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VOLUME I

X CONGRESSO BRASILEIRO
DE GEOTECNIA AMBIENTAL

AUDITÓRIO ZÉLIA GATTAI


CENTRO UNIVERSITÁRIO
JORGE AMADO – UNIJORGE
CAMPUS PARALELA
SALVADOR/ BA

18 A 21 | JULHO | 2023
Realização Apoio
REALIZAÇÃO

APOIO

SECRETARIA EXECUTIVA

Ficha catalográfica - Biblioteca Central Julieta Carteado - UEFS

Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (10: 2023: Salvador, Bahia)


C759a Anais do X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental, 18 a 21 de
julho de 2023 [recurso eletrônico] / Organização: Maria do Socorro Costa
São Mateus, Hélio Machado Baptista, Luciene de Moraes Eirado Lima. -
Salvador: ABMS, 2023.
v.1.: il.

Tema: Geotecnia ambiental e Geossintéticos: garantia de um futuro


com qualidade!
ISBN:
Formato PDF
Disponível em:

1. Geotecnia ambiental. 2. Geotecnia. I. São Mateus, Maria do


Socorro Costa, org. II. Baptista, Hélio Machado,org. III. Lima, Luciene
de Moraes Eirado, org. IV. Título.

CDU: 551.24

Rejane Maria Rosa Ribeiro – Bibliotecária CRB-5/695


PATROCINADORES

COTA OURO:
COTA PRATA:

COTA BRONZE:
COMISSÃO ORGANIZADORA

Presidente da ABMS: Presidente da IGS Brasil:


Roberto Quental Coutinho. Victor Pimentel.

Comitê Gestor:
Hélio Machado Baptista, Luciene de Moraes Eirado Lima e Maria do Socorro Costa São Mateus.

Coordenação Científica:
Luís Edmundo Prado de Campos, Maria do Socorro Costa São Mateus e Miriam Carvalho
Machado.

Coordenação de Programação:
Ana Cristina Sieira, André Luís Brasil Cavalcante, Fagner Alexandre Nunes de França, Gregório
Luís Silva Araújo, Hélio Machado Baptista.

Financeiro:
Ronaldo Ramos de Oliveira.

Divulgação e Marketing:
Luciene de Moraes Eirado Lima, Ronaldo Ramos de Oliveira e Vital Matos Batista.

Comercial:
Ronaldo Ramos de Oliveira e Victor Pimentel.

Comissão de organização:
Evelin Marques de Oliveira, Gregório Luís Silva Araújo, Luciene de Moraes Eirado Lima e Luiz
Cotias Simões.
AVALIADORES DO REGEO & GEOSSINTÉTICOS 2023

Alberto Pio Fiori - UFPR Leandro Gomes da Anunciação - ANM


Ana Elisa Silva de Abreu - UNICAMP Luciene de Moraes Eirado Lima - UFBa
Ana Ghislane Henriques Pereira Van Elk - UERJ Lucio Flávio de Souza Villar - UFMG
André Luís Brasil Cavalcante - UnB Luis Edmundo Prado de Campos - UFBA/LEPC
Anna Silvia Palcheco Peixoto - UNESP Marcelo Ribeiro Barison - UNIFAL
Carlos Alberto Lauro Vargas - UFG Marcia Maria dos Anjos Mascarenha - UFG
Carlos Rezende Cardoso Júnior - GEOTEC Marcos Massao Futai - EP-USP
Carlos Wilfredo Carrillo Delgado - Envgeo Marcus Vinicius Ribeiro e Souza - UFT
Caroline Dias Amancio de Lima - UFBa Maria Claudia Barbosa - UFRJ
Cassio Carmo - Huesker Maria do Socorro Costa São Mateus - UEFS
Cátia de Paula Martins - UFJF Mario Sergio de Souza Almeida - UFRB/DNIT
Delma de Mattos Vidal - ITA Mário Vicente Riccio Filho - UFJF
Denise Balestrero Menezes - UFSCar Michael Maedo - UFU
Denise de Carvalho Urashima - CEFET/MG Miriam F. Carvalho Machado - UFBA
Eduardo Pavan Korf - UFFS Natália de Souza Correia - UFSCAR
Elisabeth Ritter - UERJ Newton Moreira de Souza - UnB
Erinaldo Hilário Cavalcante - UFS Orencio Monje Vilar - EESC-USP
Fabricio Nascimento de Macêdo - UEFS/UNIFACS Paulo César Burgos - UFBA
Fagner Alexandre Nunes de França - UFRN Paulo Gustavo Cavalcante Lins - UFBA
Fernando Henrique Martins Portelinha - UFSCAR Paulo José Rocha de Albuquerque - UNICAMP
Gabriel Orquizas Mattielo Pedroso - UNESP Paulo Márcio Fernandes Viana - UEG/PUC-GO
Gilson de Faria Neves Gitirana Júnior - UFG Paulo Scarano Hemsi - ITA
Giulliana Mondelli - UNESP Rafaela Faciola de Coelho Souza - DEC-UFAL
Gregório Luís Silva Araújo - UnB Raimundo Leidimar Bezerra - UEPB
Gustavo Alonso Muñoz Magna - Universidade Austral - Raquel Souza Teixeira - UEL
Chile Regis Eduardo Geroto - Arteris
Gustavo Ferreira Simões - UFMG Riseuda Pereira de Sousa - UEFS
Helio Machado Baptista - Engveo Roberto Aguiar dos Santos - UFV
Heraldo Luiz Giacheti - UNESP Roger Augusto Rodrigues - UNESP-Bauru
Heraldo Nunes Pitanga - UFV/UFJF Rogerio Pinto Ribeiro - EESC-USP
Jean Lucas dos Passos Belo - STATUM Geotecnia Ronaldo Luis dos Santos Izzo - UTFPR
Jefferson Lins da Silva - EESC-USP Ronaldo Ramos de Oliveira - Maccaferri
João Carlos Baptista Jorge - UEFS/UFBa Sandro Lemos Machado - UFBA
José Antonio Schiavon - ITA Sílvio Romero de Melo Ferreira - UFPE
José Camapum de Carvalho - UnB Simone Cristina de Jesus - UFTM
José Fernando Thomé Jucá - UFPE Thelma Sumie Maggi M. Kamiji - FRAL
José Roberto Fernandes Galindo - UFRB Valéria Guimarães Silvestre Rodrigues - USP
Kátia Vanessa Bicalho - UFES Waldyr Lopes de Oliveira Filho - UFOP
Lázaro Valentin Zuquette - EESC-USP Weiner Gustavo - UFRB
PREFÁCIO

O X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental e IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos –


REGEO/GEOSSINTÉTICOS 2023 – acontecem em Salvador-Ba, no Centro Universitário Jorge
Amado – UNIJORGE (Campus Paralela), entre 18 e 21 de julho de 2023. São eventos
promovidos de forma conjunta, desde 2003 a cada quatro anos. Após a edição de 2019, que foi
sediada na EESC-USP em São Carlos-SP, a edição de 2023 traz como tema central “Geotecnia
Ambiental e Geossintéticos: garantia de um futuro com qualidade!”, e apresenta a visão da
Engenharia Geotécnica quanto à aplicação de práticas conscientes e mais sustentáveis, sem
perder de vista a segurança e a economia, tendo como referência os resultados de pesquisas e
de experiências práticas acumuladas ao longo desses anos. Ao reunir diversos profissionais,
universidades e empresas com diferentes experiências, trazem soluções e superam os desafios
da Geotecnia Ambiental e do uso de Geossintéticos e, sem dúvida, é uma oportunidade única,
que conta com a participação de profissionais das diversas áreas da Geotecnia como: Mecânica
dos Solos, Mecânica das Rochas, Mecânica dos Pavimentos, Fundações, Barragens, Escavações,
Túneis, Mineração, Geossintéticos, Geotecnia Ambiental, Aterros Sanitários, Geomecânica do
Petróleo, entre outras. O REGEO/GEOSSINTÉTICOS 2023 é uma promoção da ABMS –
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica e da IGS/Brasil
(Associação Brasileira de Geossintéticos), sob a organização do Núcleo Regional da Bahia da
ABMS, com o apoio da UNIJORGE.

A Comissão Organizadora e a Comissão Científica do REGEO/GEOSSINTÉTICOS 2023 agradecem


o apoio de todos que trabalharam para a realização do evento, aos palestrantes e autores dos
trabalhos que trouxeram as suas contribuições e avanços, aos revisores que dedicaram parte
do seu tempo para avaliarem os trabalhos e aos Patrocinadores/parceiros pelo apoio financeiro
e por trazerem as suas inovações.

Salvador-Ba, 18 de julho de 2023.

Hélio Machado Baptista (Envgeo Engenharia), Luciene de Moraes Eirado Lima (UFBA) e Maria
do Socorro C. São Mateus (UEFS)

Comitê Gestor
X CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOTECNIA AMBIENTAL

SUMÁRIO
TEMA 1: CARACTERIZAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS OU CONTAMINADAS 1
Adsorção de Cd em Misturas de Solo com Biocarvão de Resíduos de Poda Urbana. - Jéssica Pelinsom 2
Marques; Jacqueline Zanin Lima; Carlos Manoel Pedro Vaz; Valéria Guimarães Silvestre Rodrigues
Avaliação da Performance de Diferentes Materiais como Sorventes de Pb, Cd e Zn em Sistemas 8
Multielementares. - Jacqueline Zanin Lima; Jéssica Pelinsom Marques; Valéria Guimarães Silvestre Rodrigues
Estudo de Caso Sobre a Investigação Geoambiental a Elaboração de Projeto Conceitual para Encerramento 16
do Lixão no Município de Itacaré – BA. - Martha Maria Bezerra Santos; José Fernando Thomé Jucá
Fitorremediação em Solo Contaminado pelo Metal Chumbo. - Bianca da Silveira Schottz; Maria Esther Soares 24
Marques; Wilma de Araújo Gonzalez; Silvio Roberto de Lucena Tavares
Formação de Bolhas em Geomembranas de Impermeabilização, Empregadas em Lagoas de Lixiviados de 30
Aterros Sanitários: Revisão Bibliográfica. - Priscila Mendes Zidan; Elisabeth Ritter
Um Panorama Geral a Respeito de Lagoas de Estabilização: Estudo de Caso no Município de Angatuba (SP). - 37
André Querelli; Tiago de Jesus Souza; Patricia Rodrigues Falcão

TEMA 2: CASOS HISTÓRICOS E DE OBRAS 44


Concrete Dam Instrumentation Data Statistical Analysis and Generation of Synthetic Series: Study Case. - 45
Cezar Falavigna Silva; Daniel Henrique Marco Detzel; Tennison Freire de Souza Junior
Desempenho de Cortinas de Turbidez Aplicadas a Sistema de Drenagem Pluvial de uma Pilha de Estéril. - Luiz 52
Gustavo Moraes de Macedo; Maria das Graças Gardoni Almeida; Ennio Marques Palmeira
Estudo de Caso: Aplicação de Técnica de Retaludamento com Muro de Gabião para Solução da Instabilidade 60
em uma Encosta no Município de Cachoeira do Brumado/MG. - Matheus Vidigal Pinto; Tales Moreira de
Oliveira; Leandro Neves Duarte; Natália Brasil Assunção Silva; Gabriela Silva Thome do Amaral
Solo Grampeado Verde com Geomanta Reforçada e Barreira Dinâmica, Rodovia SP 123. - Lucas Defalco 65
Marcomini; Ricardo Oliveira Sirmatei

TEMA 3: DESCOMISSIONAMENTO DE SISTEMAS DE DISPOSIÇÃO, GESTÃO DE RISCO E INCERTEZAS 72


EM GEOTECNIA AMBIENTAL
Análise de Descaracterização de Barragens de Rejeitos pelo Método de Olson. - João Paulo Tavares; André 73
Pacheco de Assis
Processo de Rebaixamento do Nível de Água de uma Barragem a Montante Alteada a Montante Visando a 81
Descaracterização. - Juliana de Paula Rezende; Henrile Pinheiro Meireles; Diego Hilario Teixeira

TEMA 4: ESTÉREIS DE MINERAÇÃO, RESÍDUOS SÓLIDOS (INDUSTRIAIS, URBANOS E DE 89


CONSTRUÇÃO DEMOLIÇÃO) E REJEITOS: CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA, REÚSO E DISPOSIÇÃO
Analisis del Comportamiento Mecánico en la Resistencia al Corte de un Suelo Fino con Adición de Fibras Pet. 90
- Maria Paula Salazar Susunaga; Erika Lorena Sánchez González; José Francisco Catañeda Delgado
Análise dos Parâmetros de Resistência de um Solo Residual Maduro Quando Acrescido de Cinza de Cavaco 97
de Eucalipto Escura e Compactado em Energia Normal. - Bruno Henrique Rocha Queiroz; Diego Miranda
Cardoso; Tatiana Tavares Rodriguez; Cátia de Paula Martins; Júlia Righi de Almeida
Análise Estrutural de um Projeto de Pavimento Flexível com Subleito Estabilizado com Rejeito de Espirais. - 104
Marcos Paulo Martins; Carlos Henrique de Morais Filho; Marcos José Miranda Filho; Klaus Henrique de Paula
Rodrigues; Heraldo Nunes Pitanga
Análise Mecanicista de um Pavimento Dimensionado Empiricamente Contendo um Subleito Estabilizado com 112
Escória de Aciaria. - Laís Brenda Lopes Rezende; Jéssica Mota Souto; Klaus Henrique de Paula Rodrigues
Avaliação da Resistência à Compressão Simples de Misturas Solo-escória de Aciaria Elétrica. - Anna Beatriz 121
Barbosa Sobreira; Débora dos Santos Moreira; Philipe Augusto Martins Rodrigues; Raissa Batista Bayer;
Heraldo Nunes Pitanga
Análise Preliminar das Propriedades Mecânicas de Rejeito de Dragagem Submetido a Processo de Pré- 128
Adensamento. - Saymon Porto Servi; Estefany de Almeida Conceição; Régis Pinheiro Maria; Diego de Freitas
Fagundes
Avaliação da Resistência Mecânica de um Coproduto de Rejeito de Minério de Ferro Estabilizado com 134
Geopolímero à Base de Resíduo de Perlita. - Gabriella Melo de Deus Vieira; Roberto Aguiar dos Santos;
Michéle Dal Toé Casagrande
Avaliação do Ganho de Vida Útil em uma Célula de um Aterro Sanitário de Grande Porte Durante a Operação 140
com Utilização de VANT. - Caio César de Sousa Mello; Gustavo Ferreira Simões
Avaliação do Parâmetro CBR de um Solo Argiloso Melhorado com Resíduos Sólidos da Construção Civil e 148
Finos de Escória de Aciaria. - José Roberto Fernandes Galindo; Heraldo Nunes Pitanga; Taciano Oliveira da
Silva; Gustavo Emílio Soares de Lima; Leonardo Gonçalves Pedroti
Caracterização de Resíduos de Construção e Demolição Reciclados para Aplicação em Estruturas de 155
Contenção em Gabiões. - Maria Clara Alves Ferreira Ramos; Bennie Barreto Pereira de Oliveira; Alanna Raíssa
Magri Lopes; Gustavo Ferreira Simões
Caracterização Física de Lodo de ETA Pós Dessaguamento em Bolsa Geotêxtil. - Guilherme Pagni de Aquino; 164
Cleitton Raian Batista Pereira; Mariana Ferreira Benessiuti Motta; Matheus Müller
Caraterização Geotécnica de Lodo de ETA para Aplicação em Cobertura Final de Aterro Sanitário na 172
Amazônia. - Jean Lucas de Souza Lima; Rafaela Nazareth Pinheiro de Oliveira Silveira; Risete Maria Queiroz
Leão Braga; Carlos Alexandre Quadros da Silva; Marcus Vinicius Ribeiro e Souza
Comportamento Mecânico de Rejeito de Minério de Cobre. - Saymon Porto Servi; Marcela Correa dos Santos; 179
Karina Retzlaff Camargo; Cezar Augusto Burkert Bastos; Nilo Cesar consoli
Comportamento Mecânico em Duas Direções Ortogonais – Paralela e Ortogonal à Compactação - de 187
Misturas de Solo Fino Laterítico da Planície Costeira do Rio Grande do Sul e Bentonita para Uso como
Barreira Mineral. - Karina Retzlaff Camargo; Alexandre Felipe Bruch
Composição Gravimétrica de Resíduos Sólidos Urbanos Destinados ao Aterro Sanitário Localizado em 195
Campina Grande. - Daniel Epifânio Bezerra; Ana Letícia Ramos Bezerra; Amanda Paiva Farias; Cláudio Luis de
Araújo Neto; William de Paiva
Controle de Compactação para Bases e Coberturas de Aterros Sanitários e Encerramento de Lixões. - 201
Guilherme José Correia Gomes; José Fernando Thomé Jucá
Deformations on a Tailings Dam Embankment Eue to its Heightening and Reservoir Filling Based on FEM 2D. - 207
Sidnei Helder Cardoso Teixeira; Tennison Freire de Souza Junior; Paulo Roberto de Paiva; Cezar Falavigna Silva;
Eduardo Conte
Estabilização de Solo com Adição de Resíduos da Fabricação de Peças Pré-Moldadas de Concreto. - 216
Raianderson Wecseley Ferreira Cruz; Janaina Lima de Araújo; Marcus Vinicius Ribeiro e Souza; Rafaela Nazareth
Pinheiro de Oliveira Silveira
Estabilização Polimérica de Rejeito de Minério de Ferro para Disposição em Pilhas. - Giovana Abreu de 224
Oliveira; Michel M. M. Fontes; Andrêza Santos; Gabriella Melo de Deus Vieira; Giovanna Monique Alelvan
Estudo da Compactação de Solo Misturado com Resíduo de Poliéster Reforçado com Fibras de Vidro. - Cáio 232
Machado da Silva; Cátia de Paula Martins; Erica Machado Peres
Estudo da Resistência de Misturas Solo e Rejeito de Minério de Ferro. - Vivian Bignoto da Rocha Cândido; 240
Vivian Toledo Lippi; Rhaffaela Fernandes Silva; Cátia de Paula Martins; Mário Riccio Filho
Estudo da Resistência Mecânica de um Solo Arenoso Estabilizado com Finos de Escória de Aciaria. - José 247
Roberto Fernandes Galindo; Heraldo Nunes Pitanga; Taciano Oliveira Da Silva; Mario Sergio De Souza Almeida;
Leonardo Gonçalves Pedroti
Estudo da Viabilidade Técnica do Reaproveitamento de Resíduos Siderúrgicos em Liners para Aterros 254
Sanitários. - Juliana de Paula Rezende; Heraldo Nunes Pitanga; Klaus Henrique de Paula Rodrigues; Taciano
Oliveira da Silva
Estudo de Alternativas de Projeto para um Dique de Contenção de Sedimentos de Mineração. - Antônio Italcy 264
de Oliveira Júnior; Alison de Souza Norberto; Isabela das Graças Machado
Fabricación de Hormigón en Base a los Áridos Reciclados de Alta Resistencia. - Rubén Medinaceli Tórrez; 272
Miguel Peñaloza Velásquez; Carolina Asunción Villamil Vedia; Rogério Pinto Ribeiro; Fernando Luiz Lavoie
Geoprocessamento Aplicado na Seleção de Áreas para a Implantação de Aterro Sanitário no Município de 280
Caiapônia (GO). - Lara Morinaga Matida; Tomás Joviano Leite da Silva; Laís Roberta Galdino de Oliveira
Influência da Carbonatação no Módulo de Resiliência de Solos Estabilizados com Escória de Aciaria Elétrica 287
Primária. - Jéssica Mota Souto; Laís Brenda Lopes Rezende; Klaus Henrique de Paula Rodrigues
Influência da Estabilização de um Solo de Subleito com EAEP na Redução das Espessuras das Camadas de um 295
Pavimento Asfáltico. - Júlia Lopes Figueiredo; Ana Clara da Silva; Bruna Martins de Melo; Klaus Henrique de
Paula Rodrigues; Heraldo Nunes Pitanga
Jarosita: Resíduo de Mineração como Instrumento Motivador para Pesquisas. - Cátia de Paula Martins; Vivian 302
Bignoto da Rocha Cândido
Metodologia de Empilhamento de Rejeito de Mineração Filtrado e Compactado. - Juliana de Paula Rezende; 309
Liliane Andrade Santos; Henrile Pinheiro Meireles
Parâmetros Mecânicos de Misturas Asfálticas Formadas por Agregados Naturais e por Agregados Artificiais: 317
Análise Comparativa. - Ana Paula Dias Milagres; Camilla Brigolini Tavares; Hellen Vitória Maia de Moura; Maria
Clara Figueiredo Coelho; Natalia Assunção Brasil Silva
Particle Size Distribution of Landfilled Plastics, Rubber and Construction and Demolition Wastes and Their 325
Potential Reuses. - Cíntia Minori Takeda; Mariane Alves de Godoy Leme; Diego Costa Romeiro; Miriam
Gonçalves Miguel
Proposta para Reforço Não Convencional de Extravasor de Barragem de Enrocamento com Seção Central 333
Rebaixada. - Lucio Schiavon Yamamoto; Maria E. G. Boscov; Alexandre Cristino C. dos Santos; Victor Oliveira
Dias da Rocha; Daniel Aiala
Redução das Espessuras das Camadas de um Pavimento Asfáltico Devido a Estabilização do Solo de Subleito. 340
- Bruna Martins de Melo; Ariane Martins Gravina; Klaus Henrique de Paula Rodrigues; Marcos José Miranda
Filho; Heraldo Nunes Pitanga
Rejeito de Mineração Utilizado como Material Estabilizador de um Solo Tropical. - Klaus Henrique de Paula 348
Rodrigues; Heraldo Nunes Pitanga; Bruna Martins de Melo; Ana Clara da Silva; Júlia Lopes Figueiredo
Resistência e Microestrutura de Rejeito de Mineração de Ferro Estabilizado com Cimento Álcali-Ativado 356
Oriundo de Resíduos Agroindustriais. - William Mateus Kubiaki Levandoski; Suéllen Tonatto Ferrazzo; Maria
Alice Piovesan; Eduardo Pavan Korf
Resistência Mecânica de Rejeito de Dragagem Cimentado: Estudo de Caso em Rio Grande/RS. - Caio Yan 362
Pimpão; Saymon Porto Servi; Diego de Freitas Fagundes; Helena Guerreiro de Almeida

TEMA 5: INVESTIGAÇÕES E MONITORAMENTO GEOAMBIENTAIS 369


Ações de Defesa Civil em Municípios do Rio Grande do Norte com Auxílio de Sensoriamento Remoto e 370
Geoprocessamento. - Melquisedec Medeiros Moreira; Newton Moreira de Souza; Kátia Alves Arraes; José Braz
Diniz Filho; Suzane Dantas Silva
Análise Comparativa do Efeito de Tração das Fibras no Fator de Segurança (FS) da Estabilidade de Taludes de 377
Aterros de Resíduos Sólidos. - Alison de Souza Norberto; Rafaella de Moura Medeiros; Christiane Lyra Corrêa;
Maria Odete Holanda Mariano; José Fernando Thomé Jucá
Análise da Percolação de Lixiviado e sua Influência na Estabilidade de um Aterro Industrial. - Ariádine 388
Henriques da Silva Santana; Júlia Righi de Almeida; Ana Carolina da Silva Araújo; Maria Fernanda Medici
Ribeiro; Cátia de Paula Martins
Análise Hipotética da Estabilidade de Taludes de um Aterro Sanitário Considerando os Tempos de Disposição 395
dos Resíduos. - Rafaella de Moura Medeiros; Alison de Souza Norberto; Antônio Italcy de Oliveira Júnior; Maria
Odete Holanda Mariano; José Fernando Thomé Jucá
Análise Probabilística de Estabilidade de um Talude Considerando a Superfície de Ruptura na Interface entre 403
Resíduo Sólido Urbano e o Geossintético. - Leonardo Alberto do Nascimento; Angelo Dotto Ragagnin Prior;
Magnos Baroni; Rinaldo José Barbosa Pinheiro; Ezequiel Andrei Somavilla
Caracterização Físico-química do Lixiviado Gerado no Aterro Sanitário em Campina Grande – PB. - Jessica 411
Kaori Sasaki; Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva; Ketlyn Jaquelize Lima Sousa; Rivaildo da Silva Ramos Filho;
Márcio Camargo de Melo
Caracterização Geotécnica de Solo Utilizado em Camada de Cobertura de Aterro Sanitário em Aparecida de 419
Goiânia/GO. - Thiago Lopes dos Santos; Vinícius Naves de Oliveira; Laís Roberta Galdino de Oliveira
Caracterização Geotécnica Quanto ao Colapso do Solo para Fins de Elaboração de Carta Geotécnica de 425
Fundações. - Jehnifer Stefany Costa; Lucas Martins Guimarães; Fernanda Yamaguchi Matarazo; Carlos
Henrique Rocha dos Santos
Comparativo de la Erodabilidad Superficial de un Suelo en Campo y en Laboratorio a partir del Ensayo 432
Inderbitzen. - Yamile Valencia-González; Melissa Montoya-Ruiz; Ángela Patricia Barreto-Maya; Oscar Echeverri-
Ramírez
Estudo da Condutividade Hidráulica de um Arenito de uma Área de Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos. 440
- Jhaber Dahsan Yacoub; Breno Padovezi Rocha; Roger Augusto Rodrigues; Giulliana Mondelli; Heraldo Luiz
Giacheti
Expansividade de Misturas de Solos em Liners de Aterro Sanitário: Estudo de Caso no Semiárido Paraibano. - 446
Auciane Dyrllen da Silva; Daniela Lima Machado; Maria Isabel Ferreira dos Santos; Bruno Diego de Morais;
Mateus Evangelista da Silva
Influência de Parâmetros Físico-químicos na Fitotoxicidade do Lixiviado Gerado no Aterro Sanitário em 454
Campina Grande –PB. - Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva; Ana Letícia Ramos Bezerra; Ketlyn Jaquelize Lima
Sousa; Jessica Kaori Sasaki; Veruschka Escarião Dessoles Monteiro
Interpretação de Ensaios de Dissipação de Excessos de Poropressão Gerados em Ensaios do Tipo CPTu. - 462
Thiago Nunes Malaco; Lúcio Flávio de Souza Villar; Giovani Cecatto Lopes Ribeiro da Costa
Monitoramento de Águas Superficiais e Subterrâneas de um Lixão Desativado. - Layla Ferraz Aquino; Camille 470
Ferreira Mannarino; Elisabeth Ritter
Qualidade das Águas Superficiais e Subterrâneas na Área de Influência de um Aterro Sanitário no Semiárido 476
Brasileiro. - Rivaildo da Silva Ramos Filho; Ketlyn Jaquelize Lima Sousa; Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva;
Jessica Kaori Sasaki; Libânia da Silva Ribeiro

TEMA 6: SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO EM GEOTECNIA AMBIENTAL 484


Agregado Reciclado para Preenchimento de Blocos Segmentais em Sistemas de Contenção por Muros de 485
Solo Reforçado. - Pablo Augusto dos Santos Rocha; Denise de Carvalho Urashima; Mag Geisielly Alves
Guimarães; Marcus Vinicius Mendes Pereira
Aplicação de Robótica em Aterro Sanitário: Revisão Sistemática. - Wilson Ramos Aragão Júnior; Laura 493
Esmeraldo Arraes de Lavor; Wesley Chaves Martins Ribeiro; Erika Jayrane Alves da Silva
Avaliação da Resistência de Solo Alcalino com Adição de Fibra de Polietileno Tereftalato Aleatoriamente 500
Distribuída. - Fernanda Simoni Schuch; Ana Karolyna Silveira da Silva; João Victor Machado da Palma; Fábio
Krueger da Silva
Avaliação de Ciclo de Vida com Foco nas Etapas de Execução e Uso em Estruturas Geotécnicas Reforçadas 508
com Geotêxtil Tecido. - Luiz Paulo Vieira de Araújo Júnior; Cristiane Bueno
Avaliação Técnica do Material Residual Oriundo de uma Usina Asfáltica Visando o Reaproveitamento em 516
Obras de Infraestrutura. - Enio Fernandes Amorim; Jose Jonailson de Oliveira Penha; Neilson Sidney Farias de
Moura; Natália Lacerda dos Santos; Tais Moreira de Lisboa
Biocimentação de um Solo Argiloso com Diferentes Meios Nutritivos para Fins de Pavimentação. - Andre Luis 523
Burin; Vinicius Luiz Pacheco; Deise Trevisan Pelissaro; Suelen Cristina Vanzetto
Comportamento Mecânico a Longo Prazo de um Solo Areno-Siltoso Reforçado com Fibras de Coco Tratadas. - 530
Thaís Mota Freitas; Antonio Felipe de Souza Machado Reis; Miriam de Fátima Carvalho; Sandro Lemos
Machado
Comportamento Mecânico de um Latossolo Melhorado com Resíduos Sólidos da Construção Civil para uso 538
em Pavimentos. - Márcio Emannuel Bomfim Oliveira; José Roberto Fernandes Galindo
Dessecagem de Rejeitos de Dragagem com Geoformas Têxteis. - Larissa Macedo Aguiar Irala; Eduarda 544
Giovana Schnorenberger; Andressa Maria Lora Giovelli; Lucas Déo Costa; Diego de Freitas Fagundes
Estabilização de Pavimento Asfáltico Reciclado com Ligante Álcali-ativado. - Rafaela Pollon; Eliandra Salete 552
Lipniarski Dos Santos; Deise Trevizan Pelissaro; Eduardo Pavan Korf
Estudo do Comportamento de um Solo Tropical Reforçado com Fibras Naturais de Coco. - Mayara Luana de 558
Jesus Santos; Michéle Dal Toé Casagrande
Influência do Resíduo de Pneu Triturado no Comportamento Mecânico de um Solo Siltoso. - Fernando Luiz 565
Lavoie; Stephanie Pires Nardi; Rafael Ribeiro Plácido; Rogério Pinto Ribeiro
Investigação de Solo Modificado com Biocarvão de Fibra de Coco como um Potencial Material Leve para 573
Aterros. - Letícia Santos Bezerra; Amanda Saraiva Tavares; Mariana Consiglio Kasemodel
Investigação Numérica de Movimentação de Massa de um Aterro Sanitário. - André Querelli; Tiago de Jesus 580
Souza
Propriedades Mecânicas e Hidráulica de um Solo Residual com Adição de Fibra de PET e RCD. - Fernanda 587
Simoni Schuch; Thais Moreira dos Santos; Fábio Krueger da Silva; Elivete Carmen Clemente Prim; Ana Karolyna
Silveira da Silva
TEMA 7: TRANSPORTE DE CONTAMINANTES E MODELAGEM FÍSICA E NUMÉRICA EM GEOTECNIA 595
AMBIENTAL
Análise do Comportamento Expansivo de Liners de Solo-bentonita em Aterro Sanitário com uso do 596
Planejamento Fatorial. - Vitor Braga de Azevedo; Alisson do Nascimento Lima; Thiago Fernandes da Silva;
Daniela Lima Machado da Silva; Veruschka Escarião Dessoles Monteiro
Aplicação de Modelos Constitutivos na Solução Analítica do Adensamento a Grandes Deformações. - 604
Matheus Marques Martins; Jaqueline Costa de Souza; Moisés Antônio da Costa Lemos; André Luís Brasil
Cavalcante; Marta Pereira da Luz
Avaliação Numérica do Impacto de Escavação para Implantação de Coletor Tronco. - Tiago de Jesus Souza; 611
André Querelli; Rafael Plácido
Comparação da Eficiência de Adsorção Multiespécie de Pb, Ni e Zn em Misturas de Solo Granular com Argila 619
Bentonítica. - Danilo Brito da Costa; Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva; Gabriel Araújo Paes Freire; Wlysses
Wagner Medeiros Lins Costa; Márcio Camargo de Melo
Contribuições de Modelos DDA para Avaliação do Risco Ambiental de Subsidência. - Paulo Gustavo 627
Cavalcante Lins; Roberto Bastos Guimarães; Leonardo Bonfim Reis
Estudo da Adsorção do Elemento Cromo (Cr) por meio de Experimento, em Escala Reduzida, da Camada de 635
Base do Aterro Sanitário em Campina Grande – PB. - Marcela de Almeida Costa; Laércio Leal dos Santos;
Daniela Lima Machado da Silva; Jessica Kaori Sasaki
Modelagem da Difusão de Íons Monovalentes Reativos no Solo do Aterro Metropolitano de Gramacho, RJ. - 642
Arthur Fernandes Gonçalves; Elisabeth Ritter
Modelagem Numérica do Fenômeno do Adensamento a Grandes Deformações. - Matheus Marques Martins; 650
Moisés Antônio da Costa Lemos; Jaqueline Costa de Souza; André Luís Brasil Cavalcante; Marta Pereira da Luz
Transporte de Metais Pesados no Solo: Uma Revisão Bibliográfica. - Tainara Terezinha Reis de Oliveira; 658
Monique Guerra Fernandes; Cátia de Paula Martins; Júlia Righi de Almeida
TEMA 1: CARACTERIZAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS OU CONTAMINADAS

1
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Adsorção de Cd em Misturas de Solo com Biocarvão de Resíduos


de Poda Urbana
Jéssica Pelinsom Marques
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
jessica.pelinsom.marques@usp.br

Jacqueline Zanin Lima


Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
jacqueline.zanin.lima@usp.br

Carlos Manoel Pedro Vaz


Embrapa Instrumentação, São Carlos, Brasil, carlos.vaz@embrapa.br

Valéria Guimarães Silvestre Rodrigues


Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil,
valguima@usp.br

RESUMO: A necessidade de proteção da saúde humana e do meio ambiente motiva o interesse em estratégias de
gerenciamento dos solos contaminados por cádmio (Cd). Uma alternativa para facilitar a imobilização desse metal é a
aplicação de materiais orgânicos com alta capacidade de adsorção de metais potencialmente tóxicos em solos. Este
trabalho visa avaliar a capacidade de adsorção de Cd de um solo, antes e depois da adição de biocarvão de resíduos de
poda urbana nas proporções de 1% e 5%. Foram realizados testes de equilíbrio de adsorção em lote variando a razão solo-
solução e a concentração inicial de Cd. A mistura do biocarvão ao solo aumentou a eficiência de adsorção de Cd. Por
exemplo, considerando a razão solo-solução 1/10 e a concentração inicial de 240 mg L-1, a porcentagem de Cd adsorvido
variou de 5,3% no ensaio com o solo sozinho, para 25,0% no ensaio com 1% de biocarvão, e para 49,6% no ensaio com
5% de biocarvão. Em algumas condições específicas (razão solo-solução 1/20 no ensaio de concentração inicial de 240
mg L-1, e razão solo-solução 1/100 independente da concentração inicial) não houve diferença estatística entre a média
de eficiência de adsorção de Cd pelo solo e pela mistura com 1% de biocarvão. Foi necessário a maior dose de biocarvão
(5%) para obter o efeito desejado. Trata-se de uma alternativa para melhoria de solos em áreas contaminadas, bem como
uma destinação vantajosa para os resíduos de poda urbana.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de Equilíbrio em Lote, Metais Potencialmente Tóxicos, Contaminação, Imobilização,


Gestão de Resíduos

ABSTRACT: To protect human health and the environment, there is growing interest in strategies for cadmium (Cd)
contaminated soils management. Soil amendment using organic materials with high adsorption capacity of potentially
toxic metals is an alternative for Cd immobilization. This paper aims to evaluate the Cd adsorption capacity of a soil
before and after the addition of biochar from urban pruning waste in the proportions of 1% and 5%. Batch equilibrium
tests were carried out with varied soil-solution ratios and initial Cd concentrations. The addition of biochar to the soil
increased the efficiency of Cd adsorption. For instance, considering a soil-solution ratio of 1/10 and 240 mg L-1 of initial
concentration, the percentage of Cd that was adsorbed ranged from 5.3% in the test with soil, to 25.0% in the test with
1% biochar, and to 49.6% in the test with 5% biochar. In some specific conditions (soil-solution ratio 1/20 at 240 mg L-1
Cd, and soil-solution ratio 1/100 regardless the initial concentration) there was no statistical difference between the mean
adsorption efficiency of Cd by the soil and by the mixture with 1% biochar. The highest dose of biochar (5%) was required
to obtain the desired effect. This is an alternative for soil amendment in contaminated areas, as well as a beneficial
destination for urban pruning waste.

