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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
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CAPÍTULO 6 - O PLANETA TERRA ......................................................................... 139
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8.3 - Al - ALUMÍNIO ................................................................................................ 181
8.3.1 - O Alumínio nas rochas ígneas ........................................................... 182
8.3.2 - O ciclo do Alumínio........................................................................... 185
8.3.3 - Minérios de Alumínio ........................................................................ 187
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16.2 - SÉRIE KOMATIÍTICA .................................................................................... 401
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22.4.8 - As meia-vidas das séries de nuclídeos do 238U .................................. 531
22.4.9 - Equilíbrio secular ............................................................................ 532
22.4.10 - Desequilíbrio secular - Os métodos de datação das séries do U ....... 534
22.4.11 - O decaimento do U e o crescimento do Pb ..................................... 535
22.4.12 - As principais equações utilizadas no método U-Pb .......................... 537
22.4.13 - O diagrama concórdia ................................................................... 539
22.4.14 - O diagrama discórdia .................................................................... 540
22.4.15 - Determinação de proveniências ..................................................... 542
ANEXO............................................................................................................................. 551
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INTRODUÇÃO
Gomes/13
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UNIDADE 1
REVISÃO
- CAPÍTULO 1 - ELEMENTOS DE QUÍMICA CRISTALINA
- CAPÍTULO 2 - ASPECTOS DA ESTRUTURA CRISTALINA
- CAPÍTULO 3 - COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS MINERAIS
- CAPÍTULO 4 - ESTABILIDADE MINERAL E DIAGRAMAS DE FASE
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CAPÍTULO 5 - COSMOQUÍMICA
Qual a origem dos elementos químicos existentes hoje na Terra e no nosso sistema solar?
5.1 - BIG-BANG
O modelo da criação súbita, mais conhecido como “Big Bang”, foi proposto por
Georges Lemaitre e George Gamow no final da década de 1940. Este modelo simples, que
propõe a origem como sendo um evento explosivo, explica as propriedades do Universo atual e
é corroborado por muitas evidencias recentes da pesquisa astronômica. Porem a nossa
observação do Universo - vasto em tempo e espaço- e limitada ao curto período da historia da
humanidade, de modo que os dados observacionais são necessariamente limitados. Em 1965
Arno Penzias e Robert Wilson (Bell Labs) descobriram uma radiação uniforme, proveniente de
todos os quadrantes do céu, cuja freqüência ficava na região de 5-10 cm-1. Perceberam
imediatamente que se tratava da radiação fóssil, remanescente do Big Bang, que tinha sido
prevista em 1949 por Gamow. Considera-se que no inicio toda a matéria e energia do universo
estavam concentradas num “espaço singular” No instante t = 0 todos os pontos do universo
começam a se expandir. Não houve uma explosão no sentido convencional da palavra. A
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pressão e densidade eram as mesmas em toda parte. Para que houvesse uma explosão
convencional, deveria haver uma pressão diferencial. O conhecimento corrente de física,
particularmente, de mecânica quântica e relatividade são insuficientes para descrever o
momento inicial absoluto do Universo.
Resta saber quando esta explosão ocorreu. Dezoito bilhões de anos atrás parece ser o
limite superior para a idade do universo, cujo cálculo baseia-se no fato de haver um incremento
de velocidade de 16 km/s para cada milhão de anos-luz de distância de cada objeto observado
(Lei de Hubble). Nesta taxa, objetos que estão a uma distância de 18 bilhões de anos-luz
(ainda não observados) devem estar afastando-se com a velocidade da luz. Desta forma, a
velocidade da luz impõe um limite superior para a distância de um objeto, como também limita
o tempo que decorreu desde o big bang. É possível que a taxa de expansão tenha decrescido
através do tempo cósmico. Neste caso o big bang ocorreu mais recentemente. A maioria dos
cálculos efetuados fornece uma idade para o universo entre 12 e 18 ba. As médias da
composição de muitas estrelas de diferentes tipos, tomadas conjuntamente com a matéria
interestelar fornecem a composição do universo. Os dados mostram que o universo é
constituído pelos mesmos elementos que ocorrem na Terra. Somente no início, em 1868, foi
descoberto um elemento que não se conhecia na Terra, o hélio. Quase trinta anos mais tarde o
hélio foi identificado, por Ramsey, quando o gás desprendeu- se no aquecimento de uraninita
(mineral de urânio). A espectrografia mostra que o hidrogênio é o elemento mais abundante do
universo, consistindo de 93 átomos para cada 100 átomos, perfazendo um total em massa de
76% da massa total do universo. O hélio é o segundo elemento mais abundante com 23% da
percentagem em peso. Do 1% restante, os dez elementos mais abundantes em ordem
decrescente são: oxigênio, carbono, nitrogênio, neônio, magnésio, silício, ferro, enxofre,
argônio e sódio. A abundância de todos os outros elementos restantes geralmente decresce
com o aumento do número atômico.
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O modelo da criação explosiva e súbita “Big Bang” envolve 4 fases de duração distinta:
A era radiante, de aproximadamente 1 milhão de anos, foi dominada pela energia dos
fótons. Nesta era ocorreu o decaimento de nêutrons (em prótons, elétrons e antineutrinos) e a
nucleossíntese primordial: núcleos de elementos leves (Deutério, Trítio, Helio3, Helio4, Litio7 e
Berilio7) se formaram - ate o momento em que os fótons não tinham mais energia suficiente
para manter os prótons ionizados - ocorreu a formação de átomos a partir dos núcleos
existentes;
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5.2 - NUCLEOSSÍNTESE
A origem dos elementos químicos inicia com a síntese (nucleossíntese) dos elementos
a partir do inicio do Universo. Podemos separar em 4 fases de nucleossíntese:
Síntese do 1H → n + v = H
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+ e-
nêutron + neutrino = hidrogênio + elétron
A formação de elementos mais pesados que o Li foi inibida pela instabilidade do núcleo
de massas 5 e 8. A evolução do cosmos tem dois impasses: 1- temperaturas em queda e 2-
decaimento de nêutrons livres: fora dos núcleos, nêutrons tem uma meia-vida de somente 10
min., então as reações nucleossintéticas que consumem nêutrons eventualmente cessaram.
Em 20 min. ou mais, o universo resfriou abaixo de 3x108K e as reações nucleares não eram
mais possíveis. Assim, o universo criou H, He e Li. Uns 700000 anos depois o universo resfriou
até cerca de 3000K, e isso foi frio suficiente para os elétrons serem vinculados ao núcleo,
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formando átomos. Com essa recombinação, o universo tornou-se transparente, isto é, a
radiação pode se propagar livremente através do universo.
Há também outras cadeias de reações que produzem 4He que envolve Li, Be e B, quer
como combustível primário ou uma reação de produto intermediário. Mais tarde, quando algum
carbono já havia sido produzido pela primeira geração de estrelas e supernovas, uma segunda
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e subseqüente geração de estrelas com massas maiores, produziram He por outro processo, o
ciclo CNO.
Neste processo o C atua como uma espécie de catalisador nuclear: não é nem
produzido nem consumido. O efeito de rede é o consumo de 4 prótons e dois pósitrons para
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produzir um neutrino, alguma energia e um núcleo de 4He. O C é consumido mais
rapidamente nessa reação, assim há um aumento de 13C em relação ao 12C (13C/12C).
O calor produzido por essas reações contrabalança o colapso gravitacional e essas
reações prosseguem em estrelas da seqüência principal até que o H do núcleo estrelas é
consumido. Depois de o H ser consumido, a fusão cessa e o equilíbrio entre o colapso
gravitacional e a expansão termal é quebrado.
O interior da estrela colapsa assim, elevando a temperatura da estrela. O exterior
expande e a fusão começa nas conchas (casca) em torno do núcleo, que agora é de He. Essa
é a fase da gigante vermelha). Se a estrela é grande suficiente para temperaturas que atingem
108K e tem densidade que atende 104 g/cc no núcleo de He, ocorre a queima do He.
A captura nessa reação é que a meia vida do 8Be é muito pequena, então 3 nucleos de
He devem colidir simultaneamente, por isso as densidades são muito altas. He queima e
produz também O, e um pouco menos de Ne e Mg, mas não produz Li, Be e B nessa fase.
Estes núcleos são instáveis na temperatura de núcleos estrelares. Ao invés se serem
produzidos, eles são consumidos em estrelas.
Há uma divisão de caminhos evolutivos uma vez que o He do núcleo estrelas é
consumido. Densidade e temperaturas necessárias para iniciar mais reações nucleares não
podem ser alcançadas por estrelas de baixa massa (como o Sol), então a sua evolução termina
após a fase de gigante vermelha, onde ela passa a uma anã-branca. Estrelas com mais massa
que o Sol submetem-se a mais um colapso e iniciam a queima do carbono e oxigênio.
Entretanto, estrelas com massas intermediárias podem ser totalmente interrompidas pelo
começo da queima do carbono. Para estrelas mais massivas a evolução prossegue num ritmo
exponencialmente crescente.
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O N criado durante a fase de queima
de hidrogênio da segunda geração de estrelas
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pode ser convertido para N. Um número de
menos abundantes núcleos, incluindo Na, Al, P,
S e K são também sintetizados neste momento,
e no processo subseqüente, a queima de Ne.
No estágio final de evolução de estrelas
massivas, uma fração significante de energia
liberada é levado por neutrinos criados pelas
aniquilações elétrons-pósitrons no núcleo da
estrela. Se a estrela é suficientemente pobre
em oxigênio, que suas camadas externas são
razoavelmente transparentes, a casca externa
da gigante vermelha pode colapsar e evoluir
para a forma de uma gigante azul.
5.2.3 - O e-processo
Eventualmente, um novo núcleo consistindo
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de Si é produzido. Quando a temperatura abaixa
um pouco há a queima do silício (no caso ocorre o e-
processo, que é o equilíbrio), que ocorre como um
rearranjo protonuclear de um gás originalmente
consistido desse núcleo de Si, onde nele ocorre
56
decaimento beta para Ni, que por sua vez decai
para 56Fe, o mais estável de todos os núcleos.
113
massas de sua estrela irmã. Quando os seus núcleos atingem o chamado limite de
Chandrasekhar, a queima de C começa e a estrela explode.
5.2.4 - O s-processo
Em estrelas de segunda geração e mais tarde contendo elementos pesados, pode
ocorrer outro processo de nucleossíntese: o s-processo (ou a lenta captura de nêutrons). A
captura de nêutrons é mais lenta que no r-processo.
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núcleo estrelar (de Fe) que ocorre em poucos décimos de segundo. Quando a matéria no
centro do núcleo é comprimida para além da densidade da matéria nuclear, ela ressalta,
enviando uma onda de choque enorme para fora. A medida que a onda de choque viaja para
fora através do núcleo, a temperatura aumenta resultante da compressão produz uma quebra
de núcleos pela fotodesintegração.
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5.2.6 - O r-processo
Os nêutrons produzidos por fotodesintegração no núcleo são capturados por aqueles
núcleos que conseguem sobreviver à este inferno. Porque a abundância dos nêutrons é
extremamente alta, os núcleos capturam eles em uma taxa tão rápida que até mesmo núcleos
instáveis captura um nêutron antes que ele possa decair.
Isso resulta numa construção de um núcleo rico em nêutrons instáveis. Eventualmente,
o núcleo captura nêutrons suficientes que eles não são estáveis nem mesmo para uma
pequena fração de segundo. Neste momento, eles decaem para novos nuclideos, que são
mais estáveis e capazes de capturar mais nêutrons.
Esse é o r-processo (rápida captura de nêutrons), e é o principal mecanismo para
construir o núcleo mais pesado. Tende a formar os mais pesadas (ricas em nêutrons) isótopos
de um determinado elemento.
5.2.7 - O p-processo
É o processo de captura de prótons. Também ocorre em supernovas e é responsável
pelos mais leves isótopos de um dado elemento. É muito menos provável essa captura do que
a captura de nêutrons, pois o próton, pra ser capturado, deve ter energia suficiente para
superar a repulsão de coulomb. A produção de núcleos pelo p-processo é muito menor do que
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pelo processo de captura de nêutrons, e é significante somente para aqueles nuclídeos que
não podem ser produzidos de outra maneira. Estes tendem a ser os mais leves isótopos de um
elemento.
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Em geral, não existe muita variação nas abundâncias relativas em diferentes regiões
do universo. Das diferenças observadas, a maioria delas pode ser explicada em termos das
condições físicas, presentes e passadas, nas regiões anômalas. Por exemplo, a matéria
meteorítica ou terrestre difere da solar pela escassez de elementos gasosos, mas estas
disparidades podem ser explicadas pelo tipo de evolução do Sistema Solar. As variações nas
abundâncias dos elementos hidrogênio, hélio, lítio, berílio, boro, carbono e nitrogênio nas
diferentes partes do universo são conseqüência de reações termonucleares, responsáveis pela
produção de energia nas estrelas. Recentemente, verificou-se que a abundância dos
elementos pesados varia de estrela para estrela e está relacionada com a idade estelar.
A abundância relativa dos diferentes elementos, especialmente dos mais leves, varia
consideravelmente. Um elemento pode ser cem ou mil vezes mais ou menos abundante do que
seu vizinho imediato na tabela periódica. Entretanto, quando os dados são analisados
cuidadosamente, encontram-se numerosas regularidades:
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Three-dimensional histogram illustrating the abundance of the elements (as the log of mole fraction) in
the silicate portion of the Earth (the “Bulk Silicate Earth”; BSE). Just 6 elements, oxygen, magnesium, silicon, iron,
aluminum, and calcium make up 99.1% of the silicate Earth. If we include the core and consider the composition of
the entire Earth, then only nickel, and perhaps sulfur, need be added to this list. The remaining elements, though
sometimes locally concentrated (e.g., in the crust, in the hydrosphere, in ores) can be considered trace elements.
Composição da Crosta Terrestre em termos de número de átomos do elemento por cada 1.000.000 de átomos de Silício
Regra de Oddo-Harkins: Elementos de número atômicos pares são mais comuns que
os de número atômico ímpares, pois os prótons formam pares, onde os mesmos equilibram o
spin de seu par, aumentando assim a estabilidade do elemento.
Segundo a teoria do big bang, na fase pré-estelar só existiam os elementos mais leves:
hidrogênio e hélio. Os demais elementos foram produzidos posteriormente durante o processo
de evolução das estrelas, o qual é constituído de várias etapas:
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atômicos superiores aos do Fe) em uma reação em cadeia, pois vários radionuclídeos
formados neste processo sofrem fissão, com a emissão nêutrons que se serão capturados por
outros nuclídeos.
→ nesse processo as massas gasosas carregadas de elementos químicos leves e
pesados são atiradas ao espaço em grandes velocidades. Se após a explosão, o caroço
central restante possuir massa 1,4 vezes a massa do Sol se transformará em uma anã branca
e depois anã negra. Se o caroço central possuir massa de até 2,4 - 3,2 vezes a massa do Sol a
contração é tal que os prótons e elétrons sofrem fusão formando uma estrela de nêutrons
(pulsar), que não apresenta luminosidade e possui densidades da ordem 1,5 x 105g/cm3.
Nestas estrelas a força de atração gravitacional é compensada pela repulsão entre nêutrons
gerada por repulsão de spins. Quando a massa for superior a 2,4 - 3,2 vezes a massa do Sol
não existe nenhum tipo de força capaz de conter sua auto-gravidade e ocorre uma implosão. A
gravidade superficial torna-se infinita e a luz emitida pela estrela não consegue escapar,
constituindo assim um buraco negro.
Em suma, os elementos constituintes do Universo foram formados em parte durante a
nucleogênese, nos tempos que sucederam ao big bang (basicamente H e He), sendo os
demais sintetizados no interior das estrelas em processos denominados nucleossíntese.
Aqueles com número atômico intermediário entre o He e o Fe formaram-se durante a evolução
das estrelas, enquanto aqueles com número atômico superior ao do Fe, originaram-se durante
a explosão de supernovas.
Estágios de evolução do Universo: logo após o Big Bang havia apenas os elementos hidrogênio e hélio, sendo que
os demais foram produzidos subsequentemente (do hélio ao ferro no processo de evolução as estrelas e elementos mais
pesados do que o Fe em explosões de supernovas.
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5.5 - OS DIFERENTES TIPOS DE ESTRELAS
5.6 - METEORITOS
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Acredita-se que os côndrulos adquiriram a forma esférica por fusão antes de serem
incorporados pela matriz. Estudos recentes mostram que os côndrulos resfriram-se
rapidamente (duração inferior a 1 hora), indicando que a nebulosa era provavelmente fria
durante esse período.
Na teoria atualmente mais aceita os côndrulos foram formados por fagulhas de alta
temperatura, produzidas pela nebulosa turbulenta, que atingiram agregados de matéria de
composição silicática já existentes nessa fase. Outras teorias para a origem dos côndrulos,
mas que apresentam certas limitações, são: condensação direta do material da nebulosa, o
que requer altíssimas pressões e temperaturas; fusão por impacto de grãos no início do
processo de acresção. Os condritos são subdivididos pela composição ou pelo grau de
recristalização-metamorfismo. A divisão pela composição baseia-se nas razões entre ferro,
oxigênio e silício, que indicam a existência de diferentes corpos primários com estados de
oxidação distintos. A divisão pelo grau de recristalização é muito usada, pois os meteoritos que
sofreram menor grau de metamorfismo exibem pouco equilíbrio químico entre os côndrulos e a
matriz (neste caso os côndrulos são muito distintos da matriz). Van Schmus e Wood (1967)
estabeleceram uma classificação baseada na composição e no grau de grau de metamorfismo,
onde são definidos os tipos E (enstatita), H (ferro elevado), L (ferro baixo), LL (ferro muito
baixo) e carbonosos.
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Condritos são uma mistura de materiais formados sob condições diferentes em
diferentes ambientes. Foram os primeiros sólidos formados em nosso sistema solar. Eles
representam o material que condensa a temperaturas de 1700 K ou menos. Muitos foram
subsequentemente reaquecido e submetido a fusão parcial e a perda por evaporação. O
período de sua formação foi curto, talvez 50.000 anos.
Os condritos carbonosos diferem dos outros tipos por terem quantidades significativas
de água, compostos de carbono e ênxofre. Estes meteoritos sofreram o menor grau de
metamorfismo e o teor de certos elementos voláteis indica que estes corpos não foram
submetidos à temperaturas superiores a 180 ºC. Portanto, acredita-se que os condritos
possuem a composição muito próxima daquela da nebulosa solar (exceto para os elementos
voláteis). Esta hipótese é também corroborada pela grande similaridade das concentrações de
elementos químicos não voláteis presentes no Sol e nos condritos.
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Estudos recentes de meteoritos contendo texturas primitivas mostrou que, além dos
côndrulos (e de seus fragmentos), minerais e matriz, existem inclusões refratárias de Ca e Al
cujas composições e mineralogia se aproximam daquela do primeiro material que se
condensou na nebulosa solar, antes da fase de condensação de silicatos de Mg e de fases
metálicas de Fe-Ni (ver mais a frente a explicação sobre a seqüência de condensação do
modelo de acresção heterogênea).
128
maneira geral possuem idades de 4559 ± 4 Ma, enquanto os acondritos geralmente possuem
idades de 4539 ± 4 Ma. Os dados indicam também que os sideritos parecem ser ainda um
pouco mais jovens que os demais.
Portanto, há uma diferença de cerca de 20 Ma entre os meteoritos diferenciados e os
não diferenciados, que são os mais antigos. Uma evidência de que os meteoritos formaram-se
nas primeiras fases de evolução do Sistema Solar é a estimativa dos intervalos de formação,
ou seja a idade de produção de certos elementos radioativos, por uma supernova, e a sua
incorporação nos meteoritos.
Os elementos de particular interesse são:
244
Pu → produtos de fissão (T½ = 82 Ma),
129
I → 129Xe (T½ =16,4 Ma) e
26
Al → 26Mg (T½ =0,72 Ma) que possuem meias vidas curtas.
129
A que não contém alumínio em sua estrutura cristalina (olivina por exemplo) apresentará uma
26
razão Mg/24Mg constante e igual ao valor inicial existente na época de sua formação. Por
outro lado, um mineral B que contenha alumínio (plagioclásio, por exemplo) e magnésio
26
apresentará uma razão Mg/24Mg diferente daquela do mineral A, sendo que a variação desta
26 26
razão dependerá do intervalo de tempo no qual houve decaimento do Al para Mg dentro do
mineral. Estudos sobre a teoria da nucleossíntese permitem estimar as proporções iniciais de
27 26
Al e Al, sendo desta forma possível determinar os intervalos de formação dos meteoritos.
26
Salienta-se que como a meia vida do Al é de somente 0,72 Ma, para ele ser incorporado e
decair dentro de um ou mais minerais, o intervalo de formação deve ser pequeno (no máximo 3
Ma).
A comparação entre os intervalos de formação calculados pelos elementos Al, Pu e I
não são concordantes. Os dois últimos forneceram intervalos de formação de
aproximadamente 100 Ma. Esta diferença tem sido explicada admitindo-se que os elementos
Pu e I foram formados por outra supernova 100 Ma mais antiga.
132
no centro. Este "mergulho" gerou mais calor por atrito, devido à liberação de energia potencial
gravitacional. Este processo continuou até que todo o ferro e níquel metálicos concentraram-se
no centro.
Enquanto o material mais denso
dirigia-se para o centro, os silicatos
menos densos migraram para as porções
mais superficiais, gerando um manto
turbulento e instável. Sob estas
condições os elementos incompatíveis
mais leves, tais como Na, Ca, K, Al, etc.,
concentraram-se próximo da superfície
da Terra formando a crosta e manto
superior. As principais características
deste modelo são mostradas na tabela
ao lado.
133
A taxa de acumulação do núcleo, manto e crosta depende fortemente das dimensões
dos planetesimais, podendo ter levado poucos milhares de anos (103 a 104 anos) para a
formação da Terra. Esta hipótese não requer um intervalo grande para haver aquecimento
devido ao decaimento de elementos radioativos. Grossman e Larimer (1974) determinaram
experimentalmente temperaturas de condensação no vácuo (10-4 atm), chegando à conclusão
que os primeiros compostos a se
solidificarem (devido às baixas pressões, o
vapor passa diretamente para a fase
sólida) da nebulosa eram ricos em Ca,Al e
Ti, seguidos por Fe e Ni metálicos e
silicatos ricos em Mg. Com o aquecimento
posterior houve fusão e o material mais
denso concentrou-se no centro. As
principais características deste modelo são
mostradas na Tabela 1.
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5.8 - GEOLOGIA LUNAR
135
5.8.2 - Química e história da Lua
Composições isotópicas lunares de oxigênio caem na linha de fracionamento terrestre,
o que implica que a Lua e a Terra tem a mesma composição isotópica de O.
A Lua pode ser dividido em três províncias geológicas: a região serrana- regiões
montanhosas, aparentemente, consistindo em grande parte de anortosito; o planalto - áreas de
relevo suave coberta por um cobertor de material ejetado das grandes impactos, e o Mare - as
grandes crateras cheias de lavas basálticas. Grande parte da superfície da Lua é coberta com
destroços impactos, chamada regolito, que consiste em fragmentos de rocha e mineral, vidro e
algumas partículas de meteoritos.
Logo após a sua formação, a lua sofreu uma grande fusão extensiva. O anortosito do
planalto surgiu por flotação do plagioclásio no oceano de magma.
136
5.8.3 - A hipótese do grande impacto e a formação da Terra e da Lua
138
CAPÍTULO 6 - O PLANETA TERRA
6.1 - CROSTA
139
Durante este período o processo de esfriamento prosseguia. A movimentação magmática
gerou diferenças na crosta solidificada exposta na superfície.
Com a continuação do resfriamento, a água e o ar e, posteriormente, a vida, imprimira
nova dinâmica à superfície da Terra, originando nas depressões da crosta, isto é, nos oceanos
e nos lagos. As acumulações contínuas de detritos minerais e orgânicos nessas depressões
levaram, em muitas circunstâncias a consolidação e cimentação dos grãos, em variadas
intensidades de pressão pelo peso dos sedimentos, culminando na litificação das partículas
originando as rochas sedimentares. Em algumas regiões sob condições de clima seco, as
evaporações das águas levaram a formação de depósitos de cloretos, sulfatos e carbonatos.
Por outro lado, as fissuras produzidas pelo movimento do magma propiciavam
passagem ao material magmático que, podia tanto a superfície originando lavas, como infiltrar-
se entre as camadas sedimentares dando origem a corpos tabulares denominados sills.
Diferenças de densidade originaram diferenças de composição mineralógica e química, tanto
na crosta, como no interior da Terra. Resultou um planeta com uma grande variedade de
materiais sólidos com uma distribuição geométrica peculiar, na parte mais superficial da crosta
(crosta continental) de composição distinta do material fundido existente sob pressões
crescentes mais abaixo, no interior, até o centro da Terra.
A composição química das rochas na superfície, até as profundidades alcançadas
pelas sondagens, é a única fonte de informação direta da composição da crosta e que varia
bastante de um ponto para outro. O aparecimento de vida orgânica aumentou a complexidade
da composição da crosta. A composição das partes inacessíveis da Terra é hipotética e se
baseia em evidências sísmicas.
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6.2 - DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS
6.2.1 - Crosta
No caso da Terra, considerando que é formada por envólucros concêntricos (atmosfera
e hidrosfera – litosfera – calcosfera – siderosfera ou núcleo de ferro), Goldschmidt classificou os
elementos de acordo com o seu principal invólucro de ocorrência (Fig. 1).
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6.2.2 - Materiais da Terra
Quando nós comparamos a abundância dos elementos na Terra, Crosta Continental e
Crosta Oceânica são encontradas situações completamente diferentes. A Terra um corpo
altamente fracionado, que elementos como o K são extremamente concentrados na crosta.
Este fracionamento pode representar o resultado das acresções heterogêneas derivados da
condensação da nebulosa primordial, ou pode representar a segregação de um corpo
inicialmente homogêneo. Inicialmente as massas sólidas fundiram devido ao aquecimento do
decaimento de elementos radioativos. Elementos como o Fe e outros metais pesados afundam
para o núcleo e elementos mais leves movimentam para cima para formar a crosta. Estes
materiais esfriam e se tornam sólidos.
Os elementos mais abundantes da Terra são o O e o Fe (ambos perto dos 32%), Mg
(~15%), Si (~14%), Ni (~1,8%), Ca (1,7%) e o Al (1.6%). Sendo que a maior parte do Fe e Ni
estão concentradas no núcleo. A parte mais externa da Terra consiste principalmente dos
componentes chamados de silicatos.
142
6.2.3 - Os minerais ou grupos de minerais mais abundantes da crosta
As heterogeneidades encontradas na crosta decorrem de materiais nas fases sólida,
líquida e gasosa, expostos para observação visual (e amostragem direta). Distinguimos a
crosta continental superior que se estende da superfície até cerca de 12 km de profundidade,
formada por arenitos, folhelhos argilosos, siltitos, arcóseos, carbonatos, evaporitos e várias
intercalações de rochas de origem vulcânica, de diversas idades geológicas, também
denominada crosta granítica; e a crosta oceânica basáltica (anteriormente referida como sima
ou sialma). A composição média da crosta oceânica deduz-se dos materiais diretamente
acessíveis mencionados acima, complementada por inferência de dados geofísicos (sísmica).
Abaixo da crosta superior, que inclui a crosta oceânica, a camada granítica está ausente. O
limite entre a crosta granítica e a crosta basáltica, revelada por dados sísmicos, é conhecida
como descontinuidade de Conrad. Devido à enorme variedade de tipos de rochas e a
disversidade de seu modo de ocorrência, é fácil perceber que uma medida exata da
composição média da crosta continental é difícil de calcular.
Na crosta continental, predominam rochas sedimentares e metamórficas, intercaladas
localmente com lavas e atravessadas por diques e sills basálticos, por intrusões de granitos e
granodioritos, que incluem veios de quartzo e pegmatitos. A crosta superior ou continental é
mais exposta e, portanto, mais acessível à amostragem que a crosta inferior.
A crosta inferior é essencialmente inacessível, situando-se numa profundidade que
varia entre 25 km a 70 km nos continentes e 12 km na região do assoalho oceânico.
Entretanto, graças à atividade vulcânica, porções significativas de material que se acreditam
provenientes da crosta inferior e do manto superior são trazidos à superfície. A composição
média do sima, ou crosta inferior, deduz-se dos materiais diretamente acessíveis, conforme
mencionado, complementando por inferências de dados geofísicos. A composição química da
crosta superior e inferior foi deduzida de estudos geológicos mais antigos e atualizada por
trabalhos geofísicos.
Os dez minerais ou grupo de minerais mais abundantes da crosta, mostrados na tabela
abaixo representam 99 % do total, restando apenas 1 % para os demais minerais.
143
A tabela seguinte a seguir, ilustra a composição das rochas da crosta superior, onde se
distingue o invólucro granítico, que inclui as rochas metamórficas, o invólucro sedimentar,
abrangendo também rochas vulcânicas.
144
A tabela abaixo mostra as concentrações dos elementos químicos na Crosta
Continental superior e inferior, em ppm.
145
6.3 - MANTO
146
6.3.1 - Estrutura e composição do manto
O manto superior situa-se abaixo da descontinuidade de Mohorovicic até a primeira das
descontinuidades mantélicas abruptas que se manifestam a uma profundidade de cerca de 400
km. No manto superior, a densidade, geralmente expressa em valores para pressão zero p,
varia desde 3,2 g/cm3 no topo até em torno de 3,6 – 3,7 g/cm3 a 400 km. Dentre as rochas
terrestre conhecidas, são as ultramáficas ricas em olivina magnesiana (Mg2SiO4) e os
piroxênios (MgSiO3 e CaMgSi4O6) que apresentam densidade adequadas a estes parâmetros.
147
As rochas fundem ao longo de um determinado intervalo de temperatura, uma vez que
são compostas por vários minerais que possuem, por sua vez, faixas de temperaturas de fusão
diferentes. A temperatura do início de fusão – o primeiro aparecimento de líquido – determina a
solidus da rocha, que depende da pressão vigente. A curva solidus do peridotito aumenta de
modo não linear com o aumento da pressão e da profundidade na Terra. A temperatura, outro
parâmetro importante, também aumenta de maneira não linear, acompanhando o aumento da
profundidade. Chama-se de geoterma a curva que relaciona a temperatura vigente a uma
determinada profundidade no interior da Terra.
148
Estima-se que a quantidade de líquido presente nesta zona seja pequena, em torno de
2 % no máximo. Essa quantidade de líquido, no entanto, é suficiente para tornar o manto mais
plástico e mole do que o manto sobrejacente.
149
Através da petrologia experimental, demonstra-se que, nesse intervalo de grande
profundidade, os minerais presentes no topo do manto superior tornam-se instáveis e são
substituídos por outros mais densos. Por exemplo, a olivina magnesiana transforma-se
sucessivamente a ~ 400 km e a ~ 500 km em polimorfos P e Q, respectivamente, que mantém
a fórmula (Mg, Fe)SiO2, porém adotam estruturas mais densas, com menor espaço livre entre
os íons constituintes. No mesmo intervalo, os piroxênios também adotam estruturas mais
densas. A ~ 650 km, a fase olivina Q decompõe-se, formando (Mg,Fe)O e (Mg,Fe)SiO3 com
estrutura densa, adotada também pelos piroxênios. Todas as transformações citadas são
acompanhadas por aumentos das densidades e das velocidades de propagação das ondas
sísmicas, praticamente idênticos aos aumentos observados sismicamente.
