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REVISTA BRASILEIRA DE
GEOLOGIA DE ENGENHARIA
E AMBIENTAL
REVISTA BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Publicação Científica da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
EditorES
Revisores
Adalberto Aurélio Azevedo – IPT José Domingos Gallas – USP
Alberto Pio Fiori – UFPR José Eduardo Rodrigues – USP
Aline Freitas da Silva – DRM-RJ José Eduardo Zaine – UNESP
Alessandra Cristina Corsi - IPT José Luiz Albuquerque Filho – IPT
Angelo José Consoni – TSAP Kátia Canil – UFABC
Antonio Cendrero – Univ. da Cantabria (Espanha) Leandro Eugênio da Silva Cerri – UNESP
Antonio Manoel Santos Oliveira – UNG Lídia K. Tominaga – IG/SMA
Candido Bordeaux Rego Neto – IPUF Luis de Almeida Prado Bacellar – UFOP
Clovis Gonzatti – CIENTEC Luiz Nishiyama – UFU
Denise de la Corte Bacci – USP Luiz Fernando D`Agostino – Nucleo
Diana Sarita Hamburger - UFABC Malva Andrea Mancuso – UFSM
Dirceu Pagotto Stein – Geoexec Marcelo Fischer Gramani – IPT
Edilson Pissato – USP Marcilene Dantas Ferreira – UFSCar
Eduardo Brandau Quitete – IPT Marcelo Denser Monteiro – Metrô - SP / UAM
Eduardo Goulart Collares – UEMG Marcia Pressinotti – IG/SMA
Eduardo Soares de Macedo - IPT Marcio A. Cunha – Consultor
Emilio Velloso Barroso – UFRJ Maria Cristina Jacinto Almeida – IPT
Eraldo L. Pastore - Consultor Maria Heloisa B.O. Frascá – Consultora
Fábio Soares Magalhães – Vogbr Maria José Brollo – IG/SMA
Flávio Almeida da Silva - Engecorps Marta Luzia de Souza - UEM
Frederico Garcia Sobreira – UFOP Nelson Meirim Coutinho - GEORIO
Ginaldo Campanha - USP Newton Moreira de Souza - UnB
Guido Guidicini – Geoenergia Noris Costa Diniz -UnB
Helena Polivanov - UFRJ Oswaldo Augusto Filho - USP
Jair Santoro – IG/SMA Reinaldo Lorandi – UFSCar
João Francisco Alves Silveira - Consultor Renato Luiz Prado – USP
Jorge Kazuo Yamamoto – USP Ricardo Vedovello – IG/SMA
José Alcino Rodrigues de Carvalho – Univ. Nova de Lisboa (Port.) Yociteru Hasui – Consultor
José Augusto de Lollo – UNESP
apoio editorial
Luciana Marques, Nill Cavalcante , Renivaldo Campos
Volume 5 - Número 1
2015
ISSN 2237-4590
DIRETORIA ABGE GESTÃO 2016/2018
CONSELHO DELIBERATIVO
Núcleo Nordeste - Carlos Henrique Medeiros
Adalberto Azevedo, Alessandra Corsi, Andrea
Bartorelli,Deyna Pinho, Edilson Pissato,Fábio Conselho Deliberativo: Edval Lopes da Silva, Fagner
Reis,Flávio Almeida, Glaucia Cuchierato, Ivan Delatim, França, Francisco Said Gonçalves, Heitor Neves Maia,
José Luiz Albuquerque Filho, Leandro Castro, Lídia José Braz Diniz Filho, Kleiton Cassimiro, José Vitoriano
Tominaga,Luiz Fernando, Marcelo Denser, Mateus de Britto Neto, Marcos Paulo Souza Novais, Olavo
Delatim, Renata Rocha, Silvia Kitaraha e Tiago Antonelli. Santos Junior, Ubiratã Maciel, Ricardo Farias do Amaral
e Vanildo Fonseca
Secretaria Executiva
Núcleo Sul - Malva Andrea Mancuso Secretária Executiva: Luciana Marques
Av. Profº Almeida Prado, 532 – Prédio 11 –
Conselho Deliberativo: Alberto P. Fiori, Andrea V. Cidade Universitária – São Paulo – SP
Nummer, Débora Lamberty, Eduardo C.B. Carvalho, Telefone: (11) 3767-4361 / (11) 3719-0661
Erik Wunder, Hermann Vargas, Juan Antonio A. Flores, Email: abge@abge.org.br – Home Page: www.abge.org.br
Luiz A. Bressani e Malva Andrea Mancuso.
APRESENTAÇÃO
Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho é sugerir algumas alterações The objective of this paper is to suggest some
no processo de estudo e apresentação das Cartas Geo- modifications on the study process and in the
técnicas no âmbito do seu uso no Planejamento Terri- presentation of Geotechnical Maps for Territorial (or
torial (ou Urbano), salientando as grandes vantagens Urban) Planning, highlighting the great advantages of
de seu uso, mas discutindo alguns dos seus condicio- its use but discussing some of its current constraints.
nantes atuais. Um aspecto que é levantado é a susceti- One aspect is the susceptibility to mass movements of
bilidade dos terrenos aos movimentos de massa, aqui the area, here called natural susceptibility, and problems
denominada suscetibilidade natural e os problemas com with the prospective evaluation of induced susceptibility,
a avaliação prospectiva da suscetibilidade induzida, isto that is the real one due to occupation. The article also
é, aquela que ocorrerá pela ocupação. O artigo discute discusses that Geotechnical Maps for Urban Planning
também a necessidade de que as Cartas Geotécnicas should express, somehow, the destructive potential of
para Planejamento Urbano devem expressar, de algu- the events, indicating a qualitative assessment of hazard.
ma forma, o potencial destrutivo dos eventos, indican- Although this presents difficulties of evaluation, it is the
do uma avaliação qualitativa do perigo. Embora isto factor that will be taken into account by the Society and
apresente dificuldades de avaliação, é este fator que the stakeholders (population, developers, legislators,
acaba sendo levado em conta pela Sociedade e os atores representatives of the government) when they take
interessados (população, incorporadores, legisladores, decisions about the occupation, or not, of available
representantes do Poder Público) quando tomam de- areas. Finally, it is highlighted the educational role that
cisões sobre a ocupação ou não das áreas disponíveis. the preparation of the Geotechnical Maps may have in
Por último é realçado o papel educativo que o próprio the Society, and this should be encouraged.
processo de elaboração das Cartas Geotécnicas pode
ter na Sociedade, pela compreensão dos condicionan- Keywords: Geotechnical mapping; susceptibility;
tes que são estudados, e isto deve ser incentivado em slopes; landslides.
todos os trabalhos de elaboração das Cartas.
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Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento
-econômico”. Verifica-se que, na essência, são de- Embora Santos (2014) seja mais exigente, sob
finições semelhantes. Santos (2014) enfatiza o ca- o argumento de que as CG devem permitir deci-
ráter de cunho preventivo da CG, referido como sões de campo muito precisas, com definição de
instrumento básico de planejamento urbano. fronteiras entre diferentes compartimentos geo-
Segundo Diniz & Freitas (2013) “a delimita- técnicos com precisão da ordem de metros (esca-
ção de unidades do terreno deve ter em conta as las >1:5.000), este artigo vai discutir a escala de
diferenças de atributos ou parâmetros do meio Planejamento Territorial (1:25.000).
ambiente (físico, biótico e antrópico), os quais
induzem ou condicionam o desenvolvimento
2.3 Suscetibilidade
de processos e fenômenos (...). Assim, até para
expressar a suscetibilidade a processos do meio Existem pequenas nuances entre as defini-
físico, sua abordagem deve envolver também as- ções para a suscetibilidade nos textos sobre ma-
pectos dos meios biótico e antrópico, relativos à peamento. Em geral, a suscetibilidade reflete o
ocupação (...)”. potencial de ocorrência de um fenômeno geoló-
Em seu livro, Santos (2014) diz que a repre- gico em certa área, sendo determinada a partir de
sentação na mesma Carta Geotécnica do compor- evidências e similaridades com outras regiões ou
tamento do terreno frente a diversos fenômenos a partir de inventário de ocorrências. Segundo o
problemáticos para a ocupação, tais como desli- trabalho de compilação de informações e concei-
zamentos, inundações, erosões, abatimentos de tos de um grupo internacional (Fell et al. 2008, e
terreno ou solapamentos de margem, pode difi- tradução da ABGE - Macedo & Bressani 2013),
cultar a visualização. Por isto, sugere a produção suscetibilidade é a avaliação quantitativa ou qua-
de Cartas independentes, como uma CG para des- litativa do tipo, do volume (ou área) e da distri-
lizamentos e erosões e outra para contaminação buição espacial de deslizamentos que existem
de solos e águas subterrâneas. ou potencialmente podem ocorrer em uma área.
Conforme os autores, embora seja esperado que
2.2 Escalas de mapeamento os deslizamentos ocorram com mais frequência
em áreas mais suscetíveis, na análise de susceti-
A finalidade da Carta Geotécnica determina bilidade o período de tempo (frequência) não é
a escala e os detalhamentos necessários. O zonea- considerado de forma explícita.
mento básico para produzir as Cartas Geotécnicas Bressani & Costa (2013) destacam que a sus-
pode ser realizado para o planejamento regional, cetibilidade representaria uma expectativa técnica
local ou de uma área específica (Fell et al. 2008). de quais áreas são mais sujeitas a sofrer com certos
No caso da CG para Planejamento Territorial, as tipos de eventos adversos, baseada em análise crí-
escalas seguem a seguinte lógica geral (Diniz & tica de eventos históricos e dados do geoambiente
Freitas, 2013): (topografia, geologia, ocupação, forma do terre-
■■ A Carta Geotécnica de Suscetibilidade volta- no). A suscetibilidade é adimensional, podendo
da ao Planejamento (Municipal) deve permi- ser definida em termos qualitativos (como alta,
tir, em escala até 1:25.000, a ponderação do média ou baixa) ou quantitativa (em termos de
grupo gestor municipal na determinação de probabilidade de ocorrência de um processo de
metas e ações de desenvolvimento, (...) for- instabilização com características definidas). Des-
necendo dados que contribuam para as ações tacam ainda que a avaliação da suscetibilidade é
de planejamento municipal. obtida pela análise de diversos fatores que con-
■■ A Carta Geotécnica de Aptidão Urbanística dicionam a ocorrência de um fenômeno adverso
frente aos Desastres Naturais é um instru- (inundações, escorregamentos, secas, etc.) e, as-
mento para estimular o desenvolvimento ur-
sim como o risco, deve ser determinada para cada
bano em locais seguros, combatendo a ocu-
um dos eventos de forma isolada. No caso de mo-
pação de áreas ambientalmente vulneráveis
vimentos de massa, a suscetibilidade será função
e de risco. A fim de se estabelecer normas de
ocupação, trata-se de cartografia geotécnica do processo de instabilização considerado e seus
em escala 1:10.000 ou maior. fatores condicionantes (como queda de blocos,
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Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento
Esses procedimentos apresentados por Diniz cuidadosamente levados em conta, pois ati-
& Freitas (2013) podem ser estruturados em três vidades humanas podem modificar o ambiente de
fases: inventário, análise e síntese, resumidos na estabilidade dos terrenos (...) e também a susceti-
(Figura 1). bilidade e probabilidade da ocorrência de um ou
Segundo esses autores, as cartas geotécnicas mais processos (...); (grifo nosso);
devem levar em conta os seguintes aspectos, den- Esses procedimentos metodológicos para
tre outros: elaboração da carta geotécnica (...) permitirão a
■■ O histórico da área em estudo e sua evo- delimitação dos terrenos de acordo com a varia-
lução em termos de uso do solo devem ser ção dos processos (Tabela 1).
Em seu relatório final do projeto de elabo- geotécnicas dos terrenos, com orientações gerais
ração da Carta Geotécnica de Ouro Preto, So- para o seu uso e ocupação.
breira et al. (2014), e em Souza & Sobreira (2014), O inventário de processos é gerado a partir
é apresentada uma descrição detalhada das me- de registros ou cadastro de ocorrências da Defesa
todologias utilizadas para obtenção da Carta de Civil/Corpo de Bombeiros (áreas urbanas) e in-
Suscetibilidade (escala 1:25.000), dividindo-a em terpretação de imagens/fotos aéreas e trabalhos
etapas, das quais os itens principais estão relacio- de campo (áreas urbanas e rurais) - feições indi-
cativas de processos de movimentos de massa e
nados a seguir. Segundo estes autores, o produ-
eventos de natureza hidrológica. Segundo os au-
to final a ser obtido será o resultado síntese das
tores, a preparação do inventário de processos
suscetibilidades aos processos naturais ou indu-
geodinâmicos deve envolver o local, a classifica-
zidos, associados às condições geomorfológicas e
ção do processo, o estado de atividade e data de
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ocorrência em uma área. Entretanto, o inventário de imagens de última geração, mas também as
de cicatrizes de movimentos de massa pretéri- antigas, tanto em estudos de detalhe (escalas
tos deve ser baseado no mapeamento direto das maiores que 1:10.000) como em estudos mais re-
cicatrizes e dos depósitos associados, por meio gionais (escalas 1:25.000 ou menores).
Tabela 1 – Aspectos gerais para elaboração da Carta Geotécnica de Planejamento (Diniz & Freitas, 2013).
Mapa geomorfológico – validação das unida- Síntese das cartas de suscetibilidades - com
des de compartimentação do relevo. Diferentemen- a indicação das áreas com restrições à ocupação
te do substrato, cujas unidades estão já pré-estabe- urbana. Como as cartas de suscetibilidade devem
lecidas pelos mapas básicos, no caso das coberturas ser compreendidas e utilizadas por um público
as unidades devem ser definidas conforme seu mais amplo, as cartas dos diversos processos de-
perfil (textura, espessura, horizontes ou níveis) e vem ser integradas e simplificadas (Sobreira et al.
seus limites nem sempre são de fácil determinação. 2014). Para isto, as áreas de suscetibilidade a cada
Integração de dados e análise e diagnóstico processo devem ser avaliadas em conjunto com os
do meio físico - Os autores descrevem este obje- outros processos que podem também afetar o local,
tivo como o de “elaborar um documento que re- ou parte deste, e seu grau (alto, médio ou baixo).
presente setores na paisagem que têm condicio- No caso do trabalho de Sobreira et al. (2014), a car-
nantes naturais que indiquem a possibilidade de ta final deve representar a adequação (aptidão) à
ocorrência de um processo, assim como as áreas urbanização dos terrenos em três classes: (a) áreas
sob influência (atingimento) destes processos”. consolidáveis; (b) áreas não consolidáveis (ou ina-
Os autores discutem no seu texto que “as bases te- propriadas) e (c) áreas consolidáveis com restrições
máticas têm importância diferenciada em relação – necessitam práticas de ocupação ajustadas às con-
ao processo analisado e a questão de ponderações dições (com possíveis intervenções de engenharia).
e adoção de valores ou índices para as unidades
temáticas é um ponto em aberto”. A partir des-
ta discussão, sugerem a elaboração das cartas de 3 UMA DISCUSSÃO DOS FUNDAMENTOS PELA
suscetibilidades por processos envolvidos e que VISÃO DA ENGENHARIA GEOTECNICA
o zoneamento de unidades de terreno deve levar
em conta os diferentes tipos de processos e indicar Neste item serão discutidos alguns aspectos
a adequabilidade da ocupação em cada unidade intrínsecos aos trabalhos de mapeamento, mas
de terrenos. que sob o ponto de vista da engenharia, podem
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Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento
assumir papel e importância diversa de acordo (suscetível ao quê?). Em segundo lugar, a susceti-
com a região avaliada e os processos nela identi- bilidade é adequada para o estudo de condições
ficados. Também há conceitos que necessitam ser intrínsecas ao terreno, ao ambiente, para as condi-
mais bem sedimentados, adaptados ou observa- ções naturais, como discutido abaixo.
dos sob pontos de vista mais práticos e funcionais. Uma área definida como suscetível tem que
ser suscetível a (pelo menos) um tipo de fenôme-
no bem definido e que tenha seus indicadores, ou
3.1 Os processos mapeados
fatores predisponentes, igualmente bem ajustados.
Existem diversos processos geotécnicos de Assim, as áreas próximas de escarpas rochosas se-
interesse para a Cartografia Geotécnica, com rão suscetíveis a quedas de blocos ou tombamentos
respeito ao Planejamento Regional, cujas áreas e rolamentos de blocos. Áreas de grandes depósi-
tos de materiais coluvionares são tipicamente sus-
de ocorrência e influência devem ser mapeadas.
cetíveis a movimentos do tipo rastejo sazonais ou
As Cartas Geotécnicas devem mapear todos os
rupturas semi-rotacionais (respectivamente de pe-
fenômenos presentes na área avaliada, porém o
quena magnitude e velocidade, cumulativos; com
presente artigo foca a discussão nos fenômenos
trincamentos claros e movimentos importantes).
de escorregamentos (latu sensu).
Portanto, estas 2 áreas, com características geomor-
Os movimentos gravitacionais de massa
fológicas muito diferentes, podem apresentar sus-
(deslizamentos, lato senso) incluem quedas e
cetibilidades similares a estes processos distintos.
tombamentos (em geral em rochas), rolamento
É preciso deixar isto bem claro nos mapas finais.
de blocos rochosos, deslizamentos em cunhas/
prismas (rochas e solos saprolíticos), desliza-
mentos translacionais (rápidos ou não), desliza-
mentos rotacionais, deslizamentos complexos,
escoamentos (ou espraiamentos), fluxos de detri-
tos/lama/blocos (corridas).
