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RBGEA

REVISTA BRASILEIRA DE
GEOLOGIA DE ENGENHARIA
E AMBIENTAL
REVISTA BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Publicação Científica da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

EditorES

Alessandra Cristina Corsi - IPT


Prof. Dr. Emílio Velloso Barroso – UFRJ
Prof. Dra. Kátia Canil – UFABC
Prof. Dra. Malva Andrea Mancuso – UFSM
Prof. Me. Marcelo Denser Monteiro – Metrô - SP / UAM

Revisores
Adalberto Aurélio Azevedo – IPT José Domingos Gallas – USP
Alberto Pio Fiori – UFPR José Eduardo Rodrigues – USP
Aline Freitas da Silva – DRM-RJ José Eduardo Zaine – UNESP
Alessandra Cristina Corsi - IPT José Luiz Albuquerque Filho – IPT
Angelo José Consoni – TSAP Kátia Canil – UFABC
Antonio Cendrero – Univ. da Cantabria (Espanha) Leandro Eugênio da Silva Cerri – UNESP
Antonio Manoel Santos Oliveira – UNG Lídia K. Tominaga – IG/SMA
Candido Bordeaux Rego Neto – IPUF Luis de Almeida Prado Bacellar – UFOP
Clovis Gonzatti – CIENTEC Luiz Nishiyama – UFU
Denise de la Corte Bacci – USP Luiz Fernando D`Agostino – Nucleo
Diana Sarita Hamburger - UFABC Malva Andrea Mancuso – UFSM
Dirceu Pagotto Stein – Geoexec Marcelo Fischer Gramani – IPT
Edilson Pissato – USP Marcilene Dantas Ferreira – UFSCar
Eduardo Brandau Quitete – IPT Marcelo Denser Monteiro – Metrô - SP / UAM
Eduardo Goulart Collares – UEMG Marcia Pressinotti – IG/SMA
Eduardo Soares de Macedo - IPT Marcio A. Cunha – Consultor
Emilio Velloso Barroso – UFRJ Maria Cristina Jacinto Almeida – IPT
Eraldo L. Pastore - Consultor Maria Heloisa B.O. Frascá – Consultora
Fábio Soares Magalhães – Vogbr Maria José Brollo – IG/SMA
Flávio Almeida da Silva - Engecorps Marta Luzia de Souza - UEM
Frederico Garcia Sobreira – UFOP Nelson Meirim Coutinho - GEORIO
Ginaldo Campanha - USP Newton Moreira de Souza - UnB
Guido Guidicini – Geoenergia Noris Costa Diniz -UnB
Helena Polivanov - UFRJ Oswaldo Augusto Filho - USP
Jair Santoro – IG/SMA Reinaldo Lorandi – UFSCar
João Francisco Alves Silveira - Consultor Renato Luiz Prado – USP
Jorge Kazuo Yamamoto – USP Ricardo Vedovello – IG/SMA
José Alcino Rodrigues de Carvalho – Univ. Nova de Lisboa (Port.) Yociteru Hasui – Consultor
José Augusto de Lollo – UNESP

apoio editorial
Luciana Marques, Nill Cavalcante , Renivaldo Campos

Projeto Gráfico e Diagramação


Rita Motta - Editora Tribo da Ilha

Volume 5 - Número 1
2015
ISSN 2237-4590
DIRETORIA ABGE GESTÃO 2016/2018

Presidente: Adalberto Aurélio Azevedo Núcleo Centro Oeste - Ingrid Lima


Vice Presidente: Lídia Keiko Tominaga
Conselho Deliberativo: Bruno Diniz, Dário Peixoto,
Diretor Secretário: Alessandra Cristina Corsi Getúlio Ezequiel, Ingrid Lima, João Armelin, Kurt
Diretor Secretário Adjunto: Deyna Pinho Albrecht, Juliana Sobreira e Ricardo Vilhena
Diretor Financeiro: José Luiz Albuquerque Filho
Diretor de Cursos: Ivan José DElatim
Diretora de Eventos: Fábio Augusto Gomes Vieira Reis Núcleo Norte - Cláudio Szlafstein
Diretora de Eventos Adjunto: Renata Augusta Rocha N.
Conselho Deliberativo: Dianne Danielle Farias Fonseca,
de Oliveira
Lenilson José Souza de Queiroz, Luciana de Jesus P.P.
Diretor de Comunicação: Marcelo Denser Monteiro Miyagawa, José Antonio da Silva, Renato R. Mendonça,
Diretor de Comunicação Adjunto: Tiago Antonelli Jubal C. Filho e Nilton de Souza Campelo, Loury Bas-
Diretor de Publicação: Andrea Bartorelli tos, Patrícia Mara Lages Simões, Raimundo Almir C. da
Diretor de Publicação Adjunto: Edilson Pissato Conceição, Sheila Gatinho Teixeira, Túlio A. de Araújo
Mendes.

CONSELHO DELIBERATIVO
Núcleo Nordeste - Carlos Henrique Medeiros
Adalberto Azevedo, Alessandra Corsi, Andrea
Bartorelli,Deyna Pinho, Edilson Pissato,Fábio Conselho Deliberativo: Edval Lopes da Silva, Fagner
Reis,Flávio Almeida, Glaucia Cuchierato, Ivan Delatim, França, Francisco Said Gonçalves, Heitor Neves Maia,
José Luiz Albuquerque Filho, Leandro Castro, Lídia José Braz Diniz Filho, Kleiton Cassimiro, José Vitoriano
Tominaga,Luiz Fernando, Marcelo Denser, Mateus de Britto Neto, Marcos Paulo Souza Novais, Olavo
Delatim, Renata Rocha, Silvia Kitaraha e Tiago Antonelli. Santos Junior, Ubiratã Maciel, Ricardo Farias do Amaral
e Vanildo Fonseca

Núcleo Rio de Janeiro - Aline Freitas das Silva

Conselho Deliberativo: Aline Freitas Silva, Hugo


Machado, Rodrigo França, Rodney Nascimento, Rúbia
Azevedo e Thiago Santos

Núcleo Minas Gerais - Fábio Magalhães

Conselho Deliberativo: Alberto Amaral, Fábio


Magalhães, Gilvan Sá, Luis Bacellar, Maria Giovana
Parizzi, Sandra Fernandes e Thiago Teixeira

Secretaria Executiva
Núcleo Sul - Malva Andrea Mancuso Secretária Executiva: Luciana Marques
Av. Profº Almeida Prado, 532 – Prédio 11 –
Conselho Deliberativo: Alberto P. Fiori, Andrea V. Cidade Universitária – São Paulo – SP
Nummer, Débora Lamberty, Eduardo C.B. Carvalho, Telefone: (11) 3767-4361 / (11) 3719-0661
Erik Wunder, Hermann Vargas, Juan Antonio A. Flores, Email: abge@abge.org.br – Home Page: www.abge.org.br
Luiz A. Bressani e Malva Andrea Mancuso.
APRESENTAÇÃO

A ABGE apresenta mais um número da Ainda com foco no tema de gerenciamento de


Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e áreas de riscos de escorregamentos, César Falcão
Ambiental (RBGEA) para compartilhar com pes- Barella e Frederico Garcia Sobreira, da Universi-
quisadores, profissionais e estudantes que atuam dade Federal de Ouro Preto (UFOP), apresentam
na área de geologia de engenharia e o meio am- os resultados de uma abordagem estatística para
biente. Neste número, são apresentados os artigos avaliação de áreas suscetíveis, por meio da técni-
que abordam estudos e pesquisas aplicadas à car- ca do fator de certeza. A análise de acurácia do
tografia geotécnica e geoambiental. método é realizada pela avaliação da taxa de su-
No primeiro artigo, Luiz Antônio Bressani cesso e predição. O método permite que cada área
e Eli Antônio da Costa, da Universidade Federal de risco seja avaliada com as particularidades de
do Rio Grande do Sul (UFRGS), apresentam uma seus condicionantes, reduzindo a subjetividade
proposta para a elaboração de cartas geotécnicas dos processos preditivos associados aos riscos de
voltadas para o planejamento territorial. Os auto- escorregamentos.
res abordam tópicos como a relação entre susceti- A abrangência e aplicação de cartas de sus-
bilidade natural e induzida de terrenos sujeitos a cetibilidade, perigo e risco à inundação fluvial,
escorregamentos, a necessidade de análises quali- no contexto da prevenção de desastres naturais,
tativas de perigos e o papel educativo que as car- como ferramenta de planejamento e gestão terri-
tas geotécnicas possuem junto à sociedade. torial é foco do estudo de Sofia Julia Alves Ma-
O artigo de Alessandra Cristina Corsi, Mar- cedo Campos e colaboradores, do Instituto de
celo Fisher Gramani e Agostinho Tadashi Ogura, Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
ambos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do (IPT). Aspectos como objetivos, escala de trabalho
Estado de São Paulo (IPT), aborda o desenvol- e aplicações das cartas são abordados, apresen-
vimento de um método em ambiente SIG, para tando e discutindo os principais métodos para a
delimitação de bacias de drenagem suscetíveis à elaboração das mesmas.
ocorrência de corridas de massa e enxurradas. O O mapeamento geológico é uma etapa fun-
método utiliza o Índice de Melton e dados mor- damental do processo de elaboração de cartas
fométricos das bacias. O artigo apresenta a sua geotécnicas associadas à ocorrência de riscos na-
aplicação em 111 municípios situados em regiões turais. Neste contexto, Saulo Borsatto e colabo-
serranas de cinco estados do Brasil. radores da Universidade Federal do Rio Grande
Cláudio José Ferreira, do Instituto Geológi- do Sul (UFRGS) apresentam os resultados de um
co de São Paulo (IG), e coautores apresentam um detalhado processo de coleta de dados de campo
modelo de monitoramento para emissão de aler- e reinterpretação de dados existentes de geologia
tas de desastres, que combina o mapeamento de e geomorfologia, tratados em ambiente SIG, que
risco de escorregamentos planares com o trata- permitiram uma melhor compreensão das pro-
mento de índices pluviométricos, por meio do de- priedades e características geológicas da área ur-
senvolvimento de um algoritmo compatível com bana do município de Caxias do Sul, Estado do
a plataforma computacional TerraMA2. Rio Grande do Sul.
No último artigo deste número da RBGEA, políticas públicas de gestão que visem a redução
Leonardo Andrade de Souza e colaboradores de de desastres naturais.
consultorias de Belo Horizonte – MG e Vitória – Estamos certos de que os artigos que com-
ES, além do Instituto Federal do Espírito Santo põem este número da RBGEA trazem uma im-
(IFES), apresentam o Plano Municipal de Redução portante contribuição aos profissionais que
do Risco (PMRR) do município de Santa Maria de atuam em temas relacionados à Geologia de En-
Jetibá, Estado do Espírito Santo. O artigo aborda, genharia e Ambiental, refletindo o estado da arte
no âmbito do PMRR, a realização de estudos re- e novas técnicas de abordagem a partir da car-
lacionados ao mapeamento do risco geológico e tografia para a avaliação dos riscos de desastres
hidrológico bem como as propostas de interven- naturais, bem como na aplicação de ferramentas
ções estruturais e não estruturais, para a gestão para o planejamento territorial. Desejamos a to-
desses riscos. Os autores indicam o PMRR como dos uma ótima leitura!
uma importante ferramenta para a orientação de
Sumário

9 CARTAS GEOTÉCNICAS APLICADAS AO PLANEJAMENTO TERRITORIAL – al-


guns ajustes no instrumento
Luiz Antônio Bressani
Eli Antônio da Costa

21 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO PARA DELIMITAÇÃO DE BACIAS DE DRENA-


GEM SUSCETÍVEIS A CORRIDA DE MASSA E ENXURRADA EM REGIÕES SERRANAS
Alessandra Cristina Corsi
Marcelo Fisher Gramani
Agostinho Tadashi Ogura

37 INTEGRAÇÃO DE MAPEAMENTO DE RISCO E ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS NO


MONITORAMENTO E ALERTA DE RISCO DE ESCORREGAMENTOS PLANARES
NO LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
Cláudio José Ferreira
Denise Rossini-Penteado
Celia Regina de Gouvêia Souza
Glaucio Almeida Rocha
Lorena de Souza
Antonio Carlos Moretti Guedes

55 ANÁLISE DA SUSCEPTIBILIDADE A ESCORREGAMENTOS USANDO A ABORDA-


GEM ESTATÍSTICA DO FATOR DE CERTEZA NO MUNICÍPIO DE MOEDA, MINAS
GERAIS
Cesar Falcão Barella
Frederico Garcia Sobreira

67 Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e


gestão territorial: cartas de suscetibilidade, perigo e risco
Sofia Julia Alves Macedo Campos
Fausto Luis Stefani
Nivaldo Paulon
Luiz Gustavo Faccini
Omar Yazbek Bitar
83 MAPEAMENTO GEOLÓGICO DA ÁREA URBANA DE CAXIAS DO SUL COMO
ETAPA DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA
Saulo Borsatto
Norberto Dani
Luiz A. Bressani
Nelson A. Lisboa

93 PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCO DE SANTA MARIA DE JETIBÁ – ES -


BRASIL
Leonardo Andrade de Souza
Marco Aurélio Costa Caiado
Fillipe Tesch
Gilvimar Vieira Perdigão
Larissa Tostes Leite Belo
CARTAS GEOTÉCNICAS APLICADAS
AO PLANEJAMENTO TERRITORIAL –
alguns ajustes no instrumento
GEOTECHNICAL MAP APPLIED TO TERRITORIAL
PLANNING – some adjustments in the instrument

Luiz Antônio Bressani


PPGEC/UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: bressani@ufrgs.br

Eli Antônio da Costa


UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: eli.costa@ufrgs.br

Resumo Abstract

O objetivo deste trabalho é sugerir algumas alterações The objective of this paper is to suggest some
no processo de estudo e apresentação das Cartas Geo- modifications on the study process and in the
técnicas no âmbito do seu uso no Planejamento Terri- presentation of Geotechnical Maps for Territorial (or
torial (ou Urbano), salientando as grandes vantagens Urban) Planning, highlighting the great advantages of
de seu uso, mas discutindo alguns dos seus condicio- its use but discussing some of its current constraints.
nantes atuais. Um aspecto que é levantado é a susceti- One aspect is the susceptibility to mass movements of
bilidade dos terrenos aos movimentos de massa, aqui the area, here called natural susceptibility, and problems
denominada suscetibilidade natural e os problemas com with the prospective evaluation of induced susceptibility,
a avaliação prospectiva da suscetibilidade induzida, isto that is the real one due to occupation. The article also
é, aquela que ocorrerá pela ocupação. O artigo discute discusses that Geotechnical Maps for Urban Planning
também a necessidade de que as Cartas Geotécnicas should express, somehow, the destructive potential of
para Planejamento Urbano devem expressar, de algu- the events, indicating a qualitative assessment of hazard.
ma forma, o potencial destrutivo dos eventos, indican- Although this presents difficulties of evaluation, it is the
do uma avaliação qualitativa do perigo. Embora isto factor that will be taken into account by the Society and
apresente dificuldades de avaliação, é este fator que the stakeholders (population, developers, legislators,
acaba sendo levado em conta pela Sociedade e os atores representatives of the government) when they take
interessados (população, incorporadores, legisladores, decisions about the occupation, or not, of available
representantes do Poder Público) quando tomam de- areas. Finally, it is highlighted the educational role that
cisões sobre a ocupação ou não das áreas disponíveis. the preparation of the Geotechnical Maps may have in
Por último é realçado o papel educativo que o próprio the Society, and this should be encouraged.
processo de elaboração das Cartas Geotécnicas pode
ter na Sociedade, pela compreensão dos condicionan- Keywords: Geotechnical mapping; susceptibility;
tes que são estudados, e isto deve ser incentivado em slopes; landslides.
todos os trabalhos de elaboração das Cartas.

Palavras-chave: Cartografia geotécnica; suscetibilida-


de; encostas; deslizamentos.

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

1 INTRODUÇÃO estudam-se áreas entre 500 e 5.000 m2 e profundi-


dades de até 20 m.
As Cartas Geotécnicas Aplicadas ao Planeja- O objetivo principal deste trabalho é discu-
mento Territorial foram fortemente incentivadas tir as Cartas Geotécnicas no âmbito do seu uso no
pelo Governo Federal nos últimos anos, princi- Planejamento Territorial (ou Urbano), salientando
palmente através de medidas tomadas pelo Mi- seu enorme potencial de prevenção, mas salien-
nistério das Cidades (Carvalho & Galvão 2013). tando alguns dos seus limites que não são normal-
O principal objetivo foi contribuir para a redução mente apresentados.
de desastres, principalmente pela prevenção, atra-
vés do incentivo no Planejamento Urbano e pela
disseminação do conhecimento e uso das Cartas 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Geotécnicas (CG).
Existe uma extensa literatura sobre Cartas
Na Cartografia Geotécnica o objetivo é deter-
Geotécnicas (CG) elaboradas por diversos autores
minar como o ambiente é afetado pelos diversos
e pesquisadores brasileiros e boas revisões podem
processos de interesse (deslizamentos, inunda-
ser encontradas nos anais dos eventos da ABGE.
ções, enxurradas, erosões, afundamentos de terre-
Este artigo não pretende revisar esta farta litera-
no), e como será afetado no futuro, especialmen-
tura, apenas fazer um breve relato dos conceitos
te em função da ocupação. Este conhecimento é
mais difundidos, e geralmente aceitos, comentan-
construído a partir de observações, indicadores
do as suas bases e dificuldades de utilização, além
e inferências obtidas pelo estudo sistemático dos
dos problemas enfrentados na efetiva aplicação
atributos da paisagem geomorfológica. O estudo
das Cartas geradas.
é feito do geral para o particular, analisando-se
diversos mapas básicos (geologia, topografia do
terreno, de solos, ocupação, declividades) e reu- 2.1 Definições de Cartas Geotécnicas (CG)
nindo-se inventários dos eventos de interesse.
O grande desafio do meio técnico é que as Em trabalho recente encomendado pelo Mi-
Cartas Geotécnicas sejam capazes de representar nistério das Cidades, Diniz & Freitas (2013) de-
um mapeamento adequado da área fornecendo finem que a Carta Geotécnica (CG): “sintetiza
informações sobre possíveis acidentes relaciona- o conhecimento sobre o meio físico e seus processos
dos a movimentos de massa (deslizamentos de atuantes (geo) em uma determinada área, de modo a
terra, tombamentos, rolamento e quedas de blo- subsidiar o estabelecimento de medidas para a adequa-
cos de rocha), inundações e enxurradas, erosões, da ocupação do solo (técnica). Geralmente é composta
solapamentos de margens, recalques acentuados por uma carta síntese, quadro-legenda e texto explicati-
(argilas moles), afundamentos e subsidências (so- vo.” Além disto apresentam um ótimo resumo das
los colapsíveis ou cársticos). bases conceituais, tipos de cartas, procedimentos
Neste artigo vamos nos concentrar na dis- para sua obtenção e diretrizes para o inventário
cussão dos aspectos ligados aos movimentos gra- de cicatrizes, entre outros assuntos.
vitacionais de massa (escorregamentos ou desli- Naquele texto, os autores definem que “por
zamentos latu sensu). Na Engenharia Geotécnica, meio da análise dos dados geológicos do meio-
onde os autores têm mais experiência e fizeram -físico (relevo, material inconsolidado, rocha, hi-
sua formação profissional, o objetivo normalmen- drogeologia e clima) prevê-se o comportamento dos
te é solucionar casos específicos, como a estabili- terrenos em face da ocupação antrópica” (grifo nosso).
zação de um deslizamento, fazendo as investiga- Santos (2014) define a CG como “um documento
ções para obter os dados mínimos necessários à cartográfico que informa sobre o comportamento dos
compreensão do problema e seus condicionantes. diferentes compartimentos geológicos e geomorfológi-
A análise do problema e sua solução são feitos cos homogêneos de uma área frente às solicitações típi-
na escala da obra, lote ou encosta, geralmente cas de um determinado tipo de intervenção, e comple-
concentrando-se os esforços na investigação local mentarmente indica as melhores opções técnicas para
(sondagens e topografia de detalhe). Tipicamente que esta intervenção se dê com pleno sucesso técnico-

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Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento

-econômico”. Verifica-se que, na essência, são de- Embora Santos (2014) seja mais exigente, sob
finições semelhantes. Santos (2014) enfatiza o ca- o argumento de que as CG devem permitir deci-
ráter de cunho preventivo da CG, referido como sões de campo muito precisas, com definição de
instrumento básico de planejamento urbano. fronteiras entre diferentes compartimentos geo-
Segundo Diniz & Freitas (2013) “a delimita- técnicos com precisão da ordem de metros (esca-
ção de unidades do terreno deve ter em conta as las >1:5.000), este artigo vai discutir a escala de
diferenças de atributos ou parâmetros do meio Planejamento Territorial (1:25.000).
ambiente (físico, biótico e antrópico), os quais
induzem ou condicionam o desenvolvimento
2.3 Suscetibilidade
de processos e fenômenos (...). Assim, até para
expressar a suscetibilidade a processos do meio Existem pequenas nuances entre as defini-
físico, sua abordagem deve envolver também as- ções para a suscetibilidade nos textos sobre ma-
pectos dos meios biótico e antrópico, relativos à peamento. Em geral, a suscetibilidade reflete o
ocupação (...)”. potencial de ocorrência de um fenômeno geoló-
Em seu livro, Santos (2014) diz que a repre- gico em certa área, sendo determinada a partir de
sentação na mesma Carta Geotécnica do compor- evidências e similaridades com outras regiões ou
tamento do terreno frente a diversos fenômenos a partir de inventário de ocorrências. Segundo o
problemáticos para a ocupação, tais como desli- trabalho de compilação de informações e concei-
zamentos, inundações, erosões, abatimentos de tos de um grupo internacional (Fell et al. 2008, e
terreno ou solapamentos de margem, pode difi- tradução da ABGE - Macedo & Bressani 2013),
cultar a visualização. Por isto, sugere a produção suscetibilidade é a avaliação quantitativa ou qua-
de Cartas independentes, como uma CG para des- litativa do tipo, do volume (ou área) e da distri-
lizamentos e erosões e outra para contaminação buição espacial de deslizamentos que existem
de solos e águas subterrâneas. ou potencialmente podem ocorrer em uma área.
Conforme os autores, embora seja esperado que
2.2 Escalas de mapeamento os deslizamentos ocorram com mais frequência
em áreas mais suscetíveis, na análise de susceti-
A finalidade da Carta Geotécnica determina bilidade o período de tempo (frequência) não é
a escala e os detalhamentos necessários. O zonea- considerado de forma explícita.
mento básico para produzir as Cartas Geotécnicas Bressani & Costa (2013) destacam que a sus-
pode ser realizado para o planejamento regional, cetibilidade representaria uma expectativa técnica
local ou de uma área específica (Fell et al. 2008). de quais áreas são mais sujeitas a sofrer com certos
No caso da CG para Planejamento Territorial, as tipos de eventos adversos, baseada em análise crí-
escalas seguem a seguinte lógica geral (Diniz & tica de eventos históricos e dados do geoambiente
Freitas, 2013): (topografia, geologia, ocupação, forma do terre-
■■ A Carta Geotécnica de Suscetibilidade volta- no). A suscetibilidade é adimensional, podendo
da ao Planejamento (Municipal) deve permi- ser definida em termos qualitativos (como alta,
tir, em escala até 1:25.000, a ponderação do média ou baixa) ou quantitativa (em termos de
grupo gestor municipal na determinação de probabilidade de ocorrência de um processo de
metas e ações de desenvolvimento, (...) for- instabilização com características definidas). Des-
necendo dados que contribuam para as ações tacam ainda que a avaliação da suscetibilidade é
de planejamento municipal. obtida pela análise de diversos fatores que con-
■■ A Carta Geotécnica de Aptidão Urbanística dicionam a ocorrência de um fenômeno adverso
frente aos Desastres Naturais é um instru- (inundações, escorregamentos, secas, etc.) e, as-
mento para estimular o desenvolvimento ur-
sim como o risco, deve ser determinada para cada
bano em locais seguros, combatendo a ocu-
um dos eventos de forma isolada. No caso de mo-
pação de áreas ambientalmente vulneráveis
vimentos de massa, a suscetibilidade será função
e de risco. A fim de se estabelecer normas de
ocupação, trata-se de cartografia geotécnica do processo de instabilização considerado e seus
em escala 1:10.000 ou maior. fatores condicionantes (como queda de blocos,

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

escorregamentos lentos ou corrida de detritos), e al. (1995), complementadas e implementadas por


sua avaliação sempre necessita vir acompanhada sugestões de outros profissionais especializados
da questão: “suscetível a quê?”. em cartografia geotécnica, do Instituto Pesquisas
Sobreira et al. (2014) descrevem a suscetibili- Tecnológicas (IPT) e de diferentes instituições
dade como “a potencialidade de processos geoló- que atuam nessa área no Brasil, e em autores in-
gicos (...) causarem transformações do meio físico, ternacionais:
independentemente de suas consequências para 1. Formulação de um modelo inicial orienta-
as atividades humanas. (...) A possibilidade de dor, com identificação objetiva dos recursos e
ocorrência de processos geodinâmicos é condicio- problemas existentes ou esperados, pelo co-
nada pela predisponência natural do meio físico nhecimento do meio físico e da dinâmica da
ao seu desenvolvimento, podendo em alguns casos ocupação local. Para tanto, devem-se buscar
ter como um elemento adicional as práticas de uso e informações do meio físico (um esboço fisio-
ocupação (grifo nosso).” gráfico primário dos terrenos) e sua relação
Os estudos de suscetibilidade devem avaliar com o seu uso, resultando em um primeiro
os processos possíveis em áreas mais abrangentes ensaio de compartimentação ante os proble-
e com agentes deflagradores de maior magnitude, mas e recursos esperados.
independentemente da sua ocupação. Como resultado 2. Análise fenomenológica e de desempenho,
obtém-se avaliações gerais dos terrenos quanto ao identificando as causas do desenvolvimento
seu comportamento frente aos processos envol- de processos ou situações geradoras de proble-
vidos representados em cartas. De caráter quase mas previamente detectados, estabelecendo as
sempre qualitativo, os estudos da suscetibilidade características fisiográficas de interesse para a
são mais eficazes no planejamento em um nível ocupação (geologia, geomorfologia e parâme-
mais macro, indicando as áreas mais propícias tros geotécnicos locais) e as solicitações e trans-
aos diversos usos e ocupações, assim como as formações inerentes às formas de uso do solo,
restrições existentes nos demais locais. Zuquette incluindo questões do meio biótico.
& Gandolfi (2004) denominam os produtos carto- 3. Mapeamento e compartimentação, estabele-
gráficos destas análises como carta de eventos e cendo-se as principais evidências acessíveis à
consideram que, uma vez determinadas a inten- investigação das características de interesse,
sidade e probabilidade de ocorrência dos proces- fixando critérios de correlação, extrapolação
sos acima de um limite crítico pode-se proceder a e interpolação das diversas áreas de conhe-
análise dos perigos (hazard) ou eventos perigosos cimento, resultando na configuração espacial
naturais em um determinado intervalo de tempo. da distribuição de tais características.
4. Orientação das informações e expressões
2.4 Como são executadas as Cartas Geotécnicas geográficas das características de interesse,
por meio de operações de coleta e análise das
Segundo Diniz & Freitas (2013), as cartas informações; reconhecimento/ mapeamento,
geotécnicas partem de um inventário com pla- tanto por sensoriamento remoto, quanto por
nejamento e levantamento orientado de dados e, levantamentos de campo, investigações labo-
posteriormente, são realizadas análises e investi- ratoriais e in situ.
gações de campo, para identificação dos proble- 5. Compartimentação homogênea, segundo a
mas (existentes e previstos) decorrentes da in- maior probabilidade de ocorrência de pro-
teração entre os meios físico, biótico e antrópico blemas, ou as características de interesse, ou
(socioeconômico e cultural). Por último estabe- as homogeneidades quanto à aptidão a de-
lece-se a síntese com proposição de alternativas terminadas formas de uso e ocupação, bem
de solução ou de evitar a instalação (ou ocorrên- como à minimização de possíveis efeitos.
cia) desses problemas. Segundo Diniz & Freitas 6. Representação, para expor os resultados de
(2013), pode-se aplicar os seguintes procedimen- modo que facilite o acesso ao público inte-
tos básicos, apoiados em propostas de Prandini et ressado.

12
Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento

Esses procedimentos apresentados por Diniz cuidadosamente levados em conta, pois ati-
& Freitas (2013) podem ser estruturados em três vidades humanas podem modificar o ambiente de
fases: inventário, análise e síntese, resumidos na estabilidade dos terrenos (...) e também a susceti-
(Figura 1). bilidade e probabilidade da ocorrência de um ou
Segundo esses autores, as cartas geotécnicas mais processos (...); (grifo nosso);
devem levar em conta os seguintes aspectos, den- Esses procedimentos metodológicos para
tre outros: elaboração da carta geotécnica (...) permitirão a
■■ O histórico da área em estudo e sua evo- delimitação dos terrenos de acordo com a varia-
lução em termos de uso do solo devem ser ção dos processos (Tabela 1).

Figura 1 – Fases de uma Carta geotécnica (Diniz & Freitas, 2013).

Em seu relatório final do projeto de elabo- geotécnicas dos terrenos, com orientações gerais
ração da Carta Geotécnica de Ouro Preto, So- para o seu uso e ocupação.
breira et al. (2014), e em Souza & Sobreira (2014), O inventário de processos é gerado a partir
é apresentada uma descrição detalhada das me- de registros ou cadastro de ocorrências da Defesa
todologias utilizadas para obtenção da Carta de Civil/Corpo de Bombeiros (áreas urbanas) e in-
Suscetibilidade (escala 1:25.000), dividindo-a em terpretação de imagens/fotos aéreas e trabalhos
etapas, das quais os itens principais estão relacio- de campo (áreas urbanas e rurais) - feições indi-
cativas de processos de movimentos de massa e
nados a seguir. Segundo estes autores, o produ-
eventos de natureza hidrológica. Segundo os au-
to final a ser obtido será o resultado síntese das
tores, a preparação do inventário de processos
suscetibilidades aos processos naturais ou indu-
geodinâmicos deve envolver o local, a classifica-
zidos, associados às condições geomorfológicas e
ção do processo, o estado de atividade e data de

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

ocorrência em uma área. Entretanto, o inventário de imagens de última geração, mas também as
de cicatrizes de movimentos de massa pretéri- antigas, tanto em estudos de detalhe (escalas
tos deve ser baseado no mapeamento direto das maiores que 1:10.000) como em estudos mais re-
cicatrizes e dos depósitos associados, por meio gionais (escalas 1:25.000 ou menores).

Tabela 1 – Aspectos gerais para elaboração da Carta Geotécnica de Planejamento (Diniz & Freitas, 2013).

Etapas Atividades Produtos


• Objetivos específicos
• Escala de representação
1. Planejamento da carta Material secundário disponível
• Equipe interdisciplinar
• Compilação de dados
2. Reconhecimento dos
• Entendimento dos processos
principais processos Carta Geotécnica Preliminar
• Identificação dos fatores condicionantes
existentes ou potenciais
• Informações necessárias do meio físico e da ocupação do
solo
3. Realização de estudos • Tratamento ou elaboração do mapa planialtimétrico e de
Informações complementares
temáticos dirigidos mapas temáticos (geologia, geomorfologia, drenagem,
ocupação do solo, unidades de conservação, outros) na
escala necessária
4. Compartimentação • Análise integrada dos dados temáticos e processos Produto
geotécnica • Delimitação das unidades geotécnicas Cartográfico
• Recomendações de ocupação diferenciadas para cada CARTA
5. Estabelecimento de Quadro-
unidade do terreno, segundo a probabilidade de ocorrên- GEOTÉCNICA DE
diretrizes Legenda
cia dos diferentes tipos de processo PLANEJAMENTO
6. Elaboração do texto do
• Relatório Descrição
estudo

Mapa geomorfológico – validação das unida- Síntese das cartas de suscetibilidades - com
des de compartimentação do relevo. Diferentemen- a indicação das áreas com restrições à ocupação
te do substrato, cujas unidades estão já pré-estabe- urbana. Como as cartas de suscetibilidade devem
lecidas pelos mapas básicos, no caso das coberturas ser compreendidas e utilizadas por um público
as unidades devem ser definidas conforme seu mais amplo, as cartas dos diversos processos de-
perfil (textura, espessura, horizontes ou níveis) e vem ser integradas e simplificadas (Sobreira et al.
seus limites nem sempre são de fácil determinação. 2014). Para isto, as áreas de suscetibilidade a cada
Integração de dados e análise e diagnóstico processo devem ser avaliadas em conjunto com os
do meio físico - Os autores descrevem este obje- outros processos que podem também afetar o local,
tivo como o de “elaborar um documento que re- ou parte deste, e seu grau (alto, médio ou baixo).
presente setores na paisagem que têm condicio- No caso do trabalho de Sobreira et al. (2014), a car-
nantes naturais que indiquem a possibilidade de ta final deve representar a adequação (aptidão) à
ocorrência de um processo, assim como as áreas urbanização dos terrenos em três classes: (a) áreas
sob influência (atingimento) destes processos”. consolidáveis; (b) áreas não consolidáveis (ou ina-
Os autores discutem no seu texto que “as bases te- propriadas) e (c) áreas consolidáveis com restrições
máticas têm importância diferenciada em relação – necessitam práticas de ocupação ajustadas às con-
ao processo analisado e a questão de ponderações dições (com possíveis intervenções de engenharia).
e adoção de valores ou índices para as unidades
temáticas é um ponto em aberto”. A partir des-
ta discussão, sugerem a elaboração das cartas de 3 UMA DISCUSSÃO DOS FUNDAMENTOS PELA
suscetibilidades por processos envolvidos e que VISÃO DA ENGENHARIA GEOTECNICA
o zoneamento de unidades de terreno deve levar
em conta os diferentes tipos de processos e indicar Neste item serão discutidos alguns aspectos
a adequabilidade da ocupação em cada unidade intrínsecos aos trabalhos de mapeamento, mas
de terrenos. que sob o ponto de vista da engenharia, podem

14
Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento

assumir papel e importância diversa de acordo (suscetível ao quê?). Em segundo lugar, a susceti-
com a região avaliada e os processos nela identi- bilidade é adequada para o estudo de condições
ficados. Também há conceitos que necessitam ser intrínsecas ao terreno, ao ambiente, para as condi-
mais bem sedimentados, adaptados ou observa- ções naturais, como discutido abaixo.
dos sob pontos de vista mais práticos e funcionais. Uma área definida como suscetível tem que
ser suscetível a (pelo menos) um tipo de fenôme-
no bem definido e que tenha seus indicadores, ou
3.1 Os processos mapeados
fatores predisponentes, igualmente bem ajustados.
Existem diversos processos geotécnicos de Assim, as áreas próximas de escarpas rochosas se-
interesse para a Cartografia Geotécnica, com rão suscetíveis a quedas de blocos ou tombamentos
respeito ao Planejamento Regional, cujas áreas e rolamentos de blocos. Áreas de grandes depósi-
tos de materiais coluvionares são tipicamente sus-
de ocorrência e influência devem ser mapeadas.
cetíveis a movimentos do tipo rastejo sazonais ou
As Cartas Geotécnicas devem mapear todos os
rupturas semi-rotacionais (respectivamente de pe-
fenômenos presentes na área avaliada, porém o
quena magnitude e velocidade, cumulativos; com
presente artigo foca a discussão nos fenômenos
trincamentos claros e movimentos importantes).
de escorregamentos (latu sensu).
Portanto, estas 2 áreas, com características geomor-
Os movimentos gravitacionais de massa
fológicas muito diferentes, podem apresentar sus-
(deslizamentos, lato senso) incluem quedas e
cetibilidades similares a estes processos distintos.
tombamentos (em geral em rochas), rolamento
É preciso deixar isto bem claro nos mapas finais.
de blocos rochosos, deslizamentos em cunhas/
prismas (rochas e solos saprolíticos), desliza-
mentos translacionais (rápidos ou não), desliza-
mentos rotacionais, deslizamentos complexos,
escoamentos (ou espraiamentos), fluxos de detri-
tos/lama/blocos (corridas).
Estes fenômenos apresentam grande varia-
ção de velocidades e volumes, em alguns casos na
mesma região. De forma bem concisa, é preciso
estudar suas causas (redução da resistência ao ci-
salhamento, aumento da poro-pressão, mudanças
geométricas), suas velocidades esperadas (que in-
dicam seu perigo às pessoas) e os volumes envol-
vidos (que tem relação com o custo de mitigação/
Figura 2 – Deslizamentos rasos em encosta vegetada devido
estabilização). As Figuras 2 a 5 mostram alguns à chuva intensa (Gaspar, SC, 2008) – movimento rápido, in-
movimentos de massa onde estas diferenças de terrupção da via, pequena frequência (foto de L.A. Bressani).
comportamento e velocidades ficam evidenciadas
(estes são alguns casos nacionais – o leitor é esti- Outra questão é que a suscetibilidade a um
mulado a comparar com fenômenos das regiões processo deveria ser avaliada para condições na-
em que novas Cartas Geotécnicas serão feitas). turais, intrínsecas ao ambiente, isto é, deveria re-
fletir a potencialidade daquele ambiente a um de-
terminado tipo de evento. É reconhecido que esta
3.2 A suscetibilidade natural a deslizamentos suscetibilidade geralmente vai mudar com a ocu-
x suscetibilidade induzida pação humana, mas a avaliação regional (escala
1:25.000), só permitirá avaliar esta suscetibilidade
Embora em geral exista uma boa compreen- quando a intervenção causar mudanças de grande
são da suscetibilidade no meio técnico, há dois fa- porte. Eventos isolados, como deslizamentos de
tores que os autores gostariam de enfatizar. Em cortes e aterros, dificilmente podem ser avaliados
primeiro lugar, a definição de terreno suscetível é corretamente nesta escala. E estes acidentes po-
fundamentalmente ligada ao processo em análise dem ser produzidos em regiões que originalmente