Acredita-se que, desde ~ 650 km até em torno de 100 – 300 km da descontinuidade de
Gutenberg a 2.900 km de profundidade, o manto inferior seja composto predominantemente
por silicatos ferromagnesianos com estrutura densa e, em menor quantidade, por silicatos
cálcio-aluminosos também densos, bem como óxidos de magnésio, ferro e alumínio. Tendo em
vista o grande volume do manto inferior, a perovskita ferromagnesiana, mineral muito incomum
nas rochas crustais, deve ser o silicato mais abundante da Terra. Nesse intervalo de ~ 650 a ~
2.600-2.800 km, a densidade P deve aumentar desde cerca de 4,0 g/cm3 até perto dos 5,0
g/cm3. Atualmente o que é sugerido é que pode haver heterogeneidades importantes no manto
inferior, conduzindo à presença de domínios químicos distintos separados por uma superfície
bastante irregular, cuja profundidade pode variar de
1.600 km até a descontinuidade de Gutenberg. A zona
entre 2.600 e 2.900 km, aproximadamente apresenta
propriedades sísmicas anômalas e variáveis. Junto à
zona de baixa velocidade, essa zona inferior do manto ,
denominada de D¨, revela uma diminuição das
velocidades sísmicas com aumento de profundidade.
Esta zona pode ser herdada da época de aglutinação da
Terra (embora seja difícil imaginar como ficou
preservada durante as fortes segregações interna que
ocorreram), pode representar uma zona onde se
acumulam bolsões de material gerado anteriormente a
profundidades bem menores e em vias de reciclagem
dentro da Terra, pode incluir material liberado do núcleo,
ou pode representar material do manto inferior,
decomposto para a forma de óxidos densos.
150
6.3.2 - O manto sob a perspectiva mineralógica
O manto terrestre tem início no limite crosta-manto (~40 Km), se estende até o limite
manto-núcleo (~2900 Km) e corresponde a aproximadamente 83% do volume e 67% da massa
do planeta.
O manto é composto por silicatos de ferro (Fe), magnésio (Mg), alumínio (Al), e
oxigênio (O). As rochas ultramáficas ricas em olivina magnesiana (Mg 2SiO4) e piroxênios
(MgSiO3 e CaMgSi2O6) são as mais estáveis no manto e são classificadas de acordo com o
diagrama de rochas ultramáficas definido pela IUGS (International Union of Geological
Science).
151
Os minerais mais abundantes em rochas mantélicas são:
- a enstatita (MgO + SiO2 = MgSiO3), e
- a forsterita (2MgO + SiO2 = MgSiO4).
Esses minerais podem ser considerados uma solução sólida entre MgSiO3 (enstatita)
com FeSiO3 (ferrosilita) e Mg2SiO4 (forsterita) com Fe2SiO4 (faialita). Outra importante solução
sólida é a série formada por MgO (periclásio) e FeO (wüstita) dando (Mg,Fe)O
(magnésiowüstita ou ferropericlásio). A fase aluminosa observada no manto superior é
referente à gradação de peridotito (até ~40 Km de profundidade), espinélio (~40 a ~80 Km de
profundidaded) ou granada (~80 a ~300 Km de profundidade) e fornece uma aproximação das
condições de pressão de equilíbrio da paragênese mineral através do sistema CaO + Mg +
Al2O3 + SiO2. Como produto da percolação de fluidos aquosos ou líquidos silicáticos no manto
(processos metassomáticos ou primários), minerais hidratados podem ser formados (e.g.
anfibólio e flogopita). De aproximadamente 410 Km até ~700Km de profundidade a olivina não
é mais estável no manto e é substituída por polimorfos de alta pressão, mantendo basicamente
a mesma composição. Os polimorfos são a wadsleíta (beta-espinélio) e ringwoodita (gama-
espinélio). As mudanças composicionais constatadas entre 410 Km e 660 Km de profundidade
são confirmadas por estudos sísmicos e, assim como acontece na descontinuidade de
Mohorovičić ("Moho"), são detectadas facilmente. As descontinuidades sísmicas e as
transformações de fase estão diretamente relacionadas às mudanças nas condições de
pressão a que os peridotitos estão submetidos. As reações que explicam as transformações de
fases minerais estão descritas abaixo:
152
às condições de pressão, temperatura e presença de voláteis a que este material está
submetido. O aumento da pressão com o progressivo aumento da profundidade determina que
o manto inferior flui com maior dificuldade se comparado ao manto superior.
O manto é divido quimicamente em manto primitivo (PM) ou fértil, o qual tem sua
composição relacionada ao período após a separação do núcleo, mas antes da geração da
crosta, sendo equivalente a composição total de silicatos da Terra (BSE - Bulk Silicate Earth),
que é condrítica para os elementos litófilos; e em manto empobrecido (Depleted Mantle; DM), o
qual é o resíduo do processo de fusão parcial do muito fértil.
Por fim, a partir de suas propriedades mecânicas, o manto terrestre é dividido em
manto superior (manto litosférico e astenosfera), Zona de Baixa Velocidade Sísmica (LVZ) e
zona de transição e manto inferior (mesosfera). Esta divisão está baseada no estudo geofísico
do interior da Terra (sísmica). As ondas sísmicas no manto superior continental geralmente tem
velocidades entre 8,0 a 8,2 Km/s (ondas P) e 4,3 a 4,7 Km/s (ondas S), enquanto que no manto
superior sob os oceanos tem velocidades entre 7,9 a 8,6 Km/s (ondas P) e 3,9 a 4,7 Km/s. As
ondas P movem-se através das rochas mantélicas (peridotito) com velocidade aproximada de 8
Km/s e tendem a aumentar sua velocidade com o progressivo aumento da profundidade devido
à maior rigidez das rochas.
153
6.3.4 - O Manto Primitivo (MP)
Um importante conceito da geoquímica do manto é a composição de manto primitivo. O
manto primitivo é definido como uma composição do manto após a separação do núcleo, mas
antes da separação da crosta.
O manto primitivo é diferenciado do condrito, portanto, como um resultado de dois
processos: perda de voláteis para o sistema solar interno ou durante a formação da Terra, a
perda de elementos siderófilos para o núcleo.
(Para saber mais, leia o Capítulo 11 do White, W. M. - Geochemistry)
154
6.3.5 - A Litosfera
A Litosfera (~100 Km de espessura) é composta por parte do manto superior e pela
crosta oceânica ou continental. A litosfera é dividida em 15 placas tectônicas principais, que
formam limites em que há ocorrência de intensas atividades sísmicas e vulcânicas
responsáveis por muitas das características geológicas em grande escala da Terra. A região
abaixo da crosta continental é denominada manto litosférico subcontinental (SCLM) e
apresenta espessura variável, podendo chegar a >250 Km abaixo de alguns crátons
arqueanos. O estudo de xenólitos mantélicos em rochas vulcânicas tem mostrado que a
composição do SCLM está relacionada com a idade da crosta sobrejacente. O SCLM está
situado abaixo de zonas cratônicas (antigas) geralmente é fortemente empobrecido, enquanto
o SCLM abaixo de Crosta Fanerozóica (mais jovem) é moderado a levemente empobrecido em
relação a astenosfera subjacente. Essas variações composicionais são importantes para definir
o comportamento tectônico da crosta continental, pois geram diferenças laterais na composição
e nas propriedades físicas da litosfera que afetam o comportamento geodinâmico do manto.
Compreender as origens da evolução secular na composição do SCLM é importante, pois os
diferentes modelos têm diferentes implicações para a evolução global da Terra e para as
relações genéticas e tectônicas entre a crosta e o manto.
155
6.3.7 - Manto Empobrecido (Depleted Mantle; DM)
O DM é o resultado de um ou mais eventos envolvendo extração de magmas
basálticos do manto para a formação de crosta. O caráter isotópico empobrecido (baixas
87
razões Sr/86Sr e 206
Pb/204Pb, e elevadas razões 143
Nd/144Nd) e as baixas concentrações de
LILE (elementos litófilos de alto raio iônico) do N-MORB (Basaltos de cadeias meso-oceânicas)
exige a existência de um reservatório mantélico com característica geoquímica empobrecida.
156
6.3.10 - Xenólitos mantélicos
Xenólitos mantélicos são fragmentos do manto trazido até a superfície da Terra durante
erupções vulcânicas, estando comumente associados a basaltos alcalinos e a kimberlitos. A
ocorrência de xenólitos mantélicos em kimberlitos indica fontes com profundidades superiores a
100 Km, mas quando associados a basaltos alcalinos indica profundidades variáveis de 50 a
100 Km.
A paragênese mineralógica característica de xenólitos mantélicos provenientes da
litosfera oceânica e continental pós-arqueana, é composta principalmente por olivina (ol) +
ortopiroxênio (opx) + clinopiroxênio (cpx) + espinélio (sp) (sp-lherzolitos) e por ol + opx + cpx
(lherzolitos), enquanto que na litosfera arqueana (mais espessa) e na astenosfera predomina a
paragênese formada por ol + opx +cpx + granada (granda-lherzolitos). O manto superior pode
ainda apresentar mais heterogeneidade composicional, podendo ser representado por porções
compostas por dunitos (predomínio de olivina), piroxenito (predomínio de piroxênios), eclogitos
(granada e clinopiroxênio), e harzburgito (predomínio de olivina e ortopiroxênio). As três
primeiras destas rochas não são abundantes em populações de xenólitos mantélicos ou em
ofiolitos, sugerindo que elas não são componentes importantes no manto superior.
Harzburgitos, no entanto, são comuns na maioria dos ofiolitos ultramáficos e pode ser o tipo de
rocha mais importante no manto superior oceânico. Conforme sugerido pela geoterma definida
para Ocean Ridge, alguns ofiolitos ultramáficos são dominantemente plagioclásio lherzolitos (ol
+ opx + cpx + plag). Rochas ultramáficas de ofiolitos têm sua fonte em profundidades entre 10-
75 Km e comprova a interpretação de que elas representam porções do manto superior
oceânico.
157
6.4 - NÚCLEO
158
6.4.1 - Principais características do núcleo
O núcleo inicia a uma profundidade de 2.900 km (Descontinuidade de Wiechert-
Gutenberg), sendo que a interface núcleo interno (NI) / núcleo externo (NE) localiza-se a uma
profundidade de aproximadamente 5.200 km (Descontinuidade de Lehmann). No núcleo as
pressões são extremamente altas, variando de 1,3 milhões de atmosferas (NE) a 3,5 milhões
de atmosferas (NI). As temperaturas máximas atingidas situam-se entre 4.000 e 5.000ºC.
O núcleo apresenta densidade bastante elevada, variando de 9,9 g/cm 3 (interface
manto-NE) a 12,2 g/cm3 (interface NE-NI) no núcleo externo e situando-se entre 12,6 g/cm3 a
13 g/cm3 no núcleo interno. Os dados paleomagnéticos mostram que o núcleo existe há pelo
menos 3,5 Ga, apresentando características bastante próximas às atuais há aproximadamente
2,5 Ga.
160
Modelos nos quais as composições do núcleo interno e externo são diferentes
(conseqüentemente com diferentes temperaturas de fusão) são os atualmente aceitos.O núcleo
interno é sólido pois possui temperaturas de fusão mais elevadas do que as temperaturas
existentes nessa região (para gerar os movimentos de convecção no núcleo externo é
necessário que o gradiente geotérmico seja adiabático).
Em termos de estrutura, K. E. Bullen dividiu o núcleo terrestre em três regiões. A região
E corresponde ao núcleo externo. Dados de tomografia sísmica indicam a existência de uma
região com espessura variável com máximo de 200-400 km (camada "D") situada entre a
interface manto/núcleo externo. A região "F" corresponde a uma região de interface entre o
núcleo interno e o núcleo externo (esta região é considerada como pertencente ao núcleo
interno). Esta região pode corresponder a uma camada de contato não convectiva, cujo estado
é intermediário em relação àquele de um líquido verdadeiro ou sólido verdadeiro. Sua
espessura é de aproximadamente 560 km e a sua densidade varia de 12,2 a 12,6 g/cm 3.
Existem ainda algumas dúvidas sobre a existência desta região. A região G corresponde ao
núcleo interno propriamente dito, iniciando a uma profundidade de 5.760 km. O salto no valor
de densidade de 12,2 para 12,6 g/cm3 no topo do núcleo interno é compatível com uma
mudança na composição química.
161
6.4.3 - Constituição do Núcleo
O núcleo interno compreende somente 1,7% da massa da Terra e a sua densidade é
conhecida apenas de modo aproximado, situando-se no intervalo entre 12,6 e 13 g/cm3.
Experimentos utilizando ondas de choque, capazes de gerar pressões tão elevadas
quanto 3,6 Mbar, demonstraram que a densidade do núcleo interno é muito elevada para ferro
puro. Desta forma tornou-se necessário verificar qual elemento químico poderia satisfazer esta
condição, de modo a explicar tanto a densidade como o quimismo global do planeta.
Por analogia com os meteoritos sideritos chegou-se à conclusão que este elemento
deveria ser o níquel. A quantidade de Ni no núcleo interno não é bem conhecida, devido aos
erros no cálculo da densidade, mas por analogia com os meteoritos acredita-se que a
quantidade de níquel no núcleo interno situa-se entre 10 e 20%. O núcleo externo é bem maior
(possui cerca de 30% da massa da Terra) do que o interno e deve ser homogêneo devido aos
movimentos de convecção. Com relação a este aspecto, cabe ressaltar que as estimativas da
viscosidade do núcleo externo indicam valores não muito maiores do que o da água. Portanto,
como a baixa viscosidade favorece movimentos de convecção, não deve haver um gradiente
de temperatura muito acentuado nessa região.
Os valores de densidade do núcleo externo são conhecidos com melhor exatidão e
variam entre 9,9 g/cm3 (interface manto-NE) e 12,2 g/cm3 (interface NE-NI). Dados de ondas de
choque para 1,4 Mbar (interface manto-NE) mostram que o ferro puro possui uma densidade
de aproximadamente 10,6 g/cm3. Desta forma, o ferro puro é muito denso para ser o único
constituinte do núcleo externo, necessitando de um elemento menos denso para fazer parte da
liga. Existem potencialmente 4 elementos químicos menos densos que o ferro, suficientemente
abundantes na Terra, que poderiam fazer parte desta liga: Si, O, Mg e S.
Silício:
→ argumentos a favor:
a) basta uma pequena quantidade para a redução da densidade (10% de Si e 90% de
Fe);
b) são observadas pequenas quantidades de Si dissolvidas em fases metálicas de
meteoritos condríticos do tipo E (enstatita).
→ argumentos contra:
a) a temperatura de fusão do Si é muito elevada;
b) o Si tende a formar íons pequenos que se complexam com O nos silicatos,
possuindo desta forma propriedades fortemente litófilas.
162
Oxigênio:
→ argumentos a favor:
a) o óxido de ferro comporta-se como metal em altas pressões;
b) bastante abundante.
→ argumentos contra:
a) apresenta características litófilas (forma silicatos);
b) não reduz a temperatura de fusão do ferro.
Magnésio:
→ argumentos a favor:
a) bastante abundante.
→ argumentos contra:
a) características litófilas.
Enxôfre:
→ argumentos a favor:
a) as rochas terrestres apresentam deficiência deste elemento com relação aos
condritos;
b) o S apresenta forte afinidade com o ferro (estrutura eletrônica);
c) presença de FeS (troilita) em meteoritos;
d) FeS é um bom condutor de eletricidade;
e) FeS apresenta baixa temperatura de fusão;
f) uma quantidade entre 9 e 12% de S fornece bons ajustes para as densidades
observadas.
→ argumentos contra:
a) o enxôfre por ser volátil deve ter sido perdido durante o processo de acresção.
Ainda não existe um consenso sobre a composição do núcleo externo, mas os
trabalhos recentes (como por exemplo Poirier, 1994; Sherman, 1997) indicam como
possibilidades as ligas [Fe(Ni)-S], [Fe(Ni)-O e Fe(Ni)-S], [Fe(Ni)-O], Fe(Ni)-S e Fe(Ni)-O].
163
6.4.4 - Temperatura e formação do núcleo
A presença de S no núcleo externo diminui consideravelmente a temperatura de fusão
do Fe, pois o sistema Fe-FeS apresenta um eutético de baixa temperatura.
Diagrama de fase de um sistema de 2 componentes (Fe e FeS) para as condições de 1 atmosfera e na interface manto-núcleo.
Sob pressão atmosférica o Fe puro sofre fusão a 1.539ºC, enquanto FeS funde-se a
1230ºC. Qualquer composição intermediária entre estes dois extremos estará parcialmente
fundida em temperaturas acima de 998ºC. Esta temperatura é denominada "temperatura
eutética" e corresponde ao valor mínimo no qual sólido e líquido coexistem. A composição na
qual coexistem sólido e líquido sob a mais baixa temperatura é denominada "composição
eutética". Sob pressão atmosférica a composição eutética do sistema possui 75% de FeS
(correspondendo a 27% de S na mistura).
Dessa forma, fica demonstrado que a presença de S diminui consideravelmente a
temperatura de fusão do ferro, sendo que misturas Fe-S no núcleo externo apresentam
temperaturas de fusão mais baixas do que a da liga Fe-Ni (núcleo interno) que não possui
eutético. Isto justifica o fato do núcleo externo ser líquido e o interno sólido.
Para descobrir as relações de fusão em sistemas Fe-FeS sob altas pressões,
Usselman (1975) efetuou experiências com misturas de Fe-Ni-S acima de 100 kbar e
extrapolou as curvas para pressões mais altas (núcleo). Os resultados obtidos demonstram que
a diferença entre a temperatura de fusão do ferro puro e a eutética aumenta com o aumento da
profundidade. Desta forma, durante a formação do núcleo, uma mistura eutética poderia
"mergulhar" mais facilmente no manto do que o ferro puro, que requer temperaturas mais
elevadas para permanecer no estado líquido.
164
Como a temperatura em direção ao núcleo aumenta, uma mistura eutética no estado
líquido poderia atravessar o manto "drenando-o" em sulfeto de ferro. Por outro lado, como a
temperatura de fusão da liga Fe-Ni é somente um pouco mais baixa do que a da maioria dos
silicatos, não é necessário um processo de fusão de grande escala para a formação do núcleo
terrestre. Portanto, uma mistura Fe-FeS próxima do eutético, extraída de um manto quase
sólido, é um mecanismo bastante viável para a formação do núcleo de acordo com o modelo
de acresção homogênea.
Resta saber se o núcleo externo possui realmente uma composição eutética. Usselman
(1975) demonstrou que a quantidade de S de uma mistura eutética diminui com o aumento da
pressão. De acordo com esses estudos a quantidade de S na mistura eutética na interface
manto-núcleo externo deve ser de 17,5%, decrescendo para 15% (de 48% para 41% de FeS)
na interface NE-NI. A presença de pequenas quantidades de Ni no núcleo externo teria um
efeito pequeno nas temperaturas estimadas. Desta forma, a composição eutética conteria
somente um pouco mais de S do que a percentagem de 9 a 12% presente no núcleo externo,
estimada através dos dados de densidade (12% de S é equivalente a 33% de FeS).
O comportamento da temperatura eutética em função da profundidade permite estimar
as temperaturas do núcleo. As temperaturas mínimas possíveis (correspondentes às
composições eutéticas) são de 1800ºC na interface manto-núcleo, aumentando até 2100ºC na
interface núcleo interno-núcleo externo. As temperaturas máximas possíveis (correspondentes
às temperaturas de fusão do Fe) são de 3.900ºC e 4.400ºC nessas mesmas interfaces,
respectivamente.
166
Abundância dos elementos químicos na Terra.
167
6.4.6 - Energia e o Campo Magnético Terrestre
As possíveis fontes de energia para gerar o movimento de convecção do fluído,
presente no núcleo externo, que origina o campo magnético terrestre são:
168
CAPÍTULO 7 - GEOQUÍMICA DOS ELEMENTOS TRAÇOS
169
Os ETR são muito eletropositivos e, portanto, seus compostos são geralmente iônicos.
Do ponto de vista mineralógico, estes compostos são óxidos, haletos, carbonatos, fosfatos e
silicatos, e alguns boratos, arsenatos, e outros, não existindo os sulfetos. Os raios iônicos são
relativamente grandes e, portanto, as reações de substituição emvolvem em geral cátions
grandes como o cálcio ou o estrôncio, sendo frequentemente necessário um balanceamento de
carga. O estado de oxidação mais comum é o trivalente, com o európio e cério existindo
também nos estados divalente e tetravalente, respectivamente. Os controles sobre os
diferentes estados de oxidação do Eu ou do Ce em um dado sistema ainda são poucos
conhecidos, mas dependem principalemente da temperatura, pressão, composição e condições
redox (Henderson, 1996). O arranjo dos elétrons ao redor do núcleo dos diferentes ETR é um
fator determinante de suas propriedades. A configuração eletrônica dos ETR envolve o
preenchimento regular da camada interna 4f (enquanto a camada externa 5d permanece vazia)
do Ce ao Yb, com exceção do Gd, La e Lu, que apresentam um elétron na camada 5d. No
estado oxidado, os elementos não possuem elétrons na camada externa 5d e, portanto,
qualquer alteração no número de elétrons será refletida no nível interno 4f. O fato de que a
configuração eletrônica dos diferentes ETR está mais confinada nas camadas internas do que
nas externas, dá a estes elemtnos seu comportamento químico coerente. Desta maneira a
variação dos raios iônicos dos íons dos ETR mostra uma progressão homogênea com o
número atômico, para um dado estado de oxidação. Os raios de alguns íons são também
função do tamanho e do número de coordenação do sítio ocupado em um mineral. Em geral,
quanto maior o número de coordenação maior será o raio iônico do íon coordenado. A
consideração dos tamanhos dos íons trivalentes dos ETR com o número de coordenação seis
(tabela acima) mostra que apenas
poucos íons em uma mesma
coordenação tem tamanhos
similares ao dos ETR, do La3+ ao
Lu3+. Estes incluem, entre outros
íons mais comuns, Na+, Ca2+ e Y3+.
170
7.1.1 - ETR em estudos geológicos
Na geoquímica há um crescimento significativo no interesse pelos elementos terras
raras pois, a medida do seu grau de fracionamento em rocha pode ser um apontador para a
gênese das mesmas, interesse por outra parte estimulado pelo desenvolvimento de técnicas
analíticas capazes de determinar a ocorrência de ETR mesmo em concentrações muito baixas.
A aplicação da abundância de ETR para a solução de problemas petrogenéticos tem sido
centrada na evolução de rochas ígneas, onde processos como fusão parcial da crosta ou de
materiais do manto, cristalização fracionada, e/ou mistura de magmas, estão envolvidos.
Nesses estudos, a semelhança entre as abundâncias de ETR observadas e aquelas
provenientes do modelamento teórico de processos petrogenéticos tem ajudado
consideravelmente a restringir o número de possíveis hipóteses na gênese de uma rocha ou
suíte mineral. Além disso, alguns compostos de ETR apresentam importância econômica.
Um dos principais objetivos na pesquisa geoquímica pe compreender a evolução de
uma grande variedade de rochas ígneas que constituem parte significativa da crosta terrestre,
originadas de um material que acredita-se ser o constituinte do manto. Para atingir este
objetivo, os geoquímicos têm utilizado composições químicas e mineralógicas de várias rochas
fracionadas para modelar processos como fusão parcial e cristalização fracionada que ocorrem
durante a solidificação de magmas. Estes métodos são baseados na premissa de que as
composições químicas e mineralógicas de rochas ígneas não são afetadas por processos
posteriores ao da cristalização e, portanto, refletem as características químicas primárias da
rocha.
Porém, vários estudos têm demonstrado que os elementos maiores e muitos traços são
mobilizados durante o intemperismo, tanto o submarino como o aéro, e por processos de
alteração hidrotermal ou deutérica, ou ainda durante o metamorfismo. Rochas, portanto, com
sinais de alteração podem ser inadequadas para estudos petrogenéticos por meio de
indicadores químicos. Mesmo assim, alguns elementos mostram uma escassa ou quase nula
mobilidade geoquímica, constituindo um grupo dos elementos de concentração mais ou menos
constante. Entre eles, estão aos ETR e outros com o Ti, Hf, Th, Ta, Y, Zr e Nb. Concentrações
e/ou razões entre estes elementos podem, portanto, ser utilizados para estabelecer modelos
geoquímicos em rocha alteradas e/ou metamorfoseadas. É conhecida também a sua utilidade
para identificar possíveis ambientes geotectônicos de geração e/ou colocação de rochas
ígneas. Naturalmente, a utilização de ETR para este tipo de análise requer que seja mantida a
premissa básica da imobilidade desses elementos durante os processos de intemperismo e
alteração, uma premissa nem sempre válida (e.g., provas da mobilidade relativa do Ce e outros
TER durante processos metamórficos).
171
Estudos completos de rochas continentais e oceânicas mostram que não há uma
relação simples entre o grau de mobilidade ou imobilidade dos ETR, o grau metamórfico ou o
tipo de rocha alterada. Para compreender o comportamento dos ETR deve-se levar em conta o
ambiente completo no qual o processos de intemperismo ou alteração ocorreu além de
conhecer o tipo de alteração ao qual a rocha foi submetida.
Sistemas nos quais ocorrem processos de intemperismo, à temperatura ambiente, ou
alteração de rochas, sob temperaturas maiores que as ambientais, normalmente envolvem
interações entre fases minerais e uma fase fluida. Propriedades adicionais (como temperatura,
um sistema aberto ou fechado, variações na razão fluido/rocha, etc.) podem ou não ser
importantes em determinar o comportamento dos ETR dependendo da situação particular. Os
ganhos e perdas observados durante os processos de intemperismo e alteração serão uma
função das importâncias relativas de vários fatores:
1) As abundâncias dos ETR em rochas inalteradas, sua distribuição e sítios de
concentração nas fases minerais na rocha e a estabilidade relativas da fase mineral com
respeito ao fluido.
2) A concentração dos ETR no fluido, o comportamento de partição de ETR entre a
fase mineral e o fluido, e a possibilidade do fluido de transportar os ETR para fora do sistema.
3) A habilidade de minerais secundários, formados durante as reações, para acomodar
os ETR provenientes dos minerais originais.
Na discussão da mobilidade de ETR e sua troca entre rochas e fluidos, é usual
comparar padrões de ETR, normalizados pelo condrito, de amostra fresca e alteradas. Nessas
comparações deve-se ter em mente que mudanças podem ser observadas devido apenas a
alterações de volume, ou à alterações de outros contituintes da rocha (Humphris, 1984).
173
7.1.3 - Dificuldades com a normalização condrítica
Infortunadamente tornou-se aparente que os meteoritos condríticos são atualmente
variáveis em composição e “condritos” com abundâncias condríticas de ETRs são a exceção
em vez de regra (Boynton, 1984). Esta variabilidade na composição condrítica tem permitido
um grande número de conjunto de valores normalizados para os ETRs e para dados não
padronizados valores têm sido adotados. A variabilidade pode ser reduzida para dois fatores -
o método analítico e o tipo preciso de condritos analisados. Alguns autores usam “condrito
médio” enquanto outros selecionaram Cl-condritos como o mais representativo da composição
da nébula solar original.
176
sobre a partição do elemento no sistema mineral/fundido pela construção de gráficos de log D
versus raio, nos quais íons de mesma carga definem curvas de smooth.
Os ETRs, com suas propriedades químicas e sua mudança de raio iônico com a
mudança do número atômico, são particularmente passíveis para este tratamento. O
afastamento do Eu é o resultado da presença de algum Eu 2+ como também Eu3+. Estes
minerais com coordenação grande dos cátios, tal como allanita, favorecem os íons ETRs leves
maiores, enquanto que os de coordenação menor, como zircão, favorecem os ETRs pesados
menores. Minerais com coordenação intermediária (apatita, titanita) têm um conjunto mais
uniforme de valores D associados ou favorecem os ETRs médios. Mesmo quando o cátion
substituído é o mesmo, a natureza da curva de partição para diferentes minerais pode ser
muito diferente.
177
CAPÍTULO 8 -
COMPORTAMENTO GEOQUÍMICO DOS ELEMENTOS
A geoquímica é a ciência que estuda a química da Terra tanto como um todo, como
cada um dos seus componentes. Estuda a distribuição e migração, no espaço e no tempo, dos
elementos químicos que constituem o globo terrestre. Esta ciência baseia-se na determinação
da abundância dos elementos na Terra e no estudo da distribuição e migração dos mesmos, a
nível individual, nas várias partes da Terra, nos minerais e rochas, tendo o objetivo de descobrir
os princípios que governam essa distribuição e migração (Mason & Moore, 1982).
Os elementos químicos libertados do ambiente geoquímico primário (rochas,
mineralizações, etc.) dispersam-se no ambiente secundário, ou seja, nos solos, nas águas e
nos sedimentos. Os processos através dos quais se dá a transferência dos elementos entre o
ambiente primário e o ambiente secundário são diversos, desde processos de meteorização à
atividade humana.
Neste capítulo foi efetuada uma síntese do comportamento geoquímico dos dezoito
elementos seleccionados no âmbito do presente trabalho: o alumínio, o antimônio, o arsênio, o
cádmio, o cálcio, o chumbo, o cobalto, o cobre, o cromo, o estanho, o ferro, o fósforo, o níquel,
o silício, o zinco, o ouro, o titânio e o vanádio..
178
civilizações. Ao longo dos tempos, o Homem utilizou os metais em ligas diversas, algumas das
quais caracterizam períodos da História. O cálcio e o fósforo integram a estrutura de alguns
minerais que ocorrem nos sedimentos em estudo.
É de referir que concentrações anômalas de fósforo podem ter um significado
arqueológico. Os restantes elementos foram escolhidos por influenciarem a qualidade
ambiental. Os elementos considerados poluentes, ou seja, aqueles elementos que de alguma
forma entram na cadeia alimentar, na qual o Homem é o consumidor final, e que poderão existir
em níveis considerados tóxicos são: o antimônio, o arsênio, o cádmio, o chumbo, o cobalto, o
cobre, o cromo, o estanho, o níquel e o zinco.
→ elementos maiores = Quando a sua concentração é superior a 1,0 % (> 10000 ppm);
→ elementos menores = Quando a sua concentração está compreendida entre 1,0 e 0,1 %;
→ elementos traço= Quando a sua concentração é inferior a 0,1 % (< 1000 ppm).
180
contaminação provoca um aumento anormal das concentrações relativamente aos valores das
concentrações residuais.
A concentração natural dos elementos nos solos resulta das rochas originárias mas,
em áreas poluídas, os elementos podem apresentar concentrações muito elevadas,
especialmente nos horizontes superficiais dos solos. Assim sendo, torna-se difícil distinguir a
origem antrópica da origem natural destes elementos nos sedimentos e nos solos.
Alguns elementos têm um papel importante no metabolismo biológico do ser humano,
sendo identificadas situações em que o mesmo elemento é a nível vestigial um constituinte
essencial, podendo com o aumento da concentração tornar-se uma espécie com elevado efeito
toxicológico. Por exemplo, o cobre e o zinco são essenciais à vida, mas em concentrações
elevadas podem ser tóxicos (Allan, 1997).
Efetua-se, de seguida, uma síntese das características dos elementos químicos
seleccionados, apresentada por ordem alfabética dos respectivos símbolos químicos.
8.3 - Al - ALUMÍNIO
Quadro 4.1. Propriedades físico-químicas do alumínio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
181
Alumínio é o metal mais abundante nas rochas ígneas. De todos os demais elementos,
o oxigênio e silício são os únicos que superam o alumínio. Considerando-se a abundância
cósmica, resulta que o Fe e Mg são mais abundantes que Al. O número atômico do Al é ímpar
(Z=13) e consequentemente este metal, segundo a regra de Oddo e Harkins, dura ser menos
abundante que seus vizinhos e Mg e Si. Mas isto não se cumpre nas rochas ígneas e é
evidente que o Al deve ser muito concentrado na litosfera superior.
