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Editores
Orencio Monje Vilar
Fernando Henrique Martins Portelinha
São Carlos
EESC
2019
Promoção
Organização
OURO
PRATA
BRONZE
PREFÁCIO
Comissão Técnico-Científica
Delma De Mattos Vidal ITA
Ennio Marques Palmeira UNB
José Carlos Vertematti Consultor
José Fernando Thomé Jucá UFPE
Lavoisier Machado Consultor
Leandro de Moura Costa Filho Consultor
Maria Claudia Barbosa COPPE – UFRJ
Maria Eugenia Gimenez Boscov EP-USP
Mauricio Ehrlich COPPE – UFRJ
Romero César Gomes UFOP
Sandro Lemos Machado UFBA
Tácio Mauro Pereira de Campos PUC - RIO
Comissão de Revisão
SUMÁRIO
Ensaios de Laboratório com Geossintéticos
Casos de Obra
Mauricio Ehrlich
COPPE/PEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br
RESUMO: Nesse artigo são apresentados resultados de ensaios de tração faixa larga em geogrelhas
unidirecionais do tipo PVA (álcool de polivinila) não confinadas, nos quais foram monitoradas as
deformações utilizando um sensor de deformação axial. Verificou-se o comportamento tensão-
deformação a diferentes taxas de deformação e após diversos ciclos de carregamento, obtendo os
parâmetros de rigidez sob solicitação de trabalho. Os ensaios foram efetuados em um único corpo de
prova que foi recarregado sob diferentes taxas de deformação, no qual se aplicou tensão de tração
máximas quatro vezes inferiores à condição de ruptura. O equipamento utilizado para monitoramento
das deformações é robusto e obteve êxito em monitoramento de campo, tal como instrumento de
laboratório em modelos físicos de grande escala. Resultados dos ensaios efetuados destacam a
importância da determinação do comportamento de geossintéticos sob condições representativas de
campo. Tal tipo de verificação é particularmente importante para inferir cargas nos reforços, quando
o monitoramento é efetuado através das deformações.
ABSTRACT: This paper presents results of wide-width tensile tests carried out with unconfined PVA
(polyvinyl alcohol) geogrids, which have been monitored the strain with a specific strain-cell. The
stress-strain behavior was investigated by applying different strain-ratio and cyclic-pre-load as well,
obtaining the stiffness modulus of the material under work-stress condition. Tests were conducted
with a unique sample, leading to a stress-condition four times less than the failure of the material at
different strain-ratios. The strain-cell apparatus is sturdy and precise, being successfully applied in
field or physical models instrumentation. Test results show the importance of determine the behavior
of the geosynthetic at work-stress condition, more significantly when needed to infer tensile force by
measuring strain at the material.
23
cargas, expresso pela taxa de deformação. ensaios.
Estudos como de Mirmoradi et al (2016),
utilizam células de carga como elementos de
ligação e monitoramento das cargas mobilizadas
em seções do reforço. Já estudos como de
Hatami & Bathurst (2005) e Dieguez et al.
(2018) utilizam a monitoração das deformações
para inferir as cargas nos reforços. A aferição das
cargas através da monitoração de deformações é
sensível às variações do módulo de rigidez, seja
por efeito reológico ou pela conformação do
material. No presente estudo buscou-se verificar
a influência da velocidade de carregamento e de
ciclos de carga no comportamento tensão-
deformação de geogrelhas do tipo PVA. Os
estudos foram efetuados sob solicitação de
trabalho e não a definida por norma que
corresponde à ruptura do material.
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
Figura 1. Aparato para tração em geossintético (conjunto
2.1 Aparato para ensaio de tração em de garras em bloco compressivo, manilha e correntes).
geossintéticos
24
Para os ensaios preliminares, o corpo de prova
(geogrelha virgem) continha apenas 2 elementos
(6) verticais de reforço. A menos da largura e da taxa
de deformação, estes ensaios seguiram os
(2) procedimentos descritos em norma. Esta condição
de ensaio foi estabelecida considerando a
(3) limitação de aplicação de carga nos equipamentos
empregados. No entanto, conforme relatado por
(5)
Shinoda & Bathurst (2004) o número de
elementos verticais não afeta de maneira
(4) importante os resultados e os valores obtidos
podem ser considerados representativos do
material ensaiado.
Na Figura 5, é apresentada a curva tração
versus deformação para o ensaio preliminar, sendo
(1) o valor da taxa de deformação medida ao longo do
ensaio igual a 0,53 % por minuto. Obteve-se
como resultado uma resistência à tração igual a
(7) 133 kN/m e módulo de rigidez secante igual a
2436 kN/m.
Figura 4. Equipamentos e sensores utilizados. velocidade da prensa: 1.28 mm/min
150 132.57 kN/m
taxa média de deformação:
Os estudos seguiram os procedimentos
125 0.529 %/min
estabelecidos por norma para realização de
J = 2436 kN/m
ensaios de tração de geossintéticos em faixa larga
tração (kN/m)
100
(NBR ISO 10319:2013), a menos da taxa de
deformação que nos ensaios do presente estudo 75
situou-se entre 0,05 % e 1 % por minuto, sendo a
taxa normatizada de 20 % por minuto. A distância 50
entre os pontos de fixação do sensor de
25
deformação foi estabelecida pela dimensão do
mesmo e da sua abertura inicial, sendo o 0
afastamento inicial mínimo igual a 110 mm (ver 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0
Figura 2). deformação (%)
25
taxa de deslocamento de no mínimo 40 mm/min. da amostra, Nm; e de elementos verticais de tração
O posicionamento dos extensômetros é efetuado no corpo de prova, ns.
em pontos distanciados 60 mm entre si,
paralelamente à direção de aplicação da carga. 𝑁𝑚
𝑇=𝐹 (1)
𝑛𝑠
Nos ensaios efetuados, a maior velocidade de
uso da prensa mecânica foi de 2,36 mm/min e,
devido as deformações ocorridas nas correntes do A deformação, ε, em porcentagem, é calculada
aparato de tração e outras não monitoradas, considerando a distância entre os pontos de
resultaram numa taxa média de deformação no de fixação do sensor de deformação axial. As Tabelas
0,69 % por minuto, monitoradas no corpo de 2 e 3, mostram as características do corpo de prova
prova pelo sensor de deformação. O trecho e do sensor de deformação utilizados nos ensaios.
medido por este sensor, permite monitorar Os módulos de rigidez, J, foram determinados
deformações ao longo de um comprimento quase pelo coeficiente angular da regressão da curva
o dobro do definido pela norma. carga de tração versus deformação obtidas nos
Na Tabela 1, apresenta-se o programa de ensaios. Como assinalado, os estudos foram
ensaios que foi estabelecido de modo a variar conduzidos até uma solicitação de 50 kN/m, sendo
apenas a taxa de deformação, iniciando sempre os valores obtidos para J referente à esta condição
com uma pré-carga de 1% do valor da tração de trabalho. Note-se que o preconizado por norma
máxima aplicada ao corpo de prova, limitada à é relativo à condição de ruptura.
50 kN/m. Neste estudo utilizou-se um único corpo
Tabela 2. Medidas do corpo de prova
de prova, no qual foram efetuadas cinco
Dimensões do corpo de prova
determinações para cada velocidade de ensaio.
No intuito de obter uma homogeneidade nos Comprimento (m) 188 mm ± 1 mm
resultados, e se tratando de ensaios repetidos em Largura (m) 378 mm ± 1 mm
um único corpo de prova, antes da realização de ns 10
cada ensaio foram realizados diversos ciclos de Nm 25,1
carregamento e descarregamento para
conformação do material, limitados a uma tração Tabela 3. Medidas do sensor de deformação
máxima de 50 kN/m – a mesma utilizada nos
Sensor de deformação
ensaios. Além disso, padronizou-se o intervalo
entre ensaios – cerca de 5 minutos sob nenhuma Comprimento inicial 107 mm ± 1 mm
influência de carregamento, buscando a Abertura inicial* na pré-carga Variável
recuperação do material. Acurácia 0,01 mm
* dependente da deformação do material.
Tabela 1. Programa de ensaios
Velocidade da Tempo 3 RESULTADOS DOS ENSAIOS
Talvo* pré-carga
prensa estimado
(kN/m) (kN)
(mm/min) (min)
As Figuras 6 a 9, mostram curvas tensão-
0,24 30 deformação determinadas nos ensaios para
0,79 12 diferentes velocidades da prensa, conforme
50 1% × T
1,28 8 apresentado na Tabela 1. Durante os ensaios, a
2,36 4 velocidade de deslocamento do prato da prensa
*limite de tração no corpo de prova o qual se procede o mecânica foi mantida constante. Nas figuras o
desligamento da prensa, seguida pelo descarregamento. módulo de rigidez médio, Jmédio, corresponde à
média dos J obtidos nas cinco determinações
2.4 Metodologia de cálculo para cada velocidade de ensaio considerada.
Para uma mesma velocidade de ensaio,
A Equação (1) é utilizada no cálculo da tração no observou-se uma dispersão nos valores medidos
reforço, T (NBR 10319:2013), determinada pela de deformação. Tal comportamento pode estar
força, F, medida na célula de carga; pelo número relacionado a distorções no corpo de prova e
médio de elementos verticais por metro de largura folgas no sistema. Nas Figuras de 6 a 9, as taxas
26
médias de deformação apresentadas velocidade da prensa 2.36 mm/min
correspondem aos valores médios das cinco 50
taxa média de deformação:
determinações para cada velocidade de ensaio. 0.685 %/min
40
Jmédio = 2507.03 kN/m
tração (kN/m)
velocidade da prensa: 0.24 mm/min
50 30
taxa média de deformação:
0.076 %/min 20
40
Jmédio = 2474.04 kN/m
tração (kN/m)
30 10
20 0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
10 deformação (%)
Velocidade Taxa de
30 da prensa deformação
J ε50 kN/m*
(mm/min) (%/min) (kN/m) (%)
20 ensaio virgem
0,24 0,076 2474,04 1,93
27
ensaios. Nesta figura incluem-se também REFERÊNCIAS
resultados de ensaios adicionais, em amostras
virgens de mesmas dimensões e efetuados sob Dieguez, C., Ehrlich, M. , Eleutério, J.O.S., (2018)
iguais condições. Os valores determinados na Physical Model of a Geosynthetic-Reinforced Pile-
Supported Embankment Systems (GRPS) under Work
condição virgem foram cerca de 15% inferiores Stress Conditions, 10th International Symposium on
aos demais resultados. Field Measurements in Geomechanics, Rio de Janeiro,
Brasil.
3250 Hatami, K., and Bathurst, R. J. (2005) Development and
velocidade da prensa verification of a numerical model for the analysis of
0.24 mm/min
geosynthetic reinforced-soil segmental walls, Can.
0.79 mm/min
Geotech. J., v.42 (4), p.1066–1085.
1.28 mm/min
Mirmoradi, S.H., Ehrlich, M., Dieguez, C. (2016).
2750 2.36 mm/min
Evaluation of the combined effect of toes resistance and
J (kN/m)
4 CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
28
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: Expanded polystyrene (EPS) has been widely used in geotechnical applications
mainly in the form of light landfill (landfill on soft soils) and in the replacement of soils in bridges
and viaducts. In such situations, the material may be subject to contact with water and become
denser in addition to being able to lose some relevant property. Thus, it is essential to evaluate the
water absorption capacity of EPS under these conditions. This work evaluated the water absorption
of EPS at different densities (14.5, 18, 28 and 33.5 kg /m³). Tests were carried out in order to obtain
the value in percentage of absorption and the hygroscopic moisture content of the material, besides
the volume of water absorbed after 07 days. Initially, the densities were measured under normal
conditions. Then, after subjecting them for a period of 24 hours in the oven at a temperature of 95 °
C, the dry masses were determined. Finally, after total immersion of the specimens in distilled
29
water for 7 days, the saturated masses were measured. With the data obtained, water absorption
values were high (50.76%, 24.31%, 8.95% and 10.21% for the respective specific masses 14,5, 18,
28 and 33.5 kg / m³). In addition, an inverse proportional relation between the specific mass and the
water absorption was observed, since there is a greater presence of voids in the samples of lower
densities.
30
2.2. Ensaio de Absorção de Água Após o período de uma semana, estas foram
retiradas do recipiente e enxugadas para retirar
Em laboratório foram realizados ensaios de a água em excesso na superfície, e então a
absorção de água de curta duração para todas as amostra foi pesada em uma balança de alta
densidades estudadas, normatizados pela ASTM precisão.
C272 (2001), a fim de se obter o teor de Ao subtrair o valor da massa seca na massa
umidade higroscópico e a absorção de água do natural obteve-se o valor de massa de água
material para cada valor de massa específica. absorvida pela amostra em condições
Com uma balança de alta precisão (0,0001) normalizadas.
da marca Adventurer, mediu-se a massa natural Subtraindo, por sua vez, o valor da massa
de cada amostra. A Figura 1 ilustra um dos seca na massa saturada, alcançou-se a massa de
corpos de prova sendo pesado. água absorvida pelo material quando submerso
em água. Além disso, o valor em porcentagem
de absorção de água é fornecido pela relação
entre massa de água absorvida e a massa seca.
Pela razão entre massa de água absorvida e
massa seca foi obtido o valor do teor de
umidade higroscópico do material. Por fim,
relacionando-se a massa de água absorvida com
a massa específica pode-se obter o volume de
água absorvido. Este, quando dividido pelo
volume da amostra viabiliza a porcentagem de
água absorvida pelo material para a massa
saturada, bem como para a massa natural.
3 RESULTADOS OBTIDOS E
Figura 1. Corpo de prova sendo pesado em uma balança ANÁLISES
de alta precisão.
31
valores de massa específica e diminui à medida Da mesma forma que a porcentagem em
que a densidade aumenta. massa, a porcentagem em volume de água
absorvida pelo material apresenta uma relação
inversamente proporcional com a massa
Tabela 2. Porcentagem em massa absorvida pelo material
na mudança do estado seco para saturado.
específica, visto que conforme a densidade
ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5 aumenta, tanto a porcentagem de água
absorvida quanto o teor de umidade
∆ṁ 7,3600 4,3761 2,5049 3,4205 higroscópico do material diminuem. É válido
Absorção 51,72% 26,03% 8,18% 9,98% ressaltar que um comportamento atípico ocorreu
ρ = massa específica; ∆ṁ = massa de água absorvida. com o corpo de prova de densidade 28 kg/m³.
Pode-se associar a isso uma possível
irregularidade da amostra e imprecisão de
Tabela 3. Volume de água absorvido pelo material na
mudança do estado seco para saturado. ensaio.
ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5 A mesma análise foi realizada em condições
V [m³] 0,0005 0,0002 0,0001 0,0001 normalizadas levando se em conta a massa
Absorção 50,76% 24,31% 8,95% 10,21% “natural” obtida para os cálculos, os resultados
ρ = massa específica; V = volume de água absorvido. para a porcentagem em massa absorvida pelo
material encontram-se na Tabela 5 a seguir.
O corpo de prova utilizado possui um
volume equivalente a 1000cm³, dessa forma é
possivel fazer uma análise do volume de água Tabela 5. Porcentagem em massa absorvida pelo material
absorvido pelo material. A relação entre a em condições normalizadas.
massa de água absorvida (∆ṁ) indicada na ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5
Tabela 2 e a massa específica do material ∆ṁ 0,15477 0,17383 0,16640 0,16987
permitiu obter o volume de água absorvido na Absorção 1,09% 1,03% 0,54% 0,50%
mudança da amostra seca para saturada, e ao ρ = massa específica; ∆ṁ = massa de água absorvida.
dividir esse valor pelo volume da amostra em
m³ obtém-se a porcentagem de água absorvida. Em relação ao volume de água absorvido
O teor de umidade higroscópico do material pelas amostras de EPS e a porcentagem de
é obtido por meio da razão entre a massa de absorção de água em condições normalizadas os
água absorvida e a massa seca. A relação entre resultados são apresentados na Tabela 6.
o volume de água absorvido, o teor de umidade Em resumo os resultados obtidos para a
higroscópico do material e as massas absorção de água em condições normalizadas
específicas estão sumarizados na Tabela 4. seguem a mesma tendência do que foi
observado na absorção de água pela amostra
inicialmente seca, porem em menor escala.
Tabela 4. Teor de umidade higroscópico e porcentagem Assim como visto anteriormente a porcentagem
de absorção de água do material em volume. em absorção de massa e de volume de água é
Teor de umidade Absorção de água inversamente proporcional a massa específica
ρ [kg/m³]
higroscópico do material (%) das amostras, conforme indicado na Figura 3 a
14,5 0,5172 50,76% seguir:
18 0,2603 24,31%
Tabela 6. Volume de água absorvido pelo material e
28 0,0818 8,95%
porcentagem de absorção de água condições
33,5 0,0998 10,21% normalizadas.
ρ = massa específica.
32
fique o menor tempo possível em contato com
Absorção de água esse geossintético.
60,00%
Absorção de água do material (%
50,00%
40,00% AGRADECIMENTOS
30,00%
Os autores agradecem à Fundação de amparo e
volume)
20,00%
à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e
10,00%
ao PIBIT pelo auxílio financeiro para a
0,00% realização da pesquisa e à Empresa
0 10 20 30 40
Termotécnica pelo material fornecido.
Massa específica [kg/m³]
Saturado Natural
REFERÊNCIAS
FIgura 3. Absorção de água para amostra saturada e
natural.
ABNT (2004). NBR 10004: Resíduos sólidos –
Classificação. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro. p. 71.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS GNIP I. Y. et al (2006) Water absorption of expanded
polystyrene boards. Polymer Testing. p. 635 – 641.
A análise dos resultados obtidos permite que se AVESANI NETO, J.0. (2009). Ensaios de absorção de
apontem as seguintes conclusões: água em blocos de EPS para o uso geotécnico. Artigo
científico, São Paulo, SP.
TRANDAFIR, A. C., BARTLETT, S. F., LINGWALL,
• O poeliestireno expandido absorve água B. N. (2010) Behavior of EPS geofoam in stress-
até valores aproximadamente iguais a controlled cyclic uniaxial tests, Geotextiles and
50% de seu volume quando saturado. Geomembranes. p. 28, 514 524.
• A absorção de água é inversamente ROH, H.S., CHOI, Y.C. (2000) Kim, S.H. Earth
pressures on culvert during compaction of backfill.
proporcional à massa específica do EPS, International Society for Rock Mechanics
dessa forma para densidades maiores o Symposium.
volume de água absorvido é menor, isso VASLESTAD, J. (1990) Soil Structure Interaction of
ocorre em decorrência da maior Buried Culverts. Doktor Ingenioravhandling. Institute
presença de vazios nas densidades for Geotechnics. University of Trondheim, p. 452.
ASTM – American Society for Testing Matrials (2001).
menores. ASTM C 272. Standard Test Method for Water
• Um comportamento atípico ocorreu com Absorption of Core Materials for Sandwich
a amostra de massa específica Constructions. Anual Book of ASTM standards.
equivalente a 28 kg/m3 devido a falhas
nas amostras e imprecisão de ensaio.
• Em condições normalizadas, ou seja,
sem saturar as amostras, a absorção de
água é mínima, correspondendo a
aproximadamente 1% do volume para a
menor massa específica analisada.
33
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
35
1 INTRODUÇÃO vantagens técnicas e econômicas em todos os
casos, permitindo a adoção de maciços mais
A utilização e aplicação de geossintéticos está íngremes e com menor volume de solo.
associada substituição e ao aprimoramento de De maneira geral, os solos, quando bem
técnicas convencionais de engenharia, os compactados apresentam boa resistência a
mesmos, quando associados ou combinados esforços de compressão e ao cisalhamento,
com solos, permitem a elaboração de projetos porém, apresentam baixa resistência a esforços
criativos, de alta durabilidade e de baixo custo de tração, podendo haver casos em que a
de execução (Kakuda, 2005). resistência a tração seja nula (Ehrlich, 1999).
Desde 3000 a.C, já eram executadas praticas Segundo Schlosser & Than (1974), o
naturais para melhorar a qualidade do solo. Os princípio de solo reforçado é análogo ao
Zingutes, na Grande Muralha da China, e em concreto reforçado, de modo que é associado às
diversas obras do Império Romano, são características mecânicas do solo com a
exemplos de obras constituídas de fibras resistência à tração de um reforço, obtendo uma
resistentes, como palha, bambu e estivas de estrutura mecanicamente resistente e estável.
junco. A inclusão de materiais sintéticos no solo Portanto, a técnica conhecida por "solo
teve inicio nos anos 50, com o desenvolvimento reforçado" consiste na introdução de elementos
dos geotêxteis tecidos como elementos de filtro convenientemente orientados com determinadas
em obras hidráulicas, para proteção resistências a tração, aumentando assim a
antierosivas. Na década de 1960, ocorreu a resistência do maciço rochoso e diminuindo a
primeira aplicação de geotêxtil não tecido de sua deformabilidade, melhorando também seu
fibras em um recapeamento asfáltico nos comportamento global à custa da transferência
Estados Unidos. Na década de 1970, a aplicação dos esforços para os elementos resistentes
de geotêxteis tornou-se mais ampla e mais (reforços) (Sayão et al., 2012).
intensa, sendo utilizados em muros em solo Quando uma massa de solo é carregada
reforçado, aterros sobre solos moles, filtros de verticalmente ela sofre deformações laterais de
drenos e barragens, entre outras. No Brasil, extensão (tração) e verticais de compressão.
mais especificamente em 1971, aconteceram as Contudo, se esta massa de solo estiver
primeiras aplicações de geotêxteis, tendo as reforçada, ocorrerá uma limitação em seus
obras rodoviárias como principal meio de movimentos laterais, resultante da reduzida
aplicação, e reforço de aterros sobre solos deformabilidade do reforço, pois os reforços no
moles. Os métodos de dimensionamento solo funcionam como uma “costura” entre as
surgiram nas décadas de 1980 e também foi massas de solo, unindo parte estáveis com as
criada a Comissão de Estudos Geotécnicos. instáveis, minimizando assim a probabilidade
Com o decorrer desta década e da década de de ruptura do talude reforçado (Figura 1).
1990, foi desencadeado o surgimento de uma Atualmente, existem diversos ensaios de
grande multiplicidade de produtos e usos de caracterização física, mecânica e de interação
geossintéticos, devido aos impulsos gerados por solo-geossintético que são analisados e
estudos e pesquisas teóricas apresentados. avaliados em conjunto para determinação das
(Aguiar & Vertematti, 2003). características e propriedades resistentes de
A utilização de geossintéticos vem sendo cada diferente tipo de elemento de reforço de
cada vez mais empregada na engenharia civil, solo, como por exemplo, as geogrelhas.
devido a grande variedade de funções que Apesar de já existirem diversos métodos de
podem exercer, como por exemplo: reforço, análise e caracterização dos geossintéticos,
filtração, drenagem e separação. A técnica de ainda há muito que ser estudado sobre este
reforço de solo assumiu um grande papel na assunto para um melhor entendimento de todos
Engenharia Geotécnica, pelo fato de sua os processos de interação solo-geossintético que
aplicação ser extremamente vasta, destacando- ocorrem em uma estrutura de solo reforçado.
se: aterros reforçados sobre solos moles, muros Por este motivo, ainda estão sendo realizadas
e taludes reforçados, reforço de fundações e diversas pesquisas e estudos sobre os mesmos,
reforço de cavidade subterrânea, apresentando
36
o que justifica o objetivo e a escolha do tema 2.2 Geogrelhas
deste artigo.
Foram utilizadas 4 diferentes tipos de
geogrelhas tecidas, fornecidas pela empresa
Maccaferri do Brasil. Foram elas: Geogrelhas
MacGrid® WG 40, 60, 90 e 120, em que o
número que aparece no final de seu nome
representa a resistência longitudinal última de
cada uma. Estas são produzidas a partir de
filamentos de poliéster de super alta tenacidade,
apresentando baixos valores de alongamento,
mobilizando altos valores de tração. Para
prevenção de ataques químicos, biológicos e
ambientais, são revestidas com PVC.
2 MATERIAL E MÉTODO
37
2.4 Moldagem dos corpos de prova (CP) Os ensaios foram direcionados para a prensa
hidráulica presente no laboratório de construção
Foram moldados dois corpos de provas com civil da PUC-Campinas, a fim de se obter os
uma camada de geogrelha para cada tipo de resultados de maneira diferente do
resistência, dois sem reforço, e mais dois com convencional, e também, devido ao corpo de
duas camadas de geogrelha, sendo um com a prova utilizado apresentar um diâmetro maior
MacGrid® WG 40 e outro com a MacGrid® do que a máquina de compressão com
WG 60, a fim de se obter novos resultados para extensômetros do laboratório de solos suporta.
futura avaliação. As geogrelhas foram Durante o ensaio, foram observados e
posicionadas na parte intermediária do corpo de medidos os deslocamentos verticais, necessários
prova (CP), quando utilizada apenas uma para o cálculo da deformação específica,
camada de reforço, e quando utilizadas duas medindo a variação de altura inicial e final do
camadas, as mesmas foram posicionadas CP. Com o término do ensaio, foi possível obter
dividindo os CP em três camadas de solo com as variações da força de ruptura, e também, o
espessuras similares, totalizando uma valor da tensão de ruptura máxima (Limite de
quantidade de cinco camadas de compactação Resistência).
com 12 golpes cada, conforme recomenda o
ensaio de Proctor Normal para o cilindro grande
(diâmetro de 152,4 ± 0,6 mm com 177,8 ± 0,3
mm de altura). As geogrelhas tiveram sua parte
inferior e superior revestida por solo
compactado, semelhante ao ensaio de
cisalhamento direto.
3 RESULTADOS
38
cálculo da deformação específica e do limite de Já a deformação específica é obtida através
resistência: da relação entre a altura inicial e final do corpo
- Sem reforço = 0,05 m para uma força de de prova:
aproximadamente 7845,28 N - Esforço máximo
para atingir a ruptura = 6613,28 N (2)
- WG 40 = 0,035 m para uma força de
aproximadamente 11179,52 N - Esforço
Onde:
máximo para atingir a ruptura = 8461,13 N.
- WG 60 = 0,04 m para uma força de L 0 = Altura do corpo de prova antes do ensaio
de compressão em m;
aproximadamente 11179,52 N - Esforço
L f = Altura do corpo de prova após o ensaio de
máximo para atingir a ruptura = 8655,70 N.
- WG 90 = 0,045 m para uma força de compressão em m;
aproximadamente 11179,52 N - Esforço Ɛ = Deformação específica (m/m).
máximo para atingir a ruptura = 9239,19 N.
Através da relação entre o limite de
- WG 120 = 0,045 m para uma força de
resistência do corpo de prova sem reforço com
aproximadamente 11179,52 N - Esforço
máximo para atingir a ruptura = 8655,70 N. os resultados de limite de resistência de cada
- 2 x WG 40 = 0,05 m para uma força de corpo de prova, foi possível obter, de maneira
aproximadamente 11179,52 N - Esforço bem simplificada, um fator de resistência para
máximo para atingir a ruptura = 9239,19 N. cada condição de reforço ensaiada.
- 2 x WG 60 = 0,06 m para uma força de Nas figuras 5 a 7, são apresentados gráficos
aproximadamente 11179,52 N - Esforço com a variação da força aplicada nos CP, do
máximo para atingir a ruptura = 10698,02 N. limite de resistência (tensão) e da deformação
específica dos mesmos.
Obs.:
- O corpo de prova sem reforço não atingiu o
esforço de 11179,52 N e foi retirado durante a
aplicação de um esforço de aproximadamente
7845,28 N.
- A altura inicial dos CP foi de
aproximadamente 0,10 m.
- O resultado da WG 120 não foi satisfatório,
tendo como uma explicação provável o fato de
que para esse reforço a escala da geogrelha
estava inadequada às dimensões do CP
Figura 5. Representação gráfica da força aplicada para
utilizado. ruptura dos corpos de prova.
(1)
Onde:
F = Força de ruptura em N;
A 0 = Área inicial do corpo de prova em m²;
LR = Limite de resistência em N/m² (Pa). Figura 6. Representação gráfica do limite de resistência
dos corpos de prova.
39
Figura 7. Representação gráfica da deformação específica
dos corpos de prova.
Nas figuras 8 a 11, são apresentadas algumas Figura 10. Detalhe do rompimento do reforço.
imagens dos resultados físicos obtidos após o
ensaio de compressão.
40
Ao verificar as dimensões das amostras das 5 CONCLUSÃO
geogrelhas foi observado que para uma
Geogrelha MacGrid® WG 40, as larguras de Em uma conclusão geral, pode se afirmar que
suas tiras longitudinais possuem uma dimensão este artigo atingiu resultados satisfatórios em
de aproximadamente 0,005 m e um relação ao que se queria provar; porém, obteria
espaçamento médio entre as mesmas de 0,025 resultados ainda melhores se fosse possível
m; para uma Geogrelha MacGrid® WG 60, as traçar um diagrama de tensões e deformações
larguras de suas tiras longitudinais possuem resultante das etapas de ruptura dos corpos de
uma dimensão de aproximadamente 0,006 m e provas para uma melhor avaliação dos
um espaçamento médio entre as mesmas de resultados obtidos, ficando a sugestão para
0,024 m; para uma Geogrelha MacGrid® WG estudos futuros.
90, as larguras de suas tiras longitudinais Em relação ao método utilizado nos ensaios,
possuem uma dimensão de aproximadamente seria interessante também a realização de
0,007 m e um espaçamento médio entre as ensaios de compressão triaxial, que por motivo
mesmas de 0,0235 m; e para uma Geogrelha de manter o corpo de prova em confinamento
MacGrid® WG 120, as larguras de suas tiras durante o mesmo, pode gerar resultados mais
longitudinais possuem uma dimensão de próximos da realidade.
aproximadamente 0,013 m e um espaçamento A avaliação mais adequada seria um ensaio
médio entre as mesmas de 0,038 mm. em campo, pois possibilitaria uma avaliação de
Pode-se observar que para casos específicos, todos os resultados durante e após a ruptura em
como por exemplo, os ensaios realizados nesse escala real. Entretanto, esta avaliação apresenta
artigo, a espessura das tiras longitudinais e os grandes restrições devido ao espaço hábil para
seus respectivos espaçamentos são um fator realização destes ensaios e principalmente em
importante para que haja uma melhor interação virtude da questão financeira.
entre o maciço de solo e o reforço, ou seja, uma O conhecimento de todas as propriedades e
melhor interação solo-geossintético. influências que um determinado material de
Outro aspecto que pode ser facilmente reforço oferece para o sistema que o mesmo
observado nos resultados obtidos é que a constitui é de extrema importância para área da
utilização de mais de uma camada de geogrelha Engenharia Civil, especialmente quando se trata
em interação com o solo influencia diretamente do ramo da Engenharia Geotécnica, onde as
na resistência limite do sistema, ou seja, os incertezas são ainda maiores. Portanto, este
corpos de prova duplamente reforçados com artigo representa mais um passo para melhorar
Geogrelha MacGrid® WG 40 e WG 60 ainda mais o conhecimento do material
atingiram uma resistência equivalente e superior analisado em interação com o solo envolvente,
respectivamente à resistência do corpo de prova comprovando que além da geogrelha prover
reforçado com uma Geogrelha MacGrid® WG resistência à tração para o maciço de solo
90 e resultaram em deformações menores, fato reforçado, a mesma também oferece um
que pode ser facilmente explicado por haver um acréscimo na resistência à compressão do
maior número de reforço em interação com o mesmo, culminando em menores deformações.
solo, consequentemente se tem uma maior Entre sugestões para estudos futuros,
distribuição das tensões atuantes no sistema. considera-se interessante que os mesmos
No caso do corpo de prova sem reforço, ensaios sejam realizados com diferentes tipos
como não foi aplicada a mesma força final que de solo, pois como já é de conhecimento,
nos demais CP, não foi possível comparar a nossos solos são extremamente heterogêneos e
deformação específica dos mesmos para dificilmente nos depararemos com solos que
aplicação de um mesmo esforço, porém, já é possuem características "idênticas". Além disso,
possível observar que para um esforço bem a utilização de geogrelhas extrudadas e
menor o mesmo atingiu a mesma deformação soldadas, neste mesmo ensaio e nos demais
do CP reforçado com duas camadas de citados acima, torna-se um estudo muito
Geogrelha MacGrid® 40, que foi solicitado por interessante para aumentar ainda mais a gama
um esforço aproximadamente 1,43 vezes maior. de conhecimento sobre esses materiais em
41
interação com o solo, para que, em um futuro
próximo, os resultados obtidos do mesmo
possam influenciar positivamente em um
melhor dimensionamento de estruturas em solo
reforçado.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
42
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Inúmeras obras de engenharia civil utilizam geossintéticos, abrangendo desde projetos
hidráulicos costeiros aos geotécnicos de aterros sanitários. Para melhor dimensionamento destes
projetos, a caracterização hidráulica é uma das principais propriedades a serem verificadas. Quando
o material deixa o ambiente controlado das fábricas e chega à obra, fica sujeito às características
agressivas do meio exógeno, que são fatores prejudiciais a sua integridade física. Este artigo avaliou
o comportamento hidráulico de quatro geotêxteis tecidos, sendo dois de polipropilenos em
monofilamentos e dois de poliésteres em multifilamentos. A realização do estudo constituiu de
execução do método para determinação do fluxo por unidade de comprimento no plano, calculando
a transmissividade hidráulica, em geossintéticos sob carga constante e procedimento não
normatizado, realizado em um equipamento de ensaio triaxial. Para isso, foi necessária uma
adaptação com uma peça cilíndrica bipartida, que confina o geossintético em seu interior de modo a
permitir o fluxo no plano. Os resultados obtidos quando confrontados com o banco de dados dos
ensaios realizados em laboratório apresentaram resultados similares e com coeficiente de variação
inferior a 10%, sendo um bom indicativo da validação do novo equipamento para a determinação
do fluxo de água no plano dos geotêxteis ou transmissividade.
ABSTRACT: Countless civil engineering constructions use geosynthetics, from coastal hydraulic
projects to geotechnical landfills. In order to achieve a better structural dimensioning of these
projects, the hydraulic characterization is one of the main properties to be verified. When the
material leaves the controlled field of the factories and arrives at the construction, it is subject to the
aggressive characteristics of the exogenous environment, factors there are detrimental to its physical
integrity. This paper evaluated the hydraulic behavior of four woven geotextiles, two with
monofilament polypropylene and two with multifilament polyester. The study consisted in the
execution of the test method for determining the (in-plane) flow rate per unit width, calculating the
hydraulic transmissivity of a geosynthetics and using a constant head with non-standardized
procedure done in an triaxial equipment. For this, it was necessary the adaptation of a two-part
cylindrical piece that confines the geosynthetic in its interior in order to allow the flow in the plane.
The results obtained in comparison to the database of tests carried out in the laboratory showed
similar results and with a coefficient of variation of less than 10%, what is a good indicative of the
validation of the new equipment for the determination of water flow in the geotextile or
transmissivity.
43
1 INTRODUÇÃO 1.2 Propriedades hidráulicas
44
2.2 Métodos Dessa maneira realizou-se a correção da
pressão na base, a qual foi calculada em 0,23
Os ensaios só foram possíveis através da PSI para gradiente 0,1 e 0,42 PSI para gradiente
construção dos equipamentos pertencentes ao 1, enquanto o topo ficou zerado.
GeoLED/LECIV/UENF para caracterização dos
geossintéticos. Dessa maneira tornou-se
possível a caracterização desta propriedade, a
fim de interpretar o comportamento dos
geotêxteis, que são aplicados em diversos
projetos hidráulicos.
2.2.3 Transmissividade
Figura 2. Esquemático do equipamento normatizado.
Para a execução desse ensaio, foi utilizado um
aparelho de ensaios triaxial. A adaptação foi
realizada de acordo com as informações
contidas na norma ABNT NBR ISO
12958/2013 e são descritas a seguir.
Como pode ser observado na Figura 2, no
esquemático do ensaio normatizado, o corpo de
prova dispõe-se horizontalmente. Já na Figura 3
e 4, na adaptação utilizando o equipamento
triaxial e em seu projeto esquemático, realiza-se
o ensaio de transmissividade com o corpo de
prova na posição vertical a base. Figura 3. Equipamento de transmissividade adaptado .
45
Em norma, o corpo de prova dispõe-se no Inicialmente, para a realização do ensaio, o
equipamento entre uma espuma de borracha que corpo de prova foi posicionado no interior do
transmite a carga aplicada por uma célula de cilindro bipartido de iberê. Em seguida, o
pressão ao corpo de prova. Já na adaptação, conjunto descrito foi envolto por uma
aplica-se a carga por pressão de água membrana com a fixação de suas extremidades
diretamente no cilindro bipartido fabricado em por elástico. A montagem foi finalizada por
resina iberê (Figura 5a), que confina o meio do posicionamento da célula de vidro com
geossintético encamisado (Figura 5b), e todo o sistema fechado e as mangueiras, as quais
conjunto fica no interior da câmara do fazem a ligação do triaxial com a célula e
equipamento do ensaio triaxial (Figura 5c). abastecem o sistema com água.
Esta célula recebe 3 mangueiras conectadas O procedimento experimental se resume em
respectivamente ao seu topo, sua base e lateral; aplicar 3 níveis de tensões ao corpo de prova e
elas são responsáveis por abastecê-la com água em 2 gradientes hidráulicos diferentes conforme
gerando as pressões necessárias para a mostra a Tabela 2.
realização dos ensaios.
Previamente os corpos de prova a serem Tabela 2. Características do ensaio de transmissividade.
ensaiados foram cortados com o auxílio de um Tensão aplicada Gradiente hidráulico
canivete afiado nas dimensões 10 cm por 5 cm, (kPa) (PSI) (adimensional)
adequadas para ajustar-se perfeitamente ao 20 2,9 0,1
20 2,9 1,0
cilindro que servirá de apoio. Essas dimensões 100 14,5 0,1
diferem do padrão, que preconiza a utilização 100 14,5 1,0
de corpos de prova de 30 cm de comprimento e 200 29 0,1
20 cm de largura. 200 29 1,0
Durante um período mínimo de tempo de 24
horas anterior ao ensaio, os corpos de prova Em sequência, foi aplicada a tensão normal
devem ser imersos totalmente em água a de 2,9 PSI na superfície lateral do corpo de
temperatura ambiente afim de saturá-los, para prova, então para cada deslocamento de 1 cm na
que o ensaio não seja prejudicado por eventuais bureta realizaram-se as leituras de tempo, sendo
bolhas de ar que possam se formar no interior totalizadas 3 medições para análise estatística.
do material durante o ensaio caso este não Em seguida modificou-se a tensão normal para
esteja totalmente saturado e assim os geotêxteis 16,5 PSI, e procedeu-se com mais 3 medidas de
tecidos a serem ensaiados, devem permitir um tempo para finalmente repetir o procedimento
fluxo de água no seu plano. para pressão de 29,0 PSI.
(a) amostra posicionada no cilindro. (b) cilindro encamisado. (c) câmara do ensaio triaxial.
Figura 5. Montagem do equipamento utilizado no ensaio de transmissividade.
46
O procedimento para o segundo gradiente de
1,0 foi idêntico, a única mudança foi na pressão
na base do corpo de prova. Então repetiu-se as
tensões normais nas laterais iniciando-se com
2,9 PSI, seguindo-se com 16,5 PSI e 29,0 PSI,
sendo feitas 3 medidas de tempo para cada
pressão respectivamente.
3 RESULTADOS
47
REFERÊNCIAS
Tabela 3. Permeabilidade no plano – kp (cm²/s).
Geotêxtil Normatizado Não Normatizado ABNT (2013). NBR ISO 12958: Geotêxteis e produtos
PET 340 0,050 ± 0,001 0,055 ± 0,002 correlatos – Determinação da capacidade de fluxo no
PP500 0,065 ± 0,001 0,067 ± 0,003 plano. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio
PET740 0,150 ± 0,002 0,154 ± 0,008 de Janeiro, p. 13.
PP925 0,110 ± 0,001 0,110 ± 0,003 Castelo, J.; Gutierrez, J. (2014). High compressive
resistance drainage geocomposites. Ingenieria Civil.
Madri: Espanha. v. 171. p. 77-82.
Giroud, J. P.; Zhao, A.; Richarson, G. N. (2000). Effect of
4 CONCLUSÕES Thickness reduction on Geosynthetic Hidraulic
Transmissivity. Geosinthetic International. v. 7, (4-6).
O trabalho apresentou os resultados da p. 433-452.
Ingold, T. S. (2013). The Geotextiles and Geomembranes
caracterização da transmissividade em quatro Manual. Elsevier, Oxford. p. 610.
diferentes gramaturas de geotêxteis tecidos em Koerner, R. M. (1998). Designing With
equipamento desenvolvido em laboratório e Geosynthetics (4th ed.). Prentice Hall, Inc., New
foram avaliadas as seguintes conclusões: Jersey, USA. p.761.
O equipamento triaxial foi uma alternativa Koerner, R. M.; Bove, J. A.; Martin, J. P. (1984). Water
and air transmissivity of geotextiles. Geotextiles and
que viabilizou a realização dos ensaios de Geomembranes. v.1 (1). p. 57-73.
determinação da capacidade de fluxo de água
no plano. Esse mecanismo provou ser uma
alternativa eficiente e com possibilidade, por
meio de mais testes, se tornar um procedimento
complementar, que define medidas padrão para
esse procedimento.
As maiores variações dos resultados
estatísticos foram nos poliésteres PET340 e
PET740, que apresentaram resposta de
transmissividade maior do que no teste padrão.
A superfície rígida ao redor da amostra pode ser
a razão para essa variação.
Os resultados apresentaram similaridade com
os ensaios padrões e foram obtidos coeficientes
de variação inferior a 10%, o que é um bom
indicativo da validação do novo equipamento
de fluxo no plano dos geotêxteis.
Segundo a pesquisa, a variação da escala não
se mostrou um problema para a determinação
das propriedades do material, e sim uma
alternativa adicional, especialmente para
estudos de durabilidade, que exigem amostras
em tamanho reduzido.
AGRADECIMENTOS
48
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: This work analyzed the results of cyclic uniaxial compression tests in samples of
expanded polystyrene (EPS), in the specific masses of 10, 20 and 30 kg/m³, molded in samples with
cubic dimensions of 100 mm. The values of the initial elastic modulus (Ei), residual (Er) and plastic
(Ep), as well as the tensile values of the material were evaluated. The initial modulus of elasticity
(Ei) was obtained from the slope of the initial stretch of the stress strain curve by means of the
Hook's Law, for deformations until 1%, beginning of elastic phase of the material. The values of the
residual modulus of elasticity (Er) were obtained from the slope of recompression stretch after the
unloadings with 8, 16 and 24% of deformation, in other words, for the elastic phase of the
49
unloading. The values for the plastic phase (Ep) were also obtained before and after the unloadings,
these values were compared with the literature. The main results show that in the elastic phase, both
for the initial stretch and for the recompression stretch, there is an increase of the modulus of
elasticity with the increase of the specific mass, it is noted that the modulus of elasticity decreases
after each unloading, showing that the material tends to become more plastic after each cycle, so
that the slope of the curve in the elastic stretch decreases with each reloading. In the plastic phase,
the value of the modulus decreases with the increase of the specific mass, this shows that the
inclination of the plastic stretch is smaller with the increase of the density of the material. In
addition, it was observed that the values of Ep decrease after each recompression, showing that the
slope of the curve in the plastic stretch tends to stabilize.
KEY WORDS: Expanded polystyrene (EPS), Cyclic compression test, Modulus of elasticity.
50
resultados da literatura. densidades. Utilizou-se um valor reduzido de
números de ciclos, a fim de se obter os valores
do módulo de elasticidade (E) do material. Para
2 MATERIAL E MÉTODOS tanto, o CP foi carregado e descarregado
manualmente até atingir um valor de
O ensaio foi realizado de acordo com a ASTM deformação de 30%. Utilizou-se uma
C165. Foram utilizados corpos de prova cúbicos velocidade de ensaio de 5 mm/min, sendo este
com arestas de 100 mm. Embora esta norma um valor médio entre os recomendados pela
recomende a utilização de corpos de prova ASTM C165 (0,25 a 12,5 mm por minuto).
cúbicos com arestas de 50 mm, a utilização de O objetivo da pesquisa foi de verificar por
amostras com 100 mm de aresta é justificada meio de ensaios de carga e descarga as
pelo fato que de amostras maiores apresentam variações que podem ocorrer na curva tensão
maior representatividade nos resultados, visto versus deformação do EPS avaliando-se os
que esse material é utilizado em campo em módulos de elasticidade inicial (Ei), residual
blocos de grandes dimensões. O ensaio foi (Er) e plástica (Ep) do EPS. As amostras foram
realizado em prensa com servo controle (Figura submetidas a sucessivas compressões e
1) no laboratório de mecânica das rochas do descompressões para cada massa específica. A
departamento de Geotecnia da Escola de descompressão foi feita manualmente quando
Engenharia de São Carlos (USP). atingidos valores de 8%, 16% e 24% de
deformação, a fim de se estudar sua resistência
sob este tipo de carregamento e como o módulo
de elasticidade é influenciado pelas
descompressões e recompressões.
O módulo de elasticidade inicial (Ei) foi
obtido a partir da inclinação do trecho inicial da
curva tensão versus deformação, por meio da
Lei de Hooke, para deformações de até 1%,
estando na fase elástica do material. Os valores
dos módulos de elasticidade residual (Er) foram
obtidos pela inclinação dos trechos de
recompressão após os descarregamentos com 8,
16 e 24% de deformação. Foram obtidos
também os valores para a fase plástica (Ep)
medidos para a curva antes dos
descarregamentos. Após o descarregamento,
também foram obtidos os valores de Ep para os
Figura 1. Equipamento utilizado no ensaio de compressão
cíclica. as deformações de 8 e 16%.
51
4 DISCUSSÃO
52
apenas os valores de módulo de elasticidade Com relação às tensões finais obtidas,
inicial da fase elástica (Ei), da fase plástica (Ep) percebe-se que para as menores massas
e de uma única recompressão (Er), de modo que específicas (10 e 20 kg/m³) os valores obtidos
este último foi comparado com o valor de na pesquisa atual são menores, tanto quando
recompressão após 8% de deformação. Nota-se comparados com os valores Dias et al (2016)
que para os três estágios, os valores obtidos em quanto com os valores de referência da ASTM
ambas as pesquisas são próximos, apresentando D6817, principalmente após as descompressões
a mesma ordem de grandeza, mesmo os de 5 e 10 %. Já, para a maior massa específica,
materiais sendo de fornecedores diferentes. observa-se que os valores de tensões são mais
Para os valores de resistência, tomou-se próximos ou maiores que os apresentados por
como base também os valores de referência da Dias et al (2016) e, pela norma, mostrando que
ASTM D6817, os quais também foram as amostras fornecidas apresentaram uma
utilizados para fins de comparação por Dias et resistência elevada na massa específica de 30
al (2016), que analizou os valores de tensão kg/m³.
para deformações de 1, 5 e 10%.
53
5 CONCLUSÕES Ensaios de Compressão Uniaxial Cíclica em
Poliestireno Expandido (EPS) Geofoam. In:
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
O ensaio de compressão cíclica mostrou que na Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG), n.18,
fase elástica, tanto no trecho inicial quanto nos Belo Horizonte, 7 p.
trechos de recompressão, o valor do módulo de Jafari, H. (2010). Mechanical and Hydraulic Behavior of
elasticidade aumenta conforme aumenta-se o Geosynthetic Aggregate Drainage Systems and the
valor da massa específica do material e, que Effectiveness of Geofoam as a Compressible Inclusion
over Flexible Pipe. Submitted in Partial Fulfillment
este valor diminui após cada descarregamento, Of the requirements for a Degree with Honors (Civil
mostrando a tendência do material de Engineering), Helen Hardin Honors Program.
plastificar-se sob carga cíclica. Na fase plástica, University of Memphis.
ocorre o comportamento inverso, ou seja, o Mcguigan, B.L., Valsangkar, A.J. (2010). Earth pressures
valor do módulo de elasticidade diminui on twin positive projecting and induced trench box
culverts under high embankments. Can. Geotech. J.
conforme aumenta-se o valor da massa 47 (2), 147e163, 10.1139/T09-085.
específica; os mesmos também mostram uma Ossa, A., & Romo, M. P. (2011). Dynamic
estabilização da curva na fase plástica. Notou-se characterization of EPS geofoam. Geotextiles and
também que para os três estágios de Geomembranes, 29(1), 40–50.
carregamento, os valores dos módulos obtidos https://doi.org/10.1016/J.GEOTEXMEM.2010.06.0
07
são próximos a valores encontrados na Stark, T.D., Bartlett, S.F., Arellano, D. (2012). Expanded
literatura. Polystyrene (EPS) Geofoam Applications and
Technical Data. The EPS Industry Alliance, 1298
Cronson Blvd., Suite 201, Crofton, MD 21114, p. 36.
AGRADECIMENTOS Sun, L., Hopkins, T.C., Beckham, T.L. (2009). Reduction
of Stresses on Buried Rigid Highway Structures Using
the Imperfect Ditch Method and Expanded
Os autores agradecem à Fundação de amparo e Polystyrene (Geofoam). Research Report KTC-07-
à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) 14/SPR-228-01-1F. Kentucky Transportation Center,
pelo apoio financeiro obtido para a realização University of Kentucky, Lexington Kentucky, 49 p.
da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da Trandafir, A. C., Bartlett, S. F., & Lingwall, B. N. (2010).
Behavior of EPS geofoam in stress-controlled
Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, cyclic uniaxial tests. Geotextiles and
ao Laboratório de Mecânica das Rochas do Geomembranes, 28(6), 514–524.
Departamento de Geotecnia da EESC-USP e à https://doi.org/10.1016/j.geotexmem.2010.01.002
empresa Termotécnica pelo fornecimento do Trandafir, A. C., & Erickson, B. A. (2012). Stiffness
material. Degradation and Yielding of EPS Geofoam under
Cyclic Loading. Journal of Materials in Civil
Engineering, 24(1), 119–124.
https://doi.org/10.1061/(ASCE)MT.1943-
REFERÊNCIAS 5533.0000362
54
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Este trabalho avaliou a resistência ao cisalhamento do poliestireno expandido (EPS) por
meio de ensaios triaxiais do tipo consolidado não drenado (CU), de acordo com a ASTM D4757.
As amostras foram fornecidas por empresa nacional em três diferentes massas específicas (10, 20 e
30 kg/m³). Foram utilizados valores reduzidos de tensões confinantes para representar as situações
de campo, sendo estas de 20, 30 e 40 kPa. Os principais resultados mostram que, na fase de ruptura,
há um trecho elástico até uma deformação em torno de 2%, principalmente nas densidades maiores
(20 e 30 kg/m³). Após essa fase, ocorre uma plastificação e como consequência, um ganho de
resistência por endurecimento em deformações de até 10%, a partir da qual o material começa a
perder resistência devido à instabilidade lateral. Para as tensões aplicadas, os corpos de prova de 10
kg/m³ apresentam deformações volumétricas superiores quando comparados a densidades mais
elevadas (20 e 30 kg/m³) para uma mesma deformação axial. Durante a realização dos ensaios, as
amostras de menor densidade (10 kg/m³) não responderam de forma satisfatória a tensões muito
elevadas. Assim como para a densidade mais elevada (30 kg/m³) que não respondeu
satisfatóriamente à tensão de 20 kPa. Além disso, parece haver um comportamento não homogêneo
do material quando submetido a tensões elevadas de confinamento. Os resultados foram
comparados aos da literatura a fim de verificar se o comportamento apresentado está de acordo com
os resultados obtidos. Dentro desse contexto, foi verificado que à medida que as densidades
aumentam, há uma tendência de comportamento expressa pelo aumento da coesão aparente e
diminuição do ângulo de atrito.
ABSTRACT: This work evaluated the shear strength of the expanded polystyrene (EPS) using
triaxial tests (CU) according to ASTM D4757. A national company supplied the samples in three
different specific masses (10, 20 and 30 kg/m³). Reduced values of confining pressures were used to
represent the field situations, which are 20, 30 and 40 kPa. The main results show that, in the
rupture phase, there is an elastic stretch up to a deformation of around 2%, mainly in the higher
densities (20 and 30 kg/m³). After this phase, a plastification occurs and as a consequence there is a
resistance gain by hardening in deformations until 10%, from which the material begins to lose
resistance due to lateral instability. For the used stresses, the 10 kg/m³ samples have presented
55
higher volumetric deformations when compared to higher densities samples (20 and 30 kg/m³) for
the same axial deformation. During the tests, the lower density samples (10 kg/m³) did not respond
satisfactorily to very high stresses. The same for the higher density (30 kg/m³), which did not
respond satisfactorily to the stress of 20 kPa. In addition, it seems like the material has a non-
homogeneous behavior when submitted to high confinement stresses. The results were compared to
those of the literature in order to verify if the presented behavior is in agreement with the obtained
results. Within this context, it was verified that as the densities increase, there is a tendency of
behavior expressed by the increase of apparent cohesion and decrease of the angle of friction.
56
ASTM D 4757 (2002) sendo utilizadas
amostras cilíndricas com dimensões 2:1, de
forma análoga às dimensões utilizadas em
corpos de prova de solos (diâmetro de 50 mm e
altura de 100 mm). As amostras de EPS foram
fornecidas por empresa nacional em três
diferentes massas específicas (10, 20 e 30
kg/m³).
Para a montagem do ensaio, foi utilizada a
câmara mostrada na Figura 1. Os corpos de
prova foram revestidos com uma membrana (a) (b)
impermeável e posicionados de maneira
adequada na câmara de ensaio triaxial, utilizou-
se pedras porosas para drenar o ar contido nos
vazios dos corpos de prova durante a fase de
adensamento. A Figura 2 (a, b, c e d) ilustra o
processo de montagem do ensaio triaxial.
(c) (d)
3 RESULTADOS
57
400 300
350
250
300
200
250
200 150
150
100
100
50
50
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30
Figura 4. Resultado da fase de ruptura do EPS de 10 Figura 7. Resultado da fase de ruptura do EPS de 20
kg/m³. kg/m³.
45 30
40
25
35
30 20
25
15
20
15 10
10
5
5
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30
Figura 5. Variação dos volumes na fase de ruptura do Figura 8. Variação dos volumes na fase de ruptura do
EPS de 10 kg/m³. EPS de 20 kg/m³.
198 197
197 196
196
195
195
194 194
193 193
192
192
191
190 191
189 190
0 500 1000 1500 2000 2500 0 500 1000 1500 2000
Figura 6. Resultado da fase de adensamento do EPS de Figura 9. Resultado da fase de adensamento do EPS de
20 kg/m³. 30 kg/m³.
58
250 esse fenômeno para tensões confinantes de 30 e
200
40 kPa. Nos demais corpos de prova, nota-se
uma inclinação inferior nas curvas de
150
deformação volumétrica, isso ocorre devido à
100 instabilidade lateral observada nos ensaios.
50 Observando as Figuras 12 a 14, fica claro
0
que para as tensões aplicadas, os corpos de
0 5 10 15 20 25 30 prova de 10 kg/m³ apresentam deformações
volumétricas superiores quando comparados a
20 kPa 30 kPa 40 kpa
densidades mais elevadas (20 e 30 kg/m³) para
uma mesma deformação axial (%).
Figura 10. Resultado da fase de ruptura do EPS de 30
kg/m³. 35
30
25 25
20
20
15
15 10
10 5
0
5 0 5 10 15 20 25 30 35
0
10 kg/m³ 20 kg/m³ 30 kg/m³
0 5 10 15 20 25 30
30
4 DISCUSSÃO
20
59
Com esses resultados foi possível obter as solicitação triaxial é necessário para uma
envoltórias de resistência ao cisalhamento melhor interpretação de suas propriedades,
triaxial a partir dos valores de pico de tensão. mesmo sabendo que durante sua vida útil os
Os valores de coesão e ângulo de atrito blocos de EPS são solicitados por tensões de
fornecidos pelas envoltórias encontram-se na confinamento de pequena magnitude. Os
Tabela 1. resultados obtidos em sua pesquisa mostram
que nas curvas tensão versus deformação a
Tabela 1. Valores de coesão e ângulo de atrito para cada inclinação é de aproximadamente 45°,
uma das densidades estudadas. concluindo que praticamente toda a deformação
Densidade Coesão Ângulo de atrito
(kg/m³) (kPa) (Ø')
volumétrica é fruto da deformação axial.
10 89,3 39,0
Com relação às curvas variação volumétrica
versus tempo, na fase de adensamento, e as
20 91,0 44,5
curvas tensão versus deformação na fase de
30 240,5 -
ruptura, pode-se concluir que o material não
recebe benefícios significativos pelo efeito do
Nota-se que as amostras avaliadas
confinamento. Observa-se em alguns casos,
apresentam valores elevados de coesão e esses
como na amostra de 30 kg/m³, que mesmo
resultados estão de acordo com os valores
aumentando o valor da tensão confinante não há
obtidos por Avesani Neto (2008). É possível
um acréscimo da resistência do material, nem
verificar que os resultados obtidos nesta
do volume adensado na fase de consolidação,
pesquisa indicam uma envoltória do tipo não
isso mostrou que o material é puramente
drenada (quase horizontal) com elevado valor
coesivo. Além disso, o confinamento pouco
de coesão. Nesses ensaios ficou caracterizada
influenciou na resistência das amostras de EPS,
uma tendência de comportamento: à medida em
sendo, todavia, necessário estudar as situações
que se aumenta a densidade, aumenta-se o
de campo nas quais o material é utilizado, para
intercepto coesivo com consequente diminuição
uma melhor interpretação de suas propriedades
do atrito.
(AVESANI NETO, 2008).
Cabe ressaltar que os ensaios triaxiais não
são de fácil execução para o EPS. Nessa
pesquisa, houve problemas na execução dos
5 CONCLUSÃO
ensaios, em particular com a tensão de
confinamento de 20 kPa. Além disso, os ensaios
Os resultados de ensaios triaxiais mostram que:
realizados com a maior densidade (30 kg/m³)
Na fase de ruptura do EPS, as curvas
apresentaram valores inconsistentes para a
apresentam um trecho elástico até uma
menor tensão de confinamento (20 kPa). Dessa
deformação em torno de 2%,
forma, os resultados aqui apresentados não
principalmente na maior densidade, após
levam em conta esse valor de confinamento.
essa fase ocorre uma plastificação com um
Ademais, a pesquisa realizada por Avesani Neto
ganho de resistência por endurecimento em
(2008) também apresentou dificuldades na
deformações de até 10%, a patir da qual o
execução dos ensaios triaxiais, parecendo haver
material começa a perder resistência devido
um comportamento não homogêneo do material
à instabilidade lateral;
quando submetido a tensões elevadas de
confinamento. Outro fator a ser considerado é a O confinamento pouco influenciou na
reologia do polímero que pode apresentar resistência das densidades avaliadas e,
variações em seu comportamento quando Os resultados obtidos nesta pesquisa indicam
solicitado a diferentes níveis de tensão. Como uma envoltória do tipo não drenada (quase
os corpos de prova foram fornecidos já no horizontal) caracterizando uma tendência
formato dos ensaios, não é possível afirmar se de comportamento: quanto maior a
todos possuem as mesmas condições de densidade, maior a coesão e menor o fator
moldagem. atritivo.
Avesani Neto (2008) afirma que estudar o
comportamento do EPS quando submetido a
60
AGRADECIMENTOS Characteristics of Interlocked EPS-Block Geofoam.
Journal of Materials in Civil Engineering.
https://doi.org/10.1061/(ASCE)MT.1943-
Os autores agradecem à Fundação de amparo e 5533.0001418
à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) Stark, T.D., Bartlett, S.F., Arellano, D. (2012). Expanded
pelo apoio financeiro obtido para a realização Polystyrene (EPS) Geofoam Applications and
da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da Technical Data. The EPS Industry Alliance, 1298
Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP e Cronson Blvd., Suite 201, Crofton, MD 21114, p. 36.
Sun, L., Hopkins, T.C., Beckham, T.L. (2009). Reduction
à empresa Termotécnica pelo fornecimento do of Stresses on Buried Rigid Highway Structures
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03
Özer, A. T., & Akay, O. (2016). Interface Shear Strength
61
62
Geossintéticos em Filtração e Drenagem
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Na era do antropoceno, emerge uma crescente preocupação ligada a questões ambientais,
sendo uma destas os impactos associados à disposição final dos resíduos gerados em Estações de
Tratamento de Água (ETA). O artigo avalia a eficácia dos sistemas fechados de geotêxteis, também
designados como sistemas de confinamento de resíduos (SCRs), em relação aos leitos de drenagem,
ambos considerados sistemas viáveis na disposição dos resíduos gerados em ETA. Nos ensaios
realizados, tanto nos protótipos de SCR como de leito de drenagem foi utilizado como resíduo
somente lodo de ETA condicionado químicamente. Para escolha foram empregados cinco distintos
condicionantes poliméricos, sendo quatro catiônicos e um aniônico. Esta foi realizada por meio de
ensaio de cone, no qual se avaliou a concentração e preliminarmente a dosagem a ser empregada. Os
protótipos e suas réplicas receberam quatro recargas de 10 L de lodo a cada trinta minutos e
posteriormente ficaram expostos às intempéries por 420 horas. Durante o experimento, manteve-se
como premissa as mesmas condições de contorno, com a fixação das variáveis controláveis e
ponderação das variáveis respostas das campanhas experimentais: volume percolado e sua turbidez,
bem como eficácia de tempo do processo de deguamento/desecagem do lodo. Os resultados foram
promissores. Inicialmente, ambos os sistemas apresentaram valores similares de turbidez e volume
de percolado; entretanto, quando expostos em campo devido à ação das intémperies, principalmente
precipitação, no final das 420 horas o teor de sólidos que inicialmente era de 7,4% passou para 66,4%
no SCR e 32,4% no leito de desaguamento.
ABSTRACT: In the anthropocen era, a growing concern about environmental issues emerges; one of
these is impacts associated with the final disposal of waste generated in Water Treatment Plants
(WTP). The article evaluates the effectiveness of geotextile closed systems, also referred to as waste
containment systems (WCS) in relation to drainage beds, both considered systems usually used in the
disposal of wastes generated in WTP. In the tests carried out, both the SCR prototype and the drainage
bed were used as waste only chemically conditioned WTP sludge. The choice of five different
polymeric conditioning agents, four cationic and one anionic, was performed by means of a cone test,
65
in which the concentration and preliminary determination of the dosage to be used were evaluated.
The prototypes and their replicates received four refills of 10 L of sludge every thirty minutes and
were then exposed to the weathering for 420 hours. During the experiment, the same boundary
conditions were maintained, with the fixation of controllable variables and weighting of the variables
responses of the experimental campaigns: percolated volume and turbidity, as well as time efficiency
of sludge dewatering/desiccation process. The results were promising. At the begin, both systems
presented similar values of turbidity and volume of percolated; however, when exposed in the field,
due to weathering, mainly precipitation, at the end of 420 hours the solids content was initially of
7.4% to 66.4% in the WSC and 32.4% in the drainage bed.
1 INTRODUÇÃO drenada.
Paralelamente, um novo método de redução
Devido ao grande volume de resíduos gerados no do volume de resíduos de ETA, com primeiros
processo de potabilização da água e suas graves registros literários datando da década de 90
consequências ao meio ambiente, estudos sobre (Lawson, 2008), foram os sistemas de
seu adequado tratamento e disposição têm se confinamento de resíduos (SCR’s) para
tornado cada vez mais relevantes. Normalmente, desaguamento/dessecagem e confinamento
em uma Estação de Tratamento de Água (ETA), destes resíduos. Os geossintéticos usados para o
estes têm origem nos decantadores e na lavagem desaguamento de resíduos finos geralmente são
dos filtros (Reali et al., 1999). os geotêxteis tecidos, não tecidos e os
Inúmeras são as maneiras de reduzir o volume geocompostos. Estes materiais devem possuir
dos resíduos gerados em ETA’s, diminuindo bom desempenho de filtração, tendo capacidade
assim os riscos ambientais e de contaminação de reter sólidos e ao mesmo tempo permitir o
quando dispostos (Fontana & Cordeiro, 2005), escoamento de fluidos (Guimarães & Urashima,
tais como a utilização de centrífugas, filtros à 2013).
vácuo, prensas, remoção da água em leitos de Os sistemas de confinamento de resíduos
drenagem/secagem ou ainda sistemas fechados (SCR’s) de geotêxteis são recipientes flexíveis
de geossintéticos, também designados de com capacidade de reter materiais saturados. São
sistemas de confinamento de resíduos (SCRs) confeccionados costurando-se um ou mais
(Urashima et al., 2018; Fontana, 2005; Cordeiro, geotêxteis. De acordo com suas dimensões,
2003). segundo GRI-GT15 (2009), recebem
A escolha do método deve levar em designações diferentes: bolsas, contêineres ou
consideração a área disponível para implantação tubos. Apresentam como destaques a vantagem
do mesmo, o custo, as condições climáticas, os de poderem ser moldados conforme o espaço
recursos humanos, entre outros (Reali et al., disponível e poderem, inclusive, ser empilhados,
1999). facilidade de montagem, baixo custo se
Cordeiro (2003) realizou diversos estudos comparado com as técnicas supracitadas e
pilotos modificando a constituição dos leitos de independência das condições meteorológicas do
drenagem tradicionais, empregando geotêxteis local (Koerner & Koerner, 2006; Muthukumaran
não tecido. No primeiro estágio, diretamente & Ilamparuthi, 2006; Mendes et al., 2001).
sobre a camada filtrante de areia e Dentro deste contexto, o artigo apresenta a
posteriormente, substituindo a camada filtrante avaliação do emprego de protótipos tanto de
pelo geotêxtil não tecido, sendo estes colocados SCR de geotêxteis como de leitos de drenagem,
logo acima da camada de brita. Os resultados da conforme proposta similar apresentada por
última combinação foram muito promissores, Cordeiro (2003), ou seja, substituindo a camada
não só em relação ao tempo de drenagem, mas filtrante por geotêxtil tecido.
também em relação às características da porção
66
2 MATERIAIS E MÉTODOS polímeros catiônicos e um aniônico para
determinar qual apresentaria melhor eficiência na
2.1 Materiais utilizados polimerização do lodo. As especificações dos
polímeros empregados para o condicionamento
Para a realização da pesquisa, utilizou-se lodo dos químico do lodo são apresentadas na Tabela 2.
decantadores da ETA Modular da Universidade
Tabela 2. Especificações dos polímeros empregados na
Federal de Lavras (UFLA) (Figura
pesquisa.
1) coletado no início do segundo semestre de
Referência comercial Classificação
2018.
CH-492 Catiônico
CH-494 Catiônico
CH-496 Catiônico
CH-498 Catiônico
A-150 Aniônico
67
Assim sendo, o lodo coletado apresentava
teor de sólidos elevado se comparado com os
valores encontrados na literatura conforme
ilustra a Figura 4.
68
Além da turbidez do percolado medida com
a utilização de turbidímetro (Figura 9).
69
Para a finalização do protótipo, construiu-se um foram monitorados para avaliar a influência destes
suporte de madeira para encaixe do protótipo e do ao longo do período de exposição nos protótipos
recipiente para coleta do percolado (Figura 13). pesquisados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
C D VP T
P
(%) (mL/L) (mL) (NTU)
20 150,00 950,00
C494 0,20
30 - -
Figura 13. Protótipo do leito de drenagem sobre o suporte e 20 395,00 96,00
C498 0,20
recipiente para coleta de percolado. 30 410,00 63,85
20 110,00 *NA
Durante a realização dos procedimentos foi C492 0,20
30 - -
possível observar que quanto maior o teor de 20 280,00 344,00
sólidos no resíduo, maior a dosagem do C496 0,20
30 415,00 318,50
condicionante químico, situação similar a que foi 20 220,00 *NA
reportada por outros autores em relação ao sulfato A150 0,20
30 - -
de alumínio empregado na etapa de floculação da Onde:
água bruta para posteriores etapas de potabilização P: Polímero, C: Concentração, D: Dosagem,
da água em ETA’s convencionais (Caliari et al., VP: Volume percolado médio, T: Turbidez.
2008; Guanaes, 2009).
*NA: Não foi possível aferir, valor maior do que o possível de leitura
Embora a amostra de lodo empregada na do equipamento.
pesquisa fosse única, houve um intervalo de tempo
entre a realização dos ensaios de cone e os ensaios Os polímeros C494, C492 e A150 não presentam
de desaguamento. Neste contexto, verificou-se que resultados para a dosagem de 30 mL/L, visto que
houve um aumento no teor de sólidos em relação para a dosagem 20 mL/L os valores obtidos estavam
ao período em que foram realizados os ensaios de distantes do esperado. Assim sendo, esta condição
cone preliminares. Para análise do foi desconsiderada para estes polímeros.
condicionamento para esta nova situação, Pode-se observar que o polímero mais adequado
realizou-se a polimerização do lodo com o para a floculação do lodo da ETA da UFLA foi o
polímero C498 em diferentes dosagens para C498 na dosagem de 20 mL/L, já que os valores
amostras diluídas (diferentes teores de sólidos). para a dosagem de 30 mL/L não apresentaram
O desaguamento iniciou no dia 21 de dezembro variação significativa em termos de custo benefício.
de 2018, com réplicas de cada protótipo, sendo A Figura 14 apresenta a curva teor de sólidos (%)
realizadas neste dia quatro recargas de 10L cada, obtidos pela diluição do lodo versus dosagens
com o intervalo de 30 minutos entre elas em cada poliméricas (mL/L). Como o teor de sólidos inicial
protótipo. Utilizou- se uma amostra única de lodo do lodo no período de realização dos ensaios de
para as recargas em todos os protótipos. Após a desaguamento foi de 7,4%, a dosagem do
finalização dos desaguamentos, os protótipos condicionante C498 com concentração de 0,2% foi
foram expostos às intempéries durante 420 horas de 60 mL/L de lodo.
em campo. A Tabela 4 apresenta os valores de volume
Posteriormente, amostras do lodo foram percolado e turbidez para cada recarga realizada nos
coletadas e o teor de sólidos e de umidade protótipos de SCR e leito de drenagem.
medidos. Durante o período de exposição, os
dados meteorológicos (precipitação e temperatura)
REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.
70
formado). Assim, a Tabela 6 apresenta os valores
de teor de sólidos e teor de umidade obtidos após
420 horas de exposição dos protótipos às
intempéries. As Figuras 15 e 16 ilustram o lodo nos
protótipos de leito de drenagem e SCR,
respectivamente.
71
drenagem e de sistemas de confinamento de Como fazer experimentos. Editora da UNICAMP,
resíduos (SCRs) de geotêxteis. Verificou-se que Campinas, São Paulo.
Caliari, P.C., Araújo, W.F. & Vieira, D.P. (2008).
durante as recargas os dois sistemas Influência de parâmetros físicos na dosagem de sulfato
apresentaram comportamento similares, de alumínio para a clarificação da água e proposição
entretanto o SCR apresenta maior eficiência de modelos de estimativa. 48º Congresso Brasileiro de
quando expostos às intempéries climáticas, visto Química. Rio de Janeiro, RJ.
que não permite a entrada de água no sistema, Cordeiro, J.S. (2003). Rejeitos em estações de tratamento
de água – O estado da arte no Brasil. IV Congresso
ficando menos vunerável à dinâmica Nacional Punta Del Este: Sección Uruguay, AIDIS.
atmosférica. Também, apresentam capacidade Punta Del Este, UY.
de absorver maiores volumes em menor área em Fontana, A.O. (2005). Sistema de drenagem e
relação aos leitos de drenagens. sedimentador como solução para redução de volume
Além disso, constatou-se que quanto maior o de lodo de decantador e reuso de água de lavagem de
filtros: estudo de caso. Dissertação de Mestrado,
teor de sólidos do lodo produzido em ETA, Universidade Federal de São Carlos, 161 p.
maior a dosagem para sua adequada Fontana, A.O. & Cordeiro, J.S. (2005). Gestão Integrada
polimerização. Neste contexto, sugere-se a como Busca de Solução para Rejeitos de ETA’s – O
continuidade do estudo com relação ao teor de Caso de Cardoso – SP. 23º Congresso Brasileiro de
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No caso do emprego de SCR, é possível Guanaes, E.A. (2009). Análise Laboratorial do
inferior sobre a conveniência de se misturar a Desaguamento do Lodo Residual de Estação de
água de lavagem dos filtros com o lodo do Tratamento de Água por Meio de Geossintéticos,
decantador, de forma a diluir este e trabalhar-se Dissertação (Mestrado) – Centro Federal de Educação
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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Matheus Müller
Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, São José dos Campos, Brasil, mrlmuller@gmail.com
ABSTRACT: The dewatering of waste in geotextile tubular systems consists of confining sediments
within a closed casing manufactured with geotextiles, which allows the liquid phase to flow through
its porous structure while retaining the particulate material. This technology is on the rise in several
segments such as mining, water and waste management, industrial sector, contaminated soil
treatment, and dredging. The design of these systems requires one to verify its upcoming
performance, notably regarding the estimation of the time of dewatering and the consolidation of the
confined sediments. However, the boundary conditions of such system are rather unique in a way that
established consolidation theories, including those based in finite, nonlinear strains, may not be
strictly adequate on describing the problem. Some authors, such as Leshchinsky et al. (1996), Miki
et al. (1996), Lawson (2008), and Khachan and Bhatia (2017), have addressed the issue regarding the
consolidation and settlement estimation of geotextile confining systems, but their approaches only
provide approximations, solely applicable in simple design conditions. Hence, this work discusses
the limitations of the approaches normally applied for the estimation of the settlements of the retained
73
material, and the applicability of some existing consolidation theories, especially when considering
the processes of refilling, frequently adopted in such technique.
74
desaguamento de sedimentos e lodos, sistema fechado (considerando a definição
contaminados ou não, cujo lançamento em mecânica e não da termodinâmica), o que lhe
lagoas ou a manutenção em contato com o meio confere um maior potencial de segurança
ambiente podem causar problemas. ambiental, evitando os riscos de tranbordamento
Estas aplicações atendem a necessidades e ruptura presentes nas lagoas de disposição e
ambientais específicas, permitindo dispor de secagem e o carreamento de partículas
modo seguro e rápido, grandes volumes de poluidoras para os corpos d’água (ou por eles
sedimentos, protegendo o meio ambiente. Os quando da disposição em seu leito ou margem).
tubos que recebem estes sedimentos podem ter Contudo, um fenômeno que pode afetar a
uso temporário – até que o desaguamento tenha eficiência do processo de desaguamento é a
ocorrido e o material retido possa ser retirado e formação de filter cake, camada que se forma na
transportado para outro local – ou permanente, interface do geotêxtil com o material que está
tornando-se parte de uma estrutura reforçada sendo desaguado. Estritamente falando, o filter
capaz não apenas de conter os sedimentos, mas cake é um fenômeno benéfico que atua
também eventuais contaminantes. Exemplo de aumentando a eficiência de filtração (formação
aplicação unindo a proteção ambiental e de pré-filtro). Contudo, quando oblitera um
capacidade de carga do sistema, a obra da número significativo de poros do tecido e
expansão do Porto de Santos compreendeu o dificulta a passagem da fase líquida através da
emprego desta técnica para conter sedimentos malha, pode implicar num processo de bloqueio
contaminados do leito marinho escavado, onde ou colmatação física ou biológica do geotêxtil,
os tubos foram superpostos e serviram de base que retarda a saída do efluente. Este processo
para a área de estocagem de containers. Destaca- tende a ser mais pronunciado quando o
se ainda o evidente interesse na mitigação de sedimento é composto por particulado fino
problemas ambientais severos como, por (argiloso) ou quando o material a desaguar
exemplo, o desastre causado pela ruptura da contém coliformes fecais e agentes patogênicos
barragem de Fundão da Mineradora Samarco em em geral que tendem a aumentar a colmatação
2015. biológica.
Os tubos geotêxteis para desaguamento O processo de enchimento dos tubos pode ser
podem ser confeccionados conforme a realizado por meio de bombeamento único ou
quantidade de material a ser contido e a cíclico para maior aproveitamento do volume
disponibilidade de espaço físico para sua útil dos tubos, dependendo das características de
acomodação. São dimensionados para resistir às consolidação do resíduo a ser desaguado, como
pressões de injeção e podem ser preenchidos é ilustrado na Figura 1.
com qualquer material capaz de ser transportado
hidraulicamente.
Outro aspecto que pode ser destacado como
uma das vantagens da solução é a possibilidade
de tratamento dos sedimentos no interior dos
tubos por meio da incorporação de aditivos
químicos, o que é de particular interesse para o
uso em materiais contaminados ou que
requeiram desinfecção, abatendo o seu potencial
poluidor. Ainda podem ser empregados
floculantes poliméricos que podem tanto auxiliar
a captura das substâncias contaminantes, quanto
Figura 1. Processo de enchimento cíclico (Martins 2006,
aprimorar a eficiência de filtração (melhor adaptado de Lawson 2006)
retenção da fase sólida devido à formação de
grumos). A disposição dos tubos geotêxteis deve ser
Devido a característica hidrofóbica do feita sobre uma plataforma com boa capacidade
geotêxtil, a penetração de água no interior do de suporte e nivelada, eventualmente
sistema é considerada desprezível. Ademais, a acondicionados em tanques de contenção ou
possibilidade de controlar a qualidade do sobre plataforma de proteção de base,
efluente permite classificar esta técnica como um dependendo das características dos efluentes e da
75
sua necessidade de tratamento após o O objetivo deste trabalho é discutir algumas
desaguamento. Cumpre ressaltar que em caso de das teorias que vem sendo avaliadas e algumas
obras de infra-estrutura os próprios tubos podem das propostas atualmente empregadas na
integrar a própria estrutura em construção devido estimativa dos recalques em sedimentos
a capacidade de suporte que pode ser obtida ao confinados em sistemas fechados em geotêxtil,
fim do processo de desaguamento e consolidação buscando apresentar o estado da arte, avanços
do material granular retido. recentes e desafios para o futuro.
Também para que haja a otimização de
espaço nas áreas de disposição dos tubos para o
desaguamento, os elementos podem ser 2 O DESAGUAMENTO EM SISTEMAS
superpostos sendo o empilhamento piramidal o TUBULARES EM GEOTÊXTIL
modo mais simples para manter a estabilidade do
sistema, porém outras configurações podem ser Um sistema de confinamento em geotêxtil para
compostas, conforme demonstra a Figura 2. desague de lodos e sedimentos é constituído por
Martins (2006) ainda destaca que, como a maior faixas de geotêxtil costuradas entre si formando
parte das propostas para tubo foram um tubo ou bolsa. Este sistema é então
desenvolvidas para a aplicação em diques, a hidraulicamente preenchido com o material a
topografia da área irá condicionar a escolha do desaguar, proporcionando num primeiro
modo de superposição. momento um deságue mecânico por filtração
forçada e, num segundo momento, o deságue
natural por drenagem e evaporação (Castro
2005; Koerner 2005; Müller 2018; Pilarczyk
2000).
O dimensionamento de sistemas de
desaguamento através de tubos geotêxteis passa
pela determinação e verificação de uma série de
atributos que vão desde o estabelecimento de
simples parâmetros geométricos (como o
comprimento e diâmetro dos tubos) até a
definição das características hidráulicas e
mecânicas do geotêxtil que irão ditar o
Figura 2. Tipos de empilhamento de tubos geotêxil comportamento do sistema mediante
(Martins 2006, adaptado de Kim 2003)
determinado uso, e características do sedimento
a desaguar (peso específico, características
Nos casos de desaguamento natural ou misto,
granulométricas e químicas do sedimento,
é importante conhecer o comportamento do
características de enchimento, uso de floculante,
material retido durante as fases de sedimentação
condições de suporte de base e exposição, dentre
e consolidação. A estimativa dos recalques e da
outros).
capacidade de suporte tem grande importância
O projeto de sistemas confinantes em
na tomada de decisões sobre este tipo de
geotêxtil requer ainda a verificação da previsão
disposição. Isto é particularmente significativo
do desempenho do sistema, notadamente no que
no caso do desaguamento em sistemas de
concerne a estimativa do tempo de
confinamento em geotêxtil, em especial quando
desaguamento e do processo de adensamento dos
ocorre reenchimento, uso de floculantes ou
sedimentos acondicionados.
superposição dos tubos.
A análise da movimentação das partículas
Considerando a complexidade dos fenômenos
durante o desaguamento de sedimentos com
envolvidos, o problema da estimativa de
elevado teor de umidade envolve duas fases:
recalques dos sedimentos e lodos retidos nestes
uma fase de sedimentação e uma fase de
sistemas de confinamento tem sido discutido por
consolidação propriamente dita. Na fase de
diversos autores em abordagens que vão de
sedimentação as partículas estão em suspensão e
análises bastante simplistas até a busca da
se movimentam em função das forças de
aplicação de teorias mais complexas de
gravidade e de fluxo, num meio cuja
adensamento sob peso próprio e com grandes
concentração de partículas é suficientemente
deformações.
76
baixa para que as forças inter-partículas não de umidade inicial do material a desaguar e wf o
sejam significativas. A medida que a teor de umidade final do material desaguado.
concentração aumenta, os contatos inter- O teor de umidade final pode ser estimado a
partículas passam a ocorrer e levam a segunda partir de ensaios de laboratório. Diversos tipos
fase, a de adensamento. de ensaio costumam ser realizados para estudar
Sanchez e Grovel (1993) propõe um modelo a eficiência do sistema, tais como ensaios de
multicamadas de isoconcentração para cálculo coluna, com e sem pressão, e ensaios de bolsa de
da variação da concentração numa situação de pequeno e médio porte, estes últimos, objeto de
lagoa de sedimentação com fundo impermeável. normas ASTM (Müller 2018, p.ex).
Estes autores citam o trabalho de Carrier et al. Já o método proposto por Miki et al. (1996)
(1983) que após análise de processos de consiste em um procedimento de cálculo de
desaguamento para vários tipos de solos, propõe deformação pela aplicação de sobrecarga, que é
considerar que a passagem entre uma fase e outra função de algumas propriedades como o módulo
ocorre para um teor de umidade equivalente a 7 elástico, a coesão e a poropressão, considerando
vezes o limite de liquidez do solo. o caso específico em que a fase sólida do
No caso de sistemas de desaguamento material a ser desaguado seja constituída apenas
confinados em geotêxtil, além da drenagem ser por particulado fino. Contudo, conforme já
possível ao longo de toda a superfície do destacado por Cantré (2002), nenhum destes
elemento confinante, a pressão de enchimento modelos considera ciclos de reenchimento, usual
acelera o processo de saída do efluente. Nestes neste tipo de solução tecnológica.
sistemas, o geotêxtil de filtração e contenção do Em 2008 Lawson propõe estimar o teor de
sedimento deve ser o mais permeável possível sólidos no tempo TSt a partir da variação
para permitir que o efluente percole com volumétrica no tempo, DVt, do volume inicial,
facilidade. Como ele precisa também reter o Vo, do teor de sólidos inicial, TSo, e do peso
material particulado, a sua capacidade de específico dos sólidos, Gs:
retenção também precisa ser avaliada e o
dimensionamento vai escolher o produto que ,*>?< ,*>?C ,*>?C ,
permite obter as maiores eficiências de filtração ΔV< = Vo × ( @A<
− @AD
)/( @AD
+ .') (2)
e de desaguamento.
Em um trabalho recente, Khachan e Bhatia
(2017) propuseram prever o abatimento da fase
3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO sólida retida, com base em ensaio de laboratório
DAS METODOLOGIAS DE ESTIMATIVA em centrífuga de pequena dimensão, que visa
DE RECALQUE avaliar as respostas do material que se deseja
desaguar quando submetido a diferentes níveis
Dentre as escassas metodologias devotadas à de pressão, simulando assim o preenchimento de
previsão de recalques em sistemas de um tubo geotêxtil e avaliando o teor de sólidos
confinamento em geotêxtil para desague de máximo que o material pode alcançar bem como
lodos e sedimentos destacam-se as propostas a mudança de volume do material depositado
apresentadas por Leshchinsky et al. (1996) e que ocorre neste processo. A Figura 2 mostra
Miki et al. (1996). resultados deste tipo de ensaio para um resíduo
Especificamente, o método proposto por com 33% de sólidos. Neles a pressão e o tempo
Leshchinsky et al. (1996) considera que o podem ser considerados, a partir da formulação
decréscimo da altura durante o desaguamento é apresentada no trabalho, sendo a altura estimada
causado meramente pela redução de volume por:
promovida por um movimento vertical,
desprezando movimentos laterais: MHN >?CH
HHI = (Q/A) × LODNP × L@ADNP (3)
) ( *(+
Δ" = H × G' × ,-( (1) sendo Q a pressão de bombeamento, A a área da
) ×./
sessão longitudinal, Hfc e Hoc a altura de sólidos
sendo Δh o abatimento na altura inicial, H a altura no ensaio de centrífuga final e inicial, e TSof e
inicial, Gs o peso específico dos sólidos, wo o teor TSoc o teor de sólidos inicial no campo e na
centrífuga, respectivamente.
77
período de tempo mais longo, o sistema com
menor número de ciclos de enchimento alcança
teores de sólidos mais elevados, devido a maior
facilidade de saída da água pela espessura de
material contido.
A Figura 3 ilustra um outro aspecto que a
previsão de altura deve considerar no
desaguamento de finos – o surgimento de trincas
de retração. É interessante lembrar que o autor
0,1kPa 2,1 kPa 8,5 kPa 18,1 kPa 35,2 kPa
verificou que após 12 dias, a bolsa que recebeu
dois enchimentos tinha um teor de sólidos 45%
Figura 2. Exemplo de resultado de ensaio em centrífuga
de pequeno porte (KHACHAN E BHATIA 2017) maior que o teor de sólidos da bolsa com apenas
um enchimento, enquanto que após 28 dias a
Os resultados obtidos pelos autores quando bolsa com 2 enchimentos tinha um teor de
comparados a ensaios de coluna sob pressão sólidos 30% inferior que o teor de sólidos da
mostram valores praticamente idênticos para bolsa com um enchimento.
areias puras e previsão de volumes um pouco
menores pela centrífuga para resíduos finos.
Na comparação com resultados de campo, os
autores observam que para a previsão pela
equação 1 ficou bastante distante da altura
medida (erro entre 30% para o material arenoso
e 60% para o material fino), enquanto que a
1 ench. 12 dias 1 ench. 28 dias
previsão por centrífuga ou ensaio sob pressão
teve erro inferior a 5%, demonstrando o interesse
em utilizar um ensaio mais simples para a
estimativa do comportamento.
Müller (2018) realiza comparativo quanto ao
abatimento de altura devido ao deságue em
ensaios de campo em bolsas de 1,25x2,50 m em 2 ench. 12 dias 2 enchim. 28 dias
planta, com preenchimento em um e dois ciclos Figura 3. Condição dos sistemas nos ensaios de Muller
de um lodo de estação de tratamento de água (2018) quando abertos.
composto de uma areia fina com 10% de
passante na #200 e teor de sólidos inicial de
1,7%. A altura medida após 12 dias do 4 PREVISÃO DO TEMPO DE
preenchimento inicial foi praticamente a prevista ADENSAMENTO: PREMISSAS, VALIDADE
pela equação 1 para a bolsa com enchimento E LIMITAÇÕES TEÓRICAS
único, mas para a bolsa que recebeu dois
enchimentos, o valor previsto foi 30% inferior ao Conforme já discutido, o projeto de sistemas
medido. confinantes em geotêxtil requer análise de
Esta ocorrência pode possuir uma diversidade previsão e desempenho do sistema, em especial
de causas, como a diferença de umidade no que diz respeito a estimativa do tempo de
proporcionada por mais preenchimentos, a desaguamento e dos recalques. E neste sentido a
existência de duas camadas em estados de validade das hipóteses adotadas pelo modelo de
consolidação distintos, espessuras maiores a cálculo empregado é fundamental para que as
saída da água, entre outros. respostas obtidas sejam compatíveis com o
Ressalta-se que devido a pressões internas, problema real estudado.
relacionadas aos ciclos de preenchimento, em Como o processo de consolidação dos
período de tempo mais curto um sistema de sedimentos no interior dos tubos ocorre em
desaguamento em tubo geotêxtil que recebeu condições bastante particulares, as soluções
diversos enchimentos alcança teores de sólidos clássicas de adensamento, como a teoria
mais elevados em relação a um que recebeu unidimensional de Terzaghi (Terzaghi 1925),
menos enchimentos. Observa-se, porém, que em não são aplicáveis à análise deste problema. Isto
78
porque as premissas teóricas assumidas na teoria Além dos métodos mencionados por Azevedo
de Terzaghi se diferem significativamente et al. (1999), deve-se ainda destacar a solução
daquelas que ocorrem no caso de sistemas de apresentada por Gibson et al. (1981), na qual as
desaguamento através de tubos geotêxteis, onde equações que governam o decurso do
o adensamento que ocorre durante o adensamento unidimensional de uma camada de
desaguamento se deve geralmente às forças de argila saturada foram obtidas considerando um
peso próprio, e não à aplicação de sobrecarga. sistema de coordenadas convectivas e
Ainda, como os sedimentos acondicionados nos Lagrangianas com deformações finitas e não-
tubos são materiais que apresentam elevados lineares e a variação dos coeficientes de
índices de vazios, o processo de adensamento permeabilidade e compressibilidade durante a
implica em grandes deformações, de forma que consolidação. A diferença da solução
teorias baseadas em deformações infinitesimais apresentada neste artigo e o trabalho prévio do
são incompatíveis para a descrição do problema. mesmo autor (Gibson et al. 1967) reside no fato
Além disso, deve-se considerar que o processo de que foram empregadas condições mais
de injeção (e eventuais ciclos de reenchimentos) restritivas para a linearização da equação de
geram condições de turbulência, que não são variação do índice de vazios no tempo (que na
capturadas pelos métodos convencionais de verdade obedece a um regime fracamente não
análise do adensamento. linear de uma equação do tipo parabólica).
Também conforme já mencionado, alguns Contudo, a formulação apresentada por
dos autores que abordaram a questão do Gibson et al. (1981) não é apresentada dentro do
adensamento e previsão de recalques em formalismo de tensões e deformações
sistemas confinantes em geotêxteis foram conjugadas usado em formulações de grandes
Leshchinsky et al. (1996), Miki et al. (1996), deformações, que garantem o atendimento de
Lawson (2008) e Khachan e Bhatia (2017), propriedades importantes sobre o trabalho
sendo que as propostas presentadas são capazes específico (por unidade de volume) e, logo, das
de fornecer apenas estimativas aproximadas, leis da termodinâmica. Desta forma trabalhos
aplicáveis somente para demandas simples de futuros devotados à análise do processo de
projeto. adensamento em sistemas tubulares em geotêxtil
Problemas similares vêm sendo defrontados devem ser voltados à adequação da solução de
na concepção de modelos de avaliação e Gibson (1981), o que significa a retificação da
obtenção de parâmetros para o caso do processo formulação matemática incorporando o conceito
de deposição da fase sólida de rejeitos de de relações conjugadas de tensão-deformação,
mineração dispostos sob a forma de lama em trabalho que já vem sendo desenvolvido por
reservatórios. Conforme Azevedo et al. (1999), alguns dos autores deste artigo.
estes entraves vêm sendo superados pelo Insta ressaltar, por fim, a solução para
emprego de teorias de adensamento a grandes adensamento a grandes deformações apresentada
deformações propostas por Mikasa (1963) e no recente trabalho Geng e Yu (2017), que foi
Gibson et. al. (1967), que são soluções de desenvolvida para a análise do problema do
adensamento unidimensionais que consideram adensamento promovido por drenos verticais
forças de peso próprio e não-linearidade física para aceleração de recalques de depósitos de
(relações constitutivas do material) e materiais dragados, que também experimentam
geométricas (grandes deformações), apropriadas grandes deformações durante a consolidação,
para simular problemas desta natureza. assim como os sedimentos desaguados em
Em primeira análise, as soluções de sistemas tubulares em geotêxtil. Com base na
adensamento de Mikasa (1963) e Gibson et al. solução de deformações verticais livres de
(1967) poderiam ser empregadas para a análise Barron (1948) para a Teoria do Adensamento de
do processo de adensamento de sedimentos e Terzaghi-Rendulic e também a teoria
lodos durante o desaguamento em sistemas unidimensional para deformações finitas de
tubulares de geotêxtil, contudo deve-se Gibson, Geng e Yu (2017), apresentam um
considerar já de início que estes modelos não modelo matemático que considera o peso próprio
consideram o aumento incremental de carga que do solo, a variação da condutividade hidráulica e
pode ser causado por novos ciclos de da compressibilidade do solo durante o processo
reenchimento. de adensamento. Entretanto, a solução elaborada
79
por Geng e Yu (2017), apesar de ser Mestrado – ITA, SJCampos.
supostamente baseada no trabalho de Gibson e GENG, X.; YU, H-S (2017) A large-strain radial
Cargil (1981), tampouco parece ter como consolidation theory for soft clays improved by vertical
drains. Geotechnique, 67 (11). pp. 1020-1028.
domínio lagrangiano de análise, o que viola as GIBSON, R.; ENGLAND, G.; HUSSEY, M. (1967) The
premissas fundamentais que descrevem o theory of one-dimensional consolidation of saturated
problema. clays. Geotechnique, v. 17, n. 3, p. 261–273.
GIBSON, R.; KENNET, W.; CARGIL, K, The theory of
one-dimensional consolidation of saturated clays. II
Finite nonlinear consolidation of thick homogeneous
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS layers. Canadian Geotechnical Journal, NRC Research
Press. V. 18, n. 2, p. 280–293, 1981.
Diante da complexidade do problema aqui KHACHAN, M.M., BHATIA, S.K. (2017) The efficacy
discutido, esforços vêm sendo envidados na and use of small centrifuge for evaluating geotextile
busca de se desenvolver modelos para descrever tube dewatering performance. Geotextiles and
Geomembranes, v. 45, p. 280-293.
o problema específico da consolidação em KOERNER, R.M. (2005) Designing with Geosynthetics.
sistemas de desaguamento de tubos geotêxteis, Upper Saddle River, Pearson, 5. Ed. 796 p.
porém as escassas soluções desenvolvidas até o LAWSON, C.R. (2006) Geotextile containment for
momento ainda estão aquém de atenderem as hydraulic and environmental engineering. In. Intern.
demandas práticas de projeto com Conference on Geosynthetics, 8th., Yokohama, p. 9-48.
LAWSON, C.R., (2008). Geotextile containment for
confiabilidade. hydraulic and environmental engineering. Geosynth.
Neste trabalho destacou-se também o efeito Int. 15 (No. 6), 384e427.
dos ciclos de reenchimento no processo de LESHCHINSKY, D.; LESHCHINSKY, O.; LING, H. I.;
consolidação, salientando que os modelos GILBERT, P. A. (1996) Geosynthetic tubes for
atualmente disponíveis para previsão de confining pressurized slurry: some design aspects.
Journal of geotechnical engineering, American Society
recalques fornecem resultados sensivelmente of Civil Engineers, v. 122, n. 8, p. 682–690
mais discrepantes quanto maior o número de MARTINS, P. M. (2006). Utilização de Tubos Geotêxteis
bombeamentos. para o Desaguamento de Rejeitos de Mineração.
Dissertação Mestrado – ITA, SJCampos.
MIKASA, M. (1963). The consolidation of soft clay. a
new theory and its application. In: Japonese Society of
AGRADECIMENTOS Civil Engineering. [S.l.: s.n.], p. 21–26.
MIKI, H.; YAMADA, T.; KOKUBO, H.; TAKAHASHI,
Os autores agradecem a Coordenação de I.; SASAKI, T. (1996) Experimental study on
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior geotextile tube dehydration method of dredged soil. In:
(CAPES) pelo auxílio financeiro concedido na First European Geosynthetic Conference Eurogeo.
1996. v. 1, p. 933–941.
forma de bolsa de pós-doutorado à primeira MÜLLER, M. (2018) Efeito de diferentes configurações
autora (PNPD/Capes – BEX 1758546). no deságue de lodos em sistemas de confinamento de
resíduos em geotêxtil. Dissertação Mestrado – ITA,
SJCampos.
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80
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Este artigo tem como objetivo aprofundar o conhecimento dos geocompostos drenantes,
que consistem em um núcleo polimérico, ao qual está ligado um geotêxtil sobre um ou ambos os
lados. A compreensão do comportamento deste tipo de material pode resultar em um
dimensionamento mais preciso e, consequentemente, uma maior segurança na aplicação e redução de
custos para implementação deste tipo de solução. Com esse objetivo, foi realizado um programa
experimental que contou com a execução de ensaios de laboratório para investigação das
características mecânicas, hidráulicas e de durabilidade do material. Com os parâmetros obtidos, foi
feita uma correlação entre os ensaios de compressão, capacidade de fluxo no plano e fluência. A
maior parte da deformação deste material ocorre nas primeiras horas de utilização. Portanto espera-
se que a fase mais impactante na redução da vazão ocorra antes do primeiro ano e que, para longos
prazos, a diminuição na condução de fluxo fosse pequena. Os valores obtidos para os fatores de
redução quanto à fluência do material, fizeram diferenciação entre gradientes, e sua determinação
considerou a ocorrência do fenômeno para uma tensão específica de 50 kPa. Verificou-se o bom
comportamento do material, considerando que a tensão aplicada no ensaio de fluência é representativa
das condições usuais do produto.
ABSTRACT: This article aims to deepen the knowledge of drainage geocomposites, which consist
of a polymeric core, to which a geotextile is attached on one or both sides. Understanding the behavior
of this type of material can result in a more accurate sizing and consequently greater application safety
and cost reduction for the implementation of this solution. With this objective, an experimental
program was carried out, which included the execution of laboratory tests to investigate the
mechanical, hydraulic and durability characteristics of the material. With the parameters obtained, a
correlation was made between the compression, transmissivity and creep tests. Most deformation of
this material occurs within the first few hours of use. Therefore, it is expected that the most impacting
phase in the reduction of flow occurs before the first year and that, for long periods, the reduction in
the flow conduction would be small. The values obtained for the reduction factors regarding the
material creep differentiated between gradients, and its determination considered the occurrence of
the phenomenon for a specific tension of 50 kPa. The good behavior of the material was verified,
considering that the tension applied in the creep test is representative of the usual conditions of the
product.
81
1 INTRODUÇÃO • Produtos uniformes, contínuos e flexíveis, que
cumprem sua função mesmo quando aplicados
Dentro da Engenharia Civil os Geossintéticos em superfícies irregulares ou descontínuas;
encontram as mais diversas aplicações. O • Redução na espessura dos sistemas drenantes,
aumento na utilização deste tipo de material se em comparação com as soluções convencionais;
deve a fatores como facilidade de instalação e • Facilidade de manuseio, podendo sua
custo competitivo. instalação ser mecanizada, reduzindo
Merecem destaque, na engenharia geotécnica, cronogramas e custos;
as aplicações dos geossintéticos nas funções de • Sobrecargas reduzidas nas estruturas e
drenagem. Reconhecidamente a fonte de grandes fundações das obras civis em função da leveza.
problemas na construção civil, a drenagem exige O presente trabalho surge da necessidade de
atenção especial do projetista. Anterioremente, um estudo mais detalhado sobre o
as drenagens de muros eram executadas com comportamento de geocompostos drenantes, em
fôrmas de madeira, utilizando-se a brita como especial do produto MacDrain 2L©. Para
material drenante, e o geotêxtil como filtro. Por compreender o comportamento do material foi
utilizar agregado como meio drenante, esse realizado um programa experimental que conta
método resulta em um impacto ambiental maior, com a execução de ensaios de laboratório para
além do custo mais elevado. Por esses motivos, investigação das características mecânicas,
tem se tornado cada vez mais frequente o uso de hidráulicas e de durabilidade do material.
geocompostos drenantes com a finalidade de Adicionalmente, são feitas correlações entre os
captação e condução da água presente no solo. A resultados obtidos para realização de
instalação é mais rápida quando comparada ao investigações quanto à capacidade de vazão do
processo anterior e resulta em uma espessura geocomposto em longo prazo.
bem menor de superfície drenante.
O conhecimento e a compreensão do
comportamento de geocompostos drenantes 2 MATERIAIS E MÉTODOS
podem resultar em um dimensionamento mais
acurado e, consequentemente, uma maior O material ensaiado é um geocomposto,
segurança na aplicação e redução de custos para exibido na Figura 1, destinado à drenagem, com
implementação deste tipo de solução. núcleo formado por uma geomanta
Geossintéticos são produtos poliméricos tridimensional termosoldada a dois geotêxteis
(sintéticos ou naturais) industrializados, não-tecidos em todos os pontos de contato.
desenvolvidos para aplicação em obras O geotêxtil não-tecido consiste em uma manta
geotécnicas. Como um componente têxtil fabricada com filamentos sintéticos
extremamente versátil, os geossintéticos dispostos aleatoriamente.
encontram variados fins e são disponibilizados A geomanta é fabricada com filamentos
das mais diversas formas, cada um adequado a espessos de polipropileno, que por processos de
um determinado uso ou necessidade. extrusão e união por entrelaçamento, formam
Este artigo busca aprofundar o conhecimento uma estrutura tridimensional que apresenta cerca
dos geocompostos drenantes, que consistem em de 90% de vazios em sua estrutura.
um núcleo polimérico ao qual está ligado um
geotêxtil sobre um ou ambos os lados. O núcleo
polimérico constitui o meio de transmissão de
líquido principal, enquanto o geotêxtil,
dependendo das condições de contorno, atua
como um filtro.
As principais vantagens da utilização deste
tipo de geossintético são descritas por Vertematti
(2015):
Figura 1 - Amostra do geocomposto drenante.
82
No processo de fabricação, ocorre a
sobreposição do geotêxtil não-tecido com a
geomanta, cuja aderência se dá por meio de
processos térmicos. A geomanta atua como
núcleo drenante, conduzindo o fluido a ser
drenado, enquanto o geotêxtil trabalha como
filtro, impedindo que as partículas de solos sejam
carreadas para o interior da geomanta, o que
pode causar a sua colmatação.
83
Tabela 1 - Resultados dos ensaios de compressão a curto
prazo Fonte: Santos (2017)
Corpo de Espessura Resistência Deformação
Prova (CP) inicial à (%)
(mm) compressão
(kPa)
1 13,99 322 67,84
2 13,26 331 63,92
3 12,44 348 72,10
4 12,95 313 67,82
5 13,3 306 66,04
Média 13,16 324 67,54
Desvio 0,57 16,39 3,01
Padrão
120
trecho inicial. Foi delimitada a seção de interesse 100
através de alterações na escala do gráfico para 80
obter a resistência à compressão de cada corpo 60
de prova (CP). Os resultados dos ensaios para 40
cada corpo de prova estão reunidos na Figura 5. 20
O valor médio de resistência à compressão foi de 0
324 kPa, como mostra a Tabela 1. Para esta 0 10 20 30 40 50 60
tensão, a deformação média foi de 67,54 %. Deformação (%)
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5
10000 Figura 5 - Resultados dos ensaios de compressão a curto
prazo. Fonte: Santos (2017)
8000
Para o cálculo da espessura do corpo de prova
Tensão (kPa)
6000
pós compressão, espessura residual, foi
4000 determinada a tensão correspondente a cada
nível de deformação e calculada a espessura
2000
residual a partir da média de espessura inicial das
0 amostras, que foi de 13,16 mm. Observa-se, na
1 10 100 Figura 6, que a compressão inicial para tensões
Deformação (%) inferiores a 200 kPa ocorre a uma taxa maior
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 enquanto que, para tensões mais elevadas, a taxa
Figura 4 - Resultados dos ensaios de compressão a curto de compressão é menor. Tal efeito pode ser
prazo. Fonte: Santos (2017) explicado pelo confinamento do núcleo e uma
tendência à estabilização da espessura.
84
14
Neste ensaio, o tipo de apoio utilizado foi
12 rígido/rígido. De acordo com os estudos
realizados por Zanziger (2010), este tipo de
Espessura (mm)
85
al. (2008). Esta abordagem começa com a tensões normais equivalentes estimadas pela
determinação da tensão de compressão a curto abordagem variaram entre 90,33 e 96,94 kPa.
prazo, necessária para produzir uma determinada Cabe observar que essa previsão utiliza um
espessura residual originada pelo ensaio de ensaio de fluência cuja tensão confinante é de 50
fluência à compressão (Figura 9). De posse desta kPa. Portanto, deve-se ter em mente que todo o
tensão, verifica-se no ensaio de capacidade de comportamento do material a longo prazo refere-
fluxo no plano a vazão correspondente (Figura se a este nível de carregamento. Deve-se levar
10). em conta, também, a utilização de apoio
rígido/rígido na realização do ensaio de
capacidade de fluxo no plano.
0,3
0,25
0
1 2 5 10 20 50 100
Tempo (anos)
Gradiente 1 Gradiente 0,1 Gradiente 0,01
Figura 11 - Redução da capacidade de vazão ao longo do
tempo. Fonte: Santos (2017)
86
sensibilidade desta redução considerando um ocorrência do fenômeno para uma tensão
período de 100 anos. específica de 50 kPa. A tensão aplicada no ensaio
de fluência representa uma condição de uso
Tabela 2 - Vazão residual devido à fluência para o frequente do material. Os valores dos fatores de
gradiente 1. Fonte: Santos (2017) redução quanto a fluência encontrados constam
Previsão de redução da capacidade de vazão em
longo prazo - Gradiente 1
na Tabela 5.
Vazão inicial à (m³/s)m Vazão
Tabela 5 - Fatores de redução da capacidade de vazão
50 kPa 0,000895 Residual
devido à fluência à tensão de 50 kPa para um período de
1 ano 0,000426 48% 100 anos. Fonte: Santos (2017)
2 anos 0,00042 47%
Fatores de redução devido à deformação por fluência
5 anos 0,00038 42% para uma previsão de 100 anos
10 anos 0,000363 41%
Gradiente 1 0,1 0,01
20 anos 0,000353 39%
50 anos 0,00034 38% Vazão inicial à Fator de Fator de Fator de
100 anos 0,000325 36% 50 kPa redução redução redução
1 ano 2,1 2,29 2,33
Tabela 3 - Vazão residual devido à fluência para o
gradiente 0,1. Fonte: Santos (2017) 2 anos 2,13 2,42 2,42
Previsão de redução da capacidade de vazão em longo 5 anos 2,36 2,69 2,64
prazo - Gradiente 0,1 10 anos 2,47 2,79 2,75
(m³/s)m
Vazão 20 anos 2,54 2,9 2,88
Vazão inicial à 50 Residual
0,000218 50 anos 2,63 3,11 3,03
kPa
1 ano 0,000095 44% 100 anos 2,75 3,25 3,36
2 anos 0,00009 41%
5 anos 0,000081 37%
10 anos 0,000078 36% 4 CONCLUSÃO
20 anos 0,000075 34%
50 anos 0,00007 32%
O presente trabalho teve como objetivo a
100 anos 0,000067 31%
avaliação do desempenho de um geocomposto
Tabela 4 - Vazão residual devido à fluência para o drenante a partir da realização de ensaios de
gradiente 0,01. Fonte: Santos (2017) compressão, capacidade de fluxo no plano e
Previsão de redução da capacidade de vazão em longo fluência à compressão. A pesquisa constou de
prazo - Gradiente 0,01 um programa experimental de laboratório
Vazão inicial (m³/s)m Vazão visando obter as características mecânicas,
à 50 kPa 0,0000605 Residual
hidráulicas e de desempenho do geocomposto
1 ano 0,000026 43%
2 anos 0,000025 41%
drenante em estudo.
5 anos 0,0000229 38% O valor médio de resistência à compressão foi
10 anos 0,000022 36% de 324 kPa, correspondendo a uma deformação
20 anos 0,000021 35% média de 67,54 %. Observou-se, também, que a
50 anos 0,00002 33% compressão ocorreu de maneira mais intensa
100 anos 0,000018 30% para tensões inferiores a 200 kPa. Para tensões
Adicionalmente, pode-se estabelecer fatores de mais elevadas, ocorre o confinamento do núcleo
redução baseados nos resultados das Tabelas 2, e uma tendência à estabilização da espessura do
3 e 4. Observa-se que os fatores encontrados produto.
diferem dos valores orientados por Koerner Nos ensaios de capacidade de fluxo no plano,
(1997) e Vertematti (2015), cujas especificações o acréscimo de tensão impactou de maneira
se referem à geocompostos que utilizam significativa na redução da capacidade de vazão
georredes, embora ainda sejam úteis na do geocomposto, principalmente para tensões
estimativa para outros núcleos. Os resultados inferiores a 50 kPa.
apresentados no presente trabalho fazem A fluência à compressão do geocomposto foi
diferenciação entre gradientes e a estipulação estudada através do ensaio acelerado baseado na
dos fatores de redução por fluência considera a superposição de tempo e temperatura usando o
87
método SIM. A tensão constante aplicada foi de REFERÊNCIAS
50 kPa e a espessura inicial da amostra foi de
12,95 mm. Com as informações obtidas no ASTM D 6364 (1999). Standard Test Method for
ensaio de fluência, pode-se constatar a redução Determining the Short–Term Compression Behavior of
Geosynthetics. West Conshohocken.
de espessura para um período de 100 anos ASTM D 7361 (2012). Standard Test Method for
apresentando deformação de 36,09%. Accelerated Compressive Creep of Geosynthetic
Com os dados obtidos através dos ensaios de Materials Based on Time-Temperature Superposition
fluência à compressão, capacidade de fluxo no Using the Stepped Isothermal Method. West
plano e compressão simples foram feitas Conshohocken.
ASTM D 4716 (2013) – Standard Test Method for
correlações com o objetivo de prever a redução Determining the (In-plane) Flow Rate per Unit Width and
da capacidade de vazão do geocomposto para Hydraulic Transmissivity of a Geosynthetic Using a
longos períodos de tempo. Cabe observar que Constant Head, West Conshohocken.
essa previsão utilizou um ensaio de fluência cuja Koerner, R. M. (1997). Designing with Geosynthetics. 4o.
tensão confinante é de 50 kPa. Portanto, deve-se ed. New Jersey: Prentice Hall. p.761.
Santos, F.S. (2017). Estudo Do Comportamento de
ter em mente que todo o comportamento do Geocompostos Drenantes. Dissertação de Mestrado,
material a longo prazo sofreu influência deste Universidade do Estado do Rio de Janeiro. p.135.
nível de carregamento. Müller, W. W., R. Tatzky-Gerth, e I. Jakob. (2008). Long-
Os resultados mostraram que a redução da Term Water Flow Capacity of Geosynthetic Drains
capacidade de vazão em longo prazo se mostra and Structural Stability of Their Drain Cores.
Geosynthetics International 15(6): pp.437–451.
um pouco mais acentuada para o gradiente 1. Vertematti, C. J. (2015). Manual Brasileiro de
A maior parte da deformação neste material Geossintéticos. 2o. ed. Blucher. São Paulo. p.570.
ocorre nas primeiras horas de utilização, Zanziger, H, S. R Sama, e A. Dobrata. (2010). Method for
portanto era esperado que a fase mais impactante Direct Measurements of the Long-Term Water Flow
na redução da vazão tenha ocorrido antes do Capacity of Drainage Geocomposites under Soft
Bedding Conditions. 9th International Conference on
primeiro ano e que, para longos prazos, a Geosynthetics. pp.1117-1120.
diminuição na condução de fluxo fosse pequena.
Este estudo mostrou o grau de sensibilidade
desta redução e ainda permitiu uma previsão
para o período de 100 anos.
Ainda com os dados obtidos, foram calculados
fatores de redução. Os valores obtidos neste
estudo diferem dos valores orientados como
estimativa por Koerner (1997) e Vertematti
(2015), que variam de 1 a 2. Os resultados aqui
exibidos fizeram diferenciação entre gradientes
e a determinação dos fatores de redução por
fluência considerou a ocorrência do fenômeno
para uma tensão específica de 50 kPa. Verificou-
se o bom comportamento do material
considerando que a tensão aplicada no ensaio de
fluência é representativa das condições usuais do
produto.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à empresa Maccaferri
do Brasil pelo apoio ao projeto de pesquisa, e a
CAPES, pelo auxílio representado pela bolsa de
estudos.
88
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Fernando H. M. Portelinha
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br
RESUMO: Em técnicas compensatórias, tais como os poços de infiltração, o geotêxtil não tecido tem sido
especificado para desempenhar dupla função de filtração e proteção do solo de fundo. No entanto, a sua
aplicação em poços de infiltração tem sido realizada sem qualquer abordagem empírica ou racional em
torno do mecanismo de filtração envolvendo partículas em suspensão. Dentro desse contexto, o objetivo
desse trabalho foi avaliar o efeito da suspensão de partículas de diferentes tamanhos no comportamento
de filtração e colmatação de geotêxteis não tecidos de diferentes aberturas de filtração. Foram realizados
ensaios de filtração com uso de permeâmetros específicos que permitem a passagem e filtração de sólidos
em suspensão, onde foram avaliados a permeabilidade normal ao longo do tempo e o tempo de colmatação
(tc) dos geotêxteis. Esses ensaios foram realizados com geotêxteis não tecidos agulhados de fibras curtas,
de PET (poliéster) e PP (polipropileno) das seguintes gramaturas: 200, 300 e 400 g/m 2 e diferentes
tamanhos de partículas em suspensão (solo natural e finos passados em peneira n° 200). Os resultados dos
ensaios de colmatação com suspensão de água e solo natural mostraram que o geotêxtil de gramatura 400
g/m2 foi o que apresentou melhor desempenho e aplicabilidade para a função de filtro em técnicas
compensatórias, podendo aumentar a vida útil de técnicas compensatórias, pois demoraram mais a
colmatar (em até 80%) que os outros geotêxteis não-tecidos avaliados (200 e 300g/m2), pois há a
formação de um pré-filtro que proporciona o aumento da permeabilidade do sistema de filtração. Os
ensaios com suspensão de água e solo fino (#200), colmataram mais rapidamente, ou seja, nos primeiros
minutos dos ensaios, pois as partículas finas depositaram-se nas matrizes dos filtros de geotêxteis,
entupindo-os rapidamente. Pode-se concluir que para suspensão de partículas finas o geotêxtil de
gramatura 400g/m2 mostrou-se eficiente tanto para filtração de finos como para a manutenção da
permeabilidade mínima do sistema filtrante.
ABSTRACT: In compensatory techniques, such as infiltration wells, nonwoven geotextiles have been
used acting with the dual function of filtration and foundation protection. However, geosynthetics in
infiltration wells have been applied in field without any empirical or rational approach that considers the
filtration mechanisms involving suspension particles. The main objective of this study is to evaluate the
effect of the suspension particles with two different grain size distributions on the filtration behavior of
nonwoven geotextiles applied in infiltration wells. Filtration tests were conducted using of suspension of
solids in water, where normal permeability over time and clogging time (t c) were measured. PET
(polyester) and PP (polypropylene) short fiber and needle punched nonwoven geotextiles with 200, 300
and 400 g/m2 of mass per unit area were assessed in this paper. Suspension solids consisted in a solution
with a local soil and other with material passing through the 200 sieve. Results filtration tests
demonstrated that the geotextile with 400 g/m2 of mass per unit area was found to better perform
increasing the lifetime of infiltration wells in 80% in comparison to nonwoven geotextiles with 200 and
300g/m2 of mass per unit area, since there is a prefiltering emission of a permeability of the filtration
system. The tests with water and fine soil (# 200) suffered clogging in small periods of minutes of the
89
tests, since the fines were deposited in the matrices of geotextile filters. Tests conducted with relatively
large amount of fines, demonstrated the suitability of the geotextile of 400g/m2, increasing the lifetime of
the system.
90
considerado como adequado para descarga pontual Esse artigo visa entender o processo de filtração
comum. Yang et al. (2009), desenvolveu cinco e colmatação de geotêxteis não tecidos de
geotêxteis não tecidos de duas camadas com diferentes aberturas de filtração, submetidos a
diferentes densidades de agulhas para estudar o seu suspensões de partículas de solo local natural e a
desempenho de filtração e observou que a parcela deste solo passada em peneira n° 200
densidade de agulhas tem efeitos óbvios no (#0,074 mm).
desempenho de filtração de geotêxteis não tecidos.
Mulligan et al. (2009) realizou testes de filtração 2. MATERIAL E MÉTODOS
laboratorial com quatro filtros geotêxteis para a
remoção de sólidos suspensos contaminados (SS) 2.1 Ensaios de filtração de sólidos em suspensão
da água superficial, Dos quatro filtros (dois
geotêxteis não tecidos, um tecido geotêxtil e um O sistema de ensaio de filtração foi realizado com
filtro de areia), o filtro não tecido foi o mais eficaz carga variável, conforme Figura 2, contando com
para remoção do total de sólidos suspensos um reservatório de 250 litros (R1), destinado a
(98,9%) e redução de turbidez em 93-98%. homogeneização do solo e armazenamento do
Sales et al., (2008), estudou a colmatação de volume de água utilizado em cada ensaio.
geotêxtil não-tecido agulhado de filamentos
contínuos de poliéster, gramatura 200 g/m2
empregado no fundo de poços de infiltração de
águas pluviais e concluiu que a manta geotêxtil
utilizada no revestimento da camada de brita do
fundo do poço de infiltração apresentou, em geral,
redução de sua permeabilidade, confirmando assim
a ocorrência do processo de colmatação do sistema
de infiltração.
No Brasil tem-se aplicado o uso de geotêxtil
não-tecido em técnicas compensatórias para
manejo de águas pluviais. Como exemplo temos o
sistema F-V-T (associação de filtro, vala,
trincheira) estudado por Lucas et al. (2015) onde o
geotêxtil não- tecido foi instalado na trincheira de
infiltração, para impedir que os finos entrem no
sistema. E o poço de infiltração estudado por
Barbassa et al. (2014), que tem o geotêxtil não- 1-boia
tecido nas paredes internas e externas e na tampa,
2-registro de
instalado para evitar a entrada de material fino no
esfera
sistema.
Em poços de infiltração, o geotêxtil não- tecido
3-mangueira
deve desempenhar dupla função a de filtração e transparente
proteção do solo de fundação onde foi empregado. 4-permeâmetro
O material polimérico deve permitindo a livre 5-sensor de nível
passagem da água acumulada no interior do poço Figura 2. (a) Esquema do sistema de ensaio com carga
bem como as partículas carregadas pelo variável; (b) permeâmetro de carga variável.
escoamento superficial. Ao mesmo tempo, o
geotêxtil deve reter as partículas do solo da parede Utilizou-se uma bomba submersível para que o
do poço para dentro do sistema. Embora existam material não sedimente. O R2 é uma caixa
muitos trabalhos na literatura, há ainda concêntrica para que se evitasse a sedimentação
necessidade de estudos da utilização de filtros das partículas, localizada logo após o R1. A
geotêxteis em técnicas compensatórias, já que entrada do R2 conta com uma boia de descarga,
envolvem mecanismos de filtração diferentes do que controla o escoamento de água.
convencional pela necessidade de retenção de O R2 é conectado ao permeâmetro por uma
sólidos em suspensão. mangueira transparente flexível de 20 mm e uma
derivação, com registro de esfera, para a realização
91
da coleta da água antes de chegar ao permeâmetro. PET (poliéster) e PP (polipropileno), com fibras
O permeâmetro com carga variável (Figura 2 b) foi curtas (Figura 3).
construído em acrílico, com as seguintes
dimensões: câmara superior de altura de 500mm e
diâmetro de 145mm; câmara inferior de 100 de
altura e mesmo diâmetro. A conexão entre as
câmaras possibilita a instalação dos geotêxteis
assentado em tela perfurada. A saída da água da
câmara inferior se faz por uma mangueira, com
registro de esfera para controle de vazão, que
conduz a água até o reservatório R3. No R3 está Figura 3. Amostras de geotêxteis não-tecidos utilizados
instalado um sensor que registra nível de água e o
respectivo tempo, permitindo determinar a Foram medidas a gramatura, espessura,
variação do volume em seu interior a intervalos de permissividade (Ψ), permeabilidade (K) e abertura
tempo, portanto monitorar vazão de saída do de filtração conforme normas ASTM D 4491
sistema de filtração. (1999), ASTM D 3776 (2017), ASTM D 964
(1996), respectivamente. Os resultados são
2.2 Características dos sólidos em suspensão mostrados na Tabela 1.
Os sólidos em suspensão que foram filtrados nos Tabela 1. Caracterização dos geotêxteis não-tecidos.
ensaios, foram coletados na microbacia Gramatura Espessur Ψ (s-1) K (m/s) O95
experimental próximo da técnica compensatória (g/m2) a (mm)
poço de infiltração G-Hidro, no campus da 199 1,48 1,36 0,20 130
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), 328 2,55 1,93 0,49 110
399 3,10 1,62 0,46 80
São Carlos, São Paulo. Eles foram previamente
preparados no Laboratório de Geotecnia, do
campus São Carlos da UFSCar, separando-se o 2.4 Parâmetros avaliados
solo natural e a parcela do solo passado em peneira
n° 200. Eles foram misturados a água que estava A permeabilidade normal foi calculada, conforme
dentro da caixa d’ água com auxílio de uma bomba. ASTM D4491 (1999):
A água utilizada foi proveniente da rede pública. 𝑎 .𝐿 ℎ
O solo natural foi classificado como areia média 𝐾𝑣𝑎𝑟 = 2,303 𝐴 . 𝑡 . log ℎ2 (1)
1
fina, respectivamente: 22% de silte, 38% de areia
fina, 32% de areia média e 8% de areia grossa. Os onde KVAr é a permeabilidade normal do geotêxtil
finos passantes na peneira n° 200 usados para (m/s); 2,303 a constante para conversão de ln em
ensaios de suspensão apresentou 54% de silte. log;“a” a área do R3(m2); L a espessura do
Tanto para filtração de solo natural como de geotêxtil (mm); “A” a área do permeâmetro de
finos, fixou-se a concentração de 650mg/L, pois de carga variável (m2); t o tempo de um esvaziamento
acordo com Ferreira (2016), essa é a concentração (t2-t1) registrado pelo sensor de nível instalado no
máxima de SST (sólidos suspensos totais) que R4 (s); h1 (m) o nível de água máximo no
chegou à técnica compensatória poço de infiltração permeâmetro no tempo t1 e h2 (m) o nível de água
estudado pela autora. mínimo no permeâmetro no tempo t2. Para esses
Durante os ensaios de filtração coletaram-se ensaios foi considerada a curva referente a média
amostras da suspensão retidas e passantes pelo de três ensaios de permeabilidade.
filtro geotêxtil em intervalos de 5 minutos, O tempo de colmatação (tc) foi considerado o
perfazendo cerca de 12 amostragens por ensaio. Ao tempo final do ensaio (em minutos), expresso pela
final de cada ensaio, o geotêxtil com o material queda expressiva da vazão de saída e a diferença
filtrado foi exumado e acondicionado para do tempo inicial do ensaio (em minutos). Essa
análises. fórmula de cálculo também foi utilizada por
Ferreira (2016) nos seus ensaios com
2.3 Geotêxteis não-tecidos permeâmetros.
O solo retido no geotêxtil não-tecido (Figura 4),
Os geotêxteis utilizados foram não-tecidos ao final de cada ensaio foi raspado e encaminhado
agulhados de gramaturas 200, 300 e 400 g/m2, de
92
para laboratório, onde realizou-se a granulometria classificado a partir de 30 µm, em faixas de 10 µm,
conjunta de acordo com a NBR 7181/2016 da até 1000 µm.
ABNT. O defloculante utilizado foi o
hexametafosfato de sódio. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As amostras de água coletadas nos ensaios de
permeâmetros foram estudadas em um analisador 3.1 Análises da permeabilidade do meio filtrante
digital de partículas, onde foi possível mensurar as
partículas e seu tamanho As análises foram A Figura 6 apresenta os resultados de ensaios de
realizadas na UNESP campus Rio Claro (SP). O permeabilidade dos geotêxteis não tecidos de 200,
analisador digital de partículas utilizado conta com 300 e 400 g/m2 para a avaliação da filtração de
equipamento de bancada Jartest acoplado a um solução de água com o solo natural e água e
sistema não intrusivo de captura de imagens material passante na #200. Na Figura 6a, referente
(Figura 5). a filtração de solução de água com solo natural,
pode-se notar que o ensaio com o geotêxtil de
gramatura 400 g/m2 apresentou maiores valores de
K (permeabilidade) durante o ensaio. Isso significa
a deposição imediata devido ações gravitacionais
pode resultar em cegamento ou entupimento a
curto prazo mais significativo para geotêxteis de
abertura de filtração maiores (menor gramatura),
pois as partículas menores passam e as maiores
ficam depositadas, diminuindo a permeabilidade
(K) rapidamente. Já o geotêxtil de gramatura 400
g/m2 demonstrou maiores valores de
permeabilidade do que os demais na fase inicial
(até 2000 s), pois geotêxteis de maiores aberturas
de filtração apresentaram melhor retenção das
Figura 4. Exemplo do material retido nos geotêxteis não- partículas da suspensão em solo natural do que os
tecidos usados para caracterização granulométrica. geotêxteis de menores aberturas, devido a
formação do pré-filtro por ações gravitacionais, ou
seja, deposita-se rapidamente partículas maiores e
progressivamente as menores.
Por outro lado, nota-se que qualquer um dos
geotêxteis tendem a uma assíntota de valor de
permeabilidade, porém com maiores valores para o
geotêxtil de 400 g/m2, o que é resultado dos
mecanismos descritos. Ao longo do tempo, com
uma maior quantidade de solo depositado sobre o
geotêxtil esse sofre diminuição significativa de sua
Figura 5. Analisador de partículas para filtração do
permeabilidade. As importantes conclusões a cerca
passante.
destes resultados estão nos fatos de que, a longo
prazo, as aberturas dos geotêxteis adotados não
Para o tratamento dos dados excluiu-se do todo o alteraram o comportamento de permeabilidade.
conjunto de partículas menores que 30 µm. Isto por Porém, alteraram significativamente a curto prazo.
que, segundo Moruzzi et al. (2015), levando em Em relação à Figura 6b, referente a filtração de
conta a resolução e o tamanho do pixel utilizados, solução de água com material passante na #200,
as medidas para tamanhos reduzidos, têm uma todas as partículas finas, ou seja de diâmetro menor
imprecisão elevada. Na análise investigativa de que 0,074 mm passaram pelas aberturas de todos
parâmetro representativo para a dimensão das os geotêxteis não-tecidos e tenderam a “colmatar”
partículas utilizou-se o maior diâmetro da elipse as matrizes dos meios filtrantes, pois esses
circunscrita ao floco (dmax), este que, tem sido apresentaram valores de abertura de filtração bem
utilizado para a calibração e validação de sistemas maiores. As gramaturas 200 e 300 g/m2
de monitoramento da floculação. Odmax foi apresentaram diminuição da permeabilidade
93
praticamente no mesmo tempo e sofreram a
redução significativa da permeabilidade a menor 3.2 Análise granulométrica do filtrado
prazo dos observados para a filtração do solo
natural. Isso ocorre devido à grande quantidade de A Figura 7 apresenta os resultados da análise
material fino carreada, migrando pelos vazios até granulométrica do material filtrado nos geotêxteis
serem retidas sobre a superfície do filtro, o que, de 200, 300 e 400 g/m2 para a solução de água com
causou a formação de uma camada de baixa o solo natural e água e material passante na #200.
permeabilidade, reduzindo significativamente a (a)
permeabilidade global do sistema solo/filtro. Em 100
% que Passa
retenção de partículas finas em suspensão. 50
(a) 40
0.30 30
200 g/m2 200 g/m2
20
0.25 300g/m2 300 g/m2
10
400g/m2 400 g/m2
0.20 0
(b) 0.001 0.01 0.1 1 10
k (m/s)
0.15
(b) Diâmetro dos Grãos (mm)
100
0.10 90
80
0.05
70
% que Passa
0.00 60
0 1000 2000 3000 4000 50
Tempo (s)
(b) 40
0.30 30
200 g/m2
200 g/m2 20
300 g/m2
0.25 300 g/m2 10
400 g/m2
400 g/m2
0
0.20 0.0010 0.0100 0.1000 1.0000 10.0000
K(m/s)
94
partículas maiores que esse valor (70% areia inalteradas para todas as amostras e no eixo y o
média), 0% de areia fina (valor semelhante a sua número de partículas passantes (em número
abertura de filtração) e 28% areia grossa. Já, os absoluto), ou seja, foram contabilizadas a
ensaios com o geotêxtil de gramatura 400 g/m 2 quantidade de partículas que passaram pelo
apresentou resultados diferentes, as parcelas de permeâmetro.
argila e silte encontradas foram pequenas, assim (a)
como os valores encontrados para a gramatura 300 3000
200 g/m2
g/m2, porém, apresentou uma pequena
2500
geotêxteis de diferentes gramaturas com solução 300 g/m2
de água e suspensão com finos (passante na #200) 2000 400 g/m2
(Figura 7b), apresentaram, como esperado, valores
inferiores a 0,075 mm. Para o geotêxtil de 1500
gramatura 200 g/m2, nota-se 5% de argila filtrada
e 95% de silte. O geotêxtil de gramatura 300 g/m2 1000
95
60 µm. Ainda, a quantidade de partículas passantes Ferreira. T. S.; Avaliação do Comportamento
mostrou-se significativamente maiores que o Hidrológico de Poços de Infiltração de Águas Pluviais
geotêxtil de 400 g/m2. No caso deste, notam-se como Medida Compensatória. 2016. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Urbana) –Universidade
pouquíssimas partículas de diâmetro superior a 40 Federal de São Carlos – UFSCar, São Carlos. 2016.
µm, mostrando que a maior parte pode ser inferior Lucas, Alessandro Hirata, Sobrinha, Loide Angelina;
a esse diâmetro. Esse resultado corrobora todas as Moruzzi, Rodrigo Braga; Barbassa, Ademir Paceli .
análises previamente discutidas, mostrando que, Avaliação da construção e operação de técnicas
para filtração de sólidos em suspensão de compensatórias de drenagem urbana: o transporte de
partículas finas, o geotêxtil de 400g/m2 apresenta finos, a capacidade de infiltração, a taxa de infiltração
real do solo e a permeabilidade da manta geotêxtil.
comportamento adequado para uso em técnicas
Engenharia Sanitária e Ambiental (Online), v. 20, p.
compensatórias. 17-28, 2015.
Mulligan Catherine N. Davarpanah. N. Inoue Tomohiro.
4. CONCLUSÕES Filtration of contaminated suspended solids for the
treatment of surface water. (2000). Elsevier.
Para o caso de filtração de sólidos em suspensão Muñoz, Catarina Silveira. Desempenho de geotêxteis na
com granulometria variada (neste trabalho, solo filtração de solos internamente instáveis. São José dos
Campos, 2005. 119f. Tese de Mestrado – Curso de Pós-
natural), pouco se alterou o comportamento de Graduação em Engenharia de Infra-Estrutura
permeabilidade a longo prazo para as gramaturas Aeronáutica – Área de Infra-Estrutura Aeroportuária –
de geotêxteis não tecidos agulhados avaliados Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2005.
(200, 300 e 400 g/m2). No entanto, a curto prazo, o NBR 7181 – Solo - Análise granulométrica. Rio de
geotêxtil de 400 g/m2 apresentou maiores valores Janeiro, 2016.
de permeabilidade a suspensão. No caso da Sales, M. M.; Oliveira, L. H.; Reis, R. P. Sistemas de
suspensão em finos (aberturas inferiores a 0,075 drenagem na fonte por poços de infiltração de águas
pluviais.Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 8, n. 2,
mm), o comportamento se inverte, ou seja, o p. 99-117, abr./jun. 2008.
geotêxtil de gramatura 400 g/m2 mostrou-se Tucci, C. E. M. Drenagem Urbana. Ciência e Cultura,
melhor comportamento de permeabilidade a longo Gestão da Águas/Artigos, Vol. 55, n° 4, São Paulo,
prazo e semelhante aos outros a curto prazo. 2003.
Em termos de filtração de particulado, os Yang J. X. Wang. L. Q. JI L. Y. Liu . F. L. Filtration
geotêxteis de 200 e 300 g/m2 mostraram não serem performance of two-layered nonwoven geotextiles.
Proc. of Int. Symp. on Geoenvironmental Eng.,
eficazes na retenção de finos, o que é primordial
ISGE2009, September 8-10, 2009, Hangzhou, China.
em técnicas compensatórias. Já o geotêxtil de 400
g/m2 mostrou-se bastante eficaz para tal fim pela
capacidade de reter partículas finas e evitar o
cegamento do solo de fundação em poços de
infiltração.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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water using flax fibre geotextiles (2017). Disponível
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96
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: A crescente produção de pedras ornamentais no Brasil também traz consigo uma maior
geração de resíduos em forma de lama, comumente conhecida como lama abrasiva. Este resíduo é
produzido desta forma pelo fato de que, durante o procedimento de corte, existe a introdução de água
para o resfriamento do disco diamantado, logo sua produção depende diretamente do porte da
empresa. Entretanto o destino que esse rejeito é conduzido nem sempre é o mais adequado, possuindo,
em termos gerais, duas destinações comuns: rede de esgotos, causando assoreamento de rios, ou
quando possuem algum tratamento são depositados em tanques de decantação, levando um longo
tempo até que a parte sólida do rejeito decante para que a água possa ser reutilizada no sistema. O
presente artigo tem como objetivo principal simular a operação realizada no campo em escala
reduzida e avaliar a utilização do geotêxtil para acelerar, com eficiência, o dessecamento da lama
abrasiva, buscando aumentar a produção das empresas. Para esta pesquisa, foi utilizado cinco ciclos
de enchimentos sucessivos em um protótipo retangular de polipropileno revestido com geotêxtil. A
lama abrasiva foi dessecada com eficiência, sem adição de floculante, chegando a reduzir a
quantidade de sólidos totais de 50.000 mg/L para 622 mg/L e a vazão chegou a baixos valores após
o terceiro minuto do ensaio. Por fim, foi possível concluir com base nos resultados apresentados neste
artigo, que o geotêxtil em estudo atendeu significativamente o dessecamento da lama abrasiva com
eficiência e rapidez.