Estes fenômenos apresentam grande varia-
ção de velocidades e volumes, em alguns casos na
mesma região. De forma bem concisa, é preciso
estudar suas causas (redução da resistência ao ci-
salhamento, aumento da poro-pressão, mudanças
geométricas), suas velocidades esperadas (que in-
dicam seu perigo às pessoas) e os volumes envol-
vidos (que tem relação com o custo de mitigação/
Figura 2 – Deslizamentos rasos em encosta vegetada devido
estabilização). As Figuras 2 a 5 mostram alguns à chuva intensa (Gaspar, SC, 2008) – movimento rápido, in-
movimentos de massa onde estas diferenças de terrupção da via, pequena frequência (foto de L.A. Bressani).
comportamento e velocidades ficam evidenciadas
(estes são alguns casos nacionais – o leitor é esti- Outra questão é que a suscetibilidade a um
mulado a comparar com fenômenos das regiões processo deveria ser avaliada para condições na-
em que novas Cartas Geotécnicas serão feitas). turais, intrínsecas ao ambiente, isto é, deveria re-
fletir a potencialidade daquele ambiente a um de-
terminado tipo de evento. É reconhecido que esta
3.2 A suscetibilidade natural a deslizamentos suscetibilidade geralmente vai mudar com a ocu-
x suscetibilidade induzida pação humana, mas a avaliação regional (escala
1:25.000), só permitirá avaliar esta suscetibilidade
Embora em geral exista uma boa compreen- quando a intervenção causar mudanças de grande
são da suscetibilidade no meio técnico, há dois fa- porte. Eventos isolados, como deslizamentos de
tores que os autores gostariam de enfatizar. Em cortes e aterros, dificilmente podem ser avaliados
primeiro lugar, a definição de terreno suscetível é corretamente nesta escala. E estes acidentes po-
fundamentalmente ligada ao processo em análise dem ser produzidos em regiões que originalmente
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
não eram muito suscetíveis, mas cuja ocupação Então, para ser comparável, a avaliação da
inadequada tenha alterado este quadro. suscetibilidade deveria ser feita com base em uma
situação mais ou menos natural, isto é, onde a in-
tervenção humana ainda não tenha alterado de
maneira importante os condicionantes, os fatores
predisponentes do processo analisado.
Mas é importante observar que o grau de
preservação destes condicionantes naturais de-
penderá do processo analisado, como exemplifi-
cado a seguir:
1. A suscetibilidade média a alta a escorregamen-
tos de grande porte (por exemplo, grandes cor-
pos de colúvio) é pouco modificada pela ocu-
pação urbana tradicional. E existem casos em
que a ocupação pode ser estabilizante;
2. A suscetibilidade alta a quedas de blocos é
Figura 3 – Deslizamento potencial de blocos de rocha ao lon-
go de descontinuidades (Caxias do Sul, 2005) – estável até pouco influenciada pela ocupação (mesmo
o momento (2016), frequência (??) – (foto de L.A. Bressani). acentuada) das áreas de atingimento inferio-
res (ocupação junto das encostas rochosas da
serra fluminense, por exemplo);
3. Por outro lado, a suscetibilidade (natural) a
escorregamentos é profundamente afetada
em ambientes de morrotes de solo quando
ocorre a ocupação desordenada tipo corte-
-aterro (uma área inicialmente pouco susce-
tível altera para uma área de perigo – muitos
exemplos no Sudeste brasileiro);
4. No caso hidrológico, a suscetibilidade a en-
xurradas é profundamente afetada pela ocu-
pação de pequenas bacias íngremes devido
aos fenômenos associados à impermeabiliza-
Figura 4 – Escorregamento semi-rotacional, grande área, pe- ção (há muitos exemplos em várias drenagens
queno aterro sobre depósito de solo (aluviões), movimento
de baixa velocidade após longo período de chuvas (Luis Al- urbanas com aumento das vazões de pico).
ves, SC) – (foto de L.A. Bressani). Entretanto, como visto na revisão, os textos
sobre Cartas Geotécnicas propõem que o mapea-
mento seja apresentado na condição de uma sus-
cetibilidade inferida futura, isto é, como o terreno
naturalmente suscetível se comportaria sob a interven-
ção humana. Esta projeção futura implica em esti-
mar qual será a suscetibilidade induzida pela ocupa-
ção. Considerando a grande experiência brasileira
com ocupações desordenadas das periferias ín-
gremes das grandes cidades, onde áreas não mui-
to (naturalmente) suscetíveis foram ocupadas
com vias irregulares e lotes com platôs de cortes
e aterros, gerando diversos e sérios acidentes, esta
Figura 5 – Escorregamento semi-rotacional em ambiente projeção futura é legítima e relevante nestes casos.
construído. Movimento rápido durante chuvas intensas (Blu-
menau, SC, 2008). Suscetibilidade induzida (foto de autor
Porém, esta inferência implica em que o mapea-
desconhecido, disponível na web). mento tem que “pressupor o tipo de ocupação”. Mais
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Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento
ainda, a proposta atual das Cartas Geotécnicas, é destes locais, a remoção da população, mesmo
de propor alternativas técnicas para a ocupação, o em casos muito claros de instabilidade, e de alto
que pode ser uma fonte de conflitos técnicos como custo de mitigação, tem sido uma decisão difí-
explicado adiante. cil porque há muitos outros fatores em jogo (so-
ciais, político-legais, econômicos e culturais, além
dos técnicos). A definição da melhor medida de
3.3 Importância do tipo de deslizamentos no
estabilização/mitigação, ou conjunto de medidas,
mapeamento final – a avaliação empírica
é normalmente um processo longo que envolve
do Perigo (experiência com a mitigação)
investigações geotécnicas, entendimento dos pro-
O objetivo final da Carta Geotécnica para blemas e equacionamento de diversas variáveis,
Planejamento Territorial é a orientação indicativa onde a geotécnica é uma importante ferramenta,
das áreas mais adequadas para ocupação e, por mas não a única.
exclusão, das áreas inadequadas. Mas, em geral, Quando há uso adequado das técnicas dispo-
o que realmente importa ao planejador urbano (e níveis para mitigação, mesmo em áreas problemá-
sociedade em geral) é saber quais são os perigos ticas, a própria ocupação pode trazer resultados
da ocupação e quais os custos decorrentes desta adequados: redução ou eliminação de acidentes,
ocupação; não valores, mas ordens de grandeza. aumento da densidade populacional em certas
Lembrando que o perigo segue as definições apre- áreas e investimentos privados e públicos ao lon-
sentadas em Fell et al. (2008), Macedo & Bressani go dos anos (arruamentos, praças, edifícios, es-
(2013) e Bressani & Costa (2013), onde o perigo é colas, comércio). Como pode ser observado em
uma condição com potencial para causar conse- diversos locais, a urbanização é adequada onde a
quência indesejável, ou a probabilidade que uma equação (investimento / benefícios) for favorável.
ameaça específica (portanto, com danos) ocorrer A avaliação dos benefícios é bastante complexa e
em um dado período de tempo. O perigo é adi- envolve a localização das moradias em relação às
mensional, e pode ser definido em termos qualita- fontes de renda, ao acesso à saúde e a educação,
tivo (alto, médio ou baixo) ou quantitativo, onde além da adequada segurança geotécnica (entre
representará a probabilidade de ocorrência de um outras) que depende da adoção de medidas corre-
processo de instabilização que venha a causar al- tas de estabilização da área.
gum dano, ainda que avaliado de forma simplifi- Dada a complexidade das intervenções ne-
cada, para um intervalo de tempo ou por área. cessárias, há muitas soluções possíveis, mas ra-
Como os terrenos são suscetíveis a diferentes ramente há soluções semelhantes para locais di-
processos, os valores envolvidos na urbanização ferentes. Deste modo, o papel do Geotécnico na
segura serão, geralmente, também diferentes. En- elaboração das Cartas Geotécnicas deve ser o de
tre as medidas clássicas de mitigação, a primeira alertar sobre os possíveis mecanismos instabi-
é justamente a evitação (avoidance), através de le- lizantes presentes em certa área, detalhar tanto
gislações de planejamento de uso ou diretamente quanto possível os volumes, velocidades e pro-
restritivas (principal objetivo das Cartas Geotécni- babilidades (perigos), mas evitar indicar soluções
cas). Mas existem diversas áreas atualmente ocu- técnicas muito detalhadas, conforme exemplos ci-
padas que tem perigos bem identificados, e que tados na Tabela 2. Em síntese, as indicações da Ta-
tem medidas de mitigação bem definidas. Estas bela 2 são decisões de projeto, que na prática po-
medidas geralmente são drenagens, obras de con- dem não ser as mais adequadas, necessitando-se
tenção, mudanças geométricas, reforços pontuais, estudar caso a caso. Assim, é preferível mencionar
impermeabilizações localizadas, etc. Em muitos apenas as recomendações.
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Tabela 2 – Alguns exemplos de recomendações que devem ser feitas e as indicações que não devem se feitas
numa Carta Geotécnica.
3.4 Educação da população sobre os perigos entendimento das restrições e a mudança de pa-
durante o processo de mapeamento das radigmas em loteamentos, entre outras, se tornou
áreas um ponto fundamental para a implantação de me-
didas mais corretas de ocupação, sejam legais, de
Um aspecto interessante que é preciso real- fiscalização e controle, ou do interesse imobiliário.
çar é o papel educativo que o próprio processo Na opinião dos autores, este processo parti-
de elaboração das Cartas Geotécnicas pode ter na cipativo e educativo deve ser incentivado durante
Sociedade (população, técnicos municipais, Po- os trabalhos de criação das Cartas Geotécnicas.
der Público, empresários). Na experiência obtida Ao participar das discussões, descobrir e entender
durante o trabalho de mapeamento de Igrejinha, os perigos a que está exposta, com suas causas e
apoiado pelo convênio com o Ministério das Ci- conseqüências, a população altera a sua percep-
dades/CEPED-RS-UFRGS (Bressani 2014), foram ção dos perigos e aceita com mais facilidade as
estabelecidos diversos arranjos de um proces- restrições daí decorrentes, inclusive ajudando na
so participativo. Assim, os técnicos municipais, sua implantação e fiscalização. O conhecimento
agentes da Defesa Civil, vereadores e agentes do dos perigos leva a uma mudança de atitude e a
Poder Público participaram de diversas reuniões uma maior responsabilidade sobre o uso do solo.
e discussões técnicas sobre os resultados parciais Naturalmente as decisões mais técnicas sobre
e providências que seriam necessárias, tanto téc- os tipos de intervenção ou obras necessárias, ou
nicas quanto de natureza geral (legislação, obras, sobre os limites ou áreas afetadas por um desli-
restrições á ocupação, etc.). E à medida que estes zamento, continuarão sendo de responsabilidade
dados e conclusões parciais foram sendo obtidos, dos técnicos treinados. Não há contradição entre
a população foi sendo informada dos resultados e estas responsabilidades, elas se complementam
suas consequências.
num ambiente de colaboração e entendimento.
Ao final, quando as Cartas Geotécnicas con-
solidadas foram apresentadas em uma ampla
Audiência Pública, não só elas já não eram algo 4 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
desconhecido ou inesperado, mas já eram enten-
didas como uma efetiva representação da sua ci- O principal objetivo das Cartas Geotécnicas é
dade, dos processos de instabilização presentes, o de contribuir para a redução de desastres, prin-
bem como de quais seriam os indicativos de or- cipalmente pela prevenção, através do incentivo
denamento urbano, um dos principais objetivos do seu uso no Planejamento Urbano. Felizmente
destas cartas. isto tem sido obtido em vários casos, pela utiliza-
Observou-se ainda que a percepção do peri- ção adequada destes instrumentos e seu uso deve
go destes vários atores em relação à sua cidade ser incentivado.
e ambiente geológico do entorno havia mudado. Nas proposições para a execução das Cartas,
Esta nova postura dos diversos atores na aplica- grande parte dos autores propõe uma avaliação
ção e aceitação de regras e limites de ocupação, o prospectiva da suscetibilidade induzida, isto é, a
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Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento
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RS e CEPED-RS, a vários colegas e diretores da Fell R., Corominas J., Bonnard C., Cascini L., Leroi
CPRM por discussões e debates, à CAPES e CNPq E., Savage W.Z. 2008. Guidelines for landslide
por apoio a projetos de pesquisa e bolsa ao pri- susceptibility, hazard and risk zoning for land
meiro autor. use planning. Engineering Geology, 102, pp. 83-
98, Joint Technical Committee on Landslides and
Engineered Slopes (JTC-1). Disponível em http://
Referências
www2.etcg.upc.edu/asg/Talussos/pdfs/2008_
Bressani L.A. (Coord.) 2014. Elaboração de cartas Guidelines.pdf. Acessado em: 11 jul. 2013.
geotécnicas de aptidão à urbanização frente aos
Macedo E. S. & Bressani L.A. (Org.) 2013.
desastres naturais no município de Igrejinha, RS:
Diretrizes para o zoneamento da suscetibilidade,
Relatório Final. Porto Alegre: CEPED/RS-UFRGS,
perigo e risco de deslizamento para planejamento
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20
DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO PARA
DELIMITAÇÃO DE BACIAS DE DRENAGEM
SUSCETÍVEIS A CORRIDA DE MASSA E
ENXURRADA EM REGIÕES SERRANAS
METHOD TO DEFINE DRAINAGE BASINS SUSCEPTIBLE TO DEBRIS FLOW/FLASH
FLOOD AND FLASH FLOOD (OR HYPERCONCENTRATED FLOW) IN HILLY AREAS
RESUMO ABSTRACT
O método adotado para delimitação de bacias de dre- The method adopted for delimitation of watersheds
nagem com alta suscetibilidade a geração de corrida de with high susceptibility to debris flow and flash flood
massa e enxurrada baseou-se em critérios morfométri- was based on morphometric parameters in appropriate
cos adequados à escala de análise. A análise das bacias scale analysis. The watershed analysis was divided into
de drenagem foi dividida em duas etapas, ambas em two steps, both in Geographic Information System. In
ambiente de Sistema de Informações Geográficas. Na the first step performs an analysis of the relief patterns
primeira etapa, realiza-se uma análise dos padrões de
and the susceptibility mass movements’ maps. If the
relevo e da carta de suscetibilidade a movimentos gra-
vitacionais de massa. Se as premissas são aceitas (re- premises are accepted (mountain relief and high
levo serrano e mar de morros, e alta suscetibilidade) susceptibility) follows for the second stage. The second
segue-se para a segunda etapa. A segunda etapa con- step is the definition and analysis of watersheds which
siste na delimitação e análise das bacias de drenagem is generated from the digital terrain model with getting
geradas a partir do modelo digital de terreno com a the area and amplitude of these basins. The basins with
obtenção da área e amplitude dessas bacias. As bacias range greater than 300 m are classified as flash flood
com amplitude maior que 300 m são classificadas como and the range with greater than 500 m performs the
de enxurrada e para as com amplitude maior que 500 calculation of Melton Index. If the Melton index is
m efetua-se o cálculo do Índice de Melton. Se o Índice greater than 0.3 these basins are classified as debris
de Melton for maior que 0,3 estas bacias são classifi-
flow otherwise as flash flood. The method was applied
cadas como de corrida de massa caso contrário como
de enxurrada. O método foi aplicado em 111 municí- in 111 the municipalities in Espiríto Santos, Minas
pios distribuídos nos estados do Espirito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo State. Those
Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Desses, 59 59 municipalities have drainage basin susceptible to
possuem bacias de drenagem suscetíveis à geração de deflagrate debris flow/flash flood and 21 with flash
corrida de massa/enxurrada e 21 apenas de enxurra- flood. The use of Geographic Information System
da. A utilização do Sistema de Informação Geográfica proved to be a useful tool as it allows a wide range of
mostrou-se uma ferramenta útil, pois permite uma va- analyzes making the agile procedure.
riada gama de análises tornando o procedimento ágil.
Keywords: Debris flow; Flash flood; Morphometric
Palavras-chave: Corrida de Massa; Enxurrada, Parâme- Parameter; Drainage Basin; Melton Index
tro Morfométrico; Bacia de drenagem; Indice de Melton
21
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
22
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas
terrenos com inclinação alta, são fenômenos que sedimentos finos que ocorrem em drenagens de
podem envolver misturas de água e sedimento em encostas serranas. O aumento no nível de água
proporção variada. A concentração de sedimentos da drenagem favorece a remoção de materiais do
em suspenção desempenha um papel importante pé das encostas, porém sua capacidade erosiva é
no comportamento do fluxo. Três processos bási- menor do que os debris flow. As corridas de massa
cos de fluxos são reconhecidos nessas drenagens (debris flow) caracterizam-se por uma movimen-
(Pierson 2005), conforme segue: tação na forma de escoamento viscoso, as quais
■■ Fluxo de água (Water flow): a quantidade envolvem um fluido geralmente denso, composto
de sedimento em suspensão é insuficiente por uma mistura de blocos de rocha, solo (cascalho,
para afetar o comportamento do fluxo (5 a areia e lama), material orgânico (galhos e troncos
10% de sedimento/volume). As proprieda- de árvores) e quantidades variáveis de água. Du-
des newtonianas do fluxo são preservadas. rante o início e a fase de aceleração, os debris flows
A água nesse caso de uma aparência lamo- são extremamente erosivos, e geram grandes forças
sa, mas a maior parte dos sedimentos em
de impacto. Na sua desaceleração e consequente
suspensão são transportados próximos ao
deposição, os debris flows inundam e cobrem áreas
fundo, podendo incluir material até tamanho
com grande volume de material e com espessuras
“boulder”;
variáveis. Essas corridas de massa são considera-
■■ Fluxos hiperconcentrados (Hyperconcentrated
Flow): a quantidade de sedimento é suficien- das como um dos mais expressivos mecanismos
te para alterar as propriedades do fluído e para transportar materiais provindos de escorrega-
os mecanismos de transporte de sedimentos mentos nas encostas, em termos de volume mobili-
(40 – 60% de sedimento/volume). Volumes zado, velocidade e distância atingida.
significativos de areias são transportados Segundo Hungr (2005) as corridas de detritos
em suspensão ao longo da coluna de água, podem ser definidas como:
apesar da manutenção de cargas elevadas de ■■ Corrida de Detritos (Debris Flow): movimento
sedimentos dependerem da velocidade e tur- rápido a extremamente rápido de detritos sa-
bulência do fluxo. Esse tipo de fluxo pode ser turados, não plásticos, em locais confinados
altamente erosivo; e ou não, com índice de Plasticidade (IP) infe-
■■ Debris flow: quantidade de água e sedimento rior a 5% na fração solo;
(> 65% de sedimento) capaz de reter partí- ■■ Corrida de Lama (Mud Flow): movimento rá-
culas do tamanho de cascalho em suspensão pido a extremamente rápido de lama (mate-
quando fluindo lentamente ou parado. Pode rial fino) saturada, em locais confinados ou
atingir altas velocidades, transportando blo- não, com muita água envolvida e alta plasti-
cos de dimensão variada em suspensão, e cidade;
causando danos pelo impacto ou soterra- ■■ Fluxo de Detritos (Debris Flood): movimento
mento. Em canais de declividade baixa e em rápido, a partir do movimento de água, com
elevada quantidade de detritos, em local con-
leques aluviais o fluxo pode ser lento, mas
finado ou não; e
pode entulhar rapidamento o canal, desviar
■■ Avalanche de Detritos (Debris Avalanche):
cursos d’água e destruir veículos, edifícios e
movimento rápido ou extremamente rápido
infraestrutura.
de material superficial, saturado ou parcial-
Segundo Gramani (2001) as corridas de
mente saturado, em local confinado ou não.
massa ou de detritos (debris flow) constituem-se
Takahashi (2007) propõe uma classificação, a
em um dos mais expressivos tipos de movimen-
partir de eventos chineses e japoneses, na qual as
tos gravitacionais de massa, em termos de vo-
lume de material mobilizado, raio de alcance e corridas de detritos são diferenciadas pela nature-
potencial destrutivo. O termo debris flow é uti- za da massa escorregada:
lizado para caracterizar processos de corrida de ■■ Corrida de Detritos Grosseiros (Stony-type
detritos compostos por água com solos finos, Debris Flow): fluxo com presença elevada de
cascalhos, blocos de rochas e troncos de árvo- grandes blocos rochosos e materiais mais
res. Já o debris flood é definido como um fluxo grossos;
■■ Fluxo Turbulento de Lama (Turbulent-mu-
repentino e temporário de água com alto teor de
ddy-type Debris Flow): fluxo proveniente de
23
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
erupções vulcânicas, quando há deposição Frattini 2004, Griffiths et. al. 2004, Kostaschuk
das cinzas em finas camadas de fácil erosão e 1986, Patton & Baker 1976, Bertrand et. al. 2013,
transporte por meio de chuva; e entre outros).