Abundância cósmica do Mg maior é facilmente explicada levando-se em conta sua
forma de apresentação nos meteoritos. Tanto a abundância do Mg como a do Fe, nos
meteoritos, é muito superior a do Al devido ao fato que Fe é o componente principal dos
sideritos e litossíderitos e que os silicatos dos lititos são formados principalmente por Mg.
Na tabela abaixo é indicado a abundância do Al.
Quadro 4.2. Teores médios de alumínio (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários
tipos de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
Tais percentuais demonstram que o alumínio é um elemento completamente litófilo,
como os elementos alcalinos e alcalinos terrosos. É evidente que Al quase falta por completo
nas esferas mais profundas da Terra e está concentrado quase quantitativamente na litosfera.
183
A biotita cristaliza antes da muscovita, pelo qual pode separa-se dos magmas ricos em
água numa fase bastante precoce. Portanto, a presença ou ausência de biotita não influi
demasiado sobre o conteúdo de alumina nas rochas ígneas, enquanto que se existe muscovita,
o conteúdo de Al pode aumentar algo nas rochas cristalizadas até no final do estágio principal
de diferenciação. Sem dúvida, o efeito da muscovita é menos pronunciado que dos feldspatos.
Ademais, a maior parte da muscovita dos granitos, senão na totalidade, é de origem secundária
proveniente da alteração dos feldspatos.
Os piroxênios e anfibólios, em particular augita e hornblenda, que são os termos mais
importantes desses grupos minerais, contém Al com regularidade. Sem dúvida, seu conteúdo
em Al é menor ou aproximadamente igual ao da totalidade da rocha. Al forma silicatos a
temperaturas elevadas no sistema Al2O3.SiO2, a saber: sillimanita Al2O3.SiO2 (tb cianita,
andaluzita) mullita 3Al2O3.2SiO2. Também se conhece o silicato Al2O3.2SiO2, metacaolinita, que
se obtém ao subtrair água da caolinita Al4[(OH)8/Si4O10]. Sem dúvida, a metacaolinita não é
estável a temperaturas elevadas e não se pode obter por cristalização direta dos fundidos de
silicato alumínico. As propriedades óticas da melleta e sillimanita são quase iguais e não se
pode distinguir entre si a não ser por difração de raios-X e análise química. Sem dúvida, a
mullita é mais rara: só se encontra nos contatos ígneos. A sillimanita, cianita e andaluzita são
componentes de rochas metamórficas, mas se encontram raramente nas ígneas ou em
pequenas quantidades nos contatos ígneos.
A exposição precedente demonstra que o Al não se encontra nas rochas ígneas como
silicatos simples, senão que está sempre combinado com outros metais formando
aluminossilicatos complexos. Todo silicato consiste em uma trama de tetraedros de [SiO4], que
se combinam de diversas maneiras nos distintos grupos de minerais formando estruturas
regulares. Uma parte de Si4+ dos tetraedros de [SiO4] pode ser substituída por Al3+. Devido à
grande diferença entre o tamanho dos íons, a substituição nunca é completa. Sua extensão
depende, ademais do tipo estrutural do mineral afetado. Nos feldspatos, todo Al existente
substitui o Si nos tetredros de si-O e o retículo dos cátions está formado unicamente por íons
K+, Na+, Ca2+, etc... Da mesma forma, o Al3+ substitui parcialmente o Si4+ nos anfibólios,
piroxênios e micas. Nos anfibólios só se pode substituir 1/3 dos íons de Si4+ por Al3+. Nestes
minerais se encontra também Al fora da trama Si-O, ocupando uma posição semelhante a do
Mg e Fe. Apesar do tamanho menor, o Al substitui neste caso de forma diadócica o Mg2+ e
Fe2+. O número de coordenação é 6. Os íons de Fe3+ apresentam-se da mesma maneira. Nos
outros grupos importantes de silicatos, Al ocupa também duas posições estruturais diferentes.
O Al, o mesmo que Ca e Mg, não se apresenta nas rochas ígneas na forma de óxido simples.
O conríndon, α - Al2O3, encontra-se unicamente quando o Al predomina, tanto sobre o Ca como
184
os metais alcalinos; neste caso não se pode unir todo Al nos feldspatos. Portanto, a presença
de conríndon nos pegmatitos, nas rochas metamórficas, etc..., é uma prova de um conteúdo
em Al excepcionalmente grande. Entre outros minerais de Al se encontram o crisoberilo,
Al2BeO4, que ocorre em pegmatito granítico e aplito; o topázio, Al 2[F2/SiO4], relacionado à
atividade peneumatolítica; muitos fluoritos, carbonatos, numerosos fosfatos e sulfatos.
188
8.4 - As - ARSÊNIO
Quadro 4.3. Propriedades físico-químicas do arsénio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
189
cobre e níquel; o urânio em alguns depósitos de urânio (U-As); o cobre, o vanádio, o urânio e a
prata em depósitos sedimentares de cobre e ocorre ainda em rochas ricas em fosfatos.
Devido à sua ocorrência associado a vários tipos de mineralizações, o arsênio é um
importante indicador em trabalhos de prospecção mineral de ouro, de prata, de chumbo e de
zinco (Reimann & Caritat, 1998). No quadro 4.4. encontram-se os teores médios deste
elemento na crosta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.
Quadro 4.4. Teores médios de arsénio (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
190
8.5 - Ca - CÁLCIO
Quadro 4.5. Propriedades físico-químicas do cálcio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
191
Com exceção das rochas carbonatadas, constituídas basicamente por CaCO3, a
maioria das rochas apresentam teores médios de cálcio que variam entre 0,9 % e 7,4 %. No
quadro 4.6. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos.
Quadro 4.6. Teores médios de cálcio (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
192
8.6 - Cd - CÁDMIO
Quadro 4.7. Propriedades físico-químicas do cádmio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
Os minerais típicos do cádmio são a greenockite (CdS), a octavite (CdCO 3), entre
outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são, entre outros: os minérios de
zinco, a biotita e os anfibólios (Reimann & Caritat, 1998).
As associações naturais do cádmio são com o zinco, em todo o tipo de ocorrências, e
em depósitos do tipo Mississipi Valley (Zn-Cd-Pb-Ba-F). O cádmio pode substituir o Ca2+ e o
Mn2+ (Reimann & Caritat, 1998).
Os teores médios de cádmio nos diferentes tipos de rochas variam pouco. No quadro
4.8. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de
rochas e em solos.
193
Quadro 4.8. Teores médios de cádmio (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
194
8.7 - Co - COBALTO
Quadro 4.9. Propriedades físico-químicas do cobalto (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
195
encontram-se os teores médios deste elemento na crosta terrestre, em vários tipos de rochas e
em solos.
Quadro 4.10. Teores médios de cobalto (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
196
8.8 - Cr - CROMO
Quadro 4.11. Propriedades físico-químicas do crómio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
197
Os percentuais de Cr nas fases meteoríticas e rochas ígneas, incluídos na tabela
acima, indicam o caráter geoquímico geral deste elemento. Tais percentuais demonstram a
existência de um máximo no conteúdo em Cr nos nódulos de troilita dos sideritos. O Cr só
existe nestes formando sulfoespinélio daubrelita (FeCr2S4). Ao contrário, nos nódulos de troilita
dos meteoritos silicatados, o Cr é menos abundante. Quando o Cr se distribui entre uma fase
metálica e outra sulfatada, concentra-se francamente nesta última. Na fase metálica o Cr forma
espinélios cromíferos, em especial a cromita (FeCr2O4), mas sua abundância é muito pequena.
Tão logo apareça uma fase silicatada, incorpora-se a ela a maior parte do Cr. Nos meteoritos
silicatdos o Cr se apresenta preferencialmente na forma de Cr-espinélios, sobretudo cromita.
Portanto, é evidente que o caráter geoquímico geral do Cr não é calcófilo, mesmo que a
concentração máxima deste metal se encontre na fase sulfatada dos meteoritos. O potencial
redox do sistema em questão tem grande importância para a distribuição do Cr e seu caráter
calcófilo só é intenso na ausência de oxigênio ou quando a quantidade deste é insuficiente
para oxidar todo o cromo disponível. Nos demais casos o Cr é litófilo. O Cr pertence ao grupo
do Fe e se parece com este em muitos aspectos geoquímico.
198
O conteúdo médio em Cr dos sulfetos magmáticos é de 0,02g/ton. Este percentual
demosntra que o Cr é mais oxífilo na litosfera superiro. Nas rochas ígneas se encontra Cr tanto
nos óxidos como nos silicatos. Os únicos minerais independentes do Cr nestas rochas são
representantes cromíferos do grupo do espinélio, a saber: magnésio cromita (MgCr2O4),
cromita (FeCr2O4) e suas mesclas isomorfas. O espinélio de Cr pode se apresentar nas rochas
ígneas básicas e ultrabásicas na forma de cromita ou picolita [(Mg,Fe)(Al,Fe,Cr)2O4] que é,
portanto, uma mescla de cromita e espinélio magnésica-alumínica. Quando se encontra em
quantidades apreciáveis o Cr, o mesmo para o Ti, penetra nas estruturas de muitos silicatos de
importância petrográfica. Nestes silicatos o íon Cr3+ substitui outros íons metálicos. Entre os
minerais de Cr têm importância os seguintes : a granada de Cr ou uvarovita, Ca3Cr2[SiO4]3; o
diopsídio de Cr, que chega a 2% de Cr; o epidoto de Cr ou tawmawita; a mica de Cr ou fucsita;
e a clorita de Cr ou Kammerita. Todos estes silicatos cromíferos são relativamente ratos e só
se apresentam comi minerais petrográficos quando grande quantidade de Cr foi disponível
durante a formação. Portanto, não têm muita importância geoquímica. Os indícios de Cr que se
encontram nas estruturas dos silicatos têm mais interesse geoquímico. É evidente que a maior
parte do Cr da litosfera superior se encontra nesta forma. Augitas e hornblenda comuns podem
conter cerca de 1400g/ton; olivina em torno de 1000g/ton de alguns gabropicrito e menos de
2g/ton de alguns diferenciados de uma magma básico; no clinopiroxênio de um olivina gabro
400g/ton e menos de 2g/ton nos diferenciados finais; biotita 1000g/ton e muscovita 500g/ton.
Olivinas ricas em forsterita incorporam muito mais Cr que as ricas em fayalita. É
provável que o Fe3+ não possa ser substituído com facilidade pelo Cr a temperaturas elevadas.
Quando ocorrem juntos Mg olivina e clinopiroxênio, o Cr se concentra de preferência neste
último. O mesmo acontece se a olivina está substituída por magnetita. Parece que a baixas
temperaturas se verifica a substituição do Fe pelo Cr com mais facilidade.
Outra coisa comum a Cr e ao Ti é sua repugnância em formar silicatos simples. O Cr
ocupa duas posições estruturais diferentes nos minerais. Nos cromatos, Cr com 6 cargas
positivas forma um íon complexo, unindo-se, como P e S, a quatro átomos de O, para formar
um complexo tetraédrico [CrO4]. Estes complexos formam grupos independentes na estrutura.
A crocoíta [PbCrO4] é o representante mais importante dos cromatos, que são minerais de
pouca significância geoquímica. De outra parte, Cr se apresenta nos minerais formando o
cátion trivalente Cr3+, que tem raio iônico parecido ao Al3+ e, em particular, ao Fe3+. O Cr se
apresenta nos silicatos fora da trama complexa do Si-O, onde substitui com facilidade o Fe3+ e
Al3+ na forma diadócica. Esta é a forma mais importante de apresentação do Cr litosférico. Sem
dúvida, parece que a substituição diadócica de Al3+ pelo Cr3+ só é possível quanto Al forma
grupos [AlO6] na estrutura e não substitui S; para formar tetraedros de [AlO4]. O raio do Cr3+ é
199
demasiado grande para permitir a substituição do Si4+ por Cr3+ nos tetraedros [SiO4]. Ao
contrário, nos grupos [AlO6] o Al3+ é facilmente substituído pelo Fe3+ e Cr3+. Ambos os casos de
substituição são muito freqüentes nos minerais e caracterizam a geoquímica do Cr e Fe. Sem
dúvida, não se encontra Cr nos feldspatos nem nos minerais restantes nos quais o Al substitui
Si nos oxigenados tetraédricos. É preciso dizer que, apesar da diferença de valência, Cr
substitui evidentemente Fe2+ e Mg2+ em muitos minerais.
200
Quadro 4.12. Teores médios de cromo (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
Mineralogia
Maior: cromita
Menor: sulfetos de Ni, Cu e Fe (pentlandita, pirrotia, calcopirita, gersdorfita, bornita,
vallerita)
201
Traço: minerais do grupo da Pt (ferroplatina, cooperita, laurita, stibiopalladinita,
sperrilita, braggita niquelífera) e rutilo.
Modo de Ocorrência
Existem dois modos distintos de ocorrência:
- intrusões básicas acamadadas
- peridotitos ou massas peridotíticas serpentinizadas associados a cinturões orogênicos
(às vezes denominada cromita “podiforme” ou “tipo alpino”.
• Exemplos
• exemplo clássico de depósito de cromita associado a intrusões básicas acamadadas
é o Complexo Bushveld, África do Sul; outros exemplos incluem o Complexo Stillwatter,
Montana (USA) e Grande Dique (Rodésia).
Cromitas “podiformes” ocorrem em muitos cinturões orogênicos e são geralmente
depósitos menores; exemplos importantes incluem depósitos na Turquia, Urais (Rússia),
Filipinas e Cuba.
Mineralogia e Texturas
As poucas intrusões acamadadas isoladas, economicamente importantes, que podem
ser registradas como depósitos de Cr ocorrem em ambientes tectonicamente estáveis. As
camadas dos complexos intrusivos podem ser registrados como estratos amgmáticos, que
podem ser de extensão lateral condedr[ável. Dentro destes, as bandas de romita podem variar
de poucos milímetros a mais de 20 m em espessura e mostrar muitas feições análogas àquelas
mostradas em rochas sedimentares ( lentes e cunhas, contorção intraformacional, estruturas de
preenchimento). Rochas de pura cromita ( cromititos ) podem gradar através de várias somas
de cromita + silicato ( olivina, piroxênio) para dunitos e peridotitos normais. Embora ocorrendo
comumentes nas camadas ricas em olivina, a cromita pode ocorrer em somas significantes em
alguma associação que é básica em termos de composição geral. Embora cromita seja um
mineral de minério, mostra consideráveis diferenças em composição dentro dos depósitos e
entre depósitos dos tipos “acamadadas” e “podiformes”.
• razões MgO/GeO tendem a ser maiores nas cromitas podiformes ( 1 a 2,3) que nas
cromitas acamadadas ( 0,6 a 1 ).
• conteúdos de Fe2O3 tendem a ser menores ( < 8wt%) e as razões Cr/Fe maiores (
~1.5 a 4.5) nas cromitas podiformes que nas cromitas acamadadas ( ~10 a 24 wt% Fe 2O3 e
0,75 a 1,75 Cr/Fe, respectivamente).
202
• Al2O3 e Cr2O3 tem relações recíprocas ( Cr2O3 sendo ~ 6,5 a 16 wt%, Al2O3 ~ 6 a 52
wt%) nas cromitas podiformes e variam amplamente nas cromitas acamadadas. A razão
Al2O3/Cr2O3 tende a ser maior nas cormitas podiformes.
Nas intrusões acamadadas, cromita ocorre como cristais octaédricas bem
desenvolvidas, particularmente quanto associada com grandes somas de material intersticial.
Nos casos onde há menos material intersticial, os cristais desenvolvem fronteiras polígonais de
interferência. Minérios de cromitas “podiformes”ou “tipo alpino” ocorrem em ambientes
tectônicos altamente instáveis, de modo que em adição às diferenças composicionais notadas
previamente, existem diferenças texturais marcantes.
Embora fronteiras poligonais de interferência desenvolvidas quando há muito material
intersticial, os grãos de cromita são sempre quase arredondados quando circundados por
silicatos. Estes grãos de cromita podem vairar de finas disseminações ( < 1.0 mm de diâmetro)
a texturas mais grossas ( ~1,5 cm de diâmetros). As vezes conchas concêntricas de cromita e
serpentinito produzem minérios orbiculares, e as cromitas de ambos tipos acamada e
podiforme, zoneamento composicional concêntrico pode ser desenvolvido com zonas externas
exibindo relativo enriquecimento em Fe ( sempre observável sob microscópio como uma zona
periférica mais clara). Tais texturas são sempre resultado de alteração hidrotermal durante a
serpentinização. Texturas causadas pela deformação são também características.
Ambas as associações de cromita descritas acima podem conter concentrações de Ni
de menor importância e concentrações de metais do grupo da platina que podem ser de
significância econômica considerável. Níquel em intrusões acamadadas ocorre como sulfetos
ou arsenietos ( assembléias de pirrotita-pentlandita-calcopirita com menores gersdorfita, bornita
e vallerita) em horizontes máficos. Estas assembléias de sulfeto são resultado de uma série
complexa de reações de exsolução e inversão. Nas cromitas podiformes, muito do Ni ocorre
em solução sólida na oliva e pode ser concentrado durante processos de intemperismo,
embora pequenas somas possam ocorrer como sulfetos disseminados ( pentlandita,
heazlewoodita). O exemplo clássico de concentração de metais platinóides em intrusões
acamadadas é Merensky “Reef” que é uma camada persistente ( ~300 km) mas fina (<1m) do
Complexo Sushweld.
203
As texturas dos minérios são totalmente de acordo com tal origem. Os maiores
problemas na origem desses corpos de minérios são concernentes aos mecanismos de
produção essencialmente das camadas monominerálicas de cromita. Sugestões incluem
concentração de distribuição corrente ou precipitação preferencial em resposta a mudanças na
pressão, conteúdo de água, fugacidade de oxigênio ou através de injeções múltiplas de
magma. Um mecanismo proposto é a precipitação resultante da repentina contaminação
extensiva do magma básico parental com líquido mais ácido que foi diferenciado para uma
composição silicosa. Aqui, adição do material rico em sílica força a crostalização do “melt”
cristalizando da curva cotéctico olivina + cromita ( ao longo da qual cromita disseminada
misturada com olivina é formada) para o campo de cristalização de cromita primária ( no qual
só cromita se forma). A origem das cromitas podiformes é claramente muito diferente, e está
estritametne ralacionada ao problema das rochas ultramáficas do tipo Alpino, que forma parte
dos complexos denominados ofiolitos. Correntes teorias relaciona à criação dos ofiolitos por
processos ao longo das fronterias entre placas litosféricas. Tem sido sugerido que a cromita
podiforme forma primeiro como cumulados magmáticos ( como as cromitas das intrusivas
acamadadas ) nos bolsões de magma ao longo dessas fronteiras de placas. Subsequente
segregação com ruptura mecânica episódica ambas durante a cristalização e no transporte
lateral da zona de espalhamento resultam uma agregação “bola de neve”, arredondada. E
deformação de bolhas individuais de cromita.
204
8.9 - Cu - COBRE
Quadro 4.13. Propriedades físico-químicas do cobre (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
A abundância cósmica do Cu é bastante grande em comparação com a dos outros
metais pesados. Na tabela abaixo estão indicados os percentuais gerais de abundância do Cu.
205
O conteúdo médio em Cu das diversas fases meteoríticas não é fácil dedeterminar
devido ao fato que a quantidade desse metal nos meteoritos mostra grandes flutuações, mais
pronunciadas que as da maior da maior Parte dos elementos restantes. Sem dúvida, os
resultados obtidos demonstram que na fase silicatada deve existir muito pouco cobre ou
nenhum, enquanto que o conteúdo na fase emtálica tem um valor apreciável, e a sulfatada
pode conter todavia mais. Portanto, é evidente que do ponto de vista geoquímico, o Cu é
principalmente calcófilo, não sem certa tendência siderófila. Estas conclusões se confirmam
observando a foram de apresentação do Cu na litosfera superior. Está comprovado que o Cu
mostra grande afinidade para o S e que é um dos componentes mais típicos dos minérios de
sulfetos. Por outro lado, no Fe nativo terrestre se encontra um pouco de Cu e nos metais do
grupo da Pt (nativos) chega a encontrar-se 13% de Cu, junto com alguns outros minerais, com
o qual logo aparece incorporado, no estado nativo, a uma fase metálica separada da outra
silicatada. As observações realizadas nas fundições de Cu demonstram que este metal é um
dos que possuem maior afinidade para o S de todos os que formam sulfetos. A afinidade dos
metais para o S durante a fusão dos sulfetos diminui na seguinte ordem:
Estes dados demonstram que o cobre se concentra nas rochas básicas. É provável que
o cobre possa substituir o ferro em pequenas quantidades quando falte uma reserva de
enxofre, devido a uma oxidação ou cristalização precedentes. A substituição se deve à
igualdade dos raios do Cu2+ (~0.83kx) e do Fe2+ ( 0.83kx). Em todo caso, é evidente a
existência de Cu nos silicatos e nos óxidos não tem muita importância geoquímica, enquanto
que a formação do sulfetos é um traço mais característico deste metal.
Com base no exposto anteriormente, fica demonstrado que as rochas que se formam
durante o estágio principal da cristalização não são o veículo apropriado do Cu. Este metal se
encontra com bastante regularidade formando parte dos primeiros sulfetos separados, que
pertencem principalmente à paragênese pirrotita-pentlandita. A série de Fournet e Schutz
indica que a afinidade o Cu para o S é maior que a do Ni e Fe, que são os componentes
metálicos principais dos primeiros sulfetos. Daqui se deduz que, durante a separação da fase
sulfatada de silicatada, o Cu se encontra em forma considerável no fundido dos sulfetos. A
parte do Cu que fica no fundido dos sulfetos, depois da separação desses, continua no magma
residual durante o estágio principal da cristalização e todo estágio pegmatítico, para terminar
seseparando nos jazimentos pneumatolíticos e hidrotermais. Nestas últimas formações o Cu se
encontra junto com Ag, Ge, Sn, Pb, Fe, Ni, Co e outros metais, em grande números de sulfetos
e sulfossais, cuja composição, forma de apresentação e paragênese mostram grandes
variações. São conhecidos vários arsenietos, antimonietos, selenietos e teluretos de cobre. Os
sulfetos e sulfossais de cobre mais importantes são:
207
Nesta lista estão incluídos os componentes mais importantes dos minérios de cobre. A
calcopirita, que contém 34,6% de Cu, é uma das fontes mais importantes. Além dos minerais
anteriores, os minérios de Cu contêm com freqüência minerais secundários de Cu como
produtos de alteração. Entre eles se encontram o cobre nativo, a crisocola, dioptásio e as
seguintes espécies:
Nos oceanos fica uma pequena quantidade de Cu que se mantém em nível baixo
devido à adsorção sobre os organismos marinhos ou, possivelmente, sua combinação com
esses. É provável também que chegue algo de Cu ao mar pelas emanações vulcânicas, que
com freqüência são cupríferas. A quantidade de Cu da água do mar é damasiado pequena
para que nos evaporitos marinhos se encontrem quantidades apreciáveis desse metal.
Qualquer sal cuproso que chegue ao mar se oxida em seguida a cúprico. A solubilidade do Cu
na água do mar está limitada pelo seu oxicloreto, que se precipita e se transforma
gradualmente num carbonato básico.
Os teores elevados de cobre são essencialmente apresentados por alguns tipos de
rochas, como os argilitos e os xistos. No quadro 4.14. encontram-se os teores médios deste
elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.
Quadro 4.14. Teores médios de cobre (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
209
mg/kg, enquanto que, nos solos sujeitos a agricultura, as concentrações de cobre atingem
1500 mg/kg (Kabata-Pendias & Pendias, 2001).
Geralmente o cobre é um elemento com pouca mobilidade nos solos, no entanto, os
solos ácidos com baixo teor em matéria orgânica podem ser uma exceção. Assim, podemos
verificar que a mobilidade do cobre é média sob condições de oxidação, elevada em meio
ácido, muito baixa em ambiente neutro a alcalino e redutor. A sua mobilidade é muito
dependente do carbono orgânico, sendo particularmente estável a pH entre 5 e 6. As principais
barreiras geoquímicas deste elemento são a presença de sulfuretos, o aumento de pH e a
adsorção (Adriano, 1986; Reimann & Caritat, 1998).
O cobre é um elemento essencial para todos os organismos. É tóxico, quando usado
em doses elevadas (Reimann & Caritat, 1998). Este elemento é um componente de diversas
metaloenzimas e de outras proteínas (Cox, 1995). As plantas podem acumular grandes
quantidades de cobre e quando fazem parte da cadeia alimentar do Homem podem apresentar
graves riscos para a saúde pública (Kabata-Pendias & Pendias, 2001).
O uso do cobre é conhecido na manufatura de artefatos desde as mais antigas
civilizações. Os seus principais usos são na indústria elétrica (fios elétricos), nas canalizações,
nos corantes, nas ligas, nas moedas, nos bactericidas, nos fungicidas, nos inseticidas, entre
outros. As principais fontes ambientais deste elemento são, entre outras, a exploração e
fundição de cobre, a fundição de aço, a indústria de plástico, as poeiras geogênicas, a
meteorização das rochas e o tratamento de efluentes (principalmente os provenientes da
suinicultura) (Reimann & Caritat, 1998).
210
8.10 - Fe - FERRO
Quadro 4.15. Propriedades físico-químicas do ferro (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
211
O ferro está presente em muitos silicatos e sulfuretos (Fe-Mg-Mn-V-Ti-Sc-S), em
nódulos polimetálicos do fundo marinho (Fe-Mn), entre outros. Alguns metais co-precipitam
com os óxidos de ferro nos solos sobrepostos a mineralizações de sulfuretos e nos sedimentos
de linhas de água, constituindo este material limonítico um guia útil na prospecção deste
elemento (Reimann & Caritat, 1998).
Os teores elevados de ferro são essencialmente apresentados por alguns tipos de
rochas, como os argilitos e os xistos. No quadro 4.16. encontram-se os teores médios deste
elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.
Quadro 4.16. Teores médios de ferro (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
212
8.11 - Ni - NÍQUEL
Quadro 4.17. Propriedades físico-químicas do níquel (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
O Ni pertence à família do Fe. A tabela abaixo está indicada sua abundância nas fases
meteoríticas e rochas ígneas. Ni é muito concentrado na fase metálica dos meteoritos. Sem
dúvida, sua solubilidade no ferro metálico não é ilimitada e existe uma descontinuidade na série
das soluções sólidas. Do ponto de vista geoquímica, Ni é muito siderófilo e quando no sistema
físico-químico em que se encontra existe uma fase de Fe metálico, a maior parte de Ni está
contida nesta.
213
À parte seu caráter siderófilo e calcófilo, Ni apresenta uma tendência litófila manifesta,
já que é componente freqüente de rochas silicatadas.
Existem outros sulfetos e sulfossais de Ni, muitos dos quais contêm Sb e Bi. Além da
pentlandita, nicolita e cloantila são minérios importantes de Ni. A millerita e bravoita se
encontram em sua maior parte como produtos de alteração nas regiões superficiais dos
minérios de Ni. A millerita existe também na zona de meteorização das rochas ricas em Ni. Na
zona de oxidação dos minérios de Ni se encontram vários metais como produtos da
meteorização e certas reações; entre outros, os seguintes:
214
8.11.2 - O Níquel nas rochas ígneas
À semelhança dos sulfetos magmáticos, as rochas ígneas normais do estágio principal
da cristalização magmática são em geral niquelíferas, contendo pequenas quantidades de
sulfetos comuns como pentlandita, pirrotita e pirita. Portanto, é evidente que estes minerais
constituem o veículo de uma parte do Ni contido nessas rochas. Sem dúvida, a maior parte do
Ni é incorporado aos silicatos, ocultando-se em suas estruturas. Quando não existe sulfetos, os
silicatos têm todo Ni das rochas. Esta forma de apresentação tem uma importância
considerável para a geoquímica do Ni na litosfera superior. Niquel é oxífilo na litosfera superior.
O Ni ocorre às vezes em rochas básicas e, em particular, nas ultrabásicas, formando
complexos de Fe-Ni awaruita e josefinita; crisotilo de Ni garnierita (Ni,Mg)6[(OH)6/Si4O11].H2O;
várias cloritas de Ni, como por ex, antigarita de Ni trevorita, NiFe2O4. Os silicatos de Ni estão
intimamente relacionados com os minerais correspondentes de Mg, tanto no aspecto estrutural
como geoquímico, e podem se apresentar associados a estes. Sem dúvida, todos esses
minerais são bastante raros e só garnierita com 15 - 33% de Ni tem importância como minério.
A tabela abaixo indica conteúdo de Ni nas diversas classes de rochas ígneas. Os percentuais
demonstram que o Ni está muito concentrado nas rochas ultrabásicas. Ni escasseia nas rochas
silicosas. É evidente que o Ni substitua Mg em forma nas estruturas minerais e que se
concentra deste modo.
215
8.11.3 - O ciclo do Níquel
O Ni em seus compostos naturais é sempre bivalente e de índice de coordenação 6.
Durante a meteorização, o Ni passa, em grande parte, a produtos sólidos da desintegração e
se deposita em sedimentos de hidrolisados. A diferença do Fe2+ e Mg2+ é muito estável em
solução aquosa, pelo que pode migrar a distâncias consideráveis em condições adequadas.
Durante a meteorização de rochas ultrabásicas, em particular os serpentinitos, o Ni forma
vários hidrossilicatos de composição química complicada, que consistem estruturalmente em
capas bidimensionais indefinidas. Constituem o grupo das cloritas de Ni. Ademais tem silicatos
niquelíferos, como a pimelita (Ni,Mg)3[(OH)2/Si4O10].n H2O, que estão relacioandos com
minerais argilosos e têm a mesma origem. Estes silicatos de Ni às vezes são encontrados na
turva dos solos procedentes de rochas serpentitníticas. Durante a meteorização dos silicatos
niquelíferos podem se acumular, às vezes, o Ni formando filões de silicatos de Ni puro. As
rochas serpentiníticas a conter muito Ni. Durante a meteorização laterítica de serpentinito, o Ni
tende a concentrar-se no resíduo insolúvel. O serpentinito se transforma primeiro em magnesita
por soluções meteorizantes que contêm CO2; mas a magnesita se dissolve em forma de
bicarbonato de magnésio na zona superior de meteorização e só fica mo resíduo a sílica, os
hidrolisados de Ni e Mg e óxido de Fe. Com freqüência o Ni predomina sobre Mg nos
hidrossilicatos.
Quadro 4.18. Teores médios de níquel (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
217
8.12 - P - FÓSFORO
Quadro 4.19. Propriedades físico-químicas do fósforo (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
218
ocorrem na natureza (Reimann & Caritat, 1998). No quadro 4.20. encontram-se os teores
médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.
Quadro 4.20. Teores médios de fósforo (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários
tipos de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
A mobilidade do fósforo é baixa em todo o tipo de condições: oxidação, redução, em
ambientes ácido, neutro e alcalino. No entanto, o íon fosfato é muito móvel (Reimann & Caritat,
1998).
O fósforo é um elemento essencial para todos os organismos. É tóxico em doses
elevadas, podendo em concentrações superiores a 100 mg ser letal para os humanos. Os
fertilizantes fosfatados têm um impacto biológico muito importante (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nos detergentes, nos fertilizantes, nas indústrias química e
militar, nos semi-condutores, na pirotecnia, nos inseticidas, nos herbicidas, nos fungicidas, nos
fósforos, entre outros. As principais fontes ambientais deste elemento são, entre outras, a
agricultura, as águas residuais e as poeiras geogênicas (Reimann & Caritat, 1998).
