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ANAIS

VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOSSINTÉTICOS

Editores
Orencio Monje Vilar
Fernando Henrique Martins Portelinha

São Carlos
EESC
2019
Promoção

Organização

Dep. Engenharia Civil


Univ. Federal de São Carlos
UFSCar
Patrocinadores

OURO

PRATA

BRONZE
PREFÁCIO

O REGEO (Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental) e o GEOSSINTÉTICOS (Congresso


Brasileiro de Geossintéticos) são eventos de origens distintas e realizados em conjunto a partir de 2003. O
REGEO pode ter sua origem centrada no Seminário sobre Barragens de Rejeitos e Resíduos de Mineração,
realizado em 1986 na UFOP. Seguiu-se o I Simpósio sobre Barragens de Rejeitos e Resíduos de Mineração
realizado em 1987 no Rio de Janeiro, que também sediou o II Simpósio, em 1991, agora denominado com a
sigla REGEO, em função da necessidade de ampliar a temática do evento.
Em 1995, o III Simpósio ocorreu em Ouro Preto e, em 1999, a edição realizada em São José dos
Campos, no ITA, ampliou o enfoque do evento tratando de incluir as mais variadas questões relacionadas ao
meio ambiente tratadas sob a ótica da Geotecnia. A edição seguinte do evento, em 2003, marcou o ano em
que o IV Simpósio Brasileiro de Geossintéticos passou a ocorrer em conjunto com o V Congresso Brasileiro
de Geotecnia Ambiental (REGEO), sendo sede dos eventos Porto Alegre – RS.
O primeiro Simpósio Brasileiro de Geossintéticos foi realizado em 1992, na UNB em Brasília. O II
Simpósio aconteceu em São Paulo em 1995, enquanto o III Simpósio teve lugar no Rio de Janeiro que
abrigou, em paralelo, o I Simpósio Sul-Americano de Geossintéticos e, como já citado, a partir de 2003 os
eventos foram realizados de forma conjunta, fato que prosseguiu nas edições seguintes em Recife (2007),
Belo Horizonte (2011) e Brasília (2015), acontecendo regularmente a cada quatro anos.
Em 2019, os eventos têm lugar nas dependências da Escola de Engenharia de São Carlos – USP, na
cidade de São Carlos –SP, numa promoção da IGS/Brasil (Associação Brasileira de Geossintéticos) e da
ABMS – Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, e organização da do
Departamento de Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-
USP) e Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), com o
objetivo de discutir os aplicações técnicas, aspectos teóricos e práticos, e pesquisas relacionadas às áreas de
geossintéticos e geotecnia ambiental. Para viabilizar os eventos, contou-se com o apoio de diversas pessoas e
entidades. O Comitê Organizador do REGEO 2019 (IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental) e o
GEOSSINTÉTICOS 2019 (VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos) deseja agradecer o apoio dos
colegas que não mediram esforços para que o evento se concretizasse; dos autores por suas contribuições e
dos Patrocinadores que permitiram viabilizar financeiramente o evento. Registra-se, em especial, a ajuda de
Edmilson Lucchesi na confecção do logotipo; de Ricardo L. Cerra e Alexandre Munaiar pela confecção da
home page; de Neiva Mompean Rosalis por todo o trabalho de secretaria; de Carlos Vinicius Benjamim pela
obtenção dos patrocínios e a Cauê S. Somensi pela manutenção da home page do evento.

São Carlos, 01 de agosto de 2019

Orencio Monje Vilar Fernando Henrique Martins Portelinha


Departamento de Geotecnia Departamento de Engenharia Civil
Escola de Engenharia de São Carlos/USP Universidade Federal de São Carlos
Comissão Organizadora
Coordenação
Fernando H. M. Portelinha Orencio Monje Vilar
(DECiv/UFSCar) (EESC/USP)

Comissão de Apoio Local


Cristina de Hollanda C. Tsuha Osni José Pejon
(EESC/USP) (EESC/USP)
Edmundo Rogério Esquivel Oswaldo Augusto Filho
(EESC/USP) (EESC/USP)
José Antonio Schiavon Rogério Pinto Ribeiro
(EESC/USP) (EESC/USP)
Lázaro Valentim Zuquette Clever Aparecido Valentin
(EESC/USP) (EESC/USP)
Valéria Guimarães S. Rodrigues Natália de Souza Correia
(EESC/USP) (DECiv/UFSCar)
Jefferson Lins da Silva Tarcísio Barreto Celestino
(EESC/USP) (EESC/USP)
Neiva Mompean Rosalis Carlos Vinicius dos S. Benjamim
(Secretária Executiva) (Engconsultoria)

Comissão Técnico-Científica
Delma De Mattos Vidal ITA
Ennio Marques Palmeira UNB
José Carlos Vertematti Consultor
José Fernando Thomé Jucá UFPE
Lavoisier Machado Consultor
Leandro de Moura Costa Filho Consultor
Maria Claudia Barbosa COPPE – UFRJ
Maria Eugenia Gimenez Boscov EP-USP
Mauricio Ehrlich COPPE – UFRJ
Romero César Gomes UFOP
Sandro Lemos Machado UFBA
Tácio Mauro Pereira de Campos PUC - RIO
Comissão de Revisão

Adalberto L. Faxina Adilson do Lago Leite


EESC/USP UFOP
Alberto Pio Fiori Almir Sales
UFPR UFSCar
Ana Cristina Castro Fontela Sieira Ana Elisa Silva de Abreu
UERJ UNICAMP
Ana Paula Furlan André Luis Brasil Cavalcante
EESC/USP UNB
Antonio Thomé Carina Maia Lins Costa
UPF UFRN
Claudia Marisse dos Santos Rotta Consuelo Alves da Frota
UFSCAR UFAM
Delma de Mattos Vidal Denise Balestrero Menezes
ITA UFSCar
Denise de Carvalho Urashima Eder Carlos Guedes dos Santos
CEFET/MG UFG
Edilson Pizzato Edmundo Rogério Esquivel
USP/IGEO EESC/USP
Eduardo Goulart Collares Eduardo Pavan Korf
UEMG UFFS
Eliane Viviani Elisabeth Ritter
UFSCAR UERJ
Fagner Alexandre Nunes de França Fernanda Giannotti
UFRN UFSCAR
Fernando A. M. Marinho Fernando Lavoie
EP-USP Instituto Mauá de Tecnologia
Francis Kakuda Giovana Bizão Georgetti
UFSCAR UFU
Giulliana Mondelli Glicério Triches
UFABC UFSC
Gregório Luis Silva Araújo Gustavo Ferreira Simões
UNB UFMG
Heraldo Luiz Giacheti Heraldo Pitanga
UNESP UFV
Janaína Barrios Palma José Antonio Schiavon
Arcadis Logos S.A ITA
José Augusto de Lollo José Carlos Vertematti
UNESP/IS Consultor
José da Costa Marques Neto José Orlando Avesani Neto
UFSCAR EP-USP
José Tavares Araruna Junior Julio Antonio Zambrano Ferreira
PUC/Rio TRI Ambiental Ltda
Karla Salvagni Heineck Lázaro Valentin Zuquette
UFRGS EESC/USP
Lucio FlávioVillar Luis Fernando Martins Ribeiro
UFMG UNB
Manoel de Melo Maia Nobre Marcelo Takeda
UFAL UFSCAR
Marcia Maria dos Anjos Mascarenha Marcilene Dantas Ferreira
UFG UFSCAR
Marcos A. G. Ferreira Marcos Massao Futai
UFSCAR EP-USP
Maria das Graças Gardoni Almeida Maria Lurdes Lopes
UFMG Univ. Porto
Maria Eugenia Gimenez Boscov Mauricio Erlich
EP-USP UFRJ
Michéle Dal Toé Casagrande Miguel A. Alfaro Soto
UNB UNESP
Miriam F. Carvalho Machado Miriam Gonçalves Miguel
UCSAL UNICAMP
Natália de Souza Correia Nelson Padron Sanchez
UFSCAR UNB
Orencio Monje Vilar Paulo José Rocha de Albuquerque
EESC/USP UNICAMP
Paulo Cesar de Almeida Maia Paulo Cesar Lodi
UENF UNESP
Paulo Scarano Hemsi Pedro Domingos Marques Prietto
ITA UPF
Persio Leister de Almeida Barros Rafael Ribeiro Plácido
UNICAMP Interact Engenharia
Regis Eduardo Geroto Reinaldo Lorandi
Engecorps UFSCar
Roger Augusto Rodrigues Rogerio Pinto Ribeiro
UNESP/Bauru EESC/USP
Rosane Cunha Maia Nobre Sandra Oda
UFAL UFRJ
Sandro Lemos Machado Sidnei Helder Cardoso Teixeira
UFBA UFPR
Simone Cristina de Jesus Terezinha de Jesus Espósito Barbosa
UFTM UFMG
Thelma Sumie Maggi M. Kamiji Vagner Roberto Elis
FRAL USP/IAG
Valéria G. S. Rodrigues Waldyr Lopes de Oliveira Filho
EESC/USP UFOP
Yuri Daniel Jatobá Costa
UFRN
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos

SUMÁRIO
Ensaios de Laboratório com Geossintéticos

Ensaios de Tração Faixa Larga em Geogrelha: Monitoramento das


Deformações Axiais através de Sensor de Deformação
GS179 23
Cid Almeida Dieguez; Camila Loeffler Carapajó; Mauricio Ehrlich; José Otávio Serrão
Eleutério
Avaliação da absorção de água do poliestireno expandido
21GS154 Isabela de Paula Rodrigues; Míriam Baggio Mercaldi; Mariana Basolli Borsatto; 29
Bruna Rafaela Malaghini; Caio Henrique Buranello dos Santos; Paulo César Lodi
Avaliação laboratorial da resistência à compressão de estruturas em solo
GS1101 reforçado com geossintéticos 35
Leonardo Marroffino Simões; Rodrigo Custodio Urban
Ensaios de Permeabilidade em Fluxo no Plano em Geotêxteis Tecidos com
GS1245 Procedimento não Normatizado 43
Luiza Kifer Nascimento; José Luiz Ernandes Dias Filho; Paulo Cesar de Almeida Maia
Avaliação de Resultados de Ensaio de Compressão Cíclica em Amostras de
GS157 Poliestireno Expandido (EPS) 49
Mariana Basolli Borsatto; Mozart Mariano Carneiro Neto; Bruna Rafaela Malaghini;
Caio Henrique Buranello dos Santos; Paulo César Lodi
Resistência ao Cisalhamento do Poliestireno Expandido (EPS) por meio de
Ensaios Triaxiais
GS158 55
Mariana Basolli Borsatto; Mozart Mariano Carneiro Neto; Bruna Rafaela Malaghini;
Caio Henrique Buranello dos Santos; Paulo César Lodi

Geossintéticos em Filtração e Drenagem

Sistema de Confinamento de Resíduos Empregando Geotêxteis Comparados


a Leito de Drenagem para Desaguamento de Lodo de Estação de
GS190 Tratamento de Água 65
Beatriz Mydori Carvalho Urashima; Denise de Carvalho Urashima; Mag Alves
Guimarães; Gustavo Ribeiro Paulino; André Geraldo Cornélio Ribeiro
Análise do Processo de Adensamento de Sedimentos e Lodos Durante o
GS1278 Desaguamento em Sistemas Tubulares de Geotêxtil 73
Caroline Tomazoni; Paulo Ivo Braga de Queiroz; Thiago Ordonho Araújo; Matheus
Müller; Delma de Mattos Vidal
Fluência em Geocompostos Drenantes – Um Estudo dos Fatores de Redução
GS1303 por Fluência à Compressão 81
Flavia Silva Dos Santos; Ana Cristina Castro Fontenla Sieira
Avaliação da Filtração de Geotêxteis Não Tecidos na Filtração de Sólidos em
GS132 Suspensão 89
Isabela Gagliardi Ortiz; Ademir Paceli Barbassa; Fernando Henrique Martins
Portelinha
Eficiência da Utilização do Geotêxtil Não Tecido para Acelerar o
Dessecamento do Rejeito Proveniente do Corte de Pedras Ornamentais
GS1105 97
Italo Andrade Vasconcelos; Julia Cunha Leiros; Wan Hannoh Thomas Paul S. A.
Moura de Farias; Fagner A. Nunes de França
Impacto da Barreira Capilar sobre a Capacidade Filtro-Drenante do Sistema
GS182 Solo-Geossintético 105
Livia Luiza De Souza Avancini; Delma de Mattos Vidal
Dimensionamento de Geodrenos Para Um Aterro Sobre Solo Mole, a Partir
de Coeficientes de Adensamento Obtidos em Ensaios Oedométricos e de
GS1501 Piezocone 113
Maria Mariana Azevedo Dos Santos; Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello;
Yago Ryan Pinheiro dos Santos
Influência Do Tracionamento Na Abertura De Filtração De Geotêxteis Não
Tecidos
GS125 123
Michael Vargas Barrantes; Ennio M. Palmeira; Isac P. Moraes Filho; Débora L.A.
Melo
Uso de sistema Tubos de Geotêxtil para desssecagem e empilhamento de
GS1502 rejeitos de ouro 131
Rafaela Baldi Fernandes; Tiago Junior Costa Chaves

Geossintéticos no Controle de Erosão

Estudo do Comportamento da Face de Taludes Protegidos por


Geossintéticos Frente à Ação Pluviométrica
GS106 139
Maria Tereza Da Silva Melo; Ennio Marques Palmeira; Eder Carlos Guedes dos
Santos; Marta Pereira da Luz
Estudo da Estabilidade Global de Diques Costeiros Construídos com
GS111 Empilhamento de FTTs – Formas Têxteis Tubulares 147
Mariana Barbosa Juarez; Fernando Luiz Lavoie
Eficácia da Geomanta Aplicada no Controle da Erodibilidade em Taludes
Ronaldo Ramos De Oliveira; João Carlos Baptista Jorge da Silva; Miriam de Fátima
GS1244 153
Carvalho; Maria do Socorro Costa São Mateus; Jamara Gama Moura; Viviane de
Lima Assis

Reforço de solos com geossintéticos


Avaliação de estabilidade de talude com uso de geoexpandido
GS1115 163
Ana Beatriz Araújo Nobre Dias
Avaliação do Ganho de Tensão Confinante Devido à Inclusão de Reforço
GS1111 Geossintético em Estruturas de Solo Reforçado 169
Anna Sarah Vasconcelos Fava; Keli L. R. Bohrer; Delma de Mattos Vidal
Comportamento de Geocélulas Solicitadas em Diferentes Locais de sua
GS103 Estrutura 177
Gustavo Dias Miguel; Julia Favretto; Márcio Felipe Floss
Sapatas em Aterros Reforçados com Geossintéticos
GS117 185
Ígor Fernandes; Ennio Marques Palmeira
Avaliação das deformações dependentes do tempo de geogrelhas em um
muro real instrumentado
GS194 193
João Maurício Homsi Goulart; Fernando Henrique Martins Portelinha; José
Orlando Avesani Neto
Proposta de metodologia de determinação de recalques e tensões em
GS1282 reforço de geocélula usando a teoria de dupla camada 201
Jose Orlando Avesani Neto;
Análise de um ensaio de placa em solo reforçado com geocélula usando a
GS1283 teoria de dupla camada 209
Jose Orlando Avesani Neto
Análise da estabilidade de um aterro de rejeitos de minério de ouro
reforzado com fibras de polipropileno e geogrelhas usando PLAXIS 3D
GS1102 217
Juan Manuel Girao Sotomayor; Laura Yarick Barragán Rodríguez; Michéle Dal Toé
Casagrande
Solo Reforçado com Fibras de Polipropileno Provenientes de Copos
GS1256 Descartáveis 225
Juliane Vivian Brito De Souza; Weiner Gustavo Silva Costa
Análise Experimental do Comportamento Mecânico de Solo Típico da
Região de Urucu/AM Reforçado com Geossintético
GS143 231
Juliano Rodrigues Spínola; Alex Gomes Pereira; Fábio dos Santos Gusmão; Roberto
Rosselini Ferreira da Silva; Cláudia Ávila Barbosa; Consuelo Alves da Frota
Análise Numérica de Deslocamentos em Solo Reforçado com Geotêxtil
GS120 239
Laura de Lima Santos; Giovana Bizão Georgetti
Avaliação numérica da influência da redução do grau de compactação
próxima à face nas tensões e deformações de muros de solo reforçado
GS197 com geossintéticos 245
Leone César Meireles; Mario Vicente Riccio Filho; Heraldo Nunes Pitanga; Roberto
Lopes Ferraz; Cláudio Henrique de Carvalho Silva
Utilização de geossintéticos como tratamento de fundação para a
construção de aterro sobre reservatório de uma barragem de rejeitos
GS1112 Letícia Gabriela Andrade Policarpo; Juliano Fagner Santana; Rodrigo Peres de 253
Oliveira; Frank Marcos da Silva Pereira; Flávio Luiz de Carvalho; Tales Moreira de
Oliveira
Proposta de um Sistema de Contenção Intitulado Fôrma Tubular de
GS187 Geossintético com Escória 261
Lilian Agda De Oliveira; Ricardo Cabette Ramos; Tales Moreira de Oliveira
Efeito da inclusão de fibras poliméricas e de cimento na resistência ao
cisalhamento do solo
GS147 269
Maitê Rocha Silveira; Gabriela Bolini Dias dos Santos; Willian de Brito Giacometti;
Roger Augusto Rodrigues; Caio Gorla Nogueira; Paulo César Lodi
Análises de campo e laboratório do comportamento ao longo do tempo de
GS1286 um muro de solo reforçado com geotêxteis tecidos 277
Rafael Ribeiro Plácido; Fernando Portelinha; Marcos Massao Futai
Efeito de Sobrecargas no Comportamento de Modelos Físicos de Muros de
Solo Reforçado com Geogrelha
GS1290 285
Raquel Mariano Linhares; Mauricio Ehrlich; Luis Paulo Andrioli Vieira de Oliveira;
Danilo Fernandes da Cunha Veras; Natan Fonseca Soares
Análise de Métodos de Dimensionamento de Muro de Solo Reforçado com
GS121 Geogrelha e Estimativa de Custo 293
Samira Tessarolli De Souza; Yara Barbosa Franco; Jefferson Lins da Silva
Estudo de Caso: Aplicação de Muro de Solo Reforçado para Construção de
um Desnível de 10 m em Rampa para Acesso ao Britador Primário de uma
GS1313 Mineradora 301
Tamires Da Silva Campos; Douglas Henrique Santos Sousa; Letícia Gabriela
Andrade Policarpo; Gustavo Silva Sampaio; Tales Moreira de Oliveira
Uso de Fibras de Polipropileno para Reforço de Solo
GS188 Wendel da Silva Vieira de Sousa; Ana Paula Felicio Santos; Marcus Vinicius Ribeiro 309
e Souza; Selton Fernandes de Sousa Lima

Geossintéticos na Infraestrutura Rodoviária e Ferroviária

Proteção de tubulações enterradas contra sobrecargas com utilização de


GS105 geossintéticos 319
Ana Carolina Gonzaga Pires; Ennio Marques Palmeira
Comportamento estrutural de um pavimento flexível reforçado com
geogrelha após 10 anos
GS113 327
Cássio Alberto Teoro Do Carmo; Lucélio Carlos Costalonga; Célio Antônio D’Ávilla;
Carla Therezinha Dalvi Borjaille Alledi
Avaliação do comportamento mecânico de misturas asfálticas dosadas pelo
método MARSHALL reforçadas com geogrelha
GS115 335
Cássio Alberto Teoro Do Carmo; Taciano Oliveira da Silva; Geraldo Luciano de
Oliveira Marques; Géssica Soares Pereira; Heraldo Nunes Pitanga
Aproveitamento da Escória de Aciaria como Agregado em Estradas Não
Pavimentadas Reforçadas com Geossintéticos
GS199 343
Edriza Da Silva Ferreira; Gabriella Melo de Deus Vieira; Matheus Viana de Souza;
Ivonne Alejandra M. Gutiérrez Góngora
Parâmetros Mecânicos de Dois Tipos Distintos de Misturas Asfálticas
Reforçadas pela Inserção de Geogrelha
GS163 Géssica Soares Pereira; Geraldo Luciano de Oliveira Marques; Heraldo Nunes 351
Pitanga; Taciano Oliveira da Silva; Cássio Alberto Teoro do Carmo; Juliana de
Paula Rezende
Estradas não pavimentadas reforçadas com geossintéticos sobre subleitos
arenosos: correlação entre comportamentos sob carregamentos cíclico e
GS118 359
monotônico
Ivonne Alejandra Gutierrez Gongora; Ennio Marques Palmeira
Influência da Inserção de Geotêxtil na Resposta Mecânica de Misturas
Asfálticas a Quente Compostas
GS142 Juliana De Paula Rezende; Heraldo Nunes Pitanga; Taciano Oliveira da Silva; 365
Geraldo Luciano de Oliveira Marques; Géssica Soares Pereira; Natália de Faria
Silva
Estudo dos Parâmetros de Capacidade de Suporte de Solo Arenoso
Reforçado com Geotêxteis para fins Rodoviários
GS137 373
Marcela Giacometti De Avelar; Roberto Lopes Ferraz; Taciano Oliveira da Silva;
Heraldo Nunes Pitanga
Geossintético em Subcamada de Pavimentos
GS102 Paulo Victor De Carvalho Figueiredo; Andréa Vanessa Carvalho Leal Correa; 381
Cláudia Ávila Barbosa; Manassés Ibernon Maia; Consuelo Alves da Frota

Aplicação de geossintético como reforço de estrada não pavimentada


GS145 sobre subleito com bolsão compressível 387
Tamyres Karla Da Silva; Ennio Marques Palmeira

Melhoria de solos com geossintéticos

Utilização de Rejeito de Pneu de Borracha em Reforço de Solo para Aterros


Rodoviários no Município de Chapecó/SC
GS1268 397
Eliane Fátima De Bastiani Sychocki Gemelli; Marieli Biondo Lopes; Bárbara Karina
Kronbauer; Jaqueline Andressa Bertella
Avaliação da Influência do Teor de Fibras de Polietileno Tereftalato nos
Parâmetros Ótimos de Compactação de um Solo Arenoso
GS148 405
Gabriela Bolini Dias Dos Santos; Maitê Rocha Silveira; Paulo César Lodi; Rafaela
Rodrigues Garcia; Willian de Brito Giacometti
Avaliação da Resistência Mecânica de Solo Argiloso com Inclusão de Fibras
de Polipropileno
GS149 411
Gabriela Bolini Dias Dos Santos; Maitê Rocha Silveira; Paulo César Lodi; Rafaela
Rodrigues Garcia; Willian de Brito Giacometti
Comportamento Mecânico de um Solo Arenoso com a Inclusão da Fibra
GS119 Natural de Curauá 419
Leila Maria Coelho De Carvalho; Michéle Dal Toé Casagrande
Análise da Influência da Adição de Resíduos de PET em Floco e em Pó na
GS1316 Curva de Compactação de um Solo Argiloso 427
Maurício Thomas; Diego Arthur Hartmann; Luis Eduardo Kosteski; Ana Paula Garcia
Análise do desempenho de geodrenos verticais através da mudança dos
GS1361 parâmetros físicos e mecânicos em solos moles 435
Rodrigo Rogério Cerqueira Da Silva; Bruno Pereira Casanova
Resistência ao cisalhamento sob condições drenadas e não drenadas de um
solo argiloso com fibras de polipropileno
GS1298 443
Sabrina Andrade Rocha; Natália de Souza Correia; Cláudio Henrique de Carvalho
Silva
Durabilidade de Geossintéticos

Degradação de Geotêxteis Expostos às Intempéries


GS189 Beatriz Mydori Carvalho Urashima; Denise de Carvalho Urashima; Carlos Alberto 455
Carvalho Castro; Mag Geisielly Alves Guimarães

Análise da Degradação de um Geotêxtil Tecido em Área de Dunas


GS177 Breno Otávio Ferreira Da Silva; Carina Maia Lins Costa; Iasnara Chagas Fernandes; 461
Jefferson Lins da Silva; Delma de Mattos Vidal; Clever Aparecido Valentin

Avaliação da resistência de emendas de geomembranas em contato com


GS128 resíduo de cana-de-açucar (vinhaça) 469
Breno Padovezi Rocha; Paulo Cesar Lodi
Resistência de geotêxteis de polipropileno a agentes de degradação físicos e
GS165 químicos ` 475
José Ricardo Carneiro; Paulo Joaquim Almeida; Maria de Lurdes Lopes
Danificação mecânica de geotêxteis induzida por agregados naturais e
GS166 reciclados 485
José Ricardo Carneiro; Filipe Almeida; Maria de Lurdes Lopes
Estudo de interações entre agentes de degradação de geotêxteis
GS167 493
José Ricardo Carneiro; Paulo Joaquim Almeida; Maria de Lurdes Lopes
Instalação de Geossintéticos em Pavimentos Flexíveis com CBUQ: Danos de
Instalação Devido à Temperatura Elevada
GS138 Letícia Maria Macêdo De Azevedo; Lucas Fonseca Fernandes; Rogério de Azevedo 503
Holanda Cabral Cavalcanti Lima; Enio Fernandes Amorim; Fagner Alexandre Nunes
de França
Danos de instalação causados por resíduo de construção e demolição
GS127 reciclado (RCD-R) em geogrelhas – Uma avaliação qualitativa 511
Mateus Porto Fleury; Eder C. G. Santos; Jefferson L. Silva
Avaliação da Compressibilidade do Poliestireno Expandido após Exposição a
Hidrocarboneto e Intempéries
GS159 519
Mozart Mariano Carneiro Neto; Mariana Basolli Borsatto; Bruna Rafaela Malaghini;
Caio Henrique Buranello dos Santos; Paulo César Lodi
Avaliaçao da Resistência ao Cisalhamento de Interface entre blocos de
Poliestireno Expandido Antes e Após Exposição a Hidrocarboneto e
GS160 Intempérie 527
Mozart Mariano Carneiro Neto; Mariana Basolli Borsatto; Bruna Rafaela Malaghini;
Caio Henrique Buranello dos Santos; Paulo César Lodi
Detecção de Vazamentos em Geomembranas - Aplicação dos Métodos
Geoelétricos na Indústria de Mineração
GS101 535
Priscila Mendes Zidan; Luiz Paulo Achcar Frigo; Matthew Kemnitz; Luciano Sousa
Leal
Interação Solo-Geossintéticos

Avaliação da Resistência de Interface do Poliestireno Expandido com


Geomembrana texturizada de Polietileno
GS150 543
Bruna Rafaela Malaghini; Caio Henrique Buranello dos Santos; Mariana Basolli
Borsatto; Isabela de Paula Rodrigues; Míriam Baggio Mercaldi; Paulo César Lodi
Avaliação da Rigidez na Interação Geogrelha-Solo Laterítico Argiloso
GS1271 551
Gabriel Steluti Marques; Jefferson Lins da Silva
Resistência ao cisalhamento de interface em sistemas de barreiras
impermeáveis com geomembranas reforçadas
GS110 561
José Wilson Batista Da Silva; Leonardo Vinícius Paixão Daciolo; Natália de Souza
Correia
Resistência ao Cisalhamento Direto de Misturas Solo-EPS
GS135 Luiz Filipe Caríssimo Soares; Matheus Luiz Rodrigues da Silva; Klaus Henrique de 569
Paula Rodrigues; Heraldo Nunes Pitanga;Taciano Oliveira da Silva
Avaliação da Interação Solo-Geossintéticos por Meio de Ensaios de
Arrancamento e de Plano Inclinado
GS112 575
Rodrigo César Pierozan; Nelson Padrón Sánchez; Gregório Luís Silva Araújo; Ennio
Marques Palmeira
Avaliação experimental de fatores que influenciam na resistência ao
GS144 arrancamento de geogrelhas 583
Sidnei Helder Cardoso Teixeira; Tennison Freire de Souza Júnior

Casos de Obra

Solo Grampeado Verde em Encosta da Formação Barreiras em Maceió/AL


GS1355 595
Allan Kleber Leite De Almeida; Gilmar De Brito Maia; Alexandre Duarte Gusmão
Aplicação de geossintéticos para construção de um aterro sobre solo mole
GS1364 em um condomínio residencial 603
Carlos Vinicius Dos Santos Benjamim; Sidnei Helder Cardoso Teixeira
Estudo sobre aterros de cabeceira reforçados com geogrelhas apoiados
sobre solos moles melhorados com estacas de argamassa e de areia e brita
GS1277 em uma ponte localizada no município de Salvador - BA 611
Daniel de Souza Machado; Demóstenes A. Cavalcanti Junior; Carlos R. Cardoso
Junior; Tennison Freire De Souza Junior; Eclesielter M. Batista; Ricardos D. Caballero
Soluções hidráulicas em Gabiões e Geossintéticos para controle de erosão
GS1356 no município de Araras, SP 619
José Roberto De Campos Costa Junior; Valdeci Russo; Emerson Ananias
Control de erosón em taludes, proyecto Vista Mar, Costa Rica
GS1266 625
Rosibel Corrales Castro; Gerardo Fracassi
Ensaios de Laboratório com Geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Ensaios de Tração Faixa Larga em Geogrelha: Monitoramento das


Deformações Axiais através de Sensor de Deformação.
Cid Almeida Dieguez
COPPE/PEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, cid@coc.ufrj.br

Camila Loeffler Carapajó


Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro, Brasil, camilacarapajo@gmail.com

Mauricio Ehrlich
COPPE/PEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br

José Otávio Serrão Eleutério


COPPE/PEC, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, otavioeleuterio@gmail.com

RESUMO: Nesse artigo são apresentados resultados de ensaios de tração faixa larga em geogrelhas
unidirecionais do tipo PVA (álcool de polivinila) não confinadas, nos quais foram monitoradas as
deformações utilizando um sensor de deformação axial. Verificou-se o comportamento tensão-
deformação a diferentes taxas de deformação e após diversos ciclos de carregamento, obtendo os
parâmetros de rigidez sob solicitação de trabalho. Os ensaios foram efetuados em um único corpo de
prova que foi recarregado sob diferentes taxas de deformação, no qual se aplicou tensão de tração
máximas quatro vezes inferiores à condição de ruptura. O equipamento utilizado para monitoramento
das deformações é robusto e obteve êxito em monitoramento de campo, tal como instrumento de
laboratório em modelos físicos de grande escala. Resultados dos ensaios efetuados destacam a
importância da determinação do comportamento de geossintéticos sob condições representativas de
campo. Tal tipo de verificação é particularmente importante para inferir cargas nos reforços, quando
o monitoramento é efetuado através das deformações.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Tração Faixa Larga, Geossintético, Geogrelha, Sensor de


Deformação Axial.

ABSTRACT: This paper presents results of wide-width tensile tests carried out with unconfined PVA
(polyvinyl alcohol) geogrids, which have been monitored the strain with a specific strain-cell. The
stress-strain behavior was investigated by applying different strain-ratio and cyclic-pre-load as well,
obtaining the stiffness modulus of the material under work-stress condition. Tests were conducted
with a unique sample, leading to a stress-condition four times less than the failure of the material at
different strain-ratios. The strain-cell apparatus is sturdy and precise, being successfully applied in
field or physical models instrumentation. Test results show the importance of determine the behavior
of the geosynthetic at work-stress condition, more significantly when needed to infer tensile force by
measuring strain at the material.

KEY WORDS: Wide-width strip test, Geosynthetic, Geogrid, Axial strain-cell.

1 INTRODUÇÃO além das deformações as cargas atuantes nos


reforços. Entretanto, poucos estudos como de
Monitoramento de deformações em Shinoda & Bathurst (2004) são encontrados na
geossintéticos podem ser efetuados em obras literatura, dissertando sobre a variação do módulo
relacionadas a reforço de solo, buscando conhecer de rigidez com a velocidade de mobilização das

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

23
cargas, expresso pela taxa de deformação. ensaios.
Estudos como de Mirmoradi et al (2016),
utilizam células de carga como elementos de
ligação e monitoramento das cargas mobilizadas
em seções do reforço. Já estudos como de
Hatami & Bathurst (2005) e Dieguez et al.
(2018) utilizam a monitoração das deformações
para inferir as cargas nos reforços. A aferição das
cargas através da monitoração de deformações é
sensível às variações do módulo de rigidez, seja
por efeito reológico ou pela conformação do
material. No presente estudo buscou-se verificar
a influência da velocidade de carregamento e de
ciclos de carga no comportamento tensão-
deformação de geogrelhas do tipo PVA. Os
estudos foram efetuados sob solicitação de
trabalho e não a definida por norma que
corresponde à ruptura do material.

2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
Figura 1. Aparato para tração em geossintético (conjunto
2.1 Aparato para ensaio de tração em de garras em bloco compressivo, manilha e correntes).
geossintéticos

O estudo foi realizado no Laboratório de


Geotecnia da COPPE/UFRJ, empregando um
até 35mm
aparato (Figura 1) projetado para realização de
ensaios de tração em geogrelhas ou geotêxteis.
As deformações foram monitoradas utilizando
um sensor de deformações axiais (Figuras 2 e 3)
próprio para monitoramento de campo ou de 110mm
modelos físicos, a exemplo de Dieguez et al.
(2018).
Foram os seguintes os equipamentos e
sensores utilizados na realização dos ensaios de Figura 2. Sensor de deformação axial.
tração de faixa larga: (1) prensa mecânica da
Wykeham Farrance – com taxa de deslocamento
máximo de 4 mm/min e capacidade de tração até
100 kN; (2) correntes e manilhas para fixação do
aparato; (3) conjunto de garras em bloco
compressivo – fabricadas em alumínio e aço,
revestidas em epóxi e material abrasivo; (4) sensor de
deformação
potenciômetro-extensômetro para
monitoramento dos deslocamentos do prato da
prensa (LVDT); (5) sensor de deformação axial
– composto por uma cápsula de proteção, pistão
e suporte de fixação em aço inox, vedação com
o’rings e potenciômetro calibrado; (6) célula de
carga até 50 kN; (7) sistema de aquisição de
Figura 3. Utilização do sensor de deformação em modelo
dados. A Figura 4, exibe o conjunto de
físico de um aterro estruturado, Dieguez et al. (2018).
equipamentos e sensores empregados nos

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

24
Para os ensaios preliminares, o corpo de prova
(geogrelha virgem) continha apenas 2 elementos
(6) verticais de reforço. A menos da largura e da taxa
de deformação, estes ensaios seguiram os
(2) procedimentos descritos em norma. Esta condição
de ensaio foi estabelecida considerando a
(3) limitação de aplicação de carga nos equipamentos
empregados. No entanto, conforme relatado por
(5)
Shinoda & Bathurst (2004) o número de
elementos verticais não afeta de maneira
(4) importante os resultados e os valores obtidos
podem ser considerados representativos do
material ensaiado.
Na Figura 5, é apresentada a curva tração
versus deformação para o ensaio preliminar, sendo
(1) o valor da taxa de deformação medida ao longo do
ensaio igual a 0,53 % por minuto. Obteve-se
como resultado uma resistência à tração igual a
(7) 133 kN/m e módulo de rigidez secante igual a
2436 kN/m.
Figura 4. Equipamentos e sensores utilizados. velocidade da prensa: 1.28 mm/min
150 132.57 kN/m
taxa média de deformação:
Os estudos seguiram os procedimentos
125 0.529 %/min
estabelecidos por norma para realização de
J = 2436 kN/m
ensaios de tração de geossintéticos em faixa larga
tração (kN/m)

100
(NBR ISO 10319:2013), a menos da taxa de
deformação que nos ensaios do presente estudo 75
situou-se entre 0,05 % e 1 % por minuto, sendo a
taxa normatizada de 20 % por minuto. A distância 50
entre os pontos de fixação do sensor de
25
deformação foi estabelecida pela dimensão do
mesmo e da sua abertura inicial, sendo o 0
afastamento inicial mínimo igual a 110 mm (ver 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0
Figura 2). deformação (%)

2.2 Caracterização do geossintético Figura 5. Ensaio preliminar – tração levando o corpo de


prova à ruptura (velocidade da prensa em 1,28 mm/min).

Foi utilizada uma geogrelha unidirecional de


material sintético PVA (álcool de polivinila). 2.3 Metodologia de ensaio
Durante a execução dos ensaios de tração, não
houve a preocupação da determinação do peso Para o programa de ensaios de avaliação do
úmido, seco ou do monitoramento da umidade módulo de rigidez a nível de solicitação de
relativa do ar, a menos da temperatura ambiente, trabalho, o corpo de prova foi estabelecido com
que foi mantida a 25°C. altura de 188 mm ± 1 mm (distância entre o
Com o propósito de obter conhecimento da conjunto de garras) e largura 378 mm ± 1 mm, o
carga na ruptura e do módulo de rigidez, foi suficiente a conter 10 elementos verticais de
avaliado preliminarmente o comportamento reforço. Tal proporção (2:1 na relação largura x
último, levando o material a ruptura sob taxas de altura) permite minimizar o efeito indesejado de
deformação da ordem de 1% por minuto, muito estricção do corpo de prova durante o ensaio.
inferior a 20% por minuto, recomendado pela Ensaios convencionais de faixa larga em
norma NBR ISO 10319:2013. geogrelhas utilizam prensas capazes de imprimir

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

25
taxa de deslocamento de no mínimo 40 mm/min. da amostra, Nm; e de elementos verticais de tração
O posicionamento dos extensômetros é efetuado no corpo de prova, ns.
em pontos distanciados 60 mm entre si,
paralelamente à direção de aplicação da carga. 𝑁𝑚
𝑇=𝐹 (1)
𝑛𝑠
Nos ensaios efetuados, a maior velocidade de
uso da prensa mecânica foi de 2,36 mm/min e,
devido as deformações ocorridas nas correntes do A deformação, ε, em porcentagem, é calculada
aparato de tração e outras não monitoradas, considerando a distância entre os pontos de
resultaram numa taxa média de deformação no de fixação do sensor de deformação axial. As Tabelas
0,69 % por minuto, monitoradas no corpo de 2 e 3, mostram as características do corpo de prova
prova pelo sensor de deformação. O trecho e do sensor de deformação utilizados nos ensaios.
medido por este sensor, permite monitorar Os módulos de rigidez, J, foram determinados
deformações ao longo de um comprimento quase pelo coeficiente angular da regressão da curva
o dobro do definido pela norma. carga de tração versus deformação obtidas nos
Na Tabela 1, apresenta-se o programa de ensaios. Como assinalado, os estudos foram
ensaios que foi estabelecido de modo a variar conduzidos até uma solicitação de 50 kN/m, sendo
apenas a taxa de deformação, iniciando sempre os valores obtidos para J referente à esta condição
com uma pré-carga de 1% do valor da tração de trabalho. Note-se que o preconizado por norma
máxima aplicada ao corpo de prova, limitada à é relativo à condição de ruptura.
50 kN/m. Neste estudo utilizou-se um único corpo
Tabela 2. Medidas do corpo de prova
de prova, no qual foram efetuadas cinco
Dimensões do corpo de prova
determinações para cada velocidade de ensaio.
No intuito de obter uma homogeneidade nos Comprimento (m) 188 mm ± 1 mm
resultados, e se tratando de ensaios repetidos em Largura (m) 378 mm ± 1 mm
um único corpo de prova, antes da realização de ns 10
cada ensaio foram realizados diversos ciclos de Nm 25,1
carregamento e descarregamento para
conformação do material, limitados a uma tração Tabela 3. Medidas do sensor de deformação
máxima de 50 kN/m – a mesma utilizada nos
Sensor de deformação
ensaios. Além disso, padronizou-se o intervalo
entre ensaios – cerca de 5 minutos sob nenhuma Comprimento inicial 107 mm ± 1 mm
influência de carregamento, buscando a Abertura inicial* na pré-carga Variável
recuperação do material. Acurácia 0,01 mm
* dependente da deformação do material.
Tabela 1. Programa de ensaios
Velocidade da Tempo 3 RESULTADOS DOS ENSAIOS
Talvo* pré-carga
prensa estimado
(kN/m) (kN)
(mm/min) (min)
As Figuras 6 a 9, mostram curvas tensão-
0,24 30 deformação determinadas nos ensaios para
0,79 12 diferentes velocidades da prensa, conforme
50 1% × T
1,28 8 apresentado na Tabela 1. Durante os ensaios, a
2,36 4 velocidade de deslocamento do prato da prensa
*limite de tração no corpo de prova o qual se procede o mecânica foi mantida constante. Nas figuras o
desligamento da prensa, seguida pelo descarregamento. módulo de rigidez médio, Jmédio, corresponde à
média dos J obtidos nas cinco determinações
2.4 Metodologia de cálculo para cada velocidade de ensaio considerada.
Para uma mesma velocidade de ensaio,
A Equação (1) é utilizada no cálculo da tração no observou-se uma dispersão nos valores medidos
reforço, T (NBR 10319:2013), determinada pela de deformação. Tal comportamento pode estar
força, F, medida na célula de carga; pelo número relacionado a distorções no corpo de prova e
médio de elementos verticais por metro de largura folgas no sistema. Nas Figuras de 6 a 9, as taxas

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26
médias de deformação apresentadas velocidade da prensa 2.36 mm/min
correspondem aos valores médios das cinco 50
taxa média de deformação:
determinações para cada velocidade de ensaio. 0.685 %/min
40
Jmédio = 2507.03 kN/m

tração (kN/m)
velocidade da prensa: 0.24 mm/min
50 30
taxa média de deformação:
0.076 %/min 20
40
Jmédio = 2474.04 kN/m
tração (kN/m)

30 10

20 0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
10 deformação (%)

Figura 9. Ensaios com velocidade 2,36 mm/min.


0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
deformação (%) Na Tabela 4, apresentam-se os valores de
módulo de rigidez, deformação específica e taxa
Figura 6. Ensaios com velocidade 0,24 mm/min. de deformação obtidos para cada ensaio com
diferentes velocidades da prensa, e na Tabela 5 a
velocidade da prensa: 0.79 mm/min
variação estatística dos resultados.
50
taxa média de deformação:
40 0.254 %/min
Tabela 4. Resultado dos ensaios
Jmédio = 2361.25 kN/m
tração (kN/m)

Velocidade Taxa de
30 da prensa deformação
J ε50 kN/m*
(mm/min) (%/min) (kN/m) (%)
20 ensaio virgem
0,24 0,076 2474,04 1,93

10 0,79 0,254 2361,25 2,01


1,28 0,354 2481,83 1,93
0
2,36 0,685 2507,03 1,89
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
*deformação correspondente a tração de 50kN/m.
deformação (%)

Figura 7. Ensaios com velocidade 0,79 mm/min.


Tabela 5. Variação estatística dos resultados
velocidade da prensa: 1.28 mm/min
Velocidade Coeficiente de variação* (%)
50 da prensa
taxa média de deformação: (mm/min) módulo de módulo de taxa de
40 0.354 %/min rigidez rigidez (médio) deformação
Jmédio = 2481.83 kN/m
tração (kN/m)

0,24 ± 0,5 ± 2,1


30
ensaio virgem 0,79 ± 0,6 ± 1,3
20 ±2,6
1,28 ± 1,0 ± 8,0

10 2,36 ± 0,8 ± 3,4


* razão entre desvio padrão e a média.
0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
O gráfico da Figura 10 sintetiza a relação
deformação (%) entre os valores de rigidez médios que foram
Figura 8. Ensaios com velocidade 1,28 mm/min. determinados e a taxa de deformação dos
REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

27
ensaios. Nesta figura incluem-se também REFERÊNCIAS
resultados de ensaios adicionais, em amostras
virgens de mesmas dimensões e efetuados sob Dieguez, C., Ehrlich, M. , Eleutério, J.O.S., (2018)
iguais condições. Os valores determinados na Physical Model of a Geosynthetic-Reinforced Pile-
Supported Embankment Systems (GRPS) under Work
condição virgem foram cerca de 15% inferiores Stress Conditions, 10th International Symposium on
aos demais resultados. Field Measurements in Geomechanics, Rio de Janeiro,
Brasil.
3250 Hatami, K., and Bathurst, R. J. (2005) Development and
velocidade da prensa verification of a numerical model for the analysis of
0.24 mm/min
geosynthetic reinforced-soil segmental walls, Can.
0.79 mm/min
Geotech. J., v.42 (4), p.1066–1085.
1.28 mm/min
Mirmoradi, S.H., Ehrlich, M., Dieguez, C. (2016).
2750 2.36 mm/min
Evaluation of the combined effect of toes resistance and
J (kN/m)

facing inclination on the behavior of GRS walls.


Geotextiles and Geomembranes, v.44 (3), p. 287-294.
NBR ISO 10319:2013, Geossintético – Ensaio de tração
2250 ensaio virgem
faixa larga, Associação Brasileira de Normas
ensaio virgem
(0.79 mm/min) (1.28 mm/min)
Técnicas, Brasil.
Shinoda, M., Bathurst, R.J. (2004) Lateral and axial
deformation of PP, HDPE and PET geogrids under
tensile load, Geotextiles and Geomembranes, v.22,
1750 p.205–222.
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8
taxa de deformação (%/min)

Figura 10. Módulo de rigidez versus taxa de deformação.

4 CONCLUSÕES

Ensaios efetuados em geogrelha PVA, sob


condições de trabalho, após diferentes ciclos de
carga e descarga, não apresentaram diferenças
importantes no módulo de rigidez, sob variações
de até 10 vezes nas taxas de deformação. O
equipamento utilizado na realização dos ensaios
não possibilita operar a taxas de deformação
definidas por norma (20% por minuto), não
tendo sido possível, portanto, a comparação de
resultados nestas condições.
As curvas tensão-deformação apresentaram um
comportamento relativamente mais rígido no
trecho inicial. Verificou-se também que a
dispersão dos valores medidos do módulo de
rigidez do material se apresentou menor para
menores taxas de deformação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao suporte do CNPQ e


CAPES. Ao Laboratório de Geotecnia da COPPE.
À Huesker, pelo suporte financeiro e apoio no
desenvolvimento desta e outras pesquisas. Aos
Engenheiros Sergio Iório, M.Sc. Hélcio
Gonçalves e Pós-Doc Hamed Mirmoradi pela
contribuição no desenvolvimento da pesquisa.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

28
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da absorção de água do poliestireno expandido


Isabela de Paula Rodrigues
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, isabeladepaular@gmail.com

Míriam Baggio Mercaldi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, miriambaggiom@hotmail.com

Mariana Basolli Borsatto


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, brunamalaghini@outlook.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: O poliestireno expandido (EPS) vem sendo amplamente utilizado em aplicações


geotécnicas principalmente na forma de aterro leve (aterro sobre solos moles) e na substituição de
solos em encontro de pontes e viadutos. Nessas situações, o material pode estar sujeito ao contato
com a água e tornar-se mais denso além de poder perder alguma propriedade relevante. Desse
modo, torna-se imprescindível a avaliação da capacidade de absorção de água do EPS nessas
condições. Assim, esse trabalho avaliou a absorção de água do EPS em diferentes densidades (14,5,
18, 28 e 33,5 kg/m3). Foram realizados ensaios a fim de se obter o valor em porcentagem de
absorção e o teor de umidade higroscópica do material, além do volume de água absorvido após 07
dias. Inicialmente, foram medidas as massas naturais dos corpos de prova em condições normais.
Em seguida, depois de submetidos por um período de 24 horas na estufa, a uma temperatura de
95ºC, foram determinadas as massas secas. Finalmente, após imersão total dos corpos de prova em
água destilada durante 7 dias, as massas saturadas foram mensuradas. Com os dados obtidos,
verificou-se que os valores de absorção de água foram elevados (50,76%, 24,31%, 8,95% e 10,21%
para as respectivas massas específicas 14,5, 18, 28 e 33,5 kg/m3). Além disso, notou-se uma relação
inversamente proporcional entre a massa específica e a absorção de água, uma vez que, há maior
presença de vazios nas amostras de menores densidades.

PALAVRAS-CHAVE: Poliestireno Expandido, Umidade Higroscópica, Absorção, EPS.

ABSTRACT: Expanded polystyrene (EPS) has been widely used in geotechnical applications
mainly in the form of light landfill (landfill on soft soils) and in the replacement of soils in bridges
and viaducts. In such situations, the material may be subject to contact with water and become
denser in addition to being able to lose some relevant property. Thus, it is essential to evaluate the
water absorption capacity of EPS under these conditions. This work evaluated the water absorption
of EPS at different densities (14.5, 18, 28 and 33.5 kg /m³). Tests were carried out in order to obtain
the value in percentage of absorption and the hygroscopic moisture content of the material, besides
the volume of water absorbed after 07 days. Initially, the densities were measured under normal
conditions. Then, after subjecting them for a period of 24 hours in the oven at a temperature of 95 °
C, the dry masses were determined. Finally, after total immersion of the specimens in distilled

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

29
water for 7 days, the saturated masses were measured. With the data obtained, water absorption
values were high (50.76%, 24.31%, 8.95% and 10.21% for the respective specific masses 14,5, 18,
28 and 33.5 kg / m³). In addition, an inverse proportional relation between the specific mass and the
water absorption was observed, since there is a greater presence of voids in the samples of lower
densities.

KEYWORDS: Expanded Polystyrene, Hygroscopic Moisture, Absorption, EPS.

1 INTRODUÇÃO material preenchido apenas com ar.


Por ser um material pouco higroscópico o
O Poliestireno Expandido (EPS), também EPS absorve apenas um pequeno volume
conhecido na Engenharia geotécnica como quando imerso em água. Como sua estrutura é
geoexpandido ou geofoam, possui sua aplicação fechada e as paredes entre as células são
cada vez mais reconhecida no ramo da impermeáveis, a água fica retida entre elas, isso
Engenharia civil, uma vez que possui concebe ao material a capacidade de secar
especificidades positivas, tais como baixa facilmente. Afirma-se ainda que a partir de um
compressibilidade (módulo de elasticidade de 1 período de aproximadamente 30 dias o teor de
a 11 MPa), elevada resistência mecânica e umidade permanece constante, e que a absorção
baixo peso específico (15 a 40 Kg/m3 ). de água pelo EPS é inversamente proporcional a
Seu surgimento data de 1949 e foi sua massa específica (Avesani Neto, 2009).
descoberto pelos químicos Fritz Stastny e Karl Como o poliestireno expandido (EPS) vem
Buchholz, quando trabalhavam nos laboratórios sendo amplamente utilizado em aplicações
da Basf, na Alemanha. Após a descoberta, o geotécnicas principalmente na forma de aterro
geofoam teve sua aplicação crescente em leve (aterro sobre solos moles) e na substituição
diversas áreas, entre elas a da Engenharia de solos em encontro de pontes e viadutos, pode
geotécnica (Trandafir et al., 2010). ocorrer nessas situações, que o material esteja
Por efeito de suas propriedades, o EPS tem sujeito ao contato com a água e tornar-se mais
sido empregado principalmente como aterro denso além de poder perder alguma propriedade
sobre solos moles, base e sub-base de relevante. Desse modo, torna-se imprescindível
pavimentos de estradas, alívio de empuxos e a avaliação da capacidade de absorção de água
pressões em muro de arrimo e taludes. Quando do EPS nessas condições. Assim, esse trabalho
aplicado com tais finalidades, os blocos de EPS avaliou a absorção de água do EPS em
ficam sujeitos às mais variadas solicitações, diferentes densidades (14,5, 18, 28 e 33,5
entre elas a absorção de água (Vaslestad, 1990; kg/m3) com base na norma ASTM C272 (2001).
Roh et al. 2000; Avesani Neto, 2009)
Gnip et al (2006) estudaram a absorção de
água de placas de poliestireno expandido e 2 MATERIAIS E MÉTODOS
desenvolveram um procedimento para prever a
absorção de longo prazo, com base em dados de 2.1 Amostras
absorção em curto prazo. Realizaram métodos
de ensaio para determinar a aborção de água a Foram utilizados corpos de prova de EPS, de
longo prazo de poliestireno expandido, por formato cúbico, de quatro densidades variadas
imersão total durante um período de 28 dias. (14,5, 18, 28 e 33,5 kg/m3). Tais valores foram
Segundo Avesani Neto (2009), a absorção de escolhidos com base nos valores de densidades
água não gera um comportamento prejudicial ao mais utilizados nas obras. Todas as amostras
material, na realidade o material apresenta um possuem origem nacional. Os corpos de provas
acréscimo de resistência, o que pode ser empregados foram medidos com o auxílio de
explicado pelo fato de que a estrutura celular do um paquímetro e escolhidos manualmente.
EPS, quando preenchida com água e vapor de Todos possuíam dimensões de 100 mm de
água, fornece uma resistência adicional em uma aresta
solicitação por compressão, comparado com o

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

30
2.2. Ensaio de Absorção de Água Após o período de uma semana, estas foram
retiradas do recipiente e enxugadas para retirar
Em laboratório foram realizados ensaios de a água em excesso na superfície, e então a
absorção de água de curta duração para todas as amostra foi pesada em uma balança de alta
densidades estudadas, normatizados pela ASTM precisão.
C272 (2001), a fim de se obter o teor de Ao subtrair o valor da massa seca na massa
umidade higroscópico e a absorção de água do natural obteve-se o valor de massa de água
material para cada valor de massa específica. absorvida pela amostra em condições
Com uma balança de alta precisão (0,0001) normalizadas.
da marca Adventurer, mediu-se a massa natural Subtraindo, por sua vez, o valor da massa
de cada amostra. A Figura 1 ilustra um dos seca na massa saturada, alcançou-se a massa de
corpos de prova sendo pesado. água absorvida pelo material quando submerso
em água. Além disso, o valor em porcentagem
de absorção de água é fornecido pela relação
entre massa de água absorvida e a massa seca.
Pela razão entre massa de água absorvida e
massa seca foi obtido o valor do teor de
umidade higroscópico do material. Por fim,
relacionando-se a massa de água absorvida com
a massa específica pode-se obter o volume de
água absorvido. Este, quando dividido pelo
volume da amostra viabiliza a porcentagem de
água absorvida pelo material para a massa
saturada, bem como para a massa natural.

3 RESULTADOS OBTIDOS E
Figura 1. Corpo de prova sendo pesado em uma balança ANÁLISES
de alta precisão.

A partir da pesagem das amostras em três


Então, os corpos de prova foram colocados
situações, sendo elas o estado “natural”, seco e
em uma estufa por um período de 24 horas a
saturado do EPS, obteve-se a massa média das
uma temperatura de 95ºC, com o objetivo de se
amostras para cada densidade, conforme
obter a massa seca do material. Posteriormente,
indicado na Tabela 1.
as amostras foram submersas em um recipiente
de metal completo de água destilada, por um
Tabela 1. Valores médios obtidos para a massa do
período de uma semama. A Figura 2 exibe a material nos estados “natural”, seco, e saturado.
colocação das amostras no recipiente que foi ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5
fechado com uma placa de madeira. ṁ natural [g] 14,386 16,985 30,790 34,443
ṁ seca [g] 14,231 16,811 30,624 34,273
ṁ saturada [g] 21,591 21,187 33,129 37,693
ρ = massa específica; ṁ = massa média obtida de três pesagens.

De posse desses valores foi possível o


cálculo da porcentagem de massa absorvida no
material, resultante da relação entre a diferença
das massas saturada e seca dividida pela massa
seca, representada na Tabela 2.
Observando os valores obtidos na Tabela 2,
nota-se que a porcentagem em massa absorvida
pelo material aumenta quanto menores forem os
Figura 2. Amostras de EPS sendo submersas em água.

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31
valores de massa específica e diminui à medida Da mesma forma que a porcentagem em
que a densidade aumenta. massa, a porcentagem em volume de água
absorvida pelo material apresenta uma relação
inversamente proporcional com a massa
Tabela 2. Porcentagem em massa absorvida pelo material
na mudança do estado seco para saturado.
específica, visto que conforme a densidade
ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5 aumenta, tanto a porcentagem de água
absorvida quanto o teor de umidade
∆ṁ 7,3600 4,3761 2,5049 3,4205 higroscópico do material diminuem. É válido
Absorção 51,72% 26,03% 8,18% 9,98% ressaltar que um comportamento atípico ocorreu
ρ = massa específica; ∆ṁ = massa de água absorvida. com o corpo de prova de densidade 28 kg/m³.
Pode-se associar a isso uma possível
irregularidade da amostra e imprecisão de
Tabela 3. Volume de água absorvido pelo material na
mudança do estado seco para saturado. ensaio.
ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5 A mesma análise foi realizada em condições
V [m³] 0,0005 0,0002 0,0001 0,0001 normalizadas levando se em conta a massa
Absorção 50,76% 24,31% 8,95% 10,21% “natural” obtida para os cálculos, os resultados
ρ = massa específica; V = volume de água absorvido. para a porcentagem em massa absorvida pelo
material encontram-se na Tabela 5 a seguir.
O corpo de prova utilizado possui um
volume equivalente a 1000cm³, dessa forma é
possivel fazer uma análise do volume de água Tabela 5. Porcentagem em massa absorvida pelo material
absorvido pelo material. A relação entre a em condições normalizadas.
massa de água absorvida (∆ṁ) indicada na ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5
Tabela 2 e a massa específica do material ∆ṁ 0,15477 0,17383 0,16640 0,16987
permitiu obter o volume de água absorvido na Absorção 1,09% 1,03% 0,54% 0,50%
mudança da amostra seca para saturada, e ao ρ = massa específica; ∆ṁ = massa de água absorvida.
dividir esse valor pelo volume da amostra em
m³ obtém-se a porcentagem de água absorvida. Em relação ao volume de água absorvido
O teor de umidade higroscópico do material pelas amostras de EPS e a porcentagem de
é obtido por meio da razão entre a massa de absorção de água em condições normalizadas os
água absorvida e a massa seca. A relação entre resultados são apresentados na Tabela 6.
o volume de água absorvido, o teor de umidade Em resumo os resultados obtidos para a
higroscópico do material e as massas absorção de água em condições normalizadas
específicas estão sumarizados na Tabela 4. seguem a mesma tendência do que foi
observado na absorção de água pela amostra
inicialmente seca, porem em menor escala.
Tabela 4. Teor de umidade higroscópico e porcentagem Assim como visto anteriormente a porcentagem
de absorção de água do material em volume. em absorção de massa e de volume de água é
Teor de umidade Absorção de água inversamente proporcional a massa específica
ρ [kg/m³]
higroscópico do material (%) das amostras, conforme indicado na Figura 3 a
14,5 0,5172 50,76% seguir:
18 0,2603 24,31%
Tabela 6. Volume de água absorvido pelo material e
28 0,0818 8,95%
porcentagem de absorção de água condições
33,5 0,0998 10,21% normalizadas.
ρ = massa específica.

ρ [kg/m³] 14,5 18 28 33,5


Os valores do teor de umidade higroscópico V
1,067 0,9657 0,5943 0,5071
são insignificantes quando comparados a [10−5 m³]
absorção de água do material. Absorção 1,07% 0,97% 0,59% 0,51%
ρ = massa específica; V = volume de água absorvido.

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32
fique o menor tempo possível em contato com
Absorção de água esse geossintético.
60,00%
Absorção de água do material (%

50,00%
40,00% AGRADECIMENTOS
30,00%
Os autores agradecem à Fundação de amparo e
volume)

20,00%
à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e
10,00%
ao PIBIT pelo auxílio financeiro para a
0,00% realização da pesquisa e à Empresa
0 10 20 30 40
Termotécnica pelo material fornecido.
Massa específica [kg/m³]
Saturado Natural
REFERÊNCIAS
FIgura 3. Absorção de água para amostra saturada e
natural.
ABNT (2004). NBR 10004: Resíduos sólidos –
Classificação. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro. p. 71.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS GNIP I. Y. et al (2006) Water absorption of expanded
polystyrene boards. Polymer Testing. p. 635 – 641.
A análise dos resultados obtidos permite que se AVESANI NETO, J.0. (2009). Ensaios de absorção de
apontem as seguintes conclusões: água em blocos de EPS para o uso geotécnico. Artigo
científico, São Paulo, SP.
TRANDAFIR, A. C., BARTLETT, S. F., LINGWALL,
• O poeliestireno expandido absorve água B. N. (2010) Behavior of EPS geofoam in stress-
até valores aproximadamente iguais a controlled cyclic uniaxial tests, Geotextiles and
50% de seu volume quando saturado. Geomembranes. p. 28, 514 524.
• A absorção de água é inversamente ROH, H.S., CHOI, Y.C. (2000) Kim, S.H. Earth
pressures on culvert during compaction of backfill.
proporcional à massa específica do EPS, International Society for Rock Mechanics
dessa forma para densidades maiores o Symposium.
volume de água absorvido é menor, isso VASLESTAD, J. (1990) Soil Structure Interaction of
ocorre em decorrência da maior Buried Culverts. Doktor Ingenioravhandling. Institute
presença de vazios nas densidades for Geotechnics. University of Trondheim, p. 452.
ASTM – American Society for Testing Matrials (2001).
menores. ASTM C 272. Standard Test Method for Water
• Um comportamento atípico ocorreu com Absorption of Core Materials for Sandwich
a amostra de massa específica Constructions. Anual Book of ASTM standards.
equivalente a 28 kg/m3 devido a falhas
nas amostras e imprecisão de ensaio.
• Em condições normalizadas, ou seja,
sem saturar as amostras, a absorção de
água é mínima, correspondendo a
aproximadamente 1% do volume para a
menor massa específica analisada.

Esses resultados indicam que há uma


desvantagem na utilização de EPS de baixa
densidade em aterros, como consta em Avesani
Neto (2009), tornando-se indispensável a
previsão de um sistema de impermeabilização,
de maneira a evitar o contato direto desse
material com a água, e também a elaboração de
sistemas de drenagem eficiente para que a água

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34
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação laboratorial da resistência à compressão de estruturas


em solo reforçado com geossintéticos
Leonardo Marroffino Simões
Maccaferri do Brasil Ltda, Jundiaí, Brasil, leonardo_msimoes@hotmail.com
Rodrigo Custodio Urban
PUC-Campinas, Campinas, Brasil, rodrigo.urban@puc-campinas.edu.br

RESUMO: A utilização de geossintéticos em obras de Engenharia Geotécnica, Hidráulica e de


Proteção Ambiental, permite a realização de projetos de elevada durabilidade com custos mais
baixos comparativamente com soluções convencionais. O correto funcionamento do geossintético
está parcialmente atrelado à sua interação com o solo envolvente. Este artigo visa comprovar a
eficiência de uma estrutura de solo reforçado com geogrelhas por meio de ensaios de compressão
simples. Os ensaios foram realizados nos Laboratórios de Solos, Geologia e de Materiais da PUC-
Campinas, com corpos de prova (CP) cilíndricos, com diâmetro de 152,4±0,6 mm, e altura de
177,8±0,3 mm. Foram utilizadas geogrelhas tecidas, com diferentes resistências longitudinais
últimas: 40, 60, 90 e 120 kN/m e o solo utilizado foi classificado como silte. Os CP foram
compactados com energia Proctor Normal e para a compressão simples foi utilizada prensa
hidráulica, obtendo-se as tensões de ruptura e deformação específicas. Foram realizados ensaios à
compressão em CP sem reforço; e reforçados com geogrelha com uma camada ou duas camadas de
mesma resistência, totalizando 12 ensaios. Em comparação ao CP sem reforço: a) as resistências à
compressão aumentaram entre 28% e 40%, e entre 40% e 62%, com uma e duas camadas de
geogrelha, respectivamente; e b) a deformação (%) com uso de camada simples de geogrelha
diminui conforme o aumento da resistência ocasionada pelos geossintéticos. Comprovou-se assim
que, além da geogrelha prover resistência à tração para o maciço de solo, ela também oferece um
acréscimo na resistência à compressão, culminando em menores deformações.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Reforçado, Interação Solo-Geossintético, Compressão Simples.

ABSTRACT: The use of geosynthetics in Geotechnical Engineering, Hydraulic and Environmental


Protection works, allows the realization of projects of high durability with lower costs compared to
conventional solutions. The correct functioning of the geosynthetics is partially linked to the
interaction with the soil around it. This work wants to prove the efficiency of a geogrid reinforced
soil structure by simple compression tests. The tests were carried out at the Soil, Geology and
Materials Laboratories of PUC-Campinas, with cylindrical specimens (CP), with a diameter of
152.4 ± 0.6 mm and a height of 177.8 ± 0.3 mm . Were used geogrids with different longitudinal
strengths: 40, 60, 90 and 120 kN m and the soil used was classified as silt. The CPs were compacted
with Normal Proctor energy and for simple compression a hydraulic press was used, obtaining the
rupture tensions and specific deformation. Compressive tests were performed in CP without
reinforcement; and reinforced with geogrid with a layer or two layers of the same resistance,
totaling 12 tests. In comparison to the non-reinforced CP: a) the compressive strengths increased
between 28% and 40%, and between 40% and 62%, with one and two layers of geogrid
respectively; and b) the deformation (%) with the use of simple geogrid layer decreases as the
resistance of the geosynthetics increases. In addition the geogrid provides tensile strength for the
soil mass, it provides an increase in compressive strength, resulting in lower deformations.

KEY WORDS: Reinforced Soil, Soil-Geosynthetic Interaction, Simple Compression.

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1 INTRODUÇÃO vantagens técnicas e econômicas em todos os
casos, permitindo a adoção de maciços mais
A utilização e aplicação de geossintéticos está íngremes e com menor volume de solo.
associada substituição e ao aprimoramento de De maneira geral, os solos, quando bem
técnicas convencionais de engenharia, os compactados apresentam boa resistência a
mesmos, quando associados ou combinados esforços de compressão e ao cisalhamento,
com solos, permitem a elaboração de projetos porém, apresentam baixa resistência a esforços
criativos, de alta durabilidade e de baixo custo de tração, podendo haver casos em que a
de execução (Kakuda, 2005). resistência a tração seja nula (Ehrlich, 1999).
Desde 3000 a.C, já eram executadas praticas Segundo Schlosser & Than (1974), o
naturais para melhorar a qualidade do solo. Os princípio de solo reforçado é análogo ao
Zingutes, na Grande Muralha da China, e em concreto reforçado, de modo que é associado às
diversas obras do Império Romano, são características mecânicas do solo com a
exemplos de obras constituídas de fibras resistência à tração de um reforço, obtendo uma
resistentes, como palha, bambu e estivas de estrutura mecanicamente resistente e estável.
junco. A inclusão de materiais sintéticos no solo Portanto, a técnica conhecida por "solo
teve inicio nos anos 50, com o desenvolvimento reforçado" consiste na introdução de elementos
dos geotêxteis tecidos como elementos de filtro convenientemente orientados com determinadas
em obras hidráulicas, para proteção resistências a tração, aumentando assim a
antierosivas. Na década de 1960, ocorreu a resistência do maciço rochoso e diminuindo a
primeira aplicação de geotêxtil não tecido de sua deformabilidade, melhorando também seu
fibras em um recapeamento asfáltico nos comportamento global à custa da transferência
Estados Unidos. Na década de 1970, a aplicação dos esforços para os elementos resistentes
de geotêxteis tornou-se mais ampla e mais (reforços) (Sayão et al., 2012).
intensa, sendo utilizados em muros em solo Quando uma massa de solo é carregada
reforçado, aterros sobre solos moles, filtros de verticalmente ela sofre deformações laterais de
drenos e barragens, entre outras. No Brasil, extensão (tração) e verticais de compressão.
mais especificamente em 1971, aconteceram as Contudo, se esta massa de solo estiver
primeiras aplicações de geotêxteis, tendo as reforçada, ocorrerá uma limitação em seus
obras rodoviárias como principal meio de movimentos laterais, resultante da reduzida
aplicação, e reforço de aterros sobre solos deformabilidade do reforço, pois os reforços no
moles. Os métodos de dimensionamento solo funcionam como uma “costura” entre as
surgiram nas décadas de 1980 e também foi massas de solo, unindo parte estáveis com as
criada a Comissão de Estudos Geotécnicos. instáveis, minimizando assim a probabilidade
Com o decorrer desta década e da década de de ruptura do talude reforçado (Figura 1).
1990, foi desencadeado o surgimento de uma Atualmente, existem diversos ensaios de
grande multiplicidade de produtos e usos de caracterização física, mecânica e de interação
geossintéticos, devido aos impulsos gerados por solo-geossintético que são analisados e
estudos e pesquisas teóricas apresentados. avaliados em conjunto para determinação das
(Aguiar & Vertematti, 2003). características e propriedades resistentes de
A utilização de geossintéticos vem sendo cada diferente tipo de elemento de reforço de
cada vez mais empregada na engenharia civil, solo, como por exemplo, as geogrelhas.
devido a grande variedade de funções que Apesar de já existirem diversos métodos de
podem exercer, como por exemplo: reforço, análise e caracterização dos geossintéticos,
filtração, drenagem e separação. A técnica de ainda há muito que ser estudado sobre este
reforço de solo assumiu um grande papel na assunto para um melhor entendimento de todos
Engenharia Geotécnica, pelo fato de sua os processos de interação solo-geossintético que
aplicação ser extremamente vasta, destacando- ocorrem em uma estrutura de solo reforçado.
se: aterros reforçados sobre solos moles, muros Por este motivo, ainda estão sendo realizadas
e taludes reforçados, reforço de fundações e diversas pesquisas e estudos sobre os mesmos,
reforço de cavidade subterrânea, apresentando

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o que justifica o objetivo e a escolha do tema 2.2 Geogrelhas
deste artigo.
Foram utilizadas 4 diferentes tipos de
geogrelhas tecidas, fornecidas pela empresa
Maccaferri do Brasil. Foram elas: Geogrelhas
MacGrid® WG 40, 60, 90 e 120, em que o
número que aparece no final de seu nome
representa a resistência longitudinal última de
cada uma. Estas são produzidas a partir de
filamentos de poliéster de super alta tenacidade,
apresentando baixos valores de alongamento,
mobilizando altos valores de tração. Para
prevenção de ataques químicos, biológicos e
ambientais, são revestidas com PVC.

Figura 1. Princípio básico do comportamento do solo


reforçado. Fonte: Sayão et al. (2012).

2 MATERIAL E MÉTODO

A resistência à compressão de solos reforçados


com geossintéticos foi avaliada através de
ensaios de compressão simples. Foram
utilizadas geogrelhas com resistências
longitudinais últimas distintas fornecidas pela
Maccaferri do Brasil. Também foi avaliado o
comportamento do maciço para cada geogrelha
utilizada durante e posteriormente ao
desenvolvimento do ensaio, a fim de obter
resultados significativos de acordo com a
escolha do reforço utilizado.
Figura 2. Amostras de Geogrelhas.
2.1 Solo
2.3 Ensaio de compactação Proctor
O solo utilizado no estudo foi um Silte Arenoso
com alguns parâmetros conhecidos (Tabela 1). O ensaio de compactação que segue a norma
NBR 7182 (ABNT, 1986), teve como objetivo a
Tabela 1. Parâmetros de amostra do solo compactado .
determinação do teor de umidade ótima para
Material modelo Mohr-Coulomb
Estado do Material Seco moldagem e compactação dos corpos de prova,
Peso Específico 17 kN/m³ a fim de se atingir o grau de compactação
Módulo de Elasticidade 60.000 kPa máximo necessário para a realização do ensaio
Coeficiente de Poisson 0,30 de compressão simples. Para isto, a energia de
Coesão (c’) 10 kPa compactação considerada foi a normal.
Ângulo de Atrito (Φ) 32º

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37
2.4 Moldagem dos corpos de prova (CP) Os ensaios foram direcionados para a prensa
hidráulica presente no laboratório de construção
Foram moldados dois corpos de provas com civil da PUC-Campinas, a fim de se obter os
uma camada de geogrelha para cada tipo de resultados de maneira diferente do
resistência, dois sem reforço, e mais dois com convencional, e também, devido ao corpo de
duas camadas de geogrelha, sendo um com a prova utilizado apresentar um diâmetro maior
MacGrid® WG 40 e outro com a MacGrid® do que a máquina de compressão com
WG 60, a fim de se obter novos resultados para extensômetros do laboratório de solos suporta.
futura avaliação. As geogrelhas foram Durante o ensaio, foram observados e
posicionadas na parte intermediária do corpo de medidos os deslocamentos verticais, necessários
prova (CP), quando utilizada apenas uma para o cálculo da deformação específica,
camada de reforço, e quando utilizadas duas medindo a variação de altura inicial e final do
camadas, as mesmas foram posicionadas CP. Com o término do ensaio, foi possível obter
dividindo os CP em três camadas de solo com as variações da força de ruptura, e também, o
espessuras similares, totalizando uma valor da tensão de ruptura máxima (Limite de
quantidade de cinco camadas de compactação Resistência).
com 12 golpes cada, conforme recomenda o
ensaio de Proctor Normal para o cilindro grande
(diâmetro de 152,4 ± 0,6 mm com 177,8 ± 0,3
mm de altura). As geogrelhas tiveram sua parte
inferior e superior revestida por solo
compactado, semelhante ao ensaio de
cisalhamento direto.

Figura 4. Ensaio de compressão simples.

3 RESULTADOS

No total foram realizados 12 ensaios, porém os


resultados obtidos nos primeiros 5 corpos de
prova foram desconsiderados devido à
discrepância de valores. Nos demais ensaios
foram atingidos resultados satisfatórios para o
objetivo deste artigo. Todos os CP atingiram
um ponto de ruptura, e à medida que a
Figura 3. Posicionamento da geogrelha.
geogrelha utilizada fosse mais resistente, o CP
resistiu a um esforço maior de ruptura.
2.5 Ensaio de compressão simples
Apesar dos CP atingirem um ponto de
ruptura, os mesmos foram mantidos sobre
Com os corpos de provas já moldados e
aplicação de força até aproximadamente
compactados, o próximo passo foi a realização
11179,52 N, pois a força aplicada pela prensa
do ensaio de compressão simples, que foi
não estava diminuindo, ou seja, a prensa não
executado baseando-se nos procedimentos
detectou perda de resistência. Após o termino
normatizado pela NBR 12770 (ABNT, 1992),
do ensaio, foi verificado altura final de cada CP,
com as alterações apresentadas a seguir.
obtendo os seguintes resultados para o possível

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38
cálculo da deformação específica e do limite de Já a deformação específica é obtida através
resistência: da relação entre a altura inicial e final do corpo
- Sem reforço = 0,05 m para uma força de de prova:
aproximadamente 7845,28 N - Esforço máximo
para atingir a ruptura = 6613,28 N (2)
- WG 40 = 0,035 m para uma força de
aproximadamente 11179,52 N - Esforço
Onde:
máximo para atingir a ruptura = 8461,13 N.
- WG 60 = 0,04 m para uma força de L 0 = Altura do corpo de prova antes do ensaio
de compressão em m;
aproximadamente 11179,52 N - Esforço
L f = Altura do corpo de prova após o ensaio de
máximo para atingir a ruptura = 8655,70 N.
- WG 90 = 0,045 m para uma força de compressão em m;
aproximadamente 11179,52 N - Esforço Ɛ = Deformação específica (m/m).
máximo para atingir a ruptura = 9239,19 N.
Através da relação entre o limite de
- WG 120 = 0,045 m para uma força de
resistência do corpo de prova sem reforço com
aproximadamente 11179,52 N - Esforço
máximo para atingir a ruptura = 8655,70 N. os resultados de limite de resistência de cada
- 2 x WG 40 = 0,05 m para uma força de corpo de prova, foi possível obter, de maneira
aproximadamente 11179,52 N - Esforço bem simplificada, um fator de resistência para
máximo para atingir a ruptura = 9239,19 N. cada condição de reforço ensaiada.
- 2 x WG 60 = 0,06 m para uma força de Nas figuras 5 a 7, são apresentados gráficos
aproximadamente 11179,52 N - Esforço com a variação da força aplicada nos CP, do
máximo para atingir a ruptura = 10698,02 N. limite de resistência (tensão) e da deformação
específica dos mesmos.
Obs.:
- O corpo de prova sem reforço não atingiu o
esforço de 11179,52 N e foi retirado durante a
aplicação de um esforço de aproximadamente
7845,28 N.
- A altura inicial dos CP foi de
aproximadamente 0,10 m.
- O resultado da WG 120 não foi satisfatório,
tendo como uma explicação provável o fato de
que para esse reforço a escala da geogrelha
estava inadequada às dimensões do CP
Figura 5. Representação gráfica da força aplicada para
utilizado. ruptura dos corpos de prova.

O limite de resistência de cada corpo de


prova é facilmente obtido através da relação
entre a força de ruptura aplicada e a área inicial
do corpo de prova:

(1)

Onde:
F = Força de ruptura em N;
A 0 = Área inicial do corpo de prova em m²;
LR = Limite de resistência em N/m² (Pa). Figura 6. Representação gráfica do limite de resistência
dos corpos de prova.

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Figura 7. Representação gráfica da deformação específica
dos corpos de prova.

Nas figuras 8 a 11, são apresentadas algumas Figura 10. Detalhe do rompimento do reforço.
imagens dos resultados físicos obtidos após o
ensaio de compressão.

Figura 11. Corpo de prova duplamente reforçado após


ensaio de compressão simples.

Figura 8. Corpo de prova sem reforço após ensaio de 4 DISCUSSÃO


compressão simples.

Observando os resultados obtidos, nota-se que a


hipótese inicial desse artigo foi comprovada,
pois à medida que os ensaios de compressão
eram realizados com geogrelhas de maiores
resistências longitudinais última, maiores foram
suas resistências limites e menores foram suas
respectivas deformações específicas. Uma
exceção pode ser apontada para o corpo de
prova moldado com geogrelha MacGrid® WG
Figura 9. Corpo de prova reforçado após ensaio de 120, fato que pode ser explicado devido à escala
compressão simples. deste material ser maior do que a escala para
permitir uma adequada interação com as
Nas imagens apresentadas é possível dimensões do maciço de solo ensaiado, e
verificar as deformações ocasionadas pela também devido ao materiais destas geogrelhas
aplicação de esforços verticais nos CP’s, além serem fabricados por empresa diferente das
de deformações e rupturas sofridas pelas demais, ou seja, as espessuras de suas tiras e os
geogrelhas, comprovando que as mesmas espaçamentos longitudinais das mesmas não
interagiram com o solo durante a aplicação de seguem o mesmo padrão de fabricação.
esforços de compressão.

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Ao verificar as dimensões das amostras das 5 CONCLUSÃO
geogrelhas foi observado que para uma
Geogrelha MacGrid® WG 40, as larguras de Em uma conclusão geral, pode se afirmar que
suas tiras longitudinais possuem uma dimensão este artigo atingiu resultados satisfatórios em
de aproximadamente 0,005 m e um relação ao que se queria provar; porém, obteria
espaçamento médio entre as mesmas de 0,025 resultados ainda melhores se fosse possível
m; para uma Geogrelha MacGrid® WG 60, as traçar um diagrama de tensões e deformações
larguras de suas tiras longitudinais possuem resultante das etapas de ruptura dos corpos de
uma dimensão de aproximadamente 0,006 m e provas para uma melhor avaliação dos
um espaçamento médio entre as mesmas de resultados obtidos, ficando a sugestão para
0,024 m; para uma Geogrelha MacGrid® WG estudos futuros.
90, as larguras de suas tiras longitudinais Em relação ao método utilizado nos ensaios,
possuem uma dimensão de aproximadamente seria interessante também a realização de
0,007 m e um espaçamento médio entre as ensaios de compressão triaxial, que por motivo
mesmas de 0,0235 m; e para uma Geogrelha de manter o corpo de prova em confinamento
MacGrid® WG 120, as larguras de suas tiras durante o mesmo, pode gerar resultados mais
longitudinais possuem uma dimensão de próximos da realidade.
aproximadamente 0,013 m e um espaçamento A avaliação mais adequada seria um ensaio
médio entre as mesmas de 0,038 mm. em campo, pois possibilitaria uma avaliação de
Pode-se observar que para casos específicos, todos os resultados durante e após a ruptura em
como por exemplo, os ensaios realizados nesse escala real. Entretanto, esta avaliação apresenta
artigo, a espessura das tiras longitudinais e os grandes restrições devido ao espaço hábil para
seus respectivos espaçamentos são um fator realização destes ensaios e principalmente em
importante para que haja uma melhor interação virtude da questão financeira.
entre o maciço de solo e o reforço, ou seja, uma O conhecimento de todas as propriedades e
melhor interação solo-geossintético. influências que um determinado material de
Outro aspecto que pode ser facilmente reforço oferece para o sistema que o mesmo
observado nos resultados obtidos é que a constitui é de extrema importância para área da
utilização de mais de uma camada de geogrelha Engenharia Civil, especialmente quando se trata
em interação com o solo influencia diretamente do ramo da Engenharia Geotécnica, onde as
na resistência limite do sistema, ou seja, os incertezas são ainda maiores. Portanto, este
corpos de prova duplamente reforçados com artigo representa mais um passo para melhorar
Geogrelha MacGrid® WG 40 e WG 60 ainda mais o conhecimento do material
atingiram uma resistência equivalente e superior analisado em interação com o solo envolvente,
respectivamente à resistência do corpo de prova comprovando que além da geogrelha prover
reforçado com uma Geogrelha MacGrid® WG resistência à tração para o maciço de solo
90 e resultaram em deformações menores, fato reforçado, a mesma também oferece um
que pode ser facilmente explicado por haver um acréscimo na resistência à compressão do
maior número de reforço em interação com o mesmo, culminando em menores deformações.
solo, consequentemente se tem uma maior Entre sugestões para estudos futuros,
distribuição das tensões atuantes no sistema. considera-se interessante que os mesmos
No caso do corpo de prova sem reforço, ensaios sejam realizados com diferentes tipos
como não foi aplicada a mesma força final que de solo, pois como já é de conhecimento,
nos demais CP, não foi possível comparar a nossos solos são extremamente heterogêneos e
deformação específica dos mesmos para dificilmente nos depararemos com solos que
aplicação de um mesmo esforço, porém, já é possuem características "idênticas". Além disso,
possível observar que para um esforço bem a utilização de geogrelhas extrudadas e
menor o mesmo atingiu a mesma deformação soldadas, neste mesmo ensaio e nos demais
do CP reforçado com duas camadas de citados acima, torna-se um estudo muito
Geogrelha MacGrid® 40, que foi solicitado por interessante para aumentar ainda mais a gama
um esforço aproximadamente 1,43 vezes maior. de conhecimento sobre esses materiais em

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41
interação com o solo, para que, em um futuro
próximo, os resultados obtidos do mesmo
possam influenciar positivamente em um
melhor dimensionamento de estruturas em solo
reforçado.

AGRADECIMENTOS

Ao grupo Maccaferri do Brasil por fornecerem


as amostras de geogrelhas e o solo utilizado
nesse artigo.

REFERÊNCIAS

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Compactação. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, 10 p.
ABNT (1992). NBR 12770: Solo coesivo - Determinação
da resistência à compressão não confinada.
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Janeiro, 4 p.
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capitulo 1 do livro Manual brasileiro de
geossintéticos - Coordenador José Carlos Vertematti –
São Paulo, ed. Edgard Blücher.
Ehrlich, M. (1999). Análise de Muros e Taludes de Solos
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Geossintéticos e 3º Simpósio Brasileiro de
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

42
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Ensaios de Permeabilidade em Fluxo no Plano em Geotêxteis


Tecidos com Procedimento Não Normatizado
Luiza Kifer Nascimento
UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, luizakifer@hotmail.com

José Luiz Ernandes Dias Filho


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, jlernandes@hotmail.com

Paulo Cesar de Almeida Maia


UENF, Campos dos Goytacazes, Brasil, maia@uenf.com.br

RESUMO: Inúmeras obras de engenharia civil utilizam geossintéticos, abrangendo desde projetos
hidráulicos costeiros aos geotécnicos de aterros sanitários. Para melhor dimensionamento destes
projetos, a caracterização hidráulica é uma das principais propriedades a serem verificadas. Quando
o material deixa o ambiente controlado das fábricas e chega à obra, fica sujeito às características
agressivas do meio exógeno, que são fatores prejudiciais a sua integridade física. Este artigo avaliou
o comportamento hidráulico de quatro geotêxteis tecidos, sendo dois de polipropilenos em
monofilamentos e dois de poliésteres em multifilamentos. A realização do estudo constituiu de
execução do método para determinação do fluxo por unidade de comprimento no plano, calculando
a transmissividade hidráulica, em geossintéticos sob carga constante e procedimento não
normatizado, realizado em um equipamento de ensaio triaxial. Para isso, foi necessária uma
adaptação com uma peça cilíndrica bipartida, que confina o geossintético em seu interior de modo a
permitir o fluxo no plano. Os resultados obtidos quando confrontados com o banco de dados dos
ensaios realizados em laboratório apresentaram resultados similares e com coeficiente de variação
inferior a 10%, sendo um bom indicativo da validação do novo equipamento para a determinação
do fluxo de água no plano dos geotêxteis ou transmissividade.

PALAVRAS-CHAVE: geossintéticos, geotêxtil tecido, ensaios hidráulicos, transmissividade.

ABSTRACT: Countless civil engineering constructions use geosynthetics, from coastal hydraulic
projects to geotechnical landfills. In order to achieve a better structural dimensioning of these
projects, the hydraulic characterization is one of the main properties to be verified. When the
material leaves the controlled field of the factories and arrives at the construction, it is subject to the
aggressive characteristics of the exogenous environment, factors there are detrimental to its physical
integrity. This paper evaluated the hydraulic behavior of four woven geotextiles, two with
monofilament polypropylene and two with multifilament polyester. The study consisted in the
execution of the test method for determining the (in-plane) flow rate per unit width, calculating the
hydraulic transmissivity of a geosynthetics and using a constant head with non-standardized
procedure done in an triaxial equipment. For this, it was necessary the adaptation of a two-part
cylindrical piece that confines the geosynthetic in its interior in order to allow the flow in the plane.
The results obtained in comparison to the database of tests carried out in the laboratory showed
similar results and with a coefficient of variation of less than 10%, what is a good indicative of the
validation of the new equipment for the determination of water flow in the geotextile or
transmissivity.

KEY WORDS: geosynthetics, woven geotextile, hydraulic test, transmissivity.

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1 INTRODUÇÃO 1.2 Propriedades hidráulicas

1.1 Considerações iniciais Em obras de proteção costeira e de encostas de


rios, onde se empregam estes produtos, faz-se
Os geossintéticos são materiais poliméricos, necessário o estudo dessas propriedades. Os
sintéticos ou naturais, industrializados, com geossintéticos tecidos ou não tecidos possuem
capacidade de desempenhar uma ou mais três propriedades hidráulicas: permissividade,
funções diferentes, dentre as quais se destacam: abertura de filtração e transmissividade. Sendo
reforço, filtração, drenagem, proteção, esta última, objeto de estudo deste artigo.
separação, impermeabilização e controle de Essa propriedade avalia a permeabilidade do
erosão superficial. A grande diversidade de geossintético por fluxo planar, produto entre a
geossintéticos disponíveis atualmente no permeabilidade no plano e sua espessura. É de
mercado permite que estes sejam empregados suma importância destacar que a carga sob o
como alternativa mais simples e eficaz em material pode alterar esta característica.
diferentes tipos de obras. Em projetos de Segundo KOERNER et al. (1984), GIROUD et
contenção de erosão costeira ou de margens de al. (2000) e CASTELO e GUTIERREZ (2014),
rios, as Fôrmas Têxteis Tubulares - FTT, em sobreposição de camadas, espessura e
geral compostos por geotêxteis tecidos e não compressibilidade dos geossintéticos afetam de
tecidos, são largamente utilizados devido ao seu forma significativa a mudança desta
alto nível de desempenho. Estes são propriedade de acordo com os projetos.
preenchidos por ar ou água e/ou algum tipo de
sólido, como por exemplo o solo e o cimento,
para conter processos erosivos no mar ou no rio, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
e também pode ser usado para estabilizar
encostas. Sua aplicação exige diversos estudos 2.1 Materiais
de suas propriedades hidráulicas.
Os polímeros mais comuns na confecção dos Na presente pesquisa, foram utilizados quatro
geotêxteis das FTT são o polipropileno (PP) e o tipos de geotêxteis tecidos de diferentes
poliéster (PET). O primeiro, PP, é um gramaturas, dois em multifilamentos de
termoplástico com um ponto de fusão de poliéster e dois em laminetes de polipropileno.
aproximadamente 165ºC e uma densidade de Materiais utilizados para confecção de FTT em
aproximadamente 0,90 kg/m³. Sua densidade é diversas obras hidráulicas.
inferior à da água, o que o permite flutuar, A Figura 1 e Tabela 1 apresentam
sendo um dos polímeros mais leves. Além respectivamente a imagem e as gramaturas dos
disso, o PP é o polímero mais usado na materiais estudados.
fabricação de geotêxteis, chegando à marca de
85% do total, segundo KOERNER (2012) e de
65%, de acordo com INGOLD (2013). Já o
segundo, PET, também é um termoplástico,
porém com um ponto de fusão muito maior que
o do PP, em torno de 260ºC, e com uma
densidade de 1,38 aproximadamente, ou seja, é
mais denso do que a água. Logo, os materiais de Figura 1. Geotêxteis de polipropileno e poliéster de
diferentes gramaturas utilizados na pesquisa.
PET não flutuam. Segundo KOERNER (2012),
apenas 12% desse material é utilizado na Tabela 1. Gramatura das amostras de geotêxteis.
fabricação de geotêxteis e 30% acordo com
INGOLD (2013). Dessa forma pode-se Amostra Gramatura (g/m²)
confirmar o PET como o segundo polímero PET-340 340
mais utilizado na fabricação de geotêxteis PP-500 500
tecidos e não tecidos de FTT no mercado de PET-740 740
geossintéticos internacional. PP-925 925

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2.2 Métodos Dessa maneira realizou-se a correção da
pressão na base, a qual foi calculada em 0,23
Os ensaios só foram possíveis através da PSI para gradiente 0,1 e 0,42 PSI para gradiente
construção dos equipamentos pertencentes ao 1, enquanto o topo ficou zerado.
GeoLED/LECIV/UENF para caracterização dos
geossintéticos. Dessa maneira tornou-se
possível a caracterização desta propriedade, a
fim de interpretar o comportamento dos
geotêxteis, que são aplicados em diversos
projetos hidráulicos.

2.2.3 Transmissividade
Figura 2. Esquemático do equipamento normatizado.
Para a execução desse ensaio, foi utilizado um
aparelho de ensaios triaxial. A adaptação foi
realizada de acordo com as informações
contidas na norma ABNT NBR ISO
12958/2013 e são descritas a seguir.
Como pode ser observado na Figura 2, no
esquemático do ensaio normatizado, o corpo de
prova dispõe-se horizontalmente. Já na Figura 3
e 4, na adaptação utilizando o equipamento
triaxial e em seu projeto esquemático, realiza-se
o ensaio de transmissividade com o corpo de
prova na posição vertical a base. Figura 3. Equipamento de transmissividade adaptado .

Figura 4. Esquemático do equipamento adaptado e utilizado no ensaio de transmissividade.

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Em norma, o corpo de prova dispõe-se no Inicialmente, para a realização do ensaio, o
equipamento entre uma espuma de borracha que corpo de prova foi posicionado no interior do
transmite a carga aplicada por uma célula de cilindro bipartido de iberê. Em seguida, o
pressão ao corpo de prova. Já na adaptação, conjunto descrito foi envolto por uma
aplica-se a carga por pressão de água membrana com a fixação de suas extremidades
diretamente no cilindro bipartido fabricado em por elástico. A montagem foi finalizada por
resina iberê (Figura 5a), que confina o meio do posicionamento da célula de vidro com
geossintético encamisado (Figura 5b), e todo o sistema fechado e as mangueiras, as quais
conjunto fica no interior da câmara do fazem a ligação do triaxial com a célula e
equipamento do ensaio triaxial (Figura 5c). abastecem o sistema com água.
Esta célula recebe 3 mangueiras conectadas O procedimento experimental se resume em
respectivamente ao seu topo, sua base e lateral; aplicar 3 níveis de tensões ao corpo de prova e
elas são responsáveis por abastecê-la com água em 2 gradientes hidráulicos diferentes conforme
gerando as pressões necessárias para a mostra a Tabela 2.
realização dos ensaios.
Previamente os corpos de prova a serem Tabela 2. Características do ensaio de transmissividade.
ensaiados foram cortados com o auxílio de um Tensão aplicada Gradiente hidráulico
canivete afiado nas dimensões 10 cm por 5 cm, (kPa) (PSI) (adimensional)
adequadas para ajustar-se perfeitamente ao 20 2,9 0,1
20 2,9 1,0
cilindro que servirá de apoio. Essas dimensões 100 14,5 0,1
diferem do padrão, que preconiza a utilização 100 14,5 1,0
de corpos de prova de 30 cm de comprimento e 200 29 0,1
20 cm de largura. 200 29 1,0
Durante um período mínimo de tempo de 24
horas anterior ao ensaio, os corpos de prova Em sequência, foi aplicada a tensão normal
devem ser imersos totalmente em água a de 2,9 PSI na superfície lateral do corpo de
temperatura ambiente afim de saturá-los, para prova, então para cada deslocamento de 1 cm na
que o ensaio não seja prejudicado por eventuais bureta realizaram-se as leituras de tempo, sendo
bolhas de ar que possam se formar no interior totalizadas 3 medições para análise estatística.
do material durante o ensaio caso este não Em seguida modificou-se a tensão normal para
esteja totalmente saturado e assim os geotêxteis 16,5 PSI, e procedeu-se com mais 3 medidas de
tecidos a serem ensaiados, devem permitir um tempo para finalmente repetir o procedimento
fluxo de água no seu plano. para pressão de 29,0 PSI.

(a) amostra posicionada no cilindro. (b) cilindro encamisado. (c) câmara do ensaio triaxial.
Figura 5. Montagem do equipamento utilizado no ensaio de transmissividade.

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O procedimento para o segundo gradiente de
1,0 foi idêntico, a única mudança foi na pressão
na base do corpo de prova. Então repetiu-se as
tensões normais nas laterais iniciando-se com
2,9 PSI, seguindo-se com 16,5 PSI e 29,0 PSI,
sendo feitas 3 medidas de tempo para cada
pressão respectivamente.

3 RESULTADOS

Os resultados obtidos, por meio dos ensaios (a) PET340


com equipamento adaptado, foram apresentados
comparando lado a lado com o ensaio
normatizado, obtido pelo fabricante das
amostras fornecidas e seguindo os
procedimentos e equipamentos normatizados.
O PET340 e o PET740 apresentaram
resposta de transmissividade maior que os
valores obtidos no teste padrão. Acredita-se que
a superfície rígida ao redor da amostra seja a
razão para essa variação.
A Figura 8 apresenta graficamente os
resultados da maneira como a metodologia
prescreve a realização do ensaio e (b) PP500
consequentemente a obtenção dos dados. Os
valores de transmissividade correspondem à
média entre os dados obtidos pelas curvas nos
dois gradientes e sob as três tensões
confinantes. Pode-se observar a evolução da
permeabilidade transversal no material em
gradiente hidráulico 1 em cinza claro e 0,1 em
cinza escuro. Foi observado a diminuição da
vazão de água com o aumento da pressão
confinante. Em amarelo estão os resultados
obtidos em procedimento padrão, corpo de
prova na horizontal, em ensaio normatizado. (c) PET740
Com esta pouca diferença em procedimento
experimental, a adaptação se mostrou eficaz e
uma alternativa viável para a realização desse
tipo de ensaio.
Na Tabela 3 são apresentados de forma
resumida o resultado da capacidade de fluxo no
plano dos quatros geotêxteis tecidos desta
pesquisa. Para indicar o resultado foi utilizado a
média do ensaio em 100 kPa. É importante
destacar que os valores praticados em
dimensionamento são aqueles a que o
geossintético é submetido em projeto, ou seja,
em condição de confinamento representativa da (d) PP925
aplicação daquele material. Figura 8: Resultado de transmissividade.

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REFERÊNCIAS
Tabela 3. Permeabilidade no plano – kp (cm²/s).
Geotêxtil Normatizado Não Normatizado ABNT (2013). NBR ISO 12958: Geotêxteis e produtos
PET 340 0,050 ± 0,001 0,055 ± 0,002 correlatos – Determinação da capacidade de fluxo no
PP500 0,065 ± 0,001 0,067 ± 0,003 plano. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio
PET740 0,150 ± 0,002 0,154 ± 0,008 de Janeiro, p. 13.
PP925 0,110 ± 0,001 0,110 ± 0,003 Castelo, J.; Gutierrez, J. (2014). High compressive
resistance drainage geocomposites. Ingenieria Civil.
Madri: Espanha. v. 171. p. 77-82.
Giroud, J. P.; Zhao, A.; Richarson, G. N. (2000). Effect of
4 CONCLUSÕES Thickness reduction on Geosynthetic Hidraulic
Transmissivity. Geosinthetic International. v. 7, (4-6).
O trabalho apresentou os resultados da p. 433-452.
Ingold, T. S. (2013). The Geotextiles and Geomembranes
caracterização da transmissividade em quatro Manual. Elsevier, Oxford. p. 610.
diferentes gramaturas de geotêxteis tecidos em Koerner, R. M. (1998). Designing With
equipamento desenvolvido em laboratório e Geosynthetics (4th ed.). Prentice Hall, Inc., New
foram avaliadas as seguintes conclusões: Jersey, USA. p.761.
O equipamento triaxial foi uma alternativa Koerner, R. M.; Bove, J. A.; Martin, J. P. (1984). Water
and air transmissivity of geotextiles. Geotextiles and
que viabilizou a realização dos ensaios de Geomembranes. v.1 (1). p. 57-73.
determinação da capacidade de fluxo de água
no plano. Esse mecanismo provou ser uma
alternativa eficiente e com possibilidade, por
meio de mais testes, se tornar um procedimento
complementar, que define medidas padrão para
esse procedimento.
As maiores variações dos resultados
estatísticos foram nos poliésteres PET340 e
PET740, que apresentaram resposta de
transmissividade maior do que no teste padrão.
A superfície rígida ao redor da amostra pode ser
a razão para essa variação.
Os resultados apresentaram similaridade com
os ensaios padrões e foram obtidos coeficientes
de variação inferior a 10%, o que é um bom
indicativo da validação do novo equipamento
de fluxo no plano dos geotêxteis.
Segundo a pesquisa, a variação da escala não
se mostrou um problema para a determinação
das propriedades do material, e sim uma
alternativa adicional, especialmente para
estudos de durabilidade, que exigem amostras
em tamanho reduzido.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da


Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de
Financiamento 001. Os autores agradecem
também o apoio do CNPq, UENF e Huesker
Brasil.

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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
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Avaliação de Resultados de Ensaio de Compressão Cíclica em


Amostras de Poliestireno Expandido (EPS)
Mariana Basolli Borsatto
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Mozart Mariano Carneiro Neto


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mozartmcneto@gmail.com

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, brunamalaghini@outlook.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: Este trabalho analisou os resultados de ensaios de compressão uniaxial cíclica em


amostras de poliestireno expandido (EPS) nas massas específicas de 10, 20 e 30 kg/m³, moldadas
em corpos de prova com dimensões cúbicas de aresta igual a 100 mm. O ensaio foi realizado com
base na ASTM C165. Foram avaliados os valores dos módulos de elasticidade inicial (Ei) , residual
(Er) e plástica (Ep) bem como os valores de tensão do material. O módulo de elasticidade inicial
(Ei) foi obtido a partir da inclinação do trecho inicial da curva tensão versus deformação, por meio
da Lei de Hooke, para deformações de até 1%, estando na fase elástica do material. Os valores dos
módulos de elasticidade residual (Er) foram obtidos pela inclinação dos trechos de recompressão
após os descarregamentos com 8, 16 e 24% de deformação, ou seja, para a fase elástica do
descarregamento. Foram obtidos também os valores para a fase plástica (Ep) antes e após os
descarregamentos, esses valores foram comparados com a literatura. Os principais resultados
mostram que, na fase elástica, tanto para o trecho inicial quando para os trehos de recompressão, há
um aumento do módulo de elasticidade com o aumento da massa específica, nota-se ainda que o
módulo de elasticidade diminui após cada descarregamento, mostrando que o material tende a se
tornar mais plástico após cada ciclo, de modo que a inclinação da curva no trecho elástico diminui a
cada recarregamento. Na fase plástica, o valor do módulo diminui com o aumento da massa
específica, o que mostra que a inclinação do trecho plástico é menor com o aumento da densidade
do material. Além disso, percebeu-se que os valores de Ep diminuem após cada recompressão,
mostrando que a inclinação da curva no trecho plástico tende a se estabilizar.

PALAVRAS-CHAVE: Poliestireno expandido (EPS), Ensaio de compressão cíclica, Módulo de


elasticidade.

ABSTRACT: This work analyzed the results of cyclic uniaxial compression tests in samples of
expanded polystyrene (EPS), in the specific masses of 10, 20 and 30 kg/m³, molded in samples with
cubic dimensions of 100 mm. The values of the initial elastic modulus (Ei), residual (Er) and plastic
(Ep), as well as the tensile values of the material were evaluated. The initial modulus of elasticity
(Ei) was obtained from the slope of the initial stretch of the stress strain curve by means of the
Hook's Law, for deformations until 1%, beginning of elastic phase of the material. The values of the
residual modulus of elasticity (Er) were obtained from the slope of recompression stretch after the
unloadings with 8, 16 and 24% of deformation, in other words, for the elastic phase of the

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unloading. The values for the plastic phase (Ep) were also obtained before and after the unloadings,
these values were compared with the literature. The main results show that in the elastic phase, both
for the initial stretch and for the recompression stretch, there is an increase of the modulus of
elasticity with the increase of the specific mass, it is noted that the modulus of elasticity decreases
after each unloading, showing that the material tends to become more plastic after each cycle, so
that the slope of the curve in the elastic stretch decreases with each reloading. In the plastic phase,
the value of the modulus decreases with the increase of the specific mass, this shows that the
inclination of the plastic stretch is smaller with the increase of the density of the material. In
addition, it was observed that the values of Ep decrease after each recompression, showing that the
slope of the curve in the plastic stretch tends to stabilize.

KEY WORDS: Expanded polystyrene (EPS), Cyclic compression test, Modulus of elasticity.

1 INTRODUÇÃO capacidade de suporte, alargamento de


rodovias, aterros leves de encontros de
De acordo com a Associação Brasileira do pontes/viadutos e de aterros ferroviários,
Poliestireno Expandido (ABRAPEX), por proteção de tubulações, oleodutos, pontões e
definição da norma DIN ISO 1043/78, EPS é a estruturas enterradas, estabilização de taludes,
sigla internacional do Poliestireno Expandido. além de paisagismo e telhados verdes,
Esse material foi descoberto em 1949, na assentos/arquibancadas em estádios e teatros,
Alemanha, pelos químicos Fritz Stastny e Karl barragens, aeroportos e pistas para taxiamento
Buchholz, que trabalhavam nos laboratórios da em geral bem como outras aplicações (Avesani
Basf. No Brasil o material ficou popularmente Neto, 2008; Sun et al., 2009; Mcguigan and
conhecido como “Isopor ®”, sendo a marca Valsangkar, 2010; Jafari, 2010; Stark et al.,
registrada da Knauf que designa os produtos de 2012; Bartlett, Lingwall, & Vaslestad, 2015).
poliestireno expandido vendidos pela empresa. Na geotecnia, o EPS é denominado
O EPS possui aplicações em diversas áreas, geoexpandido (do inglês “geofoam”) e quando
como embalagens industriais, artigos de utilizado em aterro sobre solos moles, sub-base
consumo, agricultura. Mas é na Engenharia de pavimentos, encontro de pontes e outras
Civil que esse material se destaca, por ser um aplicações subterrâneas sofre solicitações
material isolante, resistente e extremamente dinâmicas causadas pelo tráfego de veículos e
leve, trazendo ainda inúmeras vantagens como solicitações de cargas constantes. No contexto
baixa condutividade térmica, resistência da análise de estabilidade de estruturas leves
mecânica e à compressão, baixa absorção de que utilizam blocos, é necessário proceder-se a
água, facilidade de manuseio, resistência ao avaliação de análises internas e externas dos
envelhecimento, absorção de choque, entre modos de ruptura. Destaca-se, assim, a
outras. Sendo resistente, de fácil recorte, leve e necessidade de estudar-se o comportamento
durável, é o melhor material para preencimento deste material sob efeito de carga cíclica visto
de rebaixos e vazios em diversos processos que nas aplicações citadas anteriormente, o
construtivos, principalmente em lajes e painéis geoexpandido é submetido a esse tipo de
pré-fabricados. Por apresentar essas qualidades, carregamento. Nesse sentido, vários estudos
também é a solução para aterros estáveis sobre tem sido conduzidos na avaliação do
solos frágeis. comportamento do EPS submetido a
Suas principais aplicações estão voltadas carregamentos cíclicos (Beinbrech & Hillmann,
para obras onde seja necessário minimizar-se o 1997; Ossa & Romo, 2011; Trandafir, Bartlett,
tempo de execução bem como as tensões que & Lingwall, 2010; Trandafir & Erickson, 2012).
chegarão ao solo ou cota de interesse, como em Dessa forma, esse trabalho apresenta alguns
lajes de concreto, por exemplo. Dentre estas, na resultados referentes ao ensaio de compressão
geotecnia, esse material se destaca como cíclica em diferentes densidades de
fundação para estradas sobre solos com baixa geoexpandido e posterior comparação com

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resultados da literatura. densidades. Utilizou-se um valor reduzido de
números de ciclos, a fim de se obter os valores
do módulo de elasticidade (E) do material. Para
2 MATERIAL E MÉTODOS tanto, o CP foi carregado e descarregado
manualmente até atingir um valor de
O ensaio foi realizado de acordo com a ASTM deformação de 30%. Utilizou-se uma
C165. Foram utilizados corpos de prova cúbicos velocidade de ensaio de 5 mm/min, sendo este
com arestas de 100 mm. Embora esta norma um valor médio entre os recomendados pela
recomende a utilização de corpos de prova ASTM C165 (0,25 a 12,5 mm por minuto).
cúbicos com arestas de 50 mm, a utilização de O objetivo da pesquisa foi de verificar por
amostras com 100 mm de aresta é justificada meio de ensaios de carga e descarga as
pelo fato que de amostras maiores apresentam variações que podem ocorrer na curva tensão
maior representatividade nos resultados, visto versus deformação do EPS avaliando-se os
que esse material é utilizado em campo em módulos de elasticidade inicial (Ei), residual
blocos de grandes dimensões. O ensaio foi (Er) e plástica (Ep) do EPS. As amostras foram
realizado em prensa com servo controle (Figura submetidas a sucessivas compressões e
1) no laboratório de mecânica das rochas do descompressões para cada massa específica. A
departamento de Geotecnia da Escola de descompressão foi feita manualmente quando
Engenharia de São Carlos (USP). atingidos valores de 8%, 16% e 24% de
deformação, a fim de se estudar sua resistência
sob este tipo de carregamento e como o módulo
de elasticidade é influenciado pelas
descompressões e recompressões.
O módulo de elasticidade inicial (Ei) foi
obtido a partir da inclinação do trecho inicial da
curva tensão versus deformação, por meio da
Lei de Hooke, para deformações de até 1%,
estando na fase elástica do material. Os valores
dos módulos de elasticidade residual (Er) foram
obtidos pela inclinação dos trechos de
recompressão após os descarregamentos com 8,
16 e 24% de deformação. Foram obtidos
também os valores para a fase plástica (Ep)
medidos para a curva antes dos
descarregamentos. Após o descarregamento,
também foram obtidos os valores de Ep para os
Figura 1. Equipamento utilizado no ensaio de compressão
cíclica. as deformações de 8 e 16%.

Este ensaio é semelhante ao ensaio de 3 RESULTADOS


compressão simples, entretanto, no cíclico não
há elevação da carga acima de um limite Os resultados obtidos podem ser visualizados
extremo suportado pela amostra e nem abaixo nas figuras 2 a 4 (resultados dos ensaios de
de um valor pré estabelecido como um limite compressão cíclica realizados nas amostras de
inferior de carga e, ocorre, repetitivamente, por EPS de 10 kg/m³, 20 kg/m³ e 30 kg/m³,
meio de sucessivas compressões e respectivamente. A Figura 2 apresenta a
descompressões, o que garante o ciclo de representação esquemática de como os valores
carregamentos e descarregamentos. O limite dos módulos de elasticidade (E) foram obtidos.
superior foi definido de acordo com a máxima Tais valores estão apresentados na Tabela 1,
força (tensão) suportada em ensaios de conforme Figura 2.
compressão simples para cada uma das

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51
4 DISCUSSÃO

Nota-se que na fase elástica, tanto para o trecho


inicial quando para os trehos de recompressão,
há um aumento do módulo de elasticidade em
função do aumento da massa específica. Nota-
se ainda que o módulo de elasticidade diminui
após cada descarregamento, mostrando que o
material tende a se tornar mais plástico após
cada ciclo, de modo que a inclinação da curva
no trecho carga/descarga diminui a cada ciclo.
Considerando a fase residual, verifica-se que
Figura 2. Resultado do ensaio de compressão cíclica
realizado na amostra de EPS de 10 kg/m³.
os valores do módulo residual caem
praticamente para a metade de seu valor quando
se atinge 8% de deformação chegando a valores
ainda menores até se atingir 24%. Já na fase
plástica, o valor do módulo diminui com o
aumento da massa específica, o que mostra que
a inclinação do trecho plástico é menor com o
aumento da densidade do material. Além disso,
percebeu-se que os valores de Ep diminuem
após cada recompressão, mostrando que a
inclinação da curva no trecho plástico tende a se
estabilizar, o que é bem nítido para a maior
massa específica (30 kg/m³), que apresenta o
mesmo valores de Ep após as descompressões
Figura 3. Resultado do ensaio de compressão cíclica de 8 e 16%.
realizado na amostra de EPS de 20 kg/m³. Na literatura nacional, Dias et al (2016)
também analisaram resultados de ensaios de
compressão uniaxial cíclica em poliestireno
expandido, obtendo dados característicos do
material analisado, como módulo de
elasticidade e resistência à deformação em
diferentes estágios e tensão de escoamento, que
são essenciais para a utilização do material em
diferentes obras de terra. Esses dados foram
comparados com referências fornecidas pelas
normas americanas ASTM C578 (usada para
EPS térmico) e ASTM D6817 (usada para EPS
geoexpandido), percebendo-se que, no geral, os
Figura 4. Resultado do ensaio de compressão cíclica dados obtidos pelas amostras analisadas
realizado na amostra de EPS de 30 kg/m³. correspondiam com o determinado pelas
normas, sendo que a ASTM D6817 sempre
Tabela 1. Valores de módulo de elasticidade. apresentou dados mais concisos para classificar
Massa
Ei
Er (MPa)
Ep
Ep (MPa) o geoexpandido, mostrando a importância de
específ. 8% 16% 24% 8% 16%
(kg/m³)
(MPa)
def. def. def.
(MPa)
def. def.
uma norma dedicada para o EPS utilizado como
10 2,857 1,409 1,088 0,974 0,390 0,298 0,278
geossintético (DIAS et al, 2016).
Para uma melhor análise dos resultados,
20 4,267 2,059 1,547 1,243 0,326 0,224 0,209
apresenta-se uma comparação com os
30 5,143 2,500 2,000 1,818 0,217 0,161 0,161
resultados obtidos por Dias et al. (2016),
Ei = Módulo de elasticidade inicial; Er = módulo de elasticidade
residual; Ep = módulo de elasticidade para a fase plástica. conforme Tabelas 2 e 3. Os autores apresentam

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

52
apenas os valores de módulo de elasticidade Com relação às tensões finais obtidas,
inicial da fase elástica (Ei), da fase plástica (Ep) percebe-se que para as menores massas
e de uma única recompressão (Er), de modo que específicas (10 e 20 kg/m³) os valores obtidos
este último foi comparado com o valor de na pesquisa atual são menores, tanto quando
recompressão após 8% de deformação. Nota-se comparados com os valores Dias et al (2016)
que para os três estágios, os valores obtidos em quanto com os valores de referência da ASTM
ambas as pesquisas são próximos, apresentando D6817, principalmente após as descompressões
a mesma ordem de grandeza, mesmo os de 5 e 10 %. Já, para a maior massa específica,
materiais sendo de fornecedores diferentes. observa-se que os valores de tensões são mais
Para os valores de resistência, tomou-se próximos ou maiores que os apresentados por
como base também os valores de referência da Dias et al (2016) e, pela norma, mostrando que
ASTM D6817, os quais também foram as amostras fornecidas apresentaram uma
utilizados para fins de comparação por Dias et resistência elevada na massa específica de 30
al (2016), que analizou os valores de tensão kg/m³.
para deformações de 1, 5 e 10%.

Tabela 2. Comparação dos valores de módulo de elasticidade.


Massa específica Er (MPa)*
Ei (MPa)* Ei (MPa)** Er (MPa)** Ep (MPa)* Ep (MPa)**
(kg/m³) 8% def.
10 2,857 -- 1,409 -- 0,390 --
20 4,267 4,270 2,059 2,190 0,326 0,250
30 5,143 8,020 2,500 4,460 0,217 0,370
* pesquisa atual; **Dias et al (2016)

Tabela 3. Comparação dos valores de resistência.


Resistência - σfinal (kPa)** Resistência - σfinal (kPa)***
Massa específica Resistência - σfinal (kPa)*
(kg/m³)
1% 5% 10% 1% 5% 10% 1% 5% 10%
10 15 27 33 -- -- -- -- -- --
20 37 72 82 40,88 114,53 126,02 50 115 135
30 104 195 215 79,11 210,39 230,21 75 170 200
* pesquisa atual; **Dias et al (2016); ASTM D6817***

Os valores do módulo de elasticidade obtidos


no ensaio cíclico são bem próximos dos valores
apresentados por Dias et al (2016),
apresentando maior discrepância para a maior
massa específica.
Notou-se ainda que a deformação
permanente sofrida pelo corpo de prova após as
recompressões foi proporcional à deformação
maxíma aplicada, semelhante ao ocorrido em
ensaios de compressão simples. O valor
observado oscilou em torno de 3 cm.
A Figura 5 seguinte ilustra a comparação de Figura 5. Comparação de corpos de prova ensaiados e
não ensaiados.
corpos de prova ensaiados e não ensaiados.
Nesta, é possível observar a variação de altura
sofrida pelo corpo de prova.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

53
5 CONCLUSÕES Ensaios de Compressão Uniaxial Cíclica em
Poliestireno Expandido (EPS) Geofoam. In:
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
O ensaio de compressão cíclica mostrou que na Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG), n.18,
fase elástica, tanto no trecho inicial quanto nos Belo Horizonte, 7 p.
trechos de recompressão, o valor do módulo de Jafari, H. (2010). Mechanical and Hydraulic Behavior of
elasticidade aumenta conforme aumenta-se o Geosynthetic Aggregate Drainage Systems and the
valor da massa específica do material e, que Effectiveness of Geofoam as a Compressible Inclusion
over Flexible Pipe. Submitted in Partial Fulfillment
este valor diminui após cada descarregamento, Of the requirements for a Degree with Honors (Civil
mostrando a tendência do material de Engineering), Helen Hardin Honors Program.
plastificar-se sob carga cíclica. Na fase plástica, University of Memphis.
ocorre o comportamento inverso, ou seja, o Mcguigan, B.L., Valsangkar, A.J. (2010). Earth pressures
valor do módulo de elasticidade diminui on twin positive projecting and induced trench box
culverts under high embankments. Can. Geotech. J.
conforme aumenta-se o valor da massa 47 (2), 147e163, 10.1139/T09-085.
específica; os mesmos também mostram uma Ossa, A., & Romo, M. P. (2011). Dynamic
estabilização da curva na fase plástica. Notou-se characterization of EPS geofoam. Geotextiles and
também que para os três estágios de Geomembranes, 29(1), 40–50.
carregamento, os valores dos módulos obtidos https://doi.org/10.1016/J.GEOTEXMEM.2010.06.0
07
são próximos a valores encontrados na Stark, T.D., Bartlett, S.F., Arellano, D. (2012). Expanded
literatura. Polystyrene (EPS) Geofoam Applications and
Technical Data. The EPS Industry Alliance, 1298
Cronson Blvd., Suite 201, Crofton, MD 21114, p. 36.
AGRADECIMENTOS Sun, L., Hopkins, T.C., Beckham, T.L. (2009). Reduction
of Stresses on Buried Rigid Highway Structures Using
the Imperfect Ditch Method and Expanded
Os autores agradecem à Fundação de amparo e Polystyrene (Geofoam). Research Report KTC-07-
à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) 14/SPR-228-01-1F. Kentucky Transportation Center,
pelo apoio financeiro obtido para a realização University of Kentucky, Lexington Kentucky, 49 p.
da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da Trandafir, A. C., Bartlett, S. F., & Lingwall, B. N. (2010).
Behavior of EPS geofoam in stress-controlled
Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP, cyclic uniaxial tests. Geotextiles and
ao Laboratório de Mecânica das Rochas do Geomembranes, 28(6), 514–524.
Departamento de Geotecnia da EESC-USP e à https://doi.org/10.1016/j.geotexmem.2010.01.002
empresa Termotécnica pelo fornecimento do Trandafir, A. C., & Erickson, B. A. (2012). Stiffness
material. Degradation and Yielding of EPS Geofoam under
Cyclic Loading. Journal of Materials in Civil
Engineering, 24(1), 119–124.
https://doi.org/10.1061/(ASCE)MT.1943-
REFERÊNCIAS 5533.0000362

ABRAPEX (2006) – Associação Brasileira do


Poliestireno Expandido. Manual de utilização EPS
na construção civil. São Paulo: Pini.
Avesani Neto J. 0. A. (2008). Caracterização do
comportamento geotécnico do EPS através de ensaios
mecânicos e hidráulicos. Dissertação de Mestrado,
São Carlos, SP. 227 p.
Bartlett, S. F., Lingwall, B. N., & Vaslestad, J. (2015).
Methods of protecting buried pipelines and culverts
in transportation infrastructure using EPS
geofoam. Geotextiles and Geomembranes, 43(5),
450–461.
https://doi.org/10.1016/J.GEOTEXMEM.2015.04.0
19
Beinbrech, G., & Hillmann, R. (1997). EPS in road
construction - Current situation in Germany.
Geotextiles and Geomembranes, 15(1–3), 39–57.
Dias, A. B. A. N. et al. (2016). Análise dos Resultados de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

54
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Resistência ao Cisalhamento do Poliestireno Expandido (EPS) por


meio de Ensaios Triaxiais
Mariana Basolli Borsatto
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Mozart Mariano Carneiro Neto


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mozartmcneto@gmail.com

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, brunamalaghini@outlook.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: Este trabalho avaliou a resistência ao cisalhamento do poliestireno expandido (EPS) por
meio de ensaios triaxiais do tipo consolidado não drenado (CU), de acordo com a ASTM D4757.
As amostras foram fornecidas por empresa nacional em três diferentes massas específicas (10, 20 e
30 kg/m³). Foram utilizados valores reduzidos de tensões confinantes para representar as situações
de campo, sendo estas de 20, 30 e 40 kPa. Os principais resultados mostram que, na fase de ruptura,
há um trecho elástico até uma deformação em torno de 2%, principalmente nas densidades maiores
(20 e 30 kg/m³). Após essa fase, ocorre uma plastificação e como consequência, um ganho de
resistência por endurecimento em deformações de até 10%, a partir da qual o material começa a
perder resistência devido à instabilidade lateral. Para as tensões aplicadas, os corpos de prova de 10
kg/m³ apresentam deformações volumétricas superiores quando comparados a densidades mais
elevadas (20 e 30 kg/m³) para uma mesma deformação axial. Durante a realização dos ensaios, as
amostras de menor densidade (10 kg/m³) não responderam de forma satisfatória a tensões muito
elevadas. Assim como para a densidade mais elevada (30 kg/m³) que não respondeu
satisfatóriamente à tensão de 20 kPa. Além disso, parece haver um comportamento não homogêneo
do material quando submetido a tensões elevadas de confinamento. Os resultados foram
comparados aos da literatura a fim de verificar se o comportamento apresentado está de acordo com
os resultados obtidos. Dentro desse contexto, foi verificado que à medida que as densidades
aumentam, há uma tendência de comportamento expressa pelo aumento da coesão aparente e
diminuição do ângulo de atrito.

PALAVRAS-CHAVE: Poliestireno expandido (EPS), Resistência ao cisalhamento, Ensaio triaxial.

ABSTRACT: This work evaluated the shear strength of the expanded polystyrene (EPS) using
triaxial tests (CU) according to ASTM D4757. A national company supplied the samples in three
different specific masses (10, 20 and 30 kg/m³). Reduced values of confining pressures were used to
represent the field situations, which are 20, 30 and 40 kPa. The main results show that, in the
rupture phase, there is an elastic stretch up to a deformation of around 2%, mainly in the higher
densities (20 and 30 kg/m³). After this phase, a plastification occurs and as a consequence there is a
resistance gain by hardening in deformations until 10%, from which the material begins to lose
resistance due to lateral instability. For the used stresses, the 10 kg/m³ samples have presented

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

55
higher volumetric deformations when compared to higher densities samples (20 and 30 kg/m³) for
the same axial deformation. During the tests, the lower density samples (10 kg/m³) did not respond
satisfactorily to very high stresses. The same for the higher density (30 kg/m³), which did not
respond satisfactorily to the stress of 20 kPa. In addition, it seems like the material has a non-
homogeneous behavior when submitted to high confinement stresses. The results were compared to
those of the literature in order to verify if the presented behavior is in agreement with the obtained
results. Within this context, it was verified that as the densities increase, there is a tendency of
behavior expressed by the increase of apparent cohesion and decrease of the angle of friction.

KEY WORDS: Expanded Polystyrene (EPS), Shear strength, Triaxial test.

1 INTRODUÇÃO Vaslestad, 2015; Dias, A. B. A. N. D. et al,


2016; Özer & Akay, 2016; Trandafir, Bartlett,
Embora ainda pouco utilizado no Brasil, o & Lingwall, 2010).
Poliestireno Expandido, cuja sigla em Inglês é Quando utilizado em aterro sobre solos
EPS, foi descoberto em 1949 pelos químicos moles, sub-base de pavimentos, encontro de
Fritz Stastny e Karl Buchholz, na Alemanha, pontes e em aplicações subterrâneas, no geral, o
sendo um plástico celular rígido. Esse material geoexpandido é confinado, embora que sob
pode se apresentrar em diferentes formas baixas tensões de confinamento, mostrando a
geométricas e desempenhar um amplo leque de necessidade de se estudar o comportamento
aplicações, ficando popularmente conhecido deste material por meio de ensaios triaxiais,
como “Isopor ®”, marca registrada da Knauf. visto que nas aplicações citadas o geoexpandido
De acordo com Horvath (1994), foi à partir é submetido a esse tipo de solicitação.
de 1960 que a utilização de plásticos rígidos Vários estudos tem sido conduzidos para
expandidos em obras geotécnicas se fixou de melhor entender o comportamento do EPS
forma consistente, recebendo o nome, na classe submetido ao confinamento (Beju & Mandal,
dos geossintéticos, de geofoam, ou 2017; Leo, Kumruzzaman, Wong, & Yin, 2008;
geoexpandido, em português. Ossa & Romo, 2012). Apesar das diversas
Diversas pesquisas tem sido desenvolvidas pesquisas sobre o produto e suas aplicações,
sobre o material pelo fato de que a utilização do nota-se que o manancial de informações sobre o
EPS hoje é muito ampla, sendo empregado na EPS está restrito ainda ao contexto
agricultura, na indústria de embalagens de internacional.
eletro-eletrônicos, alimentos e bebidas, Dessa forma, esse trabalho apresenta alguns
fármacos, utilitários e decorativos. De todas resultados referentes aos ensaios triaxiais em
essas utilizações, o emprego do EPS tem se diferentes densidades de geoexpandido e
destacado na construção civil, devido à posterior comparação com resultados da
facilidade de adequar suas propriedades às literatura.
necessidades de cada obra, não apenas por suas
características isolantes mas também por sua
leveza, resistência, facilidade de manuseio e 2 MATERIAL E MÉTODOS
baixo custo.
Dentro da geotecnia, esse material recebe Foram realizados ensaios triaxiais consolidados
destaque quando aplicado em estradas sobre não drenados (CU), com as amostras secas,
solos com baixa capacidade de suporte, situação comum encontrada na prática,
alargamento de rodovias, aterros leves de garantindo que não haja pressão neutra
encontros de pontes/viadutos e de aterros envolvida no ensaio. A velocidade de execução
ferroviários, podendo ser usado ainda em outras foi de 1,14 mm/min e as tensões confinantes
aplicações (Avesani Neto, 2008; Sun et al., aplicadas foram de 20, 30 e 40 kPa (baixas)
2009; Mcguigan and Valsangkar, 2010; Jafari, para representar as situações de campo. Os
2010; Stark et al., 2012; Bartlett, Lingwall, & ensaios foram realizados de acordo com a

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

56
ASTM D 4757 (2002) sendo utilizadas
amostras cilíndricas com dimensões 2:1, de
forma análoga às dimensões utilizadas em
corpos de prova de solos (diâmetro de 50 mm e
altura de 100 mm). As amostras de EPS foram
fornecidas por empresa nacional em três
diferentes massas específicas (10, 20 e 30
kg/m³).
Para a montagem do ensaio, foi utilizada a
câmara mostrada na Figura 1. Os corpos de
prova foram revestidos com uma membrana (a) (b)
impermeável e posicionados de maneira
adequada na câmara de ensaio triaxial, utilizou-
se pedras porosas para drenar o ar contido nos
vazios dos corpos de prova durante a fase de
adensamento. A Figura 2 (a, b, c e d) ilustra o
processo de montagem do ensaio triaxial.

(c) (d)

Figura 2. Etapas de montagem do ensaio.

3 RESULTADOS

Os resultados da fase de adensamento - volume


(cm³) versus tempo (s); e de cisalhamento -
Figura 1. Detalhe da câmara de ensaios triaxiais.
tensão (kPa) versus deformação (%); bem como
Na fase de consolidação foi registrada a as variações na deformação volumétrica (%)
variação do volume do corpo de prova pelo dos corpos de prova são mostrados nas figuras
tempo até a sua estabilização. Para as amostras seguintes.
de densidades maiores a estabilização
volumétrica ocorreu de forma rápida, cerca de 200

30 a 60 minutos. Já para as densisades menores 190


(10 e 15 kg/m³), a estabilização volumétrica 180
ocorreu de forma rápida quando aplicada uma 170
tensão de 20 kPa, mas de forma lenta para as 160
tensões maiores, demorando até 5 horas para 150
que a variação volumétrica fosse estabilizada. 140
Na fase de ruptura, além da variação de 130
volume, registrou-se o valor da tensão e da 0 5000 10000 15000 20000
deformação axial. Posteriormente, estes valores 20 kPa 30 kPa 40 kPa
foram corrigidos para as novas dimensões da
amostra, e a velocidade adotada para o ensaio
foi de 1,14 mm/min. Figura 3. Resultado da fase de adensamento do EPS de
10 kg/m³.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

57
400 300
350
250
300
200
250
200 150
150
100
100
50
50
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30

20 kPa 30 kPa 40 kPa 20 kPa 30 kPa 40 kPa

Figura 4. Resultado da fase de ruptura do EPS de 10 Figura 7. Resultado da fase de ruptura do EPS de 20
kg/m³. kg/m³.

45 30
40
25
35
30 20
25
15
20
15 10
10
5
5
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 5 10 15 20 25 30

20 kPa 30 kPa 40 kPa 20 kPa 30 kPa 40 kPa

Figura 5. Variação dos volumes na fase de ruptura do Figura 8. Variação dos volumes na fase de ruptura do
EPS de 10 kg/m³. EPS de 20 kg/m³.

198 197
197 196
196
195
195
194 194
193 193
192
192
191
190 191
189 190
0 500 1000 1500 2000 2500 0 500 1000 1500 2000

20 kPa 30 kPa 40 kPa 20 kPa 30 kPa 40 kPa

Figura 6. Resultado da fase de adensamento do EPS de Figura 9. Resultado da fase de adensamento do EPS de
20 kg/m³. 30 kg/m³.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

58
250 esse fenômeno para tensões confinantes de 30 e
200
40 kPa. Nos demais corpos de prova, nota-se
uma inclinação inferior nas curvas de
150
deformação volumétrica, isso ocorre devido à
100 instabilidade lateral observada nos ensaios.
50 Observando as Figuras 12 a 14, fica claro
0
que para as tensões aplicadas, os corpos de
0 5 10 15 20 25 30 prova de 10 kg/m³ apresentam deformações
volumétricas superiores quando comparados a
20 kPa 30 kPa 40 kpa
densidades mais elevadas (20 e 30 kg/m³) para
uma mesma deformação axial (%).
Figura 10. Resultado da fase de ruptura do EPS de 30
kg/m³. 35
30
25 25
20
20
15
15 10
10 5
0
5 0 5 10 15 20 25 30 35
0
10 kg/m³ 20 kg/m³ 30 kg/m³
0 5 10 15 20 25 30

20 kPa 30 kPa 40 kPa


Figura 12. Variação dos volumes na fase de ruptura sob
tensão confinante de 20 kPa.
Figura 11. Variação dos volumes na fase de ruptura do
EPS de 30 kg/m³.
40

30
4 DISCUSSÃO
20

Das Figuras 3 a 11, nota-se na fase de ruptura 10


um trecho elástico até uma deformação em
0
torno de 2%, principalmente nas densidades 0 5 10 15 20 25 30 35 40
maiores (20 e 30 kPa), assim como foi
observado por Avesani Neto (2008). Após essa 10 kg/m³ 20 kg/m³ 30 kg/m³

fase, ocorre uma plastificação e como


consequência, um ganho de resistência por Figura 13. Variação dos volumes na fase de ruptura sob
endurecimento em deformações de até 10%, a tensão confinante de 30 kPa.
partir da qual o material começa a perder
resistência devido à instabilidade lateral, esse 50
fenômeno não foi observado nos corpos de
40
prova intactos de 10 kg/m³ sob tensão
30
confinante de 40 kPa, o que fez com que não
houvesse queda de resistência, como pode ser 20
observado na Figura 4. 10
Avesani Neto (2008) afirma que para 0
amostras que não sofrem perda de estabilidade a 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
curva de deformação volumétrica pela 10 kg/m³ 20 kg/m³ 30 kg/m³
deformação axial resulta em inclinações de
aproximadamente 45°, o que pode ser
comprovado pela Figura 5, na qual observa-se Figura 14. Variação dos volumes na fase de ruptura sob
tensão confinante de 40 kPa.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

59
Com esses resultados foi possível obter as solicitação triaxial é necessário para uma
envoltórias de resistência ao cisalhamento melhor interpretação de suas propriedades,
triaxial a partir dos valores de pico de tensão. mesmo sabendo que durante sua vida útil os
Os valores de coesão e ângulo de atrito blocos de EPS são solicitados por tensões de
fornecidos pelas envoltórias encontram-se na confinamento de pequena magnitude. Os
Tabela 1. resultados obtidos em sua pesquisa mostram
que nas curvas tensão versus deformação a
Tabela 1. Valores de coesão e ângulo de atrito para cada inclinação é de aproximadamente 45°,
uma das densidades estudadas. concluindo que praticamente toda a deformação
Densidade Coesão Ângulo de atrito
(kg/m³) (kPa) (Ø')
volumétrica é fruto da deformação axial.
10 89,3 39,0
Com relação às curvas variação volumétrica
versus tempo, na fase de adensamento, e as
20 91,0 44,5
curvas tensão versus deformação na fase de
30 240,5 -
ruptura, pode-se concluir que o material não
recebe benefícios significativos pelo efeito do
Nota-se que as amostras avaliadas
confinamento. Observa-se em alguns casos,
apresentam valores elevados de coesão e esses
como na amostra de 30 kg/m³, que mesmo
resultados estão de acordo com os valores
aumentando o valor da tensão confinante não há
obtidos por Avesani Neto (2008). É possível
um acréscimo da resistência do material, nem
verificar que os resultados obtidos nesta
do volume adensado na fase de consolidação,
pesquisa indicam uma envoltória do tipo não
isso mostrou que o material é puramente
drenada (quase horizontal) com elevado valor
coesivo. Além disso, o confinamento pouco
de coesão. Nesses ensaios ficou caracterizada
influenciou na resistência das amostras de EPS,
uma tendência de comportamento: à medida em
sendo, todavia, necessário estudar as situações
que se aumenta a densidade, aumenta-se o
de campo nas quais o material é utilizado, para
intercepto coesivo com consequente diminuição
uma melhor interpretação de suas propriedades
do atrito.
(AVESANI NETO, 2008).
Cabe ressaltar que os ensaios triaxiais não
são de fácil execução para o EPS. Nessa
pesquisa, houve problemas na execução dos
5 CONCLUSÃO
ensaios, em particular com a tensão de
confinamento de 20 kPa. Além disso, os ensaios
Os resultados de ensaios triaxiais mostram que:
realizados com a maior densidade (30 kg/m³)
 Na fase de ruptura do EPS, as curvas
apresentaram valores inconsistentes para a
apresentam um trecho elástico até uma
menor tensão de confinamento (20 kPa). Dessa
deformação em torno de 2%,
forma, os resultados aqui apresentados não
principalmente na maior densidade, após
levam em conta esse valor de confinamento.
essa fase ocorre uma plastificação com um
Ademais, a pesquisa realizada por Avesani Neto
ganho de resistência por endurecimento em
(2008) também apresentou dificuldades na
deformações de até 10%, a patir da qual o
execução dos ensaios triaxiais, parecendo haver
material começa a perder resistência devido
um comportamento não homogêneo do material
à instabilidade lateral;
quando submetido a tensões elevadas de
confinamento. Outro fator a ser considerado é a  O confinamento pouco influenciou na
reologia do polímero que pode apresentar resistência das densidades avaliadas e,
variações em seu comportamento quando  Os resultados obtidos nesta pesquisa indicam
solicitado a diferentes níveis de tensão. Como uma envoltória do tipo não drenada (quase
os corpos de prova foram fornecidos já no horizontal) caracterizando uma tendência
formato dos ensaios, não é possível afirmar se de comportamento: quanto maior a
todos possuem as mesmas condições de densidade, maior a coesão e menor o fator
moldagem. atritivo.
Avesani Neto (2008) afirma que estudar o
comportamento do EPS quando submetido a

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

60
AGRADECIMENTOS Characteristics of Interlocked EPS-Block Geofoam.
Journal of Materials in Civil Engineering.
https://doi.org/10.1061/(ASCE)MT.1943-
Os autores agradecem à Fundação de amparo e 5533.0001418
à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) Stark, T.D., Bartlett, S.F., Arellano, D. (2012). Expanded
pelo apoio financeiro obtido para a realização Polystyrene (EPS) Geofoam Applications and
da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da Technical Data. The EPS Industry Alliance, 1298
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

61
62
Geossintéticos em Filtração e Drenagem
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Sistema de Confinamento de Resíduos Empregando Geotêxteis


Comparados a Leito de Drenagem para Desaguamento de Lodo de
Estação de Tratamento de Água
Beatriz Mydori Carvalho Urashima
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, urashima@engenharia.ufla.br

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, urashima@cefetmg.br

Mag Alves Guimarães


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, Brasil, mag@cefetmg.br

Gustavo Ribeiro Paulino


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, ribeiro.gustavop@gmail.com

André Geraldo Cornélio Ribeiro


Universidade Federal de Lavras, Lavras, andreribeiro@deg.ufla.br

RESUMO: Na era do antropoceno, emerge uma crescente preocupação ligada a questões ambientais,
sendo uma destas os impactos associados à disposição final dos resíduos gerados em Estações de
Tratamento de Água (ETA). O artigo avalia a eficácia dos sistemas fechados de geotêxteis, também
designados como sistemas de confinamento de resíduos (SCRs), em relação aos leitos de drenagem,
ambos considerados sistemas viáveis na disposição dos resíduos gerados em ETA. Nos ensaios
realizados, tanto nos protótipos de SCR como de leito de drenagem foi utilizado como resíduo
somente lodo de ETA condicionado químicamente. Para escolha foram empregados cinco distintos
condicionantes poliméricos, sendo quatro catiônicos e um aniônico. Esta foi realizada por meio de
ensaio de cone, no qual se avaliou a concentração e preliminarmente a dosagem a ser empregada. Os
protótipos e suas réplicas receberam quatro recargas de 10 L de lodo a cada trinta minutos e
posteriormente ficaram expostos às intempéries por 420 horas. Durante o experimento, manteve-se
como premissa as mesmas condições de contorno, com a fixação das variáveis controláveis e
ponderação das variáveis respostas das campanhas experimentais: volume percolado e sua turbidez,
bem como eficácia de tempo do processo de deguamento/desecagem do lodo. Os resultados foram
promissores. Inicialmente, ambos os sistemas apresentaram valores similares de turbidez e volume
de percolado; entretanto, quando expostos em campo devido à ação das intémperies, principalmente
precipitação, no final das 420 horas o teor de sólidos que inicialmente era de 7,4% passou para 66,4%
no SCR e 32,4% no leito de desaguamento.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxteis, Desaguamento, Leito de drenagem, Resíduo.

ABSTRACT: In the anthropocen era, a growing concern about environmental issues emerges; one of
these is impacts associated with the final disposal of waste generated in Water Treatment Plants
(WTP). The article evaluates the effectiveness of geotextile closed systems, also referred to as waste
containment systems (WCS) in relation to drainage beds, both considered systems usually used in the
disposal of wastes generated in WTP. In the tests carried out, both the SCR prototype and the drainage
bed were used as waste only chemically conditioned WTP sludge. The choice of five different
polymeric conditioning agents, four cationic and one anionic, was performed by means of a cone test,

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

65
in which the concentration and preliminary determination of the dosage to be used were evaluated.
The prototypes and their replicates received four refills of 10 L of sludge every thirty minutes and
were then exposed to the weathering for 420 hours. During the experiment, the same boundary
conditions were maintained, with the fixation of controllable variables and weighting of the variables
responses of the experimental campaigns: percolated volume and turbidity, as well as time efficiency
of sludge dewatering/desiccation process. The results were promising. At the begin, both systems
presented similar values of turbidity and volume of percolated; however, when exposed in the field,
due to weathering, mainly precipitation, at the end of 420 hours the solids content was initially of
7.4% to 66.4% in the WSC and 32.4% in the drainage bed.

KEY WORDS: Geotextiles, Dewatering, Drainage bed, Waste.

1 INTRODUÇÃO drenada.
Paralelamente, um novo método de redução
Devido ao grande volume de resíduos gerados no do volume de resíduos de ETA, com primeiros
processo de potabilização da água e suas graves registros literários datando da década de 90
consequências ao meio ambiente, estudos sobre (Lawson, 2008), foram os sistemas de
seu adequado tratamento e disposição têm se confinamento de resíduos (SCR’s) para
tornado cada vez mais relevantes. Normalmente, desaguamento/dessecagem e confinamento
em uma Estação de Tratamento de Água (ETA), destes resíduos. Os geossintéticos usados para o
estes têm origem nos decantadores e na lavagem desaguamento de resíduos finos geralmente são
dos filtros (Reali et al., 1999). os geotêxteis tecidos, não tecidos e os
Inúmeras são as maneiras de reduzir o volume geocompostos. Estes materiais devem possuir
dos resíduos gerados em ETA’s, diminuindo bom desempenho de filtração, tendo capacidade
assim os riscos ambientais e de contaminação de reter sólidos e ao mesmo tempo permitir o
quando dispostos (Fontana & Cordeiro, 2005), escoamento de fluidos (Guimarães & Urashima,
tais como a utilização de centrífugas, filtros à 2013).
vácuo, prensas, remoção da água em leitos de Os sistemas de confinamento de resíduos
drenagem/secagem ou ainda sistemas fechados (SCR’s) de geotêxteis são recipientes flexíveis
de geossintéticos, também designados de com capacidade de reter materiais saturados. São
sistemas de confinamento de resíduos (SCRs) confeccionados costurando-se um ou mais
(Urashima et al., 2018; Fontana, 2005; Cordeiro, geotêxteis. De acordo com suas dimensões,
2003). segundo GRI-GT15 (2009), recebem
A escolha do método deve levar em designações diferentes: bolsas, contêineres ou
consideração a área disponível para implantação tubos. Apresentam como destaques a vantagem
do mesmo, o custo, as condições climáticas, os de poderem ser moldados conforme o espaço
recursos humanos, entre outros (Reali et al., disponível e poderem, inclusive, ser empilhados,
1999). facilidade de montagem, baixo custo se
Cordeiro (2003) realizou diversos estudos comparado com as técnicas supracitadas e
pilotos modificando a constituição dos leitos de independência das condições meteorológicas do
drenagem tradicionais, empregando geotêxteis local (Koerner & Koerner, 2006; Muthukumaran
não tecido. No primeiro estágio, diretamente & Ilamparuthi, 2006; Mendes et al., 2001).
sobre a camada filtrante de areia e Dentro deste contexto, o artigo apresenta a
posteriormente, substituindo a camada filtrante avaliação do emprego de protótipos tanto de
pelo geotêxtil não tecido, sendo estes colocados SCR de geotêxteis como de leitos de drenagem,
logo acima da camada de brita. Os resultados da conforme proposta similar apresentada por
última combinação foram muito promissores, Cordeiro (2003), ou seja, substituindo a camada
não só em relação ao tempo de drenagem, mas filtrante por geotêxtil tecido.
também em relação às características da porção

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

66
2 MATERIAIS E MÉTODOS polímeros catiônicos e um aniônico para
determinar qual apresentaria melhor eficiência na
2.1 Materiais utilizados polimerização do lodo. As especificações dos
polímeros empregados para o condicionamento
Para a realização da pesquisa, utilizou-se lodo dos químico do lodo são apresentadas na Tabela 2.
decantadores da ETA Modular da Universidade
Tabela 2. Especificações dos polímeros empregados na
Federal de Lavras (UFLA) (Figura
pesquisa.
1) coletado no início do segundo semestre de
Referência comercial Classificação
2018.
CH-492 Catiônico
CH-494 Catiônico
CH-496 Catiônico
CH-498 Catiônico
A-150 Aniônico

2.2 Métodos empregados

A Figura 2 apresenta o fluxograma das etapas


realizadas no desenvolvimento da pesquisa.

Figura 1. ETA modular da UFLA.

Análise do teor de umidade e de sólidos


Para confecção dos protótipos tanto do leito de
drenagem/secagem como dos sistemas de
confinamento de resíduos (SCRs) de
geossintéticos, foi empregado um tipo de
geotêxtil tecido de polipropileno com
caracteristicas apropriadas para estas aplicações,
ou seja, alta permeabilidade e pequena abertura
de filtração. Especificações do geotêxtil
empregado na pesquisa são apresentadas na
Tabela 1.

Tabela 1. Especificações do geotêxtil empregado na


pesquisa. Figura 2. Etapas da metodologia adotada.
Abertura de Permeabilidade2 Resistência à
filtração1 tração3 A captação do lodo ocorreu por meio da
-3
250 µm 20 x 10 m/s 117 kN/m válvula inferior do tanque de decantação do lodo
(tolerância ± 40) (tolerância -2x10-3) (tolerância ± 4)
1 gerado nos decantadores (Figura 3).
ABNT ISO (2013a); 2ABNT ISO (2013b); 3ABNT ISO
(2013c).

Nos protótipos de leito de drenagem foram


empregadas pedras britadas de dimensão máxima
característica (DMC) que a classifica como brita
nº0 fazendo interface com o mesmo geotêxtil
constituinte dos SCR, o qual substituiu a camada
filtrante.
Com a finalidade de condicionar
quimicamente o lodo, foram avaliados quatro
Figura 3. Tanque de decantação do lodo gerado na ETA da
UFLA.
REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

67
Assim sendo, o lodo coletado apresentava
teor de sólidos elevado se comparado com os
valores encontrados na literatura conforme
ilustra a Figura 4.

Figura 6. Sistema montado para a realização do ensaio de


cone.

A observação do comportamento do lodo


desaguado com a sua polimerização química,
por meio deste ensaio, foi de fundamental
Figura 4. Lodo no momento da coleta. importância na determinação do condicionante
adequado para o lodo empregado na pesquisa.
Para a análise do condicionamento químico Para a preparação da solução na concentração
foram realizados ensaios de cone, metodologia que desejada, pesaram-se os polímeros em balança
consiste na filtragem de uma amostra de volume de precisão, como mostrado na Figura 7, para,
de lodo contendo um polímero com concentração posteriormente, com auxílio de um dispersor,
e dosagem em análise (Lawson, 2008). Após o preparar as soluções acrescentando ao polímero
tempo de filtragem, realizam-se análises tanto do água destilada, de tal forma a obter uma solução
lodo desaguado sobre o cone quanto do filtrado com concentração de 0,2%.
coletado. Para o lodo em estudo, foram testados os
polímeros apresentados na Tabela 2, todos
preparados na concentração de 0,2% e dosagens de
20mL/L e 30mL/L.
Para os ensaios de cone, foram preparados
corpos de prova do geotêxtil empregado na
pesquisa, com 30 cm de diâmetro, mostrados na
Figura 5 e uma amostra única de lodo.

Figura 7. Pesagem dos polímeros.

Um dos parâmetros de eficiência do polímero


observado foi a floculação do lodo (Figura 8).

Figura 5. Corpos de prova de geotêxtil com diâmetro de 30


cm cada.

Montou-se o sistema demonstrado na Figura 6 e a


filtração do lodo neste filtro foi observado, tomando
como base a literatura, durante dez minutos, sendo
avaliados a turbidez e o volume do percolado final, bem
como a umidade do resíduo restante sobre o geotêxtil.

Figura 8. Polimerização do lodo com a formação de flocos.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

68
Além da turbidez do percolado medida com
a utilização de turbidímetro (Figura 9).

Figura 9. Turbidímetro utilizado. Figura 10. Protótipo de SCR.

Por meio das análises dos resultados obtidos,


pode-se definir o polímero mais adequado para o
condicionamento químico do lodo da ETA da
UFLA.
É importante ressaltar que os ensaios de cone
foram realizados com réplicas de forma a avaliar
existência de erros sistemáticos, para que somente
os erros aleatórios (flutuações), inerentes aos
procedimentos experimentais, fossem admitidos,
viabilizando que estes fossem tratados e avaliados
por ferramentas estatísticas (Barros Neto et al.,
2001). Figura 11. Detalhe do bocal de saída para coleta do
Após a escolha do polímero, sua concentração e percolado do SCR.
dosagem, o procedimento seguinte foi a montagem
O protótipo de leito de drenagem/desecagem
dos protótipos de leito de drenagem e de SCR
foi estruturado com base na literatura, para
utilizados na pesquisa.
definição das camadas e suas espessuras, em um
Para a montagem do protótipo de SCR foi
recipiente com capacidade de 80 L e área de base
empregada a norma ASTM (2013) com pequenas
em torno de 2500 cm² (50 x 50 cm), perfurada
adequações, ou seja, cada bolsa apresentou
para permitir o escoamento. Para o
dimensões de 50x50 cm, capacidade de cerca de
tamponamento do bocal de saída existente no
30 litros e um bocal central, possibilitando a
recipiente empregado, utilizou-se o mesmo
inserção de um tubo com diâmetro de 50 mm e
geotêxtil do SCR.
760 mm de comprimento, utilizado para o
preenchimento da bolsa com o lodo (Figura 10). Resssalta-se que para garantir que não ocorresse
Para cada SCR ensaiado, foi empregada uma vazamento do lodo sem passar pelo filtro têxtil, o
grelha para suporte, com o objetivo de possibilitar mesmo foi posicionado acima da camada de brita e
o escoamento e análise do percolado. Ressalta-se levado até a borda do recipiente (Figura 12).
que a grelha estava sobre uma mesa dimensionada
e com inclinação para direcionar o percolado e
permitir a coleta deste (Figura 11).

Figura 12. Esquema do protótipo de leito de drenagem.


REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

69
Para a finalização do protótipo, construiu-se um foram monitorados para avaliar a influência destes
suporte de madeira para encaixe do protótipo e do ao longo do período de exposição nos protótipos
recipiente para coleta do percolado (Figura 13). pesquisados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados do condicionamento químico e do


ensaio de cone são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Resultados de condicionamento químico e


ensaio de
cone.

C D VP T
P
(%) (mL/L) (mL) (NTU)
20 150,00 950,00
C494 0,20
30 - -
Figura 13. Protótipo do leito de drenagem sobre o suporte e 20 395,00 96,00
C498 0,20
recipiente para coleta de percolado. 30 410,00 63,85
20 110,00 *NA
Durante a realização dos procedimentos foi C492 0,20
30 - -
possível observar que quanto maior o teor de 20 280,00 344,00
sólidos no resíduo, maior a dosagem do C496 0,20
30 415,00 318,50
condicionante químico, situação similar a que foi 20 220,00 *NA
reportada por outros autores em relação ao sulfato A150 0,20
30 - -
de alumínio empregado na etapa de floculação da Onde:
água bruta para posteriores etapas de potabilização P: Polímero, C: Concentração, D: Dosagem,
da água em ETA’s convencionais (Caliari et al., VP: Volume percolado médio, T: Turbidez.
2008; Guanaes, 2009).
*NA: Não foi possível aferir, valor maior do que o possível de leitura
Embora a amostra de lodo empregada na do equipamento.
pesquisa fosse única, houve um intervalo de tempo
entre a realização dos ensaios de cone e os ensaios Os polímeros C494, C492 e A150 não presentam
de desaguamento. Neste contexto, verificou-se que resultados para a dosagem de 30 mL/L, visto que
houve um aumento no teor de sólidos em relação para a dosagem 20 mL/L os valores obtidos estavam
ao período em que foram realizados os ensaios de distantes do esperado. Assim sendo, esta condição
cone preliminares. Para análise do foi desconsiderada para estes polímeros.
condicionamento para esta nova situação, Pode-se observar que o polímero mais adequado
realizou-se a polimerização do lodo com o para a floculação do lodo da ETA da UFLA foi o
polímero C498 em diferentes dosagens para C498 na dosagem de 20 mL/L, já que os valores
amostras diluídas (diferentes teores de sólidos). para a dosagem de 30 mL/L não apresentaram
O desaguamento iniciou no dia 21 de dezembro variação significativa em termos de custo benefício.
de 2018, com réplicas de cada protótipo, sendo A Figura 14 apresenta a curva teor de sólidos (%)
realizadas neste dia quatro recargas de 10L cada, obtidos pela diluição do lodo versus dosagens
com o intervalo de 30 minutos entre elas em cada poliméricas (mL/L). Como o teor de sólidos inicial
protótipo. Utilizou- se uma amostra única de lodo do lodo no período de realização dos ensaios de
para as recargas em todos os protótipos. Após a desaguamento foi de 7,4%, a dosagem do
finalização dos desaguamentos, os protótipos condicionante C498 com concentração de 0,2% foi
foram expostos às intempéries durante 420 horas de 60 mL/L de lodo.
em campo. A Tabela 4 apresenta os valores de volume
Posteriormente, amostras do lodo foram percolado e turbidez para cada recarga realizada nos
coletadas e o teor de sólidos e de umidade protótipos de SCR e leito de drenagem.
medidos. Durante o período de exposição, os
dados meteorológicos (precipitação e temperatura)
REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

70
formado). Assim, a Tabela 6 apresenta os valores
de teor de sólidos e teor de umidade obtidos após
420 horas de exposição dos protótipos às
intempéries. As Figuras 15 e 16 ilustram o lodo nos
protótipos de leito de drenagem e SCR,
respectivamente.

Tabela 6. Teor de sólidos e de umidade após 420 horas.


Protótipo Teor de sólidos (%) Teor de umidade (%)
Figura 14. Teor de sólidos do lodo diluído versus dosagens. SCR 66,4 51,0
Leito de
32,4 210,2
secagem
Tabela 4. Volume percolado e turbidez dos protótipos após
recargas.
Δt VP T
Protótipo Recarga
(min) (L) (NTU)
1° 20 7,68 115,00
2° 20 8,14 52,09
SCR
3° 20 8,32 13,00
4° 20 8,24 17,00
1° 20 7,90 6,82
Leito de 2° 20 8,42 5,59
drenagem 3° 20 8,02 6,80
4° 20 7,84 7,07
Onde:
Figura 15. Lodo seco no leito de secagem.
Δt: tempo do início da recarga, VP: Volume percolado
médio, T: Turbidez.

Inicialmente, o leito de drenagem e o SCR


apresentaram volume de percolado com valores
semelhantes, e o leito de drenagem resultou em
valores de turbidez do percolado inferiores aos
obtidos pelo SCR.
Porém, pode-se observar que ao longo das
recargas, para o SCR, houve uma tendência de
aumento do volume e redução da turbidez do
percolado. Tal fato ocorreu devido a formação do
Figura 16. Lodo seco no SCR.
filter cake na superfície interna do geotêxtil
constituinte do SCR, o que colaborou na retenção A Tabela 7 mostra os dados meteorológicos
dos sólidos. medidos durante o período de exposição.
Após cerca de oito horas do início das recargas,
mediu-se o teor de sólidos e de umidade em cada Tabela 7. Dados meteorológicos do período de exposição.
um dos protótipos (Tabela 5). Radiação Temperatura
Precipitação
Período Global média
(mm)
Tabela 5. Teor de sólidos e de umidade após oito horas (MJ/m²) (ºC)
do ínicio das recargas. 420 horas 74,2 836,07 22,34

Protótipo Teor de sólidos Teor de umidade


(%) (%)
SCR 21,59 364,86 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Leito de
20,08 397,96
drenagem Devido ao grande volume de resíduos gerados no
processo de potabilização da água e suas graves
Constatou-se que a diferença de teor de sólidos consequências ao meio ambiente, estudos sobre
e de umidade entre os protótipos não era relevante. seu adequado tratamento e disposição têm se
Entretanto, o leito de drenagem fica sujeito a tornado cada vez mais relevantes.
intempéries, o que influencia no processo de Neste contexto, a pesquisa comparou os
secagem do lodo (tempo e qualidade do filter cake métodos de desaguamento/dessecagem de leito de
REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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drenagem e de sistemas de confinamento de Como fazer experimentos. Editora da UNICAMP,
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72
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise do Processo de Adensamento de Sedimentos e Lodos


Durante o Desaguamento em Sistemas Tubulares de Geotêxtil
Caroline Tomazoni Santos
Universidade Federal do Paraná - UPFR, Curitiba, Brasil, caroline.tomazoni@ufpr.br

Paulo Ivo Braga de Queiroz


Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, São José dos Campos, Brasil, pi@ita.br

Thiago Ordonho Araújo


University of Texas, Austin, Estados Unidos da América, thiago.araujo@utexas.edu

Matheus Müller
Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, São José dos Campos, Brasil, mrlmuller@gmail.com

Delma de Mattos Vidal


Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

RESUMO: O desaguamento de resíduos em sistema tubulares em geotêxtil consiste no


acondicionamento de sedimentos em invólucros fechados, que permitem o escoamento da fase líquida
por meio da sua estrutura porosa e a retenção do material particulado. Esta tecnologia encontra-se em
ascensão em segmentos como o da mineração, saneamento, setor industrial, recuperação de áreas
contaminadas, e operações de dragagem. O projeto destes sistemas requer a verificação de seu
desempenho, notadamente no que concerne a estimativa do tempo de desaguamento e do
adensamento dos sedimentos confinados. Contudo as condições de contorno desse sistema são
bastante singulares, de forma que as teorias de adensamento consagradas, incluindo aquelas baseadas
em deformações finitas, podem não ser estritamente adequadas para a análise do problema. Alguns
autores, como Leshchinsky et al. (1996), Miki et al. (1996), Lawson (2008) e Khachan e Bhatia
(2017), abordaram a questão do adensamento e previsão de recalques em sistemas confinantes em
geotêxteis, porém as propostas apresentadas são capazes de fornecer apenas aproximações, aplicáveis
somente para demandas mais simples de projeto. Desta forma, este trabalho discute as limitações das
propostas usualmente empregadas para a estimativa dos recalques do material retido e a
aplicabilidade de algumas das teorias de adensamento existentes ao problema, em especial quando se
considera os processos de reenchimento, frequentemente empregados quando da utilização desta
técnica.

PALAVRAS-CHAVE: Sistemas Tubulares em Geotêxtil, Desaguamento, Adensamento.

ABSTRACT: The dewatering of waste in geotextile tubular systems consists of confining sediments
within a closed casing manufactured with geotextiles, which allows the liquid phase to flow through
its porous structure while retaining the particulate material. This technology is on the rise in several
segments such as mining, water and waste management, industrial sector, contaminated soil
treatment, and dredging. The design of these systems requires one to verify its upcoming
performance, notably regarding the estimation of the time of dewatering and the consolidation of the
confined sediments. However, the boundary conditions of such system are rather unique in a way that
established consolidation theories, including those based in finite, nonlinear strains, may not be
strictly adequate on describing the problem. Some authors, such as Leshchinsky et al. (1996), Miki
et al. (1996), Lawson (2008), and Khachan and Bhatia (2017), have addressed the issue regarding the
consolidation and settlement estimation of geotextile confining systems, but their approaches only
provide approximations, solely applicable in simple design conditions. Hence, this work discusses
the limitations of the approaches normally applied for the estimation of the settlements of the retained

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material, and the applicability of some existing consolidation theories, especially when considering
the processes of refilling, frequently adopted in such technique.

KEY WORDS: Geotextile containment tubes, Dewatering, Consolidation.

1 INTRODUÇÃO com sistema de drenagem na base de modo a que


a drenagem inferior seja também um
Muitas das atividades de engenharia como componente significativo na velocidade de
operações de dragagem, processos de retirada do efluente.
beneficiamento de minérios, processos Além do espaço ocupado, a disposição do
industriais e atividades afeitas ao saneamento sedimento em grandes áreas o deixa exposto as
ambiental, resultam em grandes volumes de intempéries e implica em significativo aumento
compostos essencialmente fluidos contendo do impacto ambiental e elevado risco por
particulados sólidos finos em suspensão eventual falha dos sistemas de contenção.
(sedimentos, efluentes, lamas e lodos) que Uma tecnologia relativamente recente e cada
necessitam ser desaguados e eventualmente vez mais promissora para o desaguamento de
tratados antes de seu armazenamento, destinação sedimentos é o uso de bolsas e tubos geotêxteis,
final ou disponibilização para outro uso. que pode ser classificada como uma técnica
Assim as alternativas tecnológicas de mista ou natural. Esta alternativa tecnológica
desaguamento de sedimentos com o objetivo de está em franca ascensão em segmentos como a
redução de volume passaram a ser uma etapa de mineração (tratamento de lamas geradas nos
fundamental importância em seu manejo. O tipo processos de beneficiamento), saneamento
de sistema de desaguamento dos sedimentos (lodos provenientes de estações de tratamento de
adotado tem consequências muito importantes água e esgoto), setor industrial (setores cujas
para a operacionalização do processo de atividades gerem efluentes fluidos e semi-
destinação que será empregado, pois define o sólidos), recuperação de áreas contaminadas,
estado físico do material processado e sua como também em operações de dragagem
consequente facilidade de transporte, estocagem, (extração mecânica de sedimentos,
reprocessamento e descarte final ou possível contaminados ou não, de corpos hídricos).
reaproveitamento, bem como a intensidade do A técnica de desaguamento de resíduos em
impacto ambiental do processo adotado. sistema de tubos geotêxteis consiste no
Os processos disponíveis para o acondicionamento de sedimentos em invólucros
desaguamento e desidratação de lodos e lamas confeccionados a partir de materiais têxteis
podem ser divididos basicamente em naturais, poliméricos com capacidade filtrante
mecanizados ou térmicos. A seleção do método (geotêxteis), que permitem o escoamento da fase
de desaguamento é determinada basicamente líquida por meio da sua estrutura porosa e a
pelas características do sedimento a ser retenção do material particulado.
processado e da área disponível para instalação. Bolsas e tubos em geotêxtil preenchidos com
Em lugares onde existe disponibilidade de areia dragada são utilizados desde os anos 70,
espaço, métodos baseados em processos naturais principalmente no controle de processos
como leitos de secagem ou lagoas de erosivos e na construção de diques em aterros
sedimentação podem ser utilizados (Vanzetto hidráulicos, sendo o Brasil um dos pioneiros
2012). nesta técnica. Desde os anos 90, entretanto, com
Entende-se por disposição em lagoa de o desenvolvimento de novos produtos, estruturas
sedimentação, a disposição sobre terreno natural, de grande diâmetro permitiram o avanço na
com a saída de efluentes ocorrendo utilização destes sistemas em duas grandes
principalmente por evaporação ou frentes: obras costeiras e obras de proteção
extravasamento de superfície, com alguma ambiental.
parcela dos efluentes infiltrando no solo ou No primeiro caso estão as estruturas
sendo drenados apenas em pequenas áreas. Os submersas para ampliação em proteção de áreas
leitos de secagem são áreas especialmente costeiras ou formação de ilhas (Pilarkzyc 2000).
preparadas para receber o sedimento/resíduo, No segundo caso está a contenção e

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desaguamento de sedimentos e lodos, sistema fechado (considerando a definição
contaminados ou não, cujo lançamento em mecânica e não da termodinâmica), o que lhe
lagoas ou a manutenção em contato com o meio confere um maior potencial de segurança
ambiente podem causar problemas. ambiental, evitando os riscos de tranbordamento
Estas aplicações atendem a necessidades e ruptura presentes nas lagoas de disposição e
ambientais específicas, permitindo dispor de secagem e o carreamento de partículas
modo seguro e rápido, grandes volumes de poluidoras para os corpos d’água (ou por eles
sedimentos, protegendo o meio ambiente. Os quando da disposição em seu leito ou margem).
tubos que recebem estes sedimentos podem ter Contudo, um fenômeno que pode afetar a
uso temporário – até que o desaguamento tenha eficiência do processo de desaguamento é a
ocorrido e o material retido possa ser retirado e formação de filter cake, camada que se forma na
transportado para outro local – ou permanente, interface do geotêxtil com o material que está
tornando-se parte de uma estrutura reforçada sendo desaguado. Estritamente falando, o filter
capaz não apenas de conter os sedimentos, mas cake é um fenômeno benéfico que atua
também eventuais contaminantes. Exemplo de aumentando a eficiência de filtração (formação
aplicação unindo a proteção ambiental e de pré-filtro). Contudo, quando oblitera um
capacidade de carga do sistema, a obra da número significativo de poros do tecido e
expansão do Porto de Santos compreendeu o dificulta a passagem da fase líquida através da
emprego desta técnica para conter sedimentos malha, pode implicar num processo de bloqueio
contaminados do leito marinho escavado, onde ou colmatação física ou biológica do geotêxtil,
os tubos foram superpostos e serviram de base que retarda a saída do efluente. Este processo
para a área de estocagem de containers. Destaca- tende a ser mais pronunciado quando o
se ainda o evidente interesse na mitigação de sedimento é composto por particulado fino
problemas ambientais severos como, por (argiloso) ou quando o material a desaguar
exemplo, o desastre causado pela ruptura da contém coliformes fecais e agentes patogênicos
barragem de Fundão da Mineradora Samarco em em geral que tendem a aumentar a colmatação
2015. biológica.
Os tubos geotêxteis para desaguamento O processo de enchimento dos tubos pode ser
podem ser confeccionados conforme a realizado por meio de bombeamento único ou
quantidade de material a ser contido e a cíclico para maior aproveitamento do volume
disponibilidade de espaço físico para sua útil dos tubos, dependendo das características de
acomodação. São dimensionados para resistir às consolidação do resíduo a ser desaguado, como
pressões de injeção e podem ser preenchidos é ilustrado na Figura 1.
com qualquer material capaz de ser transportado
hidraulicamente.
Outro aspecto que pode ser destacado como
uma das vantagens da solução é a possibilidade
de tratamento dos sedimentos no interior dos
tubos por meio da incorporação de aditivos
químicos, o que é de particular interesse para o
uso em materiais contaminados ou que
requeiram desinfecção, abatendo o seu potencial
poluidor. Ainda podem ser empregados
floculantes poliméricos que podem tanto auxiliar
a captura das substâncias contaminantes, quanto
Figura 1. Processo de enchimento cíclico (Martins 2006,
aprimorar a eficiência de filtração (melhor adaptado de Lawson 2006)
retenção da fase sólida devido à formação de
grumos). A disposição dos tubos geotêxteis deve ser
Devido a característica hidrofóbica do feita sobre uma plataforma com boa capacidade
geotêxtil, a penetração de água no interior do de suporte e nivelada, eventualmente
sistema é considerada desprezível. Ademais, a acondicionados em tanques de contenção ou
possibilidade de controlar a qualidade do sobre plataforma de proteção de base,
efluente permite classificar esta técnica como um dependendo das características dos efluentes e da

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sua necessidade de tratamento após o O objetivo deste trabalho é discutir algumas
desaguamento. Cumpre ressaltar que em caso de das teorias que vem sendo avaliadas e algumas
obras de infra-estrutura os próprios tubos podem das propostas atualmente empregadas na
integrar a própria estrutura em construção devido estimativa dos recalques em sedimentos
a capacidade de suporte que pode ser obtida ao confinados em sistemas fechados em geotêxtil,
fim do processo de desaguamento e consolidação buscando apresentar o estado da arte, avanços
do material granular retido. recentes e desafios para o futuro.
Também para que haja a otimização de
espaço nas áreas de disposição dos tubos para o
desaguamento, os elementos podem ser 2 O DESAGUAMENTO EM SISTEMAS
superpostos sendo o empilhamento piramidal o TUBULARES EM GEOTÊXTIL
modo mais simples para manter a estabilidade do
sistema, porém outras configurações podem ser Um sistema de confinamento em geotêxtil para
compostas, conforme demonstra a Figura 2. desague de lodos e sedimentos é constituído por
Martins (2006) ainda destaca que, como a maior faixas de geotêxtil costuradas entre si formando
parte das propostas para tubo foram um tubo ou bolsa. Este sistema é então
desenvolvidas para a aplicação em diques, a hidraulicamente preenchido com o material a
topografia da área irá condicionar a escolha do desaguar, proporcionando num primeiro
modo de superposição. momento um deságue mecânico por filtração
forçada e, num segundo momento, o deságue
natural por drenagem e evaporação (Castro
2005; Koerner 2005; Müller 2018; Pilarczyk
2000).
O dimensionamento de sistemas de
desaguamento através de tubos geotêxteis passa
pela determinação e verificação de uma série de
atributos que vão desde o estabelecimento de
simples parâmetros geométricos (como o
comprimento e diâmetro dos tubos) até a
definição das características hidráulicas e
mecânicas do geotêxtil que irão ditar o
Figura 2. Tipos de empilhamento de tubos geotêxil comportamento do sistema mediante
(Martins 2006, adaptado de Kim 2003)
determinado uso, e características do sedimento
a desaguar (peso específico, características
Nos casos de desaguamento natural ou misto,
granulométricas e químicas do sedimento,
é importante conhecer o comportamento do
características de enchimento, uso de floculante,
material retido durante as fases de sedimentação
condições de suporte de base e exposição, dentre
e consolidação. A estimativa dos recalques e da
outros).
capacidade de suporte tem grande importância
O projeto de sistemas confinantes em
na tomada de decisões sobre este tipo de
geotêxtil requer ainda a verificação da previsão
disposição. Isto é particularmente significativo
do desempenho do sistema, notadamente no que
no caso do desaguamento em sistemas de
concerne a estimativa do tempo de
confinamento em geotêxtil, em especial quando
desaguamento e do processo de adensamento dos
ocorre reenchimento, uso de floculantes ou
sedimentos acondicionados.
superposição dos tubos.
A análise da movimentação das partículas
Considerando a complexidade dos fenômenos
durante o desaguamento de sedimentos com
envolvidos, o problema da estimativa de
elevado teor de umidade envolve duas fases:
recalques dos sedimentos e lodos retidos nestes
uma fase de sedimentação e uma fase de
sistemas de confinamento tem sido discutido por
consolidação propriamente dita. Na fase de
diversos autores em abordagens que vão de
sedimentação as partículas estão em suspensão e
análises bastante simplistas até a busca da
se movimentam em função das forças de
aplicação de teorias mais complexas de
gravidade e de fluxo, num meio cuja
adensamento sob peso próprio e com grandes
concentração de partículas é suficientemente
deformações.

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baixa para que as forças inter-partículas não de umidade inicial do material a desaguar e wf o
sejam significativas. A medida que a teor de umidade final do material desaguado.
concentração aumenta, os contatos inter- O teor de umidade final pode ser estimado a
partículas passam a ocorrer e levam a segunda partir de ensaios de laboratório. Diversos tipos
fase, a de adensamento. de ensaio costumam ser realizados para estudar
Sanchez e Grovel (1993) propõe um modelo a eficiência do sistema, tais como ensaios de
multicamadas de isoconcentração para cálculo coluna, com e sem pressão, e ensaios de bolsa de
da variação da concentração numa situação de pequeno e médio porte, estes últimos, objeto de
lagoa de sedimentação com fundo impermeável. normas ASTM (Müller 2018, p.ex).
Estes autores citam o trabalho de Carrier et al. Já o método proposto por Miki et al. (1996)
(1983) que após análise de processos de consiste em um procedimento de cálculo de
desaguamento para vários tipos de solos, propõe deformação pela aplicação de sobrecarga, que é
considerar que a passagem entre uma fase e outra função de algumas propriedades como o módulo
ocorre para um teor de umidade equivalente a 7 elástico, a coesão e a poropressão, considerando
vezes o limite de liquidez do solo. o caso específico em que a fase sólida do
No caso de sistemas de desaguamento material a ser desaguado seja constituída apenas
confinados em geotêxtil, além da drenagem ser por particulado fino. Contudo, conforme já
possível ao longo de toda a superfície do destacado por Cantré (2002), nenhum destes
elemento confinante, a pressão de enchimento modelos considera ciclos de reenchimento, usual
acelera o processo de saída do efluente. Nestes neste tipo de solução tecnológica.
sistemas, o geotêxtil de filtração e contenção do Em 2008 Lawson propõe estimar o teor de
sedimento deve ser o mais permeável possível sólidos no tempo TSt a partir da variação
para permitir que o efluente percole com volumétrica no tempo, DVt, do volume inicial,
facilidade. Como ele precisa também reter o Vo, do teor de sólidos inicial, TSo, e do peso
material particulado, a sua capacidade de específico dos sólidos, Gs:
retenção também precisa ser avaliada e o
dimensionamento vai escolher o produto que ,*>?< ,*>?C ,*>?C ,
permite obter as maiores eficiências de filtração ΔV< = Vo × ( @A<
− @AD
)/( @AD
+ .') (2)
e de desaguamento.
Em um trabalho recente, Khachan e Bhatia
(2017) propuseram prever o abatimento da fase
3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO sólida retida, com base em ensaio de laboratório
DAS METODOLOGIAS DE ESTIMATIVA em centrífuga de pequena dimensão, que visa
DE RECALQUE avaliar as respostas do material que se deseja
desaguar quando submetido a diferentes níveis
Dentre as escassas metodologias devotadas à de pressão, simulando assim o preenchimento de
previsão de recalques em sistemas de um tubo geotêxtil e avaliando o teor de sólidos
confinamento em geotêxtil para desague de máximo que o material pode alcançar bem como
lodos e sedimentos destacam-se as propostas a mudança de volume do material depositado
apresentadas por Leshchinsky et al. (1996) e que ocorre neste processo. A Figura 2 mostra
Miki et al. (1996). resultados deste tipo de ensaio para um resíduo
Especificamente, o método proposto por com 33% de sólidos. Neles a pressão e o tempo
Leshchinsky et al. (1996) considera que o podem ser considerados, a partir da formulação
decréscimo da altura durante o desaguamento é apresentada no trabalho, sendo a altura estimada
causado meramente pela redução de volume por:
promovida por um movimento vertical,
desprezando movimentos laterais: MHN >?CH
HHI = (Q/A) × LODNP × L@ADNP (3)
) ( *(+
Δ" = H × G' × ,-( (1) sendo Q a pressão de bombeamento, A a área da
) ×./
sessão longitudinal, Hfc e Hoc a altura de sólidos
sendo Δh o abatimento na altura inicial, H a altura no ensaio de centrífuga final e inicial, e TSof e
inicial, Gs o peso específico dos sólidos, wo o teor TSoc o teor de sólidos inicial no campo e na
centrífuga, respectivamente.

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período de tempo mais longo, o sistema com
menor número de ciclos de enchimento alcança
teores de sólidos mais elevados, devido a maior
facilidade de saída da água pela espessura de
material contido.
A Figura 3 ilustra um outro aspecto que a
previsão de altura deve considerar no
desaguamento de finos – o surgimento de trincas
de retração. É interessante lembrar que o autor
0,1kPa 2,1 kPa 8,5 kPa 18,1 kPa 35,2 kPa
verificou que após 12 dias, a bolsa que recebeu
dois enchimentos tinha um teor de sólidos 45%
Figura 2. Exemplo de resultado de ensaio em centrífuga
de pequeno porte (KHACHAN E BHATIA 2017) maior que o teor de sólidos da bolsa com apenas
um enchimento, enquanto que após 28 dias a
Os resultados obtidos pelos autores quando bolsa com 2 enchimentos tinha um teor de
comparados a ensaios de coluna sob pressão sólidos 30% inferior que o teor de sólidos da
mostram valores praticamente idênticos para bolsa com um enchimento.
areias puras e previsão de volumes um pouco
menores pela centrífuga para resíduos finos.
Na comparação com resultados de campo, os
autores observam que para a previsão pela
equação 1 ficou bastante distante da altura
medida (erro entre 30% para o material arenoso
e 60% para o material fino), enquanto que a
1 ench. 12 dias 1 ench. 28 dias
previsão por centrífuga ou ensaio sob pressão
teve erro inferior a 5%, demonstrando o interesse
em utilizar um ensaio mais simples para a
estimativa do comportamento.
Müller (2018) realiza comparativo quanto ao
abatimento de altura devido ao deságue em
ensaios de campo em bolsas de 1,25x2,50 m em 2 ench. 12 dias 2 enchim. 28 dias
planta, com preenchimento em um e dois ciclos Figura 3. Condição dos sistemas nos ensaios de Muller
de um lodo de estação de tratamento de água (2018) quando abertos.
composto de uma areia fina com 10% de
passante na #200 e teor de sólidos inicial de
1,7%. A altura medida após 12 dias do 4 PREVISÃO DO TEMPO DE
preenchimento inicial foi praticamente a prevista ADENSAMENTO: PREMISSAS, VALIDADE
pela equação 1 para a bolsa com enchimento E LIMITAÇÕES TEÓRICAS
único, mas para a bolsa que recebeu dois
enchimentos, o valor previsto foi 30% inferior ao Conforme já discutido, o projeto de sistemas
medido. confinantes em geotêxtil requer análise de
Esta ocorrência pode possuir uma diversidade previsão e desempenho do sistema, em especial
de causas, como a diferença de umidade no que diz respeito a estimativa do tempo de
proporcionada por mais preenchimentos, a desaguamento e dos recalques. E neste sentido a
existência de duas camadas em estados de validade das hipóteses adotadas pelo modelo de
consolidação distintos, espessuras maiores a cálculo empregado é fundamental para que as
saída da água, entre outros. respostas obtidas sejam compatíveis com o
Ressalta-se que devido a pressões internas, problema real estudado.
relacionadas aos ciclos de preenchimento, em Como o processo de consolidação dos
período de tempo mais curto um sistema de sedimentos no interior dos tubos ocorre em
desaguamento em tubo geotêxtil que recebeu condições bastante particulares, as soluções
diversos enchimentos alcança teores de sólidos clássicas de adensamento, como a teoria
mais elevados em relação a um que recebeu unidimensional de Terzaghi (Terzaghi 1925),
menos enchimentos. Observa-se, porém, que em não são aplicáveis à análise deste problema. Isto

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porque as premissas teóricas assumidas na teoria Além dos métodos mencionados por Azevedo
de Terzaghi se diferem significativamente et al. (1999), deve-se ainda destacar a solução
daquelas que ocorrem no caso de sistemas de apresentada por Gibson et al. (1981), na qual as
desaguamento através de tubos geotêxteis, onde equações que governam o decurso do
o adensamento que ocorre durante o adensamento unidimensional de uma camada de
desaguamento se deve geralmente às forças de argila saturada foram obtidas considerando um
peso próprio, e não à aplicação de sobrecarga. sistema de coordenadas convectivas e
Ainda, como os sedimentos acondicionados nos Lagrangianas com deformações finitas e não-
tubos são materiais que apresentam elevados lineares e a variação dos coeficientes de
índices de vazios, o processo de adensamento permeabilidade e compressibilidade durante a
implica em grandes deformações, de forma que consolidação. A diferença da solução
teorias baseadas em deformações infinitesimais apresentada neste artigo e o trabalho prévio do
são incompatíveis para a descrição do problema. mesmo autor (Gibson et al. 1967) reside no fato
Além disso, deve-se considerar que o processo de que foram empregadas condições mais
de injeção (e eventuais ciclos de reenchimentos) restritivas para a linearização da equação de
geram condições de turbulência, que não são variação do índice de vazios no tempo (que na
capturadas pelos métodos convencionais de verdade obedece a um regime fracamente não
análise do adensamento. linear de uma equação do tipo parabólica).
Também conforme já mencionado, alguns Contudo, a formulação apresentada por
dos autores que abordaram a questão do Gibson et al. (1981) não é apresentada dentro do
adensamento e previsão de recalques em formalismo de tensões e deformações
sistemas confinantes em geotêxteis foram conjugadas usado em formulações de grandes
Leshchinsky et al. (1996), Miki et al. (1996), deformações, que garantem o atendimento de
Lawson (2008) e Khachan e Bhatia (2017), propriedades importantes sobre o trabalho
sendo que as propostas presentadas são capazes específico (por unidade de volume) e, logo, das
de fornecer apenas estimativas aproximadas, leis da termodinâmica. Desta forma trabalhos
aplicáveis somente para demandas simples de futuros devotados à análise do processo de
projeto. adensamento em sistemas tubulares em geotêxtil
Problemas similares vêm sendo defrontados devem ser voltados à adequação da solução de
na concepção de modelos de avaliação e Gibson (1981), o que significa a retificação da
obtenção de parâmetros para o caso do processo formulação matemática incorporando o conceito
de deposição da fase sólida de rejeitos de de relações conjugadas de tensão-deformação,
mineração dispostos sob a forma de lama em trabalho que já vem sendo desenvolvido por
reservatórios. Conforme Azevedo et al. (1999), alguns dos autores deste artigo.
estes entraves vêm sendo superados pelo Insta ressaltar, por fim, a solução para
emprego de teorias de adensamento a grandes adensamento a grandes deformações apresentada
deformações propostas por Mikasa (1963) e no recente trabalho Geng e Yu (2017), que foi
Gibson et. al. (1967), que são soluções de desenvolvida para a análise do problema do
adensamento unidimensionais que consideram adensamento promovido por drenos verticais
forças de peso próprio e não-linearidade física para aceleração de recalques de depósitos de
(relações constitutivas do material) e materiais dragados, que também experimentam
geométricas (grandes deformações), apropriadas grandes deformações durante a consolidação,
para simular problemas desta natureza. assim como os sedimentos desaguados em
Em primeira análise, as soluções de sistemas tubulares em geotêxtil. Com base na
adensamento de Mikasa (1963) e Gibson et al. solução de deformações verticais livres de
(1967) poderiam ser empregadas para a análise Barron (1948) para a Teoria do Adensamento de
do processo de adensamento de sedimentos e Terzaghi-Rendulic e também a teoria
lodos durante o desaguamento em sistemas unidimensional para deformações finitas de
tubulares de geotêxtil, contudo deve-se Gibson, Geng e Yu (2017), apresentam um
considerar já de início que estes modelos não modelo matemático que considera o peso próprio
consideram o aumento incremental de carga que do solo, a variação da condutividade hidráulica e
pode ser causado por novos ciclos de da compressibilidade do solo durante o processo
reenchimento. de adensamento. Entretanto, a solução elaborada

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por Geng e Yu (2017), apesar de ser Mestrado – ITA, SJCampos.
supostamente baseada no trabalho de Gibson e GENG, X.; YU, H-S (2017) A large-strain radial
Cargil (1981), tampouco parece ter como consolidation theory for soft clays improved by vertical
drains. Geotechnique, 67 (11). pp. 1020-1028.
domínio lagrangiano de análise, o que viola as GIBSON, R.; ENGLAND, G.; HUSSEY, M. (1967) The
premissas fundamentais que descrevem o theory of one-dimensional consolidation of saturated
problema. clays. Geotechnique, v. 17, n. 3, p. 261–273.
GIBSON, R.; KENNET, W.; CARGIL, K, The theory of
one-dimensional consolidation of saturated clays. II
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS layers. Canadian Geotechnical Journal, NRC Research
Press. V. 18, n. 2, p. 280–293, 1981.
Diante da complexidade do problema aqui KHACHAN, M.M., BHATIA, S.K. (2017) The efficacy
discutido, esforços vêm sendo envidados na and use of small centrifuge for evaluating geotextile
busca de se desenvolver modelos para descrever tube dewatering performance. Geotextiles and
Geomembranes, v. 45, p. 280-293.
o problema específico da consolidação em KOERNER, R.M. (2005) Designing with Geosynthetics.
sistemas de desaguamento de tubos geotêxteis, Upper Saddle River, Pearson, 5. Ed. 796 p.
porém as escassas soluções desenvolvidas até o LAWSON, C.R. (2006) Geotextile containment for
momento ainda estão aquém de atenderem as hydraulic and environmental engineering. In. Intern.
demandas práticas de projeto com Conference on Geosynthetics, 8th., Yokohama, p. 9-48.
LAWSON, C.R., (2008). Geotextile containment for
confiabilidade. hydraulic and environmental engineering. Geosynth.
Neste trabalho destacou-se também o efeito Int. 15 (No. 6), 384e427.
dos ciclos de reenchimento no processo de LESHCHINSKY, D.; LESHCHINSKY, O.; LING, H. I.;
consolidação, salientando que os modelos GILBERT, P. A. (1996) Geosynthetic tubes for
atualmente disponíveis para previsão de confining pressurized slurry: some design aspects.
Journal of geotechnical engineering, American Society
recalques fornecem resultados sensivelmente of Civil Engineers, v. 122, n. 8, p. 682–690
mais discrepantes quanto maior o número de MARTINS, P. M. (2006). Utilização de Tubos Geotêxteis
bombeamentos. para o Desaguamento de Rejeitos de Mineração.
Dissertação Mestrado – ITA, SJCampos.
MIKASA, M. (1963). The consolidation of soft clay. a
new theory and its application. In: Japonese Society of
AGRADECIMENTOS Civil Engineering. [S.l.: s.n.], p. 21–26.
MIKI, H.; YAMADA, T.; KOKUBO, H.; TAKAHASHI,
Os autores agradecem a Coordenação de I.; SASAKI, T. (1996) Experimental study on
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior geotextile tube dehydration method of dredged soil. In:
(CAPES) pelo auxílio financeiro concedido na First European Geosynthetic Conference Eurogeo.
1996. v. 1, p. 933–941.
forma de bolsa de pós-doutorado à primeira MÜLLER, M. (2018) Efeito de diferentes configurações
autora (PNPD/Capes – BEX 1758546). no deságue de lodos em sistemas de confinamento de
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CASTRO, N. (2005) Sistemas tubulares para contenção de
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

80
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Fluência em Geocompostos Drenantes – Um Estudo dos Fatores de


Redução por Fluência à Compressão
Flávia Silva dos Santos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: proflavia@gmail.

Ana Cristina Castro Fontenla Sieira


Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: sieira@eng.uerj.br

RESUMO: Este artigo tem como objetivo aprofundar o conhecimento dos geocompostos drenantes,
que consistem em um núcleo polimérico, ao qual está ligado um geotêxtil sobre um ou ambos os
lados. A compreensão do comportamento deste tipo de material pode resultar em um
dimensionamento mais preciso e, consequentemente, uma maior segurança na aplicação e redução de
custos para implementação deste tipo de solução. Com esse objetivo, foi realizado um programa
experimental que contou com a execução de ensaios de laboratório para investigação das
características mecânicas, hidráulicas e de durabilidade do material. Com os parâmetros obtidos, foi
feita uma correlação entre os ensaios de compressão, capacidade de fluxo no plano e fluência. A
maior parte da deformação deste material ocorre nas primeiras horas de utilização. Portanto espera-
se que a fase mais impactante na redução da vazão ocorra antes do primeiro ano e que, para longos
prazos, a diminuição na condução de fluxo fosse pequena. Os valores obtidos para os fatores de
redução quanto à fluência do material, fizeram diferenciação entre gradientes, e sua determinação
considerou a ocorrência do fenômeno para uma tensão específica de 50 kPa. Verificou-se o bom
comportamento do material, considerando que a tensão aplicada no ensaio de fluência é representativa
das condições usuais do produto.

PALAVRAS-CHAVE: – geocompostos drenantes, geossintéticos, fluência, fatores de redução,


fluência à compressão.

ABSTRACT: This article aims to deepen the knowledge of drainage geocomposites, which consist
of a polymeric core, to which a geotextile is attached on one or both sides. Understanding the behavior
of this type of material can result in a more accurate sizing and consequently greater application safety
and cost reduction for the implementation of this solution. With this objective, an experimental
program was carried out, which included the execution of laboratory tests to investigate the
mechanical, hydraulic and durability characteristics of the material. With the parameters obtained, a
correlation was made between the compression, transmissivity and creep tests. Most deformation of
this material occurs within the first few hours of use. Therefore, it is expected that the most impacting
phase in the reduction of flow occurs before the first year and that, for long periods, the reduction in
the flow conduction would be small. The values obtained for the reduction factors regarding the
material creep differentiated between gradients, and its determination considered the occurrence of
the phenomenon for a specific tension of 50 kPa. The good behavior of the material was verified,
considering that the tension applied in the creep test is representative of the usual conditions of the
product.

KEY WORDS: Draining geocomposites, geosynthetics, creep, reduction factors, compressive


creep.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

81
1 INTRODUÇÃO • Produtos uniformes, contínuos e flexíveis, que
cumprem sua função mesmo quando aplicados
Dentro da Engenharia Civil os Geossintéticos em superfícies irregulares ou descontínuas;
encontram as mais diversas aplicações. O • Redução na espessura dos sistemas drenantes,
aumento na utilização deste tipo de material se em comparação com as soluções convencionais;
deve a fatores como facilidade de instalação e • Facilidade de manuseio, podendo sua
custo competitivo. instalação ser mecanizada, reduzindo
Merecem destaque, na engenharia geotécnica, cronogramas e custos;
as aplicações dos geossintéticos nas funções de • Sobrecargas reduzidas nas estruturas e
drenagem. Reconhecidamente a fonte de grandes fundações das obras civis em função da leveza.
problemas na construção civil, a drenagem exige O presente trabalho surge da necessidade de
atenção especial do projetista. Anterioremente, um estudo mais detalhado sobre o
as drenagens de muros eram executadas com comportamento de geocompostos drenantes, em
fôrmas de madeira, utilizando-se a brita como especial do produto MacDrain 2L©. Para
material drenante, e o geotêxtil como filtro. Por compreender o comportamento do material foi
utilizar agregado como meio drenante, esse realizado um programa experimental que conta
método resulta em um impacto ambiental maior, com a execução de ensaios de laboratório para
além do custo mais elevado. Por esses motivos, investigação das características mecânicas,
tem se tornado cada vez mais frequente o uso de hidráulicas e de durabilidade do material.
geocompostos drenantes com a finalidade de Adicionalmente, são feitas correlações entre os
captação e condução da água presente no solo. A resultados obtidos para realização de
instalação é mais rápida quando comparada ao investigações quanto à capacidade de vazão do
processo anterior e resulta em uma espessura geocomposto em longo prazo.
bem menor de superfície drenante.
O conhecimento e a compreensão do
comportamento de geocompostos drenantes 2 MATERIAIS E MÉTODOS
podem resultar em um dimensionamento mais
acurado e, consequentemente, uma maior O material ensaiado é um geocomposto,
segurança na aplicação e redução de custos para exibido na Figura 1, destinado à drenagem, com
implementação deste tipo de solução. núcleo formado por uma geomanta
Geossintéticos são produtos poliméricos tridimensional termosoldada a dois geotêxteis
(sintéticos ou naturais) industrializados, não-tecidos em todos os pontos de contato.
desenvolvidos para aplicação em obras O geotêxtil não-tecido consiste em uma manta
geotécnicas. Como um componente têxtil fabricada com filamentos sintéticos
extremamente versátil, os geossintéticos dispostos aleatoriamente.
encontram variados fins e são disponibilizados A geomanta é fabricada com filamentos
das mais diversas formas, cada um adequado a espessos de polipropileno, que por processos de
um determinado uso ou necessidade. extrusão e união por entrelaçamento, formam
Este artigo busca aprofundar o conhecimento uma estrutura tridimensional que apresenta cerca
dos geocompostos drenantes, que consistem em de 90% de vazios em sua estrutura.
um núcleo polimérico ao qual está ligado um
geotêxtil sobre um ou ambos os lados. O núcleo
polimérico constitui o meio de transmissão de
líquido principal, enquanto o geotêxtil,
dependendo das condições de contorno, atua
como um filtro.
As principais vantagens da utilização deste
tipo de geossintético são descritas por Vertematti
(2015):
Figura 1 - Amostra do geocomposto drenante.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

82
No processo de fabricação, ocorre a
sobreposição do geotêxtil não-tecido com a
geomanta, cuja aderência se dá por meio de
processos térmicos. A geomanta atua como
núcleo drenante, conduzindo o fluido a ser
drenado, enquanto o geotêxtil trabalha como
filtro, impedindo que as partículas de solos sejam
carreadas para o interior da geomanta, o que
pode causar a sua colmatação.

2.1. Programa de Ensaios

A determinação das propriedades de um


material é fundamental para se conhecer o Figura 2 – Equipamento utilizado no ensaio de capacidade
comportamento e o desempenho do material. de fluxo no plano. Fonte: Santos (2017)
Com esse intuito, foi realizado um programa de
ensaios, constituído de ensaios de capacidade de Os ensaios foram realizados para tensões de
fluxo no plano, fluência à compressão e 10, 20, 50 e 100 kPa e gradientes 1; 0,1 e 0,01.
compressão a curto prazo. Para este ensaio, foram selecionados três corpos
de prova com o comprimento paralelo à direção
2.1.1. Ensaio de Compressão de fabricação e três corpos de prova com o
comprimento perpendicular à direção de
Os ensaios de compressão foram executados fabricação com dimensões de 30 cm x 30 cm. A
segundo a norma ASTM D6364 (1999), que norma utilizada foi a ASTM D4716 (2013).
estabelece os procedimentos para avaliação das
deformações de um geossintético sob carga de 2.1.3. Fluência à Compressão – Método SIM
compressão de curto prazo. Durante o ensaio,
foram registradas as cargas aplicadas e a Para determinar a fluência do geossintético,
compressão correspondente. Os ensaios foram foram realizados ensaios no laboratório do TRI
realizados em cinco corpos de prova com Environmental, Inc. em Austin, Texas, EUA
dimensões 120 mm x 120 mm. com apoio e gerenciamento pelo TRI Ambiental
do Brasil Ltda. A norma adotada para a
2.1.2. Permeabilidade Planar e Capacidade de realização do ensaio é a ASTM D7361(2012)
fluxo no plano que estabelece o método de ensaio acelerado
para determinação de fluência à compressão de
A permeabilidade no plano (kp) é função do geossintéticos baseado na superposição de
esforço normal aplicado ao geossintético. Sendo tempo e temperatura usando o método SIM
assim, à medida que o material comprime, a (Stepped Isothermal Method).
vazão no plano diminui. Já que o volume O método SIM é um procedimento em etapas,
percolado é função da espessura do onde variações de temperatura são aplicadas para
geossintético, define-se a capacidade de fluxo no acelerar características de fluência
plano ou transmissividade (θ), como o produto viscoelásticas. Este ensaio permite determinar a
da permeabilidade planar pela sua espessura sob deformação em longo prazo, o que pode ser feito
determinada tensão normal de confinamento. em um curto espaço de tempo, e que seria
𝜃 = 𝑘𝑝 . 𝑡 (1) impraticável em um ensaio de fluência à
Onde: compressão convencional.
𝑘𝑝 - coeficiente de permeabilidade no plano do Durante o ensaio, a tensão e a carga são
geossintético; monitoradas em função do tempo. O
t - espessura do geossintético. equipamento utilizado neste programa de
Um registro do equipamento pode ser ensaios está apresentado na Figura 3.
visualizado na Figura 2.

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83
Tabela 1 - Resultados dos ensaios de compressão a curto
prazo Fonte: Santos (2017)
Corpo de Espessura Resistência Deformação
Prova (CP) inicial à (%)
(mm) compressão
(kPa)
1 13,99 322 67,84
2 13,26 331 63,92
3 12,44 348 72,10
4 12,95 313 67,82
5 13,3 306 66,04
Média 13,16 324 67,54
Desvio 0,57 16,39 3,01
Padrão

Na Figura 5, pode-se observar com maior


Figura 3 - Equipamento para ensaio de fluência à clareza o comportamento do material nas tensões
compressão - Cortesia TRI Ambiental do Brasil. Fonte:
Santos (2017)
de maior aplicação prática, próximas de 100 kPa.
Verifica-se que até o ponto em que as
deformações atingem o valor de 50% o
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES comportamento do material é muito próximo de
um comportamento linear.
3.1. Resultado do Ensaio de Compressão
200
180
A Figura 4 apresenta os resultados dos ensaios
160
de compressão realizados de acordo com a
140
norma ASTM 6364 (1999), com a correção no
Tensão (kPa)

120
trecho inicial. Foi delimitada a seção de interesse 100
através de alterações na escala do gráfico para 80
obter a resistência à compressão de cada corpo 60
de prova (CP). Os resultados dos ensaios para 40
cada corpo de prova estão reunidos na Figura 5. 20
O valor médio de resistência à compressão foi de 0
324 kPa, como mostra a Tabela 1. Para esta 0 10 20 30 40 50 60
tensão, a deformação média foi de 67,54 %. Deformação (%)
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5
10000 Figura 5 - Resultados dos ensaios de compressão a curto
prazo. Fonte: Santos (2017)
8000
Para o cálculo da espessura do corpo de prova
Tensão (kPa)

6000
pós compressão, espessura residual, foi
4000 determinada a tensão correspondente a cada
nível de deformação e calculada a espessura
2000
residual a partir da média de espessura inicial das
0 amostras, que foi de 13,16 mm. Observa-se, na
1 10 100 Figura 6, que a compressão inicial para tensões
Deformação (%) inferiores a 200 kPa ocorre a uma taxa maior
CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 enquanto que, para tensões mais elevadas, a taxa
Figura 4 - Resultados dos ensaios de compressão a curto de compressão é menor. Tal efeito pode ser
prazo. Fonte: Santos (2017) explicado pelo confinamento do núcleo e uma
tendência à estabilização da espessura.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

84
14
Neste ensaio, o tipo de apoio utilizado foi
12 rígido/rígido. De acordo com os estudos
realizados por Zanziger (2010), este tipo de
Espessura (mm)

10 apoio permite a condução de maior volume


8
passante, uma vez que o material utilizado em
apoios flexíveis pressiona o geotêxtil filtro para
6 dentro do núcleo reduzindo a vazão. Mesmo
cientes das diferenças decorrentes das condições
4 de apoio, não foi possível, para este estudo, a
2
obtenção do material necessário para a
0 100 200 300 realização do ensaio de capacidade de fluxo no
Tensão (kPa) plano em condições diferentes das usadas
Figura 6 - Espessura residual média entre as cinco
amostras ensaiadas. Fonte: Santos (2017) 3.3. Resultados dos Ensaios de Fluência à
Compressão
3.2. Resultados do Ensaio de Capacidade de
fluxo no plano No ensaio de fluência à compressão, a tensão
aplicada foi de 50 kPa e a espessura inicial da
Os valores médios de capacidade de vazão amostra foi de 12,95 mm. Os resultados do
obtidos para os diferentes gradientes ensaiados ensaio são apresentados na Figura 8. Para um
estão apresentados na Figura 7. Coerentemente, período de 100 anos, verifica-se uma redução de
a capacidade de vazão diminui com o aumento espessura de 36,09%. Observa-se que esta
da tensão e cresce com o aumento do gradiente. redução é mais acentuada no primeiro ano.
Como esperado, o acréscimo de tensão causa
uma redução da capacidade de vazão do 9,4
geocomposto, sofrendo maior impacto para
9,2
tensões inferiores a 50 kPa. Para tensões
Espessura Residual (mm)

maiores, ocorre um maior confinamento do 9,0


núcleo e redução dos poros, havendo uma
tendência à estabilização da espessura e, 8,8
consequentemente, da capacidade de vazão do 8,6
geocomposto.
8,4
3,0
8,2
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
2,5 Tempo (anos)
Capacidade de vazão (l/s).m

Figura 8 - Resultados dos ensaios de fluência à compressão


2,0 – Método SIM - Espessura Residual vs Tempo. Fonte:
Santos (2017)
1,5
3.4. Previsão da Vazão a Longo Prazo
1,0
Para a previsão da vazão a longo prazo, será
0,5 definida uma correlação que terá como base os
ensaios de fluência à compressão, compressão a
0,0 curto prazo e capacidade de fluxo no plano, com
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 a finalidade de prever a redução da capacidade
Tensão (kPa) de vazão do geocomposto para longos períodos
Gradiente 1 0,1 0,01 de tempo.
Figura 7 - Resultados dos ensaios de capacidade de fluxo Para estabelecimento desta correlação foi
no plano - Vazão vs tensão. Fonte: Santos (2017) usada a metodologia desenvolvida por Müller et

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

85
al. (2008). Esta abordagem começa com a tensões normais equivalentes estimadas pela
determinação da tensão de compressão a curto abordagem variaram entre 90,33 e 96,94 kPa.
prazo, necessária para produzir uma determinada Cabe observar que essa previsão utiliza um
espessura residual originada pelo ensaio de ensaio de fluência cuja tensão confinante é de 50
fluência à compressão (Figura 9). De posse desta kPa. Portanto, deve-se ter em mente que todo o
tensão, verifica-se no ensaio de capacidade de comportamento do material a longo prazo refere-
fluxo no plano a vazão correspondente (Figura se a este nível de carregamento. Deve-se levar
10). em conta, também, a utilização de apoio
rígido/rígido na realização do ensaio de
capacidade de fluxo no plano.

0,45 0,426 0,42


0,38
0,4 0,363 0,353

Capacidade de vazão (l/s)m


0,34
0,35 0,325

0,3
0,25

Figura 9 - Esquema para correlação entre os ensaios de 0,2


capacidade de fluxo no plano e fluência à compressão. 0,15
Fonte: Santos (2017) 0,095 0,09
0,081 0,078 0,075 0,07
0,1 0,067
0,05 0,026 0,025 0,0229 0,022 0,021 0,02 0,018

0
1 2 5 10 20 50 100
Tempo (anos)
Gradiente 1 Gradiente 0,1 Gradiente 0,01
Figura 11 - Redução da capacidade de vazão ao longo do
tempo. Fonte: Santos (2017)

Figura 10 – Determinação da capacidade de vazão. Fonte: Os resultados apresentados na Figura 11


Santos (2017) mostram que a redução da capacidade de vazão
em longo prazo se mostra um pouco mais
Desta forma, são estabelecidas as acentuada para o gradiente 1. No entanto, pode-
espessuras/deformações de interesse decorrentes se constatar que tal queda se mostra muito
do ensaio de fluência à compressão. Foram semelhante para todos os gradientes.
executados ensaios de compressão a curto prazo Os resultados de redução da capacidade de
em cinco corpos de prova (com pequenas vazão, apresentados nas Tabelas 2, 3 e 4 foram
variações na espessura). Em função desta realizados a partir da razão entre a vazão obtida
variação foi necessário encontrar as tensões de acordo com as correlações entre os ensaios de
médias entre os cinco corpos de prova, de modo capacidade de fluxo no plano e fluência à
a relacionar essas médias à compressão e a vazão inicial, retirada do ensaio
espessura/deformação referente ao ensaio de de capacidade de fluxo no plano a 50 kPa para os
fluência à compressão. De posse destas médias devidos gradientes.
de tensão, foi selecionado o intervalo de A maior parte da deformação neste material
interesse no gráfico do ensaio de capacidade de ocorre nas primeiras horas de utilização, e
fluxo no plano que relaciona as tensões portanto, era esperado que a fase mais
determinadas às previsões de vazão a longo impactante na redução da vazão tenha ocorrido
prazo. antes do primeiro ano e que, para longos prazos,
A partir da correlação pode-se fazer a previsão a diminuição na condução de fluxo fosse
da redução na capacidade de escoamento do pequena. O estudo mostra o grau de
geocomposto como mostra a Figura 11. As

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86
sensibilidade desta redução considerando um ocorrência do fenômeno para uma tensão
período de 100 anos. específica de 50 kPa. A tensão aplicada no ensaio
de fluência representa uma condição de uso
Tabela 2 - Vazão residual devido à fluência para o frequente do material. Os valores dos fatores de
gradiente 1. Fonte: Santos (2017) redução quanto a fluência encontrados constam
Previsão de redução da capacidade de vazão em
longo prazo - Gradiente 1
na Tabela 5.
Vazão inicial à (m³/s)m Vazão
Tabela 5 - Fatores de redução da capacidade de vazão
50 kPa 0,000895 Residual
devido à fluência à tensão de 50 kPa para um período de
1 ano 0,000426 48% 100 anos. Fonte: Santos (2017)
2 anos 0,00042 47%
Fatores de redução devido à deformação por fluência
5 anos 0,00038 42% para uma previsão de 100 anos
10 anos 0,000363 41%
Gradiente 1 0,1 0,01
20 anos 0,000353 39%
50 anos 0,00034 38% Vazão inicial à Fator de Fator de Fator de
100 anos 0,000325 36% 50 kPa redução redução redução
1 ano 2,1 2,29 2,33
Tabela 3 - Vazão residual devido à fluência para o
gradiente 0,1. Fonte: Santos (2017) 2 anos 2,13 2,42 2,42
Previsão de redução da capacidade de vazão em longo 5 anos 2,36 2,69 2,64
prazo - Gradiente 0,1 10 anos 2,47 2,79 2,75
(m³/s)m
Vazão 20 anos 2,54 2,9 2,88
Vazão inicial à 50 Residual
0,000218 50 anos 2,63 3,11 3,03
kPa
1 ano 0,000095 44% 100 anos 2,75 3,25 3,36
2 anos 0,00009 41%
5 anos 0,000081 37%
10 anos 0,000078 36% 4 CONCLUSÃO
20 anos 0,000075 34%
50 anos 0,00007 32%
O presente trabalho teve como objetivo a
100 anos 0,000067 31%
avaliação do desempenho de um geocomposto
Tabela 4 - Vazão residual devido à fluência para o drenante a partir da realização de ensaios de
gradiente 0,01. Fonte: Santos (2017) compressão, capacidade de fluxo no plano e
Previsão de redução da capacidade de vazão em longo fluência à compressão. A pesquisa constou de
prazo - Gradiente 0,01 um programa experimental de laboratório
Vazão inicial (m³/s)m Vazão visando obter as características mecânicas,
à 50 kPa 0,0000605 Residual
hidráulicas e de desempenho do geocomposto
1 ano 0,000026 43%
2 anos 0,000025 41%
drenante em estudo.
5 anos 0,0000229 38% O valor médio de resistência à compressão foi
10 anos 0,000022 36% de 324 kPa, correspondendo a uma deformação
20 anos 0,000021 35% média de 67,54 %. Observou-se, também, que a
50 anos 0,00002 33% compressão ocorreu de maneira mais intensa
100 anos 0,000018 30% para tensões inferiores a 200 kPa. Para tensões
Adicionalmente, pode-se estabelecer fatores de mais elevadas, ocorre o confinamento do núcleo
redução baseados nos resultados das Tabelas 2, e uma tendência à estabilização da espessura do
3 e 4. Observa-se que os fatores encontrados produto.
diferem dos valores orientados por Koerner Nos ensaios de capacidade de fluxo no plano,
(1997) e Vertematti (2015), cujas especificações o acréscimo de tensão impactou de maneira
se referem à geocompostos que utilizam significativa na redução da capacidade de vazão
georredes, embora ainda sejam úteis na do geocomposto, principalmente para tensões
estimativa para outros núcleos. Os resultados inferiores a 50 kPa.
apresentados no presente trabalho fazem A fluência à compressão do geocomposto foi
diferenciação entre gradientes e a estipulação estudada através do ensaio acelerado baseado na
dos fatores de redução por fluência considera a superposição de tempo e temperatura usando o

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87
método SIM. A tensão constante aplicada foi de REFERÊNCIAS
50 kPa e a espessura inicial da amostra foi de
12,95 mm. Com as informações obtidas no ASTM D 6364 (1999). Standard Test Method for
ensaio de fluência, pode-se constatar a redução Determining the Short–Term Compression Behavior of
Geosynthetics. West Conshohocken.
de espessura para um período de 100 anos ASTM D 7361 (2012). Standard Test Method for
apresentando deformação de 36,09%. Accelerated Compressive Creep of Geosynthetic
Com os dados obtidos através dos ensaios de Materials Based on Time-Temperature Superposition
fluência à compressão, capacidade de fluxo no Using the Stepped Isothermal Method. West
plano e compressão simples foram feitas Conshohocken.
ASTM D 4716 (2013) – Standard Test Method for
correlações com o objetivo de prever a redução Determining the (In-plane) Flow Rate per Unit Width and
da capacidade de vazão do geocomposto para Hydraulic Transmissivity of a Geosynthetic Using a
longos períodos de tempo. Cabe observar que Constant Head, West Conshohocken.
essa previsão utilizou um ensaio de fluência cuja Koerner, R. M. (1997). Designing with Geosynthetics. 4o.
tensão confinante é de 50 kPa. Portanto, deve-se ed. New Jersey: Prentice Hall. p.761.
Santos, F.S. (2017). Estudo Do Comportamento de
ter em mente que todo o comportamento do Geocompostos Drenantes. Dissertação de Mestrado,
material a longo prazo sofreu influência deste Universidade do Estado do Rio de Janeiro. p.135.
nível de carregamento. Müller, W. W., R. Tatzky-Gerth, e I. Jakob. (2008). Long-
Os resultados mostraram que a redução da Term Water Flow Capacity of Geosynthetic Drains
capacidade de vazão em longo prazo se mostra and Structural Stability of Their Drain Cores.
Geosynthetics International 15(6): pp.437–451.
um pouco mais acentuada para o gradiente 1. Vertematti, C. J. (2015). Manual Brasileiro de
A maior parte da deformação neste material Geossintéticos. 2o. ed. Blucher. São Paulo. p.570.
ocorre nas primeiras horas de utilização, Zanziger, H, S. R Sama, e A. Dobrata. (2010). Method for
portanto era esperado que a fase mais impactante Direct Measurements of the Long-Term Water Flow
na redução da vazão tenha ocorrido antes do Capacity of Drainage Geocomposites under Soft
Bedding Conditions. 9th International Conference on
primeiro ano e que, para longos prazos, a Geosynthetics. pp.1117-1120.
diminuição na condução de fluxo fosse pequena.
Este estudo mostrou o grau de sensibilidade
desta redução e ainda permitiu uma previsão
para o período de 100 anos.
Ainda com os dados obtidos, foram calculados
fatores de redução. Os valores obtidos neste
estudo diferem dos valores orientados como
estimativa por Koerner (1997) e Vertematti
(2015), que variam de 1 a 2. Os resultados aqui
exibidos fizeram diferenciação entre gradientes
e a determinação dos fatores de redução por
fluência considerou a ocorrência do fenômeno
para uma tensão específica de 50 kPa. Verificou-
se o bom comportamento do material
considerando que a tensão aplicada no ensaio de
fluência é representativa das condições usuais do
produto.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à empresa Maccaferri
do Brasil pelo apoio ao projeto de pesquisa, e a
CAPES, pelo auxílio representado pela bolsa de
estudos.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

88
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da Colmatação de Geotêxteis Não Tecidos na Filtração de


Sólidos em Suspensão
Isabela Gagliardi Ortiz
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, isabela.gortiz@hotmail.com

Ademir Paceli Barbassa


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, barbassa@ufscar.br

Fernando H. M. Portelinha
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

RESUMO: Em técnicas compensatórias, tais como os poços de infiltração, o geotêxtil não tecido tem sido
especificado para desempenhar dupla função de filtração e proteção do solo de fundo. No entanto, a sua
aplicação em poços de infiltração tem sido realizada sem qualquer abordagem empírica ou racional em
torno do mecanismo de filtração envolvendo partículas em suspensão. Dentro desse contexto, o objetivo
desse trabalho foi avaliar o efeito da suspensão de partículas de diferentes tamanhos no comportamento
de filtração e colmatação de geotêxteis não tecidos de diferentes aberturas de filtração. Foram realizados
ensaios de filtração com uso de permeâmetros específicos que permitem a passagem e filtração de sólidos
em suspensão, onde foram avaliados a permeabilidade normal ao longo do tempo e o tempo de colmatação
(tc) dos geotêxteis. Esses ensaios foram realizados com geotêxteis não tecidos agulhados de fibras curtas,
de PET (poliéster) e PP (polipropileno) das seguintes gramaturas: 200, 300 e 400 g/m 2 e diferentes
tamanhos de partículas em suspensão (solo natural e finos passados em peneira n° 200). Os resultados dos
ensaios de colmatação com suspensão de água e solo natural mostraram que o geotêxtil de gramatura 400
g/m2 foi o que apresentou melhor desempenho e aplicabilidade para a função de filtro em técnicas
compensatórias, podendo aumentar a vida útil de técnicas compensatórias, pois demoraram mais a
colmatar (em até 80%) que os outros geotêxteis não-tecidos avaliados (200 e 300g/m2), pois há a
formação de um pré-filtro que proporciona o aumento da permeabilidade do sistema de filtração. Os
ensaios com suspensão de água e solo fino (#200), colmataram mais rapidamente, ou seja, nos primeiros
minutos dos ensaios, pois as partículas finas depositaram-se nas matrizes dos filtros de geotêxteis,
entupindo-os rapidamente. Pode-se concluir que para suspensão de partículas finas o geotêxtil de
gramatura 400g/m2 mostrou-se eficiente tanto para filtração de finos como para a manutenção da
permeabilidade mínima do sistema filtrante.

PALAVRAS-CHAVE: geotêxtil não-tecido, filtração, colmatação, suspensão, técnicas compensatórias.

ABSTRACT: In compensatory techniques, such as infiltration wells, nonwoven geotextiles have been
used acting with the dual function of filtration and foundation protection. However, geosynthetics in
infiltration wells have been applied in field without any empirical or rational approach that considers the
filtration mechanisms involving suspension particles. The main objective of this study is to evaluate the
effect of the suspension particles with two different grain size distributions on the filtration behavior of
nonwoven geotextiles applied in infiltration wells. Filtration tests were conducted using of suspension of
solids in water, where normal permeability over time and clogging time (t c) were measured. PET
(polyester) and PP (polypropylene) short fiber and needle punched nonwoven geotextiles with 200, 300
and 400 g/m2 of mass per unit area were assessed in this paper. Suspension solids consisted in a solution
with a local soil and other with material passing through the 200 sieve. Results filtration tests
demonstrated that the geotextile with 400 g/m2 of mass per unit area was found to better perform
increasing the lifetime of infiltration wells in 80% in comparison to nonwoven geotextiles with 200 and
300g/m2 of mass per unit area, since there is a prefiltering emission of a permeability of the filtration
system. The tests with water and fine soil (# 200) suffered clogging in small periods of minutes of the

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

89
tests, since the fines were deposited in the matrices of geotextile filters. Tests conducted with relatively
large amount of fines, demonstrated the suitability of the geotextile of 400g/m2, increasing the lifetime of
the system.

KEY WORDS: non-woven geotextile, filtration, clogging, suspension, compensatory techniques.