15
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

não eram muito suscetíveis, mas cuja ocupação Então, para ser comparável, a avaliação da
inadequada tenha alterado este quadro. suscetibilidade deveria ser feita com base em uma
situação mais ou menos natural, isto é, onde a in-
tervenção humana ainda não tenha alterado de
maneira importante os condicionantes, os fatores
predisponentes do processo analisado.
Mas é importante observar que o grau de
preservação destes condicionantes naturais de-
penderá do processo analisado, como exemplifi-
cado a seguir:
1. A suscetibilidade média a alta a escorregamen-
tos de grande porte (por exemplo, grandes cor-
pos de colúvio) é pouco modificada pela ocu-
pação urbana tradicional. E existem casos em
que a ocupação pode ser estabilizante;
2. A suscetibilidade alta a quedas de blocos é
Figura 3 – Deslizamento potencial de blocos de rocha ao lon-
go de descontinuidades (Caxias do Sul, 2005) – estável até pouco influenciada pela ocupação (mesmo
o momento (2016), frequência (??) – (foto de L.A. Bressani). acentuada) das áreas de atingimento inferio-
res (ocupação junto das encostas rochosas da
serra fluminense, por exemplo);
3. Por outro lado, a suscetibilidade (natural) a
escorregamentos é profundamente afetada
em ambientes de morrotes de solo quando
ocorre a ocupação desordenada tipo corte-
-aterro (uma área inicialmente pouco susce-
tível altera para uma área de perigo – muitos
exemplos no Sudeste brasileiro);
4. No caso hidrológico, a suscetibilidade a en-
xurradas é profundamente afetada pela ocu-
pação de pequenas bacias íngremes devido
aos fenômenos associados à impermeabiliza-
Figura 4 – Escorregamento semi-rotacional, grande área, pe- ção (há muitos exemplos em várias drenagens
queno aterro sobre depósito de solo (aluviões), movimento
de baixa velocidade após longo período de chuvas (Luis Al- urbanas com aumento das vazões de pico).
ves, SC) – (foto de L.A. Bressani). Entretanto, como visto na revisão, os textos
sobre Cartas Geotécnicas propõem que o mapea-
mento seja apresentado na condição de uma sus-
cetibilidade inferida futura, isto é, como o terreno
naturalmente suscetível se comportaria sob a interven-
ção humana. Esta projeção futura implica em esti-
mar qual será a suscetibilidade induzida pela ocupa-
ção. Considerando a grande experiência brasileira
com ocupações desordenadas das periferias ín-
gremes das grandes cidades, onde áreas não mui-
to (naturalmente) suscetíveis foram ocupadas
com vias irregulares e lotes com platôs de cortes
e aterros, gerando diversos e sérios acidentes, esta
Figura 5 – Escorregamento semi-rotacional em ambiente projeção futura é legítima e relevante nestes casos.
construído. Movimento rápido durante chuvas intensas (Blu-
menau, SC, 2008). Suscetibilidade induzida (foto de autor
Porém, esta inferência implica em que o mapea-
desconhecido, disponível na web). mento tem que “pressupor o tipo de ocupação”. Mais

16
Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento

ainda, a proposta atual das Cartas Geotécnicas, é destes locais, a remoção da população, mesmo
de propor alternativas técnicas para a ocupação, o em casos muito claros de instabilidade, e de alto
que pode ser uma fonte de conflitos técnicos como custo de mitigação, tem sido uma decisão difí-
explicado adiante. cil porque há muitos outros fatores em jogo (so-
ciais, político-legais, econômicos e culturais, além
dos técnicos). A definição da melhor medida de
3.3 Importância do tipo de deslizamentos no
estabilização/mitigação, ou conjunto de medidas,
mapeamento final – a avaliação empírica
é normalmente um processo longo que envolve
do Perigo (experiência com a mitigação)
investigações geotécnicas, entendimento dos pro-
O objetivo final da Carta Geotécnica para blemas e equacionamento de diversas variáveis,
Planejamento Territorial é a orientação indicativa onde a geotécnica é uma importante ferramenta,
das áreas mais adequadas para ocupação e, por mas não a única.
exclusão, das áreas inadequadas. Mas, em geral, Quando há uso adequado das técnicas dispo-
o que realmente importa ao planejador urbano (e níveis para mitigação, mesmo em áreas problemá-
sociedade em geral) é saber quais são os perigos ticas, a própria ocupação pode trazer resultados
da ocupação e quais os custos decorrentes desta adequados: redução ou eliminação de acidentes,
ocupação; não valores, mas ordens de grandeza. aumento da densidade populacional em certas
Lembrando que o perigo segue as definições apre- áreas e investimentos privados e públicos ao lon-
sentadas em Fell et al. (2008), Macedo & Bressani go dos anos (arruamentos, praças, edifícios, es-
(2013) e Bressani & Costa (2013), onde o perigo é colas, comércio). Como pode ser observado em
uma condição com potencial para causar conse- diversos locais, a urbanização é adequada onde a
quência indesejável, ou a probabilidade que uma equação (investimento / benefícios) for favorável.
ameaça específica (portanto, com danos) ocorrer A avaliação dos benefícios é bastante complexa e
em um dado período de tempo. O perigo é adi- envolve a localização das moradias em relação às
mensional, e pode ser definido em termos qualita- fontes de renda, ao acesso à saúde e a educação,
tivo (alto, médio ou baixo) ou quantitativo, onde além da adequada segurança geotécnica (entre
representará a probabilidade de ocorrência de um outras) que depende da adoção de medidas corre-
processo de instabilização que venha a causar al- tas de estabilização da área.
gum dano, ainda que avaliado de forma simplifi- Dada a complexidade das intervenções ne-
cada, para um intervalo de tempo ou por área. cessárias, há muitas soluções possíveis, mas ra-
Como os terrenos são suscetíveis a diferentes ramente há soluções semelhantes para locais di-
processos, os valores envolvidos na urbanização ferentes. Deste modo, o papel do Geotécnico na
segura serão, geralmente, também diferentes. En- elaboração das Cartas Geotécnicas deve ser o de
tre as medidas clássicas de mitigação, a primeira alertar sobre os possíveis mecanismos instabi-
é justamente a evitação (avoidance), através de le- lizantes presentes em certa área, detalhar tanto
gislações de planejamento de uso ou diretamente quanto possível os volumes, velocidades e pro-
restritivas (principal objetivo das Cartas Geotécni- babilidades (perigos), mas evitar indicar soluções
cas). Mas existem diversas áreas atualmente ocu- técnicas muito detalhadas, conforme exemplos ci-
padas que tem perigos bem identificados, e que tados na Tabela 2. Em síntese, as indicações da Ta-
tem medidas de mitigação bem definidas. Estas bela 2 são decisões de projeto, que na prática po-
medidas geralmente são drenagens, obras de con- dem não ser as mais adequadas, necessitando-se
tenção, mudanças geométricas, reforços pontuais, estudar caso a caso. Assim, é preferível mencionar
impermeabilizações localizadas, etc. Em muitos apenas as recomendações.

17
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Tabela 2 – Alguns exemplos de recomendações que devem ser feitas e as indicações que não devem se feitas
numa Carta Geotécnica.

Processos Recomendações indicadas Indicações a evitar


Utilização de grampos de aço.
Evitar áreas de atingimento. (ou) Estabilizar /
Rolamento de blocos Uso de redes de contenção.
remover blocos.
Construção de muros de espera.
Construir muros de arrimo.
Não construir nas áreas fonte ou nas áreas de
Deslizamentos translacionais rápidos atingimento. (ou) Efetuar drenagem na área.
Estudar obras de estabilização.
Utilizar solo grampeado.

Estudar medidas de estabilização da área. (ou) Construir drenagem profunda.


Deslizamento rotacional profundo
Evitar construções até estabilização. Construir contenção com tirantes.

3.4 Educação da população sobre os perigos entendimento das restrições e a mudança de pa-
durante o processo de mapeamento das radigmas em loteamentos, entre outras, se tornou
áreas um ponto fundamental para a implantação de me-
didas mais corretas de ocupação, sejam legais, de
Um aspecto interessante que é preciso real- fiscalização e controle, ou do interesse imobiliário.
çar é o papel educativo que o próprio processo Na opinião dos autores, este processo parti-
de elaboração das Cartas Geotécnicas pode ter na cipativo e educativo deve ser incentivado durante
Sociedade (população, técnicos municipais, Po- os trabalhos de criação das Cartas Geotécnicas.
der Público, empresários). Na experiência obtida Ao participar das discussões, descobrir e entender
durante o trabalho de mapeamento de Igrejinha, os perigos a que está exposta, com suas causas e
apoiado pelo convênio com o Ministério das Ci- conseqüências, a população altera a sua percep-
dades/CEPED-RS-UFRGS (Bressani 2014), foram ção dos perigos e aceita com mais facilidade as
estabelecidos diversos arranjos de um proces- restrições daí decorrentes, inclusive ajudando na
so participativo. Assim, os técnicos municipais, sua implantação e fiscalização. O conhecimento
agentes da Defesa Civil, vereadores e agentes do dos perigos leva a uma mudança de atitude e a
Poder Público participaram de diversas reuniões uma maior responsabilidade sobre o uso do solo.
e discussões técnicas sobre os resultados parciais Naturalmente as decisões mais técnicas sobre
e providências que seriam necessárias, tanto téc- os tipos de intervenção ou obras necessárias, ou
nicas quanto de natureza geral (legislação, obras, sobre os limites ou áreas afetadas por um desli-
restrições á ocupação, etc.). E à medida que estes zamento, continuarão sendo de responsabilidade
dados e conclusões parciais foram sendo obtidos, dos técnicos treinados. Não há contradição entre
a população foi sendo informada dos resultados e estas responsabilidades, elas se complementam
suas consequências.
num ambiente de colaboração e entendimento.
Ao final, quando as Cartas Geotécnicas con-
solidadas foram apresentadas em uma ampla
Audiência Pública, não só elas já não eram algo 4 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
desconhecido ou inesperado, mas já eram enten-
didas como uma efetiva representação da sua ci- O principal objetivo das Cartas Geotécnicas é
dade, dos processos de instabilização presentes, o de contribuir para a redução de desastres, prin-
bem como de quais seriam os indicativos de or- cipalmente pela prevenção, através do incentivo
denamento urbano, um dos principais objetivos do seu uso no Planejamento Urbano. Felizmente
destas cartas. isto tem sido obtido em vários casos, pela utiliza-
Observou-se ainda que a percepção do peri- ção adequada destes instrumentos e seu uso deve
go destes vários atores em relação à sua cidade ser incentivado.
e ambiente geológico do entorno havia mudado. Nas proposições para a execução das Cartas,
Esta nova postura dos diversos atores na aplica- grande parte dos autores propõe uma avaliação
ção e aceitação de regras e limites de ocupação, o prospectiva da suscetibilidade induzida, isto é, a

18
Cartas geotécnicas aplicadas ao planejamento territorial – alguns ajustes no instrumento

suscetibilidade que possa vir a ocorrer em uma incorporadores, legisladores, representantes do


região ao ser ocupada com a urbanização. O texto Poder Público) quando fazem o balanço das infor-
discute as diferenças da suscetibilidade dos terre- mações para tomar decisões sobre a urbanização
nos não-ocupados, aqui denominada suscetibili- ou não das áreas disponíveis.
dade natural, e a suscetibilidade induzida, isto é, Uma alternativa mais simples é a de relacio-
aquela que ocorrerá pela ocupação, a qual só pode nar claramente a suscetibilidade aos processos.
ser feita por uma avaliação prospectiva (futura) As decisões de planejamento devem levar isto em
da ocupação e seus efeitos. conta, pois uma área com alta suscetibilidade a
Devido ao histórico recente de ocupações de- movimentos lentos será considerada de maneira
sordenadas nas grandes metrópoles brasileiras diferente de uma área com alta suscetibilidade a
(São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, ABC movimentos rápidos, porque as mitigações possí-
paulista), esta previsão tem sido baseada nos tipos veis, quando necessárias, serão muito diferentes,
convencionais de ocupação urbana problemáticas técnica e economicamente. Recomenda-se, por-
em encostas: a) ocupação com ruelas e caminhos es- tanto, que os relatórios anexos à Carta Geotécnica
treitos; b) construção em patamares horizontais com devam conter uma detalhada descrição das evi-
cortes e aterros; c) construções sem técnica adequa- dências coletadas, das hipóteses adotadas e dos
da de execução (fundações, paredes, muros e po- condicionantes utilizados, uma vez que o mapa
rões). Mas esta não é, necessariamente, a utilização final tem uma componente de utilização futura, a
futura da área se sua ocupação for bem orientada. qual pode ter que ser reavaliada.
E uma ocupação bem orientada pode ter um papel Estes aspectos devem ser considerados com
estabilizante, como demonstrado no texto. cautela pelos órgãos de Governo e técnicos envol-
Outro fator importante é a necessidade das vidos com o mapeamento quando da utilização
Cartas Geotécnicas para o Planejamento Urbano das Cartas Geotécnicas. Ao serem estabelecidas
irem além da suscetibilidade, ou seja, ao menos restrições ou proibições à ocupação urbana de cer-
expressarem, de alguma forma, o potencial des- tas áreas é porque existem condicionantes geotéc-
trutivo dos eventos através de uma avaliação nicos fortes, sem dúvida, e eles devem ser identifi-
qualitativa do perigo. A percepção do perigo cados e divulgados. À classe geológico-geotécnica
(probabilidade de ocorrência de um tipo específi- cabe fazer parte da discussão sobre a urbanização
co de movimento que cause dano, com velocidade com o melhor do nosso conhecimento. Entretanto,
e volume definidos) ou mesmo do risco (a proba- há outros fatores que intervêm no complexo pro-
bilidade de perda financeira associada ao even- cesso decisório que leva eventualmente ao tipo de
to, dentro de um período de tempo), mesmo que uso da região, e eles são legítimos e podem ou não
entendidos qualitativamente, geralmente coman- levar a boas soluções.
dam as decisões das populações medianamente Por último, é preciso realçar o papel edu-
educadas e informadas. Portanto, associados aos cativo que o próprio processo de elaboração das
fenômenos, é preciso ter em conta uma ordem de Cartas Geotécnicas pode ter na Sociedade (popu-
grandeza dos perigos (estimativa das conseqüên- lação, técnicos municipais, Poder Público, empre-
cias) associados aos eventos (frequência de ocor- sários), e isto deve ser incentivado, pois são estes
rência, tamanho e velocidade dos movimentos). os principais entes de transformação e ocupação
Isto permitirá aos interessados (incorporadores, do meio físico. A pequena experiência no municí-
população, Poder Público) uma avaliação mais pio de Igrejinha serviu de base para o argumento
realista dos riscos associados a uma urbanização neste artigo, mas há muitos exemplos desse pro-
e as necessidades de investimentos em projeto/ cesso de aprendizado, muitas vezes não formal-
obras para garantir a segurança. mente relatados.
Embora esta indicação do perigo apresente
grandes dificuldades de avaliação às equipes en-
Agradecimentos
volvidas no mapeamento, em última análise são
estes fatores que acabam sendo considerados pela Ao grupo de pesquisadores e alunos do LAGEO-
Sociedade e os atores interessados (população, tec/UFRGS, aos colegas do projeto de Igrejinha/

19
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

RS e CEPED-RS, a vários colegas e diretores da Fell R., Corominas J., Bonnard C., Cascini L., Leroi
CPRM por discussões e debates, à CAPES e CNPq E., Savage W.Z. 2008. Guidelines for landslide
por apoio a projetos de pesquisa e bolsa ao pri- susceptibility, hazard and risk zoning for land
meiro autor. use planning. Engineering Geology, 102, pp. 83-
98, Joint Technical Committee on Landslides and
Engineered Slopes (JTC-1). Disponível em http://
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cartografia geotécnica e diretrizes para medidas de elaboração de cartas geotécnicas de aptidão à
intervenção de áreas sujeitas a desastres naturais. urbanização frente aos desastres naturais. 68 pag.,
Coordenação Geral e Organização: Coutinho,R.Q.. il. 210x297mm inclui ilustrações ISBN: 978-85-
Ministério das Cidades – Programas Urbanos, 917793-0-7. Disponível em http://www.abge.org.
Cartografia Geotécnica/ UFPe – GEGEP/ br/uploads/imgfck/
DECivil. Documento Técnico. Disponível em:
http://www.cidades.gov.br/ index.php/carta-
geotecnica/5233.html.

20
DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO PARA
DELIMITAÇÃO DE BACIAS DE DRENAGEM
SUSCETÍVEIS A CORRIDA DE MASSA E
ENXURRADA EM REGIÕES SERRANAS
METHOD TO DEFINE DRAINAGE BASINS SUSCEPTIBLE TO DEBRIS FLOW/FLASH
FLOOD AND FLASH FLOOD (OR HYPERCONCENTRATED FLOW) IN HILLY AREAS

ALESSANDRA CRISTINA CORSI


Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, São Paulo, São Paulo, Brasil
E-mail: accorsi@ipt.br

MARCELO FISHER GRAMANI


Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, São Paulo, São Paulo, Brasil
E-mail: mgramani@ipt.br

AGOSTINHO TADASHI OGURA


Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, São Paulo, São Paulo, Brasil
E-mail: atogura@ipt.br

RESUMO ABSTRACT

O método adotado para delimitação de bacias de dre- The method adopted for delimitation of watersheds
nagem com alta suscetibilidade a geração de corrida de with high susceptibility to debris flow and flash flood
massa e enxurrada baseou-se em critérios morfométri- was based on morphometric parameters in appropriate
cos adequados à escala de análise. A análise das bacias scale analysis. The watershed analysis was divided into
de drenagem foi dividida em duas etapas, ambas em two steps, both in Geographic Information System. In
ambiente de Sistema de Informações Geográficas. Na the first step performs an analysis of the relief patterns
primeira etapa, realiza-se uma análise dos padrões de
and the susceptibility mass movements’ maps. If the
relevo e da carta de suscetibilidade a movimentos gra-
vitacionais de massa. Se as premissas são aceitas (re- premises are accepted (mountain relief and high
levo serrano e mar de morros, e alta suscetibilidade) susceptibility) follows for the second stage. The second
segue-se para a segunda etapa. A segunda etapa con- step is the definition and analysis of watersheds which
siste na delimitação e análise das bacias de drenagem is generated from the digital terrain model with getting
geradas a partir do modelo digital de terreno com a the area and amplitude of these basins. The basins with
obtenção da área e amplitude dessas bacias. As bacias range greater than 300 m are classified as flash flood
com amplitude maior que 300 m são classificadas como and the range with greater than 500 m performs the
de enxurrada e para as com amplitude maior que 500 calculation of Melton Index. If the Melton index is
m efetua-se o cálculo do Índice de Melton. Se o Índice greater than 0.3 these basins are classified as debris
de Melton for maior que 0,3 estas bacias são classifi-
flow otherwise as flash flood. The method was applied
cadas como de corrida de massa caso contrário como
de enxurrada. O método foi aplicado em 111 municí- in 111 the municipalities in Espiríto Santos, Minas
pios distribuídos nos estados do Espirito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo State. Those
Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Desses, 59 59 municipalities have drainage basin susceptible to
possuem bacias de drenagem suscetíveis à geração de deflagrate debris flow/flash flood and 21 with flash
corrida de massa/enxurrada e 21 apenas de enxurra- flood. The use of Geographic Information System
da. A utilização do Sistema de Informação Geográfica proved to be a useful tool as it allows a wide range of
mostrou-se uma ferramenta útil, pois permite uma va- analyzes making the agile procedure.
riada gama de análises tornando o procedimento ágil.
Keywords: Debris flow; Flash flood; Morphometric
Palavras-chave: Corrida de Massa; Enxurrada, Parâme- Parameter; Drainage Basin; Melton Index
tro Morfométrico; Bacia de drenagem; Indice de Melton

21
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

1 INTRODUÇÃO o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado


de São Paulo (IPT) para o desenvolvimento de
Os desastres naturais ocorridos nos últimos metodologia para elaboração de cartas de susce-
anos em diferentes locais no sul e sudeste do Bra- tibilidade a movimentos de massa e inundação.
sil, associados a eventos pluviométricos intensos, Os processos do meio físico analisados compreen-
atestam a necessidade do desenvolvimento de dem os principais tipos de movimentos gravita-
métodos para identificação de bacias sujeitas a ge- cionais de massa (deslizamentos; rastejos; quedas,
ração de corrida de massa e enxurrada. tombamentos, desplacamentos e rolamentos de
Nas regiões serranas o conhecimento da di- rochas; e corridas de massa) e de processos hidro-
nâmica dos processos hidrogeomorfológicos (flash lógicos (inundações e enxurradas), os quais estão
flood e corrida de massa) é de suma importância frequentemente associados a desastres naturais
para estabelecer as estratégias adequadas para o ocorridos no País. A premissa para a realização
gerenciamento do risco. A análise das bacias de do mapeamento de áreas suscetíveis compreende
drenagem para a identificação do tipo de fluxo a necessidade de elaboração de um modelo bási-
que ocorrem nas mesmas faz-se necessário para co aplicável em nível nacional, com as adaptações
definir as medidas de mitigação adequadas. Exis- necessárias a cada região, bem como em condições
tem inúmeros trabalhos que diferenciam corridas de propiciar a comparabilidade entre os municí-
de massa (debris flow) de “debris flood” ou fluxo hi- pios mapeados, de modo a subsidiar a formulação
perconcentrado (Costa 1988, Wilford et. al. 2004, e implantação de políticas públicas municipais,
Jakob & Hungr 2005, Pierson 2005). Para tanto uti- estaduais e federais voltadas à prevenção de de-
lizaram as variáveis morfométricas para esta dife- sastres naturais (Bitar 2014).
renciação (Kostaschuck et. al. 1986, Jackson et. al. O objetivo deste trabalho é apresentar e
1987, De Scally & Owens 2004, Wilford et. al. 2004, discutir aspectos do método desenvolvido para
Rowbotham et. al. 2005, Welsh & Davis 2010, Che- delimitação de bacias com alto potencial para ge-
valier et. al. 2013). Parâmetros morfométricos tais rar corridas de massa/enxurrada e enxurradas
como, área da bacia, comprimento da bacia e Ín- em escala 1:25.000, utilizando parâmetros morfo-
dice de Melton foram identificados por vários au- métricos. Este modelo pode ser aplicado em áreas
tores como confiáveis para a diferenciação entre com poucas informações sobre o meio físico, onde
bacias com predomínio de corridas de massa das o modelo digital de elevação esteja disponível.
que não predominam corridas de massa (Jackson Outro ponto foi produzir um resultado de fácil
et. al. 1987, Bovis & Jakob 1999, Wilford et. al. compreensão por não experts na área.
2004, Welsh 2008, Welsh & Davis 2010).
A corrida de massa é um processo que pode
ocorrer em vários locais, das zonas polares às zo- 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE
nas tropicais. Quando ocorrem em áreas monta- PROCESSOS HIDROGEOMORFOLÓGICOS
nhosas isoladas, raramente causam desastre, mas
A identificação de processos hidrogeomorfo-
em áreas densamente povoadas, no sopé de mon-
lógicos (inundação, enxurrada ou corrida de mas-
tanha, promove destruição. As perdas monetárias
sa) que atuam em uma dada bacia de drenagem é
em função desses eventos são de aproximada-
importante, em razão das consequências associa-
mente 5% do total de perdas por desastres natu-
das a cada processo.
rais no mundo, sem contar com a perda de vidas
Wilford et. al. (2004) distingue os conceitos
(Takahashi, 1981). A ocorrência e a recorrência de
de inundação, “debris floods” e corrida de massa,
corrida de massa deixam traços na paisagem que
baseado na concentração de sedimentos na água.
permitem a delimitação das áreas de ocorrência
A concentração de sedimento em um evento de
e de atingimento das mesmas. Geralmente ocor-
“debris floods” varia de 20 a 47% e para a inunda-
rem em áreas montanhosas e com alta declividade
ção é menor que 20%.
(Chevalier et. al. 2013).
Os fluxos de alta descarga (muitas vezes in-
Em 2013 foi estabelecida uma parceria técni-
discriminadamente referidos como “flash flood”)
ca entre o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e
em bacias com área de contribuição < 20 km², em

22
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas

terrenos com inclinação alta, são fenômenos que sedimentos finos que ocorrem em drenagens de
podem envolver misturas de água e sedimento em encostas serranas. O aumento no nível de água
proporção variada. A concentração de sedimentos da drenagem favorece a remoção de materiais do
em suspenção desempenha um papel importante pé das encostas, porém sua capacidade erosiva é
no comportamento do fluxo. Três processos bási- menor do que os debris flow. As corridas de massa
cos de fluxos são reconhecidos nessas drenagens (debris flow) caracterizam-se por uma movimen-
(Pierson 2005), conforme segue: tação na forma de escoamento viscoso, as quais
■■ Fluxo de água (Water flow): a quantidade envolvem um fluido geralmente denso, composto
de sedimento em suspensão é insuficiente por uma mistura de blocos de rocha, solo (cascalho,
para afetar o comportamento do fluxo (5 a areia e lama), material orgânico (galhos e troncos
10% de sedimento/volume). As proprieda- de árvores) e quantidades variáveis de água. Du-
des newtonianas do fluxo são preservadas. rante o início e a fase de aceleração, os debris flows
A água nesse caso de uma aparência lamo- são extremamente erosivos, e geram grandes forças
sa, mas a maior parte dos sedimentos em
de impacto. Na sua desaceleração e consequente
suspensão são transportados próximos ao
deposição, os debris flows inundam e cobrem áreas
fundo, podendo incluir material até tamanho
com grande volume de material e com espessuras
“boulder”;
variáveis. Essas corridas de massa são considera-
■■ Fluxos hiperconcentrados (Hyperconcentrated
Flow): a quantidade de sedimento é suficien- das como um dos mais expressivos mecanismos
te para alterar as propriedades do fluído e para transportar materiais provindos de escorrega-
os mecanismos de transporte de sedimentos mentos nas encostas, em termos de volume mobili-
(40 – 60% de sedimento/volume). Volumes zado, velocidade e distância atingida.
significativos de areias são transportados Segundo Hungr (2005) as corridas de detritos
em suspensão ao longo da coluna de água, podem ser definidas como:
apesar da manutenção de cargas elevadas de ■■ Corrida de Detritos (Debris Flow): movimento
sedimentos dependerem da velocidade e tur- rápido a extremamente rápido de detritos sa-
bulência do fluxo. Esse tipo de fluxo pode ser turados, não plásticos, em locais confinados
altamente erosivo; e ou não, com índice de Plasticidade (IP) infe-
■■ Debris flow: quantidade de água e sedimento rior a 5% na fração solo;
(> 65% de sedimento) capaz de reter partí- ■■ Corrida de Lama (Mud Flow): movimento rá-
culas do tamanho de cascalho em suspensão pido a extremamente rápido de lama (mate-
quando fluindo lentamente ou parado. Pode rial fino) saturada, em locais confinados ou
atingir altas velocidades, transportando blo- não, com muita água envolvida e alta plasti-
cos de dimensão variada em suspensão, e cidade;
causando danos pelo impacto ou soterra- ■■ Fluxo de Detritos (Debris Flood): movimento
mento. Em canais de declividade baixa e em rápido, a partir do movimento de água, com
elevada quantidade de detritos, em local con-
leques aluviais o fluxo pode ser lento, mas
finado ou não; e
pode entulhar rapidamento o canal, desviar
■■ Avalanche de Detritos (Debris Avalanche):
cursos d’água e destruir veículos, edifícios e
movimento rápido ou extremamente rápido
infraestrutura.
de material superficial, saturado ou parcial-
Segundo Gramani (2001) as corridas de
mente saturado, em local confinado ou não.
massa ou de detritos (debris flow) constituem-se
Takahashi (2007) propõe uma classificação, a
em um dos mais expressivos tipos de movimen-
partir de eventos chineses e japoneses, na qual as
tos gravitacionais de massa, em termos de vo-
lume de material mobilizado, raio de alcance e corridas de detritos são diferenciadas pela nature-
potencial destrutivo. O termo debris flow é uti- za da massa escorregada:
lizado para caracterizar processos de corrida de ■■ Corrida de Detritos Grosseiros (Stony-type
detritos compostos por água com solos finos, Debris Flow): fluxo com presença elevada de
cascalhos, blocos de rochas e troncos de árvo- grandes blocos rochosos e materiais mais
res. Já o debris flood é definido como um fluxo grossos;
■■ Fluxo Turbulento de Lama (Turbulent-mu-
repentino e temporário de água com alto teor de
ddy-type Debris Flow): fluxo proveniente de

23
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

erupções vulcânicas, quando há deposição Frattini 2004, Griffiths et. al. 2004, Kostaschuk
das cinzas em finas camadas de fácil erosão e 1986, Patton & Baker 1976, Bertrand et. al. 2013,
transporte por meio de chuva; e entre outros).
■■ Corrida de Detritos Viscosos (Viscous Debris No Brasil, mapas de suscetibilidade a movi-
Flow): fluxo característico de depósitos em lu- mentos de massa e corridas de detritos também
gares com atividade intermitente. Atividades foram desenvolvidos considerando parâmetros
constantes levam a uma suavização do relevo
morfométricos ou modelagem matemática, assim
e o depósito atinge o equilíbrio.
temos os trabalhos de Avelar et. al. (2003), Alvara-
Jakob (2010), por sua vez, prefere uma defini-
do (2006), Coelho Neto et. al. (2007), Lopes (2006),
ção hibrida para debris flow a partir das definições
Lopes & Reidel (2007); Lopes et. al. (2007), Gomes
de Hungr et. al. (2005) e Iverson (2009) que definem
et. al. (2008), Monguilhott (2008), Strieder et. al.
o processo como “um fluxo de minerais não plás-
(2008), Lacerda (2012), Silveira et. al. (2012), Vana-
ticos, saturados, e algumas vezes com detritos or-
côr & Rolim (2012), Arruda Junior & Lopes (2013),
gânicos, em canais íngremes, que incluem 50-70 %
Coelho Neto et. al. (2013), Gomes et. al. (2013) en-
de grãos sólidos por volume, que podem atingir
tre outros.
velocidades de 10 m/s e podem variam entre 10 e
Segundo uma gama de autores os processos
109 m³ em volume.
de corrida de massa desenvolvem-se em áreas
montanhosas e com alta declividade (Wilford
2 Método PARA delimitação de bacias 2004, Jakob & Hungr 2005, Welsh & Davis 2010,
De dRENAGEM com alta suscetibilidade Chevalier et. al. 2013).
Os movimentos gravitacionais de massa
A ocorrência desses processos é favorecida formam-se geralmente nas cabeceiras de drena-
por um conjunto de condicionantes do meio físico gens, primárias e/ou secundárias, associadas à
que permitem a sua formação e o seu desenvol- concentração de sedimentos, mais água, numa
vimento. Inicialmente, reconhecem-se aspectos quantidade crítica para o seu desenvolvimento
relacionados às condições geológicas, geomorfo- no canal. Jackson et. al. (1987) adota para análi-
lógicas, hidráulicas e climáticas, que contribuem se morfométrica, bacias de 1ª e 2ª ordem. Dentro
simultaneamente para a deflagração e continuida- desse contexto optou-se por adotar as bacias de
de dos processos. Alguns fatores ou condições es- 1ª, 2ª e 3ª ordem seguindo a classificação proposta
peciais tendem a ser favoráveis para a ocorrência por Strahler (1957) para a rede de drenagem.
das corridas de massa, destacando-se: Apesar da corrida de massa ser gerada por vá-
■■ Geológico: abundante fonte de partículas e rios mecanismos, em diferentes países, envolven-
detritos de solos e/ou rocha inconsolidados do fluxos piroclásticos e derretimento de geleiras
(ou passíveis de mobilização); ou por fluxos abruptos de água com sedimentos,
■■ Geomorfológico: encostas íngremes (geral-
predomina mobilização a partir de deslizamen-
mente acima de 25°);
tos. Os deslizamentos podem ser completamente
■■ Hidrológico: fonte abundante de água atin-
gindo os materiais suscetíveis à escorrega- ou parcialmente mobilizados para a forma de cor-
mentos (hidrodinâmica: chuvas, degelo, ridas de massa, e em condições especificas devem
rompimento de lagos, outros); e existir para que essa mobilização ocorra (Iverson,
■■ Vegetação: esparsa. Reid, LaHusen, 1997).
Várias pesquisas foram desenvolvidas nos A região montanhosa do Rio de Janeiro é al-
últimos anos para a identificação de áreas susce- tamente suscetível a deslizamentos e fluxo de de-
tíveis as corridas de massa utilizando métodos tritos. Em função das interações locais de vários
quantitativos, tais como, regressão logística e fatores que controlam os processos, as ocorrências
análise discriminante em adição ao uso de Siste- não são espacialmente uniformes. Coelho Neto et.
ma de Informações Geográficas e sensoriamento al. (2010) apresentou uma metodologia para sub-
remoto (De Scally & Owens 2004, De Scally et. al. divisões morfométricas do terreno com base em
2010, Wilford et. al. 2004, Rowbotham et. al. 2005, parâmetros hidrogeomorfológicos. Os parâme-
Chen & Yu 2011, Santangelo et. al. 2012, Crosta & tros incluem a densidade hollow (Hd) e densidade

24
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas

de drenagem de Strahler (Dd) multiplicado pelo básicos para seleção e definição de critérios e
gradiente da bacia (Gb) gerando o Índice de Efi- parâmetros de análise em terrenos naturais sus-
ciência de Drenagem (DEI). Os polígonos obtidos cetíveis aos processos de corridas de massa e de
foram superpostos aos mapas de declividade e aos enxurradas: bacias hidrográficas onde ocorrem
ângulos de inclinação crítica produzindo o mapa corridas de massa apresentam atributos físicos
hidrogeomorfológico. Posteriormente este mapa que possibilitam também a geração de enxurra-
foi integrado com o mapa geológico-geotécnico, das; por outro lado, nem todas as bacias hidro-
de vegetação e de uso da terra gerando o mapa de gráficas e respectivos cursos d´água onde podem
suscetibilidade na escala 1:10.000. ocorrer enxurradas têm atributos que possam
Rogelis & Werner (2014) desenvolveram um gerar também corridas de massa; e corridas de
indicador de suscetibilidade composto por dados massa ocorrem necessariamente em bacias que
morfométricos e uso e ocupação do solo. O méto- compreendem terrenos de alta suscetibilidade a
do foi aplicado em 106 bacias localizadas nas áreas deslizamentos (Bitar 2014).
montanhosas periurbanas de Bogotá (Colômbia). Além dos autores acima citados também fo-
As analises mostraram que os parâmetros morfo- ram considerados, para a obtenção de critérios e
métricos identificam as bacias com alto potencial parâmetros de análise, os trabalhos de Gramani
a ocorrência de debris flow, enquanto os dados de & Kanji (2000), Ogura & Gramani (2000), Gramani
uso e ocupação podem reduzir as suscetibilidades & Kanji (2001), Kanji & Gramani (2001), Gramani
para as mesmas bacias. A combinação de ambos (2001) e, Gramani & Augusto Filho (2004).
os dados proporcionou resultados, mas confiáveis Os parâmetros considerados neste método
para a área de estudo. para corrida de massa compreendem:
O Índicie de Melton foi considerado pela ■■ Unidades de relevo serrano;
relação morfométrica entre a amplitude e a área ■■ Terrenos com alta suscetibilidade a desliza-
da bacia, sendo um indicador de fácil utilização e mentos;
que permite diferenciar entre bacias com susceti- ■■ Amplitude > 500 metros para corridas de
bilidade à geração de corrida de massa daquelas massa (R);
que geram enxurradas. Este índice foi utilizado ■■ Bacias de drenagem de 1ª, 2ª e 3ª com Área
primeiramente por Jackson et. al. (1987) para dife- < 10 km²; e
renciar fluxos de detritos de inundação em bacias ■■ Índice de Melton (M) que expressa a rela-
de drenagem nas montanhas costeiras do sudoes- ção entre amplitude e área da bacia, onde
te da Columbia Britânica, no Canadá. Obtendo M = Amplitude / raiz quadrada da Área.
Índices para bacias de inundação < 0,3 e para cor- Os pressupostos acima também são válidos
rida de massa >0,3. Por outro lado, Bovis & Jakob para as enxurradas em ambiente natural. No pre-
(1999) obtiveram um Índice de Melton > 0,53 para sente trabalho a definição utilizada foi: enchen-
bacias de drenagem com fluxo de detritos. Segun- te ou inundação brusca e de curta duração, de-
do Wilford et. al. (2004), o Índice de Melton mos- senvolvida em bacias de drenagem restritas no
trou-se aplicável para separar bacias de drenagem contexto de relevo serrano ou morros altos, por
com potencial de gerar corrida de massa daquelas ocasião de chuvas intensas. Caracteriza-se por
suscetíveis apenas aos processos de inundação. alta energia de transporte e capacidade de arras-
O Índice de Melton < 0,3 bacias com potencial de te, com elevado potencial de impacto destruti-
inundação; 0,3 a 0,6 potencial de “debris flood”; e vo. Pode induzir a instabilização e solapamento
>0,6 corridas de detritos. Adotou-se utilizar o Ín- de taludes marginais ao longo do curso d’água.
dice de Melton > 0,3 por questões de segurança, Os parâmetros considerados neste método para
sem diferenciar entre os processos de debris flood e enxurrada compreendem:
corrida de detrito. ■■ Unidades de relevo serrano e/ou de morros
Dessa maneira, com base no levantamento altos;
bibliográfico e no conhecimento da equipe de pes- ■■ Amplitude > 300 metros;
quisadores do IPT, adotaram-se para este proce- ■■ Bacias de drenagem de 1ª, 2ª e 3ª com Área
dimento metodológico os seguintes pressupostos < 10 km².