219
8.13 - PB - CHUMBO
Quadro 4.21. Propriedades físico-químicas do chumbo (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
220
Te-Pb), os depósitos do tipo Mississippi Valley (Zn-Pb-Cd); com o flúor nos minerais primários
de silicatos e com a prata em ocorrências de metais preciosos. O teor de chumbo nos solos
residuais e nos sedimentos de corrente é um bom guia de ocorrências ricas em chumbo, sendo
particularmente útil na prospecção de ocorrências com galena argentífera (Reimann & Caritat,
1998). Os teores naturais mais elevados de chumbo são essencialmente apresentados por
alguns tipos de rochas, como os argilitos e os xistos, os granitos e os granodioritos. No quadro
4.22. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de
rochas e em solos.
Quadro 4.22. Teores médios de chumbo (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em
solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
221
8.14 - Sb - ANTIMÔNIO
Quadro 4.23. Propriedades físico-químicas do antimônio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
Quadro 4.24. Teores médios de antimônio (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em
solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
A mobilidade do antimônio é baixa sob condições de oxidação, em meio ácido e neutro
a alcalino, sendo muito baixa em ambiente redutor. As principais barreiras geoquímicas deste
elemento são a presença de sulfuretos, a adsorção pelos óxidos de Fe-Mn (Reimann & Caritat,
1998).
O antimônio é considerado um elemento não essencial. É tóxico. Em teores elevados
este elemento é considerado mais tóxico que o arsênio e o chumbo. Alguns dos seus
compostos são carcinogênicos (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nas ligas, nas baterias, nas tintas, na cerâmica, nos
semicondutores, nas munições, nos retardadores de fogo, no fabrico de borracha, na indústria
farmacêutica, nos bactericidas, entre outros. As principais fontes ambientais deste elemento
são as escombreiras e a fundição de cobre-chumbo, a combustão de carvão, o gás de escape
automóvel e as lamas de efluentes (Reimann & Caritat, 1998).
223
8.15 - Si - SILÍCIO
Quadro 4.25. Propriedades físico-químicas do silício (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
O dióxido de silício (sílica), SiO2, é o constituinte mais importante da maioria das rochas
e minerais. O mineral típico do silício é o quartzo (SiO2). Outros minerais ricos em silício são os
feldspatos, as micas, entre outros silicatos. As associações naturais deste elemento são
essencialmente com o alumínio (Al-Si) (Deer et al., 1966; Reimann & Caritat, 1998).
224
Este elemento encontra-se nas rochas em geral. No quadro 4.26. encontram-se os
teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.
Quadro 4.26. Teores médios de silício (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
225
8.16 - Sn - ESTANHO
Quadro 4.27. Propriedades físico-químicas do estanho (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
226
cassiterite origina os principais jazigos de estanho, sendo muito resistente à alteração (Emsley,
1998; Reimann & Caritat, 1998).
Os teores naturais mais elevados de estanho são essencialmente apresentados por
alguns tipos de rochas, como os argilitos e os xistos. No quadro 4.28. encontram-se os teores
médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.
Quadro 4.28. Teores médios de estanho (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
227
8.17 - Zn - ZINCO
Quadro 4.29. Propriedades físico-químicas do zinco (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
Quadro 4.30. Teores médios de zinco (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
229
8.18 - Mn - MANGANÊS
231
8.18.2 - O Manganês nas rochas ígneas
Os minerais de Mn citados anteriormente se encontram raras vezes entre os
componentes primários das rochas ígneas que se formam durante o estágio principal da
cristalização. Em geral, são componentes das rochas matamórficas e secundárias. A causa
dessa forma de apresentação é que, durante a formação das rochas ígneas no estágio
principal de cristalização, o Mn não está concentra o suficiente para formar minerais
independentes. Tais minerais só se formam quando o conteúdo em Mn no fundido é
extraordinariamente grande. A maior parte do Mn que existe nas rochas ígneas está oculto na
estrutura de outros minerais petrográficos. Esta forma de apresentação é um dos traços
característicos da geoquímica do Mn. Nas rochas ígneas, o Mn acompanha o Fe. A
composição química média das diversas classes de rochas ígneas demonstra eu o conteúdo
de Mn é bastante estável e que se encontra um teor maior nas rochas ultrabásicas, como
dunitos e hornblenditos. A tabela abaixo indica os teores de Fe e Mn e as razões MnO : FeO
em alguns grupos de rochas ígneas.
Os teores incluídos nas tabelas 1 e 2 demostram que a razão MnO : FeO nas rochas
formadas durante o estágio principal da cristalização é muito estável, e que o conteúdo em Mn
nas rochas silicosas é algo menor que nas rochas sub-silicosas. Sem dúvida, o conteúdo de
Fe2+ diminui simultaneamente. No seu comportamento durante a cristalização magmática, o Mn
difere notavelmente do Cr; por ex., que se concentra muito nos primeiros cristalizados.
Ademais, existe outra diferença entre o comportamento do Fe e do Mn, que se
demonstra no grau notável de concentração do Mn nos últimos cristalizados magmáticos,
pegmatitos e rochas pneumatolíticas. Esta diferença é devido ao tamanho do íon Mn 2+, que se
incorpora com grande dificuldade tanto nos silicatos magnesianos como cálcicos. Devido à
concentração do Mn, a razão MnO : FeO aumenta muito nos pegmatitos (~1). Esta variação se
observa também da razão MnO : FeO das olivinas dos primeiros cristalizados (1:80) para a
biotita ( 1:30 a 1:15), que é o último silicato ferromagnesiano que cristaliza durante o estágio
principal de diferenciação. À causa do enriquecimento em Al, pegmatitos e rochas
pneumatolíticas contêm com frequência vários óxidos, fosfatos e silicatos ricos nesse metal.
Além dos fosfatos já citados, encontram-se nos pegmatitos graníticos a natrofilita, Na
(Mn2+,Fe2+)[PO4]; a niobita e tantalita manganesíferas, com até 16% de MnO, e outros óxidos
de Ni e Ta que contêm Mn. A espessartita se encontra nos pegmatitos aplíticos dos granitos.
As wolframitas dos filões pneumatolíticos de Sn-W são ricas em Mn. Os filões pegmatíticos
portam com frequência rodocrosita ou siderita rica em Mn (manganossiderita). Também se
encontra Mn nas águas termais e, com freqüência, se deposita em fortes termais. As soluções
hidroteramis que entram em contato com águas subterrâneas podem depositar Mn na forma de
232
dióxido. A astrofilita, (K2,Na2,Ca) (Fe2+,Mn2+)4 (Ti,Zr)[OH/Si2O7]2, com 3,5 a 12,5% de MnO
encontrada nos pegmatitos de nefelina sienitos. As rochas alcalinas em geral contém mais Mn
que as cálcio-alcalinas. A forma de apresentação do Mn nas rochas ígneas depende da sua
capacidade para substituir outros cátions na forma diadócica. O Mn se encontra nas estruturas
minerais em 3 graus de oxidação, bi, tri, tetravalentes positivos. Os raios desses íons, em
comparação a outros, são os seguintes:
O Mn se encontra nas rochas ígneas quase exlcusivamente na forma dos íons Mn2+.
Devido ao fato que o potencial redox dos fundidos naturais ser pequeno o Mn 2+ é o único grau
de oxidação desse elemento estável a temperaturas que predominam durante a cristalização
de tais fundidos. Por regra geral, o Mn3+ se apresenta raramente nas rochas ígneas, com
exceção em alguns minerais peneumatolíticas e hidrotermais, tais como a manganoandaluzita
e a viridina (Al,Fe,Mn)2 [O/SiO4], onde o Mn3+ substitui o Fe3+ e Al3+ e, em parte, o Cr3+. O
manganês tetravalente é a forma que predomina nos sedimentos e rochas sendimentares. Os
raios iônicos, anteriormente citados, demonstram que o íon Mn 2+ pode substituir
diadocicamente o Fe2+, Mg2+, Na2+ e Ca2+.
A substituição do Fe2+ pelo Mn2+ é a mais comum e de maior importância geoquímica.
Os silicatos opacos que contêm grupos de hidroxilas em suas estruturas são mais ricos em Mn.
Assim, a biotita chega a alcançar 1% de MnO e a hornblenda 0,3%. Em geral, estes minerais,
que têm química e estrutura bastante complicadas, tendem a recolher vários elementos
acessórios em suas estruturas. Outros silicatos que contêm elevados teores de Mn são
almandina (3%), turmalina (2%), piropo (0,6), augita (0,4%) e musvocita (0,1%). Sem dúvida,
na magnetita e ilmenita, que são os componentes opacos mais comuns das rochas ígneas, o
conteúdo em Mn é muito inferior, algumas vezes 1,5% de MnO. Além da diadocia Mn 2+-Fe2+
também é possível a Mn2+-Mg2+, como neste caso o grau de substituição não é completo
devido à diferença entre as dimensões dos íons ser maior que no primeiro caso. Em
conseqüência, os minerais de Mg pobres em Fe também o são em Mn. Outra possibilidade de
substituição é a diadocia Mn2+-Zn2+ que, sem dúvida, apenas é interesse mineralógico. O Mn
se incorpora na esfalerita e o conteúdo máximo se encontra nas que se formam a temperaturas
elevadas. A diadocia Mn2+ -Ca2+ é possível e acontece nas apatitas. No quadro abaixo são
mostrados os teores de Mn de apatita em várias rochas.
233
Estes percentuais demonstram que as apatitas dos pegmatitos graníticos são muito
ricas em Mn. A diferença do que ocorre com as apatitias, o Mn não pode substituir o Ca nos
feldspatos e feldspatóides. Mesmo que a afinidade do Mn para O S seja maior que a do Fe,
não é um componente muito destacado das segregações magmáticas de sulfetos. Os sulfetos
alabandita e haucrita se encontram em filões minerais e não pertencem às primeiras
associações de sulfetos que se separam dos fundidos. Ademais, a pirita e pirrotita, que são os
sulfetos de Fe mais comuns, carecem quase por completo de Mn. A falta de manganês nas
segregações de sulfetos magmáticos é devido ao fato que o sulfeto de Mn, MnS, ser mais
solúvel que o monossulfeto de Fe, FeS. Portanto, o Mn não se separa em quantidades
notáveis, apesar de sua maior afinidade para o S.
237
8.18.4 - O Manganês nas rochas metamórficas
À diferença do óxido e hidróxido férricos que se convertem facilmente que se
convertem facilmente em magnetita, Fe3O4, os óxidos e hidróxidos de Mn só formam
hausmannita, Mn3O4, em casos excepcionais. Com freqüência se produzem silicatos de Mn
devido a mudanças metamórficas, porque os óxidos superiores de Mn tem calores de formação
relativamente pequenos. De acordo com isso, decompõem-se com facilidade. O óxido
manganoso, MnO, que se forma como um produto de decomposição, é mais básico, por ex.,
que o óxido férrico Fe2O3. Portanto, reage facilmente com a sílica para formar silicatos,
sobretudo rodonita, e em presença de alumina, espessartita. Pelos mesmos motivos o
carbonato manganoso, que se decompõe com mais facilidade que o cálcico, se transforma sem
silicatos nos processos metamórficos.
238
8.19 - Au - OURO
Nos silicatos que constituem as rochas ígneas normais existem quantidades muito
pequenas, ou quase nulas de ouro. A abundância e parâmetros físicos estão listados abaixo.
Ouro é muito concentrado em FeNi. É certo que o ouro acompanha com facilidade com
elementos calcófilos na litosfera superior, por isso ser devido à diferença entre o potencial
redox das partes superficiais da Terra e dos meteoritos. Pelo que diz respeito a sua forma de
apresentação terrestre, o ouro é siderófilo, ao contrário do que acreditava a princípio , estando
concentrado no núcleo.
8.19.4 - Amostragem
Au e platinóides são encontrados em ultrabásicas, tais como peridotito, piroxenito,
harzburgito e dunito. Au, Pt e Pa são encontrados em produtos aluvionares de intemperismo de
240
rochas, tais como lateritas, serpentinitos, cromitas transportadas e outros. Au é encontrado no
ambiente em baixas concentrações (2 ppb). Existem 3 grupos importantes de depósitos de Au:
aluvionares, onde Au é liberado como metal nativo; veios em associação com quartzo; ou em
associação com sulfetos, tal como pirita.
Do ponto de vista prático, a amostragem de metais preciosos é dominada pelo fato
que, sempre, eles ocorrem como metal puro e também pelo fato que sua gravidade é
extremamente alta. Obter-se uma amostragem representativa é difícil por duas razões:
• A heterogeneidade da constituição é muito alta então o conteúdo do elemento de
interesse é muito baixo ( p.ex., um depósito de 2 ppm de outro pode ser um bom depósito).
• A heterogeneidade da distribuição é muito alta por causa de uma gravidade
específica ímpar (fenômenos de segregação são prováveis de ocorrer em cada manipulação do
material).
Devido a sua positiva na tabela periódica, metais nobres têm uma tendência a formar
corpos covalentes. Ouro é difícil de oxidar. É oxidado por água régia facilmente. Depois de
atacado com água régia, Au forma complexos solúveis com Cl - . Este método permite separar
Au dos outros metais nobres. Au forma complexos estáveis com Cl-, Br-, NH3, CN- e SCN-.
Muito tem sido feito para desenvolver procedimentos analíticos para metais nobres que
usam decomposição ácida de pequenas amostras, todas falharam por diversas razões:
amostra pequena não pode ser representativa; o metal precioso não é propriamente liberado
para ser efetivamente digestido por ácidos; quando liberado, grande parte foi perdida durante o
stress mecânico gerado pelo procedimento de amostragem.
Modo de ocorrência
Au ocorre numa ampla variedade de ambientes, variando de rochas vulcânicas e
brechas a skarns e veios hidrotermais, que podem ou não ser diretamente associados à
241
intrusões e de disseminação em sulfetos massivos a depósitos de placers e paleoplacers.
Veios dominados por Au nativo e quartzo ocorrem em rochas vulcânicas matamorfisadas e
fortemente deformadas antigas ( notavelmente greenstone belts précambrianos). Veios
dominados por teluretos e Au e Ag com quartzo ocorrem neste ambiente e em rochas
vulcânicas jovens (Terciário) do cinturão circum-Pacífico.
Exemplos
Mineralização de veio Au-quartzo inclui depósitos como Yellocoknife (NWT, Canadá),
Mother Lode (Califórnia, USA), e a mina Homestake (S. Dakota, USA); teluretos de Au e Ag
ocorrem em rochas pré-cambrianas em Kalgoorlie (W. Austrália), Kierkland Lake e Porcupine
(Canadá); teluretos de Au e Ag em vulcânicas terciárias em Fiji Filipinas, Japão e Califórnia-
Colorado-Nevada-Novo México (USA). Depósitos de placers incluem exemplos na Califórnia e
Alaska (USA), Urais (Rússia) e Otago (Nova Zelândia).
Modo de ocorrência
Os minérios de Au e U ocorrem disseminados em camadas e lentes de conglomerado
grosseiro que são partes de seqüências arenosas. Geralmente, os congloremados são de
seixos de quartzo e parecem ser de origem fluvial ou deltaica de água rasa. Os maiores
exemplos são pré-cambrianos em idade.
Exemplos
Os dois exemplos mais importantes são witwatersrand, África do sul ( depósito maior
de Au e U) e Elliot Lake de (Blind Rirer); Ontário, Canadá (depósito maior de U); Jacobina,
Brasil, é um depósito de Au menos importante.
244
Associações minerais e texturas
Os minerais de minério de Au e U são geralmente de grão muito fino (comumente não
visível exceto ao microscópio). Eles comumente ocorrem intersticialmente aos fragmentos
conglomeráticos com Au como grãos ou preenchimentos dos espaços porosos, embora eles
ocorram ocasionalmente como vênulos finos. Uraninita, thucolita e brannerita ocorrem como
grãos detríticos e em alguns casos como folhas coloformes ou como vênulos, e Au e U-
mostram uma forte tendência de ocorrerem juntos. Os miridwm nos minérios de Witwatersrard
é parcialmente intercrescido com Au. Pirita encontrada em concentrações de 12-20% em
volume nos conglomerados tem sido descrita como sendo de 3 tipos texturais:
*Halogênica: tendo contornos arredondados e interior homogêneo.
*Autigênica concrecionada: tendo uma estrutura composta de fragmentos fracamente
agregados.
*Autigênico reconstituído
Concentrações de minério são usualmente maiores onde os conglomerados são mais
espessos e, nos minérios de Witwatersrand, o conteúdo de Ag e Au ( que varia de ~5 a 16
wt%) mostra sistemática variação, decréscimo com a profundidade em uma única lente do
minério.
Altas concentrações de Au também ocorrem em fendas carbonáceas muito finas e
muito do Au nos conglomerados pode representar retrabalhamento de tal material.
245
8.20 - Ti - TITÂNIO
Um dos elementos que está mais relacionado com o Si no Sistema Periódico é o Ti,
pertencente ao grupo dos oligoelementos sendo o mais importante. O conteúdo de Ti nas
rochas ígneas é de 0,44%, que vem a ser a quinta parte do conteúdo de Mg. A fase metálica
dos meteoritos contém pequena quantidade de Ti: o teor na fase silicatada é 18 vezes que na
fase metálica. O conteúdo nos eucritos, que são silicatos meteoríticos de composição básica, é
doze vezes maior do que nos condritos normais.
Desse ponto de vista, eucritos e condritos se comportam como os gabros e rochas
ultrabásicas terrestres. A razão de abundância atômica do Ti nos meteoritos e também na
atmosfera solar é muito parecido. Nos espectros da maioria das estrelas mais frias se
encontram bandas de óxido de Ti. É muito oxífilo na litosfera superior.
249
8.21 - V - VANÁDIO
250
nos minérios de ferro titanífero, que representam os primeiros óxidos separados. À semelhança
do Ti e P, V tende a se concentrar nas rochas básicas, em particular nas segregações básicas
dos magmas gabróicos. O conteúdo máximo em V das rochas ígneas se encontra nas que se
forjam durante as fases iniciais do estágio principal da cristalização.
O V não forma minerais independentes nas rochas ígneas, estando oculto nas
estruturas de outros minerais com uma única exceção é ardenita
Mn4(MnAl5)[(OH2/(V,As)O4.(SiO4)5].2H2O, que é um termo raso do grupo do epidotozoisita.
Nos minerais das rochas ígneas existem íons de V com 3,4 e 5 cargas positivas. O V
bivalente é um agente oxidante forte. O tamanho do íon V 3+ é parecido com o do Fe3+, mas não
é muito provável fique a substituição diadócica ocorra neste caso. Isto é divido a que V 3+ é um
agente redutor bastante forte, que ao encontrar-se na presença do Fe3+ o reduziria a ferroso.
Isto se deduz também dos potenciais redox dos íons em questão. Ao contrário, V4+ é mais
abundante nas rochas ígneas e substitui com facilidade o Ti 4+, V5+ se encontra nos sedimentos
e nas rochas sedimentares, cujo potencial redox é maior que das rochas ígneas. Substitui Al de
preferência nos minerais argilosos.
Titanomagnetitas são ricas em V com cerca de 41%. À parte da titanomagnetita, outros
minerais de Ti contêm também V em suas estruturas evidentemente na forma V 4+ que substitui
o Ti4+, tais como titanita e rutilo. Na apatita o V5+ pode substituir P5+, o que explica a
concentração de V nos minérios de Fe ricos em apatita. Feldspatos carecem quase por
completo de V. Ao contrário, piroxênios, anfibólios e micas contêm quase sempre algum V na
forma de íons V4+ e V5+, que substituem Fe3+ e Al3+. Augita e hornblenda contêm até 680g/ton,
contra até 3.080g/ton na flogopita e 1.000 e 640 g/ton nas biotitas e muscovitas de granito,
respectivamente.
À semelhança do P e As, V5+ tem uma tendência pronunciada a formar tetraedros de
[VO4] nas estruturas minerais. Estes íons complexos são semelhantes aos tetraedros de [PO 4]
e [AsO4].
Nas associações hidrotermais o V se encontra como componente acessório das
uraninitas nos filões de Ni-Co-U, com um conteúdo máximo de 500g/ton.
252
8.21.4 - O Vanádio nas rochas metamórficas
O vanádio se mobiliza, em parte, durante os processos metamórficos. Sem dúvida, o
caráter original das rochas metamórficas se segue refletindo com claridade no seu conteúdo
em V. A diferença no conteúdo em V dos orto e paragnaisses pode servir para determinara
origem ígnea ou sedimentar das rochas.
253
254
CAPÍTULO 9 - DEFINIÇÕES E CONCEITOS ELEMENTARES
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As imagens abaixo mostram alguns exemplos da evolução mineralógica e composicional
com base no diagrama de fase binária.
293
ANEXO
ANEXO
294
2° EXEMPLO
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393
CAPÍTULO 15 - SÉRIES MAGMÁTICAS
15.1 - INTRODUÇÃO
394
Os fundamentos da presente revisão constam em Wilson (1989), Girod et al. (1978) e
Lameyre & Bowden (1980), tomando como base a classificação sugerida pela Comissão
Internacional de Nomenclatura de Rochas Ígneas (Le Maitre, 2002). O termo alcalino é utilizado
com base no diagrama SiO2 versus (Na2O + K2O) a exemplo do utilizado por Le Maitre (2002) e
por Girod (1969, p.21) com base em Irvine & Baragar (1971), MacDonald & Katsura (1964),
Kuno (1968) e outros.
De acordo com este critério as rochas básicas e intermediárias alcalinas são as situadas
acima da linha que separa os campos das séries saturadas e supersaturadas em sílica do
diagrama TAS, sendo as demais ditas subalcalinas. As alcalinas são separadas em dois campos:
alcalinas subsaturadas em sílica ou fortemente alcalinas e as alcalinas saturadas em sílica ou
moderadamente alcalinas, conforme utilizado por Winchester & Floyd (1977) e Wilson (1989). É
importante assinalar que o termo peralcalino, similar a agpaítico, refere-se a relação molar de
(Na2O + K2O) com Al2O3, não apresentando portanto relação direta com o termo alcalino.
395
Da mesma forma a classificação de Peacock (1931) envolve a variação de (Na 2O +
K2O) versus CaO, ao longo da diferenciação, sendo esta, medida pelo parâmetro SiO 2, portanto
o termo alcalino de Peacock não corresponde exatamente ao uso preconizado nesta revisão.
Figura 2 - Diagrama A/NK versus A/CNK sugerido por Maniar & Piccoli (1989) para classificar segundo Shand.
396
397
15.2 - ORIGEM - CLASSIFICAÇÕES QUÍMICAS
Segundo (Chapell & White 1974)
M – SiO2 (56 – 70%), baixo K/Na, A/CNK, Rb, Th, U, LIL e HFS, alto Ca e Sr
Zonas de subducção ou intraplaca oceânico
I - SiO2 (53 – 76%), baixo K/Na e A/CNK, alto Ca, Sr (máficas) e LIL/HFS, moderado Rb,
Th e U.
Zonas de subducção – infracrustal
S - SiO2 (65 – 74%), alto K/Na, A/CNK, Rb, Th e U, variável LIL e HFS, baixo Ca e Sr
colisionais
Supracrustal
A – alta sílica (até 77%), alto Na, Fe/Mg, Ga/Al, ETR, Zr, F e Cl, baixo Ca, Sr e
LIL/HFS
Rifts intracontinentais, cratons estáveis, e ambientes pós-colisionais
398
Figura 3 - Diagrama de cálcio-alcalinidade versus índice de diferenciação (Brown 1981) apresentando os campos (A)
das rochas vulcânicas de arcos magmáticos, (B) dos granitóides metaluminosos de associações alcalinas (SN) trend das rochas
do batólito Sierra Nevada, (NG) trend das rochas do arco continntal maduro da Nova Guiné. A linha horizontal segmentada,
permite a identificação dos padrões ilustrados com a classificação de Peacock (1931), (a) alcalino, (ac) álcali-cálcico, (ca) cálcio-
alcalino, (c) cálcico.
Figura 4 - Diagrama sugerido pela IUGS (Le Maitre 1989) para discriminação das séries subalcalinas (que plotam nos
campos B e O do TAS) com base na sugestão de Peccerillo & Taylor (1976) que se limitava à rochas cálcio-alcalinas com até 63%
de SiO2 (linha pontilhada).
399
Le Maitre (2002) expandiu a utilização desta subdivisão para as demais séries
subalcalinas, modificando o critério desses autores. O enquadramento de uma associação de
rochas ígneas em séries magmáticas depende em grande parte da presença de uma gama de
rochas com graus de diferenciação diversos.
Quando a composição é restrita em termos de diferenciação, a identificação de padrões
de diferenciação (trends) se torna difícil nos diagramas, e critérios auxiliares devem ser buscados
entre os conteúdos de elementos traço, composição das fases minerais e outros.
Figura 5 - Principais séries magmáticas e produtos de fusão crustal lançados no diagrama TAS.
400
CAPÍTULO 16 - SÉRIES SUBALCALINAS
Komatiítos são rochas vulcânicas com menos de 53% em peso de SiO 2, MgO > 18%
em peso, TiO2 < 1% em peso (Le Maitre, 2002); boninitos são as rochas intermediárias
correspondentes. Supostamente, esta série, dita komatiítica, pode evoluir até rochas ricas em
sílica provavelmente dacitos ou seus correspondentes intrusivos, tonalitos e trondhjemitos,
cujas características devem ser muito próximas de rochas toleíticas. As séries komatiíticas são
em geral vinculadas temporalmente ao Arqueano.
401
16.3 - SÉRIE CÁLCIO-ALCALINA
Figura 6 - Principais séries magmáticas e produtos de fusão crustal lançados no diagrama QAP.
Fig. 6 - - Principais séries magmáticas e produtos de fusão crustal lançados no diagrama
Mineralogicamente, as séries cálcio-alcalinas baixo-K, mostram rochas basálticas com
QAP.
fenocristais de plagioclásio, olivina, augita, óxido de Fe-Ti, atingindo importância a pigeonita
em basaltos mais ricos em sílica. Nas séries cálcio-alcalinas mais potássicas aumenta a
abundância de olivina, augita, ortopiroxênio, hornblenda e óxidos de Fe e Ti. Biotita e sanidina
podem ocorrer nos termos intermediários.
No diagrama TAS ocupam os campos das rochas subalcalinas (basaltos-andesitos-
dacitos-riolitos). O caráter fortemente aluminoso dos basaltos cálcio-alcalinos (Al2O3 171) foi
já referido. No diagrama de Peacock as rochas da série cálcio-alcalina plotam no campo
correspondente, evoluindo para álcali-cálcicas com o aumento de K. Elementos como Sr, Ba,
Rb e Terras Raras leves correlacionam-se positivamente com o K, mostrando enriquecimento da
série baixo para a alto-K. Já elementos de elevado potencial iônico como Ti, P, Zr, Nb e Terras
raras pesadas, apesar de mostrarem tendência a leve enriquecimento, mantém valores abaixo
dos encontrados em rochas de afinidade alcalina. Sua composição normativa indica a
supersaturação em sílica. A presença de ortopiroxênio entre a mineralogia modal levou alguns
autores a denominar esta série de série dos basaltos com hiperstênio.
Essas séries caracterizam o magmatismo de arco, e a evolução do mesmo,
refletida no aumento do conteúdo de K. São também descritas, no que se refere aos termos
graníticos, em ambientes pós-colisionais (Harris et al. 1986, Liégeois 1998).
402
CAPÍTULO 17 - SÉRIES ALCALINAS
Esta série que, por diferenciação evolui para termos supersaturados, localiza-se, em
termos de composição modal nos campos de gabros, sienitos, quartzo sienitos, feldspato
alcalino granitos e granitos do diagrama QAPF. Piroxênios e anfibólios sódicos, titano-augita,
ferro-hedenbergita são minerais ferromagnesianos típicos desta série. No diagrama TAS ocupa
o campo das rochas saturadas em sílica (traquibasaltos, traquiandesitos basálticos,
traquiandesitos, traquitos (qz < 20%), traquidacitos ( qz > 20%) e riolitos). Quando cumpre a
condição de apresentar valores de (Na2O + 2 K2O), é considerada sódica e seus termos
vulcânicos recebem os nomes de hawaiitos, mugearitos, benmoreítos e riolitos (Le Maitre
2002). Essas rochas são em geral metaluminosas ou peralcalinas. Embora exista uma
tendência de enriquecimento dos elementos de alto potencial iônico, especialmente nos termos
peralcalinos, são frequentes padrões composicionais de elementos traços similares aos
encontrados nas demais séries. Os granitos desta série são em geral metaluminosos (Nardi
1991) ocorrendo com grande abundância principalmente em ambientes pós-colisionais,
anorogênicos ou em arco continental maturo.
403
17.3 - SÉRIE SHOSHONÍTICA OU ALCALINA POTÁSSICA
405
CAPÍTULO 18 - SÉRIES DE CRISTALIZAÇÃO FRACIONADA
406
Por outro lado, existem determinadas rochas basálticas que contêm xenólitos de
rochas ultramáficas cuja composição mineralógica é caracterizada por alta abundância de
olivina (Fig. 4.2). Estes xenólitos, chamados popularmente como nódulos, são considerados
fragmentos do manto capturados pelo magma basáltico. As rochas ultramáficas do manto têm
peso específico maior do que o magma e portanto os xenólitos, sobretudo de tamanho grande,
tendem a afundar rapidamente no magma, não chegando até a superfície. A presença destes
xenólitos dentro de lava basáltica implica na ascensão rápida do magma, não havendo tempo
para afundar os xenólitos. Considera-se que tal tipo de basalto possui sua composição próxima
à do magma primário.
407
18.1 - MAGMA PRIMÁRIO BASÁLTICO
do magma.
Com a redução da temperatura magmática, cristaliza-se anfibólio no lugar de
clinopiroxênio. O anfibólio comumente encontrado nas rochas andesíticas é hornblenda
(Ca(Mg,Fe)5Si8O22(OH)2, etc.; a composição de hornblenda é muito complexa), com teor de
ferro superior ao de magnésio. O mineral félsico que se cristaliza continua sendo plagioclásio,
mas, sua composição se torna mais sódica (andesina, An30-50). O teor de SiO2 neste estágio
está na faixa de 52~66% (composição intermediária) e a rocha vulcânica correspondente é
andesito.
410
Em estágio mais avançado, inicia-se a cristalização de biotita, chamada popularmente
de mica preta, como mineral máfico principal. A biotita comumente encontrada nas rochas
dacíticas e riolíticas é annita (K(Mg,Fe)3Al2Si8(OH)4, etc.; a composição de biotita é complexa),
com teor de ferro muito superior ao de magnésio. Paralelamente, cristalizam-se os minerais
félsicos, tais como feldspato potássico (KalSi3O8) e quartzo (SiO2), com eventual presença de
muscovita (mica branca de alumínio). O plagioclásio cristalizado neste estágio é sódico
(oligoclásio, An10-30).
411
Entretanto, no estágio final, cristalizam-se feldspato potássico, quartzo e plagioclásio
sódico (andesina, An10-30). O teor de SiO2 neste estágio é alto, sendo acima de 66%
(composição ácida). As rochas ácidas, tais como granito, granodiorito, riolito e dacito são
específicas do Planeta Terra, sendo parte constituinte da crosta continental.
412
da olivina com o melt residual já foi comprovada através das observações de textura de
englobamento, ou seja, borda de reação em lâminas delgadas e dos ensaios físicos no
laboratório.
Entretanto, a mesma reação entre outros minerais máficos ainda não foi confirmada. A
série contínua é observada na cristalização de plagioclásio. Durante o resfriamento magmático,
este mineral é cristalizado em uma ampla faixa de estágios, variando sua composição química,
de cálcica para sódica, formando textura de zoneamento (Fig. 6). Isto é, a parte central dos
cristais de plagioclásio é relativamente cálcica, e a borda é sódica, com passagem geralmente
gradativa. Este fenômeno está de acordo com o princípio de sistema de solução sólida (Fig. 7).
