANTOS, R.S.1985. A ictiofauna da Formação Brazil, collected by Joseph Mawson. Annual
Riachuelo, Estado do Sergipe. In: VIII Magazine of Natural History, 2(6):133–136.
CONGRESSO BRASILEIRO DE

Figura 1. Fósseis de peixes da Formação São Sebastião. A) escamas isoladas; B e C) fragmentos de Lepidotes em
posição de articulação; D) Fragmento mostrando secção longitudinal de Lepidotes; E) possivel raio de nadadeira. Os
ossos isolados ocorrem associados a escamas e apresentam-se fragmentados e desgastados, não sendo possível uma
identificação precisa. As escamas isoladas são do tipo ganóide e de forma rômbica (fig. 1A). O bordo posterior, quando
preservado, é liso e a porção anterior é mais delgada. Em uma das escamas analisadas foi observada ornamentação em
forma de sulcos paralelos na porção posterior (fig. 1A). O exemplar articulado (figs. 1B e 1C) encontra-se preservado
em três dimensões, mas ainda em fase de preparação, não sendo observáveis porções craniais ou caudais. Entretanto,
é possível observar a imbricação e grande espessura das escamas, além da posição posterior da superfície externa (fig.
1D). Ocorre também um osso alongado, cilíndrico e sem fenômenos ósseos, representando possivelmente um raio de
nadadeira (fig. 1E).

727
OCORRÊNCIA DE PEPESUCHUS DEISEAE (CROCODYLIFORME)
NO MUNICÍPIO DE CATANDUVA, ESTADO DE SÃO
PAULO (BACIA BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR)
Fabiano Vidoi Iori1 (biano.iori@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho1 (ismar@geologia.ufrj.br),
Edvaldo Fabiano dos Santos2 (efs.75@ig.com.br), Laércio Fernando Doro2 (fernando@unimedcatanduva.com.br),
Antonio Celso de Arruda Campos3 (mpaleo@montealto.sp.gov.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências - Departamento de Geologia
1

Prefeitura Municipal de Catanduva; 3Museu de Paleontologia de Monte Alto


2

RESUMO paleoambientais, tais como eólico, aluvial, fluvial,


lacustre e depósitos de paleosolo (Dias-Brito et
Um novo espécime de Pepesuchus deiseae,
al., 2001; Fernandes & Coimbra, 1996, 2000).
oriundo do município de Catanduva, Estado de
São Paulo é apresentado neste estudo, ampliando Na região de Catanduva aflora a Formação
assim a área de distribuição desta espécie de Adamantina,observa-se na seqüência estratigráfica
Crocodyliforme no contexto da Bacia Bauru. do local a alternância entre camadas de areia e
camadas de sedimentos finos depositados em
Palavras-chave: Pepesuchus deiseae,
estratificação plano-paralela (Figura 1). O fóssil
Catanduva, Bacia Bauru
estava em um bloco isolado, mas as feições da
matriz permitiram sua contextualização. O estrato
ABSTRACT do fóssil é composto essencialmente por areia fina,
A new specimen of Pepesuchus deiseae, não muito cimentada, de cores avermelhada e bege
from the Catanduva County, São Paulo State, is acinzentada intermediando-se, ocorrem nódulos
presented in this study, widening the distribution carbonáticos esparsos. A camada é bastante
area of this specie of the Crocodyliforme in the bioturbada, com icnitos bem evidentes, algumas
Bauru Basin. vezes estão preenchidos por sedimentos pelíticos.
Keywords: Pepesuchus deiseae, Catanduva, Os restos aqui analisados são alóctones, e o
Bauru Basin esqueleto foi desarticulado antes do soterramento
do espécime.

INTRODUÇÃO Sistemática
Durante as obras de duplicação da rodovia CROCODYLOMORPHA Walker, 1970
SP 351, uma grande quantidade de rocha foi CROCODYLIFORMES Hay, 1930
removida para a construção de uma ponte entre MESOEUCROCODYLIA Whetstone
os quilômetros 216 e 217, em um dos trevos de & Whybrow, 1983
acesso à cidade de Catanduva-SP. Um trabalho SEBECIA Larsson and Sues 2007
sistemático de prospecção foi realizado junto
PEIROSAURIDAE Gasparini 1982
aos blocos de rocha e vários fósseis, que incluem
Material - MPMA 68-0001-11.
restos de dinossauros, testudinos, crocodilifomes,
Fragmentos do ramo mandibular esquerdo
e biválvios, foram encontrados. Neste estudo
(Figura 2.1), ossos da metade posterior do crânio
são analisados restos de um Crocodyliforme
(Figura 2.2) e uma costela.
descoberto durante estas atividades.
MPMA – Museu de Paleontologia de
A Bacia Bauru consiste de uma depressão
Monte Alto
pós-gonduânica resultante de subsidência termo-
mecânica ocorrida durante o Cretáceo Superior.
Formou-se no centro sul da Plataforma Sul- Descrição e Comparação
Americana em dois intervalos de sedimentação: O crânio é fortemente ornamentado. A
Turoniano-Santoniano e Maastrichtiano. Seus região da fenestra latero-temporal volta-se quase
depósitos ocorreram em diversos contextos dorsalmente. Os quadrados são direcionados para
fora e para trás, além da margem posterior do teto

728
craniano. O esquamosal tem a superfície dorsal em dados micropaleonotológicos, isotópicos
sub-trapezoidal e plana, e o processo postero- e estratigráficos. Rèvue Paléobiologie, 20(1):
lateral fino e liso. As margens anteriores das 245–304.
fenestras antorbitais estão preservadas.
A maior parte do dentário esquerdo está FERNANDES, L.A. & COIMBRA, A.M.
preservada e indica uma forma longirrostrina, de 1996. A Bacia Bauru (Cretáceo Superior,
mandíbula estreita e não muito alta. Os quatorze Brasil). Anais da Academia Brasileira de
primeiros alvéolos dentários são observados, Ciências, 68(2): 195–205. FERNANDES,
sendo que apenas o 2º e o 12º estão vazios; a L.A. & COIMBRA, A. M. 2000. Revisão
extremidade distal do dentário está quebrada, Estratigráfica da Parte Oriental da Bacia
mas a raiz do primeiro dente está preservada e Bauru (Neocretáceo). Revista Brasileira de
é orientada anteriormente; o quarto alvéolo é o Geociências, 30(4): 717-728.
mais alto e com maior diâmetro. Todos os dentes
apresentam estrias longitudinais bem marcadas ao
longo de toda coroa e são levemente bicarenados.
Do 3º ao 11º dentes, as coroas são pontiagudas,
já o 13º e o 14º dentes tem coroas mais obtusos.
O 7º e 8º são muito pequenos e emparelham-se,
respectivamente ao 6º e 9º dentes. O 13º dente é
duas vezes maior que o 14º.
As feições aqui apontadas no espécime de
Catanduva (MPMA 68.0001-11) são as mesmas
observadas em Pepesuchus deiseae Campos,
Oliveira, Figueiredo, Riff, Azevedo, Carvalho &
Kellner, 2011, sendo várias delas características
diagnósticas da espécie.

CONCLUSÕES
O fóssil 68-0001-11 é aqui atribuído à
espécie Pepesuchus deiseae. A identificação deste
material amplia a área de ocorrência da espécie na
Bacia Bauru.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, D.A.; OLIVEIRA, G.R.;
FIGUEIREDO, R.G.; RIFF, D.;
AZEVEDO, S.A.K.; CARVALHO, L.B.
& KELLNER, A.W.A. 2011. On a new
peirosaurid crocodyliform from the Upper
Cretaceous, Bauru Group, southeastern
Brazil. Anais da Academia Brasileira de
Ciências, 83(1): 317–327

DIAS-BRITO, D.; MUSACCHIO, E.A.;


CASTRO, J.C.; MARANHÃO, M.S.A.S.;
SUAREZ, J. M. & RODRIGUES, R. 2001.
Grupo Bauru: uma unidade continental do
Cretáceo no Brasil – concepções baseadas

729
Figura 1. Perfil estratigráfico do local de coleta do fóssil MPMA 68-0001-11.

Figura 2. Fragmentos do dentário esquerdo (1) e do crânio (2) de Pepesuchus deiseae (MPMA 68-0001-11) em vista
dorsal. No detalhe dentes mandibulares em vista labial. Legendas: a – alvéolo, es – esquamosal, f – frontal, fa – fenestra
antorbital, flt – fenestra latero-temporal, fst – fenestra supra-temporal, j – jugal, p – parietal, orb – órbita, q – quadrado,
qj – quadrado-jugal.

730
OS CINODONTES NÃO-MAMALIAFORMES E SUA CONTRIBUIÇÃO
PARA O REFINAMENTO BIOESTRATIGRÁFICO DO TRIÁSSICO
MÉDIO-SUPERIOR DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Marina Bento Soares1 (marina.soares@ufrgs.br), Cesar Leandro Schultz1 (cesar.schultz@ufrgs.br),
Teó Veiga de Oliveira2 (teovoli@yahoo.com.br), Tomaz Panceri Melo1
UFRGS, IGEO, Departamento de Paleontologia e Estratigrafia; 2UEFS, Departamento de Ciências Biológicas
1

RESUMO of them: Santacruzodon e Riograndia. In this


paper, we present the current state of knowledge
As rochas relacionadas ao Triássico Médio
on the biostratigraphy of southern Brazilian
e Superior do Rio Grande do Sul (Sequências
Middle-Upper Triassic based on paleotetrapods,
Santa Maria1 e 2; Ladiniano-Noriano) abrigam
emphasizing the non-mammaliaform cynodonts
quatro associações de faunas de paleotetrápodes
contribution for its refinement.
continentais que se sucedem no tempo e que são
correlacionáveis com outras faunas gondvânicas. Keywords: Cynodontia, Triassic,
Estas associações faunísticas são individualizadas, Biostratigraphy
da base para o topo, em quatro Cenozonas:
Dinodontosaurus, Santacruzodon, Hyperodapedon INTRODUÇÃO
e Riograndia. Os cinodontes não-mamaliaformes
O rico conteúdo de paleotetrápodes do
(Therapsida, Cynodontia) compõem o grupo
Triássico Médio a Superior do sul do Brasil,
taxonomicamente mais abundante nas quatro
composto basicamente por dicinodontes,
Cenozonas citadas e desempenharam papel-
cinodontes não-mamaliaformes, rincossauros e
chave para o reconhecimento de duas delas:
arcossauros, é registrado em rochas relacionadas
Santacruzodon e Riograndia. Neste trabalho,
às Sequências Santa Maria 1 (Ladiniano) e 2
apresentamos o estado atual do conhecimento
(Carniano-Noriano) (Fig. 1), que correspondem
sobre a bioestratigrafia do Triássico Médio
a sequências de terceira ordem inseridas na
e Superior do sul do Brasil, baseada em
Supersequência Santa Maria (Zerfass et al., 2003).
paleotetrápodes, com ênfase na contribuição
A Sequência Santa Maria 1 e a base da Sequência
dos cinodontes não-mamaliaformes para o seu
Santa Maria 2, relacionadas à Formação Santa
refinamento.
Maria, caracterizam-se pela predominância de
Palavras-chave: Cynodontia, Triássico, pelitos laminados a maciços, que correspondem
Bioestratigrafia a depósitos de origem lacustre e a planícies de
inundação, relacionados a um sistema fluvial
ABSTRACT anastomosado (Scherer et al., 2000; Zerfass et al.,
2003). Já os depósitos relacionados ao topo da
The stratigraphic levels assigned to the
Sequência Santa Maria 2 (Formação Caturrita)
Middle and Late Triassic from Rio Grande do Sul
caracterizam-se pelo predomínio de camadas
(Santa Maria 1 and 2 Sequences; Ladinian-Norian)
de areia fina, que ocorrem como lentes maciças
bear four faunistic associations of continental
ou estratificadas interpretadas como corpos de
fossil tetrapods that succeed in time and can be
areia amalgamados relacionados a canais fluviais
correlated with other Gondwanian faunas. These
entrelaçados (Zerfass et al., 2003; Rubert &
faunistic associations are individualized, from
Schultz, 2004). Quatro associaçãoes faunísticas
the basis to the top, as four Assemblage Zones:
distintas, individualizadas como Cenozonas ou
Dinodontosaurus, Santacruzodon, Hyperodapedon
Zonas-de-Associação, sucedem-se no tempo
and Riograndia. In all these biostratigraphic
ao longo das Sequências Santa Maria 1 e 2:
unities, the non-mammaliaform cynodonts
Dinodontosaurus, Santacruzodon, Hyperodapedon e
(Therapsida, Cynodontia) compose the most
Riograndia (Barberena et al., 1985; Soares et al.,
diversified tetrapod group and have played
2011). Em todas estas unidades bioestratigráficas,
an important role on the recognition of both

731
cujas idades propostas são primordialmente correlação da fauna de Santa Cruz do Sul com a
baseadas em correlações com faunas da Argentina fauna argentina da Formação Los Chañares, de
(formações Chañares, Ischigualasto e Los idade Ladiniana. Posteriormente, semelhanças
Colorados) e de Madagascar (formação Isalo II), os anatômicas entre alguns espécimes de Santa
cinodontes não-mamaliaformes (daqui em diante Cruz do Sul com traversodontídeos da Formação
referidos apenas como cinodontes) perfazem uma Isalo II de Madagascar, apontaram uma idade
significativa percentagem dos táxons identificados, Neoladiniana-Eocarniana para a referida fauna.
compondo o grupo mais abundante em termos Com base nestas correlações bioestratigráficas,
taxonômicos. Oito táxons são registrados para a foi então proposta (Abdala et al. (2001) a
Cenozona de Dinodontosaurus (e.g. Chiniquodon; Biozona de Traversodontídeos, posicionada
Massetognathus), cinco provêm da Cenozona de entre as Cenozonas de Dinodontosaurus e de
Santacruzodon (e.g. Santacruzodon; Menadon), Hyperodapedon. Em 2008, o achado de um crânio
sete ocorrem na Cenozona de Hyperodapedon (e.g. praticamente completo de um traversodontídeo
Exaeretodon; Therioherpeton) e seis são registrados (UFRGS-PV-1164-T), atestou definitivamente
para a Cenozona de Riograndia (e.g. Riograndia; a presença do táxon malgaxe Menadon besairei
Brasilitherium). Esta dominância taxonômica (Flynn et al., 1999) na Fauna de Santa Cruz do
reflete a diversidade morfológica e ecológica Sul (Melo et al., 2009), confirmando a correlação
atingida pelo grupo durante o Triássico no sul do temporal com a fauna da Formação Isalo II e a
Brasil. idade Neoladiniana-Eocarniana para esta Biozona.
Historicamente duas grandes biozonas, Posteriormente, outros traversodontídeos,
baseadas em tetrápodes, eram reconhecidas para compartilhando semelhanças anatômicas com
o meso-neotriássico do RS (Barberena et al., aqueles de Santa Cruz do Sul, foram descobertos
1985), por comparação direta com as paleofaunas em mais dois afloramentos situados nos municípios
da Argentina: Cenozona de Dinodontosaurus (= de Venâncio Aires e Vera Cruz, no Rio Grande do
Fauna de Los Chañares; Ladiniano) e Cenozona Sul (Fig. 1). Dentre eles, estão novos materiais de
de Hyperodapedon (= Fauna de Ischigualasto; Santacruzodon encontrados em Vera Cruz (Melo et
Carniano). Na última década, porém, os cinodontes al., 2010) e de traversodontídeos “Massetgnathus-
desempenharam papel-chave no reconhecimento like” em Vera Cruz e Venâncio Aires, o que
de outras duas cenozonas (Santacruzodon e permitiu a ampliação geográfica da Biozona de
Riograndia), permitindo tanto a correlação entre Traversodontídeos para as duas localidades acima
afloramentos de distintas localidades do Estado, citadas. Considerando que Santacruzodon é o
quanto das faunas sul-brasileiras com outras táxon mais abundante desta associação faunística
faunas gondvânicas. e que esta agora é registrada em três localidades
distintas, Soares et al. (2011) propuseram a
denominação Cenozona de Santacruzodon em
CENOZONA DE SANTACRUZODON referência à fauna encontrada em Santa Cruz do
O reconhecimento desta cenozona teve Sul, Venâncio Aires e Vera Cruz, ao invés do nome
início com a descoberta de uma fauna registrada no previamente usado, Biozona de Taversodontídeos
afloramento Schoenstatt, localizado no município (Abdala et al., 2001).
gaúcho de Santa Cruz do Sul (Abdala et al., 2001)
(Fig. 1). Nesta fauna, predominam os cinodontes
traversodontídeos, mas também são registrados CENOZONA DE RIOGRANDIA
chiniquodontídeos e probainognatídeos, além Os níveis superiores da Sequência Santa
de um único arcossauro proterocâmpsio. Maria 2 (Zerfass et al., 2003) revelam não apenas
Dentre os traversodontídeos, Santacruzodon uma variação faciológica, como já foi mencionado,
(Abdala & Ribeiro, 2003), exclusivo do Brasil, mas também de conteúdo faunístico. Até o início
foi o primeiro táxon formalmente descrito. A deste século, porém, a escassa quantidade de fósseis
presença de traversodontídeos “Massetognathus- conhecidos para este intervalo não permitia a
like”e chiniquodontídeos ainda indeterminados proposição de uma biozona formal. Inicialmente,
(Abdala et al., 2001) levou a uma primeira foi proposta uma unidade informal, denominada

732
“Intervalo de Jachaleria” (Scherer, 2004), baseada onde a presença do traversodontídeo Exaeretodon
na ocorrência, em um único afloramento, do passa a superar, em quantidade, os rincossauros
dicinodonte Jachaleria candelariensis (Araújo que dominam os níveis mais inferiores (Oliveira
& Gonzaga, 1980) que seria correlacionável à et al., 2007). No Rio Grande do Sul esta inversão
espécie Jachaleria colorata (Bonaparte, 1970), da quantitativa entre o rincossauro Hyperodapedon
base da Fm. Los Colorados, na Argentina, de e o cinodonte Exaeretodon é observada em pelo
idade eonoriana. Desde os anos 2000, porém, a menos dois afloramentos, localizados em Agudo
descoberta de novos afloramentos fossilíferos em e Vale do Sol. Esta mesma variação é igualmente
Candelária e Faxinal do Soturno (Fig. 1) revelou observada na Fauna de Ichigualasto, na Argentina
novos táxons de pequenos cinodontes avançados (Rogers et al., 1993), o que levou à proposição de
que mudaram este quadro. Dentre estes, o uma unidade bioestratigráfica distinta (Biozona
ictidossauro Riograndia guaibensis (Bonaparte de Exaeretodon), para o terço superior da Formação
et al., 2001) foi o primeiro a ser reportado. Em Ischigualasto (Martinez et al., 2010).
virtude do abundante registro de Riograndia O registro de cinodontes para o Triássico
e dos demais cinodontes, ainda sem descrição do Rio Grande do Sul continua crescendo
formal, mas, a princípio, muito próximos substancialmente, com pelo menos outros seis
aos ictidossauros, Rubert & Schultz (2004) novos táxons em fase de estudo e descrição. Isto
estabeleceram para estes níveis (incluindo aquele corrobora o potencial que o grupo oferece como
onde ocorre J. candelariensis) uma Cenozona ferramenta para a elucidação das correlações
de Ictidosauria [renomeada como Cenozona bioestratigráficas envolvendo as faunas de
de Mammaliamorpha por Schultz & Soares tetrápodes do Triássico Médio e Superior do sul
(2006)]. Atualmente, além de Riograndia, mais do Brasil.
quatro cinodontes são registrados nesta unidade
bioestratigráfica: Brasilodon, Brasilitherium,
Irajatherium e Minicynodon (Bonaparte et al., REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2010). Esta rica associação faunística, dominada ABDALA, F. & RIBEIRO, A.M. 2003. A new
pelos pequenos cinodontes e composta também traversodontid cynodont from the Santa
por procolofonídeos, lepidossauros e arcossauros, Maria Formation (Ladinian-Carnian) of
corrobora a idade Noriana (Langer et al., 2007). southern Brazil, with a phylogenetic analysis
Atualmente, sete afloramentos fossilíferos, of Gondwanan traversodontids. Zoological
localizados em Candelária e Faxinal do Soturno, Journal of the Linnean Society 139: 529-545.
são conhecidos na porção superior da Sequência
Santa Maria 2, sendo que Riograndia é o único ABDALA, F. & TEIXEIRA, A.M.S. 2004. A
táxon presente em cinco deles, o que levou Soares traversodontid cynodont of African affinity in
et al. (2011) a propor a nomeação de Cenozona the South American Triassic. Palaeontologia
de Riograndia para identificar esta unidade Africana 40: 11-22.
bioestratigráfica.
Além de contribuir no estabelecimento ABDALA, F.; RIBEIRO, A.M. & SCHULTZ,
das Cenozonas de Santacruzodon e Riograndia, C.L. 2001. A rich cynodont fauna of Santa
os cinodontes do Rio Grande do Sul abrem Cruz do Sul, Santa Maria Formation
perspectivas de refinamento bioestratigráfico (Middle-Late Triassic), southern Brazil.
em pelo menos mais duas frentes: (1) no Neues Jahrbuch für Geologie und Paläontologie,
reconhecimento de uma unidade bioestratigráfica Monatshefte 2001: 669-687.
de idade anisiana dentro da Sequência Santa
ARAÚJO, D.C. & GONZAGA, T.D.
Maria 1, devido a presença do gênero Luangwa,
1980. Uma nova espécie de Jachaleria
do Anisiano da África (Zâmbia) (Abdala &
(Therapsida, Dicynodontia) do Triássico
Teixeira, 2004); (2) na individualização de uma
do Brasil. In: Congreso Argentino de
nova unidade bioestratigráfica posicionada nos
Paleontologia y Bioestratigrafia, II Congreso
níveis superiores da Cenozona de Hyperodapedon,

733
Latinoamericano de Paleontologia 1, 1980. Congresso Brasileiro de Paleontologia. Livro
Actas, Buenos Aires, UBA, p. 159-174. de Resumos, Belém, 2009. p. 198.