■■ Corrida de Detritos Viscosos (Viscous Debris No Brasil, mapas de suscetibilidade a movi-
Flow): fluxo característico de depósitos em lu- mentos de massa e corridas de detritos também
gares com atividade intermitente. Atividades foram desenvolvidos considerando parâmetros
constantes levam a uma suavização do relevo
morfométricos ou modelagem matemática, assim
e o depósito atinge o equilíbrio.
temos os trabalhos de Avelar et. al. (2003), Alvara-
Jakob (2010), por sua vez, prefere uma defini-
do (2006), Coelho Neto et. al. (2007), Lopes (2006),
ção hibrida para debris flow a partir das definições
Lopes & Reidel (2007); Lopes et. al. (2007), Gomes
de Hungr et. al. (2005) e Iverson (2009) que definem
et. al. (2008), Monguilhott (2008), Strieder et. al.
o processo como “um fluxo de minerais não plás-
(2008), Lacerda (2012), Silveira et. al. (2012), Vana-
ticos, saturados, e algumas vezes com detritos or-
côr & Rolim (2012), Arruda Junior & Lopes (2013),
gânicos, em canais íngremes, que incluem 50-70 %
Coelho Neto et. al. (2013), Gomes et. al. (2013) en-
de grãos sólidos por volume, que podem atingir
tre outros.
velocidades de 10 m/s e podem variam entre 10 e
Segundo uma gama de autores os processos
109 m³ em volume.
de corrida de massa desenvolvem-se em áreas
montanhosas e com alta declividade (Wilford
2 Método PARA delimitação de bacias 2004, Jakob & Hungr 2005, Welsh & Davis 2010,
De dRENAGEM com alta suscetibilidade Chevalier et. al. 2013).
Os movimentos gravitacionais de massa
A ocorrência desses processos é favorecida formam-se geralmente nas cabeceiras de drena-
por um conjunto de condicionantes do meio físico gens, primárias e/ou secundárias, associadas à
que permitem a sua formação e o seu desenvol- concentração de sedimentos, mais água, numa
vimento. Inicialmente, reconhecem-se aspectos quantidade crítica para o seu desenvolvimento
relacionados às condições geológicas, geomorfo- no canal. Jackson et. al. (1987) adota para análi-
lógicas, hidráulicas e climáticas, que contribuem se morfométrica, bacias de 1ª e 2ª ordem. Dentro
simultaneamente para a deflagração e continuida- desse contexto optou-se por adotar as bacias de
de dos processos. Alguns fatores ou condições es- 1ª, 2ª e 3ª ordem seguindo a classificação proposta
peciais tendem a ser favoráveis para a ocorrência por Strahler (1957) para a rede de drenagem.
das corridas de massa, destacando-se: Apesar da corrida de massa ser gerada por vá-
■■ Geológico: abundante fonte de partículas e rios mecanismos, em diferentes países, envolven-
detritos de solos e/ou rocha inconsolidados do fluxos piroclásticos e derretimento de geleiras
(ou passíveis de mobilização); ou por fluxos abruptos de água com sedimentos,
■■ Geomorfológico: encostas íngremes (geral-
predomina mobilização a partir de deslizamen-
mente acima de 25°);
tos. Os deslizamentos podem ser completamente
■■ Hidrológico: fonte abundante de água atin-
gindo os materiais suscetíveis à escorrega- ou parcialmente mobilizados para a forma de cor-
mentos (hidrodinâmica: chuvas, degelo, ridas de massa, e em condições especificas devem
rompimento de lagos, outros); e existir para que essa mobilização ocorra (Iverson,
■■ Vegetação: esparsa. Reid, LaHusen, 1997).
Várias pesquisas foram desenvolvidas nos A região montanhosa do Rio de Janeiro é al-
últimos anos para a identificação de áreas susce- tamente suscetível a deslizamentos e fluxo de de-
tíveis as corridas de massa utilizando métodos tritos. Em função das interações locais de vários
quantitativos, tais como, regressão logística e fatores que controlam os processos, as ocorrências
análise discriminante em adição ao uso de Siste- não são espacialmente uniformes. Coelho Neto et.
ma de Informações Geográficas e sensoriamento al. (2010) apresentou uma metodologia para sub-
remoto (De Scally & Owens 2004, De Scally et. al. divisões morfométricas do terreno com base em
2010, Wilford et. al. 2004, Rowbotham et. al. 2005, parâmetros hidrogeomorfológicos. Os parâme-
Chen & Yu 2011, Santangelo et. al. 2012, Crosta & tros incluem a densidade hollow (Hd) e densidade
24
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas
de drenagem de Strahler (Dd) multiplicado pelo básicos para seleção e definição de critérios e
gradiente da bacia (Gb) gerando o Índice de Efi- parâmetros de análise em terrenos naturais sus-
ciência de Drenagem (DEI). Os polígonos obtidos cetíveis aos processos de corridas de massa e de
foram superpostos aos mapas de declividade e aos enxurradas: bacias hidrográficas onde ocorrem
ângulos de inclinação crítica produzindo o mapa corridas de massa apresentam atributos físicos
hidrogeomorfológico. Posteriormente este mapa que possibilitam também a geração de enxurra-
foi integrado com o mapa geológico-geotécnico, das; por outro lado, nem todas as bacias hidro-
de vegetação e de uso da terra gerando o mapa de gráficas e respectivos cursos d´água onde podem
suscetibilidade na escala 1:10.000. ocorrer enxurradas têm atributos que possam
Rogelis & Werner (2014) desenvolveram um gerar também corridas de massa; e corridas de
indicador de suscetibilidade composto por dados massa ocorrem necessariamente em bacias que
morfométricos e uso e ocupação do solo. O méto- compreendem terrenos de alta suscetibilidade a
do foi aplicado em 106 bacias localizadas nas áreas deslizamentos (Bitar 2014).
montanhosas periurbanas de Bogotá (Colômbia). Além dos autores acima citados também fo-
As analises mostraram que os parâmetros morfo- ram considerados, para a obtenção de critérios e
métricos identificam as bacias com alto potencial parâmetros de análise, os trabalhos de Gramani
a ocorrência de debris flow, enquanto os dados de & Kanji (2000), Ogura & Gramani (2000), Gramani
uso e ocupação podem reduzir as suscetibilidades & Kanji (2001), Kanji & Gramani (2001), Gramani
para as mesmas bacias. A combinação de ambos (2001) e, Gramani & Augusto Filho (2004).
os dados proporcionou resultados, mas confiáveis Os parâmetros considerados neste método
para a área de estudo. para corrida de massa compreendem:
O Índicie de Melton foi considerado pela ■■ Unidades de relevo serrano;
relação morfométrica entre a amplitude e a área ■■ Terrenos com alta suscetibilidade a desliza-
da bacia, sendo um indicador de fácil utilização e mentos;
que permite diferenciar entre bacias com susceti- ■■ Amplitude > 500 metros para corridas de
bilidade à geração de corrida de massa daquelas massa (R);
que geram enxurradas. Este índice foi utilizado ■■ Bacias de drenagem de 1ª, 2ª e 3ª com Área
primeiramente por Jackson et. al. (1987) para dife- < 10 km²; e
renciar fluxos de detritos de inundação em bacias ■■ Índice de Melton (M) que expressa a rela-
de drenagem nas montanhas costeiras do sudoes- ção entre amplitude e área da bacia, onde
te da Columbia Britânica, no Canadá. Obtendo M = Amplitude / raiz quadrada da Área.
Índices para bacias de inundação < 0,3 e para cor- Os pressupostos acima também são válidos
rida de massa >0,3. Por outro lado, Bovis & Jakob para as enxurradas em ambiente natural. No pre-
(1999) obtiveram um Índice de Melton > 0,53 para sente trabalho a definição utilizada foi: enchen-
bacias de drenagem com fluxo de detritos. Segun- te ou inundação brusca e de curta duração, de-
do Wilford et. al. (2004), o Índice de Melton mos- senvolvida em bacias de drenagem restritas no
trou-se aplicável para separar bacias de drenagem contexto de relevo serrano ou morros altos, por
com potencial de gerar corrida de massa daquelas ocasião de chuvas intensas. Caracteriza-se por
suscetíveis apenas aos processos de inundação. alta energia de transporte e capacidade de arras-
O Índice de Melton < 0,3 bacias com potencial de te, com elevado potencial de impacto destruti-
inundação; 0,3 a 0,6 potencial de “debris flood”; e vo. Pode induzir a instabilização e solapamento
>0,6 corridas de detritos. Adotou-se utilizar o Ín- de taludes marginais ao longo do curso d’água.
dice de Melton > 0,3 por questões de segurança, Os parâmetros considerados neste método para
sem diferenciar entre os processos de debris flood e enxurrada compreendem:
corrida de detrito. ■■ Unidades de relevo serrano e/ou de morros
Dessa maneira, com base no levantamento altos;
bibliográfico e no conhecimento da equipe de pes- ■■ Amplitude > 300 metros;
quisadores do IPT, adotaram-se para este proce- ■■ Bacias de drenagem de 1ª, 2ª e 3ª com Área
dimento metodológico os seguintes pressupostos < 10 km².
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas
Dentre os 111 municípios mapeados, 59 pos- possui o maior número de municípios com bacias
suem bacias de drenagem com alta suscetibilida- suscetíveis a corrida de massa/enxurrada e de en-
de à geração de corrida de massa/enxurrada e 23 xurrada, dentro do universo de análise considera-
possuem de enxurrada, conforme pode ser obser- do neste trabalho.
vado nas Tabelas 1 e 2. O estado de Santa Catarina
Tabela 1 – Relação dos municípios com bacias suscetíveis a geração de corrida de massa/enxurrada, dentre os
111 mapeados.
Estado Município
Espírito Santo Alegre, Cachoeira do Itapemirim, Cariacica, Rio Novo do Sul, Santa Leopoldina, Vargem Alta, Vila Velha
Minas Gerais Nova Lima, Sabará
Paraná São José dos Pinhais
Alfredo Wagner, Anitápolis, Antonio Carlos, Blumenau, Botuverá, Brusque, Camboriú, Corupá, Florianópolis,
Garuva, Gaspar, Ilhota, Itapema, Jacinto Machado, Jaraguá do Sul, Joinvile, José Boiteux, Luiz Alves, Nova Trento,
Santa Catarina
Nova Veneza, Palhoça, Presidente Getúlio, Rio do Campo, Rio Fortuna, Rodeio, Timbé do Sul, Timbó, Urubici,
Vidal Ramos
Cajati, Campos do Jordão, Cubatão, Cunha, Eldorado, Guaratinguetá, Guarulhos, Iguape, Ilhabela, Jacupiranga,
São Paulo Peruíbe, Praia Grande, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São José dos Campos, São Luis do Paraitinga,
São Paulo, São Vicente, Ubatuba
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Tabela 2 – Relação dos municípios com bacias de dre- método. Na área rural de Joinville (SC) em 2008
nagem suscetíveis a geração de enxurrada, dentre os ocorreu um deslizamento que evoluiu para uma
111 mapeados.
corrida de massa atingindo moradias (Figuras 7,
8 e 9). No município de Cubatão em 1994 ocorreu
Estado Município
uma corrida de massa na bacia de drenagem do
Espirito Santo Marechal Floriano
ribeirão das Pedras, situada a montante da Refi-
Minas Gerais Belo Horizonte, Betim e Santa Luzia
naria Presidente Bernardes (Figuras 10, 11 e 12).
Paraná Curitiba, Rio Branco do Sul e União da Vitória
Balneário Camboriú, Itajaí, Ituporanga, Lages,
Santa Catarina
Navegantes, Ponte Alta, São José e Taió Tabela 3 – Relação dos registros de ocorrência de corridas
Caieiras, Campo Limpo Paulista, Guarujá, Jun- de massa (Modificado de Motta, 2014 e Gramani, 2015)
São Paulo diaí, Mairiporã, Pariquera-Açu, Registro e San-
tana do Parnaíba
Local UF Data
Região de Leopoldina MG 1948
Caraguatatuba SP 1967
O Índice de Melton > 0,3 adotado no método
Serra das Araras RJ 1967
foi eficaz para a distinção entre bacias de drena-
Urussanga – Serra de Tubarão SC 1974
gem com alta suscetibilidade à geração de corrida
Laguna – Serra de Tubarão SC 1974
de massa/enxurrada das que geram apenas en-
Tubarão SC 1974
xurrada, em diferentes ambientes geológicos. No
Serra de Maranguape CE 1975
entanto, deve-se ressaltar que a ocorrência desses
Cubatão – Grota Funda SP 1975-1976
fenômenos está diretamente relacionada com a in-
Cubatão – Rio Cachoeira SP 1976
tensidade da chuva e a disponibilidade de mate- Cubatão – Braço Norte SP 1976
rial nas encostas e nos canais de drenagem. O mé- Lavrinhas SP 1986
todo não fornece informações sobre a frequência e Petrópolis RJ 1988
a magnitude dos eventos nas bacias de drenagem Cubatão – Córrego das Pedras (Refina-
SP 1994
delimitadas, sendo necessários estudos detalha- ria Presidente Bernardes)
dos para obtenção dessas informações. Timbé do Sul e Jacinto Machado SC 1995
Os eventos de corridas de massa registrados Cubatão – Córrego das Pedras SP 1996
na literatura ocorreram principalmente nos esta- Bacia do rio Quitete RJ 1996
dos de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Bacia do rio Papagaio RJ 1996
28
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas
Figura 4 – Bacia de drenagem com alta suscetibilidade à geração de corrida de massa/enxurrada e enxurrada delimitada para
o município de Corupá (SC). Esse município registrou a ocorrência de um fluxo de detritos em 2010 (Fonte: IPT).
Figura 5 – Observar a amplitude do relevo e o canal de pas- Figura 6 – Notar o tamanho dos blocos mobilizados no fluxo
sagem do fluxo de detritos (Fonte: IPT). de detritos, no município de Corupá (Fonte: IPT).
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 7 – Bacia de drenagem com alta suscetibilidade à geração de corrida de massa/enxurrada e enxurrada delimitada para
o município de Joinville (SC). Esse município registrou a ocorrência de um fluxo de detritos em 2008 (Fonte: IPT).
Figura 8 – Deslizamento em encosta com declividade alta Figura 9 – Área de passagem do fluxo de detritos que ocorreu
que evoluiu para um fluxo de detritos em 2008 no município em 2008 no município de Joinville (SC) (Fonte: IPT).
de Joinville (SC) (Fonte: IPT).
30
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas
Figura 10 – Bacia de drenagem com alta suscetibilidade à geração de corrida de massa/enxurrada e enxurrada delimitada para o
município de Cubatão (SP). Esse município registrou a ocorrência de um fluxo de detritos em 1994 (Fonte: IPT).
Figura 11 – Notar o tamanho dos blocos mobilizados na cor- Figura 12 – Ao fundo cicatrizes nas encostas da bacia de dre-
rida de massa ocorrida na bacia de drenagem do ribeirão das nagem do ribeirão das Pedras. Notar os blocos e troncos de
Pedras, no município de Cubatão (Fonte: IPT). árvores (Fonte: IPT).