413
Desta forma, Bowen tentou explicar as variedades químicas de rochas ígneas
presentes no mundo inteiro por meio de um único processo de evolução magmática: por meio
da cristalização fracionada, o magma primário basáltico (gabróico) evolui-se para andesítico
(diorítico), dacítico (granodiorítico) e riolítico (granítico), aumentando SiO 2, Na2O, K2O e
diminuindo MgO, FeO e CaO. De fato, nem todas as rochas ígneas seguem ao modelo de
Bowen. Mesmo assim, o presente modelo é importante para interpretar a variação química das
rochas eruptivas de vulcões da região de cordilheiras e arcos de ilhas. Hoje em dia, as rochas
ígneas com composição de acordo com o modelo de Bowen são classificadas como uma das
séries principais de evoluções magmáticas, denominada de série Ca-alcalina.
No magma residual, junto com os elementos incompatíveis, ocorre a concentração de
materiais voláteis, tais como H2O, H2S, CO2, B, Cl, F, etc. Com o auxílio das atividades
físicoquímicas dos materiais voláteis, sobretudo de H2O, o magma aumenta fluidez e pode
manter o estado líquido mesmo em baixa temperatura como 500°C. Tal magma é denominado
magma pegmatítico. No caso do magma comum, ortomagma, a temperatura mínima é de cerca
de 600°C. Certos tipos de pegmatito demonstram textura de complexa interdigitação entre
quartzo e feldspato potássico (microclina), denominada textura gráfica (Fig. 8). Essa textura é
formada a partir da cristalização dos dois minerais no ponto eutético (Fig. 9). O magma
pegmatítico contem, em alta concentração, vários elementos incompatíveis tais como U, Th, Zr,
REE (elementos terras raras), Be, Bi, Li, etc., formando eventualmente depósitos minerais. O
resfriamento de magma pegmatítico forma a rocha constituída por cristais muito grandes, de
escala centimétrica a decimétrica, denominada pegmatito. Os principais minerais constituintes
são feldspato potássico (microclina, KalSi3O8), quartzo (SiO2), plagioclásio altamente sódico
(albita, An0-10) e pequena quantidade de biotita e muscovita. O índice de cor é geralmente
inferior a 5, freqüentemente próximo ao zero, sendo altamente leucocrático. O aplito também é
uma rocha originada de magma granítico residual, com granulometria de 1 a 3 mm, composta
de feldspato potássico e outros minerais, ocorrendo na forma de diques de largura decimétrica.
Certos livros de geotecnia opinam que os minerais cristalizados em estágio inicial da
série de Bowen são frágeis à alteração intempérica e os em estágio final são mais resistentes,
tentando relacionar a fragilidade intempérica com a temperatura de cristalização. De fato, a
olivina é frágil e quartzo é resistente. Entretanto, esta opinião não é baseada nas pesquisas
petrológicas e mineralógicas. Como por exemplo, a biotita se cristaliza no estágio posterior ao
da augita, porém, é muito mais frágil. O zircão que se cristaliza em temperatura muito alta é um
dos mais resistentes, sendo em contrapartida, a nefelina que se cristaliza no último estágio da
série alcalina é a mais frágil.
414
A resistência depende da estrutura cristalina e composição química de cada mineral, e
não, da temperatura de cristalização.
415
18.3 - SÉRIE ALCALINA E NÃO-ALCALINA
O modelo de Bowen é baseado nos seguintes três princípios: 1) único magma primário
de composição basáltica; 2) evolução química por única série de cristalização fracionada; 3)
série descontínua por fusão incongruente (Tabela abaixo). Bowen considerou que todas as
variedades químicas de rochas ígneas do mundo, com apenas poucas exceções, são formadas
de acordo com o modelo dele, inclusive imenso volume de rochas graníticas das regiões
continentais.
Certamente, um grande número de ocorrências mundiais de rochas ígneas presente
nas regiões continentais estão concordantes com o modelo de Bowen, isto é, da série Ca-
alcalina. Entretanto, de fato, existem certas rochas ígneas cuja composição química não está
de acordo com a teoria de Bowen. Este fenômeno é devido principalmente à existência de: 1)
mais de um tipo químico de magma primário; 2) mais de um processo de cristalização
fracionada. De fato, existem vários tipos de magmas primários e diversas séries de
cristalização fracionada.
Uma contestação tradicional ao modelo de Bowen foi de Kennedy (1933), que propôs a
existência de dois tipos de magmas primários basálticos: 1) magma primário toleítico ou
magma primário não alcalino; 2) magma primário álcali olivina basáltico ou magma primário
alcalino.
A expressão "toleítica" utilizada por Kennedy corresponde exclusivamente à
composição química de caráter não alcalino. Ele distinguiu quimicamente o magma primário
basáltico não alcalino do mesmo alcalino. A diferença química entre os dois é pequena (Tabela
4.1. A, B), porém, a direção da evolução magmática por meio da cristalização fracionada de
cada um é muito diferente (Tabela 1.E, K). Este fato é devido à grande estabilidade
termodinâmica de feldspatos e olivina magnesiana.
416
Feldspatos, plagioclásio e feldspato
alcalino, são os minerais encontrados em quase
todas as rochas ígneas, sendo os minerais
fisico-quimicamente mais estáveis durante o
processo de cristalização magmática na
profundidade correspondente à crosta terrestre.
Os feldspatos formam um sistema de
soluçãosólida com três principais componentes
terminais (Fig. 10): feldspato potássico
(KalSi3O8; sanidina, ortoclásio e microclina),
albita (NaAlSi3O8; albita de alta temperatura e
de baixa temperatura) e anortita (CaAl2Si2O6).
A albita e a anortita formam a solução-
sólida contínua, denominada de plagioclásio.
Em alta temperatura, o feldspato potássico e a
albita formam a solução-sólida de uma fase
contínua, denominada de feldspato alcalino, porém, em baixa temperatura, não se misturam
bem, separando-se em duas fases, isto é, feldspato potássico e plagioclásio sódico.
417
Durante o resfriamento na crosta, o magma que contem K2O, Na2O, CaO, Al2O3 e SiO2
cristaliza preferencialmente os feldspatos. Por outro lado, olivina magnesiana é o mineral
encontrado somente em rochas ígneas máficas e ultramáficas, sendo o mineral máfico fisico-
quimicamente mais estável. Portanto, o magma que contem MgO e SiO2 cristaliza
preferencialmente a olivina. Desta forma, os primeiros minerais a serem cristalizados a partir do
magma primário basáltico são olivina magnesiana e plagioclásio cálcico.
A composição química dos magmas primários é próxima à mistura de olivina
magnesiana e plagioclásio cálcico. Sob o ponto de vista de equilíbrio de K2O, Na2O e CaO, v.s.
SiO2, existem os magmas que possuem excesso de SiO2 para formar a olivina magnesiana e o
plagioclásio cálcico, denominados de magmas saturados em sílica. Por outro lado, existem
também os que têm SiO2 insuficiente, ou seja, possuem excesso de álcalis, chamados de
magmas subsaturados em sílica. O primeiro tipo corresponde ao magma primário toleítico (não
alcalino) e o segundo tipo, ao magma primário álcali olivina basáltico (alcalino).
Devido à sua alta densidade, a olivina e o plagioclásio cristalizados a partir dos
magmas primários afundam-se na base da câmara magmática, sendo retirados do sistema.
Este fenômeno é chamado de cristalização fracionada. Por causa do efeito relativo, o líquido
residual do magma toleítico (não alcalino) se torna mais saturado em sílica, e o magma álcali
olivina basáltico (alcalino) se torna mais subsaturado. Isto é, através da cristalização
fracionada, a olivina magnesiana e plagioclásio cálcico. Portanto, um magma saturado em
sílica não se fraciona em uma composição subsaturada e, um magma subsaturado não se
fraciona em uma composição saturada (Fig. 4.11; 4.12). Isto é, os magmas saturados e
subsaturados são divididos em dois campos e a divisão destes é denominada barreira térmica.
Confirma-se que a barreira térmica é originada da estabilidade termodinâmica de feldspatos.
Durante o resfriamento do magma primário toleítico de sentido químico (não alcalino),
CaO, MgO e FeO são utilizados para cristalizar olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio,
hornblenda e plagioclásio cálcico. No estágio final, K2O e Na2O são consumidos para cristalizar
feldspatos alcalinos, plagioclásio sódico e biotita. Finalmente, a SiO2 excedente é cristalizada
na forma de quartzo, ou outros minerais de sílica, tais como calcedônia e opala. Desta forma,
as rochas ígneas relacionadas a cristalização fracionada do magma primário toleítico formam
uma seqüência de basalto (gabro) - andesito (diorito) - dacito (granodiorito) - riolito (granito),
denominada de séries não alcalinas. A série de Bowen é uma das séries não alcalinas. A
maioria das rochas ígneas presentes no mundo pertence às séries não alcalinas. Rochas
graníticas da região continental basálticas do fundo do oceano, vulcânicas do arco de ilhas,
etc., são exemplos típicos.
418
419
Por outro lado, no estágio final da cristalização fracionada do magma primário álcali
olivina basáltico (alcalino) evolui-se para enriquecer em K2O e Na2O relativo a SiO2. No estágio
final, a maioria de SiO2 é consumida para formar feldspatos e minerais máficos. Desta forma, o
líquido final se torna rico em K2O e Na2O e pobre em SiO2. Estes componentes são
cristalizados na forma de feldspatóides, representados por nefelina.
No século XIX, o termo feldspatóide era utilizado para representar quaisquer minerais
félsicos quimicamente similares a feldspato, sendo compostos de sílica, álcalis e alumina,
porém, cristalograficamente diferentes. Entretanto, no sentido da petrologia moderna, os
feldspatóides correspondem exclusivamente aos minerais félsicos que contêm alto teor de
álcalis (K2O e Na2O) e baixo teor de SiO2 em relação a feldspatos, tais como nefelina
(NaAlSiO4), leucita (KAlSi2O6) e kaliofilita (KAlSiO4). Neste sentido, a petalita não deve ser
considerada como um feldspatóides. Os feldspatóides são minerais raros, caracterizantes de
rochas alcalinas típicas.
As rochas ígneas originadas da cristalização fracionada do magma primário álcali
olivina basáltico formam a seqüência de álcali olivina basalto (álcali olivina gabro) - tefrito
(nefelina monzonito) - fonolito (nefelina sienito), ou de álcali olivina basalto (álcali olivina gabro)
- havaiito (monzodiorito) - mugeaurito (monzonito) - traquito (álcali sienito). Essas seqüências
são denominadas da série alcalina (Tabela 4). O diagrama SiO2 v.s. K2O+Na2O em
porcentagem de peso demonstra a diferença química das rochas das séries alcalina e não
alcalina. Normalmente, as rochas da séries não alcalinas e as da série alcalina ocorrem em
regiões tecnicamente diferentes, formando províncias petrográficas individuais. Nas ilhas
oceânicas, encontram-se álcali olivina basalto na forma de lavas. Na região litorânea dos
Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, encontram-se rochas nefelina sieníticas na forma de
stocks. A intrusão destes corpos sieníticos ocorreu na época da formação de rifte continental,
relacionada à separação do Supercontinente Pangea no início do Cretáceo.
Conforme a explicação anterior, os feldspatos são minerais termodinamicamente mais
estáveis em rochas ígneas. Durante o resfriamento de magmas basálticos, este mineral se
cristaliza prioritariamente, consumindo sílica, álcalis e alumina. Portanto, a evolução magmática
por meio da cristalização fracionada ocorre sempre para que a composição química do magma
residual se afaste da composição dos feldspatos. Desta forma, minerais de sílica, como
quartzo, e feldspatóides, como nefelina, não podem ocorrer dentro da mesma rocha ígnea em
equilíbrio.
Os feldspatos possuem a composição intermediária entre sílica e feldspatóides, e
portanto, podem coexistir tanto com minerais de sílica quanto com feldspatóides. Para um
magma de composição NaAlSi3O8, a cristalização de albita (um feldspato; NaAlSi3O8) é mais
420
estável do que a de quartzo (SiO2) e nefelina (um feldspatóide; NaAlSiO4) separados (Fig. 13).
Isto é, a barreira térmica de feldspatos separa as composições saturada e subsaturada em
sílica. Devido à mesma razão, os feldspatóides e ortopiroxênio são incompatíveis. Isto é, os as
rochas originadas dos magmas da série alcalina não possuem minerais de sílica e
ortopiroxênio, como quartzo e hiperstênio.
Por outro lado, a cristalização de enstatita (um ortopiroxênio; Mg 2Si2O6) é mais estável
do que forsterita (olivina magnesiana; Mg2SiO4) e quartzo separados, portanto, os minerais de
sílica e olivina magnesiana também são incompatíveis em equilíbrio. A incompatibilidade
termodinâmica entre quartzo e olivina magnesiana não é devida à barreira térmica, mas sim, à
fusão incongruente. Entretanto, a olivina de ferro (fayalita; Fe2SiO4) é compatível com quartzo.
Desta forma, a enstatita subdivide a composição saturada em duas subcategorias:
supersaturada (rica em sílica, lado de quartzo); saturada (pobre em sílica, lado de olivina).
Yoder & Tilly (1962) visualizou a relação entre a composição química das rochas subsaturadas,
saturadas e supersaturadas, utilizando o diagrama tetraédrico de diopsídio (di) - olivina (ol) –
nefelina (ne) - quartzo (Q), denominado de sistema simplificado de magmas basálticos (Fig.
3.23). Os teores relativos dos minerais citados neste diagrama não são da moda (quantidade
volumétrica dos minerais constituintes reais), mas sim, da norma CIPW. A norma é a
composição mineralógica hipotética das rochas ígneas, que é calculada a partir de suas compo
421
sições químicas completas segundo a fórmula matemática definida por Cross, Iddings, Pirsson
e Washington (1902).
Neste diagrama, tanto o magma primário toleítico (não alcalino) quanto álcali olivina
basáltico situam-se na proximidade do plano triangular olivina (ol) - plagioclásio (ab+an) -
diopsídio (di). A olivina (ol), o plagioclásio (ab+an) e o diopsídio (di) apresentados neste
diagrama correspondem respectivamente às somas normativas de forsterita (fo) e fayalita (fa),
de albita (ab) e anortita (an), e de diopsídio (di) e hedenbergita (hd), representando
respectivamente olivina magnesiana, plagioclásio cálcico e clinopiroxênio. O hiperstênio (hy),
situado na linha entre a olivina e o quartzo, corresponde à soma normativa de enstatita (en) e
ferrossilita (fs). Este componente representa ortopiroxênios. O quartzo (Q) e a nefelina (ne)
representam respectivamente todos os minerais de sílica e feldspatóides.
O magma primário toleítico, não alcalino, situa-se na proximidade do plano triangular
acima citado, dentro do tetraedro hiperstênio (hy) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio
(di), e o magma primário álcali olivina basáltico situa-se também na proximidade do plano
triangular, porém, dentro do tetraedro nefelina (ne) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) -
diopsídio (di). Os três minerais, olivina magnesiana, plagioclásio e clinopiroxênio, que
constituem o divisor central, são os primeiros a serem cristalizados a partir dos magmas
primários basálticos. Através da retirada desses minerais por meio da cristalização fracionada,
os magmas residuais se evoluem em direções opostas afastando-se do plano triangular, isto é,
este triângulo funciona como barreira térmica. Os magmas subsaturados em sílica, tal como de
álcali olivina basalto, se encaixam no tetraedro (esquerdo) composto de nefelina (ne),
plagioclásio (ab+an), olivina (ol) e diopsídio (di), e os magmas saturados em sílica, tais como
os toleíticos, ou seja, não alcalino, no tetraedro (direito) composto de quartzo (Q), plagioclásio
(ab+an), olivina (ol) e diopsídio (di). Esta divisão é baseada na incompatibilidade entre quartzo
e nefelina. Por outro lado, com base na incompatibilidade entre quartzo e olivina magnesiana, o
segundo tetraedro (Q - ab+an - ol - ne) é subdividido pelo plano triangular composto de
hiperstênio (hy), plagioclásio (ab+an) e diopsídio (di).
Desta forma, Yoder & Tilly (1962) dividiram composições químicas de magmas em três
domínios tetraédricos: 1) domínio subsaturado em sílica, nefelina (ne) - plagioclásio (ab+an) -
olivina (ol) - diopsídio (di), ou seja, com nefelina normativa; 2) domínio saturado em sílica,
hiperstênio (hy) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio (di), ou seja, com olivina e
hiperstênio normativos; 3) domínio supersaturado em sílica, quartzo (Q) - hiperstênio (hy) -
plagioclásio (ab+an) - diopsídio (di), ou seja, com quartzo normativo.
Rochas da série alcalina, tais como álcali olivina basalto, são, a princípio, projetadas no
domínio subsaturado, rochas basálticas das séries não alcalinas no domínio saturado, e rochas
422
félsicas da séries não alcalinas no domínio supersaturado. O magma álcali olivina basáltico
possui nefelina normativa, entretanto, nem todas as rochas com nefelina normativa contém
este mineral como constituinte real (modal). Normalmente, o estado termodinâmico de rochas
ígneas, sobretudo as de granulometria grossa, está próximo ao equilíbrio físico-químico, porém,
não perfeitamente. Portanto, apesar de possuir a potencialidade química de cristalizar
feldspatóides, certas rochas que se situam na proximidade da barreira térmica não contém
nefelina modal. A nefelina modal aparece nas rochas da série alcalina mais fracionadas.
Devido à barreira térmica, os magmas primários toleítico (não alcalino) e álcali olivina basáltico,
apesar da pequena diferença química, se evoluem em direções opostas, fracionando-se em
magmas félsicos com composições químicas completamente diferentes.
Na realidade, comportamentos químicos de magmas naturais não são tão simples.
Como por exemplo, certos magmas que se situam na proximidade da barreira térmica dentro
do domínio saturado demonstram evolução magmática da série alcalina. O fato é devido à
projeção incorreta da composição de plagioclásio. Neste diagrama, o plagioclásio é localizado
exatamente em cima da linha entre quartzo (SiO2) e nefelina (NaAlSiO4). Entretanto, o que se
situa exatamente neste ponto é a albita (NaAlSi3O8), que é um componente final de
plagioclásio. Porém, a anortita (CaAl2Si2O8), que é outro componente final, não se localiza
nesta linha. O plagioclásio cristalizado a partir dos magmas primários é cálcico, com alto teor
de componente de anortita, entretanto, este diagrama tetraédrico não está capacitado para
representar a composição de anortita.
Apesar dos pequenos problemas, o presente diagrama representa bem a essência do
conceito de saturação em sílica, ou seja, saturação de álcali-sílica. O basalto de composição
toleítica e alcali olivina basáltica não são fáceis de serem distinguidos por observação
macroscópica. O basalto que tem fenocristais de olivina tende a ser álcali olivina basalto,
porém, há poucos exemplos de basalto não alcalino com fenocristais de olivina e de álcali
olivina basalto sem fenocristais de olivina. A expressão "alcali olivina" indica a composição
química de caráter alcalino, e não necessariamente a presença de fenocristal de olivina.
Eventualmente, álcali olivina basalto possuem xenólitos de rocha do manto, tais como dunito e
lherzorito (Fig. 2). Este fenômeno é muito raro em basalto toleítico. A composição química de
alcali olivina basalto de textura afírica tende a ser de composição tipicamente basáltica, com
SiO2 em torno de 48%. Por outro lado, a composição de basalto toleítico de textura afírica tende
a ser com SiO2 mais alto, em torno de 52%, correspondendo ao limite entre basalto e andesito.
Portanto, a densidade de álcali olivina basalto tende a ser maior do que a de basalto toleítico.
423
Em observação microscópica, o basalto que contem nefelina é certamente álcali olivina
basalto. Porém, há muitos casos que álcali olivina basalto apresenta-se sem nefelina modal. O
basalto que contem ortopiroxênio, normalmente hiperstênio, é certamente basalto toleítico. Em
alguns casos, álcali olivina basalto tem fenocristais de titano-augita. Este clinopiroxênio é
caracterizada por textura hour-glass, ou seja, relógio de vidro (Fig. 14A) e cor de extinção
anômala, geralmente de coloração azul escuro. Na massa fundamental, pode-se observar
titano-magnetita, caracterizada pelo hábito dendrítico (Fig. 14B). Tanto titano-augita, quanto
titano-magnetita, são atribuídas ao teor alto de TiO2 em comparação com o de SiO2, porém,
este é apenas uma característica secundária. As rochas basálticas pouco fracionado, derivadas
do magma álcali olivina basáltico, têm feldspato alcalino.
424
A diferenciação composicional entre os magmas primários toleítico e alcali olivina
basáltico é interpretada como devida à diferença de pressão, ou seja, profundidade, da fusão
parcial do manto. O lherzolito encontrado em kimberlito como xenólito, chamado popularmente
de nódulo, é interpretado como a rocha peridotítica representativa do manto.
Os ensaios de fusão artificial
desta rocha ou dos materiais artificiais
simuladores da rocha peridotítica do
manto mostram que o primeiro líquido
da fusão parcial na pressão de 1Gp, ou
seja de 10kb, é saturada em sílica e na
pressão cerca de 3Gp, 30 kb, é
subsaturada em sílica. O fato indica
que o magma primário toleítico é
gerado à cerca de 1Gp, ou seja de
10kb, de pressão, que corresponde a
30km de profundidade (na proximidade
do ponto A da Fig.15). Enquanto que, o
magma primário álcali olivina basáltico
é formado em locais mais profundos, à
c, 100km de profundidade (na
proximidade do ponto B da Fig. 15).
Entretanto, os fenômenos
naturais são pouco mais complicados.
Conforme a explicação acima citada,
em pressão de 3Gp, o primeiro líquido
da fusão parcial é álcali olivina basáltica. Entretanto, de acordo com o aumento da proporção
da fusão parcial, a composição do líquido muda para ser toleítica. Isto é, mesmo sendo de
profundidade grande, o magma gerado pode ser toleítico, ou seja não alcalino, quando a fusão
é de proporção maior. No caso da fusão em proporção maior ainda, a composição do magma
torna komatiítica, uma rocha ultramáfica. Todos os argumentos acima citados são baseados
em uma hipótese, isto é, o magma primário é gerado a partir da fusão parcial do manto
peridotítico.
Entretanto, na fusão parcial do manto eclogítico, mesmo em profundidade grande a
composição do magma primário é toleítica. Além disso, o teor de SiO2 é relativamente elevada,
425
sendo em torno de 52%, que corresponde ao limite entre basalto e andesito. Tal tipo de
magmatismo ocorre freqüentemente em hot-spots.
Entretanto, existem opiniões de que as profundidades acima apresentadas nem
sempre correspondem diretamente aos locais de geração do magma. Como por exemplo, um
magma primário gerado a 100 km de profundidade a partir de fusão parcial do manto
peridotítico é de composição álcali olivina basáltico. Este magma pode subir lentamente no
manto mantendo o equilíbrio com a rocha encaixante. Neste caso, a composição do magma
muda de acordo com a condição físico-química. Quando este magma chega até a profundidade
de 30km, a sua composição torna toleítica, sendo igual ao do magma primário toleítico gerado
nesta profundidade.
Por outro lado, quando o manto contem minerais hidratados, como flogopita, um tipo de
mica (K(Mg,Fe)3Al2Si8(OH)4), ou seja, em sistema úmido, o magma gerado torna-se
significativamente félsico (baixo teor de ferro e magnésio) e ácido (alto teor de SiO2). Desta
forma, o magma primário gerado mesmo em grande profundidade pode ter sua composição
relativamente félsica. Além disso, há possibilidade de formação de magma primário andesítico
a partir da fusão parcial do manto.
Nas explicações anteriores, a origem do magma primário basáltico foi atribuída à fusão
parcial do manto de composição peridotítica. Entretanto, o manto não é composto puramente
de rochas peridotíticos. Acredita-se que o manto superior é constituído por 3/4 de peridotito
(ultramáfico) e 1/4 de eclodito (máfico), sendo esta rocha hipotética denominada pirolito. Esta
estimativa é baseada nos estudos de rochas basálticas presentes na superfície da Terra, ou
seja, nas partes do manto que sofreram fusão parcial. Obviamente, existem outras partes do
manto que não sofreram fusão parcial e a composição destas partes não estão em
consideração.
Portanto, a proporção entre peridotito e eclogito proposta pelo modelo de pirolito não
representa exatamente a composição do manto. Apesar deste problema, considera-se que o
manto superior da Terra atual é constituída principalmente de peridotito, especificamente
lherzolito, e eclogito e, os magmas basálticos são formados a partir da fusão parcial destas
rochas. A temperatura de fusão parcial do eclogito é significativamente mais baixa do que a do
peridotito. Portanto, quanto a temperatura do magma é insuficiente, o manto se fundi somente
na parte do eclogito, deixando a parte do peridotito sem fusão. Quando ocorre tal fusão seletiva
do manto eclogítico, mesmo que o magma seja gerado em grande profundidade, a composição
do magma primário é toleítica, e não, álcali olivina basáltica.
As rochas ígneas da série alcalina, que são derivadas teoricamente do magma primário
de composição toleítica, encontram-se em cordilheiras, arco de ilhas e regiões de continente
426
estável. Sob o ponto de vista da tectônica de placas, os magmatismos acima citados são
relacionadas às atividades de zonas de subducção. Por outro lado, as rochas ígneas da série
alcalina, derivadas teoricamente do magma primário álcali olivina basáltico, são encontradas
em rifes continentais e ilhas oceânicas, sendo relacionadas ao magmatismo de hot-spots.
Existe um conceito tradicional, desde Harker (1908), de que as rochas não alcalinas ocorrem
em ambiente de tectonismo convergente e as rochas alcalinas, de tectonismo divergente.
Apesar de haver esta tendência geral, de fato, existem um grande número de
exceções. Como por exemplo, nas cadeias meso-oceânicas, encontra-se o magmatismo de
maior escala do Planeta Terra. As lavas aí encontradas são compostas de um tipo de basalto
toleítico, denominado MORB. No estágio inicial da separação continental, ocorrem erupções de
lavas basálticas constituídas predominantemente por basalto toleítico. Os grandes derrames de
lava do início do Cretáceo que se encontram nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, chamados
de Basalto do Paraná, são exemplos deste (Fig. 16A). As duas ocorrências acima citadas são
magmatismos de escala muito grande que ocorreram durante a atuação de tectonismo
tipicamente divergente. Por outro lado, na região de retro-arco encontra-se as lavas de álcali
olivina basalto relacionado à subducção da placa, isto é, de tectonismo convergente. O álcali
olivina basalto do final de Terciário a Quaternário que cobre grande área da Patagônia austral é
um exemplo típico (Fig. 16B). No meio das placas oceânicas, onde não há um movimento
relativo à tectônica de placas, ocorrem ilhas vulcânicas constituídas por lavas tanto de basalto
toleítico quanto de álcali olivina basalto. Os fatos acima citados confirmam que não é possível
afirmar a correlação perfeita entre as séries de cristalização fracionada com ambientes
tectônicos.
427
18.4 - SÉRIES CÁLCIO-ALCALINA E TOLEÍTICA
Uma outra contestação tradicional ao modelo de Bowen foi de Fenner (1929). Ele
interpretou a seqüência de basalto - ferro basalto - islandito - dacito como a série normal de
cristalização fracionada do magma primário de composição toleítica. O ferro basalto é o basalto
com alta proporção Fe/Mg nos minerais máficos, como ferro-hiperstênio, ferro-augita, etc. O
islandito é uma rocha andesítica com minerais máficos de alta proporção Fe/Mg, e é
caracterizado por ausência ou escassez de hornblenda. Fenner denominou esta série de
cristalização fracionada de magma primário basáltico não alcalino de série toleítica, e
considerou que a série toleítica é a principal série do mundo. A maioria das rochas ígneas das
regiões continentais é da série Ca-alcalina, ou seja, de Bowen, entretanto, o basalto que
constitui a crosta oceânica, chamado de MORB, é da série toleítica, ou seja, de Fenner. Mesmo
nas ocorrências das regiões continentais, as rochas basálticas de erupções de lava de grande
escala, tais como cadeias mesooceânicas e platôs de lavas (Paraná, Deccan, Abissínia, etc.)
estão de acordo com a série toleítica. As rochas constituintes de grandes corpos complexos
intrusivos gabróicos, tais como Skaergaard (Groenlândia), Bushveld (África do Sul) e Stillwater
(Estados Unidos da América), mostram a seqüência de gabro - ferro gabro - granófiro, que
segue à série toleítica. Por outro lado, rochas basálticas e andesíticas da série Ca-alcalina são
encontradas comumente na forma de corpos magmáticos relativamente pequenos de faixas
orogênicas.
Além de Fenner, Kuno (1950) observou rochas basálticas que ocorre nos vulcões do
Japão e anotou que existem duas séries de cristalização fracionada: 1) série de hiperstênio,
caracterizada pela ausência de pigeonita e presença de hiperstênio na massa fundamental e
abundância de minerais hidratados como hornblenda e biotita; 2) série de pigeonita,
caracterizada pela presença de pigeonita na massa fundamental e ausência ou escassez de
minerais hidratados. A série de hiperstênio de Kuno corresponde à série Ca-alcalina de Bowen,
e a série de pigeonita, série toleítica de Fenner. Pigeonita é um clinopiroxênio caracterizado
quimicamente por baixo teor de CaO (Fig. 17A; B) e opticamente por baixo ângulo 2V, portanto,
apresenta no conoscópio a figura de interferência similar à de minerais uniaxiais (Fig. 17.C).
O conhecimento sobre a existência das duas séries de cristalização fracionada do
magma primário não alcalino foi difundida mundialmente na década de 1950. Antes disso, o
termo toleito era tratado como o sinônimo de basalto não alcalino. Encontram-se certas
bibliografias com significado confuso do termo "toleítica".
428
Desta forma, deseja-se aos alunos leitores tomarem cuidado com os dois significados
atuais do termo "toleito" ou "basalto toleítico" :
1) basalto de composição química não alcalina, ou seja, pertencente às séries não
alcalinas;
2) o mesmo que pertence à série toleítica (Tabela 5).
O autor recomenda a utilização da expressão "toleítica" exclusivamente para série de
cristalização fracionada toleítica. Para representar o magma basáltico de composição toleítica,
deve ser utilizada a expressão "magma basáltico não alcalino" ou "saturado em sílica".
429
No caso da série Ca-alcalina, o aumento de SiO2 e a redução de MgO, CaO e FeO
durante a cristalização fracionada são notáveis. Entretanto, no caso da série toleítica, o
aumento da proporção FeO/MgO é marcante. O diagrama triangular MFA, chamado também
como AMF, MgO (magnésio) - FeO* (ferros) - Na2O + K2O (álcalis), em porcentagem relativa de
peso (Fig. 18), mostra a diferença na evolução magmática entre as duas séries. Neste
diagrama, o magma primário situa-se na proximidade da linha MgO - FeO*. No caso da série
toleítica típica, como as rochas constituintes do corpo intrusivo de Skaergaard, o magma
primário evolui- se paralelamente à linha MgO - FeO* em direção a FeO*, e aproxima-se do
vértice FeO*. Neste estágio da evolução magmática, o aumento de SiO2 é pequeno. Em
seguida, a evolução magmática muda de direção para o vértice Na2O + K2O, aumentando
notavelmente o teor de SiO2. Por outro lado, o magma da série Ca-alcalina evolui-se a partir do
magma primário diretamente para o vértice Na2O + K2O, com aumento constante de SiO2.
430
(ambiente oxidante) o magma evolui-se segundo a série Ca-alcalina (modelo de Bowen, série
de hiperstênio), e com baixa fugacidade (ambiente redutor), segundo a série toleítica (modelo
de Fenner, série de pigeonita).