1 INTRODUÇÃO meio de areia e geotêxteis concluiu que as


partículas mais grosseiras são depositadas
O manejo de águas pluviais urbanas, anteriormente principalmente na entrada da coluna e nos
a década de 70, consistia basicamente na geotêxteis e que este é eficaz para a retenção de
canalização dos cursos d’água e o afastamento o partículas de todos os tamanhos.
mais rápido possível das águas pluviais e servidas
(CANHOLI, 2005; TUCCI, 2003; BAPTISTA ET
AL, 2011). O surgimento de uma nova abordagem,
conhecida como “tecnologias alternativas” ou
compensatórias, principalmente na Europa e
América do Norte mudou esse conceito, visto que
a introdução dessas técnicas nas cidades, de
maneira integrada, busca neutralizar os efeitos da
urbanização sobre os processos hidrológicos, com
benefícios para a qualidade de vida e a preservação
ambiental (BAPTISTA et al. 2011).
Aplicado às técnicas compensatórias, o geotêxtil
não- tecido deve desempenhar dupla função: a de
filtração e a de proteção do solo onde foi
empregado. O material polimérico deve permitir a
livre passagem da água ao mesmo tempo em que
retém as partículas do solo necessárias à sua
estabilização, evitando assim o processo de
colmatação (MUÑOZ 2005).
Na Figura 1 é apresentado um exemplo de
aplicação de geotêxtil não-tecido com filtros nas
paredes laterais e no fundo de um poço de
infitração. A aplicação dos geotêxteis neste
dispostivo, possui a finalidade de filtrar a água da
chuva, além de proteger a estrutura e evitar a
colmatação precoce por sólidos suspensos
carreados juntamente com água da chuva, vento,
etc. Figura 1. Uso de geotêxteis não tecidos em poços de
Pode-se notar que a aplicação do geotêxtil não- infiltração: (a) Seção típica com aplicação de geotêxteis
tecido em uma estrutura de filtração é importante não-tecidos nas paredes e fundo (b) Imagem da instalação
do geotêxtil não tecido.
pois além de proteção, evita a entrada de sólidos
suspensos, fazendo com que o dispositivo consiga
Aydilek et al. (2010) estudou dois filtros de
desempenhar a sua função, no caso, infiltrar a água
geossintéticos em laboratório com uma
de chuva e sedimentos carreados.
concentração total de sólidos suspensos (SST), e
Duriatti et al. (2017), estudou o comportamento
distribuição de tamanho de partícula semelhante
dos geotêxteis naturais de fibras de linho para a
aos relatados para escoamento de águas pluviais
retenção de partículas suspensas presentes no
em rodovias urbanas. Os resultados indicaram que
escoamento urbano e conclui que o uso dos
após um breve período de tempo, o geotêxtil com
geotêxteis aumenta consideravelmente a
um tamanho de abertura aparente de 150 μm pode
durabilidade da filtração sistema. Em relação à
efetivamente remover sólidos suspensos a uma
análise granulométrica das partículas retidas no
concentração de 30 mg / L e que esse valor é

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

90
considerado como adequado para descarga pontual Esse artigo visa entender o processo de filtração
comum. Yang et al. (2009), desenvolveu cinco e colmatação de geotêxteis não tecidos de
geotêxteis não tecidos de duas camadas com diferentes aberturas de filtração, submetidos a
diferentes densidades de agulhas para estudar o seu suspensões de partículas de solo local natural e a
desempenho de filtração e observou que a parcela deste solo passada em peneira n° 200
densidade de agulhas tem efeitos óbvios no (#0,074 mm).
desempenho de filtração de geotêxteis não tecidos.
Mulligan et al. (2009) realizou testes de filtração 2. MATERIAL E MÉTODOS
laboratorial com quatro filtros geotêxteis para a
remoção de sólidos suspensos contaminados (SS) 2.1 Ensaios de filtração de sólidos em suspensão
da água superficial, Dos quatro filtros (dois
geotêxteis não tecidos, um tecido geotêxtil e um O sistema de ensaio de filtração foi realizado com
filtro de areia), o filtro não tecido foi o mais eficaz carga variável, conforme Figura 2, contando com
para remoção do total de sólidos suspensos um reservatório de 250 litros (R1), destinado a
(98,9%) e redução de turbidez em 93-98%. homogeneização do solo e armazenamento do
Sales et al., (2008), estudou a colmatação de volume de água utilizado em cada ensaio.
geotêxtil não-tecido agulhado de filamentos
contínuos de poliéster, gramatura 200 g/m2
empregado no fundo de poços de infiltração de
águas pluviais e concluiu que a manta geotêxtil
utilizada no revestimento da camada de brita do
fundo do poço de infiltração apresentou, em geral,
redução de sua permeabilidade, confirmando assim
a ocorrência do processo de colmatação do sistema
de infiltração.
No Brasil tem-se aplicado o uso de geotêxtil
não-tecido em técnicas compensatórias para
manejo de águas pluviais. Como exemplo temos o
sistema F-V-T (associação de filtro, vala,
trincheira) estudado por Lucas et al. (2015) onde o
geotêxtil não- tecido foi instalado na trincheira de
infiltração, para impedir que os finos entrem no
sistema. E o poço de infiltração estudado por
Barbassa et al. (2014), que tem o geotêxtil não- 1-boia
tecido nas paredes internas e externas e na tampa,
2-registro de
instalado para evitar a entrada de material fino no
esfera
sistema.
Em poços de infiltração, o geotêxtil não- tecido
3-mangueira
deve desempenhar dupla função a de filtração e transparente
proteção do solo de fundação onde foi empregado. 4-permeâmetro
O material polimérico deve permitindo a livre 5-sensor de nível
passagem da água acumulada no interior do poço Figura 2. (a) Esquema do sistema de ensaio com carga
bem como as partículas carregadas pelo variável; (b) permeâmetro de carga variável.
escoamento superficial. Ao mesmo tempo, o
geotêxtil deve reter as partículas do solo da parede Utilizou-se uma bomba submersível para que o
do poço para dentro do sistema. Embora existam material não sedimente. O R2 é uma caixa
muitos trabalhos na literatura, há ainda concêntrica para que se evitasse a sedimentação
necessidade de estudos da utilização de filtros das partículas, localizada logo após o R1. A
geotêxteis em técnicas compensatórias, já que entrada do R2 conta com uma boia de descarga,
envolvem mecanismos de filtração diferentes do que controla o escoamento de água.
convencional pela necessidade de retenção de O R2 é conectado ao permeâmetro por uma
sólidos em suspensão. mangueira transparente flexível de 20 mm e uma
derivação, com registro de esfera, para a realização

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

91
da coleta da água antes de chegar ao permeâmetro. PET (poliéster) e PP (polipropileno), com fibras
O permeâmetro com carga variável (Figura 2 b) foi curtas (Figura 3).
construído em acrílico, com as seguintes
dimensões: câmara superior de altura de 500mm e
diâmetro de 145mm; câmara inferior de 100 de
altura e mesmo diâmetro. A conexão entre as
câmaras possibilita a instalação dos geotêxteis
assentado em tela perfurada. A saída da água da
câmara inferior se faz por uma mangueira, com
registro de esfera para controle de vazão, que
conduz a água até o reservatório R3. No R3 está Figura 3. Amostras de geotêxteis não-tecidos utilizados
instalado um sensor que registra nível de água e o
respectivo tempo, permitindo determinar a Foram medidas a gramatura, espessura,
variação do volume em seu interior a intervalos de permissividade (Ψ), permeabilidade (K) e abertura
tempo, portanto monitorar vazão de saída do de filtração conforme normas ASTM D 4491
sistema de filtração. (1999), ASTM D 3776 (2017), ASTM D 964
(1996), respectivamente. Os resultados são
2.2 Características dos sólidos em suspensão mostrados na Tabela 1.

Os sólidos em suspensão que foram filtrados nos Tabela 1. Caracterização dos geotêxteis não-tecidos.
ensaios, foram coletados na microbacia Gramatura Espessur Ψ (s-1) K (m/s) O95
experimental próximo da técnica compensatória (g/m2) a (mm)
poço de infiltração G-Hidro, no campus da 199 1,48 1,36 0,20 130
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), 328 2,55 1,93 0,49 110
399 3,10 1,62 0,46 80
São Carlos, São Paulo. Eles foram previamente
preparados no Laboratório de Geotecnia, do
campus São Carlos da UFSCar, separando-se o 2.4 Parâmetros avaliados
solo natural e a parcela do solo passado em peneira
n° 200. Eles foram misturados a água que estava A permeabilidade normal foi calculada, conforme
dentro da caixa d’ água com auxílio de uma bomba. ASTM D4491 (1999):
A água utilizada foi proveniente da rede pública. 𝑎 .𝐿 ℎ
O solo natural foi classificado como areia média 𝐾𝑣𝑎𝑟 = 2,303 𝐴 . 𝑡 . log ℎ2 (1)
1
fina, respectivamente: 22% de silte, 38% de areia
fina, 32% de areia média e 8% de areia grossa. Os onde KVAr é a permeabilidade normal do geotêxtil
finos passantes na peneira n° 200 usados para (m/s); 2,303 a constante para conversão de ln em
ensaios de suspensão apresentou 54% de silte. log;“a” a área do R3(m2); L a espessura do
Tanto para filtração de solo natural como de geotêxtil (mm); “A” a área do permeâmetro de
finos, fixou-se a concentração de 650mg/L, pois de carga variável (m2); t o tempo de um esvaziamento
acordo com Ferreira (2016), essa é a concentração (t2-t1) registrado pelo sensor de nível instalado no
máxima de SST (sólidos suspensos totais) que R4 (s); h1 (m) o nível de água máximo no
chegou à técnica compensatória poço de infiltração permeâmetro no tempo t1 e h2 (m) o nível de água
estudado pela autora. mínimo no permeâmetro no tempo t2. Para esses
Durante os ensaios de filtração coletaram-se ensaios foi considerada a curva referente a média
amostras da suspensão retidas e passantes pelo de três ensaios de permeabilidade.
filtro geotêxtil em intervalos de 5 minutos, O tempo de colmatação (tc) foi considerado o
perfazendo cerca de 12 amostragens por ensaio. Ao tempo final do ensaio (em minutos), expresso pela
final de cada ensaio, o geotêxtil com o material queda expressiva da vazão de saída e a diferença
filtrado foi exumado e acondicionado para do tempo inicial do ensaio (em minutos). Essa
análises. fórmula de cálculo também foi utilizada por
Ferreira (2016) nos seus ensaios com
2.3 Geotêxteis não-tecidos permeâmetros.
O solo retido no geotêxtil não-tecido (Figura 4),
Os geotêxteis utilizados foram não-tecidos ao final de cada ensaio foi raspado e encaminhado
agulhados de gramaturas 200, 300 e 400 g/m2, de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

92
para laboratório, onde realizou-se a granulometria classificado a partir de 30 µm, em faixas de 10 µm,
conjunta de acordo com a NBR 7181/2016 da até 1000 µm.
ABNT. O defloculante utilizado foi o
hexametafosfato de sódio. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As amostras de água coletadas nos ensaios de
permeâmetros foram estudadas em um analisador 3.1 Análises da permeabilidade do meio filtrante
digital de partículas, onde foi possível mensurar as
partículas e seu tamanho As análises foram A Figura 6 apresenta os resultados de ensaios de
realizadas na UNESP campus Rio Claro (SP). O permeabilidade dos geotêxteis não tecidos de 200,
analisador digital de partículas utilizado conta com 300 e 400 g/m2 para a avaliação da filtração de
equipamento de bancada Jartest acoplado a um solução de água com o solo natural e água e
sistema não intrusivo de captura de imagens material passante na #200. Na Figura 6a, referente
(Figura 5). a filtração de solução de água com solo natural,
pode-se notar que o ensaio com o geotêxtil de
gramatura 400 g/m2 apresentou maiores valores de
K (permeabilidade) durante o ensaio. Isso significa
a deposição imediata devido ações gravitacionais
pode resultar em cegamento ou entupimento a
curto prazo mais significativo para geotêxteis de
abertura de filtração maiores (menor gramatura),
pois as partículas menores passam e as maiores
ficam depositadas, diminuindo a permeabilidade
(K) rapidamente. Já o geotêxtil de gramatura 400
g/m2 demonstrou maiores valores de
permeabilidade do que os demais na fase inicial
(até 2000 s), pois geotêxteis de maiores aberturas
de filtração apresentaram melhor retenção das
Figura 4. Exemplo do material retido nos geotêxteis não- partículas da suspensão em solo natural do que os
tecidos usados para caracterização granulométrica. geotêxteis de menores aberturas, devido a
formação do pré-filtro por ações gravitacionais, ou
seja, deposita-se rapidamente partículas maiores e
progressivamente as menores.
Por outro lado, nota-se que qualquer um dos
geotêxteis tendem a uma assíntota de valor de
permeabilidade, porém com maiores valores para o
geotêxtil de 400 g/m2, o que é resultado dos
mecanismos descritos. Ao longo do tempo, com
uma maior quantidade de solo depositado sobre o
geotêxtil esse sofre diminuição significativa de sua
Figura 5. Analisador de partículas para filtração do
permeabilidade. As importantes conclusões a cerca
passante.
destes resultados estão nos fatos de que, a longo
prazo, as aberturas dos geotêxteis adotados não
Para o tratamento dos dados excluiu-se do todo o alteraram o comportamento de permeabilidade.
conjunto de partículas menores que 30 µm. Isto por Porém, alteraram significativamente a curto prazo.
que, segundo Moruzzi et al. (2015), levando em Em relação à Figura 6b, referente a filtração de
conta a resolução e o tamanho do pixel utilizados, solução de água com material passante na #200,
as medidas para tamanhos reduzidos, têm uma todas as partículas finas, ou seja de diâmetro menor
imprecisão elevada. Na análise investigativa de que 0,074 mm passaram pelas aberturas de todos
parâmetro representativo para a dimensão das os geotêxteis não-tecidos e tenderam a “colmatar”
partículas utilizou-se o maior diâmetro da elipse as matrizes dos meios filtrantes, pois esses
circunscrita ao floco (dmax), este que, tem sido apresentaram valores de abertura de filtração bem
utilizado para a calibração e validação de sistemas maiores. As gramaturas 200 e 300 g/m2
de monitoramento da floculação. Odmax foi apresentaram diminuição da permeabilidade

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

93
praticamente no mesmo tempo e sofreram a
redução significativa da permeabilidade a menor 3.2 Análise granulométrica do filtrado
prazo dos observados para a filtração do solo
natural. Isso ocorre devido à grande quantidade de A Figura 7 apresenta os resultados da análise
material fino carreada, migrando pelos vazios até granulométrica do material filtrado nos geotêxteis
serem retidas sobre a superfície do filtro, o que, de 200, 300 e 400 g/m2 para a solução de água com
causou a formação de uma camada de baixa o solo natural e água e material passante na #200.
permeabilidade, reduzindo significativamente a (a)
permeabilidade global do sistema solo/filtro. Em 100

relação a gramatura 400 g/m2 (Figura 6b) 90

apresentou a K inicial (m/s) menor, porém, foi o 80

filtro que demorou mais a colmatar sob condição 70

de filtração de finos, mostrando-se mais eficaz na 60

% que Passa
retenção de partículas finas em suspensão. 50
(a) 40
0.30 30
200 g/m2 200 g/m2
20
0.25 300g/m2 300 g/m2
10
400g/m2 400 g/m2
0.20 0
(b) 0.001 0.01 0.1 1 10
k (m/s)

0.15
(b) Diâmetro dos Grãos (mm)

100
0.10 90
80
0.05
70
% que Passa

0.00 60
0 1000 2000 3000 4000 50
Tempo (s)
(b) 40

0.30 30
200 g/m2
200 g/m2 20
300 g/m2
0.25 300 g/m2 10
400 g/m2
400 g/m2
0
0.20 0.0010 0.0100 0.1000 1.0000 10.0000
K(m/s)

Diâmetro dos Grãos (mm)


0.15 Figura 7. Distribuição granulométrica do material retido
nos filtros geotêxteis de diferentes gramaturas: (a)
0.10 suspensão de solo natural; (b) suspensão passante #200.

0.05 Comparando os ensaios do material filtrado


nos filtros geotêxteis de diferentes gramaturas para
0.00
0 1000 2000 3000 4000 a solução de água com solo natural (Figura 7a)
foram encontrados resultados semelhantes de
Tempo (s)
material retido sobre as mantas. A gramatura 200
Figura 6. Resultados dos ensaios de permeabilidade dos g/m2 apresentou pequenas frações de argila e silte
geotêxteis: (a) solo natural em suspensão; (b) passante na
#200.
depositadas e maiores frações de areia média
(65%) e grossa (35%). Esses valores são coerentes,
Pelas análises realizadas concluiu-se que a já que a abertura de filtração desse geotêxtil é de
filtração de solução de água e material passante em 130 µm, ou seja, 0,13 mm. Assim, ele tem a
#200, colmatou mais rapidamente que a solução de capacidade de reter partículas maiores que esse
água com solo natural. Isso se deve pois as valor e deixa passar o material mais fino (partículas
partículas mais finas conseguem chegar mais menores).
rapidamente nas matrizes dos filtros de geotêxteis, O geotêxtil não tecido de gramatura 300 g/m2
entupindo-o rapidamente, como ocorreu com todas apresentou porcentagens não significativas de
as gramaturas analisadas neste ensaio. argila e silte, já, que sua abertura de filtração
corresponde a 110 µm, ou seja, 0,11 mm, retendo

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94
partículas maiores que esse valor (70% areia inalteradas para todas as amostras e no eixo y o
média), 0% de areia fina (valor semelhante a sua número de partículas passantes (em número
abertura de filtração) e 28% areia grossa. Já, os absoluto), ou seja, foram contabilizadas a
ensaios com o geotêxtil de gramatura 400 g/m 2 quantidade de partículas que passaram pelo
apresentou resultados diferentes, as parcelas de permeâmetro.
argila e silte encontradas foram pequenas, assim (a)
como os valores encontrados para a gramatura 300 3000
200 g/m2
g/m2, porém, apresentou uma pequena

Número de partículas passantes


2500 300 g/m2
porcentagem de silte (10%), 65% areia média e o
restante 25% de areia grossa. Isso mostra que os 2000
400 g/m2
geotêxteis não-tecidos de gramaturas 200 e 300
g/m2 retém partículas de granulometrias maiores, 1500
deixando passar partículas menores (finos), pois
suas aberturas de filtração são maiores. O geotêxtil 1000
de gramatura 400 g/m2 retém solos de diferentes
500
granulometrias, pois sua abertura de filtração é
menor que a dos outros. Isso faz com que haja o 0
favorecimento da formação do pré-filtro, 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160
resultando no melhor comportamento de filtração (b) Tamanho dos grãos (µm)
observado na Figura 7 a. 3000

Os ensaios do material filtrado de filtros 200 g/m2


Número de partículas passantes

2500
geotêxteis de diferentes gramaturas com solução 300 g/m2
de água e suspensão com finos (passante na #200) 2000 400 g/m2
(Figura 7b), apresentaram, como esperado, valores
inferiores a 0,075 mm. Para o geotêxtil de 1500
gramatura 200 g/m2, nota-se 5% de argila filtrada
e 95% de silte. O geotêxtil de gramatura 300 g/m2 1000

mostrou um material filtrado com


500
aproximadamente 20% de argila e 80 % de silte.
Para o geotêxtil de menor abertura de filtração, 0
gramatura 400 g/m2 e O95% de 0,08 mm, notou-se a 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160
filtração de 40% de argila e 60% de silte. Nota-se Tamanho dos grãos (µm)
que, à medida que a abertura de filtração diminui, Figura 8. Granulometria por A.D.P: (a) solo natural em
a uniformidade granulométrica do filtrado diminui, suspensão, (b) finos em suspensão.
o que pode estar favorecendo o aumento da
permeabilidade. Em termos de filtração o geotêxtil Em relação as amostras de saída, o material
de 400g/m2 demonstra ser mais apropriado por passante dos filtros geotêxteis de diferentes
filtrar maior quantidade de finos o que é mais gramaturas com solução de água e solo natural, são
preocupante em técnicas compensatórias. mostrados na Figura 8. A amostra 200 g/m2 (Figura
8 a) teve o maior números de partículas passantes
3.3 Análise das partículas passantes pelos filtros pelo permeâmetro, 2733 partículas passaram pelo
permeâmetro, sendo a maior parte destas de
A Figura 8 apresenta os resultados do analisador diâmetro superior a 40 µm que corresponde a um
digital de partículas do filtrado e passante nos diâmetro de material mais arenoso. O mesmo
geotêxteis de 200, 300 e 400 g/m2 para a solução ocorreu para os outros geotêxteis de maiores
de água com o solo natural e água e material gramaturas havendo somente a redução
passante na #200. proporcional no número de partículas passantes.
A análise granulométrica por A.D.P das Isso permite concluir a maior filtração de partículas
amostras de entrada (solo natural e fino) e saída do gerada pelo geotêxtil de gramatura de 400g/m2.
permeâmetro, foram realizadas através de gráficos No caso dos finos em suspensão que passaram
de barras comparativos, onde o eixo x corresponde pelo filtro, nota-se que para os geotêxteis de 200 e
a classe de tamanho dos grãos (µm), cujas faixas 300 g/m2, passou-se muitos materiais de
adotadas com intervalo de 10 µm se mantiveram granulometria de silte, o que pode ser observado
pelos gráficos de barras nos diâmetros de 40, 50 e

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

95
60 µm. Ainda, a quantidade de partículas passantes Ferreira. T. S.; Avaliação do Comportamento
mostrou-se significativamente maiores que o Hidrológico de Poços de Infiltração de Águas Pluviais
geotêxtil de 400 g/m2. No caso deste, notam-se como Medida Compensatória. 2016. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Urbana) –Universidade
pouquíssimas partículas de diâmetro superior a 40 Federal de São Carlos – UFSCar, São Carlos. 2016.
µm, mostrando que a maior parte pode ser inferior Lucas, Alessandro Hirata, Sobrinha, Loide Angelina;
a esse diâmetro. Esse resultado corrobora todas as Moruzzi, Rodrigo Braga; Barbassa, Ademir Paceli .
análises previamente discutidas, mostrando que, Avaliação da construção e operação de técnicas
para filtração de sólidos em suspensão de compensatórias de drenagem urbana: o transporte de
partículas finas, o geotêxtil de 400g/m2 apresenta finos, a capacidade de infiltração, a taxa de infiltração
real do solo e a permeabilidade da manta geotêxtil.
comportamento adequado para uso em técnicas
Engenharia Sanitária e Ambiental (Online), v. 20, p.
compensatórias. 17-28, 2015.
Mulligan Catherine N. Davarpanah. N. Inoue Tomohiro.
4. CONCLUSÕES Filtration of contaminated suspended solids for the
treatment of surface water. (2000). Elsevier.
Para o caso de filtração de sólidos em suspensão Muñoz, Catarina Silveira. Desempenho de geotêxteis na
com granulometria variada (neste trabalho, solo filtração de solos internamente instáveis. São José dos
Campos, 2005. 119f. Tese de Mestrado – Curso de Pós-
natural), pouco se alterou o comportamento de Graduação em Engenharia de Infra-Estrutura
permeabilidade a longo prazo para as gramaturas Aeronáutica – Área de Infra-Estrutura Aeroportuária –
de geotêxteis não tecidos agulhados avaliados Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2005.
(200, 300 e 400 g/m2). No entanto, a curto prazo, o NBR 7181 – Solo - Análise granulométrica. Rio de
geotêxtil de 400 g/m2 apresentou maiores valores Janeiro, 2016.
de permeabilidade a suspensão. No caso da Sales, M. M.; Oliveira, L. H.; Reis, R. P. Sistemas de
suspensão em finos (aberturas inferiores a 0,075 drenagem na fonte por poços de infiltração de águas
pluviais.Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 8, n. 2,
mm), o comportamento se inverte, ou seja, o p. 99-117, abr./jun. 2008.
geotêxtil de gramatura 400 g/m2 mostrou-se Tucci, C. E. M. Drenagem Urbana. Ciência e Cultura,
melhor comportamento de permeabilidade a longo Gestão da Águas/Artigos, Vol. 55, n° 4, São Paulo,
prazo e semelhante aos outros a curto prazo. 2003.
Em termos de filtração de particulado, os Yang J. X. Wang. L. Q. JI L. Y. Liu . F. L. Filtration
geotêxteis de 200 e 300 g/m2 mostraram não serem performance of two-layered nonwoven geotextiles.
Proc. of Int. Symp. on Geoenvironmental Eng.,
eficazes na retenção de finos, o que é primordial
ISGE2009, September 8-10, 2009, Hangzhou, China.
em técnicas compensatórias. Já o geotêxtil de 400
g/m2 mostrou-se bastante eficaz para tal fim pela
capacidade de reter partículas finas e evitar o
cegamento do solo de fundação em poços de
infiltração.

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Permeability of geotextiles by permittivity.
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water using flax fibre geotextiles (2017). Disponível
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

96
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Eficiência da Utilização do Geotêxtil Não Tecido para Acelerar o


Dessecamento do Rejeito Proveniente do Corte de Pedras
Ornamentais.
Italo Andrade Vasconcelos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, italo.chat@gmail.com

Julia Cunha Leiros


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, jujuleiros20@gmail.com

Wan Hannoh Thomas Paul S. A. Moura de Farias


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, Hannoh_hc@hotmail.com

Fagner A. Nunes de França


Universidade Fereral do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, fagnerfranca@ufrn.edu.br

RESUMO: A crescente produção de pedras ornamentais no Brasil também traz consigo uma maior
geração de resíduos em forma de lama, comumente conhecida como lama abrasiva. Este resíduo é
produzido desta forma pelo fato de que, durante o procedimento de corte, existe a introdução de água
para o resfriamento do disco diamantado, logo sua produção depende diretamente do porte da
empresa. Entretanto o destino que esse rejeito é conduzido nem sempre é o mais adequado, possuindo,
em termos gerais, duas destinações comuns: rede de esgotos, causando assoreamento de rios, ou
quando possuem algum tratamento são depositados em tanques de decantação, levando um longo
tempo até que a parte sólida do rejeito decante para que a água possa ser reutilizada no sistema. O
presente artigo tem como objetivo principal simular a operação realizada no campo em escala
reduzida e avaliar a utilização do geotêxtil para acelerar, com eficiência, o dessecamento da lama
abrasiva, buscando aumentar a produção das empresas. Para esta pesquisa, foi utilizado cinco ciclos
de enchimentos sucessivos em um protótipo retangular de polipropileno revestido com geotêxtil. A
lama abrasiva foi dessecada com eficiência, sem adição de floculante, chegando a reduzir a
quantidade de sólidos totais de 50.000 mg/L para 622 mg/L e a vazão chegou a baixos valores após
o terceiro minuto do ensaio. Por fim, foi possível concluir com base nos resultados apresentados neste
artigo, que o geotêxtil em estudo atendeu significativamente o dessecamento da lama abrasiva com
eficiência e rapidez.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito, Dessecamento, Geotêxtil, Lama abrasiva.

ABSTRACT: The intense production of ornamental stones in Brazil also resulted in a greater
generation of mud-shaped waste, commonly known as abrasive sludge. This residue is produced in
this way by the fact that during the cutting procedure there is the introduction of water for the diamond
wheel disc, so its production depends directly on the size of the company. However, the destination
to which this waste is directed is not always the most adequate, having, in general terms, two common
destinations: sewage network, causing silting of rivers, or when they have some treatment are
deposited in decantation tanks, taking a long time until the solid part of the tailing waste decant, so
that the water can be reused in the system. Therefore, the main objective of this article is to simulate
the field operation in a small scale, and to evaluate the use of the geotextile to efficiently accelerate
the dewatering of the abrasive sludge in order to increase the production of the companies. For this
research, it was used five cycles of successive fillers of a rectangular polypropylene prototype coated

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

97
with geotextile. The abrasive sludge was dewatered with good efficiency, without addiction of
deflocculant, reducing the amount of total solids from 50.000 mg/L to 622 mg/L and the flow reached
low values after the third minute of the test. Finally, it was possible to conclude, based on the results
presented in this article, that the geotextile under study served significantly in the desiccation of the
abrasive sludge with efficiency and speed.

KEY WORDS: Tailings, Dewatering, Geotextile, Slurry.

1 INTRODUÇÃO em vista que a maioria dos rejeitos são lançados


diretamente em recursos hídricos causando
A produção de rochas ornamentais vem em uma assim o assoreamento do mesmo ou então
crescente desde o ano de 1920, passando de uma depositado em tanques para a decantação com a
produção de 1,8 Mt/ano para 145 Mt/ano em reutilização da água. Contudo, este último é um
2016, mantendo esta crescente. Existe a procedimento lento devido a granulometria do
expectativa de que a produção de rochas rejeito, interferindo na produção das empresas
ornamentais chegue na casa dos 150Mt/ano em (Silva & Holanda, 2011).
2020 (Abirochas, 2018). A China é a maior Com base nos estudos anteriores, em
exportadora mundial de rochas ornamentais, o materiais similares ao rejeito em estudo, os
Brasil ocupa a sexta posição neste ranking. geotêxteis tem se mostrado uma alternativa
A maior parte da produção brasileira vem do bastante eficiente para a filtração de rejeito de
Espírito Santo, sendo o Rio Grande do Norte o materiais finos, seja com ou sem a ajuda de
quinto maior produtor Brasileiro e o terceiro defloculantes (Huang et Al. 2012; Maurer et al.
maior do Nordeste no ano de 2017 (Abirochas, 2012; Newman et al. 2003; Palmeira et al. 2010).
2018). A produção de rochas ornamentais no O presente trabalho tem o objetivo de avaliar, em
Estado do Rio Grande do Norte intensificou-se pequenas proporções, o uso do geotêxtil para
nos anos 90 com a extração de granitos, acelerar o dessecamento das lamas abrasivas nas
mármores e quartzitos para fins de revestimento, marmorarias, tendo em vista que o uso desse
na sua maioria (CPRM, 2017). metodo de dessecamento não é aplicado para
Os empreendimentos que trabalham com essa finalidade. No estudo seram observandos a
rochas ornamentais no Brasil são formados, em vazão escoada, gramatura do geotêxtil e sólidos
sua maioria, por marmorarias (cerca de 61%), as totais, com a finalidade de avaliar sua viabilidade
demais são formadas por empresas de prática.
beneficiamento de lavra, depósitos de chapas,
entre outros (Reis & Souza, 2003).
Durante o procedimento de corte das pedras 2 MATERIAS E MÉTODOS
nas marmorarias ocorre a geração de rejeito
obtido em forma de lama, conhecido como lama As amostras de lama abrasiva foram coletadas
abrasiva, que é produzida devido a água utilizada em uma empresa responsável pelo corte e
para resfriar o disco diamantado usado durante o confecção de peças ornamentais situado na
procedimento de corte e que carregam consigo cidade de Pendências-RN. Esta empresa utiliza o
partículas de minerais presente na pedra. A método de decantação para o tratamento da lama
geração deste resíduo no Brasil é estimada em abrasiva com o desprezo do rejeito depositado no
240.000 toneladas/ano, conforme Gonçalves fundo dos tanques e a água é reutilizada no
(2002). processo, porém para a nossa coleta foi utilizada
A lama abrasiva é classificada conforme a água potável para evitar qualquer interferência
NBR 10004 (2004), como resíduo Classe IIB – na granulometria do rejeito.
inerte e não apresenta toxicidade. Entretanto, o
seu despejo de forma inadequada e a falta de 2.1 Coleta da amostra
reaproveitamento dos recursos ainda é um
problema enfrentado pelas marmorarias, tendo Foram escolhidas quatro tipo de rochas com

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

98
graus de dureza distintas para que fosse realizado Tabira apresentaram uma maior porcentagem de
o procedimento de corte. finos quando comparadas as demais, mostrando
As rochas escolhidas são conhecidas que a desegragação das rochas mais frágeis é
popularmente como: Marrom Absoluto, maior do que as mais resistêntes, sendo este um
Mármore Branco, Ocre Tabira e o Verde fator que altera a granulometria do rejeito.
Ubatuba. Sendo a Marrom Absoluto e a Ocre O rejeito não possuia Limites de Atterberg, ou
Tabira as rochas mais duras comparada às seja, sem limite de liquidez e plasticidade,
demais. Em seguida, as chapas das rochas foram conforme a NBR 6459 (2016) e NBR 7180
postas na mesa de corte e com auxílio de água (2016), respectivamente.
potável foi procedido o corte, sendo coletado 20
litros de rejeito para cada tipo específico de
rocha.
As amostras escorriam através da esteira de
corte e eram conduzidas por uma calha até o
recipiente de coleta, como ilustrado na Figura 1
e na Figura 2.

Gráfico 1. Curva granulométrica das amostras de rejeito


coletadas.

2.2 Desenvolvimento do protótipo

Para realização dos testes, inicialmente foi


Figura 1. Mesa de corte da rocha ornamental.
desenvolvido um protótipo, sendo utilizado uma
caixa de polipropileno com dimensões: 32 cm de
largura, 33 cm de altura e 49 cm de
comprimento.
A caixa foi perfurada e foi inserido um ralo
com 40 mm de diâmetro, seguido por uma
tubulação de Policloreto de Vinila (PVC) com 20
mm de diâmentro. Um registro de gaveta foi
encaixado no final da tubulação com a finalidade
de ter um controle maior da vazão escoada.A
Figura 3 mostra como ficou o protótipo após as
alterações.

Figura 2. Recipiente de coleta.

2.2. Caracterização da amostra

Em laboratório a lama foi posta em estufa por 24


horas, para que as amostras fossem secas e assim
ser realizado o ensaio de granulometria com
sedimentação, conforme recomenda a NBR 7181
(2017). Obtendo as curvas granulomé-tricas
apresentadas no Gráfico 1.
Como é observado na Figura 1, a curva Figura 3. Vista frontal e lateral do Protótipo em escala
granulometrica do Marrom Absoluto e do Ocre reduzida.

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99
A inclinação da caixa foi fixada em 2% para No Gráfico 2 observa-se que o material
que o rejeito, assim que filtrado, pudesse escoar contido nos tanques de decantação, apesar de ser
de uma melhor maneira. de diversas pedras ornamentais atendeu
No protótipo foi disposta uma camada satisfatoriamente os limites superior (curva
drenante de 2 cm de espessura formada por brita, granulométrica marrom) e inferior (curva
em seguida foi colocado o geotêxtil não tecido granulométrica verde) da faixa granulometrica
feito em poliéster (200 g/m²) de forma que fique estudada. Logo, o rejeito utilizado nesta pesquisa
rente com as paredes do protótipo, assim como foi o que se encontrava depositado nos tanques
ilustrado na Figura 4. de decantação da marmoraria de Pendências-RN.

2.4 Procedimento de ensaio

Foram preparadas cinco amostras com uma


concentração de 50 g/L, este valor foi baseado
nos estudos de Modolo et al., (2017) que
encontrou uma concentração maxima de rejeito
proveniente do corte de pedras ornamentais
variando de 68,87 g/L até 40,40 g/L.
A adoção desta concentração se deu devido a
variabilidade existente nas lama abasivas, pois a
proporção de rejeito e água depende de diversos
Figura 4. Esquema do protótipo pronto para o recebimento fatores que interferem diretamente na
do rejeito. representatividade.
Foram realizados cinco enchimentos
2.3 Rejeito utilizado sucessivos, buscando simular a operação
realizada nas empresas de corte de rochas
Nas amostras coletadas para a caracterização o ornamentais, registrando a vazão e os sólidos
volume de rejeito foi insuficiente para a totais nos três minutos iniciais do escoamento.
realização da pesquisa. Logo foram estudadas Ao final do quinto echimento o rejeito retido
alternativas para que se obtivesse um volume de foi desprezado e foram retiradas amostras de 100
rejeito com a granulometria que estivesse em cm² do geotêxtil, sendo três amostras na frente e
conformidade com a obtida na Figura 1. Por atrás da caixa formada por geotêxtil, cinco das
meio disto, foram caracterizados dois tipos de laterais e quinze amostras do fundo. Essas
materiais, a areia da praia de Ponta Negra-RN amostras foram secas ao ar livre e pesadas até
triturada e o rejeito contido nos tanques de que sua massa permanecesse constante.
decantação (rejeito de diversas pedras Esta propriedade é bastante relevante para o
ornamentais). As curvas granulométricas da estudo da transmissividade em geotêxteis não
areia triturada e do rejeito nos tanques de tecido agulhados de poliéster conforme Gardoni
decantação estão evidenciadas no Gráfico 2. & Palmeira (2000).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi preparado a amostra da lama abrasiva na


concentração mencionada no item 2.4 e foi
despejado todo o rejeito no protótipo, essa etapa
foi repetida cinco vezes resultando em cinco
enchimentos.
Gráfico 2. Curva granulometrica do matérial utlizado no
experimento.
3.1 Vazão total

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

100
colocando o volume de água escoado na estufa e
Foram realizadas 3 leituras de vazões para cada em seguida, foi determinada a massa de rejeito
echimento, resultando em uma distribuição de total pasante pelo protótipo, obtendo os valores
vazão que pode ser observado na Tabela 1. registrados na Tabela 2.

Tabela 1. Vazão escoada no protótipo Tabela 2. Sólidos totais após a passagem pelo geotextil
Vazão (mL/s) Sólidos totais (mg/L)
Tempo de dessecamento (min.) 1 2 3 Tempo de dessecamento (min.) 1 2 3
1º Enchimento 217,47 22,67 5,46 1º Enchimento 1391 1029 531
2º Enchimento 179,51 21,61 3,55 2º Enchimento 1497 1815 276
3º Enchimento 101,22 34,47 16,86 3º Enchimento 1003 790 488
4º Enchimento 112,65 33,01 17,08 4º Enchimento 1147 912 359
5º Enchimento 94,16 27,47 18,68 5º Enchimento 2787 602 622

Como pode ser observado na Tabela 1, a Como exposto na Tabela 2, os sólitos totais
vazão vai decaindo conforme passa o tempo de seguiram uma tendência de redução brusca com
escoamento, como esperado. Outro fator que se o passar do tempo de escoamento, chegando a
deve salientar é que a vazão do primeiro minuto obter o menor valor no 4º enchimento aos 3
dimiui enquanto os demais minutos tendem a minutos de escoamento.
aumentar de um enchimento para o outro, isso Os valores dos sólidos totais foram
pode ser atribuido ao fato de que o rejeito signitificamente baixos quando comparados a
acumulado no fundo do recipiente, passa a estudos similares em que não foi utilizado
fornecer à água uma maior perda de carga com floculante para o dessecamento de finos (Camera
os sucessivos enchimentos, amortecendo o et al.,2016; Junqueira e Machado, 2016) . Esta
volume inicialmente escoado e distribuindo o redução de sólidos totais pode ser um indicador
volume ao longo do tempo. de que o próprio sistema passou a auxiliar na
Isso implicaria dizer que chegará um ponto filtragem da lama, logo que seja formado o filter
em que a perda de carga será tão grande que o cake, camada de pré filtro formado pelo rejeito,
geossintético necessite ser trocado, pois o como observado em por Gardoni (2000).
dessecamento não será suficientemente A Figura 6 ilustra como visualmente a
satisfatorio devido a baixa vazão. concentração de sólidos presentes no volume de
A Figura 5 mostra a espessura de rejeito que água é pequena, sendo os beckers 1, 2 e 3
ficou retido pelo geotextil, evidênciando a representantes do 1º, 2º e 3º minutos do
dificuldade da partícula para percolar através do escoamento durante o 5º enchimento,
rejeito ao final do quinto enchimento. respectivamente.

Figura 6. Água coletada no 5º enchimento.


Figura 5. Espessura do rejeito retido pelo geotextil.

3.3 Gramatura do geotêxtil


3.2 Sólidos totais
Ao final do experimento, todo o rejeito contido
Foi também aferido o teor de sólidos totais,
na bolsa de geotêxtil foi desprezado, sendo feita

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

101
a gramatura da caixa formada por geotêxtil que carreamento das partículas de rejeito até que a
estava contida no protótipo, esse parâmetro é mesma estabilize dentro das constrições. Com o
fundamental para entender como se deu o aumento do teor de sólidos no geotêxtil, menor
escoamento do rejeito ao longo do seu será a vazão escoada, tendo a gramatura relação
dessecamento. direta com a vazão escoada e com a vida útil do
Para cada vértice do geotêxtil, mostrado na geotêxtil para essa finalidade.
Figura 7, foi realizada a gramatura e feita uma
média com os valores obtidos para cada amostra, 4 CONCLUSÃO
registrados na Tabela 3.
Este artigo buscou mostrar a eficiência do uso do
geotêxtil não tecido para o desaguamento do
rejeito proviniente do corte de rochas
ornamentais, buscando a implementação desta
alternativa na prática, facilitando as operações
realizadas nas empresas que trabalham com o
corte de rochas ornamentais. Tendo em vista os
otimos resultados obtidos nesse protótipo
estudado.
O uso do geotêxtil para o dessecamento do
rejeito proveniente do corte de pedras
ornamentais se mostrou uma eficiente alternativa
pois conseguiu reter grande parte das partículas
de finos contidos na lama abrasiva, passando de
Figura 7. Vista superior da caixa de Polipropileno relativo uma concentração de 50.000 mg/L para uma
a posição dos vértices em estudo. concentração na casa dos milhares de miligramas
por litro logo no primeiro minuto do escoamento,
Tabela 3. Valores da gramatura após o 5º enchimento.
chegando a 622 mg/L no terceiro minuto do
Gramatura
quinto enchimento. E com relação ao tempo de
Média Desv. Ceof. De
Posição dessecamento, foi observado que apartir dos 3
(g/m²) Padrão variação
Frente 831,00 32,00 3,85% minutos de ensaio a vazão chegou a ser 18 mL/s,
Atrás 757,67 59,50 7,85% sendo está uma vazão muito pequena, podendo
Lateral ser considerado o fim do escoamento.
912,60 82,45 9,03%
Esquerda Foi observado que para essa configuração
Lateral do protótipo a gramatura foi maior no fundo do
915,00 47,17 5,16%
Direita geotêxtil do que nos outros lados, mostrando a
Fundo 1237,60 229,21 18,52%
influência do escoamento na colmatação do
geotêxtil.
Ao analisar os dados da Tabela 3 observamos Devido aos valores satisfatórios de baixos
que houve um aumento da gramatura do sólidos totais encotrados no protótipo em estudo,
geotêxtil devido ao fato do líquido carrear pode-se implicar que o geotêxtil não tecido possa
algumas partículas atravéz do geossintético, atender a necessidade de realizar o dessecamento
ficando estas depositadas nas constrições do do rejeito proveniente do corte de pedras
material geotêxtil assim como foi observado por ornamentais com bastante eficiência e rapidez,
Gardoni (2000). atendendo assim a demanda de qualquer empresa
O alto valor de gramatura observado no fundo que busque o reaproveitamento da água.
do geotêxtil se dá devido ao caminho
preferêncial ao qual o fluido tende a percolar,
tendo em vista que nessa região possuia o AGRADECIMENTOS
colchão drenante de brita, diferentemente dos
demais vértices que estavam rentes as paredes da Gostaria de agradecer a Universidade Federal do
caixa. Assim, quanto maior o fluxo, maior é o Rio Grande do Norte por todo apoio á pesquisa,

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

102
como também a todos os meus companheiros geotextile filter compatibility in mining applications.
que tornaram a mesma concreta. Geotextiles And Geomembranes, abr. Elsevier BV.

Reis, Renato C.; Sousa, Wilson Trigueiro. (2003) Métodos


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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Impacto da Barreira Capilar sobre a Capacidade Filtro-Drenante do


Sistema Solo-Geossintético
Livia Luiza de Souza Avancini
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, liviaavancini@yahoo.com

Delma de Mattos Vidal


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo discutir as características hidráulicas do geotêxtil que
determinam a capacidade filtro-drenante do sistema solo-geossintético e compreender como estas
características contribuem para evitar o impedimento do fluxo na interface solo-geotêxtil. Para isso,
são descritos e discutidos os principais critérios e fatores que devem ser levados em consideração na
escolha de geotêxteis como elementos filtro-drenantes. O artigo apresenta ainda uma discussão sobre
o comportamento e a afinidade com a água de diferentes produtos e apresenta o fenômeno de
formação de barreira capilar, que leva ao acúmulo de água sobre o geotêxtil, situação que pode levar
à instabilidade em obras geotécnicas. Verificou-se que a estrutura porosa dos geotêxteis é de grande
complexidade e que, assim como para os solos, uma série de fatores, que envolvem a relação entre as
características do solo e as propriedades hidráulicas do geotêxtil, e ainda alguns fenômenos de escala
microscópica, como os efeitos da capilaridade, devem ser levados em consideração para garantir o
funcionamento adequado do sistema filtro-drenante.

PALAVRAS-CHAVE: Sistemas Filtro-drenantes, Barreira Capilar, Hidrofobia, Porosidade;


Geotêxtil.

ABSTRACT: The purpose of the present article is to discuss the hydraulic characteristics of the
geotextile that determine the filter-drainage capacity of the soil-geosynthetic system and to
understand how these characteristics contribute to avoid impedance of the flow in the soil-geotextile
interface. In this regard, the main criteria and factors that must be considered in the selection of
geotextile products as filter-drainage elements are described and discussed. The article also presents
a discussion about the behavior and affinity with water of different products and presents the
phenomenon of capillary barrier, which leads to the accumulation of water over the geotextile, a
situation that can lead to instability in geotechnical structures. The porous structure of the geotextiles,
just as soils, is of great complexity and a series of factors involving the relation between the soil
characteristics and the hydraulic properties of the geotextile, as well as some microscopic scale
phenomena, such as the effects of capillarity, must be considered to ensure proper operation of the
filter-drain system.

KEY WORDS: Geotextile Filter-drainage Systems, Capillary Barrier, Hydrophobia, Porosity,


Geotextile.

características hidráulicas do geotêxtil e é


1 INTRODUÇÃO fundamental para garantir a estabilidade em
obras como aterros e taludes nas quais o material
Em obras geotécnicas, elementos em geotêxtil é utilizado.
são amplamente empregados nas funções de A infiltração de água devido à variação de
filtração, drenagem, separação e reforço. A condições climáticas, como períodos de chuva
capacidade filtro-drenante do sistema solo- intensa/prolongada ou solos úmidos em período
geossintético está diretamente ligada às de degelo, causa ciclos de saturação/secagem do

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solo. Quando a resistência do geotêxtil à Este trabalho visa discutir as características
penetração de água implica no acúmulo de água hidráulicas do geotêxtil que determinam a
na interface solo-geotêxtil, isto pode levar à capacidade filtro-drenante do sistema solo-
condição de fluxo paralelo ao talude e causar um geossintético e compreender como estas
sério problema de instabilidade na estrutura características contribuem para evitar o
geotécnica. Assim, o mau funcionamento de impedimento do fluxo na interface solo-
sistemas de drenagem em geotêxtil pode geotêxtil.
comprometer a estabilidade de estruturas
geotécnicas. A avaliação do comportamento
filtro-drenante desses materiais é complexa e 2 CAPACIDADE FILTRO-DRENANTE DE
envolve diferentes fatores. GEOTÊXTEIS
Geralmente, solos não saturados apresentam
elevada sucção mátrica durante períodos de seca, Para que um sistema filtro-drenante tenha um
no entanto, em períodos de chuva, a infiltração desempenho satisfatório, devem ser atendidos os
da água em taludes diminui a sucção mátrica, e critérios de retenção, permeabilidade, anti-
quando ocorre o mal funcionamento do sistema colmatação, sobrevivência e durabilidade
de drenagem, pode ocorrer a formação de uma (Palmeira et al., 2005).
zona saturada com poro-pressões positivas. A O critério de retenção tem por objetivo
pressão negativa nos poros aumenta a resistência garantir que o geotêxtil selecionado irá reter uma
ao cisalhamento do solo, contribuindo para a quantidade de partículas de solo suficiente para
estabilidade do talude. Uma vez que a sucção a formação de um pré-filtro de solo,
começa a diminuir, o solo perde resistência, o desenvolvendo uma estrutua de solo estável e
que em alguns casos poderia acarretar em um capaz de previnir futuras migrações de partículas
mecanismo de falha. sólidas. O critério de permeabilidade visa
O uso de geotêxteis nas funções de filtração e garantir que o geotêxtil possua permeabilidade
drenagem em substituição aos solos granulares superior à do solo a ser retido, permitindo o fluxo
tem se mostrado vantajoso em diversas livre da água através e ao longo de seu plano. O
aplicações geotécnicas como estradas, cobertura critério de resistência à colmatação é fortemente
de aterros, taludes e estruturas de contenção relacionado ao critério de permeabilidade e tem
devido à relativa facilidade de instalação e ao por objetivo evitar a colmatação excessiva do
ganho de espaço. Em grande parte dos casos, geotêxtil que poderia levar a uma condição de
esses elementos são colocados acima do lençol cegamento (impedimento ou redução
freático, em condições não saturadas, ou seja, o significativa do fluxo de água). O critério de
solo e os poros do geotêxtil são preenchidos com sobrevivência visa garantir que o produto não
ar e água. A incorporação de geotêxteis nos solos será danificado durante a instalação e o critério
influencia significativamente o movimento da de durabilidade garante que sua vida útil seja
água, já que a maior parte dos geotêxteis é adequada ao tempo de serviço requerido na obra.
hidrofóbica. Palmeira et al. (2005) discutem os principais
Isto implica que a interface hidrofóbia em critérios propostos na literatura e ressaltam que
geotêxtil apresenta uma resistência à penetração dentre os fatores complicadores para o projeto e
da água, que pode variar de poucos milímetros a desempenho, tanto de filtros granulares quanto
alguns centímetros em função das características sintéticos, estão algumas características que
do produto. Assim, mesmo com a utilização de podem ser apresentadas por solos residuais,
um sistema filtro-drenante em geotêxtil, é como dispersividade e presença de grumos de
preciso considerar a redistribuição do perfil de partículas, sendo necessária atenção especial
umidade, pois quando este fator não é quando o solo a ser filtrado é internamente
considerado em projeto, podem ocorrer instável.
problemas de instabilidade (Boauzza et al., O Comité Francês de Geossintéticos, em seu
2006), principalmente no caso de revestimentos fascículo sobre sistemas filtro-drenantes (CFG,
em taludes nos quais o surgimento de fluxo 2014) sugere também que a resistência à
paralelo ao talude não foi considerado. penetração de água seja avaliada, indicando um

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106
limite de no máximo 5 mm para que o geotêxtil A condutividade hidráulica de solos sob
possa ser aceito como elemento de filtro condições saturadas é consideravelmente maior
(disponível em www.cfg.asso.fr). Cabe lembrar do que na condição não saturada. No entanto,
que os geotêxteis não tecidos de filamentos solos granulares, que sob condições saturadas
contínuos em poliéster apresentam apresentam condutividade hidráulica bem
frequentemente resultados superiores aos 20 superior àquela dos solos finos, sob condições
mm, e ainda assim são considerados como não saturadas apresentam elevada sucção e baixa
elementos de filtro eficientes há mais de 40 anos. condutividade hidráulica não saturada. Ou seja,
Na realidade, a maior parte dos geotexteis não sob elevada sucção, a condutividade hidráulica
tecidos apresenta uma resistência à penetração de areias pode ser inferior à de argilas e siltes.
maior do que 5 mm, quando totalmente limpos e Isto pode ser observado na Figura 3.1, que
compostos apenas por filamentos/fios mostra um resultado típico obtido a partir do
hidrófobos. Vidal et al. (2014) realizaram ensaio para a determinação da curva
ensaios para verificar a resistência à penetração característica de uma areia fina e um silte
de água (EN 13562, 2000) de geotêxteis limpos argiloso.
com aproximadamente a mesma espessura (2,8
mm) e obtiveram resultados de 22 mm para um
geotextil não tecido de filamentos contínuos em
poliéster, e de 6 mm para um geotêxtil de fibras
cortadas em polipropileno.
Na prática, observa-se que muitas vezes,
sequer esses critérios básicos são verificados na
escolha do produto a ser utilizado como
elemento filtro-drenante, e não é rara a
especificação do produto pela disponibilidade no
mercado (marca), sendo por vezes ignoradas as
características físicas e hidráulicas do geotêxtil e
sua interação como o solo na interface, ainda que
a obtenção desses parâmetros possa ser feita por
meio de ensaios simples e de baixo custo
(Palmeira et al., 2005).
Além do correto dimensionamento do sistema
filtro-drenante de acordo com os critérios
mencionados, é preciso levar em consideração
que quando dois materiais porosos com
diferentes popriedades hidráulicas encontram-se
em contato, pode ocorrer o fenômeno de barreira
capilar, uma situação que restringe a entrada da
água através dos poros do geotêxtil, levando ao
mau funcionamento do sistem filtro-drenante até
que a barreira capilar seja rompida. Esse Figura 3.1 – Relação entre a curva característica e a função
da permeabilidade de uma areia e de um silte argiloso. a)
fenômeno envolve uma série de fatores que
Curva característica dos solos. b) Função da
precisam ser compreendidos. permeabilidade dos solos (Adaptado de Fredlund et al.,
2012).

3 BARREIRA CAPILAR A partir da curva característica (a), foi estimada


a curva do coeficiente de permeabilidade dos
A barreira capilar é formada sob condições não dois solos ensaiados (b) utilizando a equação
saturadas, quando dois materiais porosos, com empírica de Gardner. Os autores observam que à
diferentes condutividades hidráulicas, medida que a sucção mátrica aumenta (ua – uw,
encontram-se em contato. onde ua é a pressão poro-ar e uw é a pressão poro-

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água) as curvas de permeabilidade da areia fina na Figura 3.2 representa a formação da barreira
e do silte argiloso invertem-se, de modo que em capilar em um sistema solo-geossintético.
níveis maiores de sucção, a areia apresenta
permeabilidade consideravelmente menor do
que o silte argiloso (Fredlund et al., 2012).
Assim, em situações em que uma camada de
solo fino não saturado encontra-se sobreposta à
uma camada de solo mais grosso não saturado, a
barreira capilar se forma, e a camada de solo
mais fino passa a reter água por capilaridade,
enquanto a camada de solo mais grosso passa a
impedir o fluxo de água entre seus poros devido
à reduzida condutividade hidráulica sob
determinados valores de sucção.
Esse fenômeno pode ser vantajoso em
algumas aplicações geotécnicas em que o
controle do fluxo de água é importante, no
entanto em algumas situações, como quando o
geotêxtil deveria cumprir a função de filtração
ou filtração/drenagem para evitar o aumento da Figura 3.2 – Esquema mostrando o efeito da barreira
poro-pressão, esse fenômeno precisa ser capilar na interface solo-geossintético (adaptado de
cautelosamente levado em consideração no Mccartney et al., 2008)
projeto.
Alguns tipos de geossintéticos, como por O solo fino possui poros relativamente pequenos
exemplo geotêxteis não tecidos, apresentam um quando comparado ao geotêxtil, que
comportamento similar ao dos solos grossos, similarmente a um solo granular, possui poros
devido à sua estrutura porosa. Estudos anteriores relativamente grandes. É preciso que o menisco
mostram que as curvas de retenção de água de ar-água na interface entre os materiais de poros
alguns tipos de geotêxtil não tecido têm formato maiores e menores supere a mudança no raio dos
similar às de solos grosseiros, como areias poros, de r1 para r2 para forçar o ar a sair do poro
grossas uniformes ou pedregulhos maior.
(Chinkulkijniwat et al., 2017; Bouazza et al., Como os poros do solo fino apresentam
2013; Bathurst et al., 2009; Iryo & Rowe, 2004). dimensões menores (r1), os valores de sucção em
Iryo & Rowe (2003) realizaram um estudo seus poros são comparativamente altos, e a água
para verificar sob quais condições o geotêxtil presente na camada de solo fino somente se
atua como um meio resistente ao fluxo. Os desloca para os poros maiores do geotêxtil (r2)
autores concluíram que as equações de Van quando o valor de sucção nos poros do solo fino
Genuchten (1980), originalmente desenvolvidas se reduzir, equivalendo-se ao valor da sucção
para solos não saturados, também são válidas encontrada nos poros do geotêxtil. Isso significa
para as características hidráulicas dos geotêxteis que, a energia da água presente nos poros deve
não saturados. Observou-se também que o ser suficiente para adentrar os poros maiores da
comportamento do geotêxtil pode mudar devido camada de geotêxtil e enquanto isso não
a uma pequena alteração na sucção, passando de acontece, a água passa a acumular-se até que o
material permeável para material de baixíssima solo alcance um valor crítico de sucção próximo
permeabilidade. de zero, ou seja, até que ocorra a saturação e a
Os poros relativamente grandes dos água possa fluir dos poros menores do solo para
geotêxteis não tecidos podem produzir barreiras os poros maiores do geotêxtil. Portanto, quando
capilares com capacidade de retenção de água ocorre o fenômeno de barreira capilar em um
consideravelmente superiores àquelas formadas sistema solo-geotêxtil, uma quantidade
apenas com solos de diferentes granulometrias significativa de água se acumula acima do
(Zornberg et al., 2010). O esquema apresentado geotêxtil, formando uma zona saturada, até que

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a condição crítica seja atingida e a barreira seja compõe as fibras do geotêxtil (Mccartney et al.;
quebrada (Bouazza et al., 2006). 2008). O poliéster (PET) e o polipropileno são os
Após a quebra da barreira, o perfil de principais polímeros utilizados em geotêxteis
desenvolvimento da pressão nos poros depende não tecidos e são materiais hidrofóbicos (Vidal
da taxa de infiltração, q, e das condutividades et al., 2014).
hidráulicas saturadas do solo, ksat solo, e do Além das diferenças inerentes ao próprio
geotêxtil, ksat gtx. No caso do acúmulo de água, polímero e ao processo de fabricação, as
em que ksat gtx < ksat solo, tanto o solo quanto o superfícies das fibras e filamentos podem ser
geotêxtil ficam próximos do estado de saturação cobertas por aditivos como óleos lubrificantes,
após a quebra da barreira, e a pressão positiva da materiais tensoativos e antiestáticos durante o
água nos poros se mantém já que a condutividade processo de fabricação, que podem alterar o
hidráulica do geotêxtil é menor do que a do solo. ângulo de contato e conferir características
No entanto, se ksat gtx > ksat solo, ou seja, o geotêxtil hidrofóbicas ou hidrofílicas ao material. Henry e
é mais permeável do que o solo sob condições Patton (1998) mediram o ângulo de contato da
saturadas, a pressão positiva da água nos poros água nas fibras de dois geotêxteis. A medida foi
pode se dissipar após a quebra da barreira. tomada em corpos de prova antes e após serem
Caso a taxa de infiltração seja menor do que lavados para remover resíduos de aditivos
a condutividade hidráulica do solo abaixo do utilizados durante o processo de fabricação. Os
geotêxtil a água não se acumula, e a pressão dos autores observaram que a lavagem superficial
poros na camada de solo começa a aumentar mas causou redução significativa nos ângulos de
não se torna positiva, já que o fluxo de entrada é contato das fibras de apenas um dos corpos de
menor do que o fluxo de saída (q< ksat solo). prova ensaiados. O mesmo estudo revelou
Assim, a condutividade hidráulica do geotêxtil também que o ângulo de contato medido é maior
começa a diminuir gradativamente, durante a fase de umedecimento do que durante
apresentando condutividade hidráulica próxima a fase de secagem, justificando o comportamento
do seu valor quando o geotêxtil se encontra histerético dos geotêxteis durante ciclos de
saturado na parte superior e um valor menor na saturação/secagem.
superfície inferior, de modo que mesmo com a
dissipação da pressão na camada acima do 4.2 Inclinação do Talude e Taxa de Infiltração
geotêxtil, uma pequena e descontínua pressão
permanece na interface solo-geotêxtil (Iryo & Iryo & Rowe (2005) realizaram diversas análises
Rowe, 2004). numéricas da infiltração da água em sistemas em
camadas solo sobre geocomposto de drenagem,
utilizando o método de elementos finitos. Eles
4 FATORES DE INFLUÊNCIA variaram o tipo de solo, a inclinação do talude e
as taxas de infiltração, verificando sob quais
4.1 Características dos Materiais Porosos em condições o geossintético funciona como
Contato elemento drenante e sob quais condições o
geocomposto atua como barreira capilar. A
configuração básica do sistema solo-
De acordo com Vidal et al. (2014), os fenômenos
geocomposto é mostrada na Figura 4.1.
que envolvem a capilaridade ocorrem em função
de diversos fatores e não somente se devem à
variação do tamanho dos poros como também
estão relacionados a parâmetros como: o ângulo
de contato entre as fibras do geotêxtil e o fluido;
as características hidrofílicas ou hidrofóbicas do
geossintético; e a relação entre a porosidade e a
granulometria do solo e as propriedades
hidráulicas do geossintético. Figura 4.1 – Configuração do sistema solo-geocomposto
Assim, o movimento da água do solo para o inclinado analisado (Adaptado de Iryo & Rowe, 2005)
geotêxtil é afetado pelo tipo de polímero que

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Iryo & Rowe (2005) verificaram que o geotêxtil Em situações em que o elemento
acima da georrede começa a atuar como dreno geossintético encontra-se inclinado, pode
quando o solo imediatamente acima dele ocorrer o desvio lateral da água, que leva a um
encontra-se próximo à saturação e a sucção nos maior teor de umidade na parte inferior do
poros do solo se aproxima de zero. Para evitar talude, causando a diminuição da resistência ao
que ocorra acúmulo de água sobre o cisalhamento que pode levar à deformação ou à
geossintético, foi proposto que a capacidade do ruptura do solo (Zornberg et al., 2010).
geotêxtil de transmitir o fluxo no plano seja Iryo & Rowe (2005) ressaltam que o solo na
maior do que a infiltração potencial, conforme a camada acima do geossintético pode permanecer
Equação 4.1. com alto teor de umidade por um longo período,
mesmo após o término do evento de infiltração,
𝑞𝑙
𝑇𝑔𝑒𝑜𝑡ê𝑥𝑡𝑖𝑙 > (4.1) enfraquecendo o solo nessa região e portanto, as
𝛿
investigações em relação à estabilidade devem
Onde, 𝑇𝑔𝑒𝑜𝑡ê𝑥𝑡𝑖𝑙 é a transmissividade do levar em consideração o alto teor de umidade.
geotêxtil, 𝑞 é a taxa de infiltração, 𝑙 é o Ferreira et al. (2015) mostraram que a
comprimento do geotêxtil, e 𝛿 é a inclinação do resistência ao cisalhamento do solo varia
sistema solo-geossintético. significativamente com o aumento do teor de
Observou-se também que o geocomposto umidade. Por meio de procedimento
funciona como barreira capilar quando as taxas experimental, concluiu-se que, para o solo
de infiltração são menores e os taludes mais ensaiado, foi possível perceber redução na
inclinados, e que o ar enclausurado nos poros do resistência ao cisalhamento da interface solo-
geotêxtil acima da georrede diminui sua geossintético à medida que o teor de umidade
capacidade de desvio lateral do fluxo, aumenta.
diminuindo a capacidade do geocomposto de Na literatura existem relatos de rupturas de
funcionar como uma barreira capilar (Iryo & taludes naturais e de estruturas em solo reforçado
Rowe, 2005). relacionadas ao fenômeno de barreira capilar
(Iryo & Rowe, 2005; Garcia et al., 2007;
Mancarella et al., 2012).
5 IMPACTO DA BARREIRA CAPILAR Diversos autores demostraram que a
SOBRE O ELEMENTO FILTRO DRENANTE estrutura porosa dos geotêxteis é de grande
EM GEOTÊXTIL complexidade e que, assim como para os solos,
essa complexidade e alguns fenômeno de escala
O aumento na capacidade de retenção de água da microscópica, como os efeitos da capilaridade
camada de solo pode ser útil em algumas não devem ser desconsiderados (Palmeira et al.,
situações, como quando é desejável retardar o 1996; Palmeira & Gardoni, 2002). Assim, o
fluxo de água, permitindo que uma parcela da fluxo de água nos geotêxteis em meio saturado
água evapore sem atravessar as camadas tem sido amplamente estudado e, mais
inferiores (por evaporação, a partir da superfície recentemente, em condições não saturadas.
do solo, ou por evapotranspiração, a partir de Stormont et al. (2001) realizaram
uma camada vegetal), ou quando é necessário experimentos para verificar a transmissividade
restringir a infiltração da água de chuva em de um geotêxtil não tecido, quando submetido a
taludes. diferentes valores de sucção, tensão normal e
Por outro lado, de acordo com gradientes. Os autores verificaram que a
Chinkulkijniwat et al. (2017), o fenômeno de transmissividade era até duas vezes inferior ao
barreira capilar pode ter efeitos adversos em valor saturado, dependendo da sucção e se o
algumas aplicações geotécnicas, como por geotêxtil estava sendo molhado ou secado
exemplo em taludes ou em estruturas de solo (histerese). Foi observado também que a
reforçado, devido ao acúmulo de água que leva transmissividade independe do gradiente e que
ao aumento da pressão nos poros (diminuição da diminui com o aumento da tensão normal.
sucção), diminuindo a resistência do solo nas
proximidades do geotêxtil.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

110
6 CONCLUSÕES Bathurst, R. J., Siemens, G. & Ho, F. (2009) Experimental
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O trabalho apresenta aspectos gerais sobre o uso International, v. 16, n. 3, p. 158-172.
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filtro-drenante. Muitas vezes, os geotêxteis são (2013) Unsaturated geotechnics applied to
empregados como filtros ou drenos sem a geoenvironmental engineering problems involving
adequada verificação de alguns dos princípios geosynthetics. Engineering Geology, v. 165 p. 143-
básicos para a seleção e instalação do produto e 153.
assim, alguns requisitos mínimos e importantes CEN. (2000) BS EN 13562: Geotextiles and geotextile-
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podem ser ignorados. Apesar de na grande penetration by water (hydrostatic pressure test).
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discutidos na literatura, cuidados adicionais Influential factors affecting drainage design
devem ser tomados, especialmente em projetos considerations for mechanical stabilized earth walls
em que este elemento encontra-se inclinado e using geocomposites. Geosynthetics International, v.
submetido à ciclos de molhagem e secagem, para 24, n. 3.
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112
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Dimensionamento de Geodrenos Para Um Aterro Sobre Solo Mole,


a Partir de Coeficientes de Adensamento Obtidos em Ensaios
Oedométricos e de Piezocone
Maria Mariana Azevedo dos Santos
Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, mary.mmas@gmail.com

Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello


Universidade Federal de Pernambuco (PPGECAM), Caruaru, Brasil, isabelamcvbello@hotmail.com

Yago Ryan Pinheiro dos Santos


Universidade Federal de Pernambuco (PPGECAM), Caruaru, Brasil, yago_ryan@hotmail.com

RESUMO: Uma das técnicas mais utilizadas para acelerar o processo de adensamento em solos moles
é a aplicação de drenos verticais, cuja técnica promove a aceleração dos recalques por meio da perda
de água. Este trabalho consiste no dimensionamento de geodrenos para um aterro de solo mole em
Suape/PE, localizado no Complexo Industrial Portuário de Suape, a partir de coeficientes de
adensamento obtidos em ensaios oedométrico e de piezocone. Foram definidas as necessidades do
projeto (profundidade dos drenos, tempo e grau de adensamento), as grandezas geométricas dos
geodrenos e comparados os valores de espaçamento entre os geodrenos considerando a média dos
coeficientes de adensamento obtidos nos ensaios considerados. Também foram comparados o tempo
de adensamento na situação com e sem o uso de geodrenos. Em relação ao espaçamento dos
geodrenos considerando os dados dos dois ensaios, os resultados demonstraram valores semelhantes,
variando em torno de 2,5 m. Os elementos dimensionados mostraram-se mais eficazes quanto maior
o valor do coeficiente de permeabilidade horizontal, aumentando o espaçamento entre eles, reduzindo
consequentemente o número de drenos necessários para obtenção do resultado desejado. Quanto ao
tempo de adensamento para a obtenção do grau de adensamento pretendido, os resultados mostraram-
se vantajosos, onde, quanto mais espessa a camada de solo estudada, maior o ganho de tempo
adquirido com a sua utilização. Em relação ao coeficiente de adensamento vertical, foi observado
que, quanto menor for o seu valor, maior será a vantagem em termos de tempo de adensamento na
utilização de drenos verticais.

PALAVRAS-CHAVE: Geodrenos, Solo Mole, Adensamento, Ensaio Oedométrico, Ensaio de


Piezocone.

ABSTRACT: One of the techniques most used to accelerate the consolidation process in soft soils is
the application of vertical drains, whose technique promotes the acceleration of the settlements
through the loss of water. This work consists of the geodrains sizing for a soft soil embankment in
Suape / PE, located in the Suape Port Industrial Complex, from the consolidation coefficients
obtained in oedometric and piezocone tests. The design requirements (depth of drains, time and
degree of consolidation), geometric magnitudes of the geodrains and the spacing values between the
geodrains were defined considering the average of the consolidation coefficients obtained in the tests
considered. We also compared the time of consolidation in the situation with and without the use of
geodrains. Regarding the spacing of the geodrains considering the data of the two tests, the results
showed similar values, varying around 2.5 m. The dimensioned elements proved to be more effective
as the value of the horizontal permeability coefficient increased, increasing the spacing between them,
consequently reducing the number of drains needed to obtain the desired result. As to the time of
consolidation to obtain the desired degree of consolidation, the results were advantageous, where the

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thicker the soil layer studied, the greater the gain of time acquired with its use. In relation to the
coefficient of vertical consolidation, it was observed that the lower the value, the greater the
advantage in terms of the consolidation time in the use of vertical drains.

KEY WORDS: Geodrains, soft soil, consolidation process, oedometric test, piezocone test.

1 INTRODUÇÃO da metade da distância horizontal entre drenos


(Almeida e Marques, 2010).
A rápida expansão da cidade nas últimas décadas Ainda segundo Almeida e Marques (2010), os
tem provocado escassez de locais com melhor geodrenos consistem em uma das opções para
capacidade de suporte, resultando nas frequentes drenagem em áreas de argilas moles, cujo
construções sobre depósitos de solos moles. material é composto por um núcleo de plástico
Devido à alta compressibilidade e baixa com ranhuras em forma de canaleta, envolto em
resistência, a presença destes depósitos é motivo um filtro de geossintético não tecido de baixa
de preocupação nas obras de engenharia, gramatura. Dentre as vantagens de sua utilização
reduzindo a área de instalação de estruturas civis, estão a facilidade de instalação, que é muito
como fundações, estradas e grandes edificações superior se comparado aos drenos verticais de
(Bello, 2011). areia, a alta capacidade drenante, uniformidade e
Esse processo faz surgir a necessidade de qualidade da fabricação industrializada,
conhecer as propriedades mecânicas dos enquanto que a qualidade de drenos de areia
depósitos de argila mole, a fim de estudar depende muito dos materiais e dos sistemas
técnicas de melhoramento que permitam a construtivos utilizados.
construção nesse tipo de solo, que são evitados Neste trabalho será realizado o
devido às suas características pouco propícias dimensionamento de drenos verticais de
para fundação. geotêxtil, a partir dos coeficientes de
Camadas de argilas moles, caracterizadas pela adensamento obtidos em ensaios odométrico e
sua alta compressibilidade, devem ser de piezocone realizados em três trechos de um
cuidadosamente estudadas, e, para isso, alguns depósito de argila mole em Suape/PE estudados
procedimentos para analisar seu comportamento por Bello (2011). Para cada trecho, serão
para as condições de fluxo vertical e deformação comparados o tempo de adensamento na situação
unidimensional foram inicialmente apresentados com e sem o uso de geodrenos. Também serão
por Terzaghi e Frolich (1936), tornando-se uma comparados os valores de espaçamento obtidos
das teorias mais utilizadas na engenharia com uso do geodrenos dimensionados,
geotécnica. Apesar das hipóteses simplificadoras considerando a média dos coeficientes de
feitas, a teoria do adensamento permite avaliar adensamento obtidos no ensaio de piezocone e
de forma aproximada a velocidade dos recalques oedométrico.
devido ao adensamento, com base nos resultados
obtidos através de ensaios de laboratório.
Existem várias soluções que permitem a 2 ÁREA DE ESTUDO
utilização das áreas de solo mole. A escolha de
uma delas dependerá de inúmeros fatores, como O complexo Industrial e Portuário de Suape é o
as condições do solo, o nível de recalque mais completo polo para a localização de
aceitável, o espaço disponível, além de custos e negócios industriais e portuários da Região
prazos de execução. Nordeste. Está localizado no município de
Uma das técnicas mais utilizadas para acelerar Ipojuca, ao sul da cidade do Recife, à 52 km da
o processo de adensamento em solos moles é a capital de Pernambuco. Este município é
aplicação de drenos verticais. A utilização de limitado ao norte pelo município de Cabo de
drenos verticais promove a aceleração dos Santo Agostinho, ao sul com o município de
recalques ao diminuir o caminho de drenagem Sirinhaém, a leste com o Oceano Atlântico e a
dentro da massa de solo compressível para cerca oeste com o município de Escada.

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114
A área de estudo nomeada AE-1 (Figura 1) Coutinho (2007), para verificar os efeitos do
está localizada no Complexo Industrial e amolgamento do solo que, segundo Hvorslev
Portuário de Suape, em uma área de mangue (1949), compreende o enfraquecimento da
virgem, caracterizada pela presença de solos adesão entre as partículas ou no rearranjo
moles/ orgânicos, com restos de plantas e raízes, estrutural das partículas sólidas do solo.
tratando-se de uma via de acesso no sentido Segundo a proposta de Coutinho (2007), a
continente – mar. relação Δe/eo é utilizada como critério de
avaliação do amolgamento da amostra, onde Δe
é a variação no volume de vazios e eo o índice de
vazios inicial. São apresentadas quatro faixas de
classificação de amostra: muito boa a excelente,
boa a regular, pobre, e muito pobre.
Na área de estudo AE-1, verificou-se que 13
amostras foram classificadas como satisfatória,
em um total de 30 amostras (43% das amostras
obtidas), como observado na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados da classificação da qualidade de


amostra, segundo critério de Coutinho (2007).
Área de Estudo AE-1
Estaca Prof.(m) Δe/eo Classificação da amostra
Figura 1. Área de estudo AE-1. 2,2 0,11 Pobre
4,2 0,16 Muito Pobre
E98
6,2 0,06 Boa à Regular
O aterro da área AE-1 foi dividido em dois
trechos longitudinais. O trecho 1 foi escolhido 8,2 0,04 Excelente
para estudo deste trabalho. Nesse trecho foram 2,2 0,24 Muito Pobre
retiradas amostras e realizados ensaios nas 4,9 0,17 Muito Pobre
E102
estacas (E98, E102, E112 e E120). Foram 6,7 0,1 Pobre
coletadas 19 amostras indeformadas tipo pistão 8,7 0,1 Pobre
estacionário de paredes finas, com tubo aço-inox
2,2 0,11 Pobre
com diâmetro 4’’ e 4,5’’ (100 e 110mm) e
comprimento 1000mm. O perfil geotécnico do 4,2 0,11 Pobre
trecho é mostrado na Figura 2. 6,2 0,1 Pobre
Segundo Bello (2011), a camada superficial do E112 8,2 0,07 Boa à Regular
trecho é formada por uma argila orgânica muito 10,2 0,1 Pobre
turfosa com pouca areia fina, seguida por
14,2 0,03 Excelente
camadas também de argila orgânica turfosas,
17,7 0,13 Pobre
com muito pouca a muita areia fina. Foram
investigadas até uma profundidade de 9,0 m para 2,2 0,07 Boa à Regular
a estaca E98, 18,0 m para a E102, 17,0 m para a E120
4,2 0,06 Boa à Regular
E112 e 16,0 m para a E120. 6,2 0,06 Boa à Regular
No estudo realizado por Bello (2011), a 9,2 0,05 Boa à Regular
avaliação da qualidade das amostras obtidas foi
feita utilizando a proposta apresentada por

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Figura 2. Perfil geotécnico do trecho 1.

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Tabela 2. Resultados de cv e ch obtidos do ensaio de
3.1 Considerações Iniciais adensamento oedométrico.
Estacas Prof. (m) cv (m²/s) ch (m²/s)
Para o dimensionamento dos geodrenos na área 2a3 0,0146x10-6 0,0126x10-6
de estudo, foram considerados os cálculos e 4 a 4,74 0,0142x10-6 0,0134x10-6
considerações geométricas do diâmetro de E98
6a7 0,0068x10-6 -
influência e espaçamento, diâmetro equivalente -6
8a9 0,0183x10 -
e a influência do amolgamento na instalação do
-6
dreno. A resistência hidráulica do dreno não foi 2a3 0,0215x10 0,3022x10-6
considerada pois, segundo Hansbo (2004) a 4,65 a 5,65 0,0151x10-6 0,1036x10-6
E102
maioria dos geodrenos disponíveis no mercado 6,5 a 7,5 0,0494x10 -6
-
tem capacidade de descarga suficiente, de forma 8,5 a 9,5 0,0389x10 -6
-
a tornar essa questão desprezível em projeto.O
2a3 0,0336x10-6 -
dreno utilizado no estudo foi um dreno vertical -6
pré-fabricado, conformado por camada 4a5 0,0117x10 -
-6
polimérica, coberto em ambas as faces por um 6a7 0,0275x10 0,3202x10-6
geotêxtil permeável não tecido. A fixação do E112 8a9 0,0171x10-6 -
conjunto se dá a partir de um envolvimento em 10 a 11 0,0499x10 -6
0,2919x10-6
membrana de látex. Suas dimensões são 10 cm 14 a 15 0,0317x10-6 -
de largura e 0,4 cm de espessura. . O
17,5 a 18,5 0,0254x10-6 0,3306x10-6
dimensionamento foi feito considerando as
hipóteses simplificadoras de Terzaghi. Os 2a3 0,0374x10-6 -
-6
cálculos foram feitos para os ensaios de 4a5 0,0141x10 0,1258x10-6
E120
piezocone e oedométrico obtidos por Bello 6a7 0,0853x10-6 0,1361x10-6
(2011). A Tabela 2 apresenta os valores de Cv e 9 a 10 0,1229x10 -6
-
Ch obtidos pelo ensaio oedométrico.

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A Tabela 3 apresenta esses mesmos valores um diâmetro equivalente (dw) conforme
mas agora para o ensaio de piezocone. apresentado na Figura 3. Para a determinação do
diâmetro equivalente do dreno foi utilizada a
Tabela 3. Resultados de cv e ch obtidos do ensaio de Equação 2, proposta por por Hansbo (1987):
adensamento oedométrico.
Estacas Prof. (m) ch (m²/s) cv (m²/s)
dw = (a+b)/2 (2)
4 5,90x10-7 3,93x10-7
6 1,10x10-6 7,33x10-7
E98
8 5,70x10-7 3,80x10-7
10 4,00x10-7 2,67x10-7
4 1,60x10-7 1,07x10-7
6 9,30x10-8 6,20x10-8
E102
8 1,00x10-8 6,70x10-9
10 1,20x10-6 8,00x10-7
5,30x10-9 Figura 3. Diâmetro equivalente dos geodrenos.
4 8,00x10-9
6 5,70x10-8 3,80x10-8
10 4,00x10-8 2,67x10-8 3.4 Influência do amolgamento na instalação
E112
12 9,10x10-8 6,07x10 -8 do dreno
16 3,80x10 -9 2,50x10-9
Nos cálculos levou-se em consideração o
18 1,50x10-7 1,00x10-7
amolgamento do solo compressível ao redor e ao
4 9,10x10-7 6,07x10-7 longo do dreno, devido a sua instalação.O
E120
8 3,00x10-7 2,00x10-7 amolgamento reduz a permeabilidade horizontal
do solo, e em consequência, a velocidade do
Foi desenvolvido um roteiro de cálculo adensamento (Almeida & Marques, 2010). O
analisando cada um dos três trechos amolgamento pode ser encontrado por (Hansbo,
compreendidos entre as estacas E98 e E102 1981):
(Trecho 01), E102 e E112 (Trecho 2) e E112 e
𝑘 𝑑𝑠
E120 (Trecho 3). Cada trecho tem 20m de 𝐹𝑠 = [( ℎ′ ) − 1] . 𝑙𝑛 ( ) (3)
𝑘ℎ 𝑑𝑤
extensão, sendo considerada uma profundidade
de 10m, 12 m e 18m respectivamente para cada
O mandril foi escolhido de modo a ter a menor
trecho entre as estacas.
área possível para que o amolgamento fosse
minimizado. Almeida e Marques (2010)
3.2 Diâmetro de Influência e Espaçamento
recomendam que para solos muito moles o
mandril deve ter área externa na ordem de
Os geodrenos foram dimensionados para
70cm², desse modo um mandril de cravação de
instalação em malhas triangulares de lado igual
12 cm x 6 cm foi escolhido para os cálculos.
a 𝑙. A escolha da malha triangular foi feita por
esta ser mais eficiente do que a malha quadrada.
3.5 Roteiro de Dimensionamento
O diâmetro de influência da malha triangular foi
calculado igualando a área do hexágono com a
O dimensionamento de um sistema de drenos
do círculo equivalente, como mostra a Equação
tem como objetivo determinar o espaçamento
1:
entre os drenos, a fim de se obter o grau de
adensamento médio da camada desejada em um
ⅆe = 1,05 ⋅ l (1)
período de tempo considerado aceitável.
Com os parâmetros geotécnicos 𝑐ℎ , 𝑐𝑣 e 𝑘ℎ /𝑘′ℎ
3.3 Diâmetro Equivalente dos Geodrenos
definidos de cada trecho a ser analisado foi
definido o padrão de cravação da malha. A partir
Os geodrenos possuem formato retangular e por
isso suas dimensões devem ser representadas por

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117
disso determinou-se as grandezas geométricas em relação à profundidade dos três trechos de
pertinentes ao dreno 𝑑𝑤 , 𝑑𝑠 , 𝑑𝑚 e ℎ𝑎𝑟𝑔 . estudo. A Figura 4 mostra a variação dos valores
Considerou-se um grau de adensamento médio dos coeficientes de adensamento horizontal (Ch)
desejado para a camada de 90% e um tempo de e vertical (Cv) obtidos no ensaio de piezocone
projeto aceitável de 1 ano. O tipo de drenagem para o trecho 1 (4.a), trecho 2 (4.b) e trecho 3
utilizada foi a radial devido à drenagem vertical (4.c). Os valores médios para o Ch e o Cv foram
ter mais influência para camadas de solo de 5,15x10-7 m²/s e 3,43x10-7 m²/s
inferiores à 10m e também por ser mais respectivamente para o trecho 1, de 1,97x10-7
conservativa. Foi realizada uma estimativa m²/s e 1,31x10-7 m²/s para o trecho 2 e de
inicial para o espaçamento 𝑙 e calculado o valor 1,89x10-7 m²/s e 1,26x10-7 m²/s para o trecho 3.
de 𝑑𝑒 .
Foi encontrado o efeito do amolgamento do solo
devido à instalação do dreno, sendo este valor
adicionado à função de densidade de drenos na
análise do adensamento com drenagem
puramente radial:

𝐹(𝑛) = ln(𝑛) − 0,75 (4)

Neste tipo de drenagem ̅𝑈̅̅̅ ̅


ℎ = 𝑈, logo pode- se (a)
isolar o fator tempo 𝑇ℎ na equação do grau de
adensamento médio da camada, obtendo:
̅̅̅̅
− ln(1−𝑈 ℎ ).𝐹(𝑛)
𝑇ℎ =
8
(5)

O tempo necessário para obtenção do


adensamento desejado é:

𝑇ℎ .𝑑𝑒2
𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 =
𝑐ℎ
(6) (b)

O valor de 𝑙 foi reduzido tentativamente até que


o tempo calculado fosse menor ou igual ao
desejável para o projeto. Segundo Almeida e
Marques (2010) as recomendações atuais no
Brasil indicam um espaçamento mínimo entre os
drenos de 1,5m.
Para fins de comparação, foi realizado o cálculo
do tempo de adensamento para uma situação sem (c)
a utilização de drenos, utilizando a seguinte Figura 4 a-c. Coeficientes Cv e Ch para os trechos 1 (a), 2
equação (7): (b) e 3 (c).

𝑇.𝐻𝑑2 A Figura 5 mostra a variação dos valores dos


𝑡= 𝑐𝑣
(7) coeficientes de adensamento horizontal (Ch) e
vertical (Cv) obtidos no ensaio oedométrico para
o trecho 1 (5.a), trecho 2 (5.b) e trecho 3 (5.c).
4 RESULTADOS Os valores médios para o Ch e o Cv foram
repectivamente de 1,08x10-7 m²/s e 2,24x10-8
Foram determinados os valores médios do m²/s para o trecho 1, 2,54x10-7 m²/s e 2,9410-8
coeficiente de adensamento horizontal e vertical m²/s para o trecho 2 e 2,41x10-7 m²/s e 4,15x10-
8
obtidos do ensaio de piezocone e oedométrico m²/s para o trecho 3.

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118
estudo pois só dependem das dimensões do
dreno e do mandril de cravação adotados.

Tabela 5. Valores obtidos para dm, dw, ds e Fs.


dm dw ds Fs
(mm) (mm) (mm)
95,77 70 191,54 0,5

A Tabela 6 e 7 apresentam, repectivamente


(a) para os ensaios de peizocone e oedométrico, os
resultados obtidos a partir de uma estimativa
inicial (I) para o valor do espaçamento entre os
drenos e os valores finais (F) encontrados que
atenderam às condições previstas no projeto. A
partir dos valores de espaçamento foi possível
calcular o diâmetro de influência do dreno (𝑑𝑒 ),
a função de densidade de drenos (𝐹𝑛 ), o fator
tempo para drenagem horizontal (𝑇ℎ ) e
finalmente encontrar o valor para o tempo de
(b) adensamento (𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 ). Para os resultados
encontrados foram utilizados os valores de
coeficiente de adensamento do ensaio de
piezocone.

Tabela 6. Estimativa inicial e final de espaçamento entre


os drenos, para o ensaio de piezocone.
L De F Th tcalc
Trec. (m) (m) (n) (anos)
I F I F I F I F I F
(c)
Figura 5 a-c. Coeficientes Cv e Ch para os trechos 1 (a), 2 1 4 3,6 4,2 3,8 3,9 3,7 1,1 1,1 1,2 0,9
(b) e 3 (c). 2 3 2,4 3,1 2,5 3,6 3,3 1,0 0,9 1,6 0,9
3 3 2,3 3,2 2,4 3,6 3,3 1,02 0,9 1,7 0,9
A Tabela 4 apresenta os valores médios de 𝑐ℎ
e 𝑐𝑣 para o ensaio oedométrico e de piezocone. Tabela 7. Estimativa inicial e final de espaçamento entre
os drenos, para o ensaio oedométrico.
Tabela 4. Valores médios de ch e cv para o ensaio L De F Th tcalc
oedométrico e de piezocone. (m) (m) (n) (anos)
Trec.
ch(m²/s) cv(m²/s) I F I F I F I F I F
trecho
Piez. Oedom. Piez. Oedom. 1 2 1,8 2,1 1,9 3,1 3,1 0,91 0,9 1,2 0,9
1 5,15x10-7 1,08x10-7 3,43x10-7 2,24x10-8 2 3 2,7 3,1 2,8 3,6 3,4 1,0 1,0 1,3 1
2 1,97x10-7 2,54x10-7 1,31x10-7 2,94x10-8 3 3 2,6 3,1 2,7 3,6 3,4 1,0 0,9 1,3 0,9
3 1,89x10-7 2,41x10-7 1,26x10-7 4,15x10-8
Os resultados encontrados para espaçamento
A Tabela 5 apresenta os valores obtidos para o entre os drenos nos dois ensaios estão
diâmetro do mandril de cravação (𝑑𝑚 ), diâmetro apresentados na Tabela 8. O número aproximado
equivalente do dreno (𝑑𝑤 ), diâmetro da área de drenos necessários em cada trecho também é
afetada pelo amolgamento (𝑑𝑠 ) e amolgamento mostrado.
do solo (𝐹𝑠 ). Para os cálculos foi considerado um
mandril de 120 x 60 mm, e o dreno que possui
dimensões de 100 x 40 mm. Os valores
encontrados são comuns aos três trechos de

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119
Tabela 8. Comparação de resultados obtidos do ensaio de ensaio de piezocone. Para o coeficiente de
piezocone e ensaio oedométrico. adensamento vertical foi observado que os
Prof. L(m) N° Drenos valores obtidos do ensaio oedométrico variaram
Trec.
(m) Piez. Oedom. Piez. Oedom. numa ordem de grandeza 10 vezes menor que do
1 10 3,6 1,8 6 12 ensaio de piezocone.
2 12 2,4 2,7 9 8 Para o trecho 2 e 3 os valores de espaçamento
3 18 2,3 2,6 9 8 encontrados nos dois ensaios foram semelhantes,
variando em torno de 2,5m. Para o trecho 1, os
A Tabela 9 apresenta uma comparação do tempo valores para o espaçamento apresentaram
de adensamento da camada de argila, para cada discrepância, sendo maiores para o ensaio de
ensaio, na situação com e sem a utilização de piezocone e menores para o oedométrico. A
geodrenos. Os resultados mostram que a diferença entre os valores encontrados para o
vantagem na utilização de geodrenos, em termos espaçamento é explicada devido à divergência
de tempo para obtenção do grau de adensamento entre os valores de coeficiente de adensamento
pretendido, foi diretamente proporcional à horizontal obtidos para o trecho 1. Os geodrenos
espessura da camada, pois quanto mais espessa a são mais eficazes quanto maior o valor do
camada maior será a distância de drenagem coeficiente de adensamento horizontal, pois a
vertical, o que irá favorecer a drenagem velocidade em que a partícula de água irá
horizontal, resultando em um maior ganho de percorrer a massa de solo será maior,
tempo adquirido com a utilização dos geodrenos. aumentando a distância necessária entre os
drenos para obtenção do adensamento desejado.
Tabela 9. Comparação do tempo de adensamento com e Os resultados mostram que a vantagem na
sem uso de geodrenos. utilização de geodrenos, em termos de tempo
tempo com uso para obtenção do grau de adensamento
tempo sem uso
Prof. de drenos
de drenos (anos)
pretendido, foi diretamente proporcional à
Trec. (anos)
(m) espessura da camada, pois quanto mais espessa a
Piez. Oedom. Piez. Oedom. camada maior será a distância de drenagem
1 10 0,95 0,92 1,96 30,08 vertical, o que irá favorecer a drenagem
2 12 0,98 1 7,37 32,92
horizontal, resultando em um maior ganho de
tempo adquirido com a utilização dos geodrenos.
3 18 0,93 0,96 17,29 52,47
Em relação aos valores encontrados para cada
ensaio, pode-se perceber que os valores para o
tempo sem utilização de drenos foram muito
5 DISCUSSÃO
maiores para o ensaio oedométrico do que para o
ensaio de piezocone. Esse resultado pode ser
É de fundamental importância avaliar
explicado devido à diferença entre os valores
corretamente a qualidade das amostras, cujo
para coeficiente de adensamento vertical obtidos
amolgamento em amostras de solos moles, que
através dos ensaios. O coeficiente de
consiste no enfraquecimento da adesão entre as
adensamento vertical médio obtido do ensaio
partículas dos grãos do solo, podem influenciar
oedométrico é cerca de 10 vezes menor que o
nos resultados de ensaios de laboratório. As
obtido pelo ensaio de piezocone. Quanto menor
amostras classificadas como boa a regular
o coeficiente de adensamento vertical menor será
apresentadas por Bello (2011) e que serviram
a velocidade em que a água irá percorrer a
como base para este estudo ainda apresentam um
camada de argila verticalmente, favorecendo a
pequeno amolgamento, sendo este causado
drenagem horizontal e, portanto, será observada
possivelmente pela construção de um aterro
uma maior vantagem em termos de tempo de
provisório na área de estudo, o que resultou na
adensamento na utilização de drenos verticais.
perturbação do solo presente no mangue virgem.
Devido à divergência entre os resultados
Os valores encontrados para o coeficiente de
obtidos a partir do ensaio de piezocone e do
adensamento horizontal nos dois ensaios foram
ensaio oedométrico é recomendado que sejam
próximos para o trecho 2 e 3, para o trecho 1
utilizados os dados obtidos do ensaio de
foram encontrados valores superiores a partir do

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

120
laboratório (oedométrico) para realizar o valores para coeficiente de adensamento vertical
dimensionamento dos geodrenos. Os ensaios de obtidos através dos ensaios. Observou-se que
laboratório costumam apresentar valores mais quanto menor o coeficiente de adensamento
precisos que os ensaios de campo por causar vertical, maior a vantagem, em termos de tempo
menos perturbação nas amostras coletadas. de adensamento na utilização de drenos
verticais.

6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Este trabalho apresentou o dimensionamento de
geodrenos para um aterro sobre solo mole em Almeida, M.S.S., Marques, M.E.S. (2010). Aterros sobre
Suape/PE, localizado no Complexo Industrial solos moles: projeto e desempenho. São Paulo: Oficina
de Textos.
Portuário de Suape, a partir de coeficientes de
adensamento obtidos em ensaios de laboratório Bello, M.I.M.C.V. (2011). Parâmetros Geotécnicos e
(oedométricos) e de campo (piezocone). Foram Banco de Dados de Argilas Moles: o Caso de Suape.
considerados 3 trechos para o dimensionamento, Tese de Doutorado. D. Sc. Thesis. Federal University
sendo calculadas as médias dos coeficientes de of Pernambuco, p.319.
adensamento e posterior espaçamento dos Coutinho, R.Q. (2007) Characterization and Engineering
drenos e tempo de adensamento. Cada trecho foi Properties of Recife Soft Clays – Brazil. The Second
analisado separadamente, sendo todos os International Workshop on Characterization e
resultados comparados. Engineering Properties of Natural Soils. Tan, Phoon,
Os resultados do dimensionamento dos Higth and Leroueil (editors). Singapore, p. 2049-2100.
geodrenos demonstram que para o trecho 2 e 3 Hansbo, S. (1981). Consolidation of fine-grained soils by
os valores de espaçamento encontrados nos prefabricated drains. In: INT. ONF. ON SOIL MECH.
ensaios oedométricos e de piezocone foram AND FOUNDATION ENGINEERING, 10., 1981,
semelhantes, variando em torno de 2,5m. Para o Estocolmo. Proceedings... Estocolmo, v. 3, p. 677-682.
trecho 1, os valores para o espaçamento
Hansbo, S. (1987). Facts and fiction in the field of vertical
apresentaram discrepância, sendo maiores para o drainage. In: INT. SYMP. ON PREDICTION AND IN
ensaio de piezocone e menores para o GEOT. ENG., 1987, Alberta, Canada. Proceedings...
oedométrico. Alberta, p. 61-72.
Os geodrenos se mostraram mais eficazes
quanto maior o valor do coeficiente de Hansbo, S. (2004). Band drains. In: MOSELEY, M. P.;
KIRSCH, K. (Eds.). Ground improvement, Chapter 1.
adensamento horizontal, aumentando o Taylor & Francis, p. 4-56.
espaçamento entre os drenos, e
consequentemente reduzindo o número de Hvorslev, M.J. (1949) – Subsurface Exploration and
drenos necessários para obtenção do resultado Sampling of Soils for Civil Engineering Purposes –
desejado. Waterways Experiment Station – Vicksburg,
Mississsipi-USA.
Quanto ao tempo de adensamento, os
resultados mostraram que a vantagem na Terzaghi, K. (1943). Theoretical soil mechanics. New
utilização de geodrenos, em termos de tempo York: John Wiley & Sons, 1943. p. 510.
para obtenção do grau de adensamento
pretendido, foi diretamente proporcional à Terzaghi, K.; Frohlich, O. K. (1936). Theorie der Setzung
von Tonschichten. Viena: Franz Deuticke.
espessura da camada. Para camadas mais
espessas o ganho de tempo adquirido com a
utilização dos geodrenos foi maior.
Em relação aos valores encontrados para cada
ensaio, pode-se perceber que os valores para o
tempo de adensamento sem utilização de drenos
foram muito maiores para o ensaio oedométrico
do que para o ensaio de piezocone. Resultado
este explicado devido à diferença entre os

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

121
122
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

INFLUÊNCIA DO TRACIONAMENTO NA ABERTURA DE


FILTRAÇÃO DE GEOTÊXTEIS NÃO TECIDOS
Michael V. Barrantes
Universidade de Brasília, DF, Brasil, ma12vargas@gmail.com

Ennio M. Palmeira
Universidade de Brasília, DF, Brasil, palmeira@unb.br

Isac P. Moraes Filho


Universidade de Brasília, DF, Brasil, isacpmf@hotmail.com

Débora L.A. Melo


Universidade de Brasília, DF, Brasil, louyse.alpes@gmail.com

RESUMO: Geotêxteis não tecidos têm sido utilizados como filtros em obras geotécnicas e de
proteção ambiental por décadas. Em algumas aplicações, os filtros podem ser submetidos a esforços
de tração em diferentes direções ao longo da vida útil da obra. Estes são os casos de aplicações de
geotêxteis em barreiras para sedimentos, barreiras capilares, tubos geotêxteis e separação. Sob tais
condições, haverá alteração da abertura de filtração do filtro, o que influenciará sua capacidade de
retenção e condições de colmatação. O presente trabalho avalia a acurácia de solução analítica
desenvolvida para se obterem limites superiores para a abertura de filtração de geotêxteis não tecidos
agulhados tracionados. No presente estudo foi utilizado o método dos elementos finitos. As previsões
pelo método analítico e por elementos finitos são comparadas com resultados de ensaios de ponto de
bolha (Bubble Point Test) em amostras de geotêxteis tracionados em duas direções (deformações
variando de 0 a 20%). Os resultados obtidos mostram que as previsões analíticas e por elementos
finitos compararam bem, que variações significativas podem ser observadas na abertura de filtração
de geotêxteis submetidos a esforços de tração e que as previsões pelo método analítico podem ser
úteis para a estimativa da abertura de filtração de geotêxteis não tecidos agulhados tracionados.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxteis não tecidos, abertura de filtração, tração.

ABSTRACT: Nonwoven geotextiles have been used as filters in geotechnical works and
environmental protection for decades. In some applications, the filters can be subjected to tensile
stresses in different directions over the life of the work. These are the cases of applications of
geotextiles in sediment barriers, capillary barriers, geotubes and separation. Under such conditions,
there will be a change in the filtration, which will influence its retention capacity and clogging
conditions. The present work evaluates the accuracy of the analytical solution developed to obtain
superior limits for the filtration opening of stretch non-woven geotextiles. In the present study, the
finite element method was used. The analytical and finite element predictions are compared with
Bubble Point Test results in samples of geotextiles stretch in two directions (deformations varying
from 0 to 20%). The results showed that the analytical and finite element predictions compared well,
that significant variations can be observed in the filtration aperture of geotextiles subjected to tensile
stresses and that the predictions by the analytical method may be useful for estimating the filtration
aperture of stretched nonwoven geotextiles.

KEY WORDS: Nonwoven geotextiles, filtration aperture, traction.

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123
1 INTRODUÇÃO

Geotêxteis têm sido usados como dreno e filtros O presente trabalho visa avaliar a variação da
ao longo do tempo. Sua aplicação bem-sucedida abertura de filtração de geotêxteis não tecidos
em engenharia geotécnica e trabalhos de por meio de uma abordagem analítica e pelo
proteção ambiental pode ser atribuída a várias método de elementos finitos. As previsões são
razões, tais como: materiais manufaturados, um comparadas com os resultados de ensaios de
melhor controle de qualidade é obtido quando ponto de bolha (Bubble Point Test) em amostras
comparado com materiais granulares naturais, de geotêxteis tracionadas em duas direções. Os
produtos com características hidráulicas resultados e discussão são apresentados a seguir.
satisfatórias disponíveis para a maioria das
aplicações, os geotêxteis apresentam facilidade e 2 MATERIAL E MÉTODOS
rapidez de instalação, mesmo em condições
difíceis de solo, entre outras (Palmeira & 2.1 Equipamento
Gardoni, 2000).
A utilização de filtros geotécnicos está Os resultados dos ensaios de ponto de bolha
normalmente associada a drenos, elementos que foram obtidos de acordo com Melo (2018) e
juntos formam o sistema filtro-drenante cuja Moraes Filho (2018) pelo equipamento mostrado
finalidade é garantir a estabilidade e o bom na Figura 1.
desempenho das estruturas em que se inserem, Inicialmente, a amostra de geotêxtil foi
tais como: contenções, aterros rodoviários, tracionada até uma certa deformação utilizando
barragens, entre outras (Giroud, 1981). o aparelho apresentado na Fig. 1 (a). Este
Os geotêxteis são elementos compressíveis e aparelho compreende uma estrutura de reação
geralmente empregados sob confinamento. Os rígida, à qual dois cilindros hidráulicos são fixos.
geotêxteis não tecidos são particularmente A tensão pode ser aplicada nas bordas do
comuns em muitos projetos de engenharia. Em espécime do geotêxtil em duas direções
comparação com os geotêxteis tecidos, o não ortogonais ao longo do plano da amostra.
tecido apresenta uma estrutura de tecido mais As cargas de tração e os deslocamentos
complexa, que influencia marcadamente a forma podem ser medidos por células de carga e
como interagem com os solos e fluidos (Palmeira transdutores de deslocamento, respectivamente,
et al., 2019). Para os filtros geotêxteis não instalados nas garras nas bordas da amostra.
tecidos observa-se que o confinamento altera a Para controlar melhor as deformações na região
sua espessura e a geometria dos vazios, que é testada na célula de ponto de bolha, cruz
provocando uma redução nas constrições, de referência, com dimensões conhecidas, foi
aumentando a retenção de material e provocando traçada com uma caneta marcadora na camada de
redução da permeabilidade do filtro (Palmeira & geotêxtil (Fig. 1a). Este procedimento assegurou
Fannin, 1998; Palmeira & Gardoni, 2000). que as deformações desejadas fossem
Devido à sua complexidade, muitas pesquisas mobilizadas na região central da amostra. Depois
foram realizadas nas últimas décadas no que as deformações foram alcançadas, uma
laboratório e no campo para investigar o moldura de fixação rígida quadrada (largura
comportamento do filtro geotêxtil não tecido sob interna de 100 mm) foi firmemente fixada ao
diferentes condições (Gourc, 1982; Faure, 1988; geotêxtil. A região central contendo a moldura
Fischer et al., 1996; Palmeira and Gardoni, 2000; foi então cortada do resto da amostra. A moldura
Palmeira et al., 2005; Palmeira et al., 2010; quadrada garantiu que as deformações aplicadas
Koerner and Koerner, 2015; Moraci et al. 2016; fossem mantidas após o geotêxtil ter sido
Palmeira and Trejos Galvis, 2017). cortado. O geotêxtil tracionado na moldura foi
Apesar de seu sucesso, o filtro geotêxtil ainda então preparado para os testes do ponto de bolha
apresenta desafios para especificação adequada (BBP), como descrito abaixo.
e previsão de comportamento a longo prazo em
aplicações geotécnicas e geoambientais.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

124
avaliada testando-se peneiras padrão com
dimensões de poros conhecidas. O desvio entre
as medidas e as dimensões reais dos poros foi
inferior a 5%, o que pode ser considerado
satisfatório para os fins do teste.
Nos ensaios em que o geotêxtil foi submetido
a tensão apenas numa direção (ensaios
uniaxiais), um espécime geotêxtil de 200 mm de
largura e 100 mm de altura foi deformado em um
ensaio de tração em faixa larga, segundo a norma
ASTM D4595. Tendo atingido a deformação
desejada, a moldura de aço rígida mencionada
acima (Fig. 1a) também foi usada para permitir
que a porção de interesse da amostra fosse
cortada livre mantendo as deformações
especificadas. Deformações (uniaxiais e
biaxiais) variando de 0 a 20% foram utilizadas
nos testes.

2.2 Materiais

Três geotêxteis não tecidos agulhados, feitos de


poliéster, do mesmo fabricante, foram utilizados
nos ensaios. As principais propriedades desses
geotêxteis estão resumidas na Tabela 1. Suas
massas por unidade de área (MA) variam entre
200 g/m2 (geotêxtil código G1) e 500 g/m2
(código G3) e seu O95 (diâmetro de poros para o
Figura 1. Equipamento utilizado nos ensaios de BBT qual 95% dos diâmetros de poros remanescentes
(Bubble Point Test) (Modificado de Palmeira et al., 2019) são menores) obtidos em testes convencionais de
ponto de bolha, sob condições não confinadas e
sem confinamento, variam entre 0,1 mm e 0,154
A célula de teste empregada para testes de mm.
ponto de bolha é mostrada na Fig. 1 (b). O
espécime geotêxtil é instalado entre malhas de Tabela 1. Propriedades dos geotêxteis
aço e placas perfuradas rígidas. Após a saturação Propriedade G1 G2 G3
da amostra o líquido nos poros é deslocado pelo
aumento da pressão de ar fornecido pelo sistema MA (g/m2) 200 300 500
de ar comprimido do laboratório. Um medidor de tGT (mm) 1,9 2,3 4
O95(mm) 0,154 0,140 0,100
vazão digital permite a medição do fluxo de ar e kn(m/s) 0,003 0,0026 0,0020
de um sistema de coluna de água e um transdutor y (s-1) 2,0 1,5 0,9
de pressão permite a medição de pressões de ar J5%(kN/m) 21 31 50
para pressões baixas e altas, respectivamente. O emax(%) 58 63 63
fluido utilizado para saturar o espécime geotêxtil df(mm) 0,027 0,027 0,027
foi etanol anidro (tensão superficial de 22,1 mN Notas: MA = massa do geotêxtil por unidade de área; tGT =
espessura; O95 = diâmetro de poro para o qual 95% dos
/m a 20 ºC). Durante o estágio de saturação do diâmetros dos poros restantes são menores obtidos em
geotêxtil, o espécime foi submerso no fluido, testes de ponto de bolha (ASTM D6767) em amostras não
seguido pela aplicação de vácuo para garantir a confinadas e sem tracionamento; kn = coeficiente de
saturação completa. Os testes de BBP foram permeabilidade normal ao plano do geotêxtil; y =
executados de acordo com norma ASTM D6767. permissividade; J5% = Rigidez à tração secante (ASTM
Antes do teste, a acurácia das medições foi D4595) a 5% de deformação; emax =Deformação máxima
à tração (ASTM D4595); df = diâmetro dos filamentos.

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125
ay uy
ay = O -1=2 O (4)
2.3 Avaliação da abertura de poro dos o o

materiais geotêxteis
Onde Oe é o diâmetro equivalente do poro
De acordo com Palmeira et al. (2019), para um deformado com formato elíptico, Oo é o diâmetro
material semelhante a uma placa uniforme, inicial do poro (circular) e ax e ay são as
isotrópico, elástico e contínuo, a forma e variações do diâmetro do poro ao longo das
dimensões finais deformadas de um orifício direções x e y normalizadas por Oo,
inicialmente circular dependerão das suas respectivamente, ux é o deslocamento na direção
dimensões iniciais, propriedades do material e da x e uy é o deslocamento na direção y (Fig. 2b).
sy
ey
magnitude e orientação das deformações
mobilizadas. Palmeira et al. (2010) admitiram
que, antes da deformação, a maior constrição
Oo
num geotêxtil não tecido apresentasse uma
forma circular, como mostrado na Fig. 2, e que A
B sx = xs y

seu comportamento sob deformação é y

semelhante ao de um furo numa placa fina


ex
isotrópica, homogênea e elástica linear, x

submetida a deformações ey e ex em suas bordas


ao longo das direções x e y, respectivamente. (a) Furo numa camada tracionada em duas direções
sy
Sob tais condições, a forma final do furo será
elíptica, como mostrado esquematicamente na
Figura 2. Para um furo elíptico (referido como uy

poro) a pressão capilar necessária para que um


A
fluido com um ângulo de contato com as paredes ay B ux D sx

do furo igual a zero supere as forças capilares e y

passe pelo poro é dada (Kovacs, 1981 Hoberg et ax

al., 2014): x

2 2 (b) Deformação do furo inicialmente circular


pc = t ! + " (1)
ax ay
Figura 2. Deformação do furo circular submetido à tensão
biaxial (Palmeira et al. 2019)
Onde pc é a pressão capilar, t é a tensão
superficial capilar, ax é o comprimento do eixo A relação entre o diâmetro de poro
da elipse ao longo da direção x e ax é o equivalente deformado (Oe ) e o diâmetro (D) da
comprimento do eixo da elipse ao longo da maior partícula esférica que seria capaz de passar
direção y (Figura 2). pelo poro elíptico (Figura 2b) é dada por:
Para o mesmo valor de pressão capilar e do
equilíbrio considerando a pressão do fluido Oe 2%1+ay &
= %2+a (5)
atuando sobre uma área de poro circular D x +ay &

equivalente, o diâmetro equivalente do poro


deformado é dado por (Palmeira et al. 2019): Segundo a solução de Kirsh (1898) para a
deformação de um furo circular numa placa
Oe 2(1+ax )(1+ay ) uniforme, elástica, homogênea e isotrópica
= (2)
Oo 2+ax +ay submetida a tensões de tração nas suas fronteiras,
os valores de deslocamento (ux e uy, na Fig. 2b)
Com são dadas por:
a u O
ax = Ox -1=2 Ox (3) ux =Kx 2Eo (3sx -sy ) (6)
o o

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126
Oo
uy =Ky (3sy -sx ) (7)
2E
l = -0.0065u2 + 0.0007u - 0.0003 (11)
Onde E é o Módulo de Young da placa, sx e b = -0.5286u2 - 0.119u + 1.7963 (12)
sy são as tensões de tração horizontais e verticais
nas bordas das placas, Kx e Ky são fatores de Onde K é o fator de correção para considerar
correção que levam em conta grandes grandes deformações dos poros quando ex = ey, e
deformações, já que as equações 6 e 7 foram
é a deformação do geotêxtil (e = ex = ey) e u é o
originalmente desenvolvidas para condições de
coeficiente de Poisson do material.
pequena deformação, quando Kx = Ky = 1.
Combinando as equações 3, 4, 6 e 7, tem-se
(Palmeira et al. 2019):
2.4 Avaliação da abertura de poro dos
Kx materiais geotêxteis pelo método de elementos
ax = %3sx -sy & (8) finitos (FEM)
E

Ky O objetivo do presente trabalho foi avaliar a


ay = %3sy -sx & (9)
E acurácia das equações apresentadas por Palmeira
et al. (2019) por meio do método dos elementos
Onde os valores de sx e sy podem ser obtidos finitos. A análise numérica por elementos finitos
pela lei de Hooke como uma função de ex, ey e u, foi realizada utilizando o programa
onde ex e ey são as deformações horizontal e computacional Plaxis 3D.
vertical nas bordas da placa e u é o coeficiente A Figura 3 mostra a geometria do material
de Poisson do material. Os valores de ax e ay geossintético empregado nas análises. A secção
podem ser usados nas equações 2 e 5 para quadrada da Figura 3 apresenta uma dimensão de
predizer Oe / Oo e Oe /D, respectivamente. 0,1m e um diâmetro do furo de 0,01m. Note-se
Como mencionado acima, as equações 6 e 7 que para a análise linear elástica as razões entre
foram desenvolvidas para pequenas diâmetros finais e inicial do poro independem do
deformações. Portanto, Palmeira et al. (2019) valor adotado para o diâmetro inicial. Assim, o
incorporaram fatores de correção (Kx e Ky) nas valor adotado visou facilitar a construção da
equações originais para uso em condições de malha de elementos finitos. Este diâmetro
grandes deformações. Se a variação do diâmetro também foi muito menor que as dimensões da
dos poros é calculada incrementalmente usando placa simulada, assim como ocorreu para a
as equações 6 e 7 e atualizando o diâmetro para relação entre a abertura de filtração do geotêxtil
cada acréscimo de deformação aplicado, os e as dimensões do espécime utilizado nos
resultados para condições de grandes ensaios de laboratório.
deformações podem ser obtidos. Segundo
Palmeira et al. (2019), comparações entre
predições por tais equações sob condições de
grande e pequena deformação para ex = ey até
20% mostraram que a suposição de pequena
deformação pode subestimar o diâmetro do poro
entre 6,6% e 23,6% para u variando de 0 a 0,5.
Com base em cálculos sob condições de
pequenas e grandes deformações, as seguintes
equações foram desenvolvidas para a estimativa
de Kx ou Ky para a condição ex = ey, quando então Figura 3. Geometria do material geossintético empregado
Kx = Ky: nas análises numéricas

K = Kx = Ky = 1⁄(1+leb ) para (ex=ey) (10) Para a análise do material de geotêxtil foi


empregado o modelo elástico linear. Os
Com parâmetros básicos de entrada deste modelo são

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127
o módulo de Young (E) e o coeficiente de Para cada uma das etapas desenvolvidas nas
Poisson (u) do material. análises foi considerada a hipótese de grandes
De acordo com a Figura 4, foram realizadas deformações. Foram consideradas deformações
diferentes análises variando-se as condições de nas direções x e y iguais a 2%, 5%, 10% 15% e
contorno. Para o caso da análise de deformação 20%. Na figura 4, apresenta-se um esquema das
plana (Figura 4a), as condições de contorno condições que foram utilizadas nas simulações.
foram fixadas contra deslocamentos na direção x
mas permitindo-se deslocamentos na direção y e 3 RESULTADOS
z. Para o caso de deformação biaxial (Figura 4b)
se consideraram deslocamentos livres nas A Figura 5 mostra a variação de Oe /Oo com a
direções x ,y e z. A malha de elementos finitos deformação para diferentes valores de
foi formada com elementos tetraédricos com 10 coeficiente de Poisson para ex = ey (condição de
nós e foi gerada por meio da opção de grandes deformações), que é o pior cenário para
distribuição de elemento um refinamento na o aumento do tamanho dos poros no que se refere
região do poro. à capacidade de retenção de partículas de solo
arredondadas. Nesta figura também se mostra a
mesma variação obtida por meio das simulações
numéricas para valores de u de 0.1, 0.3 e 0.45.

FEM-𝝊= 0,3

2 FEM-𝝊= 0,1
Oe/Oo

FEM-𝝊= 0,45

𝝊=0,1

𝝊=0,3

1 𝝊=0,5
0 10 20
(a)
ey (%)

Figura 5. Influência da deformação e coeficiente de


Poisson em Oe / Oo

Como mencionado anteriormente, no ensaio


BBT foram testados três tipos de materiais. Por
tanto, baseado na abordagem teórica (Palmeira et
al. 2019), além das análises numéricas para uma
relação de Poisson igual a 0.3, as previsões
foram confrontadas com os resultados
experimentais obtidos para os três materiais
diferentes (G1, G2 e G3), como mostrado na
Figura 6.
(b)

Figura 4. Condições realizadas no Plaxis 3D

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

128
caso ex =e y, onde é tomado em consideração
2
grandes deformações. Também são apresentadas
previsões obtidas por elementos finitos, sob
𝝊=0,3 grandes deformações, para u igual a 0.1, 0.3 e
0.45. Nas comparações, observa-se uma boa
Oe/Oo

FEM-𝝊= 0,3 concordância entre os resultados obtidos pela


abordagem analítica e por elementos finitos.
Deformação Nota-se, nos dois casos, que a relação entre o
biaxial -G1
diâmetro do poro deformado e o seu diâmetro
inicial é maior a medida que aumenta a
1
0 10 20 deformação e o coeficiente de Poisson.
ey (%) Na Figura 6, são apresentados os resultados
do ensaio de BBT de três tipos de geotêxteis G1,
(a) G2 e G3 (200 g/m2, 300 g/m2 e 500 g/m2,
2
respetivamente) submetidos a diferentes
deformações (condição de deformação biaxial
iguais) e sob condições não confinadas. Os
𝝊=0,3
resultados do ensaio BBT foram comparados
com os resultados da abordagem teórica
Oe/Oo

FEM-𝝊= 0,3
(Palmeira et al. 2019) e simulações numéricas
para u igual a 0.3. Deve se atentar qua as
Deformação
biaxial -G2 simulações numéricas foram realizadas sob
condições não confinadas e para deferentes
1 estados de deformação.
0 10 20 De acordo com Palmeira et al. (2019), a
ey (%) abordagem descrita acima pode ser útil para a
previsão de um limite superior para o tamanho
(b)
da abertura de filtração do geotêxtil em situações
em que o filtro geotêxtil não tecido seja
2
submetido a condições biaxiais, tais como em
barreiras de sedimentos, tubos geotêxteis e como
𝝊=0,3 elemento de separação entre base e subleito ou
barreira capilar em uma estrada. No entanto,
Oe/Oo

FEM-𝝊= 0,3 deve-se atentar que o geotêxtil trabalha em


condições confinadas, onde os tamanhos das
Deformação
suas aberturas diminuem mesmo sob tensão, o
biaxial -G3 que não foi simulado numericamente no presente
1
estudo. Assim, as previsões numéricas por
0 10 20
elementos finitos confirmaram a possibilidade
ey (%)
de utilização da solução analítica de Palmeira et
al. (2019) para a estimativa de limite superior de
geotêxteis não tecidos agulhados tracionados
(c)
biaxialmente, quando ex = ey.
Figura 6. Variação da razão entre os valores final e inicial
de O98 com ey- condição não confinada.
5 CONCLUSÃO
4 DISCUSSÃO
Neste trabalho foi avaliada a acurácia de uma
Como indicado anteriormente, a Figura 5 mostra abordagem analítica desenvolvida por Palmeira
a relação entre Oe /Oo e deformação para et al. (2019) para a estimativa do limite superior
diferentes valores da relação de Poisson para o do tamanho da abertura de filtração de geotêxteis

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

129
não tecidos submetidos a deformações a tração Hoberg, T.B., Verneuil, E., Hosoi, A.E., 2014.
iguais em duas direções ortogonais. Para isso, Elastocapillary flows in flexible tubes. Physics of
Fluids 26 (12),122103-1/17, American Institute of
foram feitas simulações numéricas por Physics. DOI: 10.1063/1.4902509.
elementos finitos. Muito boa concordância foi Kirsch, G. 1898. Die theorie der elastizität und die
obtida na comparação entre variação da abertura bedürfnisse der festigkeitslehre. Zeitschrift des
do poro obtida pela abordagem analítica com a Vereines Deutscher Ingenieure, 42, 797–807.
obtida por elementos finitos. Koerner, R.M., Koerner, G.R., 2015. Lessons learned from
geotextile filter failures under challenging field
Os resultados obtidos admitindo-se um conditions. Geotextiles and Geomembranes 43, 272-
coeficiente de Poisson do geotêxtil igual a 0.3 281.
foram comparados com os valores obtidos do Kovács, G., 1981. Developments in water science 10:
ensaio BBT, confirmando que a abordagem seepage hydraulics. Elsevier Scientific Publishing
analítica pode ser utilizada para a estimativa de Company, New York, USA.
Melo, D.L.A., 2018. Avaliação da abertura de filtração de
um limite superior para a abertura de filtração de geotêxteis não tecidos sob diferentes esforços
geotêxteis não tecidos agulhados tracionados solicitantes. Dissertação de Mestrado, Publicação
quando quando ex = ey. A solução analítica pode, G.DM-310/18, Departamento de Engenharia Civil e
então, ser útil em aplicações destes materiais em Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
barreiras de sedimentos, tubos geotêxteis, 80p.
Moraes Filho, I.P., 2018. Avaliação da abertura de
separação e barreiras capilares. filtração de geotêxteis sob diferentes condições de
Geotêxteis não tecidos possuem solicitação mecãnica. Dissertação de Mestrado,
microestrutura bastante complexa e as análises Publicação G.DM-297/2018, Departamento de
apresentadas no presente trabalho não simularam Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
condições de confinamento, situação esta Brasília, Brasília, DF, 122 p.
Moraci, N., Mandaglio, M.C., Salmi, M., 2016. Long term
existente quando o geotêxtil encontra-se behavior of woven and nonwoven geotextile filters. In:
enterrado. Devido à complexidade do problema, GeoAmericas 2016, vol. 1, pp. 740-749.
mais pesquisas são necessárias para uma melhor Palmeira, E.M, Melo, D.L.A., Moraes Filho, I.P., 2019.
compreensão do comportamento dos filtros não- Geotextile filtration opening size under tension and
confinement. Submetido para publicação.
tecidos submetidos a deformações de tração e
Palmeira, E.M., Beirigo, E.A., Gardoni, M.G., 2010.
confinamento. Tailings-nonwoven geotextile filter compatibility in
mining applications. Geotextiles and Geomembranes
AGRADECIMENTOS 28, 136-148.
Palmeira, E.M., Fannin, R.J., 1998. A methodology for the
Os autores agradecem à Universidade de Brasília evaluation of geotextile pore opening sizes under
confining pressure. Geosynthetics International 5(3),
e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal 347-357.
de Nível Superior (CAPES), que apoiaram a Palmeira, E.M., Gardoni, M.G., 2000. The influence of
pesquisa relatada neste trabalho partial clogging and pressure on the behaviour of
geotextiles in drainage systems. Geosynthetics
International 7(4-6), 403-431.
REFERÊNCIAS
Palmeira, E.M., Gardoni, M.G., Bessa da Luz, D.W., 2005.
Soil–geotextile filter interaction under high stress
Faure, Y.-H., 1988. Approche structural du comportement
levels in the gradient ratio test. Geosynthetics
filtrant-drainant des geotextiles. PhD. Thesis,
International 12(4), 162-175.
Universite Joseph Fourier, Grenoble, France (in
Palmeira, E.M., Trejos Galvis, H.L., 2017. Opening sizes
French).
and filtration behaviour of nonwoven geotextiles under
Fischer, G.R., Holtz, R.D., Christopher, B.R.,1996.
confined and partial clogging conditions.
Evaluating geotextile pore structure. In: Recent
Geosynthetics International 24(2), 125-138, DOI:
Developments in Geotextile Filters and Prefabricated
//dx.doi.org/10.1680/jgein.16.00021.
Drainage Geocomposites, Bhatia, S. S. & Suits, L. D.,
Editors, ASTM STP 1281, American Society for
Testing and Materials, West Conshohocken, PA, USA,
pp. 3–18.
Giroud, J. P. (1981). Designing with geotextiles.
Matériaux et Constructions, 14(82), 257– 272.
Gourc, J.-P., 1982. Quelques aspects du comportement des
geotextiles em mécanique des sols. PhD. Thesis,
University of Grenoble, France (in French).

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

130
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Uso de sistema Tubos de Geotêxtil para desssecagem e


empilhamento de rejeitos de ouro
Rafaela Baldí Fernandes
Instituto Brasil, Belo Horizonte, Brasil, rafaelacivil@institutobrasil.org

Tiago Junior Costa Chaves


Instituto Minere/Colégio Arnaldo, Belo Horizonte, Brasil, tiagojcchaves@gmail.com

RESUMO: Os processos de licenciamentos para novos depósitos de rejeitos têm sido cada vez mais
restritos face às questões ambientais associadas a ocupação de grandes áreas, bem como a
possibilidade de contaminação de solo e cursos d’água. Além disso, as consequências de uma
eventual ruptura podem trazer danos irreversíveis ao Meio Ambiente e as comunidades do entorno.
Nesse sentido, vem sendo cada vez mais solicitado o uso de tecnologias que permitam a disposição
dos materiais de forma mais controlada, compatibilizando custos, prazos, estabilidade e segurança.
A proposta de armazenamento de rejeitos em tubos de geotêxtil tem sido uma alternativa a esses
requisitos, uma vez que considera o dessecagem e sedimentação do material para uma geometria de
empilhamento. As seções transversais dos tubos são praticamente elípticas quando cheias, e estáveis
geometricamente na relação altura versus largura. Dessa forma, é possível armazenar os rejeitos em
um sistema de confinamento, desaguando o material e estabelecendo um sistema geotecnicamente
estável. Essa tecnologia pode ser aplicada a qualquer tipo de rejeito, haja visto a grande variedade de
abertura e malhas dos geotêxteis. Para rejeitos muito finos, pode-se utilizar floculantes que acelerem
a sedimentação do material. No que diz respeito aos materiais contaminados, é possível prever um
sistema de impermeabilização na base do sistema, coletando o percolado produzido. A flexibilidade
do tubo também permite ocupação em geometrias planas até as mais inclinadas. A pilha de tubos,
quando desaguada, pode conferir resistência suficiente para ser utilizada como fundação de
construções. Este artigo apresenta um estudo de caso onde foi utilizado tubos de geotêxtil para
dessecagem e empilhamento de rejeitos finos do processo de mineração de ouro.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Drenagem, Sedimentação, Empilhamento

ABSTRACT: The licensing processes for new tailings deposits have been increasingly restricted to issues
related to large areas, as well as the possibility of contamination of soil and watercourses. In addition, as
the consequences of a possible rupture can be damaged by the Environment and the surrounding
communities. In this sense, it has been increasingly requested the use of technologies that allow the
installation of materials in a more controlled way, reconciling costs, deadlines, stability and security. The
proposal of tailings storage in geotextile tubes has been one of the requirements for an evaluation of
stacking geometry. Dimensions are generally elliptical when fulland are geometrically stable in height
versus width ratio. In this way, it is possible to obtain the tailings in a confinement system, unraveling the
material and establishing a geotechnically stable system. This technology can be applied to any type of
rejection, having seen the great variety of applications and meshes of geotextiles. For very fine tailings,
flocculants can be used that accelerate sedimentation of the material. With regard to contaminated
materials, it is possible to provide a waterproofing system at the base of the system, collecting this material
from the dewatering. The tube's flexibility also allows it to be employed in flat geometries up to the most
inclined. The stack of pipes, when drained, can impart the strength needed to be built as the foundation of
constructions. This paper presents a case study and used the geotextile package for dewatering and
stacking tailings and gold mining processes.

KEY WORDS: Geotextile, Drainage, Sedimentation, Stacking

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

131
1 INTRODUÇÃO • Teste 1 – Contém adição de Policloreto
de Aluminio 18% (IZET 803) na
Para avaliar a performance do sistema de dosagem de 0,2mL e Polímero Aniônico
dessecagem, sedimentação e empilhamento de IFLOC 101 na dosagem de 3ppm
rejeitos provenientes de uma mineração de ouro • Teste 2 – Contém adição de Policloreto
na modalidade de Tubos de Geotêxtil (Filter de Aluminio 18% (IZET 803) na
Bag`s), foi realizado um Projeto Piloto, com dosagem de 0,4mL e Polímero Aniônico
dessecagem em escala reduzida e em fases IFLOC 101 na dosagem de 3ppm
evolutivas, a saber: • Teste 3 – Contém adição de Policloreto
• Etapa 1 – Ensaios de filtração e de Aluminio 18% (IZET 803) na
floculação dosagem de 0,6mL e Polímero Aniônico
• Etapa 2 – Ensaios em Tubos de Geotêxtil IFLOC 101 na dosagem de 3ppm
reduzidos para determinação da Curva de
Secagem As Figuras 1 e 2 apresentam o registro do
• Etapa 3 – Células unitárias reais Piloto ensaio de Jar Test para determinação do
floculante sendo, respectivamente, no início do
O geotêxtil utilizado nos tubos de dessecagem ensaio e após o ensaio.
é do tipo MACTUBE W1 7.10, definido como
um geocontainer de formato cilíndrico fabricado
com geotêxtil tecido de elevada resistência,
produzido através do entrelaçamento de
filamentos de polipropileno de alta tenacidade,
em ângulos retos, que pode ser fabricado com as
dimensões adequadas para atender as
especificidades e necessidades de cada projeto.
O produto é inerte à degradação biológica e
resistente a ataques químicos (álcalis e ácidos), o
que permite o escoamento da fração líquida
através dos seus poros, retendo o material sólido
no seu interior. Figura 1. Ensaio Jar Test - Início

2 ETAPA 1

A coleta de amostras considerou que o material


sólido tem variação entre materiais mais densos
e menos densos e que a sedimentação do material
é rápida e considerável. A primeira ação foi
avaliar o tipo de polímero que apresentava a
melhor reação floculante com o resíduo, tendo
sido utilizados polímeros BASF para referência,
de duas linhas distintas, a saber:
Figura 2. Ensaio Jar Test - Fim
• Linha IFLOC®: Polieletrólitos de alta
eficácia
Dentre os produtos testados, destaca-se um
• Linha IZet®: Coagulantes Inorgânicos e melhor resultado do IFloc 101 (Polímero
Oxidantes aniônico). Na sua aplicação, os flocos formados
foram maiores, mais resistentes à agitação e em
O pH inicial dos testes apresentou valores formatos compactos, com uma ótima separação
de, aproximadamente, 7,5, sendo ao final, sólido/líquido. O melhor resultado dessa
verificado pH de, aproximadamente, 7,0 e os polimerização ainda foi combinado com
ensaios consideraram:

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

132
Polímero IZet 803 (Policloreto de Alumínio durabilidade. Nesse caso, o melhor resultado
18%), para melhoria enquanto agente oxidante e foi com o W1 7.10.
coagulante. Ambos os produtos são de III) O material retido foi avaliado quanto ao teor
classificação livre para transporte. de sólidos totais, onde pode-se verificar o
A floculação somente com o IFloc valor de 42%, através da verificação em
apresentou um bom resultado, porém, ainda balança. Deve-se salientar que, durante o
passível de melhoria. A medida em que se período, uma parte dos sólidos acabaram se
aumentava a quantidade de polímero acima dos “consolidando” dentro do tambor de coleta,
3ppm, o resíduo apresentava características de provavelmente o material mais denso.
viscosidade de excesso de polímero, o que Entendemos assim que estes valores
comprometeria o processo de filtragem. Por esse representam um valor conservador e os testes
motivo, procedeu-se com a mistura ao IZet, nas da Etapa 2 (Enchimento dos Mini tubos em
condições estabelecidas na Tabela 1. Conforme campo), certamente validariam e iriam aferir
demonstrado, foram realizados mais de 22 estes resultados.
combinações de dosagem, sendo que as
melhores eficiências são as 3 destacadas na Notando-se o perfil de comportamento do
tabela. Para entendimento, AD significa abaixo resíduo floculado, optou-se por um teste
do desejado, D refere-se a desejado e EF, para adicional de filtração, utilizando duas etapas de
excesso de floculante. Floculação e Filtragem, em contrapartida a
tradicional, de etapa única. Ou seja, foi realizada
Tabela 1. Ação combinada dos polímeros. uma primeira floculação, passando este resíduo
IZET 803 pelo tubo, tendo sido a retenção obtida similar à
Policloreto de Alumínio 18% ocorrida nos ensaios anteriores. Em seguida, o
Teste Floculação
0.1 0.2 0.4 0.6 efluente foi novamente floculado e coagulado,
0 ml passando por novo processo de filtração, em
mL mL mL mL
IFLOC
1 ppm AD AD AD AD AD outra malha de geotêxtil. A filtragem ocorreu por
101 processos de mini cones feitos com círculos de
2 ppm AD AD AD AD AD geotêxtil filtrante.
O objetivo desta dupla filtragem foi avaliar se
Polímero 3 ppm AD AD D D D haveria uma melhor eficiência no processo de
Aniônico
4 ppm AD AD EF EF EF filtragem e, com isso, subsidiar o projeto do
sistema de drenagem de forma mais efetiva. Uma
5 ppm AD AD EF EF EF
vez que trata-se de resíduo contaminado
quimicamente, a redução da turbidez não é
Os melhores resultados, técnicos e suficiente para que o resíduo possa ser
econômicos, foram atingidos com IFloc 101 em disponibilizado livremente no meio ambiente.
3ppm combinado com IZet 803 na dosagem de Nesse sentido, a dupla filtragem reduz a
0,2mL especificação base para as etapas utilização de coagulantes no retorno da água
seguintes. Após a definição dos polímeros captada para utilização na planta de
floculantes e a dosagem a ser adotada, procedeu- beneficiamento.
se os ensaios nos tubos. Para a análise, foram
utilizados 100mL de polpa floculada, obtendo-se 3 ETAPA 2
seguintes resultados:
A Etapa 2 considerou o enchimento dos modelos
I) Tempo de deságue para 100ml foi de reduzidos dos tubos (Mini Bolsa), na dimensão
aproximadamente 65 segundos. de 60x60cm, sendo:
II) O material retido nos tecidos não apresentou • Mini Bolsa 1 – sem adição de polímero
evidências de colmatação. Ressalta-se que a • Mini Bolsa 2 – com polímero, conforme
eficiência da filtração do processo também é dosagem ideal da Etapa 1
afetada em relação ao perfil do tecido • Mini Bolsa 3 – com polímero acima da
utilizado nos tubos, que devem atender a dosagem ideal da Etapa 1
critérios, mecânicos, hidráulicos e de

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133
O enchimento da Mini Bolsa 1 foi feito uniformemente. Utilizando uma balança-estufa,
diretamente com o material da planta, sem foi possível medir a avaliar a secagem do
adição de polímero (Figura 3). Neste teste, material, através da coleta de amostras no
comprovou-se que, sem a adição de polímero, interior da Mini Bolsa, sendo os resultados
quase que a totalidade do material passa pela apresentados na Tabela 2.
malha do geotêxtil, como pode ser verificado na
coloração do passante da Figura 4 e na vista do Tabela 2. Curva de Secagem da Mini Bolsa 2.
interior da Mini Bolsa na Figura 5. Peso
Inicio
Peso % de
Data Horário inicial Final umidade
%
(g) (g) final
Dia 4 12:00:00 20 100 13,69 68,47
Dia 4 15:00:00 20,877 100 14,854 71,15
Dia 5 12:00:00 20,709 100 14,196 68,54
Dia 8 15:00:00 23,596 100 16,175 81,11
Dia 9 13:00:00 22,605 100 15,742 77,46

O teor de umidade calculado considera:


((Peso Final / Peso Inicial) -1 /100)). Ao avaliar
a Tabela 2, percebe-se que o material apresentou
Figura 3. Enchimento da Mini Bolsa 1. taxas de dessecagem bem elevadas,
caracterizada pelo alto teor de sólidos totais
presentes já nas primeiras coletas, ou seja, em
amostras das primeiras horas do ciclo de
enchimento.
Para a Mini Bolsa 3, a dosagem de polímero
foi alterada e a Tabela 3 apresenta a dosagem
considerada, em comparativo com a dosagem
obtida na Etapa 1, sendo que a Figura 6 apresenta
o material do interior da Mini Bolsa. Já a Tabela
4 apresenta a curva de secagem da Mini Bolsa 3.

Tabela 3. Nova dosagem para a Mini Bolsa 3.


Figura 4. Material passante na Mini Bolsa 1.
IZET 803 IFLOC 101

Etapa Policloreto
Polímero
de Alumínio
Aniônico
18%
3 ppm
Etapa 1 0,20ml/L
(3ml/L)
3 ppm
Etapa 2 0,34ml/L
(3ml/L)

Figura 5. Material retido na Mini Bolsa.

Na Mini Bolsa 2 foi adicionado o polímero


dosado em frações de rejeito coletados da
tubulação da planta. O enchimento da Mini
Bolsa 2 foi realizado aos poucos, para que o Figura 6. Material retido na Mini Bolsa 3,
polímero fosse dosado e misturado similar à Mini Bolsa 2.

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134
Tabela 4. Curva de Secagem da Mini Bolsa 3.
b-) Por outro lado, faz-se necessária a verificação
das pressões que o bombeamento e os resíduos
Peso Peso % de
Data Horário inicial
Inicio
Final umidade
exercerão sobre o tecido das bolsas (Bag`s)
(g)
%
(g) final durante seu enchimento, bem como a pressão
após o empilhamento, garantindo que não haja
Dia 18 01:10:21 11,989 100 7,63 63,64 risco de rompimento (rasgo ou explosão) dos
Dia 19 00:24:33 12,764 100 9,64 75,54 mesmos. Para tanto, foram realizadas análises de
tensões, a partir do software Geocops. Ressalta-
Dia 23 100,89 72,49 71,85
se que essas análises são extremamente sensíveis
Dia 24 100,5 76,645 76,26 às características do resíduo desidratado,
podendo sofrer alterações em função dos
Após os ensaios da nova dosagem para a Mini resultados dos Testes Piloto, bem como do
Bolsa 3, verificou-se uma floculação comportamento real em campo.
considerável, reduzindo a “fuga” de finos
ocorrida no enchimento da Mini Bolsa 2. No c-) Para as análises de estabilidade
entanto, percebe-se claramente pelos dados da convencionais, usando o software Slide, buscou-
tabela que após 3 novos ciclos de enchimento, o se atender os mínimos fatores de segurança
material passante reduziu-se significativamente. exigidos pela norma NBR13029 de 07/2017, que
Esse fenômeno é denominado de filter cake, de diz respeito a elaboração de projeto de
ocorrência natural em processos de filtragem disposição de estéril/rejeito em pilha, sendo
com geotêxtil (Morgan, 2014). analisados os seguintes cenários de ruptura para
o empilhamento:
4 ANÁLISES DE ESTABILIDADE
• Condição Normal (FSmínimo de 1,50):
Para estimativa dos parâmetros do rejeito foram cenário final do empilhamento, contendo
considerados ensaios de caracterização em 2 rejeito adensado, onde o nível d’água
amostras, adotando-se um peso específico de 21 encontra-se numa posição máxima
kN/m³ para o rejeito adensado, tendo por base os estimada;
valores obtidos para o rejeito compactado
(ensaio de compactação). • Condição de solicitação sísmica
A polpa possui peso específico em torno de (FSmínimo de 1,10): cenário crítico,
13 kN/m³ a 14 kN/m³, com granulometria que onde é considerada a hipótese de
caracteriza o rejeito como silto arenoso. Adotou- ocorrência de efeito sísmico estimado,
se uma coesão nula e um ângulo de atrito de 32°. equivalente a 0,06.
Para os estudos de estabilidade foi utilizado o
software Slide, versão 6.0, da Rocscience, que A Figura 7 apresenta a análise de estabilidade
utiliza o método do equilíbrio limite, com que foi realizada considerando ruptura circular,
análises pela metodologia de Morgenstern-Price. inclinação de 28º, condição normal, e obtendo-
O nível d’água considerado foi inferido, sendo se o FS de 1,52. Para a condição sísmica, o FS
estabelecido numa cota mais elevada, em favor foi de 1,28.
da segurança nos dimensionamentos. Para as
análises de estabilidade foram assumidas as
seguintes premissas:

a-) Foram realizadas análises de estabilidade


geotécnica convencionais do tipo global, para
ruptura circular, sem considerar a presença dos
tecidos nas bolsas. Ressalta-se que a presença
dos tecidos auxilia na estabilidade, como se
atuassem como geotexteis de reforço.
Figura 7. Análise de estabilidade global.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

135
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS do adensamento e desaguamento dos materiais.
Em vista dos recentes acontecimentos no cenário
Para a implantação de sistemas de dessecagem das rupturas de barragens, é necessário que
de rejeitos de ouro na modalidade de Tubos de novas tecnologias sejam inseridas nos processos
Geotêxtil, é essencial que a fundação de base seja minerários, para que seja ampliada a questão da
completamente revestida por geomembrana a segurança das estruturas e haja uma maior
fim de evitar qualquer contaminação do lençol assertividade na mitigação de impactos e riscos
freático por resíduos contaminantes liberados ambientais.
durante o processo de dessecagem. Esse resíduo
deverá ser direcionado para local adequado
(sump ou reservatório), capaz de comportar o REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
volume de fluxo gerado, devendo ser
constantemente monitorado, de forma a garantir Morgan, Kevin R., "Geotextile Tubes and Their
a segurança do meio ambiente. Application to Dewatering" (2014). Electronic
Theses and Dissertations. 1196
Com relação aos estudos aqui apresentados
podem ser feitas as seguintes considerações:
AGRADECIMENTO
• Para validação dos dimensionamentos
deverão ser considerados os resultados Os autores agradecem à Maccaferri do Brasil
obtidos nos Testes Piloto – Fase 3, tendo em pelo imenso apoio na realização do projeto piloto
vista as características e comportamento do para testes dos materiais em campo.
rejeito. A Etapa 3 ainda não foi realizada.
• Durante as escavações é importante que
sejam seguidos os desenhos de projeto,
atentando para as condições do material a
ser removido, realizando as adequações de
geometria, caso necessário, visando sempre
a estabilidade e segurança da obra.
• Os parâmetros de fundação foram estimados
com base em valores de nSPT, uma vez que
não foram disponibilizados dados de ensaios
de resistência pelo cliente. Nesse sentido,
tendo em vista as incertezas envolvidas, é
recomendável que sejam realizados
futuramente ensaios de resistência e
adensamento em amostras da fundação para
validação desses parâmetros.

6 CONCLUSÕES

De posse dos resultados obtidos até o momento,


é possível verificar a eficiência na utilização dos
tubos de geotêxtil para dessecagem de resíduos,
principalmente no que diz respeito à saída de
água concomitante com a secagem da polpa. Tal
metodologia torna-se atraente quando
comparada às soluções tradicionais de
disposição de resíduos da mineração, tal como as
barragens, pelo fato de se ter um maior controle

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

136
Geossintéticos no Controle de Erosão
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Estudo do Comportamento da Face de Taludes Protegidos por


Geossintéticos Frente à Ação Pluviométrica
Maria Tereza da Silva Melo
UnB, UFG/UFCAT, Brasília, Brasil, mtsilvamelo@gmail.com

Ennio Marques Palmeira


UnB, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

Eder Carlos Guedes dos Santos


UFG, Goiânia, Brasil, edersantos@ufg.br

Marta Pereira da Luz


Eletrobras Furnas, PUC Goiás, Goiânia, Brasil, martapluz@gmail.com

RESUMO: Erosões são ocorrências comuns em taludes de corte e aterro quando não sofrem uma
intervenção externa para proteção das suas faces, manutenção e conservação da integridade da
estrutura do maciço. O processo de erosão superficial pode ser desencadeado pelas precipitações,
podendo ser intensificado pelo tipo, uso e cobertura de solo, perfil do terreno, ação do vento e taxa
de infiltração. Com a finalidade de analisar o comportamento dos taludes do canal de adução da
Barragem de Simplício/Eletrobras/Furnas, localizado entre os Estados de Minas Gerais e Rio de
Janeiro, iniciou-se um trabalho de pesquisa em parceria com Eletrobras Furnas para estudar qual
seria o geossintético mais adequado para conservar e proteger os taludes em questão. Para este fim,
foram realizados ensaios para caracterização geotécnica com o solo dos taludes e ensaios de
simulação de chuva em laboratório com amostras nas dimensões de 1,0 x 1,0 x 0,15 m com cada
material selecionado para o emprego em campo. Foram utilizadas, até o momento, três tipos de
materiais, sendo denominada de GA 1 uma geomanta com reforço metálico em malha hexagonal,
GA 2 uma biomanta de fibra de coco com tela plástica e GA 3 outra biomanta de fibra de coco. Nos
ensaios de simulação de chuva com duração de uma hora e intensidade média correspondente à da
região, observaram-se diferentes desempenhos em termos de quantidade de material erodido em
comparação com o ensaio de referência, com o solo sem proteção. O presente trabalho apresenta e
discute os resultados obtidos.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Processos erosivos, Controle, Taludes, Erosão superficial.

ABSTRACT: Erosions are common occurrences in slopes when they do not suffer external
intervention to protect their surfaces, maintenance and conservation of the integrity of the slope
structure. The surface erosion process can be triggered by rainfall and can be intensified by soil
type, soil use and cover, ground profile, wind action and infiltration rate. In order to analyze the
behavior of the slopes of the canal of the Simplício Dam/Eletrobras Furnas, located between the
states of Minas Gerais and Rio de Janeiro, a research project was started in association with
Eletrobras Furnas to study which would be the most suitable geosynthetic for conservation and
protection of the slopes. For this purpose, tests were carried out including geotechnical
characterization of slope soil and rainfall simulation tests in the laboratory on specimens measuring
1.0 x 1.0 x 0.15 m on each material selected for field use. Three types of protective geosynthetic
materials have been used so far, being GA 1 a geomat with hexagonal metallic mesh reinforcement,
GA 2 a biodegradable coconut fiber geomat with plastic screen and GA 3 another biodegradable
coconut fiber geomat. Rainfall simulation tests lasting one hour and with average intensity
corresponding to that of the region showed different performance in terms of the amount of eroded

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

139
material compared to the reference test on unprotected soil. The present work presents and
discusses the results obtained.

KEY WORDS: Geosynthetics, Erosive processes, Control, Slopes, Surface erosion

1 INTRODUÇÃO dois agentes principais os impactos das gotas de


chuva e o fluxo superficial. Quando a
As ações de uso e ocupação do solo geram intensidade da precipitação excede a
impactos nos recursos naturais, comprometendo permeabilidade do solo descoberto a água
a região e os agentes envolvidos. Com a excedente correrá talude abaixo como fluxo
remoção da cobertura vegetal e a instalação de superficial, transportando as partículas de solo
taludes de corte e aterro, podem levar ao desprendidas pelo impacto das gotas de chuva e
desencadeamento de processos erosivos. Diante pelo próprio fluxo. Para a mesma intensidade de
do exposto, são de grande importância precipitação e mesmo tempo, a quantidade de
pesquisas para encontrar soluções adequadas a solo erodido aumenta com o aumento da
se evitar deflagração de erosões nessas áreas inclinação do talude.
expostas. Conforme Cancelli et al. (1990), as
Dessa forma, é fundamental o estudo do precipitações que produzem grandes efeitos
potencial erosivo do solo e sua influência no erosivos são caracterizadas por curta duração e
desencadeamento de erosões nas regiões com alta intensidade. Nessa situação, após um curto
alteração no relevo ou mudança da ocupação do intervalo de tempo, a camada superficial do
solo. Para isso, faz-se necessária a realização de solo fica completamente saturada e ocorre o
pesquisas que analisem a susceptibilidade de escoamento superficial, onde a cobertura
taludes à erosão por meio de ensaios de vegetal tem importante papel no controle da
laboratório e de campo. erosão.
Neste contexto, os geossintéticos são Marques & Geroto (2015) afirmam que, os
materiais que auxiliam na contenção dos geossintéticos utilizados para exercer a função
processos erosivos, evitando o destacamento e o de controle de processos erosivos devem reter
arraste dos grãos de solo, mantendo a os finos dos solos subjacentes ou dos materiais
integridade do mesmo. transportados, reduzir as velocidades de
A utilização dos geossintéticos na aplicação escoamento e os esforços tangenciais gerados
em taludes tem o objetivo de diminuir a vazão, pelo fluxo superficial.
o volume e a energia escoada na superfície Cancelli et al. (1990) constataram a função
inclinada do terreno. Essas técnicas visam efetiva do geossintético em seus testes de
atenuar os possíveis impactos na base do talude erosão e escoamento com ação de
ou a jusante da área. confinamento. Eles discorrem que os
De acordo com Camapum de Carvalho et al. geossintéticos têm a função de confinar o solo e
(2006), o escoamento das águas de chuvas por evitar o deslizamento localizado do mesmo.
fluxo superficial está diretamente relacionado à Esta condição ocorre porque os produtos
quantidade de infiltração da água no solo, sendo provocam uma distribuição uniforme da água
o processo de erosão superficial caracterizado do escoamento superficial do solo, de maneira
pela remoção uniforme do solo ao longo da que a água não possua força suficiente para
vertente. Dependendo da inclinação do talude produzir sulcos profundos como acontece no
ou encosta, surge o aparecimento de sulcos, que solo desprotegido.
podem, com o passar do tempo, levar a outros Os simuladores de chuva têm sido usados em
tipos de erosão. diversos estudos sobre erosões, tais como para
Segundo Touze-Foltz & Zanzinger (2016), a avaliar as perdas de solo, água e nutrientes,
perda de solo devido à erosão causada pela infiltração de água e lixiviação em solos. Têm
chuva é uma combinação de desprendimento do como principais vantagens a possibilidade de
solo e transporte imediato, sendo neste caso os utilização em qualquer época do ano e o

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140
controle das características da chuva. Dentre área considerada, mais o coeficiente de
essas características, tem-se o diâmetro e a uniformidade se aproxima de 100%. Nos
distribuição das gotas da chuva simulada, altura estudos realizados pelo autor, o coeficiente de
de queda e velocidade, tempo de duração, uniformidade obtido para as diferentes
intensidade e energia cinética, não sendo intensidades de precipitações testadas foi cerca
possível controlar todos esses parâmetros no de 70%, sendo considerado suficiente para uma
caso de uma chuva natural (Ribeiro et al., simulação bem sucedida, com o qual também
2000). concordam outros autores, tais como, Loch et
Smets et al. (2011) verificaram, nos seus al. (2001) e Lascelles et al. (2000).
experimentos de simulação de chuva que a Diante do exposto, este trabalho tem o
precipitação que cai sobre os geotêxteis objetivo de analisar o comportamento do solo
contribui diretamente para o escoamento quando submetido a uma chuva simulada em
superficial, levando a uma diminuição da laboratório, simulando um talude com
profundidade do escoamento em comparação inclinação definida nas condições de solo
com a situação de solo descoberto. descoberto, e protegido por três tipos de
Ogbobe et al. (1998), em seus estudos com geossintéticos diferentes, comparando-se os
simulador de chuvas, visaram a prevenção de desempenhos em termos de quantidade de
erosões em taludes variando as inclinações material erodido.
entre 10° a 45° com o solo protegido com
geossintético e desprotegido. Para verificar a
eficiência do uso entre três geomantas, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
mediram-se as quantidades de solo erodido em
cada caso. 2.1 Geossintéticos
Smets et al. (2011), realizaram um trabalho
fazendo ensaios de campo e de laboratório com Para este trabalho foram utilizadas 3 geomantas
simulador de chuvas utilizando diferentes tipos diferentes, aqui denominadas de: GA 1, GA 2 e
de geomantas e chegaram à conclusão de que, GA 3. A Figura 1 apresenta esses materiais.
apesar de algumas deficiências na realização
dos ensaios de laboratório para representar as
condições verdadeiras do campo, os
experimentos tiveram resultados semelhantes
aos resultados de campo, na taxa de escoamento
e na perda de solo média.
Herngren (2005) afirma que para utilização
de um simulador de chuvas os parâmetros como
intensidade, uniformindade da precipitação e Figura 1. Detalhes dos geossintéticos utilizados nos
distribuição do tamanho da gota precisam ser ensaios.
calibrados para reproduzir com precisão as
características da chuva do projeto. Algumas propriedades físicas e mecânicas
Para gerar o escoamento, a intensidade da das geomantas utilizadas são apresentadas na
chuva tem que ser maior que a capacidade de Tabela 1.
infiltração do solo, sendo que a taxa de erosão
aumenta gradualmente com o aumento da Tabela 1. Propriedades físicas e mecânicas geomantas.
intensidade da precipitação, como descrito em
vários estudos, tais como Mermut et al. (1997),
Lascelles et al. (2000), Loch et al. (2001), Fu et
al. (2011) e outros.
De acordo com Miguntanna (2009), o
coeficiente de uniformidade da chuva é
expresso em porcentagem, e quanto mais
uniforme for a intensidade de precipitação na

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141
2.2 Solo 2.5 Equipamento de simulação de chuvas

O solo utilizado neste trabalho foi retirado de O equipamento utilizado neste estudo é um
taludes localizados nos canais de adução da simulador portátil de chuvas por aspersão, o
Barragem de Simplício (Eletrobras/Furnas), qual foi idealizado e desenvolvido por Mendes
localizados na divisa dos estados do Rio de (2016), que justifica o seu desenvolvimento por
Janeiro e Minas Gerais. reproduzir chuvas artificiais com características
Foram realizados ensaios de caracterização muito próximas das chuvas reais e com
geotécnica, compactação e cisalhamento direto diferentes intensidades. O modelo do
para auxiliar nas análises dos ensaios de equipamento proposto por Mendes (2016) é
simulação de chuva. apresentado na Figura 2.

2.3 Ensaios de caracterização geotécnica e


compactação

Para a caracterização geotécnica do material,


foram realizados ensaios de acordo com as
normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
Para a obtenção da distribuição
granulométrica do material foi realizado o
ensaio de análise granulomética conjunta para
determinação das partículas tanto na fração Figura 2. Modelo simulador de chuva (Mendes, 2016).
grossa quanto na fração fina, obtidas pelos
processos de peneiramento e sedimentação. O equipamento permite avaliar o escoamento
Foram também realizados os ensaios de Limites superficial em taludes levando em consideração
de Consistência e determinação do Índice de o fator declividade, que pode ser alterado de
Plasticidade do material. acordo com o interesse e o objetivo de cada
O ensaio de compactação foi realizado com ensaio. Com isso, avalia-se o comportamento
energia equivalente ao Proctor Normal, sem do solo em relação à infiltração e à quantidade
reutilização do material, em cilindro pequeno, de material erodido para uma dada inclinação.
obedecendo às recomendações da Norma A caixa de acrílico utilizada neste
ABNT NBR–7182. equipamento tem as dimensões de 1,0 x 1,0 x
Determinou-se também a massa específica 0,15 m. A Figura 3 mostra o equipamento
dos grãos e a massa específica aparente. durante um ensaio de simulação de chuva.

2.4 Ensaios de cisalhamento direto

Para a execução dos ensaios de cisalhamento


direto foram moldados corpos de prova com a
intenção de atingir a densidade do solo em
campo. O solo foi compactado em um cilindro
metálico para posteriormente serem retirados os
corpos de prova para os ensaios.
Os corpos de prova para os ensaios foram
preparados em um molde metálico de 6,0 cm x
6,0 cm, sendo o mesmo cravado lentamente no
cilindro de solo.
Os ensaios foram executados na condição de
umidade natural e na condição inundada.
Figura 3. Execução de um ensaio de simulação de chuva.

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142
2.6 Determinação das condições de ensaio e
dos parâmetros da chuva

A inclinação da caixa acrílica que compõe o


equipamento simulador de chuvas foi de 25°, de
acordo com os parâmetros de resistência do
material determinados nos ensaios de
Figura 4. Detalhe da instalação dos geossintéticos na
cisalhamento direto. caixa acrílica (GA 1, GA 2 e GA 3).
A simulação da chuva foi gerada pelo
equipamento por meio de um aspersor de O ensaio de simulação de chuva foi realizado
pulverização quadrada de ¼” na pressão de 70 durante um período de 1 hora, com as amostras
kPa, gerando um coeficiente de uniformidade de materiais coletadas a cada 5 minutos. Todo o
(CUC) de 70% e uma intensidade da chuva de material erodido da caixa acrílica era
131 mm/h, sendo o tempo de duração do ensaio direcionado para a calha coletora e recolhido
de 1h. em recipientes.
O valor da intensidade da chuva definido Após o final de cada ensaio, os materiais
para o ensaio foi de acordo com os resultados coletados foram levados ao laboratório para a
dos ensaios de uniformidade e tomando como determinação da quantidade de solo carreado
referência os dados pluviométricos da região da em cada tempo especificado.
Barragem de Simplício.

2.7 Ensaio de simulação de chuva 3 RESULTADOS


Para a realização do ensaio de simulação de 3.1 Propriedades geotécnicas do solo
chuva, o solo foi preparado na umidade de
campo e compactado na caixa acrílica. De acordo com os resultados apresentados na
A compactação do solo foi feita em duas análise de distribuição granulométrica, o solo
camadas de 7,5 cm, utilizando-se uma placa de utilizado possui predominância de silte,
madeira nas dimensões de 40 x 40 cm para apresentando cor rosada e presença de raízes
prover uma uniformidade maior na camada a finas.
ser compactada. A Tabela 2 mostra os resultados dos ensaios
A verificação da compactação foi feita com a de análise de distribuição granulométrica por
retirada de uma amostra indeformada e a peneiramento e sedimentação, tendo o ensaio de
realização do ensaio de massa específica sedimentação sido executado com defloculante.
utilizando-se a balança hidrostática.
Primeiramente, realizou-se o ensaio controle Tabela 2. Resultado do ensaio de análise granulométrica.
com o solo descoberto; depois foram realizados
os ensaios com a proteção dos materiais
geossintéticos instalados na superfície do solo,
sendo os mesmos fixados com grampos
metálicos.
Foi adotada uma quantidade única de 25 Na Tabela 3 são apresentados os resultados
grampos para todos os ensaios executados. Essa dos ensaios de limites de consistência, peso
quantidade permitiu que toda a amostra específico real dos grãos e compactação. A
estivesse em contato com o solo, não havendo tabela também apresenta o valor do índice de
espaço entre os mesmos que pudesse plasticidade de 17% e a umidade ótima de
desencadear um caminho preferencial que 17,8%.
provocasse erosões na superfície do solo. A
Figura 4 mostra detalhe da colocação dos
materiais utilizados como proteção na superfície
do solo.

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143
Tabela 3. Resultados dos ensaios dos limites de descoberto e com a proteção com os
consistência e compactação. geossintéticos.

Os resultados dos ensaios de resistência ao


cisalhamento apresentaram, para a condição de
umidade natural, uma envoltória de resistência
com valor de ângulo de atrito de 34° e de
intercepto de coesão de 16,5 kPa. Na condição Figura 6. Perda de solo total para os ensaios com o solo
inundada, os parâmetros de resistência descoberto e com a proteção dos geossintéticos.
resultaram em um ângulo de atrito de 30° e de
intercepto de coesão de 1,6 kPa. Esse
comportamento demostra que, na condição 4 DISCUSSÃO
inundada, o solo praticamente não tem coesão.
As geomantas utilizadas mostraram-se
3.2 Ensaios no simulador de chuvas eficientes, diminuindo a quantidade de material
erodido em comparação com o solo na condição
Para a simulação de chuva, foram coletadas as sem proteção. A geomanta GA 2 foi a que
quantidades de perda de solo em cada situação apresentou maior eficiência em relação à
do ensaio. Primeiramente, executou o ensaio diminuição do carreamento do solo da
com a superfície do solo descoberto e superfície. O resultado melhor apresentado por
posteriormente com as três opções de proteção essa geomanta foi devido ao fato do material
da superfície. promover uma cobertura maior da superfície do
A Figura 5 apresenta a perda de solo solo, diminuindo a intensidade do impacto das
acumulada, em escala semi-logarítmica, para os gotas de chuva e distribuindo o fluxo na
ensaios realizados na inclinação de 25° para as superfície do solo de forma mais uniforme.
diferentes geomantas testadas. Observam-se na
figura diferentes comportamentos dos materiais
utilizados para a proteção da superfície do solo. 5 CONCLUSÕES
Todas as geomantas ensaiadas resultaram em
quantidades de solo erodido menores do que na Este trabalho analisou o comportamento de um
situação com o solo descoberto. solo quanto à erosão sob condições sem e com
proteção com geomanta. Os resultados obtidos
permitiram avaliar qual material geossintético
foi mais eficiente na proteção da superfície do
solo, diminuindo o carreamento durante o
ensaio de simulação de chuva.
Durante os ensaios a geomanta GA 2
apresentou o melhor resultado como proteção,
com o menor valor de perda de solo erodido. A
geomanta GA 1 foi a que apresentou maior
quantidade de solo erodido, mas ainda foi
inferior em relação à situação do solo
Figura 5. Perda de solo acumulada nos ensaios de
simulação de chuva. descoberto. Já a geomanta GA 3 mostrou
valores um pouco maiores que a GA 2, mas se
A Figura 6 apresenta a perda de solo total de mostrando mais eficiente que a GA 1.
todos os ensaios executados, com o solo Ensaios adicionais encontram-se em
andamento com outras geomantas, visando um

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144
melhor entendimento na contribuição deste tipo Mermut, A. R., Luk, S. H., Römkens, M. J. M. & Poesen,
de geossintético no controle de erosões J. W. A. (1997). Soil Loss by Splash and Wash
During Rainfall from Two Loess Soils. Elsevier
superficiais. Science B. V. Geoderma 75: 203-214.
Miguntanna, N. S. (2009). Determining a Set of
Surrogate Parameters to Evaluate Urban Stormwater
AGRADECIMENTOS Quality. Degree of Master of Science in Engineering,
Faculty of Built Environment and Engineering,
Queensland University of Technology, Australia,
Os autores agradecem às empresas Furnas e 311p.
Ínga Engenharia pelo apoio dado à pesquisa. Ogbobe, O., Essien, K. S. & Adebayo, A. (1998). A Study
Agradecem também aos fabricantes das of Biodegradable Geotextiles Used for Erosion
geomantas ensaiadas. Control. Geosynthetics International, Vol. 5, 5: 545 –
553.
Ribeiro, B. T.; Magalhães, C. A. S.; Lima, J. M. & Silva,
M. L. N. (2000). Calibração e Uso de Minissimulador
REFERÊNCIAS de Chuva Para Estudos de Erosão e Poluição do
Solo. Boletim Técnico, Lavras, MG, 77: 1-17.
Camapum de Carvalho, J., Sales, M. M., Souza, N. M. & Smets, T., Poesen, J., Bhattacharyya, R., Fullen, M. A.,
Melo, M. T. S. (2006). Processos Erosivos no Centro- Subedi, M., Booth, C. A., Kertész, A., Szalai, Z.,
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FINATEC, Brasília, DF, 464p. A., Bezerra, J.F.R., Zheng Yi, Panomtaranichagul,
Cancelli, A., Monti, R. & Rimoldi, P. (1990). M., Bühmann, C. & Paterson, D. G. (2011).
Comparative Study of Geosynthetics for Erosion Evaluation of Biological Geotextiles for Reducing
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Fu, Z., Li, Z., Cai, C., Shi, Z., Xu, Q. & Wang, X. (2011). Touze-Foltz, N. & Zanzinger, H. (2016). Laboratory
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Characteristics under Sloping Lands: A Geosynthetics for Surface Erosion Control. European
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Herngren, L. (2005). Build-up and Wash-off Process
Kinetics of PAHs and Heavy Metals on Paved
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of Philosophy, Faculty of Built Environment and
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Lascelles, B., Favis-Mortlock, D. T., Parsons, A. J. &
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Marques, A. C. M. & Geroto, R. E. (2015). Aplicações
em Controle de Erosão Superficial. Manual Brasileiro
de Geossintéticos, J. C. VERTEMATTI (eds), 2ª
edição, Editora Edgar Blücher, São Paulo, SP, pp.
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Mendes, T. A. (2016). Desenvolvimento de Simulador
Portátil de Chuva por Aspersão para Avaliação do
Coeficiente de Escoamento Superficial de Solo
Vegetado para Fins Geotécnicos. Seminário de
Geotecnia, Faculdade de Tecnologia, Programa de
Pós-Graduação e Geotecnia, UnB, Brasília, DF.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

145
146
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Estudo da Estabilidade Global de Diques Costeiros Construídos


com Empilhamento de FTTs – Formas Têxteis Tubulares
Mariana Barbosa Juarez
Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, mbjuarez15@hotmail.com

Fernando Luiz Lavoie


Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, Brasil, fernando.lavoie@maua.br

RESUMO: As zonas costeiras são áreas expostas ao impacto das chuvas e ao escoamento da água,
fatores que levam à erosão do solo. Para minimizar os efeitos desse fenômeno, obras hidráulicas
devem ser executadas. As estruturas podem ser construídas com materiais convencionais, como
concreto, terra e enrocamento, ou com geossintético. O material surgiu na Holanda na década de 50,
mas ainda é pouco utilizado no Brasil para este fim. É conhecido por ser bastante versátil, indicado
para proteção, reforço, filtração, drenagem e contenção. Uma das opções, então, é criar um dique com
tubos de geotêxtil, preenchidos com material apropriado e empilhados até atingirem uma determinada
altura. Neste trabalho foram realizados, principalmente, os estudos de dimensionamento e
estabilidade. De forma secundária, foram abordados funcionamento e instalação. Com o auxílio do
software Slide, foi possível desenhar o contorno da seção do dique e configurar as propriedades do
geotêxtil e do material de preenchimento que, no caso das encostas, pode ser a própria areia do local.
Admitindo um solo arenoso não coesivo, foram realizadas simulações com três ângulos de atrito: 30°
35° e 40°. O objetivo foi identificar a superfície de ruptura e o fator de segurança para diversas alturas
do dique, estabelecendo assim uma altura crítica para a estrutura. Adicionalmente, foram propostas
duas soluções para o problema: a primeira baseou-se na alteração do conteúdo de preenchimento e a
segunda consistiu na associação de dois geossintéticos a partir da instalação de geogrelhas.

PALAVRAS-CHAVE: Costa, Erosão, Tubos de Geotêxtil, Dique, Contenção.

ABSTRACT: Coastal zones are areas exposed to the impact of rainfall and water runoff, factors that
lead to soil erosion. To minimize the effects of this phenomenon, hydraulic works must be performed.
The structures can be constructed with conventional materials such as concrete, earth and rock, or
with geosynthetics. The material appeared in the Netherlands in the 50s, but it is no longer applied in
Brazil. It is known to be quite versatile material, suitable for protection, reinforcement, filtration,
drainage and containment. Is possible to create a dyke with geotextile tubes filled with appropriate
material and stacked until they reach a certain height. The main topics analyzed in this research were
structural dimensioning and external stability. Operation and installation were also discussed. Using
the Slide software, it was possible to draw the contour of the section of the dyke and to configure the
properties of the geotextile and the fill material which can be the sand of the site. Assuming a non-
cohesive sandy soil, simulations were performed with three friction angles: 30°, 35° and 40°. The
objective was to identify the rupture surface and the safety factor for several heights and to establish
a critical height in which the structure doesn’t meet the minimum requirements of stability;
Additionally, two solutions were proposed to solve the problem: the first one was based on the change
of the fill content and the second one consisted in the association of two geosynthetics by the
installation of geogrids.

KEY WORDS: Coastal, Erosion, Geotextile Tubes, Dyke, Containment.

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147
1 INTRODUÇÃO surgiram na Holanda ainda na década de 50 e
eram, basicamente, sacos de náilon preenchidos
Os processos erosivos são muito danosos ao com areia. Com a evolução e a possibilidade de
meio natural, especialmente nas áreas de selecionar propriedades, o material passou a ser
transição entre a faixa terrestre e a faixa utilizado em muitos outros países e a atuar não
marítima, também chamadas de zonas costeiras. somente em obras de proteção, como também em
A gestão do problema é bastante complexa e aterros, reforços de solo e barragens.
desafiadora, pois além das causas naturais que No Brasil, os primeiros geotêxteis foram
levam ao enfraquecimento do solo, devem ser fabricados na década de 70 e eram utilizados,
levadas em consideração as interferências principalmente, como filtros de transição. Em
humanas na região. A ocupação inadequada, que 1981, na cidade de São Luís do Maranhão, foi
ocorre sem nenhum planejamento e muitas vezes realizado o primeiro teste de preenchimento de
não segue a legislação que estabelece recuos um tubo geotêxtil para uma obra de contenção de
entre as construções e a linha de costa, um aterro hidráulico.
compromete severamente a vegetação original
que antes servia de proteção. Nesse contexto,
surge a necessidade de obras que garantam 3 DIMENSIONAMENTO DO DIQUE DE
estabilidade, prevenindo deslizamentos de terra. TUBOS DE GEOTÊXTIL
As obras hidráulicas de contenção dividem-se
em três tipos: as de contenção de erosão Os diques propriamente ditos têm como função
superficial, de fluxos hídricos e de aterros deter os sedimentos, reduzir a velocidade da
mecânicos ou hidráulicos. No caso das zonas água e, consequentemente, prevenir a terra dos
costeiras, as obras devem atuar de acordo com as processos erosivos. Para que os tubos de
duas primeiras classificações. As estruturas geotêxtil tenham esse tipo de atuação, eles
protegem o solo de uma possível ruptura devido devem ser dimensionados, preenchidos
a ondas e variações da maré, atenuando o fluxo hidraulicamente com material apropriado e
de água (Vertematti, 2004). podem ainda ser empilhados ou superpostos até
Após o esclarecimento da finalidade da obra atingirem uma determinada altura.
de contenção, é essencial a escolha correta do No tubo de geotêxtil linear, as dimensões são
material a ser utilizado. As estruturas podem ser estabelecidas por meio de alguns cálculos.
construídas com materiais convencionais, como Inicialmente, devem-se considerar as seguintes
concreto, terra e enrocamento (blocos de rocha hipóteses apresentadas por Liu, Kazimierowics e
compactada), ou ainda, com geossintético. Carroll (apud Vertematti, 2004): devido ao longo
O geossintético é constituído por polímeros comprimento dos tubos, todas as seções
que derivam do petróleo e algumas fibras transversais são similares, logo estão sujeitas às
naturais. Embora existam diversos modelos mesmas forças; o peso do geotêxtil é
comerciais, a pesquisa a seguir destaca o uso dos desprezível; não há tensão de cisalhamento entre
tubos de geotêxtil ou formas têxteis lineares. A o material de preenchimento e o geotêxtil; e, por
técnica tem sido bastante aceita por apresentar fim, o cálculo da resistência à tração deve
vantagens ambientais, uma vez que o considerar fatores de redução, cujas causas vão
preenchimento dos tubos pode ser feito com desde danos à instalação até a exposição a
material local. Dessa forma, evitam-se todos os agentes agressivos.
impactos gerados no transporte de um material Em seguida, com a determinação da altura, da
de empréstimo (Castro et al., 2008). geometria, das tensões na seção e da densidade
do material de preenchimento, é possível criar
uma lista de especificações.
2 HISTÓRICO DOS TUBOS DE O empilhamento é outro ponto fundamental
GEOTÊXTIL da obra, pois o posicionamento escolhido
influencia diretamente na estabilidade. À medida
A ideia de tubos produzidos com geossintético que o dique adquire altura, é necessário atentar-
não é tão recente. Os primeiros protótipos se a um possível rolamento do conjunto, uma vez

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148
que a tensão na base é maior. Existem duas • 35° - valor típico para areias fofas, mal
formas de empilhar os tubos: na mesma direção graduadas e de grãos angulares;
ou em direções opostas. Na primeira, tanto os • 40° - valor típico de areias compactas, bem
tubos da base quanto os do corpo da pirâmide graduadas e de grãos arredondados.
apresentam-se na mesma direção. Já na segunda,
alguns tubos são posicionados na direção É válido ressaltar que na análise numérica o
longitudinal e outros na transversal, promovendo formato cilíndrico não pôde ser reproduzido,
um auto travamento entre eles (Martins & Vidal, sendo substituído por uma aproximação
2006). retangular. No estudo realizado, foram
consideradas as FTTs empilhadas paralelamente.
Também não foram considerados os vazios no
4 MATERIAL E MÉTODOS encontro entre os geotêxteis, portanto, tais
condições não apresentam influência direta
4.1 Simulação sobre os resultados apresentados. Neste caso, há
a necessidade de um estudo por meio do método
Para o estudo da estabilidade desse tipo de de elementos finitos.
estrutura, foi utilizado como ferramenta o
software Slide da Rocscience. O procedimento 4.1.2 Métodos de Análise de Estabilidade
realizado numericamente foi: desenho do
contorno da seção do dique por meio de Após a indicação dos parâmetros, foram
coordenadas cartesianas, definição das selecionados no software três métodos de análise
propriedades do solo de preenchimento e do de estabilidade: Bishop simplificado, Janbu
geossintético que reveste os tubos de geotêxtil, simplificado e Spencer. Todos são considerados
inserção do nível de água e criação de uma grade métodos das fatias, nos quais há a divisão da
de cálculos para localização do menor fator de superfície de ruptura em parcelas e o estudo dos
segurança, conforme a Figura 1. esforços em cada uma delas.
O Método de Bishop simplificado é um
modelo iterativo que admite superfícies de
ruptura circulares e uma resultante horizontal em
cada fatia. O de Janbu simplificado apresenta as
mesmas hipóteses de equilíbrio de forças, mas
com um fator de correção empírico. O de
Spencer se aplica a diversos tipos de superfícies
de ruptura e considera todas as equações de
forças e momentos (Fabrício, 2006).
Figura 1. Representação gráfica do dique de contenção.
5 RESULTADOS
4.1.1 Parâmetros
A simulação numérica foi realizada para três
Foram adotados tubos com 4,3 metros de
valores de ângulos de atrito distintos de uma
largura, 1,0 metro de altura e 20,0 metros de
areia inserida nos tubos de geotêxtil e um nível
comprimento, revestidos por material geotêxtil
d’água no topo da estrutura.
de resistência à tração igual a 31 kN/m. Para a
seção final do dique, admitiram-se taludes com
5.1 Solo com ângulo de atrito φ’ = 30°
inclinação de 25°.
A Figura 2 apresenta o resultado da simulação
O preenchimento dos protótipos foi feito com
numérica para o ângulo de atrito de 30°, com
o próprio solo local, sendo esse uma areia não
altura da estrutura de 7 metros para o método de
coesiva com ângulo de atrito φ’ variando em:
Janbu Simplificado.
• 30° - valor típico para areias fofas, bem
graduadas e de grãos arredondados;

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149
A Tabela 2 mostra os resultados dos fatores de
segurança para o ângulo de atrito de 35° com a
variação da altura da estrutura, considerando os
três métodos de análise de estabilidade utilizados
neste estudo.
Tabela 2. Fator de segurança para φ’ = 35°.
Fator de Altura H (metros)
Segurança
3 5 10 15 20
Método de Bishop
2,14 1,86 1,71 1,65 1,61
Simplificado
Método de Janbu
2,14 1,86 1,68 1,61 1,57
Figura 2. Fator de segurança = 1,43 e superfície de Simplificado
ruptura para dique de 7 metros (Janbu Simplificado). Método de
2,15 1,90 1,71 1,65 1,61
Spencer
A Tabela 1 mostra os resultados dos fatores de
segurança para o ângulo de atrito de 30° com a 5.3 Solo com ângulo de atrito φ’ = 40°
variação da altura da estrutura, considerando os
três métodos de análise de estabilidade utilizados A Figura 4 apresenta o resultado da simulação
neste estudo. numérica para o ângulo de atrito de 40°, com
altura da estrutura de 20 metros para o método
Tabela 1. Fator de segurança para φ’ = 30°. de Janbu Simplificado.
Fator de Altura H (metros)
Segurança
3 4 5 6 7
Método de Bishop
1,81 1,67 1,56 1,53 1,48
Simplificado
Método de Janbu
1,78 1,64 1,54 1,48 1,43
Simplificado
Método de
1,81 1,69 1,57 1,53 1,48
Spencer

5.2 Solo com ângulo de atrito φ’ = 35°

A Figura 3 apresenta o resultado da simulação


numérica para o ângulo de atrito de 35°, com Figura 4. Fator de segurança = 1,88 e superfície de ruptura
altura da estrutura de 20 metros para o método para dique de 20 metros (Janbu Simplificado).
de Janbu Simplificado.
A Tabela 3 mostra os resultados dos fatores de
segurança para o ângulo de atrito de 40° com a
variação da altura da estrutura, considerando os
três métodos de análise de estabilidade utilizados
neste estudo.
Tabela 3. Fator de segurança para φ’ = 40°.
Fator de Altura H (metros)
Segurança
3 5 10 15 20
Método de Bishop
2,49 2,19 2,02 1,96 1,92
Simplificado
Método de Janbu
2,54 2,20 1,99 1,92 1,88
Figura 3. Fator de segurança = 1,57 e superfície de ruptura Simplificado
para dique de 20 metros (Janbu Simplificado). Método de
2,54 2,24 2,03 1,96 1,92
Spencer

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150
6 DISCUSSÃO 6.2 Instalação de geogrelhas

A partir dos modelos criados, verificou-se que o A associação de dois tipos de geossintéticos
fator de segurança atinge o valor mínimo também é uma opção viável para contornar o
aceitável de 1,5 até uma determinada altura. A comprometimento da estabilidade do dique na
partir dessa altura crítica, algumas medidas altura crítica. As geogrelhas, indicadas
podem ser tomadas para que a segurança da principalmente para reforço, consistem em
estrutura não seja comprometida. elementos extrudados, soldados ou tecidos, cuja
Notou-se também que as condições de aparência assemelha-se a de uma grelha.
estabilidade alteraram-se significativamente Devido à alta resistência à tração do produto,
com o ângulo de atrito, parâmetro do solo que pode ser uni ou bidirecional, a geogrelha
associado à resistência ao cisalhamento. Para um pode ser instalada entre algumas ou todas as
ângulo de atrito de 30°, a altura crítica do dique camadas de FTTs que formam a seção do
se deu entre 6 e 7 metros quando o fator de conjunto. A ideia é que ela proporcione um
segurança ficou em torno de 1,4. Já para o ângulo maior travamento entre todos os componentes.
de atrito de 35° o dique só chegou próximo à Neste caso, o aumento do custo da obra
altura crítica quando atingiu cerca de 20 metros, também é uma consequência, de modo que não é
altura pouco usual para esse tipo de estrutura. O possível afirmar qual das duas soluções
solo confinado no tubo de geotêxtil com ângulo propostas seria mais adequada. Tal pergunta
de atrito de 40° não atingiu a altura crítica para deve ser respondida de acordo com as
20 metros, neste caso, os valores dos fatores de especificações de cada caso em que ambas forem
segurança ficaram na ordem de 1,9, valor este sugeridas.
bastante confortável para a estabilidade global da
estrutura.
Para o primeiro caso estudado, foram 7 CONCLUSÕES
expostas duas soluções de reforço da estrutura
para que a altura crítica ultrapassasse os 7 Diante das análises, as formas têxteis tubulares
metros: mudança no preenchimento dos tubos e (FTTs) ou tubos de geotêxtil mostraram-se uma
instalação de outro tipo de geossintético. alternativa bastante viável para obras de
contenção, uma vez que apresentam elevada
6.1 Alteração do material de preenchimento versatilidade, podendo ser preenchidos com
diversos tipos de materiais. Para evitar e atenuar
A resistência ao cisalhamento de um solo é os efeitos da erosão em zonas de costa, um dique
composta por duas parcelas: o atrito e a coesão. pode ser criado a partir do empilhamento de
Em solos granulares, a maior parte dessa tubos geotêxteis preenchidos com a areia do
propriedade deve-se ao ângulo de atrito (fato que próprio local, diminuindo custos e impactos com
justifica o aumento do fator de segurança do transporte e instalação.
dique à medida que se aumentou tal ângulo de Mesmo com a variação dos parâmetros de um
30º para 40º nos parâmetros de simulação). solo arenoso, como o ângulo de atrito, é possível
Enquanto que em solos coesivos, como as garantir fatores de segurança dentro do aceitável
argilas, a parcela principal é a coesão. para alturas consideráveis.
Dito isso, preenchendo-se hidraulicamente os Existe ainda a possibilidade de utilização de
tubos de geotêxtil com material de coesão reforços geossintéticos entre camadas dos tubos
diferente de zero, é possível aumentar a de geotêxtil, que poderiam melhorar a
estabilidade do conjunto. Os principais aspectos estabilidade da estrutura, mas, impactaria no
a serem estudados, ante a execução da solução custo da obra. Além disto, alterando-se o
apresentada, são: o empréstimo e o transporte do material de preenchimento dos FTTs para um
“novo” material a ser utilizado, e o consequente solo coesivo, poder-se-ia obter melhoria na
aumento de custo na obra. estabilidade da estrutura. No entanto, em um
projeto real, a mudança no tipo de solo implicaria
no aumento de custo e no aumento de tempo de

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151
execução da obra, pois haveria a necessidade da
escolha de uma área de empréstimo.

AGRADECIMENTOS

Um agradecimento especial ao Instituto Mauá de


Tecnologia, ao corpo docente, às áreas de
direção e administração.
Ao professor e orientador, Fernando Luiz
Lavoie, por todo acompanhamento e suporte ao
longo do desenvolvimento do trabalho.
Aos meus pais, por todo amor, incentivo e
tempo dedicado. E a todos que direta ou
indiretamente me auxiliaram.

REFERÊNCIAS

Castro, N. P. B. Escobar, L. G. B. Martins, P. M. (2008) O


uso da tecnologia de tubos de geotêxtil para controle
de erosão marinha e fluvial.
Fabrício. J. V. F. (2006) Análises probabilísticas da
estabilidade de taludes e contenções. Dissertação de
Mestrado – Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.
Martins. P. M. Vidal, D. M. (2006) Tubos geotêxteis para
acondicionamento e desaguamento de rejeitos de
mineração. Anais do 12º Encontro de Iniciação
Científica e Pós-Graduação do ITA. São José dos
Campos, SP.
Vertematti, J. C. et al. (2004) Manual Brasileiro de
Geossintéticos. 1ª Edição. São Paulo: Blucher.

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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
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Eficácia da Geomanta Aplicada no Controle da Erodibilidade em


Taludes
Ronaldo Ramos de Oliveira
Maccaferri do Brasil, Salvador, Brasil, r.oliveira@maccaferri.com

João Carlos Baptista Jorge da Silva


UFBA/UEFS, Salvador, Brasil, jcarlos3787@gmail.com

Miriam de Fátima Carvalho


UCSAL, Salvador, Brasil, miriam.machado@ucsal.br

Maria do Socorro Costa São Mateus


UEFS, Feira de Santana, Brasil, somateus@gmail.com

Jamara Gama Moura


UCSAL, Salvador, Brasil, jamara_moura12@hotmail.com

Viviane de Lima Assis


UCSAL, Salvador, Brasil, viviane_bdo@hotmail.com

RESUMO: O presente artigo avalia experimentalmente a eficácia do emprego da geomanta sintética


para reduzir o impacto dos processos erosivos. Escolheu-se um talude com classificação geológica
do grupo Barreiras, localizado em Simões Filho – BA, em que foi selecionada a litofácie arenosa para
estudo. O solo foi classificado de acordo com o sistema unificado como uma areia argilosa (SC) e
pela Metodologia MCT como areia não laterítica (NA) e Grau 2 para erodibilidade, sendo considerada
mediamente erodível com sulcos frequentes (valores entre 0,2 e 0,3 para o índice c’ e valores entre
1,8 e 2,0 para o índice e’). Os ensaios laboratoriais de perda de solo foram conduzidos em triplicata,
em amostras compactadas em uma caixa vertedor (dimensões 50x50x8 cm), submetidas a chuva
simulada com intensidade média de 71 mm/h, por 20 minutos e coletando as parcelas de solos
depreendidas por escoamento superficial e salpicamento (splash). Os ensaios foram realizados
variando a inclinação da superfície da amostra em 50° e 30º e cobertura da superfície (sem e com
geomanta). Os resultados apontam uma redução do potencial erosivo de 32% para inclinação de 30°,
podendo chegar até 65% para 50° de inclinação. Desta forma, contribuem para o aperfeiçoamento de
métodos de recobrimentos de taludes e aumentando a eficiência nas obras de engenharia em áreas de
relevo acidentado.

PALAVRAS-CHAVE: Geomanta, erodibilidade, conservação do solo, formação barreiras, chuva


simulada, solo não laterítico.

ABSTRACT: This paper presents an experimental study about the behavior of geosynthetic liner in
reducing the impact of erosive processes. The tests carried out to the sandy layer of a slope situated
in Simões Filho-Ba which geological classification is Barreiras group. The soil was classified
according to a unified system, as Sand clayey SC. The results of MCT methodology classify the sand
as a non-lateritic soil with c’ values between 0.2 and 0.3; 1.8 to 2.0 for e’ values. The laboratory tests
of soil loss were conducted using three compact samples into the spout box (50x50x8cm), under a
simulated rain at 71mm/h speed, during 20 minutes and the soil carried by surficial flow and splash
was collected. The tests were applied to samples covered with and without geolinear and to slope

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surface in 50° and 30o. The results has indicated a reduction of 32% in erosive potential for a 30°
slope, possibly reaching 65% to a 50° slope. The results of laboratory tests show 65% on reducing
the erosive potencial. It contributes to the improvement of technics applied to the protection against
erosive processes.

KEY WORDS: Geoliners, erodibiity, soil conservation, Barreiras group, rain simulation, non
latheritic soil.

1 INTRODUÇÃO nascimento da vegetação e consequentemente


promovendo a requalificação ambiental. As
O mau uso do solo associado ao esgotamento dos perdas de solo são fortemente influenciadas pela
recursos naturais tornou-se um assunto pauta de rugosidade e coberturas superficiais (BERTOL,
comentários e ações internacionais. Mudanças COGO & LEVIEN, 1997; BERTONI &
nos padrões de precipitação, resultando em LOMBARDI NETO, 1990; MORGAN, 2005;
tempestades mais intensas e secas com períodos FERNANDES et al., 2009; MARQUES &
mais longos, favorecem a desertificação e GEROTO, 2015).
aceleração dos processos erosivos. Este último é Este artigo visa avaliar a eficácia do emprego
um fenômeno que leva ao empobrecimento do da geomanta sintética a fim de reduzir os
solo e consequente contaminação, especialmente processos erosivos, proporcionando uma
das águas superficiais (eutrofização e proteção adequada aos taludes. Para avaliação,
assoreamento) (BERTOL et al., 1997; BERTOL são coletadas amostras deformadas e
et al., 2007; GARCIA-CHEVESICH, 2015). indeformadas do solo. Ensaios de caracterização
A erosão hídrica é caracterizada por três fases: geotécnica convencional e classificação MCT-M
desagregação, transporte e deposição. A ação do (Miniatura Compactado Tropical – Modificado)
impacto da gota associada à enxurrada sobre o foram usados para classificar o potencial erosivo
solo caracteriza a intensidade do processo do solo e as perdas de solo foram quantificadas
erosivo. A desagregação e o transporte através de ensaios com chuva simulada em
dependem, principalmente, da erosividade da laboratório.
chuva, inclinação do talude e tipo de solo.
Quanto maior inclinação e a erosividade da
chuva, maior será o cisalhamento causado pela 2 MATERIAL E MÉTODOS
enxurrada.
Parte-se das hipóteses que os problemas O solo em estudo foi coletado em um talude
relacionados aos processos erosivos em taludes situado na Região de Simões Filho (coordenadas
são solucionados por um conjunto de ações que 12°47'45.6"S, 38°24'22.7"W), que apresenta,
visam a melhoria da resistência do solo, controle aproximadamente, uma extensão de 60 metros e
da infiltração e do escoamento superficial. uma inclinação de 50°, cujo perfil geotécnico é
A engenharia geotécnica e/ou a bioengenharia constituído de solo residual de Formação
apresentam soluções para controle, mitigação e Barreiras, dispostos em 3 horizontes (superficial,
eliminação deste problema ambiental, que é a intermediário, inferior) e conforme a figura 1.,
erosão. As geomantas, sintéticas ou naturais, pode-se observar a presença de erosão laminar
lideram as soluções mais adequadas para em sulcos acentuada. Essa formação
recomposição vegetal do talude e consequente corresponde a uma notável unidade sedimentar
controle erosivo. terrestre, de origem fluvial, que ocorre ao longo
As geomantas são alternativas de soluções que do litoral brasileiro. De modo geral, é constituída
são usadas no controle de erosão de solo. Estas por uma sedimentação clástica, de coloração
devem atender, basicamente, a retenção de finos vermelha, violeta, branca e amarelada, com
provenientes do solo erodido transportado e a incipiente estratificação plano-paralela. No
resistência às velocidades de escoamento e aos presente artigo foi estudado o horizonte inferior,
esforços tangenciais. Estes fatores facilitam o cor rosada.

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A altitude média da região é de 52,0 m e, - Limite de plasticidade coforme NBR-7180


segundo Köppen-Geiger, a classificação do (ABNT, 2016).
clima da região é Af, com temperaturas médias - Massa Específica dos Sólidos NBR-6508
anuais de 24,9 °C. O maior volume de chuvas (ABNT, 1984).
ocorre entre os meses de março e julho, a média Para determinar a massa específica natural, foi
anual é de 1674 mm. realizado a média dos 18 ensaios com desvio
padrão de 0,12 pelo método da balança
hidrostática e a média de 6 ensaios com desvio
padrão 0,08 pelo método do anel de
HORIZONTE
SUPERIOR
adensamento. Para a umidade, foi considerada a
média dos 24 resultados de ensaios com desvio
HORIZONTE padrão 0,68. Os ensaios de análise
INTERMEDIÁRIO granulométrica foram executados com e sem
defloculante a fim de conhecer a agregação do
solo.
HORIZONTE A eficácia da geomanta é comprovada com o
INFERIOR
auxílio de chuva simulada em laboratório, 71
mm h ‾¹. Os ensaios são realizados em triplicata,
com e sem a geomanta, para as inclinações de
Figura 1. Talude do experimento. 50° e 30°, conforme mostra figura 2.. A
inclinação de 50° é a mesma de campo. A
O estudo foi dividido em duas fases, em que na inclinação de 30° é escolhida a fim de comparar
primeira, determinou-se o grau de as evoluções dos resultados. A geomanta foi
susceptibilidade à erosão através da metodologia ensaiada sobre protótipos de solo compactado
MCT-modificada e procedeu-se a caracterização (50,0 x 50,0 x 8,0 cm), nas mesmas condições
geotécnia do solo; na segunda, foram realizados físicas de campo e simulando chuva com auxílio
ensaios laboratoriais com chuva simulada, a fim do simulador de chuva. O solo em laboratório foi
de avaliar a eficácia da geomanta e perdas de colocado na umidade de campo (w=4,87%) e
solos. compactado buscando atingir a massa especifica
Para a análise experimental, foram coletadas de campo (1,87g/cm³).
amostras indeformadas a fim de conhecer as Foi utilizada uma geomanta tridimensional
condições de campo (umidade e massa composta de filamentos grossos de
específica do solo) para reprodução em polipropileno, revestidos com negro-de-fumo
laboratório, conforme NBR-9604 ( ABNT, que retardam sua fotodegradação, gramatura
1986) e amostras deformadas que foram usadas >450 g.m-2, espessura nominal >18 mm e índice
para os ensaios de caracterização e de vazios > 90 % ( Figura 3.).
compactação, segundo especificações a seguir:
- Preparação para ensaios de compactação e
ensaios de caracterização conforme NBR-6457
(ABNT, 2016).
- Massa específica natural foi obtida pelo método
da balança hidrostática conforme NBR-10838
(ABNT, 1988).
- Massa específica natural foi obtida pelo método
do anel de adensamento (ABNT, /1987). Figura 2. Esquematização dos ensaios no simulador de
- Análise granulométrica conforme NBR-9813 chuvas.
(ABNT, 2016).
- Limite de liquidez conforme NBR-6459
(ABNT, 2016).

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A figura 4. apresenta os resultados obtidos de
ensaios de análise granulomátrica sem e com o
uso do defloculante para o solo estudado.
Com defloculante, há um aumento de 8,5
vezes do percentual de argila, fato evidenciado
devido à fração de argila encontrar-se agregada
as partículas maiores.
A amostra não apresenta variação expressiva
do percentual de areia, estando as argilas
agregadas nas partículas de silte. Estas
diferenças também ficam evidentes nos demais
Figura 3. Geomanta MacMat resultados de caracterização (tabela 1.).
Fonte: MACCAFERRI DO BRASIL (2010).

Utilizou-se o aparelho simulador de chuva de


disco rotativo FEL 3, bicos múltiplos e
oscilantes. Os ensaios foram realizados na
Universidade Católica do Salvador
(ARMFIELD, 1998; NORTON & BROWN,
1992). O equipamento foi posicionado a uma
altura padrão de 2,45 m da superfície da amostra,
utilizando-se uma pressão de saída nos bicos
mantida em 0,6bar, abertura do disco de 10° e
rotação de 100 rev.min ¹ para atingir a chuva de
projeto em torno de 71 mm.h-1. Essa intensidade
foi indicada como intensidade média de chuva da
cidade de Salvador para um tempo de recorrência
Figura 4. Distribuição Granulométrica com e sem o uso de
igual a 5 anos e um tempo de concentração de 30
minutos, segundo o PDE (2004), Plano Diretor defloculante.
de Encosta da cidade de Salvador (2004), Fixados os valores médios de massa específica
equação 1. dos grãos e de umidade, foi possível calcular os
índices físicos: Massa específica seca (ρd),
,
1065.66 × 𝑇𝑟 índice de vazios (e) e Porosidade (n), exibidos na
𝑖= (𝑚𝑚⁄ℎ) (1. )
(𝑡 + 24) , tabela 1.
Os resultados de ensaios de estimativa da
Em que: susceptibilidade à erosão, segundo Vertematti e
Araújo (1998) e Nogami e Villibor 1995 são
Tr = tempo de recorrência em anos; apresentados na figura 5. Nesta figura,
t = tempo de concentração em minutos; apresenta-se a delimitação de áreas para
i = intensidade da chuva em mm/h. diferentes graus de erodibilidade: talude intacto
(grau 0), talude pouco erodido com sulcos
O tempo de recorrência é de 5 anos. Este esparsos (grau 1), talude medianamente erodido
tempo é sugerido por Tucci e Genz como o mais com sulcos frequentes (grau 2) e talude muito
utilizado nos cálculos de obras de erodido, com desconfiguração total da face e
microdrenagens. presença de sulcos muito frequentes e
interligados(grau 3) e apresentação dos índices
c` e e` obtidos para o solo estudado.

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Tabela 1. Caracterização da amostra indeformada

Para o índice c’, que se relaciona com a A tabela 2. apresenta o controle de


granulometria, obteve-se valores entre 0,2 a 0,3. compactação dos ensaios realizados para medida
Um c’ baixo (<1,0) caracteriza as areias e os da perda por chuva simulada. Os valores obtidos
siltes não plásticos ou pouco coesivos. Para o para os graus de compactação das amostras
índice e’, que correlaciona-se como ensaiadas estão acima de 90% e umidades
comportamento laterítico ou não laterítico, variando em torno de 5% à 6,0%. O controle de
foram obtidos resultados variando entre 1,8 a intensidade das chuvas foi realizado e apresenta
2,0, assumindo um comportamento não resultados próximos da chuva de projeto (Tabela
laterítico. Dessa forma, o solo ensaiado foi 3.).
classificado, pelo método MCT, como NA, areia Os valores obtidos para as chuvas simuladas,
não laterítica (figura 5.). variam de -6,75 à +17,08% em relação à chuva
projetada.
Tabela 2. Controle de compactação dos ensaios.

Figura 5. Resultado utilizando o ábaco de classificação de


erodibilidade-MCT-M
Fonte: Adaptado de Vertemati & Araújo (1990).

Os solos deste grupo são areias, siltes ou a


mistura destes. São saprolíticos e associados a Tabela 3. Controle de chuva simulada.
rochas sedimentares ou metamórficas,
característico de solos de formação barreiras
(NOGAMI & VILLIBOR, 1995). Utilizando o
critério proposto por Vertemati e Araújo (1990),
o solo assume uma classificação quanto a
erodibilidade grau 2 (figura 5.), talude
medianamente erodido com sulcos frequentes.
Ao confrontar os resultados achados com
situação real encontrada no talude é possível
confirmar a coerência nos resultados (figura 1.).

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A tabela 4. apresenta os resultados de perda Na análise separada da perda do solo por


total, perda por salpicamento e por escoamernto salpicamento comparada à perda laminar, a
superficial para as condições estudadas. Os eficácia da geomanta torna-se evidente para a
resultados obtidos vêm corroborar com os já maior inclinação ensaiada, tanto para a perda
apontados por outros trabalhos (WISCHMEIER laminar quanto para a perda por splash. A perda
& SMITH, 1978; WILDNER, 1985; BERTOL et por splash, para 50° de inclinação, atinge uma
al., 1989; BERTONI & LOMBARDI NETO, eficácia de 83%, e 63% para perda laminar,
1990; CARVALHO et al., 1990; BRAIDA, conforme tabela 5.
1999; ALBUQUERQUE, 2002; SILVA et al.,
2005; FERNANDES et al.,2009; MARQUES & Tabela 5. Eficácia da aplicação da geomanta
GEROTO, 2015), isto é, a proteção superficial
do solo resulta numa redução da desagregação e
consequentemente do transporte, pois, ao cobrir
o solo, impede-se o impacto direto das gotas na
sua superfície.
Tabela 4. Resultados da perda do solo devido a aplicação
de chuva simulada com e sem a geomanta para as duas
inclinações.

4 CONCLUSÕES
Os resultados obtidos nesta pesquisa evidenciam
a importância da proteção de taludes de cortes de
estrada. Apontam ainda que a utilização da
geomanta reduzirá os efeitos da erosão em pelo
menos em 32% para 30° de inclinação e 65% a
para 50° de inclinação. Para esta última
inclinação, a dissipação da energia cinética do
impacto direto das gotas da chuva sobre a
superfície diminui a desagregação inicial das
partículas de solo e, consequentemente, a
concentração de sedimentos na enxurrada, e
Analisando comparativamente os ensaios com tornando a geomanta mais eficaz.
a inclinação de 30°, com e sem geomanta, nota-
se que o emprego da geomanta promoveu uma
redução de 31,81% na taxa de desagregação total
de solo erodida. Já para a inclinação de 50°, nota-
se uma redução de 65,11%. REFERÊNCIAS
É possível verificar que as variações nos
valores de perdas para as triplicas, de cada ABNT (2016). NBR 7181/2016: Solo – Análise
situação estudada, podem ser explicadas devido Granulométrica – Método de Ensaio. Associação
Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
à variação das intensidades das chuvas, ABNT (2016). NBR 6457/2016: Solo – Amostras de Solo
corroborando com Amorim et al. (2001) e pela – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
variação obtida no grau de compacatação do caracterização – Método de Ensaio. Associação Brasileira
solos. Este afirma que, com o aumento da De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
quantidade de água e energia cinética das ABNT (2016). NBR 6459/2016: Solo – Determinação do
Limite de Liquidez – Método de Ensaio. Associação
precipitações, ocorrerá um aumento da perda de Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
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Reforço de solos com geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
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Avaliação de Estabilidade de Talude com Uso de Geoexpandido


Ana Beatriz Araújo Nobre Dias
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, anabeatriznobre@outlook.com

RESUMO: O EPS geofoam é um geossintético utilizado como material geotécnico que apresenta
baixa massa específica, o que permite a redução de cargas impostas ao solo e às estruturas adjacentes
e subjacentes. Além disso, esse material se apresenta como um produto fácil de manusear. Diante
dessas vantagens, o material tem sua aplicação principal, no Brasil e em diversos países, em aterro
de rodovias, inclusive sobre solo mole. Com o intuito de verificar o dimensionamento do material
para esses casos, foi criado um problema hipotético onde o raio da curva horizontal de uma estrada,
localizada acima de um talude, foi ampliado para acomodar maiores velocidades e fornecer mais
segurança aos usuários, porém, essa ampliação modificou a condição original do talude, fornecendo
um risco para uma outra estrada localizada na base do mesmo. Partindo dessa situação, realizou-se
ensaios de cisalhamento direto com o solo do talude da rodovia e com o EPS Geofoam para a
determinação dos parâmetros de resistência. Primeiramente foi checado o fator de segurança da
situação inicial imposta que, como esperado, apresentou um valor próximo do limite para a ruptura,
com isso então substitui-se uma parte do solo do talude por peças retangulares de geofoam de
diferentes tamanhos, até que por tentativa e erro achou-se as dimensões ideais. Ao final dessas
análises, foi possível perceber a importância dos valores de resistência ao cisalhamento, já que esses
parâmetros ainda não estão normatizados no Brasil, e como o EPS Geofoam se apresenta como uma
solução eficaz para reforço de taludes de rodovias.

PALAVRAS-CHAVE: EPS geofoam, talude de rodovia, dimensionamento, resistência ao


cisalhamento.

ABSTRACT: EPS geofoam is a geosynthetic material used as geotechnical material that presents low
density, which allows the material to reduce the loads imposed on adjacent and underlying soils and
structures. Furthermore, this material presents itself as an easy to handle material. Given these
advantages, the material has its most important application, in Brazil and many other countries, on
landfill and stability of highways, including over soft layer of soils. In order to verify the design of
EPS geofoam in these cases, it was created a hypothetical situation in which the radius of a horizontal
curve along a roadway, located in the top of a slope, was increased to accommodate a higher speed
and to reduce accidents, although, this modified the original condition of the slope, generating a risk
to another roadway located in the base of the same slope. Starting from this scenario, direct shear
tests were performed with the soil of the highway slope and the EPS geofoam for the determination
of resistance parameters. Firstly, the safety factor of the imposed initial situation was checked, which,
as expected, presented a value close to the breaking point. Thus, it was necessary to replace a part of
the slope ground with rectangular pieces of geofoam of different sizes until the ideal size was found.
At the end of these analyzes, it was possible to perceive the importance of the shear strength values,
since these parameters are not yet standardized in Brazil and that the EPS geofoam presents itself as
an effective solution for strengthening slopes of highways.

KEY WORDS: EPS geofoam, highway slope, design, shear strength.

1 INTRODUÇÃO No final da década de 60 e início da década de


70, o Geofoam utilizando blocos feitos de EPS
(Poliestireno Expandido), começou a ser

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163
empregado em países como Noruega, Japão, Society for Testing and Materials”, 2011) D6817
Chile e Venezuela. O material possui uma massa (“Especificações Padrão para Poliestireno
específica muito baixa quando comparado a Geofoam Celular e Rígido”), e o fato do material
outros materiais utilizados na construção civil, permitir a redução de deformações de camadas
por exemplo, o concreto apresenta uma massa moles do aterro existente, fazem do Geofoam
específica média de 2500 kg/m³, enquanto que a uma excelente opção.
do Geofoam varia entre 12 e 48 kg/m³, porém Pesquisadores em trabalhos anteriores
esses valores quando comparados com o EPS (Leshchinsky et al., 1991; Yoo, 2001; Dash et al.,
com outras funcionalidades, se apresentam como 2003; El Sawwaf, 2007; Latha et al., 2009;
sendo de alta densidade (Dias et al., 2016). Choudhary et al., 2010; Kousik et al., 2011;
Por se tratar de um geossintético, o Geofoam Akay et al., 2013) utilizaram modelos reduzidos
apresenta diferentes possibilidades de uso, como em laboratório para analisar as melhorias do
para o alívio de pressões em estruturas e proteção fator de segurança com o uso de geoexpandidos.
de infraestruturas, mas sua maior utilização tem Visto que a execução desses modelos e sua
sido no aterro de rodovias, como mostrado na redução distanciam os estudos da realidade de
Figura 1. campo e dos projetistas, este trabalho visa anular
esses fatores limitantes fazendo uso de
ferramentas computacionais, podendo assim
realizar uma análise similar, mas em escala real.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Ensaio de Cisalhamento Direto

Os procedimentos descritos neste trabalho foram


realizados no laboratório de geotecnia de
Syracuse University, no estado de Nova York,
nos Estados Unidos.
O ensaio de cisalhamento foi realizado com
um bloco cilíndrico intacto de Geofoam (Figura
2) e com o solo em que ele entrará em contato no
caso hipotético a ser explanado posteriormente.
Ao realizar os ensaios, pôde-se determinar os
parâmetros de resistência para cada um dos
materiais. É importante ressaltar que a utilização
desse formato prismático de base circular de
amostra se deu por uma limitação do
equipamento disponível no laboratório.

Figura 1. Aplicação do Geofoam na Rota 23A em Jewett


County, NY, USA. (Geofoam Research Center, n.d.)

O Geofoam se apresenta como uma


alternativa extremamente útil por se tratar de um
produto fácil de manusear, biologicamente
inerte, extremamente leve e possivelmente
econômico quando comparado a procedimentos
de construção convencionais em determinados
Figura 2. Amostra cilíndrica de Geofoam.
tipos de solos (ABIQUIM, 2014). Para os aterros
de rodovias em específico, a alta resistência à
Os ensaios foram realizados para três valores
compressão, definida pela ASTM (“American
distintos de tensão normal, que representavam

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

164
25%, 50% e 75% da carga referente a 10% do transportes. A situação envolvia uma rodovia já
nível de deformação determinada por ensaios existente, mas que para acomodar uma nova
prévios (DIAS, 2016), que tinha o valor de demanda com segurança e ampliar a velocidade
216,66 kPa. As cargas aplicadas foram, então, permitida, aumentou-se seu raio de curvatura
respectivamente, 54,17 kPa, 108,33 kPa e 162,50 horizontal. Na Figura 4, é mostrado o antes
kPa. (marrom-sólida) e o depois (verde – tracejada),
Foram observadas, respectivamente, a além do maior nível de água registrado
resistência ao cisalhamento de uma amostra de historicamente (azul – tracejada).
bloco cilíndrico intacto de Geofoam, com altura
de 3,18 centímetros e diâmetro de 6,35
centímetros, e do solo. No primeiro desses casos,
o bloco foi colocado dentro da caixa de
cisalhamento, as cargas, definidas e o ensaio
realizado. No ensaio apenas com o solo, ele foi
colocado preenchendo toda a caixa de
cisalhamento (Figura 3). Além dos parâmetros
de resistência, também foram determinados os
valores de peso específico de ambos os
materiais.

Figura 4. Seção transversal da rodovia.

Assumiu-se que o talude é homogêneo e


possui massa específica de aproximadamente
1600 kg/m³, ensaiado em laboratório. Outra
simplificação feita foi em relação a densidade
das camadas de concreto e solo do pavimento,
onde foi utilizada a média ponderada das
camadas, como mostrado na Figura 5 e calculado
na equação (1).

Figura 5. Perfil das camadas de pavimento.

0,30∗2243+0,91∗2082+0,15∗2403
Figura 3. Montagem das caixas de cisalhamento com 𝛾=
1,36
= 2152,919 𝑘𝑔/𝑚³ (1)
Geofoam e solo.
Para facilitar a modelagem, a espessura total
2.2 Aplicação para talude de rodovias foi arredondada para 1,50 m e a densidade para
2200 kg/m³.
Para a aplicação, foi desenvolvido e estudado um Com as condições de contorno do modelo
problema hipotético envolvendo dados estabelecidas, e os valores de coesão (c) e ângulo
disponibilizados por Stark et al., 2004, de atrito (ϕ) do solo e do Geofoam encontrados
aproximando o caso analisado da realidade dos pelo ensaio de cisalhamento, foi então verificado
desafios encontrados por engenheiros de o fator de segurança do novo abatimento do

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165
talude e feito o dimensionamento do EPS
Geofoam para ele. Ainda não existe um método
analítico para o dimensionamento de blocos de
EPS Geofoam, então o que se faz é testar
diferentes tamanhos e posições do bloco em um
software de análises de estabilidade de taludes,
até que se atinja o fator de segurança necessário,
aqui no nosso caso, entre 1,4 e 1,5.
Para a verificação do talude, com e sem
reforço, foi utilizada a versão estudantil do
software SLOPE/W da GeoStudio, onde o Figura 7. Envoltória de resistência do Geofoam e do solo.
método de determinação de estabilidade de
talude escolhido foi o de Morgenstern-Price. Da análise desse gráfico, é possível obter os
parâmetros de coesão e ângulo de atrito dos dois
3 RESULTADOS materiais, mostrados na Tabela 1, onde a areia
apresentou maior valor de ângulo de atrito e o
Depois de realizar todos os procedimentos bloco de Geofoam apresentou maior valor de
metodológicos citados anteriormente, foi então coesão.
plotado o gráfico de deslocamento horizontal
versus força cisalhante mostrado na Figura 6. Tabela 1. Parâmetros dos materiais obtidos no ensaio de
Como esperado, ambos os materiais apresentam cisalhamento direto.
um comportamento de escada, visto que para Peso Coesão Ângulo
cada um dos estágios (25%, 50% e 75%), quando específico (kPa) de atrito
o deslocamento horizontal atingia incrementos (kN/m³) (º)
de 0,38 centímetros, a tensão vertical era elevada Solo 16 10 18
para o valor do estágio seguinte. Pelo gráfico, Geofoam 0,192 49,9 21,4
observa-se que o bloco de geofoam apresentou
os maiores valores de força de cisalhamento. Em posse dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento dos materiais, primeiramente
checou-se a estabilidade do talude da rodovia
para a nova inclinação e sem reforço, como
mostrado na Figura 8. Como esperado, o fator de
segurança do talude está bem próximo da ruptura
(valor próximo de 1), precisando assim que a
solução de reforço com Geofoam, aumente em
40 a 50% seu valor.
Para a simulação com o uso do Geofoam, a
geometria do perfil não foi alterada, a única
modificação foi a substituição das propriedades
do solo para as do Geofoam na região crítica do
talude. Após alguns testes de tamanho e posição
Figura 6. Gráfico de deslocamento horizontal versus do bloco, a Figura 9 mostra a disposição final do
força de cisalhamento. perfil com a aplicação do Geofoam.
As dimensões satisfatórias, em termos de
Em seguida, foram coletados, do gráfico fator de segurança, encontradas para o bloco de
anterior, os máximos valores de cisalhamento e Geofoam, utilizado na análise acima, são
comparados com a tensão normal utilizada no mostradas na Figura 10.
ensaio para determinar a envoltória de ruptura de
cada material (Figura 7).

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166
4 CONCLUSÃO

O presente trabalho e a análise de seus


resultados permitiram algumas conclusões
listadas e resumidas nesse tópico.
Em relação à tensão de cisalhamento, conclui-
se que o bloco rígido de geofoam apresentou
valores superiores ao do solo ensaiado.
Quanto a aplicação do Geofoam no caso
hipotético, ficou claro como o uso de um bloco
relativamente de médias proporções pode
aumentar o fator de segurança do talude em
aproximadamente 40%, garantindo a segurança
da nova condição imposta para a via. O fato de
não existir um método de cálculo analítico para
Figura 8. Resultado da análise de estabilidade de talude
para a nova condição de inclinação e sem reforço.
esse caso não representa um problema nos dias
de hoje, com tantos softwares de cálculo de
estabilidade de taludes disponíveis.
Não apenas para esse caso, mas para diversos
outros, o Geofoam se apresenta como uma
alternativa competitiva, visto que seu processo
de instalação é de fácil manuseio e que o material
tem uma vida útil longa, ressaltando-se o
material como uma solução de reforço. Apesar
de todos os benefícios, deve-se sempre atentar
para a presença de água na região onde se deseja
utilizar o material, já que seu peso específico é
menor que o da água.
Por fim, vale ressaltar a importância de se
obter valores para os parâmetros de resistência
ao cisalhamento, visto que o Geofoam pode ser
submetido a essa solicitação e atualmente não se
existe uma norma brasileira específica que guie
o uso do material nesse sentido.
Figura 9. Resultado da análise de estabilidade de talude Para trabalhos futuros, sugere-se analisar o
utilizando o Geofoam como reforço. impacto nos parâmetros de resistência do
material quando submetido ao cisalhamento
direto, se este for realizado com amostras
cúbicas ou retangulares, mais próximas das
empregadas em campo. Sugere-se também a
análise de propriedades triaxiais do material,
assim como seu comportamento submerso.

AGRADECIMENTOS

Figura 10. Dimensões da seção transversal do bloco de Agradecimentos à CAPES que através do
Geofoam a ser utilizado. Programa Ciências sem Fronteiras e do
Programa de bolsas de pós-graduação,
financiaram a realização dos ensaios no exterior

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167
e das análises durante meu mestrado na
Universidade de Brasília.

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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
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Avaliação do Ganho de Tensão Confinante Devido à Inclusão de


Reforço Geossintético em Estruturas de Solo Reforçado
Anna Sarah Vasconcelos Fava
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, annasarahvf@gmail.com

Keli Luana Rosa Bohrer


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, kelirbohrer@gmail.com

Delma de Mattos Vidal


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

RESUMO: Por ser um material particulado, o solo interage com reforço geossintético de maneira
única. Além do atrito solo-reforço, as partículas de solo penetram a matriz plana e ficam presas a
ela, restringindo o movimento de outras partículas ao redor em função da rigidez do reforço –
quanto mais rígido, menos as partículas presas a ele conseguem se movimentar. Essa restrição se
manifesta como um ganho de tensão confinante, podendo aumentar a resistência do solo ao
cisalhamento, e tem sido estudada por diversos autores nas últimas décadas. Uma tentativa bastante
difundida de quantificação desse ganho de tensão confinante é a “W-equation”, proposta em 2009
por Pham. A validade dessa equação é discutida neste trabalho, tendo seu resultado comparado para
dados obtidos por outros autores, e considerando a inclusão da rigidez do reforço geossintético e do
solo em sua formulação utilizando o modelo constitutivo hiperbólico. São avaliadas também outras
configurações geométricas, com diferentes espaçamentos e comprimentos de reforço, além de
diferentes carregamentos. Ao final da análise, é possível identificar quais dentre os fatores
estudados influenciam mais no aumento da tensão confinante do solo devido à geogrelha de acordo
com a equação proposta.

PALAVRAS-CHAVE: Interação Solo-reforço, Estruturas de Solo Reforçado, Modelo Hiperbólico,


W-equation, Geossintéticos.

ABSTRACT: Because it is a particulate material, soil interacts with reinforcement in a unique way.
Besides soil-reinforcement interface friction, soil particles penetrate the flat matrix and get attached
to it, restricting the movement of other particles around as a function of reinforcement stiffness –
the stiffer the reinforcement, the less able to move will be the particles attached to it. This
restriction is observed as an increase in confining pressure, which may improve the shear strength
of the soil, and has been studied by several authors in the last decades. A very widespread attempt
to quantify this increase is the W-equation, proposed in 2009 by Pham. The validity of this equation
is discussed in this work, by comparing its result for data obtained by other authors and considering
the inclusion of reinforcement and soil stiffnesses in its formulation, using the hyperbolic model.
Varied geometric configurations are also analyzed, with different spacing and reinforcement
lengths, as well as different applied loads. At the end of the comparison, it is possible to identify
which of the studied factors influences soil confining pressures the most due to the presence of
reinforcement, according to the proposed equation.

KEY WORDS: Soil-Reinforcement Interaction, Reinforced Soil Structures, Hyperbolic Model, W-


equation, Geosynthetics.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

169
1 INTRODUÇÃO que construíram píers de solo reforçado com
1,94 m de altura, e os carregaram até a ruptura,
No início dos anos 70, geossintéticos medindo seu comportamento tensão-
começaram a ser amplamente utilizados na deformação na direção vertical. Os resultados
engenharia civil e em obras de terra. A técnica, mostraram que píers com menor espaçamento
denominada solo reforçado, constitui a inserção entre camadas possuíam maior resistência e
de reforços de tração no solo ou outro material rigidez.
(in situ ou transportado) visando a melhoria da O órgão americano FHWA passou
estabilidade do conjunto (British Standard, inclusive a distinguir um grupo dentro das ESR,
2010). construídas com material granular e com
Por ser um material particulado, o solo reforços espaçados de no máximo 30 cm,
interage com o reforço de maneira única: além denominando-as como Geosynthetic Reinforced
do atrito de interface, as partículas do solo Structures ou GRS (Wu et al., 2013).
penetram a matriz plana e ficam presas a ela, O trabalho de Wu & Ooi (2015) reúne as
restringindo o movimento das partículas ao seu principais pesquisas desenvolvidas pela FHWA
redor em função da rigidez do reforço - quanto na última década, indicando como o menor
mais rígido, menos as partículas presas a ele espaçamento entre as camadas de reforço
conseguem se movimentar. Esse mecanismo, influencia o comportamento da ESR com
ilustrado na Figura 1, é conhecido como relação a pressões laterais na face,
intertravamento. Portanto, quando utilizados confinamento do solo e sua capacidade de
agregados de tamanho compatível com a carga, resistência ao arrancamento, dentre
abertura de malha do reforço, o solo é outras propriedades. Mohamed (2018) também
confinado pelo geossintético, e o material aborda o tema em sua revisão bibliográfica,
composto pela junção desses dois materiais porém sem a restrição do espaçamento pequeno.
possui melhor resistência ao cisalhamento que o O objetivo deste trabalho é discutir a
solo não-reforçado. proposta apresentada por Pham (2009) para
estimativa do ganho de confinamento com a
redução da distância entre reforços, e avaliar
sua eficiência a partir da análise de resultados
de experimentos apresentados na literatura.