31
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
32
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas
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INTEGRAÇÃO DE MAPEAMENTO DE RISCO
E ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS NO
MONITORAMENTO E ALERTA DE RISCO DE
ESCORREGAMENTOS PLANARES NO LITORAL
NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMBINATION OF RISK MAPPING AND RAIN INDEX FOR PLANAR LANDSLIDES
RISK MONITORING AND WARNING IN NORTH COAST OF STATE OF SAO PAULO
DENISE ROSSINI-PENTEADO
Instituto Geológico, São Paulo, SP, Brasil, drossinisp@gmail.com
LORENA DE SOUZA
ThoughtWorks Brazil, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: lcsouza@thoughtworks.com
RESUMO ABSTRACT
Modelos de gerenciamento de risco, geralmente, des- Risk management models usually point out the
tacam as etapas de análise e monitoramento para uma importance of risk analysis and monitoring for an
eficiente redução e mitigação de desastres. Este traba- effective disaster reduction and mitigation. This
lho desenvolveu modelo de monitoramento de risco work developed a model of monitoring landslide
de escorregamentos planares em áreas residenciais-co- risk over housing-commercial-service areas,
merciais-serviço, em tempo quase real, para emissão in near real-time, applied to disasters warning
de alertas de desastres, combinando dados de mapea- communication, combining landslide risk data and
mento de risco com índices pluviométricos de chuva both pluviometric index of past and future rain. The
acumulada e prevista. A área de estudo abrangeu os studied area comprised the municipalities of Ubatuba,
municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião Caraguatatuba, São Sebastião and llhabela, on the
e llhabela, do Litoral Norte do Estado de São Paulo. A North Coast of the State of São Paulo. The organization,
organização, tratamento e análise dos dados foi feita treatment and analysis of data was made on the
na plataforma TerraMA2 desenvolvido pelo Instituto TerraMA2 computational platform developed by the
Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. A análise de National Spatial Research Institute - INPE. The risk
risco fundamentou-se na definição de unidades espa- analysis was based on the landscape characterization
ciais de análise, denominadas de Unidades Territoriais expressed by Basic Territorial Units - UTB, resulting
Básicas - UTB resultantes da intersecção de planos de of intersection of layers of the basement and the land
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
unidades do embasamento geológico-geomorfológico cover units. The dynamic data of rainfall were obtained
e do uso e ocupação da terra. Os dados dinâmicos from GOES satellite or radar and the forecast rain from
de chuva acumulada foram obtidos a partir do saté- ETA 5km model. The matrix form proposed model
lite GOES ou radar meteorológico e a chuva prevista correlates, in columns, four risk classes indicatives of
pelo modelo ETA 5km. A forma matricial proposta increasing losses, and in the lines, nine intervals of the
correlaciona quatro classes de risco que representam pluviometric index. The proposed pluviometric index
situações cada vez mais críticas quanto à ocorrência meet two aspects that matters for triggering hazardous
de danos com nove intervalos do índice pluviométri- processes and their management: the past rainfall in
co de 24 horas. O índice pluviométrico utilizado sin-
the last 22 hours and the future rainfall in the next 2
tetiza dois aspectos fundamentais na deflagração de
hours. The intersection cells indicate one among the
processos perigosos e de seu gerenciamento: a chu-
four warning levels, named observation, attention,
va acumulada ou antecedente em 22 horas e a chuva
futura ou prevista nas próximas 2 horas. Cada célu- alert and maximum alert, that indicates increasing
la da matriz é enquadrada em um dos quatro níveis complexity for risk management from observation
de alerta, denominados observação, atenção, alerta e to maximum alert levels. Such model stress the role
alerta máximo, que indicam um aumento da comple- of risk mapping besides pluviometric index to define
xidade do gerenciamento das situações de risco, des- warning levels.
de o nível de observação até o nível de alerta máximo.
O modelo proposto tem como premissa a utilização Keywords: TerraMA2, rain, contingency plan, disaster.
das áreas de risco como fator fundamental para a defi-
nição dos níveis de alerta, apresentando o mesmo nível
de influência que os índices pluviométricos.
38
Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo
39
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 1 – Localização e abrangência da área de estudo e distribuição das unidades espaciais de análise, com
destaque para aquelas de uso urbano.
Figura 2 – Estrutura e atributos utilizados para organização e análise dos dados estáticos e dinâmicos.
40
Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo
41
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
resolução 5m (EMPLASA, 2010b). A escala de fórmulas e cálculo dos índices relacionados aos
interpretação foi em torno de 1:50.000. Esta etapa fatores de análise considerados para cada variá-
baseou-se no processo de observação, identifica- vel da equação do risco, viabilizou a definição
ção e delimitação visual de regiões homogêneas dos setores de risco vinculados a cada unidade
com base em variações de elementos texturais das gráfica de uso urbano do tipo residencial, comer-
imagens, como densidade, padrão ou arranjo es- cial e serviços, com diferentes graus de riscos
pacial, tropia e forma, conforme descrito em Ve- divididos em cinco classes de risco, variando de
dovello (2000), Tominaga et al. (2004, 2008), Oli- Muito Baixo ou Nulo (R0) até Muito Alto (R4)
veira et al. (2007), Cardoso et al. (2009), Fernandes risco de escorregamento.
da Silva et al. (2010), Ferreira & Rossini-Penteado
(2011), Ferreira et al. (2013). 2.3 Definição da Base de Dados Dinâmicos -
As diversas atividades humanas implicam Índices Pluviométricos
em ações sobre o meio físico que modificam a pai-
sagem. Os diferentes tipos de uso e cobertura da A base de dados dinâmicos requeridos no
terra, resultantes deste processo, imprimem pa- sistema inclui as informações relacionadas às con-
drões espaciais de ocupação que atuam como ele- dições das variáveis em determinado período de
mentos intrínsecos à análise e mapeamento de ris- tempo. A definição do modelo indicou a necessi-
co, condicionando as três variáveis da equação de dade de coletar informações de previsão de chuva
risco (perigo, vulnerabilidade e dano potencial). e do total de chuva observado. A carga dos dados
As UHCT, definidas por processos de classifica- dinâmicos é feita a partir do serviço de coleta, e
ção automática e interpretação visual de produtos os parâmetros de funcionamento são definidos no
de sensoriamento remoto de média e alta reso- módulo de configuração.
lução espacial (EMPLASA 2010a), foram obtidas Os dados de observação são de responsabili-
a partir da setorização ou parcelamento do ter- dade da DSA - Divisão de Satélites e Sistemas Am-
ritório em áreas com características semelhantes bientais e do SINDA - Sistema Integrado de Dados
quanto a determinados aspectos físicos, forma e Ambientais, ambos do INPE e os de previsão nu-
textura referentes à ocupação e que se destacam mérica do Centro de Previsão de Tempo e Estudos
no nível de detalhamento da escala de trabalho Climáticos - CPTEC do INPE (INPE 2013a, 2014).
(Rossini-Penteado et al. 2007, 2008, Ferreira & Os dados de observação disponíveis e sele-
Rossini-Penteado 2011). cionados para utilização na plataforma TerraMA2
O plano de informação representativo das são: precipitação estimada por satélite GOES (re-
UTB inclui um conjunto de polígonos georrefe- solução aproximada de 4km) e pelo radar meteo-
renciados associados a um banco de dados alfa- rológico de São Roque, ambos com capacidade de
numérico que contém os atributos descritivos de atualização de 15 minutos.
cada unidade relacionados aos aspectos físicos, A plataforma TerraMA2 utiliza o modelo Hi-
socioeconômicos e de infraestrutura, os quais droestimador que é um método inteiramente au-
constituem a base para o cálculo dos índices tomático de cálculo das taxas de precipitação em
aplicados ao modelo de risco adotado (Ferreira tempo real. O Modelo Hidroestimador produz es-
& Rossini-Penteado 2011, Ferreira et al. 2013). O timativas da taxa de chuva para cada imagem do
processo de obtenção das informações e dos pro- satélite GOES recebida no CPTEC/INPE (Vila et
dutos derivados inclui consultas, seleção e com- al. 2003, Avila 2006, INPE 2014).
binação dos atributos de interesse. Foram calcu- Os dados de previsão derivam do modelo
lados os índices relacionados às variáveis: perigo ETA 5km (Projeto Serra do Mar) que disponibiliza
(P) de escorregamento, vulnerabilidade (V), dano os valores da previsão de chuva horária, em mm,
potencial (D) e risco (R) como mostra a Figura 2. para as 72h seguintes para cada célula de infor-
Neste projeto, a metodologia numérica apli- mação de 5km. O arquivo contendo o resultado
cada à análise de risco de escorregamento, basea- do modelo de previsão de chuva é atualizado a
da no estabelecimento de regras de classificação, cada 12h no servidor FTP do CPTEC/INPE com o
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Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 3 - Exemplo da estrutura básica do código, descrevendo o método lógico de programação da análise.
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Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo
A plataforma TerraMA2 possui quatro níveis O modelo proposto tem estrutura matricial
de alerta predefinidos, representados por valores que correlaciona nas colunas, as quatro classes ou
numéricos (1, 2, 3 e 4) que indicam, respectivamen- graus de risco e, nas linhas, os intervalos do índi-
te, os estados de observação, atenção, alerta e alerta ce pluviométrico de 24 horas, dividido em nove
máximo. Estas classes e terminologia foram manti- intervalos (Figura 5). Cada célula da matriz repre-
dos no presente trabalho, pois compõem os níveis senta os diferentes níveis de alerta com os seguin-
operacionais vigentes do PPDC-Serra do Mar (São tes significados:
Paulo 1997, Macedo et al. 1999).
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 6 – Mapa de risco de áreas residenciais-comerciais-serviços a escorregamentos planares rasos do Litoral Norte do Es-
tado de São Paulo. R0-R4: classes de risco (ver texto). NClass: áreas não classificadas pela inexistência do elemento em risco.
46
Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo
As áreas classificadas como de risco muito de escorregamentos esparsos ocorre com níveis
alto (R4) correspondem a aproximadamente 0,16% de chuvas mais altos que a classe R4 que vão au-
da área urbana de uso residencial/comercial/ mentando de frequência e magnitude assim que
serviços e apresentam maior concentração no ocorre o aumento dos índices pluviométricos de
município de São Sebastião e, secundariamente, chuva, geralmente em áreas de vulnerabilidade
em Ubatuba. Não foi observada a ocorrência de moderada a alta e com alto a médio número de
áreas de risco muito alto nos municípios de Ca- pessoas expostas.
raguatatuba e Ilhabela. Nesta classe espera-se a As áreas com graus de risco médio (R2) e bai-
ocorrência de escorregamentos esparsos mesmo xo (R1) e, portanto, menos críticas ou suscetíveis
com índices de chuva baixos que vão aumentan- a ocorrência de processos perigosos, representam
do de frequência e magnitude assim que ocorre cerca de 21% das áreas de uso residencial/comer-
o aumento dos níveis pluviométricos, causando cial/serviços. Nestas classes, escorregamentos
escorregamentos severos e cada vez mais gene- esparsos ocorrem apenas com altos níveis pluvio-
ralizados, geralmente em áreas de vulnerabili- métricos e somente evolui para escorregamentos
dade alta a muito alta e com grande número de severos e generalizados em condições de chuva
pessoas expostas. excepcionais, sob condições de vulnerabilidade
O risco alto (R3) corresponde a 0,64% da área moderada a baixa e com baixos números de pes-
urbana de uso residencial/comercial/serviços do soas expostas.
Litoral Norte. Há um predomínio desta classe no A Figura 7 mostra exemplos do mapeamento
município de Ubatuba, seguido por São Sebastião, de risco sobre ortofotos digitais e fotos de campo.
Ilhabela e Caraguatatuba. Nesta classe a ocorrência
Figura 7 – Exemplos do mapeamento de risco sobre ortofotos digitais (A; B) e fotos de campo (C; D). A, C: bairro Ipiranguinha,
Ubatuba. C, D: bairro Sesmarias, Ubatuba. Convenções: Risco Muito Alto (R4) - polígonos de cor vermelha; Risco Alto (R3) -
polígonos de cor laranja; Risco Médio (R2) - polígonos de cor amarela.
Os mapas de risco em escala regional apli- estudos de detalhe local. No presente trabalho, o
cam-se principalmente ao planejamento e implan- mapa de risco obtido pelas UTB, em combinação
tação de políticas públicas de convivência e redu- com os índices pluviométricos, foi utilizado como
ção do risco, seja para o planejamento de obras, objeto monitorado para o estabelecimento de ní-
redução da vulnerabilidade, implantação de pla- veis de alerta ao risco de escorregamentos. Esta
nos de contingência ou priorização de áreas para abordagem, reconhecida em diversos trabalhos, a
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
exemplo de Tatizana et al. (1987a, b), raramente é No modelo utilizado foi adotada a proporção
utilizada no Brasil para a elaboração de modelos de de 22 horas de chuva acumulada e de 2 horas de
alerta ou na prática operacional de planos preven- chuva prevista; entretanto, outros arranjos podem
tivos e de contingência de defesa civil, os quais op- ser testados e avaliados. O índice pluviométrico
tam por utilizar essencialmente os dados de chuva. de 24 horas foi adotado devido à forte correlação
A abordagem proposta difere das atualmen- entre chuvas de alta intensidade e de pequena
te em uso, as quais consideram a correlação entre duração com os escorregamentos planares rasos
dois índices pluviométricos, geralmente a intensi- (Mendes & Valério Filho 2015), modelados na
dade horária acumulada versus o acumulado de análise de risco e por incorporar rapidamente a
um dia (Kay & Chen 1995, DRM 2015), ou de dois intensidade de chuva horária. Reconhece-se, no
dias (Soares 2006, Soares & Martan 2006), ou de entanto, que para processos de escorregamentos
quatro dias (Tatizana et al. 1987a, b). mais complexos, o papel de acumulados de chuva
O modelo desenvolvido tem como premis- maiores que 24 horas pode ser importante. Nesses
sa a utilização das áreas de risco como fator fun- casos, o sistema de monitoramento apresentado é
damental para a definição dos níveis de alerta, flexível o suficiente para modelar diferentes cená-
apresentando o mesmo nível de influência que os rios de influência de chuva acumulada em inter-
índices pluviométricos para deflagrar o alerta, o valos de tempo maiores, seja de três, quatro, quin-
que difere dos modelos anteriores que somente ze ou trinta dias e combiná-los com o modelo de
consideram os índices pluviométricos. O presente 24 horas proposto, conforme necessário.
trabalho procura incorporar o conhecimento de- O modelo apresentado utiliza nove interva-
corrente do avanço dos métodos de mapeamentos los para o índice pluviométrico, os quais são cor-
de risco na última década (São Paulo 2015) para relacionados com as quatro classes de risco. Como
aperfeiçoar os modelos de correlação entre chuva limite inferior foi considerado um índice 24 horas
e escorregamentos, como já destacado nos traba- de 40mm e um aumento sucessivo de 20mm para
lhos de Tatizana et al. (1987a, b). cada novo intervalo até a faixa maior que 180mm.
No processo de gerenciamento de risco a pre- O valor inicial definido se aproxima do valor
visibilidade de eventos é indispensável para a re- de 39,6mm/h de intensidade de chuva obtido por
dução dos danos. Portanto, outro aspecto relevan- Mendes & Valério Filho (2015) para a correlação
te do modelo preconizado que deve ser destacado entre chuva e escorregamentos em Ubatuba. No
corresponde à associação do indicador de chuva modelo operado pelo Departamento de Recursos
antecedente ou acumulada e de chuva futura ou Minerais para o sistema de alerta a escorregamen-
prevista em um único índice pluviométrico. tos do Estado do Rio de Janeiro (DRM 2015), o
Esta abordagem foi proposta por Cerri (1993) valor de 35mm/h de intensidade de chuva, está
que introduziu o conceito de Coeficiente de Preci- bem próximo ao utilizado. Outra correlação uti-
pitação Potencial e retomada por Soares (2006). A lizada para o estabelecimento do valor de 40mm
diferença é que, nos trabalhos propostos, foi utili- para o índice pluviométrico decorre do índice de
zada uma razão entre os índices de chuva prevista 120mm/72horas utilizado no PPDC-Serra do Mar
e acumulada, ao invés da soma. (São Paulo 1997, Macedo et al. 1999), o que resulta
Atualmente a previsão numérica do tempo é em um valor médio acumulado de 40mm/dia.
realizada por meio de modelos atualizados a cada Em relação ao limite superior, considera-
12 horas e que avançam até 72 horas (INPE 2014). -se que um índice pluviométrico acima de
Os dados gerados pelo CPTEC-INPE já estão 180mm/24horas já é suficiente para deflagrar es-
configurados para uso na plataforma TerraMA2. corregamentos planares em qualquer condição de
O algoritmo elaborado é facilmente ajustável, per- risco. Esse limite situa-se em torno da inflexão da
mitindo a reconfiguração do modelo, seja através alta inclinação para a quase horizontalidade das
de novas combinações entre os índices de chuva curvas envoltórias de Tatizana et al. (1987a, b),
acumulada e prevista, seja através da atribuição indicando a ocorrência de escorregamentos para
de novos pesos às variáveis, conforme o interesse qualquer intensidade de chuva horária. Esse limi-
e necessidade. te já contém, também, a maioria dos eventos da
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Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
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Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo
53
ANÁLISE DA SUSCEPTIBILIDADE A
ESCORREGAMENTOS USANDO A ABORDAGEM
ESTATÍSTICA DO FATOR DE CERTEZA NO
MUNICÍPIO DE MOEDA, MINAS GERAIS
LANDSLIDES SUSCEPTIBILITY ANALYSIS USING STATISTICAL APPROACH
OF CERTAINTY FACTOR IN THE MOEDA COUNTY, MINAS GERAIS
RESUMO ABSTRACT
Nas últimas décadas vêm sendo observada uma in- An intensification of geodynamic processes with
tensificação dos processos geodinâmicos com conse- disastrous consequences as a result of irregular and
quências desastrosas, fruto da expansão irregular e disorderly expansion of urban centers has been observed
desordenada dos centros urbanos. Para minimizar as in the last decades. To minimize the implications of
implicações desses eventos, em 2012, foi instituída a Po- these events, the National Policy for Protection and
lítica Nacional de Proteção e Defesa Civil, que visa, entre Civil Defense was instituted in 2012, which aims, among
outras premissas, estabelecer estudos de identificação e other assumptions, to conduct studies to identify and
avaliação de áreas susceptíveis, ou seja, o mapeamen- assess susceptibility areas, i.e., to draw susceptibility
to de susceptibilidade a eventos geológico-geotécnicos. maps. Among the various approaches, statistical
Dentre as diferentes abordagens existentes, as técnicas techniques have been used to reduce the subjectivity
estatísticas têm-se destacado por minimizar a subjetivi- imposed by the operator, allowing the validation of
dade imposta pelo operador e permitir a validação do the predictive model. Thus, focusing on landslide, this
próprio modelo preditivo. Assim, com o foco nos escor- study tested the applicability of the certainty factor
regamentos, esse trabalho buscou testar a aplicabilidade technique and evaluated its accuracy by the success
da técnica do fator de certeza e avaliar sua acurácia por and prediction rate. Applied in a pilot area located
meio da taxa de sucesso e predição. Aplicado em uma in the region of Moeda-MG, the model, integrated
área piloto, que se localiza no município de Moeda-MG, by the slope, geology, geomorphology, profile and
o modelo, integrado pela declividade, geologia, geomor- orientation of the hillside, was considered a promising
fologia e perfil e orientação das vertentes foi considera- tool in the preparation of the susceptibility map. The
do um instrumento promissor na elaboração do mapa results were grouped into zones according to the
de susceptibilidade. Os resultados foram agrupados em number of predicted landslides. The most susceptible
zonas de acordo com o número de escorregamentos pre- class forecasted 70% of landslides, occupying only 29%
vistos. A classe mais susceptível conseguiu evidenciar of the territory, thus reaching the goal of restricting a
70% dos deslizamentos, ocupando apenas 29% do terri- high amount of future movements in a small portion
tório, alcançando, dessa forma, o objetivo de restringir of land.
uma elevada quantidade de futuros movimentos numa
pequena porção do terreno. Keywords: Susceptibility, Landslides, Statistical
Techniques, Certainty Factor.