ABSTRACT: The intense production of ornamental stones in Brazil also resulted in a greater
generation of mud-shaped waste, commonly known as abrasive sludge. This residue is produced in
this way by the fact that during the cutting procedure there is the introduction of water for the diamond
wheel disc, so its production depends directly on the size of the company. However, the destination
to which this waste is directed is not always the most adequate, having, in general terms, two common
destinations: sewage network, causing silting of rivers, or when they have some treatment are
deposited in decantation tanks, taking a long time until the solid part of the tailing waste decant, so
that the water can be reused in the system. Therefore, the main objective of this article is to simulate
the field operation in a small scale, and to evaluate the use of the geotextile to efficiently accelerate
the dewatering of the abrasive sludge in order to increase the production of the companies. For this
research, it was used five cycles of successive fillers of a rectangular polypropylene prototype coated
97
with geotextile. The abrasive sludge was dewatered with good efficiency, without addiction of
deflocculant, reducing the amount of total solids from 50.000 mg/L to 622 mg/L and the flow reached
low values after the third minute of the test. Finally, it was possible to conclude, based on the results
presented in this article, that the geotextile under study served significantly in the desiccation of the
abrasive sludge with efficiency and speed.
98
graus de dureza distintas para que fosse realizado Tabira apresentaram uma maior porcentagem de
o procedimento de corte. finos quando comparadas as demais, mostrando
As rochas escolhidas são conhecidas que a desegragação das rochas mais frágeis é
popularmente como: Marrom Absoluto, maior do que as mais resistêntes, sendo este um
Mármore Branco, Ocre Tabira e o Verde fator que altera a granulometria do rejeito.
Ubatuba. Sendo a Marrom Absoluto e a Ocre O rejeito não possuia Limites de Atterberg, ou
Tabira as rochas mais duras comparada às seja, sem limite de liquidez e plasticidade,
demais. Em seguida, as chapas das rochas foram conforme a NBR 6459 (2016) e NBR 7180
postas na mesa de corte e com auxílio de água (2016), respectivamente.
potável foi procedido o corte, sendo coletado 20
litros de rejeito para cada tipo específico de
rocha.
As amostras escorriam através da esteira de
corte e eram conduzidas por uma calha até o
recipiente de coleta, como ilustrado na Figura 1
e na Figura 2.
99
A inclinação da caixa foi fixada em 2% para No Gráfico 2 observa-se que o material
que o rejeito, assim que filtrado, pudesse escoar contido nos tanques de decantação, apesar de ser
de uma melhor maneira. de diversas pedras ornamentais atendeu
No protótipo foi disposta uma camada satisfatoriamente os limites superior (curva
drenante de 2 cm de espessura formada por brita, granulométrica marrom) e inferior (curva
em seguida foi colocado o geotêxtil não tecido granulométrica verde) da faixa granulometrica
feito em poliéster (200 g/m²) de forma que fique estudada. Logo, o rejeito utilizado nesta pesquisa
rente com as paredes do protótipo, assim como foi o que se encontrava depositado nos tanques
ilustrado na Figura 4. de decantação da marmoraria de Pendências-RN.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
100
colocando o volume de água escoado na estufa e
Foram realizadas 3 leituras de vazões para cada em seguida, foi determinada a massa de rejeito
echimento, resultando em uma distribuição de total pasante pelo protótipo, obtendo os valores
vazão que pode ser observado na Tabela 1. registrados na Tabela 2.
Tabela 1. Vazão escoada no protótipo Tabela 2. Sólidos totais após a passagem pelo geotextil
Vazão (mL/s) Sólidos totais (mg/L)
Tempo de dessecamento (min.) 1 2 3 Tempo de dessecamento (min.) 1 2 3
1º Enchimento 217,47 22,67 5,46 1º Enchimento 1391 1029 531
2º Enchimento 179,51 21,61 3,55 2º Enchimento 1497 1815 276
3º Enchimento 101,22 34,47 16,86 3º Enchimento 1003 790 488
4º Enchimento 112,65 33,01 17,08 4º Enchimento 1147 912 359
5º Enchimento 94,16 27,47 18,68 5º Enchimento 2787 602 622
Como pode ser observado na Tabela 1, a Como exposto na Tabela 2, os sólitos totais
vazão vai decaindo conforme passa o tempo de seguiram uma tendência de redução brusca com
escoamento, como esperado. Outro fator que se o passar do tempo de escoamento, chegando a
deve salientar é que a vazão do primeiro minuto obter o menor valor no 4º enchimento aos 3
dimiui enquanto os demais minutos tendem a minutos de escoamento.
aumentar de um enchimento para o outro, isso Os valores dos sólidos totais foram
pode ser atribuido ao fato de que o rejeito signitificamente baixos quando comparados a
acumulado no fundo do recipiente, passa a estudos similares em que não foi utilizado
fornecer à água uma maior perda de carga com floculante para o dessecamento de finos (Camera
os sucessivos enchimentos, amortecendo o et al.,2016; Junqueira e Machado, 2016) . Esta
volume inicialmente escoado e distribuindo o redução de sólidos totais pode ser um indicador
volume ao longo do tempo. de que o próprio sistema passou a auxiliar na
Isso implicaria dizer que chegará um ponto filtragem da lama, logo que seja formado o filter
em que a perda de carga será tão grande que o cake, camada de pré filtro formado pelo rejeito,
geossintético necessite ser trocado, pois o como observado em por Gardoni (2000).
dessecamento não será suficientemente A Figura 6 ilustra como visualmente a
satisfatorio devido a baixa vazão. concentração de sólidos presentes no volume de
A Figura 5 mostra a espessura de rejeito que água é pequena, sendo os beckers 1, 2 e 3
ficou retido pelo geotextil, evidênciando a representantes do 1º, 2º e 3º minutos do
dificuldade da partícula para percolar através do escoamento durante o 5º enchimento,
rejeito ao final do quinto enchimento. respectivamente.
101
a gramatura da caixa formada por geotêxtil que carreamento das partículas de rejeito até que a
estava contida no protótipo, esse parâmetro é mesma estabilize dentro das constrições. Com o
fundamental para entender como se deu o aumento do teor de sólidos no geotêxtil, menor
escoamento do rejeito ao longo do seu será a vazão escoada, tendo a gramatura relação
dessecamento. direta com a vazão escoada e com a vida útil do
Para cada vértice do geotêxtil, mostrado na geotêxtil para essa finalidade.
Figura 7, foi realizada a gramatura e feita uma
média com os valores obtidos para cada amostra, 4 CONCLUSÃO
registrados na Tabela 3.
Este artigo buscou mostrar a eficiência do uso do
geotêxtil não tecido para o desaguamento do
rejeito proviniente do corte de rochas
ornamentais, buscando a implementação desta
alternativa na prática, facilitando as operações
realizadas nas empresas que trabalham com o
corte de rochas ornamentais. Tendo em vista os
otimos resultados obtidos nesse protótipo
estudado.
O uso do geotêxtil para o dessecamento do
rejeito proveniente do corte de pedras
ornamentais se mostrou uma eficiente alternativa
pois conseguiu reter grande parte das partículas
de finos contidos na lama abrasiva, passando de
Figura 7. Vista superior da caixa de Polipropileno relativo uma concentração de 50.000 mg/L para uma
a posição dos vértices em estudo. concentração na casa dos milhares de miligramas
por litro logo no primeiro minuto do escoamento,
Tabela 3. Valores da gramatura após o 5º enchimento.
chegando a 622 mg/L no terceiro minuto do
Gramatura
quinto enchimento. E com relação ao tempo de
Média Desv. Ceof. De
Posição dessecamento, foi observado que apartir dos 3
(g/m²) Padrão variação
Frente 831,00 32,00 3,85% minutos de ensaio a vazão chegou a ser 18 mL/s,
Atrás 757,67 59,50 7,85% sendo está uma vazão muito pequena, podendo
Lateral ser considerado o fim do escoamento.
912,60 82,45 9,03%
Esquerda Foi observado que para essa configuração
Lateral do protótipo a gramatura foi maior no fundo do
915,00 47,17 5,16%
Direita geotêxtil do que nos outros lados, mostrando a
Fundo 1237,60 229,21 18,52%
influência do escoamento na colmatação do
geotêxtil.
Ao analisar os dados da Tabela 3 observamos Devido aos valores satisfatórios de baixos
que houve um aumento da gramatura do sólidos totais encotrados no protótipo em estudo,
geotêxtil devido ao fato do líquido carrear pode-se implicar que o geotêxtil não tecido possa
algumas partículas atravéz do geossintético, atender a necessidade de realizar o dessecamento
ficando estas depositadas nas constrições do do rejeito proveniente do corte de pedras
material geotêxtil assim como foi observado por ornamentais com bastante eficiência e rapidez,
Gardoni (2000). atendendo assim a demanda de qualquer empresa
O alto valor de gramatura observado no fundo que busque o reaproveitamento da água.
do geotêxtil se dá devido ao caminho
preferêncial ao qual o fluido tende a percolar,
tendo em vista que nessa região possuia o AGRADECIMENTOS
colchão drenante de brita, diferentemente dos
demais vértices que estavam rentes as paredes da Gostaria de agradecer a Universidade Federal do
caixa. Assim, quanto maior o fluxo, maior é o Rio Grande do Norte por todo apoio á pesquisa,
102
como também a todos os meus companheiros geotextile filter compatibility in mining applications.
que tornaram a mesma concreta. Geotextiles And Geomembranes, abr. Elsevier BV.
103
104
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo discutir as características hidráulicas do geotêxtil que
determinam a capacidade filtro-drenante do sistema solo-geossintético e compreender como estas
características contribuem para evitar o impedimento do fluxo na interface solo-geotêxtil. Para isso,
são descritos e discutidos os principais critérios e fatores que devem ser levados em consideração na
escolha de geotêxteis como elementos filtro-drenantes. O artigo apresenta ainda uma discussão sobre
o comportamento e a afinidade com a água de diferentes produtos e apresenta o fenômeno de
formação de barreira capilar, que leva ao acúmulo de água sobre o geotêxtil, situação que pode levar
à instabilidade em obras geotécnicas. Verificou-se que a estrutura porosa dos geotêxteis é de grande
complexidade e que, assim como para os solos, uma série de fatores, que envolvem a relação entre as
características do solo e as propriedades hidráulicas do geotêxtil, e ainda alguns fenômenos de escala
microscópica, como os efeitos da capilaridade, devem ser levados em consideração para garantir o
funcionamento adequado do sistema filtro-drenante.
ABSTRACT: The purpose of the present article is to discuss the hydraulic characteristics of the
geotextile that determine the filter-drainage capacity of the soil-geosynthetic system and to
understand how these characteristics contribute to avoid impedance of the flow in the soil-geotextile
interface. In this regard, the main criteria and factors that must be considered in the selection of
geotextile products as filter-drainage elements are described and discussed. The article also presents
a discussion about the behavior and affinity with water of different products and presents the
phenomenon of capillary barrier, which leads to the accumulation of water over the geotextile, a
situation that can lead to instability in geotechnical structures. The porous structure of the geotextiles,
just as soils, is of great complexity and a series of factors involving the relation between the soil
characteristics and the hydraulic properties of the geotextile, as well as some microscopic scale
phenomena, such as the effects of capillarity, must be considered to ensure proper operation of the
filter-drain system.
105
solo. Quando a resistência do geotêxtil à Este trabalho visa discutir as características
penetração de água implica no acúmulo de água hidráulicas do geotêxtil que determinam a
na interface solo-geotêxtil, isto pode levar à capacidade filtro-drenante do sistema solo-
condição de fluxo paralelo ao talude e causar um geossintético e compreender como estas
sério problema de instabilidade na estrutura características contribuem para evitar o
geotécnica. Assim, o mau funcionamento de impedimento do fluxo na interface solo-
sistemas de drenagem em geotêxtil pode geotêxtil.
comprometer a estabilidade de estruturas
geotécnicas. A avaliação do comportamento
filtro-drenante desses materiais é complexa e 2 CAPACIDADE FILTRO-DRENANTE DE
envolve diferentes fatores. GEOTÊXTEIS
Geralmente, solos não saturados apresentam
elevada sucção mátrica durante períodos de seca, Para que um sistema filtro-drenante tenha um
no entanto, em períodos de chuva, a infiltração desempenho satisfatório, devem ser atendidos os
da água em taludes diminui a sucção mátrica, e critérios de retenção, permeabilidade, anti-
quando ocorre o mal funcionamento do sistema colmatação, sobrevivência e durabilidade
de drenagem, pode ocorrer a formação de uma (Palmeira et al., 2005).
zona saturada com poro-pressões positivas. A O critério de retenção tem por objetivo
pressão negativa nos poros aumenta a resistência garantir que o geotêxtil selecionado irá reter uma
ao cisalhamento do solo, contribuindo para a quantidade de partículas de solo suficiente para
estabilidade do talude. Uma vez que a sucção a formação de um pré-filtro de solo,
começa a diminuir, o solo perde resistência, o desenvolvendo uma estrutua de solo estável e
que em alguns casos poderia acarretar em um capaz de previnir futuras migrações de partículas
mecanismo de falha. sólidas. O critério de permeabilidade visa
O uso de geotêxteis nas funções de filtração e garantir que o geotêxtil possua permeabilidade
drenagem em substituição aos solos granulares superior à do solo a ser retido, permitindo o fluxo
tem se mostrado vantajoso em diversas livre da água através e ao longo de seu plano. O
aplicações geotécnicas como estradas, cobertura critério de resistência à colmatação é fortemente
de aterros, taludes e estruturas de contenção relacionado ao critério de permeabilidade e tem
devido à relativa facilidade de instalação e ao por objetivo evitar a colmatação excessiva do
ganho de espaço. Em grande parte dos casos, geotêxtil que poderia levar a uma condição de
esses elementos são colocados acima do lençol cegamento (impedimento ou redução
freático, em condições não saturadas, ou seja, o significativa do fluxo de água). O critério de
solo e os poros do geotêxtil são preenchidos com sobrevivência visa garantir que o produto não
ar e água. A incorporação de geotêxteis nos solos será danificado durante a instalação e o critério
influencia significativamente o movimento da de durabilidade garante que sua vida útil seja
água, já que a maior parte dos geotêxteis é adequada ao tempo de serviço requerido na obra.
hidrofóbica. Palmeira et al. (2005) discutem os principais
Isto implica que a interface hidrofóbia em critérios propostos na literatura e ressaltam que
geotêxtil apresenta uma resistência à penetração dentre os fatores complicadores para o projeto e
da água, que pode variar de poucos milímetros a desempenho, tanto de filtros granulares quanto
alguns centímetros em função das características sintéticos, estão algumas características que
do produto. Assim, mesmo com a utilização de podem ser apresentadas por solos residuais,
um sistema filtro-drenante em geotêxtil, é como dispersividade e presença de grumos de
preciso considerar a redistribuição do perfil de partículas, sendo necessária atenção especial
umidade, pois quando este fator não é quando o solo a ser filtrado é internamente
considerado em projeto, podem ocorrer instável.
problemas de instabilidade (Boauzza et al., O Comité Francês de Geossintéticos, em seu
2006), principalmente no caso de revestimentos fascículo sobre sistemas filtro-drenantes (CFG,
em taludes nos quais o surgimento de fluxo 2014) sugere também que a resistência à
paralelo ao talude não foi considerado. penetração de água seja avaliada, indicando um
106
limite de no máximo 5 mm para que o geotêxtil A condutividade hidráulica de solos sob
possa ser aceito como elemento de filtro condições saturadas é consideravelmente maior
(disponível em www.cfg.asso.fr). Cabe lembrar do que na condição não saturada. No entanto,
que os geotêxteis não tecidos de filamentos solos granulares, que sob condições saturadas
contínuos em poliéster apresentam apresentam condutividade hidráulica bem
frequentemente resultados superiores aos 20 superior àquela dos solos finos, sob condições
mm, e ainda assim são considerados como não saturadas apresentam elevada sucção e baixa
elementos de filtro eficientes há mais de 40 anos. condutividade hidráulica não saturada. Ou seja,
Na realidade, a maior parte dos geotexteis não sob elevada sucção, a condutividade hidráulica
tecidos apresenta uma resistência à penetração de areias pode ser inferior à de argilas e siltes.
maior do que 5 mm, quando totalmente limpos e Isto pode ser observado na Figura 3.1, que
compostos apenas por filamentos/fios mostra um resultado típico obtido a partir do
hidrófobos. Vidal et al. (2014) realizaram ensaio para a determinação da curva
ensaios para verificar a resistência à penetração característica de uma areia fina e um silte
de água (EN 13562, 2000) de geotêxteis limpos argiloso.
com aproximadamente a mesma espessura (2,8
mm) e obtiveram resultados de 22 mm para um
geotextil não tecido de filamentos contínuos em
poliéster, e de 6 mm para um geotêxtil de fibras
cortadas em polipropileno.
Na prática, observa-se que muitas vezes,
sequer esses critérios básicos são verificados na
escolha do produto a ser utilizado como
elemento filtro-drenante, e não é rara a
especificação do produto pela disponibilidade no
mercado (marca), sendo por vezes ignoradas as
características físicas e hidráulicas do geotêxtil e
sua interação como o solo na interface, ainda que
a obtenção desses parâmetros possa ser feita por
meio de ensaios simples e de baixo custo
(Palmeira et al., 2005).
Além do correto dimensionamento do sistema
filtro-drenante de acordo com os critérios
mencionados, é preciso levar em consideração
que quando dois materiais porosos com
diferentes popriedades hidráulicas encontram-se
em contato, pode ocorrer o fenômeno de barreira
capilar, uma situação que restringe a entrada da
água através dos poros do geotêxtil, levando ao
mau funcionamento do sistem filtro-drenante até
que a barreira capilar seja rompida. Esse Figura 3.1 – Relação entre a curva característica e a função
da permeabilidade de uma areia e de um silte argiloso. a)
fenômeno envolve uma série de fatores que
Curva característica dos solos. b) Função da
precisam ser compreendidos. permeabilidade dos solos (Adaptado de Fredlund et al.,
2012).
107
água) as curvas de permeabilidade da areia fina na Figura 3.2 representa a formação da barreira
e do silte argiloso invertem-se, de modo que em capilar em um sistema solo-geossintético.
níveis maiores de sucção, a areia apresenta
permeabilidade consideravelmente menor do
que o silte argiloso (Fredlund et al., 2012).
Assim, em situações em que uma camada de
solo fino não saturado encontra-se sobreposta à
uma camada de solo mais grosso não saturado, a
barreira capilar se forma, e a camada de solo
mais fino passa a reter água por capilaridade,
enquanto a camada de solo mais grosso passa a
impedir o fluxo de água entre seus poros devido
à reduzida condutividade hidráulica sob
determinados valores de sucção.
Esse fenômeno pode ser vantajoso em
algumas aplicações geotécnicas em que o
controle do fluxo de água é importante, no
entanto em algumas situações, como quando o
geotêxtil deveria cumprir a função de filtração
ou filtração/drenagem para evitar o aumento da Figura 3.2 – Esquema mostrando o efeito da barreira
poro-pressão, esse fenômeno precisa ser capilar na interface solo-geossintético (adaptado de
cautelosamente levado em consideração no Mccartney et al., 2008)
projeto.
Alguns tipos de geossintéticos, como por O solo fino possui poros relativamente pequenos
exemplo geotêxteis não tecidos, apresentam um quando comparado ao geotêxtil, que
comportamento similar ao dos solos grossos, similarmente a um solo granular, possui poros
devido à sua estrutura porosa. Estudos anteriores relativamente grandes. É preciso que o menisco
mostram que as curvas de retenção de água de ar-água na interface entre os materiais de poros
alguns tipos de geotêxtil não tecido têm formato maiores e menores supere a mudança no raio dos
similar às de solos grosseiros, como areias poros, de r1 para r2 para forçar o ar a sair do poro
grossas uniformes ou pedregulhos maior.
(Chinkulkijniwat et al., 2017; Bouazza et al., Como os poros do solo fino apresentam
2013; Bathurst et al., 2009; Iryo & Rowe, 2004). dimensões menores (r1), os valores de sucção em
Iryo & Rowe (2003) realizaram um estudo seus poros são comparativamente altos, e a água
para verificar sob quais condições o geotêxtil presente na camada de solo fino somente se
atua como um meio resistente ao fluxo. Os desloca para os poros maiores do geotêxtil (r2)
autores concluíram que as equações de Van quando o valor de sucção nos poros do solo fino
Genuchten (1980), originalmente desenvolvidas se reduzir, equivalendo-se ao valor da sucção
para solos não saturados, também são válidas encontrada nos poros do geotêxtil. Isso significa
para as características hidráulicas dos geotêxteis que, a energia da água presente nos poros deve
não saturados. Observou-se também que o ser suficiente para adentrar os poros maiores da
comportamento do geotêxtil pode mudar devido camada de geotêxtil e enquanto isso não
a uma pequena alteração na sucção, passando de acontece, a água passa a acumular-se até que o
material permeável para material de baixíssima solo alcance um valor crítico de sucção próximo
permeabilidade. de zero, ou seja, até que ocorra a saturação e a
Os poros relativamente grandes dos água possa fluir dos poros menores do solo para
geotêxteis não tecidos podem produzir barreiras os poros maiores do geotêxtil. Portanto, quando
capilares com capacidade de retenção de água ocorre o fenômeno de barreira capilar em um
consideravelmente superiores àquelas formadas sistema solo-geotêxtil, uma quantidade
apenas com solos de diferentes granulometrias significativa de água se acumula acima do
(Zornberg et al., 2010). O esquema apresentado geotêxtil, formando uma zona saturada, até que
108
a condição crítica seja atingida e a barreira seja compõe as fibras do geotêxtil (Mccartney et al.;
quebrada (Bouazza et al., 2006). 2008). O poliéster (PET) e o polipropileno são os
Após a quebra da barreira, o perfil de principais polímeros utilizados em geotêxteis
desenvolvimento da pressão nos poros depende não tecidos e são materiais hidrofóbicos (Vidal
da taxa de infiltração, q, e das condutividades et al., 2014).
hidráulicas saturadas do solo, ksat solo, e do Além das diferenças inerentes ao próprio
geotêxtil, ksat gtx. No caso do acúmulo de água, polímero e ao processo de fabricação, as
em que ksat gtx < ksat solo, tanto o solo quanto o superfícies das fibras e filamentos podem ser
geotêxtil ficam próximos do estado de saturação cobertas por aditivos como óleos lubrificantes,
após a quebra da barreira, e a pressão positiva da materiais tensoativos e antiestáticos durante o
água nos poros se mantém já que a condutividade processo de fabricação, que podem alterar o
hidráulica do geotêxtil é menor do que a do solo. ângulo de contato e conferir características
No entanto, se ksat gtx > ksat solo, ou seja, o geotêxtil hidrofóbicas ou hidrofílicas ao material. Henry e
é mais permeável do que o solo sob condições Patton (1998) mediram o ângulo de contato da
saturadas, a pressão positiva da água nos poros água nas fibras de dois geotêxteis. A medida foi
pode se dissipar após a quebra da barreira. tomada em corpos de prova antes e após serem
Caso a taxa de infiltração seja menor do que lavados para remover resíduos de aditivos
a condutividade hidráulica do solo abaixo do utilizados durante o processo de fabricação. Os
geotêxtil a água não se acumula, e a pressão dos autores observaram que a lavagem superficial
poros na camada de solo começa a aumentar mas causou redução significativa nos ângulos de
não se torna positiva, já que o fluxo de entrada é contato das fibras de apenas um dos corpos de
menor do que o fluxo de saída (q< ksat solo). prova ensaiados. O mesmo estudo revelou
Assim, a condutividade hidráulica do geotêxtil também que o ângulo de contato medido é maior
começa a diminuir gradativamente, durante a fase de umedecimento do que durante
apresentando condutividade hidráulica próxima a fase de secagem, justificando o comportamento
do seu valor quando o geotêxtil se encontra histerético dos geotêxteis durante ciclos de
saturado na parte superior e um valor menor na saturação/secagem.
superfície inferior, de modo que mesmo com a
dissipação da pressão na camada acima do 4.2 Inclinação do Talude e Taxa de Infiltração
geotêxtil, uma pequena e descontínua pressão
permanece na interface solo-geotêxtil (Iryo & Iryo & Rowe (2005) realizaram diversas análises
Rowe, 2004). numéricas da infiltração da água em sistemas em
camadas solo sobre geocomposto de drenagem,
utilizando o método de elementos finitos. Eles
4 FATORES DE INFLUÊNCIA variaram o tipo de solo, a inclinação do talude e
as taxas de infiltração, verificando sob quais
4.1 Características dos Materiais Porosos em condições o geossintético funciona como
Contato elemento drenante e sob quais condições o
geocomposto atua como barreira capilar. A
configuração básica do sistema solo-
De acordo com Vidal et al. (2014), os fenômenos
geocomposto é mostrada na Figura 4.1.
que envolvem a capilaridade ocorrem em função
de diversos fatores e não somente se devem à
variação do tamanho dos poros como também
estão relacionados a parâmetros como: o ângulo
de contato entre as fibras do geotêxtil e o fluido;
as características hidrofílicas ou hidrofóbicas do
geossintético; e a relação entre a porosidade e a
granulometria do solo e as propriedades
hidráulicas do geossintético. Figura 4.1 – Configuração do sistema solo-geocomposto
Assim, o movimento da água do solo para o inclinado analisado (Adaptado de Iryo & Rowe, 2005)
geotêxtil é afetado pelo tipo de polímero que
109
Iryo & Rowe (2005) verificaram que o geotêxtil Em situações em que o elemento
acima da georrede começa a atuar como dreno geossintético encontra-se inclinado, pode
quando o solo imediatamente acima dele ocorrer o desvio lateral da água, que leva a um
encontra-se próximo à saturação e a sucção nos maior teor de umidade na parte inferior do
poros do solo se aproxima de zero. Para evitar talude, causando a diminuição da resistência ao
que ocorra acúmulo de água sobre o cisalhamento que pode levar à deformação ou à
geossintético, foi proposto que a capacidade do ruptura do solo (Zornberg et al., 2010).
geotêxtil de transmitir o fluxo no plano seja Iryo & Rowe (2005) ressaltam que o solo na
maior do que a infiltração potencial, conforme a camada acima do geossintético pode permanecer
Equação 4.1. com alto teor de umidade por um longo período,
mesmo após o término do evento de infiltração,
𝑞𝑙
𝑇𝑔𝑒𝑜𝑡ê𝑥𝑡𝑖𝑙 > (4.1) enfraquecendo o solo nessa região e portanto, as
𝛿
investigações em relação à estabilidade devem
Onde, 𝑇𝑔𝑒𝑜𝑡ê𝑥𝑡𝑖𝑙 é a transmissividade do levar em consideração o alto teor de umidade.
geotêxtil, 𝑞 é a taxa de infiltração, 𝑙 é o Ferreira et al. (2015) mostraram que a
comprimento do geotêxtil, e 𝛿 é a inclinação do resistência ao cisalhamento do solo varia
sistema solo-geossintético. significativamente com o aumento do teor de
Observou-se também que o geocomposto umidade. Por meio de procedimento
funciona como barreira capilar quando as taxas experimental, concluiu-se que, para o solo
de infiltração são menores e os taludes mais ensaiado, foi possível perceber redução na
inclinados, e que o ar enclausurado nos poros do resistência ao cisalhamento da interface solo-
geotêxtil acima da georrede diminui sua geossintético à medida que o teor de umidade
capacidade de desvio lateral do fluxo, aumenta.
diminuindo a capacidade do geocomposto de Na literatura existem relatos de rupturas de
funcionar como uma barreira capilar (Iryo & taludes naturais e de estruturas em solo reforçado
Rowe, 2005). relacionadas ao fenômeno de barreira capilar
(Iryo & Rowe, 2005; Garcia et al., 2007;
Mancarella et al., 2012).
5 IMPACTO DA BARREIRA CAPILAR Diversos autores demostraram que a
SOBRE O ELEMENTO FILTRO DRENANTE estrutura porosa dos geotêxteis é de grande
EM GEOTÊXTIL complexidade e que, assim como para os solos,
essa complexidade e alguns fenômeno de escala
O aumento na capacidade de retenção de água da microscópica, como os efeitos da capilaridade
camada de solo pode ser útil em algumas não devem ser desconsiderados (Palmeira et al.,
situações, como quando é desejável retardar o 1996; Palmeira & Gardoni, 2002). Assim, o
fluxo de água, permitindo que uma parcela da fluxo de água nos geotêxteis em meio saturado
água evapore sem atravessar as camadas tem sido amplamente estudado e, mais
inferiores (por evaporação, a partir da superfície recentemente, em condições não saturadas.
do solo, ou por evapotranspiração, a partir de Stormont et al. (2001) realizaram
uma camada vegetal), ou quando é necessário experimentos para verificar a transmissividade
restringir a infiltração da água de chuva em de um geotêxtil não tecido, quando submetido a
taludes. diferentes valores de sucção, tensão normal e
Por outro lado, de acordo com gradientes. Os autores verificaram que a
Chinkulkijniwat et al. (2017), o fenômeno de transmissividade era até duas vezes inferior ao
barreira capilar pode ter efeitos adversos em valor saturado, dependendo da sucção e se o
algumas aplicações geotécnicas, como por geotêxtil estava sendo molhado ou secado
exemplo em taludes ou em estruturas de solo (histerese). Foi observado também que a
reforçado, devido ao acúmulo de água que leva transmissividade independe do gradiente e que
ao aumento da pressão nos poros (diminuição da diminui com o aumento da tensão normal.
sucção), diminuindo a resistência do solo nas
proximidades do geotêxtil.
110
6 CONCLUSÕES Bathurst, R. J., Siemens, G. & Ho, F. (2009) Experimental
investigation of infiltration ponding in one-
dimensional sand-geotextile columns. Geosynthetics
O trabalho apresenta aspectos gerais sobre o uso International, v. 16, n. 3, p. 158-172.
de geossintéticos como elementos filtro- Bouazza, A., Zornberg, J. G., Mccartney, J. S. & Nahlawy,
drenantes e discute os fatores de influência que H. (2006) Significance of unsaturated behaviour of
levam à formação de barreira capilar sobre o geotextiles in earthen structures. Australian
geotêxtil, impactando no desempenho do sistema Geomechanics, v. 41, p. 133-141.
Bouazza, A, Zornberg, J., Mccartney, J. S. & Singh, R. M.
filtro-drenante. Muitas vezes, os geotêxteis são (2013) Unsaturated geotechnics applied to
empregados como filtros ou drenos sem a geoenvironmental engineering problems involving
adequada verificação de alguns dos princípios geosynthetics. Engineering Geology, v. 165 p. 143-
básicos para a seleção e instalação do produto e 153.
assim, alguns requisitos mínimos e importantes CEN. (2000) BS EN 13562: Geotextiles and geotextile-
related products - Determination of resistance to
podem ser ignorados. Apesar de na grande penetration by water (hydrostatic pressure test).
maioria dos casos não ocorrer problemas graves, Londres.
algumas vezes o acúmulo de alguns centímetros CFG. (2014) Fascicule de recommandations:
de água sobre os sistemas de drenagem pode Recommandations pour l’emploi des Géosynthétiques
comprometer a estabilidade de estruturas dans les systèmes de Drainage et de Filtration, 54 p.
Disponível em:
geotécnicas se esta condição não for considerada <http://www.cfg.asso.fr/publications/guides-de-
em projeto. recommandations/recommandations-pour-lemploi-
Destaca-se que, embora existam diversos des-geosynthetiques-dans-les>. Acesso em 10 jan.
critérios para o dimensionamento de sistemas 2019.
filtro-drenantes em geotêxtil amplamente Chinkulkijniwat, A., Horpibulsuk, S., Bui van, D.,
Udomchai, A., Goodary, R & Arulrajah, A. (2017)
discutidos na literatura, cuidados adicionais Influential factors affecting drainage design
devem ser tomados, especialmente em projetos considerations for mechanical stabilized earth walls
em que este elemento encontra-se inclinado e using geocomposites. Geosynthetics International, v.
submetido à ciclos de molhagem e secagem, para 24, n. 3.
evitar a formação de uma zona saturada sobre o Ferreira, F. B., Vieira, C. S. & Lopes, M. L. (2015) Direct
shear behaviour of residual soil–geosynthetic
geotêxtil, diminuindo a resistência ao interfaces – influence of soil moisture content, soil
cisalhamento e o atrito na intarface, podendo density and geosynthetic type. Geosynthetics
levar a uma situação de instabilidade. International, v. 22, n. 3, p. 257-272.
O fenômeno de barreira capilar e os fatores de Fredlund, D. G., Rahardjo, H. & Fredlund, M. D. (2012)
influência que levam à restrição do fluxo de água Unsaturated soil mechanics in engineering practice.
Hoboken: John Wiley & Sons, Inc.
através do geotêxtil precisam ser avaliados em Garcia, E. F., Gallage, C. P. K. & Uchimura, T. (2007)
projetos com interfaces nas quais isto possa Function of permeable geosynthetics in unsaturated
ocorrer. Dentre esses fatores, destacam-se as embankments subjected to rainfall infiltration.
características hidráulicas dos materiais Geosynthetics International, v. 14, n. 2.
(hidrofobia/hidrofilia, tamanho dos poros e a Iryo, T. & Rowe, R. K. (2005) Hydraulic behaviour of
soil–geocomposite layers in slopes. Geosynthetics
relação entre a propriedades dos materiais em International, v. 12, n. 3.
contato), a taxa de infiltração da água de chuva e Iryo, T. & Rowe, R. K. (2004) Numerical study of
a inclinação do talude. infiltration into a soil-geotextile column. Geosynthetics
International, v. 11, n. 2, p. 377-389.
Iryo, T. & Rowe, R. K. (2003) On the hydraylic behaviour
of unsaturated nonwoven geotextiles. Geotextiles and
AGRADECIMENTOS Geomembranes, v. 21, p. 381-404.
Mancarella, D., Doglioni, A. & Simeone, V. (2012) On
O presente trabalho foi realizado com apoio da capillary barrier effects and debris slide triggering in
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de unsaturated layered covers. Engineering Geology, p.
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de 14-27.
Mccartney, J. S. & Allen, J. M. (2008). Use of geosynthetic
Financiamento 001. capillary barriers for increasing water storage
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Palmeira, E. M., Gardoni, M. G. & Luz, D. W. B. (2005)
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112
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Uma das técnicas mais utilizadas para acelerar o processo de adensamento em solos moles
é a aplicação de drenos verticais, cuja técnica promove a aceleração dos recalques por meio da perda
de água. Este trabalho consiste no dimensionamento de geodrenos para um aterro de solo mole em
Suape/PE, localizado no Complexo Industrial Portuário de Suape, a partir de coeficientes de
adensamento obtidos em ensaios oedométrico e de piezocone. Foram definidas as necessidades do
projeto (profundidade dos drenos, tempo e grau de adensamento), as grandezas geométricas dos
geodrenos e comparados os valores de espaçamento entre os geodrenos considerando a média dos
coeficientes de adensamento obtidos nos ensaios considerados. Também foram comparados o tempo
de adensamento na situação com e sem o uso de geodrenos. Em relação ao espaçamento dos
geodrenos considerando os dados dos dois ensaios, os resultados demonstraram valores semelhantes,
variando em torno de 2,5 m. Os elementos dimensionados mostraram-se mais eficazes quanto maior
o valor do coeficiente de permeabilidade horizontal, aumentando o espaçamento entre eles, reduzindo
consequentemente o número de drenos necessários para obtenção do resultado desejado. Quanto ao
tempo de adensamento para a obtenção do grau de adensamento pretendido, os resultados mostraram-
se vantajosos, onde, quanto mais espessa a camada de solo estudada, maior o ganho de tempo
adquirido com a sua utilização. Em relação ao coeficiente de adensamento vertical, foi observado
que, quanto menor for o seu valor, maior será a vantagem em termos de tempo de adensamento na
utilização de drenos verticais.
ABSTRACT: One of the techniques most used to accelerate the consolidation process in soft soils is
the application of vertical drains, whose technique promotes the acceleration of the settlements
through the loss of water. This work consists of the geodrains sizing for a soft soil embankment in
Suape / PE, located in the Suape Port Industrial Complex, from the consolidation coefficients
obtained in oedometric and piezocone tests. The design requirements (depth of drains, time and
degree of consolidation), geometric magnitudes of the geodrains and the spacing values between the
geodrains were defined considering the average of the consolidation coefficients obtained in the tests
considered. We also compared the time of consolidation in the situation with and without the use of
geodrains. Regarding the spacing of the geodrains considering the data of the two tests, the results
showed similar values, varying around 2.5 m. The dimensioned elements proved to be more effective
as the value of the horizontal permeability coefficient increased, increasing the spacing between them,
consequently reducing the number of drains needed to obtain the desired result. As to the time of
consolidation to obtain the desired degree of consolidation, the results were advantageous, where the
113
thicker the soil layer studied, the greater the gain of time acquired with its use. In relation to the
coefficient of vertical consolidation, it was observed that the lower the value, the greater the
advantage in terms of the consolidation time in the use of vertical drains.
KEY WORDS: Geodrains, soft soil, consolidation process, oedometric test, piezocone test.
114
A área de estudo nomeada AE-1 (Figura 1) Coutinho (2007), para verificar os efeitos do
está localizada no Complexo Industrial e amolgamento do solo que, segundo Hvorslev
Portuário de Suape, em uma área de mangue (1949), compreende o enfraquecimento da
virgem, caracterizada pela presença de solos adesão entre as partículas ou no rearranjo
moles/ orgânicos, com restos de plantas e raízes, estrutural das partículas sólidas do solo.
tratando-se de uma via de acesso no sentido Segundo a proposta de Coutinho (2007), a
continente – mar. relação Δe/eo é utilizada como critério de
avaliação do amolgamento da amostra, onde Δe
é a variação no volume de vazios e eo o índice de
vazios inicial. São apresentadas quatro faixas de
classificação de amostra: muito boa a excelente,
boa a regular, pobre, e muito pobre.
Na área de estudo AE-1, verificou-se que 13
amostras foram classificadas como satisfatória,
em um total de 30 amostras (43% das amostras
obtidas), como observado na Tabela 1.
115
Figura 2. Perfil geotécnico do trecho 1.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Tabela 2. Resultados de cv e ch obtidos do ensaio de
3.1 Considerações Iniciais adensamento oedométrico.
Estacas Prof. (m) cv (m²/s) ch (m²/s)
Para o dimensionamento dos geodrenos na área 2a3 0,0146x10-6 0,0126x10-6
de estudo, foram considerados os cálculos e 4 a 4,74 0,0142x10-6 0,0134x10-6
considerações geométricas do diâmetro de E98
6a7 0,0068x10-6 -
influência e espaçamento, diâmetro equivalente -6
8a9 0,0183x10 -
e a influência do amolgamento na instalação do
-6
dreno. A resistência hidráulica do dreno não foi 2a3 0,0215x10 0,3022x10-6
considerada pois, segundo Hansbo (2004) a 4,65 a 5,65 0,0151x10-6 0,1036x10-6
E102
maioria dos geodrenos disponíveis no mercado 6,5 a 7,5 0,0494x10 -6
-
tem capacidade de descarga suficiente, de forma 8,5 a 9,5 0,0389x10 -6
-
a tornar essa questão desprezível em projeto.O
2a3 0,0336x10-6 -
dreno utilizado no estudo foi um dreno vertical -6
pré-fabricado, conformado por camada 4a5 0,0117x10 -
-6
polimérica, coberto em ambas as faces por um 6a7 0,0275x10 0,3202x10-6
geotêxtil permeável não tecido. A fixação do E112 8a9 0,0171x10-6 -
conjunto se dá a partir de um envolvimento em 10 a 11 0,0499x10 -6
0,2919x10-6
membrana de látex. Suas dimensões são 10 cm 14 a 15 0,0317x10-6 -
de largura e 0,4 cm de espessura. . O
17,5 a 18,5 0,0254x10-6 0,3306x10-6
dimensionamento foi feito considerando as
hipóteses simplificadoras de Terzaghi. Os 2a3 0,0374x10-6 -
-6
cálculos foram feitos para os ensaios de 4a5 0,0141x10 0,1258x10-6
E120
piezocone e oedométrico obtidos por Bello 6a7 0,0853x10-6 0,1361x10-6
(2011). A Tabela 2 apresenta os valores de Cv e 9 a 10 0,1229x10 -6
-
Ch obtidos pelo ensaio oedométrico.
116
A Tabela 3 apresenta esses mesmos valores um diâmetro equivalente (dw) conforme
mas agora para o ensaio de piezocone. apresentado na Figura 3. Para a determinação do
diâmetro equivalente do dreno foi utilizada a
Tabela 3. Resultados de cv e ch obtidos do ensaio de Equação 2, proposta por por Hansbo (1987):
adensamento oedométrico.
Estacas Prof. (m) ch (m²/s) cv (m²/s)
dw = (a+b)/2 (2)
4 5,90x10-7 3,93x10-7
6 1,10x10-6 7,33x10-7
E98
8 5,70x10-7 3,80x10-7
10 4,00x10-7 2,67x10-7
4 1,60x10-7 1,07x10-7
6 9,30x10-8 6,20x10-8
E102
8 1,00x10-8 6,70x10-9
10 1,20x10-6 8,00x10-7
5,30x10-9 Figura 3. Diâmetro equivalente dos geodrenos.
4 8,00x10-9
6 5,70x10-8 3,80x10-8
10 4,00x10-8 2,67x10-8 3.4 Influência do amolgamento na instalação
E112
12 9,10x10-8 6,07x10 -8 do dreno
16 3,80x10 -9 2,50x10-9
Nos cálculos levou-se em consideração o
18 1,50x10-7 1,00x10-7
amolgamento do solo compressível ao redor e ao
4 9,10x10-7 6,07x10-7 longo do dreno, devido a sua instalação.O
E120
8 3,00x10-7 2,00x10-7 amolgamento reduz a permeabilidade horizontal
do solo, e em consequência, a velocidade do
Foi desenvolvido um roteiro de cálculo adensamento (Almeida & Marques, 2010). O
analisando cada um dos três trechos amolgamento pode ser encontrado por (Hansbo,
compreendidos entre as estacas E98 e E102 1981):
(Trecho 01), E102 e E112 (Trecho 2) e E112 e
𝑘 𝑑𝑠
E120 (Trecho 3). Cada trecho tem 20m de 𝐹𝑠 = [( ℎ′ ) − 1] . 𝑙𝑛 ( ) (3)
𝑘ℎ 𝑑𝑤
extensão, sendo considerada uma profundidade
de 10m, 12 m e 18m respectivamente para cada
O mandril foi escolhido de modo a ter a menor
trecho entre as estacas.
área possível para que o amolgamento fosse
minimizado. Almeida e Marques (2010)
3.2 Diâmetro de Influência e Espaçamento
recomendam que para solos muito moles o
mandril deve ter área externa na ordem de
Os geodrenos foram dimensionados para
70cm², desse modo um mandril de cravação de
instalação em malhas triangulares de lado igual
12 cm x 6 cm foi escolhido para os cálculos.
a 𝑙. A escolha da malha triangular foi feita por
esta ser mais eficiente do que a malha quadrada.
3.5 Roteiro de Dimensionamento
O diâmetro de influência da malha triangular foi
calculado igualando a área do hexágono com a
O dimensionamento de um sistema de drenos
do círculo equivalente, como mostra a Equação
tem como objetivo determinar o espaçamento
1:
entre os drenos, a fim de se obter o grau de
adensamento médio da camada desejada em um
ⅆe = 1,05 ⋅ l (1)
período de tempo considerado aceitável.
Com os parâmetros geotécnicos 𝑐ℎ , 𝑐𝑣 e 𝑘ℎ /𝑘′ℎ
3.3 Diâmetro Equivalente dos Geodrenos
definidos de cada trecho a ser analisado foi
definido o padrão de cravação da malha. A partir
Os geodrenos possuem formato retangular e por
isso suas dimensões devem ser representadas por
117
disso determinou-se as grandezas geométricas em relação à profundidade dos três trechos de
pertinentes ao dreno 𝑑𝑤 , 𝑑𝑠 , 𝑑𝑚 e ℎ𝑎𝑟𝑔 . estudo. A Figura 4 mostra a variação dos valores
Considerou-se um grau de adensamento médio dos coeficientes de adensamento horizontal (Ch)
desejado para a camada de 90% e um tempo de e vertical (Cv) obtidos no ensaio de piezocone
projeto aceitável de 1 ano. O tipo de drenagem para o trecho 1 (4.a), trecho 2 (4.b) e trecho 3
utilizada foi a radial devido à drenagem vertical (4.c). Os valores médios para o Ch e o Cv foram
ter mais influência para camadas de solo de 5,15x10-7 m²/s e 3,43x10-7 m²/s
inferiores à 10m e também por ser mais respectivamente para o trecho 1, de 1,97x10-7
conservativa. Foi realizada uma estimativa m²/s e 1,31x10-7 m²/s para o trecho 2 e de
inicial para o espaçamento 𝑙 e calculado o valor 1,89x10-7 m²/s e 1,26x10-7 m²/s para o trecho 3.
de 𝑑𝑒 .
Foi encontrado o efeito do amolgamento do solo
devido à instalação do dreno, sendo este valor
adicionado à função de densidade de drenos na
análise do adensamento com drenagem
puramente radial:
𝑇ℎ .𝑑𝑒2
𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 =
𝑐ℎ
(6) (b)
118
estudo pois só dependem das dimensões do
dreno e do mandril de cravação adotados.
119
Tabela 8. Comparação de resultados obtidos do ensaio de ensaio de piezocone. Para o coeficiente de
piezocone e ensaio oedométrico. adensamento vertical foi observado que os
Prof. L(m) N° Drenos valores obtidos do ensaio oedométrico variaram
Trec.
(m) Piez. Oedom. Piez. Oedom. numa ordem de grandeza 10 vezes menor que do
1 10 3,6 1,8 6 12 ensaio de piezocone.
2 12 2,4 2,7 9 8 Para o trecho 2 e 3 os valores de espaçamento
3 18 2,3 2,6 9 8 encontrados nos dois ensaios foram semelhantes,
variando em torno de 2,5m. Para o trecho 1, os
A Tabela 9 apresenta uma comparação do tempo valores para o espaçamento apresentaram
de adensamento da camada de argila, para cada discrepância, sendo maiores para o ensaio de
ensaio, na situação com e sem a utilização de piezocone e menores para o oedométrico. A
geodrenos. Os resultados mostram que a diferença entre os valores encontrados para o
vantagem na utilização de geodrenos, em termos espaçamento é explicada devido à divergência
de tempo para obtenção do grau de adensamento entre os valores de coeficiente de adensamento
pretendido, foi diretamente proporcional à horizontal obtidos para o trecho 1. Os geodrenos
espessura da camada, pois quanto mais espessa a são mais eficazes quanto maior o valor do
camada maior será a distância de drenagem coeficiente de adensamento horizontal, pois a
vertical, o que irá favorecer a drenagem velocidade em que a partícula de água irá
horizontal, resultando em um maior ganho de percorrer a massa de solo será maior,
tempo adquirido com a utilização dos geodrenos. aumentando a distância necessária entre os
drenos para obtenção do adensamento desejado.
Tabela 9. Comparação do tempo de adensamento com e Os resultados mostram que a vantagem na
sem uso de geodrenos. utilização de geodrenos, em termos de tempo
tempo com uso para obtenção do grau de adensamento
tempo sem uso
Prof. de drenos
de drenos (anos)
pretendido, foi diretamente proporcional à
Trec. (anos)
(m) espessura da camada, pois quanto mais espessa a
Piez. Oedom. Piez. Oedom. camada maior será a distância de drenagem
1 10 0,95 0,92 1,96 30,08 vertical, o que irá favorecer a drenagem
2 12 0,98 1 7,37 32,92
horizontal, resultando em um maior ganho de
tempo adquirido com a utilização dos geodrenos.
3 18 0,93 0,96 17,29 52,47
Em relação aos valores encontrados para cada
ensaio, pode-se perceber que os valores para o
tempo sem utilização de drenos foram muito
5 DISCUSSÃO
maiores para o ensaio oedométrico do que para o
ensaio de piezocone. Esse resultado pode ser
É de fundamental importância avaliar
explicado devido à diferença entre os valores
corretamente a qualidade das amostras, cujo
para coeficiente de adensamento vertical obtidos
amolgamento em amostras de solos moles, que
através dos ensaios. O coeficiente de
consiste no enfraquecimento da adesão entre as
adensamento vertical médio obtido do ensaio
partículas dos grãos do solo, podem influenciar
oedométrico é cerca de 10 vezes menor que o
nos resultados de ensaios de laboratório. As
obtido pelo ensaio de piezocone. Quanto menor
amostras classificadas como boa a regular
o coeficiente de adensamento vertical menor será
apresentadas por Bello (2011) e que serviram
a velocidade em que a água irá percorrer a
como base para este estudo ainda apresentam um
camada de argila verticalmente, favorecendo a
pequeno amolgamento, sendo este causado
drenagem horizontal e, portanto, será observada
possivelmente pela construção de um aterro
uma maior vantagem em termos de tempo de
provisório na área de estudo, o que resultou na
adensamento na utilização de drenos verticais.
perturbação do solo presente no mangue virgem.
Devido à divergência entre os resultados
Os valores encontrados para o coeficiente de
obtidos a partir do ensaio de piezocone e do
adensamento horizontal nos dois ensaios foram
ensaio oedométrico é recomendado que sejam
próximos para o trecho 2 e 3, para o trecho 1
utilizados os dados obtidos do ensaio de
foram encontrados valores superiores a partir do
120
laboratório (oedométrico) para realizar o valores para coeficiente de adensamento vertical
dimensionamento dos geodrenos. Os ensaios de obtidos através dos ensaios. Observou-se que
laboratório costumam apresentar valores mais quanto menor o coeficiente de adensamento
precisos que os ensaios de campo por causar vertical, maior a vantagem, em termos de tempo
menos perturbação nas amostras coletadas. de adensamento na utilização de drenos
verticais.
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Este trabalho apresentou o dimensionamento de
geodrenos para um aterro sobre solo mole em Almeida, M.S.S., Marques, M.E.S. (2010). Aterros sobre
Suape/PE, localizado no Complexo Industrial solos moles: projeto e desempenho. São Paulo: Oficina
de Textos.
Portuário de Suape, a partir de coeficientes de
adensamento obtidos em ensaios de laboratório Bello, M.I.M.C.V. (2011). Parâmetros Geotécnicos e
(oedométricos) e de campo (piezocone). Foram Banco de Dados de Argilas Moles: o Caso de Suape.
considerados 3 trechos para o dimensionamento, Tese de Doutorado. D. Sc. Thesis. Federal University
sendo calculadas as médias dos coeficientes de of Pernambuco, p.319.
adensamento e posterior espaçamento dos Coutinho, R.Q. (2007) Characterization and Engineering
drenos e tempo de adensamento. Cada trecho foi Properties of Recife Soft Clays – Brazil. The Second
analisado separadamente, sendo todos os International Workshop on Characterization e
resultados comparados. Engineering Properties of Natural Soils. Tan, Phoon,
Os resultados do dimensionamento dos Higth and Leroueil (editors). Singapore, p. 2049-2100.
geodrenos demonstram que para o trecho 2 e 3 Hansbo, S. (1981). Consolidation of fine-grained soils by
os valores de espaçamento encontrados nos prefabricated drains. In: INT. ONF. ON SOIL MECH.
ensaios oedométricos e de piezocone foram AND FOUNDATION ENGINEERING, 10., 1981,
semelhantes, variando em torno de 2,5m. Para o Estocolmo. Proceedings... Estocolmo, v. 3, p. 677-682.
trecho 1, os valores para o espaçamento
Hansbo, S. (1987). Facts and fiction in the field of vertical
apresentaram discrepância, sendo maiores para o drainage. In: INT. SYMP. ON PREDICTION AND IN
ensaio de piezocone e menores para o GEOT. ENG., 1987, Alberta, Canada. Proceedings...
oedométrico. Alberta, p. 61-72.
Os geodrenos se mostraram mais eficazes
quanto maior o valor do coeficiente de Hansbo, S. (2004). Band drains. In: MOSELEY, M. P.;
KIRSCH, K. (Eds.). Ground improvement, Chapter 1.
adensamento horizontal, aumentando o Taylor & Francis, p. 4-56.
espaçamento entre os drenos, e
consequentemente reduzindo o número de Hvorslev, M.J. (1949) – Subsurface Exploration and
drenos necessários para obtenção do resultado Sampling of Soils for Civil Engineering Purposes –
desejado. Waterways Experiment Station – Vicksburg,
Mississsipi-USA.
Quanto ao tempo de adensamento, os
resultados mostraram que a vantagem na Terzaghi, K. (1943). Theoretical soil mechanics. New
utilização de geodrenos, em termos de tempo York: John Wiley & Sons, 1943. p. 510.
para obtenção do grau de adensamento
pretendido, foi diretamente proporcional à Terzaghi, K.; Frohlich, O. K. (1936). Theorie der Setzung
von Tonschichten. Viena: Franz Deuticke.
espessura da camada. Para camadas mais
espessas o ganho de tempo adquirido com a
utilização dos geodrenos foi maior.
Em relação aos valores encontrados para cada
ensaio, pode-se perceber que os valores para o
tempo de adensamento sem utilização de drenos
foram muito maiores para o ensaio oedométrico
do que para o ensaio de piezocone. Resultado
este explicado devido à diferença entre os
121
122
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Ennio M. Palmeira
Universidade de Brasília, DF, Brasil, palmeira@unb.br
RESUMO: Geotêxteis não tecidos têm sido utilizados como filtros em obras geotécnicas e de
proteção ambiental por décadas. Em algumas aplicações, os filtros podem ser submetidos a esforços
de tração em diferentes direções ao longo da vida útil da obra. Estes são os casos de aplicações de
geotêxteis em barreiras para sedimentos, barreiras capilares, tubos geotêxteis e separação. Sob tais
condições, haverá alteração da abertura de filtração do filtro, o que influenciará sua capacidade de
retenção e condições de colmatação. O presente trabalho avalia a acurácia de solução analítica
desenvolvida para se obterem limites superiores para a abertura de filtração de geotêxteis não tecidos
agulhados tracionados. No presente estudo foi utilizado o método dos elementos finitos. As previsões
pelo método analítico e por elementos finitos são comparadas com resultados de ensaios de ponto de
bolha (Bubble Point Test) em amostras de geotêxteis tracionados em duas direções (deformações
variando de 0 a 20%). Os resultados obtidos mostram que as previsões analíticas e por elementos
finitos compararam bem, que variações significativas podem ser observadas na abertura de filtração
de geotêxteis submetidos a esforços de tração e que as previsões pelo método analítico podem ser
úteis para a estimativa da abertura de filtração de geotêxteis não tecidos agulhados tracionados.
ABSTRACT: Nonwoven geotextiles have been used as filters in geotechnical works and
environmental protection for decades. In some applications, the filters can be subjected to tensile
stresses in different directions over the life of the work. These are the cases of applications of
geotextiles in sediment barriers, capillary barriers, geotubes and separation. Under such conditions,
there will be a change in the filtration, which will influence its retention capacity and clogging
conditions. The present work evaluates the accuracy of the analytical solution developed to obtain
superior limits for the filtration opening of stretch non-woven geotextiles. In the present study, the
finite element method was used. The analytical and finite element predictions are compared with
Bubble Point Test results in samples of geotextiles stretch in two directions (deformations varying
from 0 to 20%). The results showed that the analytical and finite element predictions compared well,
that significant variations can be observed in the filtration aperture of geotextiles subjected to tensile
stresses and that the predictions by the analytical method may be useful for estimating the filtration
aperture of stretched nonwoven geotextiles.
123
1 INTRODUÇÃO
Geotêxteis têm sido usados como dreno e filtros O presente trabalho visa avaliar a variação da
ao longo do tempo. Sua aplicação bem-sucedida abertura de filtração de geotêxteis não tecidos
em engenharia geotécnica e trabalhos de por meio de uma abordagem analítica e pelo
proteção ambiental pode ser atribuída a várias método de elementos finitos. As previsões são
razões, tais como: materiais manufaturados, um comparadas com os resultados de ensaios de
melhor controle de qualidade é obtido quando ponto de bolha (Bubble Point Test) em amostras
comparado com materiais granulares naturais, de geotêxteis tracionadas em duas direções. Os
produtos com características hidráulicas resultados e discussão são apresentados a seguir.
satisfatórias disponíveis para a maioria das
aplicações, os geotêxteis apresentam facilidade e 2 MATERIAL E MÉTODOS
rapidez de instalação, mesmo em condições
difíceis de solo, entre outras (Palmeira & 2.1 Equipamento
Gardoni, 2000).
A utilização de filtros geotécnicos está Os resultados dos ensaios de ponto de bolha
normalmente associada a drenos, elementos que foram obtidos de acordo com Melo (2018) e
juntos formam o sistema filtro-drenante cuja Moraes Filho (2018) pelo equipamento mostrado
finalidade é garantir a estabilidade e o bom na Figura 1.
desempenho das estruturas em que se inserem, Inicialmente, a amostra de geotêxtil foi
tais como: contenções, aterros rodoviários, tracionada até uma certa deformação utilizando
barragens, entre outras (Giroud, 1981). o aparelho apresentado na Fig. 1 (a). Este
Os geotêxteis são elementos compressíveis e aparelho compreende uma estrutura de reação
geralmente empregados sob confinamento. Os rígida, à qual dois cilindros hidráulicos são fixos.
geotêxteis não tecidos são particularmente A tensão pode ser aplicada nas bordas do
comuns em muitos projetos de engenharia. Em espécime do geotêxtil em duas direções
comparação com os geotêxteis tecidos, o não ortogonais ao longo do plano da amostra.
tecido apresenta uma estrutura de tecido mais As cargas de tração e os deslocamentos
complexa, que influencia marcadamente a forma podem ser medidos por células de carga e
como interagem com os solos e fluidos (Palmeira transdutores de deslocamento, respectivamente,
et al., 2019). Para os filtros geotêxteis não instalados nas garras nas bordas da amostra.
tecidos observa-se que o confinamento altera a Para controlar melhor as deformações na região
sua espessura e a geometria dos vazios, que é testada na célula de ponto de bolha, cruz
provocando uma redução nas constrições, de referência, com dimensões conhecidas, foi
aumentando a retenção de material e provocando traçada com uma caneta marcadora na camada de
redução da permeabilidade do filtro (Palmeira & geotêxtil (Fig. 1a). Este procedimento assegurou
Fannin, 1998; Palmeira & Gardoni, 2000). que as deformações desejadas fossem
Devido à sua complexidade, muitas pesquisas mobilizadas na região central da amostra. Depois
foram realizadas nas últimas décadas no que as deformações foram alcançadas, uma
laboratório e no campo para investigar o moldura de fixação rígida quadrada (largura
comportamento do filtro geotêxtil não tecido sob interna de 100 mm) foi firmemente fixada ao
diferentes condições (Gourc, 1982; Faure, 1988; geotêxtil. A região central contendo a moldura
Fischer et al., 1996; Palmeira and Gardoni, 2000; foi então cortada do resto da amostra. A moldura
Palmeira et al., 2005; Palmeira et al., 2010; quadrada garantiu que as deformações aplicadas
Koerner and Koerner, 2015; Moraci et al. 2016; fossem mantidas após o geotêxtil ter sido
Palmeira and Trejos Galvis, 2017). cortado. O geotêxtil tracionado na moldura foi
Apesar de seu sucesso, o filtro geotêxtil ainda então preparado para os testes do ponto de bolha
apresenta desafios para especificação adequada (BBP), como descrito abaixo.
e previsão de comportamento a longo prazo em
aplicações geotécnicas e geoambientais.
124
avaliada testando-se peneiras padrão com
dimensões de poros conhecidas. O desvio entre
as medidas e as dimensões reais dos poros foi
inferior a 5%, o que pode ser considerado
satisfatório para os fins do teste.
Nos ensaios em que o geotêxtil foi submetido
a tensão apenas numa direção (ensaios
uniaxiais), um espécime geotêxtil de 200 mm de
largura e 100 mm de altura foi deformado em um
ensaio de tração em faixa larga, segundo a norma
ASTM D4595. Tendo atingido a deformação
desejada, a moldura de aço rígida mencionada
acima (Fig. 1a) também foi usada para permitir
que a porção de interesse da amostra fosse
cortada livre mantendo as deformações
especificadas. Deformações (uniaxiais e
biaxiais) variando de 0 a 20% foram utilizadas
nos testes.
2.2 Materiais
125
ay uy
ay = O -1=2 O (4)
2.3 Avaliação da abertura de poro dos o o
materiais geotêxteis
Onde Oe é o diâmetro equivalente do poro
De acordo com Palmeira et al. (2019), para um deformado com formato elíptico, Oo é o diâmetro
material semelhante a uma placa uniforme, inicial do poro (circular) e ax e ay são as
isotrópico, elástico e contínuo, a forma e variações do diâmetro do poro ao longo das
dimensões finais deformadas de um orifício direções x e y normalizadas por Oo,
inicialmente circular dependerão das suas respectivamente, ux é o deslocamento na direção
dimensões iniciais, propriedades do material e da x e uy é o deslocamento na direção y (Fig. 2b).
sy
ey
magnitude e orientação das deformações
mobilizadas. Palmeira et al. (2010) admitiram
que, antes da deformação, a maior constrição
Oo
num geotêxtil não tecido apresentasse uma
forma circular, como mostrado na Fig. 2, e que A
B sx = xs y
al., 2014): x
126
Oo
uy =Ky (3sy -sx ) (7)
2E
l = -0.0065u2 + 0.0007u - 0.0003 (11)
Onde E é o Módulo de Young da placa, sx e b = -0.5286u2 - 0.119u + 1.7963 (12)
sy são as tensões de tração horizontais e verticais
nas bordas das placas, Kx e Ky são fatores de Onde K é o fator de correção para considerar
correção que levam em conta grandes grandes deformações dos poros quando ex = ey, e
deformações, já que as equações 6 e 7 foram
é a deformação do geotêxtil (e = ex = ey) e u é o
originalmente desenvolvidas para condições de
coeficiente de Poisson do material.
pequena deformação, quando Kx = Ky = 1.
Combinando as equações 3, 4, 6 e 7, tem-se
(Palmeira et al. 2019):
2.4 Avaliação da abertura de poro dos
Kx materiais geotêxteis pelo método de elementos
ax = %3sx -sy & (8) finitos (FEM)
E
127
o módulo de Young (E) e o coeficiente de Para cada uma das etapas desenvolvidas nas
Poisson (u) do material. análises foi considerada a hipótese de grandes
De acordo com a Figura 4, foram realizadas deformações. Foram consideradas deformações
diferentes análises variando-se as condições de nas direções x e y iguais a 2%, 5%, 10% 15% e
contorno. Para o caso da análise de deformação 20%. Na figura 4, apresenta-se um esquema das
plana (Figura 4a), as condições de contorno condições que foram utilizadas nas simulações.
foram fixadas contra deslocamentos na direção x
mas permitindo-se deslocamentos na direção y e 3 RESULTADOS
z. Para o caso de deformação biaxial (Figura 4b)
se consideraram deslocamentos livres nas A Figura 5 mostra a variação de Oe /Oo com a
direções x ,y e z. A malha de elementos finitos deformação para diferentes valores de
foi formada com elementos tetraédricos com 10 coeficiente de Poisson para ex = ey (condição de
nós e foi gerada por meio da opção de grandes deformações), que é o pior cenário para
distribuição de elemento um refinamento na o aumento do tamanho dos poros no que se refere
região do poro. à capacidade de retenção de partículas de solo
arredondadas. Nesta figura também se mostra a
mesma variação obtida por meio das simulações
numéricas para valores de u de 0.1, 0.3 e 0.45.
FEM-𝝊= 0,3
2 FEM-𝝊= 0,1
Oe/Oo
FEM-𝝊= 0,45
𝝊=0,1
𝝊=0,3
1 𝝊=0,5
0 10 20
(a)
ey (%)
128
caso ex =e y, onde é tomado em consideração
2
grandes deformações. Também são apresentadas
previsões obtidas por elementos finitos, sob
𝝊=0,3 grandes deformações, para u igual a 0.1, 0.3 e
0.45. Nas comparações, observa-se uma boa
Oe/Oo
FEM-𝝊= 0,3
(Palmeira et al. 2019) e simulações numéricas
para u igual a 0.3. Deve se atentar qua as
Deformação
biaxial -G2 simulações numéricas foram realizadas sob
condições não confinadas e para deferentes
1 estados de deformação.
0 10 20 De acordo com Palmeira et al. (2019), a
ey (%) abordagem descrita acima pode ser útil para a
previsão de um limite superior para o tamanho
(b)
da abertura de filtração do geotêxtil em situações
em que o filtro geotêxtil não tecido seja
2
submetido a condições biaxiais, tais como em
barreiras de sedimentos, tubos geotêxteis e como
𝝊=0,3 elemento de separação entre base e subleito ou
barreira capilar em uma estrada. No entanto,
Oe/Oo
129
não tecidos submetidos a deformações a tração Hoberg, T.B., Verneuil, E., Hosoi, A.E., 2014.
iguais em duas direções ortogonais. Para isso, Elastocapillary flows in flexible tubes. Physics of
Fluids 26 (12),122103-1/17, American Institute of
foram feitas simulações numéricas por Physics. DOI: 10.1063/1.4902509.
elementos finitos. Muito boa concordância foi Kirsch, G. 1898. Die theorie der elastizität und die
obtida na comparação entre variação da abertura bedürfnisse der festigkeitslehre. Zeitschrift des
do poro obtida pela abordagem analítica com a Vereines Deutscher Ingenieure, 42, 797–807.
obtida por elementos finitos. Koerner, R.M., Koerner, G.R., 2015. Lessons learned from
geotextile filter failures under challenging field
Os resultados obtidos admitindo-se um conditions. Geotextiles and Geomembranes 43, 272-
coeficiente de Poisson do geotêxtil igual a 0.3 281.
foram comparados com os valores obtidos do Kovács, G., 1981. Developments in water science 10:
ensaio BBT, confirmando que a abordagem seepage hydraulics. Elsevier Scientific Publishing
analítica pode ser utilizada para a estimativa de Company, New York, USA.
Melo, D.L.A., 2018. Avaliação da abertura de filtração de
um limite superior para a abertura de filtração de geotêxteis não tecidos sob diferentes esforços
geotêxteis não tecidos agulhados tracionados solicitantes. Dissertação de Mestrado, Publicação
quando quando ex = ey. A solução analítica pode, G.DM-310/18, Departamento de Engenharia Civil e
então, ser útil em aplicações destes materiais em Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
barreiras de sedimentos, tubos geotêxteis, 80p.
Moraes Filho, I.P., 2018. Avaliação da abertura de
separação e barreiras capilares. filtração de geotêxteis sob diferentes condições de
Geotêxteis não tecidos possuem solicitação mecãnica. Dissertação de Mestrado,
microestrutura bastante complexa e as análises Publicação G.DM-297/2018, Departamento de
apresentadas no presente trabalho não simularam Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
condições de confinamento, situação esta Brasília, Brasília, DF, 122 p.
Moraci, N., Mandaglio, M.C., Salmi, M., 2016. Long term
existente quando o geotêxtil encontra-se behavior of woven and nonwoven geotextile filters. In:
enterrado. Devido à complexidade do problema, GeoAmericas 2016, vol. 1, pp. 740-749.
mais pesquisas são necessárias para uma melhor Palmeira, E.M, Melo, D.L.A., Moraes Filho, I.P., 2019.
compreensão do comportamento dos filtros não- Geotextile filtration opening size under tension and
confinement. Submetido para publicação.
tecidos submetidos a deformações de tração e
Palmeira, E.M., Beirigo, E.A., Gardoni, M.G., 2010.
confinamento. Tailings-nonwoven geotextile filter compatibility in
mining applications. Geotextiles and Geomembranes
AGRADECIMENTOS 28, 136-148.
Palmeira, E.M., Fannin, R.J., 1998. A methodology for the
Os autores agradecem à Universidade de Brasília evaluation of geotextile pore opening sizes under
confining pressure. Geosynthetics International 5(3),
e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal 347-357.
de Nível Superior (CAPES), que apoiaram a Palmeira, E.M., Gardoni, M.G., 2000. The influence of
pesquisa relatada neste trabalho partial clogging and pressure on the behaviour of
geotextiles in drainage systems. Geosynthetics
International 7(4-6), 403-431.
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Soil–geotextile filter interaction under high stress
Faure, Y.-H., 1988. Approche structural du comportement
levels in the gradient ratio test. Geosynthetics
filtrant-drainant des geotextiles. PhD. Thesis,
International 12(4), 162-175.
Universite Joseph Fourier, Grenoble, France (in
Palmeira, E.M., Trejos Galvis, H.L., 2017. Opening sizes
French).
and filtration behaviour of nonwoven geotextiles under
Fischer, G.R., Holtz, R.D., Christopher, B.R.,1996.
confined and partial clogging conditions.
Evaluating geotextile pore structure. In: Recent
Geosynthetics International 24(2), 125-138, DOI:
Developments in Geotextile Filters and Prefabricated
//dx.doi.org/10.1680/jgein.16.00021.
Drainage Geocomposites, Bhatia, S. S. & Suits, L. D.,
Editors, ASTM STP 1281, American Society for
Testing and Materials, West Conshohocken, PA, USA,
pp. 3–18.
Giroud, J. P. (1981). Designing with geotextiles.
Matériaux et Constructions, 14(82), 257– 272.
Gourc, J.-P., 1982. Quelques aspects du comportement des
geotextiles em mécanique des sols. PhD. Thesis,
University of Grenoble, France (in French).
130
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Os processos de licenciamentos para novos depósitos de rejeitos têm sido cada vez mais
restritos face às questões ambientais associadas a ocupação de grandes áreas, bem como a
possibilidade de contaminação de solo e cursos d’água. Além disso, as consequências de uma
eventual ruptura podem trazer danos irreversíveis ao Meio Ambiente e as comunidades do entorno.
Nesse sentido, vem sendo cada vez mais solicitado o uso de tecnologias que permitam a disposição
dos materiais de forma mais controlada, compatibilizando custos, prazos, estabilidade e segurança.
A proposta de armazenamento de rejeitos em tubos de geotêxtil tem sido uma alternativa a esses
requisitos, uma vez que considera o dessecagem e sedimentação do material para uma geometria de
empilhamento. As seções transversais dos tubos são praticamente elípticas quando cheias, e estáveis
geometricamente na relação altura versus largura. Dessa forma, é possível armazenar os rejeitos em
um sistema de confinamento, desaguando o material e estabelecendo um sistema geotecnicamente
estável. Essa tecnologia pode ser aplicada a qualquer tipo de rejeito, haja visto a grande variedade de
abertura e malhas dos geotêxteis. Para rejeitos muito finos, pode-se utilizar floculantes que acelerem
a sedimentação do material. No que diz respeito aos materiais contaminados, é possível prever um
sistema de impermeabilização na base do sistema, coletando o percolado produzido. A flexibilidade
do tubo também permite ocupação em geometrias planas até as mais inclinadas. A pilha de tubos,
quando desaguada, pode conferir resistência suficiente para ser utilizada como fundação de
construções. Este artigo apresenta um estudo de caso onde foi utilizado tubos de geotêxtil para
dessecagem e empilhamento de rejeitos finos do processo de mineração de ouro.
ABSTRACT: The licensing processes for new tailings deposits have been increasingly restricted to issues
related to large areas, as well as the possibility of contamination of soil and watercourses. In addition, as
the consequences of a possible rupture can be damaged by the Environment and the surrounding
communities. In this sense, it has been increasingly requested the use of technologies that allow the
installation of materials in a more controlled way, reconciling costs, deadlines, stability and security. The
proposal of tailings storage in geotextile tubes has been one of the requirements for an evaluation of
stacking geometry. Dimensions are generally elliptical when fulland are geometrically stable in height
versus width ratio. In this way, it is possible to obtain the tailings in a confinement system, unraveling the
material and establishing a geotechnically stable system. This technology can be applied to any type of
rejection, having seen the great variety of applications and meshes of geotextiles. For very fine tailings,
flocculants can be used that accelerate sedimentation of the material. With regard to contaminated
materials, it is possible to provide a waterproofing system at the base of the system, collecting this material
from the dewatering. The tube's flexibility also allows it to be employed in flat geometries up to the most
inclined. The stack of pipes, when drained, can impart the strength needed to be built as the foundation of
constructions. This paper presents a case study and used the geotextile package for dewatering and
stacking tailings and gold mining processes.
131
1 INTRODUÇÃO • Teste 1 – Contém adição de Policloreto
de Aluminio 18% (IZET 803) na
Para avaliar a performance do sistema de dosagem de 0,2mL e Polímero Aniônico
dessecagem, sedimentação e empilhamento de IFLOC 101 na dosagem de 3ppm
rejeitos provenientes de uma mineração de ouro • Teste 2 – Contém adição de Policloreto
na modalidade de Tubos de Geotêxtil (Filter de Aluminio 18% (IZET 803) na
Bag`s), foi realizado um Projeto Piloto, com dosagem de 0,4mL e Polímero Aniônico
dessecagem em escala reduzida e em fases IFLOC 101 na dosagem de 3ppm
evolutivas, a saber: • Teste 3 – Contém adição de Policloreto
• Etapa 1 – Ensaios de filtração e de Aluminio 18% (IZET 803) na
floculação dosagem de 0,6mL e Polímero Aniônico
• Etapa 2 – Ensaios em Tubos de Geotêxtil IFLOC 101 na dosagem de 3ppm
reduzidos para determinação da Curva de
Secagem As Figuras 1 e 2 apresentam o registro do
• Etapa 3 – Células unitárias reais Piloto ensaio de Jar Test para determinação do
floculante sendo, respectivamente, no início do
O geotêxtil utilizado nos tubos de dessecagem ensaio e após o ensaio.
é do tipo MACTUBE W1 7.10, definido como
um geocontainer de formato cilíndrico fabricado
com geotêxtil tecido de elevada resistência,
produzido através do entrelaçamento de
filamentos de polipropileno de alta tenacidade,
em ângulos retos, que pode ser fabricado com as
dimensões adequadas para atender as
especificidades e necessidades de cada projeto.
O produto é inerte à degradação biológica e
resistente a ataques químicos (álcalis e ácidos), o
que permite o escoamento da fração líquida
através dos seus poros, retendo o material sólido
no seu interior. Figura 1. Ensaio Jar Test - Início
2 ETAPA 1
132
Polímero IZet 803 (Policloreto de Alumínio durabilidade. Nesse caso, o melhor resultado
18%), para melhoria enquanto agente oxidante e foi com o W1 7.10.
coagulante. Ambos os produtos são de III) O material retido foi avaliado quanto ao teor
classificação livre para transporte. de sólidos totais, onde pode-se verificar o
A floculação somente com o IFloc valor de 42%, através da verificação em
apresentou um bom resultado, porém, ainda balança. Deve-se salientar que, durante o
passível de melhoria. A medida em que se período, uma parte dos sólidos acabaram se
aumentava a quantidade de polímero acima dos “consolidando” dentro do tambor de coleta,
3ppm, o resíduo apresentava características de provavelmente o material mais denso.
viscosidade de excesso de polímero, o que Entendemos assim que estes valores
comprometeria o processo de filtragem. Por esse representam um valor conservador e os testes
motivo, procedeu-se com a mistura ao IZet, nas da Etapa 2 (Enchimento dos Mini tubos em
condições estabelecidas na Tabela 1. Conforme campo), certamente validariam e iriam aferir
demonstrado, foram realizados mais de 22 estes resultados.
combinações de dosagem, sendo que as
melhores eficiências são as 3 destacadas na Notando-se o perfil de comportamento do
tabela. Para entendimento, AD significa abaixo resíduo floculado, optou-se por um teste
do desejado, D refere-se a desejado e EF, para adicional de filtração, utilizando duas etapas de
excesso de floculante. Floculação e Filtragem, em contrapartida a
tradicional, de etapa única. Ou seja, foi realizada
Tabela 1. Ação combinada dos polímeros. uma primeira floculação, passando este resíduo
IZET 803 pelo tubo, tendo sido a retenção obtida similar à
Policloreto de Alumínio 18% ocorrida nos ensaios anteriores. Em seguida, o
Teste Floculação
0.1 0.2 0.4 0.6 efluente foi novamente floculado e coagulado,
0 ml passando por novo processo de filtração, em
mL mL mL mL
IFLOC
1 ppm AD AD AD AD AD outra malha de geotêxtil. A filtragem ocorreu por
101 processos de mini cones feitos com círculos de
2 ppm AD AD AD AD AD geotêxtil filtrante.
O objetivo desta dupla filtragem foi avaliar se
Polímero 3 ppm AD AD D D D haveria uma melhor eficiência no processo de
Aniônico
4 ppm AD AD EF EF EF filtragem e, com isso, subsidiar o projeto do
sistema de drenagem de forma mais efetiva. Uma
5 ppm AD AD EF EF EF
vez que trata-se de resíduo contaminado
quimicamente, a redução da turbidez não é
Os melhores resultados, técnicos e suficiente para que o resíduo possa ser
econômicos, foram atingidos com IFloc 101 em disponibilizado livremente no meio ambiente.
3ppm combinado com IZet 803 na dosagem de Nesse sentido, a dupla filtragem reduz a
0,2mL especificação base para as etapas utilização de coagulantes no retorno da água
seguintes. Após a definição dos polímeros captada para utilização na planta de
floculantes e a dosagem a ser adotada, procedeu- beneficiamento.
se os ensaios nos tubos. Para a análise, foram
utilizados 100mL de polpa floculada, obtendo-se 3 ETAPA 2
seguintes resultados:
A Etapa 2 considerou o enchimento dos modelos
I) Tempo de deságue para 100ml foi de reduzidos dos tubos (Mini Bolsa), na dimensão
aproximadamente 65 segundos. de 60x60cm, sendo:
II) O material retido nos tecidos não apresentou • Mini Bolsa 1 – sem adição de polímero
evidências de colmatação. Ressalta-se que a • Mini Bolsa 2 – com polímero, conforme
eficiência da filtração do processo também é dosagem ideal da Etapa 1
afetada em relação ao perfil do tecido • Mini Bolsa 3 – com polímero acima da
utilizado nos tubos, que devem atender a dosagem ideal da Etapa 1
critérios, mecânicos, hidráulicos e de
133
O enchimento da Mini Bolsa 1 foi feito uniformemente. Utilizando uma balança-estufa,
diretamente com o material da planta, sem foi possível medir a avaliar a secagem do
adição de polímero (Figura 3). Neste teste, material, através da coleta de amostras no
comprovou-se que, sem a adição de polímero, interior da Mini Bolsa, sendo os resultados
quase que a totalidade do material passa pela apresentados na Tabela 2.
malha do geotêxtil, como pode ser verificado na
coloração do passante da Figura 4 e na vista do Tabela 2. Curva de Secagem da Mini Bolsa 2.
interior da Mini Bolsa na Figura 5. Peso
Inicio
Peso % de
Data Horário inicial Final umidade
%
(g) (g) final
Dia 4 12:00:00 20 100 13,69 68,47
Dia 4 15:00:00 20,877 100 14,854 71,15
Dia 5 12:00:00 20,709 100 14,196 68,54
Dia 8 15:00:00 23,596 100 16,175 81,11
Dia 9 13:00:00 22,605 100 15,742 77,46
Etapa Policloreto
Polímero
de Alumínio
Aniônico
18%
3 ppm
Etapa 1 0,20ml/L
(3ml/L)
3 ppm
Etapa 2 0,34ml/L
(3ml/L)
134
Tabela 4. Curva de Secagem da Mini Bolsa 3.
b-) Por outro lado, faz-se necessária a verificação
das pressões que o bombeamento e os resíduos
Peso Peso % de
Data Horário inicial
Inicio
Final umidade
exercerão sobre o tecido das bolsas (Bag`s)
(g)
%
(g) final durante seu enchimento, bem como a pressão
após o empilhamento, garantindo que não haja
Dia 18 01:10:21 11,989 100 7,63 63,64 risco de rompimento (rasgo ou explosão) dos
Dia 19 00:24:33 12,764 100 9,64 75,54 mesmos. Para tanto, foram realizadas análises de
tensões, a partir do software Geocops. Ressalta-
Dia 23 100,89 72,49 71,85
se que essas análises são extremamente sensíveis
Dia 24 100,5 76,645 76,26 às características do resíduo desidratado,
podendo sofrer alterações em função dos
Após os ensaios da nova dosagem para a Mini resultados dos Testes Piloto, bem como do
Bolsa 3, verificou-se uma floculação comportamento real em campo.
considerável, reduzindo a “fuga” de finos
ocorrida no enchimento da Mini Bolsa 2. No c-) Para as análises de estabilidade
entanto, percebe-se claramente pelos dados da convencionais, usando o software Slide, buscou-
tabela que após 3 novos ciclos de enchimento, o se atender os mínimos fatores de segurança
material passante reduziu-se significativamente. exigidos pela norma NBR13029 de 07/2017, que
Esse fenômeno é denominado de filter cake, de diz respeito a elaboração de projeto de
ocorrência natural em processos de filtragem disposição de estéril/rejeito em pilha, sendo
com geotêxtil (Morgan, 2014). analisados os seguintes cenários de ruptura para
o empilhamento:
4 ANÁLISES DE ESTABILIDADE
• Condição Normal (FSmínimo de 1,50):
Para estimativa dos parâmetros do rejeito foram cenário final do empilhamento, contendo
considerados ensaios de caracterização em 2 rejeito adensado, onde o nível d’água
amostras, adotando-se um peso específico de 21 encontra-se numa posição máxima
kN/m³ para o rejeito adensado, tendo por base os estimada;
valores obtidos para o rejeito compactado
(ensaio de compactação). • Condição de solicitação sísmica
A polpa possui peso específico em torno de (FSmínimo de 1,10): cenário crítico,
13 kN/m³ a 14 kN/m³, com granulometria que onde é considerada a hipótese de
caracteriza o rejeito como silto arenoso. Adotou- ocorrência de efeito sísmico estimado,
se uma coesão nula e um ângulo de atrito de 32°. equivalente a 0,06.
Para os estudos de estabilidade foi utilizado o
software Slide, versão 6.0, da Rocscience, que A Figura 7 apresenta a análise de estabilidade
utiliza o método do equilíbrio limite, com que foi realizada considerando ruptura circular,
análises pela metodologia de Morgenstern-Price. inclinação de 28º, condição normal, e obtendo-
O nível d’água considerado foi inferido, sendo se o FS de 1,52. Para a condição sísmica, o FS
estabelecido numa cota mais elevada, em favor foi de 1,28.
da segurança nos dimensionamentos. Para as
análises de estabilidade foram assumidas as
seguintes premissas:
135
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS do adensamento e desaguamento dos materiais.
Em vista dos recentes acontecimentos no cenário
Para a implantação de sistemas de dessecagem das rupturas de barragens, é necessário que
de rejeitos de ouro na modalidade de Tubos de novas tecnologias sejam inseridas nos processos
Geotêxtil, é essencial que a fundação de base seja minerários, para que seja ampliada a questão da
completamente revestida por geomembrana a segurança das estruturas e haja uma maior
fim de evitar qualquer contaminação do lençol assertividade na mitigação de impactos e riscos
freático por resíduos contaminantes liberados ambientais.
durante o processo de dessecagem. Esse resíduo
deverá ser direcionado para local adequado
(sump ou reservatório), capaz de comportar o REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
volume de fluxo gerado, devendo ser
constantemente monitorado, de forma a garantir Morgan, Kevin R., "Geotextile Tubes and Their
a segurança do meio ambiente. Application to Dewatering" (2014). Electronic
Theses and Dissertations. 1196
Com relação aos estudos aqui apresentados
podem ser feitas as seguintes considerações:
AGRADECIMENTO
• Para validação dos dimensionamentos
deverão ser considerados os resultados Os autores agradecem à Maccaferri do Brasil
obtidos nos Testes Piloto – Fase 3, tendo em pelo imenso apoio na realização do projeto piloto
vista as características e comportamento do para testes dos materiais em campo.
rejeito. A Etapa 3 ainda não foi realizada.
• Durante as escavações é importante que
sejam seguidos os desenhos de projeto,
atentando para as condições do material a
ser removido, realizando as adequações de
geometria, caso necessário, visando sempre
a estabilidade e segurança da obra.
• Os parâmetros de fundação foram estimados
com base em valores de nSPT, uma vez que
não foram disponibilizados dados de ensaios
de resistência pelo cliente. Nesse sentido,
tendo em vista as incertezas envolvidas, é
recomendável que sejam realizados
futuramente ensaios de resistência e
adensamento em amostras da fundação para
validação desses parâmetros.
6 CONCLUSÕES
136
Geossintéticos no Controle de Erosão
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Erosões são ocorrências comuns em taludes de corte e aterro quando não sofrem uma
intervenção externa para proteção das suas faces, manutenção e conservação da integridade da
estrutura do maciço. O processo de erosão superficial pode ser desencadeado pelas precipitações,
podendo ser intensificado pelo tipo, uso e cobertura de solo, perfil do terreno, ação do vento e taxa
de infiltração. Com a finalidade de analisar o comportamento dos taludes do canal de adução da
Barragem de Simplício/Eletrobras/Furnas, localizado entre os Estados de Minas Gerais e Rio de
Janeiro, iniciou-se um trabalho de pesquisa em parceria com Eletrobras Furnas para estudar qual
seria o geossintético mais adequado para conservar e proteger os taludes em questão. Para este fim,
foram realizados ensaios para caracterização geotécnica com o solo dos taludes e ensaios de
simulação de chuva em laboratório com amostras nas dimensões de 1,0 x 1,0 x 0,15 m com cada
material selecionado para o emprego em campo. Foram utilizadas, até o momento, três tipos de
materiais, sendo denominada de GA 1 uma geomanta com reforço metálico em malha hexagonal,
GA 2 uma biomanta de fibra de coco com tela plástica e GA 3 outra biomanta de fibra de coco. Nos
ensaios de simulação de chuva com duração de uma hora e intensidade média correspondente à da
região, observaram-se diferentes desempenhos em termos de quantidade de material erodido em
comparação com o ensaio de referência, com o solo sem proteção. O presente trabalho apresenta e
discute os resultados obtidos.
ABSTRACT: Erosions are common occurrences in slopes when they do not suffer external
intervention to protect their surfaces, maintenance and conservation of the integrity of the slope
structure. The surface erosion process can be triggered by rainfall and can be intensified by soil
type, soil use and cover, ground profile, wind action and infiltration rate. In order to analyze the
behavior of the slopes of the canal of the Simplício Dam/Eletrobras Furnas, located between the
states of Minas Gerais and Rio de Janeiro, a research project was started in association with
Eletrobras Furnas to study which would be the most suitable geosynthetic for conservation and
protection of the slopes. For this purpose, tests were carried out including geotechnical
characterization of slope soil and rainfall simulation tests in the laboratory on specimens measuring
1.0 x 1.0 x 0.15 m on each material selected for field use. Three types of protective geosynthetic
materials have been used so far, being GA 1 a geomat with hexagonal metallic mesh reinforcement,
GA 2 a biodegradable coconut fiber geomat with plastic screen and GA 3 another biodegradable
coconut fiber geomat. Rainfall simulation tests lasting one hour and with average intensity
corresponding to that of the region showed different performance in terms of the amount of eroded
139
material compared to the reference test on unprotected soil. The present work presents and
discusses the results obtained.
140
controle das características da chuva. Dentre área considerada, mais o coeficiente de
essas características, tem-se o diâmetro e a uniformidade se aproxima de 100%. Nos
distribuição das gotas da chuva simulada, altura estudos realizados pelo autor, o coeficiente de
de queda e velocidade, tempo de duração, uniformidade obtido para as diferentes
intensidade e energia cinética, não sendo intensidades de precipitações testadas foi cerca
possível controlar todos esses parâmetros no de 70%, sendo considerado suficiente para uma
caso de uma chuva natural (Ribeiro et al., simulação bem sucedida, com o qual também
2000). concordam outros autores, tais como, Loch et
Smets et al. (2011) verificaram, nos seus al. (2001) e Lascelles et al. (2000).
experimentos de simulação de chuva que a Diante do exposto, este trabalho tem o
precipitação que cai sobre os geotêxteis objetivo de analisar o comportamento do solo
contribui diretamente para o escoamento quando submetido a uma chuva simulada em
superficial, levando a uma diminuição da laboratório, simulando um talude com
profundidade do escoamento em comparação inclinação definida nas condições de solo
com a situação de solo descoberto. descoberto, e protegido por três tipos de
Ogbobe et al. (1998), em seus estudos com geossintéticos diferentes, comparando-se os
simulador de chuvas, visaram a prevenção de desempenhos em termos de quantidade de
erosões em taludes variando as inclinações material erodido.
entre 10° a 45° com o solo protegido com
geossintético e desprotegido. Para verificar a
eficiência do uso entre três geomantas, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
mediram-se as quantidades de solo erodido em
cada caso. 2.1 Geossintéticos
Smets et al. (2011), realizaram um trabalho
fazendo ensaios de campo e de laboratório com Para este trabalho foram utilizadas 3 geomantas
simulador de chuvas utilizando diferentes tipos diferentes, aqui denominadas de: GA 1, GA 2 e
de geomantas e chegaram à conclusão de que, GA 3. A Figura 1 apresenta esses materiais.
apesar de algumas deficiências na realização
dos ensaios de laboratório para representar as
condições verdadeiras do campo, os
experimentos tiveram resultados semelhantes
aos resultados de campo, na taxa de escoamento
e na perda de solo média.
Herngren (2005) afirma que para utilização
de um simulador de chuvas os parâmetros como
intensidade, uniformindade da precipitação e Figura 1. Detalhes dos geossintéticos utilizados nos
distribuição do tamanho da gota precisam ser ensaios.
calibrados para reproduzir com precisão as
características da chuva do projeto. Algumas propriedades físicas e mecânicas
Para gerar o escoamento, a intensidade da das geomantas utilizadas são apresentadas na
chuva tem que ser maior que a capacidade de Tabela 1.
infiltração do solo, sendo que a taxa de erosão
aumenta gradualmente com o aumento da Tabela 1. Propriedades físicas e mecânicas geomantas.
intensidade da precipitação, como descrito em
vários estudos, tais como Mermut et al. (1997),
Lascelles et al. (2000), Loch et al. (2001), Fu et
al. (2011) e outros.
De acordo com Miguntanna (2009), o
coeficiente de uniformidade da chuva é
expresso em porcentagem, e quanto mais
uniforme for a intensidade de precipitação na
141
2.2 Solo 2.5 Equipamento de simulação de chuvas
O solo utilizado neste trabalho foi retirado de O equipamento utilizado neste estudo é um
taludes localizados nos canais de adução da simulador portátil de chuvas por aspersão, o
Barragem de Simplício (Eletrobras/Furnas), qual foi idealizado e desenvolvido por Mendes
localizados na divisa dos estados do Rio de (2016), que justifica o seu desenvolvimento por
Janeiro e Minas Gerais. reproduzir chuvas artificiais com características
Foram realizados ensaios de caracterização muito próximas das chuvas reais e com
geotécnica, compactação e cisalhamento direto diferentes intensidades. O modelo do
para auxiliar nas análises dos ensaios de equipamento proposto por Mendes (2016) é
simulação de chuva. apresentado na Figura 2.
142
2.6 Determinação das condições de ensaio e
dos parâmetros da chuva
143
Tabela 3. Resultados dos ensaios dos limites de descoberto e com a proteção com os
consistência e compactação. geossintéticos.
144
melhor entendimento na contribuição deste tipo Mermut, A. R., Luk, S. H., Römkens, M. J. M. & Poesen,
de geossintético no controle de erosões J. W. A. (1997). Soil Loss by Splash and Wash
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Os autores agradecem às empresas Furnas e 311p.
Ínga Engenharia pelo apoio dado à pesquisa. Ogbobe, O., Essien, K. S. & Adebayo, A. (1998). A Study
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145
146
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: As zonas costeiras são áreas expostas ao impacto das chuvas e ao escoamento da água,
fatores que levam à erosão do solo. Para minimizar os efeitos desse fenômeno, obras hidráulicas
devem ser executadas. As estruturas podem ser construídas com materiais convencionais, como
concreto, terra e enrocamento, ou com geossintético. O material surgiu na Holanda na década de 50,
mas ainda é pouco utilizado no Brasil para este fim. É conhecido por ser bastante versátil, indicado
para proteção, reforço, filtração, drenagem e contenção. Uma das opções, então, é criar um dique com
tubos de geotêxtil, preenchidos com material apropriado e empilhados até atingirem uma determinada
altura. Neste trabalho foram realizados, principalmente, os estudos de dimensionamento e
estabilidade. De forma secundária, foram abordados funcionamento e instalação. Com o auxílio do
software Slide, foi possível desenhar o contorno da seção do dique e configurar as propriedades do
geotêxtil e do material de preenchimento que, no caso das encostas, pode ser a própria areia do local.
Admitindo um solo arenoso não coesivo, foram realizadas simulações com três ângulos de atrito: 30°
35° e 40°. O objetivo foi identificar a superfície de ruptura e o fator de segurança para diversas alturas
do dique, estabelecendo assim uma altura crítica para a estrutura. Adicionalmente, foram propostas
duas soluções para o problema: a primeira baseou-se na alteração do conteúdo de preenchimento e a
segunda consistiu na associação de dois geossintéticos a partir da instalação de geogrelhas.
ABSTRACT: Coastal zones are areas exposed to the impact of rainfall and water runoff, factors that
lead to soil erosion. To minimize the effects of this phenomenon, hydraulic works must be performed.
The structures can be constructed with conventional materials such as concrete, earth and rock, or
with geosynthetics. The material appeared in the Netherlands in the 50s, but it is no longer applied in
Brazil. It is known to be quite versatile material, suitable for protection, reinforcement, filtration,
drainage and containment. Is possible to create a dyke with geotextile tubes filled with appropriate
material and stacked until they reach a certain height. The main topics analyzed in this research were
structural dimensioning and external stability. Operation and installation were also discussed. Using
the Slide software, it was possible to draw the contour of the section of the dyke and to configure the
properties of the geotextile and the fill material which can be the sand of the site. Assuming a non-
cohesive sandy soil, simulations were performed with three friction angles: 30°, 35° and 40°. The
objective was to identify the rupture surface and the safety factor for several heights and to establish
a critical height in which the structure doesn’t meet the minimum requirements of stability;
Additionally, two solutions were proposed to solve the problem: the first one was based on the change
of the fill content and the second one consisted in the association of two geosynthetics by the
installation of geogrids.
147
1 INTRODUÇÃO surgiram na Holanda ainda na década de 50 e
eram, basicamente, sacos de náilon preenchidos
Os processos erosivos são muito danosos ao com areia. Com a evolução e a possibilidade de
meio natural, especialmente nas áreas de selecionar propriedades, o material passou a ser
transição entre a faixa terrestre e a faixa utilizado em muitos outros países e a atuar não
marítima, também chamadas de zonas costeiras. somente em obras de proteção, como também em
A gestão do problema é bastante complexa e aterros, reforços de solo e barragens.
desafiadora, pois além das causas naturais que No Brasil, os primeiros geotêxteis foram
levam ao enfraquecimento do solo, devem ser fabricados na década de 70 e eram utilizados,
levadas em consideração as interferências principalmente, como filtros de transição. Em
humanas na região. A ocupação inadequada, que 1981, na cidade de São Luís do Maranhão, foi
ocorre sem nenhum planejamento e muitas vezes realizado o primeiro teste de preenchimento de
não segue a legislação que estabelece recuos um tubo geotêxtil para uma obra de contenção de
entre as construções e a linha de costa, um aterro hidráulico.
compromete severamente a vegetação original
que antes servia de proteção. Nesse contexto,
surge a necessidade de obras que garantam 3 DIMENSIONAMENTO DO DIQUE DE
estabilidade, prevenindo deslizamentos de terra. TUBOS DE GEOTÊXTIL
As obras hidráulicas de contenção dividem-se
em três tipos: as de contenção de erosão Os diques propriamente ditos têm como função
superficial, de fluxos hídricos e de aterros deter os sedimentos, reduzir a velocidade da
mecânicos ou hidráulicos. No caso das zonas água e, consequentemente, prevenir a terra dos
costeiras, as obras devem atuar de acordo com as processos erosivos. Para que os tubos de
duas primeiras classificações. As estruturas geotêxtil tenham esse tipo de atuação, eles
protegem o solo de uma possível ruptura devido devem ser dimensionados, preenchidos
a ondas e variações da maré, atenuando o fluxo hidraulicamente com material apropriado e
de água (Vertematti, 2004). podem ainda ser empilhados ou superpostos até
Após o esclarecimento da finalidade da obra atingirem uma determinada altura.
de contenção, é essencial a escolha correta do No tubo de geotêxtil linear, as dimensões são
material a ser utilizado. As estruturas podem ser estabelecidas por meio de alguns cálculos.
construídas com materiais convencionais, como Inicialmente, devem-se considerar as seguintes
concreto, terra e enrocamento (blocos de rocha hipóteses apresentadas por Liu, Kazimierowics e
compactada), ou ainda, com geossintético. Carroll (apud Vertematti, 2004): devido ao longo
O geossintético é constituído por polímeros comprimento dos tubos, todas as seções
que derivam do petróleo e algumas fibras transversais são similares, logo estão sujeitas às
naturais. Embora existam diversos modelos mesmas forças; o peso do geotêxtil é
comerciais, a pesquisa a seguir destaca o uso dos desprezível; não há tensão de cisalhamento entre
tubos de geotêxtil ou formas têxteis lineares. A o material de preenchimento e o geotêxtil; e, por
técnica tem sido bastante aceita por apresentar fim, o cálculo da resistência à tração deve
vantagens ambientais, uma vez que o considerar fatores de redução, cujas causas vão
preenchimento dos tubos pode ser feito com desde danos à instalação até a exposição a
material local. Dessa forma, evitam-se todos os agentes agressivos.
impactos gerados no transporte de um material Em seguida, com a determinação da altura, da
de empréstimo (Castro et al., 2008). geometria, das tensões na seção e da densidade
do material de preenchimento, é possível criar
uma lista de especificações.
2 HISTÓRICO DOS TUBOS DE O empilhamento é outro ponto fundamental
GEOTÊXTIL da obra, pois o posicionamento escolhido
influencia diretamente na estabilidade. À medida
A ideia de tubos produzidos com geossintético que o dique adquire altura, é necessário atentar-
não é tão recente. Os primeiros protótipos se a um possível rolamento do conjunto, uma vez
148
que a tensão na base é maior. Existem duas • 35° - valor típico para areias fofas, mal
formas de empilhar os tubos: na mesma direção graduadas e de grãos angulares;
ou em direções opostas. Na primeira, tanto os • 40° - valor típico de areias compactas, bem
tubos da base quanto os do corpo da pirâmide graduadas e de grãos arredondados.
apresentam-se na mesma direção. Já na segunda,
alguns tubos são posicionados na direção É válido ressaltar que na análise numérica o
longitudinal e outros na transversal, promovendo formato cilíndrico não pôde ser reproduzido,
um auto travamento entre eles (Martins & Vidal, sendo substituído por uma aproximação
2006). retangular. No estudo realizado, foram
consideradas as FTTs empilhadas paralelamente.
Também não foram considerados os vazios no
4 MATERIAL E MÉTODOS encontro entre os geotêxteis, portanto, tais
condições não apresentam influência direta
4.1 Simulação sobre os resultados apresentados. Neste caso, há
a necessidade de um estudo por meio do método
Para o estudo da estabilidade desse tipo de de elementos finitos.
estrutura, foi utilizado como ferramenta o
software Slide da Rocscience. O procedimento 4.1.2 Métodos de Análise de Estabilidade
realizado numericamente foi: desenho do
contorno da seção do dique por meio de Após a indicação dos parâmetros, foram
coordenadas cartesianas, definição das selecionados no software três métodos de análise
propriedades do solo de preenchimento e do de estabilidade: Bishop simplificado, Janbu
geossintético que reveste os tubos de geotêxtil, simplificado e Spencer. Todos são considerados
inserção do nível de água e criação de uma grade métodos das fatias, nos quais há a divisão da
de cálculos para localização do menor fator de superfície de ruptura em parcelas e o estudo dos
segurança, conforme a Figura 1. esforços em cada uma delas.
O Método de Bishop simplificado é um
modelo iterativo que admite superfícies de
ruptura circulares e uma resultante horizontal em
cada fatia. O de Janbu simplificado apresenta as
mesmas hipóteses de equilíbrio de forças, mas
com um fator de correção empírico. O de
Spencer se aplica a diversos tipos de superfícies
de ruptura e considera todas as equações de
forças e momentos (Fabrício, 2006).
Figura 1. Representação gráfica do dique de contenção.
5 RESULTADOS
4.1.1 Parâmetros
A simulação numérica foi realizada para três
Foram adotados tubos com 4,3 metros de
valores de ângulos de atrito distintos de uma
largura, 1,0 metro de altura e 20,0 metros de
areia inserida nos tubos de geotêxtil e um nível
comprimento, revestidos por material geotêxtil
d’água no topo da estrutura.
de resistência à tração igual a 31 kN/m. Para a
seção final do dique, admitiram-se taludes com
5.1 Solo com ângulo de atrito φ’ = 30°
inclinação de 25°.
A Figura 2 apresenta o resultado da simulação
O preenchimento dos protótipos foi feito com
numérica para o ângulo de atrito de 30°, com
o próprio solo local, sendo esse uma areia não
altura da estrutura de 7 metros para o método de
coesiva com ângulo de atrito φ’ variando em:
Janbu Simplificado.
• 30° - valor típico para areias fofas, bem
graduadas e de grãos arredondados;
149
A Tabela 2 mostra os resultados dos fatores de
segurança para o ângulo de atrito de 35° com a
variação da altura da estrutura, considerando os
três métodos de análise de estabilidade utilizados
neste estudo.
Tabela 2. Fator de segurança para φ’ = 35°.
Fator de Altura H (metros)
Segurança
3 5 10 15 20
Método de Bishop
2,14 1,86 1,71 1,65 1,61
Simplificado
Método de Janbu
2,14 1,86 1,68 1,61 1,57
Figura 2. Fator de segurança = 1,43 e superfície de Simplificado
ruptura para dique de 7 metros (Janbu Simplificado). Método de
2,15 1,90 1,71 1,65 1,61
Spencer
A Tabela 1 mostra os resultados dos fatores de
segurança para o ângulo de atrito de 30° com a 5.3 Solo com ângulo de atrito φ’ = 40°
variação da altura da estrutura, considerando os
três métodos de análise de estabilidade utilizados A Figura 4 apresenta o resultado da simulação
neste estudo. numérica para o ângulo de atrito de 40°, com
altura da estrutura de 20 metros para o método
Tabela 1. Fator de segurança para φ’ = 30°. de Janbu Simplificado.
Fator de Altura H (metros)
Segurança
3 4 5 6 7
Método de Bishop
1,81 1,67 1,56 1,53 1,48
Simplificado
Método de Janbu
1,78 1,64 1,54 1,48 1,43
Simplificado
Método de
1,81 1,69 1,57 1,53 1,48
Spencer
150
6 DISCUSSÃO 6.2 Instalação de geogrelhas
A partir dos modelos criados, verificou-se que o A associação de dois tipos de geossintéticos
fator de segurança atinge o valor mínimo também é uma opção viável para contornar o
aceitável de 1,5 até uma determinada altura. A comprometimento da estabilidade do dique na
partir dessa altura crítica, algumas medidas altura crítica. As geogrelhas, indicadas
podem ser tomadas para que a segurança da principalmente para reforço, consistem em
estrutura não seja comprometida. elementos extrudados, soldados ou tecidos, cuja
Notou-se também que as condições de aparência assemelha-se a de uma grelha.
estabilidade alteraram-se significativamente Devido à alta resistência à tração do produto,
com o ângulo de atrito, parâmetro do solo que pode ser uni ou bidirecional, a geogrelha
associado à resistência ao cisalhamento. Para um pode ser instalada entre algumas ou todas as
ângulo de atrito de 30°, a altura crítica do dique camadas de FTTs que formam a seção do
se deu entre 6 e 7 metros quando o fator de conjunto. A ideia é que ela proporcione um
segurança ficou em torno de 1,4. Já para o ângulo maior travamento entre todos os componentes.
de atrito de 35° o dique só chegou próximo à Neste caso, o aumento do custo da obra
altura crítica quando atingiu cerca de 20 metros, também é uma consequência, de modo que não é
altura pouco usual para esse tipo de estrutura. O possível afirmar qual das duas soluções
solo confinado no tubo de geotêxtil com ângulo propostas seria mais adequada. Tal pergunta
de atrito de 40° não atingiu a altura crítica para deve ser respondida de acordo com as
20 metros, neste caso, os valores dos fatores de especificações de cada caso em que ambas forem
segurança ficaram na ordem de 1,9, valor este sugeridas.
bastante confortável para a estabilidade global da
estrutura.
Para o primeiro caso estudado, foram 7 CONCLUSÕES
expostas duas soluções de reforço da estrutura
para que a altura crítica ultrapassasse os 7 Diante das análises, as formas têxteis tubulares
metros: mudança no preenchimento dos tubos e (FTTs) ou tubos de geotêxtil mostraram-se uma
instalação de outro tipo de geossintético. alternativa bastante viável para obras de
contenção, uma vez que apresentam elevada
6.1 Alteração do material de preenchimento versatilidade, podendo ser preenchidos com
diversos tipos de materiais. Para evitar e atenuar
A resistência ao cisalhamento de um solo é os efeitos da erosão em zonas de costa, um dique
composta por duas parcelas: o atrito e a coesão. pode ser criado a partir do empilhamento de
Em solos granulares, a maior parte dessa tubos geotêxteis preenchidos com a areia do
propriedade deve-se ao ângulo de atrito (fato que próprio local, diminuindo custos e impactos com
justifica o aumento do fator de segurança do transporte e instalação.
dique à medida que se aumentou tal ângulo de Mesmo com a variação dos parâmetros de um
30º para 40º nos parâmetros de simulação). solo arenoso, como o ângulo de atrito, é possível
Enquanto que em solos coesivos, como as garantir fatores de segurança dentro do aceitável
argilas, a parcela principal é a coesão. para alturas consideráveis.
Dito isso, preenchendo-se hidraulicamente os Existe ainda a possibilidade de utilização de
tubos de geotêxtil com material de coesão reforços geossintéticos entre camadas dos tubos
diferente de zero, é possível aumentar a de geotêxtil, que poderiam melhorar a
estabilidade do conjunto. Os principais aspectos estabilidade da estrutura, mas, impactaria no
a serem estudados, ante a execução da solução custo da obra. Além disto, alterando-se o
apresentada, são: o empréstimo e o transporte do material de preenchimento dos FTTs para um
“novo” material a ser utilizado, e o consequente solo coesivo, poder-se-ia obter melhoria na
aumento de custo na obra. estabilidade da estrutura. No entanto, em um
projeto real, a mudança no tipo de solo implicaria
no aumento de custo e no aumento de tempo de
151
execução da obra, pois haveria a necessidade da
escolha de uma área de empréstimo.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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ABSTRACT: This paper presents an experimental study about the behavior of geosynthetic liner in
reducing the impact of erosive processes. The tests carried out to the sandy layer of a slope situated
in Simões Filho-Ba which geological classification is Barreiras group. The soil was classified
according to a unified system, as Sand clayey SC. The results of MCT methodology classify the sand
as a non-lateritic soil with c’ values between 0.2 and 0.3; 1.8 to 2.0 for e’ values. The laboratory tests
of soil loss were conducted using three compact samples into the spout box (50x50x8cm), under a
simulated rain at 71mm/h speed, during 20 minutes and the soil carried by surficial flow and splash
was collected. The tests were applied to samples covered with and without geolinear and to slope
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surface in 50° and 30o. The results has indicated a reduction of 32% in erosive potential for a 30°
slope, possibly reaching 65% to a 50° slope. The results of laboratory tests show 65% on reducing
the erosive potencial. It contributes to the improvement of technics applied to the protection against
erosive processes.
KEY WORDS: Geoliners, erodibiity, soil conservation, Barreiras group, rain simulation, non
latheritic soil.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A figura 4. apresenta os resultados obtidos de
ensaios de análise granulomátrica sem e com o
uso do defloculante para o solo estudado.
Com defloculante, há um aumento de 8,5
vezes do percentual de argila, fato evidenciado
devido à fração de argila encontrar-se agregada
as partículas maiores.
A amostra não apresenta variação expressiva
do percentual de areia, estando as argilas
agregadas nas partículas de silte. Estas
diferenças também ficam evidentes nos demais
Figura 3. Geomanta MacMat resultados de caracterização (tabela 1.).
Fonte: MACCAFERRI DO BRASIL (2010).
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4 CONCLUSÕES
Os resultados obtidos nesta pesquisa evidenciam
a importância da proteção de taludes de cortes de
estrada. Apontam ainda que a utilização da
geomanta reduzirá os efeitos da erosão em pelo
menos em 32% para 30° de inclinação e 65% a
para 50° de inclinação. Para esta última
inclinação, a dissipação da energia cinética do
impacto direto das gotas da chuva sobre a
superfície diminui a desagregação inicial das
partículas de solo e, consequentemente, a
concentração de sedimentos na enxurrada, e
Analisando comparativamente os ensaios com tornando a geomanta mais eficaz.
a inclinação de 30°, com e sem geomanta, nota-
se que o emprego da geomanta promoveu uma
redução de 31,81% na taxa de desagregação total
de solo erodida. Já para a inclinação de 50°, nota-
se uma redução de 65,11%. REFERÊNCIAS
É possível verificar que as variações nos
valores de perdas para as triplicas, de cada ABNT (2016). NBR 7181/2016: Solo – Análise
situação estudada, podem ser explicadas devido Granulométrica – Método de Ensaio. Associação
Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
à variação das intensidades das chuvas, ABNT (2016). NBR 6457/2016: Solo – Amostras de Solo
corroborando com Amorim et al. (2001) e pela – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
variação obtida no grau de compacatação do caracterização – Método de Ensaio. Associação Brasileira
solos. Este afirma que, com o aumento da De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
quantidade de água e energia cinética das ABNT (2016). NBR 6459/2016: Solo – Determinação do
Limite de Liquidez – Método de Ensaio. Associação
precipitações, ocorrerá um aumento da perda de Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
solos.
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Limite de Plasticidade – Método de Ensaio. Associação taludes:Necessidades e soluções. Jundiaí, 2010. 15p.
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159
160
Reforço de solos com geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: O EPS geofoam é um geossintético utilizado como material geotécnico que apresenta
baixa massa específica, o que permite a redução de cargas impostas ao solo e às estruturas adjacentes
e subjacentes. Além disso, esse material se apresenta como um produto fácil de manusear. Diante
dessas vantagens, o material tem sua aplicação principal, no Brasil e em diversos países, em aterro
de rodovias, inclusive sobre solo mole. Com o intuito de verificar o dimensionamento do material
para esses casos, foi criado um problema hipotético onde o raio da curva horizontal de uma estrada,
localizada acima de um talude, foi ampliado para acomodar maiores velocidades e fornecer mais
segurança aos usuários, porém, essa ampliação modificou a condição original do talude, fornecendo
um risco para uma outra estrada localizada na base do mesmo. Partindo dessa situação, realizou-se
ensaios de cisalhamento direto com o solo do talude da rodovia e com o EPS Geofoam para a
determinação dos parâmetros de resistência. Primeiramente foi checado o fator de segurança da
situação inicial imposta que, como esperado, apresentou um valor próximo do limite para a ruptura,
com isso então substitui-se uma parte do solo do talude por peças retangulares de geofoam de
diferentes tamanhos, até que por tentativa e erro achou-se as dimensões ideais. Ao final dessas
análises, foi possível perceber a importância dos valores de resistência ao cisalhamento, já que esses
parâmetros ainda não estão normatizados no Brasil, e como o EPS Geofoam se apresenta como uma
solução eficaz para reforço de taludes de rodovias.
ABSTRACT: EPS geofoam is a geosynthetic material used as geotechnical material that presents low
density, which allows the material to reduce the loads imposed on adjacent and underlying soils and
structures. Furthermore, this material presents itself as an easy to handle material. Given these
advantages, the material has its most important application, in Brazil and many other countries, on
landfill and stability of highways, including over soft layer of soils. In order to verify the design of
EPS geofoam in these cases, it was created a hypothetical situation in which the radius of a horizontal
curve along a roadway, located in the top of a slope, was increased to accommodate a higher speed
and to reduce accidents, although, this modified the original condition of the slope, generating a risk
to another roadway located in the base of the same slope. Starting from this scenario, direct shear
tests were performed with the soil of the highway slope and the EPS geofoam for the determination
of resistance parameters. Firstly, the safety factor of the imposed initial situation was checked, which,
as expected, presented a value close to the breaking point. Thus, it was necessary to replace a part of
the slope ground with rectangular pieces of geofoam of different sizes until the ideal size was found.
At the end of these analyzes, it was possible to perceive the importance of the shear strength values,
since these parameters are not yet standardized in Brazil and that the EPS geofoam presents itself as
an effective solution for strengthening slopes of highways.
163
empregado em países como Noruega, Japão, Society for Testing and Materials”, 2011) D6817
Chile e Venezuela. O material possui uma massa (“Especificações Padrão para Poliestireno
específica muito baixa quando comparado a Geofoam Celular e Rígido”), e o fato do material
outros materiais utilizados na construção civil, permitir a redução de deformações de camadas
por exemplo, o concreto apresenta uma massa moles do aterro existente, fazem do Geofoam
específica média de 2500 kg/m³, enquanto que a uma excelente opção.
do Geofoam varia entre 12 e 48 kg/m³, porém Pesquisadores em trabalhos anteriores
esses valores quando comparados com o EPS (Leshchinsky et al., 1991; Yoo, 2001; Dash et al.,
com outras funcionalidades, se apresentam como 2003; El Sawwaf, 2007; Latha et al., 2009;
sendo de alta densidade (Dias et al., 2016). Choudhary et al., 2010; Kousik et al., 2011;
Por se tratar de um geossintético, o Geofoam Akay et al., 2013) utilizaram modelos reduzidos
apresenta diferentes possibilidades de uso, como em laboratório para analisar as melhorias do
para o alívio de pressões em estruturas e proteção fator de segurança com o uso de geoexpandidos.
de infraestruturas, mas sua maior utilização tem Visto que a execução desses modelos e sua
sido no aterro de rodovias, como mostrado na redução distanciam os estudos da realidade de
Figura 1. campo e dos projetistas, este trabalho visa anular
esses fatores limitantes fazendo uso de
ferramentas computacionais, podendo assim
realizar uma análise similar, mas em escala real.
2 MATERIAL E MÉTODOS
164
25%, 50% e 75% da carga referente a 10% do transportes. A situação envolvia uma rodovia já
nível de deformação determinada por ensaios existente, mas que para acomodar uma nova
prévios (DIAS, 2016), que tinha o valor de demanda com segurança e ampliar a velocidade
216,66 kPa. As cargas aplicadas foram, então, permitida, aumentou-se seu raio de curvatura
respectivamente, 54,17 kPa, 108,33 kPa e 162,50 horizontal. Na Figura 4, é mostrado o antes
kPa. (marrom-sólida) e o depois (verde – tracejada),
Foram observadas, respectivamente, a além do maior nível de água registrado
resistência ao cisalhamento de uma amostra de historicamente (azul – tracejada).
bloco cilíndrico intacto de Geofoam, com altura
de 3,18 centímetros e diâmetro de 6,35
centímetros, e do solo. No primeiro desses casos,
o bloco foi colocado dentro da caixa de
cisalhamento, as cargas, definidas e o ensaio
realizado. No ensaio apenas com o solo, ele foi
colocado preenchendo toda a caixa de
cisalhamento (Figura 3). Além dos parâmetros
de resistência, também foram determinados os
valores de peso específico de ambos os
materiais.
0,30∗2243+0,91∗2082+0,15∗2403
Figura 3. Montagem das caixas de cisalhamento com 𝛾=
1,36
= 2152,919 𝑘𝑔/𝑚³ (1)
Geofoam e solo.
Para facilitar a modelagem, a espessura total
2.2 Aplicação para talude de rodovias foi arredondada para 1,50 m e a densidade para
2200 kg/m³.
Para a aplicação, foi desenvolvido e estudado um Com as condições de contorno do modelo
problema hipotético envolvendo dados estabelecidas, e os valores de coesão (c) e ângulo
disponibilizados por Stark et al., 2004, de atrito (ϕ) do solo e do Geofoam encontrados
aproximando o caso analisado da realidade dos pelo ensaio de cisalhamento, foi então verificado
desafios encontrados por engenheiros de o fator de segurança do novo abatimento do
165
talude e feito o dimensionamento do EPS
Geofoam para ele. Ainda não existe um método
analítico para o dimensionamento de blocos de
EPS Geofoam, então o que se faz é testar
diferentes tamanhos e posições do bloco em um
software de análises de estabilidade de taludes,
até que se atinja o fator de segurança necessário,
aqui no nosso caso, entre 1,4 e 1,5.
Para a verificação do talude, com e sem
reforço, foi utilizada a versão estudantil do
software SLOPE/W da GeoStudio, onde o Figura 7. Envoltória de resistência do Geofoam e do solo.
método de determinação de estabilidade de
talude escolhido foi o de Morgenstern-Price. Da análise desse gráfico, é possível obter os
parâmetros de coesão e ângulo de atrito dos dois
3 RESULTADOS materiais, mostrados na Tabela 1, onde a areia
apresentou maior valor de ângulo de atrito e o
Depois de realizar todos os procedimentos bloco de Geofoam apresentou maior valor de
metodológicos citados anteriormente, foi então coesão.
plotado o gráfico de deslocamento horizontal
versus força cisalhante mostrado na Figura 6. Tabela 1. Parâmetros dos materiais obtidos no ensaio de
Como esperado, ambos os materiais apresentam cisalhamento direto.
um comportamento de escada, visto que para Peso Coesão Ângulo
cada um dos estágios (25%, 50% e 75%), quando específico (kPa) de atrito
o deslocamento horizontal atingia incrementos (kN/m³) (º)
de 0,38 centímetros, a tensão vertical era elevada Solo 16 10 18
para o valor do estágio seguinte. Pelo gráfico, Geofoam 0,192 49,9 21,4
observa-se que o bloco de geofoam apresentou
os maiores valores de força de cisalhamento. Em posse dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento dos materiais, primeiramente
checou-se a estabilidade do talude da rodovia
para a nova inclinação e sem reforço, como
mostrado na Figura 8. Como esperado, o fator de
segurança do talude está bem próximo da ruptura
(valor próximo de 1), precisando assim que a
solução de reforço com Geofoam, aumente em
40 a 50% seu valor.
Para a simulação com o uso do Geofoam, a
geometria do perfil não foi alterada, a única
modificação foi a substituição das propriedades
do solo para as do Geofoam na região crítica do
talude. Após alguns testes de tamanho e posição
Figura 6. Gráfico de deslocamento horizontal versus do bloco, a Figura 9 mostra a disposição final do
força de cisalhamento. perfil com a aplicação do Geofoam.
As dimensões satisfatórias, em termos de
Em seguida, foram coletados, do gráfico fator de segurança, encontradas para o bloco de
anterior, os máximos valores de cisalhamento e Geofoam, utilizado na análise acima, são
comparados com a tensão normal utilizada no mostradas na Figura 10.
ensaio para determinar a envoltória de ruptura de
cada material (Figura 7).
166
4 CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
Figura 10. Dimensões da seção transversal do bloco de Agradecimentos à CAPES que através do
Geofoam a ser utilizado. Programa Ciências sem Fronteiras e do
Programa de bolsas de pós-graduação,
financiaram a realização dos ensaios no exterior
167
e das análises durante meu mestrado na
Universidade de Brasília.
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168
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Por ser um material particulado, o solo interage com reforço geossintético de maneira
única. Além do atrito solo-reforço, as partículas de solo penetram a matriz plana e ficam presas a
ela, restringindo o movimento de outras partículas ao redor em função da rigidez do reforço –
quanto mais rígido, menos as partículas presas a ele conseguem se movimentar. Essa restrição se
manifesta como um ganho de tensão confinante, podendo aumentar a resistência do solo ao
cisalhamento, e tem sido estudada por diversos autores nas últimas décadas. Uma tentativa bastante
difundida de quantificação desse ganho de tensão confinante é a “W-equation”, proposta em 2009
por Pham. A validade dessa equação é discutida neste trabalho, tendo seu resultado comparado para
dados obtidos por outros autores, e considerando a inclusão da rigidez do reforço geossintético e do
solo em sua formulação utilizando o modelo constitutivo hiperbólico. São avaliadas também outras
configurações geométricas, com diferentes espaçamentos e comprimentos de reforço, além de
diferentes carregamentos. Ao final da análise, é possível identificar quais dentre os fatores
estudados influenciam mais no aumento da tensão confinante do solo devido à geogrelha de acordo
com a equação proposta.
ABSTRACT: Because it is a particulate material, soil interacts with reinforcement in a unique way.
Besides soil-reinforcement interface friction, soil particles penetrate the flat matrix and get attached
to it, restricting the movement of other particles around as a function of reinforcement stiffness –
the stiffer the reinforcement, the less able to move will be the particles attached to it. This
restriction is observed as an increase in confining pressure, which may improve the shear strength
of the soil, and has been studied by several authors in the last decades. A very widespread attempt
to quantify this increase is the W-equation, proposed in 2009 by Pham. The validity of this equation
is discussed in this work, by comparing its result for data obtained by other authors and considering
the inclusion of reinforcement and soil stiffnesses in its formulation, using the hyperbolic model.
Varied geometric configurations are also analyzed, with different spacing and reinforcement
lengths, as well as different applied loads. At the end of the comparison, it is possible to identify
which of the studied factors influences soil confining pressures the most due to the presence of
reinforcement, according to the proposed equation.
169
1 INTRODUÇÃO que construíram píers de solo reforçado com
1,94 m de altura, e os carregaram até a ruptura,
No início dos anos 70, geossintéticos medindo seu comportamento tensão-
começaram a ser amplamente utilizados na deformação na direção vertical. Os resultados
engenharia civil e em obras de terra. A técnica, mostraram que píers com menor espaçamento
denominada solo reforçado, constitui a inserção entre camadas possuíam maior resistência e
de reforços de tração no solo ou outro material rigidez.
(in situ ou transportado) visando a melhoria da O órgão americano FHWA passou
estabilidade do conjunto (British Standard, inclusive a distinguir um grupo dentro das ESR,
2010). construídas com material granular e com
Por ser um material particulado, o solo reforços espaçados de no máximo 30 cm,
interage com o reforço de maneira única: além denominando-as como Geosynthetic Reinforced
do atrito de interface, as partículas do solo Structures ou GRS (Wu et al., 2013).
penetram a matriz plana e ficam presas a ela, O trabalho de Wu & Ooi (2015) reúne as
restringindo o movimento das partículas ao seu principais pesquisas desenvolvidas pela FHWA
redor em função da rigidez do reforço - quanto na última década, indicando como o menor
mais rígido, menos as partículas presas a ele espaçamento entre as camadas de reforço
conseguem se movimentar. Esse mecanismo, influencia o comportamento da ESR com
ilustrado na Figura 1, é conhecido como relação a pressões laterais na face,
intertravamento. Portanto, quando utilizados confinamento do solo e sua capacidade de
agregados de tamanho compatível com a carga, resistência ao arrancamento, dentre
abertura de malha do reforço, o solo é outras propriedades. Mohamed (2018) também
confinado pelo geossintético, e o material aborda o tema em sua revisão bibliográfica,
composto pela junção desses dois materiais porém sem a restrição do espaçamento pequeno.
possui melhor resistência ao cisalhamento que o O objetivo deste trabalho é discutir a
solo não-reforçado. proposta apresentada por Pham (2009) para
estimativa do ganho de confinamento com a
redução da distância entre reforços, e avaliar
sua eficiência a partir da análise de resultados
de experimentos apresentados na literatura.
2 ESTIMATIVA DO AUMENTO DA
Figura 1. Intertravamento do Solo no Reforço (Han et al.,
2018). TENSÃO CONFINANTE DO SOLO
O intertravamento aparece também quando Schlosser & Long (1972 apud Pham, 2009) e
há interpenetração e atrito entre o geossintético Yang (1972 apud Pham, 2009) introduziram a
com baixa rigidez à flexão e os grãos do solo, ideia de um aumento na tensão confinante do
podendo ocorrer inclusive no caso de reforço solo e do surgimento de uma coesão aparente
em geotêxtil. devido à presença do geossintético, como pode
A experiência levou engenheiros geotécnicos ser observado na Figura 2. O acréscimo de
a acreditarem que o espaçamento entre reforços tensão confinante, ∆σ 3R , proporcionado pelo
pode ser tão relevante quanto suas geossintético, muda o estado de tensões do solo,
características mecânicas para a resistência ao deslocando o Círculo de Mohr para a direita.
cisalhamento de uma Estruturas de Solo Isso faz com que a carga vertical máxima σ 1R
Reforçado (ESR). Desde então, diversos suportada pelo solo reforçado seja maior que a
estudos têm sido realizados na intenção de carga vertical máxima σ 1 suportada pelo solo
investigar a interação solo-reforço e como ela não-reforçado, quando ambas estão sob uma
afeta modelos convencionais de mesma tensão confinante σ 3 .
dimensionamento. Pode ser citado, como A equação proposta por Schlosser & Long
exemplo destes estudos, Adams et al. (2007), (1972) para quantificar ∆σ 3R assume que a
170
resistência à tração do reforço e o espaçamento sendo:
entre camadas têm influência similar na r - um fator adimensional, definido como a
contribuição para a resistência da massa de solo razão entre a força máxima no reforço ao longo
reforçado, uma vez que esse aumento, de de seu comprimento, F max , e a força média no
acordo com seu trabalho, é dado por: reforço, F� .
S ref - um espaçamento de referência igual a
Tf
∆σ3R = (1) seis vezes o tamanho do maior grão de solo do
Sv
agregado.
A formulação utilizada por Pham (2009)
Onde T f é a resistência à tração do reforço para o cálculo de r é baseada em equações de
mobilizada e S v é o espaçamento entre equilíbrio e em uma série de hipóteses sobre a
camadas. rigidez do reforço e do solo, E r e E s ,
respectivamente, propostas por Ketchart & Wu
(2001):
υ 1−υ2s
Fmax = Ar Er ��1−υs � Pv − Ph � � Es
� �1 −
s
β 1
α2
� �1 − cosh(αL)� (4)
A E υ 1−υ 2
F� = rL r ��1−υs � Pv − Ph � � E s � �1 −
s s
β L cosh(αx)
α2
� ∫0 �1 − cosh(αL)� dx (5)
1 1−υ2s
α2 = k i p �A +A � (6)
r Er s Es
Figura 2. Conceito de Tensão Confinante Aparente e
Coesão Aparente em uma ESR (Pham, 2009). (1−υ2s )
β = kip As Es
(7)
Pham (2009) conduziu ensaios em
verdadeira grandeza com dois geossintéticos Sendo:
feitos do mesmo material, porém um deles A r a área por metro da seção transversal do
possuindo o dobro de rigidez e o dobro de elemento de reforço;
resistência à tração do outro. Seus resultados A s a área por metro da seção transversal de
mostraram que o espaçamento desempenha uma solo, que corresponde ao espaçamento vertical;
função bem mais importante que a resistência à P v e P h as pressões vertical e horizontal no
tração e que, dessa forma, a equação de solo, respectivamente (com notação positiva
Schlosser & Long (1972) era incorreta. Ele para compressão);
propôs então a inclusão de um termo “W” nessa ν s o coeficiente de Poisson do solo;
equação, reescrevendo-a na forma: L o comprimento do reforço;
k i a rigidez da interface solo-reforço;
Tf
∆σ3R = W (2) p o perímetro do reforço em contato com o
Sv
solo.
Pham (2009) comparou os resultados dessa
A equação de Schlosser & Long (1972) com a
formulação para o exemplo resolvido em
inclusão do termo “W” por Pham (2009) passou
Ketchart & Wu (2001) e calculou o resultado
a ser referida como W-equation.
para um caso semelhante, porém com um
comprimento diferente de reforço. Para ambos
O fator “W” é estimado por Pham (2009):
os comprimentos, o autor relatou ter encontrado
S um fator r de aproximadamente 70%, e assumiu
� v �
W=r Sref
(3) que:
171
Sv
� � pequeno de exemplos, todos baseados nas
W = 0.7 6dmax (8)
características de um único solo e um único
A carga máxima de pressão vertical
reforço - aqueles usados em Ketchart & Wu
admissível sobre uma ESR, σ 1R , seria então (2001), não tendo sido apresentadas
dada por: informações adicionais para a validação dessa
equação.
σ1R = (σ3 + ∆σ3R )N∅ + 2c�N∅ (9) Deve-se notar que o valor de r é bastante
significativo: alterando-o de 0,7 para 0,8 na
Onde c é a coesão do solo e N φ é função do Tabela 1, por exemplo, percebe-se uma
ângulo de atrito, φ, dado por: diferença de mais de 260 kPa na estimativa da
carga máxima vertical suportada pela estrutura
1+sen∅ de solo reforçado em questão.
N∅ = 1−sen∅ (10)
Com o auxílio das equações 4 a 7, pode-se
calcular os valores de r pelo modelo proposto
Pham (2009) comparou os resultados de sua por Ketchart & Wu (2001) para diversas
própria pesquisa e os resultados de Elton & condições de rigidez dos solos e reforços.
Patawaran (2005) com os valores esperados O cálculo de r é feito considerando o estado
pela equação de Schlosser & Long (1972), plano de tensões. Calculam-se as deformações
assim como os valores esperados considerando relacionadas a um incremento de P v e as forças
a W-equation. Foi observado que, enquanto a mobilizadas no reforço devido a essas
equação de Schlosser & Long (1972) deformações, para cada camada de reforço e o
apresentava erros de até 97% para a carga para solo em seu entorno, conforme ilustrado na
máxima de ruptura da ESR, a W-equation Figura 3. A força mobilizada no reforço gera
apresentou erro máximo de 18%, sendo a um incremento em P h , e consequentemente em
maioria dos erros observados em torno de 10%.
α, o que, por fim, altera o valor de r,
Um exemplo de como a inclusão do fator W
justificando a relevância de se realizar esse
pode alterar a previsão da carga vertical
cálculo incremental.
máxima de uma estrutura é apresentado na
Tabela 1.
172
trabalho de Ketchart & Wu (2001), pelo uso das podem ser obtidos parâmetros que caracterizam
equações 11 a 15. as interfaces entre os materiais utilizados. Os
σ n
Es = Ei ∙ K ∙ Pa ∙ �P3 � (11) materiais estudados pela autora foram: uma
a geogrelha soldada formada por geotiras de
poliéster revestidas com polietileno; uma
Rf ∙(1−senϕ)∙(σ1 −σ3 ) 2
Ei = �1 − 2∙c∙cosϕ+2∙σ3 ∙senϕ
� (12) geogrelha tecida de poliéster revestida com
PVC e uma grelha metálica hexagonal. As
(σ1 −σ3 )f geogrelhas foram inseridas em areia pouco
R f = (σ (13) siltosa bem graduada e num solo silto-argiloso
1 −σ3 )ult
classificado como argila de baixa
Es
νs = 0,5 − (14) compressibilidade (CL).
6∙B
Como os parâmetros de resistência obtidos
σ m pelos respectivos autores para os solos
B = K b ∙ Pa ∙ �P3 � (15)
a ensaiados foram semelhantes, optou-se por
utilizar os resultados para interface e para o
Sendo: reforço obtidos por Sieira (2003) associados aos
K, n, K b , e m parâmetros adimensionais parâmetros do solo obtidos por Boscardin et al.
obtidos a partir de resultados de ensaios (1990).
triaxiais; Será considerado que a rigidez dos
E i o módulo de rigidez inicial do solo; elementos de reforço é constante, devido aos
B o módulo de elasticidade volumétrico do baixos valores de deformação esperados. A
solo; rigidez à tração no sentido longitudinal para
(σ 1 - σ 3 ) f = tensão desviatória de ruptura cada geogrelha pode ser obtida a partir dos
determinada pela envoltória de Mohr-Coulomb; ensaios de caracterização realizados por Sieira
(σ 1 - σ 3 ) ult = valor assintótico de (σ 1 - σ 3 ), (2003), e encontra-se na Tabela 2.
obtido a partir de resultados de ensaios triaxiais,
juntamente com os parâmetros adimensionais; Tabela 2. Características das Geogrelhas
P a a pressão atmostérica de referência; Geogrelha Representação Rigidez (A r E r ) (kN/m)
Soldada PG 667
Ketchart & Wu (2001) calculam rigidez ao
Tecida MG 533
cisalhamento da interface solo-reforço, k i , com
base na equação 16: A partir dos ensaios de cisalhamento de
ni interface de Sieira (2003), foram obtidos os
σ
k i = K i ∙ γw ∙ �Pn � (16) parâmetros adimensionais para o modelo
a
constitutivo hiperbólico aplicado às interfaces
Sendo K i e n i parâmetros adimensionais solo-geogrelha.
obtidos a partir de resultados de ensaios de A obtenção dos parâmetros adimensionais é
cisalhamento direto, σ n a tensão normal feita da seguinte forma: para cada tensão
aplicada à interface nos ensaios de cisalhamento normal, plota-se ∆ s /τ versus ∆ s no trecho
direto, e γ w o peso unitário da água. hiperbólico da curva obtida do ensaio de
Boscardin et al. (1990) fizeram ensaios em cisalhamento direto, sendo ∆ s o deslocamento
solos típicos para obter parâmetros aplicáveis horizontal e τ a tensão cisalhante, e faz-se uma
ao modelo constitutivo hiperbólico, com o regressão linear. O inverso do coeficiente linear
objetivo de facilitar a entrada dos parâmetros obtido dessa regressão é a rigidez em
desses solos em programas de elementos finitos, cisalhamento, k i , para a tensão normal em
evitando a realização de exaustivas séries de questão.
ensaios em laboratório. Foram feitos estudos Repetindo esse procedimento para cada uma
com areia bem graduada, areia siltosa e argila das tensões normais utilizadas no ensaio, é
siltosa, compactadas a diferentes densidades. possível plotar um gráfico em escala log-log de
Sieira (2003) estudou a interação solo- k i versus σ n . A partir desse gráfico, que
geogrelha, realizando em seu trabalho ensaios corresponde idealmente a uma reta, é fácil
de cisalhamento direto, a partir dos quais calcular os parâmetros K i e n i , relacionados aos
173
coeficientes angular e linear da reta obtida. 3 RESULTADOS
Os valores de K i e n i obtidos para as
Os valores de r foram plotados para os casos
interfaces em questão encontram-se na Tabela
propostos na Tabela 5, e encontram-se expostos
3. Os parâmetros dos solos encontram-se na
nas Figuras 4 a 7.