2 ESTIMATIVA DO AUMENTO DA
Figura 1. Intertravamento do Solo no Reforço (Han et al.,
2018). TENSÃO CONFINANTE DO SOLO

O intertravamento aparece também quando Schlosser & Long (1972 apud Pham, 2009) e
há interpenetração e atrito entre o geossintético Yang (1972 apud Pham, 2009) introduziram a
com baixa rigidez à flexão e os grãos do solo, ideia de um aumento na tensão confinante do
podendo ocorrer inclusive no caso de reforço solo e do surgimento de uma coesão aparente
em geotêxtil. devido à presença do geossintético, como pode
A experiência levou engenheiros geotécnicos ser observado na Figura 2. O acréscimo de
a acreditarem que o espaçamento entre reforços tensão confinante, ∆σ 3R , proporcionado pelo
pode ser tão relevante quanto suas geossintético, muda o estado de tensões do solo,
características mecânicas para a resistência ao deslocando o Círculo de Mohr para a direita.
cisalhamento de uma Estruturas de Solo Isso faz com que a carga vertical máxima σ 1R
Reforçado (ESR). Desde então, diversos suportada pelo solo reforçado seja maior que a
estudos têm sido realizados na intenção de carga vertical máxima σ 1 suportada pelo solo
investigar a interação solo-reforço e como ela não-reforçado, quando ambas estão sob uma
afeta modelos convencionais de mesma tensão confinante σ 3 .
dimensionamento. Pode ser citado, como A equação proposta por Schlosser & Long
exemplo destes estudos, Adams et al. (2007), (1972) para quantificar ∆σ 3R assume que a

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170
resistência à tração do reforço e o espaçamento sendo:
entre camadas têm influência similar na r - um fator adimensional, definido como a
contribuição para a resistência da massa de solo razão entre a força máxima no reforço ao longo
reforçado, uma vez que esse aumento, de de seu comprimento, F max , e a força média no
acordo com seu trabalho, é dado por: reforço, F� .
S ref - um espaçamento de referência igual a
Tf
∆σ3R = (1) seis vezes o tamanho do maior grão de solo do
Sv
agregado.
A formulação utilizada por Pham (2009)
Onde T f é a resistência à tração do reforço para o cálculo de r é baseada em equações de
mobilizada e S v é o espaçamento entre equilíbrio e em uma série de hipóteses sobre a
camadas. rigidez do reforço e do solo, E r e E s ,
respectivamente, propostas por Ketchart & Wu
(2001):

υ 1−υ2s
Fmax = Ar Er ��1−υs � Pv − Ph � � Es
� �1 −
s
β 1
α2
� �1 − cosh(αL)� (4)

A E υ 1−υ 2
F� = rL r ��1−υs � Pv − Ph � � E s � �1 −
s s
β L cosh(αx)
α2
� ∫0 �1 − cosh(αL)� dx (5)

1 1−υ2s
α2 = k i p �A +A � (6)
r Er s Es
Figura 2. Conceito de Tensão Confinante Aparente e
Coesão Aparente em uma ESR (Pham, 2009). (1−υ2s )
β = kip As Es
(7)
Pham (2009) conduziu ensaios em
verdadeira grandeza com dois geossintéticos Sendo:
feitos do mesmo material, porém um deles A r a área por metro da seção transversal do
possuindo o dobro de rigidez e o dobro de elemento de reforço;
resistência à tração do outro. Seus resultados A s a área por metro da seção transversal de
mostraram que o espaçamento desempenha uma solo, que corresponde ao espaçamento vertical;
função bem mais importante que a resistência à P v e P h as pressões vertical e horizontal no
tração e que, dessa forma, a equação de solo, respectivamente (com notação positiva
Schlosser & Long (1972) era incorreta. Ele para compressão);
propôs então a inclusão de um termo “W” nessa ν s o coeficiente de Poisson do solo;
equação, reescrevendo-a na forma: L o comprimento do reforço;
k i a rigidez da interface solo-reforço;
Tf
∆σ3R = W (2) p o perímetro do reforço em contato com o
Sv
solo.
Pham (2009) comparou os resultados dessa
A equação de Schlosser & Long (1972) com a
formulação para o exemplo resolvido em
inclusão do termo “W” por Pham (2009) passou
Ketchart & Wu (2001) e calculou o resultado
a ser referida como W-equation.
para um caso semelhante, porém com um
comprimento diferente de reforço. Para ambos
O fator “W” é estimado por Pham (2009):
os comprimentos, o autor relatou ter encontrado
S um fator r de aproximadamente 70%, e assumiu
� v �
W=r Sref
(3) que:

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171
Sv
� � pequeno de exemplos, todos baseados nas
W = 0.7 6dmax (8)
características de um único solo e um único
A carga máxima de pressão vertical
reforço - aqueles usados em Ketchart & Wu
admissível sobre uma ESR, σ 1R , seria então (2001), não tendo sido apresentadas
dada por: informações adicionais para a validação dessa
equação.
σ1R = (σ3 + ∆σ3R )N∅ + 2c�N∅ (9) Deve-se notar que o valor de r é bastante
significativo: alterando-o de 0,7 para 0,8 na
Onde c é a coesão do solo e N φ é função do Tabela 1, por exemplo, percebe-se uma
ângulo de atrito, φ, dado por: diferença de mais de 260 kPa na estimativa da
carga máxima vertical suportada pela estrutura
1+sen∅ de solo reforçado em questão.
N∅ = 1−sen∅ (10)
Com o auxílio das equações 4 a 7, pode-se
calcular os valores de r pelo modelo proposto
Pham (2009) comparou os resultados de sua por Ketchart & Wu (2001) para diversas
própria pesquisa e os resultados de Elton & condições de rigidez dos solos e reforços.
Patawaran (2005) com os valores esperados O cálculo de r é feito considerando o estado
pela equação de Schlosser & Long (1972), plano de tensões. Calculam-se as deformações
assim como os valores esperados considerando relacionadas a um incremento de P v e as forças
a W-equation. Foi observado que, enquanto a mobilizadas no reforço devido a essas
equação de Schlosser & Long (1972) deformações, para cada camada de reforço e o
apresentava erros de até 97% para a carga para solo em seu entorno, conforme ilustrado na
máxima de ruptura da ESR, a W-equation Figura 3. A força mobilizada no reforço gera
apresentou erro máximo de 18%, sendo a um incremento em P h , e consequentemente em
maioria dos erros observados em torno de 10%.
α, o que, por fim, altera o valor de r,
Um exemplo de como a inclusão do fator W
justificando a relevância de se realizar esse
pode alterar a previsão da carga vertical
cálculo incremental.
máxima de uma estrutura é apresentado na
Tabela 1.

Tabela 1. Comparação entre a equação de Schlosser &


Long (1972) e a W-equation . Adaptado de Pham (2009).
Parâmetros adotados
Tf (kN/m) 70
Sv (m) 0,2
d max (mm) 33
r 0,7
W 0,7
φ (°) 50
c (kPa) 70
σ 3 (kN/m²) 34
Nφ 8
W-equation Schlosser & Medido
Pham(2009) Long (1972) Pham (2009)
Δσ 3
245 350 - Figura 3. Detalhes Geométricos. Adaptado de Ketchart &
(kN/m )
(σ 1R -σ 3 ) Wu (2001).
2457 3249 2700
(kN/m²)
Será considerado que a rigidez do solo e da
interface não são constantes, variando em
3 ANÁLISE DA PROPOSTA DE PHAM função da tensão confinante, de acordo com o
modelo constitutivo hiperbólico proposto por
Julga-se que o valor de r na W-equation foi Duncan et al. (1980 apud Ketchart & Wu,
escolhido com base em um número muito 2001). Essa mesma hipótese foi assumida no

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172
trabalho de Ketchart & Wu (2001), pelo uso das podem ser obtidos parâmetros que caracterizam
equações 11 a 15. as interfaces entre os materiais utilizados. Os
σ n
Es = Ei ∙ K ∙ Pa ∙ �P3 � (11) materiais estudados pela autora foram: uma
a geogrelha soldada formada por geotiras de
poliéster revestidas com polietileno; uma
Rf ∙(1−senϕ)∙(σ1 −σ3 ) 2
Ei = �1 − 2∙c∙cosϕ+2∙σ3 ∙senϕ
� (12) geogrelha tecida de poliéster revestida com
PVC e uma grelha metálica hexagonal. As
(σ1 −σ3 )f geogrelhas foram inseridas em areia pouco
R f = (σ (13) siltosa bem graduada e num solo silto-argiloso
1 −σ3 )ult
classificado como argila de baixa
Es
νs = 0,5 − (14) compressibilidade (CL).
6∙B
Como os parâmetros de resistência obtidos
σ m pelos respectivos autores para os solos
B = K b ∙ Pa ∙ �P3 � (15)
a ensaiados foram semelhantes, optou-se por
utilizar os resultados para interface e para o
Sendo: reforço obtidos por Sieira (2003) associados aos
K, n, K b , e m parâmetros adimensionais parâmetros do solo obtidos por Boscardin et al.
obtidos a partir de resultados de ensaios (1990).
triaxiais; Será considerado que a rigidez dos
E i o módulo de rigidez inicial do solo; elementos de reforço é constante, devido aos
B o módulo de elasticidade volumétrico do baixos valores de deformação esperados. A
solo; rigidez à tração no sentido longitudinal para
(σ 1 - σ 3 ) f = tensão desviatória de ruptura cada geogrelha pode ser obtida a partir dos
determinada pela envoltória de Mohr-Coulomb; ensaios de caracterização realizados por Sieira
(σ 1 - σ 3 ) ult = valor assintótico de (σ 1 - σ 3 ), (2003), e encontra-se na Tabela 2.
obtido a partir de resultados de ensaios triaxiais,
juntamente com os parâmetros adimensionais; Tabela 2. Características das Geogrelhas
P a a pressão atmostérica de referência; Geogrelha Representação Rigidez (A r E r ) (kN/m)
Soldada PG 667
Ketchart & Wu (2001) calculam rigidez ao
Tecida MG 533
cisalhamento da interface solo-reforço, k i , com
base na equação 16: A partir dos ensaios de cisalhamento de
ni interface de Sieira (2003), foram obtidos os
σ
k i = K i ∙ γw ∙ �Pn � (16) parâmetros adimensionais para o modelo
a
constitutivo hiperbólico aplicado às interfaces
Sendo K i e n i parâmetros adimensionais solo-geogrelha.
obtidos a partir de resultados de ensaios de A obtenção dos parâmetros adimensionais é
cisalhamento direto, σ n a tensão normal feita da seguinte forma: para cada tensão
aplicada à interface nos ensaios de cisalhamento normal, plota-se ∆ s /τ versus ∆ s no trecho
direto, e γ w o peso unitário da água. hiperbólico da curva obtida do ensaio de
Boscardin et al. (1990) fizeram ensaios em cisalhamento direto, sendo ∆ s o deslocamento
solos típicos para obter parâmetros aplicáveis horizontal e τ a tensão cisalhante, e faz-se uma
ao modelo constitutivo hiperbólico, com o regressão linear. O inverso do coeficiente linear
objetivo de facilitar a entrada dos parâmetros obtido dessa regressão é a rigidez em
desses solos em programas de elementos finitos, cisalhamento, k i , para a tensão normal em
evitando a realização de exaustivas séries de questão.
ensaios em laboratório. Foram feitos estudos Repetindo esse procedimento para cada uma
com areia bem graduada, areia siltosa e argila das tensões normais utilizadas no ensaio, é
siltosa, compactadas a diferentes densidades. possível plotar um gráfico em escala log-log de
Sieira (2003) estudou a interação solo- k i versus σ n . A partir desse gráfico, que
geogrelha, realizando em seu trabalho ensaios corresponde idealmente a uma reta, é fácil
de cisalhamento direto, a partir dos quais calcular os parâmetros K i e n i , relacionados aos

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173
coeficientes angular e linear da reta obtida. 3 RESULTADOS
Os valores de K i e n i obtidos para as
Os valores de r foram plotados para os casos
interfaces em questão encontram-se na Tabela
propostos na Tabela 5, e encontram-se expostos
3. Os parâmetros dos solos encontram-se na
nas Figuras 4 a 7.
Tabela 4.
Tabela 3. Parâmetros adimensionais para as interfaces
Interface Ki ni
Areia - PG 765 0,22
Silto-argiloso - PG 359 0,10
Areia - MG 644 0,41
Silto-argiloso - MG 317 0,15

Tabela 4. Parâmetros dos solos. Adaptado de Boscardin


et al. (1990)
Solo SW CL
γ (kN/m ) 3 18,8 14,0
c'(kPa) 0 41 Figura 4. Valores obtidos para r para os casos 1 a 4.
φ'(°) 38 18
K 450 50
n 0,35 0,6
Rf 0,8 0,9
Kb 130 30
m 0,10 0,55

Além das variações nos parâmetros dos solos


e dos reforços, foram variados também o
comprimento do reforço, L, a tensão confinante,
P c , e a área de influência por metro de cada
camada de geogrelha, dada por A s =S v . Os casos
estudados encontram-se enumerados na Tabela Figura 5. Valores obtidos para r para os casos 5 a 8.
5. Nos casos com areia, o carregamento ocorreu
até 110 kPa, e nos casos com silte argiloso, até
150 kPa, ambos em incrementos de 10 kPa.
Esses valores foram escolhidos respeitando-se
os valores máximos de tensão desviatória
observados por Boscardin et al. (1990) à tensão
confinante de 34 kPa.
Tabela 5. Casos de Estudo
# Solo GG L (m) Sv (m) Pc (kPa)
1 Silto-Argiloso PG 0,3 0,3 35 Figura 6. Valores obtidos para r para os casos 9 a 12.
2 Silto-Argiloso PG 0,6 0,3 35
3 Silto-Argiloso PG 0,3 0,6 35
4 Silto-Argiloso PG 0,3 0,3 20
5 Silto-Argiloso MG 0,3 0,3 35
6 Silto-Argiloso MG 0,6 0,3 35
7 Silto-Argiloso MG 0,3 0,6 35
8 Silto-Argiloso MG 0,3 0,3 20
9 Areia PG 0,3 0,3 35
10 Areia PG 0,6 0,3 35
11 Areia PG 0,3 0,6 35
12 Areia PG 0,3 0,3 20
13 Areia MG 0,3 0,3 35
14 Areia MG 0,6 0,3 35
15 Areia MG 0,3 0,6 35 Figura 7. Valores obtidos para r para os casos 13 a 16.
16 Areia MG 0,3 0,3 20

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174
Analisando os resultados obtidos, pode-se Areia-MG, casos 13 a 16, ao final do seu
concluir que, para os materiais e condições de carregamento.
ensaio estudados neste trabalho: -A variação máxima no valor de r dentre os
-Em um mesmo par Solo-Reforço, o diferentes pares solo-reforço, considerando a
aumento do espaçamento entre camadas e da mesma configuração geométrica e tensão
tensão confinante mostraram pouca influência confinante (ou seja, comparando os casos 1-5-9-
no valor de r. 13, 2-6-10-14, 3-7-11-15 e 4-8-12-16) e tensão
-Dentre os parâmetros estudados, os que vertical, foi de 1,52%, entre os casos 2 e 14, à
mais influenciaram o valor de r foram o tensão vertical de 110 kPa.
comprimento do reforço e o incremento de
tensão vertical com tendência do aumento do
valor de r com o aumento da tensão vertical.
As Figuras 8 a 12 permitem comparar as
diversas situações:

Figura 10. Valores obtidos para r para os casos com silte-


argiloso.

Figura 8. Valores obtidos para r para os casos com a


geogrelha PG.

Figura 11. Valores obtidos para r para os casos com areia

Figura 9. Valores obtidos para r para os casos com a


geogrelha MG.

-O valor máximo de r observado no presente


estudo foi de 0,770, e o mínimo foi de 0,681.
Figura 12. Valores obtidos para r para todos os casos
Ambos ocorreram para a simulação com o silte-
argiloso e a geogrelha MG, apresentando uma
variação de 13% no valor de r dentre todos os 4 CONCLUSÕES
casos estudados com esses materiais.
-Quando submetidos à mesma tensão O aumento da tensão confinante do solo devido
vertical, a variação máxima do valor de r foi de à presença do geossintético é afetado
9,3%, tendo ocorrido para a configuração

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175
principalmente por características geométricas, New York, v. 116(1), p. 88-104
como o comprimento do reforço, e pelos níveis Duncan, J.M., Byrne, P., Wong, K.S., and Mabry, P.
(1980). Strength, Stress-Strain and Bulk Modulus
de tensão vertical aos quais a massa de solo está Parameters for Finite Element Analysis of Stress and
submetida. Movements in Soil Masses. Geotechnical Engineering
A variação entre diferentes tipos de solo, Report No. UCB/GT/80-01, University of California
reforço e tensão confinante não apresentou at Berkeley.
influência notável no valor de r para os Elton, D. J., & Patawaran, M. B. (2005). Mechanically
Stabilized Earth (MSE) Reinforcement Tensile
materiais utilizados nesse estudo. Strength from Tests of Geotextile Reinforced Soil.
A variação no comprimento do reforço e na Report on HRC - Highway Research Center, Auburn
tensão vertical gerou valores significativamente University, Auburn, Alabama, p. 77.
diferentes de r em comparação ao valor de 0,7 Han, B., Ling, J., Shu, X., Gong, H., & Huang, B. (2018).
proposto por Pham (2009), e diferentes entre si Laboratory investigation of particle size effects on the
shear behavior of aggregate-geogrid interface.
de aproximadamente 13%. Como ilustrado no Construction and Building Materials, Elsevier, p.
início do item 3, essas alterações podem dar 1015-1025
origem a previsões bastante equivocadas do Ketchart, K., & Wu, J. T. (2001). FHWA-RD-01-018:
aumento de tensão confinante proporcionado ao Performance test for geosynthetic-reinforced soil
solo pelo geossintético e, consequentemente, da including effects of preloading. Report on Federal
Highway Administration, p. 282.
carga vertical máxima admissível à estrutura de Mohamed, A. M. (2018). Evaluation of soil-
solo reforçado. reinforcement composite interaction in geosynthetic-
Desse modo, sugere-se que o cálculo de r reinforced soil structures. PhD Thesis, Faculty of the
seja feito conforme as equações demonstradas Graduate School, University of Texas, Austin, 579p.
em Ketchart & Wu (2001) sempre que for Pham, T. Q. (2009). Investigating composite behavior of
geosynthetic-reinforced soil (GRS) mass. PhD Thesis,
necessária uma estimativa mais rigorosa da University of Colorado, Denver, 358p.
tensão confinante no solo, ao invés de se utilizar Schlosser, F. and Long, N.T. (1974). Recent Results in
um valor fixo. French Research on Reinforced Earth. Journal of
É recomendado que estudos posteriores Construction Division, Vol. 100, pp. 223–237,
sobre esse assunto considerem modelos American Society of Civil Engineers, Reston, VA.
Schlosser, F. & Long, N.T. (1972). Comportement de la
constitutivos diferentes, e possivelmente terre armee dans les ouvrages de soutenement. Proc
variação da rigidez do reforço, bem como 5th ECSMFE Madrid 1, 111:a:299-306
valores maiores de tensão confinante. Sieira, Ana Cristina Castro Fontenla (2003). Estudo
Experimental dos Mecanismos de Interação Solo-
Geogrelha. Tese de Doutorado, Departamento de
Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do
AGRADECIMENTOS Rio de Janeiro, 363 p.
Wu, J. H., & Ooi, P. S. (2015). FHWA-HRT-14-094:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Synthesis of geosynthetic reinforced soil design
empresa Huesker Brasil e da Coordenação de topics. Report on Federal Highway Administration, p.
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - 76
Wu, J. H., Pham, T. Q., & Adams, M. T. (2013). FHWA-
Brasil (CAPES) - Código de Financiamento HRT-10-077: Composite Behaviour of Geosynthetic
001. Reinforced Soil Mass. Report on Federal Highway
Administration, p. 195.
Yang, Z. (1972). Strength and Deformation
REFERÊNCIAS Characteristics of Reinforced Sand. PhD. Thesis,
University of California at Los Angeles, Los Angeles,
Adams, M. T., Ketchart, K., & Wu, J. T. (2007). Mini CA.
pier experiments: Geosynthetic reinforcement spacing
and strength as related to performance. Geosynthetics
in Reinforcement and Hydraulic Applications, p. 1-9.
British Standard (2010). B.S. 8006: Code of practice for
strengthened/reinforced soils and other fills. London,
UK, p. 250.
Boscardin, M.D., Selig, E.T., Lin, R.S. & Yang, G.R.,
(1990). Hyperbolic parameters for compacted
soils. Journal of Geotechnical Engineering, ASCE,

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176
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Comportamento de Geocélulas Solicitadas em Diferentes Locais de


sua Estrutura
Gustavo Dias Miguel
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, gustavo2995@hotmail.com

Julia Favretto
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, juliafavretto@hotmail.com

Márcio Felipe Floss


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, marciofloss@upf.br

RESUMO: Este estudo apresenta a análise do comportamento de um reforço de geocélula submetido


a provas de carga com carregamentos aplicados em dois diferentes locais de sua estrutura. O reforço
de geocélula foi instalado sobre um solo arenoso e preenchido com o próprio solo de base. O
carregamento foi transferido para o solo através de uma placa circular de 150 mm de diâmetro,
aplicado nos seguintes locais: 1) no centro de uma das células da geocélula e, 2) em um nó de ligação
entre células. Além disto, foram realizados ensaios no solo de base sem reforço para posterior
comparação. A análise se deu de duas formas, por meio da resposta de transdutores de pressão
instalados no interior da massa de solo e por meio das curvas tensão vs recalque de cada um dos
ensaios. Observou-se um aumento na rigidez do solo, especialmente quando o carregamento foi
aplicado no nó de ligação entre células e, consequentemente, uma redução das trincas na superfície.
O centro de uma das células demonstrou ser o melhor local de carregamento da geocélula devido ao
confinamento gerado, com um aumento da capacidade de carga de 91% comparado ao solo não
reforçado, além de uma redução dos recalques de cerca de 87%.

PALAVRAS-CHAVE: Geocélula, Provas de Carga, Reforço de Solo, Geossintéticos.

ABSTRACT: This study presents the analyzes of the geocell-reinforcement behavior under a vertical
load applied to two different locations on a geocell grid. A geocell mattress was placed over a sand
soil and filled with the same material
was tested with a load plate that was 150 mm in diameter. The load was transferred to the soil through
a circular plate 150 mm diameter, applied at the following locations: 1) on the center of a cell and 2)
on the node connecting cells. In addition, tests were performed without a geocell. The analysis was
carried out by two methods: the responses of soil pressure transducers were evaluated both in the
presence and absence of the geocell when the specimens were subjected to the rupture trajectory also
through the load-settlement curves. An increase in soil stiffness was observed, especially when the
load was applied at the geocell nodes and, consequently, a reduction of surface cracks. The center of
a cell was demonstrated as the best place to load a geocell due to the confinement generated, with an
increase in the bearing capacity of 91% compared to the unreinforced soil, and an reduction of settling
of approximately 87%.

KEY WORDS: Geocell, Load Plate Test, Soil Reinforcement, Geosynthetics.

1 INTRODUÇÃO geotécnicos e melhorar o comportamento dos


solos em obras de contenção e de reforço.
Geocélulas têm sido utilizadas em todo o mundo (Hedge & Sitharam, 2015). Trata-se de uma
com o objetivo de solucionar problemas estrutura tridimensional que confina material no

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

177
interior de cada célula, reduzindo o movimento do fornecedor, a geocélula possui uma
lateral das partículas (Pokharel et al., 2009). resistência transversal das ligações de 900 N,
Tingle & Jersey (2007) indicam esse testada segundo os padrões brasileiros de
geossintético como uma solução potencial para normatização.
reforço de estradas não pavimentadas. A
inserção da geocélula em bases granulares
aumenta a rigidez e, consequentemente, a 3 METODOLOGIA
capacidade de carga do solo (Han et al., 2008).
Zhou & Wen (2008) apontam que a geocélula, Foram realizados um total de seis provas de
atuando como uma membrana tensionada, carga, classificados em três categorias, A, B e C,
distribui a tensão sobre uma área maior. Han et onde para cada qual foram realizadas duplicatas.
al. (2008) conduziram ensaios de placa sobre Os ensaios do tipo A são os ensaios de referência
areia, utilizando um reforço composto por e se referem aos realizados sobre o solo sem
geocélula preenchida com o mesmo solo da base, reforço. Já os ensaios do tipo B e C, foram
sendo a placa locada exatamente no centro de executados sobre o solo reforçado com
uma das células, sem contato com as bordas, e geocélula, diferenciados entre si pelo local de
tiveram como resultados o aumento na carregamento. Nos ensaios tipo B, a carga foi
capacidade de carga e módulo de elasticidade do aplicada no centro de uma das células (Figura
solo reforçado. Ainda, os autores concluíram que 1a). Nos ensaios tipo C, a carga foi aplicada
a posição da placa tem efeito na distribuição da sobre o nó de ligação (Figura 1b).
força máxima de compressão e da tensão Os testes foram realizados em uma caixa de
máxima de cisalhamento na interface da parede acomodação com dimensões de 700 x 900 x 900
da geocélula. mm (altura, comprimento e largura). O processo
O objetivo deste estudo foi avaliar o de preenchimento da caixa se deu pela confecção
comportamento da geocélula submetida a cargas de seis camadas de 100 mm, moldadas e
estáticas aplicadas em duas posições distintas, no compactadas com umidade de 10% e densidade
centro de uma das células e no nó de ligação. relativa de 50%. No caso dos ensaios com
Foram realizados ensaios de placa sobre um solo geocélula, esta foi instalada no centro da última
arenoso reforçado com geocélula e os resultados camada, mantendo um recobrimento de 20 mm,
comparados com o ensaio de referência no solo entre a geocélula e a placa de carregamento.
sem reforço. A transmissão dos esforços se deu através de
uma placa circular de 150 mm de diâmetro e
14,05 mm de espessura. O tamanho da placa foi
2 PROPRIEDADE DOS MATERIAIS selecionado para que não houvessem contatos
entre a placa e as paredes da geocélula, bem
Para compor o solo de base e de preenchimento como para que a distribuição de tensões não
das geocélulas, foi utilizada uma areia final mal atingisse as paredes da caixa. Os carregamentos
graduada proveniente do município de foram aplicados em pequenos incrementos e
Osório/RS, com diâmetro médio efetivo dos mantidos até a estabilização dos recalques. A
grãos de D50 = 0,160 mm e índices de vazios medição dos carregamentos foi por meio de uma
mínimo e máximo de 0,702 e 0,913, célula de carga com capacidade de 50 kN,
respectivamente. Vendruscolo (2003) realizou disposta entre o macaco hidráulico utilizado para
ensaios triaxiais neste material e encontrou um aplicação das cargas e o pórtico de reação. Uma
ângulo de atrito de pico de 36°. Já a massa esfera de aço foi posicionada entre a célula de
específica desta areia é 2,63 g/cm³, segundo carga e o pórtico a fim de evitar a geração de
Donato (2007). momentos indevidos.
A geocélula utilizada é de polipropileno, com Os recalques da placa foram monitorados por
paredes lisas e ligações feitas por meio de meio de duas réguas resistivas, instaladas em
costura das tiras de geotêxteis, estruturada em posições opostas em relação ao diâmetro da
formato diamante. Cada célula possui 50 mm de placa, ligadas a um sistema de aquisição
altura e abertura de 270 mm. Conforme catálogo analógico/digital. Ainda, foram monitorados o

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178
levantamento ou rebaixamento do solo ao parede e fundo da caixa de acomodação, e três
entorno da placa, através de deflectômetros internos, estes localizados: no centro da placa a
instalados a 50, 150 e 250 mm a partir da borda 100 mm de profundidade abaixo da superfície
da placa (Figura 2). (nomeado como CF100), no centro da placa a
250 mm de profundidade (CF250) e na borda da
placa a 100 mm de profundidade (BF100). A
capacidade de cada um dos transdutores variava
entre 500 e 1000 kPa.
A geometria e configuração dos ensaios
podem ser observados na Figura 2, e as variáveis
envolvidas no estudo na Tabela 1. A seleção
desses parâmetros tem por base os trabalhos
realizados por Dash et al. (2001) e Dash et al.
(2003).

(a)

Figura 2. Parâmetros geométricos: altura da camada de


geocélula (h), largura do reforço de geocélula (b),
profundidade de instalação da geocélula (u) e, diâmetro
da fundação (B).

Tabela 1. Planejamento Experimental


Ensaio Detalhes
Ensaio sem reforço, com a densidade
A relativa fixa em 50% e umidade em
10%
Local de carregamento –
B Variável: centro de uma das
células
Constante: h/B=0,33; b/B=6;
u/B=0,13; matéria prima
polipropileno; Dr = 50%;
(b)
Padrão Diamante de
Figura 1. Locais de carregamento: a) centro de uma das Geocélula
células, b) nó de ligação. Local de carregamento –
C Variável: nó de ligação entre
Na ausência de ruptura clara, o carregamento foi células
aplicado até atingir 25 mm de recalque da placa. Constante: h/B=0,33; b/B=6;
Cinco transdutores de pressão foram u/B=0,13; matéria prima
instalados no interior da massa de solo com o polipropileno; Dr = 50%;
intuito de analisar as tensões desenvolvidas Padrão Diamante de
durante os ensaios de placa. Foram utilizados Geocélula
dois transdutores de contato, instalados na

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179
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES geocélula, que é capaz de suportar a fundação
mesmo após a ruptura por cisalhamento do solo.
O desempenho da geocélula foi analisado através
do índice Fator de Melhora da Capacidade de
Carga (If), definido como sendo a razão entre a
tensão do solo reforçado para um recalque
definido e a tensão do solo não reforçado para o
mesmo recalque. Além disso, o recalque
desenvolvido em cada um dos ensaios foi
avaliado pelo fator Porcentagem de Redução no
Deslocamento da Sapata (PRS), que é
determinado pela razão da diferença entre os
deslocamentos do solo não reforçado com o solo
reforçado, sobre o valor do recalque do solo não
reforçado, para determinada carga aplicada. Por
fim, foram analisadas as respostas dos
transdutores de pressão. Neste estudo, tanto os
recalques da placa (s) quanto as deformações ao
entorno da placa (δ) foram expressos na forma
adimensional, em função do diâmetro da
fundação (B), como s/B (%) e δ/B (%). Além Figura 3. Curvas tensão vs recalque de cada uma das
disso, as relações tensão vs recalque aqui modalidades de ensaios
apresentadas tratam-se de curvas
comportamentais, ou seja, com base nos Ainda, sob um recalque em torno de 50% da
resultados das provas de carga foram realizadas largura da placa, a capacidade de carga
retroanálises para que então se obtivessem as observada nos ensaios tipo C é cerca de 1,6 a 2,0
curvas que descrevessem o comportamento de vezes superior aos ensaios que não possuíam o
cada um dos locais de carregamento. reforço. Estes resultados devem-se a ancoragem
A Figura 3 apresenta o comportamento tensão disponibilizada ao solo pela geocélula, fazendo
vs recalque das três variações de ensaios. É com que a área carregada se expanda e mobilize
possível observar que o solo não reforçado uma maior resistência friccional e passiva do
apresentou o pior desempenho. Os ensaios tipo solo.
B, cujo carregamento foi aplicado no interior de A Tabela 2 apresenta a variação dos índices If
uma das células, apresentaram desempenho em função do recalque da placa. Comparando os
superior ao visto nos ensaios tipo A. Neste caso, ensaios, nota-se que os ensaios tipo B
atenta-se para a redução acentuada dos apresentaram valores mais altos ocorrendo logo
recalques, que podem estar relacionados com o no início dos testes, entretanto, com a progressão
efeito do confinamento gerado. Já os testes tipo dos recalques, houve uma redução em seus
C, realizados sobre o nó de ligação, tiveram a valores. O fato pode ser explicado devido à
melhor performance comparado aos demais pequena altura da geocélula (50 mm) em relação
modelos de ensaios. Observa-se nos ensaios tipo ao diâmetro da placa que, com o desenvolver dos
C que as tensões seguiram aumentando mesmo recalques, reduz cada vez mais o confinamento
após a ruptura do solo, justificado pela existente e, consecutivamente, reduz o fator If.
localização da placa sobre o nó, pois neste tipo Dash et al. (2001) sugere que o melhor
de ensaio, sob elevados deslocamentos, quem desempenho da geocélula ocorre a uma razão
passa a atuar exclusivamente é a geocélula, h/B variando entre 2,75 e 3,14. Neste estudo, a
transmitindo os esforços para seus pontos de razão h/B é igual a 0,33. Os ensaios tipo C, por
ancoragem. Dash et al. (2001) também observou sua vez, exibiram um aumento progressivo de If
este comportamento em seu estudo e com o desenvolver dos recalques, que deve-se à
mencionada que o fato se deve à rigidez ao rigidez provida pela geocélula quando solicitada
cisalhamento e à flexão desenvolvida pela em um ponto específico de sua estrutura,

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180
resultando em melhoras de capacidade próximas Os resultados da deformação do solo em torno
a 76%. da área carregada são mostrados na Figura 4,
onde o sinal negativo indica elevação e sinal
Tabela 2. Variação dos Fatore de Melhora da Capacidade positivo indica recalque do solo. Observam-se
de Carga deslocamentos de elevação em todos os casos,
Fator de Melhora da Capacidade (If) sendo estes maiores nos ensaios A e C e,
Ensaio s/B (%) também, quanto mais próximos da placa. As
1 5 10 15 20 30 40 50 cargas aplicadas sobre o solo não reforçado
B 1,91 1,40 1,31 1,27 1,24 1,21 1,19 1,18 (ensaio A) resultaram em deformações
C 0,77 1,45 1,58 1,64 1,67 1,72 1,74 1,76 concentradas na região da placa e altos valores
de elevação são vistos. Já as cargas aplicadas
Em relação à variação de PRS, os resultados sobre o nó (ensaio C) conduziram a uma
estão expressos na Tabela 3. Similar ao que elevação do solo ao entorno maior do que a
ocorre nos índices If, o ensaio tipo B apresenta, resultante no solo não reforçado após atingir um
inicialmente, uma grande redução no recalque de apenas 5%. Segundo Dash et al.
desenvolvimento dos recalques, que diminui (2001), quando o nó de ligação é submetido a
conforme se elevam as tensões. Carregamentos carregamentos, a ação é similar a uma viga
realizados no centro de uma das células suportando a carga de um pilar. Portanto, na
demonstraram ser o melhor local para redução medida em que o nó sofria recalque, a área no
dos recalques, chegando a uma redução de entorno da carga apresentava elevação devido à
aproximadamente 87%. Já os ensaios do tipo C, transmissão das tensões para outras partes da
estes apresentaram um aumento progressivo no geocélula, similar a uma viga fletida. Em relação
valor de PRS. No entender dos autores, o local aos ensaios tipo B, o movimento do solo da
onde se encontra a placa, neste caso, nó de superfície em torno da placa é menor. Os
ligação, sugere com que este venha atuar como deslocamentos se mantêm estáveis até próximo
um nó propriamente dito, ponto de rotação, que o momento de ruptura do solo. Além disso,
faz com que a placa inicialmente apresente nenhum movimento significativo foi observado
recalques elevados (simbolizados pelos valores no deflectômetro mais distante da placa em
em negativo da PRS) e, posteriormente, quando resposta ao aumento das tensões e recalque,
há uma acomodação da geocélula e esta então é justificado pelo efeito de confinamento ter
mobilizada em sua totalidade, então inicia-se a minimizado a deformação e o deslocamento
redução dos recalques e por sua vez o aumento lateral do solo. A utilização da geocélula fez com
do PRS. Sob uma tensão de 350 kPa, ambos os que um maior volume de solo fosse envolvido e
casos ensaiados apresentaram uma redução dos consequentemente uma maior capacidade de
recalques variando entre 65 e 78%, carga desenvolvida. Quando a geocélula foi
demonstrando haver uma convergência dos carregada no nó de ligação, da mesma forma um
resultados. Este resultado indica que a aplicação amplo volume de solo passou a estar envolvido,
da geocélula como reforço de solo arenoso pode porém, neste caso, movimentos mais acentuados
reduzir os recalques da fundação em, no mínimo, também foram observados ao entrono da
60% comparado ao caso do mesmo solo sem o fundação quando utilizado este local específico
reforço. para o carregamento.
As distribuições das tensões no solo, no
Tabela 3. Variação da Porcentagem de Redução no interior da caixa de acomodação, estão ilustradas
Deslocamento da Sapata na Figura 5. Os transdutores de contato,
Porcentagem de Redução no Deslocamento da localizados na parede e fundo da caixa não
Sapata – PRS (%) registraram nenhuma resposta. As dimensões da
Ensaio
kPa caixa de acomodação foram definidas para evitar
100 150 200 250 300 350 que as tensões viessem a atingir suas paredes,
B 86,88 85,42 83,79 81,98 79,98 77,74 considerando como distância ao entorno da placa
C -70,44 -24,33 9,31 33,85 51,75 64,80 uma relação de 2,5B. Os resultados dos ensaios
tipo A indicam que as tensões se mantiveram lo-

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181
(a)

(a)

(b)

(b)

(c)

Figura 5. Curvas tensão vs recalque, tensões lidas pelos


transdutores: a) centro da placa a 100mm de
(c) profundidade; b) borda da placa a 100mm de
profundidade e, c) centro da placa a 250mm de
Figura 4. Movimentação na superfície do solo ao entorno profundidade.
da placa a: a) 50mm, b) 150mm e c) 250mm.

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182
calizadas diretamente abaixo da região com demais trabalhos clássicos da área como
carregada, com menor distribuição das mesmas. Dash et al. (2001); Dash et al. (2003); Mandal &
Já para os ensaios tipo C, as tensões se Gupta (1994); Rajagopal et al. (1999); Rea &
concentraram no centro do solo de base ao longo Mitchell (1978) que levarão a um melhor
de sua profundidade, indicando que estas entendimento dos procedimentos de
estavam agindo similarmente a um carregamento dimensionamento e utilização de geocélulas.
axial, sem uma maior distribuição das tensões Com base nos resultados apresentados, as
em no solo ao entorno, isto provavelmente seguintes conclusões podem ser inferidas a
devido à localização específica da placa sobre respeito de uma geocélula solicitada em dois
um dos nós de ligação da geocélula. diferentes locais de sua estrutura:
Carregamentos aplicados sobre o nó resultaram
em maiores tensões, mesmo quando lidas pelas 1) O centro de uma das células demonstrou
células dispostas a 250 mm de profundidade ser o melhor local para aplicação de um
(maior profundidade de instalação). Ainda, carregamento. Os resultados apontaram
foram lidas tensões mais elevadas no dispositivo uma melhora da capacidade de carga de
CF100. até 91% e uma redução dos recalques de
Conforme mostrado na Figura 5a, a aplicação até 87%, comparado aos ensaios sem
da carga no centro da célula apresentou os reforço. Entretanto, para que este
melhores resultados em relação à distribuição benefício seja maximizado, a altura da
das tensões. A 100 mm de profundidade, a tensão geocélula deve seguir a razão h/B
foi reduzida cerca de 1,5 vezes em comparação variando entre 2,75 e 3,14, conforme
ao ensaio o qual teve o carregamento aplicado Dash et al. (2001);
sobre um dos nós de ligação. O melhor 2) O carregamento no centro de uma das
comportamento referente à distribuição das células reduziu as movimentações ao
tensões dos testes tipo B podem ser confirmados entorno da placa, rebaixamentos e
com base nos resultados ilustrados pela Figura elevações se mantiveram estáveis devido
5c, onde é observada a redução das tensões ao ao efeito de confinamento que
longo do interior da caixa de acomodação. Além minimizou o deslocamento lateral do
disso, a Figura 5b mostra que o transdutor BF100 solo. Em contraste, o carregamento em
leu tensões muito menores do que as outras um dos nós de ligação resultou em uma
células quando a placa estava localizada no maior movimentação lateral.
centro de uma célula, demonstrando assim que o 3) As tensões foram reduzidas cerca de 1,5
solo abaixo da geocélula estava protegido. a 2,0 vezes no centro da caixa de
A maioria dos testes apresentou tensões mais acomodação quando o carregamento foi
altas a 100 mm de profundidade (lidos por meio realizado no centro de uma das células.
dos transdutores) do que na superfície do solo à Quando o carregamento se deu no nó de
medida que a carga progredia, podendo, desta ligação, ocorreu a concentração das
forma, ilustrar este comportamento como uma tensões ao longo da profundidade da
espécie de cunha onde houvesse um ponto que caixa de acomodação sem uma maior
as tensões se acumulassem no interior do solo distribuição, atuando similar a um
para depois haver a dissipação, conforme carregamento axial atingindo maiores
comumente conhecido. profundidades da caixa. Nos casos em
que não havia o reforço, as tensões se
concentraram logo abaixo da placa
5 SUMÁRIO E CONCLUSÕES circular mobilizando uma pequena região
de solo.
Este estudo obteve resultados experimentais de 4) Cargas aplicadas no nó de ligação
provas de carga em placa circular suportados por resultaram em uma alta melhora da
um substrato arenoso homogêneo, reforçado ou capacidade de carga, onde a geocélula
não com geocélulas. Os resultados ora discutidos suportou a placa mesmo após o solo vir a
necessitam ser abordados em concomitância falhar. No entanto, a aplicação de cargas

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183
neste local resultou também na pior geocell-reinforced sand cushion on soft soil.
redução dos recalques. Geotextiles and Geomembranes, 26(3): 231-238. doi:
10.1016/j.geotexmem.2007.10.002.
5) Independentemente do local de
carregamento, o reforço de geocélula
resultou em uma redução mínima dos
recalques de cerca de 60%, comparado
ao solo não reforçado.

REFERÊNCIAS

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Bearing capacity of strip footings supported on
geocell-reinforced sand. Geotextiles and
Geomembranes 19 (2001), 235-256. doi:
10.1016/s0266-1144(01)00006-1.
Dash, S. K., Sireesh, S., Sitharam, T. G. (2003). Behaviour
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Ground Improvement (2003) 7, No. 3, 111-115. doi:
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(Doutorado em Engenharia) - Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto
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Vendruscolo, M. A. (2003). Study of composite fibrous
materials behavior for application as reinforced bases
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Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em
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Zhou, H., Wen, X. (2008). Model studies on geogrid – or

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184
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Sapatas em Aterros Reforçados com Geossintéticos


Ígor Fernandes
Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia,
70910-900 Brasília (DF), Brasil, igorfernandes.eng@gmail.com

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia,
70910-900 Brasília (DF), Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: Usualmente, os requisitos de projetos de fundações rasas não são totalmente satisfeitos
pelo solo da área em estudo. Isto ocorre porque o solo natural é um material complexo e de
comportamento variável. Portanto, inúmeros métodos construtivos têm sido desenvolvidos ao longo
dos anos para viabilizar a construção de estruturas sobre camadas de solos com baixa capacidade de
suporte. Um método possível envolve o emprego de geossintéticos. Todavia, ainda há dúvidas e
incertezas a respeito da utilização de reforço geossintéticos sob fundações rasas em aterros,
principalmente em relação às consequências de recalques excessivos e de rupturas. Neste contexto,
este trabalho apresenta um estudo sobre fundações diretas em aterros reforçados com geossintéticos.
Para esta finalidade foi utilizado o método dos elementos finitos, com o uso do programa Plaxis. O
modelo retratou uma fundação superficial isolada em aterro não reforçado e depois com diversas
configurações de reforços de geossintéticos. Os aspectos principais obtidos para as análises foram a
capacidade de carga e os recalques na aplicação de uma carga de referência (carga de ruptura do
sistema sem reforço). Os resultados obtidos mostram que a presença de camadas de reforço
convenientemente especificadas em termos de características geométricas e mecânicas, bem como
apropriadamente distribuídas sob fundação rasa, pode aumentar significativamente a capacidade de
carga e reduzir os recalques da fundação.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações rasas, aterros reforçados, geossintéticos, método dos elementos


finitos, capacidade de carga e recalques.

ABSTRACT: Soils usually do not comply entirely with the requirements for the use of shallow
foundations on a routine basis. This is due to soil variability and complexity of soil behaviour.
Therefore, several construction methods have been developed through the years to allow the
construction on compressible grounds. One of the methods available is the use of geosynthetics for
soil reinforcement. However, uncertainties do exist with regard to the use of geosynthetic
reinforcement underneath shallow foundations, such as footings. In this article the finite element
method was employed to investigate the behaviour of an isolated strip footing using the code Plaxis.
For the former situation, the main parameters investigated were bearing capacity and settlements
caused by the application of a reference load on the footing (failure load of the footing resting on
unreinforced fill). The results obtained showed that, when properly specified in geometrical and
mechanical terms, as well as properly distributed underneath the footing, geosynthetic reinforcement
can increase significantly the footing bearing capacity and reduce its settlements.

KEYWORDS: Shallow foundations, reinforced embankment, geosynthetics, finite element method,


bearing capacity and settlement.

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185
1 INTRODUÇÃO ferramenta numérica. Foco foi dado na
influência das propriedades mecânicas dos
Os projetos de fundações rasas geralmente não reforços, arranjo e distribuição das camadas de
são satisfeitos pelo solo natural da área em reforço e nas propriedades dos solos para o aterro
estudo. Isto ocorre porque este é um material de reforçado.
comportamento variável. Desta forma, vários
métodos construtivos foram desenvolvidos para
que fosse possível a construção de estruturas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
sobre estes solos de variados comportamentos,
principalemente os de baixa capacidade de O trabalho terá como foco as análises numéricas
suporte. No caso da construção de aterros, realizadas com o programa Plaxis 2D. Com essa
existem soluções tradicionais como remoção e ferramenta numérica se investigou o
substituição do solo por outro com comportamento de fundações superficiais sobre
características adequadas, execução de aterros aterros reforçados com geossintéticos.
estaqueados, entre outros. Entretanto, por vezes, As simulações consideravam para o solo
estas soluções podem não ser viáveis nos subjacente à sapata como um aterro uniforme e
aspectos econômicos, ambientais ou restrições homogêneo em toda a sua extensão. Para as
de projeto. análises da fundação superficial isolada, os
Neste contexto, surge a necessidade de aspectos principais para discussão dos resultados
utilização de métodos para reforçar o solo de das simulações foram a capacidade de carga
fundação de baixa capacidade de carga com o última e o recalque do sistema.
objetivo de melhorar suas condições
geotécnicas. A inclusão de elementos de reforço, 2.1 Procedimentos de análise
como fitas, fibras ou tiras metálicas são soluções
possíveis. Contudo, um método muito eficaz e No procedimento de análise dos resultados foi
que passou a ser investigado nas últimas décadas utilizada a taxa de capacidade de carga e a taxa
é a inclusão de geossintéticos. Estes podem de redução de recalque para as análises em
auxiliar a construção do aterro de diversas relação às cargas de ruptura e aos recalques. Para
formas, de acordo com a função ou funções que a análise de capacidade de carga foi utilizada a
os mesmos desempenham (Almeida & Marques, taxa de capacidade de carga, BCR (Bearing
2010). Pesquisas para análises do Capacity Ratio), definida por Binquet & Lee
comportamento destas estruturas já foram (1975) como:
realizadas por meio de ensaios de campo, q
modelos reduzidos e também por meio de BCR = r (1)
q ult
ferramentas numéricas.
Diversos autores realizaram pesquisas sobre Onde qr e q ult são as capacidades de carga do
fundações rasas reforçadas com geossintéticos, solo reforçado e não reforçado, respectivamente.
destacando-se Dawson & Lee (1988), Das Já para a análise dos recalques foi utilizada a
(1989), Manjunath & Dewaikar (1996), Ju et al. comparação entre o u, que representa o recalque
(1996), Nataraj et al. (1996), Zhao et al. (1996) de ruptura do caso não reforçado (recalque de
Pospisil & Zednik (2002), Patra et al. (2005), referência), e r, que representa o recalque do
Palmeira (2001), Haque et al. (2001), Ghazavi & caso reforçado quando a sapara é submetida à
Lavasan (2008), Avesani Neto et al. (2012), carga de ruptura do caso não reforçado (carga de
Fernandes (2014) e Ouria & Mahmoudi (2018). referência).
Contudo, ainda restam dúvidas a sanar na
utilização de geossintéticos como reforços para 2.2 Modelo Numérico
fundações rasas. Desta forma, nesta pesquisa se
investigaram os fatores que afetam o Para elaboração do modelo numérico foi
comportamento de fundações superficiais sobre dividida a apresentação dos casos simulados em
aterros reforçados com geossintéticos sobre geometria, propriedades dos materiais utilizados,
diferentes solos de fundações com a utilização de

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186
condições iniciais, estágios de cálculo e da carga de ruptura do sistema sem reforço (será
procedimentos de análise. a carga de referência).

2.2.1 Geometria 2.2.2 Propriedade dos materiais


As simulações no Plaxis foram realizadas com Nesta seção são apresentadas as propriedades de
elementos triangulares de 15 nós e admitiram-se todos os materiais empregados nas simulações.
condições de deformação plana. São mostradas também as ferramentas utilizadas
Para que a dimensão do modelo e as no programa para simular os materiais.
condições de contorno não interferissem na Nas simulações, a fundação superficial
capacidade de carga, foi adotado o valor de 5B, utilizada foi uma sapata corrida. Para o primeiro
ou 10 metros, para largura e profundidade do caso típico foi adotada a largura (B) igual a 2
sistema solo-fundação. Em relação ao metros. A sapata foi simulada como um
refinamento da malha, todas as simulações elemento do tipo Plate (placa), sendo
foram refinadas de forma global com o tipo very considerada flexível e com as propriedades
fine e de forma local foram refinados o contato apresentadas na Tabela 1. Desconsiderou-se o
entre a sapata e o solo adjacente e também a embutimento da sapata para efeitos de
interface entre cada camada de reforço e o simplificação do modelo nas simulações, além
material de solo adjacente. do que o foco da pesquisa é nos benefícios
Um exemplo da malha utilizada da fundação obtidos pela inclusão das camadas de
superficial isolada em aterro reforçado com uma geossintéticos.
camada é apresentado na Figura 1, o aterro em
todas as situações foi considerado homogêneo Tabela 1 Propriedades da sapata.
Parâmetros Valor Unidade
(Figura 1). É interessante notar que é destacado Rigidez normal (EA) 5 x 106 kN/m
o detalhe do refinamento local intensificado Rigidez à flexão (EI) 8500 kNm²/m
próximo à sapata. Espessura equivalente (d) 0,143 m

Para o material de aterro foi adotodo o modelo


constitutivo de Mohr-Coulomb e considerou-se
a análise sob condição drenada. A Tabela 2
apresenta as propriedades relevantes do material
do aterro.
Tabela 2 Propriedades do material de aterro.
Aterro
K0
' (°) Ѱ (°) E (MPa)
35 12 15 0,426

Figura 1. Malha da sapata isolada em aterro reforçado com Em que ϕ é o ângulo de atrito, Ψ é o ângulo
uma camada com aterro homogêneo e uniforme. de dilatância e E é o módulo de young do solo.
Por fim, o aterro teve valores típicos de
O processo construtivo foi considerado pelos propriedades de areia, com coesão (c’) igual a 1
quatro estágios de cálculo das simulações. No kPa (ao invés de zero, para evitar problemas
primeiro é feita a instalação do geossintético e numéricos), coeficiente de Poisson (ν) igual a
construção da sapata, no segundo ocorre 0,3, e o peso específico (γ) inicial a 16 kN/m³.
assentamento da fundação rasa, no seguinte se O tipo de elemento Geogrid do programa
Plaxis foi utilizado para simular os
obtem a carga de ruptura do sistema e por fim, a
geossintéticos. Foi assumido o comportamento
última etapa é subsequente da 3ª etapa, ou seja, elástico linear para as camadas de reforço com
antes da ruptura do solo. Nesta ocorre aplicação único parâmetro sendo a rigidez normal (axial)
elástica EA .

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187
Na Tabela 3 são apresentados os parâmetros com uma camada ou com multicamadas de
do reforço utilizados neste trabalho. Observa-se reforço.
que foram considerados de 1 a 8 camadas de
geossintéticos, com até 4 diferentes valores para 3.1 Fundação isolada em aterro sem reforço
rigidez de cada camada, além do espaçamento da Pela ferramenta numérica, o sistema da fundação
primeira camada para sapata com 6 distintos superficial em aterro tipo 01, sem reforço, teve a
valores e também considerados até 5 diferentes carga de ruptura igual a 576 kN/m². Logo, esta
comprimentos para cada camada. carga é chamada de carga de referência e foi
aplicada nas simulações em aterros com reforços
Tabela 3 Parâmetros do reforço de geossintéticos. de geossintéticos para comparações e análises.
N° de
Classificação pela rigidez Nas simulações, simultaneamente à obtenção
do reforço (kN/m) L (m) U (m) da capacidade de carga última, foi registrado o
camadas
seu respectivo valor de recalque, admitindo-se a
1 J1 500 L1 1,0B 0,10B manutenção do comportamento elástico até o
2 J2 1000 L2 1,5B 0,25B limiar da ruptura (Modelo Mohr-Coulomb). O
3 J3 2000 L3 2,0B 0,35B valor máximo de recalque no centro da sapata foi
4 J4 5000 L4 4,0B 0,50B de 24 centímetros. Portanto, este é o recalque de
5 - - L5 6,0B 0,70B referência (ρrefer) para comparações nos itens
6 - - - - 1,00B seguintes.
7 - - - - -
-
3.2 Fundação isolada em aterro reforçado
8 - - - -
com uma camada de reforço
Em que “J” é a rigidez à tração dos
Nas simulações com uma fundação
reforços,“L” representa o comprimento das
superficial isolada em aterro reforçado com uma
camadas e “U” é a distância entre a base da
camada de reforço, variando a profundidade de
sapata e a primeira camada de reforço (“L” e “U”
instalação do geossintético, foram obtidos os
estão apresentados em função da largura “B” da
resultados em relação à variação da capacidade
sapata). O espaçamento (s) entre as camadas de
de carga e dos recalques, respectivamente, como
geossintéticos foi considerado 0,10B.
apresentados nas Figuras 3 e 4.
A resistência ao longo da interface solo-
reforço é considerada pelo programa e 2,00
dependente do parâmetro de interface (Rinter). L1 L2 L3 L4 L5
1,75
Neste trabalho, o Rinter foi considerado igual a
1,0, isto é, as resistências da interface e do solo 1,50
ao redor são iguais. 1,25
As variáveis investigadas na pesquisa podem
1,00
ser visualizadas na Figura 2.
BCR

0,75

0,50

0,25

0,00
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Profundidade de uma camada de reforço (U/B)
Figura 3. Variação do BCR em relação à profundidade do
reforço.
Figura 2. Variáveis analisadas nas simulações.
Na análise dos casos com apenas uma camada
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO de reforço e considerando a profundidade do
reforço, é interessante notar que há um
As simulações se dividiram em aterro sem crescimento na capacidade de carga e uma
reforço, para obtenção das cargas de referência, redução dos recalques. A utilização mais eficaz

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188
ocorreu com 0,25B de profundidade de reforço de reforço igual a U2 = 0,25B. Na verificação da
(Figuras 3 e 4), isto ocorre porque a partir da qual influência do comprimento de uma camada de
praticamente não há mudança de capacidade de reforço, os resultados em termos de variação do
carga e na redução de recalques, além de se obter BCR e dos recalques em relação ao de referência
uma menor escavação com esta escolha. são apresentados nas Figuras 6 e 7. No caso da
análise do comprimento do reforço com apenas
uma camada, percebe-se que a partir do valor 4B
praticamente não há acréscimo na capacidade de
carga nem redução dos recalques, sendo este
portanto o valor próximo do ideal a se utilizar.
Este fato também foi observado por Das (1989)
em sua pesquisa.

2,00

1,75

1,50

1,25

Figura 4. Variação do recalque na aplicação da carga de 1,00


BCR

referência com o aumento do comprimento da camada de 0,75


reforço.
0,50

É interessante ressaltar também pela Figura 4 0,25


que, nesta pesquisa os recalques apresentados 0,00
são na ocorrência da ruptura do solo e que 0 1 2 3 4 5 6
Comprimento de uma camada (L/B)
recalques de tais magnitudes não seriam
Figura 6. Incremento do BCR com o aumento do
toleráveis em obras reais. comprimento da camada de reforço.
Na Figura 5 podem-se observar os pontos de
plastificação no caso específico da profundidade
25,0
do reforço de U5 ( = 0,70B). Nela, potenciais
superfícies de ruptura são visíveis, auxiliando na 24,5
análise de influência da profundidade do reforço. 24,0
Além disto, a profundidade a partir da qual o
Recalque (cm)

23,5
geossintético não influi no conjunto solo-
fundação não é evidente, variando entre as 23,0
profundidades 0,50B e 0,70B nas simulações
22,5
(Figura 5).
22,0

21,5
0 1 2 3 4 5 6
Comprimento de uma camada (L/B)
Figura 7. Variação do recalque das situações reforçadas
com o comprimento da camada de reforço.

Para uma camada de reforço, os resultados da


análise da propriedade de rigidez do
geossintético, em relação aos aspectos de
Figura 5. Pontos de plastificação com a variação da capacidade de carga e recalques, são
profundidade da camada de reforço para U5 = 0,70B; apresentados nas Figuras 8 e 9.
No último parâmetro para situação com
Para todas as próximas simulações, foi apenas uma camada de reforço, em relação à
considerado a profundidade da primeira camada variação de rigidez do mesmo, nota-se que a

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189
velocidade de incremento inicial da capacidade casos com 3 para 4 camadas de reforço. Após
de carga é acentuada, mas após a rigidez do este valor a velocidade de incremento diminuiu.
reforço atingir o valor de 2.000 kN/m, a Também é notável que os valores dos recalques
capacidade de carga se mantém praticamente diminuem acentuadamente até o caso com 4
constante. De forma semelhante, os recalques camadas de reforço. Após este valor a taxa de
praticamente ficam inalterados após a utilização redução do recalque com N é menor. Não
da rigidez de 2.000 kN/m (Figuras 8 e 9). obstante, é interessante comentar que um
elevado número de camadas de reforço, embora
2,00 melhore o desempenho, aumenta a dificuldade
1,75 de execução, além de elevar o custo do projeto.
1,50
3,5
1,25
3,0
1,00
BCR

0,75 2,5

0,50 2,0

0,25 BCR 1,5


0,00
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 1,0
Rigidez do reforço (kN/m)
Figura 8. Incremento do BCR com aumento da rigidez da 0,5
camada de reforço.
0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
25,0
Número de camadas de reforço (N)

24,5 Figura 10. Variação de BCR com o número de camadas de


reforço.
24,0
25
Recalque (cm)

23,5
24
23,0

23
22,5
Recalque (cm)

22,0 22
0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
Rigidez do reforço (kN/m)
21
Figura 9. Variação do recalque de referência das situações
reforçadas com a rigidez da camada de reforço.
20
0 1 2 3 4 5 6 7 8
3.3 Fundação isolada em aterro reforçado Número de camadas de reforço (N)
com multicamadas de reforço Figura 11. Variação dos recalques dos casos reforçados
com o número de camadas de reforço.
Para o sistema com multicamadas, foram
analisadas simulações alterando-se, além do Os resultados da verificação da influência do
número de camadas, novamente a rigidez e o comprimento das camadas de reforço em um
comprimento de cada reforço de geossintéticos. sistema de multicamadas são apresentados e nas
Nas Figuras 10 e 11 são apresentadas as Figuras 12 e 13. Sobre o aspecto do acréscimo de
variações de BCR e dos recalques com o número capacidade de carga (Figura 12) há um
de camadas de reforço. É possível observar que incremento significativo quando se aumentam os
a velocidade de incremento de capacidade de comprimentos, todavia após o valor de 4B, o
carga é crescente durante todas as simulações, e acréscimo é pequeno. Entretanto, para análise de
há um ganho significativo quando se passa dos redução dos recalques na Figura 13, nota-se que

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190
após o comprimento de 2,0B os recalques de considerado ideal para o caso com apenas uma
referência foram praticamente constantes para camada de reforço nas condições desta pesquisa.
diferentes valores de comprimento do reforço e
número de camadas utilizados. 2,50
2,25
N=1 N=2 N=3 N=4 N=5 2,00
2,50
1,75
2,25
1,50
2,00
1,25

BCR
1,75
1,00
1,50
0,75
BCR

1,25
1,00 0,50
N=1 N=2 N=3 N=4 N=5
0,75 0,25
0,50 0,00
0,25 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
Rigidez do reforço (kN/m)
0,00
0 1 2 3 4 5 6 Figura 14. Variação do BCR dos casos com multicamadas
Comprimento de uma camada (L/B) com a rigidez das camadas de reforço.
Figura 12. Incremento do BCR com o aumento do
comprimento das camadas de reforço. 25,0

N=1 N=2 N=3


25,0 24,0
N=1 N=2 N=3
N=4 N=5
24,0 N=4 N=5 23,0
Recalque (cm)

23,0
22,0
22,0
Recalque (cm)

21,0
21,0
20,0
20,0
19,0
19,0 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000
Rigidez do reforço (kN/m)
18,0
0 1 2 3 4 5 6
Figura 15. Variação do recalque dos casos com
Comprimento do reforço (L/B) multicamadas com a rigidez das camadas de reforço.
Figura 13. Variação do recalque dos casos com
multicamadas com o comprimento das camadas de 4 CONCLUSÃO
reforço.
O presente trabalho contribuiu para análise de
Por fim, na análise da variação da rigidez do fundações diretas em aterros reforçados com
reforço para o sistema com multicamadas, são geossintéticos por meio de simulações
apresentados os resultados nas Figuras 14 e 15. numéricas a fim que se possa avaliar a influência
Tanto o acréscimo de BCR quanto a redução dos de alguns parâmetros de comportamento.
recalques são mais expressivos até a utilização Dentre os principais resultados, cabe destacar
da 4ª camada de geossintético. que no sistema com monocamada de reforço
Considerando a variação do BCR, após o analisado, existe um valor limite para rigidez,
valor de 2.000 kN/m de rigidez praticamente se comprimento e profundidade da camada que
mantém valor constante. Além disto, nota-se possibilita um maior aproveitamento da
que a redução dos recalques ocorre de forma utilização do geossintético. Os valores
acentuada até o sistema que utiliza reforços com respectivamente encontrados nas análises do
o mesmo valor de rigidez. Após este, a taxa de sistema deste trabalho foram 2.000 kN/m, 4B (8
redução de recalques se torna menor. Pode-se metros) e 0,25B ( 0,50 metro).
observar também que o valor de 2.000 kN/m foi

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191
Para o sistema com multicamadas, foi Settlement and bearing capacity of footings on
possível observar que para alguns parâmetros há reinforced sand. Proceedings of the International
Symposium on Earth Reinforcement – Vol. 1. Fukuoka
uma boa similaridade com o de apenas uma / Kyushu / Japan / November 1996.
camada em relação aos melhores valores de Ouria, A. & Mahmoudi A. (2018) Laboratory and
utilização. numerical modeling of strip footing on geotextile-
reinforced sand with cemente-treated interface.
Geotextiles and Geomembranes, v. 46, p. 29-39.
Palmeira, E. M. (2001). Technical report – Foundation
AGRADECIMENTOS session. Proceedings of the International Symposium
on Earth Reinforcement – Vol. 2. Fukuoka / Kyushu /
Os autores agradecem à Universidade de Japan / November 2001.
Brasília, especialmente ao Programa de Pós- Patra, C. R., Das B. M. & Atalar C. (2005). Bearing
Graduação e também, às instituições CNPq e capacity of embedded strip foundation on geogrid-
reinforced sand. Technical Note. In Geotextiles and
CAPES, que deram suporte a pesquisa pelo Geomembranes: 23 454-462.
apoio financeiro. Pospisil K. & Zednik, P. (2002). Geosynthetic impact
recognition on soil bearing capacity in the
Geothechnical Laboratory Testing Field, 7th Int. Conf.
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Avesani Neto J. O., Bueno B. S. & Futai M. M. (2013). A Proceedings of the International Symposium on Earth
bearing capacity calculation method for soil Reinforcement – Vol. 1. Fukuoka / Kyushu / Japan /
reinforced with a geocell. Geosynthetics International, November 1996.
20, No. 3, 129-142.
Binquet, J. & Lee, K. L. (1975). Bearing capacity tests on
reinforced earth slabs. Journal of Geotechnical
Engineering Division, vol. 101, n° 12.
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pp. 127-147, 1988.
Fernandes, Í. (2014) Fundações Diretas em Aterros
Reforçados com Geossintéticos. Dissertação de
Mestrado, Publicação G.DM-237/2014, Departamento
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Nataraj, M. S., Hoadley P. G. & Mcmanis K. L. (1996).

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

192
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação das deformações dependentes do tempo de geogrelhas


em um muro real instrumentado
João Maurício Homsi Goulart
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, São Carlos, Brasil, joaomhgoulart@gmail.com

Fernando Henrique Martins Portelinha


Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

José Orlando de Avesani Neto


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP, São Paulo, Brasil, avesani@usp.br

RESUMO: Deformações temporais prejudicam o desempenho de estruturas de solo reforçado,


principalmente em situações em que estas devem ser mínimas, como, por exemplo, em muros
reforçados portantes. A caracterização deste comportamento tem sido amplamente realizada no
âmbito laboratorial, porém com pouquíssimas constatações em muros reais. No presente estudo, foi
analisado o comportamento temporal de geogrelhas. Para isso, foram analisadas duas seções
distintas, de um muro real, reforçados com geogrelhas de diferentes tipos, comprimento e
resistência/rigidez. O comportamento mecânico temporal das geogrelhas e do solo foram
caracterizados em laboratório, para posterior comparações de comportamento. O muro foi
construído com solo fino laterizado local e a instrumentação utilizada consistiu no uso de
extensômetros mecânicos para obtenção dos deslocamentos internos, que foram utilizados para
cálculo das deformações ao longo do reforço. Os resultados permitiram concluir que as taxas de
deformações temporais da geogrelha no laboratório (condição não confinada) foi significativamente
menor que a de campo. Esse é um comportamento inesperado em relação a literatura que relata
semelhança nas fluências das geogrelhas em condição confinadas em não confinadas. Essa
comportamento pode ser atribuído as baixas taxas de deformações temporais do solo que restringe a
fluência da geogrelha no campo, condicionando a uma fluência do reforço sob baixas cargas de
tração.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Instrumentação, Fluência, Monitoramento de obra, Solo


fino laterítico.

ABSTRACT: Time-dependent deformation usually affect the performance of geosynthetic-


reinforced soil (GRS) structures mainly in applications in which deformation must be limited as
bridge abutments. The characterization of time-dependent behavior of GRS structures is usually
based on in-isolation laboratory creep tests not considering the actual condition of reinforcement in
field. This study evaluates the time-dependent strains of two type of geogrids with different lengths
and mechanical properties in field condition of a GRS wall. The creep behavior of geogrids were
characterized in laboratory and compared to time-dependent behavior in field. The GRS wall was
constructed with a lateritic fine-grained soil and had the internal displacements monitored using
mechanical extensometers installed along the reinforcement lengths. The study allows to conclude
that the deformation rates of in-isolation laboratory tests of geogrids were significantly greater than
field conditions. This is an unexpected behavior when compared to observation of in-soil creep tests
found in literature, in which similar in-soil and in-isolation behavior of geogrids are expected. It
was observed that the low rates of creep of the backfill soil restrict the time-dependent behavior of
the geogrid conditioning a low tensile load creep condition.

KEY WORDS: Geosynthetics, Instrumentation, Creep, Field monitoring, Fine-grained lateritic soil.

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193
1 INTRODUÇÃO monitoramento de um muro de areia reforçada
com geogrelhas, que, as o aumento não linear e
Nas condições de serviço, uma deformação dependente do tempo das forças requeridas na
excessiva ao longo do tempo pode prejudicar a geogrelha induzem a um correspondente
função destinada a uma estrutura de solo aumento não linear da deformação. Ainda, o
reforçado (ESR). Dentre as fontes de autor destaca que as variações sazonais de
deformações envolvidas em uma ESR, estão as temperatura do aterro, supostamente, induzem a
por fluência do material polimérico usado como uma flutuação dos valores medidos de
reforço e as deformações temporais da estrutura deformação.
como um todo, ou seja, no sistema solo-reforço. Segundo Helwany et al. (1999), quando são
As deformações das ESR são estudadas em utilizados solos com taxas de fluência maiores
diversas óticas. O aspecto mais relatado na que as dos reforços, as deformações ao longo do
literatura consiste nas deformações ocorridas tempo nos materiais confinados tendem a ser
durante o processo executivo, diante das tensões aumentadas e convergentes com os dados
de compactação que são, muitas vezes, laboratoriais. O contrário também acontece, ou
predominantes (Ehrlich et al., 2012). No seja, para os casos em que são empregados
entanto, as deformações por fluência podem ser solos com taxas de fluência menores que as dos
protagonistas nas deformações dos reforços e da reforços, o solo tende a restringir o
estrutura como um todo, uma vez que materiais desenvolvimento das deformações por fluência
poliméricos podem apresentar significativas no geossintético.
deformações a longo prazo. Estudos de estruturas reais de solo arenoso
Quando se trata de comportamento temporal do reforçado com geotêxtil, como de Becker &
sistema solo-reforço, a maioria dos trabalhos da Nunes (2015) e Allen & Bathurst (2002),
literatura aborda o comportamento por meio de mostraram significativos valores de
ensaios laboratoriais não confinados e deformações ao longo do tempo. No caso dos
confinados (Becker & Nunes, 2015; Costa et al. ensaios conduzidos por Becker & Nunes
2016; França et al. 2013 e Plácido et al. 2018). (2015), os resultados do campo foram menos
McGown et al. (1982) afirma que a fluência conservadores que os dos ensaios confinados,
pode ou não ser relevante, dependendo do tipo e enquanto em Allen & Barthurst (2002) os
característica do elemento de reforço, do solo ensaios confinados levaram a resultados mais
de aterro e vida útil da obra. O autor também conservadores e isso foi atribuído a baixa
relata que a fluência pode ser significativamente deformação no reforço que impediu que o solo
inibida pelo confinamento do geossintético na atingisse a ruptura, portanto a fluência do
massa de solo. Este estudo indica certo reforço foi mínima.
conservadorismo no projeto por conta do ensaio Diante disso, este trabalho trata de um muro
de fluência convencional (sem interação com o instrumentado a fim de obter deslocamentos
solo) estimar deformações maiores do que internos e com monitoramento se estendendo do
acontece com o reforço confinado. Wu (1994) período executivo até ~10.000 horas pós-
demonstrou que deformações por fluência construção para captação das deformações
dependem do tipo de solo confinante. O autor temporais. Ainda, aliando o ensaio do material
identificou que o solo arenoso, restringiu as usado na obra em laboratório, pode-se trazer
deformações por fluência na interface. No caso contribuição cientifica ao comparar resultados
do solo argiloso, o efeito das deformações por de deformações temporais observados em
fluência foram aumentados pela baixa rigidez campo, na situação real de serviço, com
do solo. Com relação à fluência do material de deformações temporais por fluência da
aterro, Fannin (2001), com pesquisa geogrelha observadas em ensaio convencional
experimental, verificou o aumento da de laboratório.
deformação nos reforços com o tempo está
relacionado com a deformação resultante da 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
fluência do solo de aterro. Ainda, o autor
concluiu, a partir de dados de dez anos de 2.1 Muro estudado

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

194
A obra monitorada situa-se na cidade de São geogrelhas, com resistências distintas, aqui
José dos Campos/SP dentro de um condomínio denominadas GG40 e GG50. Os detalhes da
empresarial com fachada para a rodovia seção típica pode ser observado na Figura 2a. A
Presidente Dutra, na altura do km 158. A Figura Figura 2b ilustra, em planta, as seções
1 mostra a localização da obra instrumentada. instrumentadas denominadas Seção 1 e Seção 2,
A estrutura estudada consiste num muro de na Figura 2b.
solo reforçado com geossintéticos para
composição de um aterro que eleva a altura do
terreno, nivelando está área. No topo da
estrutura foi projetada uma sobrecarga de
maquinário industrial. Durante todo o tempo de
monitoramento pós-construtivo da estrutura, o
muro ficou isolado e não teve acesso de pessoas
ou máquinas, tampouco foi iniciado o
empreendimento sobre o muro.

(a)

(b)
Figura 2. Muro instrumentado: (a) Seção típica e (b)
Planta do muro com indicação das seções monitoradas.
Figura 1. Localização da estrutura monitorada.
2.2 Materiais utilizados
No solo de fundação, notou-se a presença de
uma camada superificial de argila arenosa de
O resumo das propriedades do solo (utlizado na
muito mole a mole, a partir de ensaios de
região reforçada) é mostrado pela Tabela 1. Os
sondagem à percussão (SPT), realizados no
dois tipos de geogrelhas adotados pelo
entorno do muro, em torno dos 4,0 m iniciais de
projetista apresentam os valores de resistência à
profundidade. Devido à presença desta camada
tração de 47,3 kN/m e 54,9 kN/m (ABNT/NBR
de solo mole na superfície do terreno natural, a
12824:1993). Estas cargas foram utilizadas
solução na execução da obra, até os 4,0 m de
como referência nos ensaios de fluência.
profundidade, foi a substituição desse material
Os ensaios de fluência em isolamento foram
por rachão agulhado, que compõe a fundação
realizados com o objetivo de caracterizar as
do muro. Ainda, adotou-se um embutimento
propriedades de fluência dos materiais em
(ficha) de 1,5 m para o muro, que corresponde
condição não confinada para que,
em torno de quatro camadas de muro reforçado
posteriormente, estes resultados pudessem ser
antes do início da superfície do terreno e início
comparados às características dos mesmos
do “pé” do muro.
materiais em condição confinada em solo, a
O sistema de contenção foi composto por
Figura 3a ilustra a fluência da GG50 e a Figura
muros íngremes de solo reforçado1:10
3b, da GG40.
(Horizontal: Vertical) com altura (H) de 4,5 m,
Os ensaios de fluência (ABNT/NBR
construído com solo laterítico local. A
15266:2005) foram realizadas com as cargas de
geometria do projeto consistiu em linhas de
5 e 10% do T ULT (resistência última obtida do
reforços espaçadas verticalmente a cada 0,4 m,
ensaio de tração faixa-larga) de cada geogrelha,
com comprimentos de reforço de 8 e 6,5 m, em
conforme Tabela 2. Optou-se por baixas cargas
cada seção instrumentada analisada,
de fluência pelo fato de esperar baixas cargas
respectivamente. Foram utilizadas duas
no campo.

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195
Tabela 1. Propriedades do solo de aterro
Propriedades Referência Valores Un.
γs ABNT NBR 7183 16,2 kN/m3
w ótimo ABNT NBR 7183 21,2 %
γn ABNT NBR 7183 19,6 kN/m3
ceφ ASTM D2850 14 e 34 kPa e °
LL ABNT NBR 6459 50 %
IP ABNT NBR 7180 16 %
σ' p ABNT NBR 12007 400 kPa
Fração Areia ABNT NBR 7183 41 %
Fração Silte ABNT NBR 7183 12,6 % Figura 4. Deformação temporal do solo do aterro.
Fração Argila ABNT NBR 7183 16,2 %

2.3 Instrumentação de campo


Tabela 2. Ensaios de fluência
Carga de fluência
Ensaio Reforço Polímero
% de T ULT (%) T (kN/m)
O sistema de monitoramento de deslocamentos
1 5 2,35 internos horizontais consistiu em extensores
GG40 PET mecânicos compostos por hastes lisas, que
2 10 4,70
3 5 2,75 consiste em barras de aço lisa revestidas de
GG50 PET
4 10 5,50 graxa e tubos de PVC posicionados em
diferentes pontos ao longo do reforço, conforme
Já o parâmetro de fluência do solo de aterro Figura 2a, em diferentes distâncias em relação à
foi tomado com base no ensaio edométrico, face. Uma haste de referência foi fixada (com
com C.P. compactado nas condições de grau de elemento de concreto) fora da zona reforçada,
compactação e umidade da compactação do considerada indeslocável. As hastes metálicas
muro em campo, sendo que o solo foi foram fixadas em pontos distanciados a 0,5 m,
submetido a estágios de carregamento, cada 1,0 m, 1,5 m, 2,0 m e 3,0 m da face, além de
estágio permaneceu, em geral, por 24 horas. No uma haste instalada fora da zona reforçada
trecho de adensamento secundário do solo, a servindo como referência “indeslocável”. Os
taxa de deformação foi tomada como “fluência detalhes da instrumentação são ilustrados pela
do solo”. Figura 5a. Na Figura 5b, são ilustrados as
diferentes composições de reforço de cada
distinta seção instrumentada, conforme legenda
do tipo de geogrelha utilizada. Nota-se: as
elevações instrumentadas foram denominadas
E60, E100 e E180, sendo que estas estão na
altura 0,6 m, 1,0 m e 1,80 m, em relação ao pé
do muro.
O instrumento de leitura usado para medida
dos deslocamentos foi paquímetro digital. O
monitoramento do deslocamento horizontal foi
(a) realizado em três diferentes elevações em
relação à base do muro, em: E60 (0,6 m da
base); E100 (1,0 m da base); e E180 (1,8 m da
base).
Os deslocamentos internos foram medidos a
partir do movimento relativo entre as barras que
compõem os extensômetros mecânicos com a
barra fixa, instalada fora da zona reforçada.
As deformações nos reforços foram
calculadas a partir dos deslocamentos relativos
(b) registrados ao longo do comprimento do
Figura 3. Ensaios de fluência: (a) GG50 e (c) GG40. reforço. Foi proposto o cálculo das deformações

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196
pela deformação média do trecho entre pontos tempo. Cabe salientar que a principal diferença
de medida de deslocamentos. entre a Seção 1 e a Seção 2 está no
comprimento e resistência da geogrelha
utilizada. Sendo na Seção 2 com reforço de 6,5
m e Seção 1 de 8,0 m. Conforme já informado,
a carga foi estimada com base na deformação
construtiva que o reforço apresentou,
deformação tomada antes do trecho linear de
fluência. Este valor foi tomado como
deformação inicial, já a carga foi tomada com
base na curva tensão-deformação obtida de
ensaios à tração faixa-larga.

(a) (a)

(b) (c)
Figura 5. Instrumentação: (a) Detalhes construtivos, (b) (b)
Seção 1 e (c) Seção 2.

Afim de determinar o correto ensaio de


laboratório que deve ser comparado com o
campo, usou-se do valor de deformação no
reforço em campo, logo após a conclusão da
obra, e estimou a força mobilizada para aquela
deformação através do valor de rigidez (c)
adequado àquela deformação, e comparou com Figura 6. Deformações versus Tempo – Seções 1 e 2 –
o ensaio na carga correspondente. Tal (a) E180, (b) E100 e (c) E60.
metodologio foi adotada nos trabalhos de
Nota-se na Figura 6 que, de modo geral, a
Walters et al. (2002), Allen & Barthurst (2002)
Seção 1 com geogrelha GG50 apresentou
e Plácido et al. (2018).
menores níveis de deformações temporais em
comparação a Seção 2 (GG40), o que é
esperado dado que a geogrelha apresenta a
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
mesma composição polimérica, mudando
somente a resistência e rigidez. Mesmo assim,
3.1 Deformações temporais de campo
nota-se que essa diferença de comportamento
temporal é bastante pequena, dada o
A Figura 6 ilustra as deformações máximas
paralelismo das retas apresentadas. Em níveis
observadas nas linhas de reforço instrumentadas
esperados de comportamento de campo, essa
de ambas seções intrumentadas ao longo do
diferença pode até ser considerada não

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197
significativa. Nota-se ainda que para maiores coesão do solo (14 kPa), há pouca solicitação
profundidades (E60), menores foram as taxas de teórica (por teoria de Rankine) nas camadas
deformações. Isso indica que a pressão vertical reforçadas. Portanto, o carregamento estimado,
sob o reforço atua mais no sentido de restringir “semelhantes” para as camadas E60 e E100 da
as deformações pelo efeito de confinamento do Seção 1, em torno dos 1,6 kN/m, conforme
reforço do que gerar maiores cargas de tração. Figura 8, pode ser devido apenas ao estado de
Outra constatação foi que a média das tensões induzidos no solo por compactação.
fluências, ao longo das elevações da Seção 1,
são o inverso da deformação inicial. Este fato
pode ser indício de quanto maior a deformação
inicial (possivelmente devido a esforços de
compactação), maior se dá o confinamento do
solo (estado de tensões induzido) gerando
menor comportamento de fluência. Logo, o
solo, em condições de altas tensões induzidas
pode ser responsável por reduzir a tendência a
fluência do reforço em campo.
No que tange a localização das máximas
tensões no reforço, nota-se na Figura 7 que a
região próxima a face apresentou os maiores
valores de deformação ao longo do
comprimento do reforço, uma possível (a)
atribuição a este fato pode ser dada pela
superfície de máxima tração no reforço, que
passando muito próximo da face (Figura 7a,
Seção 1 e Figura 7b, Seção 2), faz com que haja
pouca extensão do reforço para fluir, gerando
assim menores deformações ao longo do tempo
nestas elevações, o que denota que os resultados
se apresentaram de forma muito bem ajustada.
Ainda, a superfície potencial de ruptura
passando superficialmente a face é
normalmente atribuída a ortogonalidade do
faceamento. Tal comportamento foi notado (b)
tanto para a Seção 1 como Seção 2. Figura 7. Potenciais superfícies de ruptura: (a) Seção 1 e
(b) Seção 2.
3.2 Deformações temporais: Campo x
laboratório

Conforme anteriormente mencionado, foi


proposto uma comparação das deformações
temporais entre campo e laboratório, as
comparações dão-se por conta das taxas de
deformação pelo tempo.
Ainda sobre as condições do solo de aterro,
para ∅=30° e coesão de 24 kPa, tem-se um
coeficiente de empuxo ativo de Rankine da
ordem de 0,33. Sendo que para altura
instrumentada E60 a tensão vertical é da ordem
de 70 kPa, a tensão horizontal obtida é da Figura 8. Campo versus laboratório (Seção 1), Ensaio
ordem de 23 kPa, ou seja, considerando-se a fluência GG 50, E60 e E100.

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198
comportamento, a título de exemplo destas
Na Figura 8, pode-se observar as curvas de situações, o confinamento ao solo).
campo e laboratório. Pelos resultados de O muro estudado apresentou-se com baixa
laboratório, a tensão aplicada pelo solicitação no reforço e com baixas
carregamento do ensaio de fluência não deformações temporais, assim, concordou com
confinada alterou a tendência a fluência da a literatura que relata, de forma geral, que
GG50 da ordem do dobro de uma carga para reforço pouco solicitado enfrenta pouca a
outra. Já para este reforço em campo, apesar da imperceptível deformação ao longo do tempo.
proximidade das camadas instrumentadas
análisadas, na Figura 8, E60 e E100,
apresentarem, a taxa de fluência, também, foi REFERÊNCIAS
da ordem do dobro de uma para outra. Esse fato
indica uma possível ressalva com o valor de Allen, T.M. e Bathurst, R.J., 2002, Observed
laboratório, que com dados de diferentes cargas Long-Term Performance of Geosynthetic
teve a sua taxa, praticamente, dobrada. Porém, Walls and Implications for Design,
deve-se notar que, em ambos os casos de Geosynthetics International, Vol. 9, Nos. 5-
campo, os valores de tendência a deformações 6, pp. 567-606.
temporais foram menores que os valores de ABNT. (1995). NBR 9286: Terra Armada. Rio
fluência laboratoriais, sendo mais de dez vezes de Janeiro.
maior no caso do reforço com semelhante ABNT. (1984). NBR 7180: Solo: Determinação
carga. Então, nota-se que os resultados de do limite de plasticidade, ABNT, Rio de
laboratório superestimaram os de campo, para o Janeiro.
reforço de GG50. Este fato também pode ser ABNT. (1984). NBR 7181: Solo: Análise
atribuído a condições impostas pela Granulométrica, ABNT, Rio de Janeiro.
susceptibilidade a fluência do solo (0,0517), na ABNT. (1983). NBR 7183: Determinação do
qual nas condições de campo, interagindo com limite e relação de contração dos solos,
a geogrelha, imputou resistência as ABNT, Rio de Janeiro.
deformações temporais e ainda pode ter ABNT. (1984). NBR 6459: Solo: Determinação
acarretado, inclusive, na diminuição de do limite de liquidez, ABNT, Rio de Janeiro.
carregamento no reforço, uma vez que a ABNT. (2010). NBR 6122: Projeto e execução
susceptibilidade a fluência do solo é menor que de fundações. Rio de Janeiro.
a tendência a fluência deste reforço (0,0517 < ABNT. (1993). NBR 12824: Geotêxteis -
0,0537 ou 0,1050). Determinação da resistência à tração não-
confinada - Ensaio de tração de faixa larga -
Método de ensaio. Rio de Janeiro.
4 CONCLUSÕES ABNT. (2005). NBR 15226: Geossintéticos -
Determinação do comportamento em
O presente estudo investigou o comportamento deformação e na ruptura, por fluência sob
ao longo do tempo das deformações um muro tração não confinada. Rio de Janeiro.
real instrumentado, com leituras realizadas até ASTM D2850-03, Standard Test Method for
10.000 horas pós-construção. Unconsolidated-Undrained Triaxial
Quanto a comparação de deformações entre CompressionTest on Cohesive Soils, ASTM
campo e laboratório, os valores superiores International, West Conshohocken, PA,
indicados pelo laboratório, indicam que não é 2003.
adequado a direta consideração de ensaios Becker, L. D. B.; Nunes, A. L. L. S. Influence
convencionais de fluência de laboratório nas of soil confinement on the creep behavior of
premissas de dimensionamento, uma vez que os geotextiles, Geotextiles and Geomembranes,
reforços em laboratório apresentaram 43 (4), 351-358, 2015.
deformação maior do que em campo (este Costa, C. M. L.; Zornberg, J. G.; Bueno, B. S.;
comportamento era esperado, em campo, o Costa, Y. D. J. Centrifuge evaluation of
reforço enfrenta outras situações que afetam o time-dependent behaviour of geotextile-

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199
reinforced soil walls. Geotextiles and
Geomembranes, 44 (2), 188-200, 2016.
Ehrlich, M.; Mirmoradi, S. H.; Saramago, R. P.
Evaluation of the effect of compaction on the
behavior of geosynthetic-reinforced soil
walls. Geotextiles Geomembranes 34, 108–
115, 2012.
Fannin, R. J. Long-Term Variations of Force
and Strain in a Steep Geogrid-Reinforced
Soil Slope. Geosynthetics International, v.8,
n.1, p.81-96, 2001.
França, F. A. N.; Avesani, B. M.; Bueno, B. S.;
Zornberg, J. G. Tensile and creep behaviour
of geosynthetics using confined-accelerated
tests. In: Young Geotechinical Engineers
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Helmany, S. M. B.; Reardon, G.; Wu, J. T. H.
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walls. Geosynthetics International, v. 25, n.
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200
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Proposta de metodologia de determinação de recalques e tensões


em reforço de geocélula usando a teoria de dupla camada
José Orlando Avesani Neto
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), São Paulo/SP, Brasil, avesani@usp.br

RESUMO: Este artigo apresenta, de forma resumida e condensada, os desenvolvimentos realizados


na publicação Avesani Neto (2019), onde foi proposta uma metodologia para a determinação dos
recalques na superfície e das tensões propagadas para o subleito sob a camada de um reforço de
geocélula com base na teoria das espessuras equivalentes, que é uma aproximação da teoria da
elasticidade para o sistemas de camadas. A equação obtida é generalizada e dependente apenas das
relações entre os parâmetros elásticos das duas camadas e parâmetros geométricos do problema. A
metodologia proposta gerou resultados muito próximos das soluções rigorosas da teoria da
elasticidade de dupla camada e, considerando a sua generalidade e simplicidade de aplicação, se
mostra uma alternativa de grande potencial para emprego nas análises tensão-deformação de
reforços de geocélula.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, teoria da elasticidade, teoria das espessuras equivalentes.

ABSTRACT: This paper presents, in a summarized and condensed way, the developments carried
out in the publication Avesani Neto (2019), where a methodology was proposed for the
determination of the surface deflection and the propagated vertical stresses to the subgrade under
the geocell-reinforced layer using the theory of equivalent thicknesses - which is an approximation
of the theory of elasticity for the layered systems. The equation obtained is generalized and depends
only on the relations between the elastics parameters of the two layers and geometric parameters of
the problem. The proposed methodology yielded results very close to the rigorous solutions of the
two-layer system theory and, considering its generality and simplicity of application, shows an
alternative of great potential for employment in the stress-deformation analyzes of geocell
reinforcements.

KEY WORDS: Geosynthetics, theory of elasticity, theory of equivalent thickness.

em suas aplicações, como de laboratório (Dash


1 INTRODUÇÃO et al., 2001; Meneses, 2004), análises numéricas
(Bathurst e Knight, 1998; Madhavi Latha,
A geocélula é um geossintético de grande 2000) e ensaios em grande escala (Guo et al.
versatilidade, apresentando um elevado 2015; Rajagopal et al. 2014).
crescimento de utilização em diversas áreas da Na esfera conceitual, o primeiro tratamento
engenharia, com destaque para: melhora da matemático para a determinação da melhora
capacidade de suporte em fundações, aterros, devido ao reforço de geocélula foi feito por
vias pavimentadas e não pavimentadas, Bathurst and Karpurapu (1993) que geraram um
ferrovias e pátios de carga e estocagem; moledo para determinar o aumento de
controle de erosão em canalizações e taludes; e confinamento no material de preenchimento
proteção de estruturas como dutovias e outros devido a presença da geocélula, usando o
geossintéticos como geomembranas (Avesani conceito de coesão aparente. Na sequência
Neto e Bueno, 2010a, 2010b, 2009a, 2009b) diversos métodos analíticos para o cálculo da
Estudos em diversas áreas foram conduzidos melhora devido ao reforço de geocélula foram
para melhorar o entendimento do propostos com base nos mecanismos de reforço
comportamento e do desempenho da geocélula da geocélula (efeitos da resistência lateral e do

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201
confinamento, dispersão das tensões verticais e de tensões, para os casos de coeficiente de
efeito membrana) com equacionamentos no Poisson igual a 0,5 em ambas as camadas.
equilíbrio limite e semi-empírico (Koerner Burmister (1962) reportou uma solução para
1994; Presto 2008; Zhang et al. 2010; Sitharam deflexão e tensões verticais e de cisalhamento
e Hegde 2013; Avesani Neto et al. 2015, 2013; na interface considerando coeficiente de
Avesani Neto 2013). Poisson iguais a 0.2 e 0.4, respectivamente para
No entanto, ainda há uma lacuna na tentativa as camadas superior e inferior. de Barros
de traduzir matematicamente os efeitos de (1966a) verificou de forma satisfatória a
tensão e deformação (carga e recalque) que aplicação da teoria de múltiplas camadas na
ocorrem na camada de solo reforçado com a interpretação de diversos ensaios de placa
geocélula e em sua interface com o subleito. realizados em pavimentos de solo cimento em
Nesse aspecto, o presente artigo é um aeroportos no Brasil e de Barros (1966b)
resumo da publicação Avesani Neto (2019) e apresentou uma metodologia para reduzir um
descreve, de forma sucinta, as etapas e sistema de três camadas para duas camadas
considerações feitas no desenvolvimento de equivalentes simplificando os cálculos. Esse
uma metodologia generalizada, simples e eficaz último também apresentou soluções para
para determinação dos recalques e tensões deflexão do sistema de duas e três camadas
propagadas para o subleito em uma aplicação de considerando coeficientes de Poisson igual a
solo reforçado com geocélula. Maiores 0.35, com gráficos para o cálculo da deflexão e
informações podem ser obtidas na publicação aplicações práticas. Ueshita e Meyerhof (1967)
supracitada. avaliaram a teoria de dupla camada com ensaios
de laboratório com solos arenosos e argilosos e
verificaram uma boa aproximação entre os
2 SISTEMAS DE MÚLTIPLAS resultados.
CAMADAS Soluções aproximadas que usam a teoria das
espessuras equivalentes foram propostas por
O estudo dos sistemas de camadas se iniciou na Palmer e Barber (1940) antes mesmo da solução
década de 30 com soluções rigorosas para dupla rigorosa de Burmister (1943) e posteriormente
camada com base rígida – solo sobre rocha por por Odemark (1949). A teoria das espessuras
exemplo (Marguerre, 1931). Para dupla camada equivalentes propõe a transformação das
elástica (solo sobre solo, por exemplo) e múltiplas camadas do solo em uma espessura
carregamentos circulares, Burmister (1943) equivalente com propriedades iguais as da
desenvolveu soluções rigorosas para tensões e camada subjacente (subleito), permitindo tratar
deslocamentos, apresentando uma solução um problema de múltiplas camadas pela teoria
numérica para as deflexões em forma de gráfico da elasticidade dos meios homogêneos semi-
para o caso de coeficiente de Poisson igual a 0,5 infinitos (solução de Boussinesq). O métodos
e total continuidade (atrito total) na interface de Palmer e Barber (1940) e Odemark (1949)
entre as camadas (Figura 1, equação 10b). (Figura 1, equações 11b e 12b) empregam uma
Posteriormente o pesquisador expandiu as equivalência estrutural entre as camadas usando
equações para a situação de descontinuidade na uma relação entre as suas espessuras e os seus
interface entre as camadas (sem atrito) e para parâmetros elásticos (módulo de Young, E e
um sistema de três camadas (Burmister 1945a, coeficiente de Poisson, µ). Ueshita e Meyerhof
1945b 1945c). Na sequência diversos autores (1967) também avaliaram a teoria das
realizaram significativas contribuições para o espessuras equivalentes (método de Odemark)
estudo e aplicação do sistema de camadas: Fox com ensaios de laboratório verificando uma boa
(1948) realizou integrações do sistema de aproximação entre os resultados experimentais
equações proposto por Burmister e obteve e teóricos. Ullidtz (1998) igualmente confirmou
soluções numéricas das tensões verticais, que a teoria das espessuras equivalentes
radiais, tangenciais e de cisalhamento na (método de Odemark) apresenta valores
interface, além de apresentar uma completa concordantes com a solução rigorosa para casos
distribuição dessas tensões em forma de bulbos em que a rigidez das camadas é decrescente

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

202
com a profundidade. De fato, o autor do empregadas para a determinação acurada das
presente artigo verificou que o as diferenças tensões e deformações de um sistema de solo
entre as deflexões calculadas pelos métodos de multi-camada. No entanto, o sucesso desses
Burmister (1943) e da teoria das espessuras métodos reside na escolha apropriada de
equivalentes (Palmer and Barber 1940 e modelos constitutivos e seus respectivos
Odemark 1949) são inferiores a 5% na maior parâmetros de entrada, construção de modelos
parte dos casos em aplicação de solos (E1/E2 com nível de refinamento adequado à
variando de 2 a 200 e h/r de 0,25 a 2), diferença investigação do problema e no consumo de
essa em sua maioria devido à precisão na tempo necessário para efetuar os cálculos
determinação do coeficiente de recalque usando computacionais. Para a maior parte dos casos
o ábaco de Burmister (1943). A Figura 1 práticos, esses aspectos fazem com que o uso de
apresenta um resumo das equações e soluções análises numéricas (até então) sejam
anteriormente descritas para um meio contínuo substituídas pelo o emprego dos métodos
e um sistema de duas camadas que serão convencionais que possuem maior viabilidade e
utilizadas ao longo desse artigo. simplicidade de aplicação. No entanto, as
Existem também soluções aproximadas soluções rigorosas apresentadas no início do
semi-empíricas para a determinação das tensões item possuem a dificuldade de depender de
e deflexões do sistema de camadas. ábacos para sua utilização, ábacos esses que
Steinbrenner (1934) sugeriu um método para o dependem da arquitetura de elaboração,
cálculo das deflexões no topo de uma camada precisão escala definida e dificuldades com
sobre uma base rígida. Egorov (1939) estendeu interpolações (e até extrapolações) de valores.
a solução de Steinbrenner (1934) para a Por essa razão, o emprego de soluções
determinação das tensões verticais na mesma aproximadas que apresentam uma boa
situação. Nascimento et al. (1961) propôs concordância com as soluções rigorosas, como
aproximar o formato curvo das soluções de aquelas da teoria das espessuras equivalentes,
Burmister (1943) por retas e obteve soluções fornecem maior poder de uso devido ao fato de
simplificadas para a determinação das tensões estarem pautadas em formulações analíticas
verticais e deflexões em sistemas multi- simples e eficazes, justificando a sua utilização.
camadas. Vesic (1963) gerou gráficos
semelhantes aos de Steinbrenner (1934) para a
determinação da deflexão vertical para aquela 3 DESENVOLVIMENTO DE UM
situação. Lister e Jones (1967) desenvolveram EQUACIONAMENTO GERAL PARA A
equações aproximadas para calcular as tensões DEFLEXÃO
verticais e radiais entre as camadas e para a
deflexão de topo para sistemas de duas e três Em seus trabalhos, Palmer and Barber (1940) e
camadas com o auxílio de um software da Shell Odemark (1949) desenvolveram, por
Petroleum Company. Ueshita e Meyerhof conveniência, as teorias apenas para uma
(1968) propuseram um método de determinação situação de coeficiente de Poisson igual a 0,5
da deflexão para um sistema de duas camadas nas camadas. Como se entende que a aplicação
em que a inferior é mais rígida que a superior. de um valor fixo de 0,5 para o coeficiente de
Mitchell e Gardner (1971) usaram resultados de Poisson em ambas as camadas não é adequado
um ensaio de placa e análises em elementos para a aplicação de dupla camada com reforço
finitos (FEA) para ajustar a equação proposta de geocélula, a teoria das espessuras
por Lister and Jones (1967) para depósitos de equivalentes será generalizada de forma a
argila sob uma camada de areia. Algumas das possibilitar o emprego de outros valores para
soluções aqui citadas (rigorosas, de espessura esse parâmetro. Além disso, será dada uma
equivalente e semi-empíricas) podem ser nova abordagem no desenvolvimento da
facilmente consultadas em Poulos e Davis equação, resultando em considerações um
(1974). pouco distintas (mas mais coerentes) da de
Por fim, com o a maior capacidade da Palmer and Barber (1940) e com um
computação, análises numéricas são equacionamento sem fatores de correção como

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203
o de Odemark (1949). uma profundidade h (com h igual a altura da
A deflexão na superfície de um sistema de geocélula):
duas camadas será considerada como a
2 )𝐶
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔
superposição das deflexões individuais da 𝑠𝑔 =
𝑠
𝐹′ (6)
camada superior (geocélula - sg) com da camada 𝐸𝑔
inferior (solo/subleito - ss).
A deflexão da camada de solo pode ser
𝑠 = 𝑠𝑔 + 𝑠𝑠 (1) calculada como a deflexão de um ponto no
interior de um meio homogêneo semi-infinito
A deflexão da camada superior pode ser situada abaixo da camada de geocélula. No
calculada como a diferença entre as deflexões entanto, como há parâmetros elásticos
do topo (sgT) e da base (sgB) dessa camada: diferentes entre as camadas superior e inferior,
é necessário empregar uma transformação da
𝑠𝑔 = 𝑠𝑔𝑇 − 𝑠𝑔𝐵 (2) espessura da camada superior em termos dos
parâmetros elásticos da camada inferior. Para
isso se emprega a formulação de espessura
A deflexão do topo da camada superior é equilavente (he) proposta por Palmer and Barber
calculada considerando-se um meio homogêneo (1940) e Odemark (1949) e apresentada na
semi-infinito com as propriedades dessa equação 9b da Figura 1 (com n = 1), em que µs
camada, utilizando a equação 1a da Figura 1, é o coeficiente de Poisson da camada de solo e
em que p é o carregamento aplicado, r é o raio Es é o módulo de deformabilidade do solo.
do carregamento, µg é o coeficiente de Poisson
da camada de geocélula, Cs é o fator de forma e 1
𝐸𝑔 (1−𝜈𝑠2 ) 3
rigidez do carregamento e Eg é o módulo de ℎ𝑒 = ℎ [ 𝐸 (1−𝜈2 ) ] (7)
𝑠 𝑔
deformabilidade da geocélula.:
2 )𝐶
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔
𝑠𝑔𝑇 =
𝑠
(3) Desta forma, a deflexão da camada inferior
𝐸𝑔 (solo/subleito) é calculada para uma
A deflexão da base da camada superior é profundidade igual a espessura equivalente (he):
calculada como a deflexão de um ponto no
interior de um meio homogêneo semi-infinito 1
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠 ℎ𝑒 2 2 ℎ𝑒
com as propriedades dessa camada (Poulos and 𝑠𝑠 = {[(1 + ( 𝑟 ) ) − ] [1 +
𝐸𝑠 𝑟
Davis 1974). Essa deflexão é então calculada
para uma profundidade igual a espessura
(altura) da geocélula (h):
ℎ𝑒
𝑟
1 ]} (8)
ℎ 2 2
1 2(1−𝜈𝑠 )(1+( 𝑒 ) )
𝑟
2 )𝐶
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔 𝑠 ℎ 2 2
𝑠𝑔𝐵 = 1 − {[(1 + ( ) ) −
𝐸𝑔 𝑟
Substituindo as equações (6) e (8) na
{
equação (1), e renomeando todo o conteúdo das
chaves da equação (7) para F”, obtém-se a

ℎ 𝑟
deflexão total do sistema de duas camadas, em
𝑟
] [1 + 1 ]} (5) que F” é o fator para o cálculo da deflexão no
ℎ 2 2
2(1−𝜈𝑔 )(1+( ) ) subleito a uma profundidade he (com he igual a
𝑟
} altura equivalente da geocélula transformada
para os parâmetros elásticos do solo/subleito).
Renomeando todo o conteúdo dos parênteses
2 )𝐶
(1-“chaves”) para F’, em que F’ é o fator para o 𝑠=
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑔 𝑠
𝐹′ +
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠
𝐹′′ (9)
cálculo da deflexão na camada de geocélula a 𝐸𝑔 𝐸𝑠

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204
de 0,5 em ambas as camadas, as diferenças
Simplificando a equação (9) em termos dos entre os valores obtidos para o parâmetro F
parâmetros do subleito: pelos métodos aqui citados (Burmister
1943, Palmer and Barber 1940, Odemark
2)
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠 𝐸𝑠 (1−𝜈𝑔 1949 e o presente método) são apenas
𝑠= [𝐸 2 𝐹 ′ + 𝐹′′] (10)
𝐸𝑠 𝐺 (1−𝜈𝑠 ) marginais;
• Para o caso específico de igual valor do
E definindo o conteúdo dos colchetes como módulo de deformabilidade em ambas as
o F (fator de deflexão do sistema de dupla camadas (Eg = Es), os três métodos
camada pela metodologia aqui proposta), aproximados (Palmer and Barber 1940,
obtém-se a formulação para a determinação da Odemark 1949 e o presente método) são
deflexão na superfície de um sistema de duas reduzidos para a solução de Boussinesq de
camadas (apresentada no resumo da Figura 1, meio homogêneo;
equação 1b), com os fatores F, F’ e F” • Para o caso específico da camada inferior
igualmente apresentados no resumo da Figura 1 ser uma base rígida como uma superfície
(item B.7 equações 13b a 15b): rochosa (Eg se tornar infinito), a deflexão
na camada inferior será nula e a deflexão
2𝑝𝑟(1−𝜈𝑠2 )𝐶𝑠 total será dada apenas pela camada
𝑠= 𝐸𝑠
𝐹 (11) superior, conforme equação 6. Nessa
condição, o método proposto no presente
artigo gera fatores de recalque muito
Sobre a equação (11) e o fator de deflexão semelhantes aqueles da situação de base
do sistema de dupla camada conforme a rígida, com um erro na faixa de 5% (com
metodologia aqui proposta, algumas valor máximo de 13%) se comparado as
considerações importantes e verificações podem soluções rigorosas de Ueshita and
ser feitas: Meyerhof (1968) e Milovic (1970) para
 O fator de recalque do sistema de dupla uma faixa de h/r de 0,5 a 2,0 e de
camada (F) obtido por essa metodologia se coeficiente de Poisson de 0,15 a 0,5. Nessa
difere daqueles obtidos por Palmer and situação, o método de Odemark (1949)
Barber (1940) e Odemark (1949) por ser pode ser aplicado apenas para a situação de
generalizado para qualquer valor de coeficiente de Poisson igual a 0,5, gerando
coeficiente de Poisson – enquanto esses erros de até 35% para a faixa descrita. O
foram obtidos apenas para um coeficiente método de Palmer and Barber (1940) é
igual a 0,50 para ambas as camadas; inaplicável.
• A formulação de F obtida por Palmer and
Barber (1940) considera o efeito da relação
entre módulos de deformabilidade (Eg/Es) 4 CÁLCULO DAS TENSÕES
nos denominadores de ambos os termos da VERTICAIS PROPAGADAS
equação (equação 11b da Figura 1),
enquanto o fator aqui proposto considera Pela a teoria das espessuras equivalentes é
essa relação apenas no termo referente a possível transformar a camada de reforço de
camada inferior (tal qual a proposição de geocélula (com as dadas características
Odemark 1949); geométricas e elásticas: h, Eg e µg) em uma
• O F de Odemark (1949) emprega os camada com uma espessura equivalente e
“fatores de correção n = n1 = 0,9” (equação mesmos parâmetros elásticos do subleito (he, Es
12b da Figura 1), enquanto a formulação e µs) usando a equação 9b da Figura 1, proposta
aqui proposta não emprega fator de por Palmer and Barner (1940) e Odemark
correção algum; (1949).
• Para uma faixa usual de parâmetros de Com a transformação da camada de reforço
reforço de geocélula (h/r de 0,5 a 2,0 e de geocélula em uma espessura equivalente,
Eg/Es de 2 a 200) e coeficientes de Poisson com as mesmas propriedades elásticas do

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205
subleito, o problema agora pode ser tratado • Diferente dos métodos rigorosos e das
como um meio elástico uniforme usando a soluções anteriores, a metodologia proposta
teoria da elasticidade dos meios contínuos. Para é generalizada para quaisquer valores de
o caso de um carregamento circular, a tensão modulos de deformabilidade e coeficientes
vertical atuante diretamente no eixo central do de Poisson de ambas as camadas;
carregamento (σv), em uma dada profundidade • A metodologia proposta foi comparada
do subleito, pode ser calculada pela solução de com soluções rigorosas do sistema de dupla
Bousinesq conforme equação 4a da Figura 1, camada para situações de topo e base
que depende apenas da tensão aplicada na flexível e topo flexivem e base rígida e
superfície (p), do raio do carregamento (r) e da mostrou diferenças apenas marginais,
profundidade em que se deseja calcular a tensão comprovando sua aplicabilidade.
vertical (z). Para a determinação da tensão
vertical atuante sob a camada de reforço de
geocélula basta se calcular, então, a tensão AGRADECIMENTOS
vertical a uma profundidade igual espessura
equivalente usando a equação 7 (situação em O autor agradece o professor e amigo Orencio
que z = he), conforme a seguir: Monge Vilar pela sugestão de usar o sistema de
camadas em aplicações de reforço com
3
2
geocélula.
1
𝜎𝑧 = 𝑝 [1 − ( 𝑟 2
)] (12)
1+( )
ℎ𝑒
REFERÊNCIAS
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methodology and numerical simulations applied in
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uma metodologia para cálculo de deflexões na Avesani Neto, J. O. (2019). Application of the two-layer
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propagadas para o subleito de uma aplicação de vertical stress propagation in soil reinforcement
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sistemas de camadas), foi proposto um carga de solos reforçados com geocélula. In
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eficaz para a determinação do recalque para Avesani Neto, J. O., Bueno, B. S. (2010b). Covering And
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equivalentes, foi proposto, uma forma International, 20(3), 129–142.
simplificada de calcular as tensões verticais Avesani Neto, J. O., Futai, M. M., Bueno, B. S. (2015).
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permitindo o cálculo da propagação de International, 1–13.
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207
Figura 1. Resumo das equações e soluções empregadas nesse artigo.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

208
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise de um ensaio de placa em solo reforçado com geocélula


usando a teoria de dupla camada
José Orlando Avesani Neto
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), São Paulo/SP, Brasil, avesani@usp.br

RESUMO: Este artigo apresenta, de forma resumida e condensada, os desenvolvimentos realizados


na publicação Avesani Neto (2019), onde foi feita uma reinterpretação de um ensaio de placa,
realizado sobre um solo reforçado com geocélula, sob a ótica da teoria do sistema de dupla camada
(TSDC) da teora da elasticidade (TE). Ensaios de placa foram realizados diretamente sobre o
subleito e sobre um reforço de geocélula disposto diretamente sobre o subleito. A geocélula
empregada era composta de paredes de PEAD, perfuradas e texturizadas, com altura e largura da
célula em valores iguais a 150mm e 300mm, respectivamente. O solo do subleito era composto por
uma argila siltosa mole a média e o material empregado para o preenchimento da geocélula foi uma
brita graduada. Para a análise do ensaio de placa na situação reforçada foram empregados métodos
rigorosos da TE e TSDC e métodos aproximados da teoria das espessuras equivalentes (TEE). Os
resultados mostraram que a TSDC e a TEE podem ser utilizadas de forma simples e eficaz na
determinação do módulo de deformabilidade da camada de reforço de geocélula, além de ser uma
ferramenta de grande viabilidade na determinação dos recalques e tensões verticais propagadas
desse tipo de reforço.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, teoria da elasticidade, teoria das espessuras equivalentes.

ABSTRACT: This paper presents, in a summarized and condensed way, the developments carried
out in the publication Avesani Neto (2019), where a plate test reinterpretation, carried out on a
geocell-reinforced soil was performed from the perspective of the theory of two-layer system
(TTLS) from theory of elasticity (TE). Plate tests were performed directly on the subgrade and on a
geocell reinforcement disposed directly on the subgrade. Geocell used was composed of HDPE
walls, perforated and textured, with height and width of the cell in values equal to 150mm and
300mm, respectively. The subsoil soil was composed of medium soft silt clay and the material used
to fill the geocell was graded gravel. For the analysis the rigorous methods from TTLS and
approximate methods from theory of equivalent thickness (TET) were employed. The results
showed that the TTLS and TET can be used in a simple and effective way to determine the modulus
of deformation of the geocell reinforcement layer and a feasible tool to determine surface deflection
and propagated vertical stress of this type of reinforcement.

KEY WORDS: Geosynthetics, theory of elasticity, theory of equivalent thickness.

controle de erosão em canalizações e taludes;


1 INTRODUÇÃO proteção de infraestruturas subterrâneas como
dutovias; e proteção mecânica e contra
A geocélula é um geossintético tridimensional degradação de outros geossintéticos como as
que compõe uma camada semelhante a uma geomembranas (Avesani Neto e Bueno, 2010a,
colméia com possibilidade de preenchimento de 2010b, 2009a, 2009b)
diversos materiais como solo, material granular No caso de aplicações de melhora da
e concreto, usualmente aplicada em melhora da capacidade de suporte, diversos estudos foram
capacidade de suporte em fundações, aterros, feitos para se euqacionar a melhora fornecida
vias pavimentadas e não pavimentadas, pela geocélula (Koerner, 1994; Presto, 2008;
ferrovias e pátios de carga e estocagem; Rajagopal et al., 1999; Zhang et al., 2010;

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209
Avesani Neto et al., 2013 e 2015). No entanto, raio do carregamento (h/r) de 0,25 a 2 -
pouco avanço ocorreu na tentativa de traduzir diferença essa, em sua maioria, devido à
matematicamente os efeitos de tensão e precisão na determinação do coeficiente de
deformação (carga e recalque) que ocorrem na recalque usando o ábaco de Burmister (1943).
camada de solo reforçado com a geocélula e em Uma limitação comum a todas essas
sua interface com o subleito. soluções acima citadas se refere ao coeficiente
De forma pioneira, Avesani Neto (2019) de Poisson empregado para ambas as camadas
propôs uma metodologia, baseada no sistema de no valor fixo e igual a 0,5. Para contornar esse
dupla camada, generalizada simples e eficaz problema, Avesani Neto (2019) desenvolveu,
para determinação dos recalques e tensões usando a TEE, uma metodologia generalizada
propagadas para o subleito. Nesse aspecto, o possibilitando o emprego de valores distintos e
presente artigo é um resumo da publicação independentes desse parâmetro para as
Avesani Neto (2019) e descreve, de forma camadas, ampliando a possibilidade de
sucinta, uma aplicação dessa metodologia em aplicações da TEE.
um ensaio de placa realizado no campo. A Figura 1 apresenta um resumo das
Maiores informações podem ser obtidas na equações e soluções anteriormente descritas
publicação supracitada. para um meio contínuo e um sistema de duas
camadas que serão utilizadas ao longo desse
2 SISTEMAS DE DUPLA CAMADA artigo.
Existem também soluções aproximadas
Usando uma extensão da teoria da elasticidade semi-empíricas (SASE) para a determinação das
(TE), a teoria do sistema de dupla camada tensões e deflexões do sistema de camadas.
(TSDC) foi desenvolvida, a partir de 1930, por Entre elas se destacam as de Nascimento et al.
diversos autores que foram, aos poucos, a (1961), Lister e Jones (1967) e Mitchell e
gerando diversas soluções rigorosas em função Gardner (1971) que serão empregadas
do tipo de carregamento e condições elasticas posteriomente nesse artigo.
das camadas (Burmister, 1943, Fox, 1948 e de Algumas das soluções aqui citadas (TSDC,
Barros, 1966a e 1966b). TEE e SASE) podem ser facilmente consultadas
Em paralelo, soluções aproximadas usando a em Poulos e Davis (1974).
teoria das espessuras equivalentes (TEE)
igualmente foram desenvolvidas propondo a 3 ENSAIO DE PLACA DE CAMPO
transformação da camada do material superior
em uma espessura equivalente com O ensaio de placa conduzido no campo e
propriedades iguais as da camada subjacente empregado nesse estudo foi realizado e
(subleito) e, assim, permitindo tratar um reportado por Saride (2013) e Saride et al.
problema de dupla camada pela TE dos meios (2016), sendo que informações complementares
homogêneos semi-infinitos - solução de podem ser obtidas nessas publicações.
Boussinesq (Palmer e Barber, 1940 e Odemark, O ensaio foi conduzido na Rodovia KA SH
1949). 46, Índia, em uma região composta por uma
Ambas as teorias (TSDC e TEE) foram argila siltosa (Saride, 2013 e Saride et al.,
avaliadas por Ueshita e Meyerhof (1967) e 2016). Foram realizados ensaios de placa
Ullidtz (1998) sendo verificada uma boa estático e cíclico em três seções testes:
aproximação entre os resultados experimentais diretamente sobre o subleito e sobre a camada
e teóricos. Avesani Neto (2019) também granular da sub-base não reforçada e reforçada
comparou os resultados entre os recalques com uma geocélula. O geossintético era de
calculadas pela solução rigorosa da TSDC e os polietileno de alta densidade (PEAD), com
métodos da TEE e concluiu que as diferenças paredes rugosas e perfuradas com resistência à
são inferiores a 5% na maior parte dos casos em tração de 14kN/m, altura de 150mm e abertura
aplicação de solos: relações entre módulos de das células de 192mm (razão de forma, h/d
ambas as camadas (E1/E2) variando de 2 a 200 e igual a 0.78). A placa usada era circular, com
relação entre espessura da camada superior e o diâmetro (D) de 300mm e a instrumentação

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

210
consistiu da leitura da pressão e deslocamento
ao longo do ensaio e de leitura das tensões sob
as camadas ensaiadas por meio de células de
pressão total de solo (TPCs) dispostas
diretamente no eixo da placa e espaçadas em
2m (aproximadamente 7D) do eixo da placa
(Saride, 2013 e Saride et al., 2016).
A Figura 2 mostra uma vista em planta e
uma seção esquemática dos ensaios realizados,
a Figura 3 apresenta as curvas de carga-recalque
dos ensaios e a Figura 4 mostra as tensões
registradas nas TPCs dispostas na base da
camada reforçada com geocélua ao longo do
ensaio. Figura 4. Distribuição das tensões verticais abaixo da
camada de geocélula – TCP3 a 2m do centro da placa e
TCP4 no eixo da placa (Saride, 2013).

Em relação à distribuição de tensões


(Figura 4), a TCP4 registrou na interface das
camadas (sob a geocélula) valores típicos de
tensão variando de 6% a 10% da carga aplicada
pela placa, sendo observado ao longo de todo o
ensaio uma média de 7,4%.

4 ANÁLISE DO ENSAIO USANDO O


SISTEMA DE DUPLA CAMADA
Figura 2. Vista em planta e seção dos ensaios reforçado e
nã reforçado (Saride, 2013). 4.1 Interpretação da curva carga-recalque

O ensaio realizado diretamente sobre o subleito


é um problema de um meio elástico uniforme e
pode ser tratado pela teoria da elasticidade dos
meios contínuos usando as equações do Setor A
da Figura 1.
Para a determinação do módulo de
deformabilidade do subleito foi empregada a
equação 3a: sendo o raio do carregamento
circular (r) igual a 150mm, o fator de forma e
rigidez (Cs) igual a 0.79 (centro de circular e
rígida – Holtz, 1991) e usando um coeficiente
de Poisson igual a 0,45 para a argila siltosa do
Figura 3. Curva carga-recalque dos ensaios (Saride,
2013). subleito conforme sugestão de Yoder &
Witczak (1975) e Huang (2004), o módulo de
Pela Figura 3, verifica-se que o subleito deformabilidade do subleito se torna função
apresentou ruptura para um carregamento por apenas do módulo de reação (K):
volta de 800kPa e um recalque de 20mm
(aproximadamente 7% de deformação 𝐸𝑠 = 2𝑥𝐾𝑥0,15(1 − 0,452 )0,79 = 0.19𝐾 (1)
específica). No caso da situação reforçada com
geocélula, não se visualiza tendência de ruptura Como o modulo de deformabilidade é um
até o final do ensaio (Saride, 2013 e Saride et parâmetro elástico, o sucesso na obtenção de
al., 2016). um resultado confiável reside na escolha

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211
adequada de um valor do modulo de reação Poisson igual a 0,25 para a camada de geocélula
para pequenas magnitudes de tensão- (Saride, 2013; Saride et al., 2016) e mantendo o
deformação. Pidwerbesky (1995) aponta que valor de 0,45 para o subleito, determinou-se
algumas das principais agências de transporte, uma relação entre módulos Eg/Es de 97 e,
como os manuais de projeto de pavimentos consequentemente, um módulo de
limitam a máxima tensão de compressão deformabilidade da camada de geocélula Eg =
permitida no subleito dentro de uma faixa de 575,MPa.
0,05% a 0,3% de deformação. Por esse motivo, As relações entre os módulos de
foi selecionado um modulo de reação para um deformabilidade da camada de geocélula e do
valor de deformação igual a 0,3%, que resulta subleito foram igualmente calculados pelas
em uma tensão de 27kPa e um recalque de outras metodologias de dupla camada descritas
0,86mm. Assim, o módulo de deformabilidade no item 2. A Tabela 1 apresenta os valores de
do subleito será igual a: relação entre os módulos e os módulos de
deformabilidade da camada de geocélula
27
𝐸𝑠 = 0,19
0,86𝑥10−3
= 5,9𝑀𝑃𝑎 (2) obtidos pelos métodos citados acima, bem como
as etapas intermediárias dos cálculos.

Tabela 1. Módulos de deformabilidade da camada de


Com o ensaio realizado diretamente sobre a geocélula.
camada reforçada com geocélula, o problema
Palmer e Avesani
passa a ser tratado sistema de dupla camada Metod./ Burmister Odemark Burmister
Barber Neto
(Seção B da Figura 1). Para os mesmos 0,3% de Parâm.
(1940)
(1943) (1949) (1962)
(2019)
deformação, o módulo de reação equivalente
obtido foi de 143.820kPa/m e o módulo de ns 0,5¹ 0,5¹ 0,5¹ 0,4¹ 0,45
deformabilidade equivalente calculado foi de: Es
5,6 5,6 5,6 6,3 5,9
(MPa)
𝐸𝑒𝑞 = 0,19𝑥143.820 = 27,3M𝑃𝑎 (3) E eq
25,6 25,6 25,6 28,8 27,3
(MPa)
F ensaio 0,218
Com os valores dos módulos de
deformabilidade do subleito e equivalente, e ng 0,5¹ 0,5¹ 0,5¹ 0,2¹ 0,25
usando a equação 5b, foi possível determinar o
fator de deflexão (F) obtido no ensaio: h/r 1

𝐸𝑠 5,9 E g /E s 100 130 128 75 97


𝐹=
𝐸𝑒𝑞
=
27,3
= 0,218 (4)
Eg
560 728 716,8 472,5 575,2
(MPa)
Em termos práticos, o fator de deflexão ¹: Valores fixados pelos métodos
indica a melhora obtida com a inclusão da
camada de reforço de geocélula preenchida com Da Tabela 1 se verifica que foi calculada
material granular. No presente caso, esse para Eg/Es uma faixa variando de 75 a 130 (Eg
reforço gerou uma melhora do módulo de de cerca de 450MPa a quase 750MPa), sendo o
deformabilidade da fundação igual a 1/F para o menor valor calculado pelo método rigoroso de
mesmo valor de recalque – cerca de 4,5 vezes. Burmister (1962) e o maior valor por Burmister
De posse do fator de deflexão obtido no (1943). Essa constatação mostra a importante
ensaio e usando em um primeiro momento a influência dos coeficientes de Poisson na
soluções de dupla camada proposta por Avesani estimativa do módulo de deformabilidade da
Neto (2019) – Seção B.7 da Figura 1, é possível camada superior no sistema de dupla camada.
realizar a conta inversa e determinar a relação Um maior valor de coeficiente de Poisson do
entre os módulos de deformabilidade (Eg/Es) e o subleito gera maiores valores de módulo de
módulo de deformabilidade da camada de deformabilidade da camada de geocélula. No
geocélula (Eg). Considerando um coeficiente de caso do coeficiente de Poisson da camada de
geocélula o efeito é inverso.

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212
3
O método rigoroso de Burmister (1943) e 1
2
da TEE de Odemark (1949) calcularam valores 𝜎𝑧 = 𝑝 [1 − ( 150 2
) ] = 0,074𝑝 (6)
1+( )
653
de módulos de deformabilidade muito
próximos, com uma diferença inferior a 1%.
Os métodos de TEE de Palmer e Barber Verifica-se que a proporção de tensão
(1940) e Avesani Neto (2019) igualmente vertical (v/p) propagada determinada aqui é
determinaram valores muito próximos de 7,4%, valor esse exatamente igual a média
relação entre módulos e de módulo de obtida ao longo do ensaio de placam, conforme
deformabilidade da camada de geocélula. apresentado no item 3 (Figura 4).
A mesma metodologia para a determinação
4.2 Tensão vertical propagada para o subleito da tensão propagada para o subleito foi aplicada
para os outros métodos de dupla camada
Os resultados de tensões sob a camada de descritos no item 2. A Tabela 2 apresenta os
geocélula, obtidos com a célula de pressão total valores de relação (v/p) bem como as etapas
de solo no eixo da placa (TPC4), foram usados intermediárias dos cálculos.
para reanalisar a distribuição de tensões no
colchão de geocélula sob a ótica do sistema de Tabela 2. Relação entre tensão vertical propagada e
dupla camada. tensão aplicada na camada de geocélula.
Pela a TEE é possível transformar a Metodologia ns
Es
ng
Eg
E g /E s h/r  v /p
camada de reforço de geocélula (com as dadas (MPa) (MPa)

características geométricas e elásticas: h, Eg e Palmer e Barber


0,5 5,6 0,5 560 100 0,066
(1940)
ng) em uma camada com uma espessura
equivalente e mesmos parâmetros elásticos do Fox (1948)¹ 0,5 5,6 0,5 728 130 0,068

subleito (he, Es e ns) conforme a Seção B.3 da


Odemark (1949) 0,5 5,6 0,5 716,8 128 0,069
Figura 1.
Usando a equação 8b sem o fator de Nascimento et
- - - - 97² 0,052
al. (1961)
correção, os dados geométricos do ensaio
(espessura da camada de geocélula, h = Burmister (1962) 0,4 6,3 0,2 472,5 75 1 0,1
150mm) e os mesmos parâmetros elásticos
Lister e Jones
determinados no item anterior por Avesani Neto (1967)
- - - - 97² 0,089

(2019): Eg/Es = 97, ng = 0,25 e ns = 0,45, foi Mitchell e


- - - - 97² 0,098³
possível determinar a espessura equivalente da Gardner (1971)
camada de reforço de geocélula: Avesani Neto
0,45 5,9 0,25 575,2 97 0,074
(2019)
1 Ensaio de placa
(1−0,45²) 3 - - - - - 0,074³
ℎ𝑒 = 150 [97 ] = 653𝑚𝑚
(1−0,252 )
(5) no campo
¹: Burmister (1943)
²: Eg/Es conforme Avesani Neto (2019)
Com a transformação da camada de reforço ³: Média dos valores
de geocélula em uma espessura equivalente
com as mesmas propriedades elásticas do Da Tabela 2 se verifica que há uma faixa de
subleito, o problema agora pode ser tratado valor da tensão na interface variando de 5,2% a
como um meio elástico uniforme usando a TE 10% da carga aplicada. O menor valor obtido
dos meios contínuos. Para o caso de um foi pelo método semi-empírico de Nascimento
carregamento circular, a tensão vertical atuante et al. (1961) e o maior valor pelo método
diretamente no eixo central do carregamento rigoroso de Burmister (1962).
(v), em uma dada profundidade do subleito, Para os métodos das TSDC e TEE, de
pode ser calculada pela solução de Bousinesq maneira geral, nota-se que o aumento da relação
conforme equação 4a da Figura 1: Eg/Es gera uma redução da proporção da tensão
vertical (v/p), com exceção apenas do método
de Palmer e Barber (1940). Conclui-se também
que esses métodos calcularam valores de v/p

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213
muito próximos da média obtida no ensaio com Os métodos de Palmer e Barber (1940),
erros inferiores a cerca de 10% - com ressalva Fox (1948), Odemark (1949) e Nascimento et
apenas a Burmister (1962) que calculou um al. (1961) calcularam valores de tensão vertical
valor 35% superior à média registrada no na interface sempre inferiores aos medidos ao
ensaio. O método de Avesani Neto (2019) foi o longo de todo o ensaio, sendo o último o que
que melhor se aproximou, calculando um valor calculou os menores valores, com resultados de
idêntico a média obtida no ensaio. tensões até 70% inferiores as medidas. Os
Em relação aos métodos SASE, de maneira outros citados apresentaram um bom ajuste ao
geral, constata-se que eles tendem a apresentar longo de toda a faixa do ensaio, com os
maiores valores de v/p, com exceção do seguintes comentários específicos: O método de
método de Nascimento et al. (1961). Os erros Palmer e Barber (1940) apresentou um erro
calculados por eles foram da ordem de 20% a médio de 20% ao longo de todo ensaio, sendo
30% em relação à média obtida no ensaio. sua melhor concordância para uma faixa de
Complementando as análises, a Figura 5 carga aplicada de 700kPa a 900kPa, situação
mostra uma comparação entre as leituras das que o seu erro foi da ordem de 7%. Os métodos
tensões verticais registradas na célula de de Fox (1948) e Odemark (1949) apresentaram
pressão total de solo no eixo da placa (TPC4) resultados muito próximos um do outro
com as tensões verticais previstas pelas (diferença de 1%). Ambos apresentaram um
metodologias descritas anteriormente ao longo erro médio de 15% ao longo do ensaio, sendo
de todo o ensaio. No eixo-y secundário, a os que geraram os melhores resultados dentre
direita do gráfico, está indicada a carga aplicada todos os métodos para uma faixa de carga
na superfície para referência. aplicada de 750kPa a 900kPa.
Por fim, assim como observado nas
análises da Tabela 2, o método de Avesani Neto
(2019) foi o que melhor apresentou um ajuste
ao longo de todo o ensaio, gerando um erro
médio inferior a 10%. As faixas onde ele obteve
o melhor ajuste dentre os métodos analisados
foi de 450kPa a 750kPa e acima de 900kPa.

5 CONCLUSÕES

Este artigo apresentou uma reinterpretação de


um ensaio de placa, realizado sobre um solo
reforçado com geocélula, sob a ótica das TSDC,
TEE e SASE para analisar a curva carga-
Figura 5. Comparação entre tensões verticais propagadas
calculadas e medidas. recalque e as tensões verticais propagadas. Com
base no observado as conclusões abaixo podem
Os resultados da Figura 5 mostram que ser feitas:
todas as metodologias calcularam menores • O sistema de dupla camada pode ser
valores de tensão vertical na interface das empregada de forma simples e eficaz para
camadas que as tensões medidas para cargas determinação da relação de módulos e do
aplicadas de até 200kPa - da ordem de 60% das módulo da camada de solo reforçado com
medidas. A partir desse carregamento, os geocélula usando resultados de ensaios de
métodos de Burmister (1962), Lister e Jones placas, bem como calcular os recalques na
(1967) e Mitchell e Gardner (1971) calcularam superfície e as tensões propagadas no subleito;
valores de tensões superiores aos medidos. Para • Os métodos rigorosos e da TEE calcularam
cargas aplicadas acima de 450kPa esses três valores dos parâmetros elásticos muito
métodos determinaram valores de tensão próximos. Como os métodos rigorosos
vertical até 50% superiores da medida. dependem de ábacos para soluções específicas

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214
(ou elevado recurso computacional para outras soils using finite-element analysis. Geos. Int., 1–13.
situações), essa constatação mostra a grande de Barros, S. T. (1966a). Application of three-layer
system methods to evaluation of soil-cement bases.
viabilidade do uso da TEE; Highway Research Record, 145, 60–82.
• Os métodos de SASE avaliados para de Barros, S. T. (1966b). Deflection factor charts for two-
determinação das tensões verticais na interface and three-layered elastic systems. Highway
das camadas não mostraram bons resultados Research Record1, 145, 83–108.
comparados com os valores medidos no ensaio Burmister, D. M. (1943). The theory of stresses and
displacements in layered systems and application to
de campo. Já os métodos rigorosos e da TEE the design of airport runways. HRB, 23, 126–148.
geraram resultados mais próximos dos medidos Fox, L. (1948). Computation of traffic stresses in a
em campo; simple road structure. In II ICSMFE. (p. 236–246).
• Verificou-se a influência dos coeficientes de Holtz, R. D. (1991). Stress Distribution and Settlement of
Poisson de ambas as camadas para a Shallow Foundations. In Foundation Engineering
Handbook (p. 166–222). Boston, MA: Springer US.
determinação da relação de módulos mostrando Huang, Y. H. (2004). Pavement Analysis and Design.
uma limitação das soluções rigorosas e da TEE Pearson.
que fixam valores para esse parâmetro. Nesse Koerner, R. M. (1994). Designing with geosynthetics.
aspecto, verifica-se uma vantagem para a Xlibris Corp.
metodologia de Avesani Neto (2019) que Lister, N. W., & Jones, R. (1967). The behavior of
flexible pavements under moving wheel loads. In
generaliza o equacionamento para quaisquer 2nd ICSDAP (p. 1021–1035).
valores desse coeficiente, possibilitando a Mitchell, J. K., & Gardner, W. S. (1971). Analysis of
determinação de valores de tensões verticais load bearing fills over soft subsoils. JSMFD,
mais próximas das obtidas no ensaio de campo. 97(11), 1549–1571.
Nascimento, U., Seguro, J. M., da Costa, E., & Siqueira,
P. (1961). A method of designing pavements for
roads and airports. In V ICSMFE (p. 283–288).
AGRADECIMENTOS Odemark, N. (1949). Investigations as to the elastic
properties of soils and design of pavements
O autor agradece o professor e amigo Orencio according to the theory of elasticity. Statens
Monge Vilar pela sugestão de usar o sistema de Vaginstitut, Sweden, Meddelande 77.
Palmer, L. A., & Barber, E. S. (1940). Soil displacement
camadas em aplicações de reforço com under a circular loaded area. HRB, 20, 279–286.
geocélula. Pidwerbesky, B.D. (1995). Strain response and
performance of subgrades and flexible pavements
under various loading conditions. TRR 1482, 87-
REFERÊNCIAS 93.
Avesani Neto, J. O. (2019). Application of the two-layer Poulos, H. G., & Davis, E. H. (1974). Elastic solutions
system theory to calculate the settlements and for soil and rock mechanics,. [Wiley].
vertical stress propagation in soil reinforcement Presto. (2008). Geoweb load support system – Technical
with geocell. G&G, 47(1). overview.
Avesani Neto, J. O., & Bueno, B. S. (2009a). Rajagopal, K., Krishnaswamy, N. R., & Latha, G. M.
Estabilização de Encostas com Muros de Gravidade (1999). Behaviour of sand confined with single and
de Geocélula. In COBRAE 2009. multiple geocells. G&G, 17(3), 171–184.
Avesani Neto, J. O., & Bueno, B. S. (2009b). Proteção e Saride, S. (2013). Evaluation of the performance of
Controle de Erosão em Taludes com Geocélula. In geocell reinforced GSB layer on K-SH 46 at
COBRAE 2009 (p. 1–8). Dandeli Karnataka. Report.
Avesani Neto, J. O., & Bueno, B. S. (2010a). Capacidade Saride, S., Rayabharapu, V. K., Dalmia, G., & Madhav,
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Avesani Neto, J. O., Bueno, B. S., & Futai, M. M. (2013). Ullidtz, P. (1998). Modelling Flexible Pavement
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Avesani Neto, J. O., Futai, M. M., & Bueno, B. S. (2015). pavement design. John Wiley & Sons, Inc.
Evaluation of a calculation method for
embankments reinforced with geocells over soft

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215
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Figura 1. Resumo das equações e soluções empregadas nesse artigo.

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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise da estabilidade de um aterro de rejeitos de minério de


ouro reforçado com fibras de polipropileno e geogrelhas usando
PLAXIS 3D
Juan Manuel Girao Sotomayor
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, jumagiso@gmail.com

Laura Yarick Barragán Rodriguez


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, layarick@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: Segundo a literatura, os reforços geossintéticos planares, como as geogrelhas, podem


gerar planos de fraqueza entre camadas compactadas de solo, enquanto que os reforços discretos
distribuídos homogeneamente, como as fibras de polipropileno, podem fornecer um isotrópico
incremento de resistência na matriz. Usando o método de elementos finitos, este trabalho avalia a
resposta de um aterro de rejeitos de minério de ouro compactado e reforçado com (1) fibras de
polipropileno e (2) geogrelhas uniaxiais, para determinar qual tipo de reforço é mais recomendável.
Ensaios triaxiais drenados foram feitos para obter os parâmetros de resistência do rejeito
compactado à umidade ótima. As características físicas e mecânicas das fibras de polipropileno e
das geogrelhas foram obtidas das especificações técnicas de fabricantes no Brasil. As análises de
estabilidade foram feitas utilizando o software PLAXIS 3D. As dimensões da seção transversal do
aterro foram de 10 metros de altura, com um lado externo contido por gaviões com talude de 75º. O
comportamento mecânico do rejeito reforçado com fibras foi simulado pelo modelo elastoplástico
de Mohr-Coulomb e as geogrelhas uniaxiais foram modeladas mediante elementos de ancoragem
passivo. O método de elementos finitos foi utilizado para calcular o fator de segurança usando a
técnica de redução de resistência conhecida como phi-c reduction. As análises mostraram um
melhor comportamento com o reforço de geogrelhas, embora, é possivel melhorar ainda mais a
estabilidade utilizando uma mistura dos dois reforços no aterro de rejeitos.

PALAVRAS-CHAVE: rejeito de minério de ouro, geogrelha uniaxial, fibras de polipropileno,


análise de estabilidade, software PLAXIS 3D.

ABSTRACT: According to the literature, planar geosynthetic reinforcements, such as geogrids, can
generate planes of weakness between compacted layers of soil, whereas homogeneously distributed
discrete reinforcements, such as polypropylene fibers, can provide an isotropic increase of the shear
strength in the matrix. Using the finite element method, this work evaluated the response of a
compacted gold mine tailings embankment reinforced with (1) polypropylene fibers and (2)
uniaxial geogrids, to determine which type of reinforcement is most advisable. Drained triaxial tests
were performed to obtain the shear strength parameters on the compacted tailings under the
moisture content. The physical and mechanical characteristics of polypropylene fibers and geogrids
were obtained from the technical specifications of manufacturers in Brazil. Stability analyzes were
performed using PLAXIS 3D software. The embankment was 10 meters high, with an external side
contained by gabions with a 75º slope. The mechanical behavior of the fiber-reinforced tailings was
simulated by the Mohr-Coulomb elastoplastic model and the uniaxial geogrids were modeled by
passive anchoring elements. The finite element method was used to calculate the safety factor using
the resistance reduction technique known as phi-c reduction. The analyzes showed a better behavior

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217
with the geogrid reinforcement, although it is possible to further improve the stability using a
mixture of the two reinforcements in the tailings embankment.

KEY-WORDS: gold mine tailing, uniaxial geogrid, polypropylene fiber, stability analysis, PLAXIS
3D software.

1 INTRODUÇÃO de La Libertad no Peru.


As amostras (Fig. 1) foram coletadas em
Diferentes pesquisas avaliaram as vantagens de sacolas plásticas com uma umidade média de
utilizar fibras como reforço de solos (Arenicz & 14.5% e transportadas ao Brasil para serem
Chowdhury, 1988; Leflaive, 1988; Wasti & armazenadas e ensaiadas no Laboratório de
Bütün, 1996; Santoni et al., 2001; Tingle et al., Geotecnia e Meio Ambiente da Pontifícia
2002; Zornberg, 2002; Casagrande, 2005; Park Universidade Católica do Rio de Janeiro.
& Tan, 2005; Bhardwaj & Mandal, 2008;
Chauhan et al., 2008; Amir-Faryar & Aggour,
2016; Sharma & Kumar, 2017; Sotomayor &
Casagrande, 2018).
Na última década as pesquisas também
foram orientadas para avaliar matrizes de
rejeitos de mineração reforçadas com fibras Figura 1. Rejeito de Minério de Ouro
sintéticas visando melhorar a estabilidade destes
materiais em aterros compactados de rejeitos A análise granulometrica foi realizada
(Coelho, 2008; Festugato et al., 2015; mediante um granulómetro laser, as amostras
Sotomayor, 2018). foram submersas em uma solução de
Os resultados mostraram que as fibras hexametafosfato de sódio.
melhoram os parâmetros de resistência dos Os resultados e as curvas granulométricas
rejeitos de mineração incrementando a são apresentados na Tabela 1 e Figura 2,
resistência isotrópicamente. respectivamente.
Ainda faltam pesquisas que façam aterros
experimentais para avaliar o comportamento Tabela 1. Análise Granulométrico
tensão-deslocamento in situ dos rejeitos Areia
Argila Silte
RM Fina Media Grossa
fibroreforçados e analisar os problemas desta (%) (%)
(%) (%) (%)
colocação em campo. Au1 3,33 94,93 1,74 0,00 0,00
Para incentivar a pesquisa mediante a Au2 3,04 88,50 8,46 0,00 0,00
construção de aterros de rejeitos reforçados com Au3 3,63 94,63 1,74 0,00 0,00
fibra, neste trabalho apresentam-se as RM: Rejeito de Minério
modelagens numéricas de um aterro de rejeitos
de minério de ouro reforçado com geogrelhas e
reforçado com fibras de polipropileno. A
comparação entre as duas formas de reforço
mostra qual técnica é a mais vantajosa.

2 MATERIAIS

2.1 Rejeito de minério de ouro


Figura 2. Curva granulométrica
O rejeito de minério de ouro procede de um
aterro de rejeitos filtrados e compactados por
maquinaria pesada localizado no departamento O rejeito de minério de ouro é classificado
pelo Sistema Único de Classificação de Solos

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218
(SUCS) como um silte argiloso de baixa Tabela 3. Propriedades da fibra de polipropileno
plasticidade, a densidade relativa dos grãos é Cor Transparente
3.777 e os límites de Atterberg são LL=19%, Diâmetro (mm) 0.03
Comprimento (mm) 24
LP=13%, IP=6%. Módulo de Elasticidade (GN/m2) 5
Realizou-se o proctor normal para obter as Densidade Relativa 0.92
melhores características para a compactação do Resistência à tração (MN/m2) 325
rejeito se obtendo uma densidade seca máxima
aparente de 2.235 g/cm3 com um teor de 2.4 Compósito fibroso rejeito-fibra
umidade de 16%.
Ao adicionar fibra à matriz de rejeito a
2.2 Geogrelhas uniaxiais combinação gera o que é chamado por
Matthews & Rawlings (1994) como material
As propriedades mecânicas das geogrelhas compósito fibroso onde as fibras são
unixiais foram obtidas por dados dos disseminadas na matriz, sendo que a resistência
fabricantes utilizando o valor estimado ao 2% inicial é fornecida pela matriz e a posterior
de deformação. Os valores da rigidez axial são pelas fibras.
obtidos da relação entre a força aplicada na O objetivo destes materiais, segundo
direção axial e o estiramento da geogrelha com Budinski (1996), é conseguir um conjunto de
base ao comprimento original. A norma ASTM comportamentos ideiais produto da união de
D6637 descreve o procedimento de ensaio. Na dois materiais que independentemente não
Tabela 2 se apresentam as propriedades da possuem tais benefícios, portanto as
geogrelha de reforço. propriedades deste novo material são diferentes
às inicias e debem ser feitos ensaios de
Tabela 2. Propriedades da geogrelha resistência mecânica no rejeito de minério sem
Resistência Rigidez ao Módulo
Tipo Última à 2% de de
reforço e reforçado.
tração deformação Elasticidade Ensaios de Microscopia Eletrónica de
(kN/m) (kN/m) (kN/m2) Varredura mostraram a interação entre a matriz
G150 150 1510 271800 de rejeito de minério de ouro e as fibras de
polipropileno como se mostra na Figura 4.
2.3 Fibras de Polipropileno

As propriedades mecânicas das fibras de


polipropileno foram obtidas diretamente
mediante 35 ensaios a tração feitos nas fibras
como mostra a Figura 3. As propriedades da
fibra são apresentadas na Tabela 3.

Figura 4. Interação rejeito-fibra em ensaios MEV

Observa-se que o diámetro da fibra gera


discontinuidade na matriz conseguindo que
aumentem os vazios podendo gerar microzonas
de fraqueza na interfase rejeito-fibra.
Sotomayor (2018) realizou ensaios triaxiais
drenados e não drenados em amostras de rejeito
de minério de ouro não reforçado e reforçado
Figura 3. Ensaios de tração em fibras de polipropileno com fibras de polipropileno mostrando que a
adição de fibra incrementa os parâmetros de

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219
resistência, reduz o môdulo de deformação, e a especificar o incremento da redução segundo
rigidez mostrando um comportamento mais cada passo. No software PLAXIS 3D por
dúctil do que o rejeito de minério de ouro não default este incremento é 0.1. Os parámetros de
reforçado. resistência são reduzidos até completar um
Nas Tabelas 4 e 5 apresentam-se os número determinado de passos, no PLAXIS 3D
parâmetros de deformação e resistência, do por default são 30 mas podem ser até 1000 se
rejeito de minério de ouro não reforçado e for preciso. Se com os passos se alcança a
reforçado, obtidos dos ensaios de Sotomayor ruptura, o fator de segurança é calculado pela
(2018). Equação 2.

Tabela 4. Parâmetros de deformabilidade 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙


Coef. Deformação
𝐹𝑆 = 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎𝑟𝑢𝑝𝑡𝑢𝑟𝑎
= ∑ 𝑀𝑠𝑓−𝑟𝑢𝑝𝑡𝑢𝑟𝑎 (2)
Módulo de
Material Deformação de Poisson Volumétrica
(MN/m2) (ν) (ψ)* Este método em combinação com modelos
Rejeito
compactado
39.3 0.34 3 constitutivos de solos oferece resultados
Compósito similares ao modelo de Mohr-Coulomb
25.1 0.35 7 convencional.
fibroso
Gabião 120.0 0.35 10
* Ψ=φ-30 ou φ<30 Ψ=0
4 ANÁLISE DE DEFORMAÇÕES
Tabela 5. Parâmetros de resistência
Ángulo Intercepto
Material
Densidade
de atrito Coesivo
O software PLAXIS 3D foi desenvolvido para
3
(kN/m ) trabalhar com elementos finitos permitindo
φ (º) c (kN/m2)
Rejeito fazer análise por fases de construção, análise
18.6 33 0
compactado tensão-deformação e cálculo do fator de
Compósito segurança mediante o método de phi-c
19.6 37 0
fibroso reduction, por estas características neste
Gabião 18.0 40 50
trabalho foi utilizado este método
computacional.
Antes de passar ao item de análise é
3 REDUÇÃO DE RESISTÊNCIA importante dizer que o compósito fibroso possui
um teor de fibras de 0.5% do peso seco da
Brinkgreve & Bakker (1991) descreveram o matriz, este valor foi adotado da literatura
método de redução de resistência ou Phi-c (Consoli et al., 2007; Anagnostopoulos et al,
reduction como un método que reduz 2013; Consoli et al., 2017). A variação deste
progresivamente os parâmetros geotécnicos de teor de fibra pode mudar os resultados e esta
resistência tanφ e c até que a ruptura é pesquisa não abrange esse tema.
produzida. Neste método para definir o valor
dos parámetros de resistência em cada passo do 4.1 Análise do rejeito de minério compactado
análise é utilizado o multiplicador total (ΣMsf)
como mostra a Equação 1. 4.1.1 Discretização
𝑡𝑎𝑛φ𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑐𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙
∑ 𝑀𝑠𝑓 = = (1) As dimensões da seção transversal do rejeito
𝑡𝑎𝑛φ𝑟𝑒𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜 𝑐𝑟𝑒𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜
compactado foram de 10 metros de altura, com
talude de 75º como mostra a Figura 5.
Os dados com subindice “inicial”
Como condições de contorno, considera-se
correspondem às propriedades iniciais dos
uma restrição dos deslocamentos horizontais
materiais, enquanto que os parâmetros com
nos contornos laterais e de ambos os
subindice “reduzido” são as variações dos
deslocamentos (horizontais e verticais) no
parâmetros. No inicio do cálculo ΣM sf tem um contorno inferior. A discretização da malha foi
valor de 1 indicando que não existe redução, o Medium.
multiplicador incremental M sf utiliza-se para

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220
Figura 5. Discretização: aterro de rejeito de minério Figura 7. Discretização: aterro compósito rejeito-fibra

4.1.2 Resultados do rejeito compactado

Para entender quais são as mudanças em


comparação com o rejeito reforçado foi feita a
análise de deformações para o rejeito de
minério de ouro compactado não reforçado.
A Figura 6 mostra a deformação do muro de
rejeito de minério de ouro compactado.
Figura 8. Compósito rejeito-fibra H=8.0 m com
FS=1.230.

Na Figura 8 observa-se que com a adição de


fibra as deformações no talude são reduzidas
em comparação ao talude não reforçado, além
disso é possível elevar o aterro de rejeito até 8.0
metros antes do colapso com um FS de 1.230.

4.3 Análise do rejeito reforçado com geogrelhas


Figura 6. Rejeito compactado H=6.0 m com FS=1.115.
4.3.1 Discretização
A altura máxima do muro antes de sofrer
colapso é de 6.0 m com um FS de 1.115. O Neste caso as geogrelhas uniaxiais foram
modelamento mostra que o gabião está inseridas como ancoragens passivos no rejeito
contendo o rejeito não reforçado que apresenta compactado. As geogrelhas foram colocadas
as maiores deformações. espaçãdas cada metro de altura ocupando a
mesma area reforçada pela fibra no item
4.2 Análise do rejeito reforçado com fibra anterior, como mostra a Figura 9.

4.2.1 Discretização

A geometria foi conservada mas as


caracteristicas do material mudaram em 10
metros a partir do talude. Colocou-se o
compósito de rejeito de minério misturado con
fibra e compactado como mostra a Figura 7.

4.2.2 Resultados do compósito rejeito-fibra


Figura 9. Discretização: aterro reforçado com geogrelhas
A Figura 8 mostra a deformação do muro de
rejeito de minério de ouro reforçado com fibras 4.3.2 Resultados do rejeito reforçado com
de polipropileno. geogrelhas

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221
Na Figura 10 apresenta-se o resultado do
análise de deformações do rejeito de minério de
ouro compactado reforçado com geogrelhas.

Figura 12. Compósito – geogrelha H=10.0 m com


FS=1.981.

Nota-se que as deformações são menores do


Figura 10. Rejeito - geogrelha H=10.0 m com FS=1.888. que no caso anterior para a mesma altura do
aterro, por conseguinte, o fator de segurança é
Observa-se que o reforço com geogrelhas maior FS=1.981.
permite elevar a altura do aterro até 10.0 metros
sem chegar ao colapso da estrutura e com
possibilidade de continuar a elevação. 5 DISCUSSÃO
Como último análise é interessante ver a
melhoria na estabilidade se são utilizados A adição de fibras de polipropileno se mostra
ambos os reforços no aterro. como uma alternativa para melhorar o
comportamento de matrizes de rejeito de
4.4 Análise do rejeito reforçado com geogrelhas minério de ouro, embora, o reforço com
e fibras de polipropileno geogrelhas se apresenta com o mais vantajoso.
É importante mencionar que uma melhor
4.4.1 Discretização disposição de geogrelhas poderia conseguir
melhores resultados assim como um maior teor
Utilizou-se a mesma discretização do modelo de fibra, mas a finalidade deste artigo é
anterior simplesmente colocando o material apresentar as fibras como alternativa de reforço.
compósito e mantendo as geogrelhas como Praticamente todos os trabalhos que
mostra a Figura 11. analisaram o comportamento de solos
reforçados em termos da resistência concluíram
que a adição de fibras reduz a queda da
resistência pós-pico, portanto a maior
contribuição da fibra é quando o processo de
ruptura iniciou.
As análises apresentadas não representam
totalmente a capacidade da fibra, é preciso fazer
um modelamento discreto que consiga
representar em menor escala a interação das
fibras com as partículas da matriz.
Figura 11. Discretização: Muro reforçado com geogrelhas A construção de aterros experimentais com
e fibras de polipropileno reforço de fibras forneceria de dados
importantes para serem tomados em conta nas
4.4.2 Resultados do compósito rejeito-fibra modelagens numéricas.
reforçado com geogrelhas Problemas na compactação a grande escala
ou a coleção de amostras inalteradas para serem
Na Figura 12 apresenta-se o resultado da análise ensaiadas também mostrariam as diferenças
de deformações do rejeito de minério de ouro entre os corpos de prova compactados no
reforçado com fibras de polipropileno e laboratório e aqueles obtidos do campo, para
geogrelhas. representar melhor as propriedades dos rejeitos

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222
fibro reforçados. este campo que se encontra em pleno
Os fatores de segurança obtidos para cada desenvolvimento.
simulação são apresentados na Tabela 6.

Tabela 6. Fator de Segurança AGRADECIMENTOS


Fator de Segurança
Altura
Rejeito Os autores expressam seu agradecimento para
de Rejeito Rejeito
com
aterro Rejeito com com as instituições que deram suporte: Pontifícia
geogrelha
(m) fibra geogrelha Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
e fibra
2.0 2.661 2.763 5.392 5.501 Rio) pelo Laboratório de Geotecnia e Meio
4.0 1.504 1.584 3.206 3.399 Ambiente (LGMA) e ao Conselho Nacional de
6.0 1.115 1.198 3.863 2.542 Desenvolvimento Científico e Tecnológico
8.0 - 1.230 1.978 1.990 (CNPq) pelos auxílios dados para esta pesquisa.
10.0 - - 1.888 1.981

O reforço do aterro com fibras de REFERÊNCIAS


polipropileno e geogrelhas apresenta-se como a
melhor opção para incrementar a resistência ao ASTM (2015). ASTM D6637: Standard Test Method for
cisalhamento do rejeito estudado. Determining Tensile Properties of Geogrids by the
As geogrelhas evitam uma ruptura a nível Single or Multi-Rib Tensile Method. American
macro do aterro, enquanto que as fibras Society for Testing and Materials, West
Conshohocken, EEUU.
evitariam a propagação de fissuras no interior Amir-Faryar, B. & Aggour, M.S. (2016) Effect of fibre
da matriz, estas duas características de reforço inclusion on dynamic properties of clay.
macro e micro seriam as responsáveis da Geomechanics and Geoengineering, 11(2):104-113.
melhora de resistência do aterro. Anagnostopoulos, A.; Papaliangas, T.; Konstantinidis, D.
& Patronis, C. (2013) Shear Strength of Sands
Reinforced with Polypropylene Fibers. Geotechnical
Geological Engineering, 31:401–423.
6 CONCLUSÕES Arenicz, R.M. & Chowdhury, R.N. (1988) Laboratory
investigation of earth walls simultaneously reinforced
Fibras de polipropileno melhoram a estabilidade by strips and random reinforcement. Geotechnical
física de matrizes de rejeito de minério de ouro Testing Journal, 11(4):241-247.
Bhardwaj, D.K. & Mandal, J.N. (2008) Study on
compactadas.
polypropylene fiber reinforced fly ash slopes. Proc.
O reforço com geogrelhas apresentou 12th Int. Conf. of Int. Assoc. for Comp. Meth. and
melhores resultados comparado com aqueles Advan. In Geomech. (IACMAG), Goa, India.
obtidos com as fibras de polipropileno, Brinkgreve, R.B.J. & Bakker, H.L. (1991) Non-linear
inclusive conseguindo incrementar a altura do finite element analysis of safety factors. Proc. 7th Int.
Conference on Computacional Methods and
aterro de 8 metros para 10 metros, com a
Advances in Geomechanics, Cairns, Australia, 1117-
possibilidade de continuar incrementando a 1122.
altura. Budinski, K.G. (1996) Engineering materials, properties
Para alcançar alturas maiores de aterro pode and selection. 5ed. New Jersey: Prentice Hall
ser implementada uma mistura de ambos os International, 653p.
Casagrande, M.D.T. (2005) Comportamento de solos
reforços no aterro, os resultados mostraram um
reforçados com fibras submetidas a grandes
aumento do fator de segurança e redução das deformações. Tese de Doutorado, Programa de Pós-
deformações. Graduação em Geotecnia, Universidade Federal Rio
É importante implementar um modelo que Grande do Sul, 219p.
consiga representar a interação micro entre as Chauhan, M.S.; Mittal, S. & Mohanty, B. (2008)
Performance evaluation of silty sand subgrade
fibras e a matriz e ver como essa interação é
reinforced with fly ash and fibre. Geotextiles and
refletida na estabilidade macro do aterro. Geomembranes, 26(5):429-435.
Os resultados deste trabalho se apresentam Coelho E.F. (2008) Estudo do Comportamento Mecânico
como bons para incentivar aos pesquisadores a de Rejeitos de Minério de Ferro reforçados com
fazer aterros experimentais com fibras com a Fibras de Polipropileno. Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
finalidade de fornecer de maiores informações

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

223
Universidade Federal de Ouro Preto, 100p.
Consoli, N. C.; Casagrande, M. D. T. & Coop, M. R.
(2007) Performance of a fibre-reinforced sand at
large shear strains. Géotechnique, 57(9), 751-756.
Consoli, N. C.; Nierwinski, H. P.; da Silva, A. P., &
Sosnoski, J. (2017) Durability and strength of fiber-
reinforced compacted gold tailings-cement blends.
Geotextiles and Geomembranes, 45(2), 98-102.
Festugato, L., Consoli, N.C. & Fourie, A. (2015) Cyclic
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Geosynthetics International, v. 22 (2):1-11.
Leflaive, E. (1988) Texsol: Already more than 50
Successful Applications. Proc. International
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Matthews, F.F & Rawlings, R.D. (1994) Composite
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mecânico drenado e não drenado de rejeitos de
minérios de ferro e de ouro reforçados com fibras de
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Graduação em Geotecnia, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, 184p.
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

224
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Solo Reforçado com Fibras de Polipropileno Provenientes de


Copos Descartáveis
Juliane Vivian Brito de Souza
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, <julianevivian@gmail.com>

Weiner Gustavo Silva Costa


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, <weiner@ufrb.edu.br>

RESUMO: A técnica de reforço de solo tem se mostrado promissora, e uma grande oportunidade de
contribuir sustentavelmente para o desenvolvimento da engenharia civil, buscando minimizar custos
e potencializar processos. O presente trabalho buscou analisar a influência de fibras de
polipropileno, distribuídas aleatoriamente, na resistência a compressão simples de um solo areno-
silto-argiloso compactado, proveniente de um talude de corte instável às margens da BR 101, no
município de Cachoeira-BA. O estudo realizado consistiu em submeter o solo e o compósito a
ensaios laboratoriais, a fim de se conhecer e comparar o comportamento dos mesmos, em termos de
compactação e tensão-deformação, quando submetidos à compressão não confinada. Para isso
foram utilizadas fibras de polipropileno provenientes de copos descartáveis com 2 mm de espessura
variando-se o comprimento em 15, 25 e 35 mm. Da análise geral dos resultados obtidos observou-se
que a umidade ótima, bem como a massa específica seca máxima reduziram quando da adição das
fibras. Foi possível observar também que houve uma relação crescente da resistência à compressão
simples conforme o aumento do tamanho das fibras, bem como a influência das mesmas na
deformação e rigidez dos corpos de prova. Dessa forma foi constatado que a inserção das fibras
promoveu pontos positivos tanto no fator geotécnico, para reforço do solo estudado, quanto no
ambiental, tendo em vista que tais fibras foram originadas de um material que seria previamente
descartado.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, Fibras de Polipropileno, Reforço, Compósito.

ABSTRACT: The soil reinforcement technique has been promising, and a great opportunity to
contribute sustainably to the development of civil engineeringf field, seeking to minimize costs and
potentialize processes. This work aimed to analyze the influence of polypropylene fibers, randomly
distributed, on the simple compressive strength of a compacted silty-clay-sandy soil from an
unstable cut slope at the border of the road BR 101, in the city of Cachoeira-BA. The study
consisted in subjecting the soil and the composite to laboratory tests in order to know and compare
their behavior in terms of compression and stress-strain when subjected to unconfined compression.
For this, Polypropylene fibers from disposable cups with 2mm thickness varying the length by 15,
25 and 35 mm were used. From the general analysis of the obtained results it was observed that the
optimum moisture, as well as the maximum dry density reduced when the fibers were added. It was
also possible to observe that there was an increasing relation of the simple compressive strength
according to the increase in the size of the fibers, as well as their influence on the deformation and
rigidity of the samples. In this way, it was verified that the insertion of the fibers promoted positive
points in both the geotechnical factor, for reinforcement of the studied soil, and in the
environmental, considering that these fibers originated from a material that would previously be
discarded.

KEY WORDS: Soil, Polypropylene Fibers, Reinforcement, Composite.

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225
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAIS E MÉTODOS

Um dos grandes desafios para engenharia, 2.1 Procedimentos com o solo


principalmente a partir do segundo milênio, tem
sido adaptação de técnicas e inovações que 2.1.1 Prepação
acompanhem o desenvolvimento tecnológico
paralelamente ao desenvolvimento sustentável. Seguindo a NBR 6457 (ABNT, 1986) o solo
A reutilização de resíduos sólidos tem sido coletado passou por processos de preparação
muito pesquisada e utilizada na construção para os ensaios de compactação e de
civil, e foi impulsionada por estudos de quais os caracterização (análise granulométrica,
benefícios que determinados materiais, determinação dos limites de Atterberg, massa
descartados diariamente, podem oferecer para a específica dos grãos que passam na peneira de
engenharia através de suas características físicas 4,8mm, e massa específica aparente dos grãos
e químicas. retidos na peneira 4,8mm). O procedimento
O processo de reforço de solo atende inclui retirada de expurgos, destorroamento
amplamente a tais necessidades. Através de para homogeneizar a mostra, quarteamento, e
pesquisas e estudos científicos, essa técnica tem por último, secagem para chegar na umidade
sido uma ferramenta excelente para alinhar o higroscópica.
desenvolvimento geotécnico ao
desenvolvimento sustentável. Ao analisar a 2.1.2 Caracterização
influência de resíduos, que seriam previamente
descartados, no comportamento mecânico dos Foi efetuado o processo de caracterização física
solos, abre-se uma gama de oportunidades para das matrizes de solo que consiste em ensaios de
otimizar propriedades do solo, reduzir custos e granulometria por peneiramento e
contribuir para a sociedade e para o meio sedimentação, determinação da densidade real
ambiente. dos grãos e Limites de Atterberg, realizados de
A escolha do material a ser usado como acordo as normas: NBR 7181 (ABNT, 1984);
reforço é preponderante para alinhar as NBR 6508 (ABNT, 1984); NBR 6459 (ABNT,
necessidades exigidas com o objetivo requerido. 1984) e NBR 7180 (ABNT, 1984),
Os polímeros sintéticos são encontrados em respectivamente.
larga escala nos resíduos, estando presente em
todos objetos que se derivam do plástico, os 2.1.2 Compactação
quais em sua maioria possuem algumas
características importantes para reutilização em A compactação do solo foi realizada de acordo
larga escala, como: o baixo custo, a NBR 7182 (ABNT, 1984) na energia de
impermeabilidade, fácil acesso e em alguns Normal de Proctor no equipamento mini-
casos alta resistência a tração e/ou compressão. Proctor. Para realização do ensaio, utilizou-se
Diante disso, para avaliar a influência do um cilindro de aproximadamente 10 cm de
material de reforço, deve-se seguir um padrão altura e 5 cm de diâmetro e cerca de 500g de
de normas e técnicas, a fim de encontrar um solo, o qual foi divido em 3 amostras. Cada
ponto ótimo da quantidade e características do amostra foi colocada dentro do cilindro e
reforço proporcional ao objetivo estimado. compactada através do aparelho (6 golpes
O presente trabalho busca avaliar e analisar sequencialmente por camada). O procedimento
o comportamento de compactação e a foi repetido 5 vezes para umidades diferentes
resistência à compressão simples, de um até a obtenção da curva de compactação.
compósito de um solo residual jovem reforçado
com fibras de polipropileno dispostas 2.2 Procedimentos com as fibras
aleatoriamente, em teores de 0,5% em relação à
massa seca total, com variações no comprmento Como reforço foram utilizadas fibras de
de 15; 25 e 35mm. polipropileno provenientes de copos
descartáveis reutilizados. As fibras foram

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

226
recortadas de copos em 3 comprimentos (compressão não confinada), a fim de comparar
diferentes de 15; 25; e 35 mm, com uma o comportamento mecânico dos mesmos. Para
espessura de 2 mm, conforme mostra a Figura os compósitos solo-fibra, para cada
1. comprimento de fibra, foram moldados corpos
O tipo de reforço foi escolhido por apresentar de prova em triplicata na umidade ótima
características bem definidas e uniformes, por considerando o compósito buscando atingir a
estar disponível em grandes quantidades das máxima massa específica seca. E para o solo
mais variadas formas no mercado, além de que sem reforço moldou-se 3 corpos de provas na
pode ser obtido através do processo de umidade ótima do solo natural. As amostras
reciclagem, fatores que viabilizam a utilização foram compactados igualmente e na energia de
do mesmo para diversos de estudos e aplicações Proctor normal. Todos os corpos de prova
na engenharia. reforçados possuíam 0,5% do seu peso seco
O teor de 0,5% de fibras e o comprimento foi como teor de fibra.
definido, em razão de estudos prévios O ensaio de compressão simples foi segundo
(CASAGRANDE, 2001; FEURHARMEL, a NBR 12770 (ABNT, 1992) e foi realizado
2000 HEINECK, 2002; VENDRUSCOLO, com a aplicação de uma carga axial a uma
2003). velocidade de deformação constante (1mm/min)
conforme especificações da NBR 12770
(ABNT, 1992). Os corpos de prova foram
ensaiados na umidade ótima de compactação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Caracterização do solo

O resultado do ensaio do limite de liquidez,


bem como os dados provenientes dos ensaios de
limite de plasticidade e de massa específica real
Figura 1. Elemento de reforço utilizado dos grãos estão dispostos na Tabela 1.
2.3 Procedimento com o compósito Tabela 1. Dados referentes as propriedades do solo
estudado.
Visando avaliar o efeito da adição da fibra na Propriedades Valores
umidade ótima, foi efetuado outro ensaio de médios
compactação. Foi seguido o mesmo Limite de Liquidez 43%
procedimento descrito anteriormente e Limite de Plasticidade 34%
adicionado cerca de 0,5% de fibra de Índice de Plasticidade 9%
polipropileno em relação a massa seca de solo, Massa específica real dos 2,8g/cm3
a qual é obtida através da equação 1, onde w grãos
representa a umidade em que o solo se encontra,
Mu massa úmida e Ms massa seca. De acordo a Figura 2, o solo em questão
apresentou, segundo a classificação da NBR
𝑀𝑢
𝑀𝑠 = (1) 6502, cerca de 19% de argila, 38% silte, 40%
1+𝑤
de areia e 3% pedregulho, sendo assim
2.3.1 Ensaios de compressão simples classificado como uma areia silto-argilosa.

Após determinar os parâmetros ótimos de 3.2 Ensaios de compactação


compactação do solo com e sem reforço, foram
moldados 12 corpos de provas os quais foram A Figura 3 apresenta as curvas de compactação
submetidos ao ensaio de compressão simples para o solo sem reforço e com teor de 0,5% de

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227
fibra, na energia de compactação Normal de
Proctor. Ao analisar o gráfico, é notável que
adição de fibras não alterou significativamente
a umidade ótima do solo original, obtendo-se
uma variação de aproximadamente 2%, em
relação a massa específica houve um
decréscimo de 0,059 g/cm3.

Figura 4. Tensão x Deformação específica dos CP's de


solo natural.

3.3.1 Compósito de Solo Reforçado (CR) com


0,5% de fibras de 15 mm de comprimento

Figura 2. Curva granulométrica do solo estudado De acordo com o Figura 5, a deformação


específica na ruptura diminuiu para 3,3% e a
Um fato importante com relação a tensão máxima média foi de 329,83 KPa.
compactação do solo com a fibra foi a
dificuldade na realização e cálculo do ensaio.
Possivelmente, a presença das fibras dificulta o
processo de compactação. Fato este que pode
ser verificado através da redução da massa
específica seca máxima.

Figura 5. Tensão x Deformação específica dos CP's de


solo com reforço de fibras de 15 mm de comprimento.

3.3.2 Compósito de Solo Reforçado com 0,5%


de fibras de polipropileno de 25 mm de
Figura 3. Curvas de compactação para solo natural e com comprimento
reforço.
Como mostra a Figura 6, para o compósito de
3.3 Comportamento Mecânico do Solo e dos solo reforçado com fibras de 25 mm notou-se
Compósitos que a tensão máxima média chegou a 354,8
KPa, enquanto que sua deformação específica
Conforme ilustra a Figura 4, o corpo de prova na ruptura foi de 3,8%.
(CP) de solo sem reforço (SR) rompido,
apresentou o valor médio de resistência à 3.3.3 Compósito de Solo Reforçado com 0,5%
compressão simples de 295,9 kPa para uma de fibras de polipropileno de 35 mm de
deformação específica na ruptura de 6,00%. comprimento.

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228
Ao realizar o último ensaio, pode-se inferir que Figura 9 apresenta todos os ensaios no mesmo
o a tensão média máxima atingiu 375,9 KPa gráfico.
enquanto sua deformação específica na ruptura
foi de 3,47%, na Figura 7.

Figura 8. Comparação entre as tensões máximas dos


compósitos com o solo natural.

Figura 6. Tensão x Deformação específica dos CP's de


solo com reforço de fibras de 25 mm de comprimento.

Figura 9. Curvas Tensão x Deformação Específica de


todos os ensaios.

Figura 7. Tensão x Deformação Específica dos CP's de 4 CONCLUSÕES


solo com reforço de fibras de 35 mm de comprimento.
4.1 Solo estudado

3.4 Comparação entre o solo natural e os A partir dos dados obtidos através do processo
compósitos de caracterização do solo, pode-se inferir que o
mesmo foi classificado como uma areia silto-
De acordo com a Figura 8, observa-se que a argilosa, apresentando altas concentrações de
tensão média máxima do solo reforçado silte (38%) os quais normalmente estão
aumentou gradativamente com o acréscimo no associados comportamento mecânico ruim.
comprimento das fibras. Assim ao comparar Os parâmetros ótimos obtidos para
com solo natural o aumento foi de: 11,4; 19,90 compactação do solo natural foram de 22% e
e 27,04%, para reforços com 15; 25 e 35 mm de 1,595 g/cm3 referentes a umidade ótima e massa
comprimento, o que significa que o reforço específica seca máxima e de 20% e 1,536 g/cm3
utilizado promoveu aumento na resistência à para o solo reforçado.
compressão. Foi observado também que houve
um decréscimo de 2,7; 2,2 e 2,53%, 4.2 Comparação do efeito da adição do reforço
respectivamente, na deformação específica em no solo
relação à tensão máxima. Isso representa que
em relação ao comprimento original, o corpo de • A adição de fibras de polipropileno
prova deformou menos para maiores tensões. A contribuiu para melhoria da resistência
compressão simples do solo estudado, sendo

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

229
este aumento mais pronunciado para os Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
maiores comprimentos de fibras. Essa UFRGS.
HEINECK, K.S. Estudo do comportamento hidráulico e
melhoria foi considerada satisfatória e mecânico de materiais geotécnicos para barreiras
sustentável, pois o reforço utilizado é um tipo horizontais. Porto Alegre, 2002. 251p. Tese
de resíduo proveniente de copos descartáveis (Doutorado em Engenharia) – Programa de Pós
que seriam descartados; Graduação em Engenharia Civil da UFRGS.
• Para esse material, contrariando VENDRUSCOLO, M.A. Comportamento de ensaios de
placa em camadas de solo melhoradas com cimento e
trabalhos anteriores, foi observado que a fibras de polipropileno. Porto Alegre, 2003. 224p.
inserção de fibras de polipropileno diminuiu a Tese (Doutorado em Engenharia) - Programa de Pós-
deformação específica na ruptura do solo em Graduação em Engenharia Civil da UFRGS.
até 45%, conferindo-lhe mais rigidez;
• Em geral as fibras de 25 e 35 mm de
comprimento viabilizaram ao solo maior
estabilidade pós-ruptura, fato observado
através diminuição na inclinação das curvas
ao atingirem a tensão máxima, oferecendo
maior estabilidade aos corpos de prova;
• Observou-se ainda que a compactação é
prejudicada quando da adição das fibras, o
que se reflete na curva de compactação.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.


Amostras de solo – Preparação para ensaio de
compactação e ensaios de caracterização: NBR 6457.
Rio de Janeiro, 1986.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Solo
– Determinação do Limite de Liquidez: NBR 6459.
Rio de Janeiro, 1984.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Solo
– Análise Granulométrica – Rochas e Solos: NBR
6502. Rio de Janeiro, 1995.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Solo
– Determinação de Massa Específica: NBR 6508. Rio
de Janeiro, 1984.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Solo
– Determinação do Limite de Plasticidade NBR 7180.
Rio de Janeiro, 1984.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Solo
– Análise Granulométrica: NBR 7181. Rio de Janeiro,
1984.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Solo
– Ensaio de Compactação: NBR 7182. Rio de
Janeiro/RJ.
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comportamento de um solo reforçado com fibras de
polipropileno visando o uso como base de fundações
superficiais. Porto Alegre, 2001, 95p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós
Graduação em Engenharia Civil da UFRGS.
FEUERHARMEL, M.R. Comportamento de solos
reforçados com fibras de polipropileno. Porto Alegre,
2000. 131p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) –

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

230
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise Experimental do Comportamento Mecânico de Solo Típico


da Região de Urucu/AM Reforçado com Geossintético
Juliano Rodrigues Spínola
Grupo de Pesquisas em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil, julianospinola10@gmail.com

Alex Gomes Pereira


Grupo de Pesquisas em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil, alexgp88@hotmail.com

Fábio dos Santos Gusmão


Grupo de Pesquisas em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil, fabiosgusmao67@gmail.com

Roberto Rosselini Ferreira da Silva


Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Brasil, obertor@hotmail.com

Cláudia Ávila Barbosa


Grupo de Pesquisas em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil, claudiaavila.eng@hotmail.com

Consuelo Alves da Frota


Grupo de Pesquisas em Geotecnia (GEOTEC), Manaus, Brasil, cafrota@ufam.edu.br

RESUMO: Pesquisou-se a influência da inserção de uma geogrelha sobre os parâmetros de ruptura


ao cisalhamento (coesão e ângulo de atrito) em solo típico da região de Urucu, situada no município
de Coari/AM. O programa experimental consisitiu de ensaios de cisalhamento direto convencional e
inundado, em amostras com solo natural e composições solo-geogrelha em duas posições distintas,
quais sejam no centro e na base do corpo de prova. Os resultados registraram um padrão de variação
nos parâmetros de ruptura ao cisalhamento. A composição solo-geogrelha (centro) apresentou coesão
inferior às demais formulações, porém com maior ângulo de atrito, nas duas condições de ensaio
avaliadas. O efeito da inundação refletiu-se numa queda considerável do intercepto de coesão,
acompanhado de acréscimos nos valores de ângulo de atrito, similares resultados aos verificados na
literatura.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelha, Cisalhamento direto, Coesão, Ângulo de atrito.

ABSTRACT: This research aimed to study the influence of the insertion of a geogrid on the
parameters of shear rupture (cohesion and friction angle) in typical soil of the Urucu region, located
in Coari/AM. The experimental program consisted of conventional and flooded direct shear tests in
samples with natural soil and soil-geogrid compositions in two different positions, which are in the
center and in the base of the specimens. The results showed a pattern of variation in the parameters
of shear rupture. The soil-geogrid composition (center) presented lower cohesion than the other
formulations, but with a higher friction angle, in the two test conditions evaluated. The effect of the
flooding was reflected in a considerable decrease of the cohesion intercept, accompanied by increases
in the friction angle values, similar results to those verified in the literature.

KEY WORDS: Geogrid, Direct shear, Cohesion, Angle of friction.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

231
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAIS E MÉTODOS

Segundo a Confederação Nacional do 2.1 Materiais


Transporte (2018), o modal rodoviário tem se
mostrado como prioritário na preferência dos 2.1.1 Solo
usuários. Sendo assim, a estrutura de um
pavimento deve ser capaz de oferecer conforto, Utilizou-se o solo proveniente da Base de
segurança e identificar-se como uma alternativa Operações Geólogo Pedro de Moura (BOGPM),
economicamente viável para obras de situada na Província Petrolífera de Urucu, no
pavimentação, sendo esta última condição um Munícipio de Coari/AM, a 650 km de Manaus,
grande desafio para o Estado do Amazonas. (Figura 1).
LIMA (2017) corrobora que o retrospecto Procedeu-se a coleta de amostras deformadas,
histórico dos pavimentos de uma fração posteriormente foram acondicionadas em sacos
expressiva dos municípios do Amazonas de 50 kg para serem transportadas à capital do
comprova falência estrutural precoce, em Estado do Amazonas. O transporte se deu por
virtude, especialmente, da escassez de materiais balsas, de Urucu até Manaus, com local de
pétreos para compor as camadas dessas destino o depósito de materiais do Grupo de
estruturas e de subcamadas, em regra, com baixo Pesquisas em Geotecnia – GEOTEC da
suporte. Cita-se, como exemplo, o sistema viário Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
da Base Petrolífera da Petrobras, em Urucu, no Após secagem prévia, as amostras foram
Município de Coari/AM. preparadas para ensaios de acordo com as
Nestas circunstâncias, a fim de reduzir ou recomendações da NBR 6457, ABNT (2016).
minimizar tais problemas, tem-se alternativas
com grande potencial econômico, tal como o
reforço das subcamadas dos pavimentos com
geossintéticos. Esses materiais mostram muita
versatilidade quanto à sua utilização, custo
relativamente baixo e facilidade construtiva
apreciável, motivando-se a ocuparem cada vez
mais espaço no âmbito da Engenharia
Geotécnica. Tratam-se de materiais que
apresentam empregabilidade variada, respeitante
à reforço de solos, drenagem e filtração, bem
como funções de desempenho relacionadas a
controle de erosão ou proteção de maciços
(SIEIRA, 2003).
Com base no exposto, o estudo em pauta Figura 1. Solo proveniente da região de Urucu/AM.
investigou a interação entre a geogrelha
MacGrid® NET e uma argila silto-arenosa 2.1.2 Geossintético
característica da região de Urucu, visando o seu
emprego em subcamadas de pavimentos. Participou como geossintético a geogrelha
Analisar-se-á o comportamento mecânico por MacGrid® NET, doada pela empresa
meio de ensaios de cisalhamento direto nas Maccaferri® Latin America, em formato de rolo
condições natural e inundada, com o fito de se com comprimento de 50 metros, peso líquido de
ponderar os parâmetros de ruptura ao 21,0 kg e peso bruto totalizando 22,4 kg.
cisalhamento atinentes às configurações de solo Consoante FIGUEIREDO (2017), constitui-se
natural e solo-geogrelha. em um tecido produzido a partir de filamentos de
poliéster de alta tenacidade que, com baixos
valores de alongamento, mobilizam elevada
resistência à tração. Visualiza-se este material na

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

232
Figura 2 e suas respectivas propriedades na 2.3 Comportamento Mecânico
Tabela 1.
Confeccionaram-se os corpos de prova nas
condições de umidade ótima e massa específica
aparente seca máxima (Figura 3A), para o solo
natural e configurações alternativas, quais sejam
com a geogrelha no centro e na base do corpo de
prova, executando-se sempre o controle de
umidade para preservar as condições
representativas de ensaio. A determinação da
massa dos CPs seguiu a equação (1).

𝑀 = 𝐺𝐶 . γd . (𝑤ot + 1) . 𝑉𝑚𝑜𝑙𝑑𝑒 (1)

Onde:
M = massa do corpo de prova, em gramas; GC =
Figura 2. Rolo de geogrelha MacGrid® NET. grau de compactação, adotado como 100%; γd =
massa específica aparente seca máxima em
Tabela 1: Propriedades da geogrelha MacGrid® NET g/cm³; 𝑤ot = umidade ótima, em %; 𝑉𝑚𝑜𝑙𝑑𝑒 =
(FIGUEIREDO, 2017). volume do molde em cm³.
Propriedades Mecânicas Após a moldagem das amostras, as mesmas
Resistencia longitudinal à tração foram inseridas no equipamento de cisalhamento
kN/m 45
última (ASTM D 6637) direto (Figura 3B), conforme recomendações da
Resistência transversal à tração última
kN/m 45
D 3080, ASTM (2004). Ressalta-se que, para
(ASTM D 6637) realização do ensaio na condição inundada,
Alongamento na resistência à tração preencheu-se a câmara onde se posiciona a caixa
% 35
última (ASTM D 6637) de cisalhamento, ilustrada na Figura 3C, com
Resistência ao puncionamento CBR água do sistema de distribuição.
kN 3,4
(ASTM D 6241)
A realização dos experimentos ocorreu a uma
Resistência ao rasgo trapezoidal
kN 1,7 taxa de 1 mm/min e, em conformidade, com os
(ASTM D 4533)
seguintes valores de tensão normal: 50, 100, 150
Propriedades Físicas
e 200 kPa. Traçou-se a envoltória de Coulomb
Gramatura (ASTM D 5261) g/m² 200 para posterior obtenção dos parâmetros de
Espessura (ASTM D 6525) mm 0,5 ruptura, isto é, ângulo de atrito e coesão.
Propriedades Hidráulicas
Permissividade (ASTM D 4491) s 0,7
Permeabilidade (ASTM D 4491) cm/s 0,04

2.2 Caracterização Geotécnica

Realizaram-se os ensaios de consistência, a fim


de se determinar os parâmetros pertinentes ao
solo pesquisado. O limite de liquidez seguiu as
prescrições da NBR 6459, ABNT (2016) e o
limite de plasticidade acompanhou a norma NBR
7180, ABNT (2016). Alusivo a análise
granulométrica, conduziu-se de acordo com a
NBR 7181, ABNT (2016). O ensaio de
compactação, por sua vez, realizou-se na energia Figura 3. A) Amostra confeccionada no molde de
de compactação do Proctor modificado, em cisalhamento. B) Equipamento de cisalhamento direto
conformidade com a NBR 7182, ABNT (2016). (LMS/UFAM). C) Ensaio inundado.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

233
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Além disso, apresenta-se na Figura 6, o
resultado do ensaio de compactação do solo.
3.1 Caracterização Geotécnica Certifica-se um peso específico aparente seco
máximo aproximado de 1,62 g/cm³,
Na Figura 4, tem-se a curva de distribuição correspondente ao teor ótimo de umidade igual a
granulométrica, que representa o solo natural 23%.
com 61,97% de argila, 25,91% de silte, e 8,92%
de areia. Estabelecendo-se, portanto, sua 1,64

Massa Específica Aparente Seca


nomenclatura como argila silto-arenosa. A cabo 1,62
dessas informações, o solo enquadrou-se como
1,60
A-7-5 e MH, pelas orientações da AASHTO e
especificações do Sistema Unificado de 1,58

(g/cm³)
Classificação de Solos (SUCS), respectivamente 1,56
(DAS, 2014). Destaca-se, dessa forma, que tal 1,54 R² = 0,9913
resultado designa um material mediano a ruim
1,52
como subleito.
1,50
16% 21% 26% 31%
100% Umidade (%)
Material Passante (%)

80% Figura 6. Curva de compactação do solo natural.


60%
Salienta-se que as verificações de controle de
40% umidade realizaram-se antes da moldagem das
amostras, com a massa de solo recém
20% homogeneizada. Também após a desforma,
0% pesavam-se os corpos de prova para posterior
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 conferência do grau de compactação. Como
Diâmetro (mm) resultado, obteve-se um teor de umidade médio
de 23,10%, determinando um grau de
Figura 4. Curva granulométrica do solo natural. compactação médio correspondente de 100,4%.
Referente aos Limites de Atterberg, estes 3.2 Comportamento Mecânico
apontaram 73,66% e 46,78% concernentes ao
limite de liquidez (Figura 5) e de plasticidade, 3.2.1 Envoltórias de resistência
respectivamente. Por conseguinte, obteve-se
para o índice de plasticidade (IP) o valor igual a A partir da realização do ensaio de cisalhamento
26,88%, tipificando o material com plasticidade direto nas condições não inundada e inundada,
alta (DAS, 2014). obtiveram-se os valores de tensão cisalhante de
ruptura, à medida em que se alternavam as
tensões normais. Dessa forma, determinaram-se
30
as envoltórias de resistência para as duas
N° de Golpes

condições de ensaio.
20
Pelos resultados presentes na Figura 7, bem
como na Tabela 2, pode-se observar os valores
dos parâmetros de ruptura ao cisalhamento
(coesão e ângulo de atrito), de acordo com as
10
60 70 80 90
retas de Coulomb resultantes, para cada
Umidade (%)
formulação pesquisada. Em geral, nota-se
comportamento linear similar, com interceptos
Figura 5. Curva de fluidez do solo natural. de coesão bem pronunciados devido à natureza
do solo estudado.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

234
350 Comportamento semelhante registrou-se em
REDDY et al. (2018). Neste trabalho, os autores
300 avaliaram os parâmetros de resistência na
Tensão Cisalhante (kPa)

250
interface entre solos argilosos e geossintéticos,
por meio do ensaio de cisalhamento direto, e nas
200 mesmas tensões normais avaliadas no presente
estudo. Para o solo natural, encontraram para
150
coesão e ângulo de atrito, valores de 93 kPa e
100 31,8°, respectivamente. Após a inserção de um
geotêxtil na interface entre as camadas, a
50 diferença de intercepto coesivo foi de 63 kPa,
0
diminuindo de 93 kPa para 30 kPa, ao passo que
0 50 100 150 200 250 o ângulo de atrito cresceu 13,8°, atingindo o
Tensão Normal (kPa) valor de 45,6°. Com respeito à incorporação da
Solo Natural
geogrelha, os autores evidenciaram uma queda
R² = 0,9796
de 32 kPa, variando de 93 para 61 kPa, enquanto
R² = 0,9811 Solo-Geogrelha (centro) o ângulo de atrito resultou acréscimo de 39,6°,
passando de 31,8° para 71,4°. Nessas
R² = 0,9716 Solo-Geogrelha (base) circunstâncias, justifica-se as diferenças obtidas,
principalmente, pelo tipo de solo e geossintético
Figura 7. Envoltórias de resistência das composições na utilizados nas pesquisas.
condição não inundada.
Nas Figuras 8A e 8B, tem-se fotos do plano e
Tabela 2: Coesão e ângulo de atrito das formulações na linha de ruptura, respectivamente, da amostra
condição não inundada. com a geogrelha centralizada em sua estrutura,
Condição não inundada imediatamente após a execução do ensaio. A
Composição Coesão Ângulo de Figura 8C, por sua vez, ilustra a disposição do
(kPa) atrito (°) geossintético entre as camadas de solo.
Solo Natural 174,29 29,72 Explica-se a superioridade encontrada na
magnitude dos ângulos de atrito verificados para
Solo-Geogrelha (centro) 130,96 39,06
composição solo-geogrelha (centro), devido ao
Solo-Geogrelha (base) 206,66 26,34
entrosamento do geossintético com o solo. Tal
ocorrrência pode ser justificada pelo mecanismo
No ensaio não inundado, notou-se que para a de transferência de atrito de acordo com a
composição solo-geogrelha (base), o intercepto flexibilidade da geogrelha. Segundo
coesivo mostrou moderado acréscimo, quando O’ROURKE et al. (1990), as partículas de solo
comparado com o solo natural e com a tendem a rolar sobre a superfície, o que induz a
formulação solo-geogrelha (centro). Em termos concentrações de tensões, responsáveis por
percentuais, a presença do geossintético gerou maiores ângulos de atrito.
um decréscimo de 24,86%, quando colocado no Por outro lado, para as composições de solo
centro da amostra, e um aumento de 18,57%, natural e solo-geogrelha (base), este parâmetro
posicionado em sua base, ambos relativos ao manteve-se reduzido, porém com um intercepto
solo natural. coesivo consideravelmente superior, visto que as
No tocante ao ângulo de atrito, verificou-se partículas de solo encontravam-se fortemente
certa diferença após a participação da geogrelha. agrupadas pelo processo de compactação.
Sublinha-se que a composição solo-geogrelha
(centro) forneceu um ângulo de atrito de 39,06°,
enquanto que a formulação solo-geogrelha
(base) acusou 26,34°. Confrontadas com o solo
natural, a diferença foi de 9,34° e 3,38°,
respectivamente.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

235
41,38°, ao passo que a solo-geogrelha (base)
acusou 29,61°. Ou seja, quando comparadas com
o solo natural, a primeira formulação variou de
2,73° e a segunda de 9,04°.

300

250

Tensão Cisalhante (kPa))


200

150

100

50

0
0 50 100 150 200 250
Tensão Normal (kPa)
R² = 0,981 Solo Natural

R² = 0,9937 Solo-Geogrelha (centro)

R² = 0,9496 Solo-Geogrelha (base)

Figura 9. Envoltórias de resistência das composições na


condição inundada.

Tabela 3: Coesão e ângulo de atrito das formulações na


condição inundada.
Condição inundada
Composição Coesão Ângulo de
(kPa) atrito (°)
Solo Natural 106,28 38,65
Figura 8. A) Detalhe do plano de ruptura solo-geogrelha Solo-Geogrelha (centro) 43,00 41,38
imediatamente após execução do ensaio. B) Linha de Solo-Geogrelha (base) 140,12 29,61
ruptura em face do corpo de prova. C) Disposição do
geossintético entre camadas de solo.
3.2.2 Efeito da inundação nos parâmetros de
Quanto ao ensaio inundado, o comportamento ruptura ao cisalhamento
típico das retas de Coulomb para as composições
estudadas são expostos na Figura 9 e Tabela 3. O efeito da inundação refletiu-se numa queda
De certa forma, o padrão de variação considerável do intercepto de coesão, uma vez
encontrado para os parâmetros de ruptura ao que as magnitudes das tensões cisalhantes foram
cisalhamento nessa modalidade permaneceu inferiores àquelas do ensaio não inundado. De
praticamente inalterado, uma vez que o outra parte, obtiveram-se ângulos de atrito
intercepto coesivo da composição solo- relativamente maiores, haja vista a inclinação
geogrelha (base) continuou superior ao do solo das linhas de tendência nos gráficos outrora
natural, acrescendo-se em 31,84%, enquanto que apresentados.
a formulação solo-geogrelha (centro) exibiu uma Na Tabela 4, aponta-se em termos
redução considerável de 59,54%. Respeitante ao percentuais, as variações dos parâmetros de
ângulo de atrito, constatou-se que a composição ruptura ao cisalhamento após a inundação dos
solo-geogrelha (centro) forneceu um valor de corpos de prova.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

236
Tabela 4: Variação percentual dos parâmetros de ruptura ângulos de atrito, em relação às demais
ao cisalhamento após inundação. configurações, nas duas condições de ensaio
Variação Percentual (%) pesquisadas. Além disso, notou-se que os valores
Composição Coesão Ângulo de dos ângulos de atrito da formulação solo-
(kPa) atrito (°) geogrelha (base) foram ligeiramente inferiores
Solo Natural 39,02 30,05 aos da composição contendo apenas o solo
Solo-Geogrelha (centro) 67,17 5,94
natural. Ademais, ressalta-se que o efeito devido
à inundação foi mais pronunciado no intercepto
Solo-Geogrelha (base) 32,20 12,41 de coesão da formulação solo-geogrelha
(centro), juntamente com os acréscimos
Tendo em vista as variações negativas para os decorrentes nos valores de ângulo de atrito para
interceptos de coesão, e positivas para os ângulos todas as composições. Por conseguinte, pôde-se
de atrito, percebe-se notadamente que a maior verificar que a inundação acarretou efeito similar
variação percentual refere-se à composição solo- demonstrado nos resultados típicos da literatura,
geogrelha (centro), de 67,17%, logo, uma apesar da distinção entre a granulometria dos
redução de 87,96 kPa. Por outro lado, constata- solos e dos tipos de geossintéticos utilizados.
se que a maior variação de ângulo de atrito foi
aquela atinente ao solo natural (30,05%), o qual AGRADECIMENTOS
passou de 29,62° para 38,65°. Nesse cenário,
pode-se inferir a influência da água sobre a Os autores agradecem à empresa Maccaferri®
resposta do corpo de prova à solicitação de Latin America pela doação da geogrelha
cisalhamento, mesmo frente à velocidade de MacGrid® NET.
ensaio.
Complementa-se que o teor de umidade REFERÊNCIAS
médio dos corpos de prova imediatamente após
a execução do ensaio de CD inundado, foi de ABNT (2016). NBR 6457: Amostras de Solo –
28,05%. Confrontando este dado com o teor de Preparação para ensaios de compactação e ensaios de
umidade médio durante a compactação das caracterização. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
amostras (23,10%), atingiu-se uma variação de ABNT (2016). NBR 6459: Solo – Determinação do Limite
4,95%. de Liquidez. Associação Brasileira De Normas
Pelo exposto, tem-se que os resultados são Técnicas, Rio de Janeiro.
coerentes com os trabalhos divulgados na ABNT (2016). NBR 7180: Solo – Determinação do limite
literatura. Cita-se por exemplo, VIECILI (2003) de plasticidade. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
que pesquisou o comportamento dos parâmetros ABNT (2016). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
de ruptura de duas argilas residuais da região de Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Ijuí/RS, nas condições natural e inundada, por Janeiro.
meio do ensaio de cisalhamento direto. Assim, ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
como no estudo até aqui desenvolvido, ambos os Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro.
solos apresentaram decréscimo de intercepto ASTM (2004). ASTM D 3080: Standard Test Method for
coesivo, com subsequente aumento do ângulo de Direct Shear Test of Soils Under Consolidated
atrito após a inundação. Drained Conditions. American Standards Test and
Materials, USA.
CNT. Confederação Nacional de Transportes. Pesquisa
CNT de Rodovias 2018: relatório gerencial. - Brasília:
4 CONCLUSÃO CNT: SEST SENAT, 2018.
Das, B. (2014). Fundamentos de Engenharia Geotécnica.
Por meio dos resultados, verificou-se que o 2a. ed. São Paulo: Cengage Learning.
comportamento dos parâmetros de resistência ao Figueiredo, P. V. C. (2017). Estudo de Geossintéticos em
cisalhamento depende principalmente do Subcamadas de Pavimentos. Trabalho de Conclusão de
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Nesse sentido, a composição solo-geogrelha Resíduos Industriais, sob Flexão a Quatro Pontos,
(centro) foi a que registrou maiores valores de para Construção de Pavimentos Flexíveis. Dissertação

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de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciência
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116, n. 4, p. 451-469.
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Mecanismos de Interação Solo-Geogrelha. Rio de
Janeiro: PUC, Departamento de Engenharia Civil.
Viecili, C. (2003). Estudo de Geossintéticos em
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Curso, Universidade Federal do Amazonas, 76p.

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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise Numérica de Deslocamentos em Solo Reforçado com


Geotêxtil
Laura de Lima Santos
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil, laauraela@gmail.com

Giovana Bizão Georgetti


Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil, ggeorgetti@ufu.br

RESUMO: A análise de deformações ou deslocamentos não é rotineiramente considerada em


projetos geotécnicos. Contudo, tal análise implica na redução de incertezas associadas ao
comportamento dos materiais envolvidos e é atualmente facilitada pela disponibilidade de
programas computacionais comerciais. Este trabalho apresenta a verificação de tensões e
deslocamentos em uma estrutura de contenção em solo reforçado com um geotêxtil não-tecido, por
meio de análise numérica. A estrutura foi projetada com um solo areno-argiloso de Uberlândia-MG,
tem 4,0 m de altura livre, face vertical e um comprimento de reforço de 4,5 m. A verificação dos
deslocamentos no muro foi realizada através do software de elementos finitos RS2 e também
segundo o método da curva empírica. A partir das análises numéricas, os maiores deslocamentos
total e horizontal foram encontrados na crista do muro, sendo predominante o efeito da parcela
vertical sobre o deslocamento total. O deslocamento horizontal máximo foi quase metade do obtido
pela da curva empírica. No entanto, a distorção na face do muro se manteve próxima de valores
encontrados na literatura e também dentro do limite tolerável, indicando resultados satisfatórios na
modelagem numérica.

PALAVRAS-CHAVE: Solo reforçado, Geotêxtil, Modelagem numérica, Deslocamentos.

ABSTRACT: The analysis of strains or displacements is not routinely considered in geotechnical


projects. However, such analysis implies the reduction of uncertainties associated with the behavior
of the materials involved and is currently facilitated by the availability of commercial softwares.
This study presents the verification of stresses and displacements of a non-woven geotextile
reinforced soil as a retaining structure through numerical analysis. The structure was designed with
a clayey sand from Uberlândia-MG, has 4.0 m of free height, vertical face and 4.5 m of
reinforcement length. The verification of displacements in the structure was made through the finite
element software RS2 and using the empirical curve method. From the numerical analysis, the
largest values of total and horizontal displacements were found at the crest of the wall, being
predominant the effect of the vertical portion on the total displacement. The maximum horizontal
displacement was almost half the one obtained from the empirical curve. However, the distortion on
the wall face was close to values found in literature and in a tolerable limit, indicating satisfactory
results from the numerical analysis.

KEY WORDS: Reinforced soil, Geotextile, Numerical Modeling, Displacements.

1 INTRODUÇÃO de técnicas de intervenção no terreno para


viabilizá-las. Neste contexto, o reforço de solos
A restrição de espaço para construções em possibilita a utilização de solos locais mesmo
regiões urbanizadas requer da engenharia em casos de baixa capacidade de suporte.
geotécnica o desenvolvimento e aprimoramento

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

239
A aplicação de geossintéticos para este fim compactado foram obtidas de Alves (2017) e
apresenta-se como mais rápida, confiável e são apresentadas na Tabela 1. O geotêxtil usado
econômica em relação às técnicas mais foi o não-tecido Geofort G-400, cujas
tradicionais (Vertematti, 2015). Os propriedades foram obtidas de Pedroso (2000) e
geossintéticos atuam no sentido de restringir encontram-se na Tabela 2.
deformações excessivas e oferecer resistência
ao maciço de solo, sendo o geotêxtil um dos
tipos empregados com essa finalidade.
No que se refere aos deslocamentos e
deformações em obras de contenção e reforço
de solos, estes assumem importância não só
pelo aspecto de desempenho das obras, mas
também pelo conforto do usuário. As causas de
deslocamentos podem ser de origem externa à
estrutura, como recalques na base, rotações por
excentricidades de cargas, distorção e
deslizamento da massa de solo reforçado devido
ao empuxo de terra no maciço não reforçado, ou Figura 1. Geometria da estrutura de solo reforçado.
internas, como as deformações dos reforços
provocadas por tração. Tabela 1. Características do solo.
Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi Indeformado Compactado
analisar tensões e deslocamentos no projeto de Peso específico (kN/m³) 17,2 18,9
uma estrutura de solo envelopado por meio de Coesão (kPa) 12,0 15,3
Ângulo de atrito (°) 31 37
análise numérica. Com isso, verificando-se a
aplicabilidade desta técnica de solo reforçado
Tabela 2. Características do geotêxtil.
em situações nas quais são impostos limites
Gramatura (g/m²) 400
rigorosos de deslocamentos na estrutura,
Espessura nominal (mm) 3,80
enfatizando a importância da verificação de
Resistência à tração longitudinal (kN/m) 24,75
deslocamentos em estruturas geotécnicas.
Módulo secante - 5% de deformação (kN/m) 40

2 GEOMETRIA DA ESTRUTURA DE Para atender aos requisitos de estabilidade


CONTENÇÃO interna e externa considerando o equilíbrio
limite, foram usadas 17 inclusões de geotêxtil
A estrutura de contenção em estudo, em solo com comprimento de 4,5 m e espaçamento
envelopado, foi idealizada a partir da vertical variando entre 0,20 e 0,50 m.
necessidade de alargamento de uma rodovia sob
um viaduto no município de Uberlândia-MG.
Para execução do alargamento, um talude 3 ESTIMATIVA DE DESLOCAMENTO
natural foi substituído por uma estrutura de MÁXIMO
contenção com face subvertical.
Para o dimensionamento da estrutura de solo Uma análise preliminar de deslocamentos de
reforçado com geotêxtil, foram considerados curto prazo na face da estrutura foi realizada
um desnível de 4,0 m no terreno, um com base no método da curva empírica de Elias
embutimento da estrutura de 0,5 m, uma et al. (2001). O método foi baseado em
sobrecarga de 20 kPa na superfície (ABNT, medições feitas em muros de até 6 m de altura e
2009) e nenhum elemento de face, como pode é aplicado em função da altura do muro e do
ser visto na Figura 1. comprimento do reforço. A partir da curva
O solo de enchimento foi o próprio material mostrada na Figura 2, pode-se estimar de
escavado, que se trata de uma areia argilosa. As maneira simplificada o máximo deslocamento
características do terreno indeformado e do solo horizontal (u máx ) de estruturas de solo

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240
reforçado. Elias et al. (2001) sugerem que a • Estágio 2 - escavação da área a ser
cada 20 kPa de sobrecarga, o deslocamento reforçada, na qual é gerado alívio de
horizontal seja acrescido em 25%. tensões no maciço;
Sendo o geotêxtil um reforço extensível, • Estágio 3 - instalação dos reforços e
para o caso em questão tem-se um reaterro, não sendo computados os
deslocamento horizontal máximo de 3,7 cm. esforços gerados por compactação;
• Estágio 4 - aplicação de sobrecarga sobre
os maciços reforçado e indeformado.
A malha de elementos finitos foi triangular
com 6 nós, com maior densidade de elementos
na região reforçada, resultando em 1957
elementos para o estágio 1, 1046 para o estágio
2 e 1718 para os dois últimos. A Figura 3 ilustra
a distribuição da malha no estágio 4.
Quanto aos materiais e propriedades, foram
usados os dados das Tabelas 1 e 2; o solo foi
Figura 2. Curva empírica para estimativa do considerado elástico e isotrópico com módulo
deslocamento horizontal máximo (Elias et al., 2001). de 35,6 MPa e coeficiente de Poisson 0,3; e o
elemento de reforço foi definido como o
geotêxtil, de comportamento plástico, entre dois
4 ANÁLISE NUMÉRICA elementos de junta.
Para a análise de tensões, as tensões
A análise numérica de tensões e deslocamentos principais maiores (denominadas Sigma 1)
foi realizada no software RS2 (Rocscience, foram analisadas nos estágios a fim de se
2018), que é um programa de elementos finitos acompanhar sua evolução. As tensões
para análises bidimensionais em solos e rochas. registradas foram oriundas do peso próprio do
Para este estudo, optou-se por uma análise em solo e também das tensões in situ geradas nos
quatro estágios: diferentes estágios. Já para a análise de
• Estágio 1 - condição inicial, que retrata o deslocamentos, foram verificados os
terreno natural, ainda sem quaisquer deslocamentos totais e horizontais em cada
interferências construtivas, com superfície estágio.
horizontal na cota do topo do muro;

Figura 3. Malha de elementos finitos no estágio 4.

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241
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Tensões

Os estágios de carregamento 1 e 2 foram


usados somente para estabelecer a condição
inicial do maciço para a construção e por isso os
estágios 3 e 4 serão analisados tendo como
referencial o estágio 2
Nas Figuras 4 e 5 encontram-se os valores de
tensão principal maior após a construção do
aterro de solo reforçado (estágio 3) e após a
aplicação da sobrecarga (estágio 4). Verificam-
se em ambos os casos tensões crescentes com a
profundidade do terreno, com concentração nos
cantos da zona reforçada. As tensões no terreno
Figura 5. Tensões no estágio 4 com relação ao estágio 2 –
indeformado à frente do muro foram maiores Acréscimo de sobrecarga.
que zero devido à ação do empuxo. Tensões
menores que zero são observadas localmente no
topo do muro, mas são suficientemente 5.2 Deslocamentos
pequenas para serem suportadas pela coesão do
solo. Os deslocamentos totais calculados na análise
numérica para o estágio 4 encontram-se na
Figura 6, onde também é mostrada a
configuração deformada do muro, em contorno
cinza. A Figura 7 apresenta as parcelas
horizontais dos deslocamentos.

Figura 4. Tensões no estágio 3 com relação ao estágio 2 –


Instalação dos reforços e reaterro.

Com a aplicação da sobrecarga (Figura 5)


houve um acréscimo de tensões em todo o
maciço, sendo mais sutil para as áreas mais
Figura 6. Deslocamentos totais.
afastadas da região de aplicação de carga. Nesta
configuração final, a tensão média na base da
Destes resultados, tem-se que o
estrutura reforçada ficou em torno de 135 kPa.
deslocamento total máximo foi registrado na
Comparando-se este valor com a tensão na base
crista do muro e ficou em torno de 39 mm.
do muro que foi calculada na verificação da
Decompondo este vetor nas direções horizontal
capacidade de carga (q r = 129,86 kPa), tem-se
e vertical, obtém-se os deslocamentos de 8 e 38
uma razoável aproximação de resultados.

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242
mm, respectivamente, que podem ser elevados devem-se ao posicionamento da
confrontados com recomendações normativas. sobrecarga muito próximo à face do muro, o
A norma britânica (BSI, 2011), por exemplo, que poderia ser solucionado aumentando a
recomenda que as estruturas de solo reforçado rigidez da estrutura e promovendo alguma
respeitem a tolerância de deslocamento vertical inclinação na face.
de mais ou menos 5 mm por metro de altura de Já para o deslocamento horizontal, a
estrutura, ou seja, 20 mm para o caso em tolerância indicada por BSI (2011) é de mais ou
questão. Logo, esse limite não foi respeitado, menos 15 mm a partir do alinhamento de
sendo o valor fornecido pela análise numérica, referência, o que foi respeitado na estrutura
quase o dobro do permitido. analisada.
Em comparação com o método da curva
empírica, o deslocamento horizontal máximo
obtido na análise numérica corresponde a
apenas 22% dos 37 mm previstos pelo método.
Neste caso, não é possível atribuir a diferença
de valores a uma causa específica, pois ambos
os métodos – o numérico e o empírico –
possuem suas limitações.
A distorção na face do muro, calculada como
a razão entre o deslocamento total na crista e a
altura do muro foi de 1%, bem inferior ao limite
de 5% permitido para muros auto-envelopados
(Vertematti, 2015).
Pela Tabela 3 é possível analisar alguns
resultados de distorções (u/H) publicados na
literatura para muros de solo reforçado com
Figura 7. Deslocamentos horizontais. geotêxtil não-tecido, obtidos de Pedroso (2000).
Os valores de distorção previstos em todos os
Nota-se ainda que a componente de casos foram na faixa de 0,96% e 1,33%, dentro
deslocamento vertical foi quase 5 vezes a da qual também se enquadra o caso em análise.
horizontal. Deslocamentos verticais tão

Tabela 3. Deslocamentos horizontais publicados na literatura (adaptado de Pedroso, 2000).


Espaçamento H (altura da u/H u/H
Autores Inclusões Solo Tipo de face L/H
vertical (S v ) estrutura) (previsto) (medido)
Areia fina
Geotêxtil
Pedroso φ = 34° Constante
não- Envelopado 4,00 m 0,75 1,20% 0,90%
(2000) c = 9,7 kPa Sv = 50 cm
tecido
γ = 17,8 kN/m³
Argilo-arenoso
Geotêxtil
Erlich et φ = 33° Constante
não- Envelopado 4,00 m 0,70 1,33% 0,20%
al. (1994) c = 50 kPa Sv = 30 cm
tecido
γ = 15,6 kN/m³
Arenoso
Geotêxtil
Marques φ = 37° Constante
não- Alvenaria 2,00 m 1,00 0,96% 0,90%
(1994) c = 8,0 kPa Sv = 55 cm
tecido
γ = 17,0 kN/m³
Areia fina
Geotêxtil Variável
Ribeiro φ = 35° Concreto
não- Sv = 30 cm e 7,00 m 0,70 1,33% 0,33%
(1999) c = 20 kPa Projetado
tecido Sv = 60 cm
γ = 20,0 kN/m³

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243
Em todos os casos, as distorções medidas capaz de reproduzir um comportamento típico
foram ainda menores do que as previstas, o que de muro de solo reforçado com geotêxtil.
pode ser atribuído a um conservadorismo de
projeto.
Segundo Rowe & Ho (1992) apud Costa REFERÊNCIAS
(2004), os três fatores que levam a tal
conservadorismo são: receios com relação a um Alves, Y. C. Projeto de contenção e drenagem em muro
controle de construção adequado, uma vez que, de arrimo com uso de geossintéticos. 2017. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação) - Curso de
muitas vezes, os valores utilizados no Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia Civil,
dimensionamento e nas demais verificações são Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia,
inferiores aos valores reais; muitos fatores de 2017.
redução da resistência a tração do reforço são Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 11682:
adotados para considerar fatores como fluência, Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro, 2009.
British Standards Institution. BS 8006-2: Code of practice
degradação química e biológica, diminuindo for strengthened/reinforced soils. Soil nail design.
muito a resistência do reforço; e por fim, o 2011.
comportamento do muro depende de quatro Costa, C. M. L. Deformações dependentes do tempo em
elementos básicos: solo de aterro, reforço, face muros de solo reforçado com geotêxteis. 2004. Tese
e fundação, sendo que nenhum método de (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2004.
dimensionamento considera as relações entre Ehrlich, M.; Mitchell, J. K. Working stress design
esses elementos, não sendo eficazes para prever method for reinforced soil walls. Journal of
o real comportamento das estruturas. Geotechnical Engineering, ASCE, v.120, n.4, p. 625-
645, 1994.
Elias, V.; Christopher, B. R.; Berg, R. R. Mechanically
Stabilized Earth Walls and Reinforced Soil Slopes –
6 CONCLUSÃO Design & Construction Guidelines. 2001.
Marques, G. L. O. Uso de geotêxteis em muros de
Na análise numérica por método dos elementos contenção de pequeno porte. 1994. Dissertação
finitos foi possível analisar tensões e (Mestrado) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
deslocamentos em uma estrutura de solo areno- 1994.
Pedroso, E. O. Estruturas de contenção reforçadas com
argiloso reforçada com geotêxtil. Em termos de geossintéticos. 2000. Dissertação (Mestrado) – Escola
tensão principal maior, os valores se mostraram de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
razoáveis e a tensão final da base do muro foi Paulo, São Carlos, 2000.
próxima à calculada para verificação da Ribeiro, T. S. M. T.; Junior, M. C. V.; Pires, J. V.
capacidade de carga do terreno. Comportamento do aterro de solo reforçado da
encosta do Belvedere. In: CONGRESSO
Quanto aos deslocamentos, os maiores BRASILEIRO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA,
valores para deslocamento total, horizontal e IX, 1999, São Pedro. Anais…, São Paulo: ABGE,
vertical foram encontrados na crista do muro. O 1999.
deslocamento total foi predominantemente Rocscience Inc. RS2 v 9.0 – Two-dimensional elasto-
influenciado pela parcela vertical, sendo estes plastic finite element analysis for excavations and
slopes in rock or soil, Rocscience Inc., Toronto, 2018.
de 39 e 38 mm, respectivamente. O Rowe, R. K; Ho, S. K. Keynote Lecture: A review of the
deslocamento vertical de 39 mm foi superior ao behaviour of reinforced soil walls. In:
recomendado por BSI (2011), enquanto o INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON EARTH
deslocamento total permaneceu dentro do limite REINFORCEMENT PRACTICE, 1992, Fukuoka.
de tolerância. Proceedings... Balkema, v.2, p. 801-830, 1992.
Vertematti, J. C. (Coord.) Manual brasileiro de
O deslocamento horizontal máximo, de 8 mm, geossintéticos. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher,
foi 22% do previsto pela curva empírica e, a 2015. 570 p.
distorção da face calculada a partir do valor
obtido numericamente se mostrou coerente com
dados da literatura, indicando que, apesar de
simplificada em termos de aspectos
construtivos, a análise numérica realizada foi

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

244
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação numérica da influência da redução do grau de


compactação próxima à face nas tensões e deformações de muros
de solo reforçado com geossintéticos
Leone César Meireles
UFV, Viçosa, Brasil, leone.meireles@ufv.br

Mario Vicente Riccio Filho


UFJF, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@gmail.com

Heraldo Nunes Pitanga


UFV, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Roberto Lopes Ferraz


UFV, Viçosa, Brasil, rlferraz@ufv.br

Cláudio Henrique de Carvalho Silva


UFV, Viçosa, Brasil, silvac@ufv.br

RESUMO: Atualmente, há vários estudos, sejam experimentais ou numéricos, que objetivam


identificar os fatores que influenciam no comportamento mecânico dos muros de solos reforçados
(MSR) com geossintéticos. No presente trabalho, é realizada uma avaliação numérica, em termos de
tensões e deformações, da influência de se considerar a redução do grau de compactação do solo de
aterro próximo à face. Esta avaliação é justificada pela recomendação construtiva, amplamente
encontrada na literatura, de se evitar a aplicação de uma compactação pesada próxima à face e do
entendimento de que a redução da energia de compactação próxima à face irá proporcionar uma
região com menor grau de compactação. Os resultados desta pesquisa indicam que, para uma seção
típica de MSR com geossintéticos considerada com três diferentes rigidezes dos reforços, a ocorrência
de solo de aterro com menor grau de compactação (portanto menor resistência do solo) próximo à
face implica maiores mobilizações de tração nos elementos de reforços e maiores deslocamentos da
face. Estes resultados foram obtidos tanto para a situação de final de construção da estrutura como ao
considerar a aplicação de sobrecarga após a obra finalizada. Os resultados limitam-se às avaliações
em que não se faz distinção da tensão vertical induzida pela compactação para diferentes graus de
compactação do solo de aterro próximo à face e, consequentemente, diferentes parâmetros de
resistência. Conclui-se que avaliar a redução do grau de compactação próximo à face mostra-se um
aspecto relevante no estudo das tensões e deformações de MSR com geossintéticos, principalmente
quando se consideram elementos de reforços de menor rigidez e aplicação de sobrecargas.

PALAVRAS-CHAVE: Análises numéricas, Tensões e deformações, Muros de solo reforçado com


geossintéticos, Redução do grau de compactação próximo à face.

ABSTRACT: Currently, there are several studies, experimental, analytical or numerical, that aim to
identify the factors that influence the mechanical behavior of geosynthetic-reinforced soil walls
(GRSW). In the present work, a numerical evaluation, in terms of stresses and deformations, is present
to verify the influence of the reduction of the degree of compaction of the backfill soil near the face.
This evaluation is justified by the constructive recommendation widely found in the literature to avoid
the application of heavy compaction near facing and the understanding that the reduction of
compaction energy near the face will provide a region with a lower degree of compaction. The results

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

245
of this research indicate that, for a typical section of geosynthetic-reinforced soil walls (GRSW)
considered with three different reinforcement rigidities, the occurrence of backfill soil with a lower
level of compaction (thus lower soil resistance) near the face implies in greater tensile mobilizations
in the elements of reinforcements and greater displacements of the face. These results were obtained
both for the final construction situation of the structure and when considering the application of
overload after the finished work. It is concluded that to evaluate the reduction of the degree of
compaction near facing is an important aspect in the study of the stresses and deformations of
geosynthetic-reinforced soil wall (GRSW), especially when considering elements of reinforcements
of lower stiffness and application of the surcharge.

KEYWORDS: Numerical analyses, Stress and deformation, Geosynthetic-reinforced soil walls,


Reduction of the degree of compaction near facing.