Palavras-chave: Susceptibilidade, Escorregamentos,
Técnicas Estatísticas, Fator de Certeza.
55
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
56
Análise da susceptibilidade a escorregamentos usando a abordagem estatística do fator de certeza no município de Moeda, Minas Gerais
Bayesiana, Análise Discriminante, Regressão Lo- de Certeza em cada classe, de cada parâmetro,
gística, Lógica Fuzzy, etc. Dentre uma gama varia- a fim de se determinar os pesos de ponderação;
da de modelos possíveis, este trabalho selecionou (5) análise sensitiva dos parâmetros utilizados;
o método do Fator de Certeza para a investigação, (6) cruzamento dos mapas de parâmetros seguin-
já que essa técnica foi considerada menos difundi- do a ordem estipulada pela etapa anterior; (7) de-
da comparativamente a outras modalidades. Nes- terminação do grau de ajuste dos dados em cada
se contexto, a análise desenvolvida visa testar, em modelo integrado; (8) seleção do modelo mais
uma área piloto, a aplicabilidade dessa concepção robusto e determinação de sua capacidade pre-
metodológica e avaliar sua adequabilidade como ditiva; e (9) classificação do modelo final elegido
instrumento eficaz de elaboração de mapas de em 3 classes: alta média e baixa susceptibilidade a
susceptibilidade a escorregamentos. movimentos de massa, em função da capacidade
preditiva individual de cada classe.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Localização e acesso
A metodologia adotada na construção dessa
análise foi estabelecida de acordo com a aproxi- A área selecionada para a aplicação do méto-
mação genérica de Aleotti & Chowdhury (1999), do proposto compreende o município de Moeda,
porém adaptada ao estudo em questão, tendo as Minas Gerais, distante, aproximadamente, 58 km
seguintes etapas: (1) elaboração do mapa de in- da capital Belo Horizonte. O acesso é feito pela
ventário; (2) seleção e mapeamento dos parâme- rodovia BR-040, na altura do km 575. Parte da re-
tros condicionantes ao processo e subdivisão de gião integra a borda oeste da unidade geológica
cada parâmetro em um número de classes rele- Sinclinal Moeda, definida por Dorr II (1969), que
vantes; (3) sobreposição dos diferentes mapas de contempla a serra homônima, com amplitudes de
parâmetros ao mapa de inventario; (4) aplicação relevo muito elevadas e vertentes íngremes (Figu-
das equações matemáticas da técnica do Fator ra 1), sustentadas por quartzitos e itabiritos.
57
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
58
Análise da susceptibilidade a escorregamentos usando a abordagem estatística do fator de certeza no município de Moeda, Minas Gerais
por antigos escorregamentos. Em geral, esses si- do Google Earth Pro justapostas às curvas de nível
nais refletem mudanças morfológicas, tais como, e sobrepostas ao modelo 3D com exagero verti-
variação da forma, inclinação, posição, aparência cal, tudo com o intuito de facilitar a interpretação.
e topografia das encostas, que podem ser corrobo- Campanhas de campo foram realizadas em sítios
radas por alterações da paisagem (solo exposto/ específicos, selecionados aleatoriamente, objeti-
vegetação, presença de depósitos, etc.) (Guzzetti vando calibrar o processo de fotointerpretação e
et al., 2012). Para tal, foram utilizadas as imagens validar “in loco” o inventário produzido.
Tabela 1 – Critérios adotados na identificação de sistemas de relevo (adaptado de Ponçano et al., 1979).
(1)
Onde, Nij representa a classe i de um tema diminuição da mesma (Luzi & Pergalani, 1999).
cartográfico j utilizado no mapeamento (i,j = 1, 2, Assim, quanto maior a magnitude dos valores po-
3, 4, ..., n) e S faz referência aos escorregamentos sitivos maior é a influência do parâmetro analisa-
inventariados. Logo, P(S|Nij) é a probabilidade do sobre o processo, ao passo que quanto maior
de um acontecimento S se realizar condicionado a magnitude dos valores negativos menor é essa
à Nij, que nada mais é que a relação entre os es- influência. Valores próximos a zero significam
corregamentos cartografados em alguma classe i, que a probabilidade condicionada é muito similar
de algum cartograma j, e a área ocupada por essa à probabilidade à priori, não sendo possível afir-
mesma classe, e P(S) é a probabilidade à priori de mar nada sobre a certeza da proposição (Binaghi
um escorregamento ocorrer ao longo da área de et al., 1998).
estudo, ou seja, é a relação entre todos os escor- Determinada a influência singular de todas
regamentos cartografados e a região investigada. as variáveis explicativas consideradas, a sobre-
Cada CFij é concebido como um valor numé- posição dos dados é feita em pares, obedecendo
rico compreendido entre +1 e –1, onde valores a regra de integração verificada em Devkota et
positivos significam o aumento da certeza de en- al. (2012) e Long (2008), apresentada pela equa-
contrar um escorregamento e valores negativos a ção (2).
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
(2)
CF representa o resultado da integração de final, uma vez que decisões podem ser tomadas
dois parâmetros (CFi1 e CFi2), como, por exemplo, levando-se em consideração a qualidade dos ma-
declividade e perfil das vertentes. Esse resultado pas produzidos, o que pode ser acessado atra-
(CF) deve ser novamente integrado a outro tema vés de sua acurácia e poder preditivo (Beguería,
qualquer, até que todos os cartogramas explica- 2006). Visto a inviabilidade de se esperar por futu-
tivos sejam incorporados, sempre dois a dois e ras instabilizações de vertente na paisagem para
obedecendo as regras de agrupamento expostas assegurar a previsibilidade de um modelo, proce-
na equação (2). dimento conhecido como “wait and see” (Soeters &
Van Westen, 1996). Chung & Fabbri (2003) propu-
seram artifícios para a produção de amostras de
2.3 Análise de sensibilidade
escorregamentos autônomos. Para isso é necessá-
Durante a composição de uma análise estatís- rio restringir a utilização dos movimentos carto-
tica de susceptibilidade, diversos são os fatores de grafados e particionar o inventário de forma que
predisposição que podem ser incorporados, cada parte dos eventos seja utilizada na modelagem e a
qual com sua parcela de influência no desencadea- outra na avalição dos resultados.
mento do evento. Visto que o aumento no núme- Assim, para assegurar a envergadura do mo-
ro de parâmetros não se traduz, necessariamente, delo de susceptibilidade empregado no municí-
pio de Moeda, uma divisão aleatória foi aplicada
num aumento de qualidade (Zêzere et al., 2005;
aos escorregamentos inventariados, sendo que
Sterlacchini et al., 2011; Piedade et al., 2011), é im-
metade dos eventos cartografados foi utilizada na
portante compreender a influência que cada parâ-
construção da abordagem matemática do Fator de
metro tem sobre o evento investigado.
Certeza. A metade restante foi utilizada, com um
Nesse sentindo, para a realização dessa eta-
evento independente, para a certificação da capa-
pa, cada mapa de parâmetro foi, de forma indivi-
cidade preditiva dos resultados obtidos.
dual, avaliado a partir da Curva de Sucesso, ferra-
Os métodos utilizados para estimar a
mental que será abordado mais à frente, no tópico
qualidade dos mapas gerados foram as Curvas
que envolve a validação dos modelos de suscep-
de Sucesso e Predição. A grande diferença entre
tibilidade. Com base nos resultados alcançados
ambas as técnicas reside na parcela do inventário
por esse procedimento, os diversos cartogramas
utilizada. A Curva de Sucesso faz uso da parce-
explicativos foram hierarquizados de acordo com
la do inventário empregada na modelagem, logo,
seu grau de relevância sobre o processo, de forma
avalia o grau de ajuste do modelo aos dados.
a garantir que a regra de integração representada
A Curva de Predição utiliza a parte restante do
pela equação (2) obedeça à ordem estipulada pela
inventário, ainda não utilizada, e seu resultado
análise de sensibilidade. tende a avaliar a capacidade do modelo em pre-
ver futuras manifestações de instabilidade (Perei-
2.4 Validação do modelo de susceptibilidade ra, 2009; Piedade et al., 2010). Em resumo, a Curva
de Sucesso avalia o resultado entre o modelo e os
A validação é a etapa metodológica destina- dados que o originaram, ao passo que a Curva
da à avaliação do grau de confiança nos resulta- de Predição, a partir do momento que decorre de
dos encontrados. É um instrumento importante um processo de validação independente, apresen-
durante a transferência dos produtos ao usuário ta capacidade de prever um acontecimento num
60
Análise da susceptibilidade a escorregamentos usando a abordagem estatística do fator de certeza no município de Moeda, Minas Gerais
horizonte temporal indefinido (Zêzere, 2006). De- No que diz respeito às unidades litológicas,
vido ao exposto acima, deve-se esperar que a cur- os grupos compostos, predominantemente, por
va de sucesso seja sempre superior à de predição filitos, itabiritos e depósitos elúvio-coluviais são
(Chung & Fabbri, 2003). Para facilitar a interpre- os que mais se destacaram no reconhecimento dos
tação dos resultados, foi calculada a Área Abaixo movimentos (Tabela 2). Partindo do pressuposto
da Curva (AAC) de todos os gráficos utilizados na de que, via de regra, os itabiritos apresentam uma
estimativa da qualidade do produto final gerado. resistência considerável, uma explicação plausí-
Dessa forma, cada vez que um mapa de pa- vel para seu elevado CF pode estar na coluna es-
râmetro era adicionado ao modelo pelas leis de tratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (Alkmim &
integração adotadas na equação (2), seguindo a Marshak, 1998), uma vez que podem ser encon-
trados sobrepostos aos filitos. Desta forma, o pro-
hierarquia determinada na análise de sensibilida-
blema não estaria na unidade rochosa em ques-
de, a área abaixo da curva de sucesso era calculada.
tão, mas no contato entre as camadas, gerando
O objetivo era avaliar se a integração proposta me-
um zona de fluxo subsuperficial que culminaria
lhoraria ou pioraria o grau de ajuste do modelo aos
na diminuição do atrito entre ambas, ocasionado
dados inventariados. Todos os modelos gerados a geração de uma possível superfície de ruptura.
foram analisados comparativamente, de forma que Os depósitos são, na sua grande maioria, compos-
o melhor resultado, ou seja, o modelo mais correto, tos por canga, que constituem crostas superficiais
foi selecionado para a análise subsequente, que en- lateríticas de grande resistência. Estão distribuí-
volveu a determinação da Curva de Predição. dos pontualmente ao longo dos itabiritos, atingin-
do menos de 0,001% da área de estudo. Isso per-
mite supor que essa unidade litológica pode ter
3 RESULTADOS
sido englobada por eventos terceiros, podendo,
A partir de uma abordagem comparativa en- numa análise subsequente, ser agrupada na Uni-
tre os resultados da análise de sensibilidade (AAC) dade Litológica de Itabirito - ULI.
explicitados na Tabela 2, é possível perceber que a A orientação das vertentes demonstrou que
declividade é um parâmetro altamente influente, as encostas direcionadas para os sentidos sudeste,
com destaque para as classes de declividade situa- sul e leste apresentaram relações com os eventos
das no intervalo de 20° a 70°. Apesar da faixa lo- cartografados (Tabela 2). A direção leste repre-
calizada entre 45° e 70° apresentar os valores mais senta a orientação preferencial das camadas geo-
elevados de CF, o que eleva o grau de certeza de lógicas do flanco oeste do Sinclinal Moeda, o que
sua influência sobre os eventos, sua distribuição ajuda a corroborar a hipótese atrelada aos eleva-
na região investigada é extremamente limitada, se dos índices de CF para os itabiritos. No interior
restringindo a uma área inferior a 1,5 km2, isto é, da área investigada, a oeste da Serra da Moeda,
a poucos pixels que possivelmente podem, numa são observadas foliações nas direções predomi-
análise subsequente, ser englobados em numa nantes sul e sudeste, provavelmente, resultado de
única classe acima de 45°. Nesse contexto, o inter- gnaissificação. Como dados estruturais não foram
valo de 20 a 45° assume grande responsabilida- levados em conta, a utilização dessas orientações
de na análise, uma vez que apresenta coeficientes podem gerar um modelo conservativo de análi-
de CF positivos que abrangem aproximadamente se, uma vez que encostas similares, porém não
33% do município estudado. estruturadas, apresentaram pesos de ponderação
A avaliação dos resultados referentes ao per- mais elevados no resultado final.
fil das vertentes evidenciou que as formas capazes Por último, as unidades geomorfológicas
de concentrar o fluxo de água são as mais atuan- apresentaram-se relevantes principalmente no
tes na identificação dos escorregamentos. Isso de- Relevo Montanhoso (Tabela 2), onde as amplitu-
monstra que o perfil horizontal está comandando des e declividades são mais acentuadas, podendo
o processo, fato que é facilmente observado pelos atingir valores superiores a ordem de 300 metros
índices positivos dos valores de ponderação de CF e 15 graus. Essa região estende-se ao longo de
para as formas das vertentes Convexa-Côncava, toda a Serra da Moeda, sendo também circunscri-
Linear-Côncava e Côncava-Côncava (Tabela 2). ta numa parcela interiorana do município.
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Tabela 2 – Valores de ponderação atribuídos às classes de todos os parâmetros explicativos por meio da técnica
estatística do Fator de Certeza e avaliação do grau de relevância de cada fator predisponente.
Análise
Parâmetro
Classes de Intervalo CFij Sensitiva
Analisado
(AAC)
0-5 -0,69
5 - 10 -0,89
10 - 15 -0,57
15 - 20 -0,11
20 - 25 0,31
25 - 30 0,48
30 - 35 0,61
35 - 40 0,68
Declividade
40 - 45 0,73
0,715
45 - 50 0,77
50 - 55 0,79
55 - 60 0,74
60 - 65 0,65
65 - 70 0,82
70 - 75 -0,36
75 - 80 -0,02
80 - 85 -1,00
85 - 89,1 -1,00
Convexo - Convexo -0,36
Convexo - Linear -0,12
Perfil das vertentes
Norte - N -0,34
Nordeste - NE -0,23
Leste - E 0,34
Sudeste - SE 0,51 0,642
Sul - S 0,46
Sudoeste SO 0,08
Oeste - O -0,35
Noroeste - NO -0,25
Relevo Colinoso -0,52
Relevo de Morros com Vertentes Suavizadas -0,52
Unidades
Geomorf.
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66
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação
para planejamento e gestão territorial:
cartas de suscetibilidade, perigo e risco
Flood mapping areas for land use planning:
susceptibility, hazard and risk zoning
Nivaldo Paulon
Tecg., IPT, 3767-4765. E-mail: niva@ipt.br
RESUMO ABSTRACT
Este trabalho aborda conceitos relacionados ao ma- This paper approaches concepts related to mapping
peamento e elaboração de cartas de suscetibilidade, and formulation maps of susceptibility, hazard and risk
perigo e risco ao processo hidrológico de inundação to gradual river flooding hydrologic process, with the
fluvial gradual, apresentando a abrangência e aplica- scope and application of each map in the prevention
ção de cada uma das respectivas cartas no contexto de of natural disasters in the urban expansion and aid
prevenção de desastres naturais frente à expansão ur- territorial management contexts. From literature
bana e no auxílio ao planejamento e gestão territorial. review, it shows the different approaches and the
A partir de revisão bibliográfica, identificam-se os di- main factors related to the preparation and content
ferentes enfoques e os principais fatores relacionados of susceptibility, hazard and risk maps to gradual
à elaboração e ao conteúdo das cartas de suscetibili- flood. The results indicate that, in general, the maps
dade, perigo e risco ao processo de inundação fluvial relating to this process apply to susceptibility, hazard
gradual. Os resultados indicam que, de modo geral, os or risk have correspondence with different objectives
mapeamentos referentes a esse processo aplicam-se a and work scale involved. Thus, to map gradual river
cartas de suscetibilidade, perigo ou risco e têm corres- flood, it follows that the susceptibility is associated
pondência com distintos objetivos e escalas de trabalho with natural terrain conditions that favor water level
envolvidas. Assim, para o mapeamento da inundação rise in the drainage channel with overflow, reaching
fluvial gradual, tem-se que a suscetibilidade está mais floodplains and river terraces. Hazard is associated
associada às condições naturais do terreno que favore- with the event occurrence probability in a given area
67
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
cem a elevação do nível d’água no canal de drenagem and time. Risk incorporates the use and occupation,
com transbordamento, atingindo as planícies aluviais e considering the vulnerability associated with damage
os terraços fluviais. O perigo se associa à probabilidade to the achievable areas. As part of territorial planning,
de ocorrência do evento em determinada área e tempo. we seek to avoid or mitigate problems and extend
Para risco, incorpora-se o uso e ocupação do solo, pon- necessary actions. The management is configured as
derando-se a vulnerabilidade associada aos danos nas the fulfillment of the conditions the planning done in
áreas atingíveis. No âmbito de planejamento e ordena- the past helped to build. The map type depends on the
mento territorial, busca-se evitar ou mitigar problemas purpose that may be planning or management, as well
e potencializar ações necessárias. A gestão se configu- as the scale, which can be of detail, intermediate detail
ra como a efetivação das condições e requisitos que o or regional, and also of their possible applications. The
planejamento realizado ajudou a elaborar. Assim, o main methods to the elaboration of these maps are
tipo de carta depende do objetivo, podendo ser plane- discussed.
jamento ou gestão, bem como da escala, que pode ser
de detalhe, semidetalhe ou regional e, ainda, de suas Keywords: hydrologic process; gradual river flooding;
possíveis aplicações. Apresentam-se e discutem-se os susceptibility map; hazard map, risk map.
principais métodos para elaboração dessas cartas.