25
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

As Figuras 1 e 2 apresentam o fluxograma escalas 1:100.000 e 1:50.000. Para os estado do Pa-


adotado para a delimitação das bacias suscetíveis raná as bases forma fornecidas pela SUDERHA,
à geração de corrida de massa e enxurrada em AGRITEC, PARANACIDADE e IBGE nas escalas
ambiente de Sistema de Informação Geográfica. 1:50.000 , 1:10.000 e 1:2.000.

Figura 1 – Fluxograma para análise dos condicionantes bá-


sicos e delimitação de bacias de drenagem (Fonte: CORSI et.
al, 2015 a e b).

A aplicação do método de delimitação de


bacias com alto potencial para gerar corridas de
massa e enxurrada está diretamente ligada ao mo-
delo digital de elevação (MDE). Os MDEs foram
obtidos juntos aos órgãos responsáveis em cada
estado. O modelo digital de terreno para o esta-
do de Santa Catarina foi fornecido pela Secretaria
de Desenvolvimento Sustentável na escala 1:2000.
Para o estado de São Paulo utilizou-se os mode-
los digitais de superfície fornecido pela Empre-
sa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. Figura 2 – Fluxograma para delimitação e análise das bacias
de drenagem, utilizando o ArcGis (Fonte: Corsi et. al., 2015
(EMPLASA) na escala 1:25.000 e modelos digitais a e b).
de terreno gerados a partir dos dados planialtimé-
tricos fornecidos pelos municípios. Para os esta-
dos de Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná os 3 RESULTADO E DISCUSSÃO
modelos digitais de terreno forma gerados a par-
O método proposto foi aplicado em 111 mu-
tir dos dados planialtimétricos. Minas Gerais as
nicípios dos estados do Espírito Santo, Minas Ge-
bases foram disponibilizadas pela Geobases na es-
rais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. A Figura
cala 1:50.000. Os dados do estado de Minas Gerais
3 apresenta a localização dos municípios analisa-
os dados foram fornecidos pela Funcate/ IEF nas
dos no contexto do presente trabalho.

26
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas

Figura 3 – Localização dos municípios mapeados.

Dentre os 111 municípios mapeados, 59 pos- possui o maior número de municípios com bacias
suem bacias de drenagem com alta suscetibilida- suscetíveis a corrida de massa/enxurrada e de en-
de à geração de corrida de massa/enxurrada e 23 xurrada, dentro do universo de análise considera-
possuem de enxurrada, conforme pode ser obser- do neste trabalho.
vado nas Tabelas 1 e 2. O estado de Santa Catarina

Tabela 1 – Relação dos municípios com bacias suscetíveis a geração de corrida de massa/enxurrada, dentre os
111 mapeados.

Estado Município
Espírito Santo Alegre, Cachoeira do Itapemirim, Cariacica, Rio Novo do Sul, Santa Leopoldina, Vargem Alta, Vila Velha
Minas Gerais Nova Lima, Sabará
Paraná São José dos Pinhais
Alfredo Wagner, Anitápolis, Antonio Carlos, Blumenau, Botuverá, Brusque, Camboriú, Corupá, Florianópolis,
Garuva, Gaspar, Ilhota, Itapema, Jacinto Machado, Jaraguá do Sul, Joinvile, José Boiteux, Luiz Alves, Nova Trento,
Santa Catarina
Nova Veneza, Palhoça, Presidente Getúlio, Rio do Campo, Rio Fortuna, Rodeio, Timbé do Sul, Timbó, Urubici,
Vidal Ramos
Cajati, Campos do Jordão, Cubatão, Cunha, Eldorado, Guaratinguetá, Guarulhos, Iguape, Ilhabela, Jacupiranga,
São Paulo Peruíbe, Praia Grande, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São José dos Campos, São Luis do Paraitinga,
São Paulo, São Vicente, Ubatuba

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Tabela 2 – Relação dos municípios com bacias de dre- método. Na área rural de Joinville (SC) em 2008
nagem suscetíveis a geração de enxurrada, dentre os ocorreu um deslizamento que evoluiu para uma
111 mapeados.
corrida de massa atingindo moradias (Figuras 7,
8 e 9). No município de Cubatão em 1994 ocorreu
Estado Município
uma corrida de massa na bacia de drenagem do
Espirito Santo Marechal Floriano
ribeirão das Pedras, situada a montante da Refi-
Minas Gerais Belo Horizonte, Betim e Santa Luzia
naria Presidente Bernardes (Figuras 10, 11 e 12).
Paraná Curitiba, Rio Branco do Sul e União da Vitória
Balneário Camboriú, Itajaí, Ituporanga, Lages,
Santa Catarina
Navegantes, Ponte Alta, São José e Taió Tabela 3 – Relação dos registros de ocorrência de corridas
Caieiras, Campo Limpo Paulista, Guarujá, Jun- de massa (Modificado de Motta, 2014 e Gramani, 2015)
São Paulo diaí, Mairiporã, Pariquera-Açu, Registro e San-
tana do Parnaíba
Local UF Data
Região de Leopoldina MG 1948
Caraguatatuba SP 1967
O Índice de Melton > 0,3 adotado no método
Serra das Araras RJ 1967
foi eficaz para a distinção entre bacias de drena-
Urussanga – Serra de Tubarão SC 1974
gem com alta suscetibilidade à geração de corrida
Laguna – Serra de Tubarão SC 1974
de massa/enxurrada das que geram apenas en-
Tubarão SC 1974
xurrada, em diferentes ambientes geológicos. No
Serra de Maranguape CE 1975
entanto, deve-se ressaltar que a ocorrência desses
Cubatão – Grota Funda SP 1975-1976
fenômenos está diretamente relacionada com a in-
Cubatão – Rio Cachoeira SP 1976
tensidade da chuva e a disponibilidade de mate- Cubatão – Braço Norte SP 1976
rial nas encostas e nos canais de drenagem. O mé- Lavrinhas SP 1986
todo não fornece informações sobre a frequência e Petrópolis RJ 1988
a magnitude dos eventos nas bacias de drenagem Cubatão – Córrego das Pedras (Refina-
SP 1994
delimitadas, sendo necessários estudos detalha- ria Presidente Bernardes)
dos para obtenção dessas informações. Timbé do Sul e Jacinto Machado SC 1995
Os eventos de corridas de massa registrados Cubatão – Córrego das Pedras SP 1996
na literatura ocorreram principalmente nos esta- Bacia do rio Quitete RJ 1996

dos de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Bacia do rio Papagaio RJ 1996

Minas Gerais e Ceará (Tabela 03). Rio de Janeiro – Jacarepaguá – Pau da


RJ 1996
Fome
O universo dos municipios mapeados no
Via Anchieta km 42 SP 1999
presente trabalho (Tabela 01) quando comparados
Região de Lavrinhas SP 2000
com os dados históricos (Tabela 03), demostra que Complexo do Bauú (municípios de
2008
o método aplicado foi eficaz na identificação das Luís Alves, Gaspar e Ilhota)
bacias com potencial para gerar o processo, uma Região Serrana do Rio de Janeiro RJ 2011
vez que nesses municipios com ocorrencia preté- Antonina e Paranaguá PR 2011
ritas as mesmas foram delimitadas, sendo estes no Mirim Doce SC 2011
estado de São Paulo: Cubatão e São Bernardo do Cubatão – afluentes do rio Pilões SP 2013
Campo; e de Santa Catarina: Timbé do Sul, Jacinto São Bernardo do Campo – TA 10/11 -
SP 2013
Imigrantes
Machado, Luiz Alves, Ilhota e Gaspar.
Itaoca – córrego Guarda-Mão SP 2014
No trabalho de campo foi possível identificar
o sucesso do método na delimitação de bacias de
drenagem com ocorrência de corrida de massa/ Análises em ambiente de Sistema de Infor-
enxurrada e de enxurrada constatadas nos mu- mações Geográficas de dados topográficos geram
nicípios de Corupá (SC), Joinville (SC) e Cuba- rapidamente os parâmetros morfométricos neces-
tão (SP). Em 2010 ocorreu um fluxo de detritos sários para a aplicação do método. No entanto,
na área rural do município de Corupá (SC), sem a qualidade do modelo digital de elevação tem
danos ou vitimas fatais (Figuras 4, 5 e 6). A bacia forte influência na qualidade das análises, sendo
de drenagem palco do evento foi delimitada pelo ideal o input de modelo digital de terreno onde os

28
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas

efeitos da vegetação e de construções não estejam (MDSs) resultaram na obtenção de um produto


presentes. Neste trabalho a dificuldade encontra- com muitas incertezas, não inviabilizando a apli-
da foi exatamente ligada à qualidade dos modelos cação do método, porém, o processo de validação
digitais fornecidos pelos órgãos responsáveis de tornou-se mais trabalhoso.
cada estado. Os Modelos Digitais de Superfície

Figura 4 – Bacia de drenagem com alta suscetibilidade à geração de corrida de massa/enxurrada e enxurrada delimitada para
o município de Corupá (SC). Esse município registrou a ocorrência de um fluxo de detritos em 2010 (Fonte: IPT).

Figura 5 – Observar a amplitude do relevo e o canal de pas- Figura 6 – Notar o tamanho dos blocos mobilizados no fluxo
sagem do fluxo de detritos (Fonte: IPT). de detritos, no município de Corupá (Fonte: IPT).

29
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Figura 7 – Bacia de drenagem com alta suscetibilidade à geração de corrida de massa/enxurrada e enxurrada delimitada para
o município de Joinville (SC). Esse município registrou a ocorrência de um fluxo de detritos em 2008 (Fonte: IPT).

Figura 8 – Deslizamento em encosta com declividade alta Figura 9 – Área de passagem do fluxo de detritos que ocorreu
que evoluiu para um fluxo de detritos em 2008 no município em 2008 no município de Joinville (SC) (Fonte: IPT).
de Joinville (SC) (Fonte: IPT).

30
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas

Figura 10 – Bacia de drenagem com alta suscetibilidade à geração de corrida de massa/enxurrada e enxurrada delimitada para o
município de Cubatão (SP). Esse município registrou a ocorrência de um fluxo de detritos em 1994 (Fonte: IPT).

Figura 11 – Notar o tamanho dos blocos mobilizados na cor- Figura 12 – Ao fundo cicatrizes nas encostas da bacia de dre-
rida de massa ocorrida na bacia de drenagem do ribeirão das nagem do ribeirão das Pedras. Notar os blocos e troncos de
Pedras, no município de Cubatão (Fonte: IPT). árvores (Fonte: IPT).

31
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

4 ConclusÃO ocorrência de reflorestamento ou mata de grande


porte os trabalhos pós-campo são extremamente
Os perigos hidrogeomorfológicos devem ser necessários.
identificados para o desenvolvimento de estra- Cabe ressaltar que trabalhos de campo espe-
tégias de gestão adequadas. Para tanto, foi de- cíficos para estes municípios com bacias suscetí-
senvolvido em ambiente SIG um método simples veis à geração de corridas de massa/enxurrada e
para delimitação de bacias de drenagem suscetí- enxurrada são necessários, pois pelo método utili-
veis à geração de corrida de massa/enxurrada e zado delimita-se somente a área de geração e não
enxurrada. O método utiliza o Índice de Melton a trajetória e o alcance.
> 0,3 para distinção entre bacias de drenagem
com corrida de massa/enxurrada das de enxur-
rada e dados morfométricos das bacias como am- AGRADECIMENTOS
plitude e área.
A modelagem morfométrica para delimi- Os autores agradecem a CPRM e ao IPT pelo
tação de bacias de drenagem suscetíveis à gera- suporte ao trabalho, bem como aos técnicos das
ção de corrida de massa/enxurrada e enxurrada Defesas Civis dos municípios visitados pelo apoio
mostrou-se eficaz e passível de aplicação em todo no trabalho de campo.
o território nacional, uma vez que considera as-
pectos de morfometria dos terrenos. Quando o Referencias
método foi aplicado em bacias de drenagem com
histórico de ocorrências essas foram classificadas Alvarado L. A. S. 2006. “Simulação bidimensional
com alta suscetibilidade à geração de corrida de de corridas de detritos usando o método de
massa/enxurrada e enxurrada, corroborando Elementos Discretos”. Dissertação de Mestrado,
para a aplicabilidade do método. Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia
O método foi aplicado em 111 municípios, Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC –
destes 59 possuem bacias de drenagem suscetíveis RIO), 154p.
à geração de corridas de massa/enxurrada e 21 à
enxurrada. Dentre os estados analisados, o de San- Arruda Junior E.R.; LOPES E.S.S. 2013. Análise
ta Catarina destaca-se pela maior número de muni- morfométrica em sub-bacias hidrográficas para
cípios com alta suscetibilidade a ocorrência de cor- monitoramento do risco potencial a corridas de
rida de massa/enxurrada e enxurrada em função massa (Debris flow) na região serrana do Rio de
da localização dos mesmos em regiões serranas. Janeiro. In: 14º Congresso Brasileiro de Geologia
Nos trabalhos de campo efetuados nos muni- de Engenharia e Ambiental, Anais, 2013. 10p.
cípios mapeados foi possível identificar depósitos
de eventos pretéritos, coincidentes com as bacias Augusto Filho O., Magalhães F.S., GRAMANI,
de drenagem delimitadas. Além disso, relatos M.F. 2005. Mass movements susceptibility map
dos moradores e dos técnicos das Defesas Civis of a highway system using GIS technology: a
municipais contribuíram para aumentar a confia- case study in Brazil. In: Geoline, 2005, Lyon.
bilidade do método. No entanto, como o método Proceedings. Lyon: BRGM.
adotado delimita bacias com alta suscetibilidade,
não se pode descartar a possibilidade de um dado Avelar A.S., Lacerda W.A., Coelho Netto A.L.
evento ocorrer em bacias de média e baixa susce- A2002. Análise de susceptibilidade a movimentos
tibilidade, pois a chuva, que é o desencadeador de massa no Maciço da Tijuca (RJ) utilizando
dos eventos, não foi considerada diretamente na SIG. In: Conferência Brasileira Sobre Estabilidade
proposta metodológica. de Encostas - COBRAE III, 2002, Rio de Janeiro.
Outro ponto que merece destaque está ligado Anais, p. 133-140.
à qualidade do modelo digital. Quando os mode-
los refletem o terreno os trabalhos de escritório Bertrand M., Liébault F., and Piégay H.2013.
pós-campo são praticamente nulos. Porém quando Debris-flow susceptibility of upland catchments,
o modelo digital é de elevação nas bacias com Nat. Hazards, 67: 497–511.

32
Desenvolvimento de método para delimitação de bacias de drenagem suscetíveis a corrida de massa e enxurrada em regiões serranas

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

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35
INTEGRAÇÃO DE MAPEAMENTO DE RISCO
E ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS NO
MONITORAMENTO E ALERTA DE RISCO DE
ESCORREGAMENTOS PLANARES NO LITORAL
NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
COMBINATION OF RISK MAPPING AND RAIN INDEX FOR PLANAR LANDSLIDES
RISK MONITORING AND WARNING IN NORTH COAST OF STATE OF SAO PAULO

CLÁUDIO JOSÉ FERREIRA


Instituto Geológico, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: cferreira@sp.gov.br

DENISE ROSSINI-PENTEADO
Instituto Geológico, São Paulo, SP, Brasil, drossinisp@gmail.com

CELIA REGINA DE GOUVEIA SOUZA


Instituto Geológico, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: celiagouveia@gmail.com

GLAUCIO ALMEIDA ROCHA


Consultor em Geotecnologia, Salvador, BA, Brasil. E-mail: glaucio.rocha@gmail.com

LORENA DE SOUZA
ThoughtWorks Brazil, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: lcsouza@thoughtworks.com

ANTONIO CARLOS MORETTI GUEDES


Instituto Geológico, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: acmguedes@sp.gov.br

RESUMO ABSTRACT

Modelos de gerenciamento de risco, geralmente, des- Risk management models usually point out the
tacam as etapas de análise e monitoramento para uma importance of risk analysis and monitoring for an
eficiente redução e mitigação de desastres. Este traba- effective disaster reduction and mitigation. This
lho desenvolveu modelo de monitoramento de risco work developed a model of monitoring landslide
de escorregamentos planares em áreas residenciais-co- risk over housing-commercial-service areas,
merciais-serviço, em tempo quase real, para emissão in near real-time, applied to disasters warning
de alertas de desastres, combinando dados de mapea- communication, combining landslide risk data and
mento de risco com índices pluviométricos de chuva both pluviometric index of past and future rain. The
acumulada e prevista. A área de estudo abrangeu os studied area comprised the municipalities of Ubatuba,
municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião Caraguatatuba, São Sebastião and llhabela, on the
e llhabela, do Litoral Norte do Estado de São Paulo. A North Coast of the State of São Paulo. The organization,
organização, tratamento e análise dos dados foi feita treatment and analysis of data was made on the
na plataforma TerraMA2 desenvolvido pelo Instituto TerraMA2 computational platform developed by the
Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. A análise de National Spatial Research Institute - INPE. The risk
risco fundamentou-se na definição de unidades espa- analysis was based on the landscape characterization
ciais de análise, denominadas de Unidades Territoriais expressed by Basic Territorial Units - UTB, resulting
Básicas - UTB resultantes da intersecção de planos de of intersection of layers of the basement and the land

37
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

unidades do embasamento geológico-geomorfológico cover units. The dynamic data of rainfall were obtained
e do uso e ocupação da terra. Os dados dinâmicos from GOES satellite or radar and the forecast rain from
de chuva acumulada foram obtidos a partir do saté- ETA 5km model. The matrix form proposed model
lite GOES ou radar meteorológico e a chuva prevista correlates, in columns, four risk classes indicatives of
pelo modelo ETA 5km. A forma matricial proposta increasing losses, and in the lines, nine intervals of the
correlaciona quatro classes de risco que representam pluviometric index. The proposed pluviometric index
situações cada vez mais críticas quanto à ocorrência meet two aspects that matters for triggering hazardous
de danos com nove intervalos do índice pluviométri- processes and their management: the past rainfall in
co de 24 horas. O índice pluviométrico utilizado sin-
the last 22 hours and the future rainfall in the next 2
tetiza dois aspectos fundamentais na deflagração de
hours. The intersection cells indicate one among the
processos perigosos e de seu gerenciamento: a chu-
four warning levels, named observation, attention,
va acumulada ou antecedente em 22 horas e a chuva
futura ou prevista nas próximas 2 horas. Cada célu- alert and maximum alert, that indicates increasing
la da matriz é enquadrada em um dos quatro níveis complexity for risk management from observation
de alerta, denominados observação, atenção, alerta e to maximum alert levels. Such model stress the role
alerta máximo, que indicam um aumento da comple- of risk mapping besides pluviometric index to define
xidade do gerenciamento das situações de risco, des- warning levels.
de o nível de observação até o nível de alerta máximo.
O modelo proposto tem como premissa a utilização Keywords: TerraMA2, rain, contingency plan, disaster.
das áreas de risco como fator fundamental para a defi-
nição dos níveis de alerta, apresentando o mesmo nível
de influência que os índices pluviométricos.

Palavras-chave: TerraMA2, chuva, plano de contingên-


cia, desastre.

1 INTRODUÇÃO destas com processos antrópicos (Cendrero et al.


1992, Ferreira & Rossini-Penteado 2011, Ferreira
Diversos modelos de gerenciamento de risco et al. 2013).
sejam eles específicos para eventos geodinâmicos Cendrero et al. (2004) propõe o uso de unida-
(ONU 2004), ou genéricos (ISO 2009), destacam des geoambientais integradas para o diagnóstico
a importância das etapas de análise e monitora- e monitoramento de indicadores ambientais. O
mento para uma eficiente avaliação dos impac- autor combina a utilização destas unidades com
tos, redução de risco e implantação de sistemas uma série de índices e indicadores de qualidade
de alerta. ambiental com o propósito de tornar os mapas
Risco pode ser definido como a combinação geotécnicos-geoambientais um instrumento mais
da probabilidade de ocorrência de um evento e adequado para representar as condições atuais de
suas consequências negativas. Em geral, a análi- uma área e também para monitorar mudanças na
se de risco é realizada a partir da caracterização qualidade ambiental.
de três variáveis: perigo, vulnerabilidade e dano A principal causa de instabilidade de encos-
potencial (Tominaga et al. 2004, Ferreira & Rossi- tas e escorregamentos no Estado de São Paulo é
ni-Penteado 2011) ou exposição (Varnes 1984, Re- a chuva. O clima tropical a subtropical, com acu-
mondo et al. 2008). mulados anuais que, nas regiões mais chuvosas,
A abordagem sintética ou de paisagem re- atingem médias de 200 mm/mês, com máximos
presenta uma concepção metodológica aplicada absolutos entre 300 a 600 mm/mês e médias
em mapeamentos de risco baseada na delimitação anuais locais de até 4500 mm/ano (Rolim et al.
prévia de unidades de análise que, de forma inte- 2007), provocam, anualmente, a ocorrência de,
grada, guardam correspondência com elementos pelo menos, uma centena de acidentes e desastres
ou representações identificáveis em determinada relacionados a escorregamentos (Ferreira et al.
porção do território, ora enfocando suas dimen- 2011, São Paulo 2015).
sões naturais geológicas-geotécnicas (Vedovello A definição dos índices pluviométricos de-
2000, Fernandes da Silva et al. 2010, Fernandes da flagadores de escorregamentos constituem a base
Silva & Cripps 2011), ora enfatizando as relações para emissão de alertas em planos preventivos

38
Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo

e de contingência, sendo esta correlação alvo de o comportamento geológico-geotécnico dos terre-


diversas pesquisas, como sintetizado em Soares nos, expresso pela suscetibilidade, perigo ou risco
(2006) e Parizzi et al. (2010). Estes trabalhos des- de escorregamentos, igualmente deve ser consi-
tacam, via de regra, a importância das relações derado nos modelos de correlação entre chuva e
entre diversos índices de chuva acumulada, quer processos de escorregamentos.
sejam índices anuais (Cerri et al. 1996), mensais Embora a premissa acima seja reconhecida
(DRM 2015), de quatro dias (Tatizana et al. 1987a, em diversos trabalhos, a exemplo de Tatizana et
b, DRM 2015), de três dias (Macedo et al. 1999), al. (1987a,b), cujo modelo considera uma constan-
de dois dias (Soares 2006, Soares & Martan 2006), te K dependente das condições geotécnicas das
de um dia (DRM 2015) ou horários (Tatizana et al. encostas e da intensidade dos escorregamentos,
1987a, b, Cerri 1993, Soares 2006, Soares & Martan e de Parizzi et al. (2010), que descrevem as dife-
2006, Parizzi et al. 2010, DRM 2015). rentes suscetibilidades do material geológico da
Por outro lado, em nível internacional, exis- região de Belo Horizonte, sua utilização, no Brasil,
tem vários exemplos de monitoramento direto raramente é observada na elaboração de modelos
de encostas sujeitas a escorregamentos em tem- de alerta ou na prática operacional de planos pre-
po real ou quase real que utilizam serviços WEB. ventivos e de contingência de defesa civil.
Reid et al. (2012) caracterizam os fundamentos do Em nível nacional, um dos raros exemplos é
monitoramento realizado pelo Serviço Geológico o trabalho de Arruda Jr & Lopes (2013), que com-
dos Estados Unidos (USGS) em doze sítios sele- param os resultados de alertas para corridas de
cionados. Allasia et al. (2013) apresentam um sis- massa em sub-bacias considerando, ou não, o po-
tema que inclui a aquisição de dados e execução tencial de corrida e concluem que, quando as aná-
de protocolos de transferência, análise, envio de
lises consideram o peso do potencial de corrida,
mensagens de alerta por SMS e ou endereços ele-
os resultados são mais adequados do que aqueles
trônicos e publicação automática dos resultados
que só utilizam os dados de chuva.
numa página da WEB. Anh et al. (2016) desen-
A plataforma TerraMA², desenvolvida pelo
volveram um sistema que utiliza a transferência
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
de dados do pluviômetro por meio de protocolo
(Lopes et al. 2011, Arruda Jr & Lopes 2014) é um
de comunicação de celular 3G/2G. Os dados de
sistema computacional para organização, análise,
chuva são utilizados para cálculo dos fatores de
monitoramento e alerta de riscos de desastres. Ela
segurança que são comparados com limiares de
é baseada em uma arquitetura de serviços aberta
níveis de alerta. Os dados monitorados podem ser
e disponibiliza a infraestrutura tecnológica neces-
observados em website e mensagens de alerta po-
dem ser enviadas para telefones celulares. sária para a estruturação de um sistema operacio-
Adicionalmente, a previsão meteorológica nal de monitoramento e alerta, podendo atender
constitui outro elemento essencial para a emissão diversas aplicações em áreas como qualidade do
de alerta em tempo efetivo para a tomada de ações ar, qualidade da água, gasodutos, barragens de
de gerenciamento de risco. No Plano Preventivo rejeito em área de mineração, incêndios florestais,
de Defesa Civil, específico para Escorregamentos e estiagens. A permissão para sua redistribuição
nas Encostas da Serra do Mar - PPDC (São Paulo e/ou modificações encontra-se sob os termos da
1997, Macedo et al. 1999), a previsão meteorológi- Licença Pública Geral do GNU (GPL), publicada
ca, juntamente com os índices pluviométricos e as pela Free Software Foundation.
vistorias de campo, é uma das variáveis para pre- O objetivo do trabalho é apresentar modelo
visão dos processos de escorregamentos e estabe- de protótipo de sistema de monitoramento, em
lecimento dos níveis operacionais de Observação, tempo quase real, para emissão de alertas de de-
Atenção, Alerta e Alerta Máximo. Cerri (1993) já sastres, combinando o mapeamento de risco de
destacava a importância da previsão meteorológi- escorregamento planar, desenvolvido com base
ca ao introduzir o conceito de Coeficiente de Pre- em unidades espaciais de análise, com índices de
cipitação Potencial que usa o valor da intensidade chuva acumulada e chuva prevista, deflagrado-
horária potencial com a precipitação acumulada res de processos perigosos de escorregamentos
nas 84 horas anteriores, a semelhança do Coefi- planares.
ciente de Precipitação Crítica de Tatizana et al. A área de abrangência do trabalho inclui os
(1987a, b) para os valores acumulados de chuva. municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Se-
Ainda que a chuva seja o principal deflagra- bastião e llhabela, do Litoral Norte do Estado de
dor de escorregamentos no Estado de São Paulo, São Paulo (Figura 1).

39
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Figura 1 – Localização e abrangência da área de estudo e distribuição das unidades espaciais de análise, com
destaque para aquelas de uso urbano.

2 MATERIAIS E MÉTODOS dinâmicos disponíveis em servidores de acesso co-


nectados à internet e realizar análises a partir da
A organização, tratamento e análise dos dados sobreposição desses com os objetos monitorados e
foi feito com base na plataforma TerraMA2 e seus outros dados adicionais, que constituem a base de
programas computacionais de apoio ou depen- dados estáticos. A Figura 2 apresenta a estrutura e
dências. Este sistema apresenta a potencialidade os atributos utilizados para organização e análise
de coletar, em tempo real, dados meteorológicos dos dados estáticos e dinâmicos.

Figura 2 – Estrutura e atributos utilizados para organização e análise dos dados estáticos e dinâmicos.

40
Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo

2.1 Plataforma TerraMA² Para utilização do TerraMA2 é necessário


instalar dependências, todas disponíveis gratui-
A plataforma TerraMA2 constitui uma base tamente. As dependências são: Servidor de Ban-
tecnológica que permite integrar informações co de Dados PostgreSQL ou Servidor de Banco
geoambientais e modelagem para o monitora- de Dados MySQL, Servidor Http Apache, Java 7,
mento, análise e alerta de riscos ambientais e que Apache Web Java Tomcat, Aplicativo TerraView e
inclui cinco tipos de serviços: a) busca de dados Servidor WEB TerraOGC (INPE 2013b).
atuais através da internet e seu carregamento na
base de dados do sistema de alerta; b) tratamento
e análise em tempo real de dados novos e verifica- 2.2 Definição da Base de Dados Estáticos -
ção da existência de situações de risco, através de Análise de Risco
uma comparação com mapas de risco ou de um
A base de dados estáticos foi estruturada a
modelo definido; c) serviço responsável pelo ob-
jeto monitorado; d) serviços para executar, editar partir da avaliação de risco de escorregamento
e criar novos modelos de risco e alerta; e) criação fundamentada na abordagem de paisagem. O ma-
e notificação de alerta para os usuários do sistema peamento de risco em escala regional 1:50.000 foi
em operação (INPE 2013a). realizado com base na metodologia descrita em
O sistema possui três módulos principais Ferreira & Rossini-Penteado (2011).
(INPE 2013a). O módulo de Administração é res- Esta abordagem implica na definição de uni-
ponsável pela configuração de cada serviço da dades espaciais de análise resultantes da inte-
plataforma, incluindo a definição do endereço e a gração dinâmica de componentes relativamente
porta de cada serviço, o local em que as imagens homogêneos de suporte e cobertura, compreen-
com o resultado das análises serão armazenadas, dendo elementos físicos (processos geológicos,
definição do banco de dados, local de armazena- pedológicos, geomorfológicos e climatológicos),
mento dos dados coletados, configuração do ser- biológicos (vegetação) e antrópicos (sistemas so-
vidor de email, definição dos arquivos de log e cioeconômicos e de infraestrutura) que descrevem
outras informações. O módulo de Configuração e qualificam os processos perigosos em análise.
é responsável pela definição de como os dados Neste trabalho, a unidade de paisagem rece-
são obtidos dos servidores externos, a definição beu a denominação de Unidade Territorial Básica
das análises, e quais alertas serão enviados. O (UTB), seguindo a terminologia de Lucena (1998)
módulo de Apresentação WEB é responsável pela e BRASIL (2006). As UTB, que representam as
apresentação de alertas quando uma situação de menores unidades de análise na escala adotada,
risco é detectada pelo módulo de análise. O mó- expressando o conceito geográfico de zonalidade,
dulo consiste em uma aplicação web que está co- resultam da intersecção dos planos de informação
nectada ao banco de dados TerraLib. É capaz de de Unidades Básicas de Compartimentação do
apresentar as camadas associadas à análise, seus Meio Físico (UBC) e de Unidades Homogêneas do
dados, histórico de alertas e metadados. Uso e Cobertura da Terra e padrão da Ocupação
O ambiente tecnológico planejado para o Urbana (UHCT).
desenvolvimento deste projeto apresenta a ins- As UBC refletem as características do substra-
talação da plataforma em ambiente local, em um to geológico-geomorfológico-pedológico. O subs-
computador desktop utilizado para construção da trato resulta da evolução de processos geodinâ-
base de dados e teste das regras e outra instala- micos endógenos e exógenos. O estudo de suas
ção em ambiente de computação em nuvem para características permite identificar e caracterizar os
hospedar uma versão do algoritmo de análise e fenômenos perigosos e suas relações com os pa-
realizar as atividades de monitoramento - com drões de uso e ocupação do solo na definição dos
download das informações necessárias, análise a impactos e vulnerabilidades do cenário de risco.
partir das regras estabelecidas no algoritmo e en- As UBC foram definidas a partir da fotoin-
vio de informações para os operadores do alerta, terpretação de imagem Landsat TM5, de resolu-
os quais terão acesso aos mapas gerados na simu- ção 30m e de imagem de relevo sombreado ob-
lação a partir da web. tida a partir de modelo digital de superfície, de

41
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

resolução 5m (EMPLASA, 2010b). A escala de fórmulas e cálculo dos índices relacionados aos
interpretação foi em torno de 1:50.000. Esta etapa fatores de análise considerados para cada variá-
baseou-se no processo de observação, identifica- vel da equação do risco, viabilizou a definição
ção e delimitação visual de regiões homogêneas dos setores de risco vinculados a cada unidade
com base em variações de elementos texturais das gráfica de uso urbano do tipo residencial, comer-
imagens, como densidade, padrão ou arranjo es- cial e serviços, com diferentes graus de riscos
pacial, tropia e forma, conforme descrito em Ve- divididos em cinco classes de risco, variando de
dovello (2000), Tominaga et al. (2004, 2008), Oli- Muito Baixo ou Nulo (R0) até Muito Alto (R4)
veira et al. (2007), Cardoso et al. (2009), Fernandes risco de escorregamento.
da Silva et al. (2010), Ferreira & Rossini-Penteado
(2011), Ferreira et al. (2013). 2.3 Definição da Base de Dados Dinâmicos -
As diversas atividades humanas implicam Índices Pluviométricos
em ações sobre o meio físico que modificam a pai-
sagem. Os diferentes tipos de uso e cobertura da A base de dados dinâmicos requeridos no
terra, resultantes deste processo, imprimem pa- sistema inclui as informações relacionadas às con-
drões espaciais de ocupação que atuam como ele- dições das variáveis em determinado período de
mentos intrínsecos à análise e mapeamento de ris- tempo. A definição do modelo indicou a necessi-
co, condicionando as três variáveis da equação de dade de coletar informações de previsão de chuva
risco (perigo, vulnerabilidade e dano potencial). e do total de chuva observado. A carga dos dados
As UHCT, definidas por processos de classifica- dinâmicos é feita a partir do serviço de coleta, e
ção automática e interpretação visual de produtos os parâmetros de funcionamento são definidos no
de sensoriamento remoto de média e alta reso- módulo de configuração.
lução espacial (EMPLASA 2010a), foram obtidas Os dados de observação são de responsabili-
a partir da setorização ou parcelamento do ter- dade da DSA - Divisão de Satélites e Sistemas Am-
ritório em áreas com características semelhantes bientais e do SINDA - Sistema Integrado de Dados
quanto a determinados aspectos físicos, forma e Ambientais, ambos do INPE e os de previsão nu-
textura referentes à ocupação e que se destacam mérica do Centro de Previsão de Tempo e Estudos
no nível de detalhamento da escala de trabalho Climáticos - CPTEC do INPE (INPE 2013a, 2014).
(Rossini-Penteado et al. 2007, 2008, Ferreira & Os dados de observação disponíveis e sele-
Rossini-Penteado 2011). cionados para utilização na plataforma TerraMA2
O plano de informação representativo das são: precipitação estimada por satélite GOES (re-
UTB inclui um conjunto de polígonos georrefe- solução aproximada de 4km) e pelo radar meteo-
renciados associados a um banco de dados alfa- rológico de São Roque, ambos com capacidade de
numérico que contém os atributos descritivos de atualização de 15 minutos.
cada unidade relacionados aos aspectos físicos, A plataforma TerraMA2 utiliza o modelo Hi-
socioeconômicos e de infraestrutura, os quais droestimador que é um método inteiramente au-
constituem a base para o cálculo dos índices tomático de cálculo das taxas de precipitação em
aplicados ao modelo de risco adotado (Ferreira tempo real. O Modelo Hidroestimador produz es-
& Rossini-Penteado 2011, Ferreira et al. 2013). O timativas da taxa de chuva para cada imagem do
processo de obtenção das informações e dos pro- satélite GOES recebida no CPTEC/INPE (Vila et
dutos derivados inclui consultas, seleção e com- al. 2003, Avila 2006, INPE 2014).
binação dos atributos de interesse. Foram calcu- Os dados de previsão derivam do modelo
lados os índices relacionados às variáveis: perigo ETA 5km (Projeto Serra do Mar) que disponibiliza
(P) de escorregamento, vulnerabilidade (V), dano os valores da previsão de chuva horária, em mm,
potencial (D) e risco (R) como mostra a Figura 2. para as 72h seguintes para cada célula de infor-
Neste projeto, a metodologia numérica apli- mação de 5km. O arquivo contendo o resultado
cada à análise de risco de escorregamento, basea- do modelo de previsão de chuva é atualizado a
da no estabelecimento de regras de classificação, cada 12h no servidor FTP do CPTEC/INPE com o