1 INTRODUÇÃO 2018a; MIRMORADI e EHRLICH, 2018b).


Apesar dos diversos trabalhos, conforme
O comportamento mecânico de muros de solo destacado por Mirmoradi (2015), os resultados
reforçados (MSR) é influenciado por diversos indicam que há a necessidade de estudos para o
fatores, dentre os quais Mirmoradi (2015) melhor entendimento e previsão das máximas
destaca: altura do muro, espaçamento e rigidez trações mobilizadas nos elementos de reforço
dos reforços, inclinação e rigidez da face, (Tmáx), principal fator a se determinar para o
condições da fundação, características do solo de adequado dimensionamento dos MSR
aterro, tensões induzidas pela compactação, (EHRLICH et al., 2015).
aplicação de sobrecargas e restrição aos Na tendência de se buscar cada vez mais o
deslocamentos da base. Quantificar a ação entendimento do comportamento mecânico dos
simultânea desses diversos fatores intervenientes MSR sob ação dos vários fatores intervenientes,
mostra-se uma tarefa complexa (DANTAS, com abordagens cada vez mais próximas às
2004). condições reais de campo, Meireles (2018)
Com o objetivo de se determinar os efeitos destaca outro fator pouco analisado nos diversos
desses fatores, nas últimas décadas, vários trabalhos em desenvolvimento, a saber, a
trabalhos foram desenvolvidos a partir de avaliação da distância de aplicação da
investigações experimentais e, devido ao compactação pesada relativamente à face dos
desenvolvimento tecnológico, com a utilização MSR. Conforme mencionado pelo autor, vários
de soluções numéricas por meio de trabalhos mencionam que uma faixa do solo de
implementações computacionais. Neste cenário, aterro próxima à face deve ser compactada com
diversas análises têm sido realizadas, em termos menor energia, afim de reduzir as tensões
de tensões e deformações, com abordagens mais horizontais próximas à face e,
próximas às situações reais de campo, para consequentemente, as deformações devidas ao
melhor entendimento dos efeitos dos fatores que processo construtivo (MITCHELL e VILLET,
intervêm no comportamento mecânico dos MSR 1987; EHRLICH e MITCHELL, 1994; ELIAS,
com geossintéticos. Estas analises são realizadas CHISTOPHER e BERG, 2001; HATAMI,
ora ao comparar os resultados com dados de WITTHOEFT e JENKINS, 2008; BATHURST,
estruturas instrumentadas ora realizadas por et al., 2009; ALMEIDA, 2014; MIRMORADI e
meio de análises paramétricas dos fatores EHRLICH, 2018a; KOERNER e KOERNER,
(SARAMAGO, 2002; BARBOZA JÚNIOR, 2018).
2003; HATAMI e BATHURST, 2005; Nas avaliações realizadas por Meireles
PERALTA, 2007; EHRLICH, MIRMORADI e (2018), ao considerar menor energia de
SARAMAGO, 2012; EHRLICH e compactação próxima à face, desconsiderou-se a
MIRMORADI, 2013; RICCIO, EHRLICH e influência dessa redução no grau de
DIAS, 2014; MIRMORADI, EHRLICH e compactação (GC) do material. No presente
DIEGUEZ, 2016; MIRMORADI e EHRLICH, trabalho, objetiva-se avaliar numericamente a

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

246
influência nas tensões e deformações de MSR al., 1980), os parâmetros de resistência e
com geossintéticos, ao considerar a redução do deformabilidade são apresentados pelos autores,
GC do aterro próximo à face. de forma conservativa, como indicados na
Tabela 2. O solo de aterro foi considerado com
2 MATERIAL E MÉTODOS GC de 100%, e, para os primeiros 0,50 m
próximos à face, com redução do GC.
2.1 Seção de análise
Tabela 2. Parâmetros do solo de aterro [areia siltosa (SM)],
Considerou-se, para a realização das análises com a variação do grau de compactação (GC) (DUNCAN
et al., 1980).
numéricas em termos de tensões e deformações,
GC  c' '
um tipo de estrutura de contenção de solo K n
(%) (kN/m3) (kPa) ()
reforçado com geossintético amplamente 100 21 0 36 600 0,25
estudado e adotado em diversas obras de 95 20 0 34 450 0,25
contenções, envolvendo muros de solo reforçado 90 19 0 32 300 0,25
(MSR) com face composta por blocos pré- 85 18 0 30 150 0,25
moldados de concreto e utilização de geogrelhas
como elemento de reforço geossintético. Os parâmetros de resistência e
A Tabela 1 apresenta as principais deformabilidade dos blocos pré-moldados de
características geométricas da seção de análise, concreto e da fundação foram adotados,
ilustrada na Figura 1. respectivamente, conforme apresentados nos
trabalhos de Riccio, Ehrlich e Dias (2014) e de
Tabela 1. Principais características geométricas da seção Meireles (2018).
de análise.
Descrição Valor 2.3 Reforços
Altura livre (m) 4,20
Altura embutida (m) 0,40
Inclinação da face 1H:10V Para os reforços, foram consideradas geogrelhas
Comprimento dos reforços (m) 3,50 de um fabricante nacional, cuja matéria prima
Espaçamento vertical entre reforços (m) 0,40 principal são filamentos de poliéster (PET) de
alta tenacidade e baixa fluência. A seção de
Aterro com
0,5m análise foi avaliada para 03 (três) diferentes
menor GC módulos de rigidez (J), como apresentados na
Blocos
Tabela 3
4,20 m
Solo de
Geogrelhas aterro Tabela 3. Módulos de rigidez (J) das geogrelhas avaliadas
como reforço.
Geogrelhas J (kN/m)
R1 400
6,00 m 8,00 m R2 800
R3 1500
4,20 m
Fundação
2.4 Compactação
Figura 1. Seção de MSR com geossintéticos adotada nas
análises. Assim como realizado por Mirmoradi e Ehrlich
(2018b), como equipamento de compactação,
2.2 Solos considerou-se, nas análises, uma placa vibratória
cuja tensão vertical induzida pela compactação é
Para o solo de aterro, o qual foi analisado com de 55 kPa. Conforme metodologia para
diferentes graus de compactação (GC), recorreu- estimativa da tensão vertical induzida pela
se ao trabalho apresentado por Duncan et al. compactação, apresentada em Dantas e Ehrlich
(1980). Ao considerar o solo de aterro como uma (2000) e Ehrlich e Becker (2009), para a
areia siltosa, para diferentes GC e a relação compactação por placa, a tensão foi calculada
tensão-deformação hiperbólica (DUNCAN et independente das características do solo de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

247
aterro. parâmetros da relação hiperbólica de Duncan et
al. (1980) foram adequados para o modelo
2.5 Modelagem numérica Hardening Soil Model, como apresenta-se na
Tabela 4.
As análises numéricas para avaliação do
comportamento tensão-deformação dos MSR Tabela 4. Parâmetros do solo de aterro adotado para o
avaliados foram realizadas no software de modelo Hardening Soil Model, com a variação do grau de
compactação (GC).
elementos finitos PLAXIS 2D, que objetiva a GC (%) 100 95 90 85
resolução de problemas geotécnicos em situações  (°) 36 34 32 30
de deformações planas ou axissimétrica c (kPa) 0 0 0 0
(BRINKGREVE e VERMEER, 2002). A seção (kPa) 0 0 0 0
típica foi discretizada em elementos triangulares  (kN/m³) 21 20 19 18
compostos por 15 nós, como se observa na Figura E50 (MPa) 30 22,5 15 7,5
2. Foram utilizadas as condições de contorno de Eeod (MPa) 30 22,5 15 7,5
restrição de deslocamentos horizontais nas Eur (MPa) 60 45 30 15
m 0,25 0,25 0,25 0,25
laterais da seção (sendo na lateral esquerda
aplicada apenas para a fundação) e de restrição
2.7 Modelagem da compactação
total de deslocamentos e de rotação na base. O
refinamento global adotado para a malha foi
Para a simulação da compactação nas análises
classificado como Very Fine. A malha possui ao
numéricas, adotou-se o procedimento Tipo II
todo 2905 elementos e 23519 nós.
proposto no trabalho de Mirmoradi e Ehrlich
Reforços I
Aterro com
(2014). Neste procedimento, a compactação de
menor GC cada camada é simulada por um único ciclo de
carregamento e descarregamento, com aplicação
Blocos Aterro da tensão vertical induzida pela compactação
I
(zc,i) no topo e na base da camada, como ilustra
a Figura 3a.

Camada n+1
Fundação

Camada n
II
I – restrição de deslocamentos horizontais
II – restrição total de deslocamentos e de rotação
Camada n-1
Figura 2. Modelo numérico e malha de elementos finitos
no PLAXIS 2D. Camada n-2

2.6 Modelos constitutivos e propriedades dos (a)


materiais
Calculado
Dentre os modelos constitutivos disponíveis no Solução
software PLAXIS 2D para modelagem das elástica
relações tensões-deformações dos materiais,
utilizou-se: a) modelo linear elástico para os
blocos de concreto e geogrelhas; b) modelo
elastoplástico, com critério de ruptura de Mohr- (b)
Coulomb, para a fundação, e c) modelo Figura 3. Procedimento adotado para modelagem da
Hardening Soil Model para o solo de aterro. compactação. (a) aplicação da tensão vertical induzida
pela compactação no topo e na base de cada camada. (b)
Para o solo de aterro, considerado com diferentes esquema das variações da tensão vertical nas etapas de
GC nos primeiros 0,50 m próximos à face, os compactação.

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248
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Figura 3b, é apresentada, esquematicamente,
a variação da tensão vertical durante as etapas da 3.1 Tração máxima nos reforços
compactação: 1) lançamento da camada; 2)
operação do equipamento de compactação; 3) As Figuras 5 e 6 apresentam os resultados das
retirada do equipamento de compactação; e 4) análises realizadas ao se considerar os
lançamento da camada seguinte. somatórios das máximas trações mobilizadas nos
elementos de reforço (Tmáx), respectivamente,
2.8 Análises efetuadas para a situação de final de construção (Figura 5)
e após aplicação de sobrecarga de 100 kPa
Apresentam-se, na Tabela 5, as informações (Figura 6).
correspondentes às análises efetuadas e os Os resultados obtidos mostram-se coerentes
respectivos códigos atribuídos para as mesmas. em relação à máxima tração (Tmáx), visto que,
Para a seção de análise (Figura 1), considerou- com o aumento da rigidez dos reforços (J), tem-
se, para os primeiros 0,50 m próximos à face, se aumento dos somatórios de Tmax, tanto para a
quatro (04) valores de GC, três (03) rigidezes de situação de final de construção como para após a
reforços e duas situações distintas: final de aplicação de sobrecarga.
construção (FC) e após aplicação de sobrecarga Ainda para ambas as situações analisadas, em
(SC) de magnitude 100 kPa. Os códigos geral, observa-se que, com a redução do grau de
atribuídos para as análises correspondem a compactação (GC) nos primeiros 0,50 m
abreviações das considerações realizadas, como próximos à face, tem-se aumento nas trações
ilustra a Figura 4. mobilizadas nos reforços.

Tabela 5. Informações correspondentes às análises 35


R1 R2 R3
efetuadas. 30
Situação e códigos 25
Tmáx (kN/m)

Reforço GC (%) Final de


Sobrecarga 20
construção
100 R1-100-FC R1-100-SC 15
R1 95 R1-95-FC R1-95-SC 10
(J=400 kPa) 90 R1-90-FC R1-90-SC
5
85 R1-85-FC R1-85-SC
100 R2-100-FC R2-100-SC 0
100% 95% 90% 85%
R2 95 R2-95-FC R2-95-SC
Grau de compactação próximo à face
(J=800 kPa) 90 R2-90-FC R2-90-SC
85 R2-85-FC R2-85-SC Figura 5. Somatório das máximas trações mobilizadas
nos reforços ao final de construção.
100 R1-100-FC R1-100-SC
R3 95 R1-95-FC R1-95-SC
140
(J=1500 kPa) 90 R1-90-FC R1-90-SC R1 R2 R3
85 R1-85-FC R1-85-SC 120
100
Tmáx (kN/m)

80
60
40
20
0
100% 95% 90% 85%
Grau de compactação próximo à face
Figura 6. Somatório das máximas trações mobilizadas
Figura 4. Estrutura dos códigos das análises efetuadas. nos reforços após aplicação de sobrecarga de 100 kPa

Ao analisar os percentuais de acréscimos do


Tmáx com a redução do GC, nota-se que os
mesmos são mais significativos para as análises

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249
em que os reforços apresentam menor rigidez e, horizontais, de forma a facilitar a percepção da
principalmente, para as análises que consideram redução dos deslocamentos com o aumento da
aplicação de sobrecarga. Para as análises em rigidez dos reforços, o que evidencia resultados
situação de final de construção, em média, os coerentes para os deslocamentos da face.
acréscimos do Tmáx foram de 17%, 10% e 8%, Assim como identificado para os resultados
respectivamente, para os reforços de rigidezes obtidos de Tmáx, nota-se que a influência em
R1, R2 e R3. Já para as análises em situação de reduzir o GC nos primeiros 0,50 m próximos à
aplicação de sobrecarga de 100 kPa, esses face é mais significativa para análises em que se
acréscimos foram bem mais significativos, consideram os elementos de menor rigidez (R1).
respectivamente, 115%, 39% e 20%. Ressalta-se que, os resultados obtidos não
representam a recomendação construtiva de
3.2 Deslocamento horizontal da face reduzir o GC próximo à face com o objetivo de
reduzir os deslocamentos horizontais da mesma.
Nas Figuras 7 e 8, são apresentados os Esta contradição pode ser entendida pelo fato de
resultados obtidos de deslocamento horizontal ter sido considerada a mesma tensão vertical
da face, respectivamente, para a situação de final induzida pela compactação (55 kPa)
de construção e após a aplicação de sobrecarga. independente do GC do solo de aterro e,
Em ambas as figuras, fixou-se o eixo das consequentemente, de seus parâmetros de
abcissas, correspondente aos deslocamentos resistência.

4,2 4,2
3,8 3,8 R1-100-SC
R1-100-FC
Altura do muro (m)

3,4 3,4
Altura do muro (m)

3,0 R1-95-FC 3,0 R1-95-SC


2,6 2,6
R1-90-FC R1-90-SC
2,2 2,2
1,8 R1-85-FC 1,8 R1-85-SC
1,4 1,4
1,0 1,0
0,6 0,6
0,2 0,2
24 20 16 12 8 4 0 -4 150 100 50 0
Deslocamento horizontal da face (mm) Deslocamento horizontal da face (mm)
4,2 4,2
3,8 3,8
Altura do muro (m)

Altura do muro (m)

3,4 3,4
R2-100-FC R2-100-SC
3,0 3,0
2,6 R2-95-FC 2,6
R2-95-SC
2,2 2,2
1,8 R2-90-FC 1,8 R2-90-SC
1,4 R2-85-FC 1,4
1,0 1,0 R2-85-SC
0,6 0,6
0,2 0,2
24 20 16 12 8 4 0 -4 150 100 50 0
Deslocamento horizontal da face (mm) Deslocamento horizontal da face (mm)
4,2 4,2
3,8 3,8
Altura do muro (m)

Altura do muro (m)

3,4 3,4
3,0 R3-100-FC 3,0 R3-100-SC
2,6 2,6
R3-95-FC R3-95-SC
2,2 2,2
1,8 R3-90-FC 1,8 R3-90-SC
1,4 1,4 R3-85-SC
1,0 R3-85-FC 1,0
0,6 0,6
0,2 0,2
24 20 16 12 8 4 0 -4 150 100 50 0
Deslocamento horizontal da face (mm) Deslocamento horizontal da face (mm)
Figura 7. Deslocamento horizontal da face ao final da Figura 8. Deslocamento horizontal da face após
construção. aplicação da sobrecarga.

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250
4 CONCLUSÃO resultados obtidos corroboram com a
identificação da necessidade de maiores estudos,
Considerar numericamente a ocorrência de solo cada vez mais próximos às condições reais de
de aterro com menor GC nos primeiros 0,50 m campo, para o entendimento do comportamento
próximos à face mostra-se um fator relevante na mecânico dessas estruturas de contenção.
avaliação das tensões e deformações de um MSR
com geossintéticos. Para a seção típica estudada, REFERÊNCIAS
ao final de construção e após a aplicação de uma
sobrecarga de 100 kPa, esta consideração ALMEIDA, R. D. C. M. B. Estudo do efeito da face sobre
o equilíbrio de estruturas de contenção de solo
implica em crescentes mobilização de tração nos reforçado sob condições de trabalho. Dissertação
reforços e deslocamento horizontal da face com (Mestrado) - Universidade Federal do Espírito Santo.
a redução do GC. Vitória. 2014.
A influência, nas tensões e deformações de BARBOZA JÚNIOR, J. D. C. Estudo Através de Modelos
um MSR com geossintéticos, ao reduzir o GC do Físicos da Influência da Face e da Compactação em
Muros de Solo Reforçado. Dissertação (Mestrado).
aterro próximo à face, se mostra mais Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
significativa à medida que se considera a menor Janeiro. 2003.
rigidez dos reforços. Essa significância é ainda BATHURST, R. J. et al. Influence of reinforcement
mais acentuada para as análises na situação de stiffness and compaction on the performance of four
aplicação de sobrecarga após o período geosynthetic-reinforced soil walls. Geosynthetics
International, v. 16, p. 43 - 59, 2009.
construtivo, visto que se tem maiores esforços BRINKGREVE, R. B. J.; VERMEER, P. A. PLAXIS 2D:
atuantes na estrutura. Finite Element Code for Soil and Rock Analyses -
Com relação aos deslocamentos horizontais Version 8. Leiden: CRC press, 2002.
da face, nota-se que os resultados na modelagem DANTAS, B. T. Análise do comportamento de estruturas
não representam a recomendação construtiva de de solo reforçado sob condições de trabalho. Tese
(Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
reduzir o GC próximo à face a fim de reduzir os Rio de Janeiro. 2004.
deslocamentos da face. No entanto, esta DANTAS, B. T.; EHRLICH, M. Método de análise de
contradição pode ser entendida pelo fato de ter taludes reforçados sob condições de trabalho. Solos e
sido considerada a mesma tensão vertical Rochas, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 113-133, Ago.
induzida pela compactação (55 kPa) 2000.
DUNCAN, J. M. F. et al. Strenght, stress-strain and bulk
independente do GC do solo de aterro e dos modulus parameters for finite elemento analyses of
parâmetros de resistência do mesmo. Desta stresses and movements in soil masses. Journal of
forma, visto que com a redução do GC tem-se Geotechnical Engineering, University of California,
menores parâmetros de resistência do solo de Berkeley, n. UCB/GT/80-01, 1980.
aterro, foram obtidos maiores deslocamentos. EHRLICH, M. et al. Muros e Taludes Reforçados. In:
VERTEMATTI, J. C. Manual Brasileiro de
Ressalta-se que a utilização de valor constante Geossintéticos. 2ª. ed. São Paulo: Blucher, 2015. Cap.
para a tensão vertical induzida pela compactação 4.5, p. 106-149.
foi adotada conforme apresentado por Dantas e EHRLICH, M.; BECKER, L. Muros e Taludes de Solo
Ehrlich (2000) e Ehrlich e Becker (2009), Reforçado. 1ª. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2009.
quando se considera a compactação com EHRLICH, M.; MIRMORADI, S. H. Evaluation of the
effects of facing stiffness and toe resistance on the
equipamento tipo placa. Saramago (2002) behavior of GRS walls. Geotextiles and
também considerou uma tensão vertical induzida Geomembranes, v. 40, p. 28 - 36, 2013.
constante devido à compactação com sapo EHRLICH, M.; MIRMORADI, S. H.; SARAMAGO, R.
mecânico, independente dos parâmetros de P. Evaluation of the effect of compaction on the
resistência do solo. behavior of geosynthetic-reinforced soil walls.
Geotextiles and Geomembranes, v. 34, p. 108 - 115,
De maneira geral, os resultados atentam para 2012.
a avaliação da redução do GC próximo à face nas EHRLICH, M.; MITCHELL, J. K. Working Stress Desing
tensões e deformações de MSR com Method for Reinforced Soil Walls. Journal of
geossintéticos. Visto que vários outros fatores Geotechnical Engineering, v. 120, p. 625 - 645, Apr.
influenciadores no comportamento mecânico 1994. ISSN 0733-9410/94/0004-0625.
ELIAS, V.; CHISTOPHER, B. R.; BERG, R. R.
dos MSR com geossintéticos têm sido estudados, Mechanically stabilized earth walls and reinforced soil
por vezes avaliados de forma combinada, os slopes – design and construction guidelines.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

251
Departament of Transportation - Federal Highway SARAMAGO, R. P. Estudo da influência da compactação
Administration, Washington, n. FHWA-NHI-00-043, no comportamento de muros de solo reforçado com a
2001. utilização de modelos físicos. Tese (Doutorado).
HATAMI, K.; BATHURST, R. J. Development and Universidade Federal de Rio de Janeiro. Rio de
verification of a numerical model for the analysis of Janeiro. 2002.
geosynthetic-reinforced soil segmental walls under
working stress conditions. GeoEngineering Centre at
Queen’s–RMC, Department of Civil Engineering, LISTA DE SÍMBOLOS
Royal Military College of Canada. Kingston, Canada.
2005. GC – grau de compactação;
HATAMI, K.; WITTHOEFT, A. F.; JENKINS, L. M.  - peso específico;
Influence of Inadequate Compaction near Facing on c - coesão;
Construction Response of Wrapped-Face  - ângulo de atrito;
Mechanically Stabilized Earth Walls. Transportation K e n - parâmetros adimensionais do modelo hiperbólico;
Research Record Journal of the Transportation J – módulo de rigidez dos reforços;
Research Board, Washington, v. 2045, p. 85 - 94, 2008.  - ângulo de dilatância;
KOERNER, R. M.; KOERNER, G. R. An extended data E50 - módulo secante;
base and recommendations regarding 320 failed Eeod - módulo tangente obtido de ensaio edométrico;
geosynthetic reinforced mechanically stabilized earth Eur – módulo de rigidez no descarregamento e
(MSE) walls. Geotextiles and Geomembranes, v. 46, p. recarregamento;
904 - 912, 2018. m o módulo exponencial que controla a variação da
MEIRELES, L. C. Avaliação Numérica da Influência da rigidez com a tensão confinante
Compactação próxima à Face nas Tensões e
Deformações de Muros de Solos Reforçados com
Geossintéticos. Dissertação (Mestrado). Universidade
Federal de Viçosa. Viçosa. 2018.
MIRMORADI, S. Evaluation of the behavior of reinforced
soil walls under working stress conditions. Tese
(Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro. 2015.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M. Modeling of the
Compaction-Induced Stresses in Numerical Analyses
of GRS Walls. International Journal of Computational
Methods, v. 11, n. 2, 2014.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M. Experimental
evaluation of the effect of compaction near facing on
the behavior of GRS walls. Geotextiles and
Geomembranes, v. 46, p. 566 - 574, 2018a.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M. Numerical
simulation of compaction-induced stress for the
analysis of RS walls under working conditions.
Geotextiles and Geomembranes, v. 46, p. 354-365,
2018b.
MIRMORADI, S. H.; EHRLICH, M.; DIEGUEZ, C.
Evaluation of the combined effect of toe resistance and
facing inclination on the behavior of GRS walls.
Geotextiles and Geomembranes, v. 44, p. 287 - 294,
2016.
MITCHELL, J. K.; VILLET, W. C. B. Reinforcement of
Earth Slopes and Embankments. Transportation
Research Board - National Cooperative Highway
Research Program Report, Washington, D.C., USA, n.
290, June 1987. ISSN 0-309-04024-8/0077-5614.
PERALTA, F. N. G. Comparação de métodos de projeto
para muros de solo reforçado com geossintéticos.
Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2007.
RICCIO, M.; EHRLICH, M.; DIAS, D. Field monitoring
and analyses of the response of a block-faced geogrid
wall using fine-grained tropical soils. Geotextiles and
Geomembranes, v. 42, p. 127-138, 2014.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

252
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Utilização de geossintéticos como tratamento de fundação para a


construção de aterro sobre reservatório de uma barragem de
rejeitos
Letícia Gabriela Andrade Policarpo
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, leticiapolicarpo@hotmail.com

Juliano Fagner Santana


Universidade de Uberaba, Uberaba, Brasil, juliano.fagner@hotmail.com

Rodrigo Peres de Oliveira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, rperesoliveira@gmail.com

Frank Marcos da Silva Pereira


CSN Mineração, Congonhas, Brasil, frank.pereira@csn.com.br

Flávio Luiz de Carvalho


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, flaviocs.sl@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

RESUMO: A execução de aterro sobre solos moles demanda análises do comportamento


geotécnico da estrutura, como a sua estabilidade durante e após a construção e a sua estimativa de
recalque ao longo do tempo. Os solos moles possuem baixa resistência à penetração devido à sua
própria constituição, o que demanda uma avaliação específica quanto ao tipo de tratamento de
fundação a ser adotado. A aplicação de geossintéticos pode representar uma alternativa para
tratamento de fundação na construção de aterros sobre solos moles, com fatores de segurança
aceitáveis e bom custo-benefício, à depender de uma análise comparativa específica da obra. No
atual contexto da mineração, nota-se um avanço dos estudos de outras técnicas de disposição de
rejeitos, alternativas à disposição em barragens, bem como da necessidade do descomissionamento
de estruturas de disposição já exauridas. Com efeito, verifica-se uma perspectiva para o estudo e
aumento da aplicação de geossintéticos destinados ao preparo e melhoramento da fundação para o
empilhamento de rejeitos sobre solos moles, por exemplo, sobre o reservatório de uma barragem de
rejeitos. Este trabalho tem como objetivo apresentar o processo e os desafios enfrentados na
aplicação de geodrenos no reservatório de uma barragem de rejeito, além das estimativas de
recalque esperadas para uma pilha piloto de rejeito a ser construída sobre este reservatório após o
tratamento de fundação com a aplicação de geodrenos e geogrelhas.

PALAVRAS-CHAVE: Solos moles, Barragem de Rejeito, Pilha de Rejeito, Geossintéticos,


Geodreno, Geogrelha.

ABSTRACT: The execution of embankments on soft soils requires analysis of the geotechnical
behavior of the structure, such as its stability during and after construction and its estimation of
settlement over time. Soft soils have low penetration resistance due to their own constitution which
requires a specific evaluation about the type of foundation treatment to be adopted. The use of
geosynthetics may represent an alternative for foundation treatment in the construction of
embankments on soft soils with acceptable safety factors and good cost-benefit, which depends on a

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

253
specific comparative analysis of the work. In the current mining context, there are advance studies
of other tailings disposal techniques, an alternative to disposal in tailings dam, as well as the
necessity for decommissioning disposal structures already exhausted. In fact, there is a perspective
for the study and increase of the application of geosynthetics for the preparation and improvement
of the foundation for the stacking tailings on soft soils, for example, on the reservoir of a tailings
dam. This paper shows the process and challenges faced in the application of geodrains on the
reservoir of a tailings dam; beyond the expected settlement estimation for a waste pile test that will
be built on this reservoir after the installation of geodrains and geogrids.

KEY WORDS: Soft Soil, Mine Tailings Dam, Waste Pile, Geosynthetics, Geodrain, Geogrid.

1 INTRODUÇÃO complexidade por envolver problemas do ponto


de vista geotécnico, uma vez que o solo da
Atualmente, as barragens ainda são as estruturas fundação pode apresentar grandes deformações
mais comumente utilizadas para a disposição em função do tempo limitando, portanto, o
dos rejeitos de mineração. De acordo com carregamento previsto. A construção de aterro
Chammas (1989), conforme citado por Ferreira neste tipo de fundação demanda uma série de
(2016), por questões práticas e econômicas, análises do comportamento geotécnico da
historicamente os rejeitos de mineração, em sua estrutura, como a sua estabilidade durante e
maioria, são gerados na planta de após a construção e a sua estimativa de recalque
beneficiamento e lançados em barragem em ao longo do tempo. Além disso, aterros sobre
forma de polpa, sem densificação, solos moles envolvem problemas de ocorrência
caracterizando-se por apresentarem uma baixa de ruptura, devido à baixa resistência
compacidade, no caso de rejeitos granulares, ou apresentada pelo solo mole, o que requer
uma reduzida capacidade de suporte, em se atenção para tratamento específico quanto ao
tratando de rejeitos finos, podendo ser uso como fundação. Por conseguinte, torna-se
comparados a solos moles naturais. importante a execução de reforços no solo, de
No contexto atual da mineração, devido aos maneira a melhorar suas características, tais
potenciais riscos inerentes a estas estruturas e os como a resistência ao cisalhamento,
impactos ambientais relacionados, é notória a compressibilidade, capacidade de carga e
necessidade de avançar em outras técnicas de densidade (SILVA, 2017).
disposição de rejeitos, alternativas à disposição Os solos moles possuem baixa resistência à
em barragens, bem como dos estudos para penetração devido à sua própria constituição, o
descomissionamento das barragens já exauridas. que requer uma avaliação específica quanto ao
Neste âmbito, uma técnica de disposição que tipo de tratamento de fundação a ser adotado.
vem sendo muito estudada é a disposição de Em se tratando de rejeitos saturados e fofos, há
rejeitos em forma de pilhas que, segundo Portes de se avaliar ainda a susceptibilidade à
(2013), quando comparadas às barragens, ocorrência de liquefação, quando submetidos à
apresentam menor risco de ocorrência de falhas. carregamentos. O uso de geossintéticos pode
Com efeito, verifica-se uma perspectiva para o representar uma alternativa para o tratamento de
estudo e aumento da aplicação de geossintéticos fundação na construção de aterros sobre solos
destinados ao preparo e melhoramento da moles, com fatores de segurança aceitáveis e
fundação para o empilhamento de rejeitos sobre bom custo-benefício, à depender de uma análise
solos moles, por exemplo, sobre o reservatório comparativa específica da obra.
de uma barragem de rejeitos, otimizando a Dentre as alternativas de aplicação de
disposição em áreas já impactadas por geossintéticos como reforço em solos moles,
atividades de mineração e com proposta para o podem ser citados os geodrenos e geogrelhas.
descomissionamento da barragem existente. Segundo Mello et al. (2009), os geodrenos são
Segundo Teixeira (2012), obras de aterros aplicáveis em solos moles a fim de facilitar e
em solos moles são consideradas de grande acelerar o adensamento pois possibilita a rápida

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

254
retirada e drenagem das águas intersticiais Neste estudo de caso foi proposta a execução
destes solos, além de propiciar ganho de de um lastro semi-compactado de solo sobre o
resistência do material compressível. Já a reservatório de rejeitos como suporte para a
aplicação de geogrelhas promove o aumento da instalação dos geodrenos. Ao final da instalação
resistência reduzindo os deslocamentos laterais. dos geodrenos e execução das valas de
Este trabalho tem como objetivo apresentar o drenagem complementar, foi lançado um
processo e os desafios enfrentados na aplicação reforço com geogrelha.
de geodrenos no reservatório de uma barragem Inicialmente, para permitir o acesso seguro
de rejeito, além das estimativas de recalque do equipamento que realizaria a cravação dos
esperadas para uma pilha piloto de rejeito a ser geodrenos sobre o rejeito da barragem, foi
construída sobre este reservatório após o executado um lastro de solo com espessura
tratamento de fundação com a aplicação de aproximada de 2 metros, o qual foi compactado
geodrenos e geogrelhas. a partir da movimentação dos próprios
equipamentos utilizados para a construção do
2 MATERIAL E MÉTODOS aterro.
Na Tabela 1 estão apresentados os
Uma pilha piloto de rejeitos foi projetada para parâmetros de resistência dos materiais
ser implantada sobre o reservatório de uma constituintes do reservatório da barragem, lastro
barragem de rejeitos, utilizando-se de e pilha piloto de rejeitos e na Tabela 2 os seus
geodrenos e geogrelhas como tratamento de respectivos parâmetros de deformabilidade.
fundação. A Figura 1 apresenta o layout e
detalhe do sistema proposto. Tabela 1. Parâmetros de Resistência dos Materiais.
γ C’ φ’
Material
(kN/m³) (kN/m²) (º)
Fundação - Filito 26 200 30 -
Fundação - Solo
19 25 30 -
Residual
Rejeito
21 9 31 -
Semicompactado
Rejeito
17,05 0 33 0,226
Reservatório

Tabela 2. Parâmetros de Deformabilidade dos Materiais.


E Mv
Material ν K (m/s)
(MPa) (kPa-1)
Fundação - Filito 50 - 0,5 2,09x10-6
Figura 1. Layout e detalhe do sistema. Fundação - Solo
40 - 0,45 6,12x10-7
Residual
A barragem em questão foi construída para Rejeito
23 - 0,4 1,65x10-6
disposição de rejeitos do beneficiamento de Semicompactado
minério de ferro. Com 32 m de altura, 525 m de Rejeito
5,24 1,9x10-4 0,3 1,75x10-7
comprimento, 13 m de largura e crista na Reservatório
elevação de 937,00 m, o maciço foi construído
com material siltoso compactado, envelopado Os geodrenos foram cravados no
por material argiloso compactado. O talude de reservatório da barragem de rejeitos de minério
montante tem inclinação 1V:2H e o de jusante de ferro após a execução do lastro supracitado.
1V:1,75H, com duas bermas intermediárias com Este tipo de geossintético, como o próprio nome
4 e 28,5 m de largura. O reservatório da diz, é um dreno vertical de material sintético
barragem encontra-se totalmente assoreado, até constituído por miolo drenante e revestimento.
a elevação de 935,00 m. A pilha piloto situará a O miolo drenante é normalmente fabricado em
uma distância de 30 m do maciço e estudos PEAD e tem a função de conduzir a água até a
mostraram que, com essa distância, mesmo em superfície do terreno, além de resistir aos
condiçoes de instabilidade da pilha, o maciço esforços de instalação e deformação do aterro.
ainda possui fator de segurança acima de 1,5. Já o revestimento é fabricado em tecido

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255
geotêxtil o qual tem a função de reter o solo e metálica para ancoragem, projetada para moldar
permitir a passagem de água. a ponta do mandril durante a cravação, impedir
Para os geodrenos utilizados na execução a entrada de sólidos em seu interior e fixar o
desse projeto, optou-se pelo geocomposto geodreno no terreno, impedindo o seu retorno
COLBONDRAIN CX1000 que é um dreno no momento da retirada do equipamento. Após
vertical pré-fabricado de 10 cm de largura e este procedimento, o geodreno é cortado
possui boa capacidade de descarga a mantendo-se uma sobra de 20 cm a 50 cm
profundidades iguais ou superiores a 50 metros. acima da superfície do terreno. As Figuras 2, 3,
A Tabela 3 apresenta as propriedades destes 4 e 5 mostram o equipamento utilizado.
geodrenos.

Tabela 3. Propriedades dos geodrenos.


Propriedades Unid. Valor
Vazão (Capacidade de Fluxo)
m³/s 140x10-6
(350Kpa, i=0,1)1
Vazão (Capacidade de Fluxo)
m³/s 45x10-6
(200Kpa, i=0,1)2
Geocomposto

Resistência a Tração MD kN 2,5


Alongamento até 1,0kN % 3,0 Figura 2. Escavadeira com torre acoplada.

Resistência 10% de deformação % 1,5

Resistência de ruptura GRAB N 2000


Resistência ao rasgo trapezoidal N 680
Resistência ao puncionamento N 600
Geotêxtil

-1
Permissividade s 1,9
Tamanho da abertura
m 75x10-6 Figura 3. Ponteira com chapa de ancoragem
(AOS=O95)
pronta para cravação.
Conforme Silva e Lannes (2013), o geodreno
possui a função de recolher a água que aflui
radialmente e transportá-la verticalmente. De
maneira simplificada, pode-se admitir que cada
dreno possui uma zona de influência cilíndrica.
Neste projeto a malha de distribuição foi
determinada com um espaçamento horizontal de
5 metros entre colunas e fileiras de geodrenos.
Figura 4. Travamento da chapa de ancoragem no
Para a instalação dos geodrenos, foi utilizado geodreno.
um equipamento hidráulico adaptado a uma
escavadeira sobre esteiras e acoplado a uma
torre metálica com dimensões adequada às
necessidades do projeto.
No interior da torre há o mandril, uma haste
metálica de cravação (tubo retangular), que
protege e promove a instalação geodreno. Com
dimensões externas inscritas em um retângulo
de 12 x 6 cm, representam seção inferior a 70
Figura 5. Chapa de ancoragem.
cm², conforme orienta a Norma DNER/PRO
381/98 – “Projeto de Aterros Sobre Solos Após a cravação dos geodrenos, foram
Moles para Obras Viárias” do DNIT. executadas valas drenantes nas linhas que os
Na extremidade inferior há uma chapa geodrenos foram cravados a fim de drenar a

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256
água até o canal de cintura da barragem. Outra dificuldade encontrada foi a
Por fim, foi feita a instalação da geogrelha ancoragem dos geodrenos ao final da cravação,
sobre a camada de lastro, os geodrenos e as uma vez que alguns retornavam durante a
valas drenantes. O uso de geogrelha promove o retirada do mandril. Tal fato pode ser
aumento da estabilidade, reduzindo os justificado pela área insuficiente de contato
deslocamentos laterais. Segundo Kwan (2006), entre o rejeito e a chapa de ancoragem. A
a geogrelha funciona a partir do efeito de solução foi redimensionar a chapa metálica de
intertravamento das partículas do solo, que ancoragem, aumentando suas dimensões e,
penetram pelas aberturas da malha e são consequentemente, aumentando a área de
travadas entre os fios da geogrelha. Esta arraste para ancoragem.
imobilização das partículas aumenta a Devido à granulometria fina e ao baixo
resistência ao cisalhamento horizontal, o que índice de vazios do rejeito depositado no
aumentará, também, a capacidade de carga do reservatório, além da saturação presente na
solo. A Figura 6 mostra a área do reservatório área, em muitos casos, a retirada da haste
após a execução das atividades e instalação da iniciava um processo de sucção dentro do
geogrelha. mandril. Isso ocorreu por causa da diferença de
pressão entre a cota final da cravação e a cota
de superfície, o que provocava a sucção do solo
mole para seu interior, prendendo o geodreno e
ocasionando o seu retorno durante a retirada do
mandril.
Para sanar este problema, a fim de melhorar
a vedação da ponteira de cravação, foi utilizada
uma ponteira com abertura menor e uma manta
emborrachada revestindo a chapa de
Figura 6. Reservatório após instalação da geogrelha.
ancoragem.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A despeito dos desafios encontrados, em
todo o trecho foram instalados 25.000 metros de
O primeiro desafio foi a dificuldade de cravação geodrenos com profundidades que oscilaram
na camada de lastro uma vez que esta entre 9 e 28 metros. Em pouco tempo após a
apresentou NSPT superior a capacidade de cravação, foi possível verificar o funcionamento
cravação do equipamento, a qual é utilizada dos geodrenos, em função do carregamento
apenas para solos com NSPT de no máximo 4. ocasionado pelo lastro aplicado, conforme
Entretanto, esta camada de lastro foi necessária pode-se observar na Figura 8.
para permitir o acesso seguro do equipamento e
a cravação dos geodrenos. A solução foi o uso
de escarificador acoplado a um trator de esteira
do tipo D6 para a abertura de valas no
alinhamento de aplicação do geodreno. A
Figura 7 mostra o equipamento que executou o
processo de abertura das valas.

Figura 8. Surgência de água logo após a cravação.

A instalação do geodreno tem por objetivo


acelerar o recalque da região durante e após a
execução da pilha de rejeito compactado sobre a
barragem. Até a data de publicação deste artigo,
o processo de execução da pilha não havia se
Figura 7. Abertura de valas com trator D6. iniciado, sendo assim não foi possível avaliar o

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257
desempenho real do geodreno sob a pilha fundação. Para tanto, utilizou-se o método
piloto. A seguir, são apresentados os resultados Coupled Stress/PWP e auxílio do software
das análises do projeto da pilha piloto sobre o SIGMA/W, versão 7.10 desenvolvido pelo
reservatório da barragem de rejeitos, GeoStudio International Ltd., em Calgary,
considerando o uso do geodreno e geogrelha Alberta, no Canadá.
como tratamento da fundação. Nas análises foram verificadas deformações
Para o projeto da pilha piloto de rejeitos, verticais e geração de poropressões
foram feitas as análises de tensão versus considerando o carregamento da pilha em
deformação e análise de geração de poropressão etapas.
considerando a instalação dos geodrenos na sua

3.1 Apresentação dos Resultados de Análise de Cargas de Pressão

Figura 9. Cargas de Pressão no Reservatório – EL. 941,00 m (~1 mês).

Figura 10. Cargas de Pressão no Reservatório – EL. 946,00 m (~2 meses).

Figura 11. Cargas de Pressão no Reservatório – EL. 951,00 m (~3 meses).

Figura 12. Cargas de Pressão no Reservatório – EL. 955,00 m (~4 meses).

Figura 13. Cargas de Pressão no Reservatório – EL. 955,00 m (~9 meses).

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258
Tabela 4. Resumo das Cargas de Pressão Esperadas.
Tempo Cargas de Pressão (m)
Etapa
(meses) PZ-01 PZ-02 PZ-03 PZ-04 PZ-05 PZ-06 PZ-07 PZ-08 PZ-09
EL. 941,00 m ~1 938 939 938,5 938 942 943 942,5 942 937,5
EL. 946,00 m ~2 941 941 941 941 944 949 947 944 937
EL. 951,00 m ~3 941 941 941 941 946 953 950 944 937
EL. 955,00 m ~4 941 941 941 941 947 953 958 946 937
EL. 955,00 m ~9 941 941 941 941 940 940 939 938 937

3.2 Apresentação dos Resultados de Análise de Deslocamentos Verticais

Figura 14. Deslocamento vertical – EL. 941,00 m (~1 mês).

Figura 15. Deslocamento vertical – EL. 946,00 m (~2 meses).

Figura 16. Deslocamento vertical – EL. 951,00 m (~3 meses).

Figura 17. Deslocamento vertical – EL. 955,00 m (~4 meses).

Figura 18. Deslocamento vertical – EL. 955,00 m (~9 meses).

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259
Tabela 5. Resumo dos Deslocamentos Obtidos nas Análises.
Deslocamento Vertical Máximo (~m)
Etapa Tempo (meses)
Mon. Cen. Jus.
EL. 941,00 m ~1 -0,10 -0,05 -0,30
EL. 946,00 m ~2 -0,50 -0,30 -0,80
EL. 951,00 m ~3 -1,00 -0,60 -1,20
EL. 955,00 m ~4 -1,40 -1,00 -1,40
EL. 955,00 m ~9 -1,50 -1,80 -1,90

4 CONCLUSÃO Soluções geotécnicas utilizadas em um aterro de


grandes dimensões sobre solo mole, 2009.
Portes, A. M. C. Avaliação da disposição de rejeitos de
Foi possível observar com o projeto os desafios minério de Ferro nas consistências polpa e torta.
de execução e aplicabilidade dos materiais Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
geossintéticos, em especial os geodrenos para a Horizonte, 2013.
execução dos drenos verticais. Silva, C. A. G. Soluções geotécnicas adotadas para o
Foram necessárias algumas soluções em reforço de aterros sobre solos moles: revisão da
literatura. Universidade Federal do Rio Grande do
campo ao decorrer da obra, fato que é Norte, Natal, 2017.
justificável visto a característica específica do Silva, E. Z.; Lannes, L. O. (2013). Projeto de
material de fundação trabalhado, ou seja, o consolidação de um maciço de argila mole.
rejeito. Universidade Estatual do Norte Fluminense Darcy
No desenvolvimento do projeto foram Ribeiro. Rio de Janeiro, 2013.
Teixeira, C. F. Análise dos Recalques de um Aterro Sobre
previstos parâmetros de deformabilidade e Solos Muito Moles da Barra da Tijuca – RJ.
estimados recalques e subpressões. Com o Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
início da implantação da pilha piloto, que Rio de Janeiro, 2012.
deverá ser alteada gradualmente e de forma
controlada, os instrumentos devem ser
monitorados e os níveis obtidos comparados
com os níveis estabelecidos em projeto. Espera-
se assim, avaliar o comportamento dos
geodrenos e geogrelhas implantados, quanto a
eficiência e segurança no uso como tratamento
de fundação (solo mole/rejeito).
Mais além, recomenda-se a realização de
uma campanha de ensaios especiais de campo
(CPTu), durante e após a implantação da pilha
piloto, visando complementar a avaliação do
comportamento do geodreno na dissipação das
poropressões geradas com o carregamento da
estrutura e aceleração de recalques.

5 REFERÊNCIAS

Ferreira, D. S. Análise do comportamento geotécnico de


aterro experimental executado sobre um depósito de
rejeitos finos. Universidade Federal de Ouro Preto,
Ouro Preto, 2016.
Kwan, C. C. J. Geogrid reinforcement of railway ballast.
2006. 212 f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil)
University of Nottingham, 2006.
Mello, L. G. R.; Araújo, G. L. S.; Palmeira, E. M.

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260
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Proposta de um Sistema de Contenção Intitulado Fôrma Tubular


de Geossintético com Escória
Lilian Agda de Oliveira
UFSJ, Ouro Branco, Brasil, lilianagdadeoliveira@gmail.com

Ricardo Cabette Ramos


UFSJ, Ouro Branco, Brasil, ricardo.cabette@outlook.com

Tales Moreira de Oliveira


UFSJ, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

RESUMO: Diversas são as tecnologias desenvolvidas pela engenharia a fim de controlar o processo
da movimentação de massa. A fôrma tubular de geossintético com escória surge com a ideia de
desenvolver um sistema de contenção que busque trazer uma nova alternativa para aplicação da
escória de aciaria. Isso, porque a utilização desta se relaciona à alta taxa de estocagem sem destino
apropriado nas siderúrgicas da região do Alto Paraopeba. Além disso, tem-se a ocorrência de diversos
processos erosivos na região e que necessitam da construção de contenções como solução técnica de
engenharia. Desse modo, o propósito deste trabalho se concentra em analisar qualitativamente o
emprego deste sistema, fôrma tubular de geossintético e escória, como uma estrutura de contenção.
Para tanto, trabalhou-se com dois modelos reduzidos (1.g) ambos de similitude restritiva, aplicando-
se fatores de escala geométrica de 10% e 40% em relação a uma contenção hipotética. Os resultados
obtidos foram satisfatórios, uma vez que, o sistema de contenção proposto não apresentou
deslocamentos excessivos, além de resistência superelevada.

PALAVRAS-CHAVE: Fôrma Tubular, Geossintéticos, Contenção de Taludes.

ABSTRACT: Several technologies are developed by engineering in order to control the mass
movement process. The tubular formwork of geosynthetic with blast furnace slag arises with the idea
of developing a containment system that seeks to bring a new alternative for the application of steel
slag. Once the use of this is related to the high rate of storage without proper destination in the
steelworks of the Alto Paraopeba region. In addition, several erosive processes occur in the region
and require the construction of retaining structures for their solutions. The purpose of this paper is to
qualitatively analyze the use of this system, tubular formwork of geosynthetic and blast furnace slag,
as a retaining structure. Therefore, we worked with two reduced models (1.g) both of restrictive
similarity, applying geometric scale factors of 10% and 40% in relation to a hypothetical retaining
structure. The results obtained were satisfactory, in view of the proposed retaining structure did not
present excessive displacements, besides superelevated resistance.

KEY WORDS: Tubular Formwork, Geosynthetic, Retaining Structures.

1 INTRODUÇÃO (BENJAMIM, 2006).


Aliado a este propósito, desenvolveu-se um
Entende-se por obras de contenção estruturas protótipo de contenção denominado fôrma
construídas pela engenharia civil que geram tubular de geossintético (GSY) com escória. Esta
estabilização do maciço oferecendo resistência à é uma alternativa que visa trazer uma nova
movimentação de massa, incluindo a utilidade para a escória de aciaria, minimizando
reconstituição de taludes e encostas erodidas os impactos ambientais decorrentes de sua

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261
utilização. 2.2 Características da fôrma tubular e do
Isso porque, a adoção deste resíduo, como protótipo para o ensaio miniatura e de campo
agregado na construção civil, pode vir a
substituir, parcialmente a areia e/ou brita, sendo O modelo reduzido (1.g) baseia-se em uma
esse a exemplificação de um dos trajetos para se contenção hipotética de um talude de 8m de
alcançar a gestão sustentável (FREITAS, 2018). altura, constituída de 36 protótipos com diâmetro
Como principais vantagens da escória, de 1m, preenchidos com escória em uma
evidenciam-se o menor custo em relação aos granulometria tipo bica corrida. Esta escória
demais agregados, maior resistência à abrasão, possui dimensões de aproximadamente, x =
além da excelente drenabilidade e fácil 0,058m e y = 0,050m determinadas a partir da
manuseio. Além disso, as escórias possuem média de uma porção de escórias distintas.
maior peso próprio, resultando em economia de O ensaio miniatura (1.g), cujo fator
material (BRUN E YUAN, 1994). Ressalta-se corresponde a 10% do hipotético assumido,
ainda que a aplicação desse material pode apresenta uma altura total de conteção igual
minizar a alta taxa de estocagem sem destino 0,60m, constituído de fôrmas tubulares em
apropriado nas siderúrgicas da região do Alto miniatura com diâmetro igual 0,10m e
Paraopeba. Tudo isso faz com que a conversão comprimento de 0,75m. Esta fôrma tubular, em
da escória em insumos para engenharia torne o formato cilindrico, possui peso de, em média,
sistema proposto sustentável. 9,60 kg e volume de 0,006m³. A escória utilizada
Nesse contexto, o protótipo foi desenvolvido na composição destas fôrmas possuem
com o intuito de propôr um novo sistema de dimensões em x = 0,003m e y = 0,002m. Em
contenção que alie as tecnologias atualmente relação ao tipo de geogrelha, utilizou-se, como
disponíveis, como a Geogrelha, a fatores forma representativa, uma tela de nylon de malha
sustentáveis. Este sistema foi objeto de pesquisa quadrada igual a 2mm. Além dessas fôrmas, foi
pois visava a sua aplicação na recomposição de necessário confeccionar uma caixa de
áreas erodidas, comum de ocorrência na região 1,0x0,8x0,6m e um pórtico para desenvolver o
de desenvolvimento deste trabalho. ensaio.
Com intuito de validar os resultados obtidos
com ensaio miniatura, implementou-se também
2 MATERIAL E MÉTODO o modelo reduzido (1.g) cujo fator de escala
geométrica foi de 40% do modelo hipotético
2.1 Análise da areia e escória adotado. Neste modelo tanto o GSY utilizado,
geogrelha da empresa Geosoluções modelo
No intuito de adequar os modelos reduzidos ao SGi60, quanto a escória tipo 3 (bica corrida)
sistema de contenção hipotético adotado, foram as mesmas a serem adotadas no protótipo.
introduziu-se a areia de forma a simular os Dessa forma, esse modelo possui altura total da
esforços oriundos dos empuxos de terra. Para contenção de 1,20m, diâmetro da fôrma tubular
tanto, de forma a conhecer as características de 0,40m e comprimento de 1,0m e realizado
deste material, determinou-se a sua umidade sobre condições de campo.
natural e a massa unitária.
Em relação à adoção da escória de aciaria 2.3 Ensaio miniatura
neste sistema de contenção proposto, evidencia-
se o artigo produzido pelo grupo de pesquisa O principal objetivo do ensaio com o modelo
INFRAGEO, intitulado: “Caracterização reduzido (1.g), de fator 10%, foi avaliar o
Mecânica da Escória de Aciaria com Vistas de comportamento qualitativo da contenção quando
Aplicação em Estacas Granulares”. Neste solicitado por uma força externa, devido à
trabalho, executaram-se os ensaios de abrasão similitude restritiva do sistema proposto.
Los Angeles, esmagamento, determinação da
massa específica de agregados graúdos, absorção 2.3.1 Ensaio miniatura com carga vertical
e determinação da massa específica de agregados
miúdos. O ensaio miniatura com carga vertical foi

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262
realizado em diferentes configurações a fim de
se obter, ao máximo, as características do
sistema de contenção. Desse modo, utilizou-se
um manômetro acoplado a um macaco
hidráulico e quatro relógios comparadores, de
50mm cada, sendo dois na horizontal e dois na
vertical. Cabe ressaltar que, em todos os
sistemas, a carga foi aplicada no centroide de
uma placa metálica rígida para distribuição da
carga sobre o sistema.
O procedimento de inserção de cargas no
sistema ocorreu por meio da aplicação em
estágios de 10min para cada carregamento. Figura 2 - Representação do modo de ensaio miniatura
Primeiramente, aplicou-se o carregamento com carga vertical, utilizando a placa de 0,50mx0,48m
sobre a areia.
sobre a placa de tamanho 0,75m x 0,15m, sobre
a pirâmide formada pelas fôrmas tubulares.
Durante este ensaio, a placa foi posicionada
em cima de duas fôrmas tubulares de GSY com
escória. Essa forma de realização do ensaio está
representada na Figura 1.
Outra forma de realização do ensaio ocorreu
aplicando o carregamento sobre uma placa
também de aço galvanizado, mas agora com
dimensões de 0,50m x 0,48m (Figura 2).
No terceiro sistema, aplicou-se o
carregamento em três diferentes posições,
movimentando-se a placa de aço galvanizado de
tamanho 0,75m x 0,15m, conforme apresentado
na Figura 3, sobre a lâmina de areia. Figura 3 - Representação do modo de ensaio miniatura
com carga vertical, utilizando a placa de 0,75m x 0,15m
em diferentes posições sobre a areia.

2.3.2 Ensaio miniatura para avaliar cargas


horizontais

O ensaio miniatura para avaliar cargas


horizontais teve como intuito avaliar o
carregamento necessário a ser aplicado no
sistema para locomover a pirâmide formada
pelas fôrmas tubulares de GSY e escória. Em
relação aos procedimentos executados, estes
seguiram os mesmos descritos no ensaio
miniatura com carregamento vertical.
Inicialmente, o carregamento foi aplicado no
Figura 1 - Representação do modo de ensaio miniatura
com carga vertical, utilizando a placa de 0,75m x 0,15m centroide da placa de 0,75m x0,15m, entre a
sobre a fôrma tubular. primeira e segunda camada da pirâmide,
composta pelas fôrmas tubulares. Esta estrutura
está exemplificada na Figura 4.

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263
Figura 6 - Representação do ensaio de campo.

O modo de realização do ensaio partiu da


aplicação de um carregamento horizontal sobre
o anteparo de madeira. (Figuras 6 e 7).
Figura 4 - Representação do modo de ensaio miniatura
com carga horizontal, aplicando carga entre a 1ª e 2ª
camada.

Posteriormente, aplicou-se o carregamento


sobre a placa de 0,50m x 0,48m, de forma a
solicitar todo o muro uniformemente conforme
Figura 5.

Figura 5 - Representação do modo de ensaio miniatura Figura 7 - Representação do sistema de contenção.


com carga horizontal, aplicando carga em toda a
pirâmide.

2.3.3 Ensaio em miniatura sobre condições de 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO


campo
3.1 Observações qualitativas gerais
O Ensaio de Campo, cujo modelo reduzido foi
de 40%, teve o propósito de analisar as O sistema de contenção proposto possui
problemáticas que envolvem o sistema e propor características semelhantes ao muro de gabião.
soluções de melhoria. Isso porque, assim como o gabião, o sistema
A ideia foi reagir um muro de contenção proposto possui fácil execução e acentuada
contra o outro. Estes muros foram compostos por flexibilidade, o que permite que a contenção
uma pirâmide de três camadas, sendo a 1ª sofra recalques diferenciais sem que o talude
composta por três fôrmas tubulares, a 2ª com fique instável. Outros fatores semelhantes entre
duas e a 3ª com uma, totalizando assim, seis essas contenções estão relacionados com a
fôrmas tubulares em cada sistema de contenção drenagem eficiente, boa durabilidade e
(Figura 6). flexibilidade. O muro de gabião que mais se
aproxima do processo construtivo do sistema de

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264
contenção composto pela fôrma tubular de GSY fôrma tubular com o carregamento aplicado
com Escória é o gabião saco. Este possui formato utilizando-se a maior placa (0,50m x 0,48m)
cilindrico e enchimento feito pela parte superior. sobre a areia (Figura 9), notou-se uma
Em relação as vantagens da fôrma tubular de similaridade dos resultados encontrados. Isso
GSY com escória, afirma-se a melhor adaptação ocorre tanto para as análises do deslocamento
às condições topográficas locais. Isso deve-se ao vertical, quanto horizontal. Em contenções reais,
fato de se trabalhar com a geogrelha que é um esse comportamento ocorre de maneira similar,
material mais flexível que a estrutura metálica sendo que para uma mesma tensão, quanto maior
que compõe o gabião. Além disso, outro fator for a área de contato a ser aplicada por uma força,
interessante é que o GSY, diferentemente das menor será a sua intensidade na região próxima
estruturas metálicas, está livre de processos à contenção. A comparação entre os
corrosivos podendo adaptar-se aos mais deslocamentos verticais referente aos ensaios da
diferentes formatos geometricos como os 1ª e 2ª configuração é representada pelo Figura
buracos e valas oriundos de processos erosivos. 8.
No que tange as análises da escória realizadas
pelo grupo de pesquisas INFRAGEO, constatou-
se alto potencial de aplicabilidade deste material.
Através das avaliações dos resultados dos
ensaios, verificou-se que este material apresenta
massa específica dos grãos da ordem de 3,3
g/cm³, abrasão igual 55%, resistência ao
esmagamento de 25%. Mesmo apresentando
resultados relativamente baixos, a escória
apresenta uma resistência ao esmagamento de
moderada a alta, o que valida a sua aplicação
como sistema de contenção.
Em relação a areia determinou-se o teor de
umidade, que foi da ordem de 22,03% e a massa
unitária, cujo valor foi de 1,80 kgf/cm³. Através
do uso deste agregado foi possível avaliar as
trincas presentes, bem como os deslocamentos, Figura 8 - Comparativo entre os sistemas da 1ª e 2ª
comprovando-se assim, a existência do configuração.
deslocamento na estrutura de contenção. O
deslocamento inicial, para prova de carga
vertical, pode ser explicado pela acomodação e
compactação realizadas pelo sistema de
aplicação de carga na contenção, visto que a
escória que preenche a fôrma tubular não fora
compactada, mas apenas lançada.

3.2 Comparativo

Como forma de resultado, será exposto um Figura 9 - Representação da 1ª e 2ª Configuração.


comparativo entre os deslocamentos horizontais
e verticais dos ensaios realizados. 3.2.2 Comparativo entre os sistemas com as
placas variando de posição para carga vertical
3.2.1 Comparativo entre os dois primeiros
ensaios com aplicação de carga vertical Em relação aos ensaios com variação da posição
da placa de 0,75x0,15m (Figura 11), notou-se um
Ao se comparar os resultados referentes ao comportamento equivalente para as três posições
carregamento aplicado diretamente sobre a adotadas. Contudo, aferiu-se que à medida que a

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265
placa era afastada do muro de contenção esta
apresentava valores menores de deslocamento da
estrutura. Isso ocorre devido à tensão solicitante
no sistema de contenção, proveniente da força de
empuxo ativo, ser menor do que aquela adotada
próxima à contenção. Em um muro de gabião,
por exemplo, para uma tensão solicitante
próxima à contenção, o deslocamento da
estrutura torna-se mais representativo devido à
maior força de empuxo ativo. A Figura 10
representa esse comparativo proposto (3ª,4ª e 5ª
configuração).

Figura 12 - Comparativo entre os sistemas da 1ª e 2ª


configuração horizontal.

Figura 13 - Representação da 1ª e 2ª Configuração.


Figura 10 - Comparativo entre os sistemas da 3ª,4ª e 5ª
configuração.
3.2.4 Comparativo entre os sistemas da 3ª, 4ª e 5ª
configuração para deslocamento horizontal com
carga vertical

A Figura 15 representa um comparativo entre os


sistemas de contenção da 3ª, 4ª e 5ª configuração
para o sistema de carregamento horizontal
Figura 11- Representação da 3ª, 4ª e 5ª Configuração.
(Figura 14), em que as tensões impostas na 3ª
configuração são maiores, uma vez que a placa
3.2.3 Comparativo entre os sistemas da 1ª e 2ª esta posicionada sobre a contenção, deixando
configuração para deslocamentos horizontais esta configuração mais resistente se comparada
com carga vertical às demais.

Verificou-se que, à medida que a solicitação


abrangia uma área de contato maior sob o
sistema de contenção, ocorria a distribuição
uniforme das suas cargas, o que acarretava
menores deslocamentos. A Figura 12 representa
um comparativo entre os sistemas de contenção
da 1ª e 2ª configuração (Figura 13) para os Figura 14 - Representação da 3ª, 4ª e 5ª Configuração.
deslocamentos horizontais com carregamento
vertical.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

266
Figura 17 - Representação da 1ª e 2ª Configuração.

3.3 Ensaio em campo

Na Figura 19 está representado o ensaio


realizado e na Figura 18, a Curva Tensão x
Deslocamento Horizontal do ensaio em campo.
Figura 15 - Comparativo entre os sistemas da 3ª, 4ª e 5ª
configuração horizontal.

3.2.5 Comparação dos deslocamentos


horizontais para ensaio da miniatura horizontal
da 1ª e 2ª configuração.

A Figura 16 representa um comparativo entre os


sistemas de contenção da 1ª e 2ª configuração
para o sistema horizontal (Figura 17), em que a
2ª configuração representa maior área de
distribuição de carga, possuindo assim, para uma
mesma força de aplicação, menor tensão
suportada se comparada à 1ª configuração, onde
a aplicação da força é realizada na base do
protótipo.

Figura 18 - Curva Tensão X Deslocamento Horizontal


para Ensaio em Campo.

Figura 19 - Representação do ensaio de campo

Neste ensaio, o macaco hidráulico foi


posicionado no lado direito entre os dois muros,
o que influenciou o maior deslocamento no muro
Figura 16 - Curva Tensão X Deslocamento Horizontal. direito. Já a areia, entre a placa de aplicação de
carga e o muro, foi introduzida sem nenhum tipo
de confinamento lateral, de modo a não induzir
tensões laterais.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

267
Sabe-se que o melhor desempenho de uma REFERÊNCIAS
estrutura de contenção de geossintético depende
tanto da resistência à tração deste, como também ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
da sua rigidez e do nível de carregamento sob o Determinação da Massa Unitária. NBR 7251. Rio de
Janeiro, 1982, 3p.
qual a estrutura é submetida (BARAJAS, 2016). ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Assim, a análise qualitativa da interação entre o Determinação do Teor de Umidade. NBR 16097. Rio
muro de contenção, geogrelha e escória, e o solo de Janeiro, 2012, 5 p.
é de suma importância, uma vez que esta verifica BENJAMIM, C.V.S. (2006). Avaliação Experimental de
o comportamento entre a deformação da protótipos de estruturas de contenção em solo
reforçado com geotêxtil. Tese de Doutorado, Escola de
interface muro-solo e o alongamento da Engenharia de São Paulo, São Carlos.
geogrelha em questão. BRUN, D. W.; YUAN, W. C. (1994). Caracterização e
aproveitamento dos resíduos siderúrgicos principais
gerados pela aciaria elétrica. Porto Alegre:
3 CONCLUSÃO PPGEMMIUFRGS.
FREITAS, S. M. A. C. (2018). Escória de Aciaria:
caminhos para uma Gestão Sustentável. Tese de
Constatou-se que a geogrelha é um material de Doutorado, Universidade Federal de Ouro Preto.
grande versatilidade e que proporciona fácil BARAJAS, S. A. R. (2016). Estudo comparativo da
execução, bem como uma ótima interação com a interação solo-geogrelha por meio de ensaios de
escória. Além disso, esta apresenta grande arrancamento monotônico e cíclico utilizando
equipamentos de pequenas e grandes dimensões.
viabilidade técnica, o que permite obter um novo Dissertação (Mestrado em Geotecnia) - Universidade
sistema de contenção sustentável. de Engenharia de São Carlos, Universidade de São
Há também outras características importantes Paulo, São Carlos.
do sistema que garantem uma maior
aplicabilidade em diversos meios, podendo-se
citar a maior adaptabilidade à geometria do
terreno devido à sua flexibilidade, além da
facilidade executiva, o que permite uma menor
quantidade de mão de obra.
Por fim, salienta-se que, mesmo este projeto
apresentando parâmetros qualitativos suficientes
para validar o uso deste sistema como uma nova
alternativa de contenção, outras análises devem
ser realizadas, propiciando resultados ainda mais
confiáveis, como a realização de mais ensaios de
campo, a implantação e monitoramento do
sistema em obras reais e exumação e análise do
geogrelha utilizada. Tudo isso, com o intuito de
difundir, entre as técnicas de contenção de
taludes, a fôrma tubular de GSY com escória.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade Federal de


São João del-Rei, à Universidade Federal de
Ouro Preto, ao grupo de pesquisa INFRAGEO e
à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – Brasil (CAPES) por todo o
apoio durante a realização dessa pesquisa.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

268
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019

Efeito da inclusão de fibras poliméricas e de cimento na


resistência ao cisalhamento do solo
Maitê Rocha Silveira
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, maiterocha7@gmail.com

Gabriela Bolini Dias dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, gabrielabolini@gmail.com

Willian de Brito Giacometti


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, wbg9811@hotmail.com

Roger Augusto Rodrigues


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, roger.rodrigues@unesp.br

Caio Gorla Nogueira


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caio.nogueria@unesp.br

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: Esse trabalho compreende uma avaliação da variação da resistência ao cisalhamento de


um solo argiloso em função da inclusão de cimento e fibras poliméricas de polietileno tereftalato
(PET), propondo a utlização de materais alternativos em um contexto em que os recursos
ambientais tornam-se cada vez mais escassos. Assim, foram realizados ensaios de compactação do
solo argiloso em seu estado natural e com adição de teores de 2% e 10% de cimento, a fim de
avaliar o efeito da adição de cimento nos parâmetros de compactação do solo. Também foram
realizados ensaios de cisalhamento direto no solo sem adição de cimento e com adição nos teores de
2%, 4%, 6%, 8% e 10%, com o objetivo de avaliar o teor de inclusão de cimento que resulta em
maior ganho de resistência. A melhor combinação de solo-cimento encontrada foi submetida à
adição aleatória de fibras poliméricas do tipo PET com comprimentos de 10 e 15 mm e largura de
1,5 mm, além de percentagens pré-determinadas de 0,75, 1,0; 1,5% em relação à massa seca do
solo. Assim, verificou-se que os parâmetros de compactação do solo não são muito afetados pela
adição de cimento. A inclusão de cimento ao solo mostrou-se efetiva, sendo possível observar
grandes aumentos da coesão e do ângulo de atrito do solo, principalmente para acréscimos de
maiores quantidades de cimento. Em relação à inclusão de fibras, foi possível notar aumento na
resistência do compósito, entretanto, a adição aleatória de fibras a uma matriz cimentada tornou o
material heterogêneo: a resistência do material e seu plano de ruptura mostraram-se imprevisíveis.

PALAVRAS-CHAVE: : Solo-cimento, Solo-cimento-fibra, Resistência ao cisalhamento,


Parâmetros de compactação.

ABSTRACT: This work is an evaluation of the variation of a clay soil’s shear strength due to the
inclusion of cement and polymeric fibers, proposing the use of alternative materials in a context in
which environmental resources become increasingly scarce. Therefore, soil compaction tests were
performed in the natural state and with 2% and 10% cement content added, in order to evaluate the
the effect of cement addition on soil compaction parameters. Direct shear tests were also done in the
soil without cement addition and with addition in the contents of 2%, 4%, 6%, 8% and 10 % in
order to evaluate the inclusion content of cement that results in greater resistance gain. The best

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

269
combination of soil-cement was subjected to the random addition of PET polymer fibers with
lengths of 10 and 15 mm, in addition to predetermined percentages of 0.75, 1.0 and 1.5% in relation
to the dry mass of the soil. Thus, it was verified that soil compaction parameters are not affected by
the addition of cement. The inclusion of cement in the soil proved to be effective, and it was
possible to observe large increases in soil cohesion and friction angle, mainly in additions of larger
quantities of cement. In relation to the inclusion of fibers, it was possible to notice an increase in the
composite strength, however, the random addition of fibers to a cemented matrix made the material
heterogeneous: the strength of the material and its rupture plane were unpredictable.

KEYWORDS: Soil-cement, Soil-cement-fiber, Shear strength, Compaction parameters.

1 INTRODUÇÃO propriedades de resistência desejadas ao


composto. De acordo com SILVA (2005) a
A aplicação de fibras poliméricas para reforço utilização do solo-cimento na construção civil
de solos vem crescendo e ganhando espaço em apresenta diversas vantagens como a grande
aplicações geotécnicas nas últimas décadas. disponibilidade do solo, o que propicia o uso
Esse fato justifica-se por motivos diversos intensivo de recursos do local, diminuindo
como o advento do grande avanço das gastos com transporte e escavação. Além disso,
indústrias químicas, consagração da utilização a tecnologia simples e a fácil aplicação não
de materiais poliméricos em obras de reforços e demandam mão de obra especializada. O
diversas vantagens que surgem desses fatos compósito apresenta ainda grande durabilidade
como economia, segurança, praticidade, e manutenção reduzida, devido às elevadas
menores volumes de solo, dentre outros resistências e menor grau de permeabilidade.
(CASAGRANDE, 2005, TRINDADE et. al., No contexto hodierno, em que a escassez de
2006; SIEIRA & SAYÃO, 2010). Bueno (1996) recursos naturais é uma preocupação cada vez
cita o fato das fibras estarem associadas à mais freqüente, o solo-cimento mostrou-se uma
prática já consagrada de reforço de solos com excelente alternativa para melhoria da
inclusões direcionais (fitas, barras, mantas, capacidade resistente do solo em obras
grelhas) e à tradição da engenharia geotécnica geotécnicas. Assim, diversos autores estudaram
em executar correção granulométrica por o desempenho do compósito quando utilizado
misturas de dois ou mais solos. Casagrande em conjunto com fibras de diferentes tipos.
(2005) também afirma que avaliações de SPECHT (2000) analisando os estudos de
reforço de solos através de inclusões diversos autores concluiu que, em geral, as
aleatoriamente distribuídas tem ganhado um fibras apresentaram diminuição da amplitude
campo de pesquisa maior. Este método tem das fissuras associadas à ruptura do compósito,
demonstrado eficiência quando empregado aumentando sua tenacidade. Além disso, fibras
tanto em solos cimentados como em solos não com maior capacidade de alongação,
cimentados, devido à melhoria nas propriedades principalmente fibras poliméricas, apresentam
mecânicas que é capaz de conferir a estes resultados mais satisfatórios que fibras com
materiais, principalmente os aumentos da módulo de rigidez muito elevado, como por
resistência, da ductilidade e da tenacidade, e a exemplo, fibras metálicas. O sucesso desse tipo
diminuição da queda de resistência pós-pico. de inclusão foi associado ao maior
Outro tipo de reforço de solo que tem intertravamento entre as partículas da matriz.
ganhado cada vez mais destaque é o solo- Além disso, o autor pôde concluir que as
cimento. Este compósito é formado pela adição propriedades do material final dependerão das
de cimento em percentagens pré-determinadas a características da fibra e do compósito de solo-
uma matriz. De acordo com a ABCP, o solo é o cimento, além da tensão de confinamento e
material mais utilizado, com a quantidade de modo de carregamento.
cimento variando entre 5% a 10% do peso do Em um contexto marcado por uma crescente
solo, apenas o suficiente para conferir as degradação ambiental a proposição de usos de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

270
materiais alternativos na construção civil que Mecânica dos Solos da Faculdade de
busquem reduzir a produção de resíduos ou Engenharia de Bauru.
utilizar resíduos anteriormente gerados mostra- Para avaliação da influência da inclusão
se necessária, como é o caso do solo-cimento, de cimento na resistência ao cisalhamento do
em que a adição de quantidades moderadas de solo foram moldados corpos de prova, na
cimento altera em grandes proporções as umidade ótima, com a adição de cimento em
propriedades mecânicas dos solos. Outra porcentagens pré-determinadas em relação à
alternativa é a adição de fibras poliméricas que massa seca do solo.
utiliza-se de resíduos anteriormente gerados A fim de se avaliar a influência da adição
para aumentar a resistência dos solos. de cimento aos parâmetros de compactação do
O PET é atualmente um material de grande solo estudado, foram realizados ensaios de
utilização no mundo, sendo utilizado compactação (Proctor Normal) com adição de
principalmente na produção de garrafas 2% e 10% de cimento, cujo procedimento é
plásticas usadas no armazenamento de descrito a seguir.
refrigerantes, água e óleos. No último censo de Conforme determinado pela NBR
reciclagem do PET no Brasil (10ª Ed., 12023/1992, a qual trata sobre ensaios de
publicado pela Associação Brasileira da compactação em solo - cimento, após a
Indústria do PET) evidenciou-se que apenas secagem ao ar foi adicionada a quantidade
51% do total produzido é reciclado. Assim, especificada de cimento Portland CP II - F - 32,
devido ao baixo custo, grande disponibilidade e da fabricante CSN, e, depois de misturado o
às propriedades que podem conferir a um cimento ao solo, foi adicionada água em
determinado compósito, o material apresenta quantidade previamente calculada. Realizada a
grande potencial de utilização na construção adição do cimento e da água, foi feita a
civil. compactação do corpo de prova, em três
Embora o cimento não esteja entre os camadas, através da aplicação de 26 golpes de
materiais mais ecológicos, sua utilização em um soquete pequeno por camada, utilizando-se
conjunto com o solo, compósito denominado um molde cilíndrico acoplado à base. Os
solo-cimento, mostra-se cada vez mais ensaios realizados com solo-cimento foram
sustentável, uma vez que configura um material elaborados sem reuso de material e, portanto,
de alta resistência capaz de, dentro de casos foi utilizada uma amostra virgem para cada
exaustivamente estudados e com todas as ponto da curva.
limitações delimitadas, substituir opções que Depois de realizados os ensaios de
configurem soluções mais poluidoras. Um compactação foram realizados ensaios de
excelente exemplo seria a substituição de tijolos cisalhamento direto, avaliando a resistência do
convencionais pelos tijolos de solo-cimento, os solo argiloso com e sem a adição de cimento e
quais se configuram como uma alternativa com a adição de cimento e fibras de polietileno
ecológica, uma vez que não precisam ser tereftalato (PET), as quais apresentavam largura
cozidos. Vale ressaltar ainda que as principais de 1,5 mm e comprimentos de 10 e 15 mm.
matérias primas do cimento são a argila (4%) e Inicialmente foi feita a moldagem dos
o calcário (94%), ambos materiais com corpos de prova (cps) na umidade ótima do
abundante disponibilidade na natureza. solo, colocando-se uma massa previamente
calculada de solo-cimento, de acordo com o
volume de cada molde e da densidade máxima
2 MATERIAIS E MÉTODOS do compósito, buscando-se o grau de
compactação de 95% (figura 1).
Para o desenvolvimento da pesquisa foi Os corpos de prova foram então colocados
utilizado solo argiloso da região de Pederneiras no interior de uma cápsula que foi ajustada na
(SP). Para caracterização do solo foram máquina de cisalhamento direto para iniciar a
realizados ensaios de granulometria e de ruptura.
compactação (Proctor Normal). Todos os Antes de cisalhar, os corpos de prova foram
ensaios foram realizados no Laboratório de adensados com o uso de cargas de 1, 2 ou 4 kg,

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

271
(que, dado o braço de momento de 11 cm,
resultaram em tensões normais de 30,9; 61,6 e
122,6 kPa, respectivamente). A junção dos 3
resultados foi usada para formar uma
envoltória.

Figura 3. Corpo de prova já rompido, evidenciando o


plano de ruptura do compósito de solo-cimento.

Figura 1. Corpo de prova do ensaio de cisalhamento


direto já moldado.

A figura 2 ilustra a montagem do ensaio


de cisalhamento direto.

Figura 4. Corpo de prova já rompido, evidenciando o


plano de ruptura do compósito de solo-cimento-fibra.

Foram realizadas 6 envoltórias de solo-


cimento para fins de comparação: solo argiloso
sem a adição de cimento e com adição de
cimento nas porcentagens de 2%, 4%, 6%, 8% e
10% em relação à massa seca do solo.
A fim de se obter o material com melhor
Figura 2. Processo de cisalhamento do corpo de prova no desempenho para ser usado em obras
ensaio de cisalhamento direto. geotécnicas e avaliar a influência das fibras
sobre o compósito de solo-cimento, obteve-se a
As figuras 3 e 4, a seguir, mostram o corpo de adição de cimento que maior apresentou
prova já rompido, evidenciando o plano de aumento de resistência ao solo estudado e
ruptura para os compósitos formados por solo adicionou-se as fibras de polietileno tereftalato
cimento e solo-cimento-fibra, respectivamente. (com comprimentos de 10 e 15 mm) em
Para obtenção da envoltória reta de Mohr- porcentagens de 0,75; 1,00 e 1,50%.
Coulomb foram utilizados 3 resultados dos Todos os ensaios foram realizados de
ensaios de cisalhamento direto, variando-se a acordo com as normas da ABNT.
carga normal aplicada em cada um. Adotou-se a
compactação estática, na qual um êmbolo
metálico é acoplado ao mesmo equipamento de 3 RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISES
compressão simples, e pressiona a parte
superior do molde metálico do ensaio de Foram realizados ensaios de
cisalhamento direto a uma velocidade granulometria e de compactação (Proctor
constante, compactando a quantidade Normal) no solo argiloso obtendo-se os
previamente calculada de solo, fibra e água. seguintes resultados: o solo argiloso foi

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272
classificado como argila arenosa roxa escura ótima de 1%, compatível com os desvios que
(tabela 1). Do ensaio de Proctor Normal foram podem ocorrer em campo.
obtidos teor de umidade ótima de 16,1% e Em relação aos ensaios de cisalhamento
massa específica seca máxima de 1,837 g/cm³. direto, estes foram moldados na umidade ótima
A tabela 2 ilustra os índices físicos do solo do solo, com grau de compactação de 95%,
obtidos para as amostras compactadas. variando-se a porcentagem de cimento aplicada
Foram realizados também ensaios de em relação à massa seca do solo. Foram obtidas
compactação para o solo argiloso com adição de seis envoltórias: uma envoltória referente ao
2% e 10% de cimento em relação à massa seca solo argiloso puro, sem acréscimo de cimento,
do solo, obtendo-se umidade ótima de 16,5% enquanto que as demais envoltórias foram
para adição de 2% de cimento e de 15,4% para referentes ao solo argiloso com acréscimo de
adição de 10% de cimento. Em relação à 2%, 4%, 6%, 8% e 10% de cimento. Cada
densidade seca máxima, foram obtidos valores envoltória foi obtida através do cisalhamento de
de 1,755 para adição de 2 % de cimento e 1,820 3 corpos de prova, os quais foram adensados
para adição de 10%. com o uso de cargas de 1, 2 e 4 kg.
A Tabela 3 a seguir mostra os parâmetros
Tabela 1. Composição do solo argiloso estudado, obtida de resistência ao cisalhamento do solo,
em ensaio de granulometria. encontrados para cada envoltória.
Escala ABNT Composição
(NBR 65025) (%) Tabela 3. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do
solo, encontrados para cada envoltória.
Areia média 1,5 Solo analisado Coesão (kPa) Ø
Areia fina 42,5 Solo argiloso puro 64,8 33,1
Silte 12 Solo com 2% de cimento 67,3 30,5
Solo com 4% de cimento 71,8 52,4
Argila 44
Solo com 6% de cimento 66,7 60,0
Solo com 8% de cimento 40,6 73,7
Uma vez que os resultados se Solo com 10% de cimento 69,3 71,7
apresentaram muito semelhantes aos resultados
obtidos através do ensaio de compactação do Na tabela 3, Ø representa o ângulo de
solo sem adição de cimento verificou-se que a atrito do compósito, valor que corresponde à
umidade ótima e a densidade aparente seca resistência do solo que é devida ao atrito entre
máxima não são muito afetadas pela adição de as partículas. Em se tratando de taludes, o
cimento, o que foi condizente com os resultados ângulo de atrito pode ser entendido como o
obtidos por KÉZDI (1979) e ULBRICH (1997). ângulo máximo que a força transmitida à
superfície pode fazer com a normal ao plano de
Tabela 2. Índices físicos do solo argiloso, obtidos para as
contato, sem que ocorra deslizamento. Atingido
amostras compactadas.
este ângulo, a componente tangencial é maior
Índices Físicos Unidade Resultados do que a resistência ao deslizamento, que
Massa específica seca depende da componente normal.
g/cm³ 1,837 Além da resistência causada pelo atrito
máxima
Teor de umidade ótimo % 16,1 entre as partículas, a atração química existente
Índice de vazios - 2,688 entre os grãos provoca a existência de uma
Porosidade % 72,9 coesão. A coesão é a principal parcela da
Grau de Saturação % 93,5
resistência ao cisalhamento dos solos finos e
coesivos, como as argilas, enquanto que para os
Massa específica dos sólidos g/cm³ 2,688
solos granulares ou não coesivos, como
as areias, a maior parcela da resistência é devida
Os corpos de prova de solo-cimento ao ângulo de atrito.
foram então moldados para os ensaios de Assim, a inclusão de cimento ao solo
cisalhamento direto na umidade ótima do solo argiloso estudado mostrou-se efetiva, uma vez
de 16,1%, que em todos os casos se mostrou que foi possível observar grandes aumentos da
condizente com o desvio aceitável da umidade coesão e do ângulo de atrito do solo,

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

273
dependendo da quantidade de cimento PET em diferentes tamanhos e porcentagens ao
adicionada. Efeitos mais pronunciados foram compósito, avaliando-se então, a melhoria que
notados para acréscimo de maiores quantidades as fibras geram ao compósito.
de cimento. A seguir a tabela 4 ilustra os parâmetros
No caso em que se adicionou 2% de de resistência ao cisalhamento do solo,
cimento em relação à massa seca do solo nota- encontrados para cada envoltória.
se um pequeno aumento da coesão, de 3,7%,
enquanto houve uma diminuição de 7,9% do Tabela 4. Parâmetros de resistência ao cisalhamento do
ângulo de atrito. Dessa forma, através da solo, encontrados para cada envoltória de solo-cimento-
fibra, em que foi utlizada adição de 10% de cimento.a
comparação entre as envoltórias a adição de 2% Tamanho das Porcentagem Coesão Ø
de cimento ao solo seria vantajosa no aumento fibras incluídas de fibras (kPa)
da resistência deste apenas quando o solo em 10 mm 0,75% 188,2 71,8
questão estiver confinado com uma tensão 10 mm 1,00% 57,3 60,3
normal menor que 39,8 kPa. 10 mm 1,50% 202,8 46,7
As envoltórias obtidas com adição de 4% e 15 mm 0,75% 116,0 60,0
15 mm 1,00% 277,7 57,2
6% de cimento ao solo mostraram, em todos os 15 mm 1,50% 60,6 71,4
casos, aumento da resistência ao cisalhamento
do solo. Com a adição de 4% de cimento Assim, através da análise dos resultados é
obteve-se um aumento de 10,8% da coesão do possível perceber que o compósito solo-
solo e de 58,3% do ângulo de atrito, enquanto cimento-fibra apresentou um significativo
que com a adição de 6% de cimento o aumento ganho de resistência em relação ao solo argiloso
da coesão foi de apenas 2,9%, além de um puro, entretanto, em relação ao solo-cimento,
grande aumento de 81,3% do ângulo de atrito. em alguns casos a adição de fibras apresentou
Portanto, em se tratando do aumento da uma diminuição na resistência.
resistência, para tensões normais acima de 11,8 Dentre as combinações estudadas, a maior
kPa o uso de 6% de cimento mostrou-se mais coesão foi obtida para adição de 1,00% de
efetivo. fibras de 15 mm de comprimento, em relação à
A adição de 8% de cimento ao solo massa seca do solo, resultando em uma coesão
estudado, por sua vez, foi a única que de 277,7 kPa, equivalente a um aumento de
apresentou diminuição da coesão do solo (de 328,5% em relação ao solo argiloso puro e de
37,4 %), entretanto, também apresentou o maior 300,7% em relação ao solo argiloso com adição
aumento do ângulo de atrito entre as de 10% de cimento. O maior ângulo de atrito
porcentagens analisadas (de 122,7%), encontrado foi para adição de 0,75% de fibras
mostrando potencial para aplicação em solos de 10 mm de comprimento, resultando em um
em que a tensão normal atuante é alta. ângulo de atrito de 71,8º, 116,9% maior que o
Os resultados mais satisfatórios foram ângulo obtido para o solo argiloso puro e
obtidos para a adição de 10% de cimento em aproximadamente igual ao ângulo obtido para o
relação à massa seca do solo analisado, solo argiloso com adição de 10% de cimento.
apresentando aumento considerável da coesão e No geral, avaliando-se ambos os
um aumento muito grande do ângulo de atrito. parâmetros de resistência ao cisalhamento do
O aumento de coesão foi de 6,9% e do ângulo solo percebe-se que o maior ganho foi em
de atrito de 166,6%. relação à adição de 0,75% de fibras de 10 mm
Em todos os casos a adição de cimento ao de comprimento, em que, em relação à
solo, independentemente da quantidade resistência atingida pelo compósito de solo-
incluída, resultou na estabilização volumétrica cimento, o ângulo de atrito obtido foi muito
do solo. próximo ao ângulo obtido sem a adição de
Obtida a porcentagem ótima de solo- fibras e a coesão apresentou um aumento de
cimento, ou seja, a porcentagem de adição de 171,6% quando da adição desta combinação de
cimento que apresenta maior ganho de fibras.
resistência ao cisalhamento em relação ao solo Além disso, analisando-se os resultados
argiloso puro foi feita a adição de fibras do tipo de maneira mais geral (a se excluir algumas

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

274
exceções) pode-se verificar que a adição de fibras apresentou uma diminuição na
fibras ao composto de solo-cimento tem efeito resistência.
mais pronunciado no aumento da coesão do Dentre as combinações estudadas, a maior
solo, apresentando também diminuição no coesão foi obtida para adição de 1,00% de
ângulo de atrito, de modo que sua adição ao fibras de 15 mm de comprimento e o maior
compósito fica, então, condicionada ao ângulo de atrito encontrado foi para adição de
parâmetro de resistência ao cisalhamento do 0,75% de fibras de 10 mm de comprimento.
solo que se deseja alterar. Pode-se verificar também que a adição de
Os resultados obtidos também apontam fibras ao composto de solo-cimento tem efeito
características importantes do material solo- mais pronunciado no aumento da coesão do
cimento-fibra: o compósito torna-se solo, apresentando também diminuição no
heterogêneo. A adição de fibras a uma matriz ângulo de atrito.
cimentada torna o comportamento do material Por fim, conclui-se que a adição de fibras
imprevisível, de forma que, no momento da a uma matriz cimentada torna o comportamento
ruptura dos corpos de prova a matriz cimentada do material imprevisível, pois a adição de fibra
agrega as fibras de modo a criar um material ao compósito de solo-cimento faz com que o
heterogêneo, cujo plano de ruptura e a tensão material resultante mostre-se heterogêneo. Tal
resistida irão depender da distribuição das fibras heterogeneidade pode ser explicada pela adição
( vide figuras 3 e 4) , em especial da quantidade de fibras, de maneira aleatória, a uma matriz
de fibras que serão solicitadas durante a ruptura cimentada: no momento da ruptura dos corpos
e da forma com que os esforços se distribuirão. de prova a matriz cimentada agrega as fibras de
modo a criar um material cuja tensão resistida e
o plano de ruptura irá depender da distribuição
CONCLUSÕES das fibras, em especial da quantidade de fibras
que serão solicitadas e da forma com que os
Diante dos resultados obtidos e esforços se distribuirão.
analisados, as principais conclusões estão
elencadas a seguir.
Através da realização de ensaios de AGRADECIMENTOS
compactação com solo-cimento notou-se que a
umidade ótima e a densidade aparente seca Os autores agradecem à FAPESP pelo
máxima não são muito afetadas pela adição de financiamento desta pesquisa.
cimento.
A inclusão de cimento ao solo mostrou-se
efetiva, sendo possível observar grandes REFERÊNCIAS
aumentos da coesão e do ângulo de atrito,
dependendo da quantidade de cimento ABIPET (2016). Décimo censo de reciclagem de PET no
Brasil. Associação Brasileira da Indústria do PET.
adicionada. Efeitos mais pronunciados foram 12p.
notados para acréscimo de maiores quantidades ABCP (2012). Guia básico de utilização do cimento
de cimento. Portland. Associação Brasileira de cimento Portland,
Os resultados mais satisfatórios foram São Paulo. 28 p.
obtidos para a adição de 10% de cimento, ABMS Aplicativo ABMS eventos é lançado para a
COBRAE2017,https://www.abms.com.br/aplicativo-
apresentando aumento considerável da coesão e abms-eventos-e-lancado-para-a-cobrae-2017, acessa-
um aumento muito grande do ângulo de atrito. do em 16/10/2017.
Em todos os casos a adição de cimento resultou ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de
na estabilização volumétrica do solo. compactação. Associação Brasileira De Normas
Em relação ao compósito solo-cimento- Técnicas, Rio de Janeiro, p. 9.
ABNT (2012). NBR 12024: Moldagem e cura de corpos-
fibra é possível perceber que este apresenta um de-prova cilíndricos. Associação Brasileira De
significativo ganho de resistência em relação ao Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 6.
solo argiloso puro, entretanto, em relação ao ABNT (2012). NBR 12025: Solo-cimento – Ensaio de
solo-cimento, em alguns casos a adição de compressão simples de corpos de prova cilíndricos.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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276
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análises de campo e laboratório do comportamento ao longo do


tempo de um muro de solo reforçado com geotêxteis tecidos
Rafael Ribeiro Plácido
Interact Engenharia, São Paulo, Brasil, rafael@interact.eng.br

Fernando Henrique Martins Portelinha


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

Marcos Massao Futai


Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

RESUMO: Investigações do comportamento dependente do tempo de um muro de solo reforçado


com geotêxteis tecidos são apresentados neste artigo. O muro em estudo foi construído
empregando-se como material de aterro um solo arenoso com elevada quantidade de finos em sua
composição. A estrutua de solo reforçado, com altura total da ordem de 10m, foi insrumentada por
meio do uso de barras metálicas (tell-tales) em três diferentes alturas. O monitoramento foi
realizado por um período de aproximadamente 5 anos. Adicionalmente foram realizados ensaios de
fluência sob confinamento de forma a simular em laboratório os reforços instrumentados em
campo. Para cada posição instrumentada foi realizado um ensaio de fluência confinada com a
correspondente tensão de confinamento. As análises conjuntas dos resulatdos de campo e
laboratório mostraram que os níveis de deformações dos valores registrados na estrutura real foram
muito semelhantes aos de laboratório. Por outro lado, os valores dos índices de fluência foram
significativamente menores nos ensaios de fluência confinada. Os resultados das análises
permitiram concluir que ensaios de fluência confinada são ótimas ferramentas na previsão do
comportamento ao longo do tempo de muros reforçados com geossintéticos. As diferenças obtidas
entre o monitoramento de campo e os ensaios de laboratório podem ser atribuídas ao fato da
estrutura real estar sujeita a influência de variáveis externas, como a variação climática e variações
antrópicas severas.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, geotêxtil tecido, muro de solo reforçado, fluência.

ABSTRACT: Laboratory and field investigation of time-dependent behavior of geotextiles


reinforcing a fine-grained soil wall are evaluated in this paper. The reinforced soil structure, with a
total height of about 10m was monitored using tell-tales at three different heights. Monitoring was
performed for a period of approximately 5 years. In addition, in-isolation and confined creep tests
were carried out in order to simulate in laboratory the instrumented reinforced wall. For each
instrumented position, a confined creep test was performed with the corresponding confining
tension. The combined analyzes of the field and laboratory results showed that the deformation
levels recorded in the field were very similar to those recorded in laboratory in-isolation tests. On
the other hand, the creep rate were significantly lower in the confined creep tests. The results of the
analyzes allowed to conclude that confined creep tests are great tools to predict the behavior of
reinforced soil walls. The differences between the field monitoring and laboratory tests can be
attributed to the fact that the field structure is subject to the influence of external variables such as
climatic variation and severe anthropic variations.

KEY WORDS: Geosynthetics, woven geotextile, reinforced soil wall, creep.

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277
1 INTRODUÇÃO reforço. Ensaios similares foram realizados por
França e Bueno (2011), nos quais o
A deformação dependente do tempo de confinamento em solo apresentou pouco efeito
geossintéticos é uma propriedade essencial para sobre as deformações por fluência de
o correto dimensionamento de um muro em geogrelhas e geotêxteis tecidos, e um efeito
solo reforçado. Os geossintéticos são elementos mais pronunciado sobre os geotêxteis não
compostos por materiais poliméricos, com tecidos. Por outro lado, nenhuma influência do
comportamento visco-elasto-plástico, que confinamento do solo nas deformações de
sofrem um rearranjo de suas moléculas quando geotêxteis tecidos e não tecidos foi relatada por
submetidos à carregamentos externos. Nestas Levacher et al. (1994) e Wu e Hong (1994).
situações de carregamento os geossintéticos Wu (1994) e Wu e Helwany (1996)
podem sofrer fluência, o que pode levar à demonstraram que o comportamento reológico
deformações excessivas da estrutura e até de solos confinantes afetam as deformações por
mesmo ao colapso em casos mais graves. As fluência dos geossintéticos.
propriedades dependentes do tempo dos Se o solo estiver perfeitamente ligado ao
geossintéticos, do solo de aterro e também da geossintético, implicando que não ocorrem
interação solo-reforço devem ser estabelecidas deslocamentos relativos, o solo e o reforço
de forma a possibilitar uma previsão adequada devem se deformar conjuntamente. Sob
do comportamento dos reforços quando carregamento constante, o solo restringe as
submetidos aos carregamentos de uma estrutura deformações do geossintético quando o solo
real. apresenta menor taxa fluência quando
No dimensionamento de muros em solo comparado ao reforço. No entanto, no caso da
reforçado com geossintéticos, a consideração taxa de fluência do solo confinante ser maior do
das deformações dependentes do tempo é feita que a do geossintético, uma aceleração da
por meio da aplicação de um fator de redução fluência é induzida no reforço.
empírico relacionado à perda da resistência do A maioria das pesquisas aqui relatadas revela os
reforço devido à fluência. A obtenção desse efeitos do confinamento do solo no
fator de redução se baseia tipicamente em comportamento da fluência de geossintéticos
ensaios de fluência em isolamento do por meio de ensaios confinados de laboratório.
geossintético. Entretanto, apesar do No entanto, pouca pesquisa foi focada na
comportamento ao longo do tempo de muros compreensão do comportamento de fluência em
em solo reforçado com geossintéticos não ser muros de solo reforçado em escala real. Liu et
afetado essencialmente pela fluência do reforço, al. (2009) realizaram estudos numéricos e
ele depende diretamente do comportamento da relataram um efeito considerável da fluência
interação solo-geossintético. relativa entre o geossintético e o solo, não
A caracterização do comportamento da apenas nas deformações do reforço, mas
interação solo-reforço tem sido realizada em também nas cargas de tração e tensões do solo
laboratório utilizando aparatos que aplicam o de um muro em solo reforçado. Allen e Bathurst
carregamento sobre o reforço de forma indireta (2002) relataram deformações significativas ao
através do solo envolvente (Kazimierowicz- longo do tempo em muros de solo reforçado
Frankowska 2003, 2006; Simonini and Gottardi construídos em escala real, sob elevados
2003), e também utilizando equipamentos nos carregamentos. De acordo com os autores, se as
quais a carga é aplicada diretamente no deformações do reforço forem suficientemente
geossintético (McGown et al. 1982; Helwany baixas para evitar que o solo atinja a falha, o
and Shih 1998; França and Bueno 2011). deslizamento do reforço será mínimo e a parede
McGown et al. (1982) reportaram uma redução permanecerá estável. O estudo também
considerável das deformações por fluência de demonstrou que as taxas de fluência em
geotêxteis não tecidos confinados em areia, e isolamento são as mesmas ou maiores que as
uma menor influência em geotêxteis tecidos medidas em muros em escala real, produzindo
utilizando um equipamento que permite a estimativas conservadoras de deformação nas
aplicação do carregamento diretamente sobre o estruturas. Mais recentemente, Costa et al.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

278
(2016) relataram deformações dependentes do apresentados apenas os resultados da seção
tempo consideráveis obtidas em um modelo de instrumentada em geotêxteis tecidos.
muro reforçado elaborado em centrífuga. O solo
arenoso empregado neste estudo, que é
frequentemente considerado como tendo taxa de
fluência insignificante, não apresentou qualquer
influência na prevenção do desenvolvimento de
deformações dependentes do tempo.
O uso de muros em solo reforçado
instrumentados em escala real é uma
abordagem que raramente é usada para
investigar o comportamento dependente do Figura 1. Vista geral do muro em solo reforçado
tempo das estruturas com geossintéticos. Além (Portelinha, 2014).
disso, uma quantidade muito limitada de
pesquisas foi conduzida para identificar as 2.2 Geossintéticos
deformações dependentes do tempo de
geossintéticos confinados por solos de Um geotêxtil tecido com resistência à tração de
granulação fina, tipicamente tropicais. Sob esta 57 kN/m e rigidez em isolamento de 150 kN/m
perspectiva, este trabalho contribui para a foi selecionado para o projeto. A seção
compreensão do comportamento dependente do experimental envolvendo o geotêxtil não tecido
tempo de solos reforçados, através da foi selecionada para ter uma resistência
comparação dos resultados de uma seção relativamente pequena de 25 kN/m e rigidez em
instrumentada de um muro em escala real com isolamento de 20 kN/m. Conforme destacado
os resultados de ensaios de fluência isolada e anteriormente, são apresentados apenas os
confinada em solo. resultados referentes à seção construída com
geotêxteis tecidos.

2 MURO INSTRUMENTADO 2.3 Solo de Aterro

2.1 Descrição Geral O solo empregado para a construção do aterro


consiste em uma areia siltosa, não plástica, com
O muro em solo reforçado foi construído 33% de finos passando pela peneira 200. As
usando um solo fino laterítico (tropical), propriedades do solo compactado foram obtidas
incluindo seções reforçadas com geotêxteis não a partir de ensaios do tipo Proctor modificado
tecidos e tecidos. O projeto envolve estruturas (ASTM D1557). O solo de fundação do muro
de contenção que foram construídas como parte apresenta as mesmas características que o solo
de um empreendimento no condomínio do aterro. Os parâmetros de resistência ao
residencial Bairro Novo em Campinas, São cisalhamento foram obtidos utilizando ensaios
Paulo, Brasil. A estrutura é composta por um consolidados drenados (CD) realizados em
muro de solo reforçado com 9 m de altura, amostras de solo não saturado (ASTM D7181) e
inclinação de face 1H:10V e aproximadamente compactados no teor de umidade ótimo. Os
300m de extensão. Um aterro inclinado de 4,5m ensaios CD para as amostras não saturadas
de altura (1,5H:1,0V) foi construído no topo da apresentaram um intercepto de coesão de 40kPa
estrutura de contenção para alcançar a elevação e ângulo de atrito de 37 °.
necessária do projeto. A Figura 1 ilustra a face
do muro reforçado no final de sua construção. 2.4 Instrumentação
Detalhes sobre a execução e o programa de
monitoramento da estrutura instrumentada Os instrumentos foram instalados em uma seção
empregada neste estudo são descritos por de 5,6m de altura com geotêxtil tecido. A
Portelinha et al. (2014). Neste artigo são instrumentação foi usada para monitorar o
desempenho do muro durante e após a
construção. Extensômetros mecânicos (tell-

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

279
tales) com hastes de aço encamisado liso foram Os ensaios de fluência em isolamento para os
instalados ao longo do comprimento do reforço geotêxteis foram conduzidos seguindo a norma
para monitorar os deslocamentos internos, e os ASTM D5262. Os ensaios foram conduzidos de
deslocamentos de face foram monitorados por forma a submeter os geotêxteis tecidos a
topografia usando marcos refletivos. A Figura 2 carregamentos de 5% (2,85kN/m), 10%
detalha o layout de instrumentação usado para (5,7kN/m) e 20% (11,4kN/m) de sua resistência
avaliar o desempenho do muro. última.

3.2 Ensaios Confinados

O equipamento empregado para a realização


dos ensaios confinados em solo foi
desenvolvido por Costa (2004). A Figura 3
apresenta um esquema geral do equipamento. O
sistema de solo reforçado está localizado dentro
de uma caixa metálica rígida, com as laterais
constituídas por paredes de vidro transparente.
O sistema de solo reforçado exibe uma
geometria simétrica no qual o reforço de
geossintético se situa entre duas camadas de
solo compactado. As placas de aço laterais,
perpendiculares à parede de vidro, estão livres
para se mover na direção horizontal usando
pequenas rodas que correm ao longo de trilhos
fixados na base do equipamento. As
Figura 2. Seção transversal e instrumentação utilizada no
extremidades do reforço são fixadas a dois
muro de referência. grampos opostos localizados internamente às
paredes móveis, mas conectados a uma
Os tell-tales foram fixados ao geotêxtil a estrutura externa por meio de uma haste com
distâncias de 0,90, 1,80, 3,00 e 5,50m da face. uma célula de carga que permitem a medição
Os instrumentos foram colocados em três das cargas de tração mobilizadas durante o
Alturas diferentes a 0,8, 1,6 e 5,2m da base da ensaio. Os deslocamentos internos do reforço
estrutura (conjuntos E01, E02 e E03, são monitorados por meio de hastes metálicas
respectivamente), conforme ilustrado na instaladas em diferentes posições, ligadas à
Figura 1. Os marcos refletivos foram fixados na transdutores de deslocamento. A tensão vertical
face a 1,6, 2,8, 4,0 e 5,2m da base da contenção é aplicada sobre uma placa rígida no topo do
para medir os deslocamentos frontais da maciço de solo reforçado usando pesos livres e
estrutura. um braço de alavanca, como mostrado na
Figura 3.

3 ENSAIOS DE FLUÊNCIA EM
LABORATÓRIO

O comportamento dependente do tempo dos


geotêxteis foi avaliado em laboratório por meio
de ensaios confinados em solo e em isolamento
empregando o mesmo reforço e mesmo solo
utilizados no muro descrito anteriormente.
Figura 3. Esquema geral do equipamento para ensaios de
3.1 Ensaios Isolados fluência confinada.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

280
Para os ensaios elaborados, o geossintético (200 isolamento obtidos para os geotêxteis tecidos.
× 200mm) foi posicionado entre duas camadas Assim como era de se esperar, as maiores
de solo de 100mm de espessura. Para garantir deformações e maiores taxas de fluência foram
uma condição de estado plano de tensões obtidos para os ensaios de maior carregamento.
durante todo o ensaio, a adesão entre as paredes As taxas de fluência obtidas foram da ordem de
laterais e o solo foi reduzida criando uma 0,1, 0,4 e 0,6% para carregamentos de 5, 10 e
camada de lubrificação na interface, que 20%, respectivamente.
consiste em uma folha de látex transparente e
uma fina camada de graxa de silicone.
Os ensaios confinados foram realizados
empregando 4 níveis distintos de tensões
verticais, visando simular difetentes posições
dos reforços ao longo do muro. Foram
realizados ensaios com tensões verticais de 140,
200, 300 e 400kPa.
Os resultados obtidos no monitoramento de
campo e no programa experimental são
apresentados no item a seguir.

4 RESULTADOS OBTIDOS

Neste item são apresentados os resultados Figura 5. Resultados das deformações ao longo do tempo
obtidos no monitoramento de campo realizado obtidos nos ensaios de fluência em isolamento.
na estrutura de referência, bem como os
resultados dos ensaios obtidos em laboratório.
A Figura 4 apresenta os resultados do A Figura 6 por sua vez apresenta os resultados
monitoramento de campo para a seção obtidos nos ensaios de fluência confinada.
instrumentada E02, que se encontra a 1,60m da Pode-se observar que maiores cargas verticais
base. Observa-se que ao final das leituras as proporcionaram maiores carregamentos nos
deformações na seção instrumentada foram reforços e também maiores índices de fluência.
relativamente baixas, da ordem de 1,5%. A taxa Isto é um indicativo que a carga no reforço
de fluência registrada, representada pela exerce maior influência sobre as deformações
inclinação da reta (denominado neste artigo dependentes do tempo do que o confinamento.
como parâmetro α) foi da ordem de 0,1%.

Figura 4. Resultados das deformações ao longo do tempo


obtidos no monitoramento da estrutura real de referência.
Figura 6. Resultados das deformações ao longo do tempo
A Figura 5 mostra os resultados dos ensaios em obtidos nos ensaios de fluência confinada.

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281
A Figura 7 apresenta os resultados do válidas, nesse artigo, as comparações diretas
monitoramento de campo e do programa feitas entre os dados experimentais e os dados
experimental plotados simultaneamente. do monitoramento da estrutura de referência.
Os resultados indicam que as deformações
dependentes do tempo são subestimadas pelos
ensaios de fluência confinada em solo. Observa- 5 CONCLUSÕES
se que os valores do parâmetro α (inclinação da
reta de ajuste) dos ensaios confinados foram O dados apresentados neste artigo nos permite
inferiores aos observados no muro concluir que o comportamento dependente do
instrumentado. tempo foi subestimado a partir dos resultados de
ensaios de fluência confinada em solo, uma vez
que as taxas de fluência foram menores do que
as observadas no muro real. Os resultados
obtidos a partir dos ensaios de fluência em
isolamento mostram taxas de deformação de
fluência mais consistentes com as obtidas em
campo. No entanto, o comportamento
dependente do tempo da estrutura real foi
comparado aos ensaios laboratoriais sem
considerar as possíveis degradações químicas e
Figura 7. Análise conjunta de todos os resultados obtidos.
danos de instalação, o que pode afetar
sobremaneira o comportamento de fluência dos
As taxas de deformação do muro real foram
reforços. Além disso, as variações de umidade
aproximadamente duas vezes mais baixas que
do solo proveniente de fatores climáticos que
as dos ensaios confinados. Entretanto, os
influenciam as características de resistência e
resultados obtidos nos testes de fluência em
deformabilidade do maciço, não foram
isolamento demonstram taxas de fluência mais
considerados em laboratório. Por conseguinte,
consistentes com as resultantes da estrutura real.
verificou-se que os testes de fluência em
Observa-se que as taxas de deformação de
isolamento para este caso foram
fluência determinadas a partir dos dados em
suficientemente precisos para estimar o
isolamento nos níveis de carga considerados
comportamento dependente do tempo do muro
nos testes foram as mesmas que na seção de
em solo reforçado com geotêxteis tecidos.
campo. É importante lembrar que os
comportamentos de fluência na estrutura real
foram comparados aos testes de laboratório sem
REFERÊNCIAS
considerar a degradação química potencial e
danos na instalação, o que pode afetar
Allen, T. M. & Bathurst, R. J. (2002). Observed long-
significativamente o comportamento de fluência term performance of geosynthetic walls and
do reforço. Além disso, o processo de implications for design. Geosynthetics International,
umedecimento e secagem durante a vida útil da 9, No. 5, 567–606.
estrutura afeta a resistência e a rigidez do solo, ASTM D1557. Standard Test Methods for Laboratory
Compaction Characteristics of Soil using Modified
o que não foi considerado nos testes de
Effort. ASTM International, West Conshohocken, PA,
laboratório. Todas essas variáveis podem levar USA.
ao aumento da tendência à fluência nas seções .
do muro instrumentado. Assim, constatou-se ASTM International, West Conshohocken, PA, USA.
que, para este caso específico, o ensaio de ASTM D7181. Method for Consolidated Drained
Triaxial Tests for Soils. ASTM International, West
fluência em isolamento foi o que mais se
Conshohocken, PA, USA.
aproximou do comportamento dependente do Becker, L. D. B. & Nunes, A. L. L. S. (2015). Influence
tempo do muro real. Vale ressaltar que, apesar of soil confinement on the creep behavior of
dos resultados do monitoramento de campo geotextiles. Geotextiles and Geomembranes, 43, No.
estarem em tempos distintos dos resultados dos 4, 351–358.
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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Geomembranes and Related Products, vol. 3, pp.
1135–1138.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

283
284
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Efeito de Sobrecargas no Comportamento de Modelos Físicos de


Muros de Solo Reforçado com Geogrelha
Raquel Mariano Linhares
UFLA, Lavras, Brasil, raquel.linhares@ufla.br

Mauricio Ehrlich
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, me@coc.ufrj.br

Luis Paulo Andrioli Vieira de Oliveira


UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, luis_andrioli@poli.ufrj.br

Danilo Fernandes da Cunha Veras


UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, daniloveras@poli.ufrj.br

Natan Fonseca Soares


UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, natanfonseca@poli.ufrj.br

RESUMO: Realizou-se um estudo sobre o efeito de sobrecargas no comportamento de Muros de


Solo Reforçado (MSR). Foram construídos três modelos físicos em grande escala (1:1) de MSR
com geogrelha flexível de poliéster e faceamento em blocos de concreto no laboratório da
COPPE/UFRJ. Aplicaram-se nestes muros sobrecargas até 100 kPa em toda a superfície e em faixas
de carregamento de 0,6 m e 1,2 m de largura. Após os carregamentos em muros “virgens”, foram
também realizados ciclos de carga e descarga, aumentando-se a largura do carregamento aplicado
de um ciclo para o outro. Células de carga monitoraram a tração nas geogrelhas, para os
deslocamentos da face utilizaram-se LVDTs, e um aparato hidráulico (MDV) foi adotado para o
acompanhamento dos recalques no topo do muro. Os maiores recalques foram observados nos casos
de carregamento em faixa; por outro lado, as tensões de tração medidas nos reforços foram
inferiores nestas condições. Nestes casos os maiores recalques e tensões nos reforços ocorreram
próximos à face. Observou-se um comportamento histerético do solo, com um pequeno aumento da
tensão de tração nos reforços após o primeiro ciclo de carga-descarga. Durante os ciclos de
recarregamento, os aumentos do deslocamento lateral da face foram maiores no topo do muro,
diminuindo com a profundidade, chegando a zero perto da base.

PALAVRAS-CHAVE: Muro de Solo Reforçado, Geossintético, Geogrelhas, Geometria de


Carregamento, Recarregamento, Modelo Físico.

ABSTRACT: The effect of surcharge load on the behavior of Reinforced Soil Walls (RSW) was
studied. Three large-scale physical models of RSW with a flexible polyester geogrid and concrete
blocks facing were constructed at the COPPE/UFRJ laboratory. Surcharges up to 100 kPa were
applied to the top of the walls on the entire surface and using strip loads 0.6 m and 1.2 m wide.
After applying the surcharge load to “virgin” walls, loading and unloading cycles were also
performed, increasing the surcharge width from one cycle to another. Load cells monitored the
reinforcement tensile loads, the horizontal facing displacements were monitored through LVDTs
and hydraulic settlement gauges (HSG) were used to monitor the vertical displacements on the top
of the walls. The greatest settlements were observed in the strip load cases; on the other hand, the
reinforcement tensile loads were lower. In these cases, the greatest settlements and reinforcement
tensile loads were observed near the face. Soil hysteretic behavior was observed, showing a small
increase in the reinforcement load after the first loading and unloading cycle. During the loading

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

285
cycles, the increase of horizontal facing displacement was greater at the top of the wall, decreasing
with the height, reaching zero near the base.

KEY WORDS: Reinforced Soil Walls, Geosynthetic, Geogrids, Surcharge Width, Reload, Physical
Model.

1 INTRODUÇÃO de carregamento e dos ciclos de carga e


descarga nas tensões nos reforços e nos
Nos últimos anos, diversas pesquisas foram deslocamentos lateral e vertical são
realizadas com o objetivo de melhor apresentados e discutidos.
compreender o efeito de fatores como altura do
muro, tipo e inclinação de face, tipo, rigidez e
espaçamento dos reforços e características do 2 MATERIAIS E MÉTODOS
solo de aterro no comportamento de muros de
solo reforçado (MSR) com geossintéticos 2.1 Características dos Modelos Físicos
(Tatsuoka, 1993; Ehrlich & Mitchell, 1994;
Helwany et al., 1999, Huang et al., 2010; Três modelos físicos de MSR com 1,20 m de
Stuedlein et al., 2012; Ehrlich & Mirmoradi, altura foram construídos no interior de uma
2013; Riccio et al., 2014; Allen & Bathurst, caixa em formato de “U”, composta por uma
2015; Mirmoradi & Ehrlich, 2015; Mirmoradi laje e três paredes de concreto armado, medindo
et al., 2016; Vahedifard et al., 2016). A 2,00 m de largura, 3,00 m de profundidade e
sobrecarga aplicada no topo do muro tem sido 1,50 m de altura, no Laboratório de Modelos
objeto de estudos a partir de trabalhos Físicos da COPPE/UFRJ.
experimentais e de campo, e por análises Foram utilizadas três camadas de geogrelhas
numéricas. Os resultados mostram que quanto flexíveis de poliéster como reforço em todos os
mais perto da face do muro está a sobrecarga, muros, sendo instaladas a 0,20 m, 0,60 m e 1,00
maiores são os valores dos empuxos de terra m de altura a partir da base. O comprimento e o
sobre o faceamento (Ambauen et al., 2015) e espaçamento vertical foram 2,30 m e 0,40 m,
maiores são os valores de tensão de tração respectivamente. As características mecânicas
máxima nos reforços (T máx ), de carga no pé, dos da geogrelha foram disponibilizadas pelo
recalques e dos deslocamentos laterais fabricante e estão mostradas na Tabela 1.
(Mirmoradi, 2015). A posição da sobrecarga, a O faceamento rígido, com inclinação de 6°
rigidez do reforço e a restrição lateral do pé do com a vertical, consistiu de blocos de concreto
muro afetam o valor de T máx e a distribuição de segmentais. Fez-se uso de uma areia seca bem
tensões ao longo dos reforços (Ambauen et al., graduada fabricada a partir de quartzo moído
2015; Mirmoradi, 2015). Entretanto, o efeito da como solo de aterro, com D 50 de 0,25 mm,
localização e da largura raramente são coeficiente de curvatura (C c ) de 1,0, coeficiente
considerados e, assim, ainda há incertezas de uniformidade (C u ) de 8,9 e índice de
quanto ao comportamento de MSR sob cargas plasticidade (IP) zero, cuja distribuição
de trabalho (Mirmoradi & Ehrlich, 2017). granulométrica pode ser vista na Figura 1.
Para esta pesquisa, foram construídos e O solo foi compactado com uma placa
instrumentados três modelos físicos em grande vibratória leve que induz uma tensão vertical de
escala (1:1) de MSR com geogrelhas flexíveis 8,00 kPa, resultando em um peso específico de
de poliéster e faceamento de blocos de concreto 21 kN/m³ (Saramago, 2002; Ehrlich et al.,
no laboratório de Modelos Físicos da 2012). Os ângulos de atrito do solo compactado
COPPE/UFRJ. Todos os muros seguiram o foram determinados em 42º e 50º a partir de
mesmo procedimento de construção, ensaios de compressão triaxial e de deformação
diferenciando-se somente pelas sobrecargas plana, respectivamente (Costa, 2005; Ehrlich et
aplicadas sobre o topo dos muros, que variavam al., 2012).
de largura. Os efeitos das diferentes geometrias

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

286
Tabela 1. Características do reforço. 2.2 Sequência Construtiva e Aplicação das
Resistência à tração longitudinal (kN/m) ≥ 55 Sobrecargas
Resistência à tração transversal (kN/m) ≥ 25
Alongamento (%) ≤6 Para a construção dos modelos, primeiro se
Peso (g/m²) 240 posicionava a zona lubrificada sobre a laje de
Abertura (mm) 20x30
concreto, seguida da primeira fileira de blocos.
Depois, a areia seca era lançada e compactada
100 com placa vibratória leve por 10 minutos,
resultando em uma camada de 0,20 m de
Percentagem passante (%)

80 espessura. Ao todo, foram compactadas seis


camadas seguindo o mesmo procedimento,
60
totalizando a altura de 1,20 m de cada modelo
40
(Figura 3). Os reforços foram instalados sobre o
topo da primeira, terceira e quinta camadas de
20 solo (Figura 4).
Após término da construção, aplicou-se uma
0 sobrecarga sobre a superfície do topo do muro
0,001 0,01 0,1 1 10 100
virgem, que variou de largura: q1, com 0,60 m
Diâmetro da partícula (mm)
de largura a partir da parte de trás da face
Figura 1. Distribuição granulométrica da areia utilizada. (Muro 1); q2, com 1,20 m (Muro 2) e; qt, sobre
toda a superfície (Muro 3), conforme Figura 4.
Uma zona lubrificada de 1,00 m de Para a aplicação destas sobrecargas, fez-se uso
comprimento composta de um “sanduíche” de de uma bolsa preenchida com ar comprido e um
geomembrana e graxa foi posicionada na base sistema de reação (Figura 3), que a fazia variar
do muro (Figura 2), incluindo a parte inferior de 0 a 100 kPa. Sobre o Muro 1, foi aplicado
dos blocos de concreto, o que permite a primeiramente o carregamento q1, que foi
superfície potencial de ruptura se afastar da face descarregado e posteriormente carregado por
do muro, simulando um trecho de maior altura. q2, que, por sua vez, também foi descarregado
O mesmo sistema de lubrificação foi utilizado para a aplicação de qt. O Muro 2 foi carregado
nas paredes da caixa de concreto, reduzindo o primeiro com q2, descarregado e carregado em
atrito lateral e assim aproximando o modelo seguida com qt. Assim, os ciclos de
físico do estado plano de deformações carregamento e descarregamento sempre se
(Saramago, 2002; Ehrlich et al., 2012). deram com cargas de larguras crescentes. Sobre
o Muro 3 foi aplicado apenas o carregamento
qt.

Figura 2. Zona lubrificada posicionada abaixo da


primeira fileira de blocos. Figura 3. Modelo físico finalizado, com sistema de reação
sobre o topo do muro.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

287
Ressalta-se que o recarregamento sempre se
deu com larguras maiores do que aquelas
aplicadas com os muros virgens. Desta forma,
objetivou-se determinar a influência de um
possível carregamento por etapas, em que a
largura da carga aumentaria gradativamente.

Figura 4. Seção transversal do modelo físico, das


sobrecargas aplicadas, reforços e instrumentação
utilizados.

2.3 Instrumentação

Com o objetivo de medir as tensões de tração


desenvolvidas nas geogrelhas, instrumentou-se Figura 5. Primeira camada de reforço, com a faixa central
a faixa central de cada camada de reforço com 4 instrumentada.
pares de células de carga (Figura 5), totalizando
24 unidades no modelo. Os deslocamentos 3.1 Recarregamento q2
laterais da face foram medidos por três LVDTs
(transformador diferencial variável linear, em 3.1.1 Acréscimo de tensões máximas
português), instalados a 0,30 m, 0,70 m e 1,10
m da base do muro. Os recalques no topo do Na Figura 6 vê-se o incremento de tensões
muro foram medidos por cinco medidores de máximas durante os carregamentos q1 virgem,
deslocamento vertical (MDV). Uma seção q2 recarga (q1) e q2 virgem, além do
transversal do modelo com as diferentes descarregamento de q1 virgem. A diferença
geometrias de sobrecarga, o posicionamento e entre o incremento de tensões máximas de
comprimento dos reforços e a instrumentação q2 recarga (q1) e q2 virgem tem a tendência de
utilizada é apresentada na Figura 4. diminuir, começando em 67,9% (0 kPa) e
terminando em 15,1% (100 kPa) indicando que
à medida que o carregamento q2 recarga (q1)
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO aumenta, este se aproxima do carregamento q2
virgem.
O ensaio que foi feito virgem com
carregamento q1 (Muro 1) foi descarregado e 3.1.2 Deslocamentos laterais durante
recarregado com q2. Este ensaio foi chamado carregamento
de q2 recarga (q1). Em seguida, este segundo
carregamento também foi descarregado e Houve um mau funcionamento dos LVDTs
carregou-se uma terceira vez o Muro 1 com qt. durante o carregamento virgem do Muro 2.
Este ensaio foi chamado de qt recarga (q1). De Logo, na Figura 7, estão apresentados aqueles
forma análoga, o Muro 2 foi submetido ao referentes apenas ao carregamento q2 recarga
carregamento q2 virgem, sendo descarregado e (q1). Tendo como base os deslocamentos
recarregado com qt. Este último ensaio foi referentes ao carregamento q1 virgem, pode-se
chamado de qt recarga (q2). dizer que os acréscimos de deslocamento do

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

288
faceamento do muro foram razoavelmente dianteira do muro para cima. Também é
uniformes durante o recarregamento. possível observar que as diferenças se deram
apenas no primeiro metro atrás dos blocos,
sendo as leituras coincidentes no restante do
comprimento do muro.

Figura 6. Acréscimo de tensões máximas durante


carregamentos e descarregamento (q2).
Figura 8. Representação da superfície do topo do muro ao
final dos estágios de carregamentos e descarregamento
1,2
(q2).

1,0
3.2 Recarregamento qt
0,8
Altura do muro (m)

0,6 3.2.1 Acréscimo de tensões máximas


0,4

0,2 Nas Figuras 9 e 10 veem-se os incrementos de


0,0
tensões máximas durante os carregamentos q1
0 1 2 3 4 5 6 virgem, q2 recarga (q1), qt recarga (q1), q2
Deslocamento lateral (mm)
virgem, qt recarga (q2) e qt virgem, além dos
q2, Recarga (q1), 20 kPa q2, Recarga (q1), 60 kPa q2, Recarga (q1), 100 kPa
descarregamentos de q1, q2 recarga (q1) e q2.
Figura 7. Deslocamentos laterais durante o carregamento
q2 recarga (q1).
As linhas de qt recarga (q1), qt recarga (q2) e qt
virgem tendem a convergir, sendo suas
3.1.3 Recalques diferenças de 82,4% (qt recarga de q1) e 57,8%
(qt recarga de q2) em 0 kPa, e terminando em
Os recalques ocorridos durante os 6,8% (qt recarga de q1) e 5,4% (qt recarga de
carregamentos q1 virgem, q2 recarga (q1) e q2 q2) em 100 kPa. Assim como no
virgem, além do descarregamento de q1 virgem, recarregamento de q2, à medida que os
podem ser observados na Figura 8, onde a carregamentos qt recarga (q1) e qt recarga (q2)
escala dos recalques foi exagerada para melhor aumentam, suas curvas se aproximam do
visualização das movimentações. Ressalta-se carregamento qt virgem.
que os recalques apresentados foram calculados Como pode-se ver, houve uma perda de
sempre em relação ao estágio inicial do modelo, tensões entre os estágios q2 descarregamento
ou seja, exatamente antes de o primeiro (q1) para o carregamento qt recarga (q1). O
carregamento virgem ser aplicado. mesmo ocorreu para o caso de q2
Na Figura 8, vê-se que ao descarregar q1, a descarregamento para o carregamento qt
superfície do topo do muro retoma parte das recarga (q2). Possivelmente esta perda é devida
movimentações elásticas ocorridas durante o ao tempo de 16 horas transcorrido entre o final
carregamento. Também se vê que ao recarregar dos descarregamentos e o início dos
o modelo, a parte próxima à face teve recarregamentos qt, que ser explicada por uma
movimento ascendente. Acredita-se que a possível relaxação e/ou redistribuição das
pressão exercida atrás de q1 empurrou a parte tensões internas nos reforços. Em casos de

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289
MSR cujos materiais de preenchimento são Percebe-se que os deslocamentos laterais do
granulares, os geossintéticos tendem a fluir ensaio de recarga foram superiores àqueles do
mais do que o solo (Liu & Ling, 2007; Liu et ensaio de carregamento virgem. A diferença
al., 2007; Liu et al., 2009). Além disto, este fato entre os deslocamentos médios começa em
pode indicar a presença de uma carga residual 2.631,9% (20 kPa) e termina em 34,6% (100
máxima mantida pelos reforços. Mais estudos kPa), indicando uma tendência à estabilização
são necessários para melhor compreender este com sucessivos carregamentos (Figura 12).
fenômeno.
1,2

1,0

0,8

Altura do muro (m)


0,6

0,4

0,2

0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Deslocamento lateral (mm)
qt, Virgem, 20 kPa qt, Virgem, 60 kPa qt, Virgem, 100 kPa
qt, Recarga (q1), 20 kPa qt, Recarga (q1), 60 kPa qt, Recarga (q1), 100 kPa

Figura 11. Deslocamentos laterais durante carregamento


qt recarga (q1) e qt, virgem.

Carregamento (kPa)
0 20 40 60 80 100
0
qt, Virgem
1
qt, Recarga(q1)

2
Figura 9. Acréscimo de tensões máximas durante
ΔHméd (mm)

carregamentos e descarregamentos (qt e q1). 3

Figura 12. Deslocamentos laterais médios durante


carregamento qt recarga (q1) e qt, virgem.

3.2.3 Recalques

Os recalques ocorridos durante todos os


carregamentos podem ser observados nas
Figuras 13 e 14, onde a escala dos recalques foi
exagerada visando a melhor visualização das
movimentações. Assim como no item 3.1.3, os
recalques foram calculados sempre em relação
Figura 10. Acréscimo de tensões máximas durante
carregamentos e descarregamentos (qt e q2). ao estágio inicial do modelo, ou seja,
exatamente antes de o primeiro carregamento
3.2.2 Deslocamentos laterais durante ser aplicado.
carregamento Vê-se que, similarmente ao carregamento q1
virgem, ao se descarregar q2 virgem, a
Na Figura 11, veem-se os deslocamentos superfície do topo do muro retoma parte das
laterais referentes aos carregamentos qt recarga movimentações elásticas ocorridas durante o
(q1) e qt virgem. Vale ressaltar que o carregamento. Ainda, em ambos os casos de
carregamento de recarga tem embutidas as recarregamento qt, o ponto mais próximo à face
movimentações dos carregamentos anteriores. apresentou movimentos pouco acentuados em

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

290
relação ao estágio inicial virgem; o segundo (Muro 3). Após o carregamento do muro
ponto apresentou recalque considerável e o “virgem”, este era descarregado e recarregado
ponto central apresentou movimentos com outra sobrecarga, ressaltando-se que o
ascendentes. Acredita-se que a pressão exercida recarregamento sempre se deu com larguras
atrás de q2 empurrou a parte central do muro maiores do que aquelas aplicadas com os muros
para cima. Em todos os carregamentos, o quarto virgens.
e quinto pontos de medição apresentaram Verificou-se uma perda por relaxação e/ou
deslocamentos similares. redistribuição das tensões ao final dos
descarregamentos. No entanto, observaram-se
ganhos de tensões nos reforços em relação ao
seu estado antes do carregamento virgem. Parte
deste ganho de tensões foi dissipada entre o
descarregamento e posterior recarregamento, o
que pode indicar a presença de uma carga
residual máxima mantida pelos reforços.
Os deslocamentos laterais totais observados
foram maiores no caso de ensaios recarregados,
entretanto o incremento dos deslocamentos
médios com o recarregamento foi menor do que
no caso do carregamento virgem, indicando um
possível comportamento em que os
Figura 13. Representação da superfície do topo do muro
ao final dos estágios de carregamentos e carregamentos de menor largura antes aplicados
descarregamentos (q1 e qt). podem agir como um processo de
sobreadensamento do solo, aumentando as
tensões retidas nos reforços e diminuindo os
deslocamentos laterais quando do
recarregamento. Verificou-se também que o
aumento progressivo da largura de um
carregamento pode causar o levantamento de
trechos do topo do muro.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq e a CAPES pelo apoio financeiro, à


Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela
Figura 14. Representação da superfície do topo do muro infraestrutura e recursos destinados à esta
ao final dos estágios de carregamentos e
descarregamentos (q2 e qt).
pesquisa e à Universidade Federal de Lavras
pelo apoio técnico.

4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Foram construídos e instrumentados três
Allen, T. M. & Bathurst, R. J. (2015) An improved
modelos físicos em escala real de MSR com simplified method for prediction of loads in reinforced
geogrelhas flexíveis de poliéster e faceamento soil walls. ASCE J. Geotechinical and
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Modelos Físicos da COPPE/UFRJ. Aplicou-se 04015049.
uma sobrecarga sobre os topos dos muros, que Ambauem, S., Leshchinsky, B., Xie, Y. & Rayamajhi, D.
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partir da parte de trás da face (Muro 1); q2, com finite-element analysis. Geosynthetics International.
1,20 m (Muro 2) e; qt, sobre toda a superfície http://dx.doi.org/10.1680/jgein.15.00039.

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Geotechnical Engineering: ASCE, Vol. 120, N. 4, p.
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Geoenvironmental Engineering: ASCE, Vol. 138 (3),
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Vahedifard, F., Shahrokhabadi, S. & Leshchinsky, D.

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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise de Métodos de Dimensionamento de Muro de Solo


Reforçado com Geogrelha e Estimativa de Custo
Samira Tessarolli de Souza
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), São Carlos, Brasil, samira.tsouza@gmail.com

Yara Barbosa Franco


Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), São Carlos, Brasil, yarabf@usp.br

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

RESUMO: Neste artigo, foram utilizados cinco métodos distintos para dimensionar um muro de solo
reforçado com 10 m de altura. O intuito foi identificar diferenças entre as metodologias e como elas
se refletem na solução final e no orçamento da obra. Constatou-se que os métodos em condição de
serviço e de equilíbrio limite local para muros de grande altura apresentam soluções e custos
semelhantes. O método de equilíbrio limite global apresentou-se como o mais conservador e oneroso.
Ademais, uma comparação entre dados de monitoramento de uma estrutura real com as previsões de
métodos de dimensionamento de equilíbrio limite e em condição de serviço foi realizada para
verificar o nível de conservadorismo das metodologias convencionais. Conclui-se que a escolha do
método de dimensionamento impacta na solução, em sua confiabilidade e no custo final da obra.

PALAVRAS-CHAVE: Muro de solo reforçado, Geogrelha, Dimensionamento, Custo.

ABSTRACT: In this paper, five different methods were used to design a 10-m high reinforced soil
wall. The purpose was to identify the differences between the methodologies and its impact on the
final solution and cost of the structure. Working stress and local limit equilibrium methods presented
similar solutions and costs, for the case of the high wall analyzed. The global limit equilibrium
method was the most conservative and onerous. In addition, a comparison among a real structure
measured data and the predictions of limit equilibrium and working stress methods was performed to
verify the level of conservatism of the conventional design methods. It is concluded that the design
method choice affects the solution, its reliability and the wall final cost.

KEY WORDS: Reinforced soil wall, Geogrid, Design, Cost Analysis.

1 INTRODUÇÃO efeito na redução dos custos de construção.


Na avaliação da estabilidade interna são
Para a análise da estabilidade interna de usualmente empregados dois tipos principais de
muros de solo reforçado não há uma única metodologias: os métodos de equilíbrio limite
metodologia consagrada: existem divergências (subdivididos em equilíbrio local e global) e os
entre as usualmente empregadas que impactam em condição de serviço.
na configuração final da obra e, É comum as metodologias considerarem uma
consequentemente, em seu custo. Desse modo, superfície potencial de ruptura, dividindo o
investigar os métodos de dimensionamento maciço em uma zona ativa e uma passiva. Nos
existentes, objetivo deste trabalho, se torna pontos de intersecção dessa superfície com os
fundamental na análise de estruturas de solo reforços, assume-se a máxima solicitação de
reforçado com geossintéticos, com potencial tração no material geossintético que deve ser

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293
comparada com a resistência à tração do reforço
(verificação quanto à ruptura) e com a resistência 2 MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO
ao arrancamento (verificação quanto ao
arrancamento). 2.1 Estabilidade externa
A Figura 1 mostra o diagrama de tensões
assumido nos reforços, onde T0 é a tensão na Na verificação da estabilidade externa deve-se
extremidade do reforço em contato com a face avaliar o deslizamento ao longo da base, o
do muro, sendo considerada como 80% da tensão tombamento, as tensões na base (devem ser
máxima (Ehrlich & Becker, 2017 ). somente de compressão) e a capacidade de carga
da fundação.
Por se tratar de verificações comuns ao
dimensionamento de estruturas de contenção
convencionais, a análise da estabilidade externa
não será detalhada no presente artigo. Foi
utilizada para todos os métodos a mesma análise,
com os fatores de segurança apresentados por
Figura 1. Distribuição de tensões no reforço
Ehrlich et al. (2015) (Tabela 1) e o coeficiente de
interface indicado por Oliveira (2014). Para
Os métodos de equilíbrio limite são os mais
verificar a influência da variabilidade desses
utilizados, porém tipicamente não consideram o
fatores, para o método proposto pela NCMA
comportamento tensão-deformação do solo e
(2010), foram utilizados os fatores de segurança
não são capazes de modelar de forma realista os
propostos pela referida metodologia.
complexos mecanismos de interação entre o solo
e o reforço. Assim, para levar em consideração Tabela 1. Fatores de segurança e parâmetros relevantes
este efeito é considerado um fator de segurança utilizados nas verificações de estabilidade externa
(Claybourn & Wu, 1993). Os métodos em Verificação Literatura FS/Parâmetro Valor
condições de serviço, por sua vez, levam em Ehrlich et
FS 1,5
consideração a relação tensão x deformação do al. (2015)
solo, fator importante para estruturas flexíveis Oliveira Coeficiente de
0,5
como as de solo reforçado com geossintéticos. Deslizamento (2014) interface (f)
ao longo da NCMA
Para avaliar e comparar o dimensionamento base (2010)
FS 1,5
segundo diferentes metodologias, foram Coeficiente de
selecionados cinco métodos dentre os NCMA
cisalhamento 0,65
(2010)
apresentados por Ehrlich et al. (2015) e por (Cds)
Vieira (2008/2009). São eles: Ehrlich et
FS 2,0
(a) Método da FHWA (2009) /AASHTO al. (2015)
Tombamento
NCMA
(2007); (2010)
FS 2,0
(b) Método da NCMA (2010); Capacidade
NCMA
(c) Método de Jewell (1991); de carga na FS 2,0
(2010)
(d) Método de Ehrlich & Mitchel (1994); fundação
(e) Método “K-Rigidez” - Allen et al.
(2003). 2.2 Estabilidade interna
Os métodos (a) e (b) são métodos de
equilíbrio limite local, em que as análises são 2.2.1 Métodos de equilíbrio limite local
feitas para cada nível de reforço. O método (c),
por sua vez, é um método de equlíbrio limite Os métodos propostos – FHWA
global, em que é feita uma análise generalizada (2009)/AASHTO (2007) e NCMA (2010) –
por toda a extensão da massa. No grupo de assumem que a superfície potencial de ruptura
métodos em condições de serviço foram crítica coincide com a linha que passa pelos
selecionados os métodos (d) e (e). pontos onde se mobilizam as forças de tração
máximas em cada nível de reforço. No caso de

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294
reforços extensíveis, assume-se que essa arrancamento, relacionado à resistência
superfície é aproximadamente linear, passando mobilizada pelo atrito e por componentes
pelo pé do muro com um ângulo de 45°+φ/2 com passivas na interface solo-reforço.
a horizontal (cunha de Rankine). Koerner &
Soong (2001) destacam, porém, que para muros F *  f  tg (4)
altos há a possibilidade da superfície de ruptura
crítica ser da forma espiral logarítmica. Onde f é o coeficiente de interface e φ o
Para cada nível de reforço, i, a tensão ângulo de atrito do solo.
horizontal (σh,i) ao longo da superfície potencial Para que a estabilidade interna seja
de ruptura pode ser calculada a partir do peso assegurada, o comprimento total do reforço deve
próprio do aterro no nível do reforço (γzi) e do ser maior ou igual à soma do comprimento de
coeficiente de empuxo ativo (Ka) a partir da arrancamento do reforço e do comprimento na
Eq. (1): zona ativa (Lac,i), calculado pela Eq. 5.

 h,i  Ka  zi  (1)  
Lac,i  10  zi   tg  45   (5)
 2
A solicitação em cada nível de reforço pode
então ser calculada por meio da Eq. (2). A É recomendado pela FHWA (2009), e
geogrelha a ser escolhida deve ter resistência de igualmente pela AASHTO (2007), a adoção de
cálculo maior (resistência nominal fatorada por um comprimento uniforme igual ao valor
um fator de redução global) que a máxima tensão máximo determinado pelo dimensionamento,
requerida (Tmax,i), para evitar falha por ruptura do com um mínimo de 0,7H ou 2,50 m (maior
reforço. valor). A NCMA (2010), por sua vez, especifica
um comprimento mínimo do reforço de 0,6H
Tmax,i   h,i Sv ,i (2) para muros com mais de 6 m de altura.

Onde Sv,i é o espaçamento vertical no nível do 2.2.2 Método de equilíbrio limite global
reforço considerado. Tal espaçamento deve ser
múltiplo da altura do bloco de fechamento e O método proposto por Jewell (1991) permite a
resultar em uma tensão máxima que esteja dentro determinação do comprimento dos reforços e dos
do nível de solicitação admissível pelo reforço. espaçamentos verticais, a partir do conhecimento
A resistência ao arrancamento (Pr) pode ser dos parâmetros geométricos do maciço, das
determinada a partir das características do características geotécnicas do solo e das
contato solo-reforço e das tensões verticais características mecânicas dos reforços.
atuantes em cada nível (i), conforme a Eq. (3). É O autor propõe ábacos para o
recomendado um fator de segurança mínimo dimensionamento de taludes íngremes em solos
(FSarr) de 1,5, que deve ser atendido em todos os não coesivos, considerando superfícies de
níveis. Além disso, o comprimento de deslizamento em forma de espiral logarítmica.
arrancamento do reforço (La,i), deve ser igual ou Os dados de entrada para os ábacos são o
superior a 1 m. parâmetro de pressão neutra (ru), o ângulo de
atrito do solo (φ) e a inclinação da face (β). Como
Pr ,i  2F *  zi  La ,i  FSarr  Tmax,i (3) resultado, encontra-se o coeficiente de empuxo e
o comprimento requerido dos reforços para a
verificação da estabilidade interna e global, e
O parâmetro α na Eq. 3 é o fator de correção para prevenir o deslizamento ao longo da base do
do efeito de escala, que representa a não muro reforçado.
uniformidade da mobilização da resistência ao O coeficiente de empuxo é utilizado na
longo do reforço. Seu valor varia de 0,7 a 1,0 verificação ao arrancamento e na determinação
para geogrelhas (Ehrlich et al., 2015), sendo do espaçamento vertical, em duas equações
adotado α = 1,0 neste trabalho. Já o parâmetro F* fornecidas pelo autor.
(calculado pela Eq. 4) é o fator de resistência ao

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295
2.2.3 Métodos em condições de serviço carga e Ф um fator de influência que considera
os efeitos global e local da rigidez do reforço, da
O método de Ehrlich & Mitchell (1994) permite rigidez e da inclinação da face.
a análise de estruturas de solo reforçado sob As equações auxiliares utilizadas no
condições de trabalho, considerando o dimensionamento pelo método K-Rigidez
comportamento tensão x deformação do solo, os podem ser encontradas em Allen et al. (2003).
efeitos da rigidez dos reforços e da compactação
do solo.
A compactação gera um efeito similar ao 3 PARÂMETROS DOS MATERIAIS
sobreadensamento em uma camada de solo.
Enquanto o valor da compactação for superior à Como dados de entrada para os
tensão vertical atuante na camada considerada, o dimensionamentos, foram utilizados os
efeito da compactação prevalece. parâmetros de um dos solos (granular) e de três
Ehrlich & Mitchell (1994) desenvolveram seu geogrelhas estudados por Pinho Lopes (1998),
método considerando um modelo hiperbólico conforme as Tabelas 2 e 3, respectivamente. As
elástico não-linear para a relação tensão x geogrelhas avaliadas são geogrelhas uniaxiais
deformação do solo que permite a análise dos em polietileno de alta densidade (PEAD), que se
esforços induzidos pela compactação por meio diferenciam entre si pela sua espessura e
de equações fechadas. resistência à tração.
Por meio de ábacos desenvolvidos pelos No dimensionamento, é preciso adotar um
autores, é possível relacionar os dados obtidos fator de redução total (RFT) para a resistência à
com a máxima tensão desenvolvida nas tração do reforço (fornecida pelo fabricante),
inclusões. A configuração final é obtida por meio resultando na resistência de cálculo. O FRT é
de um processo iterativo. obtido pela multiplicação de fatores de redução
A estabilidade ao arrancamento é verificada parciais referentes a cada fator que influencia na
como nos métodos de equilíbrio limite perda de resistência. Os valores utilizados foram
anteriormente apresentados. O fator de baseados nas recomendações de Ehrlich et al.
segurança usualmente especificado é de 1,5 (2015). São eles: fluência (2,0); danos mecânicos
(Ehrlich et al., 2015). de instalação (1,15); degradação ambiental (1,2)
Allen et al. (2003) consideram que métodos e incertezas estatísticas relacionadas ao ensaio de
de equilíbrio limite são excessivamente tração (1,04). Assim, o FRT adotado foi de 2,87.
conservadores para o dimensionamento interno
de muros de solo reforçado com geossintéticos. Tabela 2. Peso específico e ângulo de atrito do solo (Pinho
Lopes, 1998)
Como alternativa, os autores apresentaram o
mín máx  (Dr = 50%) ϕ (Dr = 50%)¹
método “K-Rigidez” (K-Stiffness Method) que, (kN/m³) (kN/m³) (kN/m³) (°)
segundo eles, fornece melhores estimativas dos 15,0 17,90 16,45 35,7
esforços instalados nos elementos de reforço, ¹Tensão normal de 38kPa.
conduzindo a estruturas mais econômicas.
Grande parte da formulação desenvolvida por Tabela 3. Propriedades mecânicas das geogrelhas
Allen et al. (2003) foi baseada em resultados utilizadas (Pinho Lopes, 1998), apresentando resistência
característica (Rk) e de cálculo (Rd).
empíricos e análises de regressão, para solos Rk Rd
granulares. O dimensionamento é feito por meio Geogrelha
(kN/m) (kN/m)
de uma única equação que determina o esforço GGunx1 55,0 19,16
máximo de tração em cada nível de reforço GGunx 2 80, 27,87
(Eq. (6)). GGunx 3 120,0 41,81

Tmax,i  Sv ,i h Dt max  (6) Para o dimensionamento pelo método de


Jewell (1991), foi utilizado um parâmetro de
poropressão ru = 0, assumindo eficiência da
Onde Sv,i é o espaçamento vertical, σh é a
drenagem.
tensão horizontal atuando na área de influência
considerada, Dtmax é o fator de distribuição de

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296
4 GEOMETRIA DO MURO Tabela 4. Configurações do muro obtidas segundo
diferentes métodos de dimensionamento interno. Detalhes
da faixa de profundidade (FP), do espaçamento vertical
O muro em estudo possui face vertical, base (Sv), da geogrelha (GG) utilizada e sua respectiva
horizontal e topo plano. Por ser uma ordem de quantidade unitária (N) e do comprimento dos reforços
grandeza comumente encontrada em obras desse (Lr).
tipo, a altura adotada foi de 10 m. Para o solo Método
FP Sv GG N Lr
contido e da base de fundação foram (m) (cm) (m)
considerados os mesmos parâmetros do solo do FHWA 0 - 3,6 120 GGunx1 3 7
muro, com peso específico de 16,45 kN/m³ (2009) e 3,6 - 5,2 80 GGunx1 2 7
(Dr = 50%). O faceamento escolhido foi o bloco AASHTO 5,2 - 7,6 80 GGunx2 3 7
Lock & Load. (2007)
7,6 - 10 80 GGunx3 3 7
0 - 4,8 80 GGunx1 6 6
NCMA
4,8 - 8 80 GGunx2 4 6
5 RESULTADOS (2010)
Solução 1 8 - 9,6 80 GGunx3 2 6
A Figura 2 apresenta a solução encontrada pelo 9,6 - 10 40 GGunx3 1 6
método da FHWA (2009)/AASHTO (2007). 0 - 4,8 120 GGunx2 4 6
NCMA
Também é apresentada a configuração genérica 4,8 - 8 80 GGunx2 4 6
(2010)
do muro, com a face em Lock&Load e drenagem Solução 2 8 - 9,6 80 GGunx3 2 6
com um dreno vertical de brita. 9,6 - 10 40 GGunx3 1 6
Os resultados dos demais métodos se 0 - 6,4 160 GGunx3 4 6
diferenciaram no comprimento, quantidade, NCMA
6,4 - 8,8 120 GGunx3 2 6
espaçamento e escolha das geogrelhas, conforme (2010)
Solução 3 8,8 - 9,6 80 GGunx3 1 6
apresentado na Tabela 4. 9,6 - 10 40 GGunx3 1 6
Jewell 0 - 9,6 80 GGunx3 12 9,6
(1991) 9,6 - 10 40 GGunx3 1 9,6
0 - 1,6 80 GGunx1 2 7,7
Ehrlich e 1,6 - 4,8 80 GGunx1 4 5,5
Mitchell 4,8 - 7,2 80 GGunx2 3 5,5
(1994)
7,2 - 9,6 80 GGunx3 3 5,5
9,6 - 10 40 GGunx3 1 5,5
Allen et al. 0 - 9,6 120 GGunx1 8 5,5
(2003) 9,6 - 10 40 GGunx1 1 5,5

Tabela 5. Tabela de Preços Unitários Unificada – DER,


Figura 2. Configuração do muro obtida a partir do método apresentando a geogrelha correspondente (Ref.) dentre as
de dimensionamento da FHWA (2009) /AASHTO (2007). utilizadas, sua resistência transversal (RT), resistência
longitudinal (RL) e custo por m².
Ref. RT RL Preço unitário
A Secretaria de Logística e Transportes do (kN/m) (kN/m) (R$/m²)
Estado de São Paulo desenvolveu a “Tabela de GGunx1 30 50 R$ 29,40
Preços Unitários Unificada” (publicada
GGunx2 30 80 R$ 33,14
trimestralmente) com valores de referência
GGunx3 30 150 R$ 42,51
médios de mercado. A partir deste material
foram estimados os custos (por m²) das
geogrelhas utilizadas no presente trabalho A partir dos dados apresentados nas Tabelas
(Tabela 5). O custo por m² da geogrelha GGunx3 4 e 5 pode-se calcular a quantidade de geogrelhas
foi considerado equivalente a uma geogrelha de utilizada por metro de face (m²/m) e o seu custo
150kN/m, valor mais próximo encontrado na total, por metro de muro (Tabela 6). A
tabela em relação ao valor de resistência da diferenciação do custo final da obra é função
GGunx3 (120 kN/m).

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297
basicamente do material de reforço utilizado foram propostas 3 soluções para o método da
(tipo e quantidade). NCMA (2010).
Da Tabela 6 percebe-se que os valores para
Tabela 6. Estimativa do custo total das soluções obtidas métodos de equilíbrio local ficam na faixa de R$
segundo as diferentes metodologias de dimensionamento 2.000,00/m à R$ 3.000,00/m e que, portanto,
(GG-Geogrelha; Qd-Quantidade de reforço)
variar resistências e espaçamentos, como feito
Custo
Qd
parcial
Custo final para as soluções 1, 2 e 3 da NCMA (2010), gera
Método GG
custos semelhantes, porém, decrescentes com o
m²/m R$/m R$/m
aumento da resistência das geogrelhas
FHWA GGunx1 35 R$1.029,00 escolhidas.
(2009) e
R$2.617,65
AASHTO GGunx2 21 R$695,94
(2007) GGunx3 21 R$892,71 6.2 Método de equilíbrio global
NCMA GGunx1 36 R$1.058,40
O Método de Jewell (1991) foi o mais
(2010) GGunx2 24 R$795,36 R$2.618,94
Solução 1 GGunx3
conservador em comprimento de inclusões
18 R$765,18
(numa relação de quase 1/1 com a altura), em
NCMA GGunx2 48 R$1.590,72 espaçamento entre geogrelhas e em resistência
(2010) R$2.355,90
Solução 2 GGunx3 18 R$765,18
requerida.
Como o comprimento para a verificação da
NCMA
(2010) GGunx3 48 R$2.040,48 R$2.040,48 estabilidade interna foi maior que o obtido para
Solução 3 prevenir o deslizamento pela base, aquele foi
Jewell adotado para toda altura do muro, conforme
GGunx3 124,8 R$5.305,25 R$5.305,25 critério apresentado pelo autor.
(1991)
GGunx1 37,4 R$1.099,56 Pelo fato de a análise ser global, não sendo
Ehrlich e
Mitchell GGunx2 16,5 R$546,81 R$2.581,59 avaliada camada a camada, foi necessário
(1994) utilizar a geogrelha mais resistente (GGunx3) em
GGunx3 22 R$935,22
todos os níveis.
Allen et.
GGunx1 49,5 R$1.455,30 R$1.455,30
al (2003)
6.3 Métodos em condições de serviço

O método de dimensionamento proposto por


6 DISCUSSÃO
Ehrlich & Mitchel (1994) chegou a uma solução
semelhante às encontradas pelos métodos de
6.1 Métodos de equilíbrio local
equilíbrio local. Isto deve-se ao fato de que os
Os dois métodos de equilíbrio local possuem efeitos da compactação atingem profundidades
etapas idênticas de dimensionamento. A até 6 m e como o muro possui 10 m de altura, sua
diferença refere-se ao comprimento mínimo das influência pôde ser percebida apenas nas
inclusões, de 0,7H (FHWA (2009) /AASHTO camadas mais superiores.
(2007)), e de 0,6H (NCMA (2010)), que Já o Método “K-Rigidez” proposto por Allen
determinou o comprimento final e que, et al. (2003), como previsto pelos próprios
consequentemente, influenciou diretamente no autores, forneceu uma solução mais econômica
custo (Tabela 6). Pode-se afirmar, portanto, que quando comparada aos demais métodos. A
apesar de muito semelhantes, o método da solução utiliza a geogrelha de menor resistência
FHWA (2009) /AASHTO (2007) apresenta-se (GGunx1) e espaçamentos verticais maiores que
um pouco mais conservador que o da NCMA as demais metodologias. Entretanto, a
(2010). confiabilidade desse método para extrapolações
Os dois métodos, por serem de equilíbrio com muros de 10 m de altura (altura
local, permitem variar espaçamentos e relativamente elevada) é questionável, já que as
resistências, e obter diferentes soluções para um análises de regressão feitas pelos autores foram
mesmo dimensionamento. Buscando entender o realizadas com base em muros de menor altura
impacto causado por essas variações no custo, (maioria com alturas entre 4 e 6,5 m).

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298
6.4 Comparação de dados medidos em uma mais relevante. Ambos os métodos apresentam
estrutura real com previsões FS inferiores àqueles previstos pelo método K-
Rigidez, o que indica um maior
Nesta seção são comparados dados de conservadorismo.
monitoramento de uma estrutura real com as
0
previsões de diferentes métodos para se AASHTO (2007) Medidas de campo
1
quantificar o grau de segurança da estrutura. Foi K-Stiffness (2003) Ehrlich e Mitchell (1994)
2
selecionado um muro de 10,7 m de altura,

Profundidade (m)
3
dimensionado com o método K-rigidez (Allen et
4
al., 2003). Os dados de monitoramento da
5
estrutura, bem como os parâmetros do solo e
6
reforços utilizados, são apresentados por Allen
7
& Bathurst (2014) e servirão de base para as
8
comparações.
9
O muro foi construído com 17 camadas de
10
reforço e três tipos diferentes de geogrelha. As 0 2 4 6 8 10 12
camadas 3, 6, 10 e 14 foram instrumentadas para FSrup
medida de deformação ao longo de seu Figura 3. Comparativo do fator de segurança quanto à
comprimento e posteriormente as medidas foram ruptura do reforço entre a previsão dos métodos da
transformadas em força, utilizando o valor AASHTO (2007), K-stiffness (2003), Ehrlich & Mitchell
(1994) e as medições em campo (Allen & Bathurst, 2014).
apropriado para a rigidez do reforço. Dessa
forma foi possível obter as máximas forças em
O método K-Rigidez é o que apresenta fatores
cada um dos níveis instrumentados.
de segurança mais próximos aos valores de
A máxima força de tração medida foi
campo, mas ainda assim inferiores a estes, ou
comparada com a resistência de cálculo em cada
seja, a favor da segurança. Porém, convém
nível avaliado, sendo obtido o fator de segurança
destacar que o método K-Rigidez pode se
em relação à ruptura do reforço. Este fator de
mostrar contra a segurança, como mostrado por
segurança foi também calculado com relação à
Mirmoradi & Ehrlich (2015, 2017) e Mirmoradi
máxima carga prevista pelos métodos da FHWA
et al. (2016), em função de fatores não
(2009) /AASHTO (2007), K-Rigidez (Allen et
considerados no método como compactação do
al., 2003) e de Ehrlich & Mitchel (1994). Para os
solo, restrição à movimentação lateral da base do
dois primeiros métodos os valores de Tmax foram
faceamento, e rigidez do faceamento, Assim, por
extraídos de Allen & Bathurst (2014). Como
se tratar de um método empírico, para sua
nada foi dito sobre a forma de compactação na
aplicação deve-se atentar para a faixa de
construção do muro em análise foi assumido o
condições em que o desenvolvimento do método
uso de um rolo vibratório para a previsão pelo
foi baseado.
método Ehrlich & Mitchel. Os resultados são
apresentados na Figura 3.
Assim como feito por Mirmoradi & Ehrlich
7 CONCLUSÃO
(2017), os cálculos consideraram o ângulo de
atrito triaxial (φtx = 38°) para o método da
A partir dos resultados obtidos conclui-se que os
AASHTO e o ângulo de atrito em estado plano
métodos em condições de serviço e de equilíbrio
de deformação (φps = 41°) para os métodos K-
local para muros de grande altura tendem a
Rigidez e de Ehrlich & Mitchel para que a
apresentar soluções e custos semelhantes.
comparação dos métodos fosse feita de forma
Entretanto, os métodos em condições de serviço
consistente. Ambos os valores são fornecidos
são um pouco mais econômicos e mais realistas
por Allen & Bathurst (2014).
por considerarem o comportamento tensão x
A Figura 3 ilustra que os métodos da
deformação do maciço e o efeito da compactação
AASHTO (2007) e de Ehrlich & Mitchel (1994)
no solo. Os métodos convencionais de equilíbrio
se aproximam, diferindo nas camadas
limite são mais conhecidos e utilizados, porém,
superiores, em que o efeito da compactação é
podem subdimensionar os esforços no reforço

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

299
nas camadas mais rasas. Os métodos de os/PrecosUnitarios.aspx, acessado em: 28/10/2017.
equilíbrio global são os mais conservadores e FHWA (2009). Design and Construction of Mechanically
Stabilized Earth Walls and Reinforced Soil Slopes –
onerosos, com maiores comprimentos e Volume I. FHWA-NHI-10-024, Federal Highway
demandando maior resistência dos reforços. Administration, US Department of Transportation,
É preciso atentar que os métodos partem de Washington D.C.
hipóteses iniciais que consideram ou não fatores Jewell, R. A. (1991). Application of revised design charts
como compactação do solo, restrição à for steep reinforced slopes. Geotextiles and
Geomembranes, v.10, n. 3, p.203-233.
movimentação lateral da base do faceamento, Koerner, R. M. & Soong, T. (2001). Geosynthetic
rigidez dos reforços e do faceamento. A presença reinforced segmental retaining walls. Geotextiles and
ou ausência desses fatores influenciam Geomembranes, v.19, p.203-233.
diretamente na máxima tensão induzida no NCMA (2010). Design Manual for Segmental Retaining
reforço. Walls, 3rd Edition, Publication No. TR 127B, National
Concrete Masonry Association, Herndon, VA.
Portanto, o método de dimensionamento Mirmoradi, S. H. & Ehrlich, M. (2015). Numerical
utilizado em projeto impacta na solução e no evaluation of the behavior of GRS walls with segmental
custo final da obra, sendo preciso avaliar qual é block facing under working stress conditions. Journal
o mais representativo das condições de campo. A of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
tendência, com uma maior quantidade de v.141, n.3, p. 04014109.
Mirmoradi, S.H. & Ehrlich, M. (2017). Effects of facing,
estruturas monitoradas, é se desenvolver reinforcement stiffness, toe resistance, and height on
metodologias mais consistentes que possam reinforced walls. Geotextiles and Geomembranes,
resultar em estruturas econômicas e seguras. v.45, n.1, p.67–76.
Contudo, por enquanto, o projetista deve ser Mirmoradi, S. H.; Ehrlich, M.; Dieguez, C. (2016).
cuidadoso na seleção do método de Evaluation of the combined effect of toe resistance and
facing inclination on the behavior of GRS walls.
dimensionamento. Geotextiles and Geomembranes, v.44, n.3, p.287–294.
Oliveira, Micaela; Mendonça, Agostinho; Lopes, M.
Lurdes (2014). Interação Solo-Geossintético:
REFERÊNCIAS Parâmetros de Interface em Solos Granulares, 14º
Congresso Nacional de Geotecnia: Geotecnia nas
AASHTO (2007). LRFD Bridge Design Specifications, 4 Infraestruturas – Água, Energia, Transportes e
ed. American Association of State Highway and Ambiente. Covilhã, Portugal, 10p.
Transportation Officials, Washington DC, USA. Pinho-Lopes, M. (1998). Estudo da Influência da
Allen, T. M. & Bathurst, R. J. (2014). Performance of an Granulometria do Solo e da Estrutura do reforço nos
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Allen, T. M., Bathurst, R. J., Holtz, R.D., Walters, D. & Porto, 197p.
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

300
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Aplicação de Muro de Solo Reforçado para Construção de um


Desnível de 10 m em Rampa para Acesso ao Britador Primário de
uma Mineradora.
Tamires da Silva Campos
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tamiresscampos@gmail.com

Douglas Henrique Santos Sousa


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, douglashssousa@gmail.com

Letícia Gabriela Andrade Policarpo


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, leticiapolicarpo@hotmail.com

Gustavo Silva Sampaio


Universidade Ferderal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, sampaio1707@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

RESUMO: A rotina da engenharia é construída pela busca de soluções técnicas seguras e,


sobretudo, economicamente viáveis. Nas últimas décadas, a aplicação dos geossintéticos tem tido
forte crescimento, geralmente em reforço de solos, uma vez que terrenos mais aptos às construções
tornam-se menos comuns. Este trabalho visa apresentar a solução concebida para possibilitar o
acesso ao silo alimentador do britador primário de uma mineradora, que, devido às condições
topográficas iniciais da região, apresentou como premissa de projeto a execução de um desnível de
10 metros de altura. O desnível foi superado construindo uma rampa de acesso, na forma de aterro,
com a criação de um grande muro de solo reforçado com face sub-vertical de solo-cimento
ensacado, o que permitiu o acesso dos caminhões que realizam a operação de basculamento do
material a ser britado. Com o objetivo de caracterizar o terreno de fundação e o solo empregado na
construção do muro, foram executados o ensaio de Massa Específica dos Sólidos, compactação e
cisalhamento direto inundado. O estudo geotécnico foi utilizado para a modelagem do muro de solo
reforçado no software Geo5, o qual possibilitou a obtenção das previsões de esforços de tração nos
elementos de reforços, que, ao serem analisados a cada profundidade, permitiu a definição de
aplicação de três tipos de geogrelha. A metodologia adotada na concepção deste projeto permitiu
vencer o desnível necessário de forma segura e tecnicamente viável, com rapidez de execução e
aplicação de diferentes tipos de reforços.

PALAVRAS-CHAVE: Muro de Solo Reforçado, Geossintéticos, Geogrelha, Reforço de Solo.

ABSTRACT: The engineering routine is built on the search for safe and, above all, economically
feasible technical solutions. Over the past decades, the application of the geosynthetics has had a
strong growth, usually in soil reinforcement, since suitable lands to construction become less
common. This study aims to present the solution designed to allow access to the silo feeder of the
primary crusher of a mining company, which, due to the initial topographic conditions, presented
the execution of a 10 meters elevation. The unevenness was overcome by building an access ramp
with landfill and execution of a large reinforced soil wall with a vertical face made with soil-cement
bags. It allowed the access of the trucks that perform the tipping operation of the material to be
crushed. In order to characterize the foundation land and the soil used in the wall construction, the

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

301
specific gravity of soil solids test, direct shear test and compaction test were performed. The
geotechnical study was used to model using the software Geo5, which enabled the prediction of
tensile stresses in the reinforcement elements. The stresses were analyzed at each depth, allowing
the definition of three geogrid types. The methodology adopted in this project allowed overcoming
the elevation in a safe and technically viable way, with speed of execution and application of
different types of reinforcements.

KEY WORDS: Reinforced Soil Wall, Geosynthetics, Geogrid, Soil Reinforcement.

1 INTRODUÇÃO contenção, como mostra a Figura 1.

Obras com restrições ambientais e de espaço


passaram a ser mais comuns, uma vez que áreas
geotecnicamente mais nobres tendem a já estar
ocupadas ou possuem um custo proibitivo. No
processo de adequação das características
geotécnicas e topográficas do terreno àquelas
necessárias para execução de um projeto,
surgem situações em que solos de fundação são
menos competentes ou em que há necessidade
de elevação e contenção de grandes alturas de
solo. Para viabilização desses tipos de obras,
foram desenvolvidos estruturas de contenção
em solo reforçado, as quais são muros de
gravidade constituídos de solo associado a Figura 1. Análise comparativa de custo x altura entre
elementos com resistência à tração (Ehrlich & diferentes tipos de muros (Koerner, 1998).
Becker, 2009).
Nas décadas de 1960 e 1970 foi difundido o Atualmente, no Brasil, devido ao alto
sistema de “Terra Armada” que, segundo Jewell investimento na produção e fabricação de
(1992, apud Peralta, 2007), consistia em tiras geossintéticos, são diversas as soluções
metálicas, solo granular e face de painéis. O existentes para reforço de solo. Tal fato
avanço da indústria petroquímica e dos estudos fomentou o aprimoramento e desenvolvimento
na engenharia geotécnica permitiram as dessas práticas tornando-as mais atrativas da
primeiras aplicações de muros reforçados com perspectiva técnico-econômica. Esses
geossintéticos, ainda na década de 1970. investimentos deram origem a pesquisas que
O reforço do solo tem o intuito de gerar uma foram responsáveis pelo aprimoramento técnico
restrição de deformações, resultando em da aplicação em solos reforçados,
aumento na resistência do conjunto solo- principalmente em relação aos materias,
geossintético. Para essa função, são, técnicas construtivas, comportamento a longo
geralmente, aplicadas geogrelhas, as quais são prazo, conceitos de projeto e aplicações
mais resistentes que os geotêxteis, uma vez que (Ananias et al., 2009).
sua estrutura em forma de grelha promove o O desenvolvimento do setor da mineração,
entrelaçamento com o solo. Elias et al. (2001) nos últimos anos, tem demandado que a
ressalta a crescente utilização das geogrelhas, engenharia apresente soluções mais inovadoras
sendo a primeira experiência como reforço de para cenários cada vez mais complexos, como
talude estabelecida em 1981 nos Estados por exemplo, para terrenos com grandes
Unidos. De forma a indicar a viabilidade da desníveis, solos submetidos a sobrecargas
utilização de muro de solo reforçado (MSR) singularmente elevadas e condicionantes
com geossintéticos, Koerner (1998) fez uma geotécnicas distintas. Tais cenários são
comparação de custo com outros tipos de fundamentais para instigar a aplicação de novas

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

302
tecnologias (Ananias et al., 2017) um grande muro de solo reforçado com
Um caso que apresentou o uso dessas geogrelha e face sub-vertical de solo-cimento
tecnologias para solução de problemas ensacado, de altura variando desde zero até 10,0
geotécnicos, foi a aplicação do sistema de metros e comprimento da base de
contenções em solo reforçado e a combinação aproximadamente 40 metros. A rampa de
de terramesh system e geogrelhas. Essa acesso tem 10 metros de largura e, na direção
metodologia foi utilizada na área da mineração de sua execução, foi adotado um painel
no munícipio de Alto Horizonte/GO. O projeto metálico de dimensões 10x10m. Dessa forma,
consistiu no desenvolvimento de contenção de além da garantia da segurança em relação à
uma unidade de britagem com desnível crítico ruptura, as características relacionadas à
de 20 metros de altura, gerando diversos utilização e proteção do conjunto, também
benefícios para o empreendimento e sendo foram determinantes.
fundamental para o incentivo de pesquisas A Figura 2 mostra a vista frontal do muro
sobre o comportamento de longo prazo em adotado, onde as dimensões estão em metros e a
contenções de solo reforçado, especialmente parte hachurada representa a face sub-vertical
sobre grandes carregamentos e grandes alturas de sacaria.
(Ananias et al. 2017)
A aplicação de muros de solo reforçado pode
estar associada a outras práticas de contenção
de encostas como faceamento de solo-cimento
ensacado. Essa técnica apresenta baixo custo
por não requerer mão de obra especializada,
além da facilidade de execução do muro com
forma curva, adequabilidade do uso de solos Figura 2. Vista frontal do muro reforçado.
residuais e proteção contra erosões do solo
(Gerscovich, 2008). 2.2 Estudo Geotécnico
Seguindo a linha de implementação de
sistemas de contenção de solo reforçado e Com o objetivo de caracterizar o terreno de
geotéxteis, o presente trabalho visa apresentar a fundação e o solo empregado na construção do
aplicação da técnica de solo reforçado com muro, extraído de jazidas próximas, foram
geogrelhas e faces verticais de solo-cimento executados ensaios de Massa específica dos
ensacado, como solução concebida para sólidos, Compactação e Cisalhamento direto
possibilitar o acesso ao silo alimentador do inundado, seguindo as normas específicas. Os
britador primário de uma mineradora, que, ensaios realizados durante o estudo e seus
devido às condições topográficas iniciais do respectivos referenciais teóricos estão dispostos
terreno, apresentou como premissa de projeto a na Tabela 1.
execução de um desnível de grande altura,
superado com a construção de uma rampa de Tabela 1. Referenciais teóricos para ensaios.
acesso na forma de aterro. Ensaios Referência Normativa
Preparação da Amostra NBR 6457/16
Massa Específica dos Sólidos ASTM D854/14
Compactação NBR 7182/16
2 MATERIAIS E MÉTODOS Cisalhamento Direto ASTM D3080

2.1 Características da Obra Os valores referentes aos ensaios


geotécnicos realizados com amostras do solo
A obra trata-se da execução de uma rampa para analisado, uma argila arenosa de cor vermelha,
permitir o acesso dos caminhões que realizam a estão apresentados na Tabela 2.
operação de basculamento do material ao silo Os valores obtidos para os parâmetros de
alimentador do britador primário de uma resistência do solo, após correção indicada por
mineradora, em Minas Gerais. O desnível de 10 Geo-Rio (2000), são 19,3 kPa para coesão e
metros de altura foi superado com a criação de 29,3º para o ângulo de atrito.

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303
Tabela 2. Resultados do estudo geotécnico. função do tráfego de caminhões.
Ensaios Resultados
Massa específica dos sólidos 3,46 g/cm³ 2.4 Dimensionamento do Muro Reforçado
Compactação
Umidade ótima 19,7% O dimensionamento foi realizado em duas
Massa específica aparente seca máxima 1,73 g/m3 etapas: verificação do equilíbrio externo e
Cisalhamento Direto dimensionamento dos reforços na ruptura.
Coesão 29 kPa Todas as etapas foram realizadas com o auxílio
Ângulo de atrito 35,2º do software Geo5.

2.3 Modelagem do Muro Reforçado 2.4.1 Dimensionamento Externo

O estudo geotécnico possibilitou a modelagem Para a verificação da estabilidade externa do


do muro de solo reforçado no software Geo5, o conjunto formado pelo solo reforçado, foi
qual permitiu a obtenção das previsões de considerado o comportamento semelhante ao de
esforços de tração nos elementos de reforços, um muro de gravidade. O dimensionamento
que foram analisados a cada profundidade. externo consiste em determinar os reforços
O muro foi dividido em 4 seções para necessários para que a estrutura como um todo
análise, como mostra a Figura 3. A seção 1 resista ao empuxo da massa de solo no tardoz
corta a região da placa metálica, com altura de sem tombar e deslizar. É analisada também a
10 metros. Já a seção 2 corta o muro na mesma ruptura global e se as tensões admissíveis do
altura, mas na região da face sub-vertical de solo de fundação são superiores àquelas tensões
solo-cimento ensacado, mudando assim o verticais na base do muro.
comprimento da geogrelha adotado. Por sua Foram determinados, para o cálculo do
vez, a seção 3 corta o muro também na região empuxo de terra ativo e para o empuxo de terra
de face sub-vertical ensacada, porém com altura passivo, os métodos de Coulomb e Caquot-
de 6,67 metros. A seção 4 contempla o talude Kerisel, respectivamente. Estes métodos são
lateral, sem a geogrelha, e foi analisada com a válidos para condições irregulares de geometria
utilização do método de Spencer. de muro e superfície de retroaterro,
considerando a resistência mobilizada entre o
muro e o solo.
Recomenda-se que, na metade superior da
altura, os reforços tenham no mínino 60% da
altura em qualquer situação.

2.4.1 Dimensionamento Interno

Para a verificação da estabilidade interna do


maciço reforçado com geogrelha, foi
considerado as tensões e os parâmetros de
resistência do solo e do reforço. O
dimensionamento interno consiste na definição
da quantidade, tipo e espaçamento dos reforços
de forma que o confinamento da massa de solo
Figura 3. Seções adotadas para análise de estabilidade. reforçado seja garantido, as deformações da
contenção sejam limitadas e os níveis de
Não foi observada presença de água no local, segurança da estrutura sejam adequados.
mas para dimensionamento foram consideradas Os parâmetros de resistência utilizados na
a condição drenada e a condição saturada, com avaliação dos fatores de segurança foram
nível d’água em 80% da altura do muro para obtidos no ensaio de cisalhamento e corrigidos
cada seção analisada. Foi adotada também uma por fatores de redução de segurança de 1,5 para
sobrecarga de ação permanente de 35 kN/m² em

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304
a coesão e de 1,2 para o ângulo de atrito,
conforme indicado por Geo-Rio (2000).
Quanto ao espaçamento dos reforços, foi
adotado um espaçamento vertical de 60 cm
entre as camadas de geogrelha.

2.5 Reforços Utilizados

A partir dos esforços obtidos no software, três


tipos de geogrelhas foram definidos de acordo
com a aplicação em diferentes profundidades do
muro. Para esta obra, foram utilizadas
geogrelhas de PVA da marca Fortrac, cujos
fatores de redução são certificados. A Tabela 3
apresenta os tipos de reforços utilizados, as
respectivas resistências últimas à tração e os
respectivos fatores de redução para deformação
(FR fl ), danos de instalação (FR di ) e influência
ambiental (FR am ). Todas as aberturas das
malhas apresentam dimensões de 25x25cm.
Figura 4. Esquema representativo da seção 1.
Tabela 3. Tipos de reforços e respectivas resistências à
tração e fatores de redução.
Tult
Tipos de Geogrelha
(kN/m)
FR fl FR di FR am
G55T 55 1,53 1,03 1,09
G110T 110 1,53 1,03 1,01
G200T 200 1,53 1,03 1,01

A Tabela 4 apresenta o comprimento e a


quantidade adotada para as geogrelhas em cada
seção. Estes comprimentos não incluem o
envelopamento da face.

Tabela 4. Comprimento, em metros, e quantidade de


geogrelhas em cada seção.
Seção
Características
1 2 3
Comprimento 6,0 6,0 4,0
G55T
Quantidade 9 9 10,0
Comprimento 5,0 6,0 -
G110T
Quantidade 5 5 -
Comprimento 5,0 5,0 -
G200T
Quantidade 2 2 -
Figura 5. Esquema representativo da seção 2.
Os esquemas apresentados para solução do
muro nas seções 1 e 2 estão expostos nas Salienta-se que, nas seções 2 e 3,
Figuras 4 e 5, respectivamente. A seção 3 segue representadas no esquema da Figura 3, o
as mesmas premissas da seção 2, a qual também comprimento das geogrelhas utilizadas foi
apresenta a técnica do muro reforçado acrescido em 1,6 metros, de modo a proteger a
associado com a face sub-vertical ensacada de face de sacaria em 0,6 metros e ancorar em 1,0
solo-cimento, apenas com as especificações das metro.
grelhas adaptadas para a necessidade dessa Através dos esquemas apresentados
seção e já apresentadas na Tabela 4.

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305
anteriormente, percebe-se também que foram Tabela 6. Comparação dos Fatores de Segurança (FS)
adotados dispositivos de drenagem no tardoz do para a Seção 2.
FS FS FS
paramento. Para a seção 1, com chapa metálica, Modo de Ruptura
Mínimo Drenado Saturado
foi empregada uma camada de areia de Tombamento 2,00 8,80 18,68
espessura de 20 cm. Além disso, o detalhe
Deslizamento 1,50 6,35 12,26
indica a utilização de um tubo perfurado
Capacidade de Carga
“karanet” de 100mm de diâmetro, com Admissível
1,00 1,29 2,00
inclinação de 1%, que deve ser conectado no Deslizamento ao longo da
sistema de drenagem. Para a seção 2 e 3, foram 1,50 2,08 -
geogrelha
utilizados tubos de PVC perfurados de 50mm Resistência à tração do
1,50 2,30 2,30
de diâmetro e comprimento de 110 cm, que reforço
devem ser envolvidos com geotêxtil e ter Arrancamento 1,50 15,10 13,78
espaçamento vertical e horizontal de 1,20m. Estabilidade Global 1,50 1,55 1,74

Tabela 7. Comparação dos Fatores de Segurança (FS)


3 RESULTADOS para a Seção 3.
FS FS FS
Modo de Ruptura
Mínimo Drenado Saturado
3.1 Modelagem do Muro Reforçado
Tombamento 2,00 23,78 119,83
Deslizamento 1,50 10,06 34,32
O modelo desenvolvido no software Geo5
permitiu a verificação da estabilidade do muro Capacidade de Carga
1,00 2,67 4,41
Admissível
reforçado. Os fatores de segurança apresentados Deslizamento ao longo da
no dimensionamento externo e interno, nas 1,50 5,64 -
geogrelha
condições drenada e saturada, para a seção 1, 2 Resistência à tração do
1,50 1,63 1,63
e 3, estão apresentados nas Tabelas 5, 6 e 7, reforço
respectivamente. O fator de segurança mínimo Arrancamento 1,50 18,91 18,91
para a estabilidade global foi adotado conforme Estabilidade Global 1,50 1,62 2,07
a norma NBR 11682 da ABNT (2006), em
função do nível de segurança requerido para a
obra. 4 DISCUSSÃO
Tabela 5. Comparação dos Fatores de Segurança (FS) Os comprimentos efetivamente utilizados no
para a Seção 1.
FS FS FS
dimensionamento do estudo de caso foram os
Modo de Ruptura calculados a partir da verificação da
Mínimo Drenado Saturado
Tombamento 2,00 9,23 8,64 estabilidade à ruptura global.
Deslizamento 1,50 6,55 6,28 Realizando-se as verificações de segurança
Capacidade de Carga ao deslizamento, tombamento, ruptura do solo
1,00 1,27 1,49 de fundação e ruptura e arrancamento do
Admissível
Deslizamento ao longo da reforço, percebe-se que a relação comprimento
1,50 2,08 -
geogrelha do reforço e altura do muro (L/H) foi 0,60 para
Resistência à tração do as seções 1 e 2, que é próxima à relação de
1,50 1,99 2,30
reforço
0,70, considerada ideal, de acordo com Rowe &
Arrancamento 1,50 14,81 13,78 Ho (1998). Esta relação garante maior
Estabilidade Global 1,20 1,57 1,21 eficiência quanto aos deslocamentos horizontais
e às forças de tração mobilizadas nas inclusões,
A seção 4 apresentou fator de segurança de 1,76 além de apresentar boa economia de reforço.
para a condição drenada e 1,56 para a condição Para a seção do muro de 6,67 m de altura,
saturada, ambas satisfatórias ao Fator de porém, o comprimento necessário foi maior que
Segurança mínino de 1,5 estabelecido em a altura do solo reforçado. Entretanto, as
norma. solicitações de tração foram menores, devido à
parcela de coesão do solo argiloso, exigindo

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

306
geogrelhas com menores resistências e REFERÊNCIAS
reduzindo assim o custo da obra.
Ressalta-se, de toda forma, que o peso do ABNT (2016). NBR 6457: Amostras de solo –
solo sobre o reforço apresenta um aumento na Preparação para ensaios de compactação e ensaios
de caracterização. Associação Brasileira De Normas
eficiência da ancoragem da geogrelha. As Técnicas, São Paulo, 8p.
contenções mais altas, apesar do acréscimo de ABNT (2006). NBR 11682: Estabilidade de encostas.
empuxo, mostraram menor relação L/H. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Os fatores de segurança obtidos na Janeiro, 27p.
verificação da estabilidade mostraram que as ABNT (2016). NBR 7182: Ensaio de Compactação.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, São
geogrelhas adotadas atendem bem a todos os Paulo, 9p.
modos de ruptura analisados, sendo mais ASTM (2014). D854 – 14: Standard Test Methods for
solicitadas no que tange aos próprios esforços Specific Gravity of Soil Solids by Water Pycnometer.
de tração e também à estabilidade global da American Standard Test Methods, Pensilvânia, USA,
estrutura e aos esforços na fundação, a qual 7p.
ASTM (2014). D3080: Standard Test Method for Direct
apresentas as mesmas propriedades geotécnicas Shear Test of Soils Under Consolidated Drained
do aterro reforçado. Conditions. American Standard Test Methods,
Para fins de servicibilidade, recomenda-se, Pensilvânia, USA, 7p.
de acordo com a norma britânica BS 8006, Ananias, E. J.; Campos, G. O.; Silveira, J.E.S. Muro de
compactação de grande energia, de modo a contenção em terramesh e geogrelhas para a
contenção de britagem primária em mineração - Alto
mobilizar a maior parcela das tensões e Horizonte/GO. http://igsbrasil.org.br/wp-content/
deformações durante o processo. uploads/2017/12/CCO-2014-Muro-de-conten%C3%
A7%C3%A3o-emterramesh-e-geogrelhas-para-a-
conten%C3%A7%C3%A3o-de-britagem-prim%C3%
5 CONCLUSÃO A1ria-emminera%C3%A7%C3%A3o.pdf, acesssado
em 01/05/2019.
Ananias, E. J. ; Texeira, A. M. ; Duran, J. S. O Uso
O estudo apresenta a aplicação da técnica de Crescente de Solos Reforçados para Contenções em
solo reforçado com geogrelhas e face sub- Áreas Urbanas: Uma Ênfase aos 20 Anos da Solução
vertical de solo-cimento ensacado em um muro Terramesh no Brasil. In: 5a Conferência Brasileira de
de altura máxima de 10 metros. Os resultados Estabilidade de Encostas, 2009, São Paulo. 5a
Conferência Brasileira de Estabilidade de Encostas,
das análises e da própria obra demonstram que 2009.
a utilização de geogrelhas de alta resistência e BS 8006 (2010). Code of Practice for Strengthened and
baixa fluência, aliada a uma compactação bem Reinforced Soils and Other Fills. British Standard,
feita, resulta em estruturas que atendem ao Londres, Inglaterra, 260p.
requesitos de segurança ao colapso e Ehrlich, M. & Becker, L. (2009). Muros e Taludes de
Solo Reforçado: projeto e execução. 1ª ed. Oficina de
funcionalidade. Além disso, foi evidente a Textos, 128p.
influência do peso da estrutura nas relações L/H Elias, V.; Christopher, B.R. & Berg, R.R. (2001)
e o aumento da resistência dos reforços quando Mechanically Stabilized Earth Walls and Reinforced
em presença de solos finos. Soil Slopes. Design and Construction Guidelines.
Federal Highway Administration, Washington, DC,
USA, 394 p.
Geo-Rio (2000). Manual Técnico de Encostas: Análise e
AGRADECIMENTOS Investigação. Secretaria Municipal de Obras.
Fundação Instituto de Geotécnica do Município do
Os autores prestam agradecimento ao Grupo de Rio de Janeiro. Vol 3. 2ª ed. Rio de Janeiro.
Pesquisa INFRAGEO – Infraestrutura de Vias Gerscovich, D. M. S. Estruturas de Contenção - Muros
de
Terrestres e Obras Geotécnicas e ao DTECH – Arrimo. 2008 (Notas de Aula).
Departamento de Tecnologia em Engenharia Koerner, R. M. (1998). Designing With
Civil, Computação e Humanidades da Geosynthetics (4th ed.). Prentice Hall, Inc., New
Universidade Federal de São João del-Rei - Jersey, USA. 761p.
Campus Alto Paraopeba. Peralta, F. N. G. (2007). Comparação de Métodos de
Projeto para Muros de Solo Reforçado com
Geossintéticos. Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil, PUC-Rio, 162p.

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Rowe, R. & Ho, S. (1998). Horizontal deformation in
reinforced soil walls. Canadian Geotechnical Journal,
vol. 35. p. 312-327.
Teixeira, S. H. C. (2003). Estudo da interação solo-
geogrelha em testes de arrancamento e a sua
aplicação na análise e dimensionamento de maciços
reforçados. Tese de Doutorado, Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia, Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, 236p.

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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Uso de Fibras de Polipropileno para Reforço de Solo


Wendel da Silva Vieira de Sousa
Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, wendel.eng@uft.edu.br

Ana Paula Felicio Santos


Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, anapaulafelicio@uft.edu.br

Marcus Vinicius Ribeiro e Souza


Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, marcussouza@uft.edu.br

Selton Fernandes de Sousa Lima


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, seltonfernandes@gmail.com

RESUMO: Os aspectos qualitativos do solo somados aos critérios ambientais e econômicos


envolvendo as obras geotécnicas, induzem o meio técnico à busca de soluções para melhorar o seu
desempenho mecânico. Aplicada a este contexto, encontra-se a metodologia de reforço de solos.
Entende-se o reforço como um aperfeiçoamento das características do solo por meio de processos
físicos ou químicos. Em função disso, é conveniente que se estude as características de
comportamento do solo local, assim como o uso de técnicas alternativas para a sua melhoria. Dessa
forma, o artigo avaliou os efeitos causados pela inclusão de fibras de polipropileno em teores de
0,25%, 0,50% e 0,75%. Para esta análise foram realizados os ensaios de caracterização das
amostras, compactação, Índice de Suporte Califórnia (CBR) e Ensaios de Compressão. Com base
nestes ensaios foi possível observar a diminuição do peso específico do compósito acompanhado de
um aumento significativo do CBR, demonstrando os ganhos significativos no comportamento
mecânico, para determinados teores de fibras. Por fim, os resultados apontaram para os benefícios
da inclusão de fibras no solo estudado. Das amostras analisadas, o teor de 0,25% obteve os
melhores desempenhos técnicos a partir da inclusão de fibras. Os estudos auxiliaram na obtenção de
parâmetros de dimensionamento locais das estruturas para obras geotécnicas.
PALAVRAS-CHAVE: Solo Reforçado, Reforço com fibras, Geossintético, Polipropileno

ABSTRACT: The qualitative aspects of the soil added to the environmental and economic criteria
involving the geotechnical works, induce the technical means to search for solutions to improve its
mechanical performance. In this context, soil reinforcement methodology is used. It can be
understood as an improvement of soil characteristics through physical or chemical processes.
Therefore, it’s convenient to study the behavior of the local soil, as well as to use alternative
techniques to improve it. In this way, the article tries to evaluate the effects caused by the inclusion
of polypropylene fibers in contents of 0.25%, 0.50% and 0.75%. For this analysis were performed
the Physical Characterization, Compaction, California Bearing Ratio (CBR) and Compression tests.
Based on the tests results, a little decreasing of the composite dry mass and the upgrade of CBR
levels were observed. Concerning the mechanical behavior, the percentage of fibers added to the
soil revealed significant gains on the results. Finally, the results showed the advantages of adding
fiber in the soil analyzed, displaying the 0,25% level as the most appropriate percentage based on
the analysis accomplished and assisting the measurement of the geotechnical structures parameters.

KEY WORDS: Reinforced Soil, Fiber Reinforcement, Geosynthetics, Polypropylene

As análises e considerações a respeito do


1 INTRODUÇÃO comportamento mecânico de um solo são

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

309
essenciais para garantir à estrutura o suporte polipropileno.
eficaz frente aos carregamentos impostos. Sabe
- se que as ações intempéricas e os processos de 2.1.1 Solo
evolução do solo estão diretamente ligados à
variabilidade do seu comportamento mecânico, O solo a ser utilizado na pesquisa foi definido a
fazendo com que o mesmo, em condições partir de dois critérios, o primeiro tem a ver
naturais, não alcance as exigências de projeto. com a oportunidade de direcionar o uso do solo
Dentre as soluções geotécnicas para a reforçado em um potencial projeto a ser
melhoria do desempenho mecânico do solo, executado na cidade de Palmas/TO (p. ex., BRT
podem ser citados os métodos de estabilização e Palmas-Sul) e o segundo soma-se ao anterior,
de reforço de solo.A técnica de reforço consiste pois, a partir da carta geológico-geotécnica
na inclusão de um novo elemento na massa de proposta por Santos L. (2000) foi estabelecido
solo, formando um compósito que permite uma qual solo era mais representativo para área em
redistribuição favorável dos esforços de tensão questão.
e deformação (PALMEIRA, 1987).
Neste aspecto, o desempenho mecânico 2.1.2 Fibra de polipropileno
apresentado pela amostra possui influência
direta de algumas características dos materiais A Fibra de Polipropileno utilizada foi a
constituintes como: (a) tipo de solo; (b) tipo de NeoFibra MF, doada pela empresa Neomatex -
reforço; (c) grau de interação existente entre os Comércio de Fibras e Têxteis Técnicos Ltda. As
elementos do compósito. fibras possuíam um comprimento de 6 mm,
De acordo com Palmeira (1987), a partir de diâmetro de 12 µm e área superficial específica
1960 houve um aumento do uso de fibras como de 366 m³/kg. Os teores utilizados na pesquisa
solução alternativa de material de reforço em foram os mesmos teores adotados por
problemas de engenharia, acarretando na Casagrande (2001), Casagrande e Consoli
redução da busca por outras técnicas mais (2002) e Trindade et al (2004) no estudo de
tradicionais, devido à priorização da economia, solos reforçados com fibras. Assim a presente
em termos orçamentários e executivos. pesquisa é realizada com base nos teores de
Devido ao processo de obtenção deste 0,25%, 0,50% e 0,75% em relação a massa seca
material, as fibras fazem parte do grupo dos de solo.
polímeros sintéticos dos “geotêxteis não tecido” Para que se evitasse a aglomeração das fibras
um subgrupo pertencente aos geossintéticos. durante a mistura, o material fibroso foi
Mano e Mendes (1999) afirma que as fibras adicionado de forma fracionada. Seguindo os
podem ser entendidas como um corpo flexível, procedimentos feitos por Casagrande (2001), os
pequeno, de formato cilíndrico, seção componentes foram adicionados na sequência
transversal reduzida e elevado fator de forma. solo, fibra e água, permitindo uma melhor
Comparado aos outros elementos de reforço mistura entre os materiais.
existentes (p.ex. metálicos, fibras naturais,
geogrelhas e geotêxteis tecidos), as fibras 2.2 Métodos
sintéticas possuem como vantagens a menor
interação química com outros elementos e a Para a obtenção dos resultados apresentados
versatilidade de aplicações como a drenagem, nesta pesquisa, foram realizados os principais
filtração e separação. ensaios de Caracterização Mecânica das
Amostras, sendo eles: os Ensaios de
Compactação, Índice de Suporte Califórnia e
2 MATERIAL E MÉTODOS Compressão.

2.1 Materiais 2.2.1 Caracterização Física das amostras

Para a análise do compósito, foram avaliadas as Os ensaios de caracterização física foram


características do solo e da fibra de responsáveis por validar as amostras retiradas

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

310
para esta pesquisa com os resultados 2.2.2 Ensaios de Compactação
apresentados nas cartas geológico-geotécnicas
do Plano Diretor de Palmas/TO elaboradas por Visando o uso solo na pavimentação, de forma
Santos L. (2000) de forma a obter uma amostra a reduzir os esforços causados sobre o mesmo,
representativa da região de estudo. os ensaios de compactação serão voltados à
As análises táteis visuais do solo e os utilização desse material como componente das
ensaios de caracterização realizados em camadas finais de aterro de um pavimento.
laboratório apontaram para um solo com Neste contexto, a energia de compactação
características similares ao exposto por Santos utilizada nas amostras foi a Intermediária,
L. (2000). Solos com essas características seguindo os critérios da DNER-ME 129/94 –
representam cerca de 14% de todo o solo do Método B (DNER, 1994c) e NBR 7182
Plano Diretor de Palmas. (1986b). Conforme aponta Feuerharmel (2000),
O zoneamento pedológico da região estes ensaios são realizados com o intuito de
também indicou que o local de extração das apontar a diminuição da densidade máxima do
amostras é representado tipicamente por um compósito formado a partir da inclusão das
Latossolo Vermelho-Amarelo. Dessa forma, fibras sem, no entanto, modificar a umidade
foram assumidos neste presente estudo que as ótima do solo.
amostras de solo se tratavam de solos
lateríticos. 2.2.3 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
Para análise granulométrica da amostra,
foi traçado com base nos dados de Santos A. et As amostras com e sem a adição de fibras foram
al, conforme pode ser observado na Figura 1. submetidas ao CBR, conforme especifica a
DNER-ME 049/94 (DNER, 1994b) em seu
Método “B”. Estes ensaios definiram o
enquadramaento dos compósitos formados,
tanto técnico quanto econômico, para aplicação
como um material de suporte.

2.2.4 Compressão

A realização do Ensaio de Compressão


consistiu no uso de uma prensa CBR/Marshall-
automática. Devido às características do
equipamento, o controle da velocidade foi feito
em termos de deslocamento, onde se definiu
uma velocidade de descida equivalente à 1% da
Figura 1: Granulometria da amostra, Santos A. et al altura do corpo de prova, o que equivale a cerca
(2018). de 1.00 mm/min. Este valorse aproxima do
intervalo sugerido pela norma.
Para a correta identificação do solo A execução deste ensaio foi regida pela NBR
analisado, os resultados dos ensaios de 12770 (ABNT, 1992) e DNER-IE004/94
caracterização física foram apresentados na (DNER, 1994a). Tal como afirmam Corte,
Tabela 1. Festugato e Consoli (2014), a adoção dos
Ensaios de Compressão para as amostras de
Tabela 1: Caracterização Física do solo coletado. solo reforçado foram escolhidas devido a
Propriedades Amostra Coletada
39,0
simplicidade do método e o seu baixo custo.
Limite de Liquidez (LL)
Limite de Plasticidade (LP) 32,0
Índice de Plasticidade (IP) 7,0
Massa Específica (Gs) 2,7 3 RESULTADOS
Fração Grossa (%) 24
Fração Fina (%) 76 A partir da caracterização física e mecânica do

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

311
material, os estudos visaram identificar o aglomerações de fibras, reforçando a hipótese
comportamento do solo com o embutimento das de uma faixa de teores úteis das fibras de
fibras nos teores de 0,25%, 0,50% e 0,75% em polipropileno, conforme citado por Beaudoin
massa seca de solo. (1990 apud Bernardi, 2003).
Dessa forma os solos com adição foram
comparados entre si no intuito de obter índices
que comprovassem a influência dos teores de
fibra nos mecanismos de interação do
compósito.
3.1.1 Classificação do Solo

As amostras de solo foram classificadas de


acordo com a HRB (High Research Board) e o
SUCS (Sistema Unificado de Classificação dos
Solos). Segundo a HRB, o solo é categorizado
como A-4. Neste grupo competem os materiais Figura 2: Compactação das amostras com fibras, Sousa
(2016).
siltosos e argilosos, de qualidade média ou
baixa para composição do subleito.
Realizados os procedimentos de
Entretanto, na classificação do SUCS, há o
compactação conforme a Figura 2, a Figura 3
predomínio dos grupos SC (Areia Argilosa com
apresenta as curvas obtidas para os quatros
Pedregulhos) na fração grossa e MH (Silte de
teores analisados. A Tabela 2, apresenta os
Alta Plasticidade) na fração fina para ambas as
parâmetros de umidade ótima e densidade
amostras analisadas.
máxima de cada teor analisado.
Fortes et. al (2002 apud Santos E., 2006)
citam que, solos classificados segundo a HRB
como A-4, quando compactados podem se
comportar como um excelente material de
subleito. De fato, os resultados do ISC para o
solo em seu estado natural encontraram-se
adequados à composição das camadas de
subleito.

3.2 Ensaios de Caracterização Mecânica

3.2.1 Ensaios de Compactação

As análises dos ensaios de compactação do solo


a partir da adição de fibras convergiram com os Figura 3: Curvas de Compactação das amostras
resultados encontrados por Feuerharmel (2000); ensaiadas, Sousa (2016).
Casagrande (2001) e Reschetti (2008) que
apontam para a pouca influência da inclusão de
Tabela 2: Umidade Ótima e Peso Específico Seca
fibras nos índices de umidade ótima (wót) e ωót γd γ
densidade máxima do solo (γ). Mistura
(%) (kN/m³) (KN/m³)
Em relação a eficácia da homogeneização Solo 26,20 15,62 19,71
das fibras, verificou-se no rompimento das Solo + Fibras PP 25,80 15,49 19,49
amostras compactadas, a disposição das fibras (0,25%)
presentes no compósito. Os cilindros Solo + Fibras PP 25,70 15,49 19,47
(0,50%)
compactados e rompidos na concentração de Solo + Fibras PP 25,60 15,52 19,46
0,25% de fibras não apresentaram pontos de (0,75%)
grande concentração de fibras enquanto que,
nos teores de 0,75%, foram observadas diversas Com base nos valores obtidos, nota-se a

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312
influência das fibras nos índices de Tabela 3: Incrementos a partir da inclusão de fibras nas
compactação da seguinte forma: na diminuição Curvas CBR.
CBR Incremento
do peso específico do e na redução da umidade Teor de Fibras ω(%)
(%) Δ(%)
ótima. Entretanto, vale observar também que 9,55 22,2 -
estes resultados não modificam de forma 10,52 24,4 -
significativa as características de compactação 0,00% 13,03 26,3 -
entre o solo não-reforçado e reforçado. 4,49 28,4 -
2,56 30,2 -
3.2.2 Ensaios de ISC e Expansão 20,05 22,1 109,95
26,85 24,3 155,23
Com as amostras compactadas realizaram-se os 0,25% 26,71 25,8 104,99
ensaios de ISC. Os cilindros foram rompidos na 10,23 28,2 127,84
6,88 30,1 168,75
prensa CBR-Marshall automática e, a partir das
21,93 22,2 129,63
suas curvas pressão-penetração, foi possível 26,47 24,5 151,62
determinar o índice de suporte do solo analisado 0,50% 30,93 25,7 137,38
ao longo de toda a curva de compactação. Da 11,15 28,2 148,33
mesma forma, os dados de expansão foram 5,83 30,7 127,73
aferidos ao fim do período de imersão. 26,06 22,8 172,88
Os resultados das curvas de CBR com o 26,82 24,3 154,94
embutimento dos teores de fibras de 0,75% 36,77 25,6 182,19
polipropileno são apresentados na Tabela 3. 10,52 27,6 134,30
Nela é possível observar a atuação das fibras na 5,89 29,7 130,10
melhoria de desempenho do solo. Conforme se
Tabela 4: Expansões dos Compósitos com Fibras
pode observar, os incrementos de CBR (Δ) do
Teor (%) 0,25 0,50 0,75
solo com adição de fibras em relação ao CBR
Expansão (%) 0,12 0,17 0,08
do solo natural são superiores a 100% em
quaisquer um dos pontos analisados.
O conjunto dessas informações revela que os 3.2.3 Ensaios Compressão
maiores valores na curva do CBR foram
alcançados com o reforço de fibras no teor de Na confecção das amostras para os Ensaios de
0,75%. Resistência a Compressão Simples (RCS), os
As expansões apresentadas pelo solo com a corpos de prova foram concebidos a partir da
inclusão de fibras não obtiveram valores metodologia de compactação estática, proposta
significativos, com valores abaixo de 1%. por Werk (2000). Este método estabelece uma
Reschetti (2008) destaca que é característico de relação Altura - Diâmetro de 2:1, para as
solos lateríticos, apresentarem tendências amostras submetidas aos ensaios.
expansivas naturais baixas, conforme pode ser Um limitante percebido ao se realizar os
observado na Tabela 4. ensaios de RCS foi a impossibilidade da
Vale ressaltar que as taxas de expansão das mudança da configuração do equipamento
amostras não se comportam de forma utilizado para realizar as rupturas: a Prensa
proporcional ao aumento do teor de fibras. CBR Marhsall é programada para encerrar o
Santos A. et. Al (2018) também observaram que ensaio por tempo ou excesso de deformação, o
as taxas de expansão do solo pesquisado com a que ocorrer primeiro. Isto impossibilitou
adição de fibras de polipropileno, apontaram conhecer o comportamento residual do
reduções nas taxas de expansão de 64% em compósito após sua ruptura e,
relação ao solo natural. consequentemente, analisar a atuação das fibras
na tensão de escoamento dos compósitos.
As rupturas aconteceram em média próximo
à deformação de 5% e, para alguns teores de
fibras, houve o aumento da RCS nos
compósitos com a adição das fibras de

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313
polipropileno. reforçado em quaisquer um dos teores
O ganho com a inclusão de fibras para o analisados. Entretanto, foi observado que um
melhor teor foi superior a 25% nas tensões aumento gradativo do teor de fibras tende a
máximas suportadas, com uma média de diminuir o peso específico do solo. Reschetii
resistência de pico em torno de 519 kPa, (2008) cita que esta redução do peso específico
enquanto que o solo sem a adição de fibras não é devido ao fato de que as fibras são um
ultrapassou os 370 kPa. As resistências material de menor massa específica que o solo.
máximas foram alcançadas nos teores de 0,25% O melhor desempenho apontado pela
e 0,50%. Entretanto, houve o decréscimo da inclusão de fibras foi nos ensaios de CBR. As
RCS com o aumento gradativo dos teores de amostras resultaram em poucas expansões,
fibras, com o teor de 0,75%, embora ainda sendo os valores mais altos registrados para o
apresentassem um valor superior ao solo sem teor de 0,75%, no entanto, ainda inferiores a
fibras. 2%.
Os resultados encontrados nessa pesquisa O índice de suporte apresentado pelo solo
são similares aos trabalhos realizados por sofreu incrementos para todos os teores de
Feuerharmel (2000). Os valores de RCS fibras adicionados, aumentando gradativamente
encontrados estão resumidos na Figura 4. Como com o teor de fibras. Neste contexto destaca-se
pode ser observado, devido a distribuição o teor de 0,75%.
aleatória das fibras no compósito fica É importante ressaltar que, embora a
perceptível a variabilidade dos resultados distribuição das fibras seja aleatória, a sua ação
obtidos. se dá com maior ou menor eficiência a partir do
seu posicionamento em relação à força
solicitante, sendo mais eficaz quando a atuação
do esforço ocorre perpendicular à sua posição
no solo.
Em relação ao ensaio de Resistência à
Compressão Simples, o incremento de
resistência foi em teores pontuais. Os
compósitos alcançaram incrementos de
resistência em até 40% da tensão máxima
suportada pelo solo natural. Dos teores
analisados, as amostras com teor de fibras de
0,50% apresentaram a maior resistência.
Figura 41: Resistência média à Compressão Simples nos Em linhas gerais, as amostras com teor de
teores analisados, SOUSA (2016). 0,75% apresentaram a menor resistência entre
os compósitos, fato este ocasionado pelo
surgimento de regiões com maior concentração
4 DISCUSSÃO de fibras, ocasionando menores coesões entre os
materiais. Em alguns casos, as atuações das
Com o intuito de se criar metodologias fibras em pontos críticos proporcionaram
alternativas para o reforço de solo, a pesquisa maiores deformações das amostras em conjunto
tratou de direcionar para ensaios e verificações com o aumento da carga suportada, como visto
no intuito de se estabelecer um teor de mistura no teor de 0,25% e 0,75%.
ideal para um solo típico da região. Conforme
característica da amostra, provou-se que o solo 5 CONCLUSÃO
coletado e analisado seria referente à região,
conforme apontado nos estudos de Santos L Por serem pioneiros na análise das
(2000). condicionantes locais para reforço de solos com
A inclusão das fibras no solo não alterou a inclusão de fibras, os estudos auxiliaram na
significativamente as características de obtenção de parâmetros de dimensionamento
compactação entre o solo reforçado e o não- locais das estruturas para obras geotécnicas

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

314
Com base nos resultados analisados, DNER (1994b). ME 049/94: Solos – Determinação do
concluiu-se que o emprego das fibras de Índice de Suporte Califórnia Utilizando Amostras
Não Trabalhadas. Departamento Nacional De
polipropileno para um solo silto argiloso da Estradas De Rodagem, Rio de Janeiro, p. 14.
região de Palmas/TO pode ser empregado como DNER (1994c). ME 129/94: Solo - Compactação
componente de uma mistura para reforço de Utilizando Amostras Não Trabalhadas. Departamento
subleito ao atribuir ao solo as características Nacional De Estradas De Rodagem, Rio de Janeiro, p.
necessárias para a composição desta camada. 7.
Feuerharmel, M. R. (2000). Comportamento de Solos
Nos casos analisados, o melhor Reforçados com Fibras de Polpropileno. Dissertação
desempenho mecânico para os compósitos solo- de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
fibra foi para as misturas em que os teores Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
estavam em 0,25%. O teor de 0,75% mostrou-se Grande do Sul, 133p.
inviável devido à fragilidade ocasionada pela Mano, E. B.; Mendes, L. C. (1999). Introdução a
Polímeros (2ª ed.). Editora Edgard Blücher Ltda., São
concentração excessiva de fibras na mistura. Paulo, p. 208.
Por fim, a viabilidade financeira dessa Palmeira, E. M. (1987). The Study of Soil-Reinforcement
utilização nas técnicas de pavimentação e os Interaction by Means of Large Scale Laboratory
procedimentos para mistura do material em Tests.1987. Tese de Doutorado, Programa de Pós-
grandes quantidades ainda deve ser estudada. Graduação em Engenharia Civil, Universidade de
Oxford, 234 p.
Sugere-se ainda a execução de estudos Reschetti Júnior, P. R. (2008). Avaliação do
investigativos complementares para o solo Comportamento Mecânico de um Solo Arenoso Fino
como os ensaios oedométricos. Laterítico Reforçado com Fibras para Uso em
Pavimentação. Dissertação de Mestrado, Programa de
REFERÊNCIAS Pós-Graduação em Engenharia Civil, Escola de
Engenharia de São Carlos, 125 p.
Santos, L. F. (2000). Cartografia Geotécnica Regional do
ABNT (1986b). NBR 7182: Solo - Ensaio de Município de Palmas/TO: Área a Oeste do Meridiano
Compactação. Associação Brasileira De Normas 48º W. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 10. Graduação em Engenharia Civil, Universidade de
ABNT (1992). NBR 12770: Solo Coesivo - Brasília, 176 p.
Determinação da Resistência a Compressão Não Santos, A. P. F. et al. (2018). Influência do uso de Fibras
Confinada. Associação Brasileira De Normas de Polipropileno no parâmetro de Índice de Suporte
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 4. Califórnia e Expansão de um solo da região urbana
Bernardi, S. T. (2003). Avaliação do Comportamento de de Palmas-TO. XXXII Congresso de Pesquisa Ensino
Materiais Compósitos de Matrizes Cimentícias em transporte da Anpet, Gramado, p. 1978 - 1988.
Reforçadas com Fibra de Aramida Kevlar. Santos, E. F. (2006). Estudo Comparativo de diferentes
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós- Sistemas de Classificações Geotécnicas aplicadas aos
Graduação em Engenharia Civil, Universidade Solos Tropicais. Dissertação (Mestrado), Curso de
Federal do Rio Grande do Sul, 164p. Engenharia Civil, Escola de Engenharia de São
Casagrande, M. D. T. (2001). Estudo do Comportamento Carlos, Universidade de São Paulo. 145 f.
de um Solo Reforçado com Fibras de Polipropileno Santos, R. C. (1999). Uma Descrição da Trajetória e
Visando o Uso como Base de Fundações Superficiais. Perspectiva da Transformação Plástica na Bahia
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós- 1978-1997. Trabalho de Conclusão de Curso,
Graduação em Engenharia Civil, Universidade Bacharelado em Ciências Econômicas, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 94p. Federal da Bahia, 54 p.
Casagrande, M. D. T.; Consoli, N. C. (2002). Estudo do Sousa, W. S. V. (2016). Uso de Fibras de Polipropileno
comportamento de um solo residual areno-siltoso para Reforço de Solo visando à aplicação em Obras
reforçado com fibras de polipropileno. Solos e de Infraestrutura Urbana. Trabalho de Conclusão de
Rochas: Revista Latino-Americana de Geotecnia, São Curso, Bacharelado em Engenharia Civil,
Paulo, v. 25, n.3, p. 223-230. Universidade Federal do Tocantins, 94 p.
Corte, M. B.; Festugato, L.; Consoli, N. C. (2014). Trindade, T. P. et al. (2004). Latossolo vermelho-amarelo
Resistência à Compressão Simples e Diametral de um reforçado com fibras de polipropileno de distribuição
Solo Estabilizado com Cal e Reforçado com Fibras de aleatória: estudo em laboratório. Rem: Revista
Polipropileno. Anais XVII Congresso Brasileiro de Escola de Minas, s.l., v. 57, n. 1, p. 53 – 58.
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (XVII Werk, S. M. S. (2000). Estudo da Influência dos Métodos
COBRAMSEG), ABMS, Goiânia. p. 1 - 8. de Compactação no Comportamento Resiliente de
DNER (1994a). IE-004/94: Solo Coesivo - Determinação Solos. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
da Compressão Simples de Amostras. Departamento Graduação em Engenharia Civil. Universidade
Nacional De Estradas De Rodagem, Rio de Janeiro, p. Federal do Rio Grande do Sul, 118 p.
11.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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316
Geossintéticos na Infraestrutura Rodoviária e Ferroviária
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019

Proteção de tubulações enterradas contra sobrecargas com


utilização de geossintéticos
Ana Carolina Gonzaga Pires
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, anacarolina.g.p@hotmail.com

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: Este artigo investiga o desempenho de geossintéticos aplicados como elementos de


reforço com a finalidade de reduzir a magnitude dos esforços atuantes sobre dutos enterrados
submetido a sobrecargas superficiais. Ensaios em modelo (escala 1:4) foram realizados usando
diferentes arranjos de reforço, como uma camada de reforço horizontal acima do tubo, arranjo U
invertido ao redor do tubo e o reforço envolvendo completamente o tubo. Foram realizados ensaios
sem reforço e reforçados com diferentes tipos de reforços sob três configurações geométricas.
Foram observadas reduções significativas nas tensões verticais transmitidas ao solo próximo do
tubo, dependendo da configuração de reforço utilizada. Além disso, observou-se que a presença do
reforço causou reduções significativas nas deformações no tubo em comparação com a situação sem
reforço.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintético, Dutos enterrados, Proteção de dutos, Sobrecargas.

ABSTRACT: This paper investigates the influence of the presence of geosynthetic reinforcement to
reduce the loads transmitted to buried pipes from localized surface surcharges. Model tests (1:4
scale) were carried out using different reinforcement arrangements, such as a horizontal
reinforcement layer above the pipe, inverted U arrangement around the pipe and the reinforcement
completely enveloping the pipe. Three types of reinforcements were tested with varying values of
tensile stiffness. Significant reductions in vertical stresses transmitted to soil close to the pipe were
also observed depending on the reinforcement configuration employed. Furthermore, it was
observed that the presence of the reinforcement caused significant reductions of strains in the tube
in comparison with the situation without the reinforcement.

KEYWORDS: Geosynthetic, Buried pipeline, Protection of pipelines, Surface surcharge.

1 INTRODUÇÃO garantir proteção contra intempéries, cargas


externas do tráfego de veículos e máquinas,
Os dutos são definidos como estruturas ação de vento, podendo também reduzir a
constituídas por tubos interligados destinados possibilidade de atos de vandalismo.
ao transporte de produtos fluídos em longas Muitos acidentes importantes envolvendo
distâncias por gravidade ou sob pressão, tubos enterrados estão descritos e discutidos na
formando uma rede complexa. Estes são literatura. Comumente, estes acidentes possuem
frequentemente enterrados quando instalados como causas fatores que estão associados às
em ambientes urbanizados e industriais e condições de operação, conservação e
podem estar localizados abaixo de pavimentos e manutenção dos dutos, podendo-se causar
estruturas temporárias. danos e levar a ruptura de tubulação e/ou
O uso de tubulações enterradas visa conexões em decorrência de falha mecânica,
minimizar a interferência com o meio ambiente, falha operacional, ação da natureza e ação de
proporcionar comprimentos mais curtos e terceiros. As consequências podem ser graves,

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319
com perdas materiais significativas e, não 2 MATERIAIS E MÉTODOS
raramente, perdas de vidas.
Por exemplo, em 2018, ocorreu uma série Os ensaios foram realizados em uma caixa de
de incêndios e explosões no norte do estado de aço rígida com dimensões de 1500 mm de
Massachusetts, Estados Unidos. O incidente foi comprimento, 500 mm de largura e 500 mm de
provocado pela sobrecarga do sistema de altura. Nesta caixa, a massa de areia foi
distribuição de gás natural, onde a companhia preparada usando a técnica de chuva de areia
responsável lançou gás sob alta pressão em um para obter uma massa de solo densa e uniforme.
sistema de distruibuição de gás que opera sob A face frontal da caixa era consitituída
baixa pressão. Diversas estruturas foram por uma placa de acrílico transparente de modo
danificadas e outras ficaram destruídas a possibilitar uma melhor visualização do
completamente pela explosão, como mostrado mecanismos de falha, campo de deslocamentos
na Figura 1. do maciço e do duto. Deste modo, foram
instalados marcadores e linhas de areia
coloridas horizontais junto a face transparente e
fez-se uso de técnica fotográfica para o registro
de tais comportamento ao longo do ensaio.
A sobrecarga foi aplicada na superfície do
aterro por meio de uma placa rígida, com
largura de 100 mm, simulando condições de
deformação plana. A Figura 2 ilustra a
configuração do ensaio.

Figura 1. Explosão provocada pelo ruptura de duto


(NTSB, 2018).

Diante destes cenários de acidentes com


tubulações, muitos pesquisadores têm estudado
os benefícios do emprego de geossintéticos
associado ao estudo de dutos enterrados, como
Viana e Bueno (1998), Mohri et al. (2003),
Plácido (2006), Palmeira e Andrade (2010),
Khatri et al. (2013), Palmeira e Bernal (2015),
Hegde and Sitharan (2015). Os geossintéticos
são materiais que têm sido muito empregados
na engenharia geotécnica para estabilização de
solo, em estruturas de contenção, aterros sobre Figura 2. Configuração do ensaio em modelo (dimensões
solos moles, entre outras aplicações. em mm).
Para cumprir o objetivo geral, neste
estudo buscou-se: estudar experimentalmente a As tensões no maciço foram registradas por
aplicação de geossintético como reforço em quatro células de tensões totais (identificadas
solos que contenham dutos enterrados por meio como C1, C2, C3 e C4, Figura 2) inseridas nas
de ensaios em modelos; selecionar o reforço proximidade do duto, com capacidade máxima
com o desempenho mais adequado para a de 600 kPa e acurácia de 1%, fabricadas pela
redução dos efeitos de carregamentos externos; Micro Sensores Industrial. A posição das
avaliar o arranjo geométrico do reforço mais células foram mantidas em todos os ensaios.
propício, bem como sua influência no As deformações do tubo, por sua vez, foram
mecanismo de interação solo-duto. monitoradas por extensômetros elétricos

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

320
colados na sua superficie externa. Os sinais determinar a tensão máxima de suporte do solo.
emitidos pelos instrumentos foram adquiridos
por um sistema de aquisição de dados Spider-
HBM, conectado a um microcomputador. 2.1 Materiais
O programa experimental desta pesquisa
consistiu na realização de ensaios em escala O solo utilizado em todos os testes para
reduzida variando o tipo de reforço e os construção do aterro foi uma areia uniforme
arranjos de instalação dos mesmos. O arranjo de com diâmetros de partículas variando entre
reforço mais simples consistiu em uma camada 0,075 mm e 1,2 mm (areia fina a média), sendo
horizontal (459 mm de comprimento = 6 classificada como SP no Sistema Unificado de
diâmetros do tubo) instalada a uma Classificação de Solos. As propriedades desta
profundidade de 76,5 mm (Figura 3a). areia estão apresentadas na Tabela 1.
Os outros dois arranjos testados
consistiram em U invertido (Figura 3b) e uma Tabela 1. Propriedades do solo.
forma de disposição em queo reforço envolve Propriedades
totalmente o tubo (Figura 3c), denominado de Densidade dos grãos 2,64
Coeficiente de uniformidade 1,81
arranjo envelopado. Coeficiente de curvatura 0,95
Peso especifico seco máximo (kN/m³) 14,8
Peso especifico seco mínimo (kN/m³) 17,1
Peso específico (kN/m³) 16,7
Ângulo de atrito (°) 35 – 43(*)
Coesão (kPa) 0
Densidade relativa (%) 80
(*) Dependente do nível de tensões considerado.

Na escolha do material do aterro, atentou-se


na correlação do tamanho relativo das partículas
(a) do solo no modelo em relação ao do protótipo.
A construção do aterro foi alcançada usando a
técnica da chuva de areia para obter uma massa
de solo homogênea e densa (densidade relativa
de 80%), produzindo um peso específico seco
igual a 16,7 kN/m³.
Um tubo de aço carbono com 76,5 mm de
diâmetro externo, 1,4 mm de espessura e 490
(b)
mm de comprimento foi empregado nos testes,
sendo instalado a uma profundidade de 153 mm
(= 2 diâmetros do tubo). Os extensômetros
elétricos foram instalados na seção transversal
central da tubulação espaçados a cada 45°.
Assim, deve-se ressaltar que as deformações
medidas foram aquelas que ocorreram ao longo
da face externa do tubo.
Quanto ao geossintético, os materiais de
(c) reforço utilizados nos ensaios foram
Figura 3. Configuração geométrica do reforço – (a) selecionados considerando o fator de escala do
camada; (b) U invertido; (c) envelopado. ensaio, de tal forma que estes materiais
apresentassem propriedades físicas e mecânicas
É válido ressaltar que além dos ensaios representando reforços convencionais
programados, anteriormente mencionados, empregados em protótipos.
foram realizados ensaios em laboratório de Foram utilizados três tipos diferentes de
capacidade de carga do solo arenoso, para geogrelhas com valores variáveis de rigidez à

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321
tração, identificadas por R1, R2 e R3. As 250
propriedades mecânicas foram obtidas em σSR = 218.4 kPa
ensaios de tração (ASTM D6637) e são 200 σv

Tensão verticcal(kPa)
apresentadas na Tabela 2. 150

Tabela 2. Propriedades dos reforços. 100


Propriedade R1 R2 R3 R1
Rigidez secante a 50 R2
5% de deformação 8,75 140 103 R3
(kN/m) 0
Alongamento na Camada U invertido Envelopado
41 9 28
ruptura (%) Configuração do reforço
Resistência à tração
1,45 12,0 20,5 (a)
máxima (kN/m)
450
Abertura da malha σSR = 415.4 kPa
0,2 x 0,2 2,0 x 2,0 1,0 x 1,0 400 σv
(mm)
350

Tensão vertical(kPa)
300
250
3 RESULTADOS
200
150 R1
Com base nos resultados fornecidos pela 100 R2
instrumentação empregada nos ensaios 50 R3
realizados em modelos, foi possível analisar a 0
interação solo-duto, no que se refere à Camada U invertido Envelopado
distribuição de tensão no solo e deformações Configuração do reforço
sofridas pelo tubo em decorrência da sobrecarga (b)
vertical aplicada na superfície. σh
15
A tensão vertical máxima (σsr) aplicada na σSR =14.0 kPa
superfície do solo no teste não reforçado foi 13
Tensão horizontal(kPa)

igual a 162 kPa, o que corresponderia a um 10


valor de tensão vertical próximo das tensões
8
típicas dos pneus sob condições de protótipo.
Desde modo, todas as análise apresentadas nos 5 R1

itens a seguir foram feitas para este nível de R2


3
tensão. Outro aspecto importante que a R3
0
capacidade de suporte do solo obtida para o Camada U invertido Envelopado
solo foi igual a 76 kPa. Configuração do reforço
(c)
σSR =62.7 kPa
3.1 Comportamento das tensões no solo em 60 σv
torno do tubo 50
Tensão vertical(kPa)

40
As Figuras 4a-d apresenta os valores de tensão
no solo medidas pelas células de tensão nos 30

ensaios reforçados para o mesmo nível de 20 R1

tensão máxima da condição não reforçada. R2


10
No ensaio não reforçado, a tensão vertical R3
0
nesta região acima do tubo foi de Camada U invertido Envelopado
aproximadamente 415 kPa, enquanto que na Configuração do reforço
região abaixo e na lateral do tubo (registradas (d)
pela células C1 e C4) atingiram-se valores de Figura 4. Tensões no solo medidas pelas células de tensão
218,4 e 62,7 kPa, respectivamente. total: (a) acima do tubo - C1; (b) abaixo - C2; (c) na
lateral - C3; (d) na lateral - C4.