431
432
Os magmas da série toleítica são de alta temperatura e contém baixo teor de H2O,
enquanto que, os da série Ca-alcalina são de temperatura relativamente baixa e contém alto
teor de H2O. Os componentes voláteis, tais como H2O, Cl, e F, abaixam a temperatura da fusão
dos magmas, e portanto, os magmas hidratados podem manter o estado líquido até mesmo em
uma temperatura relativamente baixa. Desta forma, as rochas da série Ca-alcalina
freqüentemente possuem minerais máficos hidratados, tais como hornblenda. Este fato indica
que a oxidação pode estar relacionada à H2O da rocha encaixante. As rochas da crosta são
normalmente hidratadas. O H2O está presente dentro da rede cristalina dos certos minerais
constituintes, denominados minerais hidratados, tais como biotita, muscovita, etc. Além disso,
existe também fora dos minerais como fluído livre. Os magmas gerados no manto superior são
normalmente considerados como pobres em H2O. Durante a intrusão desses magmas, a água
da rocha encaixante crustal pode ser incorporada aos magmas, e uma parte da H2O separa-se
em hidrogênio e oxigênio. O oxigênio cria o ambiente oxidante, e o hidrogênio é disperso na
rocha encaixante.
Portanto, os corpos magmáticos pequenos são altamente influenciados pela H 2O
extraída da rocha encaixante crustal, e nos corpos intrusivos de escala superior a quilométrica,
a influência da H2O crustal é pequena em relação ao grande volume do magma. A Fig. 18 e a
Fig. 19 mostram que existem séries toleíticas típicas (como Skaergaad) e não típicas (como as
rochas basálticas do Japão). O fato é devido provavelmente à diferença do grau de oxidação,
ou seja, o grau de hidratação. Neste sentido, interpreta-se que a série toleítica é a série de
cristalização fracionada em condição normal do magma primário basáltico e a série Ca-alcalina,
em condição especial com alta fugasidade de oxigênio.
Rochas da série Ca-alcalina são encontradas tipicamente em cordilheiras, tais como a
dos Andes, e arcos de ilhas (zonas de subducção), Japão, Indonésia, Filipinas, etc., ou seja,
em zonas de subducção, onde existe H2O abundante. Dentro do Sistema Solar, as rochas da
série Ca-alcalina são presentes especificamente no Planeta Terra, isto é, as rochas
caracterizantes da Terra, onde a tectônica de placas está em funcionamento. Por outro lado, as
rochas da série toleítica são observadas no fundo do oceano, platôs de lavas terrestres e
submarinos, grandes corpos intrusivos gabróicos, etc.
433
CAPÍTULO 19 - MÉTODO DO CÁLCULO NORMATIVO
19.1 - GENERALIDADE
Existe uma íntima relação entre a composição mineralógica e química de uma rocha
ígnea. O conhecimento desta relação facilita a interpretação genética com base na composição
química de rochas ígneas. O “cálculo normativo” é um método mais conhecido e divulgado para
caracterização química de rochas ígneas com base nos teores de elementos principais.
Inicialmente, o cálculo normativo foi lançado por Cross, Iddengs, Pirsson e Washington
(1902,), como um método de classificação geoquímica de rochas ígneas, sendo chamado
atualmente como a “Norma CIPW”. Hoje em dia, este método não está sendo aplicado à
classificação geoquímica, mas, para análises petrogenéticas com base na geoquímica de
elementos principais. A partir da composição química em rocha total, este método calcula 34
“minerais normativos”, fazendo a simulação matemática de cristalização. Os minerais
normativos são aqueles escolhidos entre os minerais mais freqüentes em rochas ígneas
naturais. Os parâmetros e critérios para a escolha dos minerais normativos podem ser
conhecidos através de leitura suplementar. A composição química e ordem de cristalização
destes minerais foram simplificadas e idealizadas. Portanto, os minerais normativos calculados
não são exatamente iguais aos minerais constituintes reais da rocha, denominados minerais
modais. Geralmente, rochas plutônicas básicas, como por exemplo piroxênio gabro, possuem
minerais normativos relativamente próximos aos reais. Entretanto, a composição mineralógica
modal de rochas vulcânicas félsicas é pouco afastada da composição normativa.
O método de cálculo normativo sofreu algumas alterações e atualmente as versões
propostas por Whashington e Johannsen são as mais utilizadas. O método aqui apresentado
baseia-se em Johannsen (1931), com a ressalva de que a seqüência dos cálculos usados não
é idêntica à da bibliografia original visando com isto facilitar o aprendizado. Entretanto, o
resultado final é praticamente igual ao proposto de Johanssen.
434
19.2 - ESQUEMA GERAL DOS CÁLCULOS
435
19.2.2 - Formação provisória dos minerais normativos
O processo de formação provisória dos minerais normativos inicia-se com a formação
dos minerais subordinados, não silicáticos. Após esses, são calculados os minerais silicatos
principais. Durante o processo de formação provisória, os cálculos devem ser executados
ignorando-se o teor de sílica disponível, mesmo que este teor atinja valor negativo. Após o
término do processo de formação provisória, observa-se o teor de sílica. Caso o valor de sílica
seja negativo, inicia-se o processo de compensação de deficiência de sílica. Caso contrário, ou
436
seja, com o valor de sílica seja positivo, calcula-se o quartzo de acordo com o teor de sílica
disponível e passa-se o processo de reconversão de proporção molecular de minerais
normativos calculados em porcentagem de peso.
437
19.3 - CÁLCULOS EM CADA ESTÁGIO
438
19.3.1 - Conversão em proporção molecular
Conforme a descrição dita anteriormente, a composição química da rocha expressa em
porcentagem de peso é convertida em proporção molecular, com seguintes observações:
1) os teores de MnO, NiO e FeO são somados e tratados como FeO;
2) os teores de BaO, SrO e CaO são somados e tratados como CaO;
3) os componentes com teor em proporção molecular muito baixo, sendo inferior a
0.002, são considerados como nulo;
4) os cálculos são executados na unidade de proporção molecular multiplicada por
1000.
19.4.1 - Ilmenita
Este mineral é constituído por dois componentes, TiO2 e FeO. Na maioria dos casos, o
teor de FeO é superior ao de TiO2, desta forma, a ilmenita, TiO2· FeO, terá o mesmo valor TiO2
disponível.
19.4.2 - Apatita
A apatita é calculada somente de acordo com os teores de CaO e P2O5. Durante o
cálculo, os teores de Ca e F são desconsiderados.
439
19.4.3 - Halita
Este mineral é constituído por Na2O e Cl e calculado somente quando houver dados
analíticos de Cl. Durante o cálculo, o teor de oxigênio do Na 2O é desconsiderado. Muitas
análises químicas de rocha total não possuem dados de Cl, SO 3, Cr2O3, F, ZrO2 e CO2. Nesse
casos, halita, tenardita, pirita, cromita, fluorita, zircão, calcita e carbonato de sódio são
calculados como zero. e passa-se para o estágio de cálculo dos minerais principais.
19.4.4 - Tenardita
Este mineral é constituído por dois componentes, Na 2O e SO3 e, calculado somente
quando houver dados analíticos de SO3. Não se aplica neste cálculo às seis rochas exemplares
devido à ausência de dados de SO3.
19.4.5 - Pirita
Este mineral é constituído por dois componentes, FeO e S e, calculado somente
quando houver dados analíticos de S (não SO3). Durante o cálculo, o teor de oxigênio do FeO é
desconsiderado. Não se aplica neste cálculo às seis rochas exemplares devido à ausência de
dados de S.
19.4.6 - Cromita
Este mineral é constituído por dois componentes, Cr2O3 e FeO e, calculado somente
quando houver dados analíticos de Cr2O3. Não se aplica neste cálculo às seis rochas
exemplares devido à ausência de dados de Cr2O3.
440
19.4.7 - Fluorita
Este mineral é constituído por dois componentes, CaO e F e, calculado somente
quando houver dados analíticos de F. Durante o cálculo, o teor de oxigênio do CaO é
desconsiderado. Não se aplica neste cálculo às seis rochas exemplares devido à ausência de
dados de F.
19.4.8 - Zircão
Este mineral é constituído por dois componentes, ZrO 2 e SiO2 e, calculado somente
quando houver dados analíticos de ZrO2. Não se aplica neste cálculo às seis rochas
exemplares devido à ausência de dados de ZrO2.
Após a formação dos minerais de teor secundário, são formados minerais silicatos
principais a partir de feldspato. Os cálculos deste estágio são executados em 15 estágios,
mesmo que o teor de SiO2 disponível seja de valor negativo. Entretanto, outros componentes
devem ser de valor positivo. Portanto, a formação dos minerais normativos é provisória.
19.5.1 - Ortoclásio
Este mineral é constituído por três componentes, K2O, Al2O3 e SiO2. Na maioria dos
casos, após o cálculo sobra Al2O3. Neste caso, passa-se para o cálculo de albita, estágio 3,
pulando o cálculo de metassilicato de potássio.
441
19.5.2 - Metassilicato de potássio
Em poucos casos, sobra K2O após o cálculo de ortoclásio. Estas rochas são altamente
alcalinas e possuem leucita e nefelina, que se encontram na Itália. Após o cálculo de
metassilicato de potássio, passa-se para o cálculo de titanita, estágio 6. Não se aplica neste
cálculo às seis rochas exemplares.
19.5.3 - Albita
Este mineral é constituído por três componentes, Na 2O, Al2O3 e SiO2. Em poucos
casos, sobra Na2O após o cálculo. Neste caso, passa-se para o cálculo titanita, estágio 6.
Nota-se o valor negativo de SiO2 do nefelina sienito do olivina nefelinito, obtido após o cálculo
de albita. Tais rochas geralmente possuem nefelina.
19.5.4 - Anortita
Este mineral é constituído por três componentes, CaO, Al 2O3 e SiO2. Na maioria dos
casos, sobra CaO após o cálculo. Neste caso, passa-se para o cálculo titanita, estágio 6.
19.5.5 - Coríndon
Existem algumas rochas ígneas, como o granito do exemplo, em que o teor de Al 2O3 é
muito alto para se alcançar esta estágio. Tais rochas são chamadas geoquimicamente de
“rochas peraluminosas”. A peraluminosidade geoquímica é fenômeno característica de
argilominerais. As rochas ígneas peraluminosas são raras e encontrados em certo tipo de
442
granito. A origem do magma deste granito, denominado tipo S, é interpretada como a refusão
da crosta continental sedimentar.
19.5.6 - Titanita
Este mineral é constituído por três componentes, CaO, TiO 2 e SiO2. O cálculo é
efetuado somente com presença de TiO2 e CaO disponíveis neste estágio. Dentro dos seis
exemplos, não há rocha desta condição.
19.5.7 - Rutilo
Quando sobra TiO2 após o cálculo de titanita, forma-se rutilo. A rocha ígnea com teor
de TiO2 tão alta é extremamente rara.
19.5.8 - Acmita
Encontram-se certas rochas alcalinas félsicas, como o nefelina sienito do exemplo, em
que se esgota o Al2O3 e sobra Na2O após o cálculo de albita. Neste caso, calcula-se acmita.
Acmita é componente final de piroxênio sódico, chamado popularmente de egirina. As rochas
com acmita normativa, denominadas geoquimicamente peralcalinas, não possuem anortita e
coríndon normativos.
19.5.11 - Hematita
Caso esteja ainda Fe2O3 após o cálculo de magnetita, o Fe2O3 é atribuído para formar
hematita. Não há tal rocha dentro dos seis exemplos. Certas rochas basálticas apresentam alto
teor de hematita normativa devido ao intemperismo.
19.5.12 - Clinopiroxênio
As quantidades disponíveis de MgO e FeO são somadas e consideradas como um tipo
de óxido destinado a formar silicatos máficos. O primeiro mineral máfico calculado é
clinopiroxênio. Na bibliografia original de Johannsen, este componente é expresso como
diopsídio (di). Entrentanto, o mesmo termo é utilizado para expressar o componente final de
clinopiroxênio magnesiano, CaO· MgO· 2SiO2. Para evitar confusão, recomenda-se o termo
clinopiroxênio. Rochas com coríndon normativo não possuem CaO disponível para formação
do clinopiroxênio. Geralmente, o Cao disponível é consumido inteiramente neste estágio.
444
19.5.13 - Wollastonita
Em raros casos, existem rochas altamente cálcicas que ainda possuem CaO disponível
após o cálculo de clinopiroxênio. O Cao disponível é utilizado para formar wollastonita.
19.5.14 - Ortopiroxênio
Neste estágio, não há mais CaO disponível, havendo somente MgO e FeO. Estes são
utilizados para formar ortopiroxênio. Na bibliografia original de Johannsen, este componente é
expresso como hiperstênio (hy). Porém, para evitar confusão, recomenda-se o termo
ortopiroxênio. Obviamente, as rochas com wollastonita normativa não possuem ortopiroxênio
normativo.
19.5.15 - Quartzo
Após os estágios acima citados, as rochas se dividem em duas categorias: 1) com SiO 2
disponível positivo; 2) com SiO2 disponível negativo. Dentro dos seis rochas exemplares, o
granito e o basalto toleítico têm SiO2 disponível positivo e o restante, negativo. Caso com SiO2
disponível positivo, calcula-se quartzo e
passa-se à reconversão da proporção
molecular em porcentagem de peso. Caso
com SiO2 disponível negativo, passa-se para
compensação de deficiência de sílica.
445
19.6 - COMPENSAÇÃO DA DEFICIÊNCIA DE SÍLICA
446
19.6.4 - Decomposição do ortoclásio em leucita
Mesmo assim, existindo a deficiência de sílica, o ortoclásio é decomposto em leucita e
sílica. O cálculo deste estágio é necessário para rochas fortemente alcalinas, que são raras.
ortoclásio leucita 2 sílica
K2O.Al2O3.6SiO2 K2O.Al2O3.4SiO2 + 2 x SiO2
447
19.6.7 - Decomposição da leucita em kaliofilita
Nas rochas muito extremamente subsaturadas em sílica, a leucita é decomposta em
kaliofilita e sílica. O cálculo deste estágio é necessário para rochas muito extremamente
alcalinas, que são muito extremamente raras. Na prática, não há rochas ígneas que tem
deficiência de sílica mesmo executando processo de decomposição para liberação de sílica até
este estágio.
leucita ortossilicato de cálcio 2 sílica
K2O.Al2O3.4SiO2 K2O.Al2O3.2SiO2 + 2 x SiO2
448
19.7 - RECONVERSÃO DA PROPORÇÃO MOLECULAR EM % DE PESO
449
A conversão em porcentagem de peso de cada mineral normativo é executada por
meio da multiplicação da proporção molecular por peso molecular. As seis rochas exemplares
apresentam as somas dos minerais normativos em porcentagem de peso tornam-se
aproximadamente 100.
450
451
452
453
...................................
454
455
CAPÍTULO 20 - REVISÃO HISTÓRICA
A origem da geoquímica dos isótopos estáveis e radiogênicos e da geocronologia
estão diretamente ligadas ao início da física moderna na metade do século XX.
O termo Geocronologia foi utilizado pela primeira vez em 1893 por Williams para reunir
as diferentes formas de investigação da escala de tempo em anos aplicáveis não só à evolução
da Terra mas também à evolução de todas as formas de vida. Para essas determinações torna-
se necessário um relógio geológico, ou seja, o conhecimento de um processo irreversível que
seja governado pelo tempo, a uma taxa conhecida. A descoberta da radioatividade permitiu o
nascimento da Geocronologia, pela datação radiométrica . Na Geologia, o único processo que
ocorre a uma taxa estatisticamente previsível e estável é a desintegração radioativa.
A radioatividade foi detectada pela primeira vez há aproximadamente 100 anos atrás,
com o uso de meios mecânicos. Tudo se associa a uma série de circunstâncias favoráveis que
envolveram experimentos com sais de urânio. Parece que tudo começou com o vidreiro alemão
Heinrich Geissler que se dedicou a construir vasos de pressão contendo eletrodos de metais
que poderiam ser utilizados para estudar a transmissão de cargas elétricas através do vácuo.
As experiências mostraram em 1855 a existência dos raios catódicos, somente explicados em
1897 por J. J. Thomson. Este considerou os raios como fluxos de elétrons, ou seja, partículas
negativamente carregadas. O passo levou ao conhecimento da estrutura interna dos átomos e,
conseqüentemente, trouxe um prêmio Nobel de Física para Thomson.
O conhecimento dos raios catódicos possibilitou ainda, de forma indireta, a descoberta
da radioatividade. Becquerel, em 1880, ao expor cristais de sulfato duplo de urânio à luz
ultravioleta obteve luminescência; na época, os físicos verificaram que a propriedade era visível
durante a passagem dos raios catódicos das paredes de vidro dos tubos. O fenômeno foi
456
confirmado por Roëntgen, que provocou luminescência em um papel coberto de platicianeto de
bário em 1895. A luminescência continuava, porém, enquanto o tubo de raios catódicos
estivesse energizado. Aparentemente ele emitia uma radiação misteriosa que podia penetrar e
ser impressa em papel preto - os famosos raios-X de Roëntgen. Becquerel, motivado pela
descoberta, retomara seus estudos anteriores com os sais de urânio. Para verificar se estes
eram responsáveis pela emissão de raios-X, recobriu uma chapa fotográfica com papel preto e
colocou alguns cristais de sulfato de urânio em cima deste, expondo o pacote à luz solar. Os
cristais emitiram uma radiação invisível que atravessou o papel preto e foi registrada na chapa
fotográfica. A experiência, embora simples, mostrou que os sais de urânio e eventualmente até
mesmo minerais de urânio poderiam emitir radiação contínua mesmo quando não expostos à
luz solar.
A descoberta animou grande número de pesquisadores jovens como o casal Marie e
Pierre Curie. Esta devotou-se à procura sistemática de outros elementos e compostos
semelhantes aos utilizados por Becquerel e que emitissem radiação similar, tendo descoberto
que minerais de U e Th, conforme Becquerel já suspeitava, também emitem radiação, mais
ativa que a dos sais destes elementos. Ao pesquisar com o minério da mina de Joachimsthal
(Tchecoslováquia), o casal Curie conseguiu provar a idéia e descobriu dois novos elementos
com propriedades semelhantes: Polônio (Po) e Rádio (Ra). O fenômeno recebeu o nome de
radioatividade pelas emissões observadas a partir do Ra e rendeu o prêmio Nobel de Física de
1903 para o casal.
O efeito da descoberta na Geologia
foi profundo, pois facilitava uma nova linha
de pesquisa, visando medir a radioatividade
das rochas. A radioatividade gera calor nas
rochas, pois é processo exotérmico, e
também é um meio eficaz de medida da
idade de minerais e rochas. A possibilidade
foi percebida tanto por Rutherford como
Boltwood, já em 1905. O primeiro propôs
que se estimasse a idade da série de
minerais de U a partir da quantidade de He neles acumulada; aplicara este método em
inúmeros minerais de U e obtivera um valor aproximado de 500 Ma. Boltwood publicou a seguir
os resultados das primeiras determinações de idade de três amostras de uraninita com base
nas suas relações U/Pb. Os valores, entre 410 e 535 Ma, considerados razoáveis, são hoje
concordantes com as idades obtidas por técnicas mais modernas. Joly (1908) reconheceu que
457
certos halos observados em algumas amostras de rochas ao microscópio eram causados por
minerais radioativos. Ele também mediu as concentrações de Th e Ra nos diferentes tipos de
rochas e em 1909 publicou o livro intitulado Radioatividade e Geologia no qual sumariava suas
conclusões. Destacava-se a idéia de que a radioatividade forneceria a energia requerida para a
construção das montanhas.
A radiação ionizante descoberta pelos Curie levou Rutherford, que já havia estudado a
ionização dos gases pelos raios-X, a efetuar um estudo desta natureza, porém com a radiação
emitida pelo Ra. Pouco tempo depois ele mostrara que a radiação era originada a partir das
substâncias radioativas e consistia de três componentes denominados alfa (a), beta (b) e gama
(g). O componente alfa, na realidade, é um núcleo do gás nobre Hélio (He). O beta foi
identificado como sendo elétrons. Somente o raio gama mostrou ser uma radiação
eletromagnética semelhante aos raios-X de Roëntgen. A teoria da desintegração radioativa
formulada por Rutherford e o químico Soddy diz que os átomos dos elementos radioativos se
desintegram espontaneamente formando átomos de outros elementos e emitindo partículas
alfa e beta. A desintegração radioativa é evento estatístico, pois não se pode prever nem a
identidade de um átomo particular que irá se desintegrar nem o momento exato em que o
evento ocorrerá. No entanto, a intensidade de radiação é proporcional ao número de átomos
radioativos presentes. Os pesquisadores sugeriram ainda que a estrutura do átomo era
formada por um núcleo (prótons) rodeado por uma coroa eletrônica, formada por elétrons.
Soddy, em outro grupo de trabalho, reconheceu as séries do U e do Th, verificando que ambos
possuíam diferentes taxas de desintegração. As novas formas resultantes dessas
desintegrações foram identificadas como elementos químicos, cuja característica principal é a
presença de átomos de Th, porém com pesos atômicos distintos. As diferentes amostras de Th
existiriam na mesma posição do Th original na Tabela Periódica e constituiriam isótopos (em
grego: mesmo lugar). Vários pesquisadores dedicaram-se a procurar e caracterizar os isótopos.
Após o término da Primeira Guerra Mundial, um deles, Aston, tentou construir equipamentos
que confirmassem e caracterizassem os isótopos: os espectrômetros de massa. Recebeu o
prêmio Nobel em 1922 pela descoberta de 212 dos 287 isótopos de ocorrência natural.
458
20.1.1 - A revolução no uso dos relógios geológicos
"A enorme ampulheta, que mede a destruição das rochas na terra e a sua formação no
fundo do mar, trabalha ininterruptamente." Arthur Holmes (1923)
Para estudar os problemas ligados à idade da Terra, Arthur Holmes começou medindo
a composição isotópica do chumbo, na mesma época do aprimoramento dos espectrômetros, e
evoluiu para novos métodos de datação utilizando o Th e o U presentes no chumbo. O livro The
Age of the Earth, publicado por Holmes em 1923, mostra a importância da radioatividade no
entendimento dos processos geológicos, além de propor a primeira escala do tempo geológico
baseada em métodos radiométricos. A datação radiométrica permitiu tratar numericamente o
tempo. É difícil avaliar seu impacto nos conceitos geológicos devido à quantificação; não
somente se aprimorou o conceito sobre a idade total da Terra, mas também foi possível datar
amostras de rochas da Lua e fragmentos de meteoritos, revelando-se idades similares entre
eles. A datação isotópica também abriu possibilidade para se determinar com rigor quantitativo
as taxas dos processos atuantes no passado geológico. Finalmente, a Geocronologia permitiu
estudar intervalos de tempo afossilíferos e subdividi-los.
459
CAPÍTULO 21 - INTRODUÇÃO A GEOQUÍMICA ISOTÓPICA
Isótopos: É definido como uma variedade do mesmo elemento químico (átomos como
o mesmo número atômico Z) que possuem uma variedade no número de nêutrons e variando o
peso atômico (M). Alguns elementos leves possuem apenas poucos isótopos enquanto que os
elementos pesados possuem vários.
Isóbaros: possuem a massa igual (A) com diferenças nos números de prótons (Z) e
nêutrons (N). Exemplo:
460
Um exemplo de notação empregada em isótopos pode ser o isótopo de Ne:
461
21.1 - ISÓTOPOS ESTÁVEIS
462
21.1.1 - Fracionamento Isotópico
O fracionamento isotópico é caracterizado pela separação parcial de isótopos leves e
pesados entre duas ou mais fases coexistentes. Isótopos de elementos leves se fracionam
mais dos que os pesados. Os isótopos mais pesados têm menor energia vibracional que os
leves do mesmo elemento e formam, portanto, moléculas mais estáveis. O fracionamento
isotópico possui uma relação inversa com a temperatura, onde Z é proporcional a 1/T para
temperaturas baixas (<200ºC) e Z é proporcional a 1/T2 para temperaturas elevadas.
O principio do estudo sobre isótopos estáveis, quer dizer, a investigação dos processos
no qual na natureza os isótopos são separados com base na suas massas e até certo ponto na
base de suas químicas, é conhecida como fracionamento e é divido em três diferentes formas:
→ Reação de troca:
O fracionamento isotópico tem lugar em uma reação convencional de troca, como o
que ocorre entre o oxigênio do quartzo e da magnetita. Essa troca é controlada por ligações
fracas, que seguem a regra geral, onde isótopos leves formam ligações menos resistentes do
que os isótopos pesados.
463
→ Processo cinético:
Efeitos cinéticos só podem ser observados quando a reação ainda não está completa.
Esse tipo de reação precisa de um isótopo particular para reagir.
→ Processos físico-químicos:
Sendo evaporação e condensação, fusão, cristalização e difusão. O fracionamento
físico (precipitação e evaporação). Quanto menor for a quantidade de vapor residual numa
nuvem maior será seu fracionamento isotópico.
onde:
R é a razão do isótopo mais pesado pelo isótopo mais leve (e mais abundante) =
18
O/16O, na amostra que está sendo analisada e no padrão de referência. Outros exemplos de
razões isotópicas são: 13C/12C, 15N/14N, 34S/32S, 56Fe/54Fe.
464
Os valores δ podem ser positivos ou negativos, dependendo se a amostra está
enriquecida ou empobrecida no isótopo mais pesado em relação ao padrão. Conhecendo-se os
valores δ de duas fases coexistentes, para as quais são conhecidos os fatores de
fracionamento, pode-se determinar a temperatura na qual as duas fases se equilibraram
isotopicamente. Entre os sistemas isotópicos, a termometria de isótopos de O e S tem
aplicações mais amplas; os minerais de rochas ígneas e metamórficas tem valores diferentes
18 34
de δ O e δ S porque seus fatores de fracionamento a qualquer dada temperatura tem
valores diferentes.
Isótopo especificado pelo número de massa sobrescrito antes do símbolo ( 13C, 18
O,
32
S). A composição isotópica de qualquer substância é dada em termos das variações das
razões entre os isótopos em comparação com uma substância padrão de composição
conhecida.
21.1.6 - δ18O
Em depósitos epitermais, por onde circulou a maior parte dos fluidos aquosos
mineralizantes, exibem valores mais baixos de δ18O em função de troca isotópica com fluidos
de temperaturas mais elevadas na época da deposição de minerais de minério. A variação dos
valores de δ18O em vários reservatórios geológicos é mostrada na figura abaixo.
467
A figura abaixo mostra as variações de salinidade por valores de δ18O em águas
oceânicas rasas e profundas.
18
Dados sobre variação na razão entre O/16O, a partir da análise de testas (carapaças)
de foraminíferos preservados em sedimentos marinhos cenozóicos, apóiam a hipótese de
controle astronômico sobre a repetição periódica de fases glaciais e interglaciais, durante os
18
últimos 3 milhões de anos. Em épocas de crescimento dos mantos de gelo, a razão O/16O
16
aumentaria por causa da retenção de O no gelo continental.
468
O aumento de CO2 na atmosfera durante erupções vulcânicas é considerado fator
fundamental no controle de sua concentração na atmosfera. Além do vulcanismo, fases de
expansão do fundo oceânico, orogênese e transgressão marinha resultariam em produção de
CO2. Em contrapartida, fases de levantamento, regressão marinha e erosão corresponderiam a
épocas de maior retirada de CO2 da atmosfera, através da exposição mais extensa das
plataformas continentais ao intemperismo químico das rochas sob a ação do CO 2 dissolvido na
água, acidificando-a.
469
21.1.7 - δ13C
Carbono do manto (diamante,
carbonatitos, kimberlitos) tem valores δ13C
relativamente constantes, variando de -7‰ a -
5‰. Valores de vidro basáltico variam de -30‰ a
-3‰, e representam carbonos isotopicamente
distintos extraídos a temperaturas diferentes.
Vidros de composição MORB tem valores
isotópicos que caem na variação típica dos
valores do manto, enquanto que vidros de arco
de ilhas tem valores mais baixos, que podem ser
explicados pela mistura de carbono do manto e
carbono orgânico de sedimentos subducionados
(Mattey et al., 1984, citado em Hoefs, 1997),
conforme ao lado.
Os valores de isótopos de C, principalmente quando usados em combinação com
isótopos de oxigênio, podem ser usados para se determinar as principais fontes de carbono em
fluidos hidrotermais que incluem carbonatos marinhos, cujo valor médio δ13C e 0‰, fontes mais
profundas derivadas do manto ou crosta, com valor médio e 7‰, e componentes orgânicos de
origem biogênica, com valor médio de δ13C em torno de -25‰ (Faure, 1986).
470
21.1.8 - δ34S
A distinção entre depósitos de sulfetos relacionados à atividade ígnea e aqueles
relacionados à origem sedimentar pode em parte ser feita com isótopos de enxofre. Enxofre
associado a rochas ígneas derivadas do manto tem composição isotópica homogênea, em
torno de 0‰, enquanto que enxofre biogênico tende a ter valores negativos e mais variáveis.
Variações grandes dos valores δ34S de rochas graníticas podem ser atribuídas à
incorporação de S fracionado derivado de rochas sedimentares durante fusão ou assimilação
de rochas sedimentares em zonas de subducção ou pela passagem de magma em sedimentos
ricos em S. A figura abaixo mostra a variação de δ34S (CDT) em vários materiais geológicos
(Hoefs, 2009).
21.1.9 - δ37Cl
Isótopos de Cl possuem variações de -0,05‰ a 5,96‰ sugerindo o seu uso como um
método prospectivo de depósitos de metais de base, oxidados em condições de climas áridos
ou semi-áridos, e portadores de atacamita, boleita e connellita. Estes minerais ostentam
valores de δ37Cl extremamente elevados e, por conseqüência, os valores de δ37Cl obtidos
podem ser usados para prospecção de depósitos de metais de base, não aflorantes. A figura
abaixo mostra a variação de δ37Cl em vários materiais geológicos (Hoefs, 2009).
471
Outros isótopos:
472
473
21.1.10 - Isótopos estáveis e ambientes
Os isótopos ambientais são usados para rastrear a proveniência e díade da água
subterrânea, os processos de recarga dos aqüíferos, as reações geoquímicas e velocidade das
reações, nos estudos dos processos de subsurperfície e nas interfaces solo-água-atmosfera e
nos estudos dos ciclos biogeoquímicos. As assinaturas isotópicas variam amplamente entre
diferentes materiais geológicos e reservatórios geoquímicos devido aos processos de
fracionamento isotópico a que estão sujeitos.
18 2
Os isótopos O e H são afetados pelos processos meteóricos e servem para
identificar a origem das águas. A recarga de rios e efluentes para os aqüíferos pode ser
rastreada através desses isótopos e ainda 3H e 14
C. As razões isotópicas são medidas em
amostras coletadas nos rios e em poços do aqüífero, com uma freqüência semanal ou mensal,
ao longo de um certo período de tempo, e os diagramas obtidos são então comparados e
interpretados. Simultaneamente são analisadas também amostras de chuva e determinada a
linha de água meteórica (MWL) local.
34
Isótopos S tem sido aplicado em estudos ambientais em diversas situações. É
especialmente recomendado para monitorar a influência de drenagem ácida de minas nas
18
águas superficiais e subterrâneas. No caso dos sulfatos, pode ser determinado também o O.
Através das determinações de δ18O em sulfatos de certas águas subterrâneas, pode-se
distinguir se são originários de evaporitos ou da oxidação de sulfetos em condições aeróbicas.
474
21.2 - ISÓTOPOS INSTÁVEIS (RADIOGÊNICOS)
21.2.1 - Introdução
Isótopos radiogênicos são usados na geoquímica em dois principais caminhos.
Historicamente podem ser usados para determinar a idade de rochas e minerais. Mais
recentemente são usados em estudos petrogenéticos para a identificação de processos
geológicos e entendimento de fontes magmáticas. Outras aplicações podem ser citadas, como
no estudo de gênese de magmas e metalogênese.