42
Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo

conjunto de células abrangendo a região sudeste desconsideradas na avaliação de risco devido à


do Brasil (INPE 2013a, 2014). inexistência do elemento em risco adotado.
A configuração dessas fontes de dados dinâ- Para a configuração do algoritmo de análi-
micos habilita o serviço de coleta a verificar novos se automatizada foram utilizadas quatro classes
dados, baixar as informações para um diretório de risco: R1 - Baixo; R2 - Médio; R3 - Alto e R4
local e dar a carga no banco de dados na forma - Muito Alto. A classe de risco R0 - Muito Baixo
de planos de informação no formato matricial ou a Nulo não foi considerada no algoritmo, pois a
grade numérica com os acumulados de chuva em probabilidade de ocorrência do processo é prati-
22 horas e a previsão de chuva nas próximas duas camente nula.
horas. Foi criado um filtro espacial dado pelo po- No modelo de análise foi considerado um
lígono delimitador do projeto para pré-processa- único índice pluviométrico indicativo da chuva
mento dos dados e descarte dos situados fora da em 24 horas que combina tanto a chuva acumu-
área de interesse. Os diretórios para armazena- lada como a chuva futura para disparar um alerta
mento temporário dos dados, bem como os arqui- em cada UTB. Inicialmente foi testada a soma do
total de chuva acumulada de 23 horas com o total
vos de log dos serviços (para ajuda na resolução
de chuva prevista em uma hora.
de eventuais falhas de funcionamento) são confi-
Posteriormente, para a obtenção do índice de
gurados no módulo de administração.
análise foi considerada a soma do acumulado de
chuva das últimas 22 horas e a previsão de chuva
2.4 Configuração e Implementação do para as próximas 2 horas. A expansão para duas
Modelo de Análise horas proporciona um período de tempo maior
para que medidas preventivas e de contingência
O desenvolvimento do modelo de análise e possam ser tomadas adequadamente e em tempo
elaboração do seu algoritmo pressupôs a defini- hábil. Este índice, combinado com as diferentes si-
ção inicial do objeto a ser monitorado; além da tuações de risco expressas em cada UTB, define as
identificação das variáveis dinâmicas de chuva re- condições de cada nível de alerta.
levantes para o processo de análise e da definição Para operacionalizar o modelo e viabilizar a
das regras e dos pesos atribuídos a cada variável definição das regras e dos pesos de cada variável
que implicam na mudança de estado dos alertas. considerada, foi construída uma matriz de corre-
Para a definição do algoritmo de análise, ini- lação entre os intervalos de chuva (dados em mm)
cialmente foi efetuada a integração da informação e os graus de risco de escorregamento da área de
estática, representada pelo plano de informação estudo. Cada célula desta matriz, representada
contendo os diferentes níveis ou graus de risco de na Figura 4, apresenta os níveis de alerta em cada
ocorrência de escorregamento, com as variáveis UTB de uso residencial-comercial-serviços, tendo
do monitoramento dinâmico das condições me- em vista os parâmetros de chuva fornecidos pelas
teorológicas, definidas anteriormente. variáveis dinâmicas do sistema.
A base de dados estáticos foi carregada com a A Figura 3 apresenta um exemplo da estrutu-
plataforma no aplicativo TerraView e implantada ra básica do código efetuada em Lua, a linguagem
no Banco de Dados PostgreSQL. de programação nativa da plataforma e descreve
As unidades ou elementos gráficos defini- a lógica do modelo de análise. A Figura 4 exibe
dos pelas Unidades Territoriais Básicas (UTB) o código completo elaborado para a programação
do tipo residencial-comercial-serviços foram da análise utilizada. Os valores numéricos resul-
definidas como o objeto a ser monitorado, pois tantes de cada análise são entregues à plataforma
considerou-se a população como elemento em para emissão de boletins e alertas para usuários
risco. Desta forma, as áreas não edificadas foram cadastrados.

43
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Figura 3 - Exemplo da estrutura básica do código, descrevendo o método lógico de programação da análise.

Figura 4 – Estrutura completa do código de programação na linguagem de análise Lua.

44
Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo

A plataforma TerraMA2 possui quatro níveis O modelo proposto tem estrutura matricial
de alerta predefinidos, representados por valores que correlaciona nas colunas, as quatro classes ou
numéricos (1, 2, 3 e 4) que indicam, respectivamen- graus de risco e, nas linhas, os intervalos do índi-
te, os estados de observação, atenção, alerta e alerta ce pluviométrico de 24 horas, dividido em nove
máximo. Estas classes e terminologia foram manti- intervalos (Figura 5). Cada célula da matriz repre-
dos no presente trabalho, pois compõem os níveis senta os diferentes níveis de alerta com os seguin-
operacionais vigentes do PPDC-Serra do Mar (São tes significados:
Paulo 1997, Macedo et al. 1999).

Figura 5 – Correlação entre classes de risco (dados estáticos) e chuva acumulada e


futura em 24 horas (dados dinâmicos) para definição dos níveis de alerta. Convenções
Classes de Risco: R1 - Baixo; R2 - Médio; R3 - Alto e R4 - Muito Alto.

O nível de alerta 1 (Observação) é aquele caracterizados pelas condições de vulnerabilida-


onde a ocorrência de escorregamentos não é es- de baixa a moderada, representando um aumento
perada, podendo raramente ocorrer escorrega- da complexidade no processo de gerenciamento
mentos induzidos. Além disso, destacam-se as do risco, mas ainda dentro das capacidades ins-
situações de vulnerabilidade muito baixas, o que titucionais locais de gerenciamento da situação.
representa baixa complexidade no gerenciamento Este nível de alerta começa a ser deflagrado nos
do risco por parte do poder público local. A Fi- casos em que se verifica um índice pluviométrico
gura 5 mostra que para um índice pluviométrico variando entre 40-60mm e situações de risco R4;
menor que 40mm, o nível de alerta 1 (Observação) estende-se às classes de risco R2 e R3 com o au-
é deflagrado em todas as situações ou graus de mento do índice pluviométrico para o intervalo
risco. Entretanto, com o aumento gradual do índi- de 60-100mm e às áreas de risco R1 em intervalos
ce pluviométrico ocorre uma consequente varia- de chuva entre 100-140mm. Acima de 140mm de
ção no nível de alerta, ou seja, nos casos em que o chuva em 24 horas essa situação deixa de existir
índice pluviométrico varia ente 40-60mm, o nível em decorrência da deflagração de níveis de alerta
de alerta 1, permanece apenas para as situações mais complexos.
de risco R1, R2 e R3; nos casos em que o índice No nível de alerta 3 (Alerta) espera-se a ocor-
pluviométrico varia entre 60-100mm, o nível de rência de escorregamentos esparsos a generaliza-
alerta 1 permanece apenas para as situações de dos, alguns de magnitude variando de moderada
risco R1. Acima de 100mm de chuva em 24 horas, a alta em áreas onde as condições de vulnerabi-
essa situação deixa de ocorrer, sendo deflagrados lidade variam de moderada a alta, ocasionando
níveis de alerta mais altos, que indicam situações um consequente aumento da complexidade de
mais complexas para o gerenciamento. gerenciamento do risco, muitas vezes acima da
O nível de alerta 2 (Atenção) representa os ca- capacidade do poder público local. Observa-se
sos onde se espera a ocorrência de escorregamen- que este nível de alerta (Figura 5) ocorre nas
tos induzidos de forma esparsa, normalmente classes de risco R4, entre os índices pluviométri-
movimentando pequenos volumes de material, cos 80-120mm e entre os níveis pluviométricos

45
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

100-140mm, 120-160mm e 140-180mm, respectiva- melhor compatibilidade para o sistema. Um ende-


mente para as situações de risco R3, R2 e R1. Aci- reço IP fixo fornece o acesso à aplicação, por meio
ma de 180mm de chuva em 24 horas essa situação dos navegadores de mercado.
deixa de ocorrer em detrimento da deflagração de
nível de alerta mais complexo.
No nível 4 (Alerta Máximo) espera-se a ocor- 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
rência de escorregamentos generalizados, mui-
O mapa de risco de escorregamentos plana-
tos de magnitude variando de alta a muito alta
res do Litoral Norte (Figura 6) reflete as variações
e em condições de vulnerabilidade alta a muito
nos cenários de perigo de escorregamentos plana-
alta, onde destaca-se o aumento proporcional da
res rasos, vulnerabilidade de áreas residenciais-
complexidade de gerenciamento do risco, em ní- -comerciais-serviço e dano potencial (expresso
veis acima da capacidade do poder público local. pela densidade populacional e sua exposição
Este nível de alerta ocorre nos casos de índice plu- frente aos perigos).
viométrico acima de 120mm, 140mm, 160mm e As unidades territoriais de uso do tipo resi-
180mm, respectivamente para as situações de ris- dencial-comercial-serviços, que constituem os ele-
co R4, R3, R2 e R1. mentos em risco para os quais foram calculados
A versão inicial para homologação do sistema os graus de risco, representam 6% da área total do
foi implantada na plataforma de Cloud Compu- Litoral Norte, ou seja, 120km2. A maior parte dos
ting da Amazon utilizando um servidor Microsoft elementos em risco analisados ocorre nas planí-
Windows 2012 e um banco de dados PostgreSQL cies litorâneas, onde é pouco provável que sejam
9.0. A versão final do sistema está implantada em deflagrados processos de escorregamentos, o que
um servidor físico, no ambiente de TI do Instituto justifica o fato de aproximadamente 78% da área
Geológico, rodando sob Windows Server 2012 e de estudo ter sido classificada como de risco muito
utilizando como servidor web o software Apache baixo a nulo (R0). Cerca de 19% das áreas foram
Tomcat. O banco de dados PostgreSQL, versão 9.0 classificadas como sendo de risco baixo (R1), 2%
de 32 bit, com a extensão espacial PostGIS 1.5, foi como sendo de risco médio (R2) e apenas 1% como
adotado após diversos testes concluírem ser esta a sendo de risco alto e muito alto (classes R3 e R4).

Figura 6 – Mapa de risco de áreas residenciais-comerciais-serviços a escorregamentos planares rasos do Litoral Norte do Es-
tado de São Paulo. R0-R4: classes de risco (ver texto). NClass: áreas não classificadas pela inexistência do elemento em risco.

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Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo

As áreas classificadas como de risco muito de escorregamentos esparsos ocorre com níveis
alto (R4) correspondem a aproximadamente 0,16% de chuvas mais altos que a classe R4 que vão au-
da área urbana de uso residencial/comercial/ mentando de frequência e magnitude assim que
serviços e apresentam maior concentração no ocorre o aumento dos índices pluviométricos de
município de São Sebastião e, secundariamente, chuva, geralmente em áreas de vulnerabilidade
em Ubatuba. Não foi observada a ocorrência de moderada a alta e com alto a médio número de
áreas de risco muito alto nos municípios de Ca- pessoas expostas.
raguatatuba e Ilhabela. Nesta classe espera-se a As áreas com graus de risco médio (R2) e bai-
ocorrência de escorregamentos esparsos mesmo xo (R1) e, portanto, menos críticas ou suscetíveis
com índices de chuva baixos que vão aumentan- a ocorrência de processos perigosos, representam
do de frequência e magnitude assim que ocorre cerca de 21% das áreas de uso residencial/comer-
o aumento dos níveis pluviométricos, causando cial/serviços. Nestas classes, escorregamentos
escorregamentos severos e cada vez mais gene- esparsos ocorrem apenas com altos níveis pluvio-
ralizados, geralmente em áreas de vulnerabili- métricos e somente evolui para escorregamentos
dade alta a muito alta e com grande número de severos e generalizados em condições de chuva
pessoas expostas. excepcionais, sob condições de vulnerabilidade
O risco alto (R3) corresponde a 0,64% da área moderada a baixa e com baixos números de pes-
urbana de uso residencial/comercial/serviços do soas expostas.
Litoral Norte. Há um predomínio desta classe no A Figura 7 mostra exemplos do mapeamento
município de Ubatuba, seguido por São Sebastião, de risco sobre ortofotos digitais e fotos de campo.
Ilhabela e Caraguatatuba. Nesta classe a ocorrência

Figura 7 – Exemplos do mapeamento de risco sobre ortofotos digitais (A; B) e fotos de campo (C; D). A, C: bairro Ipiranguinha,
Ubatuba. C, D: bairro Sesmarias, Ubatuba. Convenções: Risco Muito Alto (R4) - polígonos de cor vermelha; Risco Alto (R3) -
polígonos de cor laranja; Risco Médio (R2) - polígonos de cor amarela.

Os mapas de risco em escala regional apli- estudos de detalhe local. No presente trabalho, o
cam-se principalmente ao planejamento e implan- mapa de risco obtido pelas UTB, em combinação
tação de políticas públicas de convivência e redu- com os índices pluviométricos, foi utilizado como
ção do risco, seja para o planejamento de obras, objeto monitorado para o estabelecimento de ní-
redução da vulnerabilidade, implantação de pla- veis de alerta ao risco de escorregamentos. Esta
nos de contingência ou priorização de áreas para abordagem, reconhecida em diversos trabalhos, a

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

exemplo de Tatizana et al. (1987a, b), raramente é No modelo utilizado foi adotada a proporção
utilizada no Brasil para a elaboração de modelos de de 22 horas de chuva acumulada e de 2 horas de
alerta ou na prática operacional de planos preven- chuva prevista; entretanto, outros arranjos podem
tivos e de contingência de defesa civil, os quais op- ser testados e avaliados. O índice pluviométrico
tam por utilizar essencialmente os dados de chuva. de 24 horas foi adotado devido à forte correlação
A abordagem proposta difere das atualmen- entre chuvas de alta intensidade e de pequena
te em uso, as quais consideram a correlação entre duração com os escorregamentos planares rasos
dois índices pluviométricos, geralmente a intensi- (Mendes & Valério Filho 2015), modelados na
dade horária acumulada versus o acumulado de análise de risco e por incorporar rapidamente a
um dia (Kay & Chen 1995, DRM 2015), ou de dois intensidade de chuva horária. Reconhece-se, no
dias (Soares 2006, Soares & Martan 2006), ou de entanto, que para processos de escorregamentos
quatro dias (Tatizana et al. 1987a, b). mais complexos, o papel de acumulados de chuva
O modelo desenvolvido tem como premis- maiores que 24 horas pode ser importante. Nesses
sa a utilização das áreas de risco como fator fun- casos, o sistema de monitoramento apresentado é
damental para a definição dos níveis de alerta, flexível o suficiente para modelar diferentes cená-
apresentando o mesmo nível de influência que os rios de influência de chuva acumulada em inter-
índices pluviométricos para deflagrar o alerta, o valos de tempo maiores, seja de três, quatro, quin-
que difere dos modelos anteriores que somente ze ou trinta dias e combiná-los com o modelo de
consideram os índices pluviométricos. O presente 24 horas proposto, conforme necessário.
trabalho procura incorporar o conhecimento de- O modelo apresentado utiliza nove interva-
corrente do avanço dos métodos de mapeamentos los para o índice pluviométrico, os quais são cor-
de risco na última década (São Paulo 2015) para relacionados com as quatro classes de risco. Como
aperfeiçoar os modelos de correlação entre chuva limite inferior foi considerado um índice 24 horas
e escorregamentos, como já destacado nos traba- de 40mm e um aumento sucessivo de 20mm para
lhos de Tatizana et al. (1987a, b). cada novo intervalo até a faixa maior que 180mm.
No processo de gerenciamento de risco a pre- O valor inicial definido se aproxima do valor
visibilidade de eventos é indispensável para a re- de 39,6mm/h de intensidade de chuva obtido por
dução dos danos. Portanto, outro aspecto relevan- Mendes & Valério Filho (2015) para a correlação
te do modelo preconizado que deve ser destacado entre chuva e escorregamentos em Ubatuba. No
corresponde à associação do indicador de chuva modelo operado pelo Departamento de Recursos
antecedente ou acumulada e de chuva futura ou Minerais para o sistema de alerta a escorregamen-
prevista em um único índice pluviométrico. tos do Estado do Rio de Janeiro (DRM 2015), o
Esta abordagem foi proposta por Cerri (1993) valor de 35mm/h de intensidade de chuva, está
que introduziu o conceito de Coeficiente de Preci- bem próximo ao utilizado. Outra correlação uti-
pitação Potencial e retomada por Soares (2006). A lizada para o estabelecimento do valor de 40mm
diferença é que, nos trabalhos propostos, foi utili- para o índice pluviométrico decorre do índice de
zada uma razão entre os índices de chuva prevista 120mm/72horas utilizado no PPDC-Serra do Mar
e acumulada, ao invés da soma. (São Paulo 1997, Macedo et al. 1999), o que resulta
Atualmente a previsão numérica do tempo é em um valor médio acumulado de 40mm/dia.
realizada por meio de modelos atualizados a cada Em relação ao limite superior, considera-
12 horas e que avançam até 72 horas (INPE 2014). -se que um índice pluviométrico acima de
Os dados gerados pelo CPTEC-INPE já estão 180mm/24horas já é suficiente para deflagrar es-
configurados para uso na plataforma TerraMA2. corregamentos planares em qualquer condição de
O algoritmo elaborado é facilmente ajustável, per- risco. Esse limite situa-se em torno da inflexão da
mitindo a reconfiguração do modelo, seja através alta inclinação para a quase horizontalidade das
de novas combinações entre os índices de chuva curvas envoltórias de Tatizana et al. (1987a, b),
acumulada e prevista, seja através da atribuição indicando a ocorrência de escorregamentos para
de novos pesos às variáveis, conforme o interesse qualquer intensidade de chuva horária. Esse limi-
e necessidade. te já contém, também, a maioria dos eventos da

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Integração de mapeamento de risco e índices pluviométricos no monitoramento e
alerta de risco de escorregamentos planares no litoral norte do Estado de São Paulo

classe de escorregamentos severos, apresentado registrados na região e discutido sua aplicabilida-


por Kay & Chen (1995). de na gestão de risco da região.
A variação constante de 20mm de chuva en-
tre os limites mínimo e máximo foi selecionada
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
arbitrariamente, a exemplo da prática operacional
do PPDC-Serra do Mar que adota os limites de Neste trabalho foi desenvolvido um mode-
120mm, 100mm e 80mm para diferentes regiões lo de monitoramento, em tempo quase real, para
do Estado (São Paulo 1997, Macedo et al. 1999). emissão de alertas de desastres que combinou o
Dentre as vantagens do modelo desenvolvi- mapeamento de risco de escorregamento planar,
do na forma de matriz, destacam-se: a maior faci- efetuado a partir de unidades espaciais de análise
lidade de visualização e entendimento dos crité- com índices de chuva acumulada e chuva previs-
rios de entrada e saída de cada nível operacional ta, deflagradores dos processos perigosos.
de alerta, quando comparado ao uso de fórmulas O algoritmo definido e implementado para o
e gráficos, além de tornar mais simples o proces- monitoramento de riscos se mostrou compatível
so de modificação e atualização do algoritmo por com a arquitetura da plataforma TerraMA2. A uti-
meio da linguagem Lua. Esta estrutura matricial lização de polígonos com índices pré-calculados,
evidencia que, à medida que aumentam os índices resultantes da avaliação e estabelecimento de cri-
pluviométricos, ocorre um gradativo aumento da térios desenvolvidos, viabiliza uma abordagem
magnitude dos processos ou da vulnerabilidade, mais eficiente e adequada à automatização. A uti-
levando a situações de gerenciamento de risco lização de uma estrutura de dados em forma de
cada vez mais complexas, e também uma amplia- matriz de regras, associando as faixas de chuva
ção progressiva das áreas de risco que podem ser com as classes de riscos, tornou o algoritmo al-
atingidas pelos eventos perigosos. tamente flexível e com amplas possibilidades de
Um possível problema associado ao mode- modificação e atualizações, a partir de pequenas
lo proposto corresponde à eventual subestima- variações no script desenvolvido.
ção da chuva pelo satélite GOES, especialmente O modelo exposto tem como premissa a uti-
em situações em que não há formações frias com lização das áreas de risco como fator fundamental
cristais de gelo como apontado por Avila (2006) e para a definição dos níveis de alerta, apresentando
Arruda Jr & Lopes (2013). Para dimensionar este a mesma relevância que os índices pluviométri-
efeito pode-se configurar o recebimento de dados cos para deflagrar o alerta. Além disso, o modelo
de chuva por meio de Plataformas de Coleta de incorpora o conhecimento decorrente do avanço
Dados (PCD) que são equipamentos automáti- dos métodos de mapeamentos de risco verificado
cos que dispõem de sensores eletrônicos capazes na última década no Estado de São Paulo.
de realizar medições periódicas de precipitação. O índice pluviométrico utilizado sintetiza
Atualmente, a plataforma TerraMA2 já utiliza dois aspectos fundamentais necessários para a
algumas PCD de responsabilidade do CPTEC/ deflagração de processos perigosos e seu geren-
INPE, sendo uma delas situada em Picinguaba, ciamento: a chuva acumulada (ou antecedente) e
no município de Ubatuba (INPE 2013a). a chuva futura (ou prevista).
Deve-se destacar que o sistema desenvolvido
abrange um monitoramento em escada regional, Agradecimentos
quer seja pela fonte dos dados pluviométricos
(satélite GOES), quer seja pelo mapeamento de Os autores agradecem à Fundação de Ampa-
risco. O sistema não monitora sítios específicos ro à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP
de escorregamentos ativos como descrito interna- pelo apoio financeiro ao projeto Aplicação de
cionalmente (Reid et al., 2012; Allasia et al., 2013, geotecnologias na orientação do uso da terra com
Anh et al., 2016). base nos impactos das mudanças climáticas globais:
O protótipo do sistema elaborado deverá, sub-bacias hidrográficas litorâneas do Estado de
no decorrer do tempo, ser avaliado por meio da São Paulo e do Estado do Rio de Janeiro (Processo
comparação com eventos de escorregamentos FAPESP 2011/50219-3).

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

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ANÁLISE DA SUSCEPTIBILIDADE A
ESCORREGAMENTOS USANDO A ABORDAGEM
ESTATÍSTICA DO FATOR DE CERTEZA NO
MUNICÍPIO DE MOEDA, MINAS GERAIS
LANDSLIDES SUSCEPTIBILITY ANALYSIS USING STATISTICAL APPROACH
OF CERTAINTY FACTOR IN THE MOEDA COUNTY, MINAS GERAIS

Cesar Falcão Barella


Universidade Federal de Ouro Preto. E-mail: cesarbarella@gmail.com

Frederico Garcia Sobreira


Universidade Federal de Ouro Preto. E-mail: sobreira@degeo.ufop.br

RESUMO ABSTRACT

Nas últimas décadas vêm sendo observada uma in- An intensification of geodynamic processes with
tensificação dos processos geodinâmicos com conse- disastrous consequences as a result of irregular and
quências desastrosas, fruto da expansão irregular e disorderly expansion of urban centers has been observed
desordenada dos centros urbanos. Para minimizar as in the last decades. To minimize the implications of
implicações desses eventos, em 2012, foi instituída a Po- these events, the National Policy for Protection and
lítica Nacional de Proteção e Defesa Civil, que visa, entre Civil Defense was instituted in 2012, which aims, among
outras premissas, estabelecer estudos de identificação e other assumptions, to conduct studies to identify and
avaliação de áreas susceptíveis, ou seja, o mapeamen- assess susceptibility areas, i.e., to draw susceptibility
to de susceptibilidade a eventos geológico-geotécnicos. maps. Among the various approaches, statistical
Dentre as diferentes abordagens existentes, as técnicas techniques have been used to reduce the subjectivity
estatísticas têm-se destacado por minimizar a subjetivi- imposed by the operator, allowing the validation of
dade imposta pelo operador e permitir a validação do the predictive model. Thus, focusing on landslide, this
próprio modelo preditivo. Assim, com o foco nos escor- study tested the applicability of the certainty factor
regamentos, esse trabalho buscou testar a aplicabilidade technique and evaluated its accuracy by the success
da técnica do fator de certeza e avaliar sua acurácia por and prediction rate. Applied in a pilot area located
meio da taxa de sucesso e predição. Aplicado em uma in the region of Moeda-MG, the model, integrated
área piloto, que se localiza no município de Moeda-MG, by the slope, geology, geomorphology, profile and
o modelo, integrado pela declividade, geologia, geomor- orientation of the hillside, was considered a promising
fologia e perfil e orientação das vertentes foi considera- tool in the preparation of the susceptibility map. The
do um instrumento promissor na elaboração do mapa results were grouped into zones according to the
de susceptibilidade. Os resultados foram agrupados em number of predicted landslides. The most susceptible
zonas de acordo com o número de escorregamentos pre- class forecasted 70% of landslides, occupying only 29%
vistos. A classe mais susceptível conseguiu evidenciar of the territory, thus reaching the goal of restricting a
70% dos deslizamentos, ocupando apenas 29% do terri- high amount of future movements in a small portion
tório, alcançando, dessa forma, o objetivo de restringir of land.
uma elevada quantidade de futuros movimentos numa
pequena porção do terreno. Keywords: Susceptibility, Landslides, Statistical
Techniques, Certainty Factor.
Palavras-chave: Susceptibilidade, Escorregamentos,
Técnicas Estatísticas, Fator de Certeza.

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Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

1 INTRODUÇÃO abrangentes, com base na seleção de uma série


de agentes condicionantes ao processo, sem levar
O processo de expansão dos centros urbanos em consideração seus impactos sobre o meio am-
brasileiros ao longo das últimas décadas, fruto biente, a sociedade e a economia. O produto final
do êxodo rural, trouxe consigo, quando aliado visa orientar o crescimento urbano do município
às disparidades de renda, uma intensa urbaniza- de forma sustentável, podendo, ainda, assinalar
ção de áreas com características desfavoráveis à áreas mais propensas às avaliações de risco ou de
ocupação (Novaes, 2000). As consequências mais aptidão a urbanização.
evidentes e graves da omissão do poder público Diversos métodos têm sido desenvolvidos a
frente ao crescimento caótico dos centros urbanos partir de meados da década de 70 até a atualida-
é a tendência mundial de intensificação de prejuí- de, porém as diferentes abordagens existentes não
zos associados à ocorrência de desastres naturais. podem ser igualmente aplicadas (Soeters & Van
De acordo com os dados publicados no Atlas Western, 1996). Isso se deve à escala trabalhada,
Brasileiro de Desastres Naturais, o país experi- à área cartografada, à qualidade dos dados de en-
mentou mais de 31 mil desastres nos últimos 22 trada disponíveis e os custos envolvidos. Apesar
anos, uma média de mais de 1.400 catástrofes por da classificação das metodologias ser algo subjeti-
ano (CEPED-UFSC, 2012). Com a função de cobrir vo, que pode variar de acordo com a ênfase dada
uma demanda por instrumentos legais capazes às características dos procedimentos adotados, na
de balizar esse ordenamento foi promulgada em grande maioria das vezes, as técnicas aplicadas se
abril de 2012 a Lei 12.608, que instituiu a Política enquadram nos enfoques geomorfológicos, heu-
Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC. rísticos, estatísticos ou determinísticos. Entretan-
A PNPDEC prioriza ações preventivas relacio- to, de modo geral, a evolução no desenvolvimento
nadas à minimização de desastres naturais, en- metodológico do mapeamento de susceptibilida-
fatizando, entre outras premissas, a realização de tem buscado o aperfeiçoamento da precisão
de estudos de identificação e avaliação de áreas gráfica do produto final gerado e a diminuição da
susceptíveis a eventos geológico-geotécnicos, ou intervenção do profissional ao longo do trabalho.
seja, a elaboração da carta municipal de suscepti- Internacionalmente, os métodos estatísticos
bilidade (Brasil, 2012). vêm sendo amplamente difundidos (Van Wes-
Na literatura geotécnica, geomorfológica e ten, 1993; Zêzere, 1997; Chung & Fabbri, 1999;
de geologia de engenharia, a análise da suscep- Lee, 2004; Guzzetti, 2005; entre outros), uma vez
tibilidade muitas vezes é referida como estudos que “minimizam” a subjetividade imposta pelo
de previsão de áreas instáveis (Tominaga, 2007), operador, quando comparado aos procedimentos
que refletem a variação, em forma e grau, da ca- geomorfológicos e heurísticos. São adequados,
pacidade dos terrenos em desenvolver determi- segundo Soeters & van Westen (1996), à esca-
nado evento (Freitas, 2000). Corresponde basi- la 1:25.000 e constituem abordagens indiretas e
camente ao mapeamento da expectativa espacial quantitativas que estabelecem correlações espa-
de ocorrência de um fenômeno, sob influência de ciais entre os processos e os parâmetros causado-
um determinado conjunto de condicionantes am- res de instabilidade que estão sendo analisados
bientais. Esse tipo de produto tem o anseio por (Guzzetti et al., 1999). De acordo com Fernandes
avaliações mais gerais, buscando indicar as áreas et al. (2001), esse ferramental é baseado em padrões
mais favoráveis aos diversos usos em função das mensurados a partir de observações de campo, ao
restrições impostas pelos processos envolvidos invés da simples experiência do pesquisador, sen-
(Sobreira & Souza, 2012). do de suma importância a disponibilidade de ex-
De acordo com Julião et al. (2009), essa abor- tensos bancos representativos dos processos, fato
dagem permite, além da representação da incidên- ainda raro na realidade brasileira.
cia espacial do processo, identificar e classificar as Múltiplos artifícios estatísticos têm sido em-
áreas com maior propensão de serem afetadas em pregados na elaboração das análises de susceptibi-
um tempo indeterminado. Seu desenvolvimen- lidade, como, por exemplo, Likelihood Ratio, Valor
to se dá em diversas escalas, normalmente mais Informativo, Pesos de Evidência, Probabilidade

56
Análise da susceptibilidade a escorregamentos usando a abordagem estatística do fator de certeza no município de Moeda, Minas Gerais

Bayesiana, Análise Discriminante, Regressão Lo- de Certeza em cada classe, de cada parâmetro,
gística, Lógica Fuzzy, etc. Dentre uma gama varia- a fim de se determinar os pesos de ponderação;
da de modelos possíveis, este trabalho selecionou (5) análise sensitiva dos parâmetros utilizados;
o método do Fator de Certeza para a investigação, (6) cruzamento dos mapas de parâmetros seguin-
já que essa técnica foi considerada menos difundi- do a ordem estipulada pela etapa anterior; (7) de-
da comparativamente a outras modalidades. Nes- terminação do grau de ajuste dos dados em cada
se contexto, a análise desenvolvida visa testar, em modelo integrado; (8) seleção do modelo mais
uma área piloto, a aplicabilidade dessa concepção robusto e determinação de sua capacidade pre-
metodológica e avaliar sua adequabilidade como ditiva; e (9) classificação do modelo final elegido
instrumento eficaz de elaboração de mapas de em 3 classes: alta média e baixa susceptibilidade a
susceptibilidade a escorregamentos. movimentos de massa, em função da capacidade
preditiva individual de cada classe.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Localização e acesso
A metodologia adotada na construção dessa
análise foi estabelecida de acordo com a aproxi- A área selecionada para a aplicação do méto-
mação genérica de Aleotti & Chowdhury (1999), do proposto compreende o município de Moeda,
porém adaptada ao estudo em questão, tendo as Minas Gerais, distante, aproximadamente, 58 km
seguintes etapas: (1) elaboração do mapa de in- da capital Belo Horizonte. O acesso é feito pela
ventário; (2) seleção e mapeamento dos parâme- rodovia BR-040, na altura do km 575. Parte da re-
tros condicionantes ao processo e subdivisão de gião integra a borda oeste da unidade geológica
cada parâmetro em um número de classes rele- Sinclinal Moeda, definida por Dorr II (1969), que
vantes; (3) sobreposição dos diferentes mapas de contempla a serra homônima, com amplitudes de
parâmetros ao mapa de inventario; (4) aplicação relevo muito elevadas e vertentes íngremes (Figu-
das equações matemáticas da técnica do Fator ra 1), sustentadas por quartzitos e itabiritos.

Figura 1 – Localização da região selecionada para a aplicação da metodologia proposta.