KEY WORDS: Batch Equilibrium Test, Potentially Toxic Metals, Contamination, Immobilization, Waste Management

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2
1 INTRODUÇÃO JOSEPH, 2009). Os biocarvões podem ser obtidos de
qualquer material carbonáceo, inclusive de resíduos,
O cádmio (Cd) é o 64° elemento mais abundante na e apresentam grande capacidade de retenção de
crosta terrestre, estando presente em uma média de metais potencialmente tóxicos devido a área e carga
0,15 a 0,20 mg kg-1 (BRADL, 2005). Pode ser superficiais, porosidade, pH, grupos funcionais da
encontrado em depósitos de chumbo (Pb) e zinco superfície e componentes minerais trocáveis. Quando
(Zn) e tem sido usado nas últimas décadas em aplicados aos solos, eles também influenciam suas
indústrias de plástico, ligas e soldas, chapas de aço, propriedades físicas, químicas e biológicas
pigmentos, fungicidas, fertilizantes fosfatados e (LEHMANN; JOSEPH, 2009).
baterias níquel-cádmio. Apesar de o Cd também ser A capacidade de diferentes biocarvões de remover
liberado para o meio ambiente naturalmente, as Cd de soluções aquosas tem sido relatada na
atividades antrópicas alteram seu ciclo literatura. Como exemplos podemos citar Ni et al.
biogeoquímico e aceleram essa liberação. A (2019), que investigaram um biocarvão de lodo de
mineração e fundição de metais, bem como o uso e estação de tratamento de esgoto digerido
descarte de materiais com Cd, podem causar anaerobicamente, e Shan et al. (2020), que avaliaram
problemas de contaminação (YONG; MULLIGAN, biocarvão de casca de amendoim. Outros autores
2019). também já concluíram que a adição de biocarvão ao
Estudar os casos de contaminação por Cd e formas solo aumenta a sua capacidade de adsorção de Cd e
de remediar o problema é importante porque esse de outros metais. Melo et al. (2016) relataram que a
metal apresenta alta toxicidade e risco para o mistura de 10% de biocarvão de palha de cana-de-
ambiente e a saúde humana. Nas plantas, o Cd pode açúcar em dois solos tropicais de Piracicaba (SP)
afetar o crescimento e as estruturas das raízes, bem aumentou a capacidade de sorção de Cd e Zn.
como a absorção de nutrientes e o processo de Houben, Evrard e Sonnet (2013) estudaram a
fotossíntese. Nos humanos, a contaminação pode aplicação de biocarvão de Miscanthus silvergrass
levar a mudanças no metabolismo de cálcio (Ca), (uma gramínea) em doses de 1, 5 e 10% em um solo
vitamina D, colágeno, causar degeneração dos ossos, contaminado por Zn, Cd e Pb próximo de uma planta
prejudicar pulmões e rins (BRADL, 2005). Conforme de fundição na Bélgica. Os autores relataram redução
especialistas da FAO (Organização das Nações na extratabilidade e biodisponibilidade dos metais,
Unidas para Alimentação e Agricultura) e da OMS devido principalmente ao aumento do pH.
(Organização Mundial da Saúde), o limite de Neste contexto, o presente trabalho tem como
ingestão mensal tolerável de Cd em adultos é de 25 objetivo avaliar a capacidade de adsorção de Cd por
µg kg -1 (WU, 2015). Segundo a Resolução 420 do um solo, antes e depois da adição de biocarvão de
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, resíduos de poda urbana nas proporções de 1% e 5%.
2009) o valor de prevenção para o Cd no solo é de 1,3 A amostra de solo usada é proveniente da região do
mg kg-1. Na água subterrânea, o valor de intervenção Vale do Ribeira (SP), uma região com um histórico
de contaminação por metais potencialmente tóxicos,
é de 5 µg L -1.
entre eles o Cd, devido à disposição inadequada de
A necessidade de proteção da saúde humana e do resíduos de mineração (PAOLIELLO, CAPITANI,
meio ambiente motiva o interesse em estratégias de 2005; KASEMODEL et al., 2019; CRUZ et al.,
gerenciamento dos solos contaminados por Cd. Uma 2019). Assim, o estudo de solos locais e da sua
das abordagens nesse caso é a imobilização do interação com o Cd é de grande relevância. O solo
elemento in situ, visando a sua transformação em estudado é livre de contaminação. O biocarvão usado
formas geoquimicamente mais estáveis, menos foi obtido a partir da pirólise de resíduos de poda
biodisponíveis e, portanto, a quebra da rota pela qual urbana, isto é, galhos, ramos e folhas gerados na poda
o elemento entra em contato com o receptor de árvores. Trata-se de um resíduo abundante e com
grande potencial de utilização, mas que na maioria
(KUMPIENE et al., 2019). Um dos principais
dos municípios brasileiros é mal gerenciado e acaba
mecanismos de imobilização de metais sendo destinado inadequadamente para aterros
potencialmente tóxicos no solo é a adsorção, e a sanitários (VALE, 2005). A pirólise dos resíduos de
aplicação de materiais orgânicos, entre eles o poda urbana em grande escala depende de um alto
biocarvão, no solo pode facilitar esse processo. O investimento de implantação e pode envolver custo
biocarvão é um material sólido rico em carbono ambiental relacionado ao balanço energético e a
obtido através da pirólise de biomassa (LEHMANN; emissões gasosas, mas tem potencial de ser vantajosa

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3
se realizada com as condições adequadas,
principalmente em comparação com alternativas
como o aterro sanitário.
Espera-se que a adição de biocarvão de resíduos
de poda no solo aumente sua capacidade de adsorção
de Cd, e pretende-se contribuir tanto com uma
alternativa para imobilização de Cd em áreas
contaminadas, quanto com uma alternativa de
destinação dos resíduos de poda, através do uso de
biocarvão.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Preparação das misturas


Figura 1. Preparação dos materiais adsorventes estudados:
O solo usado neste trabalho é uma amostra composta Solo, mistura de solo com 1% de biocarvão e mistura de
a partir de solos coletados na porção paulista do Vale solo com 5% de biocarvão.
do Ribeira (mais especificamente dos municípios de
Eldorado e Jacupiranga), previamente descritos e 2.2 Capacidade de Adsorção de Cd
caracterizados por Marques et al. (2022). Trata-se de
uma amostra predominantemente argilosa e não Para avaliar o comportamento de adsorção de Cd
contaminada. O biocarvão foi obtido a partir da pelas amostras de solo e misturas, foram realizados
pirólise (a 500°C) de resíduos de poda urbana do testes de equilíbrio de adsorção em lote (batch
Campus da Universidade de São Paulo, no município equilibrium tests) usando metodologia adaptada de
de São Carlos (SP). O material foi previamente EPA (1992), variando a razão solo-solução (RSS) e a
caracterizado por Moraes (2022). Para esse estudo, concentração inicial (C0).
preparou-se 810 g de cada um dos materiais As RSS utilizadas foram 1/5, 1/10, 1/20, 1/50 e
adsorventes a serem testados (solo sem adição de 1/100, sempre utilizando 50 mL de solução, ou seja,
biocarvão, solo com adição de 1% de biocarvão e a massa de adsorvente variou entre 20,0 g e 0,5 g (em
solo com adição de 5% de biocarvão). As proporções base seca). As concentrações iniciais utilizadas foram
de 1 e 5% foram calculadas com base na massa seca 0 (amostra controle), 240 mg L-1 e 455 mg L-1. Para
dos materiais. Tais proporções foram escolhidas com preparar as soluções, utilizou-se um sal de cloreto de
base em dados da literatura (PUGA et al., 2015; cádmio hemipentahidratado (CdCl2.2⅟2H2O) da
SOUZA et al., 2019; PENIDO et al., 2019), na marca Sigma-Aldrich com pureza de 79,5-81,0%,
caracterização prévia do biocarvão (MORAES, dissolvido em água MilliQ.
2022), e também buscando priorizar o baixo custo As amostras foram pesadas em erlenmeyers de
(econômico e ambiental) e a minimização de outros vidro e colocadas em contato com cada uma das
possíveis efeitos que poderiam ser causados pela soluções. O ensaio foi feito em duplicata. Mediu-se
adição de maiores quantidades de biocarvão (como a pH, potencial de óxido-redução (Eh) e condutividade
lixiviação de elementos na composição do material). elétrica (CE) das suspensões. Utilizou-se um
Os materiais foram misturados dentro de um saco pHmetro Jensay modelo 3540 para pH e CE, e um
plástico e em seguida foram homogeneizados pelo pHmetro DIGIMED DH21 com um eletrodo de anel
método da pilha alongada por 2 vezes (Figura 1). de platina para o Eh. As amostras foram agitadas em
uma mesa agitadora para solos SL183 da Solab a 130
rpm por 24 horas. Ao final do tempo de equilíbrio, as
amostras foram transferidas para tubos Falcon de 50
mL, e as fases sólida e líquida foram separadas
através de centrifugação (Centrífuga Novatécnica NT
810 a 2500 rpm por 5 minutos) seguida de filtração
(papel filtro qualitativo Unifil com gramatura 80 g m-
2
). Mediu-se novamente os valores de pH, Eh e CE
nas soluções (após filtragem). Em seguida, as
concentrações de Cd nas soluções foram
determinadas utilizando um espectrômetro de
emissão ótica com plasma indutivamente acoplado
(ICP OES). A quantidade de cada metal adsorvida

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4
pelos materiais sólidos foi calculada a partir da Tabela 3. Valores de pH das amostras da mistura de solo
diferença entre a concentração inicial na solução (C0) com 5% de biocarvão durante ensaio de equilíbrio em lote.
e a concentração de equilíbrio ao final do ensaio (Ce), Concentração Razão solo- pH pH
conforme a Equação 1. Vsol é o volume de solução e inicial solução inicial final
Msolo é a massa de solo/mistura utilizada. 1/5 5,1 6,0
1/10 4,8 6,1
𝐶0 −𝐶𝑒 240 mg L-1 1/20 4,9 5,8
q𝑒 = 𝑉𝑠𝑜𝑙
𝑀𝑠𝑜𝑙𝑜
(1) 1/50 5,0 5,9
1/100 5,2 5,6
1/5 5,2 5,7
3 RESULTADOS 1/10 5,4 6,4
455 mg L-1 1/20 5,4 6,3
1/50 5,5 6,4
As Tabelas 1 a 3 apresentam os valores de pH 1/100 5,6 6,3
medidos durante o ensaio de equilíbrio em lote para
o solo, a mistura com 1% de biocarvão e a mistura
com 5% de biocarvão, respectivamente. Os valores A Figura 2 apresenta a eficiência de adsorção de
de pH das amostras de solo ficaram entre 4,2 e 4,7 no Cd pelos três materiais estudados em função da razão
início do ensaio e entre 4,7 e 5,3 no final do ensaio solo-solução e concentração inicial. Para a
(Tabela 1). Os valores de pH das amostras com 1% concentração inicial de 240 mg L-1, a eficiência do
de biocarvão ficaram entre 4,4 e 5,1 no início do solo variou entre 0,9% e 13,1% a depender da razão
ensaio e entre 4,8 e 5,5 no final (Tabela 2). Por fim, solo-solução. A mistura com 1% de biocarvão teve
as amostras da mistura com 5% variaram entre 4,8 e uma eficiência variando de 7,6% a 31,2%, e a mistura
5,6 na fase inicial e entre 5,6 e 6,4 na fase final com 5% de biocarvão adsorveu entre 12,9% e 62,7%
(Tabela 3). do Cd das soluções. Para a concentração inicial de
455 mg L-1, a eficiência do solo variou entre 0,7% e
Tabela 1. Valores de pH das amostras de solo durante 13,9%. A mistura com 1% de biocarvão adsorveu de
ensaio de equilíbrio em lote.
3,4% a 19,9% do Cd e a mistura com 5% adsorveu de
Concentração Razão solo- pH pH
7,4% a 43,0%.
inicial solução inicial final
1/5 4,3 4,7
1/10 4,5 4,6 Porcentagem de Cd adsorvido por cada material em função da RSS
C0 = 240 mg/L
240 mg L-1 1/20 4,6 4,6 100

1/50 4,7 4,8 90 Solo


Porcentagem de Cd adsorvido

80 Solo + 1% Biocarvão
1/100 4,8 4,8 70 Solo + 5% Biocarvão
1/5 4,2 5,3 60

1/10 4,3 4,9 50

455 mg L-1 1/20 4,5 4,8 40


30
1/50 4,4 4,8 20
1/100 4,7 5,1 10
0
1/5 1/10 1/20 1/50 1/100
Tabela 2. Valores de pH das amostras da mistura de solo Razão Solo/Solução

com 1% de biocarvão durante ensaio de equilíbrio em lote.


C0 = 455 mg/L
Concentração Razão solo- pH pH 100

inicial solução inicial final 90 Solo


Porcentagem de Cd adsorvido

80 Solo + 1% Biocarvão
1/5 4,6 5,4 70 Solo + 5% Biocarvão
1/10 4,7 5,3 60

240 mg L-1 1/20 4,8 5,0 50

1/50 4,8 4,8 40


30
1/100 4,9 5,1 20
1/5 4,4 5,2 10

1/10 4,6 5,5 0


1/5 1/10 1/20 1/50 1/100
455 mg L-1 1/20 4,9 5,5 Razão Solo/Solução

1/50 5,0 5,4 Figura 2. Porcentagem de Cd adsorvido da solução pelos


1/100 5,1 5,5 três materiais estudados (solo, mistura de solo com 1% de
biocarvão e mistura de solo com 5% de biocarvão) em
função da razão solo-solução e concentração inicial
utilizadas no ensaio de equilíbrio em lote.

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5
A Figura 3 apresenta os resultados em termos de isso reflete nos resultados. Em geral, para todos os
capacidade de adsorção por massa de material materiais estudados, a diminuição da RSS (isto é, a
adsorvente. A capacidade de adsorção de Cd do solo diminuição da massa de material sólido usada)
variou de 127,6 a 487,8 µg g -1 para a concentração resultou na diminuição da eficiência de adsorção de
inicial de 240 mg L-1, e de 244,3 a 414,7 µg g -1 para Cd. Por exemplo, considerando a concentração
a concentração de 455 mg L-1. A capacidade de inicial de 455 mg L-1, o solo adsorveu 13,3% do Cd
adsorção da mistura com 1% de biocarvão variou da solução no ensaio com RSS 1/5 e apenas 0,7% na
entre 376,1 e 1835,0 µg g -1 para a concentração RSS 1/100 (Figura 2). Por outro lado, no caso das
inicial de 240 mg L-1, e de 453,4 a 1576,0 µg g -1 para misturas de solo e biocarvão, também houve aumento
a concentração inicial de 455 mg L-1. Por fim, a da capacidade de adsorção por unidade de massa do
capacidade de adsorção da mistura com 5% de material sólido (Figura 3).
biocarvão variou entre 754,0 e 3101,5 µg g -1 para a Esse mesmo efeito de diminuição da eficiência e
concentração inicial de 240 mg L-1, e de 979,3 a aumento da capacidade de adsorção por unidade de
3360,4 µg g -1 para a concentração inicial de 455 mg massa foi observado também devido ao aumento da
L-1. concentração inicial. Por exemplo, para a mistura
com 1% de biocarvão em uma RSS de 1/5, a
Capacidade de adsorção de Cd de cada material em função da RSS eficiência de adsorção foi de 31,2% para 19,9% nos
5000
C0 = 240 mg/L ensaios com 240 e 455mg L-1, respectivamente
(Figura 2). Nesse mesmo caso, a capacidade de
Capacidade de adsorção qCd(µg g-1)

Solo
4000
Solo + 1% Biocarvão adsorção da mistura aumentou de 376,1 µg g -1 para
Solo + 5% Biocarvão
3000 453,5 µg g -1 com o aumento da concentração inicial
2000
(Figura 3).
Em geral, o aumento da dose de biocarvão
1000
adicionado ao solo aumentou a eficiência de adsorção
0 de Cd. Por exemplo, considerado a RSS 1/10 e a
1/5 1/10 1/20
Razão Solo/Solução
1/50 1/100
concentração inicial de 240 mg L-1, a eficiência de
C0 = 455 mg/L
adsorção aumentou de 5,3% no ensaio com o solo
5000
sozinho, para 25% no ensaio com a mistura com 1%
Capacidade de adsorção qCd (µg g-1)

Solo
4000
Solo + 1% Biocarvão
de biocarvão, e para 49,6% para a mistura com 5% de
3000
Solo + 5% Biocarvão biocarvão. No entanto, uma análise de variância
ANOVA mostrou que em alguns casos específicos
2000
(RSS 1/20 no ensaio de concentração inicial de 240
1000 mg L-1, e RSS 1/100 independente da concentração
0 inicial) não houve diferença estatística entre a média
1/5 1/10 1/20 1/50 1/100
Razão Solo/Solução
de eficiência de adsorção de Cd pelo solo e pela
mistura com 1% de biocarvão. Isso pode ser
indicativo de que a proporção de 1% de biocarvão no
Figura 3. Capacidade de adsorção de Cd por unidade de
massa de cada um dos três materiais estudados (solo, solo é baixa para gerar o efeito desejado. A ANOVA
mistura de solo com 1% de biocarvão e mistura de solo também mostrou que não houve diferença estatística
com 5% de biocarvão) em função da razão solo/solução e entre as médias de adsorão de Cd dos três materiais
concentração inicial utilizadas no ensaio de equilíbrio em para as RSS 1/10 e 1/50 do ensaio com 455 mg L-1.
lote. Apesar desses casos específicos, na maior parte
das condições analisadas, a aplicação de biocarvão a
4 DISCUSSÃO uma dose de 5% no solo se mostrou eficiente para a
melhorar a capacidade de adsorção de Cd.
Os valores de pH iniciais das amostras nos ensaios de
adsorção indicam um ambiente ácido, que 4 CONCLUSÕES
desfavorece a precipitação do Cd. No entanto, notou-
se que com o aumento da dose de biocarvão no solo Este trabalho avaliou a capacidade de adsorção de Cd
aumenta também o pH da amostra. Este efeito está de um solo, antes e depois da adição de biocarvão de
relacionado a alcalinidade do biocarvão de resíduos resíduos de poda urbana nas proporções de 1% e 5%.
de poda urbana. Segundo Moraes (2022), o material A dose de 1% de biocarvão teve um efeito menor
apresenta pH de 9,9. sobre a adsorção de Cd, sendo que em algumas das
Tanto a RSS quanto a concentração inicial condições analisadas no laboratório, não houve
utilizadas nos ensaios definem a proporção entre diferença estatística entre os resultados desta mistura
massa de adsorvente e de adsorvato na suspensão, e e do solo sem adição de biocarvão. A dose de

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6
biocarvão mais eficaz para o aumento da eficiência Abreu, C. A.; Camargo, O. A. (2016) Sorption and
de adsorção do Cd foi 5%. Trata-se de uma desorption of cádmium and zinc in two tropical soils
alternativa para imobilização de Cd e melhoria de amended with sugarcane-straw-derived biochar. Soils
solos em áreas contaminadas, bem como uma Sediments 16, p. 226–234
Moraes, T. T. (2022) Caracterização de biocarvão de
destinação útil para os resíduos de poda urbana. No
resíduos de poda e análise da adsorção de Cd e Pb.
entanto, faz-se necessário a continuidade dos estudos Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação
para entender melhor as interações entre solo, em Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos,
biocarvão e contaminante, e também os possíveis Universidade de São Paulo.
efeitos indesejados dessas misturas, como a Ni, B.; Huang, Q.; Wabg, C.; Ni, T.; Sun, J.; Wei, W.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


7
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação da performance de diferentes materiais como sorventes


de Pb, Cd e Zn em sistemas multielementares
Jacqueline Zanin Lima
Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo
(EESC/USP), São Carlos, Brasil, jacqueline.zanin.lima@usp.br

Jéssica Pelinsom Marques


Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo
(EESC/USP), São Carlos, Brasil, jessica.pelinsom.marques@usp.br

Valéria Guimarães Silvestre Rodrigues


Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo
(EESC/USP), São Carlos, Brasil, valguima@usp.br

RESUMO: A presença de elevadas concentrações de metais potencialmente tóxicos (MPTs) no solo e na água pode
comprometer os serviços ecossistêmicos e colocar em risco a saúde humana. Assim, diferentes sorventes vêm sendo
investigados como alternativas para a retenção dos contaminantes. O presente estudo avaliou a performance de sorção e
dessorção de chumbo (Pb), cádmio (Cd) e zinco (Zn) por materiais com diferentes propriedades físicas e químicas (turfa,
composto e biocarvão) e os líquidos e sólidos pós-sorção foram utilizados em ensaios de germinação com rúcula (Eruca
sativa). Em geral, a capacidade de sorção seguiu a ordem: biocarvão ≥ composto > turfa, sendo superior a 90% para
biocarvão e composto. A afinidade de sorção pela turfa foi: Pb > Cd > Zn, com um avanço competitivo do Pb. A turfa
exibiu maior dessorção, principalmente para Cd (9,14%) e Zn (5,71%), enquanto composto e biocarvão se destacaram
pelas reduzidas liberações dos contaminantes (≤ 0,53 e 0,10%, respectivamente). Para a turfa, o crescimento inicial de E.
sativa foi superior na presença dos líquidos pós-sorção na menor concentração de MPTs, indicando os efeitos adversos
desses contaminantes no desenvolvimento vegetal. As plantas cultivadas nos sólidos pós-sorção misturados com solo
apresentaram maior crescimento para o composto e, especialmente, para o biocarvão, sendo superior ao controle contendo
apenas o solo não-contaminado. O biocarvão exibiu fitotoxicidade intrínseca, mesmo na ausência de contaminantes. Esses
resultados confirmam o potencial, principalmente de composto e biocarvão, na sorção simultânea de Pb, Cd e Zn, mas
faz-se necessário a continuidade dos ensaios, ajustando as taxas de adição e explorando condições de campo e a longo
prazo.

PALAVRAS-CHAVE: Metal potencialmente tóxico, Fração orgânica de resíduos sólidos urbanos, Sorção, Dessorção,
Ecotoxicidade, Germinação.

ABSTRACT: The presence of high concentrations of potentially toxic metals (PTMs) in soil and water can compromise
ecosystem services and put human health at risk. Thus, different sorbents have been investigated as alternatives for
contaminant retention. The present study assessed the sorption and desorption performance of lead (Pb), cadmium (Cd)
and zinc (Zn) by materials with different physical and chemical properties (peat, compost and biochar) and the post-
sorption liquid and solid were used in germination tests with arugula (Eruca sativa). In general, the sorption capacity
followed the order: biochar ≥ compost > peat, being greater than 90% for biochar and compost. The sorption affinity for
peat was: Pb > Cd > Zn, with a competitive advance of Pb. Peat exhibited the highest desorption, mainly for Cd (9.14%)
and Zn (5.71%), while compost and biochar stood out for the reduced release of contaminants (≤ 0.53 and 0.10%,
respectively). For peat, the initial growth of E. sativa was higher in the presence of post-sorption liquids at the lowest
concentration of MPTs, indicating the adverse effects of these contaminants on plant development. Plants cultivated in
post-sorption solids mixed with soil showed greater growth for the compost and, especially, for biochar, being superior
to the control containing only the non-contaminated soil. Biochar exhibited intrinsic phytotoxicity even in the absence of
contaminants. These results confirm the potential, mainly of compost and biochar, in the simultaneous sorption of Pb, Cd
and Zn, but it is necessary to continue the tests, adjusting addition rates and exploring long-term and field conditions.

KEY WORDS: Potentially toxic metal, Organic fraction of urban solid waste, Sorption, Desorption, Ecotoxicity,
Germination.

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1 INTRODUÇÃO são bioensaios rápidos e econômicos (Luo et al.,
2018).
Os metais potencialmente tóxicos (MPTs) estão Assim, o objetivo geral deste estudo foi comparar
distribuídos por toda a crosta terrestre e sua a viabilidade de uso de diferentes materiais (turfa,
variabilidade espacial pode ser afetada por fontes composto e biocarvão) como sorventes de Cd, Pb e
naturais ou antropogênicas (Kabata-Pendias, 2010). Zn. Os objetivos específicos foram: (i) avaliar a
Em especial, a mineração e as atividades industriais capacidade de sorção desses materiais em soluções
liberam grandes quantidades de MPTs, estando aquosas multielementares; (ii) analisar a capacidade
frequentemente associadas a casos de contaminação, de dessorção, considerando um cenário pós-sorção;
diminuindo a qualidade do solo e da água e afetando (iii) investigar o potencial de fitotoxicidade dos
diversos serviços ecossistêmicos (Khan et al., 2022). sólidos e líquidos resultantes dos ensaios de sorção.
O número de áreas contaminadas, no Estado de São
Paulo (Brasil), aumentou de 255 em 2002 para 6606
em 2022 e os dados mais recentes mostram que os 2 MATERIAL E MÉTODOS
metais são o quarto grupo de contaminantes,
identificado em aproximadamente 20% das áreas 2.1 Sorventes
cadastradas (Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo - CETESB, 2022). Em geral, chumbo (Pb), Foram avaliados três sorventes com características
cádmio (Cd) e zinco (Zn) estão comumente presentes distintas: turfa, composto e biocarvão. A turfa foi
em áreas contaminadas por MPTs. coletada no município de Registro (SP, Brasil) em
Diversas técnicas podem ser empregadas na dois pontos de coleta: A (24°29'43"S e 47°46'41"W)
remediação de solo e água contaminados, e B (24°29'22"S e 47°46'50"W), na profundidade de
destacando-se a sorção. Devido à diversidade e 0,0 a 2,0 m. O composto e o biocarvão foram
complexidade das contaminações, é necessário derivados da fração orgânica de resíduos sólidos
estudar a viabilidade do uso de diferentes sorventes, urbanos (FORSU) coletados no município de São
incluindo turfa, composto e biocarvão. A turfa é um Carlos (SP, Brasil). A compostagem foi realizada
sedimento orgânico constituído de biomassa vegetal durante 4 meses seguindo uma modificação do
em diferentes estágios e que se encontra depositada método windrow, com a leira contendo cerca de 250
preferencialmente em áreas alagadiças (International kg de resíduos triturados e construída em ambiente
Peat Society - IPS, 2008). O composto é um material aberto (portanto, sujeita a incidência de radiação
orgânico humificado e biologicamente estável, solar, vento e chuvas). A pirólise foi realizada no
resultado do processo de compostagem, com a reator da empresa SP Pesquisa e Tecnologia (Mogi
intensa atuação da comunidade microbiana (Kiehl, Mirim, SP, Brasil), com aquecimento a uma taxa de
2004). O biocarvão é o produto do processo de 10°C min−1 durante os primeiros 30 min e 20°C min−1
pirólise de biomassa, geralmente sob elevadas até a temperatura desejada de 700°C, que foi mantida
temperaturas (350 a 1200°C) e na ausência ou em por 60 min, juntamente com uma vazão de N2 de 1 L
condições limitadas de oxigênio (Lehmann & Joseph, min−1. Todos os materiais foram secos em estufa (60-
2009). Enquanto turfa e composto se destacam pelo 65°C), destorroados, peneirados (2,00 mm) e
elevado conteúdo de matéria orgânica, contribuindo homogeneizados (método de pilhas alongadas) antes
para o aumento da capacidade de troca catiônica do uso.
(CTC) e dos grupos funcionais de superfície, o
biocarvão dispõe de elevada área superficial, 2.2 Sorção
favorecendo a existência dos sítios ativos de sorção e
das ligações de superfície. A capacidade de sorção de turfa, composto e
No Gerenciamento de Áreas Contaminadas biocarvão foi avaliada através de ensaios de
(GAC), após a confirmação da contaminação, equilíbrio em lote (batch test). Foi utilizada a razão
recomenda-se a realização de estudos sólido/solução de 1/50, incluindo 5,0 g de sorvente e
ecotoxicológicos integrando a avaliação de risco 250 mL de solução contaminante. Foram utilizadas
ambiental. Para isso, é fundamental que sejam soluções multielementares contendo concentrações
selecionados organismos (terrestres e aquáticos) teóricas de Pb, Cd e Zn de 10 e 100 mg L−1. Para
representativos das diversas rotas de exposição dos efeito comparativo, a concentração de 100 mg L−1 foi
contaminantes. Nessa perspectiva, as plantas se preparada em distintas soluções: água Milli-Q,
destacam por serem integrantes de uma via de grande cloreto de cálcio (CaCl2, 0,01 M) e cloreto de sódio
importância dos ambientes terrestres. Os testes de (NaCl, 0,01 M). As suspensões permaneceram em
germinação são ferramentas poderosas para agitação constante (150 rpm), em temperatura
diferentes tipos de investigação de fitotoxicidade e ambiente (23 ± 2°C) por 24 horas. Decorrido o tempo

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de contato, elas foram centrifugadas (3000 rpm, 5 100 (a)
min), filtradas e armazenadas sob refrigeração até as 80
análises das concentrações utilizando a
60
Espectrometria de Emissão Ótica com Plasma
40
Indutivamente Acoplado (ICP-OES).
20
0
2.3 Dessorção Água Água CaCl 2 NaCl
(10 mg L-1) (100 mg L-1)
A dessorção foi realizada com os sólidos pós-sorção
(b)
(100 mg L−1, em água) secos em estufa (60-65°C). 100

Retenção (%)
Foi mantida a razão sólido/solução de 1/50, incluindo 80
1,0 g de cada sorvente e 50 mL de água Milli-Q. 60
Foram seguidas as mesmas condições do teste de 40
sorção (agitação, temperatura e tempo de contato) e 20
as concentrações de Cd, Pb e Zn em solução também 0
foram determinadas em ICP-OES. Água Água CaCl 2 NaCl
(10 mg L-1) (100 mg L-1)

2.4 Fitotoxicidade (c)


100
80
Com as amostras resultantes dos testes de sorção
60
foram realizadas análises de germinação e
desenvolvimento inicial das radículas usando a 40
rúcula (Eruca sativa) como organismo-teste. Os 20
líquidos advindos dos ensaios com concentrações de 0
Água Água CaCl 2 NaCl
10 e 100 mg L−1 (água, CaCl2 e NaCl) foram (10 mg L-1) (100 mg L-1)
adicionados (2 mL) em papel filtro. Os sólidos
resultantes dos ensaios com concentrações de 10 e Pb Cd Zn

100 mg L−1 (em água) foram testados em diferentes Figura 1. Retenção de Pb, Cd e Zn em turfa (a), composto
situações: (i) apenas o sólido, (ii) sólido + papel filtro (b) e biocarvão (c).
e (iii) sólido + solo, na proporção sólido/solo de 1/2.
Foi empregado solo residual argiloso, com pH de 4,6 Comparando os resultados de capacidade de
e CTC de 41,4 mmolc dm−3 (já caracterizado sorção (Tabela 1), o efeito das diferentes soluções de
anteriormente em Marques, 2018). Todos os testes concentração 100 mg L−1 foi similar para composto e
foram realizados com 10 sementes colocadas biocarvão, sendo que a menor capacidade de sorção
randomicamente em placas de Petri (diâmetro de 90 foi para o Cd na solução de CaCl2. Para a turfa,
mm), acondicionadas no escuro, sob temperatura algumas variações puderam ser verificadas e as
ambiente (23 ± 2°C) por 4 dias. Findado esse período, menores retenções também foram na presença do
foram quantificados o número de sementes eletrólito CaCl2, mas para todos os MPTs avaliados.
germinadas e os comprimentos da raiz e da parte
aérea para cada semente germinada. Tabela 1. Capacidade de sorção de Pb, Cd e Zn em turfa,
composto e biocarvão (concentração inicial de 100 mg
L−1).
Capacidade de sorção (mg g−1)
3 RESULTADOS Sorvente Condição
Pb Cd Zn
Água 4,762 1,026 0,799
Os sorventes exibiram diferentes desempenhos de Turfa CaCl2 4,238 0,193 0,235
sorção (Figura 1). De modo geral, a turfa apresentou NaCl 4,815 0,723 0,698
a menor eficiência de remoção, enquanto composto e Água 5,174 5,325 4,856
biocarvão mostraram sorção superior a 92 e 98%, Composto CaCl2 5,167 4,494 5,145
respectivamente. Para a turfa, a ordem de afinidade NaCl 5,333 5,189 5,086
de sorção foi: Pb > Cd > Zn, com grande destaque Água 5,262 5,408 4,990
para o Pb, principalmente na maior concentração Biocarvão CaCl2 5,178 4,846 5,407
inicial (100 mg L−1). Para composto e biocarvão NaCl 5,407 5,283 5,221
seriam necessárias maiores concentrações para se
verificar a ordem de afinidade. Em um cenário de descarte dos sorventes pós-
sorção, a dessorção em água simula o risco de retorno
dos contaminantes para o ambiente. Os resultados de

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dessorção (Tabela 2) mostraram porcentagens rúcula. Para composto e biocarvão, a retenção dos
inferiores a 10% para todos os casos. A turfa, além de MPTs foi superior a 90% em todos os casos e,
exibir as menores porcentagens de sorção, apresentou portanto, restaram concentrações reduzidas dos
também as maiores porcentagens de dessorção (Cd e contaminantes na condição de equilíbrio.
Zn). O composto e o biocarvão se destacaram pelos Comparando as diferentes soluções, foi
reduzidos valores (≤ 0,53 e 0,10%), respectivamente. favorecido o crescimento das plantas na amostra com
biocarvão e CaCl2. De fato, esse eletrólito é usado
Tabela 2. Dessorção de Pb, Cd e Zn em água. frequentemente para simular a biodisponibilidade
Pb Cd Zn vegetal de MPTs na solução do solo.
Sorvente
mg g-1 % mg g-1 % mg g-1 % A Figura 2 apresenta dois endpoints: o
Turfa 0,003 0,07 0,073 9,14 0,059 5,71 crescimento aéreo e o crescimento da raiz. O
Composto 0,010 0,19 0,026 0,53 0,013 0,24
Biocarvão 0,001 0,02 0,005 0,10 0,002 0,03
crescimento aéreo foi mais passível de influência,
com valores menores, maiores ou iguais ao controle,
A germinação de E. sativa na amostra controle enquanto o crescimento da raiz exibiu resultados
contendo apenas água Milli-Q foi de 100%, apenas iguais ou menores que o controle.
4
permitindo que o experimento pudesse ser
3
considerado como validado, pois segundo a

Comprimento (cm)

aéreo
Organization for Economic Co-Operation and 2
Development (OECD, 2006), a taxa de germinação 1
deve ser superior a 70% na condição controle. A 0
germinação nos líquidos resultantes dos ensaios de 1
sorção, independentemente da presença ou não de

raiz
2
eletrólitos em solução, exibiu valores ≥ 70% e não 3
foram observadas diferenças significativas entre as
4
concentrações de 10 e 100 mg L−1 (Tabela 3). Água Água CaCl2 NaCl
(10 mg L-1) (100 mg L-1)
Tabela 3. Taxa de germinação (%) de Eruca sativa nos Turfa Composto Biocarvão Controle
líquidos resultantes dos ensaios de sorção com
concentrações iniciais de 10 e 100 mg L−1. Figura 2. Crescimento da parte aérea e raiz da Eruca sativa
Concentração (mg L−1) nos líquidos resultantes dos ensaios de sorção com
Sorvente Condição concentrações iniciais de 10 e 100 mg L−1 (água, CaCl2 e
10 100
NaCl).
Água 90 100
Turfa CaCl2 -- 90
NaCl -- 100 A germinação de E. sativa nas amostras controle
Água 70 80 foi de 90 (turfa), 70 (composto), 0 (biocarvão) e 80%
Composto CaCl2 -- 80 (solo), indicando fitotoxicidade do biocarvão, mesmo
NaCl -- 100 na ausência de MPTs. Para os sólidos pós-sorção, a
Água 80 80 germinação foi superior no composto em comparação
Biocarvão CaCl2 -- 90 com a turfa e o biocarvão, sendo que o biocarvão se
NaCl -- 80 desenvolveu melhor na presença do solo (Tabela 4).
--: não determinado. Não foram verificadas diferenças significativas entre
as concentrações de 10 e 100 mg L−1.
O crescimento aéreo e da raiz de E. sativa na
presença dos líquidos resultantes dos testes de sorção Tabela 4. Taxa de germinação (%) de Eruca sativa nos
apresentou diferença em função da concentração sólidos resultantes dos ensaios de sorção com
inicial dos contaminantes, principalmente para a turfa concentrações iniciais de 10 e 100 mg L−1 (em água).
(Figura 2). Nesse caso, o crescimento foi superior na Concentração (mg L−1)
Sorvente Condição
menor concentração. De fato, na concentração inicial 10 100
de 10 mg L−1, a turfa reteve a maior parte dos Sólido 40 20
contaminantes restando 0,07; 3,54 e 4,17 mg L−1 de Turfa Sólido+papel 30 30
Pb, Cd e Zn, respectivamente. Já na concentração Sólido+solo 60 40
Sólido 100 80
inicial de 100 mg L−1 (em água), permaneceu em
Composto Sólido+papel 80 90
solução findado o período de contato, 11,37; 88,26 e Sólido+solo 100 100
84,21 mg L−1 de Pb, Cd e Zn, respectivamente. Sólido 10 10
Consequentemente, essa maior presença dos MPTs Biocarvão Sólido+papel 40 50
interferiu negativamente no crescimento inicial da Sólido+solo 90 90

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O composto pós-sorção apresentou crescimento sorventes pós-sorção misturados com solo
de E. sativa (raiz e parte aérea) superior aos demais apresentaram maiores crescimentos para o composto
sorventes (Figura 3), sugerindo que mesmo na e, principalmente, para o biocarvão, sendo esses
presença de contaminantes, a liberação de nutrientes resultados superiores em comparação com o controle
a partir da matriz sólida do material foi de indubitável contendo apenas o solo não-contaminado.
importância para o desenvolvimento inicial das A Figura 3 também apresenta dois endpoints: o
plantas. A turfa pós-sorção não mostrou resultado crescimento aéreo e o crescimento da raiz, sendo
satisfatório e o crescimento em todas as condições possível verificar que ambos apresentaram
avaliadas foi inferior à amostra controle da turfa (sem comportamento semelhante para cada amostra em
contaminantes). Isso pode estar relacionado ao fato função de sua sensibilidade a presença dos MPTs.
de que a turfa exibiu as maiores dessorções (Tabela Por exemplo, para as amostras contendo apenas os
2) e essas maiores concentrações de contaminantes sólidos pós-sorção, na presença de turfa e biocarvão,
em solução podem ter sido absorvidas pelas tanto o crescimento aéreo como da raiz foram
radículas, impactando negativamente o crescimento negativamente afetados, enquanto na amostra
da rúcula. Embora as sementes no controle do contendo composto, ambos crescimentos foram
biocarvão não tenham germinado, impossibilitando a favorecidos.
medição do crescimento, nas amostras de biocarvão
pós-sorção houve germinação e crescimento, 4 DISCUSSÃO
principalmente na condição contendo a mistura com
o solo. Estima-se que a produção mundial de FORSU será
4 superior a 1,5 bilhão de toneladas em 2050
(a)
3 (Hoornweg & Bhada-Tata, 2012; Kaza et al., 2018),
aéreo

2 sendo necessárias alternativas para sua destinação. O


1 uso de sorventes como composto e biocarvão
0 produzidos a partir de resíduos orgânicos é uma
-1
alternativa que alia a destinação correta dos resíduos
a possibilidade de reuso desses materiais, visando o
raiz

-2
controle da contaminação e seguindo, portanto, os
-3 princípios da economia circular. Em geral, o processo
-4 de compostagem e pirólise melhora a performance de
Sólido Sólido+papel Sólido+solo
4 sorção, conforme relatado por Rwiza et al. (2018)
(b) cujos biocarvões estudados (derivados de casca de
3
Comprimento (cm)

milho e arroz) apresentaram capacidade de sorção de


aéreo

2
Pb aproximadamente cinco vezes superior em
1
comparação com os resíduos não tratados.
0 Os resultados deste estudo mostraram que o
-1 composto e o biocarvão revelaram exímias
raiz

-2 capacidades de sorção de Pb, Cd e Zn, com valores


-3 superiores ao encontrado para a turfa. Em relação à
-4 dessorção, o biocarvão se destacou com porcentagens
Sólido Sólido+papel Sólido+solo ≤ 0,10%. Estudo anterior demonstrou os efeitos da
2 aplicação desses materiais como melhoramentos
(c)
aéreo

1
orgânicos em solos da Bélgica historicamente
Turfa contaminados com Cd e Zn, sendo que o biocarvão
0 Composto imobilizou efetivamente os contaminantes por um
Biocarvão
Solo
período de 3 anos após uma única aplicação no solo,
raiz

1 mas o composto e a turfa resultaram no efeito


indesejado de aumentar as concentrações
2
Controle
biodisponíveis de ambos os contaminantes (Egene et
Figura 3. Crescimento da parte aérea e raiz da Eruca sativa al., 2018). Portanto, são necessários estudos futuros
nos sólidos resultantes dos ensaios de sorção com que avaliem a reprodutibilidade dos resultados dos
concentrações iniciais de 10 (a) e 100 mg L−1 (b) (em ensaios de laboratório desta pesquisa para aplicações
água). Em (c), amostras controle (sem contaminante). em campo. Outra abordagem que tem revelado
resultados satisfatórios é o uso combinado de
Comparando as três condições de ensaio, as composto e biocarvão (Beesley et al., 2014; Rashid
plantas que cresceram nas amostras contendo os et al., 2022).