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665–682. OLIVEIRA, T.V. & SCHULTZ, C.L. 2007.
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BONAPARTE J.F.; SCHULTZ, C.L.; SOARES, 1943 en una sección Triásica de Brasil y su
M.B. & MARTINELLI A. 2010. La fauna probable correlación con el mismo evento en
local de Faxinal do Soturno, Triásico Tardío la porción mediana superior de la Formación
de Rio Grande do Sul, Brazil. Rev Bras Ischigualasto (Triásico de Argentina). In:
Paleontol 13(3): 1-14. 23rd Jornadas Argentinas de Paleontología
de Vertebrados, Programa de Comunicaciones
BONAPARTE, J.F.; FERIGOLO, J. & Científicas y Libro de Resumenes. Trelew,
RIBEIRO, A.M. 2001. - A primitive Late Argentina, p.9.
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Science 286: 763-765. RUBERT, R.R. & SCHULTZ, C.L. 2004. - Um
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C.L. & FERIGOLO, J. 2007. – The Geociências 31: 71-88.
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south Brazil. Bulletin of the New Mexico SCHERER, C.M.S. 1994. Análise faciológica
Museum of Natural History and Science 41: e bioestratigráafica do Triáassico Superior
201-218. (topo da Formação Santa Maria) na região
de Candelária, RS. Dissertação de Mestrado
MARTINEZ, R.N.; SERENO, P.C.; em Geociências, PPGGeo-UFRGS. 100 p.
ALCOBER, O.A.; COLOMBI, C.E.;
RENNE, P.R.; MONTAÑEZ, I.P. & SCHERER, C.M.S.; FACCINI, U.F. &
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T.V. 2009. - Um novo traversodontídeo
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Santa Maria, Triássico Médio), In:XXI Cenozona de Ictidosauria do Triássico

734
Superior (Formação Caturrita) do Rio on the Brazilian continental Triassic
Grande do Sul. In: Simpósio Brasileiro biostratigraphy. Geodiversitas 33(2):5-18.
de Paleontologia de VertebradoS, 5, 2006.
Ciência & Natura, Santa Maria, UFSM, p. ZERFASS, H.; LAVINA, E.L.; SCHULTZ,
41. C.L.; GARCIA, A.J.V.; FACCINI, U.F.
& CHEMALE JR. F. 2003. Sequence
SOARES, M.B.; ABDALA, N.F. & BERTONI- stratigraphy of continental Triassic strata
MACHADO, C. 2011. A sectorial toothed of Southernmost Brazil: a contribution to
cynodont from the Santa Cruz do Sul fauna, Southwestern Gondwana palaeogeography
Santa Maria Formation and comments and palaeoclimate. Sedimentary Geology 161:
85–105.

Figura 1. À esquerda, mapa de localização das localidades ricas em tetrápodes fósseis do Triássico Médio e Superior
no Rio Grande do Sul, relacionadas às Cenozonas inseridas nas Sequências Santa Maria 1 e 2, de Zerfass et al.(2003), à
direita. Idades baseadas na International Stratigraphic Chart – ICS, 2009.

735
PEIROSSAURÍDEOS NO MUNICÍPIO DE IBIRÁ, ESTADO DE
SÃO PAULO (BACIA BAURU, CRETÁCEO SUPERIOR)
Fabiano Vidoi Iori1 (biano.iori@gmail.com), Ismar de Souza Carvalho1 (ismar@geologia.ufrj.br),
Marcelo Adorna Fernandes2 (marcelicno@yahoo.com.br), Aline Marcele Ghilardi2 (alinemghilardi@yahoo.com.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências - Departamento de Geologia;
1

Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva


2

RESUMO e o Maastrichtiano. A sequência cretácica


representa um pacote continental avermelhado
Neste estudo são apresentadas três
dominado por arenitos, siltitos, argilitos/folhelhos
ocorrências de peirossaurídeos na Bacia Bauru,
e calcretização em certos níveis (Dias-Brito et al.,
na região do município de Ibirá, Estado de São
2001; Fernandes & Coimbra, 1994, 1996, 2000;
Paulo, ampliando assim a área de distribuição
Batezelli et al., 2003).
desta família de Crocodyliformes no contexto da
Bacia Bauru. Os fósseis aqui analisados são oriundos
do município de Ibirá, Estado de São Paulo,
Palavras-chave: Peirosauridae, Ibirá,
onde aflora a Formação Adamantina. Nesta
Bacia Bauru
região, esta unidade litoestratigráfica é composta
por depósitos essencialmente arenosos, pouco
ABSTRACT maturos, frequentemente conglomeráticos,
This study presents the Peirosauridae interpretados como barras fluviais de sistemas de
occurrence in the Ibirá County, São Paulo canais entrelaçados, amplos e rasos. O registro
State, widening the distribution area of this fossilífero é composto por bioclastos presentes
Crocodyliformes family in the Bauru Basin. nas litofácies conglomeráticas (Fernandes &
Keywords: Peirosauridae, Ibirá, Bauru Coimbra, 2000).
Basin
Sistemática
CROCODYLOMORPHA Walker,
INTRODUÇÃO 1970
Uma ampla diversidade de CROCODYLIFORMES Hay, 1930
crocodilomorfos é oriunda da Bacia Bauru, MESOEUCROCODYLIA Whetstone
representada principalmente pelos notossúquios, & Whybrow, 1983
baurussúquios e peirossaurídeos. Neste estudo
PEIROSAURIDAE Gasparini, 1982
são registrados três elementos mandibulares
Materiais - MPMA 08-0057-00,
atribuídos aos peirossaurídeos.
MPMA 08-0059-11 e UFSCar RE. 294. Todos
As ocorrências de peirossaurídeos no
os fósseis consistem de porções distais de ramos
Brasil estão restritas à Bacia Bauru e são descritas
mandibulares de Crocodyliformes.
formalmente quatro espécies: Uberabasuchus
MPMA – Museu de Paleontologia de
terrificus Carvalho, Ribeiro & Ávilla, 2004;
Monte Alto
Montealtosuchus arrudacamposi Carvalho,
Vasconcellos & Tavares, 2007; Pepesuchus deiseae UFScar – Universidade Federal de São
Campos, Oliveira, Figueiredo, Riff, Azevedo, Carlos
Carvalho & Kellner, 2011 e Peirosaurus tormini
Price, 1955 - esta última ocorrendo também na DISCUSSÃO E COMPARAÇÃO
Formação Bajo de La Carpa (Grupo Neuquén) O fóssil MPMA 08-0057-00 (Figura 1)
– Argentina (Price, 1955; Carvalho et al., 2004; corresponde à porção distal do dentário esquerdo.
2007; Campos et al., 2011). As coroas dos dentes não se preservaram,no entanto
A Bacia Bauru formou-se no centro sul da seis raízes se mantiveram nos alvéolos. Os dois
Plataforma Sul-Americana entre o Coniaciano primeiros alvéolos estão vazios, e aparentemente

736
seus respectivos dentes eram ligeiramente maiores CONCLUSÕES
que o terceiro e levemente procumbentes; do
terceiro ao oitavo dentes não estão preservadas O fóssil MPMA 08-0057-00 é associado
as coroas, mas as raízes mostram dentes de aos gêneros Uberabasuchus e Montealtosuchus,
seção transversal elíptica, que não ultrapassam já MPMA 08-0059-11 e UFSCar RE. 294
5 mm de diâmetro, exceto o quarto dente, cujo podem ser atribuídos ao gênero Pepesuchus. A
diâmetro é de aproximadamente 10 mm. Em vista identificação deste material e sua atribuição aos
ventral observa-se uma leve intumescência lateral peirossaurídeos, ampliam a área de ocorrência
próxima ao dente hipertrofiado. desta família e colabora para o conhecimento da
Uberabasuchus e Montealtosuchus distribuição de suas formas na Bacia Bauru.
apresentam mandíbulas completamente
preservadas e em ambos os casos os dentários são
muito similares ao fóssil MPMA 08-0057-00. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nos três espécimes, o dentário é relativamente BATEZELLI, A.; SAAD, A.R.;
baixo, os três primeiros dentes anteriores são ETCHEBEHERE, M.L.C.; PERINOTO,
quase do mesmo tamanho, o quarto dente é J.A.J. & FULFARO, V.J. 2003. Análise
hipertrofiado e os quatro dentes que se seguem estratigráfica aplica à Formação Araçatuba
têm aproximadamente a metade do diâmetro (Grupo Bauru – Ks) no centro-oeste do
do quarto dente. Os dentes estão dispostos na Estado de São Paulo. Geociência, 22(n.
margem externa do dentário. Em vista dorsal especial): 5–19.
observa-se uma leve intumescência na altura do
quarto dente. CAMPOS, D.A.; OLIVEIRA, G.R.;
O fóssil MPMA 08-0059-11 (Figura 2.1) FIGUEIREDO, R.G.; RIFF, D.;
consiste das porções distais do dentário e esplenial AZEVEDO, S.A.K.; CARVALHO, L.B.
esquerdos, já o fóssil UFSCar RE. 294 (Figura & KELLNER, A.W.A. 2011. On a new
2.2) corresponde à parte anterior do dentário peirosaurid crocodyliform from the Upper
direito. Ambos os ossos participavam das sínfises Cretaceous, Bauru Group, southeastern
mandibulares; são relativamente estreitos, sendo Brazil. Anais da Academia Brasileira de
quase tão altos quanto largos. No exemplar mais Ciências, 83(1): 317–327
completo (MPMA 08-0059-11),estão preservados
sete alvéolos individualizados. O primeiro alvéolo CARVALHO, I.S.; RIBEIRO, L.C.B. &
está orientado anteriormente e teve o dente de AVILLA, L.S. 2004. Uberabasuchus
reposição preservado, que se mostra procumbente, terrificus sp. nov., a new Crocodylomorpha
os demais alvéolos apresentam contornos bem from the Bauru Basin (Upper Cretaceous),
definidos e salientados, e expõem-se dorsalmente, Brazil. Gondwana Research, 7: 975–1002.
salvo o terceiro que se abre latero-dorsalmente. O
quarto alvéolo é o maior da série; o sétimo, embora CARVALHO, I.S.; VASCONCELLOS, F.M. &
não teve a margem posterior preservada, permite TAVARES, S.A.S. 2007. Montealtosuchus
observar que é o menor da série e está muito arruda-camposi, a new peirosaurid
próximo ao sexto alvéolo. Além do primeiro, o crocodile (Mesoeucrocodylia) from the
segundo dente também está preservado, e ambos Late Cretaceous Adamantina Formation of
são cônicos, bicarenados, sem serrilhas e com Brazil. Zootaxa, 1607: 35–46.
estrias longitudinais. Tais feições aqui observadas
são iguais às apontadas por Campos et al. (2011) DIAS-BRITO, D.; MUSACCHIO, E.A.;
para Pepesuchus. CASTRO, J.C.; MARANHÃO, M.S.A.S.;
SUAREZ, J.M. & RODRIGUES, R. 2001.
Grupo Bauru: uma unidade continental do
AGRADECIMENTOS Cretáceo no Brasil – concepções baseadas
em dados micropaleonotológicos, isotópicos
Agradecemos à equipe do Museu de
e estratigráficos. Rèvue Paléobiologie, 20(1):
Paleontologia de Monte Alto. Este estudo contou 245–304.
com o apoio do CNPq e FAPERJ.

737
FERNANDES, L.A. & COIMBRA, A.M. 1994. FERNANDES, L.A. & COIMBRA, A.M. 2000.
O Grupo Caiuá (Ks): Revisão Estratigráfica Revisão Estratigráfica da Parte Oriental
e Contexto Deposicional. Revista Brasileira da Bacia Bauru (Neocretáceo). Revista
de Geociências, 24(3): 164-176. Brasileira de Geociências, 30(4): 717-728.

FERNANDES, L.A. & COIMBRA, A.M. 1996. PRICE, L.I. 1955. Novos crocodilídeos dos
A Bacia Bauru (Cretáceo Superior, Brasil). arenitos da Série Bauru. Cretáceo do Estado
Anais da Academia Brasileira de Ciências, de Minas Gerais. Anais da Academia
68(2): 195–205. Brasileira de Ciências, 27: 487–498.

Figura 1. Fragmento de dentário de peirossaurídeo (MPMA 08-0057-00) em vistas dorsal (A), ventral (B), medial (C) e
latero-frontal (D). Legenda: a – alvéolo.

Figura 2. Fragmentos mandibulares atribuídos ao gênero Pepesuchus. Fóssil MPMA 08-0059-11 em vistas medial (1A),
ventral (1B), dorsal (1C) e lateral (1D), e Fóssil UFSCar RE. 294 em vistas dorsal (2C) e lateral (D). Legenda: a – alvéolo.

738
PREPARAÇÃO QUÍMICA PARA REMOÇÃO DE MATRIZ SEDIMENTAR
CONTENDO FÓSSEIS DE VERTEBRADOS DA FORMAÇÃO PEDRA DE FOGO,
PERMIANO SUPERIOR, BACIA DO PARNAÍBA, TOCANTINS, BRASIL
Francisco Edinardo Ferreira de Souza1 (edinardo.souza@yahoo.com.br), Etiene Fabbrin Pires1 (tinadefel@yahoo.com.br),
Yuri Modesto Alves2 (alves_modesto@yahoo.com.br)
Universidade Federal do Tocantins, Campus de Porto Nacional, Laboratório de Paleobiologia;
1

Universidade Federal do Rio de Janeiro, IGEO-CCMN, Departamento de Geologia, Programa de Pós Graduação em Geologia
2

RESUMO INTRODUÇÃO
Neste trabalho é apresentada uma técnica Os métodos de preparação para um
de preparação para vertebrados fosseis em matriz exemplar fóssil, tanto mecânicos ou químicos, é
sedimentar com substâncias químicas. Essa técnica um processo de remoção de sedimento ou rocha
é derivada da clássica preparação com ácidos (a matriz) que os envolve, expondo assim os seus
e basicamente se constitui na retirada parcial detalhes anatômicos.
ou integral da matriz sedimentar que envolve o Este é um trabalho de grande importância
fóssil. Possibilitando uma visão tridimensional do e deve ser executado por quem domine as
espécime preparado. Todas as diferentes etapas várias técnicas e métodos, pois de uma correta
são discutidas de maneira detalhada e os estágios preparação de um espécime depende o elevado
desta técnica são exemplificados em rochas grau de informação que dele se pode extrair.
contendo dentes do morfogênero Cladodus, (Santos, 1985). No caso dos vertebrados do
espinhos dorsais pertencentes ao morfogênero Permiano Superior do Estado do Tocantins,
Ctenacanthus e escamas de de Paleoniscidae apresentam vários pormenores anatômicos
indet. Procedente da Formação Pedra de Fogo excepcionalmente bem preservados que são em
(membro Trisidela). Permiano Superior da Bacia muitos casos delicadas estruturas que requerem
do Parnaíba, Tocantins, Brasil. paciência, competência, habilidade e um vasto
Palavras-chave: Vertebrados, Formação conhecimento de preparação de forma a remover
Pedra de Fogo, técnica mecânica a matriz sem as danificar. Para tal, são
usados vários métodos, consoante a natureza da
matriz e do processo de fossilização (Silva, 2006).
ABSTRACT
A presente contribuição objetiva
This work is present a preparation caracterizar a preparação química efetuada em
techinigue to vertebrate fossils sedimentary material paleontológico que permite a obtenção
matrix with chemicals substance. This technique de fósseis provenientes de matrizes sedimentares
is derived from the classic preparation with de difícil remoção mecânica. A Formação
acid and is basically the removal of all or part Pedra de Fogo, Permiano Superior da Bacia do
of the sedimentary matrix surrounding the Parnaíba, é caracterizada pela presença de sílex
fossil. Allowing a three-dimensional view of e calcário oolítico e pisolítico creme branco,
the specimen prepared. All the different steps eventualmente estromatolítico, intercalado com
are discussed in detail and the stages of this arenito fino-médio amarelado, folhelho cinzento
technique are exemplified in rocks containing e anidrita branca Souza et al. (2010). As rochas
Glikmanius teeth, belonging to the dorsal spines da Formação Pedra de Fogo são bastante duras
and scales of Ctenacanthus, and fragmentary e fortemente cimentadas, resguardando fósseis
bonesPaleoniscidae indet. Coming from Pedra de em pequenas dimensões incrustados à matriz,
Fogo (Trisidela member). Upper Permian Basin dificultando assim sua desagregação. O objetivo
Parnaíba, Tocantins, Brazil. deste trabalho é extrair os fósseis da matriz
Keywords: Vertebrates, Pedra de Fogo sedimentar através da utilização do ácido fórmico,
Formation, chermical techinique em diferentes concentrações, verificando assim
a eficiência desta metodologia. Posteriormente,

739
pretende-se identificar os fósseis extraídos da seu estudo sobre processamento de amostras em
matriz, comparando-os com outros espécimes já laboratório recomendam atenção no manuseio
coletados e identificados anteriormente, assim dos ácidos que deve ser realizado em uma
como os já descritos na literatura. capela com o exaustor ligado. É necessário que o
preparador utilize corretamente os equipamentos
de segurança (avental, luvas de borracha, máscara
MATERIAIS E MÉTODOS com filtro para vapores ácidos, óculos de proteção,
As rochas ora analisadas são provenientes calçado apropriado etc.) para evitar acidentes.
do município de Guaraí, centro-oeste do estado
do Tocantins, e caracterizam-se por apresentarem
restos de peixes fossilizados tais como espinhos de RESULTADOS E DISCUSSÕES
nadadeiras dorsais pertencentes ao morfogênero Uma vez obtidas às informações referentes
Ctenacanthus, dentes pentacuspidados aos tratamentos mais eficientes, pôde-se dar
possivelmente pertencentes ao morfogênero continuidade ao processo de extração dos
Glikmanius, além de fragmentos ósseos de fósseis, visando à triagem e identificação do
Actinistia e escamas ganóides de Paleoniscidae material. Transcorrido o tempo de imersão,
indet (Figura 01).E apresenta também restos os fósseis tratados na concentração de 5%,
fossilíferos de vegetais, tais como lenhos de não se desagregaram completamente após o
gimnospermas e pteridófitas. tratamento permanecendo totalmente aderidos
Para preparação das amostras, foram à rocha matriz; na concentração a 10% ocorreu
utilizados os seguintes materiais: ácido fórmico; o desagregamento de apenas 30% dos fósseis da
água; fostato de cálcio, Becker de vidro com vários rocha matriz. Na solução com concentração de
tamanhos; bacias ou outros recipientes de vários 15% de ácido fórmico verificou-se a completa
tamanhos. desagregação da rocha e preservação do material
A metodologia aqui descrita consiste fóssil. Já em concentrações maiores como 20% e
em mergulhar completamente fragmentos de 30% foram observados que a rocha foi desagregada
rocha contendo o material fóssil em frascos de e o material fossilifero foi totalmente destruído.
vidro (Figura 02), com soluções de diferentes
concentrações do ácido fórmico (5, 10, 15, 20 e CONCLUSÕES
30%) e saturados com fosfato de cálcio. A função
deste último elemento é evitar que o ácido ataque Das cinco concentrações do ácido estudado,
demasiadamente a amostra, destruindo o fóssil. a concentração do ácido a 15% apresentou
Esse método só pode ser utilizado em materiais maior eficiência. Os principais elementos
fósseis de vertebrados que sejam constituídos, extraídos foram espinhos de nadadeiras dorsais
sobretudo, por fosfato de cálcio. Para aumentar a pertencentes ao morfogênero Ctenacanthus, dentes
eficiência do processo de remoção, após 24 horas pentacuspidados possivelmente pertencentes ao
de imersão no ácido, o material é lavado em água morfogênero Glikmanius, (Figura 03).
corrente, secado e recomeça-se o processo. Porem
antes de recomeçar o processo novamente é feita REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
uma triagem no material para retirada de algum
ALVES, Y.M. 2010. Report on the Upper
fóssil que já esteja desagregado da rocha matriz.
Permian and Lower Cretaceous fossiliferous
O tempo total do processo de preparação leva
localities vertebrates-bearing in the central-
em torno de 7 a 15 dias para total desagregação north of Tocantins State, Brazil. Brazilian
do material fóssil. A etapa seguinte corresponde Geographical Journal: Geosciences and
à triagem identificação do material. Pois as Humanities research medium, Uberlandia 1,
concentrações utilizadas nessas soluções ácidas (2): 372-386
são bastante variáveis e somente a experimentação
permite ao preparador encontrar as proporções SANTOS, O.S. 1985. Técnicas de preparação de
ideais, Santos (1985). Wood et al. (1996) em fósseis. DNPM Série Geologia. n. 26, Seção
Paleontologia e Estratigrafia, n. 1, p. 101-127

740
SILVA, H.P. 2006. Técnicas de preparação, dos Vertebrados, Rio de Janeiro. Boletim
moldagem e replicação de fósseis. Apostila de Resumos..., Rio de Janeiro: Sociedade
de mini-curso. In: V Simpósio Brasileiro de Brasileira de Paleontologia, p.24-24, 2010.
Paleontologia de Vertebrados, Santa Maria-
RS. WOOD, G.D.; GABRIEL, A.M. & LAWSON,
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2010. A utilização de ácido fórmico na D.C. McGregor (eds.) Palynology: principles
preparação química de rochas da Formação and applications, American Association of
Pedra de Fogo, Permiano Superior, Bacia do Stratigraphic Palynologists Foundation, p.
Parnaíba, Estado do Tocantins, Brasil. In: 29-50.
VII Simpósio Brasileiro de Paleontologia

Figura 1. Becker contendo fragmentos de rocha e o material fóssil durante a preração química. Figura 2. Vertebrados
fósseis de Formação Pedra de Fogo do município Guaraí, Tocantins. A. porção distal de espinho de Ctenacanthus sp. B.
dentes Pentacuspidado de Glikmanius sp. C. Escama de Paleoniscidae. E. Osso de Paleoniscidae indet. Modificado de Alves
(2010).Figura 3. Dentes pentacuspidados de Glikmanius sp. isolados e espinho de nadadeira dorsal de Ctenacanthus sp.