Tabela 4.
Tabela 3. Parâmetros adimensionais para as interfaces
Interface Ki ni
Areia - PG 765 0,22
Silto-argiloso - PG 359 0,10
Areia - MG 644 0,41
Silto-argiloso - MG 317 0,15
174
Analisando os resultados obtidos, pode-se Areia-MG, casos 13 a 16, ao final do seu
concluir que, para os materiais e condições de carregamento.
ensaio estudados neste trabalho: -A variação máxima no valor de r dentre os
-Em um mesmo par Solo-Reforço, o diferentes pares solo-reforço, considerando a
aumento do espaçamento entre camadas e da mesma configuração geométrica e tensão
tensão confinante mostraram pouca influência confinante (ou seja, comparando os casos 1-5-9-
no valor de r. 13, 2-6-10-14, 3-7-11-15 e 4-8-12-16) e tensão
-Dentre os parâmetros estudados, os que vertical, foi de 1,52%, entre os casos 2 e 14, à
mais influenciaram o valor de r foram o tensão vertical de 110 kPa.
comprimento do reforço e o incremento de
tensão vertical com tendência do aumento do
valor de r com o aumento da tensão vertical.
As Figuras 8 a 12 permitem comparar as
diversas situações:
175
principalmente por características geométricas, New York, v. 116(1), p. 88-104
como o comprimento do reforço, e pelos níveis Duncan, J.M., Byrne, P., Wong, K.S., and Mabry, P.
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reforço e tensão confinante não apresentou at Berkeley.
influência notável no valor de r para os Elton, D. J., & Patawaran, M. B. (2005). Mechanically
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materiais utilizados nesse estudo. Strength from Tests of Geotextile Reinforced Soil.
A variação no comprimento do reforço e na Report on HRC - Highway Research Center, Auburn
tensão vertical gerou valores significativamente University, Auburn, Alabama, p. 77.
diferentes de r em comparação ao valor de 0,7 Han, B., Ling, J., Shu, X., Gong, H., & Huang, B. (2018).
proposto por Pham (2009), e diferentes entre si Laboratory investigation of particle size effects on the
shear behavior of aggregate-geogrid interface.
de aproximadamente 13%. Como ilustrado no Construction and Building Materials, Elsevier, p.
início do item 3, essas alterações podem dar 1015-1025
origem a previsões bastante equivocadas do Ketchart, K., & Wu, J. T. (2001). FHWA-RD-01-018:
aumento de tensão confinante proporcionado ao Performance test for geosynthetic-reinforced soil
solo pelo geossintético e, consequentemente, da including effects of preloading. Report on Federal
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carga vertical máxima admissível à estrutura de Mohamed, A. M. (2018). Evaluation of soil-
solo reforçado. reinforcement composite interaction in geosynthetic-
Desse modo, sugere-se que o cálculo de r reinforced soil structures. PhD Thesis, Faculty of the
seja feito conforme as equações demonstradas Graduate School, University of Texas, Austin, 579p.
em Ketchart & Wu (2001) sempre que for Pham, T. Q. (2009). Investigating composite behavior of
geosynthetic-reinforced soil (GRS) mass. PhD Thesis,
necessária uma estimativa mais rigorosa da University of Colorado, Denver, 358p.
tensão confinante no solo, ao invés de se utilizar Schlosser, F. and Long, N.T. (1974). Recent Results in
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É recomendado que estudos posteriores Construction Division, Vol. 100, pp. 223–237,
sobre esse assunto considerem modelos American Society of Civil Engineers, Reston, VA.
Schlosser, F. & Long, N.T. (1972). Comportement de la
constitutivos diferentes, e possivelmente terre armee dans les ouvrages de soutenement. Proc
variação da rigidez do reforço, bem como 5th ECSMFE Madrid 1, 111:a:299-306
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O presente trabalho foi realizado com apoio da Synthesis of geosynthetic reinforced soil design
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Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, juliafavretto@hotmail.com
ABSTRACT: This study presents the analyzes of the geocell-reinforcement behavior under a vertical
load applied to two different locations on a geocell grid. A geocell mattress was placed over a sand
soil and filled with the same material
was tested with a load plate that was 150 mm in diameter. The load was transferred to the soil through
a circular plate 150 mm diameter, applied at the following locations: 1) on the center of a cell and 2)
on the node connecting cells. In addition, tests were performed without a geocell. The analysis was
carried out by two methods: the responses of soil pressure transducers were evaluated both in the
presence and absence of the geocell when the specimens were subjected to the rupture trajectory also
through the load-settlement curves. An increase in soil stiffness was observed, especially when the
load was applied at the geocell nodes and, consequently, a reduction of surface cracks. The center of
a cell was demonstrated as the best place to load a geocell due to the confinement generated, with an
increase in the bearing capacity of 91% compared to the unreinforced soil, and an reduction of settling
of approximately 87%.
177
interior de cada célula, reduzindo o movimento do fornecedor, a geocélula possui uma
lateral das partículas (Pokharel et al., 2009). resistência transversal das ligações de 900 N,
Tingle & Jersey (2007) indicam esse testada segundo os padrões brasileiros de
geossintético como uma solução potencial para normatização.
reforço de estradas não pavimentadas. A
inserção da geocélula em bases granulares
aumenta a rigidez e, consequentemente, a 3 METODOLOGIA
capacidade de carga do solo (Han et al., 2008).
Zhou & Wen (2008) apontam que a geocélula, Foram realizados um total de seis provas de
atuando como uma membrana tensionada, carga, classificados em três categorias, A, B e C,
distribui a tensão sobre uma área maior. Han et onde para cada qual foram realizadas duplicatas.
al. (2008) conduziram ensaios de placa sobre Os ensaios do tipo A são os ensaios de referência
areia, utilizando um reforço composto por e se referem aos realizados sobre o solo sem
geocélula preenchida com o mesmo solo da base, reforço. Já os ensaios do tipo B e C, foram
sendo a placa locada exatamente no centro de executados sobre o solo reforçado com
uma das células, sem contato com as bordas, e geocélula, diferenciados entre si pelo local de
tiveram como resultados o aumento na carregamento. Nos ensaios tipo B, a carga foi
capacidade de carga e módulo de elasticidade do aplicada no centro de uma das células (Figura
solo reforçado. Ainda, os autores concluíram que 1a). Nos ensaios tipo C, a carga foi aplicada
a posição da placa tem efeito na distribuição da sobre o nó de ligação (Figura 1b).
força máxima de compressão e da tensão Os testes foram realizados em uma caixa de
máxima de cisalhamento na interface da parede acomodação com dimensões de 700 x 900 x 900
da geocélula. mm (altura, comprimento e largura). O processo
O objetivo deste estudo foi avaliar o de preenchimento da caixa se deu pela confecção
comportamento da geocélula submetida a cargas de seis camadas de 100 mm, moldadas e
estáticas aplicadas em duas posições distintas, no compactadas com umidade de 10% e densidade
centro de uma das células e no nó de ligação. relativa de 50%. No caso dos ensaios com
Foram realizados ensaios de placa sobre um solo geocélula, esta foi instalada no centro da última
arenoso reforçado com geocélula e os resultados camada, mantendo um recobrimento de 20 mm,
comparados com o ensaio de referência no solo entre a geocélula e a placa de carregamento.
sem reforço. A transmissão dos esforços se deu através de
uma placa circular de 150 mm de diâmetro e
14,05 mm de espessura. O tamanho da placa foi
2 PROPRIEDADE DOS MATERIAIS selecionado para que não houvessem contatos
entre a placa e as paredes da geocélula, bem
Para compor o solo de base e de preenchimento como para que a distribuição de tensões não
das geocélulas, foi utilizada uma areia final mal atingisse as paredes da caixa. Os carregamentos
graduada proveniente do município de foram aplicados em pequenos incrementos e
Osório/RS, com diâmetro médio efetivo dos mantidos até a estabilização dos recalques. A
grãos de D50 = 0,160 mm e índices de vazios medição dos carregamentos foi por meio de uma
mínimo e máximo de 0,702 e 0,913, célula de carga com capacidade de 50 kN,
respectivamente. Vendruscolo (2003) realizou disposta entre o macaco hidráulico utilizado para
ensaios triaxiais neste material e encontrou um aplicação das cargas e o pórtico de reação. Uma
ângulo de atrito de pico de 36°. Já a massa esfera de aço foi posicionada entre a célula de
específica desta areia é 2,63 g/cm³, segundo carga e o pórtico a fim de evitar a geração de
Donato (2007). momentos indevidos.
A geocélula utilizada é de polipropileno, com Os recalques da placa foram monitorados por
paredes lisas e ligações feitas por meio de meio de duas réguas resistivas, instaladas em
costura das tiras de geotêxteis, estruturada em posições opostas em relação ao diâmetro da
formato diamante. Cada célula possui 50 mm de placa, ligadas a um sistema de aquisição
altura e abertura de 270 mm. Conforme catálogo analógico/digital. Ainda, foram monitorados o
178
levantamento ou rebaixamento do solo ao parede e fundo da caixa de acomodação, e três
entorno da placa, através de deflectômetros internos, estes localizados: no centro da placa a
instalados a 50, 150 e 250 mm a partir da borda 100 mm de profundidade abaixo da superfície
da placa (Figura 2). (nomeado como CF100), no centro da placa a
250 mm de profundidade (CF250) e na borda da
placa a 100 mm de profundidade (BF100). A
capacidade de cada um dos transdutores variava
entre 500 e 1000 kPa.
A geometria e configuração dos ensaios
podem ser observados na Figura 2, e as variáveis
envolvidas no estudo na Tabela 1. A seleção
desses parâmetros tem por base os trabalhos
realizados por Dash et al. (2001) e Dash et al.
(2003).
(a)
179
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES geocélula, que é capaz de suportar a fundação
mesmo após a ruptura por cisalhamento do solo.
O desempenho da geocélula foi analisado através
do índice Fator de Melhora da Capacidade de
Carga (If), definido como sendo a razão entre a
tensão do solo reforçado para um recalque
definido e a tensão do solo não reforçado para o
mesmo recalque. Além disso, o recalque
desenvolvido em cada um dos ensaios foi
avaliado pelo fator Porcentagem de Redução no
Deslocamento da Sapata (PRS), que é
determinado pela razão da diferença entre os
deslocamentos do solo não reforçado com o solo
reforçado, sobre o valor do recalque do solo não
reforçado, para determinada carga aplicada. Por
fim, foram analisadas as respostas dos
transdutores de pressão. Neste estudo, tanto os
recalques da placa (s) quanto as deformações ao
entorno da placa (δ) foram expressos na forma
adimensional, em função do diâmetro da
fundação (B), como s/B (%) e δ/B (%). Além Figura 3. Curvas tensão vs recalque de cada uma das
disso, as relações tensão vs recalque aqui modalidades de ensaios
apresentadas tratam-se de curvas
comportamentais, ou seja, com base nos Ainda, sob um recalque em torno de 50% da
resultados das provas de carga foram realizadas largura da placa, a capacidade de carga
retroanálises para que então se obtivessem as observada nos ensaios tipo C é cerca de 1,6 a 2,0
curvas que descrevessem o comportamento de vezes superior aos ensaios que não possuíam o
cada um dos locais de carregamento. reforço. Estes resultados devem-se a ancoragem
A Figura 3 apresenta o comportamento tensão disponibilizada ao solo pela geocélula, fazendo
vs recalque das três variações de ensaios. É com que a área carregada se expanda e mobilize
possível observar que o solo não reforçado uma maior resistência friccional e passiva do
apresentou o pior desempenho. Os ensaios tipo solo.
B, cujo carregamento foi aplicado no interior de A Tabela 2 apresenta a variação dos índices If
uma das células, apresentaram desempenho em função do recalque da placa. Comparando os
superior ao visto nos ensaios tipo A. Neste caso, ensaios, nota-se que os ensaios tipo B
atenta-se para a redução acentuada dos apresentaram valores mais altos ocorrendo logo
recalques, que podem estar relacionados com o no início dos testes, entretanto, com a progressão
efeito do confinamento gerado. Já os testes tipo dos recalques, houve uma redução em seus
C, realizados sobre o nó de ligação, tiveram a valores. O fato pode ser explicado devido à
melhor performance comparado aos demais pequena altura da geocélula (50 mm) em relação
modelos de ensaios. Observa-se nos ensaios tipo ao diâmetro da placa que, com o desenvolver dos
C que as tensões seguiram aumentando mesmo recalques, reduz cada vez mais o confinamento
após a ruptura do solo, justificado pela existente e, consecutivamente, reduz o fator If.
localização da placa sobre o nó, pois neste tipo Dash et al. (2001) sugere que o melhor
de ensaio, sob elevados deslocamentos, quem desempenho da geocélula ocorre a uma razão
passa a atuar exclusivamente é a geocélula, h/B variando entre 2,75 e 3,14. Neste estudo, a
transmitindo os esforços para seus pontos de razão h/B é igual a 0,33. Os ensaios tipo C, por
ancoragem. Dash et al. (2001) também observou sua vez, exibiram um aumento progressivo de If
este comportamento em seu estudo e com o desenvolver dos recalques, que deve-se à
mencionada que o fato se deve à rigidez ao rigidez provida pela geocélula quando solicitada
cisalhamento e à flexão desenvolvida pela em um ponto específico de sua estrutura,
180
resultando em melhoras de capacidade próximas Os resultados da deformação do solo em torno
a 76%. da área carregada são mostrados na Figura 4,
onde o sinal negativo indica elevação e sinal
Tabela 2. Variação dos Fatore de Melhora da Capacidade positivo indica recalque do solo. Observam-se
de Carga deslocamentos de elevação em todos os casos,
Fator de Melhora da Capacidade (If) sendo estes maiores nos ensaios A e C e,
Ensaio s/B (%) também, quanto mais próximos da placa. As
1 5 10 15 20 30 40 50 cargas aplicadas sobre o solo não reforçado
B 1,91 1,40 1,31 1,27 1,24 1,21 1,19 1,18 (ensaio A) resultaram em deformações
C 0,77 1,45 1,58 1,64 1,67 1,72 1,74 1,76 concentradas na região da placa e altos valores
de elevação são vistos. Já as cargas aplicadas
Em relação à variação de PRS, os resultados sobre o nó (ensaio C) conduziram a uma
estão expressos na Tabela 3. Similar ao que elevação do solo ao entorno maior do que a
ocorre nos índices If, o ensaio tipo B apresenta, resultante no solo não reforçado após atingir um
inicialmente, uma grande redução no recalque de apenas 5%. Segundo Dash et al.
desenvolvimento dos recalques, que diminui (2001), quando o nó de ligação é submetido a
conforme se elevam as tensões. Carregamentos carregamentos, a ação é similar a uma viga
realizados no centro de uma das células suportando a carga de um pilar. Portanto, na
demonstraram ser o melhor local para redução medida em que o nó sofria recalque, a área no
dos recalques, chegando a uma redução de entorno da carga apresentava elevação devido à
aproximadamente 87%. Já os ensaios do tipo C, transmissão das tensões para outras partes da
estes apresentaram um aumento progressivo no geocélula, similar a uma viga fletida. Em relação
valor de PRS. No entender dos autores, o local aos ensaios tipo B, o movimento do solo da
onde se encontra a placa, neste caso, nó de superfície em torno da placa é menor. Os
ligação, sugere com que este venha atuar como deslocamentos se mantêm estáveis até próximo
um nó propriamente dito, ponto de rotação, que o momento de ruptura do solo. Além disso,
faz com que a placa inicialmente apresente nenhum movimento significativo foi observado
recalques elevados (simbolizados pelos valores no deflectômetro mais distante da placa em
em negativo da PRS) e, posteriormente, quando resposta ao aumento das tensões e recalque,
há uma acomodação da geocélula e esta então é justificado pelo efeito de confinamento ter
mobilizada em sua totalidade, então inicia-se a minimizado a deformação e o deslocamento
redução dos recalques e por sua vez o aumento lateral do solo. A utilização da geocélula fez com
do PRS. Sob uma tensão de 350 kPa, ambos os que um maior volume de solo fosse envolvido e
casos ensaiados apresentaram uma redução dos consequentemente uma maior capacidade de
recalques variando entre 65 e 78%, carga desenvolvida. Quando a geocélula foi
demonstrando haver uma convergência dos carregada no nó de ligação, da mesma forma um
resultados. Este resultado indica que a aplicação amplo volume de solo passou a estar envolvido,
da geocélula como reforço de solo arenoso pode porém, neste caso, movimentos mais acentuados
reduzir os recalques da fundação em, no mínimo, também foram observados ao entrono da
60% comparado ao caso do mesmo solo sem o fundação quando utilizado este local específico
reforço. para o carregamento.
As distribuições das tensões no solo, no
Tabela 3. Variação da Porcentagem de Redução no interior da caixa de acomodação, estão ilustradas
Deslocamento da Sapata na Figura 5. Os transdutores de contato,
Porcentagem de Redução no Deslocamento da localizados na parede e fundo da caixa não
Sapata – PRS (%) registraram nenhuma resposta. As dimensões da
Ensaio
kPa caixa de acomodação foram definidas para evitar
100 150 200 250 300 350 que as tensões viessem a atingir suas paredes,
B 86,88 85,42 83,79 81,98 79,98 77,74 considerando como distância ao entorno da placa
C -70,44 -24,33 9,31 33,85 51,75 64,80 uma relação de 2,5B. Os resultados dos ensaios
tipo A indicam que as tensões se mantiveram lo-
181
(a)
(a)
(b)
(b)
(c)
182
calizadas diretamente abaixo da região com demais trabalhos clássicos da área como
carregada, com menor distribuição das mesmas. Dash et al. (2001); Dash et al. (2003); Mandal &
Já para os ensaios tipo C, as tensões se Gupta (1994); Rajagopal et al. (1999); Rea &
concentraram no centro do solo de base ao longo Mitchell (1978) que levarão a um melhor
de sua profundidade, indicando que estas entendimento dos procedimentos de
estavam agindo similarmente a um carregamento dimensionamento e utilização de geocélulas.
axial, sem uma maior distribuição das tensões Com base nos resultados apresentados, as
em no solo ao entorno, isto provavelmente seguintes conclusões podem ser inferidas a
devido à localização específica da placa sobre respeito de uma geocélula solicitada em dois
um dos nós de ligação da geocélula. diferentes locais de sua estrutura:
Carregamentos aplicados sobre o nó resultaram
em maiores tensões, mesmo quando lidas pelas 1) O centro de uma das células demonstrou
células dispostas a 250 mm de profundidade ser o melhor local para aplicação de um
(maior profundidade de instalação). Ainda, carregamento. Os resultados apontaram
foram lidas tensões mais elevadas no dispositivo uma melhora da capacidade de carga de
CF100. até 91% e uma redução dos recalques de
Conforme mostrado na Figura 5a, a aplicação até 87%, comparado aos ensaios sem
da carga no centro da célula apresentou os reforço. Entretanto, para que este
melhores resultados em relação à distribuição benefício seja maximizado, a altura da
das tensões. A 100 mm de profundidade, a tensão geocélula deve seguir a razão h/B
foi reduzida cerca de 1,5 vezes em comparação variando entre 2,75 e 3,14, conforme
ao ensaio o qual teve o carregamento aplicado Dash et al. (2001);
sobre um dos nós de ligação. O melhor 2) O carregamento no centro de uma das
comportamento referente à distribuição das células reduziu as movimentações ao
tensões dos testes tipo B podem ser confirmados entorno da placa, rebaixamentos e
com base nos resultados ilustrados pela Figura elevações se mantiveram estáveis devido
5c, onde é observada a redução das tensões ao ao efeito de confinamento que
longo do interior da caixa de acomodação. Além minimizou o deslocamento lateral do
disso, a Figura 5b mostra que o transdutor BF100 solo. Em contraste, o carregamento em
leu tensões muito menores do que as outras um dos nós de ligação resultou em uma
células quando a placa estava localizada no maior movimentação lateral.
centro de uma célula, demonstrando assim que o 3) As tensões foram reduzidas cerca de 1,5
solo abaixo da geocélula estava protegido. a 2,0 vezes no centro da caixa de
A maioria dos testes apresentou tensões mais acomodação quando o carregamento foi
altas a 100 mm de profundidade (lidos por meio realizado no centro de uma das células.
dos transdutores) do que na superfície do solo à Quando o carregamento se deu no nó de
medida que a carga progredia, podendo, desta ligação, ocorreu a concentração das
forma, ilustrar este comportamento como uma tensões ao longo da profundidade da
espécie de cunha onde houvesse um ponto que caixa de acomodação sem uma maior
as tensões se acumulassem no interior do solo distribuição, atuando similar a um
para depois haver a dissipação, conforme carregamento axial atingindo maiores
comumente conhecido. profundidades da caixa. Nos casos em
que não havia o reforço, as tensões se
concentraram logo abaixo da placa
5 SUMÁRIO E CONCLUSÕES circular mobilizando uma pequena região
de solo.
Este estudo obteve resultados experimentais de 4) Cargas aplicadas no nó de ligação
provas de carga em placa circular suportados por resultaram em uma alta melhora da
um substrato arenoso homogêneo, reforçado ou capacidade de carga, onde a geocélula
não com geocélulas. Os resultados ora discutidos suportou a placa mesmo após o solo vir a
necessitam ser abordados em concomitância falhar. No entanto, a aplicação de cargas
183
neste local resultou também na pior geocell-reinforced sand cushion on soft soil.
redução dos recalques. Geotextiles and Geomembranes, 26(3): 231-238. doi:
10.1016/j.geotexmem.2007.10.002.
5) Independentemente do local de
carregamento, o reforço de geocélula
resultou em uma redução mínima dos
recalques de cerca de 60%, comparado
ao solo não reforçado.
REFERÊNCIAS
184
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Usualmente, os requisitos de projetos de fundações rasas não são totalmente satisfeitos
pelo solo da área em estudo. Isto ocorre porque o solo natural é um material complexo e de
comportamento variável. Portanto, inúmeros métodos construtivos têm sido desenvolvidos ao longo
dos anos para viabilizar a construção de estruturas sobre camadas de solos com baixa capacidade de
suporte. Um método possível envolve o emprego de geossintéticos. Todavia, ainda há dúvidas e
incertezas a respeito da utilização de reforço geossintéticos sob fundações rasas em aterros,
principalmente em relação às consequências de recalques excessivos e de rupturas. Neste contexto,
este trabalho apresenta um estudo sobre fundações diretas em aterros reforçados com geossintéticos.
Para esta finalidade foi utilizado o método dos elementos finitos, com o uso do programa Plaxis. O
modelo retratou uma fundação superficial isolada em aterro não reforçado e depois com diversas
configurações de reforços de geossintéticos. Os aspectos principais obtidos para as análises foram a
capacidade de carga e os recalques na aplicação de uma carga de referência (carga de ruptura do
sistema sem reforço). Os resultados obtidos mostram que a presença de camadas de reforço
convenientemente especificadas em termos de características geométricas e mecânicas, bem como
apropriadamente distribuídas sob fundação rasa, pode aumentar significativamente a capacidade de
carga e reduzir os recalques da fundação.
ABSTRACT: Soils usually do not comply entirely with the requirements for the use of shallow
foundations on a routine basis. This is due to soil variability and complexity of soil behaviour.
Therefore, several construction methods have been developed through the years to allow the
construction on compressible grounds. One of the methods available is the use of geosynthetics for
soil reinforcement. However, uncertainties do exist with regard to the use of geosynthetic
reinforcement underneath shallow foundations, such as footings. In this article the finite element
method was employed to investigate the behaviour of an isolated strip footing using the code Plaxis.
For the former situation, the main parameters investigated were bearing capacity and settlements
caused by the application of a reference load on the footing (failure load of the footing resting on
unreinforced fill). The results obtained showed that, when properly specified in geometrical and
mechanical terms, as well as properly distributed underneath the footing, geosynthetic reinforcement
can increase significantly the footing bearing capacity and reduce its settlements.
185
1 INTRODUÇÃO ferramenta numérica. Foco foi dado na
influência das propriedades mecânicas dos
Os projetos de fundações rasas geralmente não reforços, arranjo e distribuição das camadas de
são satisfeitos pelo solo natural da área em reforço e nas propriedades dos solos para o aterro
estudo. Isto ocorre porque este é um material de reforçado.
comportamento variável. Desta forma, vários
métodos construtivos foram desenvolvidos para
que fosse possível a construção de estruturas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
sobre estes solos de variados comportamentos,
principalemente os de baixa capacidade de O trabalho terá como foco as análises numéricas
suporte. No caso da construção de aterros, realizadas com o programa Plaxis 2D. Com essa
existem soluções tradicionais como remoção e ferramenta numérica se investigou o
substituição do solo por outro com comportamento de fundações superficiais sobre
características adequadas, execução de aterros aterros reforçados com geossintéticos.
estaqueados, entre outros. Entretanto, por vezes, As simulações consideravam para o solo
estas soluções podem não ser viáveis nos subjacente à sapata como um aterro uniforme e
aspectos econômicos, ambientais ou restrições homogêneo em toda a sua extensão. Para as
de projeto. análises da fundação superficial isolada, os
Neste contexto, surge a necessidade de aspectos principais para discussão dos resultados
utilização de métodos para reforçar o solo de das simulações foram a capacidade de carga
fundação de baixa capacidade de carga com o última e o recalque do sistema.
objetivo de melhorar suas condições
geotécnicas. A inclusão de elementos de reforço, 2.1 Procedimentos de análise
como fitas, fibras ou tiras metálicas são soluções
possíveis. Contudo, um método muito eficaz e No procedimento de análise dos resultados foi
que passou a ser investigado nas últimas décadas utilizada a taxa de capacidade de carga e a taxa
é a inclusão de geossintéticos. Estes podem de redução de recalque para as análises em
auxiliar a construção do aterro de diversas relação às cargas de ruptura e aos recalques. Para
formas, de acordo com a função ou funções que a análise de capacidade de carga foi utilizada a
os mesmos desempenham (Almeida & Marques, taxa de capacidade de carga, BCR (Bearing
2010). Pesquisas para análises do Capacity Ratio), definida por Binquet & Lee
comportamento destas estruturas já foram (1975) como:
realizadas por meio de ensaios de campo, q
modelos reduzidos e também por meio de BCR = r (1)
q ult
ferramentas numéricas.
Diversos autores realizaram pesquisas sobre Onde qr e q ult são as capacidades de carga do
fundações rasas reforçadas com geossintéticos, solo reforçado e não reforçado, respectivamente.
destacando-se Dawson & Lee (1988), Das Já para a análise dos recalques foi utilizada a
(1989), Manjunath & Dewaikar (1996), Ju et al. comparação entre o u, que representa o recalque
(1996), Nataraj et al. (1996), Zhao et al. (1996) de ruptura do caso não reforçado (recalque de
Pospisil & Zednik (2002), Patra et al. (2005), referência), e r, que representa o recalque do
Palmeira (2001), Haque et al. (2001), Ghazavi & caso reforçado quando a sapara é submetida à
Lavasan (2008), Avesani Neto et al. (2012), carga de ruptura do caso não reforçado (carga de
Fernandes (2014) e Ouria & Mahmoudi (2018). referência).
Contudo, ainda restam dúvidas a sanar na
utilização de geossintéticos como reforços para 2.2 Modelo Numérico
fundações rasas. Desta forma, nesta pesquisa se
investigaram os fatores que afetam o Para elaboração do modelo numérico foi
comportamento de fundações superficiais sobre dividida a apresentação dos casos simulados em
aterros reforçados com geossintéticos sobre geometria, propriedades dos materiais utilizados,
diferentes solos de fundações com a utilização de
186
condições iniciais, estágios de cálculo e da carga de ruptura do sistema sem reforço (será
procedimentos de análise. a carga de referência).
Figura 1. Malha da sapata isolada em aterro reforçado com Em que ϕ é o ângulo de atrito, Ψ é o ângulo
uma camada com aterro homogêneo e uniforme. de dilatância e E é o módulo de young do solo.
Por fim, o aterro teve valores típicos de
O processo construtivo foi considerado pelos propriedades de areia, com coesão (c’) igual a 1
quatro estágios de cálculo das simulações. No kPa (ao invés de zero, para evitar problemas
primeiro é feita a instalação do geossintético e numéricos), coeficiente de Poisson (ν) igual a
construção da sapata, no segundo ocorre 0,3, e o peso específico (γ) inicial a 16 kN/m³.
assentamento da fundação rasa, no seguinte se O tipo de elemento Geogrid do programa
Plaxis foi utilizado para simular os
obtem a carga de ruptura do sistema e por fim, a
geossintéticos. Foi assumido o comportamento
última etapa é subsequente da 3ª etapa, ou seja, elástico linear para as camadas de reforço com
antes da ruptura do solo. Nesta ocorre aplicação único parâmetro sendo a rigidez normal (axial)
elástica EA .
187
Na Tabela 3 são apresentados os parâmetros com uma camada ou com multicamadas de
do reforço utilizados neste trabalho. Observa-se reforço.
que foram considerados de 1 a 8 camadas de
geossintéticos, com até 4 diferentes valores para 3.1 Fundação isolada em aterro sem reforço
rigidez de cada camada, além do espaçamento da Pela ferramenta numérica, o sistema da fundação
primeira camada para sapata com 6 distintos superficial em aterro tipo 01, sem reforço, teve a
valores e também considerados até 5 diferentes carga de ruptura igual a 576 kN/m². Logo, esta
comprimentos para cada camada. carga é chamada de carga de referência e foi
aplicada nas simulações em aterros com reforços
Tabela 3 Parâmetros do reforço de geossintéticos. de geossintéticos para comparações e análises.
N° de
Classificação pela rigidez Nas simulações, simultaneamente à obtenção
do reforço (kN/m) L (m) U (m) da capacidade de carga última, foi registrado o
camadas
seu respectivo valor de recalque, admitindo-se a
1 J1 500 L1 1,0B 0,10B manutenção do comportamento elástico até o
2 J2 1000 L2 1,5B 0,25B limiar da ruptura (Modelo Mohr-Coulomb). O
3 J3 2000 L3 2,0B 0,35B valor máximo de recalque no centro da sapata foi
4 J4 5000 L4 4,0B 0,50B de 24 centímetros. Portanto, este é o recalque de
5 - - L5 6,0B 0,70B referência (ρrefer) para comparações nos itens
6 - - - - 1,00B seguintes.
7 - - - - -
-
3.2 Fundação isolada em aterro reforçado
8 - - - -
com uma camada de reforço
Em que “J” é a rigidez à tração dos
Nas simulações com uma fundação
reforços,“L” representa o comprimento das
superficial isolada em aterro reforçado com uma
camadas e “U” é a distância entre a base da
camada de reforço, variando a profundidade de
sapata e a primeira camada de reforço (“L” e “U”
instalação do geossintético, foram obtidos os
estão apresentados em função da largura “B” da
resultados em relação à variação da capacidade
sapata). O espaçamento (s) entre as camadas de
de carga e dos recalques, respectivamente, como
geossintéticos foi considerado 0,10B.
apresentados nas Figuras 3 e 4.
A resistência ao longo da interface solo-
reforço é considerada pelo programa e 2,00
dependente do parâmetro de interface (Rinter). L1 L2 L3 L4 L5
1,75
Neste trabalho, o Rinter foi considerado igual a
1,0, isto é, as resistências da interface e do solo 1,50
ao redor são iguais. 1,25
As variáveis investigadas na pesquisa podem
1,00
ser visualizadas na Figura 2.
BCR
0,75
0,50
0,25
0,00
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Profundidade de uma camada de reforço (U/B)
Figura 3. Variação do BCR em relação à profundidade do
reforço.
Figura 2. Variáveis analisadas nas simulações.
Na análise dos casos com apenas uma camada
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO de reforço e considerando a profundidade do
reforço, é interessante notar que há um
As simulações se dividiram em aterro sem crescimento na capacidade de carga e uma
reforço, para obtenção das cargas de referência, redução dos recalques. A utilização mais eficaz
188
ocorreu com 0,25B de profundidade de reforço de reforço igual a U2 = 0,25B. Na verificação da
(Figuras 3 e 4), isto ocorre porque a partir da qual influência do comprimento de uma camada de
praticamente não há mudança de capacidade de reforço, os resultados em termos de variação do
carga e na redução de recalques, além de se obter BCR e dos recalques em relação ao de referência
uma menor escavação com esta escolha. são apresentados nas Figuras 6 e 7. No caso da
análise do comprimento do reforço com apenas
uma camada, percebe-se que a partir do valor 4B
praticamente não há acréscimo na capacidade de
carga nem redução dos recalques, sendo este
portanto o valor próximo do ideal a se utilizar.
Este fato também foi observado por Das (1989)
em sua pesquisa.
2,00
1,75
1,50
1,25
23,5
geossintético não influi no conjunto solo-
fundação não é evidente, variando entre as 23,0
profundidades 0,50B e 0,70B nas simulações
22,5
(Figura 5).
22,0
21,5
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento de uma camada (L/B)
Figura 7. Variação do recalque das situações reforçadas
com o comprimento da camada de reforço.
189
velocidade de incremento inicial da capacidade casos com 3 para 4 camadas de reforço. Após
de carga é acentuada, mas após a rigidez do este valor a velocidade de incremento diminuiu.
reforço atingir o valor de 2.000 kN/m, a Também é notável que os valores dos recalques
capacidade de carga se mantém praticamente diminuem acentuadamente até o caso com 4
constante. De forma semelhante, os recalques camadas de reforço. Após este valor a taxa de
praticamente ficam inalterados após a utilização redução do recalque com N é menor. Não
da rigidez de 2.000 kN/m (Figuras 8 e 9). obstante, é interessante comentar que um
elevado número de camadas de reforço, embora
2,00 melhore o desempenho, aumenta a dificuldade
1,75 de execução, além de elevar o custo do projeto.
1,50
3,5
1,25
3,0
1,00
BCR
0,75 2,5
0,50 2,0
23,5
24
23,0
23
22,5
Recalque (cm)
22,0 22
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
Rigidez do reforço (kN/m)
21
Figura 9. Variação do recalque de referência das situações
reforçadas com a rigidez da camada de reforço.
20
0 1 2 3 4 5 6 7 8
3.3 Fundação isolada em aterro reforçado Número de camadas de reforço (N)
com multicamadas de reforço Figura 11. Variação dos recalques dos casos reforçados
com o número de camadas de reforço.
Para o sistema com multicamadas, foram
analisadas simulações alterando-se, além do Os resultados da verificação da influência do
número de camadas, novamente a rigidez e o comprimento das camadas de reforço em um
comprimento de cada reforço de geossintéticos. sistema de multicamadas são apresentados e nas
Nas Figuras 10 e 11 são apresentadas as Figuras 12 e 13. Sobre o aspecto do acréscimo de
variações de BCR e dos recalques com o número capacidade de carga (Figura 12) há um
de camadas de reforço. É possível observar que incremento significativo quando se aumentam os
a velocidade de incremento de capacidade de comprimentos, todavia após o valor de 4B, o
carga é crescente durante todas as simulações, e acréscimo é pequeno. Entretanto, para análise de
há um ganho significativo quando se passa dos redução dos recalques na Figura 13, nota-se que
190
após o comprimento de 2,0B os recalques de considerado ideal para o caso com apenas uma
referência foram praticamente constantes para camada de reforço nas condições desta pesquisa.
diferentes valores de comprimento do reforço e
número de camadas utilizados. 2,50
2,25
N=1 N=2 N=3 N=4 N=5 2,00
2,50
1,75
2,25
1,50
2,00
1,25
BCR
1,75
1,00
1,50
0,75
BCR
1,25
1,00 0,50
N=1 N=2 N=3 N=4 N=5
0,75 0,25
0,50 0,00
0,25 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
Rigidez do reforço (kN/m)
0,00
0 1 2 3 4 5 6 Figura 14. Variação do BCR dos casos com multicamadas
Comprimento de uma camada (L/B) com a rigidez das camadas de reforço.
Figura 12. Incremento do BCR com o aumento do
comprimento das camadas de reforço. 25,0
23,0
22,0
22,0
Recalque (cm)
21,0
21,0
20,0
20,0
19,0
19,0 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
Rigidez do reforço (kN/m)
18,0
0 1 2 3 4 5 6
Figura 15. Variação do recalque dos casos com
Comprimento do reforço (L/B) multicamadas com a rigidez das camadas de reforço.
Figura 13. Variação do recalque dos casos com
multicamadas com o comprimento das camadas de 4 CONCLUSÃO
reforço.
O presente trabalho contribuiu para análise de
Por fim, na análise da variação da rigidez do fundações diretas em aterros reforçados com
reforço para o sistema com multicamadas, são geossintéticos por meio de simulações
apresentados os resultados nas Figuras 14 e 15. numéricas a fim que se possa avaliar a influência
Tanto o acréscimo de BCR quanto a redução dos de alguns parâmetros de comportamento.
recalques são mais expressivos até a utilização Dentre os principais resultados, cabe destacar
da 4ª camada de geossintético. que no sistema com monocamada de reforço
Considerando a variação do BCR, após o analisado, existe um valor limite para rigidez,
valor de 2.000 kN/m de rigidez praticamente se comprimento e profundidade da camada que
mantém valor constante. Além disto, nota-se possibilita um maior aproveitamento da
que a redução dos recalques ocorre de forma utilização do geossintético. Os valores
acentuada até o sistema que utiliza reforços com respectivamente encontrados nas análises do
o mesmo valor de rigidez. Após este, a taxa de sistema deste trabalho foram 2.000 kN/m, 4B (8
redução de recalques se torna menor. Pode-se metros) e 0,25B ( 0,50 metro).
observar também que o valor de 2.000 kN/m foi
191
Para o sistema com multicamadas, foi Settlement and bearing capacity of footings on
possível observar que para alguns parâmetros há reinforced sand. Proceedings of the International
Symposium on Earth Reinforcement – Vol. 1. Fukuoka
uma boa similaridade com o de apenas uma / Kyushu / Japan / November 1996.
camada em relação aos melhores valores de Ouria, A. & Mahmoudi A. (2018) Laboratory and
utilização. numerical modeling of strip footing on geotextile-
reinforced sand with cemente-treated interface.
Geotextiles and Geomembranes, v. 46, p. 29-39.
Palmeira, E. M. (2001). Technical report – Foundation
AGRADECIMENTOS session. Proceedings of the International Symposium
on Earth Reinforcement – Vol. 2. Fukuoka / Kyushu /
Os autores agradecem à Universidade de Japan / November 2001.
Brasília, especialmente ao Programa de Pós- Patra, C. R., Das B. M. & Atalar C. (2005). Bearing
Graduação e também, às instituições CNPq e capacity of embedded strip foundation on geogrid-
reinforced sand. Technical Note. In Geotextiles and
CAPES, que deram suporte a pesquisa pelo Geomembranes: 23 454-462.
apoio financeiro. Pospisil K. & Zednik, P. (2002). Geosynthetic impact
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192
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019
KEY WORDS: Geosynthetics, Instrumentation, Creep, Field monitoring, Fine-grained lateritic soil.
193
1 INTRODUÇÃO monitoramento de um muro de areia reforçada
com geogrelhas, que, as o aumento não linear e
Nas condições de serviço, uma deformação dependente do tempo das forças requeridas na
excessiva ao longo do tempo pode prejudicar a geogrelha induzem a um correspondente
função destinada a uma estrutura de solo aumento não linear da deformação. Ainda, o
reforçado (ESR). Dentre as fontes de autor destaca que as variações sazonais de
deformações envolvidas em uma ESR, estão as temperatura do aterro, supostamente, induzem a
por fluência do material polimérico usado como uma flutuação dos valores medidos de
reforço e as deformações temporais da estrutura deformação.
como um todo, ou seja, no sistema solo-reforço. Segundo Helwany et al. (1999), quando são
As deformações das ESR são estudadas em utilizados solos com taxas de fluência maiores
diversas óticas. O aspecto mais relatado na que as dos reforços, as deformações ao longo do
literatura consiste nas deformações ocorridas tempo nos materiais confinados tendem a ser
durante o processo executivo, diante das tensões aumentadas e convergentes com os dados
de compactação que são, muitas vezes, laboratoriais. O contrário também acontece, ou
predominantes (Ehrlich et al., 2012). No seja, para os casos em que são empregados
entanto, as deformações por fluência podem ser solos com taxas de fluência menores que as dos
protagonistas nas deformações dos reforços e da reforços, o solo tende a restringir o
estrutura como um todo, uma vez que materiais desenvolvimento das deformações por fluência
poliméricos podem apresentar significativas no geossintético.
deformações a longo prazo. Estudos de estruturas reais de solo arenoso
Quando se trata de comportamento temporal do reforçado com geotêxtil, como de Becker &
sistema solo-reforço, a maioria dos trabalhos da Nunes (2015) e Allen & Bathurst (2002),
literatura aborda o comportamento por meio de mostraram significativos valores de
ensaios laboratoriais não confinados e deformações ao longo do tempo. No caso dos
confinados (Becker & Nunes, 2015; Costa et al. ensaios conduzidos por Becker & Nunes
2016; França et al. 2013 e Plácido et al. 2018). (2015), os resultados do campo foram menos
McGown et al. (1982) afirma que a fluência conservadores que os dos ensaios confinados,
pode ou não ser relevante, dependendo do tipo e enquanto em Allen & Barthurst (2002) os
característica do elemento de reforço, do solo ensaios confinados levaram a resultados mais
de aterro e vida útil da obra. O autor também conservadores e isso foi atribuído a baixa
relata que a fluência pode ser significativamente deformação no reforço que impediu que o solo
inibida pelo confinamento do geossintético na atingisse a ruptura, portanto a fluência do
massa de solo. Este estudo indica certo reforço foi mínima.
conservadorismo no projeto por conta do ensaio Diante disso, este trabalho trata de um muro
de fluência convencional (sem interação com o instrumentado a fim de obter deslocamentos
solo) estimar deformações maiores do que internos e com monitoramento se estendendo do
acontece com o reforço confinado. Wu (1994) período executivo até ~10.000 horas pós-
demonstrou que deformações por fluência construção para captação das deformações
dependem do tipo de solo confinante. O autor temporais. Ainda, aliando o ensaio do material
identificou que o solo arenoso, restringiu as usado na obra em laboratório, pode-se trazer
deformações por fluência na interface. No caso contribuição cientifica ao comparar resultados
do solo argiloso, o efeito das deformações por de deformações temporais observados em
fluência foram aumentados pela baixa rigidez campo, na situação real de serviço, com
do solo. Com relação à fluência do material de deformações temporais por fluência da
aterro, Fannin (2001), com pesquisa geogrelha observadas em ensaio convencional
experimental, verificou o aumento da de laboratório.
deformação nos reforços com o tempo está
relacionado com a deformação resultante da 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
fluência do solo de aterro. Ainda, o autor
concluiu, a partir de dados de dez anos de 2.1 Muro estudado
194
A obra monitorada situa-se na cidade de São geogrelhas, com resistências distintas, aqui
José dos Campos/SP dentro de um condomínio denominadas GG40 e GG50. Os detalhes da
empresarial com fachada para a rodovia seção típica pode ser observado na Figura 2a. A
Presidente Dutra, na altura do km 158. A Figura Figura 2b ilustra, em planta, as seções
1 mostra a localização da obra instrumentada. instrumentadas denominadas Seção 1 e Seção 2,
A estrutura estudada consiste num muro de na Figura 2b.
solo reforçado com geossintéticos para
composição de um aterro que eleva a altura do
terreno, nivelando está área. No topo da
estrutura foi projetada uma sobrecarga de
maquinário industrial. Durante todo o tempo de
monitoramento pós-construtivo da estrutura, o
muro ficou isolado e não teve acesso de pessoas
ou máquinas, tampouco foi iniciado o
empreendimento sobre o muro.
(a)
(b)
Figura 2. Muro instrumentado: (a) Seção típica e (b)
Planta do muro com indicação das seções monitoradas.
Figura 1. Localização da estrutura monitorada.
2.2 Materiais utilizados
No solo de fundação, notou-se a presença de
uma camada superificial de argila arenosa de
O resumo das propriedades do solo (utlizado na
muito mole a mole, a partir de ensaios de
região reforçada) é mostrado pela Tabela 1. Os
sondagem à percussão (SPT), realizados no
dois tipos de geogrelhas adotados pelo
entorno do muro, em torno dos 4,0 m iniciais de
projetista apresentam os valores de resistência à
profundidade. Devido à presença desta camada
tração de 47,3 kN/m e 54,9 kN/m (ABNT/NBR
de solo mole na superfície do terreno natural, a
12824:1993). Estas cargas foram utilizadas
solução na execução da obra, até os 4,0 m de
como referência nos ensaios de fluência.
profundidade, foi a substituição desse material
Os ensaios de fluência em isolamento foram
por rachão agulhado, que compõe a fundação
realizados com o objetivo de caracterizar as
do muro. Ainda, adotou-se um embutimento
propriedades de fluência dos materiais em
(ficha) de 1,5 m para o muro, que corresponde
condição não confinada para que,
em torno de quatro camadas de muro reforçado
posteriormente, estes resultados pudessem ser
antes do início da superfície do terreno e início
comparados às características dos mesmos
do “pé” do muro.
materiais em condição confinada em solo, a
O sistema de contenção foi composto por
Figura 3a ilustra a fluência da GG50 e a Figura
muros íngremes de solo reforçado1:10
3b, da GG40.
(Horizontal: Vertical) com altura (H) de 4,5 m,
Os ensaios de fluência (ABNT/NBR
construído com solo laterítico local. A
15266:2005) foram realizadas com as cargas de
geometria do projeto consistiu em linhas de
5 e 10% do T ULT (resistência última obtida do
reforços espaçadas verticalmente a cada 0,4 m,
ensaio de tração faixa-larga) de cada geogrelha,
com comprimentos de reforço de 8 e 6,5 m, em
conforme Tabela 2. Optou-se por baixas cargas
cada seção instrumentada analisada,
de fluência pelo fato de esperar baixas cargas
respectivamente. Foram utilizadas duas
no campo.
195
Tabela 1. Propriedades do solo de aterro
Propriedades Referência Valores Un.
γs ABNT NBR 7183 16,2 kN/m3
w ótimo ABNT NBR 7183 21,2 %
γn ABNT NBR 7183 19,6 kN/m3
ceφ ASTM D2850 14 e 34 kPa e °
LL ABNT NBR 6459 50 %
IP ABNT NBR 7180 16 %
σ' p ABNT NBR 12007 400 kPa
Fração Areia ABNT NBR 7183 41 %
Fração Silte ABNT NBR 7183 12,6 % Figura 4. Deformação temporal do solo do aterro.
Fração Argila ABNT NBR 7183 16,2 %
196
pela deformação média do trecho entre pontos tempo. Cabe salientar que a principal diferença
de medida de deslocamentos. entre a Seção 1 e a Seção 2 está no
comprimento e resistência da geogrelha
utilizada. Sendo na Seção 2 com reforço de 6,5
m e Seção 1 de 8,0 m. Conforme já informado,
a carga foi estimada com base na deformação
construtiva que o reforço apresentou,
deformação tomada antes do trecho linear de
fluência. Este valor foi tomado como
deformação inicial, já a carga foi tomada com
base na curva tensão-deformação obtida de
ensaios à tração faixa-larga.
(a) (a)
(b) (c)
Figura 5. Instrumentação: (a) Detalhes construtivos, (b) (b)
Seção 1 e (c) Seção 2.
197
significativa. Nota-se ainda que para maiores coesão do solo (14 kPa), há pouca solicitação
profundidades (E60), menores foram as taxas de teórica (por teoria de Rankine) nas camadas
deformações. Isso indica que a pressão vertical reforçadas. Portanto, o carregamento estimado,
sob o reforço atua mais no sentido de restringir “semelhantes” para as camadas E60 e E100 da
as deformações pelo efeito de confinamento do Seção 1, em torno dos 1,6 kN/m, conforme
reforço do que gerar maiores cargas de tração. Figura 8, pode ser devido apenas ao estado de
Outra constatação foi que a média das tensões induzidos no solo por compactação.
fluências, ao longo das elevações da Seção 1,
são o inverso da deformação inicial. Este fato
pode ser indício de quanto maior a deformação
inicial (possivelmente devido a esforços de
compactação), maior se dá o confinamento do
solo (estado de tensões induzido) gerando
menor comportamento de fluência. Logo, o
solo, em condições de altas tensões induzidas
pode ser responsável por reduzir a tendência a
fluência do reforço em campo.
No que tange a localização das máximas
tensões no reforço, nota-se na Figura 7 que a
região próxima a face apresentou os maiores
valores de deformação ao longo do
comprimento do reforço, uma possível (a)
atribuição a este fato pode ser dada pela
superfície de máxima tração no reforço, que
passando muito próximo da face (Figura 7a,
Seção 1 e Figura 7b, Seção 2), faz com que haja
pouca extensão do reforço para fluir, gerando
assim menores deformações ao longo do tempo
nestas elevações, o que denota que os resultados
se apresentaram de forma muito bem ajustada.
Ainda, a superfície potencial de ruptura
passando superficialmente a face é
normalmente atribuída a ortogonalidade do
faceamento. Tal comportamento foi notado (b)
tanto para a Seção 1 como Seção 2. Figura 7. Potenciais superfícies de ruptura: (a) Seção 1 e
(b) Seção 2.
3.2 Deformações temporais: Campo x
laboratório
198
comportamento, a título de exemplo destas
Na Figura 8, pode-se observar as curvas de situações, o confinamento ao solo).
campo e laboratório. Pelos resultados de O muro estudado apresentou-se com baixa
laboratório, a tensão aplicada pelo solicitação no reforço e com baixas
carregamento do ensaio de fluência não deformações temporais, assim, concordou com
confinada alterou a tendência a fluência da a literatura que relata, de forma geral, que
GG50 da ordem do dobro de uma carga para reforço pouco solicitado enfrenta pouca a
outra. Já para este reforço em campo, apesar da imperceptível deformação ao longo do tempo.
proximidade das camadas instrumentadas
análisadas, na Figura 8, E60 e E100,
apresentarem, a taxa de fluência, também, foi REFERÊNCIAS
da ordem do dobro de uma para outra. Esse fato
indica uma possível ressalva com o valor de Allen, T.M. e Bathurst, R.J., 2002, Observed
laboratório, que com dados de diferentes cargas Long-Term Performance of Geosynthetic
teve a sua taxa, praticamente, dobrada. Porém, Walls and Implications for Design,
deve-se notar que, em ambos os casos de Geosynthetics International, Vol. 9, Nos. 5-
campo, os valores de tendência a deformações 6, pp. 567-606.
temporais foram menores que os valores de ABNT. (1995). NBR 9286: Terra Armada. Rio
fluência laboratoriais, sendo mais de dez vezes de Janeiro.
maior no caso do reforço com semelhante ABNT. (1984). NBR 7180: Solo: Determinação
carga. Então, nota-se que os resultados de do limite de plasticidade, ABNT, Rio de
laboratório superestimaram os de campo, para o Janeiro.
reforço de GG50. Este fato também pode ser ABNT. (1984). NBR 7181: Solo: Análise
atribuído a condições impostas pela Granulométrica, ABNT, Rio de Janeiro.
susceptibilidade a fluência do solo (0,0517), na ABNT. (1983). NBR 7183: Determinação do
qual nas condições de campo, interagindo com limite e relação de contração dos solos,
a geogrelha, imputou resistência as ABNT, Rio de Janeiro.
deformações temporais e ainda pode ter ABNT. (1984). NBR 6459: Solo: Determinação
acarretado, inclusive, na diminuição de do limite de liquidez, ABNT, Rio de Janeiro.
carregamento no reforço, uma vez que a ABNT. (2010). NBR 6122: Projeto e execução
susceptibilidade a fluência do solo é menor que de fundações. Rio de Janeiro.
a tendência a fluência deste reforço (0,0517 < ABNT. (1993). NBR 12824: Geotêxteis -
0,0537 ou 0,1050). Determinação da resistência à tração não-
confinada - Ensaio de tração de faixa larga -
Método de ensaio. Rio de Janeiro.
4 CONCLUSÕES ABNT. (2005). NBR 15226: Geossintéticos -
Determinação do comportamento em
O presente estudo investigou o comportamento deformação e na ruptura, por fluência sob
ao longo do tempo das deformações um muro tração não confinada. Rio de Janeiro.
real instrumentado, com leituras realizadas até ASTM D2850-03, Standard Test Method for
10.000 horas pós-construção. Unconsolidated-Undrained Triaxial
Quanto a comparação de deformações entre CompressionTest on Cohesive Soils, ASTM
campo e laboratório, os valores superiores International, West Conshohocken, PA,
indicados pelo laboratório, indicam que não é 2003.
adequado a direta consideração de ensaios Becker, L. D. B.; Nunes, A. L. L. S. Influence
convencionais de fluência de laboratório nas of soil confinement on the creep behavior of
premissas de dimensionamento, uma vez que os geotextiles, Geotextiles and Geomembranes,
reforços em laboratório apresentaram 43 (4), 351-358, 2015.
deformação maior do que em campo (este Costa, C. M. L.; Zornberg, J. G.; Bueno, B. S.;
comportamento era esperado, em campo, o Costa, Y. D. J. Centrifuge evaluation of
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: This paper presents, in a summarized and condensed way, the developments carried
out in the publication Avesani Neto (2019), where a methodology was proposed for the
determination of the surface deflection and the propagated vertical stresses to the subgrade under
the geocell-reinforced layer using the theory of equivalent thicknesses - which is an approximation
of the theory of elasticity for the layered systems. The equation obtained is generalized and depends
only on the relations between the elastics parameters of the two layers and geometric parameters of
the problem. The proposed methodology yielded results very close to the rigorous solutions of the
two-layer system theory and, considering its generality and simplicity of application, shows an
alternative of great potential for employment in the stress-deformation analyzes of geocell
reinforcements.
201
confinamento, dispersão das tensões verticais e de tensões, para os casos de coeficiente de
efeito membrana) com equacionamentos no Poisson igual a 0,5 em ambas as camadas.
equilíbrio limite e semi-empírico (Koerner Burmister (1962) reportou uma solução para
1994; Presto 2008; Zhang et al. 2010; Sitharam deflexão e tensões verticais e de cisalhamento
e Hegde 2013; Avesani Neto et al. 2015, 2013; na interface considerando coeficiente de
Avesani Neto 2013). Poisson iguais a 0.2 e 0.4, respectivamente para
No entanto, ainda há uma lacuna na tentativa as camadas superior e inferior. de Barros
de traduzir matematicamente os efeitos de (1966a) verificou de forma satisfatória a
tensão e deformação (carga e recalque) que aplicação da teoria de múltiplas camadas na
ocorrem na camada de solo reforçado com a interpretação de diversos ensaios de placa
geocélula e em sua interface com o subleito. realizados em pavimentos de solo cimento em
Nesse aspecto, o presente artigo é um aeroportos no Brasil e de Barros (1966b)
resumo da publicação Avesani Neto (2019) e apresentou uma metodologia para reduzir um
descreve, de forma sucinta, as etapas e sistema de três camadas para duas camadas
considerações feitas no desenvolvimento de equivalentes simplificando os cálculos. Esse
uma metodologia generalizada, simples e eficaz último também apresentou soluções para
para determinação dos recalques e tensões deflexão do sistema de duas e três camadas
propagadas para o subleito em uma aplicação de considerando coeficientes de Poisson igual a
solo reforçado com geocélula. Maiores 0.35, com gráficos para o cálculo da deflexão e
informações podem ser obtidas na publicação aplicações práticas. Ueshita e Meyerhof (1967)
supracitada. avaliaram a teoria de dupla camada com ensaios
de laboratório com solos arenosos e argilosos e
verificaram uma boa aproximação entre os
2 SISTEMAS DE MÚLTIPLAS resultados.
CAMADAS Soluções aproximadas que usam a teoria das
espessuras equivalentes foram propostas por
O estudo dos sistemas de camadas se iniciou na Palmer e Barber (1940) antes mesmo da solução
década de 30 com soluções rigorosas para dupla rigorosa de Burmister (1943) e posteriormente
camada com base rígida – solo sobre rocha por por Odemark (1949). A teoria das espessuras
exemplo (Marguerre, 1931). Para dupla camada equivalentes propõe a transformação das
elástica (solo sobre solo, por exemplo) e múltiplas camadas do solo em uma espessura
carregamentos circulares, Burmister (1943) equivalente com propriedades iguais as da
desenvolveu soluções rigorosas para tensões e camada subjacente (subleito), permitindo tratar
deslocamentos, apresentando uma solução um problema de múltiplas camadas pela teoria
numérica para as deflexões em forma de gráfico da elasticidade dos meios homogêneos semi-
para o caso de coeficiente de Poisson igual a 0,5 infinitos (solução de Boussinesq). O métodos
e total continuidade (atrito total) na interface de Palmer e Barber (1940) e Odemark (1949)
entre as camadas (Figura 1, equação 10b). (Figura 1, equações 11b e 12b) empregam uma
Posteriormente o pesquisador expandiu as equivalência estrutural entre as camadas usando
equações para a situação de descontinuidade na uma relação entre as suas espessuras e os seus
interface entre as camadas (sem atrito) e para parâmetros elásticos (módulo de Young, E e
um sistema de três camadas (Burmister 1945a, coeficiente de Poisson, µ). Ueshita e Meyerhof
1945b 1945c). Na sequência diversos autores (1967) também avaliaram a teoria das
realizaram significativas contribuições para o espessuras equivalentes (método de Odemark)
estudo e aplicação do sistema de camadas: Fox com ensaios de laboratório verificando uma boa
(1948) realizou integrações do sistema de aproximação entre os resultados experimentais
equações proposto por Burmister e obteve e teóricos. Ullidtz (1998) igualmente confirmou
soluções numéricas das tensões verticais, que a teoria das espessuras equivalentes
radiais, tangenciais e de cisalhamento na (método de Odemark) apresenta valores
interface, além de apresentar uma completa concordantes com a solução rigorosa para casos
distribuição dessas tensões em forma de bulbos em que a rigidez das camadas é decrescente
202
com a profundidade. De fato, o autor do empregadas para a determinação acurada das
presente artigo verificou que o as diferenças tensões e deformações de um sistema de solo
entre as deflexões calculadas pelos métodos de multi-camada. No entanto, o sucesso desses
Burmister (1943) e da teoria das espessuras métodos reside na escolha apropriada de
equivalentes (Palmer and Barber 1940 e modelos constitutivos e seus respectivos
Odemark 1949) são inferiores a 5% na maior parâmetros de entrada, construção de modelos
parte dos casos em aplicação de solos (E1/E2 com nível de refinamento adequado à
variando de 2 a 200 e h/r de 0,25 a 2), diferença investigação do problema e no consumo de
essa em sua maioria devido à precisão na tempo necessário para efetuar os cálculos
determinação do coeficiente de recalque usando computacionais. Para a maior parte dos casos
o ábaco de Burmister (1943). A Figura 1 práticos, esses aspectos fazem com que o uso de
apresenta um resumo das equações e soluções análises numéricas (até então) sejam
anteriormente descritas para um meio contínuo substituídas pelo o emprego dos métodos
e um sistema de duas camadas que serão convencionais que possuem maior viabilidade e
utilizadas ao longo desse artigo. simplicidade de aplicação. No entanto, as
Existem também soluções aproximadas soluções rigorosas apresentadas no início do
semi-empíricas para a determinação das tensões item possuem a dificuldade de depender de
e deflexões do sistema de camadas. ábacos para sua utilização, ábacos esses que
Steinbrenner (1934) sugeriu um método para o dependem da arquitetura de elaboração,
cálculo das deflexões no topo de uma camada precisão escala definida e dificuldades com
sobre uma base rígida. Egorov (1939) estendeu interpolações (e até extrapolações) de valores.
a solução de Steinbrenner (1934) para a Por essa razão, o emprego de soluções
determinação das tensões verticais na mesma aproximadas que apresentam uma boa
situação. Nascimento et al. (1961) propôs concordância com as soluções rigorosas, como
aproximar o formato curvo das soluções de aquelas da teoria das espessuras equivalentes,
Burmister (1943) por retas e obteve soluções fornecem maior poder de uso devido ao fato de
simplificadas para a determinação das tensões estarem pautadas em formulações analíticas
verticais e deflexões em sistemas multi- simples e eficazes, justificando a sua utilização.
camadas. Vesic (1963) gerou gráficos
semelhantes aos de Steinbrenner (1934) para a
determinação da deflexão vertical para aquela 3 DESENVOLVIMENTO DE UM
situação. Lister e Jones (1967) desenvolveram EQUACIONAMENTO GERAL PARA A
equações aproximadas para calcular as tensões DEFLEXÃO
verticais e radiais entre as camadas e para a
deflexão de topo para sistemas de duas e três Em seus trabalhos, Palmer and Barber (1940) e
camadas com o auxílio de um software da Shell Odemark (1949) desenvolveram, por
Petroleum Company. Ueshita e Meyerhof conveniência, as teorias apenas para uma
(1968) propuseram um método de determinação situação de coeficiente de Poisson igual a 0,5
da deflexão para um sistema de duas camadas nas camadas. Como se entende que a aplicação
em que a inferior é mais rígida que a superior. de um valor fixo de 0,5 para o coeficiente de
Mitchell e Gardner (1971) usaram resultados de Poisson em ambas as camadas não é adequado
um ensaio de placa e análises em elementos para a aplicação de dupla camada com reforço
finitos (FEA) para ajustar a equação proposta de geocélula, a teoria das espessuras
por Lister and Jones (1967) para depósitos de equivalentes será generalizada de forma a
argila sob uma camada de areia. Algumas das possibilitar o emprego de outros valores para
soluções aqui citadas (rigorosas, de espessura esse parâmetro. Além disso, será dada uma
equivalente e semi-empíricas) podem ser nova abordagem no desenvolvimento da
facilmente consultadas em Poulos e Davis equação, resultando em considerações um
(1974). pouco distintas (mas mais coerentes) da de
Por fim, com o a maior capacidade da Palmer and Barber (1940) e com um
computação, análises numéricas são equacionamento sem fatores de correção como
203
o de Odemark (1949). uma profundidade h (com h igual a altura da
A deflexão na superfície de um sistema de geocélula):
duas camadas será considerada como a
2 )𝐶
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔
superposição das deflexões individuais da 𝑠𝑔 =
𝑠
𝐹′ (6)
camada superior (geocélula - sg) com da camada 𝐸𝑔
inferior (solo/subleito - ss).
A deflexão da camada de solo pode ser
𝑠 = 𝑠𝑔 + 𝑠𝑠 (1) calculada como a deflexão de um ponto no
interior de um meio homogêneo semi-infinito
A deflexão da camada superior pode ser situada abaixo da camada de geocélula. No
calculada como a diferença entre as deflexões entanto, como há parâmetros elásticos
do topo (sgT) e da base (sgB) dessa camada: diferentes entre as camadas superior e inferior,
é necessário empregar uma transformação da
𝑠𝑔 = 𝑠𝑔𝑇 − 𝑠𝑔𝐵 (2) espessura da camada superior em termos dos
parâmetros elásticos da camada inferior. Para
isso se emprega a formulação de espessura
A deflexão do topo da camada superior é equilavente (he) proposta por Palmer and Barber
calculada considerando-se um meio homogêneo (1940) e Odemark (1949) e apresentada na
semi-infinito com as propriedades dessa equação 9b da Figura 1 (com n = 1), em que µs
camada, utilizando a equação 1a da Figura 1, é o coeficiente de Poisson da camada de solo e
em que p é o carregamento aplicado, r é o raio Es é o módulo de deformabilidade do solo.
do carregamento, µg é o coeficiente de Poisson
da camada de geocélula, Cs é o fator de forma e 1
𝐸𝑔 (1−𝜈𝑠2 ) 3
rigidez do carregamento e Eg é o módulo de ℎ𝑒 = ℎ [ 𝐸 (1−𝜈2 ) ] (7)
𝑠 𝑔
deformabilidade da geocélula.:
2 )𝐶
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔
𝑠𝑔𝑇 =
𝑠
(3) Desta forma, a deflexão da camada inferior
𝐸𝑔 (solo/subleito) é calculada para uma
A deflexão da base da camada superior é profundidade igual a espessura equivalente (he):
calculada como a deflexão de um ponto no
interior de um meio homogêneo semi-infinito 1
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠 ℎ𝑒 2 2 ℎ𝑒
com as propriedades dessa camada (Poulos and 𝑠𝑠 = {[(1 + ( 𝑟 ) ) − ] [1 +
𝐸𝑠 𝑟
Davis 1974). Essa deflexão é então calculada
para uma profundidade igual a espessura
(altura) da geocélula (h):
ℎ𝑒
𝑟
1 ]} (8)
ℎ 2 2
1 2(1−𝜈𝑠 )(1+( 𝑒 ) )
𝑟
2 )𝐶
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔 𝑠 ℎ 2 2
𝑠𝑔𝐵 = 1 − {[(1 + ( ) ) −
𝐸𝑔 𝑟
Substituindo as equações (6) e (8) na
{
equação (1), e renomeando todo o conteúdo das
chaves da equação (7) para F”, obtém-se a
ℎ
ℎ 𝑟
deflexão total do sistema de duas camadas, em
𝑟
] [1 + 1 ]} (5) que F” é o fator para o cálculo da deflexão no
ℎ 2 2
2(1−𝜈𝑔 )(1+( ) ) subleito a uma profundidade he (com he igual a
𝑟
} altura equivalente da geocélula transformada
para os parâmetros elásticos do solo/subleito).
Renomeando todo o conteúdo dos parênteses
2 )𝐶
(1-“chaves”) para F’, em que F’ é o fator para o 𝑠=
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔 𝑠
𝐹′ +
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠
𝐹′′ (9)
cálculo da deflexão na camada de geocélula a 𝐸𝑔 𝐸𝑠
204
de 0,5 em ambas as camadas, as diferenças
Simplificando a equação (9) em termos dos entre os valores obtidos para o parâmetro F
parâmetros do subleito: pelos métodos aqui citados (Burmister
1943, Palmer and Barber 1940, Odemark
2)
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠 𝐸𝑠 (1−𝜈𝑔 1949 e o presente método) são apenas
𝑠= [𝐸 2 𝐹 ′ + 𝐹′′] (10)
𝐸𝑠 𝐺 (1−𝜈𝑠 ) marginais;
• Para o caso específico de igual valor do
E definindo o conteúdo dos colchetes como módulo de deformabilidade em ambas as
o F (fator de deflexão do sistema de dupla camadas (Eg = Es), os três métodos
camada pela metodologia aqui proposta), aproximados (Palmer and Barber 1940,
obtém-se a formulação para a determinação da Odemark 1949 e o presente método) são
deflexão na superfície de um sistema de duas reduzidos para a solução de Boussinesq de
camadas (apresentada no resumo da Figura 1, meio homogêneo;
equação 1b), com os fatores F, F’ e F” • Para o caso específico da camada inferior
igualmente apresentados no resumo da Figura 1 ser uma base rígida como uma superfície
(item B.7 equações 13b a 15b): rochosa (Eg se tornar infinito), a deflexão
na camada inferior será nula e a deflexão
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠 total será dada apenas pela camada
𝑠= 𝐸𝑠
𝐹 (11) superior, conforme equação 6. Nessa
condição, o método proposto no presente
artigo gera fatores de recalque muito
Sobre a equação (11) e o fator de deflexão semelhantes aqueles da situação de base
do sistema de dupla camada conforme a rígida, com um erro na faixa de 5% (com
metodologia aqui proposta, algumas valor máximo de 13%) se comparado as
considerações importantes e verificações podem soluções rigorosas de Ueshita and
ser feitas: Meyerhof (1968) e Milovic (1970) para
O fator de recalque do sistema de dupla uma faixa de h/r de 0,5 a 2,0 e de
camada (F) obtido por essa metodologia se coeficiente de Poisson de 0,15 a 0,5. Nessa
difere daqueles obtidos por Palmer and situação, o método de Odemark (1949)
Barber (1940) e Odemark (1949) por ser pode ser aplicado apenas para a situação de
generalizado para qualquer valor de coeficiente de Poisson igual a 0,5, gerando
coeficiente de Poisson – enquanto esses erros de até 35% para a faixa descrita. O
foram obtidos apenas para um coeficiente método de Palmer and Barber (1940) é
igual a 0,50 para ambas as camadas; inaplicável.
• A formulação de F obtida por Palmer and
Barber (1940) considera o efeito da relação
entre módulos de deformabilidade (Eg/Es) 4 CÁLCULO DAS TENSÕES
nos denominadores de ambos os termos da VERTICAIS PROPAGADAS
equação (equação 11b da Figura 1),
enquanto o fator aqui proposto considera Pela a teoria das espessuras equivalentes é
essa relação apenas no termo referente a possível transformar a camada de reforço de
camada inferior (tal qual a proposição de geocélula (com as dadas características
Odemark 1949); geométricas e elásticas: h, Eg e µg) em uma
• O F de Odemark (1949) emprega os camada com uma espessura equivalente e
“fatores de correção n = n1 = 0,9” (equação mesmos parâmetros elásticos do subleito (he, Es
12b da Figura 1), enquanto a formulação e µs) usando a equação 9b da Figura 1, proposta
aqui proposta não emprega fator de por Palmer and Barner (1940) e Odemark
correção algum; (1949).
• Para uma faixa usual de parâmetros de Com a transformação da camada de reforço
reforço de geocélula (h/r de 0,5 a 2,0 e de geocélula em uma espessura equivalente,
Eg/Es de 2 a 200) e coeficientes de Poisson com as mesmas propriedades elásticas do
205
subleito, o problema agora pode ser tratado • Diferente dos métodos rigorosos e das
como um meio elástico uniforme usando a soluções anteriores, a metodologia proposta
teoria da elasticidade dos meios contínuos. Para é generalizada para quaisquer valores de
o caso de um carregamento circular, a tensão modulos de deformabilidade e coeficientes
vertical atuante diretamente no eixo central do de Poisson de ambas as camadas;
carregamento (σv), em uma dada profundidade • A metodologia proposta foi comparada
do subleito, pode ser calculada pela solução de com soluções rigorosas do sistema de dupla
Bousinesq conforme equação 4a da Figura 1, camada para situações de topo e base
que depende apenas da tensão aplicada na flexível e topo flexivem e base rígida e
superfície (p), do raio do carregamento (r) e da mostrou diferenças apenas marginais,
profundidade em que se deseja calcular a tensão comprovando sua aplicabilidade.
vertical (z). Para a determinação da tensão
vertical atuante sob a camada de reforço de
geocélula basta se calcular, então, a tensão AGRADECIMENTOS
vertical a uma profundidade igual espessura
equivalente usando a equação 7 (situação em O autor agradece o professor e amigo Orencio
que z = he), conforme a seguir: Monge Vilar pela sugestão de usar o sistema de
camadas em aplicações de reforço com
3
2
geocélula.
1
𝜎𝑧 = 𝑝 [1 − ( 𝑟 2
)] (12)
1+( )
ℎ𝑒
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Figura 1. Resumo das equações e soluções empregadas nesse artigo.
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: This paper presents, in a summarized and condensed way, the developments carried
out in the publication Avesani Neto (2019), where a plate test reinterpretation, carried out on a
geocell-reinforced soil was performed from the perspective of the theory of two-layer system
(TTLS) from theory of elasticity (TE). Plate tests were performed directly on the subgrade and on a
geocell reinforcement disposed directly on the subgrade. Geocell used was composed of HDPE
walls, perforated and textured, with height and width of the cell in values equal to 150mm and
300mm, respectively. The subsoil soil was composed of medium soft silt clay and the material used
to fill the geocell was graded gravel. For the analysis the rigorous methods from TTLS and
approximate methods from theory of equivalent thickness (TET) were employed. The results
showed that the TTLS and TET can be used in a simple and effective way to determine the modulus
of deformation of the geocell reinforcement layer and a feasible tool to determine surface deflection
and propagated vertical stress of this type of reinforcement.
209
Avesani Neto et al., 2013 e 2015). No entanto, raio do carregamento (h/r) de 0,25 a 2 -
pouco avanço ocorreu na tentativa de traduzir diferença essa, em sua maioria, devido à
matematicamente os efeitos de tensão e precisão na determinação do coeficiente de
deformação (carga e recalque) que ocorrem na recalque usando o ábaco de Burmister (1943).
camada de solo reforçado com a geocélula e em Uma limitação comum a todas essas
sua interface com o subleito. soluções acima citadas se refere ao coeficiente
De forma pioneira, Avesani Neto (2019) de Poisson empregado para ambas as camadas
propôs uma metodologia, baseada no sistema de no valor fixo e igual a 0,5. Para contornar esse
dupla camada, generalizada simples e eficaz problema, Avesani Neto (2019) desenvolveu,
para determinação dos recalques e tensões usando a TEE, uma metodologia generalizada
propagadas para o subleito. Nesse aspecto, o possibilitando o emprego de valores distintos e
presente artigo é um resumo da publicação independentes desse parâmetro para as
Avesani Neto (2019) e descreve, de forma camadas, ampliando a possibilidade de
sucinta, uma aplicação dessa metodologia em aplicações da TEE.
um ensaio de placa realizado no campo. A Figura 1 apresenta um resumo das
Maiores informações podem ser obtidas na equações e soluções anteriormente descritas
publicação supracitada. para um meio contínuo e um sistema de duas
camadas que serão utilizadas ao longo desse
2 SISTEMAS DE DUPLA CAMADA artigo.
Existem também soluções aproximadas
Usando uma extensão da teoria da elasticidade semi-empíricas (SASE) para a determinação das
(TE), a teoria do sistema de dupla camada tensões e deflexões do sistema de camadas.
(TSDC) foi desenvolvida, a partir de 1930, por Entre elas se destacam as de Nascimento et al.
diversos autores que foram, aos poucos, a (1961), Lister e Jones (1967) e Mitchell e
gerando diversas soluções rigorosas em função Gardner (1971) que serão empregadas
do tipo de carregamento e condições elasticas posteriomente nesse artigo.
das camadas (Burmister, 1943, Fox, 1948 e de Algumas das soluções aqui citadas (TSDC,
Barros, 1966a e 1966b). TEE e SASE) podem ser facilmente consultadas
Em paralelo, soluções aproximadas usando a em Poulos e Davis (1974).
teoria das espessuras equivalentes (TEE)
igualmente foram desenvolvidas propondo a 3 ENSAIO DE PLACA DE CAMPO
transformação da camada do material superior
em uma espessura equivalente com O ensaio de placa conduzido no campo e
propriedades iguais as da camada subjacente empregado nesse estudo foi realizado e
(subleito) e, assim, permitindo tratar um reportado por Saride (2013) e Saride et al.
problema de dupla camada pela TE dos meios (2016), sendo que informações complementares
homogêneos semi-infinitos - solução de podem ser obtidas nessas publicações.
Boussinesq (Palmer e Barber, 1940 e Odemark, O ensaio foi conduzido na Rodovia KA SH
1949). 46, Índia, em uma região composta por uma
Ambas as teorias (TSDC e TEE) foram argila siltosa (Saride, 2013 e Saride et al.,
avaliadas por Ueshita e Meyerhof (1967) e 2016). Foram realizados ensaios de placa
Ullidtz (1998) sendo verificada uma boa estático e cíclico em três seções testes:
aproximação entre os resultados experimentais diretamente sobre o subleito e sobre a camada
e teóricos. Avesani Neto (2019) também granular da sub-base não reforçada e reforçada
comparou os resultados entre os recalques com uma geocélula. O geossintético era de
calculadas pela solução rigorosa da TSDC e os polietileno de alta densidade (PEAD), com
métodos da TEE e concluiu que as diferenças paredes rugosas e perfuradas com resistência à
são inferiores a 5% na maior parte dos casos em tração de 14kN/m, altura de 150mm e abertura
aplicação de solos: relações entre módulos de das células de 192mm (razão de forma, h/d
ambas as camadas (E1/E2) variando de 2 a 200 e igual a 0.78). A placa usada era circular, com
relação entre espessura da camada superior e o diâmetro (D) de 300mm e a instrumentação
210
consistiu da leitura da pressão e deslocamento
ao longo do ensaio e de leitura das tensões sob
as camadas ensaiadas por meio de células de
pressão total de solo (TPCs) dispostas
diretamente no eixo da placa e espaçadas em
2m (aproximadamente 7D) do eixo da placa
(Saride, 2013 e Saride et al., 2016).
A Figura 2 mostra uma vista em planta e
uma seção esquemática dos ensaios realizados,
a Figura 3 apresenta as curvas de carga-recalque
dos ensaios e a Figura 4 mostra as tensões
registradas nas TPCs dispostas na base da
camada reforçada com geocélua ao longo do
ensaio. Figura 4. Distribuição das tensões verticais abaixo da
camada de geocélula – TCP3 a 2m do centro da placa e
TCP4 no eixo da placa (Saride, 2013).
211
adequada de um valor do modulo de reação Poisson igual a 0,25 para a camada de geocélula
para pequenas magnitudes de tensão- (Saride, 2013; Saride et al., 2016) e mantendo o
deformação. Pidwerbesky (1995) aponta que valor de 0,45 para o subleito, determinou-se
algumas das principais agências de transporte, uma relação entre módulos Eg/Es de 97 e,
como os manuais de projeto de pavimentos consequentemente, um módulo de
limitam a máxima tensão de compressão deformabilidade da camada de geocélula Eg =
permitida no subleito dentro de uma faixa de 575,MPa.
0,05% a 0,3% de deformação. Por esse motivo, As relações entre os módulos de
foi selecionado um modulo de reação para um deformabilidade da camada de geocélula e do
valor de deformação igual a 0,3%, que resulta subleito foram igualmente calculados pelas
em uma tensão de 27kPa e um recalque de outras metodologias de dupla camada descritas
0,86mm. Assim, o módulo de deformabilidade no item 2. A Tabela 1 apresenta os valores de
do subleito será igual a: relação entre os módulos e os módulos de
deformabilidade da camada de geocélula
27
𝐸𝑠 = 0,19
0,86𝑥10−3
= 5,9𝑀𝑃𝑎 (2) obtidos pelos métodos citados acima, bem como
as etapas intermediárias dos cálculos.
212
3
O método rigoroso de Burmister (1943) e 1
2
da TEE de Odemark (1949) calcularam valores 𝜎𝑧 = 𝑝 [1 − ( 150 2
) ] = 0,074𝑝 (6)
1+( )
653
de módulos de deformabilidade muito
próximos, com uma diferença inferior a 1%.
Os métodos de TEE de Palmer e Barber Verifica-se que a proporção de tensão
(1940) e Avesani Neto (2019) igualmente vertical (v/p) propagada determinada aqui é
determinaram valores muito próximos de 7,4%, valor esse exatamente igual a média
relação entre módulos e de módulo de obtida ao longo do ensaio de placam, conforme
deformabilidade da camada de geocélula. apresentado no item 3 (Figura 4).
A mesma metodologia para a determinação
4.2 Tensão vertical propagada para o subleito da tensão propagada para o subleito foi aplicada
para os outros métodos de dupla camada
Os resultados de tensões sob a camada de descritos no item 2. A Tabela 2 apresenta os
geocélula, obtidos com a célula de pressão total valores de relação (v/p) bem como as etapas
de solo no eixo da placa (TPC4), foram usados intermediárias dos cálculos.
para reanalisar a distribuição de tensões no
colchão de geocélula sob a ótica do sistema de Tabela 2. Relação entre tensão vertical propagada e
dupla camada. tensão aplicada na camada de geocélula.
Pela a TEE é possível transformar a Metodologia ns
Es
ng
Eg
E g /E s h/r v /p
camada de reforço de geocélula (com as dadas (MPa) (MPa)
213
muito próximos da média obtida no ensaio com Os métodos de Palmer e Barber (1940),
erros inferiores a cerca de 10% - com ressalva Fox (1948), Odemark (1949) e Nascimento et
apenas a Burmister (1962) que calculou um al. (1961) calcularam valores de tensão vertical
valor 35% superior à média registrada no na interface sempre inferiores aos medidos ao
ensaio. O método de Avesani Neto (2019) foi o longo de todo o ensaio, sendo o último o que
que melhor se aproximou, calculando um valor calculou os menores valores, com resultados de
idêntico a média obtida no ensaio. tensões até 70% inferiores as medidas. Os
Em relação aos métodos SASE, de maneira outros citados apresentaram um bom ajuste ao
geral, constata-se que eles tendem a apresentar longo de toda a faixa do ensaio, com os
maiores valores de v/p, com exceção do seguintes comentários específicos: O método de
método de Nascimento et al. (1961). Os erros Palmer e Barber (1940) apresentou um erro
calculados por eles foram da ordem de 20% a médio de 20% ao longo de todo ensaio, sendo
30% em relação à média obtida no ensaio. sua melhor concordância para uma faixa de
Complementando as análises, a Figura 5 carga aplicada de 700kPa a 900kPa, situação
mostra uma comparação entre as leituras das que o seu erro foi da ordem de 7%. Os métodos
tensões verticais registradas na célula de de Fox (1948) e Odemark (1949) apresentaram
pressão total de solo no eixo da placa (TPC4) resultados muito próximos um do outro
com as tensões verticais previstas pelas (diferença de 1%). Ambos apresentaram um
metodologias descritas anteriormente ao longo erro médio de 15% ao longo do ensaio, sendo
de todo o ensaio. No eixo-y secundário, a os que geraram os melhores resultados dentre
direita do gráfico, está indicada a carga aplicada todos os métodos para uma faixa de carga
na superfície para referência. aplicada de 750kPa a 900kPa.
Por fim, assim como observado nas
análises da Tabela 2, o método de Avesani Neto
(2019) foi o que melhor apresentou um ajuste
ao longo de todo o ensaio, gerando um erro
médio inferior a 10%. As faixas onde ele obteve
o melhor ajuste dentre os métodos analisados
foi de 450kPa a 750kPa e acima de 900kPa.
5 CONCLUSÕES
214
(ou elevado recurso computacional para outras soils using finite-element analysis. Geos. Int., 1–13.
situações), essa constatação mostra a grande de Barros, S. T. (1966a). Application of three-layer
system methods to evaluation of soil-cement bases.
viabilidade do uso da TEE; Highway Research Record, 145, 60–82.
• Os métodos de SASE avaliados para de Barros, S. T. (1966b). Deflection factor charts for two-
determinação das tensões verticais na interface and three-layered elastic systems. Highway
das camadas não mostraram bons resultados Research Record1, 145, 83–108.
comparados com os valores medidos no ensaio Burmister, D. M. (1943). The theory of stresses and
displacements in layered systems and application to
de campo. Já os métodos rigorosos e da TEE the design of airport runways. HRB, 23, 126–148.
geraram resultados mais próximos dos medidos Fox, L. (1948). Computation of traffic stresses in a
em campo; simple road structure. In II ICSMFE. (p. 236–246).
• Verificou-se a influência dos coeficientes de Holtz, R. D. (1991). Stress Distribution and Settlement of
Poisson de ambas as camadas para a Shallow Foundations. In Foundation Engineering
Handbook (p. 166–222). Boston, MA: Springer US.
determinação da relação de módulos mostrando Huang, Y. H. (2004). Pavement Analysis and Design.
uma limitação das soluções rigorosas e da TEE Pearson.
que fixam valores para esse parâmetro. Nesse Koerner, R. M. (1994). Designing with geosynthetics.
aspecto, verifica-se uma vantagem para a Xlibris Corp.
metodologia de Avesani Neto (2019) que Lister, N. W., & Jones, R. (1967). The behavior of
flexible pavements under moving wheel loads. In
generaliza o equacionamento para quaisquer 2nd ICSDAP (p. 1021–1035).
valores desse coeficiente, possibilitando a Mitchell, J. K., & Gardner, W. S. (1971). Analysis of
determinação de valores de tensões verticais load bearing fills over soft subsoils. JSMFD,
mais próximas das obtidas no ensaio de campo. 97(11), 1549–1571.
Nascimento, U., Seguro, J. M., da Costa, E., & Siqueira,
P. (1961). A method of designing pavements for
roads and airports. In V ICSMFE (p. 283–288).
AGRADECIMENTOS Odemark, N. (1949). Investigations as to the elastic
properties of soils and design of pavements
O autor agradece o professor e amigo Orencio according to the theory of elasticity. Statens
Monge Vilar pela sugestão de usar o sistema de Vaginstitut, Sweden, Meddelande 77.
Palmer, L. A., & Barber, E. S. (1940). Soil displacement
camadas em aplicações de reforço com under a circular loaded area. HRB, 20, 279–286.
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Evaluation of a calculation method for
embankments reinforced with geocells over soft
215
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
216
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: According to the literature, planar geosynthetic reinforcements, such as geogrids, can
generate planes of weakness between compacted layers of soil, whereas homogeneously distributed
discrete reinforcements, such as polypropylene fibers, can provide an isotropic increase of the shear
strength in the matrix. Using the finite element method, this work evaluated the response of a
compacted gold mine tailings embankment reinforced with (1) polypropylene fibers and (2)
uniaxial geogrids, to determine which type of reinforcement is most advisable. Drained triaxial tests
were performed to obtain the shear strength parameters on the compacted tailings under the
moisture content. The physical and mechanical characteristics of polypropylene fibers and geogrids
were obtained from the technical specifications of manufacturers in Brazil. Stability analyzes were
performed using PLAXIS 3D software. The embankment was 10 meters high, with an external side
contained by gabions with a 75º slope. The mechanical behavior of the fiber-reinforced tailings was
simulated by the Mohr-Coulomb elastoplastic model and the uniaxial geogrids were modeled by
passive anchoring elements. The finite element method was used to calculate the safety factor using
the resistance reduction technique known as phi-c reduction. The analyzes showed a better behavior
217
with the geogrid reinforcement, although it is possible to further improve the stability using a
mixture of the two reinforcements in the tailings embankment.
KEY-WORDS: gold mine tailing, uniaxial geogrid, polypropylene fiber, stability analysis, PLAXIS
3D software.
2 MATERIAIS
218
(SUCS) como um silte argiloso de baixa Tabela 3. Propriedades da fibra de polipropileno
plasticidade, a densidade relativa dos grãos é Cor Transparente
3.777 e os límites de Atterberg são LL=19%, Diâmetro (mm) 0.03
Comprimento (mm) 24
LP=13%, IP=6%. Módulo de Elasticidade (GN/m2) 5
Realizou-se o proctor normal para obter as Densidade Relativa 0.92
melhores características para a compactação do Resistência à tração (MN/m2) 325
rejeito se obtendo uma densidade seca máxima
aparente de 2.235 g/cm3 com um teor de 2.4 Compósito fibroso rejeito-fibra
umidade de 16%.
Ao adicionar fibra à matriz de rejeito a
2.2 Geogrelhas uniaxiais combinação gera o que é chamado por
Matthews & Rawlings (1994) como material
As propriedades mecânicas das geogrelhas compósito fibroso onde as fibras são
unixiais foram obtidas por dados dos disseminadas na matriz, sendo que a resistência
fabricantes utilizando o valor estimado ao 2% inicial é fornecida pela matriz e a posterior
de deformação. Os valores da rigidez axial são pelas fibras.
obtidos da relação entre a força aplicada na O objetivo destes materiais, segundo
direção axial e o estiramento da geogrelha com Budinski (1996), é conseguir um conjunto de
base ao comprimento original. A norma ASTM comportamentos ideiais produto da união de
D6637 descreve o procedimento de ensaio. Na dois materiais que independentemente não
Tabela 2 se apresentam as propriedades da possuem tais benefícios, portanto as
geogrelha de reforço. propriedades deste novo material são diferentes
às inicias e debem ser feitos ensaios de
Tabela 2. Propriedades da geogrelha resistência mecânica no rejeito de minério sem
Resistência Rigidez ao Módulo
Tipo Última à 2% de de
reforço e reforçado.
tração deformação Elasticidade Ensaios de Microscopia Eletrónica de
(kN/m) (kN/m) (kN/m2) Varredura mostraram a interação entre a matriz
G150 150 1510 271800 de rejeito de minério de ouro e as fibras de
polipropileno como se mostra na Figura 4.
2.3 Fibras de Polipropileno
219
resistência, reduz o môdulo de deformação, e a especificar o incremento da redução segundo
rigidez mostrando um comportamento mais cada passo. No software PLAXIS 3D por
dúctil do que o rejeito de minério de ouro não default este incremento é 0.1. Os parámetros de
reforçado. resistência são reduzidos até completar um
Nas Tabelas 4 e 5 apresentam-se os número determinado de passos, no PLAXIS 3D
parâmetros de deformação e resistência, do por default são 30 mas podem ser até 1000 se
rejeito de minério de ouro não reforçado e for preciso. Se com os passos se alcança a
reforçado, obtidos dos ensaios de Sotomayor ruptura, o fator de segurança é calculado pela
(2018). Equação 2.
220
Figura 5. Discretização: aterro de rejeito de minério Figura 7. Discretização: aterro compósito rejeito-fibra
4.2.1 Discretização
221
Na Figura 10 apresenta-se o resultado do
análise de deformações do rejeito de minério de
ouro compactado reforçado com geogrelhas.
222
fibro reforçados. este campo que se encontra em pleno
Os fatores de segurança obtidos para cada desenvolvimento.
simulação são apresentados na Tabela 6.
223
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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: A técnica de reforço de solo tem se mostrado promissora, e uma grande oportunidade de
contribuir sustentavelmente para o desenvolvimento da engenharia civil, buscando minimizar custos
e potencializar processos. O presente trabalho buscou analisar a influência de fibras de
polipropileno, distribuídas aleatoriamente, na resistência a compressão simples de um solo areno-
silto-argiloso compactado, proveniente de um talude de corte instável às margens da BR 101, no
município de Cachoeira-BA. O estudo realizado consistiu em submeter o solo e o compósito a
ensaios laboratoriais, a fim de se conhecer e comparar o comportamento dos mesmos, em termos de
compactação e tensão-deformação, quando submetidos à compressão não confinada. Para isso
foram utilizadas fibras de polipropileno provenientes de copos descartáveis com 2 mm de espessura
variando-se o comprimento em 15, 25 e 35 mm. Da análise geral dos resultados obtidos observou-se
que a umidade ótima, bem como a massa específica seca máxima reduziram quando da adição das
fibras. Foi possível observar também que houve uma relação crescente da resistência à compressão
simples conforme o aumento do tamanho das fibras, bem como a influência das mesmas na
deformação e rigidez dos corpos de prova. Dessa forma foi constatado que a inserção das fibras
promoveu pontos positivos tanto no fator geotécnico, para reforço do solo estudado, quanto no
ambiental, tendo em vista que tais fibras foram originadas de um material que seria previamente
descartado.
ABSTRACT: The soil reinforcement technique has been promising, and a great opportunity to
contribute sustainably to the development of civil engineeringf field, seeking to minimize costs and
potentialize processes. This work aimed to analyze the influence of polypropylene fibers, randomly
distributed, on the simple compressive strength of a compacted silty-clay-sandy soil from an
unstable cut slope at the border of the road BR 101, in the city of Cachoeira-BA. The study
consisted in subjecting the soil and the composite to laboratory tests in order to know and compare
their behavior in terms of compression and stress-strain when subjected to unconfined compression.
For this, Polypropylene fibers from disposable cups with 2mm thickness varying the length by 15,
25 and 35 mm were used. From the general analysis of the obtained results it was observed that the
optimum moisture, as well as the maximum dry density reduced when the fibers were added. It was
also possible to observe that there was an increasing relation of the simple compressive strength
according to the increase in the size of the fibers, as well as their influence on the deformation and
rigidity of the samples. In this way, it was verified that the insertion of the fibers promoted positive
points in both the geotechnical factor, for reinforcement of the studied soil, and in the
environmental, considering that these fibers originated from a material that would previously be
discarded.
225
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAIS E MÉTODOS
226
recortadas de copos em 3 comprimentos (compressão não confinada), a fim de comparar
diferentes de 15; 25; e 35 mm, com uma o comportamento mecânico dos mesmos. Para
espessura de 2 mm, conforme mostra a Figura os compósitos solo-fibra, para cada
1. comprimento de fibra, foram moldados corpos
O tipo de reforço foi escolhido por apresentar de prova em triplicata na umidade ótima
características bem definidas e uniformes, por considerando o compósito buscando atingir a
estar disponível em grandes quantidades das máxima massa específica seca. E para o solo
mais variadas formas no mercado, além de que sem reforço moldou-se 3 corpos de provas na
pode ser obtido através do processo de umidade ótima do solo natural. As amostras
reciclagem, fatores que viabilizam a utilização foram compactados igualmente e na energia de
do mesmo para diversos de estudos e aplicações Proctor normal. Todos os corpos de prova
na engenharia. reforçados possuíam 0,5% do seu peso seco
O teor de 0,5% de fibras e o comprimento foi como teor de fibra.
definido, em razão de estudos prévios O ensaio de compressão simples foi segundo
(CASAGRANDE, 2001; FEURHARMEL, a NBR 12770 (ABNT, 1992) e foi realizado
2000 HEINECK, 2002; VENDRUSCOLO, com a aplicação de uma carga axial a uma
2003). velocidade de deformação constante (1mm/min)
conforme especificações da NBR 12770
(ABNT, 1992). Os corpos de prova foram
ensaiados na umidade ótima de compactação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
227
fibra, na energia de compactação Normal de
Proctor. Ao analisar o gráfico, é notável que
adição de fibras não alterou significativamente
a umidade ótima do solo original, obtendo-se
uma variação de aproximadamente 2%, em
relação a massa específica houve um
decréscimo de 0,059 g/cm3.
228
Ao realizar o último ensaio, pode-se inferir que Figura 9 apresenta todos os ensaios no mesmo
o a tensão média máxima atingiu 375,9 KPa gráfico.
enquanto sua deformação específica na ruptura
foi de 3,47%, na Figura 7.
3.4 Comparação entre o solo natural e os A partir dos dados obtidos através do processo
compósitos de caracterização do solo, pode-se inferir que o
mesmo foi classificado como uma areia silto-
De acordo com a Figura 8, observa-se que a argilosa, apresentando altas concentrações de
tensão média máxima do solo reforçado silte (38%) os quais normalmente estão
aumentou gradativamente com o acréscimo no associados comportamento mecânico ruim.
comprimento das fibras. Assim ao comparar Os parâmetros ótimos obtidos para
com solo natural o aumento foi de: 11,4; 19,90 compactação do solo natural foram de 22% e
e 27,04%, para reforços com 15; 25 e 35 mm de 1,595 g/cm3 referentes a umidade ótima e massa
comprimento, o que significa que o reforço específica seca máxima e de 20% e 1,536 g/cm3
utilizado promoveu aumento na resistência à para o solo reforçado.
compressão. Foi observado também que houve
um decréscimo de 2,7; 2,2 e 2,53%, 4.2 Comparação do efeito da adição do reforço
respectivamente, na deformação específica em no solo
relação à tensão máxima. Isso representa que
em relação ao comprimento original, o corpo de • A adição de fibras de polipropileno
prova deformou menos para maiores tensões. A contribuiu para melhoria da resistência
compressão simples do solo estudado, sendo
229
este aumento mais pronunciado para os Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
maiores comprimentos de fibras. Essa UFRGS.
HEINECK, K.S. Estudo do comportamento hidráulico e
melhoria foi considerada satisfatória e mecânico de materiais geotécnicos para barreiras
sustentável, pois o reforço utilizado é um tipo horizontais. Porto Alegre, 2002. 251p. Tese
de resíduo proveniente de copos descartáveis (Doutorado em Engenharia) – Programa de Pós
que seriam descartados; Graduação em Engenharia Civil da UFRGS.
• Para esse material, contrariando VENDRUSCOLO, M.A. Comportamento de ensaios de
placa em camadas de solo melhoradas com cimento e
trabalhos anteriores, foi observado que a fibras de polipropileno. Porto Alegre, 2003. 224p.
inserção de fibras de polipropileno diminuiu a Tese (Doutorado em Engenharia) - Programa de Pós-
deformação específica na ruptura do solo em Graduação em Engenharia Civil da UFRGS.
até 45%, conferindo-lhe mais rigidez;
• Em geral as fibras de 25 e 35 mm de
comprimento viabilizaram ao solo maior
estabilidade pós-ruptura, fato observado
através diminuição na inclinação das curvas
ao atingirem a tensão máxima, oferecendo
maior estabilidade aos corpos de prova;
• Observou-se ainda que a compactação é
prejudicada quando da adição das fibras, o
que se reflete na curva de compactação.
REFERÊNCIAS
230
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: This research aimed to study the influence of the insertion of a geogrid on the
parameters of shear rupture (cohesion and friction angle) in typical soil of the Urucu region, located
in Coari/AM. The experimental program consisted of conventional and flooded direct shear tests in
samples with natural soil and soil-geogrid compositions in two different positions, which are in the
center and in the base of the specimens. The results showed a pattern of variation in the parameters
of shear rupture. The soil-geogrid composition (center) presented lower cohesion than the other
formulations, but with a higher friction angle, in the two test conditions evaluated. The effect of the
flooding was reflected in a considerable decrease of the cohesion intercept, accompanied by increases
in the friction angle values, similar results to those verified in the literature.
231
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAIS E MÉTODOS
232
Figura 2 e suas respectivas propriedades na 2.3 Comportamento Mecânico
Tabela 1.
Confeccionaram-se os corpos de prova nas
condições de umidade ótima e massa específica
aparente seca máxima (Figura 3A), para o solo
natural e configurações alternativas, quais sejam
com a geogrelha no centro e na base do corpo de
prova, executando-se sempre o controle de
umidade para preservar as condições
representativas de ensaio. A determinação da
massa dos CPs seguiu a equação (1).
Onde:
M = massa do corpo de prova, em gramas; GC =
Figura 2. Rolo de geogrelha MacGrid® NET. grau de compactação, adotado como 100%; γd =
massa específica aparente seca máxima em
Tabela 1: Propriedades da geogrelha MacGrid® NET g/cm³; 𝑤ot = umidade ótima, em %; 𝑉𝑚𝑜𝑙𝑑𝑒 =
(FIGUEIREDO, 2017). volume do molde em cm³.
Propriedades Mecânicas Após a moldagem das amostras, as mesmas
Resistencia longitudinal à tração foram inseridas no equipamento de cisalhamento
kN/m 45
última (ASTM D 6637) direto (Figura 3B), conforme recomendações da
Resistência transversal à tração última
kN/m 45
D 3080, ASTM (2004). Ressalta-se que, para
(ASTM D 6637) realização do ensaio na condição inundada,
Alongamento na resistência à tração preencheu-se a câmara onde se posiciona a caixa
% 35
última (ASTM D 6637) de cisalhamento, ilustrada na Figura 3C, com
Resistência ao puncionamento CBR água do sistema de distribuição.
kN 3,4
(ASTM D 6241)
A realização dos experimentos ocorreu a uma
Resistência ao rasgo trapezoidal
kN 1,7 taxa de 1 mm/min e, em conformidade, com os
(ASTM D 4533)
seguintes valores de tensão normal: 50, 100, 150
Propriedades Físicas
e 200 kPa. Traçou-se a envoltória de Coulomb
Gramatura (ASTM D 5261) g/m² 200 para posterior obtenção dos parâmetros de
Espessura (ASTM D 6525) mm 0,5 ruptura, isto é, ângulo de atrito e coesão.
Propriedades Hidráulicas
Permissividade (ASTM D 4491) s 0,7
Permeabilidade (ASTM D 4491) cm/s 0,04
233
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Além disso, apresenta-se na Figura 6, o
resultado do ensaio de compactação do solo.
3.1 Caracterização Geotécnica Certifica-se um peso específico aparente seco
máximo aproximado de 1,62 g/cm³,
Na Figura 4, tem-se a curva de distribuição correspondente ao teor ótimo de umidade igual a
granulométrica, que representa o solo natural 23%.
com 61,97% de argila, 25,91% de silte, e 8,92%
de areia. Estabelecendo-se, portanto, sua 1,64
(g/cm³)
Classificação de Solos (SUCS), respectivamente 1,56
(DAS, 2014). Destaca-se, dessa forma, que tal 1,54 R² = 0,9913
resultado designa um material mediano a ruim
1,52
como subleito.
1,50
16% 21% 26% 31%
100% Umidade (%)
Material Passante (%)
condições de ensaio.
20
Pelos resultados presentes na Figura 7, bem
como na Tabela 2, pode-se observar os valores
dos parâmetros de ruptura ao cisalhamento
(coesão e ângulo de atrito), de acordo com as
10
60 70 80 90
retas de Coulomb resultantes, para cada
Umidade (%)
formulação pesquisada. Em geral, nota-se
comportamento linear similar, com interceptos
Figura 5. Curva de fluidez do solo natural. de coesão bem pronunciados devido à natureza
do solo estudado.
234
350 Comportamento semelhante registrou-se em
REDDY et al. (2018). Neste trabalho, os autores
300 avaliaram os parâmetros de resistência na
Tensão Cisalhante (kPa)
250
interface entre solos argilosos e geossintéticos,
por meio do ensaio de cisalhamento direto, e nas
200 mesmas tensões normais avaliadas no presente
estudo. Para o solo natural, encontraram para
150
coesão e ângulo de atrito, valores de 93 kPa e
100 31,8°, respectivamente. Após a inserção de um
geotêxtil na interface entre as camadas, a
50 diferença de intercepto coesivo foi de 63 kPa,
0
diminuindo de 93 kPa para 30 kPa, ao passo que
0 50 100 150 200 250 o ângulo de atrito cresceu 13,8°, atingindo o
Tensão Normal (kPa) valor de 45,6°. Com respeito à incorporação da
Solo Natural
geogrelha, os autores evidenciaram uma queda
R² = 0,9796
de 32 kPa, variando de 93 para 61 kPa, enquanto
R² = 0,9811 Solo-Geogrelha (centro) o ângulo de atrito resultou acréscimo de 39,6°,
passando de 31,8° para 71,4°. Nessas
R² = 0,9716 Solo-Geogrelha (base) circunstâncias, justifica-se as diferenças obtidas,
principalmente, pelo tipo de solo e geossintético
Figura 7. Envoltórias de resistência das composições na utilizados nas pesquisas.
condição não inundada.
Nas Figuras 8A e 8B, tem-se fotos do plano e
Tabela 2: Coesão e ângulo de atrito das formulações na linha de ruptura, respectivamente, da amostra
condição não inundada. com a geogrelha centralizada em sua estrutura,
Condição não inundada imediatamente após a execução do ensaio. A
Composição Coesão Ângulo de Figura 8C, por sua vez, ilustra a disposição do
(kPa) atrito (°) geossintético entre as camadas de solo.
Solo Natural 174,29 29,72 Explica-se a superioridade encontrada na
magnitude dos ângulos de atrito verificados para
Solo-Geogrelha (centro) 130,96 39,06
composição solo-geogrelha (centro), devido ao
Solo-Geogrelha (base) 206,66 26,34
entrosamento do geossintético com o solo. Tal
ocorrrência pode ser justificada pelo mecanismo
No ensaio não inundado, notou-se que para a de transferência de atrito de acordo com a
composição solo-geogrelha (base), o intercepto flexibilidade da geogrelha. Segundo
coesivo mostrou moderado acréscimo, quando O’ROURKE et al. (1990), as partículas de solo
comparado com o solo natural e com a tendem a rolar sobre a superfície, o que induz a
formulação solo-geogrelha (centro). Em termos concentrações de tensões, responsáveis por
percentuais, a presença do geossintético gerou maiores ângulos de atrito.
um decréscimo de 24,86%, quando colocado no Por outro lado, para as composições de solo
centro da amostra, e um aumento de 18,57%, natural e solo-geogrelha (base), este parâmetro
posicionado em sua base, ambos relativos ao manteve-se reduzido, porém com um intercepto
solo natural. coesivo consideravelmente superior, visto que as
No tocante ao ângulo de atrito, verificou-se partículas de solo encontravam-se fortemente
certa diferença após a participação da geogrelha. agrupadas pelo processo de compactação.
Sublinha-se que a composição solo-geogrelha
(centro) forneceu um ângulo de atrito de 39,06°,
enquanto que a formulação solo-geogrelha
(base) acusou 26,34°. Confrontadas com o solo
natural, a diferença foi de 9,34° e 3,38°,
respectivamente.
235
41,38°, ao passo que a solo-geogrelha (base)
acusou 29,61°. Ou seja, quando comparadas com
o solo natural, a primeira formulação variou de
2,73° e a segunda de 9,04°.
300
250
150
100
50
0
0 50 100 150 200 250
Tensão Normal (kPa)
R² = 0,981 Solo Natural
236
Tabela 4: Variação percentual dos parâmetros de ruptura ângulos de atrito, em relação às demais
ao cisalhamento após inundação. configurações, nas duas condições de ensaio
Variação Percentual (%) pesquisadas. Além disso, notou-se que os valores
Composição Coesão Ângulo de dos ângulos de atrito da formulação solo-
(kPa) atrito (°) geogrelha (base) foram ligeiramente inferiores
Solo Natural 39,02 30,05 aos da composição contendo apenas o solo
Solo-Geogrelha (centro) 67,17 5,94
natural. Ademais, ressalta-se que o efeito devido
à inundação foi mais pronunciado no intercepto
Solo-Geogrelha (base) 32,20 12,41 de coesão da formulação solo-geogrelha
(centro), juntamente com os acréscimos
Tendo em vista as variações negativas para os decorrentes nos valores de ângulo de atrito para
interceptos de coesão, e positivas para os ângulos todas as composições. Por conseguinte, pôde-se
de atrito, percebe-se notadamente que a maior verificar que a inundação acarretou efeito similar
variação percentual refere-se à composição solo- demonstrado nos resultados típicos da literatura,
geogrelha (centro), de 67,17%, logo, uma apesar da distinção entre a granulometria dos
redução de 87,96 kPa. Por outro lado, constata- solos e dos tipos de geossintéticos utilizados.
se que a maior variação de ângulo de atrito foi
aquela atinente ao solo natural (30,05%), o qual AGRADECIMENTOS
passou de 29,62° para 38,65°. Nesse cenário,
pode-se inferir a influência da água sobre a Os autores agradecem à empresa Maccaferri®
resposta do corpo de prova à solicitação de Latin America pela doação da geogrelha
cisalhamento, mesmo frente à velocidade de MacGrid® NET.
ensaio.
Complementa-se que o teor de umidade REFERÊNCIAS
médio dos corpos de prova imediatamente após
a execução do ensaio de CD inundado, foi de ABNT (2016). NBR 6457: Amostras de Solo –
28,05%. Confrontando este dado com o teor de Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
umidade médio durante a compactação das caracterização. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
amostras (23,10%), atingiu-se uma variação de ABNT (2016). NBR 6459: Solo – Determinação do Limite
4,95%. de Liquidez. Associação Brasileira De Normas
Pelo exposto, tem-se que os resultados são Técnicas, Rio de Janeiro.
coerentes com os trabalhos divulgados na ABNT (2016). NBR 7180: Solo – Determinação do limite
literatura. Cita-se por exemplo, VIECILI (2003) de plasticidade. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
que pesquisou o comportamento dos parâmetros ABNT (2016). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
de ruptura de duas argilas residuais da região de Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Ijuí/RS, nas condições natural e inundada, por Janeiro.
meio do ensaio de cisalhamento direto. Assim, ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
como no estudo até aqui desenvolvido, ambos os Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro.
solos apresentaram decréscimo de intercepto ASTM (2004). ASTM D 3080: Standard Test Method for
coesivo, com subsequente aumento do ângulo de Direct Shear Test of Soils Under Consolidated
atrito após a inundação. Drained Conditions. American Standards Test and
Materials, USA.
CNT. Confederação Nacional de Transportes. Pesquisa
CNT de Rodovias 2018: relatório gerencial. - Brasília:
4 CONCLUSÃO CNT: SEST SENAT, 2018.
Das, B. (2014). Fundamentos de Engenharia Geotécnica.
Por meio dos resultados, verificou-se que o 2a. ed. São Paulo: Cengage Learning.
comportamento dos parâmetros de resistência ao Figueiredo, P. V. C. (2017). Estudo de Geossintéticos em
cisalhamento depende principalmente do Subcamadas de Pavimentos. Trabalho de Conclusão de
Curso, Universidade Federal do Amazonas, 48p.
posicionamento da geogrelha no corpo de prova. Lima, C. A. P. (2017). Comportamento Mecânico com
Nesse sentido, a composição solo-geogrelha Resíduos Industriais, sob Flexão a Quatro Pontos,
(centro) foi a que registrou maiores valores de para Construção de Pavimentos Flexíveis. Dissertação
237
de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciência
e Engenharia de Materiais, Universidade Federal do
Amazonas – UFAM, Manaus, AM, 2017.
O’Rourke, T. D.; Druschel, S. J. & Netravali, A. N. (1990).
Shear strength characteristics of sand-polymer
interfaces. Journal of Geotechnical Engineering, v.
116, n. 4, p. 451-469.
Reddy, M. M., Reddy, K. R. S. & Asadi, S. S. (2018). An
experimental for evaluation of shear strength
parameters with geosynthetic materials and clay by
using large-scale direct shear test box. International
Journal of Pure and Applied Mathematics, India, v.
119, p. 1493-1498.
Sieira, A. C. C. F. (2003). Estudo Experimental dos
Mecanismos de Interação Solo-Geogrelha. Rio de
Janeiro: PUC, Departamento de Engenharia Civil.
Viecili, C. (2003). Estudo de Geossintéticos em
Subcamadas de Pavimentos. Trabalho de Conclusão de
Curso, Universidade Federal do Amazonas, 76p.
238
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
239
A aplicação de geossintéticos para este fim compactado foram obtidas de Alves (2017) e
apresenta-se como mais rápida, confiável e são apresentadas na Tabela 1. O geotêxtil usado
econômica em relação às técnicas mais foi o não-tecido Geofort G-400, cujas
tradicionais (Vertematti, 2015). Os propriedades foram obtidas de Pedroso (2000) e
geossintéticos atuam no sentido de restringir encontram-se na Tabela 2.
deformações excessivas e oferecer resistência
ao maciço de solo, sendo o geotêxtil um dos
tipos empregados com essa finalidade.
No que se refere aos deslocamentos e
deformações em obras de contenção e reforço
de solos, estes assumem importância não só
pelo aspecto de desempenho das obras, mas
também pelo conforto do usuário. As causas de
deslocamentos podem ser de origem externa à
estrutura, como recalques na base, rotações por
excentricidades de cargas, distorção e
deslizamento da massa de solo reforçado devido
ao empuxo de terra no maciço não reforçado, ou Figura 1. Geometria da estrutura de solo reforçado.
internas, como as deformações dos reforços
provocadas por tração. Tabela 1. Características do solo.
Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi Indeformado Compactado
analisar tensões e deslocamentos no projeto de Peso específico (kN/m³) 17,2 18,9
uma estrutura de solo envelopado por meio de Coesão (kPa) 12,0 15,3
Ângulo de atrito (°) 31 37
análise numérica. Com isso, verificando-se a
aplicabilidade desta técnica de solo reforçado
Tabela 2. Características do geotêxtil.
em situações nas quais são impostos limites
Gramatura (g/m²) 400
rigorosos de deslocamentos na estrutura,
Espessura nominal (mm) 3,80
enfatizando a importância da verificação de
Resistência à tração longitudinal (kN/m) 24,75
deslocamentos em estruturas geotécnicas.
Módulo secante - 5% de deformação (kN/m) 40
240
reforçado. Elias et al. (2001) sugerem que a • Estágio 2 - escavação da área a ser
cada 20 kPa de sobrecarga, o deslocamento reforçada, na qual é gerado alívio de
horizontal seja acrescido em 25%. tensões no maciço;
Sendo o geotêxtil um reforço extensível, • Estágio 3 - instalação dos reforços e
para o caso em questão tem-se um reaterro, não sendo computados os
deslocamento horizontal máximo de 3,7 cm. esforços gerados por compactação;
• Estágio 4 - aplicação de sobrecarga sobre
os maciços reforçado e indeformado.
A malha de elementos finitos foi triangular
com 6 nós, com maior densidade de elementos
na região reforçada, resultando em 1957
elementos para o estágio 1, 1046 para o estágio
2 e 1718 para os dois últimos. A Figura 3 ilustra
a distribuição da malha no estágio 4.
Quanto aos materiais e propriedades, foram
usados os dados das Tabelas 1 e 2; o solo foi
Figura 2. Curva empírica para estimativa do considerado elástico e isotrópico com módulo
deslocamento horizontal máximo (Elias et al., 2001). de 35,6 MPa e coeficiente de Poisson 0,3; e o
elemento de reforço foi definido como o
geotêxtil, de comportamento plástico, entre dois
4 ANÁLISE NUMÉRICA elementos de junta.
Para a análise de tensões, as tensões
A análise numérica de tensões e deslocamentos principais maiores (denominadas Sigma 1)
foi realizada no software RS2 (Rocscience, foram analisadas nos estágios a fim de se
2018), que é um programa de elementos finitos acompanhar sua evolução. As tensões
para análises bidimensionais em solos e rochas. registradas foram oriundas do peso próprio do
Para este estudo, optou-se por uma análise em solo e também das tensões in situ geradas nos
quatro estágios: diferentes estágios. Já para a análise de
• Estágio 1 - condição inicial, que retrata o deslocamentos, foram verificados os
terreno natural, ainda sem quaisquer deslocamentos totais e horizontais em cada
interferências construtivas, com superfície estágio.
horizontal na cota do topo do muro;
241
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Tensões
242
mm, respectivamente, que podem ser elevados devem-se ao posicionamento da
confrontados com recomendações normativas. sobrecarga muito próximo à face do muro, o
A norma britânica (BSI, 2011), por exemplo, que poderia ser solucionado aumentando a
recomenda que as estruturas de solo reforçado rigidez da estrutura e promovendo alguma
respeitem a tolerância de deslocamento vertical inclinação na face.
de mais ou menos 5 mm por metro de altura de Já para o deslocamento horizontal, a
estrutura, ou seja, 20 mm para o caso em tolerância indicada por BSI (2011) é de mais ou
questão. Logo, esse limite não foi respeitado, menos 15 mm a partir do alinhamento de
sendo o valor fornecido pela análise numérica, referência, o que foi respeitado na estrutura
quase o dobro do permitido. analisada.
Em comparação com o método da curva
empírica, o deslocamento horizontal máximo
obtido na análise numérica corresponde a
apenas 22% dos 37 mm previstos pelo método.
Neste caso, não é possível atribuir a diferença
de valores a uma causa específica, pois ambos
os métodos – o numérico e o empírico –
possuem suas limitações.
A distorção na face do muro, calculada como
a razão entre o deslocamento total na crista e a
altura do muro foi de 1%, bem inferior ao limite
de 5% permitido para muros auto-envelopados
(Vertematti, 2015).
Pela Tabela 3 é possível analisar alguns
resultados de distorções (u/H) publicados na
literatura para muros de solo reforçado com
Figura 7. Deslocamentos horizontais. geotêxtil não-tecido, obtidos de Pedroso (2000).
Os valores de distorção previstos em todos os
Nota-se ainda que a componente de casos foram na faixa de 0,96% e 1,33%, dentro
deslocamento vertical foi quase 5 vezes a da qual também se enquadra o caso em análise.
horizontal. Deslocamentos verticais tão
243
Em todos os casos, as distorções medidas capaz de reproduzir um comportamento típico
foram ainda menores do que as previstas, o que de muro de solo reforçado com geotêxtil.
pode ser atribuído a um conservadorismo de
projeto.
Segundo Rowe & Ho (1992) apud Costa REFERÊNCIAS
(2004), os três fatores que levam a tal
conservadorismo são: receios com relação a um Alves, Y. C. Projeto de contenção e drenagem em muro
controle de construção adequado, uma vez que, de arrimo com uso de geossintéticos. 2017. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação) - Curso de
muitas vezes, os valores utilizados no Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia Civil,
dimensionamento e nas demais verificações são Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia,
inferiores aos valores reais; muitos fatores de 2017.
redução da resistência a tração do reforço são Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 11682:
adotados para considerar fatores como fluência, Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro, 2009.
British Standards Institution. BS 8006-2: Code of practice
degradação química e biológica, diminuindo for strengthened/reinforced soils. Soil nail design.
muito a resistência do reforço; e por fim, o 2011.
comportamento do muro depende de quatro Costa, C. M. L. Deformações dependentes do tempo em
elementos básicos: solo de aterro, reforço, face muros de solo reforçado com geotêxteis. 2004. Tese
e fundação, sendo que nenhum método de (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004.
dimensionamento considera as relações entre Ehrlich, M.; Mitchell, J. K. Working stress design
esses elementos, não sendo eficazes para prever method for reinforced soil walls. Journal of
o real comportamento das estruturas. Geotechnical Engineering, ASCE, v.120, n.4, p. 625-
645, 1994.
Elias, V.; Christopher, B. R.; Berg, R. R. Mechanically
Stabilized Earth Walls and Reinforced Soil Slopes –
6 CONCLUSÃO Design & Construction Guidelines. 2001.
Marques, G. L. O. Uso de geotêxteis em muros de
Na análise numérica por método dos elementos contenção de pequeno porte. 1994. Dissertação
finitos foi possível analisar tensões e (Mestrado) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
deslocamentos em uma estrutura de solo areno- 1994.
Pedroso, E. O. Estruturas de contenção reforçadas com
argiloso reforçada com geotêxtil. Em termos de geossintéticos. 2000. Dissertação (Mestrado) – Escola
tensão principal maior, os valores se mostraram de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
razoáveis e a tensão final da base do muro foi Paulo, São Carlos, 2000.
próxima à calculada para verificação da Ribeiro, T. S. M. T.; Junior, M. C. V.; Pires, J. V.
capacidade de carga do terreno. Comportamento do aterro de solo reforçado da
encosta do Belvedere. In: CONGRESSO
Quanto aos deslocamentos, os maiores BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA,
valores para deslocamento total, horizontal e IX, 1999, São Pedro. Anais…, São Paulo: ABGE,
vertical foram encontrados na crista do muro. O 1999.
deslocamento total foi predominantemente Rocscience Inc. RS2 v 9.0 – Two-dimensional elasto-
influenciado pela parcela vertical, sendo estes plastic finite element analysis for excavations and
slopes in rock or soil, Rocscience Inc., Toronto, 2018.
de 39 e 38 mm, respectivamente. O Rowe, R. K; Ho, S. K. Keynote Lecture: A review of the
deslocamento vertical de 39 mm foi superior ao behaviour of reinforced soil walls. In:
recomendado por BSI (2011), enquanto o INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON EARTH
deslocamento total permaneceu dentro do limite REINFORCEMENT PRACTICE, 1992, Fukuoka.
de tolerância. Proceedings... Balkema, v.2, p. 801-830, 1992.
Vertematti, J. C. (Coord.) Manual brasileiro de
O deslocamento horizontal máximo, de 8 mm, geossintéticos. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher,
foi 22% do previsto pela curva empírica e, a 2015. 570 p.
distorção da face calculada a partir do valor
obtido numericamente se mostrou coerente com
dados da literatura, indicando que, apesar de
simplificada em termos de aspectos
construtivos, a análise numérica realizada foi
244
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: Currently, there are several studies, experimental, analytical or numerical, that aim to
identify the factors that influence the mechanical behavior of geosynthetic-reinforced soil walls
(GRSW). In the present work, a numerical evaluation, in terms of stresses and deformations, is present
to verify the influence of the reduction of the degree of compaction of the backfill soil near the face.
This evaluation is justified by the constructive recommendation widely found in the literature to avoid
the application of heavy compaction near facing and the understanding that the reduction of
compaction energy near the face will provide a region with a lower degree of compaction. The results
245
of this research indicate that, for a typical section of geosynthetic-reinforced soil walls (GRSW)
considered with three different reinforcement rigidities, the occurrence of backfill soil with a lower
level of compaction (thus lower soil resistance) near the face implies in greater tensile mobilizations
in the elements of reinforcements and greater displacements of the face. These results were obtained
both for the final construction situation of the structure and when considering the application of
overload after the finished work. It is concluded that to evaluate the reduction of the degree of
compaction near facing is an important aspect in the study of the stresses and deformations of
geosynthetic-reinforced soil wall (GRSW), especially when considering elements of reinforcements
of lower stiffness and application of the surcharge.
246
influência nas tensões e deformações de MSR al., 1980), os parâmetros de resistência e
com geossintéticos, ao considerar a redução do deformabilidade são apresentados pelos autores,
GC do aterro próximo à face. de forma conservativa, como indicados na
Tabela 2. O solo de aterro foi considerado com
2 MATERIAL E MÉTODOS GC de 100%, e, para os primeiros 0,50 m
próximos à face, com redução do GC.
2.1 Seção de análise
Tabela 2. Parâmetros do solo de aterro [areia siltosa (SM)],
Considerou-se, para a realização das análises com a variação do grau de compactação (GC) (DUNCAN
et al., 1980).
numéricas em termos de tensões e deformações,
GC c' '
um tipo de estrutura de contenção de solo K n
(%) (kN/m3) (kPa) ()
reforçado com geossintético amplamente 100 21 0 36 600 0,25
estudado e adotado em diversas obras de 95 20 0 34 450 0,25
contenções, envolvendo muros de solo reforçado 90 19 0 32 300 0,25
(MSR) com face composta por blocos pré- 85 18 0 30 150 0,25
moldados de concreto e utilização de geogrelhas
como elemento de reforço geossintético. Os parâmetros de resistência e
A Tabela 1 apresenta as principais deformabilidade dos blocos pré-moldados de
características geométricas da seção de análise, concreto e da fundação foram adotados,
ilustrada na Figura 1. respectivamente, conforme apresentados nos
trabalhos de Riccio, Ehrlich e Dias (2014) e de
Tabela 1. Principais características geométricas da seção Meireles (2018).
de análise.
Descrição Valor 2.3 Reforços
Altura livre (m) 4,20
Altura embutida (m) 0,40
Inclinação da face 1H:10V Para os reforços, foram consideradas geogrelhas
Comprimento dos reforços (m) 3,50 de um fabricante nacional, cuja matéria prima
Espaçamento vertical entre reforços (m) 0,40 principal são filamentos de poliéster (PET) de
alta tenacidade e baixa fluência. A seção de
Aterro com
0,5m análise foi avaliada para 03 (três) diferentes
menor GC módulos de rigidez (J), como apresentados na
Blocos
Tabela 3
4,20 m
Solo de
Geogrelhas aterro Tabela 3. Módulos de rigidez (J) das geogrelhas avaliadas
como reforço.
Geogrelhas J (kN/m)
R1 400
6,00 m 8,00 m R2 800
R3 1500
4,20 m
Fundação
2.4 Compactação
Figura 1. Seção de MSR com geossintéticos adotada nas
análises. Assim como realizado por Mirmoradi e Ehrlich
(2018b), como equipamento de compactação,
2.2 Solos considerou-se, nas análises, uma placa vibratória
cuja tensão vertical induzida pela compactação é
Para o solo de aterro, o qual foi analisado com de 55 kPa. Conforme metodologia para
diferentes graus de compactação (GC), recorreu- estimativa da tensão vertical induzida pela
se ao trabalho apresentado por Duncan et al. compactação, apresentada em Dantas e Ehrlich
(1980). Ao considerar o solo de aterro como uma (2000) e Ehrlich e Becker (2009), para a
areia siltosa, para diferentes GC e a relação compactação por placa, a tensão foi calculada
tensão-deformação hiperbólica (DUNCAN et independente das características do solo de
247
aterro. parâmetros da relação hiperbólica de Duncan et
al. (1980) foram adequados para o modelo
2.5 Modelagem numérica Hardening Soil Model, como apresenta-se na
Tabela 4.
As análises numéricas para avaliação do
comportamento tensão-deformação dos MSR Tabela 4. Parâmetros do solo de aterro adotado para o
avaliados foram realizadas no software de modelo Hardening Soil Model, com a variação do grau de
compactação (GC).
elementos finitos PLAXIS 2D, que objetiva a GC (%) 100 95 90 85
resolução de problemas geotécnicos em situações (°) 36 34 32 30
de deformações planas ou axissimétrica c (kPa) 0 0 0 0
(BRINKGREVE e VERMEER, 2002). A seção (kPa) 0 0 0 0
típica foi discretizada em elementos triangulares (kN/m³) 21 20 19 18
compostos por 15 nós, como se observa na Figura E50 (MPa) 30 22,5 15 7,5
2. Foram utilizadas as condições de contorno de Eeod (MPa) 30 22,5 15 7,5
restrição de deslocamentos horizontais nas Eur (MPa) 60 45 30 15
m 0,25 0,25 0,25 0,25
laterais da seção (sendo na lateral esquerda
aplicada apenas para a fundação) e de restrição
2.7 Modelagem da compactação
total de deslocamentos e de rotação na base. O
refinamento global adotado para a malha foi
Para a simulação da compactação nas análises
classificado como Very Fine. A malha possui ao
numéricas, adotou-se o procedimento Tipo II
todo 2905 elementos e 23519 nós.
proposto no trabalho de Mirmoradi e Ehrlich
Reforços I
Aterro com
(2014). Neste procedimento, a compactação de
menor GC cada camada é simulada por um único ciclo de
carregamento e descarregamento, com aplicação
Blocos Aterro da tensão vertical induzida pela compactação
I
(zc,i) no topo e na base da camada, como ilustra
a Figura 3a.
Camada n+1
Fundação
Camada n
II
I – restrição de deslocamentos horizontais
II – restrição total de deslocamentos e de rotação
Camada n-1
Figura 2. Modelo numérico e malha de elementos finitos
no PLAXIS 2D. Camada n-2
248
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Figura 3b, é apresentada, esquematicamente,
a variação da tensão vertical durante as etapas da 3.1 Tração máxima nos reforços
compactação: 1) lançamento da camada; 2)
operação do equipamento de compactação; 3) As Figuras 5 e 6 apresentam os resultados das
retirada do equipamento de compactação; e 4) análises realizadas ao se considerar os
lançamento da camada seguinte. somatórios das máximas trações mobilizadas nos
elementos de reforço (Tmáx), respectivamente,
2.8 Análises efetuadas para a situação de final de construção (Figura 5)
e após aplicação de sobrecarga de 100 kPa
Apresentam-se, na Tabela 5, as informações (Figura 6).
correspondentes às análises efetuadas e os Os resultados obtidos mostram-se coerentes
respectivos códigos atribuídos para as mesmas. em relação à máxima tração (Tmáx), visto que,
Para a seção de análise (Figura 1), considerou- com o aumento da rigidez dos reforços (J), tem-
se, para os primeiros 0,50 m próximos à face, se aumento dos somatórios de Tmax, tanto para a
quatro (04) valores de GC, três (03) rigidezes de situação de final de construção como para após a
reforços e duas situações distintas: final de aplicação de sobrecarga.
construção (FC) e após aplicação de sobrecarga Ainda para ambas as situações analisadas, em
(SC) de magnitude 100 kPa. Os códigos geral, observa-se que, com a redução do grau de
atribuídos para as análises correspondem a compactação (GC) nos primeiros 0,50 m
abreviações das considerações realizadas, como próximos à face, tem-se aumento nas trações
ilustra a Figura 4. mobilizadas nos reforços.
80
60
40
20
0
100% 95% 90% 85%
Grau de compactação próximo à face
Figura 6. Somatório das máximas trações mobilizadas
Figura 4. Estrutura dos códigos das análises efetuadas. nos reforços após aplicação de sobrecarga de 100 kPa
249
em que os reforços apresentam menor rigidez e, horizontais, de forma a facilitar a percepção da
principalmente, para as análises que consideram redução dos deslocamentos com o aumento da
aplicação de sobrecarga. Para as análises em rigidez dos reforços, o que evidencia resultados
situação de final de construção, em média, os coerentes para os deslocamentos da face.
acréscimos do Tmáx foram de 17%, 10% e 8%, Assim como identificado para os resultados
respectivamente, para os reforços de rigidezes obtidos de Tmáx, nota-se que a influência em
R1, R2 e R3. Já para as análises em situação de reduzir o GC nos primeiros 0,50 m próximos à
aplicação de sobrecarga de 100 kPa, esses face é mais significativa para análises em que se
acréscimos foram bem mais significativos, consideram os elementos de menor rigidez (R1).
respectivamente, 115%, 39% e 20%. Ressalta-se que, os resultados obtidos não
representam a recomendação construtiva de
3.2 Deslocamento horizontal da face reduzir o GC próximo à face com o objetivo de
reduzir os deslocamentos horizontais da mesma.
Nas Figuras 7 e 8, são apresentados os Esta contradição pode ser entendida pelo fato de
resultados obtidos de deslocamento horizontal ter sido considerada a mesma tensão vertical
da face, respectivamente, para a situação de final induzida pela compactação (55 kPa)
de construção e após a aplicação de sobrecarga. independente do GC do solo de aterro e,
Em ambas as figuras, fixou-se o eixo das consequentemente, de seus parâmetros de
abcissas, correspondente aos deslocamentos resistência.
4,2 4,2
3,8 3,8 R1-100-SC
R1-100-FC
Altura do muro (m)
3,4 3,4
Altura do muro (m)
3,4 3,4
R2-100-FC R2-100-SC
3,0 3,0
2,6 R2-95-FC 2,6
R2-95-SC
2,2 2,2
1,8 R2-90-FC 1,8 R2-90-SC
1,4 R2-85-FC 1,4
1,0 1,0 R2-85-SC
0,6 0,6
0,2 0,2
24 20 16 12 8 4 0 -4 150 100 50 0
Deslocamento horizontal da face (mm) Deslocamento horizontal da face (mm)
4,2 4,2
3,8 3,8
Altura do muro (m)
3,4 3,4
3,0 R3-100-FC 3,0 R3-100-SC
2,6 2,6
R3-95-FC R3-95-SC
2,2 2,2
1,8 R3-90-FC 1,8 R3-90-SC
1,4 1,4 R3-85-SC
1,0 R3-85-FC 1,0
0,6 0,6
0,2 0,2
24 20 16 12 8 4 0 -4 150 100 50 0
Deslocamento horizontal da face (mm) Deslocamento horizontal da face (mm)
Figura 7. Deslocamento horizontal da face ao final da Figura 8. Deslocamento horizontal da face após
construção. aplicação da sobrecarga.
250
4 CONCLUSÃO resultados obtidos corroboram com a
identificação da necessidade de maiores estudos,
Considerar numericamente a ocorrência de solo cada vez mais próximos às condições reais de
de aterro com menor GC nos primeiros 0,50 m campo, para o entendimento do comportamento
próximos à face mostra-se um fator relevante na mecânico dessas estruturas de contenção.
avaliação das tensões e deformações de um MSR
com geossintéticos. Para a seção típica estudada, REFERÊNCIAS
ao final de construção e após a aplicação de uma
sobrecarga de 100 kPa, esta consideração ALMEIDA, R. D. C. M. B. Estudo do efeito da face sobre
o equilíbrio de estruturas de contenção de solo
implica em crescentes mobilização de tração nos reforçado sob condições de trabalho. Dissertação
reforços e deslocamento horizontal da face com (Mestrado) - Universidade Federal do Espírito Santo.
a redução do GC. Vitória. 2014.
A influência, nas tensões e deformações de BARBOZA JÚNIOR, J. D. C. Estudo Através de Modelos
um MSR com geossintéticos, ao reduzir o GC do Físicos da Influência da Face e da Compactação em
Muros de Solo Reforçado. Dissertação (Mestrado).
aterro próximo à face, se mostra mais Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
significativa à medida que se considera a menor Janeiro. 2003.
rigidez dos reforços. Essa significância é ainda BATHURST, R. J. et al. Influence of reinforcement
mais acentuada para as análises na situação de stiffness and compaction on the performance of four
aplicação de sobrecarga após o período geosynthetic-reinforced soil walls. Geosynthetics
International, v. 16, p. 43 - 59, 2009.
construtivo, visto que se tem maiores esforços BRINKGREVE, R. B. J.; VERMEER, P. A. PLAXIS 2D:
atuantes na estrutura. Finite Element Code for Soil and Rock Analyses -
Com relação aos deslocamentos horizontais Version 8. Leiden: CRC press, 2002.
da face, nota-se que os resultados na modelagem DANTAS, B. T. Análise do comportamento de estruturas
não representam a recomendação construtiva de de solo reforçado sob condições de trabalho. Tese
(Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
reduzir o GC próximo à face a fim de reduzir os Rio de Janeiro. 2004.
deslocamentos da face. No entanto, esta DANTAS, B. T.; EHRLICH, M. Método de análise de
contradição pode ser entendida pelo fato de ter taludes reforçados sob condições de trabalho. Solos e
sido considerada a mesma tensão vertical Rochas, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 113-133, Ago.
induzida pela compactação (55 kPa) 2000.
DUNCAN, J. M. F. et al. Strenght, stress-strain and bulk
independente do GC do solo de aterro e dos modulus parameters for finite elemento analyses of
parâmetros de resistência do mesmo. Desta stresses and movements in soil masses. Journal of
forma, visto que com a redução do GC tem-se Geotechnical Engineering, University of California,
menores parâmetros de resistência do solo de Berkeley, n. UCB/GT/80-01, 1980.
aterro, foram obtidos maiores deslocamentos. EHRLICH, M. et al. Muros e Taludes Reforçados. In:
VERTEMATTI, J. C. Manual Brasileiro de
Ressalta-se que a utilização de valor constante Geossintéticos. 2ª. ed. São Paulo: Blucher, 2015. Cap.
para a tensão vertical induzida pela compactação 4.5, p. 106-149.
foi adotada conforme apresentado por Dantas e EHRLICH, M.; BECKER, L. Muros e Taludes de Solo
Ehrlich (2000) e Ehrlich e Becker (2009), Reforçado. 1ª. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2009.
quando se considera a compactação com EHRLICH, M.; MIRMORADI, S. H. Evaluation of the
effects of facing stiffness and toe resistance on the
equipamento tipo placa. Saramago (2002) behavior of GRS walls. Geotextiles and
também considerou uma tensão vertical induzida Geomembranes, v. 40, p. 28 - 36, 2013.
constante devido à compactação com sapo EHRLICH, M.; MIRMORADI, S. H.; SARAMAGO, R.
mecânico, independente dos parâmetros de P. Evaluation of the effect of compaction on the
resistência do solo. behavior of geosynthetic-reinforced soil walls.
Geotextiles and Geomembranes, v. 34, p. 108 - 115,
De maneira geral, os resultados atentam para 2012.
a avaliação da redução do GC próximo à face nas EHRLICH, M.; MITCHELL, J. K. Working Stress Desing
tensões e deformações de MSR com Method for Reinforced Soil Walls. Journal of
geossintéticos. Visto que vários outros fatores Geotechnical Engineering, v. 120, p. 625 - 645, Apr.
influenciadores no comportamento mecânico 1994. ISSN 0733-9410/94/0004-0625.
