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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

UNIDADE 1 - REVISÃO ..................................................................................................... 12

CAPÍTULO 1 - ELEMENTOS DE QUÍMICA CRISTALINA......................................... 13

CAPÍTULO 2 - ASPECTOS DA ESTRUTURA CRISTALINA..................................... 42

CAPÍTULO 3 - COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS MINERAIS ....................................... 66

CAPÍTULO 4 - ESTABILIDADE MINERAL E DIAGRAMAS DE FASE ...................... 85

UNIDADE 2 - COSMOQUÍMICA E O PLANETA TERRA................................................ 106

CAPÍTULO 5 - COSMOQUÍMICA ............................................................................ 107

5.1 - BIG-BANG ..................................................................................................... 107

5.2 - NUCLEOSSÍNTESE ....................................................................................... 110


5.2.1 - Nucleossíntese cosmológica ............................................................. 110
5.2.2 - Nucleossíntese interestelar ............................................................... 111
5.2.3 - O e-processo ................................................................................... 113
5.2.4 - O s-processo ................................................................................... 114
5.2.5 - Nucleossíntese explosiva .................................................................. 114
5.2.6 - O r-processo .................................................................................... 116
5.2.7 - O p-processo ................................................................................... 116
5.2.8 - Nucleossíntese galática .................................................................... 117

5.3 - O PADRÃO DE ABUNDÂNCIA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS .......................... 117

5.4 - EVOLUÇÃO DAS ESTRELAS ......................................................................... 119

5.5 - OS DIFERENTES TIPOS DE ESTRELAS ......................................................... 122

5.6 - METEORITOS................................................................................................ 123


5.6.1 - Meteoritos ferrosos ........................................................................... 124
5.6.2 - Meteoritos rochosos ......................................................................... 124
5.6.3 - Meteoritos ferro-rochosos ................................................................. 128
5.6.4 - Idade dos meteoritos ........................................................................ 128

5.7 - FORMAÇÃO DO SISTEMA SOLAR ................................................................. 130


5.7.1 - O processo de acresção ................................................................... 132
5.7.1.1 - Acresção homogênea ...................................................... 132
5.7.1.2 - Acresção heterogênea ..................................................... 133

5.8 - GEOLOGIA LUNAR ........................................................................................ 135


5.8.1 - Composição lunar ............................................................................ 135
5.8.2 - Química e história da Lua ................................................................. 136
5.8.3 - A hipótese do grande impacto e a formação da Terra e da Lua ............ 137

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CAPÍTULO 6 - O PLANETA TERRA ......................................................................... 139

6.1 - CROSTA........................................................................................................ 139


6.1.1 - Formação da crosta terrestre............................................................. 139

6.2 - DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS .................... 141


6.2.1 - Crosta ............................................................................................. 141
6.2.2 - Materiais da Terra ............................................................................ 142
6.2.3 - Os minerais ou grupos de minerais mais abundantes da crosta ............ 143
6.2.4 - Composição química média da crosta ................................................ 144
6.2.5 - % dos minerais na composição mineral das rochas ígneas .................. 145

6.3 - MANTO ......................................................................................................... 146


6.3.1 - Estrutura e composição do manto ...................................................... 147
6.3.2 - O manto sob a perspectiva mineralógica ............................................ 151
6.3.3 - O Manto Superior (MS) ..................................................................... 153
6.3.4 - O Manto Primitivo (MP) ..................................................................... 154
6.3.5 - A litosfera ........................................................................................ 155
6.3.6 - Heterogeneidades mantélicas ........................................................... 155
6.3.7 - O Manto Empobrecido (Depleted Mantle; DM) .................................... 156
6.3.8 - HIMU (High-μ ou elevada razão U/Pb) ............................................... 156
6.3.9 - O Manto Enriquecido (EMI e EMII) ..................................................... 156
6.3.10 - Xenólitos mantélicos ....................................................................... 157

6.4 - NÚCLEO ........................................................................................................ 158


6.4.1 - Principais características do núcleo ................................................... 159
6.4.2 - Estrutura do núcleo .......................................................................... 159
6.4.3 - Constituição do núcleo...................................................................... 162
6.4.4 - Temperatura e formação do núcleo.................................................... 164
6.4.5 - Evolução do núcleo .......................................................................... 166
6.4.6 - Energia e o campo magnético terrestre .............................................. 168

CAPÍTULO 7 - GEOQUÍMICA DOS ELEMENTOS TRAÇOS ........................................... 169

7.1 - ELEMENTOS TERRAS RARAS (ETRs) ........................................................... 169


7.1.1 - ETR em estudos geológicos .............................................................. 171
7.1.2 - Normalização condrítica .................................................................... 172
7.1.3 - Dificuldades com a normalização condrítica........................................ 174
7.1.4 - Diagrama de razão ETR ................................................................... 174
7.1.5 - Normalização NASC para sedimentos................................................ 174
7.1.6 - Normalização por rocha .................................................................... 175
7.1.7 - Raio iônico e Coordenação dos elementos ......................................... 175
7.1.8 - Substituição e partição de elementos ................................................. 176
7.1.9 - Corficiente de partição ...................................................................... 176
7.1.10 - Regras de substituição de Goldschmidt ............................................ 177

CAPÍTULO 8 - COMPORTAMENTO GEOQUÍMICO DOS ELEMENTOS ......................... 178

8.1 - SELEÇÃO DOS ELEMENTOS ......................................................................... 178

8.2 - O COMPORTAMENTO GEOQUÍMICO DOS ELEMENTOS ............................... 179

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8.3 - Al - ALUMÍNIO ................................................................................................ 181
8.3.1 - O Alumínio nas rochas ígneas ........................................................... 182
8.3.2 - O ciclo do Alumínio........................................................................... 185
8.3.3 - Minérios de Alumínio ........................................................................ 187

8.4 - As - ARSÊNIO ................................................................................................ 189

8.5 - Ca - CÁLCIO .................................................................................................. 191

8.6 - Cd - CÁDMIO ................................................................................................. 193

8.7 - Co - COBALTO............................................................................................... 195

8.8 - Cr - CROMO .................................................................................................. 197


8.8.1 - O Cromo nas rochas ígneas .............................................................. 198
8.8.2 - O ciclo do Cromo ............................................................................. 200
8.8.3 - Minérios de Cromo ........................................................................... 201

8.9 - Cu - COBRE................................................................................................... 205


8.9.1 - O Cobre nas rochas ígneas ............................................................... 206
8.9.2 - O ciclo do Cobre .............................................................................. 208

8.10 - Fe - FERRO ................................................................................................. 211

8.11 - Ni - NÍQUEL ................................................................................................. 213


8.11.1 - O Níquel nos sulfetos metálicos ....................................................... 214
8.11.2 - O Níquel nas rochas ígneas ............................................................ 215
8.11.3 - O ciclo do Níquel ............................................................................ 216
8.11.4 - Minérios de Níquel.......................................................................... 216

8.12 - P - FÓSFORO .............................................................................................. 218

8.13 - Pb - CHUMBO .............................................................................................. 220

8.14 - Sb- ANTIMÔNIO ........................................................................................... 222

8.15 - Si - SILÍCIO .................................................................................................. 224

8.16 - Sn - ESTÂNHO ............................................................................................. 226

8.17 - Zn - ZINCO................................................................................................... 228

8.18 - Mn - MANGANÊS ......................................................................................... 230


8.18.1 - Minerais de Manganês .................................................................... 230
8.18.2 - O Manganês nas rochas ígneas ...................................................... 232
8.18.3 - O ciclo do Manganês ...................................................................... 234
8.18.4 - O Manganês nas rochas metamórficas............................................. 238
8.18.5 - Minérios de Manganês .................................................................... 238

8.19 - Au - OURO ................................................................................................... 239


8.19.1 - Forma de apresentação na litosfera superior .................................... 239
8.19.2 - O ciclo do Ouro .............................................................................. 240
8.19.3 - Forma de apresentação na biosfera ................................................. 240
8.19.4 - Amostragem .................................................................................. 240
4
8.19.5 - Veios de Au e mineralização relacionada.......................................... 241
8.19.5.1 - Origem dos minérios ...................................................... 243
8.19.5.2 - Ocorrências secundárias - Depósitos de Placers .............. 243
8.19.6 - Minério de Ouro-Urânio em conglomerados ...................................... 244

8.20 - Ti - TITÂNIO ................................................................................................. 246


8.20.1 - Minerais de Titânio ......................................................................... 246
8.20.2 - O Titânio nas rochas ígneas ............................................................ 248
8.20.3 - O ciclo do Titânio............................................................................ 249
8.20.4 - Minérios de Titânio ......................................................................... 249

8.21 - V - VANÁDIO ................................................................................................ 250


8.21.1 - O Vanádio nas rochas ígneas .......................................................... 250
8.21.2 - O Vanádio nos minerais de origem secundária.................................. 251
8.21.3 - O ciclo do Vanádio ......................................................................... 252
8.21.4 - O Vanádio nas rochas metamórficas ................................................ 253
8.21.5 - Minérios de Vanádio ....................................................................... 253

UNIDADE 3 - DIAGRAMAS DE FASE DE INTERESSE GEOLÓGICO .......................... 254

CAPÍTULO 9 - DEFINIÇÕES E CONCEITOS ELEMENTARES .............................. 255

9.1 - SISTEMAS ..................................................................................................... 255

9.2 - FASE ............................................................................................................. 255

9.3 -COMPONENTES............................................................................................. 256

9.4 - EQUILÍBRIO................................................................................................... 258

9.5 - EQUILÍBRIO HOMOGÊNEO ............................................................................ 258

9.6 - EQUILÍBRIO HETEROGÊNEO ........................................................................ 258

9.7 - EQUILÍBRIO METAESTÁVEL .......................................................................... 260

9.8 - ESTADO DE UM SISTEMA, PARÂMETROS DE ESTADO................................. 261

9.9 - GRAUS DE LIBERDADE, VARIÂNCIA ............................................................. 263

9.10 -LEI DAS FASES ............................................................................................ 264

CAPÍTULO 10 - SISTEMAS DE UM COMPONENTE (MONÁRIOS) ....................... 267

10.1 - O SISTEMA H2O A BAIXAS PRESSÕES ........................................................ 267

10.2 - O SISTEMA H2O A PRESSÕES ELEVADAS .................................................. 269

10.3 - O SISTEMA C .............................................................................................. 271

10.4 - O SISTEMA Al2SiO5 ...................................................................................... 272

10.5 - O SISTEMA SiO2 .......................................................................................... 273

10.6 - O SISTEMA S............................................................................................... 274


5
CAPÍTULO 11 - SISTEMAS DE DOIS COMPONENTES (BINÁRIOS) .................... 276

11.1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................. 276

11.2 - ANÁLISE TÉRMICA DE SISTEMAS ............................................................... 277

11.3 - SISTEMAS BINÁRIOS SEM SOLUÇÕES SÓLIDAS NEM COMPOSTOS


INTERMEDIÁRIOS ...................................................................................................... 280

11.4 - SISTEMAS BINÁRIOS SEM SOLUÇÕES SÓLIDAS COM COMPOSTOS


INTERMEDIÁRIOS ...................................................................................................... 289

11.5 - SISTEMAS BINÁRIOS COM SOLUÇÕES SÓLIDAS ........................................ 305

11.6 - SISTEMAS BINÁRIOS COM SOLUÇÃO SÓLIDA COMPLETA ENTRE OS


COMPONENTES......................................................................................................... 307

11.7 - SISTEMAS BINÁRIOS COM SOLUÇÃO SÓLIDA LIMITADA DOS COMPONENTES


.................................................................................................................................. 311

11.8 - SISTEMAS BINÁRIOS COM LÍQUIDOS IMISCÍVEIS ....................................... 320

CAPÍTULO 12 - SISTEMAS DE TRÊS COMPONENTES (TERNÁRIOS) ............... 322

12.1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................. 322

12.2 - SISTEMAS TERNÁRIOS EUTÉTICOS SIMPLES S/ SOLUÇÕES SÓLIDAS ...... 328

12.3 - SISTEMAS TERNÁRIOS SEM SOLUÇÕES SÓLIDAS COM FORMAÇÃO DE


COMPOSTOS QUE FUNDEM CONGRUENTEMENTE .................................................. 337

12.4 - SISTEMAS TERNÁRIOS SEM SOLUÇÕES SÓLIDAS COM FORMAÇÃO DE


COMPOSTOS QUE FUNDEM INCONGRUENTEMENTE ............................................... 344

12.5 - SISTEMAS TERNÁRIOS COM SOLUÇÕES SÓLIDAS .................................... 370

12.6 - TRAÇADO E INTERPRETAÇÃO DE SEÇÕES ISOTÉRMICAS ........................ 376

CAPÍTULO 13 - SISTEMAS DE QUATRO COMPONENTES (QUATERNÁRIOS)...382

CAPÍTULO 14 - INFLUÊNCIA DA VARIAÇÃO DE PRESSÃO ................................ 387

UNIDADE 4 - GEOQUÍMICA DOS PROCESSOS ENDÓGENOS ................................... 393

CAPÍTULO 15 - SÉRIES MAGMÁTICAS ................................................................. 394

15.1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................. 394

15.2 - ORIGEM - CLASSIFICAÇÕES QUÍMICAS ...................................................... 398

CAPÍTULO 16 - SÉRIES SUBALCALINAS .............................................................. 401

16.1 -SÉRIE TOLEÍTICA ......................................................................................... 401

6
16.2 - SÉRIE KOMATIÍTICA .................................................................................... 401

16.3 -SÉRIE CÁLCIO-ALCALINA............................................................................. 402

CAPÍTULO 17 - SÉRIES ALCALINAS ..................................................................... 403

17.1 -SÉRIE ALCALINA SUBSATURADA EM SÍLICA ............................................... 403

17.2 - SÉRIE ALCALINA SÓDICA SATURADA EM SÍLICA........................................ 403

17.3 - SÉRIE SHOSHONÍTICA OU ALCALINA POTÁSSICA...................................... 404

17.4 - ASSOCIAÇÃO LEUCOCRÁTICA PERALUMINOSA ........................................ 404

CAPÍTULO 18 - SÉRIES DE CRISTALIZAÇÃO FRACIONADA .............................. 406

18.1 - MAGMA PRIMÁRIO BASÁLTICO ................................................................... 408

18.2 - SÉRIE CÁLCIO-ALCALINA E MODELO DE BOWEN ....................................... 409

18.3 - SÉRIE ALCALINA E NÃO ALCALINA ............................................................. 416

18.4 - SÉRIES CÁLCIO- ALCALINA E TOLEÍTICA.................................................... 428

CAPÍTULO 19 - MÉTODO DO CÁLCULO NORMATIVO ........................................ 434

19.1 - GENERALIDADE .......................................................................................... 434

19.2 - ESQUEMA GERAL DOS CÁLCULOS............................................................. 435


19.2.1 - Conversão da porcentagem de peso em proporção molecular ............ 435
19.2.2 - Formação provisória dos minerais normativos ................................... 436
19.2.3 - Compensação de deficiência de sílica .............................................. 437
19.2.4 - Reconversão da proporção molecular em % de peso (RESUMO) ....... 437

19.3 - CÁLCULO EM CADA ESTÁGIO ..................................................................... 438


19.3.1 - Conversão em proporção molecular ................................................. 439

19.4 - FORMAÇÃO DOS MINERAIS DE TEOR SECUNDÁRIO .................................. 439


19.4.1 - Ilmenita ......................................................................................... 439
19.4.2 - Apatita ........................................................................................... 439
19.4.3 - Halita............................................................................................. 440
19.4.4 - Tenardita ....................................................................................... 440
19.4.5 - Pirita ............................................................................................. 440
19.4.6 - Cromita ......................................................................................... 440
19.4.7 - Fluorita .......................................................................................... 441
19.4.8 - Zircão ............................................................................................ 441
19.4.9 - Calcita e carbonato de sódio ........................................................... 441

19.5 - FORMAÇÃO PROVISÓRIA DOS MINERAIS................................................... 441


19.5.1 - Ortoclásio ...................................................................................... 441
19.5.2 - Metassilicato de potássio ................................................................ 442
19.5.3 - Albita ............................................................................................. 442
19.5.4 - Anortita.......................................................................................... 442
19.5.5 - Coríndon ....................................................................................... 442
7
19.5.6 - Titânita .......................................................................................... 443
19.5.7 - Rutilo............................................................................................. 443
19.5.8 - Acmita ........................................................................................... 443
19.5.9 - Metassilicato de sódio ..................................................................... 443
19.5.10 - Magnetita ..................................................................................... 444
19.5.11 - Hematita ...................................................................................... 444
19.5.12 - Clinopiroxênio .............................................................................. 444
19.5.13 - Wollastonita ................................................................................. 445
19.5.14 - Ortopiroxênio ............................................................................... 445
19.5.15 - Quartzo ....................................................................................... 445

19.6 - COMPENSAÇÃO DA DEFICIÊNCIA DE SÍLICA .............................................. 446


19.6.1 - Decomposição do ortopiroxênio em olivina ....................................... 446
19.6.2 - Decomposição da titanita em perovskita ........................................... 446
19.6.3 - Decomposição da albita em nefelina ................................................ 446
19.6.4 - Decomposição do ortoclásio em leucita ............................................ 447
19.6.5 - Decomposição do clinopiroxênio em olivina e ortossilicato de cálcio ... 447
19.6.6 - Decomposição da wollastonita em ortossilicato de cálcio ................... 447
19.6.7 - Decomposição da leucita em kaliofilita ............................................. 448

19.7 - RECONVERSÃO DA PROPORÇÃO MOLECULAR EM % DE PESO ................ 449

UNIDADE 5 - GEOQUÍMICA ISOTÓPICA ....................................................................... 455

CAPÍTULO 20 - REVISÃO HISTÓRICA .................................................................. 456

20.1 - A DESCOBERTA DA RADIOATIVIDADE ........................................................ 456


20.1.1 - A revolução no uso dos relógios geológicos ...................................... 459

CAPÍTULO 21 - INTRODUÇÃO A GEOQUÍMICA ISOTÓPICA ............................... 460

21.1 - ISÓTOPOS ESTÁVEIS ................................................................................. 462


21.1.1 - Fracionamento isotópico ................................................................. 463
21.1.2 - Razões isotópicas .......................................................................... 464
21.1.3 - Isótopos aplicados a gênese magmática .......................................... 465
21.1.4 - Isótopos estáveis aplicados a interação rocha ................................... 466
21.1.5 - Isótopos estáveis aplicados a prospec. de dep.minerais e paleoclimas 466
21.1.6 - δ18O .............................................................................................. 467
21.1.7 - δ13C .............................................................................................. 470
21.1.8 - δ34S............................................................................................... 471
21.1.9 - δ37Cl .............................................................................................. 471
21.1.10 - Isótopos estáveis e ambientes ....................................................... 474

21.2 - ISÓTOPOS INSTÁVEIS (RADIOGÊNICOS) .................................................... 475


21.2.1 - Introdução ..................................................................................... 475
21.2.2 - Isótopos radiogênicos ..................................................................... 476
21.2.3 - A carta de nuclídeos ....................................................................... 476
21.2.4 - Partículas alfa (α) ........................................................................... 478
21.2.5 - Decaimento β ordinário ................................................................... 480
21.2.6 - Decaimento β- ................................................................................ 480
21.2.7 - Decaimento β+ ............................................................................... 481
21.2.8 - Captura de elétrons ........................................................................ 481
21.2.9 - Raios gama (γ) ............................................................................... 482
21.2.10 - Decaimento ramificado.................................................................. 483
8
21.2.11 - Meia-vida e Taxa de criscimento .................................................... 486
21.2.12 - Como calcular a idade de um mineral? ........................................... 487
21.2.13 - Séries radioativas ......................................................................... 488
21.2.14 - Isócronas ..................................................................................... 490
21.2.15 - Isótopos radiogênicos e ambientes ................................................ 492

CAPÍTULO 22 - MÉTODOS ISOTÓPICOS.............................................................. 493

22.1 - O MÉTODO Rb - Sr ...................................................................................... 493


22.1.1 - O Rb e o Sr na tabela periódica ....................................................... 494
22.1.2 - O Rb e o Sr carta de nuclídeos ........................................................ 495
22.1.3 - O decaimento do 87Rb e o crescimento do 87Sr ................................. 495
22.1.4 - A equação fundamental .................................................................. 497
22.1.5 - O diagrama da isócrona .................................................................. 497
22.1.6 - Datação de rochas ígneas ............................................................... 499
22.1.7 - Datação de rochas metamórficas ..................................................... 500
22.1.8 - Isótopos de Sr do manto e da crosta ................................................ 502
22.1.9 - Datação de processos sedimentares por meio da utilização de isótopos de
Sr de carbonatos marinhos (parte 1).............................................................................. 503
22.1.10 - Isótopos de Sr nos oceanos .......................................................... 503
22.1.11 - Datação de processos sedimentares por meio da utilização de isótopos de
Sr de carbonatos marinhos (parte 2).............................................................................. 504

22.2 - O MÉTODO Sm - Nd ..................................................................................... 505


22.2.1 - O Sm e o Nd na tabela periódica ..................................................... 505
22.2.2 - O Sm e o Nd carta de nuclídeos ...................................................... 506
22.2.3 - O decaimento do 147Sm e o crescimento do 143Nd.............................. 507
22.2.4 - O diagrama da isócrona .................................................................. 507
22.2.5 - Datação de rochas ígneas (idade de cristalização) ............................ 509
22.2.6 - Datação de rochas metamórficas (idade do metamorfismo) ............... 510
22.2.7 - Idades Modelo ............................................................................... 511
22.2.8 - Idades de proveniência ................................................................... 512

22.3 - O MÉTODO K - Ar e Ar - Ar ........................................................................... 514


22.3.1 - O K e o Ar na tabela periódica ......................................................... 514
22.3.2 - O K e o Ar carta de nuclídeos .......................................................... 514
22.3.3 - Mecanismos de decaimento radioativo ............................................. 515
22.3.4 - O decaimento do 40K e o crescimento do 40Ar e 40Ca ......................... 516
22.3.5 - Temperatura de fechamento............................................................ 518
22.3.6 - O MÉTODO Ar - Ar ......................................................................... 519
22.3.7 - Distribuição heterogênea do Ar ........................................................ 519
22.3.8 - A reação do 39K para 39Ar ................................................................ 520
22.3.9 - O método de aquecimento por estágio Ar-Ar ..................................... 521
22.3.10 - Datação por sonda a laser ............................................................. 522
22.3.11 - Datação de processos tectônicos - idade de exumação ................... 523

22.4 - O MÉTODO U - Th - Pb ................................................................................. 526


22.4.1 - O U, Th e o Pb na tabela periódica .................................................. 528
22.4.2 - O U, Th e o Pb carta de nuclídeos ................................................... 528
22.4.3 - O mecanismo de decaimento α........................................................ 529
22.4.4 - O mecanismo de decaimento ramificado .......................................... 529
22.4.5 - As séries de decaimento do 238U ...................................................... 530
22.4.6 - As séries de decaimento do 235U ...................................................... 530
22.4.7 - As séries de decaimento do 232Th .................................................... 531

9
22.4.8 - As meia-vidas das séries de nuclídeos do 238U .................................. 531
22.4.9 - Equilíbrio secular ............................................................................ 532
22.4.10 - Desequilíbrio secular - Os métodos de datação das séries do U ....... 534
22.4.11 - O decaimento do U e o crescimento do Pb ..................................... 535
22.4.12 - As principais equações utilizadas no método U-Pb .......................... 537
22.4.13 - O diagrama concórdia ................................................................... 539
22.4.14 - O diagrama discórdia .................................................................... 540
22.4.15 - Determinação de proveniências ..................................................... 542

22.5 - O MÉTODO Re - Os ..................................................................................... 544

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 547

ANEXO............................................................................................................................. 551

"Cada pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo,


participar da responsabilidade coletiva por toda a humanidade."
Marie Curie

10
INTRODUÇÃO

A vida acadêmica do estudante nas universidades federais e privadas do país tem-se


mostrado intensa perante o ritmo de ensino imposto por estas instituições. Muitas vezes, o
estudante não consegue acompanhar o raciocínio da matéria dada em aula que, por sua vez,
acaba recorrendo a livros, relacionado à disciplina, dispostos na biblioteca da faculdade. No
entanto, é comum ocorrer a falta desses livros devido a alta demanda, podendo atrasá-lo em
seu ritmo de estudo.
A disciplina de geoquímica I possui uma grande importância para o desenvolvimento do
aluno do curso de geologia, uma vez que o auxilia a ver o ambiente regional, o planeta e o
universo sob uma nova perspectiva. Entretanto, esta nova visão é muitas vezes embaçada
devido ao excesso de cadeiras obrigatórias por semestre, a falta de tempo livre para estudar e
aos imprevistos dos livros na biblioteca, fazendo com que o aluno perca o foco nessa disciplina.
Sob esta perpectiva, eu acabei tomando a liberdade de criar este polígrafo, que nada mais é
que uma união de diversos capítulos de livros, teses e resumos relacionados a cadeira de
geoquímica I, a fim de ajudar o aluno do curso de geologia a ter menos dificuldades em relação
ao conteúdo abordado em aula, otimizando assim o seu tempo.
Este polígrafo NÃO tem como objetivo a sua comercialização; sendo assim, ele
deve ser utilizado apenas como um complemento para os capítulos dos livros indicados pelo
professor. Para fins de organização, ele é divido em 5 unidades, facilitando assim o estudo do
aluno. Espero que eu tenha ajudado de alguma forma.

Obrigado pela atenção. Grande abraço.


Bom estudo..

Gomes/13

11
UNIDADE 1
REVISÃO
- CAPÍTULO 1 - ELEMENTOS DE QUÍMICA CRISTALINA
- CAPÍTULO 2 - ASPECTOS DA ESTRUTURA CRISTALINA
- CAPÍTULO 3 - COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS MINERAIS
- CAPÍTULO 4 - ESTABILIDADE MINERAL E DIAGRAMAS DE FASE

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CAPÍTULO 5 - COSMOQUÍMICA

Qual a origem dos elementos químicos existentes hoje na Terra e no nosso sistema solar?

“Muitos processos são responsáveis para a produção dos elementos no cosmo.


Hidrogênio, hélio e algum lítio foram criados no Big Bang, uma grande explosão gerada para a
produção do universo. Elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio, conhecidos como
metais na astronomia, foram produzidos por estrelas no processo chamado de nucleossíntese
estelar. Os outros elementos químicos, fora hidrogênio e hélio no sistema solar são resultados
da nucleossíntese que ocorreu em uma estrela que morreu antes da formação do nosso
sistema solar, provavelmente uma estrela que gerou uma nebulosa. Este processo envolve a
fusão de elementos leves em pesados. Sendo que alguns nuclídeos foram produzidos por
decaimento de nuclídeos radioativos. Quanto maior for a massa de uma estrela maior será a
fusão de elementos leves para a geração de elementos pesados.”

Um dos objetivos da geoquímica e determinar a abundancia dos elementos na


natureza. Para isso, e necessário estabelecer hipóteses sobre a origem dos elementos e,
consequentemente, do Universo. A questão mais central da cosmologia, que concerne a
compreensão do universo como um todo, e a questão da origem deste sistema complexo.

5.1 - BIG-BANG

O modelo da criação súbita, mais conhecido como “Big Bang”, foi proposto por
Georges Lemaitre e George Gamow no final da década de 1940. Este modelo simples, que
propõe a origem como sendo um evento explosivo, explica as propriedades do Universo atual e
é corroborado por muitas evidencias recentes da pesquisa astronômica. Porem a nossa
observação do Universo - vasto em tempo e espaço- e limitada ao curto período da historia da
humanidade, de modo que os dados observacionais são necessariamente limitados. Em 1965
Arno Penzias e Robert Wilson (Bell Labs) descobriram uma radiação uniforme, proveniente de
todos os quadrantes do céu, cuja freqüência ficava na região de 5-10 cm-1. Perceberam
imediatamente que se tratava da radiação fóssil, remanescente do Big Bang, que tinha sido
prevista em 1949 por Gamow. Considera-se que no inicio toda a matéria e energia do universo
estavam concentradas num “espaço singular” No instante t = 0 todos os pontos do universo
começam a se expandir. Não houve uma explosão no sentido convencional da palavra. A

107
pressão e densidade eram as mesmas em toda parte. Para que houvesse uma explosão
convencional, deveria haver uma pressão diferencial. O conhecimento corrente de física,
particularmente, de mecânica quântica e relatividade são insuficientes para descrever o
momento inicial absoluto do Universo.
Resta saber quando esta explosão ocorreu. Dezoito bilhões de anos atrás parece ser o
limite superior para a idade do universo, cujo cálculo baseia-se no fato de haver um incremento
de velocidade de 16 km/s para cada milhão de anos-luz de distância de cada objeto observado
(Lei de Hubble). Nesta taxa, objetos que estão a uma distância de 18 bilhões de anos-luz
(ainda não observados) devem estar afastando-se com a velocidade da luz. Desta forma, a
velocidade da luz impõe um limite superior para a distância de um objeto, como também limita
o tempo que decorreu desde o big bang. É possível que a taxa de expansão tenha decrescido
através do tempo cósmico. Neste caso o big bang ocorreu mais recentemente. A maioria dos
cálculos efetuados fornece uma idade para o universo entre 12 e 18 ba. As médias da
composição de muitas estrelas de diferentes tipos, tomadas conjuntamente com a matéria
interestelar fornecem a composição do universo. Os dados mostram que o universo é
constituído pelos mesmos elementos que ocorrem na Terra. Somente no início, em 1868, foi
descoberto um elemento que não se conhecia na Terra, o hélio. Quase trinta anos mais tarde o
hélio foi identificado, por Ramsey, quando o gás desprendeu- se no aquecimento de uraninita
(mineral de urânio). A espectrografia mostra que o hidrogênio é o elemento mais abundante do
universo, consistindo de 93 átomos para cada 100 átomos, perfazendo um total em massa de
76% da massa total do universo. O hélio é o segundo elemento mais abundante com 23% da
percentagem em peso. Do 1% restante, os dez elementos mais abundantes em ordem
decrescente são: oxigênio, carbono, nitrogênio, neônio, magnésio, silício, ferro, enxofre,
argônio e sódio. A abundância de todos os outros elementos restantes geralmente decresce
com o aumento do número atômico.

Modelo de formação do Universo (Big Bang). Autor: NASA/WMAP Science Team.

108
O modelo da criação explosiva e súbita “Big Bang” envolve 4 fases de duração distinta:

A era hadrônica, de duração de cerca de 10-4 s, quando o universo era constituído de


prótons, nêutrons e subparticulas e governado pela interação forte. Os primeiros instantes
desta era estão totalmente indeterminados e são denominados de “tempo de Planck”;

A era leptônica, que durou aproximadamente 10 s, quando elétrons e pósitrons


(partículas leves: leptons) dominavam o equilíbrio entre prótons e nêutrons;

A era radiante, de aproximadamente 1 milhão de anos, foi dominada pela energia dos
fótons. Nesta era ocorreu o decaimento de nêutrons (em prótons, elétrons e antineutrinos) e a
nucleossíntese primordial: núcleos de elementos leves (Deutério, Trítio, Helio3, Helio4, Litio7 e
Berilio7) se formaram - ate o momento em que os fótons não tinham mais energia suficiente
para manter os prótons ionizados - ocorreu a formação de átomos a partir dos núcleos
existentes;

Era estelar, em que o universo deixou de ser opaco e a matéria se adensou


localmente, formando e galáxias e estrelas de todos os tipos. A era estelar dura ate hoje e
apenas ela e passível de observação - quando observamos os objetos mais distantes do
Universo, vemos a radiação por eles emitida nos primórdios da era estelar, que, devido a
velocidade finita da luz, só nos alcança nos dias atuais. A Era estelar e um período de intensa
atividade - estrelas nascem, passam por uma evolução que depende essencialmente da sua
massa, e se desintegram novamente. Nesta evolução estelar ocorre no interior das grandes
estrelas a nucleossíntese de elementos médios e pesados, por fusão de núcleos mais leves.
Estrelas com a massa equivalente a Massa Solar podem “queimar” apenas hidrogênio (para
He). Estrelas gigantes podem fusionar He produzindo Carbono, Oxigênio e Neônio. Apenas
estrelas supergigantes (1000 Massas Solares) podem produzir os elementos mais pesados.

109
5.2 - NUCLEOSSÍNTESE

A origem dos elementos químicos inicia com a síntese (nucleossíntese) dos elementos
a partir do inicio do Universo. Podemos separar em 4 fases de nucleossíntese:

5.2.1 - Nucleossíntese cosmológica


Logo após o Big Bang, o universo era muito quente para qualquer matéria existir. Mas
dentro de um micro segundo ou mais, ele já havia resfriado para 1011K, então a matéria
começou a condensar. Primeiro, elétrons, pósitrons e neutrinos dominaram, mas assim que o
universo esfriava e expandia, prótons e nêutrons tornaram-se mais abundantes.
Prótons e nêutrons existiam em números iguais, até resfriar para 1010K, onde os
prótons se tornaram mais abundantes.Estas reações são possíveis apenas com estes extremo
temperaturas para que em menos de dois segundos eles cessaram, congelando em 6 pra 1 a
relação de prótons e nêutrons.
Supõe-se que a matéria existe pois a força de hyperwalk desequilibrou o sistema de
simetria que havia entre matéria e antimatéria, favorecendo a matéria. Foram necessários mais
de 100 segundos para o universo resfriar para 109K, o que foi suficiente para formar o 2H.

Síntese do 1H → n + v = H
1
+ e-
nêutron + neutrino = hidrogênio + elétron

(As reações mostram a formação de 3He, 7Be e 7Li a partir daí)

A formação de elementos mais pesados que o Li foi inibida pela instabilidade do núcleo
de massas 5 e 8. A evolução do cosmos tem dois impasses: 1- temperaturas em queda e 2-
decaimento de nêutrons livres: fora dos núcleos, nêutrons tem uma meia-vida de somente 10
min., então as reações nucleossintéticas que consumem nêutrons eventualmente cessaram.
Em 20 min. ou mais, o universo resfriou abaixo de 3x108K e as reações nucleares não eram
mais possíveis. Assim, o universo criou H, He e Li. Uns 700000 anos depois o universo resfriou
até cerca de 3000K, e isso foi frio suficiente para os elétrons serem vinculados ao núcleo,

110
formando átomos. Com essa recombinação, o universo tornou-se transparente, isto é, a
radiação pode se propagar livremente através do universo.

5.2.2 - Nucleossíntese interestelar


Por algum tempo depois do Big Bang, o universo era mais ou menos homogêneo, gás
quente. A falta de homogeneidade no gás desenvolvido e a falta de homogeneidades muito
ligeiras são observadas na radiação cósmica de fundo. Essas heterogeneidades ampliam em
uma espécie de processo de fuga da atração gravitacional e colapsam. Assim são formadas as
protogaláxias, 0.5Ga depois do Big Bang.
Instabilidades nas protogaláxias resultaram em colapsos que formaram estrelas. Uma
vez que o colapso prosseguiu até o ponto em que densidade atinja 6g/cm e a temperatura 10 a
20 milhões de K, a nucleossíntese começa no interior das estrelas por queima de H (ou o
processo pp).

Há também outras cadeias de reações que produzem 4He que envolve Li, Be e B, quer
como combustível primário ou uma reação de produto intermediário. Mais tarde, quando algum
carbono já havia sido produzido pela primeira geração de estrelas e supernovas, uma segunda
111
e subseqüente geração de estrelas com massas maiores, produziram He por outro processo, o
ciclo CNO.

Neste processo o C atua como uma espécie de catalisador nuclear: não é nem
produzido nem consumido. O efeito de rede é o consumo de 4 prótons e dois pósitrons para
12
produzir um neutrino, alguma energia e um núcleo de 4He. O C é consumido mais
rapidamente nessa reação, assim há um aumento de 13C em relação ao 12C (13C/12C).
O calor produzido por essas reações contrabalança o colapso gravitacional e essas
reações prosseguem em estrelas da seqüência principal até que o H do núcleo estrelas é
consumido. Depois de o H ser consumido, a fusão cessa e o equilíbrio entre o colapso
gravitacional e a expansão termal é quebrado.
O interior da estrela colapsa assim, elevando a temperatura da estrela. O exterior
expande e a fusão começa nas conchas (casca) em torno do núcleo, que agora é de He. Essa
é a fase da gigante vermelha). Se a estrela é grande suficiente para temperaturas que atingem
108K e tem densidade que atende 104 g/cc no núcleo de He, ocorre a queima do He.

A captura nessa reação é que a meia vida do 8Be é muito pequena, então 3 nucleos de
He devem colidir simultaneamente, por isso as densidades são muito altas. He queima e
produz também O, e um pouco menos de Ne e Mg, mas não produz Li, Be e B nessa fase.
Estes núcleos são instáveis na temperatura de núcleos estrelares. Ao invés se serem
produzidos, eles são consumidos em estrelas.
Há uma divisão de caminhos evolutivos uma vez que o He do núcleo estrelas é
consumido. Densidade e temperaturas necessárias para iniciar mais reações nucleares não
podem ser alcançadas por estrelas de baixa massa (como o Sol), então a sua evolução termina
após a fase de gigante vermelha, onde ela passa a uma anã-branca. Estrelas com mais massa
que o Sol submetem-se a mais um colapso e iniciam a queima do carbono e oxigênio.
Entretanto, estrelas com massas intermediárias podem ser totalmente interrompidas pelo
começo da queima do carbono. Para estrelas mais massivas a evolução prossegue num ritmo
exponencialmente crescente.

112
14
O N criado durante a fase de queima
de hidrogênio da segunda geração de estrelas
22
pode ser convertido para N. Um número de
menos abundantes núcleos, incluindo Na, Al, P,
S e K são também sintetizados neste momento,
e no processo subseqüente, a queima de Ne.
No estágio final de evolução de estrelas
massivas, uma fração significante de energia
liberada é levado por neutrinos criados pelas
aniquilações elétrons-pósitrons no núcleo da
estrela. Se a estrela é suficientemente pobre
em oxigênio, que suas camadas externas são
razoavelmente transparentes, a casca externa
da gigante vermelha pode colapsar e evoluir
para a forma de uma gigante azul.

5.2.3 - O e-processo
Eventualmente, um novo núcleo consistindo
28
de Si é produzido. Quando a temperatura abaixa
um pouco há a queima do silício (no caso ocorre o e-
processo, que é o equilíbrio), que ocorre como um
rearranjo protonuclear de um gás originalmente
consistido desse núcleo de Si, onde nele ocorre
56
decaimento beta para Ni, que por sua vez decai
para 56Fe, o mais estável de todos os núcleos.

Após esse e-processo, a estrela agora é uma


espécie de cebola cósmica, que consiste em uma
série de conchas de núcleos sucessivamente mais pesados e um núcleo de ferro. Elementos
do grupo do Fe também podem ser sintetizados pelo e-processo na supernova do Tipo I, que
ocorre quando anãs brancas de massas intermediárias em um sistema binário acrescem

113
massas de sua estrela irmã. Quando os seus núcleos atingem o chamado limite de
Chandrasekhar, a queima de C começa e a estrela explode.

5.2.4 - O s-processo
Em estrelas de segunda geração e mais tarde contendo elementos pesados, pode
ocorrer outro processo de nucleossíntese: o s-processo (ou a lenta captura de nêutrons). A
captura de nêutrons é mais lenta que no r-processo.

Atua na fase de gigante vermelha, na produção de nêutrons. Nesse processo, um


núcleo só pode capturar um nêutron cada mil anos ou mais. Se o núcleo recém produzido não
é estável, ele dacairá antes que outro nêutron seja capturado.
Como resultado, o caminho do s-processo segue de perto o vale de estabilidade no
gráfico dos nuclídeos e instabilidades nucleares não podem ser transpostos.

5.2.5 - Nucleossíntese explosiva


O e-processo para na massa 56. O
56
Fe tem a maior energia de ligação por
núcleo, sendo assim o núcleo mais estável.
Essa fusão pode liberar energia só até a
massa 56, além disso, as reações tornam-se
endotérmicas, consumindo energia. Uma
vez que o núcleo estrelar tem sido
largamente convertido em Fe, uma fase
crítica é atingida: o equilíbrio entre a
expansão termal e o colapso gravitacional é
quebrado.
Ocorre aí uma explosão de
supernova, que libera uma quantia de
energia assustadoramente grande. A
supernova começa pelo colapso no seu

114
núcleo estrelar (de Fe) que ocorre em poucos décimos de segundo. Quando a matéria no
centro do núcleo é comprimida para além da densidade da matéria nuclear, ela ressalta,
enviando uma onda de choque enorme para fora. A medida que a onda de choque viaja para
fora através do núcleo, a temperatura aumenta resultante da compressão produz uma quebra
de núcleos pela fotodesintegração.

A fotodesintegração produz um grande numero de nêutrons livres (e prótons), o que


leva a um outro processo importante de nucleossíntese, o r-processo. Outro efeito importante é
a criação de um grande numero de neutrinos pela aniquilação de elétrons-pósitrons. Os
neutrinos deixam o núcleo perto da velocidade da luz.

Quando a onda de choque atinge a superfície do núcleo, a parte exterior da estrela é


soprada em uma explosão de violência inimaginável. Mas em meio a destruição, novos
processos de nucleossíntese ocorrem. Conforme a onda de choque passa através das
camadas exteriores, isso pode reacende-los, produzindo Ne explosivo, O e queima de C. Esses
processos produzem isótopos de S, Cl, Ar, Ti e Cr, e algum Fe.

115
5.2.6 - O r-processo
Os nêutrons produzidos por fotodesintegração no núcleo são capturados por aqueles
núcleos que conseguem sobreviver à este inferno. Porque a abundância dos nêutrons é
extremamente alta, os núcleos capturam eles em uma taxa tão rápida que até mesmo núcleos
instáveis captura um nêutron antes que ele possa decair.
Isso resulta numa construção de um núcleo rico em nêutrons instáveis. Eventualmente,
o núcleo captura nêutrons suficientes que eles não são estáveis nem mesmo para uma
pequena fração de segundo. Neste momento, eles decaem para novos nuclideos, que são
mais estáveis e capazes de capturar mais nêutrons.
Esse é o r-processo (rápida captura de nêutrons), e é o principal mecanismo para
construir o núcleo mais pesado. Tende a formar os mais pesadas (ricas em nêutrons) isótopos
de um determinado elemento.

5.2.7 - O p-processo
É o processo de captura de prótons. Também ocorre em supernovas e é responsável
pelos mais leves isótopos de um dado elemento. É muito menos provável essa captura do que
a captura de nêutrons, pois o próton, pra ser capturado, deve ter energia suficiente para
superar a repulsão de coulomb. A produção de núcleos pelo p-processo é muito menor do que
116
pelo processo de captura de nêutrons, e é significante somente para aqueles nuclídeos que
não podem ser produzidos de outra maneira. Estes tendem a ser os mais leves isótopos de um
elemento.

5.2.8 - Nucleossíntese galática


O Li, Be e B não são produzidos em nenhuma das situações acima. Como eles são
abundantes em raios cósmicos, acredita-se que são formados por interações de raios cósmicos
com gás e poeira interestelar, primariamente por reações de 1H e 4He com núcleos de carbono,
nitrogênio e oxigênio. Essas reações ocorrem com altas energias, mas com baixas
temperaturas.

5.3 - PADRÃO DE ABUNDÂNCIA DOS ELEMENTOS QUÍMICOS

Baseando-se nos dados sobre a composição dos meteoritos e da matéria solar e


estelar, Goldschmidt em 1937 compilou a primeira tabela das abundâncias cósmicas dos
elementos e de seus isótopos. Suess e Urey, em 1956, publicaram uma tabela revisada,
usando uma maior quantidade de dados mais precisos e acumulados desde 1937. Atualmente
existe uma grande quantidade de dados obtidos com precisão bem mais elevada.

117
Em geral, não existe muita variação nas abundâncias relativas em diferentes regiões
do universo. Das diferenças observadas, a maioria delas pode ser explicada em termos das
condições físicas, presentes e passadas, nas regiões anômalas. Por exemplo, a matéria
meteorítica ou terrestre difere da solar pela escassez de elementos gasosos, mas estas
disparidades podem ser explicadas pelo tipo de evolução do Sistema Solar. As variações nas
abundâncias dos elementos hidrogênio, hélio, lítio, berílio, boro, carbono e nitrogênio nas
diferentes partes do universo são conseqüência de reações termonucleares, responsáveis pela
produção de energia nas estrelas. Recentemente, verificou-se que a abundância dos
elementos pesados varia de estrela para estrela e está relacionada com a idade estelar.
A abundância relativa dos diferentes elementos, especialmente dos mais leves, varia
consideravelmente. Um elemento pode ser cem ou mil vezes mais ou menos abundante do que
seu vizinho imediato na tabela periódica. Entretanto, quando os dados são analisados
cuidadosamente, encontram-se numerosas regularidades:

→ as abundâncias mostram uma diminuição exponencial rápida para os elementos de


números atômicos mais baixos (abaixo de 30), seguida por um valor quase constante para os
elementos mais pesados;

→ os elementos de número atômico par são mais abundantes do que os de número


atômico ímpar (Regra de Oddo-Harkins);

→ as abundâncias dos elementos de número atômico mais alto do que o do níquel


variam menos do que os de número atômico mais baixo. • somente os dez elementos
seguintes H, He, C, N, O, Ne, Mg, Si, S e Fe, todos com número atômico menor que 27,
mostram abundâncias consideráveis, sendo que H e He superam de muito os demais.

118
Three-dimensional histogram illustrating the abundance of the elements (as the log of mole fraction) in
the silicate portion of the Earth (the “Bulk Silicate Earth”; BSE). Just 6 elements, oxygen, magnesium, silicon, iron,
aluminum, and calcium make up 99.1% of the silicate Earth. If we include the core and consider the composition of
the entire Earth, then only nickel, and perhaps sulfur, need be added to this list. The remaining elements, though
sometimes locally concentrated (e.g., in the crust, in the hydrosphere, in ores) can be considered trace elements.

Composição da Crosta Terrestre em termos de número de átomos do elemento por cada 1.000.000 de átomos de Silício

Regra de Oddo-Harkins: Elementos de número atômicos pares são mais comuns que
os de número atômico ímpares, pois os prótons formam pares, onde os mesmos equilibram o
spin de seu par, aumentando assim a estabilidade do elemento.

5.4 - EVOLUÇÃO DAS ESTRELAS

Segundo a teoria do big bang, na fase pré-estelar só existiam os elementos mais leves:
hidrogênio e hélio. Os demais elementos foram produzidos posteriormente durante o processo
de evolução das estrelas, o qual é constituído de várias etapas:

→ um glóbulo ou nuvem inicial composta por poeira e gases interestelares começa a


sofrer contração devido a sua própria atração gravitacional;
→ a nebulosa começa a contrair-se e inicia- se o movimento de rotação provocando
achatamento. A maioria do material movimenta-se em direção ao centro, liberando energia
119
térmica. Deste modo a proto-estrela começa a sofrer auto-aquecimento e irradia na faixa do
infra-vermelho;
→ a velocidade de contração é rápida no início, mas vai sendo diminuída pela pressão
interna à medida que a temperatura aumenta;
→ quando o núcleo atinge 107 K as colisões entre os prótons (núcleos dos átomos de
hidrogênio) são suficientemente violentas para vencerem a repulsão elétrica e sofrem fusão,

transformando H em He ( 2H + 1H → 3He + γ. Se o glóbulo inicial possuir menos do que 0,01

da massa solar não atinge esta fase, e o corpo se resfria;


→ quando parte das reservas de hidrogênio se queimam, o caroço central entra em
contração, pois neste caso a atração gravitacional é maior do que a repulsão devida ao
aumento de temperatura produzido pelas reações nucleares. Neste ponto ocorre um brusco
aumento da temperatura e as camadas externas sofrem expansão, atingindo a fase de gigante
vermelha;
→ a contração rápida do caroço central aumentará a temperatura a ponto de se iniciar
um novo ciclo de reações: a fusão de hélio em carbono. Quando o He se esgotar uma nova
contração produzirá a temperatura suficiente para o ciclo de fusão do carbono;
→ se a massa do caroço for de até 1,4 vezes a massa do Sol a atração gravitacional
não é suficiente para que o corpo atinja temperaturas de 6 x 108 K, necessárias para fundir o
carbono. O processo de colapso estanca devido à repulsão elétrica e a estrela torna-se uma
anã branca com uma densidade muito alta (2 x 104 g/cm3). O corpo começa a resfriar e acaba
por não emitir mais luz;
→ a gravidade de uma estrela de 10 vezes a massa solar produz temperaturas
centrais suficientes para provocar reações nucleares com a produção de núcleos atômicos
mais pesados, como carbono, oxigênio, nitrogênio, neônio e magnésio, as quais envolvem
também partículas alfa. Em um certo estágio a estrutura da estrela contém em sua parte central
núcleos de ferro sendo circundada por elementos químicos mais leves, produzidos
anteriormente. Cada estágio sucessivo de queima libera menor menos energia do que anterior,
sendo que a fusão do ferro absorve energia ao invés de liberá-la. Neste momento, as reações
nucleares estancam e as camadas de gás que envolvem o caroço metálico colapsam sobre ele
(a estrela implode em frações de segundo). A temperatura aumenta muito (1012 K) devido à
contração e dá-se o início de uma série de reações nucleares em cadeia e a estrela explode
em poucos minutos na forma de uma supernova. Nesta explosão, nêutrons chocam-se com os
nuclídeos presentes, formando progressivamente elementos mais pesados (com números

120
atômicos superiores aos do Fe) em uma reação em cadeia, pois vários radionuclídeos
formados neste processo sofrem fissão, com a emissão nêutrons que se serão capturados por
outros nuclídeos.
→ nesse processo as massas gasosas carregadas de elementos químicos leves e
pesados são atiradas ao espaço em grandes velocidades. Se após a explosão, o caroço
central restante possuir massa 1,4 vezes a massa do Sol se transformará em uma anã branca
e depois anã negra. Se o caroço central possuir massa de até 2,4 - 3,2 vezes a massa do Sol a
contração é tal que os prótons e elétrons sofrem fusão formando uma estrela de nêutrons
(pulsar), que não apresenta luminosidade e possui densidades da ordem 1,5 x 105g/cm3.
Nestas estrelas a força de atração gravitacional é compensada pela repulsão entre nêutrons
gerada por repulsão de spins. Quando a massa for superior a 2,4 - 3,2 vezes a massa do Sol
não existe nenhum tipo de força capaz de conter sua auto-gravidade e ocorre uma implosão. A
gravidade superficial torna-se infinita e a luz emitida pela estrela não consegue escapar,
constituindo assim um buraco negro.
Em suma, os elementos constituintes do Universo foram formados em parte durante a
nucleogênese, nos tempos que sucederam ao big bang (basicamente H e He), sendo os
demais sintetizados no interior das estrelas em processos denominados nucleossíntese.
Aqueles com número atômico intermediário entre o He e o Fe formaram-se durante a evolução
das estrelas, enquanto aqueles com número atômico superior ao do Fe, originaram-se durante
a explosão de supernovas.

Estágios de evolução do Universo: logo após o Big Bang havia apenas os elementos hidrogênio e hélio, sendo que
os demais foram produzidos subsequentemente (do hélio ao ferro no processo de evolução as estrelas e elementos mais
pesados do que o Fe em explosões de supernovas.
121
5.5 - OS DIFERENTES TIPOS DE ESTRELAS

Os astrônomos costumam classificar as estrelas segundo a análise da luz que emitem.


Isso permite determinar a temperatura de sua superfície (cor), a quantidade de energia
irradiada (luminosidade) e a composição química (espectroscopia). Classicamente, utiliza-se
um diagrama (Diagrama de Hertzprung-Russel) combinando a luminosidade estelar absoluta
e a cor estelar (à qual está associada uma temperatura superficial). Constata-se, em primeiro
lugar, que as diferentes estrelas agrupam-se preferencialmente em certas regiões do gráfico.
Cada região corresponde a um tipo de produção de energia. A maioria das estrelas posiciona-
se sobre uma diagonal chama de série principal. Essa posição depende de sua massa (as
pequenas ficam embaixo, em direção ao vermelho, e as grandes, em direção ao violeta). Para
assegurar sua luminosidade, as estrelas dessa série transformam seu hidrogênio em hélio.
Essas estrelas permanecem na série principal enquanto não esgotarem suas reservas de
hidrogênio; o que pode levar ora dezenas de bilhões de anos, para as pequenas estrelas, ora
somentes alguns milhões de anos, para as gigantes azuis. O Sol ocupa uma posição
intermediária e admite-se que a sua presença na série principal tenha uma duração de
aproximadamente 10 bilhões de anos. Outro agrupamento de estrelas situa-se à direita, na
122
parte superior do gráfico. Trata-se do
domínio das gigantes e supergigantes
vermelhas. Essas estrelas
transformam os núcleos de hélio em
carbono e oxigênio. À esquerda
desse domínio, encontra-se o eixo
horizontal que corresponde às
estrelas mais evoluídas, as quais
consomem seu carbono ou seu
oxigênio, ou até seu silício. Um pouco
além, situa-se a área das nebulosas
planetárias, em seguida, a
distribuição das estrelas dá uma
brusca inflexão para baixo,
finalizando no domínio das anãs
brancas.

5.6 - METEORITOS

O estudo dos meteoritos é de vital importância


para o conhecimento da origem e evolução do Sistema
Solar, pois eles representam os vários estágios do
processo de acresção planetária. Por definição, um
meteorito é um fragmento de material extra-terrestre que
não foi desintegrado pela atmosfera da Terra, caindo em
sua superfície.
Os meteoritos podem diferir entre si em termos da
composição química (proporção entre metal e silicatos),
mineralogia, estrutura e cor. Estas características têm sido
utilizadas como critério para classificação. Os quatro
principais grupos, baseados em características químicas e
mineralógicas são: meteoritos ferrosos ou sideritos, ferro-
rochosos ou lito-sideritos e rochosos (condritos e
acondritos).
123
De todos os meteoritos conhecidos 61% são rochosos, 35% são ferrosos e somente
4% são ferrorochosos. Quando observadas as quedas estas proporções mudam
consideravelmente, sendo que 92% correspondem a meteoritos rochosos (84% são condritos e
8% são acondritos), sugerindo que estes sejam os meteoritos mais abundantes.

5.6.1 - Meteoritos ferrosos


Correspondem a 6% das quedas observadas. Consistem essencialmente de uma liga
de ferro e níquel distribuída entre duas fases minerais, kamacita (Fe93Ni7) e taenita (Fe65Ni35),
contendo também um pouco de troilita (FeS). O Ni corresponde a aproximadamente 11% da
percentagem em peso. Por vezes estes meteoritos contém P, Cr, C e raramente possuem
olivina magnesiana ou enstatita (piroxênio). Estes meteoritos, do ponto de vista químico, são
extremamente fracionados quando comparados com os demais e também com a abundância
dos elementos químicos no Sol, indicando que eles sofreram processos de fusão que
propiciaram a separação de materiais metálicos dos de composição silicática.
O estudo das texturas desses
meteoritos indicam uma taxa de resfriamento
muito lenta (1 a 10 ºC por milhão de anos)
durante o intervalo de temperatura entre 600
e 400 ºC. Este dado sugere que este
material esteve próximo do centro de corpos
com raio entre 70 e 200 km.

5.6.2 - Meteoritos rochosos


→ Acondritos: são meteoritos rochosos sem
côndrulos e correspondem somente a 8% das quedas
observadas. São bastante semelhantes às rochas
terrestres (basaltos ricos em olivina e peridotitos de
granulação fina) em textura e mineralogia, exibindo
amplos intervalos na composição química e
mineralógica. Costumam ser subdivididos de acordo
com o conteúdo de Ca. São meteoritos diferenciados, ou seja, formaram- se em processos de
diferenciação de um material silicático.
Após o aquecimento, o material condrítico irá formar primeiro uma fusão de sulfeto
metálico, que é muito mais denso que um resíduo sólido, que é principalmente de silicato. Este
metal vai escorrer para fora da matriz e, finalmente, formar um núcleo no centro do corpo. Após
124
mais aquecimento, irá formar uma fusão parcial de silicato, dentro do qual mais elementos
incompatíveis irão se dividir. Assim, acondritos primitivos são variadamente empobrecidos em
metal e elementos incompatíveis relativos aos condritos.
Acondritos primitivos tendem a ter razões de Mn/Mg similares às dos condritos. Os
outros acondritos tem razões Mn/Mg e Fe/Mg maiores que os acondritos primitivos. Assim, se
diz que esses outros acondritos originaram-se por processos ígneos.

→ Condritos: originalmente receberam esta


denominação os meteoritos que apresentavam
côndrulos (pequenas esferas com diâmetro de
aproximadamente 1 mm, compostas essencialmente
por olivina (40%) e piroxênio (30%)). Muito do que
sabemos destes meteoritos deve-se a Sorby que, no
final do século XIX, usando um microscópio
petrográfico por ele mesmo inventado observou a
existência de côndrulos em certos meteoritos.
Embora cerca de 65 a 75% do volume dos condritos sejam de côndrulos ou de fragmentos
destes, em muitos casos é extremamente dífícil reconhecer os côndrulos, de modo que
atualmente são denominados de condritos os meteoritos que não possuem evidências de
processos metamórficos em suas estruturas, portanto, a presença de côndrulos não é
essencial para na caracterização desses meteoritos.

125
Acredita-se que os côndrulos adquiriram a forma esférica por fusão antes de serem
incorporados pela matriz. Estudos recentes mostram que os côndrulos resfriram-se
rapidamente (duração inferior a 1 hora), indicando que a nebulosa era provavelmente fria
durante esse período.
Na teoria atualmente mais aceita os côndrulos foram formados por fagulhas de alta
temperatura, produzidas pela nebulosa turbulenta, que atingiram agregados de matéria de
composição silicática já existentes nessa fase. Outras teorias para a origem dos côndrulos,
mas que apresentam certas limitações, são: condensação direta do material da nebulosa, o
que requer altíssimas pressões e temperaturas; fusão por impacto de grãos no início do
processo de acresção. Os condritos são subdivididos pela composição ou pelo grau de
recristalização-metamorfismo. A divisão pela composição baseia-se nas razões entre ferro,
oxigênio e silício, que indicam a existência de diferentes corpos primários com estados de
oxidação distintos. A divisão pelo grau de recristalização é muito usada, pois os meteoritos que
sofreram menor grau de metamorfismo exibem pouco equilíbrio químico entre os côndrulos e a
matriz (neste caso os côndrulos são muito distintos da matriz). Van Schmus e Wood (1967)
estabeleceram uma classificação baseada na composição e no grau de grau de metamorfismo,
onde são definidos os tipos E (enstatita), H (ferro elevado), L (ferro baixo), LL (ferro muito
baixo) e carbonosos.

126
Condritos são uma mistura de materiais formados sob condições diferentes em
diferentes ambientes. Foram os primeiros sólidos formados em nosso sistema solar. Eles
representam o material que condensa a temperaturas de 1700 K ou menos. Muitos foram
subsequentemente reaquecido e submetido a fusão parcial e a perda por evaporação. O
período de sua formação foi curto, talvez 50.000 anos.
Os condritos carbonosos diferem dos outros tipos por terem quantidades significativas
de água, compostos de carbono e ênxofre. Estes meteoritos sofreram o menor grau de
metamorfismo e o teor de certos elementos voláteis indica que estes corpos não foram
submetidos à temperaturas superiores a 180 ºC. Portanto, acredita-se que os condritos
possuem a composição muito próxima daquela da nebulosa solar (exceto para os elementos
voláteis). Esta hipótese é também corroborada pela grande similaridade das concentrações de
elementos químicos não voláteis presentes no Sol e nos condritos.

127
Estudos recentes de meteoritos contendo texturas primitivas mostrou que, além dos
côndrulos (e de seus fragmentos), minerais e matriz, existem inclusões refratárias de Ca e Al
cujas composições e mineralogia se aproximam daquela do primeiro material que se
condensou na nebulosa solar, antes da fase de condensação de silicatos de Mg e de fases
metálicas de Fe-Ni (ver mais a frente a explicação sobre a seqüência de condensação do
modelo de acresção heterogênea).

5.6.3 - Meteoritos ferro-rochosos


Correspondem a 2% das quedas observadas. Os tipos mais abundantes deste grupo
possuem matriz constituída por ferro e níquel com inclusões de olivina e quantidades menores
de outros minerais silicáticos. Os meteoritos podem também ser agrupados em diferenciados
(acondritos, ferrosos e ferro-rochosos) que se cristalizaram sob altas temperaturas e não
diferenciados (condritos).
Os meteoritos são provavelmente fragmentos produzidos pela colisão de corpos
maiores (asteróides), pois além de possuírem forma irregular, as idades de exposição
(determinadas pela alteração produzida por raios cósmicos) são muito menores do que a idade
de cristalização. Acredita-se que os meteoritos diferenciados derivam de asteróides que
sofreram processos de fusão parcial que originaram um núcleo metálico, envolto por um manto
silicático, e uma zona de transição entre eles. Após um processo lento de resfriamento
ocorreram colisões entre esses corpos, originando os tipos de meteoritos observados.
Em resumo, os meteoritos condríticos são diferentes das rochas terrestres, pois estas
foram submetidas a processos de diferenciação posteriores. Entretanto, os condritos são
identificados como os representantes dos primeiros estágios de desenvolvimen to da nebulosa
solar, particularmente os condritos carbonosos que por perderem somente os elementos mais
voláteis, apresentam a composição mais próxima à da Terra como um todo.

5.6.4 - Idade dos meteroritos


As idades de formação dos meteoritos
(tempo no qual adquiriram a composição
mineralógica atual) têm sido determinadas por
métodos radiométricos. A maioria das idades situam-
se no intervalo entre 4.300 e 4.700 Ma, sendo que as
datações das inclusões de Ca e Al dos condritos
forneceram idades de 4559 ± 4 Ma. Os condritos de

128
maneira geral possuem idades de 4559 ± 4 Ma, enquanto os acondritos geralmente possuem
idades de 4539 ± 4 Ma. Os dados indicam também que os sideritos parecem ser ainda um
pouco mais jovens que os demais.
Portanto, há uma diferença de cerca de 20 Ma entre os meteoritos diferenciados e os
não diferenciados, que são os mais antigos. Uma evidência de que os meteoritos formaram-se
nas primeiras fases de evolução do Sistema Solar é a estimativa dos intervalos de formação,
ou seja a idade de produção de certos elementos radioativos, por uma supernova, e a sua
incorporação nos meteoritos.
Os elementos de particular interesse são:
244
Pu → produtos de fissão (T½ = 82 Ma),
129
I → 129Xe (T½ =16,4 Ma) e
26
Al → 26Mg (T½ =0,72 Ma) que possuem meias vidas curtas.

Se qualquer um desses elementos


radioativos for incorporado em um mineral, com o
decaimento, uma certa quantidade de elementos
radiogênicos será produzida, gerando uma anomalia
isotópica desses elementos radiogênicos nos
minerais. Por exemplo, o Al possui somente um
isótopo estável (27Al), que foi produzido juntamente
26
com o Al no processo de nucleossíntese. Supondo
que parte do alumínio produzido (26Al e 27
Al) foi
incorporada por diferentes minerais que comportam
Al e Mg em diferentes proporções, então, um mineral

129
A que não contém alumínio em sua estrutura cristalina (olivina por exemplo) apresentará uma
26
razão Mg/24Mg constante e igual ao valor inicial existente na época de sua formação. Por
outro lado, um mineral B que contenha alumínio (plagioclásio, por exemplo) e magnésio
26
apresentará uma razão Mg/24Mg diferente daquela do mineral A, sendo que a variação desta
26 26
razão dependerá do intervalo de tempo no qual houve decaimento do Al para Mg dentro do
mineral. Estudos sobre a teoria da nucleossíntese permitem estimar as proporções iniciais de
27 26
Al e Al, sendo desta forma possível determinar os intervalos de formação dos meteoritos.
26
Salienta-se que como a meia vida do Al é de somente 0,72 Ma, para ele ser incorporado e
decair dentro de um ou mais minerais, o intervalo de formação deve ser pequeno (no máximo 3
Ma).
A comparação entre os intervalos de formação calculados pelos elementos Al, Pu e I
não são concordantes. Os dois últimos forneceram intervalos de formação de
aproximadamente 100 Ma. Esta diferença tem sido explicada admitindo-se que os elementos
Pu e I foram formados por outra supernova 100 Ma mais antiga.