741
WATER VAPOR CONDUCTANCE IN FOSSIL EARLY BIRD EGGS
AND NON-AVIAN THEROPODS: IMPLICATIONS FOR THE
EVOLUTION OF MODERN BIRDS EXPOSED NEST STRUCTURE
Rodrigo Brincalepe Salvador1 (salvador.rodrigo.b@gmail.com), Lucas Ernesto Fiorelli2 (lfiorelli@crilar-conicet.com.ar)
1
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP);
2
Centro Regional de Investigaciones Científicas y Transferencia Tecnológica (CRILAR-CONICET), Anillaco, La Rioja, Argentina

ABSTRACT em Avialae. Mais estudos que lidem com outras


aves fósseis e Maniraptoriformes são necessários
The functional properties of eggshells
e GH2O pode ser uma valiosa ferramenta para tal
coupled with parental nesting behaviors greatly
(ainda que subutilizada até o momento).
influence the success of embryogenesis and
hatching. As such, one of the main physiological Palavras-chave: Avialae, Enantiornithes,
properties of the eggshell, the water vapor Neuquenornis volans
conductance (GH2O), of the Patagonian
enantiornithine bird Neuquenornis volans was INTRODUCTION
determined and compared with other bird and
Eggshell structure and its functional
theropod egg material. The low 4.13 mgH2O/
properties are paramount for the incubating and
day•Torr GH2O of N. volans eggs points to a dry
hatching success of reptile and bird embryos
exposed nest and with a brooding parent for this
(Board, 1982). One of the main physiological
species, similar to modern birds (the same holds
properties of an egg is the eggshell permeability,
true to Gobypterix minuta), while troodontids and
or conductance, to gases, both respiratory gases
Oviraptor shows semi-buried nests. Therefore
and water vapor. Gas diffusion through the
it is likely that the exposed nest first appeared
eggshell pores can be quantified as the water
in Avialae. More studies with other early birds
vapor conductance (GH2O). GH2O is commonly
and non-avian Maniraptoriformes are required
obtained experimentally for modern bird and
and GH2O can be a valuable tool for nesting
reptile eggs (Ar et al., 1974), but in fossil material it
paleobehavior (albeit overlooked until now).
can be determined by simple equations, becoming
Keywords: Avialae, Enantiornithes, a valuable proxy for assessing the moisture
Neuquenornis volans content in archosaurian nesting environments
and parental nesting strategies (Seymour, 1979;
RESUMO Deeming, 2006). Many dinosaur eggs have already
been studied in respect to their GH2O (Deeming,
As propriedades funcionais das cascas
2006; Grellet-Tinner et al., submitted), but works
dos ovos juntamente com os comportamentos
dealing with early birds are far less common. Here
de nidificação dos pais influenciam o sucesso
we determine the GH2O of Neuquenornis volans
da embriogênese e incubação. Assim, uma
eggs, an enantiornithine bird, whose affiliation is
das principais propriedades fisiológicas dos
more precise than most eggshell material since it
ovos, a condutância de vapor d’água (GH2O),
was identified by embryonic remains (Schweitzer
do enantiornitídeo Neuquenornis volans foi
et al., 2002). Following it, we present a comparison
determinada e comparada com dados de outras
with the GH2O values of other fossil early bird
aves e terópodes. O valor baixo de 4,13 mgH2O/
and theropod eggs, with valuable data to offer
day•Torr do GH2O dos ovos de N. volans indica
some implications for the evolution of modern
um ninho exposto e com um pai incubando os
birds nest structure.
ovos para essa espécie, similar às aves modernas
(o mesmo é válido para Gobypterix minuta),
enquanto troodontídeos e Oviraptor apresentam MATERIALS & METHODS
ninhos semi-enterrados. Portanto, é plausível que Neuquenornis volans eggs were found in
o ninho exposto tenha surgido pela primeira vez the Upper Cretaceous Bajo de la Carpa Formation

742
(Neuquén Group; middle-Upper Santonian), look out for them (since an egg can’t be left alone
Neuquén, Argentina, and are described on in an open nest due to desiccation and predators).
Schweitzer et al. (2002). All the information and The troodontid Troodon formosus is
data needed for our study also stem from this known to build open nest and supposed to
work. present brooding behavior (Varricchio et al.,
In order to obtain the water vapor 1997), while in Oviraptor philoceratops both
conductance (GH2O) for the eggs, we used the this characteristics are well established (Norell
equation deduced for extant birds by Ar & Rhan et al., 1995). Troodontids and Oviraptor show
(1978), for which only two oological parameters a mixture of open nest with partial buried eggs,
are required, egg density and egg radius, the other but both taphonomic evidences and GH2O
parameters are calculated base on them (Figure values implies that the nests were partially open
1A). N. volans eggs were considered ellipsoids (Figure 1B; Norell et al., 1995; Varricchio et
(prolate spheroids) for simplicity and as such there al., 1997). Also, their eggshells are ‘very avian-
are two radii to be considered, equatorial ( ) and like’ structurally (Varricchio et al., 1997). These
polar (β). Egg density was assumed from extant authors hypothesize partially open nests and
bird eggs, according to Paganelli et al. (1974). brooding as synapomorphies of Coelurosauria,
Aiming a proper comparison, information on while completely open nests would be restricted
GH2O values from the other sources was added to Aves, also stating that incubation in Troodon
to this work (Figure 1B). and Oviraptor are intermediate between
crocodiles and birds, for they use both sediments
(half-buried eggs) and brooding (Varricchio et al.,
RESULTS & DISCUSSION 1997). Their GH2O, known only in troodontid
Figure 1A shows all the data obtained for eggs until now (Deeming, 2006), are much closer
the Neuquenornis volans eggs while Figure 1B to birds nevertheless (Figure 1B). However, there
shows the GH2O values of N. volans eggs together is much data lacking for many groups in between,
with the results of previous authors on fossil bird not taken in account by Varricchio et al. (1997), be
and non-avian theropod eggs and modern bird it taphonomic nest data or the eggs’ GH2O. The
eggs. For N. volans eggs, we obtained a GH2O of change of nest types from burrows to semi-buried
4.14 mgH2O/day•Torr, a value that fall well within could also have appeared in Maniraptoriformes,
the lower cluster of modern bird eggs. Such a low Maniraptora or even before the Coelurosauria, in
GH2O value represents a nest environment low in Avetheropoda (sensu Padian et al., 1999). And the
humidity content, and this very dry nest was most change from the semi-buried to an exposed nest
certainly an exposed nest with a brooding parent, could have happened in Aves, but it’s also likely
as the rule in modern birds, otherwise the embryo that it happened in Avialae, which would include
would dehydrate and die (Deeming, 2006). The the fossil early birds such as the Enantiornithes.
same is valid for the other enantiornithine bird,
Gobypterix minuta (Figure 1B).
Theropods more distantly related to bird CONCLUSION
show high GH2O values (Figure 1B), not as high The low GH2O values obtained for the
as other non-avian dinosaurs but still greater enantiornithine birds here and by Sabath (1991)
than any known bird, indicating these animals’ and Deeming (2006) strongly points towards
eggs needed a very humid nest environment, an exposed nest for these animals (agreeing
such as burrows or mounds (Deeming, 2006; with preliminary taphonomic observations by
Grellet-Tinner et al., submitted). However, those L.E. Fiorelli and the arid and dry continental
theropods more closely associated to birds like paleoclimate reported for the region; see Fiorelli,
troodontids show low GH2O values that fall well 2010), while troodontids and Oviraptor shows
within the range of extant birds (Figure 1B). This semi-buried nests (Norell et al., 1995; Varricchio
indicates drier nests that would likely be open et al., 1997). So it is likely that the exposed nest
nests with a brooding parent to hatch the eggs and first appeared in Avialae after all and not in
Aves (as proposed by Varricchio et al., 1997).

743
However, more studies are still required, dealing PDIAN, K.; HUTCHINSON, J.R. & HOLTZ,
with other early birds as well as with non- T.R., JR. 1999. Phylogenetic definitions
avian Maniraptoriformes. GH2O is a proxy for and nomenclature of the major taxonomic
assessing nest humidity and thus can tell us if the categories of the carnivorous Dinosauria
nest was exposed or not. In the absence of direct (Theropoda). Journal of Vertebrate
taphonomic evidence of nest structure, GH2O Paleontology 19(1): 69–80.
can be a valuable tool (largely overlooked until
now) to help answering the questions about the PAGANELLI, C.V.; OLSZOWKA, A. & AR,
appearance of new nest structures in the Theropod A. 1974. The avian egg: surface area, volume,
lineage. and density. The Condor 76: 319–325.

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744
Figure 1. A. Summary of all parameters, units, equations, and results for the eggs of Neuquenornis volans. B. GH2O values
(in mgH20/day·Torr) obtained for N. volans alongside those of previous works.

745
S-13:
Brasil-Índia “Glimpses
of Gondwana”
AN APPRAISAL OF THE LOWER GONDWANA FLORA OF INDIA
Rajni Tewari1 (rajni.tewari@gmail.com)
1
Birbal Sahni Institute of Palaeobotany, India

ABSTRACT and is a principal repository of bituminous coal. It


shows continuation of Karharbari floral elements
The Gondwana Sequence of India is
in the lower part. Additionally, occurrence of new
basically a fresh water sequence with marine
elements of the order Glossopteridales, Filicales
incursions and ranges in age from Early Permian
and absence of typical Karharbari forms viz.
to Early Cretaceous. It is represented successively
Buriadia, Botrychiopsis, Chirimiria suggest change
by the Glossopteris, Dicroidium and Ptilophyllum
of flora. The upper part of the Formation shows
floras which are of Permian, Triassic and Early
dominance of Glossopteris leaves, appearance of
Cretaceous age, respectively.
new elements of the orders Equisetales, Filicales,
The Lower Gondwana flora of Peninsular Glossopteridales, Cycadales, Ginkgoales,
India commonly known as the Glossopteris flora Coniferales and fructifications of uncertain
arose as a consequence of deglaciation and affinities. Absence of Gangamopteris and
commenced with the deposition of sediments Noeggerathiopsis species in the upper part of
of the Talchir Formation (Late Asselian- Barakar Formation suggests new direction of
EarlyPermian) and extended up to the Maitur flora from Gangamopteris to Glossopteris floral
Formation (Induan-Early Triassic).The flora phase. The Barren Measures Succession / Kulti
is well distributed in all the Lower Gondwana Formation is a thick strata devoid of workable coal
sedimentary basins of India, viz. Damodar, Son- seams between Barakar and Raniganj formations.
Mahanadi, Wardha-Pranhita-Godavari, Satpura, The carbonaceous shales with ferruginous bands
Rajmahal and South Rewa. Additionally, Permian is the typical lithology of this formation. There is
sediments occur as detached outcrops in widely paucity of plant fossils probably due to oxidation.
separated areas of Himalayan belt from Kashmir The flora shows presence of taxa belonging to
in the west to Arunachal Pradesh in the East with Lycopsids, Equisetales, Filicales,Glossopteridales
localized occurrences in Darjeeling and Sikkim. and Cordaitales. The Raniganj Formation is the
The Lower Gondwana Sequence of India consists upper coal bearing unit of Lower Gondwana
of five horizons which in order of superposition Sequence and is the acme of Glossopteris flora in
are Talchir, Karharbari, Barakar, Barren Measures terms of number of genera and species.
and Raniganj. Of these, the first three are Early
It is best exposed in the Damodar Basin.
Permian in age, Barren Measures is early Late
Besides Glossopteridales which comprises a
Permian and Raniganj Formation is Late Permian
number of genera and a variety of fructifications,
in age. Besides these, a non coaliferous horizon
there is a widespread occurrence of the orders
has been recognized as Kamthi Formation in
equisetales and filicales. Other orders are
the Mahanadi, Wardha and Godavari basins
Cycadales, Cordaitales, Ginkgoales, Coniferales.
which is considered Late Permian in age on the
In the Kamthi Formation, the floral assemblage is
basis of plant megafossils. Talchir Formation is
broadly similar to the Raniganj assemblage. The
the lowermost sequence of Gondwana in India.
flora is represented by Lycopsids, Equisetales,
It rests directly on the Precambrian. Limited
Filicales, Glossopteridales, Cycadales, Cordaitales
number of plant fossils in this Formation indicate
and Ginkgoales.
that Bryophytes, Glossopterids, Cordaitales and
Coniferales were the earliest stock of Glossopteris Rich flora of Kamthi Formation
flora in India. The Karharbari Formation lies demonstrates developmental trend of Glossopteris
unconformably over the Talchir Formation flora. Occurrence of the Glossopteris flora in the
and in general shows increased diversity of Maitur and Panchet formations indicates its
Gangamopteris – Noeggerathiopsis (midrib–less continuation and end in the Early Triassic before
forms) complex, significant development and the onset of the Dicroidium flora.
diversification of the Glossopteris flora and a Keywords: Glossopteris, Dicroidium,
number of new forms. The Barakar Formation is Ptilophyllum
well exposed in all the Indian Gondwana basins

749
ANÁLISE DAS PALEOXILOFLORAS PERMIANAS DO GONDWANA
Francine Kurzawe1 (franly_k@hotmail.com), Roberto Iannuzzi2 (roberto.iannuzzi@ufrgs.br),
Sheila Merlotti3 (sheilamerlotti@hotmail.com)
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Departamento de Paleontologia e Estratigrafia – Programa
de Pós-Graduação em Geociências;
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Departamento de Paleontologia e Estratigrafia;
3
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Botânica, Campus Universitário

RESUMO necessitam de novo posicionamento taxonômico.


Além disso, o gênero Amyelon Williamson, 1874
A proposta deste trabalho consiste corresponde a uma raiz, ao invés de caule, como
em apresentar um levantamento dos gêneros todos os outros listados. Dentre os táxons válidos
e espécies de lenhos fósseis encontrados no de gimnospermas, 16 gêneros (25%) incluem
Permiano do Gondwana, incluindo informações lenhos compostos apenas por xilema secundário (=
sobre sua distribuição estratigráfica e geográfica. traqueidóxilos) e 48 gêneros (75%) são lenhos que
Desta forma, realizou-se uma extensa pesquisa possuem medula e xilemas primário e secundário.
bibliográfica e os resultados obtidos podem ser Porém, quando se considera o número de espécies
considerados como uma importante síntese em cada grupo, a diferença entre as porcentagens
sobre os morfotáxons de lenhos paleozoicos do diminui, sendo que 82 espécies de lenhos (43%
Hemisfério Sul. do total) apresentam apenas xilema secundário e
108 correspondem a lenhos completos (57% do
Palavras-chave: paleoxilofloras,
total). Por fim, quando se leva em consideração o
Gondwana, Permiano
número de amostras já estudadas, os dois grupos
tornam-se quase equivalentes, ocorrendo 123
ABSTRACT amostras de traqueidóxilos e 136 amostras de
lenhos com medula e xilemas.
The main goal of this contribution
No Brasil existem 46 gêneros localizados
consists in show a survey of the genera and species nas bacias do Paraná e / ou do Parnaíba, sendo 33
of fossil woods found in the Permian deposits gêneros (72%) na primeira e 13 (28%) na segunda.
of Gondwana, including information on their Destes, apenas dois são encontrados em ambas
stratigraphic and geographic distribution. In this as bacias: Dadoxylon e Tietea Solms-Laubach
way, it was carried out an abroad bibliographic emend. Herbst, 1986. Com relação às espécies,
research and the results obtained herein can be enquanto foram descritas 56 (71%) para a Bacia
considered as an important synthesis about the do Paraná, apenas 23 (29%) são encontradas na
Paleozoic wood morphotaxa from Southern Bacia do Parnaíba, sendo que Tietea singularis
Hemisphere. Solms-Laubach, 1913 é a única conhecida para
Keywords: wood morphotaxa, Gondwana, ambas. No geral, os autores que trabalham com
amostras da Bacia do Paraná não estudaram
Permian
aquelas da Bacia do Parnaíba, salvo D. Mussa
(Caldas et al., 1989; Coimbra & Mussa, 1984;
INTRODUÇÃO: RESULTADOS Mussa, 1958, 1974, 1978a, b, 1980, 1982, 1986a,
b; Mussa & Coimbra, 1987), que descreveu
DO LEVANTAMENTO diversos lenhos para ambos os locais e R. Herbst,
A extensa revisão bibliográfica indicou a que descreveu Tietea singularis (Herbst, 1987). A
ocorrência de 80 gêneros e 234 espécies de lenhos maioria dos gêneros da Bacia do Paraná engloba
permineralizados nos depósitos permianos através Gimnospermae, exceto Tietea, já na Bacia do
do Gondwana, distribuídos entre os terrenos da Parnaíba, ocorre o contrário: a maioria dos gêneros
Antártica, África, América do Sul, Índia e Oceania. é de Pteridophyta, excluindo Cyclomedulloxylon
Do total de gêneros, 13 (16%) são Pteridophyta Mussa & Coimbra, 1987 e Dadoxylon.
e 67 (84%) são Gimnospermae. Dentre as
últimas, três gêneros, Araucarioxylon Kraus, 1870,
Bageopitys Dohms, 1976 e Dadoxylon Endlicher,
1847 são considerados inválidos e suas espécies

750
ANÁLISE DOS RESULTADOS Este dado é suficiente para gerar uma grande
dessemelhança entre a América do Sul e os demais
De acordo com o levantamento feito,
continentes. Além disso, as floras encontradas na
de um total de 80 gêneros, 60 são endêmicos
Bacia do Parnaíba, noroeste do Brasil, possuem
para o Permiano em um dos cinco continentes.
elementos típicos da flora nórdica, por se tratar,
A Antártica tem apenas um gênero endêmico,
provavelmente, de uma flora de transição entre
a Oceania três, a África quatro, a Índia 11 e a
as províncias Euro-americana, do Hemisfério
América do Sul é o continente com a maioria
Norte, e Gondvânica, do Hemisfério Sul (Dias-
dos gêneros endêmicos no Permiano, sendo 41
Britto et al., 2007). Portanto, estes táxons não são
no total (aproximadamente 50%). Australoxylon
comparáveis com outros dos demais continentes
Marguerier, 1973 é o único gênero encontrado
gondvânicos, distanciando ainda mais, em termos
em todos os cinco continentes. Todos os outros 19
de composição taxonômica, a América do Sul do
gêneros ocorrem em dois ou mais continentes. Em
resto do Gondwana. Por último, a América do Sul
relação ao número de espécies assinaladas para cada
é, juntamente com a Índia, um dos dois continentes
gênero, 27 (aproximadamente 34% do total) são
em que se concentra a maioria dos estudos de
monoespecíficos e destes, 19 (aproximadamente
lenhos paleozoicos do Gondwana. Os estudos
24%) estão na América do Sul. Na Índia, há
realizados na África e na Antártica, por exemplo,
cinco gêneros monoespecíficos e a África e a
foram feitos por pesquisadores não nativos, que
Antártica apresentam um cada. A Oceania não
faziam a coleta e trabalhavam momentaneamente
apresenta gêneros monoespecíficos. Os gêneros
com amostras oriundas destes continentes. A
que apresentam um maior número de espécies
Austrália apresenta muitas publicações relativas
são: Agathoxylon Hartig, 1948, com 14 espécies,
aos lenhos mesozoicos, enquanto aquelas com
Araucarioxylon, com 11 espécies, Australoxylon, com
lenhos paleozoicos são ainda pouco expressivas.
15 espécies, Prototaxoxylon Kräusel & Dolianiti,
1958, com 10 espécies, e Zalesskioxylon Lepekhina
& Yatsenko-Khmelevsky, 1966, com 15 espécies. CONCLUSÕES
Existem 15 gêneros que apresentam apenas uma Por fim, analisando-se apenas os dois
espécie para o Permiano do Gondwana, mas que continentes com maior número de estudos
não são monoespecíficos e os 33 gêneros restantes realizados, verifica-se que a Índia possui 26
estão representados por um número de espécies gêneros e 80 espécies, o que daria em torno
que varia de duas até nove. de três espécies por gênero, enquanto que a
Para analisar o nível de afinidade das América do Sul tem 58 gêneros e 107 espécies,
assembleias encontradas nos distintos continentes tornando a relação espécies / gênero menor do
gondvânicos foram utilizados dois índices de que duas para um. Desta forma, se na Índia há
similaridade, o índice Jaccard e o Otsuka. Como uma aparente inflação de espécies, na América
resultado obteve-se que a África, a Antártica, a do Sul constata-se o contrário, uma possível
Índia e a Oceania são os continentes com maior inflação de gêneros. Isto provavelmente ocorre
similaridade de táxons, enquanto a América do porque apesar de serem considerados os mesmos
Sul apresenta o menor índice. Dentro destes, critérios taxonômicos nos estudos desenvolvidos
a Índia e a Antártica são os continentes mais em ambos continentes, o nível hierárquico
similares. Seria esperada uma grande similaridade normalmente utilizado para diferenciar as formas
entre a América do Sul e a África, porém estes de lenho pelos grupos de pesquisadores de cada
dois continentes apresentam os índices com os continente é diferente. Enquanto os indianos
valores mais baixos. Há três possíveis explicações preferem criar novas morfoespécies para abrigar
para este fato. Inicialmente, deve-se levar em seus morfótipos de lenho, os sul-americanos
consideração o fato de que a América do Sul é optam por novos gêneros para incluí-los. Neste
o continente com o maior número de táxons sentido, recomenda-se fortemente que seja feita
endêmicos, são 41 no total, sendo que a somatória uma extensa revisão dos morfotáxons de lenhos
dos gêneros endêmicos registrados em todos propostos para estes dois continentes, a fim de
os outros continentes juntos é de apenas 19. se tentar obter uma homogeneização da listas