ELIAS, V.; CHISTOPHER, B. R.; BERG, R. R.
dos MSR com geossintéticos têm sido estudados, Mechanically stabilized earth walls and reinforced soil
por vezes avaliados de forma combinada, os slopes – design and construction guidelines.
251
Departament of Transportation - Federal Highway SARAMAGO, R. P. Estudo da influência da compactação
Administration, Washington, n. FHWA-NHI-00-043, no comportamento de muros de solo reforçado com a
2001. utilização de modelos físicos. Tese (Doutorado).
HATAMI, K.; BATHURST, R. J. Development and Universidade Federal de Rio de Janeiro. Rio de
verification of a numerical model for the analysis of Janeiro. 2002.
geosynthetic-reinforced soil segmental walls under
working stress conditions. GeoEngineering Centre at
Queen’s–RMC, Department of Civil Engineering, LISTA DE SÍMBOLOS
Royal Military College of Canada. Kingston, Canada.
2005. GC – grau de compactação;
HATAMI, K.; WITTHOEFT, A. F.; JENKINS, L. M. - peso específico;
Influence of Inadequate Compaction near Facing on c - coesão;
Construction Response of Wrapped-Face - ângulo de atrito;
Mechanically Stabilized Earth Walls. Transportation K e n - parâmetros adimensionais do modelo hiperbólico;
Research Record Journal of the Transportation J – módulo de rigidez dos reforços;
Research Board, Washington, v. 2045, p. 85 - 94, 2008. - ângulo de dilatância;
KOERNER, R. M.; KOERNER, G. R. An extended data E50 - módulo secante;
base and recommendations regarding 320 failed Eeod - módulo tangente obtido de ensaio edométrico;
geosynthetic reinforced mechanically stabilized earth Eur – módulo de rigidez no descarregamento e
(MSE) walls. Geotextiles and Geomembranes, v. 46, p. recarregamento;
904 - 912, 2018. m o módulo exponencial que controla a variação da
MEIRELES, L. C. Avaliação Numérica da Influência da rigidez com a tensão confinante
Compactação próxima à Face nas Tensões e
Deformações de Muros de Solos Reforçados com
Geossintéticos. Dissertação (Mestrado). Universidade
Federal de Viçosa. Viçosa. 2018.
MIRMORADI, S. Evaluation of the behavior of reinforced
soil walls under working stress conditions. Tese
(Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro. 2015.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M. Modeling of the
Compaction-Induced Stresses in Numerical Analyses
of GRS Walls. International Journal of Computational
Methods, v. 11, n. 2, 2014.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M. Experimental
evaluation of the effect of compaction near facing on
the behavior of GRS walls. Geotextiles and
Geomembranes, v. 46, p. 566 - 574, 2018a.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M. Numerical
simulation of compaction-induced stress for the
analysis of RS walls under working conditions.
Geotextiles and Geomembranes, v. 46, p. 354-365,
2018b.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M.; DIEGUEZ, C.
Evaluation of the combined effect of toe resistance and
facing inclination on the behavior of GRS walls.
Geotextiles and Geomembranes, v. 44, p. 287 - 294,
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MITCHELL, J. K.; VILLET, W. C. B. Reinforcement of
Earth Slopes and Embankments. Transportation
Research Board - National Cooperative Highway
Research Program Report, Washington, D.C., USA, n.
290, June 1987. ISSN 0-309-04024-8/0077-5614.
PERALTA, F. N. G. Comparação de métodos de projeto
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Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2007.
RICCIO, M.; EHRLICH, M.; DIAS, D. Field monitoring
and analyses of the response of a block-faced geogrid
wall using fine-grained tropical soils. Geotextiles and
Geomembranes, v. 42, p. 127-138, 2014.
252
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The execution of embankments on soft soils requires analysis of the geotechnical
behavior of the structure, such as its stability during and after construction and its estimation of
settlement over time. Soft soils have low penetration resistance due to their own constitution which
requires a specific evaluation about the type of foundation treatment to be adopted. The use of
geosynthetics may represent an alternative for foundation treatment in the construction of
embankments on soft soils with acceptable safety factors and good cost-benefit, which depends on a
253
specific comparative analysis of the work. In the current mining context, there are advance studies
of other tailings disposal techniques, an alternative to disposal in tailings dam, as well as the
necessity for decommissioning disposal structures already exhausted. In fact, there is a perspective
for the study and increase of the application of geosynthetics for the preparation and improvement
of the foundation for the stacking tailings on soft soils, for example, on the reservoir of a tailings
dam. This paper shows the process and challenges faced in the application of geodrains on the
reservoir of a tailings dam; beyond the expected settlement estimation for a waste pile test that will
be built on this reservoir after the installation of geodrains and geogrids.
KEY WORDS: Soft Soil, Mine Tailings Dam, Waste Pile, Geosynthetics, Geodrain, Geogrid.
254
retirada e drenagem das águas intersticiais Neste estudo de caso foi proposta a execução
destes solos, além de propiciar ganho de de um lastro semi-compactado de solo sobre o
resistência do material compressível. Já a reservatório de rejeitos como suporte para a
aplicação de geogrelhas promove o aumento da instalação dos geodrenos. Ao final da instalação
resistência reduzindo os deslocamentos laterais. dos geodrenos e execução das valas de
Este trabalho tem como objetivo apresentar o drenagem complementar, foi lançado um
processo e os desafios enfrentados na aplicação reforço com geogrelha.
de geodrenos no reservatório de uma barragem Inicialmente, para permitir o acesso seguro
de rejeito, além das estimativas de recalque do equipamento que realizaria a cravação dos
esperadas para uma pilha piloto de rejeito a ser geodrenos sobre o rejeito da barragem, foi
construída sobre este reservatório após o executado um lastro de solo com espessura
tratamento de fundação com a aplicação de aproximada de 2 metros, o qual foi compactado
geodrenos e geogrelhas. a partir da movimentação dos próprios
equipamentos utilizados para a construção do
2 MATERIAL E MÉTODOS aterro.
Na Tabela 1 estão apresentados os
Uma pilha piloto de rejeitos foi projetada para parâmetros de resistência dos materiais
ser implantada sobre o reservatório de uma constituintes do reservatório da barragem, lastro
barragem de rejeitos, utilizando-se de e pilha piloto de rejeitos e na Tabela 2 os seus
geodrenos e geogrelhas como tratamento de respectivos parâmetros de deformabilidade.
fundação. A Figura 1 apresenta o layout e
detalhe do sistema proposto. Tabela 1. Parâmetros de Resistência dos Materiais.
γ C’ φ’
Material
(kN/m³) (kN/m²) (º)
Fundação - Filito 26 200 30 -
Fundação - Solo
19 25 30 -
Residual
Rejeito
21 9 31 -
Semicompactado
Rejeito
17,05 0 33 0,226
Reservatório
255
geotêxtil o qual tem a função de reter o solo e metálica para ancoragem, projetada para moldar
permitir a passagem de água. a ponta do mandril durante a cravação, impedir
Para os geodrenos utilizados na execução a entrada de sólidos em seu interior e fixar o
desse projeto, optou-se pelo geocomposto geodreno no terreno, impedindo o seu retorno
COLBONDRAIN CX1000 que é um dreno no momento da retirada do equipamento. Após
vertical pré-fabricado de 10 cm de largura e este procedimento, o geodreno é cortado
possui boa capacidade de descarga a mantendo-se uma sobra de 20 cm a 50 cm
profundidades iguais ou superiores a 50 metros. acima da superfície do terreno. As Figuras 2, 3,
A Tabela 3 apresenta as propriedades destes 4 e 5 mostram o equipamento utilizado.
geodrenos.
-1
Permissividade s 1,9
Tamanho da abertura
m 75x10-6 Figura 3. Ponteira com chapa de ancoragem
(AOS=O95)
pronta para cravação.
Conforme Silva e Lannes (2013), o geodreno
possui a função de recolher a água que aflui
radialmente e transportá-la verticalmente. De
maneira simplificada, pode-se admitir que cada
dreno possui uma zona de influência cilíndrica.
Neste projeto a malha de distribuição foi
determinada com um espaçamento horizontal de
5 metros entre colunas e fileiras de geodrenos.
Figura 4. Travamento da chapa de ancoragem no
Para a instalação dos geodrenos, foi utilizado geodreno.
um equipamento hidráulico adaptado a uma
escavadeira sobre esteiras e acoplado a uma
torre metálica com dimensões adequada às
necessidades do projeto.
No interior da torre há o mandril, uma haste
metálica de cravação (tubo retangular), que
protege e promove a instalação geodreno. Com
dimensões externas inscritas em um retângulo
de 12 x 6 cm, representam seção inferior a 70
Figura 5. Chapa de ancoragem.
cm², conforme orienta a Norma DNER/PRO
381/98 – “Projeto de Aterros Sobre Solos Após a cravação dos geodrenos, foram
Moles para Obras Viárias” do DNIT. executadas valas drenantes nas linhas que os
Na extremidade inferior há uma chapa geodrenos foram cravados a fim de drenar a
256
água até o canal de cintura da barragem. Outra dificuldade encontrada foi a
Por fim, foi feita a instalação da geogrelha ancoragem dos geodrenos ao final da cravação,
sobre a camada de lastro, os geodrenos e as uma vez que alguns retornavam durante a
valas drenantes. O uso de geogrelha promove o retirada do mandril. Tal fato pode ser
aumento da estabilidade, reduzindo os justificado pela área insuficiente de contato
deslocamentos laterais. Segundo Kwan (2006), entre o rejeito e a chapa de ancoragem. A
a geogrelha funciona a partir do efeito de solução foi redimensionar a chapa metálica de
intertravamento das partículas do solo, que ancoragem, aumentando suas dimensões e,
penetram pelas aberturas da malha e são consequentemente, aumentando a área de
travadas entre os fios da geogrelha. Esta arraste para ancoragem.
imobilização das partículas aumenta a Devido à granulometria fina e ao baixo
resistência ao cisalhamento horizontal, o que índice de vazios do rejeito depositado no
aumentará, também, a capacidade de carga do reservatório, além da saturação presente na
solo. A Figura 6 mostra a área do reservatório área, em muitos casos, a retirada da haste
após a execução das atividades e instalação da iniciava um processo de sucção dentro do
geogrelha. mandril. Isso ocorreu por causa da diferença de
pressão entre a cota final da cravação e a cota
de superfície, o que provocava a sucção do solo
mole para seu interior, prendendo o geodreno e
ocasionando o seu retorno durante a retirada do
mandril.
Para sanar este problema, a fim de melhorar
a vedação da ponteira de cravação, foi utilizada
uma ponteira com abertura menor e uma manta
emborrachada revestindo a chapa de
Figura 6. Reservatório após instalação da geogrelha.
ancoragem.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A despeito dos desafios encontrados, em
todo o trecho foram instalados 25.000 metros de
O primeiro desafio foi a dificuldade de cravação geodrenos com profundidades que oscilaram
na camada de lastro uma vez que esta entre 9 e 28 metros. Em pouco tempo após a
apresentou NSPT superior a capacidade de cravação, foi possível verificar o funcionamento
cravação do equipamento, a qual é utilizada dos geodrenos, em função do carregamento
apenas para solos com NSPT de no máximo 4. ocasionado pelo lastro aplicado, conforme
Entretanto, esta camada de lastro foi necessária pode-se observar na Figura 8.
para permitir o acesso seguro do equipamento e
a cravação dos geodrenos. A solução foi o uso
de escarificador acoplado a um trator de esteira
do tipo D6 para a abertura de valas no
alinhamento de aplicação do geodreno. A
Figura 7 mostra o equipamento que executou o
processo de abertura das valas.
257
desempenho real do geodreno sob a pilha fundação. Para tanto, utilizou-se o método
piloto. A seguir, são apresentados os resultados Coupled Stress/PWP e auxílio do software
das análises do projeto da pilha piloto sobre o SIGMA/W, versão 7.10 desenvolvido pelo
reservatório da barragem de rejeitos, GeoStudio International Ltd., em Calgary,
considerando o uso do geodreno e geogrelha Alberta, no Canadá.
como tratamento da fundação. Nas análises foram verificadas deformações
Para o projeto da pilha piloto de rejeitos, verticais e geração de poropressões
foram feitas as análises de tensão versus considerando o carregamento da pilha em
deformação e análise de geração de poropressão etapas.
considerando a instalação dos geodrenos na sua
258
Tabela 4. Resumo das Cargas de Pressão Esperadas.
Tempo Cargas de Pressão (m)
Etapa
(meses) PZ-01 PZ-02 PZ-03 PZ-04 PZ-05 PZ-06 PZ-07 PZ-08 PZ-09
EL. 941,00 m ~1 938 939 938,5 938 942 943 942,5 942 937,5
EL. 946,00 m ~2 941 941 941 941 944 949 947 944 937
EL. 951,00 m ~3 941 941 941 941 946 953 950 944 937
EL. 955,00 m ~4 941 941 941 941 947 953 958 946 937
EL. 955,00 m ~9 941 941 941 941 940 940 939 938 937
259
Tabela 5. Resumo dos Deslocamentos Obtidos nas Análises.
Deslocamento Vertical Máximo (~m)
Etapa Tempo (meses)
Mon. Cen. Jus.
EL. 941,00 m ~1 -0,10 -0,05 -0,30
EL. 946,00 m ~2 -0,50 -0,30 -0,80
EL. 951,00 m ~3 -1,00 -0,60 -1,20
EL. 955,00 m ~4 -1,40 -1,00 -1,40
EL. 955,00 m ~9 -1,50 -1,80 -1,90
5 REFERÊNCIAS
260
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Diversas são as tecnologias desenvolvidas pela engenharia a fim de controlar o processo
da movimentação de massa. A fôrma tubular de geossintético com escória surge com a ideia de
desenvolver um sistema de contenção que busque trazer uma nova alternativa para aplicação da
escória de aciaria. Isso, porque a utilização desta se relaciona à alta taxa de estocagem sem destino
apropriado nas siderúrgicas da região do Alto Paraopeba. Além disso, tem-se a ocorrência de diversos
processos erosivos na região e que necessitam da construção de contenções como solução técnica de
engenharia. Desse modo, o propósito deste trabalho se concentra em analisar qualitativamente o
emprego deste sistema, fôrma tubular de geossintético e escória, como uma estrutura de contenção.
Para tanto, trabalhou-se com dois modelos reduzidos (1.g) ambos de similitude restritiva, aplicando-
se fatores de escala geométrica de 10% e 40% em relação a uma contenção hipotética. Os resultados
obtidos foram satisfatórios, uma vez que, o sistema de contenção proposto não apresentou
deslocamentos excessivos, além de resistência superelevada.
ABSTRACT: Several technologies are developed by engineering in order to control the mass
movement process. The tubular formwork of geosynthetic with blast furnace slag arises with the idea
of developing a containment system that seeks to bring a new alternative for the application of steel
slag. Once the use of this is related to the high rate of storage without proper destination in the
steelworks of the Alto Paraopeba region. In addition, several erosive processes occur in the region
and require the construction of retaining structures for their solutions. The purpose of this paper is to
qualitatively analyze the use of this system, tubular formwork of geosynthetic and blast furnace slag,
as a retaining structure. Therefore, we worked with two reduced models (1.g) both of restrictive
similarity, applying geometric scale factors of 10% and 40% in relation to a hypothetical retaining
structure. The results obtained were satisfactory, in view of the proposed retaining structure did not
present excessive displacements, besides superelevated resistance.
261
utilização. 2.2 Características da fôrma tubular e do
Isso porque, a adoção deste resíduo, como protótipo para o ensaio miniatura e de campo
agregado na construção civil, pode vir a
substituir, parcialmente a areia e/ou brita, sendo O modelo reduzido (1.g) baseia-se em uma
esse a exemplificação de um dos trajetos para se contenção hipotética de um talude de 8m de
alcançar a gestão sustentável (FREITAS, 2018). altura, constituída de 36 protótipos com diâmetro
Como principais vantagens da escória, de 1m, preenchidos com escória em uma
evidenciam-se o menor custo em relação aos granulometria tipo bica corrida. Esta escória
demais agregados, maior resistência à abrasão, possui dimensões de aproximadamente, x =
além da excelente drenabilidade e fácil 0,058m e y = 0,050m determinadas a partir da
manuseio. Além disso, as escórias possuem média de uma porção de escórias distintas.
maior peso próprio, resultando em economia de O ensaio miniatura (1.g), cujo fator
material (BRUN E YUAN, 1994). Ressalta-se corresponde a 10% do hipotético assumido,
ainda que a aplicação desse material pode apresenta uma altura total de conteção igual
minizar a alta taxa de estocagem sem destino 0,60m, constituído de fôrmas tubulares em
apropriado nas siderúrgicas da região do Alto miniatura com diâmetro igual 0,10m e
Paraopeba. Tudo isso faz com que a conversão comprimento de 0,75m. Esta fôrma tubular, em
da escória em insumos para engenharia torne o formato cilindrico, possui peso de, em média,
sistema proposto sustentável. 9,60 kg e volume de 0,006m³. A escória utilizada
Nesse contexto, o protótipo foi desenvolvido na composição destas fôrmas possuem
com o intuito de propôr um novo sistema de dimensões em x = 0,003m e y = 0,002m. Em
contenção que alie as tecnologias atualmente relação ao tipo de geogrelha, utilizou-se, como
disponíveis, como a Geogrelha, a fatores forma representativa, uma tela de nylon de malha
sustentáveis. Este sistema foi objeto de pesquisa quadrada igual a 2mm. Além dessas fôrmas, foi
pois visava a sua aplicação na recomposição de necessário confeccionar uma caixa de
áreas erodidas, comum de ocorrência na região 1,0x0,8x0,6m e um pórtico para desenvolver o
de desenvolvimento deste trabalho. ensaio.
Com intuito de validar os resultados obtidos
com ensaio miniatura, implementou-se também
2 MATERIAL E MÉTODO o modelo reduzido (1.g) cujo fator de escala
geométrica foi de 40% do modelo hipotético
2.1 Análise da areia e escória adotado. Neste modelo tanto o GSY utilizado,
geogrelha da empresa Geosoluções modelo
No intuito de adequar os modelos reduzidos ao SGi60, quanto a escória tipo 3 (bica corrida)
sistema de contenção hipotético adotado, foram as mesmas a serem adotadas no protótipo.
introduziu-se a areia de forma a simular os Dessa forma, esse modelo possui altura total da
esforços oriundos dos empuxos de terra. Para contenção de 1,20m, diâmetro da fôrma tubular
tanto, de forma a conhecer as características de 0,40m e comprimento de 1,0m e realizado
deste material, determinou-se a sua umidade sobre condições de campo.
natural e a massa unitária.
Em relação à adoção da escória de aciaria 2.3 Ensaio miniatura
neste sistema de contenção proposto, evidencia-
se o artigo produzido pelo grupo de pesquisa O principal objetivo do ensaio com o modelo
INFRAGEO, intitulado: “Caracterização reduzido (1.g), de fator 10%, foi avaliar o
Mecânica da Escória de Aciaria com Vistas de comportamento qualitativo da contenção quando
Aplicação em Estacas Granulares”. Neste solicitado por uma força externa, devido à
trabalho, executaram-se os ensaios de abrasão similitude restritiva do sistema proposto.
Los Angeles, esmagamento, determinação da
massa específica de agregados graúdos, absorção 2.3.1 Ensaio miniatura com carga vertical
e determinação da massa específica de agregados
miúdos. O ensaio miniatura com carga vertical foi
262
realizado em diferentes configurações a fim de
se obter, ao máximo, as características do
sistema de contenção. Desse modo, utilizou-se
um manômetro acoplado a um macaco
hidráulico e quatro relógios comparadores, de
50mm cada, sendo dois na horizontal e dois na
vertical. Cabe ressaltar que, em todos os
sistemas, a carga foi aplicada no centroide de
uma placa metálica rígida para distribuição da
carga sobre o sistema.
O procedimento de inserção de cargas no
sistema ocorreu por meio da aplicação em
estágios de 10min para cada carregamento. Figura 2 - Representação do modo de ensaio miniatura
Primeiramente, aplicou-se o carregamento com carga vertical, utilizando a placa de 0,50mx0,48m
sobre a areia.
sobre a placa de tamanho 0,75m x 0,15m, sobre
a pirâmide formada pelas fôrmas tubulares.
Durante este ensaio, a placa foi posicionada
em cima de duas fôrmas tubulares de GSY com
escória. Essa forma de realização do ensaio está
representada na Figura 1.
Outra forma de realização do ensaio ocorreu
aplicando o carregamento sobre uma placa
também de aço galvanizado, mas agora com
dimensões de 0,50m x 0,48m (Figura 2).
No terceiro sistema, aplicou-se o
carregamento em três diferentes posições,
movimentando-se a placa de aço galvanizado de
tamanho 0,75m x 0,15m, conforme apresentado
na Figura 3, sobre a lâmina de areia. Figura 3 - Representação do modo de ensaio miniatura
com carga vertical, utilizando a placa de 0,75m x 0,15m
em diferentes posições sobre a areia.
263
Figura 6 - Representação do ensaio de campo.
264
contenção composto pela fôrma tubular de GSY fôrma tubular com o carregamento aplicado
com Escória é o gabião saco. Este possui formato utilizando-se a maior placa (0,50m x 0,48m)
cilindrico e enchimento feito pela parte superior. sobre a areia (Figura 9), notou-se uma
Em relação as vantagens da fôrma tubular de similaridade dos resultados encontrados. Isso
GSY com escória, afirma-se a melhor adaptação ocorre tanto para as análises do deslocamento
às condições topográficas locais. Isso deve-se ao vertical, quanto horizontal. Em contenções reais,
fato de se trabalhar com a geogrelha que é um esse comportamento ocorre de maneira similar,
material mais flexível que a estrutura metálica sendo que para uma mesma tensão, quanto maior
que compõe o gabião. Além disso, outro fator for a área de contato a ser aplicada por uma força,
interessante é que o GSY, diferentemente das menor será a sua intensidade na região próxima
estruturas metálicas, está livre de processos à contenção. A comparação entre os
corrosivos podendo adaptar-se aos mais deslocamentos verticais referente aos ensaios da
diferentes formatos geometricos como os 1ª e 2ª configuração é representada pelo Figura
buracos e valas oriundos de processos erosivos. 8.
No que tange as análises da escória realizadas
pelo grupo de pesquisas INFRAGEO, constatou-
se alto potencial de aplicabilidade deste material.
Através das avaliações dos resultados dos
ensaios, verificou-se que este material apresenta
massa específica dos grãos da ordem de 3,3
g/cm³, abrasão igual 55%, resistência ao
esmagamento de 25%. Mesmo apresentando
resultados relativamente baixos, a escória
apresenta uma resistência ao esmagamento de
moderada a alta, o que valida a sua aplicação
como sistema de contenção.
Em relação a areia determinou-se o teor de
umidade, que foi da ordem de 22,03% e a massa
unitária, cujo valor foi de 1,80 kgf/cm³. Através
do uso deste agregado foi possível avaliar as
trincas presentes, bem como os deslocamentos, Figura 8 - Comparativo entre os sistemas da 1ª e 2ª
comprovando-se assim, a existência do configuração.
deslocamento na estrutura de contenção. O
deslocamento inicial, para prova de carga
vertical, pode ser explicado pela acomodação e
compactação realizadas pelo sistema de
aplicação de carga na contenção, visto que a
escória que preenche a fôrma tubular não fora
compactada, mas apenas lançada.
3.2 Comparativo
265
placa era afastada do muro de contenção esta
apresentava valores menores de deslocamento da
estrutura. Isso ocorre devido à tensão solicitante
no sistema de contenção, proveniente da força de
empuxo ativo, ser menor do que aquela adotada
próxima à contenção. Em um muro de gabião,
por exemplo, para uma tensão solicitante
próxima à contenção, o deslocamento da
estrutura torna-se mais representativo devido à
maior força de empuxo ativo. A Figura 10
representa esse comparativo proposto (3ª,4ª e 5ª
configuração).
266
Figura 17 - Representação da 1ª e 2ª Configuração.
267
Sabe-se que o melhor desempenho de uma REFERÊNCIAS
estrutura de contenção de geossintético depende
tanto da resistência à tração deste, como também ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
da sua rigidez e do nível de carregamento sob o Determinação da Massa Unitária. NBR 7251. Rio de
Janeiro, 1982, 3p.
qual a estrutura é submetida (BARAJAS, 2016). ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Assim, a análise qualitativa da interação entre o Determinação do Teor de Umidade. NBR 16097. Rio
muro de contenção, geogrelha e escória, e o solo de Janeiro, 2012, 5 p.
é de suma importância, uma vez que esta verifica BENJAMIM, C.V.S. (2006). Avaliação Experimental de
o comportamento entre a deformação da protótipos de estruturas de contenção em solo
reforçado com geotêxtil. Tese de Doutorado, Escola de
interface muro-solo e o alongamento da Engenharia de São Paulo, São Carlos.
geogrelha em questão. BRUN, D. W.; YUAN, W. C. (1994). Caracterização e
aproveitamento dos resíduos siderúrgicos principais
gerados pela aciaria elétrica. Porto Alegre:
3 CONCLUSÃO PPGEMMIUFRGS.
FREITAS, S. M. A. C. (2018). Escória de Aciaria:
caminhos para uma Gestão Sustentável. Tese de
Constatou-se que a geogrelha é um material de Doutorado, Universidade Federal de Ouro Preto.
grande versatilidade e que proporciona fácil BARAJAS, S. A. R. (2016). Estudo comparativo da
execução, bem como uma ótima interação com a interação solo-geogrelha por meio de ensaios de
escória. Além disso, esta apresenta grande arrancamento monotônico e cíclico utilizando
equipamentos de pequenas e grandes dimensões.
viabilidade técnica, o que permite obter um novo Dissertação (Mestrado em Geotecnia) - Universidade
sistema de contenção sustentável. de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Há também outras características importantes Paulo, São Carlos.
do sistema que garantem uma maior
aplicabilidade em diversos meios, podendo-se
citar a maior adaptabilidade à geometria do
terreno devido à sua flexibilidade, além da
facilidade executiva, o que permite uma menor
quantidade de mão de obra.
Por fim, salienta-se que, mesmo este projeto
apresentando parâmetros qualitativos suficientes
para validar o uso deste sistema como uma nova
alternativa de contenção, outras análises devem
ser realizadas, propiciando resultados ainda mais
confiáveis, como a realização de mais ensaios de
campo, a implantação e monitoramento do
sistema em obras reais e exumação e análise do
geogrelha utilizada. Tudo isso, com o intuito de
difundir, entre as técnicas de contenção de
taludes, a fôrma tubular de GSY com escória.
AGRADECIMENTOS
268
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: This work is an evaluation of the variation of a clay soil’s shear strength due to the
inclusion of cement and polymeric fibers, proposing the use of alternative materials in a context in
which environmental resources become increasingly scarce. Therefore, soil compaction tests were
performed in the natural state and with 2% and 10% cement content added, in order to evaluate the
the effect of cement addition on soil compaction parameters. Direct shear tests were also done in the
soil without cement addition and with addition in the contents of 2%, 4%, 6%, 8% and 10 % in
order to evaluate the inclusion content of cement that results in greater resistance gain. The best
269
combination of soil-cement was subjected to the random addition of PET polymer fibers with
lengths of 10 and 15 mm, in addition to predetermined percentages of 0.75, 1.0 and 1.5% in relation
to the dry mass of the soil. Thus, it was verified that soil compaction parameters are not affected by
the addition of cement. The inclusion of cement in the soil proved to be effective, and it was
possible to observe large increases in soil cohesion and friction angle, mainly in additions of larger
quantities of cement. In relation to the inclusion of fibers, it was possible to notice an increase in the
composite strength, however, the random addition of fibers to a cemented matrix made the material
heterogeneous: the strength of the material and its rupture plane were unpredictable.
270
materiais alternativos na construção civil que Mecânica dos Solos da Faculdade de
busquem reduzir a produção de resíduos ou Engenharia de Bauru.
utilizar resíduos anteriormente gerados mostra- Para avaliação da influência da inclusão
se necessária, como é o caso do solo-cimento, de cimento na resistência ao cisalhamento do
em que a adição de quantidades moderadas de solo foram moldados corpos de prova, na
cimento altera em grandes proporções as umidade ótima, com a adição de cimento em
propriedades mecânicas dos solos. Outra porcentagens pré-determinadas em relação à
alternativa é a adição de fibras poliméricas que massa seca do solo.
utiliza-se de resíduos anteriormente gerados A fim de se avaliar a influência da adição
para aumentar a resistência dos solos. de cimento aos parâmetros de compactação do
O PET é atualmente um material de grande solo estudado, foram realizados ensaios de
utilização no mundo, sendo utilizado compactação (Proctor Normal) com adição de
principalmente na produção de garrafas 2% e 10% de cimento, cujo procedimento é
plásticas usadas no armazenamento de descrito a seguir.
refrigerantes, água e óleos. No último censo de Conforme determinado pela NBR
reciclagem do PET no Brasil (10ª Ed., 12023/1992, a qual trata sobre ensaios de
publicado pela Associação Brasileira da compactação em solo - cimento, após a
Indústria do PET) evidenciou-se que apenas secagem ao ar foi adicionada a quantidade
51% do total produzido é reciclado. Assim, especificada de cimento Portland CP II - F - 32,
devido ao baixo custo, grande disponibilidade e da fabricante CSN, e, depois de misturado o
às propriedades que podem conferir a um cimento ao solo, foi adicionada água em
determinado compósito, o material apresenta quantidade previamente calculada. Realizada a
grande potencial de utilização na construção adição do cimento e da água, foi feita a
civil. compactação do corpo de prova, em três
Embora o cimento não esteja entre os camadas, através da aplicação de 26 golpes de
materiais mais ecológicos, sua utilização em um soquete pequeno por camada, utilizando-se
conjunto com o solo, compósito denominado um molde cilíndrico acoplado à base. Os
solo-cimento, mostra-se cada vez mais ensaios realizados com solo-cimento foram
sustentável, uma vez que configura um material elaborados sem reuso de material e, portanto,
de alta resistência capaz de, dentro de casos foi utilizada uma amostra virgem para cada
exaustivamente estudados e com todas as ponto da curva.
limitações delimitadas, substituir opções que Depois de realizados os ensaios de
configurem soluções mais poluidoras. Um compactação foram realizados ensaios de
excelente exemplo seria a substituição de tijolos cisalhamento direto, avaliando a resistência do
convencionais pelos tijolos de solo-cimento, os solo argiloso com e sem a adição de cimento e
quais se configuram como uma alternativa com a adição de cimento e fibras de polietileno
ecológica, uma vez que não precisam ser tereftalato (PET), as quais apresentavam largura
cozidos. Vale ressaltar ainda que as principais de 1,5 mm e comprimentos de 10 e 15 mm.
matérias primas do cimento são a argila (4%) e Inicialmente foi feita a moldagem dos
o calcário (94%), ambos materiais com corpos de prova (cps) na umidade ótima do
abundante disponibilidade na natureza. solo, colocando-se uma massa previamente
calculada de solo-cimento, de acordo com o
volume de cada molde e da densidade máxima
2 MATERIAIS E MÉTODOS do compósito, buscando-se o grau de
compactação de 95% (figura 1).
Para o desenvolvimento da pesquisa foi Os corpos de prova foram então colocados
utilizado solo argiloso da região de Pederneiras no interior de uma cápsula que foi ajustada na
(SP). Para caracterização do solo foram máquina de cisalhamento direto para iniciar a
realizados ensaios de granulometria e de ruptura.
compactação (Proctor Normal). Todos os Antes de cisalhar, os corpos de prova foram
ensaios foram realizados no Laboratório de adensados com o uso de cargas de 1, 2 ou 4 kg,
271
(que, dado o braço de momento de 11 cm,
resultaram em tensões normais de 30,9; 61,6 e
122,6 kPa, respectivamente). A junção dos 3
resultados foi usada para formar uma
envoltória.
272
classificado como argila arenosa roxa escura ótima de 1%, compatível com os desvios que
(tabela 1). Do ensaio de Proctor Normal foram podem ocorrer em campo.
obtidos teor de umidade ótima de 16,1% e Em relação aos ensaios de cisalhamento
massa específica seca máxima de 1,837 g/cm³. direto, estes foram moldados na umidade ótima
A tabela 2 ilustra os índices físicos do solo do solo, com grau de compactação de 95%,
obtidos para as amostras compactadas. variando-se a porcentagem de cimento aplicada
Foram realizados também ensaios de em relação à massa seca do solo. Foram obtidas
compactação para o solo argiloso com adição de seis envoltórias: uma envoltória referente ao
2% e 10% de cimento em relação à massa seca solo argiloso puro, sem acréscimo de cimento,
do solo, obtendo-se umidade ótima de 16,5% enquanto que as demais envoltórias foram
para adição de 2% de cimento e de 15,4% para referentes ao solo argiloso com acréscimo de
adição de 10% de cimento. Em relação à 2%, 4%, 6%, 8% e 10% de cimento. Cada
densidade seca máxima, foram obtidos valores envoltória foi obtida através do cisalhamento de
de 1,755 para adição de 2 % de cimento e 1,820 3 corpos de prova, os quais foram adensados
para adição de 10%. com o uso de cargas de 1, 2 e 4 kg.
A Tabela 3 a seguir mostra os parâmetros
Tabela 1. Composição do solo argiloso estudado, obtida de resistência ao cisalhamento do solo,
em ensaio de granulometria. encontrados para cada envoltória.
Escala ABNT Composição
(NBR 65025) (%) Tabela 3. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do
solo, encontrados para cada envoltória.
Areia média 1,5 Solo analisado Coesão (kPa) Ø
Areia fina 42,5 Solo argiloso puro 64,8 33,1
Silte 12 Solo com 2% de cimento 67,3 30,5
Solo com 4% de cimento 71,8 52,4
Argila 44
Solo com 6% de cimento 66,7 60,0
Solo com 8% de cimento 40,6 73,7
Uma vez que os resultados se Solo com 10% de cimento 69,3 71,7
apresentaram muito semelhantes aos resultados
obtidos através do ensaio de compactação do Na tabela 3, Ø representa o ângulo de
solo sem adição de cimento verificou-se que a atrito do compósito, valor que corresponde à
umidade ótima e a densidade aparente seca resistência do solo que é devida ao atrito entre
máxima não são muito afetadas pela adição de as partículas. Em se tratando de taludes, o
cimento, o que foi condizente com os resultados ângulo de atrito pode ser entendido como o
obtidos por KÉZDI (1979) e ULBRICH (1997). ângulo máximo que a força transmitida à
superfície pode fazer com a normal ao plano de
Tabela 2. Índices físicos do solo argiloso, obtidos para as
contato, sem que ocorra deslizamento. Atingido
amostras compactadas.
este ângulo, a componente tangencial é maior
Índices Físicos Unidade Resultados do que a resistência ao deslizamento, que
Massa específica seca depende da componente normal.
g/cm³ 1,837 Além da resistência causada pelo atrito
máxima
Teor de umidade ótimo % 16,1 entre as partículas, a atração química existente
Índice de vazios - 2,688 entre os grãos provoca a existência de uma
Porosidade % 72,9 coesão. A coesão é a principal parcela da
Grau de Saturação % 93,5
resistência ao cisalhamento dos solos finos e
coesivos, como as argilas, enquanto que para os
Massa específica dos sólidos g/cm³ 2,688
solos granulares ou não coesivos, como
as areias, a maior parcela da resistência é devida
Os corpos de prova de solo-cimento ao ângulo de atrito.
foram então moldados para os ensaios de Assim, a inclusão de cimento ao solo
cisalhamento direto na umidade ótima do solo argiloso estudado mostrou-se efetiva, uma vez
de 16,1%, que em todos os casos se mostrou que foi possível observar grandes aumentos da
condizente com o desvio aceitável da umidade coesão e do ângulo de atrito do solo,
273
dependendo da quantidade de cimento PET em diferentes tamanhos e porcentagens ao
adicionada. Efeitos mais pronunciados foram compósito, avaliando-se então, a melhoria que
notados para acréscimo de maiores quantidades as fibras geram ao compósito.
de cimento. A seguir a tabela 4 ilustra os parâmetros
No caso em que se adicionou 2% de de resistência ao cisalhamento do solo,
cimento em relação à massa seca do solo nota- encontrados para cada envoltória.
se um pequeno aumento da coesão, de 3,7%,
enquanto houve uma diminuição de 7,9% do Tabela 4. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do
ângulo de atrito. Dessa forma, através da solo, encontrados para cada envoltória de solo-cimento-
fibra, em que foi utlizada adição de 10% de cimento.a
comparação entre as envoltórias a adição de 2% Tamanho das Porcentagem Coesão Ø
de cimento ao solo seria vantajosa no aumento fibras incluídas de fibras (kPa)
da resistência deste apenas quando o solo em 10 mm 0,75% 188,2 71,8
questão estiver confinado com uma tensão 10 mm 1,00% 57,3 60,3
normal menor que 39,8 kPa. 10 mm 1,50% 202,8 46,7
As envoltórias obtidas com adição de 4% e 15 mm 0,75% 116,0 60,0
15 mm 1,00% 277,7 57,2
6% de cimento ao solo mostraram, em todos os 15 mm 1,50% 60,6 71,4
casos, aumento da resistência ao cisalhamento
do solo. Com a adição de 4% de cimento Assim, através da análise dos resultados é
obteve-se um aumento de 10,8% da coesão do possível perceber que o compósito solo-
solo e de 58,3% do ângulo de atrito, enquanto cimento-fibra apresentou um significativo
que com a adição de 6% de cimento o aumento ganho de resistência em relação ao solo argiloso
da coesão foi de apenas 2,9%, além de um puro, entretanto, em relação ao solo-cimento,
grande aumento de 81,3% do ângulo de atrito. em alguns casos a adição de fibras apresentou
Portanto, em se tratando do aumento da uma diminuição na resistência.
resistência, para tensões normais acima de 11,8 Dentre as combinações estudadas, a maior
kPa o uso de 6% de cimento mostrou-se mais coesão foi obtida para adição de 1,00% de
efetivo. fibras de 15 mm de comprimento, em relação à
A adição de 8% de cimento ao solo massa seca do solo, resultando em uma coesão
estudado, por sua vez, foi a única que de 277,7 kPa, equivalente a um aumento de
apresentou diminuição da coesão do solo (de 328,5% em relação ao solo argiloso puro e de
37,4 %), entretanto, também apresentou o maior 300,7% em relação ao solo argiloso com adição
aumento do ângulo de atrito entre as de 10% de cimento. O maior ângulo de atrito
porcentagens analisadas (de 122,7%), encontrado foi para adição de 0,75% de fibras
mostrando potencial para aplicação em solos de 10 mm de comprimento, resultando em um
em que a tensão normal atuante é alta. ângulo de atrito de 71,8º, 116,9% maior que o
Os resultados mais satisfatórios foram ângulo obtido para o solo argiloso puro e
obtidos para a adição de 10% de cimento em aproximadamente igual ao ângulo obtido para o
relação à massa seca do solo analisado, solo argiloso com adição de 10% de cimento.
apresentando aumento considerável da coesão e No geral, avaliando-se ambos os
um aumento muito grande do ângulo de atrito. parâmetros de resistência ao cisalhamento do
O aumento de coesão foi de 6,9% e do ângulo solo percebe-se que o maior ganho foi em
de atrito de 166,6%. relação à adição de 0,75% de fibras de 10 mm
Em todos os casos a adição de cimento ao de comprimento, em que, em relação à
solo, independentemente da quantidade resistência atingida pelo compósito de solo-
incluída, resultou na estabilização volumétrica cimento, o ângulo de atrito obtido foi muito
do solo. próximo ao ângulo obtido sem a adição de
Obtida a porcentagem ótima de solo- fibras e a coesão apresentou um aumento de
cimento, ou seja, a porcentagem de adição de 171,6% quando da adição desta combinação de
cimento que apresenta maior ganho de fibras.
resistência ao cisalhamento em relação ao solo Além disso, analisando-se os resultados
argiloso puro foi feita a adição de fibras do tipo de maneira mais geral (a se excluir algumas
274
exceções) pode-se verificar que a adição de fibras apresentou uma diminuição na
fibras ao composto de solo-cimento tem efeito resistência.
mais pronunciado no aumento da coesão do Dentre as combinações estudadas, a maior
solo, apresentando também diminuição no coesão foi obtida para adição de 1,00% de
ângulo de atrito, de modo que sua adição ao fibras de 15 mm de comprimento e o maior
compósito fica, então, condicionada ao ângulo de atrito encontrado foi para adição de
parâmetro de resistência ao cisalhamento do 0,75% de fibras de 10 mm de comprimento.
solo que se deseja alterar. Pode-se verificar também que a adição de
Os resultados obtidos também apontam fibras ao composto de solo-cimento tem efeito
características importantes do material solo- mais pronunciado no aumento da coesão do
cimento-fibra: o compósito torna-se solo, apresentando também diminuição no
heterogêneo. A adição de fibras a uma matriz ângulo de atrito.
cimentada torna o comportamento do material Por fim, conclui-se que a adição de fibras
imprevisível, de forma que, no momento da a uma matriz cimentada torna o comportamento
ruptura dos corpos de prova a matriz cimentada do material imprevisível, pois a adição de fibra
agrega as fibras de modo a criar um material ao compósito de solo-cimento faz com que o
heterogêneo, cujo plano de ruptura e a tensão material resultante mostre-se heterogêneo. Tal
resistida irão depender da distribuição das fibras heterogeneidade pode ser explicada pela adição
( vide figuras 3 e 4) , em especial da quantidade de fibras, de maneira aleatória, a uma matriz
de fibras que serão solicitadas durante a ruptura cimentada: no momento da ruptura dos corpos
e da forma com que os esforços se distribuirão. de prova a matriz cimentada agrega as fibras de
modo a criar um material cuja tensão resistida e
o plano de ruptura irá depender da distribuição
CONCLUSÕES das fibras, em especial da quantidade de fibras
que serão solicitadas e da forma com que os
Diante dos resultados obtidos e esforços se distribuirão.
analisados, as principais conclusões estão
elencadas a seguir.
Através da realização de ensaios de AGRADECIMENTOS
compactação com solo-cimento notou-se que a
umidade ótima e a densidade aparente seca Os autores agradecem à FAPESP pelo
máxima não são muito afetadas pela adição de financiamento desta pesquisa.
cimento.
A inclusão de cimento ao solo mostrou-se
efetiva, sendo possível observar grandes REFERÊNCIAS
aumentos da coesão e do ângulo de atrito,
dependendo da quantidade de cimento ABIPET (2016). Décimo censo de reciclagem de PET no
Brasil. Associação Brasileira da Indústria do PET.
adicionada. Efeitos mais pronunciados foram 12p.
notados para acréscimo de maiores quantidades ABCP (2012). Guia básico de utilização do cimento
de cimento. Portland. Associação Brasileira de cimento Portland,
Os resultados mais satisfatórios foram São Paulo. 28 p.
obtidos para a adição de 10% de cimento, ABMS Aplicativo ABMS eventos é lançado para a
COBRAE2017,https://www.abms.com.br/aplicativo-
apresentando aumento considerável da coesão e abms-eventos-e-lancado-para-a-cobrae-2017, acessa-
um aumento muito grande do ângulo de atrito. do em 16/10/2017.
Em todos os casos a adição de cimento resultou ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de
na estabilização volumétrica do solo. compactação. Associação Brasileira De Normas
Em relação ao compósito solo-cimento- Técnicas, Rio de Janeiro, p. 9.
ABNT (2012). NBR 12024: Moldagem e cura de corpos-
fibra é possível perceber que este apresenta um de-prova cilíndricos. Associação Brasileira De
significativo ganho de resistência em relação ao Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 6.
solo argiloso puro, entretanto, em relação ao ABNT (2012). NBR 12025: Solo-cimento – Ensaio de
solo-cimento, em alguns casos a adição de compressão simples de corpos de prova cilíndricos.
275
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
277
1 INTRODUÇÃO reforço. Ensaios similares foram realizados por
França e Bueno (2011), nos quais o
A deformação dependente do tempo de confinamento em solo apresentou pouco efeito
geossintéticos é uma propriedade essencial para sobre as deformações por fluência de
o correto dimensionamento de um muro em geogrelhas e geotêxteis tecidos, e um efeito
solo reforçado. Os geossintéticos são elementos mais pronunciado sobre os geotêxteis não
compostos por materiais poliméricos, com tecidos. Por outro lado, nenhuma influência do
comportamento visco-elasto-plástico, que confinamento do solo nas deformações de
sofrem um rearranjo de suas moléculas quando geotêxteis tecidos e não tecidos foi relatada por
submetidos à carregamentos externos. Nestas Levacher et al. (1994) e Wu e Hong (1994).
situações de carregamento os geossintéticos Wu (1994) e Wu e Helwany (1996)
podem sofrer fluência, o que pode levar à demonstraram que o comportamento reológico
deformações excessivas da estrutura e até de solos confinantes afetam as deformações por
mesmo ao colapso em casos mais graves. As fluência dos geossintéticos.
propriedades dependentes do tempo dos Se o solo estiver perfeitamente ligado ao
geossintéticos, do solo de aterro e também da geossintético, implicando que não ocorrem
interação solo-reforço devem ser estabelecidas deslocamentos relativos, o solo e o reforço
de forma a possibilitar uma previsão adequada devem se deformar conjuntamente. Sob
do comportamento dos reforços quando carregamento constante, o solo restringe as
submetidos aos carregamentos de uma estrutura deformações do geossintético quando o solo
real. apresenta menor taxa fluência quando
No dimensionamento de muros em solo comparado ao reforço. No entanto, no caso da
reforçado com geossintéticos, a consideração taxa de fluência do solo confinante ser maior do
das deformações dependentes do tempo é feita que a do geossintético, uma aceleração da
por meio da aplicação de um fator de redução fluência é induzida no reforço.
empírico relacionado à perda da resistência do A maioria das pesquisas aqui relatadas revela os
reforço devido à fluência. A obtenção desse efeitos do confinamento do solo no
fator de redução se baseia tipicamente em comportamento da fluência de geossintéticos
ensaios de fluência em isolamento do por meio de ensaios confinados de laboratório.
geossintético. Entretanto, apesar do No entanto, pouca pesquisa foi focada na
comportamento ao longo do tempo de muros compreensão do comportamento de fluência em
em solo reforçado com geossintéticos não ser muros de solo reforçado em escala real. Liu et
afetado essencialmente pela fluência do reforço, al. (2009) realizaram estudos numéricos e
ele depende diretamente do comportamento da relataram um efeito considerável da fluência
interação solo-geossintético. relativa entre o geossintético e o solo, não
A caracterização do comportamento da apenas nas deformações do reforço, mas
interação solo-reforço tem sido realizada em também nas cargas de tração e tensões do solo
laboratório utilizando aparatos que aplicam o de um muro em solo reforçado. Allen e Bathurst
carregamento sobre o reforço de forma indireta (2002) relataram deformações significativas ao
através do solo envolvente (Kazimierowicz- longo do tempo em muros de solo reforçado
Frankowska 2003, 2006; Simonini and Gottardi construídos em escala real, sob elevados
2003), e também utilizando equipamentos nos carregamentos. De acordo com os autores, se as
quais a carga é aplicada diretamente no deformações do reforço forem suficientemente
geossintético (McGown et al. 1982; Helwany baixas para evitar que o solo atinja a falha, o
and Shih 1998; França and Bueno 2011). deslizamento do reforço será mínimo e a parede
McGown et al. (1982) reportaram uma redução permanecerá estável. O estudo também
considerável das deformações por fluência de demonstrou que as taxas de fluência em
geotêxteis não tecidos confinados em areia, e isolamento são as mesmas ou maiores que as
uma menor influência em geotêxteis tecidos medidas em muros em escala real, produzindo
utilizando um equipamento que permite a estimativas conservadoras de deformação nas
aplicação do carregamento diretamente sobre o estruturas. Mais recentemente, Costa et al.
278
(2016) relataram deformações dependentes do apresentados apenas os resultados da seção
tempo consideráveis obtidas em um modelo de instrumentada em geotêxteis tecidos.
muro reforçado elaborado em centrífuga. O solo
arenoso empregado neste estudo, que é
frequentemente considerado como tendo taxa de
fluência insignificante, não apresentou qualquer
influência na prevenção do desenvolvimento de
deformações dependentes do tempo.
O uso de muros em solo reforçado
instrumentados em escala real é uma
abordagem que raramente é usada para
investigar o comportamento dependente do Figura 1. Vista geral do muro em solo reforçado
tempo das estruturas com geossintéticos. Além (Portelinha, 2014).
disso, uma quantidade muito limitada de
pesquisas foi conduzida para identificar as 2.2 Geossintéticos
deformações dependentes do tempo de
geossintéticos confinados por solos de Um geotêxtil tecido com resistência à tração de
granulação fina, tipicamente tropicais. Sob esta 57 kN/m e rigidez em isolamento de 150 kN/m
perspectiva, este trabalho contribui para a foi selecionado para o projeto. A seção
compreensão do comportamento dependente do experimental envolvendo o geotêxtil não tecido
tempo de solos reforçados, através da foi selecionada para ter uma resistência
comparação dos resultados de uma seção relativamente pequena de 25 kN/m e rigidez em
instrumentada de um muro em escala real com isolamento de 20 kN/m. Conforme destacado
os resultados de ensaios de fluência isolada e anteriormente, são apresentados apenas os
confinada em solo. resultados referentes à seção construída com
geotêxteis tecidos.
279
tales) com hastes de aço encamisado liso foram Os ensaios de fluência em isolamento para os
instalados ao longo do comprimento do reforço geotêxteis foram conduzidos seguindo a norma
para monitorar os deslocamentos internos, e os ASTM D5262. Os ensaios foram conduzidos de
deslocamentos de face foram monitorados por forma a submeter os geotêxteis tecidos a
topografia usando marcos refletivos. A Figura 2 carregamentos de 5% (2,85kN/m), 10%
detalha o layout de instrumentação usado para (5,7kN/m) e 20% (11,4kN/m) de sua resistência
avaliar o desempenho do muro. última.
3 ENSAIOS DE FLUÊNCIA EM
LABORATÓRIO
280
Para os ensaios elaborados, o geossintético (200 isolamento obtidos para os geotêxteis tecidos.
× 200mm) foi posicionado entre duas camadas Assim como era de se esperar, as maiores
de solo de 100mm de espessura. Para garantir deformações e maiores taxas de fluência foram
uma condição de estado plano de tensões obtidos para os ensaios de maior carregamento.
durante todo o ensaio, a adesão entre as paredes As taxas de fluência obtidas foram da ordem de
laterais e o solo foi reduzida criando uma 0,1, 0,4 e 0,6% para carregamentos de 5, 10 e
camada de lubrificação na interface, que 20%, respectivamente.
consiste em uma folha de látex transparente e
uma fina camada de graxa de silicone.
Os ensaios confinados foram realizados
empregando 4 níveis distintos de tensões
verticais, visando simular difetentes posições
dos reforços ao longo do muro. Foram
realizados ensaios com tensões verticais de 140,
200, 300 e 400kPa.
Os resultados obtidos no monitoramento de
campo e no programa experimental são
apresentados no item a seguir.
4 RESULTADOS OBTIDOS
Neste item são apresentados os resultados Figura 5. Resultados das deformações ao longo do tempo
obtidos no monitoramento de campo realizado obtidos nos ensaios de fluência em isolamento.
na estrutura de referência, bem como os
resultados dos ensaios obtidos em laboratório.
A Figura 4 apresenta os resultados do A Figura 6 por sua vez apresenta os resultados
monitoramento de campo para a seção obtidos nos ensaios de fluência confinada.
instrumentada E02, que se encontra a 1,60m da Pode-se observar que maiores cargas verticais
base. Observa-se que ao final das leituras as proporcionaram maiores carregamentos nos
deformações na seção instrumentada foram reforços e também maiores índices de fluência.
relativamente baixas, da ordem de 1,5%. A taxa Isto é um indicativo que a carga no reforço
de fluência registrada, representada pela exerce maior influência sobre as deformações
inclinação da reta (denominado neste artigo dependentes do tempo do que o confinamento.
como parâmetro α) foi da ordem de 0,1%.
281
A Figura 7 apresenta os resultados do válidas, nesse artigo, as comparações diretas
monitoramento de campo e do programa feitas entre os dados experimentais e os dados
experimental plotados simultaneamente. do monitoramento da estrutura de referência.
Os resultados indicam que as deformações
dependentes do tempo são subestimadas pelos
ensaios de fluência confinada em solo. Observa- 5 CONCLUSÕES
se que os valores do parâmetro α (inclinação da
reta de ajuste) dos ensaios confinados foram O dados apresentados neste artigo nos permite
inferiores aos observados no muro concluir que o comportamento dependente do
instrumentado. tempo foi subestimado a partir dos resultados de
ensaios de fluência confinada em solo, uma vez
que as taxas de fluência foram menores do que
as observadas no muro real. Os resultados
obtidos a partir dos ensaios de fluência em
isolamento mostram taxas de deformação de
fluência mais consistentes com as obtidas em
campo. No entanto, o comportamento
dependente do tempo da estrutura real foi
comparado aos ensaios laboratoriais sem
considerar as possíveis degradações químicas e
Figura 7. Análise conjunta de todos os resultados obtidos.
danos de instalação, o que pode afetar
sobremaneira o comportamento de fluência dos
As taxas de deformação do muro real foram
reforços. Além disso, as variações de umidade
aproximadamente duas vezes mais baixas que
do solo proveniente de fatores climáticos que
as dos ensaios confinados. Entretanto, os
influenciam as características de resistência e
resultados obtidos nos testes de fluência em
deformabilidade do maciço, não foram
isolamento demonstram taxas de fluência mais
considerados em laboratório. Por conseguinte,
consistentes com as resultantes da estrutura real.
verificou-se que os testes de fluência em
Observa-se que as taxas de deformação de
isolamento para este caso foram
fluência determinadas a partir dos dados em
suficientemente precisos para estimar o
isolamento nos níveis de carga considerados
comportamento dependente do tempo do muro
nos testes foram as mesmas que na seção de
em solo reforçado com geotêxteis tecidos.
campo. É importante lembrar que os
comportamentos de fluência na estrutura real
foram comparados aos testes de laboratório sem
REFERÊNCIAS
considerar a degradação química potencial e
danos na instalação, o que pode afetar
Allen, T. M. & Bathurst, R. J. (2002). Observed long-
significativamente o comportamento de fluência term performance of geosynthetic walls and
do reforço. Além disso, o processo de implications for design. Geosynthetics International,
umedecimento e secagem durante a vida útil da 9, No. 5, 567–606.
estrutura afeta a resistência e a rigidez do solo, ASTM D1557. Standard Test Methods for Laboratory
Compaction Characteristics of Soil using Modified
o que não foi considerado nos testes de
Effort. ASTM International, West Conshohocken, PA,
laboratório. Todas essas variáveis podem levar USA.
ao aumento da tendência à fluência nas seções .
do muro instrumentado. Assim, constatou-se ASTM International, West Conshohocken, PA, USA.
que, para este caso específico, o ensaio de ASTM D7181. Method for Consolidated Drained
Triaxial Tests for Soils. ASTM International, West
fluência em isolamento foi o que mais se
Conshohocken, PA, USA.
aproximou do comportamento dependente do Becker, L. D. B. & Nunes, A. L. L. S. (2015). Influence
tempo do muro real. Vale ressaltar que, apesar of soil confinement on the creep behavior of
dos resultados do monitoramento de campo geotextiles. Geotextiles and Geomembranes, 43, No.
estarem em tempos distintos dos resultados dos 4, 351–358.
Costa, C. M. L. (2004). Time-Dependent Deformation of
ensaios de laboratório, foram consideradas
282
Geotextiles Reinforced Soil Walls, PhD thesis,
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Mauricio Ehrlich
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br
ABSTRACT: The effect of surcharge load on the behavior of Reinforced Soil Walls (RSW) was
studied. Three large-scale physical models of RSW with a flexible polyester geogrid and concrete
blocks facing were constructed at the COPPE/UFRJ laboratory. Surcharges up to 100 kPa were
applied to the top of the walls on the entire surface and using strip loads 0.6 m and 1.2 m wide.
After applying the surcharge load to “virgin” walls, loading and unloading cycles were also
performed, increasing the surcharge width from one cycle to another. Load cells monitored the
reinforcement tensile loads, the horizontal facing displacements were monitored through LVDTs
and hydraulic settlement gauges (HSG) were used to monitor the vertical displacements on the top
of the walls. The greatest settlements were observed in the strip load cases; on the other hand, the
reinforcement tensile loads were lower. In these cases, the greatest settlements and reinforcement
tensile loads were observed near the face. Soil hysteretic behavior was observed, showing a small
increase in the reinforcement load after the first loading and unloading cycle. During the loading
285
cycles, the increase of horizontal facing displacement was greater at the top of the wall, decreasing
with the height, reaching zero near the base.
KEY WORDS: Reinforced Soil Walls, Geosynthetic, Geogrids, Surcharge Width, Reload, Physical
Model.
286
Tabela 1. Características do reforço. 2.2 Sequência Construtiva e Aplicação das
Resistência à tração longitudinal (kN/m) ≥ 55 Sobrecargas
Resistência à tração transversal (kN/m) ≥ 25
Alongamento (%) ≤6 Para a construção dos modelos, primeiro se
Peso (g/m²) 240 posicionava a zona lubrificada sobre a laje de
Abertura (mm) 20x30
concreto, seguida da primeira fileira de blocos.
Depois, a areia seca era lançada e compactada
100 com placa vibratória leve por 10 minutos,
resultando em uma camada de 0,20 m de
Percentagem passante (%)
287
Ressalta-se que o recarregamento sempre se
deu com larguras maiores do que aquelas
aplicadas com os muros virgens. Desta forma,
objetivou-se determinar a influência de um
possível carregamento por etapas, em que a
largura da carga aumentaria gradativamente.
2.3 Instrumentação
288
faceamento do muro foram razoavelmente dianteira do muro para cima. Também é
uniformes durante o recarregamento. possível observar que as diferenças se deram
apenas no primeiro metro atrás dos blocos,
sendo as leituras coincidentes no restante do
comprimento do muro.
1,0
3.2 Recarregamento qt
0,8
Altura do muro (m)
289
MSR cujos materiais de preenchimento são Percebe-se que os deslocamentos laterais do
granulares, os geossintéticos tendem a fluir ensaio de recarga foram superiores àqueles do
mais do que o solo (Liu & Ling, 2007; Liu et ensaio de carregamento virgem. A diferença
al., 2007; Liu et al., 2009). Além disto, este fato entre os deslocamentos médios começa em
pode indicar a presença de uma carga residual 2.631,9% (20 kPa) e termina em 34,6% (100
máxima mantida pelos reforços. Mais estudos kPa), indicando uma tendência à estabilização
são necessários para melhor compreender este com sucessivos carregamentos (Figura 12).
fenômeno.
1,2
1,0
0,8
0,4
0,2
0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Deslocamento lateral (mm)
qt, Virgem, 20 kPa qt, Virgem, 60 kPa qt, Virgem, 100 kPa
qt, Recarga (q1), 20 kPa qt, Recarga (q1), 60 kPa qt, Recarga (q1), 100 kPa
Carregamento (kPa)
0 20 40 60 80 100
0
qt, Virgem
1
qt, Recarga(q1)
2
Figura 9. Acréscimo de tensões máximas durante
ΔHméd (mm)
3.2.3 Recalques
290
relação ao estágio inicial virgem; o segundo (Muro 3). Após o carregamento do muro
ponto apresentou recalque considerável e o “virgem”, este era descarregado e recarregado
ponto central apresentou movimentos com outra sobrecarga, ressaltando-se que o
ascendentes. Acredita-se que a pressão exercida recarregamento sempre se deu com larguras
atrás de q2 empurrou a parte central do muro maiores do que aquelas aplicadas com os muros
para cima. Em todos os carregamentos, o quarto virgens.
e quinto pontos de medição apresentaram Verificou-se uma perda por relaxação e/ou
deslocamentos similares. redistribuição das tensões ao final dos
descarregamentos. No entanto, observaram-se
ganhos de tensões nos reforços em relação ao
seu estado antes do carregamento virgem. Parte
deste ganho de tensões foi dissipada entre o
descarregamento e posterior recarregamento, o
que pode indicar a presença de uma carga
residual máxima mantida pelos reforços.
Os deslocamentos laterais totais observados
foram maiores no caso de ensaios recarregados,
entretanto o incremento dos deslocamentos
médios com o recarregamento foi menor do que
no caso do carregamento virgem, indicando um
possível comportamento em que os
Figura 13. Representação da superfície do topo do muro
ao final dos estágios de carregamentos e carregamentos de menor largura antes aplicados
descarregamentos (q1 e qt). podem agir como um processo de
sobreadensamento do solo, aumentando as
tensões retidas nos reforços e diminuindo os
deslocamentos laterais quando do
recarregamento. Verificou-se também que o
aumento progressivo da largura de um
carregamento pode causar o levantamento de
trechos do topo do muro.
AGRADECIMENTOS
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Neste artigo, foram utilizados cinco métodos distintos para dimensionar um muro de solo
reforçado com 10 m de altura. O intuito foi identificar diferenças entre as metodologias e como elas
se refletem na solução final e no orçamento da obra. Constatou-se que os métodos em condição de
serviço e de equilíbrio limite local para muros de grande altura apresentam soluções e custos
semelhantes. O método de equilíbrio limite global apresentou-se como o mais conservador e oneroso.
Ademais, uma comparação entre dados de monitoramento de uma estrutura real com as previsões de
métodos de dimensionamento de equilíbrio limite e em condição de serviço foi realizada para
verificar o nível de conservadorismo das metodologias convencionais. Conclui-se que a escolha do
método de dimensionamento impacta na solução, em sua confiabilidade e no custo final da obra.
ABSTRACT: In this paper, five different methods were used to design a 10-m high reinforced soil
wall. The purpose was to identify the differences between the methodologies and its impact on the
final solution and cost of the structure. Working stress and local limit equilibrium methods presented
similar solutions and costs, for the case of the high wall analyzed. The global limit equilibrium
method was the most conservative and onerous. In addition, a comparison among a real structure
measured data and the predictions of limit equilibrium and working stress methods was performed to
verify the level of conservatism of the conventional design methods. It is concluded that the design
method choice affects the solution, its reliability and the wall final cost.
293
comparada com a resistência à tração do reforço
(verificação quanto à ruptura) e com a resistência 2 MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO
ao arrancamento (verificação quanto ao
arrancamento). 2.1 Estabilidade externa
A Figura 1 mostra o diagrama de tensões
assumido nos reforços, onde T0 é a tensão na Na verificação da estabilidade externa deve-se
extremidade do reforço em contato com a face avaliar o deslizamento ao longo da base, o
do muro, sendo considerada como 80% da tensão tombamento, as tensões na base (devem ser
máxima (Ehrlich & Becker, 2017 ). somente de compressão) e a capacidade de carga
da fundação.
Por se tratar de verificações comuns ao
dimensionamento de estruturas de contenção
convencionais, a análise da estabilidade externa
não será detalhada no presente artigo. Foi
utilizada para todos os métodos a mesma análise,
com os fatores de segurança apresentados por
Figura 1. Distribuição de tensões no reforço
Ehrlich et al. (2015) (Tabela 1) e o coeficiente de
interface indicado por Oliveira (2014). Para
Os métodos de equilíbrio limite são os mais
verificar a influência da variabilidade desses
utilizados, porém tipicamente não consideram o
fatores, para o método proposto pela NCMA
comportamento tensão-deformação do solo e
(2010), foram utilizados os fatores de segurança
não são capazes de modelar de forma realista os
propostos pela referida metodologia.
complexos mecanismos de interação entre o solo
e o reforço. Assim, para levar em consideração Tabela 1. Fatores de segurança e parâmetros relevantes
este efeito é considerado um fator de segurança utilizados nas verificações de estabilidade externa
(Claybourn & Wu, 1993). Os métodos em Verificação Literatura FS/Parâmetro Valor
condições de serviço, por sua vez, levam em Ehrlich et
FS 1,5
consideração a relação tensão x deformação do al. (2015)
solo, fator importante para estruturas flexíveis Oliveira Coeficiente de
0,5
como as de solo reforçado com geossintéticos. Deslizamento (2014) interface (f)
ao longo da NCMA
Para avaliar e comparar o dimensionamento base (2010)
FS 1,5
segundo diferentes metodologias, foram Coeficiente de
selecionados cinco métodos dentre os NCMA
cisalhamento 0,65
(2010)
apresentados por Ehrlich et al. (2015) e por (Cds)
Vieira (2008/2009). São eles: Ehrlich et
FS 2,0
(a) Método da FHWA (2009) /AASHTO al. (2015)
Tombamento
NCMA
(2007); (2010)
FS 2,0
(b) Método da NCMA (2010); Capacidade
NCMA
(c) Método de Jewell (1991); de carga na FS 2,0
(2010)
(d) Método de Ehrlich & Mitchel (1994); fundação
(e) Método “K-Rigidez” - Allen et al.
(2003). 2.2 Estabilidade interna
Os métodos (a) e (b) são métodos de
equilíbrio limite local, em que as análises são 2.2.1 Métodos de equilíbrio limite local
feitas para cada nível de reforço. O método (c),
por sua vez, é um método de equlíbrio limite Os métodos propostos – FHWA
global, em que é feita uma análise generalizada (2009)/AASHTO (2007) e NCMA (2010) –
por toda a extensão da massa. No grupo de assumem que a superfície potencial de ruptura
métodos em condições de serviço foram crítica coincide com a linha que passa pelos
selecionados os métodos (d) e (e). pontos onde se mobilizam as forças de tração
máximas em cada nível de reforço. No caso de
294
reforços extensíveis, assume-se que essa arrancamento, relacionado à resistência
superfície é aproximadamente linear, passando mobilizada pelo atrito e por componentes
pelo pé do muro com um ângulo de 45°+φ/2 com passivas na interface solo-reforço.
a horizontal (cunha de Rankine). Koerner &
Soong (2001) destacam, porém, que para muros F * f tg (4)
altos há a possibilidade da superfície de ruptura
crítica ser da forma espiral logarítmica. Onde f é o coeficiente de interface e φ o
Para cada nível de reforço, i, a tensão ângulo de atrito do solo.
horizontal (σh,i) ao longo da superfície potencial Para que a estabilidade interna seja
de ruptura pode ser calculada a partir do peso assegurada, o comprimento total do reforço deve
próprio do aterro no nível do reforço (γzi) e do ser maior ou igual à soma do comprimento de
coeficiente de empuxo ativo (Ka) a partir da arrancamento do reforço e do comprimento na
Eq. (1): zona ativa (Lac,i), calculado pela Eq. 5.
h,i Ka zi (1)
Lac,i 10 zi tg 45 (5)
2
A solicitação em cada nível de reforço pode
então ser calculada por meio da Eq. (2). A É recomendado pela FHWA (2009), e
geogrelha a ser escolhida deve ter resistência de igualmente pela AASHTO (2007), a adoção de
cálculo maior (resistência nominal fatorada por um comprimento uniforme igual ao valor
um fator de redução global) que a máxima tensão máximo determinado pelo dimensionamento,
requerida (Tmax,i), para evitar falha por ruptura do com um mínimo de 0,7H ou 2,50 m (maior
reforço. valor). A NCMA (2010), por sua vez, especifica
um comprimento mínimo do reforço de 0,6H
Tmax,i h,i Sv ,i (2) para muros com mais de 6 m de altura.
Onde Sv,i é o espaçamento vertical no nível do 2.2.2 Método de equilíbrio limite global
reforço considerado. Tal espaçamento deve ser
múltiplo da altura do bloco de fechamento e O método proposto por Jewell (1991) permite a
resultar em uma tensão máxima que esteja dentro determinação do comprimento dos reforços e dos
do nível de solicitação admissível pelo reforço. espaçamentos verticais, a partir do conhecimento
A resistência ao arrancamento (Pr) pode ser dos parâmetros geométricos do maciço, das
determinada a partir das características do características geotécnicas do solo e das
contato solo-reforço e das tensões verticais características mecânicas dos reforços.
atuantes em cada nível (i), conforme a Eq. (3). É O autor propõe ábacos para o
recomendado um fator de segurança mínimo dimensionamento de taludes íngremes em solos
(FSarr) de 1,5, que deve ser atendido em todos os não coesivos, considerando superfícies de
níveis. Além disso, o comprimento de deslizamento em forma de espiral logarítmica.
arrancamento do reforço (La,i), deve ser igual ou Os dados de entrada para os ábacos são o
superior a 1 m. parâmetro de pressão neutra (ru), o ângulo de
atrito do solo (φ) e a inclinação da face (β). Como
Pr ,i 2F * zi La ,i FSarr Tmax,i (3) resultado, encontra-se o coeficiente de empuxo e
o comprimento requerido dos reforços para a
verificação da estabilidade interna e global, e
O parâmetro α na Eq. 3 é o fator de correção para prevenir o deslizamento ao longo da base do
do efeito de escala, que representa a não muro reforçado.
uniformidade da mobilização da resistência ao O coeficiente de empuxo é utilizado na
longo do reforço. Seu valor varia de 0,7 a 1,0 verificação ao arrancamento e na determinação
para geogrelhas (Ehrlich et al., 2015), sendo do espaçamento vertical, em duas equações
adotado α = 1,0 neste trabalho. Já o parâmetro F* fornecidas pelo autor.
(calculado pela Eq. 4) é o fator de resistência ao
295
2.2.3 Métodos em condições de serviço carga e Ф um fator de influência que considera
os efeitos global e local da rigidez do reforço, da
O método de Ehrlich & Mitchell (1994) permite rigidez e da inclinação da face.
a análise de estruturas de solo reforçado sob As equações auxiliares utilizadas no
condições de trabalho, considerando o dimensionamento pelo método K-Rigidez
comportamento tensão x deformação do solo, os podem ser encontradas em Allen et al. (2003).
efeitos da rigidez dos reforços e da compactação
do solo.
A compactação gera um efeito similar ao 3 PARÂMETROS DOS MATERIAIS
sobreadensamento em uma camada de solo.
Enquanto o valor da compactação for superior à Como dados de entrada para os
tensão vertical atuante na camada considerada, o dimensionamentos, foram utilizados os
efeito da compactação prevalece. parâmetros de um dos solos (granular) e de três
Ehrlich & Mitchell (1994) desenvolveram seu geogrelhas estudados por Pinho Lopes (1998),
método considerando um modelo hiperbólico conforme as Tabelas 2 e 3, respectivamente. As
elástico não-linear para a relação tensão x geogrelhas avaliadas são geogrelhas uniaxiais
deformação do solo que permite a análise dos em polietileno de alta densidade (PEAD), que se
esforços induzidos pela compactação por meio diferenciam entre si pela sua espessura e
de equações fechadas. resistência à tração.
Por meio de ábacos desenvolvidos pelos No dimensionamento, é preciso adotar um
autores, é possível relacionar os dados obtidos fator de redução total (RFT) para a resistência à
com a máxima tensão desenvolvida nas tração do reforço (fornecida pelo fabricante),
inclusões. A configuração final é obtida por meio resultando na resistência de cálculo. O FRT é
de um processo iterativo. obtido pela multiplicação de fatores de redução
A estabilidade ao arrancamento é verificada parciais referentes a cada fator que influencia na
como nos métodos de equilíbrio limite perda de resistência. Os valores utilizados foram
anteriormente apresentados. O fator de baseados nas recomendações de Ehrlich et al.
segurança usualmente especificado é de 1,5 (2015). São eles: fluência (2,0); danos mecânicos
(Ehrlich et al., 2015). de instalação (1,15); degradação ambiental (1,2)
Allen et al. (2003) consideram que métodos e incertezas estatísticas relacionadas ao ensaio de
de equilíbrio limite são excessivamente tração (1,04). Assim, o FRT adotado foi de 2,87.
conservadores para o dimensionamento interno
de muros de solo reforçado com geossintéticos. Tabela 2. Peso específico e ângulo de atrito do solo (Pinho
Lopes, 1998)
Como alternativa, os autores apresentaram o
mín máx (Dr = 50%) ϕ (Dr = 50%)¹
método “K-Rigidez” (K-Stiffness Method) que, (kN/m³) (kN/m³) (kN/m³) (°)
segundo eles, fornece melhores estimativas dos 15,0 17,90 16,45 35,7
esforços instalados nos elementos de reforço, ¹Tensão normal de 38kPa.
conduzindo a estruturas mais econômicas.
Grande parte da formulação desenvolvida por Tabela 3. Propriedades mecânicas das geogrelhas
Allen et al. (2003) foi baseada em resultados utilizadas (Pinho Lopes, 1998), apresentando resistência
característica (Rk) e de cálculo (Rd).
empíricos e análises de regressão, para solos Rk Rd
granulares. O dimensionamento é feito por meio Geogrelha
(kN/m) (kN/m)
de uma única equação que determina o esforço GGunx1 55,0 19,16
máximo de tração em cada nível de reforço GGunx 2 80, 27,87
(Eq. (6)). GGunx 3 120,0 41,81
296
4 GEOMETRIA DO MURO Tabela 4. Configurações do muro obtidas segundo
diferentes métodos de dimensionamento interno. Detalhes
da faixa de profundidade (FP), do espaçamento vertical
O muro em estudo possui face vertical, base (Sv), da geogrelha (GG) utilizada e sua respectiva
horizontal e topo plano. Por ser uma ordem de quantidade unitária (N) e do comprimento dos reforços
grandeza comumente encontrada em obras desse (Lr).
tipo, a altura adotada foi de 10 m. Para o solo Método
FP Sv GG N Lr
contido e da base de fundação foram (m) (cm) (m)
considerados os mesmos parâmetros do solo do FHWA 0 - 3,6 120 GGunx1 3 7
muro, com peso específico de 16,45 kN/m³ (2009) e 3,6 - 5,2 80 GGunx1 2 7
(Dr = 50%). O faceamento escolhido foi o bloco AASHTO 5,2 - 7,6 80 GGunx2 3 7
Lock & Load. (2007)
7,6 - 10 80 GGunx3 3 7
0 - 4,8 80 GGunx1 6 6
NCMA
4,8 - 8 80 GGunx2 4 6
5 RESULTADOS (2010)
Solução 1 8 - 9,6 80 GGunx3 2 6
A Figura 2 apresenta a solução encontrada pelo 9,6 - 10 40 GGunx3 1 6
método da FHWA (2009)/AASHTO (2007). 0 - 4,8 120 GGunx2 4 6
NCMA
Também é apresentada a configuração genérica 4,8 - 8 80 GGunx2 4 6
(2010)
do muro, com a face em Lock&Load e drenagem Solução 2 8 - 9,6 80 GGunx3 2 6
com um dreno vertical de brita. 9,6 - 10 40 GGunx3 1 6
Os resultados dos demais métodos se 0 - 6,4 160 GGunx3 4 6
diferenciaram no comprimento, quantidade, NCMA
6,4 - 8,8 120 GGunx3 2 6
espaçamento e escolha das geogrelhas, conforme (2010)
Solução 3 8,8 - 9,6 80 GGunx3 1 6
apresentado na Tabela 4. 9,6 - 10 40 GGunx3 1 6
Jewell 0 - 9,6 80 GGunx3 12 9,6
(1991) 9,6 - 10 40 GGunx3 1 9,6
0 - 1,6 80 GGunx1 2 7,7
Ehrlich e 1,6 - 4,8 80 GGunx1 4 5,5
Mitchell 4,8 - 7,2 80 GGunx2 3 5,5
(1994)
7,2 - 9,6 80 GGunx3 3 5,5
9,6 - 10 40 GGunx3 1 5,5
Allen et al. 0 - 9,6 120 GGunx1 8 5,5
(2003) 9,6 - 10 40 GGunx1 1 5,5
297
basicamente do material de reforço utilizado foram propostas 3 soluções para o método da
(tipo e quantidade). NCMA (2010).
Da Tabela 6 percebe-se que os valores para
Tabela 6. Estimativa do custo total das soluções obtidas métodos de equilíbrio local ficam na faixa de R$
segundo as diferentes metodologias de dimensionamento 2.000,00/m à R$ 3.000,00/m e que, portanto,
(GG-Geogrelha; Qd-Quantidade de reforço)
variar resistências e espaçamentos, como feito
Custo
Qd
parcial
Custo final para as soluções 1, 2 e 3 da NCMA (2010), gera
Método GG
custos semelhantes, porém, decrescentes com o
m²/m R$/m R$/m
aumento da resistência das geogrelhas
FHWA GGunx1 35 R$1.029,00 escolhidas.
(2009) e
R$2.617,65
AASHTO GGunx2 21 R$695,94
(2007) GGunx3 21 R$892,71 6.2 Método de equilíbrio global
NCMA GGunx1 36 R$1.058,40
O Método de Jewell (1991) foi o mais
(2010) GGunx2 24 R$795,36 R$2.618,94
Solução 1 GGunx3
conservador em comprimento de inclusões
18 R$765,18
(numa relação de quase 1/1 com a altura), em
NCMA GGunx2 48 R$1.590,72 espaçamento entre geogrelhas e em resistência
(2010) R$2.355,90
Solução 2 GGunx3 18 R$765,18
requerida.
Como o comprimento para a verificação da
NCMA
(2010) GGunx3 48 R$2.040,48 R$2.040,48 estabilidade interna foi maior que o obtido para
Solução 3 prevenir o deslizamento pela base, aquele foi
Jewell adotado para toda altura do muro, conforme
GGunx3 124,8 R$5.305,25 R$5.305,25 critério apresentado pelo autor.
(1991)
GGunx1 37,4 R$1.099,56 Pelo fato de a análise ser global, não sendo
Ehrlich e
Mitchell GGunx2 16,5 R$546,81 R$2.581,59 avaliada camada a camada, foi necessário
(1994) utilizar a geogrelha mais resistente (GGunx3) em
GGunx3 22 R$935,22
todos os níveis.
Allen et.
GGunx1 49,5 R$1.455,30 R$1.455,30
al (2003)
6.3 Métodos em condições de serviço
298
6.4 Comparação de dados medidos em uma mais relevante. Ambos os métodos apresentam
estrutura real com previsões FS inferiores àqueles previstos pelo método K-
Rigidez, o que indica um maior
Nesta seção são comparados dados de conservadorismo.
monitoramento de uma estrutura real com as
0
previsões de diferentes métodos para se AASHTO (2007) Medidas de campo
1
quantificar o grau de segurança da estrutura. Foi K-Stiffness (2003) Ehrlich e Mitchell (1994)
2
selecionado um muro de 10,7 m de altura,
Profundidade (m)
3
dimensionado com o método K-rigidez (Allen et
4
al., 2003). Os dados de monitoramento da
5
estrutura, bem como os parâmetros do solo e
6
reforços utilizados, são apresentados por Allen
7
& Bathurst (2014) e servirão de base para as
8
comparações.
9
O muro foi construído com 17 camadas de
10
reforço e três tipos diferentes de geogrelha. As 0 2 4 6 8 10 12
camadas 3, 6, 10 e 14 foram instrumentadas para FSrup
medida de deformação ao longo de seu Figura 3. Comparativo do fator de segurança quanto à
comprimento e posteriormente as medidas foram ruptura do reforço entre a previsão dos métodos da
transformadas em força, utilizando o valor AASHTO (2007), K-stiffness (2003), Ehrlich & Mitchell
(1994) e as medições em campo (Allen & Bathurst, 2014).
apropriado para a rigidez do reforço. Dessa
forma foi possível obter as máximas forças em
O método K-Rigidez é o que apresenta fatores
cada um dos níveis instrumentados.
de segurança mais próximos aos valores de
A máxima força de tração medida foi
campo, mas ainda assim inferiores a estes, ou
comparada com a resistência de cálculo em cada
seja, a favor da segurança. Porém, convém
nível avaliado, sendo obtido o fator de segurança
destacar que o método K-Rigidez pode se
em relação à ruptura do reforço. Este fator de
mostrar contra a segurança, como mostrado por
segurança foi também calculado com relação à
Mirmoradi & Ehrlich (2015, 2017) e Mirmoradi
máxima carga prevista pelos métodos da FHWA
et al. (2016), em função de fatores não
(2009) /AASHTO (2007), K-Rigidez (Allen et
considerados no método como compactação do
al., 2003) e de Ehrlich & Mitchel (1994). Para os
solo, restrição à movimentação lateral da base do
dois primeiros métodos os valores de Tmax foram
faceamento, e rigidez do faceamento, Assim, por
extraídos de Allen & Bathurst (2014). Como
se tratar de um método empírico, para sua
nada foi dito sobre a forma de compactação na
aplicação deve-se atentar para a faixa de
construção do muro em análise foi assumido o
condições em que o desenvolvimento do método
uso de um rolo vibratório para a previsão pelo
foi baseado.
método Ehrlich & Mitchel. Os resultados são
apresentados na Figura 3.
Assim como feito por Mirmoradi & Ehrlich
7 CONCLUSÃO
(2017), os cálculos consideraram o ângulo de
atrito triaxial (φtx = 38°) para o método da
A partir dos resultados obtidos conclui-se que os
AASHTO e o ângulo de atrito em estado plano
métodos em condições de serviço e de equilíbrio
de deformação (φps = 41°) para os métodos K-
local para muros de grande altura tendem a
Rigidez e de Ehrlich & Mitchel para que a
apresentar soluções e custos semelhantes.
comparação dos métodos fosse feita de forma
Entretanto, os métodos em condições de serviço
consistente. Ambos os valores são fornecidos
são um pouco mais econômicos e mais realistas
por Allen & Bathurst (2014).
por considerarem o comportamento tensão x
A Figura 3 ilustra que os métodos da
deformação do maciço e o efeito da compactação
AASHTO (2007) e de Ehrlich & Mitchel (1994)
no solo. Os métodos convencionais de equilíbrio
se aproximam, diferindo nas camadas
limite são mais conhecidos e utilizados, porém,
superiores, em que o efeito da compactação é
podem subdimensionar os esforços no reforço
299
nas camadas mais rasas. Os métodos de os/PrecosUnitarios.aspx, acessado em: 28/10/2017.
equilíbrio global são os mais conservadores e FHWA (2009). Design and Construction of Mechanically
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diretamente na máxima tensão induzida no NCMA (2010). Design Manual for Segmental Retaining
reforço. Walls, 3rd Edition, Publication No. TR 127B, National
Concrete Masonry Association, Herndon, VA.
Portanto, o método de dimensionamento Mirmoradi, S. H. & Ehrlich, M. (2015). Numerical
utilizado em projeto impacta na solução e no evaluation of the behavior of GRS walls with segmental
custo final da obra, sendo preciso avaliar qual é block facing under working stress conditions. Journal
o mais representativo das condições de campo. A of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
tendência, com uma maior quantidade de v.141, n.3, p. 04014109.
Mirmoradi, S.H. & Ehrlich, M. (2017). Effects of facing,
estruturas monitoradas, é se desenvolver reinforcement stiffness, toe resistance, and height on
metodologias mais consistentes que possam reinforced walls. Geotextiles and Geomembranes,
resultar em estruturas econômicas e seguras. v.45, n.1, p.67–76.
Contudo, por enquanto, o projetista deve ser Mirmoradi, S. H.; Ehrlich, M.; Dieguez, C. (2016).
cuidadoso na seleção do método de Evaluation of the combined effect of toe resistance and
facing inclination on the behavior of GRS walls.
dimensionamento. Geotextiles and Geomembranes, v.44, n.3, p.287–294.
Oliveira, Micaela; Mendonça, Agostinho; Lopes, M.
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300
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The engineering routine is built on the search for safe and, above all, economically
feasible technical solutions. Over the past decades, the application of the geosynthetics has had a
strong growth, usually in soil reinforcement, since suitable lands to construction become less
common. This study aims to present the solution designed to allow access to the silo feeder of the
primary crusher of a mining company, which, due to the initial topographic conditions, presented
the execution of a 10 meters elevation. The unevenness was overcome by building an access ramp
with landfill and execution of a large reinforced soil wall with a vertical face made with soil-cement
bags. It allowed the access of the trucks that perform the tipping operation of the material to be
crushed. In order to characterize the foundation land and the soil used in the wall construction, the
301
specific gravity of soil solids test, direct shear test and compaction test were performed. The
geotechnical study was used to model using the software Geo5, which enabled the prediction of
tensile stresses in the reinforcement elements. The stresses were analyzed at each depth, allowing
the definition of three geogrid types. The methodology adopted in this project allowed overcoming
the elevation in a safe and technically viable way, with speed of execution and application of
different types of reinforcements.
302
tecnologias (Ananias et al., 2017) um grande muro de solo reforçado com
Um caso que apresentou o uso dessas geogrelha e face sub-vertical de solo-cimento
tecnologias para solução de problemas ensacado, de altura variando desde zero até 10,0
geotécnicos, foi a aplicação do sistema de metros e comprimento da base de
contenções em solo reforçado e a combinação aproximadamente 40 metros. A rampa de
de terramesh system e geogrelhas. Essa acesso tem 10 metros de largura e, na direção
metodologia foi utilizada na área da mineração de sua execução, foi adotado um painel
no munícipio de Alto Horizonte/GO. O projeto metálico de dimensões 10x10m. Dessa forma,
consistiu no desenvolvimento de contenção de além da garantia da segurança em relação à
uma unidade de britagem com desnível crítico ruptura, as características relacionadas à
de 20 metros de altura, gerando diversos utilização e proteção do conjunto, também
benefícios para o empreendimento e sendo foram determinantes.
fundamental para o incentivo de pesquisas A Figura 2 mostra a vista frontal do muro
sobre o comportamento de longo prazo em adotado, onde as dimensões estão em metros e a
contenções de solo reforçado, especialmente parte hachurada representa a face sub-vertical
sobre grandes carregamentos e grandes alturas de sacaria.
(Ananias et al. 2017)
A aplicação de muros de solo reforçado pode
estar associada a outras práticas de contenção
de encostas como faceamento de solo-cimento
ensacado. Essa técnica apresenta baixo custo
por não requerer mão de obra especializada,
além da facilidade de execução do muro com
forma curva, adequabilidade do uso de solos Figura 2. Vista frontal do muro reforçado.
residuais e proteção contra erosões do solo
(Gerscovich, 2008). 2.2 Estudo Geotécnico
Seguindo a linha de implementação de
sistemas de contenção de solo reforçado e Com o objetivo de caracterizar o terreno de
geotéxteis, o presente trabalho visa apresentar a fundação e o solo empregado na construção do
aplicação da técnica de solo reforçado com muro, extraído de jazidas próximas, foram
geogrelhas e faces verticais de solo-cimento executados ensaios de Massa específica dos
ensacado, como solução concebida para sólidos, Compactação e Cisalhamento direto
possibilitar o acesso ao silo alimentador do inundado, seguindo as normas específicas. Os
britador primário de uma mineradora, que, ensaios realizados durante o estudo e seus
devido às condições topográficas iniciais do respectivos referenciais teóricos estão dispostos
terreno, apresentou como premissa de projeto a na Tabela 1.
execução de um desnível de grande altura,
superado com a construção de uma rampa de Tabela 1. Referenciais teóricos para ensaios.
acesso na forma de aterro. Ensaios Referência Normativa
Preparação da Amostra NBR 6457/16
Massa Específica dos Sólidos ASTM D854/14
Compactação NBR 7182/16
2 MATERIAIS E MÉTODOS Cisalhamento Direto ASTM D3080
303
Tabela 2. Resultados do estudo geotécnico. função do tráfego de caminhões.
Ensaios Resultados
Massa específica dos sólidos 3,46 g/cm³ 2.4 Dimensionamento do Muro Reforçado
Compactação
Umidade ótima 19,7% O dimensionamento foi realizado em duas
Massa específica aparente seca máxima 1,73 g/m3 etapas: verificação do equilíbrio externo e
Cisalhamento Direto dimensionamento dos reforços na ruptura.
Coesão 29 kPa Todas as etapas foram realizadas com o auxílio
Ângulo de atrito 35,2º do software Geo5.
304
a coesão e de 1,2 para o ângulo de atrito,
conforme indicado por Geo-Rio (2000).
Quanto ao espaçamento dos reforços, foi
adotado um espaçamento vertical de 60 cm
entre as camadas de geogrelha.
305
anteriormente, percebe-se também que foram Tabela 6. Comparação dos Fatores de Segurança (FS)
adotados dispositivos de drenagem no tardoz do para a Seção 2.
FS FS FS
paramento. Para a seção 1, com chapa metálica, Modo de Ruptura
Mínimo Drenado Saturado
foi empregada uma camada de areia de Tombamento 2,00 8,80 18,68
espessura de 20 cm. Além disso, o detalhe
Deslizamento 1,50 6,35 12,26
indica a utilização de um tubo perfurado
Capacidade de Carga
“karanet” de 100mm de diâmetro, com Admissível
1,00 1,29 2,00
inclinação de 1%, que deve ser conectado no Deslizamento ao longo da
sistema de drenagem. Para a seção 2 e 3, foram 1,50 2,08 -
geogrelha
utilizados tubos de PVC perfurados de 50mm Resistência à tração do
1,50 2,30 2,30
de diâmetro e comprimento de 110 cm, que reforço
devem ser envolvidos com geotêxtil e ter Arrancamento 1,50 15,10 13,78
espaçamento vertical e horizontal de 1,20m. Estabilidade Global 1,50 1,55 1,74
306
geogrelhas com menores resistências e REFERÊNCIAS
reduzindo assim o custo da obra.
Ressalta-se, de toda forma, que o peso do ABNT (2016). NBR 6457: Amostras de solo –
solo sobre o reforço apresenta um aumento na Preparação para ensaios de compactação e ensaios
de caracterização. Associação Brasileira De Normas
eficiência da ancoragem da geogrelha. As Técnicas, São Paulo, 8p.
contenções mais altas, apesar do acréscimo de ABNT (2006). NBR 11682: Estabilidade de encostas.
empuxo, mostraram menor relação L/H. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Os fatores de segurança obtidos na Janeiro, 27p.
verificação da estabilidade mostraram que as ABNT (2016). NBR 7182: Ensaio de Compactação.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, São
geogrelhas adotadas atendem bem a todos os Paulo, 9p.
modos de ruptura analisados, sendo mais ASTM (2014). D854 – 14: Standard Test Methods for
solicitadas no que tange aos próprios esforços Specific Gravity of Soil Solids by Water Pycnometer.
de tração e também à estabilidade global da American Standard Test Methods, Pensilvânia, USA,
estrutura e aos esforços na fundação, a qual 7p.
ASTM (2014). D3080: Standard Test Method for Direct
apresentas as mesmas propriedades geotécnicas Shear Test of Soils Under Consolidated Drained
do aterro reforçado. Conditions. American Standard Test Methods,
Para fins de servicibilidade, recomenda-se, Pensilvânia, USA, 7p.
de acordo com a norma britânica BS 8006, Ananias, E. J.; Campos, G. O.; Silveira, J.E.S. Muro de
compactação de grande energia, de modo a contenção em terramesh e geogrelhas para a
contenção de britagem primária em mineração - Alto
mobilizar a maior parcela das tensões e Horizonte/GO. http://igsbrasil.org.br/wp-content/
deformações durante o processo. uploads/2017/12/CCO-2014-Muro-de-conten%C3%
A7%C3%A3o-emterramesh-e-geogrelhas-para-a-
conten%C3%A7%C3%A3o-de-britagem-prim%C3%
5 CONCLUSÃO A1ria-emminera%C3%A7%C3%A3o.pdf, acesssado
em 01/05/2019.
Ananias, E. J. ; Texeira, A. M. ; Duran, J. S. O Uso
O estudo apresenta a aplicação da técnica de Crescente de Solos Reforçados para Contenções em
solo reforçado com geogrelhas e face sub- Áreas Urbanas: Uma Ênfase aos 20 Anos da Solução
vertical de solo-cimento ensacado em um muro Terramesh no Brasil. In: 5a Conferência Brasileira de
de altura máxima de 10 metros. Os resultados Estabilidade de Encostas, 2009, São Paulo. 5a
Conferência Brasileira de Estabilidade de Encostas,
das análises e da própria obra demonstram que 2009.
a utilização de geogrelhas de alta resistência e BS 8006 (2010). Code of Practice for Strengthened and
baixa fluência, aliada a uma compactação bem Reinforced Soils and Other Fills. British Standard,
feita, resulta em estruturas que atendem ao Londres, Inglaterra, 260p.
requesitos de segurança ao colapso e Ehrlich, M. & Becker, L. (2009). Muros e Taludes de
Solo Reforçado: projeto e execução. 1ª ed. Oficina de
funcionalidade. Além disso, foi evidente a Textos, 128p.
influência do peso da estrutura nas relações L/H Elias, V.; Christopher, B.R. & Berg, R.R. (2001)
e o aumento da resistência dos reforços quando Mechanically Stabilized Earth Walls and Reinforced
em presença de solos finos. Soil Slopes. Design and Construction Guidelines.
Federal Highway Administration, Washington, DC,
USA, 394 p.
Geo-Rio (2000). Manual Técnico de Encostas: Análise e
AGRADECIMENTOS Investigação. Secretaria Municipal de Obras.
Fundação Instituto de Geotécnica do Município do
Os autores prestam agradecimento ao Grupo de Rio de Janeiro. Vol 3. 2ª ed. Rio de Janeiro.
Pesquisa INFRAGEO – Infraestrutura de Vias Gerscovich, D. M. S. Estruturas de Contenção - Muros
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Terrestres e Obras Geotécnicas e ao DTECH – Arrimo. 2008 (Notas de Aula).
Departamento de Tecnologia em Engenharia Koerner, R. M. (1998). Designing With
Civil, Computação e Humanidades da Geosynthetics (4th ed.). Prentice Hall, Inc., New
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São Carlos, Universidade de São Paulo, 236p.
308
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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The qualitative aspects of the soil added to the environmental and economic criteria
involving the geotechnical works, induce the technical means to search for solutions to improve its
mechanical performance. In this context, soil reinforcement methodology is used. It can be
understood as an improvement of soil characteristics through physical or chemical processes.
Therefore, it’s convenient to study the behavior of the local soil, as well as to use alternative
techniques to improve it. In this way, the article tries to evaluate the effects caused by the inclusion
of polypropylene fibers in contents of 0.25%, 0.50% and 0.75%. For this analysis were performed
the Physical Characterization, Compaction, California Bearing Ratio (CBR) and Compression tests.
Based on the tests results, a little decreasing of the composite dry mass and the upgrade of CBR
levels were observed. Concerning the mechanical behavior, the percentage of fibers added to the
soil revealed significant gains on the results. Finally, the results showed the advantages of adding
fiber in the soil analyzed, displaying the 0,25% level as the most appropriate percentage based on
the analysis accomplished and assisting the measurement of the geotechnical structures parameters.
309
essenciais para garantir à estrutura o suporte polipropileno.
eficaz frente aos carregamentos impostos. Sabe
- se que as ações intempéricas e os processos de 2.1.1 Solo
evolução do solo estão diretamente ligados à
variabilidade do seu comportamento mecânico, O solo a ser utilizado na pesquisa foi definido a
fazendo com que o mesmo, em condições partir de dois critérios, o primeiro tem a ver
naturais, não alcance as exigências de projeto. com a oportunidade de direcionar o uso do solo
Dentre as soluções geotécnicas para a reforçado em um potencial projeto a ser
melhoria do desempenho mecânico do solo, executado na cidade de Palmas/TO (p. ex., BRT
podem ser citados os métodos de estabilização e Palmas-Sul) e o segundo soma-se ao anterior,
de reforço de solo.A técnica de reforço consiste pois, a partir da carta geológico-geotécnica
na inclusão de um novo elemento na massa de proposta por Santos L. (2000) foi estabelecido
solo, formando um compósito que permite uma qual solo era mais representativo para área em
redistribuição favorável dos esforços de tensão questão.
e deformação (PALMEIRA, 1987).
Neste aspecto, o desempenho mecânico 2.1.2 Fibra de polipropileno
apresentado pela amostra possui influência
direta de algumas características dos materiais A Fibra de Polipropileno utilizada foi a
constituintes como: (a) tipo de solo; (b) tipo de NeoFibra MF, doada pela empresa Neomatex -
reforço; (c) grau de interação existente entre os Comércio de Fibras e Têxteis Técnicos Ltda. As
elementos do compósito. fibras possuíam um comprimento de 6 mm,
De acordo com Palmeira (1987), a partir de diâmetro de 12 µm e área superficial específica
1960 houve um aumento do uso de fibras como de 366 m³/kg. Os teores utilizados na pesquisa
solução alternativa de material de reforço em foram os mesmos teores adotados por
problemas de engenharia, acarretando na Casagrande (2001), Casagrande e Consoli
redução da busca por outras técnicas mais (2002) e Trindade et al (2004) no estudo de
tradicionais, devido à priorização da economia, solos reforçados com fibras. Assim a presente
em termos orçamentários e executivos. pesquisa é realizada com base nos teores de
Devido ao processo de obtenção deste 0,25%, 0,50% e 0,75% em relação a massa seca
material, as fibras fazem parte do grupo dos de solo.
polímeros sintéticos dos “geotêxteis não tecido” Para que se evitasse a aglomeração das fibras
um subgrupo pertencente aos geossintéticos. durante a mistura, o material fibroso foi
Mano e Mendes (1999) afirma que as fibras adicionado de forma fracionada. Seguindo os
podem ser entendidas como um corpo flexível, procedimentos feitos por Casagrande (2001), os
pequeno, de formato cilíndrico, seção componentes foram adicionados na sequência
transversal reduzida e elevado fator de forma. solo, fibra e água, permitindo uma melhor
Comparado aos outros elementos de reforço mistura entre os materiais.
existentes (p.ex. metálicos, fibras naturais,
geogrelhas e geotêxteis tecidos), as fibras 2.2 Métodos
sintéticas possuem como vantagens a menor
interação química com outros elementos e a Para a obtenção dos resultados apresentados
versatilidade de aplicações como a drenagem, nesta pesquisa, foram realizados os principais
filtração e separação. ensaios de Caracterização Mecânica das
Amostras, sendo eles: os Ensaios de
Compactação, Índice de Suporte Califórnia e
2 MATERIAL E MÉTODOS Compressão.
310
para esta pesquisa com os resultados 2.2.2 Ensaios de Compactação
apresentados nas cartas geológico-geotécnicas
do Plano Diretor de Palmas/TO elaboradas por Visando o uso solo na pavimentação, de forma
Santos L. (2000) de forma a obter uma amostra a reduzir os esforços causados sobre o mesmo,
representativa da região de estudo. os ensaios de compactação serão voltados à
As análises táteis visuais do solo e os utilização desse material como componente das
ensaios de caracterização realizados em camadas finais de aterro de um pavimento.
laboratório apontaram para um solo com Neste contexto, a energia de compactação
características similares ao exposto por Santos utilizada nas amostras foi a Intermediária,
L. (2000). Solos com essas características seguindo os critérios da DNER-ME 129/94 –
representam cerca de 14% de todo o solo do Método B (DNER, 1994c) e NBR 7182
Plano Diretor de Palmas. (1986b). Conforme aponta Feuerharmel (2000),
O zoneamento pedológico da região estes ensaios são realizados com o intuito de
também indicou que o local de extração das apontar a diminuição da densidade máxima do
amostras é representado tipicamente por um compósito formado a partir da inclusão das
Latossolo Vermelho-Amarelo. Dessa forma, fibras sem, no entanto, modificar a umidade
foram assumidos neste presente estudo que as ótima do solo.
amostras de solo se tratavam de solos
lateríticos. 2.2.3 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
Para análise granulométrica da amostra,
foi traçado com base nos dados de Santos A. et As amostras com e sem a adição de fibras foram
al, conforme pode ser observado na Figura 1. submetidas ao CBR, conforme especifica a
DNER-ME 049/94 (DNER, 1994b) em seu
Método “B”. Estes ensaios definiram o
enquadramaento dos compósitos formados,
tanto técnico quanto econômico, para aplicação
como um material de suporte.
2.2.4 Compressão
311
material, os estudos visaram identificar o aglomerações de fibras, reforçando a hipótese
comportamento do solo com o embutimento das de uma faixa de teores úteis das fibras de
fibras nos teores de 0,25%, 0,50% e 0,75% em polipropileno, conforme citado por Beaudoin
massa seca de solo. (1990 apud Bernardi, 2003).
Dessa forma os solos com adição foram
comparados entre si no intuito de obter índices
que comprovassem a influência dos teores de
fibra nos mecanismos de interação do
compósito.
3.1.1 Classificação do Solo
312
influência das fibras nos índices de Tabela 3: Incrementos a partir da inclusão de fibras nas
compactação da seguinte forma: na diminuição Curvas CBR.
CBR Incremento
do peso específico do e na redução da umidade Teor de Fibras ω(%)
(%) Δ(%)
ótima. Entretanto, vale observar também que 9,55 22,2 -
estes resultados não modificam de forma 10,52 24,4 -
significativa as características de compactação 0,00% 13,03 26,3 -
entre o solo não-reforçado e reforçado. 4,49 28,4 -
2,56 30,2 -
3.2.2 Ensaios de ISC e Expansão 20,05 22,1 109,95
26,85 24,3 155,23
Com as amostras compactadas realizaram-se os 0,25% 26,71 25,8 104,99
ensaios de ISC. Os cilindros foram rompidos na 10,23 28,2 127,84
6,88 30,1 168,75
prensa CBR-Marshall automática e, a partir das
21,93 22,2 129,63
suas curvas pressão-penetração, foi possível 26,47 24,5 151,62
determinar o índice de suporte do solo analisado 0,50% 30,93 25,7 137,38
ao longo de toda a curva de compactação. Da 11,15 28,2 148,33
mesma forma, os dados de expansão foram 5,83 30,7 127,73
aferidos ao fim do período de imersão. 26,06 22,8 172,88
Os resultados das curvas de CBR com o 26,82 24,3 154,94
embutimento dos teores de fibras de 0,75% 36,77 25,6 182,19
polipropileno são apresentados na Tabela 3. 10,52 27,6 134,30
Nela é possível observar a atuação das fibras na 5,89 29,7 130,10
melhoria de desempenho do solo. Conforme se
Tabela 4: Expansões dos Compósitos com Fibras
pode observar, os incrementos de CBR (Δ) do
Teor (%) 0,25 0,50 0,75
solo com adição de fibras em relação ao CBR
Expansão (%) 0,12 0,17 0,08
do solo natural são superiores a 100% em
quaisquer um dos pontos analisados.
O conjunto dessas informações revela que os 3.2.3 Ensaios Compressão
maiores valores na curva do CBR foram
alcançados com o reforço de fibras no teor de Na confecção das amostras para os Ensaios de
0,75%. Resistência a Compressão Simples (RCS), os
As expansões apresentadas pelo solo com a corpos de prova foram concebidos a partir da
inclusão de fibras não obtiveram valores metodologia de compactação estática, proposta
significativos, com valores abaixo de 1%. por Werk (2000). Este método estabelece uma
Reschetti (2008) destaca que é característico de relação Altura - Diâmetro de 2:1, para as
solos lateríticos, apresentarem tendências amostras submetidas aos ensaios.
expansivas naturais baixas, conforme pode ser Um limitante percebido ao se realizar os
observado na Tabela 4. ensaios de RCS foi a impossibilidade da
Vale ressaltar que as taxas de expansão das mudança da configuração do equipamento
amostras não se comportam de forma utilizado para realizar as rupturas: a Prensa
proporcional ao aumento do teor de fibras. CBR Marhsall é programada para encerrar o
Santos A. et. Al (2018) também observaram que ensaio por tempo ou excesso de deformação, o
as taxas de expansão do solo pesquisado com a que ocorrer primeiro. Isto impossibilitou
adição de fibras de polipropileno, apontaram conhecer o comportamento residual do
reduções nas taxas de expansão de 64% em compósito após sua ruptura e,
relação ao solo natural. consequentemente, analisar a atuação das fibras
na tensão de escoamento dos compósitos.
As rupturas aconteceram em média próximo
à deformação de 5% e, para alguns teores de
fibras, houve o aumento da RCS nos
compósitos com a adição das fibras de
313
polipropileno. reforçado em quaisquer um dos teores
O ganho com a inclusão de fibras para o analisados. Entretanto, foi observado que um
melhor teor foi superior a 25% nas tensões aumento gradativo do teor de fibras tende a
máximas suportadas, com uma média de diminuir o peso específico do solo. Reschetii
resistência de pico em torno de 519 kPa, (2008) cita que esta redução do peso específico
enquanto que o solo sem a adição de fibras não é devido ao fato de que as fibras são um
ultrapassou os 370 kPa. As resistências material de menor massa específica que o solo.
máximas foram alcançadas nos teores de 0,25% O melhor desempenho apontado pela
e 0,50%. Entretanto, houve o decréscimo da inclusão de fibras foi nos ensaios de CBR. As
RCS com o aumento gradativo dos teores de amostras resultaram em poucas expansões,
fibras, com o teor de 0,75%, embora ainda sendo os valores mais altos registrados para o
apresentassem um valor superior ao solo sem teor de 0,75%, no entanto, ainda inferiores a
fibras. 2%.
Os resultados encontrados nessa pesquisa O índice de suporte apresentado pelo solo
são similares aos trabalhos realizados por sofreu incrementos para todos os teores de
Feuerharmel (2000). Os valores de RCS fibras adicionados, aumentando gradativamente
encontrados estão resumidos na Figura 4. Como com o teor de fibras. Neste contexto destaca-se
pode ser observado, devido a distribuição o teor de 0,75%.
aleatória das fibras no compósito fica É importante ressaltar que, embora a
perceptível a variabilidade dos resultados distribuição das fibras seja aleatória, a sua ação
obtidos. se dá com maior ou menor eficiência a partir do
seu posicionamento em relação à força
solicitante, sendo mais eficaz quando a atuação
do esforço ocorre perpendicular à sua posição
no solo.
Em relação ao ensaio de Resistência à
Compressão Simples, o incremento de
resistência foi em teores pontuais. Os
compósitos alcançaram incrementos de
resistência em até 40% da tensão máxima
suportada pelo solo natural. Dos teores
analisados, as amostras com teor de fibras de
0,50% apresentaram a maior resistência.
Figura 41: Resistência média à Compressão Simples nos Em linhas gerais, as amostras com teor de
teores analisados, SOUSA (2016). 0,75% apresentaram a menor resistência entre
os compósitos, fato este ocasionado pelo
surgimento de regiões com maior concentração
4 DISCUSSÃO de fibras, ocasionando menores coesões entre os
materiais. Em alguns casos, as atuações das
Com o intuito de se criar metodologias fibras em pontos críticos proporcionaram
alternativas para o reforço de solo, a pesquisa maiores deformações das amostras em conjunto
tratou de direcionar para ensaios e verificações com o aumento da carga suportada, como visto
no intuito de se estabelecer um teor de mistura no teor de 0,25% e 0,75%.
ideal para um solo típico da região. Conforme
característica da amostra, provou-se que o solo 5 CONCLUSÃO
coletado e analisado seria referente à região,
conforme apontado nos estudos de Santos L Por serem pioneiros na análise das
(2000). condicionantes locais para reforço de solos com
A inclusão das fibras no solo não alterou a inclusão de fibras, os estudos auxiliaram na
significativamente as características de obtenção de parâmetros de dimensionamento
compactação entre o solo reforçado e o não- locais das estruturas para obras geotécnicas
314
Com base nos resultados analisados, DNER (1994b). ME 049/94: Solos – Determinação do
concluiu-se que o emprego das fibras de Índice de Suporte Califórnia Utilizando Amostras
Não Trabalhadas. Departamento Nacional De
polipropileno para um solo silto argiloso da Estradas De Rodagem, Rio de Janeiro, p. 14.
região de Palmas/TO pode ser empregado como DNER (1994c). ME 129/94: Solo - Compactação
componente de uma mistura para reforço de Utilizando Amostras Não Trabalhadas. Departamento
subleito ao atribuir ao solo as características Nacional De Estradas De Rodagem, Rio de Janeiro, p.
necessárias para a composição desta camada. 7.
Feuerharmel, M. R. (2000). Comportamento de Solos
Nos casos analisados, o melhor Reforçados com Fibras de Polpropileno. Dissertação
desempenho mecânico para os compósitos solo- de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
fibra foi para as misturas em que os teores Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
estavam em 0,25%. O teor de 0,75% mostrou-se Grande do Sul, 133p.
inviável devido à fragilidade ocasionada pela Mano, E. B.; Mendes, L. C. (1999). Introdução a
Polímeros (2ª ed.). Editora Edgard Blücher Ltda., São
concentração excessiva de fibras na mistura. Paulo, p. 208.
Por fim, a viabilidade financeira dessa Palmeira, E. M. (1987). The Study of Soil-Reinforcement
utilização nas técnicas de pavimentação e os Interaction by Means of Large Scale Laboratory
procedimentos para mistura do material em Tests.1987. Tese de Doutorado, Programa de Pós-
grandes quantidades ainda deve ser estudada. Graduação em Engenharia Civil, Universidade de
Oxford, 234 p.
Sugere-se ainda a execução de estudos Reschetti Júnior, P. R. (2008). Avaliação do
investigativos complementares para o solo Comportamento Mecânico de um Solo Arenoso Fino
como os ensaios oedométricos. Laterítico Reforçado com Fibras para Uso em
Pavimentação. Dissertação de Mestrado, Programa de
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ABNT (1992). NBR 12770: Solo Coesivo - Brasília, 176 p.
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da Compressão Simples de Amostras. Departamento Graduação em Engenharia Civil. Universidade
Nacional De Estradas De Rodagem, Rio de Janeiro, p. Federal do Rio Grande do Sul, 118 p.
11.
315
316
Geossintéticos na Infraestrutura Rodoviária e Ferroviária
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: This paper investigates the influence of the presence of geosynthetic reinforcement to
reduce the loads transmitted to buried pipes from localized surface surcharges. Model tests (1:4
scale) were carried out using different reinforcement arrangements, such as a horizontal
reinforcement layer above the pipe, inverted U arrangement around the pipe and the reinforcement
completely enveloping the pipe. Three types of reinforcements were tested with varying values of
tensile stiffness. Significant reductions in vertical stresses transmitted to soil close to the pipe were
also observed depending on the reinforcement configuration employed. Furthermore, it was
observed that the presence of the reinforcement caused significant reductions of strains in the tube
in comparison with the situation without the reinforcement.
319
com perdas materiais significativas e, não 2 MATERIAIS E MÉTODOS
raramente, perdas de vidas.
Por exemplo, em 2018, ocorreu uma série Os ensaios foram realizados em uma caixa de
de incêndios e explosões no norte do estado de aço rígida com dimensões de 1500 mm de
Massachusetts, Estados Unidos. O incidente foi comprimento, 500 mm de largura e 500 mm de
provocado pela sobrecarga do sistema de altura. Nesta caixa, a massa de areia foi
distribuição de gás natural, onde a companhia preparada usando a técnica de chuva de areia
responsável lançou gás sob alta pressão em um para obter uma massa de solo densa e uniforme.
sistema de distruibuição de gás que opera sob A face frontal da caixa era consitituída
baixa pressão. Diversas estruturas foram por uma placa de acrílico transparente de modo
danificadas e outras ficaram destruídas a possibilitar uma melhor visualização do
completamente pela explosão, como mostrado mecanismos de falha, campo de deslocamentos
na Figura 1. do maciço e do duto. Deste modo, foram
instalados marcadores e linhas de areia
coloridas horizontais junto a face transparente e
fez-se uso de técnica fotográfica para o registro
de tais comportamento ao longo do ensaio.
A sobrecarga foi aplicada na superfície do
aterro por meio de uma placa rígida, com
largura de 100 mm, simulando condições de
deformação plana. A Figura 2 ilustra a
configuração do ensaio.
320
colados na sua superficie externa. Os sinais determinar a tensão máxima de suporte do solo.
emitidos pelos instrumentos foram adquiridos
por um sistema de aquisição de dados Spider-
HBM, conectado a um microcomputador. 2.1 Materiais
O programa experimental desta pesquisa
consistiu na realização de ensaios em escala O solo utilizado em todos os testes para
reduzida variando o tipo de reforço e os construção do aterro foi uma areia uniforme
arranjos de instalação dos mesmos. O arranjo de com diâmetros de partículas variando entre
reforço mais simples consistiu em uma camada 0,075 mm e 1,2 mm (areia fina a média), sendo
horizontal (459 mm de comprimento = 6 classificada como SP no Sistema Unificado de
diâmetros do tubo) instalada a uma Classificação de Solos. As propriedades desta
profundidade de 76,5 mm (Figura 3a). areia estão apresentadas na Tabela 1.
Os outros dois arranjos testados
consistiram em U invertido (Figura 3b) e uma Tabela 1. Propriedades do solo.
forma de disposição em queo reforço envolve Propriedades
totalmente o tubo (Figura 3c), denominado de Densidade dos grãos 2,64
Coeficiente de uniformidade 1,81
arranjo envelopado. Coeficiente de curvatura 0,95
Peso especifico seco máximo (kN/m³) 14,8
Peso especifico seco mínimo (kN/m³) 17,1
Peso específico (kN/m³) 16,7
Ângulo de atrito (°) 35 – 43(*)
Coesão (kPa) 0
Densidade relativa (%) 80
(*) Dependente do nível de tensões considerado.
321
tração, identificadas por R1, R2 e R3. As 250
propriedades mecânicas foram obtidas em σSR = 218.4 kPa
ensaios de tração (ASTM D6637) e são 200 σv
Tensão verticcal(kPa)
apresentadas na Tabela 2. 150
Tensão vertical(kPa)
300
250
3 RESULTADOS
200
150 R1
Com base nos resultados fornecidos pela 100 R2
instrumentação empregada nos ensaios 50 R3
realizados em modelos, foi possível analisar a 0
interação solo-duto, no que se refere à Camada U invertido Envelopado
distribuição de tensão no solo e deformações Configuração do reforço
sofridas pelo tubo em decorrência da sobrecarga (b)
vertical aplicada na superfície. σh
15
A tensão vertical máxima (σsr) aplicada na σSR =14.0 kPa
superfície do solo no teste não reforçado foi 13
Tensão horizontal(kPa)
40
As Figuras 4a-d apresenta os valores de tensão
no solo medidas pelas células de tensão nos 30
322
No que diz respeito a região abaixo do carregamento aplicado na superfície do aterro.
tubo, pode-se notar que nos ensaios sem a A Figura 5a-c mostra a distribuição de
presença do reforço a tensão máxima no solo deformações ao longo do perímetro do tubo nos
foi de 218 kPa, entretanto sob condições ensaios não reforçado e reforçados para um
reforçadas verificou-se uma redução nível de tensão máxima de 162 kPa (σsr)
significativa dos esforços no maciço reforçado aplicado na superfície do solo.
ao longo de todo ensaio comparado ao ensaio EXT 0°
não reforçado, principalmente nos arranjos U 600
invertido e envelopado (Figura 4a). 300 EXT 45°
0
Os maiores valores de tensões foram
-300
registrados na região da célula 02. Na condição
-600
não reforçada, a tensão máxima registra é de EXT 270° -900 EXT 90°
aproximadamente 415 kPa. Em contrapartida,
nos ensaios reforçados as tensões variam entre
cerca de 100 a 360 kPa.
Portanto, de acordo com os resultados EXT 225° EXT 135°
323
em sua seção central. Convencionou-se que as
deformações de compressão são indicadas com A inserção do reforço no solo resultou em
sinal negativo e de tração com sinal positivo. efeitos benéficos, contribuindo favoravelmente
Uma distribuição bastante simétrica pode ser para a alteração do estado de tensões no maciço.
observada, com deformações de compressão no Ao avaliar simultaneamente todas as
topo e na base do tubo e deformação de tração variáveis deste estudo, foi possível verificar que
em outros locais. os reforços R2 e R3 apresentaram um bom
De acordo com os resultados dos ensaios desempenho em todos os ensaios,
não reforçados (SR), os pontos instrumetnados principalmente quando instalados com arranjo
para medição de deformação dos pontos de topo em U invertido ou envelopado.
(EXT 0°) e base (EXT 180°) do tubo Além disso, reduções de tensões verticais e
apresentaram os maiores valores sendo de 577 e horizontais foram observadas no solo ao redor
489 μm/m, respectivamente. do tubo, independentemente da configuração
Nos ensaios reforçados, tambem é assumida, com reduções de tensão vertical de
possível observar o mesmo comportamento, até 75% na região acima do topo do tubo.
com deformações de compressão no topo e Nos ensaios reforçados com arranjo
base. Vale ressaltar que a região de topo do envelopado houve reduções de até 74% nas
tubo apresentou os maiores valores de tensão no deformações no topo do tubo, enquanto na base
solo, mostrando a coerência quanto ao as deformações foram reduzidas em 65% em
comportamento do tubo solicitado. relação ao ensaio não reforçado.
Além disso, contatou-se que na presença Outro resultado importante diz respeito às
do reforço houve uma redução significativa nos deformações sofridas pelo tubo, onde se
valores de deformação nestas regiões, verificou que as principais deformações
principalmente nas configurações de U ocorreram no topo e na base, sendo estas
invertido e envelopado. deformações de compressão.
Nos testes com U invertido mostraram De modo geral, verificou-se que houve
que o uso do reforço R2 resultou, reduções nos valores de deformação de
majoritariamente, em menores valores de compressão no topo e base do tubo para as
deformações em todos os pontos avaliados em condições reforçadas, principalmente com o
relação aos demais testes (Figura 5b). Para esta emprego dos reforços R2 e R3. No que diz
configuração geométrica foram registradas respeito ao reforço R1, pode-se notar um
reduções de deformações de 40% no topo do comportamento similar à condição sem reforço.
tubo, enquanto na base as reduções alcançaram Nos ensaios reforçados com arranjos em U
aproximadamente 70%. invertido e envelopado houve reduções
Nos testes envelopados houve reduções significativas nas deformações no topo do tubo
de cerca de 75% e 65% nas deformações de em relação ao teste sem reforço. Esta conclusão
topo e base, respectivamente, em comparação pode ser atribuída ao confinamento lateral
ao ensaio sem reforço (Figura 5c). desses arranjos.
Nas laterais, verificou-se um aumento de
deformação nos ensaios reforçados em até 10%
no testes reforçados. Esse achado pode ser AGRADECIMENTOS
atribuído ao fato de que valores mais baixos de
tensões horizontais foram registrados nos testes Os autores agradecem ao Programa de Pós-
reforçados. Porém, outros aspectos podem ter Graduação em Geotecnia da Universidade de
contribuido nesse comportamento, como a Brasília e à Capes pelo apoio financeiro para o
influência da presença do tubo, a densidade do desenvolvimento da pesquisa.
solo nas laterais do tubo oriunda do metódo de
construção do aterro empregado. REFERÊNCIAS
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325
326
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: O pavimento é uma estrutura complexa no que diz respeito ao seu dimensionamento e à
previsão de seu desempenho. Nesse sentido, há uma crescente aplicação de geossintéticos no reforço
de bases e sub-bases de pavimentos por possibilitarem redução da espessura das camadas ou aumento
da sua vida útil, como também redução no tempo de execução da obra, melhor compactação da
camada reforçada, além de melhor controle de qualidade de todo o processo, gerando uma boa relação
custo-benefício. A maioria dos estudos encontrados na literatura abrange pesquisas laboratoriais,
sendo poucos os estudos que simulam as condições reais de campo e avaliam a condição estrutural
do pavimento ao longo da sua vida útil. O objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento da
estrutura do pavimento de uma via urbana reforçado com geogrelha e quantificar o ganho de
resistência da camada reforçada. Apresenta-se o monitoramento do desempenho do pavimento
reforçado a partir de resultados de ensaios de viga Benkelman executados antes da fase executiva e
ao longo de dez anos de sua vida de serviço. Os resultados obtidos demonstram a eficiência da
aplicação da geogrelha na redução da estrutura do pavimento e no comportamento da estrutura
implantada.
ABSTRACT: The pavement is a complex structure with respect to its dimensioning and the prediction
of its performance. In this sense, there is a growing application of geosynthetics in the reinforcement
of pavement bases and sub-bases because they allow to reduce the thickness of the layers or increase
their useful life, as well as reduction in the execution time of the work, better compaction of the
reinforced layer, besides of better quality control of the whole process, generating a good cost-benefit
ratio. Most of the studies found in the literature cover laboratory research, with few studies simulating
the real field conditions and assessing the structural condition of the pavement throughout its useful
life. The objective of this work is to evaluate the behavior of the pavement structure of a geogrid
reinforced urban road and to quantify the resistance gain of the reinforced layer. The performance of
the reinforced pavement is monitored from results of Benkelman beam tests performed before and
over the course of ten years of its service life. The results obtained demonstrate the efficiency of
geogrid application in the reduction of pavement structure and in the behavior of the implanted
structure.
327
1 INTRODUÇÃO tipo de geossintético, posicionamento do
reforço, dentre outros fatores. Para tanto, é
Os materiais geossintéticos foram necessário que seja formado um banco de dados
desenvolvidos, inicialmente, para aplicações a partir de trechos monitorados ou trechos em
geotécnicas, em contenções de solo reforçado, condições reais de tráfego, visando obter
aterros, dentre outras. Dependendo do tipo de equações condizentes com a realidade brasileira.
aplicações e finalidades, existem vários tipos de
materiais geossintéticos, como geogrelhas, 2 CARACTERÍSTICAS DA OBRA
geotêxteis, geocompostos, e outros.
Segundo Zornberg (2017), em obras de 2.1 Localização
pavimentação, as geogrelhas tecidas têm sido
usadas principalmente para reforçar e ou A obra analisada está localizada na cidade de
estabilizar as camadas estruturais, que são: (1) Viana, região metropolitana de Vitória, no
camada de concreto asfáltico, (2) camada de estado do Espírito Santo.
base, (3) camada sub-base e (4) camada de Esta via de acesso está inserida em um trecho
subleito. implantado pelo DER-ES para dar mobilidade à
De acordo com Shahkolahi e Klompmaker região que contempla várias
(2018), os geossintéticos oferecem uma transportadoras,localizada em um complexo
alternativa econômica a outros métodos de viário denominado Via Sudoeste. O trecho onde
estabilização do subleito, tais como:escavação e foi instalada a geogrelha tecida de polipropileno
substituiçãopor uma espessacamada de material para reforço de pavimento possui uma extensão
granular selecionado; ouestabilização com de 850 metros (Figura 1).
métodos químicosutilizandocal ou cimento.
As propriedades de reforço das geogrelhas e
geotêxteis baseiam-se em três mecanismos.
Grygierek e Kawalec (2018) citam estes três
mecanismos que mostram impacto positivo no
pavimento a partir da utilização de geossintéticos
dentro das camadas do pavimento e ou no topo
do subleito: (1) restrição lateral; (2) maior
capacidade de suporte e (3) efeito de membrana
tensionada. Estes mescanismos também foram
discutidos por vários autores (GIROUD, 2009; Figura 1. Localização da obra (CARMO e D’ÁVILLA,
AL QADI et al., 2012; CARMO; PEREIRA; 2011).
SILVA, 2016; ZORNBERG, 2017), porém há
sempre a necessidade de uma pesquisa 2.2 Estrutura do Pavimento
experimental de campo para complementar os
resultados de pesquisas já conhecidas, que Estudos geotécnicos empreendidos permitiram
apresentam, em sua maioria, resultados de diagnosticar que o subleito (leito carroçável)
experimentos laboratoriais. constituía-se de uma camada superficial de
O presente trabalho tem o objetivo de avaliar mistura escória bruta com argila, espessura
o comportamento da estrutura do pavimento de variando de 0,00 a 0,25m e CBR na ordem de
uma via urbana reforçado com geogrelha e 15%. Esta camada apoiava-se sobre uma camada
quantificar o ganho de resistência da camada de argila não compactada com espessura variável
reforçada, pois os métodos existentes são, de de 0,75 a 0,85m e CBR igual a 7%. O nível
forma geral, de natureza empírica ou d’água a 0,70m da superfície permite inferir que
mecanístico-empírica, sendo assim, necessária a na implantação do aterro, ocorreu lançamento de
calibração das equações utilizadas para a região argila sobre região alagada. Esta situação foi
onde será executado o pavimento considerando: comprovada com a verificação do grau de
328
compactação da camada que explicitou valores impossibilidade de se elevar o grade devido às
inferiores a 70% cotas de soleiras das edificações lindeiras.
Abaixo da camada de aterro constatou-se ainda
espessa camada de argila orgânica altamente 3.1 Geossintéticos
compressível, com umidade natural superior a
80%. A Norma Brasileira NBR 12553 (2003) define
A Figura 2 mostra a estrutura do subleito geossíntéticos [G] como: “Denominação
existente, que estava sendo utilizada como via genérica de produtos poliméricos (sintéticos ou
não pavimentada. naturais), industrializados, desenvolvidos para
utilização em obras geotécnicas,
desempenhando uma ou mais funções, entre as
quais se destacam: reforço, separação ....”.
Nesta aplicação de reforço de estrutura de
pavimento os geossíntéticos utilizados têm as
seguintes funções: a geogrelha [GG] tem a
função de reforço [R] que é a utilização das
propriedades mecânicas da geogrelha para
melhorar o comportamento mecânico da
estrutura e o geotêxtil tecido [GTW] tem a
função de impedir a mistura dos materiais
Figura 2. Seção da via não pavimentada existente
adjacentes.
As características técnicas dos geossintéticos
3 SOLUÇÃO ADOTADA utilizados como reforço de pavimento são
apresentadas na Tabela 1.
A opção pela utilização de uma geogrelha para
reforço da estrutura do pavimento flexível Tabela 1. Propriedades dos geossintéticos utilizados.
decorreu da necessidade de pavimentar esta via
urbana cuja ocupação por imóveis residenciais e Propriedade Unid Especificações
empresariais se deram em ambos os lados da via. Geogrelha Geotêxtil
Descrição do
A ocupação desordenada resultou em cotas de produto
- biaxial tecido biaxial
soleira das edificações não superiores a 0,20m da (GGW) (GTW)
cota do leito da rua existente. Mantendo-se as Matéria prima - polipropileno polipropileno
Módulo de
condições de habitabilidade, a elevação do grade Rigidez a 2%
kN/
≥ 600 ≥ 270
constituía-se de uma impossibilidade. m
de deformação
O subleito não apresentava grandes Deformação
% 10 15
deformações, mas constatou-se que a opção de na Ruptura
remoção de camadas para implantação do
pavimento explicitou outro problema: aumento
da umidade do solo a medida que se aprofundava 3.2 Dimensionamento do Pavimento
a escavação visto que o nível d´água estava a
0,70m do subleito em contrapando as Neste item são apresentados os parâmetros e o
recomendações do album de projetos de método utilizado para o dimensionamento do
dispositivos de drenagem do DNIT (2018). pavimento estudado.
Outro aspecto é que a camada resistente seria
removida e o leito de assentamento, assumiria 3.2.1 Parâmetros utilizados para o
comportamento mais instável. dimensionamento
Neste contexto, buscou-se solução que
permitisse implantar estrutura de pavimento em Com base na sondagem realizada na via a ser
que se removesse, no máximo 0,10m da camada pavimentada (Tabela 2) e nos levantamentos
existente (subleito), e que a implantação da deflectométricos (Figura 3) a estrutura do
estrutura do pavimento fosse delgada com pavimento foi dimensionada.
revestimento em CBUQ, considerando-se a
329
Tabela 2. Parâmetros utilizados no dimensionamento do 3.2.2 Método de Dimensionamento
pavimento.
Espessura CBR MR O pavimento foi dimensionado conforme o
Camada
(cm) (%) (MPa) método da AASHTO modificado, que considera
CBUQ 5 - 3.000 a contribuição estrutural do geossintético em um
pavimento flexível. Esta contribuição é
BGS 30 90 200
quantificada no método pelo aumento do
Escória +
25 15 95 coeficiente estrutural da camada de base por
Argila meio do parâmetro LCR (LayerCoeficientRatio).
Argila 85 7 45 Este parâmetro é obtido por meio de ensaios
Argila laboratoriais.
Orgânica -- 3 22
Wnat> 80% O dimensionamento da estrutura é feito pela
equação abaixo.
NaFigura 3, estão apresentadas as deflexões SN a1 .D1 a 2 .D2 .m2 .LCR a3 .D3 .m3 (2)
medidas no subleito da via a ser
pavimentada.Para uma melhor visualização
foram excluídas as deflexões maiores que 300 Em que:
centésimos de milímetros. SN = número estrutural
O volume de tráfego para o período de projeto a1 = coeficiente estrutural do revestimento;
(N) determinado pelo método do DNIT foi de a2 = coeficiente estrutural da base;
5,0x106, o que equivale a aproximadamente a3 = coeficiente estrutural da sub-base;
1,7x106 pelo método da AASHTO (Equação 1). D1 = espessura da camada de revestimento;
D2 = espessura da camada de base;
1 D3 = espessura da camada de sub-base;
N AASTHO .N DNIT (1) m2 = coeficiente de drenagem da base;
3 m3 = coeficiente de drenagem da sub-base;
LCR = coeficiente de melhoramento da
Em que: camada.
NAASHTO = volume de tráfego AASHTO
NDNIT = volume de tráfego DNIT A Figura 4 mostra a estrutura do pavimento
dimensionado com base na equação 2.
Para fins de avaliação dos valores de deflexão
máximas apresentadas na Figura 3, foi calculada
a deflexão admissível, segundo o PRO-011
(DNER, 1979), para um tráfego determinado
(N=5x106). A deflexão admissível calculada
para este nível de tráfego é 67,76x0,01mm e
representada pela linha tracejada na Figura 3.
300
Deflexão (0,01 mm)
330
envelopamento da borda da primeira camada (15
cm) de base em brita graduada simples, cuja
finalidade é reforçar e dar mais rigidez a borda
do pavimento reforçado.
3 AVALIAÇÃO ESTRUTURAL
Figura 6. Instalação do geotêxtil [GTW] e da geogrelha
[GGW], em 05/2009.
Os ensaios para o acompanhamento do
desempenho estrutural do pavimento reforçado
com geogrelha foram realizados com o auxílio
da Viga Benkelman.
A obra foi finalizada no mês de julho de 2009
e os ensaios de viga Benkelman foram realizados
nos anos de 2010, 2011, 2016 e 2018.Para
analisar os dados deflectométricos dos
levantamentos realizados, o trecho foi dividido
em 04 segmentos homogêneos de
aproximadamente 210 metros. A Figura 11
Figura 7. Execução da sobreposição de 50cm da geogrelha
[GGW], em 05/2009.
mostra os levantamentos realizados durante os
10 anos de monitoramento.
Com o volume de tráfego de projeto NDNIT =
5,0x106 foi determinada a deflexão admissível
para esta via pavimentada.
A deflexão admissível igual a 67,76x0,01 mm
foi calculada pela equação 3 que está na norma
do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNER-PRO-11/79).
331
Dadm = deflexão admissível; deflexões nas camadas do pavimento antes da
Nproj = volume de tráfego de projeto. sua implantação.
200,0 Displacement Z
1.369
Deflexão (0,01 mm)
1.309
1.249
150,0 1.189
1.129
1.069
1.008
100,0 0.948
0.888
0.828
0.768
0.708
50,0 0.648
0.587
0.527
0.467
0,0 0.407
0.347
1 2 3 4 0.287
0.227
Segmento Homogêneo
Subleito - 05 / 2009 09 / 2010 04 / 2011
11 / 2011 05 / 2016 05 / 2018
Figura 13. Deflexões verticais na estrutura do pavimento-
Figura 11. Levantamento deflectométrico característico tipo analisado antes da execução da base reforçada com
em cada um dos segmentos homogêneos realizado durante geogrelha e do revestimento asfáltico tipo CBUQ.
o período de monitoramento.
Com os módulos de resiliência das camadas
Observa-se na Figura 12 que as deflexões do do subleito e com as deflexões do pavimento
pavimento reforçado apresentaram uma variação reforçado com a geogrelha em cada período de
em sua magnitude. Esta variação pode estar monitoramento foi feita uma retroanálise com o
ligada à umidade no subleito, uma vez que este auxílio do programa computacional me-PADS
pavimento foi implantado em uma região buscando determinar os módulos de resiliência
litorânea, que sofre com a variação da maré. da camada de brita graduada simples (BGS)
Porém, podemos verificar que após 6 anos todas reforçada com a geogrelha.
as deflexões ficaram próximas à deflexão A Figura 14 e Tabela 3 mostram a variação do
admissível calculada. módulo de resiliência da camada de BGS
Para que se possa fazer uma avaliação quanto reforçada com geogrelha. Observa-se que com o
ao desempenho das deformações no pavimento passar do tempo os módulos de resiliência desta
foi realizada uma retroanálise com o auxilio de camada apresentaram um aumento
um programa computacional denominado me- significativo.Este efeito pode estar ligado ao fato
PADS (Mechanistic Empirical Pavement de que a geogrelha promove um aumento na
Analysis and Design Software) buscando resistência ao cisalhamento da camada
determinar o módulo de resiliência da camada do reforçada.
subleito.
8000
100,0
Deflexão (0,01 mm)
7000
90,0
6000
80,0
5000
70,0
4000
60,0
3000
50,0
2000
40,0
1000
09 / 04 / 11 / 05 / 05 /
0
2010 2011 2011 2016 2018
09 / 2010 04 / 2011 11 / 2011 05 / 2016 05 / 2018
Datas do Monitoramento Datas do Monitoramento
SH - 1 SH - 2 SH - 3
SH - 1 SH - 2 SH - 3 SH - 4
SH - 4 Dadm
Figura 14. Módulo de resiliência da camada de brita
Figura 12. Acompanhamento dos levantamentos
graduada simples (BGS) de cada segmento homogêneo em
deflectométricos para cada um dos segmentos
função do período de monitoramento.
homogêneos, realizados durante o período de
monitoramento.
Perkins et al. (2010), observaram que os
Esta retroanálise foi feita com base nas geossintéticos melhoram a confiabilidade do
deflexões antes da implantação do pavimento pavimento e seu desempenho de longo prazo,
reforçado. A Figura 13 mostra a distribuição de especialmente para condições de subleitos com
332
baixa capacidade de suporte, o que vem controle para se refutar a ocorrência de outros
corroborar com os resultados apresentados na efeitos simultâneos, como por exemplo a
Figura 14. recompactação das camadas do pavimento
Na Tabela 3, é possível verificar que a maior devido ao tráfego com o passar do tempo.
variação encontrada no módulo de resiliência da
camada de BGS foi de 5 vezes no segmento AGRADECIMENTOS
homogêneo 1 e a menor variação igual a 1,5
vezes foi no segmento homogêneo 3. Os autores agradecem ao DER-ES, a
STONENGE Consultoria e Projetos de
Tabela 3. Variação do Módulo de Resiliência da camada Engenharia Ltda. e a HUESKER Ltda. pelo
de BGS. apoio no monitoramento das deflexões do
Módulo de Resiliência pavimento.