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A afinidade de sorção pela turfa foi: Pb > Cd > Zn, líquidos resultantes dos ensaios de sorção simulam
sendo observado um avanço competitivo do Pb, estas interações, mas maximizando os efeitos, já que
evidenciado pelas maiores capacidades de sorção. os contaminantes e os elementos lixiviados a partir
Este comportamento pode ser explicado pelas das matrizes sólidas já se encontram em solução.
propriedades dos MPTs. Raios iônicos hidratados Altas concentrações de MPTs podem afetar o
menores favorecem o acesso aos sítios de sorção e, crescimento das plantas, inibindo a elongação e
de fato, seus valores seguem esta mesma ordem: Pb multiplicação das células, a atividade fotossintética,
(4,01 Å) < Cd (4,26 Å) < Zn (4,30 Å). Quanto a o metabolismo mineral e, em alguns casos,
eletronegatividade, quanto mais eletronegativo for o culminando na morte vegetal (Khan et al., 2022). De
metal, mais fortemente ele tende a ser atraído pela fato, a comparação entre a menor e a maior
superfície do sorvente e a ordem deste parâmetro: Pb concentração de Cd, Pb e Zn nos líquidos resultantes
(2,33) > Cd (1,69) > Zn (1,65) (McBride, 1994) dos testes com turfa, mostrou que a maior presença
também seguiu a ordem de sorção. Ademais, essa de MPTs inibiu o crescimento, tanto aéreo como da
preferência pela retenção do Pb também pode ser raiz, da E. sativa (Figura 2).
explicada pela “teoria dos ácidos e bases duros e A presença de melhoramentos orgânicos no solo
moles” (do inglês theory of hard and soft acids and pode afetar a mobilidade e disponibilidade dos MPTs
bases - HSAB). De acordo com essa hipótese, os para as plantas através de: (i) mecanismos diretos,
cátions da classe C, incluindo o Pb2+, formam como atração eletrostática, troca iônica, complexação
complexos mais fortes com os grupos funcionais da e precipitação, e (ii) mecanismos indiretos, devido à
matéria orgânica presente na turfa, em comparação modificação das propriedades do solo (pH, CTC,
com os íons da classe B, como Zn2+ e Cd2+. O Pb composição mineral, carbono orgânico) (Khan et al.,
também tem um pKH (logaritmo negativo da 2022). Estudos recentes têm avaliado, através de
constante de hidrólise) de 7,71, que é inferior ao Cd ensaios de germinação e crescimento inicial, a
(10,1) e ao Zn (9,0) (Park et al., 2016). Para todas influência dos melhoramentos em solos
essas propriedades, Cd e Zn são semelhantes entre si contaminados por MPTs. Penido et al. (2019)
e diferentes do Pb, corroborando os resultados de reportaram que a adição de biocarvão em solo
sorção. contaminado pela atividade de mineração (Vazante,
Os dados deste estudo se referem a retenção dos Brasil) diminuiu a biodisponibilidade de Pb, Cd e Zn
contaminantes em soluções aquosas e favoreceu a germinação e o crescimento inicial de
multielementares, mas confirmaram os resultados Brachiaria decumbens. Sarathchandra et al. (2022)
anteriores encontrados para estes mesmos sorventes, observaram que a mistura de composto com rejeitos
porém submetidos ao contato com soluções aquosas de minério de ferro contaminados com MPTs (Cu,
monoelementares (Lima et al., 2022). A maioria dos Fe, Mn, Pb, Ni e Zn) melhorou significativamente o
estudos de sorção reportados na literatura utilizam crescimento aéreo e da raiz de azevém perene
soluções monoelementares e existe informação (Lolium perenne), embora não tenha afetado a
limitada em relação à competitividade de MPTs pelos germinação das sementes.
sítios de sorção de diversos sorventes, incluindo O desenvolvimento das plantas é influenciado
turfa, composto e biocarvão. Devido às condições pela biodisponibilidade dos contaminantes, mas
geológicas e características usuais dos resíduos, é também pelas características dos melhoramentos.
comum que os MPTs coexistam nos ambientes Neste estudo, o composto pós-sorção, por exemplo,
naturais e nos casos de contaminação (Yan et al., embora contaminado, contribuiu para o crescimento
2022). A sorção competitiva e as interações da parte aérea e raiz da rúcula (Figura 3).
existentes entre os diversos elementos presentes em Possivelmente, isso foi resultado da liberação de
sistemas multicomponentes, como o solo, nutrientes da matriz sólida, incluindo N, P e K.
influenciam a mobilidade e a toxicidade dos O biocarvão se destacou nos ensaios com a maior
contaminantes (Kabata-Pendias, 2010), justificando capacidade de sorção e menor capacidade de
a importância das investigações multielementares. dessorção de Pb, Cd e Zn. No entanto, os ensaios com
Em condições naturais, as plantas estão em E. sativa mostraram uma certa toxicidade intrínseca
contato com uma diversidade de elementos que do material. De fato, além de imobilizar
compõem a solução do solo, incluindo cálcio (Ca), contaminantes e melhorar as propriedades do solo, o
nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), alumínio biocarvão também pode causar efeitos adversos.
(Al) e magnésio (Mg), os quais podem interferir na Brtnicky et al. (2021) consideraram 259 estudos na
absorção e nos efeitos dos contaminantes nas plantas. sua revisão bibliográfica e reportaram que altas doses
O Ca2+, por exemplo, pode substituir os cátions Cd2+, de biocarvão aplicadas em solos argilosos podem
inibindo a absorção desse contaminante (Kabata- diminuir o conteúdo de água disponível, enquanto a
Pendias, 2010). Os ensaios de germinação com os adição superficial de biocarvão em solos arenosos

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tem o potenciar de aumentar a erosão e as emissões qualidade à população (ODS 6), além de proteger a
de material particulado. Além disso, o biocarvão vida aquática (ODS 14) e terrestre (ODS 15). Além
pode aumentar a probabilidade de excesso de disso, a produção de composto e biocarvão derivados
salinidade no solo e elevação do pH (principalmente da FORSU é uma alternativa para a destinação e
em solos alcalinos), acarretando na precipitação de gestão dos resíduos sólidos, aliada ao consumo e
nutrientes e redução da fertilidade. Em relação à produção responsáveis (ODS 12) e é fundamental
biota, efeitos adversos na reprodução, crescimento e para o desenvolvimento de cidades e comunidades
integridade do DNA de invertebrados já foram sustentáveis (ODS 11).
relatados, juntamente com efeitos no microbioma do
solo, como uma mudança na proporção de fungos
para bactérias. Os mecanismos que afetam a 5 CONCLUSÃO
interação dos melhoramentos (não apenas do
biocarvão) na saúde do solo e da biota são ainda Os sorventes revelaram diferentes performances de
pouco quantificados e entendidos, principalmente a sorção de Pb, Cd e Zn presentes em soluções aquosas
longo prazo, implicando na necessidade de uma série multielementares. A turfa exibiu as menores
de cuidados antes mesmo da aplicação dos materiais porcentagens de sorção (< 20% para Cd e Zn) e as
no solo e ainda precisam ser melhor estudados. maiores porcentagens de dessorção (< 10%),
Essa pesquisa avaliou a fitotoxicidade da E. sativa enquanto composto e biocarvão apresentaram
ao Pb, Cd e Zn e a adequação da taxa de germinação exímias capacidades de sorção (> 90%),
e do crescimento inicial aéreo e da raiz como acompanhadas de reduzidas capacidades de
endpoints. De fato, o acúmulo de MPTs no solo pode dessorção (< 0,6%), favorecendo seu uso em
afetar adversamente a germinação das sementes e a aplicações ambientais. Contudo, os ensaios de
morfologia da raiz, diminuindo a absorção de germinação revelaram que a E. sativa apresentou
nutrientes e água e, assim, afetando o crescimento das certa fitotoxicidade intrínseca ao biocarvão,
plantas (Khan et al., 2022), justificando a importância independentemente da presença dos contaminantes.
dos endpoints selecionados. No entanto, todos eles Já o composto favoreceu o crescimento aéreo e da
estão relacionados à germinação. Portanto, é raiz das plantas. De modo geral, composto e
interessante que outros parâmetros também sejam biocarvão são potenciais alternativas para a sorção
investigados, incluindo o crescimento das plantas em dos MPTs, porém, faz-se necessário a continuidade
testes de maior duração. Ademais, o nível de dos ensaios a fim de se garantir a confiabilidade e a
toxicidade e a resposta de tolerância aos MPTs replicabilidade desses resultados de laboratório em
variam de planta para planta, sendo importante que condições de campo.
essa pesquisa continue avaliando outras espécies de
plantas (monocotiledôneas e dicotiledôneas).
O desempenho de sorção de Pb, Cd e Zn por turfa, AGRADECIMENTOS
composto e biocarvão pode ser explorado em
diversas situações, incluindo o uso em sistemas de Os autores agradecem o apoio financeiro da
filtração de águas residuárias, a construção de Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
barreiras reativas permeáveis para tratar água Paulo - FAPESP (n° processo: 2017/16961-0) e do
subterrânea contaminada ou como melhoramento em Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
solos contaminados. Independentemente da Tecnológico - CNPq (bolsa de produtividade em
aplicação é imprescindível que se investigue pesquisa - nº do processo: 310989/2020-5).
preliminarmente as necessidades do uso. Por
exemplo, diferentes matérias-primas e condições de
pirólise podem resultar em biocarvões com REFERÊNCIAS
propriedades específicas mais desenvolvidas. Ao se
remediar um solo ácido, pode ser promissora a adição Beesley, L., Inneh, O. S., Norton, G. J., Moreno-Jimenez,
de um biocarvão altamente alcalino, enquanto para E., Pardo, T., Clemente, R. & Dawson, J. J. (2014).
um solo degradado com baixa fertilidade, pode ser Assessing the influence of compost and biochar
amendments on the mobility and toxicity of metals and
interessante a adição de composto.
arsenic in a naturally contaminated mine
Esta pesquisa está inserida no contexto dos soil. Environmental Pollution, v.186, p.195-202.
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contribuir para a garantia de água limpa e potável de critical review of the possible adverse effects of

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15
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo de caso sobre a investigação geoambiental e elaboração de


projeto conceitual para encerramento do lixão no município de
Itacaré – BA
Martha Maria Bezerra Santos
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, martha.bezerra@ufpe.br

José Fernando Thomé Jucá


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

RESUMO: O encerramento de um lixão deve ir além de suspender a deposição de resíduos de forma irregular em
determinada área. É necessário que a área degradada passe por uma requalificação ambiental. Assim, o objetivo principal
deste trabalho é apresentar o estudo de caso da investigação geoambiental e do projeto conceitual de encerramento para
o lixão municipal de Itacaré, um município baiano de pequeno porte, conhecido por suas praias e belezas naturais. Para
isso, a investigação geoambiental constituiu-se pelo levantamento de dados da região, como população, balanço hídrico
e presença de catadores, seguido pela realização de topografia, sondagem e análise físico-química do solo e de água. De
posse das informações, estimou-se uma área de influência de 53.000 m², área de deposição de resíduos de 19.000 m² e
um volume de resíduos de 63.000 m³. A água do rio identificado nas proximidades foi considerada apta apenas para
paisagismo e navegação, sendo imprópria para banho e consumo humano e o solo não está contaminado pelos parâmetros
analisados de ferro, manganês ou alumínio. O projeto elaborado engloba a parte de retaludamento das encostas, cobertura
dos resíduos com solo silicoargiloso, drenagem pluvial com canaletas semicirculares de 0,30 e 0,60 m de concreto,
drenagem de lixiviado em canaletas com 0,5 metro de largura e 1,0 metro de profundidade e a instalação de 6 drenos de
gases, além do monitoramento ambiental. Desse modo, este trabalho sintetiza as principais ações para o encerramento e
requalificação da área do lixão de Itacaré.

PALAVRAS-CHAVE: Encerramento de lixões; Investigação geoambiental; Resíduos sólidos urbanos.

ABSTRACT: Closing a dumpsite should go beyond suspending the deposition of waste irregularly in a certain area. It is
necessary that the degraded area undergoes an environmental remediation. Thus, the main objective of this work is to
present the case study of geoenvironmental investigation, and the closing concept developed for the municipal dump of
Itacaré. Itacaré is a small city in Bahia, known for its beaches and natural beauties. For this, the geoenvironmental
investigation consisted of surveying data on the region, such as population, water balance and presence of collectors,
followed by topography, geotechnical surveys and physical-chemical analysis of soil and water. With this information,
an area of influence of 53,000 m² was estimated, a waste disposal area of 19,000 m² and 63,000 m³ of waste volume. The
water from the river identified nearby was considered suitable only for landscaping and navigation, being unfit for bathing
and human consumption and the soil is not contaminated by the analyzed parameters of iron, manganese or aluminize.
The elaborated project includes the part of reshaping the slopes, covering the residues with silty-clay soil, rainwater
drainage with semicircular concrete channels of 0,3m and 0,6m, drainage of leachate with channels with 0,5m width and
depth of 1 meter, in addition to environmental monitoring. Thus, this work synthesized the main actions for the closure
and remediation of the Itacaré dumpsite area.

KEY WORDS: Dumpsite closure; Geoenvironmental investigation; Municipal solid waste

1 INTRODUÇÃO Atlântico e é distante 249 km de Salvador (BA-001).


A disposição inadequada de resíduos no lixão
O município de Itacaré é um destino turístico situado de Itacaré iniciou na década de 1990, entre 1993 e
no litoral sul da Bahia que ocupa aproximadamente 1996, em uma área de Mata Atlântica distante 5,4 km
726,26 km² do Estado e tem uma população residente do centro urbano. Cerca de 30 toneladas de Resíduos
de 24.318 (IBGE, 2010). O município faz divisa com Sólidos Urbanos (RSU) eram depositadas por dia no
Maraú, Uruçuca, Aurelino Leal, Ubaitaba e Oceano lixão (BAHIA, 1998). Em épocas de alta estação

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16
estes valores poderiam dobrar. odores e o escoamento superficial da água, além de
Segundo o Sistema Nacional de Informações minimizar a erosão, evitar a exposição direta dos
sobre Saneamento (SNIS) - Série Histórica para o ano resíduos e evitar a ocorrência de vetores de doenças.
de 2020, o Brasil possui 5.570 municípios. Assim Na Suécia e em muitos países da União Europeia
como Itacaré, aproximadamente 2.190 destas cidades (UE), os lixões antigos são, em sua maioria,
ainda descartam os resíduos em locais inadequados, confinados e monitorados. (BOYER et al., 1999;
tendo a região Nordeste a maior concentração de BURLAKOVS et al., 2017; USEPA, 2004).
lixões. Esse número foi apurado pela Associação De acordo com Maheshi et al., 2015 e SCS
Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e ENGINEERS (1997), um lixão é considerado antigo
Efluentes (ABETRE) em setembro de 2022. a partir de 30 anos, ao atingir o estágio cinco de
Conforme a Política Nacional de Resíduos degradação, onde o processo aeróbio é reestabelecido
Sólidos (PNRS), definida pela Lei n° 12.305/2010, o tendo em sua maioria apenas a emissão de CO2 com
gerenciamento dos resíduos sólidos está sob a baixa produção de lixiviado e baixa emissão de CH4.
responsabilidade do poder público municipal, sendo Recentemente, Silva et al., 2019 apresentou
de extrema importância para garantir a proteção um plano de encerramento para o Lixão de Palmeiras
ambiental e saúde da população. (AL), cujas etapas principais foram visitas técnicas,
Por sua vez, a Lei n° 14.026/2020, que levantamento topográfico, investigação dos dados da
contempla o marco legal do saneamento básico, região, análise de estabilidade do lixão,
determinou que a disposição final adequada dos dimensionamento das drenagens de águas pluviais,
rejeitos deveria ser implantada nas capitais e regiões chorume e biogás, cobertura, isolamento da área e
metropolitanas até 2 de agosto de 2021, nos realocação dos catadores. Estas metodologias podem
municípios com população superior a 100.000 hab. sofrer variações em função das condições locais.
até 2 de agosto de 2022, em cidades com população Assim, este trabalho apresenta um estudo de
entre 50.000 e 100.000 hab. até 2 de agosto de 2023 caso em Itacaré-BA, cujo objetivo é a caracterização
e para municípios com menos de 50 mil hab., até geoambiental da área do lixão e a apresentação de um
2024. projeto conceitual de encerramento para nortear a
Pelo roteiro do Ministério do prefeitura municipal no processo de requalificação.
Desenvolvimento (MDR), 2021, para que se encerre
as atividades de um lixão, deve-se: deixar de receber 2 MATERIAIS E MÉTODOS
RSU no lixão; incluir os catadores na coleta seletiva,
com condições de trabalho apropriadas; viabilizar Para a definição dos critérios técnicos a serem
solução sustentável para o tratamento dos RSU; utilizados, foi feito uma revisão da literatura e
ampliar a reciclagem e alternativas de valorização semelhante à Silva et al. (2019), a análise da área do
dos resíduos; dispor em aterro sanitário licenciado os lixão de Itacaré iniciou-se com o levantamento dos
rejeitos; controlar os impactos ambientais; e seguintes dados do município e da área do lixão:
recuperar a área degradada. • População (hab.): dado obtido pelo IBGE (2021);
Assim, objetivando atender à lei federal, • Balanço hídrico (mm/mês): dado obtido através
parte dos municípios brasileiros fecharam as da base de dados do INPE e do INEMA em 2022;
atividades dos lixões, passando a destinar o RSU a • Geração de RSU (ton./dia): dado obtido através da
um aterro sanitário, em sua maioria. Entretanto, a prefeitura municipal e dos catadores atuantes;
área do antigo lixão permanece degradada, sem ações
• Volumetria dos resíduos e topografia da área;
que priorizem o meio ambiente e a qualidade de vida
• Perfil geotécnico do subsolo do lixão;
da comunidade que vive em seu entorno. Desse
modo, o material já acumulado ao longo dos anos • Presença ou não de corpo hídrico próximo à área
continua a se decompor e a gerar problemas, como a do lixão e seu possível uso pela população local:
dado obtido via visita técnica ao local e em
geração de gases e lixiviado, contaminando a região
conversas com os catadores;
circunvizinha.
De posse de tais informações, a investigação
Para a recuperação ambiental da área, o
geoambiental da área seguiu para as próximas etapas:
processo de encerramento deve contemplar as etapas
de cobertura das células e taludes, evitando a erosão • Visita Técnica in loco por especialistas da área;
superficial, garantir a drenagem de águas pluviais e • Topografia, realizada com GPS Geodésico de
lixiviado, e tratamento dos efluentes líquidos e precisão Promark 100/200 L1 L2 e Drone DJI;
gasosos (IPT/CEMPRE, 2018; MDR, 2021). • Sondagem de reconhecimento a percussão, com
Um dos métodos utilizados para a tubos de revestimento de 63,5 mm de diâmetro
remediação de lixões é o confinamento de resíduos, interno e amostrador tipo SPT, realizada
pois controla a percolação, as emissões de gases, conforme a NBR 6484/2020. Para este caso

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17
específico, adotou-se como critério de parada a dos resíduos, drenagem de águas pluviais, lixiviado e
profundidade máxima de 10m ou caso fosse de gases, além do sistema de monitoramento.
atingido o impenetrável antes dos 10m. Essa
profundidade foi considerada segura para que a 3 RESULTADOS
percolação do lixiviado gerado não tivesse
atingido o lençol freático, que se situa abaixo dos 3.1 Caracterização da área do lixão e do município
30m de profundidade, de acordo com as
informações locais (poços e topografia). Isso gera Atualmente o município de Itacaré possui uma
também um benefício econômico, pois a população estimada de 29.051 habitantes (IBGE,
informação que se busca pela sondagem não é a 2021). No entanto, está população pode chegar a
resistência e o impenetrável, mas a espessura da 60.000 habitantes em períodos de alta estação. O
camada de resíduos e a caracterização do solo lixão está situado em área de proteção na Mata
imediatamente abaixo. Foi possível a adoção Atlântica, próximo ao km 4 da Rodovia Ilhéus-
dessa medida devido à visita técnica in loco, ao Itacaré (BA-001).
tempo e volume dos resíduos, que tinha uma Trata-se de uma região litorânea, com uma
pequena espessa de deposição. precipitação média de 1.719,50 mm/ano, bem
• Coleta de água do lençol freático e de rios distribuída ao longo do ano. Como é um município
adjacentes que tenham sido atingidos pelos de pequeno porte, a aquisição desses dados ocorre
resíduos. Em Itacaré, foi retirada uma amostra com algumas falhas, de forma que para a obtenção da
para cada local de coleta do rio adjacente, pluviometria foram utilizados duas bases de dados, a
totalizando 3 amostras coletadas. do INPE (2022) e do INEMA (2022). A Figura 1 traz
• Coleta de amostras de solo. Em cada furo de o balanço hídrico de Itacaré com a média mensal
sondagem foi coletada uma amostra de solo entre 2016 e 2021. Neste balanço é possível
imediatamente abaixo da camada de resíduos e identificar os meses de outubro e dezembro com
uma amostra nos dois metros posteriores. Em déficit, enquanto os demais meses com excedente
mudança clara entre tipos de solo, adicionou-se hídrico.
uma coleta antes e uma depois da mudança de
127,05
composição. Desse modo, nos furos 1, 2, 3 e 4 Excedente
120 107,90 Hídrico
Balanço Hídrico (mm)

102,24
coletou-se 3, 4, 5 e 4 amostras respectivamente, 100
96,86 91,98
83,01
totalizando 16 amostras coletadas. 80
• Análise físico-química dos cursos de água 60 41,33
superficiais e subterrâneos que deve ser feita 40 22,48
conforme o CONAMA 357 (2005). 20 5,02 4,70

• Análise físico-química do solo. Atualmente não 0 Défict


-20 Hídrico
há legislação específica para lixões, nem a -9,89 -13,82

definição de parâmetros a serem analisados,


apenas valores orientadores (Ferreira, et al, 2020). Meses
Assim, foram utilizados os critérios adotados
pelos órgãos ambientais, definindo-se alguns Figura 1. Balanço Hídrico de Itacaré – BA (INPE, 2022;
parâmetros químicos, tais como ferro, alumínio e INEMA, 2022)
manganês sugeridos pelo CONAMA 420 (2009)
no Anexo I, para valores de referência. Na área do lixão foi constatado a existência de
A topografia e a sondagem permitiram 25 famílias de catadores, incluindo 30 crianças na
estimar o volume de RSU presente no local. Isso foi faixa etária de 0 a 14 anos, cuja subsistência era
feito sobrepondo as curvas de nível ao ortomosaico proveniente da separação de material reciclável do
fornecido pela topografia, estimou-se a área de lixo depositado.
influência de cada sondagem e a multiplicou pela Este lixão, conforme os dados levantados por
profundidade da camada de lixo. Bahia (1998), pelos responsáveis da prefeitura e
As análises físico-químicas tiveram seus catadores do lixão, o local funcionou como
resultados baseados em valores de referência vazadouro a céu aberto por cerca de 30 anos,
conforme a regulamentação estabelecida. Como não atendendo também aos municípios de Taboquinhas e
foi detectado nível de água nas sondagens, as análises vilas da região, como a Vila Marambaia. Não houve
físico-química se restringiram às águas superficiais. qualquer critério técnico para escolha da área.
Com os resultados dessas investigações, foi O lixão é margeado a oeste pelo Rio Canoeiro,
possível a elaboração de um projeto conceitual onde foi sendo transportado pelo vento resíduos ao
constituído pelo retaludamento, camada de cobertura longo do tempo, o que resultou em uma represa de

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18
resíduos no leito do rio (Figura 2).

Figura 2. Resíduos presentes no leito do Rio Canoeiro

Devido à dificuldade de acesso ao Rio


Figura 4. Imagem aérea do Lixão de Itacaré
Canoeiro e ao acúmulo de lixo em suas águas, o rio
não é utilizado para consumo humano. A água
utilizada nas casas dos catadores foi encanada por
meio de ação do município.

3.2 Topografia

Com as curvas de níveis obtidas pelo levantamento


topográfico (Figura 3) é possível identificar a
localização dos furos de sondagem, realizadas uma
em cada célula principal de deposição de lixo, e das
Figura 5. Escorregamento de lixo
coletas de água realizadas no Rio Canoeiro,
realizadas à montante (coleta 1) e à jusante (coleta 3) 3.3 Sondagens de reconhecimento
da deposição de lixo no rio. A coleta 2 foi realizada
na nascente identificada pelos catadores. A área de A espessura da camada de lixo variou entre 2,00
influência do lixão foi estimada em 53.000 m². Além metros (SP01) e 7,00 metros (SP04). No subsolo foi
disso, as imagens aéreas (Figura 4) permitiram a encontrado uma argila siltosa, de consistência
estimativa do volume de lixo ao ser sobreposta com variando entre média e rija e não foi encontrado nível
a Figura 3, gerando a Figura 8. de lençol freático. Os resultados podem ser vistos nos
Nos trabalhos de campo percebeu-se que os perfis traçados na Figura 6 com o SP02 e o SP03 e na
taludes identificados nas Figuras 3 e 4, não são Figura 7 com o SP03 e o SP04.
estáveis, com um deles já tendo escorregado, a
exemplo do Talude 2 (Figura 5) com desnível de
30m.

1 2
Figura 6. Perfil geotécnico
Coleta 2 com o SP02 e SP03

4
3

1 2
Figura 7. Perfil geotécnico com o SP03 e SP04

3 Coleta de água 3.4 Análise físico-química dos líquidos e do solo


SPT
Área de influência
Os resultados das amostras de água podem ser vistos
Figura 3. Topografia do lixão de Itacaré e identificação das
sondagens e coletas de água. na Tabela 1. Conforme já referido, nas sondagens
realizadas não foi detectado nível de lixiviado ou de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


19
lençol freático até a profundidade de prospecção. 4 DISCUSSÕES
Assim a análise da qualidade dos líquidos se
restringiu às águas do Rio Canoeiro. Essa análise foi 4.1 Estimativa do volume de resíduos
realizada, em uma área antes (coleta 1) e após a
deposição (coleta 3) de resíduos no rio. De posse da topografia e da profundidade da camada
de lixo entregue pela sondagem, foi possível estimar
Tabela 1. Resultados da análise físico-química das
o volume de resíduos no local. As áreas definidas se
amostras de águas superficiais encontram na Figura 8. Este volume define se é
possível ou não transportar toda a massa de resíduos.
Pontos de coleta
Parâmetros Unidade
1 2 3
Coliformes UFC/100 9 21 924
Termotolerantes ml
pH - 6,81 8,14 6,70 2
1
Alcalinidade mg/L 15 60 <10
Condutividade uS/cm 155,2 903,0 64,6
Sólidos mg/L 226 5 420
suspensos totais
Sólidos Totais mg/L 408 58 705
Turbidez NTU 7,71 3,53 20,02
Oxigênio ppt 2,4 6,0 2,0
dissolvido
Salinidade mg/L 0,007 0,01 0,01
Nitrogênio mg/L 1,64 0,31 2,94 3
Total (N) Coleta de água
Nitrato mg/L 0,75 0,21 0,68 Áreas de deposição de lixo
(NHNO3) Figura 8. Divisão das células de deposição de lixo
DBO (5,20) mg/L 15,40 2,03 15,40
DQO mg/L 36,96 3,80 33,00 A multiplicação da área pela profundidade
Cloretos (Cl-) mg/L 82,0 173,0 37,0
das células de deposição de resíduos permitiu uma
Clorofila-a ug/L <0,80 <0 ,80 <0,80
estimativa total de 63.000 m³. As áreas das células, a
espessura de lixo e os volumes estimados podem ser
Para as amostras do solo foram analisados os
encontrados na Tabela 3.
parâmetros de ferro, manganês e alumínio. Os
resultados dos parâmetros físico-químicos do solo Tabela 3. Estimativa do volume de lixo
podem ser encontrados na Tabela 2 a seguir. Espessura Volume de
Célula Área (m²)
de lixo (m) lixo (m³)
Tabela 2. Resultados da análise físico-química das 1 5.555,80 2,00 11.111,60
amostras de solo 2 6.584,80 3,25 21.400,70
Prof. Parâmetros (mg/dm³) 3 2.913,00 3,60 10.486,90
Furo
(m) Ferro Manganês Alumínio 4 2.751,60 7,00 19.261,20
2,00 30,1 0,20 1,60 5 1.104,08 0,50 552,40
SP01 3,00 28,9 0,25 1,63 Total 18.910,10 62.812,90
4,00 23,3 0,21 1,04
3,25 24,5 0,20 0,90
Sendo Itacaré uma cidade turística, a
4,00 21,1 0,20 1,11
SP02
5,00 24,2 0,25 0,85
valorização dos terrenos é de interesse municipal e os
7,00 26,8 0,25 0,87 representantes do município tinham a perspectiva de
3,60 15,9 0,28 0,95 transformar a área em um loteamento. Entretanto, a
4,50 25,7 0,33 0,93 construção de edificações em aterros de deposição de
SP03 4,60 25,9 0,24 1,02 resíduos não é permitida devido aos excessivos
5,60 33,3 0,22 1,04 recalques gerados pela sua decomposição e pelos
6,00 30,1 0,33 1,10 gases tóxicos liberados. A alternativa de transporte
7,00 31,2 0,36 1,60 do material aterrado para um aterro sanitário foi
8,00 30,0 0,41 1,42 descartada, devido ao grande volume de resíduos,
SP04
9,00 30,3 0,45 1,44 que tornou economicamente inviável esse transporte.
9 para 10 36,5 0,45 1,44
Desse modo, decidiu-se realizar a requalificação da
área por meio do confinamento do material, tendo-se

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20
em mente a criação de um parque ambiental ou a resíduos com solos argilosos compactados, com
recomposição da Mata Atlântica naquele local. espessura variando entre 0,50m e 0,60 m.
Para a camada de cobertura, foi identificado
4.2 Análise da qualidade da água e do solo uma jazida de material argiloso numa área da própria
prefeitura. Esse solo foi caraterizado e o resultado de
Baseado nos resultados obtidos e nos valores de sua composição foi de pedregulhos (0,1%); areia
referência disponibilizados pela CONAMA 357 grossa (0,9%); areia média (23,4%); areia fina
(2005), as amostras de água a montante e a jusante da (21,27%); silte (9,0%) e argila (45,5%); e 2,781
deposição de lixo no Rio Canoeiro foram g/cm³ a massa específica dos grãos. Estes solos foram
classificadas como Classe 4, devido aos valores de espalhados com trator de esteira e compactados com
DBO e Oxigênio Dissolvido. Segundo essa rolo liso, sendo controlada por meio de ensaios de
resolução, águas de Classe 4 podem ser utilizadas densidade e umidade in situ, comparados com o
para a navegação e harmonização paisagística. Proctor normal realizado em laboratório.

Por sua vez, o resultado da amostra de água


coletada no ponto 2 (Fig.8), correspondente a
nascente antigamente utilizada para consumo pelos
catadores, foi classificada como Classe 1. Importante
ressaltar que no relatório recebido, consta também
que a água da nascente apresenta concentrações
relativamente altas de nitrito, que é tóxico aos seres
humanos. Em relação às águas subterrâneas, como já
referido anteriormente, não foi detectado lençol
freático próximo a superfície. Em relação aos altos
teores de alumínio, manganês e ferro das amostras
recolhidas nas sondagens, esses parâmetros foram
associados às características naturais dos solos da
região, que apresentam coloração e propriedades
típicas, além de serem bastante conhecidas do meio
técnico local, não tendo qualquer relação com os
materiais depositados no lixão.