751
taxonômicas destas duas áreas chaves para o MUSSA, D. 1974. Paleoxiloanatomia brasileira II
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752
DIVERSITY OF SPHENOPHYTES IN THE PALAEOZOIC ROCKS OF INDIA
Kamal Jeet Singh¹ (kamaljeet31@hotmail.com), Anju Saxena² (anju.geol@gmail.com)
1
Birbal Sahni Institute of Palaeobotany, 53, University Road

ABSTRACT younger rocks whereas the earliest plant fossils


in peninsular part belong to earliest Permian
The existence of the Sphenophytes/
Talchir Formation (Asselian-Sakmarian). The
Sphenopsids can be traced from the Early or
present study provides an updated account of
Middle Devonian rocks; however, they flourished
the previous and recently published sphenophyte
luxuriantly during the Carboniferous Period and
plant remains reported from various formations
had maximum diversity at that time. The group
and different ages within Palaeozoic plant bearing
then gradually declined and at present its only
horizons of Indian plate covering peninsular and
survivor is the genus Equisetum with around fifteen
the extra-peninsular regions.
species (Taylor et al. 2009). Many sphenopsids
were massive arborescent species during the The complete sphenophyte population
Carboniferous Period, particularly in the in Indian Palaeozoic consists of 24 genera
northern hemisphere. In contrast, in the southern comprising 59 species which belong to the orders
hemisphere they were herbaceous during Permo- Equisetales and Sphenophyllales (Table-1). The
Carboniferous times with comparatively fewer order Equisetales is highly diversified with 21
species. The sphenopsids form a sizeable portion genera and 45 species while Sphenophyllale
of the Glossopteris flora of India, and represented comprises of 3 genera and 14 species. Highest
by the genera Annularia, Asterophyllites, Calamites, diversity is seen in the genus Sphenophyllum (with
Archaeocalamites, Paracalamites, Sphenophyllum, 10 species) followed by Phyllotheca (8 species),
Trizygia, Lobatannularia, Benlightfootia, Schizoneura (5 species), Lelstotheca, Raniganjia
Raniganjia, Bengalia, Barakaria, Lelstotheca, and Annularia (4 species each), Lobatannularia
Schizoneura, Phyllotheca, Handapaphyllum, and Trizygia (3 species each), Giridia and
Gondwanophyton, Giridia, Sharmastachys, Tatapania (2 species each) and rest of the genera
Rajmahaliastachys, Tulsidabaria, Tatapania and viz., Calamites, Archaeocalamites, Paracalamites,
the leafless equisetalean stems and spikes. Asterophyllites, Benlightfootia, Barakaria,
Bengalia, Handapaphyllum, Gondwanophyton,
The Indian sub-continent consists of
Sharmastachys, Rajmahaliastachys, Tulsidabaria,
peninsular region and extra-peninsular Tethyan
Equisetalean spikes and Equisetalean stems
Himalayan region. The Peninsula is completely
have one species each. Maximum number of the
devoid of the rocks of Ordovician to Carboniferous
reported sphenopsids are sterile forms (52 taxa)
ages and the oldest Palaeozoic sediments here
whereas only 7 taxa are fertile ones (Giridia,
belong to earliest Permian Talchir Formation
Tatapania, Sharmastachys, Rajmahaliastachys and
(Asselian-Sakmarian) and the youngest one
Tulsidabaria).
of Late Permian Raniganj/Kamthi Formation.
In contrast to the peninsular part, a complete The earliest record of any sphenophyte
Palaeozoic succession (from Cambrian to Late megafossil from Indian sub-continent is Trizygia
Permian) is developed in Kashmir and the Spiti speciosa reported by Royle (1839) from Permian of
Basins of extra-peninsular North West Himalaya, Kashmir. The records of sphenopsids in the extra-
also known as Tethyan Himalaya; however, extra- peninsular localities are meager. Asterophyllites sp.
peninsular regions covering Eastern and Kumaon (from Thabo beds in Spiti, Hoeg et al., 1955)
Himalayas possess only Permian sediments. In and Archaeocalamites radiatus (from Gund Fm.,
the extra-peninsular region, Palaeozoic plant Kashmir, Pal 1978) are the only sphenophyte
fossils have been reported from Silurian and taxa reported from the Early Carboniferous

753
Palaeozoic strata. Sphenopsids pertaining to species each of Lelstotheca, Phyllotheca, Schizoneura
Permian Mamal Bed of Kashmir belong to the and Trizygia.
taxa Phyllotheca sp., Schizoneura gondwanensis, In peninsular India, among
Sphenophyllum speciosum, S. thonii var. minor, S. the total pteridophyte population
thonii var. archangelskyii, S. thoniii. var. waltonii, (Lycopods+Sphenopsids+ Pteridophylls),
Lobatannularia ensifolia, L. lingulata, L. sinensis sphenopsids count for 54% in Karharbari
var. curvifolia and equisetalean stems. The other Formation, 74% in Barakar Formation, 30%
extra-peninsular Himalayan localities that yielded in Raniganj Formation and 50% in Kamthi
Permian sphenophytes are in Kumaon Himalaya Formation; whereas, in the extra-peninsular
(Blaini Infra Krol Formation near Nainital - Thabo plant bed (Spiti Basin) and Gund
Annularia cf. stellata, Phyllotheca sp. and Calamites Formation (Kashmir) of Early Carboniferous
sp.) and North East Himalaya (Darjeeling, age, the sphenopsids constitute for only 10% and
Arunachal Pradesh and Sikkim– Schizoneura 7% respectively. They are comparatively rich in
gondwanensis and phyllotheca sp.). early Permian Mamal Formation (Kashmir) and
In comparison to the extra-peninsula, Blaini Infra Krol Formation (Kumaon Himalaya),
extremely rich assemblages of Sphenophytes accounting 53% and 75% respectively (Srivastava,
have been recorded from various stages of 2008).
Lower Gondwana strata (Talchir, Karharbari, The occurrence of some of the Euramerican
Barakar, Barren Measures, Raniganj and Kamthi and Cathaysian sphenophytes viz., Annularia,
Formations) in Damodar-Koel, Rajmahal, Son- Asterophyllites, Sphenophyllum thonii var. minor,
Mahanadi, Pranhita-Godawari and Satpura Lobatannularia, Calamites, Archaeocalamites and
Gondwana basins of Peninsular India. The Paracalamites in the Indian Gondwana provides a
presence of sphenophytes in the earliest Permian definite clue about the admixture of these elements
Talchir Formation is scanty, only represented in the Indian plate either due to the migration or
by equisetalean axes and leaflets. They are fairly due to their independent development in some
increased in diversity in the overlying Karharbari pockets.
Formation (9 taxa) and represented by 6 species Keywords: Sphenophyte, Palaeozoic,
of Phyllotheca, 2 species of Schizoneura and fertile Indian Sub-continent
form Giridia indica. Among all the Palaeozoic
localities in India, sphenopsids are highly diversed,
abundant and best preserved in Damodar-Koel
Basin.
Barakar Formation saw the maximum
diversity among the sphenopsids (in all 22 taxa),
represented by 2 species of Raniganjia, 4 species
each of Lelstotheca, Phyllotheca and Sphenophyllum
and one species each of the genera Benlightfootia,
Trizygia, Barakaria, Paracalamites, Schizoneura,
Sharmastachys, Rajmahaliastachys and Tulsidabaria.
There is no report of any sphenopsid in the Barren
Measures Formation. The Raniganj Formation
possess 10 sphenophyte taxa, represented by 2
species each of genera Phyllotheca, Raniganjia,
Schizoneura and Sphenophyllum and one species
each of Lelstotheca and Bengalia. Sphenopsids
are more or less similar in diversity (9 taxa) in
the Kamthi Formation (equivalent to Raniganj
Formation) and represented by 3 species of
Sphenophyllum, 2 species of Raniganjia and one

754
Table 1. Sphenophytes in Palaeozoic rocks of India.
A.Equisetales (21 genera; 45 species)
1. Annularia (4 sp.)
Annularia gondwanensis
A. kurtzii
A. cf. stellata
A. sp.
2. Asterophyllites sp. (1 sp.)
3. Calamites sp. (1 sp.)
4. Archaeocalamites radiatus (1 sp.)
5. Paracalamites sp. (1 sp.)
6. Lobatannularia (3 sp.)
Lobatannularia ensifolia
L.lingulata
L. sinensis var. curvifolia
7. Phyllotheca (8 sp.)
Phyllotheca ampla
P. australis
P. crassa
P. indica
P. sahnii
P. griesbachii
P. westensis
P. sp.
8. Schizoneura (5 sp.)
Schizoneura gondwanensis
S. wardii
S. merianii
S. raniganjensis
S.sp.
9. Lelstotheca (4 sp.)
Lelstotheca robusta
L. striata
L. stricta
L. harikrishnae
10. Barakaria dichotoma (1 sp.)
11. Bengalia raniganjensis (1 sp.)
12. Raniganjia (4 sp.)
Raniganjia bengalensis
R. indica
R. etheridgei
R. sp.
13. Handapaphyllum indicum (1 sp.)
14. Gondwanophyton indicum (1 sp.)
15. Giridia * (2 sp.)
Giridia indica
G. barakarensis
16. Sharmastachys pendulata * (1 sp.)
17. Rajmahaliastachys elongata * (1 sp.)
18. Tulsidabaria indica * (1 sp.)
19. Tatapania * (2 sp.)
Tatapania indica
Tatapania obcordata
20. Equisetalean spikes
21. Equisetalean stems

B. Sphenophyllales (3 genera; 14 species)


1. Sphenophyllum (10 sp.)
Sphenophyllum churulianum
S. gondwanensis
S. speciosum
S. utkalensis
S. raniganjensis
S. lobifolium
S. crenulatum
S. thonii var. minor
S. thonii var. archangelskyii
S. thonii var. waltonii
2. Trizygia (3 sp.)
Trizygia speciosa
T. gondwanensis
T. maithyiana
3. Benlightfootia indica (1 sp.)

Total genera -24;


Total species – 59;
(*) denotes- Fertile form

755
EARLY PERMIAN PLANT FOSSIL ASSEMBLAGES FROM
SATPURA GONDWANA BASIN, CENTRAL INDIA
A.K. Srivastava1, Deepa Agnihotri1 (deepa_302033@yahoo.com)
1
Birbal Sahni Institute of Palaeobotany

ABSTRACT flora of Karharbari Formation in having the


association of Gangamopteris-Noeggerathiopsis-
The Satpura Gondwana Basin is located
Glossopteris, seeds and presence of marker genus
in central India and it is the major coal producing
Botrychiopsis along with Buriadia. The presence of
area. The Basin is situated in an area of 12000
Cyclodendron, Rhabdotaenia, pteridospermic leaves
km2 with the length and breadth ratio of 4:1.
and dominance of Glossopteris species in upper
Lower Gondwana formations are represented
Barakar coal seams demonstrate a distinct shift
by Talchir, Barakar, Motur and Bijori formations
in the flora and such assemblages are comparable
whereas, upper Gondwana sequences are known
with the flora of upper Barakar Formation known
as Pachmarhi, Denwa, Bagra and Jabalpur. On
from different Lower Gondwana basins.
the basis of occurrence of coal, Basin is divided
into Pench, Kanhan, Pathakhera and Mohpani Keywords: Satpura Gondwana Basin,
coalfields. Barakar Formation of the Early Glossopteris, India
Permian period is the only coal bearing horizon
in Satpura Gondwana Basin.
Well preserved plant fossils have been
collected from lower and upper Barakar coal
seams exposed in 27 underground and open
cast mines of Pench, Kanhan Pathakhera
and Mohpani coalfields. The assemblages are
represented by Lycophytes, Pteridophytes,
Pteridosperms, Glossopteridales, Coniferales
and Cordaitales group of plants belonging to 25
genera and 80 species viz., Cyclodendron (1 sp.),
Phyllotheca (1 sp.), Lelstotheca (1 sp.), Botrychiopsis
(1 sp.), Neomariopteris (1 sp.), Euryphyllum (1
sp.), Gangamopteris (17 spp.), Glossopteris (22
spp.), Rhabdotaenia (2 spp.), Arberia (1 sp.),
Ottokaria (2 spp.), Arberiella (1 sp.), Pantolepis
(1 sp.), Penchiolepis (2 spp.), Surangelepis (2
spp.), Utkaliolepis (1 sp.), Cheirophyllum (1
sp.), Cordaites (1 sp.), Noeggerathiopsis (3 spp.),
Buriadia (1 sp.), Alatocarpus (1 sp.), Carpolithus (2
spp.), Cordaicarpus (5 spp.), Samaropsis (7 spp.),
Vertebraria (1 sp.) and number of equisetalean and
simple axes.
The qualitative, quantitative analyses
and floristic comparison of the plant fossils of
Satpura Gondwana Basin with the well known
assemblages of different Lower Gondwana
formations indicate that the assemblages of
lower Barakar coal seams are similar with the

756
“ESQUEMA MAITHY” DE CLASSIFICAÇÃO ARTIFICIAL DE
SEMENTES DO GONDWANA: NOVAS PROPOSIÇÕES
Juliane Marques de Souza1 (juliane.marques.souza@gmail.com), Roberto Iannuzzi2
¹Universidade Estadual de Roraima – Doutoranda do Instituto de Geociências, Departamento de Estratigrafia e Paleontologia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil;
²Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Departamento de Estratigrafia e Paleontologia

RESUMO a proteção e a reserva nutritiva necessárias


ao embrião durante seu estabelecimento e
O “Esquema Maithy” tem avançado,
germinação no ambiente terrestre.
acumulando informações morfológicas e
tornando-se um importante instrumento de Na Paleontologia, por outro lado, este tema
classificação artificial de sementes gondvânicas. é ainda incipiente. Nesta ciência, principalmente
O presente resumo apresenta a evolução deste no que se refere à flora gondvânica, as sementes
esquema de classificação, bem como aponta a figuram com certa relevância apenas em estudos
necessidade iminente de sua restruturação em de cunho taxonômico, desenvolvidos em países
forma de chave dicotômica, fazendo uso das já como Índia, Austrália, Argentina e Brasil.
consagradas terminologias da botânica atual. Sabe-se que a análise, descrição e classificação
desses diásporos é, sem dúvida, o primeiro passo
Palavras-chave: “Esquema Maithy”,
para acessar e conhecer a diversidade de formas
sementes, Gondwana
e feições existentes. Neste sentido, é de suma
importância prospectar e organizar o material
ABSTRACT bibliográfico disponível acerca das sementes
The “Maithy Scheme” has advanced, fósseis encontradas com vistas ao preenchimento
accumulating morphological information de lacunas ainda existentes sobre esse tema,
and becoming an important tool for artificial tais como a padronização na utilização de
classification of Gondwanan seeds. This summary terminologias e aplicação de conceitos botânicos
presents the evolution of this classification em sua descrição e classificação.
scheme, and points to the imminent need for its Nesse sentido, o presente estudo tem como
restructuring in form of dichotomous key, using objetivos apresentar a evolução do “Esquema
the already established terminology of modern Maithy”, bem como propor a construção de uma
Botany. chave dicotômica para classificação e comparação
Keywords: Maithy Scheme, seeds, de sementes gondvânicas, a partir da releitura
Gondwana e reorganização do “Esquema Maithy” de
classificação de sementes.

INTRODUÇÃO: A evolução do “Esquema


As sementes têm sua importância Maithy” de Classificação
reconhecida nos estudos ecológicos que buscam Em 1965, P. K. Maithy publicou um
entender a dinâmica populacional e as estratégias estudo intitulado “Studies in the Glossopteris
reprodutivas de determinadas espécies de plantas, flora of India - 18. Gymnospermic seeds and
bem como os efeitos que os processos de dispersão seed-bearing organs from the Karharbari beds
a elas associados geram na estrutura geral de uma of the Giridih coalfield, Bihar”. Neste trabalho,
vegetação. Segundo Raven et al. (2007), a origem o autor apresentou a primeira tentativa de criar
das sementes foi “uma das mais espetaculares um esquema de classificação para as sementes
inovações que surgiram durante a evolução das gondvânicas. Essa tentativa foi justificada pela
variedade de espécies já descritas para os gêneros
plantas vasculares”, isso porque esses órgãos,
Cornucarpus Arber 1914, Nummulospermum
afirmam os autores, apresentam um “grande valor
Walkom 1921, Stereocarpus Surange 1957,
adaptativo para sobrevivência” visto que contém Rotundocarpus Maithy 1965 e, principalmente,

757
Cordaicarpus Geinitz 1862 e Samaropsis Goeppert “Esquema Maithy”. Este, intitulado “O Esquema
1864, o que tornava cada vez mais árduo o trabalho de Identificação e Classificação das Sementes
de comparação e identificação de novas formas de Gondvânicas: Reatualização e Análise Crítica”,
sementes. trouxe ainda mais contribuições do que aquele
O esquema foi proposto com base nas publicado em 1974 pelo mesmo autor, uma vez
características morfológicas dos espécimes, que se dedicou à discutir também a terminologia
considerando-se os seguintes critérios: i) forma utilizada na descrição das sementes, a fim de
geral da semente, se salientado o eixo de orientação unificá-la. A homogeinização da terminologia
da semente, se platispérmica ou radiospérmica; ii) deveria facilitar o processo de inclusão de futuras
presença de uma sarcotesta estreita ou larga; iii) espécies no esquema classificatório, bem como
presença ou ausência de crista mediana; iv) forma possibilitar um avanço na busca de um esquema
do ápice e da base. Deste modo, trinta espécies natural de classificação (MILLAN, 1994).
foram classificadas compondo a primeira proposta Nesse sentido, a discussão terminológica
de classificação artificial de sementes gondvânicas. apresentada por Millan (1994) implicou em
Em 1969, J. H. Millan, no estudo “The algumas alterações na escrita de alguns caracteres
Gymnospermic and Platyspermic seeds of the diagnósticos apresentados no “Esquema Maithy”,
Glossopteris Flora from Brazil and correlated dentre as quais se destacam as seguintes: i) o termo
foreign regions”, sugeriu a denominação de “saliência” foi substituído por “crista mediana”;
“Esquema Maithy” para se referir àquela ii) o termo “bordo estreito” foi substituído por
classificação artificial criada por Maithy, “estreita e indiferenciada testa”; iii) o termo “bordo
considerando-o um método promissor na alargado” foi substituído por “larga e diferenciada
identificação e caracterização de novas espécies de testa”. Na ocasião, a inclusão de novas espécies
sementes fósseis. Na mesma publicação, o autor elevou o número de quarenta e sete presentes até o
propôs o acréscimo ao esquema de mais quatorze momento, para sessenta e três no trabalho de 1994.
espécies. É importante ressaltar que esta evolução no uso
Millan (1969) sugeriu, na mesma ocasião, da terminologia ainda não resolveu os problemas
que os gêneros Platycardia Pant & Nautiyal descritivos, uma vez as confusões persistem ainda
1960, Pterigospermum Pant & Nautiyal 1960 e hoje.
Stephanostoma Pant & Nautiyal 1960, criados Em 2007, Bernardes-de-Oliveira e
para sementes do Gondwana da Índia, fossem colaboradores publicaram um estudo intitulado
mantidos fora do esquema de classificação por “Platyspermic seeds from the Early Permian of
serem provenientes de material macerado, no qual Paraná Basin, Brazil”, no qual novas ocorrências
há a presença de feições anatômicas (cuticulares) de sementes foram descritas e o material analisado
preservadas e, portanto, não poderiam ser por Millan (1977), para a localidade de Cerquilho
comparadas às características morfográficas foi reavaliado. Neste estudo, o “Esquema Maithy”
das formas conservadas como impressões. foi atualizado e foram acrescentadas diversas
Anos mais tarde, Pant et al. (1985) criticaram espécies, aumentando de sessenta e três para
essa decisão e alegaram que, embora possuam oitenta e seis espécies classificadas. Bernardes-
caracteres estruturais na diagnose, esses gêneros de-Oliveira et al. (2007) incluíram os gêneros
além de feições anatômico-cuticulares mantêm Platycardia, Pterigospermum e Stephanostoma,
conservados caracteres morfográficos em suas deixados de fora do esquema até então. Foram
compressões, o que permitiria uma comparação acrescentadas ainda espécies de outros quinze
estreita com as formas preservadas como gêneros.
impressões. O avanço do “Esquema Maithy”,
Quase uma década depois da primeira enquanto sistema artificial de classificação de
proposta de Maithy (1965), Millan (1974) sementes do Gondwana, ao longo dos anos tem
publicou outro importante estudo onde incluiu o consolidado como base de dados das sementes
seis novas espécies de sementes ao esquema e fósseis já descritas, contribuindo para acelerar o
encaixou mais quatorze espécies já sugeridas processo de identificação taxonômica e o registro
em 1969, além de propor algumas modificações
de novos táxons. No entanto, diante do aumento
através de um relevante estudo crítico.
do número de espécies que o compõe, bem como
Em 1994, J. H. Millan publicou mais um
as divergências terminológicas adotadas durante
artigo com enfoque na evolução do esquema do