(MPa) Variação
Segmento
Calculado (me-PADS) do MR
REFERÊNCIAS
09/2010 05/2018
SH - 1 150 750 5,0
ABNT (2003). NBR 12553: Geossintéticos –
SH - 2 300 650 2,17 Terminologia.Associação Brasileira de Normas
SH - 3 300 450 1,5 Técnicas. Rio de Janeiro. 3 p.
SH - 4 190 310 1,63 Al-Qadi, I. L., Dessouky, S. H., Kwon, J., &Tutumluer, E.
(2012). Geogrid-reinforced low-volume flexible
Analisando-se a Figura 14 e Tabela 3 pavements: Pavement response and geogrid optimal
observa-se que o módulo de resiliência da location. JournalofTransportationEngineering, 138(9),
1083-1090.
camada reforçada com geogrelha aumentou DNER (1979). Avaliação Estrutural dos Pavimentos
significativamente em função do tempo. Flexíveis – DNER-PRO 11/79. Departamento Nacional
Entrtanto não se pode afirmar que este aumento de Infraestrutura de Transportes. Brasil.
se deu exclusivamente devido ao uso da DNIT (2018). Álbum de projetos – tipos de dispositivos de
geogrelha, uma vez que a rigidez da estrutura do drenagem. 5ª. Edição. Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes.
pavimento também pode ter sido influenciada Carmo, C.A.T.; D’Ávilla, C.A. (2011). Análise de
pelo efeito da compactação das camadas no Deformação em um Pavimento Reforçado com
decorrer do tempo da observação. Geogrelha. Anais. Geossintéticos 2011. VI Simpósio
Brasileiro de Geossintéticos. Belo Horizonte, MG.
4 CONCLUSÕES Carmo, C.A.T,; Pereira, G.P.; Silva, T.O. (2016). Modelos
para o Dimensionamento de Pavimentos reforçados
com Geogrelhas. Anais. 45ª Reunião Anual de
Com base no estudo realizado verificou-se que a Pavimentação – RAPv. Brasília, DF.
utilização da geogrelha(GGW) de polipropileno Giroud, J: (2009). An assessment of the use of geogrids in
como reforço de base de pavimento é uma unpaved roads and unpaved areas, In Jubilee
excelente solução para locais onde o subleito symposium on Polymer Grid Reinforcement, Institute
of Civil Engineers, London, England, 23-36.
tenha baixa capacidade de suporte e também em Grygierek, M.; Kawalec, J. (2018). Selected laboratory
locais onde a estrutura do pavimento tenha de ser and field research on geogrid impact on stabilization
delgada devido à interferência urbana, graças ao of unbound aggregate layer. Proceedings of the 11th
elevado módulo de rigidez da geogrelha que International Conference on Geosynthetics. Seoul,
permite uma distribuição homogênea das tensões Korea.
Perkins, S.W., Christopher, B.R., Thom, N.,
provocadas pelo tráfego e consequentemente Montestruque, G., Korkiala-Tanttu, L. and Watn, A.
uma redução nas deflexões deste pavimento. 2010. Geosyn-thetics in Pavement Reinforcement
O método utilizado para o dimensionamento Applications, Proceedings of the 9th International
da estrutura mostrou-se eficiente, resultando em Geosynthetics Confer-ence, Vol. 1, pp. 165-192,
uma estrutura delgada e com excelente Guaruja, Brazil, May, 2010.
Shahkolahi, A.;Klompmaker, J. (2018). An Australian
coeficiente estrutural. approach for designing geogrid reinforced flexible
Os resultados sugerem que as geogrelhas pavements. Proceedings of the 11th International
promoveram um aumento significativo no valor Conference on Geosynthetics. Seoul, Korea.
do módulo de resiliência da camada reforçada. Zornberg, J.G. (2017). Functions and Applications of
No entanto, seria necessário estudar um trecho Geosynthetics In Roadways. Procedia Engineering
189, 298-306.
333
334
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The use of geosynthetics to reinforce asphalt, mainly geogrids, has received
considerable attention as a viable solution to improve the performance of asphalt pavements. This
paper presents the characteristics and mechanical properties of a test body made up of asphalt
mixtures that fit into the grades C and B of DNIT service specification ES-031, reinforced with a
geogrid. For this, an experimental program was developed combining the asphalt binder CAP 50/70
with mineral aggregates of gneiss formation, measured by the Marshall method. In order to perform
the mechanical tests (modulus of resilience, tensile strength and fatigue), composite specimens (CP)
were molded, that is, half the CP with the asphalt mixture of the granulometric range C and the other
335
half with the strip The two interfaces were considered for this CP, one without geogrid and the other
with the polyester geogrid. The resilience modulus values of the blends were applied to a typical
pavement structure in the me-PADS software to obtain the structural stress responses in the lower
fibers of the asphalt layers. The analyzes were performed for three levels of loading (80 kN, 98 kN
and 118 kN) and three levels of filling pressure of the peneus (563 kPa, 633 kPa and 703 kPa),
respectively. Through the analyzes of the mechanical responses of the asphalt mixtures tested and the
tensions acting on a pavement-type, it was concluded that the geogrid reinforced mixture presented
better performance with respect to the non-reinforced mixture.
KEYWORDS: Geosynthetics, geogrids, Marshall dosage, mechanical testing, dense asphalt mixing.
336
e oriundo da Refinaria Gabriel Passos (REGAP), pelo método Marshall, sendo uma combinação
localizada na cidade de Betim, Minas Gerais, da faixa C e B sem a interface com geogrelha
Brasil, sendo classificado por penetração como (Sgeo) e a outra com a interface com geogrelha
50/70. (Geo), conforme Figura 2..
As geogrelhas utilizadas como elementos
de reforço da mistura asfáltica foram
desenvolvidas especificamente para esta função,
pois são cobertas por material betuminoso. A
Tabela 1 apresenta as características das
geogrelhas utilizadas nesta pesquisa.
2.2. Métodos
337
A análise estrutural do pavimento-tipo adotado 3. APRESENTAÇÃO DOS
nessa pesquisa foi realizada sobre uma estrutura RESULTADOS E DISCUSSÕES
pré-dimensionada empiricamente. Com o auxílio
do software me-PADS, foram realizadas análises 3.1. Parâmetros volumétricos das dosagens
de sensibilidade da variação do módulo de Marshall
resiliência das misturas asfálticas estudadas para
três níveis de carregamento (80 kN, 98kN e Na Tabela 2, são apresentados os parâmetros
118kN) e três níveis de pressões de enchimento volumétricos das misturas asfálticas estudadas e
(563 kPa, 633 kPa e 703 kPa), adotando-se um seus respectivos dados mecânicos de
pavimento construído de capa asfáltica, binder, estabilidade e fluência Marshall. Observa-se
base e reforço do subleito, assentado sobre o que, apesar dos corpos de prova serem
subleito, a fim de se verificar a vida de fadiga compactados com misturas asfálticas com duas
destas misturas asfálticas. Os dados de entrada faixas granulométricas (faixa C e B), conforme a
utilizados nesse software foram: propriedades Tabela 2, os volumes de vazios ficaram dentro
das camadas (espessura, módulo de elasticidade das especificações de serviço ES-031 (DNIT,
e coeficiente de Poisson), localização e 2006a).
magnitude das cargas e as coordenadas dos
pontos para a determinação das respostas Tabela 2 – Parâmetros volumétricos e mecânicos dos
estruturais esperadas do pavimento-tipo adotado. corpos de prova moldados sem e com geogrelha.
O módulo de elasticidade (E) das camadas do SGeo Geo
Sem Com
pavimento-tipo adotado foi igual ao módulo de Condição de Interface
Geogrelha geogrelha
resiliência, ou seja, foi realizada uma análise Faixa Granulométrica CeB
elástica linear. Segundo Ponte et al. (2014), CAP 50/70
quando não há possibilidade de se determinar o Teor de Projeto C(*) 4,70
coeficiente de Poisson (), recomenda-se a (%) B(**) 4,20
utilização de igual 0,30, o qual foi mantido CP(***) 4,65 4,90
Vv (%) C(*) 4,26 4,49
constante para as camadas asfálticas (capa B(**) 5,04 5,31
asfáltica e binder) e granular (base) em todas as CP(***) 70,03 68,86
análises realizadas. RBV (%) C(*) 72,97 71,86
A Figura 3 ilustra uma representação do B(**) 67,09 65,86
pavimento-tipo adotado para a análise das CP(***) 15,53 15,76
tensões e deformações em alguns pontos de sua VAM (%) C(*) 15,75 15,96
B(**) 15,31 15,56
camada e o carregamento com duas rodas
Estabilidade (kgf) 559 695
aplicado na sua superfície. As características dos Fluência (mm) 4,20 4,31
materiais utilizados no subleito e reforço do Massa Específica Aparente
2,470 2,465
subleito foram extraídos do estudo de Carmo (g/cm3)
(1998). Para a camada de base, foram adotados DMT (g/cm3) – C(*) 2,580
os parâmetros do estudo de Ponte et al. (2014). DMT (g/cm3) – B(**) 2,601
(*)
Parte superior do CP(**)Parte inferior do CP
(***) Corpo de prova Composto
338
Os valores obtidos para ambos os ensaios
1.0E+05
correspondem à média de três corpos de prova
Vida de Fadiga
para cada uma das configurações estudadas. 1.0E+04
SGeo
Tabela 3 – Valores do módulo de resiliência e resistência 1.0E+03 Geo
à tração por compressão diametral para os corpos de prova
1.0E+02
com e sem a inclusão das geogrelhas.
0.1 1.0
Condição Módulo de Resistência Diferença de Tensões (MPa)
Relação
de Resiliência à Tração Figura 4 – Curvas de fadiga das mistura asfálticas com e
MR / RT
Interface (MPa) (MPa) sem a inclusão das geogrelhas: vida de fadiga versus
Sem diferença de tenções ().
Geogrelha 4.064 0,91 4.474
(SGeo)
Com 3.4. Análise Estrutural do Pavimento-Tipo
Geogrelha 3.865 1,33 2.908
(Geo) As análises empírico-mecanísticas foram
realizadas com o auxílio do software me-Pads.
3.3. Ensaio de Fadiga por Compressão Foram consideradas as combinações das
Diametral misturas das faixas granulométricas C e B de
projeto da especificação de serviço ES 031
Na Tabela 4, estão apresentadas as constantes (DNIT, 2006), com as duas condições de
“k1 e k2” das curvas de fadiga para o modelo inclusão de interface (SGeo e Geo).
mostrado na equação 1, referente às misturas Mantiveram-se constantes as espessuras e
estudadas. Na Figura 3, estão traçados os características mecânicas das camadas de base,
resultados das curvas de fadiga, expressas em reforço do subleito e subleito (coeficiente de
número de repetições de carga, para as misturas Poisson e módulo de resiliência) e variaram-se as
estudadas com e sem a inclusão das geogrelhas. características mecânicas das camadas asfálticas.
Foram observados os valores de tensões e
𝑉𝐹 = 𝑘 ∗ ∆𝜎 (1) deslocamentos nos pontos críticos das camadas
asfálticas, tais como: (i) deslocamento vertical
em que: na superfície da capa asfáltica, (ii) tensão de
VF: Vida de fadiga; tração na fibra inferior da capa asfáltica,
: diferença de tensões (MPa); correspondente à condição de interface (SGeo e
k1 e k2: constantes determinadas na curvas do Geo) e (iii) tensão de tração na fibra inferior da
ensaio. camada da faixa granulométrica B (binder).
Tabela 4 – Parâmetros estatísticos das curvas de fadiga Esses critérios buscam averiguar o desempenho
das misturas asfálticas estudadas com e sem a inclusão das do revestimento asfáltico em relação à vida de
geogrelhas. serviço do pavimento.
Condição de Constantes As análises foram realizadas nas posições de
R2
Interface k1 k2 maiores tensões e deformações na estrutura do
Sem Geogrelha
2.171,5 -4,213 0,9791 pavimento-tipo. Observa-se, na Figura 5, que as
(SGeo) maiores tensões horizontais (h) estão sob os
Com Geogrelha
(Geo)
4.166,3 -2,546 0,9742 pontos de aplicação de carga. Portanto, as
análises foram realizadas considerando os
Verifica-se, na Figura 4, que a vida de fadiga deslocamentos e tensões na posição x igual a 0 e
do corpo de prova com a interface da geogrelha y igual a 0.
(Geo) é maior que a da configuração sem Na Figura 5, são apresentadas as tensões
geogrelha (SGeo). Este resultado é consistente horizontais (h) que atuam na estrutura do
com o resultado apresentado no trabalho de pavimento asfáltico adotado para a condição de
Bastos (2010), que avaliou a curva de fadiga de interface SGeo, para o carregamento de 80 kN
pavimentos reforçados com geogrelha de PET e por eixo e pressão de enchimento dos pneus de
uma mistura asfáltica única, apenas a faixa C. 563 kPa. Observa-se que as maiores tensões
339
horizontais (h) estão na fibra inferior da camada Tabela 6 – Variação dos valores de tensão horizontal (h)
de binder. e vertical (v) na fibra inferior da camada de binder, a
Q1 10cm de profundidade, para cada carga por eixo analisada.
Carga
Condição Pressão de
por h v
Capa Asfáltica de enchimento
565
eixo (MPa) (MPa)
484
Interface (kPa)
(kN)
403
323
242 Interface
Binder
161
81
0
-81
80 563 0,643 -0,192
98 633 0,744 -0,229
-161
-242
-323
-403
Base BGS SGeo
-484
-565
-645
118 703 0,848 -0,268
-726
-807
-888
118 703 0,878 -0,263
-968
atuam nas fibras inferiores da capa asfáltica, a Vertical plane parallel to X-Z at Y = 0
Capa Asfáltica
5,0 cm da superfície do pavimento, em função da 0.225
Binder Interface
variação do carregamento e das condições de
0.214
0.204
0.194
0.183 Base BGS
interface estudada.
0.173
0.163
0.152
0.142
0.132
0.121
Reforço do subleito
0.111
0.101
0.090
Subleito
0.080
340
A Figura 7 apresenta os valores dos carregamento, calculada através das tensões de
deslocamentos verticais recuperáveis na tração na fibra inferior da camada asfáltica a 10
superfície do revestimento asfáltico em função cm da superfície do revestimento.
da condição de interface.
Tabela 8– Variação dos valores da vida de fadiga da
70 camada de binder, a 10,0 cm de espessura para as cargas
Recuperáveis (0,01 mm)
Deslocamentos Verticais
6.0E+03
Analisando-se os deslocamentos verticais 80 kN
5.0E+03
recuperáveis no topo do pavimento-tipo adotado 4.0E+03 98 kN
(Figura 7) e comparando-se as deflexões 3.0E+03 118 kN
2.0E+03
admissíveis (Dadm) pelo procedimento PRO-011
1.0E+03
(DNER, 1979) em função do volume de tráfego 0.0E+00
descrito em DNIT (2006b), verificou-se que, Sgeo Geo
para todas as condições de interface e de Condição de interface entre as misturas
carregamento, o pavimento-tipo atende os asfálticas
limites estabelecidos de deflexão admissível em Figura 8 – Vida de fadiga da mistura asfáltica a 10cm da
função do tráfego. superfície de carregamento, analisada para cada condição
Conhecidos os níveis de tensões atuantes no de interface.
pavimento-tipo, através das simulações
realizadas com o software me-PADS, para cada
4. CONCLUSÕES
nível de carregamento imposto pelo tráfego,
verificou-se a vida de fadiga das misturas
Os resultados obtidos durante esta pesquisa
asfálticas para as condições de interface (com e
experimental, visando estudar o desempenho de
sem a incorporação das geogrelhas).
geogrelhas de poliéster para aplicações
Na Tabela 8, são apresentados os valores da
rodoviárias, permitem que várias observações
vida de fadiga das misturas asfálticas calculados
conclusivas possam ser feitas relativas ao
pela equação 1, para as condições de interface
desempenho mecânico de misturas asfálticas
estudadas.
reforçadas. As investigações envolveram a
Analisando-se os resultados apresentados na
determinação do MR, RT e da Vida de fadiga
Tabela 8, fica evidente que, para iguais cargas
para os corpos de prova moldados com as faixas
por eixo, a mistura asfáltica com a inclusão da
granulométricas B e C da especificação de
geogrelha (Geo) apresentou vida de fadiga
serviço ES-031 (DNIT, 2006a). Dentre as
superior à condição de interface sem geogrelha,
conclusões da pesquisa, podem-se destacar:
nos três níveis de carregamento.
o procedimento desenvolvido para
Na Figura 8, tem-se a vida de fadiga da
compactação dos corpos de prova se mostrou
mistura asfáltica de cada condição de interface
eficiente, pois não foi observado problema
(SGeo e Geo), considerando-se os três níveis de
341
de aderência entre as duas partes do corpo de Infraestrutura de Transportes. Rio de Janeiro. 1998, 5
prova; p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
O maior valor de MR foi determinado para a INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES,(2006a).
mistura SGeo. Entretanto, o maior valor de ES-031: Pavimentos Flexíveis – Concreto Asfáltico.
RT encontrado foi para a mistura Geo; Especificação de Serviço. Rio de Janeiro. 2006(a). 14
Analisando-se a relação MR/RT, as misturas p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
SGeo e Geo apresentaram, respectivamente, INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES,
maior e menor valor para esta relação; (2006b).Manual de Pavimentação. 3ª ed. Rio de
As curvas de fadiga tiveram bons coeficientes Janeiro. 2006(b). 274p.
de determinação (R2). Foi observada uma DEPARTAMENTO NACIONAL DE
tendência de maior vida de fadiga para a INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. (2018a)
ME-135: Pavimentação asfáltica – Misturas asfálticas
mistura Geo, que foi confirmada através de – Determinação do módulo de resiliência. Método de
uma análise com a utilização do software me- ensaio. Rio de Janeiro. 2018(a). 6 p.
PADS, em um pavimento-tipo, independente DEPARTAMENTO NACIONAL DE
do carregamento aplicado. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, (2018b).
ME-136: Pavimentação asfáltica - Misturas asfálticas
– Determinação da resistência à tração por
Com base na pesquisa apresentada, é possível compressão diametral. Método de Ensaio. Rio de
concluir que o corpo de prova reforçado com Janeiro. 2018(b). 6 p.
geogrelha (Geo) foi a que teve melhor DEPARTAMENTO NACIONAL DE
desempenho mecânico. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, (2018c).
ME-183: Pavimentação asfáltica – Ensaio de fadiga
por compressão diametral à tensão controlada.
AGRADECIMENTOS Método de Ensaio. Rio de Janeiro. 2018(c). 6 p.
FRITZEN, M. A. (2005). Avaliação de soluções de reforço
Os autores agradecem à Stratura Asfaltos, pelo de pavimento asfáltico com simulador de tráfego na
fornecimento do CAP-50/70, à pedreira Ervália, rodovia Rio Teresópolis. 2005. 291 p. Dissertação
que forneceu os agregados, e à Huesker Ltda., (Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE. 2005.
pelo fornecimento das geogrelhas. KHODAII A., FALLAH, S. e NEJAD, F. M., (2009).
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342
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: Geosynthetics are industrialized polymer products, synthetic or natural, that have been
widely used in civil construction due to the various functions that it performs, it is mentioned its use
in the areas of drainage, filtration, reinforcement, waterproofing, surface erosion control, among other
examples. In this context, the geogrid stands out as a geosynthetics most used for reinforcement due
to the tensile strength it provides and interaction with the soil. On the other hand, there is a need for
the improvement of unpaved roads in Brazil, which constitute the major part of the country's road
network, and which face problems such as irregularities in the road, excess dust and the appearance
of holes, which in times rainwater can cause flooding. The present study proposes the evaluation of
the geogrid use performance as a low resistance soil subgrade reinforcement material in an unpaved
road using steel slag (SS) as landfill material. The choice of SS, which is a byproduct of steel, is due
to the fact that the material presents itself as a sustainable and technically and economically viable
solution. The research was based on the simulation of cyclical loads on the unpaved road, comparing
the test performed with the geogrid reinforcement and the other without the use of reinforcement.
Thus, it was observed the increase in the useful life of the road with the use of the geogrid.
343
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAL E MÉTODOS
344
Figura 4. Curva granulométrica da areia.
345
2.4.1 Instrumentação:
346
extremidades do geossintético. Na Figura 8 é 2.5.6 Execução do ensaio
possível observar o desenvolvimento da coloca_
ção da geogrelha no equipamento. Após a preparação do ensaio e instalação dos
instrumentos, foi iniciado o ensaio, ligando o
sistema de aplicação de carga. O carregamento
cíclico foi aplicado na frequência de 1Hz,
simulando a passagem de veículos a uma pressão
de 560kPa. Estabeleceu-se como critério de
interrupção do ensaio o afundamento máximo de
75mm da placa de carregamento ou 270.000
ciclos. Esta etapa foi chamada de primeiro
estágio de carga.
Após a finalização do primeiro estágio de
carga é iniciado o segundo estágio, etapa essa
Figura 8. Instalação da geogrelha. que consiste em restaurar a região em que
ocorreu o afundamento, tendo o cuidado de
2.5.4 Preparação da camada de aterro manter as mesmas condições de compactação do
ensaio anterior. O critério de interrupção utili_
O aterro com EA foi depositado em 3 camadas zado foi o mesmo do primeiro ensaio. Essa
de 10cm, em que, para cada camada, foi restauração do aterro foi realizada a fim de
realizada uma leve compactação com a ajuda de simular o que ocorre nas manutenções de estra_
uma placa metálica com diâmetro menor que o das não pavimentadas.
diâmetro interno do tanque e do equipamento de
aplicação da carga. A camada total resultou em
30cm, espessura comumente utilizada em 3 RESULTADOS
estradas.
De acordo com os ensaios laboratoriais com
2.5.5 Instalação dos medidores de desloca_ carregamento cíclico foi possível construir os
mento gráficos de Deslocamento versus Número de
ciclos, que representa o afundamento da estrada
Conforme a Figura 9 abaixo é possível observar e o número de ciclos suportados por ela. As
a instalação dos medidores de deslocamento Figuras 10 e 11 a seguir retratam os resultados
sobre uma placa apoiada na superfície da estrada. para o primeiro e segundo estágio de carga,
Foram instalados três medidores de desloca_ respectivamente, em que EASR representa a
mento, sendo dois deles próximos ao eixo de estrada com aterro de EA sem reforço, enquanto
aplicação da carga, nas bordas da placa metálica o termo EACR representa a mesma estrada com
e um na lateral da superfície da estrada. o reforço do geossintético.
347
75mm. Além disso, percebeu-se que, em ambos
os estágios de carregamento, a curva EACR
apresentou melhor desempenho, visto que para
um mesmo número de ciclos, apresentou um
deslocamento vertical ou chamado afundamento
menor.
Essa análise foi comprovada através dos
resultados dos E*, visto que, em ambos os
estágios, a estrada reforçada com o geossintético,
apresentou valores maiores quando comparadas
à estrada sem reforço, 1,58 e 1,39 para o primeiro
e segundo estágio, respectivamente. É impor_
Figura 11. Deslocamento versus Número de Ciclos para o tante considerar que, durante a pesquisa, não
Segundo Estágio de Carregamento foram realizados estimativas de custo da estrada
reforçada com relação a estrada sem reforço.
Desta forma, foi possível calcular o Fator de
Eficiência Modificado (E*), estudado por
Góngora (2015), que leva em consideração o 5 CONCLUSÃO
afundamento de cada ensaio, conforme a
Equação 1 a seguir. De acordo com os resultados dos ensaios com
carregamentos cíclicos foi possível constatar a
Nr u viabilidade do uso de EA como aterro em uma
E* = (1) estrada não pavimentada e a eficiência do uso da
Nu r
geogrelha nessa estrutura. Os valores de deslo_
camento obtidos na estrada não reforçada e a
Onde Nr é o número de repetições de carga diminuição do deslocamento vertical verifi_
no ensaio reforçado quando da sua interrupção, cada nos gráficos com o uso do geossintéticos,
Nu é o número de repetições de carga ao final do refletem, em condições reais, no aumento da
ensaio sem reforço, 𝜌u afundamento da placa ao vida útil da estrada não pavimentada, o que
final do ensaio sem reforço e 𝜌r é o afundamento reduziria os gastos com manutenção ao longo
da placa no ensaio reforçado quando da sua dos anos. Desta forma, além de se tratar do reuso
interrupção. Os resultados obtidos para os dois de um material, em que se verifica os ganhos
estágios de carga podem ser verificados na ambientais, foi constatada sua viabilidade
Tabela 3 abaixo. técnica e econômica, qualitativamente. Cabe
ressaltar a necessidade do tratamento da EA
Tabela 3. Resultados dos Fatores de Eficiência Efetiva.
antes de sua utilização no pavimento. Para
Nr Nu ρu ρr trabalhos futuros, recomenda-se realizar a parte
Ensaio - E*
(ciclos) (ciclos) (mm) (mm) de estimativas de análises de custo com
Estágio
EACR - 270000 270000 71,65 45,47 1,58
diferentes materiais de reforço.
1º
EACR - 270000 270000 26,03 18,72 1,39
2º AGRADECIMENTOS
348
REFERÊNCIAS
349
350
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: With the current development of geosynthetics, the geogrids have been used as
reinforcement of a new asphalt pavement and a restored one. Conventionally, propose geogrid
insertion on the asphalt layer aims to develop a solution in which the resistive capacity, because of
traffic demands, is superior than a traditional solution without the use of geosynthetics. In this
aspect, the purpose of this research is to analyze the influence of geogrid presence on the behavior
of conventional hot asphalt mixtures. To achieve this, asphaltic mixtures were dosed by the
Marshall method, framed in two particle sizes (B and C tracks DNIT service specification), and
molded specimens with and without the insertion of a geogrid. The tests for the mechanical
properties of geogrid reinforced specimens and non-reinforced specimens were of Marshall
351
stability, resistance tests to traction by diametrical compression and resilient modulus tests. The
results pointed to a better mechanical performance of the asphalt mixtures with the insertion of the
geogrid, since the mechanical parameters measured through these tests were superior to those found
for the conventional non-reinforced mixtures.
352
Nas pesquisas de Saride and Kumar (2017), Tabela 1. Propriedades e características fornecidas pelo
Khodaiiet al. (2009) e Lee et al. (2015), foi fabricante da geogrelha empregada na pesquisa
Propriedade Magnitude
observado o efeito da temperatura na eficiência
Resistência à tração 53,6 kN/m
do geossintético como camada intermediária no Deformação na ruptura 9,3%
concreto asfáltico. A temperatura pode Resistência a 2% de deformação 12,2 kN/m
influenciar tanto nas propriedades do Resistência a 3% de deformação 15,4 kN/m
geossintético, acelerando sua degradação, Abertura da malha nominal 40x40 mm2
quanto nas propriedades do concreto asfáltico e
da pintura de ligação, afetando a aderência entre 2.2 Métodos
as camadas e majorando as deformações
permanentes na superfície. Mas apesar de tais A dosagem das misturas asfálticas foi realizada
constatações, os resultados obtidos para seções através do método Marshall, em vista deste ser
reforçadas com geossintéticos são superiores um método tradicionalmente empregado no
aos obtidos para seções sem a presença do Brasil. Os procedimentos referentes à dosagem
reforço. das misturas asfálticas para tal método foram
Considerando-se esse contexto da realizados de acordo com as diretrizes propostas
aplicabilidade de geogrelhas nas camadas de pela norma ME 043 (DNER, 1995).
rolamento de pavimentos flexiveis e a Para tal, foram selecionadas duas faixas de
relevância do modal rodoviário para o Brasil, o trabalho contidas na especificação de serviço
presente trabalho objetiva analisar a influência ES031 (DNIT, 2006), aplicável ao concreto
da presença da geogrelha no comportamento betuminoso usinado a quente (CBUQ). Como o
mecânico de misturas asfálticas a quente objetivo deste trabalho é a análise do efeito da
convencionais. geogrelha em dois tipos distintos de
revestimentos asfálticos, foram escolhidas as
faixas B e C dessa especificação.
2 MATERIAIS E MÉTODOS Com as composições granulométricas de
projeto definidas, foram testados cinco teores de
2.1 Materiais ligante pelo método Marshall e analisado o
desempenho de cada mistura asfáltica. Os teores
Para a composição das misturas asfálticas a adotados foram de 4,00%, 4,50%, 5,00%,
quente, foram empregados agregados minerais 5,50% e 6,00% para a faixa C, enquanto para a
inertes de origem gnáissica e um ligante faixa B foram adotados os teores de 4,00%,
asfáltico convencional. No que se refere aos 4,25%, 4,5%, 4,75% e 5,0%.
agregados, graúdos e miúdo, foram utilizados Tais valores foram selecionados baseando-se
brita 1, brita 0 e pó de pedra, provenientes de em experiências de misturas asfálticas já
uma pedreira localizada no município de produzidas no laboratório de Materiais
Ervália-MG. Em relação ao ligante asfáltico, foi Asfálticos e Misturas do DEC/UFV.O valor de
empregado o ligante convencional CAP 50/70, 0,5% adotado para variação no teor de ligante
certificado pelo laboratório da Petrobrás sob o na faixa C baseou-se no encontrado em
nº 2505-14G. literaturas, como Bernucci et al. (2008), por
O geossintético analisado nesta pesquisa foi exemplo. A variação para a faixa B de 0,25% se
uma geogrelha desenvolvida para reforço de deu como busca de um refinamento, visando
camadas asfálticas, produzida a partir de uma otimização dos valores dos parâmetros da
filametos poliméricos, aderida a um geotêxtil dosagem Marshall, em vista dos resultados
não tecido ultraleve e coberto por um material encontrados para a variação de 0,5%. Foram
betuminoso. Tal geogrelhafoi produzida a partir confeccionados três corpos de prova para cada
de fios de poliéster de alto módulo. As teor.
propriedades físicas e de resistência desta A mistura foi realizada com o ligante a
geogrelha, fornecidas pelo fabricante, são 160ºC e os agregados aquecidos a 175ºC, sendo
apresentadas na Tabela 1. estas temperaturas obtidas através da curva de
viscosidade-temperatura do ligante asfáltico,
353
conforme recomenda o método de ensaio ME Finalizados esses procedimentos, a segunda
004 (DNER, 1994). metade da mistura era retirada da estufa,
A determinação dos teores de projeto de depositada nesse mesmo molde, por cima da
ligante asfáltico se deu com base no critério Vv- geogrelha já inserida, e então era iniciada a
RBV, de acordo com os limites máximo e compactação com 75 golpes em cada uma das
mínimo destes parâmetros impostos pela ES duas faces corpo de prova.
031 (DNIT,2006) para cada uma das faixas de Na Figura 2, apresenta-se a demarcação do
serviço selecionadas. posicionamento da geogrelha nos corpos de
Posteriormente à definição dos respectivos prova.
teores de projeto dos dois tipos de misturas
asfálticas, correspondentes às faixas B e C,
através do método Marshall, foram Mistura asfáltica
compactados corpos de prova com o esforço
recomendado pela ME 043 (DNER, 1995) de
75 golpes por face, com e sem a inserção da Mistura asfáltica
geogrelha.
Para a moldagem dos corpos de prova com Figura 2: Corpo de prova reforçado com demarcação da
geogrelha, as misturas asfálticas foramdivididas posição da geogrelha.
e homogeneizadas em dois recipientes
Para a análise das propriedades mecânicas,
separados, cada um contendo 50% das frações
foram executados, nos corpos de prova
de agregados e 50% do teor de ligante asfáltico
reforçados e nos não reforçados, os ensaios
definidos no processo de dosagem. Estas
apresentados na Tabela 2. Em sequência,
metades das misturas asfálticas dosadas são
através da Figura 3, explicita-se de forma
referentes a cada uma das metades de um
esquemátrica, para o caso dos corpos de prova
mesmo corpo de prova. Após a
reforçados, o posicionamento da geogrelha em
homogeneização da mistura asfáltica relativa à
relação às solicitações de carregamento
primeira metada do corpo de prova, esta
aplicadas sobre ela nos três ensaios analisados.
retornava a estufa por 2 minutos, intervalo de
tempo este baseado no fornecido pela ME 043 Tabela 2. Ensaios para caracterização mecânica.
(DNER, 1995) para dosagem de misturas Ensaio Método de Ensaio
asfálticas a quente, enquanto a segunda metade Estabilidade Marshall ME 043 (DNIT, 1995)
era homogeneizada. RT ME 136 (DNIT, 2018)
Em seguida, a mistura da segunda metade MR ME 135 (DNIT, 2018)
era levada à estufa também pelo período de 2
minutos. Durante esse intervalo, a primeira
metade era desepositada no molde do
compactador Marshall e então eram aplicados 2
golpes com o cilindro compactador, com a
finalidade de se obter um nivelamento para que,
em sequência, a geogrelha fosse inserida. Na
Figura 1, apresenta-se o formato com o qual a
geogrelha era recortada para posterior inserção
no corpo de prova, sendo este padrão adotado
para todos os corpos de prova.
Figura 3: Posicionamento da geogrelha no corpo de prova
em relação aos esforços aplicados nos ensaios.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
354
Os resultados referentes à caracterização do Tabela 4. Parâmetros volumétricos da dosagem Marshall
CAP 50/70 são apresentados na Tabela 3. para as misturas de projeto Faixa B e Faixa C.
Parâmetro Faixa B Faixa C
Tabela 3. Resultados e normas dos ensaios de Teor de Projeto (%) 4,20 4,70
caracterização do ligante asfáltico. Volume de Vazios (%) 4,36 4,19
Ensaio Norma Resultado
Massa ME 009 (DNER,
Relação Betume/ Vazios (%) 70,39 76,10
1,010 g/cm³
específica real 1998)
Densidade ME 009 (DNER,
1,006 3.4 Parâmetros mecânicos
relativa 1998)
ME 155 (DNIT,
Penetração 57 dmm
2010) A Tabela 5 apresenta uma visão geral dos
ME 148 (DNER,
Ponto de fulgor 343°C resultados dos ensaios de Estabilidade
1994)
Ponto de ME 148 (DNER,
365°C
Marshall, Resistência à Tração por Compressão
combustão 1994) Diametral (RT) e Módulo de Resiliência (MR).
Ponto de ME 131 (DNIT,
amolecimento 2010)
51°C É válido ressaltar que os resultados são
Solubilidade em NBR 14855 (ABNT, referentes aos corpos de prova com a inserção
100%
Tricloroetileno 2002) de geogrelha (mistura reforçada) e aos corpos
135 °C – 172
Viscosidade ME 004 (DNER,
segundos
de prova sem a inserção da geogrelha (mistura
Saybolt-Furol 1994) não reforçada).
150 °C – 64 segundos
60,0
mecânico das misturas analisadas neste
40,0 Curva de trabalho, para os ensaios propostos, os corpos
projeto- de prova com a inserção da geogrelha
Faixa B
20,0 apresentaram um incremento nos seus
parâmetros mecânicos. Infere-se que tal
0,0 melhoria é proveniente da interação satisfatória
0,01 0,1 1 10
Abertura (mm)
entre a geogrelha e as misturas asfálticas a
Figura 4. Curvas granulométricas de projeto. quente, pois, além da geogrelha não apresentar
deslocamento durante a ruptura para os três
ensaios analisados, partindo-se os corpos de
3.3 Dosagem Marshall prova (exumação), conforme Figura 5, foi
observada uma completa aderência das fibras da
Os resultados da dosagem das misturas são geogrelha com a mistura.
apresentados na Tabela 4, nas quais são
explicitados os parâmetros volumétricos e seus
respectivos teores de ligante asfáltico de
projeto. Tais parâmetros foram determinados de
modo que se enquadrassem dentro dos limites
preconizados pela especificação de serviço ES
031 (DNIT, 2006). Figura 5. Geogrelha aderida à mistura asfáltica a quente.
355
Essa aderência observada pode ser explicada característico de ensaios de compressão
pelo fato de essas geogrelhas incorporarem diametral, infere-se que na região de contato da
revestimentos com asfalto, que, segundo o geogrelha com a mistura asfáltica, na qual se
fabricante, apresentam teores de asfalto de tem total aderência, a geogrelha promova uma
aproximadamente 79% em massa em relação redistribuição das tensões internas aoabsorver
aos sólidos do revestimento asfáltico. Dessa parte das tensões de tração na região central do
forma, o asfalto presente nas malhas das corpo de prova, aumentando dessa forma a
geogrelhas e o asfalto presente nas misturas resistência à tração interna no plano diametral
asfálticas a quente apresentam, para a vertical em relação aos corpos de prova não
temperatura de compactação, uma adesividade reforçados.
entre si capaz de promover uma aderência total Considera-se que esse incremento também
entre as geogrelhas e as misturas asfálticas a está relacionado com o fato de que a geogrelha
quente, a qual permanece após o resfriamento empregada nesta pesquisa apresente uma alta
dos corpos de prova à temperatura ambiente. resistência à tração, em conformidade com Lao
Segundo Vilchez (2002), um dos principais e Ramos (2009), para quem essa capacidade de
fatores que influenciam no funcionamento das reforço está intimamente vinculada à magnitude
geogrelhas como reforço de pavimentos é sua dessa propriedade.
aderência ao concreto asfáltico. Bastos (2010) Em relação ao ensaio de Módulo de
afirma que tal aderência entre a geogrelha e a Resiliência, considerando que este se dá
mistura asfáltica proporciona um ancoramento mediante aplicação de um carregamento
do geossintético na camada asfáltica e que, para repetido e que são analisadas as deformações
ocorrer uma absorção de tensões por parte da horizontais originadas, estima-se que a
geogrelha, quando esta sofrer estímulo à sua geogrelha atua de maneira que, estando ela
deformação, não deve haver escorregamento ou aderida à mistura asfáltica e confinada na
deslocamento relativo desta em relação ao mesma, absorve as tensões de tração a cada
concreto asfáltico. Assim, como foi observada ciclo na parte central do corpo de prova,
uma total aderência, presume-se que foi reduzindo consequentemente os deslocamentos
possível a mobilização da melhoria horizontais recuperáveis, implicando em
proporcionada pelo reforço para a mistura incremento da rigidez elástica do sistema.Em
asfáltica como um todo. conformidade com Bastos (2010), é provável
No que se refere à melhoria no que a elevada resistência à tração da geogrelha
comportamento mecânico da Estabilidade empregada também justifique o incremento de
Marshall, sabendo que a força aplicada durante rigidez da mistura asfáltica reforçada.
o ensaio cresce até que ocorra deslocamento ou As Figuras 6 e 7 apresentam,
quebra do material, sendo este o ponto de perda respectivamente, os resultados de Resistência à
da estabilidade, um dos efeitos da presença da Tração por Compressão Diametral e de Módulo
geogrelha consiste em promover um melhor de Resiliência, possibilitando observar as
intertravamento do sistema, deixando-o menos diferenças nestas propriedades para cada uma
susceptível à quebra. Dessa forma, o sistema das duas misturas asfálticas estudadas.
geogrelha-mistura asfáltica consegue mobilizar
uma maior resistência a esse mecanismo 1,40 SEM
Resistência à Tração
356
Módulo de Resiliência
9000 SEM dimensões, fato que pode ter possibilitado uma
GEOGRELHA interação com a geogrelha não tão homogênea.
7500
COM
6000 GEOGRELHA
4 CONCLUSÃO
(MPa)
4500
3000 Através dos resultados encontrados, e em vista
das particularidades deste trabalho, constatou-se
1500
que a inserção da geogrelha promoveu uma
0 tendência de melhoria no comportamento
Faixa B Faixa C
mecânico de ambas as misturas asfálticas
Figura 7. Resultados de Módulo de Resiliência.
analisadas.
Em relação ao ensaio de Resistência à Em relação à interação da geogrelha com as
Tração por Compressão Diametral, é possível misturas asfálticas a quente, foi observada uma
perceber que o incremento no valor do total aderência desse geossintético à mistura,
parâmetro, em vista da inserção da geogrelha, fator este que promoveu umasolidarização entre
apresentou-se mais expressivo para a mistura estas, o que resultou em um sistema de melhor
asfáltica com faixa granulométrica C que para a desempenho mecânico, para os ensaios
mistura asfáltica com faixa granulométrica B, analisados.
sendo que, para as misturas asfálticas faixa C, o O efeito causado pela inserção de uma
aumento foi de 34,07%, enquanto que para as mesma geogrelha no incremento dos parâmetros
misturas asfálticas faixa B, de 20,00%. mecânicos analisados mostrou-se distinto em
No que se refere ao ensaio de Módulo de misturas asfálticas diferentes, provavelmente
Resiliência, tal comportamento também é devido às diferenças de interação física entre o
observado. Na mistura asfáltica com faixa geossintético e as respectivas granulometrias de
granulométrica C, o incremento proporcionado projeto de tais misturas.
pela geogrelha foi de 90,20% em relação à
mesma mistura não reforçada, e na mistura AGRADECIMENTOS
asfáltica com faixa granulométrica B, de
76,10%. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
Estima-se que essa diferença de eficiência de de Nível Superior (CAPES), pela concessão da
incremento nas propriedades mecânicas bolsa que permitiu o desenvolvimento desta
estudadas entre as duas misturas asfálticas, por pesquisa.
parte da geogrelha, esteja ligada com o fato de
que, como estas misturas asfálticas apresentam REFERÊNCIAS
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: Unpaved roads allow the traffic of goods and access to services in the interior of the
countries. They facilitate the transportation of good from the agricultural, forestry and mining
industries, besides allowing access to education and health services to the inhabitants of remote areas.
These roads represent approximately 87% of the Brazilian road network. Despite its importance,
generally less attention is paid to this type of road in comparison with that paid to paved roads. This
paper presents a study on the use of geosynthetics to reinforce unpaved roads on compressible sandy
subgrades, aiming at evaluating the applicability of two existing design approaches. To accomplish
that, monotonic and cyclic loading tests were carried out using a large-scale equipment. The results
obtained showed an important contribution brought by the reinforcement to improve the performance
of the road and the limitations in the extension of the existing design approaches to roads constructed
on loose sandy subgrades.
359
reforço em várias obras de engenharia Tabela 1. Materiais de subleito usados nos ensaios
geotécnica, como pavimentos, aterros em solos Areia Areia
Propriedade
moles, muros de contenção e estradas não 1 2
pavimentadas construídas sobre subleitos fracos. Diâmetro médio das
Neste último caso, o reforço geossintético pode partículas D50 (mm) 1,35 1,85
reduzir de forma significativa as tensões
Peso específico dos
transmitidas ao subleito, fornecendo
Sólidos (kN/m3) 26,40 27,60
confinamento lateral ao material de aterro,
reduzindo a formação de defeitos na estrada, Ângulo de atrito (o) 31,20 36,04
levando a um melhor desempenho e consequente Coesão (kPa) 0,00 0,00
aumento de sua vida útil, com redução nos custos Índice de suporte
de manutenção. Califórnia (CBR) (%)
Devido às suas características, as estradas não 1,60 6,10
pavimentadas devem passar por manutenções
constantes para fornecer condições de tráfego
adequadas e contínuas. No entanto, na literatura
são encontradas poucas pesquisas que mostrem
de forma apropriada os benefícios do reforço
geossintéticos em estradas não pavimentadas
realizando-se a comparação com carregamentos
cíclicos e monotônicos. Isso é mais evidente no
caso de subleitos arenosos fofos, já que a grande
maioria das soluções disponíveis foi
desenvolvida para subleitos argilosos saturados,
carregados sob condições não drenadas. Este
Figura 1. Granulometria dos materiais de subleito
trabalho apresenta um estudo sobre o
desempenho de estradas não pavimentadas
reforçadas e não reforçadas construídas sobre 2.2 Material de aterro
subleitos arenosos fofos, visando avaliar
aplicabilidade de utilização de duas soluções Como material de aterro foi usada brita. A
existentes na literatura sob tais condições. origem deste material é calcária, procedente da
pedreira Guapó, localizada no estado de Goiás.
2 MATERIAIS EMPREGADOS A espessura considerada para a simulação do
aterro foi de 23 cm. Na Tabela 2 são listadas as
2.1 Material de Subleito propriedades da brita e na Figura 2 é apresentada
sua curva granulométrica.
Na pesquisa foram realizados testes com
Tabela 2. Brita empregada nos testes
carregamentos cíclicos e monotônicos, para os
quais foram usadas areias de dois tipos. Uma Propriedade Valor
delas foi uma areia grossa, e outra de Densidade relativa (dos sólidos) 2,65
granulometria mais fina; as duas são descritas na Absorção de água (%) 0,50
Tabela 1 e sua granulometria apresentada na Abrasão los Angeles (%) 36,00
Figura 1. O intuito foi comparar o
Ângulo de atrito (o) 43,20
comportamento de dois subleitos compressíveis
com índice de suporte Califórnia (CBR) Coesão (kPa) 0,00
diferentes. A espessura considerada para a Índice de suporte de Califórnia
simulação do subleito foi de 30 cm. (CBR) (%) 1,60
360
estrada não pavimentada simulada. O cilindro
possuía as seguintes dimensões: diâmetro
interno de 1,0 m e altura de 0,52 m. Um sistema
de reação permitiu a aplicação de carga sobre
uma placa rígida (diâmetro igual a 0,20 m), para
simular o carregamento proveniente da roda de
um veículo com carga por eixo de 80 kN. Estas
dimensões foram suficientes para representar
uma camada de aterro de 30 cm de espessura,
dimensão compatível com as dos aterros
encontrados em campo. A camada de subleito
Figura 2. Granulometria do material de aterro representada possuía 20 cm de espessura, o que
representa apenas uma porção do subleito
2.3 Geossintéticos usados na pesquisa encontrado em estradas não pavimentadas.
Nesse sentido, os ensaios visaram apenas a
Foram empregadas três tipos de geogrelhas para avaliação dos desempenhos dos reforços sob
os testes com carregamentos cíclico e condições similares, objetivando-se verificar a
monotônico realizados. Estas foram escolhidas viabilidade de uso de soluções existentes sob
com base no comportamento mostrado por elas condições experimentais mais simples. Nos
na pesquisa de Góngora (2015). As geogrelhas ensaios de carregamento monotônico a carga foi
escolhidas foram as que apresentaram o melhor aplicada com uma bomba hidráulica de
comportamento em termos de aumento de acionamento manual. Na Figura 3 é apresentado
capacidade de suporte da estrada. Na Tabela 3 o equipamento utilizado.
são apresentadas as propriedades relevantes das
geogrelhas usadas.
361
cíclico foi preciso adotar um roteiro para a referência; Pn é a carga aplicada ciclicamente; e
montagem e execução dos ensaios. A montagem Ps é a carga estática equivalente.
do ensaio compreendeu a colocação do solo de A partir dos resultados dos ensaios, foi
subleito junto com a instrumentação, a camada também retroanalisado o expoente no caso da
de reforço, se fosse o caso, e a disposição da utilização da equação de Giroud e Noray (1981),
camada de aterro. Posteriormente aplicava-se o que pode se expressa como:
carregamento cíclico numa frequência de 1 Hz,
até se atingir um recalque da placa de
carregamento na superfície do aterro de 75 mm. (2)
Os procedimentos adotados são os mesmos
descritos por Góngora (2015). A única diferença
existente é o material de subleito utilizado nesta Onde N é o número de aplicações da carga
pesquisa, o qual foi uma areia grossa com CBR cíclica, r é a rodeira em mm, P é a Carga por eixo,
de 6,1 % e comparar os resultados obtidos por e CBR é o índice de suporte Califórnia (%).
Góngora (2015). Os testes de carregamento
monotônico realizados neste trabalho foram 5 RESULTADOS
divididos em dois tipos. Os primeiros realizados
com a mesma areia de subleito usada por A seguir são apresentados os resultados obtidos
Góngora (2015) e com 3 tipos de geogrelhas. nos diferentes ensaios realizados no presente
Já os outros ensaios foram feitos com a areia trabalho. Inicialmente serão exibidos os
grossa com CBR de 6,1%. resultados obtidos nos ensaios com
Cada ensaio de carregamento monotônico carregamento cíclico. A seguir, também serão
teve as seguintes etapas: preparação do solo de mostrados os resultados obtidos nos ensaios de
subleito, colocação da camada de geossintético carregamento monotônico para os reforços
se houvesse, instalação da camada de aterro e empregados.
posteriormente aplicação de carregamento
monotônico até se atingir um recalque da placa 5.1 Ensaios de carregamento cíclico
de carregamento na superfície de 75 mm.
Com os resultados obtidos foi feita uma Na Figura 4 são exibidos os deslocamentos
análise da relação proposta por Jewell (1996) verticais da placa de carregamento versus o
que permite obter, no caso de estradas não número de repetições de carga em ensaios sem e
pavimentadas reforçadas e sem reforço, cargas com reforço de geogrelha para o subleito (areia
estáticas equivalentes a partir de carregamentos 2com CBR de 6,10 %. Já na Figura 5 são
cíclicos. Para efeitos de aplicação, neste trabalho apresentados os resultados para o subleito usado
pretendeu-se encontrar valores de expoentes por Góngora, (2015) com CBR de 1,6 %.
para os casos sem reforço e com reforço para
condições de subleitos arenosos fofos.
Atualmente, para o projeto de estradas não
pavimentadas sem reforço, recomenda-se um
valor de exp = 0,30 (Hammitt, 1970) na equação
1 apresentada abaixo. Já nos casos reforçados, o
valor recomendado é de exp = 0,16 (De Groot et
al., 1986). A equação 1 mostra a forma de
calcular o expoente segundo a proposta de Jewell
(1996).
(1)
Figura 4. Deslocamentos verticais da placa de
carregamento versus o número de ciclos de carga. Para
Onde N é o número de repetições da carga subleito de CBR 6,10 %.
cíclica; Ns é o número de repetições da carga de
362
Tabela 4. Expoentes obtidos para os casos com e sem
reforço – Método de Jewell (1996).
363
Tabela 5. Expoentes obtidos para os casos com e sem As principais conclusões obtidas são apresentadas
reforço – Método de Giroud e Noiray (1981) a seguir.
O uso de reforço geossintético em estradas
não pavimentadas pode contribuir de forma
eficiente para o aumento do número de
repetições de carga suportadas por estradas sobre
subleitos arenosos. Sendo isto refletido no
aumento da vida de serviço da estrada
A capacidade de suporte do solo de subleito
influencia diretamente no número de ciclos de
carga suportados pela estrada não pavimentada
simulada. À medida que se aumenta a
capacidade de suporte do subleito diminuir a
eficiência do reforço.
Os expoentes usados tradicionalmente na
literatura para dimensionamento de estradas não
pavimentadas sobre solos argilosos, nos casos
reforçado e sem reforço, não se aplicaram no
caso de subleitos arenosos. Os resultados obtidos
mostram a necessidade de mais pesquisas para o
desenvolvimento de métodos de projeto de
estradas não pavimentadas, com e sem reforço,
construídas sobre subleitos arenosos fofos.
AGRADECIMENTOS
5,00 REFERÊNCIAS
4,00
De Groot, M., Janse, E., Maagdenberg, T.A.C., Van den
3,00 Berg, C., 1986. Design method and guidelines for
EXP
364
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: A principal motivação desse trabalho foi o grande apelo pelo avanço tecnológico da
engenharia de pavimentos visando à garantia de melhor desempenho estrutural e maior durabilidade
dos pavimentos. Analisou-se o comportamento mecânico de misturas asfálticas a quente compostas
reforçadas com geotêxtil impregnado. Estas misturas foram dosadas pelo método Marshall,
empregando-se o ligante asfáltico CAP 50/70 para a mistura e a impregnação. As faixas
granulométricas “B” e “C” da especificação ES 031 do DNIT foram destinadas a compor a camada
de revestimento asfáltico, simultaneamente, ou seja, a moldagem dos corpos de prova (CP)
sucedeu-se em duas camadas. Desenvolveu-se uma análise dos parâmetros mecânicos derivados
dos ensaios de Estabilidade Marshall (EM), Resistência à Tração por Compressão Diametral (RT),
Módulo de Resiliência (MR), Vida de Fadiga (VF) e Creep Estático. Constatou-se,
experimentalmente, a capacidade do reforço geossintético de incrementar as propriedades
mecânicas pesquisadas. Para as propriedades decorrentes de solicitações estáticas, os resultados
indicaram ganhos percentuais médios de 48% e 22% para a EM e a RT, respectivamente. A
suscetibilidade da mistura asfáltica compactada à deformação permanente foi reduzida com a
inserção do reforço (em torno de 37%). Para as propriedades dinâmicas, o MR foi incrementado de
56%, assim como a VF das misturas reforçadas que teve um acréscimo de aproximadamente 45%.
Em cada condição de ensaio foram compactados 3 CPs, exceto pra o ensaio de VF que foram
moldados 6 CPs. Os resultados realçam o potencial técnico da mistura asfáltica reforçada em suprir
as necessidades estruturais da camada de revestimento asfáltico em face às solicitações impostas
pelo tráfego.
ABSTRACT: The main motivation of this research was the great appeal for the technological
advancement of pavement engineering aiming at the guarantee of better structural performance and
greater durability of pavements. The mechanical behavior of composite hot asphalt mixtures
reinforced with impregnated geotextile was analyzed. These mixtures were dosed by the Marshall
365
method, using the asphalt binder CAP 50/70 for mixture and impregnation. The grading envelopes
"B" and "C" of ES 031 specification of the DNIT were used to compose the asphalt wearing course,
simultaneously, that is, the molding of the core sample (CS) in two layers. An analysis of the
mechanical parameters derived from the tests of Marshall Stability (EM), tensile strength by
diametral compression (RT), resilient modulus (MR), Fatigue Life (VF) and Static Creep was
developed. The ability of the geosynthetic reinforcement to increase the investigated mechanical
properties was experimentally verified. For properties resulting from static level applications, the
results indicated average percentage gains of 48% and 22% for EM and RT, respectively. The
susceptibility of the compacted asphalt mixture to the permanent deformation was reduced with the
insertion of the reinforcement (around 37%). For the dynamic properties, the MR was increased by
56%, as well as the VF of the reinforced mixtures, which increased by approximately 45%. In each
test condition 3 CS were compacted, except fot the VF assay, which were molded 6 CPs. The
results highlight the technical potential of the reinforced asphalt mixture in meeting the structural
needs of the asphalt wearing course in face of traffic level solicitations.
366
mesmo, assim como para a eficiência Tabela 1: Ensaios realizados no programa experimental
econômica da sua restauração. de pesquisa
Material
Nesse contexto, desenvolveu-se nesse Agregados minerais Ligante asfáltico
trabalho uma análise dos parâmetros mecânicos Análise granulométrica dos
derivados dos ensaios de Estabilidade Massa específica real -
agregados graúdos e miúdos -
ME 009 (DNER, 1998c)
Marshall, Resistência à Tração por ME 083 (DNER, 1998a)
Compressão Diametral, Módulo de Resiliência, Abrasão Los Angeles dos Pontos de fulgor e de
Vida de Fadiga e Creep Estático. O propósito agregados graúdos - ME 035 combustão - ME 148
(DNER, 1998b) (DNER, 1994d)
desse estudo foi fornecer um revestimento
asfáltico de qualidade compatível com as Adesividade dos agregados Viscosidade Saybolt-
graúdos ao ligante asfáltico - ME Furol - ME 004 (DNER,
exigências dos projetos de pavimentação 078 (DNER, 1994a) 1994e)
rodoviária através da inserção de reforço Absorção e massa específica dos
pH - ME 149 (DNER,
geossintético nessa camada estrutural. agregados graúdos - ME 195
1994f)
(DNER, 1997b)
Acredita-se que o desenvolvimento desta
Massa específica e massa
pesquisa poderá contribuir para incrementar o específica aparente do agregado Penetração - ME 155
banco de dados nacionais referentes ao reforço miúdo - NBR NM 52 (ABNT, (DNIT, 2010a)
geossintético de revestimentos asfálticos. 2009)
Solubilidade em
Equivalente de areia - ME 054
tricloroetileno - NBR
(DNER, 1997c)
14855 (ABNT, 2015)
2 MATERIAIS E MÉTODOS Índice de forma dos agregados
Ponto de amolecimento -
graúdos - ME 086 (DNER,
ME 131 (DNIT, 2010b)
1994b)
2.1 Materiais Sanidade dos agregados graúdos
- ME 089 (DNER, 1994c)
Os agregados minerais graúdos (brita 0 e brita Angularidade do agregado
1) e miúdo (pó de pedra) que foram utilizados miúdo - C 1252 (ASTM, 2006)
nesta pesquisa são de formação gnáissica e Partículas alongadas e achatadas
- D 4791 (ASTM, 2010)
oriundos da pedreira Ervália Ltda., localizada
no município de Ervália-MG. O ligante
asfáltico empregado foi o CAP 50/70, oriundo 2.2.2 Escolha da distribuição granulométrica de
da REGAP – Refinaria Gabriel Passos, projeto para as faixas B e C do DNIT
localizada no município de Betim-MG. O
material geossintético de reforço das misturas Foram selecionadas as faixas granulométricas B
asfálticas investigadas foi fornecido pela e C para as misturas asfálticas contempladas
empresa Ober S/A Indústria e Comércio, nessa pesquisa, conforme a especificação de
correspondendo a um geotêxtil não-tecido. As serviço ES 031 (DNIT, 2006a) destinada aos
características tecnológicas desse geossintético concretos betuminosos usinados a quente
foram fornecidas pelo fabricante, essas foram (CBUQs). Para as referidas faixas, as curvas
apresentadas na Tabela 4. granulométricas de projeto foram escolhidas
atendendo às especificações e limites impostos
2.2 Métodos pela especificação de serviço mencionada, de
acordo com o método de dosagem Marshall.
2.2.1 Caracterização tecnológica dos materiais
2.2.3 Dosagem experimental das misturas
Na Tabela 1, apresentam-se a identificação dos asfálticas
ensaios realizados sobre os materiais utilizados
nessa pesquisa para a confecção das misturas Os respectivos teores de ligante asfáltico de
asfálticas e as correspondentes normas projeto correspondentes às faixas
adotadas. granulométricas B e C foram determinados com
Os agregados foram coletados segundo os base no critério Vv (Volume de vazios) – RBV
procedimentos prescritos pela norma DNER (Relação Betume-Vazios), conforme os limites
PRO 120/97 (DNER, 1997a). máximo e mínimo para tais parâmetros
367
definidos pela especificação ES 031 (DNIT, Para as misturas asfálticas compostas não
2006a). reforçadas, foi adotado procedimento similar ao
descrito anteriormente, excetuando,
2.2.4 Procedimento experimental das misturas obviamente, as etapas correspondentes à
asfálticas compostas inserção do reforço geossintético.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 1: A) Mistura Faixa B; B) Mistura Faixa C; C)
Mistura Faixa B + Geotêxtil com impregnação, D) 3.1 Caracterização dos materiais
Mistura Faixa B + Geotêxtil + Mistura Faixa C
368
Os resultados referentes à caracterização 3.3 Método de dosagem Marshall
tecnológica dos agregados minerais estão
apresentados na Tabela 2. A Tabela 3 apresenta Após a verificação da curva granulométrica,
os resultados obtidos referentes à caracterização definiu-se o teor de projeto de ligante asfáltico
tecnológica do ligante asfáltico que estão em através do método de dosagem Marshall. As
conformidade com a especificação EM 095 respectivas dosagens das misturas asfálticas
(DNIT, 2006b). As características tecnológicas consideradas nessa pesquisa correspondentes às
do geotêxtil constam na Tabela 4. faixas B e C da especificação de serviço ES 031
(DNIT, 2006a) seguiram, rigorosamente, as
Tabela 2: Índices físicos dos agregados minerais exigências do método de dosagem Marshall. Os
Magnitude do índice físico valores de Vv obtidos na dosagem foram 4,36%
Índice físico Brita
0 Brita 1 Pó de pedra
e 4,19% para as faixas granulométricas B e C,
Abrasão Los respectivamente.
45 45 -
Angeles (%) Foram obtidos os teores de projeto de 4,2% e
Absorção (%) 1,14 1,14% - 4,7%, para as faixas granulométricas B e C,
Adesividade ao Satisfatória Satisfatória respectivamente. Os teores de ligante asfáltico
-
ligante betuminoso c/ aditivo c/ aditivo
Índice de forma 0,68 0,68 -
encontrados atenderam a todas as
Massa específica
especificações estabelecidas pela ES 031
2794 2794 2794 (DNIT, 2006a).
real (kg/m3)
Massa específica
2705 2705 -
aparente (kg/m3)
3.4 Ensaios mecânicos
Tabela 3: Resultados dos ensaios de caracterização do
ligante asfáltico empregado Considerando-se a aplicação da dosagem e da
Índice físico Magnitude do índice físico compactação Marshall, foram realizados os
Penetração (m) 0,0057 ensaios mecânicos previstos no item 2.2.5 sobre
Massa específica real (kg/m3) 1010 misturas asfálticas compostas não reforçadas e
Ponto de amolecimento (K) 324,15 misturas asfálticas compostas reforçadas por
Densidade Relativa (kg/m3) 1006
geotêxtil, cujos resultados são apresentados nas
Figuras 3, 4 e 5.
Ponto de Fulgor (K) 616,15
Ponto de combustão (K) 638,15
Solubilidade no 7000
100
Tricloroetileno (%) 6345 Não
6000 reforçada
369
compressão maior para que ocorresse a perda de
100000
estabilidade do material, proporcionada pelo
370
0 Geotêxtil
Deformação Plástica (m)
0,00002 Misturas
asfálticas
0,00004 reforçadas
com geotêxtil
0,00006
0,00008 Misturas
asfálticas não Figura 6: Ilustração da exumação de um corpo de prova
0,0001 reforçadas composto contendo o elemento de reforço.
0,00012
0 2000 4000 6000
Tempo (seg) 4 CONCLUSÃO
(a)
0 O maior grau de solidarização/aderência entre o
Misturas elemento de reforço e as camadas estruturais
0,0000005 asfálticas
“B” e “C” implicou em melhorias adicionais no
Deformação Plástica
Específica (m/m)
reforçadas
0,000001 com desempenho estrutural do conjunto reforçado.
geotêxtil
O reforço conferiu à mistura asfáltica rápida
0,0000015 Misturas recuperação elástica do material ao ser
asfálticas
0,000002 não submetido à ação de cargas. Admitiu-se,
reforçadas portanto, que esse fato está relacionado à
0,0000025
0 2000 4000 6000
capacidade do geotêxtil, aderido às camadas
Tempo (seg) “B” e “C”, de mobilizar o incremento da rigidez
(b) elástica da mistura asfáltica para as condições
Figura 5: Curvas de fluência (Creep estático) das de solicitação impostas às misturas asfálticas
misturas asfálticas pesquisadas: a) Deslocamento Plástico ensaiadas.
x Tempo; b) Deformação Plástica Específica x Tempo. A macrotextura da superfície das misturas
asfálticas teve influência direta na mobilização
No ensaio de fluência, constatou-se que a da aderência. Dentro dessa perspectiva a
atuação da carga de compressão estática superfície rugosa do CBUQ permitiu
ocasionou menores deslocamentos axiais acréscimos de aderência no contato entre as
permanentes nas misturas asfálticas reforçadas, camadas, proporcionando eficiente
tendo uma redução de aproximadamente 37%. intertravamento mecânico entre as camadas
Os valores médios obtidos para a deformação asfálticas e o reforço.
plástica foram de 5,5x10-5m e 7,47x10-5m, para
as misturas asfálticas reforçadas e não
reforçadas, respectivamente. Supõe-se que esse REFERÊNCIAS
fato está intimamente ligado ao adicional de
rigidez proporcionado pela inserção do ABNT (2009) NBR NM 52. Agregado miúdo –
elemento de reforço, verificado através do Determinação da massa específica e massa específica
aparente, Rio de Janeiro. 6p.
ensaio de Módulo de Resiliência. De maneira a ABNT (2015) NBR 14855. Materiais betuminosos –
comprovar o que foi observado nessa pesquisa, Determinação da solubilidade em tricloroetileno, Rio
segundo NG (2013), misturas de menor rigidez, de Janeiro. 5p.
ou ainda flexíveis, estão propensas a maiores Ante, J. R. O. (2012) Geossintéticos como reforço de
magnitudes de deformações permanentes. revestimentos em pavimentação. Dissertação
mestrado - Universidade de Brasília. Brasília – DF.
Portanto, o principal parâmetro responsável Ante, J. R. O. (2016) Desempenho de misturas asfálticas
pelo incremento no comportamento estrutural reforçadas com geossintéticos. Teses de doutorado -
dos sistemas reforçados é a condição de Universidade de Brasília, Brasília – DF.
aderência entre as camadas asfálticas e o ASTM (2006) C 1252 – Standard test method for
elemento de reforço. A exumação do corpo de uncompacted void contente of fine aggregate (as
influenced by particle shape, surface texture and
prova (Figura 6) evidencia o maior grau de granding). American Society for Testing and
solidarização/aderência entre os elementos Materials, USA. 5p.
dessa interface. ASTM (2010) D 4791 – Standard test method for flat
particles, elongated particles, or flat and elongated
371
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372
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Este artigo aborda um estudo dos parâmetros de capacidade de suporte de um solo arenoso
da região da Zona da Mata, norte do estado de Minas Gerais, e seu respectivo comportamento
mecânico quando reforçado com três categorias de geotêxteis: dois geotêxteis tecidos biaxiais de
polipropileno e um geotêxtil não tecido agulhado fabricado a partir de fibras 100% poliéster.
Inicialmente, o procedimento experimental foi baseado na caracterização e classificação geotécnica
do solo e nos ensaios de compactação nas energias do Proctor normal e modificado, a partir dos quais
foram moldados corpos de prova não reforçados e reforçados para os ensaios de Índice de Suporte
Califórnia (ISC), no teor de umidade ótimo e no peso específico aparente seco máximo das referidas
energias. A posição das inclusões de reforço dentro das amostras também variou, sendo colocadas à
1/2 e 1/4 da base do corpo de prova. Os resultados dos ensaios de CBR mostraram que a eficiência
dos mecanismos de reforço variou em maior ou menor grau de acordo com o tipo de geotêxtil, com
a magnitude das energias de compactação aplicadas e com a posição dos reforços entre as camadas
do solo.
ABSTRACT: This paper deals with a study of the parameters of support capacity of a sandy soil in
the Zona da Mata region, northern Minas Gerais State, and its respective mechanical behavior when
reinforced with three categories of geotextiles: two geotextiles biaxial polypropylene fabrics and one
geotextile non-woven needled made from 100% polyester fibers. Initially, the experimental procedure
was based on the characterization and geotechnical classification of the soil and on the compaction
tests in the standard and modified Proctor energies, from which non-reinforced and reinforced
specimens were molded for the California Bearing Ratio (CBR) tests, considering the optimum
moisture content and the maximum dry density. The position of the reinforcement inclusions within
the samples also varied, being placed at 1/2 and 1/4 of the base of the specimen. The results of the
CBR tests showed that the efficiency of the reinforcement mechanisms varied to a greater or lesser
degree according to the type of geotextile, the magnitude of the compaction energies applied and the
position of the reinforcements between the layers of the soil.
373
1 INTRODUÇÃO potencialidades dos geotêxteis como materiais
de reforço de um solo arenoso, com base nos
Assim como no concreto, os solos possuem, em ensaios de CBR, assim como avaliar a interação
geral, uma elevada resistência aos esforços de destes materiais com as particularidades deste
compressão e baixa resistência aos esforços de solo.
tração. No caso do concreto, o aço é utilizado
como material de reforço; já nos solos, é possível
o emprego de geossintéticos para reforçar e/ou 2 MATERIAIS E MÉTODOS
resistir às deformações em estruturas
geotécnicas (VERTEMATTI, 2015; GARCIA, 2.1 Materiais Empregados
2011).
Os geossintéticos são materiais 2.1.1 Solo
industrializados, constituídos de polímeros
sintéticos ou naturais, cujas propriedades A amostra do solo empregada neste estudo foi
contribuem para a melhoria de obras coletada em uma área interna à Universidade
geotécnicas, desempenhando as funções de Federal de Viçosa (UFV), localizada às margens
reforço, drenagem, filtração, separação, controle da estrada que dá acesso à Vila Secundino,
da erosão superficial e impermeabilização situado entre os Departamentos de Zootecnia e
(REZENDE, 2005; VETERMATTI, 2015). Com de Medicina, cujo local tem as coordenadas
exceção desta última, os geotêxteis podem geográficas 20º45’50.84”S e 42º61’31.69”O
desempenhar todas as demais funções quando (Figura 1).
empregados em obras viárias, sendo que tais
atribuições podem variar de acordo com a
configuração da estrada que se pretende
construir.
No papel de reforço, os geossintéticos tendem
a promover uma melhoria considerável na
distribuição das tensões transmitidas ao solo de
fundação. Tal benefício se deve a três
importantes mecanismos de interação entre o
geossintético e o material do subleito: resistência
lateral, aumento na capacidade de suporte e o
efeito membrana (BERG et al., 2000; Figura 1. Local de retirada da amostra, via imagem de
satélite (Google Earth).
GONÇALVES, 2015; CORREIA e AVESANI
NETO, 2016; ZORNBERG, 2012; GIROUD e O solo em estudo apresenta coloração
NOIRAY, 1981; GIROUD et al., 1994; esbranquiçada a cinza (Figura 2), com a presença
PERKINS e ISMEIK, 1997; HOLTZ et al., de um veio saprolítico. A coleta foi realizada no
1998). horizonte C (solo residual jovem).
Ressalta-se que, para que tais mecanismos
apareçam, diferentes níveis de deformação são
necessários nos pavimentos. Em vias não
pavimentadas, que toleram trilha de roda de
até10 cm, o efeito membrana e o aumento da
capacidade de suporte podem ser notados
(BERG et al., 2000). Já em pavimentos
asfálticos, deformações de tal magnitude são
inaceitáveis, excedendo os requisitos de serviço
da estrada. Neste caso, apenas o efeito da
resistência lateral será significativo (CORREIA
e AVESANI NETO, 2016; ZORNBERG, 2012).
Neste contexto, esta pesquisa visa estudar as Figura 2. Aparência do solo empregado na pesquisa.
374
2.1.2 Geossintéticos 2.2 Métodos
Na presente pesquisa, foram utilizados dois 2.2.1 Coleta e Preparação das Amostras
geotêxteis tecidos biaxiais de laminetes de
polipropileno, de alta tenacidade e elevada Os procedimentos de coleta consistiram na
resistência à degradação, tendoprincipais extração, ensacamento, identificação e
aplicações na separação de materiais e noreforço transporte dos volumes para o Laboratório de
construtivo em obras de terraplenagem. Da Engenharia Civil do Departamento de
mesma forma, foi empregado um geotêxtil não Engenharia Civil. Posteriormente, as amostras
tecido agulhado, fabricado à partir de fibras foram secas ao ar, destorroadas peneiradas e
100% poliéster. armazenadas em bombonas plásticas para sua
Nas Tabelas 1 e 2, apresentam-se as utilização nos ensaios previstos nesta pesquisa,
especificações técnicas dos materiais fornecidas conforme as determinações da NBR 6457
pelos fabricantes. (ABNT, 2016) – Amostras de solo – Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de
Tabela1. Especificações técnicas dos geotêxteis tecidos caracterização.
fornecidas pelo fabricante.
Propriedades Tecido Tecido
55/55 25/25
2.2.2 Ensaios de Caracterização Geotécnica
Resistência à tração nominal (NBR 12824/93)
Direção longitudinal 55 kN/m 25 kN/m A caracterização geotécnica do solo empregado
Direção transversal 55 kN/m 25 kN/m nesta pesquisa foi realizada de acordo com os
Deformação na resistência nominal (NBR 12824/93) procedimento contidos na Tabela 3.
Direção longitudinal ≤ 15 % ≤ 15 %
Direção transversal ≤ 15 % ≤ 15 % Tabela 3. Ensaios de caracterização do solo empregado na
Permeabilidade para carga ≥ 15 l/m2/s ≥ 20 l/m2/s pesquisa.
de água de 0,05 m (tol. ±5) (tol. ±5) Ensaios Norma Descrição
Abertura aparente de poros ≥ 0,20 mm ≥ 0,25 mm Massa NBR 6508 Grãos de solos que
– 090 (NBR ISO12956/13) (tol. ±5) (tol. ±5) específica dos (ABNT, passam na peneira
Massa por unidade de área 275 g/m2 175 g/m2 sólidos 1985) 4,8 mm –
Determinação da
Tabela2. Especificações técnicas dos geotêxtil não-tecido Massa específica
fornecidas pelo fabricante. Granulometria NBR 7181 Solos – Análise
Propriedades Norma Unidade Valor (ABNT, granulometrica
Resistência à ABNT 2016)
Tração de Faixa NBR ISO kN/m Limite de NBR 6459 Solo – Determinação
10319/13 10
Larga (T) Liquidez (ABNT, do Limite de
Alongamento % > 50 2016) Liquidez
Resistência a ABNT Limite de NBR 7180 Solo – Determinação
Tração Faixa NBR ISO kN/m 9
Mecânicas
5261/10
ASTM D
(AASHTO, 2008). Foi realizada, também, a
Resistência UV
(500h) 4355/14 % > 70 classificação MCT, conforme os métodos de
375
ensaio da CLA 259 (DNER, 1996), com leituras mantendo-se a mesma energia total aplicada no
complementares aos métodos de ensaio ME 258 solo.
(DNER, 1994) e ME 256 (DNER, 1994).
meio do corpo de prova (Figura 3b) e a 1/4 da Silte (0,002 ≤ % <0,06 mm) 18
base do corpo de prova (Figura 3c). Grossa
17
Frações
(%)
Limite de plasticidade 23
de
Índice de plasticidade 3
(a) (b) (c) Peso
Figura 3. Configurações dos corpos de prova para os específico
ensaios CBR: a) Corpo de prova sem geotêxtil; (b) dos s 25,32
Corpo de prova com geotêxtil no meio; (c) Corpo de sólidos
prova com o geotêxtil à 1/4 da base. (kN/m3)
376
Tabela 5. Classificação do solo.
Classificação
ABNT TRB USCS MCT
Areia – siltosa
com pouca A-2-4(0) SM NA’
argila
4 DISCUSSÕES
377
de resistência lateral, aumento da capacidade de nele do que em ensaios realizados em modelos
suporte e o efeito membrana tensionada, não de grande escala.
foram suficientes para mobilizar os geotêxteis, Na Figura 7, para a energia Normal, foram
uma vez que este solo já possui uma capacidade observados valores de expansão tanto da amostra
de suporte relativamente elevada (KOERNER, de referência quanto das amostras reforçadas
2012; FERREIRA, 2007). dentro dos limites estabelecidos pelo
Um comportamento contrário ao anterior foi Departamento Nacional de Infra Estrutura de
verificado nas amostras com geotêxteis quando Transporte – DNIT, para camadas do pavimento.
compactadas na energia do Proctor Modificado Já na energia Modificada, este índice
(Figura 6). Observou-se que houve um pequeno apresentou valores maiores que na energia
aumento nos valores no índice de suporte de Normal, tanto na amostra não reforçada quanto
todas as amostras reforçadas em relação à em quase todas configurações ensaiadas (tipo e
amostra de referência. Os maiores valores de posição dos reforços). Esta tendência foi
CBR encontrados foram para as amostras confirmada por Mendes (1973), que afirmou que
reforçadas T55.55_Pos1/2 e T25.25_Pos1/4, a aplicação de maiores magnitudes de energia de
com aumentos de 7,8% e 10,65%, compactação promove o aumento da
respectivamente. expansibilidade nos solos. Acrescenta-se que,
Esse comportamento sugere que o aumento da nas amostras com inclusões, estes valores
energia de compactação do solo gerou, em tenderam a serem maiores naquelas reforçadas
conjunto com os geotêxteis, uma camada de com geotêxteis menos permeáveis, tais como os
maior resistência (camadas de solo acima do T55.55 e NT10.
reforço) que afastou as superfícies potenciais de Destaca-se ainda que há uma correlação entre
ruptura (tensões cisalhantes) das camadas o aumento no valor do CBR com a diminuição
inferiores dos corpos de prova (camadas abaixo da expansão, entretanto esses parâmetros
do reforço), o que permitiu que o mecanismo de variaram de acordo com o tipo e as
aumento da capacidade de carga fosse mais configurações dos corpos de prova.
evidenciado nas amostras reforçadas.
Quanto à posição do reforço, não se observou
no estudo uma tendência bem definida neste 5 CONCLUSÕES
parâmetro. De um modo geral, nas amostras
reforçadas, compactadas na energia Normal, os A análise dos dados obtidos nos experimentos
geotêxteis posicionados à meia altura do corpo permitiu chegar às seguintes conclusões:
de prova apresentaram valores de CBR
ligeiramente maiores ou praticamente iguais às O emprego de diferentes magnitudes de
amostras com o reforço na posição mais energias de compactação teve uma influência
superficial. Por outro lado, para as amostras significativa nos parâmetros de capacidade de
compactadas na energia Modificada, observou- suporte do solo reforçado estudado nesta
se que os valores de CBR para os geotêxteis pesquisa;
posicionados a 1/4 da base do corpo de prova O comportamento dos reforços posicionados
foram maiores (T25.25 e NT10). no meio e a 1/4 da base dos corpos de prova
É importante destacar que a utilização do variou de acordo com a magnitude da energia
ensaio CBR para avaliar os efeitos de de compactação aplicada. No solo
geossintéticos na capacidade de suporte dos empregado, não se observou uma tendência
solos reforçados apresenta algumas limitações. bem definida para este parâmetro: na energia
Dentre elas, está o tamanho do cilindro de Normal, os valores de CBR tenderam a ser
CBR,que pode não simular as condições reais de maiores quando os geotêxteis se encontravam
capacidade de suporte em campo. Rudramurthy à 1/2 do corpo de prova, e na energia
e Vikram (2016) afirmaram que as pequenas Modificada, à 1/4 da base;
dimensões do molde CBR limitam o tamanho do O efeito escala pode ser um fator limitante
geotêxtil, e, por isso, os efeitos no aumento da para os resultados encontrados;
capacidade de suporte são menos pronunciados No ensaio de expansibilidade, tanto as
378
amostras não reforçadas quanto as reforçadas ASTM (2011). D 2487 - 11: Standard Practice for
mostraram um aumento do índice de Classification of Soils for Engineering Purposes
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RESUMO: O sistema rodoviário é o mais expressivo modal viário empregado no Brasil, sendo de
vital importância tanto no transporte de cargas quanto para o deslocamento da população, em todas
as regiões do país. Para que haja um bom funcionamento dessa modalidade de transporte, é
imprescindível que as estradas possibilitem tal mobilidade com adequada qualidade. Uma das
soluções que ajudam a viabilizar tais condições é o reforço das subcamadas com geossintéticos,
materiais de origem polimérica que possuem alta resistência e baixa deformabilidade. Assim sendo,
estudou-se o emprego da geogrelha MacGrid® NET, em contato com o solo característico da
cidade de Manaus, para o emprego em subcamadas de pavimentos regionais. Realizaram-se ensaios
para obtenção do limite de liquidez, limite de plasticidade, granulometria, massa especifica dos
grãos, parâmetros de compactação e a resistência à compressão simples (RCS). Os resultados da
caracterização física do solo indicaram: a) material fino, com 68,49% de argila; b) massa especifica
dos grãos de 2,6 g/cm³; c) valores dos limites de Atterberg iguais a 60,97% e 42,42%, para o limite
de liquidez e plasticidade, respectivamente; e d) umidade ótima de 32,12% e massa específica
aparente seca máxima igual a 1,42 g/cm³. O desempenho mecânico dos corpos de prova com a
inserção do geossintético, entre as camadas, mostrou maiores valores da RCS relativo à condição
natural (condição 1).
ABSTRACT: The road system is the most expressive modal road used in Brazil, being of vital
importance in both the transportation of loads and the displacement of the population, in all regions
of the country. In order for this mode of transport to function properly, it is imperative that roads
provide such mobility with adequate quality. One of the solutions that help to make these conditions
feasible is the reinforcement of the sub-layers with geosynthetics, materials of polymer origin that
have high resistance and low deformability. Thus, the use of the MacGrid® NET geogrid, in contact
with the characteristic soil of the city of Manaus, was studied for use in sub-layers of regional
pavements. Tests were carried out to obtain the liquidity limit, plasticity limit, grain size, specific
gravity, compaction parameters and the unconfined compression test (UCT). The results of the soil
physical characterization indicated: a) fine material, with 68.49% of clay; b) specific gravity of 2.6
g/cm³; c) values of the Atterberg limits equal to 60.97% and 42.42%, respectively; and d) optimum
moisture content of 32.12% and maximum dry unit weight equal to 1.42 g/cm³. The mechanical
381
performance of the specimens with the insertion of the geosynthetic, between the layers, showed
higher values of the UCT relative to the natural condition (condition 1).
382
21,00 kg e peso bruto 22,4 kg. Segundo o citado inicial do solo, e classificá-lo segundo a
fabricante, é um tecido técnico, produzido a engenharia geotécnica.
partir de filamentos de poliéster de alta Por último, analisou-se o solo quanto aos
tenacidade que, com baixos valores de seus parâmetros de compactação na energia
alongamento, mobiliza elevada resistência à intermediária, de acordo com a norma NBR
tração (Figura 1). 7182 (2016), que possibilita ter-se a massa
específica aparente seca máxima (ρdmax) e a
Tabela 1: Propriedades da geogrelha MacNet®. umidade ótima (wot).
Propriedades
mecânicas
2.4 Comportamento Mecânico
Resistência kN/m ASTM D 6637 45.0
longitudinal à
tração última Na execução dos ensaios de Resistência à
Resistência kN/m ASTM D 6637 45.0 Compressão Simples, acompanhou-se a NBR
transversal à tração 12770/92. Moldaram-se os corpos de prova
última (CP) conforme os parâmetros de compactação
Alongamento na % ASTM D 6637 35.0
resistência à tração determinados, e de acordo com a disposição (4
última condições) das camadas de solo e a presença da
Resistência ao kN ASTM D 6241 3.40 geogrelha mostrado na Figura 10. Portanto: a)
puncionamento condição 1, CP composto somente com solo; b)
CBR condição 2, CP de solo com a geogrelha
Resistência ao kN ASTM D 4533 1.70
rasgo trapezoidal
MacGrid® NET na interface entre as camadas
Propriedades 2-3, c) condição 3, CP com solo e a geogrelha
físicas entre as camadas 1-2, bem como na interface
Gramatura g/m2 ASTM D 5261 200 das camadas 2-3; d) condição 4, CP com solo e
Espessura mm ASTM D 6525 0.50 a presença da geogrelha entre a camada 1-2, 2-
Propriedades 3, e 3-4 (Figura 2).
hidráulicas
Permissividade s ASTM D 4491 0.70
Permeabilidade cm/s ASTM D 4491 0.04
Fonte: Catálogo Maccaferri® (2017).
2.3 Caracterização Física do Solo Figura 2: Condições dos corpos de prova para o ensaio de
RCS. Fonte: O autor.
Iniciou-se a preparação do solo com base nas
recomendações da norma NBR 6457 (2016), 2.5 Moldagem dos Corpos de Prova
que trata de amostras para ensaios de
caracterização e de compactação. Na sequência Inicialmente homogeneizou-se o solo com a
realizou-se os seguintes experimentos: adição de água para que atingisse a condição de
granulometria (NBR 7181, 2016), limite de umidade ótima. Em seguida, verteu-se essas
liquidez (NBR 6459, 2016), limite de misturas em camadas, segundo os parâmetros
plasticidade (NBR 7180, 2016), e massa de compactação obtidos, bem como introduziu-
específica dos grãos (NBR 6508, 1984). Tais se a geogrelha, resultando no corpo de prova
ensaios buscam entender o comportamento para o ensaio mecânico.
383
Os corpos de prova foram moldados 3 RESULTADOS
aplicando-se o mesmo número de golpes para
cada camada referente à energia intermediaria, Os resultados da caracterização física
ou controlando-se as alturas e as massas apontaram: limite de liquidez (LL) de 60,97% e
determinada pela equação (1), caso do corpo de limite de plasticidade (LP) de 42,42%.
prova alusivo à condição 4. Calculando-se, assim, o Índice de plasticidade
(IP) igual a 18,55%. Segundo DAS (2011)
M d max .1 wot . GC.V (1) indica um solo de média plasticidade. A
granulometria qualificou o solo como uma
Onde: argila areno siltosa.
O conjunto desses dados tipifica o solo “in
M = massa a ser compactada (g); natura”, segundo o Sistema Unificado de
GC = grau de compactação (100%); Classificação dos Solos (SUCS) e a American
dmax = massa específica aparente seca máxima Association of State Highway and
(g/cm3); Transportation Officials (AASHTO), como MH
wot = umidade ótima (%); (silte inorgânica de alta plasticidade) e A-7-5
V = volume da camada a compactar. (solo argiloso com alta plasticidade) (DAS,
2011). Tais resultados também mostraram o
2.6 Execução do Ensaio de Resistência à material natural como inadequado para
Compressão Simples utilização em subcamadas de pavimento (DAS,
2011). Igualmente, se determinou o valor de
Na sequência executaram-se os ensaios de 2,59 g/cm³ para a massa especifica dos grãos.
resistência à compressão simples na Universal Quanto aos parâmetros de compactação
Test Machine 14, com o auxílio do software calculados na energia intermediária, obteve-se
UTS002 3.13b. Obteve-se, ao final do os valores de umidade ótima e massa específica
experimento, a força máxima de ruptura. De aparente seca máxima iguais a 32,13% e 1,44
posse deste valor, determinou-se os valores da g/cm³, respectivamente (Gráfico 1).
RCS. Na Figura 3 mostram-se detalhes da
execução do citado teste no Laboratório de Gráfico 1: Curva de compactação. Fonte: O autor.
Mecânica do Solos do Grupo de pesquisa em
Geotecnia da UFAM.
384
Tabela 2: Resultados do Ensaio de Resistência à análises dos resultados permitem concluir os
Compressão Simples. seguintes pontos:
Condição 1 2 3 4
a) Quanto a caracterização geotécnica, os
wcp (%) 31,56 31,74 31,44 31,69
RCS (kPa) 474,54 722,09 767,10 750,39 resultados mostraram um solo natural com
predominância de finos, notadamente na fração
argila, e tendo média plasticidade. Segundo a
4 DISCUSSÃO literatura, tais características classificaram o
material como inadequado para uso em base de
Por meio de pesquisa bibliográfica sobre pavimentos.
trabalhos similares, verificou-se que os b) Os parâmetros advindos dos ensaios de
resultados obtidos no estudo em pauta compactação apresentaram um solo com alta
corroboram com os dados apresentados na umidade ótima, típico dos solos argilosos.
literatura. Oliveira (2016) pesquisou a c) O reforço do solo com geogrelha por se
caracterização do comportamento mecânico de tratar de um processo físico, não altera as
solos típicos da região do Alto Paraopeba propriedades físico-químicas do solo natural.
(MG), reforçados com geotêxtil não-tecido. A d) Os ensaios mecânicos comprovaram que a
pesquisa envolveu a realização de ensaios de adição da geogrelha MacNet® Grid acarretou
resistência à compressão simples (RCS), benefícios quanto ao comportamento mecânico
considerando-se as condições reforçada e não- mostrado pela RCS.
reforçada, segundo as energias Normal, Pelo exposto, constata-se que a utilização de
Intermediaria e Modificada. Seus resultados geossintéticos é uma alternativa viável para a
mostraram que, o incremento do geotêxtil não- construção de subcamadas de pavimentos de
tecido proporcionou o acréscimo da RCS em Manaus.
18%, 16% e 38% de acordo com o aumento da
energia de compactação.
De forma similar, Simões (2017) descreve REFERÊNCIAS
que o incremento de geogrelhas com aberturas
ANTUNES, L. G. S. Reforço de Pavimentos Rodoviários
diferentes acarretou no aumento do valor de com Geossintéticos. (2008). Dissertação de Mestrado,
RCS para um solo típico de Campinas. Usou Publicação G.DM- 166/08, Departamento de
geogrelhas tecidas, que propiciou um acréscimo Engenharia Civil, Universidade de Brasília, Brasília,
da RCS na faixa de 28% a 40%, para uma única DF, 158p.
camada do geossintético, e entre 40% a 60% no ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS - ABNT. NBR 6457: Amostras de Solo –
caso de duas camadas. preparação para ensaios de compactação e ensaios de
Pelo exposto, destaca-se que o trabalho em caracterização. Rio de Janeiro, 2016.
pauta seguiu o padrão encontrado em outras ______. NBR 6459: Solo – determinação do limite de
pesquisas, bem como, que a presença da liquidez. Rio de Janeiro, 1984.
geogrelha MacNet® Grid contígua ao solo ______. NBR 6508: Determinação da massa específica,
da massa específica aparente e da absorção de água.
argiloso de Manaus apresentou ganhos Rio de Janeiro, 1984.
significativo na Resistência à Compressão ______. NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
Simples (RCS), comprovando a sua viabilidade plasticidade. Rio de Janeiro, 1984.
técnica. ______. NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio
de Janeiro, 1984.
______. NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação. Rio
de Janeiro, 1984.
4 CONCLUSÕES ______. NBR 12770: Solo coesivo – Determinação da
resistência à compressão não confinada. Rio de
O presente trabalho teve como objetivo Janeiro, 1992.
principal estudar a participação da geogrelha DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 7ª
Edição. Tradução All Tasks – São Paulo: Thomson
MacNet® Grid, tendo como material adjacente Learning. 2011.
o solo argiloso típico da cidade de Manaus, com DNIT. Manual de Pavimentação. 3. ed. Rio de Janeiro,
a finalidade de viabilizá-lo tecnicamente para o 2006.
uso em base de pavimentos. Desta forma, as FERREIRA, J. A. Z. Estudo De Reforço De Pavimentos
385
Com Ensaios De Arracamento Em Equipamentos De
Pequenas Dimensões. 2007, Dissertação de Mestrado,
Departamento de Engenharia Civil, Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São
Paulo.
GONÇALVES, F. P. Os desempenhos de pavimentos
flexíveis. 1999.
RELATÓRIO GERENCIAL. Pesquisa CNT de rodovias
2016. – 20.ed. – Brasília: CNT : SEST : SENAT,
2016
SIMÕES, L. M. Avaliação laboratorial da resistência a
compressão de estruturas em solo reforçado com
geossitntético. 1º amostra de talentos da Graduação:
Inovação, criatividade e excelência de produção de
TCC. Campinas: PUC, 2017.
386
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The presence of localized compressible region (LCR) in the subgrade can lead to
localized ruptures, developing differential settlements and increase the surface degradation. Due to
the difficulty to locate these LCRs in areas of risk, it is necessary to use some reinforcement in the
structure in order to avoid the propagation of the deformations to the surface. The present research
aimed to evaluate experimentally the performance of unpaved road reinforced with geogrid on a
subgrade with LCR of 18 cm in diameter and 10 cm in height, located in the axis of loading. Three
cyclic load tests were performed to simulate the traffic, namely, without the LCR without
reinforcement, with the LCR and without reinforcement and with the LCR with reinforcement. The
criteria adopted to finish the tests were the sinking of 75 mm of the loading plate. The results
showed that the presence of the LCR on the subgrade caused a reduction of up to 99% in the road
service life, reducing from 270.000 to 2.307 supported loading cycles. When inserting the
geosynthetic reinforcement there was an increase in the number of loading cycles in 52,3 times,
resulting in 120.692 cycles. In terms of tensions transferred to the subgrade, the activation of the
membrane effect was observed due to the soil-geosynthetic interaction and the occurrence of
localized displacement. The use of the geogrid as a reinforcement in the presence of a LCR in the
subgrade extend the road service life, which, for real conditions, allows maintenance at longer
intervals.
387
1 INTRODUÇÃO superfície. Em consequência, há um déficit de
estudos envolvendo carregamento constante e
Além dos problemas que frequentemente cíclico sobre cavidades/bolsões compressíveis
afetam o desempenho de estradas não no solo, condição da presente pesquisa.
pavimentadas, citados por Baesso & Gonçalves Este trabalho visou estudar a aplicação de
(2003), quais sejam, seção transversal geossintético, em especial uma geogrelha, como
imprópria, drenagem inadequada, corrugações, elemento de reforço de uma estrada não
trilhas de roda, segregação, excesso de pó na pavimentada, na presença de um bolsão de solo
pista e buracos, Giroud et al. (1990) destaca compressível no subleito, com o objetivo de
também a presença de bolsões compressíveis aumentar a vida útil da estrada, reduzir as
(heterogeneidade) ou cavidades (vazios) no deformações superficiais e, consequentemente,
subleito. Estes bolsões levam a rupturas diminuir os custos de manutenção
localizadas, provocando recalques diferenciais
da via e acelerando sua degradação. Segundo
Giroud et al. (1990), o recalque diferencial 2 MATERIAL E MÉTODO
devido a lentes de solos compressíveis ocorre
frequentemente sob aterros rodoviários. 2.1 Materiais
Devido às dificuldades de localização de
bolsões compressíveis ou cavidades em áreas de No presente trabalho foi estudado,
risco, surge a necessidade de utilizar algum tipo experimentalmente, o comportamento de
de reforço na construção de rodovias ou linhas estradas não pavimentadas para três
férreas, a fim de evitar a propagação da configurações distintas: configuração
deformação na superfície causada pela ruptura convencional de uma estrada não pavimentada,
da área acima do bolsão. A aplicação de sem a presença de um bolsão compressível e
geossintéticos, em uma ou mais camadas, é uma sem reforço geossintético; com a presença de
solução de reforço atrativa por ser de fácil um bolsão compressível e sem reforço; e com a
implantação e baixo custo (Villard & Briançon, presença do bolsão compressível e o reforço
2008). geossintético.
Diversos pesquisadores estudaram a Para simulação do comportamento de uma
utilização de geossintéticos sobre cavidades em estrada não pavimentada reforçada com
solos, dentre eles, Giroud et al. (1988), Giroud geogrelha, na presença do bolsão compressível,
et al. (1990), Villard & Briançon (2008), foi adotado o perfil transversal apresentado na
Tahmasebipoor et al. (2012), Feng & Lu Figura 1.
(2015), Huckert et al. (2015), Villard et al.
(2016) e Tano et al. (2018). Ressalta-se que o
emprego do termo cavidade nesses estudos
equivale ao momento de ruptura do bolsão
compressível. De modo geral os estudos
abordaram os efeitos no dimensionamento da
estrutura em função das propriedades físicas e
mecânicas dos geossintéticos e do solo;
diâmetro, quantidade e distância entre
cavidades; altura da camada superior ao
reforço; e tensão e atrito na interface solo-
geossintético. No estudo de Huckert et al.
(2015) o emprego do reforço geossintético Figura 1: Perfil transversal da estrada não pavimentada
reduziu as deflexões na superfície, além de estudada.
impedir o colapso da estrutura. Observa-se, no
entanto, que as considerações de carregamento No subleito, com espessura de 30 cm, foi
impostas aos sistemas foram adotadas como emprega uma areia seca, de granulometria fina
constantes e uniformemente distribuídos na à média, uniforme e mal graduada. Para o
388
aterro, cuja espessura foi de 22 cm, adotou-se a Foram realizados três ensaios de carregamento
Brita 1, de origem calcária. A simulação do cíclico para avaliação do comportamento da
bolsão no subleito se deu pelo emprego de uma estrada não pavimentada. Na Tabela 1
espuma cilíndrica, com altura de 10 cm e encontram-se as nomeclaturas adotadas para os
diâmetro de 18 cm, alinhada com o eixo de ensaios.
carregamento. Por fim, o reforço geossintético
empregado foi uma geogrelha biaxial, flexível e Tabela 1: Identificação e descrição dos ensaios
especificamente desenvolvida para reforço de realizados.
base e sub-base de pavimentos. A rigidez à Identificação Descrição do ensaio
tração secante média a 5 % de deformação, SR-SE Sem reforço e sem espuma
obtida conforme ABNT (2013), foi de 685 Sem reforço, com espuma de 18 cm
SR-CE-18
de diâmetro
kN/m. Já sua malha possui abertura equivalente
Com reforço, com espuma de 18 cm
de 35,5 mm. CR-CE-18
de diâmetro
389
dos equipamentos de compressão, pelo fato de a de monitorar o deslocamento vertical da placa
espuma ser altamente deformável se comparada de carregamento e da superfície do aterro. Dois
a amostras de solo. medidores foram situados na borda da placa de
carregamento e os demais distanciados em 14
20 cm, 19 cm e 31 cm do centro da placa, todos
18 alinhados com o eixo de carregamento. Para
16
14
aferição da carga aplicada no ensaio, empregou-
se uma célula de carga alinhada com o cilindro
Pressão (kPa)
12
10 hidráulico e centralizada na placa de
8
6
carregamento.
4 Para simulação da ação do tráfego de eixo-
2 padrão o conjunto motor-bomba foi configurado
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
para aplicar o carregamento de 14,3 kN,
Deformação vertical (%) correspondente à pressão de 560 kPa, numa
Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 frequência 1 Hz.
Figura 3: Avaliação da compressibilidade da espuma. Durante os ensaios foram registradas as
leituras analógicas da instrumentação, quais
O reforço geossintético foi instalado entre as sejam, células de tensão total, célula de carga e
camadas do subleito e do aterro. A amostra de transdutores de deslocamento linear, e estas
geogrelha possuiu diâmetro de 1,50 m, leituras foram convertidas em digitais através
suficiente para ancoragem no interior do aterro, do sistema de aquisição de dados. O software
uma vez que o tanque possui diâmetro interno empregado foi o AqDados 7 para aquisição e
de 1,00 m. procesamento dos sinais da instrumentação.
A camada de base, onde empregou-se como
material a Brita 1, foi compactada estaticamente 2.4 Determinação do fator de eficiência
de modo a atingir uma compacidade relativa de
95% e peso específico médio de 16,4 kN/m3. O fator de eficiência (TBR, Traffic Benefit
Devido à pressão de aproximandamente 3,6 kPa Ratio) foi determinado para avaliar a eficiência
exercida pela camada de base ocorre do geossintético na função de reforço. De
inicialmente uma deformação vertical da acordo com Perkins & Ismeisk (1997), este
espuma de cerca de 3,5 cm, conforme fator é definido como a razão entre o número de
comportamento tensão-deformação apresentado repetições de carga (N r ) necessário para atingir
na Figura 3. um determinado afundamento na estrada
Após a montagem da estrada não reforçada e o número de repetições para se
pavimentada procedeu-se com a instalação da atingir o mesmo afundamanto na estrada não
instrumentação superficial, apresentada na reforçada (N u ), conforme Equação 1. Para o
Figura 4. presente estudo, como já informado, adotou-se
o afundamento de 75 mm.
Nr
TBR = (1)
Nu
390
possível estimar o ângulo do tronco de cone 75
70
para a situação sem reforço (β’) e com reforço 65
60
(β”). Na Figura 5, observa-se o mecanismo de
Deslocamento (mm)
55
50
propagação de tensões no interior de uma 45
estrada devido ao carregamento externo, para as 40
35
configurações sem reforço e reforçada. 30
25
20
15
10
5
0
0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000
Número de ciclos (N)
SR-SE SR-CE-18 CR-CE-18
391
ensaio. de espraiamento. Este aumento ocorreu devido
Comparando-se os resultados com a ao fato de a geogrelha melhorar a distribuição
configuração sem reforço e sem espuma de tensões para o subleito.
observa-se que ocorreu um aumento no níveis
de tensões para as demais configurações, Tabela 2. Valores dos ângulos de espraiamento medidos
tornando-se mais evidente na profundidade de no ensaios.
10 cm. Esse aumento nas tensões deveu-se ao Ensaio Ângulo de espraiamento β (grau)
fato que a presença do bolsão levou à uma SR-SE 11
alteração na distribuição de tensões nas SR-CE-18 16
adjacências, visto que a espuma e o subleito CR-CE-18 29
possuem rigidez diferentes. Ao analisar os
resultados para configuração reforçada, na
presença do bolsão, ocorreu um aumento ainda 4 DISCUSSÃO
maior nos níveis de tensões, justificado pela
ativação do efeito membrana. O emprego da geogrelha como reforço da
estrada não pavimentada, na presença de um
Tensão Total Máxima (kPa)
bolsão compressível no subleito, proporcionou
22 24 26 28 30 32 34
0
uma melhora no desempenho estrutural da
estrada. Este fato é observado no aumento no
Profundidade no subleito (cm)
1
2 número de ciclos de carregamento suportados,
3
4
de 2.307 para 120.692, e no aumento da
5 capacidade de suporte, que refletiu numa bacia
6 de deformação superficial menos acentuada nas
7
8 proximidades da placa de carregamento.
9 Os resultados apresentados, em termos de
10 tensões transferidas ao subleito, mostraram um
11
12 aumento nos valores de tensões ao inserir a
SR-SE SR-CE-18 CR-CE-18 espuma no subleito, principalmente para a
Figura 8: Tensões totais transferidas ao subleito a 5 cm situação reforçada na qual ocorreu um aumento
da borda da placa de carregamento versus profundidade. de 44% na profundidade de 10 cm. Esse
aumento foi atribuído à ativação do efeito
3.3 Fator de eficiência membrana. De acordo com Burd (1995) e
Giroud & Han (2004), para haver a ativação do
Dispondo-se dos números de ciclos de efeito membrana é necessário que hajam
carregamentos atingidos até se obter o grandes deformações no eixo de carregamento.
afundamento de 75 mm da placa de A ativação deste efeito promove uma redução
carregamento e da Equação 1 pôde-se calcular o nas tensões transferidas logo abaixo da área
fator de eficiência do reforço para a carregada e fora desta área a membrana
configuração reforçada e com a presença do tracionada pelo soerguimento do solo (efeito
bolsão compressível. O TBR calculado foi de dilatância) pressiona para baixo a região do
52,3, o que na prática indica uma vida útil 52,3 subleito e consequentemente proporciona um
vezes maior da estrada na presença de bolsão aumento nas tensões verticais transferidas.
compressível, quando é empregada a geogrelha O fator de eficiência de 52,3 representa,
como reforço. numericamente, o ganho de desempenho da
estrada estudada. Esse ganho deve-se,
3.4 Ângulo de espraiamento de tensões principalmente, a três mecanismos citados por
Perkins & Ismeik (1997): ativação do efeito
Na Tabela 2 encontram-se os resultados obtidos membrana, restrição à movimentação lateral e
para o ângulo de espraiamento de tensões. Ao aumento na capacidade de carga. Dessa forma,
inserir o reforço na configuração com espuma pode-se concluir que houve uma boa interação
observa-se um aumento considerável no ângulo entre o material de aterro e o geossintético
392
empregado. Giroud, J. & Han, J. (2004). Design method for Geogrid-
Reinforced unpaved roads. I. Development of Design
Method. ASCE Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, v. 130, n. 8, p. 775-
5 CONCLUSÃO 786.
Huckert, A.; Briançon, L.; Villard, P.; Garcin, P. (2015).
No presente trabalho, o emprego da geogrelha Load transfer mechanisms in geotextile-reinforced
como reforço de estrada não pavimentadas embankments overlying voids: Experimental and
analytical approaches. Geotextiles and
mostrou-se eficiente mesmo na presença de um Geomembranes, v. 44, n. 3, p. 442-456.
bolsão compressível no interior do subleito, Perkins, S.W. & Ismeik, M. (1997). A Synthesis and
conforme observado nos resultados Evaluation of Geosynthetic Reinforced Base Layers in
apresentados. Flexible Pavements: Part 1. Geosynthetics
A inserção do reforço, na presença do International, v. 4, n.6, p. 549-604.
Tahmasebipoor, A.; Noorzad, R.; Shooshpasha, E.;
bolsão, proporcionou um ganho estrutural para Barari, A. (2012). A parametric study of stability of
a estrada, prolongando em aproximadamente 52 geotextile-reinforced soil above an underground
vezes o número de ciclos de carregamento cavity. Arab J Geosci, v. 5, p. 449-456.
suportados, quando comparado com a situação Tano, B. F. G.; Stoltz, G.; Coulibaly, S. S.; Bruhier, J.;
não reforçada, para um deslocamento Dias, D.; Olivier, F.; Touze-Fouze, N. (2018). Large-
scale tests to assess the efficiency of a geosynthetic
referencial de 75 mm da placa de carregamento. reinforcement over a cavity. Geosynthetics
Além disto, a atuação do reforço resultou numa International, v. 25, n. 2, p. 242-258.
bacia de deslocamentos mais suave nas Villard, P., Briançon, L. (2008). Design of geosynthetic
proximidades do eixo de carregamento, reinforcements for platforms subjected to localized
melhorando o conforto do usuário e reduzindo sinkholes. Canadian Geotechnical Journal, v. 45, n. 2,
p. 196-209.
os efeitos de degradação superficial da via pela Villard, P.; Huckert, A.; Briançon, L. (2016). Load
ação do tráfego e clima. transfer mechanisms in geotextile-reinforced
embankments overlying voids: Numerical approach
and design. Geotextiles and Geomembranes, v. 44, p.
REFERÊNCIAS 381-395.
393
394
Melhoria de solos com geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: Improper disposal of insoluble tyres generates problems to the environment and
society. In order to find a correct alternative to destinate this material, civil construction has
proposed methods for the use of these residues. This work aims to study the application of rubber
tyre reject in the reinforcement of soils for road works in the municipality of Chapecó/SC. The
rubber residue was added to samples of natural soil in the contents of 5, 15 and 20%, analyzing the
behavior of these mixtures in their indices of consistency, granulometry, compaction and shear
strength. The results showed reductions of 4% of the maximum dry mass, and 40% in the support
capacity of the soil with the addition of the tyre residue, but even with an increase in the ISC, this is
still below the recommendations, making it impossible to use it to asphalt intermediate layer and
asphalt base layer. Through the direct shear test that was performed in the saturated and unsaturated
samples, it was observed that there was an increase in shear strength by 15% with the addition of
residue, mainly for the saturated samples.
397
inservível, e por ser um elemento que demora reforço de solos através da estabilização
para decompor-se, o seu descarte deve ser granulométrica.
realizado de foma sustentável.
Nos centros urbanos, o destino desse 2.1 Reforço de Solos com a Utilização de
material é realizado em aterros a céu aberto o Pneus Inservíveis
que provoca proliferação de roedores, insetos e
doenças como dengue, zika vírus e Segundo Rissoli & Araújo (2014), o uso de
chikungunya, estas transmitidas pelo mosquito pneus inservíveis em obras geotécnicas é
Aedes aegypti. variado. A opção por utilizar este resíduo deve-
Nos últimos anos, novas tecnologias estão se à suas características, como baixo peso
sendo desenvolvidas para minimizar os específico, baixa condutividade térmica,
impactos ambientais causados pela má propriedades granulométricas e de aderência.
disposição dos resíduos, unificando as questões Um dos desafios é garantir que o solo possua
ambientais com a melhoria de propriedades de resistência suficiente para resistir as solicitações
materiais naturais, como os solos. impostas. Em casos em que o solo presente no
A construção de pavimentos rodoviários local em que deseja-se construir ou pavimentar
exige a escolha de materiais nobres para atender não atenda os requisitos da obra, é necessário
aos critérios normativos de suporte, e, algum tipo de intervenção (Bolaños &
atualmente constata-se a escassez destes Casagrande, 2013).
materiais nobres nos cortes obrigatórios, sendo Para Amprino (2011), a utilização deste
necessária a busca por novas jazidas. Estas resíduo como reforço apresenta vantagens como
novas áres de empréstimos, contudo, provocam baixo custo por unidade, não prejudica os
maior degradação ambiental, além de aumentar lençóis freáticos e aquíferos e tem alta
o custo da operação de terraplanagem devida durabilidade. Sua mistura ao solo pode elevar a
elevada distância de transporte. resistência ao cisalhamento tornando o produto
A fim de apresentar uma solução para técnico e ambientalmente satisfatório.
reduzir os custos e melhorar o tratamento do
solo, o presente trabalho trata da utilização de
resíduos de pneus inservíveis em solo do 3 MATERIAIS E MÉTODOS
município de Chapecó/SC, tendo como
principal objetivo comparar os resultados de 3.1 Localização e Coleta das Amostras
resistência e suporte entre amostra de solo
natural e compósito solo-borracha. A amostra denominada de Solo Natural foi
coletada em um talude de corte obrigatório,
demonstrado na Figura 1, localizado na
2 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO Avenida Ernani Sander, trecho que liga a
Avenida Leopoldo Sander ao Aeroporto
A grande competição econômica e a elevada Serafim Enoss Bertaso e a SC 480 no município
busca do mercado faz com que a produção de Chapecó/SC.
industrial cresça em ritmo acelerado
aumentando produção de resíduos. Uma
preocupação da sociedade atualmente está no
descarte destes materiais, em que na sua maior
parte, não são descartados adequadamente
ocasionando prejuízos ao meio ambiente e a
sociedade (Silva & Silva, 2013).
De acordo com Lagarinhos (2011), uma
forma de minimizar os impactos ambientais é a
reciclagem do resíduo. O pneu inservível pode
ser reutilizado de diversas formas, como: muros
de contenção, móveis, confecção de tatames, e, Figura 1. Talude utilizado para coleta do solo. Fonte:
Arquivo pessoal.
398
demostrado na Figura 3.
O resíduo de borracha utilizado foi doado
por duas empresas de recapagens de pneus, do
municipio. Após a coleta do resíduo este foi
moído em laboratório para posterior aplicação
nas misturas. Os aspectos físicos do material
podem ser analisados pela Figura 2. #4 #10 #30
#16
399
executado para todas as amostras estudadas, e a
Figura 4 apresenta a deformação de algumas Amostra 2 Amostra 3
Amostra 4 solo natural
amostras após ensaio.
Figura 4. Amostras após ensaio. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 5. Curvas granulométricas. Fonte: Adaptado de
GEMELLI (2017).
3.7 Cisalhamento Direto
O solo natural apresenta em sua composição
O ensaio de cisalhamento é o método mais 70,2% de argila, 17,3% de silte e 11,1% de
utilizado, e tem como base a metodologia de areia, com determinação textural classificada
Coulomb, onde é aplicado uma tensão em um como argila silto arenosa.
plano e analisado a tensão de cisalhamento que
provocou a ruptura. 4.2 Massa Específica dos Grãos e Limites de
Para este ensaio as amostras foram Consistência
confeccionadas em um cilindro Proctor Normal
com 10 cm de diâmetro interno e rompidas com O resultado dos ensaios de massa específica,
tensões normais de 100, 200 e 300 kPa. Todas limite de liquidez e limite de plasticidade das
as amostras apresentadas na Tabela 1 foram amostras são apresentados na Tabela 2.
cisalhadas considerando saturação e não
saturação, sob as mesmas tensões. Tabela 2. Caracterização física das amostras. Fonte:
Elaborado por GEMELLI (2017).
LL LP γd.máx
Tipo IP (%)
(%) (%) (g/cm³)
4 RESULTADOS E ANÁLISES
Solo Natural 58,5 45,5 12,98 2,58
4.1 Granulometria do Solo Natural e Mistura 1 54,5 45,9 8,55 -
Amostras -
Mistura 2 48,3 43,8 4,58
Mistura 3 49,6 42,9 6,71 -
O resultado da análise granulométrica das
amostras e para o resíduo de borracha é
apresentado pela Figura 5. Segundo a classificação de Burmister (1949),
pode-se observar que todas as amostras
apresentaram os valores dos índices de
plasticidade, média a baixa plasticidade.
Verifica-se que o índice de plasticidade é
reduzido na adição do resíduo de borracha. Para
a Mistura 1, que apresenta 5% de resíduo
incorporado, a redução foi de 34%. Já, nas
Misturas 2 e 3, a redução foi de 65% e 48%,
respectivamente.. Conclui-se ainda, que a
400
diminuição do IP não é proporcional ao teor de observa-se na Tabela 3 que o teor de umidade
borracha, mas sim, ao tamanho das suas ótimo também é reduzido, em até 13%, no caso
partículas, uma vez que a Mistura 2 (que possui da Mistura 2. Da mesma forma que na análise
15% de adição) apresentou o menor índice de do índice de plasticidade, conclui-se que a
plasticidade, quando comparada com a Mistura redução da umidade não se dá pela porcentagem
3 (20% de adição). da adição, mas sim, pela granulometria do
material aplicado.
4.3 Compactação
4.4 Índice Suporte Califórnia
As curvas do ensaio de compactação Proctor
Nomal obtidas para o Solo Natural e Misturas 1, Após a realização dos ensaios para determinção
2 e 3 são apresentados através da Figura 6. do ISC para cada uma das amostras traçou-se as
curvas de pressão x penetração. Para as
Misturas 2 e 3 houve a necessidade de corrigir
Amostra 1 Amostra 2
as curvas, pois apresentaram concavidade
Amostra 3 Amostra 4 voltada para cima.
Massa específica seca (g/cm³)
Através da Figura 6 é possível observar que Conclui-se com a Tabela 4 que a adição de
a incorporação de resíduo diminuiu a massa resíduo não aumenta a capacidade de suporte, e
específica seca máxima das amostras assim que a medida que o teor aumenta, a capacidade
como a umidade, ou seja, manteve-se de suporte diminui.
praticamente na mesma densidade que a A diminuição da capacidade de suporte
amostra do Solo Natural. Conclui-se, que as deve-se ao aumento na expansão e
partículas de pneu adicionadas ao solo, reduzem consequentemente a quantidade de água
a massa específica seca máxima em até 4%. absorvida resultado do grande número de
A Tabela 3 apresenta os resultados do ensaio vazios, devido a dificuldade dos materiais (solo
de compactação para as amostras. e borracha) se integrarem um ao outro durante a
homogeneização da mistura. Estes são dois
Tabela 3. Resultados ensaio de compactação. Fonte: materiais não aglomerantes, o que pode
Elaborado por GEMELLI (2017).
caracterizar em um grande número de vazios.
Amostra wótm. (%) ρ (g/cm³)
Solo 4.5 Cisalhamento Direto
Natural 38,36 1,285
Mistura 1 34,62 1,293 O ensaio de cisalhamento direto foi realizado
Mistura 2 33,47 1,231 para amostras não saturadas e saturadas com o
Mistura 3 35,30 1,230 intuito de comparar e avaliar os resultados das
tensões cisalhantes máximas nas duas situações
Apesar da massa específica seca máxima ser para o Solo Natural e demais Misturas.
diminuída com o acréscimo de borracha, Através das leituras obtidas durante a
401
realização dos ensaios foi possível obter os
gráficos de tensão cisalhante (kgf/cm²) x 100 kPa 200 kPa 300 kPa
Figura 8. Curva tensão x deformação/ Solo Natural 100 kPa 200 kPa 300 kPa
saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017).
402
O comportamento das curvas de
100 kPa 200 kPa 300 kPa
cisalhamento da Mistura 3 assemelham-se com
as da Mistura 2, apresentando uma tensão
residual.
As Tabelas 5 e 6 apresentam os parâmetros
de resistência obtidos nos ensaios para todas as
amostras.
SATURADO
TIPO σN(kPa)
τC (kPa) ϕ' c’ (kPa)
100 92
Solo
200 138 22,7° 51
Natural
300 178
100 78
Mistura
200 158 26,5° 37
1
300 184
Figura 13. Curva tensão x deformação/ Mistura 3 não
saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017). 100 96
Mistura
200 196 36,3° 18
2
300 246
100 kPa 200 kPa 300 kPa 100 98
Mistura
200 175 34,1° 26
3
300 228
403
havendo um aumento no ângulo de atrito REFERÊNCIAS
interno à medida que aumenta o teor de resíduo.
Porém, paralelamente a isso, ocorre a Amprino, D. A. C. (2011). Estudo e análise do
comportamento de reforços e suas aplicações na
diminuição da coesão em relação ao solo Engenharia Geotécnica: Estudo de Misturas de Solo
natural. com a Adição de Borracha Moída de Pneus. 20 f.
TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Civil,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
5 CONCLUSÃO Rio de Janeiro, 2011.
ABNT (2016). NBR 6508: Grãos de solo que passam na
peneira de 4,8 mm – Determinação da massa
Esta pesquisa teve por finalidade analisar a específica. Rio de Janeiro, p. 08.
eficiência de solos estabilizados Bolaños, R. E. Z; Casagrande, M. T.
granulometricamente com resíduos de (2013) Comportamento Mecânico de um Solo
borrachas de pneu, para utilização em obras de Argiloso Reforçado com Fibras de Coco. 17 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,
pavimentação no município de Chapecó/SC. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Em relação aos parâmetros de compactação, Rio de Janeiro.
a adição de borracha diminuiu o teor de Burmister, D.M. Principles and Techniques of Soil
umidade ótima em 13%, comparando-se a Identification. Proceedings, Annual Highway
amostra de Solo Natural com a Mistura 2. A Research Board Meeting, National Research Council,
Washington, D. C., v.29, p. 402-433, 1949.
massa específica seca máxima, foi diminuída DNER-ME 041/94: Solos – Preparação de amostras
em, aproximadamente, 4% com a adição de para ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1994.
resíduos. Assim, com a mesma energia de DNER-ME 049/94: Solos – Determinação do Índice de
compactação, a densificação do solo Suporte Califórnia utilizando amostras não
estabilizado com borracha é menor do que a trabalhadas. Rio de Janeiro, 1994.
DNER-ME 051/94: Solos – Análise granulométrica. Rio
amostra de Solo Natural. de Janeiro, 1994.
Através dos ensaios de Índice de Suporte DNER-ME 082/94: Solos – Determinação do limite de
Califórnia (ISC) é possível constatar que ocorre plasticidade. Rio de Janeiro, 1994.
a diminuição do suporte do solo com o DNER-ME 122/94: Solos – Determinação do limite de
acréscimo de resíduo de borracha em até liquidez: Método de referência. Rio de Janeiro, 1994.
DNER-ME 162/94: Solos – Ensaio de compactação
aproximadamente 40%, comparando a Mistura utilizando amostras trabalhadas. Rio de Janeiro,
1 com o Solo Natural. Observando assim, que 1994.
nenhuma das Misturas obteve resultado Lagarinhos, C. A. F. (2011) Reciclagem de pneus:
satisfatório como uso de base ou sub-base de análise do impacto da legislação ambiental através
pavimentação. da logística reversa. 293 f. Tese (Doutorado) - Curso
de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Escola
A inserção de resíduo de pneus inservíveis Politécnica do Estado de São Paulo, São Paulo, 2011
influencia no comportamento mecânico do solo, Rissoli, A. L. C; Araújo, G. L. S. (2014) Utilização de
uma vez que houve aumento da tensão resíduos de pneus em obras geotécnicas. Anais XVII
cisalhante com o aumento do teor de resíduo. Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Esse aumento equivale a aproximadamente Engenharia Geotécnica (XVII
COBRAMSEG), ABMS, Goiânia. v. 3. p. 1 – 8
15%, para σN= 300 kPa, comparando a Mistura Silva, A. L; Silva, L. C. A. (2013) Logística reversa de
3 com o Solo Natural. pneus inservíveis: uma consciência socioambiental ou
Conclui-se através desta pesquisa que os uma estratégia econômica para as empresas? 23 f.
teores mais satisfatórios de adição de resíduo de TCC (Graduação) - Curso de Administração,
pneus inservíveis ao solo é de 5% (Mistura 1) Universidade Federal do Piauí, Picos, 2013.
SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE
para compactação, pois foi a mistura que PNEUMÁTICOS. SINPEC. 2011. Disponível em:
apresentou maior capacidade de suporte, apesar <http://www.fiesp.com.br/sinpec/sobre-o-
de ser menor em relação ao Solo Natural. E sinpec/historia-do-pneu>. Acesso em: 17 out. 2016.
para cisalhamento, a Mistura 3 com acréscimo
de 15% do resíduo.
404
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Há registros de que o uso de fibras naturais para reforço do solo em aplicações
geotécnicas é realizado há muito tempo pelo homem. Mas com o avanço da indústria química,
materiais sintéticos puderam ser fabricados e aos poucos puderam ser implementados na geotecnia,
garantindo vantagens devido à resistência a agentes externos e à facilidade de produção em larga
escala. Diversos estudos experimentais de laboratório mostram que a adição de fibras no solo
acarreta na melhoria de pavimentos, solos de fundação, solos de reaterro de estruturas de contenção
e de estabilização de solos. Dessa forma, esse trabalho procurou avaliar os efeitos provocados nos
parâmetros ótimos de compactação de um solo arenoso pela inclusão de diferentes tamanhos e
percentagens de fibras de polietileno tereftalato (PET). Foram realizados ensaios de compactação
(Proctor Normal) de acordo com a NBR 7182. Neles foi utilizado solo típico da região de Bauru
(SP): solo arenoso (areia fina argilosa). As fibras utilizadas tiveram comprimentos de 10, 15, 20 e
30 mm e largura de 1,5 mm. Essas foram adicionadas aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
determinados de 0,25; 0,50; 0,75; 1,00; 1,25; 1,50 e 2,00% em relação à massa seca. Através dos
resultados obtidos, foi possível observar que o comprimento e a percentagem das fibras se mostram
fatores preponderantes nos parâmetros ótimos do solo, bem como a homogeneidade e umidade da
mistura. Ao padronizar os tamanhos das fibras, variando as percentagens, foi possível analisar uma
tendência nas curvas de compactação: com o aumento da percentagem de fibras, houve menores
valores de massa específica seca, os quais diminuíram de forma linear. Ao padronizar, no entanto,
as percentagens de fibras, variando os tamanhos, não foi possível analisar uma tendência nas curvas
quanto à massa específica, a qual variou sem um comportamento determinado. Contudo, em alguns
casos foi possível verificar um comportamento linear em relação à umidade ótima: esta aumentava
de acordo com o aumento do tamanho das fibras. Todos os ensaios resultaram em massas
específicas secas menores que a do solo sem fibras. Isso mostra que as fibras provocam resistência
à compactação no solo devido às porosidades maiores da mistura.
ABSTRACT: There are records that the use of natural fibers for soil reinforcement in geotechnical
applications has long been carried out by man. But with the advancement of the chemical industry,
405
synthetic materials could be manufactured and gradually could be implemented in the geotechnics,
ensuring advantages due to the resistance to external agents and the facility of large scale
production. Several experimental laboratory studies show that the addition of fibers in the soil leads
to improved pavements, foundation soils, backfill soils of containment structures and soil
stabilization. In this way, this work tried to evaluate the effects caused in the optimal compaction
parameters of a sandy soil by the inclusion of different sizes and percentages of polyethylene
terephthalate (PET) fibers. Compaction tests (Proctor Normal) according to NBR 7182 were carried
out. Typical soil in the Bauru (SP) region was used: sandy soil (clay fine sand). The fibers used had
lengths of 10, 15, 20 and 30 mm and width of 1.5 mm. These were randomly added to soil at
predetermined percentages of 0.25; 0.50; 0.75; 1.00; 1.25; 1.50 and 2.00% in relation to the dry
mass. Through the obtained results, it was possible to observe that the length and the percentage of
the fibers are shown as preponderant factors in the optimal parameters of the soil, as well as the
homogeneity and humidity of the mixture. By standardizing the fiber sizes, varying the percentages,
it was possible to analyze a trend in the compaction curves: with the increase of fiber percentage,
there were lower values of dry mass, which decreased linearly. By standardizing, however, fiber
percentages, varying the sizes, it was not possible to analyze a trend in the curves for the specific
mass, which varied without a determined behavior. However, in some cases, it was possible to
verify a linear behavior in relation to the optimal humidity: it increased according to the increase of
the size of the fibers. All the tests resulted in specific dry masses smaller than that of the soil
without fibers. This shows that the fibers cause resistance to soil compaction due to the larger
porosities of the blend.
406
utilizadas nos comprimentos de 10, 15, 20 e 30
mm, todas com 1,5 mm de largura, incluídas
aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
determinados de 0,25%, 0,50%, 0,75%, 1,00%
1,25%, 1,50% e 2,00% em relação à massa
seca.
Ensaios de compactação foram realizados
conforme a NBR 7182 nos diferentes tamanhos
e porcentagens de fibra de modo a comparar a
influência da variação dessas características nos
parâmetros ótimos de compactação do solo
analisado.
Figura 1. Curva de compactação do solo arenoso sem
fibras.
3 RESULTADOS
As figuras 2, 3, 4 e 5 analisam a influência
da variação das percentagens de fibras no solo,
3.1 Caracterização das fibras PET
padronizando os tamanhos.
A Figura 2 mostra mais especificamente o
As fibras do tipo PET apresentaram largura de
comportamento do solo-fibra utilizando fibras
1,5 mm (o qual variou aproximadamente entre
de 10 mm e diferentes percentagens. O que
1,3 e 1,7 mm) e os comprimentos de 10, 15, 20
resultou em um maior valor de massa específica
e 30 mm. PET utilizado foi oriundo de garrafas
seca foi o ensaio com 0,50% de fibra em
de Coca-Cola obtidas em locais responsáveis
relação à massa seca, e, de modo geral, o valor
pela reciclagem das mesmas e a densidade foi
da massa específica seca foi diminuindo com o
de, aproximadamente, 1,3 g/cm³ a 20°.
aumento do percentual de fibras.
3.2 Composição do solo
407
valor de massa específica seca foi o que possui
acréscimo de 0,25% de fibras, e, de modo geral,
o aumento do percentual de fibras fez com que
a massa específica seca diminuísse.
408
Na figura 11 estão as curvas de compactação
do solo com inclusão de fibras com
comprimentos variados e na percentagem de
1,50%. O maior valor de massa específica seca
foi encontrado quando houve a utilização das
fibras de 10 mm.
4 DISCUSSÃO
409
maiores valores de umidade ótima, os quais AGRADECIMENTOS
foram influenciados de forma linear.
Ao padronizar, no entanto, as percentagens Ao CNPq pela concessão da bolsa, à Faculdade
de fibras, variando os tamanhos, não foi de Engenharia de Bauru (UNESP) pelo espaço
possível analisar uma tendência nas curvas cedido para a realização do presente trabalho e
quanto à massa específica, a qual variou sem ao meu orientador Paulo Lodi por todo apoio e
um comportamento determinado. Mas, em ajuda disponibilizados.
alguns casos, foi possível verificar uma relação
diretamente proporcional com a umidade ótima:
a umidade ótima aumentava com o aumento do REFERÊNCIAS
tamanho das fibras.
Todos os ensaios resultaram em curvas de CASAGRANDE, M.D.T. Comportamento de solos
compactação com massa específica seca menor reforçados com fibras submetidos a grandes
deformações. Tese de Doutorado, UFRGS, Porto
que a do solo sem fibras. Isso mostra que as Alegre, 219 p., 2005.
adições de fibras de polietileno tereftalato em IASBIK, I. et al. Resistência mecânica do solo-fibra:
solo arenoso conferem certa resistência à caracterização via ensaios de compressão não
compactação, resultando em porosidades confinada com vistas ao uso em estradas florestais,
maiores da mistura para as mesmas energias de In: CONGRESSO E EXPOSIÇÃO
INTERNACIONAL SOBRE FLORESTAS,
compactação. Isso confirma o que foi relatado (FOREST 2000), Porto Seguro, BA. Anais. Rio de
na bibliografia por autores que realizaram Janeiro: Instituto Ambiental Biosfera, p. 257-259,
ensaios com outros tipos de fibras. 2000.
KERISEL, J. The history of geotechnical engineering up
unitl 1700. San Francisco: ISSMFE, Golden Jubilee
Book on History of Geomechanics, 50th Aniversary of
5 CONCLUSÃO ISSMFE, 1985. 9. 11-62.
YAMAMUCHI, T. Historical review of geotextiles for
A partir dos resultados obtidos através dos reinforcement of earth works in Asia. In: OCHIAI, H.,
ensaios realizados, foi possível concluir que a OTANI. (Ed.). Earth Reinforcement Practice,
inclusão de fibras de polietileno tereftalato Rotterdam, 1993. p. 737-751.
altera os parâmetros ótimos de compactação de
um solo arenoso.
Além disso, os tamanhos das fibras e as
percentagens se mostraram fatores
determinantes na variação do comportamento
do solo, e os parâmetros ótimos de
comprimento e porcentagem de fibras
encontrados foram de 10 mm e 0,50%,
respectivamente.
Por fim, o solo com fibras demonstrou uma
maior resistência à compactação se comparado
ao solo sem fibras: enquanto a massa específica
seca máxima do solo sem fibras encontrada foi
de 1,950 g/cm³ na umidade ótima de 10,6%, o
mesmo parâmetro foi de 1,945 g/cm³ na
umidade ótima de 9,4%.
Então, conclui-se que a inclusão de fibras de
polietileno não é vantajosa em relação à
compactação do solo, tornando o solo mais
resistente a esse processo.
410
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: A presença das fibras modifica o comportamento dos solos, gerando um material mais
dúctil, mais coesivo e levemente mais compressível. Isso torna a aplicação do solo-fibra em obras
geotécnicas vantajosa devido à segurança, à praticidade, aos menores volumes de solo, entre outros.
Dessa forma, esse trabalho procurou avaliar os efeitos provocados na resistência mecânica de solo
argiloso pela inclusão de diferentes tamanhos e percentagens de fibras de polipropileno (PP). Foi
utilizado solo local da cidade de Pederneiras (região de Bauru, SP): solo argiloso (argila arenosa).
As fibras tiveram comprimentos de 10, 15, 20 e 30 mm e largura de 1,5 mm. Essas foram
adicionadas aleatoriamente ao solo em percentuais pré-determinados de 0,25; 0,50; 0,75, 1,0; 1,5 e
2,0%, em relação à massa seca. Foram realizados ensaios de compactação (Proctor Normal),
resistência não confinada, triaxiais do tipo drenado (CD) e de cisalhamento direto no solo (com e
sem fibras). A partir disso notou-se que, em geral, a inclusão de fibras aumenta a resistência do
solo. Para cada tamanho e percentagem de fibra, o valor da resistência não confinada varia. O
comprimento ótimo encontrado para o compósito solo-fibra foi de 30 mm, e a percentagem ótima
foi de 1,50 % em relação à massa seca do solo. Em tal condição, o valor de resistência encontrado
foi de 752,23 kPa, valor 48,1% maior que a resistência obtida para o solo sem fibra. Analisando-se
os resultados obtidos para a resistência ao cisalhamento do solo argiloso, foi observado que a adição
de fibras ocasionou uma diminuição da coesão do solo e o aumento do ângulo de atrito em
aproximadamente 36% em comparação ao solo sem adição de PP e os respectivos parâmetros
obtidos foram: o solo sem inclusão de fibras apresentou coesão de 64,8 kPa e ângulo de atrito de
33,1°, enquanto que a inclusão de fibras tipo PP resultou em uma envoltória com coesão 53,2 kPa e
ângulo de atrito de 45°. Dessa forma, a inclusão de fibras no solo argiloso deve ser cuidadosamente
avaliada em relação aos seus objetivos, uma vez que embora tenha apresentado eficácia para o
aumento da resistência não confinada, mostraram uma redução efetiva da coesão.
ABSTRACT: The presence of the fibers modifies the behavior of the soils, generating a more
ductile material, more cohesive and slightly more compressible. This makes the application of soil-
fiber in geotechnical works advantageous due to safety, practicality, the smaller volumes of soil,
among others. Thus, this work sought to evaluate the effects in the clay soil mechanical strength by
411
the inclusion of different sizes and percentages of polypropylene (PP) fibers. It was used only local
soil of the city of Pederneiras (region of Bauru, SP): only clay soil (sandy clay). The fibers had
lengths of 10, 15, 20 and 30 mm and width of 1.5 mm. These were randomly added to the soil at
predetermined percentages of 0.25; 0.50; 0.75, 1.0; 1.5 and 2.0%, in relation to the dry mass.
Compaction tests (Proctor Normal), unconfined resistance, drainage type (CD) and direct shear
triaxial (with and without fibers) were performed. From this it has been noted that, in general, the
inclusion of fibers increases the strength of the soil. For each size and percentage of fiber, the value
of the unconfined resistance varies. The optimum length found for the soil-fiber composite was 30
mm, and the optimum percentage was 1.50% in relation to the dry mass of the soil. In this
condition, the resistance value was 752.23 kPa, 48.1% higher than the resistance obtained for the
soil without fiber. By analyzing the results obtained for the shear strength of the clay soil, it was
observed that the addition of fibers cause a decrease in soil cohesion and the increase of the friction
angle by approximately 36% in comparison to the soil without addition of PP and the following
parameters were obtained: soil without fiber inclusion showed cohesion of 64.8 kPa and friction
angle of 33.1 °, while the inclusion of PP type fibers resulted in a envelope with cohesion of 53.2
kPa and friction angle of 45 °. Thus, the inclusion of fibers in the clay soil must be carefully
evaluated in relation to its objectives, since although it has shown efficacy for the increase of the
unconfined resistance, it showed an effective reduction of the cohesion.
412
resistência à tração uma vez que controlam sua no solo em questão no Laboratório de
propagação (TAYLOR, 1994). Geotecnia da Faculdade de Engenharia de
De acordo com Casagrande (2001), Bauru. Todos os ensaios foram realizados
existem vários formatos de fibras poliméricas seguindo-se as normas da ABNT.
que podem ser misturados à matriz, formando As fibras de polipropileno (PP) foram
assim o material compósito. No Brasil, a utilizadas nos comprimentos de 10, 15, 20 e 30
utilização mais frequente é a da fibra de PP. De mm, todas com 1,5 mm de largura, incluídas
acordo com Cristelo et al. (2015), o aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
polipropileno tem sido o tipo mais usual com determinados de 0,25%, 0,50%, 0,75%, 1,00%,
percentuais de fibra variando de 0,05 a 3,0%. 1,50% e 2,00% em relação à massa seca.