4.3 Requalificação da área


Figura 9. Etapas de intervenção
A requalificação da área foi concebida de forma
exequível técnica e financeiramente pela Prefeitura Após a cobertura dos resíduos, foi previsto
de Itacaré. A ideia era ter um projeto conceitual com executar a drenagem de águas pluviais na camada de
segurança técnica, ambiental e uma visão de futuro cobertura, visando reduzir a infiltração de água na
para o uso da área. Com relação aos catadores, a massa de resíduos e a geração de lixiviado. A
prefeitura, com recursos próprios e financiamentos drenagem de águas pluvial foi dimensionada por
dos governos estadual e federal, construiu casas para meio do método racional para áreas menores que 2
cada família que morava no lixão, próximas à estação km². Procurou-se atender ao balanço hídrico da
de triagem e de um hospital, garantindo a moradia, região, de forma que devem ser instaladas canaletas
trabalho e saúde. pré-moldadas de concreto, semicircular, com 0,30m
O projeto conceitual de encerramento seguiria de diâmetro no topo dos taludes e 0,60m nos taludes,
as etapas indicadas na Figura 9, onde constam cinco que minimizam a infiltração das águas das chuvas no
etapas de intervenção. Os detalhes do projeto: maciço e as direcionam para a floresta do entorno.
pranchas, relatórios e detalhes construtivos foram A drenagem de lixiviados será executada no pé
discutidos com a equipe técnica da Prefeitura, que dos taludes, no entorno do lixão, protegendo
promoveu sua execução, seguindo as etapas possíveis fugas de lixiviados na direção da Mata
indicadas. A Etapa 1 foi a remoção dos resíduos Atlântica. Em relação a seu dimensionamento foi
escorregados na direção da Mata Atlântica, as considerada a disponibilidade de equipamentos para
primeiras providencias foram de fazer uma nova sua execução. Suas dimensões são de 0,5m de largura
geometrização dos taludes, suavizando em todas as e 1m de profundidade, sendo preenchida com brita,
encostas. Em seguida foi feita regularização dos pedra rachão ou resíduos da construção civil
resíduos e execução da camada de cobertura dos previamente selecionados. Ela foi dimensionada

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21
utilizando os dados do balanço hídrico (Fig. 1) e instalação de piezômetros, um em cada célula. Os
considerando uma taxa de infiltração de 10% pela lixiviados devem ser transportados e tratados fora da
camada de cobertura. Essa drenagem deve estar área do lixão.
conectada com poços de armazenamento de lixiviado Este projeto teve sua implantação iniciada em
para haver a coleta e destinação correta para seu 25 de agosto de 2022, quando o lixão desativado e
tratamento. Na Figura 10 mostra um esquema proibido o ingresso de resíduos. Neste momento
simplificado da drenagem de águas pluviais, todos os resíduos provenientes da coleta regular do
lixiviados e vias de acesso. município foram destinados para uma unidade de
transbordo, e deste, transportado por carretas para o
Drenagem pluvial Aterro Sanitário de Itabuna. A unidade de triagem e
Drenagem de lixiviado
Vias de acesso
as habitações para as famílias que antes residiam no
lixão foram concluídas e entregues a comunidade,
que se organizaram em forma de cooperativas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os projetos de encerramento de lixões devem ser


concebidos de acordo com as condições técnicas e
econômicas do município, podendo ter adaptações
especificas desde que respeitadas a legislação e
normas técnicas vigentes. Este estudo caso procura
mostrar que este tipo de projeto tem boas condições
de serem executados e se transformar em realidade.
Um dos pilares deste projeto é a caracterização
geoambiental da área, que no estudo de caso do lixão
de Itacaré-BA mostrou a influência negativa da
deposição irregular dos resíduos, considerando os
aspectos técnicos e socioambientais.
A análise da qualidade do solo abaixo da
camada de resíduos e a água coletada no rio não
Figura 10. Esquema simplificado do projeto para apresentaram contaminações.
requalificação do lixão de Itacaré O lixão foi considerado antigo, portanto, o
método de encerramento adotado foi o de confinar os
Sendo um lixão ativo por mais de 30 anos, a resíduos, com uma camada de solo silto-argiloso e
decomposição dos resíduos já ocorreu em sua maior isolando a área.
parte e os gases disponíveis para um possível O projeto conceitual foi constituído por etapas
aproveitamento energético, já foram dissipados. que tiveram início pela limpeza da área do entorno,
Além isso, a dimensão da área, o volume de lixo e o conformação dos resíduos, geometrização dos
pequeno porte da prefeitura de Itacaré tornariam taludes, regularização e cobertura da massa aterrada,
economicamente inviável a implantação de um drenagem de águas pluviais, de lixiviado e gases,
sistema de aproveitamento energético do biogás. além monitoramento. Os lixiviados coletados no
Porém, como ainda existem resíduos depositados sistema de drenagem (poços de armazenamento)
recentemente, poderá haver alguma decomposição da serão destinados à estação de tratamento mais
fração orgânica. Desse modo, ainda está previsto a próxima fora da área do lixão.
instalação sistema de drenagem de gases. O sistema Desse modo, este trabalho sintetizou as
de drenos considerado para instalação foi o sistema principais ações tomadas para o encerramento de um
convencional, constituído por 6 drenos com flares, lixão, requalificando sua área.
basicamente um em cada célula do lixão e dois nas A dimensão deste lixão se assemelha a de
células mais recentes. muitos municípios de pequeno porte no Nordeste
Além dessa implantação, a prefeitura deverá brasileiro, com ingresso de resíduos de 30 toneladas
manter um monitoramento ambiental da área, por dia e volume acumulado de 63.000m3 em 30 anos
constituído por fiscalizações periódicas da camada de de deposição irregular. A área de deposição direta foi
cobertura, dos taludes e das drenagens. Deve ser de 19.000 m2, enquanto a de influência foi 53.000 m².
feito, também, o monitoramento dos recalques do As ações realizadas para o encerramento do
maciço, com a instalação de marcos superficiais, e o lixão de Itacaré são exemplos de que municípios de
monitoramento do lixiviado nas células, por meio da pequeno porte conseguem requalificar a área dos seus

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22
lixões, quando há a devida colaboração entre ações CONAMA (2005). Resolução n° 357: Dispõe sobre a
do governo Federal, Estadual e Municipal. Com as classificação de corpos d’água e diretrizes ambientais
informações básicas, a tomada de decisão ocorre de para seu enquadramento, bem como estabelece as
forma embasada e eficiente. condições e padrões de lançamento de efluente, e dá
outras providências. Conselho Nacional do Meio
Importante ressaltar que o envolvimento e
Ambiente, Brasil, 36p.
comprometimento da prefeitura com a execução do CONAMA (2009). Resolução n° 420: Dispõe sobre
projeto foi fundamental para o seu desenvolvimento. critérios e valores orientadores de qualidade do solo
Por fim, a atenção dispensada pela Prefeitura de quanto à presença de substâncias químicas e
Itacaré para reinserir os catadores no mercado de estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental
trabalho é, também, um modelo a ser seguido. Para de áreas contaminadas por essas substâncias em
isto foram necessárias adaptações no serviço de decorrência de atividades antrópicas. Conselho
limpeza urbana, capacitações de recursos humanos e Nacional do Meio Ambiente, Brasil, 16p.
apoio dos gestores municipais e de especialistas. GIZ/ProteGEEr/MDR (2022). Encerramento do Lixão em
Itacaré – Bahia. Cooperação para proteção do clima
na gestão dos resíduos sólidos urbanos. Estudo de
AGRADECIMENTOS
Caso.
IBGE (2021). Censo Brasileiro de 2010. Instituto
À GIZ (da Alemanha), ProteGEEr (Brasil/Alemanha) Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro,
e ao MDR (Brasil), responsáveis pela realização e 2021.
financiamento do projeto para a Prefeitura Municipal INEMA (2022). Instituto do Meio Ambiente e Recursos
de Itacaré. Destaca-se aqui a disponibilidade e Hídricos. Salvador,
comprometimento na execução das obras do lixão, http://www.inema.ba.gov.br/monitoramento/indi
transbordo, unidade de triagem, novas moradias para ce-precipitacao/. Acesso em: 26 jul. 2022
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Gerenciamento Integrado. Instituto de Pesquisas
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Tecnológicas; Compromisso Empresarial para
resíduos sólidos. Associação Brasileira de Empresas de
Reciclagem, São Paulo: Versão Eletrônica, 2018,
Tratamento de Resíduos e Efluentes, São Paulo.
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ABNT (2020). NBR 6484: Solo – Sondagem de simples
Maheshi, D.; Steven, V. P.; Karel, V. A. (2015).
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Barros, I. C. (2015) Riscos socioambientais e de saúde:
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Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
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agosto de 2010, para tratar dos prazos para a
USEPA (2004). Technical Guidance For RCRA/CERCLA
disposição final ambientalmente adequada dos
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rejeitos. Diário Oficial da União. Brasília,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- https://nepis.epa.gov/Exe/ZyPURL.cgi?Dockey=
2022/2020/lei/l14026.htm, acessado em 13/11/2022 P10074PP.TXT, acessado em 21/03/2023
Burlakavos, J. et al. (2017). Paradigms on landfill mining: Ferreira, R. M.; Lofrano, F. C.; Morita, D. M. (2020).
From dump site scavenging to ecosystem services Remediação de áreas contaminadas: uma avaliação
revitalization. Resources, Conservation and Recycling, crítica da legislação brasileira. Engenharia Sanitária e
v. 123, p. 73-84. Ambiental, v. 25, n. 1, p. 115-125.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Fitorremediação em Solo Contaminado pelo Metal Chumbo

Bianca da Silveira Schottz


Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, bschottz@ime.eb.br

Maria Esther Soares Marques


Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, esther@ime.eb.br

Wilma de Araújo Gonzalez


Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, d5wilma@ime.eb.br

Silvio Roberto de Lucena Tavares


Embrapa Solos, Rio de Janeiro, Brasil, silvio.tavares@embrapa.br

RESUMO: A fitorremediação é a técnica que faz o uso de plantas para diminuir o nível de contaminação do solo, água e
até mesmo do ar. Para este experimento foi utilizado o capim vetiver e o solo originário do Acre, que foi fertilizado,
contaminado. O capim foi cultivado na casa de vegetação da Embrapa Solos localizada na Universidade Federal
Fluminente (UFF Foram realizados diversos ensaios nas amostras de solo antes e após a contaminação com cerca de
8000mg/L de chumbo (valor nominal). O presente trabalho teve por objetivo acompanhar a regressão do metal chumbo
nas amostras de solo plantadas com capim vetiver. Os resultados foram promissores indicando que após a fitorremediação,
houve uma remoção de cerca de 50% do teor de chumbo do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Fitorremediação, metal pesado, chumbo, capim vetiver.

ABSTRACT: Phytoremediation is the technique that uses plants to reduce the level of soil, water and even air
contamination. For this experiment, vetiver grass and soil from Acre, which was fertilized, contaminated and separated
into 20 pots, were used. The grass was grown in the Embrapa Solos greenhouse located at the Fluminente Federal
University (UFF). Several tests were carried out on soil samples. This work aims to monitor the regression of lead metal
in soil samples planted with vetiver grass. Afterwards, it was effective in treating lead regression.

KEY WORDS: phytoremediation, heavy metal, lead, grass vetiver.

1 INTRODUÇÃO e siderúrgicas, população, dentre outros (SANTOS,


2007). Além disso, podem se instalar em locais
O solo é um recurso natural e importante diferentes da planta, percorrendo em cadeias tróficas,
componente do ecossistema da terra, pois ele serve transferindo aos herbívoros, carnívoros e seres
como barreira natural à contaminação de águas humanos (CORRÊA, 2006). No corpo humano são
subterrâneas, além de plantio e desenvolvimento absorvidos através da ingestão de água e alimentos
animal. Atualmente, vem sendo fortemente contaminados sendo consumidos em pequenas doses
degradado pela exposição a diversos contaminantes, ao longo de um período ou consumido de uma vez
como os elementos situados entre o cobre e o chumbo em altas dosagens (JARDIM e CALDAS, 2009).
na tabela periódica tendo pesos atômicos entre A exposição ao metal pesado é mais frequente no
63,546 e 207,2 e densidade superior a 4,0 gramas por meio de trabalho, onde trabalhadores do setor de
centímetro cúbico, denominados de metais pesados. indústria e mineração se contaminam por via
(BHUIYAN, 2010 e BASSO, 2012). inalátória, digestiva ou absorção pela pele ou
Estes metais são caracterizados como fonte de mucosas (MARDONES, 2007).
contaminação por serem liberados no ambiente sem De acordo com a organização mundial da saúde
tratamento e remediação por mineradoras, indústrias (OMS), o chumbo é um dos elementos químicos mais

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24
nocivos à saúde do ser humano (VANZ, 2003). A (SIEGEL, 2002).
maior ocorrência de intoxicação por chumbo está As plantas arbóreas são mais sensíveis aos níveis
ligada à contaminação ambiental, por partículas tóxicos dos metais, porém, estudos apresentam que
suspensas no ar, ingestão de bebidas ou alimentos seu sistema radicular dispões de mecanismos que
contaminados (KOSNETT, 2003). podem contribuir para a resistência a metais pesados.
Quando o solo recebe elevada concentração de Estes fazem parte da absorção dos metais pesados na
metais pesados torna-se importante a aplicação de região próxima à raiz (VERKLEIJ e PAREST 1989).
técnicas de remediação para reverter os níveis de Após a descoberta de plantas resistentes a metais
contaminação presentes no local. pesados, o uso da técnica de fitorremediação, para a
A resolução 420/2009 do CONAMA institui redução da concentração de contaminantes a níveis
valores de referência de qualidade (VQR) que seguros para a saúde do ser vivo e ao meio ambiente,
apontam concentrações limite de chumbo no solo e feita no próprio local de contaminação, tornou-se um
na água subterrânea (SILVA, 2015). Estes valores de processo interessante economicamente viável.
concentração máxima apresentados na Tabela 1 (PILOM-SMITS, 2005; BUSCHLE, 2010,
indicam a qualidade do solo e a capacidade dele em BALDANTONI, 2014).
determinadas funções sendo acima do valor Inúmeras espécies de vegetais possuem
estabelecido gerando riscos à saúde humana. propriedades que possibilitam seu desenvolvimento
mesmo com a existência de metais tóxicos. Para
Tabela 1. Valores de referência para presença de chumbo serem consideradas apropriadas para fins de
no solo, conforme a resolução CONAMA de nº 420/2009 fitorremediação de metais pesados, as espécies
Valor de prevenção 72,0 mg/Kg. devem abordar as condições de alto nível de
Substância Agrícola Residencial Industrial tolerância a concentrações altas de metais, adequação
(mg/Kg) (mg/Kg) (mg/Kg) ao solo e ao clima e possuir habilidade de absorção
Chumbo(Pb) 180,0 300,0 900,0
alta de metais tóxicos ou mobilizar o contaminante
(REEVES, 1981 e BOYD E MARTENS 1993).
O aumento da concentração de metais pesados no Diversas hipóteses foram sugeridas para
ecossistema podem ocasionar efeitos prejudiciais à esclarecer a função biológica da hiperacumulação de
saúde animal, vegetal e humana (SIEGEL, 2002). metais pesados nas plantas. Aumento de resistência à
Devido a concentração e tempo de exposição aos seca, aumento de tolerância a metais, vantagem em
metais pesados, as plantas podem desenvolver relação as outras plantas e infecção por fungos são
alterações estruturais, bioquímicas e fisiológicas. casos investigados por diversos pesquisadores
Algumas espécies possuem tolerância à (REEVES, 1981 e BOYD E MARTENS 1993).
determinados contaminantes e capacidade de De acordo com o Serviço Brasileiro de Respostas
bioacumulá-los (MACEDO; BEZERRA; MORRIL, Técnicas (2003), a produtividade do capim vetiver é
2008). de 3 a 5 ton/há de raízes secas, correspondendo de 60
Com relação a biodisponibilidade aos metais, as a 100kg de óleo essencial.
plantas podem ser classificadas como: Sua alta taxa de crescimento, junto com sua
Tolerantes: quando são colocadas em condição de tolerância a extremas condições climáticas sugere
estresse desenvolvem habilidade de evitar ou excluir que o capim seja a planta ideal para aplicação em
os contaminantes com o objetivo de reduzir sua peso no tratamento de efluentes, desde que seja
incorporação celular; cortada periodicamente.
Sensíveis: não apresentam propriedades de Segundo TRUONG, et al. (2008), o Vetiver
escape, possuindo dificuldade em sobreviver em possui propriedades para integrar em um tratamento
solos contaminados seja eles naturais ou artificiais; de remediação.
Hiperacumuladoras ou acumuladoras: criam De acordo com a literatura, o uso da
mecanismos de defesa eliminando a intoxicação por fitorremediação pode oferecer uma possibilidade
metais. mais atrativa do que os tratamentos tradicionais de
Diversas espécies de plantas podem ser utilizadas remediação, visto que possuem custos reduzidos de
com o objetivo de se detectar de forma quantitativa e energia, já que as plantas utilizam a energia solar e
qualitativa a contaminação por metais pesados, para derivam na conservação dos recursos naturais. Além
isso são utilizadas espécies de plantas acumuladoras. disso, esse ainda é um processo multifuncional,
Para uma planta ser considerada boa bioindicadora podendo ser utilizado para remediar o solo, a água e
ela deve absorver o metal pesado em quantidade o ar, dependendo dos objetivos a serem atingidos
próximas às concentrações em que os contaminantes (TROUNG, 2000; SUSARLA, 2002; PREUSSLER,
se encontram no local e possuir uma extensa partilha 2014).
geográfica, permitindo boa amostra de sua densidade Neste contexto este trabalho teve por objetivo

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25
avaliar o comportamento do capim vetiver em solos,
proveniente do estado do Acre, contaminado com
uma concentração nominal de chumbo de cerca de
8000 partes por milhão.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Pesquisa

A pesquisa tem por objetivo verificar o


desempenho da planta escolhida como
fitorremediadora do metal chumbo, presente em solo
proveniente da Amazônia, nas condições definidas
previamente.
A planta escolhida foi o capim vetiver (Vetiveria
zizaniodes), pois foi comprovado que esta planta
consegue suportar temperaturas extremas e se
adequar em qualquer ambiente. Este foi cedido pela Figura 1. Solo sendo contaminado. Local:
EMBRAPA SOLOS, localizada no Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense/RJ.
RJ. O experimento foi realizado em triplicata, na casa
de vegetação situada na Universidade Federal Após duas semanas as mudas do capim foram
Fluminense (UFF). plantadas com altura da folhagem em 20cm para que
O solo foi homogeneizado, seco em estufa na fosse possível acompanhar seu crescimento sendo
temperatura de 60ºC, destorroado, passado na peneira regado semanalmente durante 3 ciclos que duraram 4
de 2mm e reservado em vasos de poletileno com filtro meses. A cada ciclo a folhagem do capim era
sem furo no fundo. Destaca-se que o processo de totalmente cortada deixando 5cm de parte aérea
tratamento deste solo, fertilização, contaminação, reservando-a em estufa a 60ºC para ser seca e moída
plantio e colheita final para análise durou um ano. para ensaios. No fim do ciclo foram separadas
Foram realizados diversos ensaios no solo afim de amostras de solo para serem realizados ensaios finais
obter suas características fisico-químicas e com o objetivo de acompanhar a regressão do metal
morfológicas. chumbo presente no solo.

2.1.1 Experimento

Para o experimento foram separados 105 kg de


solo, secos em estufa a tempertura de 60°C, durante
12 horas. Em seguida foi destorroado, peneirado, e
divido igualmente em 20 vasos etiquetados para
receberem as mudas do capim vetiver. Para cada vaso
foram separados 5kg de solo totalizando 100 kg nos
20 vasos, separando 5kg para os primeiros ensaios.
O experimento foi desenvolvido sob telado em
condições controladas de temperatura.
Inicialmente, o solo foi fertilizado com 2,5g de
FTE BR12, 5g de KCl, 6g de ureia e 2,5g de
superfosfato simples e contaminado em
concentrações de chumbo com valores nominais
crescentes de 0 e 8000 (mg/L).
Figura 2. Capim vetiver plantado em 20 vasos com
Neste trabalho foi apresentado somente os
diferentes níveis de concentração de chumbo. Local:
resultados obtidos para a contaminação com a Universidade Federal Fluminense/RJ.
concentração nominal de 8000mg/L, realizados em
triplicata. As amostras de solo antes e após a
As soluções de nitrato de chumbo (Pb) foram fitorremediação foram analisadas por difração de
analisadas por espectrometria de emissão óptica por raios x, fluorescência de raios-x (FRX), microscopia
plasma acoplado, na companhia de pesquisa de eletrônica de varredura, MEV, espectroscopia de
recursos minerais (CPRM).

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26
infravermelho FTIR. Não foi observada a presença de picos
A composição química do solo antes e após a característicos dos argilominerais, que de acordo com
contaminação foi determinada por meio da técnica de a literatura poderiam ser mascarados pela presença
fluorescência de raios-x (FRX). As análises foram do óxido de ferro (BARBOSA, 2018).
realizadas no equipamento Zetium da marca Malvern
Panalytical, sob a forma de pastilhas, no Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas do Rio de Janeiro
(CBPF-RJ).
As medidas de difração de raios X foram
realizadas em um equipamento de modelo X’PERT
PRO MRD da Panalytical com radiação CuK (1,5406
Å). A análise foi realizada entre 2θ = 293 e 353 K,
com passo de 273 K e tempo de contagem de 0,75
segundo por passo. A técnica de difração de raios X
permitiu determinar as fases presentes na amostra.
As análises de MEV foram realizadas em um
microscópio INSPECT S/FEI, operando a 20 kV,
equipado com um espectrômetro de energia
dispersiva (EDS). Figura 4. Espectro de difração de raios X do solo
branco do Acre.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Este solo possui ainda características ácidas com


pH de 4,43, é laterítico, com alto teor de óxido ferro
3.1 Solo de referência antes da contaminação (42%), alumínio (13,9%), Silício (35,1%), e
contaminantes como óxidos de metais alcalinos e
A morfologia do solo do Acre, usado com alcalinos terrosos, chumbo entre outros, conforme
referência, foi determinada por MEV. A análise das determinado por FRX.
micrografias mostrou que este material é Observando a análise do solo por Espectrometria
heterogêneo, com suas extremidades levemente de infravermelho a característica ácida deste solo,
arredondadas. provavelmente, foi devido a presença de alumínio. A
análise do espectro de Infravermelho desta amostra
de solo indica a presença das bandas de vibrações do
Al-O-H na região de número de onda de 3600cm-1.

Figura 5. Espectrometria de infravermelho do solo


branco do Acre.

Tabela 2. Bandas observadas no solo de referência.


Vibração (cm-1 ) Bandas de Vibração
Figura 3. Microscopia eletrônica por varredura (MEV)
3695 ; 3648 Al-OH superfície interna
do solo inicial. Aumento de 500x. Local: Laboratório do
3622 AlOH - interna
programa de Ciências dos Materiais – IME/RJ.
1115,3 Si-O apical
1029,8 ; 1002,6 Si-O-Si vibração de estiramento
A caracterização deste material por DRX mostrou 931 ; 911,8 Al-O-H angular
um difratograma indicando a presença de material 794 ; 750 OH translacional
amorfo e picos indicativos de planos cristalinos 690,9 OH translacional
característico de óxidos de ferro.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


27
concluir que o capim Vetiver (Vetiveria zizanioides)
3.2 Análise da solução precursora a ser usada para possui potencial para fitorremediar o solo
contaminar o solo contaminado com chumbo. Sua aplicabilidade está
diretamente relacionada ao potencial de fitoextração,
A análise do teor de chumbo na solução de nitrato sendo um parâmetro recomendável para solos
de chumbo (Pb), antes de ser adicionada ao solo, contaminados com altas concentrações de chumbo.
realizada por espectrometria de emissão óptica com Foram realizados ensaios nos vasos de maior
plasma (ICP) apresentou um valor de 7719mg/L, que concentração de chumbo. O capim vetiver mostrouse
foi 3,5 % menor que o valor nominal. eficiente para remoção do chumbo. Além disso, o
experimento apresenta a vantagem de ser uma técnica
Tabela 3. Teor de Pb em solução parte por milhão (ppm). fácil de ser aplicada e de baixo custo financeiro.
Resultados da análise de de IPC realizados na CPRM Estes resultados iniciais serão continuados para
(Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais). diferentes concentrações de contaminantes
Valor Nominal da adicionados, assim como serão analisadas as partes
Solução de Pb(NO3)2
Concentração da planta para determinação do teor de chumbo
Valor Nominal de Pb2+
presente.
(mg/L) 8000

Valor real de Pb2+ em


7719 AGRADECIMENTOS
solução (mg/L)

Agradecimentos ao Instituto Militar de


Engenharia, EMBRAPA Solos, Centro Brasileiro de
3.3 Análise do solo fitorremediado Pesquisas físicas (CBPF), a Universidade Federal
fluminense (UFF) e ao Centro de Pesquisas de
O processo de fitorremediação foi realizado em Recursos Minerais (CPRM).
triplicata utilizando o capim vetiver em solo
contendo o valor de 7719 mg/L de chumbo. Após o
processo de fitorremediação estes solos foram REFERÊNCIAS
analisados por FRX no CBPF (Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas). ANDRA, S.S.; DATTA, R.; SARKAR, D.;
SAMINATHAN, S. K. M.; MULLENS, C. P.; BACH,
Tabela 4. Resultados de FRX nas amostras de solo após a S. B. H. Analysis of phytochelatin complexes in the
fitoremediação. lead tolerant vetiver grass [Vetiveria zizanioides (L.)]
using liquid chromatography and mass spectrometry
Nível de
Vaso Vaso Vaso Environmental Pollution.
Substância contaminação
1 2 3 BARBOSA, V.H.R, MARQUES, M.E.S GUIMARÃES,
(mg/L)
A.C.R, 2018, Caracterização mineralógica de um solo
Chumbo
7719 3521 3187 3813 do Acre visando à produção de agregados artificiais
(Pb)
de Argila Calcinada para uso em pavimentos.
BHUIYAN 2010 e BASSO 2012. Waste materials for
wastewater treatment and waste adsorbents for biofuel
Nas análises das concentrações de chumbo dos and cement supplement applications: A critical review.
solos em que foram plantados os capins, verificou-se BUSCHLE et al., 2010. Indicadores de qualidade de solos
a redução em torno de 50 %, que as plantas de área de mineração e metalurgia de chumbo.
removeram dos 7719 mg/L. Estas reduções CORRÊA, 2006. Fitorremediação: uma alternativa
indicaram a eficiência do capim Vetiver (Vetiveria sustentável para remedição de solos contaminados por
zizanioides) em fitoextrair chumbo. metais pesados.
Esta planta possui elevadas taxas de crescimento JARDIM e CALDAS, 2009. Fitorremediação aplicada a
áreas de disposição final de resíduos sólidos urbanos.
apresentando fácil adaptação nos ecossistemas do
KOSNETT, 2003. Fitorremediação de solos
Brasil, exigindo cortes periódicos para promover o contaminados com herbicidas.
seu crescimento e exportar nutrientes (MIRANDA, LARCHER, 2000. Avaliação do usos de gramíneas no
2012). processo de fitorremediação aplicado ao tratamento
de solos contaminados com metais pesados.
MACEDO; BEZERRA; MORRIL, 2008. O papel das
5 CONCLUSÃO ectomicorrizas na biorremediação dos metais pesados
no solo.
Mediante os resultados preliminares pode-se MARDONES, 2007. Chumbo: uma introdução à extração
e a fitorremediação.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


28
MIRANDA, L. S. Avaliação do desenvolvimento e da
eficiência do capim Vetiver (Chrysopogon zizanioides)
em sistemas híbridos de alagados construídos. 2012.
65 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de
Engenharia, Universidade Estadual Paulista, Bauru,
2012.
PILOM-SMITS, 2005; BALDANTONI, 2014. Potencial
de fitorremediação de algumas espécies do bioma
mata atlântica.
REEVES1981 e BOYD E MARTENS 1993. Crescimento
inicial de espécies arbóreas em substrato impacto por
resíduo industrial alcalino rico em zinco.
SANTOS, P. S. Tecnologia das argilas – Vol 2
Fundamentos. São Paulo, Ed. Edgard Blucher, 1975.
SANTOS, 2007. Fitorremediação de solo adubado com
composto orgânico e contaminado com
trifloxysulfuron- sodium.
SIEGEL, 2002 Environmental Geochemistry of
Potentially Toxic Metals. Springer-Verlag, Berlin.
Soares MJS, SILVA(2015) Carvalho MC,
FerreiraCarvalho BT, Figueiredo AMS 2000. Spread
of methicillin-resistant Staphylococcus aureus
belonging to the Brazilian epidemic clone in a general
hospital and emergence of heterogenous resistance to
glycopeptide antibiotics among these isolates.
TROUNG, 2000; SUSARLA, 2002; PREUSSLER, 2014.
Fitorremediação aplicada a áreas de disposiçao final
de resíduos sólidos urbanos.
VANZ,2003. Fitorremediação de solos contaminados
com herbicidas.
VERKLEIJ e PAREST 1989. Acúmulo e distribuição de
metais pesados nas raízes, caule e folhas de mudas de
árvores em solo contaminado por rejeitos de indústria
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VIERITZ, A. et al. Modelling Monto Vetiver Growth and
Nutrient Uptake. Department of Natural Resources
and Mines. Queensland, p. 87-99. 2010.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


29
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Formação de Bolhas em Geomembranas de Impermeabilização,


Empregadas em Lagoas de Lixiviados de Aterros Sanitários:
Revisão Bibliográfica
Priscila Mendes Zidan
UERJ, Rio de Janeiro, Brasil - priscilazidan@gmail.com

Elisabeth Ritter
UERJ, Rio de Janeiro, Brasil - ritter@eng.uerj.br

RESUMO: O uso de lagoas para contenção e tratamento de lixiviado é uma necessidade básica em projetos de aterros
sanitários e sua impermeabilização com geomembrana de PEAD é requisito mínimo exigido pelos órgãos ambientais para
licenciamento dos empreendimentos. A formação de bolhas de gás embaixo da geomembrana de impermeabilização
destas lagoas, as chamadas “whales” ou “hippos” tem sido relatada por alguns autores. Uma das possíveis causas para tal
formação é a presença de vazamentos na geomembrana com consequente formação de biogás pela degradação do
lixiviado que entra em contato com o solo abaixo do geossintético. Considerando a relevância do tema e o fato de haver
restrita literatura disponível, o presente trabalho apresenta uma revisão bibliográfica narrativa sobre o assunto, focando
nas causas da formação das bolhas, entendimento do fenômeno e identificação das lições aprendidas e boas práticas a
serem adotadas nos projetos brasileiros. A pesquisa mostrou que a formação da bolha pode causar deformação na
geomembrana e consequente necessidade de sua substituição. A troca do solo abaixo do geossintético pode também ser
necessária em função da interação do lixiviado com o solo compactado. Além disso, bolhas contendo lixiviado e/ou biogás
formado podem estar presentes na lagoa, mas demoram algum tempo para estar visíveis acima do nível do líquido do
reservatório. A implantação de sistema de drenagem para o lixiviado e gases formados abaixo da geomembrana pode
contribuir para minimizar a formação das bolhas e reduzir seu tamanho.

Palavras-Chaves: Geomembrana, whale, hippo, bolha de ar, lagoa de efluentes, lagoa de lixiviado

ABSTRACT: The use of ponds for containment and treatment of leaching is a basic need in landfill projects and their
waterproofing with PEAD geomembrane is a minimum requirement required by environmental agencies for licensing of
the enterprises. The formation of gas bubbles beneath the waterproofing geomembrane of these lagoons, the so-called
"whales" or "hippos" has been reported by some authors. One of the possible causes for such formation is the presence of
leaks in the geomembrane with consequent formation of biogas by the degradation of leachate that meets the soil below
the geosynthetic. Considering the relevance of the theme and the fact that there is restricted literature available, the present
paper intends to present a narrative bibliographic review on the subject, focusing on the causes of bubble formation,
understanding of the phenomenon, and identifying lessons learned and good practices to be adopted in Brazilian projects.
Research has shown that bubble formation can cause deformation in the geomembrane and consequently need for its
replacement. Soil exchange below the geosynthetic may also be necessary due to the interaction of leached with
compacted soil. In addition, bubbles containing leached and/or formed biogas may be present in the pond but take some
time to be visible above the liquid level of the reservoir. The implementation of drainage system for leaching and gases
formed below the geomembrane can contribute to minimize the formation of bubbles and reduce their size.

Keywords: Geomembrane, whale, hippo, air bubble, effluent pond and leachate pond.

1 INTRODUÇÃO % em aterros controlados (em 617 Unidades) e


14,6% em lixões (em 1.545 Unidades).
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Nos aterros sanitários e, talvez, em alguns aterros
sobre Saneamento (SNIS, 2022), no ano de 2020 controlados, a instalação de lagoas para contenção de
foram dispostos 65,3 milhões de toneladas de lixiviado e,equalização e/ou tratamento deste
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), sendo 73,8% deste efluente é uma prática comum. Desta maneira, pode-
total, em aterros sanitários (em 652 Unidades), 11,6 se afirmar que em cada um destes aterros brasileiros

30
existe no mínimo uma lagoa de lixiviado. acontece devido à pressão de um fluido existente
O uso de geomembranas de PEAD (polietileno de embaixo da geomembrana, o qual pode ser um gás
alta densidade) expostas (sem proteção superficial) decorrente da biodegradação de matéria orgânica
para a impermeabilização de lagoas de lixiviado é presente no solo, ou ser um líquido oriundo de
bastante consolidado na indústria da gestão de vazamento pela geomembrana.
resíduos e de tratamento deste efluente, sendo
apresentada como uma solução ambientalmente
adequada e exigida pelos órgãos ambientais no
processo de licenciamento dos aterros sanitários.
A adoção da geomembrana de PEAD como
barreira de impermeabilização para os reservatórios,
entretanto, requer procedimentos adequados para
transporte, armazenamento e instalação do
geossintético. Segundo Giroud (2016), os resultados
da aplicação dos métodos geoelétricos em 150 Figura 1. Imagem de uma Lagoa de geomembrana com
projetos, envolvendo 2.500.000 m2 de área de três bolhas aparentes (whales), acima do nível do líquido
geomembrana instalada, apontaram para uma (adaptado de Marta, 2022).
densidade de 5 a 6 furos/10.000 m2 do geossintético.
Para o mesmo autor, tais resultados foram Quando a bolha é decorrente de furos na
compatíveis com projetos onde houve a adoção de geomembrana, o lixiviado que percola pelos orifícios
procedimentos de garantia da qualidade. Quando tais do geossintético propicia a geração do biogás que
procedimentos não foram empregados, o número de será o responsável pela pressão embaixo da
furos chegou a mais de 25/10.000 m2. geomembrana (Guo et al, 2016). Com o aumento da
No Brasil, o monitoramento da integridade da geração do gás, poderá ocorrer o descolamento do
geomembrana, após sua instalação ou uso geossintético do seu contato com o solo. A partir
prolongado das lagoas de lixiviado, não é uma prática deste momento, o fluxo do vazamento tenderá a
adotada. Por este motivo, a inspeção deste aumentar, contribuindo para maior formação de gás e
geossintético não faz parte dos procedimentos de contaminação do solo abaixo da lagoa (Thiel, 2016).
controle e garantia da qualidade. A última revisão da Nesta situação, além do prejuízo operacional
norma NBR 16.199 – Barreiras Geossintéticas – decorrente da minimização do espaço útil da lagoa, o
Instalação de Geomembranas Poliméricas (ABNT, dano ao meio ambiente será tanto maior quanto maior
2020) incluiu a recomendação do uso dos métodos for o tempo para o reparo do problema.
geoelétricos para verificação da estanqueidade global Tendo em vista a relevância do tema, o
das obras do tipo I (aquelas em que falhas nas entendimento sobre o fenômeno de formação do
barreiras causam danos ambientais). Whale, suas causas e soluções de tratamento ou
O monitoramento da qualidade das águas através minimização tornam-se de grande relevância para os
de poços subterrâneos é adotado em projetos de órgãos ambientais e operadores de aterros sanitários.
aterro sanitário, como forma de avaliar a ocorrência Neste sentido, visto que os relatos sobre o assunto são
de eventuais contaminações em decorrência de pouco frequentes, o objetivo deste trabalho é fazer
vazamentos dos reservatórios. Entretanto, este tipo de uma revisão bibliográfica narrativa sobre o tema,
dispositivo somente permite identificar os para mapear informações sobre a ocorrência, causas
vazamentos quando eles já alteraram a qualidade das e soluções utilizadas e/ou lições aprendidas que
águas subterrâneas. possam vir a ser avaliadas para adoção no Brasil.
Fora do Brasil, alguns autores têm relatado um
problema operacional muito frequente nas lagoas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
impermeabilizadas com geomembrana (Peggs, 2022
a, b). Trata-se do descolamento do geossintético de Uma revisão bibliográfica narrativa foi desenvolvida
seu contato com o solo, formando uma bolha de gás através de uma pesquisa exploratória, de caráter
que submerge sob o líquido armazenado (Guo et al, amplo, com vistas a avaliar qualitativamente o
2016). Estas bolhas, que podem ser observadas na conteúdo textual desenvolvido e publicado entre os
Figura 1, são chamadas pela comunidade científica anos de 2002 e 2022 a respeito ao tema.
de “whales” ou “hippos” (Thiel, 2016), O levantamento dos documentos foi realizado
possivelmente devido à semelhança com a imagem mediante uma consulta à plataforma Scorpus,
de uma baleia ou hipopótamo, parcialmente utilizando-se os seguintes termos:
submersos no líquido. “GEOMEMBRANE AND WHALE OR HIPPO”
Segundo Marta (2022), a formação das bolhas (pesquisa 1). Estes termos foram consultados nos

2
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

31
campos de título, resumo e palavras chaves dos classifica os documentos em artigos e publicações em
artigos. As buscas foram feitas em documentos em congresso.
português e inglês, nos dias 04 e 05 de março de 2022
e foram repetidas no dia 08 e 21 de novembro do
mesmo ano.
A consulta na plataforma Scorpus resultou em
apenas 04 artigos, os quais foram classificados, pela
mesma, com relação ao ano de publicação e país de
origem do autor principal, o que segue apresentado
de forma gráfica no item 3 deste trabalho.
A partir da leitura dos documentos selecionados,
realizou-se análise e consolidação das informações.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2. Gráfico de classificação dos documentos pela
3.1 Visão Geral das Publicações Sobre o Tema origem dos autores (Plataforma Scorpus).

A análise do conteúdo dos artigos selecionados, a


partir da pesquisa na plataforma Scorpus, resultou na
consolidação do que segue apresentado neste item.
Importante mencionar que a pesquisa realizada em
março de 2022 obteve o mesmo resultado daquela
realizada em novembro do mesmo ano.
A primeira observação decorrente dos dados
coletados foi a limitada quantidade de trabalhos
encontrados na plataforma selecionada, durante o
período 2002 até 2022, referente aos termos
pesquisados, conforme apresentado na tabela 1.

Tabela 1: Relação dos artigos publicados entre os anos de


2002-2022 (Plataforma Scorpus).
Figura 3. Gráfico de classificação dos tipos de
documentos publicados (Plataforma Scorpus).

Os autores responsáveis pelos registros sobre o


tema foram incluídos no gráfico da Figura 4, que
apresenta a quantidade de documentos publicados
por cada autor.

A análise longitudinal dos documentos permite


identificar que 3 dos 4 documentos foram publicados
em 2016 e apenas 1 foi em 2017. Estes documentos
foram citados por outros 6 artigos publicados até o
dia 26/11/22, como também pode ser verificado na
tabela 1.
A análise dos documentos em função do país de Figura 4 – Autores e quantidade de documentos
origem dos autores está apresentada na Figura 2. publicados sobre o tema (Plataforma Scorpus).
A avaliação do tipo de documento resultou no
gráfico que segue apresentado na Figura 3, o qual
3.2 Informações Obtidas a Partir dos
Documentos Analisados

3
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

32
Thiel (2016) também citou alguns destes
3.2.1 Formação da Bolha e seus Impactos problemas como consequência da formação da bolha:
perda do volume efetivo de armazenamento dentro da
Guo et al (2016) citam que o lixiviado de lagoas de lagoa, abertura de uma grande área acima do solo
contenção pode vazar através de furos na compactado para infiltração do lixiviado através do
geomembrana, os quais são decorrentes de diversos furo na geomembrana, aumento da suscetibilidade do
fatores como: defeitos de fabricação do material, geossintético à danos mecânicos causados pela
manipulação dos rolos, processo de estocagem do exposição do mesmo próxima ou acima da superfície
geossintético, implantação do sistema de drenagem, do líquido estocado e perda da capacidade de
tráfico de veículos sobre a camada de proteção, alongamento devido à tensão e deformação causados
dentre outros. A partir do vazamento do lixiviado pela pressão do gás, até o ponto de ruptura da
pelo solo abaixo da geomembrana, o ar presente nos geomembrana.
poros ou biogás decorrente da biodegradação por Em seu estudo, Thiel (2016) apresentou uma
microrganismos irá migrar para regiões onde há solução analítica com a intenção de propor uma
rugas ou pontos mais altos da geomembrana. Esta primeira aproximação quantitativa para a
condição inicial pode ser visualizada através da deformação, tensão e pressão em situação real da
Figura 5. bolha formada na geomembrana. Segundo o autor,
esta proposição parece estar alinhada com uma
situação real já testemunhada.