758
as decrições, entende-se como fundamental sua REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
reorganização a fim de que este se torne mais
BERNARDES-DE-OLIVEIRA, M.E.C.;
funcional e fácil de usar.
CASTRO-FERNANDES, M.C.;
TEWARI, R. & RICARDI-BRANCO,
Proposição da construção de uma F. 2007. Platyspermic seeds from the
chave dicotômica de identificação Early Permian of Paraná Basin, Brazil. The
de sementes gondvânicas Palaeobotanist, 56:1 - 19.
Uma recente revisão revelou que ainda
é necessário incluir nove espécies já descritas de GONÇALVES, E.G.; LORENZI, H. 2007.
sementes. Dentre elas pode-se citar Samaropsis Morfologia vegetal: organografía e dicionário
yoshidae Rigby 1972, deixada de fora do “Esquema ilustrado de morfología de plantas vasculares.
Maithy” em suas atualizações por Millan (1969, Nova Odessa: Instituto Plantarum, 416 p.
1974, 1984) e que deveria ser incluída no grupo de
“sementes platispérmicas com larga e diferenciada MAITHY, P.K. 1965. Studies in the Glossopteris
testa, sem crista mediana, forma oval/elíptica na flora of India – 18. Gymnospermic seeds and
posição vertical e sarcotesta com sinus em uma seed-bearing organs from the Karharbari
extremidade”. beds of the Giridih coalfield, Bihar. The
Palaeobotanist, 13 (1):45 - 56.
Seria necessário também, para destacar a
principal característica diagnóstica de Cordaicarpus MILLAN, J.H. 1969. The gymnospermic and
truncata Souza & Iannuzzi 2009, e Samaropsis platyspermic seeds of the Glossopteris flora
golondrinensis Archangelsky 2000, acrescentar from Brazil and correlated foreign regions.
a característica “base truncada”, ampliando-se, In: AMOS, A.J. (ed.) – IUGS- Symposium,
desse modo, a especificidade do sistema artificial Gondwana Stratigraphy, Buenos Aires 2:107
de classificação, através do acrescécimo da forma - 122.
da base aos caracteres diagnósticos das espécies já
descritas. MILLAN, J.H. 1974. As sementes platispérmicas
Nesse sentito, a constante aparição de do Gondwana face ao Esquema Maithy.
novas espécies de sementes gondvânicas descritas, Anais da Academia Brasileira de Ciências, 46
bem como o maior detalhamento apresentado (3/4):538 - 547.
nas diagnoses destes órgãos tem contribuido
para o melhor entendimento e comparação das MILLAN, J.H. 1977. Sementes platispérmicas do
sementes fósseis a partir da consulta do material eogondwana de Cerquilho, São Paulo, (Bacia
bibliográfico produzido. Por outro lado, a do Paraná). Anais da Academia Brasileira de
inexistência de uma clara terminologia que aponte Ciências, 49 (4):581 - 595.
os principais caracteres diagnósticos, bem como
caracterize com clareza as feições morfológicas, MILLAN, J.H. 1994. O esquema de identificação
dificulta este trabalho de comparação e correlação. e classificação das sementes gondvânicas:
Além disso, essa crescente diversidade nas formas reatualização e análise crítica. Anais da
conhecidas tem levado ao fracionamento cada Academia Brasileira de Ciências, 66 (4):475 -
vez maior do “Esquema Maithy”, conduzindo a 488.
uma dificuldade de compreensão do seu correto
funcionamento. PANT, D.D.; NAUTIYAL, D.D. & TIWARI,
Portanto, acredita-se que a transformação S.P. 1985. On some Indian Lower Gondwana
do “Esquema Maithy” em uma chave dicotômica compressions of seeds. Paleontographica Abt.
facilitaria não somente seu uso em estudos B. 196:31 - 78.
comparativos, como também a inclusão das novas
RAVEN, P.H., EVERT, R.F. & EICHHORN,
espécies a serem descritas. Não obstante, já que esta
S.E. 2001. Biologia vegetal. 7ª ed. Rio de
nova organização é extremamente dependente das
terminologias descritivas, sugere-se que a mesma Janeiro: Editora Guanabara, 830 p.
seja construída a partir da nomenclatura botânica
utilizada para caracterizar os órgãos dos vegetais
atuais (GONÇALVES; LORENZI, 2007).

759
MESOZOIC VEGETATIONAL SCENARIO OF PENINSULAR INDIA
Amit K. Ghosh¹ (akghosh_in@yahoo.com)
¹Birbal Sahni Institute of Palaeobotany. 53 University Road, Lucknow – 226 007, INDIA

ABSTRACT biostratigraphy. Dispersed pteridophytic fossil


megaspores are well represented in the Triassic
In India, the Gondwana System is
sediments of Peninsular India ranging from Lower
remarkably well developed and in Peninsular
to Upper Triassic (isolated outcrops). Lycopodian
India and there is a huge deposition of Gondwana
affinity of these megaspores has generally been
succession of fresh water sediments ranging
assumed. In the last couple of decades improved
from Early Permian to Early Cretaceous. In
techniques e.g., SEM studies of exosporium,
general, the Gondwana sequence is designated by
nature of inner body etc. have received much
three distinct floral successions viz., Glossopteris
attention to the megaspore workers dealing with
Flora, Dicroidium Flora and Ptilophyllum Flora.
morphotaxonomy. Megaspores from the Early
Mesozoic Flora spanning over the Period
Lower Triassic sequence (Panchet Formation:
of 251 Ma – 65.5 Ma is predominated by
Maitur Member - Lower) are represented by
gymnospermous plants. It comprises two distinct
different species of the genera Banksisporites,
floral assemblages: 1) Triassic Flora flourished
Jhariatriletes,Biharisporites,Verrutriletes,Talchirella,
from 251 Ma to 201.6 Ma and indicates the
Pantiella, Maiturisporites, ?Nathorstisporites
dominance of pteridosperms. 2) Early Cretaceous
and Tetralete megaspore. Megaspores from the
Flora existed from 201.6 Ma to 65.5 Ma and
Lower Triassic (Panchet Formation: Deoli/
dominated by cycadophytes followed by conifers
Hirapur Member - Upper) are also represented by
and pteridophytes. Three major floral changes
different species of Banksisporites, Biharisporites,
have been observed during Mesozoic Period:
Verrutriletes, Talchirella, Pantiella, Maiturisporites
First during Triassic Period – marked by decline
and Umiaspora. Early Middle Triassic (Nidpur/
of Glossopteris flora and emergence of Dicroidium
Nidhpuri beds) megaspores are characterized
flora. Further changes are observed during
by species of the genera Banksisporites,
Early Cretaceous – characterized by decline of
Grambastisporites, Trikonia, Mamillaespora
Dicroidium flora and appearance of Ptilophyllum
and Nidhitriletes. Megaspores from the Upper
flora. Most significant change observed during
Triassic (Tiki Formation: Harai Member -
the Late Cretaceous is the appearance of the most
Lower) sequence are represented by the genera
advanced group of modern flora i.e., Angiosperms
Bokarosporites, Banksisporites, Biharisporites,
and gradual decline of Ptilophyllum flora.
Biharisporites, Verrutriletes, Bacutriletes,
Comparative study of Triassic Flora from
Horstisporites, Erlansonisporites, Hughesisporites,
India shows that the onset of Dicroidium (an index
Nathorstisporites and Nathorstisporites. Upper
genus) was in the later phase of Early Triassic
Triassic megaspores (Tiki Formation: Giar
Period, it proliferated and diversified during the
Member - Upper) are characterized by the
Middle-Upper Triassic Period and declined in
appearance of Minerisporites, Maexisporites and
the Rhaetic Period. Significant genera of Indian
Aneuletes. Some of these megaspore genera are also
Triassic Flora are: Dicroidium, Lepidopteris,
known from different Early Cretaceous sediments
Pteruchus, Xylopteris, Yabiella, Baiera, Sphenobaiera,
of India viz., Kachchh Basin, Mahanadi Basin
Sidhiphyllites, Elatocladus and Desmiophyllum.
and parts of Central India. The significant feature
Numerous fructifications known from the Early
of the Early Cretaceous megaspore assemblages
Triassic are: Satsangia, Nidia, Nidistrobus etc. Exact
are by the appearance of cosmopolitan forms of
affinities of the fructifications need confirmation.
megaspores.
Megaspores are also very significant in Triassic

760
Early Cretaceous Flora of India are of flora in time. Lateral change of flora is possibly
known from different sedimentary basins viz., due to space variation and it has been envisaged
Mahanadi, Krishna Godavari, Palar, Cauvery, by the megafloral investigation of Rajmahal
Pranhita-Godavari, Rajmahal, Chui Hill Formation (i.e., flora of similar intertrappean
( Jabalpur District); Bansa (Shahdol District), beds from different localities) exposed at various
Satpura and South Rewa basins (Madhya localities.
Pradesh); Kachchh, Kathiawar, Cambay Basin, Based on these analyses, it can be
Himmatnagar Sandstone (Sabarkantha), Habur interpreted that the Mesozoic vegetational
( Jaisalmer District) Sarnu (Barmer District) and scenario of Peninsular India is remarkably
Dongargaon (Chandrapur District). significant owing to extinction of three major
Extensive study of the Early Cretaceous plant groups i.e., Pteridosperms (Glossopteridales,
Flora of the Rajmahal Basin revealed that the shift Corystospermales and Peltaspermales),
in floral vegetation is primarily dependent upon Bennettitales and Pentoxylales.
the environmental factor (mainly climate), which Keywords: Gondwana, Glossopteris
is well reflected by the compositional change of Flora, India
the plant groups in the vegetation i.e., succession

761
PALAEOGENE AND NEOGENE CALCAREOUS ALGAE FROM INDIA
Amit K. Ghosh and Suman Sarkar¹ (akghosh_in@yahoo.com)
¹Birbal Sahni Institute of Palaeobotany. 53 University Road, Lucknow – 226 007, India

The benthic marine algal community of the they became more abundant during the Neogene
Palaeogene and Neogene periods in India is highly period.
dominated by fossil calcareous algae, specifically In this backdrop, the present study
the coralline red algae, which are closely followed reviews the distribution, palaeoecology and
by halimedacean and dasycladalean green algae. palaeobathymetry of fossil calcareous algae
This fact has received wide acceptance that the from the Palaeogene of South Shillong Plateau,
present-day environmental prerequisites have been Palaeogene and Neogene of Kachchh Basin and
more or less invariant through time for these algal the Neogene sediments of Andaman and Nicobar
groups. A number of physical factors (e.g., light, Basin (Little Andaman and Car Nicobar islands).
temperature, substrate, agitation and turbidity of The southwestern part of South Shillong
water, atmospheric clarity etc), chemical factors Plateau (Meghalaya, N-E India), designated
like salinity of water and biological factors (e.g., as Sylhet Limestone Group, is represented by
nutritional requirements, aquatic food chains very well developed shallow marine sequence of
etc.) as well as latitudinal positions and sea-level Palaeocene-Eocene carbonates. It includes three
fluctuations are responsible for the distribution lithounits viz., Lakadong (lower), Umlatdoh
of species of these algal groups. Non-geniculate (middle) and Prang (upper) formations. Lakadong
corallines belonging to families Corallinaceae, Sandstone separates the lower carbonate unit from
Sporolithaceae and Hapalidiaceae play an the middle unit, and the Narpuh Sandstone, falling
important role in the binding function of coral between the middle and upper units are the two
reefs.They may also form algal reefs and rhodoliths sandstone beds. The carbonate rocks of the Sylhet
(unattached nodules). Palaeobathymetric studies Limestone Group are characterized by occurrence
have shown that their depth distribution ranges of typical shallow marine neritic foraminifera and
from shallow marine down to 268 m water depth, a variety of calcareous algae. The successions of
right from the tropics to Polar Regions. the Sylhet Limestone units have been studied for
Phycoerythrin, a significant foraminifera and coralline algae. The equivalent
photosynthetic pigment is responsible for the sediments from the Jaintia Hills known as Shella
photosynthesis of coralline algae at low light Formation are also rich in fossil calcareous algae
intensity in deeper water. Present day dasyclads (both geniculate and non-geniculate coralline red
and halimeds predominantly occur at shallow algae and halimedacean and dasycladalean green
water depths of about 20 m in tropical-subtropical algae). Species of Lithothamnion, Lithophyllum,
marine environment. They prefer soft substrate in Distichoplax, Sporolithon, Lithoporella and
protected backreefs and lagoons. Change of sea- Spongites are chiefly the non-geniculate forms
level and variation of temperature were directly whereas; Corallina and Jania are the geniculate
related to the algal buildups in the geological forms. Green algae represented by the genera of
past. Sea-level fluctuations directly influence the Halimedacean, Dasycladaleans and Udodeacean
regional climates, and if large areas are involved, forms also have been recovered from this area.
it can certainly lead to global climatic change. A Kachchh Basin is a peri - cratonic rift basin
survey of literature on the temporal distribution in the western margin of India which has preserved
of various algal groups recorded from India proves almost a complete sequence from Triassic to
that the sporolithaceans reached their diversity Recent punctuated by several stratigraphic breaks
acme during the Cretaceous in contrast to other between transgressive cycles. Cenozoic sediments
algal groups, and the diversity of corallinaceans of Kachchh Basin are exposed in a condensed
along with halimedaceans and dasycladaleans manner in the western part of this basin with major
gradually enhanced from the Palaeogene and part occurring in offshore region extending up to

762
the present continental shelf. The unique feature contain abundant and well preserved microfossils
of this area is a near complete sequence ranging viz., diatoms, silicoflagellates, nannofossils,
from Palaeocene to Pliocene developed within a sponge spicules, foraminifers, calcareous algae,
900m thick sequence, with the Palaeogene strata radiolarians etc.
measuring around 100 m while the Neogene The Little Andaman Island, lying between
strata measuring 800 m. Some of the limestone South Andaman and Car Nicobar Islands, is the
units belonging to the Eocene and Oligocene southern-most island of the Andaman Group.
sediments of Kachchh Basin are potential sources This island, located between 10˚30’ and 10˚54’
for the study of coralline algae. There are some N and between 92˚ 20’ and 92˚37’ E, is separated
reports on the occurrence of calcareous algae from the South Andaman by the Duncan Passage
from the Middle Eocene, Oligocene and Lower and from the Car Nicobar by the Ten Degree
Miocene rocks of the Kachchh Basin. Existence Channel. The Little Andaman Island is about 43
of calcareous algae has been recorded from the km long and 24 km wide, and is situated about
Fulra Limestone, Maniyara Fort, Khari Nadi 96 km south of Port Blair. Recently an algal
and Chhasra formations. Species of the genera assemblage from the limestone unit of Hut Bay
belonging to Lithophyllum, Lithothamnion, Formation (Middle Miocene), Little Andaman
Cymopolia, Neomeris, Salpingoporella, Acicularia, has been reported. This report includes four
Goniolithon and Halimeda are known from the Fulra different species of non-geniculate corallines
Limestone Formation (Middle Eocene). From viz., Lithophyllum pustulatum, Neogoniolithon sp.,
the Lower Miocene of Khari Nadi Formation, Lithothamnion betieri and L. libanum and nine
species of the genera Lithophyllum, Mesophyllum, different forms of geniculate corallines that include
Aesthesolithon and Archaeoporolithon have been the genera ?Subterraniphyllum and Amphiroa. In
recorded. Occurrence of the genera Lithophyllum addition, five different morphotypes assignable
Sporolithon, Lithoporella, Neogoniolithon, to the genus Halimeda from the limestone unit of
Spongites, Lithothamnion, Mesophyllum, Corallina, the Hut Bay Formation have been recorded.
Arthrocardia and Amphiroa have been reported Car Nicobar is the northernmost island
from the Maniyara Fort Formation (Chattian of the Nicobar group of islands and is situated in
- Oligocene). Apart from these number of between 9˚7’ and 9˚13’45” N latitudes and 92˚43’
species belonging to the genera Lithoporella, and 92˚50’ E longitudes. This island is largely flat
Amphiroa, Arthrocardia, Calliarthron, Corallina, with low relief. Principle rock types found in this
Subterraniphyllum, Jania, Neomeris, Acroporella, island are not very much diversified and consist
Broeckella, Orioporella, Clypenia, Metagoniolithon of mudstone and limestone only. Three major
and Ovulites have been reported from Fulra lithostratigraphic units (formations) viz., Sawai
Limestone Formation, Maniyara Fort Formation, Bay Formation, Guitar Formation (=Kakana
Chhasra Formation and Khari Nadi Formation of Formation) and Malacca Limestone Formation
Kachchh Basin. are developed in the Car Nicobar Island. An
The Andaman and Nicobar Islands in the assemblage dominated by coralline red algae
Bay of Bengal, represents a junction of two major (both geniculate and non-geniculate) represents
lithospheric plates (the Indian and Pacific plates), the Middle Pliocene coralline algal flora of
forming an arcuate ridge that trends north-south Car Nicobar Island. Species of Lithoporella,
for about 850 kms between 6˚ 45’ and 13˚ 45’ Phymatolithon, Lithothamnion, Mesophyllum,
N, and 92˚ 15’ and 94˚ 0’ E. The Andaman and Lithophyllum and seven species of Amphiroa have
Nicobar Islands represent a thick deposition of been reported from the Middle Pliocene of Car
marine sediments ranging from Late Mesozoic to Nicobar Island.
Quaternary and is divisible into five lithographic In the present analysis attempts have been
units i.e., Porlob, Serpentine, Baratang, Port Blair made to establish the gradual change of algal flora
and Archipelago groups in ascending sequence. from Palaeogene to Neogene and to accurately
A nearly continuous marine sequence of Late interpret the palaeoecology and palaeobathymetry
Mesozoic to Pleistocene age occurs on these based on the composition of algal flora.
islands. The Neogene sediments (Archipelago
Group) of deep water origin, unconformably
overlying the Palaeogene Port Blair Group, are
composed of mudstone, chalk and limestone, and

763
PALYNOFLORAL PATTERN THROUGH UPPER COAL MEASURES
OF LOWER GONDWANA SEQUENCE IN PENINSULAR INDIA
Neerja Jha1 (neerjajha@yahoo.co.uk)
1
Birbal Sahni Institute of Palaeobotany, 53 University Road, Lucknow

ABSTRACT: striate disaccates chiefly Striatopodocarpites


and Faunipollenites but the associated taxa in
Lower Gondwana sequence of peninsular
palynoassemblages of some Gondwana basins of
India has rich coal deposits of Permian age. These
peninsular India differ. Palynofloral comparisons
coal deposits occur mainly in two horizons:
in different Gondwana basins of peninsular
Lower Coal Measures comprising Karharbari
India show that differences exist during Late
and Barakar formations of Early Permian age and
Permian time. Recurrence of Parasaccites in high
Upper Coal Measures i.e. Raniganj Formation
percentage in association with striate disaccates
of Late Permian age. The Upper Permian coal
during Late Permian in Wardha, Godavari and
deposits have now been proved in almost all
Son valleys indicates that the climate towards the
the peninsular basins of India viz. Raniganj
end of the Permian time tended to become colder.
Formation in Damodar, Mahanadi and Godavari
High incidence of Guttulapollenites has been
basins, Pali in Son basin, Kamthi in Wardha,
recorded in Satpura, Wardha, Godavari basins
Bijori Formation in Satpura basin, and Pachwara
and Guttulapollenites palaeophytogeographic
Formation in Rajmahal basin. Eight distinct
province has been interpreted within Glossopteris
assemblages have been identified in Upper Coal
dominated Gondwana floral province during
Measures of different basins of India. Palynoflora,
Late Permian time.
in general, is characterised by dominance of

764
765
RECENT SIGNIFICANT PALAEOBOTANICAL FINDINGS FROM PRECAMBRIAN
TO RECENT AT BIRBAL SAHNI INSTITUTE OF PALAEOBOTANY
Naresh C. Mehrotra1
1
Birbal Sahni Institute of Palaeobotany, 53 University Road, Lucknow – 226 007, India

The Birbal Sahni Institute of Palaeobotany, Palynological data from the petroliferous basins of
founded by Prof. Birbal Sahni, F.R.S., is India, especially Western Offshore and Krishna-
exclusively devoted to researches on fundamental Godavari basins have been generated. Based on
and applied aspects of palaeobotany and related palynological data, prospects for hydrocarbons
biogeosciences, viz., Morpho-taxonomy, evolution, have been found in Neoproterozoic sediments
biostratigraphy, biodiagenesis, aerobiology, of Rajasthan. Another very significant finding is
archaeobotany, dendrochronology, geochronology, establishing a Cryogenian to Ediacaran age for
palaeobiogeograpphy, palaeoenvironment and the pre-Tertiary sequence of Ganga Basin on the
palaeoclimate. Over sixty years of time span, basis of acritarchs and algae, which eventually
the Institute gradually developed an extensive represents an extension of Marwar Super Group
taxonomic and stratigraphic database on different sediments. Organic matter maturation studies
plant mega- and microfossil groups from different indicate possibility of hydrocarbons in Ganga
geological succesions, which are now being used Basin.
for applied aspects of geoscientific researches. CLAMP analysis (Climate Leaf Analysis
BSIP deals with the whole spectra of botany Multivariate Programme) – a new tool for decoding
on earth, from the beginning of life to Recent climatic signals inherent in the physiognomy
changes in global scenario. Astropalaeobiology, of leaves of woody dicotyledonous plants has
an emerging field, looks for evidences of life been started for the Tertiary flora of India.
in extreme conditions, with emphasis on the Peninsular and extra-peninsular regions of India
origin and antiquity of life. The discovery of have been taken up for multi-proxy Quaternary
fossil entities from different Proterozoic basins paleoclimate studies. Understanding of the
of India has thrown light to the evolution of establishment and subsequent deterioration of
oxygen in the early atmosphere, and the process of East coastal mangroove vegetation during
biomineralization and phosphogenesis. Extensive Holocene have also been undertaken under
research on Indian Gondwana plant fossil deals mangroove palynology studies. Pollen and tree
with the treasure house of Permo-Triassic plant ring studies have been used to decipher the climatic
remains. Gondwana palaeobotanical studies changes in Himalayan glaciers. Palynological
have been extended to Antarctica, where along studies from the Gangotri Glacier reveal the
with the findings of micro- and megafossils demarcation of several warm-moist and cold-arid
the evidences of palaeo-forest fire have been phases during last 2000 years; on the other hand,
recorded during Mid-Late Triassic from Allan tree-ring data has led to a correlation with the
Hills, South Victoria Land. Archaeobotany/ rapid retreat of the Glacier during recent years.
Palaeoethnobotany, dealing with botanical Presently, Polar Region has been given emphasis
remains recovered from archaeological sites, for palaeoclimatic studies. Mineral magnetic and
envisgaes the pattern of agriculture and man- palynological studies have been carried out to
plant relationship during pre-historic ages. It has delineate the climatic fluctuations in Antarctica
been revealed that rice cultivation in the Ganga during last 10,000 years. Arctic has also become a
Plain dates back to 6270 yrs BP. Some other thrust area for climatic studies; biological proxies,
evidences like use of herbal detergent and hair viz., spores-pollen, dinoflagellates, zooplankton
cleaner in Indus civilization, discovery of custard- and sedimentary organic matter have been used
apple around 1640 BC (which indicates the pre- to decipher the paleoclimatic changes for last
Columbian connection between South Asia and 27,000 years.
America) are the major findings. High Resolution