68
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial
da inundação fluvial gradual. Utilizam-se, ainda, nos fatores permanentes, ou seja, nas condições
resultados de experiências práticas na elaboração predisponentes dos terrenos, principalmente nas
de cartas de suscetibilidade em municípios, consi- características geológicas, topográficas e mor-
derando a interação com técnicos das prefeituras, fológicas das bacias que tendem a favorecer o
tendo em conta os trabalhos relatados em Bitar transbordamento do nível d’água, por ocasião de
(2014). Associam-se, para fins de análise, as tipolo- chuvas intensas. Quando se considera os fatores
gias de cartas aos diferentes instrumentos de pla- transitórios, ou seja, associados à ocorrência de
nejamento e gestão territorial que as demandaram, chuvas, associa-se a probabilidade de ocorrência,
bem como se verificam as escalas de mapeamento tratando-se de carta de perigo de inundação ou,
geralmente utilizadas e as possíveis aplicações dos ainda, carta de aptidão à urbanização. E, conside-
produtos gerados em mapeamentos executados. rando os fatores mistos, que se relacionam ao tipo
de uso e ocupação do solo, considera-se, além do
perigo, a vulnerabilidade e os possíveis danos as-
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO sociados e, assim, trata-se de carta de risco.
Segundo Monteiro e Kobiyama (2013), há
De uma maneira geral, sobretudo em bacias
uma diferenciação entre mapa de inundação,
hidrográficas rurais, parte das águas pluviais é re-
mapa de perigo de inundação e mapa de risco de
tida pela cobertura vegetal, outra parte infiltra-se
inundação. O mapa de inundação consiste na deli-
no subsolo e o restante tende a escoar sobre a su-
mitação das áreas inundadas com a altura da lâmi-
perfície de forma gradual, produzindo um hidro-
na de água. Este está atrelado a um único período
grama com variação lenta de vazão e com picos
de retorno. De acordo com Moel et al. (2009, apud
de enchentes moderados. As enchentes naturais
Monteiro e Kobiyama, 2013), o mapa de perigo de
extravasam a calha menor ocupando o leito maior
inundação contém informações sobre a probabi-
dos rios com certa periodicidade. Conhecidos os
lidade e/ou magnitude de um evento, enquanto
processos e suas consequências, é necessário pla-
o mapa de risco contém informações adicionais
nejar a ocupação do espaço urbano com infraes-
sobre as consequências (danos econômicos, pes-
trutura e condições que possam evitar impactos
soas afetadas). Assim, mapas de suscetibilidade a
econômicos e sociais.
inundação são utilizados para a criação do mapa
É imprescindível considerar que a existência
de perigo de inundação que, junto com fatores de
de perigos naturais é uma função do ajustamento
vulnerabilidade e de danos prováveis, é utilizado
humano a eles, posto que sempre envolvam ini-
para criar o mapa de risco de inundação.
ciativa e decisão humana, ou seja, em princípio,
“enchentes não seriam danosas se o homem evi-
tasse as planícies de inundação” (MONTEIRO, 3.1 Planejamento e gestão urbana
1991, p. 08).
A ocorrência de uma inundação é o resulta- Segundo Cardoso (2014) há que se esclarecer
do de vários fatores que interferem na formação que planejamento e gestão são conceitos comple-
dos escoamentos e em sua propagação ao longo mentares. Planejar remete ao futuro, significando
da bacia hidrográfica de contribuição (PINHEIRO, tentar prever a evolução de um fenômeno ou, ain-
2007). Os fatores que se interrelacionam e são res- da, tentar simular os desdobramentos de um pro-
ponsáveis pela ocorrência de eventos de inundação cesso, com o objetivo de melhor prevenir-se em
podem ser divididos em: transitórios, associados à relação a prováveis problemas ou, inversamente,
ocorrência de chuvas, taxas de evapotranspira- com o intuito de maximizar ou potencializar pro-
ção e grau de saturação do solo; permanentes, que váveis benefícios. Por sua vez, gestão trata do pre-
correspondem às características morfométricas da sente, significando administrar uma situação den-
bacia de drenagem e à geologia; e mistos, que es- tro dos marcos dos recursos disponíveis e tendo
tão relacionados ao tipo de uso e ocupação do solo em vista as necessidades imediatas. Noutros ter-
(COOKE e DOORNKAMP, 1990). mos, o planejamento é a preparação para a gestão
Pode-se, então, afirmar que o mapeamento de futura, buscando-se evitar ou mitigar problemas,
áreas suscetíveis a inundações graduais apoia-se enquanto a gestão é a efetivação prática e atual
69
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
das condições que o planejamento realizado no futura das perdas materiais e humanas em face
passado ajudou a construir. das grandes cheias.
Duarte (2007) conceitua planejamento como
um processo cujo resultado, sempre parcial, é o
3.2 Escala de trabalho
plano. O plano tem partes; o planejamento, eta-
pas. Essas etapas são: diagnóstico; prognóstico; A escala de trabalho está diretamente rela-
propostas e gestão urbana. Dentre essas partes, a cionada com os objetivos do produto a ser gera-
gestão urbana é um conjunto de instrumentos, ati- do. A medida que o detalhamento aumenta, são
vidades, tarefas e funções que visam a assegurar o necessárias análises e ferramentas diferenciadas.
bom funcionamento de uma cidade. A escala tem grande importância, pois, à medida
Assim, segundo essas definições, simplifi- que se aproxima de uma análise de risco, ou seja,
cadamente, o planejamento representaria os ce- quando há necessidade de avaliar danos em áreas
nários de urbanização possíveis de implantar ocupadas, há necessidade de pormenores. Assim,
analisando-se como situação inicial a condição seria inapropriado elaborar mapa de riscos em es-
natural dos terrenos aos processos de dinâmi- calas regionais ou de semidetalhe, sendo necessá-
ca superficial, particularmente os hidrológicos rias escalas de detalhe, ou seja, escala próxima da
e, considerando o planejamento para ocupação de projeto (1:2.000 ou maior). Contudo, na prática,
urbana, ainda, as probabilidades ou perigo de muitas vezes a escala de trabalho pode ser contro-
ocorrência das inundações nos locais a urbanizar. lada pela escala dos mapas topográficos ou bases
O mapeamento de riscos seria então um dos ins- disponíveis. Fell et al. (2008) apresentam escalas
trumentos de gestão urbana para assegurar a redu- de mapeamento recomendadas, de acordo com os
ção de impactos econômicos e sociais, por meio de objetivos, para deslizamentos. Para inundações
zoneamento, quando as áreas já estão ocupadas. graduais, pode-se propor uma análise semelhan-
O zoneamento propriamente dito é a definição de te, conforme discutido em Campos et al. (2015) e
um conjunto de regras para a ocupação das áreas apresentado na (Figura 1).
de risco de inundação, visando à minimização
Figura 1 – Variáveis no mapeamento e zoneamento de inundações fluviais graduais, de acordo com os tipos
de zoneamento. (Fonte: Campos et al., 2015)
70
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial
Figura 2 – Fluxograma das três etapas básicas executadas para fins de análise, classificação e zoneamento da
suscetibilidade a inundações. (Fonte: Bitar, 2014)
71
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
72
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial
Após a geração do modelo HAND, procede-se atribuem-se as seguintes classes: Alta a partir do
ao fatiamento, ou seja, à escolha das elevações nível normal da drenagem até o início do baixo
(ou alturas) acima do nível médio da drenagem terraço (englobando a planície aluvial atual); Mé-
para as quais serão atribuídos os patamares ou dia do início do baixo terraço até o início do alto
classes de suscetibilidade. Com base nas condi- terraço; e Baixa a partir do início do alto terraço,
ções geomorfológicas e pedológicas dos terrenos conforme Figura 4.
Figura 4 – Classes de fatiamento adotadas no âmbito da aplicação do modelo HAND em planícies e terraços a
partir das condições geomorfológicas e pedológicas. (Fonte: Bitar, 2014)
Esses valores, inicialmente atribuídos por entre as classes resultantes. A Figura 6 apresenta
meio de análise de seções transversais típicas ao a Carta de Suscetibilidade do município de Ilhota
longo das drenagens principais, são avaliados e va- em Santa Catarina.
lidados com os trabalhos de campo, incluindo-se
a verificação mediante levantamento de perfis
topográficos e de dados a respeito de marcas e
registros de inundações anteriores, quando dis-
poníveis nos municípios mapeados e, ainda,
informações de relatos de moradores locais nas
áreas afetadas. Também podem ser elaboradas
sondagens a trado para verificar os tipos de solo Figura 5 – Matriz de correlação entre as duas classificações de
suscetibilidade obtidas, segundo os índices morfométricos e
característicos. o modelo HAND.
A integração dos resultados obtidos nas Eta-
pas 1 e 2, compreende o cruzamento entre o grau
de suscetibilidade calculado por sub-bacia hi-
drográfica (ETAPA 1) e os resultados do HAND
(ETAPA 2). A operação é realizada por meio da
lógica booleana, comumente utilizada para a
identificação de relações entre distintos tipos de
dados geográficos (identificadas por meio de so-
breposição de temas ou de mapas temáticos), de
acordo com a matriz de correlação indicada na Figura 6 – Carta de Suscetibilidade a movimentos gravitacio-
Figura 5, efetuando-se, nos cruzamentos (ETAPA nais de massa e inundação para o município de Ilhota - SC.
(Fonte: Bitar, 2014).
3), adaptação em favor de um maior equilíbrio
73
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
74
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial
Para adequar o método à realidade brasileira, de baixa importância, uma vez que despreza-se o
onde precipitações com alta intensidade ocorrem efeito da sinergia das vazões de contribuição.
com uma frequência elevada, adotam-se os perío- Os autores também destacam que para a lo-
dos de retorno de 5, 20 e 100 anos. Monteiro e Ko- calização de vias de transporte não se deve adotar
biyama (2013) identificaram que os níveis de pe- nenhum perigo como aceitável, pois em casos de
rigo são da seguinte maneira: 3 para Perigo Alto desastres naturais estas devem estar sempre aces-
(vermelho); 2 para Perigo Médio (laranja); 1 para síveis para a evacuação de pessoas. As obras de
Perigo Pequeno (amarelo) e 0 para Perigo Inexis- importância pública, como hospitais e escolas, de-
tente (sem cor). Foram observadas as participa- vem ser localizadas em áreas onde existe, no má-
ções das BCs na área do mapeamento de perigo, ximo, o perigo baixo. Obras, como parques para
quanto à alteração da área e volume inundados. lazer, que são utilizadas apenas quando não existe
Segundo esses autores, as sub-bacias que possuem ocorrência da precipitação, podem ser construídas
vazão de pico menor do que 2m³/s para o período aceitando o perigo alto, desde que após um even-
de retorno de 5 anos e menor do que 5m³/s para o to de inundação estes locais sejam reconstituídos.
período de retorno de 100 anos são consideradas As demais obras devem ser realizadas aceitando o
75
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
perigo médio, mas sempre tentando reduzir este conforme apresentado por Hora e Gomes (2009),
ao máximo. A Figura 8 apresenta o mapa de peri- quanto à inundação, tem-se a “Equação (3)”:
go confeccionado por Monteiro e Kobyama (2013)
para uma sub-bacia no braço do rio Baú, no muni- Risco à inundação = S (TR) *{(Vulnerabilidade
cípio de Ilhota. da Tipologia)*[((Altura de Inundação*P1) +
(Densidade Populacional*P2) +
(Densidade de Habitações*P3)) / S P)]} (3)
Onde:
(TR) é tempo de retorno (anos) das inundações
representado pelas probabilidades:
TR2 = 0,5; TR5 = 0,2; TR10 = 0,1; TR20 = 0,05; TR50
= 0,02 e TR100 = 0,01;
(Vulnerabilidade da Tipologia) é vulnerabilidade
das tipologias habitacionais, onde para cada tipo
de tipologia foi atribuído um valor de vulnerabi-
Figura 8 – Ilustração do Mapa de Perigo de Inundação uma lidade;
bacia de drenagem em Ilhota - SC (Fonte: Monteiro e Kobi- (Altura da Inundação) correlaciona-se aos danos
yama, 2013)
associados à altura da lâmina d´água;
(Densidade Populacional) são os valores de densi-
Segundo Westen et al. (2006), uma das me- dade populacional obtidos das análises; e
lhores definições conceitua o risco decorrente do (Densidade habitacional) são os valores de densi-
número previsto de vidas perdidas, de pessoas dade habitacional obtidos das análises.
feridas e desestabilização de atividades econô- Os valores P1, P2 e P3 são pesos atribuídos aos
micas, devido a um fenômeno particular corrente valores de Altura de Inundação, Densidade Po-
em uma área em um dado período. O risco im- pulacional e Densidade Habitacional, respectiva-
plica a proximidade de um dano ou adversidade mente, 2, 5 e 3.
o que pode afetar a vida dos homens. Não existe
risco sem que uma população ou indivíduo que O método para determinação do risco à inun-
o perceba e que poderia sofrer com seus efeitos dação proposto por Hora e Gomes (2009) é apre-
(VEYRET, 2007). Para Westen et al. (2006) a defini- sentado no diagrama da Figura 9.
ção genérica de risco pode ser esquematicamente
representado pela seguinte fórmula “Equação(2)”:
Onde:
H é representado pelo perigo expresso em função
da probabilidade da ocorrência dentro de um
período de frequência;
V representa a vulnerabilidade física dos
elementos que estão expostos ao risco, sendo
atribuído um valor (0 a 1) para cada elemento; e
A significa os danos causados aos elementos que
estão em risco.
76
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial
Hora e Gomes (2009) apresentam um estudo de distribuição das tipologias de uso e ocupação do
caso da cidade de Itabuna-BA, em área que abran- solo na área de estudo, ou seja, em escala de deta-
ge um polígono de 1,72km2, localizado na porção lhe (1:2000 ou maior), conforme Figura 11.
sudoeste, que engloba trecho do rio Cachoeira de Para a definição das cotas de inundação na
aproximadamente 2000m de extensão. Dentro desta área em estudo, associadas aos diferentes tempos
área localizam-se aglomerados subnormais, ocupa- de recorrências de cheias, Hora e Gomes (2009)
ções estas reconhecidamente suscetíveis aos fenô- utilizaram os dados de duas seções transversais
menos de inundação do rio (Figura 10). ao rio, adotando as cotas que representam a média
Conforme o método proposto, quanto ao dos valores correspondentes a estas duas seções.
uso e ocupação elabora-se o levantamento de
Figura 10 – Localização da área de estudo e ocupação em Itabuna, BA (Fonte: Hora e Gomes, 2009)
77
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Figura 11 – Distribuição dos diferentes tipos de uso e ocupação do solo na área de estudo
(Fonte: Hora e Gomes, 2009)
Por meio do conhecimento das cotas de inun- chega-se a uma média que retrata a sua densi-
dação nos diferentes tempos de recorrência e da dade habitacional e populacional. Com relação à
conformação do relevo obtido do modelo digital densidade habitacional na área estudada pelos
do terreno (MDT) da área em estudo, obtém-se a autores citados, os valores variam de 300 a 3.000
distribuição das profundidades de inundação, ou domicílios/km2, já para a densidade populacio-
seja, os dados são obtidos por meio da diminuição nal, os dados variam de 6.300 a 12.000 habitantes/
dos valores das cotas pelos valores da hipsometria. km2. Por meio dos valores de densidade calcula-
A estimativa do número de residências e dos para a área de estudo, estima-se a quantidade
habitantes das áreas atingidas pelas inundações de domicílios e pessoas que são atingidas pelas
é gerada a partir da observação dos valores dos cheias do rio Cachoeira para cada tipo de uso e
dados referentes aos setores censitários do IBGE. ocupação e em cada tempo de recorrência das
Dessa maneira, a partir da análise de cada setor, inundações (Tabela 1).
Tabela 1 – Quantidade estimada de domicílios e habitantes atingidos pelas cheias (Hora e Gomes, 2013)
78
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial
O resultado do emprego da Equação (3) na área em estudo é a geração do Mapa de Risco à Inun-
dação (Figura 12).
Figura 12 – Mapa de Risco a Inundação do trecho do rio Cachoeira estudado em Itabuna, BA (Fonte: Hora e Gomes, 2009).
Por fim, cada uma das áreas delimitadas terá definida na metodologia sugerida pelo Ministério
o seu grau de risco classificado em Muito alto, das Cidades (Tabela 2).