3.2.2 Correlações Propostas Entre Fatores Chave,


Para Uso Prático

O objetivo do estudo desenvolvido por Guo et al


(2016) foi propor uma solução analítica para avaliar
a geometria e a resistência à tração ao longo da bolha.
Além disso, foram desenvolvidos estudos
Figura 5 – Estágio inicial do processo de formação da paramétricos para identificar a influência de fatores
bolha (adaptado de Guo et al, 2016). chaves e desenvolver gráficos de previsão para uso
prático.
Segundo os mesmos autores, quando a quantidade Dentre os gráficos apresentados no artigo,
de gás abaixo da geomembrana possibilita que a destacam-se três correlações apresentadas na
pressão do gás supere a pressão hidráulica, a sequência.
geomembrana se desprende do solo gerando uma
bolha, como pode ser observado na figura 6. Correlação 1: Relação entre a altura da bolha e a
do líquido externo à mesma, conforme a figura 7.

Figura 6 – Estágio um pouco mais avançado do processo


de formação da bolha (adaptado de Guo et al, 2016).

De acordo com Guo et al (2016), a formação da Figura 7: Variação da altura da bolha (H) em função da
bolha irá aliviar a pressão de gás abaixo da altura do líquido externo à mesma (Hw), considerando
geomembrana, alongando a mesma e tornando-a diferentes volumes de líquido percolado V1 pelo furo da
mais fina, aumentando o risco de falha e reduzindo a geomembrana (adaptado de Guo et al, 2016).
capacidade de estocagem do reservatório.

4
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

33
De acordo com o gráfico apresentado na Figura 7, ocorre antes do ponto de submersão da bolha. Após
para cada volume de líquido percolado (V1) a curva este processo, que seria o segundo momento, a
apresenta uma altura máxima (H) que a bolha pode redução da largura ocorre mais lentamente com o
atingir até ser submersa pelo volume externo. Antes aumento do líquido externo.
de atingir sua altura máxima, a bolha vai aumentando Nota-se através desta figura 8 que, para uma
de tamanho de forma não linear com a altura do mesma altura de líquido externo, a elevação do
líquido externo (Hw). Após o pico, o líquido externo volume de percolado ocasiona aumento
submerge e comprime a bolha, fazendo com que sua representativo da largura da bolha. Tal fato possui um
altura diminua cm o aumento da altura do líquido. significado importante: a área de contato do lixiviado
A partir desta correlação apresentada, é possível com o solo, que era inicialmente o ponto de furo da
observar, na figura 7, que quanto maior o volume de geomembrana, passa a ser toda a área da base da
líquido percolado (dentro da faixa avaliada), maior bolha formada.
será a altura máxima atingida pela bolha. Além disso,
pode se supor que as bolhas devem estar presentes na Correlação 3: Influência do Módulo Elástico.
lagoa sem que estejam visíveis, nas situações em que
o vazamento de lixiviado foi pequeno e a altura do Ainda segundo Guo et al (2016), quanto maior for o
líquido externo é significativa. Esta informação vai produto entre módulo elástico e espessura da
ao encontro do que foi mencionado por Gassner geomembrana, menor será o tamanho da bolha
(2017), que apresentou o resultado de sua experiência formada. Isto porque uma geomembrana mais rígida
na investigação e remediação de seis casos em que apresentará maior habilidade para confinar os gases
houve formação de bolhas em reservatórios com abaixo da geomembrana, conferindo um tamanho
geomembrana: as bolhas podem existir total ou menor à bolha.
parcialmente submersas nas lagoas. Em um dos casos
apresentados por Gassner (2017) foi mencionado um
reservatório em que o diâmetro da bolha acima da 3.2.3 Causas Possíveis da Formação da Bolha
superfície era de aproximadamente 5 m e, após
esvaziamento do líquido, o diâmetro real da bolha era Koerner & Koerner (2016) relataram em seu artigo
de 35 m. outras causas possíveis para a formação das bolhas de
gás, nas lagoas impermeabilizadas com
Correlação 2: Relação entre a largura da bolha e a geomembranas, além daquela estudada por Guo et al
altura do líquido externo à mesma, conforme a figura (2016), são elas:
8.
a) Degradação da matéria orgânica existente
embaixo da geomembrana;
b) Volatilização de hidrocarbonetos em áreas
contaminadas;
c) Aumento do nível de água do lençol freático;
d) Mudanças na pressão barométrica;

Segundo os mesmos autores, a solução para evitar


a ocorrência deste fenômeno é a implantação de uma
camada de material permeável abaixo da
geomembrana, o qual possibilite a captura e
condução lateral dos gases até os taludes e depois
liberação dos mesmo para a atmosfera, através de um
Figura 8: Variação da largura da bolha (B) em função da vent instalado.
altura do líquido externo à mesma (Hw), considerando O artigo de Koerner & Koerner (2022) faz
diferentes volumes de líquido percolado (V1) pelo furo referência a duas outras publicações anteriores, sobre
da geomembrana (adaptado de Guo et al, 2016). o tema:
Segundo os autores, o gráfico apresentado na 1. “Underdrain Design for Geomembrane
Figura 8 mostra uma redução da largura da bolha de Lined Surface Impoundments to Avoid
forma não linear com o aumento da altura do líquido Whales/Hippos form Occurring”- GSI White Paper
externo. Entretanto, podem ser identificados dois #33, publicado em 09 de dezembro de 2015 pelo
momentos: o primeiro quando a redução da largura é Geosynthetic Institute;
mais expressiva com o aumento do líquido, o que

5
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

34
2. “In situ Repairs of Geomembrane Bubbles, de um pequeno defeito na geomembrana,
Whales and Hippos” – GSI Paper #30, publicado em especialmente se esta estiver sobre solo compactado
07 de julho de 2014 pelo mesmo Geosynthetic e com baixa permeabilidade, onde o líquido abaixo
Institute; da geomembrana ocasiona a flutuação do
polietileno. A presença do gás ou do ar embaixo da
Estas publicações apresentam recomendações geomembrana irá posteriormente aumentar a
sobre instalação dos drenos abaixo da geomembrana probabilidade de formação da bolha.
(Koerner et al, 2015) e orientações para reparo das d) As bolhas no liner podem ser formadas sem
Whales em campo (Koerner et al, 2014). São ar preso embaixo da geomembrana, mas este tipo de
indicadas, pelos autores, alternativas para viabilizar a bolha não tende a aparecer acima da superfície do
retirada dos gases de dentro da bolha e viabilizar a líquido.
retomada das condições operacionais da lagoa. e) Um vazamento através da geomembrana
De acordo com Thiel (2016), as recomendações pode levar muito tempo para formar a bolha. A
mais comuns para evitar a formação das bolhas são a formação da bolha é influenciada pelo formato
instalação de drenos subsuperficiais e/ou instalação geométrico da geomembrana e a existência de
de vents no topo da geomembrana. restrições na superfície da mesma. A presença de
rugas pode iniciar a formação da bolha.

3.2.4 Estudos de Caso Apresentados Por fim, Gassner (2017) apresenta algumas
conclusões muito relevantes:
Gassner (2017) apresentou sua experiência em  A taxa de formação da bolha pode ser baixa
processos de investigação e remediação de seis casos ou alta e geralmente está relacionada à taxa de
reais de formação de bolha em reservatórios vazamento pela geomembrana;
impermeabilizados com geomembrana. O autor  Algumas bolhas são formadas pela
apresenta informações sobre os projetos, possíveis combinação de líquido (oriundo da lagoa) e ar ou gás
causas, relata sobre períodos de observação da bolha e outras se formam apenas pela presença do líquido
e descreve o que foi identificado após o rebaixamento abaixo da geomembrana;
do nível do reservatório. As causas apontadas para a  A formação da bolha não é sempre
formação da bolha foram diversas, envolvendo não decorrente de furo na geomembrana, mas pode estar
somente a elevação do nível do lençol freático e furos relacionada à uma alta pressão abaixo de uma
na geomembrana. Em nenhum dos casos relatados geomembrana intacta;
houve apresentação de resultados de análise de solo,  Em geral as bolhas se formam em liners
água ou de caracterização da geomembrana compostos por geomembrana e solo compactado de
danificada. As ações de remediação foram distintas baixa permeabilidade, onde a taxa de dissipação do
em cada um dos cenários. líquido e do ar é baixa. Por isso, a inclusão de drenos
Podem ser citadas as seguintes medidas abaixo da geomembrana reduzem a probabilidade de
relacionadas à remediação dos casos apresentados: formação e o tamanho das bolhas.
troca da geomembrana no local onde houve formação
da bolha e o geossintético apresentou
comprometimentos relacionados à sua estrutura (por 4 CONCLUSÕES
exemplo, deformação); troca de geomembrana
associada à recomposição do solo compactado abaixo A partir da análise da bibliografia disponível sobre o
da mesma; inspeção da geomembrana, por método tema, da formação das bolhas em reservatórios de
dipolo, para localização de furos no reservatório e a lixiviados com geomembranas, notou-se a
correção dos mesmos, dentre outras (Grassner, importância do entendimento deste processo, suas
2017). causas e possíveis consequências para a operação da
Ao final de cada caso o autor cita as lições unidade e para o meio ambiente.
aprendidas, das quais podem ser destacadas: Ações relacionadas à instalação da geomembrana,
a) Quando a deformação da geomembrana controle de qualidade do material, minimização de
ocorre em decorrência de uma grande bolha é rugas e adoção de um plano de garantia da qualidade
necessária a reposição do liner em função da da obra tornam-se importantes. Além disso,
extensão da deformação. importante que seja avaliado, na fase de projeto, a
b) O tamanho da bolha formada pode ser muito possibilidade de adoção de dupla camada de
maior do que o que se pode ver na superfície do geomembrana e sistema de drenagem entre as
líquido estocado. mesmas, logicamente com coleta para recirculação
c) Uma bolha grande pode ser formada a partir

6
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

35
do lixiviado em caso de vazamentos pela primeira hdpe-geomembrane-whales-a-primer/, acessado em
camada. 22/11/22.
Importante que sejam estabelecidas rotinas de SNIS Painel de Indicadores: Manejo dos Resíduos
inspeção e manutenção das lagoas em operação, de Sólidos Urbanos,
https://www.gov.br/mdr/ptbr/assuntos/saneamento/sni
modo a verificar a ocorrência de pequenas bolhas que
s, acessado em 22/11/22.
ainda não tenham surgido acima do nível do líquido, Thiel, R. (2016). Analysis of stresses and strains in
para possível correção. A inspeção periódica da geomembrane gas bubbles that occur in surface
geomembrana do reservatório, através dos métodos impoundments. Geotechnical special publication,
geoelétricos, pode localizar furos e viabilizar seu ASCE, Nova Iorque, EUA p.244-255.
reparo em menor tempo, minimizando a formação da
bolha.
Entende-se que o tema pode ser objeto de estudos
complementares, tendo em vista sua relevância e a
quantidade restrita de documentos publicados em
relação ao mesmo.

REFERÊNCIAS

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hippos - White Paper #30, Geosynthetic Institute,
Folsom, Pensilvânia, EUA, p. 1-7.
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ucture/a-whale-of-a-problem_o, acessado em
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7
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

36
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Um panorama geral a respeito de lagoas de estabilização: Estudo de


Caso no município de Angatuba (SP)
André Querelli, M.Sc.
Solotechnique, Jundiai (SP), Brasil, andre.querelli@solotechnique.com.br

Tiago de Jesus Souza, Ph.D.


Solotechnique, Jundiai (SP), Brasil, tiago.souza@solotechnique.com.br

Patricia Rodrigues Falcão, M.Sc.


UFSM, Santa Maria (RS), Brasil, falcao.rodrigues.patricia@gmail.com

RESUMO: Nas últimas décadas houve o crescimento demasiado da população urbana, e consequentemente o aumento
da demanda por determinados tipos de produto. Evidentemente quando maior o consumo, maior a produção de resíduos
oriundos de diversas fontes. Face ao panorama apresentado, o presente artigo objetiva a avaliação de diferentes lagoas de
estabilização localizadas no município de Angatuba, no estado de São Paulo. Estes locais de confinamento de resíduos
podem sofrer com a contaminação do terreno e com erosões. A vazão de determinado fluído no subsolo decorre
diretamente da intensidade do evento e da condutividade hidráulica do solo que é dependente de sua composição
granulométrica. A luz das sondagens realizadas O solo do local foi caracterizado como argila arenosa nos primeiros seis
metros de profundidade, com baixo valor de índice de resistência a penetração, sendo este inferior a dez golpes. Essa
tipologia de solo é reconhecida pela literatura por apresentar uma menor permeabilidade que os solos granulares. Portanto,
a problemática estudada condiz com patologias observadas nas lagoas oriundas de infiltrabilidade e transbordamento do
resíduo devido a precipitações. Além disso a visita realizada possibilitou o diagnóstico conceitual, bem como as
intervenções congruentes com o estado de arte observado, visando garantir a proteção ao meio ambiente e a remediação
dos danos ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: Lagoas de Estabilização, Infiltração, Geotecnia Ambiental.

ABSTRACT: In the last decades, the urban population has grown too much, and consequently, the demand for certain
types of products has increased. Evidently, the greater the consumption, the greater the waste products from various
sources. Given the panorama presented, this article aims to evaluate different stabilization ponds located in the
municipality of Angatuba, in the state of São Paulo. These waste containment sites can suffer from soil contamination
and erosion. The flow of a given fluid underground is a direct result of the intensity of the event and the hydraulic
conductivity of the soil, which is dependent on its granulometric composition. The site's soil was characterized as sandy
clay in the first six meters of depth, with a low penetration resistance index value, this being less than ten strokes. This
type of soil is recognized in the literature as having lower permeability than granular soils. Therefore, the problem studied
is consistent with the pathologies observed in the lagoons stemming from the infiltration and overflow of waste due to
precipitation. Furthermore, the visit made it possible to carry out a conceptual diagnosis, as well as interventions that are
congruent with the state of the art observed, to guarantee the protection of the environment and the remediation of
environmental damage.

KEY WORDS: Stabilization Lagoons, Infiltration, Environmental Geotechnics.

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37
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAIS E MÉTODOS

O crescimento populacional vem ocorrendo de 2.1 REVISÃO CONCEITUAL


maneira demasiadamente acelerada. Em setembro de
2022, um estudo comprovou que a população As lagoas de estabilização apresentam inúmeras
mundial se encontra em torno de 8 milhões de vantagens, entretanto elas acarretam reações
pessoas Hegarty (2022). A tendência de crescimento químicas e biológicas complexas. Shammas et al
respalda o fato que ocorrerá um incremento do (2009) indica oito processos que podem ser
consumo dos recursos naturais. Em outras palavras, identificados em lagoas de estabilização, sendo eles:
tal fato culminará na geração de resíduos oriundos da
ação antrópica. (I) Sedimentação;
A metodologia de deposição dos resíduos (II) Decomposição anaeróbica;
depende de sua tipologia e origem. O confinamento (III) Fermentação anaeróbica;
destes materiais pode ocorrer mediante a técnica de (IV) Bacteriologia- simbiose de algas;
lagoas de estabilização, sendo essa solução utilizada (V) Transferência de oxigênio através da
frequentemente. A simplicidade de seu conceito, bem superfície de água;
como a sua acessibilidade econômica e o uso mínimo (VI) Ações de bactérias sulfúricas;
de energia são os principais fatores da sua recorrente (VII) Evaporação;
aplicação. Diante do exposto, as lagoas de (VIII) Infiltração
estabilização vêm sendo frequentemente estudadas
Middlebrooks et al., (1999); Shammas et al. (2009) e Conforme abordado na parte introdutória do
Cabrera et al. (2022). presente artigo, as lagoas de estabilização apresentam
Segundo Shammas et al. (2009) elas são uma uma complexibilidade quanto ao seu funcionamento.
forma simples de processo de tratamento biológico, A luz desta problemática, este sistema expõe tanto
sendo que esta instalação é comum no tratamento de benefícios como desvantagens, essas informações
águas residuais industriais. Ainda de acordo com os podem ser observadas no fluxograma da Figura 1.
autores, tal metodologia objetiva o armazenamento
ou represamento de águas industriais, a remoção de
sólidos em suspensão, o armazenamento ou
represamento de sólidos assentes, a equalização, a
aeração, o tratamento biológico e a evaporação.
Frente a complexibilidade do sistema, há a
necessidade de caracterização geológico-geotécnica
nos locais onde serão instaladas lagoas de
estabilização. A análise deverá ser realizada de modo
que seja identificado o tipo de solo, sua
granulometria, condutividade hidráulica, dentre
outros parâmetros. Reitera-se que um dos principais
problemas associados a essa técnica de
armazenamento de resíduos condiz com o fluxo deste
material no subsolo. Uma solução para este problema
pode ser a utilização de geossintético no fundo e nas
laterais das lagoas. Palmeira (2018), indica que os
geossintéticos podem ser utilizados com o objetivo
de proteger o meio ambiente ou de remediação de
danos ambientais. Outro fator que merece atenção
refere-se ao fato que podem ocorrer erosões nos
taludes do entorno das lagoas. Destaca-se que os
geossintéticos também podem ser utilizados para este
fim. Diante do exposto, o presente artigo tem como
finalidade apresentar as patologias observadas em
algumas lagoas de estabilização, localizadas no
município de Angatuba, no estado de São Paulo, bem Figura 1. Fluxograma das vantagens e desvantagens da
como inferir sobre possíveis diagnósticos para os aplicação da técnica de lagoas de estabilização.
locais. Fonte: Adaptado do texto redigido por Shammas et al.,
(2009)

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38
2.2 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA DA
ÁREA EM ESTUDO

Conforme pode ser observado na Figura 2, a área em


estudo situa-se no município de Angatuba, no estado
de São Paulo. Sendo o escopo do artigo a análise
referente as patologias observadas nas lagoas de
estabilização do local indicado na imagem.

Figura 3. Análise Geológica do Local. Salienta-se que o


mapa em questão foi realizado por intermédio das
informações disponibilizadas pelo CPRM (2022).

Tendo em vista a importância de avaliação do


perfil estratigráfico da região de implantação da
lagoa, foi avaliada quatro sondagens do tipo SPT
(Standart Penetration Test), próximas do local, cujo
resultados podem ser observados mediante a Figura
Figura 2. Localização da área em estudo. 4. Por intermédio da identificação tátil-visual o solo
foi classificado como uma argila arenosa ao longo
De acordo com as informações dois seis primeiros metros de profundidade. Em
disponibilizadas pelo Serviço Geológico do Brasil geral, o índice de resistência a penetração (NSPT) é
(CPRM, 2022), foi compilado de forma gráfica os inferior a 10 golpes, indicando um solo de
dados referentes as unidades litográficas aflorantes compacidade variando de baixa a média, de acordo
no município de Angatuba, São Paulo. A com os critérios expressos na NBR 7250 (ABNT,
interpolação dos dados disponibilizados pelo CPRM, 2020). O nível de água (N.A) encontra-se a 6 metros
foi realizada por intermédio da fermenta de profundidade.
computacional de livre acesso Qgis 3.065. Com a
Prof.
aplicação da metodologia citada foi realizado o mapa Índice de Resistência a penetração (N SPT)
(m)
apresentado na Figura 3. Em suma, conforme pode 0 2 4 6 8 10
ser observado, próximo à área em estudo foi
-1
identificada as seguintes formações: Teresina (P3t),
-2
Serra Geral (K1βsg), Pirambóia (P3T1p) e Irati (P2i).
-3
Na imagem em questão (Figura 2) identifica-se que o
-4
local em estudo se situa sobre a Formação Teresina.
-5
Conforme observado, no local há a presença de
-6 N.A
Siltito argiloso. Essa informação corrobora a
-7
indicação de Marconato et al. (s.d) a Formação
Teresina é constituída por argilitos, siltitos e arenitos SP-01 SP-02 SP-03 SP-04
muito finos e finos, cinza escuros a esverdeados, com
geometria tabular ou lenticular muito estendida. Figura 4. Sondagem SPT.

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39
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Na Lagoa 7 (Figura 7; a), foram consideradas as
mesmas duas questões, sendo elas: extravasão da
3.1 Inspeção das lagoas lagoa (transbordo) e percolação nos trechos iniciais,
onde ainda há uma espécie de dique. No caso desta
Este item objetiva apresentar as principais feições lagoa, há a predominância de transbordamento.
observadas entre as lagoas. No local há a presença de Salienta-se que nesta situação torna-se nítido que o
Taboa, sendo essa uma planta macrófita aquática com fluído se trata de efluentes da lagoa devido a
desenvolvimento acelerado. Tal espécie ocorre de coloração esverdeada da água (Figura 7; b).
maneira densificada nas lagoas avaliadas. Na Figura
5 pode ser observado a área de passagem entre as
lagoas de retenção 6 e 7, bem como a alta vegetação
entre elas.

ag a ag a Tra sb r ame t

(a)
Tab a

Figura 5. Passagem entre as lagoas 6 e 7.

Na lagoa de retenção 6 foi observado patologias


na forma de extravasões e de infiltrações/percolação
nos diques do entorno (Figura 6). A análise no
período chuvoso acarretou dúvidas quanto a origem
do acúmulo de água. Entretanto, ao avaliar as lagoas
em um período de dias secos, foi observada que parte
da água seria oriunda da percolação da Lagoa 6.
(b)

Figura 7. Análise dos diques do entorno da Lagoa 7.


(a) Indicação quanto a localização do transbordamento, e
(b) Coloração esverdeada da água, sendo um indicativo
de afluente da lagoa.

Na Figura 8 pode ser visualizada a lagoa de


retenção 8. Conforme pode ser observado há a
predominância da planta Taboa, o que impossibilitou
um diagnóstico acurado quanto as suas patologias.

Tra sb r ame t Per s


m l e g a Per s lara

Figura 6. Análise dos diques do entorno da Lagoa 6.


Figura 8. Análise da Lagoa de retenção 8.

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40
3.2. Diagnóstico Teórico 3.3 Tratamento das Lagoas

Face ao panorama apresentado no item anterior, Os principais organismos que estão presentes no
avaliado na visita de inspeção constatou-se que a tratamento de lagoas são as bactérias, os fungos, as
problemática está vinculada ao transbordamento das algas e os vermes. A utilização de determinados
lagoas de estabilização. Tal fato pode estar atrelado organismos dependem do tipo de processo de
ao nível demasiadamente alto de fluído nestes locais. tratamento a ser utilizado. No caso de lagoas, algas e
Diante do exposto, a luz do estado de arte, a bactérias são fundamentais, procura-se nesse tipo de
conclusão foi de que o transbordamento é um tratamento um equilíbrio entre esses dois
problema e a realidade dos locais inspecionados, organismos. Em tratamento de resíduos industriais a
Outro fator que pode propiciar patologias, capacidade do fungo de sobreviver em baixas taxas
condiz na infiltração de água no solo dos diques do de pH o tornam utilizável para esse tipo de
entorno das lagoas. Tal fenômeno está tratamento.
correlacionado com a capacidade que o solo tem em Dependendo do poluente encontrado na lagoa
absorver a água de determinada precipitação ou de deve-se utilizar um sistema de tratamento que seja
outra fonte que acarrete a sua inundação. A combativo as substâncias encontradas. Os poluentes
infiltrabilidade de água ocorre essencialmente na mais comuns encontrados no esgoto doméstico são:
direção vertical, em decorrência da ação conjunta das sólidos em suspensão, matéria orgânica
forças capilares e gravitacionais (Gerscovich, 2016). biodegradável, poluentes patogênicos, nitrogênio,
A infiltração de água no solo pode conduzir a fósforo. A implantação de ensaios é muito importante
alteração do nível do lençol freático, bem como gerar para balizar o melhor sistema de tratamento.
um fluxo subsuperficial deste fluído. Contudo, a taxa
de infiltração de água no solo não ocorre de maneira 3.4 Intervenções
constante ao longo do tempo (Sales et al., 1999).
Independente das características do solo, a Nesse item serão descritas as medidas de intervenção
velocidade de infiltração é maior no início e vai para as lagoas estudadas. Tendo em vista que o ponto
decrescendo até o final do evento. crítico se refere a questão dos transbordamentos, a
Gerscovich (2016) relata a vazão de água no primeira intervenção proposta consistiu na redução
subsolo advém da taxa de infiltração, sendo essa do nível do fluído das lagoas, de modo a evitar as
dependente da condutividade hidráulica do solo e da extravasões. Essa solução deverá ser realizada
magnitude da precipitação. Ainda de acordo com a mantendo o processo de transferência de uma lagoa
autora, quando a intensidade da chuva for inferior à para outra, porém reduzindo o volume de entrada do
infiltrabilidade, esta ocorre de forma contínua, fluído.
quando não, a amplitude do evento promove o Consecutivamente, como uma medida de
acúmulo de água na superfície (Runoff) e a taxa de segurança adicional, foi proposto a construção de
infiltração se iguala à infiltrabilidade. pequenos aterros compactados, ou até mesmo a
Conforme observado na Figura 4 o solo da utilização de sacos de solo-cimento intertravados,
região refere-se a uma argila arenosa, destaca-se que formando sobre alturas a f rma “ iq es” em t
solos com comportamento argiloso são reconhecidos entorno da lagoa, especialmente nos locais onde
no meio técnico por apresentarem uma baixa ocorre o transbordamento. Isso criará uma pequena
condutividade hidráulica (Pinto, 2009). Em outras “barragem” q e e itaria s tra sb r ame t s
palavras, a velocidade de infiltração será momentâneos no caso que o nível de fluído suba
relativamente baixa proporcionando o acúmulo de repentinamente. A respeito dos transbordamentos das
água na superfície quando houver uma precipitação Lagoas 6 e 7, uma das medidas que pode mitigar esse
de alta intensidade. Sendo que este fator justifica o risco é o aumento da capacidade de vazão no desague
caso de empoçamentos de água observados nas na Lagoa 8.
lagoas. Reitera-se que esse problema exibe uma alta Quanto à questão da infiltração no solo, caso haja
complexibilidade, e como relatado por Shammas et sobre vazão, a recomendação foi construir um
al. (2009), ele consiste em uma desvantagem da sistema impermeabilizante, de escoamento e
técnica de lagoas de estabilização. Sob o ponto de drenagem de fluido superficial no entorno e
vista ambiental, intervenções devem ocorrer nas adjacências das lagoas. Destaca-se a importância da
lagoas avaliadas, a premissa será detalhada no realização de ensaios que atendam o âmbito
próximo item. Em síntese, tais indicações objetivam geotécnico, para dimensionamento de quaisquer
evitar que o fluído contaminante das lagoas de estruturas e um melhor entendimento do solo local,
estabilização (resíduos industriais) atinja as regiões possibilitando todas as intervenções
de solo e de mata natural. Assim como válido a todas as Lagoas, deve-se

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


41
estudar o rebaixamento do nível máximo de fluido seis metros de profundidade. Tendo em vista que os
com a finalidade de evitar o transbordo. Na região de solos argilosos possuem uma condutividade
transição entre as Lagoas 6 e 7, deve ser realizado hidráulica mais baixa que os solos granulares, ele
medidas protetivas criando pequenos diques possibilita o fluxo do fluído de maneira menos
impermeabilizados como medida emergencial contra acentuada.
transbordamentos. • Foi observado a presença de
Na Lagoa 7 foi proposto as mesmas medidas de transbordamento das lagoas. Esse problema pode
rebaixamento do nível máximo e execução dos estar vinculado as precipitações incidentes na época
diques protetivos. Caso a extravasão esteja se dando do estudo. Entretanto, salienta-se que essa
de forma exagerada antes de tomadas as medidas problemática deve ser analisada, e medidas protetivas
anteriores, é imprescindível e urgente que se devem ser tomadas. Já que o fluído oriundo dos
posicione manta impermeabilizante nas adjacências resíduos industriais, podem vir a contaminar o
da lagoa, impermeabilizando os solos naturais subsolo e, até mesmo o lençol freático.
circunvizinhos de modo que se encaminhe o fluido • Nos diques do entorno foi observado fluídos
transbordado adequadamente para algum poço de das lagoas, tal fato está atrelado a condição de
coleta. elevada precipitação e a capacidade de infiltração da
Em função do potencial contaminante do água no solo. Reitera-se que solos argilosos
lixiviado produzido em aterros sanitários, o projeto apresentam uma baixa condutividade hidráulica.
requer adequadas camadas de impermeabilização de • Como solução cita-se a redução do nível de
base e taludes. Diferentes combinações entre fluído do resíduo industrial, visando amenizar a
geossintéticos e camadas de solo compactado questão dos transbordamentos.
subjacente são usualmente aplicadas como sistemas • Entretanto, a velocidade de redução do fluído
impermeabilizantes. Para a impermeabilização dos deve ser estudada de modo que não haja a
trechos adjacentes as lagoas, recomendou-se o uso de instabilidade do sistema.
geomembrana impermeável ou equivalente. A • Visando evitar a percolação do fluído no
instalação da membrana sintética é simples e prática, subsolo, indica-se a utilização de Geomembranas
podendo abreviar várias etapas do processo de com a finalidade de impermeabilização do local.
impermeabilização convencional. • Outra medida protetiva condiz com a
O tratamento do esgoto sanitário por lagoas de str çã e peq e s “ iq es” e t r .C m
estabilização (lagoa facultativa) foi a sugestão dada, metodologia construtiva pode ser utilizados sacos de
com nenhum equipamento eletromecânico e deve solo-cimento ou sobrealturas compactadas de modo a
apresentar índices incisivos na remoção de bactérias, atingir o grau de compactação definido em
vírus, cistos de protozoários, ovos de helmintos, sem laboratório para o solo utilizado.
prejudicar na eficiência operacional das lagoas e não Por fim, conclui-se que a lagoa de estabilização
devem apresentar maus odores. apresenta inúmeras vantagens para a contenção de
É importante ressaltar que os pontos elencados no resíduos industriais líquidos. No entanto, elas podem
artigo devem ser considerados como referências apresentar patologias. No caso em questão, foi
teóricas para entendimento inicial. A implantação de observado dois problemas, sendo eles:
instrumentação geotécnica nas lagoas também foi transbordamento e infiltrações. Diante do exposto foi
prática altamente recomendada como objeto de propostas algumas alternativas visando atenuar o
projeto específico. impactado ambiental.
4 CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS
Conforme abordado nos itens anteriores, foi Os autores agradecem a Kablin pela gentileza de
analisada as condições patológicas de três lagoas de fornecimentos dos dados e pela confiança depositada
estabilização construídas no município de Angatuba, no trabalho.
São Paulo. As principais conclusões serão relatadas
nos itens a seguir. REFERÊNCIAS
• Há a predominância de Taboa, que se
desenvolve rapidamente em locais úmidos. Essa ABNT (2020). NBR 7250: Identificação e descrição de
planta cresceu de maneira densificada ao entorno das amostras de solos obtidas em sondagens de simples
lagoas de estabilização avaliadas, muitas vezes reconhecimento. Associação Brasileira De Normas
impossibilitando a acurácia do diagnóstico. Técnicas, Rio de Janeiro.
• O solo da região consiste em uma argila CPRM, http://www.cprm.gov.br/, acessado em
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43
TEMA 2: CASOS HISTÓRICOS E DE OBRAS

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
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Cezar Falavigna Silva
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, cezarfalavigna@gmail.com

Daniel Henrique Marco Detzel


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, daniel@lactec.org.br

Tennison Freire de Souza Junior


Universidade Federal do Rio grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, tennisonufpr@outlook.com

RESUMO: A maioria das barragens tem instrumentos para avaliar o seu comportamento e é habitual realizar avaliações
visuais dos dados coletados e compará-los com o nível da água do reservatório, por exemplo, porém não é habitual fazer
análises estatísticas para este tipo de dados em série. Este documento utilizou análises estatísticas e gerou séries sintéticas
utilizando um modelo ARMA(2,1) para estabelecer um "intervalo de comportamento" de uma barragem de concreto de
67 metros de altura, 543 metros de largura, 33 blocos. Este "intervalo de comportamento" é mais restritivo do que a média
mais/menos três vezes o desvio padrão (μ̂ ±3𝜎̂̂), o que significa um limite de controle mais severo. Foi analisado um
piezômetro numa seção de vertedouro da barragem. alocados a montante do eixo da barragem. Os resultados indicaram
que o intervalo de incerteza do piezômetro não se aproximou dos limites de controle. Notou-se também que os dados
históricos não tinham uma distribuição normal, como muitas vezes se deduz.

PALAVRAS-CHAVE: Análises Estatísticas, Geração de Séries Sintéticas, Piezômetros, Barragens de concreto.

ABSTRACT: Most dams have instruments to assess their behavior and it is usual to do visual evaluations of the collected
data and compare those with the reservoir water level, for example. It is not usual to do statistical analysis for this kind
of series data. This paper used statistical analyses and generated synthetic series using an ARMA (2,1) model to establish
a “behavior interval” of a 67 meters high, 543 meters wide, 33 blocks concrete dam. This “behavior interval” is more
restrictive than the average plus/minus three times the standard deviation (μ̂ ±3𝜎̂̂), meaning a harsher control limit. It was
analyzed a piezometer in a spillway section of the dam. All of them were upstream of the dam axis. The results indicated
that the piezometer uncertainty range didn’t come close to the control limits. It was also noticed that the histor-ical data
didn’t have a normal distribution as many times is inferred.

KEYWORDS: Statistical Analyses, Generation of Synthetic Series, Piezometers, Concrete Dams .

1 INTRODUÇÃO management should balance what is expected as new


revenue and the costs to expand installed capacity
Recent hydrological studies include the and to suit the whole enterprise to the project’s
stationarity analyses of the river discharge and the premises. The decrease also can happen, which
positive and negative impacts on the hydroelectric means that the hydraulic power plant is going to
sector. In the case of increasing discharges, for the generate less than expected, which means less
entrepreneur, it can be an opportunity to increase the revenue than expected in the project.
installed capacity of the power plant and Although the recent two major dam failures that
consequently increase the revenue of it. However, happen in Brazil were not linked to maximum
this fact can not only bring benefits, due to the discharges (Mariana/MG and Brumadinho/MG),
increase of river flow, this can also require the these events have shown that a stricter control for
increase of the spillway water discharge, that is, the these kinds of structures is required in all of its
spillway would also need corrective measures. The aspects, so that new tragedies can be avoided.

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of dams have instruments to assess its behavior, Beyond these, there is the ARIMA
for example, piezometers, extensometers, (autoregressive integrated moving average) model,
thermometers, flow meters, and others. Those data proposed by Box et al. (2008).
are collected and charts, tables, and graphics are This model is widely used in hydrological studies
generated so the responsible can assess how the dam due to the model's ability to obtain information about
behaving. the variable persistence in time. This model is a linear
Usually, in Brazil no statistical methods are combination between the autoregressive (AR)
applied to analyze this data, as often used in flow component (of order p), integration factor I (of order
measurement, for example. For this reason, it is d) and the moving average (MA) component (of
interesting to apply these methods to evaluate the order q). The series can be modeled with all three
instrumentation data and check if corrective components or just part of it, for this reason, the
measures are needed to be taken or a more specific model is expressed as ARIMA (p,d,q). The general
analysis should be done. These statistical tests can equation of the ARIMA model is expressed by (1)
show if the data have some sort of behavior, not only (Box et al., 2008):
in trusting in someone’s visual check to see if the
series have or not a trend. Some authors write about (1 − 𝜑1 𝐵 − 𝜑2 𝐵 2 − ⋯ − 𝜑𝑝 𝐵 𝑝 )(1 − 𝐵)𝑑 𝑧𝑡 = (1 −
change point (Zhang et al., 2009), and trend (Yue et 𝜃1 𝐵 − 𝜃2 𝐵 2 − ⋯ − 𝜃𝑞 𝐵𝑞 )𝑎𝑡 (1)
al., 2002; Wilks, 2006) in series, but most in
hydrological data. Fusaro (2007) made a statistical In which 𝐵 is the lag operator such that
analysis for instrumentation data but did not use 𝑧𝑡−1=𝐵𝐾𝑧𝑡, from this is obtained the (2), (3) and (4):
synthetic series.
With the need to create more rigorous procedure, 𝐴𝑅 (1): 𝑧𝑡 − 𝜑𝑡 𝑧𝑡−1 = 𝑎𝑡 (2)
synthetic series can be used to establish the “behavior
interval” of the instruments, and thus evaluate if the 𝐴𝑅𝑀𝐴(1,1): 𝑧𝑡 − 𝜑1 𝑧𝑡−1 = 𝑎𝑡 − 𝜃1 𝑎𝑡−1 (3)
data is between some established limits. Thus, the
synthetic series results in a region in which the data 𝐴𝑅𝐼𝑀𝐴(1,1,1): (𝑧𝑡 − 𝑧𝑡−1 ) − 𝜑1 (𝑧𝑡−1 − 𝑧𝑡−2 ) =
is assumed to vary and this can be established as 𝑎𝑡 − 𝜃1 𝑎𝑡−1 (4)
uncertainty limits. This approach is more restrictive
than the “3 times standard deviation rule”, suggested To evaluate what model should be applied usually
by Dai and Wang (1992). In this, 99,73% of the is analyzed the autocorrelation (ACF) and partial
normal distribution values are within the average ± 3 autocorrelation (PACF) functions. The ACF is
standard deviation (μ̂±3𝜎̂̂). related to the series persistency, that is, the temporal
The synthetic series data are generated according dependency between the series elements. It is said
to the standard deviation and average of the original that the persistency is strong when there is a great
series, but the values are random, that is, they are not temporal dependency between the elements. An
the continuation of the historical data. Therefore, this inexistent persistency illustrates that the elements are
article has the objective to generate the synthetic independent between each order. The correlation
series and establish the “interval behavior” for a between the elements of a series is presented in (5),
concrete dam instrumentation data and compare the the k is the temporal lag, −1 ≤𝜌̂̂𝑘≤1.
values of standard deviation in relation to the average
to the dam’s control values (Attention and Alert), and 𝐶𝑂𝑉(𝑋𝑡 ,𝑋𝑡+𝑘 ) 1 ∑𝑛−𝑘
𝑡=1 (𝑥𝑡 −𝜇
̂ 𝑋 )(𝑥𝑡+𝑘 −𝜇̂𝑋)
check the measurements reliability. 𝜌̂̂𝑘 = 𝜎
̂𝑋2 =𝑛 ∑𝑛 (𝑥 −𝜇
̂ )²
(5)
𝑡=1 𝑡 𝑋

2 MATERIAL AND METHODS Usually, the results are shown in a correlogram, or


the sample’s ACF – 𝜌̂̂𝑘 vs k chart. In general, the 𝜌̂̂𝑘
2.1 Autoregressive Integrated Moving Averages values are calculated sequentially for k = 1, 2, …,
Model (ARIMA) max k, and the 𝜌̂̂𝑘 values decay progressively with
the increase of k. The maximum lag to be considered
In literature, numerous models can generate in the ACF is a choice made by the analyst, according
synthetic series [e.g. Fractional Gaussian Noise – to the purpose of application and/or the temporal
FGN (Mandelbrot and Wallis, 1969a, b, c; Kirsh et scale of the series. Usually is used 10% to 30% of the
al., 2013), bootstrap resampling (Nditiru, 2011; size of the series (n). The main goal is to search for
Srivastav and Simonovic, 2014), artificial neural the lag in which 𝜌̂̂𝑘 is zero (end of the dependency),
networks, fuzzy inference (Luna et al., 2011), but due to the sample variations, the values float
wavelets (Adamowski, 2008; Fatichi, 2009), multi- around zero. For this motive, it is defined as a
scale temporal models (Koutsoyiannis, 2003)]. confidence interval (𝐶𝐼𝑘) with (6):

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1 𝐴𝑠 2 (𝐾−3)2
𝐶𝐼𝑘 = ±𝑧𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒 √𝑛 (1 + 2 ∑𝑘𝑡=1 𝜌̂̂𝑡2 ) (6) 𝐽𝐵𝑡𝑒𝑠𝑡 = 𝑛 [ + ] (8)
6 24

Being 𝑧 = 1,96 (for a 95% confidence) or 𝑧 = 2,58 Another detail is that number of synthetic series
(for a 99% confidence). In turn, the PACF is influences the resulting quality, as shown by Detzel
equivalent to fitting successive autoregressive order et al. (2016). The authors analyzed the influence of
models of orders p = 1,2, …, k to the series. The the number of generated synthetic series for the
PACF is equivalent to the last parameters 𝜑𝑘𝑘 in streamflow maximum accumulated deficit (MDA)
each fit, as (7) shows: representation in reservoirs and noticed that with the
increase of the number of generated series, the
𝜌̂𝑗 = 𝜑𝑘1 ∙ 𝜌̂𝑗−1 + 𝜑𝑘2 ∙ 𝜌̂𝑗−2 + ⋯ + 𝜑𝑘(𝑘−1) ∙ 𝜌̂𝑗−𝑘+1 + MDAs’ uncertainty range narrows. Besides that, it is
𝜑𝑘𝑘 ∙ 𝜌̂𝑗−𝑘 (7) noted that for each of the dataset used in this study,
there is a different value in which the stabilization
The evaluation of the model choice is done visually. happens, being that the authors used from 2000 to
Usually is checked if the decay is exponential and 6000 series.
how many 𝜌̂̂𝑘 are outside the CIs. Figure 1 illustrates The software used to perform the statistical
the typical behavior of a 1st model order, according studies based on the methodology cited was
to Souza and Camargo (2004): MATLAB.