766
STRATIGRAPHIC STATUS OF PARSORA FORMATION IN SOUTH REWA
BASIN, MADHYA PRADESH, INDIA: A PALYNOLOGICAL OVERVIEW
Ram-Awatar1
1
Birbal Sahni Institute of Palaeobotany, 53 University Road, Lucknow-226007, (U.P.), India

ABSTRACT Cyathidites australis, Araucariacites australis,


Aequitriradites indicus, Aequitriradites spinulosus,
The paper deals the palynological finding
Dictyophyllidites venkatachalai, Gleicheniidites
of surface and subsurface samples recorded from
indicus, Densoisporites mesozoicus, Brachysaccus
the type locality of the Parsora Village (23º 26′:
eskensis, Minutosaccus maedleri, Alisporites ovalis,
81º 05′30″), Shahdol District, Madhya Pradesh,
Satsangisaccites nidpurensis, Klausipollenites
India. This unit was variously named in the past,
schaubergeri, Podocarpidites grandis, Falcisporites
viz., Mahadeva Formation, Transitional bed,
stabilis, and Arcuatipollenites ovatus showing
Parsora Stage, Parsora Group and Daigaon Stage
Rhaetic-Callovian age of the Parsora Formation.
by various workers on the basis of lithological
The palynoassemblage is compared with
and palaeobotanical findings. There is difference
Callialasporites dampieri super zone of Australia
of opinion regarding the age and stratigraphic
and other known assemblages of Indian
status of the Parsora Formation. Some workers
Gondwana. The study also suggest that Parsora
suggest that Parsora is younger than Tiki while
is a time transitional lithounit which straddled
others proposed Parsora is older than Tiki
across the Triassic-Jurassic chronoplane and
Formation. The Parsora rocks are well exposed
younger than Tiki Formation.
in Kamrai Nala, a tributary of Johilla River,
where the Parsora Formation is represented by Keywords: Jurassic, Palynology, South
yellowish to white coloured medium- to coarse Rewa, Madhya Pradesh, India
grained feldspathic sandstone, claystone marker
bed with shades of red, violet and mottled colour
claystone. The carbonaceous shale and feldspathic
sandstone are completely missing in the Parsora
sediments, however, cross bedded sandstone,
small scale ripple mark and load caste have been
also observed at some places in the basin. On the
basis of megafossils plants chiefly- Neocalamites
foxii, Lele, Sphenopteris sp., Cladophlebis sp.,
Marattiopsis, Danaeopsis gracilis, Lele, Dicroidium
odontopteroides (Morris) Gothan, D. hughesii
(Feistmental) Gothan, Taeniopteris feddeni
Feistmental, Pterophyllum sahnii Lele, Samaropsis
srivastavai Lele, Desmiophyllum taeniatum Lele,
D. ovatus Lele, Parsorophyllum indicum Lele,
Cordiacarpus chicharensis and C. ovatus Lele; Late
Triassic age is assigned to the Parsora Formation.
Recently, a well preserved palynomorphs
have been recorded from borehole ( JNN-1) and
Ghorari Nala Section, revealed the occurrence of
- Cicatricosisporites ludbrookaei, Cicatricosisporites
augustus, Cooksonites rajmahalensis, Callialasporites
segmentatus, C.dampieri , C. trilobatus,

767
COMPLEMENTO ATAS DO XXII
CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA

COMPARACIÓN ENTRE LAS XILOTAFOFLORAS DEL PÉRMICO DE LOS PAÍSES DEL CONO SUR DE
SUDAMÉRICA....................................................................................................................................... 769
Alexandra Crisafulli, Rafael Herbst, Valeria Leiva Verón, Carolina Blanco

ESTUDO PRELIMINAR SOBRE OSTRACODES RECENTES DO ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO


E SÃO PAULO (ASPSP)........................................................................................................................... 773
Bottezini, S.R. (silvia_bio@yahoo.com.br), Machado, C.P. (machadocpm@gmail.com)

THE EARLY TO MID-CRETACEOUS RECORD OF MONOCOTYLEDON ANGIOSPERMS................................ 777


Coiffard C., Mohr B.A.R., Bernardes-de-Oliveira M.E.C.

PALEO-ROTA NOS MUNICÍPIOS DE CASTRO E TIBAGI, PARANÁ, BRASIL................................................. 778


Willian Mikio Kurita Matsumura(williammatsumura@gmail.com), Elvio Pinto Bosetti, (elvio.bosetti@pq.cnpq.br),
Rodrigo Scalise Horodyski (rodrigo.geo@gmail.com)

FLORAÇÃO DE GLAPHYROCYSTA CASTELCASIENSE NO POÇO 1-IT-03-PE - BACIA PARAÍBA


(FORMAÇÃO GRAMAME –MAATRICHTIANO SUPERIOR), NORDESTE DO BRASIL................................... 788
Clarissa Rachael Gomes, Marcelo de Araújo Carvalho, Geiviane Karine Melo, Sônia Agostinho,
Mário Ferreira Lima Filho

FIRST REPORT OF CATONYX CUVIERI (XENARTHRA, MYLODONTIDAE, SCELIDOTHERIINAE)


FROM THE LATE PLEISTOCENE OF URUGUAY......................................................................................... 791
Andrea Corona (acorona@fcien.edu.uy), Daniel Perea (perea@fcien.edu.uy),
H. Gregory McDonald (greg_mcdonald@nps.gov)
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

COMPARACIÓN ENTRE LAS XILOTAFOFLORAS DEL PÉRMICO


DE LOS PAÍSES DEL CONO SUR DE SUDAMÉRICA
Alexandra Crisafulli¹, Rafael Herbst², Valeria Leiva Verón¹, Carolina Blanco¹
¹Facultad de Ciencias Exactas y Naturales y Agrimensura – UNNE – CECOAL – CONICET. Corrientes.
²Instituto Superior de Correlación Geológica, INSUGEO – CONICET. Tucumán

ABSTRACT INTRODUCCIÓN
The gimnospermous wood associations El propósito de este trabajo es el análisis de
from several Permian Formations from Argentina, la composición xilológica que albergan distintas
Paraguay and Uruguay are analized to compare Formaciones del Pérmico de Uruguay, Paraguay
them with the contemporary Brazilian ones. For y Argentina para establecer comparaciones de
this purpose an inventory of all the taxa is given; diversa índole con las paleoxilofloras coetáneas
their anatomical and morphological characters de Brasil, procedentes de las sedimentitas de
as well as paleoecological and plaeoclimatical las Formaciones Iratí- Estrada Nova - Serra
inferences are given. Questions derived from Alta - Rio Bonito. De Uruguay se analizan las
“problematical genera” and some comments on asociaciones de leños de las Formaciones Tres
evolutive characters are also mentioned. The Islas y Melo (Pérmico Inferior - Medio) y Yaguarí
interest of this paper is give an overview from (Pérmico Superior). De Paraguay se caracterizan
the xilological point of view of the neopaleozoic los leños de la Formación Tacuary (Pérmico
sediments which here are so rich in their Superior) y de Argentina se toman en cuenta las
paleobotanical composition. paleoxilofloras de las Formaciones Carapacha,
Keywords: Xilotaphofloras, Permian, Solca, Nueva Lubecka (Pérmico Inferior Alto) y
southern South America La Antigua (Pérmico Superior).

RESUMEN MATERIAL Y MÉTODOS


Se analizan en esta contribución la Para lograr este objetivo se realizó la
composición de maderas gimnospérmicas recopilación bibliográfica e inventario de la gran
de diferentes Formaciones del Pérmico de mayoría de los taxones de leños del Pérmico de
Uruguay, Paraguay y Argentina para establecer los países en estudio consignando además los
comparaciones con las asociaciones coetáneas de datos paleobotánicos, taxonómicos y evolutivos
Brasil. Para este fin se han observado, además del que ofrecen para realizar consideraciones sobre
inventario de todos los taxones comunes y propios estas paleoxilofloras de este sector del Cono Sur
de cada país, las características morfológicas de Sudamérica. Para ello algunos de los trabajos
y anatómicas sobresalientes y las cuestiones consultados son enunciados aquí: Crisafulli y Lutz
referidas a géneros “problema” , las novedades (2000), Crisafulli y Herbst (2007), Archangelsky
sistemáticas y las inferencias que se desprenden de (1960), Crisafulli y Herbst (2009), Crisafulli y
las adaptaciones paleoecológicas y paleoclimáticas Herbst (2008), Crisafulli et al (2009), Blanco
en las maderas, así como comentarios de índole et al (2011), Leiva Verón et al (2011) y Mussa
paleobotánico -evolutivo . Se busca brindar una (1980), Mussa (1986), Merlotti (2000), Merlotti
visión general actualizada, desde el punto de vista y Kurzawe (2006) y Kurzawe y Merlotti (2010),
xilológico, de lo que ofrecen estos sedimentos Guerra Sommer (1978).
del neopaleozoico tan ricos en su contenido
paleobotánico.
RESULTADOS
Palabras clave: Xilotafofloras, Pérmico,
Sudamérica austral Se confeccionaron diversas tablas y cuadros
para volcar los resultados y poder establecer

769
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

comparaciones. Por las características de este Namibia e India. Menos taxones son
Resumen aquí no pueden ser presentadas todas compartidos con Australia y Nueva
las tablas; no obstante de las tablas 1 y 2 se puede Zelanda (Kaokoxylon y Podocarpoxylon).
señalar las siguientes apreciaciones: Con respecto al género Agathoxylon es
1. Resaltar la diversidad y evolución de las cosmopolita por lo que su distribución
maderas de Gimnospermas alcanzadas y biocrón son amplios (Carbonífero a
en este sector de Sudamérica. Terciario).
- Se observan los registros más La consecución de estos resultados
antiguos de maderas de Ginkgoales. conducirá al establecimiento de asociaciones de
- Hay algunos géneros cosmopolitas referencia para este sector sur de Sudamérica
(Agathoxylon, Podocarpoxylon, por ej.), que intenten aportar una visión global de lo que
otros nórdicos (Scleromedulloxylon) y fueron estas paleoxilofloras.
otros gondwánicos (Polysolenoxylon/
Petalopitys, Barakaroxylon). REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Se aclara que los hallazgos de
ARCHANGELSKY. 1960. Lycopsida y
Vertebraria no están incluidos en la
Sphenopsida del Paleozoico superior de
Tabla siguiendo a la opinión de Royle
Chubut y Santa Cruz, Patagonia. Acta
dado que no representan un único
Geológica Lilloana 3: 21-36
género sino más bien un complejo de
formas comunes, distribuidas en el BLANCO et al. 2011. Novedades en la
Gondwana. xilotafoflora de la Formación Yaguarí,
2. Se impone un análisis y resolución Pérmico Superior de Uruguay. Resumen
de algunos aspectos vinculados con Reunión de Comunicaciones Científica y
la taxonomía de formas dudosas o de Tecnológicas 2011. Disponible en http://
nomenclatura abierta. Por ejemplo www.unne.edu.ar
los morfogéneros Araucarioxylon-
Dadoxylon –Agathoxylon y Australoxylon CRISAFULLI & HERBST. 2008. Maderas
así como los morfogéneros Gimnóspermicas de la Formación Solca
Barakaroxylon-Polysolenoxylon. (Pérmico Inferior), provincia de La Rioja,
Argentina. Ameghiniana, 45(4):737-751.
3. En el trabajo in extenso se hace un
examen y comparación de los datos CRISAFULLI et al. 2009. Maderas
taxonómicos y además reconocimiento Gimnospérmicas de la Formación Tres
de aspectos paleoambientales y Islas. (Pérmico Inferior) de Uruguay. Gaea.
paleogeográficos obtenidos. Journal of Geoscience. 5: 1-14. Brasil.
4. Se propone establecer unidades
CRISAFULLI & LUTZ. 2000. Xiloflora de
paleoflorísticas o asociaciones
la Formación Melo (Pérmico Inferior)
regionales para el Pérmico de las
Uruguay. Ameghiniana 37 (1): 73-80. Buenos
Formaciones de los países en estudio.
Aires.
Un anticipo de ello es la propuesta
de Mussa (1986) de diagramar una CRISAFULLI & HERBST. 2009.
¨biozona diafragmo solenoide¨con Gimnospermous woods from Tacuary
taxones con dicho carácter. Formation (Upper Permian), Paraguay.
5. Algunos de los taxones consignados en Paleobiodiversity and Paleoenvironment. Ed.
la Tabla 2 Australoxylon, Podocarpoxylon, Springer and Senkenberg. 2. Germany.
Kaokoxylon y, Protophyllocladoxylon
se encuentran además en otras
xilotafofloras coetáneas de Sudáfrica,

770
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

GUERRA SOMMER. 1978. Ocorrência de MERLOTTI. 2009. Reavaliação taxonômica de


Gênero Nórdico de Coníferas no Gondwana lenhos das formaçãoes Irati e Serra Alta,
Sul Brasileiro. Pesquisas, 10:65-76. Permiano Superior, Bacia do Paraná, Brasil.
Pesquisas em Geociências, 36 (1):11-21.
KURZAWE & MERLOTTI, 2010. O complexo
Dadoxylon-Araucarioxylon, Carbonifero e MERLOTTI, S. & KURZAWE, F. 2006.
Permiano do Gondwana: Estudo taxonômico Estudo taxonomico do género Australoxylon
do gênero Araucarioxylon. Pesquisas em Marguerier 1973, com a descricao de A.
Geociências, 37:41-50. catarinensis sp. nov. para o Permiano Inferior,
Bacía do Paraná. Revista Paleontología 9: 73-
LEIVA VERÓN et al. 2011. Maderas 81.
Gimnospérmicas en una nueva localidad de
la Formación Tacuarí, Pérmico de Paraguay. MUSSA. 1982. Nova forma do complexo
Resumen Reunión de Comunicaciones Vertebraria nos argilitos carbonosos da
Científicas y Tecnológicas 2011. Disponible en Formaçâo Río Bonito, Santa Catalina,
http://www.unne.edu.ar Brasil. Boletím Instituto de Geociência da
Universidade de São Paulo 13: 66-74.
MERLOTTI. 2000. Petalopitys rioclarensis,
Uma nova espécie do grupo solenóide MUSSA. 1986. Eutelos Gondwậnicos de
da Formação Irati. São Paulo, Brasil. Acta medulas diafragmadas e sua distribuição
Geológico Leopoldensia estratigráfica. Boletím Instituto de Geociência
da Universidade de São Paulo 17: 11-26

Leyenda. Tabla 1. Total de taxones analizados


  Géneros Especies Afinidades Botánica Estratigrafía Localidad
        Iratí Sao Paulo
      Glossoperidales Estrada Nova  
Brasil 43 77 Cordaitales Serra Alta Rio Grande
      Coniferales Piramboia  
      Taxales Río Do Rasto Santa Catarina
        Alan  
Antártida 6 9 Glossoperidales Nunataks  
      Coniferales Flagstone bench  
        Bainmedart  
  9 13 Pteridosperma La Antigua La Rioja
      Cordaitales Carapacha La Pampa
Argentina     Coniferales    
      Pteridophyta Tres Islas Melo
Uruguay 13 19 Coniferales Melo Rivera
      Ginkgoales? Yaguarí Tacuarembó
      Pteridophyta    
Paraguay 13 15 Coniferales Tacuarí Guairá
      Ginkgoales    

      Taxales    

771
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011
Tabla 2
Composición xilológica parcial de Gimnospermas de los países en estudio
  ARGENTINA URUGUAY PARAGUAY BRASIL
Agathoxylon X X X X
Brachyoxylon       X
Schopfiicaulia X     X
       
Ginkgophytoxylon   X    
Piracicaboxylon   X   X
Chapmanoxylon X X    
Baieroxylon   X X  
Australoxylon   X X X
Paulistoxylon   X   X
Podocarpoxylon X X X  
Bageopitys/ Abietopitys  X X X X
Prototaxoxylon X X X X
Taxopitys   X   X
Austroscleromedulloxylon   X   X
Stiloxylon   X    
Barakaroxylon   X X X
Mussaeoxylon   X   X
Eoguptioxylon X      
Polysolenoxylon/Petalopitys   X X X
Solenopitys       X
Idioxylon X      
Protophyllocladoxylon   X X X
Zalesskioxylon   X    
Planoxylon   X    
Kaokoxylon X     X
Ductosolenoxylon       X
Scleromedulloxylon       X
Septomedulloxylon       X
Aracnomedulloxylon       X
Mielontordoxylon       X
Brasilestiloxylon       X
Corticoxylon       X
Solenobrasilestiloxylon       X
Kamthioxylon X      
Retemedulloxylon       X
Aterradoxylon       X
Tordoxylon       X
Antarcticoxylon       X

772
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

ESTUDO PRELIMINAR SOBRE OSTRACODES RECENTES DO


ARQUIPÉLAGO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO (ASPSP)
1
Bottezini, S.R. (silvia_bio@yahoo.com.br), 2Machado, C.P. (machadocpm@gmail.com)
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Programa de Pós-Graduação em Geociências. Av. Bento Gonçalves, 9500,
Porto Alegre/RS, CEP 91501-970.
2
Universidade de Caxias do Sul (UCS), Centro Tecnológico Universidade de Caxias do Sul (CENT), Alameda João Dal Sasso, 800, CEP
95700-000, Bento Gonçalves, RS

RESUMO INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo As pesquisas sobre ostracodes marinhos
a caracterização taxonômica preliminar da recentes e sub-recentes no Brasil têm-se
ostracofauna do Arquipélago de São Pedro e concentrado, até o momento, na plataforma
São Paulo (ASPSP). Foram identificadas 11 continental brasileira (e. g. Machado, 2008).
espécies, duas em nível específico: Loxoconcha Poucas investigações com ostracodes em ilhas
(Loxocorniculum) tricornata e Triebelina sertata. oceânicas brasileiras têm sido realizadas, o que se
As demais, Aurila sp., Keijcyoidea sp., Neonesidea? deve principalmente à dificuldade de aquisição
sp., Paradoxostoma sp. 1, Paradoxostoma sp. 2, de material insular. Os trabalhos feitos no Brasil
Propontocypris? sp., Triebelina sp., Xestoleberis sp. limitam-se a uma monografia de conclusão de
1 e Xestoleberis sp. 2, serão posteriormente objeto curso de graduação e uma dissertação de mestrado
de estudos mais detalhados. O estudo inclui ainda para a Ilha da Trindade (Ghilardi, 2003; 2004),
uma breve discussão zoogeográfica sobre L. (L.) e uma monografia de conclusão de curso de
tricornata, espécie amplamente distribuída na graduação para o Atol das Rocas (Casseta, 2004).
porção tropical do Atlântico Oeste, e T. sertata, Estes trabalhados foram revisados e compilados
espécie cosmopolita típica de mares rasos tropicais, por Coimbra et al. (2009) sendo registradas até
é também apresentada. o momento 21 espécies para a Ilha de Trindade e
Palavras-chave: Ostracoda, Arquipélago 25 para o Atol das Rocas, várias em nomenclatura
de São Pedro e São Paulo, zoogeografia aberta.
O presente estudo está associado a uma
pesquisa de mestrado e tem como objetivos
ABSTRACT
apresentar um levantamento preliminar da
This study presents a preliminary ostracofauna do Arquipélago de São Pedro e São
characterization of the ostracofauna of the St. Peter Paulo (ASPSP) e realizar uma breve discussão
and St. Paul Archipelago (ASPSP). 11 species sobre a distribuição zoogeográfica de duas
were identified, two to specific level: Loxoconcha espécies.
(Loxocorniculum) tricornata and Triebelina sertata.
The others, Aurila sp., Keijcyoidea sp., Neonesidea?
sp., Paradoxostoma sp. 1, Paradoxostoma sp. 2, MATERIAL E MÉTODOS
Propontocypris? sp., Triebelina sp., Xestoleberis sp. O arquipélago de São Pedro e São Paulo
1 and Xestoleberis sp. 2, will later be subject to é constituído por quatro ilhas maiores (Belmonte,
further investigations. This study also comprises São Paulo, São Pedro e Cabral) (Figura 1),
a brief zoogeographical discussion about L. (L.) dispostas em semicírculo formando uma enseada
tricornata, a species widely distributed in the com profundidade média de 3 a 18 m (Moraes,
tropical portion of the West Atlantic, and T. 1996). O fundo da enseada é composto por
sertata, a cosmopolitan species typical of shallow sedimentos provenientes da atividade biológica
tropical seas. e da desagregação das rochas que constituem o
Keywords: Ostracoda, St. Peter and St. arquipélago (Campos et al., 2005). As principais
Paul Archipelago, zoogeography correntes que influem na região são a Corrente Sul-
Equatorial, que flui superficialmente no sentido