O fundamento da geocronologia moderna foi elaborado no início do século XX por
Rutherford e Soddy (1903) em elementos naturais radioativos. Eles mostraram que o processo
de decaimento radioativo é exponencial e independente das condições físicas e químicas do
ambiente. As taxas de decaimento podem ser assim, usadas para medidas do tempo
geológico. Os isótopos podem ser divididos em estáveis e instáveis (radiogênicos). O número
de isótopos estáveis é de 300, e os isótopos radiogênicos de 1200. Duas hipóteses
fundamentais são aceitas por geólogos no uso dos isótopos radiogênicos:
475
21.2.2 - Isótopos radiogênicos
Os fundamentos físicos que servem de base para a
geologia de isótopos radiogênicos estão associados ao
princípio do decaimento radioativo. A radioatividade pode
ser definida como um ajustamento espontâneo de um
núcleo de átomos instáveis para um estado mais estável. A
radiação é o resultado de mudanças no núcleo pelos
átomos. Partículas A e B são partículas de alta velocidade,
correspondendo ao núcleo do hélio e seus elétrons,
respectivamente. O terceiro tipo de radiação é a C (raios
gamma) consiste de ondas eletromagnéticas similares as
características do raios-X, sendo de maior energia e menor
comprimento de onda quando comparadas as do raios-X.
Adicionado a estes três tipos de radiação nuclear podemos
acrescentar os raios-X, também produzidos pelo decaimento radioativo. Alguns átomos, que
possuem um estado de grande energia, tendem a se transformar em átomos com estado de
menor energia, liberando partículas A e B e emitindo radiação C, decaindo para um estado
mais estável.
476
Um núcleo com 2 prótons, mas zero nêutrons (i.e. 2He) não pode existir, devido às
fortes forças repulsivas entre os prótons. Contudo, o núcleo de 4He, que contém 2 prótons e 2
nêutrons, é estável. A presença de nêutrons contribui para a estabilização do núcleo. Contudo,
o núcleo de 6He, contém muitos nêutrons e irá decair em frações de segundo após a sua
formação. Por conseguinte, o 6He é altamente instável.
O núcleo de 6He é altamente instável porque contém muitos nêutrons. Para obter um
núcleo estável, um nêutron é transformado em um próton. Isto leva à formação de um núcleo
com 3 prótons e 3 nêutrons, que corresponde ao 6Li, o qual é estável. Este tipo de reação é
designada de reação radioativa. O decaimento de um núcleo instável ocorre espontaneamente,
i.e. sem qualquer influência de fontes externas.
477
Os nuclídeos instáveis irão eventualmente sofrer decaimento radioativo para um
nuclídeo estável. Para muitos nuclídeos instáveis, o decaimento para um nuclídeo estável
ocorre em diversos passos por via de outros nuclídeos instáveis. Um nuclídeo radioativo sofre
decaimento radioativo para um nuclídeo-filho que se encontra mais perto da diagonal dos
nuclídeos estáveis. Por conseguinte, os nuclídeos com excesso de prótons (acima da diagonal
dos nuclídeos estáveis) decaem na direção do canto inferior direito. Os nuclídeos com excesso
de nêutrons decaem na direção do canto superior esquerdo, enquanto que os nuclídeos mais
pesados no canto superior direito decaem na direção do canto inferior esquerdo.
478
238
Tomamos como exemplo a série de decaimento do U.
O núcleo do 238U é composto por 92 prótons e 146 nêutrons.
238 234
→O U decai para o Th pelo mecanismo de decaimento α. O núcleo do nuclídeo-
pai emite uma partícula α, composta por 2 prótons e 2 nêutrons. A reação de decaimento leva à
formação de um nuclídeo-filho com um núcleo contendo 2 prótons e 2 nêutrons a menos do
que o seu pai. A partícula α é semelhante ao núcleo do 4He. Por conseguinte, a partícula α é
muitas vezes referida como 4He.
479
→ 22688Ra decai para o 22286Rn emitindo partícula α... chegando por fim para
→ 21084Po decai para o 20682Pb (estável) emitindo partícula α
O decaimento beta (β) pode ser definido como um processo radioativo em que o
número de massa permanece o mesmo, somente o número atômico é mudado. O número
atômico do átomo é acrescido de uma unidade β- (55Cs→56Ba + e- + β-) ou diminuído de uma
unidade β+ (11Na→10Ne + e+ + β+) . Dois tipos são importantes na determinação de idades
geológicas.
21.2.6 - Decaimento β-
Tomemos por exemplo o 87Rb.
87
O nuclídeo Rb contém 37 prótons e 50 nêutrons. Encontra-se posicionado abaixo da
87
diagonal dos nuclídeos, assim, o núcleo possui um excesso de nêutrons. O Rb sofre
decaimento radioativo para um nuclídeo posicionado na direção do canto superior esquerdo,
87 87 87
notavelmente o Sr. O decaimento do Rb para o estável Sr ocorre pelo mecanismo
conhecido por mecanismo de decaimento β-. Um nêutron do núcleo de 87
Rb emite uma
pequena partícula carregada negativamente semelhante a um elétron - a partícula β -. A
partícula é também conhecida por negatron. Adicionalmente, é emitida uma pequena partícula
eletricamente neutra - um antineutrino. Um dos resultados da emissão da partícula β - é que o
nêutron, originalmente neutro, se transforma em um núcleo de carga positiva - um próton. O
número de nêutrons do núcleo diminui para 49, enquanto que o número de prótons aumenta
para 38, o que corresponde ao núcleo do 87Sr
480
21.2.7 - Decaimento β+
18 18
Tomemos por exemplo o F.O F possui 9 prótons e 9 nêutrons. O nuclídeo encontra-
se posicionado acima da diagonal dos nuclídeos estáveis da carta de nuclídeos, assim, o
18
núcleo possui prótons em excesso. O decaimento radioativo do F leva à formação de um
18
nuclídeo posicionado na direção do canto inferior direito, o O.
18 18
O decaimento radioativo do F instável para o O estável ocorre pelo mecanismo do
decaimento β +. Um próton do núcleo 18
F emite uma pequena partícula com carga positiva
semelhante a um elétron, mas com carga oposta - a partícula β +. Esta partícula é conhecida
como pósitron. Adicionalmente, é emitido um neutrino durante a reação (neutrinos e
+
antineutrinos são o mesmo tipo de partículas, os neutrinos associam-se ao decaimento β
enquanto que os antineutrinos estão associados ao decaimento β -). Como resultado da
emissão da partícula β +, o próton inicial com carga elétrica positiva transforma-se em um
núcleo com carga neutra - um nêutron. O número de prótons do núcleo é reduzido para 8,
18
enquanto que o número de nêutrons aumenta para 10, o que corresponde ao núcleo do O.
481
18 125
De modo semelhante ao F, o I encontra-se posicionado acima da diagonal dos
124 126
isótopos estáveis na carta de nuclídeos (o Xe e o Xe são nuclídeos estáveis, contudo,
encontram-se rodeados de nuclídeos instáveis os quais estão posicionados acima da diagonal
18 125
dos isótopos estáveis). E, de modo semelhante ao F, o I sofre decaimento radioativo para
125
um nuclídeo posicionado na direção do canto inferior direito, o Te. Contudo, repare no
elétron da parte superior do diagrama. Este é um elétron da camada eletrônica interna do
átomo. Durante o decaimento por captura eletrônica, um próton do núcleo de um nuclídeo
instável captura um elétron da camada interna do átomo. O próton originalmente com carga
positiva transforma-se em um núcleo com carga elétrica neutra - um nêutron. A reação está
associada à emissão de um neutrino. O número de prótons do núcleo é reduzido para 52,
125
enquanto que o número de nêutrons aumenta para 73, o que corresponde ao núcleo do Te.
É importante salientar que o mecanismo de decaimento por captura eletrônica eo mecanismo
+
de decaimento β levam ao mesmo resultado na carta de nuclídeos - o isótopo-filho contém
menos 1 próton, mas 1 nêutron a mais do que o seu isótopo-pai.
482
Para entender este assunto com maior interatividade, acesse:
http://ansatte.uit.no/webgeology/webgeology_files/brazil/atoms_iso_bra.html
483
Medidas experimentais de taxas de decaimento radioativo indicam que se o
decaimento possui reação de primeira ordem, significa que átomos são decompostos em uma
unidade de tempo proporcional ao número presente:
Onde:
N = é o número de átomos pai num dado tempo t.
λ = é a constante característica do decaimento para um dado isótopo radioativo.
A constante λ pode ser expressa como um número de átomo decaído por unidade de
tempo.
Por exemplo: se a taxa constante é 0,01 segundos-1, a equação diz que durante cada
segundo, 1/100 de um átomo presente será decomposta. O sinal de menos (-) indica que N
está diminuindo.
Podemos substituir N para o número de átomos pai presentes no mineral (P) e para N0
o número de átomos pai presentes originalmente quando o mineral foi formado (P0). O número
de átomos filho agora presente (D) é igual para P0 menos P, onde a quebra de um átomo para
P produz um átomo de D. Portanto P0 = P + D, e a equação torna-se:
Rearranjando t:
Onde:
D = n° atual de átomos do elemento radiogênico;
P = n° de átomos do elemento radioativo.
484
Esta é a equação fundamental da geocronologia, a qual é utilizada para o cálculo de
idades pelos diferentes métodos. Os métodos geocronológicos baseiam-se na acumulação de
elementos radiogênicos em um sistema fechado, onde a quantidade inicial do elemento
radiogênico seja zero ou conhecida, e que M do elemento radioativo do sistema seja conhecida
com precisão.
A aplicação de métodos de datação radiométrica às rochas pressupõe que:
1. A rocha ou mineral tenha se comportado como um sistema fechado após a sua
formação;
2. Que na sua origem a rocha ou mineral não tenha contido elementos-filho, ou que o
número de elementos-filhos existentes inicialmente seja conhecido;
3. Que a meia-vida do elemento-pai seja compatível com a idade a ser datada;
4. Que a rocha/mineral contenha os elementos-pai e filho em quantidades analisáveis,
o que depende, além da questão comentada no item 3, da afinidade geoquímica desses
elementos.
485
21.2.11 - Meia-vida e Taxa de crescimento
Este tópico tem como objetivo entender
como pode ser utilizado o decaimento radioativo
e o crescimento de nuclídeos como cronômetros
para a datação de processos geológicos.
→ O desenho abaixo ilustra um cristal de
235
um mineral que contém 32 átomos de U. O
235 207
U é um isótopo radioativo que decai para Pb
(figura 1).
→ A meia-vida de um isótopo
corresponde ao tempo necessário para que a
metade de um determinado número de átomos do
235
isótopo sofra decaimento. A meia-vida do U
(T1/2) é de 704 Ma (milhões de anos). Após 704
235
Ma, o cristal contém 16 átomos de U e 16
átomos de 207Pb (figura 2).
→ Após 1408 Ma (= duas meia-vidas do
235
U), apenas restam 25% dos 32 átomos iniciais.
Agora, o sistema é constituído por 8 átomos de
235
U e 24 átomos de 207Pb (figura 3).
→ Após quatro meia-vidas (=2816 Ma), o
235
número de átomos de U ficaram reduzidos a
50% por quatro vezes. Apenas restam dois
207
átomos. O número de Pb aumentou em
concordância. A meia-vida de um nuclídeo do
radioativo é uma medida de sua taxa de
decaimento. Se medirmos os conteúdos de um
235
isótopo radioativo (e.g. U) e do seu nuclídeo-
filho (207Pb) em um mineral, e soubermos a taxa
de decaimento do nuclídeo radioativo, podemos
calcular o tempo ocorrido desde a formação do
mineral (figura 5).
486
21.2.12 - Como calcular a idade de um mineral?
Quando o cristal de mineral da esquerda se formou, foram incorporados na sua
estrutura 32 átomos de um nuclídeo radioativo (círculos vermelhos). A imagem abaixo mostra o
decaimento do nuclídeo-pai radioativo (P - círculos vermelhos) para o seu nuclídeo-flho estável
(D - círculos azuis) com o tempo. Inicialmente, o cristal continha zero átomos de D. Hoje, o
cristal contém 6 átomos do nuclídeo radioativo N e 26 átomos do seu nuclídeo-filho D.
- Quanto tempo decorreu desde a formação do cristal do mineral?
A idade do cristal pode ser calculada a partir da esquação:
λ = 0,693/T1/2
Digamos que a meia-vida do presente nuclídeo-pai radioativo é de 703.800.000 anos
(~704 Ma). Isto corresponde a uma constante de decaimento λ = 9.8485 x 10-10 ano. Para
calcular a idade do mineral substituimos os números conhecidos da equação
de modo que:
t = 1.700.000.000 anos
Assim, passaram-se 1.7 Ga desde a formação do cristal.
Contudo, é de salientar que a idade calculada apenas é válida se o cistral estiver
comportado como um sistema químico fechado durante a sua evolução, i.e. que nenhum átomo
do nuclídeo pai ou filho tenha sido adicionado ou removido do cristal durante a sua evolução.
487
A fotografia abaixo mostra um cristal de zircão de um sienito nefelínico pegmatítico de
Seiland, norte da Noruega. Os zircões desta localidade foram analizados por Pedersen et.al
(1989). Uma fração de zircão possuia uma razão 207Pb/235U = 0,6842. Para conseguir
calcular a idade dos zircões, rearranjamos a equação D = P(e λt - 1), como mostrado na figura
abaixo.
488
60
A série de nuclídeos associados ao decaimento do Zn é conhecida por série
60 60
radioativa do Zn. A série radioativa do Zn possui como característica o fato do nuclídeo
intermediário (60Cu) possuir uma maior duração do que o seu nuclídeo-pai.
Exemplo: Vamos imaginar que temos um sistema fechado que contém 10.000 átomos
60 60
de Zn. O próximo slide mostra o decaimento radioativo do Zn e a evolução do seu nuclídeo-
filho, com o tempo.
60
O diagrama ao lado direito mostra o decaimento do Zn e a evolução dos seus
60 60
nuclídeos filho com o tempo. O Zn decai rapidamente - após 10 minutos o número de Zn no
sistema ficou reduzido a cerca de 550. Durante o mesmo período de tempo, formaram-se cerca
60 60 60
de 9.450 átomos de Cu. Contudo, uma vez que o Cu decai subsequentemente para Ni,
60
apenas cerca de 7600 átomos de Cu se encontram presentes no sistema após 10 minutos. É
60 60
de notar que inicialmente, quando o Zn é abundante, a taxa de produção de Cu é mais
60
elevada do que a taxa de decaimento. Contudo, após 9 minutos o Cu decai mais rapidamente
do que é produzido.
60
Após 30 minutos o sistema contém menos de 2 átomos de Zn. Assim, pode
considerar-se que o sistema contém apenas dois tipos de nuclídeos 1) o nuclídeo-pai radioativo
(60Cu) e 2) o seu nuclídeo-filho estável (60Ni)
489
21.2.14 - Isócronas
Um diagrama de isócrona é bivariante aonde são mostradas taxas isotópicas de pais-
filhos para amostras de uma suíte cogenética. Onde as amostras da suíte definem uma linha
no qual é chamada de isócrona e a declinação desta linha é proporcional a idade da suíte.
87
Consideramos o sistema Rb-Sr. O número total de átomos de Sr na rocha que foi fechada no
sistema para t anos é expressa pela equação:
Onde:
87
Srm = o total do número de átomos para 87Sr presentes hoje.
87
Sr0 = o nº de átomos de 87Sr presentes quando a amostra foi formada primeiramente.
87
Rbm = o nº de átomos de 87Rb presentes hoje.
M = é a constante de decaimento (Tab. 1).
No caso do sistema isotópico do Rb-Sr a razão isotópica é 86Sr, portanto pode ser
escrita da seguinte forma:
A razão (87Sr/86Sr)m e (87Rb/87Sr)m podem ser medidas por espectrômetro de massa,
já (87Sr/86Sr)0 e t (idade da rocha) é o que queremos determinar. A partir desta equação que
forma uma linha reta, a idade e interceptação podem ser calculadas a partir da plotação das
medidas das razões (87Sr/86Sr)m e (87Rb/87Sr)m para uma suíte rochas cogenéticas.
490
Esta metodologia é ilustrada na figura abaixo. A idade pode ser calculada a partir da
inclinação da linha na equação:
Onde:
t = idade λ = constante de decaimento
O tempo é medido a partir do presente e é expresso em Ma (106 anos) ou Ga (109
anos). A interceptação, a razão inicial, é considerada de grande importância petrogenética.
Este cálculo de isócrona requer uma suíte de amostras cogenéticas, formadas de um
mesmo magma parental.
491
21.2.15 - Isótopos radiogênicos e ambientes
Erel et al. (1997) utilizaram isótopos de chumbo para traçar os percursos do elemento
em solos e distinguir entre padrões de migração de chumbo natural, derivado das rochas, e de
chumbo antropogênico, originário de várias fontes, inclusive da combustão de gasolina,
provavelmente a principal fonte de chumbo antropogênica em Israel. Este exemplo demonstra
que o uso de razões isotópicas de Pb constitui um método sensível mesmo para materiais de
baixos teores de chumbo, podendo ser aplicado em regiões onde persistam dúvidas sobre as
fontes de poluição para metais pesados em solos, sedimentos outros meios (Figueiredo, 2000).
492
CAPÍTULO 22 - MÉTODOS ISOTÓPICOS
22.1 - O MÉTODO Rb - Sr
O sistema isotópico Rb-Sr (meia vida t1/2 = 48,8 Ga) baseia-se na desintegração de
87 87 86
Rb (abundância de 27.83%) em Sr, sendo utilizado o isótopo estável Sr para a
normalização das razões isotópicas. Rb possui o mesmo ciclo geoquímico do K, ao passo que
Sr possui compatibilidade geoquímica com Ca. Essa diferenciação geoquímica faz com que as
rochas da crosta continental superior possuam razões Rb/Sr mais elevadas do que as rochas
da crosta inferior e do manto (Faure, 1986). A figura abaixo mostra a o Sr isotópico na evolução
da terra, evoluindo para altas razões de Rb/Sr na crosta até 3.8 Ga, evolução resultando em
um manto residual e uma posterior depleção contínua. BABI é o padrão para basaltos e
assume como a razão 87Sr/86Sr do sistema solar.
Portanto:
Rochas com alta Rb/Sr U ricas em 87Sr;
87
Rochas com baixa Rb/Sr U pobres em Sr.
493
Dois tipos de alteração são conhecidos para efeitos de conteúdo Rb e Sr em minerais:
1. Temperatura afetada pelo metamorfismo (causa difusão do Sr);
2. Extração química por circulação de água.
494
O raio iônico do Sr é ligeiramente superior ao do Cálcio, o qual pode substituir o
mesmo em minerais comuns, como o plagioclásio, apatita e calcita.
495
Após 4,88 bilhões de anos (4,88x1010 anos),
87
metade dos átomos de Rb inicialment presentes na
87
caixa sofreram decaimento radioativo para Sr. Este
intervalo de tempo corresponde a uma meia-vida do
87
Rb.
Por cada 4,88 bilhões de anos o número de
87
átomos de Rb é reduzido a metade. O número de
87
átomos de Sr aumenta em conformidade. Após um
87
período de 5 "meia-vidas", resta apenas 1 átomo de Rb
87
na caixa. O número de átomos de Sr é de 31.
87
Sr = 87Sri + 87Rb(eλt - 1)
87 87
O Sr e o Rb representam o número dos
respectivos isótopos presentes atualmente na caixa; o
87 87
Sri representa o conteúdo inicial de Sr na caixa (zero
no exemplo acima). A equação pode ser reescrita:
496
22.1.4 - A equação fundamental
87
Sr = 87Sri + 87Rb(eλt - 1) 86Sr
87
Se for conhecida a quantidade de Sr incorporada em um mineral quando este se
formou (87Sri), e analisarmos o conteúdo atual de 87
Rb e 87
Sr, podemos calcular a idade do
mineral utilizando a equação acima. Um problema prático com a equação é que esta requer
concentrações dos isótopos como input. O espectrômetro de massa, o instrumento que executa
análises isotópicas, fornece razões isotópicas como output.
O problema é elegantemente resolvido resolvido dividindo cada termo por 86Sr. O 86Sr
é um isótopo estável, e não é produzido por decaimento radioativo de um isótopo natural de
outro elemento. Logo, o conteúdo em 86Sr de um mineral não se altera com o tempo.
A equação abaixo é a base para a determinação de idades pelo método Rb-Sr.
Contudo, antes de analisarmos esta equação mais de perto, iremos rever alguns
conceitos matemáticos básicos.
497
Agora, comparemos a equação acima com a equação geral de uma reta em um
diagrama (x,y). Com base na equação acima, podemos construir um diagrama com a relação
87
Rb/86Sr no eixo horizontal (eixo-x) e 87Sr/86Sr no eixo vertical (eixo-y).
87
Os valores de Rb/86Sr são marcados ao longo do eixo horizontal (eixo-x), enquanto
87
que os valores de Sr/86Sr são marcados ao longo do eixo vertical (eixo-y). O valor (87Sr/86Sr)i
corresponde ao ponto de intersecção entre a reta e o eixo vertical, enquanto que (e λt - 1)
corresponde a inclinação da linha.
498
22.1.6 - Datação de rochas ígneas
Será mostrado agora os resultados de um estudo isotópico Rb-Sr realizado por
Andresen (1980). À esquerda está um mapa geológico da área a oeste de Troms Ø, na
Noruega. O granito de Ersfjord em KvalØya está representao em vermelho. A fotografia mostra
alguma das montanhas existentes na área.
499
87
Quando o granito cristalizou, todos os minerais possuíam o mesmo valor Sr/86Sr
(=0,70404), uma vez que se formaram todos a partir do mesmo magma isotopicamente
homogêneo. A inclinação da isócrona era zero, o que corresponde a uma idade = 0.
87
Desde o momento da cristalização os átomos de Rb vêm continuadamente decaindo
87 87
para Sr. Nas rochas com conteúdo inicial baixo em Rb, formaram-se quantidades
87 87
relativamente pequenas de Sr. Nas rochas que continham inicialmente mais Rb, formaram-
87
se quantidades propoircionalmente mais elevadas de Sr. Nota-se que sete amostras estão
marcadas numa reta em qualquer estágio da evolução. Esta reta articula-se com o eixo vertical
em um valor de (87Sr/86Sr). Nota-se igualmente que a inclinação da linha aumenta à medida
que o tempo decorre. A inclinação atual indica que o granito tem uma idade de 1706 ± 15 Ma.
500
Durante um período de 1000 Ma, a inclinação da
isócrona aumenta commo resposta ao decaimento
87 87
radioativo do Rb e crescimento de Sr (figura 2). Em
seguida a rocha foi aquecida durante um episódio
metamórfico de curta duração. A temperatura crescente
levou à mobilização em pequena escala, se Sr (e.g.
entre minerais de um pedaço da rocha), o que levou à
homogeneização isotópica dos minerais na amostra R2.
Contudo, a mobilidade do Sr não foi suficientemente
grande para homogeneizar grandes volumes da rocha
(figura 3). Após o resfriamento o Sr foi mobilizado e a
razão 87Sr/86Sr continuou a evoluir nos minerais e nos
volumes de rocha total. 1500 Ma após a cristalização da
rocha, os espécimes de rocha definem uma isócrons
que fornece a idade da cristalização da rocha (t i).
Contudo, a isócrona definida pela amostra R2 e pelos
três minerais de R2 fornecem a idade do episódio
metamórfico, o qual terá ocorrido há 500 Ma atrás (tm)
(figura 4).
501
22.1.8 - Isótopos de Sr do manto e da crosta
Desde a formação da Terra há 4,6 Ga
atrás, que o manto tem sido homogêneo no que
87
diz respeito às razões Rb/Sr e Sr/86Sr. Pouco
depois da formação da Terra, a razão
87Sr/86Sr do manto era cerca de 0,699.
Contudo, devido ao decaimento radioativo do
87 87 87
Rb em Sr, a razão Sr/86Sr do manto
evoluiu até o valor atual de aproximadamente
0,704 (figura 1).
Durante a fusão parcial do manto, o
material do manto é extraído e adicionado à
crosta terrestre. Imediatamente após a
formação da nova crosta, a sua composição
isotópica em Sr é semelhante à composição do
manto do qual foi extraída (figura 2).
Durante a fusão parcial do manto o Rb
é repartido para o fundido em relação ao Sr. Por
conseguinte, imediatamente após a sua
formação, a crosta recém-formada apresenta
uma razão Rb/Sr mais elevada do que o manto
do qual foi extraída. De modo semelhante, a
parte do manto que foi submetida a fusão
parcial (manto empobrecido) apresenta uma
razão Rb/Sr inferior à do manto não
empobrecido. Devido às diferenças nas razões
87
Rb/Sr, as razões Sr/86Sr da crosta, o manto
empobrecido e o manto não empobrecido evoluem de modo diferente. As rochas crustais
apresentam, em geral, razões 87Sr/86Sr superiores às das rochas mantélicas (figura 3).
O manto é, como referido anteriormente, homogêneo no que diz respeito à sua
composição isotópica em Sr. Contudo, diferentes componentes da crosta terrestre apresentam
grandes variações nas razões 87Sr/86Sr. Uma das razões para isto acontecer é o fato dos
diferentes componentes da crosta terem sido extraídos do manto em momentos diferentes,
como mostrado ao lado (figura 4).
502
22.1.9 - Datação de processos sedimentares por meio da utilização de isótopos
de Sr de carbonatos marinhos (parte 1)
Muitos organismos que habitam as águas oceânicas possuem conhcas e outras partes
duras constituídas por CaCO3. O Sr2+ e Ca2+ possuem cargas e raios iônicos semelhantes,
logo, o Sr2+ rapidamente substitui o Ca2+ na estrutura do carbonato. Contudo, o Rb+ não é
87
incorporado em carbonatos. A relação Sr/86Sr de uma concha carbonática de um organismo
87
marinho vivo é semelhante à relação Sr/86Sr da água na qual ele vive. Quando o organismo
87
morre e é incorporado nos sedimentos do fundo, a assinatura Sr/86Sr do ambiente no qual
este vivia é preservada no sedimento que se forma. Uma vez que a concha não contém Rb, a
87
assinatura Sr/86Sr não é alterada com o tempo. Por conseguinte, os carbonatos marinhos
87
podem ser utilizados para monitorar a variação da razão Sr/86Sr dos oceanos ao longo do
tempo.
503
Apesar dos oceanos do mundo receberem continuamente Sr de composição isotópica
muito variável, proveniente das fontes anteriormente mencionadas, a composição isotópica dos
oceanos é a mesma por todo o lado:
87
Sr/86Sr = 0,70924
As correntes fortes das águas oceânicas são muito importantes para a
homogeneização isotópica do Sr em escala global. Contudo, igualmente importante é a
elevada solubilidade do Sr em águas marinhas. O Sr introduzido no mar a partir de uma fonte
externa permanece por tempo suficiente no mar para se homogeneizar isotopicamente em
escala global. Os elementos menos solúveis (e.g. Nd) precipitam muito antes de ser atingida a
homogeneização isotópica.
O diagrama abaixo mostra as
87
variações da razão Sr/86Sr da água dos
oceanos até cerca de 210 Ma atrás. A baixa
87
razão Sr/86Sr entre os 155-165 Ma atrás
indica que nesse período os oceanos
receberam quantidade elevadas de Sr com
assinatura mantélica (87Sr/86Sr = 0,704). Isto
contrasta com a água oceânica atual (87Sr/86Sr
= 0,709), o que sugere um influxo elevado de
Sr com assinatura crustal (87Sr/86Sr elevada).
504
22.2 - O MÉTODO Sm - Nd
Os ETRs podem substituir muitos dos elementos principais dos minerais mais comuns
na natureza. O caráter geoquímico dos diferentes ETR é muito semelhante, contudo, vários
minerais apresentam uma preferência para os ETRL ou para os ETRP. O diagrama abaixo
mostra as variações nas concentrações dos ETR comuns no felspato, biotita e apatita - a
estrutura cristalina destes minerais prefere os ERTL em relação aos ETRP. Nota-se neste
diagrama que a concentração de Nd é mais elevada do que a concentração de Sm (figura 2).
Contudo, nos anfibólios, piroxênios e granadas vemos uma tendência contrária. Estes
minerais preferem os ETRP em relação aos ETRL na estrutura cristalina, como mostra o
505
diagrama abaixo (figura 3). Nota-se que neste diagrama a concentração de Nd é inferior à
concentração de Sm.
506
22.2.3 - Decaimento radioativo do 147Sm e o crescimento do 143Nd.
147
O núcleo do Sm consiste em 62 prótons e 85 nêutrons. O
147
decaimento radioativo do Sm ocorre por decaimento α. O núcleo do
147
Sm emite uma partícula α, constituída por 2 prótons e 2 nêutrons. O
novo núcleo é constituído por 60 prótons e 83 nêutrons, o que
143
corresponde ao núcleo do Nd. A partícula α é idêntica a uma
isótopo de hélio - 4He. A notação 4He é muitas vezes utilizada para
designar a partícula α.
A reação de decaimento pode ser escrita:
147
Sm → 143Nd + 4He + Q
onde Q é a energia de decaimento - a energia liberada durante o decaimento.
147
O decaimento do Sm e o crescimento do 143Nd com o tempo é descrito pela equação
143
abaixo. As razões Nd/144Nd e 147
Sm/144Nd são medida em um espectrômetro de massa. A
expressão (143Nd/144Ndi refere-se à razão 143
Nd/144Nd inicial do mineral ou rocha analisada (a
143
razão Nd/144Nd da rocha ou mineral no momento da formação). Este valor pode ser
calculado.
507
Agora, comparemos a equação acima com a equação geral de uma reta em um
diagrama (x,y). Com base na equação acima, podemos construir um diagrama com a relação
147
Sm/144Nd no eixo horizontal (eixo-x) e 143Nd/144Nd no eixo vertical (eixo-y).
508
22.2.5 - Datação de rochas ígneas (Idade de cristalização)
Voltemos ao tempo, para o momento em que o meteorito Moama se formou. A textura
do meteorito indica que este se formou durante a cristalização de um fundido, de modo
semelhante ao da formação das rochas magmáticas na Terra. Quando um fundido cristaliza,
todos os minerais adquirem a mesma composição isotópica em Nd, uma vez que se formam a
partir do mesmo fundido isotopicamente homogeneizado. O meteorito Moama se formou a
143
partir de um fundido com uma razão Nd/144Nd igual a 0,50684.
147 143
Desde a sua formação os átomos de Sm têm decaindo radioativamente para Nd.
147
No plagioclásio, que continha inicialmente pouco Sm, formou-se uma quantidade
143 147
relativamente pequena de Nd. Contudo, no piroxênio, que inicialmente continha mais Sm,
143
formou-se uma quantidade proporcionalmente mais elevada de Nd. Vale notar que em
qualquer estágio da evolução do meteorito, as quatro amostras apresentadas se encontram
marcadas ao longo de uma reta. A reta cruza o eixo vertical em um valor de ( 143Nd/144Nd)i.
Nota-se igualmente que a inclinação da reta aumenta a medida que o tempo passa.
Atualmente a inclinação da reta é de 0,0304. É importante relembrar, da equação
anterior, que a expressão (eλt - 1) representa a inclinação da isócrona:
(eλt - 1) = 0,0304
t = ln(1,0304)/λ
uma vez que λ para o 147Sm é 6,54x10-12 ano-1 obtemos
t = 4,58 Ga
O meteorito Moama é um dos muitos meteoritos que foram datados com cerca de 4,58
bilhões de anos. Acredita-se que esta idade representa a formação do nosso sistema solar.