2.2 Concrete dam description Dam

The roller-compacted concrete (RRC) dam has 33


concrete blocks (see Figure 2), separated by
expansion joints, the right embankment has 10 blocks
with variable dimensions (Block 01 to 10) that sum
up to 151,50 meters of length. Block 11, with 18
meters length, is the transition between the dam’s
right embankment and the spillway (center of the
structure). The spillway has 13 blocks (Block 12 to
24), all with 18 meters of length, adding up to 234,00
meters of length. Block 25 (18,00 meters of length)
Figure 1. Model choice using ACF and PACF charts.
is the transition between the spillway and the left
Adapted from Souza and Camargo, 2004
bank. This part has a length total of 121,50 meters,
One important premise to use this kind of model distributed in 8 blocks (blocks 26 to 33) with different
is to make sure the series data is stationary if it isn’t, lengths. Therefore, the total length of the dam is
the series can be transformed into one with this 543,00 meters.
property. It is important to point out that synthetic
series generation is different from series forecasting,
therefore, no future state of the series is considered.
Hence, this article generates the synthetic series and
check if the instrumentation series data behavior is
within the Alert and Attention levels.
To be able to generate the synthetic series, Salas
et al. (1985) suggest as initial steps a preliminary
analysis and model identification. For this, the series
must be normally distributed, or may be submitted to Figure 2. Longitudinal section. (***-**-**-***-41-001)
a suitable numerical transformation otherwise. After
that, it is necessary to use the ACF and PACF to The dam is located on the São Bento group which
identify the model. In this paper, the Jarque-Bera test is characterized by basalt spills. Between two
(Jarque and Bera, 1980) was applied to check if the consecutive spills, there are usually intercalations of
series has a normal distribution. This statistical test is sedimentary material – sandstone and siltstones. The
presented in equation 8, being As the asymmetry region is usually represented by base amygdaloidal
coefficient and K the kurtosis. The test is rejected basalt, compact basalt, amygdaloidal basalt,
(normality is rejected) if the p-value is lower than the vesicularbasalt and basaltic and/or sedimentary
significance level, in this study, equal to 0.05 (5%). breach.

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To assess the structure, it was installed and establish in which lag the WSE didn’t have the
Casagrande type piezometers in nine blocks along the influence from the previous. Because of this, it was
dam. Three of these instrumented sections belong to created Figure 4, where this kind of analysis shows
the right embankment, four sections belong to the how much a value influence the next one of the series
spillway section e and two others are in the left (persistency).
embankment. For this study, it was chosen an Because the variations of the values don’t change
instrumented section in the central part of the much between the piezometric levels, these have a
spillway, more specifically the block 15. This section great influence on future elements. By that, it is
was chosen because it possesses both piezometers noticed in the chart (see Figure 4), that only after lag
and extensometers, illustrated in Figure 3. 25, the autocorrelation enters the confidence interval,
which means that the piezometric series is very
persistent.

(a)

(b)
Figure 4. Piezometer PSP-502 autocorrelation function:
(a) ACF; (b) PACF

The values of PSP-502 are collected monthly,


which means, 30 days, therefore multiplying 25
(number of lags) by 30 days, it results in 750 days.
This was the value used for the moving averages
Labels: (MM750) for the reservoir WSE. Although it is long,
EM – Multiple extensometer when plotted in a chart the MM750 reservoir WSE
PSP – Stand pipe piezometer and the value for the piezometric elevations. It is
TE – Thermometers noticed that the data is relatively aligned, as shown in
Figure 5.
Figure 3. Details of the section instrumentation.

3 RESULTS AND DISCUSSIONS

To define which moving average period for the


reservoir water surface elevation (WSE) had a similar
response as the piezometer (Fusaro, 2007) the 30,
50,0 and 60 days moving average didn’t obtain a
good fit. Because the reservoir has the influence of
the previous data on the next one, it was used the Figure 5. WSE moving averages (750 days) and PSP-502
autocorrelation function (ACF) between these data piezometric level comparison.

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In the chart (it is noticed that the decay ends in lag in the following values, the dashed lines are the
2, which means that the model should have an AR (2) Attention and Alert values (yellow and red,
component. Because the model is persistent, respectively) and the highlighted series is the original
O’Connell (1974) indicates the use of a MA (1) one, as pointed in Figure 7.
component, because this adjusts better to this
property. Therefore an ARMA (2,1) model should be
used to generate the synthetic models. However, the
PSP-502 series data didn’t respect a normal
distribution, therefore it was necessary to transform
the data, as illustrated in Figure 6.
Transforming the series through a 3-parameter
log-normal, which skewness is positive, it was
obtained a series closer to a normal distribution.
However, this wasn’t accepted by the Jarque-Bera
(JB) test, but the p-value difference with the
significance is much smaller than the original series.
That way, to generate the pseudo-random numbers, it
was used the transformed values. It was noticed that
the average and standard deviation for the historical
series piezometric levels were 754,67 m and 2,96 m,
respectively, while for the synthetic series they were
753,53 m and 2,97 m, which shows that similar
values were obtained. Figure 7. PSP-502 synthetic series piezometric levels
(readings x piezometric level)
Histogram – original series Notice that in the synthetic series conglomerate,
the maximum and minimum generated values vary
from 762,00 and 745,00 meters, so, inside these
values, the piezometer behavior can be considered
common. Any measurement outside this amplitude
must be better checked and assessed if it isn’t a
reading, transcription error, or anomalous behavior.
For the PSP-502 case (see Figure 7) the transformed
series didn’t have gaussian comportment, which
incurred in differences in the generated statistics.
(a)
Histogram – transformed series 4 FINAL CONSIDERATIONS

By the developed article, it is possible to notice


that the ARMA (2,1) model is liable to be applied in
instrumentation data since the generated synthetic
series had similar averages and standard deviations as
the original ones. Besides that, this model could
reproduce some spike points, which also happens in
the original series. Based on this article information
could be inferred the following aspects.
(b) It is noticed that the historical data do not follow
Figure 6. Piezometer PSP-502 histograms: a) Original a normal distribution, which many times is inferred,
(piezometric x frequency) series; b) transformed this leads to variations in the synthetic series.
(dimensionless values x frequency)
However, these differences between the averages and
Because of the series persistency, the ideal is to standard deviation of the synthetic series and the
differentiate the series and generate a shorter period. originals weren’t discrepant in all cases (for the
However, according to Salas et al. (1985), it is not piezometer the variation was 0,15% for the average
possible to generate a synthetic series with and 0,33% for the standard deviation);
differentiation (d) component of the ARIMA(p,d,q) It should be used parsimony when assuming that
model. In this way, the model ARMA (2,1) resulted an instrument dada series behave with a normal

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distribution. Although they visually seem like one,
the Jarque-Bera test showed that the data didn’t Box, G. E. P.; Jenkins, G. M.; Reinsel, G. C. (2008). Time
respect this distribution, emphasizing the need to use series analysis royal forecasting and control. 4ª ed. John
statistical tests; Wiley & Sons, New Jersey, 784 p.
In the observed series, it was noticed skewness,
Dai, S.; Wang, M. (1992). Reliability Analysis in Engi-
that means, a high funneled curve and concentrated neering Applications. John Wiley & Sons, New Jersey,
in the center of the distribution. Also the values 448 p.
generated by the synthetic series establish a Detzel, D. H. M.; Medeiros, L. de; Oening, A. P.; Marcilio,
“behavior interval”, as shown in Figure 7. The D. C.; Toshioka; F. (2016). Acerca da quantidade de simu-
original series values above or below this interval lações estocásticas de vazão no contexto do planejamento
incur in a mandatory assessment of the event, as energético. Revista Brasileira de Energia, v. 22 n. 2: 21-
shown in Figure 6; 32.
The “behavior interval” is more restrictive than
the variation of 3 times the standard deviation about Fatichi, S.; Barbosa, S. M.; Caporali, E.; Silva, M. E.
(2009). Deterministic versus stochastic trends: detection
the average (μ̂ ±3𝜎̂̂), but in both cases, the data values
and challenges. Journal of Geophysical Research: Atmos-
should be lower than the attention and alert levels); pheres. v. 114, n. 18.
There is a necessity for the entrepreneur to assess if <https://doi.org/10.1029/2009JD011960>
some series points are indeed outliers. These can
modify the behavior of the synthetic series, and con- Fusaro, T. C. (2007). Estabelecimento estatístico de valo-
sequently the “behavior interval”. The is a lot of ef- res de controle para a instrumentação de barragens de terra:
fort to produce the synthetic series, which may not estudo de caso das barragens de Emborcação e Piau. Dis-
be the most efficient way to asses the instrumenta- sertação (Mestrado em Geotecnia de Barragens). Núcleo
tion data. It is recommend that future studies apply de Geotecnia da Escola de Minas, Universidade Federal de
for more piezometers and also for topographic sur- Outro Preto (UFOP), Outro Preto, 309 p.
vey systems.
Jarque, C. M.; Bera, A. K. (1980). Efficient tests for nor-
From the data series, another point should be mality, homoscedasticity and serial independence of re-
highlighted, seen in other engineering areas and gression residuals. Economics Letters v. 6: 255-259. <
information management. The data collected in those https://doi.org/10.1016/0165-1765(80)90024-5>
areas respect a chronological order, for example,
river elevations are measured twice a day at 9 a.m. Kirsch, B. R.; Characklis, G.W.; Zeff, H. B. (2013). Eval-
and 5 p.m, in a production line, some samples are uating the impact of alternative hydro-climate scenarios on
withdrawn after a certain period or product quantity. transfer agreements: a practical improvement for generat-
In this case study, the measurements were done ing synthetic streamflows. Journal of Water Resources
monthly, however, they didn’t have an order, for each Planning and Management. Volume 139, Issue 4: p 396-
406.
month the day was different. This situation gets in the
way of the data statistical analysis due to the increase Koutsoyiannis, D. (2003). Climate change, the Hurst phe-
of the information randomness. In this way, nomenon, and hydrological statistics. Hydrological Sci-
automated analysis can be an advantage due to the ences Journal. v. 48, n. 1: 3-24.
predefined measurement interval. <https://doi.org/10.1623/hysj.48.1.3.43481>
At last, independently of all the analyses done,
these don’t exclude the managers to take attitudes Luna, I., Ballini, R., Soares, S., Silva filho, D. (2011). uzzy
toward the dam’s safety, these tools aim to increase inference systems for synthetic monthly inflow time series
the amount of data and verifications in safety favor, generation. Proceedings Of The 7th Conference Of The
and should not be used to remove, decrease or even European Society For Fuzzy, Eusflat 2011 And French
Days On Fuzzy Logic And Applications, v. 1, n. 1, pp.
not invest resources to guarantee the improvement
1060-1065
and maintenance of this kind of structure.
Mandelbrot, B. B.; Wallis, J.R. (1969a). Computer exper-
5 ACKNOWLEDGMENT iments with fractional gaussian noises: Part 1, averages
and variances. Water Resources Research. v. 5, n. 1: 228-
The authors would like to thank CAPES (Coordenação 241. < https://doi.org/10.1029/WR005i001p00228>.
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) for
promoting research at the PPGEC (Programa de Pós- Nditiru, J. (2011). A variable-length block bootstrap
Graduação em Engenharia Civil) at the Federal University method for multi-site synthetic streamflow generation.
of Paraná. Hydrological Sciences Journal. v. 56, n. 3: 362-379. <
https://doi.org/10.1080/02626667.2011.562471>.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


51
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Desempenho de cortinas de turbidez aplicadas a sistema de


drenagem pluvial de uma pilha de estéril.
Luiz Gustavo Moraes de Macedo
CEFET-MG, Patrocínio, Brasil, luizmacedo.geo@gmail.com

Maria das Graças Gardoni Almeida


CEFET-MG, Belo Horizonte, Brasil, mgardoni06@gmail.com

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br
RESUMO: Na mineração, é comum o direcionamento de águas pluviais que caem nas pilhas e cavas para os corpos
hídricos mais próximos. No entanto, pouco se discute sobre o carreamento de sólidos por essas águas e como reduzir a
turbidez no efluente gerado, muito em função da existência de barragens de mineração a jusante de suas estruturas, que
promovem a clarificação e estabilização do efluente gerado. Quando não é possível a construção de uma barragem de
mineração, torna-se necessária a adoção de medidas de engenharia que promovam a redução de turbidez. Este trabalho
apresenta os resultados obtidos ao longo de dois períodos chuvosos, do desempenho de cortinas de turbidez instaladas
dentro de uma estrutura de contenção de sedimentos, suscetível a picos de vazão e, localizada a jusante de uma pilha de
estéril de mineração. Até a presente data, os resultados mostram uma eficiência considerável, em determinadas condições,
na redução da turbidez nas estruturas avaliadas.

PALAVRAS-CHAVE: Cortinas de turbidez, geossintéticos, redução de turbidez, sistema de drenagem.

ABSTRACT: In mining, it is common to direct rainwater that falls in waste rock dump and pits to the nearest water
bodies. However, little is discussed about the carriage of solids by these waters and how to reduce turbidity in the
generated effluent, largely due to the existence of mining dams downstream of their structures, which promote the
clarification and stabilization of the generated effluent. When it is not possible to build a mining dam, it becomes
necessary to adopt engineering measures that promote the reduction of turbidity. This work presents the results obtained
over two rainy periods of the performance of turbidity curtains installed inside a sediment containment structure,
susceptible to flow peaks and located downstream of a waste rock dump. To date, the results show considerable efficiency,
under certain conditions, in reducing turbidity in the evaluated structures.

KEY WORDS: Silt curtains, geosynthetics, turbidity reduction, drainage system.

1 INTRODUÇÃO O objeto do presente trabalho consistiu na


avaliação de eficiência de cortinas de turbidez
Na indústria de mineração, as águas da chuva são aplicadas no sistema de drenagem de uma pilha de
geralmente direcionadas para os corpos d’água mais estéril, ainda em fase de construção, situado numa
próximos. Essa prática visa evitar a erosão e a mineração de rocha fosfática no Alto Paranaíba,
infiltração de água nas estruturas de mineração como Minas Gerais, Brasil. A região apresenta um regime
as pilhas, as cavas e outras, mantendo-as estáveis e pluviométrico dividido em duas estações distintas,
com índices de segurança satisfatórios. No entanto, seca e chuva, imponto ao projeto picos de vazão no
os métodos para minimizar a turbidez resultante no período das chuvas e ausência de água no período de
efluente gerado pelos sistemas de drenagem são seca. Considerando as características da área em
ainda pouco discutidos, em grande parte devido à estudo, a construção de uma barragem com alta
existência de barragens de mineração a jusante dessas capacidade de retenção de águas pluviais, elevando o
estruturas, que estabilizam e clarificam esse efluente período de residência, seria a melhor solução para o
gerado pelas chuvas (águas pluviais + sedimentos). problema. No entanto, os recentes rompimentos de

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52
barragens de mineração no Brasil, associados a consequentemente, a eficiência da clarificação do
restrições de uso do solo e questões ambientais, efluente gerado.
dificultam muito a construção de barragens para esse
fim. Consequentemente, torna-se necessária a busca
por estruturas alternativas, tais como as cortinas de
turbidez, com o objetivo de promover a clarificação
do efluente de drenagem gerado uma vez que o
sistema de drenagem apresenta alta capacidade de
transporte de sólidos e não dispõe de uma estrutura
que promova de forma efetiva a limpeza do efluente
pluvial.
As cortinas de turbidez são estruturas
desenvolvidas para conter e controlar a dispersão de
partículas sólidas em corpos d’água. Segundo
Francingues e Palermo (2005), as cortinas de turbidez
são consideradas uma das melhores práticas para
atenuar impactos em recursos hídricos sensíveis.
Originalmente, as cortinas foram projetadas para
conter plumas de sólidos suspensos em construções
marítimas, posteriormente utilizada para reduzir
custos de produtos químicos em estações de
tratamento de água (ETA) (Oliveira et al., 2020;
Radermacher et al., 2016).
Para garantir a sua eficiência é necessário avaliar
o local de implantação e deve-se determinar a
geometria e distribuição das cortinas com base nos
objetivos da aplicação da cortina de turbidez, regime
hidrodinâmico no local e fatores como tráfego de
barcos (Gomes, 2012; Oliveira et al., 2020; Xiao et
al., 2018). As configurações típicas de implantação
para cortinas de turbidez são mostradas na Figura 1.
As cortinas de turbidez são afetadas por diferentes
cargas hidrodinâmicas ao longo de sua vida útil. Para
um correto dimensionamento, é necessário avaliar a
combinação das cargas que atuam no sistema cortina.
As cargas podem ser calculadas em diferentes
cenários: por regime estacionário, cíclico ou
batelada; por regime de onda; por vibrações ou forças
oscilantes; ventos atuando sobre os flutuadores;
densidade; variação de sedimentos suspensos. Em
todos os cenários, é fundamental considerar que cada
elemento da cortina de turbidez possui densidade e
elasticidade uniformes e que todas as forças serão
transferidas para o terreno natural por meio do
sistema de ancoragem. Um aspecto que deve ser
considerado é a variação da permeabilidade da
cortina ao longo do tempo(Pilarczyk, 2000). Uma
cortina pode ter sua permeabilidade reduzida e até
mesmo tornar-se impermeável por crescimento de Figura 1. Configurações de instalações das cortinas de
vegetação, incrustação ou por bloqueio do geotêxtil turbidez.
pelo material a ser filtrado, por exemplo (NYSDOT As cortinas de turbidez aplicadas no presente
2018; Pilarczyk 2000). estudo são formadas por 12 painéis, com as mesmas
Outros fatores como temperatura da água, direção dimensões (5,0mx3,0m), permitindo dispor as
do vento e integridade das cortinas de turbidez cortinas em mais de uma configuração, visando
também podem afetar o processo de sedimentação e, elevar a eficiência do sistema.

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2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1.2 Sistema de drenagem

2.1 Materiais A drenagem superficial da pilha de estéril conduz a


água captada nas bermas por canais até escadas
2.1.1 Cortinas hidráulicas, que por sua vez são direcionadas por dois
canais periféricos para uma estrutura de contenção de
As cortinas de turbidez utilizadas para reter os sólidos sedimentos, denominada “ponde”, que possui
carreados no efluente são formadas por 12 painéis de aproximadamente 230 m de comprimento por 45 m
5.000 mm de comprimento e 3.000 mm de saia, com de largura média, 9 m de profundidade em seu ponto
borda livre mínima de 300 mm. As cortinas foram mais profundo e um vertedouro de 15 m de largura.
confeccionadas em poliéster de alta tenacidade, O sistema é responsável por drenar uma área de
revestidas em PVC nas duas faces, com lastro de 93,5 ha de uma pilha de estéril em fase de operação,
correntes de elos de aço galvanizado de 9 mm de com pouca cobertura vegetal. Atualmente, o processo
diâmetro, conectores padrão ASTM em alumínio de revegetação de encostas está em sua fase inicial e
naval conectáveis por meio de sistema de pino e abrange menos de 11,8% da área, disponibilizando
trava, manilha, alças superiores e flutuadores uma alta carga de sedimentos para o ponde.
ultraleves em polietileno expandido. A Figura 2
mostra o desenho esquemático das cortinas 2.1.3 Material sedimentado
utilizadas.
O estéril depositado apresenta características areno-
argilosas avermelhadas, por vezes com presença de
turfa ou material areno-argiloso maciço, graduando-
se em níveis de granulação areno-argilosa de cor
laranja ou laranja-avermelhada, intercalados com
níveis alterados de magnetita com granulometria
média a grossa. Ao ser carreado em suspensão pelo
sistema de drenagem até o ponde, o material decanta
gradando da fração cascalho a argila desde a entrada
da estrutura até o extravasor. O material sedimentado
é composto por uma elevada quantidade de minerais
Figura 2. Desenho esquemático de uma das seções de resistentes ao intemperismo.
cortinas utilizadas no estudo. Durante a estação seca, a estrutura de contenção
deixa de receber água das drenagens, por falta de
A parte central da cortina é confeccionada com chuvas, expondo o material sedimentado, que é
um geossintético disponível no mercado (geotêxtil coletado para a análise do material que é filtrado pelo
tecido PP 105/105 DW), composta por laminetes de geotêxtil que compõe a cortina.
polipropileno de alta tenacidade, alta resistência à Para o estudo, foram coletadas quatro amostras
tração, alta permeabilidade, baixa fluência, ultra para testes de caracterização, duas coletadas em 2021
estabilizada e anti-UV. O tecido do geotêxtil trançado e duas em 2022. Todas as amostras foram recolhidas
utilizado, denominado DW pela fabricante, confere na entrada da estrutura de contenção de sedimentos e
ao material alta permeabilidade a líquidos, ao mesmo a montante das cortinas, sendo o material dos
tempo em que possui abertura de poros aparentes sedimentos típicos do efluente a ser filtrado pelo
significativamente baixa (0,24mm), proporcionando geotêxtil. A distribuição granulométrica dessas
alto poder de retenção de sólidos. amostras é apresentada na Figura 3, e os diâmetros
Na parte superior das cortinas foram instalados principais das partículas, coeficiente de uniformidade
puxadores para proporcionar mais agilidade e e coeficiente de curvatura estão na Tabela 1. No
facilidade em sua movimentação e lançamento, além geral, as amostras são classificadas como não
de maior ergonomia e segurança operacional para uniformes e mal graduados, dificultando a escolha do
seus operadores. O lastro da cortina de turbidez é geotêxtil para a cortina.
formado por uma corrente de elos com diâmetro
mínimo de 9,0 mm, aço galvanizado a quente, com
carga mínima de ruptura de 25 kN.

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experimentais e suas variações ao longo do estudo
tornam-se parâmetros importantes para controle da
pesquisa. Dentre os parâmetros analisados destacam-
se a análise da disponibilidade de sedimentos, a
direção do vento e se a estrutura de contenção de
sedimentos está vertendo ou não.
A análise da disponibilidade de sedimentos para
entrada no sistema é possível se forem adotados
vários tipos de modelos, desde os mais simples, como
a equação universal de perda de solo, até modelos
computacionais mais complexos, sendo que a
maioria dos modelos analisa um cenário fixo, sem
correlacioná-lo com a variação do tempo.
(Christofoletti, 1999; Gomes, 2012).
A distribuição do escoamento anual está
intimamente relacionada com a origem do
Figura 3. Curvas granulométricas das amostras escoamento, que pode refletir em diversos
indicadores típicos, como o coeficiente de
Tabela 1. Principais diâmetros de partículas das amostras rugosidade. Uma mudança significativa na
em mm e coeficientes de uniformidade e curvatura. distribuição espaço-temporal de características
morfológicas e cobertura pode influenciar
Amostra D10 D30 D60 CU CC
diretamente o escoamento e, assim, modificar o
AG-PDE-02-2021 0.0011 0.16 0.70 636.36 33.25 volume de entrada de sedimentos na área sob análise
(Xiao et al., 2018).
AG-PDE-02-2022 0.0019 0.20 0.70 368.42 30.08 A direção do vento influencia na formação de
AG-PDE-03-2021 0.0010 0.08 0.43 430 14.88 ondas e foi obtida através dos dados da estação
pluviométrica automatizada de Patrocínio/MG –
AG-PDE-03-2022 0.0010 0.01 0.40 400 0.25 A523 (INMET, 2023), enquanto o vertimento da
estrutura foi obtido por monitoramento in loco pela
2.1.4 Analisador de efluentes mineradora.

Para a análise do efluente líquido foi utilizada a sonda 2.2.2 Análise de efluentes
multiparâmetro portátil YSI Professional Plus PRO-
DSS, um instrumento portátil multiparâmetro para Para analisar o efluente, foi estabelecida a
qualidade da água na medição de vários parâmetros periodicidade semanal para coleta em pontos
críticos, dependendo do sensor instalado. Durante o estratégicos para a pesquisa, dividindo o projeto em
presente estudo, foram utilizadas sondas para dois cenários, aos quais foram adotados fluxogramas
permitir o registro dos seguintes parâmetros: turbidez de coletas distintos, conforme expostos na Figura 4.
(NTU); temperatura (°C); Oxigênio dissolvido (%); No cenário 1, no período de chuvas 2021/2022,
condutividade (µs/cm); sólidos suspensos totais com duas cortinas em labirinto foram adotadas 03
(TSS-mg/L); pH; ORP. amostras, sendo uma a montante (ponto A), uma
entre as cortinas (ponto B) e uma a jusante das
2.2 Metodologia cortinas (ponto C). Já no cenário 2, quando as
cortinas foram unidas em uma única estrutura
2.2.1 Caracterização das condições fechada em U, o ponto B foi retirado da análise
experimentais experimental. Todos os pontos são localizados no
interior do ponde, na margem oeste e perpendiculares
As cortinas de turbidez foram instaladas, em duas ao fluxo principal associado a uma abordagem
configurações distintas em anos pluviométricos quantitativa dos parâmetros pluviométricos. Depois
subsequentes (2021-2022 e 2022-2023), dentro da disso, é possível calcular a filtragem efetiva das
estrutura de contenção de sedimentos localizada a barreiras adotando a seguinte equação 1 (Oliveira et
jusante de uma pilha de estéril, para avaliar a eficácia al., 2018, 2020):
do dispositivo na redução da turbidez do efluente da Fi=(Ta-Td)/Ta (1)
superfície de drenagem. Sendo Fi a Filtragem efetiva; Ta a turbidez no ponto
Por se tratar de um estudo experimental aplicado anterior ao dispositivo de filtragem e Td a turbidez
em obra real, a caracterização das condições depois do dispositivo de filtragem.

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55
granulométrica do solo a ser filtrado, avaliar as
condições ambientais esperadas, como a duração
prevista da exposição à luz solar, determinar a
velocidade, direção e volume de descarga de água,
estimar a profundidade da água e os níveis de
turbidez, avaliar os efeitos da ação das ondas devido
ao tráfego aquaviário, determinar a natureza do
sedimento de fundo e da vegetação e avaliar as
condições do vento (Francingues & Palermo, 2005;
NYSDOT, 2018):
As cortinas de turbidez não são recomendadas nas
operações em mar aberto, operações onde as
correntes excedem 0,5 m/s, em áreas frequentemente
expostas a ventos fortes e grandes ondas quebrando e
em áreas onde o movimento frequente da cortina
pode ser necessário.

2.2.4 Cortinas instaladas

O regime irregular de chuvas dificulta o controle da


vazão de entrada na estrutura. Desta forma, pode-se
supor que o principal risco associado ao experimento
é a possibilidade de colapso das cortinas, seja pela
ruptura do cabo de tração, rompimento do geotêxtil,
Figura 4. Fluxograma de coleta de amostras com relação ou desprendimento das ancoragens devido a picos de
as cortinas de turbidez. escoamento decorrentes de chuvas intensas.
A configuração labirinto (Figura 1 b) das cortinas
2.2.3 Projeto de cortinas de turbidez foi inicialmente sugerida devido ao risco associado
ao cenário proposto, mesmo essa configuração sendo
De acordo com o DTMB (2019), as cortinas de descrita na literatura como de pouco efetiva
turbidez devem ser usadas em obras que geram (Johanson, 1978; NYSDOT, 2018; Radermacher,
sedimentos adjacentes a recursos hídricos e onde 2013; Radermacher et al., 2016).
outros métodos de contenção não são aplicáveis. As Assim, as cortinas foram instaladas em dois
cortinas atuam evitando o escoamento e carreamento trechos paralelos, com um ângulo de
de particulado fino para áreas adjacentes, aproximadamente 30° em relação ao fluxo principal,
preservando os recursos hídricos (Francingues & configurando uma geometria labiríntica, aumentando
Palermo, 2005). As cortinas devem ser ancoradas nas a probabilidade da cortina resistir às intempéries e
margens e colocadas juntas, sempre que possível, em variações de tração durante todo o período chuvoso
configuração paralela a corrente principal visando a de 2021-2022. Entretanto, para o período chuvoso
integridade do sistema. A borda inferior da barreira 2022-2023 foi adotada a configuração em U
deve estar 0,30 m acima do fundo do corpo hídrico. contendo todo o fluxo do ponde, visando uma maior
Para isso, são utilizados dispositivos de flutuação eficiência do sistema.
para manter a cortina suspensa na água. É possível Em função dos picos de vazão, as cortinas estão
adotar a cortina em águas rasas sem o uso de sujeitas a altas cargas hidráulicas, cenário que se
mecanismos de flutuação, porém as estruturas não sugere a adoção de um cabo de tração com a função
podem ter altura superior a 1,8 m (DTMB, 2019). de dissipar as cargas nos pontos de ancoragem
Um geotêxtil tecido ou não tecido pode ser usado (Johanson, 1978; Pilarczyk, 2000). Os pontos de
para confeccionar as cortinas de turbidez, e deve ter ancoragem foram executados nas margens do ponde
permissividade suficiente para permitir que a água com trilhos de trem de 2,8 m de comprimento,
flua, uma abertura de filtração (AOS) que retenha as cravados no solo até 2,0 m de profundidade.
partículas dos solos e resistência suficiente para Para garantir a flutuabilidade do sistema foram
suportar tensões de instalação devido às cargas de adotados flutuadores estanques, ultraleves e
água e sedimentos. A instalação deve ser avaliada cilíndricos, com densidade 19 kg/m³, recobertos por
para determinar se é uma instalação não crítica; não uma manta flexível de polipropileno, formando
severa ou crítica e severa. Em instalações células fechadas em gomos, independentes das
críticas/severas, é necessário determinar a curva

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células adjacentes, garantindo a flutuabilidade da sedimentos a montante das cortinas. Após o
barreira em casos ruptura parcial da lona. acionamento da estrutura, o escoamento apresentou
Os acoplamentos entre extremidades são duas fases perceptíveis, sendo o mais profundo
realizados por conectores de engate rápido, composto por um fluxo turbidez, sobreposto por uma
fabricados em alumínio extrudado, isentos de massa de água clarificada.
rebarbas e/ou cantos vivos, com pino e trava dos Obtidos os primeiros dados, as cortinas
conectores de diâmetro 3/8”. As fixações são apresentaram eficácia acima do esperado para as
realizadas com porcas sextavadas, arruelas lisas e condições de projeto, fechando o primeiro mês de
parafusos (M6, M8 e M12), em aço bi cromatizado e experimento com eficiência de 92,2% com a estrutura
inox AISI 304. vertendo (fluxo constante em ambiente lótico) e
60,8% com ambiente lêntico, no qual a estrutura se
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO comporta como um lago, sem verter. Nos meses
seguintes foi constatada uma redução significativa na
As cortinas foram instaladas no ponde no dia 23 de eficiência das cortinas.
outubro de 2021, adotando uma configuração em No período de chuva 2021-2022 a configuração
labirinto com duas cortinas paralelas, até a data de 09 adotada foi de duas cortinas paralelas em labirinto,
de agosto de 2022, quando foram retiradas do ponde apresentando três pontos de amostragem (A-B-C),
para limpeza e manutenção. Posteriormente enquanto no período de chuvas 2022-2023 a
reposicionadas em uma única cortina, adotando-se a configuração adotada foi de uma única cortina
configuração em “U”. contendo todo o fluxo em U, com apenas dois pontos
Os dados de turbidez coletados entre outubro de de amostragem (A-C) (Figura 6).
2021 e janeiro de 2023 foram classificados de acordo
com a sua localização, sendo o ponto A (à montante
das cortinas), ponto B (entre as cortinas do cenário 1)
e o ponto C (à jusante das cortinas) (Figura 5).
Algumas ausências de dados estão relacionadas a
falhas ocorridas durante a coleta da amostra.

Figura 6. Configuração das cortinas instaladas no ponde.


(a) Labirinto paralelo adotada no período de chuvas 2022-
2023; (b) Em U contendo o fluxo adotada entre 2022-2023.

Em momentos de alta energia, a correnteza gerada


pelo fluxo da água mantém o fluxo unidirecional
forçando as partículas contra a cortina. Nos
momentos de baixa energia, no qual o ponde não
apresenta vertimento, o fluxo de água, antes regido
essencialmente pela gravidade, passa a ter o vento e
a temperatura como fatores protagonistas na direção
do fluxo.
Mesmo na estação chuvosa, ocorrem curtos
períodos de estiagem, nos quais a estrutura para de
transbordar, mudando o regime hídrico de alta
Figura 5. Configuração em labirinto adotadas em 2022- energia (lótica) para baixa energia (lêntica)
2023 (esq.); Configuração em U adotada em 2022-2023 favorecendo a homogeneização do efluente
(dir.) armazenado no ponde.
Com o objetivo de identificar a influência dos
Inicialmente, a análise de turbidez apresentou fatores que afetaram a eficiência, os dados foram
valores de 41,5NTU entre as cortinas e 3804 NTU a segregados em grupos nos quais as características
montante das duas cortinas, apresentando a maior experimentais foram consideradas similares, seguido
eficiência do estudo. Naquela ocasião (26 de outubro de uma limpeza dos dados e verificação de sua
de 2021), a chuva torrencial resultou em um fluxo de normalidade e identificação de pontos discrepantes

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(outliers), para posterior definição de valores médios
com nível de confiança de 95%.
Ao analisar o primeiro grupo de dados é possível
identificar que o ponto B, entre as cortinas,
apresentou eficiência média 0,3%, enquanto o ponto
C apresentou 13,35% de eficiência quando o ponde
esteve vertendo. Ao analisar os dados coletados sem
que o ponde estivesse vertendo, tem-se que a
eficiência no ponto B foi de -0,79%, enquanto no
ponto C foi de 3,7% (Figura 7).

Figura 8. Velocidade média dos ventos atuantes na área em


estudo (INMET, 2023).