As fibras de polipropileno são Para a avaliação da resistência não
constituídas de um plástico que adquire confinada, o solo com e sem fibras foi moldado
resistência com o aumento da temperatura, o em sua umidade ótima, encontrada através do
qual é denominado termoplástico. ensaio de Proctor Normal. Ou seja, o grau de
Devido a sua composição, tais fibras compactação (GC) do solo em questão no
apresentam grande tenacidade e flexibilidade. momento do ensaio é de 100% e o teor de
Possuem módulo de elasticidade em torno de 8 umidade de 16,1%, possuindo um desvio
GPa e sua resistência à tração é de aceitável da umidade ótima de até 1%
aproximadamente 400 MPa. Possuem grande (condizente com os desvios que podem ocorrer
resistência ao impacto devido à resistência ao em campo). Os corpos de prova foram
ataque de diversas substâncias e aos álcalis. moldados em um cilindro com dimensões de
Em se tratando da resistência ao 5,1 cm de diâmetro e 10,35 cm de altura.
cisalhamento de pico, diversos trabalhos Para os ensaios de compressão não
abordam a questão enfocando os solos argilosos confinada, foram utilizados três corpos de prova
e arenosos. Casagrande (2005) afirma que “Em para cada comprimento e percentagem de fibra
geral, as fibras inibem a amplitude das fissuras e para o solo sem fibra. Ou seja, foram
associadas à ruptura do compósito. Este fato realizados 72 ensaios de compressão uniaxial
leva a um aumento nas áreas sob as curvas no solo com fibra e 3 ensaios no solo sem fibra,
tensão x deformação. Esta propriedade é que resultaram em 24 valores médios de
comumente referida como tenacidade, e resistência não confinada do solo com fibra e 1
representa o trabalho da fratura ou a capacidade valor médio de resistência não confinada do
de absorção de energia do compósito”. solo sem fibra.
Assim, esse trabalho procura ampliar os Através dos valores médios encontrados
resultados referentes aos efeitos que a inclusão nos ensaios, foi encontrado o parâmetro ótimo
de fibras de polipropileno causa nos solos de fibras no solo (comprimento e percentagem),
argilosos. Os resultados são úteis para a o qual leva ao maior valor de resistência não
compreensão dos efeitos de inclusões de fibras confinada. Para isso, foi traçado um gráfico dos
poliméricas na resistência dos solos. Além valores médios de resistência não confinada
disso, objetiva complementar outras pesquisas pelos valores dos teores de fibra em
em andamento que tratam do efeito de fibras percentagem.
poliméricas na resistência de solos argilosos. A partir dos resultados obtidos, foram
construídos gráficos dos valores médios de
resistência não confinada versus valores de
2 MATERIAIS E MÉTODOS teores de fibra em porcentagem. Dessa forma,
foram obtidos o comprimento e o teor de fibra
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi que levam ao maior valor de resistência não
utilizado solo local da cidade de Pederneiras, da confinada do solo argiloso.
região de Bauru (SP): solo argiloso (argila Com o parâmetro obtido através dos
arenosa). Foram realizados ensaios de ensaios de compressão uniaxial, os corpos de
granulometria, de compactação, de compressão prova dos ensaios triaxiais do tipo drenado
não confinada, de cisalhamento direto e triaxial (CD) foram moldados e compactados buscando-
413
se um grau de compactação de 100%. Após a Através do ensaio de Proctor Normal, foram
compactação, os corpos de prova foram obtidos os seguintes parâmetros de
colocados no interior da câmara de ensaio compactação do solo sem fibras: teor de
triaxial. umidade ótimo w ótimo de 16,1% e massa
Os ensaios de cisalhamento direto foram específica seca máxima ρd máx de 1,837 g/cm3.
realizados de modo similar aos ensaios triaxiais:
os corpos de prova foram moldados na umidade 3.4 Ensaios de resistência não confinada
ótima do solo e com os melhores teores e
comprimentos de fibra de PP. Através dos ensaios de resistência não
Dessa forma, a envoltória de Mohr- confinada realizados com solo sem inclusão de
Coulomb foi obtida através dos resultados de fibras, a resistência média obtida foi de 507,90
três ensaios de cisalhamento direto, nos quais se kPa.
variou apenas a carga normal aplicada aos Os mesmos ensaios foram realizados
corpos de prova (1, 2 e 4 kg). No total, foram com a adição de fibras, em diferentes
realizadas duas envoltórias: uma do solo comprimentos e percentuais, de modo a avaliar
argiloso sem a inclusão de fibras e outra do a influência dessas na resistência do solo
mesmo solo mas com o acréscimo das fibras de argiloso. Os valores médios dos resultados
PP. encontrados estão dispostos nas Tabelas 1 e 2 a
seguir.
414
Os resultados se encontram na Tabela 3 a De início, a percolação foi feita
seguir. aplicando 10 kPa pela contrapressão e 5kPa
pela tensão confinante. Após a espera de 48
Tabela 3. Valores médios das resistências não confinadas horas sem que a percolação fosse concluída,
em solo argiloso e fibra tipo PP moldados no parâmetro entrou-se em contato com outros pesquisadores
ótimo solo-fibra encontrado variando-se em 2% a
umidade do solo em relação à umidade ótima.
da área, dos laboratórios de Engenharia Civil da
14,1% 16,1% 18,1% USP (Universidade de São Paulo), que
Sem fibra 715,45 507,09 348,26 indicaram a aplicação de 50 kPa pela
Com fibra 889,26 752,22 540,51 contrapressão e de 45 kPa pela tensão
confinante. Tal tentativa de percolação foi dada
Ao analisar os resultados da Tabela 3 como finalizada após 24 horas com a saída de
acima, nota-se que os maiores valores obtidos aproximadamente 3 gotas de água pela
foram os ensaios realizados com a umidade de contrapressão.
14,1% (2% menor que a umidade ótima). O Após a percolação, iniciaram-se novas
aumento da resistência do solo com fibra em tentativas de saturação, as quais não foram
relação ao solo sem fibra foi de 24,30% para o eficientes já que não atingiram o estado de
solo na umidade de 14,1%, de 48,34% para o saturação requerido pela norma (β=0,95).
solo na umidade ótima e de 55,20% na umidade Tentou-se saturar os corpos de prova diversas
de 18,1%. vezes (uma das tentativas, inclusive, foi
superior a 11 dias) e os corpos de prova sempre
3.5 Ensaios triaxiais acabavam danificados pela variação de tensão a
que eram submetidos ou a alguma variação da
Os ensaios triaxiais previstos na proposta inicial energia elétrica do laboratório de Mecânica dos
não apresentaram resultados satisfatórios Solos da Faculdade de Engenharia de Bauru.
devido a uma série de dificuldades que serão Todos os problemas encontrados nesta
descritas a seguir. Em consequência disso, pesquisa foram endereçados aos devidos
foram realizados ensaios de cisalhamento direto responsáveis, tanto aos técnicos do laboratório
como forma alternativa de avaliar o efeito da quanto aos professores do Departamento de
inclusão de fibras na resistência do solo. Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia
Os primeiros obstáculos ocorreram logo de Bauru, os quais, cientes das dificuldades, se
no início da saturação. Nessa etapa, o corpo de comprometeram em se empenhar para arrumar
prova demorou um grande período de tempo o equipamento contatando a fábrica e tentando
para saturar. Além disso, a tensão aplicada buscar soluções em outros laboratórios que
nesse processo não era constante: eram feitos realizam o ensaio sem maiores problemas.
incrementos de tensão de 50 kPa três vezes ao Entretanto, devido à grande lentidão do
dia, mas ao avaliar o corpo de prova no dia processo, até o presente momento os problemas
seguinte, o equipamento mostrava uma tensão não foram propriamente identificados ou
aplicada menor do que a tensão atingida no dia solucionados. Dessa forma, conforme explicado
anterior, o que danificava o corpo de prova. anteriormente, foram realizados ensaios de
Outros impasses se deram nas etapas cisalhamento direto como forma de, apesar dos
seguintes. Nos momentos de aplicação de problemas encontrados, utilizar-se de soluções
incremento de tensão, os atuadores de pressão alternativas de avaliar o efeito da inclusão de
confinante e de contrapressão variavam (subiam fibras na resistência do solo.
e desciam) de forma exagerada, variando a
tensão que chegava ao corpo de prova. 3.6 Ensaios de cisalhamento direto
Com a falta de sucesso nas tentativas de
saturação, houve a tentativa de percolar água Os ensaios de cisalhamento direto foram
pelos corpos de prova. No entanto, tal técnica é moldados na umidade ótima do solo com grau
contraindicada por diversos autores, que de compactação de 100%. Foram obtidas 2
defendem que tal processo pode carrear envoltórias (uma para o solo sem fibras e outra
partículas, alterando os resultados. para o solo com fibras). Cada envoltória foi
415
obtida através do cisalhamento de 3 corpos de 5 CONCLUSÃO
prova, os quais foram adensados com o uso de
cargas de 1, 2 e 4 kg. Diante dos resultados obtidos, é possível
Foram obtidas duas envoltórias (solo concluir que a resistência não confinada varia
argiloso com e sem fibras), as quais se para todos os tamanhos e percentagens de fibra.
encontram na figura 16 a seguir. Cada Além disso, o parâmetro ótimo em termos de
envoltória foi obtida através do cisalhamento de ganho de resistência no solo ocorreu com a
três corpos de prova, os quais foram adensados inclusão de fibras de 30 mm de comprimento e
com o uso de cargas de 1, 2 e 4 kg. 1,50% de teor em relação à massa seca do solo.
Dos resultados obtidos, com a inclusão
de fibras no parâmetro ótimo de comprimento e
percentagem variando-se a umidade ótima em
2%, nota-se que em todos os casos foi obtido o
maior valor de resistência não confinada do solo
na umidade de 14,1% (2% abaixo da umidade
ótima). No entanto, ocorre maior aumento de
resistência na umidade de 18,1% em relação à
massa seca de solo (2% maior que a umidade
ótima).
Figura 1. Envoltórias obtidas em ensaios de cisalhamento Analisando-se a resistência ao
direto do solo argiloso sem fibras e com fibras na cisalhamento do solo argiloso com o acréscimo
percentagem de 1,50% e comprimento de 30 mm. de fibras do tipo PP, nota-se uma diminuição da
coesão do solo e um aumento do ângulo de
O solo sem inclusão de fibras apresentou atrito.
coesão de 64,8 kPa e ângulo de atrito de 33,1°, A adição do parâmetro ótimo solo-fibra
enquanto que a inclusão de fibras resultou em mostrou um grande potencial do uso de fibras
uma envoltória com coesão 53,2 kPa e ângulo do tipo PP para o reforço de obras geotécnicas
de atrito de 45°. através de resultados muito promissores. No
entanto, a inclusão de fibras no solo argiloso
deve ser cuidadosamente avaliada em relação
4 DISCUSSÃO aos seus objetivos. Isso se deve ao fato de que,
embora tenha apresentado eficácia em relação
Todos os resultados dos ensaios de resistência ao aumento da resistência não confinada, ocorre
não confinada com o compósito solo-fibra uma redução do parâmetro efetivo de coesão.
resultaram em valores maiores dos que os
corpos de prova moldados sem fibra. Os
parâmetros ótimos de fibra encontrados nos AGRADECIMENTOS
ensaios de resistência não confinada foram:
percentagem de 1,50% e comprimento de 30 Ao CNPq pela concessão da bolsa, à Faculdade
mm. Nos parâmetros ótimos, a resistência de Engenharia de Bauru (UNESP) pelo espaço
encontrada foi de 752,23 kPa, enquanto no solo cedido para a realização do presente trabalho e
sem fibra foi de 507,92 kPa. ao meu orientador Paulo Lodi por todo apoio e
Analisando-se os resultados obtidos para ajuda disponibilizados.
a resistência ao cisalhamento do solo argiloso
sem a inclusão de fibras e com a inclusão de
fibras de PP nos parâmetros ótimos solo-fibra, REFERÊNCIAS
nota-se que a adição de fibras ocasionou uma
diminuição efetiva da coesão, que alcançou os CASAGRANDE, Michéle D. T. Estudo do
valores de redução de 17,9%. Entretanto, Comportamento de um Solo Reforçado Com Fibras
ocorreu o aumento do ângulo de atrito do solo, de Polipropileno Visando o Uso Como Base de
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: A inclusão de fibras naturais (sisal, curauá, fibra de coco e outras) para melhoramento
do solo esta estabelecida na tecnologia de materiais compósitos, sendo esta uma combinação de
dois ou mais materiais apresentando propriedades que os materiais componentes não possuem por
conta própria. O programa experimental teve como objetivo estudar o comportamento mecânico do
compósito areia-fibra através da inserção de fibra natural de curauá, com diferentes comprimentos e
teores de fibra, em uma matriz arenosa onde as fibras foram distribuídas de forma aleatória na
massa de solo. Os ensaios de cisalhamento direto, com dimensão de 300 x 300 mm e 220 mm de
altura, foram realizados com inclusão de fibras de curauá com 25 mm e 50 mm de comprimento e
nos teores de 0,5% e 0,75% de fibra (em relação ao peso seco do solo) e o solo com uma densidade
relativa de 50% com um teor de umidade de 10%. A inclusão de fibras naturais de curauá como
reforço de solo apresentou resultados satisfatórios com um aumento nos parâmetros de resistência
do solo quando comparado com os resultados do solo arenoso.
ABSTRACT: The inclusion of natural fibers (sisal, curauá, coconut fiber and others) for soil
improvement is established in the composite materials technology, this being a combination of two
or more materials that presents properties that the component materials do not possess. The
experimental program aimed to study the mechanical behavior of the sand-fiber composite by
inserting natural fiber of curauá with different lengths and fiber contents in a sandy matrix where
the fibers were randomly distributed in the soil mass. The direct shear tests with dimensions of 300
x 300 mm and 220 mm in height were performed with curauá fibers lengths of 25 and 50 mm and
fiber contents of 0.5% and 0.75% ( in relation to the dry weight of the soil) and soil with a relative
density of 50% and a moisture content of 10%. The inclusion of natural curauá fibers as soil
reinforcement presented satisfactory results with an increase in soil resistance parameters when
compared to sandy soil results.
419
um elemento de reforço na matriz do solo, a interação matriz-reforço e suas parcelas de
resistência ao cisalhamento do solo melhoraria. contribuição no comportamento do material
Existem diversos tipos de fibras que são compósito para a definição do melhor tipo de
utilizadas no mundo, podendo considerar dois reforço (fibra) a ser utilizado.
grandes grupos: as fibras sintéticas, compostas As fibras vegetais, comparadas às fibras
por materiais artificiais, resultado de processos sintéticas, são de baixo custo, de fácil obtenção,
industriais, que apresenta vantagem nas suas fartamente disponíveis, mais fáceis de
propriedades mecânicas constantes, bem manusear, têm boas propriedades mecânicas,
definidas, e maior resistência ao intemperismo; não geram quantidades excessivas de resíduos,
e as fibras naturais, na sua maioria de origem empregam tecnologias relativamente simples e
vegetal (orgânicas), apresentam constância nas requerem menos energia no processo de
suas características físicas (diâmetro, e produção, além de serem de fontes renováveis
comprimento), mas ainda assim fornecem bons (Dittenber & Gangarao, 2012). No entanto, as
resultados como reforço de solo, porém como fibras vegetais, comparadas às fibras sintéticas
desvantagens estão sujeitas à degradação apresentam grande variabilidade das
biológica, seu uso é uma forma de reciclagem propriedades físicas e mecânicas (cerca de
para contribuir com a preservação do meio 40%), susceptibilidade de degradação em
ambiente. ambientes naturais e variações dimensionais por
Atualmente observa-se um crescente interesse mudanças de teor de umidade e/ou temperatura
no uso de novos materiais como reforço de solo. (Ghavami et al., 1999).
Sendo as fibras vegetais boas opções, devido O desenvolvimento de materiais compósitos
seu baixo custo e grande disponibilidade. reforçados por fibras de origem vegetal é em
Diversos autores relataram em seus trabalhos grande parte motivado por uma maior
algumas mudanças que ocorrem no consciência ambiental, devido aos problemas de
comportamento mecânico dos solos reforçados eliminação de resíduos e o esgotamento dos
com fibras. Estas mudanças são relacionadas à recursos petroquímicos (Dittenber e Gangarao,
compactação, resistência ao cisalhamento, 2012).
deformabilidade, modo de ruptura, variação O curauá está entre as fibras mais
volumétrica, rigidez inicial e condutividade competitivas, figurando entre as mais
hidráulica. economicamente viáveis (Santos, 2009).
A técnica de reforçar solos com fibras está Devido as suas características, a fibra de curauá
estabelecida na tecnologia dos materiais também vem despertando o interesse da
compósitos, sendo este uma combinação de dois indústria automobilística sendo usada como
ou mais materiais que tenham propriedades que agente de reforço em painéis dianteiros, porta-
os materiais componentes não possuem por si pacotes, laterais de portas e porta-malas de
próprios. Sendo assim, estes são formados por veículos que integram o portfólio de gigantes do
uma matriz (solo, concreto, argamassa) e pelo setor, como Volkswagen, Honda e General
elemento de reforço (fibras, aço e outros). Motors (Santiago, 2011).
O melhoramento ou alteração das Segundo Oliveira (2010), cada planta de
propriedades mecânicas dos solos reforçados curauá produz cerca de 24 folhas e o
com fibras depende das características das rendimento de fibra seca é de aproximadamente
fibras (resistência à tração, módulo de 6%, totalizando quase 2 quilos de fibras por
elasticidade, comprimento, teor e rugosidade), planta. Um hectare produz 3.600 quilos de fibra
do solo (tamanho, forma e granulometria das seca ao ano, embora esses valores variem
partículas, índice de vazios, etc.), da tensão de bastante. Produtores colhem duas safras por ano
confinamento e do modo de carregamento. do curauá nativo (Pinto, 2007).
Assim, existem vários tipos de fibras para Vários trabalhos nos últimos anos foram
reforços de solo, cada uma com características desenvolvidos utilizando a fibra de curauá
de comportamento distintas, isto é, propriedades como reforço de solo. Pinto (2007) estudou o
físicas e mecânicas diferentes. Fazendo-se comportamento das fibras de curauá e sisal
necessário o entendimento dos mecanismos de como reforço em uma matriz de solo.
420
Verificando que além de acrescer na capacidade Tabela 1. Indices físicos do solo arenoso
CARACTERISTICAS VALOR MÉTODO DE ENSAIO
de resistiva, as fibras vegetais transmitiram Densidade dos grãos (Gs) 2,68 ABNT NBR 6458:2016
ductibilidade e resistência pós-fissuração Índice de vazios máximo ( ) 0,89 ABNT NBR 12051:1991
Índice de vazios mínimo ( )
(tenacidade) para as matrizes de solo. 0,59 ABNT NBR 12004:1990
Coeficiente de não uniformidade (CNU) 2,40
Dentro deste contexto o presente trabalho Coeficiente de curvatura (Cc) 1,07
ABNT NBR 7181:2017
visa contribuir com a finalidade de um melhor Diâmetro efetivo 0,175 mm
Diâmetro efetivo 0,385 mm
destino às fibras naturais de curauá, estudando o
comportamento mecânico do solo reforçado,
com influencias do comprimento e teor da fibra. 2.2 Fibra de Curauá
Assim, estimular o uso de misturas solo-fibra
em obras de terra e proporcionar um destino As fibras de curauá, da espécie Ananas
distinto para esses resíduos. erectifolius, são fibras extraídas a partir das
folhas da planta (Figura 2), que são
bromeliáceas de ocorrência natural da
2 MATERIAIS E MÉTODOS Amazônia (Santiago, 2011). Embora
comestível, o interesse econômico pelo curauá
2.1 Solo Arenoso está primordialmente associado às fibras
extraídas de suas folhas (Pinto, 2007).
O solo arenoso foi obtido em estabelecimento
comercial e preparado em laboratório, passando
por um processo de secagem na estufa e
preneiramento, em que foi utilizado a peneira n°
10 (2,0mm), o material retido foi descartado.
Tendo como objetivo a obtenção de um material
uniforme com comportamento mecânico bem
definido e estável, de forma a proporcionar a Figura 2. Plantação de Curauá (Santiago, 2011)
melhor interpretação dos efeitos provocados
As fibras de curauá foram adquiridas
pela adição de fibras.
comercialmente pela empresa Pematec Triangel
O material é composto por 2,70% de argila
do Brasil, da cidade de Santarém-PA. Na
(<0,002 mm), 5,90% de silte (0,002 – 0,06 mm)
Tabela 2 e Tabela 3 são apresentados valores,
e 91,40% de areia, sendo que desta
disponíveis na literatura, para as propriedades
porcentagem 16,10% é de areia fina (0,06 –
fisicas e mecânicas da fibra, respectivamente.
0,2mm), 52,50% de areia média (0,2 – 0,6 mm),
e somente 22,90% de areia grossa (0,6 –2,0 Tabela 2. Propriedades físicas da fibra de curauá
mm). O solo arenoso apresenta granulometria Diâmetro Área Densidade Cristalinidade
Referência
uniforme e de acordo com o Sistema Unificado (mm) (mm²) (g/cm³) (%)
de Classificação de Solos (SUCS), sendo 0.09 Santiago, 2011
0.115 1.29 Pinto, 2007
classificado como uma areia mal graduada (SP), 0.092 - 0.127 1.34 Picanço, 2011
a curva granulométrica (Figura 1), e os índices 0.004 80.1 Fidelis, 2014
físicos do material (Tabela 1) foram
determinados no Laboratório de Geotecnia na Tabela 3. Propriedades mecânicas da fibra de curauá
Universidade de Brasília (UnB), em Brasília- Resistência à Módulo de Deformação na
Referência
tração (MPa) Young (Gpa) ruptura (%)
DF.
543.0 63.7 1.0 Fidelis, 2014
605.0 23.0 2.5 Santiago, 2011
492.6 11.5 3.0 Picanço, 2005
421
na própria caixa do ensaio, com dimensão de 3 RESULTADOS
300 mm x 300 mm de largura e 200 mm de
altura. As legendas utilizadas durante os ensaios são
A preparação do corpo de prova é realizada divididas em quatro grupos. No primeiro grupo
por compactação manual, com a ajuda de um as letras SA e CA representam o tipo de mistura
soquete de aço, em camadas. Este foi dividido (SA: solo arenoso; CA: solo arenoso), no
em cinco camadas de areia ou areia-fibra, na segundo grupo os números representam o teor
própria caixa do ensaio de cisalhamento direto. de fibra utilizado na mistura (para 0,5% de fibra
O peso da mistura é calculado de acordo com os utiliza-se 0,5; para 0,75% de fibra utiliza-se
parâmetros desejados, como densidade relativa 0,75), logo o terceiro grupo simboliza o
e teor da fibra do compósito solo-fibra. O teor comprimento da fibra utilizada (para 25,0 mm
de água adicionado foi de 10% em relação ao de comprimento utiliza-se 25; para 50,0 mm de
peso seco do solo com uma densidade relativa comprimento utiliza-se 50) e o quarto grupo
de 50%, valores adotados na literatura. A simboliza a tensão aplicada durante o ensaio de
Tabela 4 resume as variáveis investigadas. cisalhamento direto (25, 50 e 100 kPa). A
Figura 4 apresenta de forma geral a legenda
Tabela 4. Variáveis investigadas da fibra de curauá utilizada para diferenciar os ensaios.
Teor de fibra Comprimento
Distribuição
(%) de fibra (mm)
0,00 - -
0,50 25 Aleatória
0,75 25 Aleatória
0,50 50 Aleatória
0,75 50 Aleatória
422
Figura 8. Valores dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento para o solo arenoso e solo-fibra reforçados
Figura 6. Gráfico da tensão cisalhante x deformação horz com fibra de curauá
no solo arenoso e compósito solo-fibra nos teores 0,5% e
0,75% de fibra e comprimento de 50,0 mm de fibra. Os resultados das misturas quando
comparados com os de solo arenoso apresentam
Para os cinco materiais ensaiados pode-se um aumento significativo, os valores de coesão
observar que a resistência aumenta com o apresentam acréscimos de 133 a 166% e o
aumento da tensão normal e não apresenta ângulo de atrito de 3 a 11%. Elucidando a
picos. Ao observar o acréscimo de resistência hipótese de que as fibras de curauá quando
ao cisalhamento em função da adição das fibras misturadas ao solo arenoso apresentam uma
em relação ao material não reforçado, também melhora nos parâmetros de resistência do solo.
nota-se um acréscimo com o aumento do Destaca-se que os parâmetros de resistência
comprimento e teor da fibra. As envoltórias de ao cisalhamento do solo mantiveram-se
rupturas dos ensaios solo arenoso e solo-fibra crescentes em todos os ensaios de misturas
são apresentados na Figura 7. solo-fibra de curauá. Verifica-se que o ângulo
de atrito e intercepto coesivo apresentam os
melhores resultados em termos de acréscimo
dos parâmetros de resistência para a mistura
CA_0,75_50. Compreendendo um aumento de
166 e 11% nos resultados de intercepto coesivo
e ângulo de atrito, respectivamente.
A adição da fibra nos parâmetros de
resistência teve uma maior manifestação de
trabalhabilidade com o grande aumento do
intercepto coesivo, mantendo o ângulo de atrito
com uma leve melhora. Esse fenômeno é
observado desde o processo de preparação dos
corpos de prova, quando se mistura a fibra de
curauá com o solo arenoso, observar-se de
Figura 7. Envoltórias de resistência do solo arenoso e forma notória que as fibras proporcionam uma
compósito solo-fibra nos teores 0,5% e 0,75% de fibra e
comprimentos de 25,0 e 50,0 mm de fibra.
agregação com os grãos do solo, promovendo
um efeito de ancoragem. A partir desta
Na Figura 7, verifica-se que as envoltórias de observação pode se justificar o notório
resistência do solo arenoso e das misturas solo- acréscimo do intercepto coesivo.
fibra de curauá, com comprimentos e teores
distintos, apresentam diferenças entre elas, 4 CONCLUSÃO
variando os valores de ângulos de atrito e
intercepto coesivo. Esses resultados podem ser O presente trabalho apresentou a análise do
observados numericamente na Figura 8. comportamento mecânico de um solo arenoso
reforçada com fibra natural de curauá através de
423
ensaios de cisalhamento direto em verdadeira AGRADECIMENTOS
grandeza. A partir dos ensaios de cisalhamento
direto de médias dimensões executados em solo Os autores agradecem a Coordenação de
arenoso e misturas solo-fibra de curauá com Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
25,0 mm e 50,0 mm de comprimento, nos teores Brasil (CAPES) - Código de Financiamento
de 0.5 e 0.75% e com disposição das fibras de 001, pelo apoio a pesquisa da mestranda em
forma aleatória na massa de solo, foram primeiro autor e ao Laboratório de Geotecnia da
estabelecidas algumas conclusões relatadas a Universidade de Brasília (UnB) em Brasília-DF
seguir: pelo apoio físico e técnico para realização das
− O comportamento das misturas solo-fibra em pesquisas.
todas as curvas de tensão-deslocamento
apresenta um aspecto similar, aumentando a
resistência de acordo com a maior tensão REFERÊNCIAS
normal aplicada, as curvas não apresentam pico
de resistência; ABNT (1990). NBR 12004: Solo - Determinação do
− Nas curvas de envoltórias de resistência índice de vazios máximo de solos não coesivos -
Método de ensaio. Associação Brasileira De Normas
obtidas para o solo arenoso e solo-fibra, com Técnicas, Rio de Janeiro, p. 6.
critério de ruptura a 35 mm de deslocamento, ABNT (1991). NBR 12051: Solo - Determinação do
houve um acréscimo significativo nos índice de vazios mínimo de solos não-coesivos -
parâmetros de resistência em todas as misturas. Método de ensaio. Associação Brasileira De Normas
O intercepto coesivo obteve um aumento Técnicas, Rio de Janeiro, p. 15.
ABNT (2016). NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos
variando de 133 a 166% e o ângulo de atrito de na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da
3 a 11%, comparando com o solo arenoso; massa específica, da massa específica aparente e da
− A influência da variação do comprimento de absorção de água. Associação Brasileira De Normas
fibras, no teor de 0,5%, é verificado para altas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 10.
tensões (50 e 100 kPa), sendo maior a ABNT (2017). NBR 7181: Solo- Análise granulométrica.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
resistência quando maior for o comprimento das Janeiro, p. 12.
fibras. Porém, para a baixa tensão aplicada de Dittenber, D. B., Gangarao, H. V. S., (2012) Critical
25 kPa o comportamento resistente do solo review of recent publications on use of natural
reforçado com as fibras é praticamente composites in infrastructure. Composites Part A:
inalterado; Applied Science and Manufacturing, Elsevier, v. 43,
n. 8, p. 1419–1429.
− A influência do acréscimo de teor de fibra Ghavami, K., Tolêdo Filho, R. D., Barbosa, N. P. (1999)
foi analisada levando em consideração o valor Behaviour of composite soil reinforced with natural
da força cisalhante para o deslocamento de 35 fibres. Cement and Concrete Composites, Elsevier, v.
mm durante o ensaio. Para a tensão de 25 kPa 21, n. 1, p. 39–48.
as fibras vegetais de 25 mm tiveram um Mitchell, J.K., Villet, W.C.B., (1987) Reinforcement of
earth slopes and embankments. : NCHRP Rep. No.
aumento de aproximadamente 9% da força 290, Washington, D.C.
cisalhante, porém para o comprimento de 50 Oliveira, A. F. d. (2010) Avaliação de desempenho de
mm não foi constato nenhuma mudança da fibras lignocelulósicas na sorção de óleos diesel e
força cisalhante; para a tensão de 50 kPa as biodiesel. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual
fibras obteve um aumento de aproximadamente Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas,
Botucatu, 98p.
7% da força cisalhante; para 100 kPa as fibras Palmeira, E.M. (1998) Equipamento Para Ensaios de
obteve um aumento de aproximadamente 15% Tração Confinada de Geotêxteis em Solos – Versão 2.
quando comparado com o solo arenoso; Relatório de Pesquisa. Programa de Pós-Graduação
− Os resultados se mostraram satisfatórios para em Geotecnia, Universidade de Brasília.
a inclusão de fibras naturais de curauá como Pinto, A. R. A. G. (2007) Fibras de curauá e sisal como
reforço em matrizes de solo. Dissertação (Mestrado)
reforço de solos, com potencial aplicação em — Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia
aterros sobre solos moles, taludes e fundações Universidade Católica do Rio de Janeiro, 103p.
superficiais, dando um fim mais nobre a este Sánchez, N.P., Araújo, G.L.S., Palmeira, E.M., (2016)
material no âmbito técnico, atendendo também Estudo Multi-escala da Resistência ao Cisalhamento
a aspectos econômicos, sociais e ambientais. da Interface entre Geotêxtil Não Tecido e Solo.
COBRAMSEG 2016. ABMS, Belo Horizonte.
424
Sánchez, N.P. (2018) Estudo de alguns aspectos que
influenciam a aderência entre geossintéticos e
diferentes materiais. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, 168p.
Santiago, G.A. (2011) Estudo do Comportamento
Mecânico de Compósitos SoloFibras Vegetais
Impermeabilizadas com Solução de Poliestireno
Expandido (EPS) e Cimento Asfáltico de Petróleo
(CAP). Tese de Doutorado. Rede Temática em
Engenharia de Materiais, Universidade Federal de
Ouro Preto, 130p.
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do tratamento da fibra de curauá nas propriedades de
compósitos com poliamida-6. Polímeros: Ciência e
tecnologia, Associação Brasileira de Polímeros, v. 19,
n. 1.
425
426
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: Due to consumption and mass production, the Brazilian economic system faces
enormous problems related to the final disposition of the residues generated by the population. In this
context, there is a huge challenge regarding the disposal of PET bottles in the environment. On the
search for a new destination for waste PET bottles, the main objective of this work was to perform
an analysis on the use of PET residues in the influence of the soil compaction curve in two forms of
addition: powder and flake. For this purpose, different flake and PET powder percentages were
incorporated to a lateritic clayey soil. The PET flakes were also subjected to chemical treatment with
different concentrations of NaOH and different time intervals. The morphological modifications were
analyzed and evaluated by scanning electron microscopy. Regarding the results of the mixtures, from
the mini-proctor test it was verified that there was a small decrease of the specific mass of all the
mixtures, an increase of the optimal moisture of the mixture with addition of 1% of PET flakes and
427
decrease of the optimum water content of the mixtures with 3% and 5% addition of PET flakes to the
soil. As for the chemical treatment performed in the PET flake, the sample with 8% NaOH
concentration and 2h immersion time was the sample that, after visual inspection, had its surface
attacked with greater intensity, appearing to present a greater roughness when compared to the flake
of PET without chemical treatment.
428
das amostras de PET analisadas em soluções de escolha do solo se deve ao fato de o mesmo estar
NaOH em concentrações de até 8% e presente em cerca de 20% do estado do Rio
temperatura de 60°C, conferindo à superfície do Grande do Sul, abrangendo uma área de
PET um aspecto mais rugoso. aproximadamente 20.000 km², além de
Neste contexto, este trabalho objetiva analisar compreender cerca de um terço da parcela dos
o comportamento de um solo argiloso laterítico solos do restante do país. A coleta do solo foi
reforçado com resíduos de PET, buscando realizada em uma jazida localizada próxima à
avaliar a viabilidade do material de inclusão BR 307 km 28. Obedecendo as especificações
como reforço de solo, por meio de um estudo da ABNT NBR 9604 (2016), fez-se a coleta do
experimental através da caracterização física e solo com auxílio de pá e enxada. Antes da
mecânica dos novos compósitos. Além disso, escavação, foi realizada a limpeza superficial do
será analisada a superfície de flocos de PET, terreno, com o intuito de retirar a vegetação
através de microscopia eletrônica de varredura presente. Após, o material foi armazenado em
(MEV), submetidos a um tratamento químico bolsas de transporte, conduzido ao laboratório e
com diferentes concentrações de NaOH em destorroado para sua utilização em ensaios
diferentes intervalos de tempo. Também se laboratoriais.
espera que o uso deste resíduo como material O solo também foi classificado de acordo com
alternativo possa diminuir problemas atuais de a sua granulometria, através de ensaios de
disposição de resíduos em aterros sanitários, granulometria por peneiramento e granulometria
acrescentando um maior valor ao material. por sedimentação, descritos na ABNT NBR
7181 (2017). A Figura 1 apresenta a curva
granulométrica do solo.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
areia areia
argila silte areia fina média grossa pedregulho
100
O programa experimental estabelecido na 90
Percentagem Passante (%)
obtenção dos índices físicos do solo puro e das Figura 1. Curva Granulométrica do Solo.
misturas envolvidos na pesquisa, foram
realizados testes de caracterização física, a fim Com a análise da Figura 1 foi determinado que
de destacar os parâmetros que possam ser o solo é de composição fina, apresentando
correlacionados com o desempenho mecânico aproximadamente 98% do material passante na
dos materiais utilizados. peneira #200 (0,075 mm). O teor de argila
presente no solo foi de 86%, sendo que o restante
2.1 Materiais Utilizados da composição é de silte, em torno de 10%, areia
fina, 3,5% e areia média, cerca de 0,5%.
Para esta pesquisa foram utilizados três De acordo com o Sistema Unificado de
diferentes materiais: Solo (S), flocos de PET (F) Classificação dos Solos (SUCS), que classifica o
e pó de PET (P). Foram utilizados diferentes solo utilizando dados de classificação
teores de adição de flocos de PET e de pó de granulométrica, o solo pode ser classificado
PET. como um silte de Alta Compressibilidade (MH),
que corresponde ao grupo A 7-5 da Classificação
2.1.1 Solo Rodoviária (TRB). Já através da metodologia de
classificação Miniatura Compactado Tropical
O solo utilizado na pesquisa provém do (MCT), permitiu-se classificar o solo através dos
município de Cândido Godói, situado na região coeficientes c’ e e’, como mostra a Figura 2. O
noroeste do estado do Rio Grande do Sul. A coeficiente c’, denominado de coeficiente de
deformabilidade, pode ser correlacionado com a
429
granulometria do material, mostrando se o solo micronização, que é processo responsável
tende a ser mais argiloso ou arenoso. O índice e’ por reduzir o material em um pó, com
foi concebido para indicar o comportamento tamanho de partícula médio de 0,42 mm.
laterítico ou não laterítico do solo. O solo deste
trabalho foi classificado como Argiloso A granulometria do pó de PET foi realizada
Laterítico conforme a metodologia MCT. através do ensaio de peneiramento, norteado pela
ABNT NBR 7181 (2017). A Figura 3 apresenta
2,1 a curva granulométrica do material.
1,9
NS'
1,7
NA NG' 100
1,5 90
NA' 80
0,9 LA 50
LA' LG' 40
0,7 30
0,5 20
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 10
Coeficiente c' 0
0,01 0,1 1 10
Figura 2. Classificação do solo pela metodologia MCT. Diâmetro dos Grãos (mm)
430
superfície do PET, tornando-a mais rugosa, e de LL e LP, é possível determinar o Índice de
fazendo com que o grau de atrito entre o solo e a Plasticidade (IP) do solo, que resulta da
superfície de PET aumente, elevando assim os diferença do LL e do LP. Dessa maneira, o
parâmetros de resistência do novo material. A IP calculado foi de 19%.
Tabela 1 apresenta as condições de tratamento as
quais as amostras foram submetidas. 2.2.1 Ensaio de Compactação
Tabela 1. Condições de tratamento químico das amostras. Com o intuito de determinar a umidade ótima de
Age nte do
tratame nto
NaO H cada mistura, realizou-se o ensaio de
Conce ntração e m
2 4 8 compactação Mini-Proctor. O ensaio obedece ao
massa (%)
Te mpo de banho
mesmo procedimento geral do Proctor
30 60 120 30 60 120 30 60 120 tradicional, que dita a compactação de solos em
(min)
Te mpe ratura do
50 50 50 laboratório e fornece a curva de compactação
banho (°C)
Te mpe ratura de
que corresponde a uma determinada energia
25°C 25°C 25°C
se cage m (°C) aplicada por meio de soquete.
Te mpo de se cage m
24 24 24 O ensaio Mini-Proctor difere do Proctor
(h)
Tradicional pelo tipo e peso de soquete, pelo
diâmetro interno do molde de compactação (50
Na realização do tratamento químico utilizou- mm), pelo volume de solo compactado e por
se um béquer de 1000 ml, uma chapa de utilizar somente os solos que passam
aquecimento e agitação da marca DiagTech, integralmente na peneira de 2,00 mm (#10) e
modelo DT3120H, uma barra agitadora de 7x30 aqueles que possuem uma porcentagem muito
mm e um termômetro. Após serem submetidas baixa de fração retira (<10%). De acordo com
ao banho, as amostras foram enxaguadas em Nogami e Villibor (2009), as principais
água com pH de aproximadamente 7. vantagens que o procedimento Mini-Proctor
De início, realizou-se a pesagem de uma apresenta são as seguintes:
quantia em torno de 5 g de flocos de PET para
• Drástica diminuição da quantidade de
ser adicionado à concentração química. Em
amostra utilizada e de esforço na aplicação
seguida, dissolveu-se uma determinada
dos golpes;
concentração de NaOH em água, para ser
• Possibilidade de medição exata da altura do
adicionado aos 500 ml de água junto ao béquer.
corpo de prova após a aplicação dos golpes
Na sequência, ligou-se a chapa de aquecimento e
com o soquete;
com auxílio de um termômetro fixou-se a
temperatura da concentração em 50°C durante o • Melhoramento da uniformidade dos corpos
banho. Após o término do ensaio, as amostras de prova compactados.
foram lavadas em água deionizada, submetidas à
secagem em temperatura ambiente durante 24 2.2.2 Microscopia Eletrônica de Varredura
horas e armazenadas em embalagens plásticas
devidamente lacradas. O MEV foi utilizado com a finalidade de
verificar as modificações superficiais causadas
2.2 Métodos e Procedimentos de Ensaios pelo tratamento químico com NaOH realizado
nos flocos de PET. O equipamento utilizado é o
2.2.1 Limites de Atterberg modelo EVO MA10, da marca ZEISS, que
realiza a leitura das amostras através da emissão
De acordo com ABNT NBR 6459 (2017), de elétrons. Antes de serem analisadas, todas as
realizou-se a determinação dos Limites de amostras necessitam passar por um processo de
Atterberg do solo: metalização com ouro, realizado em uma
metalizadora da marca SCANCOAT SIX. A
• O Limite de Liquidez (LL), correspondente a
Figura 4 apresenta o equipamento de
25 golpes, foi de 61%;
metalização juntamente com as amostras levadas
• O Limite de Plasticidade (LP) foi de 42%;
ao MEV para análise.
• Através dos resultados obtidos pelos ensaios
431
35 1,98
30 1,96
MEASmáx (g/cm³)
25
1,94
20
1,92
15
1,90
10
5 1,88
0 1,86
Solo Solo+1% Solo+3% Solo+5% Solo+1% Solo+3% Solo+5%
pó pó pó flocos flocos flocos
Umidade Ótima MEASmáx
432
em torno de 1,9 g/cm³ e a umidade ótima ficou Comparando as Figuras 7 e 8, percebe-se
em torno de 22,3%, mantendo a tendência de visualmente que há uma modificação na
queda desses parâmetros à medida em que o teor superfície do floco de PET tratado quimicamente
de flocos adicionado foi aumentando. O com 8% de NaOH durante 120 min. A amostra
resultado de massa específica manteve o mesmo apresenta um certo escamamento em vários
comportamento das curvas com pó de PET, onde pontos da superfície. Analisando as imagens
à medida que se aumentam os teores de adição, obtidas através do MEV, essa foi a amostra que
tem-se uma queda da massa específica. Já a teve uma maior modificação superficial dentre
umidade ótima teve um decréscimo com as todas as amostras analisadas, quando
adições, que se deve ao fato dos flocos de PET comparadas com o floco de PET sem tratamento.
apresentarem uma granulometria muito superior
ao pó de PET.
4 CONCLUSÃO
3.2 Microscopia Eletrônica de Varredura
Através deste trabalho foi possível observar a
A Figura 7 apresenta a imagem analisada pelo influência da adição de diversos teores de PET
MEV de uma amostra de floco de PET sem em flocos e em pó na curva de compactação de
tratamento e a Figura 8 exibe uma amostra de um solo laterítico. Foram analisadas também a
PET tratada com concentração de 8% de NaOH influência do tratamento dos flocos de PET a
submetido a um banho de 120 min. partir de diferentes teores e tempos de ataque de
NaOH na superfície do PET.
Com relação ao ensaio de compactação,
constatou-se que houve um pequeno decréscimo
da massa específica de todas as misturas quando
comparadas ao solo natural. Quanto à umidade
ótima, percebeu-se um acréscimo da mesma na
mistura que continha porcentagens de pó de PET
adicionadas ao solo, e um decréscimo da
umidade ótima nas misturas com 3% e 5% de
flocos de PET junto ao solo.
Foi constatado que o caso mais agressivo de
tratamento resultou em uma alteração
perceptível na superfície do floco. Espera-se que
essa alteração aumente o atrito entre o solo e a
Figura 7. Floco de PET sem tratamento químico. superfície de PET e venha trazer eventuais
mudanças na resistência do novo material.
Ensaios mecânicos ainda serão realizados nas
misturas com diferentes teores de incorporação
de PET, a fim de se avaliar a influência da adição
deste material nas propriedades mecânicas.
REFERÊNCIAS
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de liquidez. Associação Brasileira de Normas
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Granulométrica. Associação Brasileira de Normas
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The road infrastructure works present a series of challenges mainly related to the
mechanics of the soils, becoming more and more common the construction in lands with presence
of great thicknesses of unstable and compressible soils, which demand the use of techniques in
order to improve their ability to support and accelerate settlements preventing future stability
problems. There are several techniques of construction in embankments on soft soils that allow to
solve such problems, being the verification of its efficiency evaluated in the reduction of the
magnitude of the settlements and the time of stabilization of the same ones. One of the techniques
that stands out for its practicality and speed of execution for treatment of soft soils is the use of
vertical drains, which accelerate the exit of water contained between the pores of the solid particles
of the soft and little permeable clays, allowing increased resistance to shear strength by reducing its
volume. The aim of this article is to verify the performance of vertical drains in an infrastructure
project located in the region of Guarulhos, in the city of. Evaluating the physical and mechanical
changes of a thick layer of soft soil verified in two campaigns, before and after the treatment,
through geotechnical investigations SPT and Vane Test and characterization of soils through
physical indexes, indicating the degree of improvement of the treated massive.
KEY WORDS: Geosynthetics, Vertical drains, Improvement soil, Physical properties of soils.
435
1. INTRODUÇÃO ensaios in loco por sondagens do tipo SPT
(sondagem a percussão) e Vane Test. Foram
As obras de infraestrutura rodoviária coletadas amostras aravés de sondagem a trado
apresentam uma série de desafios (ST) e armazenadas segundo a NBR
principalmente relacionados à mecânica dos (9604:2016), para a realização de ensaios
solos, tornando-se cada vez mais comum a laboratoriais e caracterização dos índices físicos
construção em terrenos com presença de do solo local.
grandes espessuras de solos instáveis e
compressíveis, os quais demandam o uso de 2.1 Características Geológicas
técnicas de forma a melhorar sua capacidade de
suporte e acelerar recalques prevenindo Na base dos sedimentos aluvionares
problemas futuros de estabilidade. Assim torna- quaternários que recobrem quase toda a
se necessário aplicar métodos de melhoramento extensão da Bacia Sedimentar de São Paulo, em
de solos moles que têm como principais Guarulhos, ocorrem sedimentos terciários que
objetivos prevenir rupturas por falta de são correlacionados à Formação Resende, do
capacidade de carga, além de evitar grandes Grupo Taubaté (Riccomini e Coimbra 1992).
assentamentos diferenciais, altamente perigosos Segundo Riccomini e Coimbra (1992), a
para a estabilidade e funcionalidade de uma Formação Resende possui uma planície aluvial
estrutura. de rios entrelaçados denominados braided,
Nesse sentido, verifica-se que a escolha formado por depósitos de carga de fundo e
correta da solução mais adequada a ser pontas de barras de rios anastomosados, de
executada para uma determinada obra de aterro granulometria grossa. Segundo Driscoll (1989),
sobre solo mole deve levar em consideração, o sistema braided confere alta permeabilidade e
dentre outros fatores, a sua exequibilidade porosidade aos depósitos sedimentares.
técnica, o orçamento e o prazo que se tem à De acordo com Diniz e Duarte (2012) neste
disposição (Madeira, 2016). O autor afirma pacote sedimentar terciário ocorrem aluviões de
ainda que o dimensionamento técnico da drenagem de idade Quaternária, constituídos,
respectiva solução precisa ser baseado em predominantemente, por camadas de areias
teorias da engenharia geotécnica. argilosas finas e médias de cores cinza e
Madeira (2016) concluiu em seu estudo de amarelada e argilas siltosas pouco arenosas de
viabilidade em solos moles que a solução com cor variegada, capeadas por uma camada de
drenos verticais associados a uma sobrecarga argila orgânica, às vezes pouco siltosa e pouco
temporária apresenta-se viável, sendo que, ao arenosa, cinza-escura a preta, com consistência
investir cerca de 20% a mais no orçamento muito mole.
inicial, pode se obter um ganho de
aproximadamente 46% no prazo total de 2.2 Execução dos Geodrenos Verticais
execução do empreendimento.
O progresso da consolidação de uma camada A solução proposta no projeto de execução para
de argila pode ser controlado pela observação a melhoria do solo para a aceleração do
das variações das pressões intersticiais (u), processo de consolidação dos materiais
assumindo a variação das tensões verticais aluvionares é através da instalação de
totais como uma constante, a transferência para geodrenos verticais atravessando integralmente
tensões efetivas é consequência da variação das essa camada aluvionar.
pressões intersticiais (Terzaghi et al., 1996). Os geodrenos apresentam como principais
vantagens, a aceleração dos recalques e a
eficácia em eventuais deslocamentos do terreno,
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL especialmente em função da flexibilidade dos
drenos. Por outro lado, o sistema apresenta
O programa experimental consistiu no como principais desvantagens, a necessidade de
acompanhamento da cravação de geodrenos utilização de um aterro temporário de
verticais no maciço de solo mole, através de sobrecarga, encarecendo um pouco o sistema, e
436
deixando-o mais lento em sua execução (Sgarbi
et al., 2011).
Os geodrenos são formados por um núcleo de
plástico com ranhuras em forma de canaleta,
envolto por um filtro de geossintético não tecido
de baixa gramatura com dimensões em torno de 5
x 100 mm (Figura 1).
437
De acordo com Massad (2010) a utilização
de geodrenos verticais para acelerar o
adensamento de solo é aplicavel quando o solo
mole é muito espesso, ou o seu coeficiente de
adensamento é muito baixo, a utilização da pré-
compressão através de sobrecarga temporária,
torna-se ineficiente.
Os geodrenos verticais diminuem o caminho
de drenagem dentro da massa de solo mole,
para cerca de metade da distância horizontal
entre drenos, promovendo assim a aceleração
dos recalques. Após a cravação dos drenos na
Figura 5. Tipo de solo coletado para realização dos
camada aluvionar em estudo o fluxo de água foi ensaios laboratoriais.
contínuo nas primeiras 72 horas (Figura 4).
Para a obtenção dos parâmetros a seguir
foram conduzidos os seguintes ensaios
laboratoriais, para verificar a diminição de água
nos poros das argilas como limite de liquidez
NBR 6459 (1984), limite de plasticidade NBR
7180 (1984), teor de umidade natural NBR
6457 (1984), índice de vazios e determinação
da massa específica NBR 6508 (1984).
438
da redução dos seus vazios tornando o maciço variável que pode chegar a um máximo de 6 m,
mais homogêneo, resultando no aumento do sobrepondo-se a estas camadas, por vezes
peso específico do solo conforme indicado na ocorre uma camada de argila contendo areia
Tabela 2. Com a diminuição dos vazios do solo, fina e restos de vegetais, marrom e cinza-escuro
nota-se uma redução da variação dos teores de com. A Figura 6 demonstra uma das sondagens
umidade, consequentemente dos limites de SPT realizada no local mais crítico realizado no
liquide e plasticidade do solo contribuindo com início da obra, a sondagem representada pela
o aumento da resistência ao cisalhamento, Figura 7 demonstra os parâmetros de resistência
conforme indica os resultados do ensaio Vane oito meses após o tratamento com geodrenos.
Test após aplicação da técnica (Tabela 4).
439
A melhoria da resistência mecânica dos solos cisalhamento com o amolgamento. Os valores
moles pode ser verificada através do aumento de sensibilidade obtidos pelos ensaios de
dos valores do Nspt, encontrados após a palheta antes da cravação dos geodrenos
cravação dos geodrenos, associados ao indicados na Tabela 3 correspondem a um solo
rebaixamento no nivel de água em cerca de classificado como sendo majoritariamente de
doze metros com sobrecarga de aterro. média sensibilidade, de acordo com critério de
classificação adotado por Skempton e Northey
3.3 Parâmetros geotécnicos ensaios Vane Test (1952).
A Tabela 4 demonstra as mudanças dos
Após a execução das sondagens tipo SPT, comportamentos das argilas moles após
foram realizados ensaios Vane Test eliminar a água contida entre os poros das
(10905:1989), para a definição dos valores de partículas sólidas, permitindo o aumento da
resistência não drenada (Su). A Tabela 3 indica resistência ao cisalhamento, mudando
o valor do ensaio para a situação natural, consequentemente o comportamento da argila
amolgada, além da sensibilidade, ou seja, a para baixa sensibilidade.
perda relativa de resistência da argila quando
totalmente amolgada, através da razão entre a Tabela 4. Resultados dos ensaios Vane Test depois da
execução de geodreno.
resistência não drenada do solo no estado Su Su
indeformado e a resistência do solo no estado Prof. Resistência Resistência Sensitividade
amolgado. (m) Indeformada Amolgada (kPa)
O ensaio foi realizado até a profundidade de (KPa) (KPa)
8 m, considerando a parte mais crítica do perfil 1 4,7 3,9 1,5
aluvionar de acordo com as investigações 2 4,9 4,2 1,2
3 6,8 5,1 1,3
geotécnicas (SPT). A sensibilidade maior na 4 8,8 4,6 1,9
superfície é explicada, pelo fato do teor de 5 7,2 4,1 1,8
umidade natural ser maior que o limite de 6 8,2 5,6 1,4
liquidez conforme indicado na Tabela 1. 7 9,6 5,8 1,6
8 10,4 6,2 1,7
Tabela 3. Resultados dos ensaios Vane Test antes da
execução de geodreno. Observa-se uma tendência no aumento da
Su Su resistência do estado indeformado em relação à
Prof. Resistência Resistência Sensitividade diminuição do índice de vazios, teor de
(m) Indeformada Amolgada (kPa)
(KPa) (KPa)
umidade, limite de liquidez, limite de
1 3,2 0,9 3,5 plasticidade e um aumento do peso específico
2 3,9 1,1 3,6 do solo, demostrando a dependência do
3 3,0 0,7 4,2 melhoramento dos parâmetros do solo
4 4,8 1,2 4,0 principalmente pela ação do aumento dos
5 5,2 1,6 3,3 efeitos capilares proporcionado pelos geodrenos
6 4,9 1,5 3,2
7 6,7 1,6 4,1 através da expulsão de água, contribuindo para
8 6,4 1,4 4,5 uma nova distribuição das particulas do solo
diminuindo seus vazios.
A área de estudo apresentou uma Os valores de melhoramento dos parâmetros
sensitividade do solo entre 3,2 e 4,5 (kPa), dos solos encontrados na Tabela 4 resultam de
sendo compatível com os dados obtidos por três principais fatores, como á compressão
Massad (1988), que descreve a sensibilidade imediata, ocasionada pela sobreposição do
das argilas da região de Santos-SP entre 4 e 5 aterro na camada de solo compressível,
(kPa). De acordo com Carneiro (2014) a deformação devida à magnitude da tensão
sensitividade do solo é um parâmetro para vertical com o tempo e retração do solo argiloso
avaliar os efeitos do amolgamento, sendo que após expulsão da água.
quanto mais sensitiva for à amostra, mais A Figura 8 apresenta uma correlação
acentuada será a redução da resistência ao matemática linear com alta significância R²
440
obtida entre resistência indeformada (R²=81%) Estudos realizados por Mello (2011)
e almogada (R²=84%) com o índice de vazios demonstraram que a instalação de geodrenos
do solo após a cravação de geodrenos. verticais permite acelerar significativamente o
processo de consolidação dos materiais
aluvionares, acelerando os seus assentamentos e
os ganhos de resistência ao cisalhamento do
maciço de solo em um curto prazo.
4. CONCLUSÃO
441
REFERÊNCIAS industrial sobre solos moles para implantação de um
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61.
442
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: O uso de solo-fibra tem sido reconhecido como viável técnica de melhoramento de solos.
E embora muitos estudos tenham avaliado o comportamento de resistência de solos argilosos e fibras,
não há ainda um consenso sobre os mecanismo de interação das fibras em solos coesivos e do
comportamento deste solo sob condições drenadas e não drenadas. Neste contexto, o presente
trabalho busca contribuir para o entendimento do comportamento de resistência ao cisalhamento de
um solo argiloso com inclusão de 0,25% de fibras de polipropileno sob condições drenadas e não
drenadas, por meio de ensaios de compressão triaxial, bem como avaliar a influência das pressões
neutras na interface e a alteração de volume durante o cisalhamento. Em termos de tensões efetivas,
na condição drenada, os resultados evidenciaram que as fibras provocaram um aumento na parcela
de coesão, permanecendo o ângulo de atrito praticamente inalterado. Para a condição não drenada,
em em termos de tensões efetivas, as fibras não afetaram o valor de coesão e proporcionaram
acréscimo no ângulo de atrito da mistura. A drenagem durante o cisalhamento favoreceu a resistência
das misturas solo-fibra e a pressão neutra durante o cisalhamento não drenado pode ter ocasionado
perturbação e rearranjo na interface solo-fibra, enfraquecendo assim a resistência interfacial entre o
solo e as fibras, reduzindo a resistência ao cisalhamento em comparação com a condição drenada.
Estes resultados evidenciam a necessidade de avaliar o solo-fibra nas condição de drenagem de
campo.
ABSTRACT: The use of soil-fiber has been recognized as a viable technique of soil improvement.
Although many studies have evaluated the shear behavior of clayed soil-fiber, there is still no
consensus on the mechanisms of fiber interaction in cohesive soils and the behavior of this soil under
drained and undrained conditions. Then, the present work aims to contribute to the understanding of
the shear strength of clayed soil with 0.25% of fiber mixture, under drained and undrained conditions,
by means of triaxial texts, as well as understand the influence of pore water pressures at the interface
and volume changes during shearing. In terms of effective stresses, in the drained condition, the
results showed that the fibers caused an increase in soil cohesion, remaining the angle of friction
practically unchanged. In the undrained condition, in terms of effective stresses, fibers did not
affected the soil cohesion and an increase in the friction angle was observed. Drainage during shearing
have favored soil-fiber shear strength and the pore water pressures during shearing (undrained
condition) could have caused perturbation and rearrangement at the soil-fiber interface, thus
weakening the interfacial resistance between the soil and the fibers, when compared to results in
drained conditions. Results evidenced the need to evaluate the soil-fiber in field drainage conditions.
443
1 INTRODUÇÃO resultados do ensaio triaxial CU, o
comportamento da argila com a presença de
O uso de solo-fibra tem sido reconhecido como fibras de polipropileno foi alterado durante o
viável técnica de melhoramento de solos em cisalhamento, modificando também a geração de
inúmeras aplicações geotécnicas, tais como pressão neutra dentro das amostras. Freilich et al.
reaterros, melhoria da capacidade de carga de (2010) ainda concluiem que as fibras
solos, estabilização mecânica de subleitos e sub- restringiram a dilatação do solo fibroso.
bases e no controle de condutividade hidráulica Mirzabebei (2017) realizou uma série de ensaios
do solo (Ziegler et al. 1998; Choubane et al. triaxiais CU, em amostras de argila com a adição
2001; Tang et al. 2007; Shukla et al, 2017). de fibras poliméricas (1%, 3% e 5%) e
Erlich et al. (2019) relatam ainda, a potencial concluíram que a inclusão de fibras resultou na
utilização de fibras na mitigação de trincas de transformação do comportamento plástico do
retração em argilas compactadas em cobertura de solo natural para um comportamento de
aterros sanitários. endurecimento.
No entanto, devido a maior complexidade Atualmente, nota-se também um crescente
relacionada ao mecanismo de interação das aumento no desenvolvimento de métodos de
fibras em solos coesivos, em comparção aos previsão do comportamento solo-fibra (Diab,
solos arenosos, e do comportamento dessa 2018; Jamei, 2013, Najjar et al et al, 2013;
mistura sob condições drenadas e não drenadas, Zornberg, 2002), bem como uso de modelos
há a necessidade de entendimento dos constitutivos baseados em propriedades de
mecanismos de transferência de forças na resistência das misturas (Diambra e Ibraim,
interface entre as fibras e as partículas finas do 2013; Mirzabebei et al., 2017). Estes métodos de
solo. Neste caso, fatores como desenvolvimento previsão ou modelos, para serem calibrados ou
de pressão neutra na interface, tendência à validados, necessitam de resultados de ensaios
alteração de volume e taxa de deformação, de laboratório, especialmente os ensaios
resultam em diferentes resultados de resistência triaxiais.
ao cisalhamento (Li, 2005). Neste contexto, o presente trabalho busca
Özkul e Baykal (2007) sugere que maioria contribuir para o entendimento do
dos estudos se concentra no comportamento da comportamento de resistência ao cisalhamento
resistência de curto prazo das misturas e que, o de um solo argiloso com inclusão de 0.25% de
comportamento de resistência e deformação de fibras de polipropileno sob condições drenadas e
solos argilosos com fibras sob condições de não drenadas, por meio de ensaios de
carregamento saturadas e drenadas não foram compressão triaxial, bem como a influência das
amplamente estudados. Ekeinci e Ferreira (2012) pressões neutras na interface e a alteração de
citam que os estudos direcionados a explicar a volume durante o cisalhamento.
interação entre as fibras e os grãos finos de argila
são ainda limitados, devido a maior
complexidade relacionada ao mecanismo de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
interação sob condições drenadas e não
drenadas. Anagnostopoulos et al. (2014) relatam, 2.1 Solo
no entanto, que, embora muito se tenha estudado
sobre o comportamento de resistência de solos O solo utilizado nesta pesquisa consiste em um
argilosos e fibras, não há ainda um consenso solo argilo-arenoso laterítico, típico do interior
geral sobre o efeito das fibras poliméricas no do estado de São Paulo, coletado em uma jazida
comportamento mecânico de solos finos. localizada no município de Santa Gertrudes –
Freilich et al (2010) analisaram em amostras São Paulo. Após a coleta, o solo foi destorroado,
de argila com fibras de polipropileno, no teor de seco ao ar, passado na peneira #4 e
0,50%, os efeitos da pressão neutra na resistência homogeneizado para caracterização e demais
efetiva ao cisalhamento, através de ensaios ensaios. A Tabela 1 reúne as características
triaxiais consolidados drenados (CD) e geotécnicas do solo utilizado. De modo geral, o
consolidados não drenados (CU). Com base nos solo contém fração significativa de argila de alta
444
plasticidade, sendo passível do desenvolvimento utilizaram teores variando de 0,1% a 1,5% de
de elevados níveis de pressões neutras. fibras em relação a massa seca do solo, tais como
em Feuerharmel (2000), Li (2005), Özkul e
Tabela 1. Propriedades geotécnicas do solo. Baykal (2007), Freilich et al. (2010),
Ensaio Valor Especificação Mirzababaei et al. (2013), Diambra e Ibraim
Fração areia (%) 36 (2013), Otoko (2014). Nesta pesquisa, optou-se
Fração silte (%) 14 ABNT NBR 7181 por realizar os ensaios com teor de 0,25%.
Fração argila (%) 50
ρ (g/cm³) 3,02 ABNT NBR 6458 2.3 Preparação das amostras
LL (%) 51 ABNT NBR 6459
LP (%) 30 ABNT NBR 7180 O processo de homogeneização das fibras no
IP (%) 21 - solo seguiu a seguinte sequência: 1)
ρd (g/cm³) 1,70 homogeneizou-se o solo na umidade ótima do
ABNT NBR 7182 solo natural, obtida através do ensaio de
wót (%) 24,0
Classificação SUCS CH ASTM D2487 compactação na energia Proctor normal, e
Classificação MCT LG’ DNER – ME 258 calculou-se a quantidade de água em relação ao
peso total da matéria prima seca (solo + fibra);
2.2 Fibras de polipropileno 2) distribuiu-se aleatoriamente as fibras na
matriz de solo; 3) iniciou-se o processo de
As fibras utilizadas nesta pesquisa são de mistura dos materiais. Para a realização dos
polipropileno aditivado, formadas por pequenos ensaios triaxiais, os corpos de prova do solo
filamentos não retificados. Estas fibras natural e da mistura solo-fibra foram moldados
apresentam características uniformes e são em seus respectivos parâmetros ótimos de
inertes quimicamente, o que possibilita a sua compactação, na energia Proctor normal,
aplicação em projetos de engenharia. A Figura 1 conforme ABNT NBR 7182 (ABNT, 2016).
apresenta as fibras de polipropileno e a Tabela 2 O ensaio de compactação, realizado na
apresenta as características das fibras, energia Proctor normal, para o solo com adição
disponibilizadas pelo fabricante. de fibras, resultou em umidade ótima de 24,7% e
peso especifico sexo máximo de 1,67 g/cm³.
Comparando os resultados com os do solo
natural, apresentado na Tabela 1, pode-se
verificar que houve pequena alteração nos
valores. Esta pequena variação nos parâmetros
ótimos de compactação misturas argila-fibra
também são verificadas na pesquisas de Prabakar
e Sridhar (2002), Cetin et al (2006), Tran et al.
(2018).
Para a realização dos ensaios de compressão
Figura 1. Fibras de polipropileno.
triaxial, os corpos-de-prova foram moldados
Tabela 2. Propriedades físicas das fibras de polipropileno. com diâmetro de 50 mm e altura de 100 mm, com
grau de compactação de 95% (±1%).
Propriedades Físicas Fibras
Matéria prima Polipropileno
Massa especifica 0,90 g/cm³ 2.4 Programa experimental
Diâmetro médio 18 µm
Comprimento 12 mm A realização dos ensaios de compressão triaxial
Tensão de ruptura 810 MPa tipo consolidado drenado (CD) e consolidado
Alongamento na ruptura 28% não drenado (CU) ocorreram conforme
Absorção de água 0,0 procedimentos da ASTM D7181 (ASTM, 2011)
e ASTM D4767 (ASTM, 2011),
Diversas pesquisas que avaliaram o respectivamente. Os corpos de prova, após
comportamento de solos argilosos e fibras curtas compactados na umidade ótima, foram levados
445
para a câmara triaxial e submetidos a saturação Verificou-se ainda na Figura 2, pouca
por contrapressão. Cada corpo-de-prova foi alteração na rigidez inicial das curvas tensão-
mantido nessa fase por dez dias, em média. A deformação, o que demostra que o efeito das
saturação foi confirmada com a obtenção do fibras na resistência à compressão foi baixo para
parâmetro B em torno de 0,95. Os ensaios foram pequenas deformações, até o momento em que
realizados com tensões confinantes de 50, 100, começaram a predominar as deformações
200 e 300 kPa, sendo essa faixa de tensões usual plásticas da matriz solo-fibra. O comportamento
nas pesquisas de Li e Zornberg (2002), Özkul e observado na Figura 2 está de acordo com o
Baykal (2007) e Mirzababaei et al. (2017). Após encontrado por Freilich et al. (2010) em um solo
a fase de adensamento, os corpos-de-prova argiloso com fibras poliméricas, onde verificou-
foram submetidos à fase de cisalhamento com se que, para tensões de confinamento mais
uma taxa de deslocamento axial de 0,15 baixas, as fibras podem não interagir
mm/min, tanto para a condição drenada quanto efetivamente com os grãos de solo, e podem
para a condição não drenada. Ao final, para cada escorregar no momento do cisalhamento, uma
tensão de confinamento utilizada, foram plotadas vez que podem não confinar efetivamente os
curvas tensão desvio x deformação e grãos de solo e nem adicionar resistência
estabelecidas as envoltórias de resistência ao excedente ao compósito fibroso.
cisalhamento do solo natural e das misturas solo- A Figura 3 apresenta a variação volumétrica
fibra. das amostras durante o ensaio CD. Observa-se
que para as tensões de 50 kPa e 100 kPa, não
foram observadas variações significativas na
3 RESULTADOS compressibilidade do solo com a inclusão de
fibras. Entretanto, para as tensões de 200 kPa e
3.1 Ensaios de compressão triaxial CD 300 kPa, as fibras proporcionaram maior
compressibilidade quando comparado com o
A Figura 2 apresenta as curvas tensão x solo natural, tal como em Ibraim et al. (2010) e
deformação obtidas no ensaio CD. Observa-se Castilho (2017).
maior resistência do solo-fibra em realação ao
Variação volumétricaa (%)
0
σ: 50 kPa σ: 100 kPa
-1 -1
acréscimo na tensão de confinamento -2 -2
proporcionou maior eficiência das fibras na -3 -3
resistência do solo. -4 -4
-5 -5
SOLO NATURAL
-6 -6
800 800 SOLO-FIBRA 0,25%
SOLO NATURAL -7 -7
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
600 SOLO-FIBRA 0,25%600
σ1 - σ3 (kPa)
446
para o solo natural e para as misturas solo-fibra Entretanto, o solo-fibra 0,25% apresentou
nos ensaios CD. reduções após a tensão máxima menos
significativas em relação ao solo natural.
500
Tensão cisalhante (kPa)
SOLO NATURAL
400
300 300
300
SOLO NATURAL
SOLO-FIBRA 0,25%
200
σ1 - σ3 (kPa)
σ1 - σ3 (kPa)
200 200
100
0
0 200 400 600 800 1000 1200 100 100
Tensão normal (kPa)
(a) σ: 50 kPa σ: 100 kPa
0 0
500
Tensão cisalhante (kPa)
SOLO-FIBRA 0.25% 0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
300 300
400
Deformação axial (%) Deformação axial (%)
300
σ1 - σ3 (kPa)
σ1 - σ3 (kPa)
200 200 200
100
0 100 100
0 200 400 600 800 1000 1200
Tensão normal (kPa)
σ: 200 kPa σ: 300 kPa
(b) 0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Figura 4. Envoltórias de resistência ao cisalhamento na Deformação axial (%) Deformação axial (%)
condição drenada: (a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%.
Figura 5. Curvas (σ1 – σ3) versus deformação axial do solo
natural e do solo-fibra 0,25% na condição não drenada.
Verifica-se na Tabela 3 que a presença de
fibras proprocionou acréscimos de 41% no
Ainda na Figura 5, um fator interessante a ser
intercepto coesivo da mistura solo-fibra 0,25%
analisado é que, após a redução na resistência de
em relação ao solo natural. Já o ângulo de atrito
pico e após uma deformação axial de
da mistura solo-fibra 0,25% manteve-se
aproximadamente 10%, as misturas solo-fibra
praticamente inalterado em relação ao solo
apresentam novos incrementos de resistência ao
natural. Comparando estes resultados com dados
cisalhamento. Tal comportamento é justificado
disponiveis na literatura, a proporção de
por Freilich et al. (2010) pela maior interação
acréscimo no intercepto coesivo encontrado
entre as partículas de solo e as fibras durante o
nesta pesquisa está em concordância com os
adensamento, especialmente para maiores
resultados de Feuerharmel (2000). Já o ângulo de
tensões, fazendo com que as fibras se estiquem
atrito não foi significativamente afetado pela
cada vez mais e, por consequência, ao iniciar a
inclusão das fibras, assim como observado em
fase de ruptura, contribuam melhor na
Trindade et al. (2006), Bolaños e Casagrande
distribuição de tensões de cisalhamento, uma vez
(2006) e Ökzul e Baykal (2007).
que a área das fibras interceptando o solo é maior
Tabela 3. Parâmetros de resistência ao cisalhamento A Figura 6 apresenta as curvas de pressão
drenado do solo natural e da mistura solo-fibra. neutra versus deformação axial do solo natural e
Solo c' (kPa) ϕ '(°) do solo-fibra 0,25%. Verifica-se na Figura 6 que
Solo natural 29,0 28,0 a inclusão de fibras não alterou a geração de
Solo-Fibra 0,25% 40,9 29,8
pressões de neutras em relação aos resultados do
solo natural, para todos os niveis de tensões
analisados nessa pesquisa. Para a tensão
3.2 Ensaios de compressão triaxial CU confinante de 300 kPa, houve uma pequena
redução nas pressões neutras geradas no solo-
A Figura 5 apresenta os resultados das curvas (σ1 fibra. Sendo a pressão neutra positiva associada
– σ3) versus deformação axial, obtidas no ensaio à tendência de contração do volume, pode-se
CU para solo natural e solo-fibra 0,25%. concluir que as fibras tendem a restringir a
Verifica-se na Figura 5, que tanto o solo natual dilatação do solo-fibra durante o cisalhamento
quanto a mistura solo-fibra apresentaram picos não drenado, tal como relatado por Li (2005) e
de ruptura nas curvas tensão-deformação, em Freilich et al. (2010).
todos os níveis de tensões confinantes.
447
300 300
SOLO NATURAL σ: 100 kPa 200
Pressão neutra (kPa)
100
100
100
0 0
300 0 300
σ: 2005kPa 10 15 20 0 σ: 300 5
kPa 10 15 20
0
Pressão neutra (kPa)
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação axial (%) Deformação axial (%)
100
Figura 6. Curvas de pressão neutra versus
deformação axial do solo natural e do solo-fibra
0,25% na condição não drenada.
0
0 100 200 300 400
As Figuras 7 e 8 apresentam, Tensão normal (kPa)
respectivamente, as envoltórias de resistência ao (b)
Figura 8. Envoltórias de resistência ao cisalhamento
cisalhamento para o solo natural e para a mistura
efetivas: (a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%.
solo-fibra 0,25% em termos de tensões totais e
tensões efetivas. A Tabela 4 apresenta os valores Tabela 4. Parâmetros de resistência total ao cisalhamento
de coesão (c) e ângulo de atrito (ϕ) totais e não drenado do solo natural e da mistura solo-fibra.
efetivas obtidos para o solo natural e para a Tensões Tensões
mistura solo-fibra. Em termos de tensões totais, totais efetivas
Solo
verifica-se que a amostra de solo-fibra c ϕ c' ϕ’
(kPa) (°) (kPa) (°)
apresentou acréscimo nos valores de coesão de Solo natural 21,0 13,8 22,0 24,0
19% e quanto ao ângulo de atrito houve um Solo-Fibra 0,25% 25,0 14,6 22,0 33,0
pequeno acréscimo de 5%, em relação ao solo
natural. E em termos de tensões efetivas, foi
verificado que a coesão manteve-se inalterada, 3.3 Comparações entre ensaios drenados e não
havendo um acréscimo de 37% no ângulo de drenados
atrito, em relação ao solo natural.
A Figura 9 apresenta a trajetoria de tensões
efetivas do solo natural e da mistura solo-fibra
Tensão cisalhante (kPa)
200
SOLO NATURAL
0,25%, tanto para o ensaio na condição drenada
quanto para a condição não drenada. Para o
100
traçado das trajetórias, as retas traçadas nas
trajetórias de tensões foram determinadas pelas
0 equações:
0 100 200 300 400 500 600
Tensão normal (kPa)
(a) q = a + p.tan α (1)
200
Tensão cisalhante (kPa)
SOLO-FIBRA 0.25%
A partir dos triângulos formados pelos centro e
100 raios, obtém-se: sen ϕ = tan α e c/tan ϕ = a/tan
α.
0
Comparando-se as trajetorias de tensões
0 100 200 300 400 500 600 efetivas, na Figura 9, verifica-se que a resistência
Tensão normal (kPa) ao cisalhamento efetiva obtida pelos ensaios
(b)
Figura 7. Envoltórias de resistência ao cisalhamento totais:
drenados e não drenados não apresentaram
(a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%. alterações significativas. Desta forma, verifica-
448
se que fatores como desenvolvimento de pressão foram realizados com mesma velocidade de
neutra na interface e tendência à alteração de ruptura (0,15 mm/min).
volume na resistência ao cisalhamento não Nota-se também que os resultados na
influenciaram na resistência ao cisalhamento da condição drenada (Figura 2) não apresentam
mistura solo-fibra. picos de resistência definidos e indicaram
acréscimos de resistência com aumento das
400 deformações, enquanto os ensaios CU (Figura 5)
SOLO NATURAL - CU
SOLO NATURAL - CD apresentam picos definidos de resistência em
300
baixas deformações e uma pequena redução na
q' (kpa)
200
drenada, o corpo de prova do solo natural
100 apresentou um plano de ruptura ao cisalhamento
0
bem definido e amostra do solo-fibra apresentou
0 100 200 300 400 500 600 700 800 novamente comportamento tipo “abaulamento”,
p' (kPa)
mostrando enrijecimento da amostra.
(b)
Figura 9. Superposição das trajetórias de tensões efetivas
obtidas pelo ensaio CD e CU: (a) solo natural; (b) solo-
fibra 0,25%.
CD
Segundo Al Wahab e Al-Qurna (1995) o
desenvolvimento de pressão neutra durante o
cisalhamento não drenado pode reduzir a tensão Solo natural Solo-fibra 0,25%
efetiva entre as partículas, resultando em
perturbação e rearranjo na interface solo-fibra.
Por consequência, os autores citam que é CU
esperada uma redução na resistência ao
cisalhamento efetiva obtida no ensaio CU, em
comparação ao ensaio CD, o que não foi Solo natural Solo-fibra 0,25%
evidenciado nesta pesquisa. Figura 10. Corpos de prova após a ruptura sob tensão
confinante de 50 kPa: (a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%
Ao contrário do observado por Freilich et al.
(2010), a drenagem durante a ruptura não
reduziu a resistência ao cisalhamento da amostra
para todos os níveis de tensões analisados nesta 4 CONCLUSÕES
pesquisa. Outro fator também exposto por
Freilich et al. (2010), que poderia influenciar na A presente pesquisa avaliou o comportamento de
resistência drenada, é o tempo de execução dos resistência ao cisalhamento sob condições
ensaios e por consequência o desenvolvimento drenadas e não drenadas de um solo argiloso com
das deformações ao longo da interface solo- inclusão de fibras poliméricas, por meio de
fibra, o que poderia ocasionar um deslizamento ensaios de compressão triaxial, bem como a
e rearranjo das partículas do solo durante a influência das pressões neutras na interface e a
condição de cisalhamento drenada. No entanto, alteração de volume durante o cisalhamento.
vale ressaltar que nesta pesquisa todos os ensaios Dentre os resultados obtidos, destacam-se:
449
• Na condição drenada, a adição das fibras Anagnostopoulos, C. A., Tzetzis, D. and Berketis, K.
(2014). Shear strength behaviour of polypropylene
ao solo argiloso proporcionou aumento
fibre reinforced cohesive soils. Geomech. Geoeng. 9,
de resistência ao cisalhamento e passou a (3), 241–251.
atuar de forma mais significativa a partir Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Análise
do momento em que o solo sofreu Granulométrica dos solos: NBR 7181. Rio de Janeiro.
deformações plásticas. Os resultados Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Solo -
Determinação do limite de liquidez: NBR 6459. Rio de
evidenciaram também que a adição de
Janeiro.
fibras provocou um aumento apenas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Solo -
parcela de coesão, permanecendo o Determinação do limite de plasticidade: NBR 7180.
ângulo de atrito praticamente inalterado; Rio de Janeiro.
• Para a condição não drenada, verificou- Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Solo –
Ensaio de compactação: NBR 7182. Rio de Janeiro.
se acréscimo na parcela de coesão com Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017). Solo –
pouca alteração no ângulo de atrito, em Grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura 4,8
termos de tensões totais. E em termos de mm - Determinação da massa específica, da massa
tensões efetivas, a fibras não afetaram o específica aparente e da absorção de água: NBR 6458.
valor de coesão e proporcionaram Rio de Janeiro.
Al Wahab, R.M.; Al-Qurna, H.H. (1995). Fiber Reinforced
acréscimo no ângulo de atrito da mistura; Cohesive Soils For Application In Compacted Earth
• A drenagem durante o cisalhamento Structures. Geossynthetics’95 Conference. 1995,
favoreceu a resistência das misturas solo- Nashville. Proceedings. V.2, P.433-466.
fibra, uma vez que a tensão efetiva na Bolaños, R. E. Z; Casagrande, M. D. T (2006). Estudo
interface solo-fibra foi maior no ensaio Experimental de Solo Reforçado com Fibra de Coco
Verde para carregamentos estáticos em obras
CD, e a pressão neutra durante o geotécnicas.
cisalhamento não drenado pode ter Castilho, T. W. L. (2017). Resistência ao cisalhamento de
ocasionado perturbação e rearranjo na solos com fibras de politereftalato de etileno reciclado.
interface solo-fibra, enfraquecendo Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual
assim a resistência interfacial entre o solo Paulista, Bauru, São Paulo, 100 f.
Cetin, H., Fener, M., & Gunaydin, O. (2006). Geotechnical
e as fibras, reduzindo a resistência ao properties of tire-cohesive clayey soil mixtures as a fill
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Os autores agradecem ao Laboratório de DNER ME 258/94. Solos – Compactação em
Geotecnia e Geossintéticos da Universidade equipamento miniatura – Mini-MCV. Rio de Janeiro.
Federal de São Carlos (LabGEO/UFSCar) e Diambra, A. Ibraim, E. (2013). Modelling of fibre–
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451
452
Durabilidade de Geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Um dos aspectos de relevância quando se trata de geossintéticos é a sua durabilidade, uma
vez que sua utilização é recente e, portanto, estudos que determinem o comportamento ao longo do
tempo de vida de serviço do material têm sido objeto de várias pesquisas. O artigo apresenta o estudo
da degradação por elementos climáticos em geotêxteis tecidos de polipropileno durante as estações
climáticas de um ano (inicio do verão de 2016 e término da primavera 2017). A exposição ocorreu
na cidade de Varginha, Sul de Minas Gerais, latitude de 21°33’05’’S. A dinâmica atmosférica local
foi monitorada por meio de dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia, sendo a
radiação ultravioleta (UV) estimada como 7,5% da radiação global medida. A degradação sofrida foi
medida por meio da resistência à tração antes e após degradação, individualmente, bem como o efeito
acumulativo no tempo total de exposição. No verão, foi avaliada uma radiação UV de 136 MJ/m2,
outono 70 MJ/m2, inverno 131 MJ/m² e na primavera 115 MJ/m². No verão, a precipitação acumulada
foi de 342 mm, outono 165 mm, inverno 18 mm e na primavera 546 mm. As perdas de resistência à
tração por período foram: 29% verão, 7,5% outono, 8 % inverno e de 7,5 % primavera. A amostra
exposta no período total perdeu 33% da resistência à tração. A relevância do artigo está na avaliação
do comportamento em campo de geotêxtil tecido, visto que a exposição ao ambiente é de considerável
complexidade, conforme pôde ser observado na dinâmica atmosférica supracitada.
ABSTRACT: One of the aspects of relevance when it comes to geosynthetics is their durability, since
their use is recent and, therefore, studies that determine the behavior over the lifetime of the material
has been the object of several researches. This paper presents the study of the degradation by climatic
elements in polypropylene fabric geotextiles during the seasons of one year (beginning of summer of
2016 and ending of spring 2017). The exhibition took place in the city of Varginha, South of Minas
Gerais, latitude 21°33'05 ''S. Local atmospheric dynamics was monitored by data provided by the
National Meteorological Institute, with ultraviolet (UV) radiation estimated as 7.5% of the measured
global radiation. The suffered degradation was measured comparing the tensile strength before and
after degradation, individually, as well as the cumulative effect in the total time of exposure. In the
summer, UV radiation reaches 136 MJ/m2, in autumn 70 MJ/m2, winter 131 MJ/m² and spring 115
MJ/m². In summer, cumulative rainfall was 342 mm, in fall it was 165 mm, winter 18 mm and spring
546 mm. The losses of tensile strength per period were: 29% summer, 7.5% fall, 8% winter and 7.5%
spring and sample exposed to radiation on whole period lost 33% of the tensile strength. The
relevance of the article lies in the evaluation of the behavior in the field of woven geotextile, since
455
the exposure to the environment is of considerable complexity, as can be observed in the
aforementioned atmospheric dynamics.
456
de exposição do material, como as normas ISO desenvolvimento da pesquisa.
(2009a e 2009b) 877-1 e a 877-2,
respectivamente, as quais preconizam que a
inclinação deve ser equivalente à latitude do
local e que a face inclinada deve estar
direcionada para o equador, situação que
caracteriza uma maior incidência solar durante o
dia.
Com o objetivo de aumentar o tempo de
serviço do material exposto em campo, há
aplicações por parte dos fornecedores de aditivos
estabilizantes térmicos e antioxidantes,
retardando a fotodegradação induzida pela
absorção de radiação UV.
Os tipos mais comuns destes aditivos são os
UV screeners, os UV absorbers, os Quencherse
as HALS (hindered amine light stabilisers),
dentre outros (Carneiro, 2009; ISO 13434,
Figura 2. Fluxograma representativo da metodologia.
2008).
O ensaio de degradação por intemperismo em
3 MATERIAIS E MÉTODOS campo foi realizado no Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais -
CEFETMG, Campus Varginha (Latitude:
3.1 Materiais utilizados
21°33’05’’S, Longitude: 45°25’49’’W, Altitude:
916m acima do nível do mar).
O geotêxtil tecido (GTX-W), utilizado no
desenvolvimento da pesquisa, é produzido por Escolheu-se o local de exposição levando em
entrelaçamento em ângulo reto de consideração a não existência de elementos que
provocariam sombra, como árvores e prédios, e
monofilamentos de polipropileno. Este geotêxtil
foi produzido para fins de pesquisas, sendo que interferissem nos resultados de alguma outra
forma. Outro aspecto considerado foi a baixa
empregado aditivo de proteção contra radiação
UV do tipo HALS com concentração inferior a poluição atmosférica, já que, altos níveis
poderiam gerar poeiras que agiriam como
1%. A Figura 1 apresenta uma imagem ampliada
barreira à radiação UV.
de microscopia óptica do geotêxtil utilizado na
Seguindo as recomendações das normas ISO
pesquisa.
877-1 e 877-2 (2009), os pórticos de exposição
foram construídos com inclinação próxima ao
valor da latitude local, ou seja, aproximadamente
22° em relação à horizontal. Além disso, suas
faces inclinadas foram orientadas para a direção
Norte. Todos esses aspectos garantiram uma
maior exposição do material à radiação solar.
A Figura 3 apresenta os pórticos de exposição
montados para a realização desta pesquisa, onde
a parte inclina era composta por uma tela aberta
Figura 1. Imagem de microscopia óptica do geotêxtil com malha de 30 mm x 30 mm.
tecido de polipropileno. Após a construção dos pórticos, prepararam-
se as amostras para exposição. As mesmas foram
3.2 Métodos cortadas com tamanho de (110 x 450) mm
totalizando 12 unidades. A Figura 4 apresenta a
O fluxograma apresentado na Figura 2 sumariza forma de fixação das amostras nos pórticos.
as etapas realizadas ao longo do
457
Para a realização destes ensaios, foram
preparados corpos de prova de dimensões 50mm
x 300mm. A velocidade de tração da máquina
durante os ensaios foi de 300 mm/min e a
distância entre garras de 75 mm (Figura 6). Estes
ensaios foram realizados com o material intacto
e com o material degradado, a fim de se obter um
comparativo.
A degradação foi avaliada em cada estação
climática, de forma individual e acumulada,
Figura 3. Pórticos de exposição.
ressalta-se: a exposição foi iniciada no verão do
ano de 2016 e terminou no inverno de 2017.
Para analisar as variáveis climáticas as quais
o material estudado foi exposto, obtiveram-se os
dados meteorológicos (radiação solar total do
local e a precipitação) por meio do site do
Instituto Nacional de Meteorologia – INMET.
Adotou-se na pesquisa um valor estimado de
7,5% para a radiação UV local em relação à
radiação global.
458
Além disso, todos os intervalos de confiança das
4 RESULTADOS E DISCUSÕES amostras degradadas nos períodos estudados se
deslocaram à esquerda do intervalo de confiança
A Tabela 1 apresenta os valores, obtidos por referente à amostra intacta.
meio do site do INMET, de radiação local e
precipitação nas estações climáticas dos
períodos em estudo. A Figura 7 apresenta o
gráfico da dinâmica atmosférica relativo a estes
períodos.
459
de incidência de radiação UV. À Universidade Federal de Lavras pela
O tempo de exposição acumulado apresentou oportunidade de pesquisa. À empresa
maior perda de resistência à tração que os HUESKER Ltda pelo fornecimento dos
períodos isolados. Tal fato se deve ao acúmulo geotêxteis.
de danos sofrido, assim sendo, os autores estão
trabalhando na formulação de um modelo que
represente este fato, no qual o acúmulo de danos REFERÊNCIAS
pudesse ser avaliado. Entretanto, vale ressaltar
que: o percentual de perda de resistência após a ABNT. NBR ISO 10318-1 (2013): Geossintéticos –
exposição de 364 dias não pode ser avaliado pelo Termos e definições. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
somatório de perdas ao longo das estações ASTM. D 5035 (2011). Standard Test Method for
estudadas, tanto que o valor obtido para a Breaking Force and Elongation of Textile Fabrics
amostra exposta durante todo o período foi de (Strip Method), ASTM International, Pennsylvania.
33% de perda média de resistência à tração, Carneiro, J.R.C. (2009). Durabilidade de Materiais
enquanto que o somatório de perda média de Geossintéticos em Estruturas de Carácter Ambiental
- A Importância da Incorporação de Aditivos
resistência das estações é de 52%. Químicos. Tese de Doutorado, Universidade do
Porto, 602 p.
EN 12224 (2000). Geotextiles and geotextile-related
5 CONCLUSÕES products – Determination of the resistance to
weathering. European Committee for
Standardization. Brussels.
Geossintéticos são materiais poliméricos EN 13362 (2013). Geosynthetic barriers. Characteristics
altamente empregados em obras de engenharia required for use in the construction of canals.
civil e ambiental. Devido ao grande prejuízo que European Committee for Standardization. Brussels.
a sua falha pode causar, é importante estimar a Fechine, G.J.M.; Santos, J.A.B. & Rabello, M.S. (2006).
vida de serviço destes materiais. Avaliação da fotodegradação de poliolefinas através
de exposição natural e artificial. Química Nova,
Em razão disto, é fundamental conhecer as SBQ, Vol. 29, n 4, p. 674-680.
variáveis que influenciam na degradação do Greenwood, J.H., Schroeder H.F. & Voskamp, W. (2012).
geotêxtil, assim como compreender como as Durability of Geosynthetics. CUR Committee C
propriedades mais relevantes do material em 187– Building & Infrastructure.
estudo são afetadas, por exemplo, a sua Guimarães, M.G.A. & Urashima, D.C. (2013).
Dewatering sludge in geotextile closed systems:
resistência à tração, objeto deste estudo. Brazilian experience. Soils & Rocks, Vol. 36, p. 251-
Por conseguinte, a partir da metodologia 263.
empregada, concluiu-se que valores de radiação ISO 877-1 (2009a). Plastics – Methods of exposure to
sem atuação de precipitações no período em solar radiation – Part 1: General guidance.
estudo não degradam de maneira significativa o Switzerland.
ISO 877-2 (2009b). Plastics - Methods of exposure to
geotêxtil avaliado neste estudo. Verificou-se que solar radiation – Part 2: Direct weathering and
os corpos de prova expostos apenas na estação exposure behind window glass. Switzerland.
inverno apresentaram reduzida perda de ISO TS 13434 (2008) Geosynthetics - Guidelines for the
resistência à tração, se comparados àqueles assessment of durability. Switzerland.
expostos apenas no verão embora a incidência de Leech, A.D. (2010). Geotextiles long term durability –
product design parameters. 9th International
UV tenha sido similar. Conference on Geosynthetics, Guarujá.
Portanto, o estudo indica que uma atenção Moo-Young, H.K., Gaffney, D.A. & Mo X. (2002).
especial deve ser dada à ação conjunta dos Testing Procedures to assess the viability of
agentes de intemperismo, ou seja, da dinâmica dewatering with geotextiles tubes. Geotextile and
da atmosfera no período avaliado, para viabilizar Geomembranes, v. 20, p. 289-303.
Paoli, M. (2008). Degradação e Estabilização de
uma melhor compreensão do efeito acumulativo Polímeros. 2° versão online. São Paulo: ed.
de degradação sobre os geossintéticos expostos Chemkeys.
às intempéries e a forma com que esta ocorre. Saathoff, Fokke, Oumeraci, Hocine & Restall, Simon.
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AGRADECIMENTOS use of geotextile containers. Geotextiles and
Geomembranes, v. 25, n. 4, p. 251-263.
460
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The use of geosynthetics exposed to outdoor conditions favors the action of climatic
factors. These factors, mostly UV radiation, can significantly affect the lifetime of these materials.
For the application of geosynthetics in dune areas, specific environmental factors, as wind effect,
can also increase the degradation of the exposed material. Therefore, this paper shows the
degradation analysis of a polypropylene woven geotextile subjected to outdoor exposure in a dune
area in the city of Natal, Brazil. For comparison purposes, the material was also exposed in a
control area without dunes. The exposure tests were carried out based on ASTM D5970, ISO 877-1
and ISO 877-2. During the exposure time, local climatic data were collected using the
meteorological stations of the National Meteorological Institute (INMET, Brazil). All specimens
were subjected to tensile strength tests using the strip method according to ASTM D5035 at pre-
461
established times. Additional tensile strength tests were also conducted for some intact specimens.
The results showed the decrease of the tensile strength after the outdoor exposure with decrease of
degradation rate over time. After one month of exposure, the greater degradation of the geotextile
strength was observed for the dune area. However, the difference between the levels of degradation
of the two areas was reduced for the subsequent time.
462
2 MATERIAIS E MÉTODOS realizadas medições das temperaturas
superficiais das subamostras em dois dias por
Neste estudo, foi realizado o ensaio de semana e três horários distintos por dia: 7h,
exposição ao ar livre de subamostras coletadas 12h30min e 17h. Foram ainda obtidos,
de uma amostra de geotêxtil tecido, durante o mediante as estações automática e convencional
período de março a julho de 2018 em uma área do INMET, os dados meteorológicos locais.
de dunas em Natal/RN. Para efeito de O valor de radiação UV foi estimado,
comparação, o material estudado ficou exposto considerando-o igual a 7,5% da radiação global,
também em outro local da cidade, sem presença conforme ponderado por Guimarães et al.
de dunas. (2016) e Milagres (2016).
Ao longo deste ensaio, foi feito o
acompanhamento da temperatura superficial das 2.2.1 Equipamentos
subamostras expostas e, além disso, foram
obtidos dados meteorológicos fornecidos pelo Foram utilizados dois modelos de mesa suporte
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), para exposição das subamostras de geotêxtil. O
essenciais para a análise das condições primeiro, denominado mesa fechada, consiste
climáticas locais. em uma mesa de aço de dimensões 2,00x1,30 m
Como forma de avaliar a degradação do com tampo de compensado naval. Nessa mesa,
material, foram realizados ensaios de tração de a fixação das subamostras foi feita com
faixa estreita para as subamostras virgens e para grampos de aço inoxidável como descrito por
as subamostras expostas. A partir destes, pôde- Fernandes et al. (2018). Essa mesa foi utilizada
se comparar a perda de resistência na direção na área de controle, sendo fabricada de acordo
longitudinal em função do tempo de exposição com a ASTM D5970 exceto no que tange à
e dos fatores climáticos. inclinação, a qual seguiu ao recomendado pela
ISO 877-2.
2.1 Geotêxtil Para a área de dunas, foi desenvolvido neste
trabalho um segundo modelo, denominado
Foi empregado, nesta pesquisa, um geotêxtil mesa aberta, conforme recomendações das
tecido de polipropileno (PP), com massa por normas ISO 877-1 e ISO 877-2. O mesmo
unidade de área de 230 g/m², escolhido compreende uma estrutura de madeira de
principalmente em função de sua cor bege. A dimensões 1,50x1,25 m coberta por uma tela de
cor do geotêxtil estudado, semelhante à cor da alumínio de aço inoxidável com aberturas de
areia de duna, favorece sua aplicação pelo 20x20 mm. Nesta mesa, as subamostras foram
aspecto estético, já que reduz os impactos fixadas com chapas de alumínio e parafusos. A
visuais provocados pela instalação de barreiras opção por esse modelo de mesa para a área de
de sedimentos com geotêxteis em área de dunas teve por objetivo possibilitar uma maior
dunas. ação do vento nas subamostras a fim de
representar a presença do vento em aplicações
reais de barreiras de sedimentos em áreas de
2.2 Exposição ao ar livre
dunas.
Na Figura 1, pode-se observar um esquema
O procedimento do ensaio de exposição ao ar
das duas mesas empregadas nesse estudo.
livre utilizado foi adaptado da ASTM D5970,
da ISO 877-1 e da ISO 877-2. As subamostras
de geotêxtil foram expostas sobre mesas
suportes em uma área de dunas e em uma área
de controle. A área de controle possui terreno
plano, coberto por grama e com ausência de
sombras, representando a condição de
exposição padrão prevista pela ISO 877-1. (a) (b)
A exposição do material teve duração total Figura 1. Esquema das mesas suportes utilizadas na
de quatro meses. Ao longo deste período, foram pesquisa: (a) mesa fechada; (b) mesa aberta.
463
2.2.2 Subamostras para todos os subgrupos de subamostras. A
partir da Tabela 2, pode-se perceber a redução
A amostragem foi realizada de acordo com as desse parâmetro ao longo do período de ensaio.
recomendações da NBR ISO 9862. Foram Para o geotêxtil tecido estudado, após um
coletadas ao todo 30 subamostras, divididas em mês de exposição na área de dunas, foi obtida
três grupos, os quais foram identificados por A, uma resistência em torno de 47 kN/m. Na área
B e C. O grupo A corresponde às subamostras de controle, o valor foi cerca de 50 kN/m.
virgens, o grupo B às subamostras expostas na Quando comparados com a resistência do
área de dunas e o grupo C às subamostras material virgem (56 kN/m), esses valores
expostas na área de controle, de modo que cada representam uma perda de aproximadamente
grupo de subamostras expostas se subdivide em 16% e 10%, respectivamente. Para quatro
três subgrupos referentes a cada tempo de meses, o material apresentou uma perda de
exposição: um, dois e quatro meses, conforme a resistência de 25% quando exposto na área de
Tabela 1. dunas e cerca de 23% na área de controle.
Tabela 1. Identificação de grupos e subgrupos de Tabela 2. Análise da resistência à tração para todos os
subamostras. subgrupos de subamostras.
Grupo A B C Subgrupo Resistência Coeficiente Perda de
Área de Área de Área de média de variação resistência
exposição - dunas controle (kN/m) (%) (%)
Subgrupo A B1 B2 B3 C1 C2 C3 A 56,06 5,81 -
Tempo de B1 46,91 5,25 16,3
exposição (mês) - 1 2 4 1 2 4 B2 44,47 6,55 20,7
Quantidade de B3 42,03 5,60 25,0
subamostras 6 6 3 3 6 3 3 50,56 4,08
C1 9,8
C2 46,86 5,83 16,4
2.3 Ensaios de tração C3 43,13 6,10 23,1
464
58,0 embora haja uma considerável diferença entre
Resistência à tração
55,0
yC = 54,717e-0,002x as médias amostrais das distintas áreas, o que
R² = 0,9512
induz a presumir uma influência do local de
(kN/m)
52,0
exposição na degradação do material, ocorre
49,0
interseção entre os intervalos dos subgrupos de
46,0
-0,002x subamostras expostas em áreas diferentes. Além
43,0 yB = 52,825e disso, é válido notar que conforme o tempo
R² = 0,8058
40,0 avança, as médias amostrais e os intervalos de
0 15 30 45 60 75 90 105 120
confiança desses subgrupo se aproximam,
Tempo de exposição (dia) diminuindo a diferença entre eles. Em outras
palavras, há uma redução da influência da área
Área de dunas
Área de controle
de exposição em função do tempo.
Exponencial (Área de dunas) A Tabela 3 apresenta intervalos de confiança
Exponencial (Área de controle) (IC) para os subgrupos B2, C2, B3 e C3
calculados a partir de novos valores de níveis de
Figura 2. Resistência retida do material em função do
tempo de exposição.
confiança, para os quais não há interserção
entre os intervalos de confiança obtidos para a
área de controle e para a área de dunas.
465
ficaram submetidas a um ambiente de alta Tabela 5. Resumo dos dados obtidos para os subgrupos
umidade relativa, acima de 80%, e a um C1, C2 e C3.
Subgrupos C1 C2 C3
acúmulo de radiação UV de cerca de 193
Tempo de exposição (dia) 31 61 122
MJ/m², valor considerado elevado frente aos
Amplitude térmica das
valores obtidos para diferentes localidades em subamostras (ºC)2
12,4 16,2 20,0
estudos de degradação de geossintéticos Temperatura diária (ºC) 1
26,5 26,3 25,7
(Greenwood et al., 1996; Yang e Ding, 2006; Amplitude térmica do
5,7 5,8 6,1
Guimarães et al., 2016). ambiente (ºC)1
1
Neste ensaio de exposição, a radiação UV Umidade relativa (%) 83,5 83,3 82,0
Radiação global
esteve associada a uma temperatura média acumulada (MJ/m²)
617,0 1269,9 2576,8
diária de aproximadamente 26 ºC, precipitação Radiação UV acumulada
acumulada de 1141,8 mm, cujo valor está acima 46,3 95,2 193,3
(MJ/m²)
do esperado para os padrões climáticos da Precipitação acumulada
415,0 643,0 1141,8
cidade, e velocidade média do vento variando (mm)
1
de 3 a 4 m/s. Velocidade do vento (m/s) 3,1 3,6 4,0
Resistência à tração
Destaca-se que, de modo geral, houve uma 50,6 46,9 43,1
(kN/m)3
constância nos dados meteorológicos, os quais Deformação na ruptura
14,8 12,8 13,4
se mantiveram pouco variáveis quando (%)3
1
comparados aos valores médios de um mês para Valores médios obtidos a partir dos dados diários
o outro no período de exposição. fornecidos pelo INMET.
2
Valor médio calculado a partir das amplitudes térmicas
diárias das subamostras.
3
Tabela 4. Resumo dos dados obtidos para os subgrupos Valores médios obtidos a partir do ensaio de tração.
A, B1, B2 e B3.
Subgrupo A B1 B2 B3 Analisando-se as Tabelas 4 e 5, percebe-se
Tempo de que as subamostras expostas na área de dunas
0 31 61 122
exposição (dia)
Amplitude
apresentaram amplitude térmica bem inferior
térmica das - 7,3 9,0 10,1 quando comparado com as subamostras
subamostras (ºC)2 expostas na área de controle. Possivelmente, a
Temperatura do
- 26,5 26,3 25,7
influência do vento, que é bastante intenso na
ambiente (ºC)1 área de dunas, permitiu o esfriamento das
Amplitude subamostras, reduzindo de forma mais
térmica do - 5,7 5,8 6,1
ambiente (ºC)1 acentuada as temperaturas máximas e,
Umidade relativa consequentemente, suas amplitudes térmicas.
- 83,5 83,3 82,0
(%)1 Vale destacar também que as amplitudes
Radiação global térmicas das subamostras, para as duas áreas de
acumulada - 617,0 1269,9 2576,8 exposição, se mantiveram crescentes ao longo
(MJ/m²)
Radiação UV
do tempo de ensaio, mesmo havendo pouca
acumulada - 46,3 95,2 193,3 variação da amplitude térmica do ambiente.
(MJ/m²) Para avaliar a influência do ambiente externo
Precipitação
- 415,0 643,0 1141,8
na degradação do geotêxtil, apresenta-se na
acumulada (mm) Figura 4 o comportamento da resistência à
Velocidade do tração do geossintético em função da radiação
- 3,1 3,6 4,0
vento (m/s)1
Resistência à
UV, em termos de valores acumulados. Essa
56,1 46,9 44,5 42,0 variável foi escolhida baseado em estudos
tração (kN/m)3
Deformação na anteriores, os quais sugerem que a radiação UV
15,1 13,5 12,7 12,9
ruptura (%)3 é a principal responsável pela degradação de
1
Valores médios obtidos a partir dos dados diários geotêxteis (Brand e Pang, 1991; Milagres,
fornecidos pelo INMET.
2 2016). Para as duas áreas de exposição, foi
Valor médio calculado a partir das amplitudes térmicas
diárias das subamostras. obtido o melhor ajuste para uma função
3
Valores médios obtidos a partir do ensaio de tração. exponencial. O coeficiente de determinação
encontrado apresentou o valor de 0,9455 para o
466
material exposto na área de controle e 0,7937 Fernandes et al. (2018) sob as condições
para o exposto na área de dunas. climáticas da mesma cidade e mesmo período
Sendo assim, observa-se que o coeficiente de do ano apresentou aproximadamente o dobro da
determinação obtido para a área de controle foi redução de resistência, atingindo valores de
maior do que o da área de dunas. É provável cerca de 50% em 4 meses. Tendo em
que no ambiente de dunas, agentes consideração as condições climáticas
representativos do local, como a ação do vento semelhantes, esses valores induzem a presumir
incluindo alguma possível ação abrasiva da que o geotêxtil tecido de polipropileno utilizado
areia, tenham provocado interferência na nesse trabalho é menos suscetível à degradação
degradação do material, afetando a relação entre ao intemperismo do que o geotêxtil não-tecido
essa degradação e a radiação UV. de poliester utilizado por Fernandes et al.
(2018), ainda que seja composto por um
58,0 polímero menos resistente a raios UV.
Resistência à tração
467
degradação do material. Para dois e quatro Geossintéticos) / VI Congresso brasileiro de
meses, só foi possível verificar essa influência engenharia ambiental (VI Regeo), ABMS/IGS Brasil,
Recife, CD-ROM.
para níveis de confiança de cerca de 87% e Brand E. W., Pang, P. L. R. (1991). Durability of
58%, respectivamente. Esse resultado sugere geotextiles to outdoor exposure in Hong kong. Journal
que embora tenha havido influência da área de of Geotechnical Engineering, ASCE, New York, v.
exposição na degradação do material, esse 117, n. 7, p. 979-1000.
efeito teve uma tendência de diminução ao Carneiro, J. R. C. (2009) Durabilidade de materiais
geossintéticos em estruturas de carácter ambiental –
longo do tempo. A importância da incorporação de aditivos químicos.
Em se tratando dos fatores climáticos, a Tese de Doutorado, Universidade do Porto, Portugal,
análise da regressão exponencial mostrou a 602p.
influência da radiação UV na redução da Fernandes, I. C. et al. (2018). Avaliação de propriedades
resistência do geotêxtil. Vale destacar que na de geotêxteis de poliéster reciclado submetido a
agentes climáticos. XIX Congresso Brasileiro de
área de controle foi alcançado um melhor ajuste Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (XIX
da função exponencial ao dados experimentais COBRAMSEG), AMBS, Salvador, 9p.
do que na área de dunas, possivelmente devido Gibbs, D. T., Austin, R. A., Smith, D. M. (2014).
à interferência de agentes climáticos Durability of Polyester Geotextiles Subjected to
característicos da área de dunas na degradação Australian Outdoor and Accelerated Weathering. VII
International Congress on Environmental
do material. Geotechnics, Melbourne, Australia, 8p.
De modo geral, com base nos métodos de Greenwood, J. H. et al. (1996). Durability standards for
ensaios empregados e nos dados obtidos , pode- geosynthetics: the tests for weathering and biological
se dizer que houve uma degradação mais resistance. In: De Groot M. B. et al. (eds)
acentuada do material em função de ações Geosynthetics: applications, design and construction,
proceedings. I European geosynthetic conference (I
climáticas específicas da área de Dunas no Eurogeo). A. A. Balkema, Rotterdam, p. 637-642.
primeiro mês de exposição. Entretanto apesar Guimarães, M. G. A. et al. (2016). Degradation of
da intensidade do vento nas Dunas e de uma polypropylene woven geotextile: tensile creep and
potencial ação abrasiva das partículas, do ponto weathering. Geosynthetics International, v. 24, n. 2, p.
de vista prático, a diferença entre os níveis de 213-223.
ISO (2009). ISO 877-1: Plastics – Methods of exposure
degradação para os meses subsequentes nas to solar radiation – Part 1: General guidance.
duas áreas estudadas foi pequena. International Organization For Standardization
Geneva, 13p.
ISO (2009). ISO 877-2: Plastics – Methods of exposure
AGRADECIMENTOS to solar radiation – Part 2: Direct weathering and
exposure behind window glass. International
À Huesker Ltda. pelo apoio durante toda a Organization For Standardization, Geneva, 6p.
realização desse trabalho. Koerner, R. M., Hsuan, Y. G., Koerner, G. R. (2016).
Lifetime predictions of exposed geotextiles and
geomembranes. Geosynthetics Internacional, v. 24, n.
2, p. 198-212.
REFERÊNCIAS Lin, K., Tang, A., Wu, J. (2016). Long-term outdoor
exposure test of geosynthetics. III Pan-American
ABNT (2013). NBR ISO 9862: Geossintéticos – Conference on Geosynthetics (III GeoAmericas),
Amostragem e preparação de corpos de prova para NAGS, Miami Beach, USA, p. 8.
ensaios. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Lodi, P. C. et al. (2008). Degradation of Geotextiles after
Rio de Janeiro, 4p. Weathering Exposure. I Pan American Geosynthetics
ASTM (2015). D5035: Standard test methods for Conference & Exhibition (I GeoAmericas), Cancun,
breaking force and elongation of textile fabrics (strip México, p. 612-616.
method). American Society For Testing And Milagres, B. V. (2016). Degradação de Geotêxteis frente
Materials, Conshohocken, Pennsylvania, 8p. a elementos climáticos em ensaios de campo e
ASTM (2009). D5970: Standard test methods for laboratório: realidade climática local. Dissertação de
deterioration of geotextiles from outdoor exposure. Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro
American Society For Testing And Materials, Preto, 136p.
Conshohocken, Pennsylvania, 3p. Yang, X., Ding, X. (2006). Prediction of Outdoor
Benjamim, C. V. S. et al. (2007). Investigação do dano Weathering Performance of Polypropylene Filaments
mecânico e do dano aos raios ultravioleta em by Accelerated Weathering Tests. Geotextiles and
geotêxteis expostos a condições de campo. Anais V Geomembranes, v. 24, p. 103-109.
Congresso brasileiro de geossintéticos (V
468
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: As geomembranas (GM) são materiais sintéticos que possuem baixa permeabilidade
(em torno de 10-12 cm/s) e que podem ser utilizadas como barreiras impermeáveis em aterros
sanitários, lagoas de estabilização ou em qualquer outro tipo de aplicação que necessite desvio de
fluxo. Pelo fato das GMs serem fabricadas em rolos (bobinas) devem sofrer um processo de união
em campo (emenda) para a efetiva estanqueidade ou a finalidade a que foi destinada. Neste sentido,
este artigo tem por objetivo verificar por meio de ensaio acelerado a resistência de emendas de
geomembranas de PVC em contato com resíduo de cana-de-açúcar (vinhaça). Foram avaliadas dois
tipos de emendas (alta frequência e fusão química) em geomembranas de poli cloreto de vinila
(PVC) com espessura de 1 mm. As amostras de GM foram imersas na vinhaça em recipientes de
aço inoxidável a uma temperatura de 50ºC e, após 2, 4 e 6 meses de incubação, foram ensaiadas
verificando-se a retenção das propriedades (resistência ao cisalhamento e descolamento) em função
do tempo de exposição. Os resultados obtidos indicam que houve variação nos valores das
propriedades considerando-se cada tipo de técnica utilizada. A resistência ao descolamento nas
emendas confeccionadas pela técnica de fusão química, por exemplo, apresentou diminuições
consideráveis após os períodos de exposição.
ABSTRACT: Geomembranes (GM) are synthetic materials that have low permeability (around
10-12 cm/s) and can be used as impermeable barriers in sanitary landfills, stabilization ponds or any
other type of application that requires flow diversion. Because GMs are manufactured in rolls they
must undergo a process of union in the field (seam) for the effective sealing or the purpose for
which it was intended. In this sense, this article aims to verify by accelerated test the resistance of
seams PVC geomembrane in contact with sugarcane residue (vinasse). Two types of techniques
(high frequency and chemical melting) were evaluated in polyvinyl chloride (PVC) geomembranes
with a thickness of 1 mm. The GM samples were immersed in the vinasse in stainless steel
containers at a temperature of 50 ° C and, after 2, 4 and 6 months of incubation, they were tested by
checking the properties retention (shear strength and peeling) as a function of time exposure. The
results indicate that there was variation in the values of the properties considering each type of
technique used. The results of peel tests in the seams made by the chemical fusion technique, for
example, showed considerable decreases after the periods of exposure.
469
que esta substância apresenta um poder das emendas são função da técnica utilizada, de
poluente maior que o do esgoto doméstico. sua geometria, da resina polimérica e das
No entanto, um dos principais problemas tensões residuais nas emendas.
relacionados a funcionalidade da GM no Existem, basicamente, quatro métodos de
sistema ao qual foi projetado diz respeito ao seu soldas para as geomembranas: extrusão, fusão
processo de união (emenda) em campo ou em térmica, fusão química e soldagem adesiva. A
fábrica. Devido ao fato de serem fabricadas em Figura 1 ilustra os tipos de técnicas de emenda
rolos (bobinas), devem sofrer esse processo de utilizadas em geomembranas.
união (emenda) para a efetiva estanqueidade ou
a finalidade a que foi destinada. Assim, os
pontos críticos de um sistema de
impermeabilização usando geomembranas são
exatamente as emendas. Não somente podem
perder resistência (Reddy e Butul, 1999) pelos
processos de execução bem como podem estar
em contato com líquidos agressivos que podem
alterar as propriedades de permeação e de fluxo
fazendo com que a geomembrana perca sua
função.
Neste sentido, este artigo avaliou por meio
de ensaio acelerado a compatibilidade química
de emendas de geomembranas de PVC em
contato com resíduo de cana-de-açúcar
(vinhaça). Para tanto, foram realizados ensaios
destrutivos (cisalhamento e descolamento) nas Figura 1. Diferentes técnicas de emendas em
geomembranas (Koerner, 1998).
emendas. Importante ressaltar que ensaios
químicos e físico-químicos devem
2.2 Ensaios realizados nas emendas
complementar a avaliação da resistência das
emendas. No entanto, este trabalho apresenta
Os principais ensaios de resistência das
apenas os ensaios mecânicos.
emendas são os ensaios de descolamento (peel
test) e de resistência ao cisalhamento. Estes
ensaios são normalmente realizados de acordo
2 EMENDAS EM GEOMEMBRANAS
com as prescrições da ASTM (ASTM D4437 e
D4545). Normalmente utiliza-se uma pequena
A união de rolos e painéis de geomembranas
amostra (25 mm de largura) da emenda para a
resulta em emendas que podem apresentar
realização do ensaio de cisalhamento e
resistência menor do que a própria
descolamento. O ensaio de cisalhamento nada
geomembrana. Segundo Reddy & Butul (1999)
mais é do que um ensaio de tração na região da
essas diferenças ocorrem devido à concentração
emenda. As garras são colocadas a uma
de tensão resultantes da geometria da emenda.
determinada distância das emendas efetuando-
Diferenças de resistência também podem ser
se então a solicitação. No caso de
verificadas quando se comparam as emendas
descolamento, o ensaio é realizado após
feitas em campo e as emendas realizadas em
desprender-se uma pequena parte das emendas
fábrica. Estas últimas possibilitam um maior
a fim de se verificar a força necessária para
controle de qualidade e em alguns casos, pode-
separá-las. A Figura 2 ilustra o esquema de
se reduzir a quantidade de emendas em campo.
solicitação das emendas nesses ensaios.
Atualmente, através de ensaios destrutivos, é
Reddy & Buttul (1999) ressaltam que os
possível efetuar um maior controle da
alongamentos também devem ser avaliados já
resistência das emendas em campo. As emendas
que a ruptura deve ocorrer fora da emenda
das geomembranas de PVC, em sua maioria,
devido à soldagem imprópria ou
são realizadas nas fábricas. As características
superaquecimento
470
intervalo de tempo, também pré-determinado.
O agitador foi ajustado para funcionar durante 5
minutos a cada hora. A compatibilidade
química foi realizada de acordo com as
recomendações das normas ASTM D5322 e
D5747 que prescrevem a utilização das
Figura 2. Detalhes dos ensaios de cisalhamento e ao substâncias agressivas e a metodologia de
descolamento (Giroud, 1984).
incubação.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 3. Recipiente de encubação.
A Tabela 1 e a Tabela 2 apresentam,
Esses recipientes possuem controle respectivamente, os resultados dos ensaios de
automático de temperatura, com variação de 0 a caracterização das emendas confeccionadas
80º C, bem como agitador interno com pelos métodos de alta frequência (AF-A) e
velocidade pré-ajustada em função de um solda química (QU-B), sem o contato com o
471
resíduo de cana-de-açúcar (vinhaça). A Tabela resistência ao descolamento, em termos de
3 apresenta os resultados dos ensaios de porcentagem das amostras AF-A.
resistência ao cisalhamento e ao descolamento Os resultados de resistência ao cisalhamento,
para os períodos de 2, 4 e 6 meses das amostras valores de deformação específica ao
AF-A imersas na Vinhaça. A Figura 5, Figura 6 cisalhamento, bem como a resistência ao
e a Figura 7 apresentam, respectivamente, os descolamento para as emendas confeccionadas
resultados de resistência ao cisalhamento, pelo método de solda química (QU-B) são
deformação específica ao cisalhamento e apresentados na Tabela 4, Figura 8, Figura 9 e a
Figura 10.
Tabela 3. Resultados de ensaios de cisalhamento e de descolamento - método de alta frequência (amostras AF-A).
Cisalhamento Descolamento
Tempo Tempo
N/mm ε (%) N/mm ε (%)
(meses) (meses)
Virgem 14,00 338,9 Virgem 4,1 170,0
2 13,02 110,0 2 4,3 249,8
4 11,21 153,1 4 4,0 241,8
6 11,69 153,2 6 4,2 181,5
Tabela 4. Resultados de ensaios de cisalhamento e de descolamento – método de solda química (amostras QU-B).
Cisalhamento Descolamento
Tempo Tempo
N/mm ε (%) N/mm ε (%)
(meses) (meses)
Virgem 14,00 502,7 Virgem 4,1 144,0
2 12,34 108,7 2 1,1 83,8
4 12,40 132,9 4 2,0 292,7
6 11,47 173,0 6 1,0 345,9
472
aos 2, 4 e meses; no geral o material obteve Deformação Específica ao Cisalhamento (%)
uma perda de 54,8%. 200
Deformação Específica ao
Resistência ao Cisalhamento 150
Cisalhamento(%)
100.0
Resistência ao Cisalhamento(%)
200 100
150
50 34.4
21.6 26.4
100.0 93.0
100 80.1 83.5
0
0 2 4 6
50
Tempo (meses)
Figura 9. Variação da deformação específica ao
cisalhamento durante o período ensaiado para as amostras
0
0 2 4 6
Tempo (meses) QU-B.
Figura 5. Variação da resistência ao cisalhamento durante
o período ensaiado para as amostras AF-A.
Resistência ao Descolamento
200
Deformação Específica ao Cisalhamento (%)
150
100.0
100.0 100
100
48.0
45.2 45.2 50
50 32.5 27.8 24.2
0
0
0 2 4 6
0 2 4 6
Tempo (meses) Tempo (meses)
Figura 6. Variação da deformação específica ao Figura 10. Variação da resistência ao descolamento
cisalhamento durante o período ensaiado para as amostras durante o período ensaiado para as amostras QU-B.
AF-A.
Já em relação a resistência ao descolamento,
Resistência ao Descolamento
observa-se uma perda de resistência aos 4
meses, e um ganho não muito significativo aos
200
Resistência ao descolamento (%)
100
100.0
88.1 88.6 75,8% de resistência ao descolamento.
De forma geral, observa-se que o
81.9
473
processo degradativo. No entanto, deve-se levar Pennsylvania, p. 13.
em conta que o PVC possuiu uma composição ASTM (1999a). D4437. Standard Practice for
Determining the Integrity of Field seams Used in
elevada de plastificantes. O contato desse Joining Flexible Polymeric Sheet Geomembranes.
material com temperaturas elevadas, bem como ASTM International, Pennsylvania, p. 3.
líquidos agressivos irão fazer com que o PVC ASTM (1999b). D4545. Standard Practice for
se torne mais rígido e, portanto, poderá Determining the Integrity of Factory Seams Used in
apresentar oscilações em sua resistência e Joining Manufactured Flexible Sheet Geomembranes.
ASTM International, Pennsylvania, p. 4.
deformabilidade. Ressalta-se que o fato do ASTM (1992) D5322. Standard Practice for Immersion
material apresentar aumentos em sua resistência Procedures for Evaluating the Chemical Resistance of
não significa que o material tornou-se melhor. Geosynthetics to Liquids. ASTM International,
O fator essencial a ser verificado nesse quesito Pennsylvania, p. 4.
é, sem dúvida, a deformabilidade do material. ASTM (1995) D5747. Standard Practice for Tests to
Evaluate the Chemical Resistance of Geomembranes
Tornando-se mais rígido, o material apresenta to Liquids. ASTM International, Pennsylvania, p. 15.
um comportamento frágil, ou seja, poderá Reddy, D.V. & BUTUL, B. (1999) - A comprehensive
suportar determinado nível de tensão, mas irá literature review of liners failures and longevity,
romper com deformações muito menores do submitted to Florida Center for Solid and Hazardous
que a condição intacta. Deste modo, tais Waste Management University of Florida, July 12,
1999, 156p.
análises são de vital importância dentro de um
projeto que envolve emendas em GMs, pois são
fatores que afetam diretamente a eficiência e
durabilidade destas.
5 CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Sansuy Geossintéticos
pela disponibilização das geomembranas bem
como ao Laboratório de Geossintéticos
(EESC/USP) por possibilitarem a realização dos
ensaios de laboratório.
REFERÊNCIAS
474
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: As propriedades dos geotêxteis podem sofrer alterações indesejáveis devido à ação de
vários agentes de degradação. Este trabalho avalia a resistência de seis geotêxteis de polipropileno
(materiais com diferentes estruturas, massas por unidade de área e estabilizações químicas) a
agentes de degradação físicos e químicos: ação de ácidos e de bases, hidrólise, termo-oxidação
(método do forno) e envelhecimento climatérico. A resistência ao envelhecimento climatérico foi
avaliada sob condições de degradação reais (12 meses de exposição ao ar livre) e sob condições de
degradação aceleradas em laboratório. Os danos sofridos pelos geotêxteis (nos diferentes ensaios de
durabilidade) foram avaliados pela monitorização do comportamento à tração dos materiais.
ABSTRACT: The properties of the geotextiles can suffer unwanted changes due to the action of
many degradation agents. This work evaluates the resistance of six polypropylene geotextiles
(materials with different structures, masses per unit areas and stabilisation packages) to physical
and chemical degradation agents: action of acids and alkalis, hydrolysis, thermo-oxidation (oven-
ageing method) and weathering. The weathering resistance was evaluated under real degradation
conditions (exposure during 12 months outdoors) and in laboratory under accelerated degradation
conditions. The damage suffered by the geotextiles (in the different durability tests) was evaluated
by monitoring the tensile behaviour of the materials.
475
Engenharia Civil (que devem, em muitos casos, 2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL
desempenhar funções durante um período de
tempo muito longo). 2.1 Geotêxteis
O contacto prolongado com líquidos pode ter
diferentes consequências para os geotêxteis. Os Foram usados 6 geotêxteis de PP com diferentes
líquidos podem promover a extração de estruturas (5 não-tecidos e 1 tecido), massas por
aditivos, podem reagir com as cadeias unidade de área e composições químicas. A
poliméricas dos geotêxteis (por exemplo, Tabela 1 resume as principais características
reações de hidrólise) ou podem ser absorvidos dos materiais.
pelas mesmas (causando o intumescimento dos
materiais). Tabela 1. Principais características dos geotêxteis.
O polipropileno (PP) (polímero mais Geotêxtil Estrutura μ A * (g/m2) t** (mm)
utilizado no fabrico de geotêxteis) possui uma A Não-tecido 124 (13) 1,92 (0,10)
B Não-tecido 127 (7) 1,37 (0,05)
resistência relativamente elevada à maioria das C Não-tecido 402 (30) 2,80 (0,11)
espécies químicas e à degradação biológica. No D Não-tecido 422 (16) 3,34 (0,17)
entanto, possui uma baixa resistência à E Não-tecido 380 (14) 0,83 (0,03)
oxidação e à ação da radiação UV (tornando F Tecido 221 (2) 1,26 (0,02)
mais delicado o uso de materiais de PP em (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
*μ A – massa por unidade de área (EN ISO 9864).
aplicações que envolvam a exposição à radiação **t – espessura (EN ISO 9863-1).
solar).
Os geotêxteis estão enterrados na maioria De entre os geotêxteis não-tecidos (materiais
das aplicações, estando apenas expostos à de diferentes produtores), 4 eram agulhados (A-
radiação solar (e a outros agentes climatéricos) D) e 1 era termossoldado (E). De acordo com os
durante a fase de instalação em obra (um produtores, os geotêxteis B, D, E e F estavam
período de tempo normalmente curto). Contudo, protegidos contra a oxidação e contra a radiação
em alguns casos, podem estar total ou UV (a identidade e quantidade dos
parcialmente expostos por períodos de tempo estabilizantes não foi relevada pelos
muito mais longos. De modo a melhorar a produtores). Os geotêxteis A e C não possuíam
resistência dos geotêxteis à radiação UV, é aditivos químicos nas suas composições
normal a introdução de aditivos químicos (materiais não estabilizados). Os geotêxteis
(como estabilizantes UV e/ou antioxidantes) nas não-tecidos (A-E) tinham cor branca, enquanto
suas composições poliméricas. que o geotêxtil tecido (F) possuía cor preta
Em muitas aplicações, os geotêxteis devem (presença de negro de carbono).
desempenhar funções durante um longo período Os processos de amostragem e preparação de
de tempo. Para tal, é necessário que os materiais provetes foram efetuados de acordo com a
mantenham os valores mínimos de norma EN ISO 9862.
determinadas propriedades durante esse
período. Não sendo conhecido o 2.2 Ensaios de Durabilidade
comportamento a longo prazo dos geotêxteis, é
necessário prever a degradação que estes irão 2.2.1 Imersão em Líquidos
sofrer ao longo do tempo. Para tal, são
normalmente realizados ensaios de durabilidade A resistência dos geotêxteis aos líquidos
em laboratório (tipicamente usando condições (ácidos, bases e hidrólise) foi avaliada de
de degradação aceleradas) ou em campo acordo com os procedimentos descritos nas
(condições de degradação reais). normas EN 14030 (ácidos e bases) e EN 12447
O presente trabalho avalia a resistência de (hidrólise). As condições experimentais dos
seis geotêxteis de PP com diferentes ensaios de imersão estão resumidas na Tabela 2.
características a vários agentes de degradação Estes ensaios foram realizados num banho
físicos e químicos: ação de substâncias ácidas e termostático (marca GFL, modelo 1003) ao
alcalinas, hidrólise, termo-oxidação e abrigo da luz.
envelhecimento climatérico.
476
Tabela 2. Ensaios de imersão. 2.2.4 Envelhecimento Climatérico: Campo
Ensaio de Agente de Condições do
imersão degradação ensaio
Os geotêxteis foram expostos a envelhecimento
Meio Ácido H 2 SO 4
(EN 14030) (0,025 mol/L) climatérico sob condições de degradação reais
60 ºC, 3 dias em Portugal. O local de exposição estava
Meio alcalino Ca(OH) 2
(EN 14030) (2,5 g/L) situado à latitude de 41º13`N e à longitude de
Hidrólise 8º39`W (49 metros acima do nível do mar). Os
H2O 95 ºC, 28 dias
(EN 12447) materiais foram instalados em suportes
orientados para sul com 30º de inclinação e
estiveram expostos ao ar livre durante um
2.2.2 Termo-oxidação período máximo de 12 meses (recolha de
amostras para caracterização aos 6 e aos 12
Os ensaios de termo-oxidação foram realizados meses).
de acordo com a norma EN ISO 13438 (método Os principais parâmetros climatológicos do
A2). Estes ensaios consistiram na exposição dos local de exposição (temperatura do ar, energia
geotêxteis à temperatura de 110 ºC num forno da radiação solar, humidade e precipitação)
(marca Heraeus Instruments, modelo T6120) foram monitorizados durante a exposição
com uma atmosfera normal de oxigénio (21% (Tabela 3). A energia da radiação solar foi
de O 2 ) e sem circulação forçada de ar. O tempo medida entre 300 e 3000 nm, sendo necessário
de exposição foi de 28 dias. estimar a energia da radiação UV. A norma EN
13362 e Greenwood et al. (2016) fornecem
estimativas para a energia da radiação UV como
2.2.3 Envelhecimento Climatérico: Laboratório sendo, respetivamente, 6-9% e 5-10% da
energia da radiação solar. Tendo em conta os
A exposição aos agentes climatéricos artificiais intervalos anteriores, a energia da radiação UV
(radiação UV e chuva) foi feita num simulador foi estimada como correspondendo a 7,5% da
laboratorial: o QUV Weathering Tester (marca energia da radiação solar total (7,5% é o valor
Q-Panel Lab Products, modelo QUV/spray). A médio dos intervalos referidos na norma EN
radiação UV existente na luz solar foi simulada 13362 e em Greenwood et al. (2016)).
através de lâmpadas fluorescentes do tipo
UVA-340. Por sua vez, a chuva foi simulada Tabela 3. Principais parâmetros climatológicos do local
através da projeção de água (água à temperatura de exposição dos geotêxteis ao ar livre.
ambiente) contra a superfície dos materiais. Os tE T E Total E UV P HR
geotêxteis foram expostos no simulador (mês) (ºC) (MJ/m2) (MJ/m2) (mm) (%)
6 13,6 1344 101 815 76,7
climatérico durante 362 horas (cerca de 15 dias) 12 17,8 5343 401 1094 77,5
ao seguinte ciclo climatérico: t E – tempo de exposição;
T – temperatura média do ar;
Passo 1: Radiação UV (5 horas, 50 ºC) E Total – energia total da radiação solar (300-3000 nm);
Passo 2: Chuva (10 minutos, 5 L/min) E UV – energia total da radiação UV (estimada);
P – precipitação total;
(retorno ao passo 1)
HR – humidade relativa média.
477
Tabela 4. Condições experimentais dos ensaios de tração libertavam uma elevada quantidade de fibras
(EN ISO 13934-1 e EN 29073-3). degradadas e podiam ser transformados em
Largura do Comprimento do Velocidade
provete (mm) provete (mm)*
N
(mm/min)
pequenos e/ou em pó depois da exposição a 110
50 200 5 100 ºC (resistência à tração residual de 0% após 11
(N – número de provetes) dias de exposição). Isto mostrou que, na
*comprimento entre garras ausência de estabilização química adequada, os
geotêxteis de PP possuem uma baixa resistência
Os parâmetros determinados nos ensaios de contra a termo-oxidação.
tração (valores na direção de fabrico) incluíram
a resistência à tração (T, em kN/m) e a extensão Tabela 6. Propriedades de tração dos geotêxteis depois
na força máxima (E FM , em %). A resistência à das imersões em meios ácido e alcalino e hidrólise.
tração residual (T Res , em %) foi obtida Meio
T E FM T Res
dividindo a resistência à tração das amostras (kN/m) (%) (%)
expostas (aos ensaios de durabilidade) pela Ácido 4,09 (0,64) 89,6 (12,5) 99,0
A Alcalino 4,22 (0,56) 91,2 (10,4) 102,2
resistência à tração das amostras de referência Hidrólise 4,06 (0,62) 88,7 (9,3) 98,3
(intactas). A Tabela 5 resume as propriedades Ácido 12,48 (0,65) 37,3 (2,4) 101,5
de tração das amostras de referência dos vários B Alcalino 12,37 (0,85) 36,9 (3,1) 100,6
geotêxteis. Hidrólise 12,18 (0,95) 36,0 (3,6) 99,0
Ácido 19,15 (1,33) 75,4 (7,8) 97,8
Tabela 5. Propriedades de tração das amostras intactas C Alcalino 19,76 (1,89) 77,1 (9,2) 100,9
dos geotêxteis. Hidrólise 18,85 (2,28) 75,3 (4,5) 96,3
T E FM Ácido 29,12 (0,95) 65,2 (1,3) 98,8
Geotêxtil D Alcalino 29,37 (1,21) 65,6 (1,7) 99,6
(kN/m) (%)
A 4,13 (0,51) 90,0 (11,7) Hidrólise 29,62 (0,87) 65,8 (1,4) 100,5
B 12,30 (0,72) 36,1 (2,9) Ácido 25,68 (1,93) 39,1 (5,8) 100,6
C 19,58 (2,10) 76,8 (8,9) E Alcalino 25,15 (1,42) 38,7 (6,3) 98,6
D 29,48 (1,15) 65,4 (1,5) Hidrólise 25,38 (1,51) 38,6 (5,9) 99,5
E 25,52 (1,82) 38,9 (6,0) Ácido 40,21 (0,72) 21,5 (0,4) 97,0
F 41,44 (1,00) 20,4 (1,2) F Alcalino 38,64 (1,23) 20,7 (0,7) 93,2
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos) Hidrólise 40,57 (1,08) 21,8 (0,9) 97,9
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
478
A resistência à tração dos geotêxteis B, E e F D, E e F) não foram totalmente destruídos
não sofreu alterações muito significativas durante a exposição ao envelhecimento
depois da exposição à termo-oxidação climatérico, o que mostra que a degradação foi
(resistências à tração residuais compreendidas retardada pela ação dos estabilizantes químicos
entre 90,6% e 106,0%). Tal como para a existentes nas suas composições. No entanto, as
resistência à tração, também não foram suas propriedades de tração foram, em alguns
observadas alterações muito relevantes na casos, muito afetadas pela exposição aos
extensão na força máxima (apenas pequenas agentes climatéricos (Tabela 8).
reduções nos geotêxteis B e E). Desta forma, o
processo de oxidação destes materiais foi Tabela 8. Propriedades de tração dos geotêxteis depois da
significativamente retardado pela presença de exposição ao envelhecimento climatérico (EN 12224).
T E FM T Res
estabilizantes nas fibras de PP. Geotêxtil
(kN/m) (%) (%)
No caso do geotêxtil D, ocorreu uma redução A 0 - 0
muito significativa (para cerca de metade) da B 7,27 (1,56) 21,2 (3,3) 59,1
sua resistência à tração após termo-oxidação C 0 - 0
(48,7% de resistência à tração residual). Esta D 7,83 (0,99) 37,5 (2,4) 26,6
redução foi acompanhada por uma diminuição E 24,89 (1,51) 30,3 (4,3) 97,5
F 37,22 (0,90) 18,5 (0,6) 89,8
da extensão na força máxima (de 65,4% para (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
40,8%). Isto mostra que os estabilizantes
químicos existentes no geotêxtil D não foram os A exposição ao envelhecimento climatérico
mais eficientes (em comparação com os provocou uma diminuição da resistência à
estabilizantes presentes nos geotêxteis B, E e F) tração dos geotêxteis B, D e F. Contudo, essas
na proteção contra os danos provocados pela reduções não foram idênticas para os três
termo-oxidação (é importante relembrar que a materiais, tendo sido mais significativa para o
identidade e a quantidade dos estabilizantes não geotêxtil D (73,4% de redução) e menos
foi revelada pelos fabricantes). relevante para o geotêxtil F (redução de apenas
A degradação completa dos geotêxteis sem 10,2%). É de salientar que o geotêxtil D já tinha
estabilizantes e a, no geral, boa resistência dos sido o geotêxtil estabilizado com pior
geotêxteis estabilizados revela que a presença comportamento durante a exposição à termo-
de estabilizantes é muito importante para oxidação (nesse ensaio, redução de 51,3% na
aumentar a resistência à termo-oxidação dos resistência à tração). Por sua vez, a resistência à
geotêxteis de PP, prolongando o seu tempo de tração do geotêxtil E permaneceu praticamente
vida. inalterada após a exposição ao envelhecimento
climatérico.