57
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

2.2 Inputs do modelo unidades litológicas, não preservando, necessa-


riamente, a ordem estratigráfica, mas estabelecen-
Apesar de existir um amplo acervo de temas do um agrupamento com base em observações
influentes na previsão de escorregamentos, a sele- ou inferências de estabilidade. Como a geologia
ção dos fatores condicionantes para a elaboração é diversificada, a área investigada foi desmem-
dos mapas de susceptibilidade vai depender do brada em duas grandes porções, uma situada no
tipo de movimento que está sendo investigado, Sinclinal Moeda, extremo leste do território, com
das características do terreno, da disponibilida- o predomínio de rochas metamórficas, como, por
de de dados e informações existentes, dos custos exemplo, itabiritos, filitos e quartzitos, muitas in-
envolvidos na análise e da escala que está sendo tensamente estruturadas, e outra, à medida que
utilizada (Van Westen et al., 2008). Em função do se avança para o interior (sentido oeste), compos-
exposto acima foram selecionados para a inves- ta por gnaisses, granodioritos e tonalitos, repre-
tigação os seguintes parâmetros, todos definidos sentando a segunda porção do território. Assim,
por uma unidade cartográfica baseada no pixel a elaboração do cartograma de unidades litoló-
de 5 metros de resolução: declividade, orientação gicas foi derivada da combinação entre as Car-
e curvatura das vertentes, unidades litológicas e tas do Quadrilátero Ferrífero (Lobato et al., 2005)
geomorfológicas.
e o Mapa Geológico do Estado de Minas Gerais
Muitas vezes considerada a principal fonte de
(Heineck et al., 2003), sendo que essa abordagem
informação utilizada na construção dos modelos
só foi aceita devido ao fato da porção com escala
de previsão, a topografia utilizada teve origem na
em menor detalhe ser formada por uma geologia
elaboração do modelo digital de elevação (MDE-
homogênea, que pouco se modifica ao longo da
-TIN), derivado da interpolação de curvas de ní-
região analisada e que não deve ser indutora de
vel vetorizadas das cartas topográficas 1:25.000 da
movimentos. Por fim, as litologias foram agrega-
Diretoria de Serviço Geográfico do Exército (DSG),
das segundo suas características predominantes,
dando origem a uma série de parâmetros como
formando os seguintes grupos: Unidade Litoló-
segue: (i) declividade, classificada em grupos com
amplitude de 5°; (ii) orientação das vertentes, gica de Filito – ULF, Unidade Litológica de Xis-
classificada em pontos cardeais (N, S, L e O) e co- to – ULX, Unidade Litológica de Itabirito – ULI,
laterais (NL, NO, SL e SO). Sua utilização teve o Unidade Litológica de Quartzito – ULQ, Unidade
intuito de contemplar indiretamente a influência Litológica de Gnaisse – ULG, Unidade Litológica
de estruturas geológicas identificadas, porém não de Granodiorito e Tonalito – ULGT, Unidade Li-
utilizadas no mapeamento devido à falta de in- tológica de Diabásio – ULD e Unidade Litológica
formação compatível coma escala, gerando, dessa Elúvio-Coluvial – ULEC
forma, um modelo mais conservativo. Ainda, esse A geomorfologia foi inserida nas análises
parâmetro permite refletir diferenças na umidade de susceptibilidade por meio do agrupamento
do solo e na vegetação (Van Westen et al., 2008); de unidades de relevo com características seme-
(iii) curvatura total das vertentes, elaborada a par- lhantes. Teve por base o sistema de classificação
tir da combinação entre os perfis transversais e definido pela concepção de Ponçano et al. (1979),
longitudinais decompostos em formas côncavas, porém adaptada ao limiar de declividade média
lineares e convexas. Foi arquitetada, inicialmente, de 15° (Tabela 1). A menor unidade de análise uti-
a partir de pixels de 50 metros, convertidos, poste- lizada na definição das amplitudes locais foi a de-
riormente, em 5 metros, uma vez que resoluções limitação das bacias hidrográficas geradas a partir
espaciais mais abrangentes geram acuidades vi- do modelo digital de elevação invertido.
suais das formas mais evidentes ao operador. Es- Partindo do postulado básico de que os even-
calas de maior detalhamento tornam complexa a tos geodinâmicos se sucedem na paisagem sob a
caracterização do tipo de perfil da vertente, além influência das mesmas condições, a inventariação
de delinear as facetas da triangulação efetuada de movimentos passados é um dos parâmetros
para se obter o MDE (Garcia, 2012). de entrada mais importantes nas metodologias
A geologia utilizada seguiu as observações estatísticas de mapeamento. Tem por princípio o
de Varnes et al. (1984). Isto é, foi agrupada em reconhecimento e a cartografia de sinais deixados

58
Análise da susceptibilidade a escorregamentos usando a abordagem estatística do fator de certeza no município de Moeda, Minas Gerais

por antigos escorregamentos. Em geral, esses si- do Google Earth Pro justapostas às curvas de nível
nais refletem mudanças morfológicas, tais como, e sobrepostas ao modelo 3D com exagero verti-
variação da forma, inclinação, posição, aparência cal, tudo com o intuito de facilitar a interpretação.
e topografia das encostas, que podem ser corrobo- Campanhas de campo foram realizadas em sítios
radas por alterações da paisagem (solo exposto/ específicos, selecionados aleatoriamente, objeti-
vegetação, presença de depósitos, etc.) (Guzzetti vando calibrar o processo de fotointerpretação e
et al., 2012). Para tal, foram utilizadas as imagens validar “in loco” o inventário produzido.

Tabela 1 – Critérios adotados na identificação de sistemas de relevo (adaptado de Ponçano et al., 1979).

Unidades Geomorfológicas Declividade da Vertente Amplitude Local


Relevo Colinoso < 15° < 100 m
Relevo de Morros com Vertentes Suavizadas < 15° 100 – 300 m
Relevo de Morrotes > 15° < 100 m
Relevo de Morros > 15° 100 – 300 m
Relevo Montanhoso > 15° > 300 m

2.2 Método do fator de certeza metodologias estatísticas de mapeamento de


susceptibilidade a escorregamentos (Chung &
Inicialmente desenvolvida com o intuito de Fabbri, 1993; Binaghi et al., 1998; Luzi & Pergalani,
auxiliar diagnósticos médicos (Shortliffe & Bu- 1999; Long, 2008; Sujatha et al., 2012; Devkota et
chanan, 1975), a técnica do Fator de Certeza foi al., 2013). Pode ser matematicamente formulada a
posteriormente incorporada ao espectro das partir da equação (1) (Heckerman, 1986).

(1)

Onde, Nij representa a classe i de um tema diminuição da mesma (Luzi & Pergalani, 1999).
cartográfico j utilizado no mapeamento (i,j = 1, 2, Assim, quanto maior a magnitude dos valores po-
3, 4, ..., n) e S faz referência aos escorregamentos sitivos maior é a influência do parâmetro analisa-
inventariados. Logo, P(S|Nij) é a probabilidade do sobre o processo, ao passo que quanto maior
de um acontecimento S se realizar condicionado a magnitude dos valores negativos menor é essa
à Nij, que nada mais é que a relação entre os es- influência. Valores próximos a zero significam
corregamentos cartografados em alguma classe i, que a probabilidade condicionada é muito similar
de algum cartograma j, e a área ocupada por essa à probabilidade à priori, não sendo possível afir-
mesma classe, e P(S) é a probabilidade à priori de mar nada sobre a certeza da proposição (Binaghi
um escorregamento ocorrer ao longo da área de et al., 1998).
estudo, ou seja, é a relação entre todos os escor- Determinada a influência singular de todas
regamentos cartografados e a região investigada. as variáveis explicativas consideradas, a sobre-
Cada CFij é concebido como um valor numé- posição dos dados é feita em pares, obedecendo
rico compreendido entre +1 e –1, onde valores a regra de integração verificada em Devkota et
positivos significam o aumento da certeza de en- al. (2012) e Long (2008), apresentada pela equa-
contrar um escorregamento e valores negativos a ção (2).

59
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

(2)

CF representa o resultado da integração de final, uma vez que decisões podem ser tomadas
dois parâmetros (CFi1 e CFi2), como, por exemplo, levando-se em consideração a qualidade dos ma-
declividade e perfil das vertentes. Esse resultado pas produzidos, o que pode ser acessado atra-
(CF) deve ser novamente integrado a outro tema vés de sua acurácia e poder preditivo (Beguería,
qualquer, até que todos os cartogramas explica- 2006). Visto a inviabilidade de se esperar por futu-
tivos sejam incorporados, sempre dois a dois e ras instabilizações de vertente na paisagem para
obedecendo as regras de agrupamento expostas assegurar a previsibilidade de um modelo, proce-
na equação (2). dimento conhecido como “wait and see” (Soeters &
Van Westen, 1996). Chung & Fabbri (2003) propu-
seram artifícios para a produção de amostras de
2.3 Análise de sensibilidade
escorregamentos autônomos. Para isso é necessá-
Durante a composição de uma análise estatís- rio restringir a utilização dos movimentos carto-
tica de susceptibilidade, diversos são os fatores de grafados e particionar o inventário de forma que
predisposição que podem ser incorporados, cada parte dos eventos seja utilizada na modelagem e a
qual com sua parcela de influência no desencadea- outra na avalição dos resultados.
mento do evento. Visto que o aumento no núme- Assim, para assegurar a envergadura do mo-
ro de parâmetros não se traduz, necessariamente, delo de susceptibilidade empregado no municí-
pio de Moeda, uma divisão aleatória foi aplicada
num aumento de qualidade (Zêzere et al., 2005;
aos escorregamentos inventariados, sendo que
Sterlacchini et al., 2011; Piedade et al., 2011), é im-
metade dos eventos cartografados foi utilizada na
portante compreender a influência que cada parâ-
construção da abordagem matemática do Fator de
metro tem sobre o evento investigado.
Certeza. A metade restante foi utilizada, com um
Nesse sentindo, para a realização dessa eta-
evento independente, para a certificação da capa-
pa, cada mapa de parâmetro foi, de forma indivi-
cidade preditiva dos resultados obtidos.
dual, avaliado a partir da Curva de Sucesso, ferra-
Os métodos utilizados para estimar a
mental que será abordado mais à frente, no tópico
qualidade dos mapas gerados foram as Curvas
que envolve a validação dos modelos de suscep-
de Sucesso e Predição. A grande diferença entre
tibilidade. Com base nos resultados alcançados
ambas as técnicas reside na parcela do inventário
por esse procedimento, os diversos cartogramas
utilizada. A Curva de Sucesso faz uso da parce-
explicativos foram hierarquizados de acordo com
la do inventário empregada na modelagem, logo,
seu grau de relevância sobre o processo, de forma
avalia o grau de ajuste do modelo aos dados.
a garantir que a regra de integração representada
A Curva de Predição utiliza a parte restante do
pela equação (2) obedeça à ordem estipulada pela
inventário, ainda não utilizada, e seu resultado
análise de sensibilidade. tende a avaliar a capacidade do modelo em pre-
ver futuras manifestações de instabilidade (Perei-
2.4 Validação do modelo de susceptibilidade ra, 2009; Piedade et al., 2010). Em resumo, a Curva
de Sucesso avalia o resultado entre o modelo e os
A validação é a etapa metodológica destina- dados que o originaram, ao passo que a Curva
da à avaliação do grau de confiança nos resulta- de Predição, a partir do momento que decorre de
dos encontrados. É um instrumento importante um processo de validação independente, apresen-
durante a transferência dos produtos ao usuário ta capacidade de prever um acontecimento num

60
Análise da susceptibilidade a escorregamentos usando a abordagem estatística do fator de certeza no município de Moeda, Minas Gerais

horizonte temporal indefinido (Zêzere, 2006). De- No que diz respeito às unidades litológicas,
vido ao exposto acima, deve-se esperar que a cur- os grupos compostos, predominantemente, por
va de sucesso seja sempre superior à de predição filitos, itabiritos e depósitos elúvio-coluviais são
(Chung & Fabbri, 2003). Para facilitar a interpre- os que mais se destacaram no reconhecimento dos
tação dos resultados, foi calculada a Área Abaixo movimentos (Tabela 2). Partindo do pressuposto
da Curva (AAC) de todos os gráficos utilizados na de que, via de regra, os itabiritos apresentam uma
estimativa da qualidade do produto final gerado. resistência considerável, uma explicação plausí-
Dessa forma, cada vez que um mapa de pa- vel para seu elevado CF pode estar na coluna es-
râmetro era adicionado ao modelo pelas leis de tratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (Alkmim &
integração adotadas na equação (2), seguindo a Marshak, 1998), uma vez que podem ser encon-
trados sobrepostos aos filitos. Desta forma, o pro-
hierarquia determinada na análise de sensibilida-
blema não estaria na unidade rochosa em ques-
de, a área abaixo da curva de sucesso era calculada.
tão, mas no contato entre as camadas, gerando
O objetivo era avaliar se a integração proposta me-
um zona de fluxo subsuperficial que culminaria
lhoraria ou pioraria o grau de ajuste do modelo aos
na diminuição do atrito entre ambas, ocasionado
dados inventariados. Todos os modelos gerados a geração de uma possível superfície de ruptura.
foram analisados comparativamente, de forma que Os depósitos são, na sua grande maioria, compos-
o melhor resultado, ou seja, o modelo mais correto, tos por canga, que constituem crostas superficiais
foi selecionado para a análise subsequente, que en- lateríticas de grande resistência. Estão distribuí-
volveu a determinação da Curva de Predição. dos pontualmente ao longo dos itabiritos, atingin-
do menos de 0,001% da área de estudo. Isso per-
mite supor que essa unidade litológica pode ter
3 RESULTADOS
sido englobada por eventos terceiros, podendo,
A partir de uma abordagem comparativa en- numa análise subsequente, ser agrupada na Uni-
tre os resultados da análise de sensibilidade (AAC) dade Litológica de Itabirito - ULI.
explicitados na Tabela 2, é possível perceber que a A orientação das vertentes demonstrou que
declividade é um parâmetro altamente influente, as encostas direcionadas para os sentidos sudeste,
com destaque para as classes de declividade situa- sul e leste apresentaram relações com os eventos
das no intervalo de 20° a 70°. Apesar da faixa lo- cartografados (Tabela 2). A direção leste repre-
calizada entre 45° e 70° apresentar os valores mais senta a orientação preferencial das camadas geo-
elevados de CF, o que eleva o grau de certeza de lógicas do flanco oeste do Sinclinal Moeda, o que
sua influência sobre os eventos, sua distribuição ajuda a corroborar a hipótese atrelada aos eleva-
na região investigada é extremamente limitada, se dos índices de CF para os itabiritos. No interior
restringindo a uma área inferior a 1,5 km2, isto é, da área investigada, a oeste da Serra da Moeda,
a poucos pixels que possivelmente podem, numa são observadas foliações nas direções predomi-
análise subsequente, ser englobados em numa nantes sul e sudeste, provavelmente, resultado de
única classe acima de 45°. Nesse contexto, o inter- gnaissificação. Como dados estruturais não foram
valo de 20 a 45° assume grande responsabilida- levados em conta, a utilização dessas orientações
de na análise, uma vez que apresenta coeficientes podem gerar um modelo conservativo de análi-
de CF positivos que abrangem aproximadamente se, uma vez que encostas similares, porém não
33% do município estudado. estruturadas, apresentaram pesos de ponderação
A avaliação dos resultados referentes ao per- mais elevados no resultado final.
fil das vertentes evidenciou que as formas capazes Por último, as unidades geomorfológicas
de concentrar o fluxo de água são as mais atuan- apresentaram-se relevantes principalmente no
tes na identificação dos escorregamentos. Isso de- Relevo Montanhoso (Tabela 2), onde as amplitu-
monstra que o perfil horizontal está comandando des e declividades são mais acentuadas, podendo
o processo, fato que é facilmente observado pelos atingir valores superiores a ordem de 300 metros
índices positivos dos valores de ponderação de CF e 15 graus. Essa região estende-se ao longo de
para as formas das vertentes Convexa-Côncava, toda a Serra da Moeda, sendo também circunscri-
Linear-Côncava e Côncava-Côncava (Tabela 2). ta numa parcela interiorana do município.

61
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Tabela 2 – Valores de ponderação atribuídos às classes de todos os parâmetros explicativos por meio da técnica
estatística do Fator de Certeza e avaliação do grau de relevância de cada fator predisponente.

Análise
Parâmetro
Classes de Intervalo CFij Sensitiva
Analisado
(AAC)
0-5 -0,69
5 - 10 -0,89
10 - 15 -0,57
15 - 20 -0,11
20 - 25 0,31
25 - 30 0,48
30 - 35 0,61
35 - 40 0,68
Declividade

40 - 45 0,73
0,715
45 - 50 0,77
50 - 55 0,79
55 - 60 0,74
60 - 65 0,65
65 - 70 0,82
70 - 75 -0,36
75 - 80 -0,02
80 - 85 -1,00
85 - 89,1 -1,00
Convexo - Convexo -0,36
Convexo - Linear -0,12
Perfil das vertentes

Convexo - Côncavo 0,55


(Curvatura)

Linear - Convexo -0,52


Linear - Linear -0,79 0,663
Linear - Côncavo 0,29
Côncavo - Convexo -0,45
Côncavo - Linear -0,57
Côncavo - Côncavo 0,44
Unidade Litológica de Filito 0,51
Unidades Litológicas

Unidade Litológica de Itabirito 0,88


Unidade Litológica de Xisto -1,00
Unidade Litológica de Quatzito -0,03
0,649
Unidade Litológica de Granodiorito e Tonalito -0,37
Unidade Litológica de Diabásio -0,98
Unidade Litológica de Gnaisse 0,06
Unidade Litológica Elúvio-Coluvial 0,85
Plano - Flat -0,67
Orientação das vertentes

Norte - N -0,34
Nordeste - NE -0,23
Leste - E 0,34
Sudeste - SE 0,51 0,642
Sul - S 0,46
Sudoeste SO 0,08
Oeste - O -0,35
Noroeste - NO -0,25
Relevo Colinoso -0,52
Relevo de Morros com Vertentes Suavizadas -0,52
Unidades
Geomorf.

Relevo de Morrotes -1,00 0,594


Relevo de Morros 0,07
Relevo Montanhoso 0,26

62
Análise da susceptibilidade a escorregamentos usando a abordagem estatística do fator de certeza no município de Moeda, Minas Gerais

Determinado o grau de relevância de cada


fator predisponente na investigação, procedeu-
-se a hierarquização dos parâmetros com base na
análise sensitiva, com o objetivo de alimentar a
expressão de integração determinada pela equa-
ção (2). O resultado encontrado é apresentado na
Figura 2, onde é possível observar quatro cur-
vas de sucesso, uma para cada modelo. Pode-se
perceber que a curva do modelo FC 4 está ligei-
ramente mais elevada que as demais, fato que é
corroborado pelo cálculo da área abaixo da curva Figura 3 – Comparação entre as Curvas de Sucesso e de Pre-
dição para o Modelo FC 4.
até o eixo das abscissas (AAC = 0,794). Isso de-
monstra que para uma mesma porcentagem do
território, os modelos conseguem capturar di-
ferentes porcentagens de escorregamentos. Por
exemplo, em 20% do território, o modelo FC 1
consegue identificar, aproximadamente, 53%
dos escorregamentos, ao passo que o modelo FC
4 consegue, para os mesmos 20%, modelar 60%
dos movimentos. Assim, dentre os quatro mode-
los analisados, o que englobou todos os temas foi
considerado mais robusto, uma vez que apresen-
tou maior capacidade de individualizar as áreas
mais propensas aos eventos.

Figura 4 – Mapa de susceptibilidade a escorregamentos ela-


borado pelo método do Fator de Certeza.

Assim, com base na curva de predição, o ter-


ritório foi compartimentado em três zonas, alta,
Figura 2 – Análise da taxa de sucesso dos diferentes modelos média e baixa susceptibilidade, tendo como base
desenvolvidos pela combinação progressiva dos parâmetros. a previsibilidade de novos eventos em cada clas-
se (Figura 3). A zona de alta susceptibilidade foi
A segunda etapa constou em avaliar a taxa definida como a área que irá receber 70% dos fu-
de predição do Modelo FC 4, considerando a ou- turos escorregamentos, correspondendo a 29%
tra metade dos dados inventariados, ainda não da região estudada, situada, predominantemen-
utilizada na análise, logo, independente, simu- te, ao longo da Serra da Moeda. A zona de mé-
lando a ocorrência de novos eventos na paisa- dia susceptibilidade foi definida como a área que
irá sediar 20% dos novos movimentos, ocupan-
gem (Figura 3). É notável uma queda na curva de
do 25% do território. Por último, a zona de baixa
predição quando comparada a de sucesso, fato
susceptibilidade foi definida como a porção que
que se deve ao modelo ser construído com um
será atingida por 10% dos futuros eventos e cobre
inventário (grupo de treino) e ser validado com
cerca de 46% da região mapeada. Com base nes-
outro (grupo de teste).
sa proposta, os índices resultantes da integração

63
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

entre declividade, perfil e orientação das verten- Agradecimentos


tes e unidades litológicas e geomorfológicas fo-
ram reagrupados para comportar as três classes Os autores agradecem o apoio financeiro
discriminadas anteriormente, cada qual com sua concedido pelo Conselho Nacional de Desenvol-
capacidade preditiva, dando origem ao mapa de vimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela
susceptibilidade a escorregamentos conforme é Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
apresentado na Figura 4. Nível Superior (CAPES), bem como ao Núcleo
de Avaliação e Gestão de Perigosidades e Risco
Ambiental (RISKam), do Instituto de Geografia e
4 CONCLUSÃO Ordenamento do Território da Universidade de
Lisboa (IGOT-UL), onde foi desenvolvido parte
A abordagem estatística aplicada permitiu a
do estudo.
identificação dos parâmetros mais influentes so-
bre o processo investigado. Em suma, as encos-
tas situadas em áreas montanhosas, compostas REFERÊNCIAS
por terrenos predominantemente filíticos e ita-
biríticos, direcionadas para leste, sul e sudeste, Aleotti, P. & Chowdhury, R. 1999. Landslide
com declividade superior a 20 graus e morfolo- hazard assessment: summary review and new
perspectives. Bulletin of Engineering Geology
gia capaz de concentrar o fluxo de água, apre-
and the Environment, 58: 21-44.
sentam os atributos mais propensos ao desenca-
deamento de deslizamentos num futuro ainda Alkmim, F.F. & Marshak, S. 1998. Transamazonian
indeterminado, porém capaz de ser setorizado Orogeny in the Southern São Francisco Craton
espacialmente. Vale ressaltar que essa combina- Region, Minas Gerais, Brazil: evidence for
ção de fatores serve para descrever, em particu- Paleoproterozoic collision and collapse in the
lar, a região alvo do estudo. Quadrilátero Ferrífero. Precambriam Research,
Dessa maneira, a técnica empregada permi- 90: 29-58.
tiu identificar e integrar as características mais
relevantes presentes em cada cartograma expli- Beguería, S. 2006. Validation and evaluation of
predictive models in hazard assessment and risk
cativo utilizado no processo de mapeamento, ao
management. Natural Hazards, 37: 315-329.
passo que, os métodos de validação empregados
aferiram a robustez e a capacidade preditiva do Binaghi, E., Luzi, L., Madella, P., Pergalani, F. &
modelo, além de permitir que o mesmo fosse Rampini, A. 1998. Slope instability zonation: a
classificado de forma menos subjetiva, com base comparison between certainty factor and fuzzy
na previsibilidade aferida a cada classe de sus- dempster - shafer approaches. Natural Hazards
ceptibilidade. 17: 77-97.
Á vista do expresso acima pode-se concluir
que a utilização do enfoque estatístico, que no Brasil. 2012. Lei n° 12.608, de 10 de abril de
caso específico desse trabalho foi o do Fator de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e
Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre o Sistema
Certeza, permitiu reconhecer as peculiaridades
Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC
do local, as quais podem sofrer mutações de
e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil
acordo com o ambiente que está sendo investi-
- CONPDEC; e dá outras providências. Diário
gado. Essa é uma das grandes vantagens da apli- Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
cação desse tipo de metodologia, onde cada área DF, 11 p.
mapeada é tratada na particularidade de seus
condicionantes, minimizando a subjetividade CEPED-UFSC 2012. Atlas Brasileiro de Desastres
imposta pelo operador, principalmente, quando Naturais 1991 a 2010: Volume Brasil. Centro
métodos diagnósticos da capacidade preditiva Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
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66
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação
para planejamento e gestão territorial:
cartas de suscetibilidade, perigo e risco
Flood mapping areas for land use planning:
susceptibility, hazard and risk zoning

Sofia Julia Alves Macedo Campos


Eng., Mestre, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de
São Paulo - IPT, 11-37674432. E-mail:scampos@ipt.br

Fausto Luis Stefani


Geól., Mestre, IPT, 11-37674934. E-mail: fstefani@ipt.br;

Nivaldo Paulon
Tecg., IPT, 3767-4765. E-mail: niva@ipt.br

Luiz Gustavo Faccini


Geógr., IPT, 11-37674765. E-mail: lgfaccini@ipt.br

Omar Yazbek Bitar


Geól., Dr., IPT, 11-37674489. E-mail: omar@ipt.br

RESUMO ABSTRACT

Este trabalho aborda conceitos relacionados ao ma- This paper approaches concepts related to mapping
peamento e elaboração de cartas de suscetibilidade, and formulation maps of susceptibility, hazard and risk
perigo e risco ao processo hidrológico de inundação to gradual river flooding hydrologic process, with the
fluvial gradual, apresentando a abrangência e aplica- scope and application of each map in the prevention
ção de cada uma das respectivas cartas no contexto de of natural disasters in the urban expansion and aid
prevenção de desastres naturais frente à expansão ur- territorial management contexts. From literature
bana e no auxílio ao planejamento e gestão territorial. review, it shows the different approaches and the
A partir de revisão bibliográfica, identificam-se os di- main factors related to the preparation and content
ferentes enfoques e os principais fatores relacionados of susceptibility, hazard and risk maps to gradual
à elaboração e ao conteúdo das cartas de suscetibili- flood. The results indicate that, in general, the maps
dade, perigo e risco ao processo de inundação fluvial relating to this process apply to susceptibility, hazard
gradual. Os resultados indicam que, de modo geral, os or risk have correspondence with different objectives
mapeamentos referentes a esse processo aplicam-se a and work scale involved. Thus, to map gradual river
cartas de suscetibilidade, perigo ou risco e têm corres- flood, it follows that the susceptibility is associated
pondência com distintos objetivos e escalas de trabalho with natural terrain conditions that favor water level
envolvidas. Assim, para o mapeamento da inundação rise in the drainage channel with overflow, reaching
fluvial gradual, tem-se que a suscetibilidade está mais floodplains and river terraces. Hazard is associated
associada às condições naturais do terreno que favore- with the event occurrence probability in a given area

67
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

cem a elevação do nível d’água no canal de drenagem and time. Risk incorporates the use and occupation,
com transbordamento, atingindo as planícies aluviais e considering the vulnerability associated with damage
os terraços fluviais. O perigo se associa à probabilidade to the achievable areas. As part of territorial planning,
de ocorrência do evento em determinada área e tempo. we seek to avoid or mitigate problems and extend
Para risco, incorpora-se o uso e ocupação do solo, pon- necessary actions. The management is configured as
derando-se a vulnerabilidade associada aos danos nas the fulfillment of the conditions the planning done in
áreas atingíveis. No âmbito de planejamento e ordena- the past helped to build. The map type depends on the
mento territorial, busca-se evitar ou mitigar problemas purpose that may be planning or management, as well
e potencializar ações necessárias. A gestão se configu- as the scale, which can be of detail, intermediate detail
ra como a efetivação das condições e requisitos que o or regional, and also of their possible applications. The
planejamento realizado ajudou a elaborar. Assim, o main methods to the elaboration of these maps are
tipo de carta depende do objetivo, podendo ser plane- discussed.
jamento ou gestão, bem como da escala, que pode ser
de detalhe, semidetalhe ou regional e, ainda, de suas Keywords: hydrologic process; gradual river flooding;
possíveis aplicações. Apresentam-se e discutem-se os susceptibility map; hazard map, risk map.
principais métodos para elaboração dessas cartas.

Palavras-chave: processo hidrológico; inundação flu-


vial gradual; carta de suscetibilidade; carta de perigo,
carta de risco.

1 INTRODUÇÃO quantitativas dos múltiplos aspectos de um de-


terminado ambiente, como o tipo de solo, a con-
O mapeamento de áreas sujeitas a inunda- formação do relevo e a influência da cobertura
ções reveste-se de extrema importância no pla- vegetal. A segunda, associada às engenharias,
nejamento territorial, particularmente sob a pers- envolve conceitos de hidrologia e hidráulica, com
pectiva de subsidiar a prevenção de desastres elaboração de modelos chuva-vazão e simulação
naturais frente à expansão urbana, assim como do comportamento dos escoamentos. Assim, cada
auxiliar na gestão das áreas ocupadas. Existem carta está diretamente relacionada a seus objeti-
áreas naturalmente sujeitas à inundação, com- vos, o que também determina a abordagem ado-
preendendo o leito menor e o leito maior dos rios tada para sua elaboração.
e que, com determinada periodicidade, são atin-
gidas pelas águas. Entretanto, a impermeabiliza-
ção gerada pela urbanização altera as condições 2 OBJETIVOS, MATERIAIS E MÉTODOS
de escoamento natural nos terrenos, diminuindo
Este trabalho objetiva sintetizar os resultados
o tempo de concentração nas bacias de drenagem,
de levantamentos, análises e discussões acerca de
aumentando progressivamente as vazões e os da-
conceitos básicos relacionados ao mapeamento de
nos ocasionados pelas inundações. Nesse contex-
suscetibilidade, perigo e risco ao processo hidro-
to, merece destaque a utilização diferenciada dos
lógico de inundação fluvial gradual e apresentar
termos suscetibilidade, perigo e risco quando da
algumas cartas típicas para cada uma das aborda-
solicitação e/ou elaboração de cartas para plane-
gens, considerando a variedade de perspectivas
jamento ou gestão territorial, tanto por técnicos de diferentes campos de conhecimento. Visa tam-
quanto por gestores públicos, muitas vezes sem o bém analisar a abrangência e aplicação de cada
devido entendimento do alcance de cada um des- uma das correspondentes cartas geradas no con-
ses instrumentos. texto de prevenção de desastres naturais frente à
O mapeamento de áreas sujeitas à inundação expansão urbana e no auxílio à gestão territorial.
fluvial gradual envolve uma temática abrangente O trabalho se fundamenta em revisão biblio-
e sem fórmulas definitivas, podendo-se empregar gráfica, na qual se busca identificar os principais
duas abordagens dependendo da aplicação pre- fatores relacionados a cada uma dessas cartas para
tendida. A primeira envolve análises descritivo- o estudo do processo hidrológico e hidráulico

68
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial

da inundação fluvial gradual. Utilizam-se, ainda, nos fatores permanentes, ou seja, nas condições
resultados de experiências práticas na elaboração predisponentes dos terrenos, principalmente nas
de cartas de suscetibilidade em municípios, consi- características geológicas, topográficas e mor-
derando a interação com técnicos das prefeituras, fológicas das bacias que tendem a favorecer o
tendo em conta os trabalhos relatados em Bitar transbordamento do nível d’água, por ocasião de
(2014). Associam-se, para fins de análise, as tipolo- chuvas intensas. Quando se considera os fatores
gias de cartas aos diferentes instrumentos de pla- transitórios, ou seja, associados à ocorrência de
nejamento e gestão territorial que as demandaram, chuvas, associa-se a probabilidade de ocorrência,
bem como se verificam as escalas de mapeamento tratando-se de carta de perigo de inundação ou,
geralmente utilizadas e as possíveis aplicações dos ainda, carta de aptidão à urbanização. E, conside-
produtos gerados em mapeamentos executados. rando os fatores mistos, que se relacionam ao tipo
de uso e ocupação do solo, considera-se, além do
perigo, a vulnerabilidade e os possíveis danos as-
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO sociados e, assim, trata-se de carta de risco.
Segundo Monteiro e Kobiyama (2013), há
De uma maneira geral, sobretudo em bacias
uma diferenciação entre mapa de inundação,
hidrográficas rurais, parte das águas pluviais é re-
mapa de perigo de inundação e mapa de risco de
tida pela cobertura vegetal, outra parte infiltra-se
inundação. O mapa de inundação consiste na deli-
no subsolo e o restante tende a escoar sobre a su-
mitação das áreas inundadas com a altura da lâmi-
perfície de forma gradual, produzindo um hidro-
na de água. Este está atrelado a um único período
grama com variação lenta de vazão e com picos
de retorno. De acordo com Moel et al. (2009, apud
de enchentes moderados. As enchentes naturais
Monteiro e Kobiyama, 2013), o mapa de perigo de
extravasam a calha menor ocupando o leito maior
inundação contém informações sobre a probabi-
dos rios com certa periodicidade. Conhecidos os
lidade e/ou magnitude de um evento, enquanto
processos e suas consequências, é necessário pla-
o mapa de risco contém informações adicionais
nejar a ocupação do espaço urbano com infraes-
sobre as consequências (danos econômicos, pes-
trutura e condições que possam evitar impactos
soas afetadas). Assim, mapas de suscetibilidade a
econômicos e sociais.
inundação são utilizados para a criação do mapa
É imprescindível considerar que a existência
de perigo de inundação que, junto com fatores de
de perigos naturais é uma função do ajustamento
vulnerabilidade e de danos prováveis, é utilizado
humano a eles, posto que sempre envolvam ini-
para criar o mapa de risco de inundação.
ciativa e decisão humana, ou seja, em princípio,
“enchentes não seriam danosas se o homem evi-
tasse as planícies de inundação” (MONTEIRO, 3.1 Planejamento e gestão urbana
1991, p. 08).
A ocorrência de uma inundação é o resulta- Segundo Cardoso (2014) há que se esclarecer
do de vários fatores que interferem na formação que planejamento e gestão são conceitos comple-
dos escoamentos e em sua propagação ao longo mentares. Planejar remete ao futuro, significando
da bacia hidrográfica de contribuição (PINHEIRO, tentar prever a evolução de um fenômeno ou, ain-
2007). Os fatores que se interrelacionam e são res- da, tentar simular os desdobramentos de um pro-
ponsáveis pela ocorrência de eventos de inundação cesso, com o objetivo de melhor prevenir-se em
podem ser divididos em: transitórios, associados à relação a prováveis problemas ou, inversamente,
ocorrência de chuvas, taxas de evapotranspira- com o intuito de maximizar ou potencializar pro-
ção e grau de saturação do solo; permanentes, que váveis benefícios. Por sua vez, gestão trata do pre-
correspondem às características morfométricas da sente, significando administrar uma situação den-
bacia de drenagem e à geologia; e mistos, que es- tro dos marcos dos recursos disponíveis e tendo
tão relacionados ao tipo de uso e ocupação do solo em vista as necessidades imediatas. Noutros ter-
(COOKE e DOORNKAMP, 1990). mos, o planejamento é a preparação para a gestão
Pode-se, então, afirmar que o mapeamento de futura, buscando-se evitar ou mitigar problemas,
áreas suscetíveis a inundações graduais apoia-se enquanto a gestão é a efetivação prática e atual

69
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

das condições que o planejamento realizado no futura das perdas materiais e humanas em face
passado ajudou a construir. das grandes cheias.
Duarte (2007) conceitua planejamento como
um processo cujo resultado, sempre parcial, é o
3.2 Escala de trabalho
plano. O plano tem partes; o planejamento, eta-
pas. Essas etapas são: diagnóstico; prognóstico; A escala de trabalho está diretamente rela-
propostas e gestão urbana. Dentre essas partes, a cionada com os objetivos do produto a ser gera-
gestão urbana é um conjunto de instrumentos, ati- do. A medida que o detalhamento aumenta, são
vidades, tarefas e funções que visam a assegurar o necessárias análises e ferramentas diferenciadas.
bom funcionamento de uma cidade. A escala tem grande importância, pois, à medida
Assim, segundo essas definições, simplifi- que se aproxima de uma análise de risco, ou seja,
cadamente, o planejamento representaria os ce- quando há necessidade de avaliar danos em áreas
nários de urbanização possíveis de implantar ocupadas, há necessidade de pormenores. Assim,
analisando-se como situação inicial a condição seria inapropriado elaborar mapa de riscos em es-
natural dos terrenos aos processos de dinâmi- calas regionais ou de semidetalhe, sendo necessá-
ca superficial, particularmente os hidrológicos rias escalas de detalhe, ou seja, escala próxima da
e, considerando o planejamento para ocupação de projeto (1:2.000 ou maior). Contudo, na prática,
urbana, ainda, as probabilidades ou perigo de muitas vezes a escala de trabalho pode ser contro-
ocorrência das inundações nos locais a urbanizar. lada pela escala dos mapas topográficos ou bases
O mapeamento de riscos seria então um dos ins- disponíveis. Fell et al. (2008) apresentam escalas
trumentos de gestão urbana para assegurar a redu- de mapeamento recomendadas, de acordo com os
ção de impactos econômicos e sociais, por meio de objetivos, para deslizamentos. Para inundações
zoneamento, quando as áreas já estão ocupadas. graduais, pode-se propor uma análise semelhan-
O zoneamento propriamente dito é a definição de te, conforme discutido em Campos et al. (2015) e
um conjunto de regras para a ocupação das áreas apresentado na (Figura 1).
de risco de inundação, visando à minimização

Figura 1 – Variáveis no mapeamento e zoneamento de inundações fluviais graduais, de acordo com os tipos
de zoneamento. (Fonte: Campos et al., 2015)

70
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial

3.3 Aplicação das cartas sistemas mais sofisticados, como monitoramento


e sistemas de alerta.
As cartas de suscetibilidade e perigo podem
auxiliar no planejamento da expansão urbana uma
vez que possibilitam antever, no primeiro caso, ter- 3.4 Cartas de suscetibilidade, perigo e risco
renos naturalmente suscetíveis à inundação, por se à inundação
localizarem em cotas baixas e próximas aos canais ou
A partir dos conceitos discutidos, apresenta-se
pontos de acúmulo de água e, no segundo caso, man-
o conteúdo e principais métodos adotados para a
chas de inundação associadas a um período de re-
elaboração das cartas de suscetibilidade, perigo e
torno (probabilidade de ocorrência), associando-se
risco à inundação.
também as condições hidrodinâmicas de escoa-
mento nos canais. As modelagens hidrológicas e
hidráulicas utilizadas nas cartas de perigo, com 3.4.1 Carta de suscetibilidade
elaboração de modelos chuva-vazão e simulação
do comportamento dos escoamentos, por meio de Segundo Bitar (2014), a suscetibilidade ou
análise unidimensional ou bidimensional no canal a propensão ao desenvolvimento de um proces-
e planície de inundação, propiciam, após calibra- so em uma dada área, quanto à inundação flu-
ção, análises de cenário de ocupação na bacia, as- vial gradual, pode ser mapeada de acordo com
sim como a previsão de impacto de instalação de as seguintes atividades: abordagem quantitativa
obras de macrodrenagem, considerando-se a pro- baseada em índices morfométricos; definição da
babilidade de ocorrência do evento. área de estudo para aplicação dos índices morfo-
As cartas de risco são instrumentos para ges- métricos segundo a bacia hidrográfica do rio prin-
tão urbana. Segundo Andjelkovic (2001), pode-se cipal em que o município se insere; hierarquização
iniciar a construção de estruturas que previnam relativizada na bacia hidrográfica quanto à susce-
os danos, alertar atuais e futuros proprietários de tibilidade a inundações de cada uma das sub-ba-
terras sujeitas às inundações, bem como auxiliar cias contribuintes (ETAPA 1); espacialização da
as autoridades e tomadores de decisões a desen- inundação a partir de altura de lamina d’água em
volver novas ideias de desenvolvimento sustentá- relação à drenagem mais próxima (ETAPA 2), e
vel para estas áreas. Shidawara (1999) argumenta integração e recorte na área que abrange o conjun-
que os mapas de risco possuem um grande papel to do território formado por planícies e terraços
no sistema de prevenção de inundação, pois em fluviais e/ou marinhos (ETAPA 3). Os procedi-
municípios pequenos e com poucos recursos eco- mentos de análise e classificação consistem de três
nômicos torna-se muito difícil a implantação de etapas básicas, conforme apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Fluxograma das três etapas básicas executadas para fins de análise, classificação e zoneamento da
suscetibilidade a inundações. (Fonte: Bitar, 2014)

71
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

A análise morfométrica de bacias hidrográfi- escala variável entre 1 (menor suscetibilidade) e


cas (ETAPA 1) pode ser definida como a “análise 5 (maior suscetibilidade).
quantitativa das interações entre a fisiografia e a Para a espacialização da inundação nas pla-
sua dinâmica hidrológica” que propicia um co- nícies e terraços (ETAPA 2), utiliza-se o modelo
nhecimento da dinâmica fluvial, bem como das HAND (Height Above the Nearest Drainage), de-
relações existentes entre essa dinâmica e os di- senvolvido por Rennó et al. (2008), que mede a di-
versos componentes do meio físico e biótico de ferença altimétrica entre qualquer ponto da grade
uma bacia. Analisam-se parâmetros dos terrenos do MDE e o respectivo ponto de escoamento na
que evidenciam ou favorecem a ocorrência das drenagem mais próxima, considerando a trajetó-
inundações graduais. O procedimento é execu- ria superficial de fluxo (flowpath) que liga topo-
tado de forma relativa, hierarquizando, em vis- logicamente os pontos da superfície com a rede
ta das bacias analisadas, aquelas que possuem de drenagem. O resultado é uma grade que repre-
maior ou menor grau de suscetibilidade. A Fi- senta a normalização do modelo digital de eleva-
gura 3 apresenta os parâmetros e índices selecio- ção (MDE) em relação à drenagem e indica a área
nados e extraídos para cada uma das sub-bacias onde uma cheia pode se desenvolver, em caso
que compõem a bacia hidrográfica em que o ter- de haver água em excesso fluindo na superfície
ritório municipal em análise se insere. Os valo- (PIRES e BORMA, 2013). Esse modelo apresenta
res correspondentes aos parâmetros são norma- locais mais suscetíveis à inundação por estarem
lizados para fins de comparação de grandeza e em posições altimétricas mais próximas a uma
elaboração de um índice geral que propicie ava- provável linha de fluxo. O modelo, entretanto,
liar a influência de cada sub-bacia na ocorrência não considera as condições hidrodinâmicas do es-
de inundações tal que se estabeleça a ordem de coamento que também podem gerar inundações.
grandeza de cada parâmetro ou índice em uma

Figura 3 – Parâmetros e índices morfométricos selecionados, contendo referência, modo de cálculo e


influência possível acerca da suscetibilidade a inundações. (Fonte: Bitar, 2014)

72
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial

Após a geração do modelo HAND, procede-se atribuem-se as seguintes classes: Alta a partir do
ao fatiamento, ou seja, à escolha das elevações nível normal da drenagem até o início do baixo
(ou alturas) acima do nível médio da drenagem terraço (englobando a planície aluvial atual); Mé-
para as quais serão atribuídos os patamares ou dia do início do baixo terraço até o início do alto
classes de suscetibilidade. Com base nas condi- terraço; e Baixa a partir do início do alto terraço,
ções geomorfológicas e pedológicas dos terrenos conforme Figura 4.