4 CONCLUSÕES

As cortinas de turbidez são boas ferramentas para a


clarificação quando aplicadas em sistemas de
drenagens na mineração, desde que apresentem
fontes de turbidez pontuais e em locais onde o regime
hídrico seja bem caracterizado.
A configuração em “U” para ambientes de fluxo
constantes e unidirecional é a mais indicada, tendo
apresentado, para as condições da presente pesquisa,
eficiência média de 17,25%. No entanto, quando
aplicado em ambientes de baixa energia, tais como
em ambientes lênticos, as condições ambientais
(vento e temperatura) podem alterar a direção de
Figura 7. Variação de eficiência das cortinas de acordo fluxo degradando e eficiência das cortinas.
com o vertimento e configuração de instalação.
Nos momentos em que a chuva cessa e a linha
AGRADECIMENTOS
d’água regressa ao interior do ponde, a estrutura para
de verter, passando a se comportar como um lago, ou
Os autores agradecem ao Centro Federal de
seja, um sistema de baixa energia. A mudança na
Formação Técnica de Minas Gerais (CEFET-MG), à
direção do fluxo, associada à configuração em
Mineradora, ao Conselho Nacional de Pesquisas
labirinto das cortinas, favoreceu o processo de
(CNPq) e aos profissionais da mineradora que
homogeneização do fluido residual, reduzindo a
viabilizaram e apoiaram a instalação dos dispositivos
eficiência das cortinas.
de controle de turbidez, bem como a coleta de dados.
Uma vez estabelecido o regime lêntico, os
Os autores também gostariam de agradecer aos
processos de convecção e a atuação do vento tornam-
fabricantes por fornecerem os geotêxteis.
se os principais agentes para o fluxo da água no
interior da estrutura. Os dados de vento na área são
REFERÊNCIAS
variáveis, sendo a direção principal NNE-SSW, Christofoletti, A. (1999). Modelagem de sistemas
seguida de E-W, mas não restrita a essas duas amientais (1st ed., Vol. 1). Blucher. p. 1-18.
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favorece o fluxo no sentido oposto ao fluxo principal, sedimentation control guidebook. p. 148-149.
quando vertendo, degradando a eficiência nesse Francingues, N. R., & Palermo, M. R. (2005, September).
cenário. Silt curtains as a dredging project management
practice. ERDC TN-DOER-E21, p.1–18.
Gomes, L. L. (2012). Avaliação espacial da perda de solo
por erosão através da equação universal de perda do
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo de Caso: Aplicação de Técnica de Retaludamento com


Muro de Gabião para Solução da Instabilidade em uma Encosta no
Município de Cachoeira do Brumado/MG.
Matheus Vidigal Pinto
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, matvids7@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, leandro.duarte@ufsj.edu.br

Natália Brasil Assunção Silva


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, natalia.brasil@ufsj.edu.br

Gabriela Silva Thome do Amaral


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, gabrielastamaral@gmail.com

RESUMO: Motivado por uma movimentação de massa ocorrida em uma encosta situada no distrito de Cachoeira do
Brumado/MG, que possui residências construídas no pé do seu talude e classificada como região de alto risco, foi realizada
uma campanha investigativa de engenharia geotécnica para entendimento e solução do problema. Durante a investigação
foram aferidas instabilidades por conta do próprio comportamento geomecânico da região, como também pela escavação
do pé pelos moradores locais. A intervenção proposta consiste em uma conformação de geometria da encosta, fornecendo
uma menor escavação possível para atingir o fator de segurança desejado, com um muro de gabião na base para evitar a
escavação do pé do talude pelos moradores e assim fornecer maior estabilidade a obra. Essa solução se mostrou viável do
ponto de vista técnico, proporcionando segurança para reabitação pelos moradores locais.
PALAVRAS-CHAVE: Análise de Estabilidade, Encostas, Gabião, Retaludamento.

ABSTRACT: Motivated by a mass movement that occurred on a slope located in the district of Cachoeira do
Brumado/MG, which has residences built at the foot of its slope and classified as a high-risk region, an investigative
campaign of geotechnical engineering was carried out to understand and solve the problem. problem. During the
investigation, instabilities were measured due to the geomechanical behavior of the region, as well as the excavation of
the foot by local residents. The proposed intervention consists of shaping the slope's geometry, providing the lowest
possible excavation to achieve the desired safety factor, with a gabion wall at the base to prevent residents from digging
the foot of the slope and thus providing greater stability to the work. This solution proved to be feasible from a technical
point of view, providing security for rehabilitation by local residents.
KEY WORDS: Stability Analyses, Slopes, Gabion, Resurfacing.

1 INTRODUÇÃO escavações, sistemas de drenagem entre outros.


A resistência do solo pode sofrer alterações em
O talude é uma estrutura de engenharia comum na função da alteração do grau de saturação em
engenharia geotécnica, cuja estabilidade é decorrência de eventos pluviométricos. No Brasil,
determinada por muitos fatores com características destaca-se a instabilidade dos taludes causada pela
aleatorias, imprecisas e incertas (Wang et al., 2023). ação da água da chuva, conforme descreve CENAD
De modo geral, a segurança de um maciço de solo (2012), podendo ser agravadas por atividades
está relacionada elementos como a resistência ao humanas.
cisalhamento do solo, a geometria do talude, Quando esses fenômenos ocorrem em encostas

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60
ocupadas, causam impactos sociais e econômicos 2.2 Investigação Geotécnica
(Prieto et al., 2017). No Brasil, a região Sudeste
registrou mais de 80% das ocorrências de Para o entendimento da geotecnia local foram feitas,
movimentos de massa entre os anos de 1990 e 2010 inicialmente, incursões de campo para verificar as
(UFSC e CEPED, 2012). condições do talude, avaliações das trincas de tração
Sabendo da importância das soluções de no solo e demais elementos com potencial de colocar
engenharia geotécnica na redução riscos de em risco as residências situadas no pé do talude.
instabilidade de taludes, esta pesquisa apresenta, Posteriormente, para caracterização e obtenção
através de um estudo de caso, a aplicação de uma dos parâmetros de resistência dos solos constituintes
técnica de retaludamento com muro gabião para da região, foram realizados ensaios de campo, mais
solução da instabilidade em uma encosta. O local de precisamente sondagens a percussão (SPT),
aplicação do estudo foi o distrito de Cachoeira do conforme a NBR 6484 (ABNT, 2020) e o
Brumado, no Estado de Minas Gerais, em um talude levantamento planialtimétrico da região. As
com patologias e indícios de instabilidade, informações coletadas precederam a definição do
decorrentes da escavação do pé e da saturação do solo modelo geológico-geotécnico.
perante chuvas duradouras.
2.3 Modelagem Geológico-Geotécnico
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A partir da investigação, foi desenvolvido o modelo
2.1 Local de Estudo geológico-geotécnico, acoplando os dados obtidos no
levantamento planialtimétrico da região e as
O local escolhido para a realização do estudo sondagens a percussão com base nas formulações
proposição do retaludamento de uma encosta, está encontradas na literatura técnica, ou seja,
situado no distrito de Cachoeira do Brumado/MG. O desenvolvendo-se a parametrização geotécnica.
local foi escolhido devido a existência de dezenas de Os horizontes limites dos materiais constituintes
residências distribuídas ao longo do pé do talude, e da região foram obtidos conforme a indicação de
por a região ser classificada como de alto risco. Terzaghi e Peck (1967) em relação ao Grau de
A princípio, como solução projetou-se a Compacidade para areias e Índice de Consistência
readequação da geometria do talude para inclinações para argilas, comparados com o índice de resistência
de 2:1 nas três bancadas inferiores e 3:1 nas três a penetração (N), citado em Berberian (2015),
bancadas superiores com banquetas intermediárias juntamente com a descrição da textura dos materiais
inclinadas a montante com - 2%. Cada bancada nas diferentes camadas investigadas.
apresenta altura de 5 m, totalizando um desnível de Foi adotado o modelo constitutivo de Mohr-
30 metros. Essa proposta foi analisada no software Coulomb, considerando parâmetros efetivos, dado se
Slide Rocscience Inc. versão 5.0, para a qual foi tratar de uma região com características pré-
atestado o fator de segurança adequado. adensadas. Os valores de angulo de atrito (φ’), foram
No pé do talude, para prevenir novas escavações calculados com base na recomendação de Godoy
por parte dos moradores e ampliar o nível de (1983) e Teixeira (1996) e os valores de coesão
estabilidade ao sistema proposto, foi adotado um efetiva (c’) foram calculados com base em Berberian
muro de gabião caixa com dois elementos de 1x1 (m) (2015).
ao longo de toda base do talude. Para uma análise mais assertiva foi aplicado um
A Figura 1 mostra a seção transversal da solução tratamento estatístico com aplicação do teste t,
adotada, onde as dimensões estão em metros. considerando distribuição normal para um intervalo
de confiança de 90% em relação à média, desvio
padrão e coeficiente de variação para as médias dos
valores de NSPT constituintes das camadas
geotécnicas.
O peso específico aparente dos materiais
constituintes também foram obtidos por correlação
com o Índice de Resistência a Penetração (NSPT) e a
condição de saturação do solo, conforme propostas
de Berberian (2015). Em todos os valores obtidos
foram aplicados fatores de segurança de 1,5
conforme Gerchovick (2008) para os parâmetros de
Figura 1. Seção Transversal da Obra. resistência obtidos por correlações.

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61
2.4 Escolha da Geometria do Talude esforços externos e internos da estrutura. Foi adotado
para o cálculo do empuxo de terra ativo as propostas
Para a escolha da melhor geometria do Talude, foi de Mazindrani e Ganjali (1997) que trata do método
utilizado o Software Slide Rocscience em conjunto de Rankine adaptado, enquanto o cálculo do empuxo
com a ferramenta computacional AutoCad Civil 3D, de terra passivo seguiu para o seu cálculo os
objetivando os fatores de segurança mínimos de postulados por Caquot e Keriesel (1948). A Tabela 1
projeto conforme a NBR 11682 (ABNT, 2009). apresenta os fatores de segurança adotados conforme
Assim foram realizadas diversas iterações, a NBR 11682 (ABNT, 2009).
utilizando o método de equilíbrio limite, pelos
modelos de Morgenstern & Price e Bishop Tabela 1. Fatores de segurança mínimos adotados.
Simplificado, até se obter a geometria que oferecesse Fator de
Análise
menor escavação em função do fator de segurança Segurança mínimo
mínimo de 1,4 conforme a NBR 11682 (ABNT, Tombamento 2
2009). Deslizamento 1,5
Capacidade de carga da fundação
1,5
(admissível)
2.5 Dimensionamento do Gabião
Por fim foi feita uma análise de estabilidade
Foi prevista duas caixas de gabião de 1x1 (m) na
global, utilizando a metodologia de Morgenstern-
seção transversal do projeto instadas ao longo de todo
Price, este método foi adotado por ser considerado e
o comprimento de pé do talude para evitar escavações
classificado como rigoroso, e permitir na análise de
na base que possam comprometer a estabilidade no
rupturas planas, ou seja, visando uma melhor
futuro pós-implantação da terraplenagem de projeto.
otimização da cunha de ruptura, foi adotada como
Assim, visando uma melhor estabilização, a
não circular.
geometria adotada para o muro de gabião foi
concebida com sua face plana e inclinada de 7° com
3 RESULTADOS
a vertical. A altura média adotada considerando a
inclinação foi de 1,99 metros. Na Figura 2 é
3.1 Caracterização Preliminar e Geotécnica
apresentada uma seção esquemática do gabião.
Verificou-se após incursão de campo, junto as
residências, que após períodos de chuvas ocorreu
uma movimentação do talude, ocasionando o
surgimento de trincas de tração, com indícios de
ruptura ativa e progressiva. Observou-se também que
ao longo do processo de apropriação da área houve
por parte dos moradores a realização de cortes na
base da encosta (ou pé) fator, este que contribuiu para
a formação de processos de instabilidade do maciço,
inclusive possuindo a região do pé em alguns trechos
muros não estruturais e que por tanto não possuem
Figura 2. Seção esquemática do muro de gabião. capacidade para suportar as cargas oriundas do
empuxo de terra por meio da movimentação da massa
Para o material de enchimento foi pensado o peso de solo e consequentemente colocando em risco as
específico dos materiais considerando os principais residências adjacentes a estes.
tipos de rochas utilizados na construção civil local, Em relação à Geotecnia o perfil trata-se de um
como granito, gnaisse, basalto e quartzito, sendo que solo residual Jovem, com textura predominante silto-
estes costumam apresentar peso específico na ordem arenosa, rico em minerais filossilicatos em estado
de 25 kN/m³. Como a disposição destes materiais intermediário de intemperismo, sendo originado de
rochosos na caixa de gabião deixa uma porosidade na rochas metamórficas apresentando topo rochoso raso,
ordem de 30% foi adotado como peso específico da ou seja, indicando um solo pouco evoluído e de pouca
caixa preenchida um valor igual a 18 kN/m³, na qual profundidade com cerca de 13m (na média).
seus grãos apresentam ângulo de atrito na ordem de
30° e coesão nula. 3.2 Modelo Geológico-Geotécnico
A verificação de estabilidade do muro de gabião
foi realizada considerando fator de segurança, na Acoplando os resultados de sondagens a percussão
condição de equilíbrio limite, sendo analisada com o levantamento planialtimétrico da região e com

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62
os demais estudos realizados, obteve-se o modelo 3.4 Dimensionamento do Gabião
geológico conforme a Figura 3.
Segundo geometria adotada e demais elementos
anteriormente apresentados, a estrutura apresenta
fatores de segurança contra as solicitações internas e
externas conforme a Tabela 4.

Tabela 4. Fatores de segurança Gabião.


Análise Fator de segurança Mínimo
Tombamento 6,15 2
Deslizamento 11,08 1,5
Capacidade de carga
4,07 1,5
da fundação
Figura 3. Modelo Geológico-Geotécnico.
A análise de estabilidade global retornou um fator
Por meio das correlações paramétricas de segurança igual a 2,99 e por tanto superior ao
apresentadas e considerando o desvio padrão e a mínimo recomendado de 1,5.
aplicação de probabilidade por meio do teste t foi
possível estimar as propriedades dos solos em 4 DISCUSSÃO
condições efetivas. Os resultados são apresentados na
Tabela 2. Conforme observado nos resultados de sondagens
executadas, notou-se a presença de um solo residual
Tabela 2. Propriedades dos materiais pouco profundo. E de acordo com a geologia local,
ϕ' c' γ Cachoeira do Brumado encontra-se na interface de
Material
(°) (kPa) (kN/m³)
duas formações geológicas, o grupo Nova Lima,
Argila Siltosa Mole 11 7 15 subunidade Vulcano sedimentar a noroeste e o
Silte Arenoso Mediamente Complexo Sto. Antônio do Pirapetinga a sudeste.
13 24 17
Compacto A interface mencionada se dá sobre uma zona de
Silte Arenosos Compacto 16 52 19 cisalhamento. Em ambos os casos a rocha trata-se de
um material metamórfico com rochas talco-clorita
3.3 Escolha da Geometria do Talude xisto, quartzo-mica xisto, ou seja, rochas cujos
principais minerais presentes e formadores são do
A geometria que apresentou menor escavação em tipo filossilicatos como as micas, visíveis a olho nu,
relação ao fator de segurança mínimo (1,4) foi com geralmente orientadas em foliações típicas dos xistos,
declividade de 2:1 nas três bancadas inferiores e podendo-se encontrar biotita, muscovita e clorita e
declividade de 3:1 nas três bancadas superiores, todas menos prevalecente anidros, como granada,
separadas por bermas (banquetas) com inclinação de estaurolita e cianita. Portanto, formando solos com
2% para montante. Cada bancada apresenta altura de minerais bastante suscetíveis a erosões por meio das
5 m totalizando um desnível de 30 metros e as ações intempéricas, ou a escorregamentos.
bancadas apresentam largura de 2 metros. Também, durante a campanha de sondagens, não
Para a revegetação do talude foi prevista a foram verificados a presença de nível d’água na
utilização de biomanta com semeadura manual por região, na maioria do tempo a encosta apresenta um
meio de microcoveamento, já que as condições comportamento não saturado, mas sobre condições
geométricas e de acesso não permitiriam aplicação pluviométricas duradouras a sua camada superior
por hidrossemeadura. A Figura 1 apresenta o perfil pode apresentar uma queda brusca da sucção e
da geometria adotada. O resultado da análise de consequentemente saturar apresentando-se como um
estabilidade para a geometria adotada e para o terreno material de baixa resistência que em condições de
natural é apresentado na Tabela 3. ruptura poderia apresentar-se sobre solicitações
drenadas. Ainda por se tratar de um perfil pré-
Tabela 3. Resultado da análise de estabilidade. adensado, as análises de resistência geotécnica
FS Terreno podem ser efetuadas em condições efetivas. Diante o
Método FS Projetado
Natural exposto, às técnicas projetadas se mostraram efetivas
Morgenstern & Price 0,677 1,507 do ponto de vista geotécnico para solução da
Bishop Simplificado 0,684 1,487 instabilidade e retorna a comunidade acadêmica uma
vista sobre soluções que podem ser repetidas em
outras ocasiões aplicando-se a metodologia

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63
apresentada neste trabalho. deslizamentos na bacia do córrego Piracuama em
Campos do Jordão - SP. Revista Brasileira de
5 CONCLUSÕES Cartografi. n. 69, p. 71-87.
Teixeira, A. H. (1996). Projeto e Execução de Fundações.
vol I. SAFE III p 33-50.
Este trabalho apresenta um estudo de caso sobre a
Terzaghi, K.; Peck, R. B. (1967). Soil mechanics in
aplicação técnica de retaludamento de encostas com engineering practice. 2. Ed, Nova York: Wiley.
desnível de 30 metros e a utilização de gabião no pé UFSC, CEPED (2012) Universidade Federal de Santa
do talude. Os resultados das análises e da própria obra Catarina/Centro Universitário de Estudos e Pesquisas
demonstram que a utilização dessa técnica atende aos sobre Desastres Naturais. Atlas Brasileiro de Desastres
requisitos de segurança e funcionalidade. A Naturais 1991 a 2010: volume Brasil. Florianópolis:
metodologia desenvolvida se mostra efetiva para CEPED UFSC, 94 p.
aplicação em outras situações semelhantes, como é Wang, G.; Zhao, B.; Wu, B.; Zhang, C.; Liu, W. (2023).
comum de ocorrer no estado de Minas Gerais. Intelligent prediction of slope stability based on visual
exploratory data analysis of 77 in situ cases.
International Journal of Mining Science and
AGRADECIMENTOS
Technology, v. 3, n. 1, p. 47-59.
Os autores prestam agradecimento ao Grupo de
Pesquisa INFRAGEO – Infraestrutura de Vias
Terrestres e Obras Geotécnicas e ao DTECH –
Departamento de Tecnologia em Engenharia Civil,
Computação e Humanidades da Universidade
Federal de São João Del-Rei - Campus Alto
Paraopeba.

REFERÊNCIAS

ABNT (2020). NBR 6484: Solo – Sondagem de simples


reconhecimento com SPT - Método de ensaio
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, 28 p.
ABNT (2022). NBR 6122: Projeto e execução de
fundações Associação Brasileira De Normas Técnicas,
Rio de Janeiro, 108 p.
ABNT (2009). NBR 11682: Estabilidade de encostas
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, 33 p.
Berberian, D. (2015). Engenharia de Fundações 2°ed,
Brasilia, p 2.1-2.73.
Caquot, A.; Kerisel, J. (1948). LTables for the calculation
of passive pressure, active pressure and bearing
capacity of fundations. Paris: Gauthier-Villars.
CENAD (2012). Centro Nacional de Gerenciamento de
Riscos e Desastres. Anuário Brasileiro de Desastres
Naturais: 2012. Brasília: CENAD, 2013. 84 p.
Das, B. M.; Sobhan, K., M. (2019). Fundamentos de
engenharia geotécnica. 9º ed. Cengage, 688 p.
Gerchovick, D. Estabilidade de Taludes. São Paulo:
Oficina de Textos, 2008.
Godoy, N. S. (1983). Estimativa da capacidade de carga
de estacas a partir de resultados de penetrômetro
estático. Palestra. São Carlos (SP): Escola de
Engenharia de São Carlos – USP.
Manzidrani, Z. H.; Ganjali, M., H. (1997). Lateral earth
pressure problem of cohesive backfill with inclined
surface. Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering. ASCE, p 110-112.
Prieto, C. C.; Mendes, R. M.; Simões, R. M.; Nobre, C. A.
(2017) Comparação entre a aplicação do modelo
shalstab com mapas de suscetibilidade e risco de

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Solo Grampeado Verde com Geomanta Reforçada e Barreira


Dinâmica, Rodovia SP 123
Lucas Defalco Marcomini
Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, l.marcomini@maccaferri.com

Ricardo Oliveira Sirmatei


Maccaferri do Brasil, Jundiaí, Brasil, r.sirmatei@maccaferri.com

RESUMO: Após fortes chuvas que ocorreram em dezembro de 2019, o Departamento de Estradas de Rodagem de São
Paulo (DER) iniciou um programa de obras para estabilização das encostas, da Rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-
123), principal acesso à Campos do Jordão, que sofreram deslizamentos durante as chuvas. O ponto de onde a obra foi
realizada está localizado no km 41+950, o talude apresentava uma inclinação muito acentuada com material muto
heterogêneo, ao longo da sua extensão o material apresentava uma transição de solo para rocha. Os trechos em solo
apresentavam pequenas erosões superficiais e os trechos em rocha apresentam o desprendimento de blocos além de
rolamento de blocos provenientes dos taludes que estavam acima, oferecendo risco aos usuários da rodovia. Para adotar
uma solução técnica e eficiente aos problemas identificados, foi necessário avaliar todo entorno e não só o problema
devido ao histórico e localização da rodovia. Por se tratar de uma rodovia com elevado número de tráfego, outros pontos
importantes foram avaliados para escolha das soluções como, tempo de obra, facilidade na execução, visando minimizar
os riscos e transtornos aos usuários da rodovia e aspecto visual, visto que a rodovia se localiza na serra da Mantiqueira e
é uma rota turística. Após todas as considerações, foram adotados um mix de soluções, utilizando Solo grampeado verde
com geomanta reforçada de alta resistência e barreira dinâmica para resolver os problemas do talude e garantir a segurança
dos usuários.

PALAVRAS-CHAVE: Geomanta Reforçada, Barreira Dinâmica, Solo grampeado verde.

ABSTRACT: After heavy rains that occurred in December 2019, the São Paulo Highway Department (DER) started a
work program to stabilize the slopes of the Floriano Rodrigues Pinheiro Highway (SP-123), the main access to Campos
do Jordão, that suffered landslides during the rains. The point where the work was carried out is located at km 41+950,
the slope had a very steep slope with very heterogeneous material, along its length the material presented a transition from
soil to rock. The sections on the ground showed small superficial erosions and the rock sections show the detachment of
blocks in addition to the rolling of blocks from the slopes that were above, posing a risk to road users. In order to adopt a
technical and efficient solution to the identified problems, it was necessary to evaluate the entire surroundings and not
just the problem due to the history and location of the highway. As it is a highway with a high traffic volume, other
important points were evaluated for the choice of solutions, such as work time, ease of execution, aiming to minimize the
risks and inconvenience to highway users and the visual aspect, since the highway is located in the Serra da Mantiqueira
which is a tourist route. After all the considerations, a mix of solutions was adopted, using green soil nail with reinforced
geomats of high resistance and dynamic barrier to solve the problems of the slope and guarantee the safety of the users.

KEY WORDS: Reinforced geomat, Dynamic Barrier, Green soil nail.

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1 INTRODUÇÃO dos afloramentos rochosos podem estar relacionadas
com diversos fatores, o mais comum é o desgaste e a
A obra fica localizada na Rodovia Floriano erosão dos solos e das estratificações ao longo do
Rodrigues Pinheiro (SP 123), Km 41+950, na região tempo, como os agentes externos ou exógenos estão
da Serra da Mantiqueira, recentemente apontada em sempre atuando na modelagem do relevo, é natural
um estudo internacional - publicado em novembro de que, em regiões onde a erosão é mais frequente que a
2013 na revista Science, como um dos 78 locais deposição, a área superficial se desgaste lentamente
"insubstituíveis", de maior importância para a até expor as camadas internas.
preservação da biodiversidade global de mamíferos, Devido um processo de erosão mais severo havia
aves e anfíbios. A Serra da Mantiqueira possui uma muitos blocos fraturados com eminência de uma
formação geológica da era arqueana e grãos minerais ruptura, como solução para o problema desse trecho
conhecidos por serem um dos mais antigos. foi adotado um sistema de proteção ativo com solo
A rodovia SP 123 tem seu início no final na Rodovia grampeado com face verde, utilizando uma geomanta
Governador Carvalho Pinto e Rodovia Presidente reforçada de alta resistência, MacMat HS 50, para
Dutra, no município de Taubaté e termina na cidade conter os blocos de rocha fraturados e combater o
de Campos do Jordão, com extensão total de 46 km. processo erosivo do solo, e permitiria manter o
Trata-se de uma rodovia de pista simples, com apenas aspecto natural da encosta.
uma faixa de rolamento em cada sentido, no trecho O segundo trecho com cerca de 57m de altura
de subida da serra existe a terceira faixa para o apresentava um afloramento rochoso com uma menor
percurso ascendente. É o principal acesso à cidade de intensidade de erosão e fratura nos blocos, não
Campos do Jordão, destino este muito procurado por apresentava nenhuma ruptura apenas alguns blocos
visitantes que procuram contato com a natureza, é a em eminência de rolarem. Após a avaliação foi
10ª cidade mais procurada como destino turístico no optado por trabalhar com uma solução diferente, pois
país, recebe cerca 3,9 milhões de turistas por ano. O para revestir toda área do talude seria necessário
volume médio diário de veículos que transitam pela realizar uma grande supressão vegetal, além do
rodovia SP 123 é de 10 mil veículos. grande consumo de material, elevando assim o custo
O talude localizado no Km 41+950 da pista norte, da obra.
com altura aproximada de 80 metros e comprimento Para essa situação foi adotado uma solução
de 60 metros, foi subdividido em dois trechos de passiva com barreira dinâmica para amparar
estudo para avaliar solução que seria adotada: o eventuais blocos que possam se desprender e rolarem
primeiro trecho, com cerca de 23m de altura partindo em sentido a rodovia, esses blocos ficam retidos na
do pé do talude, figura 1. barreira, que é formada por uma malha de anéis de
alta resistência sustentada por postes metálicos
ancorados ao maciço.
A combinação de soluções permitiu manter o
aspecto natural da serra da Mantiqueira agredindo ao
02 mínimo a flora local e garantiu a segurança dos
usuários da rodovia.

2 METODOLOGIA

Para execução das soluções o primeiro passo foi o


01 mapeamento e identificação de todas as áreas com
risco de ruptura (superficial ou global) ou queda de
blocos, após avaliação realizada em campo foram
realizados cálculos de estabilidade global, através da
metodologia de equilíbrio limite. A partir dos dados
e cálculos realizados montou-se um cronograma de
obras, focando primeiramente os pontos de maiores
riscos.
Figura 1 - Trechos A metodologia de solo grampeado verde consiste
na execução de chumbadores com barras de aço no
Através da geomorfologia que o talude maciço, envolvidas por uma calda de cimento e
apresentava foi possível identificar, o afloramento aplicação de geomanta com alta resistência à tração.
rochoso e que havia um processo de erosão com A solução foi aplicada para estabilização de um
distintas intensidades. As causas para o surgimento talude com cerca de 23m de altura. A geomanta com
cabos de dupla torção além de proteger o maciço
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contra erosões superficiais, permite que a vegetação O dimensionamento da intervenção fora dividido
nativa mantenha sua reprodução, podendo aplicar em duas partes: Dimensionamento do solo
hidrossemeadura sobre a manta para facilitar e grampeado verde e dimensionamento da barreira
acelerar o processo. dinâmica. Para a solução de grampeamento fora
O revestimento cortical com telas de alta utilizado o método do equilíbrio limite, definindo-se
resistência tem como objetivo melhorar a as ancoragens e malha e para a barreira dinâmica
estabilidade na face rochosa superficial, protegendo foram analisadas as possíveis trajetórias dos blocos e
o sistema quanto a eventuais blocos de rochas que então determinada qual seria a melhor barreira para
possam se desprender do maciço e prejudicarem a ser instalada no local. Os dois dimensionamentos
segurança dos usuários, no caso, da rodovia. Do estão detalhados nos subcapítulos que seguem.
ponto de vista geomecânico, o sistema atua de forma
passiva, pois as forças são proporcionais ao 3.1. Dimensionamento do solo grampeado verde
deslocamento das rochas.
Ambas as técnicas utilizaram chumbadores e para A encosta que deve ser estabilizada é composta
a maior segurança dos colaboradores durante as por um misto de solo e rocha intemperizada, o que
perfurações, ficou definido que a tela seria instalada possibilitara que o dimensionamento fora feito
previamente, para evitar que qualquer material que se adotando-se uma camada de solo sobre a rocha. A
desprendesse caísse sobre os colaboradores. Os solução fora dimensionada considerando-se a seção
chumbadores foram executados com auxílio de uma modelada de projeto a partir do levantamento
plataforma elevatória, onde os colaboradores em topográfico executado, as sondagens apresentaram
posse de uma perfuratriz realizavam as perfurações, uma pequena camada de solo superficial, cerca de
inseriam a barra de aço e faziam a injeção de calda de 2,50m, e abaixo do solo um perfil rochoso, além dos
cimento. das obtidos atras das sondagens durante a inspeção
As Barreiras dinâmicas foram locadas na encosta em campo foi possível notar pontos de afloramento
para a interceptação de blocos que se desprendem do rochoso. Para o cálculo foi utilizado o software
alto do talude. Devido sua alta flexibilidade, a MacRo Studio, que verifica o sistema grampos
barreira permite que a energia de impacto do bloco ancorados em rocha e dimensiona as telas para conter
seja absorvida pelo sistema. Essa característica se dá a movimentação de uma massa. O sistema é
através uma série de elementos, que em conjunto, composto por ancoragens (chumbadores) e malha de
trabalham durante o impacto para absorver a energia. aço de alto desempenho. O objetivo deste sistema é
Esses elementos são, os painéis de impacto, melhorar a estabilidade da camada superficial,
responsáveis por receber o impacto e transferir a mantendo o solo e os blocos soltos no lugar de
energia do impacto para os dissipadores de energia, origem.
que por sua vez tem a função de aliviar a energia que Na figura 4 está disposta a seção obtida durante a
será transmitida para as fundações dos cabos de modelagem no software “MacRO 1”
sustentação, a barreira é armada através de poste
rotulados dispostos a cada 10 metros.
É possível observar a implantação das duas
soluções na figura 2.

Figura 3 - Seção analisada

Figura 2 - Implantação das soluções de revestimento e 3.2. Dimensionamento barreira dinâmica


barreira dinâmica
As barreiras dinâmicas de queda de rochas, ou
3. DIMENSIONAMENTO barreiras deformáveis, são classificadas como
soluções passivas, uma vez que são colocadas não em
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contato direto com a instabilidade, mas em uma 1500 525 3.39 84%
posição estratégica para interceptar as trajetórias dos 2000 679 4.88 83%
blocos em queda. (GRIMOD e GIACCHETTI, 2014) 3000 1.045 5.35 79%
De acordo com a Diretriz Europeia EAD 340059-00- 5000 1.667 4.45 74%
9000 3.000 - -
0106 (Antiga ETAG 027) (Diretriz para aprovação
técnica europeia de kits de proteção contra queda de
rochas), emitida pela EOTA (Organização Europeia A energia transportada no bloco é calculada
para Avaliação Técnica) define uma barreira contra através da determinação das trajetórias usando
queda de rocha como um kit de diferentes elementos técnicas probabilísticas. Segundo GRIMOD e
que devem ser capazes de parar um bloco com o GIACCHETTI (2014) a análise de trajetórias de
impacto contra ele. O principal objetivo do projeto é blocos potencialmente instáveis são o primeiro passo
verificar se a energia característica da barreira é para o projeto de barreiras. Tal análise é muitas vezes
capaz de parar um bloco em queda com sua energia realizada por meio de software comercial e as
Kinect. simulações são alimentadas com levantamentos
O EAD 340059-00-0106 foi criado com o geomecânico, geológicos e topográficos. O foco
objetivo principal de entender e comparar o desses dados é representar as condições locais na
comportamento de tais estruturas. A diretriz também análise, como dimensões de bloco, coeficientes de
padronizou o procedimento de teste das barreiras. restituição e perfil de trajetória.
Todas as barreiras são testadas sob a condição O método de cálculo é proposto pela norma
Maximum Energy Level (MEL) que lança um bloco italiana UNI 112122-4:2012. Esta norma prevê a
de uma determinada massa a uma altura específica aplicação de coeficientes de segurança em função da
para testar a barreira de acordo com seu nível máximo utilização da área e da qualidade dos dados obtidos.
de energia. É feito outro teste, agora ao nível de Através desta metodologia, determina-se a energia de
energia de serviço (SEL), neste teste o objetivo é projeto e a altura de impacto de projeto.
comprovar o comportamento da barreira sob dois Após a energia e altura de projeto terem sido
impactos consecutivos sob uma energia de serviço de determinadas, compara-se os resultados com os
1/3 do nível máximo de energia (por exemplo, uma dados das barreiras e escolhe-se o modelo que atende
barreira testada sob 3.000 kJ de energia no MEL é às necessidades de energia e altura necessários ao
testada em 1000kJ no SEL). projeto. No caso da obra em questão, fora adotado o
A tabela 1 mostra as propriedades das barreiras modelo com 1500 kJ de capacidade de energia, com
dinâmicas testadas sob os critérios MEL, e a tabela 2 4m de altura.
mostra os dados do teste SEL.
4. DESAFIOS NA INSTALAÇÃO
Tabela 1 – Propriedades das barreiras dinâmicas sob
critério MEL Toda obra a ser instalada em encosta rochosa
Energia Altura apresenta desafios no que diz respeito à instalação.
Energia Alongamento Na proteção de talude localizado na rodovia Floriano
testada em Residual
nominal em MEL [m]
MEL [kJ] MEL Rodrigues Pinheiro não foi diferente. Um dos
35 38 1.57 >70% primeiros desafios encontrados e superados na
70 70 2.42 >70% execução das soluções fora o acesso para a
100 111 4.21 58% perfuração dos grampos da zona protegida com
750 774 4.21 58% malha metálica. O perfil íngreme e irregular da
1000 1,092 4.63 70% encosta inviabiliza o acesso por cordas e a solução
1500 1,637 5.80 62%
adotada para a execução das atividades de perfuração
2000 2,060 6.42 71%
3000 3,193 7.06 69% e injeção fora a instalação de um andaime junto à face
5000 5,000 8.25 >50% do talude. Esta etapa por si só aumentou o tempo de
9000 9.000 9.27 64% execução em cerca de 2 meses, porém garantiu a
segurança dos trabalhadores e viabilizou a perfuração
Tabela 2 - Propriedades das barreiras dinâmicas sob das dimensões previstas em projeto. Outro desafio
critério SEL encontrado, desta vez na instalação da barreira
Energia Altura dinâmica fora a sua locação na crista do talude. Por
Energia Alongamento
testada em Residual estar localizada em um terreno irregular, algumas
nominal em SEL [m]
SEL [kJ] SEL inflexões com ângulos maiores a 10° (figura 4) o que
35 - - - gerou a necessidade da perfuração de uma ancoragem
70 - - -
adicional à jusante (figura 5).
100 - - -
750 299 2.75 70%
1000 363 3.41 77%
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68
paralisações no trânsito local, após a conclusão da
obra não, foi observado nenhum detrito.
A utilização de novas tecnologias permitiu com
que a área permeável fosse mantida e a vegetação
nativa manteve-se preservada, colocando a
engenharia e o meio ambiente em sintonia.
É importante ressaltar que a obra atendeu todos os
Figura 4 - Inflexão da barreira requisitos técnicos necessários ao desempenho da
solução, onde foi tão eficaz quanto as tecnologias
Ainda na instalação da barreira dinâmica, houve tradicionais, que eram objetos de estudo no início da
desafios em sua locação devido a irregularidades no obra, promovendo segurança e conforto visual aos
talude, devido a este fator houve a necessidade do usuários da rodovia.
encurtamento da última seção da barreira para melhor A solução otimizou tempo, essencial para uma
encaixe da estrutura no terreno. obra emergencial, economicamente viável e
sustentável.
AGRADECIMENTOS

Os autores deste artigo gostariam de agradecer de


forma especial ao Sr. Renato Peliciari, que nos
ajudara com as informações pertinentes a esta obra,
tanto do ponto de vista de dimensionamento, quanto
do ponto de vista de instalação.
Também é importante deixar o agradecimento à
empresa Maccaferri, que fornecera os materiais para
esta obra e contribuiu com a memória de cálculo,
tanto do solo grampeado quanto da barreira dinâmica.

REFERÊNCIAS

ABNT (2018). NBR 5629: Tirantes ancorados no


terreno – Projeto e execução. Registro em: 25
out. 2018.
ABNT (2018). NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Registro em: 10 dez. 2018.
EOTA (2013) “ETAG 027: Guideline for European
technical approval of falling rock protection kits”
3, European Organisation for Technical Appro-
vals, Brussells, in www.eota.be
ESCOBAR, Herton. Tombamento da Serra da
Figura 5 - Ancoragem adicional para compensar as forças
geradas pela inflexão da barreira Mantiqueira está no Condephaat. Exame. São
Paulo, 2014. Disponível
5. CONCLUSÕES em:https://exame.com/brasil/tombamento-da-
serra-da-mantiqueira-esta-no-condephaat/.
Após as intervenções, ficou claro a interação da
solução com meio ambiente, logo nos primeiros Acesso em: 23 abr. 2021.
meses a vegetação nativa voltou a crescer como era Grimod, A., Giacchetti, G. (2013). High energy rock-
previsto, o impacto ambiental foi muito pequeno e fall barriers: a design procedure for different ap-
imperceptível. Com o tempo a vegetação cobrirá toda plications. 23rd World Mining Congress. 11-15
obra sem gerar nenhum tipo de prejuízo a solução August 2013. Montreal QC, Canada
adotada. Grimod, A., Giacchetti, G. (2014) “Design approach
O maciço estabilizado não apresentou nenhum for rockfall barriers tested according to ETAG
027” Proceedings of World Landslide Forum 3,
deslizamento e nem erosões superficiais. Já no pé do 2-6 June, Bejing, China.
talude, onde era possível encontrar diversos blocos de
rochas que se desprendiam do maciço rochoso e
PIZZO, Junior. Campos do Jordão é 10ª cidade do
rolavam para o acostamento, provocando acidentes e
país mais procurada por turistas. O Vale. São
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.