3.3 Envelhecimento Climatérico: Laboratório No geral, a extensão na força máxima sofreu
uma diminuição depois da exposição aos
À semelhança do ocorrido na termo-oxidação, agentes climatéricos. As diminuições mais
os geotêxteis A e C (não estabilizados) também pronunciadas foram observadas para os
não resistiram aos agentes climatéricos geotêxteis B (de 36,1% para 21,2%) e D (de
(radiação UV e chuva) simulados em 65,4% para 37,5%).
laboratório. De facto, os materiais ficaram A deterioração das propriedades de tração
reduzidos a pequenos pedaços e/ou pó dos geotêxteis B, D e F indica que mesmo
(destruição completa) após a exposição ao materiais quimicamente estabilizados não estão
envelhecimento climatérico. No entanto, e ao totalmente protegidos contra o envelhecimento
contrário do que ocorreu durante a exposição à climatérico. Contudo, a presença dos
termo-oxidação, a cor dos geotêxteis A e C não estabilizantes aumenta significativamente a
sofreu alterações relevantes. Isto mostra que, tal resistência dos geotêxteis de PP à ação dos
como para a termo-oxidação, os geotêxteis de agentes climatéricos. Assim, a composição
PP não estabilizados (100% PP) possuem uma química dos materiais, em termos de pacote de
baixa resistência à fotodegradação. estabilização, desempenha um papel
Por sua vez, os geotêxteis estabilizados (B, fundamental na resistência à fotodegradação (de
479
entre os agentes climatéricos, a radiação UV é o Tal como a resistência à tração, a extensão
principal agente de degradação dos geotêxteis). na força máxima também sofreu diminuições
muito relevantes durante a exposição dos
3.4 Envelhecimento Climatérico: Campo geotêxteis A e C ao envelhecimento
climatérico. Por exemplo, para o geotêxtil C
3.4.1 Geotêxteis Não Estabilizados ocorreu uma diminuição de 76,8% para 48,4%
após 6 meses, e para 26,8% ao fim de 12 meses
Os geotêxteis não estabilizados sofreram danos de exposição.
muito relevantes durante a exposição ao ar Os geotêxteis de PP não estabilizados foram
livre. De facto, terminados os 12 meses de pouco resistentes ao envelhecimento
exposição, o geotêxtil A estava completamente climatérico sob condições reais. De facto,
destruído e o geotêxtil C estava muito poucos meses de exposição ao ar livre foram
danificado (libertação de uma grande capazes de provocar danos muito pronunciados
quantidade de fibras degradadas e diminuição nos materiais. Assim, e para melhorar a
da espessura). A cor dos geotêxteis resistência ao envelhecimento climatérico, os
(originalmente branca) ficou cinzenta devido à geotêxteis de PP devem possuir na sua
acumulação de pequenos resíduos (sujidade) composição estabilizantes contra a ação da
nas estruturas não-tecidas. radiação UV e de outros agentes climatéricos. O
A exposição ao envelhecimento climatérico uso de geotêxteis de PP não estabilizados não é
causou uma diminuição da resistência à tração recomendado em nenhuma circunstância (nem
dos geotêxteis A e C (Tabela 9). De facto, após mesmo em aplicações onde não seja esperada a
6 meses de exposição, os materiais exposição à radiação solar).
apresentavam resistências à tração residuais de
67,8% e 68,4%, respetivamente. O aumento 3.4.2 Geotêxteis Estabilizados
(para 12 meses) do tempo de exposição resultou
em reduções muito mais significativas na Os geotêxteis estabilizados não possuíam danos
resistência à tração dos geotêxteis A e C: visíveis no fim dos 12 meses de exposição ao ar
resistências à tração residuais de 0% (destruição livre. Tal como os geotêxteis não estabilizados,
total) para o geotêxtil A e de 8,7% para o os geotêxteis B, D e E adquiriram tons
geotêxtil C (próximo da destruição total). As cinzentos devido à acumulação de pequenos
diminuições ocorridas na resistência à tração resíduos nas suas estruturas não-tecidas. A cor
foram idênticas para ambos os geotêxteis, do geotêxtil F (preta) não sofreu alterações
independentemente das diferenças existentes relevantes. Embora não fosse visualmente
nas suas massas por unidade de área (124 e 402 percetível a existência de danos nas estruturas
g/m2 para os geotêxteis A e C, respetivamente). dos geotêxteis B, D, E e F, ocorreram alterações
importantes na resistência à tração e na
Tabela 9. Propriedades de tração dos geotêxteis depois extensão na força máxima destes materiais
das exposições a envelhecimento climatérico ao ar livre. durante a exposição ao envelhecimento
t Exp T E FM T Res
climatérico sob condições reais (Tabela 9).
(meses) (kN/m) (%) (%)
6 2,80 (0,45) 54,0 (4,1) 67,8 A resistência à tração dos geotêxteis B, D, E
A e F sofreu uma diminuição durante a exposição
12 0 - 0
6 11,23 (1,74) 29,0 (1,7) 91,3 ao ar livre. Ao fim de 6 meses, esta diminuição
B
12 8,50 (1,45) 23,0 (4,2) 69,1 era mais relevante para o geotêxtil D (de entre
6 13,39 (1,21) 48,4 (3,4) 68,4 os geotêxteis estabilizados, o menos resistente
C
12 1,70 (0,29) 26,8 (2,2) 8,7
aos agentes climatéricos simulados em
6 16,63 (1,36) 41,9 (1,9) 56,4
D
12 10,51 (0,99) 37,7 (1,6) 35,7 laboratório). É de notar que a resistência à
6 24,76 (1,95) 34,6 (3,7) 97,0 tração residual do geotêxtil D (56,4%) era
E
12 21,51 (1,48) 23,1 (1,6) 84,3 inclusive menor do que as resistências à tração
6 35,17 (0,93) 18,1 (0,6) 84,9 residuais dos geotêxteis não estabilizados.
F
12 26,05 (0,83) 13,3 (0,5) 62,9 Depois do mesmo período de exposição, os
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
geotêxteis B, E e F ainda possuíam resistências
t Exp – tempo de exposição
480
à tração residuais significativamente elevadas tração dos geotêxteis B e D no final dos 12
(entre 84,9% e 97,0%). meses de exposição ao ar livre (radiação UV
O aumento do tempo de exposição (de 6 para estimada de 401 MJ/m2) (resistências à tração
12 meses) resultou numa redução adicional da residuais de 69,1% e 35,7%, respetivamente)
resistência à tração dos geotêxteis estabilizados. foram menores do que as causadas pela
Depois de 12 meses, o geotêxtil mais danificado exposição laboratorial a 50 MJ/m2 de radiação
continuava a ser o D (resistência à tração UV (resistências à tração residuais de 59,1% e
residual de 35,7%). Contudo, as resistências à de 26,6%, respetivamente). Assim, e apesar da
tração dos geotêxteis B e F também sofreram energia total da radiação UV ser
diminuições relevantes (reduções de, significativamente inferior, cerca de 15 dias em
respetivamente, 30,9% e de 37,1%). O geotêxtil laboratório induziram maior degradação nos
E foi o mais resistente ao envelhecimento geotêxteis B e D do que 12 meses ao ar livre. A
climatérico. De facto, no fim dos 12 meses de ocorrência de maior degradação em laboratório
exposição tinha uma resistência à tração poderá ser atribuída ao facto dos ensaios terem
residual de 84,3%. É de relembrar que o sido realizados a temperatura elevada (50 ºC) de
geotêxtil E foi o que exibiu maior resistência ao modo a acelerar o processo de degradação (os
envelhecimento climatérico em laboratório. ensaios ao ar livre foram efetuados a
Tal como a resistência à tração, a extensão temperatura substancialmente menor – Tabela
na força máxima dos geotêxteis também 3). Para além disso, a sujidade acumulada nas
diminuiu depois da exposição aos agentes estruturas não-tecidas durante a exposição ao ar
climatéricos ao ar livre. Esta diminuição foi livre poderá ter retardado o processo de
mais acentuada para as amostras expostas degradação, protegendo as fibras dos geotêxteis
durante 12 meses. B e D da exposição direta à radiação solar.
Os resultados obtidos permitem concluir que A aceleração do processo de degradação em
o comportamento à tração dos geotêxteis de PP laboratório pelo aumento da temperatura pode
pode sofrer alterações muito relevantes quando também ser constatada analisando os resultados
estes são expostos a agentes climatéricos. obtidos para os geotêxteis A e C. De facto, ao ar
Assim, e sempre que possível, é importante livre, foi necessário a exposição dos materiais a
evitar uma exposição prolongada dos geotêxteis uma maior quantidade de radiação UV
à ação do clima, reduzindo-a ao tempo mínimo (estimada em 401 MJ/m2) para causar danos
necessário para as operações de instalação em idênticos aos que ocorreram em laboratório.
obra. Uma análise após 6 meses ao ar livre revela
que, embora a energia total da radiação UV
3.4.3 Envelhecimento Climatérico em Campo incidente (estimada em 101 MJ/m2) fosse
vs. Envelhecimento Climatérico em Laboratório aproximadamente o dobro daquela em
laboratório, os geotêxteis A e C ainda tinham
Os resultados obtidos ao ar livre (sob condições resistências à tração residuais elevadas (67,8% e
de degradação reais) estão, de um modo geral, 68,4%, respetivamente).
de acordo com as previsões obtidas nos ensaios É também importante notar que, no ensaio
em laboratório. De facto, os geotêxteis A e C em laboratório, o geotêxtil F foi mais resistente
(não estabilizados) foram os menos resistentes à ao envelhecimento climatérico do que o
ação dos agentes climatéricos ao ar livre e o geotêxtil B (resistências à tração residuais de
geotêxtil E foi o mais resistente. 89,8% para o geotêxtil F e de 59,1% para o
No caso dos geotêxteis não estabilizados, 12 geotêxtil B). No entanto, esta maior resistência
meses ao ar livre (resistências à tração residuais do geotêxtil F não se observou sob condições de
de, respetivamente, 0% e 8,7% para os degradação reais. De facto, após 12 meses ao ar
geotêxteis A e C) causaram uma diminuição da livre, os geotêxteis F e B possuíam resistências
resistência à tração idêntica a cerca de 15 dias à tração residuais de 62,9% e de 69,1%,
no simulador climatérico (resistência à tração respetivamente. A explicação para este
residual de 0% para ambos os geotêxteis). comportamento ao ar livre poderá estar
As diminuições observadas nas resistências à relacionada com o facto do geotêxtil B possuir
481
cor branca e o geotêxtil F possuir cor preta. Esta geotêxteis de PP contra a ação dos agentes
diferença na cor dos materiais implica que, ao climatéricos.
ar livre, o processo de degradação tenha Na inexistência de uma estabilização
ocorrido a temperatura mais elevada no química adequada, os geotêxteis de PP
geotêxtil F do que no geotêxtil B (o aumento da mostraram possuir uma resistência reduzida à
temperatura resulta na aceleração do processo termo-oxidação e ao envelhecimento
de oxidação). Por sua vez, em laboratório, o climatérico (em ambos os casos, ocorreu uma
processo de degradação dos geotêxteis ocorreu rápida degradação dos materiais). A presença de
à mesma temperatura (50 ºC), estabilizantes químicos (embora de identidade e
independentemente da cor. quantidade desconhecidas) resultou num
aumento muito significativo da resistência dos
geotêxteis de PP a estes tipos de degradação. Os
4 CONCLUSÕES estabilizantes químicos (como estabilizantes
UV ou antioxidantes) não conseguem assegurar
As propriedades de tração (resistência à tração e uma proteção total, mas podem retardar muito
extensão na força máxima) de vários geotêxteis significativamente os efeitos da termo-oxidação
de PP não sofreram alterações muito relevantes e do envelhecimento climatérico e, desta forma,
após as imersões em líquidos (ensaios de acordo prolongar o tempo de vida dos geotêxteis de PP.
com as normas EN 14030 e EN 12447). No
geral, os geotêxteis de PP apresentaram boa
resistência à hidrólise e à degradação sob AGRADECIMENTOS
condições ácidas e alcalinas,
independentemente da sua estrutura, massa por Este trabalho foi financiado por: (1) projeto
unidade de área ou presença, ou não, de POCI-01-0145-FEDER-028862, financiado
estabilizantes químicos. pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento
A exposição à termo-oxidação não teve um Regional (FEDER) através do COMPETE 2020
impacto muito significativo nas propriedades de – Programa Operacional Competitividade e
tração dos geotêxteis estabilizados (exceção Internacionalização (POCI) e com o apoio
para o geotêxtil D). No entanto, causou a financeiro da FCT/MCTES através de fundos
degradação completa dos geotêxteis não nacionais (PIDDAC); (2) Unidade de
estabilizados (100% de PP). Assim, a Investigação UID/ECI/04708/2019 – Construct
resistência dos geotêxteis de PP à termo- – Instituto de I&D em Estruturas e Construções,
oxidação pode ser muito melhorada pela ação financiada por fundos nacionais através da
de estabilizantes. FCT/ MCTES (PIDDAC). José Ricardo
A exposição ao envelhecimento climatérico Carneiro agradece à FCT a bolsa de Pós-
(em laboratório e ao ar livre) induziu alterações Doutoramento com a referência
relevantes nas propriedades de tração da SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa apoiada por
maioria dos geotêxteis de PP (diminuição da financiamento POPH/POCH/FSE).
resistência à tração e da extensão na força
máxima). Essas diminuições dependeram da
presença, ou não, de estabilizantes na
composição dos materiais. Os geotêxteis não
estabilizados foram muito mais afetados do que
os estabilizados (destruição total após cerca de REFERÊNCIAS
15 dias no simulador climatérico e degradação
praticamente completa ao fim de 12 meses de EN 12224 (2000) Geotextiles and geotextile-related
products – Determination of the resistance to
exposição ao ar livre). A ocorrência de weathering, Comissão Europeia de Normalização,
degradação nos geotêxteis estabilizados Bruxelas, Bélgica.
mostrou que a presença de estabilizantes apenas EN 12226 (2012) Geosynthetics – General tests for
retardou o aparecimento de danos, não evaluation following durability testing, Comissão
garantindo uma proteção completa dos Europeia de Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN 12447 (2001) Geotextiles and geotextile-related
482
products – Screening test method for determining the
resistance to hydrolysis in water, Comissão Europeia
de Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN 13362 (2013) Geosynthetic barriers – Characteristics
required for use in the construction of canals,
Comissão Europeia de Normalização, Bruxelas,
Bélgica.
EN 14030 (2001) Geotextiles and geotextile-related
products – Screening test method for determining the
resistance to acid and alkaline liquids, Comissão
Europeia de Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN 29073-3 (1992) Textiles – Test methods for
nonwovens. Part 3: Determination of tensile strength
and elongation, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9862 (2005) Geosynthetics – Sampling and
preparation of test specimens, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9863-1 (2016) Geosynthetics – Determination of
thickness at specified pressures. Part 1: Single
layers, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9864 (2005) Geosynthetics – Test method for the
determination of mass per unit area of geotextiles and
geotextile-related products, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 13438 (2004) Geotextiles and geotextile-related
products – Screening test method for determining the
resistance to oxidation, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 13934-1 (2013) Textiles – Tensile properties of
fabrics. Part 1: Determination of maximum force and
elongation at maximum force using the strip method,
Comissão Europeia de Normalização, Bruxelas,
Bélgica.
Greenwood, J.H., Schroeder, H.F. & Voskamp, W.
(2016) Durability of Geosynthetics, 2nd Ed., CRC
Press, Boca Raton, Florida, USA, 275p.
483
484
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Filipe Almeida
Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, filipe.almeida@fe.up.pt
ABSTRACT: The installation process may cause unwanted changes in the short-term mechanical
behaviour of the geosynthetics. This work studies the effect of different aggregates on the
mechanical damage under repeated loading suffered by two geotextiles: one woven and the other
nonwoven. For that purpose, the geotextiles were submitted to laboratory damage tests (with
exception for the use of different aggregates, tests according to EN ISO 10722) with corundum
(aggregate used in EN ISO 10722), with a recycled aggregate (incinerator bottom ash from
municipal waste) and with three natural aggregates (sand 0/4, gravel 4/8 and tout-venant). The
damage occurred in the geotextiles (during the mechanical damage under repeated loading tests)
was evaluated by monitoring the tensile and static puncture properties of the materials.
KEY WORDS: Geosynthetics, Geotextiles, Mechanical Damage, Incinerator Bottom Ash, Recycled
Aggregates.
485
Os danos que ocorrem nos geossintéticos no cimento Portland). No âmbito da geotecnia, tem
processo de instalação podem ser avaliados de vindo a ser estudada a hipótese de usar estes
duas formas: (1) através de ensaios laboratoriais resíduos como agregados reciclados na
que simulem as ações de danificação ou (2) por construção de vias de comunicação (Lynn et al.,
ensaios de danificação em campo (instalação 2017; Le et al., 2018).
sob condições reais). O estado de degradação Neste trabalho, dois geotêxteis foram
dos geossintéticos (após os ensaios de sujeitos a ensaios laboratoriais de danificação
danificação) é normalmente avaliado por mecânica sob carga repetida com vários
inspeção visual e pela monitorização de agregados (com a exceção da utilização de um
diversas propriedades (muitas vezes, agregado reciclado e de agregados naturais,
mecânicas) dos materiais. ensaios de acordo com a EN ISO 10722), tendo
A danificação mecânica está frequentemente sido monitorizadas as alterações ocorridas no
associada ao processo de instalação em obra dos comportamento à tração e ao punçoamento
geossintéticos. De modo a induzir danificação estático dos materiais. Estes ensaios (para
mecânica nos materiais, a Comissão Europeia simplificação de escrita, daqui para a frente
de Normalização (CEN) desenvolveu um designados simplesmente por ensaios de
método normalizado (ENV ISO 10722-1, danificação mecânica) foram realizados com o
posteriormente atualizado para EN ISO 10722). agregado especificado na norma EN ISO 10722
Este método foi utilizado por muitos autores (corundum), com um agregado reciclado
para a avaliação da danificação que ocorre (cinzas de fundo resultantes do processo de
durante a instalação dos geossintéticos, incineração de resíduos sólidos urbanos) e com
enquanto outros autores tentaram estabelecer agregados naturais (areia 0/4, brita 4/8 e tout-
correlações entre este procedimento laboratorial venant).
e a danificação que ocorre durante a instalação Os principais objetivos do estudo incluíram:
em obra. (1) avaliação do efeito de diversos agregados na
Os materiais de enchimento (com os quais os danificação mecânica sofrida pelos geotêxteis,
geossintéticos contactam num grande número (2) comparação da danificação provocada pelo
de aplicações) são normalmente de origem corundum (procedimento normalizado) com a
natural e poderão, em alguns casos, ser danificação induzida pelo agregado reciclado e
eventualmente substituídos por agregados pelos três agregados naturais e (3) avaliação se
reciclados. Contudo, os estudos existentes o agregado reciclado (em termos de danificação
acerca do uso de agregados reciclados em mecânica induzida aos geotêxteis) constitui uma
contacto com geossintéticos são ainda alternativa viável, como material de
relativamente escassos e estão sobretudo enchimento, aos agregados naturais.
relacionados com as propriedades de interface
entre ambos (por exemplo, Vieira & Pereira, 2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL
2016 e Vieira et al., 2016). Podem também ser
encontrados na literatura alguns estudos acerca 2.1 Geotêxteis
da danificação mecânica induzida por
agregados reciclados a geossintéticos (exemplos Foram estudados dois geotêxteis com diferentes
incluem Carneiro et al., 2018a e Carneiro et al., características: um geotêxtil tecido (T100) de
2018b), uma questão muito importante para o polietileno de alta densidade e um geotêxtil
uso destes agregados como materiais de não-tecido (NT300) de polipropileno. As
enchimento onde contactem com geossintéticos. principais características dos materiais estão
As cinzas de fundo resultantes do processo resumidas na Tabela 1.
de incineração de resíduos sólidos urbanos são
Tabela 1. Principais características dos geotêxteis.
um resíduo gerado em volumes apreciáveis, Geotêxtil Estrutura μ A * (g/m2) t** (mm)
havendo algumas investigações com vista à sua T100 Tecido 115 (1) 0,50 (0,01)
utilização como matéria-prima (por exemplo, NT300 Não-tecido 313 (24) 2,66 (0,25)
incorporação como agregado no fabrico de (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
betão ou uso como ligante em alternativa ao *μ A – massa por unidade de área (EN ISO 9864).
**t – espessura (EN ISO 9863-1).
486
Os processos de amostragem e de preparação possuía 75 mm de altura). A camada inferior era
de provetes seguiram as indicações da norma formada por duas subcamadas com 37,5 mm de
EN ISO 9862. Os provetes (preparados na altura. Cada subcamada inferior foi compactada
direção de fabrico) foram recolhidos de pela aplicação de uma pressão de 200 kPa por
posições dispersas por toda a largura das um período de 60 s. A camada superior (camada
amostras (fornecidas em rolos), com exceção única de 75 mm) não foi compactada. O
para as zonas laterais (foram desprezados, pelo processo de danificação consistiu na aplicação
menos, 100 mm de cada lado dos rolos). Os de uma carga cíclica entre 5 e 500 kPa à
provetes para um mesmo ensaio (5 provetes frequência de 1 Hz durante 200 ciclos.
usados em cada ensaio) foram cortados em Os geotêxteis foram danificados com vários
diferentes locais das amostras (recolhidos em agregados: corundum (agregado sintético usado
diagonais de modo a abranger diferentes zonas no procedimento da norma EN ISO 10722), um
na largura e no comprimento dos rolos). agregado reciclado (cinzas de fundo resultantes
da incineração de resíduos sólidos urbanos; para
2.2 Ensaio de Danificação Mecânica simplificação de escrita, designadas apenas por
cinzas daqui em diante) e três agregados
Com exceção para o uso do agregado reciclado naturais (areia 0/4, brita 4/8 e tout-venant). O
e de agregados naturais, os ensaios de agregado reciclado foi obtido numa estação de
danificação mecânica foram efetuados segundo incineração de resíduos sólidos urbanos (Lipor
a norma EN ISO 10722. O equipamento II – Maia, Portugal).
utilizado nos ensaios (um protótipo Os D 10 (diâmetro correspondente a 10% de
desenvolvido no Laboratório de Geossintéticos passados), D 50 (diâmetro correspondente a 50%
da Faculdade de Engenharia da Universidade do de passados) e D Max (diâmetro máximo das
Porto) era constituído por uma caixa de partículas) dos diferentes agregados podem ser
danificação (caixa metálica rígida onde foram encontrados na Tabela 2.
colocados os geotêxteis e os agregados), uma
placa de carregamento e um mecanismo de Tabela 2. Caracterização da distribuição granulométrica
dos agregados (EN 933-1).
aplicação de carga (Figura 1) (o equipamento D 10 D 50 D Max
encontra-se detalhadamente descrito em Lopes Agregado
(mm) (mm) (mm)
& Lopes, 2003). Corundum 5,77 7,91 10,0
Cinzas 0,19 3,83 14,0
Areia 0/4 0,20 0,86 4,0
1 Brita 4/8 2,92 5,79 8,0
Tout-venant 0,08 3,67 31,5
5
2.3 Avaliação de Danos
487
Os parâmetros mecânicos determinados nos 58,0% e de 64,7%). Estas diminuições estão de
ensaios de tração (valores na direção de fabrico) acordo com o tipo e com a quantidade de danos
incluíram a resistência à tração (T, em kN/m) e visualmente detetáveis. Tal como também podia
a extensão na forma máxima (E FM , em %). Por ser esperado a partir da análise visual, o ensaio
sua vez, nos ensaios de punçoamento estático de danificação mecânica com areia 0/4 não
foram obtidos os seguintes parâmetros: causou uma redução significativa na resistência
resistência ao punçoamento (força máxima de à tração do geotêxtil T100 (diminuição de
punçoamento) (F P , em kN) e deslocamento na 6,7%).
força máxima (h P , em mm). As cinzas e o tout-venant induziram
A resistência à tração residual (T Residual , em reduções na resistência à tração do geotêxtil
%) e a resistência ao punçoamento residual (F P T100 (37,9% e 15,2%, respetivamente)
Residual , em %) foram obtidas através do inferiores às causadas pelo corundum e pela
quociente entre a resistência das amostras brita 4/8 (o que, mais uma vez, está de acordo
danificadas e a respetiva resistência das com a análise visual). De um modo geral, a
amostras de referência (não danificadas). tendência de evolução da extensão na força
máxima foi idêntica à da resistência à tração.
Tal como para a resistência à tração, o ensaio
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO de danificação mecânica com areia 0/4 também
não induziu uma grande alteração na resistência
3.1 Geotêxtil Tecido T100 ao punçoamento do geotêxtil T100 (diminuição
de 4,3%) (Tabela 5). As maiores diminuições na
Os ensaios de danificação mecânica resistência ao punçoamento ocorreram após os
provocaram danos muito relevantes no geotêxtil ensaios de danificação mecânica com corundum
T100 (danos dependentes do agregado (redução de 72,2%) e com brita 4/8 (redução de
utilizado). A areia 0/4 (agregado mais fino) não 69,1%). As cinzas induziram uma diminuição
causou danos visíveis. Os agregados com da resistência ao punçoamento muito maior do
partículas de maior dimensão (brita 4/8 e que o tout-venant (reduções de 54,3% e de
corundum – D 50 maior do que 5 mm) 24,3%, respetivamente). À semelhança da
provocaram o corte e o esmagamento de vários resistência ao punçoamento, o deslocamento na
filamentos, punçoamentos pontuais e abrasão. O força máxima também diminuiu após os ensaios
tipo de danos induzidos pelo tout-venant e pelas de danificação mecânica (Tabela 5).
cinzas foi idêntico ao causado pelo corundum e
pela brita 4/8, mas em menor extensão. Tabela 5. Propriedades de punçoamento do geotêxtil
As propriedades de tração do geotêxtil T100, T100 antes e após os ensaios de danificação mecânica.
FP hP F P Residual
antes e após os ensaios de danificação Agregado
(kN) (mm) (%)
mecânica, podem ser encontradas na Tabela 4. Não danificado 2,30 (0,07) 44,9 (2,6) -
Corundum 0,64 (0,05) 30,8 (1,9) 27,8
Tabela 4. Propriedades de tração do geotêxtil T100 antes Cinzas 1,05 (0,23) 32,5 (1,3) 45,7
e após os ensaios de danificação mecânica. Areia 0/4 2,20 (0,06) 39,9 (0,7) 95,7
T E FM T Residual Brita 4/8 0,71 (0,11) 28,1 (2,8) 30,9
Agregado
(kN/m) (%) (%) Tout-venant 1,74 (0,11) 36,8 (1,6) 75,7
Não danificado 22,4 (0,2) 37,7 (1,8) - (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
Corundum 7,9 (0,7) 16,3 (1,9) 35,3
Cinzas 13,9 (1,6) 20,9 (1,3) 62,1 De um modo geral, a resistência à tração e a
Areia 0/4 20,9 (0,3) 31,9 (1,4) 93,3
Brita 4/8 9,4 (0,4) 16,4 (0,8) 42,0 resistência ao punçoamento evoluíram de forma
Tout-venant 19,0 (0,9) 29,3 (1,6) 84,8 muito semelhante após os ensaios de
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos) danificação mecânica. De facto, as maiores
reduções foram provocadas pelo corundum e
Os ensaios de danificação mecânica com brita 4/8, enquanto que a areia 0/4 não induziu
brita 4/8 e com corundum provocaram reduções alterações relevantes em nenhuma destas
muito pronunciadas na resistência à tração do propriedades (o tout-venant e as cinzas tiveram
geotêxtil T100 (reduções de, respetivamente, um efeito intermédio entre os agregados
488
anteriores). Contudo, e para o mesmo ensaio de geral, semelhante à da resistência à tração. De
danificação, as reduções da resistência ao facto, as maiores reduções na extensão na força
punçoamento tenderam a ser superiores às da máxima ocorreram após as danificações com
resistência à tração. A maior diferença entre as corundum e com a brita 4/8 (reduções de 71,6%
diminuições destas propriedades ocorreu para a para 38,5% e para 39,1%, respetivamente) e a
danificação mecânica com cinzas (reduções de menor depois da danificação com areia 0/4
37,9% para a resistência à tração e de 54,3% (redução de 71,6% para 60,1%).
para a resistência ao punçoamento). As propriedades de punçoamento do
geotêxtil NT300 também sofreram alterações
3.2 Geotêxtil Não-tecido NT300 relevantes após os ensaios de danificação
mecânica (Tabela 7). Essas alterações
Contrariamente ao geotêxtil T100, o geotêxtil dependeram, mais uma vez, das características
NT300 não sofreu danos visíveis relevantes nos dos agregados.
ensaios de danificação mecânica. De facto, foi
apenas possível detetar alguma abrasão e alguns Tabela 7. Propriedades de punçoamento do geotêxtil
punçoamentos pontuais após a danificação com NT300 antes e após os ensaios de danificação mecânica.
FP hP F P Residual
corundum e com brita 4/8 (os dois agregados Agregado
(kN) (mm) (%)
que provocaram mais danos no geotêxtil T100). Não danificado 2,72 (0,22) 64,6 (4,2) -
A Tabela 6 resume as propriedades de tração do Corundum 1,22 (0,26) 45,4 (2,7) 44,9
geotêxtil NT300, antes e depois dos ensaios de Cinzas 2,26 (0,31) 52,5 (3,4) 83,1
danificação mecânica. Areia 0/4 2,35 (0,32) 53,9 (3,4) 86,4
Brita 4/8 1,81 (0,30) 48,4 (3,5) 66,5
Tout-venant 1,96 (0,22) 50,9 (4,3) 72,1
Tabela 6. Propriedades de tração do geotêxtil NT300
antes e após os ensaios de danificação mecânica. (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
T E FM T Residual
Agregado De um modo geral, a variação da resistência
(kN/m) (%) (%)
Não danificado 14,8 (2,0) 71,6 (5,2) - ao punçoamento do geotêxtil NT300 (depois
Corundum 6,9 (0,9) 38,5 (2,3) 46,6 dos ensaios de danificação mecânica) foi
Cinzas 12,7 (0,7) 59,1 (3,8) 85,8 idêntica à da resistência à tração. De facto, a
Areia 0/4 13,1 (2,2) 60,1 (4,2) 88,5
Brita 4/8 9,1 (1,4) 39,1 (4,1) 61,5 maior redução ocorreu, para ambas as
Tout-venant 11,5 (1,0) 52,9 (6,4) 77,7 propriedades, depois da danificação com
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos) corundum (resistência à tração residual de
46,6% e resistência ao punçoamento residual de
As danificações mecânicas com cinzas, areia 44,9%). Em seguida, o agregado mais danoso
0/4 e tout-venant (agregados que aparentemente foi a brita 4/8. Por sua vez, a areia 0/4 foi o
não tinham induzido danos) causaram reduções agregado que provocou uma menor diminuição
(entre 11,5% e 22,3%) na resistência à tração do de ambas as propriedades (resistências residuais
geotêxtil NT300 (diminuição mais pronunciada à tração e ao punçoamento de 88,5% e de
depois da danificação com o tout-venant). Estes 86,4%, respetivamente). Para além das
resultados mostram que, embora não detetáveis diminuições na resistência ao punçoamento, as
visualmente, existiam alguns danos na estrutura danificações com os vários agregados causaram
não-tecida do geotêxtil NT300. também reduções no deslocamento na força
Tal como os agregados anteriores, a brita 4/8 máxima (a diminuição mais pronunciada
e o corundum também provocaram diminuições ocorreu depois da danificação com corundum:
na resistência à tração do geotêxtil NT300, mas redução de 64,6 mm para 45,4 mm).
muito mais pronunciadas (reduções de 38,5% e A comparação dos resultados obtidos para os
53,4%, respetivamente). Estas alterações foram, dois geotêxteis permite concluir que as
mais uma vez, superiores às esperadas tendo em reduções de resistência ocorridas no geotêxtil
conta os danos encontrados visualmente. NT300 após a danificação mecânica com
À semelhança do ocorrido no geotêxtil T100, corundum, brita 4/8 e cinzas foram menores do
a tendência observada na variação da extensão que as observadas no geotêxtil NT100. Por
na força máxima do geotêxtil NT300 foi, no exemplo, depois do ensaio de danificação com
489
o corundum, as resistências residuais à tração e a areia 0/4 e os geotêxteis, o que poderia ter
ao punçoamento do geotêxtil NT300 (46,4% e contribuído para uma boa distribuição das
44,9%, respetivamente) eram superiores às cargas aplicadas (e, assim, minimizado a
resistências residuais do geotêxtil T100 ocorrência de danos). Contudo, devido à
(resistência à tração residual de 35,8% e natureza não coesiva da areia 0/4, ocorreram
resistência ao punçoamento residual de 27,8%). assentamentos relevantes durante os ensaios de
Por sua vez, as danificações com tout-venant e danificação mecânica, o que limitou a boa
com areia 0/4 provocaram maiores diminuições distribuição de cargas referida anteriormente.
de resistência (à tração e ao punçoamento) no Embora de pequenas dimensões, as partículas
geotêxtil NT300 do que no geotêxtil T100. constituintes da areia 0/4 possuíam uma textura
Estes resultados indicam que a estrutura dos áspera, o que poderá ter contribuído para a
geotêxteis (e respetivas propriedades) e a deterioração das propriedades mecânicas dos
natureza e demais características dos agregados geotêxteis.
podem influenciar significativamente a
resistência dos geotêxteis à danificação
mecânica.
490
nos geotêxteis. O efeito do tout-venant foi (materiais com diferentes estruturas). O grau de
superior ao da areia 0/4 e inferior ao do degradação foi influenciado pelas
corundum e ao da brita 4/8. características dos agregados (como a
A brita 4/8 era constituída por partículas com distribuição granulométrica ou a forma, textura
dimensões relativamente elevadas (D 50 de 5,79 e dimensões das partículas constituintes) e pelas
mm e D Max de 8,0 mm) e com forma angular, o características dos geotêxteis.
que explica o facto de ter sido o agregado De entre os agregados naturais, a areia 0/4
natural que causou maiores diminuições nas foi o agregado que induziu danos menos
resistências à tração e ao punçoamento dos relevantes nos geotêxteis (ligeiras reduções nas
geotêxteis. resistências à tração e ao punçoamento). Em
As diminuições de resistência (à tração e ao contraste, a brita 4/8 foi o agregado que induziu
punçoamento) induzidas pelos vários agregados maior danificação nos geotêxteis (agregado
naturais foram menores do que as causadas pelo formado por partículas de maior dimensão do
corundum (agregado sintético usado no método que a areia 0/4).
da norma EN ISO 10722). Embora não fosse o O uso de corundum na norma EN ISO 10722
agregado com o D Max mais elevado, o parece estabelecer uma abordagem conservativa
corundum era formado por partículas de grande para avaliar a danificação mecânica sofrida por
dimensão (D 10 e D 50 de, respetivamente, 5,77 e geotêxteis. De facto, tanto os agregados
7,91 mm). Para além disso, as partículas naturais, como o agregado reciclado, induziram
constituintes do corundum tinham forma reduções nas resistências à tração e ao
angular, eram ásperas e possuíam um grande punçoamento dos geotêxteis inferiores às
efeito abrasivo. causadas pelo corundum. A execução
Por fim, as cinzas também causaram simultânea de ensaios de campo (sob condições
reduções nas propriedades mecânicas dos de instalação reais) e em laboratório, usando os
geotêxteis (as reduções foram mais mesmos geossintéticos e agregados, poderá
pronunciadas no geotêxtil T100 do que no permitir a obtenção de conclusões mais fiáveis
geotêxtil NT300). De um modo geral, tiveram sobre a adequabilidade do corundum na
um efeito intermédio entre a brita 4/8 e o tout- simulação dos danos que ocorrem na instalação
venant. Embora as cinzas tivessem um D Max em obra.
(14,0 mm) superior ao da brita 4/8 (8,0 mm), Por fim, e relativamente ao possível uso das
possuíam D 10 e D 50 menores, o que explica a cinzas como material de enchimento em
menor degradação induzida aos geotêxteis. Em contacto com geotêxteis (e/ou com outros
comparação com o tout-venant, as cinzas geossintéticos), o presente estudo não permite
tinham um menor D Max e D 10 e D 50 idênticos. A obter conclusões definitivas, uma vez que
maior degradação provocada pelas cinzas apenas foram avaliados os danos mecânicos
(comparando com o tout-venant) pode ser induzidos pelas cinzas aos geotêxteis. No
explicada pelo facto das cinzas possuíram entanto, as alterações provocadas pelas cinzas
materiais cortantes (como pedaços de vidro ou no comportamento mecânico a curto prazo dos
metais) na sua composição. Estes poderão ter geotêxteis foram menos pronunciadas do que as
induzido a ocorrência de cortes nos causadas pelo corundum e por alguns agregados
componentes dos geotêxteis. naturais (como por exemplo, areia 0/4 ou tout-
venant), o que abre boas perspetivas para a
4 CONCLUSÕES possibilidade do uso deste tipo de agregados,
como materiais de enchimento, em contacto
Os danos causados pelos ensaios de danificação com geotêxteis, podendo assim ser
mecânica na estrutura dos geotêxteis incluíram, reaproveitados.
em alguns casos, o corte e o esmagamento de
componentes, punçoamentos pontuais e AGRADECIMENTOS
abrasão. A ocorrência destes danos deu origem
a reduções relevantes na resistência à tração e Este trabalho foi financiado por: (1) projeto
na resistência ao punçoamento dos geotêxteis POCI-01-0145-FEDER-028862, financiado
491
pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Bélgica.
Regional (FEDER) através do COMPETE 2020 EN ISO 10722 (2007) Geosynthetics – Index test
procedure for the evaluation of mechanical damage
– Programa Operacional Competitividade e under repeated loading – Damage caused by granular
Internacionalização (POCI) e com o apoio material, Comissão Europeia de Normalização,
financeiro da FCT/MCTES através de fundos Bruxelas, Bélgica.
nacionais (PIDDAC); (2) Unidade de ENV ISO 10722-1 (1998) Geotextiles and geotextile-
Investigação UID/ECI/04708/2019 – Construct related products – Procedure for simulating damage
during installation. Part 1: Installation in granular
– Instituto de I&D em Estruturas e Construções, materials, Comissão Europeia de Normalização,
financiada por fundos nacionais através da Bruxelas, Bélgica.
FCT/ MCTES (PIDDAC). José Ricardo EN ISO 12236 (2006) Geosynthetics – Static puncture
Carneiro agradece à FCT a bolsa de Pós- test (CBR test), Comissão Europeia de Normalização,
Doutoramento com a referência Bruxelas, Bélgica.
Le, N.H., Razakamanantsoa, A., Nguyen, M.-L., Phan,
SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa apoiada por V.T., Dao, P.-L., & Nguyen, D.H. (2018) Evaluation
financiamento POPH/POCH/FSE). of physicochemical and hydromechanical properties
of MSWI bottom ash for road construction, Waste
Management, Vol. 80, p. 168-174.
Lopes, M.P. & Lopes, M.L. (2003) Um equipamento
para a realização de ensaios laboratoriais de
danificação durante a instalação, Revista da
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determination of mass per unit area of geotextiles and
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test, Comissão Europeia de Normalização, Bruxelas,
492
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: O comportamento a longo prazo dos geossintéticos pode ser afetado negativamente pela
ação de vários agentes de degradação. Este trabalho avalia a existência de interações entre agentes
de degradação de geotêxteis: (1) entre agentes físicos e/ou químicos, nomeadamente entre líquidos
(água e soluções aquosas de ácido sulfúrico, ácido nítrico, hidróxido de sódio, nitrato de ferro e
nitrato de zinco), termo-oxidação e envelhecimento climatérico e (2) entre dois agentes mecânicos
(danificação mecânica sob carga repetida e abrasão). Para tal, um geotêxtil não-tecido de
polipropileno foi exposto a vários ensaios de degradação. Numa primeira fase, o geotêxtil foi
exposto de forma isolada aos agentes de degradação (exposição única). Em seguida, foi exposto de
forma sucessiva a combinações de dois agentes de degradação (exposição múltipla). Os danos
sofridos pelo geotêxtil (nas exposições únicas e múltiplas) foram avaliadas através da
monitorização do seu comportamento à tração.
ABSTRACT: The long-term behaviour of geosynthetics can be adversely affected by the action of
many degradation agents. This work evaluates the existence of interactions between the degradation
agents of geotextiles: (1) between physical and/or chemical agents, namely between liquids (water
and aqueous solutions of sulphuric acid, nitric acid, sodium hydroxide, iron nitrate and zinc nitrate),
thermo-oxidation and weathering and (2) between two mechanical agents (mechanical damage
under repeated loading and abrasion). For that purpose, a nonwoven polypropylene geotextile was
exposed to several degradation tests. First, the geotextile was exposed in isolation to the
degradation agents (single exposure). Then, it was successively exposed to some combinations of
two degradation agents (multiple exposure). The damage suffered by the geotextile (in the single
and multiple exposures) was evaluated by monitoring its tensile behaviour.
493
de desempenhar funções durante um período de Tabela 1. Principais características do geotêxtil (amostras
tempo muito longo (dezenas de anos). Não intactas; direção de fabrico).
Composição 99,8% PP + 0,2% C944 (m/m)
sendo conhecido o comportamento a longo μ A * (g.m-2) 272 (21)
prazo dos materiais, é necessário prever os t ** (mm) 3,16 (0,15)
danos que estes irão sofrer no decorrer do T *** (kN/m) 13,46 (1,66)
tempo. E FM **** (%) 78,4 (5,2)
Os estudos existentes acerca da durabilidade (desvios padrão entre parêntesis)
*Massa por unidade de área (EN ISO 9864).
dos geossintéticos consideram, na sua grande
**Espessura (EN ISO 9863-1).
maioria, a ação isolada dos diferentes agentes ***Resistência à tração (EN 29073-3).
de degradação, não contemplando as interações ****Extensão na força máxima (EN 29073-3).
que podem ocorrer entre eles. Da mesma forma,
as normas existentes para avaliar a durabilidade 2.2 Ensaios de Degradação
dos geossintéticos e os métodos de
dimensionamento atuais também consideram o Numa primeira fase, o geotêxtil foi exposto, de
efeito dos agentes de degradação forma isolada (exposição única), a agentes de
separadamente. Contudo, a ação conjunta de degradação físicos e/ou químicos (imersão em
vários agentes de degradação (o que ocorre em líquidos, termo-oxidação (TO) e
situações reais) pode ser diferente do somatório envelhecimento climatérico (EC)) e a agentes
dos efeitos individuais de cada um dos agentes de degradação mecânicos (danificação
(Carneiro et al., 2014 e Carneiro et al., 2018). mecânica sob carga repetida (DM) e abrasão)
Deste modo, o estudo das interações que (descrição dos ensaios nos subpontos
ocorrem entre os agentes de degradação poderá seguintes). De seguida, o geotêxtil foi exposto,
permitir obter uma melhor previsão (com maior de forma sucessiva, à ação de dois agentes
confiança) do comportamento a longo prazo dos físicos e/ou químicos ou à ação de dois agentes
geossintéticos. mecânicos (exposição múltipla). A Tabela 2
Este trabalho avalia a existência de resume os vários ensaios de degradação
interações entre agentes de degradação de um realizados.
geotêxtil não-tecido de polipropileno (PP): (1)
interações entre agentes físicos e/ou químicos Tabela 2. Ensaios de degradação realizados.
(líquidos, termo-oxidação e agentes Exposição única Exposição múltipla
climatéricos) e (2) interações entre agentes H2O H 2 O + TO
H 2 SO 4 H 2 SO 4 + TO
mecânicos (danificação mecânica sob carga HNO 3 HNO 3 + TO
repetida e abrasão). NaOH NaOH + TO
Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O + TO
Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O + TO
2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL TO* H 2 O + EC
EC** H 2 SO 4 + EC
DM*** NaOH + EC
2.1 Geotêxtil Abrasão DM + Abrasão
*Termo-oxidação.
Foi estudado um geotêxtil não-tecido agulhado **Envelhecimento climatérico.
de PP estabilizado com 0,2% (percentagem em ***Danificação mecânica sob carga repetida.
massa) de Chimassorb 944 (C944). O C944 é
um estabilizante UV da família das HALS 2.2.1 Imersão em Líquidos
(hindered amine light stabilisers). A Tabela 1
resume as principais características do geotêxtil. O geotêxtil foi imerso, à temperatura ambiente
(cerca de 20 ºC) e na ausência de luz, em água
Os processos de amostragem e de preparação desionizada (H 2 O) e em soluções aquosas de
de provetes (para os ensaios de caracterização e ácido sulfúrico (H 2 SO 4 ), ácido nítrico (HNO 3 ),
de degradação) foram realizados de acordo com hidróxido de sódio (NaOH), nitrato de ferro
a norma EN ISO 9862. (III) (Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O) e nitrato de zinco (II)
(Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O) (para simplificação de
494
escrita, os estados de oxidação dos catiões Passo 1: Radiação UV (4 horas, 60 ºC)
metálicos serão omitidos no texto). A Tabela 3 Passo 2: Chuva (10 minutos, 5 L/min)
resume as condições experimentais dos ensaios Passo 3: Condensação (4 horas, 45 ºC)
de imersão. (retorno ao passo 1)
As amostras imersas em líquidos que foram
subsequentemente expostas à termo-oxidação Nas 500 horas totais de ensaio, o geotêxtil
ou a envelhecimento climatérico não foram foi exposto a cerca de 61 ciclos climatéricos
lavadas (de modo a ficaram contaminadas com (cada ciclo teve a duração de 8 horas e 10
os restos das soluções de imersão) e foram minutos). A irradiância durante a exposição à
secas no escuro à temperatura ambiente. radiação UV (duração total de cerca de 245
horas) foi de 0,68 W/m2 aos 340 nm. A radiação
Tabela 3. Condições dos ensaios de imersão. UV incidente total (entre os 290 e os 400 nm)
Ensaio Concentração Duração foi de 35 MJ/m2.
H2O pH 7 100 dias
H 2 SO 4 0,1 mol/L (pH ≈ 1) 100 dias
HNO 3 0,01 mol/L (pH ≈ 2) 100 dias 2.2.4 Danificação Mecânica
NaOH 0,1 mol/L (pH ≈ 13) 100 dias
Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O 5 g/L (pH ≈ 2)* 100 dias Os ensaios de danificação mecânica sob carga
Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 5 g/L (pH ≈ 2)* 100 dias repetida (para simplificação da escrita, daqui
O em diante designados simplesmente por ensaios
*pH ajustado para pH ≈ 2 pela adição de ácido nítrico.
de danificação mecânica) seguiram as
indicações da norma EN ISO 10722. O
2.2.2 Termo-oxidação
geotêxtil foi colocado entre duas camadas de
corundum (um agregado sintético de óxido de
Os ensaios de termo-oxidação foram realizados
alumínio) e foi submetido a carga cíclica entre 5
num forno (marca Heraeus Instruments, modelo
e 500 kPa à frequência de 1 Hz durante 200
T6120) e consistiram na exposição do geotêxtil
ciclos. O corundum era formado por partículas
à temperatura de 110 ºC numa atmosfera
com dimensões entre os 5 e os 10 mm.
normal de oxigénio (21% de O 2 ) sem circulação
O equipamento (um protótipo desenvolvido
forçada de ar. O tempo de exposição foi de 28
no Laboratório de Geossintéticos da Faculdade
dias (EN ISO 13438, método A2).
de Engenharia da Universidade do Porto) usado
nestes ensaios era constituído por uma caixa de
2.2.3 Envelhecimento Climatérico
danificação (caixa metálica rígida onde foram
colocados os provetes e o corundum), uma
Os ensaios de envelhecimento climatérico
placa de carregamento e um mecanismo de
foram efetuados no simulador QUV Weathering
aplicação de carga (a descrição completa do
Tester (Q-Panel Lab Products, modelo
equipamento pode ser encontrada em Lopes &
QUV/spray) e consistiram na exposição
Lopes, 2003).
alternada do geotêxtil a radiação UV, chuva e
condensação. A radiação UV existente na luz
2.2.5 Abrasão
solar foi simulada através de lâmpadas
fluorescentes do tipo UVA-340. Por sua vez, a
Os ensaios de abrasão foram efetuados de
chuva foi simulada através da projeção de água
acordo com os procedimentos da norma EN
(água à temperatura ambiente) contra a as
ISO 13427. O equipamento usado nestes
amostras expostas. No passo de condensação, a
ensaios foi também um protótipo desenvolvido
água existente num reservatório localizado no
no Laboratório de Geossintéticos da Faculdade
fundo do simulador climatérico foi aquecida,
de Engenharia da Universidade do Porto.
ocorrendo a formação de vapor que condensou
O geotêxtil foi colocado numa plataforma
na superfície das amostras expostas.
fixa e foi friccionado por um abrasivo de
O geotêxtil foi exposto no simulador por um
superfície P100. O abrasivo (colocado numa
período total de 500 horas (cerca de 21 dias) ao
plataforma deslizante) foi movido sob pressão
seguinte ciclo climatérico:
controlada (6 kPa) ao longo de um eixo
495
horizontal (movimento uniaxial cíclico) durante RFA + B Trad = RFA x RFB (3)
750 ciclos.
Os coeficientes de segurança apresentados
2.3 Avaliação de Danos no presente trabalho são relativos a condições
de degradação muito particulares e não podem
Os danos ocorridos no geotêxtil (causados pelos ser generalizados, nem aplicados diretamente
ensaios de degradação) foram avaliados através no dimensionamento. Os coeficientes de
de ensaios de tração de acordo com a norma EN segurança a usar no dimensionamento devem
29073-3 (Tabela 4). Os resultados obtidos para ser sempre analisados caso a caso, tendo em
as amostras expostas foram comparados com os consideração as condições específicas de cada
obtidos para a amostra de referência (intacta). obra.
Tabela 4. Condições experimentais dos ensaios de tração.
Largura dos provetes 50 mm
Comprimento dos provetes* 200 mm 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Número mínimo de provetes 5
Velocidade de ensaio 100 mm/min 3.1 Agentes Físicos e/ou Químicos
*Comprimento entre garras.
3.1.1 Exposição Única
Os parâmetros mecânicos determinados nos
ensaios de tração (valores na direção de fabrico) As imersões em líquidos e a exposição à termo-
incluíram a resistência à tração (T, em kN/m) e oxidação não causaram alterações relevantes na
a extensão na força máxima (E FM , em %) resistência à tração do geotêxtil (resistências à
(valores médios de cinco provetes). A tração residuais próximas de 100%) (Tabela 5).
resistência à tração residual (T Residual ) foi obtida Por sua vez, a exposição aos agentes
pelo quociente entre a resistência à tração das climatéricos provocou uma diminuição muito
amostras danificadas (T Danificado ) e a resistência significativa da resistência à tração (resistência
à tração da amostra de referência (não à tração residual de 43,5%), indicando a
danificada) (T Referência ) (Equação 1). ocorrência de degradação na estrutura não-
tecida.
TDanificado
TResidual = x 100 (1) Tabela 5. Propriedades de tração do geotêxtil depois das
TReferência
exposições únicas a agentes físicos e/ou químicos.
Ensaio de T E FM T Residual
2.4 Coeficientes de Segurança degradação (kN/m) (%) (%)
H2O 13,31 (1,26) 78,2 (4,3) 98,9
Foram determinados coeficientes de segurança H 2 SO 4 13,57 (1,14) 79,1 (4,9) 100,8
HNO 3 13,28 (1,12) 77,6 (5,5) 98,7
(RF) com base nas alterações provocadas pelos NaOH 13,21 (0,96) 78,5 (3,4) 98,1
ensaios de degradação na resistência à tração do Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O 13,41 (0,95) 77,2 (6,6) 99,6
geotêxtil (Equação 2). Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 13,62 (0,76) 78,3 (5,0) 101,2
O
TReferência TO 13,36 (1,22) 62,8 (4,8) 99,3
RF = (2) EC 5,85 (0,63) 40,4 (2,5) 43,5
TDanificado (desvios padrão entre parêntesis)
496
É importante referir que a presença de C944 forma, dois agentes que isoladamente não
resultou num grande aumento da resistência do causaram nenhuns danos, provocaram em
geotêxtil à termo-oxidação e ao envelhecimento conjunto alguma degradação no geotêxtil.
climatérico. De facto, na ausência do aditivo, o A diminuição da resistência à termo-
material estaria completamente destruído depois oxidação depois da imersão em ácido sulfúrico
destes ensaios (Carneiro, 2009). poderá ter duas explicações possíveis: (1)
ocorrência de perdas e/ou consumo do aditivo
3.1.2 Exposição Múltipla a Líquidos e TO C944 durante a imersão em ácido sulfúrico
(ficando o geotêxtil menos protegido contra a
Os provetes imersos em ácido sulfúrico ficaram termo-oxidação) ou (2) os restos de ácido
com uma coloração castanha durante os ensaios sulfúrico funcionaram como catalisadores do
de termo-oxidação (originalmente possuíam cor processo de termo-oxidação (é importante
branca). Para além da alteração de cor, não relembrar que os provetes não foram lavados
foram detetados outros danos na estrutura não- depois dos ensaios de imersão de modo a
tecida. Por sua vez, a cor dos provetes imersos ficarem contaminados com restos das soluções
em água, ácido nítrico, hidróxido de sódio, de imersão). O esclarecimento dos motivos que
nitrato de ferro e nitrato de zinco não sofreu originaram esta interação requer a realização de
nenhuma alteração relevante durante os ensaios estudos adicionais.
de termo-oxidação. Ao contrário da imersão em ácido sulfúrico,
Os valores obtidos para a resistência à a imersão em ácido nítrico (menor concentração
tração, extensão na força máxima e resistência à molar) não provocou alterações na resistência
tração residual do geotêxtil após as várias do geotêxtil à termo-oxidação. De facto, os
exposições múltiplas a líquidos e à termo- provetes imersos em ácido nítrico tinham uma
oxidação podem ser encontrados na Tabela 6. resistência à tração residual de 99,9% depois da
exposição à termo-oxidação.
Tabela 6. Propriedades de tração do geotêxtil depois das A exposição sucessiva a hidróxido de sódio e
exposições múltiplas a líquidos e à termo-oxidação. à termo-oxidação também não causou
Ensaio de T E FM T Residual
degradação (kN/m) (%) (%)
alterações significativas na resistência à tração
H 2 O + TO 13,39 (0,91) 61,5 (3,4) 99,5 do geotêxtil (resistência à tração residual de
H 2 SO 4 + TO 11,32 (0,84) 56,2 (4,6) 84,1 95,7%). Embora não evidente nas condições
HNO 3 + TO 13,45 (1,36) 64,2 (5,3) 99,9 experimentais deste trabalho, a existência de um
NaOH + TO 12,88 (0,88) 62,3 (4,5) 95,7 efeito do hidróxido de sódio no processo de
Fe(NO 3 ) 3 + TO 7,16 (0,48) 34,6 (1,7) 53,2 termo-oxidação foi observada, noutras
Zn(NO 3 ) 2 + TO 9,07 (0,67) 44,8 (2,9) 67,4
(desvios padrão entre parêntesis)
condições experimentais, por Carneiro et al.,
2014.
As propriedades de tração após os ensaios de Por sua vez, as imersões em nitrato de ferro e
termo-oxidação eram idênticas para os provetes em nitrato de zinco provocaram uma
imersos em água (exposição múltipla) e para os diminuição da resistência do geotêxtil à termo-
provetes sem imersão (exposição única à termo- oxidação. De facto, após as exposições
oxidação). Assim, a imersão em água (durante múltiplas a (1) nitrato de ferro e termo-oxidação
100 dias a ≈ 20 ºC) não causou uma diminuição e (2) nitrato de zinco e termo-oxidação a
da resistência do geotêxtil à termo-oxidação. resistência à tração residual do geotêxtil era de,
Ao contrário da imersão em água, a imersão respetivamente, 53,2% e de 67,4%. De forma
em ácido sulfúrico provocou uma redução (não análoga, a extensão na força máxima também
muito pronunciada) da resistência do geotêxtil à sofreu diminuições relevantes depois das
termo-oxidação. De facto, os provetes imersos exposições múltiplas às soluções de catiões
em ácido sulfúrico apresentavam uma metálicos e à termo-oxidação.
resistência à tração residual de 84,1% depois do A diminuição da resistência à termo-
ensaio de termo-oxidação (a existência de oxidação depois das imersões em nitrato de
degradação era expectável tendo em conta a ferro e nitrato de zinco poderá ser atribuída à
alteração de cor da estrutura não-tecida). Desta ação catalisadora dos catiões metálicos no
497
processo de oxidação. Outra explicação 3.2 Agentes Mecânicos
possível seria a ocorrência de perdas (por
difusão ou lixiviação) e/ou consumo do aditivo Os agentes de degradação mecânicos induziram
C944 durante as imersões em nitrato de ferro ou danos muito diferentes no geotêxtil. O ensaio de
nitrato de zinco, desprotegendo o geotêxtil danificação mecânica provocou o corte de
contra a termo-oxidação. Contudo, essa fibras, punçoamentos pontuais e o
hipótese é improvável, pois não existem aprisionamento de partículas finas (resultantes
indícios que a imersão em ácido nítrico tenha da fragmentação do corundum) na estrutura
provocado uma perda e/ou um consumo não-tecida (Figura 1b). Por sua vez, a abrasão
relevante de C944 (a imersão em ácido nítrico originou a desagregação da camada superficial
não provocou uma diminuição da resistência do do geotêxtil (camada em contacto com o
geotêxtil à termo-oxidação) e não existem abrasivo) – a mudança de textura é percetível na
motivos para presumir que a presença adicional Figura 1c. A ação sucessiva dos dois
dos catiões ferro ou zinco possa ter resultado na mecanismos de degradação deu origem ao corte
perda e/ou consumo do aditivo (com exceção de fibras, que se reorientaram e formaram
para a presença, ou não, dos catiões metálicos, agregados perpendicularmente ao movimento
as soluções dos sais de nitrato e de ácido nítrico da placa deslizante (onde está colocado o
eram idênticas). abrasivo) (Figura 1d).
498
De facto, o geotêxtil possuía resistências à e termo-oxidação, (2) nitrato de ferro e termo-
tração residuais de, respetivamente, 82,3% e de oxidação, (3) nitrato de zinco e termo-oxidação
63,2% após esses ensaios. A redução ocorrida e (4) danificação mecânica e abrasão foram
na extensão na força máxima foi também menor superiores aos obtidos pelo método tradicional
no ensaio de abrasão (de 78,4% para 70,2%) do para o efeito combinado desses dois agentes. A
que no ensaio de danificação mecânica maior diferença ocorreu na exposição a nitrato
(diminuição para 54,5%). de ferro e à termo-oxidação, onde o coeficiente
de segurança encontrado na exposição sucessiva
Tabela 8. Propriedades de tração do geotêxtil depois das foi quase o dobro do obtido através do método
exposições a agentes de degradação mecânicos. tradicional (coeficientes de segurança de 1,88 e
Ensaio de T E FM T Residual
degradação (kN/m) (%) (%)
1,01, respetivamente). Estes resultados mostram
DM 8,51 (0,79) 54,5 (3,9) 63,2 que os coeficientes de segurança calculados
Abrasão 11,08 (0,82) 70,2 (4,4) 82,3 pelo método tradicional não estão a ser capazes
DM + Abrasão 5,40 (0,46) 44,2 (3,0) 40,1 de representar corretamente (subestimando) a
(desvios padrão entre parêntesis) ação combinada dos agentes de degradação.
Assim, a multiplicação de dois coeficientes de
A exposição sucessiva aos dois mecanismos segurança (cada um deles representando o
de degradação causou as reduções mais efeito isolado de um agente de degradação)
elevadas na resistência à tração (diminuição de pode não representar com exatidão o efeito
59,9%) e na extensão na força máxima do combinado desses agentes de degradação. As
geotêxtil. diferenças encontradas entre os coeficientes de
segurança (determinados pelo método
3.3 Coeficientes de Segurança tradicional ou na exposição sucessiva aos
agentes de degradação) podem ser atribuídas às
Os coeficientes de segurança obtidos nas várias interações que ocorrem entre os agentes de
exposições sucessivas aos agentes de degradação (as quais o método tradicional não
degradação (combinações de 2 agentes) foram conseguiu contabilizar). Exemplos adicionais de
comparados com os coeficientes de segurança interações entre os vários agentes de
determinados pelo método tradicional para o degradação dos geossintéticos podem ser
efeito conjunto desses agentes (determinação encontrados em Carneiro et al., 2014, Dias et
dos coeficientes de segurança de forma isolada al., 2017 e Carneiro et al., 2018.
para cada agente e posterior multiplicação dos Em relação às outras combinações de
mesmos) (Tabela 9). agentes de degradação, os coeficientes de
segurança que foram obtidos nas exposições
Tabela 9. Coeficientes de segurança obtidos para o efeito sucessivas foram idênticos aos calculados pelo
combinado de dois agentes de degradação pelo método
tradicional (RF A+B Tra d ) e na exposição sucessiva a esses
método tradicional para o efeito combinado
agentes de degradação (RF A+ B ). desses agentes. Nesses casos, e nas condições
Exposição múltipla RF A+B RF A+B Trad experimentais usadas, não foram detetadas
H 2 O + TO 1,01 1,02 interações entre os agentes de degradação.
H 2 SO 4 + TO 1,19 1,01
HNO 3 + TO 1,00 1,02
NaOH + TO 1,05 1,03
Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O + 1,88 1,01 4 CONCLUSÕES
TO
Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O + 1,48 1,01 As exposições isoladas à ação de vários líquidos
TO e à termo-oxidação não provocaram alterações
H 2 O + EC 2,32 2,32 significativas na resistência à tração do
H 2 SO 4 + EC 2,26 2,30
NaOH + EC 2,35 2,35 geotêxtil de PP (resistências à tração residuais
DM + Abrasão 2,49 1,91 próximas de 100%). Contudo, ocorreu uma
diminuição na extensão na força máxima depois
Os coeficientes de segurança encontrados da exposição à termo-oxidação (não ocorreram
nas exposições sucessivas a (1) ácido sulfúrico alterações após as imersões em líquidos). De
499
um modo geral, o geotêxtil apresentou uma boa agentes de degradação) pode contribuir para
resistência à ação isolada de líquidos e à termo- uma melhor aplicação de geossintéticos em
oxidação. Engenharia Civil.
Por sua vez, as exposições isoladas à ação
dos agentes climatéricos, à danificação
mecânica e à abrasão deram origem a alterações AGRADECIMENTOS
relevantes nas propriedades de tração do
geotêxtil (reduções da resistência à tração e Este trabalho foi financiado por: (1) projeto
extensão na força máxima). POCI-01-0145-FEDER-028862, financiado
Os danos ocorridos no geotêxtil na exposição pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento
sucessiva aos agentes de degradação não foram Regional (FEDER) através do COMPETE 2020
sempre iguais à soma dos danos provocados por – Programa Operacional Competitividade e
cada agente de forma isolada. Os exemplos Internacionalização (POCI) e com o apoio
mais relevantes incluíram as exposições financeiro da FCT/MCTES através de fundos
múltiplas a (1) nitrato de ferro e termo-oxidação nacionais (PIDDAC); (2) Unidade de
e (2) nitrato de zinco e termo-oxidação. Em Investigação UID/ECI/04708/2019 – Construct
ambos os casos, dois agentes que isoladamente – Instituto de I&D em Estruturas e Construções,
não deram origem a danos, induziram em financiada por fundos nacionais através da
conjunto uma degradação muito significativa. FCT/ MCTES (PIDDAC). José Ricardo
Foram também identificadas interações entre o Carneiro agradece à FCT a bolsa de Pós-
(1) ácido sulfúrico e a termo-oxidação e entre a Doutoramento com a referência
(2) danificação mecânica e a abrasão (embora SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa apoiada por
menos pronunciadas do que as interações financiamento POPH/POCH/FSE).
anteriores).
A diminuição da resistência do geotêxtil à
termo-oxidação após as imersões nas soluções
de catiões metálicos poderá ser explicada pela
ação catalisadora dos catiões ferro e zinco no
processo de termo-oxidação. Existem
referências (como por exemplo, Wright, 2001)
que referem que o processo de oxidação das
poliolefinas (como o PP) pode ser acelerado Os autores agradecem à Carvalhos Lda. (Lousã,
pelo efeito catalítico de alguns metais. Portugal) pelo fornecimento do geotêxtil.
A identificação e quantificação de interações
entre os agentes de degradação é importante
para compreender (e/ou prever) o REFERÊNCIAS
comportamento dos geossintéticos sob
condições de degradação reais (onde estão, na Carneiro, J.R. (2009) Durabilidade de materiais
geossintéticos em estruturas de carácter ambiental –
maior parte dos casos, expostos à ação conjunta a importância da incorporação de aditivos químicos,
de vários agentes de degradação). Os resultados Tese de Doutoramento em Engenharia do Ambiente,
obtidos mostraram que, existindo interações Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto,
entre os agentes de degradação, os coeficientes Portugal, LXVIII-534p.
de segurança obtidos diretamente nas Carneiro, J.R., Almeida, P.J. & Lopes, M.L. (2014) Some
synergisms in the laboratory degradation of a
exposições sucessivas a esses agentes podem polypropylene geotextile, Construction and Building
ser muito diferentes dos calculados pelo método Materials, Vol. 73, p. 586-591.
tradicional (determinação dos coeficientes de Carneiro, J.R., Almeida, P.J. & Lopes, M.L. (2018)
segurança de forma isolada para cada agente e Laboratory evaluation of interactions in the
posterior multiplicação) para a ação combinada degradation of a polypropylene geotextile in marine
environments, Advances in Materials Science and
dos mesmos. A definição de coeficientes de Engineering, Vol. 2018, artigo 9182658, 10p.
segurança com maior confiança (tendo em Dias, M., Carneiro, J.R. & Lopes, M.L. (2017) Resistance
conta as interações que ocorrem entre os vários of a nonwoven geotextile against mechanical damage
500
and abrasion, Ciência & Tecnologia dos Materiais,
Vol. 29, p. 177-181.
EN 29073-3 (1992) Textiles – Test methods for
nonwovens. Part 3: Determination of tensile strength
and elongation, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9862 (2005) Geosynthetics – Sampling and
preparation of test specimens, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9863-1 (2016) Geosynthetics – Determination of
thickness at specified pressures. Part 1: Single
layers, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9864 (2005) Geosynthetics – Test method for the
determination of mass per unit area of geotextiles and
geotextile-related products, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
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procedure for the evaluation of mechanical damage
under repeated loading – Damage caused by granular
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EN ISO 13427 (2014) Geosynthetics – Abrasion damage
simulation (sliding block test), Comissão Europeia de
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products – Screening test method for determining the
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Wright, D.C. (2001) Failure of Polymer Products due to
Thermo-Oxidation, iSmithers Rapra Publishing, 132
p.
501
502
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Com o objetivo de aumentar a vida útil do pavimento, foram desenvolvidas tecnologias
desde métodos de cálculo, estudos de novos materiais e a inclusão de geossintéticos como reforço
nas vias. A partir de então, os geossintéticos vêm sendo cada vez mais empregados em obras viárias,
por necessitarem de um menor tempo de execução, diminuírem custos de materiais e até mesmo
colaborarem na minimização de impactos ambientais. Entretanto, se manuseados de maneira
inadequada ou expostos a agentes externos, estes materiais podem mostrar desempenhos
insatisfatórios durante a vida útil. Diante disto, esta pesquisa foi desenvolvida em um trecho urbano
na cidade de Natal-RN, com a finalidade de averiguar o dano térmico ocasionado pela alta
temperatura do CBUQ em contato com diferentes tipos de geossintéticos. Para isso, as amostras
virgens e danificadas foram comparadas visualmente e submetidas a ensaios de tração uniaxial.
Assim, pôde-se concluir que ao expor o produto a altas temperaturas, durante apenas a etapa de
espalhamento do concreto asfáltico, houve redução na resistência à tração e na deformação de todos
os geossintéticos estudados. E, além disso, alguns fatores de redução se mostraram no limite imposto
pela literatura.
ABSTRACT: With the objective to increase the lifetime of the pavement, technologies were
developed through calculation methods, studies of new materials and the adoption of geosynthetics
as a road reinforcement. Thereby, geosynthetics has been increasingly applied in roadworks, due to
its short installation time, material costs reduction and it even collaborate to mitigate environmental
impacts. However, if it is improperly handled or exposed to external agents, these materials may
present an unsatisfying performance over its lifetime. Hence, this research was developed in an urban
stretch at the city of Natal-RN, with the purpose of investigating the thermal damage caused by the
high temperature of the hot mix asphalt, when in contact with different types of geosynthetics. For
this reason, intact and damaged samples were visually compared and submitted to uniaxial tensile
tests. As a result, it could be concluded that when exposing the product to high temperatures, during
the scattering stage of the asphalt concrete, there was a reduction of the tensile strength and in the
deformation of all geosynthetics studied. Furthermore, some reduction factors were presented on the
limit imposed by the literature.
503
KEY WORDS: Installation Damages, Flexible Pavements, Geosynthetics, Uniaxial Tensile Test.
504
inseridos entre duas camadas de material Os corpos de prova eram circulares com
granular e submetidos a cargas dinâmicas entre 5 10 cm de diâmetro, cortados de forma que, no
± 5 kPa e 900 ± 10 kPa com frequência de 1 Hz, centro da amostra, as fibras formassem uma
totalizando 200 ciclos. Posteriormente, foram grade quadrada de 40 x 40 mm², permitindo a
realizados ensaios mecânicos de tração (EN ISO extração de fibras com comprimento
10319), resistência ao rasgo (ASTM D4533) e aproximado de 9,5 cm para realização dos testes
punção estática (EN ISO 12236), e ensaios de tração. Além de ensaios de tração, os corpos
hidráulicos de permeabilidade com carga de prova foram submetidos a análises com
constante e carga variável consoante a EN ISO microscópio eletrônico de varredura,
11058. microscópio óptico e análises termo-
Assim, puderam concluir que os ensaios gravimétricas.
de danos de instalação ocasionaram mudanças Finalizados os ensaios, as seguintes
consideráveis nas propriedades avaliadas, sendo conclusões foram obtidas: após o dano gerado
algumas dessas mudanças altamente relacionada pela compactação Proctor, as fibras
a massa por unidade de área e o tipo de ligação apresentaram esmagamento, perda de
dos materiais. A resistência à tração, revestimento betuminoso e quebra, produzindo
alongamento na carga máxima, resistência ao uma redução significativa na força de tração
rasgo e resistência à punção diminuíram após a máxima; compactar agregado de escória, que é
danificação, sendo mais perceptível em termicamente similar ao CBUQ, em
geossintéticos que apresentavam menor massa geossintético não provoca necessariamente a
por unidade de área. mesma redução na resistência à tração; o dano
Nos geotêxteis mecanicamente ligados, gerado pela compactação Marshall produziu
houve uma diminuição do fluxo de água maior redução nos valores de força de tração
ocasionado pelo possível acúmulo de partículas máxima; as fibras são bastante danificadas
finas (materiais granulares esmagados). Todavia, quando é ultrapassado o limite de energia de
não foi encontrada nenhuma relação entre a compactação.
permissividade e a massa por unidade de área A grande maioria do estudos são
dos geotêxteis. Por sua vez, nos geossintéticos desenvolvidos em laboratório, tentando
termicamente ligados, houve um aumento de reproduzir as condições vivenciadas em campo,
fluxo de água ocasionado pela existência de deixando a desejar a fidelidade dos resultados.
cortes presentes no material após o DDI, sendo Segundo Escórcio (2016), para dimensionar
maior o fluxo quanto menor a massa por unidade corretamente o prejuízo ocasionado nos
de área. geossintéticos durante a atividade de instalação,
Norambuena – Contreras et al. (2016), os pesquisadores deveriam recorrer a ensaios de
com o objetivo de analisar os danos físicos e campo, ainda pouco utilizados devido aos
mecânicos gerados nas fibras de geossintéticos elevados custos e a falta de normalização destes
aplicados na pavimentação, criaram uma nova procedimentos.
metodologia para simular, em laboratório, os Portanto, esta pesquisa foi desenvolvida
danos originados pelo espalhamento e a fim de retratar com maior fidelidade o dano
compactação da massa asfáltica quente. Esta térmico sofrido pelos geossintéticos em uma
metodologia consistia na compactação dinâmica obra de pavimentação, possibilitando a análise e
de agregados em altas temperaturas, aplicando a comparação com os resultados de resistência à
compactação Proctor e a compactação Marshall. tração, deformação e fatores de redução
Na pesquisa fez-se uso de: três geogrelhas com disponibilizados na literatura.
um geotêxtil não tecido de polipropileno e fibras
de poliéster, álcool polivinílico e vidro, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
revestidas com betume; uma mistura asfáltica
semi-densa tipo IV-A-12, com betume Esta pesquisa foi dividida em duas etapas:
convencional CA24; e o agregado de escória de campo e laboratório. Em campo foram
aço 100% do tipo britagem. executadas duas instalações de geossintéticos,
entre a camada de base e o revestimento, em ruas
505
distintas. Primeiramente, na Rua José Miranda vez, o tempo total até a completa exumação das
da Silva e, posteriormente, na Rua Inácio Braz amostras durou vinte e dois minutos. A
dos Santos, ambas pertencentes ao conjunto exumação das amostras foi realizada com a ajuda
Brasil Novo no bairro Pajuçara na cidade de de arados (Figura 2).
Natal – RN.
Fez-se uso de diferentes tipos de
geossintéticos, entre eles: a geogrelha de
politereftalato de etileno (GGR – PET), o
geocomposto de politereftalato de etileno (GCO
– PET), o geotêxtil tecido de polipropileno (GTX
W – PP), o geocomposto de poliacetato de vinila
(GCO – PVA 50), o geocomposto de
politereftalato de etileno (GCO – PET 50) e o
geocomposto de fibra de vidro (GCO – FV 50).
O concreto betuminoso usinado a quente
Figura 2 – Exumação dos geossintéticos (Fonte: Autor).
(CBUQ) utilizado era composto por 19,0% de
brita 5/8”, 25,65% de cascalho, 50,35% de pó de
Em laboratório todas as amostras foram
pedra e 5,0% de cimento asfáltico de petróleo
cortadas, separadas e nomeadas, conforme a
(CAP) 50/70. Os agregados da composição
situação em que se encontrava, virgem ou
foram provenientes da Pedreira Potiguar na
danificada, distinguindo-as também por tipo de
cidade de Macaíba – RN e o CAP foi fornecido
geossintético e tipo de polímero. As amostras de
pela Refinaria Lubrificantes e Derivados do
geotêxteis tecido foram cortadas de modo que
Nordeste (Lubnor) de Fortaleza – CE.
ficassem com dimensões de 1,5 m x 0,2 m.
Em campo, todas as fases necessárias
Porém, devido a retração do geossintético
para a construção de um pavimento até a etapa
durante a exposição a alta temperatura, alguns
de imprimação da base estavam finalizadas.
corpos de prova apresentaram largura inferior a
Então, as amostras de geossintéticos (1,0 m x 1,5
0,20 m, sendo necessário o descarte dos mesmos.
m) foram dispostas no local, fixadas com CBUQ
As amostras de geogrelha e geocomposto foram
nas extremidades e alinhadas com a vibro-
seccionadas conforme a quantidade de fibras,
acabadora, como ilustrado na Figura 1.
sendo dez fibras para as amostras de geogrelha e
cinco fibras para as amostras de geocomposto.
Em seguida, foram realizados os ensaios
de tração uniaxial em cada amostra, com
velocidade de tração de 30 mm/s. O fim de cada
ensaio foi considerado na ocorrência de uma
queda abrupta da resistência à tração do
geossintético, caracterizada pela ruptura total ou
parcial do corpo de prova de geotêxteis ou dos
elementos da geogrelha e dos geocompostos.
Na execução dos ensaios de tração
Figura 1 – Fixação dos geossintéticos na via (Fonte: uniaxial fez-se uso do dinamômetro INSTRON
Autor). 3385H com célula de carga para testes de até 25
toneladas e, acoplado a máquina, estava um
Logo, deu-se início a confecção da vídeo extensômetro. O dinamômetro estava
camada de revestimento, e todos os ligado ao computador que, por sua vez,
geossintéticos instalados foram expostos ao dano executava o programa Instron Bluehill.
térmico ocasionado pela alta temperatura do No total foram realizados 61 ensaios de
CBUQ, cerca de 140°C. O tempo decorrido do tração uniaxial, sendo 28 em corpos de prova
início da atividade de distribuição do CBUQ (CPs) virgens e 33 em corpos de prova
sobre os geossintéticos e a exposição destes a danificados termicamente. Entre as amostras
alta temperatura, durou cinco minutos. Por sua virgens, o GTX W – PP, a GGR – PET, o GCO
506
– PET e o GCO – FV 50, tiveram cada um 5 Analisando a Figura 3(a), pode-se notar
corpos de prova. Enquanto isso, o GCO – PVA que a GCO – PVA 50 apresentou a maior
50 e o GCO – PET 50, possuíram 4 CPs cada. resistência à tração entre os geossintéticos,
Por sua vez, nas amostras danificadas, houve a chegando a força de tração na ruptura de 50
seguinte distribuição: a GGR – PET com 10 CPs; kN/m. Enquanto isso, a GGR – PET exibiu a
o GTX W – PP, o GCO – PET e o GCO – FV 50 menor resistência à tração com 18,2 kN/m. O
com 5 CPs cada; GCO – PVA 50 e GCO – PET GTX W – PP expôs uma deformação de 6,4%,
50 com 4 CPs cada. caracterizando a maior deformação entre os
geossintéticos. Por sua vez, o GCO – FV 50
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES mostrou o menor alongamento entre os
materiais, com apenas 1,2%. Este
As médias dos resultados obtidos após os comportamento, característico de materiais
ensaios de tração uniaxial em cada tipo de frágeis é esperado, sendo associado ao polímero
geossintético estão expostas na Figura 3. As constituinte do geossintético que viabiliza uma
curvas das amostras virgens na Figura 3 (a) e das maior rigidez ao geossintético.
amostras expostas ao dano térmico na Figura 3 Após o contato das amostras com o
(b). concreto betuminoso à 140°C, percebe-se um
comportamento mecânico diferente em cada
geossintético (Figura 3 (b)). O GTX W – PP foi
responsável por exibir a maior força de tração na
ruptura, correspondendo a 43,8 kN/m. A GGR –
PET permaneceu com a menor resistência à
tração, igual a 14,8 kN/m. Todavia, a maior
queda porcentual na força de tração na ruptura
ficou a cargo do GCO – PET, igual a 34,5%. O
geossintético que mais se manteve próximo a
força de tração na ruptura inicial foi o GTX W –
PP, reduzindo 9,1% da resistência à tração
inicial.
A maior deformação após o dano foi de
6,1% correspondente ao GTX W – PP e a menor
deformação foi de 1,1% associada ao GCO – FV
(a)
50. Entretanto, a maior redução na deformação
foi de 15,8% ligada ao GCO – PET e a menor foi
de 3,2% associada ao GCO – PVA 50. Assim,
percebe-se que houve redução tanto na
resistência à tração como na deformação dos
materiais após a exposição a alta temperatura,
comprometendo a ductilidade das amostras.
No entanto, apesar das reduções na
deformação, os geocompostos de PVA 50, PET
50 e FV 50 encontram-se de acordo com os
dados fornecidos pelo fabricante. O mesmo
prevê deformação inferior ou igual a 6% para o
GCO – PVA 50, inferior ou igual a 12% para o
GCO – PET 50 e inferior ou igual a 3% para o
GCO – FV 50, o que foi verificado tanto nas
(b) amostras virgens, quanto nas amostras
Figura 3 – Curvas obtidas após os ensaios de tração danificadas. Todavia, para resistência à tração
uniaxial: (a) Amostras virgens; (b) Amostras após dano
térmico. após danos de instalação espera-se que haja uma
conservação superior a 90% da resistência
507
inicial, o que não foi verificado, uma vez que o obra, exumados e tiveram suas propriedades
GCO – PVA 50 manteve 85% da resistência mecânicas avaliadas através de ensaios de tração
inicial, o GCO – PET 50 sustentou 81,6% e o uniaxial. Logo, as seguintes conclusões foram
GCO – FV 50 preservou 78,9%. Logo, pode-se tiradas com base nos resultados apresentados:
considerar um comportamento insatisfatório • Constatou-se que todos os geossintéticos foram
comparado ao que foi previsto pelo fabricante. afetados pela alta temperatura do concreto
Na Tabela 1 encontram-se os fatores de asfáltico, gerando uma diminuição na
redução referente a cada geossintético após a resistência à tração e também na deformação,
exposição ao dano térmico e os coeficientes de passando a apresentar um comportamento menos
variação. Segundo Koerner (2012), os valores de dúctil após o dano.
fator de redução utilizados para estradas • Com relação às propriedades mecânicas
pavimentadas referentes aos danos de instalação, avaliadas, pode-se afirmar que o GTX W – PP
podem variar de 1,2 a 1,5. Todavia, em obras de apresentou a menor redução porcentual de
pavimentação, os danos ocasionados em resistência à tração inicial após o dano térmico
geossintéticos são térmicos e mecânicos, estes em comparação com os demais geossintéticos,
provocados pela compactação e pelo peso do igual a 9,1%. Em contrapartida, o GCO – PET
maquinário utilizado, geralmente rolos exibiu a maior perda de resistência à tração, com
compactadores, caminhões basculante e vibro- 34,5%, equivalente a 15,8 kN/m. Os demais
acabadoras. Assim, caso os geossintéticos geossintéticos se enquadraram em valores
fossem submetidos a compactação, os fatores de intermediários entre o GTX W – PP e o GCO –
redução poderiam extrapolar o intervalo PET.
sugerido pela literatura, uma vez que alguns dos • Com base nas deformações apresentadas, o
valores obtidos já encontram-se no limite, como GCO – FV 50 apresentou o comportamento mais
é o caso do GCO – PET. frágil, antes e após o dano térmico. Esta conduta
O maior coeficente de variação para a pode ser justificada pelo fato do polímero
força de tração foi 14,1% ligado ao GCO – FV constituinte atribuir uma maior rigidez ao
50, e na a deformação foi 11,3% associada a material. Enquanto isso, os demais
GGR – PET. Estes valores ainda são geossintéticos apresentaram comportamentos
satisfatórios, tendo em vista a quantidade de com maiores deformações, sendo a maior delas
corpos de prova para cada geossintético igual a 6% após o dano, representada pelo GTX
estudado. W – PP.
• Os fatores de redução encontram-se conforme
Tabela 1 - Fatores de redução e coeficientes de variação. os valores dispostos na literatura. Entretanto, foi
Coeficiente de variação
avaliado apenas o dano térmico e, em obras de
Fator de
Geossintético
redução
pavimentação, os geossintéticos estão expostos
Tensão Deformação também ao dano mecânico, o que leva a acreditar
GGR - PET 1,2 14,0% 11,3% que ao final do processo (com a atividade de
GCO - PET 1,5 9,7% 4,9% compactação) os fatores de redução seriam
GTX W - PP 1,1 10,3% maiores que os propostos na literatura.
5,1%
GCO - PVA 50 1,2 7,7% 7,7%
REFERÊNCIAS
GCO - PET 50 1,2 5,0% 8,5%
GCO - FV 50 1,3 14,1% 8,3% ASTM D4533-04: Standard test method for trapezoid
tearing strength of geotextiles. 2009.
CARNEIRO, J. R.; MORAIS, L. M.; MOREIRA, S. P.;
4 CONCLUSÕES LOPES, M. L. Evaluation of the Damages Occurred
During the Installation of Non-Woven Geotextiles.
Neste estudo foi feita uma avaliação do Materials Science Forum Vols. 730-732 :439-444.
dano térmico ao qual os geossintético são 2013.
EN ISO 10319: Geosynthetics – Wide-width tensile test.
expostos em obras de pavimentação, gerado pela
2008.
alta temperatura do CBUQ. Assim, seis EN ISO 12236: Geosynthetics – Static puncture test (CBR
geossintéticos diferentes foram instalados em test). 2006.
508
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Eder C. G. Santos
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, edersantos@ufg.br
Jefferson L. Silva
Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br
ABSTRACT: The impacts caused by construction industry wastes has led to the adoption of
management strategies that promote the use of recycled construction and demolition wastes
(RCDW) in geotechnical works. However, the use of recycled aggregates and geosynthetic
materials must be assessed considering the installation damages that the backfill material (RCDW)
can cause to the polymeric material (geosynthetics). In this way, this paper aims to quantify the
installation damages caused by the RCDW on geogrids. The construction process of geosynthetic
reinforced soil layers was simulated including poly(vinyl) alcohol and polyester geogrids as
reinforced elements. This paper assesses damages caused by RCDW launch (drop height of 0 m, 1
m and 2 m) and vibratory roller compaction. Specimens were taken for visual analysis (optical
microscope STMDLX Stereo Zoom) to quantify damages characterized by abrasion, splitting,
contusion and cut in the longitudinal and transversal ribs as well as the junctions. The results
revealed the preponderance of abrasion damages followed by splitting and contusion, in this order.
It was possible to conclude that the RCDW variability and the geogrids different physical
characteristics affected the individual geogrids damages observed.
KEY WORDS: Geogrids, Installation damages, Drop height, Compaction, Visual analysis.
511
1 INTRODUÇÃO comparar os danos causados nas faces de
geogrelhas.
O desenvolvimento da indústria da construção
civil (ICC) nas últimas décadas atrelado a uma
gestão ineficiente dos materiais de construção 2 MATERIAIS E MÉTODOS
têm causado problemas ambientais decorrentes
da elevada geração dos resíduos. Nesse âmbito, Para atingir os objetivos propostos neste estudo,
estratégias de gestão começaram a ser foram simulados os processos construtivos de
implantadas para reduzir, reutilizar, reciclar, uma camada de ESR com geossintético. Um
comportar, incinerar e aterrar os chamados tipo de RCD-R foi adotado como material de
‘resíduos de construção e demolição’ (RCD) preenchimento e diferentes geogrelhas como
com o objetivo de diminuir a problemática da elementos de reforço. A partir da simulação de
geração desses resíduos (Peng et al., 1997). dois condicionantes de dano (altura de queda e
No que se trata da reciclagem, diversos compactação), foi possível avaliar os seus
autores estudaram a aplicação dos materiais efeitos isolado e em conjunto.
beneficiados - os chamados ‘resíduos de
construção e demolição reciclados (RCD-R)’ 2.1 Materiais
em obras geotécnicas, como, por exemplo, em
estrutura de solo reforçado (Santos, 2007; Este estudo empregou duas geogrelhas
Santos et al., 2009; Santos et al., 2010; Vieira & unidirecionais (Figura 1): i) uma com
Pereira, 2016). Neste contexto, é importante filamentos de álcool polivinílico (PVA) e ii)
avaliar o comportamento do material não outra de poliéster (PET). Segundo o fabricante,
somente de forma isolada, mas sim em conjunto a geogrelha de PVA possui resistência à tração
com os demais materiais utilizados nas obras. na ruptura ( ) igual a 35 kN/m, rigidez
Diante disso, a utilização desse material em secante com 2% de deformação ( ) igual a
estruturas de solo reforçado (ESR) com 400 kN/m e abertura da malha de 25 x 35 mm
geossintético deve levar em consideração os (transversal e longitudinal, respectivamente). Já
danos causados pelo material de preenchimento a geogrelha de PET possui o mesmo valor de
ao reforço polimérico. Diversos estudos (Santos que a geogrelha de PVA (35 kN/m),
et al., 2012; Barbosa & Santos (2013), Vieira & apresenta igual a 550 kN/m e uma
Pereira, 2015; Barbosa et al., 2016, Fleury, abertura da malha de 25 x 25 mm. Ambas as
2018) quantificaram a diminuição de resistência geogrelhas são utilizadas em ESR com
de materiais geossintéticos devido aos danos geossintéticos.
causados por agregados reciclados durante a
instalação. Contudo, apesar da perda de
resistência imediata característica desse tipo de
dano, a possível exposição das fibras facilitaria
a degradação química do material polimérico,
comprometendo ainda mais a sua
funcionalidade (Duvall 1994, Santos, 2011).
Desse modo, além da determinação dos
fatores de redução de resistência dos materiais
poliméricos, faz-se necessário analisar
qualitativamente os danos gerados por essas
atividades.
Mediante ao exposto, este estudo objetiva i)
avaliar qualitativamente os danos de instalação
causados pelo lançamento e compactação de
RCD-R em geogrelhas; ii) comparar os danos Figura 1. Geogrelhas empregadas no estudo: (a) com
causados pela ação isolada e pela ação conjunta filamentos de álcool polivinílico (PVA) e (b) com
dos condicionantes de dano analisados; e iii) filamentos de poliéster (PET).
512
O RCD-R utilizado neste estudo foi numa instalação experimental que possui uma
fornecido por uma usina de beneficiamento área útil de 31,2 m² (3,90 m no sentido
localizada em Aparecida de Goiânia-GO. transversal e 8,00 m no sentido longitudinal).
Informações adicionais sobre a usina e os
procedimentos de reciclagem podem ser
consultados em Fleury et al. (2017). As
características geotécnicas do RCD-R são
apresentadas nas Tabelas 1 e 2 e na Figura 2.
Observa-se que o material apresenta potencial
para aplicação em ESR com geossintéticos
tendo em vista que atende às faixas
granulométricas preconizadas pela FHWA
(2010), NCMA (2010) e BSI (2010). Figura 3. Instalação experimental – modificado pelo autor
(Fleury, 2018).
Tabela 1. Características geotécnicas do RCD-R.
Peso específico dos grãos (γ) 27,18 kN/m² Inicialmente, compactou-se uma camada de
Classificação SUCS(a) SP-SM(b) RCD-R (100 mm de espessura) acima de uma
Índice de Plasticidade Não plástico base de concreto (Figura 4a). Essa primeira
Peso específico seco máximo (γd_máx) (c) 17,65 kN/m²
camada foi nomeada ‘camada de RCD-R
Umidade ótima (wótima)(c) 15,4%
(a)
Sistema Unificado de Classificação de Solos inferior’. Acima desta foram posicionadas
(ASTM D 2487 (ASTM, 2006)); amostras de geogrelhas (3,90 m, na direção
(b)
Areia mal graduada com silte; transversal, por 1,10 m, na direção longitudinal;
(c)
Energia Proctor normal; conforme apresentado na Figura 4b). Para cada
terço de amostra na direção transversal, ou seja,
Tabela 2. Materiais constituintes do RCD-R. a cada 1,30 m, foi lançado RCD-R de distintas
Solo(a) 58,97 %
Concreto 27,27 %
alturas de queda: 0 m (H0), 1 m (H1) e 2 m
Argamassa 9,24 % (H2; conforme apresentado na Figura 4c) com
Cerâmica 2,25 % auxílio de uma mini retroescavadeira. Em
Cerâmica polida 1,05 % seguida, o material lançado foi compactado de
Outros 1,22 % modo a ter uma camada de 200 mm de RCD-R
(a)
Material passante na peneira de 4,76 mm;
(Figura 4d), a qual foi nomeada ‘camada de
RCD-R superior’.
Preservou-se um trecho não compactado (N)
para verificar a influência da altura de queda
nos danos de instalação. Nos trechos
compactados buscou-se avaliar os danos
causados pelos métodos de compactação e pela
altura de queda
As camadas de RCD-R inferior e superior
foram compactadas com seis passadas de rolo
vibratório (massa operacional de 1400 kg; 900
mm de comprimento). Ao final desses
processos, verificou-se, por meio de ensaios de
frasco de areia, um grau de compactação igual a
Figura 2. Distribuição granulométrica do RCD-R em 89% da energia Proctor normal.
estudo – modificado pelo autor (FHWA, 2010; NCMA Por meio deste programa experimental, 12
2010; BSI, 2010). configurações de ensaios foram avaliadas
considerando distintas alturas de queda e a
2.2 Métodos realização ou não do processo de compactação.
A Tabela 3 apresenta a nomenclatura adotada
A simulação do processo construtivo da camada para cada configuração de ensaio. Tomando
de uma ESR com geossintéticos foi realizado
513
Figura 5. Região das amostras de geogrelha cortada para
obtenção do corpo de prova para análise microscópica.
514
quando um mesmo elemento apresentou duas 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
ou mais categorias de dano distintas, atribuiu-se
uma unidade para cada categoria de dano. Os resultados da análise visual em ambas as
Na geogrelha de PVA foram analisadas, para faces (A e B) dos corpos de prova obtidos a
cada configuração de ensaio, 9 unidades de partir das amostras de geogrelhas submetidas
cada elemento (longitudinal, transversal e nó); aos as diferentes configurações de ensaio estão
enquanto que para a geogrelha de PET, devido apresentadas, em termos percentuais, nas
sua menor abertura (Figura 1), avaliou-se 12 Tabelas 3 e 4 (primeira referente à geogrelha de
unidades de cada elemento. Assim, supondo PVA e a segunda à geogrelha de PET).
que o cenário PET-H0-C apresentou 6 fibras De maneira geral os resultados apontam
longitudinais com dano caracterizado por incidência principal de danos caracterizados por
abrasão, conclui-se que 50% (6/12) dos abrasão, independentemente do tipo de
elementos longitudinais do cenário elemento analisado (longitudinal, transversal ou
apresentaram danos de abrasão. nó). Resultados semelhantes foram reportados
por Austin (1997), Richardson (1998), Cho
Tabela 3. Danos (em porcentagem) nas faces A e B da geogrelha PVA, obtidos a partir da análise visual.
Configuração Elementos longitudinais Elementos transversais Nós
de ensaio Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação
Face A
PVA-H0-N 0 0 0 17 0 0 11 0 0
PVA-H1-N 11 0 22 33 0 0 0 11 0
PVA-H2-N 11 0 0 39 0 0 11 0 0
PVA-H0-C 22 0 11 11 11 0 11 0 0
PVA-H1-C 22 11 11 11 0 0 22 0 0
PVA-H2-C 11 11 11 22 0 0 0 0 0
Face B
PVA-H0-N 11 0 0 17 0 0 11 0 0
PVA-H1-N 11 0 22 22 0 0 11 0 0
PVA-H2-N 6 0 0 22 0 0 0 0 0
PVA-H0-C 39 0 11 39 0 0 22 0 0
PVA-H1-C 22 11 11 11 0 0 0 0 0
PVA-H2-C 11 22 11 22 0 0 33 11 0
Notas: PVA, geogrelha de álcool polivinílico; PET, geogrelha de poliéster; H0, altura de queda de zero metro; H1,
altura de queda de 1,0 m; H2, altura de queda de 2,0 m; N, não compactação da camada de RCD-R superior; C,
compactação da camada de RCD-R superior.
Tabela 4. Danos (em porcentagem) nas faces A e B da geogrelha de PET, obtidos a partir da análise visual.
Configuração Elementos longitudinais Elementos transversais Nós
de ensaio Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação
Face A
PET-H0-N 13 0 0 25 0 0 8 8 0
PET-H1-N 0 0 0 42 0 0 8 0 0
PET-H2-N 8 0 0 17 0 0 17 17 0
PET-H0-C 8 0 0 17 0 0 8 0 0
PET-H1-C 17 8 0 38 0 8 17 0 0
PET-H2-C 0 0 0 25 8 0 8 0 0
Face B
PET-H0-N 17 8 0 33 0 0 33 8 0
PET-H1-N 8 17 0 25 0 0 17 0 0
PET-H2-N 17 0 0 25 0 0 25 0 0
PET-H0-C 17 8 0 33 8 0 25 0 0
PET-H1-C 8 17 0 21 0 8 0 0 0
PET-H2-C 25 8 0 29 0 0 25 8 0
Nota: PVA, geogrelha de álcool polivinílico; PET, geogrelha de poliéster; H0, altura de queda de zero metro; H1,
altura de queda de 1,0 m; H2, altura de queda de 2,0 m; N, não compactação da camada de RCD-R superior; C,
compactação da camada de RCD-R superior.
515
et al. (2006), Lim & McCartney (2013) e verifica-se que a geogrelha de PET é menos
Rosete et al. (2013). Portando, nesta análise de resistente aos danos de instalação em
resultados dar-se-á foco aos danos de abrasão. comparação com a geogrelha de PVA, pois o
Quando aos demais tipos de danos simples contato da geogrelha com o material de
analisados, nota-se que os danos caracterizados preenchimento (RCD-R) propiciou danos.
por contusão e separação foram mais incidentes Analisando cada geogrelha isoladamente,
nos elementos longitudinais se comparado aos verificou-se que ambas faces (A e B)
elementos transversais e nós. Não foram apresentaram percentuais de elementos
observados danos de corte em nenhum tipo de danificados semelhantes. A pequena variação
elemento analisado, razão pela a qual ocultou-se dos percentuais encontrados nas faces A e B
estes resultados nas Tabelas 3 e 4. pode estar associado a variabilidade do material
A seguir serão analisadas, separadamente, a de preenchimento (RCD-R). Deste modo, esse
influência da i) altura de queda, ii) compactação resultado revela que os danos foram causados
e iii) ação conjunta da altura de queda e não somente pela camada de material acima da
compactação nos danos visuais causados pela geogrelha, mas também pela situada abaixo.
simulação do processo construtivo de ESR.
3.2 Compactação
3.1 Altura de Queda
No caso da geogrelha de PVA, observou-se que
Para avaliar a influência da altura de queda, as faces A e B apresentaram maiores
buscou-se comparar as configurações de ensaio percentuais de danos de abrasão nos elementos
que não apresentaram compactação. longitudinais com a compactação da camada. Já
Observou-se a maior ocorrência, em ambas no caso dos elementos transversais e nós, as
geogrelhas, de danos caracterizados por abrasão faces A e B apresentam resultados opostos. Na
nos elementos transversais comparados com os face A, os percentuais de danos de abrasão
demais elementos. Nota-se que, no geral, a causados devido à compactação foram iguais ou
quantidade de danos por abrasão que ocorreram inferiores se comparado ao cenário sem
na geogrelha de PET foram superiores aos que compactação. Já na face B, verificou-se maiores
ocorreram na geogrelha de PVA. percentuais de danos com a compactação da
Verificou-se que a menor altura de camada.
lançamento possível (aqui referida como altura No caso da geogrelha de PET, observou-se
de zero metro – H0) foi responsável por causar que os percentuais de dano de abrasão causados
danos visuais às geogrelhas, porém, para pela compactação foram, em todos os elementos
maiores alturas queda (H1 e H2), a quantidade analisados (longitudinais, transversais e nós) e
de elementos com danos de abrasão foi maior. em ambas faces (A e B), iguais ou inferiores
Contudo, vale ressaltar que o aumento da altura aos percentuais de dano identificados no
de queda não causou um aumento proporcional cenário sem compactação.
dos danos visuais. Por outro lado, a geogrelha de PVA
Notou-se que, na geogrelha de PVA, ambas apresentou percentuais superiores de danos de
faces (A e B) apresentaram maior quantidade de abrasão causados pela compactação na face B.
danos caracterizados por abrasão para as alturas Esse resultado revela que o processo de
de queda de 1,0 m (H1) e 2,0 m (H2) se compactação causou mais danos de abrasão na
comparada ao cenário sem altura de queda. geogrelha de PVA devido ao contato da
Contudo, verificou-se menor quantidade de geogrelha com a camada inferior, o que reforça
danos de abrasão ocorreu na face B. a importância de avaliar os danos causados
Já no caso da geogrelha de PET, verificou-se nessa interface (geogrelha-camada inferior).
que o cenário sem altura de queda causou maior Apesar da variabilidade inerente do material
quantidade de dano de abrasão se comparado de preenchimento (RCD-R), acredita-se que a
aos cenários com alturas de queda de 1,0 m diferença nos resultados encontrados em cada
(H1) e 2,0 m (H2) (com exceção do cenário geogrelha (PVA e PET) pode ser relacionada a
PET-H1-N na interface A). Diante disso, diferença entre suas características físicas,
516
como: área sólida em planta, espessura dos Houve uma predominância de danos de
elementos e polímero constituinte). abrasão em todos os elementos analisados,
seguido por danos de separação e de
3.3 Ação Conjunta da Altura de Queda e contusão, nesta ordem. Não forma
Compactação observados danos de corte nos cenários
investigados;
Na geogrelha de PVA, notou-se que os danos de O aumento da altura de queda não propiciou
abrasão, separação e contusão apresentaram aumento proporcional dos danos
percentuais semelhantes nas duas faces (A e B) investigados;
quando analisados os elementos longitudinais e Os danos causados pela ação de
transversais. No caso dos nós, os percentuais de compactação na interface entre a geogrelha
dano observados nas faces A e B foram muito de PVA e a camada de RCD-R inferior
diferentes. Ressalta-se que em ambas faces foi foram superiores em relação aos danos
observado que as ações conjuntas dos danos causados na interface entre a mesma
(lançamento e compactação) causaram geogrelha e a camada de RCD-R superior.
percentuais de danos de separação e de Contudo, não foi observado o mesmo
contusão inferiores aos percentuais dos cenários comportamento para a geogrelha de PET;
sem a ação conjunta dos danos. Na maioria dos elementos investigados, o
No caso da geogrelha de PET, verificou-se cenário com ação conjunta dos danos (altura
que, em ambas faces, a ação conjunta dos danos de queda e compactação) causaram menor
causou, nos nós da geogrelha, danos de abrasão quantidade de dano se comparada
em percentuais iguais ou inferiores aos isoladamente a ação de cada condicionante;
causados pela ação individual da compactação Os percentuais de danos quantificados em
ou da altura de queda. Já no caso dos demais cada geogrelha foram próximos nas duas
elementos (longitudinais e transversais), faces. Contudo, as duas geogrelhas não
verificou-se que a ação conjunta causou apresentaram, para uma mesma configuração
pequenas modificações nos percentuais de dano de ensaio, percentuais de dano semelhantes.
verificados em ambas as faces, porém sem um A divergência dos resultados encontrados
comportamento claro, dificultando a obtenção para cada geogrelha pode ser relacionada a
de uma conclusão. variabilidade do material de preenchimento
A dificuldade da obtenção de correlações (RCD-R) e pela diferença entre as
entre os cenários e os dados observados reitera características físicas das geogrelhas.
a complexidade que cerca os danos causados às
geogrelhas, tendo em vista que estão
relacionados a fatores ligados às características AGRADECIMENTOS
físicas da geogrelha e do material de
preenchimento. Contudo, os danos ocasionados Os autores agradecem ao CNPq, pela bolsa
pelo lançamento e pela compactação do RCD-R concedida ao primeiro autor durante do seu
mostraram-se dentro do esperado e não mestrado (PPG-GECON). Os agradecimentos
inviabilizaria a utilização desse novo material são estendidos ao Laboratório de Geotecnia
de preenchimento. (LabGEO) da Universidade Federal de Goiás
(UFG), ao Laboratório de Geossintéticos da
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-
4 CONCLUSÃO USP) e à empresa Renove Gestão e Solução em
Resíduos Ltda. (RNV Resíduos) por todo o
Por meio da simulação dos processos apoio dado para a realização deste estudo.
construtivos (lançamento e compactação) de
uma camada de ESR composta por RCD-R e
geogrelhas, foram investigados os danos por REFERÊNCIAS
meio de uma análise visual. Com os resultados
apresentados neste estudo, conclui-se: American Society for Testing and Material – ASTM
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519
resistance values in certain cases. Regarding the intact samples, at the end of the period of exposure
to gasoline, samples with a specific mass of 18 kg / m³ presented a resistance increase of around
20%, while the samples with another values of specific mass presented increased resistance around
40%. At the end of the exposure period, those with a specific mass of 10, 14.5 and 18 kg / m³
presented resistance reduction in 20%, 2% and 15%, and those of 28 and 33.5 kg / m³ showed
increase of resistance of the order of 20% and 15% respectively.
520
2.1. Exposição ao Vapor de Hidrocarboneto A Figura 2 ilustra o procedimento descrito
(Gasolina) para exposição dos corpos de prova.
521
analisados e apresentados em formato de 3.2. Exposição às Intempéries
tabelas. A Tabela 1 apresenta os valores
relativos ao ensaio de compressão uniaxial para
as amostras intactas. As Tabelas 5, 6 e 7 apresentam,
respectivamente, os valores referentes aos
Tabela 1. Valores relativos às amostras intactas ensaios realizados após 14, 30 e 45 dias de
Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final exposição dos corpos de prova às intempéries.
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
10 38,62 3,76 1025,8 86,03 31,7
14,5 56,28 3,29 1710,4 106,60 33,41 Tabela 5. Amostras expostas (14 dias)
18 99,31 3,76 2637,9 161,10 31,06 Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
28 151,72 4,00 3793,1 230,80 31,53
10 26,22 2,82 1078,4 61,43 40,44
33,5 182,07 3,76 4836,2 269,90 31,81
14,5 52,86 4,0 1973,2 108,57 41,6
σ esc = tensão obtida no escoamento; ɛ esc = deformação
específica no escoamento; E tang = módulo de elasticidade 18 83,66 4,07 2303,1 141,43 41,75
tangente ou inicial; σ final = tensão obtida ao final do 28 174,88 4,15 4250,8 262,86 42,09
ensaio; ɛ final = deformação específica ao final do ensaio. 33,5 191,67 4,00 8510,6 320,00 41,20
522
nas tabelas anteriormente apresentadas. A
σ (kPa) Figura 6 ilustra um ensaio de compressão
400 uniaxial onde é possível notar-se que a base da
350 amostra apresenta grande redução de suas
300 dimensões em relação ao restante.
250
200
150
100
50
0
Intactas 7 dias 14 dias 30 dias
σ (kPa)
Figura 6. Amostra degrada com vapor de gasolina.
350
300 Já os corpos de prova sujeitos à ação de
250 intempéries, ao final do período de exposição
200 apresentaram amarelamento (conforme a Figura
150 7) e um incremento de rigidez, tornando-se
100 quebradiços.
50
0
Intactas 14 dias 30 dias 45 dias
523
que em relação às amostras intactas, ao final do desprendimento de partículas, o que também
período de exposição ao vapor de gasolina, as pode afetar sua funcionalidade e atrito entre
amostras com massa específica de 18 kg/m³ peças adjacentes.
apresentaram um aumento de resistência em Vale ressaltar que futuros trabalhos
torno de 20%, enquanto que as amostras com os poderiam considerar um período de exposição
demais valores de massa específica maior aos agentes nocivos, de forma a sanar
apresentaram aumento de resistência em torno algumas disparidades detectadas neste trabalho,
de 40%. como aumento e decréscimo de resistência para
No entanto, nesse caso, é importante ter-se amostras sujeitas ao intemperismo.
cuidado na avaliação desses parâmetros. Do
fato de que o vapor de gasolina altera
significativamente o material a ponto de alterar 5 CONCLUSÃO
e derreter algumas amostras e que os principais
parâmetros de projeto são obtidos na fase Os processos de exposição afetaram de forma
elástica (para níveis de deformação de até 5%), distinta as densidades de EPS. Nota-se que as
os valores mostrados na Figura 4 servem apenas densidades maiores apresentam uma tolerância
para comparação do efeito degradativo maior aos processos degradativos.
considerando-se uma deformação elevada de De forma geral, a ação do vapor de gasolina
40%. Deve ficar claro, portanto, que esses afetou mais significativamente o EPS chegando
valores obtidos servem apenas para essa a derreter algumas amostras e alterar suas
pesquisa não podendo ser de utilização para dimensões o que afeta diretamente a interface
projetos e/ou algo semelhante. Além disso, seria de contato entre peças adjacentes. O processo
interessante reproduzir o experimento para de intemperismo afetou o material de forma
aprofundar-se o estudo do efeito do vapor de distinta causando amarelecimento e
gasolina no EPS. desprendimento de partículas.
Em relação à Figura 5, nota-se que ao final
do período de exposição à intempérie, em
relação às amostras intactas, as de massa AGRADECIMENTOS
específica 10, 14,5 e 18 kg/m³ apresentaram
redução da resistência em 20%, 2% e 15%, e as Os autores agradecem à Fundação de amparo e
de 28 e 33,5 kg/m³ apresentaram aumento de à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
resistência da ordem de 20% e 15% pelo apoio financeiro obtido para a realização
respectivamente. O comportamento esperado da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da
era de que ao longo do tempo essa propriedade Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP e
apresentasse decréscimo em seus valores. No à empresa Termotécnica pelo fornecimento do
entanto, como as amostras foram fornecidas em material.
períodos distintos, é possível que os lotes do
material possam ter apresentado pequenas
diferenças em seus valores. REFERÊNCIAS
De forma geral, pode-se dizer que tanto o
vapor de gasolina quanto intempéries afetaram AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
MATERIALS. ASTM D1621 – 00 Standard Test Method
de alguma forma a resistência e funcionalidade for Compressive Properties of Rigid Cellular
do material. Plastics.West Conshohocken, 2000.
Quando degradado com vapor de gasolina o AVESANI NETO J. 0. A. Caracterização do
material apresentou aparente ganho de comportamento geotécnico do EPS através de ensaios
resistência axial, entretanto notou-se grande mecânicos e hidráulicos. Dissertação de Mestrado, São
Carlos, SP. 227 p., 2008.
variação de suas dimensões, o que afeta FRYDENLUND, Tor Erik. The Norwegian Public
diretamente a interface de contato entre peças Roads Administration, Directorate of Public Roads.
adjacentes. Roald Aabøe, Head of Geotechnical Section.
Quando degradado por ação de intempéries, <http://www.civil.utah.edu/~bartlett/Geofoam/48a%2020
notou-se enrijecimento do material, e 40%20years%20of%20experience%20final%202011-05-
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525
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Este trabalho avaliou o efeito que a exposição química a hidrocarboneto (gasolina) e a
intempérie causam nos parâmetros de interface entre blocos de poliestireno expandido (EPS),
utilizando ensaios de cisalhamento direto. Foram utilizadas amostras com massas específicas de 10,
14,5, 18, 28 e 33,5 kg/m³. Para os diferentes tempos de exposição e modos de degradação do
material (vapor de gasolina e intempérie), os ensaios foram realizados com tensões aplicadas de 20,
30 e 40 kPa para as amostras de menor densidade (10 kg/m³, 14,5 kg/m³ e 18 kg/m³) e com tensões
aplicadas de 30, 40 e 50 kPa para as amostras de maior densidade (28 kg/m³ e 33,5 kg/m³). Para
exposição ao vapor de gasolina as amostras foram ensaiadas com tempos de exposição de 07, 14 e
30 dias. Para exposição à intempérie as amostras foram ensaiadas com tempo de exposição de 15,
30 e 45 dias. Os resultados mostraram diminuição da máxima tensão alcançada pelos corpos de
prova degradados em vapor de gasolina, comparando-os aos corpos de prova intactos. Já nos corpos
de prova degradados pela intempérie, esse decaimento da máxima tensão alcançada é mais claro
para a massa específica de 10kg/m³. Em termos de parâmetros de resistência, nota-se que os valores
de coesão e de atrito de interface se alteraram para todas as exposições. Apesar da oscilação de
alguns valores, no geral, a tendência de comportamento foi de diminuição da resistência ao
cisalhamento.
ABSTRACT: This work has evaluated the effect that chemical exposure to hydrocarbon (gasoline)
and weather causes on interfacing parameters between blocks of expanded polystyrene (EPS) using
direct shear tests. The specific mass tested were: 10, 14.5, 18, 28 and 33.5 kg/m³. For the different
stages exposure and degradation mods of the material (gasoline vapor and weather), tests were
performed applying loads of 20, 30 and 40 kPa for the samples of minor density (10 kg/m³, 14.5
kg/m³ and 18 kg/m³) and loads of 30, 40 and 50 kPa for samples of high density (28 kg/m³ and 33.5
kg/m³). Gasoline exposures samples were tested with exposure times of 7, 14 and 30 days.
Exposure weather samples were evaluated considering exposure time of 15, 30 and 45 days. Results
showed decreased of the maximal tension reached by gasoline vapor degraded samples by
comparing them to intact samples. To the samples degraded by the weather, the decay of maximal
527
tension is clearer of 10 kg/m³. In terms of resistance parameters, it is noted that the cohesion and
interface friction values changed for all exposures. Despite the oscillation of some values, in
general, the behavior trend was a decrease in shear strength.
528
solicitação, para obter o ângulo de atrito da eixo horizontal representando o deslocamento
junta entre os blocos e para comparar os horizontal. O primeiro ponto do gráfico
resultados dos corpos de prova intactos com os (localizado à esquerda), refere-se sempre à
degradados. amostra intacta, e os demais pontos referem-se
aos períodos de degradação, de forma crescente.
10 kg/m³
20
Figura 3. Equipamento utilizado para os ensaios de 15 20 kPa
τ (kPa)
cisalhamento direto.
10 30 kPa
3 RESULTADOS 5 40 kPa
0
Após ensaiar amostras intactas e amostras
40 35 30 25 20 15 10 5 0
expostas, os resultados foram analisados e
δh (mm)
organizados em gráficos, com o eixo vertical
representando a máxima tensão cisalhante e o Figura 5. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 10kg/m³.
529
degradados em vapor de gasolina
14,5 kg/m³ comparativamente aos corpos de prova intactos.
20
20 3.2. Exposição à Intempérie
τ (kPa)
10 kPa
30
kPa
Após o período total de exposição, notou-se que
0 as amostras de massa específica 10 kg/m³
40 35 30 25 20 15 10 5 0 apresentavam degradação das arestas, conforme
δh (mm) mostra a Figura 10.
Figura 6. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 14,5 kg/m³.
18 kg/m³
35
30 20 kPa
τ (kPa)
25
20 30 kPa
15 40 kPa
10
40 35 30 25 20 15 10 5 0 Figura 10. Amostra com degradação das arestas após 45
δh (mm) dias de exposição às intempéries.
Figura 7. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 18 kg/m³. De forma análoga às amostras degradadas
com vapor de gasolina, as Figuras 11, 12, 13, 14
e 15 apresentam um comparativo entre o
28 kg/m³ desempenho das amostras intactas e expostas
60 após 14, 30 e 45 dias, para uma mesma tensão
50 30 kPa confinante e massa específica.
τ (kPa)
40
40 kPa
30 10 kg/m³
50 kPa 20
20
15 20 kPa
10
τ (kPa)
40 35 30 25 20 15 10 5 0 10
30 kPa
δh (mm) 5
Figura 8. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de 40 kPa
0
cisalhamento direto para amostras de 28 kg/m³.
40 35 30 25 20 15 10 5 0
δh (mm)
33,5 kg/m³ Figura 11. Comparativo entre valores obtidos no ensaio
60
de cisalhamento direto para amostras de 10 kg/m³.
50
30 kPa
τ (kPa)
40
14,5 kg/m³
30 40 kPa 35
20 50 kPa 30 20 kPa
τ (kPa)
10
25 30 kPa
40 35 30 25 20 15 10 5 0
20 40 kPa
δh (mm)
15
Figura 9. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 33,5 kg/m³. 40 35 30 25 20 15 10 5 0
δh (mm)
Pelos gráficos, é notável em sua grande
Figura 12. Comparativo entre valores obtidos no ensaio
maioria, que houve diminuição da máxima de cisalhamento direto para amostras de 14,5 kg/m³.
tensão alcançada pelos corpos de prova
530
18 kg/m³ Com os pares de tensão (tensão normal e tensão
35 cisalhante), foi plotada a envoltória de tensões,
de maneira a possibilitar a obtenção dos
30 20 kPa parâmentros de resistência (ângulo de atrito
τ (kPa)
50 30 kPa
τ (kPa)
531
Tabela 5. Parâmetros de Resistência para amostras de deslocamento horizontal para estas tensões
degradadas por intempérie após trinta dias. aferidas.
Massa Específica Coesão Ângulo de atrito
(kg/m³) (kPa) (Ø')
Já para as amostras degradadas pela
10 9,28 9,0
intempérie, comparativamente às amostras
intactas, algumas apresentaram maiores valores
14,5 9,9 23,2
dos parâmetros de resistência e menores
18 0,35 41,2
deslocamentos horizontais para estas tensões
28 15,54 34,7 aferidas, o que pode ser notado nas figuras 12 e
33,5 9,69 43,4 14, e algumas amostras apresentam grande
oscilação da resistência ao cisalhamento durante
Tabela 6. Parâmetros de Resistência para amostras
degradadas por intempérie após quarenta e cinco dias.
o período de exposição, que pode ser verificado
Densidade (kg/m³) Coesão (kPa) Ângulo de atrito (Ø')
nas figuras 13 e 15.
O ângulo de atrito interno das amostras
10 10,4 3,5
degradadas, em sua grande maioria sofreu
14,5 20,8 15,2
redução. A coesão que só foi verificada para
18 20,8 15,2 amostras degradadas pelas intempéries,
28 - 61,1 apresentou aumentos para as massas específicas
33,5 2,3 44,7 de 14,5 e 18 kg/m³ e diminuição para as de 10,
28 e 33,5 kg/m³.
Analisando-se as tabelas apresentadas nota-
se que para as amostras intactas, com exceção
das amostras com 14,5 kg/m³, as demais 4 CONCLUSÃO
seguem um padrão, de forma que, quanto maior
a massa específica, menor a coesão e maior o De forma geral nota-se que os resultados
ângulo de atrito. Isto pode se atribuído ao fato mostraram diminuição da máxima tensão
de que corpos de prova com maior massa alcançada pelos corpos de prova degradados em
específica apresentam superfície com maior vapor de gasolina, comparativamente aos
rigidez. corpos de prova intactos. Já nos corpos de prova
Para amostras degradadas com vapor de degradados pela intempérie, esse decaimento da
gasolina, nota-se que, algumas amostras não máxima tensão alcançada é mais claro para a
apresentam valores de coesão. O ângulo de massa específica de 10 kg/m³.
atrito interno das amostras com 14,5, 28 e 33,5 Em termos de parâmetros de resistência,
kg/m³ sofreu redução de valor da ordem de nota-se que os valores de coesão e de atrito de
54%, 30% e 24% . Para as amostras de massa interface se alteraram para todas as exposições.
específica de 10 e 18 kg/m³ este parâmetro Apesar da oscilação de alguns valores, no geral,
aumentou, respectivamente, 18 % e 32 %. a tendência de comportamento foi de
Para as amostras degradadas pela ação de diminuição da resistência ao cisalhamento.
intempérie, as de massa específica 14,5 e 18 Entretanto há necessidade de realização de mais
kg/m³ apresentaram aumento de coesão de 16% ensaios para avaliar a repetitividade dos
e 123%, enquanto que o ângulo de atrito resultados, tendo em vista que houve uma
diminuiu 65% e 55%. Aquelas de massa notável variabilidade nos resultados de coesão e
específica de 10, 28 e 33,5 kg/m³ tiveram ângulo de atrito.
diminuição da coesão da ordem de 12%, 100%
e 68%, e o ângulo de atrito interno também
diminuiu em valores da ordem de 53%, 26% e AGRADECIMENTOS
47%.
Os autores agradecem à Fundação de amparo e
Analisando-se os dados dos ensaios, nota-se à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
que as amostras degradadas com vapor de pelo apoio financeiro obtido para a realização
gasolina apresentam, em sua maioria, redução da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da
dos parâmetros de resistência e menores valores Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP e
532
à empresa Termotécnica pelo fornecimento do
material.
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533
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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Matthew Kemnitz
Leak Location Services Inc, Texas, Estados Unidos, mattk@llsi.com
RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados da aplicação dos métodos geoelétricos para
detecção de vazamentos em geomembranas instaladas nas barragens de rejeitos da indústria de
mineração. Os resultados apresentados foram obtidos em inspeções de campo realizadas em 22
(vinte e dois) diferentes projetos da indústria de mineração, localizados no México e Estados
Unidos (Nevada e Michigan) entre 2015 e 2017. O uso do método possibilitou a avaliação de
298.500 m2 de geomembranas de PEAD instaladas e reparo imediato dos danos identificados.
Devido aos seus benefícios em melhorar consideravelmente os procedimentos de garantia da
qualidade da camada de impermeabilização, sugere-se que esta técnica seja utilizada para minimizar
os riscos ambientais inerentes à operação de barragens de rejeito na indústria de mineração.
ABSTRACT: This paper presents the results of the application of the Leak Location Survey to
detect leaks in installed geomembranes, for the quality control of the waterproofing layer of the
tailings dams. This research consolidates the results obtained in field inspections carried out in 22
(twenty two) different projects, in Mining Industries in Mexico City, Nevada and Michigan between
2015 and 2017. The applications of the Soil Survey methodology enabled the evaluation of 298,500
m2 of installed HDPE Geomembranes and immediate repair of identified damages. Due to its
benefits in greatly improving the control quality assurance procedures for the waterproofing layer, it
is suggested that the technique be used to minimize the environmental, technical and financial risks
of the mining Industry.
535
indústria de mineração. Entretanto, os métodos De acordo com Forget et al (2005), dentre 89
convencionais empregados não permitem a projetos testados, usando métodos geoelétricos
avaliação da totalidade da área da durante um período de 10 anos (2.652.000 m2
geomembrana instalada e sua integridade após de área), em média foram encontrados entre 4 e
completa instalação e colocação do solo de 22 vazamentos por hectare. Esta variação na
cobertura (quando aplicável). quantidade de furos depende do nível de
Giroud (2016) sugere, então, a adoção de um controle de qualidade utilizado durante a
Plano de Garantia da Qualidade da Construção instalação da geomembrana. Setenta e três por
para este tipo de obra, no qual estarão previstos cento dos danos ocorreram durante a aplicação
testes não destrutivos para avaliar a integridade do material de cobertura sobre a geomembrana,
das soldas, inspeções visuais na geomembrana e vinte e quatro por cento ocorreram durante a
a adoção dos métodos geoelétricos de maneira instalação da geomembrana e apenas dois por
complementar, principalmente para os projetos cento dos danos ocorreram após o início do uso
em que a mão de obra empregada na construção da camada impermeabilizante. Ao contrário da
não possuir padrão de excelência. Thiel et al percepção comum, a maioria dos danos não
(2003) também sugerem a adoção dos métodos ocorreu devido a procedimentos inadequados de
geoelétricos nos Planos de Garantia da solda da geomembrana.
Qualidade empregados nos projetos. Zidan e Frigo (2016), apresentou o resultado
Segundo Beck et al. (2018), os métodos da aplicação dos método geoelétrico aplicados
geoelétricos foram desenvolvidos nos Estados em 310.000 m2 de área de geomembrana
Unidos na década de 1980, e têm sido coberta com solo, em um projeto da área de
comercialmente empregado desde 1985, mas Gestão de Resíduos, localizado no estado do
em maior escala na indústria de gestão de Rio de Janeiro. A densidade de furos obtida ao
resíduos. Estes métodos, já estabelecidos longo de 4 anos de avaliação foi de 0,5 a 8
através dos padrões normativos internacionais furos/10.000 m2.
(ASTM, 2015), permitem a identificação de Giroud (2016) relatou os resultados de um
danos extremamente pequenos em inspeções estudo desenvolvido em 150 projetos,
que abrangem a totalidade da área da totalizando 250.000 m2 de área, onde foram
geomembrana instalada, possibilitando que os aplicados os métodos geoelétricos diretamente
reparados sejam feitos antes do início de seu na geomembrana de PEAD (polietileno de alta
uso. Segundo Giroud (2016), furos de 1 mm densidade) para avaliar sua integridade. Nestes
são identificados quando a aplicação dos estudos, de 5 a 6 furos/hectare de geomembrana
métodos geoelétricos ocorre diretamente sobre a foram encontrados ao final da instalação da
geomembrana. Cita ainda que furos de 0,6 mm mesma. Tais resultados foram compatíveis com
podem ser encontrados na geomembrana projetos onde houve a adoção de procedimentos
coberta com até 60 cm de solo de cobertura, no de garantia da qualidade. Em projetos onde
caso da aplicação do método com estes procedimentos não foram empregados, o
geomembrana coberta. número de furos chegou a mais de 25/hectare.
Resultados de estudos desenvolvidos por Nosko e Touze (2000) que avaliaram os
Thiel et al. (2005) indicaram que, devido aos resultados obtidos na aplicação da mesma
altos valores associados a metais e reagentes em técnica em cerca de 3.250.000 m2, em mais de
solução de lixiviação, o uso de métodos 300 sites diferentes, identificaram que a maior
geoelétricos possui um sentido econômico parte dos furos acontece na área plana onde foi
estrito, sem mencionar a minimização dos instalada a geomembrana. E nas áreas planas, as
riscos ambientais para a indústria de mineração. principais causas de furos são as rochas e
Apesar disso, esta indústria vem empregando a trânsito de máquinas pesadas.
técnica de forma progressiva, nos Estados A norma ASTM D7007 (Práticas Padrão
Unidados, sendo as primeiras aplicações na para métodos elétricos para localização de
cidade de Nevada em 1995. Atualmente, esta vazamentos em geomembranas cobertas com
técnica tem sido mais comumente empregada água ou materiais de terra) (ASTM, 2016),
nos Estados Unidos, Chile, Peru e Argentina. estabelece metodologia adequada para o
536
controle de qualidade da integridade geomembrana de PEAD para proteger o solo.
geomembranosa após a aplicação de material de Apenas 18% dos projetos avaliados tinham
cobertura. Desta forma, os Métodos Dipolo apenas uma camada de geomembrana. A
(nome dado ao método geoelétrico de inspeção espessura das geomembranas instaladas nos
em que testa-se a geomembrana coberta com projetos estudados variou entre 1,5 e 2mm.
solo ou líquido): Soil Survey e Water Survey,
podem ser utilizados para inspecionar
geomembranas cobertas com terra ou água, por
exemplo. Este método consiste na aplicação
uma tensão elétrica no material que reveste a
geomembrana para identificar vazamentos de
corrente elétrica existentes. Através deste
método é possível localizar os danos e repará-lo
antes do início de seu uso. (Laine et al., 1993).
Os métodos elétricos para localizar vazamentos
em geomembranas têm sido praticados em todo
o mundo por muitos anos (Laine e Darilek,
1993). A aplicação destes métodos tem sido um
requisito obrigatório para aterros sanitários em,
pelo menos, 4 estados nos Estados Unidos da
Figura 1. Localização dos Projetos avaliados.
América, como, por exemplo, Nova Jérsia,
Nova Iorque, Califórnia (Koerner at al, 2016). Nos projetos avaliados, em que apenas uma
Assim sendo, este estudo apresentará os geomembrana foi utilizada, o perfil de
resultados de três anos de aplicação dos impermeabilização foi: solo, geotêxtil,
Métodos Geoelétricos para avaliar a integridade geomembrana e solo de cobertura. Para os
da camada de impermeabilização em barragens projetos onde houve aplicação de dupla camada
de rejeitos na indústria de mineração, antes do de geomembrana, o perfil incluiu instalação de
início de suas operações. O método geoelétrico geotêxtil drenante entre as geomembranas ou
específico e que foi utilizado ao longo do instalação de GCL abaixo da geomembrana
desenvolvimento deste estudo, chama-se secundária.
Método Dipolo, de acordo com a ASTM Este trabalho avaliou os resultados da
D7007, e será chamado aqui de “Soil Survey”. aplicação do método Soil Survey apenas na
camada de geomembrana primária, a qual
estava coberta com material sólido (como areia,
2 MATERIAL E MÉTODOS argila ou similar) compactado. A área total
pesquisada, incluindo todos os projetos, foi de
Todos os estudos de Soil Survey apresentados aproximadamente 300.000 m2.
aqui foram conduzidos, em sites da Indústria de Os métodos geoelétricos envolvem a
Mineração, por colaboradores da empresa Leak aplicação de uma tensão elétrica no material de
Location Services Inc., nos Estados Unidos cobertura que reveste a geomembrana. Esta
(estados de Nevada e Michigan) e no México, tensão produz um campo elétrico sem
de acordo com a distribuição percentual anomalias quando não há vazamentos presentes.
apresentada na Figura 1. Se a geomembrana tiver um furo, a corrente que
Como pode ser visto, a maioria dos dados flui através deste produzirá uma anomalia no
apresentados é originária de Nevada (64% dos campo elétrico medido. Assim, os vazamentos
projetos) e cerca de um terço dos estudos foram podem ser detectados e localizados. Essas
obtidos no México (32% dos projetos). Apenas anomalias no campo elétrico são detectadas
um projeto foi desenvolvido no estado de através de medições sistemáticas sobre a área da
Michigan (4% dos projetos). geomembrana. A figura 2 é um diagrama que
A maioria das áreas investigadas, ou seja, ilustra o método.
82% dos projetos possuem dupla camada de
537
para a geomembrana primária, foi de 41 furos
por 10.000 m2. Todos os furos identificados,
neste projeto, foram ocasionados por punção
por rocha. A geomembrana utilizada no projeto
estava coberta por solo, mas sem proteção de
geotêxtil entre a mesma e o solo. Houve
aplicação da geotextil apenas abaixo da
geomembrana.
Figura 2. Diagrama ilustrando a metodologia de pesquisa
de solo (Leak Location Service, Inc)
538
Comparando-se os resultados de densidade encontrados reforçam a necessidade de
do presente estudo com os apresentados por melhorias contínuas nos procedimentos de
Zidan e Frigo (2016), tem-se que 50% dos controle de qualidade da instalação das
projetos apresentou densidade de furos dentro geomembranas e de maiores controles na
da faixa citada nesta literatura, ou seja, 0,5 a 8 aplicação do solo de cobertura.
furos/10.000 m2. A partir dos resultados apresentados neste
Tais resultados comparativos envolvendo os estudo, tais projetos da Indústrias de Mineração
dados deste estudo e a literatura disponível e tiveram a oportunidade de reparar cerca de 220
acima citada, parecem estar refletir a melhoria furos em um total de 300 hectares de área
nos procedimentos de controle de qualidade da inspecionada.
instalação da geomembrana decorrentes dos Desta forma, conclui-se que a inclusão do
últimos 10 anos. método do Soil Survey, no Plano de Garantia da
As Figuras 6 e 7 mostram imagens de furos Qualidade da obras de implantação da Indústria
típicos e identificados a partir da aplicação do da Mineração, permitiria a identificação e
método de Soil Survey para inspecionar correção de furos e, consequente minimização
geomembranas cobertas com material sólido. A dos riscos ambientais e econômicos decorrentes
Figura 6 mostra um dano por perfuração de de futuros vazamentos. Isso significa dizer que,
pedra como ocorrido no projeto estudado no uma vez identificado e reparado um furo, o
México e que apresentou densidade de furos empreendedor economizará quantias
superior a 31 vazamentos / hectare. A Figura 7 significativas de dinheiro, pois evitará a
mostra um dano por corte, como o encontrado necessidade de remediar e limpar os danos
em outro projeto do México em 2017. causados por esse vazamento no futuro.
4 CONCLUSÕES
539
5 BIBLIOGRAFIA
540
Interação Solo-Geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: The Expanded polystyrene (EPS) is used in geotechnical applications in the form of
geofoam and has been shown itself very efficient in pavements subbase and bridge abutments.
However, in these applications, it may contact with hydrocarbons requiring an impermeabilization
system, that is made with geomembranes. In this context, the EPS-GM set is requested by dynamic
543
loads caused by vehicle traffic. Therefore, this work evaluated the shear strength of the EPS
interface with GM of high density polyethylene (HDPE) by means of Direct Shear Test according
to ASTM D3080. Geofoam specimens with the dimensions (100x100x25)mm of three different
densities (10, 18 e 33,5 Kg/m3) were used and plane matrix geomembrane with 3 millimeters
thickness. The results show that under low normal stresses levels, the interface friction values are
very similar for different densities. However, as long as the normal stress increases, is observed the
distance between the shear stress and a significant increase of the friction value as the EPS density
rise. It is possible to highlight the slight tendency of shear stresses decrease to a displacement of 10
mm situation (residual stress). It should also be noted that the interface friction values obtained for
the highest density are close to values obtained for sandy soils (30 degrees of internal friction
angle). Thus, the results suggest that the interface analyzed is suitable for use in practical
applications.
544
valores de atrito de interface obtidos 2 MATERIAIS E MÉTODOS
apresentaram valores do ângulo de atrito da
ordem de 25 a 35o. Ainda assim, apesar de A determinação da resistência ao cisalhamento
todos os trabalhos reiterarem a importância dos da interface EPS/Geomembrana foi realizada
estudos das interfaces para garantia da por meio do ensaio de cisalhamento direto,
estabilidade global, frente a fragilidade dessa normatizado pela ASTM D 3080 de 1998 para
superfície às solicitações impostas, nota-se que solos. Para realização dos ensaios foram
o manancial de informações sobre o EPS nesta utilizadas amostras de EPS, nas densidades 10,
aplicação está restrito, ainda que de forma 18 e 33,5 Kg/m3, em formato de paralelepípedo
incompleta, ao contexto internacional. A com dimensões (100x100x25)mm e
literatura internacional e nacional sobre o geomembranas texturizadas de matriz plana,
assunto não apresenta referências atuais sendo com espessura de 3mm, cortadas em formato
os trabalhos mais relevantes estes supracitados. quadrado com superfície (100X100)mm. Para
As geomembranas de PEAD mencionadas cada densidade, realizaram-se 5 ensaios
podem apresentar superfície lisa ou texturizada, aplicando-se as tensões normais (axiais) de 11,
sendo que o uso desta justifica-se onde há 22, 33, 44 e 55 kPa. Essas tensões foram
necessidade de maior o atrito de interface da utilizadas em função do braço de alavanca do
geomembrana. O atrito na interface é a tensão equipamento bem como para buscar-se níveis
resistente que ocorre entre a geomembrana e de tensão baixos para as amostras com menor
qualquer outro material empregado (exemplos densidade (por exemplo, 10 kg/m3). Além disso,
são: solo, concreto, EPS, geotexteis, entre as cinco tensões normais aplicadas definem
outros) devido ao deslizamento relativo entre melhor a envoltória de ruptura.
eles. Para o caso das membranas texturizadas, Para montagem do corpo de prova a ser
denomina-se processo de texturização em ensaiado, foi necessário auxílio de um bloco de
matriz plana aquele em que as ranhuras em alto madeira posicionado abaixo da geomembrana.
relevo são feitas através de rolos. Para garantir a Dessa forma, posicionou-se o bloco de madeira,
rugosidade da superfície, a geomembrana passa a geomembrana e, logo acima, o bloco de EPS
por entre os rolos texturizados que dão o de dimensões (100X100X25) mm, sem nenhum
acabamento final uniforme de sua superfície em material colante para união das superfícies. Para
ambos os lados. Nesse processo de fabricação, é garantir que houvesse sempre contato entre a
possível observar que, em qualquer ponto, a geomembrana e a superfície do EPS, utilizou-se
altura das saliências e espessura da 2 parafusos nas laterais da caixa de
geomembrana é sempre constante (Figura 1). cisalhamento. Os materiais são apresentados na
Figura 2.
545
envoltória foi traçada apenas com esses dois
pontos, fato que influenciou a precisão dos
resultados.