Figura 4 – Classes de fatiamento adotadas no âmbito da aplicação do modelo HAND em planícies e terraços a
partir das condições geomorfológicas e pedológicas. (Fonte: Bitar, 2014)

Esses valores, inicialmente atribuídos por entre as classes resultantes. A Figura 6 apresenta
meio de análise de seções transversais típicas ao a Carta de Suscetibilidade do município de Ilhota
longo das drenagens principais, são avaliados e va- em Santa Catarina.
lidados com os trabalhos de campo, incluindo-se
a verificação mediante levantamento de perfis
topográficos e de dados a respeito de marcas e
registros de inundações anteriores, quando dis-
poníveis nos municípios mapeados e, ainda,
informações de relatos de moradores locais nas
áreas afetadas. Também podem ser elaboradas
sondagens a trado para verificar os tipos de solo Figura 5 – Matriz de correlação entre as duas classificações de
suscetibilidade obtidas, segundo os índices morfométricos e
característicos. o modelo HAND.
A integração dos resultados obtidos nas Eta-
pas 1 e 2, compreende o cruzamento entre o grau
de suscetibilidade calculado por sub-bacia hi-
drográfica (ETAPA 1) e os resultados do HAND
(ETAPA 2). A operação é realizada por meio da
lógica booleana, comumente utilizada para a
identificação de relações entre distintos tipos de
dados geográficos (identificadas por meio de so-
breposição de temas ou de mapas temáticos), de
acordo com a matriz de correlação indicada na Figura 6 – Carta de Suscetibilidade a movimentos gravitacio-
Figura 5, efetuando-se, nos cruzamentos (ETAPA nais de massa e inundação para o município de Ilhota - SC.
(Fonte: Bitar, 2014).
3), adaptação em favor de um maior equilíbrio

73
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

3.4.2 Cartas de Perigo e Risco Segundo Monteiro e Kobyama (2013), a bacia de


estudo deve ser dividida em: sub-bacias de contri-
Segundo Tucci (2005), os mapas de inunda- buição (BCs) e área inundável (AI). As simulações
ção de cidades são de dois tipos: mapas de plane- hidrológicas são realizadas para as BCs e as hi-
jamento e mapas de alerta. Os mapas de planeja- drodinâmicas para a AI. As BCs são diferenciadas
mento definem as áreas que podem ser atingidas da AI pelo elevado potencial de inundação que a
por cheias de tempo de retorno escolhidos. En- segunda possui. Isto ocorre por causa da grande
quanto que os mapas de alerta são preparados declividade média dos rios principais das BCs e
com valores de cotas em cada esquina da área de por estas serem bacias de cabeceira. Como auxí-
risco permitindo o acompanhamento da enchente lio para esta diferenciação, deve-se realizar visitas
por parte dos moradores, com base nas observa- de campo e obter informações em entrevistas com
ções do nível de água em relação às réguas pré- moradores. As áreas que constituírem o mapa
-instaladas. Uniformizando os conceitos discuti- de inundação não podem ser consideradas como
dos, os mapas de suscetibilidade e perigo seriam BCs. Os mapas de perigo são confeccionados ape-
os de planejamento e os mapas de risco, os de
nas para a AI, visto que não há necessidade deste
alerta, ou seja, de gestão.
estudo nas BCs.
Conforme destacado por Monteiro e Kobiya-
Cabe destacar que algumas vezes as BCs po-
ma (2013), o mapa de inundação pode ser criado
dem estar associadas ao processo de enxurrada ou
de duas maneiras diferentes, por meio da con-
inundação rápida (flash flood). Independente do
fecção de uma mancha de inundação a partir de
modelo matemático a ser utilizado, este deve ser
dados observados da inundação ou por meio da
sempre calibrado e validado para o local e condi-
modelagem hidrodinâmica. O primeiro método
ções do problema.
fornece um mapa com mais exatidão, porém é de
O conceito de perigo relaciona-se com a pro-
difícil criação, pois os dados precisam ser adquiri-
babilidade de ocorrência do processo ou evento
dos em pleno evento de inundação. Como ponto
negativo tem-se a inflexibilidade em criar mapas num dado período de tempo na AI. Assim, rela-
com períodos de retorno pré-estabelecidos. No ciona-se com os fatores transitórios, ou seja, a chu-
segundo método, referente à modelagem hidro- va e a sua distribuição temporal na bacia, passí-
dinâmica, utilizam-se modelos físicos ou mate- veis de análise estatística.
máticos para a criação dos mapas de inundação, Monteiro e Kobiyama (2013) propõem quan-
sendo necessário, para a calibração e validação do tificar o perigo pois existem diferentes níveis de
modelo hidrodinâmico, a utilização de cotas do perigo que podem causar diferentes tipos de
evento de inundação. Neste segundo, o mapa de dano. O mapa de perigo é apresentado em fun-
inundação sempre está relacionado a um período ção da frequência de inundação (período de re-
de retorno que é utilizado diretamente na con- torno) e intensidade (índice de perigo), conforme
fecção do mapa de perigo. A qualidade do mapa “Equação (1)”. O índice de perigo (IP) proposto
depende da qualidade dos procedimentos que o por Stephenson (2002) corresponde ao produto
antecedem, e é muito sensível ao modelo digital da profundidade ou altura de inundação em me-
de terreno (MONTEIRO; KOBIYAMA, 2013). tros (h) e da velocidade do escoamento em m/s
Objetivando ações para planejamento, prin- (v) tal que:
cipalmente frente à expansão urbana, faz-se ne-
cessário prever as possíveis áreas atingidas para IP = h.v (1)
várias chuvas ou períodos de retorno, sendo mais
recomendado utilizar a abordagem da modela-
gem hidrodinâmica. Assim, este índice apresenta-se diretamente
Para delimitar as áreas atingidas em cada pe- relacionado à energia do escoamento, ou seja, ao
ríodo de retorno (TR), a modelagem matemática seu potencial destrutivo, tendo sido criado para
é realizada por meio de simulações hidrológicas indicar locais mais adequados para o desenvolvi-
e hidrodinâmicas, em escala de maior detalhe. mento urbano.

74
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial

Figura 7 – Níveis de Perigo Discretizado representando Intensidade (IP) x Probabilidade


(TR) (Fonte: Prevene, 2001 apud Monteiro e Kobiyama 2013).

Para adequar o método à realidade brasileira, de baixa importância, uma vez que despreza-se o
onde precipitações com alta intensidade ocorrem efeito da sinergia das vazões de contribuição.
com uma frequência elevada, adotam-se os perío- Os autores também destacam que para a lo-
dos de retorno de 5, 20 e 100 anos. Monteiro e Ko- calização de vias de transporte não se deve adotar
biyama (2013) identificaram que os níveis de pe- nenhum perigo como aceitável, pois em casos de
rigo são da seguinte maneira: 3 para Perigo Alto desastres naturais estas devem estar sempre aces-
(vermelho); 2 para Perigo Médio (laranja); 1 para síveis para a evacuação de pessoas. As obras de
Perigo Pequeno (amarelo) e 0 para Perigo Inexis- importância pública, como hospitais e escolas, de-
tente (sem cor). Foram observadas as participa- vem ser localizadas em áreas onde existe, no má-
ções das BCs na área do mapeamento de perigo, ximo, o perigo baixo. Obras, como parques para
quanto à alteração da área e volume inundados. lazer, que são utilizadas apenas quando não existe
Segundo esses autores, as sub-bacias que possuem ocorrência da precipitação, podem ser construídas
vazão de pico menor do que 2m³/s para o período aceitando o perigo alto, desde que após um even-
de retorno de 5 anos e menor do que 5m³/s para o to de inundação estes locais sejam reconstituídos.
período de retorno de 100 anos são consideradas As demais obras devem ser realizadas aceitando o

75
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

perigo médio, mas sempre tentando reduzir este conforme apresentado por Hora e Gomes (2009),
ao máximo. A Figura 8 apresenta o mapa de peri- quanto à inundação, tem-se a “Equação (3)”:
go confeccionado por Monteiro e Kobyama (2013)
para uma sub-bacia no braço do rio Baú, no muni- Risco à inundação = S (TR) *{(Vulnerabilidade
cípio de Ilhota. da Tipologia)*[((Altura de Inundação*P1) +
(Densidade Populacional*P2) +
(Densidade de Habitações*P3)) / S P)]} (3)

Onde:
(TR) é tempo de retorno (anos) das inundações
representado pelas probabilidades:
TR2 = 0,5; TR5 = 0,2; TR10 = 0,1; TR20 = 0,05; TR50
= 0,02 e TR100 = 0,01;
(Vulnerabilidade da Tipologia) é vulnerabilidade
das tipologias habitacionais, onde para cada tipo
de tipologia foi atribuído um valor de vulnerabi-
Figura 8 – Ilustração do Mapa de Perigo de Inundação uma lidade;
bacia de drenagem em Ilhota - SC (Fonte: Monteiro e Kobi- (Altura da Inundação) correlaciona-se aos danos
yama, 2013)
associados à altura da lâmina d´água;
(Densidade Populacional) são os valores de densi-
Segundo Westen et al. (2006), uma das me- dade populacional obtidos das análises; e
lhores definições conceitua o risco decorrente do (Densidade habitacional) são os valores de densi-
número previsto de vidas perdidas, de pessoas dade habitacional obtidos das análises.
feridas e desestabilização de atividades econô- Os valores P1, P2 e P3 são pesos atribuídos aos
micas, devido a um fenômeno particular corrente valores de Altura de Inundação, Densidade Po-
em uma área em um dado período. O risco im- pulacional e Densidade Habitacional, respectiva-
plica a proximidade de um dano ou adversidade mente, 2, 5 e 3.
o que pode afetar a vida dos homens. Não existe
risco sem que uma população ou indivíduo que O método para determinação do risco à inun-
o perceba e que poderia sofrer com seus efeitos dação proposto por Hora e Gomes (2009) é apre-
(VEYRET, 2007). Para Westen et al. (2006) a defini- sentado no diagrama da Figura 9.
ção genérica de risco pode ser esquematicamente
representado pela seguinte fórmula “Equação(2)”:

Risco = S (H S (V*A)) (2)

Onde:
H é representado pelo perigo expresso em função
da probabilidade da ocorrência dentro de um
período de frequência;
V representa a vulnerabilidade física dos
elementos que estão expostos ao risco, sendo
atribuído um valor (0 a 1) para cada elemento; e
A significa os danos causados aos elementos que
estão em risco.

Aplicando-se a definição do risco aos prin-


cipais atributos identificados em áreas ocupadas, Figura 9 – Diagrama para elaboração do grau de risco à inun-
dação (Fonte: Hora e Gomes, 2009)

76
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial

Hora e Gomes (2009) apresentam um estudo de distribuição das tipologias de uso e ocupação do
caso da cidade de Itabuna-BA, em área que abran- solo na área de estudo, ou seja, em escala de deta-
ge um polígono de 1,72km2, localizado na porção lhe (1:2000 ou maior), conforme Figura 11.
sudoeste, que engloba trecho do rio Cachoeira de Para a definição das cotas de inundação na
aproximadamente 2000m de extensão. Dentro desta área em estudo, associadas aos diferentes tempos
área localizam-se aglomerados subnormais, ocupa- de recorrências de cheias, Hora e Gomes (2009)
ções estas reconhecidamente suscetíveis aos fenô- utilizaram os dados de duas seções transversais
menos de inundação do rio (Figura 10). ao rio, adotando as cotas que representam a média
Conforme o método proposto, quanto ao dos valores correspondentes a estas duas seções.
uso e ocupação elabora-se o levantamento de

Figura 10 – Localização da área de estudo e ocupação em Itabuna, BA (Fonte: Hora e Gomes, 2009)

77
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Figura 11 – Distribuição dos diferentes tipos de uso e ocupação do solo na área de estudo
(Fonte: Hora e Gomes, 2009)

Por meio do conhecimento das cotas de inun- chega-se a uma média que retrata a sua densi-
dação nos diferentes tempos de recorrência e da dade habitacional e populacional. Com relação à
conformação do relevo obtido do modelo digital densidade habitacional na área estudada pelos
do terreno (MDT) da área em estudo, obtém-se a autores citados, os valores variam de 300 a 3.000
distribuição das profundidades de inundação, ou domicílios/km2, já para a densidade populacio-
seja, os dados são obtidos por meio da diminuição nal, os dados variam de 6.300 a 12.000 habitantes/
dos valores das cotas pelos valores da hipsometria. km2. Por meio dos valores de densidade calcula-
A estimativa do número de residências e dos para a área de estudo, estima-se a quantidade
habitantes das áreas atingidas pelas inundações de domicílios e pessoas que são atingidas pelas
é gerada a partir da observação dos valores dos cheias do rio Cachoeira para cada tipo de uso e
dados referentes aos setores censitários do IBGE. ocupação e em cada tempo de recorrência das
Dessa maneira, a partir da análise de cada setor, inundações (Tabela 1).

Tabela 1 – Quantidade estimada de domicílios e habitantes atingidos pelas cheias (Hora e Gomes, 2013)

78
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial

O resultado do emprego da Equação (3) na área em estudo é a geração do Mapa de Risco à Inun-
dação (Figura 12).

Figura 12 – Mapa de Risco a Inundação do trecho do rio Cachoeira estudado em Itabuna, BA (Fonte: Hora e Gomes, 2009).

Por fim, cada uma das áreas delimitadas terá definida na metodologia sugerida pelo Ministério
o seu grau de risco classificado em Muito alto, das Cidades (Tabela 2).
Alto, Médio ou Baixo em função da adaptação

Tabela 2 – Critérios para determinação dos graus de risco (Fonte: Ministério das Cidades, 2007)

79
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

4 CONCLUSÕES BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES /


INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS
O mapeamento de áreas sujeitas a inunda- – IPT. Mapeamento de Riscos em Encostas
ções tem relevância no planejamento territorial, e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho,
particularmente sob a perspectiva de subsidiar a Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi
prevenção de desastres naturais frente à expan- Ogura, organizadores – Brasília: Ministério das
são urbana e no apoio à gestão territorial. O tipo Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas –
de carta depende do objetivo (planejamento ou IPT, 2007.
gestão), escala (detalhe, semidetalhe ou regio-
nal) e aplicação, assim como da disponibilidade CAMPOS, S. J. A. M.; STEFANI, F. L.; PAULON,
de bases para geração de modelos e informações N. FACCINI, L. G.; BITAR, O. Y. Mapeamento
para validação. de áreas sujeitas à inundação para planejamento
Cartas de suscetibilidade e perigo podem e gestão urbana: cartas de suscetibilidade,
auxiliar no planejamento da expansão urbana, perigo e risco. In: 9º SIMPÓSIO BRASILEIRO
uma vez que possibilitam antever terrenos natu- DE CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA E
ralmente suscetíveis à inundação, por se localiza- GEOAMBIENTAL, 2015, Cuiabá, MT. Anais....
rem em cotas baixas, próximas aos canais de dre- Artigo, 51. CD-ROM.
nagem ou permitem que se associem manchas de
inundação a uma probabilidade de ocorrência. As CARDOSO, L . Breves Notas sobre o planejamento
modelagens hidrológicas e hidráulicas utilizadas Físico-Territorial. Disponível em: http://
nos mapas de perigo permitem, após validação, www.etg.ufmg.br/tim1/planejamento-urbano-
que se realizem análises de cenário para a ocupa- bonsucesso.pdf. Acesso em: 18 de Novembro de
ção na bacia. No caso de bacias de drenagem já 2014.
ocupadas, a mesma abordagem de perigo deve
ser reprocessada com maior detalhe, avaliando-se COOKE, R. U.; DOORNKAMP, J. C.
também a vulnerabilidade. Cartas de risco são Geomorphology in environmental management.
instrumentos para gestão urbana que servem para Oxford: Claredon Press, 1990. 410 p.
orientar a construção de estruturas que previnam
os danos, alertar atuais e futuros proprietários Duarte, Fábio. Planejamento urbano. Ipbex,
de terras sujeitas às inundações e auxiliar as au- Curitiba, 2007
toridades e tomadores de decisões a desenvolver
novas ideias para o desenvolvimento sustentável FELL, R. et al. Guidelines for landslide
nessas áreas. susceptibility, hazard and risk zoning for land-
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111, 2008.
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80
Mapeamento de áreas sujeitas à inundação para planejamento e gestão territorial

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81
MAPEAMENTO GEOLÓGICO DA ÁREA
URBANA DE CAXIAS DO SUL COMO ETAPA
DA CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA
GEOLOGICAL MAPPING OF CAXIAS DO SUL URBAN
AREA AS AN STEP OF GEOTECHNICAL MAP

Saulo Borsatto
Programa de Pós-graduação em Geociências, Instituto de
Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: sauloborsatto@yahoo.com.br

Norberto Dani
Departamento de Geodésia, Instituto de Geociências,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: norberto.dani@ufrgs

Luiz A. Bressani
Departamento de Engenharia Civil, Escola de Engenharia,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: bressani@ufrgs.br

Nelson A. Lisboa
Departamento de Geodésia, Instituto de Geociências, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: nelamorettilisboa@gmail.com

RESUMO ABSTRACT

Caxias do Sul apresenta alguns problemas com escor- Caxias do Sul has some landslides and land use
regamentos de terra e problemas de uso e ocupação do and occupation problems due to social demands,
solo, decorrentes da dinâmica social, da geomorfologia geomorphology and characteristics of subsoil
e também devido às características dos materiais que materials. Volcanic acid rocks from Serra Geral
compõem o subsolo urbano. No município, afloram Formation are visible in the region as well as recent
rochas vulcânicas ácidas pertencentes à Formação Ser- deposits of talus and colluviums. The overall objective
ra Geral, bem como depósitos recentes de tálus e co- of this paper is to present the collected data from field
lúvios. O objetivo geral desse estudo foi coletar novos and desk work, reinterpretation of existent geology
dados de campo e de escritório, reinterpretar dados de and geomorphology data for a better understanding
geologia e geomorfologia para melhor compreender as of the properties and characteristics of the urban
propriedades e características do subsolo urbano. To- subsoil. All data acquired during the development of
dos os dados adquiridos ao longo do desenvolvimento this work were organized in a GIS. The following steps
desse trabalho foram organizados em um SIG. Foram were taken (a) analysis and interpretation of aerial
feitas (a) análise e interpretação de fotografias aéreas photographs (geomorphological and geological photo-
(fotointerpretação geomorfológica e geológica); (b) rea- interpretation); (b) field inspections for a geological
lização de inspeções campo para um mapeamento geo- mapping; (c) petrographic description and chemical
lógico; (c) descrição de lâminas petrográficas e análise analysis rock samples collected in the field. One
química das rochas coletadas em campo. Foi mapeada geological unit was mapped in this work, chemically
uma unidade geológica neste trabalho, quimicamente classified as Dacite, but presenting marked macro

83
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

classificada como Dacito, mas que apresenta caracte- and microscopic characteristics which allowed its
rísticas macro e microscópicas tão particulares que per- subdivision into five subtypes: Forqueta Dacite, which
mitiu a sua divisão em cinco subtipos: Dacito Forqueta, has a marked flow structure as evidenced by different
que apresenta uma estrutura de fluxo bem marcada; color bands; Caxias Dacite presenting tabular sub-
Dacito Caxias, que apresenta estratos tabulares sub- horizontal strata in its basal portion; Canyon Dacite
-horizontais na sua porção basal; Dacito Canyon, com with subvertical flow structure; Ana Rech Dacite
uma estrutura de fluxo subvertical; Dacito Ana Rech, characterized by a marked horizontal stratification in
que se caracteriza pela sua marcada estratificação hori- all its outcrops and Galópolis Dacite comprising two
zontalizada em toda a sua área de ocorrência e Dacito lava flows which have been unified into a single unit
Galópolis, compreendendo dois derrames que ocorrem due to the slope of the terrain.
de forma bem característica sendo um intervalo basal
vulcânico e um vidro vulcânico superior, que foram Keywords: Caxias do Sul. Geology. Geological
unificados em uma só unidade devido à declividade mapping.
do local.

Palavras-chave: Caxias do Sul. Geologia. Mapeamento


geológico.

1 INTRODUÇÃO Ocupa uma área territorial de 1.648,60 km2 e limi-


ta-se a noroeste com os municípios de Flores da
O crescimento acelerado das cidades, ocor- Cunha, São Marcos, Campestre da Serra e Monte
rido nas últimas décadas em virtude da busca Alegre dos Campos; a leste, com São Francisco de
por melhores condições de vida, tem levado as Paula; a sudeste, com Gramado e Canela; a sul,
diferentes populações a migrarem para as áreas com Nova Petrópolis e Vale Real e a Oeste, com
urbanas que apresentam melhores perspectivas o município de Farroupilha. Os limites extremos
de crescimento econômico. Estudos geológicos e do município encontram-se delimitados entre os
geotécnicos constituem ótimos instrumentos de paralelos 28º 19’ e 29º 19’ de latitude sul e entre os
análise do meio físico e, para Pejon & Rodrigues meridianos 50º 46’ e 51º 91’ de longitude oeste de
(1987), a apresentação de seus resultados sob a for- Greenwich.
ma cartográfica é a melhor maneira de representa-
ção das informações adquiridas, pois facilitam os
seus entendimentos e usos. Caxias do Sul não teve 2 BASE DE DADOS E MÉTODOS UTILIZADOS
um planejamento urbano adequado à sua grande
O trabalho de investigação geológica com-
expansão demográfica e, principalmente, a popu-
preendeu o levantamento bibliográfico, a avalia-
lação de baixa renda passou a ocupar áreas sujei-
ção de mapas geológicos e cartas topográficas,
tas a processos de dinâmica superficial desenca-
aquisição de produtos de sensoriamento remoto
deadores de risco, como as margens e planícies de
seguidas de atividades de campo e de laboratório.
inundação das drenagens e as encostas de morros.
Nunes (2004) realizou o primeiro trabalho de le-
Segundo Nunes (2004), o fato de a cidade estar si-
vantamento da geologia da cidade, identificando
tuada na borda de uma região de topografia acen-
os diferentes solos encontrados; e Bressani, Flores
tuada, e substrato geológico em parte desfavorá-
& Nunes (2005) produziram um Relatório Final
vel ao assentamento urbano, gerou situações tais
para a Prefeitura Municipal de Caxias do Sul re-
como pequenos deslizamentos de moradias, além
ferente ao trabalho iniciado por Nunes (2004), no
de problemas como rupturas em vias urbanas e
qual foram definidas as litologias que ocorriam na
em obras de engenharia de médio e grande porte.
área urbana.
Para a confecção do mapa geológico da
1.1 Área de estudo área urbana expandida do município, contou-se
com duas cartas topográficas em papel na escala
O município de Caxias do Sul localiza-se na 1:50.000 – folhas Caxias do Sul (SH. 22-V-D-III-2)
região denominada Encosta Superior do Nordeste. e Farroupilha (SH. 22-V-D-III-1); 1 Mapa Básico

84
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica

Geológico-Geotécnico da Área Urbana do Muni- grande bacia intracratônica, desenvolvida sobre


cípio de Caxias do Sul, de setembro de 2005, na crosta continental sendo preenchida por rochas
escala 1:25.000, digital; 1 Mapa Geológico do Rio sedimentares e vulcânicas. Segundo Nardy, Ma-
Grande do Sul, publicado pela Companhia de chado & Oliveira (2008) durante o Mesozóico, o
Pesquisa e Recursos Minerais em 2006, na escala supercontinente Gondwana foi palco de intensa
1:750.000; 4 fotos aéreas na escala 1:110.000 resul- atividade magmática fissural, resultando extensos
tantes de um voo de maio de 1975; e 39 fotos aé- derrames em certas regiões desse continente. Pos-
reas na escala 1:30.000, resultantes de um voo de teriormente, por meio de processos distensivos
maio de 1998. da litosfera deu-se a separação continental, com o
Com as amostras de rochas coletadas em cam- aparecimento de novas bacias oceânicas.
po foram realizadas análises pertrográficas (ma- A área de exposição da Formação Serra Ge-
croscopia e microscopia) e análises químicas por ral no Brasil é de 120.000 km2, 1.700.000 km2 em
Fluorescência de Raios X, para identificação das área total, e ocorre na região centro-sul, recobrin-
rochas de acordo com a classificação TAS. Para a do aproximadamente 75% dos constituintes sedi-
confecção do mapa geológico foram utilizadas as mentares da Bacia do Paraná. Apresenta uma fei-
ferramentas disponíveis no software ArcGis®. ção alongada com cerca de 1.700 km de extensão
na direção nordeste-sudoeste e 900 km na direção
leste-oeste. A espessura máxima do pacote vulcâ-
3 GEOMORFOLOGIA DO MUNICÍPIO nico atinge aproximadamente 1.500 metros super-
posto aos arenitos eólicos jurássicos da Formação
De acordo com o mapa de Regiões Geomor-
Botucatu (Roisenberg & Viero 2000).
fológicas do estado do Rio Grande do Sul (Ra-
As rochas vulcânicas da Formação Serra Ge-
dambrasil 1986), a área estudada situa-se dentro
ral possuem propriedades geoquímicas regionais
da região geomorfológica denominada Planalto
distintas, o que permite uma divisão em três se-
das Araucárias. As características geomorfológi-
tores (Roisenberg & Viero 2000): (a) o setor norte
cas dessa região são bastante heterogêneas, com
formas de relevo que variam desde amplas e é representado por rochas vulcânicas básicas do
aplainadas até níveis mais profundos de entalha- tipo alto-TiO2 e P2O5>0,3%, subordinadamente
mento na área dos Aparados da Serra. por intermediárias e ácidas; (b) na porção central
Nessa região são identificadas quatro unida- ocorrem rochas efusivas básicas alto e baixo-TiO2
des geomorfológicas: Planalto Dissecado Rio Igua- e basaltos transicionais. São registradas também
çu-Rio Uruguai, Serra Geral, Patamares da Serra intercalações com derrames ácidos; (c) o setor
Geral e Planalto dos Campos Gerais, onde está sul é caracterizado por efusivas básicas do tipo
inserida a área de estudo. O Planalto dos Campos baixo-TiO2. Ocorrem também derrames ácidos e
Gerais caracteriza-se a oeste por um relevo rela- em menor abundância derrames intermediários.
tivamente plano e conservado. Desenvolveram- As idades das rochas vulcânicas da provín-
-se por extensas áreas interfluviais dos rios Caí e cia, obtidas por meio de datações 40Ar/39Ar, reve-
das Antas e deste com o rio Pelotas. As formas de lam que o pico de atividade ígnea ocorreu num
relevo revelam a existência de etapas evolutivas curto período, entre 133 e 130 Ma (Renne et al.
de dissecação, com áreas bastante conservadas de 1996, Turner et al. 1994). As idades das rochas vul-
morfologia planar, outras onde a erosão alargou cânicas na porção sul da Bacia do Paraná situam-
vales, ocasionando muitas vezes, rupturas de de- -se entre 131,4±1,6 e 132,9 Ma, enquanto que as
clive de pequenos desníveis, e em outras a erosão das regiões norte e central entre 129,9±0,1 Ma e
alargou os extensos vales, deixando resíduos de 131,9±0,9 Ma (Renne et al. 1992).
antigas superfícies de aplainamento.
5 GEOLOGIA LOCAL
4 GEOLOGIA REGIONAL
No município de Caxias do Sul, afloram ro-
A área estudada situa-se na porção sudes- chas vulcânicas pertencentes à Formação Serra
te da Bacia do Paraná. A Bacia do Paraná é uma Geral e depósitos recentes de tálus e colúvios.

85
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Baseados em estudos geoquímicos, as vulcânicas Com resultados de trabalhos de campo des-


ácidas desta região foram classificadas como do critos por Bressani, Flores & Nunes (2005) defini-
tipo Palmas, sendo estas predominantes na re- ram-se as litologias que ocorrem no município de
gião do município de Caxias do Sul e, as básicas, Caxias do Sul (Figura 1), sendo a sequência vulcâ-
como do tipo Gramado (Bellieni et al. 1986, Peate nica, da base para o topo, a seguinte:
et al. 1992). a) Dacitos Galópolis: originalmente 2 derrames
Segundo Nardy et al. (2008), estudos prelimi- que ocorrem de forma bem característica na
nares de Bellieni et al. (1986), Peate et al. (1992) e região de Galópolis, unificados em uma só
Garland et al. (1995) sobre a geoquímica das ro- unidade devido à declividade do local e se-
chas ácidas do tipo Palmas revelaram que elas melhança de comportamento dos solos plás-
não são homogêneas. Puderam-se reconhecer ticos derivados, o que proporciona uma pro-
dois grandes grupos: (a) um deles, com baixo teor ximidade em planta baixa.
em Ti (TiO2≤0,87%), é formado por dois subtipos b) Dacito Canyon: este material tem grande im-
distintos, denominados Santa Maria (P2O5≤0,21%) portância por ser altamente alterável e ocorrer
e Clevelândia (0,21%<P2O5≤0,23%); (b) o outro em algumas áreas da cidade. Caracteriza-se
grupo, com alto teor em Ti (TiO2≥0,90%), é repre- pelo predomínio de estruturas de fluxo ver-
sentado por três subtipos denominados Caxias ticalizadas e granulação fina, o que favorece
do Sul (0,91%<TiO2<1,03% e 0,25%<P2O5<0,28%), o desenvolvimento de um solo espesso. Seus
Anita Garibaldi (1,06%<TiO2<1,25% e afloramentos mais importantes e característi-
0,32%<P2O5<0,36%) e Jacuí (1,05%<TiO2<1,16% e cos são no bairro Canyon (no entorno da cota
0,28%<P2O5<0,31%). O subtipo Caxias do Sul foi 700 m), junto à entrada do Bairro Santa Coro-
inicialmente reconhecido por Peate et al. (1992) e na (cota 680 m) e nos vales ao sul da cidade
recobre uma área total de 16.000 km2 e ocupa um (em direção a Galópolis e também ao sul do
volume de 4.832 km3. Desvio Rizzo).
A análise estrutural realizada por Reginato c) Dacito Caxias: é o de maior abrangência na
(2003) identificou a presença de fraturas, zonas região, ocupando a parte central da cidade e
de fraturas, fraturas com preenchimento, veios e grande parte da área ao sul do centro. Pelo
diques na região de Caxias do Sul. Segundo Re- seu aspecto, é também denominado de Da-
ginato op. cit. na região ocorre um padrão aproxi- cito Carijó. Geralmente encontra-se desde a
madamente ortogonal de fraturas com uma orien- cota 700 m até o contato com o Dacito Ana
tação próxima a Norte-Sul e Leste-Oeste. Os veios Rech (variável).
e diques estariam alojados em estruturas que di- d) Topo do Dacito Caxias: este material se cons-
ferem do padrão ortogonal, o que corresponderia, titui da porção de topo do derrame anterior
provavelmente, a planos de cisalhamento. mas apresenta características vítreas tão im-
Bressani, Flores & Nunes (2005) comparti- portantes que poderia ser identificado como
mentaram a área urbana do município em 2 se- Vitrófiro Forqueta. Sua presença mais carac-
tores, dividindo-os internamente em 8 unidades terística é na região administrativa de For-
morfoestruturais. Analisando qualitativamente queta, mas ocupa diversas áreas mais pla-
as formas do relevo e as características do solo de nificadas da cidade que são topos de erosão
cada unidade puderam avaliar a variação morfo- como a região do aeroporto. Devido à ori-
lógica que ocorre na área estudada. As formas de gem, as cotas de ocorrência acompanham as
relevo identificadas foram: Planalto não disseca- do Dacito Caxias.
do, Planalto rebaixado, Mesas dissecadas e Relevo e) Dacito Ana Rech: encontra-se na região ad-
densamente dissecado. Os lineamentos são abun- ministrativa de Ana Rech e grande parte da
dantes nas unidades denominadas como: Matheo área norte da cidade, geralmente nas cotas
Gianella-Ana Rech, São Victor, Nossa Sra. da superiores na região (podendo atingir a cota
Conceição e Galópolis. 900 m).