5.7 - FORMAÇÃO DO SISTEMA SOLAR

Ao contrario da formação das estrelas, não ha nenhuma observação astronômica que


possa guiar as teorias da formação dos planetas. Contudo, as idéias atuais de formação dos
planetas baseiam-se na modelagem do sistema solar com seus meteoritos e planetas.
A teoria atualmente mais aceita e a de que o Sistema Solar se formou simultaneamente
a cerca de 4,56 bilhões de anos, a partir do colapso de uma nebulosa primordial fria, composta
de 99% de Hidrogênio e Helio e 1% de material refratário (óxidos), provenientes das sobras de
uma geração anterior de estrelas. A maior parte da massa, ao se contrair, esquentou e formou
o protosol. Na parte mais externa da nebulosa heterogeneidades locais formaram agregados,
os planetesimais, que orbitavam fora do plano equatorial em torno da massa central. O centro
extremamente quente forma (acende) a protosol. Condensação e acrescao formam os
meteoritos condritos. As colisões sucessivas entre planetesimais foram acrescendo os maiores
protoplanetas, que, com um campo gravitacional maior, passaram a absorver o material de
orbitas próximas, de modo a resultar em orbitas praticamente circulares e coplanares com o
plano equatorial da nebulosa primordial.O protosol, a partir de determinado grau de adensação,
passou a ter condições no seu interior de proceder a fusão de Hidrogênio para Helio. A partir
deste momento a emissão de energia do Sol aumentou muito. Enquanto os protoplanetas
acumulavam mais “detritos”, o Sistema Solar ia clareando e os ventos solares passaram a
varrer os elementos voláteis dos protoplanetas próximos.
130
A alta temperatura e o tamanho relativamente pequeno
destes planetas, que não tinham campo gravitacional suficiente
para manter sua atmosfera, fez com que 99% de sua massa
fosse para o espaço e sobrasse aquele 1% de material
refratário já existente na nebulosa primordial. Os planetas
gigantes retiveram todo material da nebulosa primordial - e tem
a composição muito próxima deste original (o Sol esta em
constante enriquecimento de He, por causa das reações
nucleares em seu interior). Júpiter, alias, por pouco não se
tornou uma estrela, formando com o Sol um sistema binário.
Para tal bastaria que tivesse a massa algumas vezes maior, do
que a que conseguiu agregar.A formação dos planetas
terrestres pode ser dividida em quatro estágios:
1) A poeira condensa-se fora da nebulosa quente;
2) Os grãos de poeira de tamanho micro agregam-se
formando agregados de vários quilômetros;
3) Os agregados aumentam formando planetesimais
ate o tamanho de protoplanetas;
4) Estes protoplanetas crescem ate planetas por
interações gravitacionais de longo prazo e cumulativas.
As nebulosas ou explosões de supernovas que
originaram estas partículas possuem temperaturas na parte
interna do disco capazes de vaporizar muito desta poeira.
Quando esta nebulosa fica mais madura (cerca de 100.000 anos) a parte interna do disco
começa a esfriar a ponto dos silicatos e o ferro se condense, não esfriam o suficiente para
congelar o metano e a amônia (Figura acima).No sistema solar interno, a poeira condensada
compreende somente 0.5% da massa da nebulosa, no sistema solar exterior a poeira congela e
compreende 2% da massa. A gravidade faz com que a poeira se condense no plano médio da
nebulosa em forma de esferas que podem posteriormente serem derretidas para formar os
côndrulos (meteoritos). Assim, a acumulação da poeira prosseguiria mais rápida nas partes
exteriores.
A. Ejeção de material para o espaço;
B. Concentração de poeira;
C. Balanço entre a gravidade e os ventos solares;
D. Formação de sistemas gravitacionais atuais.
131
5.7.1 - O processo de acresção

Como visto anteriormente, considerou- se a formação de planetesimais por


condensação de grãos sólidos (silicatos e materiais metálicos) a partir de vapor. O processo de
agregação foi devido a forças magnéticas, eletrostáticas e ligações por impacto, nas primeiras
fases, e atração gravitacional nas últimas fases.
A forte similaridade de composição entre atmosfera solar e a composição condrítica
sugere que os planetas internos devem ter composição global condrítica. Deve-se, no entanto,
examinar mais detalhadamente o processo de acreção, pois ele pode fornecer indicações
sobre as variações químicas que podem ocorrer entre os planetas, como também sobre o
próprio processo de diferenciação. Com relação a este aspecto existem duas teorias para
explicar a origem da estrutura em camadas da Terra (crosta, manto e núcleo).

5.7.1.1 - Acreção Homogênea


De acordo com esta teoria a Terra primitiva foi formada por um material de composição
uniforme, ou seja, grandes quantidades de ferro e níquel estavam dispersos em uma massa
maior constituída por minerais silicáticos mais leves. Esta "proto-Terra" inicialmente fria
começou a se aquecer devido ao decaimento de elementos radioativos, muito mais abundantes
neste estágio do que atualmente.

Alguns cálculos baseados no conteúdo atual de elementos radioativos mostram que


logo após a formação da "proto-Terra", o calor produzido já era suficiente para iniciar a fusão
de níquel e ferro a uma profundidade de aproximadamente 650 km. O processo de fusão
iniciou-se a uma pequena profundidade, pois temperaturas mais altas são necessárias para
fundir substâncias sob pressões mais elevadas. Este material, inicialmente fundido, acumulou-
se como uma camada na parte mais superficial da Terra, e com a continuidade do processo de
fusão começou a "mergulhar" em direção ao núcleo, como grandes "gotas", condensando-se

132
no centro. Este "mergulho" gerou mais calor por atrito, devido à liberação de energia potencial
gravitacional. Este processo continuou até que todo o ferro e níquel metálicos concentraram-se
no centro.
Enquanto o material mais denso
dirigia-se para o centro, os silicatos
menos densos migraram para as porções
mais superficiais, gerando um manto
turbulento e instável. Sob estas
condições os elementos incompatíveis
mais leves, tais como Na, Ca, K, Al, etc.,
concentraram-se próximo da superfície
da Terra formando a crosta e manto
superior. As principais características
deste modelo são mostradas na tabela
ao lado.

5.7.1.2 - Acreção Heterogênea


De acordo com esta teoria o material do núcleo, manto e crosta acumulou- se
seqüencialmente pela condensação de gases da nebulosa quente (a acreção ocorrem
simultaneamente com a condensação). Cálculos mostram que mesmo com temperaturas de
fusão mais baixas do que a maioria dos minerais silicáticos, o ferro e o níquel condensam-se
de material gasoso em temperaturas ligeiramente mais altas. Desta forma, em uma nuvem
gasosa em resfriamento, estes elementos se condensariam primeiro e se acumulariam para
formar o núcleo, envolto por um material silicático de condensação posterior que formaria o
manto. Os últimos materiais a sofrerem condensação seriam os elementos mais voláteis que se
concentrariam na crosta e manto superior.

133
A taxa de acumulação do núcleo, manto e crosta depende fortemente das dimensões
dos planetesimais, podendo ter levado poucos milhares de anos (103 a 104 anos) para a
formação da Terra. Esta hipótese não requer um intervalo grande para haver aquecimento
devido ao decaimento de elementos radioativos. Grossman e Larimer (1974) determinaram
experimentalmente temperaturas de condensação no vácuo (10-4 atm), chegando à conclusão
que os primeiros compostos a se
solidificarem (devido às baixas pressões, o
vapor passa diretamente para a fase
sólida) da nebulosa eram ricos em Ca,Al e
Ti, seguidos por Fe e Ni metálicos e
silicatos ricos em Mg. Com o aquecimento
posterior houve fusão e o material mais
denso concentrou-se no centro. As
principais características deste modelo são
mostradas na Tabela 1.

134
5.8 - GEOLOGIA LUNAR

5.8.1 - Composição Lunar


Primeiro, a Lua é empobrecido em elementos moderadamente voláteis (Na, K) em
comparação com a Terra. Segundo, embora a parte de silicato da Lua (manto crosta +) é mais
rico em ferro do que o silicato da Terra, a composição da massa lunar é mais pobre em ferro,
que a terrestre. Este último reflete o
pequeno tamanho do núcleo lunar, que tem
um diâmetro de somente 340 ± 90 km, o que
representa apenas cerca de 2% da massa
do planeta. O esgotamento lunar em Fe em
comparação com a Terra se estende a todos
os elementos siderofilos e calcófilos. A Lua
também é muito mais empobrecida em
elementos volátei. Por outro lado, a Lua é
enriquecida a elementos litofilos refratários,
tendo quase o dobro de Al e Ca que a Terra.
A similaridade da composição terrestre e
lunar de oxigênio isótopo sugere fortemente
que eles se formaram da mesma parte da
nebulosa solar.

135
5.8.2 - Química e história da Lua
Composições isotópicas lunares de oxigênio caem na linha de fracionamento terrestre,
o que implica que a Lua e a Terra tem a mesma composição isotópica de O.

A Lua pode ser dividido em três províncias geológicas: a região serrana- regiões
montanhosas, aparentemente, consistindo em grande parte de anortosito; o planalto - áreas de
relevo suave coberta por um cobertor de material ejetado das grandes impactos, e o Mare - as
grandes crateras cheias de lavas basálticas. Grande parte da superfície da Lua é coberta com
destroços impactos, chamada regolito, que consiste em fragmentos de rocha e mineral, vidro e
algumas partículas de meteoritos.
Logo após a sua formação, a lua sofreu uma grande fusão extensiva. O anortosito do
planalto surgiu por flotação do plagioclásio no oceano de magma.

136
5.8.3 - A hipótese do grande impacto e a formação da Terra e da Lua

Terra e a Lua estão fisicamente intimamente associada, então pode-se suspeitar de


suas origens são relacionadas. Como vimos, há evidências de que a Lua era fundida
extensivamente muito cedo em sua história. Simulações numéricas de crescimento planetário
dentro da nebulosa solar prevêem colisões entre corpos muito grandes em fase final de
acreção. A Lua e a Terra compartilham uma composição isotopica idêntica e única de oxigénio.
Além disso, o sistema Terra-Lua tem uma quantidade anormalmente grande de momento
angular em relação aos outros planetas e a maioria desse momento angular reside na lua.
Finalmente, o eixo de rotação da Terra é inclinado 23 com relação ao seu plano orbital. Essas
observações levaram Hartmann e Davis (1975) a propor que a Terra colidiu com um corpo
muito grande na fase final da sua acreção. Uma fração substancial, talvez 2%, da massa dos
dois corpos foi explodido em órbita ao redor da Terra, com muito desses escombros depois
coalescendo para formar a Lua. Esta idéia se tornou conhecida como a hipótese do impacto
gigante e é agora amplamente aceita A energia liberada neste impacto teria sido suficiente
para derreter o manto inteiro da Terra e para vaporizar um pouco dele, embora isso depende
quão eficientemente a energia do impacto é dissipada.
Durante as últimas etapas do acréscimo, a Terra foi atingida em um ângulo baixo, e
relativamente baixa velocidade (5 km / s) por um corpo um pouco maior do que Marte. O
impactador, chamado Theia por alguns, presumivelmente dividiu o esgotamento em alta e
moderadamente elementos voláteis que caracterizam os planetas terrestres. Núcleos metálicos
já haviam formado, tanto na Terra quanto no impactador. A colisão desorganizou totalmente o
impactador e parcialmente interrompeu o manto da Terra, e grande parte dos destroços
resultantes foram em órbita ao redor da Terra. A maior parte do núcleo interrompido do
impactador foi rapidamente (questão de horas) acrescido para a Terra e o material silicatico em
órbita mais devagar coalesceu para formara Lua. Cerca de 85% do material que forma a Lua é
derivado do impactador, o restante do manto da Terra. Um pequeno núcleo então separou da
137
largamente fundida Lua. A maior parte do núcleo do impactador rapidamente afundou através
do manto da Terra interrompido para coalecer com o núcleo terrestre exixtente. A depleção de
elementos siderofilos na Lua é, portanto, um resultado da sua formação, com as porções de
silicato do impactador e da Terra, na qual os elementos siderófilos foram já esgotadas pela
formação de núcleo. O esgotamento de elemento volátil da Lua é uma consequência da
evaporação destes elementos durante o impacto.

138
CAPÍTULO 6 - O PLANETA TERRA

6.1 - CROSTA

6.1.1 - Formação da crosta terrestre


No processo de formação da Terra, quando o
planeta ainda era apenas uma esfera constituída de
material pastoso fundido, em alta temperatura, que
agregava blocos de diversas procedências e composição
química do universo, essa pasta estava em constante
movimento dentro da Terra por causa dos diferentes
gradientes térmicos no conjunto submetido a esfriamento
em sua superfície. Os elementos químicos se combinavam
em função de sua afinidade e da composição original dos
fragmentos unidos, as diferenças de temperatura
facilitavam a segregação de material (cada sistema com
ponto de fusão próprio), as altas temperaturas que
mantinham essa massa em estado fundido facilitavam a
separação dos sistemas por diferença de densidade. Uma
crosta mais fria se formou na superfície da Terra, com
composição química e mineralógica diferente daquela
existente em maior profundidade.
Refletindo a origem, a composição química e
mineralógica, a crosta era heterogênea também nas três
dimensões do espaço. Por outro lado, o movimento da
massa fundida na porção mais interiorana do planeta, ou
porção mantélica da Terra, originava ondulações,
produzindo trincas, fissuras e deslocamentos relativos de
blocos na parte superficial da crosta esfriada, fazendo com
que estes blocos, por assim dizer, flutuassem sobre essa massa pastosa.
Essas descontinuidades físicas na crosta fissurada deram, à semelhança do que ocorre
atualmente, passagem à pasta fundida, conhecida como magma, até a superfície, e com isso
alterando a composição química e mineralógica das rochas preexistentes tanto ao longo das
fissuras, como ate certa distância da intrusão (metassomatismo e metamorfismo de contato).

139
Durante este período o processo de esfriamento prosseguia. A movimentação magmática
gerou diferenças na crosta solidificada exposta na superfície.
Com a continuação do resfriamento, a água e o ar e, posteriormente, a vida, imprimira
nova dinâmica à superfície da Terra, originando nas depressões da crosta, isto é, nos oceanos
e nos lagos. As acumulações contínuas de detritos minerais e orgânicos nessas depressões
levaram, em muitas circunstâncias a consolidação e cimentação dos grãos, em variadas
intensidades de pressão pelo peso dos sedimentos, culminando na litificação das partículas
originando as rochas sedimentares. Em algumas regiões sob condições de clima seco, as
evaporações das águas levaram a formação de depósitos de cloretos, sulfatos e carbonatos.
Por outro lado, as fissuras produzidas pelo movimento do magma propiciavam
passagem ao material magmático que, podia tanto a superfície originando lavas, como infiltrar-
se entre as camadas sedimentares dando origem a corpos tabulares denominados sills.
Diferenças de densidade originaram diferenças de composição mineralógica e química, tanto
na crosta, como no interior da Terra. Resultou um planeta com uma grande variedade de
materiais sólidos com uma distribuição geométrica peculiar, na parte mais superficial da crosta
(crosta continental) de composição distinta do material fundido existente sob pressões
crescentes mais abaixo, no interior, até o centro da Terra.
A composição química das rochas na superfície, até as profundidades alcançadas
pelas sondagens, é a única fonte de informação direta da composição da crosta e que varia
bastante de um ponto para outro. O aparecimento de vida orgânica aumentou a complexidade
da composição da crosta. A composição das partes inacessíveis da Terra é hipotética e se
baseia em evidências sísmicas.

140
6.2 - DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS

6.2.1 - Crosta
No caso da Terra, considerando que é formada por envólucros concêntricos (atmosfera
e hidrosfera – litosfera – calcosfera – siderosfera ou núcleo de ferro), Goldschmidt classificou os
elementos de acordo com o seu principal invólucro de ocorrência (Fig. 1).

- Elementos atmófilos: Ocorrem como gases na atmosfera. Ex.: Cl, N, H, gases


nobres;
- Elementos litófilos: Concentram-se na crosta terrestre, tendem a formar silicatos, ou
estarem associados com eles, entre estes elementos dominam as ligações iônicas. Ex.:
elementos alcalinos, alcalinos terrosos, Ti, Cr, Mn, Al, Terras Raras, V, Nb, Ta, Si, etc..;
- Elementos calcófilos: possuem afinidade pelo S concentrando-se como sulfetos.
Formam ligações covalentes com o S, Se ou Te. Ex.: Cu, Pb, Zn, Ag, As,Sb, Cd, Bi, Hg, Ga, In,
Tl, Se, Te;
- Elementos siderófilos: aqueles que tendem a se concentrar no núcleo terrestre, tem
afinidade pelo ferro, em geral apresentam ligações metálicas e não tendem a se
combinar com O ou S. Exs. Fe, Co, Ni, platinóides, C, P, Ge, Sn, Mo e Au.

141
6.2.2 - Materiais da Terra
Quando nós comparamos a abundância dos elementos na Terra, Crosta Continental e
Crosta Oceânica são encontradas situações completamente diferentes. A Terra um corpo
altamente fracionado, que elementos como o K são extremamente concentrados na crosta.
Este fracionamento pode representar o resultado das acresções heterogêneas derivados da
condensação da nebulosa primordial, ou pode representar a segregação de um corpo
inicialmente homogêneo. Inicialmente as massas sólidas fundiram devido ao aquecimento do
decaimento de elementos radioativos. Elementos como o Fe e outros metais pesados afundam
para o núcleo e elementos mais leves movimentam para cima para formar a crosta. Estes
materiais esfriam e se tornam sólidos.
Os elementos mais abundantes da Terra são o O e o Fe (ambos perto dos 32%), Mg
(~15%), Si (~14%), Ni (~1,8%), Ca (1,7%) e o Al (1.6%). Sendo que a maior parte do Fe e Ni
estão concentradas no núcleo. A parte mais externa da Terra consiste principalmente dos
componentes chamados de silicatos.

142
6.2.3 - Os minerais ou grupos de minerais mais abundantes da crosta
As heterogeneidades encontradas na crosta decorrem de materiais nas fases sólida,
líquida e gasosa, expostos para observação visual (e amostragem direta). Distinguimos a
crosta continental superior que se estende da superfície até cerca de 12 km de profundidade,
formada por arenitos, folhelhos argilosos, siltitos, arcóseos, carbonatos, evaporitos e várias
intercalações de rochas de origem vulcânica, de diversas idades geológicas, também
denominada crosta granítica; e a crosta oceânica basáltica (anteriormente referida como sima
ou sialma). A composição média da crosta oceânica deduz-se dos materiais diretamente
acessíveis mencionados acima, complementada por inferência de dados geofísicos (sísmica).
Abaixo da crosta superior, que inclui a crosta oceânica, a camada granítica está ausente. O
limite entre a crosta granítica e a crosta basáltica, revelada por dados sísmicos, é conhecida
como descontinuidade de Conrad. Devido à enorme variedade de tipos de rochas e a
disversidade de seu modo de ocorrência, é fácil perceber que uma medida exata da
composição média da crosta continental é difícil de calcular.
Na crosta continental, predominam rochas sedimentares e metamórficas, intercaladas
localmente com lavas e atravessadas por diques e sills basálticos, por intrusões de granitos e
granodioritos, que incluem veios de quartzo e pegmatitos. A crosta superior ou continental é
mais exposta e, portanto, mais acessível à amostragem que a crosta inferior.
A crosta inferior é essencialmente inacessível, situando-se numa profundidade que
varia entre 25 km a 70 km nos continentes e 12 km na região do assoalho oceânico.
Entretanto, graças à atividade vulcânica, porções significativas de material que se acreditam
provenientes da crosta inferior e do manto superior são trazidos à superfície. A composição
média do sima, ou crosta inferior, deduz-se dos materiais diretamente acessíveis, conforme
mencionado, complementando por inferências de dados geofísicos. A composição química da
crosta superior e inferior foi deduzida de estudos geológicos mais antigos e atualizada por
trabalhos geofísicos.
Os dez minerais ou grupo de minerais mais abundantes da crosta, mostrados na tabela
abaixo representam 99 % do total, restando apenas 1 % para os demais minerais.

143
A tabela seguinte a seguir, ilustra a composição das rochas da crosta superior, onde se
distingue o invólucro granítico, que inclui as rochas metamórficas, o invólucro sedimentar,
abrangendo também rochas vulcânicas.

6.2.4 - Composição química média da crosta


Composição química da crosta e de cada uma de suas camadas (invólucros) para os
elementos dominantes, expressos na forma de óxidos totalizando 99,9% da massa total da
crosta, conforme mostrado na tabela abaixo.

144
A tabela abaixo mostra as concentrações dos elementos químicos na Crosta
Continental superior e inferior, em ppm.

6.2.5 - % dos minerais na composição mineral das rochas ígneas


Embora se possa falar de composição química média da crosta, convém salientar que
uma mesma composição química pode originar conjuntos minerais bastante diferentes nas
rochas ígneas. Logo, não se pode falar de composição mineral média das rochas. Cada tipo de
rocha ígnea caracteriza-se por uma associação mineral definida, própria. A mesa composição
química pode originar variados conjuntos diferentes de minerais na rocha. Além disso, existem
algumas incompatibilidades entre minerais, que não podem coexistir simultaneamente em uma
mesma rocha ígnea, como é o caso do quartzo e a nefelina.

145
6.3 - MANTO

É o material silicatado que envolve o núcleo, compreende 70% da massa da Terra e


93% do seu volume. Quando uma fusão parcial desenvolve em equilíbrio com rochas sólidas o
fracionamento ocorre de duas maneiras:
Os componentes principais da rocha (Fe, Al, Na, Si) entram preferencialmente par
porção fundida, deixando enriquecida a rocha em minerais refratários como o magnésio e seus
membros.
Os cristais tendem a liberar os elementos traços que são difíceis de acomodar em suas
estruturas. Os íons destes elementos incompatíveis são acomodados mais facilmente em
estruturas abertas e desordenadas em estruturas cristalinas fundidas.
Extrações progressivas de magma oriundas do manto deslocam estes elementos do
manto para a crosta. Rochas crustais como o basalto possuem assembléias minerais de baixa
fusão e são enriquecidas de elementos incompatíveis quando comparados ao manto.
Partes do manto possuem, portanto uma depleção nestes elementos. É estimado que
30% do manto original de elementos incompatíveis (K, Rb, U) agora residem na crosta
continental. Supostamente estes elementos eram uniformemente dispersos no manto
primordial. E agora que pelo menos de um terço desse volume foi levado para rochas ígneas
durante o curso do tempo geológico. Uma variedade geoquímica de rochas vulcânicas recentes
mostra uma variação química do manto em diferentes regiões.

Através de pequenos pedaços que o manto ocasionalmente leva a superfície por


movimentações tectônicas, ofiolitos, xenólitos e por vulcanismo, muito do que nós sabemos do
manto pode ser deduzido. Métodos indiretos de estudo que incluem a determinação de
propriedades geofísicas como o fluxo térmico, densidade e velocidade de ondas sísmicas.
Outro método indireto é análise de rochas vulcânicas geradas por fusão parcial do manto.
Finalmente, a composição de condritos é uma importante chave para o entendimento da
composição do manto.

146
6.3.1 - Estrutura e composição do manto
O manto superior situa-se abaixo da descontinuidade de Mohorovicic até a primeira das
descontinuidades mantélicas abruptas que se manifestam a uma profundidade de cerca de 400
km. No manto superior, a densidade, geralmente expressa em valores para pressão zero p,
varia desde 3,2 g/cm3 no topo até em torno de 3,6 – 3,7 g/cm3 a 400 km. Dentre as rochas
terrestre conhecidas, são as ultramáficas ricas em olivina magnesiana (Mg2SiO4) e os
piroxênios (MgSiO3 e CaMgSi4O6) que apresentam densidade adequadas a estes parâmetros.

Um controle adicional sobre a


provável composição do manto superior
é dado pelas rochas máficas observadas
na superfície terrestre, cuja origem se dá
predominantemente ali. A petrologia
experimental demonstra que, para o
manto superior poder produzir estas
rochas máficas, as rochas nele presentes
são, com maior probabilidade, o
peridotito (olivina + piroxênio) ou o
eclogito (granada + piroxênio).

147
As rochas fundem ao longo de um determinado intervalo de temperatura, uma vez que
são compostas por vários minerais que possuem, por sua vez, faixas de temperaturas de fusão
diferentes. A temperatura do início de fusão – o primeiro aparecimento de líquido – determina a
solidus da rocha, que depende da pressão vigente. A curva solidus do peridotito aumenta de
modo não linear com o aumento da pressão e da profundidade na Terra. A temperatura, outro
parâmetro importante, também aumenta de maneira não linear, acompanhando o aumento da
profundidade. Chama-se de geoterma a curva que relaciona a temperatura vigente a uma
determinada profundidade no interior da Terra.

É possível experimentalmente comparar os prováveis formatos da curva do solidus e


da geoterma. Verifica-se que a temperatura do solidus é superior a da geoterma sob pressões
baixas e altas. Nessa situação o manto permanece sólido. Por outro lado, se a temperatura da
geoterma excede a do solidus, o manto deve ficar incipientemente fundido, num intervalo de
profundidade que corresponde, aproximadamente, a zona de baixa velocidade definida pelas
propriedades sísmicas.

148
Estima-se que a quantidade de líquido presente nesta zona seja pequena, em torno de
2 % no máximo. Essa quantidade de líquido, no entanto, é suficiente para tornar o manto mais
plástico e mole do que o manto sobrejacente.

A geofísica revela que numa zona de transição no intervalo de aproximadamente 400 a


650 km há algumas descontinuidades, caracterizadas por pequenos aumentos de densidade
nítidos ou gradativos que podem ser causados
por mudanças na composição química do
manto para uma composição em que um ou
outro elemento de maior peso atômico (por
exemplo, o ferro) começa a predominar sobre
os outros elementos de menor peso atômico
(por exemplo, o magnésio). Igualmente, a
composição química pode ser mantida, e os
minerais mudam de estruturas cristalinas
menos densas sob as pressões relativamente
menores do manto superior para estruturas
mais densas devido às pressões maiores do
topo do manto inferior, através de
transformações polimórficas ou reações de
decomposição promovidas pela pressão
sempre crescente quanto maior for a
profundidade terrestre.

149
Através da petrologia experimental, demonstra-se que, nesse intervalo de grande
profundidade, os minerais presentes no topo do manto superior tornam-se instáveis e são
substituídos por outros mais densos. Por exemplo, a olivina magnesiana transforma-se
sucessivamente a ~ 400 km e a ~ 500 km em polimorfos P e Q, respectivamente, que mantém
a fórmula (Mg, Fe)SiO2, porém adotam estruturas mais densas, com menor espaço livre entre
os íons constituintes. No mesmo intervalo, os piroxênios também adotam estruturas mais
densas. A ~ 650 km, a fase olivina Q decompõe-se, formando (Mg,Fe)O e (Mg,Fe)SiO3 com
estrutura densa, adotada também pelos piroxênios. Todas as transformações citadas são
acompanhadas por aumentos das densidades e das velocidades de propagação das ondas
sísmicas, praticamente idênticos aos aumentos observados sismicamente.
Acredita-se que, desde ~ 650 km até em torno de 100 – 300 km da descontinuidade de
Gutenberg a 2.900 km de profundidade, o manto inferior seja composto predominantemente
por silicatos ferromagnesianos com estrutura densa e, em menor quantidade, por silicatos
cálcio-aluminosos também densos, bem como óxidos de magnésio, ferro e alumínio. Tendo em
vista o grande volume do manto inferior, a perovskita ferromagnesiana, mineral muito incomum
nas rochas crustais, deve ser o silicato mais abundante da Terra. Nesse intervalo de ~ 650 a ~
2.600-2.800 km, a densidade P deve aumentar desde cerca de 4,0 g/cm3 até perto dos 5,0
g/cm3. Atualmente o que é sugerido é que pode haver heterogeneidades importantes no manto
inferior, conduzindo à presença de domínios químicos distintos separados por uma superfície
bastante irregular, cuja profundidade pode variar de
1.600 km até a descontinuidade de Gutenberg. A zona
entre 2.600 e 2.900 km, aproximadamente apresenta
propriedades sísmicas anômalas e variáveis. Junto à
zona de baixa velocidade, essa zona inferior do manto ,
denominada de D¨, revela uma diminuição das
velocidades sísmicas com aumento de profundidade.
Esta zona pode ser herdada da época de aglutinação da
Terra (embora seja difícil imaginar como ficou
preservada durante as fortes segregações interna que
ocorreram), pode representar uma zona onde se
acumulam bolsões de material gerado anteriormente a
profundidades bem menores e em vias de reciclagem
dentro da Terra, pode incluir material liberado do núcleo,
ou pode representar material do manto inferior,
decomposto para a forma de óxidos densos.
150
6.3.2 - O manto sob a perspectiva mineralógica
O manto terrestre tem início no limite crosta-manto (~40 Km), se estende até o limite
manto-núcleo (~2900 Km) e corresponde a aproximadamente 83% do volume e 67% da massa
do planeta.

O manto é composto por silicatos de ferro (Fe), magnésio (Mg), alumínio (Al), e
oxigênio (O). As rochas ultramáficas ricas em olivina magnesiana (Mg 2SiO4) e piroxênios
(MgSiO3 e CaMgSi2O6) são as mais estáveis no manto e são classificadas de acordo com o
diagrama de rochas ultramáficas definido pela IUGS (International Union of Geological
Science).

151
Os minerais mais abundantes em rochas mantélicas são:
- a enstatita (MgO + SiO2 = MgSiO3), e
- a forsterita (2MgO + SiO2 = MgSiO4).
Esses minerais podem ser considerados uma solução sólida entre MgSiO3 (enstatita)
com FeSiO3 (ferrosilita) e Mg2SiO4 (forsterita) com Fe2SiO4 (faialita). Outra importante solução
sólida é a série formada por MgO (periclásio) e FeO (wüstita) dando (Mg,Fe)O
(magnésiowüstita ou ferropericlásio). A fase aluminosa observada no manto superior é
referente à gradação de peridotito (até ~40 Km de profundidade), espinélio (~40 a ~80 Km de
profundidaded) ou granada (~80 a ~300 Km de profundidade) e fornece uma aproximação das
condições de pressão de equilíbrio da paragênese mineral através do sistema CaO + Mg +
Al2O3 + SiO2. Como produto da percolação de fluidos aquosos ou líquidos silicáticos no manto
(processos metassomáticos ou primários), minerais hidratados podem ser formados (e.g.
anfibólio e flogopita). De aproximadamente 410 Km até ~700Km de profundidade a olivina não
é mais estável no manto e é substituída por polimorfos de alta pressão, mantendo basicamente
a mesma composição. Os polimorfos são a wadsleíta (beta-espinélio) e ringwoodita (gama-
espinélio). As mudanças composicionais constatadas entre 410 Km e 660 Km de profundidade
são confirmadas por estudos sísmicos e, assim como acontece na descontinuidade de
Mohorovičić ("Moho"), são detectadas facilmente. As descontinuidades sísmicas e as
transformações de fase estão diretamente relacionadas às mudanças nas condições de
pressão a que os peridotitos estão submetidos. As reações que explicam as transformações de
fases minerais estão descritas abaixo:

Embora sólido, as elevadas temperaturas no interior do manto superior (~1000°C)


fazem com que o material silicático seja suficientemente dúctil a ponto de fluir em escalas de
tempo muito longas (tempo de convecção mantélica). Dessa forma, o manto se comporta como
sólido, na escala de ondas sísmicas, mas fluido, na escala das convecções mantélicas. A
convecção do manto é expressa na superfície com os movimentos das placas tectônicas e pela
ascensão de volumes variáveis de magma. O ponto de fusão e a viscosidade dos materiais
estáveis no manto com diferentes composições são distintos e estão diretamente relacionados

152
às condições de pressão, temperatura e presença de voláteis a que este material está
submetido. O aumento da pressão com o progressivo aumento da profundidade determina que
o manto inferior flui com maior dificuldade se comparado ao manto superior.
O manto é divido quimicamente em manto primitivo (PM) ou fértil, o qual tem sua
composição relacionada ao período após a separação do núcleo, mas antes da geração da
crosta, sendo equivalente a composição total de silicatos da Terra (BSE - Bulk Silicate Earth),
que é condrítica para os elementos litófilos; e em manto empobrecido (Depleted Mantle; DM), o
qual é o resíduo do processo de fusão parcial do muito fértil.
Por fim, a partir de suas propriedades mecânicas, o manto terrestre é dividido em
manto superior (manto litosférico e astenosfera), Zona de Baixa Velocidade Sísmica (LVZ) e
zona de transição e manto inferior (mesosfera). Esta divisão está baseada no estudo geofísico
do interior da Terra (sísmica). As ondas sísmicas no manto superior continental geralmente tem
velocidades entre 8,0 a 8,2 Km/s (ondas P) e 4,3 a 4,7 Km/s (ondas S), enquanto que no manto
superior sob os oceanos tem velocidades entre 7,9 a 8,6 Km/s (ondas P) e 3,9 a 4,7 Km/s. As
ondas P movem-se através das rochas mantélicas (peridotito) com velocidade aproximada de 8
Km/s e tendem a aumentar sua velocidade com o progressivo aumento da profundidade devido
à maior rigidez das rochas.

6.3.3 - O Manto Superior (MS)


A região definida como MS tem início desde o limite crosta-manto, determinado a partir
da descontinuidade de "Moho", se estende até ~410Km de profundidade e pode ser dividida
em duas camadas de características geofísicas e geoquímicas diferentes. A camada superior
do MS (litosfera) é mais rígida que a camada inferior por consequência da temperatura, que é
mais baixa. A partir de parâmetros , o MS tem composição lhezolítica e é empobrecido em
relação ao manto primitivo (PM) devido a sucessivos processos de fusão parcial. A camada
inferior (astenosfera - Zona de Baixa Velocidade) é constituída por silicatos de ferro e de
magnésio (peridotitos) com comportamento mais plástico, temperaturas entre 1400°C e 3000°C
e densidade entre 3,4 g/cm3 e 4,3 g/cm3. A Zona de Baixa Velocidade (LVZ) coincide com a
zona de instabilidade do anfibólio, sugerindo que essa região está saturada em água (H2O) e
próxima às condições de sólidus.

153
6.3.4 - O Manto Primitivo (MP)
Um importante conceito da geoquímica do manto é a composição de manto primitivo. O
manto primitivo é definido como uma composição do manto após a separação do núcleo, mas
antes da separação da crosta.
O manto primitivo é diferenciado do condrito, portanto, como um resultado de dois
processos: perda de voláteis para o sistema solar interno ou durante a formação da Terra, a
perda de elementos siderófilos para o núcleo.
(Para saber mais, leia o Capítulo 11 do White, W. M. - Geochemistry)

154
6.3.5 - A Litosfera
A Litosfera (~100 Km de espessura) é composta por parte do manto superior e pela
crosta oceânica ou continental. A litosfera é dividida em 15 placas tectônicas principais, que
formam limites em que há ocorrência de intensas atividades sísmicas e vulcânicas
responsáveis por muitas das características geológicas em grande escala da Terra. A região
abaixo da crosta continental é denominada manto litosférico subcontinental (SCLM) e
apresenta espessura variável, podendo chegar a >250 Km abaixo de alguns crátons
arqueanos. O estudo de xenólitos mantélicos em rochas vulcânicas tem mostrado que a
composição do SCLM está relacionada com a idade da crosta sobrejacente. O SCLM está
situado abaixo de zonas cratônicas (antigas) geralmente é fortemente empobrecido, enquanto
o SCLM abaixo de Crosta Fanerozóica (mais jovem) é moderado a levemente empobrecido em
relação a astenosfera subjacente. Essas variações composicionais são importantes para definir
o comportamento tectônico da crosta continental, pois geram diferenças laterais na composição
e nas propriedades físicas da litosfera que afetam o comportamento geodinâmico do manto.
Compreender as origens da evolução secular na composição do SCLM é importante, pois os
diferentes modelos têm diferentes implicações para a evolução global da Terra e para as
relações genéticas e tectônicas entre a crosta e o manto.

6.3.6 - Heterogeneidades mantélicas


O calor liberado a partir do interior do planeta e transportado à superfície através da
convecção mantélica gera a contínua formação de crosta oceânica e de cadeias meso-
oceânicas, que posteriormente são consumidas em zonas de subducção. Esse processo lento
envolve a troca recíproca de material entre a superfície e o interior do planeta, resultando
finalmente na formação da crosta continental. A criação de crosta oceânica e a constante
reciclagem de materiais introduzidos por ela no manto desenvolveram reservatórios mantélicos
heterogêneos, com distintas características mineralógicas, química, físicas e isotópicas. O
metassomatismo mantélico é resultado de processos de contaminação ou re-enriquecimento
(e.g. zonas de subducção ou plumas mantélicas). Alguns reservatórios (DM, EMI, EMII e HIMU)
foram definidos a partir do comportamento isotópico, principalmente de rochas basálticas e
estão descritos a seguir.

155
6.3.7 - Manto Empobrecido (Depleted Mantle; DM)
O DM é o resultado de um ou mais eventos envolvendo extração de magmas
basálticos do manto para a formação de crosta. O caráter isotópico empobrecido (baixas
87
razões Sr/86Sr e 206
Pb/204Pb, e elevadas razões 143
Nd/144Nd) e as baixas concentrações de
LILE (elementos litófilos de alto raio iônico) do N-MORB (Basaltos de cadeias meso-oceânicas)
exige a existência de um reservatório mantélico com característica geoquímica empobrecida.

6.3.8 - HIMU (High-μ ou elevada razão U/Pb)


206 208
O extremo enriquecimento em Pb e Pb observado em alguns basaltos de ilhas
oceânicas (OIB) (e.g. Santa Helena) exige a existência de uma fonte mantélica enriquecida em
U + Th relativo ao Pb, e isócronas do manto* sugerem idades para o reservatório HIMU de 20 -
87
15 Ga. O reservatório HIMU tem razões Sr/86Sr similares as definidas para N-MORB, mas ele
representa a crosta oceânica subductada em que a razão U+Th/Pb foi aumentada pela perda
preferencial de Pb junto com os voláteis durante o processo de desidratação da placa
subductante. O enriquecimento dos elementos pares Nb e Ta em muitos IOBs corrobora com a
hipótese de que o reservatório HIMU tem sua origem relacionada à crosta oceânica reciclada.
O Nb e o Ta são HFSE (elementos de elevado potencial iônico) e por isso são imóveis no fluido
aquoso durante o processo de desidratação da placa oceânica. Portanto, a parte residual
máfica da placa oceânica que afunda no manto inferior é incorporada por plumas mantélicas e
deve ser relativamente enriquecidas em Nb e Ta.

6.3.9 - Manto Enriquecido (EMI e EMII)


Componentes mantélicos enriquecidos são reservatórios enriquecidos em elementos
incompatíveis, tais como Rb, Nd, U e Th. Pelo menos dois componentes enrqiuecidos são
necessários para explicar a distribuição isotópica e de elementos traço nas fontes de basaltos
oceânicos:
- EMI = Tem moderadas razões 87Sr/86Sr e baixas razões 206Pb/204Pb;
- EMII = Tem elevadas razões 87Sr/86Sr e moderadas razões 206Pb/204Pb.
143
Ambos os reservatórios têm baixas razões Nd/144Nd. Os reservatórios mais
prováveis para o EMI são a litosfera oceânica antiga (± sedimentos pelágicos), que tem sido
reciclada e o manto inferior metassomatizado. O componente EMII tem razões isotópicas
próximas à média da crosta continental superior ou a sedimentos continentais subductados
atualmente (e.g. 87Sr/86Sr > 0,71 e 143Nd/144Nd ~ 0,5121).

156
6.3.10 - Xenólitos mantélicos
Xenólitos mantélicos são fragmentos do manto trazido até a superfície da Terra durante
erupções vulcânicas, estando comumente associados a basaltos alcalinos e a kimberlitos. A
ocorrência de xenólitos mantélicos em kimberlitos indica fontes com profundidades superiores a
100 Km, mas quando associados a basaltos alcalinos indica profundidades variáveis de 50 a
100 Km.
A paragênese mineralógica característica de xenólitos mantélicos provenientes da
litosfera oceânica e continental pós-arqueana, é composta principalmente por olivina (ol) +
ortopiroxênio (opx) + clinopiroxênio (cpx) + espinélio (sp) (sp-lherzolitos) e por ol + opx + cpx
(lherzolitos), enquanto que na litosfera arqueana (mais espessa) e na astenosfera predomina a
paragênese formada por ol + opx +cpx + granada (granda-lherzolitos). O manto superior pode
ainda apresentar mais heterogeneidade composicional, podendo ser representado por porções
compostas por dunitos (predomínio de olivina), piroxenito (predomínio de piroxênios), eclogitos
(granada e clinopiroxênio), e harzburgito (predomínio de olivina e ortopiroxênio). As três
primeiras destas rochas não são abundantes em populações de xenólitos mantélicos ou em
ofiolitos, sugerindo que elas não são componentes importantes no manto superior.
Harzburgitos, no entanto, são comuns na maioria dos ofiolitos ultramáficos e pode ser o tipo de
rocha mais importante no manto superior oceânico. Conforme sugerido pela geoterma definida
para Ocean Ridge, alguns ofiolitos ultramáficos são dominantemente plagioclásio lherzolitos (ol
+ opx + cpx + plag). Rochas ultramáficas de ofiolitos têm sua fonte em profundidades entre 10-
75 Km e comprova a interpretação de que elas representam porções do manto superior
oceânico.

157
6.4 - NÚCLEO

A diferenciação dos materiais durante a história geológica da Terra produziu um núcleo


metálico dentro de um invólucro silicatado, por sua vez envolvido por um delgado invólucro de
água e gases, na primeira e mais simples visão da estrutura da Terra proposta no século XIX.
A diversidade dos planetas do sistema solar e os meteoritos condríticos sugerem um
guia ou base de raciocínio para a composição química da Terra como um todo. Entretanto,
convém esclarecer que, até o presente, se desconhece qualquer composição de meteorito que
se assemelhe totalmente a Terra.
O núcleo deve conter a maior parte do enxofre, fósforo e carbono da Terra, pouco ou
nenhum gálio (elemento que é muito comum nos meteoritos de ferro metálico) e nenhum
elemento radioativo. Como a parte externa do núcleo mostra uma diminuição de 5% a 10% em
sua densidade, isso poderia ser explicado pela presença dos elementos H, C, O, Si, P e S. Em
geral, os argumentos de natureza metalúrgica ou cosmoquímica, associados a analogias com
meteoritos, são usados para justificar a inclusão, no núcleo, de elementos da preferência de
cada estudioso do assunto para justificar o déficit de densidade do núcleo. Existe evidência
suficiente para sugerir que alguma, mas não toda a deficiência de densidade, se deve à
presença de enxofre. No entanto é possível que outros elementos participem dessa mistura
especialmente o H, C, O e a Si.
Dados geofísicos (sísmicos, geomagnéticos e paleomagnéticos) e cálculos de
momento de inércia indicam que a Terra possui um núcleo com raio de aproximadamente
3.500 km, constituído por um material bastante denso, sendo a parte externa líquida e a parte
interna sólida (raio de aproximadamente
1.200 km).
O estudo do núcleo é de grande
importância, pois existem fortes indicações
de que ele esteja ainda influenciando a
distribuição de temperatura no manto,
governando indiretamente os processos de
grande escala que ocorrem na superfície.
Com a finalidade de se determinar a origem
e a possível composição do núcleo, é
necessário conhecer a composição global
do planeta.

158
6.4.1 - Principais características do núcleo
O núcleo inicia a uma profundidade de 2.900 km (Descontinuidade de Wiechert-
Gutenberg), sendo que a interface núcleo interno (NI) / núcleo externo (NE) localiza-se a uma
profundidade de aproximadamente 5.200 km (Descontinuidade de Lehmann). No núcleo as
pressões são extremamente altas, variando de 1,3 milhões de atmosferas (NE) a 3,5 milhões
de atmosferas (NI). As temperaturas máximas atingidas situam-se entre 4.000 e 5.000ºC.
O núcleo apresenta densidade bastante elevada, variando de 9,9 g/cm 3 (interface
manto-NE) a 12,2 g/cm3 (interface NE-NI) no núcleo externo e situando-se entre 12,6 g/cm3 a
13 g/cm3 no núcleo interno. Os dados paleomagnéticos mostram que o núcleo existe há pelo
menos 3,5 Ga, apresentando características bastante próximas às atuais há aproximadamente
2,5 Ga.

6.4.2 - Estrutura do núcleo


Admitindo-se que a Terra possua
composição global condrítica e que os elementos
químicos sofreram fracionamento devido à suas
diferentes propriedades químicas (raio iônico e
carga iônica), o provável constituinte essencial do
núcleo é o ferro, contendo ainda outros
159
elementos em menor proporção. Um núcleo composto essencialmente por uma liga contendo
ferro satisfaz os dados geofísicos e os cálculos de momento de inércia.
Foram propostos vários modelos para a estrutura e composição do núcleo de modo a
satisfazer:
→ as densidades (núcleo externo e interno) e as leis da geoquímica;
→ a distribuição de temperatura no interior da Terra de modo que o núcleo interno seja
sólido e que o externo seja líquido;
→ a geração da energia necessária para originar o campo geomagnético.

Um modelo bem simples foi formulado


por Jacobs (1953) no qual o núcleo é
quimicamente homogêneo. Neste modelo a
temperatura de fusão aumenta com a
profundidade, devido ao aumento de pressão,
mais rapidamente do que a geoterma. De
acordo com o modelo, ocorre uma diminuição
da temperatura de fusão na interface manto-
núcleo devido a uma mudança de composição
química, passando de uma fase silicatada
para uma fase metálica rica em ferro. Em
profundidades menores, as temperaturas
existentes no núcleo são superiores às
temperaturas de fusão, portanto, o material
dessa região encontra-se na fase líquida
(núcleo externo). Uma mudança para a fase
sólida (núcleo interno) ocorre sob
profundidades maiores, onde a geoterma
situa-se abaixo da temperatura de fusão.
Em 1971 Higgins e Kennedy verificaram que o gradiente geotérmico proposto por
Jacobs não era suficiente para manter o movimento de convecção no núcleo, necessário para
gerar o campo geomagnético observado. De acordo com estes pesquisadores, as temperaturas
mínimas necessárias para haver convecção em um núcleo composicionalmente homogêneo
originariam um núcleo interno líquido e um externo sólido. Desta forma, a idéia de um núcleo
composicionalmente homogêneo foi abandonada.

160
Modelos nos quais as composições do núcleo interno e externo são diferentes
(conseqüentemente com diferentes temperaturas de fusão) são os atualmente aceitos.O núcleo
interno é sólido pois possui temperaturas de fusão mais elevadas do que as temperaturas
existentes nessa região (para gerar os movimentos de convecção no núcleo externo é
necessário que o gradiente geotérmico seja adiabático).
Em termos de estrutura, K. E. Bullen dividiu o núcleo terrestre em três regiões. A região
E corresponde ao núcleo externo. Dados de tomografia sísmica indicam a existência de uma
região com espessura variável com máximo de 200-400 km (camada "D") situada entre a
interface manto/núcleo externo. A região "F" corresponde a uma região de interface entre o
núcleo interno e o núcleo externo (esta região é considerada como pertencente ao núcleo
interno). Esta região pode corresponder a uma camada de contato não convectiva, cujo estado
é intermediário em relação àquele de um líquido verdadeiro ou sólido verdadeiro. Sua
espessura é de aproximadamente 560 km e a sua densidade varia de 12,2 a 12,6 g/cm 3.
Existem ainda algumas dúvidas sobre a existência desta região. A região G corresponde ao
núcleo interno propriamente dito, iniciando a uma profundidade de 5.760 km. O salto no valor
de densidade de 12,2 para 12,6 g/cm3 no topo do núcleo interno é compatível com uma
mudança na composição química.

Velocidades das ondas sísmicas no interior da Terra.

161
6.4.3 - Constituição do Núcleo
O núcleo interno compreende somente 1,7% da massa da Terra e a sua densidade é
conhecida apenas de modo aproximado, situando-se no intervalo entre 12,6 e 13 g/cm3.
Experimentos utilizando ondas de choque, capazes de gerar pressões tão elevadas
quanto 3,6 Mbar, demonstraram que a densidade do núcleo interno é muito elevada para ferro
puro. Desta forma tornou-se necessário verificar qual elemento químico poderia satisfazer esta
condição, de modo a explicar tanto a densidade como o quimismo global do planeta.
Por analogia com os meteoritos sideritos chegou-se à conclusão que este elemento
deveria ser o níquel. A quantidade de Ni no núcleo interno não é bem conhecida, devido aos
erros no cálculo da densidade, mas por analogia com os meteoritos acredita-se que a
quantidade de níquel no núcleo interno situa-se entre 10 e 20%. O núcleo externo é bem maior
(possui cerca de 30% da massa da Terra) do que o interno e deve ser homogêneo devido aos
movimentos de convecção. Com relação a este aspecto, cabe ressaltar que as estimativas da
viscosidade do núcleo externo indicam valores não muito maiores do que o da água. Portanto,
como a baixa viscosidade favorece movimentos de convecção, não deve haver um gradiente
de temperatura muito acentuado nessa região.
Os valores de densidade do núcleo externo são conhecidos com melhor exatidão e
variam entre 9,9 g/cm3 (interface manto-NE) e 12,2 g/cm3 (interface NE-NI). Dados de ondas de
choque para 1,4 Mbar (interface manto-NE) mostram que o ferro puro possui uma densidade
de aproximadamente 10,6 g/cm3. Desta forma, o ferro puro é muito denso para ser o único
constituinte do núcleo externo, necessitando de um elemento menos denso para fazer parte da
liga. Existem potencialmente 4 elementos químicos menos densos que o ferro, suficientemente
abundantes na Terra, que poderiam fazer parte desta liga: Si, O, Mg e S.

Silício:
→ argumentos a favor:
a) basta uma pequena quantidade para a redução da densidade (10% de Si e 90% de
Fe);
b) são observadas pequenas quantidades de Si dissolvidas em fases metálicas de
meteoritos condríticos do tipo E (enstatita).
→ argumentos contra:
a) a temperatura de fusão do Si é muito elevada;
b) o Si tende a formar íons pequenos que se complexam com O nos silicatos,
possuindo desta forma propriedades fortemente litófilas.

162
Oxigênio:
→ argumentos a favor:
a) o óxido de ferro comporta-se como metal em altas pressões;
b) bastante abundante.
→ argumentos contra:
a) apresenta características litófilas (forma silicatos);
b) não reduz a temperatura de fusão do ferro.

Magnésio:
→ argumentos a favor:
a) bastante abundante.
→ argumentos contra:
a) características litófilas.

Enxôfre:
→ argumentos a favor:
a) as rochas terrestres apresentam deficiência deste elemento com relação aos
condritos;
b) o S apresenta forte afinidade com o ferro (estrutura eletrônica);
c) presença de FeS (troilita) em meteoritos;
d) FeS é um bom condutor de eletricidade;
e) FeS apresenta baixa temperatura de fusão;
f) uma quantidade entre 9 e 12% de S fornece bons ajustes para as densidades
observadas.
→ argumentos contra:
a) o enxôfre por ser volátil deve ter sido perdido durante o processo de acresção.
Ainda não existe um consenso sobre a composição do núcleo externo, mas os
trabalhos recentes (como por exemplo Poirier, 1994; Sherman, 1997) indicam como
possibilidades as ligas [Fe(Ni)-S], [Fe(Ni)-O e Fe(Ni)-S], [Fe(Ni)-O], Fe(Ni)-S e Fe(Ni)-O].

163
6.4.4 - Temperatura e formação do núcleo
A presença de S no núcleo externo diminui consideravelmente a temperatura de fusão
do Fe, pois o sistema Fe-FeS apresenta um eutético de baixa temperatura.

Diagrama de fase de um sistema de 2 componentes (Fe e FeS) para as condições de 1 atmosfera e na interface manto-núcleo.

Sob pressão atmosférica o Fe puro sofre fusão a 1.539ºC, enquanto FeS funde-se a
1230ºC. Qualquer composição intermediária entre estes dois extremos estará parcialmente
fundida em temperaturas acima de 998ºC. Esta temperatura é denominada "temperatura
eutética" e corresponde ao valor mínimo no qual sólido e líquido coexistem. A composição na
qual coexistem sólido e líquido sob a mais baixa temperatura é denominada "composição
eutética". Sob pressão atmosférica a composição eutética do sistema possui 75% de FeS
(correspondendo a 27% de S na mistura).
Dessa forma, fica demonstrado que a presença de S diminui consideravelmente a
temperatura de fusão do ferro, sendo que misturas Fe-S no núcleo externo apresentam
temperaturas de fusão mais baixas do que a da liga Fe-Ni (núcleo interno) que não possui
eutético. Isto justifica o fato do núcleo externo ser líquido e o interno sólido.
Para descobrir as relações de fusão em sistemas Fe-FeS sob altas pressões,
Usselman (1975) efetuou experiências com misturas de Fe-Ni-S acima de 100 kbar e
extrapolou as curvas para pressões mais altas (núcleo). Os resultados obtidos demonstram que
a diferença entre a temperatura de fusão do ferro puro e a eutética aumenta com o aumento da
profundidade. Desta forma, durante a formação do núcleo, uma mistura eutética poderia
"mergulhar" mais facilmente no manto do que o ferro puro, que requer temperaturas mais
elevadas para permanecer no estado líquido.

164
Como a temperatura em direção ao núcleo aumenta, uma mistura eutética no estado
líquido poderia atravessar o manto "drenando-o" em sulfeto de ferro. Por outro lado, como a
temperatura de fusão da liga Fe-Ni é somente um pouco mais baixa do que a da maioria dos
silicatos, não é necessário um processo de fusão de grande escala para a formação do núcleo
terrestre. Portanto, uma mistura Fe-FeS próxima do eutético, extraída de um manto quase
sólido, é um mecanismo bastante viável para a formação do núcleo de acordo com o modelo
de acresção homogênea.
Resta saber se o núcleo externo possui realmente uma composição eutética. Usselman
(1975) demonstrou que a quantidade de S de uma mistura eutética diminui com o aumento da
pressão. De acordo com esses estudos a quantidade de S na mistura eutética na interface
manto-núcleo externo deve ser de 17,5%, decrescendo para 15% (de 48% para 41% de FeS)
na interface NE-NI. A presença de pequenas quantidades de Ni no núcleo externo teria um
efeito pequeno nas temperaturas estimadas. Desta forma, a composição eutética conteria
somente um pouco mais de S do que a percentagem de 9 a 12% presente no núcleo externo,
estimada através dos dados de densidade (12% de S é equivalente a 33% de FeS).
O comportamento da temperatura eutética em função da profundidade permite estimar
as temperaturas do núcleo. As temperaturas mínimas possíveis (correspondentes às
composições eutéticas) são de 1800ºC na interface manto-núcleo, aumentando até 2100ºC na
interface núcleo interno-núcleo externo. As temperaturas máximas possíveis (correspondentes
às temperaturas de fusão do Fe) são de 3.900ºC e 4.400ºC nessas mesmas interfaces,
respectivamente.

Temperaturas de fusão do Fe puro e de FeS puro em função da profundidade.


165
Portanto, de acordo com essas estimativas a temperatura na interface manto-núcleo
deve se situar entre 1.800 e 3.900ºC. Elsasser e colaboradores (1979) determinaram uma
provável distribuição de temperatura no núcleo, através de valores de fluxo térmico, concluindo
que a temperatura nessa interface é de 3.700±500ºC.

6.4.5 - Evolução do Núcleo


Para formar um núcleo a Terra deve ter perdido oxigênio tornando-se quimicamente
reduzida em relação aos condritos. Neste processo o ferro e outros elementos calcófilos e
siderófilos se separaram formando uma região de alta densidade na parte central da Terra.
O núcleo deve ter se formado no início da história da Terra, sendo constituído por uma
mistura totalmente fundida, contendo principalmente Fe, Ni e S. Admitindo-se que a Terra
possui composição global condrítica (Ni = 1% e S = 8%), o núcleo deveria conter 3% de Ni e
24% de S.
Dados de densidade e momento de inércia indicam que o núcleo externo contém
somente cerca de 9 a 12% de S. O restante estaria concentrado na crosta ou no manto, ou
ainda foi perdido durante o processo de acresção (o S é bastante volátil). Desta forma, o núcleo
inicial era provavelmente constituído por 86% de Fe, 11% de S e 3% de Ni, com traços de
outros elementos calcófilos e siderófilos.
É importante ressaltar que os meteoritos ferrosos possuem quantidades de S (4-5%)
ainda menores do que as do núcleo. Entretanto, o mineral troilita é relativamente abundante
nesses meteoritos. Estes meteoritos devem possuir uma história térmica de alta temperatura
muito curta, não havendo tempo suficiente para uma separação manto-núcleo eficiente, como a
que ocorreu na Terra.
Se o núcleo terrestre formou-se a partir de um sistema Fe - Ni - S, sua temperatura
inicial pode ter excedido 4.000ºC. Com o posterior resfriamento cristalizou-se uma liga Fe- Ni,
dando origem ao núcleo interno.
As opiniões são bastante diversas em relação ao estágio atual do núcleo (núcleo
aumentando ou "quase" estável em dimensão). Como a composição atual do núcleo externo é
um pouco mais metálica do que a eutética, acredita-se que o núcleo interno ainda esteja em
fase de crescimento.
O núcleo interno corresponde a 1,7% da massa da Terra e quando atingir cerca de
10%, a composição do núcleo externo atingirá o eutético. Neste ponto o núcleo externo, com
composição eutética, se cristalizará formando um núcleo totalmente sólido a uma temperatura
de aproximadamente 1.800ºC.

166
Abundância dos elementos químicos na Terra.

167
6.4.6 - Energia e o Campo Magnético Terrestre
As possíveis fontes de energia para gerar o movimento de convecção do fluído,
presente no núcleo externo, que origina o campo magnético terrestre são:

→ decaimento de elementos radioativos de meias vidas longas.

→ liberação de calor latente de solidificação pela cristalização do núcleo interno.

→ dissipação de calor produzido por correntes elétricas.

→ efeitos de maré devido à atração gravitacional da Lua e do Sol.

→ convecção térmica e convecção gravitacional (mais importante).

168
CAPÍTULO 7 - GEOQUÍMICA DOS ELEMENTOS TRAÇOS

7.1 - ELEMENTOS TERRAS RARAS (ETRs)


Os elementos terras rarasm do lantânio ao lutécio (números atômicos do 57 ao 71), são
membros do grupo IIIA na tabela periódica e todos possuem propriedades químicas e físicas
muito similares. Esta uniformidade é causada pela natureza das configurações eletrônicas
desses elementos (tabela abaixo) gerando o estado de oxidação 3 +, particularemente estável, e
um pequeno, porém constantem decréscimo do raio iônico com o aumento do número atômico
para um dado número de coordenação. A despeito da similaridade do comportamento químico,
estes elementos podem ser fracionados, um dos outros, por diversos processos petrológicos e
mineralógicos. A grande variedade de tipos de tamanhos dos poliedros de coordenação de
cátions nos minerais formadores de rochas permite a realização deste fracionamento químico,
um fenômeno de consequências importantes na geoquímica.
Em 1968 a IUPAC (International Union for Pure and Applied Chemistry) recomendou
que o termo "elementos terras raras" deveria referir-se aos elementos escândio, ítrio, lantânio,
e os lantanídeos (do cério ao lutécio). Este uso, porém, não tem sido adotado na literatura
geoquímica. É conveniente e usual dividir os ETR em dois subgrupos: elementos terras raras
leves (ETRL) do La ao Sm e elementos terras raras pesados (ETRP) do Gd ao Lu.
Ocasionalmente utiliza-se o termo elementos terras raras médios (ETRM) para os elementos
do Pm ao Ho. Esta divisão leva em consideração os pesos atômicos apresentados na tabela
abaixo.

169
Os ETR são muito eletropositivos e, portanto, seus compostos são geralmente iônicos.
Do ponto de vista mineralógico, estes compostos são óxidos, haletos, carbonatos, fosfatos e
silicatos, e alguns boratos, arsenatos, e outros, não existindo os sulfetos. Os raios iônicos são
relativamente grandes e, portanto, as reações de substituição emvolvem em geral cátions
grandes como o cálcio ou o estrôncio, sendo frequentemente necessário um balanceamento de
carga. O estado de oxidação mais comum é o trivalente, com o európio e cério existindo
também nos estados divalente e tetravalente, respectivamente. Os controles sobre os
diferentes estados de oxidação do Eu ou do Ce em um dado sistema ainda são poucos
conhecidos, mas dependem principalemente da temperatura, pressão, composição e condições
redox (Henderson, 1996). O arranjo dos elétrons ao redor do núcleo dos diferentes ETR é um
fator determinante de suas propriedades. A configuração eletrônica dos ETR envolve o
preenchimento regular da camada interna 4f (enquanto a camada externa 5d permanece vazia)
do Ce ao Yb, com exceção do Gd, La e Lu, que apresentam um elétron na camada 5d. No
estado oxidado, os elementos não possuem elétrons na camada externa 5d e, portanto,
qualquer alteração no número de elétrons será refletida no nível interno 4f. O fato de que a
configuração eletrônica dos diferentes ETR está mais confinada nas camadas internas do que
nas externas, dá a estes elemtnos seu comportamento químico coerente. Desta maneira a
variação dos raios iônicos dos íons dos ETR mostra uma progressão homogênea com o
número atômico, para um dado estado de oxidação. Os raios de alguns íons são também
função do tamanho e do número de coordenação do sítio ocupado em um mineral. Em geral,
quanto maior o número de coordenação maior será o raio iônico do íon coordenado. A
consideração dos tamanhos dos íons trivalentes dos ETR com o número de coordenação seis
(tabela acima) mostra que apenas
poucos íons em uma mesma
coordenação tem tamanhos
similares ao dos ETR, do La3+ ao
Lu3+. Estes incluem, entre outros
íons mais comuns, Na+, Ca2+ e Y3+.

170
7.1.1 - ETR em estudos geológicos
Na geoquímica há um crescimento significativo no interesse pelos elementos terras
raras pois, a medida do seu grau de fracionamento em rocha pode ser um apontador para a
gênese das mesmas, interesse por outra parte estimulado pelo desenvolvimento de técnicas
analíticas capazes de determinar a ocorrência de ETR mesmo em concentrações muito baixas.
A aplicação da abundância de ETR para a solução de problemas petrogenéticos tem sido
centrada na evolução de rochas ígneas, onde processos como fusão parcial da crosta ou de
materiais do manto, cristalização fracionada, e/ou mistura de magmas, estão envolvidos.
Nesses estudos, a semelhança entre as abundâncias de ETR observadas e aquelas
provenientes do modelamento teórico de processos petrogenéticos tem ajudado
consideravelmente a restringir o número de possíveis hipóteses na gênese de uma rocha ou
suíte mineral. Além disso, alguns compostos de ETR apresentam importância econômica.
Um dos principais objetivos na pesquisa geoquímica pe compreender a evolução de
uma grande variedade de rochas ígneas que constituem parte significativa da crosta terrestre,
originadas de um material que acredita-se ser o constituinte do manto. Para atingir este
objetivo, os geoquímicos têm utilizado composições químicas e mineralógicas de várias rochas
fracionadas para modelar processos como fusão parcial e cristalização fracionada que ocorrem
durante a solidificação de magmas. Estes métodos são baseados na premissa de que as
composições químicas e mineralógicas de rochas ígneas não são afetadas por processos
posteriores ao da cristalização e, portanto, refletem as características químicas primárias da
rocha.
Porém, vários estudos têm demonstrado que os elementos maiores e muitos traços são
mobilizados durante o intemperismo, tanto o submarino como o aéro, e por processos de
alteração hidrotermal ou deutérica, ou ainda durante o metamorfismo. Rochas, portanto, com
sinais de alteração podem ser inadequadas para estudos petrogenéticos por meio de
indicadores químicos. Mesmo assim, alguns elementos mostram uma escassa ou quase nula
mobilidade geoquímica, constituindo um grupo dos elementos de concentração mais ou menos
constante. Entre eles, estão aos ETR e outros com o Ti, Hf, Th, Ta, Y, Zr e Nb. Concentrações
e/ou razões entre estes elementos podem, portanto, ser utilizados para estabelecer modelos
geoquímicos em rocha alteradas e/ou metamorfoseadas. É conhecida também a sua utilidade
para identificar possíveis ambientes geotectônicos de geração e/ou colocação de rochas
ígneas. Naturalmente, a utilização de ETR para este tipo de análise requer que seja mantida a
premissa básica da imobilidade desses elementos durante os processos de intemperismo e
alteração, uma premissa nem sempre válida (e.g., provas da mobilidade relativa do Ce e outros
TER durante processos metamórficos).
171
Estudos completos de rochas continentais e oceânicas mostram que não há uma
relação simples entre o grau de mobilidade ou imobilidade dos ETR, o grau metamórfico ou o
tipo de rocha alterada. Para compreender o comportamento dos ETR deve-se levar em conta o
ambiente completo no qual o processos de intemperismo ou alteração ocorreu além de
conhecer o tipo de alteração ao qual a rocha foi submetida.
Sistemas nos quais ocorrem processos de intemperismo, à temperatura ambiente, ou
alteração de rochas, sob temperaturas maiores que as ambientais, normalmente envolvem
interações entre fases minerais e uma fase fluida. Propriedades adicionais (como temperatura,
um sistema aberto ou fechado, variações na razão fluido/rocha, etc.) podem ou não ser
importantes em determinar o comportamento dos ETR dependendo da situação particular. Os
ganhos e perdas observados durante os processos de intemperismo e alteração serão uma
função das importâncias relativas de vários fatores:
1) As abundâncias dos ETR em rochas inalteradas, sua distribuição e sítios de
concentração nas fases minerais na rocha e a estabilidade relativas da fase mineral com
respeito ao fluido.
2) A concentração dos ETR no fluido, o comportamento de partição de ETR entre a
fase mineral e o fluido, e a possibilidade do fluido de transportar os ETR para fora do sistema.
3) A habilidade de minerais secundários, formados durante as reações, para acomodar
os ETR provenientes dos minerais originais.
Na discussão da mobilidade de ETR e sua troca entre rochas e fluidos, é usual
comparar padrões de ETR, normalizados pelo condrito, de amostra fresca e alteradas. Nessas
comparações deve-se ter em mente que mudanças podem ser observadas devido apenas a
alterações de volume, ou à alterações de outros contituintes da rocha (Humphris, 1984).