Salienta-se que, para a realização dos ensaios
com os corpos de prova de 10 kg/m³,
necessitou-se usar tensões mais baixas. Dessa
forma, era imprescindível o uso das tensões
como 11kPa e 22kPa. Por conseguinte, para
complementar a envoltórias, foram usadas
também tensões de 33 a 55kPa (seguiu-se um
Figura 3. Aparelho de cisalhamento direto. padrão de incremento de 11kPa). Além disso,
caso fossem usadas tensões muito elevadas,
Seguindo a norma descrita neste item, os inclusive os blocos de 18kg/m³ iriam se
ensaios consistiram, resumidamente, na deformar tanto que o ensaio seria inviabilizado.
tentativa de deslizar um material em relação ao
outro (EPS em relação à geomembrana)
aplicando uma tensão normal constante e
aumentando-se a tensão de cisalhamento até
ocorrer a ruptura ou atingir o deslocamento
horizontal máximo de 10mm (situação de
tensão residual). Esse valor foi definido tendo-
se em vista que a fase elástica do EPS acontece Figura 4. Comparação entre EPS de 10kg/m³ após ensaio
a partir de 1% de deformação e, normalmente, aplicando tensão normal de 33 kPa e sem uso.
os valores de tensão para projetos são obtidos
para deformações de até 5%. Assim, foi fixado
um valor de 10% para a obtenção dos valores Como citado anteriormente, para cada ensaio
residuais de tensão. realizado, estudou-se as tensões de pico, ou
Dessa forma, a cada ensaio obteve-se um seja, a máxima tensão de cisalhamente obtida
ponto da envoltória de resistência formado pelo durante todo o ensaio e as tensões residuais,
par ordenado (tensão normal, tensão de aquelas respectivas ao deslocamento horizontal
cisalhamento). Após ensaiar as 5 tensões de 10mm (10% da dimensão da amostra).
normais, gerou-se a curva Tensão Normal x Observou-se que para a interface geomembrana
Tensão de Cisalhamento, ou seja, a envoltória plana texturizada e EPS, não houve ruptura
de resistência, para os casos de pico e residual. brusca e, em todas as densidades, constatou-se
que a tensão máxima é atingida na primeira
metade do ensaio e, a partir de então, o
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO diagrama de tensão x deformação tende a um
valor constante bem próximo da máxima,
Com os resultados dos ensaios, foi possível porém com uma queda discreta quando atingida
traçar a envoltória de resistência referente a a deformação residual.
cada combinação de densidade e configuração. As figuras seguintes (5 a 7) exibem as
Durante os ensaios, constatou-se que a menor envoltórias de pico e residual para todas as
densidade (10 kg/m³), quando submetida às densidades estudadas na interface com
tensões normais elevadas (33 kPa, 44 kPa e 55 geomembrana plana texturizada. A Tabela 1
kPa), sofria uma deformação vertical muito apresenta os valores dos parâmetros de
elevada, como é possível observar na Figura 4, resistência obtidos.
o que acabava inviabilizando a continuidade do Ao examinar-se as figuras, é possível
ensaio. Dessa forma, para análise das perceber que as envoltórias de pico e residual
resistências do EPS de densidade 10 kg/m³ apresentam-se muito próximas entre si.
considerou-se somente os ensaios realizados Avaliando-se os valores da Tabela 1, nota-se
com as tensões de 11 kPa e 22 kPa, e a que em todas as densidades analisadas essa
redução ficou em torno de 6%, mostrando que a
546
resistência se apresentou pouco sensível ao Tabela 1. Valores de Coesão de angulo de atrito para a
deslocamento horizontal. interface.
ρ(Kg/m³) 10 18 33,5
τ ( kPa) τp τr τp τr τp τr
c (kPa) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
φ (°) 25,0 23,6 24,3 22,9 28,6 26,9
Redução
5,7 5,9 5,8
de φ (%)
Onde: ρ-massa específica; c-coesão; φ-ângulo de atrito
interno; τ p -tensão de pico; τ r -tensão residual.
547
aumento da massa específica. Desconsiderando e Barrett, 2008). Esses autores avaliaram
os dados para a densidade de 10 kg/m³ (pois, diversas densidades com diferentes interfaces
como explicado, o uso de pois pontos na com o EPS. Concluem de forma geral que as
envoltória podem conduzir a erros), verifica-se maiores densidades (acima de 25 kg/m3)
diminuição de 15% do ângulo de atrito apresentam valores de atrito de interface
partindo-se da maior densidade (33,5 kg/m³) levemente superiores àqueles obtidos para
para a intermediária (18,0 kg/m³). densidades menores. A coesão obtida parece
não sofrer grandes alterações apresentando
sempre valores próximos à unidade.
4 CONCLUSÃO
548
do laboratório pela disponibilização do material
e ajuda necessária para a pesquisa. À FAPESP,
pelo apoio financeiro para realização da
pesquisa. À empresa Termotécnica, com matriz
em Joinville, Santa Catarina, pelo fornecimento
dos corpos de prova já dimensionados para os
ensaios que foram realizados.
REFERÊNCIAS
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550
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Este trabalho avalia o acréscimo de rigidez proporcionado pela variação do teor de
umidade (sucção matricial) e estrutura granulométrica de um solo tropical coesivo (laterítico
argiloso) e uma geogrelha. Para tanto, foram realizados ensaios de arrancamento monotônico num
equipamento de pequenas dimensões, sob três níveis de condição de moldagem do solo (Ótimo
“O”, Seco “S” e Seco pós-compactação “SP”) e dois níveis de tensões confinantes (14 e 28 kPa),
além de ensaios de tração faixa larga. Os ensaios de arrancamento monotônico avaliaram a
interação solo-geossintético sob deslocamento constante, para o cálculo da rigidez confinada da
geogrelha (Jc). Os ensaios de tração faixa larga foram realizados para avaliar a rigidez não
confinada da geogrelha (Jn). A condição de moldagem “S”, compactada com uma maior energia de
compactação em relação as outras condições, o que, consequentemente, alterou sua estrutura do
solo, apresentou o melhor desempenho. Apesar da geogrelha apresentar um módulo de rigidez não
confinado menor que os módulos confinados, a diferença entre as curvas foi pouco expressiva.
Assim, conclui-se que a geogrelha apresentou uma rigidez pouco influenciável pelas tensões
confinantes no solo em análise.
ABSTRACT: This work evaluates the increase of stiffness provided by the variation of moisture
content (matrix suction) and grain size structure of a cohesive tropical (lateritic clay) soil and a
geogrid. For this, monotonic Pullout tests were carried out on a small equipment under three soil
condition ("O" Optimum, "S" Dry and "SP" Dry Post-Compaction) and two levels of confining
stresses ( 14 and 28 kPa), in addition Wide Width Tensile tests. The monotonic pullout tests
evaluated the soil-geosynthetic interaction under constant displacement, for the calculation of the
confined stiffness of the geogrid (Jc). The wide width tensile tests were performed to evaluate the
unconstrained stiffness of the geogrid (Jn). The "S" molding condition, compacted with a higher
compaction energy in relation to the other conditions, which consequently altered its soil structure,
presented the best performance. Although the geogrid has an unconfined stiffness modulus smaller
than the confined modules, the difference between the curves was not very significant. Thus, it can
be concluded that the geogrid has a stiffness that can not be influenced by the confinement of the
soil under analysis.
KEY WORDS: Geosynthetics; Geogrid; Lateritic Soil; Unsaturated soil; Confined Stiffness
551
relativamente alta, que atua no retardamento do teor de umidade e a estrutura final do solo, no
desenvolvimento de deformações laterais e, ramo seco da curva de compactação. A etapa
consequentemente, resultam em menores experimental será realizada com o equipamento
deformações verticais na base adjacente ao de pequenas dimensões, disponível no
geossintético. No entanto, a aplicação de Laboratório de Geossintéticos da Escola de
geossintéticos em obras de pavimentos ainda é Engenharia de São Carlos, de forma a reduzir o
onerosa, o que restringe seu uso na grande tempo de montagem dos ensaios e obter um
maioria dos casos (Portelinha, 2012; Vilar e maior controle do equilíbrio da sucção.
Bueno, 2008). Os resultados desta pesquisa terão aplicação
Segundo Villibor et al. (2009), existe em no âmbito de estruturas de pavimentos, uma vez
abundância, no Brasil, materiais naturais que visam contribuir para a escolha da condição
conhecidos como solos tropicais. Uma série de de moldagem e do geossintético mais adequado
vias urbanas e rurais pelo país, já utilizam estes para o solo em estudo.
solos em sua estrutura, denominados
pavimentos de baixo custo. Estes solos, podem
apresentar elevada capacidade de suporte e 2 MATERIAIS E MÉTODOS
baixa expansibilidade, podendo ultrapassar os
valores da própria brita padrão, tal como 2.1 Classificação do solo
concluíram Dias (2007), Viana (2007), Dutra
Com o intuito de utilizar um solo com
(2014), dentre outros. No entanto, segundo
características tropicais na etapa experimental,
Oliveira (2013), são raros os estudos que
foi escolhido um solo tropical visualmente
avaliam a aplicação de geossintéticos como
argiloso, classificado como um silte de alta
reforço de pavimentos em solos tropicais de
plasticidade (MH), segundo o Sistema
granulometria fina (pavimentos de baixo custo).
Unificado de classificação e Solos (SUCS) e
De modo geral, os teores de umidade de
como uma argila arenosa-siltosa, segundo a
bases de pavimentos encontram-se abaixo da
norma brasileira ABNT NBR 6502:1995. Este
umidade ótima de laboratório, mesmo em
material foi coletado na rodovia Luiz Augusto
períodos de chuva (Villibor, 1981). Dessa
de Oliveira (SP-215), sentido São Carlos –
forma, estudar a possibilidade do uso de solos
Ribeirão Bonito.
tropicais locais coesivos, de granulometria fina,
A Tabela 1 apresenta um resumo das
em obras de infraestrutura reforçadas com
propriedades geotécnicas do solo utilizado,
geossintéticos, aliado ao efeito de secagem do
obtidas a partir dos ensaios realizados nos
solo, constitui um grande atrativo sob o ponto
Laboratórios de Mecânica dos Solos e
de vista econômico, além de trazer vantagens
Laboratório de Estradas. O solo,
competitivas no mercado, uma vez que a
predominantemente argiloso, possui 70% de
exploração de jazidas naturais, extração e
finos, com D50 = 0,007 mm d Dmax = 0,6 mm.
transporte de materiais apropriados costumam
ser serviços de custo elevado. Tabela 1. Propriedades geotécnicas do solo.
Neste contexto, considerando que para o
emprego de geossintéticos em reforço de base
de pavimentos, a rigidez inicial do sistema, a
partir de um esforço de solicitação ao
arrancamento, torna-se, muitas vezes, mais
importante que a resistência máxima ao
arrancamento, para ser utilizada como
parâmetros de projeto, esta pesquisa pretende
avaliar a rigidez confinada de uma geogrelha
biaxial no interior de um solo tropical coesivo
(argiloso laterítico). Para isso, foram realizados
ensaios de arrancamento monotônico, sob
diferentes condições de moldagem, variando o
552
O emprego de solos finos locais, na condição semelhantes no momento do ensaio. No
natural ou mesmo estabilizados impõe a entanto, para se atingir uma condição de ensaio
necessidade de um estudo mais detalhado de no mesmo grau de compactação que a condição
suas propriedades geotécnicas, uma vez que o “SP”, o ensaio teve que ser submetido à uma
elevado teor de partículas finas, maior que 35%, energia de compactação maior (Trajetória S), o
caracterizam o solo em análise como não que proporcionou uma estrutura do solo mais
convencional. Deste modo, para se conhecer a floculada.
aplicabilidade deste solo em estruturas de
pavimentos, foi utilizada a classificação MCT
(Miniatura, Compactado, Tropical), que aborda
uma diferente classificação para solos tropicais,
proposta por Nogami e Villibor (1981). Através
destes resultados, o solo foi classificado como
Laterítico Argiloso (LG’), o que permite sua
utilização em base de pavimentos de baixo
custo.
553
2.4 Equipamento de arrancamento Na lateral desta caixa existem dois orifícios,
com diâmetro de 7 mm, no qual foi possível
Como os ensaios de arrancamento foram inserir um tensiômetro para conferir as pressões
realizados para diferentes sucções, exigindo um de água intersticial desenvolvidas no solo
controle mais preciso do teor de umidade do coesivo durante o ensaio de arrancamento. O
solo presente na caixa e a utilização de uma tensiômetro foi instalado logo abaixo da
temperatura de secagem do solo constante, interface solo-reforço, com o auxílio de um pré-
optou-se pelo uso de uma caixa de pequenas furo realizado por uma furadeira elétrica.
dimensões. Os deslocamentos da geogrelha eram
Apesar da norma de arrancamento medidos em quatro pontos distintos (D1, D2,
monotônico ASTM D6706 (2001), especificar D3 e D4). A geogrelha foi confinada 210 mm
dimensões maiores que as presentes na caixa de longitudinalmente e 260 mm transversalmente
pequeno porte, Kakuda (2006) atestou um bom no interior da caixa, conforme Figura 3. Todos
desempenho desta caixa, criada por Teixeira os pontos foram posicionados a cada 45 mm e
(2003), para o uso de solos coesivos em ensaios somente os sensores D2 e D3 foram utilizados
de arrancamento monotônico. Depois disso, na presente análise, de modo a minimizar os
uma série de pesquisas foram realizadas com efeitos dos bordos nos cálculos da rigidez
este equipamento, com destaque para Ferreira confinada.
(2007), que comparou a rigidez confinada entre
diferentes geogrelhas e Pereira (2010) que
avaliou o resistência ao arrancamento de uma
geogrelha sob diferentes condições de umidade.
O equipamento de pequeno porte consiste
numa caixa rígida de aço, cujas dimensões
interiores são de 24,5 cm de comprimento, 30
cm de largura e 14,5 cm de altura, não atingindo
as mínimas especificações requeridas pela
norma (Figura 2). Na superfície superior foi
colocada uma tampa de reação acoplada em
uma bolsa de ar para a aplicação da tensão Figura 3. – Pontos de medição dos deslocamentos na
confinante. Essa bolsa possui um orifício para a geogrelha
entrada do ar sob pressão controlada por um
manômetro. Na região traseira, há um suporte 2.5 Procedimento do ensaio de arrancamento
para o encaixe dos quatro tell-tales, que são
ligados ao geossintético por meio fios O ensaio de arrancamento monotônico foi
inextensíveis. realizado de acordo com os procedimentos
descritos na norma ASTM D6706 (2001). As
sobrecargas aplicadas foram de 14 e 28 kPa,
possuindo como fator limitante a resistência
máxima da geogrelha no ensaio de tração faixa
larga, de modo que tensões confinantes maiores
resultariam em rupturas da geogrelha na região
não confinada, antes da ocorrência do
arrancamento. Entretanto, estas sobrecargas
encontram-se dentro da ordem de grandeza de
valores usualmente encontrados na literatura
(Ferreira; Bueno; Zornberg, 2008; DNIT ME
134, 2010), que buscam representar as tensões
atuantes em camadas de solo de base e sub-base
de pavimentos.
Figura 2. – Caixa de pequenas dimensões posicionada Os ensaios tiveram início somente após a
para o ensaio estabilização das leituras do tensiômetro. A
554
velocidade dos ensaios adotada como referência como forma de aproximação para uma análise
foi 1,0 mm/min. quantitativa (Equação 1).
Para os ensaios na condição de moldagem
“SP”, a caixa, com todo o solo compactado, foi Força de Arrancamento (kN/m)
posicionada no interior da estufa à uma Jc = (1)
Deformação entre D3 e D2 (%)
temperatura constante de 30°C, de modo a
simular uma secagem à temperatura ambiente e
Os geossintético são reforços extensíveis,
temperaturas comumente encontradas no
cuja deformação no trecho confinado é maior
interior da estrutura de pavimentos. A perda de
em faixas próximas da face e menor em faixas
umidade era controlada através da massa da
no fundo da caixa. Apesar da força aplicada no
caixa inicial em relação ao peso final no
centro do geossintético ser menor que a força de
momento da pesagem.
arrancamento, o erro induzido ao Jc é
Após o solo atingir o teor de umidade
relativamente baixo, devido ao pequeno
desejado, a caixa era embalada com papel filme
comprimento confinado, presente na caixa de
e introduzida no interior de dois sacos plásticos
pequenas dimensões (Ferreira, 2007). A
firmemente fechados, de modo a impedir a
finalidade do ensaio não é de levar a geogrelha
troca de umidade com o meio, para que a
à ruptura, pois para grandes deslocamentos o
sucção se equilibre homogeneamente por todo o
ensaio não simularia o confinamento em toda
volume do solo.
extensão da geogrelha, uma vez que a bolsa
confinante para aplicação da tensão de
confinamento atuaria em uma área limitada
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
sobre a amostra. Com o ensaio de
arrancamento, pretende-se apenas estudar o
Para o emprego de geossintéticos em reforço de
comportamento carga-alongamento da
base de pavimentos, a rigidez inicial do sistema,
geogrelha confinada à baixas deformações, uma
a partir de um esforço de solicitação ao
vez que em obras reais de reforço de solos ou
arrancamento, torna-se mais importante que a
pavimentação com geossintéticos, não têm sido
resistência máxima ao arrancamento. Os
verificadas deformações maiores que 2% a 3%
métodos de dimensionamento de reforço de
(Lanz, 1992, Martins, 2000; Mendes, 2006).
base de pavimentos, tais como de Giroud e Han
Como descrito anteriormente, durante o
(2004), French Geotextile Committee (1981) e
ensaio de arrancamento foram feitas leituras das
Swiss Society of Geotextiles Professionals
cargas de tração, por meio da célula de carga, e
(1985), por exemplo, utilizam ensaio de tração e
dos deslocamentos ao longo do geossintético
o módulo de rigidez não confinado (Jn) do
por meio de quatro tell-tales entre distâncias
geossintético no dimensionamento da camada
iniciais conhecidas. A deformação foi obtida
de base.
através da diferença de deslocamentos entre os
Como o reforço empregado na obra está
sensores D2 e D3, cuja a distância relativa
numa condição confinada, o comportamento
inicial, de 4,5 cm, era conhecida no interior do
mecânico do geossintético inserido na estrutura
geossintético. Um exemplo da curva obtida no
do pavimento difere do observado nos ensaios
ensaio da geogrelha na condição de moldagem
de resistência à tração. Assim, presume-se que
S, com tensão confinante de 14 kPa é expresso
as deformações da geogrelha, numa situação de
na Figura 4. Com estas leituras, foi possível
campo, sejam menores que as obtidas nos
determinar a curva Carga de tração (kN/m) vs.
ensaios de resistência à tração não confinados.
Deformação (%), com a qual determina-se a
Apesar do ensaio de arrancamento não ser o
curva Rigidez secante (kN/m) vs. Deformação
ensaio mais indicado para este cálculo, o
(%). Assim, foi possível comparar estas curvas
módulo de rigidez confinado (Jc) foi definido
com as obtidas nos ensaios de tração simples
como a razão entre a força de arrancamento e a
(faixa larga).
deformação do geossintético entre dois
A Figura 5 ilustra o comportamento das
sensores, para cada instante do ensaio, tal como
curvas de módulo de rigidez não confinado e
fizeram Ferreira, Bueno e Zornberg (2008),
deformação da geogrelha, com base nos
555
resultados do ensaio de tração faixa larga não (módulo de rigidez confinado) da geogrelha
confinado realizados no Laboratório de empregada na pesquisa em diferentes condições
Geossintéticos – EESC-USP. A rigidez não de moldagem, para a tensão confinante de 14
confinada foi obtida através da razão entre a kPa e 28 kPa. Nestes gráficos, a curva Jn
força de tração e a deformação entre dois utilizada foi a do corpo-de-prova que forneceu
pontos conhecidos, no ensaio de tração faixa os valores intermediários dentre os quatro
larga (ABNT 10319, 2013). Apesar dos CPs espécimes ensaiados à tração faixa larga para a
dos ensaios de tração atingirem resistências caracterização do geossintético. Os resultados
máximas muito próximas, na ordem de 34,5 apresentaram curvas de rigidez em uma ordem
kPa, com desvio padrão de 0,15 kN, as de grandeza semelhante às curvas obtidas por
pequenas diferenças nas deformações máximas, Ferreira, Bueno e Zornberg (2018), ensaiadas
na ordem de 6,3%, com desvio padrão de 1,1%, na mesma caixa de pequenas dimensões, porém
resultaram numa maior variabilidade das com solo granular nas camadas superiores.
curvas.
556
Na Figura 6 (a), para as tensões confinantes em 101% e para o condição “SP” na tensão
de 14 kPa, apesar das curvas de rigidez confinante de 14 kPa, cuja rigidez decresceu em
confinada para todas as condições de moldagem 16% de “Jn” numa deformação de 2%. Além
apresentarem um módulo inicial maior que a disso, para uma mesma condição de moldagem,
curva de rigidez não confinada, a partir de 1% as mudanças da confinante de 14 para 28 kPa
de deformação, somente a condição “S” proporcionaram um aumento da rigidez em
apresentou um acréscimo na rigidez. Já para as todos os casos.
tensões confinantes de 28 kPa (Figura 6, b), a Na figura em geral, apesar da condição “Jn”
rigidez do ensaio de tração faixa larga não fornecer os menores valores de rigidez com a
superou a rigidez das condições de moldagem deformação, a curva se manteve contígua às
com uma deformação de 2%. curvas correspondentes aos ensaios confinados,
Para os dois casos, os ensaios na condição o que sugere que, para a geogrelha compactada
“S” apresentaram o maior incremento de rigidez no teor de umidade ótimo e sob pequenas
provocado pelo confinamento, o que concorda tensões confinantes, o ensaio de tração faixa
com os resultados obtidos em Portelinha et al. larga não confinado pode ser representativo de
(2018), onde os ensaios compactados sua condição confinada, com diferenças de até
diretamente em um teor de umidade menor que 35%.
o teor de umidade ótimo, apresentaram
melhores desempenhos em relação aos ensaios
na condição ótima.
A condição “SP” apresentou uma curva de
rigidez semelhante à condição “O” nas duas
confinantes. Entretanto, pela primeira possuir
uma maior sucção matricial no solo adquirida
pela secagem, esperou-se a obtenção de uma
rigidez semelhante à da condição “S (ensaiada
com igual sucção), o que, de acordo com a
Figura 6, não ocorreu.
Isto pode indicar a existência de outros
parâmetros envolvidos na interação solo-
geogrelha. Estes apresentando uma influência
ainda mais espressiva na resistência de interface
que a sucção matricial do solo, tais como a
estrutura do solo ou a energia de compactação.
A quantificação destes parâmetros requer uma
análise estística paramétrica dos ensaios de
arrancamento, o que não contempla os objetivos
principais deste trabalho.
Em termos de números, tomando como base
o módulo de rigidez secante para uma
deformação de 2%, valor usualmente
requisitado para projetos de engenharia, a
Figura 7 (a) ilustra que somente os ensaios da
condição “S” de moldagem apresentaram um
módulo de rigidez acima do não confinado, cuja
representação gráfica é dada pela linha
horizontal tracejada (594,4 kN/m). A Figura 7
(b) ilustra o acréscimo de rigidez obtido em Figura 7. – (a) Módulo de rigidez secante obtido para
relação a condição não confinada “Jn”, com uma deformação de 2% (b) Acréscimo de rigidez em
destaque para a condição “S” na tensão relação à rigidez não confinada para uma deformação de
confinante de 28 kPa, que incrementou a rigidez 2%
557
4 CONCLUSÃO Antunes, L. G. S. (2008) Reforço de pavimentos
rodoviários com geossintéticos. Dissertação de
Mestrado – Universidade de Brasília. Brasília, Brasil.
Este estudo avaliou a rigidez confinada dos 2008.
geossintéticos, em diferentes condições de ASTM D 6706 (2001) - Standard Test Method for
moldagem, através de ensaios de arrancamento Measuring Geosynthetic Pullout Resistance in Soil.
monotônico. Após a comparação destes Chang, D. T.; Wang, W. J.; Wang, Y. H.(1998)
resultados com a rigidez não confinada, obtida Laboratory study of the dynamic test system on
geogrid reinforced subgrade soil. In:
por meio do ensaio de tração faixa larga, têm-se INTERNATIONAL CONFERENCE ON
as seguintes conclusões: GEOSYNTHETICS, 6, Atlanta. Proceedings... p.
O fato da condição de moldagem “S” 967-970.
apresentar rigidez, em média, 75% maiores que Dias, I. M. (2007) Estudo de solos tropicais para uso em
a condição “SP”, ambas ensaiadas com a pavimentação a partir de ensaios triaxiais estáticos.
Dissertação de mestrado – Escola de Engenharia de
mesma sucção de 75 kPa, indica que outros São Carlos, USP, São Carlos.
parâmetros podem estar influenciando na DNIT 134/2010 – ME (2010), Pavimentação – Solos –
interação entre o solo e o geossintético, tais Determinação do módulo de resiliência – Método de
como a estrutura do solo ou mudanças nas ensaio.
propriedades do solo laterítico causadas pelo Dutra, S. V. M. (2014) Estado da arte sobre a utilização
de solos lateríticos em pavimentos rodoviários.
aumento da energia de compactação. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Engenharia
Apesar da condição de rigidez não confinada da Universidade do Porto, Porto, Portugal.
(Jn) fornecer os menores valores de rigidez com Ferreira, J. A. Z. (2007) Estudo de reforço de pavimentos
a deformação, a curva do ensaio de tração faixa com ensaios de arrancamento em equipamento de
larga se manteve adjacente às curvas pequenas dimensões. 112p. Dissertação (mestrado) –
Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de
correspondentes aos ensaios confinados, o que São Paulo, São Carlos.
sugere que o ensaio não confinado pode ser Ferreira, J. A. Z.; Bueno e Zornberg (2008) Pavement
representativo de sua condição confinada sob reinforcement study using small dimension pullout
baixas pressões verticais. No entanto, são equipment,In: The First Pan American Geosynthetics
necessários um número maior de ensaios, além Conference & Exhibition, Cancun, Mexico, p. 963-
972.
de análises da aplicação em casos reais de French Geotextile Committee. (1981) Recommendations
obras, para a validação desta afirmação em pour l’emploi des geotextiles dans les voles de
campo. De qualquer modo, a utilização da circulation provisoures, les voies a faible traffic et les
rigidez não confinada em projetos costuma ser couches de forme. Comite Français des Geotextiles.
considerada uma medida conservadora. Boulogne. France.
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Nossos agradecimentos à CAPES, pelo Jewell, R. A., Milligan, G . W. E., Sarsby, R. W. and
Dubois, D. (1984). Interaction between soil and
financiamento da pesquisa e ao Laboratório de geogrids. Proceedings of the Conference on Polymer
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559
560
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
KEY WORDS: Geosynthetics, Reinforced geomembranes, Shear strength, Interface, clay soil,
hydrated GCL.
561
1 INTRODUÇÃO interação. McCartney et al. (2009) demonstram
ainda, a importância de estudar interfaces de
Uma das áreas que recentemente tem demandado geomembrana com GCLs hidratados, pois o
alta empregabilidade do uso de geossintéticos, tempo de hidratação do GCL influencia no
especialmente as barreiras geossintéticas (ou desempenho da interface.
geomembranas), é em sistemas de Já com relação as diferenças entre as
impermeabilização de fundo e cobertura aterros geomembranas atualmente existentes no
sanitários, bem como em lagoas de tratamento, mercado, as conhecidas “geomembranas
reservatórios, lagos e canais. Nestes casos, o reforçadas” tem a principal função de promover
grande desafio é garantir a funcionalidade do impermeabilização de elevado desempenho,
sistema de impermeabilização, o qual evita a além de promoverem elevada resistência
infiltração de percolados. De modo geral, um mecânica e flexibilidade, aliada a baixíssimos
material que reúne todas estas características são coeficientes de permeabilidade. Estas
as geomembranas, amplamente utilizadas em geomembranas foram idealizadas para promover
liners. desempenho superior em aplicações de
O desempenho geral de um liner ou barreira contenção de líquidos e em coberturas
impermeável, no entanto, é dependente da temporárias e permanentes. A Figura 1 apresenta
interação entre os vários componentes. De um exemplo de estrutura de geomembrana
acordo com Touze-Foltz et al. (2016), a reforçada. No entanto, apesar da atual ampla
abordagem de projeto e os requisitos dos ensaios aplicação destas geomembranas, muito pouco se
precisam focar nas interrelações de tensões e conhece na literatura sobre os parâmetros de
deformações entre os compostos do liner, tais interface de sistemas com estes produtos, uma
como a resistência ao cisalhamento de interface. vez que estas apresentam textura peculiar
Essas geomembranas, quando dispostas em (devido ao processo de fabricação) em relação às
taludes, por exemplo, podem induzir um plano tradicionais geomembranas texturizadas.
preferencial de ruptura, onde pode ocorrer
deslizamento relativo dos materiais da interface Revestimento PEBD
(Santos e Araújo, 2015). Ainda de acordo com
Touze-Foltz et al. (2016), o contato entre o
geossintético e o solo do subleito afeta a força de
cisalhamento da interface. Núcleo de PEAD de
Na literatura, existem relatos que demonstram alta resistência
a importância do estudo de interfaces com
Revestimento PEBD
geomembranas, como estudado por Mitchell et
al. (1990) no caso da ruptura aterro de Kettleman Figura 1 – Esquema das camadas de revestimento
Hills, nos EUA. Assim, o conhecimento do polimérico de uma geomembrana reforçada.
comportamento da interface torna-se
indispensável, uma vez que este é um importante Assim, esta pesquisa teve como objetivo,
parâmetro para análises de estabilidade. De investigar os parâmetros de resistência ao
acordo com Thiel (2001), em projetos de cisalhamento de interfaces de diferentes sistemas
sistemas de barreiras impermeáveis com de barreiras impermeáveis com quatro tipos de
geossintéticos, devem ser verificados tanto geomembranas reforçadas. As interfaces
parâmetros de cisalhamento de interface de pico avaliadas foram solo-geomembrana e
como residuais. Além disso, Thiel (2001) geomembrana-GCL hidratado, por meio de
recomenda o uso de parâmetros de cisalhamento ensaios de cisalhamento direto. Além destes,
de interface residuais nas laterais de taludes. foram realizados ensaios para a caracterização
Dentre as diferentes interfaces encontradas geotécnica dos solos e dos geossintéticos. Os
nestes sistemas, estão solo-geomembrana, resultados permitiram comparar o
geomembrana-geotêxtil e interfaces de comportamento das diferentes interfaces
geocomposto bentonítico-geomembrana, as propostas e realizar análises de eficiência de
quais apresentam diferentes características de interfaces.
562
2 MATERIAIS E MÉTODOS O geocomposto bentonítico, ou também
chamado Geosynthetic Clay Liner (GCL)
2.1 Solo utilizado nesta pesquisa é constituído por uma
camada de bentonita de alta capacidade de
O solo utilizado nesta pesquisa consiste em uma expansão, encapsulada entre dois geotêxteis
argila residual de basalto, proveniente de uma (tecido e não tecido) unidos por agulhamento
jazida localizada no Jardim Parque Florida na (Figura 3).
cidade de Santa Gertrudes-SP. A Tabela 1 reúne
as características geotécnicas do solo utilizado.
563
ficassem em contato durante todo ensaio, sem a inundada (por 24 horas) para mobilização físico-
interferência de eventuais dobras ou química da bentonita presente no GCL. Os
deformações. A Figura 4 apresenta o modelo de ensaios com a interface GM-GCL foram
montagem do ensaio empregado. A Figura 5 realizados no contato com o geotêxtil tecido do
apresenta amostras de geomembranas e GCLs GCL.
após a realização dos ensaios, mostrando que não
houve dobras durante o cisalhamento.
3 RESULTADOS
Força Normal
3.1 Interface Solo-Geomembrana
Geossintético Cabeçote
As envoltórias de resistência ao cisalhamento
Força de interface solo-GM obtidas são apresentadas
Solo na Figura 6. Verifica-se que as interfaces Solo-
Caixa
GM4 e Solo-GM2 apresentaram melhor
Madeira comportamento de resistência de interface. Este
Rígida
fato é provavelmente devido a estas
geomembranas reforçadas apresentarem maior
Figura 4 – Montagem do ensaio de cisalhamento de
interface. textura (devido ao processo de fabricação),
acarretando nestes resultados. Das interfaces
analisadas na Figura 6, a Solo-GM1 e a Solo-
GM3 apresentaram o menor desempenho de
atrito de interface para tensões normais
superiores a 200 kPa, as quais foram obtidas
através de extrapolaçao da envoltória.
400
Solo
GM1
Tensão Cisalhante (kPa)
564
Ec ensaio, apresentou tendência a expansão
1,60 Solo-GM
Eϕ conforme as solicitações cisalhantes
1,36 aumentaram. Este comportamento da dilatância
Parâmetros de Eficiência de Interface
1,40
foi observado para as demais amostras, que
1,20 apresentaram magnitude inferior ao solo natural.
1,00 As interfaces que apresentaram maior
0,82 desempenho de resistência (GM2 e GM4)
0,80 0,69 também apresentaram magnitudes maiores e
0,67
0,60 0,51 semelhantes entre si. A interface com a GM1
0,43 0,41 apresentou menor tendência a dilatância, sendo
0,40 praticamente nula.
0,20 A partir dos valores de tensão pós-pico
0 apresentados pelas diferentes interfaces solo-
0,00 geomembrana, foi possível determinar as
GM1 GM2 GM3 GM4
envoltórias de tensões pós-pico de cada
Figura 6: Eficiências atritiva (Eϕ) e adesiva (Ec) para as interface, apresentadas na Figura 8.
interfaces solo–geomembranas.
400
Ainda na Figura 6, o menor valor de Eϕ foi Solo
encontrado para a interface com a Solo-GM3. Tensão Cisalhante (kPa) GM1
Paralelamente, esta interface também apresentou GM2
300 GM3
o maior valor para a eficiência adesiva (1,36)
GM4
apesar de ter exibido o menor desempenho de
resistência para as interfaces analisadas. A 200
interface com Solo-GM2 apresentou coesão
nula, o que justifica a eficiência adesiva nula
encontrada. 100
Com relação aos resultados de dilatância e Solo-GM
deformação vertical das amostras ensaiadas, a (PÓS-PICO)
Figura 7 exibe os valores do ângulo de dilatância 0
encontrados (parâmetros obtidos a partir dos 0 200 400 600 800
pontos definidos para ruptura por cisalhamento). Tensão Normal (kPa)
Figura 8: Envoltórias de resistência pós-pico para as
Solo GM1 GM2 GM3 GM4 interfaces solo–geomembranas.
0,05
Em termos de resistência pós-pico, observa-
0,040 Solo-GM se na Figura 8 que as interfaces com as GM2 e
0,04
Ângulo de dilatância - ψ ( )
565
Tabela 3. Resultados obtidos para as diferentes interfaces picos iniciais de resistência. Portanto, para a
solo-geobembrana. construção das envoltórias, optou-se pelos picos
Parâmetro GM1 GM2 GM3 GM4 globais de resistência observados durante os
apico (kPa) 16,5 0,0 27,3 10,2 ensaios de cisalhamento.
δpico (°) 12,1 18,5 11,7 19,2
Ec 0,82 0,00 1,36 0,51
30
Eϕ 0,43 0,67 0,41 0,69 100 kPa GM-GCL
ψ( ) 0,006 0,023 0,010 0,027
25
ares (kPa) 15,8 0,00 22,9 12,5
300
A fim de analisar o desempenho das diferentes GM4
geomembranas reforçadas atuando em interfaces 250
com GCL hidradato, foram realizados ensaios de GM-GCL
cisalhamento de interface em condições 200
inundadas (para mobilização expansiva da 150
bentonita). Diferentemente das interfaces com
solo, as curvas tensão-deformação para 100
interfaces GM-GCL não apresentaram, em sua
maioria, comportamento sem picos de 50
resistência bem definidos como é observado na
Figura 9. 0
0 200 400 600
Este fato é característicos da interação entre
as geomembranas e o geotêxtil tecido presente Tensão Normal (kPa)
no GCL que, devido seus filamentos, tende a Figura 10: Envoltórias de resistência ao cisalhamento de
interface para as interfaces Geomembranas-GCL.
oferecer resistência ao cisalhamento após os
566
McCartney et al. (2009) realizaram um 4 CONCLUSÕES
levantamento de resultados de ensaios de
resistência de interface GM-GCL com diferentes A fim de analisar o comportamento de
configurações, cujos resultados predominam no resistência ao cisalhamento de interface em
interior da região hachurada do gráfico da Figura sistemas de barreiras impermeáveis com
10. A partir da comparação presente na Figura geomembranas reforçadas, foram estudadas 4
10, é possível observar um comportamento geomembranas com diferentes espessuras e
típico para as geomembranas reforçadas, dentro texturas, em interfaces com solo argiloso ou
das constatações destes autores para outras GCL hidratado. Podem ser destacadas as
geomembranas. conclusções a seguir:
No caso da interface solo argiloso e
GM1 GM2 GM3 GM4 geomembrana reforçada, devido estas
0,03 apresentarem textura peculiar ao
GM-GCL processo de fabricação, os valores de
0,03 0,023 ângulo de atrito (de pico) de interface
Ângulo de dilatância - ψ ( )
567
AGRADECIMENTOS Civil)–Universidade de São Francisco. Itatiba,
2008.
Os autores agradecem ao LabGEO/UFSCar pelo FLEMING, I. R.; SHARMA, J. S.; JOGI, M. B.
apoio institucional e a bolsa de iniciação Shear strength of geomembrane–soil interface
científica concedida pelo CNPq/PIBIC. under unsaturated conditions. Geotextiles and
Geomembranes, v. 24, n. 5, p. 274-284, 2006.
Agradecimentos a Geosoluções e a Inovageo
KOERNER, R. (2005). Designing with
pelos geossintéticos fornecidos para esta geosynthetics. Ed. Prentice Hall Inc. 818 p.
pesquisa. MCCARTNEY, J.S., ZORNBERG, J.G., and Swan,
R.H. (2009). “Analysis of a Large Database of
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
ABSTRACT: Taking into consideration the potential reuse of EPS-based wastes and the
mechanical properties of this material, the present research project has the main objective of
evaluate the possibility of using these wastes in mixtures with soil, aiming the application of these
mixtures in paving and other geotechnical works. The project starts from the deliberation that the
recycling and the reuse of these wastes represent several environmental advantages, from a
sustainability perspective, enabling the reduction of degraded areas by reducing the volumes of soil
569
excavated, as a result of its partial replacement by equivalent volumes of EPS wastes. Furthermore,
the perspective of reuse of EPS wastes points to a scenario of reduction from the volumes occupied
by these materials in the landfills, for which they are usually taken for disposal. The experimental
program of this research contemplates the following activities: (i) collection and preparation of soil
samples and EPS waste; (ii) conformation of EPS waste to a standardized grain size; (iii) tests for
geotechnical characterization of the soil; (iv) compaction tests of soils and soil-EPS mixtures in the
pre-defined volumetric proportions; (v) direct shear tests of soil and soil-EPS mixtures. For the
conditions of the research (soil type, compaction energy, type of test, volumetric proportions soil-
EPS), the results appoint that for one mixture proportion, there was no reduction of the mechanical
properties of the mixture compared to pure soil, pointing for the potential of technical and
environmental viability of the proposed geotechnical product, which should be corroborated by
experimental programs involving other mechanical and hydraulic tests, besides other parameters,
distinct from those that were adopted on this research.
570
orgânica. pedologicamente como Latossolo Vermelho-
Avessani Neto (2008) destaca que o uso do Amarelo (LVA). A amostra desse solo foi
EPS na Engenharia Civil já possui uma coletada na jazida de empréstimo denominada
aplicação reconhecida na Construção Civil ETA, em um talude à margem direita da atual
devido a sua alta capacidade como isolante entrada para a Área de Eventos da Universidade
térmico e acústico e na absorção de impactos e Federal de Viçosa, na rodovia que liga os
recalques. Porém, o seu emprego como municípios de Viçosa e Paula Cândido, no local
geossintético (associado ao solo) tem uma de coordenadas 20º45’35”S; 42º52’28”W
utilização mais recente. Na engenharia (Figura 1).
geotécnica, esse material, manufaturado em
blocos de formatos prismáticos, chamado de
geoexpandido ou geofoam, possui propriedades
que permitem a sua utilização em diversas
aplicações. Por ser um material de baixa massa
específica (com uma relação de cerca de 100
vezes inferior à de solos, consequência de seu
processo de fabricação) e possuir uma
(a) (b)
resistência mecânica relativamente alta, sua Figura 1: Localização (a) e vista frontal (b) da jazida de
utilização como aterro é bem difundida, empréstimo do solo empregado na pesquisa.
principalmente em regiões com solo de
fundação de baixa capacidade de carga (solos Os ensaios realizados para fins de
moles), por exemplo. Destas características, caracterização física do solo pesquisado foram
espera-se que o geofoam resista às cargas como os que seguem:
aterro e não comprometa o solo de fundação. i) Granulometria conjunta segundo a
Apesar da utilização do EPS em blocos NBR 7181 (ABNT, 2016a);
maciços como estabilização do solo já estar ii) Limites de Atterberg: limite de
relativamente bem consolidada no mercado e na liquidez (LL) segundo a NBR 6459
prática da engenharia geotécnica, a utilização (ABNT, 2016b) e limite de
desse material triturado, em forma de grãos e plasticidade (LP) segundo a NBR
misturado ao solo, ainda é pouco estudada. 7180 (ABNT, 2016c);
As bem-sucedidas experiências envolvendo a iii) Massa específica dos grãos do solo
aplicação do EPS em Construção Civil, em segundo a NBR 6458 (ABNT,
geral, e na Engenharia Geotécnica, em 2016d).
particular, justificam, portanto, o
desenvolvimento de pesquisas destinadas a Na Tabela 1, apresentam-se os resultados da
avaliar o potencial técnico de aproveitamento caracterização geotécnica do solo pesquisado. A
de resíduos desse material em combinação com Figura 2 apresenta a curva granulométrica do
solos, visando a sua aplicação, na condição mesmo.
compactada, em camadas estruturais de
pavimentos e em obras de terra em geral. Tabela 1. Resultados da caracterização geotécnica do solo
pesquisado.
Limites de
s Granulometria
Atterberg
2 MATERIAIS E MÉTODOS
LL LP IP* Areia Silte Argila
2.1 Materiais (kN/m³)
(%) (%) (%) (%) (%) (%)
571
Na presente pesquisa, trabalhou-se com
misturas solo-EPS (Figura 4) nas proporções
volumétricas de 80%-20% e 60%-40%, na
condição seca e solta dos materiais empregados.
As misturas foram executadas manualmente,
sendo que antes da mistura o solo se encontrava
no teor ótimo de umidade.
572
média e, consequentemente, a obtenção das condição de pico (pico), obtidas para os três
respectivas envoltórias de resistência ao materiais investigados. A Tabela 2 apresenta os
cisalhamento dos materiais investigados. respectivos valores dos parâmetros de
Optou-se por ensaiar os corpos de prova na resistência (intercepto coesivo e ângulo de
condição saturada, pois essa situação representa atrito) derivados dessas equações para os
o pior desempenho que o material pode materiais investigados.
apresentar quando aplicado em campo.
300,0
200,0
Na Figura 5, apresentam-se as curvas de
pico (kPa)
compactação, na energia do Proctor 150,0
Solo Puro
Modificado, do solo e das misturas solo-EPS.
100,0
20% de EPS
16,0 50,0 40% de EPS
0,0
Peso especifico aparente seco (kN/m³)
Figura 5:Curvas de compactação do solo e das misturas Constata-se que, entre o solo puro e a
solo-EPS na energia do Proctor Modificado.
mistura com 20% de EPS, não houve uma
Constata-se que não houve alteração alteração significativa nos valores obtidos para
significativa no peso específico aparente seco para os parâmetros que definem a envoltória de
máximo do solo com a inclusão do resíduo de ruptura de pico (intercepto coesivo e ângulo de
EPS, constatando-se, porém, uma tendência de atrito) segundo o critério de Mohr-Coulomb.
redução desse parâmetro com o incremento da Entretanto, para a mistura com 40% de EPS, a
percentagem volumétrica de EPS, justificada despeito do incremento da parcela de coesão,
pela crescente influência do material mais leve. percebe-se que houve uma queda no valor da
A umidade ótima de compactação das misturas resistência ao cisalhamento em relação aos dois
solo-EPS tem um valor mais elevado do que materiais anteriores, com uma diminuição
para o solo, provavelmente devido ao fato de notável no ângulo de atrito.
que uma boa acomodação e homogeneização Esses resultados podem ser explicados pelo
dos grãos de EPS na mistura depende de um fato de que a adição de EPS ao solo no teor de
comportamento mais plástico e coesivo do solo, 40% provocou, provavelmente, a formação de
o que ocorre em teores de umidade mais planos de descontinuidade no interior dos
elevados. corpos de prova, com grande acúmulo de grãos
Na Figura 6, são apresentadas as envoltórias de EPS envolvidos por pouco ou nenhum solo.
de ruptura ou de resistência ao cisalhamento na Esses planos de descontinuidade alteram a
573
transmissão dos esforços de cisalhamento ABNT. Solo – Análise granulométrica. NBR 7181. São
aplicados aos corpos de prova e oferecem Paulo: Associação Brasileira de Normas Técnicas,
2016a. 13p.
superfícies de baixa resistência. Na mistura ABNT. Solo – Determinação do limite de liquidez. NBR
solo-EPS no teor de 20%, esse comportamento 6459. São Paulo: Associação Brasileira de Normas
ocorre em menor escala, fazendo com que o Técnicas, 2016b. 6p.
desempenho desse material seja mais próximo ABNT. Solo – Determinação do limite de plasticidade.
ao do solo. NBR 7180. São Paulo: Associação Brasileira de
Normas Técnicas, 2016c. 3p.
Adicionalmente, é possível constatar ABNT. Grãos de pedregulho retidos na peneira de 4,8mm
graficamente que, para níveis mais baixos de – Determinação da massa específica, da massa
tensão normal aplicada sobre os corpos de específica aparente e da absorção de água. NBR 6458.
prova, o valor da resistência ao cisalhamento São Paulo: Associação Brasileira de Normas
direto sofre pouca influência do teor de EPS na Técnicas, 2016d. 10p.
ABNT. Solo – Ensaio de compactação. NBR 7182. São
mistura, o que não ocorre para valores altos de Paulo: Associação Brasileira de Normas Técnicas,
tensão normal aplicada, para os quais essa 2016e. 10p.
diferença se acentua, principalmente com o ASTM D 3080- Standard Test Method for Direct Shear
incremento do teor de resíduo de EPS na Test of Soils Under Consolidated Drained Conditions.
mistura com o solo. 2013, 9p.
Avessani Neto, J. O. (2008). Caracterização do
Comportamento Geotécnico do EPS através de
Ensaios Mecânicos e Hidráulicos. Dissertação de
4 CONCLUSÕES Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 227p.
Ainda que preliminares, os resultados apontam Azevedo, A. L. C. Estabilização de Solos com Adição de
Cal- Um Estudo a Respeito da Reversibilidade das
para a potencial viabilidade técnica da Reações que Acontecem no Solo Após a Adição de
utilização do material proposto, já que, para a Cal. 2010. 178p. Dissertação, Escola de Minas/UFOP,
mistura com teor de 20% de EPS, não houve Ouro Preto/MG.
alterações significativas nos parâmetros de Pinto, C.S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16
resistência ao cisalhamento do solo analisado, Aulas. 3ª edição. São Paulo/SP. Editora Oficina de
textos. 2006, 354p.
diferentemente do que foi constatado para a Tessari, J. (2006). Utilização de Poliestireno Expandido e
mistura com 40% de EPS. Destaca-se ainda a Potencial de Aproveitamento de seus Resíduos pela
viabilidade ambiental e econômica da mistura Construção Civil. Dissertação de Mestrado, Programa
solo-EPS, já que a substituição parcial de solo de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade
por grãos de EPS permite a redução do descarte Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 102p.
Trindade, T. P.; Carvalho, C.A.B.; Lima, D.C.; Barbosa,
desse material em aterros sanitàrios, além de P.S.A.; Silva, C.H.C.; Machado, C.C. Compactação
reduzir a quantidade de solo a ser transportada de Solos- Fundamentos Teóricos e Práticos. 2ª edição.
para a execução das obras geotécnicas. Viçosa/MG. Editora UFV. 2012, 95p.
Pesquisas adicionais envolvendo outras Vargas, M. Introdução à Mecânica do Solos. São Paulo:
energias, solos, proporções, níveis de tensão e MacGraw - Hill, Ed. USP, 1977. 509p.
tipos de ensaios devem ser empreendidas,
visando ampliar o estado da arte sobre o
material proposto.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
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ABSTRACT: Results from pullout tests on synthetic strips within uniform sand are presented in
this paper, assessing the mobilization of the reinforcements along their length and evaluating the
increase in total stresses within the compacted soil. The studied geostrips consisted of conventional
synthetic strips and synthetic strips with lateral ripples (high adherence). In addition, the soil-
geosynthetic interface resistance is assessed by ramp tests with the use of a similar uniform sand.
Smooth and textured geomembranes are studied, allowing the researches to quantify the influence
of the surface texture. In general, the laboratory tests permitted to evaluate the soil-geosynthetics
interaction mechanisms, such as stress mobilization and internal displacements on pullout tests and
the evaluation of surface features on ramp plane tests.
575
aplicado um esforço de arrancamento com tração (tiras) aumentam a resistência interna do
velocidade constante (Palmeira, 1987). Por sua solo, reduzindo a deformabilidade do maciço
vez, ensaios de plano inclinado podem ser (ABNT, 2016a). Tiras de aço galvanizado e tiras
utilizados para simular a interação solo- poliméricas podem ser utilizadas como reforço
geossintético que ocorre em obras nas quais neste tipo de estrutura, entre outras
geomembranas são instaladas sobre taludes. possibilidades comerciais. No caso das tiras
Determinadas propriedades dos sintéticas, as tensões e os deslocamentos são
geossintéticos podem influenciar de maneira gradualmente mobilizados da parte frontal para a
substancial a performance das estruturas parte traseira da tira (Abdelouhab et al., 2010).
geotécnicas. Na literatura, podem ser A resistência ao arrancamento de interface
encontrados estudos que tratam da resistência ao solo-reforço é definida por uma envoltória não-
arrancamento de diferentes tipos de reforços, linear que varia em função das tensões
como é o caso de geogrelhas (e.g. Palmeira, confinantes (Abdelouhab et al., 2011), sendo
1987; Palmeira; 2009; Teixeira, 2003; Moraci e que o coeficiente de atrito real solo-reforço na
Recalcati, 2006; Teixeira et al., 2007; Abdi e interface (f) pode ser expresso conforme a
Arjomand, 2011; Cardile et al., 2017; Equação 1, na qual τ máx corresponde à tensão
Kayadelenet al., 2018), fibras (Tang et al., cisalhante máxima que ocorre ao longo dos
2016), tiras metálicas (Weldu et al., 2015; reforços e 𝜎𝜎’ n,real corresponde à tensão normal
Pierozan, 2018) e tiras sintéticas (Abdelouhab et real que ocorre no nível dos reforços, ou seja,
al., 2010; Abdelouhab et al., 2011; Panah et al., corresponde à soma da tensão normal efetiva
2015; Pierozan, 2018). atuante no nível dos reforços (𝜎𝜎’ n0 ) com o
Por sua vez, a resistência de interface solo- acréscimo localizado de tensões verticais
geomembrana vem sendo estudada por vários efetivas sobre as tiras (Δ𝜎𝜎’ n ).
autores por meio de ensaios de plano inclinado
𝜏 𝜏𝑚á𝑥
(e.g. Girard et al., 1990; Gourc et al., 1996; 𝑓 = 𝜎′𝑚á𝑥 = 𝜎′ ′ (1)
Lalarakotoson et al., 1999; Melo, 2001; Viana, 𝑛,𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑛0 +∆𝜎𝑛
576
Em virtude da dificuldade em se prever o com a envoltória de Mohr-Coulomb, de forma
aumento localizado das tensões verticais (Δσ’ n ), análoga aos ensaios de cisalhamento direto,
os métodos tradicionais de avaliação da considerando-se que a ruptura ocorre para
interação solo-reforço trabalham com um deslocamento relativo da caixa igual a 500 mm.
coeficiente de atrito aparente (f*), o qual é Cabe salientar que a resistência de interface
calculado com base na tensão cisalhante máxima solo-geomembrana está relacionada com as
apresentada pelos reforços (τ máx ) e nas tensões características microtopográficas da superfície
normais efetivas atuantes no nível do reforço do geossintético em questão, entre outros fatores
(σ’ n0 ), conforme a Equação 2: (e.g. características do agregado). Quanto maior
a altura de aspereza, maior tende a ser a
∗ 𝐹𝑚á𝑥
𝑓 = 2∗𝜎′ ∗𝑊 ∗𝐿 (2) resistência de cisalhamento da interface.
𝑛0 𝑔 𝑒 Entretanto, alturas de aspereza superiores a 0,5
mm não tendem a gerar um ganho significativo
Em que, F máx é a força máxima de de força cisalhante (Blond e Elie, 2006).
arrancamento (kN), σ’ n0 é a tensão normal
efetiva (kN/m2), W g é a largura do reforço e L e é
o comprimento ancorado do reforço (m). 2 MATERIAIS
1.3 Ensaios de Plano Inclinado 2.1 Materiais Geotécnicos
Ensaios de plano inclinado podem apresentar Na Tabela 1, estão apresentadas as principais
algumas vantagens em relação aos ensaios de propriedades geotécnicas das areias ensaiadas, e
cisalhamento direto de interface, pois permitem na Figura 2, apresentam-se as respectivas curvas
que as condições simuladas sejam mais granulométricas. A areia 1 foi utilizada nos
próximas do que ocorre em campo (e.g. ensaios de arrancamento, enquanto a areia 2 foi
permitem o uso de baixas tensões normais, utilizada nos ensaios de plano inclinado.
permitem o uso de amostras de grandes
dimensões, permitem a avaliação do Tabela 1. Propriedades geotécnicas das areias uniformes.
deslocamento da caixa em função do ângulo de Parâmetro Areia 1 Areia 2 Unidade
inclinação do plano, permitem a caracterização Massa específica
2,64 2,71 g/cm3
das interfaces nas fases estática, transitória e de dos sólidos
deslizamento). Índice de vazios
0,576 0,588 -
mínimo (e mín )
Neste tipo de ensaio, são esperados três Índice de vazios
categorias de resultados (Gourc et al., 1996), que 0,827 0,860 -
máximo (e máx )
são: i) Categoria 1, denominada ruptura abrupta, Compacidade
95 57 %
a qual ocorre com 1 a 2 mm de deslocamento; ii) relativa
Categoria 2, denominada movimento lento, em Massa específica
aparente seca no 1,66 1,59 g/cm3
que se observam deslocamentos até 7 mm antes ensaio
da ruptura; e iii) Categoria 3, na qual o atrito Índice de vazios do
inicial difere do atrito final durante a ruptura. Na 0,593 0,705 -
ensaio
categoria 3, são observados patamares no gráfico
da inclinação versus deslocamento relativo da A massa específica dos sólidos foi
caixa, pois, durante a elevação da rampa, a caixa determinada com base na NBR 6508 (ABNT,
pode permanecer estática durante determinados 1984), enquanto que os ensaios de granulometria
intervalos de inclinação. seguiram as recomendações da NBR 7181
Segundo a NBR ISO 12957-2 (ABNT, 2013), (ABNT, 2016b). Os índices de vazios mínimo e
podem ser adotadas duas metodologias de máximo foram determinados, respectivamente,
ensaio, que são (1) equipamento com base rígida seguindo-se as recomendações presentes nas
(rugosa, uso de lixa de esmeril abrasiva P100) e normas D4253-16 (ASTM, 2016a) e D4254-16
(2) equipamento com base preenchida com solo. (ASTM, 2016b).
Ainda de acordo com essa norma, os ângulos de
atrito e a adesão são determinados de acordo
577
Por sua vez, os geossintéticos ensaiados em
plano inclinado corresponderam a uma
geomembrana lisa (GML) e a duas
geomembranas texturizadas (GMT1 e GMT2),
conforme imagens apresentadas na Figura 3B.
As principais características destes elementos
estão indicadas na Tabela 2, conforme os
fornecedores, em que RT é a à tração na ruptura,
ε é a deformação na ruptura e RP é a resistência
ao puncionamento.
578
relativa igual ou superior a 95%. Os O critério de finalização dos ensaios foi o
procedimentos em questão foram feitos em seis deslocamento horizontal da caixa igual a 50 mm.
camadas com espessura final de 9 cm. As tiras A mesma possuiu comprimento igual a 192 cm e
sintéticas foram instaladas aos pares com uma largura igual a 47 cm, sendo preenchida com
distância de 5 cm entre si (Abdelouhab et al., areia em contato com a geomembrana, no plano
2010). de cisalhamento. As leituras da instrumentação
As tensões normais no nível dos reforços também foram adquiridas com o uso do sistema
(σ’ n0 ) corresponderam a 12,5 kPa, 25 kPa e 50 LYNX (Figuras 4C e 4D). As tensões normal e
kPa. A aplicação das sobrecargas (σ’ a ) foi feita cisalhante (σ(η,β)e τ(η,β)) foram calculadas
com o uso de bolsa de borracha pressurizada. A seguindo-se as equações sugeridas pela NBR
instrumentação consistiu em célula de carga ISO 12957-2 (ABNT, 2013). A ancoragem da
(CC), transdutores de deslocamento linear geomembrana foi garantida mediante o uso de
(TDL) acoplados aos medidores de garras metálicas na extremidade superior, além
deslocamento internos (tell-tales - TT) e células de lixa sobre a base rígida em contato com a
de tensões totais (CTT), instaladas nas posições superfície inferior da geomembrana. A
mostradas nas Figuras 4A e 4B. As leituras da eficiência do sistema foi comprovada mediante
instrumentação foram adquiridas com o uso do uma célula de carga solidária à garra superior, a
sistema LYNX. O arrancamento foi feito com qual registrou valores nulos de tração na
taxa de deslocamento constante e igual a 1 geomembrana.
mm/min ± 10%, sendo este o valor recomendado
pela norma D6706-01 (ASTM, 2013).
4 RESULTADOS
3.2 Ensaios de Plano Inclinado
4.1 Ensaios de Arrancamento
O solo utilizado nos ensaios de plano inclinado
correspondeu à Areia 2. A velocidade de Na Figura 5, estão apresentadas as forças
elevação do plano foi igual a 3±0,5 graus por máximas de arrancamento (F máx ) e os
minuto. As tensões normais aplicadas coeficientes de atrito aparente (f*) calculados
inicialmente foram iguais a 2 kPa, 4 kPa e 6 kPa. com base nos ensaios de arrancamento.
(C)
(A)
(D)
(B)
579
Os acréscimos de tensões verticais (Δσ’ n )
utilizados no cálculo do parâmetro f considerou
as leituras das células de tensões totais
instaladas sobre as tiras sintéticas nas posições
P1, P2 e P3.
Figura 7. Coeficientes f e f* das tiras sintéticas (A) de alta Figura 9. Ensaios de plano inclinado: (A) influência da R c
aderência e (B) convencionais. no ângulo de atrito e (B) deslocamentos na ruptura.
580
5 DISCUSSÃO Com base na Figura 9, pode-se observar que
o aumento da altura de aspereza das
5.1 Ensaios de Arrancamento geomembranas resultou no aumento dos ângulos
de atrito interno de interface. Comparando-se as
Com base na Figura 5, foi possível observar que geomembranas GMT1 e GMT2, o aumento de
a presença de ondulações laterais nas tiras aproximadamente 0,03 mm na altura de aspereza
sintéticas de alta aderência contribuiu para o não resultou em acréscimo significativo no
aumento da interação com a areia uniforme em ângulo de atrito. A diferença entre a altura de
relação às tiras sintéticas convencionais. Foram aspereza (ΔR c ) das geomembranas GMT1 (R c =
observados esforços máximos de arrancamento 2,1) e GMT2 (R c = 2,4) foi igual a 0,3, sendo
(F máx ) e, consequentemente, coeficientes de que este valor se aproxima do valor de 0,5 mm
atrito aparente (f*) superiores nos casos dos sugerido por Blond e Elie (2006). Este resultado
reforços com ondulações laterais. Entretanto, pode estar relacionado à proximidade entre as
convém salientar que a diferença observada foi alturas de aspereza das geomembranas
pequena, cabendo ao engenheiro projetista texturizadas ensaiadas, entre outros aspectos,
avaliar o elemento mais adequado em função como é o caso da influência do formato das
dos materiais geotécnicos empregados na obra. asperezas.
Por sua vez, com base nas curvas que Embora os ângulos de atrito das interfaces
relacionam os deslocamentos internos medidos entre a areia e as geomembranas texturizadas
pelos tell-tales no momento de pico de (GMT1 e GMT2) sejam aproximadamente 31º,
resistência com as tensões normais (Figura 6), houve uma diferença mais considerável nos
observa-se que as tiras sintéticas foram deslocamentos de ruptura nas interfaces areia-
solicitadas progressivamente a partir da face até geossintético. Dessa forma, pode-se observar
a extremidade oposta ao longo dos ensaios. que, embora as alturas de aspereza
Com base na Figura 7, observa-se que os compreendidas no intervalo entre 2,1 a 2,4
coeficientes de atrito real solo-reforço (f) tenham conduzido a ângulos de atrito
possuem valores inferiores aos coeficientes de semelhantes, a influência das mesmas é maior
atrito aparente solo-reforço (f*), uma vez que o quando se consideram os deslocamentos de
cálculo do atrito real leva em consideração a ruptura. Resultados similares em interfaces com
tensão normal que efetivamente está ocorrendo argila foram descritos por Fowmes et al. (2017).
no nível do reforço (σ’ n,real ). Os coeficientes de
atrito real solo-reforço (f) se aproximaram da
tangente do ângulo de atrito interno, sendo este o 6 CONCLUSÃO
valor sugerido pelas normas brasileira NBR
19286 (ABNT, 2016) e francesa NF P94-270 Conclui-se que determinadas características dos
(Norme Française, 2009) para o cálculo do geossintéticos contribuem para a mobilização da
parâmetro f 1 *, o qual desconsidera os resistência de interface com o solo, como é o
acréscimos localizados de tensões verticais. caso da presença de ondulações nas tiras
Entretanto, a consideração da tangente do ângulo sintéticas e de textura superficial em
de atrito de interface representa melhor a geomembranas. Com base nos ensaios de
situação que ocorre em campo. arrancamento, observou-se que a presença de
ondulações laterais contribuiu com o aumento da
5.2 Ensaios de Plano Inclinado resistência ao arrancamento e com a
consequente diminuição dos deslocamentos
Os ângulos de atrito das interfaces ensaiadas nos internos. Os coeficientes de atrito reais se
ensaios de plano inclinado mostram-se aproximaram da tangente do ângulo de atrito
relacionados com a microtopografia das considerado. Por sua vez, no caso dos ensaios de
geomembranas, assim como os deslocamentos plano inclinado, observou-se que a presença de
na ruptura. Como esperado, as geomembranas textura superficical nas geomembranas resultou
texturizadas foram mais eficientes em relação à no aumento da resistência ao cisalhamento de
geomembrana lisa (Figura 8). interface em relação à geomembrana lisa. A
581
presença de textura superficial resultou em um Silty Sand Specimens for Large- and Small-Scale tests. Geotechnical
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582
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Este artigo apresenta os resultados de um estudo cujo objetivo foi avaliar
qualitativamente e quantitativamente alguns dos principais fatores que influenciam no
comportamento de geogrelhas solicitadas ao arrancamento utilizando um equipamento de grande
porte. Foi realizada uma série de ensaios de arrancamento de grande porte utilizando o equipamento
do Departamento de Geotecnia da EESC. Esses testes tiveram o objetivo de avaliar alguns dos
principais fatores que afetam o comportamento de geogrelhas submetidas ao arrancamento. Os
principais parâmetros avaliados foram: a) comprimento da inclusão, b) sobrecarga aplicada, c) grau
de compactação do solo, d) espaçamento entre elementos transversais e longitudinais da geogrelha,
e) presença dos elementos transversais, f) tipo de inclusão, e g) utilização de dupla camada de
geogrelha. Os ensaios de arrancamento foram realizados usando um solo arenoso fino, de
ocorrência típica no interior do estado de São Paulo.
ABSTRACT: This paper presents the results of a study whose objective was to evaluate
qualitatively and quantitatively some of the main factors that influence the behavior of geogrids
requested when pulling out using a large equipment. A series of large pullout tests were loaded out
using the equipment of the Geotechnical Department of EESC. These tests had the objective to
evaluate some of the main factors that affect the behavior of geogrids submitted to the pullout. The
main parameters evaluated were: a) inclusion length, b) applied overload, c) degree of soil
compaction, d) spacing between transverse and longitudinal elements of the geogrid, e) presence of
transverse elements, f) type of inclusion, and g) use of double geogrid layer. The pullout tests were
performed using a fine sandy soil, typical of the state of Sao Paulo.
583
sistema se torna mais complexo quanto se f) em conjunto com geotêxteis ou
pretende prever o comportamento das geomembranas (formando
geogrelhas quando submetidas a carregamentos geocompostos).
cíclicos (NAPA, 2011)
Para superar algumas deficiências destes
testes, duas linhas específicas de ensaios de
arrancamento vem sendo muito utilizadas em
trabalhos de pesquisa, elas são os ensaios de
arrancamento de grande porte, realizados em
laboratório, e o ensaios executados no campo
em grandes amostras de geogrelhas.
Portanto, este trabalho tem como proposta
avaliar qualitativamente e quantitativamente
alguns dos principais fatores que influenciam
no comportamento de geogrelhas solicitadas ao
arrancamento utilizando um equipamento de Figura 1. Detalhamento de uma geogrelha
grande porte usando um solo arenoso fino típico
no interior do estado de São Paulo. 3 INTERAÇÃO SOLO-GEOGRELHA
584
as deflexões dos elementos transversais foram À meia altura da parede frontal da caixa existe
medidas em estágios cujo 25% da força máxima uma abertura de 20 mm numa extensão de 500
de arrancamento se desenvolveram. mm, permitindo prender o geossintético a uma
Também Peng e Zornberg (2017) estudaram garra externa. Na parede traseira da caixa existe
o efeito da forma no ensaio de arrancamento e, uma abertura com 10 mm de altura e 500 mm
usando o equipamento anunciado em Ferreira e de extensão para permitir a passagem de fios de
Zornberg (2015), compararam o desempenho da aço usados para acompanhar dos deslocamentos
interação solo-geogrelha para geogrelhas com ao longo da inclusão.
malhas triangulares e retangulares em três Demais detalhes e os procedimentos de
diferentes locais de junção ao longo das ensaio encontram-se descrito no trabalho de
amostras. Com isso, perceberam que nas Teixeira (1999).
geogrelhas com malhas triangulares os
deslocamentos foram menor que nas geogrelhas
retangulares, nos pontos estudados,
independentemente dos níveis de tensão da
unidade frontal, o que demonstra que na rigidez
confinada o comportamento foi mais aceitável
nas triangulares do que nas retangulares.
Recentemente, Wang et al. (2019)
pesquisaram a interação do solo arenoso e da
geogrelha embutida por meio de testes de
arrancamento com a aplicação de um novo
método de ensaio utilizando sensores de rede de
Bragg (FBG) avaliando a influência da
densidade seca do solo, tensão normal inicial e
condição de fixação da extremidade traseira do
arrancamento.
4 EQUIPAMENTO DE GRANDES
DIMENSÕES EESC Figura 2. Desenho esquemático do equipamento de
grandes dimensões da EESC
585
Salientando que os parâmetros de resistência 5.4 Programa experimental
referentes ao ângulo de atrito interno, , e a
coesão, c, foram obtidos em ensaios de No presente estudo foram adotados três valores
cisalhamento direto com corpos de prova de sobrecarga aplicada na superfície do solo
moldados na umidade ótima de compactação e para simular a tensão normal na interface; 25,
no grau de compactação, G. C., apresentado, e 50 e 100 kPa, três valores de grau de
rompidos a uma velocidade de 4,6 mm/min. compactação do solo; 85, 93 e 100% e cinco
valores de comprimento da inclusão; 350, 600,
Tabela 1. Valores dos parâmetros e das propriedades do 800, 900 e 1050 mm, conforme informado na
solo utilizado no estudo. Tabela 5.
Parâmetros e propriedades do Valores
solo usado Tabela 3. Especificações das geogrelhas Fortrac.
s (g/cm3) 2,666
Propriedades
Geogrelhas
LL (%) 18 B C
LP (%) 14 Resistência à tração L 200 110
d máx (kN/m3) 19,5 (kN/m) T 35 30
wot (%) 10,7 Deformação
- 12 12
(º) 33,5 na ruptura (%)
2
c (kPa) 23,8 Gramatura (g/m ) - 710 540
G. C. (%) 95 Largura do L 8 7
Classificação SM elemento (mm) T 3 3
Espaçamento entre L 36 25
elementos (mm) T 32 23
5.2 Geogrelhas utilizadas no estudo Espessura do - 1,5 1,5
elemento
Foram utilizados no programa experimental transversal (mm)
deste trabalho quatro diferentes geogrelhas,
sendo seis poliméricas e uma metálica. Tabela 4. Especificações das geogrelhas Paralink D.
Os modelos de geogrelhas poliméricas Propriedades D
L 200
usados são: a) Geogrelha metálica Maccaferri Resistência à tração (kN/m)
T 15
(A); b) Fortrac 200/35-30 (B); c) Fortrac Deformação na ruptura (%) --- 12
110/30-20 (C); e d) Paralink 200/15S (D). Gramatura (g/m2) --- 775
Abaixo a Tabela 2, Tabela 3 e Tabela 4 Largura do L 34
informam as especificações das geogrelhas. elemento (mm) T 25
Espaçamento entre L 75
elementos (mm) T 225
Tabela 2. Especificações da geogrelha metálica (gabião).
Espessura do elemento 0,9
Propriedades Geogrelha A ---
transversal (mm)
Resistência à tração longitudinal 47 Espessura do elemento 1,6
(kN/m) ---
longitudinal (mm)
Deformação na ruptura (%) >12
Gramatura (g/m2) 260
Diâmetro do fio da malha (mm) 2,7 6 RESULTADOS
Dimensões da malha hexagonal (cm) 8 x 10
Como pode ser visto Tabela 6 abaixo , os
ensaios estão enumerados e foram informado os
As geogrelhas metálicas são usadas em técnica parâmetros os espaçamentos entre elementos
construtiva patenteada e ficam sujeitas aos transversais, St, e espaçamento entre elementos
esforços de arrancamento, assim com as longitudinais, Sl..
geogrelhas poliméticas. Como resultados obtidos dos testes, estão
listados os valores da: força máxima de
5.3 Equipamento utilizado no ensaio de
arrancamento, Rmáx.; força de arrancamento
arrancamento de geogrelhas
referente a 95% da força máxima de
O equipamento utilizado o de grandes
arrancamento, R95%.; tensão de arrancamento,
dimensões da EESC ( Escola de Engenharia de
São Carlos) descrito no item 4.0. 95%., igual a R95%./(2l); além do deslocamento
586
frontal, 95%., que se verifica no momento em conduzir a amostra de geogrelha com 1050 mm
que R95%. ocorre. de comprimento à ruptura.
Forçando os ajustes de retas passarem pela
7 DISCUSSÕES origem, como pode ser visto na Figura 3, a
proporcionalidade verificada entre a resistência
Neste tópicos são informadas as análises
ao arrancamento e o comprimento da amostra
quantitativas e qualitativas em função de cada
indica que a tensão de arrancamento, 95%.,
parâmetro.
independe do comprimento da geogrelha.
Tabela 5. Programa de testes das geogrelhas.
Sobrecarga G. C. Comp Obs. Tabela 6. Resumo dos principais dados e resultados de
N° Geogrelha
(kPa) (%) .(mm) ensaio.
1 C 25 93 600 St Sl Rmáx R95% 95% 95%
2 C 25 85 600 N°
(mm) (mm) (kN/m) (kN/m) (kPa) (mm)
3 C 50 93 600 1 23 25 35,7 33,9 28,2 24,5
4 C 85 85 600 2 23 25 25,0 23,7 19,7 15,6
5 C 100 93 600 3 23 25 44,0 41,8 34,8 27,0
6 C 100 85 600 4 23 25 30,2 28,7 23,9 21,5
7 C 25 93 900 5 23 25 73,9 70,2 58,5 38,5
8 C 25 93 1050 6 23 25 48,8 46,4 38,6 44,9
9 C 25 93 1050 - 1 7 23 25 55,8 53,0 29,4 35,5
E.T.1 8 23 25 59,5 56,5 26,9 40,8
10 B 25 93 1050 9 46 25 67,4 64,0 30,5 42,4
11 D 25 93 1050 10 32 25 73,8 70,1 33,4 27,8
12 A 25 93 600 11 225 75 37,8 35,9 17,1 15,0
13 C 25 93 350 -1 E. 12 100 80 38,1 36,2 30,1 36,6
L.2 13 23 50 26,9 25,6 36,5 12,1
14 C 25 93 600 -1 E. 14 46 25 53,5 50,8 42,3 18,2
T.1 15 69 25 40,0 38,0 31,6 20,9
15 C 25 93 600 -2 E.T.3 16 - 25 20,5 19,5 16,2 7,3
16 C 25 93 600 S/ E. 17 23 25 59,6 56,6 35,4 37,8
T.4 18 23 25 64,5 61,3 38,3 5,5
17 C 25 100 800
18 C 25 100 800 2 cam5
1 Os valores de 95% encontrados nos testes 1,
Elementos transversais retirados alternadamente
7 e 8 foram respectivamente 28,2; 29,4 e 26,9
2
Elementos longitudinais retirados alternadamente kPa, que são valores bastante próximos. Em
3
Pares de elementos transversais retirados termos médios e para as condições destes testes,
alternadamente pode-se dizer que 95% é igual a 28,2 kPa.
4
Todos elementos transversais retirados
5
Camada dupla de geogrelha
Vale salientar que Todos os ensaios foram
realizados utilizando inclusões com 500 mm de
largura no equipamento de grande porte da EESC.
587
O estudo para averiguar o efeito da sobrecarga compacto, embora se verificou a inversão deste
aplicada na superfície do solo é feito fenômeno para a sobrecarga de 100 kPa.
contrastando-se os resultados obtidos dos
ensaios 1 a 6, que foram realizados utilizando 7.3 Grau de compactação
amostras com 600 mm de comprimento,
sobrecargas de 25, 50 e 100 kPa e graus de A avaliação do efeito da compacidade do solo é
compactação de 85 e 93%. feita comparando os resultados dos testes 1 a 6,
A Figura 4 mostra a variação da tensão de que foram executados sob distintos valores de
arrancamento, 95%, com a sobrecarga sobrecarga aplicada e de grau de compactação.
aplicada, . Percebe-se que existe uma
correlação aproximadamente linear entre estes
dois parâmetros e que pode ser equacionada
pelo critério Mohr Coulomb.
Com isso, as seguintes equações (1) e (2) de
resistência ao arrancamento foram formuladas.
588
O efeito da presença dos elementos transversais Os resultados dos testes 1, 14 e 15 são
sobre o comportamento da geogrelha durante o utilizados para avaliar o efeito do espaçamento
arrancamento é analisado comparando-se os entre elementos transversais. Os elementos
resultados dos ensaios 1 e 16. Estes testes foram transversais das amostras de geogrelha usadas
executados sob as mesmas condições de dos testes 14 e 15 foram retirados
sobrecarga e grau de compactação, entretanto a sistematicamente de forma que os espaçamentos
amostra de geogrelha usada no teste 16, teve entre eles fossem iguais a 46 e 69 mm.
seus elementos transversais retirados. A Figura 8 ilustra que a amostra de
geogrelha que tem valor de St intermediário
apresenta a maior resistência ao arrancamento.
Isso sugere a existência um valor ótimo para St
que maximiza a resistência ao arrancamento das
geogrelhas. Uma provável explicação para este
fato está relacionada com a influência que um
elemento transversal tem sobre o
desenvolvimento do mecanismo de resistência
do elemento transversal adjacente, onde o Stótimo
representa o somatório das contribuições
individuais de cada elemento.
Figura 6. Efeito do grau de compactação na resistência
95% e no deslocamento frontal, 95%.
589
Os testes 8, 10, 11 e 12 foram realizados Conforme visto na Tabela 6, verifica-se que
utilizando as geogrelhas Fortrac 110/30-20 (B), a resistência ao arrancamento das geogrelhas
Fortrac 200/35-30 (C), Paralink 200/15S (D) e a sobrepostas é levemente maior que a observada
malha de gabião (A), respectivamente. Todas na amostra individual de geogrelha, sendo a
essas geogrelhas foram selecionadas em função diferença de 8% somente. Os deslocamentos
das suas características geométricas e necessários para promover o arrancamento são,
propriedades especiais como drenagem. entretanto, bastante menores quando se utilizam
Os testes foram realizados nas mesmas duas camadas de geogrelha, cerca de apenas
condições de compactação e confinamento. Os 15% do deslocamento para uma camada.
comprimentos das amostras foram 1050 mm,
exceto para a malha de gabião que teve 600 CONCLUSÃO
mm, visto que comprimentos maiores levavam
a amostra à ruptura por tração. Baseado nos estudos citados as seguintes
Como pode-se perceber na Figura 9, a conclusões foram obtidas:
geogrelha Fortrac 200/35-30 apresenta
melhores resultados de resistência ao a) Existe uma razoável proporcionalidade entre
arrancamento, seguido pela malha de gabião, a resistência ao arrancamento e o comprimento
pela geogrelha Fortrac 110/30-20 e pela da geogrelha, bem como entre o deslocamento
geogrelha Paralink 200/15S. Existe uma frontal no instante próximo da ruptura e o
variação relativamente acentuada entre a comprimento da geogrelha;
resistência da geogrelha Paralink e a das demais b) Existe uma relação aproximadamente linear
inclusões, provavelmente devido a sua entre a tensão normal aplicada e ao solo e a
geometria que desfavorece a interação por resistência ao arrancamento das geogrelhas, o
resistência passiva, em função da pouca que não ocorre, entretanto, com os
quantidade de elementos transversais. Isto deslocamentos frontais no instante próximo da
reforça ainda mais a hipótese de que os ruptura;
elementos transversais são os mais eficientes do c) O grau de compactação do solo tem um
ponto de vista de interação com o solo. efeito muito significativo na resistência ao
arrancamento de geogrelhas, com uma variação
7.7 Dupla camada de geogrelha aproximadamente linear entre esses dois
parâmetros;
Os resultados dos testes 17 e 18 podem ser d) A parcela de resistência ao arrancamento
utilizados para averiguar o efeito de se utilizar oferecida pelos elementos transversais da
duas camadas de inclusão sobre a resistência ao geogrelha é extremamente significativa,
arrancamento. No teste 18 foi utilizado duas principalmente para deslocamentos frontais
amostras de geogrelha individuais, uma maiores que 15 mm. Para deslocamentos
sobreposta à outra, inseridas no interior da menores que 7 mm, os elementos longitudinais
massa de solo. são os maiores responsáveis pela resistência ao
arrancamento;
e) Existe um espaçamento ótimo entre os
elementos transversais que conduzem a valores
máximos de resistência ao arrancamento, além
disso, a presença de muitos elementos
longitudinais pode ser desfavorável para a
interação entre solo e geogrelha;
f) A utilização de uma ou duas camadas de
geogrelha tem pouca influência na resistência
ao arrancamento do conjunto, entretanto os
deslocamentos necessários para mobilizar a
Figura 9. Comparação entre os diferentes tipos de
resistência ao arrancamento são menores
inclusão. quando se utilizam duas camadas;
590
g) As tensões totais no solo próximo da On Large-scale Laboratory Pull-out Testing,
inclusão podem diferir bastante da sobrecarga Geotechnical Engineering Journal, ASCE, New York,
v.29 (2), p. 123-155.
aplicada durante o ensaio devido à dilatância Teixeira, S. H. C. (1999) Construção e calibração de um
impedida do solo. Este fenômeno é fortemente equipamento de ensaios de arrancamento de
influenciado pela presença dos elementos geossintéticos. Dissertação de mestrado, Programa de
transversais da geogrelha. Pós-Graduação em Geotecnia, Escola de Engenharia
de São Carlos, Universidade de São Paulo, 157p.
Teixeira, S.H.C & Bueno, B.S.(1999) Um Equipamento
AGRADECIMENTOS para Ensaios de Arrancamento em Geossintéticos.
Anais do Geossintéticos 99, Rio de Janeiro, s/v., p.
Os autores prestam agradecimentos ao CNPQ 215-222.
(Conselho Nacional de Pesquisa) pelo fomento Wang, H. L., Chen, R. P., Liu, Q. W., Wang, Y. W.
a pesquisas nas universidades e ao (2019) Soil–Geogrid Interaction at Various
Influencing Factors by Pullout Tests with
Departamento de Geotecnica da EESC (Escola Applications of FBG Sensors. Journal Material Civil
de Engenhar ia de São Carlos) pela Engineering, ASCE, v.31, nº 1, p. 1-11.
disponibilidade da infraestrutura na realização
dos ensaios.
REFERÊNCIAS
591
592
Casos de Obra
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
RESUMO: Este trabalho apresenta uma solução de estabilização de encosta em uma indústria
alimentícia dentro da zona urbana de Maceió/AL. A área estudada situa-se na região de morros
formada pelos tabuleiros sedimentares dos períodos Holocênicos e Pleistocênicos, (Formação
Barreiras) e sua superfície é ocupada por um vestígio de mata atlântica protegida por órgãos
ambientais. Na encosta existia um sistema de escoamento d’água constituído por canaletas e descidas
d’águas construídas com dimensões inadequadas para inclinação da encosta, e sem considerar a
demanda irregular de esgoto da comunidade vizinha acima da crista da encosta, a qual, despejava os
dejetos sanitários diretamente na mata e nas canaletas. Em maio de 2017 após chuvas intensas,
ocorreu um deslizamento capaz de atingir parte de uma estrutura localizada ao pé da encosta. Dessa
forma, foi necessária uma intervenção geotécnica compatível com as especificidades ambientais para
garantir a estabilidade global do talude. Foi redimensionado o sistema de escoamento superficial e
projetada a contenção do tipo Solo Grampeado Verde composta por: malha de grampos de 8 a 10
metros de profundidade inclinados a 15º com a horizontal; geossintético do tipo biomanta de fibra de
côco; geomanta flexível com malha metálica sobre a superfície da encosta, ligando os cabeçotes da
malha de grampo fazendo-se com que os grampos estejam ancorados na superfície. A solução de
contenção atendeu as condicionantes de caráter geotécnico e ambiental proposta no projeto. O bom
desempenho da contenção evidenciou a eficiência da solução que alia a necessidade de conter
desníveis de terrenos sem descampar grandes áreas de matas nativas da região.
ABSTRACT: This work presents a slope stabilization solution in a food industry within the urban
area of Maceió / AL. The studied area is located in the hills formed by the sedimentary trays of the
Holocene and Pleistocene periods (Barreiras Formation) and its surface is occupied by a vestige of
Atlantic forest protected by environmental organs. On the slope there was a water drainage system
consisting of gutters and waterfalls constructed with dimensions not suitable for slope slope, and
without considering the irregular sewage demand of the neighboring community above the crest of
the slope, which poured waste directly in the forest and in the gutters. In May 2017, after heavy rains,
there was a landslide capable of reaching part of a structure located at the foot of the slope. In this
way, a geotechnical intervention compatible with environmental specificities was necessary to
guarantee the overall stability of the slope. It was redesigned the system of surface runoff and
designed the containment of the Green Stapled Soil type composed of: mesh of staples of 8 to 10
meters of depth inclined to 15º with the horizontal; coconut fiber biomantic type geosynthetics;
flexible geomanta with metallic mesh on the surface of the slope, connecting the heads of the staple
mesh making the staples are anchored to the surface. The containment solution met the geotechnical
and environmental condition factors proposed in the project. The good performance of the
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containment evidenced the efficiency of the solution that combines the need to contain uneven terrain
without deforesting large areas of native forests of the region.
KEY WORDS: Slope, Containment, Green Stapled Soil, Surface Run, Stability Analysis.
1 INTRODUÇÃO
Pluviometria (mm)
100
Maceió/AL.
Segundo relatos da equipe técnica da 80
indústria, o trecho do talude que corresponde às 60
áreas dos galpões de manutenções, tem um 40
histórico de deslizamentos ocorridos nos anos
20
1980, um grande evento em julho de 1994, e este
recentemente registrado em 27 de maio de 2017. 0
O deslizamento de 2017 ocorreu após um 1 3 5 7 9 1113151719212325272931
Dias
período de chuvas intensas, com cerca de 140
Pluviometria Maio (2017)
mm de precipitação diária, e mais de 500 mm
acumulados em 5 dias, forte indicativo de Figura 2. Pluviometria medida no mês de maio de 2017 na
grandes deslizamentos. cidade de Maceió/AL.
O mês de maio de 2017 registrou mais que o
As fotos da Figuras 3 (a) e (b) mostram a área
dobro de chuvas da média histórica para tal mês,
onde ocorreu o deslizamento no dia 27 de maio
conforme mostrado na Figura 1 e 2.
de 2017.
A ocorrência de chuvas intensas antes dos
deslizamentos indica que a infiltração de água
através da encosta contribuiu para o movimento.
700
600
Pluviometria (mm)
500
400
300
200
100
0
ABR
OUT
JAN
JUN
DEZ
SET
JUL
MAI
AGO
NOV
FEV
MAR
Meses
Média pluviométrica entre 1974 a 2004
Pluviometria 2017
Figura 1. Comparação entre as intensidades
pluviométricas entre a média obtidas entre a 1974 a 2004,
e a medida no ano de 2017 na cidade de Maceió/AL.
(a)
596
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2 MATERIAIS E MÉTODOS
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Tabela 1. Resultados dos ensaios de cisalhamento direto condições de solo natural e saturado. Dessa
de 4 amostras indeformadas da superfície da encosta. forma, os fatores de segurança foram obtidos
Amostras
Dados
1 2 3 4
para as várias seções transversais representativas
w ao longo da encosta.
8,30 13,54 18,22 17,48 As análises de estabilidade realizadas após o
(%)
15,44 18,26 17,56 17,82
recente deslizamento mostraram que os taludes
(kN/m³) apresentavam um fator de segurança satisfatório
Cnat para a condição de umidade natural em todas as
7,90 19,50 37,70 27,40
(kPa)
Csat
seções, sendo representativa apenas para o
1,20 30,70 12,30 13,10 período de poucas chuvas para a região.
(kPa)
nat No entanto, para uma eventual condição de
28,90 36,50 31,00 29,50
() completa saturação do maciço, o fator de
sat segurança calculado diminui para 1,16, inferior a
35,20 24,80 30,50 27,70
() 1,30, que é o mínimo aceitável para as condições
existentes na fábrica.
Para as camadas mais profundas, a estimativa
dos parâmetros de resistência foi obtida a partir
dos ensaios SPT, utilizando a correlação
proposta por Sanglerat (1972). Os parâmetros
adotados para os dois horizontes, superficial e
residual, estão apresentados na Tabela 2.
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Figura 8. Análise de estabilidade do solo grampeado Figura 10. Execução do solo grampeado verde.
verde de uma seção transversal crítica sob condição solo
saturado.
600
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4 CONCLUSÃO
Figura 13. Término da aplicação do solo grampeado
verde.
A análise de estabilidade comprovou que houve
mais de um agente efetivo nos processos que
ocasionaram os deslizamentos da encosta ao
longo dos anos: (i) a infiltração de águas pluviais
em períodos de chuvas intensas; (ii) infiltração
das águas servidas das casas no topo da encosta;
(ii) mau desempenho / insuficiência do sistema
de drenagem superficial; (iii) baixa resistência ao
cisalhamento da camada superficial.
Neste viés, a solução de contenção em solo
grampeado verde obteve um desempenho
satisfatório quando submetida as chuvas de
inverno no ano de 2018. Não foi evidenciado
nenhum indício ou patologia que revele o mal
Figura 14. Término da aplicação do solo grampeado desempenho da solução.
verde.
601
602
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RESUMO:
Este trabalho apresenta os detalhes do projeto para a construção de um aterro sobre solo mole em
um condomínio residencial. Para o desenvolvimento do projeto, foi feito um estudo de alternativas
considerando diferentes soluções para a estabilização dos recalques e melhoria na estabilidade dos
taludes. Os ensaios de campo identificaram uma camada superficial de argila mole com uma baixa
resistência ao cisalhamento e uma alta compressibilidade. Em função das condições geotécnicas
locais, foi previsto de forma inicial a troca de todo este solo mole por rachão. Entretanto, devido ao
custo da solução com troca de solo, julgou-se que a alternativa mais vantajosa, sob os pontos de
vista técnico e econômico, seria realizar a aceleração dos recalques, bem como suavização e reforço
dos taludes com geossintéticos para as seções críticas. Para permitir o tráfego de máquinas durante
a execução das obras, entre o colchão drenante e o solo mole foi instalado um geotêxtil tecido de
polipropileno, permitindo que o colchão drenante trabalhasse como aterro de conquista durante a
execução das obras. Para acelerar o adensamento do solo mole, foi adotada a técnica de instalação
de geodrenos verticais em toda a camada de argila mole. Para garantir a estabilidade dos taludes, foi
realizada a reconformação de sua geometria, combinada à instalação de geogrelhas. Após o fim da
construção, foi realizado um acompanhamento com marcos superficiais, sendo que os recalques se
comportaram de forma esperada durante este período, comprovando a eficiência do sistema adotado
com geossintéticos.
ABSTRACT: This paper presents the details of a project for the construction of an embankment
over a soft soil in a residential condominium. For the development of the project, it was carried a
study of alternatives for different solutions for the stabilization of the settlements and improvement
in the slope stability. The field tests identified a soft clay layer with a low shear strength and high
compressibility. Due to the local geotechnical conditions, it was planned a substitution of the soft
soil by gravel. However, due to the high costs of the solution with the soil substitution, it was
considered other solution, that could present more advantaged, both from the technical and
economic points of view. The solution chosen to this project was to accelerate the settlements, as
well as reinforce the slopes with geogrids. A layer of woven geotextile was used between the
drainage mattress and the natural ground during the execution of the works. In order to accelerate
soil consolidation, it was used prefabricated vertical drains across the entire thickness of the mole
soil. To ensure the stability of the slopes, a reconfiguration of its geometry was carried out,
combined with the installation of geogrids. After the end of the construction of the reinforced
embankment, it was installed instruments to measure the vertical displacements of the embankment.
The results showed that system adopted with geosynthetics worked successfully.
KEY WORDS: Geosynthetics, geogrids, wick drains, geotextiles, soft soils, slopes.
603
1 INTRODUÇÃO
A solução inicial concebida pelo cliente foi a
A construção de um aterro sobre solos moles troca da camada de solo mole por uma camada
demanda preocupações a respeito da de rachão abaixo do N.A., e solo compactado
estabilidade dos taludes, como também com acima do N.A., o que de certa forma garantiria a
relação aos recalques, que podem comprometer estabilidade dos taludes, como também evitaria
estruturas a serem construídas sobre este aterro. os recalques ao longo do tempo. Entretanto, esta
Soluções convencionais, como a troca de solução apresentaria um custo muito alto, além
solo por rachão, têm um custo muito alto, além de causar um dano ambiental maior, uma vez
de acarretar em problemas ambientais, como o que toda a camada de solo mole teria que ser
transporte e destinação do solo em um bota escavada e transportada para um bota fora.
fora. Desta forma, foram feitos estudos para se
Desta forma, novas soluções, como a avaliar alternativas que pudessem apresentar
aceleração de recalques com geodrenos, uma redução nos custos envolvidos. Estas
estabilização dos taludes com geossintéticos, ou soluções alternativas foram baseadas na
uma estabilização in situ, como colunas de aceleração de recalques com o uso de geodrenos
brita, Jet Grouting ou Deep Soil Mixing (DSM) e a estabilização dos taludes com o reforço de
têm ganhado cada vez mais destaque. geogrelhas. A Tabela 1 apresenta um resumo
Essas técnicas de melhoria de solo, muito bem das soluções adotadas.
ilustradas por Almeida e Marques (2010) e Conforme pode ser visto, a solução com
Palmeira e Ortigão (2004), apresentam troca de solo seria realmente a solução mais
inúmeras vantagens com relação às soluções de onerosa. Por outro lado, soluções com a
tratamento até então consideradas aceleração dos recalques e estabilização dos
convencionais. taludes com geossintéticos foram as que
Para ilustrar estas vantagens, este artigo apresentaram os menores custos. Após
apresenta os detalhes do projeto de um aterro avaliação por parte do cliente, o prazo de
sobre solo mole na área de construção de um recalque com 2 meses após o fim da construção
condomínio residencial no município de foi a solução adotada para o prosseguimento
Anápolis/GO, utilizando estas novas soluções, dos estudos, uma vez que após este prazo a
como geodrenos, geotêxteis e geogrelhas. redução de custos não seria significativa.
De acordo com a Figura 1, o local de apoio
do aterro é composto por uma camada de argila Tabela 1. Custo das soluções estudadas.
mole, causando preocupações a respeito da opção prazo de recalque custo solução
estabilidade dos taludes e recalques a longo troca de solo imediato R$ 4.055.560
prazo, o que poderia ocasionar em danos à 1 mês R$ 1.745.993
estrutura de pavimento, muros de divisa e 2 meses R$ 1.310.368
geodrenos + 3 meses R$ 1.159.831
dispositivos de drenagem.
geogrelhas 4 meses R$ 1.077.457
5 meses R$ 1.031.479
6 meses R$ 996.352
2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA
604
O nível d’água encontra-se em torno de 2,9
m de profundidade, de modo que a argila mole
presente no local se apresenta parcialmente
submersa.
Entretanto, apesar das sondagens indicarem um
N.A. em torno de 3,0 m de profundidade, a
Figura 1 mostra que na verdade o N.A. se
encontra próximo da superfície em alguns
trechos, o que será levado em consideração na
realização das análises.
2
Profundidade (m)
605
adensamento e permeabilidade dos solos são de (camada de solo mole), observa-se que os
fundamental importância para a correta materiais apresentam coeficientes de
interpretação do problema e, consequentemente, permeabilidade muito próximos.
da solução a ser adotada. A seguir estão Desta forma, apesar do ensaio SPT os ter
descritos os ensaios realizados caracterizado como areia siltosa e argila mole,
respectivamente, a diferença na permeabilidade
2.3.1 Ensaios de adensamento dos materiais não é suficiente para que se
possam considerar 2 faces drenantes durante o
O ensaio de adensamento, realizado na adensamento da argila mole.
camada de solo mole (profundidade de 3,0 m),
forneceu informações a respeito do coeficiente
de adensamento do solo, estimativa da 3 CÁLCULO DOS RECALQUES
permeabilidade do solo, como também do
módulo de deformabilidade confinada do solo A seguir serão as metodologias aplicadas
mole. para determinar as dimensões e o tempo de
O módulo de deformabilidade confinada do recalque terreno, em função da construção do
solo foi calculado admitindo-se que o solo mole aterro.
deverá ser submetido a uma tensão máxima de Foram admitidas como premissas de projeto
75 kPa, ou seja, a construção de um aterro com que, pelo menos 90% dos recalques totais
altura máxima de 4 metros. esperados por adensamento do solo mole
De modo geral, adotou-se sempre o valor ocorressem no prazo máximo de 2 meses em
crítico dos resultados referentes às amostras qualquer ponto do empreendimento, resultando
ensaiadas. A Tabela 2 apresenta os valores em recalque máximo admissível de 2,5 cm.
encontrados em ambas as amostras, bem como
os valores adotados neste projeto. 3.1 Estimativa dos recalques
Tabela 2. Parâmetros obtidos pelo ensaio de Para a estimativa dos recalques, foram
adensamento. utilizados os princípios da teoria da
Valores
Parâmetro
Valores obtidos
adotados
elasticidade, aplicando o parâmetro M (módulo
VST-01 VST-02 de deformabilidade em confinamento). Através
Coeficiente de
1,73x10-7
1,03x10-6 1,73x10-7
do ensaio de adensamento, foi determinado o
adensamento - C v (m/s) módulo de deformabilidade em confinamento
Módulo de
deformabilidade 1750,92 2801,43 1750,9 médio para o material, e então foram estimados
confinada - M (kPa) valores de M relacionados a valores de N SPT ,
Permeabilidade conforme apresentado pela Tabela 3.
1,00x10-9 4,20x10-9 1,0x10-9
- k (m/s)
606
𝐿
𝜌 = ∆𝜎 ∑𝑛𝑖=1 𝑀𝑖 (1) 3.2 Estimativa do tempo de recalque
𝑖
607
Conforme ilustrado pela figura, o tempo de (unidirecional) para predominantemente
recalque é muito grande, superior a 30 meses horizontal (radial).
em grande parte do empreendimento, e superior Os geodrenos empregados no tratamento de
a 50 meses na área destacada em vermelho, solos sob sistema viário foram especificados
justificando com isso a utilização de algum com as seguintes características:
método para a aceleração dos recalques.
• Alta capacidade de descarga, maior ou igual
a 1000 m³/ano;
4 SOLUÇÃO PARA ACELERAÇÃO DOS
RECALQUES • Resistência à tração superior a 2,5 kN e
deformação axial antes da ruptura mínima de
A utilização de técnicas de aceleração de 30%;
recalques objetivará assegurar que o pavimento
e as tubulações de água e esgoto instaladas sob • Instalação através de mandril ou agulha
o sistema viário não sofram recalques fechada, isto é, envolvendo totalmente e
diferenciais após a instalação. protegendo o dreno durante a cravação;
Dessa forma, as áreas que necessitam
receber algum tipo de tratamento foram • Para evitar o amolgamento excessivo da
determinadas em função da magnitude dos argila, o mandril ou agulha de instalação do
recalques, admitindo-se neste trabalho que toda geodreno deverá ter a área da sua sucção
área com recalque total superior a 2,5 cm transversal contida inferior a 70cm².
deverá ser tratada de modo que o recalque
ocorra num tempo máximo de 2 meses. A seleção do geodreno vertical foi baseada
Para garantir o adensamento do solo mole no no princípio de que sua permeabilidade deve ser
período estipulado, foi adotada a instalação de superior à do solo mole durante toda sua vida
geodrenos, dimensionados conforme útil. Devido ao fato de se tratar de um terreno
apresentado a seguir. constituído de solo argiloso muito mole, espera-
se a ocorrência de recalques e deformações
4.1 Dimensionamento dos geodrenos significativas, o que justifica a utilização de
geodrenos que apresentam pequena redução de
A alternativa proposta tem como princípio sua capacidade quando submetidos a
diminuir a distância de drenagem, reduzindo dobramentos.
significativamente o tempo de adensamento nos O tempo necessário para que os recalques
pontos mais críticos da área do ocorram é função do espaçamento entre os
empreendimento. Com a expulsão acelerada da geodrenos, ou seja, do diâmetro de influência da
água, tem-se por consequência, uma aceleração drenagem radial.
dos recalques, além de uma melhoria na A solução adotada consiste, portanto, na
capacidade de suporte do terreno. instalação de geodrenos dispostos em malha
A utilização de drenos verticais promove a triangular com espaçamento variável em cada
aceleração do adensamento ao diminuir o trecho do talude, de tal forma que o tempo de
caminho de drenagem dentro da massa de solo recalque não ultrapasse 2 meses.
compressível para cerca da metade da distância
horizontal entre os drenos. 4.2 Dimensionamento do colchão drenante
Os geodrenos apresentam elevadas
resistências mecânicas, o que garante sua Para que o processo de aceleração dos
integridade durante a cravação e suportando os recalques se desenvolva adequadamente, toda a
esforços oriundos das deformações horizontal e água coletada pelos geodrenos deve ser
vertical da massa de solo de fundação em encaminhada até a superfície do terreno natural.
adensamento. Com a sua instalação, a direção Entre o material do aterro e o terreno natural,
do fluxo de água no interior da massa de solo deve existir um colchão drenante
passa de predominantemente vertical adequadamente dimensionado, de tal forma a
608
permitir o livre fluxo de água coletada e não considerando superfícies potenciais de ruptura
retardar o processo de adensamento. cilíndricas, considerando a condição de final de
Desse modo, anteriormente à construção do construção, ou seja, quando as pressões neutras
aterro, deve-se instalar uma camada de material devido à construção do aterro são máximas.
granular, que também pode ter a função de Os parâmetros geotécnicos de resistência ao
aterro de conquista sobre o solo mole. Após a cisalhamento e pesos específicos utilizados nas
instalação desta camada, procede-se a cravação análises de estabilidade do talude apresentadas
dos drenos e execução do corpo do aterro. neste relatório estão sumarizados no item 2
A camada drenante consiste em um colchão deste artigo. Nas análises, considerou-se a
de areia. Entre o solo mole e o colchão drenante presença de uma sobrecarga de 20kN/m³, sobre
foi especificada uma camada de geotêxtil tecido o viário previsto no topo do talude.
de polipropileno com resistência mínima de A Figura 7 apresenta a análise de
50kN/m. estabilidade do talude sem reforço. Conforme
Dessa forma, o colhão drenante servirá pode ser visto, o fator de segurança atesta que a
também como aterro de conquista, permitindo o geometria adotada para os taludes é instável, em
fluxo de máquinas e equipamentos para a função da baixa capacidade de suporte do solo
realização das obras. de fundação.
Os cálculos apresentados referentes ao
0
1.0
dimensionamento do colchão drenante Seção E0+420
5
1.2
Talude 1V:2H
0.77
consideraram as vazões estimadas nos primeiros Sem reforço
10
9
8
7
6
5 Solo resistente
4
5 ESTABILIDADE DOS TALUDES 3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
taludes situados nos limites dos aterros na área Figura 7. Estabilidade do talude original.
do empreendimento, com o objetivo de avaliar
o fator de segurança para a geometria indicada Com base nisso, para que se garanta a
no projeto de terraplenagem e indicar soluções estabilidade dos taludes, durante o adensamento
para as seções cujo fator de segurança ao final do solo mole e ao final da construção, é
da construção se apresentou menor que 1,3. necessário a realização de um retaludamento,
Esta avaliação se fez necessária para que suavizando a inclinação dos taludes, combinado
sejam garantidas as condições mínimas de à instalação de geogrelhas como reforço da base
segurança dos taludes, não só durante o período dos taludes, quando necessário.
de adensamento do solo mole, mas também As soluções adotadas para a estabilidade dos
após a finalização das obras no taludes consistem no retaludamento, alterando a
empreendimento. geometria original com taludes de 1,0V:2,0H,
As análises de estabilidade foram para taludes com inclinação 1,0V:2,5H,
processadas utilizando-se o método de combinado ao reforço de geogrelhas com
equilíbrio limite de Bishop, utilizado para a resistência longitudinal mínima de 300kN/m, de
determinação do coeficiente de segurança para modo a garantir um FS≥1,3.
os taludes contra uma ruptura em uma A Figura 8 apresenta o resultado da análise
superfície de ruptura cilíndrica. Com relação ao de estabilidade do talude reforçado. Conforme
software utilizado, as análises de estabilidade pode ser visto, o fator de segurança encontrado
foram processadas utilizando o programa ao fim da construção atende ao mínimo
Slope/W, elaborado pela GeoSlope especificado por este projeto, para uma
International. condição de final da construção, com os
As análises de estabilidade foram realizadas parâmetros não drenados do solo.
609
6 SOLUÇÃO ADOTADA A Figura 11 apresenta detalhes da geogrelha
utilizada para a estabilização dos taludes. A
A Figura 9 apresenta detalhes da solução Figura 12 apresenta uma foto da obra concluída,
adotada, com a utilização de geodrenos para a com detalhes do pavimento e dos dispositivos
aceleração dos recalques, geotêxtil tecido para a de drenagem, sem nenhum sinal de trincas ou
o aterro de conquista e geogrelhas para a danos no pavimento e dispositivos de
estabilização dos taludes. drenagem.
1.7
0
Seção E 0+420 1.5
Talude 1V:2,5H
Geogrelha 300kN/m 1.32
16
15
Aterro
14
13
12 Solo mole
11
Elevação (m)
10
9
8
7
6
5 Solo resistente
4
3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 4
Distância (m)
Figura 8. Estabilidade do talude reforçado.
Figura 11. Detalhe da instalação das geogrelhas.
REFERÊNCIAS
610
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PALAVRAS-CHAVE: Obras rodoviárias, solos moles, viadutos, estacas de areia, geogrelhas, efeito
Tschebotarioff.
ABSTRACT: In the design and construction of highways the presence of layers of soft soil is
common. This represents a risk in terms of global stability and strain due to the low support
611
capacity and the compressible nature of these soils, especially in foundations of viaducts and
bridges that can suffer horizontal displacements due to the Tschebotarioff effect. This paper intends
to present a case of reinforced landfills supported by soft soils improved with mortar and sand and
gravel piles located at the headwaters of a bridge of 2 de Julho Avenue (between Cajazeiras and
BR-324 ) located in Salvador-BA city. In the context of the study, the presence of layers of 6m of
soft soils (Nspt equal to 2) in longitudinal extensions of more than 15m in average in relation to the
beginning of the deck of the bridge was verified through geotechnical investigations by Standard
Penetration Tests (SPT). To analyse the problem, simulations were carried out using MEF (Finite
Element Method) considering columns of crushed stone (D equal to 40 cm) through the soft soil
layer to transfer the landfill load to the most resistant layers in depth, with geogrids in the extension
of the embankment to allow uniform distribution of the conventional landfill loading and significant
reduction of the Tschebotarioff effect on the piles of the bridge foundations. As a conclusion, it was
verified that the suggested solution is technically feasible due to the resistance and deformation of
the landfill.
KEY WORDS: Highways constructions, soft soils, viaducts, sand piles, geogrids, Tschebotarioff
effect.
612
camadas de siltes argilosos, argilas siltosas e
areia siltosas em variadas profundidades. A
Figura 2 ilustra dois perfis obtidos pela
sodagem SPT e como pode ser visto são solos
que apresentam de uma maneira geral uma
valor de Nspt inferior a 20 golpes e variações de
resistência em profundidade.
3 ESPECIFICAÇÕES DO ATERRO
REFORÇADO COM ADIÇÃO DE ESTACAS
DE ARGAMASSA E DE AREIA E BRITA
Como pode ser visto na Figura 3, foi modelado Figura 4. Locação de estacas argamassadas de areia e
o encontro dos viadutos através de um aterro brita em planta.
reforçado com geogrelhas apoiados sobre
estacas de concreto vibrado e estacas de areia e As estacas de concreto vibrado foram
brita do viaduto que liga a BR 324 ao bairro de projetadas para a região situada na projeção do
Cajazeiras. paramento de montante da contenção em solo
O traço da estaca de concreto vibrado foi reforçado do aterro de cabeceira. As estacas de
1:6:3 (Cimento: Areia e Brita) com diâmetro de areia e brita foram projetadas para a região
400mm, comprimento médio que oscilava entre situada na projeção do aterro de cabeceira mais
11 a 14m, espaçamento de 1,5m, cujo metodo distantes do paramento frontal. A Figura 5
de cravação foi através da bucha seca. Quanto ilustra as linhas de estacas de concreto vibrado
as especificações da estaca de areia e brita, o e estacas de areia e brita na cabeceira direita do
traço estipulado foi 2:1 (Areia:Brita), com viaduto da BR-324.
diâmetro de 400mm, comprimento médio de 9m As estacas foram envolvidas no topo por
e espaçamento entre estacas de 1,5m. uma camada de aterro de material granular
613
reforçado por geogrelhas com o objetivo de Tabela 1. Parâmetros adotados no estudo.
absorver o carregamento do aterro de cabeceira E γ c' Ø'
Solo/Material ν L(m)
(MPa) (kN/m³) (kPa) (°)
e transferir o mesmo para estratos com maiores Silte Argilo
capacidade de carga situdos abaixo da camada Arenoso 0a
10,0 0,40 17 10,0 25
de solo mole. (Talude 6,70
Natural)
Aterro
Compactado
(Areia
22,5 0,35 18 0,0 35 9,4
Compactada)
Brita
graduada
48,0 0,20 21 0,0 40 0,4
Areia 9,5 0,35 18 0,0 30 0,5
Silte argiloso
mole
5,0 0,40 15 5,0 20 5
Silte argiloso
médio a rijo
15,0 0,40 17 10,0 28 15
Silte Arenoso 20,0 0,40 19 0,0 30 14
Estacas de
argamassa
4.558,6 0,15 25 --- --- ---
Estacas de
areia e brita*
18,7 0,25 19 0,0 40 ---
614
redução global do material baseada na equação Onde:
(1); a – Dimensão do capitel/estaca;
s – Espaçamentos entre estacas;
FR global = FR f x FR i x FR da x FR ipm (1) 𝐻 – Altura do aterro;
𝑓𝑓𝑠 = 𝑓𝑞 – Fator de segurança para estado limite
Onde: último;
FR f – Fator de redução devido a fluência (2,6); 𝜔𝑠 – Sobrecarga de serviço;
FR i – Fator de redução devido a instalação p’ c – Tensão atuante no capitel da estaca;
(1,2); σ’ v – Tensão vertical efetiva;
FR da – Fator de redução devido a degradação
ambiental (1,1); A determinação dos esforços nas geogrelhas foi
FR ipm – Fator de redução devido às incertezas obtidos pelo método proposto pela norma ingles
nos parâmetros mecânicos (1,03). BSI 8006 (2010), onde são calculadas as forças
atuantes no topo do reforço (T rp ) e a a força no
Portanto o fator de redução global (FR global ) reforço necessária para impedir o
calculado foi de 3,53. escorregamento lateral do aterro (T ds ) baseadas
nas equações (5) e (6):
4.4 Esforços na geogrelha do aterro reforçado
𝑊𝑡 (𝑠−𝑎) 1 1/2
Segundo Mello e Bilfinger (2015), devido a T rp = � 2𝑎
�. �1 + 6𝜀
� (5)
grande diferença de rigidez entre a estaca e o
solo mole circundante a mesma utiliza-se a Onde:
Fórmula de Marston, conforme equação (2): a – Dimensão do capitel/estaca;
s – Espaçamentos entre estacas;
𝑝′𝑐 𝐶𝑐 𝛼 2 W t – Carga distribuida suportada pelo reforço
𝜎′𝑣
=� 𝐻
� (2)
entre os capiteis;
𝜀 – Deformação específica suportada pelo
Onde: reforço.
p’ c – Tensão atuante no capitel da estaca;
σ’ v – Tensão vertical efetiva; T rp = 0,5 K a (𝑓𝑓𝑠 𝛾𝐻 + 2𝑓𝑞 𝑓𝜔𝑠 )H -
C c – Coeficiente de arqueamento; 2𝑓𝑐 𝑐′�𝐾𝑎 (6)
𝛾 – Peso específico do aterro;
α – Dimensão do capitel;
Onde:
𝐻 – Altura do aterro; K a – Empuxo ativo;
𝛾 – Peso específico do solo;
O coeficiente de arqueamento da estaca de
𝐻 – Altura do aterro;
argamassa é característica de estaca de ponta,
𝑓𝑓𝑠 = 𝑓𝑞 – Fator de segurança para estado limite
cuja estimativa baseia-se na equação (3):
último;
𝐻 𝑓𝑐 – Fator de redução para coesão efetiva
C c = 1,95� 𝑎 � – 0,18 (3) 𝜔𝑠 – Sobrecarga de serviço;
c’ – Coesão efetiva.
Onde:
α – Dimensão do capitel; 4.5 Comprimento mínimo de reforços com
𝐻 – Altura do aterro; geogrelha
615
0,5𝐾𝑎 �𝑓𝑓𝑠 𝛾𝐻+2𝑓𝑞𝜔𝑠 �𝐻𝑓𝑠 𝑓𝑛 interna para estado limite último do aterro
Le = 𝛾ℎ (𝛼′ 𝑡𝑎𝑛𝜑′𝑐𝑣
(7)
�
𝑓𝑚𝑠
+𝑓𝑐 𝑐′� reforçado, sendo representativo de uma situação
a qual haveria ruptura das geogrelhas e
Onde: consequentemente a ruptura do aterro, e como
K a – Coeficiente de empuxo ativo do solo; pode ser visto o fator de segurança mínimo
𝑓𝑓𝑠 – Fator de segurança para estado limite obtido foi de 2,515 e portanto superior ao fator
mínimo recomendado pela NBR 11682(2009).
último;
𝑓𝑠 – Fator de segurança parcial para
escorregamento lateral;
𝑓𝑛 – Fator de segurança parcial que considera
aspectos econômicos;
𝑓𝑚𝑠 – Fator de segurança parcial aplicado ao
ângulo de atrito;
𝑓𝑐 – Fator de redução para coesão efetiva;
α – Dimensão do capitel;
𝛾 – Peso específico do solo;
𝐻 – Altura do aterro;
𝐻 – Altura média do aterro sobre o reforço; Figura 6. Avaliação de estabilidade do estado limite
𝜔𝑠 – Sobrecarga de serviço; último da geogrelha.
𝜑’ cv – Ângulo de atrito efetivo do solo do
A Figura 7 apresenta a análise da
aterro;
estabilidade externa do aterro reforçado e como
c’ – Coesão efetiva;
pode ser visto o valor foi igual 1,615,
consequentemente encontra-se estável, uma vez
4.6 Capacidade de carga das estacas de
que o fator de segurança foi superior ao fator
argamassa
mínimo recomendado pela NBR 11682(2009).
A estimativa da capacidade de carga das estacas
de concreto vibrado foram estimadas a partir do
método de Decourt e Quaresma (1978),
considerando a hipótese de comportamento
semelhante a de uma estaca escavada e
desconsiderando o efeito de melhoramento
profundo que ocorre durante a execução da
estaca em função da vibro-cravação.
616
concreto vibrado e das estacas de areia e brita
foram calculadas e estão informadas nas
equações (8) e (9), respectivamente.
617
Tabela 2. Valores de carga da estaca por viaduto. prever se e ou quando serão necessarias
manutenções futuras na obra;
Carga máxima Carga máxima
Viaduto de
ΔH (m) por estaca por estaca
g) As qualidades das modelagens são
entrada intrinsecamente influenciadas pelos
(kN)* (kN)**
Bloco A 8,508 367 319
parâmetros de entrada do sistema, sendo
válida uma análise paramétricas para
Bloco C 7,059 308 268 avaliar o impacto das variaveis nos
Carga máxima Carga máxima resultados finais.
Viaduto de
ΔH (m) por estaca por estaca h) Recomenda-se a comparação dos
saída
(kN)* (kN)** resultados obtidos dos modelos
Bloco A 8,813 379 330 computacionais com os métodos
Bloco C 7,471 325 282 analíticos consagrados na literatura.
Legenda: *Carga na estaca desprezando a AGRADECIMENTOS
contribuição do solo/ ** Carga na estaca
considerando a contribuição do solo adjancente Os autores manisfestam a sua gratidão à
à estaca (aproximadamente 87% da carga total). CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal Nível Superior) pelo fomento e amparo
à pesquisa do PPGEC ( Programa de Pós-
6 CONCLUSÕES Graduação em Engenharia Civil) da UFRGS (
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Baseado no estudo realizado aterro reforçado assim como paras as empresas PROJEKT e a
com geogrelha melhorados com estacas de GEOTEC Consultoria e Serviços Ltda. pelo
argamassa e de areia e brita, as seguintes subsidio de informações necessárias para a
considerações puderam ser realizadas: composição do artigo.
a) A literatura relata que o carregamento em
argilas moles pode gerar transferência de REFERÊNCIAS
tensões para estruturas rígidas dos apoios
dos encontros, bem como variações Almeida, M. de Souza S. (1996). Aterros sobre solos
volumétricas que ocasionam recalques moles: Da concepção à avaliação do desempenho.
nos aterros, requerendo um estudo Ed. UFRG, Rio de Janeiro, Brasil. p.215.
rigoroso da interação entre os aterros dos ABNT (2009). NBR 11682: Estabilidade de enconstas.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
encontros e a estrutura de pontes e Janeiro, p. 33.
viadutos; BSI (2010). BS 8006: Code of practice for strenghened/
b) O fator de Segurança (FS) obtido para reinforced soil and other fills. British Standard
estado limite último foi de 2,515; Institution, London.
c) O fator de Segurança (FS) obtido para Décourt, L.& Quaresma, A. R. (1978) Capacidade de
carga de estacas a partir de valores de SPT. Anais VI
estabilidade global foi de 1,615; Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
d) O fator de Segurança (FS) obtido para Engenharia de Fundações (VI COBRAMSEF),
estado limite último foi de 1,415, ABMS. Rio de Janeiro. v.1, p.45-53.
considerando-se a resistência para o Mello, L. G. F. S. & Bilfinger, W. (2015) Aterros sobre
limite de deformação da geogrelha de 2% estacas. Vertematti, J.V. (ed) Manual Brasileiro de
Geossintéticos, Associação Brasileira de das
e) A concentração de tensões no topo das Indústrias de Não tecidos e de Tecidos Técnicos, São
estacas reduz consideravelmente as Paulo, cap. 4.7, p. 155 -201.
tensões na camada de solo através do Milititsky, J.; Consoli, N. C., Schnaid, F.
efeito de “arco”.; (2015) Patologia das fundações. Ed. Oficina de
f) Embora não realizado, seria importante a Textos, São Paulo, Brasil. p.256.
Palmeira, E. M.; Ortigão, A. (2015) Aterros sobre solos
realização dos acompanhamentos dos moles. Vertematti, J.V. (ed) Manual Brasileiro de
deslocamentos verticais e horizontais da Geossintéticos, Associação Brasileira de das
obra para verificação dos parâmetros Indústrias de Não tecidos e de Tecidos Técnicos, São
adotados e também como uma forma de Paulo, cap. 4.4, p. 94 -106.
618
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
O município de Araras, localizado no interior do estado de São Paulo a partir do ano de 2015
recebeu a implantação de conjuntos habitacionais localizados entre a Estr. Mun. José Estavan Zurita
e a Rua Augusto Massucato. Com o aumento da impermeabilização gerado através da implantação
das moradias populares, houve um acréscimo no run-off e consequentemente um aumento na vazão
de contribuição na sub-bacia. No ano de 2016 iniciou-se um processo de erosão a jusante da área
habitacional, e ao passar do tempo tal erosão aumentou de tamanho formando uma voçoroca logo
após a tubulação de drenagem. Para restaurar a área impactada e absorver esta nova vazão, foi
projetada uma bacia de detenção que recebia a vazão através de uma escada em gabiões. Tal bacia é
permeável e possui dois extravasores, sendo um ladrão vertical e uma soleira de parede espessa a
jusante da detenção. O ladrão vertical de concreto é responsável por extravasar a lâmina excendente
e a soleira é responsável por extravasar a lâmina máxima da bacia. Para o dique da soleira livre
foram utilizadas geogrelhas tecidas como reforço da base do maciço. Na sequência da estrutura foi
executada uma segunda escada dissipadora em Gabiões revestida com argamassa que ligava o
sistema a uma canalização trapezoidal em Colchão Reno. A solução proposta teve um ótimo
desempenho na dissipação da energia da nova vazão oriunda do aumento da impermeabilização, na
restauração da área erodida e no encaminhamento das águas.
The Araras city, localized in the São Paulo state in the year 2015 has started to building housing
complex localized between the Estr. Mun. José Estavann Zurita and Rua Augusto Massucato. With
the waterproof increasing, generated by the housing impermeabilization area, there was a runoff
addition and consequently a bigger discharge in the sub-basin. In the year 2016 the it started an
erosion process downstream of the housing complex, and with the time the erosion became bigger
and deeper. For restoring the impacted area and absorbing the new discharge, was projected a
retention basin which received the discharge of the Gabions dissipation ladder. The retention basin
is permeable and has two spillways, one vertical and the other in the crest of the dam. The vertical
concrete spillway is responsible to overflow of the excess water, and the spillway of the crest is
responsible to overflow the maximum water level. For the dam were used woven geogrids for
reinforcement in the base of the massive. After the dam was executed the second Gabions
dissipation ladder with an additional protection of grout, that ladder did the connection the system
to a trapezoidal channel of Reno mattress. The solution proposed had a great performance in the
energy dissipation of the new discharge deriving of the waterproof increasing, in the eroded area
restoration, and in the routing of the water.
619
1 INTRODUÇÃO regiões impermeabilizadas a água da chuva não
consegue infiltrar no solo e automaticamente
O município de Araras localizado no interior do contribui para um escoamento superficial.
estado de São Paulo, com altitude de 646m e
população estimada 132.934 habitantes segundo
o IBGE 2018, teve um grande desenvolvimento
urbano.
Erosão iniciada
No ano de 2016 houve a implantação de um
conjunto habitacional localizado entre a Estr.
Mun. José Estavan Zurita e a Rua Augusto
Massucato, na região norte da cidade. Tal Novo Conjunto
implantação transformou a capacidade de Habitacional
absorção de água de chuva do bairro, que até o
momento era vegetado (Figura 1) e após a
implantação teve uma maior taxa de
impermeabilização, diminuindo desta maneira a Figura 3. Preparação na nova fase do conjunto
capacidade de absorção das águas das chuvas habitacional e eroão de jusante
pelo próprio terreno (Figuras 2).
Tendo em vista as mudanças dos coeficiente
de runoff (coeficiente de escoamento
superficial) do local, e o início de um processo
erosivo de jusante, houve um estudo de
soluções hidráulicas para possibilitar que a
implantação dos conjuntos habitacionais não
gerassem um agravamento da erosão de jusante.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 1. Área a serem implantados os conjuntos
habitacionais, 2013 2.1 Solução Geral
620
dissipação. execução, ou seja, a limpeza do solo é realizada
Com a finalidade de proteger a solução em e na disposição do material pétreo tem-se uma
Gabiões que é constituída de malha hexagonal agulhamento natural deste das pedras e um
dupla torção preenchida com rachão (pedra de consumo final muito elevado e imprevisto no
mão), foi projetada uma camada superficial em orçamento. Com a finalidade de melhorar o
argamassa com espessura de 5cm e traço de 4:1. confinamento do rachão na base da barragem,
Na interface dos gabiões da escada com o indicou-se o uso de uma microgrelha de
solo natural foi indicada uma camada de poliester com resistência bidirecional de
geotêxtil, com a finalidade de filtro. O filtro 45kN/m. Tal material tinha a responsabilidade
geotêxtil tem a importante função de permitir a de melhorar o confinamento do rachão de base,
passagem de água porém impossibilitar a impossibilitar o agulhamento excessivo do
passagem de finos, garantindo desta forma o material pétreo, e gerar uma uniformidade de
volume de aterro compactado ao tardoz da base através do seu efeito membrana, (Figura
escada em Gabiões. 5). Tal material é produzido a partir de
Logo a jusante da escada foi projetada uma filamentos de Poliéster de alta tenacidade que
proteção contra solapamento, através de uma com baixos valores de alongamento
camada de colchão Reno com extensão máxima movimentam elevadas resistências à tração.
de 16m, sendo que no sexto metro foi Além dos filamentos de Poliéster tem-se uma
implantada uma caixa de gabião com a proteção superficial contra ataques químicos,
funcionalidade de gerar uma pequena lâmina na biológicos, e ambientais, através do
base da escada, a qual ajudaria na dissipação revestimento de PVC, (Figura 6).
parcial do escoamento, (Figura 4).
Microgrelha
Poliéster
621
se estudos para a viabilização de geogrelhas intermediária de solo, conforme pode-se
como reforços a tração que seriam incorporados observar na Figura 7.
na base do maciço. A função da geogrelha neste
caso é basicamente de impedir rupturas globais 2.4 Escada dissipadora de jusante
nos taludes de montante e jusante, visto que os
mesmo estavam sendo projetados com Na crista da barragem foi projetado um vertedor
inclinações de 3H:1V. Outras funções que era diretamente conectado a uma segunda
secundárias da geogrelha nesta aplicação eram escada dissipadora. Esta segunda escada foi
de impedir recalques diferenciais na base do constituída com as mesmas propriedades
barramento e uniformar a base da estrutura, iniciais utilizadas na escada de montante, ou
(Figura 7). seja, projetada com Gabiões revestidos com
argamassa, e geotêxteis na interface
Gabião/solo. A quantidade de degraus e sua
Geogrelha respectiva geometria foi determinada através da
necessidade topográfica local, visto que a
escada iniciava na crista da barragem e se
encerrava no início de canal trapezoidal, Figura
9.
622
2.5 Canalização de jusante
Tubulação de
No término da segunda escada dissipadora, foi drenagem
desenvolvido um trecho final de canalização,
(Figura 11) onde o escoamento voltaria a ser
fluvial antes de ser lançado no trecho natural.
Este trecho final tem a responsabilidade de
receber a vazão oriunda da escada dissipadora e
“tranquilizar” o escoamento para o lançamento
no trecho natural.
Para a canalização em colchão Reno foi Figura 13. Marco inicial da obra através da tubulação de
utilizada uma camada de geotêxtil na interface 1,2m
colchão solo, este filtro tem a função principal
de não permitir que a velocidade residual do Na Figura 14, pode-se observar a presença
escoamento (passante sob a camada de pedras, da geogrelha tecida de poliéster com resistência
já que este canal não recebeu revestimento a tração de 90kN/m implantada sob o maciço
adicional de argamassa) transporte o solo de que posteriomente se tornou o barramento
base para dentro do canal (como podemos ver localizado a jusante da bacia de detenção e que
na Figura 12), pois caso isto aconteça pode dava sustentação a escada dissipadora de
ocorrer uma erosão de base mesmo com o jusante.
revestimento do colchão, o que inviabiliza
tecnicamente a solução. Geogrelha
tecida
Figura 11. Seção transversal da canalização final Figura 14. Presença da geogrelha na base do barramento
623
de garantir que a tensão que o barramento
Geotêxtil descarregaria no solo seria suportado pelo
mesmo. As geogrelhas utilizadas na base do
barramento impossibilitaram qualquer ruptura
global do maciço assim como recalques
diferenciais. O filtro geotêxtil impossibilitou a
fuga de solo por dentro dos gabiões e colchões.
Em resumo a obra atendeu as espectativas
esperadas de recomposição do terreno erodido,
Figura 15. Execução da escada de montante proteção contra futuras erosões e dissipação de
energia das águas oriundas da drenagem de
parcial da cidade.
REFERÊNCIAS
4 CONCLUSÃO
624
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019
Gerardo Fracassi
Maccaferri, Jundaí, Brasil, fracassi@maccaferri.com.br
RESUMEN: Las obras ingenieriles implican la modificación de los terrenos naturales, alterando la
topografía de acuerdo con el diseño de infraestructura del proyecto en particular. Generalmente se
producen cortes y rellenos que requieren obras estabilizadoras, o de control de erosión superficial.
La erosión es una de las principales fuentes de contaminación del agua, y la construcción de obras
de ingeniería es una de las principales causas de este fenómeno. Para poder realizar un diseño
adecuado de las obras de control de erosión, se debe realizar un análisis completo de las
condiciones geológicas, geotécnicas y ambientales, que suministre los parámetros necesarios para
evaluar el comportamiento del talud una vez construido. Se debe analizar la estabilidad del talud
para determinar si es necesario incorporar una obra de estabilización, analizando los diferentes
mecanismos de falla. En el caso de taludes estables, pero con problemas de erosión superficial, será
necesaria la implementación de revestimientos para protegerlos. Actualmente, en el mercado
existen diferentes alternativas para la protección contra la erosión pluvial y/o eólica, siendo las
geomantas y redes de alta resistencia las más utilizadas. La elección de las mismas depende de las
condiciones del suelo, geometría y composición del talud. El revestimiento de taludes tiene como
objetivo principal proteger contra la erosión superficial taludes que son geotécnicamente estables,
evitando su degradación ambiental, propiciando la recuperación del medio circundante e
impidiendo deslizamientos superficiales. A nivel latinoamericano se trabaja arduamente en crear
conciencia del diseño e implementación de tecnologías para el control de erosión, por lo cual es
necesario conocer los problemas que se presentan y las metodologías de solución.
ABSTRACT: The engineering works involve the modification of the natural lands, altering the
topography according to the project infrastructure particular design. Often earth works produce cuts
and fills that require stabilizing works, or control of surface erosion. Erosion is one of the main
sources of water pollution, and the construction of engineering works is one of the main causes of
this phenomenon. In order to carry out an adequate design of the erosion control works, a complete
analysis of the geological, geotechnical and environmental conditions must be carried out,
providing the necessary parameters to evaluate the behavior of the slope once it has been finish. The
stability of the slope should be analyzed to determine if it is necessary to incorporate a stabilization
work, analyzing the different failure mechanisms. In the case of stable slopes, but with problems of
superficial erosion, it will be necessary to implement materials to protect them. Currently, in the
market there are different alternatives for protection against rain and / or wind erosion, being the
geoblankets and high resistance nets the most used. The choice of them depends on the soil
conditions, geometry and composition of the slope. The main objective of erosion control is to
protect slopes that are geotechnically stable against surface erosion, avoiding environmental
degradation, promoting the recovery of the surrounding environment and preventing surface slides.
At the Latin American level, hard work is being done to create awareness of the design and
implementation of technologies for erosion control, which is why it is necessary to know the
problems that are presented and the solution methodologies.
625
1 INTRODUCCIÓN 2 OBJETIVOS
La Republica de Costa Rica está ubicada en Proteger la superficie de los taludes del
América Central, entre el océano Pacífico y el efecto de la lluvia y del viento.
Atlántico, por su posición geográfica posee un Reducir la velocidad del agua de lluvia y
clima tropical, con periodos intensos de lluvia y escorrentía, debido a las altas pendientes
una época seca acompañada de fuertes vientos. que presenta el proyecto Vista Mar.
Topográficamente se encuentran zonas planas, Proteger el terreno de los efectos del sol.
rodeadas de sistemas montañosos importantes, Evitar la fuga de material fino y pequeños
por lo que es frecuente que durante el desarrollo bloques de los taludes expuestos.
Crear un ambiente propicio para el
de proyectos de infraestructura se presenten
crecimiento de la vegetación.
taludes de corte y relleno que necesitan ser
Permitir el armado de las raíces de la
estabilizados o tratados para controlar la erosión
vegetación utilizando las geomantas como
superficial. un refuerzo adicional.
El proceso de erosión ha afectado a nuestro
país en los últimos años, trayendo como
consecuencia la desaparición acelerada de 3 MATERIALES Y MÉTODOS
suelos orgánicos, sedimentación de ríos y
avalanchas por mal manejo de los suelos. Fueron usados materiales patentados por
Continuamente las empresas que desarrollan Maccaferri para este tipo de obras de control de
tecnologías verdes han realizado avances erosión, el geocompuesto MacMat® R1 está
significativos en técnicas que permiten mitigar formado por una geomanta flexible
los problemas de erosión, minimizando su tridimensional, que presenta mas del 90% de
severidad. vacíos, fabricada a partir de filamentos gruesos
El manejo de las aguas desde el inicio de de polipropileno, fundidos en todos los puntos
proceso constructivo es sumamente relevante, de contacto y, un refuerzo metálico,
se ha determinado que la presencia de agua de confeccionado con malla hexagonal de doble
lluvia, la escorrentía y el agua subterránea es la torsión, producida con alambres de acero de
principal causa de los problemas que se bajo contenido de carbono, revestidos con zinc
presentan en los taludes. La protección inicial + pvc.
La asociación de la geomanta y el refuerzo
de los taludes suele tratarse con vegetación,
metálico permite que ambos elementos trabajen
teniendo especial cuidado en la selección del
de forma conjunta, concediendo a la solución
tipo de especie a incorporar, el objetivo es características de elevada capacidad anti-
lograr una cobertura vegetal que subsista en el erosiva, con óptima resistencia a la tracción.
medio. Debido a las características antes mencionadas
En ocasiones, debido a las características es indicada para taludes susceptibles a la
particulares de un talud, se requiere erosión, con grandes alturas y pendientes muy
complementar la protección vegetal con empinadas, ya que añade las ventajas de la
materiales sintéticos. Las geomantas y redes de geomanta a las de un elemento de refuerzo.
alta resistencia han sido desarrolladas para Previamente, se analizó la estabilidad de los
reforzar y crear el ambiente propicio para que la taludes, por medio de programas que utilizan
vegetación surja y permanezca a lo largo del métodos de equilibrio límite, determinando que
tiempo en el talud a tratar. Durante el son geotécnicamente estables. Por tanto, la
planeamiento, diseño e implementación de las solución debía ser enfocada al control de
obras de control de erosión debe intervenir un erosión superficial.
equipo interdisciplinario que incluya geólogos, Los parámetros geotécnicos y propiedades
geotecnistas, ambientalistas, ingenieros civiles, de las capas de suelo con las que se realizó el
forestales e hidráulicos. análisis fueron determinados mediante estudios
de campo y laboratorio con muestras
626
provenientes de varios puntos del proyecto y en
otros casos se usaron correlaciones para
obtenerlos.
4 CASO DE ESTUDIO
627
se implementaron obras de retención para
garantizar la estabilidad y seguridad de las
estructuras, tales como; muros de gaviones,
suelos reforzados y muros anclados. En la
Fotografía 3, se puede observar el estado del
proyecto una vez terminado el movimiento de
tierras y obras de retención.
628
• En la corona del talud, se abrió una El MacMat® R1 al ser un geocompuesto
zanja de aproximadamente 30x30cm flexible, permite que elementos como árboles
para anclar el manto. puedan bordearse, de modo que la conservación
de los mismos está garantizada.
• Se fijó el manto en el fondo de la zanja
con grapas espaciadas a cada 2.0m.
Posteriormente se colocó el suelo
excavado en la zanja y se procedió a
compactar.
• Concluido el anclaje, se desenrolla el
manto sobre el talud. las uniones entre
los rollos de malla se realizan a través
del amarre con alambre, alternando
vueltas simples y dobles en cada malla.
• Se fijó el manto al talud utilizando Fotografía 6. Conservación de árboles en taludes.
grapas de acero o estacas de madera.
Las grapas deben ser distribuidas en
función de la inclinación del talud.
629
Adicional a la instalación de los mantos, se
realizó un adecuado control de aguas pluviales
mediante la construcción de cunetas y contra
cunetas, estos elementos intervienen el flujo de
agua de escorrentía que puede afectar los
taludes.
6 CONLUSIONES
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
630