86
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica

Figura 1 – Coluna do arcabouço geológico do município de Caxias do Sul, com in-


dicação da espessura de cada unidade vulcânica e os respectivos solos derivados da
alteração destas rochas (Extraído de Bressani, Flores & Nunes, 2005).

6 ANÁLISE ESTRUTURAL lineamentos do quadrante nordeste, com valores


predominantes no intervalo N 60º - 80º E, e os li-
A geologia da área de estudo é subordinada, neamentos do quadrante noroeste com valores
em termos estruturais, a lineamentos de extensões predominantes no intervalo N 50º - 70º W.
regionais e que são vinculados a eventos tectôni-
cos de natureza distencional. Estes lineamentos
são facilmente observáveis em imagens orbitais, 7 RESULTADOS E DISCUSSÕES DAS
como a falha Caxias, que apresenta uma extensão ANÁLISES
de aproximadamente 70 km no município, com
7.1 Análise química
seus extremos nas proximidades da localidade de
Vila Cristina (extremo sudoeste) e as proximida- Como primeira constatação pode-se observar
des da localidade de Boqueirão (extremo nordes- uma uniformidade na composição química destas
te). A tectônica que afetou a Formação Serra Geral rochas, em particular, no que tange aos teores de
é de idade do Mesozóico Inferior, e que atingiu, SiO2, Al2O3 e TiO2. As rochas ácidas de Caxias do
tanto o embasamento cristalino pré-cambriano, Sul apresentam conteúdos de SiO2 entre 63,4% e
quanto à sequência sedimentar gonduânica da 68,1%, TiO2 entre 0,88% e 1,04% e P2O3 da ordem
Bacia do Paraná. Os eventos tectônicos que afeta- de 0,20% e 0,28%. Os valores são semelhantes
ram esta parte da crosta foram balizados por anti- aos apresentados para as ácidas do tipo Palmas.
gos lineamentos de natureza rúptil (falhas). Considerando-se os teores de TiO2 e P2O3 pode-
Realizou-se uma análise estrutural dos li- mos agrupar essas rochas como pertencentes ao
neamentos da área urbana de Caxias do Sul com subtipo Caxias do Sul.
base nas fotografias aéreas na escala 1:30.000 e Analisando o diagrama TAS podemos sepa-
1:110.000. Esses lineamentos foram traçados du- rar essas rochas ácidas em três tipos: Dacito Ca-
rante a etapa de fotointerpretação. Observou- xias, representado por triângulos vermelhos no
-se a ocorrência de lineamentos em diversas di- diagrama; Dacito Canyon, representado por cír-
reções, ocorrendo um pequeno predomínio dos culos verdes; e o Dacito Forqueta, representado

87
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

pelo retângulo preto. Essas rochas além de pos- químicas apresentam características petrográficas
suírem pequenas diferenças em suas composições distintas (Figura 2).

Figura 2 – Diagrama TAS (Álcalis totais x Sílica), (Le Bas et al. 1986). Classificação química das ro-
chas vulcânicas encontradas na área urbana de Caxias do Sul.

7.2 Petrografia ripidiformes de plagioclásio e minerais opacos,


por fenocristais de plagioclásio e piroxênio. Ocor-
7.2.1 Dacito Forqueta rem fraturas paralelas à estrutura de fluxo, preen-
chidas por quartzo e com alteração ao longo de
Originalmente denominado por Bressani, Flo- sua extensão (Figura 3).
res & Nunes (2005) como Vitrófiro Forqueta, o Da- A matriz é composta principalmente por mi-
cito Forqueta é uma unidade litológica que ocorre, crólitos de plagioclásio com intercrescimento com
com seus aspectos mais característicos, por toda a
o quartzo devido ao processo de desvitrificação.
extensão territorial da Região Administrativa de
Os fenocristais ocorrem de forma disseminada na
Forqueta, em cotas comumente superiores a 730 m.
rocha, são constituídos principalmente por pla-
O aspecto predominante observado em campo é a
gioclásio e piroxênio, ocorrendo também alguns
existência de uma sutil estrutura de fluxo magmá-
opacos. Os fenocristais de plagioclásio possuem
tico, que define bandas com coloração que variam
em média 0,5 – 1 mm, variam de subédricos a eué-
de cinza esverdeada a cinza muito escura.
dricos, e possuem hábito prismático e comumente
Lâmina PTC – 015 A e PTC 032 A apresentam macla polissindética. Os fenocristais
Em lâmina delgada observa-se uma estrutu- de piroxênio ocorrem de maneira dispersa, pos-
ra de fluxo marcada pela orientação dos micró- suem tamanho médio de 0,5 mm, são euédricos,
litos que constituem a matriz, evidenciada por de hábito prismático. Muitas vezes ocorrem alte-
forte alteração. A textura geral da rocha é micro- rados, substituídos por clorita. Os opacos ocor-
porfirítica, e de forma muito localizada ocorrem rem principalmente como pequenos cristais de
agregados glomeroporfiríticos. É constituída por hábito cúbico inclusos em alguns fenocristais de
uma matriz fina a semi-vítrea, em um estágio de plagioclásio e piroxênio. Ocorrem ainda, de for-
desvitrificação que confere a rocha uma textu- ma mais rara, como fenocristais euédricos e for-
ra granofírica (Figura 4), composta de micrólitos temente oxidados.

88
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica

micrólitos de plagioclásio. Estes cristais possuem


hábito prismático, variam de subédricos a euédri-
cos e possuem macla polissindética. Nos espaços
intersticiais existentes entre os cristais de plagio-
clásio que constituem a matriz, ocorrem minerais
opacos residuais de hábito dendróide originados
da desvitrificação. Ocorrem também alguns mine-
rais opacos, piroxênios e plagioclásios de forma
disseminada na matriz e poucos fenocristais de
plagioclásio e piroxênio. Os fenocristais de pla-
gioclásio possuem aproximadamente 1 – 1,5 mm
em média, variam de subédricos a euédricos, e
possuem hábito prismático (Figura 4). Em muitos
casos possuem uma grande alteração para mica
branca. Ocorrem ainda como fenocristais alguns
piroxênios, que variam entre 1 - 2 mm são euédri-
Figura 3 – Lâmina PTC 015 A; A – fenocristais de plagioclásio cos e de hábito prismático.
e piroxênio; B – porção superior da imagem com maior cris-
talização e porção superior com desvitrificação incipiente; C
e D - fraturas paralelas à estrutura de fluxo, preenchidas por
quartzo e com alteração ao longo de sua extensão.

7.2.2 Dacito Caxias

O Dacito Caxias ocorre em cotas normalmente


superiores a 640 m, sendo assim nomeado por Bres-
sani, Flores & Nunes (2005) por ocorrer em seus
aspectos mais característicos na região central da
cidade. A rocha tem uma coloração predominan-
temente cinza oliva clara e granulação média. São
observadas ocorrências de estratos tabulares sub-
-horizontais na porção basal dessa unidade com
espessuras de 5 a 30 cm, que desenvolvem uma al- Figura 4 – Lâmina PTC 022 A; A e B - textura glomeroporfirí-
teração esferoidal característica desse derrame. tica formada por fenocristais de plagioclásio e piroxênio; C –
fenocristais de plagioclásio em uma matriz de desvitrificação.

Lâmina PTC – 016 A e 022 A


A rocha tem uma textura equigranular com
granulação fina a média e uma estrutura domi- 7.2.3 Dacito Canyon
nantemente maciça e localmente é perceptível
uma intercalação de porções de textura granofíri- O Dacito Canyon ocorre em cotas baixas (nor-
ca com porções faneríticas, com as fases minerais malmente inferiores a 640 m), sendo assim chama-
bem diferenciadas. Ocorrem de forma dispersa na do por Bressani, Flores & Nunes (2005) devido ao
rocha, alguns agregados constituídos principal- fato de uma das principais e mais características
mente por fenocristais de plagioclásio e piroxênio, ocorrências dessa litologia ser encontrada no vale
que caracterizam a textura do tipo glomeroporfi- que define o bairro Canyon. Esse derrame carac-
rítica (Figura 4). teriza-se pela presença de estruturas de fluxo sub-
A textura dominante é microporfirítica e de vertical, que definem bandas com coloração que
forma localizada ocorre textura glomeroporfirí- variam de cinza escura a marrom-avermelhada.
tica. Apresenta intensa alteração das fases má- A diferença de coloração é relacionada ao estado
ficas. A matriz é composta principalmente por de oxidação da rocha, sendo que na maior parte

89
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

das vezes ela aparece alterada, e quando sã tem Os fenocristais de piroxênio ocorrem pervasiva-
cor cinza escura. mente alterados, possuem tamanhos médios de
0,5 mm, são euédricos, de hábito prismático. Os
Lâmina PTC – 011 A opacos ocorrem euédricos, medindo até 0,3 mm,
A rocha apresenta uma forte oxidação dos totalmente oxidados.
minerais opacos e máficos que a compõem, ad- Com a análise e interpretação de todos esses
quirindo uma coloração geral avermelhada. dados foi possível a construção do mapa geológi-
A textura da rocha é porfirítica, podendo ser cha- co da área urbana do município de Caxias do Sul,
mada de felsofírica por se tratar de uma matriz que está apresentado na figura 6.
formada pelo intercrescimento de plagioclásio
e quartzo. A matriz tem textura fina e é possível
observar a presença de micrólitos ripidiformes de
plagioclásio, algum quartzo intersticial e minerais
opacos residuais, que estão totalmente oxidados.
Ocorrem poucos fenocristais, constituídos princi-
palmente por plagioclásio, e mais raramente piro-
xênio e opacos (Figura 5).
A matriz é composta principalmente por mi-
crólitos de plagioclásio. Nos espaços intersticiais
existentes entre os micrólitos ocorre algum quart-
zo residual, e principalmente minerais opacos,
que apresentam hábito dendróide a acicular, que
estão totalmente oxidados, e são responsáveis pela
coloração avermelhada característica da rocha.
Os fenocristais de plagioclásio ocorrem de ma- Figura 5 – Lâmina PTC 011 A; A e B – matriz tem textura fina
neira disseminada na matriz e possuem em mé- e é possível observar a presença de micrólitos ripidiformes
dia 0,1 mm, variando de subédricos a euédricos. de plagioclásio; C – raros fenocristais.

Figura 6 – Mapa geológico da área urbana no município de Caxias do Sul –RS.

90
Mapeamento geológico da área urbana de Caxias do Sul como etapa da cartografia geotécnica

8 CONCLUSÕES institucional da PM Caxias do Sul, ao PPGEC/


UFRGS e Instituto de Geociências, CAPES e CNPq
Nesse trabalho foi mapeada uma unidade por apoios diversos à pesquisa.
geológica, quimicamente classificada como Da-
cito, mas que apresenta características macro e
microscópicas particulares que permitiram a sua Referências
divisão em cinco subtipos: Dacito Forqueta, Daci-
Bellieni G., Comin-Chiaramonti P., Marques L.S.,
to Caxias, Dacito Canyon, Dacito Ana Rech e Da-
Melfi A.J., Nardy A.J.R., Papatrechas C.; Piccirillo
cito Galópolis (os dois últimos identificados em
E.M., Roisemberg A., Stolfa D. 1986. Petrogenetic
mapeamento anterior – ver mapa). O método de
Aspects of Acid and Basaltic Lavas from the
mapeamento de unidades geológicas, baseado no
Paraná Plateau (Brazil): Geological, Mineralogical
cruzamento dos dados adquiridos com a análise
and Petrochemical Relationships. Journ. of Petrol.,
qualitativa da geologia e geomorfologia, mostrou-
27(4):915-944.
-se adequado para a área urbana de Caxias do Sul.
Os contatos entre os materiais foram estabe- Bressani L. A., Flores J. A. A., Nunes L. F. 2005.
lecidos a partir da análise de fotografias aéreas. Desenvolvimento de Estudos de Engenharia
Em campo pode-se observar alguns contatos bas- Geotécnica/Geologia com Vistas à Geração de
tante nítidos entre os materiais, no entanto, obser- Relatório e Mapa Geotécnico dos Solos e Rochas
vou-se alguns contatos transicionais por variação Superficiais da Área Urbana da Cidade de Caxias
no intemperismo, o que impediu uma definição do Sul. Relatório final, Prefeitura Municipal de
clara do mesmo. Caxias do Sul.
As rochas vulcânicas dacíticas mapeadas
apresentam algumas importantes diferenças es- Garland F., Hawkesworth C.J., Mantovani M.S.M.
truturais: 1995. Description and Petrogenesis of the Paraná
1. Dacito Forqueta apresenta uma estrutura de Rhyolites, Southern Brazil. J.Petrol., 36(5):1193-
fluxo bem marcada, evidenciada por bandas 1227.
de diferente coloração;
2. Dacito Caxias apresenta estratos tabulares Nardy A. J. R., Machado F. B., Oliveira M. A. F.
sub-horizontais na sua porção basal; 2008. As rochas vulcânicas mesozóicas ácidas da
3. Dacito Canyon é comumente encontrado Bacia do Paraná: litoestratigrafia e considerações
com uma coloração avermelhada devido à geoquímico-estratigráficas. Revista Brasileira de
oxidação dos minerais opacos e quando não Geociências. 38(1): 178-195.
alterado pode-se observar uma estrutura de
fluxo subvertical, que definem bandas com Noronha F. L. 2007. Estudo geológico-geotécnico
coloração distinta. da área urbana de Santa Cruz do Sul – RS. Trabalho
4. Dacito Ana Rech: caracteriza-se pela sua mar- de conclusão do curso de geologia do instituto de
cada estratificação horizontalizada em toda a geociências – UFRGS. 104 p.
sua área de ocorrência.
Nunes L. F. 2004. Mapeamento geotécnico
5. Dacito Galópolis: dois derrames que ocorrem
preliminar da área urbana de Caxias do Sul – RS.
de forma bem característica sendo um interva-
Trabalho de conclusão do curso de geologia do
lo basal vulcânico e um vidro vulcânico supe-
instituto de geociências – UFRGS. 100 p.
rior, que foram unificados em uma só unidade
devido à declividade do local, o que propor- Peate D.W., Hawkesworth C., Mantovani M.M.S.
ciona uma proximidade em planta baixa. 1992. Chemical sratigraphy of the Paraná lavas (S.
America): classification of magma types and their
Agradecimentos spatial distribution. Bull. Volc., 55:119-139.

Os autores agradecem ao Geól. Felipe Faccio- Pejon O. J. & Rodrigues J. E. 1987. Análise
ni pela ajuda nos trabalhos de campo, ao apoio geológico-geotécnico da região de Araraquara,

91
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

SP. In: Congresso Brasileiro de Geologia de Taquari-Antas – RS. 2003. 254 f. Tese de doutorado,
Engenharia, 5. São Paulo, Anais, ABGE, v. 2, PPGEM. Universidade Federal do Rio Grande do
p. 279-290. Sul, Porto Alegre.

RADAMBRASIL 1986. Folha SH. 22 Porto Alegre Renne, P.R.; Deckart, K.; Ernesto, M.; Férraud, G.;
e Parte das Folhas SH. 21 Uruguaiana e SI. 22 Piccirllo, E.M.; 1996. Age of the Ponta Grossa dike
Lagoa Mirim: geologia, geomorfologia, pedologia, swarm (Brazil) and implications to Paraná flood
vegetação, uso potencial da terra. Levantamento volcanism. Earth Plan. Sci. Lett., 144:199-212.
de Recursos Naturais, Vol. 33.
Renne P., Ernesto M., Pacca I.G., Nardy A.J.R.,
Roisenberg A. & Viero P.; 2000. O vulcanismo Coe R.S., Glen J.M., Prevót M., Perrin M. 1992.
mesozóico da Bacia do Paraná no Rio Grande do Age and Duration of Paraná Flood Vocanism in
Sul. In: Holz M. & De Ros L. F. (eds.) Geologia Brazil. EOS-AGU, 27:531-532.
do Rio Grande do Sul, UFRGS-Cigo, Porto Alegre.
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C., Mantovani M.M.S. 1994. Magmatism and
Reginato, P. A. R.. 2003. Integração de dados continental break-up in the South Atlantic: high
geológicos para prospecção de aquíferos precision 40Ar/39Ar geochronology. Earth Plan.
fraturados em trecho da Bacia Hidrográfica Sci. Lett., 121:333-348.

92
PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCO
DE SANTA MARIA DE JETIBÁ – ES - BRASIL
MUNICIPAL PLAN FOR RISK REDUCTION OF SANTA MARIA DE JETIBÁ - ES - BRAZIL

Leonardo Andrade de Souza


Zemlya Consultoria e Serviços LTDA. Belo Horizonte - Brasil.
E-mail: leonardo@zemlya.com.br

Marco Aurélio Costa Caiado


Instituto Federal do Espírito Santo – IFES – Espírito Santo – Brasil.
E-mail: macaiado@gmail.com

Fillipe Tesch
Avantec Engenharia. Vitória – Brasil.
E-mail: fillipetesch@gmail.com

Gilvimar Vieira Perdigão


Zemlya Consultoria e Serviços LTDA. Belo Horizonte - Brasil.
E-mail: gilvimar@zemlya.com.br

Larissa Tostes Leite Belo


Zemlya Consultoria e Serviços LTDA. Belo Horizonte - Brasil.
E-mail: laristbelo@gmail.com

RESUMO ABSTRACT

O Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR) de The Municipal Plan Risk Reduction (PMRR) of Santa
Santa Maria de Jetibá - ES é parte integrante de um tra- Maria Jetibá - ES is part of a work developed by the
balho executado pelo Governo do Espírito Santo em 17 government of the Espírito Santo state (Brazil) in 17
municípios prioritários do Estado, tendo como objeti- priority cities, having, as main objectives, the expansion
vos principais a ampliação do conhecimento sobre os of Knowledge about the geodynamic processes, risks
processos geodinâmicos ocorrentes, riscos e ações de and effective actions of management in order to face
gerenciamento efetivas para enfrentamento dos even- adverse events. In this particular case, among the
tos adversos. Neste caso específico, dentre as temáticas issues addressed in this PMRR, were considered the
tratadas neste PMRR serão abordados os estudos rela- studies related to mapping of geological risk, the
cionados ao mapeamento do risco geológico e hidroló- maps of geological and geotechnical risks, as well
gico do município de Santa Maria de Jetibá com os re- as the proposals for structural and non structural
sultados das etapas de identificação do mapeamento do interventions for risk elimination and / or reduction.
risco geológico-geotécnico, bem como as propostas de The municipality is located 87.0 km from the state
intervenções estruturais e não estruturais para a elimi- capital, has a population of 34.176 inhabitants and an
nação e/ou redução destes. O município tem sua sede area of ​​735.579 km². The PMRR is an important tool
a 87,0 quilômetros da capital do estado, possui uma po- to guide the implementation of a public policy of
pulação de 34.176 habitantes e uma área de 735.579 km². management for the reduction of risks and disasters in
O PMRR é uma importante ferramenta para orientar a Santa Maria Jetiba.
implementação de uma política pública de gestão para a
redução de riscos e desastres em Santa Maria de Jetibá. Keywords: Risk Reduction, Public Politic, Santa Maria
Jetiba.
Palavras-chave: Redução de Risco, Política Pública,
Santa Maria de Jetibá.

93
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS do Itajaí, em Santa Catarina, as enxurradas e des-


lizamentos em janeiro de 2011 na região serrana
A urbanização é um processo característico da do Rio de Janeiro e as cheias da Região Norte e
civilização humana e os problemas a ela inerentes Noroeste do estado do Espírito Santo em 2013,
são largamente estudados atualmente. Enquanto entre outros, aumentaram a percepção da socie-
em 1800 apenas 1% da população mundial vivia dade brasileira sobre a ocorrência de desastres e
em cidades, a partir da revolução industrial, a evidenciam a urgente necessidade de desenvol-
urbanização se acelerou em ritmo ascendente, de vimento de instrumentos eficazes de prevenção e
forma que, durante a primeira metade do século mitigação de riscos, além da qualificação da res-
XX, a população total do mundo aumentou 49%, posta aos desastres (Sobreira & Souza, 2012).
enquanto a população urbana aumentou 240%. Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres Na-
Durante a segunda metade do século, a população turais (UFSC, 2012), apenas no Estado do Espírito
urbana passou de 1.520 milhões em 1974 para Santo foram contabilizados entre os anos de 1991
1.970 milhões em 1982 (Tucci, 2003). No século XI e 2010, 491 registros oficiais de inundações brus-
este número já ultrapassou 2.100 milhões em 2014. cas e graduais que resultaram em 400 mil habi-
No Brasil, o processo de urbanização nos tantes atingidos, sendo que desses 339.329 foram
últimos 50 anos tem se caracterizado pelo incre- afetados, 17.109 ficaram desalojados, 4.401 desa-
mento da população em grandes cidades, tendo brigados e 3 mortos; e 114 registros de movimen-
o número de localidades urbanas com população tos gravitacionais de massa que resultaram em
igual ou maior que 20.000 habitantes passado de 184.781 habitantes afetados, com 6.602 desaloja-
89, em 1950, para 870, em 2010, com a população dos, 734 desabrigados e 9 mortos.
total nessas localidades alterada de 24 para 131 Diante dessa problemática foram elabora-
milhões (George & Schensul, 2013). dos para 17 municípios capixabas definidos como
Em relação aos desastres naturais, estes afe- prioritários pela Defesa Civil Estadual, Planos
tam indistintamente toda a humanidade geran- Municipais de Redução de Risco (PMRR) com o
do inevitavelmente um sem número de vítimas propósito de atender às expectativas da sociedade
e prejuízos econômicos. A conjunção entre espe- capixaba para a formulação de estratégias, diretri-
cificidades do substrato geológico, características zes e procedimentos que efetivamente consigam
geomorfológicas, eventos climáticos e aumento ampliar o conhecimento sobre os processos geo-
expressivo da urbanização tem levado a situações dinâmicos, riscos e desastres, com proposição de
críticas por todo o planeta. Uma simples leitura de ações estruturais e não estruturais para reduzir os
um jornal diário de alguma forma sempre abrange riscos e minimizar o impacto relacionado aos de-
o fato de que algum evento ocorreu ou está para sastres no Estado. O Plano Municipal de Redução
ocorrer, relacionados em sua maioria a desliza- de Risco de Santa Maria de Jetibá aqui apresenta-
mentos, inundações, enxurradas, entre outros. No do é parte integrante deste trabalho.
Brasil não é diferente, sendo que o histórico bra-
sileiro de crescimento desordenado nas últimas
décadas, e atuais taxas de urbanização acima de 2 CONTEXTUALIZAÇÃO
84%, só corroboram para o incremento da vulne-
rabilidade de pessoas, infraestrutura e instalações O município de Santa Maria de Jetibá possui
uma população de 34.176 habitantes e uma área
tornando a questão da prevenção de desastres e
de 735,579 km². Sua sede está a 87,0 quilômetros
acidentes de natureza geológica e hidrológica um
da capital do estado, Vitória. O município de San-
dos maiores problemas nacionais, tanto pelas per-
ta Maria de Jetibá limita-se com os seguintes mu-
das de vida frequentes, como pelos danos e pre-
nicípios: ao norte com Santa Teresa e Itarana, a
juízos econômicos causados à sociedade.
oeste com Afonso Cláudio, ao sul com Domingos
Os eventos recentes relacionados a grandes
Martins e a leste com Santa Leopoldina, conforme
desastres ocorridos no Brasil, como as inundações
ilustrado na Figura 1.
em novembro de 2008 e setembro de 2011, no Vale

94
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil

Figura 1 - Localização do município de Santa Maria de Jetibá no contexto do Espírito Santo e do Brasil.

2.1 Aspectos gerais do meio físico do processos pretéritos e atuais (Casseti, 1991). Para
município de Santa Maria de Jetibá Christofoletti (1980), as formas do relevo consti-
tuem o objeto da geomorfologia, afirmando ainda
O Estado do Espírito Santo situa-se na Pro- que “Se as formas existem, é porque elas foram
víncia Estrutural Mantiqueira, a sudeste do esculpidas pela ação de determinado processo
Cráton São Francisco (Almeida 1976, 1977). ou grupo de processo. Dessa maneira, há um re-
A província Mantiqueira representa um sistema lacionamento muito grande entre as formas e os
orogênico Neoproterozóico com direção prefe- processos, onde o estudo de ambos pode ser con-
rencial NE-SW. Em decorrência do fato de a partir siderado como o objetivo central desse ramo do
da divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo conhecimento, de forma a embasar as caracterís-
ocorrer uma mudança de direção de NE-SW para ticas fundamentais do sistema geomorfológico”.
N-S, alguns autores têm incluído este trecho na Em relação a compartimentação geomorfo-
faixa Araçuaí (Alkmim & Mashark 1998), sendo lógica do município de Santa Maria de Jetibá, os
esta uma das feições estruturais mais importantes procedimentos adotados para a identificação dos
da Faixa Ribeira. Os granitoides tipo I, granitoides domínios ao longo do território foram propostos
foliados, paragnaisses, kinzigitos, xistos e quartzi- considerando classes de relevo que retratam as es-
tos são as rochas com maior ocorrência compondo pecificidades locais na escala 1:50.000.
o mapa geológico do município (Figura 2): A análise realizada se enquadra no 4º táxon
A geomorfologia é um conhecimento especí- da metodologia proposta por Ross (1992), onde às
fico, sistematizado, que tem por objetivo analisar formas de relevo são individualizadas em unida-
as formas do relevo, buscando compreender os des com padrão de formas semelhantes.

95
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Figura 2 - Mapa de Unidades Geológicas do Município de Santa Maria de Jetibá – ES.

A sequência geral de trabalho para as análi- Tabela 1 – Classes de Sistemas de Relevo Usadas como
ses do relevo iniciou-se, resumidamente, com a Referência.
pesquisa bibliográfica e inventário de dados da
Amplitude Declividade
área do município; passando para a preparação Unidades geomorfológicas
(m) (%)
das bases cartográficas disponíveis; a elaboração Suave a Plano < 100 m < 5%
do Modelo Digital de Elevação Hidrologicamen- Rampa <100m 5 a 10%
te Consistente – MDEHC; a elaboração de perfis Colina <100m 10 a 20%
topográficos representativos e trabalho de campo Morrote <100m > 20%
para reconhecimento do meio físico, reconheci- Morros com Vertentes Suaves 100 a 300 m 5 a 20%
mento de feições e padrões morfológicos, e limites Morro 100 a 300 m > 20%
do município; a compartimentação morfológica e Suave a Plano de Alta Altitude 100 a 300 m < 5%
elaboração da carta geomorfológica preliminar Suave a Plano de Alta Altitude >300m <20%
baseada em conhecimento especialista (Método Montanhoso >300m >20%
Heurístico), e trabalhos de campo para validação
dos resultados; a compartimentação topográfica a A Figura 3 sintetiza o mapeamento geomor-
partir de composição colorida RGB e realce dos fológico proposto para o município de Santa Ma-
padrões de relevo; a proposta de metodologia de ria de Jetibá.
compartimentação do relevo adequada ao muni-
cípio (Tabela 1), a partir dos resultados obtidos
nas etapas 5 e 6; e a elaboração da carta geomorfo-
lógica final do município com edição gráfica.

96
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil

Figura 3 – Mapa de Unidades Geomorfológicas gerado para o município de Santa Maria de Jetibá.

3 MATERIAIS E MÉTODOS de regra, tais problemas e os impactos associados


à expansão urbana possuem uma relação direta
A contínua ocupação desordenada de nosso com a ampliação de áreas impermeabilizadas e
território, as margens do planejamento urbano construção de sistemas de drenagem, como con-
e do ordenamento territorial é um dos fatores dutos e canais; à ocupação de planícies de inun-
que contribuem para o aumento da exposição dação quando a legislação de uso do solo e o pla-
da sociedade aos desastres naturais, bem como nejamento urbano são inadequados e após uma
a magnitude dos danos relacionados a estes, sequência de anos em que rios urbanos apresen-
principalmente os relacionados a inundações tam baixas vazões e a população passa a ocupar
e movimentos gravitacionais de massa. Nesse planícies de inundação devido à topografia plana,
contexto, fica cada vez mais evidente a necessi- proximidade com áreas importantes do centro ur-
dade da inserção dos mapeamentos hidrológicos bano e baixo custo, mas que quando altas vazões
e geológico-geotécnicos como instrumentos de ocorrem, os prejuízos podem atingir somas intan-
ordenamento territorial, conforme definido pela gíveis e a municipalidade é chamada a investir na
Lei 12.608 (Brasil, 2012). proteção da população contra cheias; à ocupação
Os impactos advindos do processo de cres- de terrenos com declividades acentuadas, natu-
cimento desordenado das cidades deterioram a ralmente suscetíveis a movimentos gravitacionais
qualidade de vida da população devido ao au- de massa, ressaltando-se aqui que a exclusão so-
mento da frequência e do nível de deflagração cial somada a incapacidade do poder público de
de processos geodinâmicos merecendo destaque promover uma expansão urbana adequada, bem
entre os mais recorrentes, a deflagração de pro- como de fiscalizar o processo de ocupação desor-
cessos de inundação urbana e deslizamentos. Via denado de seu território, associado a cultura de

97
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

ocupação dos terrenos por meio da geração de prevenção; a ausência de conhecimento por parte
cortes e aterros, em áreas sem infraestrutura ade- da população e técnicos locais de como lidar com
quada, tem contribuído para o aumento significa- inundações; e a falta de organização institucional
tivo dos registros de ocorrência de movimentos em drenagem urbana em nível local.
de massa, com geração de danos materiais e víti- A estas questões pode-se acrescentar, entre
mas fatais. outros, o subdimensionamento das estruturas de
Entre os instrumentos técnicos que podem drenagem como pontes e galerias, a falta de ma-
contribuir para uma gestão mais efetiva dos ter- nutenção das mesmas, que resulta na redução
ritórios já ocupados, o mapeamento hidrológico- de suas capacidades de transporte, além da não
-hidráulico é utilizado para definir o grau de / exigência de estudo dos impactos dos novos em-
perigo e risco à inundação de uma determinada preendimentos na drenagem urbana.
bacia. Para Oliveira & Guasselli (2011), a susce- O PMRR aqui descrito, em relação as águas
tibilidade à inundação de uma área está direta- pluviais/fluviais do município de Santa Maria de
mente relacionada à probabilidade dessa área ser Jetibá teve por objetivo fornecer subsídios técnicos
atingida por enchentes, cheias, ou alagamentos e para a execução de ações que possam contribuir
o mapeamento dessas áreas é um recurso que au- efetivamente para uma expansão urbana adequa-
xilia na tomada de decisões para mitigação desses da no território municipal, bem como a redução
problemas. Quanto ao risco, ele pode ser defini- dos impactos das inundações na cidade criando
do como a combinação da probabilidade de um as condições para uma gestão sustentável da dre-
evento e suas consequências negativas. nagem urbana. Para tanto, os seguintes objetivos
Além da suscetibilidade natural, duas con- específicos foram perseguidos:
dutas do poder público tendem a agravar ainda (1) a cartografia da suscetibilidade e perigo rela-
mais a situação das áreas suscetíveis a processos cionados a processos de inundação no terri-
de inundação. A primeira tem relação com o fato tório municipal em escala adequada (1:10.000
de que os projetos de drenagem urbana têm como ou maior) para a determinação da aptidão a
filosofia escoar a água precipitada o mais rapida- urbanização.
mente possível para jusante. Este critério, via de (2) apresentar diretrizes para o controle dos
regra, aumenta a vazão máxima, a frequência e o principais problemas relacionados a cheias
nível de inundação de jusante. Soma-se a esta uma no município, tendo como foco a bacia prin-
segunda conduta comum, onde a falta de estudos cipal;
técnicos nas escalas adequadas à determinação da (3) mudar o modo com que os problemas rela-
aptidão a urbanização e legislação normatizadora cionados a cheias são encarados no municí-
da ocupação do solo, ou a falta de meios para apli- pio, por meio da implementação de práticas
car as normas existentes possibilitam a ocupação estruturais e não estruturais que ajudam a
de áreas ribeirinhas, restringindo a passagem de reduzir os prejuízos, diminuem os custos de
cheias e ocasionando inundações a montante. controle e evitam o aumento dos problemas
Mesmo sendo os princípios básicos de dre- no futuro, podendo ser replicados em outros
nagem urbana largamente estudados e apresen- municípios do país;
tados em manuais, estes não são normalmente Já em relação a cartografia geotécnica, seja ela
empregados em cidades brasileiras, e as prin- de suscetibilidade, aptidão ou risco, estes são pro-
cipais causas são citadas em Tucci et al. (2002) dutos cartográficos que retratam a distribuição
destacando-se entre elas o rápido e imprevisível dos diferentes tipos de rochas e solos (residuais e
desenvolvimento urbano, com tendência à transportados) considerando suas características
ocupação de jusante para montante, ampliando mecânicas e hidráulicas no contexto do meio físi-
os riscos de danos; a ausência de programas de co (formas de relevo, geodinâmica externa – pro-
prevenção para a ocupação de áreas de perigo cessos atuantes, uso e ocupação do solo), com o
e risco e, quando as cheias ocorrem, recursos a intuito de se definir as limitações, potencialidade
fundo perdido são colocados à disposição para a e necessidades de intervenções para a consoli-
municipalidade sem a exigência de programas de dação do uso urbano e rural (Sobreira & Souza,

98
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil

2012). Para a elaboração do PMRR e considerando pelo Ministério das Cidades, para o mapeamento
a proposta do método de detalhamento progres- do risco geológico, e proposta metodológica para
sivo a menor escala de mapeamento admissível é o mapeamento do perigo/risco hidrológico, com
de 1:2.000, pois neste caso as avaliações e o ma- definição as especifidades sobre a condução do
peamento conseguem identificar pequenas áreas/ PMRR e acompanhamento deste pelos técnicos
setores (escala de lote), bem como permitem a municipais.
proposição de soluções para as situações de risco
em um nível conceitual ou, se possível, de suporte
3.1.2 Preparação e montagem da base
a projetos (básico e executivo). cartográfica
Sobreira & Souza (2012) propõem que o mo-
delo do detalhamento progressivo seja seguido Durante a elaboração do Plano de Trabalho
também em práticas de planejamento e orde- Consolidado foram iniciados os trabalhos refe-
namento urbano, com os níveis hierárquicos re- rentes à preparação e montagem da base carto-
presentados pela suscetibilidade (geral), aptidão gráfica. O material cartográfico disponível obtido
à urbanização (semi-detalhe ou intermediário) para o município de Santa Maria de Jetibá estava
e risco (detalhe), sendo que no caso em questão em consonância com a escala de trabalho adotada
as cartas de perigo/risco geológico e hidrológico destacando-se entre as informações mais relevan-
foram geradas para dar suporte ao planejamento tes o levantamento aerofotogramétrico, com orto-
urbano, às ações de prevenção e emergência. mosaico na escala 1:15.000, disponível no formato
raster extensão.ecw; elementos planialtimétricos
do mapeamento sistemático do IBGE tais como
3.1 Etapas do Plano Municipal de Redução
setores censitários 2010, disponibilizado em for-
de Risco
mato vetorial na extensão.shp, estrutura conforme
Para a elaboração do PMRR de Santa Maria padrão do IBGE e a mancha urbana, entre outros
de Jetibá - ES a seguinte metodologia de trabalho atributos, além de base de dados alfanumérica
e respectivas etapas de trabalho foram desenvol- (geodatabase), abrangendo todos os municípios,
vidas: disponível em formato vetorial na extensão.shp;
OTTOBACIAS, que são bacias hidrográficas de
abrangência estadual, ottocodificadas até nível 7,
3.1.1 Consolidação do plano de trabalho georreferenciada com atributos, em geodatabase,
disponível em formato vetorial na extensão.shp;
A Etapa de consolidação do plano de traba-
e imagens de Satélite ALOS (Advanced Land Ob-
lho iniciou-se com a definição e homogeneização
serving Satellite), ano 2009 e 2010, com resolução
das bases conceituais principais. Em seguida pro-
espacial de 10 m, e classificação de diversas cate-
cedeu-se à avaliação preliminar das informações,
gorias do uso e ocupação do solo, cobrindo todo
mapas, imagens de satélite, fotos do município,
o município.
documentos gerados pela Defesa Civil estadual e
municipal, e informações do mapeamento emer-
gencial elaborado pelo Serviço Geológico do Bra- 3.1.3 Mapeamento hidrológico-hidráulico
sil - CPRM. Com os dados disponíveis levantados
tornou-se possível a realização de visitas técnicas O mapeamento hidrológico-hidráulico teve
ao município com o propósito de reconhecimen- como foco a bacia hidrográfica do Rio São Luiz
to inicial do meio físico, processos geodinâmicos que engloba o principal aglomerado populacional
ocorrentes, histórico de eventos e impacto dos do município, o seu distrito Sede, e que, segundo
mesmos, bem como informações mínimas para a a defesa civil municipal, tem histórico de proble-
realização de estudos preliminares. A partir dos mas de inundação mais frequentes. A bacia do Rio
dados obtidos em campo durante o reconheci- São Luiz possui área de drenagem de 23,18 Km²,
mento inicial ocorreu à adaptação da metodolo- com nascente localizada na comunidade que dá
gia do trabalho, a partir da metodologia proposta nome ao rio. Observa-se que, nesta bacia, existe