7.1.2 - Normalização condrítica


Os ETRs são normalmente apresentados em um diagrama de concentração versus
número atômico, com as concentrações normalizadas para o valor de referência de condritos,
expressas como o logaritmo de base 10. Para de normalizar as concentrações de ETR em
rochas é usado frequentemente um padrão comum de referência, que é obtido através de
valores de meteoritos condríticod, porque estes são considerados amostras não fracionadas do
sistema solar pertencentes a nucleossíntese original. Entretanto, as concentrações dos ETR no
sistema são bastante variáveis devido às diferentes estabilidades dos seus núcleos atômicos,
sendo que os ETR com números atômicos pares são mais abundantes, por serem mais
estáveis, que os ETRs com números atômicos ímpares, realizando um padrão zig-zag no
diagrama composição-abundância, conforme ilustrado pela figura ao lado. Este padrão de
172
abundância é também encontrado em rochas
da crosta e do manto. Assim, a normalização
condrítica possui duas funções importantes:
primeiro, a eliminação da variação entre
elementos de número atômico par e ímpar e
segundo, a possibilidade de detectar padrões
geoquímicos ( mais ou menos fracionados)
em relação aos meteoritos condíticos.
Frequentemente é observado no
diagrama de ETR que a composição do
elemento Eu fica distante da tendência
genérica definida pelos outros elementos,
definindo uma anomalia, positiva ou negativa,
do európio. Anomalias do Eu podem ser
quantificadas por comparação com a
concentração esperada, obtida por
interpolação entre os valores normalizados de
Sm e Gd (Eu*). Portanto a relação Eu/Eu* é a
medida da anomalia do európio, o valor maior
que 1 indicando uma anomalia positiva (ou
negativa, no caso contrário). Taylor &

McLennan (1985) recomendam usar o meio


geométrico; neste caso Eu/EU* =
{(SmN).(GdN)}1/2, onde SmN e GdN são
respectivamente as concentrações
normalizadas de Sm e Gd (Rollinson, 1993).

173
7.1.3 - Dificuldades com a normalização condrítica
Infortunadamente tornou-se aparente que os meteoritos condríticos são atualmente
variáveis em composição e “condritos” com abundâncias condríticas de ETRs são a exceção
em vez de regra (Boynton, 1984). Esta variabilidade na composição condrítica tem permitido
um grande número de conjunto de valores normalizados para os ETRs e para dados não
padronizados valores têm sido adotados. A variabilidade pode ser reduzida para dois fatores -
o método analítico e o tipo preciso de condritos analisados. Alguns autores usam “condrito
médio” enquanto outros selecionaram Cl-condritos como o mais representativo da composição
da nébula solar original.

Os padrões acima mostram ambas variações na forma e no intervalo de concentração.


O consenso parece favorecer valores baseados no condrito médio em vez dos Cl-condritos.

7.1.4 - Diagrama de Razão ETRs


O grau de fracionamento de um padrão ETR pode ser expresso pela concentração de
um ETR leve (La ou Ce) dividida pela concentração de um ETR pesado (Yb ou Y). Ambos
elementos são normalizados para condrito. A razão (La /Yb)N é sempre plotada contra CeN ou
YbN num gráfico bivariante e é uma medida do grau de fracionamento do ETR com o conteúdo
ETR mudando. Diagramas similares podem ser construídos para medir o grau de
fracionamento dos ETRs leves [ (La/Sm)N x SmN ], fracionamento dos ETRs pesados [ (Gd/Yb)N
x YbN ] e anomalia de Eu [ (La/Sm)N x (Eu/Eu*) ] em padrões de ETR individuais.

7.1.5 - Normalização NASC para sedimentos


Tem sido observado que a concentração de muitos elementos em rochas sedimentares
de grão fino em plataformas continentais em torno do mundo é similar, como uma
conseqüência da mistura através de repetidos ciclos de erosão. Este “sedimento médio” é
sempre usado como o valor normalizado para concentrações em rochas sedimentares. Uma
174
composição freqüentemente usada é a do “North American Shale Composite” (NASC) e os
valores recomendados são dados na tabela abaixo. Outras alternativas usadas são um folhelho
europeu composto de rocha sedimentar média pós-arqueana australiana. Alguns autores têm
utilisado a abundância média dos ETRs em rochas sedimentares como uma medidad de
conteúdo de ETR da crosta continental superior. Isto assume que os processos sedimentares
homogeinizam os ETRs previamente fracionados durante a foramação de rochas ígneas.
Assim uma alternativa para a normalização de folhelhos seja usar valores para a crosta
continental superior média. Relativo
aos meteoritos condríticos, NASC tem
conteúdo cerca de 100 vezes mais
ETR leve e cerca de 10 vezes menos
ETR pesada e uma pequena
anomalia de Eu. Normalização contra
NASC é uma medida de quão típico
um sedimento seja e pode identificar
sutis enriquecimentos e deficiências
em certos elementos.

7.1.6 - Normalização por rocha


Menos comumumente alguns autores normalizam as concentrações de ETRs a uma
amostra particular numa suíte de rocha como uma medida de relativa mudança. Isto também é
útil quando as concentrações de ETRs dos minerais individuais na rocha têm sido
determinadas, sendo assim estes podem ser expressos relativos à concentração na rocha total.
uma forma similar de normalização é expressar a concentração num mineral relativa à
composição da matriz; isto é freqüentemente usado para avaliar coeficientes de partição de
mineral/fundido.

7.1.7 - Raio Iônico e Coordenação dos elementos


Os ETRs ocupam uma ampla variedade de coordenação poliédrica em minerais, da
hexaédrica a dadocaédrica ou mesmo mais alta. Os íons menores ocupam os lugares de
coordenação hexaédrica mas só raramente nos minerais. Normalmente o número de
coordenação é maior: 7 na titanita, 8 no zircão, 9 na monazita, 11 na allanita e 12 na
perouskita. A diversidade dos lugares ocupados pelos íons ETRs indubitavelmente conduz a
complexidade na química dos minerai ETRs, muitos dos quais ainda permanecem a ser
elucidados. Comparação dos tamanhos relativos dos íons ETRs com aqueles de outros cátions
175
mostra que existem poucos íons de tamanho similar. Na+ e Ca2+ têm tamanho similar aos ETRs
mais leves no estado trivalente. Eu2+ tem um raio similar ao Sr2+, K+, Rb+, Cs+ e Ba2+ são
maiores que alguns íons ETRs trivalentes, muito embora os elementos de transição sejam
menores, mas com Mn2+, Y3+, Th4+ e U4+ como uma exceção importante (ver tabela do início do
capítulo). O tamanho relativamente grande dos ETRs especialmente dos leves, reduz as
interações covalentes e eletrostáticas e, ademais, é um dos principais fatores tendendo prever
a complexidade dos ETRs. Em solução os ETRs trivalentes podem formar associações com
Co-, Br-, I-, NO3- e SO42-. Geoquimicamente, a provável existência de carbonatos, sulfatos,
cloretos e fluoretos complexos parece ser importante.

7.1.8 - Substituição e Partição de elementos


Os raios iônicos dos ETRs limitam significante substituição desses elementos nos
minerais, exceto onde em que o cátion substutuido também é grande. Substituições dos ETRs
trivalentes são observados para Ca2+, Y3+, Th4+, U4+, Mn2+ e Zr4+ (raio iônico em coordenação
hexaédrica = 0.72 Å). Estas substituições são esperadas no critério do raio iônico exceto talvez
no caso do Zr4+ que tem um raio relativamente pequeno. O amplo intervalo de raios dos íons
ETRs particular. Este fenômeno é mostrado a seguir, em que, em alguns casos, há uma forte
dependência do coeficiente de distribuição nos raios iônicos.
A substituição dos ETRs trivalentes por um cátion de carga diferente (p.e., substituição
alternativa) requer a operação de um mecnismo de compensação de carga. Isto pode ser por
substituição adicional como, por exemplo, na troca do ETR trivalente (R3+) por Ca2+ na anortita
envolvendo a troca do Al3+ por Si4+, ou possivelmente pela adição de um ânion numa posição
intersticial na estrutura do cristal. O Eu2+ pode substituir Pb2+, Ca2+, Sr2+ e Na+.

7.1.9 - Coeficiente de partição


A partição de um elemento entre duas fases, A e B, se elas são mineral/líquido,
mineral/mineral ou fundido/fundido, pode ser descrita covenientemente em termos do
coeficiente de distribuição D:
D = Concentração na fase A / Concentração na fase B

O valor de D depende da temperatura, pressão e composição das fases. Onuma et al.


(1968) e depois Jensen (1973) demonstraram a influência que o raios iônicos e carga têm

176
sobre a partição do elemento no sistema mineral/fundido pela construção de gráficos de log D
versus raio, nos quais íons de mesma carga definem curvas de smooth.
Os ETRs, com suas propriedades químicas e sua mudança de raio iônico com a
mudança do número atômico, são particularmente passíveis para este tratamento. O
afastamento do Eu é o resultado da presença de algum Eu 2+ como também Eu3+. Estes
minerais com coordenação grande dos cátios, tal como allanita, favorecem os íons ETRs leves
maiores, enquanto que os de coordenação menor, como zircão, favorecem os ETRs pesados
menores. Minerais com coordenação intermediária (apatita, titanita) têm um conjunto mais
uniforme de valores D associados ou favorecem os ETRs médios. Mesmo quando o cátion
substituído é o mesmo, a natureza da curva de partição para diferentes minerais pode ser
muito diferente.

7.1.10 - Regras de substituição de Goldschmidt


A importância do raio iônico e da carga doa átomos são conhecidas há muito tempo.
Na verdade, Goldschmidt desenvolveu as seguintes regras sobre substituições de elementos
em estruturas cristalinas:
1° - Se dois íons tem o mesmo raio ea mesma carga, eles vão entrar em um
determinado sítio cristalino com igual facilidade.
2° - Se dois íons têm raios semelhantes e a mesma carga, o íon menor irá entrar em
um determinado sítio cristalino mais facilmente.
3° - Se dois íons têm raios semelhantes, o íon com a maior carga vai entrar em um
determinado sítio cristalino mais facilmente.

Ringwood observou a necessidade de


considerar também a eletronegatividade em
substituição. Sua regra é:
4° - Sempre que uma substituição seja
possível entre dois elementos com
significativa diferença de eletronegatividade (Δ
> 0,1), o que tem a menor eletronegatividade
será preferencialmente incorporado ao sítio
cristalino.
Em outras palavras: quanto mais forte
o vínculo, mais provável é a substituição.

177
CAPÍTULO 8 -
COMPORTAMENTO GEOQUÍMICO DOS ELEMENTOS

A geoquímica é a ciência que estuda a química da Terra tanto como um todo, como
cada um dos seus componentes. Estuda a distribuição e migração, no espaço e no tempo, dos
elementos químicos que constituem o globo terrestre. Esta ciência baseia-se na determinação
da abundância dos elementos na Terra e no estudo da distribuição e migração dos mesmos, a
nível individual, nas várias partes da Terra, nos minerais e rochas, tendo o objetivo de descobrir
os princípios que governam essa distribuição e migração (Mason & Moore, 1982).
Os elementos químicos libertados do ambiente geoquímico primário (rochas,
mineralizações, etc.) dispersam-se no ambiente secundário, ou seja, nos solos, nas águas e
nos sedimentos. Os processos através dos quais se dá a transferência dos elementos entre o
ambiente primário e o ambiente secundário são diversos, desde processos de meteorização à
atividade humana.
Neste capítulo foi efetuada uma síntese do comportamento geoquímico dos dezoito
elementos seleccionados no âmbito do presente trabalho: o alumínio, o antimônio, o arsênio, o
cádmio, o cálcio, o chumbo, o cobalto, o cobre, o cromo, o estanho, o ferro, o fósforo, o níquel,
o silício, o zinco, o ouro, o titânio e o vanádio..

8.1 - SELEÇÃO DOS ELEMENTOS

As principais razões que levaram à seleção deste grupo de elementos foram as


seguintes:
→ estes elementos podem fazer parte da estrutura dos principais minerais existentes
nos sedimentos amostrados;
→ certos elementos, como o ferro, o cobre e o fósforo, podem indicar e caracterizar
atividades humanas em contexto arqueológico;
→ alguns elementos, quando existem em concentrações elevadas, são indicadores de
contaminação ambiental.
Assim sendo, o silício e o alumínio foram selecionados por serem dos elementos mais
abundantes da crosta e por fazerem parte da estrutura de muitos minerais que ocorrem nos
sedimentos em estudo. O ferro foi escolhido, pois os óxidos de ferro juntamente com os óxidos
de alumínio têm um papel importante no comportamento dos metais. Além deste aspecto, o
ferro e, também, o cobre são utilizados na manufatura de artefatos desde as mais antigas

178
civilizações. Ao longo dos tempos, o Homem utilizou os metais em ligas diversas, algumas das
quais caracterizam períodos da História. O cálcio e o fósforo integram a estrutura de alguns
minerais que ocorrem nos sedimentos em estudo.
É de referir que concentrações anômalas de fósforo podem ter um significado
arqueológico. Os restantes elementos foram escolhidos por influenciarem a qualidade
ambiental. Os elementos considerados poluentes, ou seja, aqueles elementos que de alguma
forma entram na cadeia alimentar, na qual o Homem é o consumidor final, e que poderão existir
em níveis considerados tóxicos são: o antimônio, o arsênio, o cádmio, o chumbo, o cobalto, o
cobre, o cromo, o estanho, o níquel e o zinco.

8.2 - O COMPORTAMENTO GEOQUÍMICO DOS ELEMENTOS

Em geoquímica, os elementos são classificados de acordo com a sua abundância na


crosta terrestre em (Bonin, 1995; Jackson, 1997; Hancock & Skinner, 2000):

→ elementos maiores = Quando a sua concentração é superior a 1,0 % (> 10000 ppm);
→ elementos menores = Quando a sua concentração está compreendida entre 1,0 e 0,1 %;
→ elementos traço= Quando a sua concentração é inferior a 0,1 % (< 1000 ppm).

Os limites classificativos variam um pouco de autor para autor. Na análise química de


rochas e sedimentos, a concentração dos elementos maiores e menores é normalmente
apresentada em percentagem em peso do respectivo óxido (wt %, weight percents) enquanto
que para os elementos vestigiais é vulgar apresentar a sua concentração em partes por milhão
(ppm ou mg/kg ou mg/L) ou até mesmo partes por bilhão (ppb ou μg/kg ou μg/L). Existem
alguns autores, como Adriano (1986), Faure (1991), Reimann & Caritat (1998), que classificam
os elementos em: principais (concentrações em % em peso do respectivo óxido) e vestigiais
(concentrações inferiores a 0,1 %). Neste trabalho, os elementos foram classificados em
principais ou vestigiais e as concentrações foram expressas no sistema internacional de
unidades (SI).
Neste item são apresentados quadros com algumas propriedades físico-químicas dos
elementos seleccionados e outros com os teores médios destes elementos na crusta terrestre,
em vários tipos de rochas e em solos. Os óxidos dos elementos são classificados como ácidos,
básicos ou anfóteros (isto é, consoante as condições reacionais, podem comportar-se como
óxidos ácidos ou como óxidos básicos). Segundo o conceito de Brönsted-Lowry, ácido é toda a
espécie química que pode ceder prótons (a uma base presente), enquanto que base é toda a
179
espécie química que pode captar prótons (de um ácido presente). Os óxidos são ácidos ou
básicos se produzirem ácidos ou bases, respectivamente, quando são dissolvidos em água ou
reagirem como ácidos ou bases em certas reações. Os óxidos metálicos normais são
geralmente básicos e a maior parte dos óxidos não-metálicos são ácidos (Chang, 1994).
Neste estudo também se classificam os elementos em: metais, não metais e semi-
metais ou metalóides. Os metais são elementos mais ou menos maleáveis, dúcteis, bons
condutores do calor e da eletricidade, enquanto que os não-metais são na generalidade
elementos maus condutores do calor e da eletricidade. Os semi-metais ou metalóides são
elementos com propriedades intermédias entre os metais e os não-metais (Csuros & Csuros,
2000).
Nesta classificação são, ainda, utilizados os termos metal, não-metal e semi-metal ou
metalóide pesado ou leve. O termo “metal pesado” é frequentemente usado na literatura, não
sendo por vezes bem definido. Segundo alguns autores, entre eles, Adriano (1986) e Csuros &
Csuros (2000), designa-se por “metal pesado” o grupo de elementos cuja densidade atômica é
superior a 5 g/cm3. Esta definição provoca confusão, pois baseia-se na escolha de um
parâmetro físico e inclui elementos com parâmetros químicos muito diferentes. De acordo com
outras definições (Csuros & Csuros, 2000; Duffus, 2002), que focam os parâmetros químicos,
estes elementos são classificados em classe A (metais pesados: ácidos de Lewis, aceitadores
de elétrons, que apresentam tamanho grande e alta polarizabilidade), classe B (metais leves:
ácidos de Lewis, aceitadores de elétrons, que apresentam tamanho pequeno e baixa
polarizabilidade) e elementos borderline (metais intermédios). Segundo Duffus (2002), o termo
“metal pesado” deve ser abandonado, pois não apresenta uma base terminológica ou científica
válida. O seu uso implica que o metal puro ou o semi-metal puro e os seus compostos
apresentem as mesmas propriedades físico-químicas, biológicas e toxicológicas, o que não é
verdade.
Segundo este autor, para evitar o uso deste termo é necessário uma nova classificação
baseada na tabela periódica. Na generalidade, o termo é usado para um grupo de metais e
semi-metais (metalóides) que estão associados a contaminação e toxicidade.
Contudo, não se encontra na literatura científica uma definição impositiva do termo.
Assim sendo, neste trabalho o termo “pesado” foi aplicado a todos os elementos cuja
densidade atômica é superior a 5 g/cm3 e que estão normalmente associados a problemas de
contaminação e toxicidade. Estes elementos estão frequentemente na natureza, ou seja, nas
rochas e nos minerais, pelo que a sua presença numa vasta gama de concentrações residuais
é considerada normal nos solos, nos sedimentos, nas águas e nos organismos vivos. A

180
contaminação provoca um aumento anormal das concentrações relativamente aos valores das
concentrações residuais.
A concentração natural dos elementos nos solos resulta das rochas originárias mas,
em áreas poluídas, os elementos podem apresentar concentrações muito elevadas,
especialmente nos horizontes superficiais dos solos. Assim sendo, torna-se difícil distinguir a
origem antrópica da origem natural destes elementos nos sedimentos e nos solos.
Alguns elementos têm um papel importante no metabolismo biológico do ser humano,
sendo identificadas situações em que o mesmo elemento é a nível vestigial um constituinte
essencial, podendo com o aumento da concentração tornar-se uma espécie com elevado efeito
toxicológico. Por exemplo, o cobre e o zinco são essenciais à vida, mas em concentrações
elevadas podem ser tóxicos (Allan, 1997).
Efetua-se, de seguida, uma síntese das características dos elementos químicos
seleccionados, apresentada por ordem alfabética dos respectivos símbolos químicos.

8.3 - Al - ALUMÍNIO

O alumínio é um elemento principal da crusta terrestre, sendo o elemento metálico


mais abundante da mesma. A sua concentração média na crosta terrestre é de cerca de 8%
(em peso) da crosta terrestre, sendo o terceiro elemento mais abundante na crosta. Trata-se de
um metal claro, leve, maleável, bom condutor da eletricidade e muito resistente à corrosão
(Emsley, 1998; Cotton et al., 1999). No quadro 4.1. são apresentadas as principais
características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.1. Propriedades físico-químicas do alumínio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
181
Alumínio é o metal mais abundante nas rochas ígneas. De todos os demais elementos,
o oxigênio e silício são os únicos que superam o alumínio. Considerando-se a abundância
cósmica, resulta que o Fe e Mg são mais abundantes que Al. O número atômico do Al é ímpar
(Z=13) e consequentemente este metal, segundo a regra de Oddo e Harkins, dura ser menos
abundante que seus vizinhos e Mg e Si. Mas isto não se cumpre nas rochas ígneas e é
evidente que o Al deve ser muito concentrado na litosfera superior.
Abundância cósmica do Mg maior é facilmente explicada levando-se em conta sua
forma de apresentação nos meteoritos. Tanto a abundância do Mg como a do Fe, nos
meteoritos, é muito superior a do Al devido ao fato que Fe é o componente principal dos
sideritos e litossíderitos e que os silicatos dos lititos são formados principalmente por Mg.
Na tabela abaixo é indicado a abundância do Al.

Quadro 4.2. Teores médios de alumínio (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários
tipos de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
Tais percentuais demonstram que o alumínio é um elemento completamente litófilo,
como os elementos alcalinos e alcalinos terrosos. É evidente que Al quase falta por completo
nas esferas mais profundas da Terra e está concentrado quase quantitativamente na litosfera.

8.3.1 - O Alumínio nas rochas ígneas


A tendência do Al a concentra-se na litosfera superior é refletida também no seu
comportamento durante a diferenciação magmática. Nos primeiros produtos de cristalização
não se encontram quantidades de Al dignas de menção. Entre os cristalizados iniciais só os
feldspatos plagioclásicos dos anortositos e espenélios contém Al como componente essencial.
A escassez do Al nos cristalizados iniciais é comprovado pela pobreza em Al nos dunitos.
182
Incluso nos hornblenditos, que não se pode incluir entre os cristalizados iniciais, o conteúdo de
Al é muito menor que nas rochas que se formam durante o estágio principal de cristalização. O
Al se concentra algo nas primeiras rochas que cristalizam no referido estágio; mas o conteúdo
diminui com o avançar da diferenciação. Assim o conteúdo médio em Al dos gabros é maior
que nas rochas silicáticas.
Os feldspatos, que são os componentes de maior importância quantitativa das rochas
ígneas, são aluminossilicatos de certos metais mono e bivalentes. Portanto, são os que contêm
a maior a parte do Al litosférico. Como alguns metais trivalentes podem substituir teoricamente
o Al na estrutura feldspática, o grau dessa substituição é demasiado pequeno para ter
importância goquímica.
No quadro abaixo é dado o conteúdo teórico em Al dos feldspatos mais importantes:

A anortita contém quase o dobro da quantidade de Al que a albita e os feldspatos


potássicos. Consequentemente, os feldspatos plagioclásicos das rochas ígneas básicas, que
são sempre relativamente ricos em anortita, contêm mais Al que os plagioclásios ricos em
albita e que os k-feldspatos das rochas ácidas. Isto explica que Al se concentre nos primeiros
produtos do estágio principal da diferenciação magmática.
Na série alcalina, os sienitos e nefelina sienitos contêm mais alumínio que as rochas
cálcio-alcalinas de igual conteúdo de Si. Isto se deve à abundância de feldspato sódico e
feldspatóides entre seus componentes principais: a nefelina, leucita e cancrinita possuem mais
Al que o k-feldspato. Além dos feldspatos, as micas contêm também Al como um dos seus
componentes principais. Do ponto de vista geoquímico, a biotita é o membro mais importante
do grupo das micas; a muscovita é menos importante. As variedades distintas de biotita contém
de 10 a 20% de Al2O3. Por sua parte, a muscovita e micas análogas contêm mais alumina, às
vezes mais de 30%. A muscovita é o componente essencial quase unicamente nas rochas
graníticas e falta por geral nas rochas básicas.

183
A biotita cristaliza antes da muscovita, pelo qual pode separa-se dos magmas ricos em
água numa fase bastante precoce. Portanto, a presença ou ausência de biotita não influi
demasiado sobre o conteúdo de alumina nas rochas ígneas, enquanto que se existe muscovita,
o conteúdo de Al pode aumentar algo nas rochas cristalizadas até no final do estágio principal
de diferenciação. Sem dúvida, o efeito da muscovita é menos pronunciado que dos feldspatos.
Ademais, a maior parte da muscovita dos granitos, senão na totalidade, é de origem secundária
proveniente da alteração dos feldspatos.
Os piroxênios e anfibólios, em particular augita e hornblenda, que são os termos mais
importantes desses grupos minerais, contém Al com regularidade. Sem dúvida, seu conteúdo
em Al é menor ou aproximadamente igual ao da totalidade da rocha. Al forma silicatos a
temperaturas elevadas no sistema Al2O3.SiO2, a saber: sillimanita Al2O3.SiO2 (tb cianita,
andaluzita) mullita 3Al2O3.2SiO2. Também se conhece o silicato Al2O3.2SiO2, metacaolinita, que
se obtém ao subtrair água da caolinita Al4[(OH)8/Si4O10]. Sem dúvida, a metacaolinita não é
estável a temperaturas elevadas e não se pode obter por cristalização direta dos fundidos de
silicato alumínico. As propriedades óticas da melleta e sillimanita são quase iguais e não se
pode distinguir entre si a não ser por difração de raios-X e análise química. Sem dúvida, a
mullita é mais rara: só se encontra nos contatos ígneos. A sillimanita, cianita e andaluzita são
componentes de rochas metamórficas, mas se encontram raramente nas ígneas ou em
pequenas quantidades nos contatos ígneos.
A exposição precedente demonstra que o Al não se encontra nas rochas ígneas como
silicatos simples, senão que está sempre combinado com outros metais formando
aluminossilicatos complexos. Todo silicato consiste em uma trama de tetraedros de [SiO4], que
se combinam de diversas maneiras nos distintos grupos de minerais formando estruturas
regulares. Uma parte de Si4+ dos tetraedros de [SiO4] pode ser substituída por Al3+. Devido à
grande diferença entre o tamanho dos íons, a substituição nunca é completa. Sua extensão
depende, ademais do tipo estrutural do mineral afetado. Nos feldspatos, todo Al existente
substitui o Si nos tetredros de si-O e o retículo dos cátions está formado unicamente por íons
K+, Na+, Ca2+, etc... Da mesma forma, o Al3+ substitui parcialmente o Si4+ nos anfibólios,
piroxênios e micas. Nos anfibólios só se pode substituir 1/3 dos íons de Si4+ por Al3+. Nestes
minerais se encontra também Al fora da trama Si-O, ocupando uma posição semelhante a do
Mg e Fe. Apesar do tamanho menor, o Al substitui neste caso de forma diadócica o Mg2+ e
Fe2+. O número de coordenação é 6. Os íons de Fe3+ apresentam-se da mesma maneira. Nos
outros grupos importantes de silicatos, Al ocupa também duas posições estruturais diferentes.
O Al, o mesmo que Ca e Mg, não se apresenta nas rochas ígneas na forma de óxido simples.
O conríndon, α - Al2O3, encontra-se unicamente quando o Al predomina, tanto sobre o Ca como
184
os metais alcalinos; neste caso não se pode unir todo Al nos feldspatos. Portanto, a presença
de conríndon nos pegmatitos, nas rochas metamórficas, etc..., é uma prova de um conteúdo
em Al excepcionalmente grande. Entre outros minerais de Al se encontram o crisoberilo,
Al2BeO4, que ocorre em pegmatito granítico e aplito; o topázio, Al 2[F2/SiO4], relacionado à
atividade peneumatolítica; muitos fluoritos, carbonatos, numerosos fosfatos e sulfatos.

8.3.2 - O ciclo do Alumínio


O ciclo do Al é simples e conhecido em todos os detalhes. Durante a meteorização se
dissolve na forma iônica dos feldspatos e outros silicatos. Em condições normais, estes
minerais se dissolvem por completo. O Al permanece dissolvido tanto em solução ácida (pH<4)
quanto básica (pH>9) e o hidróxido de Al se precipita unicamente na proximidade do pH neutro.
Também se precipita o hidróxido de Al quando a solução se concentra por evaporação.
Quando uma solução ácida torna neutra ou básica ( por desprendimento de CO 2, que é o
principal causador da acidez das águas naturais ou por reação com CaCO3) se precipita
hidróxido de Al. Como a sílica permanece em solução nessas condições, depósitos de Al de
grande pureza são formados. Sem dúvida, alumina e sílica também podem reagir entre si
formando minerais argilosos cristalinos, e uma pequena parte desses compostos coagular-se
formando hidrogels. Sabe-se que os solos de sílica e alumina, cuja concentração seja
aproximadamente de 0,1%, precipitam mutuamente com rapidez. A desintegração das micas
por meteorização é, com freqüência, incompleta e se extraem principalmente os metais
alcalinos. Dessa forma, a trama Si-O permanece intacta em grande parte e pode converter
facilmente em argilas, por reações com as soluções meteorizantes.
Os minerais argilosos são silicatos de Al hidratados. Com freqüência, algo de Al está
substituído por Fe3+ e Mg2+ por pequenas quantidades de metais alcalinos e alcalinos terrosos.
Os minerais argilosos mais importantes são a illita, de composição semelhante às micas
brancas; a montmorillonita, Al2[(OH)2/Si4O10]nH2O, e a caolinita, Al4[(OH)8/Si4O10]. A illita
contém k como componente essencial. Tem importância geoquímica a capacidade de
intercâmbio de bases dos minerais argilosos em particular a montmorillonita, que é devido em
parte a uma substituição estrutural. Os metais alcalinos se substitui com bastante facilidade,
enquanto que os alcalinos terrosos estão mais sujeitos à estrutura. A formação preferencial de
montmorillonita ou de caolinita durante a meteorização depende da quantidade de metais
alcalinos e alcalinos terrosos extraídos na decomposição e do pH das soluções meteorizantes.
Quando os metais citados são extraídos totalmente por águas circulantes e quando as
soluções ácidas contêm muito dióxido de carbono se forma predominantemente caolinita. Ao
contrário, quando a lixiviação é incompleta e a solução é alcalina ou neutra se forma
185
montmorillonita. A caolinita será muito pura se o Fe tem sido extraído durante a meteorização
na forma de componentes ferrosos estáveis em presença de dióxido de carbono, ácido
sulfúrico e substâncias húmicas. Tais jazimentos têm importância como matérias primas para a
indústria de cerâmica.
Na podzolização do solo florestal nos climas temperados e húmidos se formam
normalmente minerais argilosos caoliníticos. Ao contrário, os minerais argilosos se decompõem
com freqüência com separação de sílica por lixiviação quando se verifica a meteorização
tropical. O hidróxido de alumínio, junto com o ferro, está muito estendido entre os produtos da
meteorização tropical, mas se encontra também em alguns solos (terra vermelha) dos climas
mediterrâneos.
Todos os minerais argilosos têm estruturas de filossilicatos com Al 3+ como cátion mais
importante e mais comum. À semelhança das micas, os minerais argilosos contêm tetraedros
de [SiO4], distribuídos em camadas bidimensionais que, sem dúvida, não estão unidas
diretamente por cátions para formar redes tridimensionais. A maioria dos minerais argilosos
contém uma camada independete de Al (O,OH)6 intercalada entre as camadas de tetraedros de
[SiO4]. Nas micas, o cátion (Mg2+,Fe2+,Fe3+,Al3+, etc...) e o íon Si4+ compartilham um íon de O,
enquanto nos minerais argilosos existem dois íons de oxigênio, -O-O, ou uma de oxigênio e de
hidroxila, -O-OH, entre os íons de Si e Al. As ligações entre o Si e Al é mais fraca nos grupso
Si-O-Oal e Si-O-OH-Al que no grupo Si-O-Al das micas. Parece que o Al dos minerais
argilosos, os quais se formam sepre a temperaturas baixas, é quase por completo incapaz de
substituir de forma diadócica o Si nos tetraedros de [SiO4]. Em todo caso, esta substituição é
muito mais limitada que nos aluminossilicatos das rochas ígneas. Nos minerais argilosos o Al
se encontra quase sempre fora da trama de Si-O na forma de íon com número de coordenação
6, porque a forma de apresentação do Al nos minerais rgilosos difere notavelmente daquela
mostrada nos aluminossilicatos das rochas ígneas.
Um dos efeitos da diferença que existe entre a estrutura cristalina das micas e dos
minerais argilosos é que nos últimos a exfoliação paralela às camadas de estrutura é com
freqüência, mais proeminente que nos primeiros. Devido à exfoliação perfeita se produzem
partículas mais finas durante o transporte. Em conseqüência, ao verificar-se separam-se dos
inalterados de grã grossa, com o que se pode formar argilas de grande pureza.
A concentração de Al nos hidrolisados é um traço muito característico deste grupo de
sedimentos. Como o conteúdo médio em Al das rochas ígneas (~8,13%) é quase igual à média
correspondente das argilas norueguesas, tem-se de levar em conta que estas argilas são de
origem glacial e foram depositadas em clima frio, tendo sofrido mudanças químicas
relativamente pequenas. Nas argilas que se formam por meteorização intensa as mudanças
186
são mais pronunciadas e, em conseqüência, o conteúdo em Al deve ser maior. Como o
conteúdo em Al da água do rio é pequeno, este metal se encontra constantemente nessa. O
balanço geoquímico de Al na água do mar demonstra também que o coeficiente de
transferência é muito pequeno neste caso. Estas observações indicam que o Al não se
conserva permanentemente nas soluções procedentes da meteorização. Devido ao fato que o
hidróxido é uma fase débil, os sais solúveis de Al se hidrolisam em seguida nas águas naturais
comuns e se separam ulteriormente com os produtos sólidos da meterorização. Em
conseqüência, os inatacados se empobrecem em Al, enquanto que os hidrolisados se
enriquecem e é evidente que o conteúdo destes em Al aumentará proporcionalmente à
intensidade da mudança na sua composição química. A deposição do Al nos hidrolisados é
quase quantitativo, é dizer que a quantidade de Al que sai dos minerais na meteorização passa
na forma quantitativa aos hidrolisados e só se encontram numa parte muito pequena nos
precipitados, oxidados e evaporados e na água do mar. Depois de sua deposição os
hidrolisados “envelhecem” muito antes que os processos diagenéticos comecem atuar. O
envelhecimento consiste na cristalização os gels (colóides), que existiam todavia, para formar
minerais argilosos. Os sedimentos endurecidos podem participar nos eventos metamórficos,
durante os quais podem ser formados micaxistos e outras rochas de composição química
correspondente a dos sedimentos argilosos. Todas essas rochas se caracterizam por um alto
conteúdo em Al, que pode servir de critério para averiguar se uma rochas muito metamorfisado
é de origem ígnea ou sedimentar.

8.3.3 - Minérios de Alumínio


Vários jazimentos extensos de minérios de Al são produtos puros de meteorização
localizados “in situ”. Os minérios mais importantes de Al constam de bauxita e se originam por
meteorização laterítica. A bauxita e laterita constam de diásporo (α - AlOOH), boehmita (γ -
AlOOH), gibsita (hiddrargilita- γ - Al(OH)3), hidróxido de Fe. Com exceção da criolita, todos os
minérios de Al de importância técnica são de origem sedimentar continental. Os jazimentos de
bauxita estão localizados com freqüência em seu sítio original, o que permite apreciar a
natureza da rocha fonte. Existem bauxitas silícicas e calcáreas que são bastante parecidas
quimicamente. As bauxitas silícicas se formam por laterização prolongada de rochas ígneas, de
preferência as básicas, como gabros diabásios e, em particular, os basaltos. As águas
subterrâneas carbonáticas podem desempenhar um papel ativo na formação direta do
hidróxido de Al a partir de rochas ígneas básicas. Este grupo compreende, por exemplo, as
bauxitas da Alemanha, as do Maciço Central Francês e Arkansas (USA). Muitos desses
jazimentos se encontram em regiões que apresentam sinais de atividade vulcânica terciária, o
187
que constitui uma prova da existência de um clima tropical durante sua formação. As bauxitas
calcárias se formam a partir das margas argilosas impuras pela ação das águas que contêm
dióxido de carbono em clima quente. A matéria argilosa da marga se converte em bauxita e o
carbonato de Ca é extraído em foram de bicarbonato. Estes jazimentos de bauxita são
freqüentes em muitos lugares da Europa Central, Oriental e Meridional. O caolim, que é uma
mistura de caolinita e outros minerais argilosos, tanto cristalinos como amorfos, é uma matéria
prima importante na indústria cerâmica.

188
8.4 - As - ARSÊNIO

O arsênio é um elemento vestigial da crosta terrestre. Encontra-se na natureza tanto na


forma elementar como na forma de composto, sendo esta última a mais abundante. Apresenta
uma cor branca prateada, brilho metálico e é muito quebradiço. Do ponto de vista químico, é
um metalóide, isto é, um elemento com propriedades intermédias entre as dos metais e as dos
não-metais (Adriano, 1986; Emsley, 1998; Csuros & Csuros, 2000). Os estados de oxidação
mais importantes são As(III) e As(V), sendo o As(III) a forma comum de ambientes redutores
(Cotton et al., 1999). No quadro 4.3. são apresentadas as principais características Físico-
Químicas deste elemento.

Quadro 4.3. Propriedades físico-químicas do arsénio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do arsénio são a arsenopirite (FeSAs), o realgar (AsS), entre


outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são: os feldspatos, a magnetita, a
ilmenita, a pirita, a galena, a esfalerita e a apatita (Deer et al., 1966; Reimann & Caritat, 1998).
As associações naturais do arsênio são com: o ouro (Au-As) e a prata (Ag-As) nos filões
hidrotermais; o cobre, o níquel, o cobalto, o ferro e a prata em jazigos de sulfuretos maciços de

189
cobre e níquel; o urânio em alguns depósitos de urânio (U-As); o cobre, o vanádio, o urânio e a
prata em depósitos sedimentares de cobre e ocorre ainda em rochas ricas em fosfatos.
Devido à sua ocorrência associado a vários tipos de mineralizações, o arsênio é um
importante indicador em trabalhos de prospecção mineral de ouro, de prata, de chumbo e de
zinco (Reimann & Caritat, 1998). No quadro 4.4. encontram-se os teores médios deste
elemento na crosta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.4. Teores médios de arsénio (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

O arsênio é distribuído abundantemente na maior parte das rochas, apresentando


concentrações entre 0,5 e 2,5 mg/kg, embora em sedimentos argilosos a sua concentração
possa atingir 13 mg/kg. A sua concentração elevada em solos superficiais e em sedimentos
argilosos, comparada com as rochas originárias, pode refletir fontes externas do elemento
provenientes de exalações vulcânicas, da poluição, entre outras. Em solos não contaminados,
a concentração total do elemento raramente excede 10 mg/kg, podendo atingir concentrações
elevadas quando estes solos são sujeitos a tratamentos para a agricultura, devido ao uso de
pesticidas (Adriano, 1986). A mobilidade do arsênio ocorre em ambientes oxidantes, sendo
muito baixa em ambientes redutores. Este elemento é removido com relativa facilidade da
água, dispersando-se no sedimento. As suas principais barreiras geoquímicas são a presença
de sulfuretos, a adsorção pelos hidróxidos de ferro e pelas argilas (Reimann & Caritat, 1998).
O arsênio é essencial para alguns organismos, entre os quais os humanos. É tóxico e é
teratogênico. A sua toxicidade depende da valência, os compostos com As 3+ são mais tóxicos
que os compostos de As5+ (Cox, 1995; Reimann & Caritat, 1998; Csuros & Csuros, 2000). Os
seus principais usos são nas ligas, na preservação da madeira, nas munições, nas baterias,
nas tintas, nos têxteis, nos curtumes, entre outros. As principais fontes antropogênicas deste
elemento são as escombreiras, a combustão de carvão, os efluentes de pocilgas e de aviários,
os fertilizantes fosfatados, os herbicidas, os inseticidas e os fungicidas (Reimann & Caritat,
1998).

190
8.5 - Ca - CÁLCIO

O cálcio é um elemento principal da crusta terrestre, sendo um metal alcalino-terroso.


Trata-se de um metal de cor branca prateada, relativamente leve. A água do mar apresenta
cerca de 20 vezes mais cálcio do que a água doce (Emsley, 1998; Reimann & Caritat, 1998).
No quadro 4.5. são apresentadas as principais características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.5. Propriedades físico-químicas do cálcio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do cálcio são, entre outros, a calcita (CaCO3), a dolomita


(CaMg(CO3)2), o gesso (CaSO4.2H2O), a fluorita (CaF2) e muitos minerais primários, como por
exemplo, os plagioclásios. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são: os
carbonatos, os feldspatos, os anfibólios e os piroxênios (Deer et al., 1966; Reimann & Caritat,
1998). As associações naturais do cálcio são com o estrôncio (Ca-Sr); o cloro, o sódio, o
magnésio, o bromo e o enxofre (Cl-Ca-Na-Mg-Br-S) na água do mar. Os minerais mais
explorados são a calcita, a dolomita e o gesso (Emsley, 1998; Reimann & Caritat, 1998).

191
Com exceção das rochas carbonatadas, constituídas basicamente por CaCO3, a
maioria das rochas apresentam teores médios de cálcio que variam entre 0,9 % e 7,4 %. No
quadro 4.6. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos.

Quadro 4.6. Teores médios de cálcio (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do cálcio é muito elevada. As suas principais barreiras geoquímicas são


devidas à sua incorporação em matéria orgânica, à sua adsorção e à diminuição do pH.
Geralmente os solos muito ricos em cálcio inibem a disponibilidade do ferro (Reimann & Caritat,
1998). O cálcio é essencial para a maioria dos organismos, sendo um dos principais nutrientes.
Não é um elemento tóxico (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são no fabrico de cal e cimento, na metalurgia, no tratamento
de água, na indústria química, nos fertilizantes, nas ligas, entre outros. Em geral, as fontes
geogênicas são mais importantes que as antropogênicas. As principais fontes ambientais deste
elemento são as poeiras provenientes de pedreiras em exploração e unidades industriais de
transformação da pedra, a meteorização das rochas, as fábricas de cal e cimento, os
fertilizantes, entre outras (Reimann & Caritat, 1998).

192
8.6 - Cd - CÁDMIO

O cádmio é um elemento vestigial da crusta terrestre, sendo um metal de transição. É


um metal prateado que embacia em contacto com o ar e é maleável (Emsley, 1998; Csuros &
Csuros, 2000). No quadro 4.7. são apresentadas as principais características físico-químicas
deste elemento.

Quadro 4.7. Propriedades físico-químicas do cádmio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do cádmio são a greenockite (CdS), a octavite (CdCO 3), entre
outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são, entre outros: os minérios de
zinco, a biotita e os anfibólios (Reimann & Caritat, 1998).
As associações naturais do cádmio são com o zinco, em todo o tipo de ocorrências, e
em depósitos do tipo Mississipi Valley (Zn-Cd-Pb-Ba-F). O cádmio pode substituir o Ca2+ e o
Mn2+ (Reimann & Caritat, 1998).
Os teores médios de cádmio nos diferentes tipos de rochas variam pouco. No quadro
4.8. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de
rochas e em solos.

193
Quadro 4.8. Teores médios de cádmio (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do cádmio é média em ambientes oxidantes, sendo muito baixa em


ambientes redutores. É muito solúvel a pH baixo. As suas principais barreiras geoquímicas
devem-se à formação de quelatos com os ácidos húmicos e à sua adsorção pelas argilas
(Reimann & Caritat, 1998).
O cádmio parece ser essencial para alguns animais, mas em teores baixos. É um
elemento tóxico e supostamente é carcinogênico. As plantas acumulam o cádmio através das
raízes e muitos legumes, como o trigo, os espinafres, a alface e as cenouras concentram-no
(Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nos cromados e niquelados, nas baterias de Ni-Cd, nas
ligas, nas soldas, na indústria do plástico, entre outros. O cádmio é obtido essencialmente
como sub-produto dos minérios de Zn-Cu-Pb. As principais fontes ambientais deste elemento
são a combustão de carvão; as escombreiras e a fundição de zinco, cobre e chumbo; os
moinhos de ferro; os cromados e niquelados; os fertilizantes; os pneus; as lamas de efluentes e
a incineração de resíduos (Reimann & Caritat, 1998).

194
8.7 - Co - COBALTO

O cobalto é um elemento vestigial da crusta terrestre. É um metal de transição, de cor


azul prateada, sendo magnético (Cabral & Cabral, 1987; Emsley, 1998). É um elemento muito
resistente à corrosão (Adriano, 1986). No quadro 4.9. são apresentadas as principais
características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.9. Propriedades físico-químicas do cobalto (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do cobalto são a cobaltite (CoAsS), a eritrite (Co3(AsO4) 2.8H2O), o


glaucodot ((Co,Fe)AsS) entre outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são: a
olivina, os piroxênios, os anfibólios, as micas, as granadas, a pirita e a esfalerita (Reimann &
Caritat, 1998). As associações naturais do cobalto são os depósitos de sulfuretos maciços de
níquel e cobre (Ni-Co-Pt-Fe-Cu-Ag-Au-Se-Te-S), os minérios de sulfuretos de cobre e cobalto
(Ni- Co-Ag-Fe-Cu-Pb-Zn-As-Sb-Bi-U), alguns minérios de ouro e prata (Co-Au-Ag), as lateritas
(Ni-Co-Fe-Mn-Cr), os nódulos de manganês do fundo marinho (Mn-Ni-Cu-Zn-Co) e alguns
depósitos de urânio (U-Co-V-As-Mo). O cobalto tem servido como elemento guia de depósitos
de minério ricos neste elemento (Emsley, 1998; Reimann & Caritat, 1998).
Os teores médios de cobalto nos diferentes tipos de rochas variam bastante, sendo de
destacar os níveis tipicamente baixos apresentados nos granitos e arenitos. No quadro 4.10.

195
encontram-se os teores médios deste elemento na crosta terrestre, em vários tipos de rochas e
em solos.

Quadro 4.10. Teores médios de cobalto (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do cobalto é média sob condições de oxidação, elevada em meio ácido,


sendo muito baixa em ambientes neutro a alcalino e em ambientes redutores. As suas
principais barreiras geoquímicas devem-se à presença de sulfuretos, à sua adsorção e à
variação de pH (Reimann & Caritat, 1998).
O cobalto é um elemento essencial, sendo o átomo essencial da vitamina B12 (Cox,
1995). É tóxico nos humanos em doses superiores a 25 mg/dia. As poeiras cobálticas são
consideradas carcinogênicas. O excesso de cobalto nos solos agrícolas pode originar carência
em ferro e cobre (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nas ligas, na cerâmica, nas tintas, na indústria
aeroespacial, no aço inoxidável, na cromagem e na niquelagem, na indústria do plástico. As
principais fontes ambientais deste elemento são, entre outras, a exploração e o tratamento de
níquel, prata, chumbo, cobre e ferro; a combustão de carvão; as poeiras geogênicas e os
fertilizantes (Reimann & Caritat, 1998).

196
8.8 - Cr - CROMO

O cromo é um elemento vestigial da crosta terrestre, sendo um metal de transição. É


um metal de cor branca azulada, sendo duro, quebradiço e resistente à corrosão (Emsley,
1998; Alloway, 1995). No quadro 4.11. são apresentadas as principais características físico-
químicas deste elemento.

Quadro 4.11. Propriedades físico-químicas do crómio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Apesar de ter número atômico par, o cromo é um componente menos abundante da


atmosfera solar e da litosfera superior que seu companheiro ímpar no Sistema Periódico, que é
o manganês. Nos meteoritos sucede o contrário, e o cromo também é mais abundante que o
vanádio. A escassez do cromo na litosfera superior constitui, o mesmo que a grande
abundância do alumínio, uma prova importante da litosfera como resultado de um processo
intenso de diferenciação. A tabela abaixo mostra a abundância do Cr em meteoritos e rochas
ígneas.

197
Os percentuais de Cr nas fases meteoríticas e rochas ígneas, incluídos na tabela
acima, indicam o caráter geoquímico geral deste elemento. Tais percentuais demonstram a
existência de um máximo no conteúdo em Cr nos nódulos de troilita dos sideritos. O Cr só
existe nestes formando sulfoespinélio daubrelita (FeCr2S4). Ao contrário, nos nódulos de troilita
dos meteoritos silicatados, o Cr é menos abundante. Quando o Cr se distribui entre uma fase
metálica e outra sulfatada, concentra-se francamente nesta última. Na fase metálica o Cr forma
espinélios cromíferos, em especial a cromita (FeCr2O4), mas sua abundância é muito pequena.
Tão logo apareça uma fase silicatada, incorpora-se a ela a maior parte do Cr. Nos meteoritos
silicatdos o Cr se apresenta preferencialmente na forma de Cr-espinélios, sobretudo cromita.
Portanto, é evidente que o caráter geoquímico geral do Cr não é calcófilo, mesmo que a
concentração máxima deste metal se encontre na fase sulfatada dos meteoritos. O potencial
redox do sistema em questão tem grande importância para a distribuição do Cr e seu caráter
calcófilo só é intenso na ausência de oxigênio ou quando a quantidade deste é insuficiente
para oxidar todo o cromo disponível. Nos demais casos o Cr é litófilo. O Cr pertence ao grupo
do Fe e se parece com este em muitos aspectos geoquímico.

8.8.1 - O Cromo nas rochas ígneas


O conteúdo do Cr dos meteoritos silicatados é muito maior que o das rochas ígneas, de
onde resulta que este metal foi separado do magma principalmente durante os primeiros
estágios da diferenciação. Na tabela abaixo são indicadas as variações no conteúdo de Cr das
diversas classes de rochas ígneas. Estes percentuais demonstram que o Cr, à semelhança do
Ti e P, é concentrado nos primeiros cristalizados. Com freqüência, os minerais de Fe de origem
ígnea são cromáfiros, devido à presença do Cr na estrutura da magnetita. O Cr também é um
componente normal e abundante de dunitos. Por regra geral, a cromita é o primeiro mineral que
se separa durante a cristalização normal de um magma cálcio-alcalino. Neste aspecto seu
comportamento difere do Ti e P. O Cr contido nos dunitos está todo sobre a forma de cromita,
mesmo que também possa se incorporar às estruturas dos outros minerais prontamente
cristalizados.

198
O conteúdo médio em Cr dos sulfetos magmáticos é de 0,02g/ton. Este percentual
demosntra que o Cr é mais oxífilo na litosfera superiro. Nas rochas ígneas se encontra Cr tanto
nos óxidos como nos silicatos. Os únicos minerais independentes do Cr nestas rochas são
representantes cromíferos do grupo do espinélio, a saber: magnésio cromita (MgCr2O4),
cromita (FeCr2O4) e suas mesclas isomorfas. O espinélio de Cr pode se apresentar nas rochas
ígneas básicas e ultrabásicas na forma de cromita ou picolita [(Mg,Fe)(Al,Fe,Cr)2O4] que é,
portanto, uma mescla de cromita e espinélio magnésica-alumínica. Quando se encontra em
quantidades apreciáveis o Cr, o mesmo para o Ti, penetra nas estruturas de muitos silicatos de
importância petrográfica. Nestes silicatos o íon Cr3+ substitui outros íons metálicos. Entre os
minerais de Cr têm importância os seguintes : a granada de Cr ou uvarovita, Ca3Cr2[SiO4]3; o
diopsídio de Cr, que chega a 2% de Cr; o epidoto de Cr ou tawmawita; a mica de Cr ou fucsita;
e a clorita de Cr ou Kammerita. Todos estes silicatos cromíferos são relativamente ratos e só
se apresentam comi minerais petrográficos quando grande quantidade de Cr foi disponível
durante a formação. Portanto, não têm muita importância geoquímica. Os indícios de Cr que se
encontram nas estruturas dos silicatos têm mais interesse geoquímico. É evidente que a maior
parte do Cr da litosfera superior se encontra nesta forma. Augitas e hornblenda comuns podem
conter cerca de 1400g/ton; olivina em torno de 1000g/ton de alguns gabropicrito e menos de
2g/ton de alguns diferenciados de uma magma básico; no clinopiroxênio de um olivina gabro
400g/ton e menos de 2g/ton nos diferenciados finais; biotita 1000g/ton e muscovita 500g/ton.
Olivinas ricas em forsterita incorporam muito mais Cr que as ricas em fayalita. É
provável que o Fe3+ não possa ser substituído com facilidade pelo Cr a temperaturas elevadas.
Quando ocorrem juntos Mg olivina e clinopiroxênio, o Cr se concentra de preferência neste
último. O mesmo acontece se a olivina está substituída por magnetita. Parece que a baixas
temperaturas se verifica a substituição do Fe pelo Cr com mais facilidade.
Outra coisa comum a Cr e ao Ti é sua repugnância em formar silicatos simples. O Cr
ocupa duas posições estruturais diferentes nos minerais. Nos cromatos, Cr com 6 cargas
positivas forma um íon complexo, unindo-se, como P e S, a quatro átomos de O, para formar
um complexo tetraédrico [CrO4]. Estes complexos formam grupos independentes na estrutura.
A crocoíta [PbCrO4] é o representante mais importante dos cromatos, que são minerais de
pouca significância geoquímica. De outra parte, Cr se apresenta nos minerais formando o
cátion trivalente Cr3+, que tem raio iônico parecido ao Al3+ e, em particular, ao Fe3+. O Cr se
apresenta nos silicatos fora da trama complexa do Si-O, onde substitui com facilidade o Fe3+ e
Al3+ na forma diadócica. Esta é a forma mais importante de apresentação do Cr litosférico. Sem
dúvida, parece que a substituição diadócica de Al3+ pelo Cr3+ só é possível quanto Al forma
grupos [AlO6] na estrutura e não substitui S; para formar tetraedros de [AlO4]. O raio do Cr3+ é
199
demasiado grande para permitir a substituição do Si4+ por Cr3+ nos tetraedros [SiO4]. Ao
contrário, nos grupos [AlO6] o Al3+ é facilmente substituído pelo Fe3+ e Cr3+. Ambos os casos de
substituição são muito freqüentes nos minerais e caracterizam a geoquímica do Cr e Fe. Sem
dúvida, não se encontra Cr nos feldspatos nem nos minerais restantes nos quais o Al substitui
Si nos oxigenados tetraédricos. É preciso dizer que, apesar da diferença de valência, Cr
substitui evidentemente Fe2+ e Mg2+ em muitos minerais.

8.8.2 - O ciclo do Cromo


Devido ao fato que Cr se assemelha tanto ao Fe 3+ e Al3+ em suas propriedades ísicas,
tamanho e carga iônicas, segue esses íons durante o ciclo exógeno. Nas soluções que se
formam durante a meteorização só se perde uma quantidade muito pequena de Cr. Em
conseqüência, os precipitados, oxidados e evaporados carecem quase por completo de Cr, que
se concentra nos inatacados e, em particular, nos hidrolizados. Na Tabela abaixo está indicado
o contéudo em Cr de alguns sedimentos e rochas sedimentares.

Durante o metamorfismo, os produtos de meteorização ricos em Cr podem produzir a


produção local de fucsita. Em alguns casos excepcionais, quanto o petencial redox é muito
elevado, Cr é mobilizado como cromato, devido à oxidação do Cr3+ para Cr6+. Assim se explica
a presença de quantidades notáveis de cromatos nas jazidas de nitrato do Chile. A esse
respeito, o ciclo exógeno do Cr se assemelha ao V.
As associações naturais do cromo são os Platinum Group Elements (Cr-Cu-Ni-Co-
PGEs). Na maioria dos ambientes as anomalias associadas a depósitos de cromita são
definidas por grãos residuais ou detríticos deste mineral, quer nos solos quer nos sedimentos
(Reimann & Caritat, 1998).
Os teores médios de cobalto nos diferentes tipos de rochas variam bastante, sendo de
destacar os níveis tipicamente baixos apresentados nos granitos. No quadro 4.12. encontram-
se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

200
Quadro 4.12. Teores médios de cromo (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do cromo é muito baixa em todo o tipo de ambientes (oxidantes,


redutores, ácidos, neutros ou alcalinos). Nos solos a forma Cr6+ é mais móvel que a forma Cr3+,
no entanto, aquela reduz-se rapidamente (algumas semanas) para esta última. A principal
barreira geoquímica do cromo é a baixa mobilidade que apresenta (Reimann & Caritat, 1998).
O cromo é um elemento essencial para alguns organismos. Sob a forma Cr3+ é
considerado relativamente inofensivo, mas sob a forma Cr6+ é altamente tóxico, conhecendo-se
alguns compostos cancerígenos (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nas ligas, no aço inoxidável, na cromagem, nos corantes,
na cerâmica, na tinturaria, nos curtumes, nos vernizes de madeira, nos tijolos refratários e nas
fitas magnéticas. As principais fontes ambientais deste elemento são as poeiras geogênicas, a
meteorização das rochas, a indústria química, a fundição de aço, a eletrometalurgia, a
combustão de gás natural, o petróleo e o carvão, a incineração de resíduos, alguns
fertilizantes, entre outras (Reimann & Caritat, 1998).

8.8.3 - Minérios de Cromo


O único mineral que se utiliza como minério de Cr é a cromita, que pode conter até
68% de Cr2O3 e é explorada nas rochas ultrabásicas, onde aparece como o primeiro produto
de cristalização.
Minérios de Cr associados com rochas máficas e ultramáficas:

Mineralogia
Maior: cromita
Menor: sulfetos de Ni, Cu e Fe (pentlandita, pirrotia, calcopirita, gersdorfita, bornita,
vallerita)

201
Traço: minerais do grupo da Pt (ferroplatina, cooperita, laurita, stibiopalladinita,
sperrilita, braggita niquelífera) e rutilo.

Modo de Ocorrência
Existem dois modos distintos de ocorrência:
- intrusões básicas acamadadas
- peridotitos ou massas peridotíticas serpentinizadas associados a cinturões orogênicos
(às vezes denominada cromita “podiforme” ou “tipo alpino”.
• Exemplos
• exemplo clássico de depósito de cromita associado a intrusões básicas acamadadas
é o Complexo Bushveld, África do Sul; outros exemplos incluem o Complexo Stillwatter,
Montana (USA) e Grande Dique (Rodésia).
Cromitas “podiformes” ocorrem em muitos cinturões orogênicos e são geralmente
depósitos menores; exemplos importantes incluem depósitos na Turquia, Urais (Rússia),
Filipinas e Cuba.

Mineralogia e Texturas
As poucas intrusões acamadadas isoladas, economicamente importantes, que podem
ser registradas como depósitos de Cr ocorrem em ambientes tectonicamente estáveis. As
camadas dos complexos intrusivos podem ser registrados como estratos amgmáticos, que
podem ser de extensão lateral condedr[ável. Dentro destes, as bandas de romita podem variar
de poucos milímetros a mais de 20 m em espessura e mostrar muitas feições análogas àquelas
mostradas em rochas sedimentares ( lentes e cunhas, contorção intraformacional, estruturas de
preenchimento). Rochas de pura cromita ( cromititos ) podem gradar através de várias somas
de cromita + silicato ( olivina, piroxênio) para dunitos e peridotitos normais. Embora ocorrendo
comumentes nas camadas ricas em olivina, a cromita pode ocorrer em somas significantes em
alguma associação que é básica em termos de composição geral. Embora cromita seja um
mineral de minério, mostra consideráveis diferenças em composição dentro dos depósitos e
entre depósitos dos tipos “acamadadas” e “podiformes”.
• razões MgO/GeO tendem a ser maiores nas cromitas podiformes ( 1 a 2,3) que nas
cromitas acamadadas ( 0,6 a 1 ).
• conteúdos de Fe2O3 tendem a ser menores ( < 8wt%) e as razões Cr/Fe maiores (
~1.5 a 4.5) nas cromitas podiformes que nas cromitas acamadadas ( ~10 a 24 wt% Fe 2O3 e
0,75 a 1,75 Cr/Fe, respectivamente).

202
• Al2O3 e Cr2O3 tem relações recíprocas ( Cr2O3 sendo ~ 6,5 a 16 wt%, Al2O3 ~ 6 a 52
wt%) nas cromitas podiformes e variam amplamente nas cromitas acamadadas. A razão
Al2O3/Cr2O3 tende a ser maior nas cormitas podiformes.
Nas intrusões acamadadas, cromita ocorre como cristais octaédricas bem
desenvolvidas, particularmente quanto associada com grandes somas de material intersticial.
Nos casos onde há menos material intersticial, os cristais desenvolvem fronteiras polígonais de
interferência. Minérios de cromitas “podiformes”ou “tipo alpino” ocorrem em ambientes
tectônicos altamente instáveis, de modo que em adição às diferenças composicionais notadas
previamente, existem diferenças texturais marcantes.
Embora fronteiras poligonais de interferência desenvolvidas quando há muito material
intersticial, os grãos de cromita são sempre quase arredondados quando circundados por
silicatos. Estes grãos de cromita podem vairar de finas disseminações ( < 1.0 mm de diâmetro)
a texturas mais grossas ( ~1,5 cm de diâmetros). As vezes conchas concêntricas de cromita e
serpentinito produzem minérios orbiculares, e as cromitas de ambos tipos acamada e
podiforme, zoneamento composicional concêntrico pode ser desenvolvido com zonas externas
exibindo relativo enriquecimento em Fe ( sempre observável sob microscópio como uma zona
periférica mais clara). Tais texturas são sempre resultado de alteração hidrotermal durante a
serpentinização. Texturas causadas pela deformação são também características.
Ambas as associações de cromita descritas acima podem conter concentrações de Ni
de menor importância e concentrações de metais do grupo da platina que podem ser de
significância econômica considerável. Níquel em intrusões acamadadas ocorre como sulfetos
ou arsenietos ( assembléias de pirrotita-pentlandita-calcopirita com menores gersdorfita, bornita
e vallerita) em horizontes máficos. Estas assembléias de sulfeto são resultado de uma série
complexa de reações de exsolução e inversão. Nas cromitas podiformes, muito do Ni ocorre
em solução sólida na oliva e pode ser concentrado durante processos de intemperismo,
embora pequenas somas possam ocorrer como sulfetos disseminados ( pentlandita,
heazlewoodita). O exemplo clássico de concentração de metais platinóides em intrusões
acamadadas é Merensky “Reef” que é uma camada persistente ( ~300 km) mas fina (<1m) do
Complexo Sushweld.

Origem dos minérios


É universalmente aceito que os minérios de cromita de intrusivas acamadadas são
magmáticas em origem e relacionadas ao processo de cristalização fracionada e assentamento
gravitacional de camadas de cristais no fundo dos “lenções” intrusivos.

203
As texturas dos minérios são totalmente de acordo com tal origem. Os maiores
problemas na origem desses corpos de minérios são concernentes aos mecanismos de
produção essencialmente das camadas monominerálicas de cromita. Sugestões incluem
concentração de distribuição corrente ou precipitação preferencial em resposta a mudanças na
pressão, conteúdo de água, fugacidade de oxigênio ou através de injeções múltiplas de
magma. Um mecanismo proposto é a precipitação resultante da repentina contaminação
extensiva do magma básico parental com líquido mais ácido que foi diferenciado para uma
composição silicosa. Aqui, adição do material rico em sílica força a crostalização do “melt”
cristalizando da curva cotéctico olivina + cromita ( ao longo da qual cromita disseminada
misturada com olivina é formada) para o campo de cristalização de cromita primária ( no qual
só cromita se forma). A origem das cromitas podiformes é claramente muito diferente, e está
estritametne ralacionada ao problema das rochas ultramáficas do tipo Alpino, que forma parte
dos complexos denominados ofiolitos. Correntes teorias relaciona à criação dos ofiolitos por
processos ao longo das fronterias entre placas litosféricas. Tem sido sugerido que a cromita
podiforme forma primeiro como cumulados magmáticos ( como as cromitas das intrusivas
acamadadas ) nos bolsões de magma ao longo dessas fronteiras de placas. Subsequente
segregação com ruptura mecânica episódica ambas durante a cristalização e no transporte
lateral da zona de espalhamento resultam uma agregação “bola de neve”, arredondada. E
deformação de bolhas individuais de cromita.