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322
No que diz respeito a região abaixo do carregamento aplicado na superfície do aterro.
tubo, pode-se notar que nos ensaios sem a A Figura 5a-c mostra a distribuição de
presença do reforço a tensão máxima no solo deformações ao longo do perímetro do tubo nos
foi de 218 kPa, entretanto sob condições ensaios não reforçado e reforçados para um
reforçadas verificou-se uma redução nível de tensão máxima de 162 kPa (σsr)
significativa dos esforços no maciço reforçado aplicado na superfície do solo.
ao longo de todo ensaio comparado ao ensaio EXT 0°
não reforçado, principalmente nos arranjos U 600
invertido e envelopado (Figura 4a). 300 EXT 45°
0
Os maiores valores de tensões foram
-300
registrados na região da célula 02. Na condição
-600
não reforçada, a tensão máxima registra é de EXT 270° -900 EXT 90°
aproximadamente 415 kPa. Em contrapartida,
nos ensaios reforçados as tensões variam entre
cerca de 100 a 360 kPa.
Portanto, de acordo com os resultados EXT 225° EXT 135°

apresentados na Figura 4b evidenciaram que


SR EXTR1180° R2 R3
houve uma redução nos valores de tensões
verticais entre 13 a 75%, dependendo do (a)
reforço e disposição considerada, comparado ao EXT 0°
600
ensaio não reforçado.
300 EXT 45°
Quanto as tensões registradas na região
0
lateral do tubo pode-se notar os menores valores -300
de tensão horizontal e vertical registrados em -600
comparação com as região acima e abaixo do EXT 270° -900 EXT 90°
tubo. Tal comportamento se dá devido a
concentração de tensão ocorrer primordialmente
acima do tubo em virtude da aproximação com
EXT 225° EXT 135°
a área de carregamento, justificando os valores
de tensão obtidos pela célual 02. EXT 180°
Além disso, é importante salientar a SR R1 R2 R3

ocorrência do fenômeno de arqueamento do (b)


solo, onde neste caso trata-se do arqueamento EXT 0°
600
negativo. Assim, na região lateral ao tubo as
300 EXT 45°
tensões máximas registrada pelas células 03 e 0
04 são 14 e 62,7 kPa, respectivamente para a -300
condição sem reforço. -600
Por fim, observa-se comportamento das EXT 270° -900 EXT 90°
tensões horizontais nos ensaios reforçados foi
similar ao descrito nas leituras da célula 02,
onde constatou-se que a presença do reforço EXT 225° EXT 135°
contribuiu para reduzir os valores de tensões
horizontais no solo entre 8 e 55%. Em todos os EXT 180°
SR R1 R2 R3
casos o arranjo envelopado foi o mais eficaz na
(c)
redução das tensões na região do tubo. Figura 5. Deformações do tudo no ensaio reforçados: (a)
configuração em camada horizontal; (b) U invertido; (c)
envelopado.
3.2 Deformações do tubo
A análise foi realizada em função dos
Por fim, avaliaram-se as deformações sofridas dados de deformação obtidos por extensômetros
pelo tubo instrumentado em decorrência do elétricos fixados ao longo do perímetro do tubo,

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323
em sua seção central. Convencionou-se que as
deformações de compressão são indicadas com A inserção do reforço no solo resultou em
sinal negativo e de tração com sinal positivo. efeitos benéficos, contribuindo favoravelmente
Uma distribuição bastante simétrica pode ser para a alteração do estado de tensões no maciço.
observada, com deformações de compressão no Ao avaliar simultaneamente todas as
topo e na base do tubo e deformação de tração variáveis deste estudo, foi possível verificar que
em outros locais. os reforços R2 e R3 apresentaram um bom
De acordo com os resultados dos ensaios desempenho em todos os ensaios,
não reforçados (SR), os pontos instrumetnados principalmente quando instalados com arranjo
para medição de deformação dos pontos de topo em U invertido ou envelopado.
(EXT 0°) e base (EXT 180°) do tubo Além disso, reduções de tensões verticais e
apresentaram os maiores valores sendo de 577 e horizontais foram observadas no solo ao redor
489 μm/m, respectivamente. do tubo, independentemente da configuração
Nos ensaios reforçados, tambem é assumida, com reduções de tensão vertical de
possível observar o mesmo comportamento, até 75% na região acima do topo do tubo.
com deformações de compressão no topo e Nos ensaios reforçados com arranjo
base. Vale ressaltar que a região de topo do envelopado houve reduções de até 74% nas
tubo apresentou os maiores valores de tensão no deformações no topo do tubo, enquanto na base
solo, mostrando a coerência quanto ao as deformações foram reduzidas em 65% em
comportamento do tubo solicitado. relação ao ensaio não reforçado.
Além disso, contatou-se que na presença Outro resultado importante diz respeito às
do reforço houve uma redução significativa nos deformações sofridas pelo tubo, onde se
valores de deformação nestas regiões, verificou que as principais deformações
principalmente nas configurações de U ocorreram no topo e na base, sendo estas
invertido e envelopado. deformações de compressão.
Nos testes com U invertido mostraram De modo geral, verificou-se que houve
que o uso do reforço R2 resultou, reduções nos valores de deformação de
majoritariamente, em menores valores de compressão no topo e base do tubo para as
deformações em todos os pontos avaliados em condições reforçadas, principalmente com o
relação aos demais testes (Figura 5b). Para esta emprego dos reforços R2 e R3. No que diz
configuração geométrica foram registradas respeito ao reforço R1, pode-se notar um
reduções de deformações de 40% no topo do comportamento similar à condição sem reforço.
tubo, enquanto na base as reduções alcançaram Nos ensaios reforçados com arranjos em U
aproximadamente 70%. invertido e envelopado houve reduções
Nos testes envelopados houve reduções significativas nas deformações no topo do tubo
de cerca de 75% e 65% nas deformações de em relação ao teste sem reforço. Esta conclusão
topo e base, respectivamente, em comparação pode ser atribuída ao confinamento lateral
ao ensaio sem reforço (Figura 5c). desses arranjos.
Nas laterais, verificou-se um aumento de
deformação nos ensaios reforçados em até 10%
no testes reforçados. Esse achado pode ser AGRADECIMENTOS
atribuído ao fato de que valores mais baixos de
tensões horizontais foram registrados nos testes Os autores agradecem ao Programa de Pós-
reforçados. Porém, outros aspectos podem ter Graduação em Geotecnia da Universidade de
contribuido nesse comportamento, como a Brasília e à Capes pelo apoio financeiro para o
influência da presença do tubo, a densidade do desenvolvimento da pesquisa.
solo nas laterais do tubo oriunda do metódo de
construção do aterro empregado. REFERÊNCIAS

ASTM D6637. Standard test method for determining


4 CONCLUSÕES tensile properties of geogrids by the single or multi-
rib tensile method. American Society for Testing and

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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Materials, ASTM, West Conshohocken.
Hegde, A. M. & Sitharant. G. (2015). Experimental and
numerical studies on protection of buried pipelines
and underground utilities using geocells. Geotextiles
and Geomembranes. v 43, p. 372-381.
Khatri, D.K., Han, J., Parsons, R.L., Young, B., Brennan,
J.J., Corey, R. (2013). Laboratory evaluation of
deformation of steel reinforced high density
polyethylene pipes under static loads. Journal of
Material in Civil Engineering, v25, No 12, p. 1964-
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Mohri, Y., Kawabata, T. & Ling, H. I. (2003).
Geosynthetic Reinforcement in the Mitigation of
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Low-pressure Natural Gas Distribution System.
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5p.
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of buried pipes against accidental damage using
geosynthetics. Geosynthetics International, v 17, No.
4, p. 228-241.
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of buried pipes anchored with geosynthetics.
Geosynthetics International, v 22, No. 2, p. 149–160.
Plácido, R. R. (2006). O uso de geocomposto como
camada indutora para redução de tensões sobre
estruturas enterradas. Dissertação de Mestrado.
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo, São Carlos, 116p.
Viana, P.M.F. & Bueno, B.S. (1998). Condutos
Enterrados: Minimização de Esforços Sobre a
Estrutura. Anais XI Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (XI
COBRAMSEG), ABMS, Brasília, pp. 1055 – 1061.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

325
326
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019

Comportamento estrutural de um pavimento flexível reforçado com


geogrelha após 10 anos
Cássio Alberto Teoro do Carmo
HUESKER Ltda., São José dos Campos, Brasil, cassio@HUESKER.com.br

Lucélio Carlos Costalonga


Stonenge Consultoria e Projetos de Engenharia Ltda, Vitória, Brasil, lucelio@stonenge.com.br

Célio Antônio D’Ávilla


Stonenge Consultoria e Projetos de Engenharia Ltda, Vitória, Brasil, celio@stonenge.com.br

Carla Therezinha Dalvi Borjaille Alledi


IFES – Instituto Federal do Espírito Santo campus Vitória, Vitória, Brasil, borjaille@ifes.edu.br

RESUMO: O pavimento é uma estrutura complexa no que diz respeito ao seu dimensionamento e à
previsão de seu desempenho. Nesse sentido, há uma crescente aplicação de geossintéticos no reforço
de bases e sub-bases de pavimentos por possibilitarem redução da espessura das camadas ou aumento
da sua vida útil, como também redução no tempo de execução da obra, melhor compactação da
camada reforçada, além de melhor controle de qualidade de todo o processo, gerando uma boa relação
custo-benefício. A maioria dos estudos encontrados na literatura abrange pesquisas laboratoriais,
sendo poucos os estudos que simulam as condições reais de campo e avaliam a condição estrutural
do pavimento ao longo da sua vida útil. O objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento da
estrutura do pavimento de uma via urbana reforçado com geogrelha e quantificar o ganho de
resistência da camada reforçada. Apresenta-se o monitoramento do desempenho do pavimento
reforçado a partir de resultados de ensaios de viga Benkelman executados antes da fase executiva e
ao longo de dez anos de sua vida de serviço. Os resultados obtidos demonstram a eficiência da
aplicação da geogrelha na redução da estrutura do pavimento e no comportamento da estrutura
implantada.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, geogrelha, viga Benkelman, reforço, brita graduada simples,


pavimento flexível.

ABSTRACT: The pavement is a complex structure with respect to its dimensioning and the prediction
of its performance. In this sense, there is a growing application of geosynthetics in the reinforcement
of pavement bases and sub-bases because they allow to reduce the thickness of the layers or increase
their useful life, as well as reduction in the execution time of the work, better compaction of the
reinforced layer, besides of better quality control of the whole process, generating a good cost-benefit
ratio. Most of the studies found in the literature cover laboratory research, with few studies simulating
the real field conditions and assessing the structural condition of the pavement throughout its useful
life. The objective of this work is to evaluate the behavior of the pavement structure of a geogrid
reinforced urban road and to quantify the resistance gain of the reinforced layer. The performance of
the reinforced pavement is monitored from results of Benkelman beam tests performed before and
over the course of ten years of its service life. The results obtained demonstrate the efficiency of
geogrid application in the reduction of pavement structure and in the behavior of the implanted
structure.

KEYWORDS: Geosynthetics, geogrid, Benkelman beam, reinforcement, single graduated gravel,


flexible pavement.

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327
1 INTRODUÇÃO tipo de geossintético, posicionamento do
reforço, dentre outros fatores. Para tanto, é
Os materiais geossintéticos foram necessário que seja formado um banco de dados
desenvolvidos, inicialmente, para aplicações a partir de trechos monitorados ou trechos em
geotécnicas, em contenções de solo reforçado, condições reais de tráfego, visando obter
aterros, dentre outras. Dependendo do tipo de equações condizentes com a realidade brasileira.
aplicações e finalidades, existem vários tipos de
materiais geossintéticos, como geogrelhas, 2 CARACTERÍSTICAS DA OBRA
geotêxteis, geocompostos, e outros.
Segundo Zornberg (2017), em obras de 2.1 Localização
pavimentação, as geogrelhas tecidas têm sido
usadas principalmente para reforçar e ou A obra analisada está localizada na cidade de
estabilizar as camadas estruturais, que são: (1) Viana, região metropolitana de Vitória, no
camada de concreto asfáltico, (2) camada de estado do Espírito Santo.
base, (3) camada sub-base e (4) camada de Esta via de acesso está inserida em um trecho
subleito. implantado pelo DER-ES para dar mobilidade à
De acordo com Shahkolahi e Klompmaker região que contempla várias
(2018), os geossintéticos oferecem uma transportadoras,localizada em um complexo
alternativa econômica a outros métodos de viário denominado Via Sudoeste. O trecho onde
estabilização do subleito, tais como:escavação e foi instalada a geogrelha tecida de polipropileno
substituiçãopor uma espessacamada de material para reforço de pavimento possui uma extensão
granular selecionado; ouestabilização com de 850 metros (Figura 1).
métodos químicosutilizandocal ou cimento.
As propriedades de reforço das geogrelhas e
geotêxteis baseiam-se em três mecanismos.
Grygierek e Kawalec (2018) citam estes três
mecanismos que mostram impacto positivo no
pavimento a partir da utilização de geossintéticos
dentro das camadas do pavimento e ou no topo
do subleito: (1) restrição lateral; (2) maior
capacidade de suporte e (3) efeito de membrana
tensionada. Estes mescanismos também foram
discutidos por vários autores (GIROUD, 2009; Figura 1. Localização da obra (CARMO e D’ÁVILLA,
AL QADI et al., 2012; CARMO; PEREIRA; 2011).
SILVA, 2016; ZORNBERG, 2017), porém há
sempre a necessidade de uma pesquisa 2.2 Estrutura do Pavimento
experimental de campo para complementar os
resultados de pesquisas já conhecidas, que Estudos geotécnicos empreendidos permitiram
apresentam, em sua maioria, resultados de diagnosticar que o subleito (leito carroçável)
experimentos laboratoriais. constituía-se de uma camada superficial de
O presente trabalho tem o objetivo de avaliar mistura escória bruta com argila, espessura
o comportamento da estrutura do pavimento de variando de 0,00 a 0,25m e CBR na ordem de
uma via urbana reforçado com geogrelha e 15%. Esta camada apoiava-se sobre uma camada
quantificar o ganho de resistência da camada de argila não compactada com espessura variável
reforçada, pois os métodos existentes são, de de 0,75 a 0,85m e CBR igual a 7%. O nível
forma geral, de natureza empírica ou d’água a 0,70m da superfície permite inferir que
mecanístico-empírica, sendo assim, necessária a na implantação do aterro, ocorreu lançamento de
calibração das equações utilizadas para a região argila sobre região alagada. Esta situação foi
onde será executado o pavimento considerando: comprovada com a verificação do grau de

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328
compactação da camada que explicitou valores impossibilidade de se elevar o grade devido às
inferiores a 70% cotas de soleiras das edificações lindeiras.
Abaixo da camada de aterro constatou-se ainda
espessa camada de argila orgânica altamente 3.1 Geossintéticos
compressível, com umidade natural superior a
80%. A Norma Brasileira NBR 12553 (2003) define
A Figura 2 mostra a estrutura do subleito geossíntéticos [G] como: “Denominação
existente, que estava sendo utilizada como via genérica de produtos poliméricos (sintéticos ou
não pavimentada. naturais), industrializados, desenvolvidos para
utilização em obras geotécnicas,
desempenhando uma ou mais funções, entre as
quais se destacam: reforço, separação ....”.
Nesta aplicação de reforço de estrutura de
pavimento os geossíntéticos utilizados têm as
seguintes funções: a geogrelha [GG] tem a
função de reforço [R] que é a utilização das
propriedades mecânicas da geogrelha para
melhorar o comportamento mecânico da
estrutura e o geotêxtil tecido [GTW] tem a
função de impedir a mistura dos materiais
Figura 2. Seção da via não pavimentada existente
adjacentes.
As características técnicas dos geossintéticos
3 SOLUÇÃO ADOTADA utilizados como reforço de pavimento são
apresentadas na Tabela 1.
A opção pela utilização de uma geogrelha para
reforço da estrutura do pavimento flexível Tabela 1. Propriedades dos geossintéticos utilizados.
decorreu da necessidade de pavimentar esta via
urbana cuja ocupação por imóveis residenciais e Propriedade Unid Especificações
empresariais se deram em ambos os lados da via. Geogrelha Geotêxtil
Descrição do
A ocupação desordenada resultou em cotas de produto
- biaxial tecido biaxial
soleira das edificações não superiores a 0,20m da (GGW) (GTW)
cota do leito da rua existente. Mantendo-se as Matéria prima - polipropileno polipropileno
Módulo de
condições de habitabilidade, a elevação do grade Rigidez a 2%
kN/
≥ 600 ≥ 270
constituía-se de uma impossibilidade. m
de deformação
O subleito não apresentava grandes Deformação
% 10 15
deformações, mas constatou-se que a opção de na Ruptura
remoção de camadas para implantação do
pavimento explicitou outro problema: aumento
da umidade do solo a medida que se aprofundava 3.2 Dimensionamento do Pavimento
a escavação visto que o nível d´água estava a
0,70m do subleito em contrapando as Neste item são apresentados os parâmetros e o
recomendações do album de projetos de método utilizado para o dimensionamento do
dispositivos de drenagem do DNIT (2018). pavimento estudado.
Outro aspecto é que a camada resistente seria
removida e o leito de assentamento, assumiria 3.2.1 Parâmetros utilizados para o
comportamento mais instável. dimensionamento
Neste contexto, buscou-se solução que
permitisse implantar estrutura de pavimento em Com base na sondagem realizada na via a ser
que se removesse, no máximo 0,10m da camada pavimentada (Tabela 2) e nos levantamentos
existente (subleito), e que a implantação da deflectométricos (Figura 3) a estrutura do
estrutura do pavimento fosse delgada com pavimento foi dimensionada.
revestimento em CBUQ, considerando-se a

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329
Tabela 2. Parâmetros utilizados no dimensionamento do 3.2.2 Método de Dimensionamento
pavimento.
Espessura CBR MR O pavimento foi dimensionado conforme o
Camada
(cm) (%) (MPa) método da AASHTO modificado, que considera
CBUQ 5 - 3.000 a contribuição estrutural do geossintético em um
pavimento flexível. Esta contribuição é
BGS 30 90 200
quantificada no método pelo aumento do
Escória +
25 15 95 coeficiente estrutural da camada de base por
Argila meio do parâmetro LCR (LayerCoeficientRatio).
Argila 85 7 45 Este parâmetro é obtido por meio de ensaios
Argila laboratoriais.
Orgânica -- 3 22
Wnat> 80% O dimensionamento da estrutura é feito pela
equação abaixo.
NaFigura 3, estão apresentadas as deflexões SN  a1 .D1  a 2 .D2 .m2 .LCR  a3 .D3 .m3 (2)
medidas no subleito da via a ser
pavimentada.Para uma melhor visualização
foram excluídas as deflexões maiores que 300 Em que:
centésimos de milímetros. SN = número estrutural
O volume de tráfego para o período de projeto a1 = coeficiente estrutural do revestimento;
(N) determinado pelo método do DNIT foi de a2 = coeficiente estrutural da base;
5,0x106, o que equivale a aproximadamente a3 = coeficiente estrutural da sub-base;
1,7x106 pelo método da AASHTO (Equação 1). D1 = espessura da camada de revestimento;
D2 = espessura da camada de base;
1 D3 = espessura da camada de sub-base;
N AASTHO  .N DNIT (1) m2 = coeficiente de drenagem da base;
3 m3 = coeficiente de drenagem da sub-base;
LCR = coeficiente de melhoramento da
Em que: camada.
NAASHTO = volume de tráfego AASHTO
NDNIT = volume de tráfego DNIT A Figura 4 mostra a estrutura do pavimento
dimensionado com base na equação 2.
Para fins de avaliação dos valores de deflexão
máximas apresentadas na Figura 3, foi calculada
a deflexão admissível, segundo o PRO-011
(DNER, 1979), para um tráfego determinado
(N=5x106). A deflexão admissível calculada
para este nível de tráfego é 67,76x0,01mm e
representada pela linha tracejada na Figura 3.
300
Deflexão (0,01 mm)

250 Figura 4. Seção do pavimento implantado, em 2009.


200
150
3.3 Implantação do Pavimento
100
50
0 A implantação do pavimento foi realizada em
2009. As Figuras 5, 6, 7, 8, 9 e 10 mostram as
etapas de construção do pavimento reforçado.
Estaca
Deflexão - Maio/2009 Dadm Na Figura 7 observa-se a execução da
sobreposição de 50 cm entre as camadas de
Figura 3. Levantamento deflectométrico do subleito do
pavimento a ser implantado (Do < 300), em 05/2009. geogrelha.
A Figura 9 mostra o detalhe do

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

330
envelopamento da borda da primeira camada (15
cm) de base em brita graduada simples, cuja
finalidade é reforçar e dar mais rigidez a borda
do pavimento reforçado.

Figura 9. Execução do envelopamento de 15cm da camada


base em BGS (brita graduada simples), com a geogrelha
[GGW], em 05/2009.

Figura 5. Regularização do subleito para a instalação do


geotêxtil [GTW] e da geogrelha [GGW], em 05/2009.

Figura 10. Execução da capa asfáltica em CBUQ (concreto


betuminoso usinado a quente), em 06/2009.

3 AVALIAÇÃO ESTRUTURAL
Figura 6. Instalação do geotêxtil [GTW] e da geogrelha
[GGW], em 05/2009.
Os ensaios para o acompanhamento do
desempenho estrutural do pavimento reforçado
com geogrelha foram realizados com o auxílio
da Viga Benkelman.
A obra foi finalizada no mês de julho de 2009
e os ensaios de viga Benkelman foram realizados
nos anos de 2010, 2011, 2016 e 2018.Para
analisar os dados deflectométricos dos
levantamentos realizados, o trecho foi dividido
em 04 segmentos homogêneos de
aproximadamente 210 metros. A Figura 11
Figura 7. Execução da sobreposição de 50cm da geogrelha
[GGW], em 05/2009.
mostra os levantamentos realizados durante os
10 anos de monitoramento.
Com o volume de tráfego de projeto NDNIT =
5,0x106 foi determinada a deflexão admissível
para esta via pavimentada.
A deflexão admissível igual a 67,76x0,01 mm
foi calculada pela equação 3 que está na norma
do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNER-PRO-11/79).

log Dadm  3,01  0,176. log N projeto (3)


Figura 8. Execução da base em BGS (brita graduada
simples), em 05/2009. Em que:

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

331
Dadm = deflexão admissível; deflexões nas camadas do pavimento antes da
Nproj = volume de tráfego de projeto. sua implantação.

200,0 Displacement Z

1.369
Deflexão (0,01 mm)

1.309
1.249
150,0 1.189
1.129
1.069
1.008

100,0 0.948
0.888
0.828
0.768
0.708
50,0 0.648
0.587
0.527
0.467

0,0 0.407
0.347

1 2 3 4 0.287
0.227

Segmento Homogêneo
Subleito - 05 / 2009 09 / 2010 04 / 2011
11 / 2011 05 / 2016 05 / 2018
Figura 13. Deflexões verticais na estrutura do pavimento-
Figura 11. Levantamento deflectométrico característico tipo analisado antes da execução da base reforçada com
em cada um dos segmentos homogêneos realizado durante geogrelha e do revestimento asfáltico tipo CBUQ.
o período de monitoramento.
Com os módulos de resiliência das camadas
Observa-se na Figura 12 que as deflexões do do subleito e com as deflexões do pavimento
pavimento reforçado apresentaram uma variação reforçado com a geogrelha em cada período de
em sua magnitude. Esta variação pode estar monitoramento foi feita uma retroanálise com o
ligada à umidade no subleito, uma vez que este auxílio do programa computacional me-PADS
pavimento foi implantado em uma região buscando determinar os módulos de resiliência
litorânea, que sofre com a variação da maré. da camada de brita graduada simples (BGS)
Porém, podemos verificar que após 6 anos todas reforçada com a geogrelha.
as deflexões ficaram próximas à deflexão A Figura 14 e Tabela 3 mostram a variação do
admissível calculada. módulo de resiliência da camada de BGS
Para que se possa fazer uma avaliação quanto reforçada com geogrelha. Observa-se que com o
ao desempenho das deformações no pavimento passar do tempo os módulos de resiliência desta
foi realizada uma retroanálise com o auxilio de camada apresentaram um aumento
um programa computacional denominado me- significativo.Este efeito pode estar ligado ao fato
PADS (Mechanistic Empirical Pavement de que a geogrelha promove um aumento na
Analysis and Design Software) buscando resistência ao cisalhamento da camada
determinar o módulo de resiliência da camada do reforçada.
subleito.
8000
100,0
Deflexão (0,01 mm)

Módulo de Resiliência (MPa)

7000
90,0
6000
80,0
5000
70,0
4000
60,0
3000
50,0
2000
40,0
1000
09 / 04 / 11 / 05 / 05 /
0
2010 2011 2011 2016 2018
09 / 2010 04 / 2011 11 / 2011 05 / 2016 05 / 2018
Datas do Monitoramento Datas do Monitoramento
SH - 1 SH - 2 SH - 3
SH - 1 SH - 2 SH - 3 SH - 4
SH - 4 Dadm
Figura 14. Módulo de resiliência da camada de brita
Figura 12. Acompanhamento dos levantamentos
graduada simples (BGS) de cada segmento homogêneo em
deflectométricos para cada um dos segmentos
função do período de monitoramento.
homogêneos, realizados durante o período de
monitoramento.
Perkins et al. (2010), observaram que os
Esta retroanálise foi feita com base nas geossintéticos melhoram a confiabilidade do
deflexões antes da implantação do pavimento pavimento e seu desempenho de longo prazo,
reforçado. A Figura 13 mostra a distribuição de especialmente para condições de subleitos com

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

332
baixa capacidade de suporte, o que vem controle para se refutar a ocorrência de outros
corroborar com os resultados apresentados na efeitos simultâneos, como por exemplo a
Figura 14. recompactação das camadas do pavimento
Na Tabela 3, é possível verificar que a maior devido ao tráfego com o passar do tempo.
variação encontrada no módulo de resiliência da
camada de BGS foi de 5 vezes no segmento AGRADECIMENTOS
homogêneo 1 e a menor variação igual a 1,5
vezes foi no segmento homogêneo 3. Os autores agradecem ao DER-ES, a
STONENGE Consultoria e Projetos de
Tabela 3. Variação do Módulo de Resiliência da camada Engenharia Ltda. e a HUESKER Ltda. pelo
de BGS. apoio no monitoramento das deflexões do
Módulo de Resiliência pavimento.
(MPa) Variação
Segmento
Calculado (me-PADS) do MR
REFERÊNCIAS
09/2010 05/2018
SH - 1 150 750 5,0
ABNT (2003). NBR 12553: Geossintéticos –
SH - 2 300 650 2,17 Terminologia.Associação Brasileira de Normas
SH - 3 300 450 1,5 Técnicas. Rio de Janeiro. 3 p.
SH - 4 190 310 1,63 Al-Qadi, I. L., Dessouky, S. H., Kwon, J., &Tutumluer, E.
(2012). Geogrid-reinforced low-volume flexible
Analisando-se a Figura 14 e Tabela 3 pavements: Pavement response and geogrid optimal
observa-se que o módulo de resiliência da location. JournalofTransportationEngineering, 138(9),
1083-1090.
camada reforçada com geogrelha aumentou DNER (1979). Avaliação Estrutural dos Pavimentos
significativamente em função do tempo. Flexíveis – DNER-PRO 11/79. Departamento Nacional
Entrtanto não se pode afirmar que este aumento de Infraestrutura de Transportes. Brasil.
se deu exclusivamente devido ao uso da DNIT (2018). Álbum de projetos – tipos de dispositivos de
geogrelha, uma vez que a rigidez da estrutura do drenagem. 5ª. Edição. Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes.
pavimento também pode ter sido influenciada Carmo, C.A.T.; D’Ávilla, C.A. (2011). Análise de
pelo efeito da compactação das camadas no Deformação em um Pavimento Reforçado com
decorrer do tempo da observação. Geogrelha. Anais. Geossintéticos 2011. VI Simpósio
Brasileiro de Geossintéticos. Belo Horizonte, MG.
4 CONCLUSÕES Carmo, C.A.T,; Pereira, G.P.; Silva, T.O. (2016). Modelos
para o Dimensionamento de Pavimentos reforçados
com Geogrelhas. Anais. 45ª Reunião Anual de
Com base no estudo realizado verificou-se que a Pavimentação – RAPv. Brasília, DF.
utilização da geogrelha(GGW) de polipropileno Giroud, J: (2009). An assessment of the use of geogrids in
como reforço de base de pavimento é uma unpaved roads and unpaved areas, In Jubilee
excelente solução para locais onde o subleito symposium on Polymer Grid Reinforcement, Institute
of Civil Engineers, London, England, 23-36.
tenha baixa capacidade de suporte e também em Grygierek, M.; Kawalec, J. (2018). Selected laboratory
locais onde a estrutura do pavimento tenha de ser and field research on geogrid impact on stabilization
delgada devido à interferência urbana, graças ao of unbound aggregate layer. Proceedings of the 11th
elevado módulo de rigidez da geogrelha que International Conference on Geosynthetics. Seoul,
permite uma distribuição homogênea das tensões Korea.
Perkins, S.W., Christopher, B.R., Thom, N.,
provocadas pelo tráfego e consequentemente Montestruque, G., Korkiala-Tanttu, L. and Watn, A.
uma redução nas deflexões deste pavimento. 2010. Geosyn-thetics in Pavement Reinforcement
O método utilizado para o dimensionamento Applications, Proceedings of the 9th International
da estrutura mostrou-se eficiente, resultando em Geosynthetics Confer-ence, Vol. 1, pp. 165-192,
uma estrutura delgada e com excelente Guaruja, Brazil, May, 2010.
Shahkolahi, A.;Klompmaker, J. (2018). An Australian
coeficiente estrutural. approach for designing geogrid reinforced flexible
Os resultados sugerem que as geogrelhas pavements. Proceedings of the 11th International
promoveram um aumento significativo no valor Conference on Geosynthetics. Seoul, Korea.
do módulo de resiliência da camada reforçada. Zornberg, J.G. (2017). Functions and Applications of
No entanto, seria necessário estudar um trecho Geosynthetics In Roadways. Procedia Engineering
189, 298-306.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

333
334
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação do comportamento mecânico de misturas asfálticas


dosadas pelo método MARSHALL reforçadas com geogrelha
Cássio Alberto Teoro do Carmo
HUESKER Ltda., Universidade Federal de Viçosa-UFV, São Carlos-SP, Brasil,
cassio@HUESKER.com.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa-MG, Brasil, taciano.silva@ufv.br

Geraldo Luciano de Oliveira Marques


Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, Juiz de Fora-MG, Brasil, geraldo.marques@ufjf.edu.br

Géssica Soares Pereira


Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa-MG, Brasil, gessicasoares.p@gmail.com

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa-MG, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

RESUMO: A utilização dos geossintéticos para reforço de camda asfáltica, principalmente as


geogrelhas, tem recebido considerável atenção como solução viável para melhhorar o desempenho
de pavimentos asfálticos. Este artigo apresenta as características e propriedades mecânicas de
revestimentos constituídos por misturas asfálticas que se enquadram nas faixas granulométricas C e
B da especificação de serviço ES-031 do DNIT, reforçados com uma geogrelha. Para tanto, um
programa experimental foi desenvolvido combinando o ligante asfáltica CAP 50/70 com agregados
minerais de formação gnáissica, dosados pelo método Marshall. Para a realização dos ensaios
mecânicos (módulo de resiliência, resistência à tração e fadiga), foram moldados corpos de prova
(CP) compostos, ou seja, metade do CP com a mistura asfáltica da faixa granulométrica C e a outra
metade com a faixa granulométrica B. Foram consideradas duas interfaces para este CP, sendo uma
sem geogrelha e a outra com a geogrelha de poliéster. Os valores de módulo de resiliência das
misturas foram aplicados em uma estrutura típica de pavimento no software me-PADS para a
obtenção das respostas estruturais referentes às tensões nas fibras inferiores das camadas asfálticas.
As análises foram realizadas para três níveis de caregamento (80 kN, 98 kN e 118 kN) e três níveis
de pressão de enchimento dos pneus (563 kPa, 633 kPa e 703 kPa), respecticvamente. Através das
análises das respostas mecânicas das misturas asfálticas ensaiadas e as tensões atuantes em um
pavimento-tipo, conclui-se que a mistura reforçada com geogrelha apresentou melhor desempenho
com relação à mistura não reforçada.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, geogrelhas, dosagem Marshall, ensaios mecânicos, mistura


asfáltica densa.

ABSTRACT: The use of geosynthetics to reinforce asphalt, mainly geogrids, has received
considerable attention as a viable solution to improve the performance of asphalt pavements. This
paper presents the characteristics and mechanical properties of a test body made up of asphalt
mixtures that fit into the grades C and B of DNIT service specification ES-031, reinforced with a
geogrid. For this, an experimental program was developed combining the asphalt binder CAP 50/70
with mineral aggregates of gneiss formation, measured by the Marshall method. In order to perform
the mechanical tests (modulus of resilience, tensile strength and fatigue), composite specimens (CP)
were molded, that is, half the CP with the asphalt mixture of the granulometric range C and the other

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

335
half with the strip The two interfaces were considered for this CP, one without geogrid and the other
with the polyester geogrid. The resilience modulus values of the blends were applied to a typical
pavement structure in the me-PADS software to obtain the structural stress responses in the lower
fibers of the asphalt layers. The analyzes were performed for three levels of loading (80 kN, 98 kN
and 118 kN) and three levels of filling pressure of the peneus (563 kPa, 633 kPa and 703 kPa),
respectively. Through the analyzes of the mechanical responses of the asphalt mixtures tested and the
tensions acting on a pavement-type, it was concluded that the geogrid reinforced mixture presented
better performance with respect to the non-reinforced mixture.

KEYWORDS: Geosynthetics, geogrids, Marshall dosage, mechanical testing, dense asphalt mixing.

1. INTRODUÇÃO no desempenho das amostras reforçadas com


geogrelha, quanto à resistência à propagação da
Nos últimos anos, a ocorrência prematura da trinca do pavimento antigo. Concluíram também
perda das características funcionais e estruturais que a posição de melhor desempenho para a
dos pavimentos asfálticos levou ao instalação da geogrelha foi no terço inferior da
desenvolvimento e adoção de materiais amostra.
inovadores para aumentar a vida de serviço das Diante do exposto na literatura nacional e
camadas asfálticas. A esse respeito, os materiais internacional, verificou-se que as pesquisas
geossintéticos, especificamente as geogrelhas, realizadas para avaliar a influência da geogrelha
vêm sendo inseridos como reforço de camada na interface entre camadas asfálticas são
asfáltica. desenvolvidas em simuladores de tráfego ou em
Segundo AL-Qadi et al. (2008), a introdução vigotas prismáticas, o que levou ao
dos geossintéticos como camada intermediária desenvolvimento desta pesquisa, na qual buscou-
em pavimentos asfálticos deve-se se verificar o desempenho das geogrelhas em
principalmente ao desempenho inadequado dos corpos de prova Marshall, por se tratar de uma
materiais tradicionais expostos ao crescente metodologia de fácil utilização.
aumento das cargas de tráfego nas rodovias, nas
décadas de 50 e 60 do século XX. A rápida 2. MATERIAIS E MÉTODOS
deterioração das rodovias mostrou a necessidade
de metodologias mais eficazes de reabilitação de O programa experimental dessa pesquisa foi
pavimentos. conduzido de maneira a possibilitar uma análise
Fritzen (2005) avaliou o efeito da geogrelha quanto à incorporação de uma geogrelha em
de poliéster entre camadas asfálticas, misturas asfálticas dosadas e compactadas pelo
construindo um trecho experimental na rodovia método Marshall.
BR-116/RJ. Para simular a aplicação de carga
pelo tráfego, foi utilizado o simulador do tipo 2.1. Materiais Utilizados
HVS (Heavy Vehicle Simulator). Verificou-se
que o trecho com a geogrelha entre camadas Nesta pesquisa, utilizaram-se os agregados
asfálticas convencionais teve um fator de minerais (brita 1, brita 0 e pó de pedra) de
efetividade superior ao do trecho com asfalto formação gnáissica, os quais têm sua jazida
borracha. localizada na microrregião de Viçosa-MG, no
Khodaii et al. (2009) estudaram o efeito da município de Ervália-MG. As granulometrias
geogrelha PET para mitigar a propagação de dos agregados foram determinadas conforme o
trincas de sobreposições de camadas asfálticas. método de ensaio ME-083 (DNER, 1998) e se
Os ensaios foram realizados com vigotas de enquadram na especificação de serviço ES 031
concreto asfáltico em forma de prismas, (DNIT, 2006) para as misturas asfálticas dosadas
variando-se a posição da geogrelha, o tipo de pelo método Marshall.
pavimento existente e a abertura da trinca. Os O cimento asfáltico de petróleo (CAP)
resultados indicaram um aumento significativo, utilizado foi fornecido por uma empresa privada

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

336
e oriundo da Refinaria Gabriel Passos (REGAP), pelo método Marshall, sendo uma combinação
localizada na cidade de Betim, Minas Gerais, da faixa C e B sem a interface com geogrelha
Brasil, sendo classificado por penetração como (Sgeo) e a outra com a interface com geogrelha
50/70. (Geo), conforme Figura 2..
As geogrelhas utilizadas como elementos
de reforço da mistura asfáltica foram
desenvolvidas especificamente para esta função,
pois são cobertas por material betuminoso. A
Tabela 1 apresenta as características das
geogrelhas utilizadas nesta pesquisa.

Tabela 1 – Resultados dos ensaios de caracterização das


geogrelhas empregadas nesta pesquisa.
Propriedades Unid. Geo
Matéria-prima principal - PET
Abertura da malha mm 40 x 40
Resistência à tração
Longitudinal 53,6 Figura 1 – Colocação da geogrelha sobre a mistura
kN/m
Transversal 55,7 asfáltica da faixa granulométrica B, no compactador
Deformação na resistência à Marshall.
tração
9,3
Longitudinal %
9,9
Transversal
Resistência à tração a 2% de Faixa Granulométrica C
deformação
12,2
Longitudinal kN/m
12,4
Transversal

2.2. Métodos

2.2.1. Método de dosagem


Faixa Granulométrica B
O método de dosagem utilizado para as misturas
asfálticas analisadas foi o Marshall, e os corpos
de prova foram compactados conforme o ME-
043 (DNER, 1995).
Nessa pesquisa, trabalhou-se com duas Figura 2 – Corpo de prova composto moldado no
misturas asfálticas densas de granulometria compactador Marshall, contendo simultaneamente as
contínua, com uma se enquadrando na faixa faixas granulométricas C e B.
granulométrica C e a outra na faixa B da
especificação de serviço ES-031 (DNIT, 2006a). As propriedades mecânicas das misturas
Os corpos de prova compostos foram asfálticas estudadas foram o módulo de
moldados com as duas faixas granulométricas (C resiliência, determinado segundo o método de
e B) no mesmo corpo de prova, utilizando-se o ensaio ME-135 (DNIT, 2018a), a resistência à
compactador por impacto Marshall. A geogrelha tração por compressão diametral, em obediência
foi colocada na interface entre as duas misturas, ao método de ensaio ME-136 (DNIT, 2018b), e
conforme Figura 1. o ensaio de vida de fadiga por compressão
diametral, segundo o método de ensaio MR-183
2.2.2. Ensaios de desempenho das misturas (DNIT, 2018c), Loureiro et. al. (2003) e Medina
asfálticas e Motta (2015).

Os ensaio de desempenho foram realizados nas 2.2.3. Simulação do comportamento mecânico


duas combinações de corpo de prova moldados das misturas asfálticas

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

337
A análise estrutural do pavimento-tipo adotado 3. APRESENTAÇÃO DOS
nessa pesquisa foi realizada sobre uma estrutura RESULTADOS E DISCUSSÕES
pré-dimensionada empiricamente. Com o auxílio
do software me-PADS, foram realizadas análises 3.1. Parâmetros volumétricos das dosagens
de sensibilidade da variação do módulo de Marshall
resiliência das misturas asfálticas estudadas para
três níveis de carregamento (80 kN, 98kN e Na Tabela 2, são apresentados os parâmetros
118kN) e três níveis de pressões de enchimento volumétricos das misturas asfálticas estudadas e
(563 kPa, 633 kPa e 703 kPa), adotando-se um seus respectivos dados mecânicos de
pavimento construído de capa asfáltica, binder, estabilidade e fluência Marshall. Observa-se
base e reforço do subleito, assentado sobre o que, apesar dos corpos de prova serem
subleito, a fim de se verificar a vida de fadiga compactados com misturas asfálticas com duas
destas misturas asfálticas. Os dados de entrada faixas granulométricas (faixa C e B), conforme a
utilizados nesse software foram: propriedades Tabela 2, os volumes de vazios ficaram dentro
das camadas (espessura, módulo de elasticidade das especificações de serviço ES-031 (DNIT,
e coeficiente de Poisson), localização e 2006a).
magnitude das cargas e as coordenadas dos
pontos para a determinação das respostas Tabela 2 – Parâmetros volumétricos e mecânicos dos
estruturais esperadas do pavimento-tipo adotado. corpos de prova moldados sem e com geogrelha.
O módulo de elasticidade (E) das camadas do SGeo Geo
Sem Com
pavimento-tipo adotado foi igual ao módulo de Condição de Interface
Geogrelha geogrelha
resiliência, ou seja, foi realizada uma análise Faixa Granulométrica CeB
elástica linear. Segundo Ponte et al. (2014), CAP 50/70
quando não há possibilidade de se determinar o Teor de Projeto C(*) 4,70
coeficiente de Poisson (), recomenda-se a (%) B(**) 4,20
utilização de  igual 0,30, o qual foi mantido CP(***) 4,65 4,90
Vv (%) C(*) 4,26 4,49
constante para as camadas asfálticas (capa B(**) 5,04 5,31
asfáltica e binder) e granular (base) em todas as CP(***) 70,03 68,86
análises realizadas. RBV (%) C(*) 72,97 71,86
A Figura 3 ilustra uma representação do B(**) 67,09 65,86
pavimento-tipo adotado para a análise das CP(***) 15,53 15,76
tensões e deformações em alguns pontos de sua VAM (%) C(*) 15,75 15,96
B(**) 15,31 15,56
camada e o carregamento com duas rodas
Estabilidade (kgf) 559 695
aplicado na sua superfície. As características dos Fluência (mm) 4,20 4,31
materiais utilizados no subleito e reforço do Massa Específica Aparente
2,470 2,465
subleito foram extraídos do estudo de Carmo (g/cm3)
(1998). Para a camada de base, foram adotados DMT (g/cm3) – C(*) 2,580
os parâmetros do estudo de Ponte et al. (2014). DMT (g/cm3) – B(**) 2,601
(*)
Parte superior do CP(**)Parte inferior do CP
(***) Corpo de prova Composto

3.2. Módulo de Resiliência (MR) e


Resistência à Tração por Compressão
Diametral (RT)

Na Tabela 3, são apresentados os valores médios


dos módulos de resiliência e resistência à tração
por compressão diametral determinados para as
Figura 3 – Pavimento-tipo adotado nas análises
amostras ensaiadas com e sem a inclusão da
estruturais.
geogrelha ensaiada.

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338
Os valores obtidos para ambos os ensaios
1.0E+05
correspondem à média de três corpos de prova

Vida de Fadiga
para cada uma das configurações estudadas. 1.0E+04
SGeo
Tabela 3 – Valores do módulo de resiliência e resistência 1.0E+03 Geo
à tração por compressão diametral para os corpos de prova
1.0E+02
com e sem a inclusão das geogrelhas.
0.1 1.0
Condição Módulo de Resistência Diferença de Tensões (MPa)
Relação
de Resiliência à Tração Figura 4 – Curvas de fadiga das mistura asfálticas com e
MR / RT
Interface (MPa) (MPa) sem a inclusão das geogrelhas: vida de fadiga versus
Sem diferença de tenções ().
Geogrelha 4.064 0,91 4.474
(SGeo)
Com 3.4. Análise Estrutural do Pavimento-Tipo
Geogrelha 3.865 1,33 2.908
(Geo) As análises empírico-mecanísticas foram
realizadas com o auxílio do software me-Pads.
3.3. Ensaio de Fadiga por Compressão Foram consideradas as combinações das
Diametral misturas das faixas granulométricas C e B de
projeto da especificação de serviço ES 031
Na Tabela 4, estão apresentadas as constantes (DNIT, 2006), com as duas condições de
“k1 e k2” das curvas de fadiga para o modelo inclusão de interface (SGeo e Geo).
mostrado na equação 1, referente às misturas Mantiveram-se constantes as espessuras e
estudadas. Na Figura 3, estão traçados os características mecânicas das camadas de base,
resultados das curvas de fadiga, expressas em reforço do subleito e subleito (coeficiente de
número de repetições de carga, para as misturas Poisson e módulo de resiliência) e variaram-se as
estudadas com e sem a inclusão das geogrelhas. características mecânicas das camadas asfálticas.
Foram observados os valores de tensões e
𝑉𝐹 = 𝑘 ∗ ∆𝜎 (1) deslocamentos nos pontos críticos das camadas
asfálticas, tais como: (i) deslocamento vertical
em que: na superfície da capa asfáltica, (ii) tensão de
VF: Vida de fadiga; tração na fibra inferior da capa asfáltica,
: diferença de tensões (MPa); correspondente à condição de interface (SGeo e
k1 e k2: constantes determinadas na curvas do Geo) e (iii) tensão de tração na fibra inferior da
ensaio. camada da faixa granulométrica B (binder).
Tabela 4 – Parâmetros estatísticos das curvas de fadiga Esses critérios buscam averiguar o desempenho
das misturas asfálticas estudadas com e sem a inclusão das do revestimento asfáltico em relação à vida de
geogrelhas. serviço do pavimento.
Condição de Constantes As análises foram realizadas nas posições de
R2
Interface k1 k2 maiores tensões e deformações na estrutura do
Sem Geogrelha
2.171,5 -4,213 0,9791 pavimento-tipo. Observa-se, na Figura 5, que as
(SGeo) maiores tensões horizontais (h) estão sob os
Com Geogrelha
(Geo)
4.166,3 -2,546 0,9742 pontos de aplicação de carga. Portanto, as
análises foram realizadas considerando os
Verifica-se, na Figura 4, que a vida de fadiga deslocamentos e tensões na posição x igual a 0 e
do corpo de prova com a interface da geogrelha y igual a 0.
(Geo) é maior que a da configuração sem Na Figura 5, são apresentadas as tensões
geogrelha (SGeo). Este resultado é consistente horizontais (h) que atuam na estrutura do
com o resultado apresentado no trabalho de pavimento asfáltico adotado para a condição de
Bastos (2010), que avaliou a curva de fadiga de interface SGeo, para o carregamento de 80 kN
pavimentos reforçados com geogrelha de PET e por eixo e pressão de enchimento dos pneus de
uma mistura asfáltica única, apenas a faixa C. 563 kPa. Observa-se que as maiores tensões

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339
horizontais (h) estão na fibra inferior da camada Tabela 6 – Variação dos valores de tensão horizontal (h)
de binder. e vertical (v) na fibra inferior da camada de binder, a
Q1 10cm de profundidade, para cada carga por eixo analisada.
Carga
Condição Pressão de
por h v
Capa Asfáltica de enchimento
565
eixo (MPa) (MPa)
484
Interface (kPa)
(kN)
403
323
242 Interface
Binder
161
81
0
-81
80 563 0,643 -0,192
98 633 0,744 -0,229
-161
-242
-323
-403
Base BGS SGeo
-484
-565
-645
118 703 0,848 -0,268
-726
-807
-888
118 703 0,878 -0,263
-968

80 563 0,621 -0,196


Geo 98 633 0,718 -0,234
Figura 5 – Tensão horizontal (h) na camada asfáltica 118 703 0,817 -0,273
dosada pelo método Marshall, para a condição de interface (1)
h na fibra inferior, a 10,0 cm da superfície do
SGeo, carga por eixo de 80 kN e pressão de enchimento revestimento (tração)
dos pneus de 563 kPa. (2)
v na fibra inferior, a 10,0cm da superfície do
revestimento (compressão)
Na Tabela 5, são apresentados as tensões
horizontais (h = x) e verticais (v = z) que Q1

atuam nas fibras inferiores da capa asfáltica, a Vertical plane parallel to X-Z at Y = 0
Capa Asfáltica
5,0 cm da superfície do pavimento, em função da 0.225
Binder Interface
variação do carregamento e das condições de
0.214
0.204
0.194
0.183 Base BGS
interface estudada.
0.173
0.163
0.152
0.142
0.132
0.121
Reforço do subleito
0.111
0.101
0.090

Subleito
0.080

Tabela 5 – Variação dos valores de tensão horizontal (h) 0.069


0.059
0.049
0.038

e vertical (v) na fibra inferior da capa asfáltica, a 5 cm de 0.028

profundidade, para cada carga por eixo analisada.


Carga
Condição Pressão de Figura 6 – Deslocamentos verticais na estrutura do
por h v
de enchimento pavimento-tipo analisado, para a condição de interface
eixo (MPa) (MPa)
Interface (kPa) SGeo, carga por eixo de 80 kN e pressão de enchimento
(kN)
dos pneus de 563 kPa.
80 563 -0,169 -0,411
SGeo 98 633 -0,204 -0,466
118 703 -0,241 -0,522 Na Tabela 7, são apresentados os
80 563 -0,170 -0,413 deslocamentos verticais recuperáveis no topo da
Geo 98 633 -0,204 -0,469 camada asfáltica do pavimento-tipo analisado,
118 703 -0,242 -0,525 para cada um dos carregamentos estudados.
(1)
h na fibra inferior, a 5,0cm da superfície do
revestimento (compressão)
(2)
v na fibra inferior, a 5,0cm da superfície do Tabela 7 – Variação dos deslocamentos verticais
revestimento (compressão) recuperáveis no topo da camada asfáltica do pavimento-
tipo em função da condição de interface e dos níveis de
Na Tabela 6, são apresentadas as tensões carregamento.
horizontais (h = x) e verticais (v = z) que Deslocamentos
atuam nas fibras inferiores da camada asfáltica verticais
Carga
de binder, a 10,0 cm da superfície do pavimento, Pressão de recuperáveis (0,01
por
enchimento mm)
em função da variação do carregamento e das eixo
(kPa) Condição de
condições de interface estudada. (kN)
Interface
Na Figura 6, são apresentados os valores de SGeo Geo
deslocamentos verticais recuperáveis previstos 80 563 21,50 21,70
no topo do revestimento asfáltico, para o 98 633 26,20 26,50
carregamento de 80 kN por eixo e pressão de 118 703 31,40 31,70
enchimento dos pneus de 563 kPa.

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340
A Figura 7 apresenta os valores dos carregamento, calculada através das tensões de
deslocamentos verticais recuperáveis na tração na fibra inferior da camada asfáltica a 10
superfície do revestimento asfáltico em função cm da superfície do revestimento.
da condição de interface.
Tabela 8– Variação dos valores da vida de fadiga da
70 camada de binder, a 10,0 cm de espessura para as cargas
Recuperáveis (0,01 mm)
Deslocamentos Verticais

60 N = 1,0 E+7 de eixo simuladas no software me-PADS.


50 N = 5,0 E+7 Carga
Condição Análise a 10,0cm
por
40 de
N = 1,0 E+8 80 kN eixo (1) Vida de
Interface
30 (kN) (MPa) Fadiga
98 kN
20 80 0,8351 4,64E+03
118 kN SGeo 98 0,9731 2,44E+03
10
118 1,1158 1,37E+-3
0 80 0,8171 6,97E+03
SGEO GEO Geo 98 0,9514 4,73E+03
Condição de Interface entre as misturas 118 1,0902 3,34E+03
asfálticas (1)
 : diferença de tensões
Figura 7 – Deslocamentos verticais recuperáveis na
estrutura do pavimento-tipo analisado em função da
condição de interface. 8.0E+03
7.0E+03
Vida de Fadiga - N

6.0E+03
Analisando-se os deslocamentos verticais 80 kN
5.0E+03
recuperáveis no topo do pavimento-tipo adotado 4.0E+03 98 kN
(Figura 7) e comparando-se as deflexões 3.0E+03 118 kN
2.0E+03
admissíveis (Dadm) pelo procedimento PRO-011
1.0E+03
(DNER, 1979) em função do volume de tráfego 0.0E+00
descrito em DNIT (2006b), verificou-se que, Sgeo Geo
para todas as condições de interface e de Condição de interface entre as misturas
carregamento, o pavimento-tipo atende os asfálticas
limites estabelecidos de deflexão admissível em Figura 8 – Vida de fadiga da mistura asfáltica a 10cm da
função do tráfego. superfície de carregamento, analisada para cada condição
Conhecidos os níveis de tensões atuantes no de interface.
pavimento-tipo, através das simulações
realizadas com o software me-PADS, para cada
4. CONCLUSÕES
nível de carregamento imposto pelo tráfego,
verificou-se a vida de fadiga das misturas
Os resultados obtidos durante esta pesquisa
asfálticas para as condições de interface (com e
experimental, visando estudar o desempenho de
sem a incorporação das geogrelhas).
geogrelhas de poliéster para aplicações
Na Tabela 8, são apresentados os valores da
rodoviárias, permitem que várias observações
vida de fadiga das misturas asfálticas calculados
conclusivas possam ser feitas relativas ao
pela equação 1, para as condições de interface
desempenho mecânico de misturas asfálticas
estudadas.
reforçadas. As investigações envolveram a
Analisando-se os resultados apresentados na
determinação do MR, RT e da Vida de fadiga
Tabela 8, fica evidente que, para iguais cargas
para os corpos de prova moldados com as faixas
por eixo, a mistura asfáltica com a inclusão da
granulométricas B e C da especificação de
geogrelha (Geo) apresentou vida de fadiga
serviço ES-031 (DNIT, 2006a). Dentre as
superior à condição de interface sem geogrelha,
conclusões da pesquisa, podem-se destacar:
nos três níveis de carregamento.
 o procedimento desenvolvido para
Na Figura 8, tem-se a vida de fadiga da
compactação dos corpos de prova se mostrou
mistura asfáltica de cada condição de interface
eficiente, pois não foi observado problema
(SGeo e Geo), considerando-se os três níveis de

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341
de aderência entre as duas partes do corpo de Infraestrutura de Transportes. Rio de Janeiro. 1998, 5
prova; p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
 O maior valor de MR foi determinado para a INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES,(2006a).
mistura SGeo. Entretanto, o maior valor de ES-031: Pavimentos Flexíveis – Concreto Asfáltico.
RT encontrado foi para a mistura Geo; Especificação de Serviço. Rio de Janeiro. 2006(a). 14
 Analisando-se a relação MR/RT, as misturas p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
SGeo e Geo apresentaram, respectivamente, INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES,
maior e menor valor para esta relação; (2006b).Manual de Pavimentação. 3ª ed. Rio de
 As curvas de fadiga tiveram bons coeficientes Janeiro. 2006(b). 274p.
de determinação (R2). Foi observada uma DEPARTAMENTO NACIONAL DE
tendência de maior vida de fadiga para a INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. (2018a)
ME-135: Pavimentação asfáltica – Misturas asfálticas
mistura Geo, que foi confirmada através de – Determinação do módulo de resiliência. Método de
uma análise com a utilização do software me- ensaio. Rio de Janeiro. 2018(a). 6 p.
PADS, em um pavimento-tipo, independente DEPARTAMENTO NACIONAL DE
do carregamento aplicado. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, (2018b).
ME-136: Pavimentação asfáltica - Misturas asfálticas
– Determinação da resistência à tração por
Com base na pesquisa apresentada, é possível compressão diametral. Método de Ensaio. Rio de
concluir que o corpo de prova reforçado com Janeiro. 2018(b). 6 p.
geogrelha (Geo) foi a que teve melhor DEPARTAMENTO NACIONAL DE
desempenho mecânico. INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, (2018c).
ME-183: Pavimentação asfáltica – Ensaio de fadiga
por compressão diametral à tensão controlada.
AGRADECIMENTOS Método de Ensaio. Rio de Janeiro. 2018(c). 6 p.
FRITZEN, M. A. (2005). Avaliação de soluções de reforço
Os autores agradecem à Stratura Asfaltos, pelo de pavimento asfáltico com simulador de tráfego na
fornecimento do CAP-50/70, à pedreira Ervália, rodovia Rio Teresópolis. 2005. 291 p. Dissertação
que forneceu os agregados, e à Huesker Ltda., (Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE. 2005.
pelo fornecimento das geogrelhas. KHODAII A., FALLAH, S. e NEJAD, F. M., (2009).
Effects of geosynthetics on reduction of reflection
REFERÊNCIAS cracking in asphalt overlays. Geotextilesand
Geomembranes. vol. 27. p. 1-8. 2009.
AL-QADI, I.L., et al. (2008).Synthesis on use of LOUREIRO, T.G.; SOARES, J.B. e MOTTA, L.M.G.
geosynthetics in pavements and development of a (2003).Estudo sobre o dano progressivo em misturas
roadmap to geosynthetically-modified pavements. asfálticas no ensaio de fadiga à compressão diametral.
Federal Highway Administration, FHWA, HRTS-0, 25 XVII Congresso de Ensino e Pesquisa em Transportes,
p. 2008. ANPET, Rio de Janeiro. 2003. 12 p.
CARMO, C.A.T..A (1998). Avaliação do módulo de MEDINA, J.; MOTTA, L.M.G. (2015).Mecânica dos
resiliência através de ensaios triaxiais dinâmicos de Pavimentos. 3a ed., Editora Interciência, Rio de Janeiro
dois solos compactados e a sua estimativa a partir de – RJ, 2015, 620 p.
ensaios rotineiros. Dissertação (Mestrado em PONTE, R.S., et al. (2014).Avaliação de diferentes
Engenharia de Transportes). Escola de Engenharia de metodologias para obtenção do Módulo de Resiliência
São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, de misturas asfálticas. Revista Transportes, v. 22, n. 2,
1998. 131 f. 2014, p. 85-94.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM. (1979). PRO-011: Avaliação estrutural
dos pavimentos flexíveis. Procedimento de ensaio.
Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes. Rio de Janeiro. 1979. 16 p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM,(1995). ME-043: Misturas betuminosas a
quente – ensaio Marshall. Método de ensaio.
Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes. Rio de Janeiro. 1995, 11 p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
RODAGEM, (1998). ME-083: Agregados – análise
granulométrica. Departamento Nacional de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

342
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019

Aproveitamento da Escória de Aciaria Como Agregado Em


Estradas Não Pavimentadas Reforçadas Com Geossintéticos
Edriza da Silva Ferreira
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, edriza.sfe@gmail.com

Gabriella Melo de Deus Vieira


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, gabriellamelojp@gmail.com

Matheus Viana de Souza


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, matheusvianadesouza@hotmail.com

Ivonne Alejandra Maria Gutiérrez Góngora


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, ivonneagutierrezgongora@gmail.com

RESUMO: Os geossintéticos são produtos poliméricos industrializados, sintéticos ou naturais, que


vêm sendo amplamente utilizados na construção civil devido às diversas funções que exerce, cita-se
seu uso nas áreas de drenagens, filtração, reforço, impermeabilização, controle de erosão superficial,
entre outros exemplos. Nesse contexto, a geogrelha se destaca como geossintético mais empregado
para reforço devido à resistência à tração que proporciona e interação com o solo. Por outro lado, vê-
se a necessidade do melhoramento das estradas não pavimentadas no Brasil, que constituem a maior
parte da malha rodoviária do país e que enfrentam problemas como as irregularidades na via, excesso
de pó e o aparecimento de buracos, que em épocas chuvosas, podem ocasionar alagamentos. O
presente estudo propõe a avaliação da eficiência do uso de geogrelha como material para reforço de
subleito de solo de baixa resistência em uma estrada não pavimentada, utilizando Escória de Aciaria
(EA) como material de aterro. A escolha da EA, que é subproduto do aço, deve-se ao fato de que o
material se apresenta como uma solução sustentável e viável do ponto de vista técnico-econômico. A
pesquisa foi embasada na simulação de carregamentos cíclicos na estrada não pavimentada,
comparando-se o ensaio realizado com o reforço da geogrelha e outro sem a utilização de reforço.
Assim, observou-se o aumento da vida útil da estrada com o emprego da geogrelha.

PALAVRAS-CHAVE: Escória de Aciaria, Solos Moles, Geogrelha, Reaproveitamento.

ABSTRACT: Geosynthetics are industrialized polymer products, synthetic or natural, that have been
widely used in civil construction due to the various functions that it performs, it is mentioned its use
in the areas of drainage, filtration, reinforcement, waterproofing, surface erosion control, among other
examples. In this context, the geogrid stands out as a geosynthetics most used for reinforcement due
to the tensile strength it provides and interaction with the soil. On the other hand, there is a need for
the improvement of unpaved roads in Brazil, which constitute the major part of the country's road
network, and which face problems such as irregularities in the road, excess dust and the appearance
of holes, which in times rainwater can cause flooding. The present study proposes the evaluation of
the geogrid use performance as a low resistance soil subgrade reinforcement material in an unpaved
road using steel slag (SS) as landfill material. The choice of SS, which is a byproduct of steel, is due
to the fact that the material presents itself as a sustainable and technically and economically viable
solution. The research was based on the simulation of cyclical loads on the unpaved road, comparing
the test performed with the geogrid reinforcement and the other without the use of reinforcement.
Thus, it was observed the increase in the useful life of the road with the use of the geogrid.

KEY WORDS: Steel Slag, Soft Soils, Geogrid, Reuse.

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343
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAL E MÉTODOS

É notório o aparecimento de manifestações 2.1 Material de Aterro: Escória de Aciaria


patológicas em estradas não pavimentadas. Essas
estradas, também conhecidas popularmente A EA utilizada neste trabalho foi obtida de uma
como “estradas de terra” ou “estradas de chão”, jazida em Minas Gerais e passou por um
constituem-se de vias que não possuem tratamento prévio antes de ser utilizada nos
tratamento superficial, betuminoso ou de ensaios.
cimento Portland (Oda et al., 2001) e estão A EA possui alto teor de expansibilidade e
condicionadas a problemas como excesso de por esta razão necessita de um tratamento prévio
poeira, afundamento de trilhas de roda e buracos, antes do seu uso. Segundo Raposo (2005) apud
muitas vezes devido à falta de manutenção Anderson (1984); Tosticarelli et al., (1985);
periódica dessas estruturas (Santos et al., 1988). Gumeri et al., (2000); Kuehn et al., (2000);
Corrêa et al. (2006) ressaltam que o principal Robinson (2000); Thomas (2000); Azevedo
problema ambiental nas estradas de terra é o
(2001); Geyer (2001) um dos tratamentos
desencadeamento de processos erosivos, uma
preventivos para a expansão da EA no estado
vez que estas estradas funcionam como canais,
transportando água e sedimentos, assoreando e sólido, é a disposição do material em um pátio ao
poluindo mananciais. ar livre, onde é britada e empilhada. Após esse
Diante desses problemas, é indispensável o procedimento a EA pode ser tratada através da
desenvolvimento de soluções que otimizem a exposição ao tempo em condições ambientes de
vida útil dessas estruturas visto que as estradas temperatura e umidade, chamado weathering, e
não pavimentadas constituem 87,6% da malha que pode vir acompanhado de aspersões de água
rodoviária do Brasil (Confederação Nacional do ao longo do tempo.
Transporte – CNT, 2018). Primeiramente a EA foi britada e depois foi
Desta forma, neste trabalho foram usados lavada e disposta em uma lona ao ar livre,
dois tipos de materiais para o melhoramento de conforme o recomendado por diversos autores e
citado anteriormente. O tratamento pode ser
uma estrada não pavimentada. O primeiro deles
observado conforme as Figuras 1, 2 e 3.
é a Escoria de aciaria (EA), gerada durante o
processo de refino do ferro gusa na produção de
aço (Souza, 2007). Este resíduo, embora já seja
utilizado em pavimentação e em outras obras
geotécnicas, muitas vezes é disposto ou
descartado de forma inadequada, gerando
problemas nas obras e agredindo o meio
ambiente.
Por fim, diante do disposto, o objetivo deste
trabalho foi analisar o desempenho de estradas
não pavimentadas, através de ensaios
laboratoriais, utilizando um equipamento de
grande porte que simula a passagem de veículos Figura 1. Britagem da EA.
através da aplicação de carregamentos cíclicos
na estrada. No estudo comparativo foram
simuladas duas estradas constituídas de EA
como aterro e subleito com areia, com e sem
reforço do geossintético.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

344
Figura 4. Curva granulométrica da areia.

Figura 2. Lavagem da EA com água. 2.3 Material de Reforço: Geogrelha

O material utilizado é a geogrelha, geossintético


mais usual para reforço das camadas do
pavimento. Segundo a NBR ISO 10318, a
geogrelha é um tipo de geossintético que possui
estrutura polimérica planar constituída por uma
malha aberta de elementos resistentes à tração,
podendo ser unidos por extrusão, solda ou
entrelaçamento, e cujas aberturas são maiores
que os elementos constituintes.
A geogrelha escolhida também foi utilizada
Figura 3. EA disposta em lona.
por Góngora (2015) em seu trabalho. O motivo
2.2 Material de Subleito: Areia de ter escolhido este reforço, foi por ter mostrado
resultados satisfatórios quando usado com
Na camada de subleito das estradas foi utilizada materiais convencionais. A Figura 5 mostra a
areia fina em seu estado solto. A Tabela 1 e geogrelha utilizada e a Tabela 2 resume as
Figura 4 mostram suas características. principais características da mesma.

Tabela 1. Propriedades da areia. Tabela 2. Propriedades da geogrelha.


Agregado Propriedades da Geogrelha
Ensaio Miúdo Abertura da malha (mm x mm) 18,4 x 21,0
Areia Abertura Equivalente (mm) 19,66
Massa específica pelo
Material de Fabricação Poliéster
frasco Chapman (g/cm³) 2,577
e natural 0,515 Resistência a tração MD 109
e máximo 0,734 (Direção de fabricação)
e mínimo 0,490 (kN/m)
Dr (%) 89,842 Módulo de rigidez a 5% de 893
C 0,000 deformação MD (Direção de
θ 36,8° fabricação) (kN/m)

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345
2.4.1 Instrumentação:

A célula de carga foi colocada a fim de medir a


carga aplicada pelo cilíndro hidráulico, já os
medidores de deslocamento mensuravam o
afundamento da placa. Para o monitoramento
dos ensaios foi utilizado um sistema de aquisição
de dados fabricado pela empresa LYNX, modelo
ADS 2000. O funcionamento do sistema de
aquisição se deu através do software AqDados 7,
possibilitando assim a aquisição dos dados dos
Figura 5. Geogrelha utilizada no estudo. canais.

2.4 Equipamento 2.5 Ensaios de Carregamento Cíclico

O equipamento utilizado neste estudo foi 2.5.1 Preparação do Equipamento


construído para atender ao trabalho de Góngora
(2015), com a finalidade de simular o tráfego de Antes do início dos ensaios, foi necessário
veículos em estradas não pavimentadas, através envolver a parte interna do tanque cilíndrico
da aplicação de carregamentos cíclicos. (manilha) com plástico e vaselina para reduzir o
O equipamento constitui-se de uma manilha atrito lateral entre o solo e o equipamento (Figura
com grandes dimensões e localiza-se no 7).
Laboratório de Geotecnia da Universidade de
Brasília (UnB). Possui um sistema hidráulico
(responsável pela aplicação do carregamento) e
os instrumentos: uma célula de carga, placa
metálica e medidores de deslocamento conec_
tados a um sistema de aquisição de dados. A
Figura 6 retrata a composição do equipamento e
a disposição dos materiais. O equipamento
possui 100cm de diâmetro e 52cm de altura, em
que foram divididos 22cm para a camada de
subleito e 30cm para a camada de aterro
composta por EA. Em um dos ensaios foi
colocada a geogrelha entre as camadas da Figura 7. Preparação do tanque cilíndrico.
estrutura e feita sua ancoragem.
2.5.2 Preparação da camada de subleito

Para conseguir a areia em seu estado solto,


condição em que apresenta maior índice de
vazios e menor capacidade de suporte, foi
necessário depositá-la na manilha à uma altura
de queda de aproximadamente 10cm.

2.5.3 Preparação da camada de reforço

Conforme explicado no item 2.4, a geogrelha


utilizada no trabalho foi colocada entre as
camadas de subleito e de aterro. O material foi
Figura 6. Disposição dos materiais nos ensaios de
cortado em um diâmetro de 1,50m e embutido na
carregamentos cíclicos.
camada de aterro para garantir a ancoragem das

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346
extremidades do geossintético. Na Figura 8 é 2.5.6 Execução do ensaio
possível observar o desenvolvimento da coloca_
ção da geogrelha no equipamento. Após a preparação do ensaio e instalação dos
instrumentos, foi iniciado o ensaio, ligando o
sistema de aplicação de carga. O carregamento
cíclico foi aplicado na frequência de 1Hz,
simulando a passagem de veículos a uma pressão
de 560kPa. Estabeleceu-se como critério de
interrupção do ensaio o afundamento máximo de
75mm da placa de carregamento ou 270.000
ciclos. Esta etapa foi chamada de primeiro
estágio de carga.
Após a finalização do primeiro estágio de
carga é iniciado o segundo estágio, etapa essa
Figura 8. Instalação da geogrelha. que consiste em restaurar a região em que
ocorreu o afundamento, tendo o cuidado de
2.5.4 Preparação da camada de aterro manter as mesmas condições de compactação do
ensaio anterior. O critério de interrupção utili_
O aterro com EA foi depositado em 3 camadas zado foi o mesmo do primeiro ensaio. Essa
de 10cm, em que, para cada camada, foi restauração do aterro foi realizada a fim de
realizada uma leve compactação com a ajuda de simular o que ocorre nas manutenções de estra_
uma placa metálica com diâmetro menor que o das não pavimentadas.
diâmetro interno do tanque e do equipamento de
aplicação da carga. A camada total resultou em
30cm, espessura comumente utilizada em 3 RESULTADOS
estradas.
De acordo com os ensaios laboratoriais com
2.5.5 Instalação dos medidores de desloca_ carregamento cíclico foi possível construir os
mento gráficos de Deslocamento versus Número de
ciclos, que representa o afundamento da estrada
Conforme a Figura 9 abaixo é possível observar e o número de ciclos suportados por ela. As
a instalação dos medidores de deslocamento Figuras 10 e 11 a seguir retratam os resultados
sobre uma placa apoiada na superfície da estrada. para o primeiro e segundo estágio de carga,
Foram instalados três medidores de desloca_ respectivamente, em que EASR representa a
mento, sendo dois deles próximos ao eixo de estrada com aterro de EA sem reforço, enquanto
aplicação da carga, nas bordas da placa metálica o termo EACR representa a mesma estrada com
e um na lateral da superfície da estrada. o reforço do geossintético.

Figura 10. Deslocamento versus Número de Ciclos para o


Figura 9. Instalação dos medidores de deslocamento. Primeiro Estágio de Carregamento.

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347
75mm. Além disso, percebeu-se que, em ambos
os estágios de carregamento, a curva EACR
apresentou melhor desempenho, visto que para
um mesmo número de ciclos, apresentou um
deslocamento vertical ou chamado afundamento
menor.
Essa análise foi comprovada através dos
resultados dos E*, visto que, em ambos os
estágios, a estrada reforçada com o geossintético,
apresentou valores maiores quando comparadas
à estrada sem reforço, 1,58 e 1,39 para o primeiro
e segundo estágio, respectivamente. É impor_
Figura 11. Deslocamento versus Número de Ciclos para o tante considerar que, durante a pesquisa, não
Segundo Estágio de Carregamento foram realizados estimativas de custo da estrada
reforçada com relação a estrada sem reforço.
Desta forma, foi possível calcular o Fator de
Eficiência Modificado (E*), estudado por
Góngora (2015), que leva em consideração o 5 CONCLUSÃO
afundamento de cada ensaio, conforme a
Equação 1 a seguir. De acordo com os resultados dos ensaios com
carregamentos cíclicos foi possível constatar a
Nr u viabilidade do uso de EA como aterro em uma
E* = (1) estrada não pavimentada e a eficiência do uso da
Nu r
geogrelha nessa estrutura. Os valores de deslo_
camento obtidos na estrada não reforçada e a
Onde Nr é o número de repetições de carga diminuição do deslocamento vertical verifi_
no ensaio reforçado quando da sua interrupção, cada nos gráficos com o uso do geossintéticos,
Nu é o número de repetições de carga ao final do refletem, em condições reais, no aumento da
ensaio sem reforço, 𝜌u afundamento da placa ao vida útil da estrada não pavimentada, o que
final do ensaio sem reforço e 𝜌r é o afundamento reduziria os gastos com manutenção ao longo
da placa no ensaio reforçado quando da sua dos anos. Desta forma, além de se tratar do reuso
interrupção. Os resultados obtidos para os dois de um material, em que se verifica os ganhos
estágios de carga podem ser verificados na ambientais, foi constatada sua viabilidade
Tabela 3 abaixo. técnica e econômica, qualitativamente. Cabe
ressaltar a necessidade do tratamento da EA
Tabela 3. Resultados dos Fatores de Eficiência Efetiva.
antes de sua utilização no pavimento. Para
Nr Nu ρu ρr trabalhos futuros, recomenda-se realizar a parte
Ensaio - E*
(ciclos) (ciclos) (mm) (mm) de estimativas de análises de custo com
Estágio
EACR - 270000 270000 71,65 45,47 1,58
diferentes materiais de reforço.

EACR - 270000 270000 26,03 18,72 1,39
2º AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade de Brasília,


4 DISCUSSÃO pela disponibilidade de alguns equipamentos de
pesquisa, assim como também a todas as pessoas
Através dos resultados dos ensaios foi possível que contribuiram com a realização deste
identificar que em ambos os estágios de trabalho.
carregamento, o critério predominante de para_
da, foi o número de ciclos, de 270.000, já que
nenhuma das estradas atingiu o afundamento de

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348
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. ABNT NBR ISO10318-1: Geossintéticos
– Parte 1: Termos e Definições, 2018.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE.
Somente 12,4% da malha rodoviária brasileira é
pavimentada. Disponível em: <
http://www.cnt.org.br/imprensa/noticia/somente-12-
da-malha-rodoviaria-brasileirapavimentada>. Acesso
em: 22 ago. 2018.
CORRÊA, C. M. C.; MALINOVSKI, J. R.; ROLOFF, G.
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reflorestamento no sul do Brasil. Floresta, v.36, n.2,
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GÓNGORA, I.A.M.G. Estradas Não Pavimentadas
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38 f. Dissertação (Doutorado em Geotecnia) –
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ODA, S.; FERNANDES JR., J.L.; SÓRIA, M.H.A.
Caracterização de Estradas Não Pavimentadas
Visando a Implementação de um Sistema de Gerência
de Vias. Engenharia Arquitetura. São Carlos - SP: v.01,
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RAPOSO, C.O.L. Estudo Experimental de Compactação
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em Pavimentação. Dissertação (Mestrado) – Curso de
Engenharia Civil, Programa de Pós-graduação em
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SANTOS, A.R. et al. Estradas Vicinais de Terra: Manual
técnico para manutenção e conservação. São Paulo,
Instituto de Pesquisas Tecnológicas. 125p, 1988.
SOUZA, E.B.O. Escórias de Aciaria e Resíduos de
Concretos Refratários Em Componentes de
Pavimentação. 2007. 17 f. Dissertação (Mestrado em
Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) –
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2007.

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349
350
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019

Parâmetros Mecânicos de Dois Tipos Distintos de Misturas


Asfálticas Reforçadas pela Inserção de Geogrelha
Géssica Soares Pereira
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, gessicasoares.p@gmail.com

Geraldo Luciano de Oliveira Marques


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, geraldo.marques@ufjf.edu.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

Cássio Alberto Teoro do Carmo


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, cassiocarmo@gmail.com

Juliana de Paula Rezende


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, jupaulaprod@gmail.com

RESUMO: Com o desenvolvimento atual dos geossintéticos, as geogrelhas, principalmente, vêm


sendo empregadas como reforço de pavimentos asfálticos novos e restaurados. Convencionalmente,
a proposta de inserção de geogrelha na camada de revestimento asfáltico visa o desenvolvimento de
uma solução em que a capacidade resistiva, frente às solicitações do tráfego, seja superior àquela
apresentada por uma solução tradicional sem o emprego do geossintético. Neste aspecto, o
objetivodeste trabalho é analisar a influência da presença da geogrelha no comportamento de
misturas asfálticas a quente convencionais. Para tal, foram dosadas misturas asfálticas pelo método
Marshall, enquadradas em duas faixas granulométricas (faixas B e C da especificação de serviço do
DNIT), e moldados corpos de prova com e sem a inserção de uma geogrelha. Os ensaios para
análise das propriedades mecânicas, realizados nos corpos de prova reforçados com geogrelha e nos
não reforçados, foram de Estabilidade Marshall, Resistência à Tração por Compressão Diametral e
Módulo de Resiliência. Os resultados apontaram para um melhor comportamento mecânico das
misturas asfálticas com a inserção da geogrelha, uma vez que os parâmetros mecânicos medidos
através desses ensaios mostraram-se superiores aos encontrados para as misturas convencionais não
reforçadas.

PALAVRAS-CHAVE: Misturas asfálticas a quente, Reforço de revestimentos asfálticos,


Geogrelha, Comportamento Mecânico.

ABSTRACT: With the current development of geosynthetics, the geogrids have been used as
reinforcement of a new asphalt pavement and a restored one. Conventionally, propose geogrid
insertion on the asphalt layer aims to develop a solution in which the resistive capacity, because of
traffic demands, is superior than a traditional solution without the use of geosynthetics. In this
aspect, the purpose of this research is to analyze the influence of geogrid presence on the behavior
of conventional hot asphalt mixtures. To achieve this, asphaltic mixtures were dosed by the
Marshall method, framed in two particle sizes (B and C tracks DNIT service specification), and
molded specimens with and without the insertion of a geogrid. The tests for the mechanical
properties of geogrid reinforced specimens and non-reinforced specimens were of Marshall

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351
stability, resistance tests to traction by diametrical compression and resilient modulus tests. The
results pointed to a better mechanical performance of the asphalt mixtures with the insertion of the
geogrid, since the mechanical parameters measured through these tests were superior to those found
for the conventional non-reinforced mixtures.

KEYWORDS: Hot asphalt mixtures, Reinforcement asphalt overlays, Geogrid, Mechanical


Performance.

1 INTRODUÇÃO uma escolha apropriada para emprego em


camadas asfálticas, com o objetivo de melhorar
Com a disponibilidade de diversos tipos de as propriedades mecânicas dos pavimentos.
produtos geossintéticos para reforço no Tais melhorias podem ser em termos de
mercado e analisando-se agrande variedade de incrementos das resistências ao afundamento e
condições de projetos, o reforço de pavimentos à propagação de trincas.
asfálticos com geossintético tornou-se uma Segundo Kwon et al. (2008), entre os vários
solução viável para os procedimentos atuais da produtos geossintéticos, acredita-se que as
engenharia rodoviária, em detremimento das geogrelhas são a melhor opção para que seja
práticas convencionais que não fazem uso dessa alcançada uma melhoria no desempenho
categoria de reforço (LEE et al.,2014). estrutural de pavimentos flexíveis.
De acordo com Shukla e Yin (2004), entre as A inclusão da geogrelha naturalmente causa
variadas opções de produtos para reforço no o desenvolvimento de uma camada mais rígida,
mercado, os geossintéticos são uma opção associada à ação interligada que se desenvolve
considerada bastante promissora, permitindo em torno desse elemento de reforço
uma extensão na vida útil dos pavimentos, em (KONIETZKY et al., 2000, 2004;
vista da melhoria promovida nas propriedades BUDKOWSKA E YU, 2003; PERKINS E
de tração do sistema de asfalto reforçado, SVANO, 2004; PERKINS et al., 2004, 2005).
levando a um melhor custo-benefício do Segundo Carmo et al. (2014), geogrelhas
processo de manutenção rodoviária. para reforço de pavimento asfáltico constituem
Fazendo uma análise em termos de Brasil, um material particular, cujo principal objetivo é
segundo Mascarenhas et al. (2016), como o o de reforçar as novas capas betuminosas,
meio rodoviário é responsável por grande parte aumentando sua resistência à fadiga e, portanto,
do transporte de pessoas e bens econômicos, melhorando a resposta das capas asfálticas no
com o desenvolvimento do mercado e a que se refere às tensões de tração de longa
construção de estradas para ligação de grandes duração. Além disso, apresentam a finalidade
polos comerciais, é possível observar um de fornecer uma componente elástica que
aumento do volume de tráfego, das cargas melhore a distribuição de tensões a fim de inibir
rodantes e, consecutivamente, o aumento da a propagação de trincas.
pressão de inflação dos pneus. A inclusão do geossintético entre as camadas
Pasquini et al. (2013) afirmam que antiga e nova de revestimento provoca uma
pavimentos rodoviários sujeitos a altos volumes redução na resistência da interface em relação à
de tráfego podem apresentar problemas camada não reforçada, porém aumenta a
funcionais e estruturais de modo acelerado, resistência do pavimento à flexão, sendo o
exigindo assim manutenção frequente e de alto resultado final benéfico ao conjunto
custo. Além disso, segundo os autores, os (FERROTTI et al., 2011; FERROTTI et al.,
procedimentos tradicionais de recuperação de 2012; PASQUINI et al., 2013).
um pavimento podem ser ineficazes e não Ferrotti et al. (2012) executaram ensaios de
combater as causas que realmente prejudicam o cisalhamento direto em corpos de prova
pavimento. contendo geogrelhas e observaram que a
Neste sentido, os sistemas de reforço que redução da resistência ao cisalhamento nesse
incluem a geogrelha, por exemplo, podem ser caso não é significativamente prejudicial.

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352
Nas pesquisas de Saride and Kumar (2017), Tabela 1. Propriedades e características fornecidas pelo
Khodaiiet al. (2009) e Lee et al. (2015), foi fabricante da geogrelha empregada na pesquisa
Propriedade Magnitude
observado o efeito da temperatura na eficiência
Resistência à tração 53,6 kN/m
do geossintético como camada intermediária no Deformação na ruptura 9,3%
concreto asfáltico. A temperatura pode Resistência a 2% de deformação 12,2 kN/m
influenciar tanto nas propriedades do Resistência a 3% de deformação 15,4 kN/m
geossintético, acelerando sua degradação, Abertura da malha nominal 40x40 mm2
quanto nas propriedades do concreto asfáltico e
da pintura de ligação, afetando a aderência entre 2.2 Métodos
as camadas e majorando as deformações
permanentes na superfície. Mas apesar de tais A dosagem das misturas asfálticas foi realizada
constatações, os resultados obtidos para seções através do método Marshall, em vista deste ser
reforçadas com geossintéticos são superiores um método tradicionalmente empregado no
aos obtidos para seções sem a presença do Brasil. Os procedimentos referentes à dosagem
reforço. das misturas asfálticas para tal método foram
Considerando-se esse contexto da realizados de acordo com as diretrizes propostas
aplicabilidade de geogrelhas nas camadas de pela norma ME 043 (DNER, 1995).
rolamento de pavimentos flexiveis e a Para tal, foram selecionadas duas faixas de
relevância do modal rodoviário para o Brasil, o trabalho contidas na especificação de serviço
presente trabalho objetiva analisar a influência ES031 (DNIT, 2006), aplicável ao concreto
da presença da geogrelha no comportamento betuminoso usinado a quente (CBUQ). Como o
mecânico de misturas asfálticas a quente objetivo deste trabalho é a análise do efeito da
convencionais. geogrelha em dois tipos distintos de
revestimentos asfálticos, foram escolhidas as
faixas B e C dessa especificação.
2 MATERIAIS E MÉTODOS Com as composições granulométricas de
projeto definidas, foram testados cinco teores de
2.1 Materiais ligante pelo método Marshall e analisado o
desempenho de cada mistura asfáltica. Os teores
Para a composição das misturas asfálticas a adotados foram de 4,00%, 4,50%, 5,00%,
quente, foram empregados agregados minerais 5,50% e 6,00% para a faixa C, enquanto para a
inertes de origem gnáissica e um ligante faixa B foram adotados os teores de 4,00%,
asfáltico convencional. No que se refere aos 4,25%, 4,5%, 4,75% e 5,0%.
agregados, graúdos e miúdo, foram utilizados Tais valores foram selecionados baseando-se
brita 1, brita 0 e pó de pedra, provenientes de em experiências de misturas asfálticas já
uma pedreira localizada no município de produzidas no laboratório de Materiais
Ervália-MG. Em relação ao ligante asfáltico, foi Asfálticos e Misturas do DEC/UFV.O valor de
empregado o ligante convencional CAP 50/70, 0,5% adotado para variação no teor de ligante
certificado pelo laboratório da Petrobrás sob o na faixa C baseou-se no encontrado em
nº 2505-14G. literaturas, como Bernucci et al. (2008), por
O geossintético analisado nesta pesquisa foi exemplo. A variação para a faixa B de 0,25% se
uma geogrelha desenvolvida para reforço de deu como busca de um refinamento, visando
camadas asfálticas, produzida a partir de uma otimização dos valores dos parâmetros da
filametos poliméricos, aderida a um geotêxtil dosagem Marshall, em vista dos resultados
não tecido ultraleve e coberto por um material encontrados para a variação de 0,5%. Foram
betuminoso. Tal geogrelhafoi produzida a partir confeccionados três corpos de prova para cada
de fios de poliéster de alto módulo. As teor.
propriedades físicas e de resistência desta A mistura foi realizada com o ligante a
geogrelha, fornecidas pelo fabricante, são 160ºC e os agregados aquecidos a 175ºC, sendo
apresentadas na Tabela 1. estas temperaturas obtidas através da curva de
viscosidade-temperatura do ligante asfáltico,

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353
conforme recomenda o método de ensaio ME Finalizados esses procedimentos, a segunda
004 (DNER, 1994). metade da mistura era retirada da estufa,
A determinação dos teores de projeto de depositada nesse mesmo molde, por cima da
ligante asfáltico se deu com base no critério Vv- geogrelha já inserida, e então era iniciada a
RBV, de acordo com os limites máximo e compactação com 75 golpes em cada uma das
mínimo destes parâmetros impostos pela ES duas faces corpo de prova.
031 (DNIT,2006) para cada uma das faixas de Na Figura 2, apresenta-se a demarcação do
serviço selecionadas. posicionamento da geogrelha nos corpos de
Posteriormente à definição dos respectivos prova.
teores de projeto dos dois tipos de misturas
asfálticas, correspondentes às faixas B e C,
através do método Marshall, foram Mistura asfáltica
compactados corpos de prova com o esforço
recomendado pela ME 043 (DNER, 1995) de
75 golpes por face, com e sem a inserção da Mistura asfáltica

geogrelha.
Para a moldagem dos corpos de prova com Figura 2: Corpo de prova reforçado com demarcação da
geogrelha, as misturas asfálticas foramdivididas posição da geogrelha.
e homogeneizadas em dois recipientes
Para a análise das propriedades mecânicas,
separados, cada um contendo 50% das frações
foram executados, nos corpos de prova
de agregados e 50% do teor de ligante asfáltico
reforçados e nos não reforçados, os ensaios
definidos no processo de dosagem. Estas
apresentados na Tabela 2. Em sequência,
metades das misturas asfálticas dosadas são
através da Figura 3, explicita-se de forma
referentes a cada uma das metades de um
esquemátrica, para o caso dos corpos de prova
mesmo corpo de prova. Após a
reforçados, o posicionamento da geogrelha em
homogeneização da mistura asfáltica relativa à
relação às solicitações de carregamento
primeira metada do corpo de prova, esta
aplicadas sobre ela nos três ensaios analisados.
retornava a estufa por 2 minutos, intervalo de
tempo este baseado no fornecido pela ME 043 Tabela 2. Ensaios para caracterização mecânica.
(DNER, 1995) para dosagem de misturas Ensaio Método de Ensaio
asfálticas a quente, enquanto a segunda metade Estabilidade Marshall ME 043 (DNIT, 1995)
era homogeneizada. RT ME 136 (DNIT, 2018)
Em seguida, a mistura da segunda metade MR ME 135 (DNIT, 2018)
era levada à estufa também pelo período de 2
minutos. Durante esse intervalo, a primeira
metade era desepositada no molde do
compactador Marshall e então eram aplicados 2
golpes com o cilindro compactador, com a
finalidade de se obter um nivelamento para que,
em sequência, a geogrelha fosse inserida. Na
Figura 1, apresenta-se o formato com o qual a
geogrelha era recortada para posterior inserção
no corpo de prova, sendo este padrão adotado
para todos os corpos de prova.
Figura 3: Posicionamento da geogrelha no corpo de prova
em relação aos esforços aplicados nos ensaios.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 1: Formato do recorte da geogrelha 3.1 Caracterização do ligante asfáltico

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354
Os resultados referentes à caracterização do Tabela 4. Parâmetros volumétricos da dosagem Marshall
CAP 50/70 são apresentados na Tabela 3. para as misturas de projeto Faixa B e Faixa C.
Parâmetro Faixa B Faixa C
Tabela 3. Resultados e normas dos ensaios de Teor de Projeto (%) 4,20 4,70
caracterização do ligante asfáltico. Volume de Vazios (%) 4,36 4,19
Ensaio Norma Resultado
Massa ME 009 (DNER,
Relação Betume/ Vazios (%) 70,39 76,10
1,010 g/cm³
específica real 1998)
Densidade ME 009 (DNER,
1,006 3.4 Parâmetros mecânicos
relativa 1998)
ME 155 (DNIT,
Penetração 57 dmm
2010) A Tabela 5 apresenta uma visão geral dos
ME 148 (DNER,
Ponto de fulgor 343°C resultados dos ensaios de Estabilidade
1994)
Ponto de ME 148 (DNER,
365°C
Marshall, Resistência à Tração por Compressão
combustão 1994) Diametral (RT) e Módulo de Resiliência (MR).
Ponto de ME 131 (DNIT,
amolecimento 2010)
51°C É válido ressaltar que os resultados são
Solubilidade em NBR 14855 (ABNT, referentes aos corpos de prova com a inserção
100%
Tricloroetileno 2002) de geogrelha (mistura reforçada) e aos corpos
135 °C – 172
Viscosidade ME 004 (DNER,
segundos
de prova sem a inserção da geogrelha (mistura
Saybolt-Furol 1994) não reforçada).
150 °C – 64 segundos

Tabela 5. Resultados dos ensaios mecânicos realizados.


3.2 Composições granulométricas Mistura sem Mistura com
Propriedade
a inserção da a inserção da
mecânica
As curvas granulométricas de projeto utilizadas geogrelha geogrelha
para a composição das misturas asfálticas, das Faixa Faixa Faixa Faixa
B C B C
faixas granulométricas B e C, são apresentadas
Estabilidade (kgf) 919 775 1236 1265
na Figura 4. RT (MPa) 0,95 0,91 1,14 1,22
MR (MPa) 3947 4073 6951 7745
100,0

Curva de Analisando-se de modo geral os resultados


80,0 projeto-
Faixa C apresentados na Tabela 5, é possível observar
que, no que se refere ao comportamento
% Passante

60,0
mecânico das misturas analisadas neste
40,0 Curva de trabalho, para os ensaios propostos, os corpos
projeto- de prova com a inserção da geogrelha
Faixa B
20,0 apresentaram um incremento nos seus
parâmetros mecânicos. Infere-se que tal
0,0 melhoria é proveniente da interação satisfatória
0,01 0,1 1 10
Abertura (mm)
entre a geogrelha e as misturas asfálticas a
Figura 4. Curvas granulométricas de projeto. quente, pois, além da geogrelha não apresentar
deslocamento durante a ruptura para os três
ensaios analisados, partindo-se os corpos de
3.3 Dosagem Marshall prova (exumação), conforme Figura 5, foi
observada uma completa aderência das fibras da
Os resultados da dosagem das misturas são geogrelha com a mistura.
apresentados na Tabela 4, nas quais são
explicitados os parâmetros volumétricos e seus
respectivos teores de ligante asfáltico de
projeto. Tais parâmetros foram determinados de
modo que se enquadrassem dentro dos limites
preconizados pela especificação de serviço ES
031 (DNIT, 2006). Figura 5. Geogrelha aderida à mistura asfáltica a quente.

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355
Essa aderência observada pode ser explicada característico de ensaios de compressão
pelo fato de essas geogrelhas incorporarem diametral, infere-se que na região de contato da
revestimentos com asfalto, que, segundo o geogrelha com a mistura asfáltica, na qual se
fabricante, apresentam teores de asfalto de tem total aderência, a geogrelha promova uma
aproximadamente 79% em massa em relação redistribuição das tensões internas aoabsorver
aos sólidos do revestimento asfáltico. Dessa parte das tensões de tração na região central do
forma, o asfalto presente nas malhas das corpo de prova, aumentando dessa forma a
geogrelhas e o asfalto presente nas misturas resistência à tração interna no plano diametral
asfálticas a quente apresentam, para a vertical em relação aos corpos de prova não
temperatura de compactação, uma adesividade reforçados.
entre si capaz de promover uma aderência total Considera-se que esse incremento também
entre as geogrelhas e as misturas asfálticas a está relacionado com o fato de que a geogrelha
quente, a qual permanece após o resfriamento empregada nesta pesquisa apresente uma alta
dos corpos de prova à temperatura ambiente. resistência à tração, em conformidade com Lao
Segundo Vilchez (2002), um dos principais e Ramos (2009), para quem essa capacidade de
fatores que influenciam no funcionamento das reforço está intimamente vinculada à magnitude
geogrelhas como reforço de pavimentos é sua dessa propriedade.
aderência ao concreto asfáltico. Bastos (2010) Em relação ao ensaio de Módulo de
afirma que tal aderência entre a geogrelha e a Resiliência, considerando que este se dá
mistura asfáltica proporciona um ancoramento mediante aplicação de um carregamento
do geossintético na camada asfáltica e que, para repetido e que são analisadas as deformações
ocorrer uma absorção de tensões por parte da horizontais originadas, estima-se que a
geogrelha, quando esta sofrer estímulo à sua geogrelha atua de maneira que, estando ela
deformação, não deve haver escorregamento ou aderida à mistura asfáltica e confinada na
deslocamento relativo desta em relação ao mesma, absorve as tensões de tração a cada
concreto asfáltico. Assim, como foi observada ciclo na parte central do corpo de prova,
uma total aderência, presume-se que foi reduzindo consequentemente os deslocamentos
possível a mobilização da melhoria horizontais recuperáveis, implicando em
proporcionada pelo reforço para a mistura incremento da rigidez elástica do sistema.Em
asfáltica como um todo. conformidade com Bastos (2010), é provável
No que se refere à melhoria no que a elevada resistência à tração da geogrelha
comportamento mecânico da Estabilidade empregada também justifique o incremento de
Marshall, sabendo que a força aplicada durante rigidez da mistura asfáltica reforçada.
o ensaio cresce até que ocorra deslocamento ou As Figuras 6 e 7 apresentam,
quebra do material, sendo este o ponto de perda respectivamente, os resultados de Resistência à
da estabilidade, um dos efeitos da presença da Tração por Compressão Diametral e de Módulo
geogrelha consiste em promover um melhor de Resiliência, possibilitando observar as
intertravamento do sistema, deixando-o menos diferenças nestas propriedades para cada uma
susceptível à quebra. Dessa forma, o sistema das duas misturas asfálticas estudadas.
geogrelha-mistura asfáltica consegue mobilizar
uma maior resistência a esse mecanismo 1,40 SEM
Resistência à Tração

comparativamente à mistura asfáltica sem 1,20 GEOGRELHA

reforço, constituindo-se em um sistema com 1,00 COM


(MPa)

maior estabilidade. 0,80 GEOGRELHA

No ensaio de resistência à tração por 0,60


compressão diametral, em que o corpo de prova 0,40
se rompe devido à tensão de tração gerada ao 0,20
longo do plano diametral vertical solicitado, 0,00
ainda que a geogrelha não esteja alocada nesse Faixa B Faixa C
plano, mas em um plano transversal Figura 6. Resultados de Resistência à Tração por
Compressão Diametral.
perperndicular ao plano de ruptura

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356
Módulo de Resiliência
9000 SEM dimensões, fato que pode ter possibilitado uma
GEOGRELHA interação com a geogrelha não tão homogênea.
7500
COM
6000 GEOGRELHA
4 CONCLUSÃO
(MPa)

4500
3000 Através dos resultados encontrados, e em vista
das particularidades deste trabalho, constatou-se
1500
que a inserção da geogrelha promoveu uma
0 tendência de melhoria no comportamento
Faixa B Faixa C
mecânico de ambas as misturas asfálticas
Figura 7. Resultados de Módulo de Resiliência.
analisadas.
Em relação ao ensaio de Resistência à Em relação à interação da geogrelha com as
Tração por Compressão Diametral, é possível misturas asfálticas a quente, foi observada uma
perceber que o incremento no valor do total aderência desse geossintético à mistura,
parâmetro, em vista da inserção da geogrelha, fator este que promoveu umasolidarização entre
apresentou-se mais expressivo para a mistura estas, o que resultou em um sistema de melhor
asfáltica com faixa granulométrica C que para a desempenho mecânico, para os ensaios
mistura asfáltica com faixa granulométrica B, analisados.
sendo que, para as misturas asfálticas faixa C, o O efeito causado pela inserção de uma
aumento foi de 34,07%, enquanto que para as mesma geogrelha no incremento dos parâmetros
misturas asfálticas faixa B, de 20,00%. mecânicos analisados mostrou-se distinto em
No que se refere ao ensaio de Módulo de misturas asfálticas diferentes, provavelmente
Resiliência, tal comportamento também é devido às diferenças de interação física entre o
observado. Na mistura asfáltica com faixa geossintético e as respectivas granulometrias de
granulométrica C, o incremento proporcionado projeto de tais misturas.
pela geogrelha foi de 90,20% em relação à
mesma mistura não reforçada, e na mistura AGRADECIMENTOS
asfáltica com faixa granulométrica B, de
76,10%. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
Estima-se que essa diferença de eficiência de de Nível Superior (CAPES), pela concessão da
incremento nas propriedades mecânicas bolsa que permitiu o desenvolvimento desta
estudadas entre as duas misturas asfálticas, por pesquisa.
parte da geogrelha, esteja ligada com o fato de
que, como estas misturas asfálticas apresentam REFERÊNCIAS
granulometrias diferentes, a interação dos ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
agregados da mistura com a abertura da malha TÉCNICAS - ABNT. NBR 14855: Materiais
da geogrelha seja distinta. betuminosos – Determinação da solubilidade em
Segundo Lee et al. (2014), as geogrelhas tricloroetileno. Rio de Janeiro, 2002. 5p.
têm, entre os principais efeitos que controlam Bastos, G.A (2010)Comportamento Mecânico de
Misturas Asfálticas Reforçadas com Geogrelhas para
sua ação de reforço, o confinamento e o Pavimentos Flexíveis. Dissertação de Mestrado.
intertravamento, e estes são originados da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
resistência que surge da interação existente Departamento de Engenharia Civil. Rio de Janeiro.
entre as aberturas de malha da geogrelha e o 247 p.
agregado presente na mistura asfáltica. Assim, Budkowska, B.B. & Yu, J. (2003) Mitigation of short
term rutting by interlocking layer developed around a
pressupõe-se que a mistura asfáltica faixa C, geogrid-sensitivity analysis. Comput. Geotech. 30,
que conta com uma graduação mais densa e 61–79.
com uma maior porcentagem de finos, teve um Carmo, C.A.T., Ruiz, E.F., Pandolpho, J.R. e
melhor intertravamento com a malha da Monstestruque, G. (2014) Utilização de Geogrelha de
geogrelha do que a mistura asfáltica faixa B, Poliéster na Restauração da Pista Auxiliar de Pouso
e Decolagem do Aeroporto de Congonhas. 44ª
cuja granulometria é mais aberta e com maior Reunião Anual de Pavimentação (RAPv) e 18º .
porcentagem de agregados de maiores

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

357
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

358
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Estradas não Pavimentadas Reforçadas com Geossintéticos sobre


Subleitos Arenosos: Correlação entre Comportamentos sob
Carregamentos Cíclico e Monotônico
Ivonne Alejandra Gutiérrez Góngora
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, ivonneagutierrezgongora@gmail.com

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: As estradas não pavimentadas permitem o fluxo de mercadorias e acesso a serviços na


zona rural dos municípios. Facilitam o transporte de produtos provenientes de atividades agrícolas,
de exploração florestal e mineira, além de permitir o acesso a serviços de educação e saúde
disponíveis nos centros urbanos a comunidades isoladas. Este tipo de estradas constitui uma
importante porcentagem no total da malha viária do Brasil, com cerca de 87% da sua extensão. Apesar
da grande importância que possuem, geralmente são relegadas a segundo plano em comparação com
a atenção dedicada a estradas pavimentadas. Este trabalho apresenta um estudo sobre o uso de
geossintéticos para reforçar estradas não pavimentadas sobre subleitos arenosos compressíveis,
visando avaliar a utilização, para tais condições, de duas abordagens de projeto existentes na
literatura. Para isso foram realizados ensaios em um equipamento de grande porte, com
carregamentos monotônico e cíclico. Os resultados obtidos mostraram a expressiva contribuição da
presença da camada de reforço no comportamento da estrada e as limitações na extensão do uso de
soluções existentes para o caso de estradas construídas sobre subleitos arenosos fofos.

ABSTRACT: Unpaved roads allow the traffic of goods and access to services in the interior of the
countries. They facilitate the transportation of good from the agricultural, forestry and mining
industries, besides allowing access to education and health services to the inhabitants of remote areas.
These roads represent approximately 87% of the Brazilian road network. Despite its importance,
generally less attention is paid to this type of road in comparison with that paid to paved roads. This
paper presents a study on the use of geosynthetics to reinforce unpaved roads on compressible sandy
subgrades, aiming at evaluating the applicability of two existing design approaches. To accomplish
that, monotonic and cyclic loading tests were carried out using a large-scale equipment. The results
obtained showed an important contribution brought by the reinforcement to improve the performance
of the road and the limitations in the extension of the existing design approaches to roads constructed
on loose sandy subgrades.

KEY WORDS: Estradas não pavimentadas, geossintéticos, carregamento cíclico, carregamento


monotônico.

1 INTRODUÇÃO sociais nos grandes centros urbanos para


membros de comunidades remotas. A presença
As estradas não pavimentadas representam mais de solos de subleito com baixa capacidade de
de 80% do sistema rodoviário brasileiro e são suporte acelera a formação de trilhas de roda,
muito importantes para a economia do país, buracos, e outros defeitos que causam a
sendo responsáveis pelo transporte de produtos interrupção do tráfego e aumentam os custos de
agrícolas, minerais, florestais, entre outros. manutenção.
Além disso, elas fornecem acesso a serviços Os geossintéticos podem ser usados como

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359
reforço em várias obras de engenharia Tabela 1. Materiais de subleito usados nos ensaios
geotécnica, como pavimentos, aterros em solos Areia Areia
Propriedade
moles, muros de contenção e estradas não 1 2
pavimentadas construídas sobre subleitos fracos. Diâmetro médio das
Neste último caso, o reforço geossintético pode partículas D50 (mm) 1,35 1,85
reduzir de forma significativa as tensões
Peso específico dos
transmitidas ao subleito, fornecendo
Sólidos (kN/m3) 26,40 27,60
confinamento lateral ao material de aterro,
reduzindo a formação de defeitos na estrada, Ângulo de atrito (o) 31,20 36,04
levando a um melhor desempenho e consequente Coesão (kPa) 0,00 0,00
aumento de sua vida útil, com redução nos custos Índice de suporte
de manutenção. Califórnia (CBR) (%)
Devido às suas características, as estradas não 1,60 6,10
pavimentadas devem passar por manutenções
constantes para fornecer condições de tráfego
adequadas e contínuas. No entanto, na literatura
são encontradas poucas pesquisas que mostrem
de forma apropriada os benefícios do reforço
geossintéticos em estradas não pavimentadas
realizando-se a comparação com carregamentos
cíclicos e monotônicos. Isso é mais evidente no
caso de subleitos arenosos fofos, já que a grande
maioria das soluções disponíveis foi
desenvolvida para subleitos argilosos saturados,
carregados sob condições não drenadas. Este
Figura 1. Granulometria dos materiais de subleito
trabalho apresenta um estudo sobre o
desempenho de estradas não pavimentadas
reforçadas e não reforçadas construídas sobre 2.2 Material de aterro
subleitos arenosos fofos, visando avaliar
aplicabilidade de utilização de duas soluções Como material de aterro foi usada brita. A
existentes na literatura sob tais condições. origem deste material é calcária, procedente da
pedreira Guapó, localizada no estado de Goiás.
2 MATERIAIS EMPREGADOS A espessura considerada para a simulação do
aterro foi de 23 cm. Na Tabela 2 são listadas as
2.1 Material de Subleito propriedades da brita e na Figura 2 é apresentada
sua curva granulométrica.
Na pesquisa foram realizados testes com
Tabela 2. Brita empregada nos testes
carregamentos cíclicos e monotônicos, para os
quais foram usadas areias de dois tipos. Uma Propriedade Valor
delas foi uma areia grossa, e outra de Densidade relativa (dos sólidos) 2,65
granulometria mais fina; as duas são descritas na Absorção de água (%) 0,50
Tabela 1 e sua granulometria apresentada na Abrasão los Angeles (%) 36,00
Figura 1. O intuito foi comparar o
Ângulo de atrito (o) 43,20
comportamento de dois subleitos compressíveis
com índice de suporte Califórnia (CBR) Coesão (kPa) 0,00
diferentes. A espessura considerada para a Índice de suporte de Califórnia
simulação do subleito foi de 30 cm. (CBR) (%) 1,60

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360
estrada não pavimentada simulada. O cilindro
possuía as seguintes dimensões: diâmetro
interno de 1,0 m e altura de 0,52 m. Um sistema
de reação permitiu a aplicação de carga sobre
uma placa rígida (diâmetro igual a 0,20 m), para
simular o carregamento proveniente da roda de
um veículo com carga por eixo de 80 kN. Estas
dimensões foram suficientes para representar
uma camada de aterro de 30 cm de espessura,
dimensão compatível com as dos aterros
encontrados em campo. A camada de subleito
Figura 2. Granulometria do material de aterro representada possuía 20 cm de espessura, o que
representa apenas uma porção do subleito
2.3 Geossintéticos usados na pesquisa encontrado em estradas não pavimentadas.
Nesse sentido, os ensaios visaram apenas a
Foram empregadas três tipos de geogrelhas para avaliação dos desempenhos dos reforços sob
os testes com carregamentos cíclico e condições similares, objetivando-se verificar a
monotônico realizados. Estas foram escolhidas viabilidade de uso de soluções existentes sob
com base no comportamento mostrado por elas condições experimentais mais simples. Nos
na pesquisa de Góngora (2015). As geogrelhas ensaios de carregamento monotônico a carga foi
escolhidas foram as que apresentaram o melhor aplicada com uma bomba hidráulica de
comportamento em termos de aumento de acionamento manual. Na Figura 3 é apresentado
capacidade de suporte da estrada. Na Tabela 3 o equipamento utilizado.
são apresentadas as propriedades relevantes das
geogrelhas usadas.

Tabela 3. Propriedades dos geossintéticos usados nos


ensaios.
Reforço Geogrelha Geogrelha
Geogrelha 3
Propriedades 1 2
Abertura da malha(mm x mm) 18,4 x 21,0 23,0 x 35,0 11,6 x 15,0
Material de fabricação Poliéster Poliéster Polipropileno
Resistência a tração (kN/m)
Direção longitudinal 109,0 92,0 18,0
Direção transversal 30 ___ ___
Rigidez à tração a 5% de
deformação (kN/m) 893 811 417
Módulo de estabilidade a
abertura (ASM) 0,033 0,074 0,040
Figura 3. Equipamento para execução dos ensaios.
Mais detalhes acerca dos geossintéticos
empregados podem ser encontrados em Góngora 3.1 Instrumentação utilizada
(2015).
Os ensaios com carregamentos cíclico e
3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS monotônico foram monitorados com a utilização
de instrumentos geotécnicos, tais como célula de
Para a realização dos testes de carregamentos carga e medidores de deslocamento linear. Cada
cíclico e monotônico foi empregado um um deles visou monitorar a carga nos ensaios e
equipamento específico, capaz de simular uma os deslocamentos da superfície do aterro,
estrutura de estrada não pavimentada. O respetivamente.
equipamento usado para a simulação do
carregamento cíclico é composto de um tanque 4 METODOLOGIA
cilíndrico de concreto, o qual foi empregado para
a preparação do solo de subleito e do aterro da Para a realização dos testes de carregamento

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361
cíclico foi preciso adotar um roteiro para a referência; Pn é a carga aplicada ciclicamente; e
montagem e execução dos ensaios. A montagem Ps é a carga estática equivalente.
do ensaio compreendeu a colocação do solo de A partir dos resultados dos ensaios, foi
subleito junto com a instrumentação, a camada também retroanalisado o expoente no caso da
de reforço, se fosse o caso, e a disposição da utilização da equação de Giroud e Noray (1981),
camada de aterro. Posteriormente aplicava-se o que pode se expressa como:
carregamento cíclico numa frequência de 1 Hz,
até se atingir um recalque da placa de
carregamento na superfície do aterro de 75 mm. (2)
Os procedimentos adotados são os mesmos
descritos por Góngora (2015). A única diferença
existente é o material de subleito utilizado nesta Onde N é o número de aplicações da carga
pesquisa, o qual foi uma areia grossa com CBR cíclica, r é a rodeira em mm, P é a Carga por eixo,
de 6,1 % e comparar os resultados obtidos por e CBR é o índice de suporte Califórnia (%).
Góngora (2015). Os testes de carregamento
monotônico realizados neste trabalho foram 5 RESULTADOS
divididos em dois tipos. Os primeiros realizados
com a mesma areia de subleito usada por A seguir são apresentados os resultados obtidos
Góngora (2015) e com 3 tipos de geogrelhas. nos diferentes ensaios realizados no presente
Já os outros ensaios foram feitos com a areia trabalho. Inicialmente serão exibidos os
grossa com CBR de 6,1%. resultados obtidos nos ensaios com
Cada ensaio de carregamento monotônico carregamento cíclico. A seguir, também serão
teve as seguintes etapas: preparação do solo de mostrados os resultados obtidos nos ensaios de
subleito, colocação da camada de geossintético carregamento monotônico para os reforços
se houvesse, instalação da camada de aterro e empregados.
posteriormente aplicação de carregamento
monotônico até se atingir um recalque da placa 5.1 Ensaios de carregamento cíclico
de carregamento na superfície de 75 mm.
Com os resultados obtidos foi feita uma Na Figura 4 são exibidos os deslocamentos
análise da relação proposta por Jewell (1996) verticais da placa de carregamento versus o
que permite obter, no caso de estradas não número de repetições de carga em ensaios sem e
pavimentadas reforçadas e sem reforço, cargas com reforço de geogrelha para o subleito (areia
estáticas equivalentes a partir de carregamentos 2com CBR de 6,10 %. Já na Figura 5 são
cíclicos. Para efeitos de aplicação, neste trabalho apresentados os resultados para o subleito usado
pretendeu-se encontrar valores de expoentes por Góngora, (2015) com CBR de 1,6 %.
para os casos sem reforço e com reforço para
condições de subleitos arenosos fofos.
Atualmente, para o projeto de estradas não
pavimentadas sem reforço, recomenda-se um
valor de exp = 0,30 (Hammitt, 1970) na equação
1 apresentada abaixo. Já nos casos reforçados, o
valor recomendado é de exp = 0,16 (De Groot et
al., 1986). A equação 1 mostra a forma de
calcular o expoente segundo a proposta de Jewell
(1996).

(1)
Figura 4. Deslocamentos verticais da placa de
carregamento versus o número de ciclos de carga. Para
Onde N é o número de repetições da carga subleito de CBR 6,10 %.
cíclica; Ns é o número de repetições da carga de

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362
Tabela 4. Expoentes obtidos para os casos com e sem
reforço – Método de Jewell (1996).

Figura 5. Deslocamentos verticais da placa de


carregamento versus o número de ciclos de carga. Para
subleito de CBR 1,60 %. (Góngora, 2015)

Nota-se nas figuras 4 e 5, que a geogrelha com


melhor desempenho foi a G1, suportando 77.234
e 340.068 ciclos de carga respetivamente até um
afundamento de 75 mm. Já o resultado obtido
para a situação sem reforço foi
significativamente menor (1.105 e 2.810 ciclos
respetivamente. De acordo com estes valores,
pode-se observar que o reforço consegue agir de
uma forma mais eficiente quando o subleito tem
uma capacidade de suporte menor que 3% de
CBR.

5.1 Ensaios com carregamento monotônico

Dos ensaios de carregamento monotônico


realizados foram extraídos valores de carga
aplicada até atingir diferentes valores de 5.1 Retroanalise do expoente da solução de
deslocamento, os quais foram fundamentais para Giroud e Noiray (1981)
determinar os expoentes utilizados na equação
de Jewell (1996). Na tabela 4 são apresentados Neste caso foi utilizada a Equação 2,
os expoentes obtidos para os casos com e sem desenvolvida por Giroud e Noray (1981), para
reforço. Nessa tabela percebe-se que não existe tentar se estabelecer um expoente típico para as
um valor de expoente típico para o caso sem condições dos ensaios realizados. Na Tabela 5
reforço conforme é proposto por De Groot et al. são mostrados os valores de expoentes obtidos.
(1986). Expoentes negativos são consequência Foi também observado que com a equação de
de ganho de resistência do material do subleito Giroud e Noray (1981) não foi possível se chegar
ao longo do ensaio, por conta do aumento da num coeficiente constante típico para projeto de
densidade da areia devido ao carregamento estradas não pavimentadas sob subleitos
cíclico. Isso não foi admitido na solução original arenosos fofos. Os valores encontrados
de Jewell (1996), uma vez que esta foi apresentam uma dispersão muito alta, a qual não
apresentada para a situação de estradas não permite definir um valor característico. Na
pavimentadas sobre subleitos argilosos saturados Figura 6 isso pode ser constatado de uma forma
e sob condições não drenadas. Tal aspecto clara. Nela a relação δ/R representa a razão entre
mostra a complexidade no estabelecimento de a rodeira atingida e o raio da placa de
relações entre carregamentos monotônico e carregamento usado nos ensaios.
ciclico no caso de subleitos arenosos fofos.

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363
Tabela 5. Expoentes obtidos para os casos com e sem As principais conclusões obtidas são apresentadas
reforço – Método de Giroud e Noiray (1981) a seguir.
O uso de reforço geossintético em estradas
não pavimentadas pode contribuir de forma
eficiente para o aumento do número de
repetições de carga suportadas por estradas sobre
subleitos arenosos. Sendo isto refletido no
aumento da vida de serviço da estrada
A capacidade de suporte do solo de subleito
influencia diretamente no número de ciclos de
carga suportados pela estrada não pavimentada
simulada. À medida que se aumenta a
capacidade de suporte do subleito diminuir a
eficiência do reforço.
Os expoentes usados tradicionalmente na
literatura para dimensionamento de estradas não
pavimentadas sobre solos argilosos, nos casos
reforçado e sem reforço, não se aplicaram no
caso de subleitos arenosos. Os resultados obtidos
mostram a necessidade de mais pesquisas para o
desenvolvimento de métodos de projeto de
estradas não pavimentadas, com e sem reforço,
construídas sobre subleitos arenosos fofos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade de Brasília,


ao CNPq-Conselho Nacional para o
Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo
financiamento da pesquisa e às empresas que
forneceram os geossintéticos empregados neste
trabalho.

5,00 REFERÊNCIAS
4,00
De Groot, M., Janse, E., Maagdenberg, T.A.C., Van den
3,00 Berg, C., 1986. Design method and guidelines for
EXP

2,00 geotextile application in road construction.


1,00 Proceedings of the Third International Conference on
Geotextiles. Vienna, Austria, pp. 741–746.
0,00 Góngora, I. A. M. G (2015). Estradas não Pavimentadas
0,00 0,50 1,00 Reforçadas com Geossintéticos: Influência de
δ/R Propriedades Físicas e Mecânicas do Reforço. Tese de
SR G1 G2 G3 Doutorado, Publicação G.T.D-105/15, Departamento
Figura 6. Expoentes obtidos pela equação de Giroud e de Engenharia Civil, Universidade de Brasília,
Noray (1981) versus δ/R Brasília, DF, 96 p.

6 CONCLUSÕES Giroud, J.P. and Noiray, L. (1981) "Geotextile-reinforced


unpaved road design", Journal of Geotechnical
Engineering, ASCE, 107, 1233-1254.
Este trabalho apresentou os resultados de ensaios Hammitt, G.M. (1970). Thickness Requirements base
em grande escala para estradas não pavimentadas support. US Army Waterways Researcg Statio.
com e sem a presença de reforço construídas sobre Vicksburg.TR 2-70-5.
subleitos arenosos fofos. Para tal, foram realizados Jewell, R.A. (1996): Soil reinforcement with geotextiles.
ensaios com carregamentos cíclico e monotônico. CIRIA London, UK

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

364
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Influência da Inserção de Geotêxtil na Resposta Mecânica de


Misturas Asfálticas a Quente Compostas
Juliana de Paula Rezende
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, jupaulaprod@gmail.com

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

Geraldo Luciano de Oliveira Marques


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, geraldo.marques@ufjf.edu.br

Géssica Soares Pereira


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, gessica.soares@ufv.br

Natália de Faria Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG, Brasil, natalia.f.faria@ufv.br

RESUMO: A principal motivação desse trabalho foi o grande apelo pelo avanço tecnológico da
engenharia de pavimentos visando à garantia de melhor desempenho estrutural e maior durabilidade
dos pavimentos. Analisou-se o comportamento mecânico de misturas asfálticas a quente compostas
reforçadas com geotêxtil impregnado. Estas misturas foram dosadas pelo método Marshall,
empregando-se o ligante asfáltico CAP 50/70 para a mistura e a impregnação. As faixas
granulométricas “B” e “C” da especificação ES 031 do DNIT foram destinadas a compor a camada
de revestimento asfáltico, simultaneamente, ou seja, a moldagem dos corpos de prova (CP)
sucedeu-se em duas camadas. Desenvolveu-se uma análise dos parâmetros mecânicos derivados
dos ensaios de Estabilidade Marshall (EM), Resistência à Tração por Compressão Diametral (RT),
Módulo de Resiliência (MR), Vida de Fadiga (VF) e Creep Estático. Constatou-se,
experimentalmente, a capacidade do reforço geossintético de incrementar as propriedades
mecânicas pesquisadas. Para as propriedades decorrentes de solicitações estáticas, os resultados
indicaram ganhos percentuais médios de 48% e 22% para a EM e a RT, respectivamente. A
suscetibilidade da mistura asfáltica compactada à deformação permanente foi reduzida com a
inserção do reforço (em torno de 37%). Para as propriedades dinâmicas, o MR foi incrementado de
56%, assim como a VF das misturas reforçadas que teve um acréscimo de aproximadamente 45%.
Em cada condição de ensaio foram compactados 3 CPs, exceto pra o ensaio de VF que foram
moldados 6 CPs. Os resultados realçam o potencial técnico da mistura asfáltica reforçada em suprir
as necessidades estruturais da camada de revestimento asfáltico em face às solicitações impostas
pelo tráfego.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxtil, Reforço geossintético, Misturas asfálticas a quente compostas,


Ensaios Mecânicos.

ABSTRACT: The main motivation of this research was the great appeal for the technological
advancement of pavement engineering aiming at the guarantee of better structural performance and
greater durability of pavements. The mechanical behavior of composite hot asphalt mixtures
reinforced with impregnated geotextile was analyzed. These mixtures were dosed by the Marshall

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365
method, using the asphalt binder CAP 50/70 for mixture and impregnation. The grading envelopes
"B" and "C" of ES 031 specification of the DNIT were used to compose the asphalt wearing course,
simultaneously, that is, the molding of the core sample (CS) in two layers. An analysis of the
mechanical parameters derived from the tests of Marshall Stability (EM), tensile strength by
diametral compression (RT), resilient modulus (MR), Fatigue Life (VF) and Static Creep was
developed. The ability of the geosynthetic reinforcement to increase the investigated mechanical
properties was experimentally verified. For properties resulting from static level applications, the
results indicated average percentage gains of 48% and 22% for EM and RT, respectively. The
susceptibility of the compacted asphalt mixture to the permanent deformation was reduced with the
insertion of the reinforcement (around 37%). For the dynamic properties, the MR was increased by
56%, as well as the VF of the reinforced mixtures, which increased by approximately 45%. In each
test condition 3 CS were compacted, except fot the VF assay, which were molded 6 CPs. The
results highlight the technical potential of the reinforced asphalt mixture in meeting the structural
needs of the asphalt wearing course in face of traffic level solicitations.

KEYWORDS: Geotextile, Geosynthetic reinforcement, Composite hot asphalt mixtures,


Mechanical tests.

1 INTRODUÇÃO homogeneização de agregados minerais, em


geral bem graduados, de material fino de
Tendo em vista que 78,7% (1.365.426 km) das enchimento ou fíler e de cimento asfáltico de
rodovias brasileiras não são pavimentadas e que petróleo (CAP).
mais 9% (157.309 km) estão planejadas para A maioria das rodovias pavimentadas no
serem implantadas, constata-se que há um Brasil é constituída de pavimentos com
inequívoco déficit por tais obras civis e, revestimentos asfálticos. Os esforços
consequentemente, um grande apelo pelo provocados pelas cargas atuantes nestes
avanço tecnológico da engenharia de pavimentos induzem o desenvolvimento de
pavimentos para a aplicação de materiais e deformações elásticas ou resilientes e de
misturas asfálticas mais eficazes que os deformações irreversíveis ou permanentes. As
convencionais, visando à garantia de melhor deformações elásticas repetidas geradas pelo
desempenho estrutural e maior durabilidade dos tráfego são responsáveis pela ruptura por fadiga
pavimentos projetados e executados para o da mistura asfáltica, que provoca o surgimento
atendimento da demanda existente e a redução e a evolução das trincas observadas nos
desse déficit (CNT, 2017). revestimentos. As deformações permanentes
Segundo Bernucci et al. (2008), os acumuladas são responsáveis pelo afundamento
revestimentos asfálticos são misturas de trilhas de rodas que se manifesta na
betuminosas que combinam materiais minerais superfície de rolamento (MEDINA E MOTTA,
e ligantes betuminosos, em proporções 2015).
adequadas definidas em laboratório. As Conforme Carmo et al. (2015), o
misturas betuminosas do tipo Concreto desenvolvimento dos geossintéticos tem
Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) podem fomentado a utilização desses materiais para
ser empregadas em revestimentos de fins de reforço de pavimentos asfálticos novos e
pavimentos flexíveis, semirrígidos e invertidos, restaurados, dada a sua capacidade de
recebendo diretamente as ações do tráfego e do proporcionar uma elevada resistência à tração
clima. O CBUQ é um material para a dentro da capa asfáltica, complementando as
construção de revestimentos de pavimentos, propriedades mecânicas da mistura asfáltica e
podendo constituir a camada de rolamento ou permitindo um maior controle do trincamento
capa asfáltica e a camada de ligação ou binder no pavimento, o que é fundamental para os
imediatamente subjacente à capa asfáltica. Esse bons desempenhos funcional e estrutural do
material é obtido a partir da mistura e

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366
mesmo, assim como para a eficiência Tabela 1: Ensaios realizados no programa experimental
econômica da sua restauração. de pesquisa
Material
Nesse contexto, desenvolveu-se nesse Agregados minerais Ligante asfáltico
trabalho uma análise dos parâmetros mecânicos Análise granulométrica dos
derivados dos ensaios de Estabilidade Massa específica real -
agregados graúdos e miúdos -
ME 009 (DNER, 1998c)
Marshall, Resistência à Tração por ME 083 (DNER, 1998a)
Compressão Diametral, Módulo de Resiliência, Abrasão Los Angeles dos Pontos de fulgor e de
Vida de Fadiga e Creep Estático. O propósito agregados graúdos - ME 035 combustão - ME 148
(DNER, 1998b) (DNER, 1994d)
desse estudo foi fornecer um revestimento
asfáltico de qualidade compatível com as Adesividade dos agregados Viscosidade Saybolt-
graúdos ao ligante asfáltico - ME Furol - ME 004 (DNER,
exigências dos projetos de pavimentação 078 (DNER, 1994a) 1994e)
rodoviária através da inserção de reforço Absorção e massa específica dos
pH - ME 149 (DNER,
geossintético nessa camada estrutural. agregados graúdos - ME 195
1994f)
(DNER, 1997b)
Acredita-se que o desenvolvimento desta
Massa específica e massa
pesquisa poderá contribuir para incrementar o específica aparente do agregado Penetração - ME 155
banco de dados nacionais referentes ao reforço miúdo - NBR NM 52 (ABNT, (DNIT, 2010a)
geossintético de revestimentos asfálticos. 2009)
Solubilidade em
Equivalente de areia - ME 054
tricloroetileno - NBR
(DNER, 1997c)
14855 (ABNT, 2015)
2 MATERIAIS E MÉTODOS Índice de forma dos agregados
Ponto de amolecimento -
graúdos - ME 086 (DNER,
ME 131 (DNIT, 2010b)
1994b)
2.1 Materiais Sanidade dos agregados graúdos
- ME 089 (DNER, 1994c)
Os agregados minerais graúdos (brita 0 e brita Angularidade do agregado
1) e miúdo (pó de pedra) que foram utilizados miúdo - C 1252 (ASTM, 2006)
nesta pesquisa são de formação gnáissica e Partículas alongadas e achatadas
- D 4791 (ASTM, 2010)
oriundos da pedreira Ervália Ltda., localizada
no município de Ervália-MG. O ligante
asfáltico empregado foi o CAP 50/70, oriundo 2.2.2 Escolha da distribuição granulométrica de
da REGAP – Refinaria Gabriel Passos, projeto para as faixas B e C do DNIT
localizada no município de Betim-MG. O
material geossintético de reforço das misturas Foram selecionadas as faixas granulométricas B
asfálticas investigadas foi fornecido pela e C para as misturas asfálticas contempladas
empresa Ober S/A Indústria e Comércio, nessa pesquisa, conforme a especificação de
correspondendo a um geotêxtil não-tecido. As serviço ES 031 (DNIT, 2006a) destinada aos
características tecnológicas desse geossintético concretos betuminosos usinados a quente
foram fornecidas pelo fabricante, essas foram (CBUQs). Para as referidas faixas, as curvas
apresentadas na Tabela 4. granulométricas de projeto foram escolhidas
atendendo às especificações e limites impostos
2.2 Métodos pela especificação de serviço mencionada, de
acordo com o método de dosagem Marshall.
2.2.1 Caracterização tecnológica dos materiais
2.2.3 Dosagem experimental das misturas
Na Tabela 1, apresentam-se a identificação dos asfálticas
ensaios realizados sobre os materiais utilizados
nessa pesquisa para a confecção das misturas Os respectivos teores de ligante asfáltico de
asfálticas e as correspondentes normas projeto correspondentes às faixas
adotadas. granulométricas B e C foram determinados com
Os agregados foram coletados segundo os base no critério Vv (Volume de vazios) – RBV
procedimentos prescritos pela norma DNER (Relação Betume-Vazios), conforme os limites
PRO 120/97 (DNER, 1997a). máximo e mínimo para tais parâmetros

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367
definidos pela especificação ES 031 (DNIT, Para as misturas asfálticas compostas não
2006a). reforçadas, foi adotado procedimento similar ao
descrito anteriormente, excetuando,
2.2.4 Procedimento experimental das misturas obviamente, as etapas correspondentes à
asfálticas compostas inserção do reforço geossintético.

Os corpos de prova das misturas asfálticas 2.2.5 Ensaios mecânicos


foram confeccionados utilizando o ligante
asfáltico à 165ºC e os agregados à 175ºC, Considerando-se os respectivos teores de
ambos aquecidos em estufa. Para as misturas ligante asfáltico de projeto definidos pelo
asfálticas compostas reforçadas, após a método de dosagem adotado nessa pesquisa
homogeneização dos materiais, as misturas para as faixas granulométricas “B” e “C”
foram colocadas nos moldes de compactação, (apresentados no item 3.3), foram
sendo depositada, primeiramente, a mistura confeccionados corpos de prova de
asfáltica correspondente à faixa “B”, seguida da revestimentos asfálticos compostos,
inserção do geotêxtil impregnado superiormente constituídos, simultaneamente, pelas respectivas
e, por fim, a mistura asfáltica da faixa “C”. faixas, sem e com reforço geossintético
Dando sequência ao procedimento, a mistura impregnado (Figura 2), segundo a configuração
composta foi submetida ao esforço de de impregnação prevista na pesquisa. Visando à
compactação. A compactação foi feita à 140ºC determinação das propriedades mecânicas de
para garantir que o CAP apresentasse a interesse, foram realizados os seguintes ensaios
viscosidade definida pela especificação de conforme as respectivas prescrições normativas:
serviço ES 031 (DNIT, 2006a). Finalizada a  Estabilidade Marshall - ME 043
compactação, o conjunto foi resfriado à (DNER, 1995);
temperatura ambiente, em uma superfície plana,  Resistência à Tração por Compressão
por 24 horas, para posterior extração do corpo Diametral - ME 136 (DNIT, 2018b);
de prova compactado da mistura asfáltica  Módulo de Resiliência - ME 135
composta reforçada. (DNIT, 2018a);
Para a impregnação, foi utilizado o CAP  Vida de Fadiga – ME 183 (DNIT,
50/70, sendo adotado o teor de impregnação de 2018c);
0,36 L/m2 para a pintura de ligação, conforme  Creep Estático - BS 598-111 (BSI,
recomendado pela ES 145 (DNIT, 2012). Este 1995).
método de impregnação na face superior do
geotêxtil foi escolhido pelo fato de representar a Geotêxtil
melhor configuração de impregnação analisada
para o geotêxtil, garantindo uma adequada Faixa Granulométrica C
resposta mecânica, bem como uma satisfatória
aderência mobilizada na interface reforço-
camada superior do revestimento composto. A
Faixa Granulométrica B
Figura 1 ilustra as etapas da compactação da
mistura composta reforçada.
Figura 2 - Esquema de corpo de prova de mistura
asfáltica moldado com as duas faixas granulométricas (B
e C) e com a inserção do reforço geossintético (geotêxtil).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 1: A) Mistura Faixa B; B) Mistura Faixa C; C)
Mistura Faixa B + Geotêxtil com impregnação, D) 3.1 Caracterização dos materiais
Mistura Faixa B + Geotêxtil + Mistura Faixa C

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368
Os resultados referentes à caracterização 3.3 Método de dosagem Marshall
tecnológica dos agregados minerais estão
apresentados na Tabela 2. A Tabela 3 apresenta Após a verificação da curva granulométrica,
os resultados obtidos referentes à caracterização definiu-se o teor de projeto de ligante asfáltico
tecnológica do ligante asfáltico que estão em através do método de dosagem Marshall. As
conformidade com a especificação EM 095 respectivas dosagens das misturas asfálticas
(DNIT, 2006b). As características tecnológicas consideradas nessa pesquisa correspondentes às
do geotêxtil constam na Tabela 4. faixas B e C da especificação de serviço ES 031
(DNIT, 2006a) seguiram, rigorosamente, as
Tabela 2: Índices físicos dos agregados minerais exigências do método de dosagem Marshall. Os
Magnitude do índice físico valores de Vv obtidos na dosagem foram 4,36%
Índice físico Brita
0 Brita 1 Pó de pedra
e 4,19% para as faixas granulométricas B e C,
Abrasão Los respectivamente.
45 45 -
Angeles (%) Foram obtidos os teores de projeto de 4,2% e
Absorção (%) 1,14 1,14% - 4,7%, para as faixas granulométricas B e C,
Adesividade ao Satisfatória Satisfatória respectivamente. Os teores de ligante asfáltico
-
ligante betuminoso c/ aditivo c/ aditivo
Índice de forma 0,68 0,68 -
encontrados atenderam a todas as
Massa específica
especificações estabelecidas pela ES 031
2794 2794 2794 (DNIT, 2006a).
real (kg/m3)
Massa específica
2705 2705 -
aparente (kg/m3)
3.4 Ensaios mecânicos
Tabela 3: Resultados dos ensaios de caracterização do
ligante asfáltico empregado Considerando-se a aplicação da dosagem e da
Índice físico Magnitude do índice físico compactação Marshall, foram realizados os
Penetração (m) 0,0057 ensaios mecânicos previstos no item 2.2.5 sobre
Massa específica real (kg/m3) 1010 misturas asfálticas compostas não reforçadas e
Ponto de amolecimento (K) 324,15 misturas asfálticas compostas reforçadas por
Densidade Relativa (kg/m3) 1006
geotêxtil, cujos resultados são apresentados nas
Figuras 3, 4 e 5.
Ponto de Fulgor (K) 616,15
Ponto de combustão (K) 638,15
Solubilidade no 7000
100
Tricloroetileno (%) 6345 Não
6000 reforçada

Tabela 4: Principais características técnicas do 5000


geossintético empregado na pesquisa 4064 Reforçada
4000 com
Propriedades Unidade geotêxtil
Matéria-prima principal - Poliester 3000
Gramatura kg/m2 0,15 Li mi t e
Resistência à tração 2000 mínimo ES
1110 650 031 (DNIT,
Longitudinal 7 1000 559 828 500 910
kN/m 2006a)
Transversal 8
Deformação na resistência à 0
tração Estabilidade Resistência Módulo
>70 Marshall à Tração Resiliente
Longitudinal % (kgf) (kPa) (MPa)
>70
Transversal
Resistência ao rasgo trapezoidal
Longitudinal 220 Figura 3: Valores médios das propriedades mecânicas
kN/m estáticas (Resistência à Tração e Estabilidade Marshall) e
Transversal 200
dinâmica (Módulo de Resiliência) das misturas asfálticas
pesquisadas.
3.2 Granulometrias de projeto
Para a Estabilidade Marshall, houve um
Nesta pesquisa, foram utilizadas duas faixas
incremento de 48% desta característica da
granulométricas (B e C) simultaneamente
mistura asfáltica promovido pelo reforço, sendo
especificadas pela especificação de serviço ES
necessária, nesse caso, uma força de
031 (DNIT, 2006a).

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369
compressão maior para que ocorresse a perda de
100000
estabilidade do material, proporcionada pelo

Vida de Fadiga (Nf)


deslocamento ou quebra de agregados. De
forma análoga, no ensaio de Resistência à 10000
Tração o acréscimo foi de 22%, sendo Reforçada
com
necessária uma tensão de tração mais geotêxtil
expressiva ao longo do plano diametral vertical 1000
Não
do corpo de prova reforçado para que ocorresse reforçada
a ruptura do material. Em ambos os casos, o 100
acréscimo de resistência do elemento de reforço 0,1 1 10
foi garantido pelo maior grau de Diferença de Tensões (MPa)
solidarização/aderência entre os elementos de (a)
interface das camadas estrututais faixa
granulométrica “B” e faixa granulométrica “C”, 100000
implicando em um melhor desempenho

Vida de Fadiga (Nf)


estrutural do conjunto reforçado.
De maneira equivalente ao observado nas 10000 Reforçada
com
respostas mecânicas citadas anteriormente, geotêxtil
Guimarães (2013) afirma que a macrotextura da 1000 Não
superfície das misturas asfálticas tem influência reforçada
direta na mobilização da aderência. A superfície
rugosa do CBUQ permite adicional de 100
0,00001 0,0001 0,001
aderência no contato entre as camadas,
proporcionando eficiente intertravamento Def. Específica Resiliente (mm/mm)
mecânico entre as camadas asfálticas e o (b)
reforço. Ainda nesse contexto, Mohammad et Figura 4: Curvas de Fadiga das misturas asfálticas
al. (2010) investigaram o efeito da rugosidade pesquisadas: a) Vida de Fadiga versus Diferença de
da superfície na interface de camadas asfálticas. tensões; b) Vida de Fadiga versus Deformação específica
resiliente na ruptura.
Foi realizada uma correlação dos parâmetros de
resistência e rugosidade em superfícies fresadas No ensaio de Vida de Fadiga, o reforço
e não fresadas, obtendo valores de resistência geossintético atuou de maneira a retardar os
superiores nas camadas que foram submetidas à estágios existentes no processo de fadiga da
fresagem. mistura pesquisada, proporcionando uma
No ensaio de Módulo de Resiliência, o redistribuição das tensões atuantes. A presença
elemento de reforço confere à mistura asfáltica do geotêxtil permitiu o aumento do desempenho
rápida recuperação elástica do material ao ser e rigidez da amostra por meio da ligação íntima
submetido à ação de cargas. Isso foi possível entre o reforço e as camadas asfálticas, tendo
devido ao geotêxtil aderido às camadas B e C um acréscimo de aproximadamente 45%.
mobilizar o incremento da rigidez elástica da De maneira análoga ao observado
mistura asfáltica para as condições de anteriormente, segundo Fonseca (2015), a
solicitação impostas por esse ensaio, tendo um distribuição de tensões e, consequentemente, o
aumento em relação ao cenário não reforçado comportamento da estrutura são alterados
de 56%. positivamente quando ocorre incremento nos
De acordo com Ante (2016), a presença do níveis de aderência entre as camadas de
geossintético confere aos corpos de prova misturas asfálticas do revestimento.
construídos em CBUQ um comportamento mais O nível de deformação dos corpos de prova
dúctil e uma resistência adicional posterior à reforçados é menos expressivo que o dos não
ruptura da camada inferior do corpo de prova, reforçados, demandando um número de ciclos
permitindo maiores níveis de deformação sem de carregamento maior para que ocorra a
causar sua ruptura total. ruptura por fadiga dos mesmos.

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370
0 Geotêxtil
Deformação Plástica (m)

0,00002 Misturas
asfálticas
0,00004 reforçadas
com geotêxtil
0,00006

0,00008 Misturas
asfálticas não Figura 6: Ilustração da exumação de um corpo de prova
0,0001 reforçadas composto contendo o elemento de reforço.
0,00012
0 2000 4000 6000
Tempo (seg) 4 CONCLUSÃO
(a)
0 O maior grau de solidarização/aderência entre o
Misturas elemento de reforço e as camadas estruturais
0,0000005 asfálticas
“B” e “C” implicou em melhorias adicionais no
Deformação Plástica
Específica (m/m)

reforçadas
0,000001 com desempenho estrutural do conjunto reforçado.
geotêxtil
O reforço conferiu à mistura asfáltica rápida
0,0000015 Misturas recuperação elástica do material ao ser
asfálticas
0,000002 não submetido à ação de cargas. Admitiu-se,
reforçadas portanto, que esse fato está relacionado à
0,0000025
0 2000 4000 6000
capacidade do geotêxtil, aderido às camadas
Tempo (seg) “B” e “C”, de mobilizar o incremento da rigidez
(b) elástica da mistura asfáltica para as condições
Figura 5: Curvas de fluência (Creep estático) das de solicitação impostas às misturas asfálticas
misturas asfálticas pesquisadas: a) Deslocamento Plástico ensaiadas.
x Tempo; b) Deformação Plástica Específica x Tempo. A macrotextura da superfície das misturas
asfálticas teve influência direta na mobilização
No ensaio de fluência, constatou-se que a da aderência. Dentro dessa perspectiva a
atuação da carga de compressão estática superfície rugosa do CBUQ permitiu
ocasionou menores deslocamentos axiais acréscimos de aderência no contato entre as
permanentes nas misturas asfálticas reforçadas, camadas, proporcionando eficiente
tendo uma redução de aproximadamente 37%. intertravamento mecânico entre as camadas
Os valores médios obtidos para a deformação asfálticas e o reforço.
plástica foram de 5,5x10-5m e 7,47x10-5m, para
as misturas asfálticas reforçadas e não
reforçadas, respectivamente. Supõe-se que esse REFERÊNCIAS
fato está intimamente ligado ao adicional de
rigidez proporcionado pela inserção do ABNT (2009) NBR NM 52. Agregado miúdo –
elemento de reforço, verificado através do Determinação da massa específica e massa específica
aparente, Rio de Janeiro. 6p.
ensaio de Módulo de Resiliência. De maneira a ABNT (2015) NBR 14855. Materiais betuminosos –
comprovar o que foi observado nessa pesquisa, Determinação da solubilidade em tricloroetileno, Rio
segundo NG (2013), misturas de menor rigidez, de Janeiro. 5p.
ou ainda flexíveis, estão propensas a maiores Ante, J. R. O. (2012) Geossintéticos como reforço de
magnitudes de deformações permanentes. revestimentos em pavimentação. Dissertação
mestrado - Universidade de Brasília. Brasília – DF.
Portanto, o principal parâmetro responsável Ante, J. R. O. (2016) Desempenho de misturas asfálticas
pelo incremento no comportamento estrutural reforçadas com geossintéticos. Teses de doutorado -
dos sistemas reforçados é a condição de Universidade de Brasília, Brasília – DF.
aderência entre as camadas asfálticas e o ASTM (2006) C 1252 – Standard test method for
elemento de reforço. A exumação do corpo de uncompacted void contente of fine aggregate (as
influenced by particle shape, surface texture and
prova (Figura 6) evidencia o maior grau de granding). American Society for Testing and
solidarização/aderência entre os elementos Materials, USA. 5p.
dessa interface. ASTM (2010) D 4791 – Standard test method for flat
particles, elongated particles, or flat and elongated

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

371
particles in coarse aggregate. American Society for Estradas de Rodagem, Rio de Janeiro. 6p.
Testing and Materials. USA. 6p. DNER – ME 009 (1998c) Petróleo e derivados –
Bernucci, L. B.; Motta, L. M.; Ceratti, J. A. P.; Soares, J. determinação da densidade – método do densímetro.
B. (2008) Pavimentação asfáltica para engenheiros. Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, Rio
Rio de Janeiro: Petrobrás: ABEDA. de Janeiro. 7p.
BSI BS 598-111 (1995) Sampling and examination of DNIT – ES 031 (2006a) Pavimentos flexíveis – Concreto
bituminous mixtures for roads and other paved areas. asfáltico – Especificação de serviço. Departamento
Method for determination of resistance to permanent Nacional de Infraestrutura de Transportes, Rio de
deformation of bituminous mixtures subject to Janeiro. 14p.
unconfined uniaxial loading. British Standards DNIT – EM 095 (2006b) Cimentos asfálticos de petróleo
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

372
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil©IGS-Brasil/ABMS, 2019

Estudo dos Parâmetros de Capacidade de Suporte de Solo Arenoso


Reforçado com Geotêxteis para fins Rodoviários
Marcela Giacometti de Avelar
Instituto Federal do Espírito Santo – IFES e Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil,
e-mail: mavelar@ifes.edu.br

Roberto Lopes Ferraz


Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil, e-mail: rlferraz@ufv.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil, e-mail: taciano.silva@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa – UFV, Viçosa, Brasil, e-mail:heraldo.pitanga@ufv.br

RESUMO: Este artigo aborda um estudo dos parâmetros de capacidade de suporte de um solo arenoso
da região da Zona da Mata, norte do estado de Minas Gerais, e seu respectivo comportamento
mecânico quando reforçado com três categorias de geotêxteis: dois geotêxteis tecidos biaxiais de
polipropileno e um geotêxtil não tecido agulhado fabricado a partir de fibras 100% poliéster.
Inicialmente, o procedimento experimental foi baseado na caracterização e classificação geotécnica
do solo e nos ensaios de compactação nas energias do Proctor normal e modificado, a partir dos quais
foram moldados corpos de prova não reforçados e reforçados para os ensaios de Índice de Suporte
Califórnia (ISC), no teor de umidade ótimo e no peso específico aparente seco máximo das referidas
energias. A posição das inclusões de reforço dentro das amostras também variou, sendo colocadas à
1/2 e 1/4 da base do corpo de prova. Os resultados dos ensaios de CBR mostraram que a eficiência
dos mecanismos de reforço variou em maior ou menor grau de acordo com o tipo de geotêxtil, com
a magnitude das energias de compactação aplicadas e com a posição dos reforços entre as camadas
do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxteis, CBR, energias de compactação, solo arenoso.

ABSTRACT: This paper deals with a study of the parameters of support capacity of a sandy soil in
the Zona da Mata region, northern Minas Gerais State, and its respective mechanical behavior when
reinforced with three categories of geotextiles: two geotextiles biaxial polypropylene fabrics and one
geotextile non-woven needled made from 100% polyester fibers. Initially, the experimental procedure
was based on the characterization and geotechnical classification of the soil and on the compaction
tests in the standard and modified Proctor energies, from which non-reinforced and reinforced
specimens were molded for the California Bearing Ratio (CBR) tests, considering the optimum
moisture content and the maximum dry density. The position of the reinforcement inclusions within
the samples also varied, being placed at 1/2 and 1/4 of the base of the specimen. The results of the
CBR tests showed that the efficiency of the reinforcement mechanisms varied to a greater or lesser
degree according to the type of geotextile, the magnitude of the compaction energies applied and the
position of the reinforcements between the layers of the soil.

KEY WORDS: Geotextiles, CBR, compaction energies, sandy soil.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

373
1 INTRODUÇÃO potencialidades dos geotêxteis como materiais
de reforço de um solo arenoso, com base nos
Assim como no concreto, os solos possuem, em ensaios de CBR, assim como avaliar a interação
geral, uma elevada resistência aos esforços de destes materiais com as particularidades deste
compressão e baixa resistência aos esforços de solo.
tração. No caso do concreto, o aço é utilizado
como material de reforço; já nos solos, é possível
o emprego de geossintéticos para reforçar e/ou 2 MATERIAIS E MÉTODOS
resistir às deformações em estruturas
geotécnicas (VERTEMATTI, 2015; GARCIA, 2.1 Materiais Empregados
2011).
Os geossintéticos são materiais 2.1.1 Solo
industrializados, constituídos de polímeros
sintéticos ou naturais, cujas propriedades A amostra do solo empregada neste estudo foi
contribuem para a melhoria de obras coletada em uma área interna à Universidade
geotécnicas, desempenhando as funções de Federal de Viçosa (UFV), localizada às margens
reforço, drenagem, filtração, separação, controle da estrada que dá acesso à Vila Secundino,
da erosão superficial e impermeabilização situado entre os Departamentos de Zootecnia e
(REZENDE, 2005; VETERMATTI, 2015). Com de Medicina, cujo local tem as coordenadas
exceção desta última, os geotêxteis podem geográficas 20º45’50.84”S e 42º61’31.69”O
desempenhar todas as demais funções quando (Figura 1).
empregados em obras viárias, sendo que tais
atribuições podem variar de acordo com a
configuração da estrada que se pretende
construir.
No papel de reforço, os geossintéticos tendem
a promover uma melhoria considerável na
distribuição das tensões transmitidas ao solo de
fundação. Tal benefício se deve a três
importantes mecanismos de interação entre o
geossintético e o material do subleito: resistência
lateral, aumento na capacidade de suporte e o
efeito membrana (BERG et al., 2000; Figura 1. Local de retirada da amostra, via imagem de
satélite (Google Earth).
GONÇALVES, 2015; CORREIA e AVESANI
NETO, 2016; ZORNBERG, 2012; GIROUD e O solo em estudo apresenta coloração
NOIRAY, 1981; GIROUD et al., 1994; esbranquiçada a cinza (Figura 2), com a presença
PERKINS e ISMEIK, 1997; HOLTZ et al., de um veio saprolítico. A coleta foi realizada no
1998). horizonte C (solo residual jovem).
Ressalta-se que, para que tais mecanismos
apareçam, diferentes níveis de deformação são
necessários nos pavimentos. Em vias não
pavimentadas, que toleram trilha de roda de
até10 cm, o efeito membrana e o aumento da
capacidade de suporte podem ser notados
(BERG et al., 2000). Já em pavimentos
asfálticos, deformações de tal magnitude são
inaceitáveis, excedendo os requisitos de serviço
da estrada. Neste caso, apenas o efeito da
resistência lateral será significativo (CORREIA
e AVESANI NETO, 2016; ZORNBERG, 2012).
Neste contexto, esta pesquisa visa estudar as Figura 2. Aparência do solo empregado na pesquisa.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

374
2.1.2 Geossintéticos 2.2 Métodos

Na presente pesquisa, foram utilizados dois 2.2.1 Coleta e Preparação das Amostras
geotêxteis tecidos biaxiais de laminetes de
polipropileno, de alta tenacidade e elevada Os procedimentos de coleta consistiram na
resistência à degradação, tendoprincipais extração, ensacamento, identificação e
aplicações na separação de materiais e noreforço transporte dos volumes para o Laboratório de
construtivo em obras de terraplenagem. Da Engenharia Civil do Departamento de
mesma forma, foi empregado um geotêxtil não Engenharia Civil. Posteriormente, as amostras
tecido agulhado, fabricado à partir de fibras foram secas ao ar, destorroadas peneiradas e
100% poliéster. armazenadas em bombonas plásticas para sua
Nas Tabelas 1 e 2, apresentam-se as utilização nos ensaios previstos nesta pesquisa,
especificações técnicas dos materiais fornecidas conforme as determinações da NBR 6457
pelos fabricantes. (ABNT, 2016) – Amostras de solo – Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de
Tabela1. Especificações técnicas dos geotêxteis tecidos caracterização.
fornecidas pelo fabricante.
Propriedades Tecido Tecido
55/55 25/25
2.2.2 Ensaios de Caracterização Geotécnica
Resistência à tração nominal (NBR 12824/93)
Direção longitudinal 55 kN/m 25 kN/m A caracterização geotécnica do solo empregado
Direção transversal 55 kN/m 25 kN/m nesta pesquisa foi realizada de acordo com os
Deformação na resistência nominal (NBR 12824/93) procedimento contidos na Tabela 3.
Direção longitudinal ≤ 15 % ≤ 15 %
Direção transversal ≤ 15 % ≤ 15 % Tabela 3. Ensaios de caracterização do solo empregado na
Permeabilidade para carga ≥ 15 l/m2/s ≥ 20 l/m2/s pesquisa.
de água de 0,05 m (tol. ±5) (tol. ±5) Ensaios Norma Descrição
Abertura aparente de poros ≥ 0,20 mm ≥ 0,25 mm Massa NBR 6508 Grãos de solos que
– 090 (NBR ISO12956/13) (tol. ±5) (tol. ±5) específica dos (ABNT, passam na peneira
Massa por unidade de área 275 g/m2 175 g/m2 sólidos 1985) 4,8 mm –
Determinação da
Tabela2. Especificações técnicas dos geotêxtil não-tecido Massa específica
fornecidas pelo fabricante. Granulometria NBR 7181 Solos – Análise
Propriedades Norma Unidade Valor (ABNT, granulometrica
Resistência à ABNT 2016)
Tração de Faixa NBR ISO kN/m Limite de NBR 6459 Solo – Determinação
10319/13 10
Larga (T) Liquidez (ABNT, do Limite de
Alongamento % > 50 2016) Liquidez
Resistência a ABNT Limite de NBR 7180 Solo – Determinação
Tração Faixa NBR ISO kN/m 9
Mecânicas

Plasticidade (ABNT, do Limite de


Larga (L) 10319/13 2016) Plasticidade
Alongamento % > 50
Resistência ao
ASTM D
Rasgo 4533/15
N 250 2.2.3 Classificações Geotécnicas
Trapezoidal (T)
Resistência ao
ASTM D Com os resultados dos ensaios de
Rasgo N 308
Trapezoidal (L)
4533/15 caracterizaçãodescritos na Tabela 3, foi possível
Abertura ASTM a realização das classificações geotécnicas
mm 0,13
Hidráulicas

Aparente 4751/16 segundo a NBR 6502 (ABNT, 1995), o Sistema


Permeabilidade ASTM D Unificado de Classificação dos Solos (SUCS),
4491/17
cm/s 0,35
Permissividade ASTM D
sob a norma técnica D 2487 - 11 (ASTM, 2011),
4491/17
s-1 2.15 e pelo sistema da Transportation Research
Gramatura ASTM
g/m2 200 Board (TRB), sob a norma técnica M 145 - 91
Físicas

5261/10
ASTM D
(AASHTO, 2008). Foi realizada, também, a
Resistência UV
(500h) 4355/14 % > 70 classificação MCT, conforme os métodos de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

375
ensaio da CLA 259 (DNER, 1996), com leituras mantendo-se a mesma energia total aplicada no
complementares aos métodos de ensaio ME 258 solo.
(DNER, 1994) e ME 256 (DNER, 1994).

2.2.4 Ensaios de Compactação 3 RESULTADOS

O ensaio de compactação de acordo com NBR 3.1 Caracterização Geotécnica


7182 (ABNT, 2016) foi empregado para a
determinação do peso específico aparente seco O resultado do ensaio de análise granulométrica
máximo e do teor de umidade ótima do solo nas do solo é apresentado pela curva da Figura 4. Na
energias do Proctor normal e modificado. Tabela 4, apresentam-se as propriedades
Adicionalmente, foi realizado o ensaio de Índice geotécnicas do solo empregado nesta pesquisa.
de Suporte Califórnia segundo a NBR 9895
(ABNT, 2016).

2.2.5 Ensaio CBR das Amostras Reforçadas

Com os resultados dos parâmetros obtidos nos


ensaios de compactação, foram realizados os
ensaios de CBR de acordo com a norma técnica
NBR 9895 (ABNT, 2016) nas amostras de
referência e nas amostras reforçadas. As
amostras de solo foram umedecidas nos teores de
umidade ótima correspondentes a cada energia
de compactação, permitindo-se uma tolerância
de ± 1% na variação deste parâmetro.
Os geotêxteis tecidos, aqui denominados
como T55.55 e T25.25, e o geotêxtil não tecido, Figura 4. Curva granulométrica do solo.
aqui denominado NT10, foram cortados no
diâmetro do cilindro referente ao ensaio e Tabela 4. Propriedades geotécnicas do solo empregado na
pesquisa.
inseridos em duas configurações distintas: no Argila (% < 0,002 mm) 6
granulométricas (%)

meio do corpo de prova (Figura 3b) e a 1/4 da Silte (0,002 ≤ % <0,06 mm) 18
base do corpo de prova (Figura 3c). Grossa
17
Frações

(0,6 ≤ % < 2,0 mm)


Média
Areia 35
(0,2 ≤ % < 0,6 mm)
Fina
24
(0,06 ≤ % < 0, 2mm)
Limite de liquidez 26
Atterberg
Limites

(%)

Limite de plasticidade 23
de

Índice de plasticidade 3
(a) (b) (c) Peso
Figura 3. Configurações dos corpos de prova para os específico
ensaios CBR: a) Corpo de prova sem geotêxtil; (b) dos s 25,32
Corpo de prova com geotêxtil no meio; (c) Corpo de sólidos
prova com o geotêxtil à 1/4 da base. (kN/m3)

Para um melhor posicionamento dos 3.2 Classificações geotécnicas


geotêxteis dentro do corpo de prova, optou-se
por compactar os solos em quatro camadas Na Tabela 5, são apresentados os resultados da
(Figura 3a), e não em cinco camadas como classificação do solo segundo as metodologias
preconiza a NBR 7182 (ABNT, 2016), ABNT, TRB, USCS e MCT

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

376
Tabela 5. Classificação do solo.
Classificação
ABNT TRB USCS MCT
Areia – siltosa
com pouca A-2-4(0) SM NA’
argila

3.3 Ensaios de Compactação

Na Tabela 6, apresentam-se os resultados do teor


de umidade ótima (wót) e peso específico
aparente seco máximo (γdmáx), nas energias do
Proctor Normal e Modificado, obtidos para o
solo da pesquisa, bem como os resultados do Figura 6. Resultados do CBR para as energias do Proctor
ensaio CBR (Índice CBR e Expansão CBR). Normal e Modificado.

Tabela 6. Resultados dos ensaios de compactação e CBR


do solo da pesquisa.
Energia dmáx wót CBR Expansão
(kN/m3) (%) (%) (%)
Normal 17,63 14,04 11,38 0,14
Modificada 19,33 11,55 38,10 0,46

Na Figura 5, tem-se as curvas de compactação


nas energias do Proctor Normal e Modificado.

Figura 7. Resultados do Índice de Expansão nas energias


do Proctor Normal e Modificado.

4 DISCUSSÕES

De acordo com as Figuras 6 e 7, os resultados de


índice de suporte e expansão para as amostras
não reforçadas (referência) foram,
respectivamente, de 13,0% e 0,12%, para a
energia Normal, e de 33,84% e 0,34%, para a
Figura 5. Curvas de compactação do solo.
energia Modificada.
Assim, para as amostras compactadas na
3.4 Ensaios CBR das Amostras Reforçadas
energia Normal, observou-se um decréscimo nos
valores de CBR para todos os corpos de prova
Os gráficos das Figuras 6 e 7 mostram os
reforçados. Dentre as amostras com inclusões,
resultados da média de três determinações do
aquela que apresentou melhor resultado foi a
Índice de Suporte Califórnia (CBR) e Expansão
T55.55_Pos1/2, com um valor de CBR de
para os corpos de prova não reforçados e
11,37% e expansão de 0,19%.
reforçados nas energias do Proctor Normal e
Com base nos resultados, fica evidente que a
Modificado.
inclusão de geotêxteis não contribuiu para a
melhoria da resistência do solo quando
compactado na energia Normal, isto é, a
distribuição de tensões, através dos mecanismos

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

377
de resistência lateral, aumento da capacidade de nele do que em ensaios realizados em modelos
suporte e o efeito membrana tensionada, não de grande escala.
foram suficientes para mobilizar os geotêxteis, Na Figura 7, para a energia Normal, foram
uma vez que este solo já possui uma capacidade observados valores de expansão tanto da amostra
de suporte relativamente elevada (KOERNER, de referência quanto das amostras reforçadas
2012; FERREIRA, 2007). dentro dos limites estabelecidos pelo
Um comportamento contrário ao anterior foi Departamento Nacional de Infra Estrutura de
verificado nas amostras com geotêxteis quando Transporte – DNIT, para camadas do pavimento.
compactadas na energia do Proctor Modificado Já na energia Modificada, este índice
(Figura 6). Observou-se que houve um pequeno apresentou valores maiores que na energia
aumento nos valores no índice de suporte de Normal, tanto na amostra não reforçada quanto
todas as amostras reforçadas em relação à em quase todas configurações ensaiadas (tipo e
amostra de referência. Os maiores valores de posição dos reforços). Esta tendência foi
CBR encontrados foram para as amostras confirmada por Mendes (1973), que afirmou que
reforçadas T55.55_Pos1/2 e T25.25_Pos1/4, a aplicação de maiores magnitudes de energia de
com aumentos de 7,8% e 10,65%, compactação promove o aumento da
respectivamente. expansibilidade nos solos. Acrescenta-se que,
Esse comportamento sugere que o aumento da nas amostras com inclusões, estes valores
energia de compactação do solo gerou, em tenderam a serem maiores naquelas reforçadas
conjunto com os geotêxteis, uma camada de com geotêxteis menos permeáveis, tais como os
maior resistência (camadas de solo acima do T55.55 e NT10.
reforço) que afastou as superfícies potenciais de Destaca-se ainda que há uma correlação entre
ruptura (tensões cisalhantes) das camadas o aumento no valor do CBR com a diminuição
inferiores dos corpos de prova (camadas abaixo da expansão, entretanto esses parâmetros
do reforço), o que permitiu que o mecanismo de variaram de acordo com o tipo e as
aumento da capacidade de carga fosse mais configurações dos corpos de prova.
evidenciado nas amostras reforçadas.
Quanto à posição do reforço, não se observou
no estudo uma tendência bem definida neste 5 CONCLUSÕES
parâmetro. De um modo geral, nas amostras
reforçadas, compactadas na energia Normal, os A análise dos dados obtidos nos experimentos
geotêxteis posicionados à meia altura do corpo permitiu chegar às seguintes conclusões:
de prova apresentaram valores de CBR
ligeiramente maiores ou praticamente iguais às  O emprego de diferentes magnitudes de
amostras com o reforço na posição mais energias de compactação teve uma influência
superficial. Por outro lado, para as amostras significativa nos parâmetros de capacidade de
compactadas na energia Modificada, observou- suporte do solo reforçado estudado nesta
se que os valores de CBR para os geotêxteis pesquisa;
posicionados a 1/4 da base do corpo de prova  O comportamento dos reforços posicionados
foram maiores (T25.25 e NT10). no meio e a 1/4 da base dos corpos de prova
É importante destacar que a utilização do variou de acordo com a magnitude da energia
ensaio CBR para avaliar os efeitos de de compactação aplicada. No solo
geossintéticos na capacidade de suporte dos empregado, não se observou uma tendência
solos reforçados apresenta algumas limitações. bem definida para este parâmetro: na energia
Dentre elas, está o tamanho do cilindro de Normal, os valores de CBR tenderam a ser
CBR,que pode não simular as condições reais de maiores quando os geotêxteis se encontravam
capacidade de suporte em campo. Rudramurthy à 1/2 do corpo de prova, e na energia
e Vikram (2016) afirmaram que as pequenas Modificada, à 1/4 da base;
dimensões do molde CBR limitam o tamanho do  O efeito escala pode ser um fator limitante
geotêxtil, e, por isso, os efeitos no aumento da para os resultados encontrados;
capacidade de suporte são menos pronunciados  No ensaio de expansibilidade, tanto as

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

378
amostras não reforçadas quanto as reforçadas ASTM (2011). D 2487 - 11: Standard Practice for
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Geossintético em Subcamada de Pavimentos


Paulo Victor de Carvalho Figueiredo
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, paulovcarvalho15@gmail.com

Andréa Vanessa Carvalho Leal Corrêa


Universidade Federal do Amazonas, Manaus, vanessa.carvalholeal@gmail.com

Cláudia Ávila Barbosa


Universidade Federal do Amazonas, Manaus, claudiaavila.eng@gmail.com

Manassés Ibernon Maia


Universidade Federal do Amazonas, Manaus, manasses@ufam.edu.br

Consuelo Alves da Frota


Universidade Federal do Amazonas, Manaus, cafrota@ufam.edu.br

RESUMO: O sistema rodoviário é o mais expressivo modal viário empregado no Brasil, sendo de
vital importância tanto no transporte de cargas quanto para o deslocamento da população, em todas
as regiões do país. Para que haja um bom funcionamento dessa modalidade de transporte, é
imprescindível que as estradas possibilitem tal mobilidade com adequada qualidade. Uma das
soluções que ajudam a viabilizar tais condições é o reforço das subcamadas com geossintéticos,
materiais de origem polimérica que possuem alta resistência e baixa deformabilidade. Assim sendo,
estudou-se o emprego da geogrelha MacGrid® NET, em contato com o solo característico da
cidade de Manaus, para o emprego em subcamadas de pavimentos regionais. Realizaram-se ensaios
para obtenção do limite de liquidez, limite de plasticidade, granulometria, massa especifica dos
grãos, parâmetros de compactação e a resistência à compressão simples (RCS). Os resultados da
caracterização física do solo indicaram: a) material fino, com 68,49% de argila; b) massa especifica
dos grãos de 2,6 g/cm³; c) valores dos limites de Atterberg iguais a 60,97% e 42,42%, para o limite
de liquidez e plasticidade, respectivamente; e d) umidade ótima de 32,12% e massa específica
aparente seca máxima igual a 1,42 g/cm³. O desempenho mecânico dos corpos de prova com a
inserção do geossintético, entre as camadas, mostrou maiores valores da RCS relativo à condição
natural (condição 1).

PALAVRAS-CHAVE: Resistência à compressão simples, geossintético, subcamadas, geogrelha


MacGrid.

ABSTRACT: The road system is the most expressive modal road used in Brazil, being of vital
importance in both the transportation of loads and the displacement of the population, in all regions
of the country. In order for this mode of transport to function properly, it is imperative that roads
provide such mobility with adequate quality. One of the solutions that help to make these conditions
feasible is the reinforcement of the sub-layers with geosynthetics, materials of polymer origin that
have high resistance and low deformability. Thus, the use of the MacGrid® NET geogrid, in contact
with the characteristic soil of the city of Manaus, was studied for use in sub-layers of regional
pavements. Tests were carried out to obtain the liquidity limit, plasticity limit, grain size, specific
gravity, compaction parameters and the unconfined compression test (UCT). The results of the soil
physical characterization indicated: a) fine material, with 68.49% of clay; b) specific gravity of 2.6
g/cm³; c) values of the Atterberg limits equal to 60.97% and 42.42%, respectively; and d) optimum
moisture content of 32.12% and maximum dry unit weight equal to 1.42 g/cm³. The mechanical

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381
performance of the specimens with the insertion of the geosynthetic, between the layers, showed
higher values of the UCT relative to the natural condition (condition 1).

KEY WORDS: Unconfined compression test, geosynthetic, sublayers, MacGrid geogrid.

1 INTRODUÇÃO de ferro, as subcamadas do pavimento. A partir


da década de 60, houve uma evolução para o
O uso de geossintéticos, pode ser designado uso de aço galvanizado, formando um
como um produto plano fabricado a partir de verdadeiro “solo armado” e, mais recentemente,
materiais poliméricos (sintéticos ou naturais), a utilização de geossintéticos, que oferecem
que tem ocupado cada vez espaço no âmbito da grande durabilidade e resistência, além de
Engenharia Geotécnica. Dependendo do apresentar uma boa relação custo x benefício.
objetivo a ser desempenhado na obra, diferentes Desta forma, a pesquisa em pauta estudou o
propriedades são requeridas desses materiais, comportamento mecânico do solo argiloso
como reforço, drenagem e controle de erosão. caraterístico de Manaus e seu desempenho em
O presente trabalho fez uso de geogrelha, contato com a geogrelha MacNet®, visando o
que, segundo Antunes (2008), é um tipo de seu emprego em subcamadas de pavimentos
geossintético flexível formado por uma rede regionais, tendo em vista as deficiências, em
regular de elementos tensionados, tendo regra, mostradas por esse solo superficial.
aberturas de tamanho suficiente para entrelaçar- Realizaram-se ensaios de caracterização física
se com o material de enchimento circundante, dos materiais, moldagem de corpos de prova
com função predominante de reforço. segundo os parâmetros de compactação, bem
Um sistema rodoviário mostra-se vital, tanto como testes mecânicos com a finalidade de
para o transporte de cargas quanto para o entender o desempenho frente à solicitação de
deslocamento de pessoas. Visando o seu bom carregamentos.
funcionamento, é imprescindível que as
estradas tenham padrão de qualidade. No
entanto, não é isso que se observa na pesquisa 2 MATERIAL E MÉTODOS
da Confederação Nacional dos Transportes
(2016). No caso do Estado do Amazonas, ela 2.1 Solo Argiloso
aponta que 96% das rodovias são classificadas
como péssimas, ruins ou regulares, sendo um Coletou-se o solo argiloso, utilizado na
dos fatores limitantes ao desenvolvimento dessa pesquisa, próximo ao Instituto de Ciências
região. Humanas e Letras (ICHL), situado no Campus
Para mudar essa realidade, faz-se necessário Universitário da Universidade Federal do
investimentos na construção de pavimentos, ou Amazonas (UFAM), no bairro Coroado.
seja, na estrutura como um todo, do Procurou-se selecionar um solo argiloso típico
revestimento as subcamadas. Referente aos da camada superficial do subsolo de Manaus,
pavimentos de Manaus, Ferreira (2007) destaca que, em regra, é empregado na construção de
a sua precariedade associada também à falta de pavimentos e obras geotécnicas. Ressalta-se que
um tratamento adequado nas bases e sub-bases o mencionado local, onde se obteve o material,
(subcamadas). era um canteiro de obra para a construção de
Nesse contexto, uma das soluções utilizadas blocos de sala de aula da UFAM.
na Engenharia, para solucionar a inadequada
falta de suporte das subcamadas, consiste no 2.2 Caracterização do Geossintético
emprego do denominado “solo reforçado”. Tal
concepção teve início na década de 20, com as O geossintético MacGrid® NET (Tabela 1), foi
construções executadas pelo Departamento de doado pela empresa Maccaferri® Latin
Estradas da Carolina do Sul (Estados Unidos), America na forma de uma manta com
que adicionava materiais variados, como telas comprimento de 50 metros, peso líquido de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

382
21,00 kg e peso bruto 22,4 kg. Segundo o citado inicial do solo, e classificá-lo segundo a
fabricante, é um tecido técnico, produzido a engenharia geotécnica.
partir de filamentos de poliéster de alta Por último, analisou-se o solo quanto aos
tenacidade que, com baixos valores de seus parâmetros de compactação na energia
alongamento, mobiliza elevada resistência à intermediária, de acordo com a norma NBR
tração (Figura 1). 7182 (2016), que possibilita ter-se a massa
específica aparente seca máxima (ρdmax) e a
Tabela 1: Propriedades da geogrelha MacNet®. umidade ótima (wot).
Propriedades
mecânicas
2.4 Comportamento Mecânico
Resistência kN/m ASTM D 6637 45.0
longitudinal à
tração última Na execução dos ensaios de Resistência à
Resistência kN/m ASTM D 6637 45.0 Compressão Simples, acompanhou-se a NBR
transversal à tração 12770/92. Moldaram-se os corpos de prova
última (CP) conforme os parâmetros de compactação
Alongamento na % ASTM D 6637 35.0
resistência à tração determinados, e de acordo com a disposição (4
última condições) das camadas de solo e a presença da
Resistência ao kN ASTM D 6241 3.40 geogrelha mostrado na Figura 10. Portanto: a)
puncionamento condição 1, CP composto somente com solo; b)
CBR condição 2, CP de solo com a geogrelha
Resistência ao kN ASTM D 4533 1.70
rasgo trapezoidal
MacGrid® NET na interface entre as camadas
Propriedades 2-3, c) condição 3, CP com solo e a geogrelha
físicas entre as camadas 1-2, bem como na interface
Gramatura g/m2 ASTM D 5261 200 das camadas 2-3; d) condição 4, CP com solo e
Espessura mm ASTM D 6525 0.50 a presença da geogrelha entre a camada 1-2, 2-
Propriedades 3, e 3-4 (Figura 2).
hidráulicas
Permissividade s ASTM D 4491 0.70
Permeabilidade cm/s ASTM D 4491 0.04
Fonte: Catálogo Maccaferri® (2017).

Figura 1: Detalhe da abertura da geogrelha e grumo do


solo argiloso. Fonte: O autor.

2.3 Caracterização Física do Solo Figura 2: Condições dos corpos de prova para o ensaio de
RCS. Fonte: O autor.
Iniciou-se a preparação do solo com base nas
recomendações da norma NBR 6457 (2016), 2.5 Moldagem dos Corpos de Prova
que trata de amostras para ensaios de
caracterização e de compactação. Na sequência Inicialmente homogeneizou-se o solo com a
realizou-se os seguintes experimentos: adição de água para que atingisse a condição de
granulometria (NBR 7181, 2016), limite de umidade ótima. Em seguida, verteu-se essas
liquidez (NBR 6459, 2016), limite de misturas em camadas, segundo os parâmetros
plasticidade (NBR 7180, 2016), e massa de compactação obtidos, bem como introduziu-
específica dos grãos (NBR 6508, 1984). Tais se a geogrelha, resultando no corpo de prova
ensaios buscam entender o comportamento para o ensaio mecânico.

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383
Os corpos de prova foram moldados 3 RESULTADOS
aplicando-se o mesmo número de golpes para
cada camada referente à energia intermediaria, Os resultados da caracterização física
ou controlando-se as alturas e as massas apontaram: limite de liquidez (LL) de 60,97% e
determinada pela equação (1), caso do corpo de limite de plasticidade (LP) de 42,42%.
prova alusivo à condição 4. Calculando-se, assim, o Índice de plasticidade
(IP) igual a 18,55%. Segundo DAS (2011)
M  d max .1  wot . GC.V (1) indica um solo de média plasticidade. A
granulometria qualificou o solo como uma
Onde: argila areno siltosa.
O conjunto desses dados tipifica o solo “in
M = massa a ser compactada (g); natura”, segundo o Sistema Unificado de
GC = grau de compactação (100%); Classificação dos Solos (SUCS) e a American
dmax = massa específica aparente seca máxima Association of State Highway and
(g/cm3); Transportation Officials (AASHTO), como MH
wot = umidade ótima (%); (silte inorgânica de alta plasticidade) e A-7-5
V = volume da camada a compactar. (solo argiloso com alta plasticidade) (DAS,
2011). Tais resultados também mostraram o
2.6 Execução do Ensaio de Resistência à material natural como inadequado para
Compressão Simples utilização em subcamadas de pavimento (DAS,
2011). Igualmente, se determinou o valor de
Na sequência executaram-se os ensaios de 2,59 g/cm³ para a massa especifica dos grãos.
resistência à compressão simples na Universal Quanto aos parâmetros de compactação
Test Machine 14, com o auxílio do software calculados na energia intermediária, obteve-se
UTS002 3.13b. Obteve-se, ao final do os valores de umidade ótima e massa específica
experimento, a força máxima de ruptura. De aparente seca máxima iguais a 32,13% e 1,44
posse deste valor, determinou-se os valores da g/cm³, respectivamente (Gráfico 1).
RCS. Na Figura 3 mostram-se detalhes da
execução do citado teste no Laboratório de Gráfico 1: Curva de compactação. Fonte: O autor.
Mecânica do Solos do Grupo de pesquisa em
Geotecnia da UFAM.

Tem-se na Tabela 2, os dados do


comportamento mecânico a partir do acréscimo
sucessivo da geogrelha. Verificou-se que a
inserção do geossintético em quatro camadas
(CP4), resultou em valores da RCS maiores
respeitante à condição 1. Ressalta-se que
comparando a RCS da condição referência (1)
Figura 3: Ensaio de Resistência à Compressão Simples alusivo à condição 3, observou-se um valor
em andamento na UTM. Fonte: O autor. expressivo igual a 61,65%.

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384
Tabela 2: Resultados do Ensaio de Resistência à análises dos resultados permitem concluir os
Compressão Simples. seguintes pontos:
Condição 1 2 3 4
a) Quanto a caracterização geotécnica, os
wcp (%) 31,56 31,74 31,44 31,69
RCS (kPa) 474,54 722,09 767,10 750,39 resultados mostraram um solo natural com
predominância de finos, notadamente na fração
argila, e tendo média plasticidade. Segundo a
4 DISCUSSÃO literatura, tais características classificaram o
material como inadequado para uso em base de
Por meio de pesquisa bibliográfica sobre pavimentos.
trabalhos similares, verificou-se que os b) Os parâmetros advindos dos ensaios de
resultados obtidos no estudo em pauta compactação apresentaram um solo com alta
corroboram com os dados apresentados na umidade ótima, típico dos solos argilosos.
literatura. Oliveira (2016) pesquisou a c) O reforço do solo com geogrelha por se
caracterização do comportamento mecânico de tratar de um processo físico, não altera as
solos típicos da região do Alto Paraopeba propriedades físico-químicas do solo natural.
(MG), reforçados com geotêxtil não-tecido. A d) Os ensaios mecânicos comprovaram que a
pesquisa envolveu a realização de ensaios de adição da geogrelha MacNet® Grid acarretou
resistência à compressão simples (RCS), benefícios quanto ao comportamento mecânico
considerando-se as condições reforçada e não- mostrado pela RCS.
reforçada, segundo as energias Normal, Pelo exposto, constata-se que a utilização de
Intermediaria e Modificada. Seus resultados geossintéticos é uma alternativa viável para a
mostraram que, o incremento do geotêxtil não- construção de subcamadas de pavimentos de
tecido proporcionou o acréscimo da RCS em Manaus.
18%, 16% e 38% de acordo com o aumento da
energia de compactação.
De forma similar, Simões (2017) descreve REFERÊNCIAS
que o incremento de geogrelhas com aberturas
ANTUNES, L. G. S. Reforço de Pavimentos Rodoviários
diferentes acarretou no aumento do valor de com Geossintéticos. (2008). Dissertação de Mestrado,
RCS para um solo típico de Campinas. Usou Publicação G.DM- 166/08, Departamento de
geogrelhas tecidas, que propiciou um acréscimo Engenharia Civil, Universidade de Brasília, Brasília,
da RCS na faixa de 28% a 40%, para uma única DF, 158p.
camada do geossintético, e entre 40% a 60% no ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS - ABNT. NBR 6457: Amostras de Solo –
caso de duas camadas. preparação para ensaios de compactação e ensaios de
Pelo exposto, destaca-se que o trabalho em caracterização. Rio de Janeiro, 2016.
pauta seguiu o padrão encontrado em outras ______. NBR 6459: Solo – determinação do limite de
pesquisas, bem como, que a presença da liquidez. Rio de Janeiro, 1984.
geogrelha MacNet® Grid contígua ao solo ______. NBR 6508: Determinação da massa específica,
da massa específica aparente e da absorção de água.
argiloso de Manaus apresentou ganhos Rio de Janeiro, 1984.
significativo na Resistência à Compressão ______. NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
Simples (RCS), comprovando a sua viabilidade plasticidade. Rio de Janeiro, 1984.
técnica. ______. NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio
de Janeiro, 1984.
______. NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação. Rio
de Janeiro, 1984.
4 CONCLUSÕES ______. NBR 12770: Solo coesivo – Determinação da
resistência à compressão não confinada. Rio de
O presente trabalho teve como objetivo Janeiro, 1992.
principal estudar a participação da geogrelha DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 7ª
Edição. Tradução All Tasks – São Paulo: Thomson
MacNet® Grid, tendo como material adjacente Learning. 2011.
o solo argiloso típico da cidade de Manaus, com DNIT. Manual de Pavimentação. 3. ed. Rio de Janeiro,
a finalidade de viabilizá-lo tecnicamente para o 2006.
uso em base de pavimentos. Desta forma, as FERREIRA, J. A. Z. Estudo De Reforço De Pavimentos

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

385
Com Ensaios De Arracamento Em Equipamentos De
Pequenas Dimensões. 2007, Dissertação de Mestrado,
Departamento de Engenharia Civil, Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São
Paulo.
GONÇALVES, F. P. Os desempenhos de pavimentos
flexíveis. 1999.
RELATÓRIO GERENCIAL. Pesquisa CNT de rodovias
2016. – 20.ed. – Brasília: CNT : SEST : SENAT,
2016
SIMÕES, L. M. Avaliação laboratorial da resistência a
compressão de estruturas em solo reforçado com
geossitntético. 1º amostra de talentos da Graduação:
Inovação, criatividade e excelência de produção de
TCC. Campinas: PUC, 2017.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Aplicação de geossintético como reforço de estrada não


pavimentada sobre subleito com bolsão compressível
Tamyres Karla da Silva
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, tamyreskarla@gmail.com

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: A presença de bolsões compressíveis no interior de subleitos de aterros rodoviários pode


levar à ruptura localizada, o desenvolvimento de recalques diferenciais e elevar a degradação
superficial. Devido à dificuldade de localização destes bolsões em áreas de risco surge a
necessidade de se utilizar algum reforço na estrutura de modo a evitar a propagação das
deformações para a superfície. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar experimentalmente o
comportamento de estrada não pavimentada reforçada com geogrelha sobre subleito com bolsão
compressível de 18 cm de diâmetro e 10 cm de altura, localizado no eixo de carregamento. Foram
realizados três ensaios de carregamento cíclico para simulação do tráfego, quais sejam, ensaios sem
reforço e sem bolsão, sem reforço e com bolsão e com reforço e com bolsão compressível. O
critério de término dos ensaios foi o afundamento de 75 mm da placa de carregamento. Os
resultados mostraram que a presença do bolsão compressível no subleito provocou uma redução de
99% na vida útil da estrada, reduzindo de 270.000 para 2.307 ciclos de carregamento suportados.
Na presença do reforço geossintético ocorreu um aumento no número de ciclos de carregamento em
52,3 vezes, totalizando 120.692 ciclos. Em termos de tensões transferidas ao subleito foi observada
a ativação do efeito membrana, devido à interação solo-geossintético e a ocorrência do
deslocamento localizado. O emprego da geogrelha como reforço na presença de bolsão
compressível no subleito prolongou a vida útil da estrada, o que na prática possibilita ações de
manutenção em intervalos maiores de tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Estradas não Pavimentadas, Reforço Geossintético, Bolsão Compressível.

ABSTRACT: The presence of localized compressible region (LCR) in the subgrade can lead to
localized ruptures, developing differential settlements and increase the surface degradation. Due to
the difficulty to locate these LCRs in areas of risk, it is necessary to use some reinforcement in the
structure in order to avoid the propagation of the deformations to the surface. The present research
aimed to evaluate experimentally the performance of unpaved road reinforced with geogrid on a
subgrade with LCR of 18 cm in diameter and 10 cm in height, located in the axis of loading. Three
cyclic load tests were performed to simulate the traffic, namely, without the LCR without
reinforcement, with the LCR and without reinforcement and with the LCR with reinforcement. The
criteria adopted to finish the tests were the sinking of 75 mm of the loading plate. The results
showed that the presence of the LCR on the subgrade caused a reduction of up to 99% in the road
service life, reducing from 270.000 to 2.307 supported loading cycles. When inserting the
geosynthetic reinforcement there was an increase in the number of loading cycles in 52,3 times,
resulting in 120.692 cycles. In terms of tensions transferred to the subgrade, the activation of the
membrane effect was observed due to the soil-geosynthetic interaction and the occurrence of
localized displacement. The use of the geogrid as a reinforcement in the presence of a LCR in the
subgrade extend the road service life, which, for real conditions, allows maintenance at longer
intervals.

KEY WORDS: Unpaved Road, Geosynthetic Reinforcement, Localized Compressible Region.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

387
1 INTRODUÇÃO superfície. Em consequência, há um déficit de
estudos envolvendo carregamento constante e
Além dos problemas que frequentemente cíclico sobre cavidades/bolsões compressíveis
afetam o desempenho de estradas não no solo, condição da presente pesquisa.
pavimentadas, citados por Baesso & Gonçalves Este trabalho visou estudar a aplicação de
(2003), quais sejam, seção transversal geossintético, em especial uma geogrelha, como
imprópria, drenagem inadequada, corrugações, elemento de reforço de uma estrada não
trilhas de roda, segregação, excesso de pó na pavimentada, na presença de um bolsão de solo
pista e buracos, Giroud et al. (1990) destaca compressível no subleito, com o objetivo de
também a presença de bolsões compressíveis aumentar a vida útil da estrada, reduzir as
(heterogeneidade) ou cavidades (vazios) no deformações superficiais e, consequentemente,
subleito. Estes bolsões levam a rupturas diminuir os custos de manutenção
localizadas, provocando recalques diferenciais
da via e acelerando sua degradação. Segundo
Giroud et al. (1990), o recalque diferencial 2 MATERIAL E MÉTODO
devido a lentes de solos compressíveis ocorre
frequentemente sob aterros rodoviários. 2.1 Materiais
Devido às dificuldades de localização de
bolsões compressíveis ou cavidades em áreas de No presente trabalho foi estudado,
risco, surge a necessidade de utilizar algum tipo experimentalmente, o comportamento de
de reforço na construção de rodovias ou linhas estradas não pavimentadas para três
férreas, a fim de evitar a propagação da configurações distintas: configuração
deformação na superfície causada pela ruptura convencional de uma estrada não pavimentada,
da área acima do bolsão. A aplicação de sem a presença de um bolsão compressível e
geossintéticos, em uma ou mais camadas, é uma sem reforço geossintético; com a presença de
solução de reforço atrativa por ser de fácil um bolsão compressível e sem reforço; e com a
implantação e baixo custo (Villard & Briançon, presença do bolsão compressível e o reforço
2008). geossintético.
Diversos pesquisadores estudaram a Para simulação do comportamento de uma
utilização de geossintéticos sobre cavidades em estrada não pavimentada reforçada com
solos, dentre eles, Giroud et al. (1988), Giroud geogrelha, na presença do bolsão compressível,
et al. (1990), Villard & Briançon (2008), foi adotado o perfil transversal apresentado na
Tahmasebipoor et al. (2012), Feng & Lu Figura 1.
(2015), Huckert et al. (2015), Villard et al.
(2016) e Tano et al. (2018). Ressalta-se que o
emprego do termo cavidade nesses estudos
equivale ao momento de ruptura do bolsão
compressível. De modo geral os estudos
abordaram os efeitos no dimensionamento da
estrutura em função das propriedades físicas e
mecânicas dos geossintéticos e do solo;
diâmetro, quantidade e distância entre
cavidades; altura da camada superior ao
reforço; e tensão e atrito na interface solo-
geossintético. No estudo de Huckert et al.
(2015) o emprego do reforço geossintético Figura 1: Perfil transversal da estrada não pavimentada
reduziu as deflexões na superfície, além de estudada.
impedir o colapso da estrutura. Observa-se, no
entanto, que as considerações de carregamento No subleito, com espessura de 30 cm, foi
impostas aos sistemas foram adotadas como emprega uma areia seca, de granulometria fina
constantes e uniformemente distribuídos na à média, uniforme e mal graduada. Para o

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388
aterro, cuja espessura foi de 22 cm, adotou-se a Foram realizados três ensaios de carregamento
Brita 1, de origem calcária. A simulação do cíclico para avaliação do comportamento da
bolsão no subleito se deu pelo emprego de uma estrada não pavimentada. Na Tabela 1
espuma cilíndrica, com altura de 10 cm e encontram-se as nomeclaturas adotadas para os
diâmetro de 18 cm, alinhada com o eixo de ensaios.
carregamento. Por fim, o reforço geossintético
empregado foi uma geogrelha biaxial, flexível e Tabela 1: Identificação e descrição dos ensaios
especificamente desenvolvida para reforço de realizados.
base e sub-base de pavimentos. A rigidez à Identificação Descrição do ensaio
tração secante média a 5 % de deformação, SR-SE Sem reforço e sem espuma
obtida conforme ABNT (2013), foi de 685 Sem reforço, com espuma de 18 cm
SR-CE-18
de diâmetro
kN/m. Já sua malha possui abertura equivalente
Com reforço, com espuma de 18 cm
de 35,5 mm. CR-CE-18
de diâmetro

2.2 Equipamento O critério de interrupção do ensaio foi


determinado conforme Giroud & Han (2004).
Os ensaios de carregamento cíclico, que Segundo estes autores admite-se 75 mm como
visaram a simulação da ação do tráfego em afundamento máximo permitido da trilha de
estradas não pavimentadas, foram realizadas em roda para estradas não pavimentadas. Sendo
um equipamento de grandes dimensões. Este assim, os ensaios foram finalizados quando a
consiste em um tanque cilíndrico de concreto placa de carregamento atingiu o afundamento
armado com diâmetro interno de 1,00 m e de 75 mm.
altura de 0,52 m e uma estrutura de reação, Previamente à montagem dos ensaios foram
conforme Figura 2. colocadas duas camadas de lona plástica,
intercaladas com vaselina, para redução do
atrito lateral entre a parede interna do tanque e
os agregados utilizados.
A areia, empregada como material de
subleito, foi disposta de modo a representar o
estado denso de compactação, com
compacidade relativa média de 70 %. Para esta
compacidade o peso específico médio obtido foi
de 16,7 kN/m3. No interior do subleito foram
instaladas células de tensão total nas
profundidades de 5 cm e 10 cm e distantes 5 cm
da borda da placa de carregamento (Figura 1),
para aferição das tensões transferidas no interior
da camada. Estas células são do tipo diafragma,
com diâmetro de 75 mm, com capacidade
máxima de 300 kPa e acurácia de 1%.
Figura 2: Equipamento de ensaio de carregamento Nos ensaios onde foi simulada a presença do
cíclico.
bolsão compressível, a espuma foi posicionada
A aplicação do carregamento ocorreu por um no eixo de aplicação do carregamento de modo
cilíndrico hidráulico, acoplado à estrutura, uma que sua superfície localizou-se na interface
célula de carga e uma placa rígida com 0,18 m subleito-aterro. A compressibilidade da espuma
diâmetro para representar o contato entre o pneu foi avaliada por meio do ensaio de compressão
e a pista. adaptado, de modo a obter o seu
comportamento tensão-deformação, como pode
2.3 Montagem e execução do ensaio de ser observado na Figura 3. Este ensaio foi
carregamento cíclico executado acrescentando-se as cargas
manualmente devido à falta de sensibilidade

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389
dos equipamentos de compressão, pelo fato de a de monitorar o deslocamento vertical da placa
espuma ser altamente deformável se comparada de carregamento e da superfície do aterro. Dois
a amostras de solo. medidores foram situados na borda da placa de
carregamento e os demais distanciados em 14
20 cm, 19 cm e 31 cm do centro da placa, todos
18 alinhados com o eixo de carregamento. Para
16
14
aferição da carga aplicada no ensaio, empregou-
se uma célula de carga alinhada com o cilindro
Pressão (kPa)

12
10 hidráulico e centralizada na placa de
8
6
carregamento.
4 Para simulação da ação do tráfego de eixo-
2 padrão o conjunto motor-bomba foi configurado
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
para aplicar o carregamento de 14,3 kN,
Deformação vertical (%) correspondente à pressão de 560 kPa, numa
Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 frequência 1 Hz.
Figura 3: Avaliação da compressibilidade da espuma. Durante os ensaios foram registradas as
leituras analógicas da instrumentação, quais
O reforço geossintético foi instalado entre as sejam, células de tensão total, célula de carga e
camadas do subleito e do aterro. A amostra de transdutores de deslocamento linear, e estas
geogrelha possuiu diâmetro de 1,50 m, leituras foram convertidas em digitais através
suficiente para ancoragem no interior do aterro, do sistema de aquisição de dados. O software
uma vez que o tanque possui diâmetro interno empregado foi o AqDados 7 para aquisição e
de 1,00 m. procesamento dos sinais da instrumentação.
A camada de base, onde empregou-se como
material a Brita 1, foi compactada estaticamente 2.4 Determinação do fator de eficiência
de modo a atingir uma compacidade relativa de
95% e peso específico médio de 16,4 kN/m3. O fator de eficiência (TBR, Traffic Benefit
Devido à pressão de aproximandamente 3,6 kPa Ratio) foi determinado para avaliar a eficiência
exercida pela camada de base ocorre do geossintético na função de reforço. De
inicialmente uma deformação vertical da acordo com Perkins & Ismeisk (1997), este
espuma de cerca de 3,5 cm, conforme fator é definido como a razão entre o número de
comportamento tensão-deformação apresentado repetições de carga (N r ) necessário para atingir
na Figura 3. um determinado afundamento na estrada
Após a montagem da estrada não reforçada e o número de repetições para se
pavimentada procedeu-se com a instalação da atingir o mesmo afundamanto na estrada não
instrumentação superficial, apresentada na reforçada (N u ), conforme Equação 1. Para o
Figura 4. presente estudo, como já informado, adotou-se
o afundamento de 75 mm.

Nr
TBR = (1)
Nu

2.5 Determinação do ângulo de espraiamento

Ao final dos ensaios foi calculado o ângulo de


espraiamento para avaliar a influência do
reforço na propagação de tensões para o
Figura 4: Localização da instrumentação superficial. subleito da estrada. O ângulo foi estimado
medindo-se o raio da área deformada na
Conforme observado, foram posicionados 5 superfície do subleito. Dispondo-se desta
medidores de deslocamento, com a finalidade medida e da altura da camada de aterro foi

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390
possível estimar o ângulo do tronco de cone 75
70
para a situação sem reforço (β’) e com reforço 65
60
(β”). Na Figura 5, observa-se o mecanismo de

Deslocamento (mm)
55
50
propagação de tensões no interior de uma 45
estrada devido ao carregamento externo, para as 40
35
configurações sem reforço e reforçada. 30
25
20
15
10
5
0
0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000
Número de ciclos (N)
SR-SE SR-CE-18 CR-CE-18

Figura 6: Deslocamentos verticais da placa de


carregamento versus o número de ciclos de carga para as
configurações de ensaios estudadas.

Ao analisar os perfis de deslocamento


superficial das três configurações estudadas,
Figura 7, observa-se que o perfil para a
configuração sem reforço e com a espuma
Figura 5: Representação do espraiamento de tensões
numa estrada não pavimentada para configurações apresentou um afundamento mais íngreme,
reforçada e não reforçada (modificado – Antunes, 2008). indicando uma deformação mais localizada na
estrada. Ao inserir o reforço, nota-se uma bacia
de deformação superficial menos acentuada nas
3 RESULTADOS proximidades da placa devido ao aumento da
capacidade de suporte promovido pelo reforço.
3.1 Análise dos deslocamentos
Distância do centro da placa (cm)
5 10 15 20 25 30 35
Por meio da instalação dos medidores de -10
deslocamento linear foram registrados os 0
Deslocamento (mm)

deslocamento verticais, tanto da placa de 10


carregamento quanto na sua adjacência, para 20
avaliação do afundamento da placa e do perfil 30
de deslocamento superficial da estrada. 40
Na Figura 6 pode-se observar o 50

comportamento do afundamento da placa de 60


70
carregamento para cada configuração de estrada
80
não pavimentada estudada. Nota-se que para a SR-SE SR-CE-18 CR-CE-18
configuração usual, ou seja, sem a presença do Figura 7: Perfis de deslocamentos verticais na superfície
reforço e do bolsão compressível, o do aterro para as configurações de ensaios estudadas.
afundamento máximo foi atingido para 270.000
ciclos de carregamento. Ao inserir o bolsão 3.2 Análise das tensões totais no subleito
compressível de 18 cm de diâmetro no interior
do subleito a vida útil da estrada reduziu em Na Figura 8 são apresentadas as tensões totais
99%, resultando em 2.307 ciclos, para o mesmo máximas obtidas durante os ensaios de
afundamento. No entanto, ao utilizar o carregamento cíclico. As tensões foram
geogrelha com reforço, para a configuração medidas nas profundidades de 5 cm e 10 cm da
com o bolsão compressível, verifica-se que superfície do subleito e na distância de 5 cm da
houve um aumento no número de ciclos borda da placa de carregamento. Pelo fato de a
suportados pela estrada, chegando a 120.692 espuma possuir o mesmo diâmetro da placa,
ciclos de carregamento. manteve-se a mesma localização das células de
tensão total para as três configurações de

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391
ensaio. de espraiamento. Este aumento ocorreu devido
Comparando-se os resultados com a ao fato de a geogrelha melhorar a distribuição
configuração sem reforço e sem espuma de tensões para o subleito.
observa-se que ocorreu um aumento no níveis
de tensões para as demais configurações, Tabela 2. Valores dos ângulos de espraiamento medidos
tornando-se mais evidente na profundidade de no ensaios.
10 cm. Esse aumento nas tensões deveu-se ao Ensaio Ângulo de espraiamento β (grau)
fato que a presença do bolsão levou à uma SR-SE 11
alteração na distribuição de tensões nas SR-CE-18 16
adjacências, visto que a espuma e o subleito CR-CE-18 29
possuem rigidez diferentes. Ao analisar os
resultados para configuração reforçada, na
presença do bolsão, ocorreu um aumento ainda 4 DISCUSSÃO
maior nos níveis de tensões, justificado pela
ativação do efeito membrana. O emprego da geogrelha como reforço da
estrada não pavimentada, na presença de um
Tensão Total Máxima (kPa)
bolsão compressível no subleito, proporcionou
22 24 26 28 30 32 34
0
uma melhora no desempenho estrutural da
estrada. Este fato é observado no aumento no
Profundidade no subleito (cm)

1
2 número de ciclos de carregamento suportados,
3
4
de 2.307 para 120.692, e no aumento da
5 capacidade de suporte, que refletiu numa bacia
6 de deformação superficial menos acentuada nas
7
8 proximidades da placa de carregamento.
9 Os resultados apresentados, em termos de
10 tensões transferidas ao subleito, mostraram um
11
12 aumento nos valores de tensões ao inserir a
SR-SE SR-CE-18 CR-CE-18 espuma no subleito, principalmente para a
Figura 8: Tensões totais transferidas ao subleito a 5 cm situação reforçada na qual ocorreu um aumento
da borda da placa de carregamento versus profundidade. de 44% na profundidade de 10 cm. Esse
aumento foi atribuído à ativação do efeito
3.3 Fator de eficiência membrana. De acordo com Burd (1995) e
Giroud & Han (2004), para haver a ativação do
Dispondo-se dos números de ciclos de efeito membrana é necessário que hajam
carregamentos atingidos até se obter o grandes deformações no eixo de carregamento.
afundamento de 75 mm da placa de A ativação deste efeito promove uma redução
carregamento e da Equação 1 pôde-se calcular o nas tensões transferidas logo abaixo da área
fator de eficiência do reforço para a carregada e fora desta área a membrana
configuração reforçada e com a presença do tracionada pelo soerguimento do solo (efeito
bolsão compressível. O TBR calculado foi de dilatância) pressiona para baixo a região do
52,3, o que na prática indica uma vida útil 52,3 subleito e consequentemente proporciona um
vezes maior da estrada na presença de bolsão aumento nas tensões verticais transferidas.
compressível, quando é empregada a geogrelha O fator de eficiência de 52,3 representa,
como reforço. numericamente, o ganho de desempenho da
estrada estudada. Esse ganho deve-se,
3.4 Ângulo de espraiamento de tensões principalmente, a três mecanismos citados por
Perkins & Ismeik (1997): ativação do efeito
Na Tabela 2 encontram-se os resultados obtidos membrana, restrição à movimentação lateral e
para o ângulo de espraiamento de tensões. Ao aumento na capacidade de carga. Dessa forma,
inserir o reforço na configuração com espuma pode-se concluir que houve uma boa interação
observa-se um aumento considerável no ângulo entre o material de aterro e o geossintético

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

392
empregado. Giroud, J. & Han, J. (2004). Design method for Geogrid-
Reinforced unpaved roads. I. Development of Design
Method. ASCE Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, v. 130, n. 8, p. 775-
5 CONCLUSÃO 786.
Huckert, A.; Briançon, L.; Villard, P.; Garcin, P. (2015).
No presente trabalho, o emprego da geogrelha Load transfer mechanisms in geotextile-reinforced
como reforço de estrada não pavimentadas embankments overlying voids: Experimental and
analytical approaches. Geotextiles and
mostrou-se eficiente mesmo na presença de um Geomembranes, v. 44, n. 3, p. 442-456.
bolsão compressível no interior do subleito, Perkins, S.W. & Ismeik, M. (1997). A Synthesis and
conforme observado nos resultados Evaluation of Geosynthetic Reinforced Base Layers in
apresentados. Flexible Pavements: Part 1. Geosynthetics
A inserção do reforço, na presença do International, v. 4, n.6, p. 549-604.
Tahmasebipoor, A.; Noorzad, R.; Shooshpasha, E.;
bolsão, proporcionou um ganho estrutural para Barari, A. (2012). A parametric study of stability of
a estrada, prolongando em aproximadamente 52 geotextile-reinforced soil above an underground
vezes o número de ciclos de carregamento cavity. Arab J Geosci, v. 5, p. 449-456.
suportados, quando comparado com a situação Tano, B. F. G.; Stoltz, G.; Coulibaly, S. S.; Bruhier, J.;
não reforçada, para um deslocamento Dias, D.; Olivier, F.; Touze-Fouze, N. (2018). Large-
scale tests to assess the efficiency of a geosynthetic
referencial de 75 mm da placa de carregamento. reinforcement over a cavity. Geosynthetics
Além disto, a atuação do reforço resultou numa International, v. 25, n. 2, p. 242-258.
bacia de deslocamentos mais suave nas Villard, P., Briançon, L. (2008). Design of geosynthetic
proximidades do eixo de carregamento, reinforcements for platforms subjected to localized
melhorando o conforto do usuário e reduzindo sinkholes. Canadian Geotechnical Journal, v. 45, n. 2,
p. 196-209.
os efeitos de degradação superficial da via pela Villard, P.; Huckert, A.; Briançon, L. (2016). Load
ação do tráfego e clima. transfer mechanisms in geotextile-reinforced
embankments overlying voids: Numerical approach
and design. Geotextiles and Geomembranes, v. 44, p.
REFERÊNCIAS 381-395.

ABNT (2013). NBR 10319: Geossintéticos – Ensaio de


tração faixa larga. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, 6 p.
Antunes, L. G. S. (2008). Reforço de Pavimentos
Rodoviários com Geossintéticos. Dissertação de
Mestrado, Universidade de Brasília. Brasília, DF, 158
p.
Baesso, D. P, Gonçalves, F. L. (2003). Estradas Rurais:
Técnicas Adequadas de Manutenção. Manual
Técnico, Florianópolis, 236 p.
Burd, H. J. (1995). Analysis of Membrane Action in
Reinforced Unpaved Roads. Canadian Geotechnical
Journal, v. 32, p. 946-956.
Feng, S-J. & Lu, S-F. (2015). Deformation analysis of a
geosynthetic material subjected to two adjacent voids.
Geotextiles and Geomembranes, v. 43, n. 4, p. 317-
331.
Giroud, J. P., Bonaparte, R., Beech, J. F. & Gross, B. A.
(1988). Load carrying capacity of a soil layer
supported by a geosynthetic located on a void. In
Proceedings of the International Geotechnical
Symposium on Theory and Practice of Earth
Reinforcement, Fukuoka/Kyushu, Japan. Balkema,
Rotterdam, p. 185-90.
Giroud, J.P., Bonaparte, R., Beech, J.F. & Gross, B.A.
(1990). Design of soil layer-geosynthetic systems
overlying voids. Geotextiles and Geomembranes, v. 9,
p. 11-50.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

393
394
Melhoria de solos com geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Utilização de Rejeito de Pneu de Borracha em Reforço de Solo


para Aterros Rodoviários no Município de Chapecó/SC
Eliane Fátima De Bastiani Sychocki Gemelli
UNOCHAPECÓ, Chapecó/SC, Brasil, elianegemelli@unochapeco.edu.br

Marieli Biondo Lopes


UNOCHAPECÓ, Chapecó/SC, Brasil, engmary@unochapeco.edu.br

Bárbara Karina Kronbauer


UNOCHAPECÓ, Chapecó/SC, Brasil, barbara.kronbauer@unochapeco.edu.br

Jaqueline Andressa Bertella


UNOCHAPECÓ, Chapecó/SC, Brasil, jaquebertella@unochapeco.edu.br

RESUMO: O descarte inadequado de pneus inservíveis geram problemas ao meio ambiente e à


sociedade. A fim de buscar uma alternativa correta para o destino final desse material, a construção
civil tem proposto métodos para a utilização destes resíduos. Este trabalho tem por objetivo estudar
a aplicação de rejeito de pneu de borracha no reforço de solos para obras rodoviárias no município
de Chapecó/SC. O resíduo de borracha foi adiciononado à amostras de solo natural nos teores de 5,
15 e 20%, analisando-se o comportamento desta misturas nos seus índices de consistência,
granulometria, compactação e resistência ao cisalhamento. Os resultados mostraram reduções de
4% da massa específica seca máxima, e 40% na capacidade de suporte do solo com o acréscimo do
resíduo de pneu, porém, mesmo com aumento no ISC, este ainda está abaixo das recomendções,
inviabilizando o seu uso para base e sub-base. Através do ensaio de cisalhamento direto que foi
realizado nas amostras saturadas e não saturadas, observou-se que houve um aumento na resistência
ao cisalhamento em 15% com o acréscimo de resíduo, principlamente para as amostras saturadas.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos, Sustentabilidade, Pavimentação, Construção Civil.

ABSTRACT: Improper disposal of insoluble tyres generates problems to the environment and
society. In order to find a correct alternative to destinate this material, civil construction has
proposed methods for the use of these residues. This work aims to study the application of rubber
tyre reject in the reinforcement of soils for road works in the municipality of Chapecó/SC. The
rubber residue was added to samples of natural soil in the contents of 5, 15 and 20%, analyzing the
behavior of these mixtures in their indices of consistency, granulometry, compaction and shear
strength. The results showed reductions of 4% of the maximum dry mass, and 40% in the support
capacity of the soil with the addition of the tyre residue, but even with an increase in the ISC, this is
still below the recommendations, making it impossible to use it to asphalt intermediate layer and
asphalt base layer. Through the direct shear test that was performed in the saturated and unsaturated
samples, it was observed that there was an increase in shear strength by 15% with the addition of
residue, mainly for the saturated samples.

KEYWORDS: Waste, Sustainability, Paving, Construction

1 INTRODUÇÃO elemento indispensável para veículos


automotores ou não. No momento em que
Segundo Sinpec (2011), o pneu tornou-se um ocorre o desgaste total do pneu, este se torna

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397
inservível, e por ser um elemento que demora reforço de solos através da estabilização
para decompor-se, o seu descarte deve ser granulométrica.
realizado de foma sustentável.
Nos centros urbanos, o destino desse 2.1 Reforço de Solos com a Utilização de
material é realizado em aterros a céu aberto o Pneus Inservíveis
que provoca proliferação de roedores, insetos e
doenças como dengue, zika vírus e Segundo Rissoli & Araújo (2014), o uso de
chikungunya, estas transmitidas pelo mosquito pneus inservíveis em obras geotécnicas é
Aedes aegypti. variado. A opção por utilizar este resíduo deve-
Nos últimos anos, novas tecnologias estão se à suas características, como baixo peso
sendo desenvolvidas para minimizar os específico, baixa condutividade térmica,
impactos ambientais causados pela má propriedades granulométricas e de aderência.
disposição dos resíduos, unificando as questões Um dos desafios é garantir que o solo possua
ambientais com a melhoria de propriedades de resistência suficiente para resistir as solicitações
materiais naturais, como os solos. impostas. Em casos em que o solo presente no
A construção de pavimentos rodoviários local em que deseja-se construir ou pavimentar
exige a escolha de materiais nobres para atender não atenda os requisitos da obra, é necessário
aos critérios normativos de suporte, e, algum tipo de intervenção (Bolaños &
atualmente constata-se a escassez destes Casagrande, 2013).
materiais nobres nos cortes obrigatórios, sendo Para Amprino (2011), a utilização deste
necessária a busca por novas jazidas. Estas resíduo como reforço apresenta vantagens como
novas áres de empréstimos, contudo, provocam baixo custo por unidade, não prejudica os
maior degradação ambiental, além de aumentar lençóis freáticos e aquíferos e tem alta
o custo da operação de terraplanagem devida durabilidade. Sua mistura ao solo pode elevar a
elevada distância de transporte. resistência ao cisalhamento tornando o produto
A fim de apresentar uma solução para técnico e ambientalmente satisfatório.
reduzir os custos e melhorar o tratamento do
solo, o presente trabalho trata da utilização de
resíduos de pneus inservíveis em solo do 3 MATERIAIS E MÉTODOS
município de Chapecó/SC, tendo como
principal objetivo comparar os resultados de 3.1 Localização e Coleta das Amostras
resistência e suporte entre amostra de solo
natural e compósito solo-borracha. A amostra denominada de Solo Natural foi
coletada em um talude de corte obrigatório,
demonstrado na Figura 1, localizado na
2 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO Avenida Ernani Sander, trecho que liga a
Avenida Leopoldo Sander ao Aeroporto
A grande competição econômica e a elevada Serafim Enoss Bertaso e a SC 480 no município
busca do mercado faz com que a produção de Chapecó/SC.
industrial cresça em ritmo acelerado
aumentando produção de resíduos. Uma
preocupação da sociedade atualmente está no
descarte destes materiais, em que na sua maior
parte, não são descartados adequadamente
ocasionando prejuízos ao meio ambiente e a
sociedade (Silva & Silva, 2013).
De acordo com Lagarinhos (2011), uma
forma de minimizar os impactos ambientais é a
reciclagem do resíduo. O pneu inservível pode
ser reutilizado de diversas formas, como: muros
de contenção, móveis, confecção de tatames, e, Figura 1. Talude utilizado para coleta do solo. Fonte:
Arquivo pessoal.

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398
demostrado na Figura 3.
O resíduo de borracha utilizado foi doado
por duas empresas de recapagens de pneus, do
municipio. Após a coleta do resíduo este foi
moído em laboratório para posterior aplicação
nas misturas. Os aspectos físicos do material
podem ser analisados pela Figura 2. #4 #10 #30
#16

Fundo # 200 #100 #50


#40

Figura 3. Granulometria do resíduo de pneus inservíveis.


Fonte: Arquivo pessoal.

3.3 Massa Específica dos Grãos

O ensaio de massa específica foi realizado com


base na NBR 6508 (ABNT, 2016), sendo
Figura 2. Resíduo de borracha utilizado. Fonte: Arquivo aplicado vácuo para a exclusão dos vazios e
Pessoal.
somente realizado para o Solo Natural.
Para esta pesquisa os materiais utilizados
3.4 Limites de Consistência
foram separados em quatro amostras diferentes
conforme a Tabela 1. As porcentagens de
O ensaio de Limite de Liquidez foi executado
resíduo adicionado são relacionas à massa de
conforme ME 122 (DNER, 1994), onde obteve-
solo natural seco ao ar.
se o teor de umidade no qual o solo passa do
Tabela 1. Nomenclatura das amostras. Fonte: Elaborado estado plástico para o estado líquido. O ensaio
por GEMELLI (2017). de Limite de Plasticidade foi executado
% Borracha adicionado
conforme ME 082 (DNER,1994), o qual indica
Nomenclatura ao solo o teor de umidade na transição do estado
plástico para o semi-sólido.
Solo Natural 0
Mistura 1 5 3.5 Compactação
Mistura 2 15
Mistura 3 20 O ensaio de compactação foi realizado coforme
ME 162 (DNER, 1994), utilizando-se a energia
3.2 Granulometria das Amostras de Proctor Normal, com o objetivo de
determinar a massa específica seca máxima
A preparação da amostra de solo foi realizada (ρmáx), umidade ótima (wotm) de todas as
de acordo com o método ME 041 (DNER, amostras.
1994), e o ensaio seguiu o prescrito na ME 051
(DNER,1994). Realizaram-se os ensaios de 3.6 Índice de Suporte Califórnia
peneiramento grosso, sedimentação e
granulometria fina na amostra de Solo Natural. Para a realização do ensaio de ISC as amostras
Para as misturas acrescidas do resíduo, de solo foram preparadas de acordo com a ME
Mistura 1, 2 e 3, e para o resíduo, passaram-se 041 (DNER, 1994) e o ensaio executado
material em cada peneira do conjunto indicados conforme ME 049 (DNER, 1994).
pela norma ME 051 (DNER, 1994), obtendo as A finalidade deste ensaio é determinar a
massas retidas em cada peneira, conforme capacidade de suporte do solo. Este ensaio foi

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399
executado para todas as amostras estudadas, e a
Figura 4 apresenta a deformação de algumas Amostra 2 Amostra 3
Amostra 4 solo natural
amostras após ensaio.

Porcentagem Passante (%)


100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 4. Amostras após ensaio. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 5. Curvas granulométricas. Fonte: Adaptado de
GEMELLI (2017).
3.7 Cisalhamento Direto
O solo natural apresenta em sua composição
O ensaio de cisalhamento é o método mais 70,2% de argila, 17,3% de silte e 11,1% de
utilizado, e tem como base a metodologia de areia, com determinação textural classificada
Coulomb, onde é aplicado uma tensão em um como argila silto arenosa.
plano e analisado a tensão de cisalhamento que
provocou a ruptura. 4.2 Massa Específica dos Grãos e Limites de
Para este ensaio as amostras foram Consistência
confeccionadas em um cilindro Proctor Normal
com 10 cm de diâmetro interno e rompidas com O resultado dos ensaios de massa específica,
tensões normais de 100, 200 e 300 kPa. Todas limite de liquidez e limite de plasticidade das
as amostras apresentadas na Tabela 1 foram amostras são apresentados na Tabela 2.
cisalhadas considerando saturação e não
saturação, sob as mesmas tensões. Tabela 2. Caracterização física das amostras. Fonte:
Elaborado por GEMELLI (2017).
LL LP γd.máx
Tipo IP (%)
(%) (%) (g/cm³)
4 RESULTADOS E ANÁLISES
Solo Natural 58,5 45,5 12,98 2,58
4.1 Granulometria do Solo Natural e Mistura 1 54,5 45,9 8,55 -
Amostras -
Mistura 2 48,3 43,8 4,58
Mistura 3 49,6 42,9 6,71 -
O resultado da análise granulométrica das
amostras e para o resíduo de borracha é
apresentado pela Figura 5. Segundo a classificação de Burmister (1949),
pode-se observar que todas as amostras
apresentaram os valores dos índices de
plasticidade, média a baixa plasticidade.
Verifica-se que o índice de plasticidade é
reduzido na adição do resíduo de borracha. Para
a Mistura 1, que apresenta 5% de resíduo
incorporado, a redução foi de 34%. Já, nas
Misturas 2 e 3, a redução foi de 65% e 48%,
respectivamente.. Conclui-se ainda, que a

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400
diminuição do IP não é proporcional ao teor de observa-se na Tabela 3 que o teor de umidade
borracha, mas sim, ao tamanho das suas ótimo também é reduzido, em até 13%, no caso
partículas, uma vez que a Mistura 2 (que possui da Mistura 2. Da mesma forma que na análise
15% de adição) apresentou o menor índice de do índice de plasticidade, conclui-se que a
plasticidade, quando comparada com a Mistura redução da umidade não se dá pela porcentagem
3 (20% de adição). da adição, mas sim, pela granulometria do
material aplicado.
4.3 Compactação
4.4 Índice Suporte Califórnia
As curvas do ensaio de compactação Proctor
Nomal obtidas para o Solo Natural e Misturas 1, Após a realização dos ensaios para determinção
2 e 3 são apresentados através da Figura 6. do ISC para cada uma das amostras traçou-se as
curvas de pressão x penetração. Para as
Misturas 2 e 3 houve a necessidade de corrigir
Amostra 1 Amostra 2
as curvas, pois apresentaram concavidade
Amostra 3 Amostra 4 voltada para cima.
Massa específica seca (g/cm³)

1,300 A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos


1,280 através do ensaio de ISC na energia Proctor
Normal, bem como a expansão das amostras e a
1,260 quantidade de água absorvida pelas mesmas.
1,240
Tabela 4. Resultados dos ensaios de ISC. Fonte:
1,220
Elaborado por GEMELLI (2017).
1,200 Amostra CBR Expansão Água absorv.
30,00 35,00 40,00 45,00 (%) (%) (g)
Umidade (%) Solo Natural 17,90 1,71 30
Mistura 1 10,7 2,42 50
Figura 6. Curvas de compactação. Fonte: Adaptado de Mistura 2 8,8 18,27 167
GEMELLI (2017). Mistura 3 9,1 11,73 103

Através da Figura 6 é possível observar que Conclui-se com a Tabela 4 que a adição de
a incorporação de resíduo diminuiu a massa resíduo não aumenta a capacidade de suporte, e
específica seca máxima das amostras assim que a medida que o teor aumenta, a capacidade
como a umidade, ou seja, manteve-se de suporte diminui.
praticamente na mesma densidade que a A diminuição da capacidade de suporte
amostra do Solo Natural. Conclui-se, que as deve-se ao aumento na expansão e
partículas de pneu adicionadas ao solo, reduzem consequentemente a quantidade de água
a massa específica seca máxima em até 4%. absorvida resultado do grande número de
A Tabela 3 apresenta os resultados do ensaio vazios, devido a dificuldade dos materiais (solo
de compactação para as amostras. e borracha) se integrarem um ao outro durante a
homogeneização da mistura. Estes são dois
Tabela 3. Resultados ensaio de compactação. Fonte: materiais não aglomerantes, o que pode
Elaborado por GEMELLI (2017).
caracterizar em um grande número de vazios.
Amostra wótm. (%) ρ (g/cm³)
Solo 4.5 Cisalhamento Direto
Natural 38,36 1,285
Mistura 1 34,62 1,293 O ensaio de cisalhamento direto foi realizado
Mistura 2 33,47 1,231 para amostras não saturadas e saturadas com o
Mistura 3 35,30 1,230 intuito de comparar e avaliar os resultados das
tensões cisalhantes máximas nas duas situações
Apesar da massa específica seca máxima ser para o Solo Natural e demais Misturas.
diminuída com o acréscimo de borracha, Através das leituras obtidas durante a

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401
realização dos ensaios foi possível obter os
gráficos de tensão cisalhante (kgf/cm²) x 100 kPa 200 kPa 300 kPa

deformação (mm), no qual é possivel observar o


comportamento da curva de cisalhamento em
cada estágio do ensaio. A Figura 7 apresenta a
curva de cisalhamento para o Solo Natural não
saturado nas tensões de 100, 200 e 300 kPa e a
Figura 8 apresenta as curvas de cisalhamento
para o Solo Natural saturado.