Alto, Médio ou Baixo em função da adaptação
Tabela 2 – Critérios para determinação dos graus de risco (Fonte: Ministério das Cidades, 2007)
79
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
80
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial
81
MAPEAMENTO GEOLÓGICO DA ÁREA
URBANA DE CAXIAS DO SUL COMO ETAPA
DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA
GEOLOGICAL MAPPING OF CAXIAS DO SUL URBAN
AREA AS AN STEP OF GEOTECHNICAL MAP
Saulo Borsatto
Programa de Pós-graduação em Geociências, Instituto de
Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: sauloborsatto@yahoo.com.br
Norberto Dani
Departamento de Geodésia, Instituto de Geociências,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: norberto.dani@ufrgs
Luiz A. Bressani
Departamento de Engenharia Civil, Escola de Engenharia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: bressani@ufrgs.br
Nelson A. Lisboa
Departamento de Geodésia, Instituto de Geociências, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: nelamorettilisboa@gmail.com
RESUMO ABSTRACT
Caxias do Sul apresenta alguns problemas com escor- Caxias do Sul has some landslides and land use
regamentos de terra e problemas de uso e ocupação do and occupation problems due to social demands,
solo, decorrentes da dinâmica social, da geomorfologia geomorphology and characteristics of subsoil
e também devido às características dos materiais que materials. Volcanic acid rocks from Serra Geral
compõem o subsolo urbano. No município, afloram Formation are visible in the region as well as recent
rochas vulcânicas ácidas pertencentes à Formação Ser- deposits of talus and colluviums. The overall objective
ra Geral, bem como depósitos recentes de tálus e co- of this paper is to present the collected data from field
lúvios. O objetivo geral desse estudo foi coletar novos and desk work, reinterpretation of existent geology
dados de campo e de escritório, reinterpretar dados de and geomorphology data for a better understanding
geologia e geomorfologia para melhor compreender as of the properties and characteristics of the urban
propriedades e características do subsolo urbano. To- subsoil. All data acquired during the development of
dos os dados adquiridos ao longo do desenvolvimento this work were organized in a GIS. The following steps
desse trabalho foram organizados em um SIG. Foram were taken (a) analysis and interpretation of aerial
feitas (a) análise e interpretação de fotografias aéreas photographs (geomorphological and geological photo-
(fotointerpretação geomorfológica e geológica); (b) rea- interpretation); (b) field inspections for a geological
lização de inspeções campo para um mapeamento geo- mapping; (c) petrographic description and chemical
lógico; (c) descrição de lâminas petrográficas e análise analysis rock samples collected in the field. One
química das rochas coletadas em campo. Foi mapeada geological unit was mapped in this work, chemically
uma unidade geológica neste trabalho, quimicamente classified as Dacite, but presenting marked macro
83
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
classificada como Dacito, mas que apresenta caracte- and microscopic characteristics which allowed its
rísticas macro e microscópicas tão particulares que per- subdivision into five subtypes: Forqueta Dacite, which
mitiu a sua divisão em cinco subtipos: Dacito Forqueta, has a marked flow structure as evidenced by different
que apresenta uma estrutura de fluxo bem marcada; color bands; Caxias Dacite presenting tabular sub-
Dacito Caxias, que apresenta estratos tabulares sub- horizontal strata in its basal portion; Canyon Dacite
-horizontais na sua porção basal; Dacito Canyon, com with subvertical flow structure; Ana Rech Dacite
uma estrutura de fluxo subvertical; Dacito Ana Rech, characterized by a marked horizontal stratification in
que se caracteriza pela sua marcada estratificação hori- all its outcrops and Galópolis Dacite comprising two
zontalizada em toda a sua área de ocorrência e Dacito lava flows which have been unified into a single unit
Galópolis, compreendendo dois derrames que ocorrem due to the slope of the terrain.
de forma bem característica sendo um intervalo basal
vulcânico e um vidro vulcânico superior, que foram Keywords: Caxias do Sul. Geology. Geological
unificados em uma só unidade devido à declividade mapping.
do local.
84
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica
85
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
86
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica
87
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
pelo retângulo preto. Essas rochas além de pos- químicas apresentam características petrográficas
suírem pequenas diferenças em suas composições distintas (Figura 2).
Figura 2 – Diagrama TAS (Álcalis totais x Sílica), (Le Bas et al. 1986). Classificação química das ro-
chas vulcânicas encontradas na área urbana de Caxias do Sul.
88
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica
89
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
das vezes ela aparece alterada, e quando sã tem Os fenocristais de piroxênio ocorrem pervasiva-
cor cinza escura. mente alterados, possuem tamanhos médios de
0,5 mm, são euédricos, de hábito prismático. Os
Lâmina PTC – 011 A opacos ocorrem euédricos, medindo até 0,3 mm,
A rocha apresenta uma forte oxidação dos totalmente oxidados.
minerais opacos e máficos que a compõem, ad- Com a análise e interpretação de todos esses
quirindo uma coloração geral avermelhada. dados foi possível a construção do mapa geológi-
A textura da rocha é porfirítica, podendo ser cha- co da área urbana do município de Caxias do Sul,
mada de felsofírica por se tratar de uma matriz que está apresentado na figura 6.
formada pelo intercrescimento de plagioclásio
e quartzo. A matriz tem textura fina e é possível
observar a presença de micrólitos ripidiformes de
plagioclásio, algum quartzo intersticial e minerais
opacos residuais, que estão totalmente oxidados.
Ocorrem poucos fenocristais, constituídos princi-
palmente por plagioclásio, e mais raramente piro-
xênio e opacos (Figura 5).
A matriz é composta principalmente por mi-
crólitos de plagioclásio. Nos espaços intersticiais
existentes entre os micrólitos ocorre algum quart-
zo residual, e principalmente minerais opacos,
que apresentam hábito dendróide a acicular, que
estão totalmente oxidados, e são responsáveis pela
coloração avermelhada característica da rocha.
Os fenocristais de plagioclásio ocorrem de ma- Figura 5 – Lâmina PTC 011 A; A e B – matriz tem textura fina
neira disseminada na matriz e possuem em mé- e é possível observar a presença de micrólitos ripidiformes
dia 0,1 mm, variando de subédricos a euédricos. de plagioclásio; C – raros fenocristais.
90
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica
Os autores agradecem ao Geól. Felipe Faccio- Pejon O. J. & Rodrigues J. E. 1987. Análise
ni pela ajuda nos trabalhos de campo, ao apoio geológico-geotécnico da região de Araraquara,
91
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
SP. In: Congresso Brasileiro de Geologia de Taquari-Antas – RS. 2003. 254 f. Tese de doutorado,
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92
PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCO
DE SANTA MARIA DE JETIBÁ – ES - BRASIL
MUNICIPAL PLAN FOR RISK REDUCTION OF SANTA MARIA DE JETIBÁ - ES - BRAZIL
Fillipe Tesch
Avantec Engenharia. Vitória – Brasil.
E-mail: fillipetesch@gmail.com
RESUMO ABSTRACT
O Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) de The Municipal Plan Risk Reduction (PMRR) of Santa
Santa Maria de Jetibá - ES é parte integrante de um tra- Maria Jetibá - ES is part of a work developed by the
balho executado pelo Governo do Espírito Santo em 17 government of the Espírito Santo state (Brazil) in 17
municípios prioritários do Estado, tendo como objeti- priority cities, having, as main objectives, the expansion
vos principais a ampliação do conhecimento sobre os of Knowledge about the geodynamic processes, risks
processos geodinâmicos ocorrentes, riscos e ações de and effective actions of management in order to face
gerenciamento efetivas para enfrentamento dos even- adverse events. In this particular case, among the
tos adversos. Neste caso específico, dentre as temáticas issues addressed in this PMRR, were considered the
tratadas neste PMRR serão abordados os estudos rela- studies related to mapping of geological risk, the
cionados ao mapeamento do risco geológico e hidroló- maps of geological and geotechnical risks, as well
gico do município de Santa Maria de Jetibá com os re- as the proposals for structural and non structural
sultados das etapas de identificação do mapeamento do interventions for risk elimination and / or reduction.
risco geológico-geotécnico, bem como as propostas de The municipality is located 87.0 km from the state
intervenções estruturais e não estruturais para a elimi- capital, has a population of 34.176 inhabitants and an
nação e/ou redução destes. O município tem sua sede area of 735.579 km². The PMRR is an important tool
a 87,0 quilômetros da capital do estado, possui uma po- to guide the implementation of a public policy of
pulação de 34.176 habitantes e uma área de 735.579 km². management for the reduction of risks and disasters in
O PMRR é uma importante ferramenta para orientar a Santa Maria Jetiba.
implementação de uma política pública de gestão para a
redução de riscos e desastres em Santa Maria de Jetibá. Keywords: Risk Reduction, Public Politic, Santa Maria
Jetiba.
Palavras-chave: Redução de Risco, Política Pública,
Santa Maria de Jetibá.
93
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
94
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil
Figura 1 - Localização do município de Santa Maria de Jetibá no contexto do Espírito Santo e do Brasil.
2.1 Aspectos gerais do meio físico do processos pretéritos e atuais (Casseti, 1991). Para
município de Santa Maria de Jetibá Christofoletti (1980), as formas do relevo consti-
tuem o objeto da geomorfologia, afirmando ainda
O Estado do Espírito Santo situa-se na Pro- que “Se as formas existem, é porque elas foram
víncia Estrutural Mantiqueira, a sudeste do esculpidas pela ação de determinado processo
Cráton São Francisco (Almeida 1976, 1977). ou grupo de processo. Dessa maneira, há um re-
A província Mantiqueira representa um sistema lacionamento muito grande entre as formas e os
orogênico Neoproterozóico com direção prefe- processos, onde o estudo de ambos pode ser con-
rencial NE-SW. Em decorrência do fato de a partir siderado como o objetivo central desse ramo do
da divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo conhecimento, de forma a embasar as caracterís-
ocorrer uma mudança de direção de NE-SW para ticas fundamentais do sistema geomorfológico”.
N-S, alguns autores têm incluído este trecho na Em relação a compartimentação geomorfo-
faixa Araçuaí (Alkmim & Mashark 1998), sendo lógica do município de Santa Maria de Jetibá, os
esta uma das feições estruturais mais importantes procedimentos adotados para a identificação dos
da Faixa Ribeira. Os granitoides tipo I, granitoides domínios ao longo do território foram propostos
foliados, paragnaisses, kinzigitos, xistos e quartzi- considerando classes de relevo que retratam as es-
tos são as rochas com maior ocorrência compondo pecificidades locais na escala 1:50.000.
o mapa geológico do município (Figura 2): A análise realizada se enquadra no 4º táxon
A geomorfologia é um conhecimento especí- da metodologia proposta por Ross (1992), onde às
fico, sistematizado, que tem por objetivo analisar formas de relevo são individualizadas em unida-
as formas do relevo, buscando compreender os des com padrão de formas semelhantes.
95
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
A sequência geral de trabalho para as análi- Tabela 1 – Classes de Sistemas de Relevo Usadas como
ses do relevo iniciou-se, resumidamente, com a Referência.
pesquisa bibliográfica e inventário de dados da
Amplitude Declividade
área do município; passando para a preparação Unidades geomorfológicas
(m) (%)
das bases cartográficas disponíveis; a elaboração Suave a Plano < 100 m < 5%
do Modelo Digital de Elevação Hidrologicamen- Rampa <100m 5 a 10%
te Consistente – MDEHC; a elaboração de perfis Colina <100m 10 a 20%
topográficos representativos e trabalho de campo Morrote <100m > 20%
para reconhecimento do meio físico, reconheci- Morros com Vertentes Suaves 100 a 300 m 5 a 20%
mento de feições e padrões morfológicos, e limites Morro 100 a 300 m > 20%
do município; a compartimentação morfológica e Suave a Plano de Alta Altitude 100 a 300 m < 5%
elaboração da carta geomorfológica preliminar Suave a Plano de Alta Altitude >300m <20%
baseada em conhecimento especialista (Método Montanhoso >300m >20%
Heurístico), e trabalhos de campo para validação
dos resultados; a compartimentação topográfica a A Figura 3 sintetiza o mapeamento geomor-
partir de composição colorida RGB e realce dos fológico proposto para o município de Santa Ma-
padrões de relevo; a proposta de metodologia de ria de Jetibá.
compartimentação do relevo adequada ao muni-
cípio (Tabela 1), a partir dos resultados obtidos
nas etapas 5 e 6; e a elaboração da carta geomorfo-
lógica final do município com edição gráfica.
96
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil
Figura 3 – Mapa de Unidades Geomorfológicas gerado para o município de Santa Maria de Jetibá.
97
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
ocupação dos terrenos por meio da geração de prevenção; a ausência de conhecimento por parte
cortes e aterros, em áreas sem infraestrutura ade- da população e técnicos locais de como lidar com
quada, tem contribuído para o aumento significa- inundações; e a falta de organização institucional
tivo dos registros de ocorrência de movimentos em drenagem urbana em nível local.
de massa, com geração de danos materiais e víti- A estas questões pode-se acrescentar, entre
mas fatais. outros, o subdimensionamento das estruturas de
Entre os instrumentos técnicos que podem drenagem como pontes e galerias, a falta de ma-
contribuir para uma gestão mais efetiva dos ter- nutenção das mesmas, que resulta na redução
ritórios já ocupados, o mapeamento hidrológico- de suas capacidades de transporte, além da não
-hidráulico é utilizado para definir o grau de / exigência de estudo dos impactos dos novos em-
perigo e risco à inundação de uma determinada preendimentos na drenagem urbana.
bacia. Para Oliveira & Guasselli (2011), a susce- O PMRR aqui descrito, em relação as águas
tibilidade à inundação de uma área está direta- pluviais/fluviais do município de Santa Maria de
mente relacionada à probabilidade dessa área ser Jetibá teve por objetivo fornecer subsídios técnicos
atingida por enchentes, cheias, ou alagamentos e para a execução de ações que possam contribuir
o mapeamento dessas áreas é um recurso que au- efetivamente para uma expansão urbana adequa-
xilia na tomada de decisões para mitigação desses da no território municipal, bem como a redução
problemas. Quanto ao risco, ele pode ser defini- dos impactos das inundações na cidade criando
do como a combinação da probabilidade de um as condições para uma gestão sustentável da dre-
evento e suas consequências negativas. nagem urbana. Para tanto, os seguintes objetivos
Além da suscetibilidade natural, duas con- específicos foram perseguidos:
dutas do poder público tendem a agravar ainda (1) a cartografia da suscetibilidade e perigo rela-
mais a situação das áreas suscetíveis a processos cionados a processos de inundação no terri-
de inundação. A primeira tem relação com o fato tório municipal em escala adequada (1:10.000
de que os projetos de drenagem urbana têm como ou maior) para a determinação da aptidão a
filosofia escoar a água precipitada o mais rapida- urbanização.
mente possível para jusante. Este critério, via de (2) apresentar diretrizes para o controle dos
regra, aumenta a vazão máxima, a frequência e o principais problemas relacionados a cheias
nível de inundação de jusante. Soma-se a esta uma no município, tendo como foco a bacia prin-
segunda conduta comum, onde a falta de estudos cipal;
técnicos nas escalas adequadas à determinação da (3) mudar o modo com que os problemas rela-
aptidão a urbanização e legislação normatizadora cionados a cheias são encarados no municí-
da ocupação do solo, ou a falta de meios para apli- pio, por meio da implementação de práticas
car as normas existentes possibilitam a ocupação estruturais e não estruturais que ajudam a
de áreas ribeirinhas, restringindo a passagem de reduzir os prejuízos, diminuem os custos de
cheias e ocasionando inundações a montante. controle e evitam o aumento dos problemas
Mesmo sendo os princípios básicos de dre- no futuro, podendo ser replicados em outros
nagem urbana largamente estudados e apresen- municípios do país;
tados em manuais, estes não são normalmente Já em relação a cartografia geotécnica, seja ela
empregados em cidades brasileiras, e as prin- de suscetibilidade, aptidão ou risco, estes são pro-
cipais causas são citadas em Tucci et al. (2002) dutos cartográficos que retratam a distribuição
destacando-se entre elas o rápido e imprevisível dos diferentes tipos de rochas e solos (residuais e
desenvolvimento urbano, com tendência à transportados) considerando suas características
ocupação de jusante para montante, ampliando mecânicas e hidráulicas no contexto do meio físi-
os riscos de danos; a ausência de programas de co (formas de relevo, geodinâmica externa – pro-
prevenção para a ocupação de áreas de perigo cessos atuantes, uso e ocupação do solo), com o
e risco e, quando as cheias ocorrem, recursos a intuito de se definir as limitações, potencialidade
fundo perdido são colocados à disposição para a e necessidades de intervenções para a consoli-
municipalidade sem a exigência de programas de dação do uso urbano e rural (Sobreira & Souza,
98
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil
2012). Para a elaboração do PMRR e considerando pelo Ministério das Cidades, para o mapeamento
a proposta do método de detalhamento progres- do risco geológico, e proposta metodológica para
sivo a menor escala de mapeamento admissível é o mapeamento do perigo/risco hidrológico, com
de 1:2.000, pois neste caso as avaliações e o ma- definição as especifidades sobre a condução do
peamento conseguem identificar pequenas áreas/ PMRR e acompanhamento deste pelos técnicos
setores (escala de lote), bem como permitem a municipais.
proposição de soluções para as situações de risco
em um nível conceitual ou, se possível, de suporte
3.1.2 Preparação e montagem da base
a projetos (básico e executivo). cartográfica
Sobreira & Souza (2012) propõem que o mo-
delo do detalhamento progressivo seja seguido Durante a elaboração do Plano de Trabalho
também em práticas de planejamento e orde- Consolidado foram iniciados os trabalhos refe-
namento urbano, com os níveis hierárquicos re- rentes à preparação e montagem da base carto-
presentados pela suscetibilidade (geral), aptidão gráfica. O material cartográfico disponível obtido
à urbanização (semi-detalhe ou intermediário) para o município de Santa Maria de Jetibá estava
e risco (detalhe), sendo que no caso em questão em consonância com a escala de trabalho adotada
as cartas de perigo/risco geológico e hidrológico destacando-se entre as informações mais relevan-
foram geradas para dar suporte ao planejamento tes o levantamento aerofotogramétrico, com orto-
urbano, às ações de prevenção e emergência. mosaico na escala 1:15.000, disponível no formato
raster extensão.ecw; elementos planialtimétricos
do mapeamento sistemático do IBGE tais como
3.1 Etapas do Plano Municipal de Redução
setores censitários 2010, disponibilizado em for-
de Risco
mato vetorial na extensão.shp, estrutura conforme
Para a elaboração do PMRR de Santa Maria padrão do IBGE e a mancha urbana, entre outros
de Jetibá - ES a seguinte metodologia de trabalho atributos, além de base de dados alfanumérica
e respectivas etapas de trabalho foram desenvol- (geodatabase), abrangendo todos os municípios,
vidas: disponível em formato vetorial na extensão.shp;
OTTOBACIAS, que são bacias hidrográficas de
abrangência estadual, ottocodificadas até nível 7,
3.1.1 Consolidação do plano de trabalho georreferenciada com atributos, em geodatabase,
disponível em formato vetorial na extensão.shp;
A Etapa de consolidação do plano de traba-
e imagens de Satélite ALOS (Advanced Land Ob-
lho iniciou-se com a definição e homogeneização
serving Satellite), ano 2009 e 2010, com resolução
das bases conceituais principais. Em seguida pro-
espacial de 10 m, e classificação de diversas cate-
cedeu-se à avaliação preliminar das informações,
gorias do uso e ocupação do solo, cobrindo todo
mapas, imagens de satélite, fotos do município,
o município.
documentos gerados pela Defesa Civil estadual e
municipal, e informações do mapeamento emer-
gencial elaborado pelo Serviço Geológico do Bra- 3.1.3 Mapeamento hidrológico-hidráulico
sil - CPRM. Com os dados disponíveis levantados
tornou-se possível a realização de visitas técnicas O mapeamento hidrológico-hidráulico teve
ao município com o propósito de reconhecimen- como foco a bacia hidrográfica do Rio São Luiz
to inicial do meio físico, processos geodinâmicos que engloba o principal aglomerado populacional
ocorrentes, histórico de eventos e impacto dos do município, o seu distrito Sede, e que, segundo
mesmos, bem como informações mínimas para a a defesa civil municipal, tem histórico de proble-
realização de estudos preliminares. A partir dos mas de inundação mais frequentes. A bacia do Rio
dados obtidos em campo durante o reconheci- São Luiz possui área de drenagem de 23,18 Km²,
mento inicial ocorreu à adaptação da metodolo- com nascente localizada na comunidade que dá
gia do trabalho, a partir da metodologia proposta nome ao rio. Observa-se que, nesta bacia, existe
99
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
um intenso uso do solo, principalmente para ati- a ocupação de áreas suscetíveis e de perigo/ris-
vidades hortifrutigranjeiras, além de outras ativi- co de inundação através de regulamentação. Por
dades agropastoris. último sugere-se a promoção de ações vidando a
O Rio São Luiz, no centro de Santa Maria de convivência segura com as enchentes nas áreas de
Jetibá, apresenta declividade reduzida. Após o médio e baixo perigos/riscos identificados.