204
8.9 - Cu - COBRE

O cobre é um elemento vestigial da crosta terrestre, sendo um metal de transição. É


um metal maleável, dúctil e muito resistente à corrosão, sendo o segundo metal com mais alta
condutividade térmica e elétrica logo a seguir à prata. A cor do cobre nativo é castanha
avermelhada e, apresenta aspecto verde quando alterado devido ao contacto com o ar
(Adriano, 1986; Emsley, 1998; Csuros & Csuros, 2000). No quadro 4.13. são apresentadas as
principais características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.13. Propriedades físico-químicas do cobre (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
A abundância cósmica do Cu é bastante grande em comparação com a dos outros
metais pesados. Na tabela abaixo estão indicados os percentuais gerais de abundância do Cu.

205
O conteúdo médio em Cu das diversas fases meteoríticas não é fácil dedeterminar
devido ao fato que a quantidade desse metal nos meteoritos mostra grandes flutuações, mais
pronunciadas que as da maior da maior Parte dos elementos restantes. Sem dúvida, os
resultados obtidos demonstram que na fase silicatada deve existir muito pouco cobre ou
nenhum, enquanto que o conteúdo na fase emtálica tem um valor apreciável, e a sulfatada
pode conter todavia mais. Portanto, é evidente que do ponto de vista geoquímico, o Cu é
principalmente calcófilo, não sem certa tendência siderófila. Estas conclusões se confirmam
observando a foram de apresentação do Cu na litosfera superior. Está comprovado que o Cu
mostra grande afinidade para o S e que é um dos componentes mais típicos dos minérios de
sulfetos. Por outro lado, no Fe nativo terrestre se encontra um pouco de Cu e nos metais do
grupo da Pt (nativos) chega a encontrar-se 13% de Cu, junto com alguns outros minerais, com
o qual logo aparece incorporado, no estado nativo, a uma fase metálica separada da outra
silicatada. As observações realizadas nas fundições de Cu demonstram que este metal é um
dos que possuem maior afinidade para o S de todos os que formam sulfetos. A afinidade dos
metais para o S durante a fusão dos sulfetos diminui na seguinte ordem:

Esta é a série de Fournet e Schutz, na qual o Cu ocupa o segundo lugar. Certamente a


abundância de Cu nas rochas ígneas é maior que a indicada, já que podem ser introduzidas no
ciclo exógeno quantidades consideráveis de Cu devido à atividade, magmática final.

8.9.1 - O Cobre nas rochas ígneas


A grande afinidade do Cu para o enxofre constitui a base do tratamento metalúrgico
dos minérios de Cu. Do mesmo modo, essa propriedade é o fator que determina a forma de
apresentação do Cu na crosta terrestre. Os minerais mais importantes de Cu são os fulfetos e
sulfossais, e é evidente que a maior parte, com grande diferença, do Cu da litosfera superior
está contida nesses minerais. Como conseqüência, o Cu pertence ao grupo dos elementos
sulfófilos, mesmo não tendo este caráter muito acentuado.
Os silicatos de Cu mais importantes são crisocola, CuSiO3.nH2O, e o dioptásio,
Cu3[Si3O9].3H2O . O primeiro é bastante freqüente, mas nenhum dos dois é componente das
rochas ígneas. Sua presença é restrita principalmente aos filões hidrotermais, sendo por isso
de pouca importância para geoquímica do Cu. O cobre se encontra principalmente, ou quase
por completo, na forma de calcopirita (CuFeS2) nas rochas ígneas normais inalteradas
pertencentes ao estágio principal da cristalização, enquanto que só uma pequena quantidade
206
se encontra na forma de bornita (Cu5FeS6) e cubanita (CuFe2S3). Assim resulta que o cobre, à
semelhança do molibdênio, tem uma grande tendência a combinar-se com todo o S disponível
na cristalização das rochas. Sem dúvida, a composição dos sufletos de Cu que resultam é mais
complicada que no caso do Mo, que só produz molibdenita (MoS2). Os sulfetos de Cu e Fe
citados são sempre os últimos minerais que cristalizam e preenchem os interstícios deixados
pelos outros minerais nas rochas ígneas. O conteúdo médio de Cu nas rochas ígneas é:

Estes dados demonstram que o cobre se concentra nas rochas básicas. É provável que
o cobre possa substituir o ferro em pequenas quantidades quando falte uma reserva de
enxofre, devido a uma oxidação ou cristalização precedentes. A substituição se deve à
igualdade dos raios do Cu2+ (~0.83kx) e do Fe2+ ( 0.83kx). Em todo caso, é evidente a
existência de Cu nos silicatos e nos óxidos não tem muita importância geoquímica, enquanto
que a formação do sulfetos é um traço mais característico deste metal.
Com base no exposto anteriormente, fica demonstrado que as rochas que se formam
durante o estágio principal da cristalização não são o veículo apropriado do Cu. Este metal se
encontra com bastante regularidade formando parte dos primeiros sulfetos separados, que
pertencem principalmente à paragênese pirrotita-pentlandita. A série de Fournet e Schutz
indica que a afinidade o Cu para o S é maior que a do Ni e Fe, que são os componentes
metálicos principais dos primeiros sulfetos. Daqui se deduz que, durante a separação da fase
sulfatada de silicatada, o Cu se encontra em forma considerável no fundido dos sulfetos. A
parte do Cu que fica no fundido dos sulfetos, depois da separação desses, continua no magma
residual durante o estágio principal da cristalização e todo estágio pegmatítico, para terminar
seseparando nos jazimentos pneumatolíticos e hidrotermais. Nestas últimas formações o Cu se
encontra junto com Ag, Ge, Sn, Pb, Fe, Ni, Co e outros metais, em grande números de sulfetos
e sulfossais, cuja composição, forma de apresentação e paragênese mostram grandes
variações. São conhecidos vários arsenietos, antimonietos, selenietos e teluretos de cobre. Os
sulfetos e sulfossais de cobre mais importantes são:

207
Nesta lista estão incluídos os componentes mais importantes dos minérios de cobre. A
calcopirita, que contém 34,6% de Cu, é uma das fontes mais importantes. Além dos minerais
anteriores, os minérios de Cu contêm com freqüência minerais secundários de Cu como
produtos de alteração. Entre eles se encontram o cobre nativo, a crisocola, dioptásio e as
seguintes espécies:

Semelhante aos sulfetos, os minerais secundários de cobre também formam parte de


muitos minérios de Cu de importância econômica. Ademais é conhecido grande número de
outros sulfatos, carbonatos, silicatos, arseniatos e fosfatos de Cu de composição variável e,
com freqüência, complicada.

8.9.2 - O ciclo do Cobre


Durante a meteorização se oxidam as partes superficiais dos minérios de cobre. Os
sulfetos de Cu e Fe se decompõem e o Cu se dissolve na forma de sulfato cúprico estável,
enquanto o sulfato cúprico estável, enquanto o sulfato ferroso se oxida com bastante rapidez
formando ácido sulfúrico e hidróxido férrico. As soluções de sulfato de cobre se infiltram pelo
solo, e a chegar a certo nível, situado imediatamente abaixo da zona de oxidação, mas todavia
acima do nível d’água, reagem com os sulfetos não decompostos, formando cobre nativo,
cuprita, tenoita (CuO), azurita e malaquita. Em conseqüência, o Cu se concentra na zona de
cimentação. Ademais, as soluções cupríferas podem migrar desde a zona de meteorização às
rochas adjacentes seguindo gretas e rachaduras, e depositar sulfato e carbonato de Cu. Estes
minerais se destacam pelas cors verde e azul chamativas.
Durante a meteorização dos sulfetos de cobre que se encontram nas rochas ígneas, o
cobre se dissolve também na forma de sulfato cúprico. Enquanto estas soluções são
favoráveis, estas depositam sulfeto de Cu. Quando as soluções cupríferas entram em contato
com argilas sapropelíticas, a precipitação do sulfeto de Cu pode ser tão extensa que dá lugar à
formação de minérios sedimentares de Cu, como as argilas betuminosas da Alemanha e
Rússia. Algumas vezes, ossais de Cu se concentram nas águas subterrâneas como com
seqüência de uma evaporação profunda, em particular nas regiões áridas, em cujo caso se
pode precipitar Cu, por ex, na forma de carbonato, que consiste o cimento dos grãos detríticos
dos arenitos.
208
Resumindo tudo que foi dito, o Cu se dissolve na forma iônica durante a meteorização,
depositando-se depois grande proporção como sulfeto. Outra parte fica retida nos sedimentos
dos hidrolisados. Uma última parte se incorpora aos oxidados, por ex., ao Fe dos lagos e
pântanos e aos nódulos de Mn, junto com Ni, Co, Zn, Pb e outros metais, podendo formar-se
compostos de adsorção, como CuMn2Os. Na tabela abaixo está indicado o conteúdo de Cu de
alguns sedimentos e rochas sedimentares.

Nos oceanos fica uma pequena quantidade de Cu que se mantém em nível baixo
devido à adsorção sobre os organismos marinhos ou, possivelmente, sua combinação com
esses. É provável também que chegue algo de Cu ao mar pelas emanações vulcânicas, que
com freqüência são cupríferas. A quantidade de Cu da água do mar é damasiado pequena
para que nos evaporitos marinhos se encontrem quantidades apreciáveis desse metal.
Qualquer sal cuproso que chegue ao mar se oxida em seguida a cúprico. A solubilidade do Cu
na água do mar está limitada pelo seu oxicloreto, que se precipita e se transforma
gradualmente num carbonato básico.
Os teores elevados de cobre são essencialmente apresentados por alguns tipos de
rochas, como os argilitos e os xistos. No quadro 4.14. encontram-se os teores médios deste
elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.14. Teores médios de cobre (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os níveis de cobre considerados como contaminação do elemento nos solos, chegam


a atingir em algumas regiões, onde os solos suportam instalações industriais, cerca de 3500

209
mg/kg, enquanto que, nos solos sujeitos a agricultura, as concentrações de cobre atingem
1500 mg/kg (Kabata-Pendias & Pendias, 2001).
Geralmente o cobre é um elemento com pouca mobilidade nos solos, no entanto, os
solos ácidos com baixo teor em matéria orgânica podem ser uma exceção. Assim, podemos
verificar que a mobilidade do cobre é média sob condições de oxidação, elevada em meio
ácido, muito baixa em ambiente neutro a alcalino e redutor. A sua mobilidade é muito
dependente do carbono orgânico, sendo particularmente estável a pH entre 5 e 6. As principais
barreiras geoquímicas deste elemento são a presença de sulfuretos, o aumento de pH e a
adsorção (Adriano, 1986; Reimann & Caritat, 1998).
O cobre é um elemento essencial para todos os organismos. É tóxico, quando usado
em doses elevadas (Reimann & Caritat, 1998). Este elemento é um componente de diversas
metaloenzimas e de outras proteínas (Cox, 1995). As plantas podem acumular grandes
quantidades de cobre e quando fazem parte da cadeia alimentar do Homem podem apresentar
graves riscos para a saúde pública (Kabata-Pendias & Pendias, 2001).
O uso do cobre é conhecido na manufatura de artefatos desde as mais antigas
civilizações. Os seus principais usos são na indústria elétrica (fios elétricos), nas canalizações,
nos corantes, nas ligas, nas moedas, nos bactericidas, nos fungicidas, nos inseticidas, entre
outros. As principais fontes ambientais deste elemento são, entre outras, a exploração e
fundição de cobre, a fundição de aço, a indústria de plástico, as poeiras geogênicas, a
meteorização das rochas e o tratamento de efluentes (principalmente os provenientes da
suinicultura) (Reimann & Caritat, 1998).

210
8.10 - Fe - FERRO

O ferro é um dos elementos principais da crusta terrestre. É o segundo metal mais


abundante a seguir ao alumínio, sendo o quarto em abundância na crusta terrestre. Pela
análise da composição dos meteoritos que atingem a Terra podemos também constatar que o
ferro é um elemento muito abundante no restante sistema solar (Cotton et al., 1999). Este
elemento tem propriedades magnéticas, é maleável, dúctil e apresenta na forma elementar
uma cor prateada. Quando o ferro é exposto às condições atmosféricas apresenta uma cor de
alteração superficial castanho avermelhada devido à formação de óxidos e oxi-hidróxidos
(Emsley, 1998). No quadro 4.15. são apresentadas as principais características físico-químicas
deste elemento.

Quadro 4.15. Propriedades físico-químicas do ferro (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do ferro são a hematita (Fe2O3), a magnetita (Fe3O4), a siderita


(FeCO3), a pirita (FeS2), entre outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são:
as olivinas, os piroxênios, os anfibólios, as micas e as granadas (Deer et al., 1966; Reimann &
Caritat, 1998).

211
O ferro está presente em muitos silicatos e sulfuretos (Fe-Mg-Mn-V-Ti-Sc-S), em
nódulos polimetálicos do fundo marinho (Fe-Mn), entre outros. Alguns metais co-precipitam
com os óxidos de ferro nos solos sobrepostos a mineralizações de sulfuretos e nos sedimentos
de linhas de água, constituindo este material limonítico um guia útil na prospecção deste
elemento (Reimann & Caritat, 1998).
Os teores elevados de ferro são essencialmente apresentados por alguns tipos de
rochas, como os argilitos e os xistos. No quadro 4.16. encontram-se os teores médios deste
elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.16. Teores médios de ferro (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do ferro é muito baixa sob condições de oxidação e baixa em ambiente


ácido, neutro a alcalino e redutor. As principais barreiras geoquímicas deste elemento são a
oxidação; o aumento de pH; a precipitação sob a forma de óxidos, hidróxidos ou oxihidróxidos
de ferro, co-precipitando muitos outros metais (Reimann & Caritat, 1998).
O ferro é um elemento essencial para todos os organismos. É tóxico, quando usado em
doses elevadas. O problema da carência de ferro está bastante generalizado, especialmente,
em áreas com solos ricos em cálcio. A disponibilidade deste elemento nos solos depende do
pH, do teor em fosfatos e do teor noutros metais (Reimann & Caritat, 1998).
A expressão “Idade do Ferro” evidência a importância deste metal num determinado
período da vida do Homem. Este elemento é utilizado desde os tempos da Pré-História em
ornamentos e armas. Atualmente os seus principais usos são no aço, na construção civil, na
indústria de transportes, entre outros. As principais fontes ambientais deste elemento são, entre
outras, a meteorização das rochas, as poeiras geogénicas e a indústria do ferro e aço
(Reimann & Caritat, 1998).

212
8.11 - Ni - NÍQUEL

O níquel é um elemento vestigial da crusta terrestre, sendo um metal de transição. Este


metal apresenta uma cor branca prateada, é duro, brilhante, maleável, dúctil, resistente à
corrosão, com propriedades magnéticas e com boa condutividade térmica e eléctrica (Adriano,
1986; Csuros & Csuros, 2000). No quadro 4.17. são apresentadas as principais características
físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.17. Propriedades físico-químicas do níquel (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

O Ni pertence à família do Fe. A tabela abaixo está indicada sua abundância nas fases
meteoríticas e rochas ígneas. Ni é muito concentrado na fase metálica dos meteoritos. Sem
dúvida, sua solubilidade no ferro metálico não é ilimitada e existe uma descontinuidade na série
das soluções sólidas. Do ponto de vista geoquímica, Ni é muito siderófilo e quando no sistema
físico-químico em que se encontra existe uma fase de Fe metálico, a maior parte de Ni está
contida nesta.

213
À parte seu caráter siderófilo e calcófilo, Ni apresenta uma tendência litófila manifesta,
já que é componente freqüente de rochas silicatadas.

8.11.1 - O Níquel nos sulfetos metálicos


A grande afinidade do Ni para o S é confirmada pela freqüência em várias massas de
sulfetos segregados pelos magmas. O Ni é um dos elementos componentes típicos das
primeiras segregações magmáticas de sulfetos da associação pirrotitapentlandita.
O Ni contido nessa se separa a princípio na forma de cristais mixtos de pentlandita
(Fe,Ni)9S8 e pirrotita (FeS). Num estágio posterior,a pentlandita forma intercrescimentos com a
pirrotita e só raramente, quando a razão Ni : Fe é muito grande, forma-se pentlandita pura. A
pentlanddita contém 22-33% de Ni, sendo o sulfeto niquelífero mais importante.
A pentlandita é, com poucas exceções, o único mineral de Ni independente que se
encontra nas primeiras minas magmáticas de sulfeto. Forma vários sulfetos e arsenietos nas
últimas segregações de sulfetos magmáticos, em parcicular nos filões metalíferos.

Existem outros sulfetos e sulfossais de Ni, muitos dos quais contêm Sb e Bi. Além da
pentlandita, nicolita e cloantila são minérios importantes de Ni. A millerita e bravoita se
encontram em sua maior parte como produtos de alteração nas regiões superficiais dos
minérios de Ni. A millerita existe também na zona de meteorização das rochas ricas em Ni. Na
zona de oxidação dos minérios de Ni se encontram vários metais como produtos da
meteorização e certas reações; entre outros, os seguintes:

214
8.11.2 - O Níquel nas rochas ígneas
À semelhança dos sulfetos magmáticos, as rochas ígneas normais do estágio principal
da cristalização magmática são em geral niquelíferas, contendo pequenas quantidades de
sulfetos comuns como pentlandita, pirrotita e pirita. Portanto, é evidente que estes minerais
constituem o veículo de uma parte do Ni contido nessas rochas. Sem dúvida, a maior parte do
Ni é incorporado aos silicatos, ocultando-se em suas estruturas. Quando não existe sulfetos, os
silicatos têm todo Ni das rochas. Esta forma de apresentação tem uma importância
considerável para a geoquímica do Ni na litosfera superior. Niquel é oxífilo na litosfera superior.
O Ni ocorre às vezes em rochas básicas e, em particular, nas ultrabásicas, formando
complexos de Fe-Ni awaruita e josefinita; crisotilo de Ni garnierita (Ni,Mg)6[(OH)6/Si4O11].H2O;
várias cloritas de Ni, como por ex, antigarita de Ni trevorita, NiFe2O4. Os silicatos de Ni estão
intimamente relacionados com os minerais correspondentes de Mg, tanto no aspecto estrutural
como geoquímico, e podem se apresentar associados a estes. Sem dúvida, todos esses
minerais são bastante raros e só garnierita com 15 - 33% de Ni tem importância como minério.
A tabela abaixo indica conteúdo de Ni nas diversas classes de rochas ígneas. Os percentuais
demonstram que o Ni está muito concentrado nas rochas ultrabásicas. Ni escasseia nas rochas
silicosas. É evidente que o Ni substitua Mg em forma nas estruturas minerais e que se
concentra deste modo.

O Ni tem tendência a se concentrar nos primeiros minerais magnesianos e


ferromagnesianos que cristalizam. Olivina e hiperstênio são os veículos principais do Ni entre
os minerais das rochas ígneas. Na augita, anfibólio e biotita existem quantidades muito
menores de Ni. O contéudo em Ni varia em relação ao contéudo de olivina e hiperstênio das
rochas. Na olivina e piroxênio ortorrômbico o contéudo em Ni é proporcional ao de Mg. Olivina
pode chegar a conter 0,5% Ni e anfibólio e biotita 0,2%. Nos granitos o Ni está contido na
biotita em forma quase quantitativa. Os feldspatos e feldapatóides carecem de Ni.

215
8.11.3 - O ciclo do Níquel
O Ni em seus compostos naturais é sempre bivalente e de índice de coordenação 6.
Durante a meteorização, o Ni passa, em grande parte, a produtos sólidos da desintegração e
se deposita em sedimentos de hidrolisados. A diferença do Fe2+ e Mg2+ é muito estável em
solução aquosa, pelo que pode migrar a distâncias consideráveis em condições adequadas.
Durante a meteorização de rochas ultrabásicas, em particular os serpentinitos, o Ni forma
vários hidrossilicatos de composição química complicada, que consistem estruturalmente em
capas bidimensionais indefinidas. Constituem o grupo das cloritas de Ni. Ademais tem silicatos
niquelíferos, como a pimelita (Ni,Mg)3[(OH)2/Si4O10].n H2O, que estão relacioandos com
minerais argilosos e têm a mesma origem. Estes silicatos de Ni às vezes são encontrados na
turva dos solos procedentes de rochas serpentitníticas. Durante a meteorização dos silicatos
niquelíferos podem se acumular, às vezes, o Ni formando filões de silicatos de Ni puro. As
rochas serpentiníticas a conter muito Ni. Durante a meteorização laterítica de serpentinito, o Ni
tende a concentrar-se no resíduo insolúvel. O serpentinito se transforma primeiro em magnesita
por soluções meteorizantes que contêm CO2; mas a magnesita se dissolve em forma de
bicarbonato de magnésio na zona superior de meteorização e só fica mo resíduo a sílica, os
hidrolisados de Ni e Mg e óxido de Fe. Com freqüência o Ni predomina sobre Mg nos
hidrossilicatos.

8.11.4 - Minérios de Níquel


Nos serpentinitos se encontram muitas jazidas de Ni. As jazidas de pirrotitapentlandita
estão associadas a outros e, com menos freqüência, peridotitos. As jazidas que existem nas
rochas mais ácidas são de riqueza muito pequena. Os filões metalíferos que contêm Ni podem
também portar As e S e estão associados aos diabásios e outras rochas básicas. Nas jazidas
relacionadas com rochas ígneas silicosas pode-se encontrar muito pouco ou quase nada de Ni.
Os filões de Co- Au niquelíferos constituem uma exceção a esta regra: estão relacionados a
granitos. A garnierita só se origina por meteorização de peridotitos e de serpentinitos desses
derivados. As jazidas de garnierita da Nova Caledônia são as maiores de Ni que conhece em
zona de meteorização.
Os minerais típicos do níquel são a niquelite (NiAs), a garnierite ((Ni, Mg)3Si2O5(OH)4),
a pentlandite ((Fe, Ni)9S8), entre outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento
são: a olivina, os piroxênios, os anfibólios, as micas, as granadas, a pirita e a calcopirita (Deer
et al., 1966; Reimann & Caritat, 1998).
As associações naturais do níquel são os depósitos de sulfuretos maciços (Ni-Co-Fe-
Cu- Ag-PGE-Se-Te-As-S), os filões lenticulares de sulfuretos (Ni-Co-Fe-Cu-S), os depósitos de
216
urânio (U-Cu-Ag-Co-Ni-As-V-Se-Au-Mo), os depósitos lateríticos residuais (Ni-Co-Fe-Mn- Cr) e
os nódulos de manganês do fundo marinho (Mn-Ni-Cu-Co). O teor de níquel nos solos
residuais é um bom guia na prospecção de sulfuretos de níquel no subsolo, o teor em
sedimentos de corrente pode ser um guia útil no reconhecimento geoquímico de sulfuretos
(Reimann & Caritat, 1998).
É de realçar os níveis tipicamente baixos que o níquel apresenta nos granitos e
arenitos. No quadro 4.18. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre,
em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.18. Teores médios de níquel (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do níquel é média sob condições de oxidação, elevada em ambiente


ácido, muito baixa em ambiente neutro a alcalino e redutor. As principais barreiras geoquímicas
deste elemento são a presença de sulfuretos, a adsorção e o pH. Os fertilizantes fosfatados
aumentam a disponibilidade do níquel enquanto que os fertilizantes com potássio ou a correção
dos solos com cal provocam a diminuição da disponibilidade do níquel. A maioria dos
compostos de níquel é relativamente solúvel a pH inferior a 6,5 mas insolúvel a pH superior a
6,7 (Reimann & Caritat, 1998).
O níquel é um elemento essencial para todos os organismos, embora seja propício a
causar alergias. A sua carência em animais provoca retardamento no crescimento. Os
compostos de Ni2+ são relativamente não tóxicos. Outros compostos são extremamente tóxicos
e/ou carcinogênicos (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nas ligas metálicas (com ferro, zinco, manganês, cobalto,
titânio, molibdênio, etc) especialmente no aço inoxidável e nas moedas, na niquelagem, nas
baterias, na coloração, nos catalizadores, nas fitas magnéticas, entre outros. As principais
fontes ambientais deste elemento são as fundições de Cu-Ni e aço, na indústria química, as
refinarias de petróleo, os aterros e incineração de resíduos, as lamas de efluentes, os
fertilizantes, o tráfego, a combustão de hidrocarbonetos, a meteorização das rochas, as poeiras
geogénicas e o vulcanismo (Reimann & Caritat, 1998).

217
8.12 - P - FÓSFORO

O fósforo é considerado um elemento principal da crusta terrestre, podendo em


determinadas situações ocorrer como elemento vestigial. As três principais formas de fósforo
são: branco, vermelho e preto. O fósforo branco (P 4) é leve, tóxico, muito reativo e inflamável,
enquanto que o fósforo vermelho é quebradiço, não tóxico, com reatividade intermédia e,
geralmente, não é inflamável, sendo usado comercialmente. O fósforo preto é o mais estável a
nível termodinâmico e é a forma menos reativa deste elemento (Emsley, 1998; Cotton et al.,
1999). No quadro 4.19. são apresentadas as principais características físico-químicas deste
elemento.

Quadro 4.19. Propriedades físico-químicas do fósforo (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do fósforo são a apatite (Ca 5(PO4,CO3)3(OH,F,Cl)), o xenótimo


(YPO4), entre outros fosfatos. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são: a olivina,
as granadas, os piroxênios, os anfibólios, as micas e os feldspatos (Deer et al., 1966; Reimann
& Caritat, 1998).As associações naturais do fósforo são os fosfatos de muitos elementos que

218
ocorrem na natureza (Reimann & Caritat, 1998). No quadro 4.20. encontram-se os teores
médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.20. Teores médios de fósforo (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários
tipos de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
A mobilidade do fósforo é baixa em todo o tipo de condições: oxidação, redução, em
ambientes ácido, neutro e alcalino. No entanto, o íon fosfato é muito móvel (Reimann & Caritat,
1998).
O fósforo é um elemento essencial para todos os organismos. É tóxico em doses
elevadas, podendo em concentrações superiores a 100 mg ser letal para os humanos. Os
fertilizantes fosfatados têm um impacto biológico muito importante (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nos detergentes, nos fertilizantes, nas indústrias química e
militar, nos semi-condutores, na pirotecnia, nos inseticidas, nos herbicidas, nos fungicidas, nos
fósforos, entre outros. As principais fontes ambientais deste elemento são, entre outras, a
agricultura, as águas residuais e as poeiras geogênicas (Reimann & Caritat, 1998).

219
8.13 - PB - CHUMBO

O chumbo é um elemento vestigial da crusta terrestre. Este elemento apresenta uma


cor azul acinzentada, é muito dúctil, maleável e muito resistente à corrosão. Quando exposto
ao ar, cobre-se de uma película, ficando baço (Cabral & Cabral, 1987; Emsley, 1998).
O seu ponto de fusão baixo, a facilidade com que pode ser trabalhado e a sua
durabilidade contribuíram para que a sua utilização como material de construção exista desde
tempos muito antigos (Adriano, 1986). O chumbo apresenta-se em dois estados de oxidação:
Pb(II) e Pb(IV), sendo os compostos de Pb(II) mais comuns (Csuros & Csuros, 2000). No
quadro 4.21. são apresentadas as principais características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.21. Propriedades físico-químicas do chumbo (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do chumbo são a galena (PbS), a anglesita (PbSO4), a cerussita


(PbCO3), entre outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são: os feldspatos-K,
os plagioclásios, as micas, o zircão e a magnetita (Deer et al., 1966; Reimann & Caritat, 1998).
As associações naturais do chumbo são os depósitos de chumbo (Ag-Zn-Cd-Cu-Pb),
os depósitos de sulfuretos (Ag-Zn-Cd-Cu-Ba-Sr-V-Cr-Mn-Fe-Ga-In-Ta-Ge-Sn-As-Sb-Bi-Se- Hg-

220
Te-Pb), os depósitos do tipo Mississippi Valley (Zn-Pb-Cd); com o flúor nos minerais primários
de silicatos e com a prata em ocorrências de metais preciosos. O teor de chumbo nos solos
residuais e nos sedimentos de corrente é um bom guia de ocorrências ricas em chumbo, sendo
particularmente útil na prospecção de ocorrências com galena argentífera (Reimann & Caritat,
1998). Os teores naturais mais elevados de chumbo são essencialmente apresentados por
alguns tipos de rochas, como os argilitos e os xistos, os granitos e os granodioritos. No quadro
4.22. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de
rochas e em solos.

Quadro 4.22. Teores médios de chumbo (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em
solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Segundo Alloway (1995), o chumbo encontra-se em solos não contaminados em


concentrações inferiores a 20 mg/kg, e muitas das concentrações elevadas citadas em
determinadas áreas são consequência das emissões antropogênicas, acumuladas ao longo
dos anos. A mobilidade do chumbo é baixa sob condições de oxidação, em meio ácido e neutro
a alcalino, sendo muito baixa em ambiente redutor. As principais barreiras geoquímicas deste
elemento são a presença de sulfatos, sulfuretos, carbonatos; a adsorção pelos óxidos de Fe-
Mn e pela matéria orgânica insolúvel; o pH (Reimann & Caritat, 1998).
O chumbo é considerado um elemento não essencial. É tóxico (Reimann & Caritat,
1998). Os seus principais usos são nas baterias, nos agentes anti-detonantes (gasolina com
chumbo), na indústria do plástico, na indústria do vidro, nas munições, nas ligas especiais, no
revestimento de cabos, entre outros. As principais fontes ambientais deste elemento são,
segundo Reimann & Caritat (1998), o tráfego (o brometo de chumbo e o cloreto de chumbo são
emitidos pelos automóveis que usam combustível com chumbo, sendo esta uma das maiores
fontes antropogênicas deste elemento para o ambiente); as escombreiras e a fundição de
cobre, de chumbo e de zinco; a fundição de aço; as fábricas de baterias; as lamas de efluentes;
a combustão de carvão; a incineração de resíduos; as poeiras geogênicas; entre outras.

221
8.14 - Sb - ANTIMÔNIO

O antimônio é um elemento vestigial da crusta terrestre. Do ponto de vista químico, é


um metalóide, isto é, um elemento com propriedades intermédias entre as dos metais e as dos
não-metais. A forma metálica é a mais estável, apresenta cor prateada, sendo dura, quebradiça
e exibe fraca condutividade eléctrica (Emsley, 1998; Csuros & Csuros, 2000). Na natureza este
elemento ocorre principalmente no estado de oxidação Sb (III) (Adriano, 1986). No quadro
4.23. são apresentadas as principais características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.23. Propriedades físico-químicas do antimônio (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do antimônio são a estibina (Sb 2S3), a tetraedrita (Cu12Sb4S13), a


kermesita (2Sb2S3.Sb2O3), entre outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento
são: a ilmenita, a olivina de Mg, a galena, a esfalerita e a pirita (Deer et al., 1966; Reimann &
Caritat, 1998).
As associações naturais do antimônio são As-Bi-Pb-Ag-Cu-Sb, particularmente
enriquecida nalgumas ocorrências de Pb-Zn-Ag e as ocorrências complexas de metais
222
preciosos (Au-Ag-Hg-As-Sb). O teor de antimônio nos materiais superficiais é usado como
elemento guia na prospecção de ocorrências com antimônio, ocorrências de ouro, de prata e
de polimetálicos (Reimann & Caritat, 1998).
O antimônio é um elemento raro na natureza, apresentando um teor total nas rochas de
cerca de 0,3 mg/kg, existindo uma variação pequena entre os diferentes tipos de rochas. É de
realçar os teores elevados que o antimônio apresenta nos argilitos e nos xistos. No quadro
4.24. encontram-se os teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de
rochas e em solos.

Quadro 4.24. Teores médios de antimônio (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em
solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).
A mobilidade do antimônio é baixa sob condições de oxidação, em meio ácido e neutro
a alcalino, sendo muito baixa em ambiente redutor. As principais barreiras geoquímicas deste
elemento são a presença de sulfuretos, a adsorção pelos óxidos de Fe-Mn (Reimann & Caritat,
1998).
O antimônio é considerado um elemento não essencial. É tóxico. Em teores elevados
este elemento é considerado mais tóxico que o arsênio e o chumbo. Alguns dos seus
compostos são carcinogênicos (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nas ligas, nas baterias, nas tintas, na cerâmica, nos
semicondutores, nas munições, nos retardadores de fogo, no fabrico de borracha, na indústria
farmacêutica, nos bactericidas, entre outros. As principais fontes ambientais deste elemento
são as escombreiras e a fundição de cobre-chumbo, a combustão de carvão, o gás de escape
automóvel e as lamas de efluentes (Reimann & Caritat, 1998).

223
8.15 - Si - SILÍCIO

O silício é um dos principais elementos da crosta terrestre, sendo o segundo elemento


mais abundante desta. Apenas o oxigénio apresenta quantidades superiores à deste elemento
(Cotton et al., 1999). Os cristais ultrapuros de silício apresentam um brilho metálico azul
acinzentado (Emsley, 1998). Do ponto de vista químico, é um metalóide, isto é, um elemento
com propriedades intermédias entre as dos metais e as dos não-metais. Quando puro, este
elemento é mau condutor do calor e da eletricidade à temperatura ambiente, enquanto que a
altas temperaturas é bom condutor das mesmas (Csuros & Csuros, 2000). No quadro 4.25. são
apresentadas as principais características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.25. Propriedades físico-químicas do silício (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

O dióxido de silício (sílica), SiO2, é o constituinte mais importante da maioria das rochas
e minerais. O mineral típico do silício é o quartzo (SiO2). Outros minerais ricos em silício são os
feldspatos, as micas, entre outros silicatos. As associações naturais deste elemento são
essencialmente com o alumínio (Al-Si) (Deer et al., 1966; Reimann & Caritat, 1998).
224
Este elemento encontra-se nas rochas em geral. No quadro 4.26. encontram-se os
teores médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.26. Teores médios de silício (% em peso do respectivo óxido) na crusta terrestre, em vários tipos
de rochas e em solos (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do silício é baixa sob condições de oxidação e redução, em meio ácido e


neutro a alcalino (Reimann & Caritat, 1998). O silício é considerado um elemento essencial
para muitos organismos. Alguns compostos de silício são tóxicos (Reimann & Caritat, 1998).
Os seus principais usos são nos semi-condutores, no vidro, no cimento, entre outros.
As principais fontes ambientais deste elemento são as poeiras geogênicas e as indústrias de
cimento (Reimann & Caritat, 1998).

225
8.16 - Sn - ESTANHO

O estanho é um elemento vestigial da crosta terrestre. É um metal de cor branca


prateada, leve, muito maleável e muito dúctil, podendo ser facilmente laminado em folhas de
pequena espessura, usadas em embalagens (vulgarmente chamadas “pratas”) (Cabral &
Cabral, 1987; Emsley, 1998). O dióxido de estanho apresenta três formas alotrópicas, sendo a
cassiterita a mais frequente. Este elemento não é encontrado facilmente em amostras
ambientais, contudo, quando existe, poderá ser interpretado como indicador de poluição
industrial (Csuros & Csuros, 2000). No quadro 4.27. são apresentadas as principais
características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.27. Propriedades físico-químicas do estanho (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do estanho são a cassiterita (SnO2), a estanita (Cu2FeSnS4), entre


outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são: a biotita, a moscovita, os
anfibólios, a rutile, a turmalina e a magnetita (Deer et al., 1966; Reimann & Caritat, 1998).
As associações naturais do estanho são essencialmente em pegmatites (Sn-W-Nb-Ta-
Be-B-Li-Rb-Cs-REE), em filões e greisens (Sn-W-B-F-Be) e em cassiterite (Sn-B-F-As). A

226
cassiterite origina os principais jazigos de estanho, sendo muito resistente à alteração (Emsley,
1998; Reimann & Caritat, 1998).
Os teores naturais mais elevados de estanho são essencialmente apresentados por
alguns tipos de rochas, como os argilitos e os xistos. No quadro 4.28. encontram-se os teores
médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.28. Teores médios de estanho (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

O estanho ocorre em grande quantidade em sedimentos argilosos. Os solos e os


sedimentos ricos em matéria orgânica podem concentrar estanho com valores de 80-100 mg/kg
e 239 mg/kg, respectivamente (Alloway, 1995). A mobilidade do estanho é muito baixa sob
condições de oxidação e de redução, em meio ácido e neutro a alcalino. Normalmente este
elemento apresenta fraca mobilidade no ambiente geoquímico secundário, pois é fortemente
adsorvido nos minerais argilosos. As suas principais barreiras geoquímicas são o pH e a
estrutura física, como é o caso da cassiterita, que se encontra em depósitos sedimentares e é
muito resistente à meteorização (Reimann & Caritat, 1998). A cassiterita é muito estável, não
disponibilizando facilmente o estanho.
Assim, a mobilidade do Sn(IV) é considerada baixa devido à grande estabilidade do
óxido de Sn(IV), sob a forma de cassiterita (SnO2). No ambiente secundário a mobilidade do
estanho é altamente dependente do pH, acompanhando o comportamento do ferro e do
alumínio.
O estanho é considerado um elemento essencial para alguns organismos (Reimann &
Caritat, 1998). Este elemento é utilizado como um dos componentes no fabrico do bronze
desde o III milénio AC. Os seus principais usos são na indústria farmacêutica, nas ligas (Sn-Cu,
Sn-Bi- Cu), nas tintas, nos fungicidas, nos inseticidas, nos bactericidas, como protetor de peças
mecânicas, entre outros. As principais fontes ambientais deste elemento são a combustão de
carvão, a incineração de resíduos e as lamas de efluentes (Emsley, 1998; Reimann & Caritat,
1998).

227
8.17 - Zn - ZINCO

O zinco é um elemento vestigial da crusta terrestre. É um metal de cor branca azulada,


brilhante, que fica baço em contacto com o ar, devido à formação de uma película (Cabral &
Cabral, 1987; Emsley, 1998). Este elemento existe no estado de oxidação +2 (Csuros &
Csuros, 2000). O zinco não é conhecido em formas tóxicas, ao contrário do cádmio e do
mercúrio, que pertencem ao mesmo grupo da tabela periódica (Cotton et al., 1999). No quadro
4.29. são apresentadas as principais características físico-químicas deste elemento.

Quadro 4.29. Propriedades físico-químicas do zinco (adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

Os minerais típicos do zinco são a blenda (ZnS), a smithsonita (ZnCO3), a zincita


(ZnO), entre outros. Os possíveis minerais hospedeiros deste elemento são: os piroxênios, os
anfibólios, as micas, as granadas e a magnetita (Deer et al., 1966; Reimann & Caritat, 1998).
As associações naturais do zinco são as ocorrências de metais (Cu-Pb-Zn-Ag-Au-Sb-
As-Se), em alguns silicatos (Zn-Mg), as ocorrências do tipo Mississipi Valley (Zn-Cd-Pb-Ba- F),
228
as ocorrências vulcanogênicas estratiformes (Zn-Pb-Mn-Ba-Fe), as ocorrências de sulfuretos
maciços e em filões (Zn-Pb-Fe-Cu-Ag-Ba-Te), os nódulos do fundo marinho (Mn- Ni-Cu-Co-Zn)
e em algumas ocorrências do tipo pórfiro-cupríferos (Cu-Mo-Re-Fe-Au-Ag- Zn). A prospecção
geoquímica com base na análise de solos residuais tem tido grande sucesso. O zinco
apresenta um padrão de dispersão muito útil nas águas subterrâneas, águas superficiais,
sedimentos de corrente e sedimentos de lago (Reimann & Caritat, 1998).
Os teores naturais mais elevados de zinco são essencialmente apresentados por
alguns tipos de rochas, como os argilitos e os xistos. No quadro 4.30. encontram-se os teores
médios deste elemento na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos.

Quadro 4.30. Teores médios de zinco (mg/kg) na crusta terrestre, em vários tipos de rochas e em solos
(adaptado de Reimann & Caritat, 1998).

A mobilidade do zinco é elevada sob condições de oxidação em meio ácido e muito


baixa em ambiente neutro a alcalino e redutor. As principais barreiras geoquímicas deste
elemento são o pH e a adsorção pelas argilas, pelos óxidos de Fe-Mn e pela matéria orgânica
(Reimann & Caritat, 1998).
O zinco é considerado um elemento essencial para todos os organismos. É também
um componente importante das enzimas. Apresenta baixa toxicidade. Os compostos com zinco
são usados como aditivos nutricionais na suinicultura e na avicultura (Reimann & Caritat, 1998;
Csuros & Csuros, 2000).
Os seus principais usos são na galvanização, nas ligas, na indústria da borracha, nas
baterias, nas tintas, no vidro, no plástico, nos lubrificantes, na indústria farmacêutica, nos
pesticidas, nos fungicidas, nos fertilizantes, na construção civil, entre outros. As principais
fontes ambientais deste elemento são, entre outras, as escombreiras e a fundição de zinco, a
combustão de carvão, o tráfego, as lamas de efluentes e as poeiras geogênicas (Reimann &
Caritat, 1998).

229
8.18 - Mn - MANGANÊS

O Mn é, depois do Ti, o oligoelemento mais abundante das rochas ígneas. Devido ao


ato que a determinação quantitativa do Mn nos minerais e nas rochas por métodos
calorimétricos de análise é bastante fácil, é incluído na lista dos componentes que se determina
no curso das análises petrográficas. A tabela indica a abundância do Mn nas rochas:

Do ponto de vista geoquímico o Mn é um metal muito litófilo. Está concentrado na fase


silicatada dos meteoritos e na litosfera. Na litosfera superior o Mn é oxífilo. Não é siderófilo,
mas tem certa tendência calcófila, que se reflete em seu comportamento nos processos
metalúrgicos. O caráter calcófilo do Mn nos meteoritos está bem definido, como o demonstra
sua presença na oldhamita, (Ca, Mn)S.

8.18.1 - Minerais de Manganês


O Mn está relacionado com o Fe em suas propriedades químicas. No Sistema
Periódico, o Mn está ao lado da tríade Fe-Co-Ni. Na realidade, assemelha-se ao Fe em muitos
aspectos relativos a sua forma de apresentação na natureza. Sem dúvida, também existem
diferenças fundamentais entre ambos metais a esse respeito. Como o Cr, Mn forma vários
minerais independentes nas rochas ígneas, porém podem ser raros e sem importância
geoquímica . Quase todos os grupos de minerais de importância petrográfica contém um
composto de Mn que se encontra, às vezes, formando um mineral independente.
Nos fundidos artificiais de silicatos, o Mn forma o metassilicato simples, o ortossilicato
simples correspondente e o composto 3MnO.2SiO2. O ortossilicato, manganolivina, se encontra
na natureza formando o mineral raro tefroíta, Mn 2[SiO4], que contém 70,25% de Mn. A tefroíta
230
também forma mesclas isomorfas com a faialita, conhecidas pelos membros manganofaialita e
knebelita (Mn,Fe)2[SiO4]. O metassilicato se conhece na forma de rodonita, (Mn,Fe,Ca)[SiO 3].
Entre os silicatos de Mn de composiçãomais complicada se encontram a granada espessartitia,
Mn3Al2[SiO4]3, com 15-40% de MnO; manganepidoto, ardenita que é um membro do grupo da
zoisita; a manganhendergita; as micas manganesíferas alurgita; manganoflogopita ( com até
18% de MnO) e a manganofilita; a manganoclorita e outros mais. A elvita, Mn8[(S2) (Be SiO4)6]
é uma curiosidade mineralógica, excetuando-se provavelmente a localidade de Montaña de
Hierro no Novo México (USA). Entre os óxidos e hidróxidos de Mn é indicada a composição do
mais importantes:

A manganomelana consiste em uma série de minerais, amorfos em parte (psilomelana,


wad, criptomelana), que contém elementos acessórios absorvidos. A pirolusita,
manganomelana e braunita são óxidos e hidróxidos de Mn mais comuns. A manganosita e
pirocroita (backstromita) não têm correspondência entre os minerais de Fe. São bastante
instáveis. A pirofinita, o mesmo que a geikielita, MgTiO3, é muito rara. O manganês se
apresenta em seus silicatos independentes quase exclusivamente na forma de íons Mn 2+. Sem
dúvida, nos óxidos se apresenta também Mn3+ e com mais freqüência Mn4+.
O carbonato mais importante de Mn é a rodocrosita, MnCO3, que contém 61,7% de Mn.
Entre os minerais de Mn que contém ânions complexos, são ricas neste elemento as seguintes
espécies: wolframita ( com 5-15%de MnO ) e, em especial, a hubnerita, Mn[WO4]; a trifilita e
litiofilita, Li(Mn2+, Fe2+)[PO4]; e a triplita (Fe2+, Mn2+)2[F/PO4]. Também existem o cloreto,
arsenieto, arseniato, antimoniato, vanadato, borato e sulfato de Mn a saber: escacehita
(MnCl2); trigonita (Pb3MnH[AsO3]3); sussexita MnHBO3; skarnita (Mn[OH]AsO4); pirobelonita
(PbMn[OH]VO4); e mallardita (Mn[SO4].7H2O).
O sulfeto de Mn alabandina, α - MsS, contém, 63,2% de Mn e pertence estruturalmente
ao tipo da galena. Encontra-se em alguns filões hodrotermais. Ouro sulfeto de Mn é a haverita,
MnS2, que é isotípico da pirita e bastante raro.

231
8.18.2 - O Manganês nas rochas ígneas
Os minerais de Mn citados anteriormente se encontram raras vezes entre os
componentes primários das rochas ígneas que se formam durante o estágio principal da
cristalização. Em geral, são componentes das rochas matamórficas e secundárias. A causa
dessa forma de apresentação é que, durante a formação das rochas ígneas no estágio
principal de cristalização, o Mn não está concentra o suficiente para formar minerais
independentes. Tais minerais só se formam quando o conteúdo em Mn no fundido é
extraordinariamente grande. A maior parte do Mn que existe nas rochas ígneas está oculto na
estrutura de outros minerais petrográficos. Esta forma de apresentação é um dos traços
característicos da geoquímica do Mn. Nas rochas ígneas, o Mn acompanha o Fe. A
composição química média das diversas classes de rochas ígneas demonstra eu o conteúdo
de Mn é bastante estável e que se encontra um teor maior nas rochas ultrabásicas, como
dunitos e hornblenditos. A tabela abaixo indica os teores de Fe e Mn e as razões MnO : FeO
em alguns grupos de rochas ígneas.
Os teores incluídos nas tabelas 1 e 2 demostram que a razão MnO : FeO nas rochas
formadas durante o estágio principal da cristalização é muito estável, e que o conteúdo em Mn
nas rochas silicosas é algo menor que nas rochas sub-silicosas. Sem dúvida, o conteúdo de
Fe2+ diminui simultaneamente. No seu comportamento durante a cristalização magmática, o Mn
difere notavelmente do Cr; por ex., que se concentra muito nos primeiros cristalizados.
Ademais, existe outra diferença entre o comportamento do Fe e do Mn, que se
demonstra no grau notável de concentração do Mn nos últimos cristalizados magmáticos,
pegmatitos e rochas pneumatolíticas. Esta diferença é devido ao tamanho do íon Mn 2+, que se
incorpora com grande dificuldade tanto nos silicatos magnesianos como cálcicos. Devido à
concentração do Mn, a razão MnO : FeO aumenta muito nos pegmatitos (~1). Esta variação se
observa também da razão MnO : FeO das olivinas dos primeiros cristalizados (1:80) para a
biotita ( 1:30 a 1:15), que é o último silicato ferromagnesiano que cristaliza durante o estágio
principal de diferenciação. À causa do enriquecimento em Al, pegmatitos e rochas
pneumatolíticas contêm com frequência vários óxidos, fosfatos e silicatos ricos nesse metal.
Além dos fosfatos já citados, encontram-se nos pegmatitos graníticos a natrofilita, Na
(Mn2+,Fe2+)[PO4]; a niobita e tantalita manganesíferas, com até 16% de MnO, e outros óxidos
de Ni e Ta que contêm Mn. A espessartita se encontra nos pegmatitos aplíticos dos granitos.
As wolframitas dos filões pneumatolíticos de Sn-W são ricas em Mn. Os filões pegmatíticos
portam com frequência rodocrosita ou siderita rica em Mn (manganossiderita). Também se
encontra Mn nas águas termais e, com freqüência, se deposita em fortes termais. As soluções
hidroteramis que entram em contato com águas subterrâneas podem depositar Mn na forma de
232
dióxido. A astrofilita, (K2,Na2,Ca) (Fe2+,Mn2+)4 (Ti,Zr)[OH/Si2O7]2, com 3,5 a 12,5% de MnO
encontrada nos pegmatitos de nefelina sienitos. As rochas alcalinas em geral contém mais Mn
que as cálcio-alcalinas. A forma de apresentação do Mn nas rochas ígneas depende da sua
capacidade para substituir outros cátions na forma diadócica. O Mn se encontra nas estruturas
minerais em 3 graus de oxidação, bi, tri, tetravalentes positivos. Os raios desses íons, em
comparação a outros, são os seguintes:

O Mn se encontra nas rochas ígneas quase exlcusivamente na forma dos íons Mn2+.
Devido ao fato que o potencial redox dos fundidos naturais ser pequeno o Mn 2+ é o único grau
de oxidação desse elemento estável a temperaturas que predominam durante a cristalização
de tais fundidos. Por regra geral, o Mn3+ se apresenta raramente nas rochas ígneas, com
exceção em alguns minerais peneumatolíticas e hidrotermais, tais como a manganoandaluzita
e a viridina (Al,Fe,Mn)2 [O/SiO4], onde o Mn3+ substitui o Fe3+ e Al3+ e, em parte, o Cr3+. O
manganês tetravalente é a forma que predomina nos sedimentos e rochas sendimentares. Os
raios iônicos, anteriormente citados, demonstram que o íon Mn 2+ pode substituir
diadocicamente o Fe2+, Mg2+, Na2+ e Ca2+.
A substituição do Fe2+ pelo Mn2+ é a mais comum e de maior importância geoquímica.
Os silicatos opacos que contêm grupos de hidroxilas em suas estruturas são mais ricos em Mn.
Assim, a biotita chega a alcançar 1% de MnO e a hornblenda 0,3%. Em geral, estes minerais,
que têm química e estrutura bastante complicadas, tendem a recolher vários elementos
acessórios em suas estruturas. Outros silicatos que contêm elevados teores de Mn são
almandina (3%), turmalina (2%), piropo (0,6), augita (0,4%) e musvocita (0,1%). Sem dúvida,
na magnetita e ilmenita, que são os componentes opacos mais comuns das rochas ígneas, o
conteúdo em Mn é muito inferior, algumas vezes 1,5% de MnO. Além da diadocia Mn 2+-Fe2+
também é possível a Mn2+-Mg2+, como neste caso o grau de substituição não é completo
devido à diferença entre as dimensões dos íons ser maior que no primeiro caso. Em
conseqüência, os minerais de Mg pobres em Fe também o são em Mn. Outra possibilidade de
substituição é a diadocia Mn2+-Zn2+ que, sem dúvida, apenas é interesse mineralógico. O Mn
se incorpora na esfalerita e o conteúdo máximo se encontra nas que se formam a temperaturas
elevadas. A diadocia Mn2+ -Ca2+ é possível e acontece nas apatitas. No quadro abaixo são
mostrados os teores de Mn de apatita em várias rochas.
233
Estes percentuais demonstram que as apatitas dos pegmatitos graníticos são muito
ricas em Mn. A diferença do que ocorre com as apatitias, o Mn não pode substituir o Ca nos
feldspatos e feldspatóides. Mesmo que a afinidade do Mn para O S seja maior que a do Fe,
não é um componente muito destacado das segregações magmáticas de sulfetos. Os sulfetos
alabandita e haucrita se encontram em filões minerais e não pertencem às primeiras
associações de sulfetos que se separam dos fundidos. Ademais, a pirita e pirrotita, que são os
sulfetos de Fe mais comuns, carecem quase por completo de Mn. A falta de manganês nas
segregações de sulfetos magmáticos é devido ao fato que o sulfeto de Mn, MnS, ser mais
solúvel que o monossulfeto de Fe, FeS. Portanto, o Mn não se separa em quantidades
notáveis, apesar de sua maior afinidade para o S.

8.18.3 - O ciclo do Manganês


Durante a meteorização, o Mn se dissolve principalmente na forma de bicarbonato,
Mn(HCO3)2, e se comporta com o Fe neste aspecto. O sulfato, MnSO 4, se encontra nas
solu’;cões de meteorização em pequenas quantidades. Devido ao fato que o conteúdo de Mn
das rochas ígneas ser maior que do Fe, este metal pode ser mais raro que outro nas soluções
de meteorização. De fato, o Mn se dissolve nas águas que contêm CO 2 e sulfatos com mais
facilidade que o Fe, e os compostos manganosos são mais estáveis em solução que os
ferrosos. A razão Mn : Fe nas águas carbonatadas é de 5:1, aproximadamente, e nas
sulfatadas chega a 1:1. Devido à maior estabilidade do bicarbonato manganoso, o Mn pode
concentrar-se algo com respeito ao Fe nas soluções de meteorização se as condições são
favoráveis. A decomposição do carbonato dá origem a compostos de Mn 4+. Na zona de
meteorização o carbonato se converte diretamente em óxidos e hodróxidos mangânicos. A este
respeito, o Mn se comporta como o Fe e a formação dos hidróxidos é um passo importante no
ciclo de ambos metais. A regra geral é que, tanto Fe como Mn, se dissolvem a potenciais redox
e se precipitam nos altos. Mn alcança sua máxima solubilidade nas soluções ácidas quando
está na forma bivalente. O bicarbonato manganoso é estável em dissolução em condições
redutoras, por ex., quando existem compostos húmicos. Portanto, os complexos húmicos têm
importância para o transporte do Mn. O Mn2+ se oxida com facilidade a Mn4+ quando as
soluções de meteorização entram em contato com o oxigênio atmosférico ou com o O
234
dissolvido nos lagos ou águas costeiras superficiais do mar. A oxidação pode verificarse já na
solução original da meteorização. A princípio, o Mn 4+ permanece em solução na forma de
hidróxido coloidal, estabilizado provavelmente por colóides orgânicos. Em condições
favoráveis, o Mn se precipita na forma de Mn(OH)4 ou de MnO2 finamente dividido. A
precipitação é quase quantitativa e se verifica com freqüência nas águas doces. A maior parte
do Mn restante dasaparece da dissolução nas águas salobras das desembocaduras dos rios.
Portanto, o conteúdo em Mn na água do mar é muito pequeno. Também se precipita Mn
quando se desprende o dióxido de carbono do bicarbonato por ação de bactérias ou oxidação.
As bactérias podem consumir também as substâncias orgânicas que atuam como coloídes
protetores. Nestes casos, o Mn se precipita como carbonato ou hidróxido. O Mn precipitado
pelos processos indicados se deposita quantitativamente nos sedimentos oxidados, com
freqüência na forma de concreções, nódulos e placas. Seu conteúdo nos hidrolisados e nos
precipitados é pequeno, e desprezível nos evaporitos.
Em condições redutoras, o hidróxido de Mn precipitado pode tornar a dissolverse. As
condições mais favoráveis para a precipitação irreversível do Mn compreende um meio (de
potencial redox elevado) e a existência de pequenas quantidades de carbonato de cálcio sólido
( PH relativamente alto). O Mn pode se concentrar em relação ao Fe nos sedimentos de
carbonato. Isto é devido à substituição diadócica do Ca2+ por Mn2+ na calcita, que se verifica
com mais facilidade que a do Ca2+ pelo Fe2+, pois existe menos diferença entre as dimensões
iônicas entre Ca e Mn. Nos sedimentos batiais o Mn é bastante comum na forma MnCO3, mas
a maior parte se encontra formando o dióxido, MnO 2. O manganês se deposita nas carapaças
calcárias dos foraminíferos que se alimentam de diatomáceas ( que o absorvem em sua
superfície) e substitui o cálcio em foram diadócica na estrutura da calcita das carapaças. A
concentração do Mn nas carapaças. A concentração do Mn nas caracás está multiplicada por
um fator igual a 100.000 (expresso em MnO). Quando se dissolve o carbonato de Ca da argila
vermelha, o Mn se concentra em relação ao Fe, devido que o hidróxido férrico permanece em
suspensão e pode migrar, diferente do Mn que se precipita e se concentra com mais facilidade.
O Mn batial não pode, em sua totalidade ou em grande parte, proceder da água do mar. As
erupções vulcânicas submarinas constituem a fonte principal de Mn depositado no fundo
oceânico, liberado pela meteorização submarina, ativada pela produção de ácido clirídrico, que
dissolve mais Mn que Fe das lavas submarinas.
Comparando o comportamento químico do Fe e Mn nos seus distintos graus de
oxidação, observa-se que o Mn2+, o mesmo que o Fe2+, não possui propriedades básicas
demasiadamente fortes, pois que permanece em solução aquosa inclusive na presença de
ácidos fracos e diluídos, enquanto o Mn3+ e Mn4+ , à semelhança do Fe3+, é uma base tão fraca
235
que seus compostos se hidrolisam totalmente, ou em parte, nas águas da superfície terrestre.
Em conseqüência, a oxidação do Mn2+ produz a precipitação do Mn4+ na forma de hidróxido
nas soluções aquosas. O estudo precedente demonstra que o ciclo do Mn se parece ao do Fe
nos traços essenciais. O Mn, como o Fe, se concentra no resíduo dos hidrolizados formado por
meteorização laterítica. Ambos metais se concentram, sobretudo, nos sedimentos oxidados, e
faltam quase totalmente por solução e precipitação ou cristalização. Sua quantidade na água
do mar é muito pequena. Sem dúvida, nos sedimentos de oxidados, o Fe e o Mn estão mais ou
menos separados um do outro. Isto é devido, em parte a que a afinidade do Mn para o O é
menor que a do Fe. Portanto, o Fe se oxida em seguida ao estado férrico com a precipitação
conseguinte do hidróxido férrico, enquanto que o Mn permanece em dissolução até que
precipitar a maior parte do Fe. Sem dúvida, a separação do Fe e do Mn pode seguir outro
caminho. O hidróxido de Fe, Fe(OH)3, é uma base fraca, enquanto que o hidróxido de Mn,
Mn(OH)4, tem um caráter ácido fraco. Portanto, o hidrossolo de Fe(OH) 3 está carregado
positivamente e o do Mn(OH)4 negativamente. Esta diferença básica nas propriedades dos
hidróxidos coloidais férrico e mangânico é a causa essencial da formação de depósitos de Mn
pobres ou carentes de Fe. Quando ambos entram em contato, neutralizam suas cargas e
floculam juntos, formando-se uma mescla de hidróxidos. Se existe o excesso de um, o outro
menos abundante volta a depositar-se. Os hidrossolos podem emigrar com as águas
subterrâneas e superficiais em condições adequadas.
Quando uma solução coloidal que contém hidróxidos férrico e mangânico entram em
contato com um eletrólito, a separação de ambos metais começa pela coagulação da maior
parte do hidróxido mangânico, enquanto que todo ou quase Fe entra em solução. Os
sedimentos de oxidados ricos e Mn e com quantidades variáveis de Fe se produzem na
natureza por esse processo, como acontece com os minérios de Fe dos pântanos e lagos.
Os solos e gels de Mn(OH)4 e MnO2 que são carregados negativamentte, podem
absorver com facilidade os cátions da solução, como tem mostrado experimentos de
laboratório. Devido ao seu caráter ácido, o hidróxido mangânico pode formar também
compostos de adsorção, como BaMn2O3 e outros. Em conseqüência, os sedimentos de
oxidados ricos em Mn contém com freqüência quantidades notáveis dos seguintes elementos:
Li, K, Ca, Ba, B, Ti, Co, Ni, Cu, Zn, Tl, W e outros.
À diferença do hidróxido férrico, que pode reter uma parte de seus grupos hidroxilas, o
hidróxido mangânico se decompõe em seguida, dando o peróxido MnO 2 e água. O peróxido é o
composto mais comum e abundante de Mn que existe na natureza. A pirolusita contém 1-2%
de H2O, a psilomelana 4-6% e wad até 21%. A maior parte da água do wad é adsorvida. Até
agora não foi encontrado o metaestável Mg(OH)3 na forma mineral. Também é possível que se
236
oxide para Mn(OH)4 ou que se converta em manganita, MnOOH, por desidratação parcial; este
mineral corresponde a goethita, FeOOH, por sua composição. A desidratação completa produz
braunita, que corresponde à hematita. O hidróxido manganoso, Mn(OH) 2, é instável e se
converte no Mn(OH)3. Todavia existe outra possibilidade de separação de Fe e do Mn na
superfície terrestre, a saber: por ação de soluções que contém sulfato ferroso ou férrico,
procedente da meteorização dos sulfetos de Fe, de carbonatos ferríferos e manganesíferos ou
de sedimentos de oxidados. O processo, representado pela equação
6FeSO4 + 3MnO2 + 6H2O →Fe2(SO4)3 + 4Fe(OH)3 + 3MnSO4
produz a extração e migração do Mn, com o enriquecimento em Fe correspondente.
Quando o Mn reprecipita pode formar jazimentos de pureza considerável. Em presença
de marga o sulfato ferroso e férrico reagem com ela, dando dióxido de carbono, hidróxido
férrico e sulfato cálcico. A reação entre o sulfato manganoso e marga requer a presença de
oxigênio atmosférico e produz à separação dos óxidos e hidróxidos de Mn. Estes processos
podem ocasionar também a separação de Fe e Mn, mas com freqüência só se produzem nos
estágios iniciais solos de hidróxido de ferro e Mn de instabilidade relativamente grande.
À diferença do monossulfeto de Fe, o sulfeto de Mn se dissolve e forma bicarbonato
pela ação de águas contendo dióxido de carbono e substâncias húmicas. O MnO precipitado
durante a oxidação destas soluções pode voltar a converter-se em sulfeto; e o ciclo pode seguir
processando até conduzir por último à migração do Mn e a sua separação do Fe.
Os minerais sedimentares de Mn são os óxidos, hidróxidos e carbonatos. A manganita,
pirolusita, manganomelana e rodocrosita são comuns nos jazimentos secundários de Mn,
enquanto que a braunita e a hausmannita são raras. Além do Mn 4+, o Mn3+ se encontra nesses,
procedente dos compostos Mn2+, que existem originalmente:
2Mn3+ → Mn4+ + Mn2+
Na zona de meteorização existe Mn3+ na manganita, braunita e hausmannita. A
manganita se oxida com facilidade para pirolusita estável por oxigênio atmosférico. Também se
encontram alguns compostos manganosos na zona de oxidação, por ex., a eszmikita
Mn[SO4].H2O; mallardita Mn[SO4].7H2O, e a rodocrosita MnCO3. Por regra geral, são mais
estáveis que os compostos ferrosos correspondentes. As análises reproduzidas na tabela
abaixo indicam que o conteúdo de Mn dos sedimentos e seus derivados. Comparando o
conteúdo em Mn dos distintos minerais de ferro marinho, observa-se que o Mn tende a
concentrar-se nos minérios de siderita. O conteúdo de Mn da argila vermelha é muito superior
ao conteúdo médio das rochas ígneas. A tabela abaixo mostra o conteúdo em Mn dos
sedimentos e seus derivados.

237
8.18.4 - O Manganês nas rochas metamórficas
À diferença do óxido e hidróxido férricos que se convertem facilmente que se
convertem facilmente em magnetita, Fe3O4, os óxidos e hidróxidos de Mn só formam
hausmannita, Mn3O4, em casos excepcionais. Com freqüência se produzem silicatos de Mn
devido a mudanças metamórficas, porque os óxidos superiores de Mn tem calores de formação
relativamente pequenos. De acordo com isso, decompõem-se com facilidade. O óxido
manganoso, MnO, que se forma como um produto de decomposição, é mais básico, por ex.,
que o óxido férrico Fe2O3. Portanto, reage facilmente com a sílica para formar silicatos,
sobretudo rodonita, e em presença de alumina, espessartita. Pelos mesmos motivos o
carbonato manganoso, que se decompõe com mais facilidade que o cálcico, se transforma sem
silicatos nos processos metamórficos.