100 kPa 200 kPa 300 kPa


Figura 9. Curva tensão x deformação/ Mistura 1 não
saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017).

100 kPa 200 kPa 300 kPa

Figura 7. Curva tensão x deformação/ Solo Natural não


saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017).

Figura 10. Curva tensão x deformação/ Mistura 1


saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017).

Na amostra com 5% de borracha, a


resistência ao cisalhamento para a tensão de 300
kPa, manteve o comportamento da amostra
100 kPa 200 kPa 300 kPa
natural, reduzindo o valor quando saturada.
As Figuras 11 e 12 apresentam a curva de
cisalhamento para a Mistura 2 não saturada e
saturadas nas tensões de 100, 200 e 300 kPa.

Figura 8. Curva tensão x deformação/ Solo Natural 100 kPa 200 kPa 300 kPa
saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017).

A amostra de Solo Natural quando saturada,


apresentou uma resistência de cisalhamento
menor quando comparada com a amostra Solo
Natural não saturada. Isso explica-se pela
tensão diminuída pelo aumento da poropressão
na amostra.
As Figuras 9 e 10 apresentam a curva de
cisalhamento para a Mistura 1 não saturadas e Figura 11. Curva tensão x deformação/ Mistura 2 não
saturadas nas tensões de 100, 200 e 300 kPa. saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017).

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402
O comportamento das curvas de
100 kPa 200 kPa 300 kPa
cisalhamento da Mistura 3 assemelham-se com
as da Mistura 2, apresentando uma tensão
residual.
As Tabelas 5 e 6 apresentam os parâmetros
de resistência obtidos nos ensaios para todas as
amostras.

Tabela 5. Parâmetros de resistência mecânica das


amostras não saturadas. Fonte: Elaborado por GEMELLI
(2017).
NÃO SATURADO
Figura 12. Curva tensão x deformação/ Mistura 2 TIPO σN(kPa)
τC (kPa) ϕ' c’ (kPa)
saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017).
100 102
Solo
Nestas curvas, para as duas amostras 200 160 28° 49
Natural
percebe-se uma tensão de cisalhamento 300 210
crescente, atingindo valores maiores que do 100 161
Solo Natural. A deformação foi sensivelmente Mistura 1 200 174 12,1° 136
maior. A orientação das borrachas no plano de 300 204
tensões parece estar ora paralela ao plano ora 100 118
perpendicular. Mistura 2 200 176 27,3° 65
As Figuras 13 e 14 apresentam a curva de 300 227
cisalhamento para a Mistura 3 não saturadas e 100 154
saturadas nas tensões de 100, 200 e 300 kPa. Mistura 3 200 231 25,5° 108
300 242
Tabela 6. Parâmetros de resistência mecânica das
100 kPa 200 kPa 300 kPa
amostras saturadas. Fonte: Elaborado por GEMELLI
(2017).

SATURADO
TIPO σN(kPa)
τC (kPa) ϕ' c’ (kPa)
100 92
Solo
200 138 22,7° 51
Natural
300 178
100 78
Mistura
200 158 26,5° 37
1
300 184
Figura 13. Curva tensão x deformação/ Mistura 3 não
saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017). 100 96
Mistura
200 196 36,3° 18
2
300 246
100 kPa 200 kPa 300 kPa 100 98
Mistura
200 175 34,1° 26
3
300 228

Através dos resultados apresentados nas


Tabelas 5 e 6 é possível observar que as
amostras com acréscimo de borracha não
saturadas apresentam aumento no intercepto de
coesão em relação ao solo natural, entretanto
ocorre a diminuição no ângulo de atrito interno.
Para as amostras saturadas os valores se
Figura 14. Curva tensão x deformação/Mistura 3
saturada. Fonte: Elaborado por GEMELLI (2017). mostram contrários as amostras não saturadas,

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403
havendo um aumento no ângulo de atrito REFERÊNCIAS
interno à medida que aumenta o teor de resíduo.
Porém, paralelamente a isso, ocorre a Amprino, D. A. C. (2011). Estudo e análise do
comportamento de reforços e suas aplicações na
diminuição da coesão em relação ao solo Engenharia Geotécnica: Estudo de Misturas de Solo
natural. com a Adição de Borracha Moída de Pneus. 20 f.
TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Civil,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
5 CONCLUSÃO Rio de Janeiro, 2011.
ABNT (2016). NBR 6508: Grãos de solo que passam na
peneira de 4,8 mm – Determinação da massa
Esta pesquisa teve por finalidade analisar a específica. Rio de Janeiro, p. 08.
eficiência de solos estabilizados Bolaños, R. E. Z; Casagrande, M. T.
granulometricamente com resíduos de (2013) Comportamento Mecânico de um Solo
borrachas de pneu, para utilização em obras de Argiloso Reforçado com Fibras de Coco. 17 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,
pavimentação no município de Chapecó/SC. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Em relação aos parâmetros de compactação, Rio de Janeiro.
a adição de borracha diminuiu o teor de Burmister, D.M. Principles and Techniques of Soil
umidade ótima em 13%, comparando-se a Identification. Proceedings, Annual Highway
amostra de Solo Natural com a Mistura 2. A Research Board Meeting, National Research Council,
Washington, D. C., v.29, p. 402-433, 1949.
massa específica seca máxima, foi diminuída DNER-ME 041/94: Solos – Preparação de amostras
em, aproximadamente, 4% com a adição de para ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1994.
resíduos. Assim, com a mesma energia de DNER-ME 049/94: Solos – Determinação do Índice de
compactação, a densificação do solo Suporte Califórnia utilizando amostras não
estabilizado com borracha é menor do que a trabalhadas. Rio de Janeiro, 1994.
DNER-ME 051/94: Solos – Análise granulométrica. Rio
amostra de Solo Natural. de Janeiro, 1994.
Através dos ensaios de Índice de Suporte DNER-ME 082/94: Solos – Determinação do limite de
Califórnia (ISC) é possível constatar que ocorre plasticidade. Rio de Janeiro, 1994.
a diminuição do suporte do solo com o DNER-ME 122/94: Solos – Determinação do limite de
acréscimo de resíduo de borracha em até liquidez: Método de referência. Rio de Janeiro, 1994.
DNER-ME 162/94: Solos – Ensaio de compactação
aproximadamente 40%, comparando a Mistura utilizando amostras trabalhadas. Rio de Janeiro,
1 com o Solo Natural. Observando assim, que 1994.
nenhuma das Misturas obteve resultado Lagarinhos, C. A. F. (2011) Reciclagem de pneus:
satisfatório como uso de base ou sub-base de análise do impacto da legislação ambiental através
pavimentação. da logística reversa. 293 f. Tese (Doutorado) - Curso
de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, Escola
A inserção de resíduo de pneus inservíveis Politécnica do Estado de São Paulo, São Paulo, 2011
influencia no comportamento mecânico do solo, Rissoli, A. L. C; Araújo, G. L. S. (2014) Utilização de
uma vez que houve aumento da tensão resíduos de pneus em obras geotécnicas. Anais XVII
cisalhante com o aumento do teor de resíduo. Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Esse aumento equivale a aproximadamente Engenharia Geotécnica (XVII
COBRAMSEG), ABMS, Goiânia. v. 3. p. 1 – 8
15%, para σN= 300 kPa, comparando a Mistura Silva, A. L; Silva, L. C. A. (2013) Logística reversa de
3 com o Solo Natural. pneus inservíveis: uma consciência socioambiental ou
Conclui-se através desta pesquisa que os uma estratégia econômica para as empresas? 23 f.
teores mais satisfatórios de adição de resíduo de TCC (Graduação) - Curso de Administração,
pneus inservíveis ao solo é de 5% (Mistura 1) Universidade Federal do Piauí, Picos, 2013.
SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE
para compactação, pois foi a mistura que PNEUMÁTICOS. SINPEC. 2011. Disponível em:
apresentou maior capacidade de suporte, apesar <http://www.fiesp.com.br/sinpec/sobre-o-
de ser menor em relação ao Solo Natural. E sinpec/historia-do-pneu>. Acesso em: 17 out. 2016.
para cisalhamento, a Mistura 3 com acréscimo
de 15% do resíduo.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

404
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da Influência do Teor de Fibras de Polietileno


Tereftalato nos Parâmetros Ótimos de Compactação de um Solo
Arenoso
Gabriela Bolini Dias dos Santos
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, gabrielabolini@gmail.com

Maitê Rocha Silveira


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, maiterocha7@gmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Rafaela Rodrigues Garcia


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, rafaelagarcia96@gmail.com

Willian de Brito Giacometti


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, willian.b.giacometti@hotmail.com

RESUMO: Há registros de que o uso de fibras naturais para reforço do solo em aplicações
geotécnicas é realizado há muito tempo pelo homem. Mas com o avanço da indústria química,
materiais sintéticos puderam ser fabricados e aos poucos puderam ser implementados na geotecnia,
garantindo vantagens devido à resistência a agentes externos e à facilidade de produção em larga
escala. Diversos estudos experimentais de laboratório mostram que a adição de fibras no solo
acarreta na melhoria de pavimentos, solos de fundação, solos de reaterro de estruturas de contenção
e de estabilização de solos. Dessa forma, esse trabalho procurou avaliar os efeitos provocados nos
parâmetros ótimos de compactação de um solo arenoso pela inclusão de diferentes tamanhos e
percentagens de fibras de polietileno tereftalato (PET). Foram realizados ensaios de compactação
(Proctor Normal) de acordo com a NBR 7182. Neles foi utilizado solo típico da região de Bauru
(SP): solo arenoso (areia fina argilosa). As fibras utilizadas tiveram comprimentos de 10, 15, 20 e
30 mm e largura de 1,5 mm. Essas foram adicionadas aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
determinados de 0,25; 0,50; 0,75; 1,00; 1,25; 1,50 e 2,00% em relação à massa seca. Através dos
resultados obtidos, foi possível observar que o comprimento e a percentagem das fibras se mostram
fatores preponderantes nos parâmetros ótimos do solo, bem como a homogeneidade e umidade da
mistura. Ao padronizar os tamanhos das fibras, variando as percentagens, foi possível analisar uma
tendência nas curvas de compactação: com o aumento da percentagem de fibras, houve menores
valores de massa específica seca, os quais diminuíram de forma linear. Ao padronizar, no entanto,
as percentagens de fibras, variando os tamanhos, não foi possível analisar uma tendência nas curvas
quanto à massa específica, a qual variou sem um comportamento determinado. Contudo, em alguns
casos foi possível verificar um comportamento linear em relação à umidade ótima: esta aumentava
de acordo com o aumento do tamanho das fibras. Todos os ensaios resultaram em massas
específicas secas menores que a do solo sem fibras. Isso mostra que as fibras provocam resistência
à compactação no solo devido às porosidades maiores da mistura.

PALAVRAS-CHAVE: parâmetros ótimos, solo arenoso, fibra polimérica.

ABSTRACT: There are records that the use of natural fibers for soil reinforcement in geotechnical
applications has long been carried out by man. But with the advancement of the chemical industry,

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

405
synthetic materials could be manufactured and gradually could be implemented in the geotechnics,
ensuring advantages due to the resistance to external agents and the facility of large scale
production. Several experimental laboratory studies show that the addition of fibers in the soil leads
to improved pavements, foundation soils, backfill soils of containment structures and soil
stabilization. In this way, this work tried to evaluate the effects caused in the optimal compaction
parameters of a sandy soil by the inclusion of different sizes and percentages of polyethylene
terephthalate (PET) fibers. Compaction tests (Proctor Normal) according to NBR 7182 were carried
out. Typical soil in the Bauru (SP) region was used: sandy soil (clay fine sand). The fibers used had
lengths of 10, 15, 20 and 30 mm and width of 1.5 mm. These were randomly added to soil at
predetermined percentages of 0.25; 0.50; 0.75; 1.00; 1.25; 1.50 and 2.00% in relation to the dry
mass. Through the obtained results, it was possible to observe that the length and the percentage of
the fibers are shown as preponderant factors in the optimal parameters of the soil, as well as the
homogeneity and humidity of the mixture. By standardizing the fiber sizes, varying the percentages,
it was possible to analyze a trend in the compaction curves: with the increase of fiber percentage,
there were lower values of dry mass, which decreased linearly. By standardizing, however, fiber
percentages, varying the sizes, it was not possible to analyze a trend in the curves for the specific
mass, which varied without a determined behavior. However, in some cases, it was possible to
verify a linear behavior in relation to the optimal humidity: it increased according to the increase of
the size of the fibers. All the tests resulted in specific dry masses smaller than that of the soil
without fibers. This shows that the fibers cause resistance to soil compaction due to the larger
porosities of the blend.

KEY WORDS: optimal parameters, sandy soil, polymeric fiber.

1 INTRODUÇÃO outras soluções tradicionais, apesar de ter em


seu custo final a parcela de custo referente ao
A aplicação de fibras poliméricas para reforço peço das fibras.
do solo em aplicações geotécnicas já era uma Diversos trabalhos realizados no contexto de
prática realizada pelos antigos, a qual foi reforço de fibras utilizam fibras de
registrada por Kerisel (1985) e Yamamuchi polipropileno. A literatura apresenta poucos
(1993). Tais registros mostram, no entanto, a dados referentes a pesquisas utilizando fibras de
utilização de fibras naturais, as quais possuem polietileno. Esse trabalho procurou, portanto,
uma fácil deterioração no tempo. Com o grande ampliar os resultados referentes à influência da
avanço da indústria química, materiais inclusão de fibras de polietileno tereftalato
sintéticos puderam ser utilizados, os quais são (PET) em diferentes tamanhos e percentagens
vantajosos devido à grande facilidade de nos parâmetros ótimos de compactação de um
produção em larga escala e à resistência aos solo arenoso.
agentes externos.
Os principais polímeros utilizados são o
polipropileno (PP), polietileno (PE), poliéster 2 MATERIAIS E MÉTODOS
(PET) e poliamida (PA). Casagrande (2005)
apresenta um breve resumo sobre as Para o desenvolvimento da pesquisa, foi
características do PET: tais fibras apresentam utilizado solo arenoso da região de Bauru (SP).
alta densidade, rigidez e resistência e possuem Foi realizado o ensaio de granulometria no solo
um aspecto bastante similar às de polipropileno, em questão, que foi classificado como areia
podendo ser utilizadas para as mesmas média a fina pouco argilosa marrom
aplicações. avermelhada.
Segundo Iasbik et al. (2000), há muitas As fibras de polietileno tereftalato (PET)
situações em que o solo reforçado com fibras empregadas nos ensaios foram cortadas de
irá se mostrar extremamente competitivo com garrafas de refrigerante. Tais fibras foram

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

406
utilizadas nos comprimentos de 10, 15, 20 e 30
mm, todas com 1,5 mm de largura, incluídas
aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
determinados de 0,25%, 0,50%, 0,75%, 1,00%
1,25%, 1,50% e 2,00% em relação à massa
seca.
Ensaios de compactação foram realizados
conforme a NBR 7182 nos diferentes tamanhos
e porcentagens de fibra de modo a comparar a
influência da variação dessas características nos
parâmetros ótimos de compactação do solo
analisado.
Figura 1. Curva de compactação do solo arenoso sem
fibras.

3 RESULTADOS
As figuras 2, 3, 4 e 5 analisam a influência
da variação das percentagens de fibras no solo,
3.1 Caracterização das fibras PET
padronizando os tamanhos.
A Figura 2 mostra mais especificamente o
As fibras do tipo PET apresentaram largura de
comportamento do solo-fibra utilizando fibras
1,5 mm (o qual variou aproximadamente entre
de 10 mm e diferentes percentagens. O que
1,3 e 1,7 mm) e os comprimentos de 10, 15, 20
resultou em um maior valor de massa específica
e 30 mm. PET utilizado foi oriundo de garrafas
seca foi o ensaio com 0,50% de fibra em
de Coca-Cola obtidas em locais responsáveis
relação à massa seca, e, de modo geral, o valor
pela reciclagem das mesmas e a densidade foi
da massa específica seca foi diminuindo com o
de, aproximadamente, 1,3 g/cm³ a 20°.
aumento do percentual de fibras.
3.2 Composição do solo

Através do ensaio de granulometria, foi obtida a


composição do solo em estudo retirado da
região de Bauru (SP), que se encontra na Tabela
1 a seguir.

Tabela 1. Composição do solo retirado da região de


Bauru (SP).
Composição Percentual (%)
Argila 14,0
Silte 5,8
Areia Fina 38,2 Figura 2. Solo com fibras de 10 mm e diferentes
Areia Média 41,7 percentagens.
Areia Grossa 0,3
A figura 3 mostra o comportamento do solo
O solo foi classificado como areia fina a com adição de fibras de 15 mm em diferentes
média pouco argilosa marrom avermelhada. percentagens. O ensaio que resultou em um
maior valor de massa específica seca foi o
3.3 Ensaios de compactação realizado com 1,00% de fibras, mas, de modo
geral, o aumento da percentagem de fibras fez
A curva de compactação encontrada para o solo com que o valor da massa específica seca
sem fibras se encontra a seguir na Figura 1. diminuísse.
Chama-se atenção ao fato de a massa A figura 4 ilustra o comportamento do solo-
específica seca máxima ser 1,950 g/cm³ e a fibra com a adição de fibras de 20 mm e
umidade ótima ser 10,6%. diferentes percentagens. O ensaio com maior

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

407
valor de massa específica seca foi o que possui
acréscimo de 0,25% de fibras, e, de modo geral,
o aumento do percentual de fibras fez com que
a massa específica seca diminuísse.

Figura 5. Solo com fibras de 30 mm e diferentes


percentagens.

Figura 3. Solo com fibras de 15 mm e diferentes


percentagens.

Figura 6. Solo com fibras na percentagem de 0,25% e


diferentes tamanhos.

A figura 7 mostra o comportamento do


compósito solo-fibra, com as fibras no
percentual padrão de 0,50% e com diferentes
comprimentos. O maior resultado encontrado
Figura 4. Solo com fibras de 20 mm e diferentes foi com o comprimento de 10 mm.
percentagens.

A figura 5 mostra a influência da adição de


diferentes percentagens de fibras no tamanho
padronizado de 30 mm no comportamento do
solo em estudo. O maior valor de massa
específica seca encontrado foi com a
percentagem de 0,25%, e, de modo geral, a
massa específica seca foi diminuindo com o
aumento da percentagem de fibras.
As figuras 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12 analisam a
influência da variação dos tamanhos das fibras Figura 7. Solo com fibras na percentagem de 0,50% e
incluídas no solo, padronizando-se as diferentes tamanhos.
percentagens.
A figura 6, em específico, padroniza a A figura 8 torna visual a influência de
porcentagem de fibras em 0,25% e varia o diferentes comprimentos de fibras ao padronizar
comprimento das fibras de forma a avaliar a a porcentagem de fibras em 0,75%. O valor
influência desse parâmetro no comportamento máximo de massa específica seca foi
do solo. O maior resultado encontrado foi o do encontrado no ensaio com fibras com
ensaio realizado com fibras de 30 mm. comprimento de 30 mm.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

408
Na figura 11 estão as curvas de compactação
do solo com inclusão de fibras com
comprimentos variados e na percentagem de
1,50%. O maior valor de massa específica seca
foi encontrado quando houve a utilização das
fibras de 10 mm.

Figura 8. Solo com fibras na percentagem de 0,75% e


diferentes tamanhos.

Na figura 9 estão as curvas de compactação


dos ensaios em que foi padronizado a
porcentagem de fibras de 1,00% e se variou os
comprimentos delas. O maior valor de massa
específica seca foi encontrado com o tamanho
Figura 11. Solo com fibras na percentagem de 1,50% e
de fibras de 20 mm. diferentes tamanhos.

A figura 12 mostra a influência da variação


dos comprimentos de fibras com percentagem
padrão de 2,00%. O ensaio com maior valor de
massa específica seca foi o de fibras com
comprimento 10 mm.

Figura 9. Solo com fibras na percentagem de 1,00% e


diferentes tamanhos.

A figura 10 mostra o comportamento dos


ensaios realizados com fibras na percentagem
de 1,25% e variando os tamanhos delas. O
resultado ótimo foi encontrado com o Figura 12. Solo com fibras na percentagem de 2,00% e
comprimento de fibras de 20 mm. diferentes tamanhos.

4 DISCUSSÃO

O comprimento e a percentagem de fibras


mostraram-se fatores preponderantes nos
resultados dos ensaios de compactação, bem
como homogeneidade e umidade da mistura.
Ao padronizar os tamanhos das fibras,
variando as percentagens, foi possível analisar
uma tendência nas curvas de compactação: com
Figura 10. Solo com fibras na percentagem de 1,25% e o aumento da percentagem de fibras, houve
diferentes tamanhos. menores valores de massa específica seca e

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

409
maiores valores de umidade ótima, os quais AGRADECIMENTOS
foram influenciados de forma linear.
Ao padronizar, no entanto, as percentagens Ao CNPq pela concessão da bolsa, à Faculdade
de fibras, variando os tamanhos, não foi de Engenharia de Bauru (UNESP) pelo espaço
possível analisar uma tendência nas curvas cedido para a realização do presente trabalho e
quanto à massa específica, a qual variou sem ao meu orientador Paulo Lodi por todo apoio e
um comportamento determinado. Mas, em ajuda disponibilizados.
alguns casos, foi possível verificar uma relação
diretamente proporcional com a umidade ótima:
a umidade ótima aumentava com o aumento do REFERÊNCIAS
tamanho das fibras.
Todos os ensaios resultaram em curvas de CASAGRANDE, M.D.T. Comportamento de solos
compactação com massa específica seca menor reforçados com fibras submetidos a grandes
deformações. Tese de Doutorado, UFRGS, Porto
que a do solo sem fibras. Isso mostra que as Alegre, 219 p., 2005.
adições de fibras de polietileno tereftalato em IASBIK, I. et al. Resistência mecânica do solo-fibra:
solo arenoso conferem certa resistência à caracterização via ensaios de compressão não
compactação, resultando em porosidades confinada com vistas ao uso em estradas florestais,
maiores da mistura para as mesmas energias de In: CONGRESSO E EXPOSIÇÃO
INTERNACIONAL SOBRE FLORESTAS,
compactação. Isso confirma o que foi relatado (FOREST 2000), Porto Seguro, BA. Anais. Rio de
na bibliografia por autores que realizaram Janeiro: Instituto Ambiental Biosfera, p. 257-259,
ensaios com outros tipos de fibras. 2000.
KERISEL, J. The history of geotechnical engineering up
unitl 1700. San Francisco: ISSMFE, Golden Jubilee
Book on History of Geomechanics, 50th Aniversary of
5 CONCLUSÃO ISSMFE, 1985. 9. 11-62.
YAMAMUCHI, T. Historical review of geotextiles for
A partir dos resultados obtidos através dos reinforcement of earth works in Asia. In: OCHIAI, H.,
ensaios realizados, foi possível concluir que a OTANI. (Ed.). Earth Reinforcement Practice,
inclusão de fibras de polietileno tereftalato Rotterdam, 1993. p. 737-751.
altera os parâmetros ótimos de compactação de
um solo arenoso.
Além disso, os tamanhos das fibras e as
percentagens se mostraram fatores
determinantes na variação do comportamento
do solo, e os parâmetros ótimos de
comprimento e porcentagem de fibras
encontrados foram de 10 mm e 0,50%,
respectivamente.
Por fim, o solo com fibras demonstrou uma
maior resistência à compactação se comparado
ao solo sem fibras: enquanto a massa específica
seca máxima do solo sem fibras encontrada foi
de 1,950 g/cm³ na umidade ótima de 10,6%, o
mesmo parâmetro foi de 1,945 g/cm³ na
umidade ótima de 9,4%.
Então, conclui-se que a inclusão de fibras de
polietileno não é vantajosa em relação à
compactação do solo, tornando o solo mais
resistente a esse processo.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

410
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da Resistência Mecânica de Solo Argiloso com


Inclusão de Fibras de Polipropileno
Gabriela Bolini Dias dos Santos
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, gabrielabolini@gmail.com

Maitê Rocha Silveira


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, maiterocha7@gmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Rafaela Rodrigues Garcia


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, rafaelagarcia96@gmail.com

Willian de Brito Giacometti


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, willian.b.giacometti@hotmail.com

RESUMO: A presença das fibras modifica o comportamento dos solos, gerando um material mais
dúctil, mais coesivo e levemente mais compressível. Isso torna a aplicação do solo-fibra em obras
geotécnicas vantajosa devido à segurança, à praticidade, aos menores volumes de solo, entre outros.
Dessa forma, esse trabalho procurou avaliar os efeitos provocados na resistência mecânica de solo
argiloso pela inclusão de diferentes tamanhos e percentagens de fibras de polipropileno (PP). Foi
utilizado solo local da cidade de Pederneiras (região de Bauru, SP): solo argiloso (argila arenosa).
As fibras tiveram comprimentos de 10, 15, 20 e 30 mm e largura de 1,5 mm. Essas foram
adicionadas aleatoriamente ao solo em percentuais pré-determinados de 0,25; 0,50; 0,75, 1,0; 1,5 e
2,0%, em relação à massa seca. Foram realizados ensaios de compactação (Proctor Normal),
resistência não confinada, triaxiais do tipo drenado (CD) e de cisalhamento direto no solo (com e
sem fibras). A partir disso notou-se que, em geral, a inclusão de fibras aumenta a resistência do
solo. Para cada tamanho e percentagem de fibra, o valor da resistência não confinada varia. O
comprimento ótimo encontrado para o compósito solo-fibra foi de 30 mm, e a percentagem ótima
foi de 1,50 % em relação à massa seca do solo. Em tal condição, o valor de resistência encontrado
foi de 752,23 kPa, valor 48,1% maior que a resistência obtida para o solo sem fibra. Analisando-se
os resultados obtidos para a resistência ao cisalhamento do solo argiloso, foi observado que a adição
de fibras ocasionou uma diminuição da coesão do solo e o aumento do ângulo de atrito em
aproximadamente 36% em comparação ao solo sem adição de PP e os respectivos parâmetros
obtidos foram: o solo sem inclusão de fibras apresentou coesão de 64,8 kPa e ângulo de atrito de
33,1°, enquanto que a inclusão de fibras tipo PP resultou em uma envoltória com coesão 53,2 kPa e
ângulo de atrito de 45°. Dessa forma, a inclusão de fibras no solo argiloso deve ser cuidadosamente
avaliada em relação aos seus objetivos, uma vez que embora tenha apresentado eficácia para o
aumento da resistência não confinada, mostraram uma redução efetiva da coesão.

PALAVRAS-CHAVE: resistência mecânica, solo argiloso, fibra polimérica.

ABSTRACT: The presence of the fibers modifies the behavior of the soils, generating a more
ductile material, more cohesive and slightly more compressible. This makes the application of soil-
fiber in geotechnical works advantageous due to safety, practicality, the smaller volumes of soil,
among others. Thus, this work sought to evaluate the effects in the clay soil mechanical strength by

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

411
the inclusion of different sizes and percentages of polypropylene (PP) fibers. It was used only local
soil of the city of Pederneiras (region of Bauru, SP): only clay soil (sandy clay). The fibers had
lengths of 10, 15, 20 and 30 mm and width of 1.5 mm. These were randomly added to the soil at
predetermined percentages of 0.25; 0.50; 0.75, 1.0; 1.5 and 2.0%, in relation to the dry mass.
Compaction tests (Proctor Normal), unconfined resistance, drainage type (CD) and direct shear
triaxial (with and without fibers) were performed. From this it has been noted that, in general, the
inclusion of fibers increases the strength of the soil. For each size and percentage of fiber, the value
of the unconfined resistance varies. The optimum length found for the soil-fiber composite was 30
mm, and the optimum percentage was 1.50% in relation to the dry mass of the soil. In this
condition, the resistance value was 752.23 kPa, 48.1% higher than the resistance obtained for the
soil without fiber. By analyzing the results obtained for the shear strength of the clay soil, it was
observed that the addition of fibers cause a decrease in soil cohesion and the increase of the friction
angle by approximately 36% in comparison to the soil without addition of PP and the following
parameters were obtained: soil without fiber inclusion showed cohesion of 64.8 kPa and friction
angle of 33.1 °, while the inclusion of PP type fibers resulted in a envelope with cohesion of 53.2
kPa and friction angle of 45 °. Thus, the inclusion of fibers in the clay soil must be carefully
evaluated in relation to its objectives, since although it has shown efficacy for the increase of the
unconfined resistance, it showed an effective reduction of the cohesion.

KEY WORDS: mechanical strength, clay soil, polymeric fiber.

1 INTRODUÇÃO das fibras em solos cimentados, o maior


potencial das fibras no compósito fibroso está
A técnica do reforço do solo com fibras passou no estado pós-fissuração, onde as fibras
a ser investigada há aproximadamente três apresentam maior contribuição na resistência do
décadas, com a inclusão de raízes ao solo material compósito. Isso ocorre uma vez que a
distribuídas de maneira aleatória, de modo a deformação necessária para fissurar uma matriz
avaliar a melhoria ao cisalhamento dos solos e cimentada é muito inferior à elongação das
na estabilidade de taludes (GRAY & OHASHI, fibras, nas quais se espera pouco ou nenhum
1983; SCHAEFER et al.,2002). aumento nas tensões de fissuração. Taylor
Indícios do emprego dessa técnica são (1994) defende que, para as fibras aumentarem
encontrados em partes da Grande Muralha da a resistência de um compósito em um estado de
China e em estradas construídas pelos Incas, no pré-fissuração, a rigidez das fibras deve ser
Peru, utilizando lã de lhama como reforço maior que a rigidez da matriz
(PALMEIRA, 1992). Há vestígios também do (CASAGRANDE, 2005).
uso de palha em tijolos de argila, citados no Segundo Hannant (1994), o
Êxodo (ILLSTON, 1994). comportamento do material compósito é
Diversos trabalhos abordam a utilização controlado pelo teor, comprimento e
de fibras poliméricas para a melhoria de propriedades físicas da fibra, propriedades da
pavimentos, solos de fundação, solos de matriz e pela aderência entre as duas fases.
reaterro de estruturas de contenção e de Johnston (1994) acredita que as fibras
estabilização de solos, principalmente. Segundo podem contribuir de duas maneiras no
Iasbik et al. (2000), há muitas situações em que comportamento do material compósito:
o solo reforçado com fibras irá se mostrar primeiramente reforçam o material quando
extremamente competitivo com outras soluções submetido a qualquer tipo de carregamento que
tradicionais, com a vantagem de ter em seu induza a tensões de tração, e, em segundo lugar,
custo final a parcela de custo referente ao preço melhoram a ductibilidade e a tenacidade de uma
das fibras. matriz com características frágeis.
De acordo com Taylor (1994), Hannant Embora as fibras não impeçam a
(1994) e Illston (1994), que estudaram o efeito formação de fissuras, elas melhoram a

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

412
resistência à tração uma vez que controlam sua no solo em questão no Laboratório de
propagação (TAYLOR, 1994). Geotecnia da Faculdade de Engenharia de
De acordo com Casagrande (2001), Bauru. Todos os ensaios foram realizados
existem vários formatos de fibras poliméricas seguindo-se as normas da ABNT.
que podem ser misturados à matriz, formando As fibras de polipropileno (PP) foram
assim o material compósito. No Brasil, a utilizadas nos comprimentos de 10, 15, 20 e 30
utilização mais frequente é a da fibra de PP. De mm, todas com 1,5 mm de largura, incluídas
acordo com Cristelo et al. (2015), o aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
polipropileno tem sido o tipo mais usual com determinados de 0,25%, 0,50%, 0,75%, 1,00%,
percentuais de fibra variando de 0,05 a 3,0%. 1,50% e 2,00% em relação à massa seca.
As fibras de polipropileno são Para a avaliação da resistência não
constituídas de um plástico que adquire confinada, o solo com e sem fibras foi moldado
resistência com o aumento da temperatura, o em sua umidade ótima, encontrada através do
qual é denominado termoplástico. ensaio de Proctor Normal. Ou seja, o grau de
Devido a sua composição, tais fibras compactação (GC) do solo em questão no
apresentam grande tenacidade e flexibilidade. momento do ensaio é de 100% e o teor de
Possuem módulo de elasticidade em torno de 8 umidade de 16,1%, possuindo um desvio
GPa e sua resistência à tração é de aceitável da umidade ótima de até 1%
aproximadamente 400 MPa. Possuem grande (condizente com os desvios que podem ocorrer
resistência ao impacto devido à resistência ao em campo). Os corpos de prova foram
ataque de diversas substâncias e aos álcalis. moldados em um cilindro com dimensões de
Em se tratando da resistência ao 5,1 cm de diâmetro e 10,35 cm de altura.
cisalhamento de pico, diversos trabalhos Para os ensaios de compressão não
abordam a questão enfocando os solos argilosos confinada, foram utilizados três corpos de prova
e arenosos. Casagrande (2005) afirma que “Em para cada comprimento e percentagem de fibra
geral, as fibras inibem a amplitude das fissuras e para o solo sem fibra. Ou seja, foram
associadas à ruptura do compósito. Este fato realizados 72 ensaios de compressão uniaxial
leva a um aumento nas áreas sob as curvas no solo com fibra e 3 ensaios no solo sem fibra,
tensão x deformação. Esta propriedade é que resultaram em 24 valores médios de
comumente referida como tenacidade, e resistência não confinada do solo com fibra e 1
representa o trabalho da fratura ou a capacidade valor médio de resistência não confinada do
de absorção de energia do compósito”. solo sem fibra.
Assim, esse trabalho procura ampliar os Através dos valores médios encontrados
resultados referentes aos efeitos que a inclusão nos ensaios, foi encontrado o parâmetro ótimo
de fibras de polipropileno causa nos solos de fibras no solo (comprimento e percentagem),
argilosos. Os resultados são úteis para a o qual leva ao maior valor de resistência não
compreensão dos efeitos de inclusões de fibras confinada. Para isso, foi traçado um gráfico dos
poliméricas na resistência dos solos. Além valores médios de resistência não confinada
disso, objetiva complementar outras pesquisas pelos valores dos teores de fibra em
em andamento que tratam do efeito de fibras percentagem.
poliméricas na resistência de solos argilosos. A partir dos resultados obtidos, foram
construídos gráficos dos valores médios de
resistência não confinada versus valores de
2 MATERIAIS E MÉTODOS teores de fibra em porcentagem. Dessa forma,
foram obtidos o comprimento e o teor de fibra
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi que levam ao maior valor de resistência não
utilizado solo local da cidade de Pederneiras, da confinada do solo argiloso.
região de Bauru (SP): solo argiloso (argila Com o parâmetro obtido através dos
arenosa). Foram realizados ensaios de ensaios de compressão uniaxial, os corpos de
granulometria, de compactação, de compressão prova dos ensaios triaxiais do tipo drenado
não confinada, de cisalhamento direto e triaxial (CD) foram moldados e compactados buscando-

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413
se um grau de compactação de 100%. Após a Através do ensaio de Proctor Normal, foram
compactação, os corpos de prova foram obtidos os seguintes parâmetros de
colocados no interior da câmara de ensaio compactação do solo sem fibras: teor de
triaxial. umidade ótimo w ótimo de 16,1% e massa
Os ensaios de cisalhamento direto foram específica seca máxima ρd máx de 1,837 g/cm3.
realizados de modo similar aos ensaios triaxiais:
os corpos de prova foram moldados na umidade 3.4 Ensaios de resistência não confinada
ótima do solo e com os melhores teores e
comprimentos de fibra de PP. Através dos ensaios de resistência não
Dessa forma, a envoltória de Mohr- confinada realizados com solo sem inclusão de
Coulomb foi obtida através dos resultados de fibras, a resistência média obtida foi de 507,90
três ensaios de cisalhamento direto, nos quais se kPa.
variou apenas a carga normal aplicada aos Os mesmos ensaios foram realizados
corpos de prova (1, 2 e 4 kg). No total, foram com a adição de fibras, em diferentes
realizadas duas envoltórias: uma do solo comprimentos e percentuais, de modo a avaliar
argiloso sem a inclusão de fibras e outra do a influência dessas na resistência do solo
mesmo solo mas com o acréscimo das fibras de argiloso. Os valores médios dos resultados
PP. encontrados estão dispostos nas Tabelas 1 e 2 a
seguir.

3 RESULTADOS Tabela 1. Valores médios das resistências não confinadas,


em Kpa, devido à inclusão de fibras em solo argiloso nas
percentagens de 0,25, 0,50 e 0,75%.
3.1 Caracterização das fibras PP
Fibras 0,25% 0,50% 0,75%
10 mm 615,7 628,67 638,53
As fibras do tipo PP foram cortadas com largura 15 mm 647,6 650,97 663,67
de 1,5 mm (que variou aproximadamente entre 20 mm 631,40 659,53 679,07
1,3 e 1,7 mm) e comprimentos de 10, 15, 20 e 30 mm 642,67 673,33 698,33
30. A densidade do PP utilizado foi de,
Tabela 2. Valores médios das resistências não confinadas,
aproximadamente, 0,95 g/cm³ a 20°. em Kpa, devido à inclusão de fibras em solo argiloso nas
Tais fibras são oriundas de potes percentagens de 1,00, 1,50 e 2,00%.
plásticos destinados à embalagem de alimentos, Fibras 1,00% 1,50% 2,00%
entre outros produtos, os quais foram 10 mm 662,03 685,73 704,10
comprados de uma mesma marca disponível no 15 mm 694,93 718,83 726,27
mercado (Cristalcopo), e cortados nos tamanhos 20 mm 704,93 741,90 729,93
30 mm 724,47 752,23 742,47
desejados, a fim de se padronizar as fibras,
garantindo a consistência dos resultados.
As fibras de polipropileno apresentaram Nota-se que, em geral, a inclusão de
baixo módulo de elasticidade, em torno de 8 fibras aumenta a resistência do solo. Para cada
GPa (menor que qualquer outra fibra) e tamanho e percentagem de fibra, o valor da
resistência à tração de aproximadamente 400 resistência não confinada varia. O comprimento
MPa. ótimo encontrado para o compósito solo-fibra
foi de 30 mm, e a percentagem ótima foi de
3.2 Classificação do solo 1,50 % em relação à massa seca do solo. Em tal
condição, o valor de resistência encontrado foi
Através da curva granulométrica obtida para o de 752,23 kPa, valor 48,1% maior que a
solo argiloso retirado da cidade de Pederneiras, resistência obtida para o solo sem fibra.
região de Bauru (SP), o solo foi classificado Depois de obtido o parâmetro ótimo
como argila arenosa roxa escura. solo-fibra, foram moldados corpos de prova no
resultado ótimo obtido de fibras variando-se a
3.3 Ensaios de compactação umidade em 2% em relação à umidade ótima.
Dessa forma, foi avaliada a mudança da
resistência do solo com a variação da umidade.

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414
Os resultados se encontram na Tabela 3 a De início, a percolação foi feita
seguir. aplicando 10 kPa pela contrapressão e 5kPa
pela tensão confinante. Após a espera de 48
Tabela 3. Valores médios das resistências não confinadas horas sem que a percolação fosse concluída,
em solo argiloso e fibra tipo PP moldados no parâmetro entrou-se em contato com outros pesquisadores
ótimo solo-fibra encontrado variando-se em 2% a
umidade do solo em relação à umidade ótima.
da área, dos laboratórios de Engenharia Civil da
14,1% 16,1% 18,1% USP (Universidade de São Paulo), que
Sem fibra 715,45 507,09 348,26 indicaram a aplicação de 50 kPa pela
Com fibra 889,26 752,22 540,51 contrapressão e de 45 kPa pela tensão
confinante. Tal tentativa de percolação foi dada
Ao analisar os resultados da Tabela 3 como finalizada após 24 horas com a saída de
acima, nota-se que os maiores valores obtidos aproximadamente 3 gotas de água pela
foram os ensaios realizados com a umidade de contrapressão.
14,1% (2% menor que a umidade ótima). O Após a percolação, iniciaram-se novas
aumento da resistência do solo com fibra em tentativas de saturação, as quais não foram
relação ao solo sem fibra foi de 24,30% para o eficientes já que não atingiram o estado de
solo na umidade de 14,1%, de 48,34% para o saturação requerido pela norma (β=0,95).
solo na umidade ótima e de 55,20% na umidade Tentou-se saturar os corpos de prova diversas
de 18,1%. vezes (uma das tentativas, inclusive, foi
superior a 11 dias) e os corpos de prova sempre
3.5 Ensaios triaxiais acabavam danificados pela variação de tensão a
que eram submetidos ou a alguma variação da
Os ensaios triaxiais previstos na proposta inicial energia elétrica do laboratório de Mecânica dos
não apresentaram resultados satisfatórios Solos da Faculdade de Engenharia de Bauru.
devido a uma série de dificuldades que serão Todos os problemas encontrados nesta
descritas a seguir. Em consequência disso, pesquisa foram endereçados aos devidos
foram realizados ensaios de cisalhamento direto responsáveis, tanto aos técnicos do laboratório
como forma alternativa de avaliar o efeito da quanto aos professores do Departamento de
inclusão de fibras na resistência do solo. Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia
Os primeiros obstáculos ocorreram logo de Bauru, os quais, cientes das dificuldades, se
no início da saturação. Nessa etapa, o corpo de comprometeram em se empenhar para arrumar
prova demorou um grande período de tempo o equipamento contatando a fábrica e tentando
para saturar. Além disso, a tensão aplicada buscar soluções em outros laboratórios que
nesse processo não era constante: eram feitos realizam o ensaio sem maiores problemas.
incrementos de tensão de 50 kPa três vezes ao Entretanto, devido à grande lentidão do
dia, mas ao avaliar o corpo de prova no dia processo, até o presente momento os problemas
seguinte, o equipamento mostrava uma tensão não foram propriamente identificados ou
aplicada menor do que a tensão atingida no dia solucionados. Dessa forma, conforme explicado
anterior, o que danificava o corpo de prova. anteriormente, foram realizados ensaios de
Outros impasses se deram nas etapas cisalhamento direto como forma de, apesar dos
seguintes. Nos momentos de aplicação de problemas encontrados, utilizar-se de soluções
incremento de tensão, os atuadores de pressão alternativas de avaliar o efeito da inclusão de
confinante e de contrapressão variavam (subiam fibras na resistência do solo.
e desciam) de forma exagerada, variando a
tensão que chegava ao corpo de prova. 3.6 Ensaios de cisalhamento direto
Com a falta de sucesso nas tentativas de
saturação, houve a tentativa de percolar água Os ensaios de cisalhamento direto foram
pelos corpos de prova. No entanto, tal técnica é moldados na umidade ótima do solo com grau
contraindicada por diversos autores, que de compactação de 100%. Foram obtidas 2
defendem que tal processo pode carrear envoltórias (uma para o solo sem fibras e outra
partículas, alterando os resultados. para o solo com fibras). Cada envoltória foi

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415
obtida através do cisalhamento de 3 corpos de 5 CONCLUSÃO
prova, os quais foram adensados com o uso de
cargas de 1, 2 e 4 kg. Diante dos resultados obtidos, é possível
Foram obtidas duas envoltórias (solo concluir que a resistência não confinada varia
argiloso com e sem fibras), as quais se para todos os tamanhos e percentagens de fibra.
encontram na figura 16 a seguir. Cada Além disso, o parâmetro ótimo em termos de
envoltória foi obtida através do cisalhamento de ganho de resistência no solo ocorreu com a
três corpos de prova, os quais foram adensados inclusão de fibras de 30 mm de comprimento e
com o uso de cargas de 1, 2 e 4 kg. 1,50% de teor em relação à massa seca do solo.
Dos resultados obtidos, com a inclusão
de fibras no parâmetro ótimo de comprimento e
percentagem variando-se a umidade ótima em
2%, nota-se que em todos os casos foi obtido o
maior valor de resistência não confinada do solo
na umidade de 14,1% (2% abaixo da umidade
ótima). No entanto, ocorre maior aumento de
resistência na umidade de 18,1% em relação à
massa seca de solo (2% maior que a umidade
ótima).
Figura 1. Envoltórias obtidas em ensaios de cisalhamento Analisando-se a resistência ao
direto do solo argiloso sem fibras e com fibras na cisalhamento do solo argiloso com o acréscimo
percentagem de 1,50% e comprimento de 30 mm. de fibras do tipo PP, nota-se uma diminuição da
coesão do solo e um aumento do ângulo de
O solo sem inclusão de fibras apresentou atrito.
coesão de 64,8 kPa e ângulo de atrito de 33,1°, A adição do parâmetro ótimo solo-fibra
enquanto que a inclusão de fibras resultou em mostrou um grande potencial do uso de fibras
uma envoltória com coesão 53,2 kPa e ângulo do tipo PP para o reforço de obras geotécnicas
de atrito de 45°. através de resultados muito promissores. No
entanto, a inclusão de fibras no solo argiloso
deve ser cuidadosamente avaliada em relação
4 DISCUSSÃO aos seus objetivos. Isso se deve ao fato de que,
embora tenha apresentado eficácia em relação
Todos os resultados dos ensaios de resistência ao aumento da resistência não confinada, ocorre
não confinada com o compósito solo-fibra uma redução do parâmetro efetivo de coesão.
resultaram em valores maiores dos que os
corpos de prova moldados sem fibra. Os
parâmetros ótimos de fibra encontrados nos AGRADECIMENTOS
ensaios de resistência não confinada foram:
percentagem de 1,50% e comprimento de 30 Ao CNPq pela concessão da bolsa, à Faculdade
mm. Nos parâmetros ótimos, a resistência de Engenharia de Bauru (UNESP) pelo espaço
encontrada foi de 752,23 kPa, enquanto no solo cedido para a realização do presente trabalho e
sem fibra foi de 507,92 kPa. ao meu orientador Paulo Lodi por todo apoio e
Analisando-se os resultados obtidos para ajuda disponibilizados.
a resistência ao cisalhamento do solo argiloso
sem a inclusão de fibras e com a inclusão de
fibras de PP nos parâmetros ótimos solo-fibra, REFERÊNCIAS
nota-se que a adição de fibras ocasionou uma
diminuição efetiva da coesão, que alcançou os CASAGRANDE, Michéle D. T. Estudo do
valores de redução de 17,9%. Entretanto, Comportamento de um Solo Reforçado Com Fibras
ocorreu o aumento do ângulo de atrito do solo, de Polipropileno Visando o Uso Como Base de
Fundações Superficiais. 94 f. Dissertação, Mestre em
alcançando aumentos de 36%. Engenharia, UFRGS, Porto Alegre, 2001.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Comportamento Mecânico de um Solo Arenoso com a Inclusão da


Fibra Natural de Curauá
Leila Maria Coelho de Carvalho
Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil, leila.mariacarvalho@hotmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: A inclusão de fibras naturais (sisal, curauá, fibra de coco e outras) para melhoramento
do solo esta estabelecida na tecnologia de materiais compósitos, sendo esta uma combinação de
dois ou mais materiais apresentando propriedades que os materiais componentes não possuem por
conta própria. O programa experimental teve como objetivo estudar o comportamento mecânico do
compósito areia-fibra através da inserção de fibra natural de curauá, com diferentes comprimentos e
teores de fibra, em uma matriz arenosa onde as fibras foram distribuídas de forma aleatória na
massa de solo. Os ensaios de cisalhamento direto, com dimensão de 300 x 300 mm e 220 mm de
altura, foram realizados com inclusão de fibras de curauá com 25 mm e 50 mm de comprimento e
nos teores de 0,5% e 0,75% de fibra (em relação ao peso seco do solo) e o solo com uma densidade
relativa de 50% com um teor de umidade de 10%. A inclusão de fibras naturais de curauá como
reforço de solo apresentou resultados satisfatórios com um aumento nos parâmetros de resistência
do solo quando comparado com os resultados do solo arenoso.

PALAVRAS-CHAVE: Cisalhamento direto, Fibra natural, Curauá, Melhoramento de solos.

ABSTRACT: The inclusion of natural fibers (sisal, curauá, coconut fiber and others) for soil
improvement is established in the composite materials technology, this being a combination of two
or more materials that presents properties that the component materials do not possess. The
experimental program aimed to study the mechanical behavior of the sand-fiber composite by
inserting natural fiber of curauá with different lengths and fiber contents in a sandy matrix where
the fibers were randomly distributed in the soil mass. The direct shear tests with dimensions of 300
x 300 mm and 220 mm in height were performed with curauá fibers lengths of 25 and 50 mm and
fiber contents of 0.5% and 0.75% ( in relation to the dry weight of the soil) and soil with a relative
density of 50% and a moisture content of 10%. The inclusion of natural curauá fibers as soil
reinforcement presented satisfactory results with an increase in soil resistance parameters when
compared to sandy soil results.

KEY WORDS: Shear test, natural fiber, curauá, soil improvement.

1 INTRODUÇÃO interesse de se analisar o efeito da adição de


fibras vegetais na melhoria do comportamento
A aplicação de materiais alternativos para o mecânico dos solos.
reforço de solos é um tema crescente e de A ideia principal do reforço de solo é obter
interesse nas diversas áreas da engenharia. A uma melhoria nos parâmetros de resistência do
técnica de melhorar as propriedades mecânicas solo. De acordo com Michell e Villet (1987), o
dos solos com a adição de fibras é usada pela conceito de solo reforçado foi desenvolvido na
humanidade há muito tempo, porém, somente década de 60, pelo engenheiro francês Henri
depois da segunda metade do século XX que Vidal, que patenteou uma de suas descobertas, a
vários trabalhos foram publicados com o “Terra Armada”, onde provou que introduzindo

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

419
um elemento de reforço na matriz do solo, a interação matriz-reforço e suas parcelas de
resistência ao cisalhamento do solo melhoraria. contribuição no comportamento do material
Existem diversos tipos de fibras que são compósito para a definição do melhor tipo de
utilizadas no mundo, podendo considerar dois reforço (fibra) a ser utilizado.
grandes grupos: as fibras sintéticas, compostas As fibras vegetais, comparadas às fibras
por materiais artificiais, resultado de processos sintéticas, são de baixo custo, de fácil obtenção,
industriais, que apresenta vantagem nas suas fartamente disponíveis, mais fáceis de
propriedades mecânicas constantes, bem manusear, têm boas propriedades mecânicas,
definidas, e maior resistência ao intemperismo; não geram quantidades excessivas de resíduos,
e as fibras naturais, na sua maioria de origem empregam tecnologias relativamente simples e
vegetal (orgânicas), apresentam constância nas requerem menos energia no processo de
suas características físicas (diâmetro, e produção, além de serem de fontes renováveis
comprimento), mas ainda assim fornecem bons (Dittenber & Gangarao, 2012). No entanto, as
resultados como reforço de solo, porém como fibras vegetais, comparadas às fibras sintéticas
desvantagens estão sujeitas à degradação apresentam grande variabilidade das
biológica, seu uso é uma forma de reciclagem propriedades físicas e mecânicas (cerca de
para contribuir com a preservação do meio 40%), susceptibilidade de degradação em
ambiente. ambientes naturais e variações dimensionais por
Atualmente observa-se um crescente interesse mudanças de teor de umidade e/ou temperatura
no uso de novos materiais como reforço de solo. (Ghavami et al., 1999).
Sendo as fibras vegetais boas opções, devido O desenvolvimento de materiais compósitos
seu baixo custo e grande disponibilidade. reforçados por fibras de origem vegetal é em
Diversos autores relataram em seus trabalhos grande parte motivado por uma maior
algumas mudanças que ocorrem no consciência ambiental, devido aos problemas de
comportamento mecânico dos solos reforçados eliminação de resíduos e o esgotamento dos
com fibras. Estas mudanças são relacionadas à recursos petroquímicos (Dittenber e Gangarao,
compactação, resistência ao cisalhamento, 2012).
deformabilidade, modo de ruptura, variação O curauá está entre as fibras mais
volumétrica, rigidez inicial e condutividade competitivas, figurando entre as mais
hidráulica. economicamente viáveis (Santos, 2009).
A técnica de reforçar solos com fibras está Devido as suas características, a fibra de curauá
estabelecida na tecnologia dos materiais também vem despertando o interesse da
compósitos, sendo este uma combinação de dois indústria automobilística sendo usada como
ou mais materiais que tenham propriedades que agente de reforço em painéis dianteiros, porta-
os materiais componentes não possuem por si pacotes, laterais de portas e porta-malas de
próprios. Sendo assim, estes são formados por veículos que integram o portfólio de gigantes do
uma matriz (solo, concreto, argamassa) e pelo setor, como Volkswagen, Honda e General
elemento de reforço (fibras, aço e outros). Motors (Santiago, 2011).
O melhoramento ou alteração das Segundo Oliveira (2010), cada planta de
propriedades mecânicas dos solos reforçados curauá produz cerca de 24 folhas e o
com fibras depende das características das rendimento de fibra seca é de aproximadamente
fibras (resistência à tração, módulo de 6%, totalizando quase 2 quilos de fibras por
elasticidade, comprimento, teor e rugosidade), planta. Um hectare produz 3.600 quilos de fibra
do solo (tamanho, forma e granulometria das seca ao ano, embora esses valores variem
partículas, índice de vazios, etc.), da tensão de bastante. Produtores colhem duas safras por ano
confinamento e do modo de carregamento. do curauá nativo (Pinto, 2007).
Assim, existem vários tipos de fibras para Vários trabalhos nos últimos anos foram
reforços de solo, cada uma com características desenvolvidos utilizando a fibra de curauá
de comportamento distintas, isto é, propriedades como reforço de solo. Pinto (2007) estudou o
físicas e mecânicas diferentes. Fazendo-se comportamento das fibras de curauá e sisal
necessário o entendimento dos mecanismos de como reforço em uma matriz de solo.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

420
Verificando que além de acrescer na capacidade Tabela 1. Indices físicos do solo arenoso
CARACTERISTICAS VALOR MÉTODO DE ENSAIO
de resistiva, as fibras vegetais transmitiram Densidade dos grãos (Gs) 2,68 ABNT NBR 6458:2016
ductibilidade e resistência pós-fissuração Índice de vazios máximo ( ) 0,89 ABNT NBR 12051:1991
Índice de vazios mínimo ( )
(tenacidade) para as matrizes de solo. 0,59 ABNT NBR 12004:1990
Coeficiente de não uniformidade (CNU) 2,40
Dentro deste contexto o presente trabalho Coeficiente de curvatura (Cc) 1,07
ABNT NBR 7181:2017
visa contribuir com a finalidade de um melhor Diâmetro efetivo 0,175 mm
Diâmetro efetivo 0,385 mm
destino às fibras naturais de curauá, estudando o
comportamento mecânico do solo reforçado,
com influencias do comprimento e teor da fibra. 2.2 Fibra de Curauá
Assim, estimular o uso de misturas solo-fibra
em obras de terra e proporcionar um destino As fibras de curauá, da espécie Ananas
distinto para esses resíduos. erectifolius, são fibras extraídas a partir das
folhas da planta (Figura 2), que são
bromeliáceas de ocorrência natural da
2 MATERIAIS E MÉTODOS Amazônia (Santiago, 2011). Embora
comestível, o interesse econômico pelo curauá
2.1 Solo Arenoso está primordialmente associado às fibras
extraídas de suas folhas (Pinto, 2007).
O solo arenoso foi obtido em estabelecimento
comercial e preparado em laboratório, passando
por um processo de secagem na estufa e
preneiramento, em que foi utilizado a peneira n°
10 (2,0mm), o material retido foi descartado.
Tendo como objetivo a obtenção de um material
uniforme com comportamento mecânico bem
definido e estável, de forma a proporcionar a Figura 2. Plantação de Curauá (Santiago, 2011)
melhor interpretação dos efeitos provocados
As fibras de curauá foram adquiridas
pela adição de fibras.
comercialmente pela empresa Pematec Triangel
O material é composto por 2,70% de argila
do Brasil, da cidade de Santarém-PA. Na
(<0,002 mm), 5,90% de silte (0,002 – 0,06 mm)
Tabela 2 e Tabela 3 são apresentados valores,
e 91,40% de areia, sendo que desta
disponíveis na literatura, para as propriedades
porcentagem 16,10% é de areia fina (0,06 –
fisicas e mecânicas da fibra, respectivamente.
0,2mm), 52,50% de areia média (0,2 – 0,6 mm),
e somente 22,90% de areia grossa (0,6 –2,0 Tabela 2. Propriedades físicas da fibra de curauá
mm). O solo arenoso apresenta granulometria Diâmetro Área Densidade Cristalinidade
Referência
uniforme e de acordo com o Sistema Unificado (mm) (mm²) (g/cm³) (%)
de Classificação de Solos (SUCS), sendo 0.09 Santiago, 2011
0.115 1.29 Pinto, 2007
classificado como uma areia mal graduada (SP), 0.092 - 0.127 1.34 Picanço, 2011
a curva granulométrica (Figura 1), e os índices 0.004 80.1 Fidelis, 2014
físicos do material (Tabela 1) foram
determinados no Laboratório de Geotecnia na Tabela 3. Propriedades mecânicas da fibra de curauá
Universidade de Brasília (UnB), em Brasília- Resistência à Módulo de Deformação na
Referência
tração (MPa) Young (Gpa) ruptura (%)
DF.
543.0 63.7 1.0 Fidelis, 2014
605.0 23.0 2.5 Santiago, 2011
492.6 11.5 3.0 Picanço, 2005

2.3 Preparação da Amostra

A moldagem dos corpos de prova para os


ensaios de cisalhamento direto foram realizadas
Figura 1. Distribuição granulométrica do solo arenoso

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421
na própria caixa do ensaio, com dimensão de 3 RESULTADOS
300 mm x 300 mm de largura e 200 mm de
altura. As legendas utilizadas durante os ensaios são
A preparação do corpo de prova é realizada divididas em quatro grupos. No primeiro grupo
por compactação manual, com a ajuda de um as letras SA e CA representam o tipo de mistura
soquete de aço, em camadas. Este foi dividido (SA: solo arenoso; CA: solo arenoso), no
em cinco camadas de areia ou areia-fibra, na segundo grupo os números representam o teor
própria caixa do ensaio de cisalhamento direto. de fibra utilizado na mistura (para 0,5% de fibra
O peso da mistura é calculado de acordo com os utiliza-se 0,5; para 0,75% de fibra utiliza-se
parâmetros desejados, como densidade relativa 0,75), logo o terceiro grupo simboliza o
e teor da fibra do compósito solo-fibra. O teor comprimento da fibra utilizada (para 25,0 mm
de água adicionado foi de 10% em relação ao de comprimento utiliza-se 25; para 50,0 mm de
peso seco do solo com uma densidade relativa comprimento utiliza-se 50) e o quarto grupo
de 50%, valores adotados na literatura. A simboliza a tensão aplicada durante o ensaio de
Tabela 4 resume as variáveis investigadas. cisalhamento direto (25, 50 e 100 kPa). A
Figura 4 apresenta de forma geral a legenda
Tabela 4. Variáveis investigadas da fibra de curauá utilizada para diferenciar os ensaios.
Teor de fibra Comprimento
Distribuição
(%) de fibra (mm)
0,00 - -
0,50 25 Aleatória
0,75 25 Aleatória
0,50 50 Aleatória
0,75 50 Aleatória

2.4 Ensaios de Cisalhamento Direto


Figura 4. Legenda dos ensaios

O equipamento de cisalhamento direto de As Figuras 5 e 6 apresentam as curvas de


médias dimensões (Figura 3) utilizado na tensão de cisalhamento x deslocamento
pesquisa foi desenvolvido por Palmeira (1998) horizontal, para todas as tensões confinantes
até adaptação feita por Sánchez et al. (2016) no (25, 50 ou 100 kPa). As fibras de curauá foram
Laboratório de Geotecnia da na Universidade cortadas nos comprimentos de 25,0 mm e 50,0
de Brasília – UnB. mm, variando os teores em 0.5 e 0.75% de fibra
e foram dispostas de forma aleatória na massa
de solo.

Figura 3. Visão geral do equipamento de cisalhamento


direto e da instrumentação (Sánchez, 2018)

Todos os ensaios de cisalhamento direto de


média dimensão serão executados na matriz
arenosa reforçada e não reforçada com fibras e
se basearão na variação da tensão efetiva média Figura 5. Gráfico da tensão cisalhante x deformação horz
no solo arenoso e compósito solo-fibra nos teores 0,5% e
inicial (25, 50 e 100 kPa) com velocidade
0,75% de fibra e comprimento de 25,0 mm de fibra.
constante de 0,508 mm/min e o deslocamento
cisalhante máximo do aparelho é de 40 mm.

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422
Figura 8. Valores dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento para o solo arenoso e solo-fibra reforçados
Figura 6. Gráfico da tensão cisalhante x deformação horz com fibra de curauá
no solo arenoso e compósito solo-fibra nos teores 0,5% e
0,75% de fibra e comprimento de 50,0 mm de fibra. Os resultados das misturas quando
comparados com os de solo arenoso apresentam
Para os cinco materiais ensaiados pode-se um aumento significativo, os valores de coesão
observar que a resistência aumenta com o apresentam acréscimos de 133 a 166% e o
aumento da tensão normal e não apresenta ângulo de atrito de 3 a 11%. Elucidando a
picos. Ao observar o acréscimo de resistência hipótese de que as fibras de curauá quando
ao cisalhamento em função da adição das fibras misturadas ao solo arenoso apresentam uma
em relação ao material não reforçado, também melhora nos parâmetros de resistência do solo.
nota-se um acréscimo com o aumento do Destaca-se que os parâmetros de resistência
comprimento e teor da fibra. As envoltórias de ao cisalhamento do solo mantiveram-se
rupturas dos ensaios solo arenoso e solo-fibra crescentes em todos os ensaios de misturas
são apresentados na Figura 7. solo-fibra de curauá. Verifica-se que o ângulo
de atrito e intercepto coesivo apresentam os
melhores resultados em termos de acréscimo
dos parâmetros de resistência para a mistura
CA_0,75_50. Compreendendo um aumento de
166 e 11% nos resultados de intercepto coesivo
e ângulo de atrito, respectivamente.
A adição da fibra nos parâmetros de
resistência teve uma maior manifestação de
trabalhabilidade com o grande aumento do
intercepto coesivo, mantendo o ângulo de atrito
com uma leve melhora. Esse fenômeno é
observado desde o processo de preparação dos
corpos de prova, quando se mistura a fibra de
curauá com o solo arenoso, observar-se de
Figura 7. Envoltórias de resistência do solo arenoso e forma notória que as fibras proporcionam uma
compósito solo-fibra nos teores 0,5% e 0,75% de fibra e
comprimentos de 25,0 e 50,0 mm de fibra.
agregação com os grãos do solo, promovendo
um efeito de ancoragem. A partir desta
Na Figura 7, verifica-se que as envoltórias de observação pode se justificar o notório
resistência do solo arenoso e das misturas solo- acréscimo do intercepto coesivo.
fibra de curauá, com comprimentos e teores
distintos, apresentam diferenças entre elas, 4 CONCLUSÃO
variando os valores de ângulos de atrito e
intercepto coesivo. Esses resultados podem ser O presente trabalho apresentou a análise do
observados numericamente na Figura 8. comportamento mecânico de um solo arenoso
reforçada com fibra natural de curauá através de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

423
ensaios de cisalhamento direto em verdadeira AGRADECIMENTOS
grandeza. A partir dos ensaios de cisalhamento
direto de médias dimensões executados em solo Os autores agradecem a Coordenação de
arenoso e misturas solo-fibra de curauá com Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
25,0 mm e 50,0 mm de comprimento, nos teores Brasil (CAPES) - Código de Financiamento
de 0.5 e 0.75% e com disposição das fibras de 001, pelo apoio a pesquisa da mestranda em
forma aleatória na massa de solo, foram primeiro autor e ao Laboratório de Geotecnia da
estabelecidas algumas conclusões relatadas a Universidade de Brasília (UnB) em Brasília-DF
seguir: pelo apoio físico e técnico para realização das
− O comportamento das misturas solo-fibra em pesquisas.
todas as curvas de tensão-deslocamento
apresenta um aspecto similar, aumentando a
resistência de acordo com a maior tensão REFERÊNCIAS
normal aplicada, as curvas não apresentam pico
de resistência; ABNT (1990). NBR 12004: Solo - Determinação do
− Nas curvas de envoltórias de resistência índice de vazios máximo de solos não coesivos -
Método de ensaio. Associação Brasileira De Normas
obtidas para o solo arenoso e solo-fibra, com Técnicas, Rio de Janeiro, p. 6.
critério de ruptura a 35 mm de deslocamento, ABNT (1991). NBR 12051: Solo - Determinação do
houve um acréscimo significativo nos índice de vazios mínimo de solos não-coesivos -
parâmetros de resistência em todas as misturas. Método de ensaio. Associação Brasileira De Normas
O intercepto coesivo obteve um aumento Técnicas, Rio de Janeiro, p. 15.
ABNT (2016). NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos
variando de 133 a 166% e o ângulo de atrito de na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da
3 a 11%, comparando com o solo arenoso; massa específica, da massa específica aparente e da
− A influência da variação do comprimento de absorção de água. Associação Brasileira De Normas
fibras, no teor de 0,5%, é verificado para altas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 10.
tensões (50 e 100 kPa), sendo maior a ABNT (2017). NBR 7181: Solo- Análise granulométrica.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
resistência quando maior for o comprimento das Janeiro, p. 12.
fibras. Porém, para a baixa tensão aplicada de Dittenber, D. B., Gangarao, H. V. S., (2012) Critical
25 kPa o comportamento resistente do solo review of recent publications on use of natural
reforçado com as fibras é praticamente composites in infrastructure. Composites Part A:
inalterado; Applied Science and Manufacturing, Elsevier, v. 43,
n. 8, p. 1419–1429.
− A influência do acréscimo de teor de fibra Ghavami, K., Tolêdo Filho, R. D., Barbosa, N. P. (1999)
foi analisada levando em consideração o valor Behaviour of composite soil reinforced with natural
da força cisalhante para o deslocamento de 35 fibres. Cement and Concrete Composites, Elsevier, v.
mm durante o ensaio. Para a tensão de 25 kPa 21, n. 1, p. 39–48.
as fibras vegetais de 25 mm tiveram um Mitchell, J.K., Villet, W.C.B., (1987) Reinforcement of
earth slopes and embankments. : NCHRP Rep. No.
aumento de aproximadamente 9% da força 290, Washington, D.C.
cisalhante, porém para o comprimento de 50 Oliveira, A. F. d. (2010) Avaliação de desempenho de
mm não foi constato nenhuma mudança da fibras lignocelulósicas na sorção de óleos diesel e
força cisalhante; para a tensão de 50 kPa as biodiesel. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual
fibras obteve um aumento de aproximadamente Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas,
Botucatu, 98p.
7% da força cisalhante; para 100 kPa as fibras Palmeira, E.M. (1998) Equipamento Para Ensaios de
obteve um aumento de aproximadamente 15% Tração Confinada de Geotêxteis em Solos – Versão 2.
quando comparado com o solo arenoso; Relatório de Pesquisa. Programa de Pós-Graduação
− Os resultados se mostraram satisfatórios para em Geotecnia, Universidade de Brasília.
a inclusão de fibras naturais de curauá como Pinto, A. R. A. G. (2007) Fibras de curauá e sisal como
reforço em matrizes de solo. Dissertação (Mestrado)
reforço de solos, com potencial aplicação em — Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia
aterros sobre solos moles, taludes e fundações Universidade Católica do Rio de Janeiro, 103p.
superficiais, dando um fim mais nobre a este Sánchez, N.P., Araújo, G.L.S., Palmeira, E.M., (2016)
material no âmbito técnico, atendendo também Estudo Multi-escala da Resistência ao Cisalhamento
a aspectos econômicos, sociais e ambientais. da Interface entre Geotêxtil Não Tecido e Solo.
COBRAMSEG 2016. ABMS, Belo Horizonte.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

424
Sánchez, N.P. (2018) Estudo de alguns aspectos que
influenciam a aderência entre geossintéticos e
diferentes materiais. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, 168p.
Santiago, G.A. (2011) Estudo do Comportamento
Mecânico de Compósitos SoloFibras Vegetais
Impermeabilizadas com Solução de Poliestireno
Expandido (EPS) e Cimento Asfáltico de Petróleo
(CAP). Tese de Doutorado. Rede Temática em
Engenharia de Materiais, Universidade Federal de
Ouro Preto, 130p.
Santos, P. A. (2009) Efeito da forma de processamento e
do tratamento da fibra de curauá nas propriedades de
compósitos com poliamida-6. Polímeros: Ciência e
tecnologia, Associação Brasileira de Polímeros, v. 19,
n. 1.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

425
426
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise da Influência da Adição de Resíduos de PET em Floco e


em Pó na Curva de Compactação de um Solo Argiloso
Maurício Thomas
Universidade Federal do Pampa – Programa de Pós-Graduação em Engenharia, Alegrete-RS, Brasil,
mauriciothomas170890@gmail.com

Diego Arthur Hartmann


Universidade Federal do Pampa, Alegrete-RS, Brasil, diegohartmann@unipampa.edu.br

Luis Eduardo Kosteski


Universidade Federal do Pampa – Programa de Pós-Graduação em Engenharia, Alegrete-RS, Brasil,
luiskosteski@unipampa.edu.br

Ana Paula Garcia


Universidade Federal do Pampa, Alegrete-RS, Brasil, anapg@unipampa.edu.br

RESUMO: Devido ao consumo e a produção em massa, o sistema econômico brasileiro enfrenta


enormes problemas por conta da disposição final dos resíduos gerados pela população. Neste
contexto, há um enorme desafio com relação à deposição das garrafas PET junto ao meio ambiente.
Buscando novas finalidades para resíduos de garrafas PET, o principal objetivo deste trabalho foi
realizar uma análise sobre o uso de resíduos de PET na influência da curva de compactação do solo
em duas formas de adição: em pó e em floco. Para isso, foram realizadas misturas de solo do tipo
argiloso laterítico com adição de diferentes porcentagens de flocos e pó de PET. Os flocos de PET
também foram submetidos a tratamento químico com diferentes concentrações de NaOH e diferentes
intervalos de tempo. As modificações morfológicas foram analisadas e avaliadas por microscopia
eletrônica de varredura. Com relação aos resultados das misturas após o ensaio de mini-proctor, foi
constatada uma pequena diminuição da massa específica de todas as misturas, um aumento da
umidade ótima da mistura com adição de 1% de flocos de PET e diminuição da umidade ótima das
misturas com 3% e 5% de adição de flocos de PET junto ao solo. Com relação ao tratamento químico
realizado no floco de PET, foi observado que a amostra com 8% de concentração de NaOH e tempo
de imersão de 2h foi a amostra que, após inspeção visual, teve sua superfície atacada com maior
intensidade, aparentando apresentar maior rugosidade quando comparada ao floco de PET sem
tratamento químico.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos de PET, reforço do solo, tratamento químico.

ABSTRACT: Due to consumption and mass production, the Brazilian economic system faces
enormous problems related to the final disposition of the residues generated by the population. In this
context, there is a huge challenge regarding the disposal of PET bottles in the environment. On the
search for a new destination for waste PET bottles, the main objective of this work was to perform
an analysis on the use of PET residues in the influence of the soil compaction curve in two forms of
addition: powder and flake. For this purpose, different flake and PET powder percentages were
incorporated to a lateritic clayey soil. The PET flakes were also subjected to chemical treatment with
different concentrations of NaOH and different time intervals. The morphological modifications were
analyzed and evaluated by scanning electron microscopy. Regarding the results of the mixtures, from
the mini-proctor test it was verified that there was a small decrease of the specific mass of all the
mixtures, an increase of the optimal moisture of the mixture with addition of 1% of PET flakes and

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427
decrease of the optimum water content of the mixtures with 3% and 5% addition of PET flakes to the
soil. As for the chemical treatment performed in the PET flake, the sample with 8% NaOH
concentration and 2h immersion time was the sample that, after visual inspection, had its surface
attacked with greater intensity, appearing to present a greater roughness when compared to the flake
of PET without chemical treatment.

KEY WORDS: PET waste, soil reinforcement, chemical treatment.

1 INTRODUÇÃO de contaminação ao solo ou ao lençol freático


(Canellas, 2005).
Com o intenso avanço da tecnologia aliado ao Responsáveis diretos pela reindustrialização
crescimento populacional, novos produtos têm dos resíduos recicláveis, as indústrias de
sido criados com intensidade cada vez maior. reciclagem realizam a transformação do resíduo,
Inseridos neste contexto, os plásticos têm considerado lixo, em um produto que possa ser
servido de subsídio para a produção de artigos novamente consumido. Leal et al. (2003)
inovadores que vem facilitando a vida dos seres enfatizam que essa ação benéfica faz com que
humanos. haja uma redução dos danos ambientais e
Empregando tradicionalmente uma grande permite que se reaproveite uma parcela de
quantidade de produtos naturais, a engenharia resíduos sólidos, colaborando para uma solução
geotécnica tem utilizado plásticos de uma de um dos mais graves problemas urbanos da
maneira cada vez mais frequente em seus atualidade, a produção de lixo, além de se tornar
projetos. Essa inserção não só proporciona a uma alternativa para o desenvolvimento
utilização dos plásticos para fins geotécnicos economicamente sustentável.
específicos, mas também contribui com a Buscando uma alternativa para potencializar
utilização de plásticos recicláveis. o uso do resíduo de PET reciclado em obras
Nas últimas décadas houve uma intensa geotécnicas, é de extrema importância que o
disseminação na utilização de embalagens comportamento mecânico, as características
descartáveis em forma de garrafas, que foram físicas, químicas e ambientais das misturas de
produzidas com resina de Politereftalato de solo e PET sejam minuciosamente analisadas.
Etileno (PET) e que serviram de alternativa às Com a mistura de dois materiais de propriedades
tradicionais garrafas de vidro, até então distintas (solo e PET), cria-se um compósito, que
utilizadas inúmeras vezes no envase do mesmo tem como finalidade melhorar a resistência
produto a que eram destinadas durante sua vida mecânica, a tenacidade, a coesão do solo e
útil. Acontece que assim que for depositado em diminuir a propagação de fissuras, entre outros
aterros sanitários, o PET pode levar em média (Choudhary et al., 2010). O conhecimento
400 anos para se decompor, fazendo com que se adequado do mecanismo de reforço auxiliará no
reduza a capacidade física dos aterros, entendimento do comportamento mecânico da
provocando inclusive, uma diminuição da mistura solo-PET, podendo servir como reforço
capacidade de percolação de gases e líquidos, de solo, aplicado em obras geotécnicas de
gerando um acréscimo no tempo necessário de estabilização de taludes, aterros sobre solos
estabilização da matéria orgânica presente nos moles e fundações superficiais, por exemplo
aterros (Meneses, 2011). (Manjunath et al., 2013).
Considerando que seus produtos de Uma alternativa que visa melhorar as
degradação são inofensivos ao corpo humano, o condições de atrito na interface solo-PET é a
PET apresenta alta resistência a agentes realização do tratamento químico dos plásticos.
atmosféricos e biológicos. Mesmo Nagy e Skvarla (2011) realizaram o tratamento
indevidamente descartadas, as garrafas de PET químico de amostras de PET utilizando soluções
são totalmente inertes, ou seja, além de não de NaOH a baixas temperaturas. Os autores
gerarem gases tóxicos, não causam nenhum tipo constataram um aumento no ângulo de contato

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428
das amostras de PET analisadas em soluções de escolha do solo se deve ao fato de o mesmo estar
NaOH em concentrações de até 8% e presente em cerca de 20% do estado do Rio
temperatura de 60°C, conferindo à superfície do Grande do Sul, abrangendo uma área de
PET um aspecto mais rugoso. aproximadamente 20.000 km², além de
Neste contexto, este trabalho objetiva analisar compreender cerca de um terço da parcela dos
o comportamento de um solo argiloso laterítico solos do restante do país. A coleta do solo foi
reforçado com resíduos de PET, buscando realizada em uma jazida localizada próxima à
avaliar a viabilidade do material de inclusão BR 307 km 28. Obedecendo as especificações
como reforço de solo, por meio de um estudo da ABNT NBR 9604 (2016), fez-se a coleta do
experimental através da caracterização física e solo com auxílio de pá e enxada. Antes da
mecânica dos novos compósitos. Além disso, escavação, foi realizada a limpeza superficial do
será analisada a superfície de flocos de PET, terreno, com o intuito de retirar a vegetação
através de microscopia eletrônica de varredura presente. Após, o material foi armazenado em
(MEV), submetidos a um tratamento químico bolsas de transporte, conduzido ao laboratório e
com diferentes concentrações de NaOH em destorroado para sua utilização em ensaios
diferentes intervalos de tempo. Também se laboratoriais.
espera que o uso deste resíduo como material O solo também foi classificado de acordo com
alternativo possa diminuir problemas atuais de a sua granulometria, através de ensaios de
disposição de resíduos em aterros sanitários, granulometria por peneiramento e granulometria
acrescentando um maior valor ao material. por sedimentação, descritos na ABNT NBR
7181 (2017). A Figura 1 apresenta a curva
granulométrica do solo.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
areia areia
argila silte areia fina média grossa pedregulho
100
O programa experimental estabelecido na 90
Percentagem Passante (%)

pesquisa tem como principal objetivo analisar o 80


70

efeito da adição de diferentes proporções de 60


50
resíduos de PET nas propriedades mecânicas de 40
30
um solo argiloso laterítico. Para isso, foram 20
10
realizadas misturas de solo puro com diferentes 0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
teores de flocos de PET e pó de PET. Para Diâmetro dos Grãos (mm)

obtenção dos índices físicos do solo puro e das Figura 1. Curva Granulométrica do Solo.
misturas envolvidos na pesquisa, foram
realizados testes de caracterização física, a fim Com a análise da Figura 1 foi determinado que
de destacar os parâmetros que possam ser o solo é de composição fina, apresentando
correlacionados com o desempenho mecânico aproximadamente 98% do material passante na
dos materiais utilizados. peneira #200 (0,075 mm). O teor de argila
presente no solo foi de 86%, sendo que o restante
2.1 Materiais Utilizados da composição é de silte, em torno de 10%, areia
fina, 3,5% e areia média, cerca de 0,5%.
Para esta pesquisa foram utilizados três De acordo com o Sistema Unificado de
diferentes materiais: Solo (S), flocos de PET (F) Classificação dos Solos (SUCS), que classifica o
e pó de PET (P). Foram utilizados diferentes solo utilizando dados de classificação
teores de adição de flocos de PET e de pó de granulométrica, o solo pode ser classificado
PET. como um silte de Alta Compressibilidade (MH),
que corresponde ao grupo A 7-5 da Classificação
2.1.1 Solo Rodoviária (TRB). Já através da metodologia de
classificação Miniatura Compactado Tropical
O solo utilizado na pesquisa provém do (MCT), permitiu-se classificar o solo através dos
município de Cândido Godói, situado na região coeficientes c’ e e’, como mostra a Figura 2. O
noroeste do estado do Rio Grande do Sul. A coeficiente c’, denominado de coeficiente de
deformabilidade, pode ser correlacionado com a

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429
granulometria do material, mostrando se o solo micronização, que é processo responsável
tende a ser mais argiloso ou arenoso. O índice e’ por reduzir o material em um pó, com
foi concebido para indicar o comportamento tamanho de partícula médio de 0,42 mm.
laterítico ou não laterítico do solo. O solo deste
trabalho foi classificado como Argiloso A granulometria do pó de PET foi realizada
Laterítico conforme a metodologia MCT. através do ensaio de peneiramento, norteado pela
ABNT NBR 7181 (2017). A Figura 3 apresenta
2,1 a curva granulométrica do material.
1,9
NS'
1,7
NA NG' 100
1,5 90

NA' 80

Percentagem Passante (%)


1,3
70
1,1 60

0,9 LA 50
LA' LG' 40
0,7 30

0,5 20
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 10
Coeficiente c' 0
0,01 0,1 1 10
Figura 2. Classificação do solo pela metodologia MCT. Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 3. Curva Granulométrica do pó de PET.


2.1.2 Pó de PET
2.1.3 Flocos de PET
O pó de PET utilizado nesta pesquisa é
proveniente da empresa PETCEU, da cidade de Assim como o pó, os flocos de PET utilizados
Céu Azul – PR. O produto é resultado de um nesta pesquisa são provenientes da empresa
método específico de esmagamento, utilizado PETCEU, da cidade de Céu Azul – PR. Os flocos
pela maioria das empresas de reciclagem, são obtidos através de um processo de moagem
realizado normalmente em seis etapas. Melo dividido em algumas etapas, de acordo com a
(2004) faz uma breve descrição das etapas empresa fornecedora do material:
relacionadas à produção do pó de PET: • Inicialmente as garrafas PET passam por um
• O primeiro passo consiste em reunir as processo de limpeza, retirando-se as partes
garrafas PET e realizar a retirada dos rótulos superior, inferior e rótulos das embalagens;
e tampas das mesmas. Após, as garrafas • Após, o material é encaminhado para
passam por um processo de lavagem com esmagamento em um moinho de lâminas
água; afiadas e de alta velocidade da Radial
• O passo seguinte é efetuar a moagem das LaFrance, modelo SG-500F;
garrafas através de um processo de • No moinho, as garrafas PET são introduzidas
esmagamento em um moinho, resultando nos na parte superior da máquina, as lâminas
flocos de PET; efetuam o corte do material até o mesmo
• O terceiro passo consiste no processo de passar pela peneira desejável, coletando em
aglomeração, onde devido à sua baixa seguida o material triturado em uma caixa.
densidade, os flocos recebem um tratamento Os flocos de PET utilizados na pesquisa
térmico com o objetivo de diminuir seu possuem uma granulometria média de 10
volume e consequentemente aumentar a sua mm.
densidade, tornando o material mais
adequado para o processo de rotomoldagem; 2.1.4 Flocos de PET Tratados Quimicamente
• A próxima etapa é a da rotomoldagem, onde
Com a finalidade de se observar o
o material é preparado para o estágio da
comportamento e eventuais mudanças na
moagem final;
morfologia do PET, algumas amostras de flocos
• O quinto passo consiste no processo de
de PET foram submetidas a um tratamento
moagem, onde o material é finalizado em
químico com hidróxido de sódio (NaOH).
forma de pequenas pastilhas;
Espera-se que esse tratamento modifique a
• O sexto e último passo consiste na

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430
superfície do PET, tornando-a mais rugosa, e de LL e LP, é possível determinar o Índice de
fazendo com que o grau de atrito entre o solo e a Plasticidade (IP) do solo, que resulta da
superfície de PET aumente, elevando assim os diferença do LL e do LP. Dessa maneira, o
parâmetros de resistência do novo material. A IP calculado foi de 19%.
Tabela 1 apresenta as condições de tratamento as
quais as amostras foram submetidas. 2.2.1 Ensaio de Compactação
Tabela 1. Condições de tratamento químico das amostras. Com o intuito de determinar a umidade ótima de
Age nte do
tratame nto
NaO H cada mistura, realizou-se o ensaio de
Conce ntração e m
2 4 8 compactação Mini-Proctor. O ensaio obedece ao
massa (%)
Te mpo de banho
mesmo procedimento geral do Proctor
30 60 120 30 60 120 30 60 120 tradicional, que dita a compactação de solos em
(min)
Te mpe ratura do
50 50 50 laboratório e fornece a curva de compactação
banho (°C)
Te mpe ratura de
que corresponde a uma determinada energia
25°C 25°C 25°C
se cage m (°C) aplicada por meio de soquete.
Te mpo de se cage m
24 24 24 O ensaio Mini-Proctor difere do Proctor
(h)
Tradicional pelo tipo e peso de soquete, pelo
diâmetro interno do molde de compactação (50
Na realização do tratamento químico utilizou- mm), pelo volume de solo compactado e por
se um béquer de 1000 ml, uma chapa de utilizar somente os solos que passam
aquecimento e agitação da marca DiagTech, integralmente na peneira de 2,00 mm (#10) e
modelo DT3120H, uma barra agitadora de 7x30 aqueles que possuem uma porcentagem muito
mm e um termômetro. Após serem submetidas baixa de fração retira (<10%). De acordo com
ao banho, as amostras foram enxaguadas em Nogami e Villibor (2009), as principais
água com pH de aproximadamente 7. vantagens que o procedimento Mini-Proctor
De início, realizou-se a pesagem de uma apresenta são as seguintes:
quantia em torno de 5 g de flocos de PET para
• Drástica diminuição da quantidade de
ser adicionado à concentração química. Em
amostra utilizada e de esforço na aplicação
seguida, dissolveu-se uma determinada
dos golpes;
concentração de NaOH em água, para ser
• Possibilidade de medição exata da altura do
adicionado aos 500 ml de água junto ao béquer.
corpo de prova após a aplicação dos golpes
Na sequência, ligou-se a chapa de aquecimento e
com o soquete;
com auxílio de um termômetro fixou-se a
temperatura da concentração em 50°C durante o • Melhoramento da uniformidade dos corpos
banho. Após o término do ensaio, as amostras de prova compactados.
foram lavadas em água deionizada, submetidas à
secagem em temperatura ambiente durante 24 2.2.2 Microscopia Eletrônica de Varredura
horas e armazenadas em embalagens plásticas
devidamente lacradas. O MEV foi utilizado com a finalidade de
verificar as modificações superficiais causadas
2.2 Métodos e Procedimentos de Ensaios pelo tratamento químico com NaOH realizado
nos flocos de PET. O equipamento utilizado é o
2.2.1 Limites de Atterberg modelo EVO MA10, da marca ZEISS, que
realiza a leitura das amostras através da emissão
De acordo com ABNT NBR 6459 (2017), de elétrons. Antes de serem analisadas, todas as
realizou-se a determinação dos Limites de amostras necessitam passar por um processo de
Atterberg do solo: metalização com ouro, realizado em uma
metalizadora da marca SCANCOAT SIX. A
• O Limite de Liquidez (LL), correspondente a
Figura 4 apresenta o equipamento de
25 golpes, foi de 61%;
metalização juntamente com as amostras levadas
• O Limite de Plasticidade (LP) foi de 42%;
ao MEV para análise.
• Através dos resultados obtidos pelos ensaios

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431
35 1,98
30 1,96

Umidade Ótima (%)

MEASmáx (g/cm³)
25
1,94
20
1,92
15
1,90
10
5 1,88

0 1,86
Solo Solo+1% Solo+3% Solo+5% Solo+1% Solo+3% Solo+5%
pó pó pó flocos flocos flocos
Umidade Ótima MEASmáx

Figura 6. Comparação direta da MEASmáx e umidade


ótima.

Analisando as Figuras 5 e 6, que trazem uma


comparação da umidade ótima com a massa
específica aparente seca máxima (MEASmáx),
percebe-se que o solo natural atingiu uma massa
Figura 4. Equipamento de metalização e amostras de específica de cerca de 1,97 g/cm³ e uma umidade
flocos de PET ótima em torno de 28%. Esse valor de massa
específica pode ser considerado elevado quando
comparado com outros tipos de solo argilosos,
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO porém, Pinto (2006) reitera que solos que
apresentam características lateríticas costumam
3.1 Ensaio de Compactação apresentar valores de massa específica em torno
de 2 g/cm³ e umidade ótima entre 25% e 30%.
Utilizando o método de compactação Mini- Quando adicionado 1% pó de PET ao solo, a
Proctor, em que 100% do solo analisado deve massa específica teve um pequeno decréscimo e
necessariamente ser passante na peneira 2 mm, a umidade ótima aumentou para 29%. Quando o
as Figuras 5 e 6 apresentam as curvas de teor de pó de PET aumentou para 3%, houve
compactação do solo laterítico com a adição de nova queda da massa específica, chegando a
1%, 3% e 5% de pó de PET e 1%, 3% e 5% de cerca de 1,93 g/cm³ e um pequeno aumento na
flocos de PET. É importante destacar que os umidade ótima. Percebe-se que a diminuição da
corpos de prova moldados apresentaram-se massa específica se dá a medida em que se
íntegros após a desmoldagem, não exibindo aumentam os teores de material substituído,
sinais de descascamento ou qualquer ocorrendo o inverso com a umidade ótima, na
desestruturação devido às adições de PET. qual há a influência dos tamanhos das partículas,
pois a mistura requer uma maior quantidade de
água para realizar a hidratação dos materiais. O
2,0
mesmo resultado foi observado quando realizada
1,9 a adição de 5% de pó de PET, que obteve uma
MEASmáx. (g/cm³)

1,8 massa específica de cerca de 1,90 g/cm³,


1,7 mantendo a umidade ótima em 29%.
Solo+1% pó Solo+1% flocos
1,6
Solo+3% pó Solo+3% flocos
Quando adicionado ao solo 1% de flocos de
1,5 Solo+5% pó Solo+5% flocos PET, a massa específica se manteve
1,4
Solo praticamente inalterada, ficando em torno de
18 20 22 24 26
Umidade (%)
28 30 32 34 36
1,97 g/cm³ e houve um pequeno aumento da
umidade ótima, que ficou em 28,5%, quando
Figura 5. Curvas de compactação do solo com adição de comparada ao solo natural. Quando a adição de
pó e flocos de PET.
flocos de PET foi de 3% houve uma redução
considerável da massa específica, que ficou em
1,92 g/cm³, e da umidade ótima, que decresceu a
25,5%. E quando o teor de flocos de PET
adicionado foi de 5%, a massa específica ficou

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432
em torno de 1,9 g/cm³ e a umidade ótima ficou Comparando as Figuras 7 e 8, percebe-se
em torno de 22,3%, mantendo a tendência de visualmente que há uma modificação na
queda desses parâmetros à medida em que o teor superfície do floco de PET tratado quimicamente
de flocos adicionado foi aumentando. O com 8% de NaOH durante 120 min. A amostra
resultado de massa específica manteve o mesmo apresenta um certo escamamento em vários
comportamento das curvas com pó de PET, onde pontos da superfície. Analisando as imagens
à medida que se aumentam os teores de adição, obtidas através do MEV, essa foi a amostra que
tem-se uma queda da massa específica. Já a teve uma maior modificação superficial dentre
umidade ótima teve um decréscimo com as todas as amostras analisadas, quando
adições, que se deve ao fato dos flocos de PET comparadas com o floco de PET sem tratamento.
apresentarem uma granulometria muito superior
ao pó de PET.
4 CONCLUSÃO
3.2 Microscopia Eletrônica de Varredura
Através deste trabalho foi possível observar a
A Figura 7 apresenta a imagem analisada pelo influência da adição de diversos teores de PET
MEV de uma amostra de floco de PET sem em flocos e em pó na curva de compactação de
tratamento e a Figura 8 exibe uma amostra de um solo laterítico. Foram analisadas também a
PET tratada com concentração de 8% de NaOH influência do tratamento dos flocos de PET a
submetido a um banho de 120 min. partir de diferentes teores e tempos de ataque de
NaOH na superfície do PET.
Com relação ao ensaio de compactação,
constatou-se que houve um pequeno decréscimo
da massa específica de todas as misturas quando
comparadas ao solo natural. Quanto à umidade
ótima, percebeu-se um acréscimo da mesma na
mistura que continha porcentagens de pó de PET
adicionadas ao solo, e um decréscimo da
umidade ótima nas misturas com 3% e 5% de
flocos de PET junto ao solo.
Foi constatado que o caso mais agressivo de
tratamento resultou em uma alteração
perceptível na superfície do floco. Espera-se que
essa alteração aumente o atrito entre o solo e a
Figura 7. Floco de PET sem tratamento químico. superfície de PET e venha trazer eventuais
mudanças na resistência do novo material.
Ensaios mecânicos ainda serão realizados nas
misturas com diferentes teores de incorporação
de PET, a fim de se avaliar a influência da adição
deste material nas propriedades mecânicas.

REFERÊNCIAS
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de liquidez. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, 6p.
ABNT (2017). NBR 7181: Solo – Análise
Granulométrica. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, 13p.
Figura 8. Floco de PET tratado durante 2 horas com 8% de ABNT (2016). NBR 9604: Abertura de poço e trincheira
NaOH. de inspeção em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas. Associação Brasileira de

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3ª edição. Oficina de Textos: São Paulo.

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434
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise do desempenho de geodrenos verticais através da


mudança dos parâmetros físicos e mecânicos em solos moles
Rodrigo Rogério Cerqueira da Silva
Universidade Nove de Julho, São Paulo, Brasil, rodrigorogerio@uni9.pro.br

Bruno Pereira Casanova


Geogrout, São Paulo, Brasil, brunocasanova@geogrout.com

RESUMO: As obras de infraestrutura rodoviária apresentam uma série de desafios principalmente


relacionados à mecânica dos solos, tornando-se cada vez mais comum a construção em terrenos
com presença de grandes espessuras de solos instáveis e compressíveis, os quais demandam o uso
de técnicas de forma a melhorar sua capacidade de suporte e acelerar recalques prevenindo
problemas futuros de estabilidade. Existem diversas técnicas de construção em aterros sobre solos
moles que possibilitam solucionar tais problemas, sendo a verificação de sua eficiência avaliada
quanto à redução da magnitude dos recalques e tempo de estabilização dos mesmos. Uma das
técnicas que se destaca pela sua praticidade e rapidez de execução para tratamento de solos moles é
o uso de drenos verticais, que aceleram a saída de água contida entre os poros das partículas sólidas
das argilas moles e pouco permeáveis, permitindo aumento da resistência ao cisalhamento, através
da redução do seu volume. O presente artigo tem por objetivo verificar o desempenho da aplicação
de drenos verticais em uma obra de infraestrutura localizada na região de Guarulhos, município de
São Paulo, avaliando as mudanças físicas e mecânicas de uma espessa camada de solo mole
verificadas em duas campanhas, antes e após o tratamento, através de investigações geotécnicas por
meio de sondagens do tipo SPT e Vane Test e caracterização dos solos através dos índices físicos,
indicando o grau de melhoramento do maciço tratado.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Dreno Vertical, Tratamento de solo, Índices físicos dos


solos.

ABSTRACT: The road infrastructure works present a series of challenges mainly related to the
mechanics of the soils, becoming more and more common the construction in lands with presence
of great thicknesses of unstable and compressible soils, which demand the use of techniques in
order to improve their ability to support and accelerate settlements preventing future stability
problems. There are several techniques of construction in embankments on soft soils that allow to
solve such problems, being the verification of its efficiency evaluated in the reduction of the
magnitude of the settlements and the time of stabilization of the same ones. One of the techniques
that stands out for its practicality and speed of execution for treatment of soft soils is the use of
vertical drains, which accelerate the exit of water contained between the pores of the solid particles
of the soft and little permeable clays, allowing increased resistance to shear strength by reducing its
volume. The aim of this article is to verify the performance of vertical drains in an infrastructure
project located in the region of Guarulhos, in the city of. Evaluating the physical and mechanical
changes of a thick layer of soft soil verified in two campaigns, before and after the treatment,
through geotechnical investigations SPT and Vane Test and characterization of soils through
physical indexes, indicating the degree of improvement of the treated massive.

KEY WORDS: Geosynthetics, Vertical drains, Improvement soil, Physical properties of soils.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

435
1. INTRODUÇÃO ensaios in loco por sondagens do tipo SPT
(sondagem a percussão) e Vane Test. Foram
As obras de infraestrutura rodoviária coletadas amostras aravés de sondagem a trado
apresentam uma série de desafios (ST) e armazenadas segundo a NBR
principalmente relacionados à mecânica dos (9604:2016), para a realização de ensaios
solos, tornando-se cada vez mais comum a laboratoriais e caracterização dos índices físicos
construção em terrenos com presença de do solo local.
grandes espessuras de solos instáveis e
compressíveis, os quais demandam o uso de 2.1 Características Geológicas
técnicas de forma a melhorar sua capacidade de
suporte e acelerar recalques prevenindo Na base dos sedimentos aluvionares
problemas futuros de estabilidade. Assim torna- quaternários que recobrem quase toda a
se necessário aplicar métodos de melhoramento extensão da Bacia Sedimentar de São Paulo, em
de solos moles que têm como principais Guarulhos, ocorrem sedimentos terciários que
objetivos prevenir rupturas por falta de são correlacionados à Formação Resende, do
capacidade de carga, além de evitar grandes Grupo Taubaté (Riccomini e Coimbra 1992).
assentamentos diferenciais, altamente perigosos Segundo Riccomini e Coimbra (1992), a
para a estabilidade e funcionalidade de uma Formação Resende possui uma planície aluvial
estrutura. de rios entrelaçados denominados braided,
Nesse sentido, verifica-se que a escolha formado por depósitos de carga de fundo e
correta da solução mais adequada a ser pontas de barras de rios anastomosados, de
executada para uma determinada obra de aterro granulometria grossa. Segundo Driscoll (1989),
sobre solo mole deve levar em consideração, o sistema braided confere alta permeabilidade e
dentre outros fatores, a sua exequibilidade porosidade aos depósitos sedimentares.
técnica, o orçamento e o prazo que se tem à De acordo com Diniz e Duarte (2012) neste
disposição (Madeira, 2016). O autor afirma pacote sedimentar terciário ocorrem aluviões de
ainda que o dimensionamento técnico da drenagem de idade Quaternária, constituídos,
respectiva solução precisa ser baseado em predominantemente, por camadas de areias
teorias da engenharia geotécnica. argilosas finas e médias de cores cinza e
Madeira (2016) concluiu em seu estudo de amarelada e argilas siltosas pouco arenosas de
viabilidade em solos moles que a solução com cor variegada, capeadas por uma camada de
drenos verticais associados a uma sobrecarga argila orgânica, às vezes pouco siltosa e pouco
temporária apresenta-se viável, sendo que, ao arenosa, cinza-escura a preta, com consistência
investir cerca de 20% a mais no orçamento muito mole.
inicial, pode se obter um ganho de
aproximadamente 46% no prazo total de 2.2 Execução dos Geodrenos Verticais
execução do empreendimento.
O progresso da consolidação de uma camada A solução proposta no projeto de execução para
de argila pode ser controlado pela observação a melhoria do solo para a aceleração do
das variações das pressões intersticiais (u), processo de consolidação dos materiais
assumindo a variação das tensões verticais aluvionares é através da instalação de
totais como uma constante, a transferência para geodrenos verticais atravessando integralmente
tensões efetivas é consequência da variação das essa camada aluvionar.
pressões intersticiais (Terzaghi et al., 1996). Os geodrenos apresentam como principais
vantagens, a aceleração dos recalques e a
eficácia em eventuais deslocamentos do terreno,
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL especialmente em função da flexibilidade dos
drenos. Por outro lado, o sistema apresenta
O programa experimental consistiu no como principais desvantagens, a necessidade de
acompanhamento da cravação de geodrenos utilização de um aterro temporário de
verticais no maciço de solo mole, através de sobrecarga, encarecendo um pouco o sistema, e

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436
deixando-o mais lento em sua execução (Sgarbi
et al., 2011).
Os geodrenos são formados por um núcleo de
plástico com ranhuras em forma de canaleta,
envolto por um filtro de geossintético não tecido
de baixa gramatura com dimensões em torno de 5
x 100 mm (Figura 1).

Figura 2: Vista geral da área de estudo.

Estudos realziados por Bergado et al. (1994)


e Maccarini (2010), verificaram que a malha
triangular garante uma abrangência maior na
área tratada onde os geodrenos forem cravados
e portanto um adensamento mais uniforme e
Figura 1. Detalhe geodreno dimensões 5 x 100 mm. maior dissipação do excesso de pressão neutra.
Independentemente do cálculo a experiência
De modo geral, alguns cuidados são tem mostrado que os drenos com espaçamentos
necessários na instalação dos geodrenos. Nesse menores que 1,5 m não resultam em benefícios
sentido, Araújo (2009) afirma que em alguns relativos à velocidade de adensamento (Saye,
casos pode ser observado o efeito “smear”, ou 2001). O dimensionamento da malha de
amolgamento da argila, durante a instalação dos geodreno é baeado na teoria de adensamento
geodrenos, que consiste no efeito de radial, sua seção transversal retangular
adensamento no solo envolvente do dreno, (dimensões a e b) de acordo com Rixner et al.
provocado pela sua cravação. (1986) é corrigida de acordo com o diâmetro
De acordo com Saye (2001) a cravação de equivalente (dw), de acordo com a equação (1).
drenos verticais pré-fabricados desenvolvem O espaçamento entre os drenos pode ser
perturbações similares ou maiores do que os relacionado com o diâmetro de influência do
drenos de areia. Essas perturbações de acordo dreno (de), sendo que para malha triangular
com Casagrande e Poulos (1969) são adota-se a equação (2). A Figura 3 apresenta o
intensificadas quando o espaçamento é menor detalhe da malha triangular utilizada no campo
que dois metros e que durante a cravação de experimental e a especificação para (dw) e (de)
drenos pré-fabricados acaba causando de forma no dimensionamento.
progressiva, ainda mais perturbações no local,
de forma a reduzir substancialmente o dw = 2 (a+b) (1)
respectivo grau de adensamento. π
A avaliação do programa experimental
ocorreu após a execução de aterro com areia de = 1,05 x S (2)
com espessura da ordem de 1 metro, os
geodrenos verticais foram instalados de forma a
atravessar integralmente a formação aluvionar
com profundidade de 18. A malha dos
geodrenos possui uma distribuição do tipo
triangular, com afastamentos de 1,5 m (Figura
2).

Figura 3. Detalhe da malha de cravação e especificação


para dimensionamento.

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437
De acordo com Massad (2010) a utilização
de geodrenos verticais para acelerar o
adensamento de solo é aplicavel quando o solo
mole é muito espesso, ou o seu coeficiente de
adensamento é muito baixo, a utilização da pré-
compressão através de sobrecarga temporária,
torna-se ineficiente.
Os geodrenos verticais diminuem o caminho
de drenagem dentro da massa de solo mole,
para cerca de metade da distância horizontal
entre drenos, promovendo assim a aceleração
dos recalques. Após a cravação dos drenos na
Figura 5. Tipo de solo coletado para realização dos
camada aluvionar em estudo o fluxo de água foi ensaios laboratoriais.
contínuo nas primeiras 72 horas (Figura 4).
Para a obtenção dos parâmetros a seguir
foram conduzidos os seguintes ensaios
laboratoriais, para verificar a diminição de água
nos poros das argilas como limite de liquidez
NBR 6459 (1984), limite de plasticidade NBR
7180 (1984), teor de umidade natural NBR
6457 (1984), índice de vazios e determinação
da massa específica NBR 6508 (1984).

Tabela 1. Caracterização geotécncia antes da cravação do


geodreno.
Prof. LL LP IP W γnat
eo
(m) (%) (%) (%) (%) (KN/m³)
Figura 4. Detalhe do fluxo de água após execução dos 2 127 58 69 132 3,28 13,9
geodrenos verticais. 4 75 45 30 92 3,22 14,0
6 66 34 32 90 3,07 14,3
A verificação da eficiência do tratamento de 8 63 32 31 89 3,02 14,5
solos moles é verificada geralmente através do
monitoramento dos aterros sobre solos moles Onde: LL (limite de liquidez), LP (limite de plasticidade),
usualmente com inclinômetros, perfilômetros e IP (índice de plasticidade), W (teor de umidade), e0
placas de recalque, sendo o objetivo desta (índice de vázios), γnat (peso específico natural).
pesquisa, avaliar as mudanças físicas e
Bedeschi (2004) verificou em seu trabalho
mecânicas de uma espessa camada de solo mole
que o teor de umidade natural é próximo do
através de duas campanhas de investigações
limite de liquidez, e a umidade da camada
geotécnicas, antes e após o tratamento das
superficial turfosa gira em torno de 350%,
camadas de solos mole tratadas com geodrenos.
sendo que quando os drenos verticias penetram
na camada de argila orgânica este índice
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
diminui, de forma a variar entre 100% a 150%,
dentro da faixa dos valores encontrados em
3.1 Ensaios geotécnicos laboratoriais
estudo. Já em relação ao índice de plasticidade,
de um modo geral, verifica-se uma amplitude
A seguir nas Tabelas 1 e 2, serão apresentados
menor, com variação entre 150% para as
os parâmetros geotécnicos obtidos por meio dos
camadas iniciais, sendo que permanece em
ensaios laboratoriais utilizando-se amostras
média na casa dos 100% para as camadas
deformadas (Figura 5), coletadas por sondagem
subsequentes (Bedeschi, 2004).
a trado (ST) na área de estudo, junto ao local
A eficiência da instalação dos geodrenos
mais crítico de resistência Nspt antés e após a
pode ser verificada através do processo que visa
cravação dos geodrenos.
melhorar as propriedades físicas do solo através

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438
da redução dos seus vazios tornando o maciço variável que pode chegar a um máximo de 6 m,
mais homogêneo, resultando no aumento do sobrepondo-se a estas camadas, por vezes
peso específico do solo conforme indicado na ocorre uma camada de argila contendo areia
Tabela 2. Com a diminuição dos vazios do solo, fina e restos de vegetais, marrom e cinza-escuro
nota-se uma redução da variação dos teores de com. A Figura 6 demonstra uma das sondagens
umidade, consequentemente dos limites de SPT realizada no local mais crítico realizado no
liquide e plasticidade do solo contribuindo com início da obra, a sondagem representada pela
o aumento da resistência ao cisalhamento, Figura 7 demonstra os parâmetros de resistência
conforme indica os resultados do ensaio Vane oito meses após o tratamento com geodrenos.
Test após aplicação da técnica (Tabela 4).

Tabela 2. Caracterização geotécncia após a cravação do


geodreno.
Prof. LL LP IP W γnat
eo
(m) (%) (%) (%) (%) (KN/m³)
2 75 44 31 87,4 2,96 14,5
4 64 30 34 66,7 2,40 15,1
6 66 34 32 60,2 2,05 15,8
8 53 27 26 57,8 1,98 16,2

Onde: LL (limite de liquidez), LP (limite de plasticidade),


IP (índice de plasticidade), W (teor de umidade), e0
(índice de vázios), γnat (peso específico natural).

Machado (2012), por sua vez, ao analisar a


estabilização do solo de fundação através da
aplicação de geodrenos em camada de argila
mole/média, verificou que os resultados dos
ensaios físicos indicam o melhoramento do solo
para o limite de liquidez na ordem de 41% a
71% e o índice de plasticidade entre 19% a
35%. Figura 6. SPT antes do tratamento de solo com geodreno.
Com base nos resultados das Tabelas 1 e 2,
observa-se que o fator de influência mais
importante é a umidade do solo, esta variável é
significativa nas mudanças dos outros
parâmetros físicos. A diminuição da umidade
permite um rearranjo do solo, de forma a criar
um esqueleto sólido entre os grãos do solo,
diminuido os vazios entre as partículas do solo,
interferindo no aumento da massa específica do
solo e consequentemente na diminuição dos
limites de liquidez e plasticidade do solo.

3.2 Parâmetros geotécnicos ensaios SPT

Foram realizadas duas campanhas de sondagens


do tipo SPT (NBR 6484:2001), antes e após o
tratamento de solo, apresentando espessuras de
camadas de argila orgânica que variam entre 4 a
8 m de consistência muito mole a mole, seguida
por vezes de lentes de areia fofa e camadas de
argila de consistência rija com espessura Figura 7. SPT após tratamento de solo com geodreno.

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439
A melhoria da resistência mecânica dos solos cisalhamento com o amolgamento. Os valores
moles pode ser verificada através do aumento de sensibilidade obtidos pelos ensaios de
dos valores do Nspt, encontrados após a palheta antes da cravação dos geodrenos
cravação dos geodrenos, associados ao indicados na Tabela 3 correspondem a um solo
rebaixamento no nivel de água em cerca de classificado como sendo majoritariamente de
doze metros com sobrecarga de aterro. média sensibilidade, de acordo com critério de
classificação adotado por Skempton e Northey
3.3 Parâmetros geotécnicos ensaios Vane Test (1952).
A Tabela 4 demonstra as mudanças dos
Após a execução das sondagens tipo SPT, comportamentos das argilas moles após
foram realizados ensaios Vane Test eliminar a água contida entre os poros das
(10905:1989), para a definição dos valores de partículas sólidas, permitindo o aumento da
resistência não drenada (Su). A Tabela 3 indica resistência ao cisalhamento, mudando
o valor do ensaio para a situação natural, consequentemente o comportamento da argila
amolgada, além da sensibilidade, ou seja, a para baixa sensibilidade.
perda relativa de resistência da argila quando
totalmente amolgada, através da razão entre a Tabela 4. Resultados dos ensaios Vane Test depois da
execução de geodreno.
resistência não drenada do solo no estado Su Su
indeformado e a resistência do solo no estado Prof. Resistência Resistência Sensitividade
amolgado. (m) Indeformada Amolgada (kPa)
O ensaio foi realizado até a profundidade de (KPa) (KPa)
8 m, considerando a parte mais crítica do perfil 1 4,7 3,9 1,5
aluvionar de acordo com as investigações 2 4,9 4,2 1,2
3 6,8 5,1 1,3
geotécnicas (SPT). A sensibilidade maior na 4 8,8 4,6 1,9
superfície é explicada, pelo fato do teor de 5 7,2 4,1 1,8
umidade natural ser maior que o limite de 6 8,2 5,6 1,4
liquidez conforme indicado na Tabela 1. 7 9,6 5,8 1,6
8 10,4 6,2 1,7
Tabela 3. Resultados dos ensaios Vane Test antes da
execução de geodreno. Observa-se uma tendência no aumento da
Su Su resistência do estado indeformado em relação à
Prof. Resistência Resistência Sensitividade diminuição do índice de vazios, teor de
(m) Indeformada Amolgada (kPa)
(KPa) (KPa)
umidade, limite de liquidez, limite de
1 3,2 0,9 3,5 plasticidade e um aumento do peso específico
2 3,9 1,1 3,6 do solo, demostrando a dependência do
3 3,0 0,7 4,2 melhoramento dos parâmetros do solo
4 4,8 1,2 4,0 principalmente pela ação do aumento dos
5 5,2 1,6 3,3 efeitos capilares proporcionado pelos geodrenos
6 4,9 1,5 3,2
7 6,7 1,6 4,1 através da expulsão de água, contribuindo para
8 6,4 1,4 4,5 uma nova distribuição das particulas do solo
diminuindo seus vazios.
A área de estudo apresentou uma Os valores de melhoramento dos parâmetros
sensitividade do solo entre 3,2 e 4,5 (kPa), dos solos encontrados na Tabela 4 resultam de
sendo compatível com os dados obtidos por três principais fatores, como á compressão
Massad (1988), que descreve a sensibilidade imediata, ocasionada pela sobreposição do
das argilas da região de Santos-SP entre 4 e 5 aterro na camada de solo compressível,
(kPa). De acordo com Carneiro (2014) a deformação devida à magnitude da tensão
sensitividade do solo é um parâmetro para vertical com o tempo e retração do solo argiloso
avaliar os efeitos do amolgamento, sendo que após expulsão da água.
quanto mais sensitiva for à amostra, mais A Figura 8 apresenta uma correlação
acentuada será a redução da resistência ao matemática linear com alta significância R²

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440
obtida entre resistência indeformada (R²=81%) Estudos realizados por Mello (2011)
e almogada (R²=84%) com o índice de vazios demonstraram que a instalação de geodrenos
do solo após a cravação de geodrenos. verticais permite acelerar significativamente o
processo de consolidação dos materiais
aluvionares, acelerando os seus assentamentos e
os ganhos de resistência ao cisalhamento do
maciço de solo em um curto prazo.

4. CONCLUSÃO

O processo de enrijecimento de solos moles


através da execução de geodrenos visa
modificar suas características geotécnicas de
forma volumétrica, a partir do aumento máximo
das poropressões provocada pelo processo de
perda d'água durante a cravação dos geodrenos,
associada a sobrecarga de aterro.
O resultado da expulsão de água contribui
Figura 8. Correlção entre resistência indeformada e para o aumento substancial da resistência da
amolgada com o indíce de vázios.
argila ao longo de toda a profundidade de solo
mole, através da variação do teor de umidade,
O comportamento da resistência permitido um novo arranjo da estrutura entre os
indeformada em relação à umidade dependerá grãos dos solos, contribuindo para o aumento de
das modificações associadas à variação do teor sua massa específica e consequentemente da
de umidade, sendo que a análise das relações melhoria dos parâmetros de limites de liquidez
destaca-se aos aspectos referentes à e plasticidade do solo.
caracterização hidráulica do solo. Para as A sensitividade dos solos moles é
amostras obtidas na área de estudo foi indicada influenciada diretamente pela variação do teor
uma baixa dispersão dos parâmetros obtidos, de umidade e índice de vazios, comprovada
com melhor representatividade R² de 87% em atráves da representatividade de regressão linear
relação à dependência da resistência R² acima de 75% em função do teor de umidade
indeformada com a umidade (Figura 9), em e R² acima de 80% para índice de vazios,
vista do indíce de vazios. indicando confiabiliade dos indíces fisicos na
avaliação das condições de resistência
indeformada e amolgada dos solos.
Os ensaios realizados em campo e
laboratório encontrados na presente pesquisa, se
enquadram nas faixas de valores obtidos pela
experiência brasileira, assim para melhor
contribuição do processo executivo devem ser
considerados os parâmetros técnicos do solo
como sondagem, indíces físicos e espessura da
camada de solo mole a ser tratada.
Diante disso analisam-se as variáveis
necessárias como profundidade e distância entre
os geodrenos, além da espessura do colchão
drenante.

Figura 9. Correlção entre resistência indeformada e


amolgada com o teor de umidade.

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441
REFERÊNCIAS industrial sobre solos moles para implantação de um
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Resistência ao cisalhamento sob condições drenadas e não drenadas


de um solo argiloso com fibras de polipropileno
Sabrina Andrade Rocha
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, sabrina-andrade@outlook.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

Cláudio Henrique de Carvalho Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, silvac@ufv.br

RESUMO: O uso de solo-fibra tem sido reconhecido como viável técnica de melhoramento de solos.
E embora muitos estudos tenham avaliado o comportamento de resistência de solos argilosos e fibras,
não há ainda um consenso sobre os mecanismo de interação das fibras em solos coesivos e do
comportamento deste solo sob condições drenadas e não drenadas. Neste contexto, o presente
trabalho busca contribuir para o entendimento do comportamento de resistência ao cisalhamento de
um solo argiloso com inclusão de 0,25% de fibras de polipropileno sob condições drenadas e não
drenadas, por meio de ensaios de compressão triaxial, bem como avaliar a influência das pressões
neutras na interface e a alteração de volume durante o cisalhamento. Em termos de tensões efetivas,
na condição drenada, os resultados evidenciaram que as fibras provocaram um aumento na parcela
de coesão, permanecendo o ângulo de atrito praticamente inalterado. Para a condição não drenada,
em em termos de tensões efetivas, as fibras não afetaram o valor de coesão e proporcionaram
acréscimo no ângulo de atrito da mistura. A drenagem durante o cisalhamento favoreceu a resistência
das misturas solo-fibra e a pressão neutra durante o cisalhamento não drenado pode ter ocasionado
perturbação e rearranjo na interface solo-fibra, enfraquecendo assim a resistência interfacial entre o
solo e as fibras, reduzindo a resistência ao cisalhamento em comparação com a condição drenada.
Estes resultados evidenciam a necessidade de avaliar o solo-fibra nas condição de drenagem de
campo.

PALAVRAS-CHAVE: solo-fibra, solo argiloso, resistência drenada, resistência não drenada

ABSTRACT: The use of soil-fiber has been recognized as a viable technique of soil improvement.
Although many studies have evaluated the shear behavior of clayed soil-fiber, there is still no
consensus on the mechanisms of fiber interaction in cohesive soils and the behavior of this soil under
drained and undrained conditions. Then, the present work aims to contribute to the understanding of
the shear strength of clayed soil with 0.25% of fiber mixture, under drained and undrained conditions,
by means of triaxial texts, as well as understand the influence of pore water pressures at the interface
and volume changes during shearing. In terms of effective stresses, in the drained condition, the
results showed that the fibers caused an increase in soil cohesion, remaining the angle of friction
practically unchanged. In the undrained condition, in terms of effective stresses, fibers did not
affected the soil cohesion and an increase in the friction angle was observed. Drainage during shearing
have favored soil-fiber shear strength and the pore water pressures during shearing (undrained
condition) could have caused perturbation and rearrangement at the soil-fiber interface, thus
weakening the interfacial resistance between the soil and the fibers, when compared to results in
drained conditions. Results evidenced the need to evaluate the soil-fiber in field drainage conditions.

KEY WORDS: soil-fiber, clayey soil, drained strength, undrained strength.

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443
1 INTRODUÇÃO resultados do ensaio triaxial CU, o
comportamento da argila com a presença de
O uso de solo-fibra tem sido reconhecido como fibras de polipropileno foi alterado durante o
viável técnica de melhoramento de solos em cisalhamento, modificando também a geração de
inúmeras aplicações geotécnicas, tais como pressão neutra dentro das amostras. Freilich et al.
reaterros, melhoria da capacidade de carga de (2010) ainda concluiem que as fibras
solos, estabilização mecânica de subleitos e sub- restringiram a dilatação do solo fibroso.
bases e no controle de condutividade hidráulica Mirzabebei (2017) realizou uma série de ensaios
do solo (Ziegler et al. 1998; Choubane et al. triaxiais CU, em amostras de argila com a adição
2001; Tang et al. 2007; Shukla et al, 2017). de fibras poliméricas (1%, 3% e 5%) e
Erlich et al. (2019) relatam ainda, a potencial concluíram que a inclusão de fibras resultou na
utilização de fibras na mitigação de trincas de transformação do comportamento plástico do
retração em argilas compactadas em cobertura de solo natural para um comportamento de
aterros sanitários. endurecimento.
No entanto, devido a maior complexidade Atualmente, nota-se também um crescente
relacionada ao mecanismo de interação das aumento no desenvolvimento de métodos de
fibras em solos coesivos, em comparção aos previsão do comportamento solo-fibra (Diab,
solos arenosos, e do comportamento dessa 2018; Jamei, 2013, Najjar et al et al, 2013;
mistura sob condições drenadas e não drenadas, Zornberg, 2002), bem como uso de modelos
há a necessidade de entendimento dos constitutivos baseados em propriedades de
mecanismos de transferência de forças na resistência das misturas (Diambra e Ibraim,
interface entre as fibras e as partículas finas do 2013; Mirzabebei et al., 2017). Estes métodos de
solo. Neste caso, fatores como desenvolvimento previsão ou modelos, para serem calibrados ou
de pressão neutra na interface, tendência à validados, necessitam de resultados de ensaios
alteração de volume e taxa de deformação, de laboratório, especialmente os ensaios
resultam em diferentes resultados de resistência triaxiais.
ao cisalhamento (Li, 2005). Neste contexto, o presente trabalho busca
Özkul e Baykal (2007) sugere que maioria contribuir para o entendimento do
dos estudos se concentra no comportamento da comportamento de resistência ao cisalhamento
resistência de curto prazo das misturas e que, o de um solo argiloso com inclusão de 0.25% de
comportamento de resistência e deformação de fibras de polipropileno sob condições drenadas e
solos argilosos com fibras sob condições de não drenadas, por meio de ensaios de
carregamento saturadas e drenadas não foram compressão triaxial, bem como a influência das
amplamente estudados. Ekeinci e Ferreira (2012) pressões neutras na interface e a alteração de
citam que os estudos direcionados a explicar a volume durante o cisalhamento.
interação entre as fibras e os grãos finos de argila
são ainda limitados, devido a maior
complexidade relacionada ao mecanismo de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
interação sob condições drenadas e não
drenadas. Anagnostopoulos et al. (2014) relatam, 2.1 Solo
no entanto, que, embora muito se tenha estudado
sobre o comportamento de resistência de solos O solo utilizado nesta pesquisa consiste em um
argilosos e fibras, não há ainda um consenso solo argilo-arenoso laterítico, típico do interior
geral sobre o efeito das fibras poliméricas no do estado de São Paulo, coletado em uma jazida
comportamento mecânico de solos finos. localizada no município de Santa Gertrudes –
Freilich et al (2010) analisaram em amostras São Paulo. Após a coleta, o solo foi destorroado,
de argila com fibras de polipropileno, no teor de seco ao ar, passado na peneira #4 e
0,50%, os efeitos da pressão neutra na resistência homogeneizado para caracterização e demais
efetiva ao cisalhamento, através de ensaios ensaios. A Tabela 1 reúne as características
triaxiais consolidados drenados (CD) e geotécnicas do solo utilizado. De modo geral, o
consolidados não drenados (CU). Com base nos solo contém fração significativa de argila de alta

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444
plasticidade, sendo passível do desenvolvimento utilizaram teores variando de 0,1% a 1,5% de
de elevados níveis de pressões neutras. fibras em relação a massa seca do solo, tais como
em Feuerharmel (2000), Li (2005), Özkul e
Tabela 1. Propriedades geotécnicas do solo. Baykal (2007), Freilich et al. (2010),
Ensaio Valor Especificação Mirzababaei et al. (2013), Diambra e Ibraim
Fração areia (%) 36 (2013), Otoko (2014). Nesta pesquisa, optou-se
Fração silte (%) 14 ABNT NBR 7181 por realizar os ensaios com teor de 0,25%.
Fração argila (%) 50
ρ (g/cm³) 3,02 ABNT NBR 6458 2.3 Preparação das amostras
LL (%) 51 ABNT NBR 6459
LP (%) 30 ABNT NBR 7180 O processo de homogeneização das fibras no
IP (%) 21 - solo seguiu a seguinte sequência: 1)
ρd (g/cm³) 1,70 homogeneizou-se o solo na umidade ótima do
ABNT NBR 7182 solo natural, obtida através do ensaio de
wót (%) 24,0
Classificação SUCS CH ASTM D2487 compactação na energia Proctor normal, e
Classificação MCT LG’ DNER – ME 258 calculou-se a quantidade de água em relação ao
peso total da matéria prima seca (solo + fibra);
2.2 Fibras de polipropileno 2) distribuiu-se aleatoriamente as fibras na
matriz de solo; 3) iniciou-se o processo de
As fibras utilizadas nesta pesquisa são de mistura dos materiais. Para a realização dos
polipropileno aditivado, formadas por pequenos ensaios triaxiais, os corpos de prova do solo
filamentos não retificados. Estas fibras natural e da mistura solo-fibra foram moldados
apresentam características uniformes e são em seus respectivos parâmetros ótimos de
inertes quimicamente, o que possibilita a sua compactação, na energia Proctor normal,
aplicação em projetos de engenharia. A Figura 1 conforme ABNT NBR 7182 (ABNT, 2016).
apresenta as fibras de polipropileno e a Tabela 2 O ensaio de compactação, realizado na
apresenta as características das fibras, energia Proctor normal, para o solo com adição
disponibilizadas pelo fabricante. de fibras, resultou em umidade ótima de 24,7% e
peso especifico sexo máximo de 1,67 g/cm³.
Comparando os resultados com os do solo
natural, apresentado na Tabela 1, pode-se
verificar que houve pequena alteração nos
valores. Esta pequena variação nos parâmetros
ótimos de compactação misturas argila-fibra
também são verificadas na pesquisas de Prabakar
e Sridhar (2002), Cetin et al (2006), Tran et al.
(2018).
Para a realização dos ensaios de compressão
Figura 1. Fibras de polipropileno.
triaxial, os corpos-de-prova foram moldados
Tabela 2. Propriedades físicas das fibras de polipropileno. com diâmetro de 50 mm e altura de 100 mm, com
grau de compactação de 95% (±1%).
Propriedades Físicas Fibras
Matéria prima Polipropileno
Massa especifica 0,90 g/cm³ 2.4 Programa experimental
Diâmetro médio 18 µm
Comprimento 12 mm A realização dos ensaios de compressão triaxial
Tensão de ruptura 810 MPa tipo consolidado drenado (CD) e consolidado
Alongamento na ruptura 28% não drenado (CU) ocorreram conforme
Absorção de água 0,0 procedimentos da ASTM D7181 (ASTM, 2011)
e ASTM D4767 (ASTM, 2011),
Diversas pesquisas que avaliaram o respectivamente. Os corpos de prova, após
comportamento de solos argilosos e fibras curtas compactados na umidade ótima, foram levados

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445
para a câmara triaxial e submetidos a saturação Verificou-se ainda na Figura 2, pouca
por contrapressão. Cada corpo-de-prova foi alteração na rigidez inicial das curvas tensão-
mantido nessa fase por dez dias, em média. A deformação, o que demostra que o efeito das
saturação foi confirmada com a obtenção do fibras na resistência à compressão foi baixo para
parâmetro B em torno de 0,95. Os ensaios foram pequenas deformações, até o momento em que
realizados com tensões confinantes de 50, 100, começaram a predominar as deformações
200 e 300 kPa, sendo essa faixa de tensões usual plásticas da matriz solo-fibra. O comportamento
nas pesquisas de Li e Zornberg (2002), Özkul e observado na Figura 2 está de acordo com o
Baykal (2007) e Mirzababaei et al. (2017). Após encontrado por Freilich et al. (2010) em um solo
a fase de adensamento, os corpos-de-prova argiloso com fibras poliméricas, onde verificou-
foram submetidos à fase de cisalhamento com se que, para tensões de confinamento mais
uma taxa de deslocamento axial de 0,15 baixas, as fibras podem não interagir
mm/min, tanto para a condição drenada quanto efetivamente com os grãos de solo, e podem
para a condição não drenada. Ao final, para cada escorregar no momento do cisalhamento, uma
tensão de confinamento utilizada, foram plotadas vez que podem não confinar efetivamente os
curvas tensão desvio x deformação e grãos de solo e nem adicionar resistência
estabelecidas as envoltórias de resistência ao excedente ao compósito fibroso.
cisalhamento do solo natural e das misturas solo- A Figura 3 apresenta a variação volumétrica
fibra. das amostras durante o ensaio CD. Observa-se
que para as tensões de 50 kPa e 100 kPa, não
foram observadas variações significativas na
3 RESULTADOS compressibilidade do solo com a inclusão de
fibras. Entretanto, para as tensões de 200 kPa e
3.1 Ensaios de compressão triaxial CD 300 kPa, as fibras proporcionaram maior
compressibilidade quando comparado com o
A Figura 2 apresenta as curvas tensão x solo natural, tal como em Ibraim et al. (2010) e
deformação obtidas no ensaio CD. Observa-se Castilho (2017).
maior resistência do solo-fibra em realação ao
Variação volumétricaa (%)

natural para todas tensões confinantes, e que o 0


Variação volumétricaa (%)

0
σ: 50 kPa σ: 100 kPa
-1 -1
acréscimo na tensão de confinamento -2 -2
proporcionou maior eficiência das fibras na -3 -3
resistência do solo. -4 -4
-5 -5
SOLO NATURAL
-6 -6
800 800 SOLO-FIBRA 0,25%
SOLO NATURAL -7 -7
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
600 SOLO-FIBRA 0,25%600
σ1 - σ3 (kPa)

0 Deformação axial (%) 0 Deformação axial (%)


Variação volumétricaa (%)
σ1 - σ3 (kPa)

Variação volumétricaa (%)

-1 σ: 200 kPa -1 σ: 300 kPa


400 400
-2
-2
-3 -3
200 200
-4
-4
σ: 50 kPa σ: 100 kPa -5 -5
0 0
-6
800 0 800 -6
5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação axial (%) -7 -7
Deformação axial (%) 0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
600 600
σ1 - σ3 (kPa)
σ1 - σ3 (kPa)

Deformação axial (%) Deformação axial (%)


400 400 Figura 3. Curvas de variação volumétrica versus
deformação axial do solo natural e do solo-fibra 0,25% na
200 200 condição drenada.
σ: 200 kPa σ: 300 kPa
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20 A Figura 4 apresenta as envoltórias de
Deformação axial (%) Deformação axial (%) resistência ao cisalhamento na condição drenada
Figura 2. Curvas (σ1 – σ3) versus deformação axial do solo para o solo natural e para a mistura solo-fibra
natural e solo-fibra 0,25% na condição drenada. 0,25%. Já a Tabela 3 resume os valores de coesão
efetiva (c') e ângulo de atrito efetivo (ϕ '), obtidos

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446
para o solo natural e para as misturas solo-fibra Entretanto, o solo-fibra 0,25% apresentou
nos ensaios CD. reduções após a tensão máxima menos
significativas em relação ao solo natural.
500
Tensão cisalhante (kPa)

SOLO NATURAL
400
300 300
300
SOLO NATURAL
SOLO-FIBRA 0,25%
200

σ1 - σ3 (kPa)

σ1 - σ3 (kPa)
200 200
100

0
0 200 400 600 800 1000 1200 100 100
Tensão normal (kPa)
(a) σ: 50 kPa σ: 100 kPa
0 0
500
Tensão cisalhante (kPa)

SOLO-FIBRA 0.25% 0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
300 300
400
Deformação axial (%) Deformação axial (%)
300

σ1 - σ3 (kPa)
σ1 - σ3 (kPa)
200 200 200

100

0 100 100
0 200 400 600 800 1000 1200
Tensão normal (kPa)
σ: 200 kPa σ: 300 kPa
(b) 0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Figura 4. Envoltórias de resistência ao cisalhamento na Deformação axial (%) Deformação axial (%)
condição drenada: (a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%.
Figura 5. Curvas (σ1 – σ3) versus deformação axial do solo
natural e do solo-fibra 0,25% na condição não drenada.
Verifica-se na Tabela 3 que a presença de
fibras proprocionou acréscimos de 41% no
Ainda na Figura 5, um fator interessante a ser
intercepto coesivo da mistura solo-fibra 0,25%
analisado é que, após a redução na resistência de
em relação ao solo natural. Já o ângulo de atrito
pico e após uma deformação axial de
da mistura solo-fibra 0,25% manteve-se
aproximadamente 10%, as misturas solo-fibra
praticamente inalterado em relação ao solo
apresentam novos incrementos de resistência ao
natural. Comparando estes resultados com dados
cisalhamento. Tal comportamento é justificado
disponiveis na literatura, a proporção de
por Freilich et al. (2010) pela maior interação
acréscimo no intercepto coesivo encontrado
entre as partículas de solo e as fibras durante o
nesta pesquisa está em concordância com os
adensamento, especialmente para maiores
resultados de Feuerharmel (2000). Já o ângulo de
tensões, fazendo com que as fibras se estiquem
atrito não foi significativamente afetado pela
cada vez mais e, por consequência, ao iniciar a
inclusão das fibras, assim como observado em
fase de ruptura, contribuam melhor na
Trindade et al. (2006), Bolaños e Casagrande
distribuição de tensões de cisalhamento, uma vez
(2006) e Ökzul e Baykal (2007).
que a área das fibras interceptando o solo é maior
Tabela 3. Parâmetros de resistência ao cisalhamento A Figura 6 apresenta as curvas de pressão
drenado do solo natural e da mistura solo-fibra. neutra versus deformação axial do solo natural e
Solo c' (kPa) ϕ '(°) do solo-fibra 0,25%. Verifica-se na Figura 6 que
Solo natural 29,0 28,0 a inclusão de fibras não alterou a geração de
Solo-Fibra 0,25% 40,9 29,8
pressões de neutras em relação aos resultados do
solo natural, para todos os niveis de tensões
analisados nessa pesquisa. Para a tensão
3.2 Ensaios de compressão triaxial CU confinante de 300 kPa, houve uma pequena
redução nas pressões neutras geradas no solo-
A Figura 5 apresenta os resultados das curvas (σ1 fibra. Sendo a pressão neutra positiva associada
– σ3) versus deformação axial, obtidas no ensaio à tendência de contração do volume, pode-se
CU para solo natural e solo-fibra 0,25%. concluir que as fibras tendem a restringir a
Verifica-se na Figura 5, que tanto o solo natual dilatação do solo-fibra durante o cisalhamento
quanto a mistura solo-fibra apresentaram picos não drenado, tal como relatado por Li (2005) e
de ruptura nas curvas tensão-deformação, em Freilich et al. (2010).
todos os níveis de tensões confinantes.

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447
300 300
SOLO NATURAL σ: 100 kPa 200
Pressão neutra (kPa)

Tensão cisalhante (kPa)


SOLO-FIBRA 0,25% SOLO NATURAL

Pressão neutra (kPa)


σ: 50 kPa
200 200

100
100
100

0 0
300 0 300
σ: 2005kPa 10 15 20 0 σ: 300 5
kPa 10 15 20
0
Pressão neutra (kPa)

Deformação axial (%) Pressão neutra (kPa) Deformação axial (%)


0 100 200 300 400
200 200
Tensão normal (kPa)
(a)
100 100 200

Tensão cisalhante (kPa)


SOLO-FIBRA 0.25%

0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação axial (%) Deformação axial (%)
100
Figura 6. Curvas de pressão neutra versus
deformação axial do solo natural e do solo-fibra
0,25% na condição não drenada.
0
0 100 200 300 400
As Figuras 7 e 8 apresentam, Tensão normal (kPa)
respectivamente, as envoltórias de resistência ao (b)
Figura 8. Envoltórias de resistência ao cisalhamento
cisalhamento para o solo natural e para a mistura
efetivas: (a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%.
solo-fibra 0,25% em termos de tensões totais e
tensões efetivas. A Tabela 4 apresenta os valores Tabela 4. Parâmetros de resistência total ao cisalhamento
de coesão (c) e ângulo de atrito (ϕ) totais e não drenado do solo natural e da mistura solo-fibra.
efetivas obtidos para o solo natural e para a Tensões Tensões
mistura solo-fibra. Em termos de tensões totais, totais efetivas
Solo
verifica-se que a amostra de solo-fibra c ϕ c' ϕ’
(kPa) (°) (kPa) (°)
apresentou acréscimo nos valores de coesão de Solo natural 21,0 13,8 22,0 24,0
19% e quanto ao ângulo de atrito houve um Solo-Fibra 0,25% 25,0 14,6 22,0 33,0
pequeno acréscimo de 5%, em relação ao solo
natural. E em termos de tensões efetivas, foi
verificado que a coesão manteve-se inalterada, 3.3 Comparações entre ensaios drenados e não
havendo um acréscimo de 37% no ângulo de drenados
atrito, em relação ao solo natural.
A Figura 9 apresenta a trajetoria de tensões
efetivas do solo natural e da mistura solo-fibra
Tensão cisalhante (kPa)

200
SOLO NATURAL
0,25%, tanto para o ensaio na condição drenada
quanto para a condição não drenada. Para o
100
traçado das trajetórias, as retas traçadas nas
trajetórias de tensões foram determinadas pelas
0 equações:
0 100 200 300 400 500 600
Tensão normal (kPa)
(a) q = a + p.tan α (1)
200
Tensão cisalhante (kPa)

SOLO-FIBRA 0.25%
A partir dos triângulos formados pelos centro e
100 raios, obtém-se: sen ϕ = tan α e c/tan ϕ = a/tan
α.
0
Comparando-se as trajetorias de tensões
0 100 200 300 400 500 600 efetivas, na Figura 9, verifica-se que a resistência
Tensão normal (kPa) ao cisalhamento efetiva obtida pelos ensaios
(b)
Figura 7. Envoltórias de resistência ao cisalhamento totais:
drenados e não drenados não apresentaram
(a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%. alterações significativas. Desta forma, verifica-

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448
se que fatores como desenvolvimento de pressão foram realizados com mesma velocidade de
neutra na interface e tendência à alteração de ruptura (0,15 mm/min).
volume na resistência ao cisalhamento não Nota-se também que os resultados na
influenciaram na resistência ao cisalhamento da condição drenada (Figura 2) não apresentam
mistura solo-fibra. picos de resistência definidos e indicaram
acréscimos de resistência com aumento das
400 deformações, enquanto os ensaios CU (Figura 5)
SOLO NATURAL - CU
SOLO NATURAL - CD apresentam picos definidos de resistência em
300
baixas deformações e uma pequena redução na
q' (kpa)

200 resistência com a evolução do cisalhamento,


tanto para solo natural, quanto para amostras
100
com fibras. Para exemplificação, a Figura 10
0 apresenta os corpos de prova do solo natural e do
0 100 200 300 400 500 600 700 800 solo-fibra 0,25% após a ruptura com tensão
p' (kPa)
(a) confinante de 50 kPa, nas condições drenada e
400
não drenada. Na condição drenada os corpos de
SOLO-FIBRA 0.25% - CD prova do solo natural e do solo-fibra,
SOLO-FIBRA 0.25% - CU
300 apresentaram um comportamento tipo
“abaulamento”. Entretanto, para a condição não
q' (kpa)

200
drenada, o corpo de prova do solo natural
100 apresentou um plano de ruptura ao cisalhamento
0
bem definido e amostra do solo-fibra apresentou
0 100 200 300 400 500 600 700 800 novamente comportamento tipo “abaulamento”,
p' (kPa)
mostrando enrijecimento da amostra.
(b)
Figura 9. Superposição das trajetórias de tensões efetivas
obtidas pelo ensaio CD e CU: (a) solo natural; (b) solo-
fibra 0,25%.
CD
Segundo Al Wahab e Al-Qurna (1995) o
desenvolvimento de pressão neutra durante o
cisalhamento não drenado pode reduzir a tensão Solo natural Solo-fibra 0,25%
efetiva entre as partículas, resultando em
perturbação e rearranjo na interface solo-fibra.
Por consequência, os autores citam que é CU
esperada uma redução na resistência ao
cisalhamento efetiva obtida no ensaio CU, em
comparação ao ensaio CD, o que não foi Solo natural Solo-fibra 0,25%
evidenciado nesta pesquisa. Figura 10. Corpos de prova após a ruptura sob tensão
confinante de 50 kPa: (a) solo natural; (b) solo-fibra 0,25%
Ao contrário do observado por Freilich et al.
(2010), a drenagem durante a ruptura não
reduziu a resistência ao cisalhamento da amostra
para todos os níveis de tensões analisados nesta 4 CONCLUSÕES
pesquisa. Outro fator também exposto por
Freilich et al. (2010), que poderia influenciar na A presente pesquisa avaliou o comportamento de
resistência drenada, é o tempo de execução dos resistência ao cisalhamento sob condições
ensaios e por consequência o desenvolvimento drenadas e não drenadas de um solo argiloso com
das deformações ao longo da interface solo- inclusão de fibras poliméricas, por meio de
fibra, o que poderia ocasionar um deslizamento ensaios de compressão triaxial, bem como a
e rearranjo das partículas do solo durante a influência das pressões neutras na interface e a
condição de cisalhamento drenada. No entanto, alteração de volume durante o cisalhamento.
vale ressaltar que nesta pesquisa todos os ensaios Dentre os resultados obtidos, destacam-se:

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449
• Na condição drenada, a adição das fibras Anagnostopoulos, C. A., Tzetzis, D. and Berketis, K.
(2014). Shear strength behaviour of polypropylene
ao solo argiloso proporcionou aumento
fibre reinforced cohesive soils. Geomech. Geoeng. 9,
de resistência ao cisalhamento e passou a (3), 241–251.
atuar de forma mais significativa a partir Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Análise
do momento em que o solo sofreu Granulométrica dos solos: NBR 7181. Rio de Janeiro.
deformações plásticas. Os resultados Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Solo -
Determinação do limite de liquidez: NBR 6459. Rio de
evidenciaram também que a adição de
Janeiro.
fibras provocou um aumento apenas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Solo -
parcela de coesão, permanecendo o Determinação do limite de plasticidade: NBR 7180.
ângulo de atrito praticamente inalterado; Rio de Janeiro.
• Para a condição não drenada, verificou- Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Solo –
Ensaio de compactação: NBR 7182. Rio de Janeiro.
se acréscimo na parcela de coesão com Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017). Solo –
pouca alteração no ângulo de atrito, em Grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura 4,8
termos de tensões totais. E em termos de mm - Determinação da massa específica, da massa
tensões efetivas, a fibras não afetaram o específica aparente e da absorção de água: NBR 6458.
valor de coesão e proporcionaram Rio de Janeiro.
Al Wahab, R.M.; Al-Qurna, H.H. (1995). Fiber Reinforced
acréscimo no ângulo de atrito da mistura; Cohesive Soils For Application In Compacted Earth
• A drenagem durante o cisalhamento Structures. Geossynthetics’95 Conference. 1995,
favoreceu a resistência das misturas solo- Nashville. Proceedings. V.2, P.433-466.
fibra, uma vez que a tensão efetiva na Bolaños, R. E. Z; Casagrande, M. D. T (2006). Estudo
interface solo-fibra foi maior no ensaio Experimental de Solo Reforçado com Fibra de Coco
Verde para carregamentos estáticos em obras
CD, e a pressão neutra durante o geotécnicas.
cisalhamento não drenado pode ter Castilho, T. W. L. (2017). Resistência ao cisalhamento de
ocasionado perturbação e rearranjo na solos com fibras de politereftalato de etileno reciclado.
interface solo-fibra, enfraquecendo Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual
assim a resistência interfacial entre o solo Paulista, Bauru, São Paulo, 100 f.
Cetin, H., Fener, M., & Gunaydin, O. (2006). Geotechnical
e as fibras, reduzindo a resistência ao properties of tire-cohesive clayey soil mixtures as a fill
cisalhamento em comparação com a material. Engineering Geology, 88
condição drenada. Choubane, B.; Ho, R.K.; Armaghani, J.M. (2001). Full-
scale lab- oratory evaluation of polypropylene fiber
reinforcement of sub- grade soils. Florida: State
Materials Office. Florida Department of
AGRADECIMENTOS Transportation, p. 99-432.
Departamento Nacional de Estradas E Rodagens (1994).
Os autores agradecem ao Laboratório de DNER ME 258/94. Solos – Compactação em
Geotecnia e Geossintéticos da Universidade equipamento miniatura – Mini-MCV. Rio de Janeiro.
Federal de São Carlos (LabGEO/UFSCar) e Diambra, A. Ibraim, E. (2013). Modelling of fibre–
cohesive soil mixtures. Acta Geotechnica, P 1-18.
Laboratório de Geotecnia da Universidade Diab, A. A; Najjar, S; Sadek, S; Taha, H; Jaffal, M. A.
Federal de Viçosa (UFV). (2018). Effect of compaction method on the undrained
strength of fiber-reinforced clay. International Journal
of Geotechnical Engineering,
REFERÊNCIAS Ehrlich, M.; Almeida, M.S.S; Curcio, D. (2019). Hydro-
mechanical behavior of a lateritic fiber-soil composite
as a waste containment liner. Geotextiles and
American Society for Testing and Materials. (2017). Geomembranes, p. 42-47
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Degradação de Geotêxteis Expostos às Intempéries


Beatriz Mydori Carvalho Urashima
Universidade Federal de Lavras, Lavras, urashimabeatriz@gmail.com

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, urashima@cefetmg.br

Carlos Alberto Carvalho Castro


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, carloscastro@cefetmg.br

Mag Geisielly Alves Guimarães


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Varginha, mag@cefetmg.br

RESUMO: Um dos aspectos de relevância quando se trata de geossintéticos é a sua durabilidade, uma
vez que sua utilização é recente e, portanto, estudos que determinem o comportamento ao longo do
tempo de vida de serviço do material têm sido objeto de várias pesquisas. O artigo apresenta o estudo
da degradação por elementos climáticos em geotêxteis tecidos de polipropileno durante as estações
climáticas de um ano (inicio do verão de 2016 e término da primavera 2017). A exposição ocorreu
na cidade de Varginha, Sul de Minas Gerais, latitude de 21°33’05’’S. A dinâmica atmosférica local
foi monitorada por meio de dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia, sendo a
radiação ultravioleta (UV) estimada como 7,5% da radiação global medida. A degradação sofrida foi
medida por meio da resistência à tração antes e após degradação, individualmente, bem como o efeito
acumulativo no tempo total de exposição. No verão, foi avaliada uma radiação UV de 136 MJ/m2,
outono 70 MJ/m2, inverno 131 MJ/m² e na primavera 115 MJ/m². No verão, a precipitação acumulada
foi de 342 mm, outono 165 mm, inverno 18 mm e na primavera 546 mm. As perdas de resistência à
tração por período foram: 29% verão, 7,5% outono, 8 % inverno e de 7,5 % primavera. A amostra
exposta no período total perdeu 33% da resistência à tração. A relevância do artigo está na avaliação
do comportamento em campo de geotêxtil tecido, visto que a exposição ao ambiente é de considerável
complexidade, conforme pôde ser observado na dinâmica atmosférica supracitada.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxteis, Degradação, Durabilidade.

ABSTRACT: One of the aspects of relevance when it comes to geosynthetics is their durability, since
their use is recent and, therefore, studies that determine the behavior over the lifetime of the material
has been the object of several researches. This paper presents the study of the degradation by climatic
elements in polypropylene fabric geotextiles during the seasons of one year (beginning of summer of
2016 and ending of spring 2017). The exhibition took place in the city of Varginha, South of Minas
Gerais, latitude 21°33'05 ''S. Local atmospheric dynamics was monitored by data provided by the
National Meteorological Institute, with ultraviolet (UV) radiation estimated as 7.5% of the measured
global radiation. The suffered degradation was measured comparing the tensile strength before and
after degradation, individually, as well as the cumulative effect in the total time of exposure. In the
summer, UV radiation reaches 136 MJ/m2, in autumn 70 MJ/m2, winter 131 MJ/m² and spring 115
MJ/m². In summer, cumulative rainfall was 342 mm, in fall it was 165 mm, winter 18 mm and spring
546 mm. The losses of tensile strength per period were: 29% summer, 7.5% fall, 8% winter and 7.5%
spring and sample exposed to radiation on whole period lost 33% of the tensile strength. The
relevance of the article lies in the evaluation of the behavior in the field of woven geotextile, since

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455
the exposure to the environment is of considerable complexity, as can be observed in the
aforementioned atmospheric dynamics.

KEY WORDS: Geotextiles, Degradation, Durability.

1 INTRODUÇÃO com alto teor de líquidos e alta resistência à


filtração (Guimarães & Urashima, 2013;
Os geossintéticos são materiais poliméricos que Lawson, 2008; Moo-Young et at., 2002).
eminentemente vêm ganhando espaço na A avaliação da durabilidade por meio de
engenharia nas últimas quatro décadas, por ensaios acelerados de laboratório apresenta
desempenharem inúmeras funções ampliando resultados aproximados da realidade, já que nem
seu campo de aplicação em diversas obras todas as variáveis de campo podem ser fielmente
geotécnicas, ambientais, hidráulicas, entre outras reproduzidas. Entretanto, ensaios de campo,
(Carneiro, 2009; Saathoff, 2007). embora tenham a desvantagem do tempo de
Um tipo de geossintético é o geotêxtil (GTX), exposição e nem possam ser reproduzidos,
um material têxtil bidimensional, permeável e traduzem melhor a realidade da dinâmica
com base polimérica, podendo ser não tecido, atmosférica sobre o material ensaiado no local
tecido ou tricotado. O mesmo é composto por onde ocorreu o estudo (Fechine et al., 2006;
fibras cortadas, filamentos contínuos, Leech, 2010).
monofilamentos, laminetes ou fios e devido às Assim sendo, a pesquisa apresentada no
suas propriedades mecânicas e hidráulicas pode artigo tem como principal objetivo avaliar a
desempenhar várias funções numa obra de degradação de geossintéticos do tipo geotêxtil
engenharia (ABNT 2013). tecido de polipropileno expostos em campo, com
A durabilidade dos geossintéticos pode ser intuito de ponderar o tempo de serviço dos
entendida como a manutenção do seu mesmos. E, futuramente, desenvolver um
desempenho depois de entrarem em contato com modelo de análise de danos lineares, que permita
agentes que degradam suas cadeias poliméricas avaliar o efeito acumulado dos danos sofridos ao
e, consequentemente, encurtam sua vida de longo do tempo.
serviço (Greenwood et al., 2012).
A durabilidade engloba a ocorrência de
mudanças nos níveis micro e macroestruturais 2 EXPOSIÇÃO EM CAMPO
dos geotêxteis. O primeiro envolve mudanças
nas moléculas de polímero, que são os Geossintéticos expostos em campo sofrem
constituintes básicos dos geotêxteis, e o segundo degradação devido às intempéries, sendo o
envolve mudanças em suas propriedades (ISO enfoque da pesquisa desenvolvida para o artigo
TS 13434, 2008). a radiação UV e precipitações.
Neste contexto, é fundamental o estudo das Nesse contexto, é necessário avaliar a
propriedades dos geotêxteis com a finalidade de incidência de radiação UV durante o tempo de
avaliar sua durabilidade quando submetidos ao exposição do material polimérico. Com este
estresse e à degradação em situações de propósito, por meio de estações meteorológicas,
exposição a agentes de intemperismo em campo, as quais realizam as medições dos valores de
no sentido de ponderar o tempo de serviço destes radiação global, estima-se a radiação UV do
materiais. Cita-se, por exemplo, a aplicação de local de exposição. Essa é feita com base em
geotêxteis em obras costeiras para proteção de normas como EN 13362 (2013), EN 12224
margens, quebra-mar e a construção de ilhas (2000), ISO TS 13434 (2008) e autores como
artificiais com o uso destes como estruturas de Greenwood et al. (2012), os quais estimam um
proteção (Greenwood et al., 2012, Lawson, valor médio de 7,5% para a radiação UV local
2008). Além disso, o uso de geotêxteis em em relação à radiação global.
sistemas de confinamento de resíduos (SCRs) Além da estimativa de radiação UV local,
para desaguamento e confinamento de resíduos existem outras normas que indicam a inclinação

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

456
de exposição do material, como as normas ISO desenvolvimento da pesquisa.
(2009a e 2009b) 877-1 e a 877-2,
respectivamente, as quais preconizam que a
inclinação deve ser equivalente à latitude do
local e que a face inclinada deve estar
direcionada para o equador, situação que
caracteriza uma maior incidência solar durante o
dia.
Com o objetivo de aumentar o tempo de
serviço do material exposto em campo, há
aplicações por parte dos fornecedores de aditivos
estabilizantes térmicos e antioxidantes,
retardando a fotodegradação induzida pela
absorção de radiação UV.
Os tipos mais comuns destes aditivos são os
UV screeners, os UV absorbers, os Quencherse
as HALS (hindered amine light stabilisers),
dentre outros (Carneiro, 2009; ISO 13434,
Figura 2. Fluxograma representativo da metodologia.
2008).
O ensaio de degradação por intemperismo em
3 MATERIAIS E MÉTODOS campo foi realizado no Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais -
CEFETMG, Campus Varginha (Latitude:
3.1 Materiais utilizados
21°33’05’’S, Longitude: 45°25’49’’W, Altitude:
916m acima do nível do mar).
O geotêxtil tecido (GTX-W), utilizado no
desenvolvimento da pesquisa, é produzido por Escolheu-se o local de exposição levando em
entrelaçamento em ângulo reto de consideração a não existência de elementos que
provocariam sombra, como árvores e prédios, e
monofilamentos de polipropileno. Este geotêxtil
foi produzido para fins de pesquisas, sendo que interferissem nos resultados de alguma outra
forma. Outro aspecto considerado foi a baixa
empregado aditivo de proteção contra radiação
UV do tipo HALS com concentração inferior a poluição atmosférica, já que, altos níveis
poderiam gerar poeiras que agiriam como
1%. A Figura 1 apresenta uma imagem ampliada
barreira à radiação UV.
de microscopia óptica do geotêxtil utilizado na
Seguindo as recomendações das normas ISO
pesquisa.
877-1 e 877-2 (2009), os pórticos de exposição
foram construídos com inclinação próxima ao
valor da latitude local, ou seja, aproximadamente
22° em relação à horizontal. Além disso, suas
faces inclinadas foram orientadas para a direção
Norte. Todos esses aspectos garantiram uma
maior exposição do material à radiação solar.
A Figura 3 apresenta os pórticos de exposição
montados para a realização desta pesquisa, onde
a parte inclina era composta por uma tela aberta
Figura 1. Imagem de microscopia óptica do geotêxtil com malha de 30 mm x 30 mm.
tecido de polipropileno. Após a construção dos pórticos, prepararam-
se as amostras para exposição. As mesmas foram
3.2 Métodos cortadas com tamanho de (110 x 450) mm
totalizando 12 unidades. A Figura 4 apresenta a
O fluxograma apresentado na Figura 2 sumariza forma de fixação das amostras nos pórticos.
as etapas realizadas ao longo do

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

457
Para a realização destes ensaios, foram
preparados corpos de prova de dimensões 50mm
x 300mm. A velocidade de tração da máquina
durante os ensaios foi de 300 mm/min e a
distância entre garras de 75 mm (Figura 6). Estes
ensaios foram realizados com o material intacto
e com o material degradado, a fim de se obter um
comparativo.
A degradação foi avaliada em cada estação
climática, de forma individual e acumulada,
Figura 3. Pórticos de exposição.
ressalta-se: a exposição foi iniciada no verão do
ano de 2016 e terminou no inverno de 2017.
Para analisar as variáveis climáticas as quais
o material estudado foi exposto, obtiveram-se os
dados meteorológicos (radiação solar total do
local e a precipitação) por meio do site do
Instituto Nacional de Meteorologia – INMET.
Adotou-se na pesquisa um valor estimado de
7,5% para a radiação UV local em relação à
radiação global.

Figura 4. Forma de fixação das amostras.

Para a avaliação da degradação sofrida em


campo, realizaram-se ensaios de resistência à
tração faixa estreita segundo a ASTM D 5035
(2011). O equipamento utilizado foi a Máquina
Universal para Ensaio de Tração e Compressão,
com incerteza de calibração de 0,1%, do
Laboratório de Mecatrônica do CEFET -
Unidade Varginha (Figura 5).

Figura 6. Esquema do ensaio faixa estreita segundo a


ASTM D 5035 (2011).

Após isso, realizou-se um diagnóstico


estatístico, por meio de Intervalos de Confiança
(IC) dos resultados dos ensaios de tração faixa
estreita, dos materiais intacto e degradados, nos
períodos das estações climáticas de um ano,
inicio do verão de 2016 e término da primavera
2017, bem como o período acumulado de 365
dias.
Pretende-se futuramente, desenvolver uma
modelagem do acúmulo de danos lineares e
validar com os resultados da exposição do
material passando por todas as estações
climáticas de um ano e usar os dados obtidos
Figura 5. Máquina Universal utilizada nos ensaios.
para validação do modelo.

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458
Além disso, todos os intervalos de confiança das
4 RESULTADOS E DISCUSÕES amostras degradadas nos períodos estudados se
deslocaram à esquerda do intervalo de confiança
A Tabela 1 apresenta os valores, obtidos por referente à amostra intacta.
meio do site do INMET, de radiação local e
precipitação nas estações climáticas dos
períodos em estudo. A Figura 7 apresenta o
gráfico da dinâmica atmosférica relativo a estes
períodos.

Tabela 1. Valores de radiação local e de precipitação para


as estações do período em estudo e acumulado.
Períodos Dias por Radiação UV Precipitação
em estudo períodos estimada (mm)
(MJ/m2)
Verão 89 135,62 342,40
Outono 92 69,92 165,40 Figura 8. Intervalos de confiança de resistência à tração
Inverno 93 130,70 17,80 (KN/m) do geotêxtil intacto e degradados nos períodos
Primavera 90 115,31 545,80 pesquisados.
Acumulado 364 451,55 1071,4
Tabela 2. Valores de radiação local e de precipitação para
as estações do período em estudo e acumulado.
As amostras foram expostas às estações Períodos em Percentual de perda média
climáticas de forma individual e acumulado, ou estudo de resistência à tração
seja, exposição durante as quatro estações, Verão 29 %
computando 364 dias, posteriormente ensaiadas Outono 7,5 %
(resistência à tração faixa estreita). Inverno 8,0 %
Primavera 7,5 %
Acumulado1 33 %
1
Amostra exposta por 364 dias consecutivos.

Devido à combinação de maior incidência de


radiação UV e de precipitação no verão (Figura
7 e Tabela 1), ocorreu um maior percentual de
perda de resistência no verão do que nas demais
estações (Tabela 2). Esta combinação de fatores
auxilia nas grandes variações térmicas na
superfície do material, aumentando a degradação
do polímero constituinte.
Figura 7. Dinâmica atmosférica das estações verão/2016- É possível observar que no outono houve
2017 a primavera de 2017 do ano de 2017. picos de precipitação e de radiação na sua
primeira metade (Figura 7). No inverno, devido
Os resultados obtidos dos ensaios de a pouca quantidade de nuvens no céu, houve
resistência à tração são apresentados na Figura 8, altos níveis de radiação e baixa precipitação. Já
na qual se comparam os intervalos de confiança, na primavera, houve um grande volume de
com nível de confiança de 95%, dos geotêxteis precipitação, entretanto, sem picos e níveis de
intacto e degradados nos períodos considerados radiação médios com alguns picos.
nesta pesquisa. O percentual de perda de resistência à tração
A Tabela 2 apresenta os valores dos das amostras expostas do geotêxtil estudado para
percentuais de perda média de resistência à as estações outono, inverno e primavera, foram
tração por período avaliado. Em todos os semelhantes e baixos em relação a perda
períodos avaliados ocorreu degradação, ou seja, ocorrida no verão (Tabela 2) o que evidência a
a resistência à tração apresentou percentual de importância da dinâmica da atmosfera no
perda se comparado com o geotêxtil intacto. processo de degradação, não apenas os valores

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459
de incidência de radiação UV. À Universidade Federal de Lavras pela
O tempo de exposição acumulado apresentou oportunidade de pesquisa. À empresa
maior perda de resistência à tração que os HUESKER Ltda pelo fornecimento dos
períodos isolados. Tal fato se deve ao acúmulo geotêxteis.
de danos sofrido, assim sendo, os autores estão
trabalhando na formulação de um modelo que
represente este fato, no qual o acúmulo de danos REFERÊNCIAS
pudesse ser avaliado. Entretanto, vale ressaltar
que: o percentual de perda de resistência após a ABNT. NBR ISO 10318-1 (2013): Geossintéticos –
exposição de 364 dias não pode ser avaliado pelo Termos e definições. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
somatório de perdas ao longo das estações ASTM. D 5035 (2011). Standard Test Method for
estudadas, tanto que o valor obtido para a Breaking Force and Elongation of Textile Fabrics
amostra exposta durante todo o período foi de (Strip Method), ASTM International, Pennsylvania.
33% de perda média de resistência à tração, Carneiro, J.R.C. (2009). Durabilidade de Materiais
enquanto que o somatório de perda média de Geossintéticos em Estruturas de Carácter Ambiental
- A Importância da Incorporação de Aditivos
resistência das estações é de 52%. Químicos. Tese de Doutorado, Universidade do
Porto, 602 p.
EN 12224 (2000). Geotextiles and geotextile-related
5 CONCLUSÕES products – Determination of the resistance to
weathering. European Committee for
Standardization. Brussels.
Geossintéticos são materiais poliméricos EN 13362 (2013). Geosynthetic barriers. Characteristics
altamente empregados em obras de engenharia required for use in the construction of canals.
civil e ambiental. Devido ao grande prejuízo que European Committee for Standardization. Brussels.
a sua falha pode causar, é importante estimar a Fechine, G.J.M.; Santos, J.A.B. & Rabello, M.S. (2006).
vida de serviço destes materiais. Avaliação da fotodegradação de poliolefinas através
de exposição natural e artificial. Química Nova,
Em razão disto, é fundamental conhecer as SBQ, Vol. 29, n 4, p. 674-680.
variáveis que influenciam na degradação do Greenwood, J.H., Schroeder H.F. & Voskamp, W. (2012).
geotêxtil, assim como compreender como as Durability of Geosynthetics. CUR Committee C
propriedades mais relevantes do material em 187– Building & Infrastructure.
estudo são afetadas, por exemplo, a sua Guimarães, M.G.A. & Urashima, D.C. (2013).
Dewatering sludge in geotextile closed systems:
resistência à tração, objeto deste estudo. Brazilian experience. Soils & Rocks, Vol. 36, p. 251-
Por conseguinte, a partir da metodologia 263.
empregada, concluiu-se que valores de radiação ISO 877-1 (2009a). Plastics – Methods of exposure to
sem atuação de precipitações no período em solar radiation – Part 1: General guidance.
estudo não degradam de maneira significativa o Switzerland.
ISO 877-2 (2009b). Plastics - Methods of exposure to
geotêxtil avaliado neste estudo. Verificou-se que solar radiation – Part 2: Direct weathering and
os corpos de prova expostos apenas na estação exposure behind window glass. Switzerland.
inverno apresentaram reduzida perda de ISO TS 13434 (2008) Geosynthetics - Guidelines for the
resistência à tração, se comparados àqueles assessment of durability. Switzerland.
expostos apenas no verão embora a incidência de Leech, A.D. (2010). Geotextiles long term durability –
product design parameters. 9th International
UV tenha sido similar. Conference on Geosynthetics, Guarujá.
Portanto, o estudo indica que uma atenção Moo-Young, H.K., Gaffney, D.A. & Mo X. (2002).
especial deve ser dada à ação conjunta dos Testing Procedures to assess the viability of
agentes de intemperismo, ou seja, da dinâmica dewatering with geotextiles tubes. Geotextile and
da atmosfera no período avaliado, para viabilizar Geomembranes, v. 20, p. 289-303.
Paoli, M. (2008). Degradação e Estabilização de
uma melhor compreensão do efeito acumulativo Polímeros. 2° versão online. São Paulo: ed.
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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise da Degradação de um Geotêxtil Tecido em Área de Dunas


Breno Otávio Ferreira da Silva
UFRN, Natal, Brasil, fbrenootavio@gmail.com

Carina Maia Lins Costa


UFRN, Natal, Brasil, carina@ct.ufrn.br

Iasnara Chagas Fernandes


UFRN, Natal, Brasil, iasnaracf@gmail.com

Jefferson Lins da Silva


EESC – USP, São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

Delma de Mattos Vidal


ITA, São José dos Campos, Brasil, delma@ita.br

Clever Aparecido Valentin


EESC – USP, São Carlos, Brasil, cclever@sc.usp.br

RESUMO: A aplicação de geossintéticos expostos a céu aberto favorece a ação de agentes


climáticos de degradação. Esses agentes, em especial a radiação UV, podem afetar
significativamente a vida útil desses materiais. No caso de aplicação de geossintéticos em área de
dunas, fatores climáticos específicos do ambiente, como a ação do vento, podem ainda intensificar a
degradação do material exposto. Este estudo, portanto, apresenta a análise da degradação de um
geotêxtil tecido de polipropileno após exposição ao ar livre em uma área de dunas da cidade de
Natal/RN. Para fins de comparação, o material também foi exposto em uma área de controle sem a
presença de dunas. O procedimento de exposição utilizado foi baseado nas normas ASTM D5970,
ISO 877-1 e ISO 877-2. Durante o período de exposição, dados climáticos locais foram obtidos
através de estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Todos os
corpos de prova (CPs) foram submetidos a ensaios de tração de faixa estreita conforme ASTM
D5035 após tempos de exposição pré-estabelecidos. CPs virgens foram também sujeitos ao ensaio
de tração. Os resultados mostraram a redução da resistência do material após a exposição, com
diminuição da taxa de degradação ao longo do tempo. Para o primeiro mês de exposição, houve
maior degradação do geotêxtil quando exposto na área de dunas. Para os meses seguintes,
entretanto, a diferença entre os níveis de degradação nas duas áreas foi reduzida.

PALAVRAS-CHAVE: Geotêxtil tecido, Degradação, Exposição ao ar livre, Área de dunas.

ABSTRACT: The use of geosynthetics exposed to outdoor conditions favors the action of climatic
factors. These factors, mostly UV radiation, can significantly affect the lifetime of these materials.
For the application of geosynthetics in dune areas, specific environmental factors, as wind effect,
can also increase the degradation of the exposed material. Therefore, this paper shows the
degradation analysis of a polypropylene woven geotextile subjected to outdoor exposure in a dune
area in the city of Natal, Brazil. For comparison purposes, the material was also exposed in a
control area without dunes. The exposure tests were carried out based on ASTM D5970, ISO 877-1
and ISO 877-2. During the exposure time, local climatic data were collected using the
meteorological stations of the National Meteorological Institute (INMET, Brazil). All specimens
were subjected to tensile strength tests using the strip method according to ASTM D5035 at pre-

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461
established times. Additional tensile strength tests were also conducted for some intact specimens.
The results showed the decrease of the tensile strength after the outdoor exposure with decrease of
degradation rate over time. After one month of exposure, the greater degradation of the geotextile
strength was observed for the dune area. However, the difference between the levels of degradation
of the two areas was reduced for the subsequent time.

KEY WORDS: Woven geotextile, Degradation, Outdoor exposure, Dune area.

1 INTRODUÇÃO geotêxteis não tecidos, submetidos à exposição


ao ar livre em Taiwan por 12 meses. Após o
O uso de geotêxteis na engenheria geotécnica periodo de exposição, a geogrelha utilizada não
tem sido cada vez mais frequente. O baixo custo apresentou degradação significativa na sua
e a versatilidade de aplicação são alguns dos resistência. No entanto, os resultados obtidos
fatores considerados na escolha deste material indicaram que a incidência de raios solares
frente às diversas soluções possíveis em um reduziu as resistências à tração de todos os
projeto. Entretanto, apesar das inúmeras geotêxteis, principalmente, dos geotêxteis não
vantagens, os geotêxteis podem apresentar tecidos, cujas resistências sofreram uma
degradação excessiva quando submetidos a redução em torno de 10% a 20%.
agentes climáticos e, consequentemente, Estudos sobre esse tema, portanto, tem
redução da sua vida útil. Essa degradação se grande relevância para o entendimento da
torna mais expressiva quando o emprego destes durabilidade dos geotêxteis nas suas diversas
materiais implica exposição de longo prazo. aplicações, especialmente, em obras de caráter
A radiação UV tem sido apontada como o ambiental, cujo emprego do material acarreta
principal agente de degradação de geotêxteis exposição por longos períodos de tempo. É o
quando expostos às intempéries (Greenwood et caso, por exemplo, da aplicação de geotêxteis
al., 1996; Koerner R., Hsuan e Koerner G., na confecção de barreiras de controle de
2016). De acordo com Carneiro (2009), outros sedimentos.
fatores climáticos, como a umidade, Essas barreiras, também conhecidas como
precipitação, temperatura e vento podem atuar silt fence, possuem grande potencial de
em conjunto, intensificando o desgaste desse
emprego no controle de processos erosivos em
material. área de dunas. Nessa situação, o geotêxtil fica
Nesse sentido, Lodi et al. (2008) destacam submetido às características climáticas
que a degradação de geotêxteis expostos a céu
representativas desse local, como forte ação do
aberto é altamente dependente das
vento, as quais podem ser potencialmente
características climáticas locais, razão pela qual nocivas a sua vida útil.
se torna necessário avaliar a durabilidade desse
material submetido às condições climáticas É importante ressaltar, no entanto, que
específicas do local de aplicação. embora muitos trabalhos tenham sido
Resultados de ensaios de degradação de desenvolvidos no sentido de avaliar a
geotêxteis relatados na literatura também degradação de geotêxteis expostos a céu aberto,
comprovam o impacto do ambiente externo na poucos estudos reportados na literatura tratam
nas propriedades funcionais destes materiais ao sobre a durabilidade desse material no âmbito
longo do tempo (Yang e Ding, 2006; Benjamim específico de área de dunas.
et al., 2007; Gibbs, Austin e Smith, 2014; Tendo em vista todo esse contexto, o
Guimarães et al., 2016; Milagres, 2016). presente trabalho trata da análise da degradação
Lin, Tang e Wu (2016), por exemplo, de um geotêxtil tecido de polipropileno exposto
estudaram o comportamento da durabilidade de em área de dunas, considerando as condições
oito diferentes geossintéticos, dos quais uma climáticas da região de Natal/RN durante 122
geogrelha, três geotêxteis tecidos e quatro dias.

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462
2 MATERIAIS E MÉTODOS realizadas medições das temperaturas
superficiais das subamostras em dois dias por
Neste estudo, foi realizado o ensaio de semana e três horários distintos por dia: 7h,
exposição ao ar livre de subamostras coletadas 12h30min e 17h. Foram ainda obtidos,
de uma amostra de geotêxtil tecido, durante o mediante as estações automática e convencional
período de março a julho de 2018 em uma área do INMET, os dados meteorológicos locais.
de dunas em Natal/RN. Para efeito de O valor de radiação UV foi estimado,
comparação, o material estudado ficou exposto considerando-o igual a 7,5% da radiação global,
também em outro local da cidade, sem presença conforme ponderado por Guimarães et al.
de dunas. (2016) e Milagres (2016).
Ao longo deste ensaio, foi feito o
acompanhamento da temperatura superficial das 2.2.1 Equipamentos
subamostras expostas e, além disso, foram
obtidos dados meteorológicos fornecidos pelo Foram utilizados dois modelos de mesa suporte
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), para exposição das subamostras de geotêxtil. O
essenciais para a análise das condições primeiro, denominado mesa fechada, consiste
climáticas locais. em uma mesa de aço de dimensões 2,00x1,30 m
Como forma de avaliar a degradação do com tampo de compensado naval. Nessa mesa,
material, foram realizados ensaios de tração de a fixação das subamostras foi feita com
faixa estreita para as subamostras virgens e para grampos de aço inoxidável como descrito por
as subamostras expostas. A partir destes, pôde- Fernandes et al. (2018). Essa mesa foi utilizada
se comparar a perda de resistência na direção na área de controle, sendo fabricada de acordo
longitudinal em função do tempo de exposição com a ASTM D5970 exceto no que tange à
e dos fatores climáticos. inclinação, a qual seguiu ao recomendado pela
ISO 877-2.
2.1 Geotêxtil Para a área de dunas, foi desenvolvido neste
trabalho um segundo modelo, denominado
Foi empregado, nesta pesquisa, um geotêxtil mesa aberta, conforme recomendações das
tecido de polipropileno (PP), com massa por normas ISO 877-1 e ISO 877-2. O mesmo
unidade de área de 230 g/m², escolhido compreende uma estrutura de madeira de
principalmente em função de sua cor bege. A dimensões 1,50x1,25 m coberta por uma tela de
cor do geotêxtil estudado, semelhante à cor da alumínio de aço inoxidável com aberturas de
areia de duna, favorece sua aplicação pelo 20x20 mm. Nesta mesa, as subamostras foram
aspecto estético, já que reduz os impactos fixadas com chapas de alumínio e parafusos. A
visuais provocados pela instalação de barreiras opção por esse modelo de mesa para a área de
de sedimentos com geotêxteis em área de dunas teve por objetivo possibilitar uma maior
dunas. ação do vento nas subamostras a fim de
representar a presença do vento em aplicações
reais de barreiras de sedimentos em áreas de
2.2 Exposição ao ar livre
dunas.
Na Figura 1, pode-se observar um esquema
O procedimento do ensaio de exposição ao ar
das duas mesas empregadas nesse estudo.
livre utilizado foi adaptado da ASTM D5970,
da ISO 877-1 e da ISO 877-2. As subamostras
de geotêxtil foram expostas sobre mesas
suportes em uma área de dunas e em uma área
de controle. A área de controle possui terreno
plano, coberto por grama e com ausência de
sombras, representando a condição de
exposição padrão prevista pela ISO 877-1. (a) (b)
A exposição do material teve duração total Figura 1. Esquema das mesas suportes utilizadas na
de quatro meses. Ao longo deste período, foram pesquisa: (a) mesa fechada; (b) mesa aberta.

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463
2.2.2 Subamostras para todos os subgrupos de subamostras. A
partir da Tabela 2, pode-se perceber a redução
A amostragem foi realizada de acordo com as desse parâmetro ao longo do período de ensaio.
recomendações da NBR ISO 9862. Foram Para o geotêxtil tecido estudado, após um
coletadas ao todo 30 subamostras, divididas em mês de exposição na área de dunas, foi obtida
três grupos, os quais foram identificados por A, uma resistência em torno de 47 kN/m. Na área
B e C. O grupo A corresponde às subamostras de controle, o valor foi cerca de 50 kN/m.
virgens, o grupo B às subamostras expostas na Quando comparados com a resistência do
área de dunas e o grupo C às subamostras material virgem (56 kN/m), esses valores
expostas na área de controle, de modo que cada representam uma perda de aproximadamente
grupo de subamostras expostas se subdivide em 16% e 10%, respectivamente. Para quatro
três subgrupos referentes a cada tempo de meses, o material apresentou uma perda de
exposição: um, dois e quatro meses, conforme a resistência de 25% quando exposto na área de
Tabela 1. dunas e cerca de 23% na área de controle.

Tabela 1. Identificação de grupos e subgrupos de Tabela 2. Análise da resistência à tração para todos os
subamostras. subgrupos de subamostras.
Grupo A B C Subgrupo Resistência Coeficiente Perda de
Área de Área de Área de média de variação resistência
exposição - dunas controle (kN/m) (%) (%)
Subgrupo A B1 B2 B3 C1 C2 C3 A 56,06 5,81 -
Tempo de B1 46,91 5,25 16,3
exposição (mês) - 1 2 4 1 2 4 B2 44,47 6,55 20,7
Quantidade de B3 42,03 5,60 25,0
subamostras 6 6 3 3 6 3 3 50,56 4,08
C1 9,8
C2 46,86 5,83 16,4
2.3 Ensaios de tração C3 43,13 6,10 23,1

As subamostras virgens e as expostas, após os É possível observar que no primeiro mês de


tempos de exposição pré-definidos, foram exposição, as subamostras apresentaram uma
submetidas a ensaios de tração de faixa estreita. taxa de redução de resistência mais acentuada,
Esses ensaios foram realizados no Laboratório para o material exposto na área de dunas. Nos
de Geossintéticos da EESC-USP de acordo com meses seguintes, o nível de degradação do
as recomendações da ASTM D5035. geotêxtil aumentou, entretanto a evolução
Para tanto, foram coletados cinco corpos de percentual da resistência retida mostra uma
prova do ensaio de tração a partir de cada diminuição da taxa de degradação desse
subamostra do ensaio de exposição ao ar livre. material com o tempo.
Com os resultados obtidos, as resistências à As equações que melhor representam a perda
tração na direção longitudinal das subamostras de resistência do material ao longo do tempo de
expostas foram avaliadas e confrontadas com os exposição estão apresentadas na Figura 2.
respectivos valores das subamostras virgens, Para ambas as áreas de exposição, utilizou-se
considerando os tempos e os locais de a função exponencial a fim de melhor
exposição, o que permitiu avaliar a degradação correlacionar as duas variáveis. O coeficiente de
do material. determinação (R²) apresentou o valor de 0,9023
para o material exposto na área de controle e
0,9957 para o exposto na área de dunas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A Figura 3 mostra a representação gráfica
dos intervalos de confiança para os ensaios de
A Tabela 2 traz o resumo dos resultados de tração de faixa estreita realizados para todos os
resistência à tração na direção longitudinal subgrupos de subamostras, considerando um
obtidos nos ensaios de tração de faixa estreita nível de confiança de 95%.

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464
58,0 embora haja uma considerável diferença entre
Resistência à tração

55,0
yC = 54,717e-0,002x as médias amostrais das distintas áreas, o que
R² = 0,9512
induz a presumir uma influência do local de
(kN/m)

52,0
exposição na degradação do material, ocorre
49,0
interseção entre os intervalos dos subgrupos de
46,0
-0,002x subamostras expostas em áreas diferentes. Além
43,0 yB = 52,825e disso, é válido notar que conforme o tempo
R² = 0,8058
40,0 avança, as médias amostrais e os intervalos de
0 15 30 45 60 75 90 105 120
confiança desses subgrupo se aproximam,
Tempo de exposição (dia) diminuindo a diferença entre eles. Em outras
palavras, há uma redução da influência da área
Área de dunas
Área de controle
de exposição em função do tempo.
Exponencial (Área de dunas) A Tabela 3 apresenta intervalos de confiança
Exponencial (Área de controle) (IC) para os subgrupos B2, C2, B3 e C3
calculados a partir de novos valores de níveis de
Figura 2. Resistência retida do material em função do
tempo de exposição.
confiança, para os quais não há interserção
entre os intervalos de confiança obtidos para a
área de controle e para a área de dunas.

Tabela 3. Intervalos de confiança para os subgrupos B2,


C2, B3 e C3 obtidos para novos níveis de confiança.
Subgrupo Nível de confiança (%) IC (kN/m)
B2 87,5 43,25 - 45,70
C2 45,71 - 48,01
B3 41,52 - 42,54
58,5
C3 42,56 - 43,70

Verifica-se, portanto, que para o segundo


tempo de exposição, referente aos subgrupos B2
e C2, pode-se afirmar que ocorre influência da
área de exposição na degradação considerando
um nível de confiança de cerca de 87%. Com
relação ao terceiro tempo, ou seja, quatro
Figura 3. Intervalo de confiança (IC), com nível de meses, apenas há cerca de 58% de confiança
confiança de 95%, para a resistência à tração das
que existe diferença de fato entre os resultados
subamostras de geotêxtil tecido.
obtidos para as duas áreas.
A partir desse gráfico, é possível afirmar No entanto, ressalta-se que, neste trabalho,
com 95% de confiança que as médias amostrais quando há referência à influência das áreas de
do material virgem não estão inclusas nos exposição na degradação do geotêxtil, está se
intervalos de confiança do geotêxtil exposto, considerando conjuntamente as condições
confirmando a ocorrência da degradação em ambientais de cada local e a interferência dos
consequência do ensaio. Com relação às dois modelos de mesas suportes nas quais as
subamostras expostas em uma mesma área, subamostras ficaram expostas
pode-se também perceber a degradação em As Tabelas 4 e 5 mostram resumidamente os
função do tempo. parâmetros obtidos através dos ensaios de
No entanto, quando se confrontam os exposição ao ar livre, de tração de faixa estreita,
resultados obtidos nas duas áreas de exposição, assim como os dados climáticos fornecidos pela
apenas no primeiro mês pode-se dizer com 95% estação do INMET. Os valores referentes aos
de confiança que a degradação é influenciada subgrupos A, B1, B2 e B3 são apresentados na
pelo local, dado que os intervalos calculados Tabela 4, enquanto os subgrupos C1, C2 e C3
não se interceptam. Para os meses seguintes, são tratados na Tabela 5.
É possível observar que as subamostras

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465
ficaram submetidas a um ambiente de alta Tabela 5. Resumo dos dados obtidos para os subgrupos
umidade relativa, acima de 80%, e a um C1, C2 e C3.
Subgrupos C1 C2 C3
acúmulo de radiação UV de cerca de 193
Tempo de exposição (dia) 31 61 122
MJ/m², valor considerado elevado frente aos
Amplitude térmica das
valores obtidos para diferentes localidades em subamostras (ºC)2
12,4 16,2 20,0
estudos de degradação de geossintéticos Temperatura diária (ºC) 1
26,5 26,3 25,7
(Greenwood et al., 1996; Yang e Ding, 2006; Amplitude térmica do
5,7 5,8 6,1
Guimarães et al., 2016). ambiente (ºC)1
1
Neste ensaio de exposição, a radiação UV Umidade relativa (%) 83,5 83,3 82,0
Radiação global
esteve associada a uma temperatura média acumulada (MJ/m²)
617,0 1269,9 2576,8
diária de aproximadamente 26 ºC, precipitação Radiação UV acumulada
acumulada de 1141,8 mm, cujo valor está acima 46,3 95,2 193,3
(MJ/m²)
do esperado para os padrões climáticos da Precipitação acumulada
415,0 643,0 1141,8
cidade, e velocidade média do vento variando (mm)
1
de 3 a 4 m/s. Velocidade do vento (m/s) 3,1 3,6 4,0
Resistência à tração
Destaca-se que, de modo geral, houve uma 50,6 46,9 43,1
(kN/m)3
constância nos dados meteorológicos, os quais Deformação na ruptura
14,8 12,8 13,4
se mantiveram pouco variáveis quando (%)3
1
comparados aos valores médios de um mês para Valores médios obtidos a partir dos dados diários
o outro no período de exposição. fornecidos pelo INMET.
2
Valor médio calculado a partir das amplitudes térmicas
diárias das subamostras.
3
Tabela 4. Resumo dos dados obtidos para os subgrupos Valores médios obtidos a partir do ensaio de tração.
A, B1, B2 e B3.
Subgrupo A B1 B2 B3 Analisando-se as Tabelas 4 e 5, percebe-se
Tempo de que as subamostras expostas na área de dunas
0 31 61 122
exposição (dia)
Amplitude
apresentaram amplitude térmica bem inferior
térmica das - 7,3 9,0 10,1 quando comparado com as subamostras
subamostras (ºC)2 expostas na área de controle. Possivelmente, a
Temperatura do
- 26,5 26,3 25,7
influência do vento, que é bastante intenso na
ambiente (ºC)1 área de dunas, permitiu o esfriamento das
Amplitude subamostras, reduzindo de forma mais
térmica do - 5,7 5,8 6,1
ambiente (ºC)1 acentuada as temperaturas máximas e,
Umidade relativa consequentemente, suas amplitudes térmicas.
- 83,5 83,3 82,0
(%)1 Vale destacar também que as amplitudes
Radiação global térmicas das subamostras, para as duas áreas de
acumulada - 617,0 1269,9 2576,8 exposição, se mantiveram crescentes ao longo
(MJ/m²)
Radiação UV
do tempo de ensaio, mesmo havendo pouca
acumulada - 46,3 95,2 193,3 variação da amplitude térmica do ambiente.
(MJ/m²) Para avaliar a influência do ambiente externo
Precipitação
- 415,0 643,0 1141,8
na degradação do geotêxtil, apresenta-se na
acumulada (mm) Figura 4 o comportamento da resistência à
Velocidade do tração do geossintético em função da radiação
- 3,1 3,6 4,0
vento (m/s)1
Resistência à
UV, em termos de valores acumulados. Essa
56,1 46,9 44,5 42,0 variável foi escolhida baseado em estudos
tração (kN/m)3
Deformação na anteriores, os quais sugerem que a radiação UV
15,1 13,5 12,7 12,9
ruptura (%)3 é a principal responsável pela degradação de
1
Valores médios obtidos a partir dos dados diários geotêxteis (Brand e Pang, 1991; Milagres,
fornecidos pelo INMET.
2 2016). Para as duas áreas de exposição, foi
Valor médio calculado a partir das amplitudes térmicas
diárias das subamostras. obtido o melhor ajuste para uma função
3
Valores médios obtidos a partir do ensaio de tração. exponencial. O coeficiente de determinação
encontrado apresentou o valor de 0,9455 para o

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466
material exposto na área de controle e 0,7937 Fernandes et al. (2018) sob as condições
para o exposto na área de dunas. climáticas da mesma cidade e mesmo período
Sendo assim, observa-se que o coeficiente de do ano apresentou aproximadamente o dobro da
determinação obtido para a área de controle foi redução de resistência, atingindo valores de
maior do que o da área de dunas. É provável cerca de 50% em 4 meses. Tendo em
que no ambiente de dunas, agentes consideração as condições climáticas
representativos do local, como a ação do vento semelhantes, esses valores induzem a presumir
incluindo alguma possível ação abrasiva da que o geotêxtil tecido de polipropileno utilizado
areia, tenham provocado interferência na nesse trabalho é menos suscetível à degradação
degradação do material, afetando a relação entre ao intemperismo do que o geotêxtil não-tecido
essa degradação e a radiação UV. de poliester utilizado por Fernandes et al.
(2018), ainda que seja composto por um
58,0 polímero menos resistente a raios UV.
Resistência à tração

55,0 Possivelmente, essa situação ocorre em função


yC = 54,597e-0,001x de diferentes aditivos utilizados na fabricação
52,0
(kN/m)

R² = 0,9455 dos dois materiais. No caso do geotêxtil tecido


49,0
46,0
utilizado no presente trabalho, o aditivo
yB = 52,679e-0,001x utilizado durante o processo de fabricação deve
43,0
R² = 0,7937 ter proporcionado um material mais resistente à
40,0
0,0 40,0 80,0 120,0 160,0 200,0
degradação por intemperismo.
Radiação UV acumulada (MJ/m²)
Área de dunas
4 CONCLUSÕES
Área de controle
Exponencial (Área de dunas) Esse estudo teve como objetivo avaliar a
Exponencial (Área de controle) degradação de um geotêxtil tecido de
Figura 4. Resistência do material em função do tempo da polipropileno sob as condições climáticas de
radiação UV acumulada. uma área de dunas na cidade de Natal/RN
durante um período de quatro meses. Como
É importante destacar que à princípio, a ação forma de analisar os efeitos do intemperismo
do vento exerce dois diferentes efeitos no nesse material, foram realizados ensaios de
geotêxtil estudado. O primeiro efeito se refere tração de faixa estreita nas subamostras
ao esfriamento das subamostras, comentado submetidas a diferentes tempos de exposição.
anteriormente, o qual tende a retardar a Os resultados dos ensaios de tração
degradação do material. Já o segundo efeito é a mostraram que no primeiro mês houve uma
ação mecânica do vento na superfície das redução na resistência do material em torno de
subamostras, a qual provoca desgaste físico 16% quando exposto na área de dunas e 10%
destas, tendo impacto negativo na sua vida útil. na área de controle. Já em quatro meses de
É possível, portanto, que o impacto exposição, os valores foram cerca de 25% e
provocado pela ação mecânica do vento seja 23%, respectivamente. Para ambas as áreas, a
maior nos periodos iniciais de exposição e se evolução percentual da resistência retida indica
reduza com o tempo, visto que o efeito do vento a diminuição da taxa de degradação do material
passa a ser repetitivo. Isso explicaria a redução, em função do tempo exposto.
em função do tempo, da influência da área de A partir desses resultados, foi possível usar
exposição na degradação do material observada inferência estatística para avaliar a resistência
neste estudo. do geotêxtil. A análise dos intervalos de
Vale ressaltar que em relação a resultados confiança permitiu afirmar com 95% de
anteriores reportados na literatura para a região confiança que ocorreu a degradação do
de Natal/RN, o nível de degradação obtido geotêxtil em decorrência da sua exposição. Para
neste estudo pode ser considerado relativamente o primeiro mês de exposição, também foi
baixo. Como comparação, o geotêxtil não- possível confirmar com 95% de confiança que
tecido de poliéster reciclado avaliado por houve influência da área de exposição na

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467
degradação do material. Para dois e quatro Geossintéticos) / VI Congresso brasileiro de
meses, só foi possível verificar essa influência engenharia ambiental (VI Regeo), ABMS/IGS Brasil,
Recife, CD-ROM.
para níveis de confiança de cerca de 87% e Brand E. W., Pang, P. L. R. (1991). Durability of
58%, respectivamente. Esse resultado sugere geotextiles to outdoor exposure in Hong kong. Journal
que embora tenha havido influência da área de of Geotechnical Engineering, ASCE, New York, v.
exposição na degradação do material, esse 117, n. 7, p. 979-1000.
efeito teve uma tendência de diminução ao Carneiro, J. R. C. (2009) Durabilidade de materiais
geossintéticos em estruturas de carácter ambiental –
longo do tempo. A importância da incorporação de aditivos químicos.
Em se tratando dos fatores climáticos, a Tese de Doutorado, Universidade do Porto, Portugal,
análise da regressão exponencial mostrou a 602p.
influência da radiação UV na redução da Fernandes, I. C. et al. (2018). Avaliação de propriedades
resistência do geotêxtil. Vale destacar que na de geotêxteis de poliéster reciclado submetido a
agentes climáticos. XIX Congresso Brasileiro de
área de controle foi alcançado um melhor ajuste Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (XIX
da função exponencial ao dados experimentais COBRAMSEG), AMBS, Salvador, 9p.
do que na área de dunas, possivelmente devido Gibbs, D. T., Austin, R. A., Smith, D. M. (2014).
à interferência de agentes climáticos Durability of Polyester Geotextiles Subjected to
característicos da área de dunas na degradação Australian Outdoor and Accelerated Weathering. VII
International Congress on Environmental
do material. Geotechnics, Melbourne, Australia, 8p.
De modo geral, com base nos métodos de Greenwood, J. H. et al. (1996). Durability standards for
ensaios empregados e nos dados obtidos , pode- geosynthetics: the tests for weathering and biological
se dizer que houve uma degradação mais resistance. In: De Groot M. B. et al. (eds)
acentuada do material em função de ações Geosynthetics: applications, design and construction,
proceedings. I European geosynthetic conference (I
climáticas específicas da área de Dunas no Eurogeo). A. A. Balkema, Rotterdam, p. 637-642.
primeiro mês de exposição. Entretanto apesar Guimarães, M. G. A. et al. (2016). Degradation of
da intensidade do vento nas Dunas e de uma polypropylene woven geotextile: tensile creep and
potencial ação abrasiva das partículas, do ponto weathering. Geosynthetics International, v. 24, n. 2, p.
de vista prático, a diferença entre os níveis de 213-223.
ISO (2009). ISO 877-1: Plastics – Methods of exposure
degradação para os meses subsequentes nas to solar radiation – Part 1: General guidance.
duas áreas estudadas foi pequena. International Organization For Standardization
Geneva, 13p.
ISO (2009). ISO 877-2: Plastics – Methods of exposure
AGRADECIMENTOS to solar radiation – Part 2: Direct weathering and
exposure behind window glass. International
À Huesker Ltda. pelo apoio durante toda a Organization For Standardization, Geneva, 6p.
realização desse trabalho. Koerner, R. M., Hsuan, Y. G., Koerner, G. R. (2016).
Lifetime predictions of exposed geotextiles and
geomembranes. Geosynthetics Internacional, v. 24, n.
2, p. 198-212.
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exposure test of geosynthetics. III Pan-American
ABNT (2013). NBR ISO 9862: Geossintéticos – Conference on Geosynthetics (III GeoAmericas),
Amostragem e preparação de corpos de prova para NAGS, Miami Beach, USA, p. 8.
ensaios. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Lodi, P. C. et al. (2008). Degradation of Geotextiles after
Rio de Janeiro, 4p. Weathering Exposure. I Pan American Geosynthetics
ASTM (2015). D5035: Standard test methods for Conference & Exhibition (I GeoAmericas), Cancun,
breaking force and elongation of textile fabrics (strip México, p. 612-616.
method). American Society For Testing And Milagres, B. V. (2016). Degradação de Geotêxteis frente
Materials, Conshohocken, Pennsylvania, 8p. a elementos climáticos em ensaios de campo e
ASTM (2009). D5970: Standard test methods for laboratório: realidade climática local. Dissertação de
deterioration of geotextiles from outdoor exposure. Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro
American Society For Testing And Materials, Preto, 136p.
Conshohocken, Pennsylvania, 3p. Yang, X., Ding, X. (2006). Prediction of Outdoor
Benjamim, C. V. S. et al. (2007). Investigação do dano Weathering Performance of Polypropylene Filaments
mecânico e do dano aos raios ultravioleta em by Accelerated Weathering Tests. Geotextiles and
geotêxteis expostos a condições de campo. Anais V Geomembranes, v. 24, p. 103-109.
Congresso brasileiro de geossintéticos (V

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da resistência de emendas de geomembranas em


contato com resíduo de cana-de-açucar (vinhaça)
Breno Padovezi Rocha
Escola de Engenharia de São Carlos (USP), São Carlos, Brasil, brenop@sc.usp.br

Paulo Cesar Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (Unesp), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: As geomembranas (GM) são materiais sintéticos que possuem baixa permeabilidade
(em torno de 10-12 cm/s) e que podem ser utilizadas como barreiras impermeáveis em aterros
sanitários, lagoas de estabilização ou em qualquer outro tipo de aplicação que necessite desvio de
fluxo. Pelo fato das GMs serem fabricadas em rolos (bobinas) devem sofrer um processo de união
em campo (emenda) para a efetiva estanqueidade ou a finalidade a que foi destinada. Neste sentido,
este artigo tem por objetivo verificar por meio de ensaio acelerado a resistência de emendas de
geomembranas de PVC em contato com resíduo de cana-de-açúcar (vinhaça). Foram avaliadas dois
tipos de emendas (alta frequência e fusão química) em geomembranas de poli cloreto de vinila
(PVC) com espessura de 1 mm. As amostras de GM foram imersas na vinhaça em recipientes de
aço inoxidável a uma temperatura de 50ºC e, após 2, 4 e 6 meses de incubação, foram ensaiadas
verificando-se a retenção das propriedades (resistência ao cisalhamento e descolamento) em função
do tempo de exposição. Os resultados obtidos indicam que houve variação nos valores das
propriedades considerando-se cada tipo de técnica utilizada. A resistência ao descolamento nas
emendas confeccionadas pela técnica de fusão química, por exemplo, apresentou diminuições
consideráveis após os períodos de exposição.

PALAVRAS-CHAVE: Geomembranas, emendas, compatibilidade química, resistência, vinhaça.

ABSTRACT: Geomembranes (GM) are synthetic materials that have low permeability (around
10-12 cm/s) and can be used as impermeable barriers in sanitary landfills, stabilization ponds or any
other type of application that requires flow diversion. Because GMs are manufactured in rolls they
must undergo a process of union in the field (seam) for the effective sealing or the purpose for
which it was intended. In this sense, this article aims to verify by accelerated test the resistance of
seams PVC geomembrane in contact with sugarcane residue (vinasse). Two types of techniques
(high frequency and chemical melting) were evaluated in polyvinyl chloride (PVC) geomembranes
with a thickness of 1 mm. The GM samples were immersed in the vinasse in stainless steel
containers at a temperature of 50 ° C and, after 2, 4 and 6 months of incubation, they were tested by
checking the properties retention (shear strength and peeling) as a function of time exposure. The
results indicate that there was variation in the values of the properties considering each type of
technique used. The results of peel tests in the seams made by the chemical fusion technique, for
example, showed considerable decreases after the periods of exposure.

KEYWORDS: Geomembrane, seams, chemical compatibility, resistance, vinasse.

1 INTRODUÇÃO resíduo da cana de açúcar (vinhaça) que é usada


na fertirrigação face à sua contribuição para a
Devido à sua baixa permeabilidade, as produtividade do canavial. Sem a GM haveria a
geomembranas (GM) são comumente utilizadas contaminação do solo pela infiltração, uma vez
em usinas de álcool para armazenamento do

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

469
que esta substância apresenta um poder das emendas são função da técnica utilizada, de
poluente maior que o do esgoto doméstico. sua geometria, da resina polimérica e das
No entanto, um dos principais problemas tensões residuais nas emendas.
relacionados a funcionalidade da GM no Existem, basicamente, quatro métodos de
sistema ao qual foi projetado diz respeito ao seu soldas para as geomembranas: extrusão, fusão
processo de união (emenda) em campo ou em térmica, fusão química e soldagem adesiva. A
fábrica. Devido ao fato de serem fabricadas em Figura 1 ilustra os tipos de técnicas de emenda
rolos (bobinas), devem sofrer esse processo de utilizadas em geomembranas.
união (emenda) para a efetiva estanqueidade ou
a finalidade a que foi destinada. Assim, os
pontos críticos de um sistema de
impermeabilização usando geomembranas são
exatamente as emendas. Não somente podem
perder resistência (Reddy e Butul, 1999) pelos
processos de execução bem como podem estar
em contato com líquidos agressivos que podem
alterar as propriedades de permeação e de fluxo
fazendo com que a geomembrana perca sua
função.
Neste sentido, este artigo avaliou por meio
de ensaio acelerado a compatibilidade química
de emendas de geomembranas de PVC em
contato com resíduo de cana-de-açúcar
(vinhaça). Para tanto, foram realizados ensaios
destrutivos (cisalhamento e descolamento) nas Figura 1. Diferentes técnicas de emendas em
geomembranas (Koerner, 1998).
emendas. Importante ressaltar que ensaios
químicos e físico-químicos devem
2.2 Ensaios realizados nas emendas
complementar a avaliação da resistência das
emendas. No entanto, este trabalho apresenta
Os principais ensaios de resistência das
apenas os ensaios mecânicos.
emendas são os ensaios de descolamento (peel
test) e de resistência ao cisalhamento. Estes
ensaios são normalmente realizados de acordo
2 EMENDAS EM GEOMEMBRANAS
com as prescrições da ASTM (ASTM D4437 e
D4545). Normalmente utiliza-se uma pequena
A união de rolos e painéis de geomembranas
amostra (25 mm de largura) da emenda para a
resulta em emendas que podem apresentar
realização do ensaio de cisalhamento e
resistência menor do que a própria
descolamento. O ensaio de cisalhamento nada
geomembrana. Segundo Reddy & Butul (1999)
mais é do que um ensaio de tração na região da
essas diferenças ocorrem devido à concentração
emenda. As garras são colocadas a uma
de tensão resultantes da geometria da emenda.
determinada distância das emendas efetuando-
Diferenças de resistência também podem ser
se então a solicitação. No caso de
verificadas quando se comparam as emendas
descolamento, o ensaio é realizado após
feitas em campo e as emendas realizadas em
desprender-se uma pequena parte das emendas
fábrica. Estas últimas possibilitam um maior
a fim de se verificar a força necessária para
controle de qualidade e em alguns casos, pode-
separá-las. A Figura 2 ilustra o esquema de
se reduzir a quantidade de emendas em campo.
solicitação das emendas nesses ensaios.
Atualmente, através de ensaios destrutivos, é
Reddy & Buttul (1999) ressaltam que os
possível efetuar um maior controle da
alongamentos também devem ser avaliados já
resistência das emendas em campo. As emendas
que a ruptura deve ocorrer fora da emenda
das geomembranas de PVC, em sua maioria,
devido à soldagem imprópria ou
são realizadas nas fábricas. As características
superaquecimento

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

470
intervalo de tempo, também pré-determinado.
O agitador foi ajustado para funcionar durante 5
minutos a cada hora. A compatibilidade
química foi realizada de acordo com as
recomendações das normas ASTM D5322 e
D5747 que prescrevem a utilização das
Figura 2. Detalhes dos ensaios de cisalhamento e ao substâncias agressivas e a metodologia de
descolamento (Giroud, 1984).
incubação.

3.3 Ensaios realizados


3 MATERIAS E MÉTODOS
Os ensaios de resistência nas emendas foram
3.1 Geomembranas realizados de acordo com os métodos de ensaio
da ASTM D4437 e D4545. Esses ensaios
Neste estudo, foram empregadas geomembranas procuram verificar a resistência das emendas ao
de PVC com espessura de 1,0 mm. As emendas cisalhamento e o descolamento das bordas
foram realizadas utilizando-se as técnicas de soldadas.
alta frequência (AF-A) e fusão química (QU-B). Após a caracterização das membranas e das
A técnica de alta frequência consiste na união emendas, essas foram imersas em ambiente
entre dois painéis por meio da interação tipicamente agressivo (resíduo de cana-de-
molecular causada por alta frequência. Já a açúcar – vinhaça) na temperatura de 50º C, e
técnica de fusão química consiste na união entre após 2, 4 e 6 meses, foram ensaiadas
dois painéis mediante o ataque químico das verificando-se a retenção das propriedades em
superfícies provocado por um solvente volátil função do tempo de exposição para verificação
que leva à fusão entre as partes, com auxílio de da resistência das emendas. A Figura 4 ilustra a
pressão mecânica. prensa utilizada para a realização dos ensaios de
cisalhamento e descolamento.
3.2 Incubação das amostras

As amostras foram incubadas em recipientes de


confeccionados em aço inoxidável, com
dimensões de (40x40x40)cm (Figura 3)
seguindo-se as recomendações da ASTM
D5747.

Figura 4. Prensa utilizada nos ensaios de cisalhamento e


descolamento.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 3. Recipiente de encubação.
A Tabela 1 e a Tabela 2 apresentam,
Esses recipientes possuem controle respectivamente, os resultados dos ensaios de
automático de temperatura, com variação de 0 a caracterização das emendas confeccionadas
80º C, bem como agitador interno com pelos métodos de alta frequência (AF-A) e
velocidade pré-ajustada em função de um solda química (QU-B), sem o contato com o

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

471
resíduo de cana-de-açúcar (vinhaça). A Tabela resistência ao descolamento, em termos de
3 apresenta os resultados dos ensaios de porcentagem das amostras AF-A.
resistência ao cisalhamento e ao descolamento Os resultados de resistência ao cisalhamento,
para os períodos de 2, 4 e 6 meses das amostras valores de deformação específica ao
AF-A imersas na Vinhaça. A Figura 5, Figura 6 cisalhamento, bem como a resistência ao
e a Figura 7 apresentam, respectivamente, os descolamento para as emendas confeccionadas
resultados de resistência ao cisalhamento, pelo método de solda química (QU-B) são
deformação específica ao cisalhamento e apresentados na Tabela 4, Figura 8, Figura 9 e a
Figura 10.

Tabela 1. Propriedades das emendas intactas - método de Alta frequência (AF-A).


AMOSTRA A
(VMP 55ML A33
ESPECIFICAÇÃO
Propriedades Norma Sentido SPA 37-10
OP86217-00)

Resistência ao Cisalhamento ASTM D3083 Trans. 14 N/mm 8 N/mm-mínimo

Resistência ao Descolamento ASTM D413 Trans. 4,1 N/mm 4N/mm-mínimo

Máquina de Solda (Confecção) 15K-01 -

Tabela 2. Propriedades das emendas intactas - método de Solda química (QU-B).


AMOSTRA B
(VMP 55ML A33
ESPECIFICAÇÃO
Propriedades Norma Sentido SPA 37-10
OP86217-00)

Resistência ao Cisalhamento ASTM D3083 Trans. 11 N/mm 8 N/mm-mínimo

Resistência ao Descolamento ASTM D413 Trans. 3,9 N/mm 3N/mm-mínimo

Máquina de Solda (Confecção) Cola PV-02 -

Tabela 3. Resultados de ensaios de cisalhamento e de descolamento - método de alta frequência (amostras AF-A).
Cisalhamento Descolamento
Tempo Tempo
N/mm ε (%) N/mm ε (%)
(meses) (meses)
Virgem 14,00 338,9 Virgem 4,1 170,0
2 13,02 110,0 2 4,3 249,8
4 11,21 153,1 4 4,0 241,8
6 11,69 153,2 6 4,2 181,5

Tabela 4. Resultados de ensaios de cisalhamento e de descolamento – método de solda química (amostras QU-B).
Cisalhamento Descolamento
Tempo Tempo
N/mm ε (%) N/mm ε (%)
(meses) (meses)
Virgem 14,00 502,7 Virgem 4,1 144,0
2 12,34 108,7 2 1,1 83,8
4 12,40 132,9 4 2,0 292,7
6 11,47 173,0 6 1,0 345,9

Em se tratando da emenda AF-A, nota-se resistência ao cisalhamento devido o contato


que os valores de resistência ao cisalhamento das emendas com a vinhaça. A deformação
apresentaram variação inconstante, com ganho específica ao cisalhamento apresentou uma
de resistência nos 2 e perda aos 4 e 6 meses. Em variação constante, com perdas de deformação
geral, houve perda de aproximadamente 55% da

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472
aos 2, 4 e meses; no geral o material obteve Deformação Específica ao Cisalhamento (%)
uma perda de 54,8%. 200

Deformação Específica ao
Resistência ao Cisalhamento 150

Cisalhamento(%)
100.0
Resistência ao Cisalhamento(%)

200 100

150
50 34.4
21.6 26.4
100.0 93.0
100 80.1 83.5
0
0 2 4 6
50
Tempo (meses)
Figura 9. Variação da deformação específica ao
cisalhamento durante o período ensaiado para as amostras
0
0 2 4 6
Tempo (meses) QU-B.
Figura 5. Variação da resistência ao cisalhamento durante
o período ensaiado para as amostras AF-A.
Resistência ao Descolamento
200
Deformação Específica ao Cisalhamento (%)

Resistência ao descolamento (%)


200
150
Deformação Específica ao
Cisalhamento(%)

150
100.0
100.0 100
100
48.0
45.2 45.2 50
50 32.5 27.8 24.2

0
0
0 2 4 6
0 2 4 6
Tempo (meses) Tempo (meses)
Figura 6. Variação da deformação específica ao Figura 10. Variação da resistência ao descolamento
cisalhamento durante o período ensaiado para as amostras durante o período ensaiado para as amostras QU-B.
AF-A.
Já em relação a resistência ao descolamento,
Resistência ao Descolamento
observa-se uma perda de resistência aos 4
meses, e um ganho não muito significativo aos
200
Resistência ao descolamento (%)

150 2 e 6 meses; no geral o material obteve um


104.5
ganho de 2,5% de resistência.
Em relação às emendas do tipo QU-B,
100.0 98.4 102.5
100

observou-se uma variação constante de


50
resistência ao cisalhamento, com perda após 2,
0
4 e 6 meses; no geral houve uma perda de
0 2 4 6 18,1% de resistência ao cisalhamento. Para a
Tempo (meses)
deformação específica ao cisalhamento, houve
Figura 7. Variação da resistência ao descolamento perda de deformação para 2, 4 e 6 meses; no
durante o período ensaiado para as amostras AF-A.
geral observou-se uma redução de 65,6% desse
Resistência ao Cisalhamento parâmetro. Já em relação à resistência ao
200 descolamento, verificou-se uma variação
Resistência ao Cisalhamento(%)

constante, com perda de resistência para 2, 4 e 6


meses; no geral o material obteve uma perda de
150

100
100.0
88.1 88.6 75,8% de resistência ao descolamento.
De forma geral, observa-se que o
81.9

50 comportamento do material em termos de


resistência e deformação apresentou oscilações
de aumento e diminuição. O comportamento a
0
0 2 4 6
Tempo (meses)
ser esperado pelo material é de diminuição da
Figura 8.Variação da resistência ao cisalhamento durante
o período ensaiado para as amostras QU-B.
resistência e da deformação em função do

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

473
processo degradativo. No entanto, deve-se levar Pennsylvania, p. 13.
em conta que o PVC possuiu uma composição ASTM (1999a). D4437. Standard Practice for
Determining the Integrity of Field seams Used in
elevada de plastificantes. O contato desse Joining Flexible Polymeric Sheet Geomembranes.
material com temperaturas elevadas, bem como ASTM International, Pennsylvania, p. 3.
líquidos agressivos irão fazer com que o PVC ASTM (1999b). D4545. Standard Practice for
se torne mais rígido e, portanto, poderá Determining the Integrity of Factory Seams Used in
apresentar oscilações em sua resistência e Joining Manufactured Flexible Sheet Geomembranes.
ASTM International, Pennsylvania, p. 4.
deformabilidade. Ressalta-se que o fato do ASTM (1992) D5322. Standard Practice for Immersion
material apresentar aumentos em sua resistência Procedures for Evaluating the Chemical Resistance of
não significa que o material tornou-se melhor. Geosynthetics to Liquids. ASTM International,
O fator essencial a ser verificado nesse quesito Pennsylvania, p. 4.
é, sem dúvida, a deformabilidade do material. ASTM (1995) D5747. Standard Practice for Tests to
Evaluate the Chemical Resistance of Geomembranes
Tornando-se mais rígido, o material apresenta to Liquids. ASTM International, Pennsylvania, p. 15.
um comportamento frágil, ou seja, poderá Reddy, D.V. & BUTUL, B. (1999) - A comprehensive
suportar determinado nível de tensão, mas irá literature review of liners failures and longevity,
romper com deformações muito menores do submitted to Florida Center for Solid and Hazardous
que a condição intacta. Deste modo, tais Waste Management University of Florida, July 12,
1999, 156p.
análises são de vital importância dentro de um
projeto que envolve emendas em GMs, pois são
fatores que afetam diretamente a eficiência e
durabilidade destas.

5 CONCLUSÕES

Observou-se que o comportamento do material


em termos de resistência e deformação
apresentou oscilações de aumento e diminuição.
As variações observadas em relação à
resistência ao cisalhamento foram semelhantes
para ambas as técnicas avaliadas. No entanto,
nota-se que em se tratando do descolamento, as
emendas confeccionadas pela técnica QU-B
apresentaram variações mais significativas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Sansuy Geossintéticos
pela disponibilização das geomembranas bem
como ao Laboratório de Geossintéticos
(EESC/USP) por possibilitarem a realização dos
ensaios de laboratório.

REFERÊNCIAS

ASTM (1996) D638. Standard Test Methods for Tensile


Properties of Plastics. ASTM International,
Pennsylvania, p. 15.
ASTM (1998) D3083. Specification for Flexible Poly
(Vinyl Chloride) Plastic Sheeting for Pond, Canal,
and Reservoir Lining. ASTM International,

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

474
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Resistência de Geotêxteis de Polipropileno a Agentes de


Degradação Físicos e Químicos
José Ricardo Carneiro
Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, rcarneir@fe.up.pt

Paulo Joaquim Almeida


Requimte, FCUP, Porto, Portugal, pjalmeid@fc.up.pt

Maria de Lurdes Lopes


Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, lcosta@fe.up.pt

RESUMO: As propriedades dos geotêxteis podem sofrer alterações indesejáveis devido à ação de
vários agentes de degradação. Este trabalho avalia a resistência de seis geotêxteis de polipropileno
(materiais com diferentes estruturas, massas por unidade de área e estabilizações químicas) a
agentes de degradação físicos e químicos: ação de ácidos e de bases, hidrólise, termo-oxidação
(método do forno) e envelhecimento climatérico. A resistência ao envelhecimento climatérico foi
avaliada sob condições de degradação reais (12 meses de exposição ao ar livre) e sob condições de
degradação aceleradas em laboratório. Os danos sofridos pelos geotêxteis (nos diferentes ensaios de
durabilidade) foram avaliados pela monitorização do comportamento à tração dos materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geotêxteis, Durabilidade, Termo-oxidação, Envelhecimento


Climatérico, Resistência a Líquidos.

ABSTRACT: The properties of the geotextiles can suffer unwanted changes due to the action of
many degradation agents. This work evaluates the resistance of six polypropylene geotextiles
(materials with different structures, masses per unit areas and stabilisation packages) to physical
and chemical degradation agents: action of acids and alkalis, hydrolysis, thermo-oxidation (oven-
ageing method) and weathering. The weathering resistance was evaluated under real degradation
conditions (exposure during 12 months outdoors) and in laboratory under accelerated degradation
conditions. The damage suffered by the geotextiles (in the different durability tests) was evaluated
by monitoring the tensile behaviour of the materials.

KEY WORDS: Geosynthetics, Geotextiles, Durability, Thermo-oxidation, Weathering, Resistance


to Liquids.