Centro de Santa Maria de Jetibá, a declividade au- Para o mapeamento hidrológico-hidráulico
menta abruptamente em trecho encachoeirado. O foram utilizadas informações levantadas junto
presente estudo analisou a situação da macrodre- ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
nagem até o trecho final do bairro Centro, sendo -IBGE, Agência Nacional de Águas-ANA, Siste-
que a bacia do Rio São Luiz foi dividida em 15 ba- ma Integrado de Bases Geoespaciais do Estado
cias urbanas e 20 bacias rurais e periurbanas, As do Espírito Santo-GEOBASES, Companhia Espí-
vazões provenientes de cada uma das sub bacias rito Santense de Saneamento-CESAN, Prefeitura
do Rio São Luiz foram apropriadas utilizando o municipal e em visitas a campo. Além dos dados
modelo HEC-HMS. obtidos de fontes secundárias foram necessários
A proposta de elaboração do mapeamento para o desenvolvimento deste trabalho estudos
hidrológico-hidráulico foi baseada em sete prin- topográficos com a geração de seções transversais
cípios fundamentais. O primeiro deles define as
ao longo dos canais; cadastro das redes pluviais;
Bacias hidrográficas como unidades de plane-
macrodrenagem natural e construída; fotos aéreas
jamento, o que permite que o excesso de escoa-
e imagens de satélite antigas e atuais da região; in-
mento superficial seja controlado na fonte, evi-
formações climatológicas; levantamento de dados
tando a transferência para jusante do aumento
dos setores censitários; pedologia e uso do solo na
do escoamento e da poluição urbana. O segundo
escala de detalhe; delimitação de bacias, vias de
princípio destaca que o diagnóstico deve ser exe-
acesso, comunidades, entre outros; informações
cutado na escala de detalhe (1:5.000 ou maior) em
sobre as inundações municipais (áreas com re-
compatibilidade com a definição efetiva da ap-
tidão a urbanização através de uma abordagem corrência de atingimentos, contornos e cotas das
interdisciplinar, bem como a futura solução dos linhas de inundação, trechos críticos, singularida-
problemas de inundação integradas à paisagem des dos sistemas, eventos pluviométricos críticos
e aos mecanismos de conservação do meio am- relacionando os níveis de inundação e a frequên-
biente. No terceiro principio proposto ressalta-se cia; verificação de projetos existentes, restrições
a importância da identificação da distribuição da técnicas, restrições legais, político-administrati-
água pluvial no tempo e no espaço, englobando vas, ambientais e hidrológicas à expansão urbana;
as áreas já ocupadas e com histórico de cheias, e entrevista com as pessoas de referência no as-
bem como as áreas definidas para a expansão ur- sunto de planejamento urbano e de águas urbanas
bana do município, de forma a permitir análises na prefeitura, com levantamento de documentos e
correlacionando a tendência de ocupação urbana trabalhos existentes ou em execução, incluindo o
para um horizonte mínimo de planejamento de 20 Plano Diretor Municipal.
anos, compatibilizando esse desenvolvimento e a Foram descartados dados fora da área de es-
infraestrutura para evitar prejuízos sociais, econô- tudo, e cuja qualidade não foi considerada ade-
micos e ambientais. O quarto princípio destaca a quada bem como a escala incompatível com o
importância da incorporação dos estudos na cul- nível de detalhamento proposto para o trabalho,
tura da administração municipal, principalmente problemas no georreferenciamento, dados desa-
nos setores diretamente responsáveis pelo pla- tualizados, dados hidrológicos com períodos ina-
nejamento urbano e serviços de águas pluviais. dequados, entre outros.
O quinto princípio está relacionado à necessida- Os dados fornecidos no formato shapefi-
de de institucionalização e incorporação dos re- le foram recortados, de modo a abranger toda a
sultados na legislação municipal, em especial no área de estudo e projetados para Projeção Univer-
Plano Diretor do Município. Já o sexto princípio, sal Transversa de Mercator (UTM), Datum SIR-
este tem relação com a necessidade de se controlar GAS 2000, zona 24 S, equalizando o sistema de
100
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil
101
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
Riscos. As proposições de intervenção foram indi- de 46,21 e Lag Time de 88,1 minutos. A simulação
cadas visando a melhor relação custo x benefício. da vazão para a chuva com tempo de retorno de 25
Estabelecidas as obras necessárias para a elimina- anos resultou em 15,2 m³/s, enquanto que o mo-
ção do perigo/risco identificado em cada setor, delo com os diversos elementos hidrológicos das
foram estimados os custos necessários para cada sub-bacias do Rio São Luiz resultou em uma va-
obra/serviço, somando-se aqui os custos com a re- zão igual a 18 m³/s. Considerou-se, portanto, que
moção de famílias. Em relação ao estabelecimento as vazões simuladas pela geometria mais com-
de referências para a composição de custos das plexa está simulando as vazões com uma faixa de
obras, a planilha de composições de preços para erro aceitável, uma vez que a vazão simulada está
orçamentos adotada foi a disponível no sistema aproximadamente 15% maior que a vazão simula-
da Caixa Econômica Federal - SINAPI. da pelo elemento hidrológico que representa toda
A quantificação do risco teve como unidade a bacia hidrográfica do Rio São Luiz.
de análise a edificação e não a família. O levan- Foi definido como domínio do modelo o tre-
tamento do número de famílias em risco deman- cho urbano Rio São Luiz, assim como seus prin-
daria o cadastramento social da população para cipais córregos afluentes, o córrego Vila Jetibá e
viabilizar a análise do número de domicílios por o córrego São Sebastião do Meio, contemplando
edificação. O trabalho social dentro do Plano os bairros São Luiz, Vila Jetibá, Vila Nova, São Se-
Municipal de Redução de Riscos teve como foco bastião do Meio e Centro, totalizando uma exten-
permitir que o conhecimento resultante da inves- são total de 13,4 Km.
tigação sobre a situação de risco no município de Durante as visitas de campo, foram identifi-
Santa Maria de Jetibá seja apropriado pela popu- cadas cotas da última enchente significativa, cujas
lação local, sejam estes técnicos vinculados à ad- alturas máximas puderam ser identificadas pelas
ministração municipal, lideranças comunitárias marcas d’água ainda presentes em muros, resi-
e/ou a própria polução envolvida.
dências e outros elementos construídos, as quais
foram registradas durante as visitas em campo.
4 RESULTADOS DO MAPEAMENTO DAS Os níveis d’água verificados em campo são rela-
ÁREAS DE INUNDAÇÃO tivos à cheia que ocorreu em dezembro de 2010,
quando ocorreu um evento de chuva de 188 mm,
Os principais problemas de macrodrenagem cuja recorrência foi estimada em 60 anos.
diagnosticados do município de Santa Maria de A Figura 4 retrata o Mapa de Suscetibilida-
Jetibá podem ser assim resumidos: de à Inundação para o município de Santa Maria
a) redução da eficiência hidráulica de pontes de Jetibá - ES, como resultado da modelagem hi-
por estruturas de fundação de pontes anti- dráulica. O mapa apresenta as áreas previstas de
gas que ainda estão no local, que acabam por serem inundadas por cheias com períodos de re-
acumular lixo embaixo das atuais pontes; torno de 5, 10, 20, 25, 30, 50 e 100 anos. Observa-
b) assoreamento e crescimento de vegetação -se uma quantidade razoável de domicílios que
rasteira em diversos trechos de canal; se encontram nas áreas classificadas como susce-
c) presença de resíduos sólidos e entulhos no tíveis, principalmente aqueles mais próximos ao
interior dos canais que ficam presos a obstá- Rio São Luiz. No córrego Vila Jetibá, onde houve
culos como rochas e tubulações e;
a ocupação mais intensa das margens deste, foi
d) tubulações de esgoto que atravessam os ca-
possível identificar áreas de suscetibilidade muito
nais dentro da área da seção hidráulica do
alta, com casas edificadas muito abaixo do nível
escoamento.
da rua. Verificou-se que no total 65 domicílios
Como o modelo hidrológico gerou uma geo-
encontram-se nas áreas com recorrência de inun-
metria com um número significativo de elementos
dação de 5 anos. Quando se trata da inundação
hidrológicos, decidiu-se pela execução da mode-
com recorrência de 25 anos, o número de domicí-
lagem de um elemento hidrológico único da bacia
lios atingidos cresce para 100, com um aumento
hidrográfica do Rio São Luiz. Neste caso, adotou-
significativo de pessoas expostas.
-se uma bacia com área de 23,18 Km², CN médio
102
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil
Figura 4 – Carta de suscetibilidade a inundação de parte do Município de Santa Maria de Jetibá – ES.
As medidas estruturais, que são as obras des- oferecê-la, em primeiro lugar, ao poder público;
tinadas à redução do risco de inundações, foram a reformulação do sistema de gestão consideran-
apresentadas na forma de estudos preliminares do-se as características do sistema de drenagem
para todas as intervenções e de projetos para as proposto; a legislação voltada ao gerenciamento
intervenções específicas selecionadas pelo Gover- de áreas de perigo/risco, APP, águas pluviais e
no Estadual. O nível de detalhamento das inter- controle de impactos decorrentes do desenvolvi-
venções estruturais foi compatível com o nível de mento municipal; a criação de parques lineares ao
planejamento. Um dos cenários de intervenção longo das várzeas de inundação natural ainda não
propostos se referiu à implantação de um canal ocupadas; e a criação de parques nas cabeceiras
de gabião no Rio São Luiz no trecho em que este dos rios principais para proteção dos rios contra
corta o bairro Centro, além da construção de uma assoreamento e proteção da qualidade da água,
galeria no córrego Vila Jetibá. entre outras.
Complementarmente as análises foram pro-
postas medidas não estruturais constituídas pelas 5 RESULTADOS DO MAPEAMENTO DAS
posturas que deverão ser incorporadas na legisla- ÁREAS DE PERIGO/RISCO GEOLÓGICO
ção de uso e ocupação do solo, e medidas de ges-
tão que deverão ser implantadas na administração O mapeamento do perigo/risco foi feito a
municipal. Estas foram apresentadas para a área partir de uma abordagem integrada dos aspectos
urbana do município e englobaram propostas do meio físico inventariados e, principalmente tra-
para o controle do uso e ocupação do solo a serem balhos de campo na escala 1:2.000 (cadastro). Uma
incorporadas pelo município por projeto de lei ou vez montada a plataforma SIG tornou-se possível
pela revisão e atualização do Plano Diretor Muni- a delimitação dos setores identificados em campo
cipal; a aplicação do princípio jurídico pelo qual sobre as informações cartográficas inventariadas,
o proprietário, ao vender sua propriedade, deve bases topográficas e imagens. Como documento
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
final do mapeamento tem-se um relatório com a influência (atingimento) destes. Parte dos resulta-
identificação, representação e descrição de setores dos obtidos nos trabalhos de mapeamento pode
na paisagem (áreas urbanas) com condicionantes ser visualizado na Figura 5, por setor identificado
naturais que indicam a possibilidade de ocor- (Figura 5).
rência de um processo, assim como as áreas sob
Figura 5 – Setores de risco geológico identificados em parte da sede do município de Santa Maria de Jetibá - ES.
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Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil
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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental
podem causar risco”, somando-se a esse a neces- Territorial, Planos de Estruturação Institucional e
sidade de fortalecimento dos núcleos de proteção Planos de Drenagem Urbana.
e defesa civil, e/ou dos grupos de referência cons-
tituídos por moradores das áreas de perigo/risco,
REFERÊNCIAS
voluntários e lideranças populares, que devem
ser informados e capacitados, de forma a envol- Alkmin F.F & Marschak S. 1998. Transamazonian
ver a população nas ações de prevenção, monito- orogeny in the Southern São Francisco Craton
ramento e fiscalização das áreas de perigo/risco, region, Minas Gerais, Brazil: evidence for
por meio de uma gestão compartilhada. Paleoproterozoic collision and collapse in the
As cheias do Rio São Luiz são frequentes e os Quadrilatero Ferrífero. Prec. Res., 90: 29-58.
problemas oriundos das mesmas vêm se agravan-
do devido ao avanço da população para as proxi- Almeida F.F.M. 1976. Estruturas do Pré-
midades de suas margens, e para a ocupação das Cambriano inferior brasileiro. In: Congresso
áreas mais a montante da bacia hidrográfica. Brasileiro de Geologia, 29, Ouro Preto. Resumos
Observou-se, a partir da modelagem hidráu- dos trabalhos...Belo Horizonte: SBG-Núcleo
lica, que 65 domicílios estão na área classificada Minas Gerais, p. 201-202.
como de perigo/risco muito alto (inundação com
5 anos de recorrência), e que 100 domicílios são Almeida F.F.M. 1977. O Cráton do São Francisco.
inundados com vazões de 25 anos de recorrência Revista Brasileira de Geociências, São Paulo: SBG,
(vazão de projeto). v. 7, n. 4, p. 349-364.
As “obras de arte especiais” da Rua Augusto
Martin Germano Vesper, da Rua Francisco Shartz Brasil, Ministério das Cidades / Instituto de
com a Rua Ronald Berger e da Rua do Imigrante Pesquisas Tecnológicas – IPT. 2007. Mapeamento
não apresentam eficiência hidráulica para a vazão de Risco em Encostas e Margens de Rios / Celso
de projeto de 100 anos de recorrência no cenário Santos Carvalho. Eduardo Soares de Macedo
atual. Para uma chuva intensa com período de re- e Agostinho Tadashi Ogura, Organizadores –
torno de 25 anos, prevê-se que a vazão no trecho fi- Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de
nal do Rio São Luiz passe de 18 m³/s para 24 m³/s Pesquisas Tecnológicas – IPT. 176 P..
(aumento de 34,83%) em 20 anos, caso se confirme
Brasil. LEI n. 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui
a tendência de expansão urbana prevista.
a Política Nacional de Proteção de Defesa Civil.
O Plano de Intervenções Estruturais para o
Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos.
Município de Santa Maria de Jetibá, que corres-
ponde a uma das etapas do Plano Municipal de Casseti V. 1991. Ambiente e apropriação do relevo.
Redução de Risco - PMRR, demonstrou a viabi- São Paulo: Contexto.
lidade de melhorar as condições de convivência
com o risco na cidade a curto e médio prazo e Christofoletti A. 1980. Geomorfologia. São Paulo:
apontou as necessidades de intervenções ime- Edgard Blücher, 2ª ed. 188p.
diatas para eliminação das situações classificadas
como de perigo/risco alto e muito alto. George M. & Schensul D. (Eds) 2013. The
A finalização do trabalho ocorreu com a demography of adaptation to climate change.
proposição de planos de ação para redução do New York, London, and Mexico City: UNFPA,
perigo/risco visando à implementação de ações, IIED and El Colegio de Mexico.
programas, diretrizes e medidas para a redução,
mitigação e prevenção de perigos/riscos relacio- Oliveira G. G. & Guasselli L. A. 2011. Relação
nados às inundações, solapamento de margens, entre a Suscetibilidade a Inundações e a Falta de
movimento de massas e deslizamentos, confor- Capacidade nos Condutos da Sub-bacia do Arroio
me diagnóstico executado no município de Santa da Areia, em Porto Alegre/RS. Revista Brasileira
Maria de Jetibá, que foram divididos em Planos de Recursos Hídricos, Porto Alegre, n.1, v. 16,
de Controle Ambiental, Planos de Ordenamento p. 05-15.
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Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil
Ross J. S. 1992. Registro cartográfico dos fatos Tucci C. E. M. 2002. Regionalização de vazões. –
geomorfológicos e a questão da taxonomia do Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS: ABRH.
relevo. Rev. Geografia. São Paulo, IG-USP.
Tucci C. E. M. 2003. Workshop for decision
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano makers on flood in South America (Nov 2002:
do Estado do Espírito Santo. 2013. Plano Municipal Porto Alegre, RS. Porto Alegre.
de Redução de Risco do município de Santa Maria
de Jetibá. Espírito Santo. UFSC. Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991
a 2010. 2012. Volume Espírito Santo. Florianópolis:
Sobreira F. G. & Souza L. A. 2012. Cartografia Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
geotécnica aplicada ao planejamento urbano. Desastres - CEPED/ UFSC.
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Ambiental, São Paulo, n. 2, v. 2, p. 79-97.
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Diretrizes para Autores