8.18.5 - Minérios de Manganês


A decomposição das rochas ricas em Mn dá lugar à formação de óxidos e hidróxidos
deste metal, com enriquecimento conseguinte. Este processo se verifica na zona de oxidação
próxima à superfície e é ativado por clima quente e úmido. Os óxidos ricos em Mn constituem
os minérios mais importantes deste metal. Com freqüência, sua composição mineralógica é
bastante complicada. O componente mais importante destes jazimentos é o dióxido de Mn em
forma de pirolusita, manganomelana e wad. Outros óxidos e hidróxidos, como a braunita,
manganita e hausmannita, são menos importantes. A rodocrosita pode formar também
jazimentos e importância técnica, e da limonita e siderita manganesíferas se utilizam às vezes
como minérios de Mn. Os silicatos de Mn têm pouca importância. Os jazimentos de Mn maiores
e mais importantes do mundo são do distrito de Chiaturi na Caucásia, Rússia, formados
essencialmente por pirolusita. Alguns jazimentos de Cuba são parecidos aos minérios
caucasianos de Mn.

238
8.19 - Au - OURO

Nos silicatos que constituem as rochas ígneas normais existem quantidades muito
pequenas, ou quase nulas de ouro. A abundância e parâmetros físicos estão listados abaixo.

Ouro é muito concentrado em FeNi. É certo que o ouro acompanha com facilidade com
elementos calcófilos na litosfera superior, por isso ser devido à diferença entre o potencial
redox das partes superficiais da Terra e dos meteoritos. Pelo que diz respeito a sua forma de
apresentação terrestre, o ouro é siderófilo, ao contrário do que acreditava a princípio , estando
concentrado no núcleo.

8.19.1 - Forma de apresentação na litosfera superior


A prata, ouro e cobre pertencem ao mesmo subgrupo do Sistema Periódico. Portanto, a
forma de apresentação da Ag e Au na litosfera superior se parece muito com a do Cu. Apesar
de seu caráter siderófilo, o Au acompanha o Cu e a Ag na litosfera superior, já que é sulfófilo,
mas não forma nenhum sulfeto independente. Au acompanha Se e, em particular, o Te e se
concentra ao mesmo tempo com esses elementos. Encontra-se na natureza no estado nativo,
aliado à Ag e Pt, e formando teluretos em muitos jazimentos de sulfetos. A tendência do Cu e
Ag a combinarem-se com S e a afinidade do Au para Te é provável que se dê, em parte, às
propriedades iônicas desses elementos.
Ag e, em especial, Au estão concentrados no Fe telúrico. À Semelhança do Cu, Ag e
Au se concentram também com facilidade nos sulfetos separados durante os primeiros
estágios da diferenciação magmática. Este comportamento é normal na Ag, dado o seu caráter
239
geoquímico calcófilo. Ao contrário, Au constitui um exemplo de regra, válida para muitos
siderófilos, de que na ausência de uma fase metálica estes elementos se concentram na
sulfatada. Entre os primeiros óxidos que se separam, a cromita é o único que contém Au e Ag.
É provável que o conteúdo de Au dos minerais, separados durante o estágio da
cristalização, seja menor que no Cu. À semelhança do Cu, aqueles dos metais se concentram
nos últimos produtos magmáticos. Em particular, a separação Au se inicia com freqüência
antes que a do Cu durante o estágio pegmatítico da cristalização. Os teluretos mais
importantes de Au são a calaverita ( AuTe2) e silvanita (Au Ag Te4). O Au nativo é sempre
impuro. As principais impurezas são Ag, Cu, Fe e platinóides. A amálgama de Au (AuHg) é
rara. Na presença simultânea de uma fase sulfatada e outra arseniata (e tb Sb), o ouro, devido
ao caráter siderófilo, prefere os minerais metálicos dos grupos da pirita e marcassita-loellingita.
Está associado, em geral, à pirita e arseno-pirita.
Au acompanha o quartzo nos filões hidrotermais. Parece que Au prefere os pegmatitos
sódicos de albita relacionados a magmas ácidos e intermediários. Nas soluções magmáticas,
Au se encontra, ao menos em parte, no estado nativo.

8.19.2 - O ciclo do Ouro


Como o Au tem inércia química, permanece no estado nativo em depósitos de
alteração. Devido ao seu peso específico elevado, Au forma com freqüência “placers” bastante
ricos. Estes jazimentos constituem uma das mais importantes fontes de Au.
Dissolve e é transportado com facilidade, provavelmente, em grande parte em soluções
coloidais, que podem ser depositados inclusive em baixas temperaturas. O ouro que se
dissolve na zona de oxidação das minas volta a se depositar na zona de cimentação, na qual
se verifica, às vezes, um enriquecimento secundário. Ao mar só chegam quantidades ínfimas
de Au, que acabam por ser extraídas por adsorção nos sedimentos hidrolizados.

8.19.3 - Forma de apresentação na biosfera


Sabe-se que Au é concentrado em algumas plantas, em particular nas semillas mas se
desconhece sua função biológica. Parece que muito poucas plantas são capazes de concentrar
Au. Também se encontra Au em alguns animais marinhos. No estômago das aves. As vezes,
existem partículas Au procedentes da areia.

8.19.4 - Amostragem
Au e platinóides são encontrados em ultrabásicas, tais como peridotito, piroxenito,
harzburgito e dunito. Au, Pt e Pa são encontrados em produtos aluvionares de intemperismo de
240
rochas, tais como lateritas, serpentinitos, cromitas transportadas e outros. Au é encontrado no
ambiente em baixas concentrações (2 ppb). Existem 3 grupos importantes de depósitos de Au:
aluvionares, onde Au é liberado como metal nativo; veios em associação com quartzo; ou em
associação com sulfetos, tal como pirita.
Do ponto de vista prático, a amostragem de metais preciosos é dominada pelo fato
que, sempre, eles ocorrem como metal puro e também pelo fato que sua gravidade é
extremamente alta. Obter-se uma amostragem representativa é difícil por duas razões:
• A heterogeneidade da constituição é muito alta então o conteúdo do elemento de
interesse é muito baixo ( p.ex., um depósito de 2 ppm de outro pode ser um bom depósito).
• A heterogeneidade da distribuição é muito alta por causa de uma gravidade
específica ímpar (fenômenos de segregação são prováveis de ocorrer em cada manipulação do
material).
Devido a sua positiva na tabela periódica, metais nobres têm uma tendência a formar
corpos covalentes. Ouro é difícil de oxidar. É oxidado por água régia facilmente. Depois de
atacado com água régia, Au forma complexos solúveis com Cl - . Este método permite separar
Au dos outros metais nobres. Au forma complexos estáveis com Cl-, Br-, NH3, CN- e SCN-.
Muito tem sido feito para desenvolver procedimentos analíticos para metais nobres que
usam decomposição ácida de pequenas amostras, todas falharam por diversas razões:
amostra pequena não pode ser representativa; o metal precioso não é propriamente liberado
para ser efetivamente digestido por ácidos; quando liberado, grande parte foi perdida durante o
stress mecânico gerado pelo procedimento de amostragem.

8.19.5 - Veios de Au e mineralização relacionada


Mineralogia
Economicamente importantes os minerais de minérios podem incluir Au nativo e
teluretos ( silvanita, petrita AuAg3Te2, hessita Ag2Te , calaverita AuTe2, krennerita AuTe2 );
minerais não econômicos associados podem incluir pirita, marcassita, arseno-pirita, pirrota ou
somas maiores e menores qalena, esfalerita, calcopirita, estibnita, tennantita tetraédrica,
realgar, minerais de gangue são dominados por quartzo com menor carbonato local ( calcita,
siderita, ankerita, dolomita ), feldspato, turmalina, fluorita, barita, epidoto, e grafita, carbono
amarfo ou material carbonácio.

Modo de ocorrência
Au ocorre numa ampla variedade de ambientes, variando de rochas vulcânicas e
brechas a skarns e veios hidrotermais, que podem ou não ser diretamente associados à
241
intrusões e de disseminação em sulfetos massivos a depósitos de placers e paleoplacers.
Veios dominados por Au nativo e quartzo ocorrem em rochas vulcânicas matamorfisadas e
fortemente deformadas antigas ( notavelmente greenstone belts précambrianos). Veios
dominados por teluretos e Au e Ag com quartzo ocorrem neste ambiente e em rochas
vulcânicas jovens (Terciário) do cinturão circum-Pacífico.

Exemplos
Mineralização de veio Au-quartzo inclui depósitos como Yellocoknife (NWT, Canadá),
Mother Lode (Califórnia, USA), e a mina Homestake (S. Dakota, USA); teluretos de Au e Ag
ocorrem em rochas pré-cambrianas em Kalgoorlie (W. Austrália), Kierkland Lake e Porcupine
(Canadá); teluretos de Au e Ag em vulcânicas terciárias em Fiji Filipinas, Japão e Califórnia-
Colorado-Nevada-Novo México (USA). Depósitos de placers incluem exemplos na Califórnia e
Alaska (USA), Urais (Rússia) e Otago (Nova Zelândia).

Associações Minerais e Texturas


Como é típico de veios de preenchimento de fissuras, muitos mostram crustificação e
desenvolvimento de cristais bem formados de quartzo e carbonato, embora movimento ao
longo das fraturas possa destruir muitas dessas texturas para produzir um minério granular. O
Au nos veios Au-quartzo corre incluso no quartzo ou, marginalmente, pirita ou arsenopirita e é
geralmente de grão muito fino. Nos veios que contêm os teluretos de Au e Ag, estes correm
como pequenas massas irregulares incluindo uma variedade de minerais de Te, Te nativo e
vários sulfetos e sulfossais, todos em menor quantidade. As assembléias minerais e
seqüências paragenéticas são complexas mas generalizações podem ser feitas às vezes. Por
exemplo, os minérios de Boulder County ( Colorado, USA) mostram uma paragênese
generalizada na qual quartzo e fluorita são sucedidos por sulfetos, teluretos, Au nativo e então
por carbonatos e quartzo tardio. Estudos de inclusões fluidas indicam que soluções
hidrotermais com salinitas de 20 a 30% precipitou o quartzo precoce e fluorita entre 250 e
375°C. Deposição do Au ocorrem de soluções com só 4% de salinidade em 205-270°C (Nash
and Cunningham, 1973).
Boyle (1979) tem sumarizado os estudos geotermométricos que têm sido obtidos nos
depósitos epigenéticos de Au e concluiu que o volume de mineralização de quartzo e sulfeto
ocorreu entre 500 e 150°C com muito Au tendo sido redistribuído em temperaturas inferiores.
Posteriormente apresentou uma discussão detalhada da paragênese e zoneamento dos
depósitos epigenéticos de Au. A interpretação das assembléias e texturas dos teluretos de Au
e Ag tem sido esclarecida pelos estudos de relações de fases do sistema Au-Ag-Te. Markham
242
(1960) e Cabri (1965) têm apresentado as relações de fase entre 300 e 290°C; as diferenças
estre diagramas provavelmente refletem as técnicas de resfriamento rápido de Cabri, cujos
resultados podem ser próximos às relações verdadeiras em 290°C. Os resultados de Markham
podem refletir algum ajuste de composições a temperaturas inferiores e mais intimamente
aproximados produtos finais de resfriamento nos minérios naturais. Comparação de
assembléias naturais e sintéticas indicam que o fenômeno de fusão ou fundidos de teluretos (
que pode ocorrer em temperaturas tão baixas quanto 304°C) não exerceram significante
controle na produção das assembléias observadas, muitas das quais têm resultado de
processos subsolidos e equilibraram em temperaturas relativamente baixas ( ≈ 250°C).

8.19.5.1 - Origem dos minérios


Há pouca dúvida que estes minérios tenham sido formados pela deposição de soluções
hidrotermais em sistemas abertos de fissura e fratura. A ausência de intrusões parentais e
extensiva alteração hidrotermal permitiu worthington and kiff (1970) de sugerir que muitos
depósitos de Au formados durante os estágios finais do vulcanismo no caso dos veios de Au-
quartzo em vulcânicas metamorfisadas e fortemente deformadas e sedimentos, é amplamente
pensado que o Au deve ter sido derivado das rochas encaixantes e concentrado por fluidos
circulantes durante metamorfismo. Os depósitos terciários indicou claramente uma fonte
vulcânica para as soluções hidrotermais portadoras de minério, embora no caso daqueles
depósitos de teluretos de Au em rochas mais antigas, o papel das rochas ígneas vulcânicas
intrusivas como fontes para os fluidos hidrotermais é muito menos certa. As composições
desses fluidos hidrotermais e se o Au é transportado como complexos Au - S ou Au - Cl são
também matéria de debate.

8.19.5.2 - Ocorrências secundárias - Depósitos de placers


A erosão dos veios portadores de Au e minérios de sulfetos, resultaram na formação de
depósitos de placers. A natureza do Au em tais ocorrências depende da composição, tamanho
de grão e grau nas rochas fontes. O Au em depósitos de placers tem sido disperso ao longo de
um canal de corrente através dos processos normais de erosão e transporte mas é
concentrado devido a sua alta gravidade específica. Estudos sedimentológicos , que têm
simulado a deposição do Au, têm demostrado que os lugares naturais para concentração
incluem a confluência de correntes e lagos abaixo das cachoeiras.
Os grãos de Au ( “pepitas”) ocorrem numa ampla variedade de tamanhos e formas mas
são mais comumente em placas ou na forma de flocos a cruamente esféricas. Imediatamente
após a liberação, os grãos comumente exibem uma morfologia facetada derivada dos cristais
243
contornantes de silicato e carbonato da ocorrência do filão original. Transporte de grãos resulta
na abrasão desses, comumente em placas e lixiviação. A lixiviação superficial dos grãos de Au
resulta na deplexão da Ag ( muitos grãos são inicialmente uma liga de conteúdos iguais de Ag
e Au), que produz um estreito ( ± 10-15μm) rim de Au quase puro. Este rim, e zonas ao longo
das fraturas onde lixiviação tem também ocorrido é sempre visível em seção polida porque é
distintivamente mais amarelo que o interior do grão. Faces de cristal nas pepitas, que estão
fora da área fonte, têm permitido especular que as pepitas podem ter crescido insitu por lenta
precipitação de Au de águas correntes.

8.19.6 - Minérios de Ouro-Urânio em conglomerados


Mineralogia
Pirita maior; ouro (como metal nativo com alguma prata) pode ser um mineral maior do
minério; urânio em uraninita, “thucolita” ( um hidrocarboneto uranífero) ou brannerita ( um
silitcato complexo protador de U) podem também ser maiores em importância. Os miridwm
(OsIr) podem ser de menor importância econômica.
Sulfetos associados sem significância econômica podem incluir marcassita, pirrotita,
esfalerita, galena, mobilbdenita; também arsenietos e sulfarsenitos contendo Co e Ni podem
ocorrer. Minerais pesados detríticos podem incluir cromitas e zircão, ilmenita, magnetita, rutilo e
vários silicatos máficos. O resto do material é amplamente composto de quartzo com
significante feldspato, sericita, clorita e cloritóide.

Modo de ocorrência
Os minérios de Au e U ocorrem disseminados em camadas e lentes de conglomerado
grosseiro que são partes de seqüências arenosas. Geralmente, os congloremados são de
seixos de quartzo e parecem ser de origem fluvial ou deltaica de água rasa. Os maiores
exemplos são pré-cambrianos em idade.
Exemplos
Os dois exemplos mais importantes são witwatersrand, África do sul ( depósito maior
de Au e U) e Elliot Lake de (Blind Rirer); Ontário, Canadá (depósito maior de U); Jacobina,
Brasil, é um depósito de Au menos importante.

244
Associações minerais e texturas
Os minerais de minério de Au e U são geralmente de grão muito fino (comumente não
visível exceto ao microscópio). Eles comumente ocorrem intersticialmente aos fragmentos
conglomeráticos com Au como grãos ou preenchimentos dos espaços porosos, embora eles
ocorram ocasionalmente como vênulos finos. Uraninita, thucolita e brannerita ocorrem como
grãos detríticos e em alguns casos como folhas coloformes ou como vênulos, e Au e U-
mostram uma forte tendência de ocorrerem juntos. Os miridwm nos minérios de Witwatersrard
é parcialmente intercrescido com Au. Pirita encontrada em concentrações de 12-20% em
volume nos conglomerados tem sido descrita como sendo de 3 tipos texturais:
*Halogênica: tendo contornos arredondados e interior homogêneo.
*Autigênica concrecionada: tendo uma estrutura composta de fragmentos fracamente
agregados.
*Autigênico reconstituído
Concentrações de minério são usualmente maiores onde os conglomerados são mais
espessos e, nos minérios de Witwatersrand, o conteúdo de Ag e Au ( que varia de ~5 a 16
wt%) mostra sistemática variação, decréscimo com a profundidade em uma única lente do
minério.
Altas concentrações de Au também ocorrem em fendas carbonáceas muito finas e
muito do Au nos conglomerados pode representar retrabalhamento de tal material.

Origem dos minérios


Historicamente 3 principais teorias foram desenvolvidas considerando a origem desses
minérios:
*Teoria de placer: os minerais do minério teriam sido derivados por erosão de áreas
adjacentes, transportados e depositados por correntes ao longo com os conglomerados.
*Teoria hidrotermal: Au, U e alguns de outros metais têm sido introduzidos em soluções
aquosas quentes derivadas de uma fonte externa tal como uma intrusão ígnea.
*Teoria de placer modificada: os minerais de minério, tendo sido depositado como
placers, têm sido localmente redistribuídos dentro de um corpo de minério particular.
A ocorrência de vênulos de minerais de Au e U sugere no mínimo alguma modificação
textural que a maior divergência na origem tem sido entre um placer modificado e hidrotermal.
O volume de evidência disponível no presente favorece uma origem de placer modificado para
esses depósitos.

245
8.20 - Ti - TITÂNIO

Um dos elementos que está mais relacionado com o Si no Sistema Periódico é o Ti,
pertencente ao grupo dos oligoelementos sendo o mais importante. O conteúdo de Ti nas
rochas ígneas é de 0,44%, que vem a ser a quinta parte do conteúdo de Mg. A fase metálica
dos meteoritos contém pequena quantidade de Ti: o teor na fase silicatada é 18 vezes que na
fase metálica. O conteúdo nos eucritos, que são silicatos meteoríticos de composição básica, é
doze vezes maior do que nos condritos normais.
Desse ponto de vista, eucritos e condritos se comportam como os gabros e rochas
ultrabásicas terrestres. A razão de abundância atômica do Ti nos meteoritos e também na
atmosfera solar é muito parecido. Nos espectros da maioria das estrelas mais frias se
encontram bandas de óxido de Ti. É muito oxífilo na litosfera superior.

8.20.1 - Minerais de Titânio


Ti forma vários minerais independentes nas rochas. Ademais, está oculto nas
estruturas de muitos minerais de importância petrográfica. Segundo Sahama (1946), o Ti é
intermediário entre os cátions que nunca formam minerais independentes nas rochas ígneas
comuns, encontrados sempre ocultos nas estruturas de outros minera8is (como é o caso de
Rb, Sr e Ba) e aqueles que formam minerais independes ( como zircão ).
A maior parte do Ti dos minerais independentes que origina se encontra na forma de
íons Ti4+. Sem dúvida, é preciso assinalar que é difícil determinar o grau de oxidação deste
elemento, como sucede de estar oculto nas estruturas minerais. Se existe ao mesmo tempo
Fe2+ e Fe3+ não é possível distinguir por análise o Ti3+ do Ti4+. Portanto, a informação de que
se dispões sobre a apresentação do Ti3+ nos minerais é incompleta.
Os minerais independentes mais abundantes de Ti são a ilmenita (FeTiO3), rutilo (TiO2)
e titanita (CaTi[O,OH,F]SiO4). A ilmenita contém 52,7% de TiO2 e a titanita 41%. Estes três
minerais são componentes acessórios de muitas rochas. É evidente que os óxidos contêm uma
246
parte considerável, quiça a maior, de Ti que existe na litosfera superior. É possível que mais de
90% da quantidade total dos componentes titaníferos das rochas ígneas é formado pela
ilmenita. Portanto, a ilmenita é o verdadeiro veículo de Ti nestas rochas e as quantidades que
portam o rutilo e a titanita têm muito menos importância. Isto se compreende facilmente
levando-se em conta que os óxidos de Fe são minerais acessórios muito freqüentes em todas
as rochas ígneas, a ilmenita é de todos os óxidos opacos que é quase tão abundante quanto à
magnetita. A maior parte do Ti, contido em magma rico em voláteis e que cristaliza lentamente,
incorpora-se sobretudo à ilmenita e magnetita e às vezes ao rutilo, enquanto que só pequenas
quantidades passam aos silicatos como hiperstênio e biotita. Na augita de rochas vulcânicas
existe muito titânio e, em conjunto, a quantidade deste elemento nas estruturas dos silicatos de
rochas vulcânicas é maior que das plutônicas. A forma de apresentação do Ti nas rochas
ígneas se caracteriza pela tendência a incorporar-se aos óxidos. Os óxidos de Ti mais
importantes, além da ilmenita e rutilo, são os seguintes:

A titanomagnetita só é encontrada como mineral homogêneo nas rochas efusivas que


se solidificaram rapidamente. Nas outras rochas ígneas está decomposta em magnetita,
ilmenita e hercinita. A porovskita se encontra principalmente nas rochas básicas alcalinas.
Anatásio e brookita são muito menos comum que o rutilo. Também existe Ti, em particular, nos
pegmatitos, formando vários óxidos múltiplos contendo Ni, Ta, Ca, ETRs. Estes minerais
podem ser bastante complexos do ponto de vista geoquímico e têm uma importância
secundária no que diz respeito à geoquímica do Ti. Ti não forma o silicato simples TiSiO4. Os
estudos termoquímico têm demonstrado que não existe nenhum composto binário no sistema
TiO2 - SiO2. Tão pouco se conhece o metassilicato TiSi2O6. Os únicos silicatos de Ti são
silicatos complexos que contêm algum outro cátion de coordenação distinto do que tem o Ti 4+.
Os únicos cátions a considerar nas rochas são Ca2+, K+, Na+, já que os demais não são
abundantes o suficiente. Devido ao fato que o calor de formação dos compostos de Ca ser
maior que os de Na e K de composição análoga, o Ti se combina de preferência com o Ca para
formar a titanita. O silicato de Na e Ti, ramsayita ( Na 2Ti2[O](SiO4)2), substitui a titanita em
algumas rochas alcalinas. Os sienitos e nefelina sienitos, e em particular seus pegmatitos,
contêm vários silicatos complexos de Na-Ca-Ti, muitos dos quais contêm ETRs. A titanita é um
veículo importante de vários elementos como Nb, Ta e ERTs (podendo predominar Ce e Y).
Titânio também está oculto nas estruturas da maioria dos minerais petrográficos.
247
De quase todos os minerais opacos de rochas ígneas se conhecem variedades que
contêm quantidades extraordinariamente grande de Ti. Estes minerais, que são considerados
às vezes como espécies independentes, compreendem granada, biotita (Wodanita), augita,
anfibólio, etc..., titaníferos, excetuando-se os tectossilicatos. Do ponto de vista geoquímico,
estes minerais titaníferos são escassos. O teor de ti é maior na titano-augita (8,97% de TiO2) e
Wodanita (12%). Nas estruturas dos minerais fêmicos se encontram incorporadas com
regularidade pequenas quantidades de Ti, pois estes minerais são distintos das variedades
titaníferas propriamente ditas. Piroxênios, anfibólios e biotita são os minerais dessa classe que
têm maior importância quantitativa. A biotita pode conter até 1,5% de TiO 2 e as variedades
ricas em Fe (hepidomelana) das rochas alcalinas até 4.5%. Na hornblenda pode existir até
1.3% de TiO2 e na augita 0,7%.
Vale assinalar que o Ti, por suas propriedades iônicas, pode ocupar uma posição
estrutural completamente distinta. No que diz respeito à relação química entre Si e Ti, acredita-
se que o Ti substitua o Si nas estruturas dos silicatos. Segundo as idéias de cristaloquímica, é
possível que o Ti substitua o Si na forma diadócica nos tetraedros Si-O. Investigações mostram
que esta forma de substituição é mais comum e, falando em termos geoquímicos, importante
nos silicatos que contém Ti. Sem dúvida, devido à grande diferença que existe entre os raios
do Si4+ e Ti4+, a substituição deve ser limitada. Ti pode substituir Al3+, Fe3+ e, em parte, também
Mg2+. Os silicatos que têm as tramas de Si - O mais simples possíveis contêm todo Ti nos
tetraedros de Si - O, enquanto os silicatos de tramas mais complicadas podem alojar uma parte
do Ti fora da estrutura Si - O .

8.20.2 - O Titânio nas rochas ígneas


Da mesma família do Fe, Ti mostra uma tendência definida a separar-se logo do
magma em processo de cristalização. É concentrado nos cristalizados iniciais em formas de
ilmenita e de titanomagnetita. Sem dúvida, esses minerais, que são componentes principais
dos minérios de ferro titanífero não são prontamente separados. Os minérios de Fe titanífero
constituem o meio magmático do Ti.
Nas rochas pertencentes ao estágio principal da cristalização uma parte da ilmenita é
substituída por titanita. Rutilo é raro nas rochas ígneas: encontra-se de preferência nas rochas
procedentes dos líquidos fontes dos magmas gabróicos, como são os pegmatitos gabróicos. As
rochas alcalinas e em particular as variedades básicas são as mais ricas em Ti. As rochas
alcalinas, ao contrário das cálcio-alcalinas, contêm com freqüência Ti concentrado em seus
pegmatitos na forma de titanossilicatos complexos de Ca e metais alcalinos, como a astrofilita
(K2,Na2,Ca)(Fe,Mg)4(Ti,Zr)[OH/Si2O7]2;lamprofilita Na3Sr2Ti3[(O,OH,F)/(SiO4)2]2 com até 30% de
248
TiO2, e a rinkita Na(Ca,Ce)2 (Ti,Ce)[F/(SiO4)2]. Nas rochas alcalinas básicas a granada de Ti,
melanita Ca3Fe2[SiO4]3, com Ti em substituição do Si e NaTi, em vez de CaFe, substitui esses
silicatos. As rochas que contêm melilita portam perovskita ( com 59% TiO2) como componente
característico. Nas rochas cálcio-alcalinas, o Ti se concentra de forma definida nos primeiros
produtos do estágio principal da cristalização. Também se concentra nos líquidos residuais da
cristalização das rochas básicas.

8.20.3 - O ciclo do Titânio


Os sais solúveis de Ti se hidrolisam com facilidade. Em conseqüência, durante a
meteorização, o Ti fica em grande parte nos inalterados. Os minerais petrográficos de Ti mais
importantes, ilmenita e rutilo, são estáveis durante a meteorização, mantendo-se inalterados
nos sedimentos. Também a titanita se encontra sem alteração nos sedimentos. Sem dúvida,
grande parte do Ti da titanita se dissolve e por fim termina por precipitar-se como brookita.
Também se produz este mineral junto com rutilo e anatásio, na meteorização da ilmenita. O Ti
contido na estrutura dos minerais fêmicos (piroxênios, anfibólios, micas, etc...) se dissolve
durante a meteorização, pois se hidrolisam em seguida e passa aos hidrolisados. As bauxitas e
lateritas podem conter até 4% de Ti, que se encontra na forma de titanita, ilmenita, brookita e
provavelmente também anatásio.

8.20.4 - Minérios de Titânio


A titanomagnetita, a ilmenita e rutilo são os únicos minerais de Ti de importância
econômica. As jazidas de rutilo são raras. Em alguns minérios de Fe, a hematita pode ser o
suporte principal de Ti. Os maiores e de maior importância econômica se encontram nos USA,
Índia, Austrália e Noruega. Estes minérios estão relacionados com rochas básicas, em
particular gabros e noritos, e são produtos de diferenciação de magmas básicos. Ademais,
existem depósitos litorâneos de importância técnica compostos de ilmenita e rutilo em
companhia de outros minerais pesados, como monazita e zircão. Algumas areias se compõem
principalmente de ilmenita. O rutilo às vezes se encontra às vezes em quantidades comerciais
nos pegmatíticos sieníticos e em filões de apatita relacionados a nefelina sieníticos. Algumas
bauxitas são fontes potenciais de Ti de interesse comercial.

249
8.21 - V - VANÁDIO

O V é um dos oligoelementos mais abundantes. Na tabela abaixo, são mostrados os


valores de abundância, nos meteoritos silicatados e rochas ígneas.

Comparando os valores acima, fica indicado que o V é muito concentrado na fase


silicatada. Sem dúvida, na fase troilítica dos sideritos o V está concentrado com relação à fase
férrica. A concentração relativa do V nas rochas ígneas terrestres é maior todavia. O caráter
geoquímico geral do V é francamente litófilo, mesmo com uma tendência siderófila bastante
definida. Faz parte da família do Fe.

8.21.1 - O Vanádio nas rochas ígneas


Na litosfera superior o V é oxífilo. Seu comportamento nas rochas ígneas depende, em
grande parte, do fato que possa existir no meio ígneo em 3 estados estáveis de oxidação, a
saber: na forma tri, tetra e pentavalente. Todos eles, em particular V 5+, mostram tendência a
formar complexos com o O e, em parte, também com S. Isto explica o número relativamente
grande de minerais de V e as amplas possibilidades de substituição diadócica do V por vários
elementos em estruturas minerais.
Devido a sua posição no Sistema Periódico, V parece com seus vizinhos P e Ti em sua
forma de apresentação, mas também existem diferenças notáveis a este respeito entre os 3
elementos. O V não é característico nem das primeiras associações magmáticas de pirrotita-
pentlandita nem dos últimos sulfeto magmáticos. O sulfeto de V, patronita VS 4, com até 24% V,
e o sulfavanadato complexo de Cu, sulvanita Cu 3VS4, encontram-se na natureza, porém são
raros e provavelmente de origem secundária. Ao contrário, V se encontra muito concentrado

250
nos minérios de ferro titanífero, que representam os primeiros óxidos separados. À semelhança
do Ti e P, V tende a se concentrar nas rochas básicas, em particular nas segregações básicas
dos magmas gabróicos. O conteúdo máximo em V das rochas ígneas se encontra nas que se
forjam durante as fases iniciais do estágio principal da cristalização.
O V não forma minerais independentes nas rochas ígneas, estando oculto nas
estruturas de outros minerais com uma única exceção é ardenita
Mn4(MnAl5)[(OH2/(V,As)O4.(SiO4)5].2H2O, que é um termo raso do grupo do epidotozoisita.
Nos minerais das rochas ígneas existem íons de V com 3,4 e 5 cargas positivas. O V
bivalente é um agente oxidante forte. O tamanho do íon V 3+ é parecido com o do Fe3+, mas não
é muito provável fique a substituição diadócica ocorra neste caso. Isto é divido a que V 3+ é um
agente redutor bastante forte, que ao encontrar-se na presença do Fe3+ o reduziria a ferroso.
Isto se deduz também dos potenciais redox dos íons em questão. Ao contrário, V4+ é mais
abundante nas rochas ígneas e substitui com facilidade o Ti 4+, V5+ se encontra nos sedimentos
e nas rochas sedimentares, cujo potencial redox é maior que das rochas ígneas. Substitui Al de
preferência nos minerais argilosos.
Titanomagnetitas são ricas em V com cerca de 41%. À parte da titanomagnetita, outros
minerais de Ti contêm também V em suas estruturas evidentemente na forma V 4+ que substitui
o Ti4+, tais como titanita e rutilo. Na apatita o V5+ pode substituir P5+, o que explica a
concentração de V nos minérios de Fe ricos em apatita. Feldspatos carecem quase por
completo de V. Ao contrário, piroxênios, anfibólios e micas contêm quase sempre algum V na
forma de íons V4+ e V5+, que substituem Fe3+ e Al3+. Augita e hornblenda contêm até 680g/ton,
contra até 3.080g/ton na flogopita e 1.000 e 640 g/ton nas biotitas e muscovitas de granito,
respectivamente.
À semelhança do P e As, V5+ tem uma tendência pronunciada a formar tetraedros de
[VO4] nas estruturas minerais. Estes íons complexos são semelhantes aos tetraedros de [PO 4]
e [AsO4].
Nas associações hidrotermais o V se encontra como componente acessório das
uraninitas nos filões de Ni-Co-U, com um conteúdo máximo de 500g/ton.

8.21.2 - O Vanádio nos minerais de origem secundária


Como não existem minerais independentes de V nas rochas ígneas, este mineral só
pode concentrar o suficiente nos sedimentos e rochas sedimentares. O potencial redox destes
meios é maior que das rochas ígneas. Do ponto de vista geoquímico, são bastante raros, e a
maioria deles não são mais que curiosidades mineralógicas, já que as condições necessárias
para sua formação se encontram raramente na natureza. O V que existe nesses minerais
251
procede das águas subterrâneas ou termais. Os dos principais metais que se encontram nestes
vanadatos são Ca, Mn, Fe3+, U, Pb, Cu, Zn e Bi. Com freqüência, estes minerais vêm
acompanhados de compostos de P, As e U.
Podem ser vanadatos simples, como a pucherita Bi[VO 4] e a estregerita Al[VO4].3H2O,
ou complexos, como a descloizita Pb(Zn,Cu)[OH/VO4] com 20 - 22% V2O5, a hewehita e
metahewehita CaH2[V6O17].8H2O; a vanadinita Pb5[Cl/(VO4)3] com 8-21% V2O5, isomorfa com
apatita; a carnotita, de fórmula aproximada K[VO 2/VO4].1 ½ H2O ( que contém cerca de 21% de
V2O5); a tyuyamunita Ca [VO2/VO4]2.4H2O e a roscoelita, que é a muscovita de V na qual Al 3+ é
substituído na forma diadócica pelo V5+ em coordenação octaédrica. A roscoelita é o termo fina;
rico em V, da série cujo extremo alumínico é a muscovita. A carnotita e a tyuyamunita são
membros do grupo da uraninita.

8.21.3 - O ciclo do Vanádio


O ciclo do V se caracteriza porque sua dissolução e migração só se verificam num
potencial redox bastante grande. O íon V3+ é um cátion dos hidrolizados, porém se oxida com
facilidade a V5+, que tem tendência a formar ânions complexos. As propriedades biófilas do V
influem também sobre seu ciclo. Durante a meteorização das rochas ígneas se incorpora muito
V aos minerais argilosos formados e permanece nesses enquanto os minerais não se alteram,
inclusive durante os primeiros estágios dos processos diagenéticos e metamórficos.
Portanto, as soluções da meteorização nos climas úmidos são pobres em V. Parece
que as soluções húmicas extraem um pouco de V das argilas. Nas águas minerais existe V,
mas deve ser em grande parte de origem juvenil. Sem dúvida, nas regiões áridas, o V se
concentra no hidróxido de Al, separando-se dessa forma durante a decomposição das argilas.
V5+ se mobiliza com facilidade e se nas águas subterrâneas e nas soluções da meteorização
existem metais pesados podem produzir grandes concentrações locais de vanadatos de Cu,
Pb, Zn e U, em particular na zona de oxidação e na presença de margas e dolomitos, que
originam um PH adequado para a precipitação dos vanadatos. Os sedimentos das regiões
áridas podem absorver também V das soluções da meteorização bastante concentradas.
Outra possibilidade de concentração de V nos sedimentos é o transporte na forma de
vanadato, sobretudo a concentrações baixas, nas soluções de meteorização, as quais, em
condições redutoras, na presença de sulfeto de hidrogênio, precipitam na forma de VaS nas
camadas betuminosas e rochas semelhantes.

252
8.21.4 - O Vanádio nas rochas metamórficas
O vanádio se mobiliza, em parte, durante os processos metamórficos. Sem dúvida, o
caráter original das rochas metamórficas se segue refletindo com claridade no seu conteúdo
em V. A diferença no conteúdo em V dos orto e paragnaisses pode servir para determinara
origem ígnea ou sedimentar das rochas.

8.21.5 - Minérios de Vanádio


Nas rochas ígneas não existem massas de V independentes porque o metal é escasso
e não forma minerais próprios durante a diferenciação. Sem dúvida, os minérios de óxido de
ferro contêm V como componente acessório, encontrando-se os conteúdos maiores na
magnetita e titanomagnetita ( 0,2% em V). Nas jazidas de magnetita-ilmenita vanadíferas pode
existir V na forma de magnetita vanádica (caulsonita) com até 5% de V. Portanto, pode-se
utilizar os minérios de óxido de Fe como fontes industriais de V. Os minérios de V mais
importantes são de origem sedimentar.

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CAPÍTULO 9 - DEFINIÇÕES E CONCEITOS ELEMENTARES

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292
As imagens abaixo mostram alguns exemplos da evolução mineralógica e composicional
com base no diagrama de fase binária.

293
ANEXO
ANEXO

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2° EXEMPLO

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393
CAPÍTULO 15 - SÉRIES MAGMÁTICAS

15.1 - INTRODUÇÃO

A classificação das associações de rochas ígneas segundo sua composição química


constitui importante etapa na construção de hipóteses geológicas no campo da petrogênese,
estratigrafia, metalogenia e geotectônica. Exatamente porque não existe uma correspondência
direta e simples entre composição química e ambientes geotectônicos, ou processo genético,
ou potencialidade econômica, esta etapa é imprescindível, devendo preceder, jamais
substituir, as classificações genéticas, geotectônicas e outras que possuem elevado conteúdo
interpretativo. A maior parte dos petrólogos admite presentemente que a fusão crustal é, na
maior parte das vezes, associada com o aporte de magmas básicos provindos de fontes
mantélicas. Portanto o estudo das rochas ígneas com base em sua associação litológica deve
ser parte fundamental, mesmo no estudo de rochas graníticas. A utilização de classificações
dos granitóides com base nos seus possíveis protólitos, contribuiu para que estas rochas
fossem encaradas como eventos de fusão parcial crustal isolados, não sendo vistas como
possíveis termos de associação ígnea composicionalmente ampla, o que frequentemente
ocorre.
As associações de rochas magmáticas derivadas de magmas parentais
composicionalmente semelhantes, mesmo que seu processo de diferenciação inclua
assimilação ou mistura com materiais externos, ou ainda reação dos magmas básicos com
rochas metamórficas, podem ser agrupadas conforme suas características composicionais
comuns. Os principais grupos assim identificados são denominados de séries ígneas. Assim,
uma associação ígnea pertence à série toleítica se for derivada da diferenciação de magmas
parentais toleíticos, por exemplo. A mais clara representação das séries magmáticas ou ígneas
consta no trabalho de Lameyre & Bowden (1982), onde as mesmas são identificadas no
diagrama QAP. Neste sentido, as séries ígneas apresentam padrões característicos quando
plotadas em diagramas químicos como FMA, TAS, CaO/(Na 2O + K2O), entre outros.
Winchester and Floyd (1977) reconheceram as séries subalcalinas, moderadamente alcalinas
(semelhante as alcalinas saturadas em sílica) e fortemente alcalinas incluindo as rochas
subsaturadas em sílica, sugerindo parâmetros discriminantes também com base em conteúdos
de elementos traços. Para classificar associações de rochas co-magmáticas em uma
determinada série, em geral é necessária a presença de termos com diferentes graus de
diferenciação, de modo a ficar caracterizado um padrão evolutivo.

394
Os fundamentos da presente revisão constam em Wilson (1989), Girod et al. (1978) e
Lameyre & Bowden (1980), tomando como base a classificação sugerida pela Comissão
Internacional de Nomenclatura de Rochas Ígneas (Le Maitre, 2002). O termo alcalino é utilizado
com base no diagrama SiO2 versus (Na2O + K2O) a exemplo do utilizado por Le Maitre (2002) e
por Girod (1969, p.21) com base em Irvine & Baragar (1971), MacDonald & Katsura (1964),
Kuno (1968) e outros.

Figura 1 - TAS seg. Le Maitre (2002)

De acordo com este critério as rochas básicas e intermediárias alcalinas são as situadas
acima da linha que separa os campos das séries saturadas e supersaturadas em sílica do
diagrama TAS, sendo as demais ditas subalcalinas. As alcalinas são separadas em dois campos:
alcalinas subsaturadas em sílica ou fortemente alcalinas e as alcalinas saturadas em sílica ou
moderadamente alcalinas, conforme utilizado por Winchester & Floyd (1977) e Wilson (1989). É
importante assinalar que o termo peralcalino, similar a agpaítico, refere-se a relação molar de
(Na2O + K2O) com Al2O3, não apresentando portanto relação direta com o termo alcalino.

395
Da mesma forma a classificação de Peacock (1931) envolve a variação de (Na 2O +
K2O) versus CaO, ao longo da diferenciação, sendo esta, medida pelo parâmetro SiO 2, portanto
o termo alcalino de Peacock não corresponde exatamente ao uso preconizado nesta revisão.

Figura 2 - Diagrama A/NK versus A/CNK sugerido por Maniar & Piccoli (1989) para classificar segundo Shand.

396
397
15.2 - ORIGEM - CLASSIFICAÇÕES QUÍMICAS
Segundo (Chapell & White 1974)

M – SiO2 (56 – 70%), baixo K/Na, A/CNK, Rb, Th, U, LIL e HFS, alto Ca e Sr
Zonas de subducção ou intraplaca oceânico

I - SiO2 (53 – 76%), baixo K/Na e A/CNK, alto Ca, Sr (máficas) e LIL/HFS, moderado Rb,
Th e U.
Zonas de subducção – infracrustal

S - SiO2 (65 – 74%), alto K/Na, A/CNK, Rb, Th e U, variável LIL e HFS, baixo Ca e Sr
colisionais
Supracrustal

A – alta sílica (até 77%), alto Na, Fe/Mg, Ga/Al, ETR, Zr, F e Cl, baixo Ca, Sr e
LIL/HFS
Rifts intracontinentais, cratons estáveis, e ambientes pós-colisionais

Na figura abaixo consta uma adaptação do critério de Peacock (1931) ao gráfico


proposto por Brown (1981), podendo este ser utilizado para avaliação de cálcio-alcalinidade.

398
Figura 3 - Diagrama de cálcio-alcalinidade versus índice de diferenciação (Brown 1981) apresentando os campos (A)
das rochas vulcânicas de arcos magmáticos, (B) dos granitóides metaluminosos de associações alcalinas (SN) trend das rochas
do batólito Sierra Nevada, (NG) trend das rochas do arco continntal maduro da Nova Guiné. A linha horizontal segmentada,
permite a identificação dos padrões ilustrados com a classificação de Peacock (1931), (a) alcalino, (ac) álcali-cálcico, (ca) cálcio-
alcalino, (c) cálcico.

As principais séries magmáticas são a toleítica, a alcalina subsaturada em sílica,


alcalina saturada em sílica shoshonítica, alcalina saturada em sílica sódica, alcalina saturada
em sílica ultrapotássica, a cálcio-alcalina, e a komatiítica.
As séries subalcalinas, constituídas principalmente por rochas que se situam no
campo das séries supersaturadas em sílica do diagrama TAS, são a toleítica, a komatiítica e a
cálcio-alcalina, sendo esta subdividida em cálcio-alcalina baixo-K, médio-K, e alto-K, conforme
sugerido por Peccerillo & Taylor (1976).

Figura 4 - Diagrama sugerido pela IUGS (Le Maitre 1989) para discriminação das séries subalcalinas (que plotam nos
campos B e O do TAS) com base na sugestão de Peccerillo & Taylor (1976) que se limitava à rochas cálcio-alcalinas com até 63%
de SiO2 (linha pontilhada).
399
Le Maitre (2002) expandiu a utilização desta subdivisão para as demais séries
subalcalinas, modificando o critério desses autores. O enquadramento de uma associação de
rochas ígneas em séries magmáticas depende em grande parte da presença de uma gama de
rochas com graus de diferenciação diversos.
Quando a composição é restrita em termos de diferenciação, a identificação de padrões
de diferenciação (trends) se torna difícil nos diagramas, e critérios auxiliares devem ser buscados
entre os conteúdos de elementos traço, composição das fases minerais e outros.

Figura 5 - Principais séries magmáticas e produtos de fusão crustal lançados no diagrama TAS.

400
CAPÍTULO 16 - SÉRIES SUBALCALINAS

16.1 - SÉRIE TOLEÍTICA

As principais rochas da série toleítica, principalmente dos ambientes de crosta oceânica,


são os gabros, quartzo-gabros, tonalitos e trondhjemitos, definindo o trend tonalítico no QAPF, ou
os seus correspondentes extrusivos. No diagrama TAS as rochas toleíticas se distribuem na
base (séries toleíticas de ambientes oceânicos) e no topo (séries toleíticas continentais) do
campo das rochas subalcalinas. Wilson (1989, p. 10) destaca duas fundamentais características
dessas rochas: o enriquecimento em ferro no diagrama FMA, denominado “trend de Fenner”, que
distingue esta série das demais, e o caráter empobrecido em Al2O3 dos basaltos toleíticos (em
torno de 12% em peso) com relação aos cálcio-alcalinos (em torno de 17% em peso). De acordo
com a classificação proposta por Peacock (1931), medindo a variação da proporção CaO X
(Na2O + K2O) com o incremento da SiO2 , as rochas de afinidade toleítica são cálcicas à cálcio-
alcalinas, sendo estas últimas mais comuns em ambientes continentais.
As rochas toleíticas oceânicas apresentam de modo geral teores baixos de elementos
como K, Rb, Ba, Sr, e Terras Raras leves, já as continentais podem mostrar conteúdos elevados
desses elementos. A presença de dois piroxênios, pigeonita e augita, é uma característica
mineralógica dos basaltos toleíticos. Os fenocristais mais comuns são olivina, plagioclásio e
óxidos de Fe e Ti, inclusive ilmenita. No cálculo de norma enfatiza-se a presença de
hiperstênioquartzo como indicativa de afinidade toleítica em basaltos.
As séries toleíticas são típicas de assoalhos e cadeias meso-oceânicas, ou de ambientes
anorogênicos intraplaca continentais. Estudos recentes comprovam sua presença no
magmatismo pós-colisional (Florisbal et al 2005), onde grande volumes de granitóides são
gerados devido à interação com fusões crustais promovidas pela tectônica.

16.2 - SÉRIE KOMATIÍTICA

Komatiítos são rochas vulcânicas com menos de 53% em peso de SiO 2, MgO > 18%
em peso, TiO2 < 1% em peso (Le Maitre, 2002); boninitos são as rochas intermediárias
correspondentes. Supostamente, esta série, dita komatiítica, pode evoluir até rochas ricas em
sílica provavelmente dacitos ou seus correspondentes intrusivos, tonalitos e trondhjemitos,
cujas características devem ser muito próximas de rochas toleíticas. As séries komatiíticas são
em geral vinculadas temporalmente ao Arqueano.

401
16.3 - SÉRIE CÁLCIO-ALCALINA

As rochas da série cálcio-alcalina distribuem-se predominantemente nos campos dos


dioritos, quartzo monzodioritos, granodioritos e granitos no diagrama QAP (Fig. 6),
correspondendo nos termos vulcânicos à andesitos, dacitos e riolitos. A série cálcio-alcalina
baixo-K inclui tonalitos e trondhjemitos em detrimento dos granitos, constituindo as associações
TTG (Condie, 2005) típicas de arcos magmáticos.

Figura 6 - Principais séries magmáticas e produtos de fusão crustal lançados no diagrama QAP.
Fig. 6 - - Principais séries magmáticas e produtos de fusão crustal lançados no diagrama
Mineralogicamente, as séries cálcio-alcalinas baixo-K, mostram rochas basálticas com
QAP.
fenocristais de plagioclásio, olivina, augita,  óxido de Fe-Ti, atingindo importância a pigeonita
em basaltos mais ricos em sílica. Nas séries cálcio-alcalinas mais potássicas aumenta a
abundância de olivina, augita, ortopiroxênio, hornblenda e óxidos de Fe e Ti. Biotita e sanidina
podem ocorrer nos termos intermediários.
No diagrama TAS ocupam os campos das rochas subalcalinas (basaltos-andesitos-
dacitos-riolitos). O caráter fortemente aluminoso dos basaltos cálcio-alcalinos (Al2O3  171) foi
já referido. No diagrama de Peacock as rochas da série cálcio-alcalina plotam no campo
correspondente, evoluindo para álcali-cálcicas com o aumento de K. Elementos como Sr, Ba,
Rb e Terras Raras leves correlacionam-se positivamente com o K, mostrando enriquecimento da
série baixo para a alto-K. Já elementos de elevado potencial iônico como Ti, P, Zr, Nb e Terras
raras pesadas, apesar de mostrarem tendência a leve enriquecimento, mantém valores abaixo
dos encontrados em rochas de afinidade alcalina. Sua composição normativa indica a
supersaturação em sílica. A presença de ortopiroxênio entre a mineralogia modal levou alguns
autores a denominar esta série de série dos basaltos com hiperstênio.
Essas séries caracterizam o magmatismo de arco, e a evolução do mesmo,
refletida no aumento do conteúdo de K. São também descritas, no que se refere aos termos
graníticos, em ambientes pós-colisionais (Harris et al. 1986, Liégeois 1998).
402
CAPÍTULO 17 - SÉRIES ALCALINAS

17.1 - SÉRIE ALCALINA SUBSATURADA EM SÍLICA

Ocupa o campo correspondente no diagrama QAPF, sendo característica a presença


modal e normativa dos feldspatóides, com a consequente ausência de quartzo seja modal ou
normativo. Podem ser classificadas como potássicas (ou ultrapotássicas) ou sódicas de acordo
com diferentes critérios (Peccerillo, 1992).
No diagrama TAS posicionam-se nos campos das rochas subsaturadas em SiO 2,
mostrando forte enriquecimento em álcalis (Na2O + K2O) e reduzida variação dos conteúdos de
sílica. São frequentes os tipos peralcalinos ((Na2O + K2O)Al2O3 PROPORÇÃO MOLAR). Utilizando
os parâmetros de Peacock (1931) estas rochas classificam-se em geral como alcalinas. De
modo geral apresentam forte enriquecimento em elementos litófilos de elevado potencial iônico
como Ti, P, Zr, Nb, Terras raras pesadas em relação aos de potencial iônico baixo (Ba, Sr, Rb,
Pb ...).

17.2 - SÉRIE ALCALINA SÓDICA SATURADA EM SÍLICA

Esta série que, por diferenciação evolui para termos supersaturados, localiza-se, em
termos de composição modal nos campos de gabros, sienitos, quartzo sienitos, feldspato
alcalino granitos e granitos do diagrama QAPF. Piroxênios e anfibólios sódicos, titano-augita,
ferro-hedenbergita são minerais ferromagnesianos típicos desta série. No diagrama TAS ocupa
o campo das rochas saturadas em sílica (traquibasaltos, traquiandesitos basálticos,
traquiandesitos, traquitos (qz < 20%), traquidacitos ( qz > 20%) e riolitos). Quando cumpre a
condição de apresentar valores de (Na2O + 2  K2O), é considerada sódica e seus termos
vulcânicos recebem os nomes de hawaiitos, mugearitos, benmoreítos e riolitos (Le Maitre
2002). Essas rochas são em geral metaluminosas ou peralcalinas. Embora exista uma
tendência de enriquecimento dos elementos de alto potencial iônico, especialmente nos termos
peralcalinos, são frequentes padrões composicionais de elementos traços similares aos
encontrados nas demais séries. Os granitos desta série são em geral metaluminosos (Nardi
1991) ocorrendo com grande abundância principalmente em ambientes pós-colisionais,
anorogênicos ou em arco continental maturo.

403
17.3 - SÉRIE SHOSHONÍTICA OU ALCALINA POTÁSSICA

As rochas da série shoshonítica ou alcalina potássica saturada em sílica, são


dominantemente gabros, dioritos, monzodioritos, monzonitos, quartzomonzonitos e granitos, ou
seus correspondentes vulcânicos, definindo no diagrama QAPF o denominado trend
monzonítico. Os basaltos mostram fenocristais de olivina, augita-diopsídio e óxidos de Fe e Ti.
Plagioclásio torna-se importante nos termos intermediários. No diagrama TAS elas distribuem-
se ao longo dos campos das rochas alcalinas saturadas em sílica, cumprindo no entanto a
condição (K2O+2)  Na2O e K2O\Na2O < 2,0 e sendo denominadas quando extrusivas
traquibasaltos potássicos, shoshonitos e latitos, além dos traquitos e riolitos. De acordo com o
critério sugerido por Peacock elas são álcali-cálcicas e de acordo com os parâmetros de Shand
são geralmente metaluminosas. A abundância em Sr, Ba, Rb e outros elementos litófilos de baixo
potencial iônico, além de Terras Raras leves (La, Ce, Nd), em relação aos elementos litófilos de
elevado potencial iônico (Zr, Ti, P, Nb, Y, Terras Raras Pesadas) é importante característica das
rochas de afinidade shoshonítica. Ressalte-se ainda que a razão K2O\Na2O elevada, é indicativa
de afinidade shoshonítica em séries saturadas, apenas para os termos básicos e intermediários;
os termos mais diferenciados (SiO2 > 63% em peso) não apresentam enriquecimento relativo em
K.
As séries alcalinas saturadas em sílica que possuem razões K2O/Na2O
superiores a 2,0 (Fig. 4) para os termos básicos e intermediários, foram excluídas das
shoshoníticas por Pla Cid et al. (2000), sendo sugerido o nome (2.4) série alcalina
ultrapotássica saturada em sílica.
As rochas das séries shoshoníticas ocorrem dominantemente em ambientes de
arco magmático continental maturo e pós-colisionais, sendo as da série alcalina ultrapotássica
saturada em sílica, de ocorrência restrita e provavelmente relacionadas com ambientes pós-
colisionais e anorogênico continental.

17.4 - ASSOCIAÇÃO LEUCOCRÁTICA PERALUMINOSA

As rochas produzidas por fusão crustal podem ser composicionalmente indistinguíveis


de algumas das derivadas da diferenciação de magmas basálticos ou andesíticos listadas
anteriormente. Associações assim geradas, são susualmente compostas por granitos e
granodioritos, estando ausentes termos intermediários ou básicos cogenéticos. Em geral
fusões crustais geram magmas leve ou fortemente peraluminosos, de composição granítica e
leucocrática (Montel & Vilzeuf 1997, Skjerlie & Johnston 1996, Stevens et al. 1997), o que
404
adequa-se com a denominação sugerida. Micas e granada almandina são minerais muito
frequentes. Fusões de metapelitos tem como produto típico fusões com mais de 5% de
coríndom normativo, frequentemente gerando cordierita granitos. Fusões de ortognaisses
geram magmas graníticos composicionalmente similares aos granitóides leucocráticos cálcio-
alcalinos médio a alto-K. Termos tonalíticos ou até quartzo dioríticos poderiam ser derivados da
fusão de rochas básicas metamorfizadas, de composição anfibolítica, em condições de
temperatura excepcionalmente elevada, como as estimadas na crosta arqueana ou paleo-
proterozóica. Produtos de fusão crustal tendem, de modo geral, a ser empobrecidos em
elementos litófilos de elevado potencial iônico (Zr, Ti, Terras Raras pesadas, Nb, Y) e em
elementos que se enriquecem relativamente em plagioclásios como Sr e Eu. Essas
associações ocorrem principalmente em ambientes de colisionais, sin a pós-colisionais ou de
arco magmático evoluídos.

405
CAPÍTULO 18 - SÉRIES DE CRISTALIZAÇÃO FRACIONADA

A maioria dos magmas basálticos é considerada como originada de fusão parcial do


manto superior. Como a primeira aproximação, a composição química e a mineralógica das
rochas constituintes do manto superior é interpretada como relativamente homogêneas, sendo 3/
4 de rocha peridotítica de composição utlramáfica, que é composta de olivina, ortopiroxênio,
clinopiroxênio e granada, e 1/4 de rocha eclogítica de composição máfica, de clinopiroxênio e
granada. Tal composição hipotética do manto superior é chamada por Ringwood como pirolito. As
condições físicas da fusão parcial, tais como temperatura, pressão, etc., também são pouco
variáveis. Portanto, os magmas formados diretamente pela fusão parcial, denominado de magma
primário, possuem sua composição química relativamente pouco variável. Um forte candidato do
magma primário é magma basáltico. Por outro lado, existe também a opinião de que este
magma basáltico, aparentemente primário, já é produto de cristalização fracionada e, o magma
primário de verdade é magma picurítico, que é mais máfico do que o magma basáltico.
Dentro das rochas basálticas, há certos grupos que contêm poucos fenocristais. Esta
textura, denominada afírica, sugere que o referido magma passou o processo apenas incipiente
de cristalização fracionada na crosta terrestre (Fig.
4.1). O fato indica que o magma gerado no manto
superior ascendeu-se rapidamente dentro da
crosta até a superfície da Terra em curto espaço
de tempo. Portanto, a composição química deste
basalto pode ser próxima à do magma primário.

406
Por outro lado, existem determinadas rochas basálticas que contêm xenólitos de
rochas ultramáficas cuja composição mineralógica é caracterizada por alta abundância de
olivina (Fig. 4.2). Estes xenólitos, chamados popularmente como nódulos, são considerados
fragmentos do manto capturados pelo magma basáltico. As rochas ultramáficas do manto têm
peso específico maior do que o magma e portanto os xenólitos, sobretudo de tamanho grande,
tendem a afundar rapidamente no magma, não chegando até a superfície. A presença destes
xenólitos dentro de lava basáltica implica na ascensão rápida do magma, não havendo tempo
para afundar os xenólitos. Considera-se que tal tipo de basalto possui sua composição próxima
à do magma primário.

Após a geração, os magmas primários são submetidos ao processo de evolução


química principalmente por meio de resfriamento e conseqüente cristalização dos minerais. Em
modo muito grosso, os processos de evolução magmática são similares em qualquer região do
mundo.
Desta forma, a composição química de rochas ígneas é relativamente limitada. Como
por exemplo, existem as rochas sedimentares e as metamórficas compostas quase
inteiramente de sílica, tais como arenito e quartzito. Entretanto, não se encontram rochas
ígneas de tal composição (Tabela 4.1). Durante o resfriamento, o magma evolui quimicamente
de várias formas, de acordo com a composição química do magma primário, pressão, teor de
fluídos, etc. Devido à diversidade dos fracionamentos magmáticos, as rochas ígneas formam
séries de cristalização fracionada.

407
18.1 - MAGMA PRIMÁRIO BASÁLTICO

Acredita-se que a composição química do magma primário é basáltica, ou seja, máfica.


Este conceito, ou seja, a hipótese de trabalho, não implica diretamente que o magma gerado
primeiramente no manto é de composição basáltica. Dentro do manto, podem ocorrer vários
fenômenos que podem modificar a composição do magma. Entretanto, quando o magma sai do
manto e entra na crosta, a sua composição é basáltica.
O basalto é a rocha vulcânica mais freqüentemente encontrada no mundo. Seja de
qualquer região do mundo, as rochas basálticas que ocorrem em grande escala possuem sua
composição química similar, até certo nível (Tabela abaixo). Portanto, estima-se que a
composição do magma primário é similar a das rochas basálticas afíricas e/ou as rochas
basálticas com xenólitos do manto. Porém, estima-se que os teores de SiO2, Na2O e K2O são
pouco inferiores, o de MgO é pouco superior e, a proporção FeO*/MgO é pouco inferior. A
expressão FeO* corresponde ao ferro total recalculado como FeO. O teor de SiO2 do magma
primário é estimado como sendo um pouco superior a 45%, mas significativamente inferior a
50%, e a sua temperatura é de cerca de 1200 °C. De fato, as rochas ígneas com teor de SiO2
inferior a 45%, denominadas rochas
ultrabásicas, são muito raras.
A composição do magma primário é
obviamente diferente daquela da rocha do
manto, que é ultramáfica. Durante a fusão
parcial do manto, os elementos com raio iônico
grande, tais como K +, Na+, Ca2+, etc.,
denominados elementos incompatíveis, são
extraídos preferencialmente para formar o
magma. Portanto, o magma possui maior teor
de SiO2, Na2O e K2O, menor teor de FeO* e
MgO, e maior proporção de FeO*/MgO do que a
rocha original do manto. Isto é, o magma é mais
félsico do que a rocha do manto. Por outro lado,
a rocha do manto remanescente da fusão
parcial é empobrecida nesses elementos. O
manto constituído por uma típica rocha com
esta característica química é denominado
manto depletado.
408
Durante a cristalização do magma por meio de resfriamento, os elementos
incompatíveis tendem a permanecer no líquido, e não, entrar nos minerais cristalizados. Os
primeiros minerais cristalizados a partir do magma geralmente afundam em direção à base da
câmara magmática, e portanto, os elementos incompatíveis tendem a se concentrar no magma
residual. Desta forma, o magma é enriquecido em SiO2, Na2O e K2O, e empobrecido em FeO*
e MgO, ou seja, se torna mais félsico, e aumenta na proporção FeO*/MgO. A evolução química
do magma por meio de resfriamento e conseqüente cristalização é denominado cristalização
fracionada.
Este fenômeno é muito importante em discussões de composição química e
mineralógica de rochas ígneas. Tanto na fusão parcial, quanto na cristalização fracionada, a
composição química do magmas evolui de máfica para félsica. Considerando a composição
química do manto, ultramáfico, da crosta oceânica, máfica, e da crosta continental, félsica, se
deduz que a crosta oceânica é gerada a partir da fusão parcial do manto, e a crosta continental
é formada por meio dos complexos processos que envolvem a refusão da crosta continental
antiga e da crosta oceânica. De qualquer forma, todas as rochas da crosta, tanto continental
quanto oceânica, passaram pelo menos uma vez a experiência de fusão.

18.2 - SÉRIE CÁLCIO-ALCALINA E MODELO DE BOWEN

Os minerais que se cristalizam no estágio inicial do resfriamento do magma primário


basáltico, tais como olivina e plagioclásio cálsico, contêm alto teor de MgO, FeO e CaO.
Portanto, o magma residual se torna empobrecido nestes componentes, e enriquecido em sílica
(SiO2) e álcalis (Na2O, K2O) por efeito relativo. Decorrente da evolução magmática pelo
resfriamento, as rochas ígneas originadas de magmas em estágio avançado de cristalização
fracionada possuem baixo teor de minerais máficos. Desta forma, o índice de cor é utilizado
como um importante indicador semiquantitativa da temperatura do magma. Através da cristali
zação fracionada, o magma é fracionado de alto índice de cor para baixo índice de cor, ou seja,
de melanocrática para leucocrática.
A evolução química por meio de cristalização dos minerais de acordo com o esquema
acima citada é denominada a série Ca-alcalina. Na cristalização fracionada desta série, o
primeiro mineral máfico que se cristaliza é a olivina magnesiana ((Mg,Fe)2SiO4), como crisolita
(Fo70-90) ou forsterita (Fo90-100). Este mineral é altamente máfico no sentido químico e denso no
sentido físico, e portanto, afunda rapidamente na base da câmara magmática, retirando
magnésio e ferro do sistema. Através do afundamento de olivina, o magma residual se torna
mais félsico, ou seja, menos máfico.
409
Quando o magma se resfria até a temperatura denominada temperatura da reação, ou
seja, temperatura cotéctica, os grãos de olivina cristalizada reagem com a parte líquida do
magma, denominada “melt”, transformando-se em ortopiroxênio. O ortopiroxênio
comumente encontrado nas rochas basálticas com teor de SiO2 entre 45~52% possui Fe/Mg
ligeiramente superior a 1 (En70-50), denominado hiperstênio ((Mg,Fe)2Si2O6)). Em alta
temperatura, a olivina magnesiana é físico-químicamente estável, porém, em baixa
temperatura, com SiO2 suficiente, torna instável. Por isso, na temperatura da reação, a olivina
absorve a sílica presente no melt, e se transforma em ortopiroxênio. Nas lâminas delgadas,
observa-se que os fenocristais de olivina magnesiana presentes em certas rochas basálticas
são transformados em hiperstênio na sua margem ou ao longo das fraturas. Esta textura é
denominada borda de reação ou englobamento (Figura 3). O sistema físico-químico que
envolve a reação acima citada é denominado fusão incongruente (Figura 4). Desta forma, o
mineral máfico cristalizado muda de olivina para ortopiroxênio.
Em estágio mais avançado, ou seja, de temperatura do magma mais baixa, a
cristalização de clinopiroxênio (Ca(Mg,Fe)Si2O6) assumi o lugar de ortopiroxênio e a
composição do magma evoluem a ser para mais félsica. O clinopiroxênio comumente
encontrado nas rochas basálticas e andesíticas é augita (Ca(Mg,Fe)Si2O6)) com proporção
Fe/Mg em torno de 1. Junto com a elevação de SiO2, a proporção de FeO*/MgO do magma e
dos minerais cristalizados aumenta através do avanço de cristalização fracionada. Estes
parâmetros são importantes indicadores químicos semiquantitativa da temperatura do magma.
Concomitantemente com a cristalização dos minerais máficos, ocorre também a
cristalização de plagioclásio. Este mineral forma um sistema de solução sólida contínua entre
albita (NaAlSi3O8) e anortita (CaAl2Si2O8). O plagioclásio cálcico (labradorita, An50-70, bytonita
An70-90) é o único mineral félsico que se cristaliza nos magmas basálticos. Através da
cristalização fracionada, o plagioclásio evolui-se para ser mais sódico, sendo labradorita (An50-
). A composição química de plagioclásio também é um importante indicador de temperatura
70

do magma.
Com a redução da temperatura magmática, cristaliza-se anfibólio no lugar de
clinopiroxênio. O anfibólio comumente encontrado nas rochas andesíticas é hornblenda
(Ca(Mg,Fe)5Si8O22(OH)2, etc.; a composição de hornblenda é muito complexa), com teor de
ferro superior ao de magnésio. O mineral félsico que se cristaliza continua sendo plagioclásio,
mas, sua composição se torna mais sódica (andesina, An30-50). O teor de SiO2 neste estágio
está na faixa de 52~66% (composição intermediária) e a rocha vulcânica correspondente é
andesito.