773
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

EW, e a Corrente Equatorial Submersa, que flui dessas duas espécies na costa tropical oeste
no sentido contrário (WE) a uma profundidade africana não pôde ser avaliada devido as limitadas
entre 60 e 100 m (Peterson & Strama et al.,1991; informações disponíveis sobre a distribuição de
Campos et al., 2005). Ostracoda nesta porção daquele continente. No
O material estudado provém de 12 amostras entanto, os resultados são preliminares e maiores
de sedimento de fundo e de algas, coletado através estudos taxonômicos são necessários para que
de mergulho livre em profundidades que variaram se estabeleçam as afinidades zoogeográficas do
de 2 a 11 m. O material foi preparado pelos ASPSP com o Brasil, a África e outras regiões
métodos tradicionais para o estudo de caracapaças marinhas mais distantes.
de ostracodes, nas dependências do laboratório da
Estação Científica do Arquipélago de São Pedro REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e São Paulo (ECASPSP).
CAMPOS, T.F.C.; VIRGENS NETO, J.;
SRIVASTAVA, N.K.; PETTA, R.A.;
RESULTADOS E DISCUSSÃO HARTMANN, L.A.; MORAES, J.F.S.;
O estudo preliminar das espécies MENDES, L. & SILVEIRA, S.R.M.
compreendeu a recuperação de 1.679 espécimens 2005. Arquipélago de São Pedro e São
e o reconhecimento de 11 táxons: Aurila sp., Paulo - Soerguimento tectônico de rochas
Keijcyoidea sp., Neonesidea? sp., Loxoconcha infracrustais no Oceano Atlântico. In:
(Loxocorniculum) tricornata, Paradoxostoma sp. 1, WINGE, M.; SCHOBBENHAUS, C.;
Paradoxostoma sp. 2, Propontocypris? sp., Triebelina BERBERT-BORN, M.; QUEIROZ,
sertata, Triebelina sp., Xestoleberis sp. 1 e Xestoleberis E.T.; CAMPOS, D.A.; SOUZA, C.R.G.
sp. 2. & FERNANDES, A.C.S. (Eds.) Sítios
Duas dessas espécies apresentam ampla Geológicos e Paleontológicos do Brasil.
distribuição geográfica (Fig. 2). A primeira,
Loxoconcha (L.) tricornata, ocorre no Recente ao CASSETA, G.M. 2004. Origem e diversidade
longo da porção tropical da plataforma continental dos ostracodes do Atol das Rocas. Instituto
brasileira, Atol das Rocas, Caribe e Golfo do de Biociências, UFRGS, Monografia de
México (Coimbra et al., 2009; Machado, 2008). Conclusão de Curso, 22 p.
A segunda espécie, Triebelina sertata, cosmopolita
COIMBRA J.C.; CARREÑO, A.L. &
de mares tropicais rasos, é considerada relicta com
FERRON, F.A. 1994. Holocene Podocopida
origem no Mioceno do Indo-Pacífico (Titerton
Ostracoda from Sepetiba Bay, Brazil- some
& Whatley, 1988). No Brasil, ocorre na Ilha da
dominant taxa. Pesquisas, 21(2):90-99.
Trindade, Atol das Rocas (Coimbra et al., 2009),
Baía de Tamandaré (Coimbra et al., 1992), Baía COIMBRA, J.C.; RAMOS, M.I.F. &
de Sepetiba (Coimbra et. al., 1994) e Canal de SANGUINETTI, Y.T. 1992. Sub-
Bertioga (Ghiselli Jr., 2000). Recent Ostracodes of the Tamandaré Bay,
northeastern Brazil – A preliminary report
CONCLUSÕES on biofacies. Pesquisas, 19(1):94-105.
O presente estudo permitiu o COIMBRA, J.C.; GHILARDI, V.G.;
reconhecimento de gêneros comuns de plataforma CASETTA, G.M. & BERGUE, C.T. 2009.
continental, com a possível ocorrência de um Ostracoda. In: MOHR, L.V.; CASTRO,
novo gênero para o Brasil, Propontocypris? sp. . J.W.A.; COSTA, P.M.S. & ALVES, R.J.V.
Tanto Triebelina sertata quanto Loxoconcha. (L.) (eds.) Ilhas oceânicas brasileiras: da pesquisa
tricornata são compartilhadas com a plataforma ao manejo, vol. II, Ministério do Meio
continental brasileira, Ilha da Trindade e Atol Ambiente/IBAMA, p. 125-141.
das Rocas, a primeira ocorrendo nessas três áreas
e a segunda somente na plataforma continental GUILLARDI. V.G. 2003. Gêneros de
e no Atol das Rocas. A ausência de registro Ostracodes (Crustacea) da Ilha da Trindade,

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ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

Brasil. Instituto de Biociências, UFRGS, de Pós-Graduação em Geociências, UFRGS,


Monografia de Conclusão de Curso, 27 p. Tese de Doutorado, 307 p.

GUILLARDI, V.G. 2004. Origem e taxonomia MORAES, J.F.S.M. 1996. Expedição precursora
dos ostracodes (Crustacea) da Ilha da Trindade, aos Penedos de São Pedro e São Paulo: geologia
Brasil. Programa de Pós-Graduação em e geotécnica. Serviço Geológico do Brasil,
Biologia Animal, UFRGS, Dissertação de Recife, 17p.
Mestrado, 76 p.
PETERSON, R.G. & STRAMA, L. 1991.
GUISELLI JR., R.O. 2000. Ecologia e distribuição Upper-level circulation in the South Atlantic
de Ostracoda marinhos recentes na região Ocean. Progress in Oceanography, 26:1-73.
de Bertioga, São Paulo. Programa de Pós-
graduação do Instituto Oceanográfico, de TITTERTON, R. & WHATLLEY, R.C. 1988.
Universidade de São Paulo, Dissertação de The provincial distribution of shallow-water
Mestrado, 64 p. Indo-Pacific marine ostracoda: origins,
antiquity, dispersal routes and mechanisms.
MACHADO, C.P. 2008. (Paleo)zoogeografia dos In: HANAI, T.; IKEYA, N. & ISHIZAKI,
ostracodes holocênicos das regiões leste e Nordeste K. (eds.) Evolutionary biology of Ostracoda:
da plataforma continental brasileira. Programa its fundamentals and applications, Elsevier, p.
759-786.

Figura 1. Localização da área de estudo.

775
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

Figura 2. 1. Macho, valva direita, Loxoconcha (Loxocorniculum) tricornata. 2. Fêmea?, valva esquerda, Triebelina sertata.

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ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

FIRST REPORT OF CATONYX CUVIERI (XENARTHRA, MYLODONTIDAE,


SCELIDOTHERIINAE) FROM THE LATE PLEISTOCENE OF URUGUAY
Andrea Corona1 (acorona@fcien.edu.uy), Daniel Perea1 (perea@fcien.edu.uy), H. Gregory McDonald2 (greg_mcdonald@nps.gov)
1
Departamento de Evolución de Cuencas, Facultad de Ciencias, UdelaR, 2Geologic Resources Division, Natural Park Service

RESUMO Holocene. The most recent comprehensive review


of the subfamily is McDonald (1987). In Uruguay
No Uruguai, o aumento das coletas over the last few years, increased collecting efforts
de campo, e a análise das coleções históricas and reviews of historical collections has allowed us
resultaram na descoberta de um grande número de to discover new specimens with diagnostic features
exemplares de Scelidotheriinae, muitos dos quais (McDonald & Perea, 2002; Corona & Perea, 2007,
são diagnósticos. Neste estudo são descritos novos 2009, 2010) that have both expanded our knowledge
materiais representados por dois crânios e um of the subfamily in the country. In this work we
ramo mandibular, e baseado em nossa análise são describe some of these new materials which can be
atribuídos à espécie pleistocênica Catonyx cuvieri. A assigned to the pleistocene species Catonyx cuvieri,
análise discriminante, utilizando-se 43 espécimens previously only known from farther north in Brazil.
adultos, que incluem Scelidotherium, Catonyx e
Proscelidodon reforça a ideia de que Catonyx é um
gênero válido e deve ser incluído dentre os novos CATONYX CUVIERI OUT OF BRAZIL
espécimens. Os materiais citados representam These newly discovered specimens
o primeiro registro de C. cuvieri no Uruguai e include: MAMC-18, an almost complete skull
o primeiro registro dessa espécie fora do Brasil. and mandible. The material was recovered from
Existe alta diversidade de preguiças scelidotérias no Aparicio Creek very near the Santa Lucía River, San
Uruguai, com pelo menos 3 espécies presentes nesta Ramón, department of Canelones, from deposits
região durante o Quaternário: Catonyx tarijensis, of the Dolores Formation (Late Pleistocene). This
Catonyx cuvieri e Scelidotherium cf. S. leptocephalum, material represents the most complete specimen
o que não é inesperado dada a posição geográfica of a scelidothere collected in Uruguay, although
deste país. the anterior part of the symphysis and condyles of
Palavras-chave: Scelidotheriinae, Catonyx the mandible are broken, and the top of the skull
cuvieri, Pleistoceno Tardio, Uruguai is a little damaged. Because of the porosity of
some bones, and the well marked bone sutures, the
specimen seems to be a young adult. The temporal
ABSTRACT ridges are not convergent at the middle line forming
In Uruguay, increased field collecting, and a prominent sagittal crest like in C. tarijensis. The
examination of historical collections over the last teeth are very laterally compressed, more than others
few years has resulted in the discovery of a great specimens of C. cuvieri. The M1 is the longest tooth
number of Scelidotheriinae specimens, many of of the upper dental series and the other teeth (M2
which are diagnostic. In this work new material to M4) are roughly triangular (trilobate) in shape
consisting of 2 skulls and a ramus of mandible and similar in size. The M5 is the smallest tooth
are described, and based on our analysis allow us of the series. While based on other characters the
to assign them to the pleistocene species, Catonyx skull can be identified as Catonyx, it does show
cuvieri. A discriminant analysis was performed three characters that previously had only been
using 43 adult specimens including Scelidotherium, reported in Scelidotherium: straight suture between
Catonyx and Proscelidodon supports the idea that basisphenoid and basioccipital; palatine grooves
Catonyx is a valid genus and the inclusion of these absent, and predental region longer than alveolar
new specimens within it. The cited materials length. The mandible has a series of four teeth.
represent the first record of C. cuvieri in Uruguay The first (m1) has a strong lingual bend between
and the first record of the species from outside of the anterior and posterior lobes. The last one (m4)
Brazil. The high diversity of scelidotheres sloths in is very conspicuous, longer than the others and
Uruguay with at least 3 species present in the region trilobite, a larger anterior and posterior ones, and
during the Quaternary: Catonyx tarijensis, Catonyx the smaller inner one. The posterior lobe is clearly
cuvieri and Scelidotherium cf. S. leptocephalum, is not curved.
unexpected given the geographical position of this MPAC-418: Skull of an adult specimen. In
country. comparison to the previously described specimen it
Keywords: Scelidotheriinae, Catonyx cuvieri, is slightly shorter and wider in its dimensions. This
Late Pleistocene, Uruguay specimen was recovered from not yet well identified
or named pleistocene sediments exposed by the river
of the Arroyo El Chileno, department of Colonia.
INTRODUCTION The skull is almost complete and well preserved,
only lacking the anterior edge of the premaxilla and
The subfamily Scelidotheriinae Ameghino, the nasals. The rostral region of the skull is inflated,
1889 includes a group of middle sized ground sloths a feature characteristic of Catonyx. The temporal
which inhabited South America from Santacrucian ridges are not conspicuously developed and do not
SALMA (Middle Miocene) to the beginnings of the converge towards the midline of the skull to form a

791
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011
sagittal crest. The alveolar series are more divergent CONCLUSION
anteriorly, with the maximum distance between
them about 4 cm at the level of M1. Only the M2 The newly described materials represent
to M5 are preserved on the right side and M4 and the first record of C. cuvieri in Uruguay, a species
M5 on the left side. The palate raises at the level that until now was known only from the eastern
of M2-M3 so the predental and dental portion part of Brazil. This higher diversity of scelidotheres
of the maxilla form an angle of about 30 degrees. sloths in Uruguay with at least 3 quaternary species:
The palatal grooves are absent like in the specimen Catonyx tarijensis, Catonyx cuvieri and Scelidotherium
MAMC-18. The molariforms are clearly prismatic cf. S. leptocephalum, is not strange if we consider the
and subtriangular in shape more than subelliptical geographical position of this country between the
in shape, with well-defined lobes. In contrast to the Pampas of Argentina to the south which contains
others specimens described as Catonyx cuvieri the S. leptocephalum and the more forested semitropical
second and third upper molariforms do not form an habitat to the north in Brazil where C. cuvieri is
angle of 45 degrees with respect to the sagittal plane. found. During the Pleistocene Uruguay would
MNHN-543: Left mandibular ramus with all have been occupied by the ecological transition
teeth preserved. The specimen was recovered from between these two types of habitat thus permitting
Arroyo El Caño, department of Colonia, from not the greater biodiversity of in its fauna. While
yet well identified or named pleistocene deposits S. leptocephalum and C. cuvieri would have been
The symphysis and the mandibular condyle are contemporaries but occupying different habitat, the
not preserved. The teeth are not as elongated in presence of C. tarijensis is attributed to its presence
the anteroposterior plane as in MAMC-18. The earlier in the Pleistocene and it would not have been
alveolar length is shorter but the mandible is slightly a contemporary of the other scelidotheres but an
deeper below the m3 than the last specimen. The ecological predecessor to C. cuvieri.
m1 is clearly bilobate, and lacks the external column. Continued phylogenetic analysis of the
The last molariform (m4) is trilobate and longer group is in progress and while early results indicate
than the other teeth with the posterior lobe curved, that the described specimens are well grouped
so that it is labially convex. within Catonyx, it is also necessary to expand our
The specimens here described preserve understanding of the morphological characters and
many of the features that characterize the genus their variation in order to resolve the polytomy
Catonyx: inflated rostrum, strongly curved palate at within that clade. The presence of features seen in
the level of M2 (and the related elevated mandibular C. cuvieri based on these new specimens suggests
symphysis relative to the tooth row in the it could be a late surviving lineage as it shows
mandible), a steeped suture between the posterior characters intermediate between Proscelidodon and
of the premaxilla and the maxilla, temporal ridges other species of Catonyx.
delimiting a concave surface on the parietals, and
occipital condyles projecting ventrally, but because REFERENCES
of incomplete preservation not all of them can be
seen in all specimens. CORONA, A. & PEREA, D. 2007. Nueva
In particular, the morphology is characteristic aproximación a la sistemática de Scelidotheriinae
of that seen in Catonyx cuvieri previously described (Xenarthra, Mylodontidae). Ameghiniana, 44(4)
from Brazil. However, these materials show some Suplemento:11R.
differences between them and the other known
specimens of C. cuvieri, but we consider this variation CORONA, A. & PEREA, D. 2009. Comentarios
to be slight and is acceptable within the range of sobre nuevos restos de Scelidotheriinae
intraspecific variation. However, as previously noted, (Xenarthra, Mylodontidae) del Cuaternario de
one of the specimens shows characters until now Uruguay. Ameghiniana 46(4) Suplemento:17R.
only reported in Scelidotherium. Consequently, it is
necessary to identify and review some characters CORONA, A. & PEREA, D. 2010. Confirmación de
that maybe could not to be diagnostic of both C. la presencia de Scelidotherium Owen (Xenarthra,
cuvieri and Scelidotherium. Mylodontidae) en Uruguay (Formación Dolores,
The discriminant analysis performed using Pleistoceno Superior). Bol. Resumos VII Simp.
43 adult specimens of Scelidotherium, Catonyx and Bras. de Pal. de Vertebrados: Rio de Janeiro, p. 84.
Proscelidodon are congruent with both the identity
of Catonyx as a distinct genus and the inclusion MCDONALD, H. G. 1987. A systematic review of
of these new specimens within it based on their the Plio-Pleistocene Scelidotheriinae ground
morphology. The characters that best descriminated sloths (Mammalia: Xenarthra: Mylodontidae).
the three genera were (1) maxillar length anterior Tesis de doctorado. Universidad de Toronto.
to the anterior border of the M1, (2) temporal fossa 478p.
length, (3) distance from the posterior border of
the M5 to the occipital condyles, (4) skull width MCDONALD, H. G. & PEREA, D. 2002. The
between the infraorbital foramina, (5) distance from large Scelidothere Catonyx tarijensis (Xenarthra,
M1 to occipital condyles, and (6) angle between Mylodontidae) from the Pleistocene of Uruguay.
predental and dental part of the palate. Jour. of Vert. Paleontology 22(3):677-683.

792
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

PALEOAUTECOLOGIA DA CLASSE BIVALVIA (MOLLUSCA) DA FORMAÇÃO


PIRABAS (MIOCENO INFERIOR) E SUA IMPORTÂNCIA PALEOAMBIENTAL
Deusana Maria da Costa Machado1 (deusana@gmail.com), Renata Croner Gicquel da Silva1
1
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Departamento de Ciências Naturais, Ibio

RESUMO shelf. The number of species by genus between the


areas is equivalent with the presence or absence
A malacofauna encontrada no mar de
of different families. After the mophofuntional
Pirabas é dominada pela subclasse Heterodonta
morphology study 15 mode of life were defined
seguida da subclasse Pteriomorphia. Possui
to b ivalves: (1)Epibyssate (Eb); (2)Epifaunal
semelhança com a fauna de biválvios encontrada
with cimentation (Ec); (3)Epifaunal swimming
nos dias de hoje na plataforma continental Pará-
free (El); (4)reclined Epifaunal (Er); (5)Borer
Maranhão e Amapá. O número de espécies por
(Pf ); (6)Semi-endobyssate (Sib); (7) Infaunal
gênero é quase equivalente entre as áreas, com a
shallow slow burrower (IRRs); (8)Infaunal
presença ou ausência de algumas famílias. Após a
shallow quick burrower (IRRs); (9)Infaunal
análise morfo-funcional das espécies classificadas,
deep quick burrower (IRP); (10)Infaunal deep
pode-se enquadrá-las em 15 categorias de modo
quickly to moderate burrower (IRMP); (11)
de vida: (1)Epifaunístico bissado (Eb); (2)
Infaunal moderate deep moderate quick burrower
Epifaunístico cimentado (Ec); (3)Epifaunístico
(IMRMP); (12)Infaunal deep moderate quick
livre (El); (4)Epifaunístico reclinante (Er); (5)
burrower (IMRP); (13)Infaunal shallow moderate
Perfurador (Pf ); (6)Semi-infaunísitico bissado
quick burrower (IMRRs); (14)Endobyssate (Ib)
(Sib); (7)Escavador lento e Raso (IRRs); (8)
e (15)Infaunal deep quick detritivore burrower
Escavador Rápido e Raso (IRRs); (9)Escavador
(DRMP). The Pirabas sea (open seas with warm
Rápido e Profundo (IRP); (10)Escavador
shallow agitated waters, with lagoon or estuarine
Rápido e Moderadamente Profundo (IRMP);
and restricted mangroves portions) showed a little
(11)Escavador Moderadamente Rápido e
differences with the dominance of certain mode
Moderadamente Profundo (IMRMP); (12)
of life between the fossiliferous localities.
Escavador Moderadamente Rápido e Profundo
(IMRP); (13)Escavador Moderadamente Rápido Keywords: Bivalvia, Paleoecology, Pirabas
e Raso (IMRRs); (14)Infaunístico bissado (Ib) Formation
e (15)Detritívoro Rápido e Moderadamente
Profundo (DRMP). O antigo mar de Pirabas INTRODUÇÃO
(mar aberto com águas quentes, rasas e agitadas,
A maioria dos estudos de biválvios da
contendo porções lagunares ou estuarinas,
Formação Pirabas é relacionada à sistemática
restritamente mangues, em suas adjacências)
(White, 1887; Maury, 1925; Ferreira, 1960, 1964,
mostra uma pequena variação de dominância de
1965,1966 e 1969; Santos & Ferreira 1966; Ferreira
um determinado modo de vida com as localidades
1970; Ferreira et al. 1970; Campos 1974; Xavier
fossilíferas.
1974; Coelho, Campos & Ferreira 1979; Cassab
Palavras-chave: Bivalvia, Paleoecologia, 1980; Ferreira & Cassab 1985; Ferreira 1977,
Formação Pirabas 1980; Távora 1988; Fernandes & Távora 1989a, b;
Fernandes & Távora 1993). Além disso é um dos
ABSTRACT grupos fósseis mais representativos da malacofauna
da referida unidade litoestratigráfica. Por isso,
Pirabas sea malacofauna is dominated by
optou-se em estudar a distribuição das espécies
Heterodonta followed by Pteriomorphia. The
de biválvios por afloramentos e os hábitos de vida
Pirabas bivalves are very similar those found in
de cada espécie, visando caracterizar os possíveis
present days at the Amapá and Pará-Maranhão