99
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

um intenso uso do solo, principalmente para ati- a ocupação de áreas suscetíveis e de perigo/ris-
vidades hortifrutigranjeiras, além de outras ativi- co de inundação através de regulamentação. Por
dades agropastoris. último sugere-se a promoção de ações vidando a
O Rio São Luiz, no centro de Santa Maria de convivência segura com as enchentes nas áreas de
Jetibá, apresenta declividade reduzida. Após o médio e baixo perigos/riscos identificados.
Centro de Santa Maria de Jetibá, a declividade au- Para o mapeamento hidrológico-hidráulico
menta abruptamente em trecho encachoeirado. O foram utilizadas informações levantadas junto
presente estudo analisou a situação da macrodre- ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
nagem até o trecho final do bairro Centro, sendo -IBGE, Agência Nacional de Águas-ANA, Siste-
que a bacia do Rio São Luiz foi dividida em 15 ba- ma Integrado de Bases Geoespaciais do Estado
cias urbanas e 20 bacias rurais e periurbanas, As do Espírito Santo-GEOBASES, Companhia Espí-
vazões provenientes de cada uma das sub bacias rito Santense de Saneamento-CESAN, Prefeitura
do Rio São Luiz foram apropriadas utilizando o municipal e em visitas a campo. Além dos dados
modelo HEC-HMS. obtidos de fontes secundárias foram necessários
A proposta de elaboração do mapeamento para o desenvolvimento deste trabalho estudos
hidrológico-hidráulico foi baseada em sete prin- topográficos com a geração de seções transversais
cípios fundamentais. O primeiro deles define as
ao longo dos canais; cadastro das redes pluviais;
Bacias hidrográficas como unidades de plane-
macrodrenagem natural e construída; fotos aéreas
jamento, o que permite que o excesso de escoa-
e imagens de satélite antigas e atuais da região; in-
mento superficial seja controlado na fonte, evi-
formações climatológicas; levantamento de dados
tando a transferência para jusante do aumento
dos setores censitários; pedologia e uso do solo na
do escoamento e da poluição urbana. O segundo
escala de detalhe; delimitação de bacias, vias de
princípio destaca que o diagnóstico deve ser exe-
acesso, comunidades, entre outros; informações
cutado na escala de detalhe (1:5.000 ou maior) em
sobre as inundações municipais (áreas com re-
compatibilidade com a definição efetiva da ap-
tidão a urbanização através de uma abordagem corrência de atingimentos, contornos e cotas das
interdisciplinar, bem como a futura solução dos linhas de inundação, trechos críticos, singularida-
problemas de inundação integradas à paisagem des dos sistemas, eventos pluviométricos críticos
e aos mecanismos de conservação do meio am- relacionando os níveis de inundação e a frequên-
biente. No terceiro principio proposto ressalta-se cia; verificação de projetos existentes, restrições
a importância da identificação da distribuição da técnicas, restrições legais, político-administrati-
água pluvial no tempo e no espaço, englobando vas, ambientais e hidrológicas à expansão urbana;
as áreas já ocupadas e com histórico de cheias, e entrevista com as pessoas de referência no as-
bem como as áreas definidas para a expansão ur- sunto de planejamento urbano e de águas urbanas
bana do município, de forma a permitir análises na prefeitura, com levantamento de documentos e
correlacionando a tendência de ocupação urbana trabalhos existentes ou em execução, incluindo o
para um horizonte mínimo de planejamento de 20 Plano Diretor Municipal.
anos, compatibilizando esse desenvolvimento e a Foram descartados dados fora da área de es-
infraestrutura para evitar prejuízos sociais, econô- tudo, e cuja qualidade não foi considerada ade-
micos e ambientais. O quarto princípio destaca a quada bem como a escala incompatível com o
importância da incorporação dos estudos na cul- nível de detalhamento proposto para o trabalho,
tura da administração municipal, principalmente problemas no georreferenciamento, dados desa-
nos setores diretamente responsáveis pelo pla- tualizados, dados hidrológicos com períodos ina-
nejamento urbano e serviços de águas pluviais. dequados, entre outros.
O quinto princípio está relacionado à necessida- Os dados fornecidos no formato shapefi-
de de institucionalização e incorporação dos re- le foram recortados, de modo a abranger toda a
sultados na legislação municipal, em especial no área de estudo e projetados para Projeção Univer-
Plano Diretor do Município. Já o sexto princípio, sal Transversa de Mercator (UTM), Datum SIR-
este tem relação com a necessidade de se controlar GAS 2000, zona 24 S, equalizando o sistema de

100
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil

projeção utilizado. Para o material digital e geor- 3.1.3 Mapeamento geológico-geotécnico


referenciado, a escala dos mapas se ajustaram
entre si no sistema de informação geográfica Para o mapeamento geotécnico foram ava-
construído. liadas todas as áreas urbanizadas do município,
Posteriomente foram elaborados os mapas de incluindo além do próprio núcleo urbano os dis-
suscetibilidade e de perigo/risco atual e futuro, tritos. O risco geológico em áreas urbanas não
construídos a partir da determinação dos valores depende apenas das características intrínsecas
dos CN (coeficiente de escoamento) de acordo dos materiais envolvidos nos processos geodinâ-
com o tipo de solo, uso do solo e manejo agrícola, micos, da morfologia das encostas ou do regime
sendo que CN é um valor tabelado e relacionado pluviométrico da estação chuvosa. Está direta-
ao uso do solo e ao tipo hidrológico do solo; da mente relacionado à forma de ocupação, tanto em
elaboração dos mapas pedológicos, dos mapas de encostas como em baixadas, e à conscientização
uso e ocupação do solo atual e futuro; da geração da população envolvida no que tange a alteração
das equações de chuva intensa, onde a estação plu- da geometria das encostas sem critérios técnicos
viométrica Santa Maria de Jetibá (código 204000) ou ocupação de áreas geologicamente instáveis.
foi a escolhida para a apropriação da equação in- Os trabalhos de campo foram constituídos,
tensidade-duração-frequência de chuvas do mu- basicamente, por investigações geológico-geotéc-
nicípio por possuir o maior número de anos com nicas de superfície, buscando identificar condicio-
dados, por estar funcionando até os dias atuais e nantes dos processos de instabilização, existên-
por estar dentro da bacia em estudo (os valores cia de agentes potencializadores e evidências de
diários de chuva foram obtidos no sítio oficial da instabilidade ou indícios do desenvolvimento de
Agência Nacional de Água - www.ana.gov.br); da processos destrutivos.
determinação do tempo de concentração das sub Inicialmente ocorreu a definição dos critérios
bacias; da apropriação dos valores das vazões de para elaboração do mapeamento de perigos/ris-
projeto; da realização da modelagem hidráulica; e cos de acordo com a publicação “mapeamento de
da elaboração e apresentação propriamente dita riscos em encostas e margens de rios” do Ministé-
do mapeamento de suscetibilidade e perigo/risco rio das Cidades (Brasil, 2007). Definidos os crité-
utilizando as ferramentas do ArcGis 10.1. rios o passo seguinte foi à identificação e análise
Para o desenvolvimento do modelo hidráu- do perigo/risco geológico dentro do município
lico foram utilizadas curvas de nível com equi- de Santa Maria de Jetibá. Os objetivos específicos
distância vertical de 2 metros, sendo complemen- desta atividade foram: (1) identificar evidências,
tadas por levantamento topográfico realizado (2) analisar os condicionantes geológico-geotécni-
especificamente para o presente trabalho, a fim de cos e ocupacionais que as determinam e (3) ava-
detalhar dispositivos hidráulicos localizados na liar a probabilidade de ocorrência de processos
área de estudo. A partir dos dados de topografia, associados a deslizamentos em encostas e solapa-
foi construído um TIN – Triangulated Irregular mentos de margens de córregos, (4) delimitar os
Network da área modelada, que foi a base de en- setores das encostas que pudessem ser afetados
trada de dados do modelo HEC-RAS. por cada um dos processos destrutivos potenciais
Utilizando o modelo HEC-HMS, as vazões identificados na base cartográfica, (5) estimar o
dos cursos d’água foram simuladas a partir da número de moradias de cada setor de risco.
precipitação. Estas vazões foram utilizadas como A atribuição do grau de probabilidade de
variáveis de entrada do modelo HEC-RAS e as co- ocorrência de processo de instabilização, teve com
tas do nível d’água simuladas pelo modelo foram base nos critérios descritos em Brasil, (2007) consi-
comparadas com as cotas verificadas em campo. derando a seguinte classificação: risco muito alto
A partir desta comparação, o modelo foi calibra- (R4), risco alto (R3), risco médio (R2) e risco baixo
do por meio da variação de valores de parâmetros a inexistente (R1).
hidráulicos do mesmo, buscando aproximar os Definida a hierarquização do perigo/risco
resultados das simulações com aqueles medidos o passo seguinte foi a elaboração do Plano de In-
em campo. tervenções Estruturais para Redução de Perigos/

101
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

Riscos. As proposições de intervenção foram indi- de 46,21 e Lag Time de 88,1 minutos. A simulação
cadas visando a melhor relação custo x benefício. da vazão para a chuva com tempo de retorno de 25
Estabelecidas as obras necessárias para a elimina- anos resultou em 15,2 m³/s, enquanto que o mo-
ção do perigo/risco identificado em cada setor, delo com os diversos elementos hidrológicos das
foram estimados os custos necessários para cada sub-bacias do Rio São Luiz resultou em uma va-
obra/serviço, somando-se aqui os custos com a re- zão igual a 18 m³/s. Considerou-se, portanto, que
moção de famílias. Em relação ao estabelecimento as vazões simuladas pela geometria mais com-
de referências para a composição de custos das plexa está simulando as vazões com uma faixa de
obras, a planilha de composições de preços para erro aceitável, uma vez que a vazão simulada está
orçamentos adotada foi a disponível no sistema aproximadamente 15% maior que a vazão simula-
da Caixa Econômica Federal - SINAPI. da pelo elemento hidrológico que representa toda
A quantificação do risco teve como unidade a bacia hidrográfica do Rio São Luiz.
de análise a edificação e não a família. O levan- Foi definido como domínio do modelo o tre-
tamento do número de famílias em risco deman- cho urbano Rio São Luiz, assim como seus prin-
daria o cadastramento social da população para cipais córregos afluentes, o córrego Vila Jetibá e
viabilizar a análise do número de domicílios por o córrego São Sebastião do Meio, contemplando
edificação. O trabalho social dentro do Plano os bairros São Luiz, Vila Jetibá, Vila Nova, São Se-
Municipal de Redução de Riscos teve como foco bastião do Meio e Centro, totalizando uma exten-
permitir que o conhecimento resultante da inves- são total de 13,4 Km.
tigação sobre a situação de risco no município de Durante as visitas de campo, foram identifi-
Santa Maria de Jetibá seja apropriado pela popu- cadas cotas da última enchente significativa, cujas
lação local, sejam estes técnicos vinculados à ad- alturas máximas puderam ser identificadas pelas
ministração municipal, lideranças comunitárias marcas d’água ainda presentes em muros, resi-
e/ou a própria polução envolvida.
dências e outros elementos construídos, as quais
foram registradas durante as visitas em campo.
4 RESULTADOS DO MAPEAMENTO DAS Os níveis d’água verificados em campo são rela-
ÁREAS DE INUNDAÇÃO tivos à cheia que ocorreu em dezembro de 2010,
quando ocorreu um evento de chuva de 188 mm,
Os principais problemas de macrodrenagem cuja recorrência foi estimada em 60 anos.
diagnosticados do município de Santa Maria de A Figura 4 retrata o Mapa de Suscetibilida-
Jetibá podem ser assim resumidos: de à Inundação para o município de Santa Maria
a) redução da eficiência hidráulica de pontes de Jetibá - ES, como resultado da modelagem hi-
por estruturas de fundação de pontes anti- dráulica. O mapa apresenta as áreas previstas de
gas que ainda estão no local, que acabam por serem inundadas por cheias com períodos de re-
acumular lixo embaixo das atuais pontes; torno de 5, 10, 20, 25, 30, 50 e 100 anos. Observa-
b) assoreamento e crescimento de vegetação -se uma quantidade razoável de domicílios que
rasteira em diversos trechos de canal; se encontram nas áreas classificadas como susce-
c) presença de resíduos sólidos e entulhos no tíveis, principalmente aqueles mais próximos ao
interior dos canais que ficam presos a obstá- Rio São Luiz. No córrego Vila Jetibá, onde houve
culos como rochas e tubulações e;
a ocupação mais intensa das margens deste, foi
d) tubulações de esgoto que atravessam os ca-
possível identificar áreas de suscetibilidade muito
nais dentro da área da seção hidráulica do
alta, com casas edificadas muito abaixo do nível
escoamento.
da rua. Verificou-se que no total 65 domicílios
Como o modelo hidrológico gerou uma geo-
encontram-se nas áreas com recorrência de inun-
metria com um número significativo de elementos
dação de 5 anos. Quando se trata da inundação
hidrológicos, decidiu-se pela execução da mode-
com recorrência de 25 anos, o número de domicí-
lagem de um elemento hidrológico único da bacia
lios atingidos cresce para 100, com um aumento
hidrográfica do Rio São Luiz. Neste caso, adotou-
significativo de pessoas expostas.
-se uma bacia com área de 23,18 Km², CN médio

102
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil

Figura 4 – Carta de suscetibilidade a inundação de parte do Município de Santa Maria de Jetibá – ES.

As medidas estruturais, que são as obras des- oferecê-la, em primeiro lugar, ao poder público;
tinadas à redução do risco de inundações, foram a reformulação do sistema de gestão consideran-
apresentadas na forma de estudos preliminares do-se as características do sistema de drenagem
para todas as intervenções e de projetos para as proposto; a legislação voltada ao gerenciamento
intervenções específicas selecionadas pelo Gover- de áreas de perigo/risco, APP, águas pluviais e
no Estadual. O nível de detalhamento das inter- controle de impactos decorrentes do desenvolvi-
venções estruturais foi compatível com o nível de mento municipal; a criação de parques lineares ao
planejamento. Um dos cenários de intervenção longo das várzeas de inundação natural ainda não
propostos se referiu à implantação de um canal ocupadas; e a criação de parques nas cabeceiras
de gabião no Rio São Luiz no trecho em que este dos rios principais para proteção dos rios contra
corta o bairro Centro, além da construção de uma assoreamento e proteção da qualidade da água,
galeria no córrego Vila Jetibá. entre outras.
Complementarmente as análises foram pro-
postas medidas não estruturais constituídas pelas 5 RESULTADOS DO MAPEAMENTO DAS
posturas que deverão ser incorporadas na legisla- ÁREAS DE PERIGO/RISCO GEOLÓGICO
ção de uso e ocupação do solo, e medidas de ges-
tão que deverão ser implantadas na administração O mapeamento do perigo/risco foi feito a
municipal. Estas foram apresentadas para a área partir de uma abordagem integrada dos aspectos
urbana do município e englobaram propostas do meio físico inventariados e, principalmente tra-
para o controle do uso e ocupação do solo a serem balhos de campo na escala 1:2.000 (cadastro). Uma
incorporadas pelo município por projeto de lei ou vez montada a plataforma SIG tornou-se possível
pela revisão e atualização do Plano Diretor Muni- a delimitação dos setores identificados em campo
cipal; a aplicação do princípio jurídico pelo qual sobre as informações cartográficas inventariadas,
o proprietário, ao vender sua propriedade, deve bases topográficas e imagens. Como documento

103
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

final do mapeamento tem-se um relatório com a influência (atingimento) destes. Parte dos resulta-
identificação, representação e descrição de setores dos obtidos nos trabalhos de mapeamento pode
na paisagem (áreas urbanas) com condicionantes ser visualizado na Figura 5, por setor identificado
naturais que indicam a possibilidade de ocor- (Figura 5).
rência de um processo, assim como as áreas sob

Figura 5 – Setores de risco geológico identificados em parte da sede do município de Santa Maria de Jetibá - ES.

O diagnóstico de risco geológico do muni- A realização das atividades de identificação


cípio de Santa Maria de Jetibá foi realizado in- e mapeamento dos setores de perigo/risco geo-
distintamente na sede e nos distritos, em áreas lógico contribuiu para a qualificação do conheci-
correspondentes a assentamentos precários, lotea- mento sobre os riscos associados a deslizamentos
mentos e bairros regulares, onde julgou-se haver e processos correlatos na sede do município e dis-
situações de risco geológico. Foram delimitados e tritos, por meio da setorização, da estimativa de
caracterizados 20 setores de perigo/risco, sendo moradias afetadas, e do estabelecimento de graus
18 setores classificados como de perigo/risco geo- e tipologias de suscetibilidades e perigo/risco.
lógico alto e 2 setores classificados como de peri- Possibilitou ainda, a elaboração do mapa dos
go/risco médio, distribuídos ao longo das áreas setores de perigo/risco geológico do território
mapeadas. Foram identificados 138 domicílios en- municipal relacionado aos processos de desliza-
tre os níveis de perigo/risco geológico apontados mento, solapamento e, secundariamente erosão,
no diagnóstico, quais sejam alto ou médio. Entre- com a geração de fichas de campo para cada setor
tanto, em situação de perigo/risco alto existem identificado, contendo não só as características do
136 domicílios, o que corresponde às situações setor, mas também as proposições de intervenção
prioritárias para intervenção. estruturais e não estruturais para a eliminação/

104
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil

redução do perigo/risco, e/ou convivência segu- informações e um mapeamento compatível com


ra com o quadro diagnosticado. essa necessidade. Entretanto, são encontrados
As situações de perigo/risco alto ocorrem em obstáculos a essa proposta devido à dificuldade
todo o município, destacando-se os bairros Cen- de um levantamento na escala de detalhe, que re-
tro, Rio Posmosser, Vila dos Italianos, Vila Nova, monta a necessidade de visitas a campo, conhe-
Alto São Sebastião, e Beira Rio e São Luis. cimento especialista e utilização de informações
A atividade de elaboração do plano de inter- cartográficas de fontes e escalas de detalhamento
venções estruturais para redução de risco apre- variadas. Mesmo assim, ressalta-se a necessidade
sentou como produto, além das descrições das de que estudos voltados a identificação dos peri-
intervenções nas fichas de campo, a compilação gos/riscos geológicos e hidrológicos sejam reali-
de custos e priorização das obras formatadas zados em escalas de detalhe (1:5.000 ou maiores),
por setor, além da síntese dos resultados para o o que implica na maioria das vezes na geração de
município. O custo total estimado foi calculado dados primários, considerando o objetivo de que
tomando-se como base as planilhas de referência os resultados alcançados deem subsidio para a
SINAPI. elaboração de propostas, seja para o planejamento
As ações não estruturais propostas buscaram urbano e ordenamento territorial dos municípios,
a formulação de uma política municipal de ge- seja para a minimização, redução, eliminação e
renciamento de riscos e a identificação de fontes efetiva gestão do risco.
de recursos e programas para implementação do O PMRR de Santa Maria de Jetibá foi es-
PMRR do município de Santa Maria de Jetibá-ES. truturado considerando ações para que se torne
Entre as diversas análises e proposições ressalta- público e apropriado pela população envolvida,
-se a caracterização do contexto institucional mu- com o desenvolvendo de um trabalho educativo,
nicipal relacionado à gestão do risco, a avaliação informativo e de mobilização junto à população
da estrutura institucional do município na área moradora nas áreas de perigo/risco, através das
urbana e habitacional, a avaliação das ações go- lideranças comunitárias e de entidades da socie-
vernamentais do município na área urbana e ha- dade civil.
bitacional, a avaliação das posturas legais mais Em relação à Gestão do Risco no município
impactantes e gargalos institucionais, a avaliação cabe destacar que além dos produtos cartográficos
da legislação e programas nas esferas Municipal, gerados, foi entregue ao município um programa
Estadual e Federal, e o levantamento de possíveis de gestão de risco com a proposição de ações de
fontes de recursos nas esferas Municipal, Estadual monitoramento, fiscalização e controle de riscos
e Federal e, principalmente, ações que devem ser envolvendo vistorias periódicas e sistemáticas
aplicadas visando à reestruturação e o fortaleci- em todas as áreas diagnosticadas; proposição de
mento do sistema municipal de defesa civil de estruturação de equipe técnica, com formação e
Santa Maria de Jetibá. atribuição diversificada; proposição de formas de
registro contínuo de todas as informações coleta-
6 CONCLUSÕES das no campo e/ou junto à população e, conse-
quentemente, atualização permanente dos mapas
A crescente ocupação desordenada, princi- de riscos; foi entregue a prefeitura uma proposta
palmente dos centros urbanos tem levado a ocu- de gestão de proximidade, onde o monitoramen-
pação de áreas suscetíveis a processos geodinâ- to de cada área deve feita sempre que possível
micos elevando a probabilidade da ocorrência de pelos mesmos agentes públicos, para que estes
desastres sócio naturais como inundações e desli- adquiram maior conhecimento sobre a área e go-
zamentos. Por isso, o planejamento urbano torna- zem da confiança dos moradores; outra necessi-
-se essencial tanto para impedir uma expansão ur- dade levantada foi a existência de um plantão de
bana em áreas inadequadas, quanto na mitigação atendimento público e outros canais permanentes
e resposta rápida aos desastres. de comunicação com os moradores das áreas de
Para a elaboração de um planejamento ade- risco para apresentação de demandas, solicitação
quado é necessário um bom levantamento de de vistorias e informação sobre “problemas que

105
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental

podem causar risco”, somando-se a esse a neces- Territorial, Planos de Estruturação Institucional e
sidade de fortalecimento dos núcleos de proteção Planos de Drenagem Urbana.
e defesa civil, e/ou dos grupos de referência cons-
tituídos por moradores das áreas de perigo/risco,
REFERÊNCIAS
voluntários e lideranças populares, que devem
ser informados e capacitados, de forma a envol- Alkmin F.F & Marschak S. 1998. Transamazonian
ver a população nas ações de prevenção, monito- orogeny in the Southern São Francisco Craton
ramento e fiscalização das áreas de perigo/risco, region, Minas Gerais, Brazil: evidence for
por meio de uma gestão compartilhada. Paleoproterozoic collision and collapse in the
As cheias do Rio São Luiz são frequentes e os Quadrilatero Ferrífero. Prec. Res., 90: 29-58.
problemas oriundos das mesmas vêm se agravan-
do devido ao avanço da população para as proxi- Almeida F.F.M. 1976. Estruturas do Pré-
midades de suas margens, e para a ocupação das Cambriano inferior brasileiro. In: Congresso
áreas mais a montante da bacia hidrográfica. Brasileiro de Geologia, 29, Ouro Preto. Resumos
Observou-se, a partir da modelagem hidráu- dos trabalhos...Belo Horizonte: SBG-Núcleo
lica, que 65 domicílios estão na área classificada Minas Gerais, p. 201-202.
como de perigo/risco muito alto (inundação com
5 anos de recorrência), e que 100 domicílios são Almeida F.F.M. 1977. O Cráton do São Francisco.
inundados com vazões de 25 anos de recorrência Revista Brasileira de Geociências, São Paulo: SBG,
(vazão de projeto). v. 7, n. 4, p. 349-364.
As “obras de arte especiais” da Rua Augusto
Martin Germano Vesper, da Rua Francisco Shartz Brasil, Ministério das Cidades / Instituto de
com a Rua Ronald Berger e da Rua do Imigrante Pesquisas Tecnológicas – IPT. 2007. Mapeamento
não apresentam eficiência hidráulica para a vazão de Risco em Encostas e Margens de Rios / Celso
de projeto de 100 anos de recorrência no cenário Santos Carvalho. Eduardo Soares de Macedo
atual. Para uma chuva intensa com período de re- e Agostinho Tadashi Ogura, Organizadores –
torno de 25 anos, prevê-se que a vazão no trecho fi- Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de
nal do Rio São Luiz passe de 18 m³/s para 24 m³/s Pesquisas Tecnológicas – IPT. 176 P..
(aumento de 34,83%) em 20 anos, caso se confirme
Brasil. LEI n. 12.608, de 10 de abril de 2012. Institui
a tendência de expansão urbana prevista.
a Política Nacional de Proteção de Defesa Civil.
O Plano de Intervenções Estruturais para o
Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos.
Município de Santa Maria de Jetibá, que corres-
ponde a uma das etapas do Plano Municipal de Casseti V. 1991. Ambiente e apropriação do relevo.
Redução de Risco - PMRR, demonstrou a viabi- São Paulo: Contexto.
lidade de melhorar as condições de convivência
com o risco na cidade a curto e médio prazo e Christofoletti A. 1980. Geomorfologia. São Paulo:
apontou as necessidades de intervenções ime- Edgard Blücher, 2ª ed. 188p.
diatas para eliminação das situações classificadas
como de perigo/risco alto e muito alto. George M. & Schensul D. (Eds) 2013. The
A finalização do trabalho ocorreu com a demography of adaptation to climate change.
proposição de planos de ação para redução do New York, London, and Mexico City: UNFPA,
perigo/risco visando à implementação de ações, IIED and El Colegio de Mexico.
programas, diretrizes e medidas para a redução,
mitigação e prevenção de perigos/riscos relacio- Oliveira G. G. & Guasselli L. A. 2011. Relação
nados às inundações, solapamento de margens, entre a Suscetibilidade a Inundações e a Falta de
movimento de massas e deslizamentos, confor- Capacidade nos Condutos da Sub-bacia do Arroio
me diagnóstico executado no município de Santa da Areia, em Porto Alegre/RS. Revista Brasileira
Maria de Jetibá, que foram divididos em Planos de Recursos Hídricos, Porto Alegre, n.1, v. 16,
de Controle Ambiental, Planos de Ordenamento p. 05-15.

106
Plano municipal de redução de risco de Santa Maria de Jetibá – es - Brasil

Ross J. S. 1992. Registro cartográfico dos fatos Tucci C. E. M. 2002. Regionalização de vazões. –
geomorfológicos e a questão da taxonomia do Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS: ABRH.
relevo. Rev. Geografia. São Paulo, IG-USP.
Tucci C. E. M. 2003. Workshop for decision
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano makers on flood in South America (Nov 2002:
do Estado do Espírito Santo. 2013. Plano Municipal Porto Alegre, RS. Porto Alegre.
de Redução de Risco do município de Santa Maria
de Jetibá. Espírito Santo. UFSC. Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991
a 2010. 2012. Volume Espírito Santo. Florianópolis:
Sobreira F. G. & Souza L. A. 2012. Cartografia Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
geotécnica aplicada ao planejamento urbano. Desastres - CEPED/ UFSC.
Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e
Ambiental, São Paulo, n. 2, v. 2, p. 79-97.

Tucci C. E. M. 1998. Modelos Hidrológicos. Porto


Alegre: Editora da Universidade / UFRGS /
Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 669p.

107
Diretrizes para Autores

PREPARAÇÃO PARA SUBMISSÃO Agradecimentos – Negrito e itálico (apenas


o subtítulo). Referências – Negritas e minúsculas
Tipo e Tamanho de Arquivo: O texto do (apenas o subtítulo).
manuscrito deverá ser enviado em arquivo Word Manter um espaço simples entre itens e su-
(.doc), em separado, com os locais de inserção bitens do texto. Utilizar fonte Times New Roman,
das figuras assinalados, seguido das respectivas tamanho 11.
legendas. As ilustrações deverão ser enviadas em A indicação da inserção das ilustrações (figu-
arquivo .tif, também em separado (uma ilustra- ras, tabelas, etc) no texto deverá ser em posição
ção por arquivo). O mesmo procedimento deverá o mais próximo possível de sua primeira citação.
ser adotado para as tabelas, em arquivo. doc. Formato do Resumo, Resumen e o Abstract:
O artigo não poderá ultrapassar a 10.000 pala- Não poderão exceder 300 palavras cada, em pa-
rágrafo único, fonte Times New Roman, corpo
vras ou 20 páginas, incluindo título, autores, insti-
10, espaço simples (1,0) e serem seguidos de pa-
tuições e e-mail, resumo e palavras-chave, abstract
lavras-chaves, palabras claves e keywords (no mí-
e keywords, texto, figuras, tabelas, mapas, referen-
nimo 3 e máximo 5), respectivamente. Artigos em
cias e legendas.
português, espanhol ou francês deverão ter o títu-
Nenhum arquivo poderá ultrapassar a 10Mb lo vertido para o idioma inglês, em MAIÚSCULO
de tamanho. E ITÁLICO, colocado após a palavra Abstract.
Forma de envio: O texto deverá ser enviado jun- Formato do texto: Editar o texto em Word,
to com as ilustrações (inclusive tabelas) no Sistema fonte Times New Roman, corpo 11, espaço sim-
Eletrônico de submissão (ver passos práticos para ples, papel A4, orientação em retrato e editado
envio de manuscritos na página da RBGEA, no ítem em apenas uma coluna. As margens deverão ter
“Instruções para envio de artigos”). as seguintes medidas: superior: 2,0; inferior 2,0;
esquerda 3,0 e direita 2,0. Digitar as tabelas em
documentos word.
Artigos Abreviações: Devem ser evitadas ou mantidas
ao mínimo. Se usadas, devem ser definidas na pri-
Organização de artigos: deverá constar em se-
meira vez que forem mencionadas e não devem ser
quência, o título, nome completo do(s) autor(es), ins-
utilizadas no título, resumo e abstract.
tituição e e-mail (nome da instituição, cidade, estado, Ilustrações: A versão impressa da RBG pu-
país e e-mail. Para alunos de mestrado ou doutorado, blica ilustrações em preto e branco e tons de cinza.
indicar “Programa de Pós-graduação”, instituição, e A versão “on line” publicações coloridas. As fon-
demais informações acima), resumo e palavras-cha- tes usadas para textos sobre fotografias deve ser
ve, abstract e keywords, texto completo, referências, uma da família da Helvética.
ilustrações e tabelas. O texto deve conter, preferen- As ilustrações gráficas, fotográficas e foto-
cialmente: introdução, materiais e métodos, resulta- micrográficas serão numeradas seqüencialmente,
dos, discussão, conclusões e agradecimentos. na ordem de sua citação no texto e consideradas,
Hierarquização dos títulos e subtítulos: Deve mesmo pranchas, indiscriminadamente como Fi-
seguir o padrão: guras. Deverão ser separadas do texto por uma
Nível 1 – EM NEGRITO, TODAS AS LE- linha. Não serão aceitos encartes. Fotografias de
TRAS MAIÚSCULAS. afloramentos deverão apresentar barra de escala
Nível 2 – Em negrito; a primeira letra da pri- e indicação do norte.
meira palavra em maiúscula e as demais mi- Letreiros e símbolos das ilustrações devem
núsculas. ter dimensões adequadas para permitir legibili-
Nível 3 - ITÁLICO, NÃO NEGRITO, TODAS dade. As ilustrações deverão ter larguras míni-
AS LETRAS MAIÚSCULAS. mas de 9 ou 18 centímetros (permitir diagrama-
Nível 4 – Itálico, não negrito; a primeira letra ção em uma ou duas colunas). Explicar todos os
da primeira palavra em maiúscula e as de- símbolos. Escalas gráficas, se necessárias, devem
mais minúsculas. ser colocadas dentro da área das ilustrações.
As Tabelas devem ser auto-explicativas, com Sabóia L. A. 1979. Os greenstone belts de Crixás e
as laterais abertas, concisas e numeradas seqüencial- Goiás, Go. In: SBG, Núcleo Centro-Oeste, Boletim
mente. Devem ser elaboradas em Times New Ro- Informativo, 9:44-72.
man, corpo 9. As legendas das ilustrações deverão
ser redigidas com a mesma fonte do texto e corpo. Artigos em Publicações Seriadas:
Formato das Figuras: Só serão aceitas fi- Barbosa O., Braun O.P.G., Dyer R.C., Cunha
guras .tif, devendo ter resolução mínima de C.A.B.R. 1970. Geologia da região do Triângulo
300dpi, com tamanhos largura de 8,7 cm ou de Mineiro. Rio de Janeiro, DNPM/DFPM, Boletim
17,7, com comprimento máximo de 21 cm. 136, 140 p.
Fórmulas e Equações: Numerar as fórmulas
e equações seqüencialmente à direita, com nú- Teses e Dissertações:
meros arábicos entre parênteses e, no texto, refe-
rir como “equação (1)”, etc. Resende L. 1995. Estratigrafia, petrografia e geo-
Citações no corpo do texto: Deve-se seguir os química da seqüência sedimentar do greenstone
formatos do seguinte exemplo: ...”Cunha (1985) Belt de Pilar de Goiás, GO. Dissertação de Mes-
trado, Instituto de Geociências, Universidade de
interpreta a feição como uma estrutura de res-
Brasília, 124 p.
friamento magmático precoce, mas outros (Lima
1986, Fonseca et al. 1989, Ferreira & Araújo 1994) Artigos publicados em eventos:
como uma feição tardia”.
Referências: Relatórios internos são serão Tassinari C.C.G., Siga Jr. O, Teixeira W. 1981. Pa-
aceitos nas referências, com excessão daqueles que norama geocronológico do centro-oeste brasileiro:
são amplamente difundidos na comunidade cienti- solução, problemática e sugestões. In: SBG, Simp.
fica e autorizados pelos consultores ad hoc. As re- Geol. Centro-Oeste,1, Atas, p. 175.
ferências deverão ser feitas em Times New Roman,
corpo 10. Ao final do texto, ordenar as referências
Artigos em jornal:
em ordem alfabética do sobrenome do primeiro Coutinho W.O. 1985. O Paço da cidade retorna ao
autor, empregando os seguintes formatos: seu brilho barroco. Jornal do Brasil, Rio de Janei-
ro, 6 mar. Caderno B, p.6.
Livros:
Artigos ainda não publicados:
Arndt N.T. & Nisbet E.G. (Eds.) 1982. Komatiites.
George Allen & Unwin, London, 526 pp. Silva R.C. (em preparação). Tectônica na região do
Alto Iguaçu-PR.Pereira E.W. (submetido). Evolu-
ção geológica da faixa de dobramentos Açungui.
Capítulos de Livros: Revista Brasileira de Geociências.Silva R.C. (no
prelo). Tectônica na região do Alto Iguaçu-PR. Re-
Pollack H.N. 1997. Thermal characteristics of vista Brasileira de Geociências (Aceito ainda sem
the Archean. In: M. de Wit & L.D. Ashwal (eds.) data de publicação).
Greenstone belts. Oxford Monographs on Geol-
ogy and Geophysics, 25, Oxford University Press, Fotografias aéreas:
p.: 223-232.
IGC - INSTITUTO GEOGRÁFICO E CARTO-
Artigos de Periódicos: GRÁFICO 1986. (São Paulo). Projeto Lins Tupã.
Foto aérea. Escala 1:25.000, São Paulo, Fx28, n. 15.
Resende M.G. & Jost H. 1995. Petrogênese de
formações ferríferas e metahidrotermalitos da Folhas e mapas impressos:
Formação Aimbé, Grupo Guarinos (Arqueano),
INPE - INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS
Goiás. Rev.Bras. Geoc., 25:41-50. 1987. São José dos Campos (SP): atualização do
uso da terra. SF-23-Y-D-II-1 MI-2769/1. São José
Resende M.G., Jost H., Osborne G.A., Mol A. 1998.
dos Campos, Mapa Topográfico, escala 1:100.000.
The stratigraphy of the Goiás and Faina green- Silva A.J. 1999. Mapa geológico da Bacia de Cam-
stone belts, Central Brazil: a new proposal. Rev. pos. Rio de Janeiro, Petrobrás, 1 mapa geológico,
Bras. Geoc., 28:1-15. escala 1:50.000.

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