410
Em estágio mais avançado, inicia-se a cristalização de biotita, chamada popularmente
de mica preta, como mineral máfico principal. A biotita comumente encontrada nas rochas
dacíticas e riolíticas é annita (K(Mg,Fe)3Al2Si8(OH)4, etc.; a composição de biotita é complexa),
com teor de ferro muito superior ao de magnésio. Paralelamente, cristalizam-se os minerais
félsicos, tais como feldspato potássico (KalSi3O8) e quartzo (SiO2), com eventual presença de
muscovita (mica branca de alumínio). O plagioclásio cristalizado neste estágio é sódico
(oligoclásio, An10-30).

411
Entretanto, no estágio final, cristalizam-se feldspato potássico, quartzo e plagioclásio
sódico (andesina, An10-30). O teor de SiO2 neste estágio é alto, sendo acima de 66%
(composição ácida). As rochas ácidas, tais como granito, granodiorito, riolito e dacito são
específicas do Planeta Terra, sendo parte constituinte da crosta continental.

Em 1928, N.L. Bowen apresentou um modelo de evolução magmática conforme a


explicação acima, com base nos ensaios físico-químicos e observações de rochas ígneas
naturais. Segundo o modelo dele, todas as variedades de rochas ígneas são derivadas a partir
de um único magma primário de composição basáltico. A variedade química de rochas ígneas
é devida à diferenciação por meio de cristalização fracionada a partir do magma primário
basáltico (Fig. 5). Ele esclareceu a existência de reações físico-químicas entre o magma e os
minerais cristalizados, denominada de princípio de reação, e propôs duas séries de reação em
função do resfriamento magmático: séries descontínua e contínua.
A série descontínua é observada na cristalização dos minerais máficos. Conforme as
explicações acima citadas, durante o resfriamento magmático o mineral máfico em flutuação no
magma se torna instável e reage com o magma (melt) para formar um outro mineral máfico,
que é estável em temperatura mais baixa. Ele considerou que a cristalização seqüencial de
olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio, hornblenda e biotita é devida a este fenômeno. A reação

412
da olivina com o melt residual já foi comprovada através das observações de textura de
englobamento, ou seja, borda de reação em lâminas delgadas e dos ensaios físicos no
laboratório.
Entretanto, a mesma reação entre outros minerais máficos ainda não foi confirmada. A
série contínua é observada na cristalização de plagioclásio. Durante o resfriamento magmático,
este mineral é cristalizado em uma ampla faixa de estágios, variando sua composição química,
de cálcica para sódica, formando textura de zoneamento (Fig. 6). Isto é, a parte central dos
cristais de plagioclásio é relativamente cálcica, e a borda é sódica, com passagem geralmente
gradativa. Este fenômeno está de acordo com o princípio de sistema de solução sólida (Fig. 7).

413
Desta forma, Bowen tentou explicar as variedades químicas de rochas ígneas
presentes no mundo inteiro por meio de um único processo de evolução magmática: por meio
da cristalização fracionada, o magma primário basáltico (gabróico) evolui-se para andesítico
(diorítico), dacítico (granodiorítico) e riolítico (granítico), aumentando SiO 2, Na2O, K2O e
diminuindo MgO, FeO e CaO. De fato, nem todas as rochas ígneas seguem ao modelo de
Bowen. Mesmo assim, o presente modelo é importante para interpretar a variação química das
rochas eruptivas de vulcões da região de cordilheiras e arcos de ilhas. Hoje em dia, as rochas
ígneas com composição de acordo com o modelo de Bowen são classificadas como uma das
séries principais de evoluções magmáticas, denominada de série Ca-alcalina.
No magma residual, junto com os elementos incompatíveis, ocorre a concentração de
materiais voláteis, tais como H2O, H2S, CO2, B, Cl, F, etc. Com o auxílio das atividades
físicoquímicas dos materiais voláteis, sobretudo de H2O, o magma aumenta fluidez e pode
manter o estado líquido mesmo em baixa temperatura como 500°C. Tal magma é denominado
magma pegmatítico. No caso do magma comum, ortomagma, a temperatura mínima é de cerca
de 600°C. Certos tipos de pegmatito demonstram textura de complexa interdigitação entre
quartzo e feldspato potássico (microclina), denominada textura gráfica (Fig. 8). Essa textura é
formada a partir da cristalização dos dois minerais no ponto eutético (Fig. 9). O magma
pegmatítico contem, em alta concentração, vários elementos incompatíveis tais como U, Th, Zr,
REE (elementos terras raras), Be, Bi, Li, etc., formando eventualmente depósitos minerais. O
resfriamento de magma pegmatítico forma a rocha constituída por cristais muito grandes, de
escala centimétrica a decimétrica, denominada pegmatito. Os principais minerais constituintes
são feldspato potássico (microclina, KalSi3O8), quartzo (SiO2), plagioclásio altamente sódico
(albita, An0-10) e pequena quantidade de biotita e muscovita. O índice de cor é geralmente
inferior a 5, freqüentemente próximo ao zero, sendo altamente leucocrático. O aplito também é
uma rocha originada de magma granítico residual, com granulometria de 1 a 3 mm, composta
de feldspato potássico e outros minerais, ocorrendo na forma de diques de largura decimétrica.
Certos livros de geotecnia opinam que os minerais cristalizados em estágio inicial da
série de Bowen são frágeis à alteração intempérica e os em estágio final são mais resistentes,
tentando relacionar a fragilidade intempérica com a temperatura de cristalização. De fato, a
olivina é frágil e quartzo é resistente. Entretanto, esta opinião não é baseada nas pesquisas
petrológicas e mineralógicas. Como por exemplo, a biotita se cristaliza no estágio posterior ao
da augita, porém, é muito mais frágil. O zircão que se cristaliza em temperatura muito alta é um
dos mais resistentes, sendo em contrapartida, a nefelina que se cristaliza no último estágio da
série alcalina é a mais frágil.

414
A resistência depende da estrutura cristalina e composição química de cada mineral, e
não, da temperatura de cristalização.

415
18.3 - SÉRIE ALCALINA E NÃO-ALCALINA

O modelo de Bowen é baseado nos seguintes três princípios: 1) único magma primário
de composição basáltica; 2) evolução química por única série de cristalização fracionada; 3)
série descontínua por fusão incongruente (Tabela abaixo). Bowen considerou que todas as
variedades químicas de rochas ígneas do mundo, com apenas poucas exceções, são formadas
de acordo com o modelo dele, inclusive imenso volume de rochas graníticas das regiões
continentais.
Certamente, um grande número de ocorrências mundiais de rochas ígneas presente
nas regiões continentais estão concordantes com o modelo de Bowen, isto é, da série Ca-
alcalina. Entretanto, de fato, existem certas rochas ígneas cuja composição química não está
de acordo com a teoria de Bowen. Este fenômeno é devido principalmente à existência de: 1)
mais de um tipo químico de magma primário; 2) mais de um processo de cristalização
fracionada. De fato, existem vários tipos de magmas primários e diversas séries de
cristalização fracionada.

Uma contestação tradicional ao modelo de Bowen foi de Kennedy (1933), que propôs a
existência de dois tipos de magmas primários basálticos: 1) magma primário toleítico ou
magma primário não alcalino; 2) magma primário álcali olivina basáltico ou magma primário
alcalino.
A expressão "toleítica" utilizada por Kennedy corresponde exclusivamente à
composição química de caráter não alcalino. Ele distinguiu quimicamente o magma primário
basáltico não alcalino do mesmo alcalino. A diferença química entre os dois é pequena (Tabela
4.1. A, B), porém, a direção da evolução magmática por meio da cristalização fracionada de
cada um é muito diferente (Tabela 1.E, K). Este fato é devido à grande estabilidade
termodinâmica de feldspatos e olivina magnesiana.

416
Feldspatos, plagioclásio e feldspato
alcalino, são os minerais encontrados em quase
todas as rochas ígneas, sendo os minerais
fisico-quimicamente mais estáveis durante o
processo de cristalização magmática na
profundidade correspondente à crosta terrestre.
Os feldspatos formam um sistema de
soluçãosólida com três principais componentes
terminais (Fig. 10): feldspato potássico
(KalSi3O8; sanidina, ortoclásio e microclina),
albita (NaAlSi3O8; albita de alta temperatura e
de baixa temperatura) e anortita (CaAl2Si2O6).
A albita e a anortita formam a solução-
sólida contínua, denominada de plagioclásio.
Em alta temperatura, o feldspato potássico e a
albita formam a solução-sólida de uma fase
contínua, denominada de feldspato alcalino, porém, em baixa temperatura, não se misturam
bem, separando-se em duas fases, isto é, feldspato potássico e plagioclásio sódico.

417
Durante o resfriamento na crosta, o magma que contem K2O, Na2O, CaO, Al2O3 e SiO2
cristaliza preferencialmente os feldspatos. Por outro lado, olivina magnesiana é o mineral
encontrado somente em rochas ígneas máficas e ultramáficas, sendo o mineral máfico fisico-
quimicamente mais estável. Portanto, o magma que contem MgO e SiO2 cristaliza
preferencialmente a olivina. Desta forma, os primeiros minerais a serem cristalizados a partir do
magma primário basáltico são olivina magnesiana e plagioclásio cálcico.
A composição química dos magmas primários é próxima à mistura de olivina
magnesiana e plagioclásio cálcico. Sob o ponto de vista de equilíbrio de K2O, Na2O e CaO, v.s.
SiO2, existem os magmas que possuem excesso de SiO2 para formar a olivina magnesiana e o
plagioclásio cálcico, denominados de magmas saturados em sílica. Por outro lado, existem
também os que têm SiO2 insuficiente, ou seja, possuem excesso de álcalis, chamados de
magmas subsaturados em sílica. O primeiro tipo corresponde ao magma primário toleítico (não
alcalino) e o segundo tipo, ao magma primário álcali olivina basáltico (alcalino).
Devido à sua alta densidade, a olivina e o plagioclásio cristalizados a partir dos
magmas primários afundam-se na base da câmara magmática, sendo retirados do sistema.
Este fenômeno é chamado de cristalização fracionada. Por causa do efeito relativo, o líquido
residual do magma toleítico (não alcalino) se torna mais saturado em sílica, e o magma álcali
olivina basáltico (alcalino) se torna mais subsaturado. Isto é, através da cristalização
fracionada, a olivina magnesiana e plagioclásio cálcico. Portanto, um magma saturado em
sílica não se fraciona em uma composição subsaturada e, um magma subsaturado não se
fraciona em uma composição saturada (Fig. 4.11; 4.12). Isto é, os magmas saturados e
subsaturados são divididos em dois campos e a divisão destes é denominada barreira térmica.
Confirma-se que a barreira térmica é originada da estabilidade termodinâmica de feldspatos.
Durante o resfriamento do magma primário toleítico de sentido químico (não alcalino),
CaO, MgO e FeO são utilizados para cristalizar olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio,
hornblenda e plagioclásio cálcico. No estágio final, K2O e Na2O são consumidos para cristalizar
feldspatos alcalinos, plagioclásio sódico e biotita. Finalmente, a SiO2 excedente é cristalizada
na forma de quartzo, ou outros minerais de sílica, tais como calcedônia e opala. Desta forma,
as rochas ígneas relacionadas a cristalização fracionada do magma primário toleítico formam
uma seqüência de basalto (gabro) - andesito (diorito) - dacito (granodiorito) - riolito (granito),
denominada de séries não alcalinas. A série de Bowen é uma das séries não alcalinas. A
maioria das rochas ígneas presentes no mundo pertence às séries não alcalinas. Rochas
graníticas da região continental basálticas do fundo do oceano, vulcânicas do arco de ilhas,
etc., são exemplos típicos.

418
419
Por outro lado, no estágio final da cristalização fracionada do magma primário álcali
olivina basáltico (alcalino) evolui-se para enriquecer em K2O e Na2O relativo a SiO2. No estágio
final, a maioria de SiO2 é consumida para formar feldspatos e minerais máficos. Desta forma, o
líquido final se torna rico em K2O e Na2O e pobre em SiO2. Estes componentes são
cristalizados na forma de feldspatóides, representados por nefelina.
No século XIX, o termo feldspatóide era utilizado para representar quaisquer minerais
félsicos quimicamente similares a feldspato, sendo compostos de sílica, álcalis e alumina,
porém, cristalograficamente diferentes. Entretanto, no sentido da petrologia moderna, os
feldspatóides correspondem exclusivamente aos minerais félsicos que contêm alto teor de
álcalis (K2O e Na2O) e baixo teor de SiO2 em relação a feldspatos, tais como nefelina
(NaAlSiO4), leucita (KAlSi2O6) e kaliofilita (KAlSiO4). Neste sentido, a petalita não deve ser
considerada como um feldspatóides. Os feldspatóides são minerais raros, caracterizantes de
rochas alcalinas típicas.
As rochas ígneas originadas da cristalização fracionada do magma primário álcali
olivina basáltico formam a seqüência de álcali olivina basalto (álcali olivina gabro) - tefrito
(nefelina monzonito) - fonolito (nefelina sienito), ou de álcali olivina basalto (álcali olivina gabro)
- havaiito (monzodiorito) - mugeaurito (monzonito) - traquito (álcali sienito). Essas seqüências
são denominadas da série alcalina (Tabela 4). O diagrama SiO2 v.s. K2O+Na2O em
porcentagem de peso demonstra a diferença química das rochas das séries alcalina e não
alcalina. Normalmente, as rochas da séries não alcalinas e as da série alcalina ocorrem em
regiões tecnicamente diferentes, formando províncias petrográficas individuais. Nas ilhas
oceânicas, encontram-se álcali olivina basalto na forma de lavas. Na região litorânea dos
Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, encontram-se rochas nefelina sieníticas na forma de
stocks. A intrusão destes corpos sieníticos ocorreu na época da formação de rifte continental,
relacionada à separação do Supercontinente Pangea no início do Cretáceo.
Conforme a explicação anterior, os feldspatos são minerais termodinamicamente mais
estáveis em rochas ígneas. Durante o resfriamento de magmas basálticos, este mineral se
cristaliza prioritariamente, consumindo sílica, álcalis e alumina. Portanto, a evolução magmática
por meio da cristalização fracionada ocorre sempre para que a composição química do magma
residual se afaste da composição dos feldspatos. Desta forma, minerais de sílica, como
quartzo, e feldspatóides, como nefelina, não podem ocorrer dentro da mesma rocha ígnea em
equilíbrio.
Os feldspatos possuem a composição intermediária entre sílica e feldspatóides, e
portanto, podem coexistir tanto com minerais de sílica quanto com feldspatóides. Para um
magma de composição NaAlSi3O8, a cristalização de albita (um feldspato; NaAlSi3O8) é mais
420
estável do que a de quartzo (SiO2) e nefelina (um feldspatóide; NaAlSiO4) separados (Fig. 13).
Isto é, a barreira térmica de feldspatos separa as composições saturada e subsaturada em
sílica. Devido à mesma razão, os feldspatóides e ortopiroxênio são incompatíveis. Isto é, os as
rochas originadas dos magmas da série alcalina não possuem minerais de sílica e
ortopiroxênio, como quartzo e hiperstênio.

Por outro lado, a cristalização de enstatita (um ortopiroxênio; Mg 2Si2O6) é mais estável
do que forsterita (olivina magnesiana; Mg2SiO4) e quartzo separados, portanto, os minerais de
sílica e olivina magnesiana também são incompatíveis em equilíbrio. A incompatibilidade
termodinâmica entre quartzo e olivina magnesiana não é devida à barreira térmica, mas sim, à
fusão incongruente. Entretanto, a olivina de ferro (fayalita; Fe2SiO4) é compatível com quartzo.
Desta forma, a enstatita subdivide a composição saturada em duas subcategorias:
supersaturada (rica em sílica, lado de quartzo); saturada (pobre em sílica, lado de olivina).
Yoder & Tilly (1962) visualizou a relação entre a composição química das rochas subsaturadas,
saturadas e supersaturadas, utilizando o diagrama tetraédrico de diopsídio (di) - olivina (ol) –
nefelina (ne) - quartzo (Q), denominado de sistema simplificado de magmas basálticos (Fig.
3.23). Os teores relativos dos minerais citados neste diagrama não são da moda (quantidade
volumétrica dos minerais constituintes reais), mas sim, da norma CIPW. A norma é a
composição mineralógica hipotética das rochas ígneas, que é calculada a partir de suas compo
421
sições químicas completas segundo a fórmula matemática definida por Cross, Iddings, Pirsson
e Washington (1902).
Neste diagrama, tanto o magma primário toleítico (não alcalino) quanto álcali olivina
basáltico situam-se na proximidade do plano triangular olivina (ol) - plagioclásio (ab+an) -
diopsídio (di). A olivina (ol), o plagioclásio (ab+an) e o diopsídio (di) apresentados neste
diagrama correspondem respectivamente às somas normativas de forsterita (fo) e fayalita (fa),
de albita (ab) e anortita (an), e de diopsídio (di) e hedenbergita (hd), representando
respectivamente olivina magnesiana, plagioclásio cálcico e clinopiroxênio. O hiperstênio (hy),
situado na linha entre a olivina e o quartzo, corresponde à soma normativa de enstatita (en) e
ferrossilita (fs). Este componente representa ortopiroxênios. O quartzo (Q) e a nefelina (ne)
representam respectivamente todos os minerais de sílica e feldspatóides.
O magma primário toleítico, não alcalino, situa-se na proximidade do plano triangular
acima citado, dentro do tetraedro hiperstênio (hy) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio
(di), e o magma primário álcali olivina basáltico situa-se também na proximidade do plano
triangular, porém, dentro do tetraedro nefelina (ne) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) -
diopsídio (di). Os três minerais, olivina magnesiana, plagioclásio e clinopiroxênio, que
constituem o divisor central, são os primeiros a serem cristalizados a partir dos magmas
primários basálticos. Através da retirada desses minerais por meio da cristalização fracionada,
os magmas residuais se evoluem em direções opostas afastando-se do plano triangular, isto é,
este triângulo funciona como barreira térmica. Os magmas subsaturados em sílica, tal como de
álcali olivina basalto, se encaixam no tetraedro (esquerdo) composto de nefelina (ne),
plagioclásio (ab+an), olivina (ol) e diopsídio (di), e os magmas saturados em sílica, tais como
os toleíticos, ou seja, não alcalino, no tetraedro (direito) composto de quartzo (Q), plagioclásio
(ab+an), olivina (ol) e diopsídio (di). Esta divisão é baseada na incompatibilidade entre quartzo
e nefelina. Por outro lado, com base na incompatibilidade entre quartzo e olivina magnesiana, o
segundo tetraedro (Q - ab+an - ol - ne) é subdividido pelo plano triangular composto de
hiperstênio (hy), plagioclásio (ab+an) e diopsídio (di).
Desta forma, Yoder & Tilly (1962) dividiram composições químicas de magmas em três
domínios tetraédricos: 1) domínio subsaturado em sílica, nefelina (ne) - plagioclásio (ab+an) -
olivina (ol) - diopsídio (di), ou seja, com nefelina normativa; 2) domínio saturado em sílica,
hiperstênio (hy) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio (di), ou seja, com olivina e
hiperstênio normativos; 3) domínio supersaturado em sílica, quartzo (Q) - hiperstênio (hy) -
plagioclásio (ab+an) - diopsídio (di), ou seja, com quartzo normativo.
Rochas da série alcalina, tais como álcali olivina basalto, são, a princípio, projetadas no
domínio subsaturado, rochas basálticas das séries não alcalinas no domínio saturado, e rochas
422
félsicas da séries não alcalinas no domínio supersaturado. O magma álcali olivina basáltico
possui nefelina normativa, entretanto, nem todas as rochas com nefelina normativa contém
este mineral como constituinte real (modal). Normalmente, o estado termodinâmico de rochas
ígneas, sobretudo as de granulometria grossa, está próximo ao equilíbrio físico-químico, porém,
não perfeitamente. Portanto, apesar de possuir a potencialidade química de cristalizar
feldspatóides, certas rochas que se situam na proximidade da barreira térmica não contém
nefelina modal. A nefelina modal aparece nas rochas da série alcalina mais fracionadas.
Devido à barreira térmica, os magmas primários toleítico (não alcalino) e álcali olivina basáltico,
apesar da pequena diferença química, se evoluem em direções opostas, fracionando-se em
magmas félsicos com composições químicas completamente diferentes.
Na realidade, comportamentos químicos de magmas naturais não são tão simples.
Como por exemplo, certos magmas que se situam na proximidade da barreira térmica dentro
do domínio saturado demonstram evolução magmática da série alcalina. O fato é devido à
projeção incorreta da composição de plagioclásio. Neste diagrama, o plagioclásio é localizado
exatamente em cima da linha entre quartzo (SiO2) e nefelina (NaAlSiO4). Entretanto, o que se
situa exatamente neste ponto é a albita (NaAlSi3O8), que é um componente final de
plagioclásio. Porém, a anortita (CaAl2Si2O8), que é outro componente final, não se localiza
nesta linha. O plagioclásio cristalizado a partir dos magmas primários é cálcico, com alto teor
de componente de anortita, entretanto, este diagrama tetraédrico não está capacitado para
representar a composição de anortita.
Apesar dos pequenos problemas, o presente diagrama representa bem a essência do
conceito de saturação em sílica, ou seja, saturação de álcali-sílica. O basalto de composição
toleítica e alcali olivina basáltica não são fáceis de serem distinguidos por observação
macroscópica. O basalto que tem fenocristais de olivina tende a ser álcali olivina basalto,
porém, há poucos exemplos de basalto não alcalino com fenocristais de olivina e de álcali
olivina basalto sem fenocristais de olivina. A expressão "alcali olivina" indica a composição
química de caráter alcalino, e não necessariamente a presença de fenocristal de olivina.
Eventualmente, álcali olivina basalto possuem xenólitos de rocha do manto, tais como dunito e
lherzorito (Fig. 2). Este fenômeno é muito raro em basalto toleítico. A composição química de
alcali olivina basalto de textura afírica tende a ser de composição tipicamente basáltica, com
SiO2 em torno de 48%. Por outro lado, a composição de basalto toleítico de textura afírica tende
a ser com SiO2 mais alto, em torno de 52%, correspondendo ao limite entre basalto e andesito.
Portanto, a densidade de álcali olivina basalto tende a ser maior do que a de basalto toleítico.

423
Em observação microscópica, o basalto que contem nefelina é certamente álcali olivina
basalto. Porém, há muitos casos que álcali olivina basalto apresenta-se sem nefelina modal. O
basalto que contem ortopiroxênio, normalmente hiperstênio, é certamente basalto toleítico. Em
alguns casos, álcali olivina basalto tem fenocristais de titano-augita. Este clinopiroxênio é
caracterizada por textura hour-glass, ou seja, relógio de vidro (Fig. 14A) e cor de extinção
anômala, geralmente de coloração azul escuro. Na massa fundamental, pode-se observar
titano-magnetita, caracterizada pelo hábito dendrítico (Fig. 14B). Tanto titano-augita, quanto
titano-magnetita, são atribuídas ao teor alto de TiO2 em comparação com o de SiO2, porém,
este é apenas uma característica secundária. As rochas basálticas pouco fracionado, derivadas
do magma álcali olivina basáltico, têm feldspato alcalino.

As rochas félsicas da série alcalina, tal como fonolito, possuem orientação de


feldspatos alcalinas, denominada textura traquítica (Fig. 14C). A textura similar, caracterizada
por orientação de plagioclásio, é observada em determinadas rochas basálticas da série
alcalina. O basalto com tal textura, denominado basalto traquítico, é chamado eventualmente
por alguns geólogos como basalto alcalino. Entretanto, a orientação de plagioclásio, na
realidade, representa o fluxo magmático, e não, a composição química, sendo assim, comum
também em rochas toleíticas.
Além disso, a expressão "basalto alcalino" não é muito recomendada devido à sua
definição ambígua. Com a exceção de presença de nefelina, quartzo ou ortopiroxênio, as
características ópticas acima citadas são apenas indícios de alcali olivina basalto e basalto
toleítico. Portanto, a exata definição deve ser tomada pela análise química.

424
A diferenciação composicional entre os magmas primários toleítico e alcali olivina
basáltico é interpretada como devida à diferença de pressão, ou seja, profundidade, da fusão
parcial do manto. O lherzolito encontrado em kimberlito como xenólito, chamado popularmente
de nódulo, é interpretado como a rocha peridotítica representativa do manto.
Os ensaios de fusão artificial
desta rocha ou dos materiais artificiais
simuladores da rocha peridotítica do
manto mostram que o primeiro líquido
da fusão parcial na pressão de 1Gp, ou
seja de 10kb, é saturada em sílica e na
pressão cerca de 3Gp, 30 kb, é
subsaturada em sílica. O fato indica
que o magma primário toleítico é
gerado à cerca de 1Gp, ou seja de
10kb, de pressão, que corresponde a
30km de profundidade (na proximidade
do ponto A da Fig.15). Enquanto que, o
magma primário álcali olivina basáltico
é formado em locais mais profundos, à
c, 100km de profundidade (na
proximidade do ponto B da Fig. 15).
Entretanto, os fenômenos
naturais são pouco mais complicados.
Conforme a explicação acima citada,
em pressão de 3Gp, o primeiro líquido
da fusão parcial é álcali olivina basáltica. Entretanto, de acordo com o aumento da proporção
da fusão parcial, a composição do líquido muda para ser toleítica. Isto é, mesmo sendo de
profundidade grande, o magma gerado pode ser toleítico, ou seja não alcalino, quando a fusão
é de proporção maior. No caso da fusão em proporção maior ainda, a composição do magma
torna komatiítica, uma rocha ultramáfica. Todos os argumentos acima citados são baseados
em uma hipótese, isto é, o magma primário é gerado a partir da fusão parcial do manto
peridotítico.
Entretanto, na fusão parcial do manto eclogítico, mesmo em profundidade grande a
composição do magma primário é toleítica. Além disso, o teor de SiO2 é relativamente elevada,

425
sendo em torno de 52%, que corresponde ao limite entre basalto e andesito. Tal tipo de
magmatismo ocorre freqüentemente em hot-spots.
Entretanto, existem opiniões de que as profundidades acima apresentadas nem
sempre correspondem diretamente aos locais de geração do magma. Como por exemplo, um
magma primário gerado a 100 km de profundidade a partir de fusão parcial do manto
peridotítico é de composição álcali olivina basáltico. Este magma pode subir lentamente no
manto mantendo o equilíbrio com a rocha encaixante. Neste caso, a composição do magma
muda de acordo com a condição físico-química. Quando este magma chega até a profundidade
de 30km, a sua composição torna toleítica, sendo igual ao do magma primário toleítico gerado
nesta profundidade.
Por outro lado, quando o manto contem minerais hidratados, como flogopita, um tipo de
mica (K(Mg,Fe)3Al2Si8(OH)4), ou seja, em sistema úmido, o magma gerado torna-se
significativamente félsico (baixo teor de ferro e magnésio) e ácido (alto teor de SiO2). Desta
forma, o magma primário gerado mesmo em grande profundidade pode ter sua composição
relativamente félsica. Além disso, há possibilidade de formação de magma primário andesítico
a partir da fusão parcial do manto.
Nas explicações anteriores, a origem do magma primário basáltico foi atribuída à fusão
parcial do manto de composição peridotítica. Entretanto, o manto não é composto puramente
de rochas peridotíticos. Acredita-se que o manto superior é constituído por 3/4 de peridotito
(ultramáfico) e 1/4 de eclodito (máfico), sendo esta rocha hipotética denominada pirolito. Esta
estimativa é baseada nos estudos de rochas basálticas presentes na superfície da Terra, ou
seja, nas partes do manto que sofreram fusão parcial. Obviamente, existem outras partes do
manto que não sofreram fusão parcial e a composição destas partes não estão em
consideração.
Portanto, a proporção entre peridotito e eclogito proposta pelo modelo de pirolito não
representa exatamente a composição do manto. Apesar deste problema, considera-se que o
manto superior da Terra atual é constituída principalmente de peridotito, especificamente
lherzolito, e eclogito e, os magmas basálticos são formados a partir da fusão parcial destas
rochas. A temperatura de fusão parcial do eclogito é significativamente mais baixa do que a do
peridotito. Portanto, quanto a temperatura do magma é insuficiente, o manto se fundi somente
na parte do eclogito, deixando a parte do peridotito sem fusão. Quando ocorre tal fusão seletiva
do manto eclogítico, mesmo que o magma seja gerado em grande profundidade, a composição
do magma primário é toleítica, e não, álcali olivina basáltica.
As rochas ígneas da série alcalina, que são derivadas teoricamente do magma primário
de composição toleítica, encontram-se em cordilheiras, arco de ilhas e regiões de continente
426
estável. Sob o ponto de vista da tectônica de placas, os magmatismos acima citados são
relacionadas às atividades de zonas de subducção. Por outro lado, as rochas ígneas da série
alcalina, derivadas teoricamente do magma primário álcali olivina basáltico, são encontradas
em rifes continentais e ilhas oceânicas, sendo relacionadas ao magmatismo de hot-spots.
Existe um conceito tradicional, desde Harker (1908), de que as rochas não alcalinas ocorrem
em ambiente de tectonismo convergente e as rochas alcalinas, de tectonismo divergente.
Apesar de haver esta tendência geral, de fato, existem um grande número de
exceções. Como por exemplo, nas cadeias meso-oceânicas, encontra-se o magmatismo de
maior escala do Planeta Terra. As lavas aí encontradas são compostas de um tipo de basalto
toleítico, denominado MORB. No estágio inicial da separação continental, ocorrem erupções de
lavas basálticas constituídas predominantemente por basalto toleítico. Os grandes derrames de
lava do início do Cretáceo que se encontram nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, chamados
de Basalto do Paraná, são exemplos deste (Fig. 16A). As duas ocorrências acima citadas são
magmatismos de escala muito grande que ocorreram durante a atuação de tectonismo
tipicamente divergente. Por outro lado, na região de retro-arco encontra-se as lavas de álcali
olivina basalto relacionado à subducção da placa, isto é, de tectonismo convergente. O álcali
olivina basalto do final de Terciário a Quaternário que cobre grande área da Patagônia austral é
um exemplo típico (Fig. 16B). No meio das placas oceânicas, onde não há um movimento
relativo à tectônica de placas, ocorrem ilhas vulcânicas constituídas por lavas tanto de basalto
toleítico quanto de álcali olivina basalto. Os fatos acima citados confirmam que não é possível
afirmar a correlação perfeita entre as séries de cristalização fracionada com ambientes
tectônicos.

427
18.4 - SÉRIES CÁLCIO-ALCALINA E TOLEÍTICA

Uma outra contestação tradicional ao modelo de Bowen foi de Fenner (1929). Ele
interpretou a seqüência de basalto - ferro basalto - islandito - dacito como a série normal de
cristalização fracionada do magma primário de composição toleítica. O ferro basalto é o basalto
com alta proporção Fe/Mg nos minerais máficos, como ferro-hiperstênio, ferro-augita, etc. O
islandito é uma rocha andesítica com minerais máficos de alta proporção Fe/Mg, e é
caracterizado por ausência ou escassez de hornblenda. Fenner denominou esta série de
cristalização fracionada de magma primário basáltico não alcalino de série toleítica, e
considerou que a série toleítica é a principal série do mundo. A maioria das rochas ígneas das
regiões continentais é da série Ca-alcalina, ou seja, de Bowen, entretanto, o basalto que
constitui a crosta oceânica, chamado de MORB, é da série toleítica, ou seja, de Fenner. Mesmo
nas ocorrências das regiões continentais, as rochas basálticas de erupções de lava de grande
escala, tais como cadeias mesooceânicas e platôs de lavas (Paraná, Deccan, Abissínia, etc.)
estão de acordo com a série toleítica. As rochas constituintes de grandes corpos complexos
intrusivos gabróicos, tais como Skaergaard (Groenlândia), Bushveld (África do Sul) e Stillwater
(Estados Unidos da América), mostram a seqüência de gabro - ferro gabro - granófiro, que
segue à série toleítica. Por outro lado, rochas basálticas e andesíticas da série Ca-alcalina são
encontradas comumente na forma de corpos magmáticos relativamente pequenos de faixas
orogênicas.
Além de Fenner, Kuno (1950) observou rochas basálticas que ocorre nos vulcões do
Japão e anotou que existem duas séries de cristalização fracionada: 1) série de hiperstênio,
caracterizada pela ausência de pigeonita e presença de hiperstênio na massa fundamental e
abundância de minerais hidratados como hornblenda e biotita; 2) série de pigeonita,
caracterizada pela presença de pigeonita na massa fundamental e ausência ou escassez de
minerais hidratados. A série de hiperstênio de Kuno corresponde à série Ca-alcalina de Bowen,
e a série de pigeonita, série toleítica de Fenner. Pigeonita é um clinopiroxênio caracterizado
quimicamente por baixo teor de CaO (Fig. 17A; B) e opticamente por baixo ângulo 2V, portanto,
apresenta no conoscópio a figura de interferência similar à de minerais uniaxiais (Fig. 17.C).
O conhecimento sobre a existência das duas séries de cristalização fracionada do
magma primário não alcalino foi difundida mundialmente na década de 1950. Antes disso, o
termo toleito era tratado como o sinônimo de basalto não alcalino. Encontram-se certas
bibliografias com significado confuso do termo "toleítica".

428
Desta forma, deseja-se aos alunos leitores tomarem cuidado com os dois significados
atuais do termo "toleito" ou "basalto toleítico" :
1) basalto de composição química não alcalina, ou seja, pertencente às séries não
alcalinas;
2) o mesmo que pertence à série toleítica (Tabela 5).
O autor recomenda a utilização da expressão "toleítica" exclusivamente para série de
cristalização fracionada toleítica. Para representar o magma basáltico de composição toleítica,
deve ser utilizada a expressão "magma basáltico não alcalino" ou "saturado em sílica".

429
No caso da série Ca-alcalina, o aumento de SiO2 e a redução de MgO, CaO e FeO
durante a cristalização fracionada são notáveis. Entretanto, no caso da série toleítica, o
aumento da proporção FeO/MgO é marcante. O diagrama triangular MFA, chamado também
como AMF, MgO (magnésio) - FeO* (ferros) - Na2O + K2O (álcalis), em porcentagem relativa de
peso (Fig. 18), mostra a diferença na evolução magmática entre as duas séries. Neste
diagrama, o magma primário situa-se na proximidade da linha MgO - FeO*. No caso da série
toleítica típica, como as rochas constituintes do corpo intrusivo de Skaergaard, o magma
primário evolui- se paralelamente à linha MgO - FeO* em direção a FeO*, e aproxima-se do
vértice FeO*. Neste estágio da evolução magmática, o aumento de SiO2 é pequeno. Em
seguida, a evolução magmática muda de direção para o vértice Na2O + K2O, aumentando
notavelmente o teor de SiO2. Por outro lado, o magma da série Ca-alcalina evolui-se a partir do
magma primário diretamente para o vértice Na2O + K2O, com aumento constante de SiO2.

O diagrama MFA é eficiente para distinguir qualitativamente as séries Ca-alcalina e


toleítica, mas, não é muito bom para as séries Ca-alcalina e alcalina. Miyashiro & Kushiro
(1975) apresenta ram dois outros diagramas, FeO*/MgO v.s. SiO 2 (Fig. 4.19A) e FeO*/MgO v.s.
FeO* (Fig.19B), que distinguem mais eficientemente a evolução magmática das séries Ca-
alcalina e toleítica.
As séries alcalina e não alcalina são diferenciadas pela composição química do magma
primário. Entretanto, as séries Ca-alcalina e toleítica são originados do mesmo magma primário
toleítico. O responsável da diferenciação é interpretado como o grau de oxidação dos magmas
durante a cristalização fracionada (Osborn, 1959; Fig. 20): com alta fugacidade de oxigênio

430
(ambiente oxidante) o magma evolui-se segundo a série Ca-alcalina (modelo de Bowen, série
de hiperstênio), e com baixa fugacidade (ambiente redutor), segundo a série toleítica (modelo
de Fenner, série de pigeonita).

Em ambiente oxidante, o ferro presente no magma basáltico é ligado com o oxigênio e


cristaliza-se na forma de magnetita (Fe3O4). Como este mineral óxido tem alta densidade, cerca
de 5.2g/cm3, os grãos cristalizados do magma afundam rapidamente na câmara magmática.
Devido à retirada de ferro, o magma residual se torna mais félsico desde o estágio inicial de
cristalização fracionada (Fig. 18). Esta evolução química corresponde à série Ca-alcalina. Por
outro lado, em ambiente redutor a formação de magnetita, ou seja, a retirada de ferro é
limitada. Enquanto que MgO, CaO e SiO2 presentes no magma são cristalizados na forma de
minerais máficos e o ferro permanece no líquido. Desta forma, o magma residual é enriquecido
em ferro e o ferro sobrado é utilizado no estágio posterior de evolução magmática para
cristalizar minerais máficos com alta proporção Fe/Mg, tal como fayalita (olivina de ferro;
Fe2SiO4), que se encontra em típico ferro gabro. Esta evolução química do magma corresponde
à série toleítica (Fig. 20).

431
432
Os magmas da série toleítica são de alta temperatura e contém baixo teor de H2O,
enquanto que, os da série Ca-alcalina são de temperatura relativamente baixa e contém alto
teor de H2O. Os componentes voláteis, tais como H2O, Cl, e F, abaixam a temperatura da fusão
dos magmas, e portanto, os magmas hidratados podem manter o estado líquido até mesmo em
uma temperatura relativamente baixa. Desta forma, as rochas da série Ca-alcalina
freqüentemente possuem minerais máficos hidratados, tais como hornblenda. Este fato indica
que a oxidação pode estar relacionada à H2O da rocha encaixante. As rochas da crosta são
normalmente hidratadas. O H2O está presente dentro da rede cristalina dos certos minerais
constituintes, denominados minerais hidratados, tais como biotita, muscovita, etc. Além disso,
existe também fora dos minerais como fluído livre. Os magmas gerados no manto superior são
normalmente considerados como pobres em H2O. Durante a intrusão desses magmas, a água
da rocha encaixante crustal pode ser incorporada aos magmas, e uma parte da H2O separa-se
em hidrogênio e oxigênio. O oxigênio cria o ambiente oxidante, e o hidrogênio é disperso na
rocha encaixante.
Portanto, os corpos magmáticos pequenos são altamente influenciados pela H 2O
extraída da rocha encaixante crustal, e nos corpos intrusivos de escala superior a quilométrica,
a influência da H2O crustal é pequena em relação ao grande volume do magma. A Fig. 18 e a
Fig. 19 mostram que existem séries toleíticas típicas (como Skaergaad) e não típicas (como as
rochas basálticas do Japão). O fato é devido provavelmente à diferença do grau de oxidação,
ou seja, o grau de hidratação. Neste sentido, interpreta-se que a série toleítica é a série de
cristalização fracionada em condição normal do magma primário basáltico e a série Ca-alcalina,
em condição especial com alta fugasidade de oxigênio.
Rochas da série Ca-alcalina são encontradas tipicamente em cordilheiras, tais como a
dos Andes, e arcos de ilhas (zonas de subducção), Japão, Indonésia, Filipinas, etc., ou seja,
em zonas de subducção, onde existe H2O abundante. Dentro do Sistema Solar, as rochas da
série Ca-alcalina são presentes especificamente no Planeta Terra, isto é, as rochas
caracterizantes da Terra, onde a tectônica de placas está em funcionamento. Por outro lado, as
rochas da série toleítica são observadas no fundo do oceano, platôs de lavas terrestres e
submarinos, grandes corpos intrusivos gabróicos, etc.

433
CAPÍTULO 19 - MÉTODO DO CÁLCULO NORMATIVO

19.1 - GENERALIDADE

Existe uma íntima relação entre a composição mineralógica e química de uma rocha
ígnea. O conhecimento desta relação facilita a interpretação genética com base na composição
química de rochas ígneas. O “cálculo normativo” é um método mais conhecido e divulgado para
caracterização química de rochas ígneas com base nos teores de elementos principais.
Inicialmente, o cálculo normativo foi lançado por Cross, Iddengs, Pirsson e Washington
(1902,), como um método de classificação geoquímica de rochas ígneas, sendo chamado
atualmente como a “Norma CIPW”. Hoje em dia, este método não está sendo aplicado à
classificação geoquímica, mas, para análises petrogenéticas com base na geoquímica de
elementos principais. A partir da composição química em rocha total, este método calcula 34
“minerais normativos”, fazendo a simulação matemática de cristalização. Os minerais
normativos são aqueles escolhidos entre os minerais mais freqüentes em rochas ígneas
naturais. Os parâmetros e critérios para a escolha dos minerais normativos podem ser
conhecidos através de leitura suplementar. A composição química e ordem de cristalização
destes minerais foram simplificadas e idealizadas. Portanto, os minerais normativos calculados
não são exatamente iguais aos minerais constituintes reais da rocha, denominados minerais
modais. Geralmente, rochas plutônicas básicas, como por exemplo piroxênio gabro, possuem
minerais normativos relativamente próximos aos reais. Entretanto, a composição mineralógica
modal de rochas vulcânicas félsicas é pouco afastada da composição normativa.
O método de cálculo normativo sofreu algumas alterações e atualmente as versões
propostas por Whashington e Johannsen são as mais utilizadas. O método aqui apresentado
baseia-se em Johannsen (1931), com a ressalva de que a seqüência dos cálculos usados não
é idêntica à da bibliografia original visando com isto facilitar o aprendizado. Entretanto, o
resultado final é praticamente igual ao proposto de Johanssen.

434
19.2 - ESQUEMA GERAL DOS CÁLCULOS

A seqüência de cálculo da norma CIPW é composta de quatro processos:


1) Conversão de composição química analisada em proporção molecular de óxidos;
2) Formação provisória dos minerais normativos;
3) Compensação da deficiência de sílica resultante do processo anterior por meio da
decomposição dos certos minerais provisórios já calculados;
4) Reconversão dos minerais normativos calculados em proporção molecular para
porcentagem de peso.

19.2.1 - Conversão da porcentagem de peso em proporção molecular


Os cálculos de formação e decomposição dos minerais normativos são executados
baseando-se na proporção molecular dos óxidos e não em porcentagem de peso. Portanto,
dados de análises químicas em porcentagem de peso devem ser convertidos em proporção
molecular para cada óxido. O cálculo é executado conforme a seguinte divisão:

Proporção molecular = porcentagem de peso / peso molecular

As Tabelas A1 e A2 apresentam respectivamente pesos moleculares dos óxidos e dos


minerais normativo. Dentro dos minerais normativos, existem alguns que raramente são
observados nas rochas ígneas reais. Coríndon, carbonato de sódio, metassilicato de sódio,
metassilicato de potássio e ortossilicato de cálcio. Estes se correlacionam respectivamente a
micas brancas, cancrinita e zeólitas, piroxênios e anfibólios alcalinos, componentes potássicos
de anfibólio, wollastonita, sílica, etc. As fórmulas químicas apresentadas na Tabela A2 não
estão de maneira convencional, mas sim transformados para facilitar os cálculos.

435
19.2.2 - Formação provisória dos minerais normativos
O processo de formação provisória dos minerais normativos inicia-se com a formação
dos minerais subordinados, não silicáticos. Após esses, são calculados os minerais silicatos
principais. Durante o processo de formação provisória, os cálculos devem ser executados
ignorando-se o teor de sílica disponível, mesmo que este teor atinja valor negativo. Após o
término do processo de formação provisória, observa-se o teor de sílica. Caso o valor de sílica
seja negativo, inicia-se o processo de compensação de deficiência de sílica. Caso contrário, ou

436
seja, com o valor de sílica seja positivo, calcula-se o quartzo de acordo com o teor de sílica
disponível e passa-se o processo de reconversão de proporção molecular de minerais
normativos calculados em porcentagem de peso.

19.2.3 - Compensação de deficiência de sílica


Neste processo, certos minerais silicatos provisoriamente calculados são decompostos
para formar outros minerais silicatos com menor teor de sílica. Os minerais principais a serem
decompostos são feldspatos alcalinos e os formados são feldspatóides. A sílica liberada
através deste processo é utilizada para compensação da deficiência de sílica. O processo
continua até que a deficiência de sílica for completamente compensada.

19.2.4 - Reconversão da proporção molecular em % de peso (RESUMO)


O último processo é a reconversão de teor dos minerais normativos calculados
apresentados em proporção molecular para a expressão de porcentagem em peso. Caso
esteja presente, os grupos de olivina, ortopiroxênio e clinopiroxênio, estes serão recalculados
em componentes finais conforme a proporção de MgO, FeO e CaO de cada mineral normativo.
A reconversão é feita através da multiplicação do teor de cada mineral normativo calculado em
proporção molecular por seu peso molecular:

Porcentagem de peso = proporção molecular x peso molecular

437
19.3 - CÁLCULOS EM CADA ESTÁGIO

No presente capítulo, a seqüência dos cálculos é apresentada junto à seis exemplos,


para melhor entendimento dos leitores:
A) granito; B) basalto toleítico; C) basalto Ca-alcalino;
D) álcali olivina basalto; E) nefelina sienito; F) olivina nefelinito (Tabela A3).

438
19.3.1 - Conversão em proporção molecular
Conforme a descrição dita anteriormente, a composição química da rocha expressa em
porcentagem de peso é convertida em proporção molecular, com seguintes observações:
1) os teores de MnO, NiO e FeO são somados e tratados como FeO;
2) os teores de BaO, SrO e CaO são somados e tratados como CaO;
3) os componentes com teor em proporção molecular muito baixo, sendo inferior a
0.002, são considerados como nulo;
4) os cálculos são executados na unidade de proporção molecular multiplicada por
1000.

19.4 - FORMAÇÃO DOS MINERAIS DE TEOR SECUNDÁRIO

Inicialmente, são formados 10 minerais subordinados em 9 estágios: ilmenita, apatita,


halita, tenardita, pirita, crimita, fluorita, zircão, calcita e carbonato de cálcio.

19.4.1 - Ilmenita
Este mineral é constituído por dois componentes, TiO2 e FeO. Na maioria dos casos, o
teor de FeO é superior ao de TiO2, desta forma, a ilmenita, TiO2· FeO, terá o mesmo valor TiO2
disponível.

19.4.2 - Apatita
A apatita é calculada somente de acordo com os teores de CaO e P2O5. Durante o
cálculo, os teores de Ca e F são desconsiderados.

439
19.4.3 - Halita
Este mineral é constituído por Na2O e Cl e calculado somente quando houver dados
analíticos de Cl. Durante o cálculo, o teor de oxigênio do Na 2O é desconsiderado. Muitas
análises químicas de rocha total não possuem dados de Cl, SO 3, Cr2O3, F, ZrO2 e CO2. Nesse
casos, halita, tenardita, pirita, cromita, fluorita, zircão, calcita e carbonato de sódio são
calculados como zero. e passa-se para o estágio de cálculo dos minerais principais.

19.4.4 - Tenardita
Este mineral é constituído por dois componentes, Na 2O e SO3 e, calculado somente
quando houver dados analíticos de SO3. Não se aplica neste cálculo às seis rochas exemplares
devido à ausência de dados de SO3.

19.4.5 - Pirita
Este mineral é constituído por dois componentes, FeO e S e, calculado somente
quando houver dados analíticos de S (não SO3). Durante o cálculo, o teor de oxigênio do FeO é
desconsiderado. Não se aplica neste cálculo às seis rochas exemplares devido à ausência de
dados de S.

19.4.6 - Cromita
Este mineral é constituído por dois componentes, Cr2O3 e FeO e, calculado somente
quando houver dados analíticos de Cr2O3. Não se aplica neste cálculo às seis rochas
exemplares devido à ausência de dados de Cr2O3.

440
19.4.7 - Fluorita
Este mineral é constituído por dois componentes, CaO e F e, calculado somente
quando houver dados analíticos de F. Durante o cálculo, o teor de oxigênio do CaO é
desconsiderado. Não se aplica neste cálculo às seis rochas exemplares devido à ausência de
dados de F.

19.4.8 - Zircão
Este mineral é constituído por dois componentes, ZrO 2 e SiO2 e, calculado somente
quando houver dados analíticos de ZrO2. Não se aplica neste cálculo às seis rochas
exemplares devido à ausência de dados de ZrO2.

19.4.9 - Calcita e carbonato de sódio


Estes minerais são calculados somente quando houver dados analíticos de CO 2. Não
se aplica neste cálculo às seis rochas exemplares devido à ausência de dados de CO 2.

19.5 - FORMAÇÃO PROVISÓRIA DOS MINERAIS

Após a formação dos minerais de teor secundário, são formados minerais silicatos
principais a partir de feldspato. Os cálculos deste estágio são executados em 15 estágios,
mesmo que o teor de SiO2 disponível seja de valor negativo. Entretanto, outros componentes
devem ser de valor positivo. Portanto, a formação dos minerais normativos é provisória.

19.5.1 - Ortoclásio
Este mineral é constituído por três componentes, K2O, Al2O3 e SiO2. Na maioria dos
casos, após o cálculo sobra Al2O3. Neste caso, passa-se para o cálculo de albita, estágio 3,
pulando o cálculo de metassilicato de potássio.

441
19.5.2 - Metassilicato de potássio
Em poucos casos, sobra K2O após o cálculo de ortoclásio. Estas rochas são altamente
alcalinas e possuem leucita e nefelina, que se encontram na Itália. Após o cálculo de
metassilicato de potássio, passa-se para o cálculo de titanita, estágio 6. Não se aplica neste
cálculo às seis rochas exemplares.

19.5.3 - Albita
Este mineral é constituído por três componentes, Na 2O, Al2O3 e SiO2. Em poucos
casos, sobra Na2O após o cálculo. Neste caso, passa-se para o cálculo titanita, estágio 6.
Nota-se o valor negativo de SiO2 do nefelina sienito do olivina nefelinito, obtido após o cálculo
de albita. Tais rochas geralmente possuem nefelina.

19.5.4 - Anortita
Este mineral é constituído por três componentes, CaO, Al 2O3 e SiO2. Na maioria dos
casos, sobra CaO após o cálculo. Neste caso, passa-se para o cálculo titanita, estágio 6.

19.5.5 - Coríndon
Existem algumas rochas ígneas, como o granito do exemplo, em que o teor de Al 2O3 é
muito alto para se alcançar esta estágio. Tais rochas são chamadas geoquimicamente de
“rochas peraluminosas”. A peraluminosidade geoquímica é fenômeno característica de
argilominerais. As rochas ígneas peraluminosas são raras e encontrados em certo tipo de

442
granito. A origem do magma deste granito, denominado tipo S, é interpretada como a refusão
da crosta continental sedimentar.

19.5.6 - Titanita
Este mineral é constituído por três componentes, CaO, TiO 2 e SiO2. O cálculo é
efetuado somente com presença de TiO2 e CaO disponíveis neste estágio. Dentro dos seis
exemplos, não há rocha desta condição.

19.5.7 - Rutilo
Quando sobra TiO2 após o cálculo de titanita, forma-se rutilo. A rocha ígnea com teor
de TiO2 tão alta é extremamente rara.

19.5.8 - Acmita
Encontram-se certas rochas alcalinas félsicas, como o nefelina sienito do exemplo, em
que se esgota o Al2O3 e sobra Na2O após o cálculo de albita. Neste caso, calcula-se acmita.
Acmita é componente final de piroxênio sódico, chamado popularmente de egirina. As rochas
com acmita normativa, denominadas geoquimicamente peralcalinas, não possuem anortita e
coríndon normativos.

19.5.9 - Metassilicato de sódio


Em raríssimos casos, sobra Na2O após o cálculo de acmita. Não se aplica neste
cálculo às seis rochas exemplares.
443
19.5.10 - Magnetita
A maioria das rochas ígneas tem Fe2O3 disponível após o cálculo de acmita. Este
Fe2O3 é juntado com FeO para formar magnetita.

19.5.11 - Hematita
Caso esteja ainda Fe2O3 após o cálculo de magnetita, o Fe2O3 é atribuído para formar
hematita. Não há tal rocha dentro dos seis exemplos. Certas rochas basálticas apresentam alto
teor de hematita normativa devido ao intemperismo.

19.5.12 - Clinopiroxênio
As quantidades disponíveis de MgO e FeO são somadas e consideradas como um tipo
de óxido destinado a formar silicatos máficos. O primeiro mineral máfico calculado é
clinopiroxênio. Na bibliografia original de Johannsen, este componente é expresso como
diopsídio (di). Entrentanto, o mesmo termo é utilizado para expressar o componente final de
clinopiroxênio magnesiano, CaO· MgO· 2SiO2. Para evitar confusão, recomenda-se o termo
clinopiroxênio. Rochas com coríndon normativo não possuem CaO disponível para formação
do clinopiroxênio. Geralmente, o Cao disponível é consumido inteiramente neste estágio.

444
19.5.13 - Wollastonita
Em raros casos, existem rochas altamente cálcicas que ainda possuem CaO disponível
após o cálculo de clinopiroxênio. O Cao disponível é utilizado para formar wollastonita.

19.5.14 - Ortopiroxênio
Neste estágio, não há mais CaO disponível, havendo somente MgO e FeO. Estes são
utilizados para formar ortopiroxênio. Na bibliografia original de Johannsen, este componente é
expresso como hiperstênio (hy). Porém, para evitar confusão, recomenda-se o termo
ortopiroxênio. Obviamente, as rochas com wollastonita normativa não possuem ortopiroxênio
normativo.

19.5.15 - Quartzo
Após os estágios acima citados, as rochas se dividem em duas categorias: 1) com SiO 2
disponível positivo; 2) com SiO2 disponível negativo. Dentro dos seis rochas exemplares, o
granito e o basalto toleítico têm SiO2 disponível positivo e o restante, negativo. Caso com SiO2
disponível positivo, calcula-se quartzo e
passa-se à reconversão da proporção
molecular em porcentagem de peso. Caso
com SiO2 disponível negativo, passa-se para
compensação de deficiência de sílica.

445
19.6 - COMPENSAÇÃO DA DEFICIÊNCIA DE SÍLICA

A compensação do teor negativo de sílica é realizada através da decomposição dos


minerais já calculados em 7 estágios. Quando a deficiência de sílica é compensada, o processo
é interrompido, passando-se para a reconversão da proporção molecular em porcentagem de
peso.
19.6.1 - Decomposição do ortopiroxênio em olivina
O primeiro mineral a ser decomposto é ortopiroxênio em olivina e sílica, conforme a
reação abaixo:
2 ortopiroxênio olivina sílica
2 x (MgO, FeO).SiO2  (MgO, FeO)2.SiO2 + SiO2

19.6.2 - Decomposição da titanita em perovskita


Havendo ainda a deficiência de sílica, a titanita é decomposta em perovskita e sílica.
Entretanto, este processo libera apenas pequena quantidade de sílica.
titanita perovskita sílica
CaO.TiO2.SiO2  CaO.TiO2 + SiO2

19.6.3 - Decomposição da albita em nefelina


Quando existe ainda a deficiência de sílica, a albita é decomposta em nefelina e sílica.
Para a maioria das rochas, a compensação de deficiência da sílica termina neste estágio ou
anterior. O cálculo deste estágio é necessário para rochas alcalinas típicas.
albita nefelina 4 sílica
Na2O.Al2O3.6SiO2  Na2O.Al2O3.2SiO2 + 4 x SiO2

446
19.6.4 - Decomposição do ortoclásio em leucita
Mesmo assim, existindo a deficiência de sílica, o ortoclásio é decomposto em leucita e
sílica. O cálculo deste estágio é necessário para rochas fortemente alcalinas, que são raras.
ortoclásio leucita 2 sílica
K2O.Al2O3.6SiO2  K2O.Al2O3.4SiO2 + 2 x SiO2

19.6.5 - Decomposição do clinopiroxênio em olivina e ortossilicato de cálcio


Nas rochas muito subsaturadas em sílica, o clinopiroxênio é decomposto em olivina,
ortossilicato de cálcio e sílica. O cálculo deste estágio é necessário para rochas muito
fortemente alcalinas, que são muito raras.
2 clinopiroxênio olivina ortossilicato de cálcio 2 sílica
2 x CaO.(MgO, FeO).2SiO2 (MgO, FeO)2 .SiO2 + 2CaO.SiO2 + 2 x SiO2

19.6.6 - Decomposição da wollastonita em ortossilicato de cálcio


Nas rochas extremamente subsaturadas em sílica, a wollastonita é decomposta em
ortossilicato de cálcio e sílica. O cálculo deste estágio é necessário para rochas extremamente
alcalinas, que são extremamente raras. Entretanto, as rochas ígneas com wollastonita
ormativa são muito raras.
2 x wollastonita ortossilicato de cálcio sílica
2 x CaO.SiO2  2(CaO).SiO2 + SiO2

447
19.6.7 - Decomposição da leucita em kaliofilita
Nas rochas muito extremamente subsaturadas em sílica, a leucita é decomposta em
kaliofilita e sílica. O cálculo deste estágio é necessário para rochas muito extremamente
alcalinas, que são muito extremamente raras. Na prática, não há rochas ígneas que tem
deficiência de sílica mesmo executando processo de decomposição para liberação de sílica até
este estágio.
leucita ortossilicato de cálcio 2 sílica
K2O.Al2O3.4SiO2  K2O.Al2O3.2SiO2 + 2 x SiO2

448
19.7 - RECONVERSÃO DA PROPORÇÃO MOLECULAR EM % DE PESO

Os teores dos componentes magnesianos e ferrosos de olivina, ortopiroxênio e


clinopiroxênio devem ser definidos. Este cálculo baseia-se na proporção entre MgO e FeO de
cada mineral. O resultado dos cálculos normativos é apresentado convencionalmente não com
nome desses minerais, mas, com seus componentes. A proporção de MgO e FeO a ser
utilizada não é a do estágio inicial, mas do estágio de formação do clinopiroxênioio.

449
A conversão em porcentagem de peso de cada mineral normativo é executada por
meio da multiplicação da proporção molecular por peso molecular. As seis rochas exemplares
apresentam as somas dos minerais normativos em porcentagem de peso tornam-se
aproximadamente 100.

450
451
452
453
...................................

454
455
CAPÍTULO 20 - REVISÃO HISTÓRICA
A origem da geoquímica dos isótopos estáveis e radiogênicos e da geocronologia
estão diretamente ligadas ao início da física moderna na metade do século XX.

O termo Geocronologia foi utilizado pela primeira vez em 1893 por Williams para reunir
as diferentes formas de investigação da escala de tempo em anos aplicáveis não só à evolução
da Terra mas também à evolução de todas as formas de vida. Para essas determinações torna-
se necessário um relógio geológico, ou seja, o conhecimento de um processo irreversível que
seja governado pelo tempo, a uma taxa conhecida. A descoberta da radioatividade permitiu o
nascimento da Geocronologia, pela datação radiométrica . Na Geologia, o único processo que
ocorre a uma taxa estatisticamente previsível e estável é a desintegração radioativa.

Datação radiométrica = é a medida da quantidade de tempo passado por meio de


análises de minerais e rochas.
Radioatividade = É o processo de desintegração espontânea de alguns tipos de
átomos que ocorrem na natureza. Verifica-se em laboratório que a taxa média da
desintegração radioativa espontânea não é afetada nem por aquecimento, resfriamento ou
mesmo trocas referentes a pressão e estado químico.

20.1 - A DESCOBERTA DA RADIOATIVIDADE

A radioatividade foi detectada pela primeira vez há aproximadamente 100 anos atrás,
com o uso de meios mecânicos. Tudo se associa a uma série de circunstâncias favoráveis que
envolveram experimentos com sais de urânio. Parece que tudo começou com o vidreiro alemão
Heinrich Geissler que se dedicou a construir vasos de pressão contendo eletrodos de metais
que poderiam ser utilizados para estudar a transmissão de cargas elétricas através do vácuo.
As experiências mostraram em 1855 a existência dos raios catódicos, somente explicados em
1897 por J. J. Thomson. Este considerou os raios como fluxos de elétrons, ou seja, partículas
negativamente carregadas. O passo levou ao conhecimento da estrutura interna dos átomos e,
conseqüentemente, trouxe um prêmio Nobel de Física para Thomson.
O conhecimento dos raios catódicos possibilitou ainda, de forma indireta, a descoberta
da radioatividade. Becquerel, em 1880, ao expor cristais de sulfato duplo de urânio à luz
ultravioleta obteve luminescência; na época, os físicos verificaram que a propriedade era visível
durante a passagem dos raios catódicos das paredes de vidro dos tubos. O fenômeno foi

456
confirmado por Roëntgen, que provocou luminescência em um papel coberto de platicianeto de
bário em 1895. A luminescência continuava, porém, enquanto o tubo de raios catódicos
estivesse energizado. Aparentemente ele emitia uma radiação misteriosa que podia penetrar e
ser impressa em papel preto - os famosos raios-X de Roëntgen. Becquerel, motivado pela
descoberta, retomara seus estudos anteriores com os sais de urânio. Para verificar se estes
eram responsáveis pela emissão de raios-X, recobriu uma chapa fotográfica com papel preto e
colocou alguns cristais de sulfato de urânio em cima deste, expondo o pacote à luz solar. Os
cristais emitiram uma radiação invisível que atravessou o papel preto e foi registrada na chapa
fotográfica. A experiência, embora simples, mostrou que os sais de urânio e eventualmente até
mesmo minerais de urânio poderiam emitir radiação contínua mesmo quando não expostos à
luz solar.
A descoberta animou grande número de pesquisadores jovens como o casal Marie e
Pierre Curie. Esta devotou-se à procura sistemática de outros elementos e compostos
semelhantes aos utilizados por Becquerel e que emitissem radiação similar, tendo descoberto
que minerais de U e Th, conforme Becquerel já suspeitava, também emitem radiação, mais
ativa que a dos sais destes elementos. Ao pesquisar com o minério da mina de Joachimsthal
(Tchecoslováquia), o casal Curie conseguiu provar a idéia e descobriu dois novos elementos
com propriedades semelhantes: Polônio (Po) e Rádio (Ra). O fenômeno recebeu o nome de
radioatividade pelas emissões observadas a partir do Ra e rendeu o prêmio Nobel de Física de
1903 para o casal.
O efeito da descoberta na Geologia
foi profundo, pois facilitava uma nova linha
de pesquisa, visando medir a radioatividade
das rochas. A radioatividade gera calor nas
rochas, pois é processo exotérmico, e
também é um meio eficaz de medida da
idade de minerais e rochas. A possibilidade
foi percebida tanto por Rutherford como
Boltwood, já em 1905. O primeiro propôs
que se estimasse a idade da série de
minerais de U a partir da quantidade de He neles acumulada; aplicara este método em
inúmeros minerais de U e obtivera um valor aproximado de 500 Ma. Boltwood publicou a seguir
os resultados das primeiras determinações de idade de três amostras de uraninita com base
nas suas relações U/Pb. Os valores, entre 410 e 535 Ma, considerados razoáveis, são hoje
concordantes com as idades obtidas por técnicas mais modernas. Joly (1908) reconheceu que
457
certos halos observados em algumas amostras de rochas ao microscópio eram causados por
minerais radioativos. Ele também mediu as concentrações de Th e Ra nos diferentes tipos de
rochas e em 1909 publicou o livro intitulado Radioatividade e Geologia no qual sumariava suas
conclusões. Destacava-se a idéia de que a radioatividade forneceria a energia requerida para a
construção das montanhas.
A radiação ionizante descoberta pelos Curie levou Rutherford, que já havia estudado a
ionização dos gases pelos raios-X, a efetuar um estudo desta natureza, porém com a radiação
emitida pelo Ra. Pouco tempo depois ele mostrara que a radiação era originada a partir das
substâncias radioativas e consistia de três componentes denominados alfa (a), beta (b) e gama
(g). O componente alfa, na realidade, é um núcleo do gás nobre Hélio (He). O beta foi
identificado como sendo elétrons. Somente o raio gama mostrou ser uma radiação
eletromagnética semelhante aos raios-X de Roëntgen. A teoria da desintegração radioativa
formulada por Rutherford e o químico Soddy diz que os átomos dos elementos radioativos se
desintegram espontaneamente formando átomos de outros elementos e emitindo partículas
alfa e beta. A desintegração radioativa é evento estatístico, pois não se pode prever nem a
identidade de um átomo particular que irá se desintegrar nem o momento exato em que o
evento ocorrerá. No entanto, a intensidade de radiação é proporcional ao número de átomos
radioativos presentes. Os pesquisadores sugeriram ainda que a estrutura do átomo era
formada por um núcleo (prótons) rodeado por uma coroa eletrônica, formada por elétrons.
Soddy, em outro grupo de trabalho, reconheceu as séries do U e do Th, verificando que ambos
possuíam diferentes taxas de desintegração. As novas formas resultantes dessas
desintegrações foram identificadas como elementos químicos, cuja característica principal é a
presença de átomos de Th, porém com pesos atômicos distintos. As diferentes amostras de Th
existiriam na mesma posição do Th original na Tabela Periódica e constituiriam isótopos (em
grego: mesmo lugar). Vários pesquisadores dedicaram-se a procurar e caracterizar os isótopos.
Após o término da Primeira Guerra Mundial, um deles, Aston, tentou construir equipamentos
que confirmassem e caracterizassem os isótopos: os espectrômetros de massa. Recebeu o
prêmio Nobel em 1922 pela descoberta de 212 dos 287 isótopos de ocorrência natural.