1 INTRODUÇÃO mecânicas e hidráulicas dos geotêxteis,


afetando o seu desempenho.
Nas suas mais variadas aplicações, os geotêxteis A oxidação é uma das principais causas para
podem estar em contacto com vários agentes de a degradação de muitos polímeros, incluindo os
degradação, tais como: líquidos (ácidos, bases, usados normalmente no fabrico de geotêxteis. O
água), temperaturas elevadas, oxigénio, processo de oxidação pode ser promovido por
radiação ultravioleta (UV) e outros agentes ação da radiação UV (foto-oxidação) ou por
climatéricos, agentes biológicos ou a ação de ação da temperatura (termo-oxidação). Na
cargas dinâmicas ou cargas estáticas. O ausência de radiação UV, o processo de
contacto prolongado com estes agentes pode ter oxidação ocorre lentamente à temperatura
um impacto negativo nas propriedades físicas, ambiente. No entanto, não pode ser desprezado
quando se consideram materiais para uso em

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

475
Engenharia Civil (que devem, em muitos casos, 2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL
desempenhar funções durante um período de
tempo muito longo). 2.1 Geotêxteis
O contacto prolongado com líquidos pode ter
diferentes consequências para os geotêxteis. Os Foram usados 6 geotêxteis de PP com diferentes
líquidos podem promover a extração de estruturas (5 não-tecidos e 1 tecido), massas por
aditivos, podem reagir com as cadeias unidade de área e composições químicas. A
poliméricas dos geotêxteis (por exemplo, Tabela 1 resume as principais características
reações de hidrólise) ou podem ser absorvidos dos materiais.
pelas mesmas (causando o intumescimento dos
materiais). Tabela 1. Principais características dos geotêxteis.
O polipropileno (PP) (polímero mais Geotêxtil Estrutura μ A * (g/m2) t** (mm)
utilizado no fabrico de geotêxteis) possui uma A Não-tecido 124 (13) 1,92 (0,10)
B Não-tecido 127 (7) 1,37 (0,05)
resistência relativamente elevada à maioria das C Não-tecido 402 (30) 2,80 (0,11)
espécies químicas e à degradação biológica. No D Não-tecido 422 (16) 3,34 (0,17)
entanto, possui uma baixa resistência à E Não-tecido 380 (14) 0,83 (0,03)
oxidação e à ação da radiação UV (tornando F Tecido 221 (2) 1,26 (0,02)
mais delicado o uso de materiais de PP em (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
*μ A – massa por unidade de área (EN ISO 9864).
aplicações que envolvam a exposição à radiação **t – espessura (EN ISO 9863-1).
solar).
Os geotêxteis estão enterrados na maioria De entre os geotêxteis não-tecidos (materiais
das aplicações, estando apenas expostos à de diferentes produtores), 4 eram agulhados (A-
radiação solar (e a outros agentes climatéricos) D) e 1 era termossoldado (E). De acordo com os
durante a fase de instalação em obra (um produtores, os geotêxteis B, D, E e F estavam
período de tempo normalmente curto). Contudo, protegidos contra a oxidação e contra a radiação
em alguns casos, podem estar total ou UV (a identidade e quantidade dos
parcialmente expostos por períodos de tempo estabilizantes não foi relevada pelos
muito mais longos. De modo a melhorar a produtores). Os geotêxteis A e C não possuíam
resistência dos geotêxteis à radiação UV, é aditivos químicos nas suas composições
normal a introdução de aditivos químicos (materiais não estabilizados). Os geotêxteis
(como estabilizantes UV e/ou antioxidantes) nas não-tecidos (A-E) tinham cor branca, enquanto
suas composições poliméricas. que o geotêxtil tecido (F) possuía cor preta
Em muitas aplicações, os geotêxteis devem (presença de negro de carbono).
desempenhar funções durante um longo período Os processos de amostragem e preparação de
de tempo. Para tal, é necessário que os materiais provetes foram efetuados de acordo com a
mantenham os valores mínimos de norma EN ISO 9862.
determinadas propriedades durante esse
período. Não sendo conhecido o 2.2 Ensaios de Durabilidade
comportamento a longo prazo dos geotêxteis, é
necessário prever a degradação que estes irão 2.2.1 Imersão em Líquidos
sofrer ao longo do tempo. Para tal, são
normalmente realizados ensaios de durabilidade A resistência dos geotêxteis aos líquidos
em laboratório (tipicamente usando condições (ácidos, bases e hidrólise) foi avaliada de
de degradação aceleradas) ou em campo acordo com os procedimentos descritos nas
(condições de degradação reais). normas EN 14030 (ácidos e bases) e EN 12447
O presente trabalho avalia a resistência de (hidrólise). As condições experimentais dos
seis geotêxteis de PP com diferentes ensaios de imersão estão resumidas na Tabela 2.
características a vários agentes de degradação Estes ensaios foram realizados num banho
físicos e químicos: ação de substâncias ácidas e termostático (marca GFL, modelo 1003) ao
alcalinas, hidrólise, termo-oxidação e abrigo da luz.
envelhecimento climatérico.

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476
Tabela 2. Ensaios de imersão. 2.2.4 Envelhecimento Climatérico: Campo
Ensaio de Agente de Condições do
imersão degradação ensaio
Os geotêxteis foram expostos a envelhecimento
Meio Ácido H 2 SO 4
(EN 14030) (0,025 mol/L) climatérico sob condições de degradação reais
60 ºC, 3 dias em Portugal. O local de exposição estava
Meio alcalino Ca(OH) 2
(EN 14030) (2,5 g/L) situado à latitude de 41º13`N e à longitude de
Hidrólise 8º39`W (49 metros acima do nível do mar). Os
H2O 95 ºC, 28 dias
(EN 12447) materiais foram instalados em suportes
orientados para sul com 30º de inclinação e
estiveram expostos ao ar livre durante um
2.2.2 Termo-oxidação período máximo de 12 meses (recolha de
amostras para caracterização aos 6 e aos 12
Os ensaios de termo-oxidação foram realizados meses).
de acordo com a norma EN ISO 13438 (método Os principais parâmetros climatológicos do
A2). Estes ensaios consistiram na exposição dos local de exposição (temperatura do ar, energia
geotêxteis à temperatura de 110 ºC num forno da radiação solar, humidade e precipitação)
(marca Heraeus Instruments, modelo T6120) foram monitorizados durante a exposição
com uma atmosfera normal de oxigénio (21% (Tabela 3). A energia da radiação solar foi
de O 2 ) e sem circulação forçada de ar. O tempo medida entre 300 e 3000 nm, sendo necessário
de exposição foi de 28 dias. estimar a energia da radiação UV. A norma EN
13362 e Greenwood et al. (2016) fornecem
estimativas para a energia da radiação UV como
2.2.3 Envelhecimento Climatérico: Laboratório sendo, respetivamente, 6-9% e 5-10% da
energia da radiação solar. Tendo em conta os
A exposição aos agentes climatéricos artificiais intervalos anteriores, a energia da radiação UV
(radiação UV e chuva) foi feita num simulador foi estimada como correspondendo a 7,5% da
laboratorial: o QUV Weathering Tester (marca energia da radiação solar total (7,5% é o valor
Q-Panel Lab Products, modelo QUV/spray). A médio dos intervalos referidos na norma EN
radiação UV existente na luz solar foi simulada 13362 e em Greenwood et al. (2016)).
através de lâmpadas fluorescentes do tipo
UVA-340. Por sua vez, a chuva foi simulada Tabela 3. Principais parâmetros climatológicos do local
através da projeção de água (água à temperatura de exposição dos geotêxteis ao ar livre.
ambiente) contra a superfície dos materiais. Os tE T E Total E UV P HR
geotêxteis foram expostos no simulador (mês) (ºC) (MJ/m2) (MJ/m2) (mm) (%)
6 13,6 1344 101 815 76,7
climatérico durante 362 horas (cerca de 15 dias) 12 17,8 5343 401 1094 77,5
ao seguinte ciclo climatérico: t E – tempo de exposição;
T – temperatura média do ar;
Passo 1: Radiação UV (5 horas, 50 ºC) E Total – energia total da radiação solar (300-3000 nm);
Passo 2: Chuva (10 minutos, 5 L/min) E UV – energia total da radiação UV (estimada);
P – precipitação total;
(retorno ao passo 1)
HR – humidade relativa média.

Nas 362 horas totais de ensaio, os geotêxteis 2.3 Avaliação de Danos


foram expostos a cerca de 70 ciclos climatéricos
(cada ciclo climatérico teve a duração de 5 Os danos sofridos pelos geotêxteis nos ensaios
horas e 10 minutos). A irradiância durante o de durabilidade foram avaliados por ensaios de
passo de exposição à radiação UV (duração tração de acordo com os métodos descritos nas
total de 350 horas) foi de 0,68 W/m2 aos 340 normas EN ISO 13934-1 (geotêxtil tecido) e EN
nm. A radiação UV incidente total (entre os 290 29073-3 (geotêxteis não-tecidos). A avaliação
e os 400 nm) foi de 50 MJ/m2 (valor da norma de danos seguiu as indicações da norma EN
EN 12224). 12226. A Tabela 4 resume as condições
experimentais dos ensaios de tração.

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477
Tabela 4. Condições experimentais dos ensaios de tração libertavam uma elevada quantidade de fibras
(EN ISO 13934-1 e EN 29073-3). degradadas e podiam ser transformados em
Largura do Comprimento do Velocidade
provete (mm) provete (mm)*
N
(mm/min)
pequenos e/ou em pó depois da exposição a 110
50 200 5 100 ºC (resistência à tração residual de 0% após 11
(N – número de provetes) dias de exposição). Isto mostrou que, na
*comprimento entre garras ausência de estabilização química adequada, os
geotêxteis de PP possuem uma baixa resistência
Os parâmetros determinados nos ensaios de contra a termo-oxidação.
tração (valores na direção de fabrico) incluíram
a resistência à tração (T, em kN/m) e a extensão Tabela 6. Propriedades de tração dos geotêxteis depois
na força máxima (E FM , em %). A resistência à das imersões em meios ácido e alcalino e hidrólise.
tração residual (T Res , em %) foi obtida Meio
T E FM T Res
dividindo a resistência à tração das amostras (kN/m) (%) (%)
expostas (aos ensaios de durabilidade) pela Ácido 4,09 (0,64) 89,6 (12,5) 99,0
A Alcalino 4,22 (0,56) 91,2 (10,4) 102,2
resistência à tração das amostras de referência Hidrólise 4,06 (0,62) 88,7 (9,3) 98,3
(intactas). A Tabela 5 resume as propriedades Ácido 12,48 (0,65) 37,3 (2,4) 101,5
de tração das amostras de referência dos vários B Alcalino 12,37 (0,85) 36,9 (3,1) 100,6
geotêxteis. Hidrólise 12,18 (0,95) 36,0 (3,6) 99,0
Ácido 19,15 (1,33) 75,4 (7,8) 97,8
Tabela 5. Propriedades de tração das amostras intactas C Alcalino 19,76 (1,89) 77,1 (9,2) 100,9
dos geotêxteis. Hidrólise 18,85 (2,28) 75,3 (4,5) 96,3
T E FM Ácido 29,12 (0,95) 65,2 (1,3) 98,8
Geotêxtil D Alcalino 29,37 (1,21) 65,6 (1,7) 99,6
(kN/m) (%)
A 4,13 (0,51) 90,0 (11,7) Hidrólise 29,62 (0,87) 65,8 (1,4) 100,5
B 12,30 (0,72) 36,1 (2,9) Ácido 25,68 (1,93) 39,1 (5,8) 100,6
C 19,58 (2,10) 76,8 (8,9) E Alcalino 25,15 (1,42) 38,7 (6,3) 98,6
D 29,48 (1,15) 65,4 (1,5) Hidrólise 25,38 (1,51) 38,6 (5,9) 99,5
E 25,52 (1,82) 38,9 (6,0) Ácido 40,21 (0,72) 21,5 (0,4) 97,0
F 41,44 (1,00) 20,4 (1,2) F Alcalino 38,64 (1,23) 20,7 (0,7) 93,2
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos) Hidrólise 40,57 (1,08) 21,8 (0,9) 97,9
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Contrariamente ao ocorrido para os


geotêxteis A e C, os geotêxteis B, D, E e F não
3.1 Resistência a Líquidos possuíam danos visíveis depois de 28 dias de
exposição a 110 ºC, ficando logo evidente que a
A imersão dos geotêxteis em água e nas presença dos estabilizantes químicos promoveu
soluções de ácido sulfúrico e de hidróxido de um aumento muito significativo da resistência
cálcio (nas condições descritas na Tabela 2) não dos geotêxteis de PP à termo-oxidação. A
provocou danos visíveis nos materiais. De igual Tabela 7 resume as propriedades de tração dos
modo, as propriedades de tração dos vários geotêxteis depois dos ensaios de termo-
geotêxteis não sofreram alterações relevantes oxidação.
após os ensaios de imersão realizados (Tabela
6). Os geotêxteis de PP, independentemente das Tabela 7. Propriedades de tração dos geotêxteis depois da
suas características, mostraram possuir boa exposição à termo-oxidação (EN ISO 13438).
resistência à hidrólise e à degradação em meio T E FM T Res
Geotêxtil
(kN/m) (%) (%)
ácido e alcalino.
A 0 - 0
B 11,14 (0,77) 31,4 (1,6) 90,6
3.2 Termo-oxidação C 0 - 0
D 14,35 (1,34) 40,8 (1,7) 48,7
Os geotêxteis não-estabilizados (A e C) (100% E 27,04 (1,41) 32,4 (3,2) 106,0
PP) adquiriram uma coloração amarela/castanha F 43,01 (1,52) 20,5 (0,9) 103,8
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
(originalmente possuíam cor branca),

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478
A resistência à tração dos geotêxteis B, E e F D, E e F) não foram totalmente destruídos
não sofreu alterações muito significativas durante a exposição ao envelhecimento
depois da exposição à termo-oxidação climatérico, o que mostra que a degradação foi
(resistências à tração residuais compreendidas retardada pela ação dos estabilizantes químicos
entre 90,6% e 106,0%). Tal como para a existentes nas suas composições. No entanto, as
resistência à tração, também não foram suas propriedades de tração foram, em alguns
observadas alterações muito relevantes na casos, muito afetadas pela exposição aos
extensão na força máxima (apenas pequenas agentes climatéricos (Tabela 8).
reduções nos geotêxteis B e E). Desta forma, o
processo de oxidação destes materiais foi Tabela 8. Propriedades de tração dos geotêxteis depois da
significativamente retardado pela presença de exposição ao envelhecimento climatérico (EN 12224).
T E FM T Res
estabilizantes nas fibras de PP. Geotêxtil
(kN/m) (%) (%)
No caso do geotêxtil D, ocorreu uma redução A 0 - 0
muito significativa (para cerca de metade) da B 7,27 (1,56) 21,2 (3,3) 59,1
sua resistência à tração após termo-oxidação C 0 - 0
(48,7% de resistência à tração residual). Esta D 7,83 (0,99) 37,5 (2,4) 26,6
redução foi acompanhada por uma diminuição E 24,89 (1,51) 30,3 (4,3) 97,5
F 37,22 (0,90) 18,5 (0,6) 89,8
da extensão na força máxima (de 65,4% para (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
40,8%). Isto mostra que os estabilizantes
químicos existentes no geotêxtil D não foram os A exposição ao envelhecimento climatérico
mais eficientes (em comparação com os provocou uma diminuição da resistência à
estabilizantes presentes nos geotêxteis B, E e F) tração dos geotêxteis B, D e F. Contudo, essas
na proteção contra os danos provocados pela reduções não foram idênticas para os três
termo-oxidação (é importante relembrar que a materiais, tendo sido mais significativa para o
identidade e a quantidade dos estabilizantes não geotêxtil D (73,4% de redução) e menos
foi revelada pelos fabricantes). relevante para o geotêxtil F (redução de apenas
A degradação completa dos geotêxteis sem 10,2%). É de salientar que o geotêxtil D já tinha
estabilizantes e a, no geral, boa resistência dos sido o geotêxtil estabilizado com pior
geotêxteis estabilizados revela que a presença comportamento durante a exposição à termo-
de estabilizantes é muito importante para oxidação (nesse ensaio, redução de 51,3% na
aumentar a resistência à termo-oxidação dos resistência à tração). Por sua vez, a resistência à
geotêxteis de PP, prolongando o seu tempo de tração do geotêxtil E permaneceu praticamente
vida. inalterada após a exposição ao envelhecimento
climatérico.
3.3 Envelhecimento Climatérico: Laboratório No geral, a extensão na força máxima sofreu
uma diminuição depois da exposição aos
À semelhança do ocorrido na termo-oxidação, agentes climatéricos. As diminuições mais
os geotêxteis A e C (não estabilizados) também pronunciadas foram observadas para os
não resistiram aos agentes climatéricos geotêxteis B (de 36,1% para 21,2%) e D (de
(radiação UV e chuva) simulados em 65,4% para 37,5%).
laboratório. De facto, os materiais ficaram A deterioração das propriedades de tração
reduzidos a pequenos pedaços e/ou pó dos geotêxteis B, D e F indica que mesmo
(destruição completa) após a exposição ao materiais quimicamente estabilizados não estão
envelhecimento climatérico. No entanto, e ao totalmente protegidos contra o envelhecimento
contrário do que ocorreu durante a exposição à climatérico. Contudo, a presença dos
termo-oxidação, a cor dos geotêxteis A e C não estabilizantes aumenta significativamente a
sofreu alterações relevantes. Isto mostra que, tal resistência dos geotêxteis de PP à ação dos
como para a termo-oxidação, os geotêxteis de agentes climatéricos. Assim, a composição
PP não estabilizados (100% PP) possuem uma química dos materiais, em termos de pacote de
baixa resistência à fotodegradação. estabilização, desempenha um papel
Por sua vez, os geotêxteis estabilizados (B, fundamental na resistência à fotodegradação (de

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479
entre os agentes climatéricos, a radiação UV é o Tal como a resistência à tração, a extensão
principal agente de degradação dos geotêxteis). na força máxima também sofreu diminuições
muito relevantes durante a exposição dos
3.4 Envelhecimento Climatérico: Campo geotêxteis A e C ao envelhecimento
climatérico. Por exemplo, para o geotêxtil C
3.4.1 Geotêxteis Não Estabilizados ocorreu uma diminuição de 76,8% para 48,4%
após 6 meses, e para 26,8% ao fim de 12 meses
Os geotêxteis não estabilizados sofreram danos de exposição.
muito relevantes durante a exposição ao ar Os geotêxteis de PP não estabilizados foram
livre. De facto, terminados os 12 meses de pouco resistentes ao envelhecimento
exposição, o geotêxtil A estava completamente climatérico sob condições reais. De facto,
destruído e o geotêxtil C estava muito poucos meses de exposição ao ar livre foram
danificado (libertação de uma grande capazes de provocar danos muito pronunciados
quantidade de fibras degradadas e diminuição nos materiais. Assim, e para melhorar a
da espessura). A cor dos geotêxteis resistência ao envelhecimento climatérico, os
(originalmente branca) ficou cinzenta devido à geotêxteis de PP devem possuir na sua
acumulação de pequenos resíduos (sujidade) composição estabilizantes contra a ação da
nas estruturas não-tecidas. radiação UV e de outros agentes climatéricos. O
A exposição ao envelhecimento climatérico uso de geotêxteis de PP não estabilizados não é
causou uma diminuição da resistência à tração recomendado em nenhuma circunstância (nem
dos geotêxteis A e C (Tabela 9). De facto, após mesmo em aplicações onde não seja esperada a
6 meses de exposição, os materiais exposição à radiação solar).
apresentavam resistências à tração residuais de
67,8% e 68,4%, respetivamente. O aumento 3.4.2 Geotêxteis Estabilizados
(para 12 meses) do tempo de exposição resultou
em reduções muito mais significativas na Os geotêxteis estabilizados não possuíam danos
resistência à tração dos geotêxteis A e C: visíveis no fim dos 12 meses de exposição ao ar
resistências à tração residuais de 0% (destruição livre. Tal como os geotêxteis não estabilizados,
total) para o geotêxtil A e de 8,7% para o os geotêxteis B, D e E adquiriram tons
geotêxtil C (próximo da destruição total). As cinzentos devido à acumulação de pequenos
diminuições ocorridas na resistência à tração resíduos nas suas estruturas não-tecidas. A cor
foram idênticas para ambos os geotêxteis, do geotêxtil F (preta) não sofreu alterações
independentemente das diferenças existentes relevantes. Embora não fosse visualmente
nas suas massas por unidade de área (124 e 402 percetível a existência de danos nas estruturas
g/m2 para os geotêxteis A e C, respetivamente). dos geotêxteis B, D, E e F, ocorreram alterações
importantes na resistência à tração e na
Tabela 9. Propriedades de tração dos geotêxteis depois extensão na força máxima destes materiais
das exposições a envelhecimento climatérico ao ar livre. durante a exposição ao envelhecimento
t Exp T E FM T Res
climatérico sob condições reais (Tabela 9).
(meses) (kN/m) (%) (%)
6 2,80 (0,45) 54,0 (4,1) 67,8 A resistência à tração dos geotêxteis B, D, E
A e F sofreu uma diminuição durante a exposição
12 0 - 0
6 11,23 (1,74) 29,0 (1,7) 91,3 ao ar livre. Ao fim de 6 meses, esta diminuição
B
12 8,50 (1,45) 23,0 (4,2) 69,1 era mais relevante para o geotêxtil D (de entre
6 13,39 (1,21) 48,4 (3,4) 68,4 os geotêxteis estabilizados, o menos resistente
C
12 1,70 (0,29) 26,8 (2,2) 8,7
aos agentes climatéricos simulados em
6 16,63 (1,36) 41,9 (1,9) 56,4
D
12 10,51 (0,99) 37,7 (1,6) 35,7 laboratório). É de notar que a resistência à
6 24,76 (1,95) 34,6 (3,7) 97,0 tração residual do geotêxtil D (56,4%) era
E
12 21,51 (1,48) 23,1 (1,6) 84,3 inclusive menor do que as resistências à tração
6 35,17 (0,93) 18,1 (0,6) 84,9 residuais dos geotêxteis não estabilizados.
F
12 26,05 (0,83) 13,3 (0,5) 62,9 Depois do mesmo período de exposição, os
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
geotêxteis B, E e F ainda possuíam resistências
t Exp – tempo de exposição

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480
à tração residuais significativamente elevadas tração dos geotêxteis B e D no final dos 12
(entre 84,9% e 97,0%). meses de exposição ao ar livre (radiação UV
O aumento do tempo de exposição (de 6 para estimada de 401 MJ/m2) (resistências à tração
12 meses) resultou numa redução adicional da residuais de 69,1% e 35,7%, respetivamente)
resistência à tração dos geotêxteis estabilizados. foram menores do que as causadas pela
Depois de 12 meses, o geotêxtil mais danificado exposição laboratorial a 50 MJ/m2 de radiação
continuava a ser o D (resistência à tração UV (resistências à tração residuais de 59,1% e
residual de 35,7%). Contudo, as resistências à de 26,6%, respetivamente). Assim, e apesar da
tração dos geotêxteis B e F também sofreram energia total da radiação UV ser
diminuições relevantes (reduções de, significativamente inferior, cerca de 15 dias em
respetivamente, 30,9% e de 37,1%). O geotêxtil laboratório induziram maior degradação nos
E foi o mais resistente ao envelhecimento geotêxteis B e D do que 12 meses ao ar livre. A
climatérico. De facto, no fim dos 12 meses de ocorrência de maior degradação em laboratório
exposição tinha uma resistência à tração poderá ser atribuída ao facto dos ensaios terem
residual de 84,3%. É de relembrar que o sido realizados a temperatura elevada (50 ºC) de
geotêxtil E foi o que exibiu maior resistência ao modo a acelerar o processo de degradação (os
envelhecimento climatérico em laboratório. ensaios ao ar livre foram efetuados a
Tal como a resistência à tração, a extensão temperatura substancialmente menor – Tabela
na força máxima dos geotêxteis também 3). Para além disso, a sujidade acumulada nas
diminuiu depois da exposição aos agentes estruturas não-tecidas durante a exposição ao ar
climatéricos ao ar livre. Esta diminuição foi livre poderá ter retardado o processo de
mais acentuada para as amostras expostas degradação, protegendo as fibras dos geotêxteis
durante 12 meses. B e D da exposição direta à radiação solar.
Os resultados obtidos permitem concluir que A aceleração do processo de degradação em
o comportamento à tração dos geotêxteis de PP laboratório pelo aumento da temperatura pode
pode sofrer alterações muito relevantes quando também ser constatada analisando os resultados
estes são expostos a agentes climatéricos. obtidos para os geotêxteis A e C. De facto, ao ar
Assim, e sempre que possível, é importante livre, foi necessário a exposição dos materiais a
evitar uma exposição prolongada dos geotêxteis uma maior quantidade de radiação UV
à ação do clima, reduzindo-a ao tempo mínimo (estimada em 401 MJ/m2) para causar danos
necessário para as operações de instalação em idênticos aos que ocorreram em laboratório.
obra. Uma análise após 6 meses ao ar livre revela
que, embora a energia total da radiação UV
3.4.3 Envelhecimento Climatérico em Campo incidente (estimada em 101 MJ/m2) fosse
vs. Envelhecimento Climatérico em Laboratório aproximadamente o dobro daquela em
laboratório, os geotêxteis A e C ainda tinham
Os resultados obtidos ao ar livre (sob condições resistências à tração residuais elevadas (67,8% e
de degradação reais) estão, de um modo geral, 68,4%, respetivamente).
de acordo com as previsões obtidas nos ensaios É também importante notar que, no ensaio
em laboratório. De facto, os geotêxteis A e C em laboratório, o geotêxtil F foi mais resistente
(não estabilizados) foram os menos resistentes à ao envelhecimento climatérico do que o
ação dos agentes climatéricos ao ar livre e o geotêxtil B (resistências à tração residuais de
geotêxtil E foi o mais resistente. 89,8% para o geotêxtil F e de 59,1% para o
No caso dos geotêxteis não estabilizados, 12 geotêxtil B). No entanto, esta maior resistência
meses ao ar livre (resistências à tração residuais do geotêxtil F não se observou sob condições de
de, respetivamente, 0% e 8,7% para os degradação reais. De facto, após 12 meses ao ar
geotêxteis A e C) causaram uma diminuição da livre, os geotêxteis F e B possuíam resistências
resistência à tração idêntica a cerca de 15 dias à tração residuais de 62,9% e de 69,1%,
no simulador climatérico (resistência à tração respetivamente. A explicação para este
residual de 0% para ambos os geotêxteis). comportamento ao ar livre poderá estar
As diminuições observadas nas resistências à relacionada com o facto do geotêxtil B possuir

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481
cor branca e o geotêxtil F possuir cor preta. Esta geotêxteis de PP contra a ação dos agentes
diferença na cor dos materiais implica que, ao climatéricos.
ar livre, o processo de degradação tenha Na inexistência de uma estabilização
ocorrido a temperatura mais elevada no química adequada, os geotêxteis de PP
geotêxtil F do que no geotêxtil B (o aumento da mostraram possuir uma resistência reduzida à
temperatura resulta na aceleração do processo termo-oxidação e ao envelhecimento
de oxidação). Por sua vez, em laboratório, o climatérico (em ambos os casos, ocorreu uma
processo de degradação dos geotêxteis ocorreu rápida degradação dos materiais). A presença de
à mesma temperatura (50 ºC), estabilizantes químicos (embora de identidade e
independentemente da cor. quantidade desconhecidas) resultou num
aumento muito significativo da resistência dos
geotêxteis de PP a estes tipos de degradação. Os
4 CONCLUSÕES estabilizantes químicos (como estabilizantes
UV ou antioxidantes) não conseguem assegurar
As propriedades de tração (resistência à tração e uma proteção total, mas podem retardar muito
extensão na força máxima) de vários geotêxteis significativamente os efeitos da termo-oxidação
de PP não sofreram alterações muito relevantes e do envelhecimento climatérico e, desta forma,
após as imersões em líquidos (ensaios de acordo prolongar o tempo de vida dos geotêxteis de PP.
com as normas EN 14030 e EN 12447). No
geral, os geotêxteis de PP apresentaram boa
resistência à hidrólise e à degradação sob AGRADECIMENTOS
condições ácidas e alcalinas,
independentemente da sua estrutura, massa por Este trabalho foi financiado por: (1) projeto
unidade de área ou presença, ou não, de POCI-01-0145-FEDER-028862, financiado
estabilizantes químicos. pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento
A exposição à termo-oxidação não teve um Regional (FEDER) através do COMPETE 2020
impacto muito significativo nas propriedades de – Programa Operacional Competitividade e
tração dos geotêxteis estabilizados (exceção Internacionalização (POCI) e com o apoio
para o geotêxtil D). No entanto, causou a financeiro da FCT/MCTES através de fundos
degradação completa dos geotêxteis não nacionais (PIDDAC); (2) Unidade de
estabilizados (100% de PP). Assim, a Investigação UID/ECI/04708/2019 – Construct
resistência dos geotêxteis de PP à termo- – Instituto de I&D em Estruturas e Construções,
oxidação pode ser muito melhorada pela ação financiada por fundos nacionais através da
de estabilizantes. FCT/ MCTES (PIDDAC). José Ricardo
A exposição ao envelhecimento climatérico Carneiro agradece à FCT a bolsa de Pós-
(em laboratório e ao ar livre) induziu alterações Doutoramento com a referência
relevantes nas propriedades de tração da SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa apoiada por
maioria dos geotêxteis de PP (diminuição da financiamento POPH/POCH/FSE).
resistência à tração e da extensão na força
máxima). Essas diminuições dependeram da
presença, ou não, de estabilizantes na
composição dos materiais. Os geotêxteis não
estabilizados foram muito mais afetados do que
os estabilizados (destruição total após cerca de REFERÊNCIAS
15 dias no simulador climatérico e degradação
praticamente completa ao fim de 12 meses de EN 12224 (2000) Geotextiles and geotextile-related
products – Determination of the resistance to
exposição ao ar livre). A ocorrência de weathering, Comissão Europeia de Normalização,
degradação nos geotêxteis estabilizados Bruxelas, Bélgica.
mostrou que a presença de estabilizantes apenas EN 12226 (2012) Geosynthetics – General tests for
retardou o aparecimento de danos, não evaluation following durability testing, Comissão
garantindo uma proteção completa dos Europeia de Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN 12447 (2001) Geotextiles and geotextile-related

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

482
products – Screening test method for determining the
resistance to hydrolysis in water, Comissão Europeia
de Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN 13362 (2013) Geosynthetic barriers – Characteristics
required for use in the construction of canals,
Comissão Europeia de Normalização, Bruxelas,
Bélgica.
EN 14030 (2001) Geotextiles and geotextile-related
products – Screening test method for determining the
resistance to acid and alkaline liquids, Comissão
Europeia de Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN 29073-3 (1992) Textiles – Test methods for
nonwovens. Part 3: Determination of tensile strength
and elongation, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9862 (2005) Geosynthetics – Sampling and
preparation of test specimens, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9863-1 (2016) Geosynthetics – Determination of
thickness at specified pressures. Part 1: Single
layers, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9864 (2005) Geosynthetics – Test method for the
determination of mass per unit area of geotextiles and
geotextile-related products, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 13438 (2004) Geotextiles and geotextile-related
products – Screening test method for determining the
resistance to oxidation, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 13934-1 (2013) Textiles – Tensile properties of
fabrics. Part 1: Determination of maximum force and
elongation at maximum force using the strip method,
Comissão Europeia de Normalização, Bruxelas,
Bélgica.
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(2016) Durability of Geosynthetics, 2nd Ed., CRC
Press, Boca Raton, Florida, USA, 275p.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

483
484
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Danificação Mecânica de Geotêxteis Induzida por Agregados


Naturais e Reciclados
José Ricardo Carneiro
Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, rcarneir@fe.up.pt

Filipe Almeida
Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, filipe.almeida@fe.up.pt

Maria de Lurdes Lopes


Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, lcosta@fe.up.pt

RESUMO: O processo de instalação em obra pode causar alterações indesejáveis no


comportamento mecânico a curto prazo dos geossintéticos. Este trabalho estuda o efeito de
diferentes agregados na danificação mecânica sob carga repetida sofrida por dois geotêxteis: um
tecido e um não-tecido. Para tal, os geotêxteis foram danificados em laboratório (com exceção para
o uso de diferentes agregados, ensaios de acordo com a norma EN ISO 10722) com corundum
(agregado usado na norma EN ISO 10722), com um agregado reciclado (cinzas de fundo
provenientes da incineração de resíduos sólidos urbanos) e com três agregados naturais (areia 0/4,
brita 4/8 e tout-venant). Os danos ocorridos nos geotêxteis (durante os ensaios de danificação
mecânica sob carga repetida) foram avaliados através da monitorização das propriedades de tração e
de punçoamento estático dos materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geotêxteis, Danificação Mecânica, Cinzas de Incineração,


Agregados Reciclados.

ABSTRACT: The installation process may cause unwanted changes in the short-term mechanical
behaviour of the geosynthetics. This work studies the effect of different aggregates on the
mechanical damage under repeated loading suffered by two geotextiles: one woven and the other
nonwoven. For that purpose, the geotextiles were submitted to laboratory damage tests (with
exception for the use of different aggregates, tests according to EN ISO 10722) with corundum
(aggregate used in EN ISO 10722), with a recycled aggregate (incinerator bottom ash from
municipal waste) and with three natural aggregates (sand 0/4, gravel 4/8 and tout-venant). The
damage occurred in the geotextiles (during the mechanical damage under repeated loading tests)
was evaluated by monitoring the tensile and static puncture properties of the materials.

KEY WORDS: Geosynthetics, Geotextiles, Mechanical Damage, Incinerator Bottom Ash, Recycled
Aggregates.

1 INTRODUÇÃO abrasão) são causados essencialmente pelo


manuseamento dos geossintéticos e pela
O processo de instalação em obra pode colocação e posterior compactação dos
provocar danos relevantes nos geossintéticos, materiais de enchimento (Pinho-Lopes &
resultando em alterações indesejáveis nas suas Lopes, 2010). Em alguns casos, as tensões
propriedades físicas, mecânicas e/ou induzidas durante o processo de instalação
hidráulicas. Os danos que ocorrem durante o podem ser maiores do que aquelas consideradas
processo de instalação (como cortes de no dimensionamento para as condições de
componentes, formação de orifícios e rasgos ou serviço (Shukla & Yin, 2006).

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Os danos que ocorrem nos geossintéticos no cimento Portland). No âmbito da geotecnia, tem
processo de instalação podem ser avaliados de vindo a ser estudada a hipótese de usar estes
duas formas: (1) através de ensaios laboratoriais resíduos como agregados reciclados na
que simulem as ações de danificação ou (2) por construção de vias de comunicação (Lynn et al.,
ensaios de danificação em campo (instalação 2017; Le et al., 2018).
sob condições reais). O estado de degradação Neste trabalho, dois geotêxteis foram
dos geossintéticos (após os ensaios de sujeitos a ensaios laboratoriais de danificação
danificação) é normalmente avaliado por mecânica sob carga repetida com vários
inspeção visual e pela monitorização de agregados (com a exceção da utilização de um
diversas propriedades (muitas vezes, agregado reciclado e de agregados naturais,
mecânicas) dos materiais. ensaios de acordo com a EN ISO 10722), tendo
A danificação mecânica está frequentemente sido monitorizadas as alterações ocorridas no
associada ao processo de instalação em obra dos comportamento à tração e ao punçoamento
geossintéticos. De modo a induzir danificação estático dos materiais. Estes ensaios (para
mecânica nos materiais, a Comissão Europeia simplificação de escrita, daqui para a frente
de Normalização (CEN) desenvolveu um designados simplesmente por ensaios de
método normalizado (ENV ISO 10722-1, danificação mecânica) foram realizados com o
posteriormente atualizado para EN ISO 10722). agregado especificado na norma EN ISO 10722
Este método foi utilizado por muitos autores (corundum), com um agregado reciclado
para a avaliação da danificação que ocorre (cinzas de fundo resultantes do processo de
durante a instalação dos geossintéticos, incineração de resíduos sólidos urbanos) e com
enquanto outros autores tentaram estabelecer agregados naturais (areia 0/4, brita 4/8 e tout-
correlações entre este procedimento laboratorial venant).
e a danificação que ocorre durante a instalação Os principais objetivos do estudo incluíram:
em obra. (1) avaliação do efeito de diversos agregados na
Os materiais de enchimento (com os quais os danificação mecânica sofrida pelos geotêxteis,
geossintéticos contactam num grande número (2) comparação da danificação provocada pelo
de aplicações) são normalmente de origem corundum (procedimento normalizado) com a
natural e poderão, em alguns casos, ser danificação induzida pelo agregado reciclado e
eventualmente substituídos por agregados pelos três agregados naturais e (3) avaliação se
reciclados. Contudo, os estudos existentes o agregado reciclado (em termos de danificação
acerca do uso de agregados reciclados em mecânica induzida aos geotêxteis) constitui uma
contacto com geossintéticos são ainda alternativa viável, como material de
relativamente escassos e estão sobretudo enchimento, aos agregados naturais.
relacionados com as propriedades de interface
entre ambos (por exemplo, Vieira & Pereira, 2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL
2016 e Vieira et al., 2016). Podem também ser
encontrados na literatura alguns estudos acerca 2.1 Geotêxteis
da danificação mecânica induzida por
agregados reciclados a geossintéticos (exemplos Foram estudados dois geotêxteis com diferentes
incluem Carneiro et al., 2018a e Carneiro et al., características: um geotêxtil tecido (T100) de
2018b), uma questão muito importante para o polietileno de alta densidade e um geotêxtil
uso destes agregados como materiais de não-tecido (NT300) de polipropileno. As
enchimento onde contactem com geossintéticos. principais características dos materiais estão
As cinzas de fundo resultantes do processo resumidas na Tabela 1.
de incineração de resíduos sólidos urbanos são
Tabela 1. Principais características dos geotêxteis.
um resíduo gerado em volumes apreciáveis, Geotêxtil Estrutura μ A * (g/m2) t** (mm)
havendo algumas investigações com vista à sua T100 Tecido 115 (1) 0,50 (0,01)
utilização como matéria-prima (por exemplo, NT300 Não-tecido 313 (24) 2,66 (0,25)
incorporação como agregado no fabrico de (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
betão ou uso como ligante em alternativa ao *μ A – massa por unidade de área (EN ISO 9864).
**t – espessura (EN ISO 9863-1).

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486
Os processos de amostragem e de preparação possuía 75 mm de altura). A camada inferior era
de provetes seguiram as indicações da norma formada por duas subcamadas com 37,5 mm de
EN ISO 9862. Os provetes (preparados na altura. Cada subcamada inferior foi compactada
direção de fabrico) foram recolhidos de pela aplicação de uma pressão de 200 kPa por
posições dispersas por toda a largura das um período de 60 s. A camada superior (camada
amostras (fornecidas em rolos), com exceção única de 75 mm) não foi compactada. O
para as zonas laterais (foram desprezados, pelo processo de danificação consistiu na aplicação
menos, 100 mm de cada lado dos rolos). Os de uma carga cíclica entre 5 e 500 kPa à
provetes para um mesmo ensaio (5 provetes frequência de 1 Hz durante 200 ciclos.
usados em cada ensaio) foram cortados em Os geotêxteis foram danificados com vários
diferentes locais das amostras (recolhidos em agregados: corundum (agregado sintético usado
diagonais de modo a abranger diferentes zonas no procedimento da norma EN ISO 10722), um
na largura e no comprimento dos rolos). agregado reciclado (cinzas de fundo resultantes
da incineração de resíduos sólidos urbanos; para
2.2 Ensaio de Danificação Mecânica simplificação de escrita, designadas apenas por
cinzas daqui em diante) e três agregados
Com exceção para o uso do agregado reciclado naturais (areia 0/4, brita 4/8 e tout-venant). O
e de agregados naturais, os ensaios de agregado reciclado foi obtido numa estação de
danificação mecânica foram efetuados segundo incineração de resíduos sólidos urbanos (Lipor
a norma EN ISO 10722. O equipamento II – Maia, Portugal).
utilizado nos ensaios (um protótipo Os D 10 (diâmetro correspondente a 10% de
desenvolvido no Laboratório de Geossintéticos passados), D 50 (diâmetro correspondente a 50%
da Faculdade de Engenharia da Universidade do de passados) e D Max (diâmetro máximo das
Porto) era constituído por uma caixa de partículas) dos diferentes agregados podem ser
danificação (caixa metálica rígida onde foram encontrados na Tabela 2.
colocados os geotêxteis e os agregados), uma
placa de carregamento e um mecanismo de Tabela 2. Caracterização da distribuição granulométrica
dos agregados (EN 933-1).
aplicação de carga (Figura 1) (o equipamento D 10 D 50 D Max
encontra-se detalhadamente descrito em Lopes Agregado
(mm) (mm) (mm)
& Lopes, 2003). Corundum 5,77 7,91 10,0
Cinzas 0,19 3,83 14,0
Areia 0/4 0,20 0,86 4,0
1 Brita 4/8 2,92 5,79 8,0
Tout-venant 0,08 3,67 31,5
5
2.3 Avaliação de Danos

2 Os danos ocorridos nos geotêxteis (provocados


4 pelas ações de danificação) foram avaliados por
ensaios de tração (EN ISO 10319) e por ensaios
3 de punçoamento estático (EN ISO 12236). As
principais características dos ensaios de tração e
de punçoamento estático podem ser encontradas
na Tabela 3.
Figura 1. Representação esquemática do equipamento de
danificação mecânica (Carneiro et al., 2012). Legenda:
Tabela 3. Condições experimentais dos ensaios de tração
(1) placa de carregamento; (2) caixa de danificação (parte
e de punçoamento estático.
superior); (3) caixa de danificação (parte inferior); (4)
Ensaio Tração Punçoamento
geotêxtil; (5) agregado.
Norma EN ISO 10319 EN ISO 12236
Forma Provete Retangular Circular
Os geotêxteis (provetes com comprimento de Dimensão Provete 200 x 100* mm 150 mm**
500 mm e largura de 250 mm) foram colocados Número Provetes 5 5
entre duas camadas de agregado (cada camada Velocidade 20 mm/min 50 mm/min
*comprimento entre garras; **diâmetro entre garras.

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487
Os parâmetros mecânicos determinados nos 58,0% e de 64,7%). Estas diminuições estão de
ensaios de tração (valores na direção de fabrico) acordo com o tipo e com a quantidade de danos
incluíram a resistência à tração (T, em kN/m) e visualmente detetáveis. Tal como também podia
a extensão na forma máxima (E FM , em %). Por ser esperado a partir da análise visual, o ensaio
sua vez, nos ensaios de punçoamento estático de danificação mecânica com areia 0/4 não
foram obtidos os seguintes parâmetros: causou uma redução significativa na resistência
resistência ao punçoamento (força máxima de à tração do geotêxtil T100 (diminuição de
punçoamento) (F P , em kN) e deslocamento na 6,7%).
força máxima (h P , em mm). As cinzas e o tout-venant induziram
A resistência à tração residual (T Residual , em reduções na resistência à tração do geotêxtil
%) e a resistência ao punçoamento residual (F P T100 (37,9% e 15,2%, respetivamente)
Residual , em %) foram obtidas através do inferiores às causadas pelo corundum e pela
quociente entre a resistência das amostras brita 4/8 (o que, mais uma vez, está de acordo
danificadas e a respetiva resistência das com a análise visual). De um modo geral, a
amostras de referência (não danificadas). tendência de evolução da extensão na força
máxima foi idêntica à da resistência à tração.
Tal como para a resistência à tração, o ensaio
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO de danificação mecânica com areia 0/4 também
não induziu uma grande alteração na resistência
3.1 Geotêxtil Tecido T100 ao punçoamento do geotêxtil T100 (diminuição
de 4,3%) (Tabela 5). As maiores diminuições na
Os ensaios de danificação mecânica resistência ao punçoamento ocorreram após os
provocaram danos muito relevantes no geotêxtil ensaios de danificação mecânica com corundum
T100 (danos dependentes do agregado (redução de 72,2%) e com brita 4/8 (redução de
utilizado). A areia 0/4 (agregado mais fino) não 69,1%). As cinzas induziram uma diminuição
causou danos visíveis. Os agregados com da resistência ao punçoamento muito maior do
partículas de maior dimensão (brita 4/8 e que o tout-venant (reduções de 54,3% e de
corundum – D 50 maior do que 5 mm) 24,3%, respetivamente). À semelhança da
provocaram o corte e o esmagamento de vários resistência ao punçoamento, o deslocamento na
filamentos, punçoamentos pontuais e abrasão. O força máxima também diminuiu após os ensaios
tipo de danos induzidos pelo tout-venant e pelas de danificação mecânica (Tabela 5).
cinzas foi idêntico ao causado pelo corundum e
pela brita 4/8, mas em menor extensão. Tabela 5. Propriedades de punçoamento do geotêxtil
As propriedades de tração do geotêxtil T100, T100 antes e após os ensaios de danificação mecânica.
FP hP F P Residual
antes e após os ensaios de danificação Agregado
(kN) (mm) (%)
mecânica, podem ser encontradas na Tabela 4. Não danificado 2,30 (0,07) 44,9 (2,6) -
Corundum 0,64 (0,05) 30,8 (1,9) 27,8
Tabela 4. Propriedades de tração do geotêxtil T100 antes Cinzas 1,05 (0,23) 32,5 (1,3) 45,7
e após os ensaios de danificação mecânica. Areia 0/4 2,20 (0,06) 39,9 (0,7) 95,7
T E FM T Residual Brita 4/8 0,71 (0,11) 28,1 (2,8) 30,9
Agregado
(kN/m) (%) (%) Tout-venant 1,74 (0,11) 36,8 (1,6) 75,7
Não danificado 22,4 (0,2) 37,7 (1,8) - (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
Corundum 7,9 (0,7) 16,3 (1,9) 35,3
Cinzas 13,9 (1,6) 20,9 (1,3) 62,1 De um modo geral, a resistência à tração e a
Areia 0/4 20,9 (0,3) 31,9 (1,4) 93,3
Brita 4/8 9,4 (0,4) 16,4 (0,8) 42,0 resistência ao punçoamento evoluíram de forma
Tout-venant 19,0 (0,9) 29,3 (1,6) 84,8 muito semelhante após os ensaios de
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos) danificação mecânica. De facto, as maiores
reduções foram provocadas pelo corundum e
Os ensaios de danificação mecânica com brita 4/8, enquanto que a areia 0/4 não induziu
brita 4/8 e com corundum provocaram reduções alterações relevantes em nenhuma destas
muito pronunciadas na resistência à tração do propriedades (o tout-venant e as cinzas tiveram
geotêxtil T100 (reduções de, respetivamente, um efeito intermédio entre os agregados

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488
anteriores). Contudo, e para o mesmo ensaio de geral, semelhante à da resistência à tração. De
danificação, as reduções da resistência ao facto, as maiores reduções na extensão na força
punçoamento tenderam a ser superiores às da máxima ocorreram após as danificações com
resistência à tração. A maior diferença entre as corundum e com a brita 4/8 (reduções de 71,6%
diminuições destas propriedades ocorreu para a para 38,5% e para 39,1%, respetivamente) e a
danificação mecânica com cinzas (reduções de menor depois da danificação com areia 0/4
37,9% para a resistência à tração e de 54,3% (redução de 71,6% para 60,1%).
para a resistência ao punçoamento). As propriedades de punçoamento do
geotêxtil NT300 também sofreram alterações
3.2 Geotêxtil Não-tecido NT300 relevantes após os ensaios de danificação
mecânica (Tabela 7). Essas alterações
Contrariamente ao geotêxtil T100, o geotêxtil dependeram, mais uma vez, das características
NT300 não sofreu danos visíveis relevantes nos dos agregados.
ensaios de danificação mecânica. De facto, foi
apenas possível detetar alguma abrasão e alguns Tabela 7. Propriedades de punçoamento do geotêxtil
punçoamentos pontuais após a danificação com NT300 antes e após os ensaios de danificação mecânica.
FP hP F P Residual
corundum e com brita 4/8 (os dois agregados Agregado
(kN) (mm) (%)
que provocaram mais danos no geotêxtil T100). Não danificado 2,72 (0,22) 64,6 (4,2) -
A Tabela 6 resume as propriedades de tração do Corundum 1,22 (0,26) 45,4 (2,7) 44,9
geotêxtil NT300, antes e depois dos ensaios de Cinzas 2,26 (0,31) 52,5 (3,4) 83,1
danificação mecânica. Areia 0/4 2,35 (0,32) 53,9 (3,4) 86,4
Brita 4/8 1,81 (0,30) 48,4 (3,5) 66,5
Tout-venant 1,96 (0,22) 50,9 (4,3) 72,1
Tabela 6. Propriedades de tração do geotêxtil NT300
antes e após os ensaios de danificação mecânica. (entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos)
T E FM T Residual
Agregado De um modo geral, a variação da resistência
(kN/m) (%) (%)
Não danificado 14,8 (2,0) 71,6 (5,2) - ao punçoamento do geotêxtil NT300 (depois
Corundum 6,9 (0,9) 38,5 (2,3) 46,6 dos ensaios de danificação mecânica) foi
Cinzas 12,7 (0,7) 59,1 (3,8) 85,8 idêntica à da resistência à tração. De facto, a
Areia 0/4 13,1 (2,2) 60,1 (4,2) 88,5
Brita 4/8 9,1 (1,4) 39,1 (4,1) 61,5 maior redução ocorreu, para ambas as
Tout-venant 11,5 (1,0) 52,9 (6,4) 77,7 propriedades, depois da danificação com
(entre parêntesis encontram-se os desvios padrão obtidos) corundum (resistência à tração residual de
46,6% e resistência ao punçoamento residual de
As danificações mecânicas com cinzas, areia 44,9%). Em seguida, o agregado mais danoso
0/4 e tout-venant (agregados que aparentemente foi a brita 4/8. Por sua vez, a areia 0/4 foi o
não tinham induzido danos) causaram reduções agregado que provocou uma menor diminuição
(entre 11,5% e 22,3%) na resistência à tração do de ambas as propriedades (resistências residuais
geotêxtil NT300 (diminuição mais pronunciada à tração e ao punçoamento de 88,5% e de
depois da danificação com o tout-venant). Estes 86,4%, respetivamente). Para além das
resultados mostram que, embora não detetáveis diminuições na resistência ao punçoamento, as
visualmente, existiam alguns danos na estrutura danificações com os vários agregados causaram
não-tecida do geotêxtil NT300. também reduções no deslocamento na força
Tal como os agregados anteriores, a brita 4/8 máxima (a diminuição mais pronunciada
e o corundum também provocaram diminuições ocorreu depois da danificação com corundum:
na resistência à tração do geotêxtil NT300, mas redução de 64,6 mm para 45,4 mm).
muito mais pronunciadas (reduções de 38,5% e A comparação dos resultados obtidos para os
53,4%, respetivamente). Estas alterações foram, dois geotêxteis permite concluir que as
mais uma vez, superiores às esperadas tendo em reduções de resistência ocorridas no geotêxtil
conta os danos encontrados visualmente. NT300 após a danificação mecânica com
À semelhança do ocorrido no geotêxtil T100, corundum, brita 4/8 e cinzas foram menores do
a tendência observada na variação da extensão que as observadas no geotêxtil NT100. Por
na força máxima do geotêxtil NT300 foi, no exemplo, depois do ensaio de danificação com

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489
o corundum, as resistências residuais à tração e a areia 0/4 e os geotêxteis, o que poderia ter
ao punçoamento do geotêxtil NT300 (46,4% e contribuído para uma boa distribuição das
44,9%, respetivamente) eram superiores às cargas aplicadas (e, assim, minimizado a
resistências residuais do geotêxtil T100 ocorrência de danos). Contudo, devido à
(resistência à tração residual de 35,8% e natureza não coesiva da areia 0/4, ocorreram
resistência ao punçoamento residual de 27,8%). assentamentos relevantes durante os ensaios de
Por sua vez, as danificações com tout-venant e danificação mecânica, o que limitou a boa
com areia 0/4 provocaram maiores diminuições distribuição de cargas referida anteriormente.
de resistência (à tração e ao punçoamento) no Embora de pequenas dimensões, as partículas
geotêxtil NT300 do que no geotêxtil T100. constituintes da areia 0/4 possuíam uma textura
Estes resultados indicam que a estrutura dos áspera, o que poderá ter contribuído para a
geotêxteis (e respetivas propriedades) e a deterioração das propriedades mecânicas dos
natureza e demais características dos agregados geotêxteis.
podem influenciar significativamente a
resistência dos geotêxteis à danificação
mecânica.

3.3 Comparação do Efeito dos Agregados

A comparação das resistências à tração


residuais dos geotêxteis T100 e NT300 depois
dos vários ensaios de danificação mecânica
encontra-se na Figura 2. A Figura 3 apresenta
uma comparação semelhante para as
resistências ao punçoamento residuais.

Figura 3. Comparação das resistências ao punçoamento


residuais dos geotêxteis T100 e NT300 depois dos
ensaios de danificação mecânica com diferentes
agregados.

O tout-venant, embora fosse o agregado com


maior D Max (31,5 mm), tinha uma
granulometria extensa. De facto, o tout-venant
era constituído por uma percentagem
relativamente elevada de partículas finas (% de
partículas com dimensão inferior a 0,063 mm
de 8,0%) e por uma pequena quantidade de
Figura 2. Comparação das resistências à tração residuais partículas de grandes dimensões quando
dos geotêxteis T100 e NT300 após danificação mecânica comparado com o corundum ou brita 4/8 (o D 50
com diferentes agregados. do tout-venant era menor do que o D 50 do
corundum ou da brita 4/8). Assim, e tal como a
Os danos provocados pela areia 0/4 não areia 0/4, depois de compactado ficou com uma
foram muito elevados (apenas ligeiras superfície relativamente lisa, plana e regular (as
diminuições nas resistências à tração e ao partículas organizaram-se, ficando as partículas
punçoamento de ambos os geotêxteis). Este com menores dimensões a envolver as
agregado era constituído por partículas de partículas com maiores dimensões e, desta
pequena dimensão (D 50 de 0,86 mm e D Max de forma, a ocupar os vazios), permitindo uma
4,0 mm), originando uma superfície lisa, plana melhor distribuição das cargas aplicadas. No
e regular depois de compactado. Desta forma, entanto, as partículas de maior dimensão foram
existiu uma grande superfície de contacto entre ainda assim capazes de induzir alguns danos

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490
nos geotêxteis. O efeito do tout-venant foi (materiais com diferentes estruturas). O grau de
superior ao da areia 0/4 e inferior ao do degradação foi influenciado pelas
corundum e ao da brita 4/8. características dos agregados (como a
A brita 4/8 era constituída por partículas com distribuição granulométrica ou a forma, textura
dimensões relativamente elevadas (D 50 de 5,79 e dimensões das partículas constituintes) e pelas
mm e D Max de 8,0 mm) e com forma angular, o características dos geotêxteis.
que explica o facto de ter sido o agregado De entre os agregados naturais, a areia 0/4
natural que causou maiores diminuições nas foi o agregado que induziu danos menos
resistências à tração e ao punçoamento dos relevantes nos geotêxteis (ligeiras reduções nas
geotêxteis. resistências à tração e ao punçoamento). Em
As diminuições de resistência (à tração e ao contraste, a brita 4/8 foi o agregado que induziu
punçoamento) induzidas pelos vários agregados maior danificação nos geotêxteis (agregado
naturais foram menores do que as causadas pelo formado por partículas de maior dimensão do
corundum (agregado sintético usado no método que a areia 0/4).
da norma EN ISO 10722). Embora não fosse o O uso de corundum na norma EN ISO 10722
agregado com o D Max mais elevado, o parece estabelecer uma abordagem conservativa
corundum era formado por partículas de grande para avaliar a danificação mecânica sofrida por
dimensão (D 10 e D 50 de, respetivamente, 5,77 e geotêxteis. De facto, tanto os agregados
7,91 mm). Para além disso, as partículas naturais, como o agregado reciclado, induziram
constituintes do corundum tinham forma reduções nas resistências à tração e ao
angular, eram ásperas e possuíam um grande punçoamento dos geotêxteis inferiores às
efeito abrasivo. causadas pelo corundum. A execução
Por fim, as cinzas também causaram simultânea de ensaios de campo (sob condições
reduções nas propriedades mecânicas dos de instalação reais) e em laboratório, usando os
geotêxteis (as reduções foram mais mesmos geossintéticos e agregados, poderá
pronunciadas no geotêxtil T100 do que no permitir a obtenção de conclusões mais fiáveis
geotêxtil NT300). De um modo geral, tiveram sobre a adequabilidade do corundum na
um efeito intermédio entre a brita 4/8 e o tout- simulação dos danos que ocorrem na instalação
venant. Embora as cinzas tivessem um D Max em obra.
(14,0 mm) superior ao da brita 4/8 (8,0 mm), Por fim, e relativamente ao possível uso das
possuíam D 10 e D 50 menores, o que explica a cinzas como material de enchimento em
menor degradação induzida aos geotêxteis. Em contacto com geotêxteis (e/ou com outros
comparação com o tout-venant, as cinzas geossintéticos), o presente estudo não permite
tinham um menor D Max e D 10 e D 50 idênticos. A obter conclusões definitivas, uma vez que
maior degradação provocada pelas cinzas apenas foram avaliados os danos mecânicos
(comparando com o tout-venant) pode ser induzidos pelas cinzas aos geotêxteis. No
explicada pelo facto das cinzas possuíram entanto, as alterações provocadas pelas cinzas
materiais cortantes (como pedaços de vidro ou no comportamento mecânico a curto prazo dos
metais) na sua composição. Estes poderão ter geotêxteis foram menos pronunciadas do que as
induzido a ocorrência de cortes nos causadas pelo corundum e por alguns agregados
componentes dos geotêxteis. naturais (como por exemplo, areia 0/4 ou tout-
venant), o que abre boas perspetivas para a
4 CONCLUSÕES possibilidade do uso deste tipo de agregados,
como materiais de enchimento, em contacto
Os danos causados pelos ensaios de danificação com geotêxteis, podendo assim ser
mecânica na estrutura dos geotêxteis incluíram, reaproveitados.
em alguns casos, o corte e o esmagamento de
componentes, punçoamentos pontuais e AGRADECIMENTOS
abrasão. A ocorrência destes danos deu origem
a reduções relevantes na resistência à tração e Este trabalho foi financiado por: (1) projeto
na resistência ao punçoamento dos geotêxteis POCI-01-0145-FEDER-028862, financiado

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

491
pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Bélgica.
Regional (FEDER) através do COMPETE 2020 EN ISO 10722 (2007) Geosynthetics – Index test
procedure for the evaluation of mechanical damage
– Programa Operacional Competitividade e under repeated loading – Damage caused by granular
Internacionalização (POCI) e com o apoio material, Comissão Europeia de Normalização,
financeiro da FCT/MCTES através de fundos Bruxelas, Bélgica.
nacionais (PIDDAC); (2) Unidade de ENV ISO 10722-1 (1998) Geotextiles and geotextile-
Investigação UID/ECI/04708/2019 – Construct related products – Procedure for simulating damage
during installation. Part 1: Installation in granular
– Instituto de I&D em Estruturas e Construções, materials, Comissão Europeia de Normalização,
financiada por fundos nacionais através da Bruxelas, Bélgica.
FCT/ MCTES (PIDDAC). José Ricardo EN ISO 12236 (2006) Geosynthetics – Static puncture
Carneiro agradece à FCT a bolsa de Pós- test (CBR test), Comissão Europeia de Normalização,
Doutoramento com a referência Bruxelas, Bélgica.
Le, N.H., Razakamanantsoa, A., Nguyen, M.-L., Phan,
SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa apoiada por V.T., Dao, P.-L., & Nguyen, D.H. (2018) Evaluation
financiamento POPH/POCH/FSE). of physicochemical and hydromechanical properties
of MSWI bottom ash for road construction, Waste
Management, Vol. 80, p. 168-174.
Lopes, M.P. & Lopes, M.L. (2003) Um equipamento
para a realização de ensaios laboratoriais de
danificação durante a instalação, Revista da
Sociedade Portuguesa de Geotecnia, n.º 98, p. 7-24.
Lynn, C.J., Ghataora, G.S. & OBE, R.K.D. (2017)
Municipal incinerated bottom ash (MIBA)
characteristics and potential for use in road
pavements, International Journal of Pavement
REFERÊNCIAS Research and Technology, Vol. 10, p. 185-201.
Pinho-Lopes, M. & Lopes, M.L. (2010) A Durabilidade
Carneiro, J.R., Morais, L.M. & Lopes, M.L. (2012) Efeito dos Geossintéticos, FEUP Edições, Porto, Portugal,
do processo de instalação no comportamento 294 p.
mecânico de geotêxteis não-tecidos, Atas do 13.º Shukla, S.K. & Yin, J.-H. (2006) Fundamentals of
Congresso Nacional de Geotecnia, Lisboa, Portugal, 7 Geosynthetics Engineering, Taylor & Francis/
p. (CD-ROM). Balkema, Leiden, Netherlands, 410 p.
Carneiro, J.R., Lopes, M.L. & da Silva, A. (2018a) Vieira, C.S. & Pereira, P.M. (2016) Interface shear
Mechanical damage of a nonwoven geotextile induced properties of geosynthetics and construction and
by recycled aggregates, Wastes – Solutions, demolition waste from large-scale direct shear tests,
Treatments and Opportunities II, CRC Press/ Geosynthetics International, Vol. 23(1), p. 62-70.
Balkema, Leiden, Netherlands, p. 45-50. Vieira, C.S., Pereira, P.M. & Lopes, M.L. (2016)
Carneiro, J.R., da Silva, A., Violante, F. & Lopes, M.L. Recycled construction and demolition wastes as
(2018b) Danificação mecânica de uma geogrelha filling material for geosynthetics reinforced
induzida por agregados naturais e reciclados, Atas structures. Interface properties, Journal of Cleaner
do XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos Production, Vol. 124, p. 299-311.
e Engenharia Geotécnica, ABMS, Salvador, Bahia,
Brasil, 7 p.
EN 933-1 (2012) Tests for geometrical properties of
aggregates – Part 1: Determination of particle size
distribution – sieving method, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9862 (2005) Geosynthetics – Sampling and
preparation of test specimens, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9863-1 (2016) Geosynthetics – Determination of
thickness at specified pressures. Part 1: Single
layers, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9864 (2005) Geosynthetics – Test method for the
determination of mass per unit area of geotextiles and
geotextile-related products, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 10319 (2015) Geosynthetics – Wide-width tensile
test, Comissão Europeia de Normalização, Bruxelas,

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Estudo de Interações entre Agentes de Degradação de Geotêxteis


José Ricardo Carneiro
Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, rcarneir@fe.up.pt

Paulo Joaquim Almeida


Requimte, FCUP, Porto, Portugal, pjalmeid@fc.up.pt

Maria de Lurdes Lopes


Construct-Geo, FEUP, Porto, Portugal, lcosta@fe.up.pt

RESUMO: O comportamento a longo prazo dos geossintéticos pode ser afetado negativamente pela
ação de vários agentes de degradação. Este trabalho avalia a existência de interações entre agentes
de degradação de geotêxteis: (1) entre agentes físicos e/ou químicos, nomeadamente entre líquidos
(água e soluções aquosas de ácido sulfúrico, ácido nítrico, hidróxido de sódio, nitrato de ferro e
nitrato de zinco), termo-oxidação e envelhecimento climatérico e (2) entre dois agentes mecânicos
(danificação mecânica sob carga repetida e abrasão). Para tal, um geotêxtil não-tecido de
polipropileno foi exposto a vários ensaios de degradação. Numa primeira fase, o geotêxtil foi
exposto de forma isolada aos agentes de degradação (exposição única). Em seguida, foi exposto de
forma sucessiva a combinações de dois agentes de degradação (exposição múltipla). Os danos
sofridos pelo geotêxtil (nas exposições únicas e múltiplas) foram avaliadas através da
monitorização do seu comportamento à tração.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geotêxteis, Durabilidade, Degradação Química,


Degradação Mecânica, Sinergismos.

ABSTRACT: The long-term behaviour of geosynthetics can be adversely affected by the action of
many degradation agents. This work evaluates the existence of interactions between the degradation
agents of geotextiles: (1) between physical and/or chemical agents, namely between liquids (water
and aqueous solutions of sulphuric acid, nitric acid, sodium hydroxide, iron nitrate and zinc nitrate),
thermo-oxidation and weathering and (2) between two mechanical agents (mechanical damage
under repeated loading and abrasion). For that purpose, a nonwoven polypropylene geotextile was
exposed to several degradation tests. First, the geotextile was exposed in isolation to the
degradation agents (single exposure). Then, it was successively exposed to some combinations of
two degradation agents (multiple exposure). The damage suffered by the geotextile (in the single
and multiple exposures) was evaluated by monitoring its tensile behaviour.

KEY WORDS: Geosynthetics, Geotextiles, Durability, Chemical Degradation, Mechanical


Degradation, Synergisms.

1 INTRODUÇÃO negativamente o seu desempenho. Os agentes


ou tipos de degradação mais comuns incluem a
A durabilidade e o comportamento a longo ação de espécies químicas existentes no solo ou
prazo são temas muito relevantes na em fluidos, as temperaturas elevadas, o
investigação sobre geossintéticos. De facto, nas oxigénio, a radiação ultravioleta (UV) e outros
suas aplicações, os geossintéticos podem estar agentes climatéricos, a ação de cargas estáticas
expostos à ação de vários agentes capazes de e dinâmicas e a abrasão.
lhes provocar danos e, assim, afetar Em muitas aplicações, os geossintéticos tem

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

493
de desempenhar funções durante um período de Tabela 1. Principais características do geotêxtil (amostras
tempo muito longo (dezenas de anos). Não intactas; direção de fabrico).
Composição 99,8% PP + 0,2% C944 (m/m)
sendo conhecido o comportamento a longo μ A * (g.m-2) 272 (21)
prazo dos materiais, é necessário prever os t ** (mm) 3,16 (0,15)
danos que estes irão sofrer no decorrer do T *** (kN/m) 13,46 (1,66)
tempo. E FM **** (%) 78,4 (5,2)
Os estudos existentes acerca da durabilidade (desvios padrão entre parêntesis)
*Massa por unidade de área (EN ISO 9864).
dos geossintéticos consideram, na sua grande
**Espessura (EN ISO 9863-1).
maioria, a ação isolada dos diferentes agentes ***Resistência à tração (EN 29073-3).
de degradação, não contemplando as interações ****Extensão na força máxima (EN 29073-3).
que podem ocorrer entre eles. Da mesma forma,
as normas existentes para avaliar a durabilidade 2.2 Ensaios de Degradação
dos geossintéticos e os métodos de
dimensionamento atuais também consideram o Numa primeira fase, o geotêxtil foi exposto, de
efeito dos agentes de degradação forma isolada (exposição única), a agentes de
separadamente. Contudo, a ação conjunta de degradação físicos e/ou químicos (imersão em
vários agentes de degradação (o que ocorre em líquidos, termo-oxidação (TO) e
situações reais) pode ser diferente do somatório envelhecimento climatérico (EC)) e a agentes
dos efeitos individuais de cada um dos agentes de degradação mecânicos (danificação
(Carneiro et al., 2014 e Carneiro et al., 2018). mecânica sob carga repetida (DM) e abrasão)
Deste modo, o estudo das interações que (descrição dos ensaios nos subpontos
ocorrem entre os agentes de degradação poderá seguintes). De seguida, o geotêxtil foi exposto,
permitir obter uma melhor previsão (com maior de forma sucessiva, à ação de dois agentes
confiança) do comportamento a longo prazo dos físicos e/ou químicos ou à ação de dois agentes
geossintéticos. mecânicos (exposição múltipla). A Tabela 2
Este trabalho avalia a existência de resume os vários ensaios de degradação
interações entre agentes de degradação de um realizados.
geotêxtil não-tecido de polipropileno (PP): (1)
interações entre agentes físicos e/ou químicos Tabela 2. Ensaios de degradação realizados.
(líquidos, termo-oxidação e agentes Exposição única Exposição múltipla
climatéricos) e (2) interações entre agentes H2O H 2 O + TO
H 2 SO 4 H 2 SO 4 + TO
mecânicos (danificação mecânica sob carga HNO 3 HNO 3 + TO
repetida e abrasão). NaOH NaOH + TO
Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O + TO
Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O + TO
2 DESCRIÇÃO EXPERIMENTAL TO* H 2 O + EC
EC** H 2 SO 4 + EC
DM*** NaOH + EC
2.1 Geotêxtil Abrasão DM + Abrasão
*Termo-oxidação.
Foi estudado um geotêxtil não-tecido agulhado **Envelhecimento climatérico.
de PP estabilizado com 0,2% (percentagem em ***Danificação mecânica sob carga repetida.
massa) de Chimassorb 944 (C944). O C944 é
um estabilizante UV da família das HALS 2.2.1 Imersão em Líquidos
(hindered amine light stabilisers). A Tabela 1
resume as principais características do geotêxtil. O geotêxtil foi imerso, à temperatura ambiente
(cerca de 20 ºC) e na ausência de luz, em água
Os processos de amostragem e de preparação desionizada (H 2 O) e em soluções aquosas de
de provetes (para os ensaios de caracterização e ácido sulfúrico (H 2 SO 4 ), ácido nítrico (HNO 3 ),
de degradação) foram realizados de acordo com hidróxido de sódio (NaOH), nitrato de ferro
a norma EN ISO 9862. (III) (Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O) e nitrato de zinco (II)
(Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O) (para simplificação de

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494
escrita, os estados de oxidação dos catiões Passo 1: Radiação UV (4 horas, 60 ºC)
metálicos serão omitidos no texto). A Tabela 3 Passo 2: Chuva (10 minutos, 5 L/min)
resume as condições experimentais dos ensaios Passo 3: Condensação (4 horas, 45 ºC)
de imersão. (retorno ao passo 1)
As amostras imersas em líquidos que foram
subsequentemente expostas à termo-oxidação Nas 500 horas totais de ensaio, o geotêxtil
ou a envelhecimento climatérico não foram foi exposto a cerca de 61 ciclos climatéricos
lavadas (de modo a ficaram contaminadas com (cada ciclo teve a duração de 8 horas e 10
os restos das soluções de imersão) e foram minutos). A irradiância durante a exposição à
secas no escuro à temperatura ambiente. radiação UV (duração total de cerca de 245
horas) foi de 0,68 W/m2 aos 340 nm. A radiação
Tabela 3. Condições dos ensaios de imersão. UV incidente total (entre os 290 e os 400 nm)
Ensaio Concentração Duração foi de 35 MJ/m2.
H2O pH 7 100 dias
H 2 SO 4 0,1 mol/L (pH ≈ 1) 100 dias
HNO 3 0,01 mol/L (pH ≈ 2) 100 dias 2.2.4 Danificação Mecânica
NaOH 0,1 mol/L (pH ≈ 13) 100 dias
Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O 5 g/L (pH ≈ 2)* 100 dias Os ensaios de danificação mecânica sob carga
Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 5 g/L (pH ≈ 2)* 100 dias repetida (para simplificação da escrita, daqui
O em diante designados simplesmente por ensaios
*pH ajustado para pH ≈ 2 pela adição de ácido nítrico.
de danificação mecânica) seguiram as
indicações da norma EN ISO 10722. O
2.2.2 Termo-oxidação
geotêxtil foi colocado entre duas camadas de
corundum (um agregado sintético de óxido de
Os ensaios de termo-oxidação foram realizados
alumínio) e foi submetido a carga cíclica entre 5
num forno (marca Heraeus Instruments, modelo
e 500 kPa à frequência de 1 Hz durante 200
T6120) e consistiram na exposição do geotêxtil
ciclos. O corundum era formado por partículas
à temperatura de 110 ºC numa atmosfera
com dimensões entre os 5 e os 10 mm.
normal de oxigénio (21% de O 2 ) sem circulação
O equipamento (um protótipo desenvolvido
forçada de ar. O tempo de exposição foi de 28
no Laboratório de Geossintéticos da Faculdade
dias (EN ISO 13438, método A2).
de Engenharia da Universidade do Porto) usado
nestes ensaios era constituído por uma caixa de
2.2.3 Envelhecimento Climatérico
danificação (caixa metálica rígida onde foram
colocados os provetes e o corundum), uma
Os ensaios de envelhecimento climatérico
placa de carregamento e um mecanismo de
foram efetuados no simulador QUV Weathering
aplicação de carga (a descrição completa do
Tester (Q-Panel Lab Products, modelo
equipamento pode ser encontrada em Lopes &
QUV/spray) e consistiram na exposição
Lopes, 2003).
alternada do geotêxtil a radiação UV, chuva e
condensação. A radiação UV existente na luz
2.2.5 Abrasão
solar foi simulada através de lâmpadas
fluorescentes do tipo UVA-340. Por sua vez, a
Os ensaios de abrasão foram efetuados de
chuva foi simulada através da projeção de água
acordo com os procedimentos da norma EN
(água à temperatura ambiente) contra a as
ISO 13427. O equipamento usado nestes
amostras expostas. No passo de condensação, a
ensaios foi também um protótipo desenvolvido
água existente num reservatório localizado no
no Laboratório de Geossintéticos da Faculdade
fundo do simulador climatérico foi aquecida,
de Engenharia da Universidade do Porto.
ocorrendo a formação de vapor que condensou
O geotêxtil foi colocado numa plataforma
na superfície das amostras expostas.
fixa e foi friccionado por um abrasivo de
O geotêxtil foi exposto no simulador por um
superfície P100. O abrasivo (colocado numa
período total de 500 horas (cerca de 21 dias) ao
plataforma deslizante) foi movido sob pressão
seguinte ciclo climatérico:
controlada (6 kPa) ao longo de um eixo

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495
horizontal (movimento uniaxial cíclico) durante RFA + B Trad = RFA x RFB (3)
750 ciclos.
Os coeficientes de segurança apresentados
2.3 Avaliação de Danos no presente trabalho são relativos a condições
de degradação muito particulares e não podem
Os danos ocorridos no geotêxtil (causados pelos ser generalizados, nem aplicados diretamente
ensaios de degradação) foram avaliados através no dimensionamento. Os coeficientes de
de ensaios de tração de acordo com a norma EN segurança a usar no dimensionamento devem
29073-3 (Tabela 4). Os resultados obtidos para ser sempre analisados caso a caso, tendo em
as amostras expostas foram comparados com os consideração as condições específicas de cada
obtidos para a amostra de referência (intacta). obra.
Tabela 4. Condições experimentais dos ensaios de tração.
Largura dos provetes 50 mm
Comprimento dos provetes* 200 mm 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Número mínimo de provetes 5
Velocidade de ensaio 100 mm/min 3.1 Agentes Físicos e/ou Químicos
*Comprimento entre garras.
3.1.1 Exposição Única
Os parâmetros mecânicos determinados nos
ensaios de tração (valores na direção de fabrico) As imersões em líquidos e a exposição à termo-
incluíram a resistência à tração (T, em kN/m) e oxidação não causaram alterações relevantes na
a extensão na força máxima (E FM , em %) resistência à tração do geotêxtil (resistências à
(valores médios de cinco provetes). A tração residuais próximas de 100%) (Tabela 5).
resistência à tração residual (T Residual ) foi obtida Por sua vez, a exposição aos agentes
pelo quociente entre a resistência à tração das climatéricos provocou uma diminuição muito
amostras danificadas (T Danificado ) e a resistência significativa da resistência à tração (resistência
à tração da amostra de referência (não à tração residual de 43,5%), indicando a
danificada) (T Referência ) (Equação 1). ocorrência de degradação na estrutura não-
tecida.
TDanificado
TResidual = x 100 (1) Tabela 5. Propriedades de tração do geotêxtil depois das
TReferência
exposições únicas a agentes físicos e/ou químicos.
Ensaio de T E FM T Residual
2.4 Coeficientes de Segurança degradação (kN/m) (%) (%)
H2O 13,31 (1,26) 78,2 (4,3) 98,9
Foram determinados coeficientes de segurança H 2 SO 4 13,57 (1,14) 79,1 (4,9) 100,8
HNO 3 13,28 (1,12) 77,6 (5,5) 98,7
(RF) com base nas alterações provocadas pelos NaOH 13,21 (0,96) 78,5 (3,4) 98,1
ensaios de degradação na resistência à tração do Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O 13,41 (0,95) 77,2 (6,6) 99,6
geotêxtil (Equação 2). Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 13,62 (0,76) 78,3 (5,0) 101,2
O
TReferência TO 13,36 (1,22) 62,8 (4,8) 99,3
RF = (2) EC 5,85 (0,63) 40,4 (2,5) 43,5
TDanificado (desvios padrão entre parêntesis)

Os coeficientes de segurança calculados pelo Tal como para a resistência à tração,


método tradicional para o efeito combinado de também não ocorreram alterações relevantes na
dois agentes de degradação (designados por extensão na força máxima depois dos ensaios de
“A” e por “B”) (RF A+B TRAD ) foram obtidos imersão (Tabela 5). Em contraste, ocorrem
através da multiplicação dos dois coeficientes diminuições significativas desta propriedade
de segurança obtidos isoladamente para cada após os ensaios de termo-oxidação e
agente (RF A e RF B , respetivamente) (Equação envelhecimento climatérico (reduções de 78,4%
3). para, respetivamente, 62,8% e 40,4%).

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496
É importante referir que a presença de C944 forma, dois agentes que isoladamente não
resultou num grande aumento da resistência do causaram nenhuns danos, provocaram em
geotêxtil à termo-oxidação e ao envelhecimento conjunto alguma degradação no geotêxtil.
climatérico. De facto, na ausência do aditivo, o A diminuição da resistência à termo-
material estaria completamente destruído depois oxidação depois da imersão em ácido sulfúrico
destes ensaios (Carneiro, 2009). poderá ter duas explicações possíveis: (1)
ocorrência de perdas e/ou consumo do aditivo
3.1.2 Exposição Múltipla a Líquidos e TO C944 durante a imersão em ácido sulfúrico
(ficando o geotêxtil menos protegido contra a
Os provetes imersos em ácido sulfúrico ficaram termo-oxidação) ou (2) os restos de ácido
com uma coloração castanha durante os ensaios sulfúrico funcionaram como catalisadores do
de termo-oxidação (originalmente possuíam cor processo de termo-oxidação (é importante
branca). Para além da alteração de cor, não relembrar que os provetes não foram lavados
foram detetados outros danos na estrutura não- depois dos ensaios de imersão de modo a
tecida. Por sua vez, a cor dos provetes imersos ficarem contaminados com restos das soluções
em água, ácido nítrico, hidróxido de sódio, de imersão). O esclarecimento dos motivos que
nitrato de ferro e nitrato de zinco não sofreu originaram esta interação requer a realização de
nenhuma alteração relevante durante os ensaios estudos adicionais.
de termo-oxidação. Ao contrário da imersão em ácido sulfúrico,
Os valores obtidos para a resistência à a imersão em ácido nítrico (menor concentração
tração, extensão na força máxima e resistência à molar) não provocou alterações na resistência
tração residual do geotêxtil após as várias do geotêxtil à termo-oxidação. De facto, os
exposições múltiplas a líquidos e à termo- provetes imersos em ácido nítrico tinham uma
oxidação podem ser encontrados na Tabela 6. resistência à tração residual de 99,9% depois da
exposição à termo-oxidação.
Tabela 6. Propriedades de tração do geotêxtil depois das A exposição sucessiva a hidróxido de sódio e
exposições múltiplas a líquidos e à termo-oxidação. à termo-oxidação também não causou
Ensaio de T E FM T Residual
degradação (kN/m) (%) (%)
alterações significativas na resistência à tração
H 2 O + TO 13,39 (0,91) 61,5 (3,4) 99,5 do geotêxtil (resistência à tração residual de
H 2 SO 4 + TO 11,32 (0,84) 56,2 (4,6) 84,1 95,7%). Embora não evidente nas condições
HNO 3 + TO 13,45 (1,36) 64,2 (5,3) 99,9 experimentais deste trabalho, a existência de um
NaOH + TO 12,88 (0,88) 62,3 (4,5) 95,7 efeito do hidróxido de sódio no processo de
Fe(NO 3 ) 3 + TO 7,16 (0,48) 34,6 (1,7) 53,2 termo-oxidação foi observada, noutras
Zn(NO 3 ) 2 + TO 9,07 (0,67) 44,8 (2,9) 67,4
(desvios padrão entre parêntesis)
condições experimentais, por Carneiro et al.,
2014.
As propriedades de tração após os ensaios de Por sua vez, as imersões em nitrato de ferro e
termo-oxidação eram idênticas para os provetes em nitrato de zinco provocaram uma
imersos em água (exposição múltipla) e para os diminuição da resistência do geotêxtil à termo-
provetes sem imersão (exposição única à termo- oxidação. De facto, após as exposições
oxidação). Assim, a imersão em água (durante múltiplas a (1) nitrato de ferro e termo-oxidação
100 dias a ≈ 20 ºC) não causou uma diminuição e (2) nitrato de zinco e termo-oxidação a
da resistência do geotêxtil à termo-oxidação. resistência à tração residual do geotêxtil era de,
Ao contrário da imersão em água, a imersão respetivamente, 53,2% e de 67,4%. De forma
em ácido sulfúrico provocou uma redução (não análoga, a extensão na força máxima também
muito pronunciada) da resistência do geotêxtil à sofreu diminuições relevantes depois das
termo-oxidação. De facto, os provetes imersos exposições múltiplas às soluções de catiões
em ácido sulfúrico apresentavam uma metálicos e à termo-oxidação.
resistência à tração residual de 84,1% depois do A diminuição da resistência à termo-
ensaio de termo-oxidação (a existência de oxidação depois das imersões em nitrato de
degradação era expectável tendo em conta a ferro e nitrato de zinco poderá ser atribuída à
alteração de cor da estrutura não-tecida). Desta ação catalisadora dos catiões metálicos no

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

497
processo de oxidação. Outra explicação 3.2 Agentes Mecânicos
possível seria a ocorrência de perdas (por
difusão ou lixiviação) e/ou consumo do aditivo Os agentes de degradação mecânicos induziram
C944 durante as imersões em nitrato de ferro ou danos muito diferentes no geotêxtil. O ensaio de
nitrato de zinco, desprotegendo o geotêxtil danificação mecânica provocou o corte de
contra a termo-oxidação. Contudo, essa fibras, punçoamentos pontuais e o
hipótese é improvável, pois não existem aprisionamento de partículas finas (resultantes
indícios que a imersão em ácido nítrico tenha da fragmentação do corundum) na estrutura
provocado uma perda e/ou um consumo não-tecida (Figura 1b). Por sua vez, a abrasão
relevante de C944 (a imersão em ácido nítrico originou a desagregação da camada superficial
não provocou uma diminuição da resistência do do geotêxtil (camada em contacto com o
geotêxtil à termo-oxidação) e não existem abrasivo) – a mudança de textura é percetível na
motivos para presumir que a presença adicional Figura 1c. A ação sucessiva dos dois
dos catiões ferro ou zinco possa ter resultado na mecanismos de degradação deu origem ao corte
perda e/ou consumo do aditivo (com exceção de fibras, que se reorientaram e formaram
para a presença, ou não, dos catiões metálicos, agregados perpendicularmente ao movimento
as soluções dos sais de nitrato e de ácido nítrico da placa deslizante (onde está colocado o
eram idênticas). abrasivo) (Figura 1d).

3.1.3 Exposição Múltipla a Líquidos e EC

As propriedades de tração depois dos ensaios de


envelhecimento climatérico eram idênticas para
os provetes imersos em líquidos (água e
soluções aquosas de ácido sulfúrico e hidróxido
de sódio) (exposição múltipla) e para os
provetes expostos apenas a envelhecimento
climatérico (Tabela 7). De facto, o geotêxtil
possuía resistências à tração residuais muito (a) (b)
semelhantes depois da exposição única ao
envelhecimento climatérico (43,5%) e após as
exposições múltiplas à ação de líquidos e ao
envelhecimento climatérico (entre 42,5% e
44,3%).

Tabela 7. Propriedades de tração do geotêxtil depois das


exposições múltiplas a líquidos e agentes climatéricos.
Ensaio de T E FM T Residual
(c) (d)
degradação (kN/m) (%) (%)
H 2 O + EC 5,81 (0,49) 41,7 (2,2) 43,2 Figura 1. Geotêxtil antes (a) e depois das várias
H 2 SO 4 + EC 5,96 (0,55) 41,2 (2,7) 44,3 exposições a agentes de degradação mecânicos: (b) após
NaOH + EC 5,72 (0,42) 40,5 (2,4) 42,5 danificação mecânica; (c) após abrasão; (d) após
(desvios padrão entre parêntesis) exposição sucessiva a danificação mecânica e à abrasão.

As imersões prévias em líquidos não tiveram As exposições (únicas e múltipla) aos


nenhuma influência na resistência do geotêxtil à agentes de degradação mecânicos provocaram
ação dos agentes climatéricos. É de notar que, alterações relevantes (reduções) na resistência à
embora tenha causado uma pequena redução da tração e na extensão na força máxima do
resistência à termo-oxidação, a imersão em geotêxtil (Tabela 8). As alterações causadas
ácido sulfúrico (nas mesmas condições pelo ensaio de abrasão foram menos
experimentais) não provocou uma diminuição pronunciadas do que as induzidas pelo ensaio
da resistência ao envelhecimento climatérico. de danificação mecânica (exposições únicas).

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

498
De facto, o geotêxtil possuía resistências à e termo-oxidação, (2) nitrato de ferro e termo-
tração residuais de, respetivamente, 82,3% e de oxidação, (3) nitrato de zinco e termo-oxidação
63,2% após esses ensaios. A redução ocorrida e (4) danificação mecânica e abrasão foram
na extensão na força máxima foi também menor superiores aos obtidos pelo método tradicional
no ensaio de abrasão (de 78,4% para 70,2%) do para o efeito combinado desses dois agentes. A
que no ensaio de danificação mecânica maior diferença ocorreu na exposição a nitrato
(diminuição para 54,5%). de ferro e à termo-oxidação, onde o coeficiente
de segurança encontrado na exposição sucessiva
Tabela 8. Propriedades de tração do geotêxtil depois das foi quase o dobro do obtido através do método
exposições a agentes de degradação mecânicos. tradicional (coeficientes de segurança de 1,88 e
Ensaio de T E FM T Residual
degradação (kN/m) (%) (%)
1,01, respetivamente). Estes resultados mostram
DM 8,51 (0,79) 54,5 (3,9) 63,2 que os coeficientes de segurança calculados
Abrasão 11,08 (0,82) 70,2 (4,4) 82,3 pelo método tradicional não estão a ser capazes
DM + Abrasão 5,40 (0,46) 44,2 (3,0) 40,1 de representar corretamente (subestimando) a
(desvios padrão entre parêntesis) ação combinada dos agentes de degradação.
Assim, a multiplicação de dois coeficientes de
A exposição sucessiva aos dois mecanismos segurança (cada um deles representando o
de degradação causou as reduções mais efeito isolado de um agente de degradação)
elevadas na resistência à tração (diminuição de pode não representar com exatidão o efeito
59,9%) e na extensão na força máxima do combinado desses agentes de degradação. As
geotêxtil. diferenças encontradas entre os coeficientes de
segurança (determinados pelo método
3.3 Coeficientes de Segurança tradicional ou na exposição sucessiva aos
agentes de degradação) podem ser atribuídas às
Os coeficientes de segurança obtidos nas várias interações que ocorrem entre os agentes de
exposições sucessivas aos agentes de degradação (as quais o método tradicional não
degradação (combinações de 2 agentes) foram conseguiu contabilizar). Exemplos adicionais de
comparados com os coeficientes de segurança interações entre os vários agentes de
determinados pelo método tradicional para o degradação dos geossintéticos podem ser
efeito conjunto desses agentes (determinação encontrados em Carneiro et al., 2014, Dias et
dos coeficientes de segurança de forma isolada al., 2017 e Carneiro et al., 2018.
para cada agente e posterior multiplicação dos Em relação às outras combinações de
mesmos) (Tabela 9). agentes de degradação, os coeficientes de
segurança que foram obtidos nas exposições
Tabela 9. Coeficientes de segurança obtidos para o efeito sucessivas foram idênticos aos calculados pelo
combinado de dois agentes de degradação pelo método
tradicional (RF A+B Tra d ) e na exposição sucessiva a esses
método tradicional para o efeito combinado
agentes de degradação (RF A+ B ). desses agentes. Nesses casos, e nas condições
Exposição múltipla RF A+B RF A+B Trad experimentais usadas, não foram detetadas
H 2 O + TO 1,01 1,02 interações entre os agentes de degradação.
H 2 SO 4 + TO 1,19 1,01
HNO 3 + TO 1,00 1,02
NaOH + TO 1,05 1,03
Fe(NO 3 ) 3 .9H 2 O + 1,88 1,01 4 CONCLUSÕES
TO
Zn(NO 3 ) 2 .6H 2 O + 1,48 1,01 As exposições isoladas à ação de vários líquidos
TO e à termo-oxidação não provocaram alterações
H 2 O + EC 2,32 2,32 significativas na resistência à tração do
H 2 SO 4 + EC 2,26 2,30
NaOH + EC 2,35 2,35 geotêxtil de PP (resistências à tração residuais
DM + Abrasão 2,49 1,91 próximas de 100%). Contudo, ocorreu uma
diminuição na extensão na força máxima depois
Os coeficientes de segurança encontrados da exposição à termo-oxidação (não ocorreram
nas exposições sucessivas a (1) ácido sulfúrico alterações após as imersões em líquidos). De

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

499
um modo geral, o geotêxtil apresentou uma boa agentes de degradação) pode contribuir para
resistência à ação isolada de líquidos e à termo- uma melhor aplicação de geossintéticos em
oxidação. Engenharia Civil.
Por sua vez, as exposições isoladas à ação
dos agentes climatéricos, à danificação
mecânica e à abrasão deram origem a alterações AGRADECIMENTOS
relevantes nas propriedades de tração do
geotêxtil (reduções da resistência à tração e Este trabalho foi financiado por: (1) projeto
extensão na força máxima). POCI-01-0145-FEDER-028862, financiado
Os danos ocorridos no geotêxtil na exposição pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento
sucessiva aos agentes de degradação não foram Regional (FEDER) através do COMPETE 2020
sempre iguais à soma dos danos provocados por – Programa Operacional Competitividade e
cada agente de forma isolada. Os exemplos Internacionalização (POCI) e com o apoio
mais relevantes incluíram as exposições financeiro da FCT/MCTES através de fundos
múltiplas a (1) nitrato de ferro e termo-oxidação nacionais (PIDDAC); (2) Unidade de
e (2) nitrato de zinco e termo-oxidação. Em Investigação UID/ECI/04708/2019 – Construct
ambos os casos, dois agentes que isoladamente – Instituto de I&D em Estruturas e Construções,
não deram origem a danos, induziram em financiada por fundos nacionais através da
conjunto uma degradação muito significativa. FCT/ MCTES (PIDDAC). José Ricardo
Foram também identificadas interações entre o Carneiro agradece à FCT a bolsa de Pós-
(1) ácido sulfúrico e a termo-oxidação e entre a Doutoramento com a referência
(2) danificação mecânica e a abrasão (embora SFRH/BPD/88730/2012 (bolsa apoiada por
menos pronunciadas do que as interações financiamento POPH/POCH/FSE).
anteriores).
A diminuição da resistência do geotêxtil à
termo-oxidação após as imersões nas soluções
de catiões metálicos poderá ser explicada pela
ação catalisadora dos catiões ferro e zinco no
processo de termo-oxidação. Existem
referências (como por exemplo, Wright, 2001)
que referem que o processo de oxidação das
poliolefinas (como o PP) pode ser acelerado Os autores agradecem à Carvalhos Lda. (Lousã,
pelo efeito catalítico de alguns metais. Portugal) pelo fornecimento do geotêxtil.
A identificação e quantificação de interações
entre os agentes de degradação é importante
para compreender (e/ou prever) o REFERÊNCIAS
comportamento dos geossintéticos sob
condições de degradação reais (onde estão, na Carneiro, J.R. (2009) Durabilidade de materiais
geossintéticos em estruturas de carácter ambiental –
maior parte dos casos, expostos à ação conjunta a importância da incorporação de aditivos químicos,
de vários agentes de degradação). Os resultados Tese de Doutoramento em Engenharia do Ambiente,
obtidos mostraram que, existindo interações Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto,
entre os agentes de degradação, os coeficientes Portugal, LXVIII-534p.
de segurança obtidos diretamente nas Carneiro, J.R., Almeida, P.J. & Lopes, M.L. (2014) Some
synergisms in the laboratory degradation of a
exposições sucessivas a esses agentes podem polypropylene geotextile, Construction and Building
ser muito diferentes dos calculados pelo método Materials, Vol. 73, p. 586-591.
tradicional (determinação dos coeficientes de Carneiro, J.R., Almeida, P.J. & Lopes, M.L. (2018)
segurança de forma isolada para cada agente e Laboratory evaluation of interactions in the
posterior multiplicação) para a ação combinada degradation of a polypropylene geotextile in marine
environments, Advances in Materials Science and
dos mesmos. A definição de coeficientes de Engineering, Vol. 2018, artigo 9182658, 10p.
segurança com maior confiança (tendo em Dias, M., Carneiro, J.R. & Lopes, M.L. (2017) Resistance
conta as interações que ocorrem entre os vários of a nonwoven geotextile against mechanical damage

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

500
and abrasion, Ciência & Tecnologia dos Materiais,
Vol. 29, p. 177-181.
EN 29073-3 (1992) Textiles – Test methods for
nonwovens. Part 3: Determination of tensile strength
and elongation, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9862 (2005) Geosynthetics – Sampling and
preparation of test specimens, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9863-1 (2016) Geosynthetics – Determination of
thickness at specified pressures. Part 1: Single
layers, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 9864 (2005) Geosynthetics – Test method for the
determination of mass per unit area of geotextiles and
geotextile-related products, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 10722 (2007) Geosynthetics – Index test
procedure for the evaluation of mechanical damage
under repeated loading – Damage caused by granular
material, Comissão Europeia de Normalização,
Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 13427 (2014) Geosynthetics – Abrasion damage
simulation (sliding block test), Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
EN ISO 13438 (2004) Geotextiles and geotextile-related
products – Screening test method for determining the
resistance to oxidation, Comissão Europeia de
Normalização, Bruxelas, Bélgica.
Lopes, M.P. & Lopes, M.L. (2003) Um equipamento
para a realização de ensaios laboratoriais de
danificação durante a instalação, Revista da
Sociedade Portuguesa de Geotecnia, n.º 98, p. 7-24.
Wright, D.C. (2001) Failure of Polymer Products due to
Thermo-Oxidation, iSmithers Rapra Publishing, 132
p.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

501
502
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Instalação de Geossintéticos em Pavimentos Flexíveis com CBUQ:


Danos de Instalação Devido à Temperatura Elevada
Letícia Maria Macêdo de Azevedo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, leticia_azevedo@hotmail.com

Lucas Fonseca Fernandes


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, lucasfonsecafernandes@hotmail.com

Rogério de Azevedo Holanda Cabral Cavalcanti Lima


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, rogerio.ahccl@gmail.com

Enio Fernandes Amorim


Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, enio.amorim@ifrn.edu.br

Fagner Alexandre Nunes de França


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil, fagnerfranca@ufrn.edu.br

RESUMO: Com o objetivo de aumentar a vida útil do pavimento, foram desenvolvidas tecnologias
desde métodos de cálculo, estudos de novos materiais e a inclusão de geossintéticos como reforço
nas vias. A partir de então, os geossintéticos vêm sendo cada vez mais empregados em obras viárias,
por necessitarem de um menor tempo de execução, diminuírem custos de materiais e até mesmo
colaborarem na minimização de impactos ambientais. Entretanto, se manuseados de maneira
inadequada ou expostos a agentes externos, estes materiais podem mostrar desempenhos
insatisfatórios durante a vida útil. Diante disto, esta pesquisa foi desenvolvida em um trecho urbano
na cidade de Natal-RN, com a finalidade de averiguar o dano térmico ocasionado pela alta
temperatura do CBUQ em contato com diferentes tipos de geossintéticos. Para isso, as amostras
virgens e danificadas foram comparadas visualmente e submetidas a ensaios de tração uniaxial.
Assim, pôde-se concluir que ao expor o produto a altas temperaturas, durante apenas a etapa de
espalhamento do concreto asfáltico, houve redução na resistência à tração e na deformação de todos
os geossintéticos estudados. E, além disso, alguns fatores de redução se mostraram no limite imposto
pela literatura.

PALAVRAS-CHAVE: Danos de Instalação, Pavimentos Flexíveis, Geossintéticos, Ensaio de Tração


Uniaxial.

ABSTRACT: With the objective to increase the lifetime of the pavement, technologies were
developed through calculation methods, studies of new materials and the adoption of geosynthetics
as a road reinforcement. Thereby, geosynthetics has been increasingly applied in roadworks, due to
its short installation time, material costs reduction and it even collaborate to mitigate environmental
impacts. However, if it is improperly handled or exposed to external agents, these materials may
present an unsatisfying performance over its lifetime. Hence, this research was developed in an urban
stretch at the city of Natal-RN, with the purpose of investigating the thermal damage caused by the
high temperature of the hot mix asphalt, when in contact with different types of geosynthetics. For
this reason, intact and damaged samples were visually compared and submitted to uniaxial tensile
tests. As a result, it could be concluded that when exposing the product to high temperatures, during
the scattering stage of the asphalt concrete, there was a reduction of the tensile strength and in the
deformation of all geosynthetics studied. Furthermore, some reduction factors were presented on the
limit imposed by the literature.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

503
KEY WORDS: Installation Damages, Flexible Pavements, Geosynthetics, Uniaxial Tensile Test.

1 INTRODUÇÃO modificações nas propriedades dos


geossintéticos e encontrar uma maneira que estes
Objetivando aumentar a vida útil do resistam às intempéries que serão submetidos
pavimento, vêm sendo desenvolvidas várias sem pôr em risco a vida útil da construção.
tecnologias, desde métodos de cálculo, estudo de Norambuena – Contreras et al. (2009)
novos materiais e a inclusão de geossintéticos selecionaram cinco tipos de geossintéticos entre
como reforço. geogrelha, geocomposto e geotêxtil não tecido,
A partir de então, os geossintéticos vêm constituídos por poliéster ou polipropileno. Estes
sendo cada vez mais empregados em obras materiais foram submetidos a ensaios de
viárias, por necessitarem de um menor tempo de laboratório, a fim de reproduzir o processo de
execução, diminuírem custos de materiais e até instalação dos geossintéticos entre camadas de
mesmo colaborarem na minimização de revestimento.
impactos ambientais. Além do mais, possibilita A primeira metodologia consistiu em
soluções que viabilizam a construção civil em medir a evolução da temperatura do
situações que anteriormente iriam requerer geossintético submetido ao contato com ar
intervenções complicadas ou seriam quente em uma estufa (150°C), correspondente a
economicamente inviáveis (FERREIRA, 2007). temperatura do concreto betuminoso usinado a
Entretanto, durante as etapas de quente (CBUQ) em obra. Este acompanhamento,
armazenamento, transporte, manuseio e permitiu a obtenção da temperatura máxima de
instalação, os geossintéticos podem ser expostos referência em função do tempo de exposição ao
a danos que transformem sua estrutura, vindo a ar. Enquanto isso, o segundo procedimento
comprometer o desempenho das funções para os correspondeu a medição da porcentagem de
quais foram dimensionados, a exemplo da variação da área do geossintético adquirida
diminuição da resistência mecânica. Neste através do contato com um material granular
contexto, é habitual recorrer a duas soluções: quente (135°C e 165°C). Todas os corpos de
controlar o processo de dano durante a instalação prova foram cortados com seção quadrada de
(DDI); ou sobredimensionar o geossintético na 100 cm².
fase de projeto, sendo esta última a forma mais Ao final dos ensaios, Norambuena –
usual, tendo em vista que minimiza a Contreras et al. (2009) concluíram que os
necessidade de uma mão de obra mais geossintéticos de polipropileno adquiriram com
especializada, bem como a responsabilidade maior facilidade o calor transmitido, enquanto
sobre o controle de instalação (GALVÃO, isso, os geossintéticos de poliéster demoraram
2012). Contudo, sob o ponto de vista técnico e mais tempo para chegar a mesma temperatura.
financeiro, esta opção não visualiza a otimização Logo, não é aconselhável utilizar geossintéticos
de custos e recursos, aumentando o valor da de polipropileno em misturas asfálticas com
obra. temperaturas superiores a 140°C, no entanto,
No dimensionamento de estruturas com geossintéticos de poliéster podem ser expostos a
geossintéticos, normalmente são aplicados temperaturas de até 165°C (NORAMBUENA –
fatores de redução de resistência devido a CONTRERAS et al., 2009).
mecanismos variados, entre eles, a fluência e a Carneiro et al. (2013) avaliaram os
danificação durante a instalação são os mais efeitos dos processos de instalação nas
elevados (PAULA, 2003). Dessa maneira, faz-se propriedades mecânicas e hidráulicas em cinco
necessário examinar até que ponto os valores geotêxteis não-tecidos, três mecanicamente
utilizados na prática estão em conformidade com ligados e dois termicamente ligados, por meio de
o real e definir coeficientes realistas. danos simulados em laboratório, segundo a
Diante deste cenário, o tema de dano norma EN ISO 10722, utilizando três materiais
durante a instalação tem sido alvo de granulares: um sintético (corindo) e dois naturais
investigações, com o objetivo de averiguar as (calcário e granito). Os geotêxteis foram

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

504
inseridos entre duas camadas de material Os corpos de prova eram circulares com
granular e submetidos a cargas dinâmicas entre 5 10 cm de diâmetro, cortados de forma que, no
± 5 kPa e 900 ± 10 kPa com frequência de 1 Hz, centro da amostra, as fibras formassem uma
totalizando 200 ciclos. Posteriormente, foram grade quadrada de 40 x 40 mm², permitindo a
realizados ensaios mecânicos de tração (EN ISO extração de fibras com comprimento
10319), resistência ao rasgo (ASTM D4533) e aproximado de 9,5 cm para realização dos testes
punção estática (EN ISO 12236), e ensaios de tração. Além de ensaios de tração, os corpos
hidráulicos de permeabilidade com carga de prova foram submetidos a análises com
constante e carga variável consoante a EN ISO microscópio eletrônico de varredura,
11058. microscópio óptico e análises termo-
Assim, puderam concluir que os ensaios gravimétricas.
de danos de instalação ocasionaram mudanças Finalizados os ensaios, as seguintes
consideráveis nas propriedades avaliadas, sendo conclusões foram obtidas: após o dano gerado
algumas dessas mudanças altamente relacionada pela compactação Proctor, as fibras
a massa por unidade de área e o tipo de ligação apresentaram esmagamento, perda de
dos materiais. A resistência à tração, revestimento betuminoso e quebra, produzindo
alongamento na carga máxima, resistência ao uma redução significativa na força de tração
rasgo e resistência à punção diminuíram após a máxima; compactar agregado de escória, que é
danificação, sendo mais perceptível em termicamente similar ao CBUQ, em
geossintéticos que apresentavam menor massa geossintético não provoca necessariamente a
por unidade de área. mesma redução na resistência à tração; o dano
Nos geotêxteis mecanicamente ligados, gerado pela compactação Marshall produziu
houve uma diminuição do fluxo de água maior redução nos valores de força de tração
ocasionado pelo possível acúmulo de partículas máxima; as fibras são bastante danificadas
finas (materiais granulares esmagados). Todavia, quando é ultrapassado o limite de energia de
não foi encontrada nenhuma relação entre a compactação.
permissividade e a massa por unidade de área A grande maioria do estudos são
dos geotêxteis. Por sua vez, nos geossintéticos desenvolvidos em laboratório, tentando
termicamente ligados, houve um aumento de reproduzir as condições vivenciadas em campo,
fluxo de água ocasionado pela existência de deixando a desejar a fidelidade dos resultados.
cortes presentes no material após o DDI, sendo Segundo Escórcio (2016), para dimensionar
maior o fluxo quanto menor a massa por unidade corretamente o prejuízo ocasionado nos
de área. geossintéticos durante a atividade de instalação,
Norambuena – Contreras et al. (2016), os pesquisadores deveriam recorrer a ensaios de
com o objetivo de analisar os danos físicos e campo, ainda pouco utilizados devido aos
mecânicos gerados nas fibras de geossintéticos elevados custos e a falta de normalização destes
aplicados na pavimentação, criaram uma nova procedimentos.
metodologia para simular, em laboratório, os Portanto, esta pesquisa foi desenvolvida
danos originados pelo espalhamento e a fim de retratar com maior fidelidade o dano
compactação da massa asfáltica quente. Esta térmico sofrido pelos geossintéticos em uma
metodologia consistia na compactação dinâmica obra de pavimentação, possibilitando a análise e
de agregados em altas temperaturas, aplicando a comparação com os resultados de resistência à
compactação Proctor e a compactação Marshall. tração, deformação e fatores de redução
Na pesquisa fez-se uso de: três geogrelhas com disponibilizados na literatura.
um geotêxtil não tecido de polipropileno e fibras
de poliéster, álcool polivinílico e vidro, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
revestidas com betume; uma mistura asfáltica
semi-densa tipo IV-A-12, com betume Esta pesquisa foi dividida em duas etapas:
convencional CA24; e o agregado de escória de campo e laboratório. Em campo foram
aço 100% do tipo britagem. executadas duas instalações de geossintéticos,
entre a camada de base e o revestimento, em ruas

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

505
distintas. Primeiramente, na Rua José Miranda vez, o tempo total até a completa exumação das
da Silva e, posteriormente, na Rua Inácio Braz amostras durou vinte e dois minutos. A
dos Santos, ambas pertencentes ao conjunto exumação das amostras foi realizada com a ajuda
Brasil Novo no bairro Pajuçara na cidade de de arados (Figura 2).
Natal – RN.
Fez-se uso de diferentes tipos de
geossintéticos, entre eles: a geogrelha de
politereftalato de etileno (GGR – PET), o
geocomposto de politereftalato de etileno (GCO
– PET), o geotêxtil tecido de polipropileno (GTX
W – PP), o geocomposto de poliacetato de vinila
(GCO – PVA 50), o geocomposto de
politereftalato de etileno (GCO – PET 50) e o
geocomposto de fibra de vidro (GCO – FV 50).
O concreto betuminoso usinado a quente
Figura 2 – Exumação dos geossintéticos (Fonte: Autor).
(CBUQ) utilizado era composto por 19,0% de
brita 5/8”, 25,65% de cascalho, 50,35% de pó de
Em laboratório todas as amostras foram
pedra e 5,0% de cimento asfáltico de petróleo
cortadas, separadas e nomeadas, conforme a
(CAP) 50/70. Os agregados da composição
situação em que se encontrava, virgem ou
foram provenientes da Pedreira Potiguar na
danificada, distinguindo-as também por tipo de
cidade de Macaíba – RN e o CAP foi fornecido
geossintético e tipo de polímero. As amostras de
pela Refinaria Lubrificantes e Derivados do
geotêxteis tecido foram cortadas de modo que
Nordeste (Lubnor) de Fortaleza – CE.
ficassem com dimensões de 1,5 m x 0,2 m.
Em campo, todas as fases necessárias
Porém, devido a retração do geossintético
para a construção de um pavimento até a etapa
durante a exposição a alta temperatura, alguns
de imprimação da base estavam finalizadas.
corpos de prova apresentaram largura inferior a
Então, as amostras de geossintéticos (1,0 m x 1,5
0,20 m, sendo necessário o descarte dos mesmos.
m) foram dispostas no local, fixadas com CBUQ
As amostras de geogrelha e geocomposto foram
nas extremidades e alinhadas com a vibro-
seccionadas conforme a quantidade de fibras,
acabadora, como ilustrado na Figura 1.
sendo dez fibras para as amostras de geogrelha e
cinco fibras para as amostras de geocomposto.
Em seguida, foram realizados os ensaios
de tração uniaxial em cada amostra, com
velocidade de tração de 30 mm/s. O fim de cada
ensaio foi considerado na ocorrência de uma
queda abrupta da resistência à tração do
geossintético, caracterizada pela ruptura total ou
parcial do corpo de prova de geotêxteis ou dos
elementos da geogrelha e dos geocompostos.
Na execução dos ensaios de tração
Figura 1 – Fixação dos geossintéticos na via (Fonte: uniaxial fez-se uso do dinamômetro INSTRON
Autor). 3385H com célula de carga para testes de até 25
toneladas e, acoplado a máquina, estava um
Logo, deu-se início a confecção da vídeo extensômetro. O dinamômetro estava
camada de revestimento, e todos os ligado ao computador que, por sua vez,
geossintéticos instalados foram expostos ao dano executava o programa Instron Bluehill.
térmico ocasionado pela alta temperatura do No total foram realizados 61 ensaios de
CBUQ, cerca de 140°C. O tempo decorrido do tração uniaxial, sendo 28 em corpos de prova
início da atividade de distribuição do CBUQ (CPs) virgens e 33 em corpos de prova
sobre os geossintéticos e a exposição destes a danificados termicamente. Entre as amostras
alta temperatura, durou cinco minutos. Por sua virgens, o GTX W – PP, a GGR – PET, o GCO

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

506
– PET e o GCO – FV 50, tiveram cada um 5 Analisando a Figura 3(a), pode-se notar
corpos de prova. Enquanto isso, o GCO – PVA que a GCO – PVA 50 apresentou a maior
50 e o GCO – PET 50, possuíram 4 CPs cada. resistência à tração entre os geossintéticos,
Por sua vez, nas amostras danificadas, houve a chegando a força de tração na ruptura de 50
seguinte distribuição: a GGR – PET com 10 CPs; kN/m. Enquanto isso, a GGR – PET exibiu a
o GTX W – PP, o GCO – PET e o GCO – FV 50 menor resistência à tração com 18,2 kN/m. O
com 5 CPs cada; GCO – PVA 50 e GCO – PET GTX W – PP expôs uma deformação de 6,4%,
50 com 4 CPs cada. caracterizando a maior deformação entre os
geossintéticos. Por sua vez, o GCO – FV 50
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES mostrou o menor alongamento entre os
materiais, com apenas 1,2%. Este
As médias dos resultados obtidos após os comportamento, característico de materiais
ensaios de tração uniaxial em cada tipo de frágeis é esperado, sendo associado ao polímero
geossintético estão expostas na Figura 3. As constituinte do geossintético que viabiliza uma
curvas das amostras virgens na Figura 3 (a) e das maior rigidez ao geossintético.
amostras expostas ao dano térmico na Figura 3 Após o contato das amostras com o
(b). concreto betuminoso à 140°C, percebe-se um
comportamento mecânico diferente em cada
geossintético (Figura 3 (b)). O GTX W – PP foi
responsável por exibir a maior força de tração na
ruptura, correspondendo a 43,8 kN/m. A GGR –
PET permaneceu com a menor resistência à
tração, igual a 14,8 kN/m. Todavia, a maior
queda porcentual na força de tração na ruptura
ficou a cargo do GCO – PET, igual a 34,5%. O
geossintético que mais se manteve próximo a
força de tração na ruptura inicial foi o GTX W –
PP, reduzindo 9,1% da resistência à tração
inicial.
A maior deformação após o dano foi de
6,1% correspondente ao GTX W – PP e a menor
deformação foi de 1,1% associada ao GCO – FV
(a)
50. Entretanto, a maior redução na deformação
foi de 15,8% ligada ao GCO – PET e a menor foi
de 3,2% associada ao GCO – PVA 50. Assim,
percebe-se que houve redução tanto na
resistência à tração como na deformação dos
materiais após a exposição a alta temperatura,
comprometendo a ductilidade das amostras.
No entanto, apesar das reduções na
deformação, os geocompostos de PVA 50, PET
50 e FV 50 encontram-se de acordo com os
dados fornecidos pelo fabricante. O mesmo
prevê deformação inferior ou igual a 6% para o
GCO – PVA 50, inferior ou igual a 12% para o
GCO – PET 50 e inferior ou igual a 3% para o
GCO – FV 50, o que foi verificado tanto nas
(b) amostras virgens, quanto nas amostras
Figura 3 – Curvas obtidas após os ensaios de tração danificadas. Todavia, para resistência à tração
uniaxial: (a) Amostras virgens; (b) Amostras após dano
térmico. após danos de instalação espera-se que haja uma
conservação superior a 90% da resistência

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507
inicial, o que não foi verificado, uma vez que o obra, exumados e tiveram suas propriedades
GCO – PVA 50 manteve 85% da resistência mecânicas avaliadas através de ensaios de tração
inicial, o GCO – PET 50 sustentou 81,6% e o uniaxial. Logo, as seguintes conclusões foram
GCO – FV 50 preservou 78,9%. Logo, pode-se tiradas com base nos resultados apresentados:
considerar um comportamento insatisfatório • Constatou-se que todos os geossintéticos foram
comparado ao que foi previsto pelo fabricante. afetados pela alta temperatura do concreto
Na Tabela 1 encontram-se os fatores de asfáltico, gerando uma diminuição na
redução referente a cada geossintético após a resistência à tração e também na deformação,
exposição ao dano térmico e os coeficientes de passando a apresentar um comportamento menos
variação. Segundo Koerner (2012), os valores de dúctil após o dano.
fator de redução utilizados para estradas • Com relação às propriedades mecânicas
pavimentadas referentes aos danos de instalação, avaliadas, pode-se afirmar que o GTX W – PP
podem variar de 1,2 a 1,5. Todavia, em obras de apresentou a menor redução porcentual de
pavimentação, os danos ocasionados em resistência à tração inicial após o dano térmico
geossintéticos são térmicos e mecânicos, estes em comparação com os demais geossintéticos,
provocados pela compactação e pelo peso do igual a 9,1%. Em contrapartida, o GCO – PET
maquinário utilizado, geralmente rolos exibiu a maior perda de resistência à tração, com
compactadores, caminhões basculante e vibro- 34,5%, equivalente a 15,8 kN/m. Os demais
acabadoras. Assim, caso os geossintéticos geossintéticos se enquadraram em valores
fossem submetidos a compactação, os fatores de intermediários entre o GTX W – PP e o GCO –
redução poderiam extrapolar o intervalo PET.
sugerido pela literatura, uma vez que alguns dos • Com base nas deformações apresentadas, o
valores obtidos já encontram-se no limite, como GCO – FV 50 apresentou o comportamento mais
é o caso do GCO – PET. frágil, antes e após o dano térmico. Esta conduta
O maior coeficente de variação para a pode ser justificada pelo fato do polímero
força de tração foi 14,1% ligado ao GCO – FV constituinte atribuir uma maior rigidez ao
50, e na a deformação foi 11,3% associada a material. Enquanto isso, os demais
GGR – PET. Estes valores ainda são geossintéticos apresentaram comportamentos
satisfatórios, tendo em vista a quantidade de com maiores deformações, sendo a maior delas
corpos de prova para cada geossintético igual a 6% após o dano, representada pelo GTX
estudado. W – PP.
• Os fatores de redução encontram-se conforme
Tabela 1 - Fatores de redução e coeficientes de variação. os valores dispostos na literatura. Entretanto, foi
Coeficiente de variação
avaliado apenas o dano térmico e, em obras de
Fator de
Geossintético
redução
pavimentação, os geossintéticos estão expostos
Tensão Deformação também ao dano mecânico, o que leva a acreditar
GGR - PET 1,2 14,0% 11,3% que ao final do processo (com a atividade de
GCO - PET 1,5 9,7% 4,9% compactação) os fatores de redução seriam
GTX W - PP 1,1 10,3% maiores que os propostos na literatura.
5,1%
GCO - PVA 50 1,2 7,7% 7,7%
REFERÊNCIAS
GCO - PET 50 1,2 5,0% 8,5%
GCO - FV 50 1,3 14,1% 8,3% ASTM D4533-04: Standard test method for trapezoid
tearing strength of geotextiles. 2009.
CARNEIRO, J. R.; MORAIS, L. M.; MOREIRA, S. P.;
4 CONCLUSÕES LOPES, M. L. Evaluation of the Damages Occurred
During the Installation of Non-Woven Geotextiles.
Neste estudo foi feita uma avaliação do Materials Science Forum Vols. 730-732 :439-444.
dano térmico ao qual os geossintético são 2013.
EN ISO 10319: Geosynthetics – Wide-width tensile test.
expostos em obras de pavimentação, gerado pela
2008.
alta temperatura do CBUQ. Assim, seis EN ISO 12236: Geosynthetics – Static puncture test (CBR
geossintéticos diferentes foram instalados em test). 2006.

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508
EN ISO 11058: Geotextiles and geotextile-related
products – Determination of water permeability
characteristics normal to the plane, without load. 1999.
ESCÓRCIO, F. R. C. Resistência de geossintéticos à
danificação mecânica e abrasão. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, Universidade do Porto, Porto, Portugal. 104
p. 2016.
FERREIRA, J. A. Z. Estudo de reforço de pavimentos com
ensaios de arrancamento em equipamento de pequenas
dimensões. Dissertação de Mestrado, Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,
São Paulo – SP. 114 p. 2007.
GALVÃO, C. F. A. Estudo de geossintéticos sob efeito de
DDI e corte em plano inclinado. Dissertação de
Mestrado, Universidade de Aveiro. 135 p. 2012.
KOERNER, R. M. Designing with Geosynthetics.6th ed.
vol 1.. Bloomington IN, United States, cap. 3.1, p. 401.
2012.
NORAMBUENA-CONTRERAS, J.; GONZALEZ-
TORRE, I; FERNADEZ-ARNAU, D.; LOPEZ-
RIVEROS, C. Mechanical damage evaluation of
geosynthetics fibres used as anti-reflective cracking
systems in asphalt pavements. Construction and
Building Materials 109: 47–54. 2016.
NORAMBUENA-CONTRERAS, J.; BARRAZA, D. Z.;
CASTRO-FRESNO, D.; VEGA-ZAMANILLO, A.
Thermal analysis of geosynthetics used in the
rehabilitation of pavements. Ingeniare, v.17, p. 95-100,
2009.
PAULA, A. M. V. Danificação durante a instalação –
avaliação laboratorial da influência do
comportamento dos geossintéticos. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, Universidade do Porto, Porto, Portugal. 176
p. 2003.

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510
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Danos de instalação causados por resíduo de construção e


demolição reciclado (RCD-R) em geogrelhas – Uma avaliação
qualitativa
Mateus P. Fleury
Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, Brasil, mateusfleury@usp.br

Eder C. G. Santos
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, edersantos@ufg.br

Jefferson L. Silva
Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

RESUMO: Os impactos causados pelos resíduos da indústria da construção civil estimulam a


adoção de técnicas de beneficiamento que tornam os resíduos de construção e demolição reciclados
(RCD-R) atrativos como material de preenchimento em obras geotécnicas. Contudo, para a
utilização do compósito geossintético-RCD-R, faz-se fundamental investigar os danos de instalação
que o material de aterro pode causar ao elemento de reforço. Nesse contexto, este trabalho objetiva
quantificar os danos instalação gerados por RCD-R em dois tipos de geogrelha. Para tanto, foram
simulados os processos construtivos de uma camada de solo reforçado. Uma geogrelha com fibra de
álcool polivinílico (PVA) e uma com fibra de poliéster (PET) foram adotadas como material de
reforço. Investigou-se a influência da altura de lançamento do material e da compactação com rolo
vibratório. Análises visuais foram realizadas em corpos de prova para quantificar os danos de
abrasão, contusão, separação e corte nos elementos longitudinais, transversais e nós. Os resultados
mostraram predominância de danos caracterizados por abrasão seguido de separação e contusão.
Conclui-se que a variabilidade do RCD-R e as distintas características físicas das geogrelhas são
responsáveis pela distinção dos danos verificados em cada geogrelha.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelhas, Danos de instalação, Altura de queda, Compactação, Análise


visual.

ABSTRACT: The impacts caused by construction industry wastes has led to the adoption of
management strategies that promote the use of recycled construction and demolition wastes
(RCDW) in geotechnical works. However, the use of recycled aggregates and geosynthetic
materials must be assessed considering the installation damages that the backfill material (RCDW)
can cause to the polymeric material (geosynthetics). In this way, this paper aims to quantify the
installation damages caused by the RCDW on geogrids. The construction process of geosynthetic
reinforced soil layers was simulated including poly(vinyl) alcohol and polyester geogrids as
reinforced elements. This paper assesses damages caused by RCDW launch (drop height of 0 m, 1
m and 2 m) and vibratory roller compaction. Specimens were taken for visual analysis (optical
microscope STMDLX Stereo Zoom) to quantify damages characterized by abrasion, splitting,
contusion and cut in the longitudinal and transversal ribs as well as the junctions. The results
revealed the preponderance of abrasion damages followed by splitting and contusion, in this order.
It was possible to conclude that the RCDW variability and the geogrids different physical
characteristics affected the individual geogrids damages observed.

KEY WORDS: Geogrids, Installation damages, Drop height, Compaction, Visual analysis.

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511
1 INTRODUÇÃO comparar os danos causados nas faces de
geogrelhas.
O desenvolvimento da indústria da construção
civil (ICC) nas últimas décadas atrelado a uma
gestão ineficiente dos materiais de construção 2 MATERIAIS E MÉTODOS
têm causado problemas ambientais decorrentes
da elevada geração dos resíduos. Nesse âmbito, Para atingir os objetivos propostos neste estudo,
estratégias de gestão começaram a ser foram simulados os processos construtivos de
implantadas para reduzir, reutilizar, reciclar, uma camada de ESR com geossintético. Um
comportar, incinerar e aterrar os chamados tipo de RCD-R foi adotado como material de
‘resíduos de construção e demolição’ (RCD) preenchimento e diferentes geogrelhas como
com o objetivo de diminuir a problemática da elementos de reforço. A partir da simulação de
geração desses resíduos (Peng et al., 1997). dois condicionantes de dano (altura de queda e
No que se trata da reciclagem, diversos compactação), foi possível avaliar os seus
autores estudaram a aplicação dos materiais efeitos isolado e em conjunto.
beneficiados - os chamados ‘resíduos de
construção e demolição reciclados (RCD-R)’ 2.1 Materiais
em obras geotécnicas, como, por exemplo, em
estrutura de solo reforçado (Santos, 2007; Este estudo empregou duas geogrelhas
Santos et al., 2009; Santos et al., 2010; Vieira & unidirecionais (Figura 1): i) uma com
Pereira, 2016). Neste contexto, é importante filamentos de álcool polivinílico (PVA) e ii)
avaliar o comportamento do material não outra de poliéster (PET). Segundo o fabricante,
somente de forma isolada, mas sim em conjunto a geogrelha de PVA possui resistência à tração
com os demais materiais utilizados nas obras. na ruptura ( ) igual a 35 kN/m, rigidez
Diante disso, a utilização desse material em secante com 2% de deformação ( ) igual a
estruturas de solo reforçado (ESR) com 400 kN/m e abertura da malha de 25 x 35 mm
geossintético deve levar em consideração os (transversal e longitudinal, respectivamente). Já
danos causados pelo material de preenchimento a geogrelha de PET possui o mesmo valor de
ao reforço polimérico. Diversos estudos (Santos que a geogrelha de PVA (35 kN/m),
et al., 2012; Barbosa & Santos (2013), Vieira & apresenta igual a 550 kN/m e uma
Pereira, 2015; Barbosa et al., 2016, Fleury, abertura da malha de 25 x 25 mm. Ambas as
2018) quantificaram a diminuição de resistência geogrelhas são utilizadas em ESR com
de materiais geossintéticos devido aos danos geossintéticos.
causados por agregados reciclados durante a
instalação. Contudo, apesar da perda de
resistência imediata característica desse tipo de
dano, a possível exposição das fibras facilitaria
a degradação química do material polimérico,
comprometendo ainda mais a sua
funcionalidade (Duvall 1994, Santos, 2011).
Desse modo, além da determinação dos
fatores de redução de resistência dos materiais
poliméricos, faz-se necessário analisar
qualitativamente os danos gerados por essas
atividades.
Mediante ao exposto, este estudo objetiva i)
avaliar qualitativamente os danos de instalação
causados pelo lançamento e compactação de
RCD-R em geogrelhas; ii) comparar os danos Figura 1. Geogrelhas empregadas no estudo: (a) com
causados pela ação isolada e pela ação conjunta filamentos de álcool polivinílico (PVA) e (b) com
dos condicionantes de dano analisados; e iii) filamentos de poliéster (PET).

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512
O RCD-R utilizado neste estudo foi numa instalação experimental que possui uma
fornecido por uma usina de beneficiamento área útil de 31,2 m² (3,90 m no sentido
localizada em Aparecida de Goiânia-GO. transversal e 8,00 m no sentido longitudinal).
Informações adicionais sobre a usina e os
procedimentos de reciclagem podem ser
consultados em Fleury et al. (2017). As
características geotécnicas do RCD-R são
apresentadas nas Tabelas 1 e 2 e na Figura 2.
Observa-se que o material apresenta potencial
para aplicação em ESR com geossintéticos
tendo em vista que atende às faixas
granulométricas preconizadas pela FHWA
(2010), NCMA (2010) e BSI (2010). Figura 3. Instalação experimental – modificado pelo autor
(Fleury, 2018).
Tabela 1. Características geotécnicas do RCD-R.
Peso específico dos grãos (γ) 27,18 kN/m² Inicialmente, compactou-se uma camada de
Classificação SUCS(a) SP-SM(b) RCD-R (100 mm de espessura) acima de uma
Índice de Plasticidade Não plástico base de concreto (Figura 4a). Essa primeira
Peso específico seco máximo (γd_máx) (c) 17,65 kN/m²
camada foi nomeada ‘camada de RCD-R
Umidade ótima (wótima)(c) 15,4%
(a)
Sistema Unificado de Classificação de Solos inferior’. Acima desta foram posicionadas
(ASTM D 2487 (ASTM, 2006)); amostras de geogrelhas (3,90 m, na direção
(b)
Areia mal graduada com silte; transversal, por 1,10 m, na direção longitudinal;
(c)
Energia Proctor normal; conforme apresentado na Figura 4b). Para cada
terço de amostra na direção transversal, ou seja,
Tabela 2. Materiais constituintes do RCD-R. a cada 1,30 m, foi lançado RCD-R de distintas
Solo(a) 58,97 %
Concreto 27,27 %
alturas de queda: 0 m (H0), 1 m (H1) e 2 m
Argamassa 9,24 % (H2; conforme apresentado na Figura 4c) com
Cerâmica 2,25 % auxílio de uma mini retroescavadeira. Em
Cerâmica polida 1,05 % seguida, o material lançado foi compactado de
Outros 1,22 % modo a ter uma camada de 200 mm de RCD-R
(a)
Material passante na peneira de 4,76 mm;
(Figura 4d), a qual foi nomeada ‘camada de
RCD-R superior’.
Preservou-se um trecho não compactado (N)
para verificar a influência da altura de queda
nos danos de instalação. Nos trechos
compactados buscou-se avaliar os danos
causados pelos métodos de compactação e pela
altura de queda
As camadas de RCD-R inferior e superior
foram compactadas com seis passadas de rolo
vibratório (massa operacional de 1400 kg; 900
mm de comprimento). Ao final desses
processos, verificou-se, por meio de ensaios de
frasco de areia, um grau de compactação igual a
Figura 2. Distribuição granulométrica do RCD-R em 89% da energia Proctor normal.
estudo – modificado pelo autor (FHWA, 2010; NCMA Por meio deste programa experimental, 12
2010; BSI, 2010). configurações de ensaios foram avaliadas
considerando distintas alturas de queda e a
2.2 Métodos realização ou não do processo de compactação.
A Tabela 3 apresenta a nomenclatura adotada
A simulação do processo construtivo da camada para cada configuração de ensaio. Tomando
de uma ESR com geossintéticos foi realizado

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513
Figura 5. Região das amostras de geogrelha cortada para
obtenção do corpo de prova para análise microscópica.

diferenciada devido à exposição das fibras;


Figura 4. Sequência construtiva da camada de solo  Separação: divisão ou segmentação do
reforçado: (a) compactação da camada de RCD-R inferior elemento analisado em dois ou mais
(100 mm), (b) posicionamento das amostras de elementos;
geogrelhas, (c) preenchimento da instalação com o  Contusão: elementos que sofreram danos
procedimento de lançamento com distintas alturas de
queda, e (d) compactação da camada de RCD-R superior
pontuais e apresentam-se esmagados ou
(200 mm). achatados; e
 Corte: elemento rompido completamente.
Tabela 3. Nomenclaturas das configurações de ensaio.
PVA-H0-N PET-H0-N Os quatro tipos de danos caracterizados
PVA-H1-N PET-H1-N anteriormente foram avaliados nas duas
PVA-H2-N PET-H2-N
PVA-H0-C PET-H0-C
interfaces da geogrelha. A face ‘A’ refere-se à
PVA-H1-C PET-H1-C região da geogrelha em contato com a camada
PVA-H2-C PET-H2-C de RCD-R superior, enquanto a face ‘B’ remete
ao contato entre a geogrelha e camada de RCD-
como exemplo a configuração PET-H0-C, esta R inferior. Em cada face, verificou-se a
refere-se à configuração de ensaio com ocorrência dos danos em cada elemento da
geogrelha de poliéster (PET), altura de queda de geogrelha separadamente, ou seja, nos
zero metros (H0) e com compactação (C) da elementos longitudinais, transversais e nos nós
camada de RCD-R superior. (encontro entre elementos longitudinais e
Após o processo executivo e a aferição do transversais).
grau de compactação da camada de RCD-R Os danos foram quantificados pela razão
superior, as amostras de geogrelha foram (percentual) entre a quantidade de elementos
exumadas com auxílio de pá e enxada. A região que apresentaram dano ( ) e a quantidade de
central da amostra com 100 cm² (Figura 5) foi elementos totais analisados ( ) na área
cortada para realização de uma investigação analisada. Os cálculos de danos foram
visual empregando-se um microscópio óptico realizados com a Equação 1.
(STMDLX StereoZoon), de modo a avaliar a
ocorrência de danos. Os danos foram (1)
categorizados da seguinte forma:
No caso de um mesmo elemento apresentar
 Abrasão: diminuição da espessura do vários danos da mesma categoria, computou-se
revestimento; pode apresentar coloração apenas uma unidade de elemento com dano. Já

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514
quando um mesmo elemento apresentou duas 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
ou mais categorias de dano distintas, atribuiu-se
uma unidade para cada categoria de dano. Os resultados da análise visual em ambas as
Na geogrelha de PVA foram analisadas, para faces (A e B) dos corpos de prova obtidos a
cada configuração de ensaio, 9 unidades de partir das amostras de geogrelhas submetidas
cada elemento (longitudinal, transversal e nó); aos as diferentes configurações de ensaio estão
enquanto que para a geogrelha de PET, devido apresentadas, em termos percentuais, nas
sua menor abertura (Figura 1), avaliou-se 12 Tabelas 3 e 4 (primeira referente à geogrelha de
unidades de cada elemento. Assim, supondo PVA e a segunda à geogrelha de PET).
que o cenário PET-H0-C apresentou 6 fibras De maneira geral os resultados apontam
longitudinais com dano caracterizado por incidência principal de danos caracterizados por
abrasão, conclui-se que 50% (6/12) dos abrasão, independentemente do tipo de
elementos longitudinais do cenário elemento analisado (longitudinal, transversal ou
apresentaram danos de abrasão. nó). Resultados semelhantes foram reportados
por Austin (1997), Richardson (1998), Cho

Tabela 3. Danos (em porcentagem) nas faces A e B da geogrelha PVA, obtidos a partir da análise visual.
Configuração Elementos longitudinais Elementos transversais Nós
de ensaio Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação
Face A
PVA-H0-N 0 0 0 17 0 0 11 0 0
PVA-H1-N 11 0 22 33 0 0 0 11 0
PVA-H2-N 11 0 0 39 0 0 11 0 0
PVA-H0-C 22 0 11 11 11 0 11 0 0
PVA-H1-C 22 11 11 11 0 0 22 0 0
PVA-H2-C 11 11 11 22 0 0 0 0 0
Face B
PVA-H0-N 11 0 0 17 0 0 11 0 0
PVA-H1-N 11 0 22 22 0 0 11 0 0
PVA-H2-N 6 0 0 22 0 0 0 0 0
PVA-H0-C 39 0 11 39 0 0 22 0 0
PVA-H1-C 22 11 11 11 0 0 0 0 0
PVA-H2-C 11 22 11 22 0 0 33 11 0
Notas: PVA, geogrelha de álcool polivinílico; PET, geogrelha de poliéster; H0, altura de queda de zero metro; H1,
altura de queda de 1,0 m; H2, altura de queda de 2,0 m; N, não compactação da camada de RCD-R superior; C,
compactação da camada de RCD-R superior.

Tabela 4. Danos (em porcentagem) nas faces A e B da geogrelha de PET, obtidos a partir da análise visual.
Configuração Elementos longitudinais Elementos transversais Nós
de ensaio Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação Abrasão Contusão Separação
Face A
PET-H0-N 13 0 0 25 0 0 8 8 0
PET-H1-N 0 0 0 42 0 0 8 0 0
PET-H2-N 8 0 0 17 0 0 17 17 0
PET-H0-C 8 0 0 17 0 0 8 0 0
PET-H1-C 17 8 0 38 0 8 17 0 0
PET-H2-C 0 0 0 25 8 0 8 0 0
Face B
PET-H0-N 17 8 0 33 0 0 33 8 0
PET-H1-N 8 17 0 25 0 0 17 0 0
PET-H2-N 17 0 0 25 0 0 25 0 0
PET-H0-C 17 8 0 33 8 0 25 0 0
PET-H1-C 8 17 0 21 0 8 0 0 0
PET-H2-C 25 8 0 29 0 0 25 8 0
Nota: PVA, geogrelha de álcool polivinílico; PET, geogrelha de poliéster; H0, altura de queda de zero metro; H1,
altura de queda de 1,0 m; H2, altura de queda de 2,0 m; N, não compactação da camada de RCD-R superior; C,
compactação da camada de RCD-R superior.

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515
et al. (2006), Lim & McCartney (2013) e verifica-se que a geogrelha de PET é menos
Rosete et al. (2013). Portando, nesta análise de resistente aos danos de instalação em
resultados dar-se-á foco aos danos de abrasão. comparação com a geogrelha de PVA, pois o
Quando aos demais tipos de danos simples contato da geogrelha com o material de
analisados, nota-se que os danos caracterizados preenchimento (RCD-R) propiciou danos.
por contusão e separação foram mais incidentes Analisando cada geogrelha isoladamente,
nos elementos longitudinais se comparado aos verificou-se que ambas faces (A e B)
elementos transversais e nós. Não foram apresentaram percentuais de elementos
observados danos de corte em nenhum tipo de danificados semelhantes. A pequena variação
elemento analisado, razão pela a qual ocultou-se dos percentuais encontrados nas faces A e B
estes resultados nas Tabelas 3 e 4. pode estar associado a variabilidade do material
A seguir serão analisadas, separadamente, a de preenchimento (RCD-R). Deste modo, esse
influência da i) altura de queda, ii) compactação resultado revela que os danos foram causados
e iii) ação conjunta da altura de queda e não somente pela camada de material acima da
compactação nos danos visuais causados pela geogrelha, mas também pela situada abaixo.
simulação do processo construtivo de ESR.
3.2 Compactação
3.1 Altura de Queda
No caso da geogrelha de PVA, observou-se que
Para avaliar a influência da altura de queda, as faces A e B apresentaram maiores
buscou-se comparar as configurações de ensaio percentuais de danos de abrasão nos elementos
que não apresentaram compactação. longitudinais com a compactação da camada. Já
Observou-se a maior ocorrência, em ambas no caso dos elementos transversais e nós, as
geogrelhas, de danos caracterizados por abrasão faces A e B apresentam resultados opostos. Na
nos elementos transversais comparados com os face A, os percentuais de danos de abrasão
demais elementos. Nota-se que, no geral, a causados devido à compactação foram iguais ou
quantidade de danos por abrasão que ocorreram inferiores se comparado ao cenário sem
na geogrelha de PET foram superiores aos que compactação. Já na face B, verificou-se maiores
ocorreram na geogrelha de PVA. percentuais de danos com a compactação da
Verificou-se que a menor altura de camada.
lançamento possível (aqui referida como altura No caso da geogrelha de PET, observou-se
de zero metro – H0) foi responsável por causar que os percentuais de dano de abrasão causados
danos visuais às geogrelhas, porém, para pela compactação foram, em todos os elementos
maiores alturas queda (H1 e H2), a quantidade analisados (longitudinais, transversais e nós) e
de elementos com danos de abrasão foi maior. em ambas faces (A e B), iguais ou inferiores
Contudo, vale ressaltar que o aumento da altura aos percentuais de dano identificados no
de queda não causou um aumento proporcional cenário sem compactação.
dos danos visuais. Por outro lado, a geogrelha de PVA
Notou-se que, na geogrelha de PVA, ambas apresentou percentuais superiores de danos de
faces (A e B) apresentaram maior quantidade de abrasão causados pela compactação na face B.
danos caracterizados por abrasão para as alturas Esse resultado revela que o processo de
de queda de 1,0 m (H1) e 2,0 m (H2) se compactação causou mais danos de abrasão na
comparada ao cenário sem altura de queda. geogrelha de PVA devido ao contato da
Contudo, verificou-se menor quantidade de geogrelha com a camada inferior, o que reforça
danos de abrasão ocorreu na face B. a importância de avaliar os danos causados
Já no caso da geogrelha de PET, verificou-se nessa interface (geogrelha-camada inferior).
que o cenário sem altura de queda causou maior Apesar da variabilidade inerente do material
quantidade de dano de abrasão se comparado de preenchimento (RCD-R), acredita-se que a
aos cenários com alturas de queda de 1,0 m diferença nos resultados encontrados em cada
(H1) e 2,0 m (H2) (com exceção do cenário geogrelha (PVA e PET) pode ser relacionada a
PET-H1-N na interface A). Diante disso, diferença entre suas características físicas,

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516
como: área sólida em planta, espessura dos  Houve uma predominância de danos de
elementos e polímero constituinte). abrasão em todos os elementos analisados,
seguido por danos de separação e de
3.3 Ação Conjunta da Altura de Queda e contusão, nesta ordem. Não forma
Compactação observados danos de corte nos cenários
investigados;
Na geogrelha de PVA, notou-se que os danos de  O aumento da altura de queda não propiciou
abrasão, separação e contusão apresentaram aumento proporcional dos danos
percentuais semelhantes nas duas faces (A e B) investigados;
quando analisados os elementos longitudinais e  Os danos causados pela ação de
transversais. No caso dos nós, os percentuais de compactação na interface entre a geogrelha
dano observados nas faces A e B foram muito de PVA e a camada de RCD-R inferior
diferentes. Ressalta-se que em ambas faces foi foram superiores em relação aos danos
observado que as ações conjuntas dos danos causados na interface entre a mesma
(lançamento e compactação) causaram geogrelha e a camada de RCD-R superior.
percentuais de danos de separação e de Contudo, não foi observado o mesmo
contusão inferiores aos percentuais dos cenários comportamento para a geogrelha de PET;
sem a ação conjunta dos danos.  Na maioria dos elementos investigados, o
No caso da geogrelha de PET, verificou-se cenário com ação conjunta dos danos (altura
que, em ambas faces, a ação conjunta dos danos de queda e compactação) causaram menor
causou, nos nós da geogrelha, danos de abrasão quantidade de dano se comparada
em percentuais iguais ou inferiores aos isoladamente a ação de cada condicionante;
causados pela ação individual da compactação  Os percentuais de danos quantificados em
ou da altura de queda. Já no caso dos demais cada geogrelha foram próximos nas duas
elementos (longitudinais e transversais), faces. Contudo, as duas geogrelhas não
verificou-se que a ação conjunta causou apresentaram, para uma mesma configuração
pequenas modificações nos percentuais de dano de ensaio, percentuais de dano semelhantes.
verificados em ambas as faces, porém sem um A divergência dos resultados encontrados
comportamento claro, dificultando a obtenção para cada geogrelha pode ser relacionada a
de uma conclusão. variabilidade do material de preenchimento
A dificuldade da obtenção de correlações (RCD-R) e pela diferença entre as
entre os cenários e os dados observados reitera características físicas das geogrelhas.
a complexidade que cerca os danos causados às
geogrelhas, tendo em vista que estão
relacionados a fatores ligados às características AGRADECIMENTOS
físicas da geogrelha e do material de
preenchimento. Contudo, os danos ocasionados Os autores agradecem ao CNPq, pela bolsa
pelo lançamento e pela compactação do RCD-R concedida ao primeiro autor durante do seu
mostraram-se dentro do esperado e não mestrado (PPG-GECON). Os agradecimentos
inviabilizaria a utilização desse novo material são estendidos ao Laboratório de Geotecnia
de preenchimento. (LabGEO) da Universidade Federal de Goiás
(UFG), ao Laboratório de Geossintéticos da
Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-
4 CONCLUSÃO USP) e à empresa Renove Gestão e Solução em
Resíduos Ltda. (RNV Resíduos) por todo o
Por meio da simulação dos processos apoio dado para a realização deste estudo.
construtivos (lançamento e compactação) de
uma camada de ESR composta por RCD-R e
geogrelhas, foram investigados os danos por REFERÊNCIAS
meio de uma análise visual. Com os resultados
apresentados neste estudo, conclui-se: American Society for Testing and Material – ASTM

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

517
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REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

518
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da Compressibilidade do Poliestireno Expandido após


Exposição a Hidrocarboneto e Intempéries
Mozart Mariano Carneiro Neto
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mozartmcneto@gmail.com

Mariana Basolli Borsatto


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, brunamalaghini@outlook.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: A compressibilidade do poliestireno expandido (EPS) é uma propriedade importante na


avaliação das demais propriedades deste material tendo em vista que está diretamente ligada à sua
caracterização bem como ao seu comportamento reológico. Além disso, a utilização do EPS na
prática requer cuidados especiais como a impermeabilização e a exposição prolongada a agentes
intempéricos. Assim, este trabalho avaliou o efeito que a exposição a hidrocarboneto (gasolina) e à
intempérie geram na compressibilidade do EPS utilizando ensaios de compressão uniaxial. As
amostras contemplaram massas específicas de 10, 14,5, 18, 28 e 33,5 kg/m³. Assim, foi possível
verificar-se o quanto esta propriedade é afetada no processo de degradação do material. Após
exposição ao vapor de hidrocarboneto, algumas amostras apresentaram alteração de suas dimensões
devido ao processo degradativo. Notou-se que a exposição provocou oscilações nos valores obtidos.
Portanto, esses resultados devem ser analisados com cautela, pois sugerem aumento nos valores de
resistência em determinados casos. Em relação às amostras intactas, ao final do período de
exposição ao vapor de gasolina, as amostras com massa específica de 18 kg/m³ apresentaram um
aumento de resistência em torno de 20%, enquanto que as amostras com os demais valores de
massa específica apresentaram aumento de resistência em torno de 40%. Ao final do período de
exposição à intempérie, as de massa específica 10, 14,5 e 18 kg/m³ apresentaram redução da
resistência em 20%, 2% e 15%, e as de 28 e 33,5 kg/m³ apresentaram aumento de resistência da
ordem de 20% e 15% respectivamente.

PALAVRAS-CHAVE: Degradação, Poliestireno Expandido, Solventes, Compressibilidade.

ABSTRACT: The compressibility of expanded polystyrene (EPS) is an important property in the


other properties evaluation of this material because it is directly linked to its characterization as well
as its rheological behavior. In addition, the use of EPS in practice requires special care such as
waterproofing and larger exposure to weathering agents. Thus, this study evaluated the effect of
exposure to hydrocarbons (gasoline) and weathering on the compressibility of EPS using uniaxial
compression tests. The samples included specific masses of 10, 14.5, 18, 28 and 33.5 kg/m³. Thus,
it was possible to verify how much this property is affected in the material degradation process.
After exposure to gasoline vapor, some samples presented a change in their size due to the
degradation process. It was noted that the exposure caused oscillations in the values obtained.
Therefore, these results should be analyzed with caution, since they suggest an increase in

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

519
resistance values in certain cases. Regarding the intact samples, at the end of the period of exposure
to gasoline, samples with a specific mass of 18 kg / m³ presented a resistance increase of around
20%, while the samples with another values of specific mass presented increased resistance around
40%. At the end of the exposure period, those with a specific mass of 10, 14.5 and 18 kg / m³
presented resistance reduction in 20%, 2% and 15%, and those of 28 and 33.5 kg / m³ showed
increase of resistance of the order of 20% and 15% respectively.

KEY WORDS: Degradation, Expanded Polystyrene, Solvent, Compressibility

1 INTRODUÇÃO a 11 MPa). Sua escolha deve levar em conta o


tipo de aterro e as cargas móveis atuantes. Por
O poliestireno expandido (EPS) é um caso ser um plástico inerte, não-biodegradável, não
particular de geossintético cujo nome comercial dissolvível, não possui valores nutritivos
ganhou destaque como “isopor”. Esse para abrigar microorganismos e outros animais
geossintético, também chamado de e não é quimicamente afetado no contato com
geoexpandido, apresenta três dimensões e tem o solo e a água (BASF, 1990; 1991).
sido utilizado em diversas aplicações Suas propriedades sugerem que, se
geotécnicas cujo uso primário pode ser: corretamente aplicado, pode apresentar um
construção de estradas sobre solos com baixa desempenho adequado ao longo da vida útil da
capacidade de suporte, alargamento de obra. As principais desvantagens são a
rodovias, aterros leves de encontros de fragilidade a solventes (degradação química) e
pontes/viadutos e de aterros ferroviários, o alto custo que pode inviabilizar o projeto.
proteção de tubulações, oleodutos, pontões e Em qualquer aplicação, deve ser evitada a
estruturas enterradas, paisagismo e telhados radiação solar direta, bem como outros tipos
verdes, estabilização de taludes, de radiações ricas em energia que deterioram o
assentos/arquibancadas em estádios e teatros, EPS (sofre um amarelecimento) por alterarem
barragens, aeroportos e pistas para taxiamento a sua estrutura química.
em geral bem como outras aplicações Assim, objetivando-se aumentar a
especializadas (Vaslestad, 1990; Roh et al., confiabilidade na utilização do EPS em obras
2000; Yang & Yongxing, 2005; Zhang et al., como as anteriormente citadas e a falta de
2006; Kang et al. 2007; Avesani Neto, 2008; resultados que abordam seu comportamento
Mcguigan and Valsangkar, 2010; Jafari, 2010; frente a agentes nocivos, este trabalho teve o
Frydenlund, 2017). intuito de avaliar o comportamento do ponto de
A utilização de geoexpandidos data de 1960 vista da compressibilidade uniaxial do material
quando o laboratório de Pesquisas de estradas quando exposto a intempéries e vapor de
da Noruega passou a utilizar o material para gasolina.
construção em aterros sobre solos moles. Desde
então, o EPS tornou-se uma opção interessante
para diversas utilizações geotécnicas (Trandafir 2 MATERIAL E MÉTODOS
et al. 2010).
A ideia principal de sua utilização é a de se Foram utilizados três corpos de prova de
introduzir materiais leves no corpo do aterro de dimensão cúbica com arestas de 100 mm para
modo a reduzir a magnitude dos recalques. cada uma das 5 massas específicas distintas (10,
Outra vantagem é a rapidez de execução da 14,5, 18, 28 e 33,5 kg/m3), sendo que estes já
obra. O EPS é muito utilizado em obras vieram cortados nas dimensões necessárias para
geotécnicas, pois comparado a outros materiais a realização dos ensaios e foram mantidos à
possui o menor peso específico (0,15 a 0,3 temperatura de 23º C no laboratório, conforme
kN/m3 – 15 a 30 kg/m3) e combina alta prescreve a ASTM D1621 – 2000, que está
resistência (70 a 250 kPa) e baixa cancelada e sem substituição.
compressibilidade (módulo de elasticidade de 1

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

520
2.1. Exposição ao Vapor de Hidrocarboneto A Figura 2 ilustra o procedimento descrito
(Gasolina) para exposição dos corpos de prova.

Os corpos de prova foram suspensos por arame


de aço inoxidável, dispostos em varais paralelos
em um recipiente com gasolina. Para evitar a
liberação do vapor de gasolina ao meio externo
vedou-se a abertura superior do recipiente com
um plástico impermeável.
O recipiente contendo a gasolina possui Figura 2. Corpos de prova expostos a imtempéries.
medidas aproximadas de 100 cm de
comprimento, 60 cm de largura e 60 cm de 2.2. Ensaio de Compressão
altura. Foi colocada gasolina dentro do
recipiente até que esta ficasse com 4 cm de O ensaio de compressão uniaxial, normatizado
espessura e posteriormente os corpos de prova pela ASTM 1621 – 2000, foi realizado em uma
foram fixados a uma distância de 15 cm da máquina universal de ensaios da marca EMIC,
superfície da gasolina. Essa altura foi fixada de com capacidade de 30 kN. Foi utilizada a
modo a garantir que o vapor de gasolina velocidade de execução do ensaio de 50
entrasse em contato com toda a superfície dos mm/min conforme especificado pela norma.
corpos de prova. A Figura 1 ilustra o O equipamento foi ajustado para conduzir os
procedimento descrito. corpos de prova a uma deformação limite de
O período de exposição foi de um mês, 40%, de forma a permitir a caracterização da
sendo que ensaios foram realizados após 7, 14 e curva de deformação do material e visualização
30 dias. do ponto de escoamento.
A Figura 3 mostra o equipamento utilizado
nos ensaios.

Figura 1. Corpos de prova expostos ao vapor de gasolina.

2.2. Exposição às Intempéries

Os corpos de prova foram colocados em um


espaço aberto dentro da Faculdade de
Engenharia de Bauru (FEB/UNESP), próximo
ao laboratório de geotecnia.
As estruturas utilizadas para ancoragem
foram às mesmas utilizadas para a exposição de Figura 3. Equipamento utilizada nos ensaios de
placas de geomembranas à intempérie. A compressão uniaxial.
orientação destas estruturas é de 45 graus em
relação ao eixo leste-oeste e os corpos de prova
estão pendurados na vertical, em varais 3 RESULTADOS
instalados entre as estruturas.
O período de exposição foi de um mês e Após ensaiar amostras intactas e amostras
meio, sendo que os ensaios foram realizados expostas de acordo com os procedimentos
após 14, 30 e 45 dias. anteriormente citados, os resultados foram

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

521
analisados e apresentados em formato de 3.2. Exposição às Intempéries
tabelas. A Tabela 1 apresenta os valores
relativos ao ensaio de compressão uniaxial para
as amostras intactas. As Tabelas 5, 6 e 7 apresentam,
respectivamente, os valores referentes aos
Tabela 1. Valores relativos às amostras intactas ensaios realizados após 14, 30 e 45 dias de
Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final exposição dos corpos de prova às intempéries.
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
10 38,62 3,76 1025,8 86,03 31,7
14,5 56,28 3,29 1710,4 106,60 33,41 Tabela 5. Amostras expostas (14 dias)
18 99,31 3,76 2637,9 161,10 31,06 Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
28 151,72 4,00 3793,1 230,80 31,53
10 26,22 2,82 1078,4 61,43 40,44
33,5 182,07 3,76 4836,2 269,90 31,81
14,5 52,86 4,0 1973,2 108,57 41,6
σ esc = tensão obtida no escoamento; ɛ esc = deformação
específica no escoamento; E tang = módulo de elasticidade 18 83,66 4,07 2303,1 141,43 41,75
tangente ou inicial; σ final = tensão obtida ao final do 28 174,88 4,15 4250,8 262,86 42,09
ensaio; ɛ final = deformação específica ao final do ensaio. 33,5 191,67 4,00 8510,6 320,00 41,20

3.1. Exposição ao Vapor de Gasolina


Tabela 6. Amostras expostas (30 dias)
As Tabelas 2, 3 e 4 apresentam, Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final
respectivamente, os valores referentes aos (kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
ensaios realizados após 7, 14 e 30 dias de 10 30,86 5,12 1021,2 70,29 40,3
exposição dos corpos de prova ao vapor de 14,5 60,07 6,08 1951,6 110,82 40,6
gasolina. 18 80,57 4,5 2815,0 138,86 41,17
28 163,43 5,88 6226,4 264,00 42,5
Tabela 2. Amostras expostas (07 dias)
33,5 200,00 4,94 8510,6 320,00 41,49
Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
10 31,57 5,33 902,0 75,46 31,74 Tabela 7. Amostras expostas (45 dias)
14,5 62,86 4,63 986,4 117,1 41,02 Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final
18 80 5,73 1928, 132,8 41,10 (kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
28 176,19 4,85 5503,8 282,8 42,43 10 26,71 4,39 956,9 69,93 39,3
33,5 200 5,65 6475,1 308,5 40,47 14,5 55 6,04 1611 104,0 41,3
18 75 4,77 3026 134,5 42,9
Tabela 3. Amostras expostas (14 dias) 28 175 5,22 7438,8 280,0 40,2
Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final 33,5 194,3 4,94 8510,6 308,5 40,6
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%)
10 - - - 69,03 25,57
14,5 - - - 102,84 23,22 Os dados de resistência das amostras intactas
18 - - - 143,13 27,14 e amostras degradadas (considerando-se a
28 - - - 273,51 28,86 deformação final) por vapor de gasolina, aos
33,5 - - - 337,22 28,47 sete, catorze e trinta dias, foram organizados na
Figura 4, de maneira a criar uma relação entre
Tabela 4. Amostras expostas (30 dias) tempo de exposição, massa específica e
Massa específica σ esc. ɛ esc. E tang σ final ɛ final resistência. De forma análoga, os dados de
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%) resistência das amostras intactas e amostras
10 - - - 126,49 27,84 degradadas por ação de intempérie, com
14,5 - - - 146,14 34,82 catorze, trinta e quarenta e cinco dias, foram
18 - - - 184 36,78 organizados na Figura 5, de maneira a criar uma
28 - - - 339,17 47,53 relação entre tempo de exposição, massa
33,5 - - - 388,24 50,43 específica e resistência.

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522
nas tabelas anteriormente apresentadas. A
σ (kPa) Figura 6 ilustra um ensaio de compressão
400 uniaxial onde é possível notar-se que a base da
350 amostra apresenta grande redução de suas
300 dimensões em relação ao restante.
250
200
150
100
50
0
Intactas 7 dias 14 dias 30 dias

10 kg/m³ 14,5 kg/m³ 18 kg/m³


28 kg/m³ 33,5 kg/m³

Figura 4. Resistência das mostras degradadas por vapor


de gasolina.

σ (kPa)
Figura 6. Amostra degrada com vapor de gasolina.
350
300 Já os corpos de prova sujeitos à ação de
250 intempéries, ao final do período de exposição
200 apresentaram amarelamento (conforme a Figura
150 7) e um incremento de rigidez, tornando-se
100 quebradiços.
50
0
Intactas 14 dias 30 dias 45 dias

10 kg/m³ 14,5 kg/m³ 18 kg/m³


28 kg/m³ 33,5 kg/m³

Figura 5. Resistência das mostras degradadas por


intempérie.

Figura 7. Final do período de exposição às intempéries.


4 DISCUSSÃO
Avaliando-se a Figura 4, pode-se notar que a
Finalizado o período de exposição dos corpos massa específica influencia no valor de
de prova, notou-se que aqueles que ficaram resistência das amostras intactas de maneira
sujeitos à ação de vapor de gasolina diretamente proporcional.
apresentaram variação de suas dimensões, de O processo de degradação por vapor de
maneira significativa, inclusive gasolina apresentou variação nos valores de
impossibilitando que ensaios de outra natureza resistência para diferentes massas específicas,
pudessem ser executados. porém notou-se uma semelhança ao final dos
Os ensaios realizados com corpos de prova trinta dias, onde independente da massa
expostos ao vapor de gasolina durante duas específica, o valor da resistência aumentou em
semanas e um mês apresentaram um gráfico relação às amostras intactas. Pode-se aliar isso
sem patamares bem definidos, impossibilitando ao fato de que o solvente altera a composição
a obtenção de valores relativos ao escoamento química e a microestrutura do material.
do material, daí explica-se a ausência de valores Quantificando esses valores, pode-se dizer

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523
que em relação às amostras intactas, ao final do desprendimento de partículas, o que também
período de exposição ao vapor de gasolina, as pode afetar sua funcionalidade e atrito entre
amostras com massa específica de 18 kg/m³ peças adjacentes.
apresentaram um aumento de resistência em Vale ressaltar que futuros trabalhos
torno de 20%, enquanto que as amostras com os poderiam considerar um período de exposição
demais valores de massa específica maior aos agentes nocivos, de forma a sanar
apresentaram aumento de resistência em torno algumas disparidades detectadas neste trabalho,
de 40%. como aumento e decréscimo de resistência para
No entanto, nesse caso, é importante ter-se amostras sujeitas ao intemperismo.
cuidado na avaliação desses parâmetros. Do
fato de que o vapor de gasolina altera
significativamente o material a ponto de alterar 5 CONCLUSÃO
e derreter algumas amostras e que os principais
parâmetros de projeto são obtidos na fase Os processos de exposição afetaram de forma
elástica (para níveis de deformação de até 5%), distinta as densidades de EPS. Nota-se que as
os valores mostrados na Figura 4 servem apenas densidades maiores apresentam uma tolerância
para comparação do efeito degradativo maior aos processos degradativos.
considerando-se uma deformação elevada de De forma geral, a ação do vapor de gasolina
40%. Deve ficar claro, portanto, que esses afetou mais significativamente o EPS chegando
valores obtidos servem apenas para essa a derreter algumas amostras e alterar suas
pesquisa não podendo ser de utilização para dimensões o que afeta diretamente a interface
projetos e/ou algo semelhante. Além disso, seria de contato entre peças adjacentes. O processo
interessante reproduzir o experimento para de intemperismo afetou o material de forma
aprofundar-se o estudo do efeito do vapor de distinta causando amarelecimento e
gasolina no EPS. desprendimento de partículas.
Em relação à Figura 5, nota-se que ao final
do período de exposição à intempérie, em
relação às amostras intactas, as de massa AGRADECIMENTOS
específica 10, 14,5 e 18 kg/m³ apresentaram
redução da resistência em 20%, 2% e 15%, e as Os autores agradecem à Fundação de amparo e
de 28 e 33,5 kg/m³ apresentaram aumento de à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
resistência da ordem de 20% e 15% pelo apoio financeiro obtido para a realização
respectivamente. O comportamento esperado da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da
era de que ao longo do tempo essa propriedade Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP e
apresentasse decréscimo em seus valores. No à empresa Termotécnica pelo fornecimento do
entanto, como as amostras foram fornecidas em material.
períodos distintos, é possível que os lotes do
material possam ter apresentado pequenas
diferenças em seus valores. REFERÊNCIAS
De forma geral, pode-se dizer que tanto o
vapor de gasolina quanto intempéries afetaram AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND
MATERIALS. ASTM D1621 – 00 Standard Test Method
de alguma forma a resistência e funcionalidade for Compressive Properties of Rigid Cellular
do material. Plastics.West Conshohocken, 2000.
Quando degradado com vapor de gasolina o AVESANI NETO J. 0. A. Caracterização do
material apresentou aparente ganho de comportamento geotécnico do EPS através de ensaios
resistência axial, entretanto notou-se grande mecânicos e hidráulicos. Dissertação de Mestrado, São
Carlos, SP. 227 p., 2008.
variação de suas dimensões, o que afeta FRYDENLUND, Tor Erik. The Norwegian Public
diretamente a interface de contato entre peças Roads Administration, Directorate of Public Roads.
adjacentes. Roald Aabøe, Head of Geotechnical Section.
Quando degradado por ação de intempéries, <http://www.civil.utah.edu/~bartlett/Geofoam/48a%2020
notou-se enrijecimento do material, e 40%20years%20of%20experience%20final%202011-05-
26.pdf> Acesso em 08 abr, 2017.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

524
JAFARI, H. Mechanical and Hydraulic Behavior of
Geosynthetic Aggregate Drainage Systems and the
Effectiveness of Geofoam as a Compressible Inclusion
over Flexible Pipe. Submitted in Partial Fulfillment Of
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of Memphis, 2010.
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525
526
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliaçao da Resistência ao Cisalhamento de Interface entre


blocos de Poliestireno Expandido Antes e Após Exposição a
Hidrocarboneto e Intempérie
Mozart Mariano Carneiro Neto
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mozartmcneto@gmail.com

Mariana Basolli Borsatto


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, brunamalaghini@outlook.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: Este trabalho avaliou o efeito que a exposição química a hidrocarboneto (gasolina) e a
intempérie causam nos parâmetros de interface entre blocos de poliestireno expandido (EPS),
utilizando ensaios de cisalhamento direto. Foram utilizadas amostras com massas específicas de 10,
14,5, 18, 28 e 33,5 kg/m³. Para os diferentes tempos de exposição e modos de degradação do
material (vapor de gasolina e intempérie), os ensaios foram realizados com tensões aplicadas de 20,
30 e 40 kPa para as amostras de menor densidade (10 kg/m³, 14,5 kg/m³ e 18 kg/m³) e com tensões
aplicadas de 30, 40 e 50 kPa para as amostras de maior densidade (28 kg/m³ e 33,5 kg/m³). Para
exposição ao vapor de gasolina as amostras foram ensaiadas com tempos de exposição de 07, 14 e
30 dias. Para exposição à intempérie as amostras foram ensaiadas com tempo de exposição de 15,
30 e 45 dias. Os resultados mostraram diminuição da máxima tensão alcançada pelos corpos de
prova degradados em vapor de gasolina, comparando-os aos corpos de prova intactos. Já nos corpos
de prova degradados pela intempérie, esse decaimento da máxima tensão alcançada é mais claro
para a massa específica de 10kg/m³. Em termos de parâmetros de resistência, nota-se que os valores
de coesão e de atrito de interface se alteraram para todas as exposições. Apesar da oscilação de
alguns valores, no geral, a tendência de comportamento foi de diminuição da resistência ao
cisalhamento.

PALAVRAS-CHAVE: Degradação, Poliextireno Expandido, Solventes, Cisalhamento Direto.

ABSTRACT: This work has evaluated the effect that chemical exposure to hydrocarbon (gasoline)
and weather causes on interfacing parameters between blocks of expanded polystyrene (EPS) using
direct shear tests. The specific mass tested were: 10, 14.5, 18, 28 and 33.5 kg/m³. For the different
stages exposure and degradation mods of the material (gasoline vapor and weather), tests were
performed applying loads of 20, 30 and 40 kPa for the samples of minor density (10 kg/m³, 14.5
kg/m³ and 18 kg/m³) and loads of 30, 40 and 50 kPa for samples of high density (28 kg/m³ and 33.5
kg/m³). Gasoline exposures samples were tested with exposure times of 7, 14 and 30 days.
Exposure weather samples were evaluated considering exposure time of 15, 30 and 45 days. Results
showed decreased of the maximal tension reached by gasoline vapor degraded samples by
comparing them to intact samples. To the samples degraded by the weather, the decay of maximal

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527
tension is clearer of 10 kg/m³. In terms of resistance parameters, it is noted that the cohesion and
interface friction values changed for all exposures. Despite the oscillation of some values, in
general, the behavior trend was a decrease in shear strength.

KEY WORDS: Degradation, Expanded Polystyrene, Solvents, Direct Shearing.

1 INTRODUÇÃO 2.1. Exposição ao Vapor de Gasolina

Dentro do contexto geotécnico, o poliestireno Os corpos de prova foram suspensos por


expandido (EPS) é conhecido como arame de aço inoxidável, dispostos em varais
geoexpandido e tem sido utilizado em diversas paralelos em um recipiente com gasolina
aplicações, mas principalmente em aterros leves (dimensões de 100 cm de comprimento, 60 cm
de encontros de pontes e viadutos e também na de largura e 60 cm de altura, Figura 1). A
proteção de tubulações e oleodutos. O conceito abertura superior foi vedada para evitar-se a
básico para se utilizá-lo, é inserir um material evaporação da gasolina. Foi fixada uma lâmina
leve no aterro de forma a reduzir o peso do de gasolina de quatro centímetros de espessura
mesmo e consequentemente as deformações e e posteriormente os corpos de prova foram
tensões que chegam a determinada cota de fixados a uma distância de quinze centímetros
interesse. Outra vantagem é a rapidez de da superfície da gasolina. Essa altura foi fixada
execução da obra (Jafari, 2010; Avesani Neto, de modo a garantir que o vapor de gasolina
2008; Stark et al., 2012; Bartlett et al., 2015; entrasse em contato com toda a superfície dos
Borsatto, 2016). corpos de prova. O período de exposição foi de
Tendo em vista que grande parte das obras um mês, sendo que ensaios foram feitos com 7,
que utilizam EPS estão sujeitas às cargas 14 e 30 dias.
móveis e que estas causam tensões de
cisalhamento no pavimento por efeito de
aceleração e frenagem, é interessante avaliar-se
os parâmetros de interface entre blocos de EPS,
e mensurar-se quantitativamente o quanto esses
parâmetros são afetados quando esses materiais
são expostos a vapores de gasolina ou agentes
intempéricos. Isso porque normalmente o EPS
pode estar sujeito a efeitos degradativos de
hidrocarbonetos e/ou apresentar alguma perda
de propriedade quando exposto aos efeitos da
radiação solar e/ou variação da temperatura e
umidade (intempérie). Figura 1. Recipíente para exposição do EPS em vapor de
gasolina.
Assim, esse trabalho avaliou os efeitos do
vapor de gasolina e intempérie nas propriedades 2.2. Exposição à Intempérie
de cisalhamento do EPS em diferentes
densidades. A Figura 2 ilustra a exposição dos corpos de
prova em estruturas de aço posicionadas a 45o
no eixo leste-oeste de forma que o sol atinja as
2 MATERIAL E MÉTODOS
amostras ao longo do dia. O período de
exposição foi de um mês e meio, sendo que os
Foram utilizados corpos de prova de EPS com
ensaios foram realizados após 14, 30 e 45 dias.
dimensões de 100 mm² e altura de 25 mm e 5
O ensaio de cisalhamento direto foi realizado
massas específicas distintas (10, 14,5, 18, 28 e
de acordo com a ASTM D 3080 – utilizando-se
33,5 kg/m3). O ensaio de cisalhamento direto
velocidade de ensaio de 0,50 mm/min. Esse
foi realizado utilizando-se a ASTM D 3080 de
ensaio é realizado visando estudar o
2011 comportamento do EPS frente a este tipo de

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528
solicitação, para obter o ângulo de atrito da eixo horizontal representando o deslocamento
junta entre os blocos e para comparar os horizontal. O primeiro ponto do gráfico
resultados dos corpos de prova intactos com os (localizado à esquerda), refere-se sempre à
degradados. amostra intacta, e os demais pontos referem-se
aos períodos de degradação, de forma crescente.

3.1. Exposição ao Vapor de Gasolina

Após as amostras serem expostas por 7, 14 dias


e 30 dias, foram realizados ensaios de
cisalhamento direto, entretanto, não foi possível
a realização de ensaios com amostras após 30
dias em função da degradação. Várias tentativas
de ajuste das peças do equipamento foram
Figura 2. Corpos de prova expostos a imtempéries. feitas, porém todas as tentativas não tiveram
sucesso. A Figura 4 exemplifica uma amostra
2.2. Ensaio de Cisalhamento Direto degradada após 30 dias com excesso de
variação dimensional.
Os corpos de prova foram dispostos um
sobre o outro, dentro da caixa de cisalhamento,
com suas alturas de 25 mm ortoginais à
horizontal. Para os corpos de prova de
densidade 10, 14,5 e 18 kg/m³ foram aplicadas
tensões confinantes de 20, 30 e 40 kPa. Já para
as maiores densidades, 28 e 33,5 kg/m³, foram
aplicadas tensões confinantes de 30, 40 e 50
kPa. Estas tensões também foram utilizadas de
modo a representar situações de campo,
considerando que um aterro de geoexpandido Figura 4. Corpos de prova degradados um mês em vapor
possui baixo peso específico. A Figura 3 ilustra de gasolina.
o equipamento utilizado nos ensaios.
Objetivando-se avaliar o histórico de tensão
cisalhante ao longo do período de degradação,
os gráficos com os resultados dos ensaios de
cisalhamento direto estão apresentados nas
Figuras 5, 6, 7, 8 e 9. Estas apresentam um
comparativo do desempenho das amostras
intactas e expostas após 7 e 14 dias, para uma
mesma tensão confinante e massa específica.

10 kg/m³
20
Figura 3. Equipamento utilizado para os ensaios de 15 20 kPa
τ (kPa)

cisalhamento direto.
10 30 kPa
3 RESULTADOS 5 40 kPa
0
Após ensaiar amostras intactas e amostras
40 35 30 25 20 15 10 5 0
expostas, os resultados foram analisados e
δh (mm)
organizados em gráficos, com o eixo vertical
representando a máxima tensão cisalhante e o Figura 5. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 10kg/m³.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

529
degradados em vapor de gasolina
14,5 kg/m³ comparativamente aos corpos de prova intactos.
20
20 3.2. Exposição à Intempérie
τ (kPa)

10 kPa
30
kPa
Após o período total de exposição, notou-se que
0 as amostras de massa específica 10 kg/m³
40 35 30 25 20 15 10 5 0 apresentavam degradação das arestas, conforme
δh (mm) mostra a Figura 10.
Figura 6. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 14,5 kg/m³.

18 kg/m³
35
30 20 kPa
τ (kPa)

25
20 30 kPa
15 40 kPa
10
40 35 30 25 20 15 10 5 0 Figura 10. Amostra com degradação das arestas após 45
δh (mm) dias de exposição às intempéries.
Figura 7. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 18 kg/m³. De forma análoga às amostras degradadas
com vapor de gasolina, as Figuras 11, 12, 13, 14
e 15 apresentam um comparativo entre o
28 kg/m³ desempenho das amostras intactas e expostas
60 após 14, 30 e 45 dias, para uma mesma tensão
50 30 kPa confinante e massa específica.
τ (kPa)

40
40 kPa
30 10 kg/m³
50 kPa 20
20
15 20 kPa
10
τ (kPa)

40 35 30 25 20 15 10 5 0 10
30 kPa
δh (mm) 5
Figura 8. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de 40 kPa
0
cisalhamento direto para amostras de 28 kg/m³.
40 35 30 25 20 15 10 5 0
δh (mm)
33,5 kg/m³ Figura 11. Comparativo entre valores obtidos no ensaio
60
de cisalhamento direto para amostras de 10 kg/m³.
50
30 kPa
τ (kPa)

40
14,5 kg/m³
30 40 kPa 35
20 50 kPa 30 20 kPa
τ (kPa)

10
25 30 kPa
40 35 30 25 20 15 10 5 0
20 40 kPa
δh (mm)
15
Figura 9. Comparativo entre valores obtidos no ensaio de
cisalhamento direto para amostras de 33,5 kg/m³. 40 35 30 25 20 15 10 5 0
δh (mm)
Pelos gráficos, é notável em sua grande
Figura 12. Comparativo entre valores obtidos no ensaio
maioria, que houve diminuição da máxima de cisalhamento direto para amostras de 14,5 kg/m³.
tensão alcançada pelos corpos de prova

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530
18 kg/m³ Com os pares de tensão (tensão normal e tensão
35 cisalhante), foi plotada a envoltória de tensões,
de maneira a possibilitar a obtenção dos
30 20 kPa parâmentros de resistência (ângulo de atrito
τ (kPa)

25 30 kPa interno e coesão). Estes parâmentros estão


20 40 kPa apresentados nas Tabelas 1 a 6, para diferentes
condições: intacta, exposição ao vapor de
15
40 35 30 25 20 15 10 5 0
gasolina e exposição à intempérie.
δh (mm)
Tabela 1. Parâmetros de Resistência para amostras
Figura 13. Comparativo entre valores obtidos no ensaio intactas.
de cisalhamento direto para amostras de 18 kg/m³. Massa Específica Coesão Ângulo de atrito
(kg/m³) (kPa) (Ø')
10 11,8 7,5
28 kg/m³ 14,5 16,1 43,4
70 18 9,3 32,9
28 7,6 83,4
50 30 kPa
τ (kPa)

33,5 7,2 83,0


40 kPa
30
50 kPa
10 Tabela 2. Parâmetros de Resistência para amostras
40 35 30 25 20 15 10 5 0 degradadas com vapor de gasolina após sete dias.
δh (mm) Massa Específica Coesão Ângulo de atrito
(kg/m³) (kPa) (Ø')
Figura 14. Comparativo entre valores obtidos no ensaio 10 1,1 11,4
de cisalhamento direto para amostras de 28 kg/m³. 14,5 5,7 11,9
18 18,1 4,5
28 - 58,3
33,5 kg/m³ 33,5 - 59,7
70

50 30 kPa
τ (kPa)

Tabela 3. Parâmetros de Resistência para amostras


40 kPa degradadas com vapor de gasolina após catorze dias.
30 Massa Específica Coesão Ângulo de atrito
50 kPa
(kg/m³) (kPa) (Ø')
10 10 1,8 9,9
40 35 30 25 20 15 10 5 0 14,5 - 20,0
δh (mm) 18 - 38,9
Figura 15. Comparativo entre valores obtidos no ensaio 28 - 58,9
de cisalhamento direto para amostras de 28 kg/m³.
33,5 - 63,2

Para os corpos de prova degradados pela


intempérie, o decaimento da máxima tensão Tabela 4. Parâmetros de Resistência para amostras
alcançada é mais claro na densidade de degradadas por intempéries após catorze dias.
10kg/m³. Para as demais massas específicas, os Massa Específica Coesão Ângulo de atrito
valores de tensão obtidos após o período de (kg/m³) (kPa) (Ø')
exposição apresentaram grande oscilação, sendo 10 4,6 12,8
algumas vezes superiores ou inferiores em 14,5 14,0 19,3
relação ao valoresde amostras intactas. 18 20,6 15,7
28 34,2 18,4
3.3. Parâmetros de Resistência 33,5 - 48,7

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531
Tabela 5. Parâmetros de Resistência para amostras de deslocamento horizontal para estas tensões
degradadas por intempérie após trinta dias. aferidas.
Massa Específica Coesão Ângulo de atrito
(kg/m³) (kPa) (Ø')
Já para as amostras degradadas pela
10 9,28 9,0
intempérie, comparativamente às amostras
intactas, algumas apresentaram maiores valores
14,5 9,9 23,2
dos parâmetros de resistência e menores
18 0,35 41,2
deslocamentos horizontais para estas tensões
28 15,54 34,7 aferidas, o que pode ser notado nas figuras 12 e
33,5 9,69 43,4 14, e algumas amostras apresentam grande
oscilação da resistência ao cisalhamento durante
Tabela 6. Parâmetros de Resistência para amostras
degradadas por intempérie após quarenta e cinco dias.
o período de exposição, que pode ser verificado
Densidade (kg/m³) Coesão (kPa) Ângulo de atrito (Ø')
nas figuras 13 e 15.
O ângulo de atrito interno das amostras
10 10,4 3,5
degradadas, em sua grande maioria sofreu
14,5 20,8 15,2
redução. A coesão que só foi verificada para
18 20,8 15,2 amostras degradadas pelas intempéries,
28 - 61,1 apresentou aumentos para as massas específicas
33,5 2,3 44,7 de 14,5 e 18 kg/m³ e diminuição para as de 10,
28 e 33,5 kg/m³.
Analisando-se as tabelas apresentadas nota-
se que para as amostras intactas, com exceção
das amostras com 14,5 kg/m³, as demais 4 CONCLUSÃO
seguem um padrão, de forma que, quanto maior
a massa específica, menor a coesão e maior o De forma geral nota-se que os resultados
ângulo de atrito. Isto pode se atribuído ao fato mostraram diminuição da máxima tensão
de que corpos de prova com maior massa alcançada pelos corpos de prova degradados em
específica apresentam superfície com maior vapor de gasolina, comparativamente aos
rigidez. corpos de prova intactos. Já nos corpos de prova
Para amostras degradadas com vapor de degradados pela intempérie, esse decaimento da
gasolina, nota-se que, algumas amostras não máxima tensão alcançada é mais claro para a
apresentam valores de coesão. O ângulo de massa específica de 10 kg/m³.
atrito interno das amostras com 14,5, 28 e 33,5 Em termos de parâmetros de resistência,
kg/m³ sofreu redução de valor da ordem de nota-se que os valores de coesão e de atrito de
54%, 30% e 24% . Para as amostras de massa interface se alteraram para todas as exposições.
específica de 10 e 18 kg/m³ este parâmetro Apesar da oscilação de alguns valores, no geral,
aumentou, respectivamente, 18 % e 32 %. a tendência de comportamento foi de
Para as amostras degradadas pela ação de diminuição da resistência ao cisalhamento.
intempérie, as de massa específica 14,5 e 18 Entretanto há necessidade de realização de mais
kg/m³ apresentaram aumento de coesão de 16% ensaios para avaliar a repetitividade dos
e 123%, enquanto que o ângulo de atrito resultados, tendo em vista que houve uma
diminuiu 65% e 55%. Aquelas de massa notável variabilidade nos resultados de coesão e
específica de 10, 28 e 33,5 kg/m³ tiveram ângulo de atrito.
diminuição da coesão da ordem de 12%, 100%
e 68%, e o ângulo de atrito interno também
diminuiu em valores da ordem de 53%, 26% e AGRADECIMENTOS
47%.
Os autores agradecem à Fundação de amparo e
Analisando-se os dados dos ensaios, nota-se à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
que as amostras degradadas com vapor de pelo apoio financeiro obtido para a realização
gasolina apresentam, em sua maioria, redução da pesquisa, ao Laboratório de Geotecnia da
dos parâmetros de resistência e menores valores Faculdade de Engenharia de Bauru – UNESP e

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

532
à empresa Termotécnica pelo fornecimento do
material.

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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Detecção de Vazamentos em Geomembranas - Aplicação dos


Métodos Geoelétricos na Indústria de Mineração
Priscila Mendes Zidan
Evolui Consultoria Ambiental, Rio de Janeiro, Brasil, priscilazidan@evolui.eco.br

Luiz Paulo Achcar Frigo


Evolui Consultoria Ambiental, Rio de Janeiro, Brasil, luizfrigo@evolui.eco.br

Matthew Kemnitz
Leak Location Services Inc, Texas, Estados Unidos, mattk@llsi.com

Luciano Sousa Leal


Evolui Consultoria Ambiental, Rio de Janeiro, Brasil, lucianoleal@evolui.eco.br

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados da aplicação dos métodos geoelétricos para
detecção de vazamentos em geomembranas instaladas nas barragens de rejeitos da indústria de
mineração. Os resultados apresentados foram obtidos em inspeções de campo realizadas em 22
(vinte e dois) diferentes projetos da indústria de mineração, localizados no México e Estados
Unidos (Nevada e Michigan) entre 2015 e 2017. O uso do método possibilitou a avaliação de
298.500 m2 de geomembranas de PEAD instaladas e reparo imediato dos danos identificados.
Devido aos seus benefícios em melhorar consideravelmente os procedimentos de garantia da
qualidade da camada de impermeabilização, sugere-se que esta técnica seja utilizada para minimizar
os riscos ambientais inerentes à operação de barragens de rejeito na indústria de mineração.

PALAVRAS-CHAVE: Métodos Geoelétricos, Soil Survey, Detecção de Furos em Geomembranas.

ABSTRACT: This paper presents the results of the application of the Leak Location Survey to
detect leaks in installed geomembranes, for the quality control of the waterproofing layer of the
tailings dams. This research consolidates the results obtained in field inspections carried out in 22
(twenty two) different projects, in Mining Industries in Mexico City, Nevada and Michigan between
2015 and 2017. The applications of the Soil Survey methodology enabled the evaluation of 298,500
m2 of installed HDPE Geomembranes and immediate repair of identified damages. Due to its
benefits in greatly improving the control quality assurance procedures for the waterproofing layer, it
is suggested that the technique be used to minimize the environmental, technical and financial risks
of the mining Industry.

KEY WORDS: Geoelectrical Methods, Soil Survey, Geomembrane Leak Detection.

1 INTRODUÇÃO materiais têm sido empregados para minimizar


as perdas de metais de alto valor, como ouro e
Desde a década de 1970, o uso de cobre, por exemplo, e também para reduzir o
geomembranas tornou-se significativo na potencial de contaminação do solo.
indústria de mineração, de acordo com Para garantir a funcionalidade das
Breitenbach e Smith (2006), tendo aplicações geomembranas utilizadas, os métodos de
em soluções de revestimento, tanques de controle de qualidade dos materiais e da
evaporação, aterros e pilhas de lixiviação. Tais instalação já são amplamente utilizados na

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

535
indústria de mineração. Entretanto, os métodos De acordo com Forget et al (2005), dentre 89
convencionais empregados não permitem a projetos testados, usando métodos geoelétricos
avaliação da totalidade da área da durante um período de 10 anos (2.652.000 m2
geomembrana instalada e sua integridade após de área), em média foram encontrados entre 4 e
completa instalação e colocação do solo de 22 vazamentos por hectare. Esta variação na
cobertura (quando aplicável). quantidade de furos depende do nível de
Giroud (2016) sugere, então, a adoção de um controle de qualidade utilizado durante a
Plano de Garantia da Qualidade da Construção instalação da geomembrana. Setenta e três por
para este tipo de obra, no qual estarão previstos cento dos danos ocorreram durante a aplicação
testes não destrutivos para avaliar a integridade do material de cobertura sobre a geomembrana,
das soldas, inspeções visuais na geomembrana e vinte e quatro por cento ocorreram durante a
a adoção dos métodos geoelétricos de maneira instalação da geomembrana e apenas dois por
complementar, principalmente para os projetos cento dos danos ocorreram após o início do uso
em que a mão de obra empregada na construção da camada impermeabilizante. Ao contrário da
não possuir padrão de excelência. Thiel et al percepção comum, a maioria dos danos não
(2003) também sugerem a adoção dos métodos ocorreu devido a procedimentos inadequados de
geoelétricos nos Planos de Garantia da solda da geomembrana.
Qualidade empregados nos projetos. Zidan e Frigo (2016), apresentou o resultado
Segundo Beck et al. (2018), os métodos da aplicação dos método geoelétrico aplicados
geoelétricos foram desenvolvidos nos Estados em 310.000 m2 de área de geomembrana
Unidos na década de 1980, e têm sido coberta com solo, em um projeto da área de
comercialmente empregado desde 1985, mas Gestão de Resíduos, localizado no estado do
em maior escala na indústria de gestão de Rio de Janeiro. A densidade de furos obtida ao
resíduos. Estes métodos, já estabelecidos longo de 4 anos de avaliação foi de 0,5 a 8
através dos padrões normativos internacionais furos/10.000 m2.
(ASTM, 2015), permitem a identificação de Giroud (2016) relatou os resultados de um
danos extremamente pequenos em inspeções estudo desenvolvido em 150 projetos,
que abrangem a totalidade da área da totalizando 250.000 m2 de área, onde foram
geomembrana instalada, possibilitando que os aplicados os métodos geoelétricos diretamente
reparados sejam feitos antes do início de seu na geomembrana de PEAD (polietileno de alta
uso. Segundo Giroud (2016), furos de 1 mm densidade) para avaliar sua integridade. Nestes
são identificados quando a aplicação dos estudos, de 5 a 6 furos/hectare de geomembrana
métodos geoelétricos ocorre diretamente sobre a foram encontrados ao final da instalação da
geomembrana. Cita ainda que furos de 0,6 mm mesma. Tais resultados foram compatíveis com
podem ser encontrados na geomembrana projetos onde houve a adoção de procedimentos
coberta com até 60 cm de solo de cobertura, no de garantia da qualidade. Em projetos onde
caso da aplicação do método com estes procedimentos não foram empregados, o
geomembrana coberta. número de furos chegou a mais de 25/hectare.
Resultados de estudos desenvolvidos por Nosko e Touze (2000) que avaliaram os
Thiel et al. (2005) indicaram que, devido aos resultados obtidos na aplicação da mesma
altos valores associados a metais e reagentes em técnica em cerca de 3.250.000 m2, em mais de
solução de lixiviação, o uso de métodos 300 sites diferentes, identificaram que a maior
geoelétricos possui um sentido econômico parte dos furos acontece na área plana onde foi
estrito, sem mencionar a minimização dos instalada a geomembrana. E nas áreas planas, as
riscos ambientais para a indústria de mineração. principais causas de furos são as rochas e
Apesar disso, esta indústria vem empregando a trânsito de máquinas pesadas.
técnica de forma progressiva, nos Estados A norma ASTM D7007 (Práticas Padrão
Unidados, sendo as primeiras aplicações na para métodos elétricos para localização de
cidade de Nevada em 1995. Atualmente, esta vazamentos em geomembranas cobertas com
técnica tem sido mais comumente empregada água ou materiais de terra) (ASTM, 2016),
nos Estados Unidos, Chile, Peru e Argentina. estabelece metodologia adequada para o

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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controle de qualidade da integridade geomembrana de PEAD para proteger o solo.
geomembranosa após a aplicação de material de Apenas 18% dos projetos avaliados tinham
cobertura. Desta forma, os Métodos Dipolo apenas uma camada de geomembrana. A
(nome dado ao método geoelétrico de inspeção espessura das geomembranas instaladas nos
em que testa-se a geomembrana coberta com projetos estudados variou entre 1,5 e 2mm.
solo ou líquido): Soil Survey e Water Survey,
podem ser utilizados para inspecionar
geomembranas cobertas com terra ou água, por
exemplo. Este método consiste na aplicação
uma tensão elétrica no material que reveste a
geomembrana para identificar vazamentos de
corrente elétrica existentes. Através deste
método é possível localizar os danos e repará-lo
antes do início de seu uso. (Laine et al., 1993).
Os métodos elétricos para localizar vazamentos
em geomembranas têm sido praticados em todo
o mundo por muitos anos (Laine e Darilek,
1993). A aplicação destes métodos tem sido um
requisito obrigatório para aterros sanitários em,
pelo menos, 4 estados nos Estados Unidos da
Figura 1. Localização dos Projetos avaliados.
América, como, por exemplo, Nova Jérsia,
Nova Iorque, Califórnia (Koerner at al, 2016). Nos projetos avaliados, em que apenas uma
Assim sendo, este estudo apresentará os geomembrana foi utilizada, o perfil de
resultados de três anos de aplicação dos impermeabilização foi: solo, geotêxtil,
Métodos Geoelétricos para avaliar a integridade geomembrana e solo de cobertura. Para os
da camada de impermeabilização em barragens projetos onde houve aplicação de dupla camada
de rejeitos na indústria de mineração, antes do de geomembrana, o perfil incluiu instalação de
início de suas operações. O método geoelétrico geotêxtil drenante entre as geomembranas ou
específico e que foi utilizado ao longo do instalação de GCL abaixo da geomembrana
desenvolvimento deste estudo, chama-se secundária.
Método Dipolo, de acordo com a ASTM Este trabalho avaliou os resultados da
D7007, e será chamado aqui de “Soil Survey”. aplicação do método Soil Survey apenas na
camada de geomembrana primária, a qual
estava coberta com material sólido (como areia,
2 MATERIAL E MÉTODOS argila ou similar) compactado. A área total
pesquisada, incluindo todos os projetos, foi de
Todos os estudos de Soil Survey apresentados aproximadamente 300.000 m2.
aqui foram conduzidos, em sites da Indústria de Os métodos geoelétricos envolvem a
Mineração, por colaboradores da empresa Leak aplicação de uma tensão elétrica no material de
Location Services Inc., nos Estados Unidos cobertura que reveste a geomembrana. Esta
(estados de Nevada e Michigan) e no México, tensão produz um campo elétrico sem
de acordo com a distribuição percentual anomalias quando não há vazamentos presentes.
apresentada na Figura 1. Se a geomembrana tiver um furo, a corrente que
Como pode ser visto, a maioria dos dados flui através deste produzirá uma anomalia no
apresentados é originária de Nevada (64% dos campo elétrico medido. Assim, os vazamentos
projetos) e cerca de um terço dos estudos foram podem ser detectados e localizados. Essas
obtidos no México (32% dos projetos). Apenas anomalias no campo elétrico são detectadas
um projeto foi desenvolvido no estado de através de medições sistemáticas sobre a área da
Michigan (4% dos projetos). geomembrana. A figura 2 é um diagrama que
A maioria das áreas investigadas, ou seja, ilustra o método.
82% dos projetos possuem dupla camada de

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

537
para a geomembrana primária, foi de 41 furos
por 10.000 m2. Todos os furos identificados,
neste projeto, foram ocasionados por punção
por rocha. A geomembrana utilizada no projeto
estava coberta por solo, mas sem proteção de
geotêxtil entre a mesma e o solo. Houve
aplicação da geotextil apenas abaixo da
geomembrana.
Figura 2. Diagrama ilustrando a metodologia de pesquisa
de solo (Leak Location Service, Inc)

As medições do Soil Survey são feitas


usando uma malha pré-definida, que determina
os pontos de medição na área inspecionada. A
malha utilizada neste estudo foi de 3 por 3
metros e as medições foram desenvolvidas a
cada 1,5 metros. Os dados foram coletados
usando um registrador de dados portátil, como
apresentado na Figura 3. Depois da coleta, os Figura 4. Densidade de vazamentos encontrados nas vinte
dados foram baixados usando o software e duas áreas inspecionadas.
responsável pelo processamento da informação,
Conforme citado por Forget et al (2005) e
permitindo a análise dos mesmos e
Giroud (2016), a densidade de furos pode variar
identificação dos locais onde há furo.
conforme o rigor dos procedimentos de garantia
da qualidade implantados pelos projetos. Desta
forma, a diferença entre as faixas de densidade
obtidas nos projetos, pode estar associada ao
diferente rigor na aplicação dos métodos de
garantia da qualidade adotados nos projetos.
Comparando-se os resultados de densidade
de furos obtidos no presente estudo com a
Figura 3. Técnicos coletando dados de campo variação média de densidade de furos
encontrada por Forget et al (2005), obtém-se o
gráfico da Figura 5. Nota-se que apenas 32%
3 DISCUSSÃO E RESULTADOS dos projetos estudados, tiveram densidade de
furos variando na faixa de 4-22/10.000 m2, que
A figura 4 mostra a densidade de furos nos seria a variação encontrada nos estudos
diferentes projetos estudados. Como pode ser desenvolvidos pelo grupo em 2005. Em
visto, dez dos vinte e dois projetos (ou 45% do contrapartida, 45% dos projeto avaliados,
total de áreas inspecionadas) tiveram densidade apresentaram densidade de furos inferiores aos
de furos variando de 0 a 5/10.000 m2. Destes, sugeridos na literatura citada. Apenas 23%
quatro projetos não tiveram nenhum furo na apresentou resultados superiores de densidade.
inspeção. Uma área inspecionada apresentou
densidade de 7 furos/10.000 m2. Os Outros
45% dos projetos apresentaram densidade
variando de 11 a 30 furos, sendo que metade
desse grupo identificou ter 11 a 20 danos e a
outra metade com 21 a 30 danos. Apenas uma
área inspecionada apresentou mais de 31
furos/10.000 m2. Neste projeto, desenvolvido
no México, utilizou-se apenas uma camada de Figura 5. Avaliação da frequência de projetos que
impermeabilização, e a densidade calculada, apresentou densidade de furos de acordo com estatística
da literatura, conforme Forget et al (2005).

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

538
Comparando-se os resultados de densidade encontrados reforçam a necessidade de
do presente estudo com os apresentados por melhorias contínuas nos procedimentos de
Zidan e Frigo (2016), tem-se que 50% dos controle de qualidade da instalação das
projetos apresentou densidade de furos dentro geomembranas e de maiores controles na
da faixa citada nesta literatura, ou seja, 0,5 a 8 aplicação do solo de cobertura.
furos/10.000 m2. A partir dos resultados apresentados neste
Tais resultados comparativos envolvendo os estudo, tais projetos da Indústrias de Mineração
dados deste estudo e a literatura disponível e tiveram a oportunidade de reparar cerca de 220
acima citada, parecem estar refletir a melhoria furos em um total de 300 hectares de área
nos procedimentos de controle de qualidade da inspecionada.
instalação da geomembrana decorrentes dos Desta forma, conclui-se que a inclusão do
últimos 10 anos. método do Soil Survey, no Plano de Garantia da
As Figuras 6 e 7 mostram imagens de furos Qualidade da obras de implantação da Indústria
típicos e identificados a partir da aplicação do da Mineração, permitiria a identificação e
método de Soil Survey para inspecionar correção de furos e, consequente minimização
geomembranas cobertas com material sólido. A dos riscos ambientais e econômicos decorrentes
Figura 6 mostra um dano por perfuração de de futuros vazamentos. Isso significa dizer que,
pedra como ocorrido no projeto estudado no uma vez identificado e reparado um furo, o
México e que apresentou densidade de furos empreendedor economizará quantias
superior a 31 vazamentos / hectare. A Figura 7 significativas de dinheiro, pois evitará a
mostra um dano por corte, como o encontrado necessidade de remediar e limpar os danos
em outro projeto do México em 2017. causados por esse vazamento no futuro.

4 CONCLUSÕES

A partir da avaliação dos resultados obtidos no


presente estudo, conclui-se que a realização de
inspeções, utilizando o método do Soil Survey,
permite a identificação de furos que não seriam
perceptíveis ou identificados pela aplicação dos
métodos convencionais atualmente empregados
para o controle de qualidade da instalação da
geomembrana. A introdução do referido método
Figura 6. Dano por punção de rocha no Plano de Garantia da Qualidade da
Construção permitira, então, a realização de
reparos imediatos na geomembrana,
minimizando riscos de perdas de materiais da
barragem ou contaminações decorrentes de
vazamentos dos materiais estocados.
Considerando os riscos ambientais futuros da
não identificação e reparo de furos na
geomembrana das barragens de rejeitos, a
adoção das inspeções utilizando o método de
Soil Survey pode representar uma ferramenta
adicional no programa de garantia da qualidade
da Indústria de Mineração do Brasil, como já
praticado nos projetos estudados em Nevada,
Figura 7. Dano por corte México e Michigan.

Por fim, os resultados de densidade de furos

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

539
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Interação Solo-Geossintéticos
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da Resistência de Interface do Poliestireno Expandido


com Geomembrana texturizada de Polietileno
Bruna Rafaela Malaghini
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, brunamalaghini@outlook.com

Caio Henrique Buranello dos Santos


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, caioburanello@hotmail.com

Mariana Basolli Borsatto


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Isabela de Paula Rodrigues


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, isabeladepaular@gmail.com

Míriam Baggio Mercaldi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, miriambaggiom@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, paulo.lodi@unesp.br

RESUMO: O poliestireno expandido (EPS) é utilizado em aplicações geotécnicas na forma de


geoexpandido (geofoam) e tem se mostrado muito eficiente em sub-base de pavimentos e encontro
de pontes. Entretanto, nestas aplicações, pode entrar em contato com hidrocarbonetos, necessitando,
consequentemente, de impermeabilização, que é feita com o uso de geomembranas (GM). Nesse
contexto, o conjunto EPS-GM é solicitado por cargas dinâmicas causadas pelo tráfego de veículos.
Assim sendo, este trabalho avaliou a resistência ao cisalhamento da interface do EPS com GM de
polietileno de alta densidade texturizada (PEAD) por meio de ensaios de cisalhamento direto de
acordo com a ASTM D3080. Foram utilizados corpos de prova de geoexpandido com dimensões de
(100x100x25) mm em três densidades diferentes (10, 18 e 33,5 Kg/m3) e GM de matriz plana com
espessura de 3,0 mm. Os resultados mostram que sob baixas tensões normais, o atrito na interface é
muito próximo para as diferentes densidades. Entretanto, à medida que a tensão normal se eleva,
nota-se o distanciamento entre os valores das tensões de cisalhamento com um expressivo aumento
do valor do atrito conforme aumento da massa específica do EPS. Destaca-se, ainda, discreta
tendência de diminuição das tensões de cisalhamento para uma situação de deslocamento de 10 mm
(tensão residual). Deve-se observar também que os valores de atrito da interface obtidos para a
maior densidade estão próximos a valores obtidos para solos arenosos (ângulo de atrito interno de
30 graus). Desta forma, os resultados sugerem que a interface analisada é adequada para utilização
em aplicações práticas.

PALAVRAS-CHAVE: poliestireno expandido, geoexpandido, cisalhamento, geomembrana.

ABSTRACT: The Expanded polystyrene (EPS) is used in geotechnical applications in the form of
geofoam and has been shown itself very efficient in pavements subbase and bridge abutments.
However, in these applications, it may contact with hydrocarbons requiring an impermeabilization
system, that is made with geomembranes. In this context, the EPS-GM set is requested by dynamic

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

543
loads caused by vehicle traffic. Therefore, this work evaluated the shear strength of the EPS
interface with GM of high density polyethylene (HDPE) by means of Direct Shear Test according
to ASTM D3080. Geofoam specimens with the dimensions (100x100x25)mm of three different
densities (10, 18 e 33,5 Kg/m3) were used and plane matrix geomembrane with 3 millimeters
thickness. The results show that under low normal stresses levels, the interface friction values are
very similar for different densities. However, as long as the normal stress increases, is observed the
distance between the shear stress and a significant increase of the friction value as the EPS density
rise. It is possible to highlight the slight tendency of shear stresses decrease to a displacement of 10
mm situation (residual stress). It should also be noted that the interface friction values obtained for
the highest density are close to values obtained for sandy soils (30 degrees of internal friction
angle). Thus, the results suggest that the interface analyzed is suitable for use in practical
applications.

KEYWORDS: Expanded polystyrene, geofoam, shear, geomembrane.

1 INTRODUÇÃO sobre solos moles, sub-base de pavimentos,


encontro de pontes e outras aplicações
O poliestireno expandido (EPS), ou subterrâneas, por sofrer solicitações dinâmicas
geoexpandido (Geofoam, do inglês), é um causadas pelo tráfego de veículos e solicitações
geossintético geralmente empregado em de cargas constantes, torna necessário proceder-
aplicações geotécnicas na forma prismática se à avaliação de análises externas dos modos
(retangular). De acordo com Trandafir et al. de ruptura, em particular, o estudo sobre o
(2010) e Trandafir & Erickson (2012), o EPS comportamento do cisalhamento de um bloco
tornou-se uma opção interessante para diversas individual (deslizamento entre blocos). Nesse
utilizações geotécnicas em função de suas cenário, cria-se uma interface crítica que pode
características de resistência, baixo peso afetar a estabilidade global do sistema
específico e rápida aplicação sendo, portanto, (superfície formada entre o bloco de EPS e a
ideal em usos voltados para obras onde seja geomembrana de PEAD), da qual deve-se
necessário minimizar-se tanto tempo de conhecer o comportamento e resistência.
execução quanto as tensões que chegarão ao Vários estudos têm sido conduzidos em
solo ou cota de interesse. interfaces de EPS/EPS para avaliar-se as
Entretanto, apesar de suas vantagens, propriedades de resistência ao cisalhamento
Avesani Neto (2008) ressalta que o EPS (Sheeley, 2000; Sheeley & Negussey 2000;
apresenta baixa resistência a materiais como: Atmatzidis et al., 2001; Negussey et al., 2001;
ácido sulfúrico 95%, gasolina, produtos Sheeley & Negussey 2004; Barrett, 2008).
asfálticos, hidratos de carbono alifáticos e Sheeley (2000) e Atmatzidis et al. (2001)
produtos betuminosos com solventes, podendo, usaram ensaios de cisalhamento direto para
em contato com estes, perder suas determinar o comportamento atritivo de
características mecânicas. Desse modo, faz-se interfaces EPS/EPS. Sheeley and Negussey
necessário utilizar um sistema de (2000) realizaram ensaios de interface de atrito
impermeabilização para garantir a integridade em EPS/EPS em condições secas e molhadas.
do geoexpandido. Para tanto, lança-se mão de Além disso, avaliou-se a influência do tipo de
geomembranas (GM) de polietileno, uma vez interface, da taxa de cisalhamento e da
que estas já são amplamente utilizadas na densidade do geoxpandido no comportamento
Engenharia Civil devido às suas propriedades ao cisalhamento (Negussey et al., 2001). Barrett
de estanqueidade e compatibilidade com os (2008) realizou ensaios de cisalhamento direto
materiais que podem causar danos ao EPS, em escala maior em blocos de geoexpandidos.
executando, assim, a função de proteção do Todas essas pesquisas conduzem a resultados
geoexpandido. Ademais, o conjunto satisfatórios em termos de interface atritiva
geoexpandido/geomembrana utilizado em aterro entre EPS/EPS, EPS/Solo e EPS/GM. Os

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544
valores de atrito de interface obtidos 2 MATERIAIS E MÉTODOS
apresentaram valores do ângulo de atrito da
ordem de 25 a 35o. Ainda assim, apesar de A determinação da resistência ao cisalhamento
todos os trabalhos reiterarem a importância dos da interface EPS/Geomembrana foi realizada
estudos das interfaces para garantia da por meio do ensaio de cisalhamento direto,
estabilidade global, frente a fragilidade dessa normatizado pela ASTM D 3080 de 1998 para
superfície às solicitações impostas, nota-se que solos. Para realização dos ensaios foram
o manancial de informações sobre o EPS nesta utilizadas amostras de EPS, nas densidades 10,
aplicação está restrito, ainda que de forma 18 e 33,5 Kg/m3, em formato de paralelepípedo
incompleta, ao contexto internacional. A com dimensões (100x100x25)mm e
literatura internacional e nacional sobre o geomembranas texturizadas de matriz plana,
assunto não apresenta referências atuais sendo com espessura de 3mm, cortadas em formato
os trabalhos mais relevantes estes supracitados. quadrado com superfície (100X100)mm. Para
As geomembranas de PEAD mencionadas cada densidade, realizaram-se 5 ensaios
podem apresentar superfície lisa ou texturizada, aplicando-se as tensões normais (axiais) de 11,
sendo que o uso desta justifica-se onde há 22, 33, 44 e 55 kPa. Essas tensões foram
necessidade de maior o atrito de interface da utilizadas em função do braço de alavanca do
geomembrana. O atrito na interface é a tensão equipamento bem como para buscar-se níveis
resistente que ocorre entre a geomembrana e de tensão baixos para as amostras com menor
qualquer outro material empregado (exemplos densidade (por exemplo, 10 kg/m3). Além disso,
são: solo, concreto, EPS, geotexteis, entre as cinco tensões normais aplicadas definem
outros) devido ao deslizamento relativo entre melhor a envoltória de ruptura.
eles. Para o caso das membranas texturizadas, Para montagem do corpo de prova a ser
denomina-se processo de texturização em ensaiado, foi necessário auxílio de um bloco de
matriz plana aquele em que as ranhuras em alto madeira posicionado abaixo da geomembrana.
relevo são feitas através de rolos. Para garantir a Dessa forma, posicionou-se o bloco de madeira,
rugosidade da superfície, a geomembrana passa a geomembrana e, logo acima, o bloco de EPS
por entre os rolos texturizados que dão o de dimensões (100X100X25) mm, sem nenhum
acabamento final uniforme de sua superfície em material colante para união das superfícies. Para
ambos os lados. Nesse processo de fabricação, é garantir que houvesse sempre contato entre a
possível observar que, em qualquer ponto, a geomembrana e a superfície do EPS, utilizou-se
altura das saliências e espessura da 2 parafusos nas laterais da caixa de
geomembrana é sempre constante (Figura 1). cisalhamento. Os materiais são apresentados na
Figura 2.

Figura 1. Esquema de texturização e o aspecto da


geomembrana texturizada na matriz plana.

Diante do exposto, o presente trabalho


objetiva ampliar os estudos em laboratório da
resistência ao cisalhamento do poliestireno Figura 2. Materiais para confecção do corpo de prova.
expandido (EPS) avaliando-se 03 diferentes
densidades (10, 18 e 33,5 Kg/m3), na Todos os ensaios foram realizados no
configuração de interface EPS-GM texturizada equipamento padrão para ensaios de
de matriz plana, por meio de ensaios mecânicos cisalhamento direto mostrado na Figura 3, com
de cisalhamento direto (ASTM D3080 de velocidade de 0,2 mm/min.
1998).

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545
envoltória foi traçada apenas com esses dois
pontos, fato que influenciou a precisão dos
resultados.
Salienta-se que, para a realização dos ensaios
com os corpos de prova de 10 kg/m³,
necessitou-se usar tensões mais baixas. Dessa
forma, era imprescindível o uso das tensões
como 11kPa e 22kPa. Por conseguinte, para
complementar a envoltórias, foram usadas
também tensões de 33 a 55kPa (seguiu-se um
Figura 3. Aparelho de cisalhamento direto. padrão de incremento de 11kPa). Além disso,
caso fossem usadas tensões muito elevadas,
Seguindo a norma descrita neste item, os inclusive os blocos de 18kg/m³ iriam se
ensaios consistiram, resumidamente, na deformar tanto que o ensaio seria inviabilizado.
tentativa de deslizar um material em relação ao
outro (EPS em relação à geomembrana)
aplicando uma tensão normal constante e
aumentando-se a tensão de cisalhamento até
ocorrer a ruptura ou atingir o deslocamento
horizontal máximo de 10mm (situação de
tensão residual). Esse valor foi definido tendo-
se em vista que a fase elástica do EPS acontece Figura 4. Comparação entre EPS de 10kg/m³ após ensaio
a partir de 1% de deformação e, normalmente, aplicando tensão normal de 33 kPa e sem uso.
os valores de tensão para projetos são obtidos
para deformações de até 5%. Assim, foi fixado
um valor de 10% para a obtenção dos valores Como citado anteriormente, para cada ensaio
residuais de tensão. realizado, estudou-se as tensões de pico, ou
Dessa forma, a cada ensaio obteve-se um seja, a máxima tensão de cisalhamente obtida
ponto da envoltória de resistência formado pelo durante todo o ensaio e as tensões residuais,
par ordenado (tensão normal, tensão de aquelas respectivas ao deslocamento horizontal
cisalhamento). Após ensaiar as 5 tensões de 10mm (10% da dimensão da amostra).
normais, gerou-se a curva Tensão Normal x Observou-se que para a interface geomembrana
Tensão de Cisalhamento, ou seja, a envoltória plana texturizada e EPS, não houve ruptura
de resistência, para os casos de pico e residual. brusca e, em todas as densidades, constatou-se
que a tensão máxima é atingida na primeira
metade do ensaio e, a partir de então, o
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO diagrama de tensão x deformação tende a um
valor constante bem próximo da máxima,
Com os resultados dos ensaios, foi possível porém com uma queda discreta quando atingida
traçar a envoltória de resistência referente a a deformação residual.
cada combinação de densidade e configuração. As figuras seguintes (5 a 7) exibem as
Durante os ensaios, constatou-se que a menor envoltórias de pico e residual para todas as
densidade (10 kg/m³), quando submetida às densidades estudadas na interface com
tensões normais elevadas (33 kPa, 44 kPa e 55 geomembrana plana texturizada. A Tabela 1
kPa), sofria uma deformação vertical muito apresenta os valores dos parâmetros de
elevada, como é possível observar na Figura 4, resistência obtidos.
o que acabava inviabilizando a continuidade do Ao examinar-se as figuras, é possível
ensaio. Dessa forma, para análise das perceber que as envoltórias de pico e residual
resistências do EPS de densidade 10 kg/m³ apresentam-se muito próximas entre si.
considerou-se somente os ensaios realizados Avaliando-se os valores da Tabela 1, nota-se
com as tensões de 11 kPa e 22 kPa, e a que em todas as densidades analisadas essa
redução ficou em torno de 6%, mostrando que a

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546
resistência se apresentou pouco sensível ao Tabela 1. Valores de Coesão de angulo de atrito para a
deslocamento horizontal. interface.
ρ(Kg/m³) 10 18 33,5
τ ( kPa) τp τr τp τr τp τr
c (kPa) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
φ (°) 25,0 23,6 24,3 22,9 28,6 26,9
Redução
5,7 5,9 5,8
de φ (%)
Onde: ρ-massa específica; c-coesão; φ-ângulo de atrito
interno; τ p -tensão de pico; τ r -tensão residual.

Após realização dos ensaios, analisando as


amostras, verificou-se que, sob tensões
elevadas, a textura da membrana (saliências)
perfurou a superfície do EPS criando pontos de
apoio que contribuíram com a resistência.
Ademais, notou-se que as penetrações das
saliências foram mais profundas e alongadas em
Figura 5. Envoltórias de pico e residual da interface do pequenas densidades. A Figura 8 exemplifica as
EPS de densidade 10kg/m³ com GM plana texturizada. marcas observadas nas amostras do
geoexpandido de densidades diferentes, após
ensaio sob mesma tensão vertical.

Figura 8. Comparação de amostras ensaiadas com tensão


normal de 33 kPa.
Figura 6. Envoltórias de pico e residual da interface do
EPS de densidade 18kg/m³ com GM plana texturizada. Constatou-se também que, sob tensões
normais de 22kPa e 33 kPa, as densidades de 10
e 18 kg/m³ foram danificadas pelas ranhuras da
membrana enquanto que, para a maior
densidade (33,5 kg/m³), o efeito da textura foi
quase imperceptível.
Para uma melhor visualização do contexto
geral dos resultados e análise comparativa do
comportamento de cada densidade, as
envoltórias de pico e residual de todas as
densidades foram agrupadas, respectivamente,
conforme as Figuras 9 e 10.
Constatou-se, por fim, que as envoltórias são
pouco influenciáveis pela massa específica,
mantendo em um padrão de aumento do ângulo
Figura 7. Envoltórias de pico e residual da interface do
de atrito e, por consequência, aumento da
EPS de densidade 33,5kg/m³ com GM plana texturizada.
resistência ao escorregamento conforme

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aumento da massa específica. Desconsiderando e Barrett, 2008). Esses autores avaliaram
os dados para a densidade de 10 kg/m³ (pois, diversas densidades com diferentes interfaces
como explicado, o uso de pois pontos na com o EPS. Concluem de forma geral que as
envoltória podem conduzir a erros), verifica-se maiores densidades (acima de 25 kg/m3)
diminuição de 15% do ângulo de atrito apresentam valores de atrito de interface
partindo-se da maior densidade (33,5 kg/m³) levemente superiores àqueles obtidos para
para a intermediária (18,0 kg/m³). densidades menores. A coesão obtida parece
não sofrer grandes alterações apresentando
sempre valores próximos à unidade.

4 CONCLUSÃO

As principais conclusões deste trabalho são


elencadas a seguir.
• Dos resultados de ensaios de interface
para todas as amostras analisadas,
conclui-se que estas não apresentaram
um valor de pico bem definido;
• A massa especifica do EPS exerce
Figura 9. Envoltórias de pico da interface do EPS com pequena influência na resistência da
Geomembrana Texturizada de matriz plana. interface ao cisalhamento, embora tenha
se observado uma tendência de pequeno
aumento na resistência conforme
aumento da densidade no caso de
geomembrana texturizada. As variações
de resistência entre densidades extremas
foi por volta de 15%;
• Para a interface analisada, o melhor
desempenho em relação à resistência ao
cisalhamento foi do EPS de maior
densidade (33,5 kg/m³), o qual
apresentou valores dos parâmetros de
residência próximos aos de solo arenoso
(ângulo de atrito em torno de 30° e
Figura 10. Envoltórias residuais da interface do EPS com coesão nula);
Geomembrana Texturizada de matriz plana.
• As amostras de EPS de 10 kg/m³
Analisando as Figuras 9 e 10, nota-se que os mostraram-se pouco resistentes às
pontos destoantes das envoltórias têm caráter tensões normais elevadas, sofrendo
significativo, uma vez que afetam no ajuste deformações plásticas excessivas, apesar
linear das envoltórias de resistência. Como o de apresentarem atrito elevado na
ensaio foi realizado seguindo o procedimento interface com GM. Logo, é interessante
correto e tomando todos os cuidados para que um estudo englobando-se outros
ocorresse devidamente o cisalhamento de parâmetros para emprego dessa
interface, considera-se que essa fuga parcial da densidade.
linearidade é característica do próprio material
em cada uma das tensões analisadas.
Os resultados obtidos também corroboram os AGRADECIMENTOS
resultados obtidos na literatura (vide por
exemplo, os trabalhos de Negussey et al., 2001 Ao Laboratório de Geotecnia da Faculdade de
Engenharia de Bauru (UNESP) e aos técnicos

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do laboratório pela disponibilização do material
e ajuda necessária para a pesquisa. À FAPESP,
pelo apoio financeiro para realização da
pesquisa. À empresa Termotécnica, com matriz
em Joinville, Santa Catarina, pelo fornecimento
dos corpos de prova já dimensionados para os
ensaios que foram realizados.

REFERÊNCIAS

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compression. In: EPS Geofoam 2001 – Proceedings
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10.1061/(ASCE)MT.1943-5533.0000362, 119–124,
2012.

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550
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da Rigidez na Interação Geogrelha-Solo Laterítico


Argiloso
Gabriel Steluti Marques
Escola de Engenharia de São Carlos – USP, São Carlos, Brasil, gabrielstmarques@gmail.com

Jefferson Lins da Silva


Escola de Engenharia de São Carlos – USP, São Carlos, Brasil, jefferson@sc.usp.br

RESUMO: Este trabalho avalia o acréscimo de rigidez proporcionado pela variação do teor de
umidade (sucção matricial) e estrutura granulométrica de um solo tropical coesivo (laterítico
argiloso) e uma geogrelha. Para tanto, foram realizados ensaios de arrancamento monotônico num
equipamento de pequenas dimensões, sob três níveis de condição de moldagem do solo (Ótimo
“O”, Seco “S” e Seco pós-compactação “SP”) e dois níveis de tensões confinantes (14 e 28 kPa),
além de ensaios de tração faixa larga. Os ensaios de arrancamento monotônico avaliaram a
interação solo-geossintético sob deslocamento constante, para o cálculo da rigidez confinada da
geogrelha (Jc). Os ensaios de tração faixa larga foram realizados para avaliar a rigidez não
confinada da geogrelha (Jn). A condição de moldagem “S”, compactada com uma maior energia de
compactação em relação as outras condições, o que, consequentemente, alterou sua estrutura do
solo, apresentou o melhor desempenho. Apesar da geogrelha apresentar um módulo de rigidez não
confinado menor que os módulos confinados, a diferença entre as curvas foi pouco expressiva.
Assim, conclui-se que a geogrelha apresentou uma rigidez pouco influenciável pelas tensões
confinantes no solo em análise.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos; Geogrelha; Solo Laterítico; Solos não saturados; Rigidez


Confinada

ABSTRACT: This work evaluates the increase of stiffness provided by the variation of moisture
content (matrix suction) and grain size structure of a cohesive tropical (lateritic clay) soil and a
geogrid. For this, monotonic Pullout tests were carried out on a small equipment under three soil
condition ("O" Optimum, "S" Dry and "SP" Dry Post-Compaction) and two levels of confining
stresses ( 14 and 28 kPa), in addition Wide Width Tensile tests. The monotonic pullout tests
evaluated the soil-geosynthetic interaction under constant displacement, for the calculation of the
confined stiffness of the geogrid (Jc). The wide width tensile tests were performed to evaluate the
unconstrained stiffness of the geogrid (Jn). The "S" molding condition, compacted with a higher
compaction energy in relation to the other conditions, which consequently altered its soil structure,
presented the best performance. Although the geogrid has an unconfined stiffness modulus smaller
than the confined modules, the difference between the curves was not very significant. Thus, it can
be concluded that the geogrid has a stiffness that can not be influenced by the confinement of the
soil under analysis.