509
22.2.6 - Datação de rochas metamórficas
(idade do metamorfismo)
Agora será mostrado como o método Sm-Nd pode ser utilizado
para datar rochas metamórficas, ou seja o metamorfismo. R1, R2 e R3
representam três amostras da rocha ígnea que constitui a montanha da
fotografia abaixo. M1 e M2 assinalam dois minerais do espécime R3.
Será partido do princípio que a rocha tem 4,5 Ga, e
voltaremos até o tempo de formação da rocha. No
143 144
magma, o Nd e o Nd encontravam-se
homogeneamente distribuídos. Por conseguinte,
143
todos os minerais possuiam razões Nd/144Nd
similares pouco tempo após a cristalização do
147
magma. Contudo, as razões Sm/144Nd de
diferentes minerais e diferentes volumes de rocha
variavam, uma vez que alguns minerais mostram
preferência para o Sm em relação ao Nd durante o
crescimento, enquanto que os outros preferem Nd
em relação ao Sm (figura 1).
Começamos observando a rocha há 4,5 Ga
atrás, no tempo 0. Abaixo é possível ver como
evoluíram com o tempo as composições isotópicas
das amostras de minerais e rochas. As razões
143
Nd/144Nd dos minerais e rochas começaram a
aumentar imediatamente após a cristalização da
rocha. Isto foi mais ou menos a única coisa que
aconteceu à rocha durante os primeiros 2,5 Ga
(figura 2).
Então, a rocha experimentou um aumento
da temperatura durante um episódio metamórfico.
A temperatura crescente levou à mobilização em
pequena escala do Nd (e.g. entre os minerais de
um pedaço de rocha). A mobilização do Nd levou à
143
homogeneização das razões Nd/144Nd dos
minerais na amostra R3. Contudo, a mobilidade do
510
Nd não foi suficientemente grande para homogeneizar volumes maiores da rocha (figura 3).
143
Após o resfriamento o Nd foi imobilizado, e as razões Nd/144Nd aumentaram sob
taxas diferentes nos diferentes minerais. 4,5 Ga após a cristalização da rocha, os espécimes da
rocha definem uma isócrona que nos dá a idade da cristalização da rocha. Contudo, a isócrona
definida pelo espécime R3 e pelos dois minerais M1 e M2 dá-nos a idade do episódio
metamórfico (figura 4).
511
143
razão Nd/144Nd do manto tinha evoluído para cerca de 0,5105. A evolução subsequente das
143
razões Nd/144Nd dos componentes crustais foi controlada pelas suas razões 147
Sm/144Nd.
147
Para o exemplo abaixo a razão Sm/144Nd dos componentes crustais é de 0,11, enquanto que
o manto possui uma razão 147Sm/144Nd = 0,22 (figura 3).
A composição isotópica do Sm e Nd de uma rocha pode ser utilizada para fazer uma
estimativa de tempo decorrido desde que o material que constituiu a rocha foi extraído do
manto. Consideremos três componentes da crosta (assinalados por 1, 2 e 3 no diagrama
abaixo). As composições isotópicas do Sm e Nd das rochas foram analisadas em um
143
espectrômetro de massa. Quando forem conhecidas as razões Nd/144Nd e 147
Sm/144Nd
143
atuais das rochas, podem ser calculadas as suas razões Nd/144Nd em qualquer tempo t
através da equação:
512
Um quadro para a interpretação das
idades Sm-Nd no Mar do Norte e margem
Atlântida foi desenvolvido ao longo dos anos
através da análise dos sedimentos modernos dos
rios do Reino Unido e da Noruega (figura 1). As
idades de proveniência dos sedimentos fluviais
variam de acordo com a geologia das áreas e são
registradas uma grande variedade de idades, dos
1000 aos 3000 Ma. Os campos composicionais
definidos pelos sedimentos fluviais no diagrama
da isócrona Sm-Nd fornecem o quadro
necessário para uma interpretação da
proveniência dos sedimentos das bacias off shore
(figura 2).
Os arenitos da Formação Forties, na
parte central do Mar do Norte britânico, possuem
uma composição muito semelhante ao das Ilhas
Shetland. As medições do Carbonífero Barren
Red apresentam uma idade de proveniência
menor, provavelmente de terrenos hercínicos do sul. A Formação Statfjord possui uma
proveniência bimodal com influência da Noruega ocidental e do Arqueano britânico. A margem
atlântica triássica possui uma proveniência bimodal, provavelmente da plataforma das Shetland
e do Arqueano britânico (figura 3).
513
22.3 - O MÉTODO K - Ar e Ar - Ar
514
22.3.3 - Mecanismos de decaimento radioativo
40 40
O núcleo de K contém 19 prótons e 21 nêutrons. O K é radioativo, com uma meia-
vida de 1,25x109 anos. Como você poderá ver posteriormente, o 40
K decai radioativamente por
meio de três mecanismo diferentes: decaimento
de um negatron (decaimento β-), decaimento de
um positron (decaimento β+) e captura
eletrônica (figura 1). 89,52% do decaimento do
40K ocorre por emissão de um negatron
(decaimento β-), para 40
Ca. Este processo de
decaimento possui potencial como método de
datação, contudo, não tem sido muito utilizado.
A razão disto tem a ver com o fato dos isótopos
de Ca se fracionarem durante os processos
40
naturais e porque o Ca é o isótopo de Ca mais
abundante, tornando difícil medir alterações
causadas pelo 40K (figura 2).
Uma pequena fração (0,001%) do
40 40
decaimento do K para Ar ocorre pela
emissão de um positron (figura 3). finalmente,
40
cerca de 10,48% do decaimento do K ocorre
40
por captura eletrônica para produzir Ar. É de
notar que os últimos mecanismos de
decaimento resultam na formação do mesmo
40
isótopo, nomeadamente o Ar. O decaimento
40 40
radioativo do K em Ar constitui a base para
os métodos de datação K-Ar e Ar-Ar (figura 4).
A discussão anterior demostrou que o
40
decaimento radioativo do K ocorre por
decaimento ramificado, i.e. o decaimento do
40 40 40
K leva à formação de dois isótopos-filho diferentes, nomeadamente o Ca e Ar. Cada ramo
do esquema de decaimento dá origem a duas constantes de decaimento distintas λAr (dois
mecanismos, duas constantes) e λCa. A constante de decaimento total λ para o decaimento do
40
K é:
λ = λAr+ λCa.
515
O crescimento do 40Ca e 40Ar radiogênicos pode ser expresso pela equação:
40
Ca + 40Ar = 40K(eλt - 1)
Combinando estas equações podemos calcular o crescimento do 40Ar em um mineral
ou rocha portadora de K:
40
Ar = (λAr/λ)40K(eλt - 1)
o qual constitui a base para os métodos de datação K-Ar e Ar-Ar.
516
40
Após 1,25 Ga, o número de átomos de K
foi reduzido a metade uma vez mais - o número é
agora de 800. Consequentemente, o número de
40
átomos de Ca subiu para 2148, enquanto que o
número de átomos de 40Ar é de 252 (figura 3).
Após 4 meia-vidas (5Ga) o número inicial de
átomos de 40K foi reduzido a metade quatro vezes - o
número é agora de 200. O número de átomos de
40
Ca subiu para os 2685, enquanto que o número de
átomos de 40Ar é de 315 (figura 4).
Na prática, não contamos o número de
40 40
átomos de K e Ar presentes no mineral que
queremos datar. Contudo, a razão entre o isótopo
radiogênico e o isótopo radioativo pode ver diretamente utilizada para calcular a idade. Desde
40 40
que o mineral se comporte como um sistema químico fechado (i.e. que nem o K ou Ar
40
sejam transportados para dentro ou para fora do mineral), a razão Ar/40K do mineral irá
40
aumentar sucessivamente com o tempo. Foi anteriormente referido que o crescimento do Ar
em uma rocha ou mineral portador de K pode ser calculado por meio da equação:
40
Ar = (λAr/λ)40K(eλt - 1)
Esta equação resolvida para t (ver na imagem abaixo). Os símbolos λ Ar e λ são
40
constantes conhecidas. Logo, se a razão Ar/40K de um mineral tiver sido analisada,
poderemos facilmente calcular a idade do mineral por meio desta equação.
517
22.3.5 - Temperatura de fechamento
A fotografia abaixo apresenta um cristal de muscovita, enquanto que a figura ao seu
lado mostra um modelo da estrutura da muscovita. O Al 3+ ocupa as posições octaédricas
(centros do octaedro violeta), o Si4+ ocupa as posições tetraédricas (centros do tetraedro azul),
enquanto que o K+ ocupa a posição entre as camadas de octaedros e tetraedros. Quando a
muscovita se forma, quer durante o metamorfismo quer durante a cristalização de um magma,
a temperatura é de várias centenas de graus centígrados, como indicado pela tonalidade
vermelha do cristal de muscovita. A temperatura elevada permite uma elevada mobilidade
interna dos íons ou átomos na estrutura dos minerais. Uma vez que os átomos de argônio, que
40
se formam durante o decaimento radioativo do K em uma estrutura de um mineral, não
40
estabelecem nenhuma ligação com os íons vizinhos, o Ar irá rapidamente escapar da
estrutura do mineral a elevadas temperaturas como se mostra na figura abaixo.
A figura abaixo mostra este mesmo cristal de muscovita a uma temperatura de cerca
40
de 650°C. A esta temperatura, o Ar irá rapidamente escapar após formar-se por decaimento
40
radioativo do K. A uma temperatura entre os 375°C e 325°C, o mineral começa a reter Ar. As
40
temperaturas abaixo deste intervalo, todo o Ar formado durante o decaimento radioativo do
40
K é retido na estrutura do mineral. As condições de temperatura nas quais um mineral
encerra a transferência de Ar para fora ou para dentro da estrutura cristalina é designada por
temperatura de fechamento (ou bloqueio) do Ar.
518
As temperaturas abaixo da
temperatura de fechamento do Ar, este
acumula-se no mineral. A concentração do
40
Ar aumenta como resultado do decaimento
40
do K. Este é o memento a partir do qual é
iniciado o relógio radiométrico dos sistemas
K-Ar e Ar-Ar. Por conseguinte, os métodos
K-Ar e Ar-Ar não nos dão o momento da
formação de um mineral, mas sim o tempo
decorrido desde que o mineral resfriou abaixo da sua temperatura de fechamento do Ar. As
idades K-Ar e Ar-Ar são, por esta razão, normalmente conhecidas por idades de resfriamento.
A temperatura de fechamento do Ar de um mineral depende da composição e da
estrutura do mineral. Por conseguinte, diferentes minerais apresentam diferentes temperaturas
de fechamento.
519
temperatura de fechamento do Ar, após a cristalização. Contudo, a composição da borda
representa um episódio mais tardio. Durante este episódio alguns, mas não todos, os átomos
40
de Ar foram expulsos da estrutura do mineral. Além disso, o argônio atmosférico e da água
subterrânea são normalmente incorporados em fraturas e na superfície dos minerais. Deste
modo, os minerais que pretendemos datar podem apresentar distribuições muito heterogêneas
em 40Ar.
40
O método convencional K-Ar baseia-se na grandeza (média) das razões Ar/40K do
mineral. Se o cristal de muscovita acima for datado com este método, o resultado será
40
inconclusivo, uma vez que o mineral perdeu e ganhou Ar em diferentes períodos. O método
Ar-Ar é um melhoramento do método K-Ar convencional,
e pode abordar alguns destes problemas relacionados
com a distribuição heterogênea do 40Ar.
520
ser analisada em um espectrômetro de massa. A partir
40
da razão Ar/39Sr podemos facilmente calcular a razão
40
Ar/40K da amostra, a partir da qual poderá ser
calculada a idade da amostra. A possibilidade de
40
determinar a razão Ar/40K de um mineral por meio de
uma única análise permitiu o desenvolvimento do
método Ar-Ar muito além dos limites do método K-Ar
(figura 4).
523
Na crosta continental, a temperatura aumenta
em profundidade cerca de 30°C por quilômetro (figura
1). As temperaturas em profundidade na crosta
continental podem ser traçadas, através de linhas cor de
laranja. Subsequentemente à formação da cadeia
montanhosa, as rochas assinaladas com o círculo verde
sofreram metamorfismo a cerca de 800°C. Assume-se
que isto aconteceu há 200 Ma atrás. Se foram formados
zircões durante o episódio metamórfico, esses poderão
ser utilizados mais tarde no método U-Pb para datar o
metamorfismo. Contudo, 800°C é uma temperatura
muito acima da temperatura de fechamento do Ar em
minerais portadores de K, logo, o método Ar-Ar não
pode ser usado para datar o episódio metamórfico
(figura 2).
Imediatamente após a formação da cadeia
montanhosa, teve início a sua destruição por processos
erosivos. Erosão e remosão do material mais superficial
da crosta levou ao soerguimento do material abaixo Há
cerca de 116 Ma atrás, as rochas assinaladas com o
círculo verde, que inicialmente se formaram a uma
temperatura de 800°C, tinham já resfriado para uma
temperatura de cerca de 500°C, como resultado do
soerguimento. Neste intervalo de temperaturas, os
anfibólios começam a reter Ar. Por conseguinte, a idade
Ar-Ar de um anfibólio data uma parte da história do
soerguimento da crosta. As idades Ar-Ar são por
conseguinte muitas vezes referidas como idades de
soerguimento ou de exumação (figura 3).
Há cerca de 68 Ma atrás, as rochas do círculo
verde tinham refriado para uma temperatura de cerca de 325°C, a qual corresponde à
temperatura de fechamento para o Ar da muscovita. Assim, a idade Ar-Ar da muscovita data
uma parte da história do soerguimento Crustal posterior à da idade Ar-Ar no anfibólio (figura 4).
A erosão e o soerguimento continuou até que as rochas ficaram expostas à superfície, e
puderam ser recolhidas amostras por um geólogo (figura 5).
524
Com base nos dados geonocronológicos pode ser construído um diagrama
temperatura-tempo, como se mostra abaixo. A linha pontilhada vermelha mostra a evolução
temperatura-tempo das rochas do presente exemplo. O soerguimento devido à erosão
caracteriza-se por uma curva de declive relativamente constante. Outros processos, como o
soerguimento devido ao soerguimento tectônico, pode ser identificado por dados que indicam
mudanças rápidas de temperatura (linha pontilhada azul).
525
22.4 - O MÉTODO U-Th-Pb
527
22.4.1 - O U, Th e o Pb na tabela periódica
O urânio (U) e o tório (Th) pertencem a série de elementos actinídeos, o grupo de
elementos que se segue ao actínio (Ac) na tabela periódica. Os dois elementos ocorrem na
natureza no seu estado tetravalente oxidado: U4+ e Th4+. Os raios dos dois íons são similares
(U4+ = 1,05Å, Th4+ = 1,10Å). Devido à similaridade dos raios e da valência dos íons, estes
apresentam características geoquímicas semelhantes. Em condições oxidantes forma-se
UO22+, onde o U apresenta valência 6+. Ao contrário do U4+ e do Th4+, o UO22+ é solúvel em
água. Por conseguinte, em condições oxidantes o U poderá separar-se do Th. O decaimento
dos isótopos radioativos do U e do Th
leva a formação de chumbo (Pb).
Durante o decaimento do U e do Th,
formam-se uma série de elementos
temporários: protactínio (Pa), actínio
(Ac), rádio (Ra), frâncio (Fr), radônio
(Rn), ástato (At), polônio (Po), bismuto
(Bi), tálio (Tl) e mercúrio (Hg).
528
22.4.3 - O mecanismo de decaimento α
238 206
O decaimento do U para o estável Pb origina uma série de isótopos-filhos - o
primeiro é o 324Th. O decaimento do 238U para o 234Th ocorre pelo mecanismo de decaimento α.
238
O núcleo do U é constituído por 92 prótons e 146 nêutrons. Quando este núcleo emite uma
partícula α (um núcleo constituído por 2 prótons e 2 nêutrons = 4He), forma-se um núcleo
234
constituído por 90 prótons e 144 nêutrons, o que corresponde a um núcleo de Th. O
234 234
decaimento do Th para o Pa ocorre através do mecanismo de decaimento β-, e
transforma-se em um próton. O número de nêutrons do núcleo inicial ( 234Th) é reduzido em
uma unidade, enquanto que o número de prótons aumenta uma unidade. O novo núcleo é
234
constituído por 91 prótons e 143 nêutrons, correspondente ao Pa. O decaimento
subsequente do núcleo ocorre durante a emissão de diversas partículas α - e β-. O diagrama
238
abaixo mostra um possível caminho de decaimento do U para 206Pb.
529
radioativo por mais do que um tipo de mecanismo de decaimento, dizemos que o núcleo sofre
218 218
decaimento ramificado. De modo semelhante ao Po, o At sofre decaimento radioativo
por meio de dois mecanismos de decaimento diferentes: quer por decaimento α para 214Bi, quer
por decaimento β- para 218Rn.
530
22.4.7 - As séries de decaimento do 232Th
232
Finalmente, as séries de decaimento dos isótopos Th formam-se durante o
decaimento do 232Th para o 208Pb estável.
531
22.4.9 - Equilíbrio secular
Exemplo 1: Imagine um recipiente cheio com 1000 átomos de um isótopo radioativo
hipotético. A meia-vida do nuclídeo radioativo é de 10 dias. Inicialmente, não existem átomos
do isótopo-filho no recipiente. O diagrama abaixo mostra o decaimento do isótopo radioativo
para o isótopo-filho estável. O número de átomos do isótopo-filho aumenta com o tempo.
Vejamos o que acontece se o isótopo-filho for radioativo, com uma meia-vida de 1 dia.
O número de átomos do isótopo-filho no recipiente é controlado por dois fatores: 1) a taxa de
produção do isótopo-filho durante o decaimento do isótopo-pai, e 2) a taxa de decaimento
radioativo do isótopo-filho. Durante os primeiros 2 dias, o número de átomos do isótopo-filho
aumenta rapidamente. Isto deve-se ao fato da taxa de produção do nuclídeo ser superior à taxa
de decaimento.
Contudo, após dois dias é atingido um equilíbro: a taxa de produção do isótopo-filho é
igual a taxa de decaimento radioativo. Esta condição é designada por equilíbrio secular. No
equilíbrio secular, o número de átomos de um isótopo radioativo em um sistema é controlado
pelo número do seu isótopo-pai por meio da equação:
532
238
Exemplo 2: Considere um recipiente que foi preenchido com átomos de U há alguns
238
milhões de anos atrás. Hoje, existe um trilhão de átomos de U no recipiente. Se os isótopos
238
intermediários da série de decaimento radioativo do U tiverem atingido o equilíbrio secular
poderemos facilmente calcular o número de átomos destes isótopos no recipiente.
Temos:
Nfilho = 155.125/λfilho.
O diagrama abaixo mostra o número de átomos no recipiente de uma seleção de
238
isótopos intermediários em equilíbrio secular com o U.
533
22.4.10 - Desequilíbrio secular
- Os métodos de datação das séries do U
Voltemos atrás até ao container com 1000
átomos de um isótopo radioativo hipotético com uma
meia-vida de 10 dias, e um isótopo radioativo com
uma meia-vida de 1 dia. Após 2 a 3 dias os isótopos
terão atingido o equilíbrio secular. Então, por algum
processo, todos os átomos do isótopo-filho serão
removidos do recipiente. Contudo, se o container
permanecer fechado, o equilíbrio secular será
rapidamente restabelecido (figura 1).
O número de átomos do isótopo-filho
radioativo em equilíbrio secular (linha azul) pode ser
calculado quando for conhecido o número de
isótopos-pais. A diferença entre o número de átomos
de isótopo-filho medido e o número de átomos em
equilíbrio secular pode ser utilizado para calcular o tempo decorrido desde que o equilíbrio
secular foi perturbado (figura 2). A deficiência de um isótopo-filho em relação ao equilíbrio
secular, constitui a base de diferentes métodos de datação de episódios geológicos recentes,
incluindo os métodos 230Th-234U e 231Pa-235U - ver tabela abaixo.
Uma vez mais voltemos atrás, até ao recipiente com 1000 átomos de um isótopo
radioativo hipotético e uma meia-vida de 10 dias, e de um isótopo-filho radioativo com uma
meia-vida de 1 dia. Agora, vejamos o que acontece ao isótopo-filho se todos os átomos do
isótopo-pai, por algum mecanismo, forem removido do recipiente (figura 3). Isto deixa o
isótopo-filho sem suporte - a produção do isótopo por decaimento do seu isótopo-pai cessa. O
número de átomos dos isótopos de vida curta presentes no recipiente irá por sua vez diminuir
rapidamente, devido ao decaimento radioativo (figura 4).
534
238 235 232
Isótopos sem suporte pertencentes às séries de decaimento U, U, e Th
constituem a base para diversos métodos de datação de episódios geológicos recentes, como
se mostra na tabela abaixo.
536
22.4.12 - As principais equações utilizadas no método U-Pb
As deduções das equações de cálculo das idades radiométricas para os métodos U-Pb
e Pb-Pb encontram-se em Faure (1988) e Faure e Mensing (2005). A seguir serão
apresentadas apenas as principais equações utilizadas:
537
O fator SKT, que envolve as razões (207Pb/206Pb)m, (204Pb/206Pb)m, (207Pb/206Pb)i e
(204Pb/206Pb)i, varia na forma de hipérbole com uma faixa muito pequena em relação do tempo
geológico [-12,307(2,8 Ga) a -12,427(0,0 Ga) com pico de -12,6(2,0 Ga)]. A correção de Pb
comum, por outro lado, é fortemente dependente do valor da medida de ( 204Pb/206Pb)m, ou seja,
quanto menor a razão (204Pb/206Pb)m, menor será a correção na razão de 207
Pb/206Pb. A
correção do Pb comum inicial será insignificante quando a razão (204Pb/206Pb)m for menor que
0,0001. Quando a razão (204Pb/206Pb)m for maior que 0,05, então a razão (207Pb/206Pb)rad
calculada a partir de (207Pb/206Pb)m poderá sofrer mudanças superiores a 100%, função desta
correção. Portanto, a precisão da idade é fortemente dependente da medida da ralação
204
Pb/206Pb (Pb inicial ou comum) e muito pouco dependente do tempo T atribuído relativo ao
parâmetro SKT (Stacey e Kramer, 1975).
207
As idades T em função de Pb/206Pbrad podem ser facilmente calculadas com o auxílio
de programas de informática de PBDAT. Por outro lado, mesmo que os procedimentos
efetuados sejam analiticamente precisos e devidamente corrigidos (fracionamento isotópico, Pb
inicial e atual), os resultados obtidos só terão significado geológico se o sistema tivesse
206
mantido fechado desde a formação da rocha. Nesses casos as idades Pb/238U e 207Pb/235U e
207
Pb/206Pb serão concordantes.
538
22.4.13 - O diagrama concórdia
207
Neste diagrama, a razão Pb/235U é apresentada ao longo do eixo horizontal
206
enquanto que a razão Pb/238U é apresentada ao longo do eixo vertical. Como dito
207
anteriormente, as razões Pb/235U e 206
Pb/238U de um mineral podem ser utilizadas para datar
207
a sua formação. Uma razão Pb/235U de 15 corresponde a uma idade de cerca de 2800 Ma. A
206
razão Pb/238U correspondente a esta idade é de cerca de 0,55. Para as composições
207
isotópicas de U e Pb representadas pelo círculo azul, a idade Pb-235U e a idade 206
Pb-238U
são similares, notavelmente de 2800 Ma. Dizemos que as idades são concordantes.
207
A curva vermelha no diagrama abaixo representa idades Pb-235U e 206
Pb-238U
concordantes. A curva é designada por concórdia. Se as composições isotópicas de U e Pb de
um mineral se encontram marcadas na concórdia, ambos os geocronômetros (207Pb-235U e
206
Pb-238U) fornecerão a mesma idade. Contudo, se o mineral possuir composições isotópicas
de U e Pb marcadas fora da linha, os dois geocronômetros fornecerão duas idades diferentes -
serão discordantes.
539
207
O círculo verde mostra como as razões Pb/235U e 206
Pb/238U de um mineral evoluem
com o tempo. Inicialmente, o conteúdo em Pb = 0, deste modo ambas as razões serão iguais a
zero. Contudo, com o tempo, ambas as razões aumentam ao longo da concórdia. A curvatura
da concórdia corresponde à diferença entre as meia-vidas do 235U e 238U.
540
Selecionamos 5 zircões de tamanhos
diferentes da rocha a ser estudada. Um Xs
(extra pequeno - extra small), e as outras quatro
com os tamanhos S, M, L e XL,
respectivamente (figura 2). Durante o
metamorfismo, a temperatura aumenta e a
rocha é deformada. Adicionalmente, a rocha
pode ser percolada por fluidos. Tanto o
aumento de temperatura, a deformação como a
presença de fluidos aumentam a mobilidade
dos elementos em uma rocha. O Pb não se
encaixa muito bem na rede cristalográfica do
zircão. Por conseguinte, o Pb tende a escapar
do zircão durante o metamorfismo.
Normalmente, os grãos pequenos perdem mais Pb do que os grãos maiores. A perda de Pb
desloca as composições isotópicas dos minerais em direção à origem (figura 3). Após o
episódio metamórfico, os zircões se "fecham" isotopicamente em relação ao Pb, e as razões
206
Pb/238U e 207
Pb/235U começam a aumentar uma vez mais durante 500 Ma. Nota-se que os
zircões com composições isotópicas deslocadas da concórdia se movem "paralelamente" à
concórdia. Nota-se também que as composições isotópicas dos zircões permanecem em uma
reta em comum durante a evolução (Figura 4).
A linha definida pelas composições isotópicas dos zircões é designada por discórdia. O
intercepto superior entre a discórdia e a concórdia representa a composição isotópica de um
zircão que não perdeu nenhum Pb durante o metamorfismo, logo fornece a idade de
cristalização da rocha. Contudo, o intercepto inferior representa a composição isotópica de um
mineral hipotético que perdeu todo o Pb durante o metamorfismo - o geocronômetro foi
reiniciado por completo. Assim, o intercepto inferior data o episódio metamórfico (figura 5).
541
22.4.15 - Determinação de proveniências
O zircão é altamente resistente ao intemperismo e a erosão. Por conseguinte, o zircão
normalmente ocorre como um mineral acessório em sedimentos e rochas sedimentares. As
composições isotópicas de U, Th e Pb do zircão são normalmente pouco afetadas pelo
intemperismo e a erosão. Por esta razão, a idade de um zircão detrítico representa a idade da
fonte do sedimento - i.e. a idade de proveniência do sedimento. Esta informação é de grande
interesse para a indústria petrolífera, entre outras.
Durante a exploração de um campo petrolífero, a fonte
e direção de transporte dos sedimentos tem interesse
para as companhias de prospecção. Para a situação
abaixo o problema é: As areias que constituem a
rocha-reservatório tiveram origem na erosão do
continente da esquerda, ou são provenientes do
continente do lado direito?
Provavelmente o melhor método para solucionar este problema é calcular a idade de
proveniência do sedimento, e comparar esta idade com a idade de componentes crustais com
potencial para serem a fonte de sedimento. Isto pode ser feito recolhendo e analisando zircões
da rocha-reservatório, e dos potenciais candidatos a fonte do sedimento. No presente exemplo,
os zircões detríticos da rocha-reservatório e os zircões presentes nas rochas do continente ao
lado direito possuem a mesma idade (2500 Ma). Contudo, os zircões presentes nas rochas do
continente da esquerda são consideravelmente inferiores. Portanto, é sensato concluir que as
areias constituintes da rocha-reservatório tiveram origem no continente do lado direito.
542
Na vida real a situação é um pouco mais
complexa do que o exemplo anterior. Morton e Grant
(1998) realizaram um estudo nos arenitos cretácios
profundos do mar norueguês. Um dos seus objetivos
era identificar a fonte das areias. O estudo de Morton
e Grant (1998) incluiu a análise de zircões detríticos
em arenitos de dois poços (6610/ 3-1, 2300m e
6607/5-2, 4172m) (figura 1).
Contudo, antes de analisarmos os dados, é importante notar que o oceano entre a
Noruega e a Groenlândia era mais estreito durante o Cretáceo do que é atualmente, quando
as areias se depositaram. As rochas sedimentares normalmente contêm grãos de zircão de
diferentes idades, i.e. os grãos representam diferentes fontes de sedimentos. Um tipo de
arenito (tipo K1) contém uma população subordinada com uma idade cerca de 400 Ma, e um
grande grupo de zircões proterozóicos com um pico pronunciado em 1800 Ma. Adicionalmente
há um forte componente entre 1400 e 1700 Ma, e grão dispersos no início do Proterozóico. As
rochas de idades semelhantes são bem conhecidas no continente escandinavo. Assim, as
areias tiveram muito provavelmente origem em uma combinação de 1) rochas pertencentes aos
Caledônides, 2) rochas pertencentes ao Escudo Ígneo Trans-escandinavo e 3) um componente
relativamente menor da base do Svecofenniano. Outro tipo de arenito (tipo K2) apresenta uma
população de zircões distintamente diferente, com componentes de idade mesozóica,
caledoniana, proterozóica e arqueana. Com base nos dados dos zircões apresentados aqui,
em combinação com dados de minerais pesados, Morton e Grant (1998) argumentaram que as
areias K2 provinham de uma fonte no noroeste da Groenlândia. Para concluir, as populações
de zircões detríticos dos arenitos cretácicos profundos do mar norueguês indicam a existência
de duas fontes distintas de areias: 1) o arenito tipo K1 teve origem em uma combinação de
rochas presentes no continente escandinavo, e 2) o arenito tipo K2 teve origem no noroeste da
Groenlândia (figura 2).
543
22.5 - O MÉTODO Re-Os
544
A equação de datação pode ser expressa como:
545
associados a depósitos de sulfetos maciços, sendo obtida sua idade de cristalização
magmática.
Uma das limitações que retardaram a difusão do método Re-Os encontra-se associada
ao fato de que Os é um dos elementos menos abundantes na natureza. Sua concentração
varia entre valores de algumas picogramas por grama (pg/g, ou seja, algumas partes por trilhão
de partes: ppt)) na maioria das rochas crustais e concentrações da ordem de 1 micrograma por
grama (mg/g) nos sulfetos ou até 50 mg/g em meteoritos sideríticos (Völkering et al., 1991).
Este fato implica na necessidade de métodos analíticos extremamente sensíveis e precisos
para a determinação da concentração desse elemento e de seus isótopos. Além disso, em
função do isótopo radiogênico do Os (1870s) apresentar o mesmo número de massa do isótopo
que lhe dá origem (187Re), torna-se necessário separá-los da amostra a ser estudada antes de
se proceder a sua extração de Os é extremamente delicado e complicado (Shirey; Walker,
1995) e que se necessita de laboratórios "limpos", dentro de padrões internacionais, e
reagentes ultra-puros, para se evitar eventuais contaminações durante os procedimentos de
extração e análise.
Essas análises só se tornaram viáveis com o desenvolvimento de equipamentos para
espectrometria de massa por ionização térmica negativa (NTI-MS), uma vez que medidas
precisas pela via tradicional de ionização térmica positiva não se aplicavam, dentro dos limites
de precisão desejados, para os isótopos de Os em função do extremamente elevado potencial
de ionização deste elemento' Pela nova técnica (NTI-MS) passou a ser possível analisar com
precisões menores que 0,01%, razões isotópicas de Os em amostras que continham este
elemento químico em quantidades da ordem de alguns nanogramas por grama de amostra
(algumas ppt). Como conseqüência, uma vez superados os problemas analíticos, este método
vêm se difundindo gradamente nos melhores centros de pesquisas ligados as geociências em
âmbito mundial, permitindo avanços significativos na compreensão dos importantes problemas
geológicos e metalogenéticos que careciam até então de uma ferramenta de trabalho
adequada para sua resolução.
546
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ANEXO
551
552