458
20.1.1 - A revolução no uso dos relógios geológicos
"A enorme ampulheta, que mede a destruição das rochas na terra e a sua formação no
fundo do mar, trabalha ininterruptamente." Arthur Holmes (1923)

Para estudar os problemas ligados à idade da Terra, Arthur Holmes começou medindo
a composição isotópica do chumbo, na mesma época do aprimoramento dos espectrômetros, e
evoluiu para novos métodos de datação utilizando o Th e o U presentes no chumbo. O livro The
Age of the Earth, publicado por Holmes em 1923, mostra a importância da radioatividade no
entendimento dos processos geológicos, além de propor a primeira escala do tempo geológico
baseada em métodos radiométricos. A datação radiométrica permitiu tratar numericamente o
tempo. É difícil avaliar seu impacto nos conceitos geológicos devido à quantificação; não
somente se aprimorou o conceito sobre a idade total da Terra, mas também foi possível datar
amostras de rochas da Lua e fragmentos de meteoritos, revelando-se idades similares entre
eles. A datação isotópica também abriu possibilidade para se determinar com rigor quantitativo
as taxas dos processos atuantes no passado geológico. Finalmente, a Geocronologia permitiu
estudar intervalos de tempo afossilíferos e subdividi-los.

459
CAPÍTULO 21 - INTRODUÇÃO A GEOQUÍMICA ISOTÓPICA

Átomos consistem em três partículas fundamentais: prótons (carga positiva) e nêutrons


(neutro) e os elétrons (cargas negativas) que orbitam os núcleos. O número de prótons definem
o número atômico (Z), onde o número total de prótons e nêutrons determinam o peso atômico.
Em um átomo eletrostáticamente neutro, o número de prótons e elétrons tem que ser o mesmo.
Ambos, prótons e nêutrons contribuem com o peso atômico (M), mas os elétrons possuem
apenas uma pequena fração na massa do átomo.
Os isótopos podem ser divididos em estáveis e instáveis (radiogênicos). O número de
isótopos estáveis é de 300, e os isótopos radiogênicos de 1200.

Isótopos: É definido como uma variedade do mesmo elemento químico (átomos como
o mesmo número atômico Z) que possuem uma variedade no número de nêutrons e variando o
peso atômico (M). Alguns elementos leves possuem apenas poucos isótopos enquanto que os
elementos pesados possuem vários.

Isótonos: Contem o mesmo número de nêutrons (N) e diferem do número de prótons


(Z). Exemplo:

Isóbaros: possuem a massa igual (A) com diferenças nos números de prótons (Z) e
nêutrons (N). Exemplo:

460
Um exemplo de notação empregada em isótopos pode ser o isótopo de Ne:

O estudo dos isótopos estáveis e radiogênicos na geologia é muito aplicado para o


entendimento da idade absoluta das rochas e minerais. Mas também podemos utilizar como
elementos traços, servindo como indicadores de:
1. Processos de geração e evolução de magmas;
2. Temperatura de cristalização;
3. História termal.

Sendo as principais aplicações dos isótopos estáveis:


1. Reconstituição paleoambientais;
2. Ciências ambientais;
3. Geologia econômica e metalogênese;
4. Petrologia e processos petrogenéticos;
5. Evoução crustal e mantélica;

461
21.1 - ISÓTOPOS ESTÁVEIS

Os isótopos estáveis não são radioativos


(ou possuem decaimento imperceptível), tendo a
sua abundância não alterada com o tempo. Os
isótopos estáveis do mesmo elemento possuem
quase as mesmas características químicas. A
diferença de massas é devido à diferença de
número de nêutrons que causam a separação
parcial (fracionamento) entre isótopos leves e
pesados. Os núcleos estáveis com Z < 20, em
geral, o Z = N. Os núcleos com Z > 20, possuem
nêutrons adicionais para compensar a repulsão
entre as cargas positivas.

Entre os isótopos estáveis, 1H - 2H (2H = D deutério), 6Li – 7Li, 10


B - 11B, 12
C - 13C, 14N –
15 16 18 28 30 35 37 32 34 56 58
N, O- O, Si – Si, Cl – Cl, S– Se Fe – Fe, os chamados elementos leves
tradicionais, são os que apresentam variações isotópicas mais significativas, e uma grande
variedade de aplicações em geoquímica isotópica. Entre estes elementos podemos destacar o
O, H, C e o S de grande interesse. A maioria destes elementos possui características como:

→ Massa atômica baixa;

→ Grande diferença entre a massa relativa e seus isótopos;

→ Ligações covalentes fortes;

→ Existe em mais de um estado de oxidação (C, N e S) e são constituintes importantes


de ocorrência na natureza;

→ Abundancia de seus isótopos raros é suficientemente alta.

462
21.1.1 - Fracionamento Isotópico
O fracionamento isotópico é caracterizado pela separação parcial de isótopos leves e
pesados entre duas ou mais fases coexistentes. Isótopos de elementos leves se fracionam
mais dos que os pesados. Os isótopos mais pesados têm menor energia vibracional que os
leves do mesmo elemento e formam, portanto, moléculas mais estáveis. O fracionamento
isotópico possui uma relação inversa com a temperatura, onde Z é proporcional a 1/T para
temperaturas baixas (<200ºC) e Z é proporcional a 1/T2 para temperaturas elevadas.
O principio do estudo sobre isótopos estáveis, quer dizer, a investigação dos processos
no qual na natureza os isótopos são separados com base na suas massas e até certo ponto na
base de suas químicas, é conhecida como fracionamento e é divido em três diferentes formas:

→ Reação de troca:
O fracionamento isotópico tem lugar em uma reação convencional de troca, como o
que ocorre entre o oxigênio do quartzo e da magnetita. Essa troca é controlada por ligações
fracas, que seguem a regra geral, onde isótopos leves formam ligações menos resistentes do
que os isótopos pesados.

463
→ Processo cinético:
Efeitos cinéticos só podem ser observados quando a reação ainda não está completa.
Esse tipo de reação precisa de um isótopo particular para reagir.

→ Processos físico-químicos:
Sendo evaporação e condensação, fusão, cristalização e difusão. O fracionamento
físico (precipitação e evaporação). Quanto menor for a quantidade de vapor residual numa
nuvem maior será seu fracionamento isotópico.

21.1.2 - Razões isotópicas


Análises de razões de isótopos estáveis são relativas a padrões de referências,
internacionais, e a magnitude das variações isotópicas é expressa pela letra grega N, que
representa um valor emque a razão isotópica medida de uma amostra desconhecida é
comparada com a razão isotópica medida de um gás de referência. O gás de referência, por
sua vez, é calibrado contra um padrão internacional. Usando isótopos de oxigênio como
exemplo, a razão isotópica é expressa em forma de δ18O, sendo definida como:

onde:
R é a razão do isótopo mais pesado pelo isótopo mais leve (e mais abundante) =
18
O/16O, na amostra que está sendo analisada e no padrão de referência. Outros exemplos de
razões isotópicas são: 13C/12C, 15N/14N, 34S/32S, 56Fe/54Fe.
464
Os valores δ podem ser positivos ou negativos, dependendo se a amostra está
enriquecida ou empobrecida no isótopo mais pesado em relação ao padrão. Conhecendo-se os
valores δ de duas fases coexistentes, para as quais são conhecidos os fatores de
fracionamento, pode-se determinar a temperatura na qual as duas fases se equilibraram
isotopicamente. Entre os sistemas isotópicos, a termometria de isótopos de O e S tem
aplicações mais amplas; os minerais de rochas ígneas e metamórficas tem valores diferentes
18 34
de δ O e δ S porque seus fatores de fracionamento a qualquer dada temperatura tem
valores diferentes.
Isótopo especificado pelo número de massa sobrescrito antes do símbolo ( 13C, 18
O,
32
S). A composição isotópica de qualquer substância é dada em termos das variações das
razões entre os isótopos em comparação com uma substância padrão de composição
conhecida.

21.1.3 - Isótopos estáveis aplicados a gênese magmática


A distribuição dos isótopos estáveis durante o fracionamento magmático é controlado
por fatores como o tipo e sequência de cristalização e distribuição dos elementos. Portanto,
durante a diferenciação de um magma básico a taxa do isótopo de oxigênio sofre uma pequena
mudança durante os últimos estágios. A falta de mudanças é resultado principalmente de altas
temperaturas de cristalização. Isto é uma tendência para os valores de δ18O que aumentam
com o aumento do conteúdo de sílica nas rochas ígneas. Rochas ultramáficas inalteradas
465
possuem valores de δ18O em +5 a +7‰, gabros, basaltos, andesito basaltos e sienitos em +5 a
+7,5‰ e granitos em +7 a +13‰.
A sequência de cristalização mineral pode afetar as taxas isotópicas. Por exemplo, a
cristalização antecipada da magnetita irá tendenciar para um enriquecimento do magma em
δ18O comparado com um magma que sofre cristalização fracionada com fugacidade baixa de
oxigênio.
Rochas ígneas que possuem taxas isotópicas fora dos limites comuns podem ser
derivadas de fontes anômalas, ou foram contaminados por materiais com composição isotópica
diferenciada, ou passaram por processos de alteração hidrotermal.

21.1.4 - Isótopos estáveis aplicados a interação rocha


A interação de água com rochas ígneas pode ser identificada através de estudos de
isótopo estáveis, sendo muito importante nos processos petrogenéticos. As taxas isotópicas de
águas naturais são distinguíveis e deixam suas marcas nas rochas ígneas que possuem
interação. As taxas isotópicas da chuva ou da neve variam sistematicamente com a latitude ou
elevação. Em altas elevações ou latitudes são baixos os valores de δD e δ18O. Valores de δ18O
variam em torno de 0‰ no equador e -55‰ (SMOW) no pólos. Existe uma linearidade entre os
valores de δD para δ18O, sendo aproximadamente de:

As águas meteóricas de superfície normalmente possuem um valor baixo de δ18O


quando comparadas com as águas primárias magmáticas (+5 a 9‰). A interação da água com
a intrusão ígnea que quente pode, através da mudança do oxigênio, uma considerável redução
dos valores de \18O nas rochas. Quartzos das proximidades da margem de plútons possuem
valores de \18O em 10‰ e ocasionalmente até 19‰, em contraste com os valores de 8,7‰ de
quartzos de porções centrais do plúton.

21.1.5 - Isótopos estáveis aplicados a prospecção de depósitos minerais e


paleoclimas
Os depósitos minerais são notórios por possuírem assinaturas isotópicas
características. Estudos de isótopos estáveis podem, potencialmente, serem usados para
identificar a localização de sistemas hidrotermais fósseis, o foco provável de fluidos
hidrotermais e, ainda, ajudarem a definir os alvos mais favoráveis para sondagem de depósitos
minerais. Isótopos de oxigênio e enxofre são aplicados com sucesso para o entendimento das
condições de formação de minérios, proveniência e características do fluido mineralizante.
466
Isótopos de carbono são usados com indicadores genéticos em depósitos de minérios
contendo carbonatos e/ou grafite.
Os limites dos valores de δ34S (CD) de sulfetos em depósitos de minério hidrotermais é
comumente entre -7 a +15‰. Em sulfatos varia entre +8 a +25‰. Portanto, variações de δ34S
em um mineral é função da composição do fluido hidrotermal que é derivado, especialmente
com respeito a taxa de H2S/SO2-4
-. Por exemplo, para um sistema em que o fluido possui valores de δ34S = 0‰ e contem
H2S e SO2-4.
- em proporção molar de 0,1:0,9 respectivamente, o δ34S da galena será de -33.3‰ em
200ºC. Se a composição do fluido mudar para proporções iguais de H2S e SO2-4, o δ34S da
galena mudará para -20.5‰ na mesma temperatura.

As três principais fontes de enxofre podem ser caracterizadas por:


→ O valor de δ34S em um fluido é próximo de zero indicando que o enxofre
provavelmente é de origem magmática;
→ O valor de δ34S em torno de +20‰ (CD), que é da água do mar, mostra que o
enxofre é originado da água do mar ou de evaporitos marinhos;
→ Valores intermediários de δ34S sugerem origem de rochas encaixantes. É também
possível identificar a fonte de fluidos hidrotermais para isótopos de oxigênio usando inclusões
de minerais de minério.

21.1.6 - δ18O
Em depósitos epitermais, por onde circulou a maior parte dos fluidos aquosos
mineralizantes, exibem valores mais baixos de δ18O em função de troca isotópica com fluidos
de temperaturas mais elevadas na época da deposição de minerais de minério. A variação dos
valores de δ18O em vários reservatórios geológicos é mostrada na figura abaixo.

467
A figura abaixo mostra as variações de salinidade por valores de δ18O em águas
oceânicas rasas e profundas.

18
Dados sobre variação na razão entre O/16O, a partir da análise de testas (carapaças)
de foraminíferos preservados em sedimentos marinhos cenozóicos, apóiam a hipótese de
controle astronômico sobre a repetição periódica de fases glaciais e interglaciais, durante os
18
últimos 3 milhões de anos. Em épocas de crescimento dos mantos de gelo, a razão O/16O
16
aumentaria por causa da retenção de O no gelo continental.

468
O aumento de CO2 na atmosfera durante erupções vulcânicas é considerado fator
fundamental no controle de sua concentração na atmosfera. Além do vulcanismo, fases de
expansão do fundo oceânico, orogênese e transgressão marinha resultariam em produção de
CO2. Em contrapartida, fases de levantamento, regressão marinha e erosão corresponderiam a
épocas de maior retirada de CO2 da atmosfera, através da exposição mais extensa das
plataformas continentais ao intemperismo químico das rochas sob a ação do CO 2 dissolvido na
água, acidificando-a.

469
21.1.7 - δ13C
Carbono do manto (diamante,
carbonatitos, kimberlitos) tem valores δ13C
relativamente constantes, variando de -7‰ a -
5‰. Valores de vidro basáltico variam de -30‰ a
-3‰, e representam carbonos isotopicamente
distintos extraídos a temperaturas diferentes.
Vidros de composição MORB tem valores
isotópicos que caem na variação típica dos
valores do manto, enquanto que vidros de arco
de ilhas tem valores mais baixos, que podem ser
explicados pela mistura de carbono do manto e
carbono orgânico de sedimentos subducionados
(Mattey et al., 1984, citado em Hoefs, 1997),
conforme ao lado.
Os valores de isótopos de C, principalmente quando usados em combinação com
isótopos de oxigênio, podem ser usados para se determinar as principais fontes de carbono em
fluidos hidrotermais que incluem carbonatos marinhos, cujo valor médio δ13C e 0‰, fontes mais
profundas derivadas do manto ou crosta, com valor médio e 7‰, e componentes orgânicos de
origem biogênica, com valor médio de δ13C em torno de -25‰ (Faure, 1986).

470
21.1.8 - δ34S
A distinção entre depósitos de sulfetos relacionados à atividade ígnea e aqueles
relacionados à origem sedimentar pode em parte ser feita com isótopos de enxofre. Enxofre
associado a rochas ígneas derivadas do manto tem composição isotópica homogênea, em
torno de 0‰, enquanto que enxofre biogênico tende a ter valores negativos e mais variáveis.
Variações grandes dos valores δ34S de rochas graníticas podem ser atribuídas à
incorporação de S fracionado derivado de rochas sedimentares durante fusão ou assimilação
de rochas sedimentares em zonas de subducção ou pela passagem de magma em sedimentos
ricos em S. A figura abaixo mostra a variação de δ34S (CDT) em vários materiais geológicos
(Hoefs, 2009).

21.1.9 - δ37Cl
Isótopos de Cl possuem variações de -0,05‰ a 5,96‰ sugerindo o seu uso como um
método prospectivo de depósitos de metais de base, oxidados em condições de climas áridos
ou semi-áridos, e portadores de atacamita, boleita e connellita. Estes minerais ostentam
valores de δ37Cl extremamente elevados e, por conseqüência, os valores de δ37Cl obtidos
podem ser usados para prospecção de depósitos de metais de base, não aflorantes. A figura
abaixo mostra a variação de δ37Cl em vários materiais geológicos (Hoefs, 2009).

471
Outros isótopos:

472
473
21.1.10 - Isótopos estáveis e ambientes
Os isótopos ambientais são usados para rastrear a proveniência e díade da água
subterrânea, os processos de recarga dos aqüíferos, as reações geoquímicas e velocidade das
reações, nos estudos dos processos de subsurperfície e nas interfaces solo-água-atmosfera e
nos estudos dos ciclos biogeoquímicos. As assinaturas isotópicas variam amplamente entre
diferentes materiais geológicos e reservatórios geoquímicos devido aos processos de
fracionamento isotópico a que estão sujeitos.
18 2
Os isótopos O e H são afetados pelos processos meteóricos e servem para
identificar a origem das águas. A recarga de rios e efluentes para os aqüíferos pode ser
rastreada através desses isótopos e ainda 3H e 14
C. As razões isotópicas são medidas em
amostras coletadas nos rios e em poços do aqüífero, com uma freqüência semanal ou mensal,
ao longo de um certo período de tempo, e os diagramas obtidos são então comparados e
interpretados. Simultaneamente são analisadas também amostras de chuva e determinada a
linha de água meteórica (MWL) local.
34
Isótopos S tem sido aplicado em estudos ambientais em diversas situações. É
especialmente recomendado para monitorar a influência de drenagem ácida de minas nas
18
águas superficiais e subterrâneas. No caso dos sulfatos, pode ser determinado também o O.
Através das determinações de δ18O em sulfatos de certas águas subterrâneas, pode-se
distinguir se são originários de evaporitos ou da oxidação de sulfetos em condições aeróbicas.

474
21.2 - ISÓTOPOS INSTÁVEIS (RADIOGÊNICOS)

21.2.1 - Introdução
Isótopos radiogênicos são usados na geoquímica em dois principais caminhos.
Historicamente podem ser usados para determinar a idade de rochas e minerais. Mais
recentemente são usados em estudos petrogenéticos para a identificação de processos
geológicos e entendimento de fontes magmáticas. Outras aplicações podem ser citadas, como
no estudo de gênese de magmas e metalogênese.
O fundamento da geocronologia moderna foi elaborado no início do século XX por
Rutherford e Soddy (1903) em elementos naturais radioativos. Eles mostraram que o processo
de decaimento radioativo é exponencial e independente das condições físicas e químicas do
ambiente. As taxas de decaimento podem ser assim, usadas para medidas do tempo
geológico. Os isótopos podem ser divididos em estáveis e instáveis (radiogênicos). O número
de isótopos estáveis é de 300, e os isótopos radiogênicos de 1200. Duas hipóteses
fundamentais são aceitas por geólogos no uso dos isótopos radiogênicos:

1. Taxa do decaimento radioativo é independente de todas influencias externas, como


a temperatura, pressão e etc.;
2. Dois isótopos do mesmo elemento são quimicamente idênticos e, portanto os
processos químicos não podem mudar ou fracionados.

Átomos consistem em três partículas fundamentais: prótons (carga positiva) e nêutrons


(neutro) e os elétrons (cargas negativas) que orbitam os núcleos. O número de prótons define o
número atômico (Z), onde o número total de prótons e nêutrons determina o peso atômico. Em
um átomo eletrostáticamente neutro, o número de prótons e elétrons tem que ser o mesmo.
Ambos, prótons e nêutrons contribuem com o peso atômico (M), mas os elétrons possuem
apenas uma pequena fração na massa do átomo.
Isótopo é definido como uma variedade do mesmo elemento químico (átomos como o
mesmo número atômico Z) que possuem uma variedade no número de nêutrons e variando o
peso atômico (M). Alguns elementos leves possuem apenas poucos isótopos enquanto que os
elementos pesados possuem vários.

475
21.2.2 - Isótopos radiogênicos
Os fundamentos físicos que servem de base para a
geologia de isótopos radiogênicos estão associados ao
princípio do decaimento radioativo. A radioatividade pode
ser definida como um ajustamento espontâneo de um
núcleo de átomos instáveis para um estado mais estável. A
radiação é o resultado de mudanças no núcleo pelos
átomos. Partículas A e B são partículas de alta velocidade,
correspondendo ao núcleo do hélio e seus elétrons,
respectivamente. O terceiro tipo de radiação é a C (raios
gamma) consiste de ondas eletromagnéticas similares as
características do raios-X, sendo de maior energia e menor
comprimento de onda quando comparadas as do raios-X.
Adicionado a estes três tipos de radiação nuclear podemos
acrescentar os raios-X, também produzidos pelo decaimento radioativo. Alguns átomos, que
possuem um estado de grande energia, tendem a se transformar em átomos com estado de
menor energia, liberando partículas A e B e emitindo radiação C, decaindo para um estado
mais estável.

21.2.3 - A carta de nuclídeos


Atualmente são conhecidos pouco mais de 100 elementos diferentes. Contudo, uma
vez que o número de nêutrons dos átomos pertencentes ao mesmo elemento pode variar, a
quantidade total de diferentes tipos de nucleos atômicos, ou nuclídeos, andará próximo dos
1700. Contudo, apenas cerca de 260 destes são estáveis. Os 1700 nuclídeos conhecidos
podem ser tabulados na carta de nuclídeos. O diagrama abaixo mostra os isótopos de H, He e
Li na carta de nuclídeos.

476
Um núcleo com 2 prótons, mas zero nêutrons (i.e. 2He) não pode existir, devido às
fortes forças repulsivas entre os prótons. Contudo, o núcleo de 4He, que contém 2 prótons e 2
nêutrons, é estável. A presença de nêutrons contribui para a estabilização do núcleo. Contudo,
o núcleo de 6He, contém muitos nêutrons e irá decair em frações de segundo após a sua
formação. Por conseguinte, o 6He é altamente instável.
O núcleo de 6He é altamente instável porque contém muitos nêutrons. Para obter um
núcleo estável, um nêutron é transformado em um próton. Isto leva à formação de um núcleo
com 3 prótons e 3 nêutrons, que corresponde ao 6Li, o qual é estável. Este tipo de reação é
designada de reação radioativa. O decaimento de um núcleo instável ocorre espontaneamente,
i.e. sem qualquer influência de fontes externas.

O diagrama abaixo mostra todos os núcleos estáveis na carta de nuclídeos. Dos


aproximadamente 1700 nuclídeos conhecidos, apenas 260 são estáveis. Estes formam uma
banda diagonal na carta de nuclídeos. Para os elementos mais leves, a proporção entre o
número de prótons e de nêutrons dos isótopos estáveis é de cerca de 1:1, enquanto que para
209
os elementos mais pesados é de cerca de 2:3. O Bi, que contém 83 prótons e 126 nêutrons,
é o nuclídeo estável mais pesado. Além dos cerca de 260 nuclídeos estáveis existem cerca de
60 nuclídeos instáveis naturais (a azul no diagrama). Os nuclídeos instáveis incluem os
239 235 232
nuclídeos primordiais U, Ue Th, e os seus produtos do decaimento (os nuclídeos da
parte superior direita do diagrama). Finalmente, uma grande parte dos nuclídeos instáveis pode
ser sintetizadas de diferentes modos, por exemplo nas centrais nucleares e durante explosões
nucleares.

477
Os nuclídeos instáveis irão eventualmente sofrer decaimento radioativo para um
nuclídeo estável. Para muitos nuclídeos instáveis, o decaimento para um nuclídeo estável
ocorre em diversos passos por via de outros nuclídeos instáveis. Um nuclídeo radioativo sofre
decaimento radioativo para um nuclídeo-filho que se encontra mais perto da diagonal dos
nuclídeos estáveis. Por conseguinte, os nuclídeos com excesso de prótons (acima da diagonal
dos nuclídeos estáveis) decaem na direção do canto inferior direito. Os nuclídeos com excesso
de nêutrons decaem na direção do canto superior esquerdo, enquanto que os nuclídeos mais
pesados no canto superior direito decaem na direção do canto inferior esquerdo.

21.2.4 - Partículas alfa (α):


Possuem dois prótons, o efeito da remoção de uma partícula alfa de um núcleo é a
mudança do átomo para dois lugares abaixo da tabela periódica. O número de massa é
diminuído por 4 unidades, porque a partícula alfa possui 2 nêutrons em adição a 2 prótons. O
diagrama abaixo mostra uma parte da carta de nuclídeos contendo os elementos com número
238 235 232
atômico entre 80 e 92. Os três nuclídeos U, U e Th são estáveis, contudo, possuem
238
meia-vidas, ou períodos, longos (para o U, T1/2 = 4468 Ga). Enquanto que muitos nuclídeos
instáveis já sofreram extinção desde a formação da Terra há 46 Ga atrás, ainda existem
238 235 232
quantidades consideráveis de U, U e Th na Terra. Os restantes nuclídeos naturais
instáveis do diagrama acima possuem meia-vida curta, contudo, são continuamente produzidos
durante o decaimento radioativo do 238U, 235U e 232Th.

478
238
Tomamos como exemplo a série de decaimento do U.
O núcleo do 238U é composto por 92 prótons e 146 nêutrons.
238 234
→O U decai para o Th pelo mecanismo de decaimento α. O núcleo do nuclídeo-
pai emite uma partícula α, composta por 2 prótons e 2 nêutrons. A reação de decaimento leva à
formação de um nuclídeo-filho com um núcleo contendo 2 prótons e 2 nêutrons a menos do
que o seu pai. A partícula α é semelhante ao núcleo do 4He. Por conseguinte, a partícula α é
muitas vezes referida como 4He.

→ 23892U decai para o 23490Th emitindo partícula α (....)


→ 23492U decai para o 23090Th emitindo partícula α
→ 23090Th decai para o 22688Ra emitindo partícula α

479
→ 22688Ra decai para o 22286Rn emitindo partícula α... chegando por fim para
→ 21084Po decai para o 20682Pb (estável) emitindo partícula α
O decaimento beta (β) pode ser definido como um processo radioativo em que o
número de massa permanece o mesmo, somente o número atômico é mudado. O número
atômico do átomo é acrescido de uma unidade β- (55Cs→56Ba + e- + β-) ou diminuído de uma
unidade β+ (11Na→10Ne + e+ + β+) . Dois tipos são importantes na determinação de idades
geológicas.

21.2.5 - Decaimento β ordinário


Envolve uma mudança do nêutron para um próton
com emissão de um elétron;

21.2.6 - Decaimento β-
Tomemos por exemplo o 87Rb.
87
O nuclídeo Rb contém 37 prótons e 50 nêutrons. Encontra-se posicionado abaixo da
87
diagonal dos nuclídeos, assim, o núcleo possui um excesso de nêutrons. O Rb sofre
decaimento radioativo para um nuclídeo posicionado na direção do canto superior esquerdo,
87 87 87
notavelmente o Sr. O decaimento do Rb para o estável Sr ocorre pelo mecanismo
conhecido por mecanismo de decaimento β-. Um nêutron do núcleo de 87
Rb emite uma
pequena partícula carregada negativamente semelhante a um elétron - a partícula β -. A
partícula é também conhecida por negatron. Adicionalmente, é emitida uma pequena partícula
eletricamente neutra - um antineutrino. Um dos resultados da emissão da partícula β - é que o
nêutron, originalmente neutro, se transforma em um núcleo de carga positiva - um próton. O
número de nêutrons do núcleo diminui para 49, enquanto que o número de prótons aumenta
para 38, o que corresponde ao núcleo do 87Sr

480
21.2.7 - Decaimento β+
18 18
Tomemos por exemplo o F.O F possui 9 prótons e 9 nêutrons. O nuclídeo encontra-
se posicionado acima da diagonal dos nuclídeos estáveis da carta de nuclídeos, assim, o
18
núcleo possui prótons em excesso. O decaimento radioativo do F leva à formação de um
18
nuclídeo posicionado na direção do canto inferior direito, o O.
18 18
O decaimento radioativo do F instável para o O estável ocorre pelo mecanismo do
decaimento β +. Um próton do núcleo 18
F emite uma pequena partícula com carga positiva
semelhante a um elétron, mas com carga oposta - a partícula β +. Esta partícula é conhecida
como pósitron. Adicionalmente, é emitido um neutrino durante a reação (neutrinos e
+
antineutrinos são o mesmo tipo de partículas, os neutrinos associam-se ao decaimento β
enquanto que os antineutrinos estão associados ao decaimento β -). Como resultado da
emissão da partícula β +, o próton inicial com carga elétrica positiva transforma-se em um
núcleo com carga neutra - um nêutron. O número de prótons do núcleo é reduzido para 8,
18
enquanto que o número de nêutrons aumenta para 10, o que corresponde ao núcleo do O.

21.2.8 - Captura de elétrons


Um próton é mudado para um nêutron resultando o movimento de um elétron da
camada K desse átomo. O número atômico é decrescido em uma unidade. Radiação B não é
resultada deste processo, mas raios-X e raios-C são produzidos como resultado do
preenchimento da vacância criada pela camada K.

481
18 125
De modo semelhante ao F, o I encontra-se posicionado acima da diagonal dos
124 126
isótopos estáveis na carta de nuclídeos (o Xe e o Xe são nuclídeos estáveis, contudo,
encontram-se rodeados de nuclídeos instáveis os quais estão posicionados acima da diagonal
18 125
dos isótopos estáveis). E, de modo semelhante ao F, o I sofre decaimento radioativo para
125
um nuclídeo posicionado na direção do canto inferior direito, o Te. Contudo, repare no
elétron da parte superior do diagrama. Este é um elétron da camada eletrônica interna do
átomo. Durante o decaimento por captura eletrônica, um próton do núcleo de um nuclídeo
instável captura um elétron da camada interna do átomo. O próton originalmente com carga
positiva transforma-se em um núcleo com carga elétrica neutra - um nêutron. A reação está
associada à emissão de um neutrino. O número de prótons do núcleo é reduzido para 52,
125
enquanto que o número de nêutrons aumenta para 73, o que corresponde ao núcleo do Te.
É importante salientar que o mecanismo de decaimento por captura eletrônica eo mecanismo
+
de decaimento β levam ao mesmo resultado na carta de nuclídeos - o isótopo-filho contém
menos 1 próton, mas 1 nêutron a mais do que o seu isótopo-pai.

21.2.9 - Raios gama (γ)


São produzidos como parte de mudanças resultantes de
núcleos que são deixados em um estado de excitação. Quando um
núcleo retorna para seu estado primário, a energia na forma de
radiação γ é liberada. Quando o decaimento radioativo causa uma
mudança no número atômico, o isótopo original (instável) é conhecido
como pai, e o isótopo novo formado é chamado de filho.

482
Para entender este assunto com maior interatividade, acesse:
http://ansatte.uit.no/webgeology/webgeology_files/brazil/atoms_iso_bra.html

21.2.10 - Decaimento ramificado


40
Muitos nuclídeos instáveis, incluindo o K,
sofrem decaimento radioativo originando dois
nuclídeos-filhos estáveis diferentes. Este tipo de
decaimento é conhecido por decaimento
40
ramificado. Cerca de 89,5% dos átomos de K
40
decaem para o estável Ca, enquanto que 10,5%
dos átomos decaem para o 40Ar.
40 40
O decaimento do K para Ca ocorre pelo
mecanismo de decaimento β -. Um dos nêutrons do
-
nuclídeo-pai emite uma partícula β levando à
formação de um nuclídeo-filho com mais um próton
e menos um nêutron do que seu pai. 89,5% dos
átomos de 40K decaem através deste mecanismo.
40 40
O decaimento do K para Ar ocorre por
dois mecanismos de decaimento diferentes: 1)
+
decaimento β e 2) captura eletrônica. Apenas
40 40
0,001% dos átomos de K decaem para Ar pelo
mecanismo de decaimento β +.
40
10,5% dos átomos de K decaem para
40
Ar pelo mecanismo de captura eletrônica. O
40 40
decaimento do K radioativo para o Ar estável
40
constitui a base dos métodos de datação K/40Ar e
40
Ar/39Ar.

483
Medidas experimentais de taxas de decaimento radioativo indicam que se o
decaimento possui reação de primeira ordem, significa que átomos são decompostos em uma
unidade de tempo proporcional ao número presente:

Onde:
N = é o número de átomos pai num dado tempo t.
λ = é a constante característica do decaimento para um dado isótopo radioativo.
A constante λ pode ser expressa como um número de átomo decaído por unidade de
tempo.
Por exemplo: se a taxa constante é 0,01 segundos-1, a equação diz que durante cada
segundo, 1/100 de um átomo presente será decomposta. O sinal de menos (-) indica que N
está diminuindo.

Integrando a equação acima é gerada a equação:

Podemos substituir N para o número de átomos pai presentes no mineral (P) e para N0
o número de átomos pai presentes originalmente quando o mineral foi formado (P0). O número
de átomos filho agora presente (D) é igual para P0 menos P, onde a quebra de um átomo para
P produz um átomo de D. Portanto P0 = P + D, e a equação torna-se:

Rearranjando t:

Onde:
D = n° atual de átomos do elemento radiogênico;
P = n° de átomos do elemento radioativo.

484
Esta é a equação fundamental da geocronologia, a qual é utilizada para o cálculo de
idades pelos diferentes métodos. Os métodos geocronológicos baseiam-se na acumulação de
elementos radiogênicos em um sistema fechado, onde a quantidade inicial do elemento
radiogênico seja zero ou conhecida, e que M do elemento radioativo do sistema seja conhecida
com precisão.
A aplicação de métodos de datação radiométrica às rochas pressupõe que:
1. A rocha ou mineral tenha se comportado como um sistema fechado após a sua
formação;
2. Que na sua origem a rocha ou mineral não tenha contido elementos-filho, ou que o
número de elementos-filhos existentes inicialmente seja conhecido;
3. Que a meia-vida do elemento-pai seja compatível com a idade a ser datada;
4. Que a rocha/mineral contenha os elementos-pai e filho em quantidades analisáveis,
o que depende, além da questão comentada no item 3, da afinidade geoquímica desses
elementos.

485
21.2.11 - Meia-vida e Taxa de crescimento
Este tópico tem como objetivo entender
como pode ser utilizado o decaimento radioativo
e o crescimento de nuclídeos como cronômetros
para a datação de processos geológicos.
→ O desenho abaixo ilustra um cristal de
235
um mineral que contém 32 átomos de U. O
235 207
U é um isótopo radioativo que decai para Pb
(figura 1).
→ A meia-vida de um isótopo
corresponde ao tempo necessário para que a
metade de um determinado número de átomos do
235
isótopo sofra decaimento. A meia-vida do U
(T1/2) é de 704 Ma (milhões de anos). Após 704
235
Ma, o cristal contém 16 átomos de U e 16
átomos de 207Pb (figura 2).
→ Após 1408 Ma (= duas meia-vidas do
235
U), apenas restam 25% dos 32 átomos iniciais.
Agora, o sistema é constituído por 8 átomos de
235
U e 24 átomos de 207Pb (figura 3).
→ Após quatro meia-vidas (=2816 Ma), o
235
número de átomos de U ficaram reduzidos a
50% por quatro vezes. Apenas restam dois
207
átomos. O número de Pb aumentou em
concordância. A meia-vida de um nuclídeo do
radioativo é uma medida de sua taxa de
decaimento. Se medirmos os conteúdos de um
235
isótopo radioativo (e.g. U) e do seu nuclídeo-
filho (207Pb) em um mineral, e soubermos a taxa
de decaimento do nuclídeo radioativo, podemos
calcular o tempo ocorrido desde a formação do
mineral (figura 5).

486
21.2.12 - Como calcular a idade de um mineral?
Quando o cristal de mineral da esquerda se formou, foram incorporados na sua
estrutura 32 átomos de um nuclídeo radioativo (círculos vermelhos). A imagem abaixo mostra o
decaimento do nuclídeo-pai radioativo (P - círculos vermelhos) para o seu nuclídeo-flho estável
(D - círculos azuis) com o tempo. Inicialmente, o cristal continha zero átomos de D. Hoje, o
cristal contém 6 átomos do nuclídeo radioativo N e 26 átomos do seu nuclídeo-filho D.
- Quanto tempo decorreu desde a formação do cristal do mineral?
A idade do cristal pode ser calculada a partir da esquação:

A constante de decaimento λ do isótopo-pai radioativo está relacionada com a meia-


vida da equação:

λ = 0,693/T1/2
Digamos que a meia-vida do presente nuclídeo-pai radioativo é de 703.800.000 anos
(~704 Ma). Isto corresponde a uma constante de decaimento λ = 9.8485 x 10-10 ano. Para
calcular a idade do mineral substituimos os números conhecidos da equação
de modo que:

que pode ser resolvida para t:

t = 1.700.000.000 anos
Assim, passaram-se 1.7 Ga desde a formação do cristal.
Contudo, é de salientar que a idade calculada apenas é válida se o cistral estiver
comportado como um sistema químico fechado durante a sua evolução, i.e. que nenhum átomo
do nuclídeo pai ou filho tenha sido adicionado ou removido do cristal durante a sua evolução.

487
A fotografia abaixo mostra um cristal de zircão de um sienito nefelínico pegmatítico de
Seiland, norte da Noruega. Os zircões desta localidade foram analizados por Pedersen et.al
(1989). Uma fração de zircão possuia uma razão 207Pb/235U = 0,6842. Para conseguir
calcular a idade dos zircões, rearranjamos a equação D = P(e λt - 1), como mostrado na figura
abaixo.

Da análise obtemos D/P = 207Pb/235U = 0,6842. Adicionalmente a constante de


decaimento do 235U é conhecida λ = 9,8485 x 10-10/ano. Isto nos dá a equação:

que nos dá t = 529,3 Ma.


Muito provavelmente os zircões formaram-se quando o sienito nefelínico pegmatítico
cristalizou à cerca de 530 milhões de anos atrás.

21.2.13 - Séries radioativas


60
O Zn é radioativo, com uma meia-vida de 2,4 minutos. O decaimento radioativo do
60 60 60 60
Zn para o estável Ni envolve a formação transitória do Cu instável. A meia-vida do Cu é
de 23 minutos.

488
60
A série de nuclídeos associados ao decaimento do Zn é conhecida por série
60 60
radioativa do Zn. A série radioativa do Zn possui como característica o fato do nuclídeo
intermediário (60Cu) possuir uma maior duração do que o seu nuclídeo-pai.
Exemplo: Vamos imaginar que temos um sistema fechado que contém 10.000 átomos
60 60
de Zn. O próximo slide mostra o decaimento radioativo do Zn e a evolução do seu nuclídeo-
filho, com o tempo.
60
O diagrama ao lado direito mostra o decaimento do Zn e a evolução dos seus
60 60
nuclídeos filho com o tempo. O Zn decai rapidamente - após 10 minutos o número de Zn no
sistema ficou reduzido a cerca de 550. Durante o mesmo período de tempo, formaram-se cerca
60 60 60
de 9.450 átomos de Cu. Contudo, uma vez que o Cu decai subsequentemente para Ni,
60
apenas cerca de 7600 átomos de Cu se encontram presentes no sistema após 10 minutos. É
60 60
de notar que inicialmente, quando o Zn é abundante, a taxa de produção de Cu é mais
60
elevada do que a taxa de decaimento. Contudo, após 9 minutos o Cu decai mais rapidamente
do que é produzido.
60
Após 30 minutos o sistema contém menos de 2 átomos de Zn. Assim, pode
considerar-se que o sistema contém apenas dois tipos de nuclídeos 1) o nuclídeo-pai radioativo
(60Cu) e 2) o seu nuclídeo-filho estável (60Ni)

489
21.2.14 - Isócronas
Um diagrama de isócrona é bivariante aonde são mostradas taxas isotópicas de pais-
filhos para amostras de uma suíte cogenética. Onde as amostras da suíte definem uma linha
no qual é chamada de isócrona e a declinação desta linha é proporcional a idade da suíte.
87
Consideramos o sistema Rb-Sr. O número total de átomos de Sr na rocha que foi fechada no
sistema para t anos é expressa pela equação:

Onde:
87
Srm = o total do número de átomos para 87Sr presentes hoje.
87
Sr0 = o nº de átomos de 87Sr presentes quando a amostra foi formada primeiramente.
87
Rbm = o nº de átomos de 87Rb presentes hoje.
M = é a constante de decaimento (Tab. 1).

No caso do sistema isotópico do Rb-Sr a razão isotópica é 86Sr, portanto pode ser
escrita da seguinte forma:
A razão (87Sr/86Sr)m e (87Rb/87Sr)m podem ser medidas por espectrômetro de massa,
já (87Sr/86Sr)0 e t (idade da rocha) é o que queremos determinar. A partir desta equação que
forma uma linha reta, a idade e interceptação podem ser calculadas a partir da plotação das
medidas das razões (87Sr/86Sr)m e (87Rb/87Sr)m para uma suíte rochas cogenéticas.

490
Esta metodologia é ilustrada na figura abaixo. A idade pode ser calculada a partir da
inclinação da linha na equação:

Onde:
t = idade λ = constante de decaimento
O tempo é medido a partir do presente e é expresso em Ma (106 anos) ou Ga (109
anos). A interceptação, a razão inicial, é considerada de grande importância petrogenética.
Este cálculo de isócrona requer uma suíte de amostras cogenéticas, formadas de um
mesmo magma parental.

491
21.2.15 - Isótopos radiogênicos e ambientes
Erel et al. (1997) utilizaram isótopos de chumbo para traçar os percursos do elemento
em solos e distinguir entre padrões de migração de chumbo natural, derivado das rochas, e de
chumbo antropogênico, originário de várias fontes, inclusive da combustão de gasolina,
provavelmente a principal fonte de chumbo antropogênica em Israel. Este exemplo demonstra
que o uso de razões isotópicas de Pb constitui um método sensível mesmo para materiais de
baixos teores de chumbo, podendo ser aplicado em regiões onde persistam dúvidas sobre as
fontes de poluição para metais pesados em solos, sedimentos outros meios (Figueiredo, 2000).

O trítrio 3H é radioativo (meia-vida de 12,43 anos) e, como parte da molécula da água,


constitui a base do único método direto de datação de águas. Durante o decaimento do trítio,
são emitidas partículas β-, as quais são detectadas por um contador de partículas, e os
resultados comparados a padrões internacionais. Para os aqüíferos antigos, podem ser usados
14 36
ainda os radioisótopos C, que possui meia-vida de 5.730 anos, e o Cl, com meia-vida de
301 mil anos (Figueiredo, 2000).

492
CAPÍTULO 22 - MÉTODOS ISOTÓPICOS

22.1 - O MÉTODO Rb - Sr

O sistema isotópico Rb-Sr (meia vida t1/2 = 48,8 Ga) baseia-se na desintegração de
87 87 86
Rb (abundância de 27.83%) em Sr, sendo utilizado o isótopo estável Sr para a
normalização das razões isotópicas. Rb possui o mesmo ciclo geoquímico do K, ao passo que
Sr possui compatibilidade geoquímica com Ca. Essa diferenciação geoquímica faz com que as
rochas da crosta continental superior possuam razões Rb/Sr mais elevadas do que as rochas
da crosta inferior e do manto (Faure, 1986). A figura abaixo mostra a o Sr isotópico na evolução
da terra, evoluindo para altas razões de Rb/Sr na crosta até 3.8 Ga, evolução resultando em
um manto residual e uma posterior depleção contínua. BABI é o padrão para basaltos e
assume como a razão 87Sr/86Sr do sistema solar.

Portanto:
Rochas com alta Rb/Sr U ricas em 87Sr;
87
Rochas com baixa Rb/Sr U pobres em Sr.

493
Dois tipos de alteração são conhecidos para efeitos de conteúdo Rb e Sr em minerais:
1. Temperatura afetada pelo metamorfismo (causa difusão do Sr);
2. Extração química por circulação de água.

O metamorfismo pode causar redistribuição de Sr de minerais para as rochas ou entre


diferentes tipos de rochas. O sistema Rb-Sr é mais aplicado em mineralizações que não
tenham sofrido eventos geológicos pós-mineralização, que podem causar desequilíbrio do
sistema Rb-Sr, uma vez que tais elementos além de serem móveis possuem comportamentos
geoquímicos distintos. Portanto, está técnica é mais aplicada em mineralizações jovens, com
idades no máximo fanerozóicas. Aplicado para eventos de magmatismo e metamorfismo com
idades entre 4.6 Ga a 10 Ma.

22.1.1 - O Rb e o Sr na tabela periódica


O Rubídio (Rb) pertence aos metais alcalinos, os quais incluem igualmente o Sódio
(Na) e o Potássio) (K). O Estrôncio (Sr) pertence aos metais alcalinos - terrosos, incluindo o
Magnésio (Mg) e o Cálcio (Ca). Os átomos neutrons dos metais alcalinos caracterizam-se por
possuírem um elétron na camada eletrônica exterior. Por conseguinte, prontamente formam
íons monovalentes. O átomos neutros dos elementos alcalinos - terrosos contêm dois elétrons
na camada eletrônica exterior. Estes elementos formam normalmente íons bivalentes.
O raio iônico dos elementos alcalinos aumenta em direção ao número atômico mais
elevado. O raio iônico do Rb (1,48 Å) é suficientemente semelhante ao do K (1,33 Å), para
permitir que o Rb substitua o K em todos os minerais que possuem K.
Os minerais adequados para o método de datação Rb-Sr incluem:
- As micas, feldspatos potássicos, minerais de argilas e meinrais evaporíticos como a
silvita e a carnalita.

494
O raio iônico do Sr é ligeiramente superior ao do Cálcio, o qual pode substituir o
mesmo em minerais comuns, como o plagioclásio, apatita e calcita.

22.1.2 - O Rb e o Sr na carta de nuclídeos


87
O rb possui dois isótopos naturais: Rb e
85 87 85
Rb. O Rb é radioativo, enquanto que o Rb é
estável. O Sr possui quatro isótopos naturais, todos
eles estáveis: 88Sr, 87Sr, 86Sr e 84Sr.
87
O núcleo do Rb consiste em 37 prótons e
87 87
50 nêutrons. O Rb é instável e decai para Sr. O
87
decaimento do Rb ocorre através do mecanismo
de decaimento β- (negátron ou elétron negativo) e
um antineutrino (ṽ). Isto leva à formação de um núcleo constituído por
87
38 prótons e 49 nêutrons, o que corresponde ao Sr. O decaimento
do 87Rb para o 87Sr é descrito pela equação:
87 87
Rb → Sr + β- + ṽ + Q
β- = Representa a partícula β- ou negátron;
ṽ = É o antineutrino;
Q = é a energia de decaimento - a energia liberada durante a
reação de decaimento.

22.1.3 - O decaimento do 87Rb e o crescimento do 87Sr


87
O Rb possui uma meia-vida T1/2 = 4,88x1010anos, o que corresponde a uma
constante de decaimento λ = 1,42x10-11 y-1. (T1/2 = ,693/λ). Na próxima imagem, pode-se ver
87
uma caixa cheia com 32 átomos de Rb. Agora será mostrado o que acontece aos átomos de
87
Rb a medida que o tempo passa.

495
Após 4,88 bilhões de anos (4,88x1010 anos),
87
metade dos átomos de Rb inicialment presentes na
87
caixa sofreram decaimento radioativo para Sr. Este
intervalo de tempo corresponde a uma meia-vida do
87
Rb.
Por cada 4,88 bilhões de anos o número de
87
átomos de Rb é reduzido a metade. O número de
87
átomos de Sr aumenta em conformidade. Após um
87
período de 5 "meia-vidas", resta apenas 1 átomo de Rb
87
na caixa. O número de átomos de Sr é de 31.

Mas como calculamos a idade?


A ferramenta utilizada é a equação:

87
Sr = 87Sri + 87Rb(eλt - 1)

87 87
O Sr e o Rb representam o número dos
respectivos isótopos presentes atualmente na caixa; o
87 87
Sri representa o conteúdo inicial de Sr na caixa (zero
no exemplo acima). A equação pode ser reescrita:

Substituímos os valores conhecidos:

e obteremos a idade t = 24,4 bilhões de anos.

496
22.1.4 - A equação fundamental

87
Sr = 87Sri + 87Rb(eλt - 1) 86Sr
87
Se for conhecida a quantidade de Sr incorporada em um mineral quando este se
formou (87Sri), e analisarmos o conteúdo atual de 87
Rb e 87
Sr, podemos calcular a idade do
mineral utilizando a equação acima. Um problema prático com a equação é que esta requer
concentrações dos isótopos como input. O espectrômetro de massa, o instrumento que executa
análises isotópicas, fornece razões isotópicas como output.
O problema é elegantemente resolvido resolvido dividindo cada termo por 86Sr. O 86Sr
é um isótopo estável, e não é produzido por decaimento radioativo de um isótopo natural de
outro elemento. Logo, o conteúdo em 86Sr de um mineral não se altera com o tempo.
A equação abaixo é a base para a determinação de idades pelo método Rb-Sr.

Contudo, antes de analisarmos esta equação mais de perto, iremos rever alguns
conceitos matemáticos básicos.

22.1.5 - O diagrama da isócrona


Uma reta é mercada no diagrama (x,y) abaixo. A equação da reta é: y = 1 + 0,5x. A
reta intersecta o eixo do y em y = 1. Mas, a inclinação da linha é de 0,5. A equação geral de
uma reta em um diagrama (x,y) é y = A + xk. "A" corresponde ao ponto de intersecção da reta
com o eixo y, enquanto que "k" corresponde à inclinação da linha.

497
Agora, comparemos a equação acima com a equação geral de uma reta em um
diagrama (x,y). Com base na equação acima, podemos construir um diagrama com a relação
87
Rb/86Sr no eixo horizontal (eixo-x) e 87Sr/86Sr no eixo vertical (eixo-y).

Neste diagrama, a equação base representa a reta: o valor ( 87Sr/86Sr), corresponde ao


ponto de intersecção entre a reta e o eixo vertical, enquanto que (e λt - 1) corresponde à
inclinação da mesma reta. Este é o diagrama.

87
Os valores de Rb/86Sr são marcados ao longo do eixo horizontal (eixo-x), enquanto
87
que os valores de Sr/86Sr são marcados ao longo do eixo vertical (eixo-y). O valor (87Sr/86Sr)i
corresponde ao ponto de intersecção entre a reta e o eixo vertical, enquanto que (e λt - 1)
corresponde a inclinação da linha.

498
22.1.6 - Datação de rochas ígneas
Será mostrado agora os resultados de um estudo isotópico Rb-Sr realizado por
Andresen (1980). À esquerda está um mapa geológico da área a oeste de Troms Ø, na
Noruega. O granito de Ersfjord em KvalØya está representao em vermelho. A fotografia mostra
alguma das montanhas existentes na área.

Foram preparadas sete amostras do granito para análise em um espectrômetro de


massa: 1 e 2 são granitos pobres em biotita, 3 a 5 foram caracterizados como possuindo
conteúdo intermediário em biotita, enquanto que 6 e 7 eram rico em biotita. Quando realizada a
análise os dados foram lançados em um diagrama, como mostrado abaixo. Nota-se que o
conteúdo em Rb das amostras correlaciona-se com o conteúdo em biotita das rochas. Por quê?
Pode ser traçada uma reta ao longo dos pontos marcados. A reta intersecta o eixo
87
vertical em um valor de Sr/86Sr = 0,70404. Esse corresponde à relação 87
Sr/86Sr do granito (e
de todos os minerais que o compõe) logo após a sua formação. A inclinação da reta nos
fornece a equação: (eλt - 1) = 0,02523. Nesta equação existe apenas uma variável
desconhecida, notavelmente o t (tempo), que pode ser obtido resolvendo-se a equação para t.
A reta no diagrama é chamada de isócrona, que significa "idade semelhante". No diagrama da
isócrona, as rochas e os minerais de idade semelhante encontram-se ao longo de uma só linha
- uma isócrona.

499
87
Quando o granito cristalizou, todos os minerais possuíam o mesmo valor Sr/86Sr
(=0,70404), uma vez que se formaram todos a partir do mesmo magma isotopicamente
homogêneo. A inclinação da isócrona era zero, o que corresponde a uma idade = 0.
87
Desde o momento da cristalização os átomos de Rb vêm continuadamente decaindo
87 87
para Sr. Nas rochas com conteúdo inicial baixo em Rb, formaram-se quantidades
87 87
relativamente pequenas de Sr. Nas rochas que continham inicialmente mais Rb, formaram-
87
se quantidades propoircionalmente mais elevadas de Sr. Nota-se que sete amostras estão
marcadas numa reta em qualquer estágio da evolução. Esta reta articula-se com o eixo vertical
em um valor de (87Sr/86Sr). Nota-se igualmente que a inclinação da linha aumenta à medida
que o tempo decorre. A inclinação atual indica que o granito tem uma idade de 1706 ± 15 Ma.

22.1.7 - Datação de rochas metamórficas


Agora será mostrado como o método Rb-Sr pode ser utilizado para datar rochas
metamórficas, ou seja o metamorfismo. A montanha da imagem abaixo é constituída por uma
rocha ígnea metamorfizada. R1, R2 e R3 representam diferentes amostras da rocha, enquanto
que os círculos vermelhos (M1, M2 e M3), representam três
minerais contidos em R2. O diagrama abaixo mostra as
composições isotópicas dos volumes de rocha total e dos
minerais logo após a cristalização. Tanto os volumes de
rocha como os minerais apresentam as mesmas razões
87
Sr/86Sr, umas vez que ambos se formaram a partir do
mesmo fundido isotopicamente homogêneo. Contudo, as
87
razões Sr/86Sr são diferentes, porque vários minerais
fracionam Rb e Sr de modo diferente (figura 1).

500
Durante um período de 1000 Ma, a inclinação da
isócrona aumenta commo resposta ao decaimento
87 87
radioativo do Rb e crescimento de Sr (figura 2). Em
seguida a rocha foi aquecida durante um episódio
metamórfico de curta duração. A temperatura crescente
levou à mobilização em pequena escala, se Sr (e.g.
entre minerais de um pedaço da rocha), o que levou à
homogeneização isotópica dos minerais na amostra R2.
Contudo, a mobilidade do Sr não foi suficientemente
grande para homogeneizar grandes volumes da rocha
(figura 3). Após o resfriamento o Sr foi mobilizado e a
razão 87Sr/86Sr continuou a evoluir nos minerais e nos
volumes de rocha total. 1500 Ma após a cristalização da
rocha, os espécimes de rocha definem uma isócrons
que fornece a idade da cristalização da rocha (t i).
Contudo, a isócrona definida pela amostra R2 e pelos
três minerais de R2 fornecem a idade do episódio
metamórfico, o qual terá ocorrido há 500 Ma atrás (tm)
(figura 4).

501
22.1.8 - Isótopos de Sr do manto e da crosta
Desde a formação da Terra há 4,6 Ga
atrás, que o manto tem sido homogêneo no que
87
diz respeito às razões Rb/Sr e Sr/86Sr. Pouco
depois da formação da Terra, a razão
87Sr/86Sr do manto era cerca de 0,699.
Contudo, devido ao decaimento radioativo do
87 87 87
Rb em Sr, a razão Sr/86Sr do manto
evoluiu até o valor atual de aproximadamente
0,704 (figura 1).
Durante a fusão parcial do manto, o
material do manto é extraído e adicionado à
crosta terrestre. Imediatamente após a
formação da nova crosta, a sua composição
isotópica em Sr é semelhante à composição do
manto do qual foi extraída (figura 2).
Durante a fusão parcial do manto o Rb
é repartido para o fundido em relação ao Sr. Por
conseguinte, imediatamente após a sua
formação, a crosta recém-formada apresenta
uma razão Rb/Sr mais elevada do que o manto
do qual foi extraída. De modo semelhante, a
parte do manto que foi submetida a fusão
parcial (manto empobrecido) apresenta uma
razão Rb/Sr inferior à do manto não
empobrecido. Devido às diferenças nas razões
87
Rb/Sr, as razões Sr/86Sr da crosta, o manto
empobrecido e o manto não empobrecido evoluem de modo diferente. As rochas crustais
apresentam, em geral, razões 87Sr/86Sr superiores às das rochas mantélicas (figura 3).
O manto é, como referido anteriormente, homogêneo no que diz respeito à sua
composição isotópica em Sr. Contudo, diferentes componentes da crosta terrestre apresentam
grandes variações nas razões 87Sr/86Sr. Uma das razões para isto acontecer é o fato dos
diferentes componentes da crosta terem sido extraídos do manto em momentos diferentes,
como mostrado ao lado (figura 4).

502
22.1.9 - Datação de processos sedimentares por meio da utilização de isótopos
de Sr de carbonatos marinhos (parte 1)
Muitos organismos que habitam as águas oceânicas possuem conhcas e outras partes
duras constituídas por CaCO3. O Sr2+ e Ca2+ possuem cargas e raios iônicos semelhantes,
logo, o Sr2+ rapidamente substitui o Ca2+ na estrutura do carbonato. Contudo, o Rb+ não é
87
incorporado em carbonatos. A relação Sr/86Sr de uma concha carbonática de um organismo
87
marinho vivo é semelhante à relação Sr/86Sr da água na qual ele vive. Quando o organismo
87
morre e é incorporado nos sedimentos do fundo, a assinatura Sr/86Sr do ambiente no qual
este vivia é preservada no sedimento que se forma. Uma vez que a concha não contém Rb, a
87
assinatura Sr/86Sr não é alterada com o tempo. Por conseguinte, os carbonatos marinhos
87
podem ser utilizados para monitorar a variação da razão Sr/86Sr dos oceanos ao longo do
tempo.

22.1.10 - Isótopos de Sr dos oceanos


O Sr da água marinha provém de 3 fontes principais:
1) água com assinatura 87Sr/86Sr crustal que entra no mar por meio dos rios;
87
2) água com assinatura Sr/86Sr mantélica que entra no mar por meio dos sistemas
hidrotermais ao longo das dorsais meso - oceânicas; e
3) recirculação de Sr proveniente de rochas pré-existentes ricas em carbonatos.

503
Apesar dos oceanos do mundo receberem continuamente Sr de composição isotópica
muito variável, proveniente das fontes anteriormente mencionadas, a composição isotópica dos
oceanos é a mesma por todo o lado:
87
Sr/86Sr = 0,70924
As correntes fortes das águas oceânicas são muito importantes para a
homogeneização isotópica do Sr em escala global. Contudo, igualmente importante é a
elevada solubilidade do Sr em águas marinhas. O Sr introduzido no mar a partir de uma fonte
externa permanece por tempo suficiente no mar para se homogeneizar isotopicamente em
escala global. Os elementos menos solúveis (e.g. Nd) precipitam muito antes de ser atingida a
homogeneização isotópica.
O diagrama abaixo mostra as
87
variações da razão Sr/86Sr da água dos
oceanos até cerca de 210 Ma atrás. A baixa
87
razão Sr/86Sr entre os 155-165 Ma atrás
indica que nesse período os oceanos
receberam quantidade elevadas de Sr com
assinatura mantélica (87Sr/86Sr = 0,704). Isto
contrasta com a água oceânica atual (87Sr/86Sr
= 0,709), o que sugere um influxo elevado de
Sr com assinatura crustal (87Sr/86Sr elevada).

22.1.11 - Datação de processos sedimentares através da utilização de isótopos de


Sr de carbonatos marinhos (parte2)
87
O diagrama da razão Sr/86Sr da água oceânica pode ser utilizado para datar
carbonatos marinhos, apesar do método nem sempre apresentar resultados únicos. A razão
87
Sr/86Sr de 0,7082 corresponde a uma idade de cerca de 25 Ma. Contudo, a razão 87
Sr/86Sr de
0,7076 corresponde a duas idade 75Ma e 200 Ma.

504
22.2 - O MÉTODO Sm - Nd

Os elementos Sm e Nd pertencem ao grupo dos elementos terras-raras, portanto são


isoquímicos, possuem raios iônicos similares, alto número atômico e uma forte densidade de
carga, que os tornam relativamente imóveis, quando comparados aos sistemas Rb-Sr e Re-Os,
por exemplo. Essas características fazem com que os minerais apresentem poucas variações
nas razões Sm/Nd.

22.2.1 - O Sm e o Nd na tabela periódica


O samário (Sm) e neodínio (Nd) pertencem à série de elementos lantanídeos,
igualmente designados por Elementos Terras Raras - ETR (REE - rare earth elements). O
grupo de elementos do Ce ao Eu é comumente designado por terras raras leves - ETRL - (lree
- Light rare earth elements), enquanto que o grupo do Gd ao Lu é designado por terras raras
pesadas - ERTP - (HREE - heavy rare earth elements). Os ETR geralmente formam íons de
carga 3+ (o Európio pode igualmente ocorrer como um íon bivalente Eu2+ - mas este fato está
fora do âmbito deste módulo). Os raios dos íons decresce com o aumento do número atômico
desde 1,14Å para o Cério (Ce) até 0,93Å para o Lutécio (Lu). Os ETRs são comuns em
concentrações muitos pequenas, em qualquer rocha - por essa razão são, literalmente falando,
excepcionalmente raros (figura 1).

Os ETRs podem substituir muitos dos elementos principais dos minerais mais comuns
na natureza. O caráter geoquímico dos diferentes ETR é muito semelhante, contudo, vários
minerais apresentam uma preferência para os ETRL ou para os ETRP. O diagrama abaixo
mostra as variações nas concentrações dos ETR comuns no felspato, biotita e apatita - a
estrutura cristalina destes minerais prefere os ERTL em relação aos ETRP. Nota-se neste
diagrama que a concentração de Nd é mais elevada do que a concentração de Sm (figura 2).
Contudo, nos anfibólios, piroxênios e granadas vemos uma tendência contrária. Estes
minerais preferem os ETRP em relação aos ETRL na estrutura cristalina, como mostra o
505
diagrama abaixo (figura 3). Nota-se que neste diagrama a concentração de Nd é inferior à
concentração de Sm.

22.2.2 - O Sm e o Nd na carta de nuclídeos


Existem sete isótopos naturais tanto do Sm como do Nd. Na imagem abaixo, Os
números em branco mostram a porcentagem dos diferentes isótopos. O peso atômico do Sm é
150,4 (o peso médio do Sm natural), enquanto que o Nd possui um peso atômico de 144,24.
147 143 147
Os isótopos de interesse para a datação radiométrica são o Sm e o Nd. O Sm é
143 147 11
radioativo e decai para Nd. O Sm possui uma meia-vida de T1/2 = 1,06x10 anos, o que é
muito longa. Esta corresponde a uma constante de decaimento λ = 6,54x10-12 anos-1 (T1/2 =
0,693/λ). Em um mineral ou em uma rocha, que permanece como um sistema fechado no que
147
diz respeito ao Sm e Nd, o número de átomos de Sm diminui com o tempo devido ao
143 144
decaimento radioativo - o número de átomos de Nd aumenta proporcionalmente. O Nd
143
não é nem radioativo nem radiogênico. Por conseguinte, o número de átomos de Nd não se
altera com o tempo, o que o torna adequado para um isótopo de referência.