KEY WORDS: Geosynthetics; Geogrid; Lateritic Soil; Unsaturated soil; Confined Stiffness

1 INTRODUÇÃO da camada de base é a utilização de


geossintéticos como reforço (Perkins, 1999;
Uma das tecnologias disponíveis para controlar Miranda, 2013; Al-Qadi et al., 1998; Chang,
a manifestação de patologias, aumentar a vida Wang; Wango, 1998). Segundo Antunes
de serviço do pavimento e reduzir a espessura (2008), este material apresenta uma rigidez

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551
relativamente alta, que atua no retardamento do teor de umidade e a estrutura final do solo, no
desenvolvimento de deformações laterais e, ramo seco da curva de compactação. A etapa
consequentemente, resultam em menores experimental será realizada com o equipamento
deformações verticais na base adjacente ao de pequenas dimensões, disponível no
geossintético. No entanto, a aplicação de Laboratório de Geossintéticos da Escola de
geossintéticos em obras de pavimentos ainda é Engenharia de São Carlos, de forma a reduzir o
onerosa, o que restringe seu uso na grande tempo de montagem dos ensaios e obter um
maioria dos casos (Portelinha, 2012; Vilar e maior controle do equilíbrio da sucção.
Bueno, 2008). Os resultados desta pesquisa terão aplicação
Segundo Villibor et al. (2009), existe em no âmbito de estruturas de pavimentos, uma vez
abundância, no Brasil, materiais naturais que visam contribuir para a escolha da condição
conhecidos como solos tropicais. Uma série de de moldagem e do geossintético mais adequado
vias urbanas e rurais pelo país, já utilizam estes para o solo em estudo.
solos em sua estrutura, denominados
pavimentos de baixo custo. Estes solos, podem
apresentar elevada capacidade de suporte e 2 MATERIAIS E MÉTODOS
baixa expansibilidade, podendo ultrapassar os
valores da própria brita padrão, tal como 2.1 Classificação do solo
concluíram Dias (2007), Viana (2007), Dutra
Com o intuito de utilizar um solo com
(2014), dentre outros. No entanto, segundo
características tropicais na etapa experimental,
Oliveira (2013), são raros os estudos que
foi escolhido um solo tropical visualmente
avaliam a aplicação de geossintéticos como
argiloso, classificado como um silte de alta
reforço de pavimentos em solos tropicais de
plasticidade (MH), segundo o Sistema
granulometria fina (pavimentos de baixo custo).
Unificado de classificação e Solos (SUCS) e
De modo geral, os teores de umidade de
como uma argila arenosa-siltosa, segundo a
bases de pavimentos encontram-se abaixo da
norma brasileira ABNT NBR 6502:1995. Este
umidade ótima de laboratório, mesmo em
material foi coletado na rodovia Luiz Augusto
períodos de chuva (Villibor, 1981). Dessa
de Oliveira (SP-215), sentido São Carlos –
forma, estudar a possibilidade do uso de solos
Ribeirão Bonito.
tropicais locais coesivos, de granulometria fina,
A Tabela 1 apresenta um resumo das
em obras de infraestrutura reforçadas com
propriedades geotécnicas do solo utilizado,
geossintéticos, aliado ao efeito de secagem do
obtidas a partir dos ensaios realizados nos
solo, constitui um grande atrativo sob o ponto
Laboratórios de Mecânica dos Solos e
de vista econômico, além de trazer vantagens
Laboratório de Estradas. O solo,
competitivas no mercado, uma vez que a
predominantemente argiloso, possui 70% de
exploração de jazidas naturais, extração e
finos, com D50 = 0,007 mm d Dmax = 0,6 mm.
transporte de materiais apropriados costumam
ser serviços de custo elevado. Tabela 1. Propriedades geotécnicas do solo.
Neste contexto, considerando que para o
emprego de geossintéticos em reforço de base
de pavimentos, a rigidez inicial do sistema, a
partir de um esforço de solicitação ao
arrancamento, torna-se, muitas vezes, mais
importante que a resistência máxima ao
arrancamento, para ser utilizada como
parâmetros de projeto, esta pesquisa pretende
avaliar a rigidez confinada de uma geogrelha
biaxial no interior de um solo tropical coesivo
(argiloso laterítico). Para isso, foram realizados
ensaios de arrancamento monotônico, sob
diferentes condições de moldagem, variando o

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552
O emprego de solos finos locais, na condição semelhantes no momento do ensaio. No
natural ou mesmo estabilizados impõe a entanto, para se atingir uma condição de ensaio
necessidade de um estudo mais detalhado de no mesmo grau de compactação que a condição
suas propriedades geotécnicas, uma vez que o “SP”, o ensaio teve que ser submetido à uma
elevado teor de partículas finas, maior que 35%, energia de compactação maior (Trajetória S), o
caracterizam o solo em análise como não que proporcionou uma estrutura do solo mais
convencional. Deste modo, para se conhecer a floculada.
aplicabilidade deste solo em estruturas de
pavimentos, foi utilizada a classificação MCT
(Miniatura, Compactado, Tropical), que aborda
uma diferente classificação para solos tropicais,
proposta por Nogami e Villibor (1981). Através
destes resultados, o solo foi classificado como
Laterítico Argiloso (LG’), o que permite sua
utilização em base de pavimentos de baixo
custo.

2.2 Definição das Condições de Moldagem


Figura 1. – Ilustração das trajetórias e pontos de estudo
“O”, “S” e “SP” na curva de compactação
A Tabela 2 resume as condições iniciais e finais
de moldagem durante a preparação da caixa de
2.3 Caracterização da geogrelha
testes antes da realização dos ensaios. Todas as
condições de moldagem foram ensaiadas com
A geogrelha é do tipo biaxial tecida de
um grau de compactação (GC) igual a 98%. A
polipropileno (PP), recoberta com Policloreto
condição de moldagem Ótima “O” apresenta
de Vinila (PVC). Esta geogrelha foi escolhida
uma sucção estimada de ensaio de 15 kPa,
em razão da grande mobilização da resistência
enquanto que as condições Seca “S” e Seca pós-
com deformações inferiores à 10%, uma vez
compactação “SP” apresentaram sucções de 75
que as estruturas de pavimentos geralmente
kPa.
apresentam pequenas deformações. A Tabela 3
Tabela 2. Condições iniciais e finais de moldagem
apresenta as propriedades de resistência obtidas
W W Sucção para a geogrelha. Como a relação entre a
Ensaio Compactação Ensaio
GC ρdma x Estimada abertura de malha “B” e o D50, ou Dmax do solo
(%) (g/cm³)
(%) (%) (kPa) é considerávelmente grande, devido a
O 22.75 22.75 98 1.593 15 granulometria fina do solo, neste caso, a
S 18.75 18.75 98 1.593 75 superfície de ruptura se torna a superfície lateral
SP 22.75 18.75 98 1.593 75
dos elementos logitudinais e a resistência ao
arrancamento passa a não depender da abertura
A Figura 1 ilustra a representação e as da geogrelha (Jewell et al., 1984).
trajetórias dos três pontos de condição de
moldagem na curva de compactação do solo. Tabela 3. Características da geogrelha.
Percebe-se que as condições “O” e “SP” são
compactadas no mesmo ponto, porém somente
a condição “O” permanece neste ponto para a
realização dos ensaios de arrancamento,
enquanto que a condição “SP” perderá umidade
(diminuição do teor de umidade), através do
processo de secagem (Trajetória SP), até atingir
o mesmo teor de umidade do ensaio na
condição “S”. A condição de moldagem seca
“S”, será ensaiada no mesmo ponto que a
condição “SP”, apresentando sucções

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553
2.4 Equipamento de arrancamento Na lateral desta caixa existem dois orifícios,
com diâmetro de 7 mm, no qual foi possível
Como os ensaios de arrancamento foram inserir um tensiômetro para conferir as pressões
realizados para diferentes sucções, exigindo um de água intersticial desenvolvidas no solo
controle mais preciso do teor de umidade do coesivo durante o ensaio de arrancamento. O
solo presente na caixa e a utilização de uma tensiômetro foi instalado logo abaixo da
temperatura de secagem do solo constante, interface solo-reforço, com o auxílio de um pré-
optou-se pelo uso de uma caixa de pequenas furo realizado por uma furadeira elétrica.
dimensões. Os deslocamentos da geogrelha eram
Apesar da norma de arrancamento medidos em quatro pontos distintos (D1, D2,
monotônico ASTM D6706 (2001), especificar D3 e D4). A geogrelha foi confinada 210 mm
dimensões maiores que as presentes na caixa de longitudinalmente e 260 mm transversalmente
pequeno porte, Kakuda (2006) atestou um bom no interior da caixa, conforme Figura 3. Todos
desempenho desta caixa, criada por Teixeira os pontos foram posicionados a cada 45 mm e
(2003), para o uso de solos coesivos em ensaios somente os sensores D2 e D3 foram utilizados
de arrancamento monotônico. Depois disso, na presente análise, de modo a minimizar os
uma série de pesquisas foram realizadas com efeitos dos bordos nos cálculos da rigidez
este equipamento, com destaque para Ferreira confinada.
(2007), que comparou a rigidez confinada entre
diferentes geogrelhas e Pereira (2010) que
avaliou o resistência ao arrancamento de uma
geogrelha sob diferentes condições de umidade.
O equipamento de pequeno porte consiste
numa caixa rígida de aço, cujas dimensões
interiores são de 24,5 cm de comprimento, 30
cm de largura e 14,5 cm de altura, não atingindo
as mínimas especificações requeridas pela
norma (Figura 2). Na superfície superior foi
colocada uma tampa de reação acoplada em
uma bolsa de ar para a aplicação da tensão Figura 3. – Pontos de medição dos deslocamentos na
confinante. Essa bolsa possui um orifício para a geogrelha
entrada do ar sob pressão controlada por um
manômetro. Na região traseira, há um suporte 2.5 Procedimento do ensaio de arrancamento
para o encaixe dos quatro tell-tales, que são
ligados ao geossintético por meio fios O ensaio de arrancamento monotônico foi
inextensíveis. realizado de acordo com os procedimentos
descritos na norma ASTM D6706 (2001). As
sobrecargas aplicadas foram de 14 e 28 kPa,
possuindo como fator limitante a resistência
máxima da geogrelha no ensaio de tração faixa
larga, de modo que tensões confinantes maiores
resultariam em rupturas da geogrelha na região
não confinada, antes da ocorrência do
arrancamento. Entretanto, estas sobrecargas
encontram-se dentro da ordem de grandeza de
valores usualmente encontrados na literatura
(Ferreira; Bueno; Zornberg, 2008; DNIT ME
134, 2010), que buscam representar as tensões
atuantes em camadas de solo de base e sub-base
de pavimentos.
Figura 2. – Caixa de pequenas dimensões posicionada Os ensaios tiveram início somente após a
para o ensaio estabilização das leituras do tensiômetro. A

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554
velocidade dos ensaios adotada como referência como forma de aproximação para uma análise
foi 1,0 mm/min. quantitativa (Equação 1).
Para os ensaios na condição de moldagem
“SP”, a caixa, com todo o solo compactado, foi Força de Arrancamento (kN/m)
posicionada no interior da estufa à uma Jc = (1)
Deformação entre D3 e D2 (%)
temperatura constante de 30°C, de modo a
simular uma secagem à temperatura ambiente e
Os geossintético são reforços extensíveis,
temperaturas comumente encontradas no
cuja deformação no trecho confinado é maior
interior da estrutura de pavimentos. A perda de
em faixas próximas da face e menor em faixas
umidade era controlada através da massa da
no fundo da caixa. Apesar da força aplicada no
caixa inicial em relação ao peso final no
centro do geossintético ser menor que a força de
momento da pesagem.
arrancamento, o erro induzido ao Jc é
Após o solo atingir o teor de umidade
relativamente baixo, devido ao pequeno
desejado, a caixa era embalada com papel filme
comprimento confinado, presente na caixa de
e introduzida no interior de dois sacos plásticos
pequenas dimensões (Ferreira, 2007). A
firmemente fechados, de modo a impedir a
finalidade do ensaio não é de levar a geogrelha
troca de umidade com o meio, para que a
à ruptura, pois para grandes deslocamentos o
sucção se equilibre homogeneamente por todo o
ensaio não simularia o confinamento em toda
volume do solo.
extensão da geogrelha, uma vez que a bolsa
confinante para aplicação da tensão de
confinamento atuaria em uma área limitada
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
sobre a amostra. Com o ensaio de
arrancamento, pretende-se apenas estudar o
Para o emprego de geossintéticos em reforço de
comportamento carga-alongamento da
base de pavimentos, a rigidez inicial do sistema,
geogrelha confinada à baixas deformações, uma
a partir de um esforço de solicitação ao
vez que em obras reais de reforço de solos ou
arrancamento, torna-se mais importante que a
pavimentação com geossintéticos, não têm sido
resistência máxima ao arrancamento. Os
verificadas deformações maiores que 2% a 3%
métodos de dimensionamento de reforço de
(Lanz, 1992, Martins, 2000; Mendes, 2006).
base de pavimentos, tais como de Giroud e Han
Como descrito anteriormente, durante o
(2004), French Geotextile Committee (1981) e
ensaio de arrancamento foram feitas leituras das
Swiss Society of Geotextiles Professionals
cargas de tração, por meio da célula de carga, e
(1985), por exemplo, utilizam ensaio de tração e
dos deslocamentos ao longo do geossintético
o módulo de rigidez não confinado (Jn) do
por meio de quatro tell-tales entre distâncias
geossintético no dimensionamento da camada
iniciais conhecidas. A deformação foi obtida
de base.
através da diferença de deslocamentos entre os
Como o reforço empregado na obra está
sensores D2 e D3, cuja a distância relativa
numa condição confinada, o comportamento
inicial, de 4,5 cm, era conhecida no interior do
mecânico do geossintético inserido na estrutura
geossintético. Um exemplo da curva obtida no
do pavimento difere do observado nos ensaios
ensaio da geogrelha na condição de moldagem
de resistência à tração. Assim, presume-se que
S, com tensão confinante de 14 kPa é expresso
as deformações da geogrelha, numa situação de
na Figura 4. Com estas leituras, foi possível
campo, sejam menores que as obtidas nos
determinar a curva Carga de tração (kN/m) vs.
ensaios de resistência à tração não confinados.
Deformação (%), com a qual determina-se a
Apesar do ensaio de arrancamento não ser o
curva Rigidez secante (kN/m) vs. Deformação
ensaio mais indicado para este cálculo, o
(%). Assim, foi possível comparar estas curvas
módulo de rigidez confinado (Jc) foi definido
com as obtidas nos ensaios de tração simples
como a razão entre a força de arrancamento e a
(faixa larga).
deformação do geossintético entre dois
A Figura 5 ilustra o comportamento das
sensores, para cada instante do ensaio, tal como
curvas de módulo de rigidez não confinado e
fizeram Ferreira, Bueno e Zornberg (2008),
deformação da geogrelha, com base nos

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555
resultados do ensaio de tração faixa larga não (módulo de rigidez confinado) da geogrelha
confinado realizados no Laboratório de empregada na pesquisa em diferentes condições
Geossintéticos – EESC-USP. A rigidez não de moldagem, para a tensão confinante de 14
confinada foi obtida através da razão entre a kPa e 28 kPa. Nestes gráficos, a curva Jn
força de tração e a deformação entre dois utilizada foi a do corpo-de-prova que forneceu
pontos conhecidos, no ensaio de tração faixa os valores intermediários dentre os quatro
larga (ABNT 10319, 2013). Apesar dos CPs espécimes ensaiados à tração faixa larga para a
dos ensaios de tração atingirem resistências caracterização do geossintético. Os resultados
máximas muito próximas, na ordem de 34,5 apresentaram curvas de rigidez em uma ordem
kPa, com desvio padrão de 0,15 kN, as de grandeza semelhante às curvas obtidas por
pequenas diferenças nas deformações máximas, Ferreira, Bueno e Zornberg (2018), ensaiadas
na ordem de 6,3%, com desvio padrão de 1,1%, na mesma caixa de pequenas dimensões, porém
resultaram numa maior variabilidade das com solo granular nas camadas superiores.
curvas.

Figura 4. – Curvas de arrancamento para diferentes


pontos ao longo do geossintético e sucção aferida pelo
tensiômetro (Condição S-14)

Figura 5. – Curvas de módulo de rigidez não confinado


do ensaio de tração faixa larga
Figura 6. – Comparação entre a rigidez confinada e não
A Figura 6 ilustra a comparação entre JN confinada em diferentes condições de moldagem para a
tensão confinante de: (a) 14 kPa e (b) 28 kPa
(módulo de rigidez não confinado) e JC

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556
Na Figura 6 (a), para as tensões confinantes em 101% e para o condição “SP” na tensão
de 14 kPa, apesar das curvas de rigidez confinante de 14 kPa, cuja rigidez decresceu em
confinada para todas as condições de moldagem 16% de “Jn” numa deformação de 2%. Além
apresentarem um módulo inicial maior que a disso, para uma mesma condição de moldagem,
curva de rigidez não confinada, a partir de 1% as mudanças da confinante de 14 para 28 kPa
de deformação, somente a condição “S” proporcionaram um aumento da rigidez em
apresentou um acréscimo na rigidez. Já para as todos os casos.
tensões confinantes de 28 kPa (Figura 6, b), a Na figura em geral, apesar da condição “Jn”
rigidez do ensaio de tração faixa larga não fornecer os menores valores de rigidez com a
superou a rigidez das condições de moldagem deformação, a curva se manteve contígua às
com uma deformação de 2%. curvas correspondentes aos ensaios confinados,
Para os dois casos, os ensaios na condição o que sugere que, para a geogrelha compactada
“S” apresentaram o maior incremento de rigidez no teor de umidade ótimo e sob pequenas
provocado pelo confinamento, o que concorda tensões confinantes, o ensaio de tração faixa
com os resultados obtidos em Portelinha et al. larga não confinado pode ser representativo de
(2018), onde os ensaios compactados sua condição confinada, com diferenças de até
diretamente em um teor de umidade menor que 35%.
o teor de umidade ótimo, apresentaram
melhores desempenhos em relação aos ensaios
na condição ótima.
A condição “SP” apresentou uma curva de
rigidez semelhante à condição “O” nas duas
confinantes. Entretanto, pela primeira possuir
uma maior sucção matricial no solo adquirida
pela secagem, esperou-se a obtenção de uma
rigidez semelhante à da condição “S (ensaiada
com igual sucção), o que, de acordo com a
Figura 6, não ocorreu.
Isto pode indicar a existência de outros
parâmetros envolvidos na interação solo-
geogrelha. Estes apresentando uma influência
ainda mais espressiva na resistência de interface
que a sucção matricial do solo, tais como a
estrutura do solo ou a energia de compactação.
A quantificação destes parâmetros requer uma
análise estística paramétrica dos ensaios de
arrancamento, o que não contempla os objetivos
principais deste trabalho.
Em termos de números, tomando como base
o módulo de rigidez secante para uma
deformação de 2%, valor usualmente
requisitado para projetos de engenharia, a
Figura 7 (a) ilustra que somente os ensaios da
condição “S” de moldagem apresentaram um
módulo de rigidez acima do não confinado, cuja
representação gráfica é dada pela linha
horizontal tracejada (594,4 kN/m). A Figura 7
(b) ilustra o acréscimo de rigidez obtido em Figura 7. – (a) Módulo de rigidez secante obtido para
relação a condição não confinada “Jn”, com uma deformação de 2% (b) Acréscimo de rigidez em
destaque para a condição “S” na tensão relação à rigidez não confinada para uma deformação de
confinante de 28 kPa, que incrementou a rigidez 2%

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557
4 CONCLUSÃO Antunes, L. G. S. (2008) Reforço de pavimentos
rodoviários com geossintéticos. Dissertação de
Mestrado – Universidade de Brasília. Brasília, Brasil.
Este estudo avaliou a rigidez confinada dos 2008.
geossintéticos, em diferentes condições de ASTM D 6706 (2001) - Standard Test Method for
moldagem, através de ensaios de arrancamento Measuring Geosynthetic Pullout Resistance in Soil.
monotônico. Após a comparação destes Chang, D. T.; Wang, W. J.; Wang, Y. H.(1998)
resultados com a rigidez não confinada, obtida Laboratory study of the dynamic test system on
geogrid reinforced subgrade soil. In:
por meio do ensaio de tração faixa larga, têm-se INTERNATIONAL CONFERENCE ON
as seguintes conclusões: GEOSYNTHETICS, 6, Atlanta. Proceedings... p.
O fato da condição de moldagem “S” 967-970.
apresentar rigidez, em média, 75% maiores que Dias, I. M. (2007) Estudo de solos tropicais para uso em
a condição “SP”, ambas ensaiadas com a pavimentação a partir de ensaios triaxiais estáticos.
Dissertação de mestrado – Escola de Engenharia de
mesma sucção de 75 kPa, indica que outros São Carlos, USP, São Carlos.
parâmetros podem estar influenciando na DNIT 134/2010 – ME (2010), Pavimentação – Solos –
interação entre o solo e o geossintético, tais Determinação do módulo de resiliência – Método de
como a estrutura do solo ou mudanças nas ensaio.
propriedades do solo laterítico causadas pelo Dutra, S. V. M. (2014) Estado da arte sobre a utilização
de solos lateríticos em pavimentos rodoviários.
aumento da energia de compactação. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Engenharia
Apesar da condição de rigidez não confinada da Universidade do Porto, Porto, Portugal.
(Jn) fornecer os menores valores de rigidez com Ferreira, J. A. Z. (2007) Estudo de reforço de pavimentos
a deformação, a curva do ensaio de tração faixa com ensaios de arrancamento em equipamento de
larga se manteve adjacente às curvas pequenas dimensões. 112p. Dissertação (mestrado) –
Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de
correspondentes aos ensaios confinados, o que São Paulo, São Carlos.
sugere que o ensaio não confinado pode ser Ferreira, J. A. Z.; Bueno e Zornberg (2008) Pavement
representativo de sua condição confinada sob reinforcement study using small dimension pullout
baixas pressões verticais. No entanto, são equipment,In: The First Pan American Geosynthetics
necessários um número maior de ensaios, além Conference & Exhibition, Cancun, Mexico, p. 963-
972.
de análises da aplicação em casos reais de French Geotextile Committee. (1981) Recommendations
obras, para a validação desta afirmação em pour l’emploi des geotextiles dans les voles de
campo. De qualquer modo, a utilização da circulation provisoures, les voies a faible traffic et les
rigidez não confinada em projetos costuma ser couches de forme. Comite Français des Geotextiles.
considerada uma medida conservadora. Boulogne. France.
Giroud, J. P.; Han, J. (2004) Design method for geogrid-
reinforced unpaved roads. I. Development of design
method. Journal of Geotechnical and
AGRADECIMENTOS geoenvironmental engineering, v. 130, n. 8, p. 775-
786.
Nossos agradecimentos à CAPES, pelo Jewell, R. A., Milligan, G . W. E., Sarsby, R. W. and
Dubois, D. (1984). Interaction between soil and
financiamento da pesquisa e ao Laboratório de geogrids. Proceedings of the Conference on Polymer
Geossintéticos EESC-USP, por toda a estrutura Grid Reinforcement, Thomas Telford Publishing,
e equipamentos fornecidos. London, pp. 18- 30.
Kakuda, F. M. (2005) Estudo de ensaios de
arrancamento de geogrelha com utilização de um
equipamento reduzido. Dissertação de Mestrado –
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alongamento de geotêxteis não tecidos submetidos à Engenharia de São Carlos da USP. São Carlos, SP.
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559
560
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Resistência ao cisalhamento de interface em sistemas de barreiras


impermeáveis com geomembranas reforçadas
José Wilson Batista da Silva
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, josewilsonbatistadasilva@gmail.com

Leonardo Vinícius Paixão Daciolo


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, leonardodaciolo@gmail.com

Natália de Sousa Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

RESUMO: A aplicação de geomembranas é amplamente utilizada na impermeabilização, cobertura


e taludes laterais de aterros sanitários, bem como em impermeabilização de lagoas de tratamento,
reservatórios, lagos e canais. Atualmente, existem no mercado as chamadas “geomembranas
reforçadas”, as quais apresentam maior resistência mecânica, aliada a uma impermeabilização de
elevado desempenho. No entanto, pouco se conhece na literatura sobre os parâmetros de cisalhamento
de interface em sistemas com estes produtos, esperando-se valores diferentes dos valores das demais
geomembranas, uma vez que a textura destes materiais é peculiar ao processo de fabricação. Assim,
esta pesquisa avaliou, por meio de ensaios de cisalhamento direto, os parâmetros de resistência ao
cisalhamento de interfaces de diferentes geomebranas reforçadas e um solo argiloso, bem como com
um geocomposto bentonítico hidratado. Os resultados das interfaces Solo-geomembrana
demonstraram que os valores de resistência estão condicionados a textura da geomembrana reforçada.
Os ensaios nas interface Geomebranas-GCL, na condição inundada, acarretaram em valores
significativamente menores para os parâmetros de resistência, uma vez que a hidratação diminui a
parcela adesiva e a interação atritiva entre o GCL e as geomembranas. Os valores de resistência de
pico e pós-pico não diferiram muito para as interfaces Geomebranas-solo, enquanto apresentaram
grandes oscilações para as interfaces Geomebranas-GCL.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geomembranas reforçadas, Resistência ao cisalhamento,


Interface, Solo argiloso, GCL hidratado.

ABSTRACT: The application of geomembranes is widely used in the waterproofing of landfills, in


the lateral floors, as well as in waterproofing for treatment ponds, channels and lagoons. Nowadays,
"reinforced geomembranes" are available on the market, which present greater mechanical resistance,
combined with high waterproofing performance. However, little is known in the literature about
interface shear parameters in systems with these products, where different values are expected, in
relation to other geomembranes, since the texture of these materials is peculiar to the manufacturing
process. Thus, this research evaluated, through direct shear tests, the interface shear strength
parameters of different reinforced geomembranes and a clayey soil, as well as a hydrated geosynthetic
clay liner (GCL). The results of soil-geomembranes interfaces shear strenght are dependent on the
texture of the reinforced geomembranes. The tests performed on Geomembrane-GCL interfaces, in
the flood condition, lead to significant lower interface shear parameters, since the hydration reduced
adhesion and friction interaction between the GCL and geomembranes. The residual and peak shear
strenght values did not differ for Soil-Geomembrane interfaces, while presented higher alterations for
Geomembrane-GCL interfaces.

KEY WORDS: Geosynthetics, Reinforced geomembranes, Shear strength, Interface, clay soil,
hydrated GCL.

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561
1 INTRODUÇÃO interação. McCartney et al. (2009) demonstram
ainda, a importância de estudar interfaces de
Uma das áreas que recentemente tem demandado geomembrana com GCLs hidratados, pois o
alta empregabilidade do uso de geossintéticos, tempo de hidratação do GCL influencia no
especialmente as barreiras geossintéticas (ou desempenho da interface.
geomembranas), é em sistemas de Já com relação as diferenças entre as
impermeabilização de fundo e cobertura aterros geomembranas atualmente existentes no
sanitários, bem como em lagoas de tratamento, mercado, as conhecidas “geomembranas
reservatórios, lagos e canais. Nestes casos, o reforçadas” tem a principal função de promover
grande desafio é garantir a funcionalidade do impermeabilização de elevado desempenho,
sistema de impermeabilização, o qual evita a além de promoverem elevada resistência
infiltração de percolados. De modo geral, um mecânica e flexibilidade, aliada a baixíssimos
material que reúne todas estas características são coeficientes de permeabilidade. Estas
as geomembranas, amplamente utilizadas em geomembranas foram idealizadas para promover
liners. desempenho superior em aplicações de
O desempenho geral de um liner ou barreira contenção de líquidos e em coberturas
impermeável, no entanto, é dependente da temporárias e permanentes. A Figura 1 apresenta
interação entre os vários componentes. De um exemplo de estrutura de geomembrana
acordo com Touze-Foltz et al. (2016), a reforçada. No entanto, apesar da atual ampla
abordagem de projeto e os requisitos dos ensaios aplicação destas geomembranas, muito pouco se
precisam focar nas interrelações de tensões e conhece na literatura sobre os parâmetros de
deformações entre os compostos do liner, tais interface de sistemas com estes produtos, uma
como a resistência ao cisalhamento de interface. vez que estas apresentam textura peculiar
Essas geomembranas, quando dispostas em (devido ao processo de fabricação) em relação às
taludes, por exemplo, podem induzir um plano tradicionais geomembranas texturizadas.
preferencial de ruptura, onde pode ocorrer
deslizamento relativo dos materiais da interface Revestimento PEBD
(Santos e Araújo, 2015). Ainda de acordo com
Touze-Foltz et al. (2016), o contato entre o
geossintético e o solo do subleito afeta a força de
cisalhamento da interface. Núcleo de PEAD de
Na literatura, existem relatos que demonstram alta resistência
a importância do estudo de interfaces com
Revestimento PEBD
geomembranas, como estudado por Mitchell et
al. (1990) no caso da ruptura aterro de Kettleman Figura 1 – Esquema das camadas de revestimento
Hills, nos EUA. Assim, o conhecimento do polimérico de uma geomembrana reforçada.
comportamento da interface torna-se
indispensável, uma vez que este é um importante Assim, esta pesquisa teve como objetivo,
parâmetro para análises de estabilidade. De investigar os parâmetros de resistência ao
acordo com Thiel (2001), em projetos de cisalhamento de interfaces de diferentes sistemas
sistemas de barreiras impermeáveis com de barreiras impermeáveis com quatro tipos de
geossintéticos, devem ser verificados tanto geomembranas reforçadas. As interfaces
parâmetros de cisalhamento de interface de pico avaliadas foram solo-geomembrana e
como residuais. Além disso, Thiel (2001) geomembrana-GCL hidratado, por meio de
recomenda o uso de parâmetros de cisalhamento ensaios de cisalhamento direto. Além destes,
de interface residuais nas laterais de taludes. foram realizados ensaios para a caracterização
Dentre as diferentes interfaces encontradas geotécnica dos solos e dos geossintéticos. Os
nestes sistemas, estão solo-geomembrana, resultados permitiram comparar o
geomembrana-geotêxtil e interfaces de comportamento das diferentes interfaces
geocomposto bentonítico-geomembrana, as propostas e realizar análises de eficiência de
quais apresentam diferentes características de interfaces.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

562
2 MATERIAIS E MÉTODOS O geocomposto bentonítico, ou também
chamado Geosynthetic Clay Liner (GCL)
2.1 Solo utilizado nesta pesquisa é constituído por uma
camada de bentonita de alta capacidade de
O solo utilizado nesta pesquisa consiste em uma expansão, encapsulada entre dois geotêxteis
argila residual de basalto, proveniente de uma (tecido e não tecido) unidos por agulhamento
jazida localizada no Jardim Parque Florida na (Figura 3).
cidade de Santa Gertrudes-SP. A Tabela 1 reúne
as características geotécnicas do solo utilizado.

Tabela 1. Propriedades do solo.


Propriedade Valor Referência
Fração areia (%) 36
ABNT NBR
Fração silte (%) 14
7181 (2016)
Fração argila (%) 50
Peso específico dos sólidos ABNT NBR
3,09
(kN/m³) 9813 (2016) Figura 3: Amostra de GCL.
Limite de liquidez (%) 51 ABNT NBR
Limite de plasticidade (%) 29 6459 (2016)
ABNT NBR
A Tabela 2 apresenta as propriedades de
Índice de plasticidade (%) 22 7180 (2016) caracterização das geomembranas reforçadas e
Peso específico seco máx.
16,8 ABNT NBR
do GCL.
(kN /m³)
7182 (2016)
Teor de umidade ótimo (%) 24,0 Tabela 2. Propriedades dos geossintéticos.
Ângulo de Atrito (°) 38 ASTM D3080
Proprieda GM1 GM GM Referênci
Coesão (kPa) 32 (2011) GCL GM2
de 3 4 a
Espessura
5,5 0,30 0,35 0,65 1,0
(mm) ASTM
2.2 Geossintéticos D751
Gramatura
3900 118 189 423 587
(g/m²)
As geomembranas reforçadas utilizadas nesta Resistência
ASTM
à tração - 226 850 1750 1750
pesquisa são: GM1 (polietileno de alta densidade (N)
D7003
- PEAD) e GM2, GM3 e GM4 (núcleo de PEAD
e revestidas com polietileno baixa densidade -
PEBD), com diferentes espessuras e texturas. A 2.3 Ensaio de cisalhamento de interface
Figura 2 apresenta as geomembranas reforçadas.
Nesta pesquisa, para a determinação dos
GM1 GM2 parâmetros de interface, foi utilizado o
equipamento de cisalhamento direto de 100 x
100 mm, tal como recomendado por Koerner
(2005) e utilizado na pesquisa de Markou et al.
(2018). O ensaio de cisalhamento direto é
utilizado para obtenção de coordenadas de
pontos da envoltória de resistência de Mohr-
(a) (b) Coulomb, onde são encontrados os parâmetros
GM3 GM4 de resistência coesão (c) e ângulo de atrito (ϕ) do
solo. Analogamente, para ensaios de
cisalhamento de interface, determinam-se os
parâmetros adesão (a) e ângulo de atrito de
interface (δ).
Assim, para a realização dos ensaios, as
geomembranas reforçadas e o GCL foram
(c) (d) colados em uma peça de madeira adaptada ao
Figura 2 – Geomebranas reforçadas: (a) GM1; (b) GM2;
(c) GM3; (d) GM4. aparelho de cisalhamento para que as faces

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563
ficassem em contato durante todo ensaio, sem a inundada (por 24 horas) para mobilização físico-
interferência de eventuais dobras ou química da bentonita presente no GCL. Os
deformações. A Figura 4 apresenta o modelo de ensaios com a interface GM-GCL foram
montagem do ensaio empregado. A Figura 5 realizados no contato com o geotêxtil tecido do
apresenta amostras de geomembranas e GCLs GCL.
após a realização dos ensaios, mostrando que não
houve dobras durante o cisalhamento.
3 RESULTADOS
Força Normal
3.1 Interface Solo-Geomembrana
Geossintético Cabeçote
As envoltórias de resistência ao cisalhamento
Força de interface solo-GM obtidas são apresentadas
Solo na Figura 6. Verifica-se que as interfaces Solo-
Caixa
GM4 e Solo-GM2 apresentaram melhor
Madeira comportamento de resistência de interface. Este
Rígida
fato é provavelmente devido a estas
geomembranas reforçadas apresentarem maior
Figura 4 – Montagem do ensaio de cisalhamento de
interface. textura (devido ao processo de fabricação),
acarretando nestes resultados. Das interfaces
analisadas na Figura 6, a Solo-GM1 e a Solo-
GM3 apresentaram o menor desempenho de
atrito de interface para tensões normais
superiores a 200 kPa, as quais foram obtidas
através de extrapolaçao da envoltória.

400
Solo
GM1
Tensão Cisalhante (kPa)

Figura 5 – Geomembranas e GCL após o ensaio de GM2


300 GM3
cisalhamento: (a) GM4; (b) GCL.
GM4

Os ensaios de cisalhamento de interface nas 200


amostras solo-geomembrana reforçadas foram
realizados de acordo com a ASTM D 6243
(2016), nas tensões normais de 25, 50, 100 e 200 100
kPa. Os ensaios de cisalhamento de interface Solo-GM
geomembrana-CGL foram realizados de acordo
0
com a ASTM D 5321 (2017) nas mesmas 0 200 400 600 800
tensões. Em todos os casos, a velocidade foi de Tensão Normal (kPa)
0,3 mm/min. A título de comparação, a interface Figura 5: Envoltórias de resistência ao cisalhamento de
solo-solo também foi analisada, nas mesmas interface solo–geomembranas.
condições.
Análises de eficiência de interfaces são
2.4 Programa Experimental apresentadas na Figura 7, as quais foram
realizadas em termos de parâmetros de eficiência
Foram realizadas quatro envoltórias de atritiva e adesiva de interface, tal como na
resistência de interface solo-geomembrana proposta de Koerner (2005). Verifica-se que as
(Solo-GM) na condição de umidade ótima de interfaces Solo-GM2 e Solo-GM4 apresentaram
compactação (grau de compactação de 95%) e maior eficiência atritiva (Eϕ), próximas a do solo
quatro envoltórias de resistência de interface natural, o que justifica o aparente paralelismo
geomembrana-GCL (GM-GCL) na condição das envoltórias na Figura 6.

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564
Ec ensaio, apresentou tendência a expansão
1,60 Solo-GM
Eϕ conforme as solicitações cisalhantes
1,36 aumentaram. Este comportamento da dilatância
Parâmetros de Eficiência de Interface

1,40
foi observado para as demais amostras, que
1,20 apresentaram magnitude inferior ao solo natural.
1,00 As interfaces que apresentaram maior
0,82 desempenho de resistência (GM2 e GM4)
0,80 0,69 também apresentaram magnitudes maiores e
0,67
0,60 0,51 semelhantes entre si. A interface com a GM1
0,43 0,41 apresentou menor tendência a dilatância, sendo
0,40 praticamente nula.
0,20 A partir dos valores de tensão pós-pico
0 apresentados pelas diferentes interfaces solo-
0,00 geomembrana, foi possível determinar as
GM1 GM2 GM3 GM4
envoltórias de tensões pós-pico de cada
Figura 6: Eficiências atritiva (Eϕ) e adesiva (Ec) para as interface, apresentadas na Figura 8.
interfaces solo–geomembranas.
400
Ainda na Figura 6, o menor valor de Eϕ foi Solo
encontrado para a interface com a Solo-GM3. Tensão Cisalhante (kPa) GM1
Paralelamente, esta interface também apresentou GM2
300 GM3
o maior valor para a eficiência adesiva (1,36)
GM4
apesar de ter exibido o menor desempenho de
resistência para as interfaces analisadas. A 200
interface com Solo-GM2 apresentou coesão
nula, o que justifica a eficiência adesiva nula
encontrada. 100
Com relação aos resultados de dilatância e Solo-GM
deformação vertical das amostras ensaiadas, a (PÓS-PICO)
Figura 7 exibe os valores do ângulo de dilatância 0
encontrados (parâmetros obtidos a partir dos 0 200 400 600 800
pontos definidos para ruptura por cisalhamento). Tensão Normal (kPa)
Figura 8: Envoltórias de resistência pós-pico para as
Solo GM1 GM2 GM3 GM4 interfaces solo–geomembranas.
0,05
Em termos de resistência pós-pico, observa-
0,040 Solo-GM se na Figura 8 que as interfaces com as GM2 e
0,04
Ângulo de dilatância - ψ ( )

GM4 também apresentaram maior e semelhante


desempenho. As interfaces com as GM1 e GM3
0,03 0,027 apresentaram comportamento semelhante. Ao
0,023 contrário das envoltórias de tensões de pico, a
0,02 GM3 apresentou o menor desempenho em
termos pós-pico.
0,010 A Tabela 3 sintetiza todos os resultados
0,01 0,006 obtidos para as interfaces solo-geomembranas.
As interfaces analisadas demonstraram
0,00 comportamento de resistência de interface
Figura 7: Ângulos de dilatância para as interfaces solo– semelhante em termos de envoltórias de pico e
geomembranas. residuais. A GM3 apresentou a maior redução
em termos de ângulo de atrito de interface pico e
De acordo com a Figura 7, o solo natural, nas pós-pico (cerca 3° de variação).
condições de compactação e drenagem do

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565
Tabela 3. Resultados obtidos para as diferentes interfaces picos iniciais de resistência. Portanto, para a
solo-geobembrana. construção das envoltórias, optou-se pelos picos
Parâmetro GM1 GM2 GM3 GM4 globais de resistência observados durante os
apico (kPa) 16,5 0,0 27,3 10,2 ensaios de cisalhamento.
δpico (°) 12,1 18,5 11,7 19,2
Ec 0,82 0,00 1,36 0,51
30
Eϕ 0,43 0,67 0,41 0,69 100 kPa GM-GCL
ψ( ) 0,006 0,023 0,010 0,027
25
ares (kPa) 15,8 0,00 22,9 12,5

Tensão Cisalhante (kPa)


δres (°) 12,0 18,0 9,1 17,4
20
GM1
O comportamento observado nestes
resultados é coerente com os encontrados por 15 GM2
Fleming et al. (2006), onde o autores estudaram GM4
a resistência de interface de três solos com 10
geomembranas de PEAD lisas e observaram que
o aumento das tensões confinantes acarreta em 5
um incremento dos valores de resistência. Este
incremento de resistência encontrado é resultado 0
de um embricamento das partículas de solo na 0 2 4 6 8 10
estrutura da geomembrana, contribuindo para o Deslocamento (mm)
aumento da parcela atritiva. Figura 9: Curvas tensão-deslocamento Geomembranas -
GCL para 100 kPa de tensão normal.
No caso da presente pesquisa, essa variação
de resultados entre as geomebranas, com o
comportamento de resistência em alguns casos A Figura 10 exibe as envoltórias de
próximos ao do próprio solo, comprovam a resistência obtidas para as interfaces GM-GCL.
influência da texturização das geomebranas no Verifica-se que em todos os casos as envoltórias
desempenho da interface. Fatores como foram semelhantes, sobretudo, para níveis de
resistência ao escoamento, rigidez, presença ou tensão normais de 200 kPa. O desempenho da
ausência de reforço podem aumentar ou reduzir interface com GM4 foi evidentemente superior
efeitos de embricamento de atrito e de dilatação, aos demais, em termos atrito de interface.
reforçando a necessidade de estudos
individualizados na aplicação desta barreiras. 400 Dados de McCartney,
GM1 Zornberg e Swan Jr. (2009)
350 GM2
3.2 Interface Geomembrana – GCL
GM3
Tensão Cisalhante (kPa)

300
A fim de analisar o desempenho das diferentes GM4
geomembranas reforçadas atuando em interfaces 250
com GCL hidradato, foram realizados ensaios de GM-GCL
cisalhamento de interface em condições 200
inundadas (para mobilização expansiva da 150
bentonita). Diferentemente das interfaces com
solo, as curvas tensão-deformação para 100
interfaces GM-GCL não apresentaram, em sua
maioria, comportamento sem picos de 50
resistência bem definidos como é observado na
Figura 9. 0
0 200 400 600
Este fato é característicos da interação entre
as geomembranas e o geotêxtil tecido presente Tensão Normal (kPa)
no GCL que, devido seus filamentos, tende a Figura 10: Envoltórias de resistência ao cisalhamento de
interface para as interfaces Geomembranas-GCL.
oferecer resistência ao cisalhamento após os

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566
McCartney et al. (2009) realizaram um 4 CONCLUSÕES
levantamento de resultados de ensaios de
resistência de interface GM-GCL com diferentes A fim de analisar o comportamento de
configurações, cujos resultados predominam no resistência ao cisalhamento de interface em
interior da região hachurada do gráfico da Figura sistemas de barreiras impermeáveis com
10. A partir da comparação presente na Figura geomembranas reforçadas, foram estudadas 4
10, é possível observar um comportamento geomembranas com diferentes espessuras e
típico para as geomembranas reforçadas, dentro texturas, em interfaces com solo argiloso ou
das constatações destes autores para outras GCL hidratado. Podem ser destacadas as
geomembranas. conclusções a seguir:
 No caso da interface solo argiloso e
GM1 GM2 GM3 GM4 geomembrana reforçada, devido estas
0,03 apresentarem textura peculiar ao
GM-GCL processo de fabricação, os valores de
0,03 0,023 ângulo de atrito (de pico) de interface
Ângulo de dilatância - ψ ( )

foram da ordem de 12° a 19°. O melhor


0,02 desempenho de interface encontrado foi
atribuído a GM4-solo, sendo este
resultado esperado uma vez que se trata
0,02
da geomembrana com maior espessura
de texturização. Os parâmetros de adesão
0,01 e atrito de interface residuais no caso
0,005 solo-geomembrana não apresentaram
0,005
0,01 alteração significativa em relação aos de
0,002 pico;
0,00  Os estudos envolvendo geomembranas e
Figura 11: Ângulos de dilatância para as interfaces GCL hidratado revelaram uma redução
Geomembranas-GCL. significativa na resistência de interface
deste sistema, tanto na parcela atritiva
Com relação ao parâmetro de dilatância, as (11,9 a 23,8º), quanto na baixa resistência
interfaces GM-GCL também demonstraram de adesão existente (1,8 a 2,9kPa). Em
tendência a expansão durante o cisalhamento. comparação com as interfaces solo-
Contudo, as interfaces apresentaram baixas geomembrana, valores menores eram
magnitudes para este parâmetro, com excessão esperados, uma vez que o efeito da
da interface GM2-GCL com valor de 0,023° hidratação diminui a parcela adesiva e a
(Figura 11). A Tabela 4 sintetiza os resultados interação atritiva entre o GCL e as
obtidos para as interfaces Geomembranas-GCL. geomembranas. As geomembranas
reforçadas GM4 e GM2, em contato com
Tabela 4. Resultados obtidos para as diferentes interfaces o CGL hidratado, apresentaram os
geomembrana - GCL. melhores resultados, destacando
Parâmetro GM1 GM2 GM3 GM4 novamente a influência da altura da
a (kPa) 1,8 2,9 1,8 0,00 texturização devido ao processo de
δ( ) 14,37 12,7 11,9 23,83 fabricação.
ψ( ) 0,005 0,023 0,002 0,005
Como verificado nesta pesquisa, cada sistema
A redução dos valores de resistência para as de barreira impermeável com geomembrana
interfaces Geomembrana-GCL era esperada, deve ter seus parâmetros de cisalhamento de
uma vez que o efeito da hidratação diminui a interface verificados, sobretudo mediante
parcela adesiva e a interação atritiva entre o GCL diferentes tensões. Dessa forma, a extrapolação
e as geomembranas. dos resultados dessa pesquisa para outras
condições de campo deve ser feita com cautela.

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567
AGRADECIMENTOS Civil)–Universidade de São Francisco. Itatiba,
2008.
Os autores agradecem ao LabGEO/UFSCar pelo FLEMING, I. R.; SHARMA, J. S.; JOGI, M. B.
apoio institucional e a bolsa de iniciação Shear strength of geomembrane–soil interface
científica concedida pelo CNPq/PIBIC. under unsaturated conditions. Geotextiles and
Geomembranes, v. 24, n. 5, p. 274-284, 2006.
Agradecimentos a Geosoluções e a Inovageo
KOERNER, R. (2005). Designing with
pelos geossintéticos fornecidos para esta geosynthetics. Ed. Prentice Hall Inc. 818 p.
pesquisa. MCCARTNEY, J.S., ZORNBERG, J.G., and Swan,
R.H. (2009). “Analysis of a Large Database of
GCL Geomembrane Interface Shear Strength
REFERÊNCIAS Results.” Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, ASCE, Vol. 134,
ABNT (2004). NBR 6459: Solo – Determinação o No. 2, February, pp. 209-223.
limite de liquidez. Rio de Janeiro, 2016. MITCHELL, J.K.; SEED, R.B.; SEED, B.H. (1990).
_____ NBR 7180: Solo - Determinação do limite de Kettleman Hills waste landfill slope failure I: liner
plasticidade. Rio de Janeiro, 2016. system properties, Journal of Geotechnical
_____ NBR 7181: Solo - Análise Granulométrica, Engineering, Vol. 116, n. 4, p. 647-668.
Rio de Janeiro, 2016. SANTOS, F. R. B. C.; ARAÚJO, G. L. S. (2011).
_____ NBR 7182: Solo -Ensaio de Compactação, Rio Interação Solo-Geomembrana Com Variação Do
de Janeiro, 2016. Grau De Saturação Em Solo Fino.
_____ NBR 9813: Solo — Determinação da massa REGEO/GEOSSINTÉTICOS 2015, Brasília.
específica aparente in situ, com emprego de SILVA, N. L. da S. e. Aterro sanitário para resíduos
cilindro de cravação. Rio de Janeiro, 2016. sólidos urbanos - RSU – matriz para seleção da
ASTM – American Society for Testing Materials. área de implantação. 2011. 68 f. Trabalho de
ASTM D3080M-11, Standard Test Method for Conclusão de Curso (Bacharel em Engenharia
Direct Shear Test of Soils Under Consolidated Civil) – Departamento de Tecnologia,
Drained Conditions, Universidade Federal de Feira de Santana, Feira
_____ ASTM D 5321 – 06 17, Standard Test Method de Santana.
for Determining the Coefficient of Soil and THIEL, R. P. Residual shear strength for landfill
Geosynthetic or Geosynthetic and Geosynthetic bottom liner stability analyses. In: Proceedings of
Friction by Direct Shear Method. ASTM the 15th GRI Conference. Folsom, Pa. 2001. p.
International, West Conshohocken, PA, 40-70.
20072017. TOUZE, N.; LUPO, J.; BARROSO, M. (2009).
_____ ASTM D6243 / D6243M-16 - Determining Geoenvironmental applications of geosynthetics.
the Internal and Interface Shear Strength of Keynote Paper, EuroGeo4, 19-20 November
Geosynthetic Clay Liner by the Direct Shear 2009, Coimbra, Portugal. 1-98.
Method, ASTM International, West TOUZE-FOLTZ, N. et al. A review of the
Conshohocken, PA, 2016, performance of geosynthetics for environmental
_____ ASTM D 6528 6143 – 07 16 – Determining protection. Geotextiles and Geomembranes, v.
the Internal and Interface Shear Strength of 44, n. 5, p. 656-672, 2016.
Geosynthetic Clay Liner by the Direct Shear
Method1Standard Test Method for Consolidated
Undrained Direct Simple Shear Testing of
Cohesive Soil (Withdrawn 2016), ASTM
International, West Conshohocken, PA, 2016.
_____ ASTM D7003 / D7003M-03(2013)e1,
Standard Test Method for Strip Tensile Properties
of Reinforced Geomembranes, ASTM
International, West Conshohocken, PA, 2013.
_____ ASTM D751-06(2011), Standard Test
Methods for Coated Fabrics, ASTM International,
West Conshohocken, PA, 201.
FELDKIRCHER, Wendel. Impermeabilização de
aterro sanitário com geomembrana. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharel em Engenharia

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

568
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Resistência ao Cisalhamento Direto de Misturas Solo-EPS


Luiz Filipe Caríssimo Soares
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, luizfilipe.carissimo@hotmail.com

Matheus Luiz Rodrigues da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, matheuspksl@gmail.com

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaushenrique@hotmail.com

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

RESUMO:Considerando-se o potencial de aproveitamento de resíduos à base de EPS e as


propriedades de engenharia desse material, o presente projeto de pesquisa teve como objetivo
principal avaliar a possibilidade de uso desses resíduos em misturas com solo, visando a aplicação
em obras de terra em geral. O projeto parte da premissa que a reciclagem e o aproveitamento desses
resíduos apresentam várias vantagens sob o ponto de vista da sustentabilidade, podendo ser
considerados como fatores positivos para o meio ambiente, possibilitando, desta forma, a redução
de áreas degradadas pela redução dos volumes de solos escavados de jazidas de empréstimo em
decorrência de sua substituição parcial por volumes equivalentes de resíduos de EPS.
Adicionalmente, a perspectiva de aproveitamento dos resíduos de EPS também acena para um
cenário de redução dos volumes ocupados por tais materiais nos aterros sanitários para os quais são
comumente destinados em função do seu descarte.O programa experimental desta pesquisa
contemplou as seguintes atividades: (i) coleta e preparação de amostras de solos e de resíduos de
EPS; (ii) conformação dos resíduos de EPS a uma granulometria padrão; (iii) ensaios de
caracterização geotécnica do solo; (iv) ensaios de compactação dos solos e das misturas solo-EPS
nas proporções volumétricas pré-definidas; (v) ensaios de cisalhamento direto do solo e das
misturas solo-EPS compactados.Para as particularidades da pesquisa (tipo de solo, energia de
compactação, tipo de ensaio, proporções volumétricas solo-EPS), constatou-se, para uma das
misturas solo-EPS pesquisadas, que não houve redução das propriedades de resistência ao
cisalhamento comparativamente ao solo, apontando para o potencial de viabilização técnica e
ambiental do produto geotécnico proposto, a qual deve ser corroborada por programas
experimentais que envolvam outros ensaios mecânicos e hidráulicos, além de outros parâmetros
distintos daqueles adotados nessa pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Mistura Solo-EPS, Resistência ao cisalhamento, Aproveitamento de


resíduos, Sustentabilidade.

ABSTRACT: Taking into consideration the potential reuse of EPS-based wastes and the
mechanical properties of this material, the present research project has the main objective of
evaluate the possibility of using these wastes in mixtures with soil, aiming the application of these
mixtures in paving and other geotechnical works. The project starts from the deliberation that the
recycling and the reuse of these wastes represent several environmental advantages, from a
sustainability perspective, enabling the reduction of degraded areas by reducing the volumes of soil

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569
excavated, as a result of its partial replacement by equivalent volumes of EPS wastes. Furthermore,
the perspective of reuse of EPS wastes points to a scenario of reduction from the volumes occupied
by these materials in the landfills, for which they are usually taken for disposal. The experimental
program of this research contemplates the following activities: (i) collection and preparation of soil
samples and EPS waste; (ii) conformation of EPS waste to a standardized grain size; (iii) tests for
geotechnical characterization of the soil; (iv) compaction tests of soils and soil-EPS mixtures in the
pre-defined volumetric proportions; (v) direct shear tests of soil and soil-EPS mixtures. For the
conditions of the research (soil type, compaction energy, type of test, volumetric proportions soil-
EPS), the results appoint that for one mixture proportion, there was no reduction of the mechanical
properties of the mixture compared to pure soil, pointing for the potential of technical and
environmental viability of the proposed geotechnical product, which should be corroborated by
experimental programs involving other mechanical and hydraulic tests, besides other parameters,
distinct from those that were adopted on this research.

KEYWORDS: Soil-EPS mixture, Shear strength, Waste utilization, Sustainability

1 INTRODUÇÃO pode-se utilizar técnicas de aterro empregando


blocos maciços de EPS (poliestireno expandido)
Todas as obras de Engenharia Civil se assentam para reduzir as cargas atuantes sobre solos de
sobre o terreno e inevitavelmente requerem que baixa resistência, evitando a sua substituição
o comportamento do solo seja devidamente (TESSARI, 2006).
considerado (PINTO, 2006). Diversas vezes, na Tendo em vista o contexto da necessidade da
prática da engenharia geotécnica, o solo de viabilidade das obras de engenharia, este
determinado local não apresenta as condições trabalho busca a avaliação de uma técnica de
adequadas para a execução da obra. O solo em estabilização, utilizando-se a mistura de solo
questão pode apresentar baixa resistência, ser com EPS para que as características de interesse
muito compressível ou apresentar alguma outra do solo sejam atingidas de modo a se obter
característica que o torna indesejável do ponto eficiência no comportamento do material e para
de vista econômico. Sendo assim, uma que se tenha um cenário viável do ponto de
alternativa pode ser buscar melhorar suas vista econômico.
propriedades de engenharia, lançando mão de Segundo Tessari (2006), o grande volume de
técnicas de estabilização (TRINDADE et al., resíduos de poliestireno expandido (EPS),
2012). decorrentes de sobras advindas de embalagens
A estabilização dos solos pode ser obtida por de equipamentos, máquinas, eletrodomésticos,
meio de diversas técnicas. Segundo Vargas dentre outros, constitui um preocupante
(1977), uma das técnicas pode ser por meios problema ambiental, visto que, além deste
mecânicos, como a correção da granulometria e volume de resíduos provocar uma poluição
plasticidade, adicionando ou retirando visual na estética urbana das cidades quando
quantidades definidas de suas frações disposto em locais inadequados, ele possui
constituintes, até que se obtenham os aspecto negativo referente ao longo período de
parâmetros estabelecidos por norma. Pode-se tempo para a sua degradação, estimada em 50
também prosseguir a estabilização de solos por anos, sendo considerado um material não
meios químicos, utilizando-se aditivos biodegradável. Segundo essa autora, estes
orgânicos ou inorgânicos (AZEVEDO, 2010). resíduos vêm tendo, na maioria das vezes,
Um método alternativo à estabilização do disposição em aterros, o que acaba dificultando
solo para melhorar as características sua compactação e prejudicando a
geotécnicas de uma obra seria a substituição decomposição dos materiais biologicamente
deste por outro de melhores propriedades degradáveis, pois criam camadas impermeáveis
geotécnicas, porém esse processo acarreta em que afetam as trocas de líquidos e gases gerados
altos custos para a obra. Em algumas obras, no processo de biodegradação da matéria

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570
orgânica. pedologicamente como Latossolo Vermelho-
Avessani Neto (2008) destaca que o uso do Amarelo (LVA). A amostra desse solo foi
EPS na Engenharia Civil já possui uma coletada na jazida de empréstimo denominada
aplicação reconhecida na Construção Civil ETA, em um talude à margem direita da atual
devido a sua alta capacidade como isolante entrada para a Área de Eventos da Universidade
térmico e acústico e na absorção de impactos e Federal de Viçosa, na rodovia que liga os
recalques. Porém, o seu emprego como municípios de Viçosa e Paula Cândido, no local
geossintético (associado ao solo) tem uma de coordenadas 20º45’35”S; 42º52’28”W
utilização mais recente. Na engenharia (Figura 1).
geotécnica, esse material, manufaturado em
blocos de formatos prismáticos, chamado de
geoexpandido ou geofoam, possui propriedades
que permitem a sua utilização em diversas
aplicações. Por ser um material de baixa massa
específica (com uma relação de cerca de 100
vezes inferior à de solos, consequência de seu
processo de fabricação) e possuir uma
(a) (b)
resistência mecânica relativamente alta, sua Figura 1: Localização (a) e vista frontal (b) da jazida de
utilização como aterro é bem difundida, empréstimo do solo empregado na pesquisa.
principalmente em regiões com solo de
fundação de baixa capacidade de carga (solos Os ensaios realizados para fins de
moles), por exemplo. Destas características, caracterização física do solo pesquisado foram
espera-se que o geofoam resista às cargas como os que seguem:
aterro e não comprometa o solo de fundação. i) Granulometria conjunta segundo a
Apesar da utilização do EPS em blocos NBR 7181 (ABNT, 2016a);
maciços como estabilização do solo já estar ii) Limites de Atterberg: limite de
relativamente bem consolidada no mercado e na liquidez (LL) segundo a NBR 6459
prática da engenharia geotécnica, a utilização (ABNT, 2016b) e limite de
desse material triturado, em forma de grãos e plasticidade (LP) segundo a NBR
misturado ao solo, ainda é pouco estudada. 7180 (ABNT, 2016c);
As bem-sucedidas experiências envolvendo a iii) Massa específica dos grãos do solo
aplicação do EPS em Construção Civil, em segundo a NBR 6458 (ABNT,
geral, e na Engenharia Geotécnica, em 2016d).
particular, justificam, portanto, o
desenvolvimento de pesquisas destinadas a Na Tabela 1, apresentam-se os resultados da
avaliar o potencial técnico de aproveitamento caracterização geotécnica do solo pesquisado. A
de resíduos desse material em combinação com Figura 2 apresenta a curva granulométrica do
solos, visando a sua aplicação, na condição mesmo.
compactada, em camadas estruturais de
pavimentos e em obras de terra em geral. Tabela 1. Resultados da caracterização geotécnica do solo
pesquisado.
Limites de
s Granulometria
Atterberg
2 MATERIAIS E MÉTODOS
LL LP IP* Areia Silte Argila
2.1 Materiais (kN/m³)
(%) (%) (%) (%) (%) (%)

2.1.1 Solo 66 37 29 27,9 28 7 65


*: Índice de plasticidade
O solo analisado é proveniente da Zona da Mata
Norte de Minas Gerais. Trata-se de um solo
residual maduro de gnaisse, classificado

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

571
Na presente pesquisa, trabalhou-se com
misturas solo-EPS (Figura 4) nas proporções
volumétricas de 80%-20% e 60%-40%, na
condição seca e solta dos materiais empregados.
As misturas foram executadas manualmente,
sendo que antes da mistura o solo se encontrava
no teor ótimo de umidade.

Figura 2: Curva granulométrica do solo pesquisado.

Trata-se de um solo predominantemente


fino, classificado como MH, ou seja, trata-se de
um solo siltoso de alta compressibilidade, pelos
critérios adotados pelo USCS (Unified Soil
Classification System) (PINTO, 2006). Figura 4: Mistura solo-EPS no estado solto.

2.1.2 Resíduos de EPS 2.2.2 Ensaios de compactação


Os resíduos de EPS foram coletados em uma Os ensaios de compactação do solo e das
unidade de reciclagem de resíduos do município misturas solo-EPS foram realizados de acordo
de Viçosa-MG, sendo posteriormente triturados com a NBR 7182 (ABNT, 2016e), empregando-
e conformados a uma granulometria padrão se a energia do Proctor Modificado, visando a
(Figura 3), visando garantir a uniformidade determinação dos respectivos parâmetros de
geométrica dos mesmos nas misturas solo-EPS. ótimo do solo e das misturas solo-EPS na
referida energia.

2.2.3 Ensaios de cisalhamento direto

O ensaio de cisalhamento direto do tipo CID


(Adensado e drenado) foi realizado conforme a
norma técnica D 3080 (ASTM, 2003).Os corpos
de prova foram compactados na umidade ótima
(a) (b) e peso específico aparente seco máximo obtidos
Figura 3: Resíduo de EPS em blocos (a) e material obtido
após trituramento (b). nos ensaios de compactação do solo e das
misturas solo-EPS, na energia do Proctor
A massa específica aparente média dos blocos Modificado.
de resíduos de EPS empregados, determinada Os corpos-de prova foram previamente
pelos autores através da determinação da massa saturados a partir de sua inundação com água
e do volume de corpos de prova prismáticos de por 12 horas. Foram adotadas as tensões de
EPS, foi de 14,01 kg/m3, com coeficiente de adensamento de 100, 200 e 400 kPa, e uma
variação de 14,5%, indicando a variabilidade do velocidade de ruptura de 0,15 mm/min,
material coletado na unidade de reciclagem de considerada suficientemente baixa para
resíduos. promover, na fase de ruptura, a dissipação do
excesso de pressão neutra gerada pelo
2.2 Métodos carregamento cisalhante.
Para cada nível de tensão normal, foram
2.2.1 Misturas solo-EPS realizadas duas repetições de ensaio, visando à
quantificação da resistência ao cisalhamento

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

572
média e, consequentemente, a obtenção das condição de pico (pico), obtidas para os três
respectivas envoltórias de resistência ao materiais investigados. A Tabela 2 apresenta os
cisalhamento dos materiais investigados. respectivos valores dos parâmetros de
Optou-se por ensaiar os corpos de prova na resistência (intercepto coesivo e ângulo de
condição saturada, pois essa situação representa atrito) derivados dessas equações para os
o pior desempenho que o material pode materiais investigados.
apresentar quando aplicado em campo.
300,0

3 RESULTADOS E ANÁLISES 250,0

200,0
Na Figura 5, apresentam-se as curvas de

pico (kPa)
compactação, na energia do Proctor 150,0
Solo Puro
Modificado, do solo e das misturas solo-EPS.
100,0
20% de EPS
16,0 50,0 40% de EPS

0,0
Peso especifico aparente seco (kN/m³)

15,5 0 100 200 300 400 500


s (kPa)
15,0 Figura 6: Envoltórias de ruptura dos materiais
invetsigados obtidas a partir do resultados dos ensaios de
cisalhamento direto.
14,5
Tabela 2. Parâmetros de resistência (intercepto coesivo e
Solo Puro
ângulo de atrito) obtidas a partir dos resultados dos
14,0 20% de EPS ensaios de cisalhamento direto.
40% de EPS
Intercepto coesivo Ângulo de
Material
(kPa) atrito (o)
13,5
19,0 24,0 29,0 Solo puro 31 32
20% de EPS 29 32
Teor de umidade (%)
40% de EPS 41 24

Figura 5:Curvas de compactação do solo e das misturas Constata-se que, entre o solo puro e a
solo-EPS na energia do Proctor Modificado.
mistura com 20% de EPS, não houve uma
Constata-se que não houve alteração alteração significativa nos valores obtidos para
significativa no peso específico aparente seco para os parâmetros que definem a envoltória de
máximo do solo com a inclusão do resíduo de ruptura de pico (intercepto coesivo e ângulo de
EPS, constatando-se, porém, uma tendência de atrito) segundo o critério de Mohr-Coulomb.
redução desse parâmetro com o incremento da Entretanto, para a mistura com 40% de EPS, a
percentagem volumétrica de EPS, justificada despeito do incremento da parcela de coesão,
pela crescente influência do material mais leve. percebe-se que houve uma queda no valor da
A umidade ótima de compactação das misturas resistência ao cisalhamento em relação aos dois
solo-EPS tem um valor mais elevado do que materiais anteriores, com uma diminuição
para o solo, provavelmente devido ao fato de notável no ângulo de atrito.
que uma boa acomodação e homogeneização Esses resultados podem ser explicados pelo
dos grãos de EPS na mistura depende de um fato de que a adição de EPS ao solo no teor de
comportamento mais plástico e coesivo do solo, 40% provocou, provavelmente, a formação de
o que ocorre em teores de umidade mais planos de descontinuidade no interior dos
elevados. corpos de prova, com grande acúmulo de grãos
Na Figura 6, são apresentadas as envoltórias de EPS envolvidos por pouco ou nenhum solo.
de ruptura ou de resistência ao cisalhamento na Esses planos de descontinuidade alteram a

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

573
transmissão dos esforços de cisalhamento ABNT. Solo – Análise granulométrica. NBR 7181. São
aplicados aos corpos de prova e oferecem Paulo: Associação Brasileira de Normas Técnicas,
2016a. 13p.
superfícies de baixa resistência. Na mistura ABNT. Solo – Determinação do limite de liquidez. NBR
solo-EPS no teor de 20%, esse comportamento 6459. São Paulo: Associação Brasileira de Normas
ocorre em menor escala, fazendo com que o Técnicas, 2016b. 6p.
desempenho desse material seja mais próximo ABNT. Solo – Determinação do limite de plasticidade.
ao do solo. NBR 7180. São Paulo: Associação Brasileira de
Normas Técnicas, 2016c. 3p.
Adicionalmente, é possível constatar ABNT. Grãos de pedregulho retidos na peneira de 4,8mm
graficamente que, para níveis mais baixos de – Determinação da massa específica, da massa
tensão normal aplicada sobre os corpos de específica aparente e da absorção de água. NBR 6458.
prova, o valor da resistência ao cisalhamento São Paulo: Associação Brasileira de Normas
direto sofre pouca influência do teor de EPS na Técnicas, 2016d. 10p.
ABNT. Solo – Ensaio de compactação. NBR 7182. São
mistura, o que não ocorre para valores altos de Paulo: Associação Brasileira de Normas Técnicas,
tensão normal aplicada, para os quais essa 2016e. 10p.
diferença se acentua, principalmente com o ASTM D 3080- Standard Test Method for Direct Shear
incremento do teor de resíduo de EPS na Test of Soils Under Consolidated Drained Conditions.
mistura com o solo. 2013, 9p.
Avessani Neto, J. O. (2008). Caracterização do
Comportamento Geotécnico do EPS através de
Ensaios Mecânicos e Hidráulicos. Dissertação de
4 CONCLUSÕES Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 227p.
Ainda que preliminares, os resultados apontam Azevedo, A. L. C. Estabilização de Solos com Adição de
Cal- Um Estudo a Respeito da Reversibilidade das
para a potencial viabilidade técnica da Reações que Acontecem no Solo Após a Adição de
utilização do material proposto, já que, para a Cal. 2010. 178p. Dissertação, Escola de Minas/UFOP,
mistura com teor de 20% de EPS, não houve Ouro Preto/MG.
alterações significativas nos parâmetros de Pinto, C.S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16
resistência ao cisalhamento do solo analisado, Aulas. 3ª edição. São Paulo/SP. Editora Oficina de
textos. 2006, 354p.
diferentemente do que foi constatado para a Tessari, J. (2006). Utilização de Poliestireno Expandido e
mistura com 40% de EPS. Destaca-se ainda a Potencial de Aproveitamento de seus Resíduos pela
viabilidade ambiental e econômica da mistura Construção Civil. Dissertação de Mestrado, Programa
solo-EPS, já que a substituição parcial de solo de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade
por grãos de EPS permite a redução do descarte Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 102p.
Trindade, T. P.; Carvalho, C.A.B.; Lima, D.C.; Barbosa,
desse material em aterros sanitàrios, além de P.S.A.; Silva, C.H.C.; Machado, C.C. Compactação
reduzir a quantidade de solo a ser transportada de Solos- Fundamentos Teóricos e Práticos. 2ª edição.
para a execução das obras geotécnicas. Viçosa/MG. Editora UFV. 2012, 95p.
Pesquisas adicionais envolvendo outras Vargas, M. Introdução à Mecânica do Solos. São Paulo:
energias, solos, proporções, níveis de tensão e MacGraw - Hill, Ed. USP, 1977. 509p.
tipos de ensaios devem ser empreendidas,
visando ampliar o estado da arte sobre o
material proposto.

AGRADECIMENTOS

Ao Departamento de Engenharia Civil (DEC)


da Universidade Federal de Viçosa, pela
infraestrutura e materiais disponibilizados para
realização desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

574
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil© IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação da Interação Solo-Geossintéticos por Meio de Ensaios


de Arrancamento e de Plano Inclinado
Rodrigo César Pierozan
The University of Texas at Austin, Austin, Estados Unidos, rodrigopierozan@hotmail.com

Nelson Padrón Sánchez


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, nelsonwerpnsn@gmail.com

Gregório Luís Silva Araújo


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, gregorio@unb.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: Neste trabalho, são apresentados resultados de ensaios de arrancamento de tiras


sintéticas em areia uniforme, avaliando-se a ocorrência da mobilização dos reforços ao longo do
comprimento dos mesmos e quantificando-se os acréscimos de tensões na massa de solo. As
geotiras ensaiadas consistiram em tira sintética convencional e tira sintética com ondulações laterais
(alta aderência). Paralelamente, apresenta-se uma avaliação da resistência de interface solo-
geossintético por meio de ensaios de plano inclinado, novamente empregando-se areia uniforme.
São estudadas geomembranas lisa e texturizadas, permitindo quantificar a influência da textura
superficial na resistência mobilizada. De forma geral, os ensaios permitiram observar que
determinadas características superficiais dos geossintéticos podem influenciar os mecanismos de
interação solo-geossintéticos, como é o caso da presença de ondulações laterais nas tiras sintéticas e
de textura superficial nas geomembranas.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Arrancamento, Plano Inclinado, Geotiras, Geomembranas.

ABSTRACT: Results from pullout tests on synthetic strips within uniform sand are presented in
this paper, assessing the mobilization of the reinforcements along their length and evaluating the
increase in total stresses within the compacted soil. The studied geostrips consisted of conventional
synthetic strips and synthetic strips with lateral ripples (high adherence). In addition, the soil-
geosynthetic interface resistance is assessed by ramp tests with the use of a similar uniform sand.
Smooth and textured geomembranes are studied, allowing the researches to quantify the influence
of the surface texture. In general, the laboratory tests permitted to evaluate the soil-geosynthetics
interaction mechanisms, such as stress mobilization and internal displacements on pullout tests and
the evaluation of surface features on ramp plane tests.

KEYWORDS: Geosynthetics, Pullout Tests, Inclined Plane Tests, Geostrips, Geomembranes.

1 INTRODUÇÃO que empregam esses materiais. No caso de solos


reforçados com geossintéticos, entre os ensaios
1.1 Considerações iniciais mais comuns para reprodução dos mecanismos
de interação que ocorrem em serviço estão os
O conhecimento dos mecanismos de interação ensaios de arrancamento, nos quais o reforço é
entre o solo e os geossintéticos é de fundamental instalado na metade da altura de uma caixa
importância no dimensionamento de estruturas preenchida com solo compactado, sendo então

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

575
aplicado um esforço de arrancamento com tração (tiras) aumentam a resistência interna do
velocidade constante (Palmeira, 1987). Por sua solo, reduzindo a deformabilidade do maciço
vez, ensaios de plano inclinado podem ser (ABNT, 2016a). Tiras de aço galvanizado e tiras
utilizados para simular a interação solo- poliméricas podem ser utilizadas como reforço
geossintético que ocorre em obras nas quais neste tipo de estrutura, entre outras
geomembranas são instaladas sobre taludes. possibilidades comerciais. No caso das tiras
Determinadas propriedades dos sintéticas, as tensões e os deslocamentos são
geossintéticos podem influenciar de maneira gradualmente mobilizados da parte frontal para a
substancial a performance das estruturas parte traseira da tira (Abdelouhab et al., 2010).
geotécnicas. Na literatura, podem ser A resistência ao arrancamento de interface
encontrados estudos que tratam da resistência ao solo-reforço é definida por uma envoltória não-
arrancamento de diferentes tipos de reforços, linear que varia em função das tensões
como é o caso de geogrelhas (e.g. Palmeira, confinantes (Abdelouhab et al., 2011), sendo
1987; Palmeira; 2009; Teixeira, 2003; Moraci e que o coeficiente de atrito real solo-reforço na
Recalcati, 2006; Teixeira et al., 2007; Abdi e interface (f) pode ser expresso conforme a
Arjomand, 2011; Cardile et al., 2017; Equação 1, na qual τ máx corresponde à tensão
Kayadelenet al., 2018), fibras (Tang et al., cisalhante máxima que ocorre ao longo dos
2016), tiras metálicas (Weldu et al., 2015; reforços e 𝜎𝜎’ n,real corresponde à tensão normal
Pierozan, 2018) e tiras sintéticas (Abdelouhab et real que ocorre no nível dos reforços, ou seja,
al., 2010; Abdelouhab et al., 2011; Panah et al., corresponde à soma da tensão normal efetiva
2015; Pierozan, 2018). atuante no nível dos reforços (𝜎𝜎’ n0 ) com o
Por sua vez, a resistência de interface solo- acréscimo localizado de tensões verticais
geomembrana vem sendo estudada por vários efetivas sobre as tiras (Δ𝜎𝜎’ n ).
autores por meio de ensaios de plano inclinado
𝜏 𝜏𝑚á𝑥
(e.g. Girard et al., 1990; Gourc et al., 1996; 𝑓 = 𝜎′𝑚á𝑥 = 𝜎′ ′ (1)
Lalarakotoson et al., 1999; Melo, 2001; Viana, 𝑛,𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑛0 +∆𝜎𝑛

2007; Palmeira, 2009; Pitanga et al., 2011;


Monteiro, 2014; Pierozan et al., 2018; Sánchez, O acréscimo localizado de tensões verticais
2018). Contudo, os mecanismos de interação efetivas (Δ𝜎𝜎’ n ) ocorre em função da diferença de
desses materiais não estão totalmente rigidez entre o solo e as tiras, podendo também
compreendidos, havendo a demanda por estudos haver influência da dilatância impedida, quando
que relacionem características superficiais e o solo presente na interface solo-reforço é
geométricas dos geossintéticos com os impedido de se dilatar por estar confinado
parâmetros que podem ser avaliados por meio (Teixeira, 2003. O fenômeno em questão
dos ensaios. encontra-se equematizado na Figura 1, onde 𝜎𝜎’ a
Considerando o panorama geral apresentado, corresponde à tensão normal atuante.
na presente pesquisa foram realizados ensaios de
arrancamento de tiras sintéticas e ensaios de
plano inclinado com o uso de geomembrana lisa
e de geomembranas texturizadas. Em ambos os
casos, os materiais de aterro corresponderam a
areias uniformes. O objetivo destes estudos foi
compreender como características superficiais e
geométricas dos geossintéticos influenciaram os
parâmetros avaliados.

1.2 Ensaios de Arrancamento

Solo mecanicamente estabilizado do tipo terra


Figura 1. Efeito da dilatância impedida em solo granular
armada é um sistema de construção de estruturas (adaptado de Schlosser e Elias, 1978).
de contenção em que elementos resistentes à

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

576
Em virtude da dificuldade em se prever o com a envoltória de Mohr-Coulomb, de forma
aumento localizado das tensões verticais (Δσ’ n ), análoga aos ensaios de cisalhamento direto,
os métodos tradicionais de avaliação da considerando-se que a ruptura ocorre para
interação solo-reforço trabalham com um deslocamento relativo da caixa igual a 500 mm.
coeficiente de atrito aparente (f*), o qual é Cabe salientar que a resistência de interface
calculado com base na tensão cisalhante máxima solo-geomembrana está relacionada com as
apresentada pelos reforços (τ máx ) e nas tensões características microtopográficas da superfície
normais efetivas atuantes no nível do reforço do geossintético em questão, entre outros fatores
(σ’ n0 ), conforme a Equação 2: (e.g. características do agregado). Quanto maior
a altura de aspereza, maior tende a ser a
∗ 𝐹𝑚á𝑥
𝑓 = 2∗𝜎′ ∗𝑊 ∗𝐿 (2) resistência de cisalhamento da interface.
𝑛0 𝑔 𝑒 Entretanto, alturas de aspereza superiores a 0,5
mm não tendem a gerar um ganho significativo
Em que, F máx é a força máxima de de força cisalhante (Blond e Elie, 2006).
arrancamento (kN), σ’ n0 é a tensão normal
efetiva (kN/m2), W g é a largura do reforço e L e é
o comprimento ancorado do reforço (m). 2 MATERIAIS
1.3 Ensaios de Plano Inclinado 2.1 Materiais Geotécnicos
Ensaios de plano inclinado podem apresentar Na Tabela 1, estão apresentadas as principais
algumas vantagens em relação aos ensaios de propriedades geotécnicas das areias ensaiadas, e
cisalhamento direto de interface, pois permitem na Figura 2, apresentam-se as respectivas curvas
que as condições simuladas sejam mais granulométricas. A areia 1 foi utilizada nos
próximas do que ocorre em campo (e.g. ensaios de arrancamento, enquanto a areia 2 foi
permitem o uso de baixas tensões normais, utilizada nos ensaios de plano inclinado.
permitem o uso de amostras de grandes
dimensões, permitem a avaliação do Tabela 1. Propriedades geotécnicas das areias uniformes.
deslocamento da caixa em função do ângulo de Parâmetro Areia 1 Areia 2 Unidade
inclinação do plano, permitem a caracterização Massa específica
2,64 2,71 g/cm3
das interfaces nas fases estática, transitória e de dos sólidos
deslizamento). Índice de vazios
0,576 0,588 -
mínimo (e mín )
Neste tipo de ensaio, são esperados três Índice de vazios
categorias de resultados (Gourc et al., 1996), que 0,827 0,860 -
máximo (e máx )
são: i) Categoria 1, denominada ruptura abrupta, Compacidade
95 57 %
a qual ocorre com 1 a 2 mm de deslocamento; ii) relativa
Categoria 2, denominada movimento lento, em Massa específica
aparente seca no 1,66 1,59 g/cm3
que se observam deslocamentos até 7 mm antes ensaio
da ruptura; e iii) Categoria 3, na qual o atrito Índice de vazios do
inicial difere do atrito final durante a ruptura. Na 0,593 0,705 -
ensaio
categoria 3, são observados patamares no gráfico
da inclinação versus deslocamento relativo da A massa específica dos sólidos foi
caixa, pois, durante a elevação da rampa, a caixa determinada com base na NBR 6508 (ABNT,
pode permanecer estática durante determinados 1984), enquanto que os ensaios de granulometria
intervalos de inclinação. seguiram as recomendações da NBR 7181
Segundo a NBR ISO 12957-2 (ABNT, 2013), (ABNT, 2016b). Os índices de vazios mínimo e
podem ser adotadas duas metodologias de máximo foram determinados, respectivamente,
ensaio, que são (1) equipamento com base rígida seguindo-se as recomendações presentes nas
(rugosa, uso de lixa de esmeril abrasiva P100) e normas D4253-16 (ASTM, 2016a) e D4254-16
(2) equipamento com base preenchida com solo. (ASTM, 2016b).
Ainda de acordo com essa norma, os ângulos de
atrito e a adesão são determinados de acordo

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577
Por sua vez, os geossintéticos ensaiados em
plano inclinado corresponderam a uma
geomembrana lisa (GML) e a duas
geomembranas texturizadas (GMT1 e GMT2),
conforme imagens apresentadas na Figura 3B.
As principais características destes elementos
estão indicadas na Tabela 2, conforme os
fornecedores, em que RT é a à tração na ruptura,
ε é a deformação na ruptura e RP é a resistência
ao puncionamento.

Tabela 2. Características das geomembranas empregadas.


Valores especificados
Características
Figura 2. Curvas granulométricas das areias uniformes. GML GMT1 GMT2
Material PEAD PEAD PEBDL
No caso dos ensaios de arrancamento, a Matriz - Balão Balão
Espessura média (mm) 1,99 2,00 2,00
compacidade relativa adotada nos ensaios Altura da textura (mm) 0,00 0,32 0,52
correspondeu a 95%, sendo este valor sugerido RT (kN/m) 55 48 54
pela NBR 19286 (ABNT, 2016a) para solos ε (%) 729 545 595
reforçados. Por sua vez, no caso dos ensaios de RP (N) 693 737 636
plano inclinado, a compacidade relativa
correspondeu a 57%, uma vez que os materiais O estudo das características geométricas
empregados neste tipo de obra usualmente superficiais das geomembranas foi feito por
possuem compacidade média. meio de microscopia eletrônica, sendo
Ensaios de cisalhamento direto convencional determinadas as características apresentadas na
(ASTM, 2011) foram usados na determinação Tabela 3 (ABNT, 2002), em que R c corresponde
dos ângulos de atrito internos das areias na à altura de aspereza e V vc corresponde ao
compacidade relativa de ensaio, obtendo-se volume de vazios superficial do material da
parâmetros médios de pico iguais a 37º no caso geomembrana, indicando o volume de solo que
da Areia 1 e 39º no caso da Areia 2. pode preencher o espaço deixado entre as alturas
de aspereza. Esses parâmetros foram
2.2 Geossintéticos determinados a partir da média de valores em 10
seções transversais para cada uma das amostras.
No caso dos ensaios de arrancamento, foram
ensaiadas tiras sintéticas convencionais (largura Tabela 3. Parâmetros geométricos da rugosidade.
igual a 50 mm) e tiras sintéticas de alta Parâmetros GML GMT1 GMT2
aderência (largura variável entre 40 a 50 mm, R c (µm) 29,269 214,265 243,843
com ondulações nas extremidades laterais), 𝑉𝑣𝑐 (𝜇𝑚3 ⁄𝜇𝑚²) 6,158 104,766 122,992
conforme a Figura 3A. Ambos elementos
possuem espessura igual a 3 mm e resistência
característica à tração igual a 50 kN. 3 MÉTODOS DA PESQUISA

3.1 Ensaios de Arrancamento

O solo utilizado nos ensaios de arrancamento


correspondeu à Areia 1. A montagem dos
ensaios envolveu a deposição da areia uniforme
com o uso da técnica conhecida como chuva de
(A) (B) areia (Brandon et al., 1991). Na sequência, foi
feita compactação adicional com o uso de
Figura 3. (A) Tiras sintéticas ensaiadas ao arrancamento;
(B) geomembranas texturizadas (GMT) e lisa (GML). martelo mecânico, atingindo-se compacidade

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578
relativa igual ou superior a 95%. Os O critério de finalização dos ensaios foi o
procedimentos em questão foram feitos em seis deslocamento horizontal da caixa igual a 50 mm.
camadas com espessura final de 9 cm. As tiras A mesma possuiu comprimento igual a 192 cm e
sintéticas foram instaladas aos pares com uma largura igual a 47 cm, sendo preenchida com
distância de 5 cm entre si (Abdelouhab et al., areia em contato com a geomembrana, no plano
2010). de cisalhamento. As leituras da instrumentação
As tensões normais no nível dos reforços também foram adquiridas com o uso do sistema
(σ’ n0 ) corresponderam a 12,5 kPa, 25 kPa e 50 LYNX (Figuras 4C e 4D). As tensões normal e
kPa. A aplicação das sobrecargas (σ’ a ) foi feita cisalhante (σ(η,β)e τ(η,β)) foram calculadas
com o uso de bolsa de borracha pressurizada. A seguindo-se as equações sugeridas pela NBR
instrumentação consistiu em célula de carga ISO 12957-2 (ABNT, 2013). A ancoragem da
(CC), transdutores de deslocamento linear geomembrana foi garantida mediante o uso de
(TDL) acoplados aos medidores de garras metálicas na extremidade superior, além
deslocamento internos (tell-tales - TT) e células de lixa sobre a base rígida em contato com a
de tensões totais (CTT), instaladas nas posições superfície inferior da geomembrana. A
mostradas nas Figuras 4A e 4B. As leituras da eficiência do sistema foi comprovada mediante
instrumentação foram adquiridas com o uso do uma célula de carga solidária à garra superior, a
sistema LYNX. O arrancamento foi feito com qual registrou valores nulos de tração na
taxa de deslocamento constante e igual a 1 geomembrana.
mm/min ± 10%, sendo este o valor recomendado
pela norma D6706-01 (ASTM, 2013).
4 RESULTADOS
3.2 Ensaios de Plano Inclinado
4.1 Ensaios de Arrancamento
O solo utilizado nos ensaios de plano inclinado
correspondeu à Areia 2. A velocidade de Na Figura 5, estão apresentadas as forças
elevação do plano foi igual a 3±0,5 graus por máximas de arrancamento (F máx ) e os
minuto. As tensões normais aplicadas coeficientes de atrito aparente (f*) calculados
inicialmente foram iguais a 2 kPa, 4 kPa e 6 kPa. com base nos ensaios de arrancamento.

(C)

(A)

(D)

(B)

Figura 4. Posicionamento dos instrumentos nos ensaios de arrancamento e de plano inclinado.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

579
Os acréscimos de tensões verticais (Δσ’ n )
utilizados no cálculo do parâmetro f considerou
as leituras das células de tensões totais
instaladas sobre as tiras sintéticas nas posições
P1, P2 e P3.

4.2 Ensaios de Plano Inclinado

Na Figura 8, estão apresentados os resultados


dos ensaios de plano inclinado. Nas colunas,
(A) (B) estão apresentados os ângulos de atrito médios
correspondentes às tensões normais ensaiadas. A
Figura 5. Tensões normais em relação (A) às forças linha tracejada indica o ângulo de atrito interno
máximas e (B) aos coeficientes de atrito aparente.
do solo, e em linha contínua indica-se o ângulo
de atrito da envoltória.
Na Figura 6, estão representados os
deslocamentos internos dos reforços (tell-tales -
TT 1, TT 2 e TT 3), enquanto que na Figura 7
estão apresentados os coeficientes de atrito real
(f), ambos no momento de pico de resistência.

Figura 8. Ensaios de plano inclinado: ângulos de atrito de


interface.

Na Figura 9A, pode-se observar a influência


da altura das asperezas (R c ) no ângulo de atrito
das envoltórias para as três interfaces, enquanto
Figura 6. Deslocamentos internos das tiras sintéticas (A) que os deslocamentos médios na ruptura e o
convencionais e (B) de alta aderência. volume de vazios superficial do material das
geomembranas (V vc ) estão representados na
Figura 9B.

Figura 7. Coeficientes f e f* das tiras sintéticas (A) de alta Figura 9. Ensaios de plano inclinado: (A) influência da R c
aderência e (B) convencionais. no ângulo de atrito e (B) deslocamentos na ruptura.

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580
5 DISCUSSÃO Com base na Figura 9, pode-se observar que
o aumento da altura de aspereza das
5.1 Ensaios de Arrancamento geomembranas resultou no aumento dos ângulos
de atrito interno de interface. Comparando-se as
Com base na Figura 5, foi possível observar que geomembranas GMT1 e GMT2, o aumento de
a presença de ondulações laterais nas tiras aproximadamente 0,03 mm na altura de aspereza
sintéticas de alta aderência contribuiu para o não resultou em acréscimo significativo no
aumento da interação com a areia uniforme em ângulo de atrito. A diferença entre a altura de
relação às tiras sintéticas convencionais. Foram aspereza (ΔR c ) das geomembranas GMT1 (R c =
observados esforços máximos de arrancamento 2,1) e GMT2 (R c = 2,4) foi igual a 0,3, sendo
(F máx ) e, consequentemente, coeficientes de que este valor se aproxima do valor de 0,5 mm
atrito aparente (f*) superiores nos casos dos sugerido por Blond e Elie (2006). Este resultado
reforços com ondulações laterais. Entretanto, pode estar relacionado à proximidade entre as
convém salientar que a diferença observada foi alturas de aspereza das geomembranas
pequena, cabendo ao engenheiro projetista texturizadas ensaiadas, entre outros aspectos,
avaliar o elemento mais adequado em função como é o caso da influência do formato das
dos materiais geotécnicos empregados na obra. asperezas.
Por sua vez, com base nas curvas que Embora os ângulos de atrito das interfaces
relacionam os deslocamentos internos medidos entre a areia e as geomembranas texturizadas
pelos tell-tales no momento de pico de (GMT1 e GMT2) sejam aproximadamente 31º,
resistência com as tensões normais (Figura 6), houve uma diferença mais considerável nos
observa-se que as tiras sintéticas foram deslocamentos de ruptura nas interfaces areia-
solicitadas progressivamente a partir da face até geossintético. Dessa forma, pode-se observar
a extremidade oposta ao longo dos ensaios. que, embora as alturas de aspereza
Com base na Figura 7, observa-se que os compreendidas no intervalo entre 2,1 a 2,4
coeficientes de atrito real solo-reforço (f) tenham conduzido a ângulos de atrito
possuem valores inferiores aos coeficientes de semelhantes, a influência das mesmas é maior
atrito aparente solo-reforço (f*), uma vez que o quando se consideram os deslocamentos de
cálculo do atrito real leva em consideração a ruptura. Resultados similares em interfaces com
tensão normal que efetivamente está ocorrendo argila foram descritos por Fowmes et al. (2017).
no nível do reforço (σ’ n,real ). Os coeficientes de
atrito real solo-reforço (f) se aproximaram da
tangente do ângulo de atrito interno, sendo este o 6 CONCLUSÃO
valor sugerido pelas normas brasileira NBR
19286 (ABNT, 2016) e francesa NF P94-270 Conclui-se que determinadas características dos
(Norme Française, 2009) para o cálculo do geossintéticos contribuem para a mobilização da
parâmetro f 1 *, o qual desconsidera os resistência de interface com o solo, como é o
acréscimos localizados de tensões verticais. caso da presença de ondulações nas tiras
Entretanto, a consideração da tangente do ângulo sintéticas e de textura superficial em
de atrito de interface representa melhor a geomembranas. Com base nos ensaios de
situação que ocorre em campo. arrancamento, observou-se que a presença de
ondulações laterais contribuiu com o aumento da
5.2 Ensaios de Plano Inclinado resistência ao arrancamento e com a
consequente diminuição dos deslocamentos
Os ângulos de atrito das interfaces ensaiadas nos internos. Os coeficientes de atrito reais se
ensaios de plano inclinado mostram-se aproximaram da tangente do ângulo de atrito
relacionados com a microtopografia das considerado. Por sua vez, no caso dos ensaios de
geomembranas, assim como os deslocamentos plano inclinado, observou-se que a presença de
na ruptura. Como esperado, as geomembranas textura superficical nas geomembranas resultou
texturizadas foram mais eficientes em relação à no aumento da resistência ao cisalhamento de
geomembrana lisa (Figura 8). interface em relação à geomembrana lisa. A

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

581
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582
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Avaliação experimental de fatores que influenciam na resistência


ao arrancamento de geogrelhas
Sidnei Helder Cardoso Teixeira
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, sidnteix@outlook.com

Tennison Freire de Souza Júnior


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, tennisonufpr@outlook.com

RESUMO: Este artigo apresenta os resultados de um estudo cujo objetivo foi avaliar
qualitativamente e quantitativamente alguns dos principais fatores que influenciam no
comportamento de geogrelhas solicitadas ao arrancamento utilizando um equipamento de grande
porte. Foi realizada uma série de ensaios de arrancamento de grande porte utilizando o equipamento
do Departamento de Geotecnia da EESC. Esses testes tiveram o objetivo de avaliar alguns dos
principais fatores que afetam o comportamento de geogrelhas submetidas ao arrancamento. Os
principais parâmetros avaliados foram: a) comprimento da inclusão, b) sobrecarga aplicada, c) grau
de compactação do solo, d) espaçamento entre elementos transversais e longitudinais da geogrelha,
e) presença dos elementos transversais, f) tipo de inclusão, e g) utilização de dupla camada de
geogrelha. Os ensaios de arrancamento foram realizados usando um solo arenoso fino, de
ocorrência típica no interior do estado de São Paulo.

PALAVRAS-CHAVE: Arrancamento, geogrelhas, interação solo-geogrelha, Solo arenoso fino.

ABSTRACT: This paper presents the results of a study whose objective was to evaluate
qualitatively and quantitatively some of the main factors that influence the behavior of geogrids
requested when pulling out using a large equipment. A series of large pullout tests were loaded out
using the equipment of the Geotechnical Department of EESC. These tests had the objective to
evaluate some of the main factors that affect the behavior of geogrids submitted to the pullout. The
main parameters evaluated were: a) inclusion length, b) applied overload, c) degree of soil
compaction, d) spacing between transverse and longitudinal elements of the geogrid, e) presence of
transverse elements, f) type of inclusion, and g) use of double geogrid layer. The pullout tests were
performed using a fine sandy soil, typical of the state of Sao Paulo.

KEY WORDS: Pullout, Geogrids, Soil-geogrid interaction, Fine sandy soil.

1 INTRODUÇÃO uniforme, num contexto em que a maioria dos


reforços são extensíveis (RAJU ET AL., 1998).
O ensaio de arrancamento é um ensaio de Isso sugere que amostras de pequenas
modelo no qual as respostas obtidas parecem dimensões não representam bem o
depender o tipo de equipamento, de forma que comportamento de transferência de esforços no
os resultados dos ensaios requerem uma campo. Além disso, as hipóteses de Juran et al.
cuidadosa interpretação. (1988) a respeito do desenvolvimento do
Existe vários fatores que guardam relação fenômeno do arqueamento durante esses testes
direta com o tamanho da amostra ensaiada e as indicam que a tensão normal que age
condições de contorno impostas pelo tipo de diretamente na interface solo–reforço pode ser
equipamento, como por exemplo o fato de que a não linear em toda a extensão da amostra.
mobilização da resistência ao arrancamento ao Aliado ao desconhecimento de
longo do comprimento do reforço não é especificidades físicas no arrancamento, o

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

583
sistema se torna mais complexo quanto se f) em conjunto com geotêxteis ou
pretende prever o comportamento das geomembranas (formando
geogrelhas quando submetidas a carregamentos geocompostos).
cíclicos (NAPA, 2011)
Para superar algumas deficiências destes
testes, duas linhas específicas de ensaios de
arrancamento vem sendo muito utilizadas em
trabalhos de pesquisa, elas são os ensaios de
arrancamento de grande porte, realizados em
laboratório, e o ensaios executados no campo
em grandes amostras de geogrelhas.
Portanto, este trabalho tem como proposta
avaliar qualitativamente e quantitativamente
alguns dos principais fatores que influenciam
no comportamento de geogrelhas solicitadas ao
arrancamento utilizando um equipamento de Figura 1. Detalhamento de uma geogrelha
grande porte usando um solo arenoso fino típico
no interior do estado de São Paulo. 3 INTERAÇÃO SOLO-GEOGRELHA

2 GEOGRELHAS As questões básicas acerca do mecanismo de


interação solo–geogrelha no ensaio de
As geogrelhas são estruturas planas em forma arrancamento estão relativamente bem
de grelha, cujas aberturas promovem o entendidas qualitativamente. Quantitativamente,
embricamento com o solo envolvente, conforme entretanto, ainda muito há por fazer antes que se
ilustra a Figura 1. Em geral, as geogrelhas são tenha bons métodos de previsão, como inferido
mais resistentes que os geotêxteis e seu por Ladeira & Lopes (1995) e por Lopes &
emprego é quase exclusivamente dirigido para Moutinho (1997).
reforço. Para geogrelhas, a resistência ao
Kakuda (2005) afirmou que estas estruturas arrancamento possui duas componentes: a)
são constituídas de elementos longitudinais e resistência de interface e b) resistência passiva
transversais que podem ser fabricadas por do solo aos elementos transversais. A
perfurações de mantas poliméricas e que são resistência de interface, por sua vez, também
posteriormente tracionadas ou através de possui duas componentes: a) resistência de
cordões de multifilamentos trançadas em duas interface devido ao desenvolvimento de atrito e
direções, cuja união é realizada por colagem ou b) resistência devido ao desenvolvimento de
entrelaçamento. adesão ao longo da superfície do reforço. A
As principais aplicações das geogrelhas são preponderância de um ou de outro efeito sobre
as seguintes: o valor resultante da resistência ao
a) reforço em taludes e muros de contenção; arrancamento depende da relação entre a
abertura da geogrelha, do tipo de solo, mais
b) separação / reforço em rodovias não especificamente de sua granulometria, dentre
pavimentadas e ferrovias; outros, como mostrado por Jewell et al. (1984).
c) em conjunto com gabiões para Ferreira e Zornberg (2015) desenvolveram
construção de muros reforçados com um dispositivo de teste de arrancamento
controle de erosão e encontros de ponte; transparente com objetivo de estudar a interação
solo-geogrelha sob pequenos deslocamentos e
d) reforço para execução de aterros sobre
deformações. A partir de estudos com areia
solos moles;
Monterey # 30 e quartzo fundido triturados. Os
e) reforço de pavimento asfáltico; resultados sugeriram que a zona de perturbação
atrás dos elementos transversais variava em
tamanho em um padrão não-linear. Além disso,

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584
as deflexões dos elementos transversais foram À meia altura da parede frontal da caixa existe
medidas em estágios cujo 25% da força máxima uma abertura de 20 mm numa extensão de 500
de arrancamento se desenvolveram. mm, permitindo prender o geossintético a uma
Também Peng e Zornberg (2017) estudaram garra externa. Na parede traseira da caixa existe
o efeito da forma no ensaio de arrancamento e, uma abertura com 10 mm de altura e 500 mm
usando o equipamento anunciado em Ferreira e de extensão para permitir a passagem de fios de
Zornberg (2015), compararam o desempenho da aço usados para acompanhar dos deslocamentos
interação solo-geogrelha para geogrelhas com ao longo da inclusão.
malhas triangulares e retangulares em três Demais detalhes e os procedimentos de
diferentes locais de junção ao longo das ensaio encontram-se descrito no trabalho de
amostras. Com isso, perceberam que nas Teixeira (1999).
geogrelhas com malhas triangulares os
deslocamentos foram menor que nas geogrelhas
retangulares, nos pontos estudados,
independentemente dos níveis de tensão da
unidade frontal, o que demonstra que na rigidez
confinada o comportamento foi mais aceitável
nas triangulares do que nas retangulares.
Recentemente, Wang et al. (2019)
pesquisaram a interação do solo arenoso e da
geogrelha embutida por meio de testes de
arrancamento com a aplicação de um novo
método de ensaio utilizando sensores de rede de
Bragg (FBG) avaliando a influência da
densidade seca do solo, tensão normal inicial e
condição de fixação da extremidade traseira do
arrancamento.

4 EQUIPAMENTO DE GRANDES
DIMENSÕES EESC Figura 2. Desenho esquemático do equipamento de
grandes dimensões da EESC

O equipamento de grandes dimensões (Ver


Figura 2 ) foi desenvolvido por Teixeira e 5 MATERIAIS E MÉTODOS
Bueno (1999) e é capaz de realizar testes em
amostras de geogrelha com comprimento de até
Neste tópico será descrito os materiais e
1300 mm.
métodos utilizados para avaliação dos fatores
A caixa de ensaios consiste de uma estrutura do que interferem no ensaio de arrancamento de
de aço, rígida, de seção transversal retangular, grande porte
com 480 mm de altura, 700 mm de largura e
1500 mm de comprimento. A caixa é 5.1 Solo utilizado no estudo
constituída por chapas de aço, reforçadas
externamente por perfis do tipo U espaçados a O solo estudado foi extraído de um talude
cada 280 mm e está fixada a uma base com localizado em uma rodovia próximas à cidade
3000 mm de comprimento, onde está instalada de São Carlos. Abaixo na Tabela 1 , encontram-
o sistema de aplicação da força de se os valores dos parâmetros e propriedades do
arrancamento. solo do solo.
Com a intenção de diminuir os efeitos da Quanto a granulometria, o solo utilizado no
proximidade da parede frontal rígida, existe estudo apresentou proporções de 15% de argila,
ainda no interior da caixa uma luva de aço, com 6% de Silte, 46% de areia fina, 30% areia média
200 mm de extensão, por onde passa a inclusão. e 3% de areia grossa.

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585
Salientando que os parâmetros de resistência 5.4 Programa experimental
referentes ao ângulo de atrito interno, , e a
coesão, c, foram obtidos em ensaios de No presente estudo foram adotados três valores
cisalhamento direto com corpos de prova de sobrecarga aplicada na superfície do solo
moldados na umidade ótima de compactação e para simular a tensão normal na interface; 25,
no grau de compactação, G. C., apresentado, e 50 e 100 kPa, três valores de grau de
rompidos a uma velocidade de 4,6 mm/min. compactação do solo; 85, 93 e 100% e cinco
valores de comprimento da inclusão; 350, 600,
Tabela 1. Valores dos parâmetros e das propriedades do 800, 900 e 1050 mm, conforme informado na
solo utilizado no estudo. Tabela 5.
Parâmetros e propriedades do Valores
solo usado Tabela 3. Especificações das geogrelhas Fortrac.
s (g/cm3) 2,666
Propriedades
Geogrelhas
LL (%) 18 B C
LP (%) 14 Resistência à tração L 200 110
d máx (kN/m3) 19,5 (kN/m) T 35 30
wot (%) 10,7 Deformação
- 12 12
 (º) 33,5 na ruptura (%)
2
c (kPa) 23,8 Gramatura (g/m ) - 710 540
G. C. (%) 95 Largura do L 8 7
Classificação SM elemento (mm) T 3 3
Espaçamento entre L 36 25
elementos (mm) T 32 23
5.2 Geogrelhas utilizadas no estudo Espessura do - 1,5 1,5
elemento
Foram utilizados no programa experimental transversal (mm)
deste trabalho quatro diferentes geogrelhas,
sendo seis poliméricas e uma metálica. Tabela 4. Especificações das geogrelhas Paralink D.
Os modelos de geogrelhas poliméricas Propriedades D
L 200
usados são: a) Geogrelha metálica Maccaferri Resistência à tração (kN/m)
T 15
(A); b) Fortrac 200/35-30 (B); c) Fortrac Deformação na ruptura (%) --- 12
110/30-20 (C); e d) Paralink 200/15S (D). Gramatura (g/m2) --- 775
Abaixo a Tabela 2, Tabela 3 e Tabela 4 Largura do L 34
informam as especificações das geogrelhas. elemento (mm) T 25
Espaçamento entre L 75
elementos (mm) T 225
Tabela 2. Especificações da geogrelha metálica (gabião).
Espessura do elemento 0,9
Propriedades Geogrelha A ---
transversal (mm)
Resistência à tração longitudinal 47 Espessura do elemento 1,6
(kN/m) ---
longitudinal (mm)
Deformação na ruptura (%) >12
Gramatura (g/m2) 260
Diâmetro do fio da malha (mm) 2,7 6 RESULTADOS
Dimensões da malha hexagonal (cm) 8 x 10
Como pode ser visto Tabela 6 abaixo , os
ensaios estão enumerados e foram informado os
As geogrelhas metálicas são usadas em técnica parâmetros os espaçamentos entre elementos
construtiva patenteada e ficam sujeitas aos transversais, St, e espaçamento entre elementos
esforços de arrancamento, assim com as longitudinais, Sl..
geogrelhas poliméticas. Como resultados obtidos dos testes, estão
listados os valores da: força máxima de
5.3 Equipamento utilizado no ensaio de
arrancamento, Rmáx.; força de arrancamento
arrancamento de geogrelhas
referente a 95% da força máxima de
O equipamento utilizado o de grandes
arrancamento, R95%.; tensão de arrancamento,
dimensões da EESC ( Escola de Engenharia de
São Carlos) descrito no item 4.0. 95%., igual a R95%./(2l); além do deslocamento

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586
frontal, 95%., que se verifica no momento em conduzir a amostra de geogrelha com 1050 mm
que R95%. ocorre. de comprimento à ruptura.
Forçando os ajustes de retas passarem pela
7 DISCUSSÕES origem, como pode ser visto na Figura 3, a
proporcionalidade verificada entre a resistência
Neste tópicos são informadas as análises
ao arrancamento e o comprimento da amostra
quantitativas e qualitativas em função de cada
indica que a tensão de arrancamento, 95%.,
parâmetro.
independe do comprimento da geogrelha.
Tabela 5. Programa de testes das geogrelhas.
Sobrecarga G. C. Comp Obs. Tabela 6. Resumo dos principais dados e resultados de
N° Geogrelha
(kPa) (%) .(mm) ensaio.
1 C 25 93 600 St Sl Rmáx R95% 95% 95%
2 C 25 85 600 N°
(mm) (mm) (kN/m) (kN/m) (kPa) (mm)
3 C 50 93 600 1 23 25 35,7 33,9 28,2 24,5
4 C 85 85 600 2 23 25 25,0 23,7 19,7 15,6
5 C 100 93 600 3 23 25 44,0 41,8 34,8 27,0
6 C 100 85 600 4 23 25 30,2 28,7 23,9 21,5
7 C 25 93 900 5 23 25 73,9 70,2 58,5 38,5
8 C 25 93 1050 6 23 25 48,8 46,4 38,6 44,9
9 C 25 93 1050 - 1 7 23 25 55,8 53,0 29,4 35,5
E.T.1 8 23 25 59,5 56,5 26,9 40,8
10 B 25 93 1050 9 46 25 67,4 64,0 30,5 42,4
11 D 25 93 1050 10 32 25 73,8 70,1 33,4 27,8
12 A 25 93 600 11 225 75 37,8 35,9 17,1 15,0
13 C 25 93 350 -1 E. 12 100 80 38,1 36,2 30,1 36,6
L.2 13 23 50 26,9 25,6 36,5 12,1
14 C 25 93 600 -1 E. 14 46 25 53,5 50,8 42,3 18,2
T.1 15 69 25 40,0 38,0 31,6 20,9
15 C 25 93 600 -2 E.T.3 16 - 25 20,5 19,5 16,2 7,3
16 C 25 93 600 S/ E. 17 23 25 59,6 56,6 35,4 37,8
T.4 18 23 25 64,5 61,3 38,3 5,5
17 C 25 100 800
18 C 25 100 800 2 cam5
1 Os valores de 95% encontrados nos testes 1,
Elementos transversais retirados alternadamente
7 e 8 foram respectivamente 28,2; 29,4 e 26,9
2
Elementos longitudinais retirados alternadamente kPa, que são valores bastante próximos. Em
3
Pares de elementos transversais retirados termos médios e para as condições destes testes,
alternadamente pode-se dizer que 95% é igual a 28,2 kPa.
4
Todos elementos transversais retirados
5
Camada dupla de geogrelha
Vale salientar que Todos os ensaios foram
realizados utilizando inclusões com 500 mm de
largura no equipamento de grande porte da EESC.

7.1 Comprimento de ancoragem

A partir dos resultados dos testes 1, 7 e 8 ( Ver


Tabela 6) é possível avaliar o efeito do
comprimento de ancoragem nos valores de
resistência ao arrancamento R95%., e Figura 3. Efeito do comprimento na resistência ao
deslocamento frontal 95%. Nestes ensaios foi arrancamento e no deslocamento frontal a 95% da força
máxima.
utilizada ume sobrecarga de 25 kPa, a menor
dentre as utilizadas no programa experimental.
7.2 Sobrecarga aplicada
Maiores valores de sobrecarga poderiam

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587
O estudo para averiguar o efeito da sobrecarga compacto, embora se verificou a inversão deste
aplicada na superfície do solo é feito fenômeno para a sobrecarga de 100 kPa.
contrastando-se os resultados obtidos dos
ensaios 1 a 6, que foram realizados utilizando 7.3 Grau de compactação
amostras com 600 mm de comprimento,
sobrecargas de 25, 50 e 100 kPa e graus de A avaliação do efeito da compacidade do solo é
compactação de 85 e 93%. feita comparando os resultados dos testes 1 a 6,
A Figura 4 mostra a variação da tensão de que foram executados sob distintos valores de
arrancamento, 95%, com a sobrecarga sobrecarga aplicada e de grau de compactação.
aplicada, . Percebe-se que existe uma
correlação aproximadamente linear entre estes
dois parâmetros e que pode ser equacionada
pelo critério Mohr Coulomb.
Com isso, as seguintes equações (1) e (2) de
resistência ao arrancamento foram formuladas.

95% = 17 +   tg 22º (kPa) (1)

95% = 12 +   tg 15º (kPa) (2)

Figura 5 Efeito da sobrecarga aplicada no deslocamento


frontal, 95%, para distintos grau de compactação do solo.

A taxa de variação da resistência ao


arrancamento com o grau de compactação, por
sua vez, pode ser obtida da Figura 6, que
apresenta os valores de resistência e
deslocamento frontal 95% e 95 em função do
Figura 4. Efeito da sobrecarga aplicada na resistência  grau de compactação. Essa taxa tem valor
95%, para distintos graus de compactação do solo.
aproximadamente constante para os graus de
compactação entre 85 e 100% e igual a 1 kPa
Como pode ser visto na Figura 4, para cada 1 % de variação no grau de
teoricamente, na condição de sobrecarga nula, o compactação. Para o caso testado, verifica-se
solo ainda é capaz de promover resistência ao um ganho de resistência de aproximadamente
arrancamento. Essa resistência não é atribuída 75% quando se passa do grau de compactação
ao atrito entre solo e inclusão, mas à adesão igual a 85% para 100%. Isso indica que o grau
ente eles e, que decorre da existência de coesão de compactação tem uma importante influência
do solo situado nos vazios entre os elementos para a resistência ao arrancamento.
da geogrelha. Além disso, os deslocamentos necessários
Quando os deslocamentos da seção frontal para arrancar uma geogrelha também são
da geogrelha 95% são plotados em função da maiores quando o solo é compactado com
sobrecarga aplicada, Figura 5, nota-se que o maiores valores de grau de compactação,
comportamento entre estes parâmetros é embora, a Figura 5 mostra que para maiores
crescente mas não linear, diferentemente do que valores de sobrecarga aplicada esta tendência
ocorre com a resistência ao arrancamento. pode se inverter.
Percebe-se ainda, que os deslocamentos
frontais, necessários para conduzir a geogrelha 7.4 Presença dos elementos transversais
ao arrancamento, são maiores para o solo mais

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588
O efeito da presença dos elementos transversais Os resultados dos testes 1, 14 e 15 são
sobre o comportamento da geogrelha durante o utilizados para avaliar o efeito do espaçamento
arrancamento é analisado comparando-se os entre elementos transversais. Os elementos
resultados dos ensaios 1 e 16. Estes testes foram transversais das amostras de geogrelha usadas
executados sob as mesmas condições de dos testes 14 e 15 foram retirados
sobrecarga e grau de compactação, entretanto a sistematicamente de forma que os espaçamentos
amostra de geogrelha usada no teste 16, teve entre eles fossem iguais a 46 e 69 mm.
seus elementos transversais retirados. A Figura 8 ilustra que a amostra de
geogrelha que tem valor de St intermediário
apresenta a maior resistência ao arrancamento.
Isso sugere a existência um valor ótimo para St
que maximiza a resistência ao arrancamento das
geogrelhas. Uma provável explicação para este
fato está relacionada com a influência que um
elemento transversal tem sobre o
desenvolvimento do mecanismo de resistência
do elemento transversal adjacente, onde o Stótimo
representa o somatório das contribuições
individuais de cada elemento.
Figura 6. Efeito do grau de compactação na resistência 
95% e no deslocamento frontal, 95%.

Figura 8. Efeito do espaçamento entre elementos


transversais na resistência ao arrancamento  95%.

Além disso, percebe-se também que a


Figura 7. Curvas força vs. deslocamento frontal das
geogrelhas com e sem elementos frontais. resistência ao arrancamento 95% oferecida pela
geogrelha com o maior espaçamento entre
Percebe-se na Figura 7 que a resistência ao elementos longitudinais (ver Tabela 6) é cerca
arrancamento oferecida pela geogrelha sem seus de 30% maior que a oferecida pela geogrelha
elementos transversais é de aproximadamente com menor espaçamento entre elementos. Isso,
55% da resistência oferecida pela geogrelha provavelmente, se deve ao fato de que o
intacta, de modo que é possível afirmar que somatório dos comprimentos dos elementos
pelo menos 45% da resistência total ao transversais é maior para a geogrelha com
arrancamento é oferecida pelos elementos elementos longitudinais mais espaçados. Como
transversais. Esse percentual, entretanto, deve os elementos transversais oferecerem uma
ser maior, visto que a curva força vs. interação mais efetiva que a oferecida pelos
deslocamento para o teste sem elementos elementos longitudinais, a geogrelha com
transversais decai significativamente após o elementos longitudinais mais espaçados
pico, diferentemente do que ocorre com a outra promove uma melhor interação com o solo.
curva.
7.6 Tipo de inclusão
7.5 Espaçamentos entre elementos

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589
Os testes 8, 10, 11 e 12 foram realizados Conforme visto na Tabela 6, verifica-se que
utilizando as geogrelhas Fortrac 110/30-20 (B), a resistência ao arrancamento das geogrelhas
Fortrac 200/35-30 (C), Paralink 200/15S (D) e a sobrepostas é levemente maior que a observada
malha de gabião (A), respectivamente. Todas na amostra individual de geogrelha, sendo a
essas geogrelhas foram selecionadas em função diferença de 8% somente. Os deslocamentos
das suas características geométricas e necessários para promover o arrancamento são,
propriedades especiais como drenagem. entretanto, bastante menores quando se utilizam
Os testes foram realizados nas mesmas duas camadas de geogrelha, cerca de apenas
condições de compactação e confinamento. Os 15% do deslocamento para uma camada.
comprimentos das amostras foram 1050 mm,
exceto para a malha de gabião que teve 600 CONCLUSÃO
mm, visto que comprimentos maiores levavam
a amostra à ruptura por tração. Baseado nos estudos citados as seguintes
Como pode-se perceber na Figura 9, a conclusões foram obtidas:
geogrelha Fortrac 200/35-30 apresenta
melhores resultados de resistência ao a) Existe uma razoável proporcionalidade entre
arrancamento, seguido pela malha de gabião, a resistência ao arrancamento e o comprimento
pela geogrelha Fortrac 110/30-20 e pela da geogrelha, bem como entre o deslocamento
geogrelha Paralink 200/15S. Existe uma frontal no instante próximo da ruptura e o
variação relativamente acentuada entre a comprimento da geogrelha;
resistência da geogrelha Paralink e a das demais b) Existe uma relação aproximadamente linear
inclusões, provavelmente devido a sua entre a tensão normal aplicada e ao solo e a
geometria que desfavorece a interação por resistência ao arrancamento das geogrelhas, o
resistência passiva, em função da pouca que não ocorre, entretanto, com os
quantidade de elementos transversais. Isto deslocamentos frontais no instante próximo da
reforça ainda mais a hipótese de que os ruptura;
elementos transversais são os mais eficientes do c) O grau de compactação do solo tem um
ponto de vista de interação com o solo. efeito muito significativo na resistência ao
arrancamento de geogrelhas, com uma variação
7.7 Dupla camada de geogrelha aproximadamente linear entre esses dois
parâmetros;
Os resultados dos testes 17 e 18 podem ser d) A parcela de resistência ao arrancamento
utilizados para averiguar o efeito de se utilizar oferecida pelos elementos transversais da
duas camadas de inclusão sobre a resistência ao geogrelha é extremamente significativa,
arrancamento. No teste 18 foi utilizado duas principalmente para deslocamentos frontais
amostras de geogrelha individuais, uma maiores que 15 mm. Para deslocamentos
sobreposta à outra, inseridas no interior da menores que 7 mm, os elementos longitudinais
massa de solo. são os maiores responsáveis pela resistência ao
arrancamento;
e) Existe um espaçamento ótimo entre os
elementos transversais que conduzem a valores
máximos de resistência ao arrancamento, além
disso, a presença de muitos elementos
longitudinais pode ser desfavorável para a
interação entre solo e geogrelha;
f) A utilização de uma ou duas camadas de
geogrelha tem pouca influência na resistência
ao arrancamento do conjunto, entretanto os
deslocamentos necessários para mobilizar a
Figura 9. Comparação entre os diferentes tipos de
resistência ao arrancamento são menores
inclusão. quando se utilizam duas camadas;

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590
g) As tensões totais no solo próximo da On Large-scale Laboratory Pull-out Testing,
inclusão podem diferir bastante da sobrecarga Geotechnical Engineering Journal, ASCE, New York,
v.29 (2), p. 123-155.
aplicada durante o ensaio devido à dilatância Teixeira, S. H. C. (1999) Construção e calibração de um
impedida do solo. Este fenômeno é fortemente equipamento de ensaios de arrancamento de
influenciado pela presença dos elementos geossintéticos. Dissertação de mestrado, Programa de
transversais da geogrelha. Pós-Graduação em Geotecnia, Escola de Engenharia
de São Carlos, Universidade de São Paulo, 157p.
Teixeira, S.H.C & Bueno, B.S.(1999) Um Equipamento
AGRADECIMENTOS para Ensaios de Arrancamento em Geossintéticos.
Anais do Geossintéticos 99, Rio de Janeiro, s/v., p.
Os autores prestam agradecimentos ao CNPQ 215-222.
(Conselho Nacional de Pesquisa) pelo fomento Wang, H. L., Chen, R. P., Liu, Q. W., Wang, Y. W.
a pesquisas nas universidades e ao (2019) Soil–Geogrid Interaction at Various
Influencing Factors by Pullout Tests with
Departamento de Geotecnica da EESC (Escola Applications of FBG Sensors. Journal Material Civil
de Engenhar ia de São Carlos) pela Engineering, ASCE, v.31, nº 1, p. 1-11.
disponibilidade da infraestrutura na realização
dos ensaios.

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Pullout Testing Device for 3D Evaluation of Soil–
Geogrid Interaction. Geotechnical Testing Journal,
ASTM, v.38, nº 5, p. 686-707.
Jewell, R. A., Milligan, G. W. E., Sarsby, R. W. &
Dubois, D. (1984) Interaction Between Soil and
Geogrids. Proceeding, Symposium on Polymer Grid
Reinforcement in Civil Engineering, Science and
Engneering Research Council and Netlon Limited, p.
18-30.
Juran, I.; Knochenmus, G.; Acar, Y.B.; Arman, A. (1988)
Pull-Out Response of Geotextiles and Geogrids.
Anais do Proceedings of Symposium on Geotextiles
for Soil Improvement (ASCE), Geotech. v.18 (Special
Publication), p. 92-111.
Kakuda, F. M. (2005) Estudo de ensaio de arrancamento
de geogrelha com utilização de um equipamento
reduzido. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia, Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, 124p.
Ladeira, M.A.S.A. & Lopes, M.L. (1995) Estudo dos
Fenômenos da Interação Solo-Geossintéticos Através
de Ensaios de Arranque. Revista Geotecnia, ABMS,
v.74, p. 39-49.
Lopes, M. L. & Moutinho, C. (1997) Resistência das
Interfaces Solo-Geogrelha: Papel da Densidade e
Granulometria do Solo. Anais VI Congresso Nacional
de Geotecnia (VI CNG), Lisboa, v.1, p. 279-288.
Napa, G. G. F. (2011) Implementação de ensaios de
arrancamento cíclicos de geossintéticos. Dissertação
de mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, 102p.
Peng, X. & Zornberg, J. G. (2017) Evaluation of load
transfer in geogrids for base stabilization using
transparent soil. Transportation Geotechnics and
Geoecology, Elsevier, v.189, S/nº, p. 307-314.
Raju, D.M., Lo, S.C.R., Gopalan, M. & Gao, J. (1998)

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592
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Solo Grampeado Verde em Encosta da Formação Barreiras em


Maceió/AL
Allan Kleber Leite de Almeida
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil, allan92leite@gmail.com

Gilmar de Brito Maia


Gusmão Engenheiros Associados Ltda, Recife, Brasil, gilmar@gusmao.eng.br

Alexandre Duarte Gusmão


Universidade de Pernambuco, Recife, Brasil, gusmao.alex@ig.com.br

RESUMO: Este trabalho apresenta uma solução de estabilização de encosta em uma indústria
alimentícia dentro da zona urbana de Maceió/AL. A área estudada situa-se na região de morros
formada pelos tabuleiros sedimentares dos períodos Holocênicos e Pleistocênicos, (Formação
Barreiras) e sua superfície é ocupada por um vestígio de mata atlântica protegida por órgãos
ambientais. Na encosta existia um sistema de escoamento d’água constituído por canaletas e descidas
d’águas construídas com dimensões inadequadas para inclinação da encosta, e sem considerar a
demanda irregular de esgoto da comunidade vizinha acima da crista da encosta, a qual, despejava os
dejetos sanitários diretamente na mata e nas canaletas. Em maio de 2017 após chuvas intensas,
ocorreu um deslizamento capaz de atingir parte de uma estrutura localizada ao pé da encosta. Dessa
forma, foi necessária uma intervenção geotécnica compatível com as especificidades ambientais para
garantir a estabilidade global do talude. Foi redimensionado o sistema de escoamento superficial e
projetada a contenção do tipo Solo Grampeado Verde composta por: malha de grampos de 8 a 10
metros de profundidade inclinados a 15º com a horizontal; geossintético do tipo biomanta de fibra de
côco; geomanta flexível com malha metálica sobre a superfície da encosta, ligando os cabeçotes da
malha de grampo fazendo-se com que os grampos estejam ancorados na superfície. A solução de
contenção atendeu as condicionantes de caráter geotécnico e ambiental proposta no projeto. O bom
desempenho da contenção evidenciou a eficiência da solução que alia a necessidade de conter
desníveis de terrenos sem descampar grandes áreas de matas nativas da região.

PALAVRAS-CHAVE: Encosta, Contenção, Solo Grampeado Verde, Escoamento Superficial,


Análise de Estabilidade.

ABSTRACT: This work presents a slope stabilization solution in a food industry within the urban
area of Maceió / AL. The studied area is located in the hills formed by the sedimentary trays of the
Holocene and Pleistocene periods (Barreiras Formation) and its surface is occupied by a vestige of
Atlantic forest protected by environmental organs. On the slope there was a water drainage system
consisting of gutters and waterfalls constructed with dimensions not suitable for slope slope, and
without considering the irregular sewage demand of the neighboring community above the crest of
the slope, which poured waste directly in the forest and in the gutters. In May 2017, after heavy rains,
there was a landslide capable of reaching part of a structure located at the foot of the slope. In this
way, a geotechnical intervention compatible with environmental specificities was necessary to
guarantee the overall stability of the slope. It was redesigned the system of surface runoff and
designed the containment of the Green Stapled Soil type composed of: mesh of staples of 8 to 10
meters of depth inclined to 15º with the horizontal; coconut fiber biomantic type geosynthetics;
flexible geomanta with metallic mesh on the surface of the slope, connecting the heads of the staple
mesh making the staples are anchored to the surface. The containment solution met the geotechnical
and environmental condition factors proposed in the project. The good performance of the

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containment evidenced the efficiency of the solution that combines the need to contain uneven terrain
without deforesting large areas of native forests of the region.

KEY WORDS: Slope, Containment, Green Stapled Soil, Surface Run, Stability Analysis.

1 INTRODUÇÃO

O caso de obra analisado amostra a solução de 160


contenção do tipo solo grampeado verde em uma 140
encosta dentro do território de uma indústria 120
alimentícia na zona urbana da cidade de

Pluviometria (mm)
100
Maceió/AL.
Segundo relatos da equipe técnica da 80
indústria, o trecho do talude que corresponde às 60
áreas dos galpões de manutenções, tem um 40
histórico de deslizamentos ocorridos nos anos
20
1980, um grande evento em julho de 1994, e este
recentemente registrado em 27 de maio de 2017. 0
O deslizamento de 2017 ocorreu após um 1 3 5 7 9 1113151719212325272931
Dias
período de chuvas intensas, com cerca de 140
Pluviometria Maio (2017)
mm de precipitação diária, e mais de 500 mm
acumulados em 5 dias, forte indicativo de Figura 2. Pluviometria medida no mês de maio de 2017 na
grandes deslizamentos. cidade de Maceió/AL.
O mês de maio de 2017 registrou mais que o
As fotos da Figuras 3 (a) e (b) mostram a área
dobro de chuvas da média histórica para tal mês,
onde ocorreu o deslizamento no dia 27 de maio
conforme mostrado na Figura 1 e 2.
de 2017.
A ocorrência de chuvas intensas antes dos
deslizamentos indica que a infiltração de água
através da encosta contribuiu para o movimento.

700
600
Pluviometria (mm)

500
400
300
200
100
0
ABR

OUT
JAN

JUN

DEZ
SET
JUL
MAI

AGO

NOV
FEV
MAR

Meses
Média pluviométrica entre 1974 a 2004
Pluviometria 2017
Figura 1. Comparação entre as intensidades
pluviométricas entre a média obtidas entre a 1974 a 2004,
e a medida no ano de 2017 na cidade de Maceió/AL.
(a)

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saneamento básico adequado. Por consequência,


direcionam irregularmente as suas águas pluviais
e servidas a montante da encosta, funcionando
como um verdadeiro “sumidouro”, contribuindo
com a infiltraçao de água e a saturação do
maciço.

2.2 Caracterização Geotécnica

A campanha de prospecção geotécnica


realizadas com 13 sondagens a percussão,
contatou que o perfil do subsolo pertence a solos
da Formação Barreiras.
Superficialmente há uma camada de areia
argilo-siltosa, fofa a pouco compacta, com
espessura média de 3,75 m. Seguido por uma
camada de argila areno-siltosa, de consistência
média a rija, e espessura média de 2,50 m. Por
(b) fim, há uma camada de argila arenosa pouco
Figura 3. Área onde ocorreu o deslizamento em maio de siltosa, de consistência dura, com espessura
2017. média de 4,20 m, limitada por um provável
Nesse contexto era necessária uma horizonte rochoso impenetrável ao trépano de
intervenção geotécnica para garantir a lavagem. O nível d’agua freático não foi
estabilidade global do talude, e permitir o identificado nas sondagens realizadas.
funcionamento da indústria com segurança
adequada, bem como atender as restrições
ambientais. A solução em solo grampeado verde
foi neste caso recomendada.
Este trabalho tem como objetivo apresentar os
critérios de dimensionamento e execução da
solução de contenção com solo grampeado
verde.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Descrição da Encosta

O talude em questão possui 380,00 m de


Figura 4. Perfil Geotécnico da encosta.
extensão, com 2,09 ha de área de projeção, com
cotas variando entre +12,00 a +50,23 e
inclinações de até 55%. Após o evento causador A prospecção geotécnica realizada envolveu,
da degradação ambiental, surgiu uma área de também, a coleta de 04 amostras indeformadas
erosão com cerca de 1.300 m². dos solos superficiais da encosta, onde foram
Abaixo do talude se encontra a indústria realizados ensaios de cisalhamento direto na
alimentícia, a qual está dividida da encosta por condição de umidade natural e saturada,
um muro de arrimo de pé com altura variando
buscando simular as condições extremas de
entre 1,50 a 3,50 m, e extensão de 230,00 m.
Acima da crista da encosta existe um conjunto campo. Os resultados obtidos são apresentados
de residências construídas sem um sistema de na Tabela 1.

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Tabela 1. Resultados dos ensaios de cisalhamento direto condições de solo natural e saturado. Dessa
de 4 amostras indeformadas da superfície da encosta. forma, os fatores de segurança foram obtidos
Amostras
Dados
1 2 3 4
para as várias seções transversais representativas
w ao longo da encosta.
8,30 13,54 18,22 17,48 As análises de estabilidade realizadas após o
(%)

15,44 18,26 17,56 17,82
recente deslizamento mostraram que os taludes
(kN/m³) apresentavam um fator de segurança satisfatório
Cnat para a condição de umidade natural em todas as
7,90 19,50 37,70 27,40
(kPa)
Csat
seções, sendo representativa apenas para o
1,20 30,70 12,30 13,10 período de poucas chuvas para a região.
(kPa)
nat No entanto, para uma eventual condição de
28,90 36,50 31,00 29,50
() completa saturação do maciço, o fator de
sat segurança calculado diminui para 1,16, inferior a
35,20 24,80 30,50 27,70
() 1,30, que é o mínimo aceitável para as condições
existentes na fábrica.
Para as camadas mais profundas, a estimativa
dos parâmetros de resistência foi obtida a partir
dos ensaios SPT, utilizando a correlação
proposta por Sanglerat (1972). Os parâmetros
adotados para os dois horizontes, superficial e
residual, estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Parâmetros de resistência considerados para as


camadas superficial e residual.
Dados Camada Superficial Camada Residual

17,27 17,27
(kN/m³)
Cnat
23,13 300
(kPa)
Csat
14,33 300
(kPa)
nat
31,48 31,47
()
sat Figura 5. Análise de estabilidade de uma seção transversal
29,55 31,47 crítica sob condição de umidade natural.
()

2.3 Avaliação da Estabilidade da Encosta


Natural

As análises de estabilidade dos taludes foram


realizadas a partir do Método de Janbu
simplificado, o qual se baseia no método do
equilíbrio limite com superfície rasa e alongada,
sendo uma avaliação determinística.
Foi utilizado o software Slide 5.0 que permite
a inclusão da superfície da encosta, a
consideração da inundação do maciço
apresentado como saída o fator de segurança
referente à geometria da encosta, bem como o
centro e a forma da cunha de ruptura esperada.
Para análise foram feitas simulações com Figura 6. Análise de estabilidade de uma seção transversal
perfil estratificado na geometria atual e nas crítica sob condição de solo saturado.

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2.4 Condicionantes da Solução de Contenção fotodegradáveis para proteger o talude frente a


processos erosivos. Combinada com a realização
Dessa forma, foi necessária a execução de de uma hidrossemeadura prévia ou uma
intervenções para garantir a estabilidade nas plantação posterior, permite uma revegetação
seções críticas, bem como, uma melhoria do acelerada da encosta.
sistema de drenagem superficial para minimizar O conjunto reveste e protege o solo da ação
a infiltração de águas pluviais, e evitar a da água da chuva e do vento, reduz a velocidade
saturação da encosta. da água sobre a superfície do terreno aumentado
Em função da altura, declividade e sua rugosidade, evita o carreamento de partículas
condicionantes geotécnicas e ambientais da de solo na superfície protegida, previne a
encosta na região de deslizamento, soluções formação de ravinas no talude, cria um ambiente
convencionais em muro de arrimo não foram propício ao crescimento da vegetação
recomendadas, pois estes teriam dimensões diminuindo a radiação solar, atenuam as
exageradas com grande interferência nas oscilações térmicas e protegem as sementes
estruturas existentes da fábrica. Por isso, foram potencializando os resultados da
descartadas. hidrossemeadura.
Soluções em cortinas atirantadas ou mesmo
solo grampeado convencional teriam um 3.2 Critérios de Dimensionamento do Solo
impacto visual e ambiental que o concreto Grampeado Verde
projetado promove na encosta natural, não sendo
adequado para a área de preservação que Com base na locação da superfície de ruptura das
constitui a encosta da fábrica. seções críticas, foi executada a contenção do solo
Dessa forma, optou-se pela solução em solo grampeado verde numa área de 3.272 m², com
grampeado com face flexível verde, que alia um total de 1.370 grampos de ancoragem em
apelo sustentável a condições de estabilização uma malha quadrada de 1,80m x 1,80m com
promovida pelos grampos. comprimentos de até 10 m a 15º com a
horizontal, e cerca de 4.000 m² de geomanta e
biomanta.
3 RESULTADOS As análises de estabilidade global com o solo
grampeado verde foram realizadas com o uso do
3.1 Solo Grampeado Verde Método de Janbu simplificado através do
software Slide 5.0.
O solo grampeado verde é uma técnica de
melhoria de solos que permite a contenção de
taludes por meio da execução chumbadores,
instalação de uma geomanta flexível e uma
biomanta de fibra de côco, além do sistema de
drenagem horizontal profunda e superficial.
Os chumbadores promovem a estabilização
geral do maciço na superfície crítica à ruptura.
As geomantas são geossintéticos de matriz
tridimensional, compostas por fibras poliméricas
utilizadas para proteger superfícies susceptíveis
à processos erosivos, ao mesmo tempo em que
reforçam a vegetação já desenvolvida. As
geomantas ligam os cabeçotes da malha de
grampo fazendo-se com que os grampos estejam Figura 7. Análise de estabilidade do solo grampeado
verde de uma seção transversal crítica sob condição de
ancorados na superfície.
umidade natural.
As biomantas são fibras naturais estruturadas
com malhas e fios de polipropileno

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Figura 8. Análise de estabilidade do solo grampeado Figura 10. Execução do solo grampeado verde.
verde de uma seção transversal crítica sob condição solo
saturado.

Devido a dificuldade de locar o equipamento


de cravação dos grampos em diversos pontos da
encosta, foi utilizado um guindaste de pequeno
porte acoplado a um maquinário de perfuração,
conforme apresentado nas Figuras 9 e 10.
As geomantas e as biomantas foram
instaladas após a execução de todos os grampos,
sendo, primeiro a biomanta de fibra de côco e em
seguida a geomanta com reforço metálico.

Figura 11. Término da aplicação do solo grampeado


verde.

Figura 9. Maquinário necessário para aplicação do solo


grampeado verde. Figura 12. Término da aplicação do solo grampeado
verde.

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comparação entre vazão de contribuição com a


vazão de escoamento.
Em virtude das circunstâncias impostas para
o dimensionamento, algumas canaletas
apresentavam inclinações e tipos de drenagem
inconformes com a solicitação de drenagem da
encosta. Para solução, foram projetadas e
executadas novas redes de drenagem, sendo
aproveitados apenas os percursos existentes e
respeitando os requisitos de dimensionamento.

4 CONCLUSÃO
Figura 13. Término da aplicação do solo grampeado
verde.
A análise de estabilidade comprovou que houve
mais de um agente efetivo nos processos que
ocasionaram os deslizamentos da encosta ao
longo dos anos: (i) a infiltração de águas pluviais
em períodos de chuvas intensas; (ii) infiltração
das águas servidas das casas no topo da encosta;
(ii) mau desempenho / insuficiência do sistema
de drenagem superficial; (iii) baixa resistência ao
cisalhamento da camada superficial.
Neste viés, a solução de contenção em solo
grampeado verde obteve um desempenho
satisfatório quando submetida as chuvas de
inverno no ano de 2018. Não foi evidenciado
nenhum indício ou patologia que revele o mal
Figura 14. Término da aplicação do solo grampeado desempenho da solução.
verde.

3.2 Sistema de Drenagem Superficial


REFERÊNCIAS
Na região estudada não existe na área corpos
Georio. (2000) Manual Técnico de Encostas. Ancoragens
hídricos ou nascentes, porém, foi necessário um e Grampos. Fundação Volume 2, p. 81 - 87.
melhor ordenamento da drenagem superficial da Janbu, N. (1954) Application of Composite Slip Surfacefor
encosta para evitar novos processos erosivos. Stability Analysis. European Conference on Stability of
Foi realizada uma verificação do sistema de Earth Slopes. Stockholm, Sweden.
Macaferri. (2017) Catálogo de Geossintéticos.
drenagem superficial, dada a sua importância
Sanglerat, G. (1972) The Penetrometer and Soil
para a estabilidade da encosta. Os estudos Exploration. Amsterdam: Elsevier.
hidrológicos foram desenvolvidos a partir da Solotrat. (2011) Manual de Serviços Geotécnicos. 4ª
precipitação pluviométrica da cidade de Maceió Edição, p. 4 – 16.
e assim, foram determinadas as condicionantes
para cada rede de drenagem do talude.
A vazão de contribuição foi estimada para
cada área de rede de drenagem, e em seguida, a
partir da geometria das canaletas existentes no
levantamento topográfico planialtimétrico,
foram estimadas as vazões máximas de
escoamento das canaletas, permitindo a

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Aplicação de geossintéticos para construção de um aterro sobre


solo mole em um condomínio residencial
Carlos Vinicius dos Santos Benjamim
ENG Consultoria, São Paulo, Brasil, vinicius@engconsultoria.com.br

Sidnei Helder Cardoso Teixeira


VTB Engenharia, Curitiba, Brasil, sidnei@vtbengenharia.com.br

RESUMO:

Este trabalho apresenta os detalhes do projeto para a construção de um aterro sobre solo mole em
um condomínio residencial. Para o desenvolvimento do projeto, foi feito um estudo de alternativas
considerando diferentes soluções para a estabilização dos recalques e melhoria na estabilidade dos
taludes. Os ensaios de campo identificaram uma camada superficial de argila mole com uma baixa
resistência ao cisalhamento e uma alta compressibilidade. Em função das condições geotécnicas
locais, foi previsto de forma inicial a troca de todo este solo mole por rachão. Entretanto, devido ao
custo da solução com troca de solo, julgou-se que a alternativa mais vantajosa, sob os pontos de
vista técnico e econômico, seria realizar a aceleração dos recalques, bem como suavização e reforço
dos taludes com geossintéticos para as seções críticas. Para permitir o tráfego de máquinas durante
a execução das obras, entre o colchão drenante e o solo mole foi instalado um geotêxtil tecido de
polipropileno, permitindo que o colchão drenante trabalhasse como aterro de conquista durante a
execução das obras. Para acelerar o adensamento do solo mole, foi adotada a técnica de instalação
de geodrenos verticais em toda a camada de argila mole. Para garantir a estabilidade dos taludes, foi
realizada a reconformação de sua geometria, combinada à instalação de geogrelhas. Após o fim da
construção, foi realizado um acompanhamento com marcos superficiais, sendo que os recalques se
comportaram de forma esperada durante este período, comprovando a eficiência do sistema adotado
com geossintéticos.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, geogrelhas, geodrenos, geotêxteis, solos moles, taludes.

ABSTRACT: This paper presents the details of a project for the construction of an embankment
over a soft soil in a residential condominium. For the development of the project, it was carried a
study of alternatives for different solutions for the stabilization of the settlements and improvement
in the slope stability. The field tests identified a soft clay layer with a low shear strength and high
compressibility. Due to the local geotechnical conditions, it was planned a substitution of the soft
soil by gravel. However, due to the high costs of the solution with the soil substitution, it was
considered other solution, that could present more advantaged, both from the technical and
economic points of view. The solution chosen to this project was to accelerate the settlements, as
well as reinforce the slopes with geogrids. A layer of woven geotextile was used between the
drainage mattress and the natural ground during the execution of the works. In order to accelerate
soil consolidation, it was used prefabricated vertical drains across the entire thickness of the mole
soil. To ensure the stability of the slopes, a reconfiguration of its geometry was carried out,
combined with the installation of geogrids. After the end of the construction of the reinforced
embankment, it was installed instruments to measure the vertical displacements of the embankment.
The results showed that system adopted with geosynthetics worked successfully.

KEY WORDS: Geosynthetics, geogrids, wick drains, geotextiles, soft soils, slopes.

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603
1 INTRODUÇÃO
A solução inicial concebida pelo cliente foi a
A construção de um aterro sobre solos moles troca da camada de solo mole por uma camada
demanda preocupações a respeito da de rachão abaixo do N.A., e solo compactado
estabilidade dos taludes, como também com acima do N.A., o que de certa forma garantiria a
relação aos recalques, que podem comprometer estabilidade dos taludes, como também evitaria
estruturas a serem construídas sobre este aterro. os recalques ao longo do tempo. Entretanto, esta
Soluções convencionais, como a troca de solução apresentaria um custo muito alto, além
solo por rachão, têm um custo muito alto, além de causar um dano ambiental maior, uma vez
de acarretar em problemas ambientais, como o que toda a camada de solo mole teria que ser
transporte e destinação do solo em um bota escavada e transportada para um bota fora.
fora. Desta forma, foram feitos estudos para se
Desta forma, novas soluções, como a avaliar alternativas que pudessem apresentar
aceleração de recalques com geodrenos, uma redução nos custos envolvidos. Estas
estabilização dos taludes com geossintéticos, ou soluções alternativas foram baseadas na
uma estabilização in situ, como colunas de aceleração de recalques com o uso de geodrenos
brita, Jet Grouting ou Deep Soil Mixing (DSM) e a estabilização dos taludes com o reforço de
têm ganhado cada vez mais destaque. geogrelhas. A Tabela 1 apresenta um resumo
Essas técnicas de melhoria de solo, muito bem das soluções adotadas.
ilustradas por Almeida e Marques (2010) e Conforme pode ser visto, a solução com
Palmeira e Ortigão (2004), apresentam troca de solo seria realmente a solução mais
inúmeras vantagens com relação às soluções de onerosa. Por outro lado, soluções com a
tratamento até então consideradas aceleração dos recalques e estabilização dos
convencionais. taludes com geossintéticos foram as que
Para ilustrar estas vantagens, este artigo apresentaram os menores custos. Após
apresenta os detalhes do projeto de um aterro avaliação por parte do cliente, o prazo de
sobre solo mole na área de construção de um recalque com 2 meses após o fim da construção
condomínio residencial no município de foi a solução adotada para o prosseguimento
Anápolis/GO, utilizando estas novas soluções, dos estudos, uma vez que após este prazo a
como geodrenos, geotêxteis e geogrelhas. redução de custos não seria significativa.
De acordo com a Figura 1, o local de apoio
do aterro é composto por uma camada de argila Tabela 1. Custo das soluções estudadas.
mole, causando preocupações a respeito da opção prazo de recalque custo solução
estabilidade dos taludes e recalques a longo troca de solo imediato R$ 4.055.560
prazo, o que poderia ocasionar em danos à 1 mês R$ 1.745.993
estrutura de pavimento, muros de divisa e 2 meses R$ 1.310.368
geodrenos + 3 meses R$ 1.159.831
dispositivos de drenagem.
geogrelhas 4 meses R$ 1.077.457
5 meses R$ 1.031.479
6 meses R$ 996.352

2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

Foram realizadas 3 campanhas de


investigação geotécnica no local, que
consistiram na realização de ensaios de campo
do tipo SPT (Standard Penetration Test) e VST
(Vane Shear Test), como também coleta para
ensaios laboratoriais (adensamento e
permeabilidade). A Figura 2 apresenta a locação
Figura 1. Foto do local do projeto. dos referidos ensaios.

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604
O nível d’água encontra-se em torno de 2,9
m de profundidade, de modo que a argila mole
presente no local se apresenta parcialmente
submersa.
Entretanto, apesar das sondagens indicarem um
N.A. em torno de 3,0 m de profundidade, a
Figura 1 mostra que na verdade o N.A. se
encontra próximo da superfície em alguns
trechos, o que será levado em consideração na
realização das análises.

2.2 Ensaios de Palheta

A resistência não drenada do solo mole foi


medida por meio de ensaios de Palheta (Vane
Figura 2. Locação dos ensaios realizados. Shear Test). Os valores obtidos por meio destes
ensaios foram utilizados no cálculo da
2.1 Sondagens SPT estabilidade dos taludes. As sondagens foram
realizadas até a profundidade de 6 metros e seus
A partir das sondagens foi possível avaliar os resultados estão compilados na Figura 4.
perfis geológico-geotécnicos do terreno. Pode- Nota-se que as sondagens apresentam uma
se observar que o local de estudo se trata de um tendência a apresentar maior resistência
terreno heterogêneo, apresentando áreas com próximo à superfície, reduzindo conforme
camada superficial composta de solo com aumenta a profundidade, sendo a menor
consistência média (SPT>5) seguido abaixo por resistência observada a 3 metros de
solo de consistência mole. profundidade. A partir de então, os perfis
A Figura 3 apresenta um perfil de sondagem mostram uma tendência a aumento na
considerado representativo para as análises de resistência, à medida que se aproxima do final
estabilidade e previsão de recalques da camada de argila.
apresentados neste estudo.
Su (kPa)
0 10 20 30 40
0

2
Profundidade (m)

Figura 3. Perfil de sondagem.


5

De modo geral, a estratigrafia dos perfis ao


longo do talude é variável, ocorrendo a 6
Figura 4. Perfil de resistência não drenada.
presença de camadas de solo argiloso e areno-
siltoso em diferentes profundidades e posições.
2.3 Ensaios de Laboratório
Destaca-se a ocorrência de camadas de argila
mole com espessuras variando de 3,5 m a 5,5
Os parâmetros de coeficiente de
m.

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605
adensamento e permeabilidade dos solos são de (camada de solo mole), observa-se que os
fundamental importância para a correta materiais apresentam coeficientes de
interpretação do problema e, consequentemente, permeabilidade muito próximos.
da solução a ser adotada. A seguir estão Desta forma, apesar do ensaio SPT os ter
descritos os ensaios realizados caracterizado como areia siltosa e argila mole,
respectivamente, a diferença na permeabilidade
2.3.1 Ensaios de adensamento dos materiais não é suficiente para que se
possam considerar 2 faces drenantes durante o
O ensaio de adensamento, realizado na adensamento da argila mole.
camada de solo mole (profundidade de 3,0 m),
forneceu informações a respeito do coeficiente
de adensamento do solo, estimativa da 3 CÁLCULO DOS RECALQUES
permeabilidade do solo, como também do
módulo de deformabilidade confinada do solo A seguir serão as metodologias aplicadas
mole. para determinar as dimensões e o tempo de
O módulo de deformabilidade confinada do recalque terreno, em função da construção do
solo foi calculado admitindo-se que o solo mole aterro.
deverá ser submetido a uma tensão máxima de Foram admitidas como premissas de projeto
75 kPa, ou seja, a construção de um aterro com que, pelo menos 90% dos recalques totais
altura máxima de 4 metros. esperados por adensamento do solo mole
De modo geral, adotou-se sempre o valor ocorressem no prazo máximo de 2 meses em
crítico dos resultados referentes às amostras qualquer ponto do empreendimento, resultando
ensaiadas. A Tabela 2 apresenta os valores em recalque máximo admissível de 2,5 cm.
encontrados em ambas as amostras, bem como
os valores adotados neste projeto. 3.1 Estimativa dos recalques

Tabela 2. Parâmetros obtidos pelo ensaio de Para a estimativa dos recalques, foram
adensamento. utilizados os princípios da teoria da
Valores
Parâmetro
Valores obtidos
adotados
elasticidade, aplicando o parâmetro M (módulo
VST-01 VST-02 de deformabilidade em confinamento). Através
Coeficiente de
1,73x10-7
1,03x10-6 1,73x10-7
do ensaio de adensamento, foi determinado o
adensamento - C v (m/s) módulo de deformabilidade em confinamento
Módulo de
deformabilidade 1750,92 2801,43 1750,9 médio para o material, e então foram estimados
confinada - M (kPa) valores de M relacionados a valores de N SPT ,
Permeabilidade conforme apresentado pela Tabela 3.
1,00x10-9 4,20x10-9 1,0x10-9
- k (m/s)

Tabela 3. Módulo de deformabilidade em confinamento


2.3.2 Ensaios de permeabilidade em função do NSPT.
Resistencia da argila M (kPa)
O ensaio de permeabilidade, realizado na N SPT ≤2 1500
camada situada abaixo do solo mole 2< N SPT ≤5 2500
(profundidade de 7,0 m), permitiu avaliar a N SPT >5 6000
distância de drenagem da camada de argila, e
dessa forma, estimar o tempo necessário para Foram feitas correlações entre os valores de
que ocorra 90% do recalque estimado. N SPT da argila e de M, permitindo avaliar os
Os ensaios foram realizados em recalques em função do perfil de sondagem
permeâmetro de carga variável, e resultaram em obtido, considerando as espessuras de solo mole
uma permeabilidade média de 1,5x10-8 m/s. determinadas nestas sondagens e os parâmetros
Com base nos resultados obtidos por meio geotécnicos adotados em função dos ensaios
do ensaio de permeabilidade (camada abaixo do realizados. Para a quantificação do recalque, foi
solo mole), e o coeficiente de permeabilidade utilizada a equação a seguir:
estimado através do ensaio de adensamento

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606
𝐿
𝜌 = ∆𝜎 ∑𝑛𝑖=1 𝑀𝑖 (1) 3.2 Estimativa do tempo de recalque
𝑖

Para a estimativa do tempo de recalque, para


Em que: o solo sem tratamento algum, foi utilizada a
Teoria do Adensamento Unidimensional de
• ρ - Recalque estimado; Terzaghi. Entende-se que o adensamento das
• ∆σ - Acréscimo de tensão vertical; camadas de areia é imediato pela possibilidade
• L i - Espessura da camada de solo; de dissipação da poropressão, sendo assim, o
• M i - Módulo de deformação confinada. cálculo de tempo é feito apenas para as camadas
de argila, conforme apresentado a seguir.
O acréscimo de tensão foi obtido em função
da altura de aterro definida no projeto de 𝑐𝑣 ∙𝑡
terraplenagem, sendo conservadoramente 𝑇= 𝐻𝑑2
(2)
adotado o peso específico do material igual a 19
kN/m³. Em que:
As espessuras das camadas foram obtidas • T - Fator tempo;
diretamente dos perfis de sondagem SPT, e os • c v - Coeficiente de adensamento, em cm²/s;
módulos de deformação confinada • t - Tempo de recalque, em segundos;
correspondentes foram adotados conforme • H d - Distância de drenagem, em cm;
definido na Tabela 3.
Para as areias, não foram avaliados os Buscou-se a obtenção do tempo para
recalques, uma vez que eles ocorrem muito ocorrência de Uv=90% do adensamento total
rapidamente, ainda durante a execução da obra. previsto, pois em teoria, é necessário um tempo
Os recalques de interesse para o projeto são infinito para que o solo atinja 100% de
aqueles a longo prazo, que ocorrem após o adensamento.
término da obra. Conforme apresentado na Tabela 2, o
Com os recalques calculados, foi traçado um coeficiente de adensamento adotado como
mapa de recalque, que permite a visualização representativo para o solo local é de 1,73x10-7
em planta das regiões com comportamentos m²/s. A altura de drenagem foi avaliada por
distintos sob o ponto de vista de deformação observação direta do perfil descrito nas
por adensamento. sondagens a percussão e respaldados pela
Este mapa de recalques permite condensar diferença entre o coeficiente de permeabilidade
em uma representação gráfica em duas da argila mole e do solo situado abaixo desta.
dimensões, os efeitos das propriedades elásticas Dessa forma, considerou-se que a distância de
do solo, da geometria do terreno em drenagem é igual à diferença entre a cota
profundidade e das cargas aplicadas pela inferior da camada de argila e a superfície do
construção do aterro. Este mapa de recalque terreno.
está apresentado na Figura 5. A partir dos tempos de adensamento
Conforme pode ser visto, os recalques a calculados foram traçados mapas de tempos de
longo prazo calculados são superiores a 17,5 cm recalque conforme apresentado na Figura 6.
na zona vermelha da figura, superior ao mínimo Nesta figura, o tempo de recalque não
esperado de 2,5 cm. contempla a ação os drenos verticais.

Figura 6. Tempo de recalque.


Figura 5. Mapa de recalques.

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Conforme ilustrado pela figura, o tempo de (unidirecional) para predominantemente
recalque é muito grande, superior a 30 meses horizontal (radial).
em grande parte do empreendimento, e superior Os geodrenos empregados no tratamento de
a 50 meses na área destacada em vermelho, solos sob sistema viário foram especificados
justificando com isso a utilização de algum com as seguintes características:
método para a aceleração dos recalques.
• Alta capacidade de descarga, maior ou igual
a 1000 m³/ano;
4 SOLUÇÃO PARA ACELERAÇÃO DOS
RECALQUES • Resistência à tração superior a 2,5 kN e
deformação axial antes da ruptura mínima de
A utilização de técnicas de aceleração de 30%;
recalques objetivará assegurar que o pavimento
e as tubulações de água e esgoto instaladas sob • Instalação através de mandril ou agulha
o sistema viário não sofram recalques fechada, isto é, envolvendo totalmente e
diferenciais após a instalação. protegendo o dreno durante a cravação;
Dessa forma, as áreas que necessitam
receber algum tipo de tratamento foram • Para evitar o amolgamento excessivo da
determinadas em função da magnitude dos argila, o mandril ou agulha de instalação do
recalques, admitindo-se neste trabalho que toda geodreno deverá ter a área da sua sucção
área com recalque total superior a 2,5 cm transversal contida inferior a 70cm².
deverá ser tratada de modo que o recalque
ocorra num tempo máximo de 2 meses. A seleção do geodreno vertical foi baseada
Para garantir o adensamento do solo mole no no princípio de que sua permeabilidade deve ser
período estipulado, foi adotada a instalação de superior à do solo mole durante toda sua vida
geodrenos, dimensionados conforme útil. Devido ao fato de se tratar de um terreno
apresentado a seguir. constituído de solo argiloso muito mole, espera-
se a ocorrência de recalques e deformações
4.1 Dimensionamento dos geodrenos significativas, o que justifica a utilização de
geodrenos que apresentam pequena redução de
A alternativa proposta tem como princípio sua capacidade quando submetidos a
diminuir a distância de drenagem, reduzindo dobramentos.
significativamente o tempo de adensamento nos O tempo necessário para que os recalques
pontos mais críticos da área do ocorram é função do espaçamento entre os
empreendimento. Com a expulsão acelerada da geodrenos, ou seja, do diâmetro de influência da
água, tem-se por consequência, uma aceleração drenagem radial.
dos recalques, além de uma melhoria na A solução adotada consiste, portanto, na
capacidade de suporte do terreno. instalação de geodrenos dispostos em malha
A utilização de drenos verticais promove a triangular com espaçamento variável em cada
aceleração do adensamento ao diminuir o trecho do talude, de tal forma que o tempo de
caminho de drenagem dentro da massa de solo recalque não ultrapasse 2 meses.
compressível para cerca da metade da distância
horizontal entre os drenos. 4.2 Dimensionamento do colchão drenante
Os geodrenos apresentam elevadas
resistências mecânicas, o que garante sua Para que o processo de aceleração dos
integridade durante a cravação e suportando os recalques se desenvolva adequadamente, toda a
esforços oriundos das deformações horizontal e água coletada pelos geodrenos deve ser
vertical da massa de solo de fundação em encaminhada até a superfície do terreno natural.
adensamento. Com a sua instalação, a direção Entre o material do aterro e o terreno natural,
do fluxo de água no interior da massa de solo deve existir um colchão drenante
passa de predominantemente vertical adequadamente dimensionado, de tal forma a

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608
permitir o livre fluxo de água coletada e não considerando superfícies potenciais de ruptura
retardar o processo de adensamento. cilíndricas, considerando a condição de final de
Desse modo, anteriormente à construção do construção, ou seja, quando as pressões neutras
aterro, deve-se instalar uma camada de material devido à construção do aterro são máximas.
granular, que também pode ter a função de Os parâmetros geotécnicos de resistência ao
aterro de conquista sobre o solo mole. Após a cisalhamento e pesos específicos utilizados nas
instalação desta camada, procede-se a cravação análises de estabilidade do talude apresentadas
dos drenos e execução do corpo do aterro. neste relatório estão sumarizados no item 2
A camada drenante consiste em um colchão deste artigo. Nas análises, considerou-se a
de areia. Entre o solo mole e o colchão drenante presença de uma sobrecarga de 20kN/m³, sobre
foi especificada uma camada de geotêxtil tecido o viário previsto no topo do talude.
de polipropileno com resistência mínima de A Figura 7 apresenta a análise de
50kN/m. estabilidade do talude sem reforço. Conforme
Dessa forma, o colhão drenante servirá pode ser visto, o fator de segurança atesta que a
também como aterro de conquista, permitindo o geometria adotada para os taludes é instável, em
fluxo de máquinas e equipamentos para a função da baixa capacidade de suporte do solo
realização das obras. de fundação.
Os cálculos apresentados referentes ao

0
1.0
dimensionamento do colchão drenante Seção E0+420

5
1.2
Talude 1V:2H
0.77
consideraram as vazões estimadas nos primeiros Sem reforço

momentos do adensamento do solo, haja vista 16


15
Aterro
14
que as vazões tendem a diminuir ao longo do 13
12 Solo mole
tempo. 11
Elevação (m)

10
9
8
7
6
5 Solo resistente
4
5 ESTABILIDADE DOS TALUDES 3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40

Foi realizada a análise de estabilidade dos Distância (m)

taludes situados nos limites dos aterros na área Figura 7. Estabilidade do talude original.
do empreendimento, com o objetivo de avaliar
o fator de segurança para a geometria indicada Com base nisso, para que se garanta a
no projeto de terraplenagem e indicar soluções estabilidade dos taludes, durante o adensamento
para as seções cujo fator de segurança ao final do solo mole e ao final da construção, é
da construção se apresentou menor que 1,3. necessário a realização de um retaludamento,
Esta avaliação se fez necessária para que suavizando a inclinação dos taludes, combinado
sejam garantidas as condições mínimas de à instalação de geogrelhas como reforço da base
segurança dos taludes, não só durante o período dos taludes, quando necessário.
de adensamento do solo mole, mas também As soluções adotadas para a estabilidade dos
após a finalização das obras no taludes consistem no retaludamento, alterando a
empreendimento. geometria original com taludes de 1,0V:2,0H,
As análises de estabilidade foram para taludes com inclinação 1,0V:2,5H,
processadas utilizando-se o método de combinado ao reforço de geogrelhas com
equilíbrio limite de Bishop, utilizado para a resistência longitudinal mínima de 300kN/m, de
determinação do coeficiente de segurança para modo a garantir um FS≥1,3.
os taludes contra uma ruptura em uma A Figura 8 apresenta o resultado da análise
superfície de ruptura cilíndrica. Com relação ao de estabilidade do talude reforçado. Conforme
software utilizado, as análises de estabilidade pode ser visto, o fator de segurança encontrado
foram processadas utilizando o programa ao fim da construção atende ao mínimo
Slope/W, elaborado pela GeoSlope especificado por este projeto, para uma
International. condição de final da construção, com os
As análises de estabilidade foram realizadas parâmetros não drenados do solo.

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609
6 SOLUÇÃO ADOTADA A Figura 11 apresenta detalhes da geogrelha
utilizada para a estabilização dos taludes. A
A Figura 9 apresenta detalhes da solução Figura 12 apresenta uma foto da obra concluída,
adotada, com a utilização de geodrenos para a com detalhes do pavimento e dos dispositivos
aceleração dos recalques, geotêxtil tecido para a de drenagem, sem nenhum sinal de trincas ou
o aterro de conquista e geogrelhas para a danos no pavimento e dispositivos de
estabilização dos taludes. drenagem.

1.7
0
Seção E 0+420 1.5
Talude 1V:2,5H
Geogrelha 300kN/m 1.32

16
15
Aterro
14
13
12 Solo mole
11
Elevação (m)

10
9
8
7
6
5 Solo resistente
4
3
2
1
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 4

Distância (m)
Figura 8. Estabilidade do talude reforçado.
Figura 11. Detalhe da instalação das geogrelhas.

Figura 12. Detalhe das obras do condomínio concluídas.

Figura 9. Detalhe da solução adotada 7 CONCLUSÕES

A Figura 10 apresenta o detalhe do colchão Este trabalho apresenta os detalhes de um


drenante com areia, com a utilização do projeto para a construção de um aterro sobre
geotêxtil tecido como elemento de separação e solo mole em um condomínio residencial. As
reforço do aterro de conquista. análises mostraram que uma solução com
geossintéticos, utilizados para acelerar os
recalques e estabilizar os taludes, foi a melhor
solução, tanto do ponto de vista técnico como
financeiro.

REFERÊNCIAS

Almeida, M. S. S., Marques, M. E. S. (2010). Aterros


sobre solos moles: Projeto e Desempenho, São Paulo,
254 p.
Palmeira, E. M. & Ortigão, A. (2004) Aterros sobre solos
moles. Vertematti, J.V. (ed) Manual Brasileiro de
Geossintéticos, Associação Brasileira de das
Figura 10. Detalhe do geotêxtil tecido e da cravação dos Indústrias de Não tecidos e de Tecidos Técnicos, São
geodrenos. Paulo, cap. 4.4, p. 72-96.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

610
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Estudo sobre aterros de cabeceira reforçados com geogrelhas


apoiados sobre solos moles melhorados com estacas de argamassa
e de areia e brita em uma ponte localizada no município de
Salvador - Ba
Daniel de Souza Machado
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, danieldesouzamachado@yahoo.com.br

Demóstenes de Araújo Cavalcanti Júnior


Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil
GEOTEC - Consultoria e Serviços Ltda, Aracajú, Brasil, geotec.csl@uol.com.br

Carlos Rezende Cardoso Júnior


Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Brasil
GEOTEC - Consultoria e Serviços Ltda, Aracajú, Brasil, geotec.projetos@uol.com.br

Tennison Freire de Souza Jr.


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, tennisonufpr@outlook.com

Eclesielter Moreira Batista


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, ecleisleter_ebm@hotmail.com

Ricardo Daniel Caballero


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, ricardocaballero23@gmail.com

RESUMO: Na concepção e construção de obras rodoviárias é corriqueira a presença de estratos de


solo moles, o que representa um risco em termos de estabilidade global e deformações por
adensamento em função da baixa capacidade de suporte e da natureza compressível destes solos,
principalmente em ligações de tabuleiros de viadutos e pontes e que podem sofrer deslocamentos
horizontais através do efeito Tschebotarioff. Este artigo apresenta um estudo de caso de aterros
reforçados com geogrelhas apoiados sob solos moles melhorados com estacas de concreto vibrado e
estacas de areia e brita localizados nas cabeceiras de viadutos da Av. 2 de Julho (ligação entre
Cajazeiras e a BR-324) localizados no município de Salvador-Ba. No contexto do estudo, através de
investigações geotécnicas por sondagens de simples reconhecimento (SPT) foi constatada a
presença de camadas de 6m de solos moles (Nspt igual a 2) em extensões longitudinais superiores a
15m em média em relação ao início do tabuleiro da ponte da Avenida 02 de julho. Para análise da
solução proposta foram realizadas simulações através de MEF (Método dos elementos finitos)
considerando estacas (D igual a 40 cm) atravessando a camada de solo mole e contenção do aterro
da cabeceira em solo reforçado por geogrelhas, de forma a transferir o carregamento do aterro para
os estratos resistentes subjacentes à camada de solo mole, e produzir uma redução significativa do
efeito Tschebotarioff nas estacas do encontro da ponte. Através da modelagem, constatou-se a
viabilidade técnica da solução proposta em função da resistência e deformação do maciço do aterro.

PALAVRAS-CHAVE: Obras rodoviárias, solos moles, viadutos, estacas de areia, geogrelhas, efeito
Tschebotarioff.

ABSTRACT: In the design and construction of highways the presence of layers of soft soil is
common. This represents a risk in terms of global stability and strain due to the low support

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611
capacity and the compressible nature of these soils, especially in foundations of viaducts and
bridges that can suffer horizontal displacements due to the Tschebotarioff effect. This paper intends
to present a case of reinforced landfills supported by soft soils improved with mortar and sand and
gravel piles located at the headwaters of a bridge of 2 de Julho Avenue (between Cajazeiras and
BR-324 ) located in Salvador-BA city. In the context of the study, the presence of layers of 6m of
soft soils (Nspt equal to 2) in longitudinal extensions of more than 15m in average in relation to the
beginning of the deck of the bridge was verified through geotechnical investigations by Standard
Penetration Tests (SPT). To analyse the problem, simulations were carried out using MEF (Finite
Element Method) considering columns of crushed stone (D equal to 40 cm) through the soft soil
layer to transfer the landfill load to the most resistant layers in depth, with geogrids in the extension
of the embankment to allow uniform distribution of the conventional landfill loading and significant
reduction of the Tschebotarioff effect on the piles of the bridge foundations. As a conclusion, it was
verified that the suggested solution is technically feasible due to the resistance and deformation of
the landfill.

KEY WORDS: Highways constructions, soft soils, viaducts, sand piles, geogrids, Tschebotarioff
effect.

1 INTRODUÇÃO superiores a estruturas mais rígidas.


Este artigo apresenta um estudo de utilização
A presença de estratos de solo moles representa de aterros reforçados com geogrelhas apoiados
um risco às obras rodoviárias no que tange sob solos moles melhorados com estacas de
estabilidade global e deformações por concreto vibrado e de areia e brita localizadas
adensamento em função da baixa capacidade de nas cabeceiras de viadutos da Av. 2 de Julho
suporte e da natureza compressível destes solos, (ligação entre Cajazeiras e a BR-324)
principalmente em ligações de tabuleiros, por localizados no município de Salvador – BA.
intermédio de aterros, de viadutos e pontes por
desenvolver deslocamentos horizontais através 2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA DO
do efeito Tschebotarioff. SOLO
Milititsky et al. (2015) afirmaram que os
aterro podem apresentar um comportamento A invesitigação geotécnica foi utilizado o
inadequado através de rupturas ou recalques por ensaio SPT, sendo o projeto amparado em 19
adensamento ao longo do tempo. Palmeira e ensaios SPT, conforme Figura 1.
Ortigão (2015) afirmaram que aterros com uma
determinada magnitude representam algo
desafiador e que para tanto requerem avaliações
de estabilidade. Dentre as mais diversificadas
soluções existentes (aterro estaqueado, bermas
de equilíbrio, melhoramento de solos, etc.), a
utilização reforços com geossintéticos podem
aumentar a estabilidade, construção rápida e a
utilização taludes.
Do ponto de vista mecanístico, os reforços
com geossintéticos possibilita que restrição à
movimentação do aterro, impedindo a
possibilidade de ruptura no interior, além disso
impede a expulsão do material da fundação
(Almeida, 1996; Palmeira & Ortigão, 2015). Figura 1. Locação dos ensaios de SPT no projeto
Ainda que restringam, as estruturas compostas Analisando os perfils, percebeu-se uma
com geossintéticos são flexíveis e logo determinada heterogeneidade na sua
comumente se obtem níveis deformações estratigrafia, com alguma predominância

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612
camadas de siltes argilosos, argilas siltosas e
areia siltosas em variadas profundidades. A
Figura 2 ilustra dois perfis obtidos pela
sodagem SPT e como pode ser visto são solos
que apresentam de uma maneira geral uma
valor de Nspt inferior a 20 golpes e variações de
resistência em profundidade.

Figura 3. Seção transversal típica do aterro reforçado com


geogrelhas apoiados sob estacas de areia e brita e
concreto vibrado.

A Figura 4 ilustra a disposição geral das


estacas argamassadas de areia e brita utilizadas
no reforço de fundação do encontro do viaduto.
Além disso, apresenta a compatibilização do
projeto com a infraestrutura existente no local,
como redes de concecionairas públicas de água,
esgoto, gás e outros.

Figura 2. Investigação geotécnica do solo – ensaio SPT

3 ESPECIFICAÇÕES DO ATERRO
REFORÇADO COM ADIÇÃO DE ESTACAS
DE ARGAMASSA E DE AREIA E BRITA

Como pode ser visto na Figura 3, foi modelado Figura 4. Locação de estacas argamassadas de areia e
o encontro dos viadutos através de um aterro brita em planta.
reforçado com geogrelhas apoiados sobre
estacas de concreto vibrado e estacas de areia e As estacas de concreto vibrado foram
brita do viaduto que liga a BR 324 ao bairro de projetadas para a região situada na projeção do
Cajazeiras. paramento de montante da contenção em solo
O traço da estaca de concreto vibrado foi reforçado do aterro de cabeceira. As estacas de
1:6:3 (Cimento: Areia e Brita) com diâmetro de areia e brita foram projetadas para a região
400mm, comprimento médio que oscilava entre situada na projeção do aterro de cabeceira mais
11 a 14m, espaçamento de 1,5m, cujo metodo distantes do paramento frontal. A Figura 5
de cravação foi através da bucha seca. Quanto ilustra as linhas de estacas de concreto vibrado
as especificações da estaca de areia e brita, o e estacas de areia e brita na cabeceira direita do
traço estipulado foi 2:1 (Areia:Brita), com viaduto da BR-324.
diâmetro de 400mm, comprimento médio de 9m As estacas foram envolvidas no topo por
e espaçamento entre estacas de 1,5m. uma camada de aterro de material granular

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613
reforçado por geogrelhas com o objetivo de Tabela 1. Parâmetros adotados no estudo.
absorver o carregamento do aterro de cabeceira E γ c' Ø'
Solo/Material ν L(m)
(MPa) (kN/m³) (kPa) (°)
e transferir o mesmo para estratos com maiores Silte Argilo
capacidade de carga situdos abaixo da camada Arenoso 0a
10,0 0,40 17 10,0 25
de solo mole. (Talude 6,70
Natural)
Aterro
Compactado
(Areia
22,5 0,35 18 0,0 35 9,4
Compactada)
Brita
graduada
48,0 0,20 21 0,0 40 0,4
Areia 9,5 0,35 18 0,0 30 0,5
Silte argiloso
mole
5,0 0,40 15 5,0 20 5
Silte argiloso
médio a rijo
15,0 0,40 17 10,0 28 15
Silte Arenoso 20,0 0,40 19 0,0 30 14
Estacas de
argamassa
4.558,6 0,15 25 --- --- ---
Estacas de
areia e brita*
18,7 0,25 19 0,0 40 ---

4.2 Sobrecarga de serviço

Tanto na avaliação de equilíbrio limite quanto


Figura 5. Detalhamento das linhas de estacas de areia e na do comportamento tensão vs. deformação do
brita e concreto vibrado em planta ( Lado Direito)
solo foi considerada uma sobrecarga de serviço
de 10 kN/m sobre o aterro.
4 MATERIAS E MÉTODOS
4.3 Estabilidade do aterro – Estado de
No estudo em questão foram realizadas análises equilíbrio último (ELU)
de equilíbrio limite através do módulo
SLOPE/W® usando o método Morgenstern- Na avaliação de estabilidade do aterro reforçado
Price, em relação comportamento de tensão vs. foi considerado que o equilíbrio interno e
deformação baseado no método dos elementos externo atendiam a condições similares a de um
finitos (MEF) através do módulo SIGMA/W® muro de gravidade, garantindo assim em
ambos pertencentes ao pacote Geostudio®. termos de estabilidade externa, atendia aos
critérios de tombamento, deslizamento,
4.1 Parâmetros adotados e características do capacidade de carga de fundações e
material do estudo instabilidade global.
Quanto a instabilidade interna buscou-se
O concreto utilizado nas estacas vibradas possui garantir que não houvesse rupturas por tração,
um f ck igual a 15 MPa, Quanto à geogrelha do arrancamento dos reforços ou instabilidade na
estudo, possui como característica: resistência face do paramento. Desta forma, foi verificada a
longidutinal última igual a 90 kN/m; resistência máxima tensão de tração garantindo que a
transversal última igual a 30kN/m; alongamento mesma não superasse a resistência máxima de
na resistência última de 10%; resistência à arrancamento, concomitantemente, mantentado
tração para 2% de alongamento igual a 17 KN; o Fator de Segurança(FS) mínimo de 1,5 para
resistência à tração para 6% de alongamento obras permanentes baseado na NBR
igual a 43 kN. 11682(2009). Vale acrescentar que foi
A Tabela 1 informa os parâmetros adotados escolhido o trecho de maior desnível, ou seja, o
na avaliação do comportamento de tensão vs. mais crítico sendo representado pela seção com
deformação, que foram retirados em função dos altura (H) igual a 9,0m.
valores de ensaio SPT na região. Na geogrelha foi adotada um fator de

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614
redução global do material baseada na equação Onde:
(1); a – Dimensão do capitel/estaca;
s – Espaçamentos entre estacas;
FR global = FR f x FR i x FR da x FR ipm (1) 𝐻 – Altura do aterro;
𝑓𝑓𝑠 = 𝑓𝑞 – Fator de segurança para estado limite
Onde: último;
FR f – Fator de redução devido a fluência (2,6); 𝜔𝑠 – Sobrecarga de serviço;
FR i – Fator de redução devido a instalação p’ c – Tensão atuante no capitel da estaca;
(1,2); σ’ v – Tensão vertical efetiva;
FR da – Fator de redução devido a degradação
ambiental (1,1); A determinação dos esforços nas geogrelhas foi
FR ipm – Fator de redução devido às incertezas obtidos pelo método proposto pela norma ingles
nos parâmetros mecânicos (1,03). BSI 8006 (2010), onde são calculadas as forças
atuantes no topo do reforço (T rp ) e a a força no
Portanto o fator de redução global (FR global ) reforço necessária para impedir o
calculado foi de 3,53. escorregamento lateral do aterro (T ds ) baseadas
nas equações (5) e (6):
4.4 Esforços na geogrelha do aterro reforçado
𝑊𝑡 (𝑠−𝑎) 1 1/2
Segundo Mello e Bilfinger (2015), devido a T rp = � 2𝑎
�. �1 + 6𝜀
� (5)
grande diferença de rigidez entre a estaca e o
solo mole circundante a mesma utiliza-se a Onde:
Fórmula de Marston, conforme equação (2): a – Dimensão do capitel/estaca;
s – Espaçamentos entre estacas;
𝑝′𝑐 𝐶𝑐 𝛼 2 W t – Carga distribuida suportada pelo reforço
𝜎′𝑣
=� 𝐻
� (2)
entre os capiteis;
𝜀 – Deformação específica suportada pelo
Onde: reforço.
p’ c – Tensão atuante no capitel da estaca;
σ’ v – Tensão vertical efetiva; T rp = 0,5 K a (𝑓𝑓𝑠 𝛾𝐻 + 2𝑓𝑞 𝑓𝜔𝑠 )H -
C c – Coeficiente de arqueamento; 2𝑓𝑐 𝑐′�𝐾𝑎 (6)
𝛾 – Peso específico do aterro;
α – Dimensão do capitel;
Onde:
𝐻 – Altura do aterro; K a – Empuxo ativo;
𝛾 – Peso específico do solo;
O coeficiente de arqueamento da estaca de
𝐻 – Altura do aterro;
argamassa é característica de estaca de ponta,
𝑓𝑓𝑠 = 𝑓𝑞 – Fator de segurança para estado limite
cuja estimativa baseia-se na equação (3):
último;
𝐻 𝑓𝑐 – Fator de redução para coesão efetiva
C c = 1,95� 𝑎 � – 0,18 (3) 𝜔𝑠 – Sobrecarga de serviço;
c’ – Coesão efetiva.
Onde:
α – Dimensão do capitel; 4.5 Comprimento mínimo de reforços com
𝐻 – Altura do aterro; geogrelha

A carga vertical distribuída (W t ) suportada pelo O comprimento mínimo da geogrelha foi


reforço entre os capiteis foi calculado pela determinado a partir critério de restrição do
equação (4): escorregamento lateral do aterro baseado na
equação (7) abordado por Mello e Bilfinger
𝑆 (𝑓𝑓𝑠 𝛾𝐻+𝑓𝑞 𝜔𝑠 ) 𝑝′ (2015).
Wt = x �𝑠 2 − 𝑎² �𝜎′𝑐 �� (4)
𝑠2 −𝑎² 𝑣

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615
0,5𝐾𝑎 �𝑓𝑓𝑠 𝛾𝐻+2𝑓𝑞𝜔𝑠 �𝐻𝑓𝑠 𝑓𝑛 interna para estado limite último do aterro
Le = 𝛾ℎ (𝛼′ 𝑡𝑎𝑛𝜑′𝑐𝑣
(7)

𝑓𝑚𝑠
+𝑓𝑐 𝑐′� reforçado, sendo representativo de uma situação
a qual haveria ruptura das geogrelhas e
Onde: consequentemente a ruptura do aterro, e como
K a – Coeficiente de empuxo ativo do solo; pode ser visto o fator de segurança mínimo
𝑓𝑓𝑠 – Fator de segurança para estado limite obtido foi de 2,515 e portanto superior ao fator
mínimo recomendado pela NBR 11682(2009).
último;
𝑓𝑠 – Fator de segurança parcial para
escorregamento lateral;
𝑓𝑛 – Fator de segurança parcial que considera
aspectos econômicos;
𝑓𝑚𝑠 – Fator de segurança parcial aplicado ao
ângulo de atrito;
𝑓𝑐 – Fator de redução para coesão efetiva;
α – Dimensão do capitel;
𝛾 – Peso específico do solo;
𝐻 – Altura do aterro;
𝐻 – Altura média do aterro sobre o reforço; Figura 6. Avaliação de estabilidade do estado limite
𝜔𝑠 – Sobrecarga de serviço; último da geogrelha.
𝜑’ cv – Ângulo de atrito efetivo do solo do
A Figura 7 apresenta a análise da
aterro;
estabilidade externa do aterro reforçado e como
c’ – Coesão efetiva;
pode ser visto o valor foi igual 1,615,
consequentemente encontra-se estável, uma vez
4.6 Capacidade de carga das estacas de
que o fator de segurança foi superior ao fator
argamassa
mínimo recomendado pela NBR 11682(2009).
A estimativa da capacidade de carga das estacas
de concreto vibrado foram estimadas a partir do
método de Decourt e Quaresma (1978),
considerando a hipótese de comportamento
semelhante a de uma estaca escavada e
desconsiderando o efeito de melhoramento
profundo que ocorre durante a execução da
estaca em função da vibro-cravação.

Figura 7. Avaliação de estabilidade global do aterro.


5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por fim, a Figura 8 apresenta a análise de
Neste tópico serão apresentados e discutidos os estabilidade para a situação crítica do aterro
estudos de estabilidade e de tensão vs. reforçado com resistência a tração das
deformação obtidos através da solução de geogrelhas limitada a 17 kN (corresponde a 2%
aterros reforçados com geogrelhas apoiados sob da deformação da geogrelha especificada) e
solos moles melhorados com estacas como pode ser visto o valor de fator de
argamassadas de areia e brita na cabeceira da segurança foi de 1,427.
ponte da Av. 2 de Julho.
Nesta condição a superfície de escorregamento
5.1 Análise de estabilidade da solução em intercepta as geogrelhas e ainda vale salientar
aterro reforçado com geogrelha melhorados que os valores de alongamento recomendados
com estacas de argamassa e de areia e brita pela literatura técnica estão na faixa de 2% a
A Figura 6 ilustra a avaliação de estabilidade 5%.

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616
concreto vibrado e das estacas de areia e brita
foram calculadas e estão informadas nas
equações (8) e (9), respectivamente.

τ = 1000 kPa + σtg27° (kPa) (8)

τ = 0 kPa + σtg45° (kPa) (9)

A Figura 10 ilustra a análise de tensões de uma


das fileiras críticas.
Figura 8. Avaliação de estabilidade do estado limite de
serviço da geogrelha.

5.2 Análise de tensões efetivas nas estacas de


argamassa

Para a determinhação das tensões efetivas na


cota de implantação das estacas foi utilizado o
SIGMA/W®. Na Figura 9, são apresentadas as
envoltórias de tensão vertical efetiva, em kPa.

Figura 10. Análise do estado de tensões das estacas de


concreto da primeira fileira.

5.4 Determinação dos esforços nas grelhas

A força no reforço necessária para transferir a


carga vertical do aterro para as estacas (T rp ) foi
de 33,11kN/m nas duas direções ( transversal e
longitudinal) considerando uma camada de
geogrelha.
Quanto a força no reforço necessária para
Figura 9. Avaliação de tensões efetivas no topo das impedir o escorregamento lateral do aterro (T ds )
estacas de argamassa e solo adjacente às mesmas.
foi de 288,5 kN/m no sentido transversal
considerando apenas uma camada.
Pela resultados obtidos, na cota de arrasamento,
a tensão efetiva vertical atuante entre as estacas
5.5 Capacidade de carga geotécnica das
corresponde de 10 a 20% da tensão efetiva
estacas de argamassa
vertical atuante no seu topo. Essa transferência
de tensão caracteriza o chamado efeito de
Na Tabela 2 estão elencados os valores de
“arco” do aterro. Valores foram obtidos através
esforços axiais máximos nas estacas de
da aplicação da equação (2).
argamassa em função da hipótese de
Isso garante que houve transferência em
contribuição.
quase a sua totalidade de carga vertical para os
capiteis.
Quanto à profundidade das estacas a partir
do método de Decourt e Quaresma(1978) para
5.3 Análise do comportamento tensão vs.
se obter 330 kN de carga de trabalho no bloco
deformação da estacas de argamassa e de areia
A estimou-se 11m, ja para obter uma carga de
e brita
trabalho de 282 kN no bloco C estimou-se 12m
de profundidade.
As envoltórias Mohr-Coulomb das estacas de

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617
Tabela 2. Valores de carga da estaca por viaduto. prever se e ou quando serão necessarias
manutenções futuras na obra;
Carga máxima Carga máxima
Viaduto de
ΔH (m) por estaca por estaca
g) As qualidades das modelagens são
entrada intrinsecamente influenciadas pelos
(kN)* (kN)**
Bloco A 8,508 367 319
parâmetros de entrada do sistema, sendo
válida uma análise paramétricas para
Bloco C 7,059 308 268 avaliar o impacto das variaveis nos
Carga máxima Carga máxima resultados finais.
Viaduto de
ΔH (m) por estaca por estaca h) Recomenda-se a comparação dos
saída
(kN)* (kN)** resultados obtidos dos modelos
Bloco A 8,813 379 330 computacionais com os métodos
Bloco C 7,471 325 282 analíticos consagrados na literatura.
Legenda: *Carga na estaca desprezando a AGRADECIMENTOS
contribuição do solo/ ** Carga na estaca
considerando a contribuição do solo adjancente Os autores manisfestam a sua gratidão à
à estaca (aproximadamente 87% da carga total). CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal Nível Superior) pelo fomento e amparo
à pesquisa do PPGEC ( Programa de Pós-
6 CONCLUSÕES Graduação em Engenharia Civil) da UFRGS (
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Baseado no estudo realizado aterro reforçado assim como paras as empresas PROJEKT e a
com geogrelha melhorados com estacas de GEOTEC Consultoria e Serviços Ltda. pelo
argamassa e de areia e brita, as seguintes subsidio de informações necessárias para a
considerações puderam ser realizadas: composição do artigo.
a) A literatura relata que o carregamento em
argilas moles pode gerar transferência de REFERÊNCIAS
tensões para estruturas rígidas dos apoios
dos encontros, bem como variações Almeida, M. de Souza S. (1996). Aterros sobre solos
volumétricas que ocasionam recalques moles: Da concepção à avaliação do desempenho.
nos aterros, requerendo um estudo Ed. UFRG, Rio de Janeiro, Brasil. p.215.
rigoroso da interação entre os aterros dos ABNT (2009). NBR 11682: Estabilidade de enconstas.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
encontros e a estrutura de pontes e Janeiro, p. 33.
viadutos; BSI (2010). BS 8006: Code of practice for strenghened/
b) O fator de Segurança (FS) obtido para reinforced soil and other fills. British Standard
estado limite último foi de 2,515; Institution, London.
c) O fator de Segurança (FS) obtido para Décourt, L.& Quaresma, A. R. (1978) Capacidade de
carga de estacas a partir de valores de SPT. Anais VI
estabilidade global foi de 1,615; Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
d) O fator de Segurança (FS) obtido para Engenharia de Fundações (VI COBRAMSEF),
estado limite último foi de 1,415, ABMS. Rio de Janeiro. v.1, p.45-53.
considerando-se a resistência para o Mello, L. G. F. S. & Bilfinger, W. (2015) Aterros sobre
limite de deformação da geogrelha de 2% estacas. Vertematti, J.V. (ed) Manual Brasileiro de
Geossintéticos, Associação Brasileira de das
e) A concentração de tensões no topo das Indústrias de Não tecidos e de Tecidos Técnicos, São
estacas reduz consideravelmente as Paulo, cap. 4.7, p. 155 -201.
tensões na camada de solo através do Milititsky, J.; Consoli, N. C., Schnaid, F.
efeito de “arco”.; (2015) Patologia das fundações. Ed. Oficina de
f) Embora não realizado, seria importante a Textos, São Paulo, Brasil. p.256.
Palmeira, E. M.; Ortigão, A. (2015) Aterros sobre solos
realização dos acompanhamentos dos moles. Vertematti, J.V. (ed) Manual Brasileiro de
deslocamentos verticais e horizontais da Geossintéticos, Associação Brasileira de das
obra para verificação dos parâmetros Indústrias de Não tecidos e de Tecidos Técnicos, São
adotados e também como uma forma de Paulo, cap. 4.4, p. 94 -106.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

618
IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)
VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Soluções hidráulicas em Gabiões e Geossintéticos para controle de


erosão no município de Araras, SP
José Roberto de Campos Costa Junior
Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, j.costa@maccaferri.com

Valdeci Russo de Oliva de Melo


Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, v.russo@maccaferri.com

Emerson José Ananias


Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, e.ananias@maccaferri.com

O município de Araras, localizado no interior do estado de São Paulo a partir do ano de 2015
recebeu a implantação de conjuntos habitacionais localizados entre a Estr. Mun. José Estavan Zurita
e a Rua Augusto Massucato. Com o aumento da impermeabilização gerado através da implantação
das moradias populares, houve um acréscimo no run-off e consequentemente um aumento na vazão
de contribuição na sub-bacia. No ano de 2016 iniciou-se um processo de erosão a jusante da área
habitacional, e ao passar do tempo tal erosão aumentou de tamanho formando uma voçoroca logo
após a tubulação de drenagem. Para restaurar a área impactada e absorver esta nova vazão, foi
projetada uma bacia de detenção que recebia a vazão através de uma escada em gabiões. Tal bacia é
permeável e possui dois extravasores, sendo um ladrão vertical e uma soleira de parede espessa a
jusante da detenção. O ladrão vertical de concreto é responsável por extravasar a lâmina excendente
e a soleira é responsável por extravasar a lâmina máxima da bacia. Para o dique da soleira livre
foram utilizadas geogrelhas tecidas como reforço da base do maciço. Na sequência da estrutura foi
executada uma segunda escada dissipadora em Gabiões revestida com argamassa que ligava o
sistema a uma canalização trapezoidal em Colchão Reno. A solução proposta teve um ótimo
desempenho na dissipação da energia da nova vazão oriunda do aumento da impermeabilização, na
restauração da área erodida e no encaminhamento das águas.

PALAVRAS-CHAVE: Geogrelha, Gabiões, Erosão

The Araras city, localized in the São Paulo state in the year 2015 has started to building housing
complex localized between the Estr. Mun. José Estavann Zurita and Rua Augusto Massucato. With
the waterproof increasing, generated by the housing impermeabilization area, there was a runoff
addition and consequently a bigger discharge in the sub-basin. In the year 2016 the it started an
erosion process downstream of the housing complex, and with the time the erosion became bigger
and deeper. For restoring the impacted area and absorbing the new discharge, was projected a
retention basin which received the discharge of the Gabions dissipation ladder. The retention basin
is permeable and has two spillways, one vertical and the other in the crest of the dam. The vertical
concrete spillway is responsible to overflow of the excess water, and the spillway of the crest is
responsible to overflow the maximum water level. For the dam were used woven geogrids for
reinforcement in the base of the massive. After the dam was executed the second Gabions
dissipation ladder with an additional protection of grout, that ladder did the connection the system
to a trapezoidal channel of Reno mattress. The solution proposed had a great performance in the
energy dissipation of the new discharge deriving of the waterproof increasing, in the eroded area
restoration, and in the routing of the water.

KEY WORDS: Geogrid, Gabions, Erosion

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

619
1 INTRODUÇÃO regiões impermeabilizadas a água da chuva não
consegue infiltrar no solo e automaticamente
O município de Araras localizado no interior do contribui para um escoamento superficial.
estado de São Paulo, com altitude de 646m e
população estimada 132.934 habitantes segundo
o IBGE 2018, teve um grande desenvolvimento
urbano.
Erosão iniciada
No ano de 2016 houve a implantação de um
conjunto habitacional localizado entre a Estr.
Mun. José Estavan Zurita e a Rua Augusto
Massucato, na região norte da cidade. Tal Novo Conjunto
implantação transformou a capacidade de Habitacional
absorção de água de chuva do bairro, que até o
momento era vegetado (Figura 1) e após a
implantação teve uma maior taxa de
impermeabilização, diminuindo desta maneira a Figura 3. Preparação na nova fase do conjunto
capacidade de absorção das águas das chuvas habitacional e eroão de jusante
pelo próprio terreno (Figuras 2).
Tendo em vista as mudanças dos coeficiente
de runoff (coeficiente de escoamento
superficial) do local, e o início de um processo
erosivo de jusante, houve um estudo de
soluções hidráulicas para possibilitar que a
implantação dos conjuntos habitacionais não
gerassem um agravamento da erosão de jusante.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 1. Área a serem implantados os conjuntos
habitacionais, 2013 2.1 Solução Geral

A solução estudada recebe a vazão da drenagem


local através de uma escada dissipadora que
encaminha o escoamento para uma bacia de
detenção, aonde a lâmina excedente passa
Conjunto
Habitacional
através de um vertedor no formato monge e a
lâmina máxima é escoada através de um
vertedor de crista com parede espessa, que é
conectado diretamente a uma segunda escada de
dissipação, a qual faz ligação com um canal
Figura 2. Implantação das primeiras glebas do conjunto trapezoidal de jusante revestido com colchão
habitacional Reno.
Com a implantação da primeira fase do 2.2 Escada Dissipadora de Montante
conjunto habitacional percebeu-se o
desenvolvimento de uma erosão a jusante No final da tubulação de drenagem com
(Figura 3), a qual seria impactada diâmetro de 1,20m foi projetada uma escada
negativamente pós execução do segundo dissipadora em Gabiões com a finalidade de
conjunto habitacional. receber a vazão e escoá-la para a bacia de
Sabe-se que quanto maior a detenção. O escoamento deveria ser dissipado
impermeabilização de uma bacia hidrográfica parcialmente pela presença dos degraus de
maior é a vazão de contribuição, visto que, em

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

620
dissipação. execução, ou seja, a limpeza do solo é realizada
Com a finalidade de proteger a solução em e na disposição do material pétreo tem-se uma
Gabiões que é constituída de malha hexagonal agulhamento natural deste das pedras e um
dupla torção preenchida com rachão (pedra de consumo final muito elevado e imprevisto no
mão), foi projetada uma camada superficial em orçamento. Com a finalidade de melhorar o
argamassa com espessura de 5cm e traço de 4:1. confinamento do rachão na base da barragem,
Na interface dos gabiões da escada com o indicou-se o uso de uma microgrelha de
solo natural foi indicada uma camada de poliester com resistência bidirecional de
geotêxtil, com a finalidade de filtro. O filtro 45kN/m. Tal material tinha a responsabilidade
geotêxtil tem a importante função de permitir a de melhorar o confinamento do rachão de base,
passagem de água porém impossibilitar a impossibilitar o agulhamento excessivo do
passagem de finos, garantindo desta forma o material pétreo, e gerar uma uniformidade de
volume de aterro compactado ao tardoz da base através do seu efeito membrana, (Figura
escada em Gabiões. 5). Tal material é produzido a partir de
Logo a jusante da escada foi projetada uma filamentos de Poliéster de alta tenacidade que
proteção contra solapamento, através de uma com baixos valores de alongamento
camada de colchão Reno com extensão máxima movimentam elevadas resistências à tração.
de 16m, sendo que no sexto metro foi Além dos filamentos de Poliéster tem-se uma
implantada uma caixa de gabião com a proteção superficial contra ataques químicos,
funcionalidade de gerar uma pequena lâmina na biológicos, e ambientais, através do
base da escada, a qual ajudaria na dissipação revestimento de PVC, (Figura 6).
parcial do escoamento, (Figura 4).
Microgrelha
Poliéster

Figura 4. Escada dissipadora de Montante


Figura 5. Aplicação de Microgrelha na troca de solo
2.3 Barramento da Bacia de Detenção

Para a criação da bacia de detenção foi


necessária uma escavação a justante primeira
escada de dissipação, tal escavação era
responsável pela geração do volume apropriado
de detenção. Além da escavação foi necessário
também projetar um barramento a jusante da
bacia de detenção, este barramento possuiría a
função de barrar parcialmente o escoamento
natural da drenagem e gerar uma lâmina na
bacia no período chuvoso.
A altura do barramento projetado era na Figura 6. Microgrelha de Poliéster
ordem de 4m, e devido a baixa capacidade de
suporte do solo local, houve a necessidade de Após a estabilização da base com rachão
projetar uma troca de solo de aproximadamente envelopado com microgrelha, houve uma
1m por rachão. Um dos maiores problemas de preocupação com a estabilidade global do
se trabalhar com troca de solos com rachão é a maciço que seria interiamento composto por
falta de confinamento do material no período de solo com uma altura de 4m. Com isto iniciaram-

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

621
se estudos para a viabilização de geogrelhas intermediária de solo, conforme pode-se
como reforços a tração que seriam incorporados observar na Figura 7.
na base do maciço. A função da geogrelha neste
caso é basicamente de impedir rupturas globais 2.4 Escada dissipadora de jusante
nos taludes de montante e jusante, visto que os
mesmo estavam sendo projetados com Na crista da barragem foi projetado um vertedor
inclinações de 3H:1V. Outras funções que era diretamente conectado a uma segunda
secundárias da geogrelha nesta aplicação eram escada dissipadora. Esta segunda escada foi
de impedir recalques diferenciais na base do constituída com as mesmas propriedades
barramento e uniformar a base da estrutura, iniciais utilizadas na escada de montante, ou
(Figura 7). seja, projetada com Gabiões revestidos com
argamassa, e geotêxteis na interface
Gabião/solo. A quantidade de degraus e sua
Geogrelha respectiva geometria foi determinada através da
necessidade topográfica local, visto que a
escada iniciava na crista da barragem e se
encerrava no início de canal trapezoidal, Figura
9.

Figura 7. Aplicação de Geogrelha na base do barramento

As geogrelhas utilizadas no projeto eram


tecidas produzidas a partir de filamentos de
poliéster de super alta tenacidade que, com
Vertedor Escada
baixos valores de alongamento mobilizam
elevada resistência à tração. Tais geogrelhas são
revestidas com PVC para proteção contra danos Figura 9. Planta esquemática, trecho do vertedor e escada
químicos, biológicos, ambientais e
principalmente contra danos de instalação, A seção tranversal da escada foi projetada
(Figura 8). com muros laterais em gabiões com altura de
1,5m, base em gabiões caixas, e revestimento
adicional em argamassa no fundo da seção e em
0,5m de altura nas laterais. Em todo o entorno
das peças em Gabiões foram indicados o filtro
geotêxtil com permeabilidade normal mínima
de 0,88 cm/s e resistência a tração mínima de 9
kN/m, Figura 10.

Figura 8. Geogrelha tecida de poliéster

Para este projeto em específico fez-se


necessária uma resistência nominal de
aproximadamente 180kN/m, para isto foram
indicadas duas camadas de geogrelha com
resistências a tração de 90kN/m, atendendo
desta forma a necessidade do projeto.
Para a execução das duas camadas de
geogrelhas, foi incluida uma camada Figura 10. Seção transversal da escada dissipadora

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

622
2.5 Canalização de jusante
Tubulação de
No término da segunda escada dissipadora, foi drenagem
desenvolvido um trecho final de canalização,
(Figura 11) onde o escoamento voltaria a ser
fluvial antes de ser lançado no trecho natural.
Este trecho final tem a responsabilidade de
receber a vazão oriunda da escada dissipadora e
“tranquilizar” o escoamento para o lançamento
no trecho natural.
Para a canalização em colchão Reno foi Figura 13. Marco inicial da obra através da tubulação de
utilizada uma camada de geotêxtil na interface 1,2m
colchão solo, este filtro tem a função principal
de não permitir que a velocidade residual do Na Figura 14, pode-se observar a presença
escoamento (passante sob a camada de pedras, da geogrelha tecida de poliéster com resistência
já que este canal não recebeu revestimento a tração de 90kN/m implantada sob o maciço
adicional de argamassa) transporte o solo de que posteriomente se tornou o barramento
base para dentro do canal (como podemos ver localizado a jusante da bacia de detenção e que
na Figura 12), pois caso isto aconteça pode dava sustentação a escada dissipadora de
ocorrer uma erosão de base mesmo com o jusante.
revestimento do colchão, o que inviabiliza
tecnicamente a solução. Geogrelha
tecida

Figura 11. Seção transversal da canalização final Figura 14. Presença da geogrelha na base do barramento

Na Figura 15, nota-se o início da execução


da escada de montante, e como toda obra
hidráulica o processo executivo foi realizado de
jusante para montante. Nesta imagem observa-
se a execução das paredes laterais da escada em
Figura 12. Velocidade residual sob revestimento
Gabiões assim como os degraus de dissipação,
além dos Gabiões executados nota-se a
3 RESULTADOS presença do filtro geotêxtil ao tardoz da
estrutura, fazendo a transição do Gabião com o
Para o início da obra houve a necessidade de solo. Tal escada foi executada até a saída da
uma grande movimentação de solo local. Para tubulação de 1,20m localizada na parte mais
o ponto inicial da obra foi realizado um marco alta da foto.
na tubulação de drenagem com diâmetro de Na Figura 16 tem-se a presença de um
1,20m que alimentava o trecho erosionado, extravador de concreto e logo a direita o corpo
através desta linha de drenagem deu-se início a do barramento refoçado com geogrelhas. Na
movimentação de corte e aterro (Figura 13) para crista do barramento observa-se o início do
posterior implantação da escada dissipadora de vertedor de crista em Gabiões, neste trecho
montante. argamassado.

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623
de garantir que a tensão que o barramento
Geotêxtil descarregaria no solo seria suportado pelo
mesmo. As geogrelhas utilizadas na base do
barramento impossibilitaram qualquer ruptura
global do maciço assim como recalques
diferenciais. O filtro geotêxtil impossibilitou a
fuga de solo por dentro dos gabiões e colchões.
Em resumo a obra atendeu as espectativas
esperadas de recomposição do terreno erodido,
Figura 15. Execução da escada de montante proteção contra futuras erosões e dissipação de
energia das águas oriundas da drenagem de
parcial da cidade.

REFERÊNCIAS

BRASIL, IBGE, Censo demográfico, 2018, Disponível


em :www.ibge.gov.br
GOOGLE EARTH-MAPAS, Http://mapas.google.com
MACCAFERRI (2008) Revestimento de canais e cursos
de água. Manual técnico da Maccaferri do Brasil
Figura 16. Barragem reforçada com geossintéticos MACCFERRI (2017) Especificação técnica MacGridNet
Tecido técnico, Maccaferri do Brasil
Por fim tem-se na Figura 17, uma vista geral
da obra, onde é possível verificar a presença da
escada de jusante e também a canalização final
que transportava o escoamento para o perfil
natural do terreno.
Pela coloração dos Gabiões é facilmente
entendido aonde foi aplicada a camada de
argamassa e aonde os Gabiões ficaram a
mostra.

Figura 17. Barragem reforçada com geossintéticos

4 CONCLUSÃO

Pode-se concluir que os geossintéticos


utilizados na obra funcionaram adequadamente
com o que se esperava de cada aplicação. A
microgrelha trabalhou juntamente com a
camada de rachão na base do barramento afim

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624
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Control de erosión en taludes, proyecto Vista Mar, Costa Rica


Rosibel Corrales Castro
Maccaferri, San José, Costa Rica, r.corrales@maccaferri.com

Gerardo Fracassi
Maccaferri, Jundaí, Brasil, fracassi@maccaferri.com.br

RESUMEN: Las obras ingenieriles implican la modificación de los terrenos naturales, alterando la
topografía de acuerdo con el diseño de infraestructura del proyecto en particular. Generalmente se
producen cortes y rellenos que requieren obras estabilizadoras, o de control de erosión superficial.
La erosión es una de las principales fuentes de contaminación del agua, y la construcción de obras
de ingeniería es una de las principales causas de este fenómeno. Para poder realizar un diseño
adecuado de las obras de control de erosión, se debe realizar un análisis completo de las
condiciones geológicas, geotécnicas y ambientales, que suministre los parámetros necesarios para
evaluar el comportamiento del talud una vez construido. Se debe analizar la estabilidad del talud
para determinar si es necesario incorporar una obra de estabilización, analizando los diferentes
mecanismos de falla. En el caso de taludes estables, pero con problemas de erosión superficial, será
necesaria la implementación de revestimientos para protegerlos. Actualmente, en el mercado
existen diferentes alternativas para la protección contra la erosión pluvial y/o eólica, siendo las
geomantas y redes de alta resistencia las más utilizadas. La elección de las mismas depende de las
condiciones del suelo, geometría y composición del talud. El revestimiento de taludes tiene como
objetivo principal proteger contra la erosión superficial taludes que son geotécnicamente estables,
evitando su degradación ambiental, propiciando la recuperación del medio circundante e
impidiendo deslizamientos superficiales. A nivel latinoamericano se trabaja arduamente en crear
conciencia del diseño e implementación de tecnologías para el control de erosión, por lo cual es
necesario conocer los problemas que se presentan y las metodologías de solución.

PALABRAS CLAVE: Erosión, taludes, geomantas, resistencia, estabilidad, Costa Rica.

ABSTRACT: The engineering works involve the modification of the natural lands, altering the
topography according to the project infrastructure particular design. Often earth works produce cuts
and fills that require stabilizing works, or control of surface erosion. Erosion is one of the main
sources of water pollution, and the construction of engineering works is one of the main causes of
this phenomenon. In order to carry out an adequate design of the erosion control works, a complete
analysis of the geological, geotechnical and environmental conditions must be carried out,
providing the necessary parameters to evaluate the behavior of the slope once it has been finish. The
stability of the slope should be analyzed to determine if it is necessary to incorporate a stabilization
work, analyzing the different failure mechanisms. In the case of stable slopes, but with problems of
superficial erosion, it will be necessary to implement materials to protect them. Currently, in the
market there are different alternatives for protection against rain and / or wind erosion, being the
geoblankets and high resistance nets the most used. The choice of them depends on the soil
conditions, geometry and composition of the slope. The main objective of erosion control is to
protect slopes that are geotechnically stable against surface erosion, avoiding environmental
degradation, promoting the recovery of the surrounding environment and preventing surface slides.
At the Latin American level, hard work is being done to create awareness of the design and
implementation of technologies for erosion control, which is why it is necessary to know the
problems that are presented and the solution methodologies.

KEY WORDS: Erosion, slope, geoblankets, resistance, stability.

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625
1 INTRODUCCIÓN 2 OBJETIVOS

La Republica de Costa Rica está ubicada en  Proteger la superficie de los taludes del
América Central, entre el océano Pacífico y el efecto de la lluvia y del viento.
Atlántico, por su posición geográfica posee un  Reducir la velocidad del agua de lluvia y
clima tropical, con periodos intensos de lluvia y escorrentía, debido a las altas pendientes
una época seca acompañada de fuertes vientos. que presenta el proyecto Vista Mar.
Topográficamente se encuentran zonas planas,  Proteger el terreno de los efectos del sol.
rodeadas de sistemas montañosos importantes,  Evitar la fuga de material fino y pequeños
por lo que es frecuente que durante el desarrollo bloques de los taludes expuestos.
 Crear un ambiente propicio para el
de proyectos de infraestructura se presenten
crecimiento de la vegetación.
taludes de corte y relleno que necesitan ser
 Permitir el armado de las raíces de la
estabilizados o tratados para controlar la erosión
vegetación utilizando las geomantas como
superficial. un refuerzo adicional.
El proceso de erosión ha afectado a nuestro
país en los últimos años, trayendo como
consecuencia la desaparición acelerada de 3 MATERIALES Y MÉTODOS
suelos orgánicos, sedimentación de ríos y
avalanchas por mal manejo de los suelos. Fueron usados materiales patentados por
Continuamente las empresas que desarrollan Maccaferri para este tipo de obras de control de
tecnologías verdes han realizado avances erosión, el geocompuesto MacMat® R1 está
significativos en técnicas que permiten mitigar formado por una geomanta flexible
los problemas de erosión, minimizando su tridimensional, que presenta mas del 90% de
severidad. vacíos, fabricada a partir de filamentos gruesos
El manejo de las aguas desde el inicio de de polipropileno, fundidos en todos los puntos
proceso constructivo es sumamente relevante, de contacto y, un refuerzo metálico,
se ha determinado que la presencia de agua de confeccionado con malla hexagonal de doble
lluvia, la escorrentía y el agua subterránea es la torsión, producida con alambres de acero de
principal causa de los problemas que se bajo contenido de carbono, revestidos con zinc
presentan en los taludes. La protección inicial + pvc.
La asociación de la geomanta y el refuerzo
de los taludes suele tratarse con vegetación,
metálico permite que ambos elementos trabajen
teniendo especial cuidado en la selección del
de forma conjunta, concediendo a la solución
tipo de especie a incorporar, el objetivo es características de elevada capacidad anti-
lograr una cobertura vegetal que subsista en el erosiva, con óptima resistencia a la tracción.
medio. Debido a las características antes mencionadas
En ocasiones, debido a las características es indicada para taludes susceptibles a la
particulares de un talud, se requiere erosión, con grandes alturas y pendientes muy
complementar la protección vegetal con empinadas, ya que añade las ventajas de la
materiales sintéticos. Las geomantas y redes de geomanta a las de un elemento de refuerzo.
alta resistencia han sido desarrolladas para Previamente, se analizó la estabilidad de los
reforzar y crear el ambiente propicio para que la taludes, por medio de programas que utilizan
vegetación surja y permanezca a lo largo del métodos de equilibrio límite, determinando que
tiempo en el talud a tratar. Durante el son geotécnicamente estables. Por tanto, la
planeamiento, diseño e implementación de las solución debía ser enfocada al control de
obras de control de erosión debe intervenir un erosión superficial.
equipo interdisciplinario que incluya geólogos, Los parámetros geotécnicos y propiedades
geotecnistas, ambientalistas, ingenieros civiles, de las capas de suelo con las que se realizó el
forestales e hidráulicos. análisis fueron determinados mediante estudios
de campo y laboratorio con muestras

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

626
provenientes de varios puntos del proyecto y en
otros casos se usaron correlaciones para
obtenerlos.

4 CASO DE ESTUDIO

Se presentará el trabajo realizado en el proyecto


Vista Mar, ubicado en Playa Hermosa en la
provincia de Guanacaste, el Proyecto consiste
en un desarrollo turístico/urbanístico que
Fotografía 1. Estado inicial del terreno.
incluye hotel, centro de conferencias, y las
facilidades asociadas a este tipo de
infraestructura. Las buenas condiciones de estabilidad global
El subsuelo del terreno donde está de los terrenos ya habían sido analizadas de
conformado por un basamento de basaltos previo al movimiento de tierras y se determinó
correlacionados con el Complejo de Nicoya. que la ladera natural posee factores de
Adicionalmente, en algunos sectores los seguridad de entre 3.5 y 6.9 para el caso estático
basaltos también están recubiertos por depósitos y de entre 3.0 y 5.0 para el caso pseudo-estático
de talus y coluvios, cuyo espesor es de uno a con una aceleración de 0.20 g de la gravedad.
dos metros, de conformidad con las pruebas Estos resultados indicaron que era poco
realizadas en el campo. probable que se presentaran deslizamientos que
Desde el punto de vista geomorfológico, el movilizaran volúmenes importantes de material.
terreno exhibe laderas de moderada, alta a muy A pesar de que la estabilidad global del
alta pendiente, en correspondencia con la terreno era adecuada, existían problemas de
expresión morfológica de los basaltos estabilidad local en los taludes del lindero de la
asociados al Complejo de Nicoya. Es propiedad con el camino público. Los
importante señalar que el Proyecto tiene la problemas de estabilidad local obedecen a la
particularidad que se ubica en uno de los cerros combinación de varios factores; las pendientes
de mayor elevación de la zona de Playa tan pronunciadas con las que se conformaron
Hermosa, específicamente en el cerro los taludes de corte, la falta de un adecuado
identificado como Loma Corral. control de aguas y la estructura deleznable que
Se determinó a través de la investigación poseen los basaltos. Estos deslizamientos por lo
geotécnica que en el sitio donde se desarrollará general son de tipo superficial y movilizan
el Proyecto existen 3 distintos materiales: suelo volúmenes pequeños de material.
residual, basaltos alterados y basaltos
fracturados.
En la siguiente tabla se especifican los
parámetros físico-macánicos, de cada uno de los
materiales presentes en el proyecto, con los
cuales se realizaron los análisis de estabilidad
por parte de la empresa consultora en geotecnia
contratada por el propietario.

Tabla 1. Parámetros de resistencia de los materiales.

Fotografía 2. Deslizamientos superficiales en taludes.

A raíz de las características topográficas del


terreno y el diseño de infraestructura planteado

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627
se implementaron obras de retención para
garantizar la estabilidad y seguridad de las
estructuras, tales como; muros de gaviones,
suelos reforzados y muros anclados. En la
Fotografía 3, se puede observar el estado del
proyecto una vez terminado el movimiento de
tierras y obras de retención.

Figura 1. Análisis con programa Maccaferri BIOS®.

En enero de 2017 se iniciaron los trabajos de


colocación del MacMat® R1. Este
geocompuesto es ideal para taludes con gran
inclinación, estériles, de granulometría fina y,
por ende, muy susceptibles a la erosión. Las
alturas de los taludes oscilan entre los 10 – 25
m y la pendiente en promedio es de 70°.
La red en malla doble torsión tiene como
función principal contener y fijar los bloques de
Fotografía 3. Finalización de movimiento de tierras. suelo y/o roca cuyas dimensiones sean mayores
que la abertura de la malla, por otra parte, la
Una vez finalizado el movimiento de tierras geomanta evita la perdida de material fino. El
para las terrazas y accesos, de definió una sistema no solamente retiene el material del
campaña de intervención en los taludes de corte talud, también lo protege de la acción de la
en el proyecto. Se contaba de previo con el lluvia y viento.
análisis de estabilidad de los mismos, dando
como resultado taludes geotécnicamente
estables, sin embargo, por el tipo de material,
pendiente, y grandes alturas se preveía que se
generaran deslizamientos superficiales de
material.
En el caso de revestimientos flexibles, es
necesario verificar el nivel de servicio y estados
límite últimos del revestimiento de acuerdo con
EN 1997-1. Para las verificaciones antes
mencionadas se utilizó el programa Maccaferri Fotografía 4. Colocación del manto y control de aguas.
BIOS, el enfoque del programa es sobre las
cargas transmitidas desde el suelo al El proceso de sembrado se puede realizar de
revestimiento flexible, haciendo uso del forma manual o por hoyos, si la pendiente del
“método de dos cuñas”, con la suposición de talud lo permite. Cuando se presentan taludes
que las fuerzas actúan directamente sobre la con fuerte inclinación el revestimiento vegetal
malla de acero como una carga distribuida, y deberá realizarse a través de hidrosembrado. Al
que las dos cuñas están contenidas en el espacio tratarse de basaltos el crecimiento de vegetación
existente entre los dos pines adyacentes. se torna difícil, por tanto, se ha optado por el
La verificación del revestimiento se realiza uso de enredaderas que utilicen el manto como
para los siguientes escenarios: refuerzo para expandirse y cubrir el talud.
El proceso de colocación del manto se resume
1. Solución a corto plazo en las siguientes actividades:
2. Control a largo plazo • Limpieza y regularización el talud con
3. Verificación final del estado límite equipos adecuados, para obtener una
4. Verificación del estado límite de diseño superficie uniforme.

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628
• En la corona del talud, se abrió una El MacMat® R1 al ser un geocompuesto
zanja de aproximadamente 30x30cm flexible, permite que elementos como árboles
para anclar el manto. puedan bordearse, de modo que la conservación
de los mismos está garantizada.
• Se fijó el manto en el fondo de la zanja
con grapas espaciadas a cada 2.0m.
Posteriormente se colocó el suelo
excavado en la zanja y se procedió a
compactar.
• Concluido el anclaje, se desenrolla el
manto sobre el talud. las uniones entre
los rollos de malla se realizan a través
del amarre con alambre, alternando
vueltas simples y dobles en cada malla.
• Se fijó el manto al talud utilizando Fotografía 6. Conservación de árboles en taludes.
grapas de acero o estacas de madera.
Las grapas deben ser distribuidas en
función de la inclinación del talud.

Fotografía 7. Taludes revestidos con MacMat R1®.

Actualmente, se han instalado 7 275m2 de


MacMat R®, lo cual representa un 55% del área
total a revestir, siendo 13390m2 la totalidad del
programa de control de erosión del proyecto
Fotografía 5. Proceso de unión de los rollos. Vista Mar.

En la Figura 2 se ilustra un detalle típico de


colocación del manto en los taludes del 5 EVALUACIÓN DE RESULTADOS
proyecto Vista Mar.
En nuestro país se han revestido gran
cantidad de taludes con geomantos para el
control de erosión, con la finalidad de crear el
ambiente necesario para que la vegetación surja.
El tipo de geomanto se selecciona en función de
la altura, inclinación y tipo de suelo.
Antes de realizar la instalación de los
mantos, se verificó que la estabilidad de cada
uno de los taludes cumpliera con los factores de
seguridad establecidos en el Código geotécnico
de taludes y laderas de Costa Rica, esta labor
estuvo a cargo de la empresa consultora en
Figura 2. Detalle de colocación de MacMat R1®. geotecnia del proyecto.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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Adicional a la instalación de los mantos, se
realizó un adecuado control de aguas pluviales
mediante la construcción de cunetas y contra
cunetas, estos elementos intervienen el flujo de
agua de escorrentía que puede afectar los
taludes.

6 CONLUSIONES

• El uso del MacMat R1® permitió proteger


los taludes susceptibles a la erosión y
deslizamientos superficiales, adaptándose
perfectamente a la geometría que
presentaban los taludes de corte del
proyecto Vista Mar.
• Se solucionaron problemas de
deslizamientos superficiales en los taludes
de accesos y terrazas, de modo que el
personal de campo, así como futuros
usuarios podrán hacer uso del complejo
turístico de manera segura.
• Hasta el momento, el desempeño de los
mantos ha sido satisfactorio, habiendo
transcurrido períodos de lluvia intensos e
incluso el país en octubre de 2017 fue
impactado con la Tormenta Nate, a pesar de
las fuertes lluvias propias de este fenómeno
no se presentaron deslizamientos y/o
perdidas de material en los taludes en Vista
Mar.
• Vegetación cercana a los taludes han
iniciado a invadir la zona revestidas con los
mantos, utilizando el MacMat R1® como
refuerzo para desarrollar sus raíces y
facilitar su crecimiento.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Jaime Suarez Díaz. – Control de erosión en zonas


tropicales “Control de erosión en taludes y obras de
ingeniería”, Instituto de investigaciones sobre erosión
y deslizamientos- 2001.
Maccaferri. (2002). “Revestimiento de taludes,
Necesidades y soluciones”. Maccaferri do Brasil Ltda,
Brasil.
Maccaferri. (2017). “Especificación técnica MacMat
R®”. Maccaferri do Brasil Ltda, Brasil.
Maccaferri. MAC.ST.A.R.S 2000 – Rel. 2.2 MACcaferri
STability Analysis of Reinforced Slopes, Officine
Maccaferri , Bologna – Italia.
Maccaferri. BIOS – Release 1.05. OFFICINE
MACCAFERRI SPA.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.

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