793
ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

paleoambientes existentes no mar miocênico. Esse Escavador Rápido e Moderadamente Profundo


estudo partiu da análise bibliográfica acerca da (IRMP); (11)Escavador Moderadamente Rápido
Formação Pirabas e descrição de exemplares em e Moderadamente Profundo (IMRMP); (12)
coleções científicas, como as do Museu Nacional, Escavador Moderadamente Rápido e Profundo
Museu Paraense Emilio Goeldi e Museu Ciências (IMRP); (13)Escavador Moderadamente Rápido
da Terra-DNPM. e Raso (IMRRs); (14)Infaunístico bissado (Ib)
O contexto estratigráfico da malacofauna e (15)Detritívoro Rápido e Moderadamente
estudada e a unidade litoestratigráfica Formação Profundo (DRMP).
Pirabas, a qual ocorre descontinuinamente O antigo mar de Pirabas (mar aberto com
sobre os estados do Pará, Maranhão e Piauí, águas quentes, rasas e agitadas, contendo porções
é representada por biocalcirruditos, margas, lagunares ou estuarinas, restritamente mangues,
calcirruditos e biohermitos com gradações laterais em suas adjacências) mostra uma pequena variação
e verticais. As características deposicionais de dominância de um determinado modo de vida
sugerem deposição em sistema de mar alto, com com as localidades fossilíferas.
relativa estabilidade tectônica. As estruturas que Goes et al. (1990) observaram a
controlaram a deposição da Formação Pirabas interdigitação dos vários tipos de rochas dessa
(falhas normais e transcorrentes) são resultado unidade litoestratigráfica sem restrição geográfica.
do último evento da manifestação extensional na Entretanto, quando se nota a predominância de
Margem Equatorial Brasileira durante o evento um determinado modo de vida, pode-se inferir
de separação da América do Sul-África (Costa et um posicionamento mais recifal e um mais
al., 1993 apud Távora, Santos & Araújo, 2010). lagunar como demonstrado pelo domínio ora dos
biválvios epifaunísticos ora dos infaunisticos.
RESULTADO E DISCUSSÃO No local Fazenda da Ilha de Fortaleza,
Município de São João de Pirabas, há o domínio
Na Formação Pirabas, a subclasse de epifaunístico com 58% dos bivalves, enquanto
Heterodonta possui cerca de 59 espécies, onde 18 há 42% de infaunais, perfuradores e semi-
pertencem a família Veneridae. Esta subclasse é infaunísticos, sendo os escavadores lentos e rasos
seguida da subclasse Pteriomorphia, com cerca de maioria, cerca de 18%.
40 espécies, onde as famílias Arcidae e Pectinidae
No local Castelo, também da Ilha de
possuem maior diversidade.
Fortaleza, há uma baixa nos epifaunísticos (33%)
A malacofauna encontrada no mar de com aumento considerável dos infaunísticos,
Pirabas é muito parecida com o que encontramos enquanto os escavadores rápidos e profundos
hoje na plataforma continental Pará-Maranhão são os mais abundantes (19%), seguidos pelos
e Amapá. O número de espécies são quase escavadores lentos e rasos (16%) e os escavadores
equivalentes, com a presença ou ausência de rápidos a moderadamente profundos (11%)
algumas famílias.
Nos afloramentos da Estação agronômica,
A diversidade da subclasse Heterodonta pode-se observar um declínio acentuado dos
no Mioceno pode ser justicada por essa se tratar do epifaunísticos (28%), com aumento vertiginoso de
tronco mais evoluído da classe Bivalvia e também escavadores lentos e rasos (44%), mostrando uma
o grupo mais abundante dos mares atuais. mudança no substrato e nas condições ambientais.
Após a análise morfo-funcional das Aproximadamente o mesmo percentual
espécies classificadas, pode-se enquadrá-las em entre biválvios epifaunísticos (26%) e infaunísticos
15 categorias de modo de vida: (1)Epifaunístico (74%) ocorre entre a estação experimental e
bissado (Eb); (2)Epifaunístico cimentado (Ec); o Riacho Marciano no Maranhão, apesar de
(3)Epifaunístico livre (El); (4)Epifaunístico um menor número de espécies nessa última
reclinante (Er); (5)Perfurador (Pf ); (6)Semi- localidade. Entre os infaunísticos os mais bem
infaunísitico bissado (Sib); (7)Escavador lento e representados são os escavadores rasos e os lentos
Raso (IRRs); (8)Escavador Rápido e Raso (IRRs); (24%), seguidos dos escavadores moderadamente
(9)Escavador Rápido e Profundo (IRP); (10)

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ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

rápidos e os moderadamente profundos (19%) e A expressiva ocorrência de biválvios fósseis


os escavadores rápidos e rasos. na Formação Pirabas, que abriga uma diversificada
No Piauí, a área representada é a Fazenda paleofauna, com uma população bastante
Lama Preta, onde se observa a ausência de expressiva e muito bem adaptada, por existirem até
epifauna com predomínio da infauna nas seguintes hoje na Plataforma Continental Pará-Maranhão,
categorias de modo de vida: (1)Escavador rápido e evidencia que esta foi desenvolvida sobre o trato
raso (17%); (2)Escavador moderadamente rápido transgressivo de mar alto e pode ser considerada
e moderadamente profundo (17%); (3)Detritívoro como um bioevento local. A sua diversidade
rápido e moderadamente profundo (17%); (4) estaria diretamente relacionada com o máximo
Infaunístico bissado (17%) e (4) Escavador lento da transgressão marinha na margem equatorial
e raso (16%). brasileira, no contexto do processo de separação
Por esses dados, pode-se dizer que para a da América do Sul e da África (Távora, Santos &
região do Piauí, o mar de Pirabas se aprofunda ou Araújo, 2010).
se torna cada vez mais raso. As localidades Fazenda
e Castelo podem ser interpretadas, segundo CONCLUSÃO
Ferreira (1980), como de ambiente recifal, onde
as características estão na composição faunísitca Na Formação Pirabas, a fauna de biválvios
de grande número de corais e briozoários. é dominada pela subclasse Heterodonta, seguida
Entretanto, não se descarta a mistura de faunas de da subclasse Pteriomorphia. Possui semelhança
laguna atrás de uma barra. com a fauna de biválvios encontrada nos dias de
hoje na plataforma continental Pará-Maranhão
Nas áreas com maior diminuição da
e Amapá. Após uma análise morfo-funcional
quantidade de biválvios epifaunísticos, como no
das espécies, pode-se enquadrá-las em 15
caso da estação agronômica e riacho Marciano,
categorias de modo de vida. Seus hábitos de vida
observam-se características de uma associação
e sua abundância, relacionada ao tipo litológico
de laguna atrás de uma barra recifal, onde há a
nas localidades fossilíferas em que ocorrem,
predominância de escavadores rasos e lentos
possibilitaram discutir os paleoambientes da
ou moderadamente rápidos e moderadamente
Formação Pirabas.
profundos. É um ambiente com condições de
sobrevivência desse grupo de biválvios.
Nas áreas de Fazenda e Castelo, observa-se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
um grande número de arcídeos, glycymerídeos,
CAMPOS, D.R.B. 1974. Contribuição à
ostreídeos e venerídeos, grupos de biválvios que
Paleontologia do Estado do Pará. Revisão
vão caracterizar uma área de substrato duro,
da Família Arcidae, na Formação Pirabas
rochosos ou recifal, e de substrato arenoso. Isso
(Mioceno Inferior). XI - (Mollusca -
pode ser caracterizado pelos biocalcarenitos e
Bivalvia). Boletim do Museu Paraense
biocalcirudito encontrados nessas regiões (Góes
Emílio Goeldi , Belém, n. ser. Geologia, n.9,
et al., 1990).
34p., 4est.
Nas outras regiões também podem
ser encontrados biocalcarenitos, entretanto o CAMPOS, D.R.B. 1980. Novos Fósseis da
biomicrito é dominante, principalmente na Formação Pirabas no Baixo Parnaíba, Piauí
estação agronômica e Fazenda Lama Preta (Mollusca - Bivalvia). Anais da Academia
(Ferreira, 1964). O mesmo também pode ser Brasileira de Ciências, 52(4):807-810.
inferido para o riacho Marciano (Ferreira, 1970),
a qual seria interpretada como uma região mais COELHO, A.C.S.I.; CAMPOS, D.R.B. &
costeira que as demais. De acordo com Ferreira FERREIRA, C.S. 1979. Moluscos marinhos
(1970) são sedimentos possivelmente depositados recentes registrados com o fósseis no Brasil. In:
em áreas lagunar costeira a estuarina. Ambas as ENCONTRO DE MALACOLOGISTAS
interpretações são corroboradas pelos modos de BRASILEIROS, 5, Porto Alegre. Anais.
vida dos biválvios encontrados.

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ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

FERNANDES, A.C.S. & TÁVORA,V.A. Boletim do Museu Parense Emílio Goeldi,


1989. Estudo Sistemático da Subclasse Belém, Ciências da Terra, 2(1):3-15.
Pteriomorphia Beurlen,1944 (Mollusca-
Bivalvia) na Formação Pirabas (Mioceno MAURY, C.J. 1917. The marine Tertiary horizon
Inferior) do Acervo do Museu de Geociências in South America. Science, v. 48.
- UFPa. Boletim do Museu Paraense Emílio
Goeldi , Belém,ser. Ciências da Terra, MAURY, C.J. 1925a. Fósseis terciários do
1(2):91-118. Brasil. Monografia do Serviço Geológico e
Mineralógico do Brasil, Rio de Janeiro, n.4,
FERREIRA, C.S. 1960a. Contribuição à p.1-665.
Paleontologia do Estado do Pará. Revisão
da Família Pectinidae da Formação Pirabas STANLEY, S.M. 1970. Relation of Shell Form
(Mioceno Inferior) com descrição de novas to Life Habits of Bivalvia (Mollusca). The
Espécies. VI - (Mollusca - Pelecypoda). Geological Society of America Memoir,
Archivos do Museu Nacional, 50:135-165. n.25, 296p.

FERREIRA, C.S. 1965. Contribuição à TÁVORA, V.A. 1988. Contribuição à Paleontologia


Paleontologia do Estado do Pará. Sobre a do Estado do Pará. Sinonímia e revisão
Taxonomia e Sistemática de alguns Moluscos Sistemática da Classe Bivalvia Linné,1758 da
da Formação Pirabas. VII - (Mollusca - Formação Pirabas (Mioceno Inferior) do Acervo
Pelecypoda). Boletim do Museu Paraense do Museu de Geociências, UFPa. Trabalho
Emilio Goeldi. de Conclusão de Curso, UFPa, Centro de
Geociências.
FERREIRA, C.S. & CASSAB, R.C.T.
1985. Implicação Faciológica da Família TÁVORA, V.A. & FERNANDES, J.G. 1989.
Pectinidae (Mollusca-Bivalvia) da Formação Contribuição ao Estudo da Classe Bivalvia
Pirabas, Oligo-Mioceno do Norte e Linné, 1758 Procedente da Seção-tipo
Nordeste do Brasil. Coletânea de trabalhos da Formação Pirabas (Mioceno Inferior),
Paleontológicos, Brasília, série Geologia, Estado do Pará. In: CONGRESSO
n.17, seção Paleontologia, 2(2):205-209. BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA,
11, Curitiba, 1989. Anais, 1:445-455.
FERREIRA, C.S. 1957c. Contribuição à
Paleontologia do Estado do Pará. Novos WHITE, C. 1887. Contribuição à Paleontologia
Invertebrados Fósseis e Redescrição de mais do Brasil. Archivos do Museu Nacional , Rio
duas Espécies da Formação Pirabas. III- de Janeiro, 7:1-273.
(Mollusca - Gastropoda). Boletim do Museu
XAVIER, S.Z. 1974. Contribuição à
Paraense Emílio Goeldi, n. ser. Geologia,
Paleontologia do Estado do Pará. Revisão
Belém, n.4, 33p.
do gênero Glycymeris da Costa, 1778, da
FERREIRA, C.S.; VICALVI, M.A. & Formação Pirabas (Mioceno Inferior). XI;
TRUCKENBRODT, W. 1984. Os - (Mollusca-Bivalvia)). Boletim do Museu
Prováveis Limites da transgressão Oligo- Paraense Emílio Goeldi, Belém, n. ser.
Miocênica (Formação Pirabas) ao Sul do Geologia, n. 20, 24 p., 2est.
Rio Guamá, Município de Irituia, Estado
do Pará. Anais da Academia Brasileira de
Ciências, 55(1):141.

GÓES, A.M; ROSSETTI, D.F.; NOGUEIRA,


A.C.R. & TOLEDO, P. 1990. Modelo
Deposicional Preliminar da Formação
Pirabas no Nordeste do Estado do Pará.

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ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

ANÁLISE DA DENTIÇÃO MOLAR DE COLBERTIA MAGELLANICA


(MAMMALIA, NOTOUNGULATA), BACIA DE ITABORAÍ, RIO DE
JANEIRO (ITABORAIENSE) SOB O ENFOQUE DO MACRODESGASTE
DENTÁRIO E DAS VARIABILIDADES MORFOLÓGICA E BIOMÉTRICA
Luis Otavio Rezende Castro1 (tavinhobio@yahoo.com.br), Bruno de Aquino1 (aquino_bio@oi.com.br),
Lílian Paglarelli Bergqvist1 (bergqvist@geologia.ufrj.br)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Laboratório de Macrofósseis
1

RESUMO Mamíferos-Terrestres Sulamericanas (SALMAs)


– a idade Itaboraiense (Marshall, 1985; vide
A Bacia de São José de Itaboraí possui
Bergqvist et al., 2006 para mais informações
diversos fósseis de idade paleocênica, e dentre os
históricas).
mamíferos, Colbertia magellanica (Notoungulata)
ganha destaque pelo número expressivo de A maior parte das ordens de mamíferos
fósseis representados por material dentário. presentes em Itaboraí está extinta (Condylarthra,
A análise em vista oclusal de dentes molares Litopterna, Notoungulata, Astrapotheria,
superiores demonstra diversos níveis de desgaste. Xenungulata), mas representantes de grupos atuais
Foram constatadas variabilidades morfológicas (Cingulata e Marsupialia) também estão presentes
e biométricas as quais não possibilitaram, até o na bacia. Dentre os mamíferos, os Notoungulata
momento, estabelecer novas espécies ou mesmo e os Litopterna são os mais comuns. Objetiva-se
dimorfismo sexual. neste trabalho um estudo detalhado dos molares
do notoungulado Colbertia magellanica (Price
Palavras-chave: Notoungulata, Bacia de
& Paula-Couto, 1950), uma das espécies mais
São José de Itaboraí, Colbertia magellanica
abundantes na bacia, com o objetivo de se analisar
os padrões e a frequência do desgaste dentário,
ABSTRACT assim como avaliar a incidência de variabilidade
The São José de Itaboraí Basin presents a nesta espécie.
diversified fauna of Paleocene age, and among the C. magellanica, assim como a grande
mammals, Colbertia magellanica (Notoungula), maioria dos notoungulados, foi descrita com base
is one of the most common species represented em caracteres dentários, sobre dentes desgastados,
by dental material. The analyzed teeth (upper o que dificulta a compreensão da morfologia
molars), when observed in occlusal view, show dentária da espécie. No presente estudo houve
distinct wear levels. There are morphological and também a quantificação da variabilidade
biometric variability, although are not possible to biométrica, anteriormente já observada por Paula-
establish, based on them, new species or sexual Couto (1978), então sugerida como um possível
dimorphism. dimorfismo sexual.
Keywords: Notoungulata, São José de
Itaboraí Basin, Colbertia magellanica MATERIAIS E MÉTODOS
Os materiais analisados compreendem
INTRODUÇÃO fragmentos de maxila, mandíbula e molares
A Bacia de São José de Itaboraí, de idade isolados, originalmente atribuídos a esta espécie,
paleocênica, abriga um dos mais importantes depositados nas coleções do Departamento
registros fossilíferos brasileiros e, a despeito Nacional de Produção Mineral (DNPM), Museu
de seu pequeno tamanho, apresenta uma vasta Nacional (UFRJ-MN) e no American Museum
diversidade de vertebrados, principalmente de of Natural History (AMNH). Foram analisados
mamíferos (Bergqvist et al., 2006). Estes, devido todos os espécimes previamente classificados
à qualidade, abundância e importância, serviram como C. magellanica, totalizando: 26 mandíbulas
de base para a nomeação de uma das Idades e treze maxilas do DNPM; 31 mandíbulas, cinco

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maxilas e 72 dentes isolados do Museu Nacional O alargamento das facetas de desgaste sobre
(UFRJ) e duas mandíbulas e onze maxilas do o protocone e hipocone fecha lingualmente a
AMNH. segunda ilha de esmalte, a última estrutura a se
Tanto o desgaste como a variabilidade preservar na coroa dentária. Com o seu desgaste
foram analisadas sob lupa binocular, com desaparecem todas as estruturas oclusais do dente,
exceção dos espécimes do AMNH, que foram o qual passa a ser formado somente pela dentina.
sobre fotografias. A variabilidade biométrica foi
calculada com o auxílio do programa Calliper e Variabilidade morfológica
do microscópio digital AVANTSCOPE. Foram e biométrica
tomadas medidas de comprimento e largura, Após a observação dos fósseis constatou-se
calculados o coeficiente de variação (CV), variabilidade nas seguintes estruturas: cúspide
desvio padrão (DP) e testada a normalidade dos acessória no trigonido presente em 54,55% do
resultados pelo teste e Shapiro-Wilk W. Apenas m1, 43,18% do m2 e 34,38% do m3; cingulido
os dentes superiores (M1 e M2) foram analisados vestibular presente em 27,27% do m1, 27,91%
quanto ao desgaste. do m2 e 18,75% do m3; crístida entoconido-
hipoconido presente em 19,35% e flexido distal
RESULTADOS entre o hipoconulido e hipoconido presente em
49,39% do m3; cíngulo lingual presente em 7,41%
do M1 e 28,00% do M2; centrocrista presente
Desgaste dentário em 18,52% do M1 e 12,00% do M2; flexo entre
Dentre os espécimes observados metacone/metástilo presente em 92,59% do M1
constatou-se a existência de dentes sem nenhum e 84,00% do M2; flexo entre o paracone/parástilo
desgaste macroscopicamente visível, até dentes presente em 22,22% do M1 e 32,00% do M2);
totalmente desgastados, sem vestígio de esmalte na cíngulo lingual presente em 56,25%, metalofo
superfície oclusal (com a dentina completamente ligado ao cíngulo lingual 43,74%e cúspule distal
exposta), o que possibilitou traçar a sequência ao protocone presente em 50,00% do M3. A
do desgaste. A análise dos dentes revelou que a cúspide acessória no trigonido, quando presente,
primeira estrutura a sofrer desgaste é o parástilo ocorre em toda a série molar. A relevância desta
e em seguida este se prolonga pelo protolofo. feição, como caráter diagnóstico, ainda carece de
Antes de o desgaste atingir o ápice do protocone ser mais avaliada, uma vez que não está associada
tem início o desgaste no crochê e no metalofo, a um padrão de tamanho.
dando início à formação da ilha de esmalte disto- A medição dos dentes reve1ou que
vestibular. A primeira cúspide lingual a sofrer (1) em todos os dentes o CV de variação ficou
desgaste é o hipocone, com o prolongamento abaixo de 13%, mas os valores da área do m3 não
do desgaste do metalofo até seu ápice, o que apresentaram distribuição normal; (2) molares
ocorre concomitantemente ao fechamento da superiores apresentam maior variação biométrica
ilha de esmalte supracitada, delimitada mesio- no comprimento e os molares inferiores na largura;
lingualmente pelo crochê, distalmente pelo (3) os molares superiores do MN apresentam um
hipolofo e vestibularmente pelo ectolofo. As maior CV e DP em relação aos dentes das outras
estruturas já desgastadas se aprofundam e se coleções, o mesmo não acontecendo nos molares
alargam, enquanto o protolofo se prolonga até o inferiores, nos quais a variação de tamanho não
ápice do protocone. Este prolongamento inicia está atrelada a uma coleção; (4) a inclusão dos
o fechamento mesio-lingual da segunda ilha de dentes isolados aumenta a variabilidade, sugerindo
esmalte, localizada na região médio lingual do uma classificação parcialmente equivocada.
dente. No entanto, a formação da segunda ilha
de esmalte só ocorre após o desaparecimento da
primeira ilha. A partir desta etapa o rebaixamento
das cúspides linguais e vestibulares e a redução
do tamanho da coroa dentária são acentuados.

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ATAS DO XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE PALEONTOLOGIA – Natal, outubro de 2011

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


A definição da sequência do desgaste BERGQVIST, L.P.; MOREIRA, A.L. &
dentário ampliou o conhecimento da morfologia PINTO, D.R. 2006. Bacia de São José de
dos dentes de Colbertia magellanica, e facilitou a Itaboraí-75 anos de história e ciência. Rio de
atribuição de dentes desgastados a esta espécie, Janeiro, CPRM- MMe, p. 81.
uma vez que o desgaste não segue o mesmo padrão
em espécies diferentes. PAULA-COUTO, C. 1978. Ungulados fósseis
Colbertia magellanica possui grande do Riochiquence de Itaboraí, Estado do
plasticidade morfológica, porém essa variabilidade Rio de Janeiro, Brasil III – Notoungulata
se distribuiu aleatoriamente por dentes de e Trigonostylopoidea. Anais da Academia
diferentes tamanhos e nas diferentes coleções, Brasileira Ciências, 50(2): 219-226.
não sendo possível, neste momento, reconhecer a
existência de outra espécie ou mesmo a ocorrência PRICE, L.I. & PAULA-COUTO, C. 1950.
de dimorfismo sexual. Vertebrados fósseis do Eoceno na Bacia
calcárea de Itaboraí. In: Congresso
Panamericano de Engenharia de Minas e
AGRADECIMENTOS Geologia (Petrópolis), 2, Anais, 3: 149-17
Ao Dr. Guillaume Billet (Universidade de
Bonn, Alemanha) pela cessão das fotografias dos MARSHALL, L.G. 1985. Geochronology
materiais de Colbertia magellanica depositados na and land-mammal biochronology of the
coleção do American Museum of Natural History transamerican faunal interchange. In:
e a FAPERJ pela concessão da bolsa de iniciação STEHLI, F.G. & WEBB, S.D. (eds.). The
científica. great American biotic interchange. New York:
Plenum, p.49-85.

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