506
22.2.3 - Decaimento radioativo do 147Sm e o crescimento do 143Nd.
147
O núcleo do Sm consiste em 62 prótons e 85 nêutrons. O
147
decaimento radioativo do Sm ocorre por decaimento α. O núcleo do
147
Sm emite uma partícula α, constituída por 2 prótons e 2 nêutrons. O
novo núcleo é constituído por 60 prótons e 83 nêutrons, o que
143
corresponde ao núcleo do Nd. A partícula α é idêntica a uma
isótopo de hélio - 4He. A notação 4He é muitas vezes utilizada para
designar a partícula α.
A reação de decaimento pode ser escrita:
147
Sm → 143Nd + 4He + Q
onde Q é a energia de decaimento - a energia liberada durante o decaimento.
147
O decaimento do Sm e o crescimento do 143Nd com o tempo é descrito pela equação
143
abaixo. As razões Nd/144Nd e 147
Sm/144Nd são medida em um espectrômetro de massa. A
expressão (143Nd/144Ndi refere-se à razão 143
Nd/144Nd inicial do mineral ou rocha analisada (a
143
razão Nd/144Nd da rocha ou mineral no momento da formação). Este valor pode ser
calculado.

22.2.4 - O diagrama da isócrona


Uma reta é mercada no diagrama (x,y)
abaixo. A equação da reta é: y = 1 + 0,5x. A
reta intersecta o eixo do y em y = 1. Mas, a
inclinação da linha é de 0,5. A equação geral de
uma reta em um diagrama (x,y) é y = A + xk.
"A" corresponde ao ponto de intersecção da
reta com o eixo y, enquanto que "k"
corresponde à inclinação da linha.

507
Agora, comparemos a equação acima com a equação geral de uma reta em um
diagrama (x,y). Com base na equação acima, podemos construir um diagrama com a relação
147
Sm/144Nd no eixo horizontal (eixo-x) e 143Nd/144Nd no eixo vertical (eixo-y).

Neste diagrama, a equação base representa a reta: o valor ( 143Nd/144Nd), corresponde


ao ponto de intersecção entre a reta e o eixo vertical, enquanto que (e λt - 1) corresponde à
inclinação da mesma reta. Este é o diagrama.

Os valores de 147Sm/144Nd são marcados ao longo do eixo horizontal (eixo-x), enquanto


143
que os valores de Nd/144Nd são marcados ao longo do eixo vertical (eixo-y). O valor
(143Nd/144Nd)i corresponde ao ponto de intersecção entre a reta e o eixo vertical, enquanto que
(eλt - 1) corresponde a inclinação da linha.

508
22.2.5 - Datação de rochas ígneas (Idade de cristalização)
Voltemos ao tempo, para o momento em que o meteorito Moama se formou. A textura
do meteorito indica que este se formou durante a cristalização de um fundido, de modo
semelhante ao da formação das rochas magmáticas na Terra. Quando um fundido cristaliza,
todos os minerais adquirem a mesma composição isotópica em Nd, uma vez que se formam a
partir do mesmo fundido isotopicamente homogeneizado. O meteorito Moama se formou a
143
partir de um fundido com uma razão Nd/144Nd igual a 0,50684.
147 143
Desde a sua formação os átomos de Sm têm decaindo radioativamente para Nd.
147
No plagioclásio, que continha inicialmente pouco Sm, formou-se uma quantidade
143 147
relativamente pequena de Nd. Contudo, no piroxênio, que inicialmente continha mais Sm,
143
formou-se uma quantidade proporcionalmente mais elevada de Nd. Vale notar que em
qualquer estágio da evolução do meteorito, as quatro amostras apresentadas se encontram
marcadas ao longo de uma reta. A reta cruza o eixo vertical em um valor de ( 143Nd/144Nd)i.
Nota-se igualmente que a inclinação da reta aumenta a medida que o tempo passa.
Atualmente a inclinação da reta é de 0,0304. É importante relembrar, da equação
anterior, que a expressão (eλt - 1) representa a inclinação da isócrona:

(eλt - 1) = 0,0304
t = ln(1,0304)/λ
uma vez que λ para o 147Sm é 6,54x10-12 ano-1 obtemos

t = 4,58 Ga
O meteorito Moama é um dos muitos meteoritos que foram datados com cerca de 4,58
bilhões de anos. Acredita-se que esta idade representa a formação do nosso sistema solar.

509
22.2.6 - Datação de rochas metamórficas
(idade do metamorfismo)
Agora será mostrado como o método Sm-Nd pode ser utilizado
para datar rochas metamórficas, ou seja o metamorfismo. R1, R2 e R3
representam três amostras da rocha ígnea que constitui a montanha da
fotografia abaixo. M1 e M2 assinalam dois minerais do espécime R3.
Será partido do princípio que a rocha tem 4,5 Ga, e
voltaremos até o tempo de formação da rocha. No
143 144
magma, o Nd e o Nd encontravam-se
homogeneamente distribuídos. Por conseguinte,
143
todos os minerais possuiam razões Nd/144Nd
similares pouco tempo após a cristalização do
147
magma. Contudo, as razões Sm/144Nd de
diferentes minerais e diferentes volumes de rocha
variavam, uma vez que alguns minerais mostram
preferência para o Sm em relação ao Nd durante o
crescimento, enquanto que os outros preferem Nd
em relação ao Sm (figura 1).
Começamos observando a rocha há 4,5 Ga
atrás, no tempo 0. Abaixo é possível ver como
evoluíram com o tempo as composições isotópicas
das amostras de minerais e rochas. As razões
143
Nd/144Nd dos minerais e rochas começaram a
aumentar imediatamente após a cristalização da
rocha. Isto foi mais ou menos a única coisa que
aconteceu à rocha durante os primeiros 2,5 Ga
(figura 2).
Então, a rocha experimentou um aumento
da temperatura durante um episódio metamórfico.
A temperatura crescente levou à mobilização em
pequena escala do Nd (e.g. entre os minerais de
um pedaço de rocha). A mobilização do Nd levou à
143
homogeneização das razões Nd/144Nd dos
minerais na amostra R3. Contudo, a mobilidade do

510
Nd não foi suficientemente grande para homogeneizar volumes maiores da rocha (figura 3).
143
Após o resfriamento o Nd foi imobilizado, e as razões Nd/144Nd aumentaram sob
taxas diferentes nos diferentes minerais. 4,5 Ga após a cristalização da rocha, os espécimes da
rocha definem uma isócrona que nos dá a idade da cristalização da rocha. Contudo, a isócrona
definida pelo espécime R3 e pelos dois minerais M1 e M2 dá-nos a idade do episódio
metamórfico (figura 4).

22.2.7 - Idades Modelo


Os isótopos de Sm e Nd encontram-se distribuídos de modo relativamente homogêneo
no manto. Contudo, devido ao decaimento radioativo
147 143 143
do Sm em Nd, a razão Nd/144Nd aumenta
com o tempo. O diagrama abaixo mostra como
143
evoluiu a razão Nd/144Nd no manto desde a
formação da Terra (figura 1).
Contudo, as rochas crustais geralmente
apresentam composições isotópicas em Nd
diferentes das composições mantélicas. A próxima
figura mostra como se formou a nova crosta como
resultado da fusão parcial do manto. Consideremos
um fundido parcial formado há 2,8 Ga atrás.
Imediatamente após a formação, as razões
143 144
Nd/ Nd da crosta recém-formada e do manto
eram idênticas (cerca de 0,5090). Contudo, durante a
fusão parcial ocorre o enriquecimento em Nd no
fundido, em relação ao Sm. Assim, a crosta recém-
147
formada possuía uma razão Sm/144Nd inferior à do
manto. Como consequência, o aumento subsequente
143
da razão Nd/144Nd ocorreu muito mais lentamente
na rocha crustal do que no manto (figura 2).
Há cerca de 2,2 Ga ocorreu um outro
episódio de fusão parcial e formação de crosta.
143
Nesta fase a razão Nd/144Nd do manto estava
perto de 0,5100. O último episódio de formação de
crosta ocorreu há cerca de 1,7 Ga. Nesta fase a

511
143
razão Nd/144Nd do manto tinha evoluído para cerca de 0,5105. A evolução subsequente das
143
razões Nd/144Nd dos componentes crustais foi controlada pelas suas razões 147
Sm/144Nd.
147
Para o exemplo abaixo a razão Sm/144Nd dos componentes crustais é de 0,11, enquanto que
o manto possui uma razão 147Sm/144Nd = 0,22 (figura 3).
A composição isotópica do Sm e Nd de uma rocha pode ser utilizada para fazer uma
estimativa de tempo decorrido desde que o material que constituiu a rocha foi extraído do
manto. Consideremos três componentes da crosta (assinalados por 1, 2 e 3 no diagrama
abaixo). As composições isotópicas do Sm e Nd das rochas foram analisadas em um
143
espectrômetro de massa. Quando forem conhecidas as razões Nd/144Nd e 147
Sm/144Nd
143
atuais das rochas, podem ser calculadas as suas razões Nd/144Nd em qualquer tempo t
através da equação:

(143Nd/144Nd)t = (143/144Nd)presente - (147Sm/144Nd)presente (eλt - 1)


como se mostra no diagrama abaixo. Partimos do pressuposto que o material crustal
em algum momento no passado foi extraído de um manto caracterizado pela linha cinza no
143
diagrama da figura 4. Há 2,8 Ga atrás as razões nd/144Nd do manto e o componente crustal
1 eram idênticas - este deverá ser o momento em que o material constituinte do componente 1
foi extraído do manto. Em concordância, o material constituinte dos componentes 2 e 3 foi
extraído do manto há 2,2 Ga e 1,7 Ga, respectivamente. As idades calculadas pelo método
aqui descrito dependem do modelo mantélico utilizado durante os cálculos, i.e. as razões
143
Nd/144Nd e 147
Sm/144Nd do manto. Por conseguinte, as idades calculadas são designadas
por idades modelo (figura 4).

22.2.8 - Idades de proveniência


A figura abaixo mostra duas áreas com rochas com idades modelo Sm-Nd diferentes.
O material rodido é transportado de ambas as áreas para a mesma bacia sedimentar. O Sm e o
Nd são altamente insolúveis na água. Por essa razão, quando uma rocha é erodida, os
sedimentos que se formam mantêm a sua composição isotópica Sm-Nd. Logo, a composição
isotópicas Sm-Nd de um sedimento fornece uma medida da idade média da sua área de
proveniência. Esta idade é conhecida por idade de proveniência.

512
Um quadro para a interpretação das
idades Sm-Nd no Mar do Norte e margem
Atlântida foi desenvolvido ao longo dos anos
através da análise dos sedimentos modernos dos
rios do Reino Unido e da Noruega (figura 1). As
idades de proveniência dos sedimentos fluviais
variam de acordo com a geologia das áreas e são
registradas uma grande variedade de idades, dos
1000 aos 3000 Ma. Os campos composicionais
definidos pelos sedimentos fluviais no diagrama
da isócrona Sm-Nd fornecem o quadro
necessário para uma interpretação da
proveniência dos sedimentos das bacias off shore
(figura 2).
Os arenitos da Formação Forties, na
parte central do Mar do Norte britânico, possuem
uma composição muito semelhante ao das Ilhas
Shetland. As medições do Carbonífero Barren
Red apresentam uma idade de proveniência
menor, provavelmente de terrenos hercínicos do sul. A Formação Statfjord possui uma
proveniência bimodal com influência da Noruega ocidental e do Arqueano britânico. A margem
atlântica triássica possui uma proveniência bimodal, provavelmente da plataforma das Shetland
e do Arqueano britânico (figura 3).

513
22.3 - O MÉTODO K - Ar e Ar - Ar

O potássio é um dos elementos mais abundantes na Terra. Todo o potássio natural


40 40
contém algum K, o quak decai para Ar. Esse processo de decaimento constitui a base para
o método clássico de datação K-Ar e do mais recentemente desenvolvido método Ar-Ar.

22.3.1 - O K e o Ar na tabela periódica


O potássio (K) é um dos oito elementos mais abundantes na crosta terrestre. O
potássio pertence ao grupo dos metais alcalinos, caracterizado por 1 elétron em sua camada
eletrônica mais externa. O argônio pertence ao grupo de elementos dos gases nobres,
caracterizado por uma camada eletrônica externa totalmente preenchida. O potássio é um dos
principais minerais presentes nas rochas, como a biotita, muscovita, anfibólio, feldspato
potássico, minerais de argila e certos minerais evaporíticos. Todos estes minerais são
adequados para os métodos de datação K-Ar e Ar-Ar. Devido à sua configuração eletrônica, o
Ar não forma ligações comm qualquer íon presente na estrutura do mineral. Por conseguinte, o
Ar não é incorporado na rede cristalina durante o crescimento do mineral. Contudo, nota-se que
o Ar pode ser aprisionado em inclusões fluidas nos minerais.

22.3.2 - O K e o Ar na carta de nuclídeos


O diagrama abaixo mostra uma parte da carta de nuclídeos. O potássio possui três
39 40 41
isótopos naturais: K, K e K. Os isótopos do potássio não sofrem fracionamento na
natureza. Por esta razão, as composições isotópicas de todos os minerais portadores de K na
39 40 41
Terra são idênticas. As abundâncias dos isótopos são: K = 93,2581%, K = 0,01167% e K
= 6,7302%. As composições isotópicas homogêneas de K dos minerais da crosta terrestre
40
tornam simples a quantificação do conteúdo em K (o isótopo de interesse em geocronologia)
da amostra que pretendemos datar - analisamos o conteúdo total em K (e.g. em um XRF -
fluorescência de raio-X) e calculamos o conteúdo em
40
K, o qual corresponde a 0,01167% do conteúdo
total em K. O argônio possui três isótopos naturais:
36 38 40
Ar, Ar e Ar. A atmosfera terrestre contém cerca
de 1% de argônio. As abundâncias dos isótopos de
40 38
argônio atmosférico são: Ar = 99,60%, Ar =
36
0,063% e Ar = 0,337%. O que corresponde a um
peso atômico de 39,9476.

514
22.3.3 - Mecanismos de decaimento radioativo
40 40
O núcleo de K contém 19 prótons e 21 nêutrons. O K é radioativo, com uma meia-
vida de 1,25x109 anos. Como você poderá ver posteriormente, o 40
K decai radioativamente por
meio de três mecanismo diferentes: decaimento
de um negatron (decaimento β-), decaimento de
um positron (decaimento β+) e captura
eletrônica (figura 1). 89,52% do decaimento do
40K ocorre por emissão de um negatron
(decaimento β-), para 40
Ca. Este processo de
decaimento possui potencial como método de
datação, contudo, não tem sido muito utilizado.
A razão disto tem a ver com o fato dos isótopos
de Ca se fracionarem durante os processos
40
naturais e porque o Ca é o isótopo de Ca mais
abundante, tornando difícil medir alterações
causadas pelo 40K (figura 2).
Uma pequena fração (0,001%) do
40 40
decaimento do K para Ar ocorre pela
emissão de um positron (figura 3). finalmente,
40
cerca de 10,48% do decaimento do K ocorre
40
por captura eletrônica para produzir Ar. É de
notar que os últimos mecanismos de
decaimento resultam na formação do mesmo
40
isótopo, nomeadamente o Ar. O decaimento
40 40
radioativo do K em Ar constitui a base para
os métodos de datação K-Ar e Ar-Ar (figura 4).
A discussão anterior demostrou que o
40
decaimento radioativo do K ocorre por
decaimento ramificado, i.e. o decaimento do
40 40 40
K leva à formação de dois isótopos-filho diferentes, nomeadamente o Ca e Ar. Cada ramo
do esquema de decaimento dá origem a duas constantes de decaimento distintas λAr (dois
mecanismos, duas constantes) e λCa. A constante de decaimento total λ para o decaimento do
40
K é:

λ = λAr+ λCa.

515
O crescimento do 40Ca e 40Ar radiogênicos pode ser expresso pela equação:
40
Ca + 40Ar = 40K(eλt - 1)
Combinando estas equações podemos calcular o crescimento do 40Ar em um mineral
ou rocha portadora de K:
40
Ar = (λAr/λ)40K(eλt - 1)
o qual constitui a base para os métodos de datação K-Ar e Ar-Ar.

22.3.4 - Decaimento do 40K e crescimento do 40Ar e 40Ca


Em seguida, será visto mais de perto o
40 40 40
decaimento do K e crescimento do Ca e do Ar
em um mineral, ao longo de um período de 5 Ga. A
caixa amarela da direita representa um mineral que
40
contém inicialmente 3200 átomos de K (cada
40
círculo vermelho representa 100 átomos de K), mas
40 40
nenhum Ca ou Ar. O diagrama abaixo mostra o
40 40 40
número de átomos de K, Ca e Ar presentes no
mineral em um dado momento (figura 1).
40
A meia-vida do K é de 1,25 Ga, i.e. após
40
1,25 Ga metdade dos átomos de K incialmente
presentes no mineral sofreram decaimento radioativo
40 40
para Ca e Ar. Nesta fase estão presentes no
40 40
mineral 1600 átomos de K, 1432 átomos de Ca e
168 átomos de 40Ar (figura 2).

516
40
Após 1,25 Ga, o número de átomos de K
foi reduzido a metade uma vez mais - o número é
agora de 800. Consequentemente, o número de
40
átomos de Ca subiu para 2148, enquanto que o
número de átomos de 40Ar é de 252 (figura 3).
Após 4 meia-vidas (5Ga) o número inicial de
átomos de 40K foi reduzido a metade quatro vezes - o
número é agora de 200. O número de átomos de
40
Ca subiu para os 2685, enquanto que o número de
átomos de 40Ar é de 315 (figura 4).
Na prática, não contamos o número de
40 40
átomos de K e Ar presentes no mineral que
queremos datar. Contudo, a razão entre o isótopo
radiogênico e o isótopo radioativo pode ver diretamente utilizada para calcular a idade. Desde
40 40
que o mineral se comporte como um sistema químico fechado (i.e. que nem o K ou Ar
40
sejam transportados para dentro ou para fora do mineral), a razão Ar/40K do mineral irá
40
aumentar sucessivamente com o tempo. Foi anteriormente referido que o crescimento do Ar
em uma rocha ou mineral portador de K pode ser calculado por meio da equação:
40
Ar = (λAr/λ)40K(eλt - 1)
Esta equação resolvida para t (ver na imagem abaixo). Os símbolos λ Ar e λ são
40
constantes conhecidas. Logo, se a razão Ar/40K de um mineral tiver sido analisada,
poderemos facilmente calcular a idade do mineral por meio desta equação.

517
22.3.5 - Temperatura de fechamento
A fotografia abaixo apresenta um cristal de muscovita, enquanto que a figura ao seu
lado mostra um modelo da estrutura da muscovita. O Al 3+ ocupa as posições octaédricas
(centros do octaedro violeta), o Si4+ ocupa as posições tetraédricas (centros do tetraedro azul),
enquanto que o K+ ocupa a posição entre as camadas de octaedros e tetraedros. Quando a
muscovita se forma, quer durante o metamorfismo quer durante a cristalização de um magma,
a temperatura é de várias centenas de graus centígrados, como indicado pela tonalidade
vermelha do cristal de muscovita. A temperatura elevada permite uma elevada mobilidade
interna dos íons ou átomos na estrutura dos minerais. Uma vez que os átomos de argônio, que
40
se formam durante o decaimento radioativo do K em uma estrutura de um mineral, não
40
estabelecem nenhuma ligação com os íons vizinhos, o Ar irá rapidamente escapar da
estrutura do mineral a elevadas temperaturas como se mostra na figura abaixo.

A figura abaixo mostra este mesmo cristal de muscovita a uma temperatura de cerca
40
de 650°C. A esta temperatura, o Ar irá rapidamente escapar após formar-se por decaimento
40
radioativo do K. A uma temperatura entre os 375°C e 325°C, o mineral começa a reter Ar. As
40
temperaturas abaixo deste intervalo, todo o Ar formado durante o decaimento radioativo do
40
K é retido na estrutura do mineral. As condições de temperatura nas quais um mineral
encerra a transferência de Ar para fora ou para dentro da estrutura cristalina é designada por
temperatura de fechamento (ou bloqueio) do Ar.

518
As temperaturas abaixo da
temperatura de fechamento do Ar, este
acumula-se no mineral. A concentração do
40
Ar aumenta como resultado do decaimento
40
do K. Este é o memento a partir do qual é
iniciado o relógio radiométrico dos sistemas
K-Ar e Ar-Ar. Por conseguinte, os métodos
K-Ar e Ar-Ar não nos dão o momento da
formação de um mineral, mas sim o tempo
decorrido desde que o mineral resfriou abaixo da sua temperatura de fechamento do Ar. As
idades K-Ar e Ar-Ar são, por esta razão, normalmente conhecidas por idades de resfriamento.
A temperatura de fechamento do Ar de um mineral depende da composição e da
estrutura do mineral. Por conseguinte, diferentes minerais apresentam diferentes temperaturas
de fechamento.

22.3.6 - O MÉTODO Ar-Ar

O potássio é um dos elementos mais abundantes na Terra. Todo o potássio natural


40 40
contém algum K, o qual decai para Ar. Este processo de decaimento constitui a base para o
método clássico de datação K-A e do mais recentemente
desenvolvido método Ar-Ar.

22.3.7 - Distribuição heterogênea do Ar


Muitos investigadores obtiveram dados que
40
indicam que o Ar se encontra heterogeneamente
distribuído nos minerais por eles datados. A figura abaixo
40
mostra um exemplo da distribuição heterogênea do Ar
em um cristal de muscovita - a intensidade da tonalidade
40
amarela indica a concentração relativa do Ar. A
40
distribuição do Ar apresentada na figura sugere que o
mineral passou por dois episódios térmicos. O primeiro,
representado pelo 40Ar presente no núcleo, provavelmente
40
representa o Ar aprisionado na estrutura do mineral
desde o momento em que este resfriou abaixo da

519
temperatura de fechamento do Ar, após a cristalização. Contudo, a composição da borda
representa um episódio mais tardio. Durante este episódio alguns, mas não todos, os átomos
40
de Ar foram expulsos da estrutura do mineral. Além disso, o argônio atmosférico e da água
subterrânea são normalmente incorporados em fraturas e na superfície dos minerais. Deste
modo, os minerais que pretendemos datar podem apresentar distribuições muito heterogêneas
em 40Ar.
40
O método convencional K-Ar baseia-se na grandeza (média) das razões Ar/40K do
mineral. Se o cristal de muscovita acima for datado com este método, o resultado será
40
inconclusivo, uma vez que o mineral perdeu e ganhou Ar em diferentes períodos. O método
Ar-Ar é um melhoramento do método K-Ar convencional,
e pode abordar alguns destes problemas relacionados
com a distribuição heterogênea do 40Ar.

22.3.8 - A reação do 39K para 39Ar


Tanto o método K-Ar como Ar-Ar baseiam-se no
40 40
decaimento do K em Ar. A diferença importante entre os
métodos diz respeito ao método utilizado para determinar a
concentração de 40K da amostra. Para o método K-Ar, o 40K é
claculado a partir do conteúdo total em K (40K = 0,01167% do
K total), o qual pode ser determinado em um XRF, (ou por
40
qualquer outro método). O conteúdo em Ar é determinado
com o recurso a um espectrômetro de massa. Deste modo,
40 40
as análises de K e Ar são determinadas em duas
40
operações diferentes (figura 1). O conteúdo em K pode
39
igualmente ser calculado a partir da análise do K, uma vez
que a razão 39K/40K = 93,2581/0,01167 em amostras naturais,
permanecendo inalterável na natureza. Com efeito, o método
39
Ar-Ar toma proveito desta relação (figura 2). O K é estável.
39
Contudo, este pode ser convertido em Ar por irradiação de
nêutrons. A preparação de uma amostra para o método de
datação Ar-Ar inclui a irradiação de nêutrons da amostra, de
39 39
modo que uma fração de K seja convertida em Ar. A
39 39
quantidade de K que é convertida em Ar pode ser
40 39
controlada (figura 3). A razão Ar/ Ar irradiada pode então

520
ser analisada em um espectrômetro de massa. A partir
40
da razão Ar/39Sr podemos facilmente calcular a razão
40
Ar/40K da amostra, a partir da qual poderá ser
calculada a idade da amostra. A possibilidade de
40
determinar a razão Ar/40K de um mineral por meio de
uma única análise permitiu o desenvolvimento do
método Ar-Ar muito além dos limites do método K-Ar
(figura 4).

22.3.9 - O método de aquecimento por


estágio Ar-Ar
Através deste método, o argônio é extraído de
um mineral que está sendo analisado, onde é realizado
durante várias etapas de aquecimento e
40
desgaseificação. A razão Ar/39Ar do gás extraído é
subsequentemente analisada por um espectrômetro. A
amostra irradiada, que irá ser analisada, é colocada em
uma câmara de amostra que se encontra ligada a um
espectrômetro de massa (figura 1).
Em seguida a amostra é aquecida. Durante as
primeiras etapas, a temperatura é relativamente baixa.
Apenas o argônio presente em fraturas e ao longo das
margens do mineral é liberado. Este gás é normalmente
uma mistura entre Ar atmosférico e Ar de domínios de
recepção parcial do mineral. Normalmente este gás
fornece idades sem significado (figura 2).
Sob temperaturas mais elevadas, o argônio é removido de sítios mais retentivos no
40
interior do cristal. Nota-se que a razão Ar/39Ar deste gás é superior à do primeiro gás a ser
liberado. A razão 40Ar/39Ar mais elevada corresponde a uma idade superior (figura 3).
40
A amostra é aquecida durante várias etapas até a fusão. Se as razões Ar/39Ar
atingirem um patamar como o mostrado no diagrama ao lado, a datação teve sucesso. Para o
exemplo ao lado, mais de 70% do argônio libertado definiu um patamar correspondente a uma
idade de 448±2 Ma. Esta idade provavelmente corresponderá ao tempo decorrido desde o
resfriamento original do mineral. O exemplo acima demonstra as vantagens do método de
resfriamento por estágios em relação ao método K-Ar convencional. Se o mesmo material tiver
521
sido datado com o método K-Ar, o argônio dos domínios de recepção parcial terá sido incluído
na análise, o que resulta em uma idade com misturas, sem significado geológico (figura 4).

22.3.10 - Datação por sonda a laser


Um melhoramento recente do método de datação Ar-Ar foi o uso de lasers para extrair
Ar de áreas diminutas do cristal. Basicamente, um laser é disparado para um pequeno ponto de
um cristal e o gás Ar é libertado quer pela fusão da amostra quer pela quebra de ligações da
rede através de um processo denominado "ablação". O gás é em seguida analisado em um
espectrômetro de massa. Isso permite o mapeamento detalhado da distribuição de idades em
um único grão (figura 1). O diagrama da figura 2 mostra as idades laser 40Ar-39Ar recolhidas em
um grande cristal de muscovita de uma rocha metamórfica em Lofoten (Hmes & Andresen,
Geology, 24, 1005-1008, 1996). As idades foram contornadas visualmente em zonas com 10
Ma de intervalo. O aquecimento por degraus poderia não ter detectado a complexa zonação do
mineral.
40
Hames & Andresen (1996) sugeriram que a zonação de idades laser Ar-39Ar do grão
de muscovita reflete o lento resfriamento da rocha no período entre 315 Ma e 270 Ma atrás.
Anteriormente a 315 Ma atrás o mineral estava aberto ao Ar de tal modo que todo o Ar escapou
do mineral imediatamente após a sua formação.
Contudo, há cerca de 310 Ma atrás, um pequeno
domínio na parte central do grão fechou para o Ar. Dez
milhões de anos depois, um volume maior do mineral
fechou para o Ar. Contudo, grande parte do grão
estava ainda parcialmente aberto ao Ar. Como
resposta ao resfriamento da rocha, o domínio do grão
de muscovita que se encontrava fechado para o Ar
aumentou com o tempo. Há cerca de 270 Ma o cristal
estava completamente fechado para o Ar. Nesta fase,
toda a rocha tinha resfriado para uma temperatura no
intervalo 375 - 325°C, o qual corresponde à
temperatura de fechamento da muscovita (figura 3).
Uma das coisas que torna a Geologia
interessante é o fato dos dados geológicos poderem
quase sempre ser interpretados de modo diferente.
Imaginemos que a rocha que continha a muscovita resfriou rapidamente para uma temperatura
abaixo dos 325°C (i.e.abaixo da temperatura de fechamento para o Ar na muscovita), há cerca
522
de 315 Ma atrás. Nesta fase, o mineral não continha qualquer Ar (ver o diagrama abaixo, que
mostra o conteúdo em Ar ao longo da linha pontilhada, sobre o grão de muscovita). Uma vez
que a temperatura se encontrava abaixo da temperatura de fechamento para o Ar na muscovita
(325°C), a concentração de 40Ar começou a aumentar como resultado do decaimento radioativo
40
do K. Isto continuou até há cerca de 270 Ma atrás. Há cerca de 270 Ma atrás a rocha
experimentou um curto episódio térmico (a temperatura aumentou). O grão de muscovita abriu
parcialmente ao Ar. O Ar nas zonas centrais do cristal não foi afetado pelo aumento da
temperatura. Contudo, ao longo da margem, a maior parte do Ar presente na estrutura do
mineral escapou. Algum, mas não todo, Ar localizado entre as margens e as partes centrais, foi
expulso (figura 4). Após o episódio térmico de há 270 Ma a rocha resfriou uma vez mais para
uma tenperatura inferior a 325°C. A muscovita estudade permaneceu fechada para o Ar desde
então (figura 4).

22.3.11 - Datação de processos tectônicos - idade de exumação


40
A idade Ar-39Ar de um mineral fornece o tempo decorrido desde que o mineral
resfriou abaixo da sua temperatura de fechamento para o Ar. Agora será dito o modo como
esta informação pode ser utilizada para compreender e quantificar processos geolígicos. As
figuras abaixo mostram um processo geológico bem conhecido - a formação de uma cadeia
montanhosa durante a colisão entre dois continentes. Durante a colisão continente-continente,
as rochas da crosta sofrem metamorfismo regional.

523
Na crosta continental, a temperatura aumenta
em profundidade cerca de 30°C por quilômetro (figura
1). As temperaturas em profundidade na crosta
continental podem ser traçadas, através de linhas cor de
laranja. Subsequentemente à formação da cadeia
montanhosa, as rochas assinaladas com o círculo verde
sofreram metamorfismo a cerca de 800°C. Assume-se
que isto aconteceu há 200 Ma atrás. Se foram formados
zircões durante o episódio metamórfico, esses poderão
ser utilizados mais tarde no método U-Pb para datar o
metamorfismo. Contudo, 800°C é uma temperatura
muito acima da temperatura de fechamento do Ar em
minerais portadores de K, logo, o método Ar-Ar não
pode ser usado para datar o episódio metamórfico
(figura 2).
Imediatamente após a formação da cadeia
montanhosa, teve início a sua destruição por processos
erosivos. Erosão e remosão do material mais superficial
da crosta levou ao soerguimento do material abaixo Há
cerca de 116 Ma atrás, as rochas assinaladas com o
círculo verde, que inicialmente se formaram a uma
temperatura de 800°C, tinham já resfriado para uma
temperatura de cerca de 500°C, como resultado do
soerguimento. Neste intervalo de temperaturas, os
anfibólios começam a reter Ar. Por conseguinte, a idade
Ar-Ar de um anfibólio data uma parte da história do
soerguimento da crosta. As idades Ar-Ar são por
conseguinte muitas vezes referidas como idades de
soerguimento ou de exumação (figura 3).
Há cerca de 68 Ma atrás, as rochas do círculo
verde tinham refriado para uma temperatura de cerca de 325°C, a qual corresponde à
temperatura de fechamento para o Ar da muscovita. Assim, a idade Ar-Ar da muscovita data
uma parte da história do soerguimento Crustal posterior à da idade Ar-Ar no anfibólio (figura 4).
A erosão e o soerguimento continuou até que as rochas ficaram expostas à superfície, e
puderam ser recolhidas amostras por um geólogo (figura 5).
524
Com base nos dados geonocronológicos pode ser construído um diagrama
temperatura-tempo, como se mostra abaixo. A linha pontilhada vermelha mostra a evolução
temperatura-tempo das rochas do presente exemplo. O soerguimento devido à erosão
caracteriza-se por uma curva de declive relativamente constante. Outros processos, como o
soerguimento devido ao soerguimento tectônico, pode ser identificado por dados que indicam
mudanças rápidas de temperatura (linha pontilhada azul).

525
22.4 - O MÉTODO U-Th-Pb

Nos processos de fusão parcial e cristalização fracionada U e Th são concentrados na


fase líquida e incorporados nos produtos silicáticos sendo as rochas graníticas enriquecidas em
U e Th, quando comparadas às rochas basálticas e ultramáficas. Nos processos de
diferenciação geoquímica do manto superior, U e Th são concentrados nas rochas da crosta
continental superior, fazendo com que o manto apresente baixa razão U/Pb. A crosta inferior
apresenta-se fortemente empobrecida em U e Th, possuindo razões U/Pb e Th/Pb mais baixas
que aquelas do manto, que são intermediárias entre as da crosta inferior e superior (Doe,
1970). Os dados isotópicos obtidos pelo método U-Pb são normalmente interpretados no
238
diagrama Concórdia, onde os sistemas U-206Pb e 235
U-207Pb são usados simultaneamente. A
curva concórdia representa o lugar geométrico onde as idades obtidas pelos dois
geocronômetros são concordantes. A curva concórdia mostra a situação ideal, sem perda de
Pb.
Os pontos analíticos relativos às amostras que sofreram perdas de Pb, que podem ser
contínuas ou episódicas, situar-se-ão abaixo da concórdia, com os geocronômetros indicando
idades discordantes. A linha que une os pontos analíticos com idades discordantes,
denominada (discórdia) interceptará a concórdia em dois pontos. O intercepto superior
geralmente indica a idade de cristalização dos minerais analisados. O intercepto inferior
normalmente é desprovido de significado geológico a não ser quando os pontos analíticos
situam-se próximos do intercepto, podendo significar a época de um metamorfismo por uma
idade obtida por outro método radiométrico.
O método U-Pb pode ser aplicado para datação de mineralizações através de análises
de zircão hidrotermal associado à mineralizações auríferas mesotermal, monazita hidrotermal,
perovskita de kimberlitos, cassiterita e columbita de pegmatitos (Gulson & Jones, 1992; Kerrich
& Kyser, 1994). As análises podem ser feitas por dissolução total (Thermal ionization mass
spectrometry – TIMS; Dickin, 1995) ou em locais selecionados de um único cristal, através das
análises em microssondas iônicas do tipo SHRIMP ou LA-ICP-MS de alta resolução com
multicoletor.
Amostras para datação: Rochas magmáticas félsicas/intermediárias (metamorfizadas
ou não), rochas sedimentares e metassedimentares clásticas como metarenitos,
metagrauvacas etc. Coletar cerca de 10 kg de amostra preferencialmente na forma de 15
fragmentos do tamanho de um punho (cerca de 600 g cada). Duas amostras adicionais do
tamanho de um punho, uma para confecção de lâmina e do tablete e a outra para análise
química. Para rochas magmáticas máficas (metamorfizadas ou não) é aconselhável coletar
526
cerca de 50 kg ou mais. O método Pb-Pb é amplamente aplicado no estudo de mineralizações,
principalmente para a obtenção de informações sobre a gênese dos depósitos minerais.
Entretanto, em alguns casos pode também fornecer idades dos minerais de minério.
A vantagem do sistema Pb-Pb em relação ao Rb-Sr é que esta sistemática, por não
necessitar das concentrações de U e Pb para determinação de idades, pode ser aplicada em
mineralizações que sofreram eventos metamórficos posteriores, uma vez que em qualquer
206
evento que produza a perda de Pb do mineral, os isótopo Pb, 207Pb e 208Pb sairão na mesma
proporção, e a idade a ser calculada não sofrerá alteração. Os isótopos do sistema Pb-Pb
auxiliam também no entendimento de gênese magmática (figura abaixo), podendo ser
amplamente utilizada na distinção de magmas parentais mantélicos e magmas com
contaminação crustal.

527
22.4.1 - O U, Th e o Pb na tabela periódica
O urânio (U) e o tório (Th) pertencem a série de elementos actinídeos, o grupo de
elementos que se segue ao actínio (Ac) na tabela periódica. Os dois elementos ocorrem na
natureza no seu estado tetravalente oxidado: U4+ e Th4+. Os raios dos dois íons são similares
(U4+ = 1,05Å, Th4+ = 1,10Å). Devido à similaridade dos raios e da valência dos íons, estes
apresentam características geoquímicas semelhantes. Em condições oxidantes forma-se
UO22+, onde o U apresenta valência 6+. Ao contrário do U4+ e do Th4+, o UO22+ é solúvel em
água. Por conseguinte, em condições oxidantes o U poderá separar-se do Th. O decaimento
dos isótopos radioativos do U e do Th
leva a formação de chumbo (Pb).
Durante o decaimento do U e do Th,
formam-se uma série de elementos
temporários: protactínio (Pa), actínio
(Ac), rádio (Ra), frâncio (Fr), radônio
(Rn), ástato (At), polônio (Po), bismuto
(Bi), tálio (Tl) e mercúrio (Hg).

22.4.2 - O U, Th e o Pb na carta de nuclídeos


Dois isótopos radioativos do urânio e um do tório são a base para muitos métodos de
238 235 232 238
datação importante: U, U e Th. Os produtos finais do decaimento radioativo do U,
235
U e 232Th são o 206Pb, 207Pb e 208Pb, respectivamente.

528
22.4.3 - O mecanismo de decaimento α
238 206
O decaimento do U para o estável Pb origina uma série de isótopos-filhos - o
primeiro é o 324Th. O decaimento do 238U para o 234Th ocorre pelo mecanismo de decaimento α.
238
O núcleo do U é constituído por 92 prótons e 146 nêutrons. Quando este núcleo emite uma
partícula α (um núcleo constituído por 2 prótons e 2 nêutrons = 4He), forma-se um núcleo
234
constituído por 90 prótons e 144 nêutrons, o que corresponde a um núcleo de Th. O
234 234
decaimento do Th para o Pa ocorre através do mecanismo de decaimento β-, e
transforma-se em um próton. O número de nêutrons do núcleo inicial ( 234Th) é reduzido em
uma unidade, enquanto que o número de prótons aumenta uma unidade. O novo núcleo é
234
constituído por 91 prótons e 143 nêutrons, correspondente ao Pa. O decaimento
subsequente do núcleo ocorre durante a emissão de diversas partículas α - e β-. O diagrama
238
abaixo mostra um possível caminho de decaimento do U para 206Pb.

22.4.4 - O mecanismo de decaimento ramificado


É comum o decaimento de um isótopo radioativo ocorrer apenas por um tipo de
234
mecanismo de decaimento, e.g. o Th decai pelo mecanismo de decaimento β-, em 234
Pa.
Contudo, o decaimento radioativo do 218Po
pode ocorrer tanto pelo decaimento α como
218
pelo β-. Alguns dos átomos de Po decaem
214
pelo mecanismo de decaimento α em Pb,
enquanto que os átomos restantes decaem pelo
mecanismo de decaimento β- em 218
At. Quando
o núcleo de um isótopo pode sofrer decaimento

529
radioativo por mais do que um tipo de mecanismo de decaimento, dizemos que o núcleo sofre
218 218
decaimento ramificado. De modo semelhante ao Po, o At sofre decaimento radioativo
por meio de dois mecanismos de decaimento diferentes: quer por decaimento α para 214Bi, quer
por decaimento β- para 218Rn.

22.4.5 - As séries de decaimento do 238U


Outros isótopos que possuem um isótopo pai que sofre decaimento ramificado são o
214 210 210 238
Po, Bi e Po. Contudo, é importante salientar que o decaimento de um núcleo do U
206
em Pb, envolve sempre a emissão de 8 partículas α (4He) e 6 partículas β- - ver a reação de
decaimento abaixo. O símbolo Q na reação de decaimento refere-se à energia de decaimento -
i.e. a quantidade de energia liberada durante o decaimento radioativo.

22.4.6 - As séries de decaimento do 235U


238
As séries de isótopos instáveis que se formam durante o decaimento do U para o
206 238
estável Pb são designadas por séries de decaimento U. De modo semelhante, formam-se
durante o decaimento do 235U, os isótopos pertencentes à serie de decaimento do 235
U.

530
22.4.7 - As séries de decaimento do 232Th
232
Finalmente, as séries de decaimento dos isótopos Th formam-se durante o
decaimento do 232Th para o 208Pb estável.

22.4.8 - As meia-vidas das séries de nuclídeos do 238U


238
As meias-vidas dos nuclídeos radioativos pertencentes à série radioativa do U
238
variam muito. Contudo, é de notar que a meia-vida do U é muito superior a qualquer outro
234
isótopo pertencentes às séries. Dos isótopos intermediários, o U é o mais estável, com a sua
meia-vida de 2,44x105 a, enquanto que o 214
Po é o isótopo mais instável, com uma meia-vida
206
de 19,8 ms. Os métodos de datação U, Th - Pb baseiam-se nas razões Pb/238U, 207Pb/235U e
208
Pb/232Th dos materiais geológicos datados. Contudo, as séries do 238U, 235
U e 232
Th dão
origem igualmente a muitos outros métodos de datação, baseados nos isótopos intermediários.
Será analisado, em seguida, alguns dos detalhes das séries de decaimento.

531
22.4.9 - Equilíbrio secular
Exemplo 1: Imagine um recipiente cheio com 1000 átomos de um isótopo radioativo
hipotético. A meia-vida do nuclídeo radioativo é de 10 dias. Inicialmente, não existem átomos
do isótopo-filho no recipiente. O diagrama abaixo mostra o decaimento do isótopo radioativo
para o isótopo-filho estável. O número de átomos do isótopo-filho aumenta com o tempo.

Vejamos o que acontece se o isótopo-filho for radioativo, com uma meia-vida de 1 dia.
O número de átomos do isótopo-filho no recipiente é controlado por dois fatores: 1) a taxa de
produção do isótopo-filho durante o decaimento do isótopo-pai, e 2) a taxa de decaimento
radioativo do isótopo-filho. Durante os primeiros 2 dias, o número de átomos do isótopo-filho
aumenta rapidamente. Isto deve-se ao fato da taxa de produção do nuclídeo ser superior à taxa
de decaimento.
Contudo, após dois dias é atingido um equilíbro: a taxa de produção do isótopo-filho é
igual a taxa de decaimento radioativo. Esta condição é designada por equilíbrio secular. No
equilíbrio secular, o número de átomos de um isótopo radioativo em um sistema é controlado
pelo número do seu isótopo-pai por meio da equação:

Npai x λpai = Nfilho x λfilho


onde N indica, respectivamente, o número de átomos de isótopo pai e filho presentes
no sistema, e λ indica as suas constantes de decaimento.

532
238
Exemplo 2: Considere um recipiente que foi preenchido com átomos de U há alguns
238
milhões de anos atrás. Hoje, existe um trilhão de átomos de U no recipiente. Se os isótopos
238
intermediários da série de decaimento radioativo do U tiverem atingido o equilíbrio secular
poderemos facilmente calcular o número de átomos destes isótopos no recipiente.
Temos:

NU-238 x λU-238 = 1012 x 1,55125x10-10 = 155.125


(lembre-se que λ = 0,693/T1/2)
Então:

Nfilho = 155.125/λfilho.
O diagrama abaixo mostra o número de átomos no recipiente de uma seleção de
238
isótopos intermediários em equilíbrio secular com o U.

533
22.4.10 - Desequilíbrio secular
- Os métodos de datação das séries do U
Voltemos atrás até ao container com 1000
átomos de um isótopo radioativo hipotético com uma
meia-vida de 10 dias, e um isótopo radioativo com
uma meia-vida de 1 dia. Após 2 a 3 dias os isótopos
terão atingido o equilíbrio secular. Então, por algum
processo, todos os átomos do isótopo-filho serão
removidos do recipiente. Contudo, se o container
permanecer fechado, o equilíbrio secular será
rapidamente restabelecido (figura 1).
O número de átomos do isótopo-filho
radioativo em equilíbrio secular (linha azul) pode ser
calculado quando for conhecido o número de
isótopos-pais. A diferença entre o número de átomos
de isótopo-filho medido e o número de átomos em
equilíbrio secular pode ser utilizado para calcular o tempo decorrido desde que o equilíbrio
secular foi perturbado (figura 2). A deficiência de um isótopo-filho em relação ao equilíbrio
secular, constitui a base de diferentes métodos de datação de episódios geológicos recentes,
incluindo os métodos 230Th-234U e 231Pa-235U - ver tabela abaixo.

Uma vez mais voltemos atrás, até ao recipiente com 1000 átomos de um isótopo
radioativo hipotético e uma meia-vida de 10 dias, e de um isótopo-filho radioativo com uma
meia-vida de 1 dia. Agora, vejamos o que acontece ao isótopo-filho se todos os átomos do
isótopo-pai, por algum mecanismo, forem removido do recipiente (figura 3). Isto deixa o
isótopo-filho sem suporte - a produção do isótopo por decaimento do seu isótopo-pai cessa. O
número de átomos dos isótopos de vida curta presentes no recipiente irá por sua vez diminuir
rapidamente, devido ao decaimento radioativo (figura 4).

534
238 235 232
Isótopos sem suporte pertencentes às séries de decaimento U, U, e Th
constituem a base para diversos métodos de datação de episódios geológicos recentes, como
se mostra na tabela abaixo.

22.4.11 - O decaimento do U e crescimento do Pb


A imagem ao lado representa um cristal de zircão
(ZrSiO4). Este é o mineral mais utilizado na datação isotópica
U-Pb e Th-Pb. Isto porque o U4+ e o Th4+ substituem facilmente
o Zr4+ na estrutura do zircão - estes íons possuem carga
idêntica. Além disso os raios iônicos do U4+ e Th4+ não são tão
grandes e encaixam-se na estrutura do zircão. Contudo,
igualmente importante é o fato do Pb2+ ser extremamente
grande para poder ser incorporado na estrutura do cristal
durante o crescimento do zircão. Adicionalmente, a carga
é muito baixa para uma simples troca com o Zr4+. Deste
modo, durante a cristalização, o zircão poderá incorporar
conteúdos relativamente elevados de U4+ e Th4+, no
entanto contendo conteúdos reduzidos de Pb2+.
235
Em primeiro lugar iremos analisar o sistema U-
207
Pb. Ao lado pode ser visto um cristal de zircão que
235 207
contém 32 íons de U, mas nenhum íon Pb. A meia -
235
vida do U é de 704 Ma (figura 1). Após 704 Ma (= uma
235 235
meia-vida do U), 50% dos átomos de U inicialmente
535
207
presentes sofreram decaimento para Pb (figura 2).
235
Após 1408 Ma (= duas meia-vidas do U), apenas
235
subsistem 25% dos 32 átomos iniciais de U. Agora, o
235
sistema consiste em 8 átomos de U e 24 átomos de
207
Pb (figura 3). Após quatro meia-vidas ( = 2816 Ma), o
235
número de átomos de U foi reduzido em 50% por
quatro vezes. Apenas restam dois átomos. O número de
207
Pb aumentou concordantemente (figura 4).
235
O número de átomos de U diminuiu com o
207
tempo, enquanto que o número de átomos de Pb
207
aumentou (diagrama da esquerda). Isto levou ao aumento da razão Pb/235U com o tempo
207
(diagrama da direita). A razão Pb/235U de um mineral pode ser utilizada como geocronômetro
207
- a razão pode nos dizer quantos anos tem o mineral. Se, por exemplo, a razão Pb/235U de
um mineral for 15, o mineral formou-se há cerca de 2800 Ma atrás (contanto que o mineral não
tenha incorporado nenhum 207Pb durante a sua formação).

Assim como em relação à razão 207Pb/235U de um mineral, também a razão 206Pb/238U


pode ser utilizada na datação. A meia-vida do 238U é de 4468 Ma, consideravelmente mais
longa do que a do 235U (704 Ma). Por conseguinte, a razão 206Pb/238U de um mineral aumenta
mais lentamente do que a razão 207Pb/235U. De qualquer modo, as razões 207Pb/235U e
206
Pb/238U de um mineral representam dois geocronômetros independentes que podem ser
utilizados para datar o mineral.

536
22.4.12 - As principais equações utilizadas no método U-Pb
As deduções das equações de cálculo das idades radiométricas para os métodos U-Pb
e Pb-Pb encontram-se em Faure (1988) e Faure e Mensing (2005). A seguir serão
apresentadas apenas as principais equações utilizadas:

onde λ1 = 1,55125x10-10; λ2 = 9,8485x10-10; λ3 = 4,9810x10-10;

Pbrad = Pbmedido - Pb0 e

onde i é a razão inicial de Pb que varia em função do tempo geológico (Stacey e


Kramers, 1975) e m é a razão medida. O valor de SKT é sempre negativo, qualquer que seja o
tempo geológico T, reduzindo, portanto, o valor (207Pb/206Pb)rad. Por exemplo, para um dado
(207Pb/206Pb)m = 0,171645 e (204Pb/206Pb)m = 0,001521 e variando os valores das razões
(207Pb/206Pb)i e (204Pb/206Pb)i em função de T de Stacey e Kramers (1975), temos o fator SKT
variando das seguintes formas:

537
O fator SKT, que envolve as razões (207Pb/206Pb)m, (204Pb/206Pb)m, (207Pb/206Pb)i e
(204Pb/206Pb)i, varia na forma de hipérbole com uma faixa muito pequena em relação do tempo
geológico [-12,307(2,8 Ga) a -12,427(0,0 Ga) com pico de -12,6(2,0 Ga)]. A correção de Pb
comum, por outro lado, é fortemente dependente do valor da medida de ( 204Pb/206Pb)m, ou seja,
quanto menor a razão (204Pb/206Pb)m, menor será a correção na razão de 207
Pb/206Pb. A
correção do Pb comum inicial será insignificante quando a razão (204Pb/206Pb)m for menor que
0,0001. Quando a razão (204Pb/206Pb)m for maior que 0,05, então a razão (207Pb/206Pb)rad
calculada a partir de (207Pb/206Pb)m poderá sofrer mudanças superiores a 100%, função desta
correção. Portanto, a precisão da idade é fortemente dependente da medida da ralação
204
Pb/206Pb (Pb inicial ou comum) e muito pouco dependente do tempo T atribuído relativo ao
parâmetro SKT (Stacey e Kramer, 1975).
207
As idades T em função de Pb/206Pbrad podem ser facilmente calculadas com o auxílio
de programas de informática de PBDAT. Por outro lado, mesmo que os procedimentos
efetuados sejam analiticamente precisos e devidamente corrigidos (fracionamento isotópico, Pb
inicial e atual), os resultados obtidos só terão significado geológico se o sistema tivesse
206
mantido fechado desde a formação da rocha. Nesses casos as idades Pb/238U e 207Pb/235U e
207
Pb/206Pb serão concordantes.

538
22.4.13 - O diagrama concórdia
207
Neste diagrama, a razão Pb/235U é apresentada ao longo do eixo horizontal
206
enquanto que a razão Pb/238U é apresentada ao longo do eixo vertical. Como dito
207
anteriormente, as razões Pb/235U e 206
Pb/238U de um mineral podem ser utilizadas para datar
207
a sua formação. Uma razão Pb/235U de 15 corresponde a uma idade de cerca de 2800 Ma. A
206
razão Pb/238U correspondente a esta idade é de cerca de 0,55. Para as composições
207
isotópicas de U e Pb representadas pelo círculo azul, a idade Pb-235U e a idade 206
Pb-238U
são similares, notavelmente de 2800 Ma. Dizemos que as idades são concordantes.

207
A curva vermelha no diagrama abaixo representa idades Pb-235U e 206
Pb-238U
concordantes. A curva é designada por concórdia. Se as composições isotópicas de U e Pb de
um mineral se encontram marcadas na concórdia, ambos os geocronômetros (207Pb-235U e
206
Pb-238U) fornecerão a mesma idade. Contudo, se o mineral possuir composições isotópicas
de U e Pb marcadas fora da linha, os dois geocronômetros fornecerão duas idades diferentes -
serão discordantes.

539
207
O círculo verde mostra como as razões Pb/235U e 206
Pb/238U de um mineral evoluem
com o tempo. Inicialmente, o conteúdo em Pb = 0, deste modo ambas as razões serão iguais a
zero. Contudo, com o tempo, ambas as razões aumentam ao longo da concórdia. A curvatura
da concórdia corresponde à diferença entre as meia-vidas do 235U e 238U.

22.4.14 - O diagrama discordia


Se o círculo verde representar a análise de
um cristal de zircão é razoável concluir que o
mineral se formou há 2500 Ma atrás, e que o
mineral permaneceu isotopicamente "fechado" ao
238 235
Ue U, e aos seus isótopos-filhos desde a sua
formação. O zircão possivelmente formou-se
durante a cristalização de uma rocha ígnea.
Será visto, posteriormente, o que poderá
acontecer à composição isotópica de um mineral
durante um episódio metamórfico. Recuemos 500
Ma no tempo. Nessa altura, os cristais de zircão
tinham 2000 Ma (figura 1).

540
Selecionamos 5 zircões de tamanhos
diferentes da rocha a ser estudada. Um Xs
(extra pequeno - extra small), e as outras quatro
com os tamanhos S, M, L e XL,
respectivamente (figura 2). Durante o
metamorfismo, a temperatura aumenta e a
rocha é deformada. Adicionalmente, a rocha
pode ser percolada por fluidos. Tanto o
aumento de temperatura, a deformação como a
presença de fluidos aumentam a mobilidade
dos elementos em uma rocha. O Pb não se
encaixa muito bem na rede cristalográfica do
zircão. Por conseguinte, o Pb tende a escapar
do zircão durante o metamorfismo.
Normalmente, os grãos pequenos perdem mais Pb do que os grãos maiores. A perda de Pb
desloca as composições isotópicas dos minerais em direção à origem (figura 3). Após o
episódio metamórfico, os zircões se "fecham" isotopicamente em relação ao Pb, e as razões
206
Pb/238U e 207
Pb/235U começam a aumentar uma vez mais durante 500 Ma. Nota-se que os
zircões com composições isotópicas deslocadas da concórdia se movem "paralelamente" à
concórdia. Nota-se também que as composições isotópicas dos zircões permanecem em uma
reta em comum durante a evolução (Figura 4).
A linha definida pelas composições isotópicas dos zircões é designada por discórdia. O
intercepto superior entre a discórdia e a concórdia representa a composição isotópica de um
zircão que não perdeu nenhum Pb durante o metamorfismo, logo fornece a idade de
cristalização da rocha. Contudo, o intercepto inferior representa a composição isotópica de um
mineral hipotético que perdeu todo o Pb durante o metamorfismo - o geocronômetro foi
reiniciado por completo. Assim, o intercepto inferior data o episódio metamórfico (figura 5).

541
22.4.15 - Determinação de proveniências
O zircão é altamente resistente ao intemperismo e a erosão. Por conseguinte, o zircão
normalmente ocorre como um mineral acessório em sedimentos e rochas sedimentares. As
composições isotópicas de U, Th e Pb do zircão são normalmente pouco afetadas pelo
intemperismo e a erosão. Por esta razão, a idade de um zircão detrítico representa a idade da
fonte do sedimento - i.e. a idade de proveniência do sedimento. Esta informação é de grande
interesse para a indústria petrolífera, entre outras.
Durante a exploração de um campo petrolífero, a fonte
e direção de transporte dos sedimentos tem interesse
para as companhias de prospecção. Para a situação
abaixo o problema é: As areias que constituem a
rocha-reservatório tiveram origem na erosão do
continente da esquerda, ou são provenientes do
continente do lado direito?
Provavelmente o melhor método para solucionar este problema é calcular a idade de
proveniência do sedimento, e comparar esta idade com a idade de componentes crustais com
potencial para serem a fonte de sedimento. Isto pode ser feito recolhendo e analisando zircões
da rocha-reservatório, e dos potenciais candidatos a fonte do sedimento. No presente exemplo,
os zircões detríticos da rocha-reservatório e os zircões presentes nas rochas do continente ao
lado direito possuem a mesma idade (2500 Ma). Contudo, os zircões presentes nas rochas do
continente da esquerda são consideravelmente inferiores. Portanto, é sensato concluir que as
areias constituintes da rocha-reservatório tiveram origem no continente do lado direito.

542
Na vida real a situação é um pouco mais
complexa do que o exemplo anterior. Morton e Grant
(1998) realizaram um estudo nos arenitos cretácios
profundos do mar norueguês. Um dos seus objetivos
era identificar a fonte das areias. O estudo de Morton
e Grant (1998) incluiu a análise de zircões detríticos
em arenitos de dois poços (6610/ 3-1, 2300m e
6607/5-2, 4172m) (figura 1).
Contudo, antes de analisarmos os dados, é importante notar que o oceano entre a
Noruega e a Groenlândia era mais estreito durante o Cretáceo do que é atualmente, quando
as areias se depositaram. As rochas sedimentares normalmente contêm grãos de zircão de
diferentes idades, i.e. os grãos representam diferentes fontes de sedimentos. Um tipo de
arenito (tipo K1) contém uma população subordinada com uma idade cerca de 400 Ma, e um
grande grupo de zircões proterozóicos com um pico pronunciado em 1800 Ma. Adicionalmente
há um forte componente entre 1400 e 1700 Ma, e grão dispersos no início do Proterozóico. As
rochas de idades semelhantes são bem conhecidas no continente escandinavo. Assim, as
areias tiveram muito provavelmente origem em uma combinação de 1) rochas pertencentes aos
Caledônides, 2) rochas pertencentes ao Escudo Ígneo Trans-escandinavo e 3) um componente
relativamente menor da base do Svecofenniano. Outro tipo de arenito (tipo K2) apresenta uma
população de zircões distintamente diferente, com componentes de idade mesozóica,
caledoniana, proterozóica e arqueana. Com base nos dados dos zircões apresentados aqui,
em combinação com dados de minerais pesados, Morton e Grant (1998) argumentaram que as
areias K2 provinham de uma fonte no noroeste da Groenlândia. Para concluir, as populações
de zircões detríticos dos arenitos cretácicos profundos do mar norueguês indicam a existência
de duas fontes distintas de areias: 1) o arenito tipo K1 teve origem em uma combinação de
rochas presentes no continente escandinavo, e 2) o arenito tipo K2 teve origem no noroeste da
Groenlândia (figura 2).

543
22.5 - O MÉTODO Re-Os

Embora as primeiras referências a respeito das possibilidades de utilização do sistema


isotópico Re-Os (Rênio-Ósmio) para fins geocronológicos remonte aos anos 50, apenas a partir
dos anos 80 se aprofundou e difundiu o conhecimento das particularidades geoquímicas a do
enorme potencial que este sistema apresenta para os estudos relacionados aos processos de
evolução da litosfera terrestre, de fusão parcial
e de diferenciação do manto da terra; de
diferenciação magmática por cristalização
fracionada; e para estudos de grande
importância econômica relacionados à
determinação das fontes dos minerais e do
tempo de colocação de mineralizações em
jazidas de minério.
O método baseia-se no decaimento
beta (β-) do 187
Re para o 187
Os segundo a
constante de decaimento (1) de 1.64 ± 0.005 x
10-11 x anos-1 (Lindner et al., 1989),
187
apresentando o Re a meia vida de 42,6
bilhões de anos. Muito do seu potencial
encontra-se relacionado a particularidades
geoquímicas dos elementos químicos Re e Os.
Enquanto o Re se comporta como elemento
incompatível durante os processos de fisão
parcial do manto e da crosta, o Os é retido na
olivina, nos sulfetos e em ligas metálicas
refratárias de resíduos mantélicos. Dessa forma, o Os encontra-se drasticamente empobrecido
nas rochas crustais enquanto o Re se encontra profundamente enriquecido. A figura ao lado
mostra uma evolução esquemática dos isótopos de Os no manto e na crosta. O ósmio possui
187
sete isótopos com massas 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190 e 192, sendo o Os produzidos
187 186 190
pelo decaimento de Re e Os, produto do decaimento de Pt. A partir de 1996 a
188
normalização das razões isotópicas é feita pelo isótopo estável Os (Smoliar et al., 1996).

544
A equação de datação pode ser expressa como:

onde λ187 = 1,62x10-11 anos -1


Como conseqüência os reservatórios crustais apresentam razões Re/Os
dramaticamente diferentes e, em função do tempo, composições isotópicas muito distintas com
contrastes que não são observados em nenhum outro sistema isotópico quando se comparam
187
diferenças entre reservatórios crustais e os mantélicos (razões Re/188Os e 187
Os/188Os, em
contritos e no manto superior, equivalentes respectivamente a 0,40 e 0,1271, enquanto na
crosta superior esses valores passam à 42 e 1,69 , segundo Walker; Morgan, 1989 e, Snow;
Reisberg, 1995).
Além disto os elementos Re e Os, ao contrario dos demais sistemas isotópicos
atualmente mais utilizados em geocronologia (K-Ar, Ar-Ar, Rb-Sr, Sm-Nd e U-Pb). são
elementos fortemente calcófilos, concentrando-se preferencialmente nas fases sulfetadas em
relação às silicáticas, permitindo assim se estudar diretamente os minérios de um determinado
jazimento e não o fazê-lo por vias indiretas, através de aplicação de outros métodos isotópicos
nas fases silicáticas hospedeiras. Considerando-se adicionalmente que os Os é um dos
elementos do grupo da Platina, pode-se deduzir a importância que este método representa no
estudo da derivação de metais preciosos em fluidos magmáticos mineralizantes e nos
processos de fracionamento normalmente associados à concentração dos elementos do grupo
da platina nos complexos estratiformes, que têm se constituído como fonte primária por
excelência para prospecção e exploração destes metais.
O manto astenosférico é mais depletado em elementos incompatíveis que as plumas
do manto, produzidos ilhas oceânicas basálticas. O manto litosférico possui uma depleção
destes basaltos no componente Re por extração da fusão.
De forma análoga aos métodos Rb-Sr e Pb-Pb, as idades de Re-Os (meia vida t1/2 =
43 Ga) podem ser calculadas de duas formas, a idade isocrônica, mais confiável, quando
obtida numa suíte de amostras cogenéticas de rochas ou minerais, e a idade-modelo, quando
se tem uma única amostra e neste caso assume-se um valor para a composição isotópica
inicial de Os. Neste caso, a idade é calculada em relação à composição isotópica dos
condritos, chamada de TCHUR, que indica a idade mínima de residência crustal da rocha. Os
minerais mais comumente datados são pirita, calcopirita, pentlandita, magnetita e pirrotita

545
associados a depósitos de sulfetos maciços, sendo obtida sua idade de cristalização
magmática.
Uma das limitações que retardaram a difusão do método Re-Os encontra-se associada
ao fato de que Os é um dos elementos menos abundantes na natureza. Sua concentração
varia entre valores de algumas picogramas por grama (pg/g, ou seja, algumas partes por trilhão
de partes: ppt)) na maioria das rochas crustais e concentrações da ordem de 1 micrograma por
grama (mg/g) nos sulfetos ou até 50 mg/g em meteoritos sideríticos (Völkering et al., 1991).
Este fato implica na necessidade de métodos analíticos extremamente sensíveis e precisos
para a determinação da concentração desse elemento e de seus isótopos. Além disso, em
função do isótopo radiogênico do Os (1870s) apresentar o mesmo número de massa do isótopo
que lhe dá origem (187Re), torna-se necessário separá-los da amostra a ser estudada antes de
se proceder a sua extração de Os é extremamente delicado e complicado (Shirey; Walker,
1995) e que se necessita de laboratórios "limpos", dentro de padrões internacionais, e
reagentes ultra-puros, para se evitar eventuais contaminações durante os procedimentos de
extração e análise.
Essas análises só se tornaram viáveis com o desenvolvimento de equipamentos para
espectrometria de massa por ionização térmica negativa (NTI-MS), uma vez que medidas
precisas pela via tradicional de ionização térmica positiva não se aplicavam, dentro dos limites
de precisão desejados, para os isótopos de Os em função do extremamente elevado potencial
de ionização deste elemento' Pela nova técnica (NTI-MS) passou a ser possível analisar com
precisões menores que 0,01%, razões isotópicas de Os em amostras que continham este
elemento químico em quantidades da ordem de alguns nanogramas por grama de amostra
(algumas ppt). Como conseqüência, uma vez superados os problemas analíticos, este método
vêm se difundindo gradamente nos melhores centros de pesquisas ligados as geociências em
âmbito mundial, permitindo avanços significativos na compreensão dos importantes problemas
geológicos e metalogenéticos que careciam até então de uma ferramenta de trabalho
adequada para sua resolução.

546
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