69
Paulo, 2019. Disponível em
https://www.ovale.com.br/_conteudo/nossa_regi
ao/2019/06/81539-campos-do-jordao-e-10---
cidade-do-pais-mais-procurada-por-turistas.html.
Acesso em: 26 abr. 2021.
São Paulo (SP). DER - SP. Volume diário médio das
rodovias (vdm),
http://www.der.sp.gov.br/WebSite/MalhaRodovi
aria/VolumeDiario.aspx.
UNI (2012). UNI 112111-4: Rockfall protective me-
asures – Part 4: definitive and executive design,
Ente Nazionale Italiano di Unificazione, Milano
Italia (in Italian), in www.uni.com

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70
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.
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TEMA 3: DESCOMISSIONAMENTO DE SISTEMAS DE
DISPOSIÇÃO, GESTÃO DE RISCO E INCERTEZAS EM
GEOTECNIA AMBIENTAL

72
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise de Descaracterização de Barragens de Rejeitos pelo


Método de Olson
João Paulo Tavares
UnB, Brasília, Brasil, jptavs@gmail.com

André Pacheco de Assis


UnB, Brasília, Brasil, aassis.p@gmail.com
RESUMO: Após os acidentes na Barragem do Fundão e Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, a Lei N° 14.066, de
30/09/2020, decretou a necessidade de descaracterização de todas as barragens de rejeito a montante em operação no país.
Por tratar-se de uma atividade ainda com processos incipientes e pouco estudada, mapear alternativas de metodologias
executivas para o processo de descaracterização de barragens de rejeitos é de suma importância. Nesse contexto, busca-
se avaliar a suscetibilidade a liquefação, utilizando o Método de Olson, de uma seção típica de barragem de rejeito alteada
a montante, considerando como metodologia de descaracterização a remoção de material da estrutura. Foi avaliado as
condições de Fator de segurança considerando duas estratégias de logística distintas: retirando material da barragem no
sentido de jusante para montante e outra no sentido de montante para jusante. Os resultados obtidos sugerem Fatores de
Segurança ligeiramente superiores nas análises considerando remoção de material de jusante para montante,
principalmente no cenário liquefeito. Verifica-se também que a partir de uma certa cota, as análises utilizando a razão de
resistência de pico e a liquefeita se estabilizam, apresentando valores bastante próximos, o que indica que, nessas camadas,
não há influência significativa das propriedades de resistência do rejeito no cenário de estabilidade global da estrutura.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem de rejeito, metodologia construtiva, Método de Olson, Fator de Segurança.

ABSTRACT: After the accidents at Fundão Dam and Dam 1 of the Córrego do Feijão Mine, Law No. 14.066, of
September 30, 2020, decreed the need to decharacterize all upstream tailings dams in operation in the country. Since this
is an activity with incipient processes and poorly studied, mapping alternative executive methodologies for the process
of decharacterization of tailings dams is of paramount importance. In this context, the aim is to evaluate the susceptibility
to liquefaction, using the Olson Method, of a typical section of a tailings dam raised upstream, considering the removal
of material from the structure as a decharacterization methodology. The Safety Factor conditions were evaluated
considering two different logistical strategies: removing material from the dam in the downstream to upstream direction
and another in the upstream to downstream direction. The results obtained suggest slightly higher Safety Factors in the
analyses considering material removal from downstream to upstream, especially the liquefied scenario. It is also found
that after a certain elevation, the analyses using the peak strength ratio and the liquefied one stabilize, presenting similar
values, which indicates that, in these layers, there is no significant influence of the tailings strength properties on the
global stability scenario of the structure.

KEY WORDS: Tailings dam, construction methodology, Olson's Method, Safety Factor.

1 INTRODUÇÃO profundamente as atividades antrópicas em


comunidades com a presença da indústria da
1.1 Aspectos Legais mineração. Morgenstern et al. (2016) e Robertson et
al. (2019) trazem estudos detalhados apontando as
Somente na última década cita-se dois grandes causas e aspectos técnicos envolvendo os acidentes
acidentes envolvendo barragens de rejeito no Brasil, citados.
com impactos ambientais que se perpetuam e que Após tais eventos, A Lei N° 12.334, de 20 de
ocasionaram dezenas de mortes. Os acidentes na setembro de 2010 (Brasil, 2010), que estabelecia a
Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, e Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB)
na Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em e criou o Sistema Nacional de Informações sobre
Brumadinho, também em Minas Gerais, suscitaram Segurança de Barragens (SNISB), foi atualizada pela
profundas mudanças na legislação e gestão Lei N° 14.066, de 30 de setembro de 2020 (Brasil,
envolvendo seguranças de barragem e impactaram 2020), que, dentre as principais alterações,

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73
determinou a proibição de construção ou alteamento um fluido viscoso, indicando assim a ruptura do
de barragens de mineração pelo método construtivo material.
de alteamento a montante, estabelecendo também Olson (2001) define uma técnica empírica para
que todas as barragens no país executadas por meio análise de potencial de liquefação de solos baseada
dessa metodologia construtiva deveriam ser em 33 estudos de casos de rupturas ocasionadas por
descaracterizadas até 25 de fevereiro de 2022. Essa fluxo de liquefação. Os casos abordados abrangem
proibição condiciona o uso de demais técnicas de diversos materiais, tais como areias, areias siltosas,
disposição de rejeitos, tais como: disposição por siltes arenosos e rejeitos arenosos.
barragens a jusante e linha de centro, disposição O método de Olson é dividido em três etapas: na
subterrânea, pilhas controladas e aterros hidráulicos. primeira, busca-se verificar a suscetibilidade de
Apesar do prazo estabelecido, ABMS (2022) liquefação do material, a segunda, busca-se verificar
indica que a data especificada na lei não é factível possíveis gatilhos de liquefação e, por fim, a análise
devido às peculiaridades técnicas e construtivas das de estabilidade do material liquefeito. Neste método,
estruturas. Além disso, a ANM (2022) na Resolução o cálculo das razões de resistência não drenadas,
95 já indica que, atendendo critérios de justificativas tanto de pico quanto residuais (liquefeitas), são
técnicas, seria possível solicitar prorrogação do prazo realizadas por meio de correlações baseadas em
para descaracterização. Logo após, estabelece que ensaios dos tipos SPT e CPT. Dessa forma, é possível
cada caso será analisado conforme as especificidades se obter resultados de resistência não drenadas sem a
da barragem e que, em linhas gerais, estruturas com necessidade de ensaios laboratoriais e fatores de
volume menor que 12 milhões de m³ terão prazo correção expressivos.
adiado até a data de 15 de setembro de 2022, Solos que apresentam resultados a esquerda da
barragens com volume entre 12 e 30 milhões de m³, curva de Fear & Robertson (1995) apresentam
até 15 de setembro de 2025 e barragens com volume características contráteis, havendo, por conseguinte,
acima de 30 milhões com prazo até 15 de setembro a possibilidade de existência de liquefação. Já solos à
de 2027. Por fim, a Resolução ANM Nº 130 (2023) direita da curva apresentam comportamento dilatante
reestabeleceu alguns itens normativos, tornando-os e estão imunes à possibilidade de liquefação. Para
mais claros e buscando desburocratizar e simplificar verificar o potencial de gatilho de liquefação, Olson
obrigações administrativas relacionadas ao tema. (2001) propõe as seguintes etapas de procedimentos
a serem realizados:
1.2 Liquefação • Obter a média ponderada da tensão vertical
efetiva σ’v0(média) da superfície de ruptura crítica
A liquefação é um processo de perda de resistência e determinar a razão de tensão de cisalhamento
ao cisalhamento de um solo induzida pelo acréscimo τ
estática média σ’ d ;
da poropressão. Esse processo ocorre em materiais v0(média)
𝑝𝑖𝑐𝑜
que apresentam tendência de contração volumétrica, 𝑆𝑢
• Determinar a razão de resistência de pico σ’v0
tais como areias fofas. A impossibilidade da
ocorrência desse fenômeno em solos dilatantes se com base nas Equações 7 e 8.
deve ao fato de que nesses materiais a resistência ao 𝑝𝑖𝑐𝑜
𝑆𝑢
cisalhamento não-drenada é maior do que a = 0,205 + 0,0075[(𝑁1)60 ] ±
σ’v0
resistência drenada.
0,04 para (𝑁1)60 ≤ 12𝑀𝑃𝑎 (7)
Para que haja liquefação, é necessária uma
mudança abrupta da estrutura devido a um 𝑝𝑖𝑐𝑜
𝑆𝑢
carregamento, denominado gatilho de liquefação, = 0,205 + 0,0143[𝑞𝑐1 ] ± 0,04 para 𝑞𝑐1 ≤
σ’v0
que pode ter origem dinâmica ou estática, e que irá 6𝑀𝑃𝑎 (8)
gerar, rapidamente, um rearranjo da estrutura sólida
do solo, que tende a se contrair. A água intersticial é 𝑝𝑖𝑐𝑜
• Calcular o valor de 𝑆𝑢 para cada fatia
confinada sob a atuação de altos valores de
multiplicando a razão de resistência de pico
poropressão, sem possibilidade de ser dissipada
obtida pela tensão vertical efetiva inicial.
devido ao curto período em que se dá o processo.
• Obter o fator de segurança contra o início de
Dessa forma, a água impede o contato entre as
liquefação para cada fatia por meio da Equação
partículas e reduz drasticamente a parcela de
9.
resistência devido ao atrito. Num dado momento,
observa-se uma condição crítica em que a 𝑝𝑖𝑐𝑜
𝑆𝑢
poropressão está tão elevada e a correspondente 𝐹𝑆𝑝𝑖𝑐𝑜 = (9)
𝜏𝑒𝑠𝑡á𝑡𝑖𝑐𝑎 +𝜏𝑠í𝑠𝑚𝑖𝑐𝑎 +𝜏𝑜𝑢𝑡𝑟𝑎
resistência ao cisalhamento do material reduzida de
tal forma que o material passa a se comportar como

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74
Se o fator de segurança obtido para todas as fatias compreendido entre 1 e 1,1, indica a possibilidade de
são acima de 1, então o material não apresenta risco deformações e novas análises de estabilidade devem
de liquefação e uma análise pós-liquefação não é ser executadas adotando valores de resistência ao
necessária. Porém, se algumas fatias apresentarem cisalhamento liquefeita para as demais fatias em que
𝐹𝑆 𝑝𝑖𝑐𝑜 menor que 1, então, adota-se a resistência ao 𝐹𝑆 𝑝𝑖𝑐𝑜 for menor ou igual a 1,1. Essa análise irá
cisalhamento liquefeita do material e verifica-se a abordar o efeito de ruptura progressiva no material,
estabilidade pós-liquefação. verificando a possibilidade de ruína do talude devido
O último passo para verificação de liquefação à essas deformações.
pelo método de Olson é a análise de estabilidade pós- O mínimo valor de 𝐹𝑆𝑙𝑖𝑞 é obtido quando, em
liquefação, que permite verificar se as tensões de todas as fatias em que ocorrer o início de liquefação,
cisalhamento excedem a resistência residual do for adotado resistências ao cisalhamento liquefeitas,
material liquefeito. A razão de resistência liquefeita criando assim a condição de ruptura progressiva e
é calculada por meio das equações 10 e 11 abaixo. analisando de forma iterativa o efeito causado por
uma pequena parcela de material impactando em
𝑙𝑖𝑞
𝑆𝑢
= 0,03 + 0,0075[(𝑁1)60 ] ± toda a massa de solo do talude.
σ’v0
0,03 para (𝑁1)60 ≤ 12 (10) 2 METODOLOGIA
𝑙𝑖𝑞
𝑆𝑢
= 0,03 + 0,0143[𝑞𝑐1 ] ± 0,03 para 𝑞𝑐1 ≤ 6𝑀𝑃𝑎 A Figura 1 abaixo traz a seção transversal do estudo
σ’v0
(11) de caso utilizado para as análises propostas. As
informações foram compiladas de Mendes (2019),
que utilizou a seção transversal em questão para
O processo para obtenção do 𝐹𝑆𝑙𝑖𝑞 é análogo ao
realizar análises probabilísticas do potencial de falha
utilizado para as análises de pico, porém, agora,
por liquefação durante a vida útil da estrutura. Uma
adotando-se a resistência cisalhante liquefeita para as
abordagem, portanto, complementar a que se propõe
fatias de solo que apresentaram 𝐹𝑆 𝑝𝑖𝑐𝑜 menor que 1. agora, em que se busca realizar estudos simulando o
Se o valor obtido para 𝐹𝑆𝑙𝑖𝑞 for inferior a 1, verifica- processo de descaracterização de uma barragem
se que haverá fluxo por liquefação e, por dessa natureza.
conseguinte, ruptura da estrutura. Se 𝐹𝑆𝑙𝑖𝑞 está

Figura 1. Seção Típica utilizada.


A Tabela 1, Tabela 2 e Tabela 3 abaixo traz as subsequentes. Apenas os rejeitos apresentam
propriedades de permeabilidade e resistência dos características contráteis, s materiais de fundação,
materiais de fundação, alteamento e rejeito, dados dique de partida e alteamentos não apresentam zonas
que servirão de parâmetros para as análises contrativas.
Tabela 1. Dados de permeabilidade dos materiais.
Legenda Material Modelo Kx (cm/s) Ky/Kx θs θr
-6
Alteamento Saturado/ Não saturado 6,66.10 0,25 0,454 0,04
Areia Saturado 0,01 1 - -
Brita Saturado 15 1 - -
Fundação A Saturado/ Não saturado 1,16.10-4 1 0,614 0,09
-7
Fundação B Saturado 6,39.10 1 - -
Fundação C Saturado 1.10-6 1 - -
Lastro Saturado 0,01 1 - -
-5
Maciço B Saturado/ Não Saturado 1.10 0,25 0,42 0,056

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75
Legenda Material Modelo Kx (cm/s) Ky/Kx θs θr
Maciço C Saturado/ Não Saturado 1.10-5 0,25 0,42 0,056
Maciço D Saturado/ Não Saturado 1.10-5 0,25 0,42 0,056
Reaterro Saturado 4,3.10-5 1 - -
Rejeito A Saturado/ Não Saturado 9,11.10-5 1 0,528 0,08
Rejeito B Saturado/ Não Saturado 4,22.10-6 1 0,576 0,14
Rejeito C Saturado/ Não Saturado 2,25.10-4 1 0,507 0,04

Tabela 2. Coesão e ângulo de atrito dos materiais.


Material γ (KN/m³) CV (γ) σ (γ) (KN/m³) c' (kPa) CV (c’) σ (c’) (kPa) ϕ (°) CV (ϕ) σ (ϕ) (°)
Alteamento 17,9 6% 1,074 29 40% 11,6 22 10% 2,2°
Areia 18,3 6% 1,098 0 40% 0,1 30 10% 3
Brita 20,4 6% 1,224 0 40% 0,1 30 10% 3
Fundação A 15,1 6% 0,906 3 40% 1,2 27 20% 5,4
Fundação B 18,92 6% 1,135 12 40% 4,8 34 20% 6,8
Lastro 21 6% 1,26 14 40% 5,6 23 10% 2,3
Maciço B 19,5 6% 1,17 12 40% 4,8 25,5 20% 5,1
Maciço C 22,52 6% 1,351 12 40% 4,8 35 20% 7
Maciço D 20,91 6% 1,255 51 40% 20,4 35 20% 7
Reaterro 13 6% 0,78 11 40% 4,4 33 10% 3,3

Tabela 3. Peso específico dos rejeitos.


Material γ (KN/m³) CV (γ) σ (γ) (KN/m³)
Rejeito A 25,84 6% 1,55
Rejeito B 25,51 6% 1,53
Rejeito C 25,68 6% 1,54

Os valores de razões de resistência de pico e freática. Com a posição da linha freática definida, foi
liquefeitas utilizados para os rejeitos A, B e C, foram possível atribuir diferentes valores de razão de
adotados conforme apresentado em Mendes (2019). resistência, conforme a Tabela 4, de acordo com a
Tais parâmetros foram calculados a partir de um condição de saturação do material, para os grupos de
banco de dados de resistência de ponta de ensaios análises liquefeitas. Foi também atribuído os valores
CPT por meio das Equações 8 e 11. Os demais de razão de resistência de pico para os grupos de
materiais não foram considerados contrativos, análises de pico.
portanto, seus valores de razão de resistência não são Por fim, a geometria da seção típica foi
apresentados. seccionada, nas regiões com predominância de
A Tabela 4 abaixo apresenta os valores de razões rejeito, em paralelogramos de 10 metros de
de resistência utilizados nas análises. comprimento por 2,5 metros de altura, com
inclinação dos taludes de 1:1. Isso permitiu simular
Tabela 4. razões de resistência de pico e liquefeita. as sucessivas escavações ocorridas durante o
Rejeito A Rejeito B Rejeito C processo de descaracterização da estrutura, tanto no
𝑝𝑖𝑐𝑜 0,3896 0,2217 0,2229
𝑆𝑢 sentido de montante a jusante, quanto no de jusante a
σ’v0 montante. Portanto, foi obtido quatro grupo distintos
𝑙𝑖𝑞 0,3896 0,2217(1) / 0,0479 de análises: análise de pico com escavação de
𝑆𝑢
(2)
σ’v0 0,0467 montante a jusante, análise de pico com escavação de
(1)
Para material acima do nível d’água. jusante a montante, análise liquefeita com escavação
(2)
Para material abaixo do nível d’água. de montante a jusante e análise liquefeita com
escavação de jusante a montante.
Inicialmente, foi realizado uma análise de Foi adotado o modelo de Morgenstern-Price e
estabilidade dos taludes e estudo de percolação da superfícies de pesquisas composta por Grade e Raios
seção transversal que permitiu a obtenção da linha para as análises realizadas. Em posse das análises de
freática e do fator de segurança utilizados como condições iniciais dos quatro grupos supracitados, o
ponto de partida para as análises subsequentes. Foi processo de descaracterização foi simulado, como já
adotado uma coluna d’água na cota de 1299,5 metros, descrito, retirando os paralelogramos da geometria e
como condição de contorno, para a definição da linha realizando uma nova análise. Ao todo, foram
necessárias 200 análises para cada grupo para simular

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76
o processo total de descaracterização da seção constante em todas as análises.
transversal, totalizando 800 análises realizadas. A
Figura 2 exemplifica como foi simulado o processo 3 DISCUSSÃO DE RESULTADOS
de descaraterização no software. O detalhe mostra a
sequência de escavação da seção típica 1 até a 16. A Figura 3 apresenta os dados obtidos na análise
da condição inicial da seção típica. Os resultados
permitem a obtenção do fator de segurança antes do
início do processo de descaracterização, dado de
extrema importância para definição da estratégia de
trabalho a ser adotada, e a linha freática, fator
condicionante para todas as análises subsequentes,
tendo em vista que os parâmetros de resistência dos
rejeitos nas análises liquefeitos variam conforme a
fronteira delimitada pelo nível d’água.

Figura 2 – Exemplo de sequenciamento de


descaracterização com escavação de montante para
jusante, ilustrando as seções típicas de 1 até 16.

Conforme a Figura 2, cada uma das vistas retrata uma


seção típica distinta e sucessiva, em que uma região de 2,5
m de altura por 10 m comprimento e inclinação dos taludes Figura 3. Linha freática e fator de segurança para
de 1:1 é retirada. A imagem retrata a descaracterização condição inicial da seção típica.
ocorrendo de montante para jusante, porém o processo
adotado para o sentido de jusante para montante é análogo. As análises subsequentes apresentaram, em sua
A seção típica 200 simula a completa descaracterização da maioria, fatores de segurança crescentes ao longo da
barragem, em que se utiliza as propriedades de material de simulação de escavação, embora haja uma
reaterro para preenchimento das regiões abaixo da estabilização dos resultados na mesma camada de
topografia original. Mendes (2019) define que com o
escavação. As alterações se observam na transição
Geostudio não é possível utilizar o Método de Olson
conforme originalmente preconizado pelo autor, sendo entre uma camada e outra. Para exemplificar o
necessário adaptá-lo. Isso se deve pois o software não exposto, a Figura 4 e a Figura 5 apresentam os
apresenta a possibilidade de verificação do fator de resultados obtidos para as análises de pico com
segurança fatia por fatia, apresentando apenas um fator de escavação no sentido de jusante para montante das
segurança único para a seção crítica. O fator de segurança seções típicas 14 e 24, que são, respectivamente, a
fatia por fatia permitiria simular o efeito de propagação da primeira e a última etapa de escavação da camada de
liquefação para regiões vizinhas e determinar se a rejeito na elevação de 1302,5 metros.
ocorrência de uma liquefação pontual teria condições de se
espalhar causando uma ruptura global da estrutura. O uso
do Método de Olson adaptado está a favor da segurança,
em que, após o cálculo do fator de segurança global de pico
para a seção, toda a região de rejeito abaixo da linha
freática é submetida a razão de resistência liquefeita,
indicando um fator de segurança menor que caso calculado
fatia por fatia, já que se adota uma resistência menor para
uma região maior da superfície.
Nas análises em que a cota de escavação estava
abaixo de 1299,5 metros, valor definido para a coluna
d’água, foi considerado que o nível d’água coincide Figura 4. Fator de Segurança e superfície de ruptura da
com a cota de escavação. Essa hipótese foi adotada Seção Típica 14 para a análise de pico com escavação no
pois sistemas de bombeamento devem ser sentido de jusante para montante.
responsáveis por manter a praça de trabalho seca. A
razão de resistência dos materiais foi considerada

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77
Figura 5. Fator de Segurança e superfície de ruptura da Figura 6. Fator de Segurança e superfície de ruptura da
Seção Típica 24 para a análise de pico com escavação no Seção Típica 26 para a análise de pico com escavação no
sentido de jusante para montante. sentido de jusante para montante.

A Figura 6 representa a seção típica 26 do mesmo Já na camada seguinte, esse valor apresenta um
grupo de análise supracitado. Essa seção é a primeira acréscimo de 7,5%, com Fator de Segurança obtido
etapa de escavação da cota de 1300 metros, já que a igual a 1,348. Verifica-se que, a partir da elevação de
seção típica 25, não representada, simula a escavação 1300, a estrutura apresenta fatores de segurança
de um alteamento da barragem. Portanto, observa-se maiores que 1,3, valor definido pela ANM como
que o Fator de Segurança ao longo de toda a cota de critério mínimo de projeto para estruturas de
escavação de 1302,5 metros para as análises de pico barramento de rejeitos. Além disso, os fatores de
no sentido de jusante para montante é constante e segurança acima de 1 indicam que eventuais gatilhos
igual a 1,254. Outra inferência realizada é que as não irão disparar a liquefação, conforme definido
superfícies de ruptura para as análises de mesma pelo Método de Olson.
camada são bastante próximas, passando por regiões A Figura 7 abaixo compila em um gráfico os
compostas pelos mesmos materiais. Fatores de Segurança obtidos. Os resultados foram
divididos em 4 grupos, os mesmos estabelecidos para
as famílias de análises.

3
2,5
Fator de Segurança

2
1,5
1
0,5
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Número da seção típica

Análise de Pico com escavação de montante para jusante


Análise Liquefeita com escavação de montante para jusante
Análise de Pico com escavação de jusante para montante
Análise Liquefeita com escavação de jusante para montante

Figura 7. Fatores de Segurança ao longo da descaracterização da barragem.

O método de Olson, como explicitado, define que, que as análises liquefeitas apresentam fatores de
como todas as análises de pico, em ambos os sentidos segurança menores que 1. Essa seção típica está na
de escavação, apresentam fatores de segurança acima cota 1295 metros.
de 1, não há possibilidade de disparo de gatilho de A Figura 7 também permite inferir que as análises
liquefação para carregamento estático. Caso a com escavação de montante para jusante, tanto
liquefação fosse ativada, observa-se que haveria utilizando razão de resistência de pico quanto
ruptura por fluxo de liquefação nas escavações até, liquefeita, apresentam fatores de segurança
aproximadamente, a seção típica de número 60, em ligeiramente superiores que no sentido de jusante

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78
para montante. O resultado obtido está em contramão
ao observado em campo. Usualmente, as
descaracterizações de barragens de rejeito iniciam-se
na região do alteamento e prosseguem até o limite da
estrutura, ou seja, no sentido de jusante para
montante. Essa tomada de decisão, à primeira vista
contrária a segurança das estruturas, se analisado
puramente os resultados apresentados na Figura 7,
se deve graças aos estudos realizados em projetos de
descaracterização de barragens de rejeito a montante
para tensão-deformação. Figura 9. Fator de Segurança e superfície de ruptura da
As peculiaridades das estruturas definem a Seção Típica 65 para a análise de pico com escavação no
necessidade de estudos caso a caso, bem como uma sentido de montante para jusante.
visão ampla do cenário. A estabilidade de talude é um
fator de extrema importância para a segurança de As Figura 8 e Figura 9 apresentam cunhas de
barramentos, mas há outros atributos que devem ser ruptura em regiões diferentes do talude, o que explica
levados em consideração e que embasam a execução o resultado observado. Na camada de escavação
de alternativas distintas. Nesse caso, como a alocada na cota de 1295 metros verifica-se uma
diferença do Fator de Segurança para metodologias superfície de ruptura mais localizada e profunda, na
distintas é de apenas, em média, de cerca de 1%, os região da crista da barragem e com Fator de
resultados de tensão-deformação, características Segurança de 2,231.
logísticas do site e construtibilidade são fatores que Já na Figura 9, com escavação na cota de 1292,5
irão determinar a metodologia de descaracterização metros, verifica-se que com a retirada do material
da estrutura. alocado na elevação de 1295 metros, há um rearranjo
Alguns resultados apresentados pela Figura 7 no equilíbrio de forças da seção, alterando a
fogem da tendência observada para as demais superfície de ruptura para a região do pé do talude,
análises. Observa-se, por exemplo, um brusco onde há predominância de outros materiais, com
aumento e depois uma queda no Fator de Segurança características dos solos distintas. Isso acarreta uma
entre as análises de pico 45 e 60, para as duas cunha de ruptura mais superficial e com o Fator de
metodologias de escavação. Esse fenômeno é Segurança menor, na ordem de 1,813.
observado na elevação de 1295 metros. Outro ponto de atenção observado na Figura 7 é a
As Figura 8 e Figura 9 apresentam o Fator de divergência, na ordem de 50%, entre os resultados
Segurança e superfície de ruptura das análises de pico apresentados na cota de 1292,5 para as análises
com escavação de montante para jusante das seções liquefeitas com escavação no sentido de montante a
típicas 55 e 65, respectivamente. A partir dessas jusante e no sentido de jusante para montante. As
figuras é possível determinar o porquê tais resultados Figura 10 e Figura 11 apresentam o Fator de
foram observados. Verifica-se também que o Segurança e superfície de ruptura das análises
fenômeno avaliado para a escavação no sentido de liquefeitas com escavação de montante para jusante e
montante para jusante também é valido para o sentido jusante para montante, respectivamente, da Seção
de jusante para montante. típica 65.

Figura 8. Fator de Segurança e superfície de ruptura da


Seção Típica 55 para a análise de pico com escavação no
Figura 10. Fator de Segurança e superfície de ruptura da
sentido de montante para jusante. Seção Típica 65 para a análise liquefeita com escavação
no sentido de montante para jusante.

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79
e geomorfológicas da região. É necessário inspeção e
monitoramento das estruturas descaracterizadas, de
modo a garantir sua segurança e eficiente gestão de
risco das estruturas.

6 REFERÊNCIAS

ABMS. (2022). Nota Técnica n° 001/2022 - Prazo Para


Descaracterização De Barragens De Mineração
Construídas Pelo Método À Montante.
ANM. (2022). Report trimestral de Descaracterização de
Figura 11. Fator de Segurança e superfície de ruptura da
Barragens a montante.
Seção Típica 65 para a análise liquefeita com escavação
https://app.dnpm.gov.br/Sigbm/publico. Acessado em
no sentido de jusante para montante.
29/11/2022.
ANM. (2023). Resolução ANM Nº 130, de fevereiro de
Observa-se também arranjos distintos entre uma 2023. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-
seção e outra que acarretam equilíbrios de forças anm-n-130-de-24-de-fevereiro-de-2023-466161726.
diferentes. A escavação de jusante para montante Acessado em 29/04/2023.
possui a superfície de ruptura passando em camadas Brasil. (2010). Lei No 12.334, de 20 de setembro de 2010.
de rejeito com razão de resistência liquefeita, Estabelece a Política Nacional de Segurança de
portanto, menos resistentes, o que ocasiona no Fator Barragens destinadas à acumulação de água para
de Segurança igual a 1,173. Já no outro sentido, a quaisquer usos, à disposição final ou temporária
cunha de ruptura passa por uma região com solos de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais,
cria o Sistema Nacional de Informações sobre
mais resistentes, portanto, apresenta Fator de
Segurança de Barragens e altera a redação do art. 35 da
Segurança maior, de 1,808. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do art. 4o da
Nas camadas de escavação subsequentes, Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000.
verifica-se, pela Figura 7 uma aproximação dos Brasil. (2020). Lei N° 14.066, de 30 de setembro de 2020.
resultados das análises de pico e liquefeitas. Isso se Altera a Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, que
deve, pois, as superfícies de ruptura não passam por estabelece a Política Nacional de Segurança de
camadas de rejeito, ficando restritas apenas ao dique Barragens (PNSB), a Lei nº 7.797, de 10 de julho de
de partida da barragem. Portanto, a resistência do 1989, que cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente
rejeito não influencia no fator de segurança e os (FNMA), a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que
resultados convergem. institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e o
Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967 (Código
de Mineração).
5 CONCLUSÃO Fear, C.E. & Robertson, P.K. (1995). Estimating the
undrained strength of sand: a theoretical framework.
Os resultados obtidos permitiram inferir que a Can. Geotech. J., 32(5): 859–870.
escavação da estrutura como metodologia de Mendes, L.O. (2019). Análise Probabilística Do Potencial
descaracterização de barragem de rejeitos apresenta De Falha Por Liquefação Estática E Dinâmica De
bons resultados quanto a possibilidade de fluxo por Barragens. Universidade de Brasília.
liquefação. Para a seção típica inicial utilizada, o Morgenstern, N.R., Vick, S.G., Viotti, C.B. & Watts, B.D.
sentido de escavação não influenciou (2016). Relatório sobre as causas imediatas da ruptura
significativamente nos Fatores de Segurança obtidos, da barragem de fundão: 95.
Olson, S. (2001). Liquefaction analysis of level and
porém é necessário análises mais abrangentes e
sloping ground using field case histories and
considerando outras características das estruturas penetration resistance: 564.
para tomadas de decisões. Robertson, P.K., Melo, L. D, Williams, D.J. & Wilson,
As metodologias de descaracterização de G.W. (2019). Relatório do painel de especialistas
barragens de rejeito apresentadas requerem especial sobre as causas técnicas do rompimento da barragem
atenção nas primeiras camadas de escavação. Nessas I do córrego do feijão (versão em português): 88.
etapas são onde verifica-se maior variabilidade dos
resultados e fatores de segurança menores.
Por fim, verifica-se que o processo de
descaracterização de barragens de rejeitos ainda
apresenta algumas indefinições, com premissas que
variam muito conforme a estrutura e região em que o
complexo minerário está inserido, da disponibilidade
de recursos financeiros e características hidrológicas

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80
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Processo de Rebaixamento do Nível de Água de uma Barragem a


Montante Alteada a Montante Visando a Descaracterização
Juliana de Paula Rezende
CSN Mineração, Congonhas, Brasil, juliana.rezende@csn.com.br

Henrile Pinheiro Meireles


CSN Mineração, Congonhas, Brasil, henrile.meireles@csn.com.br

Diego Hilario Teixeira


CSN Mineração, Congonhas, Brasil, diego.teixeira.dt1@csn.com.br

RESUMO: Esse estudo diz respeito a uma barragem a montante alteada pelo método de montante que está passando por
ações de estabilização para posteriormente ser descaracterizada. O projeto de estabilização dessa estrutura prevê o rebai-
xamento do nível d’água no reservatório, de forma gradativa, até que os fatores de segurança em todos os cenários da
estrutura estejam acima dos limites definidos pela legislação. Foram realizadas simulações de rebaixamento do nível
d’água, em modelo hidrogeológico numérico, levando em consideração o efeito do bombeamento contínuo de 4 poços
tubulares profundos com rendimentos variando de 4 a 9 m³/h, estando os filtros dos poços instalados no substrato rochoso
subjacente à estrutura, visando a utilização de camadas de maior permeabilidade. Além disso, foram realizadas escavações
no reservatório da estrutura (canais drenantes) que conduzem o fluxo para um sump a montante da estrutura. O rebaixa-
mento por meio dos poços influencia diretamente a região da ombreira direita e as valas drenantes a área da ombreira
esquerda. Ressalta-se que o cone de rebaixamento teve influência tanto das vazões de bombeamento quanto do rebaixa-
mento dos sistemas de drenagens implantados a montante e na ombreira esquerda da barragem. Notou-se que os níveis
d’água registrados nos instrumentos apresentaram um comportamento de rebaixamento de nível d’água sem variações
sazonais, indicando a eficiência do avanço das escavações no reservatório e da operação dos poços profundos. Destaca-
se, que esse rebaixamento considerável de nível d’água dos instrumentos ao longo do tempo vêm refletindo positivamente
na evolução dos fatores de segurança da estrutura.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, descaracterização, poços profundos, trincheiras drenantes.

ABSTRACT: This study concerns a tailings dam raised by the upstream method that is undergoing stabilization actions
to later be de-characterized. The stabilization project for this structure provides for the gradual lowering of the water level
in the reservoir, until the safety factors in all scenarios of the structure are above the limits defined by legislation. Water
level lowering simulations were carried out, in a numerical hydrogeological model, taking into account the effect of
continuous pumping from 4 deep tubular wells with yields ranging from 4 to 9 m³/h, with the well filters installed in the
underlying rocky substrate to the structure, aiming at the use of layers with greater permeability. In addition, excavations
were carried out in the structure's reservoir (drainage channels) that lead the flow to a sump upstream of the structure.
The lowering through the wells directly influences the right abutment region and the draining ditches the left abutment
area. It should be noted that the lowering cone was influenced by both the pumping flows and the lowering of the drainage
systems installed upstream and on the left abutment of the dam. It was noted that the water levels recorded in the
instruments showed a behavior of lowering the water level without seasonal variations, indicating the efficiency of the
advance of the excavations in the reservoir and the operation of the deep wells. It is noteworthy that this considerable
lowering of the water level of the instruments over time has been positively reflecting on the evolution of the structure's
safety factors.

KEY WORDS: Stabilization, de-characterization, deep wells, draining trenches.

1 INTRODUÇÃO em forma de polpa, em geral, exige grandes áreas


para efetuar a disposição e apresenta grande impacto
A metodologia tradicional de disposição de rejeitos ambiental e, por isso, as empresas têm maiores

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81
dificuldades para a realização de novos artigo mostra os estudos hidrogeológicos referentes à
licenciamentos. No processo convencional de realização de simulações de rebaixamento do nível
disposição de rejeitos a polpa (lama) é lançada d’água, em modelo hidrogeológico numérico, do
diretamente nas barragens. reservatório da estrutura, conforme projeto e
Com os desastres socioambientais ocorridos em premissas estabelecidas pelas empresas envolvidas.
Bento Rodrigues e em Brumadinho nos anos de 2015 Esse estudo conta com a implantação de 61 poços de
e 2019, respectivamente, ambos decorrentes do baixa vazão e 3 poços profundos com vazão superior.
rompimento de barragens de rejeito a montante da Por medida de segurança, inicialmente foram
mineração, evidenciaram a necessidade da adoção, instalados 3 poços profundos no reservatório da
tanto pelo poder público quanto pela iniciativa estrutura obtendo-se resultados extremamente
privada, de medidas eficazes destinadas ao positivos em relação ao rebaixamento. Porém, com o
encerramento planejado da atividade minerária, tempo esses poços criaram uma condição de
obedecendo os princípios do desenvolvimento equilíbrio, tendo-se, portanto, a necessidade de
sustentável. implantação de um 4º poço profundo. Esse
Desde 2019 a construção de novas barragens de procedimento está sendo executado com cautela,
contenção de resíduos de mineração com alteamento visto que o rebaixamento rápido poderia desencadear
a montante está suprimida e a Agência Nacional de um gatilho de instabilidade na estrutura.
Mineração (ANM) passou a exigir a O modelo numérico foi construído em
descaracterização das já existentes, com base na MODFLOW 6 (Langevin et al. 2021) utilizando-se
legislação vigente. das plataformas ModelMuse e Flopy (Bakker et al.,
Para fins de atendimento aos critérios 2016). O Software MODFLOW 6 resolve as
estabelecidos pela resolução nº 13 da ANM para equações de fluxo saturado subterrâneo através do
descaracterização de estruturas com alteamento a método de diferenças finitas. A escolha pelo
montante, o projeto de descaracterização de uma programa se deu pela sua facilidade de montagem do
barragem consiste na remoção completa ou parcial modelo e geração de malhas avançadas, o que
dos diques alteados por montante e do reservatório, permitiu a confecção de um modelo dinâmico,
garantindo a sua estabilidade e segurança conforme passível de alterações contínuas e cujo grau de
critérios definidos no Termo de Referência. Porém, detalhamento fosse o ideal para estudo de fluxo
para que seja dado início a essas obras a estrutura subterrâneo em barragens de rejeito.
deve-se apresentar estável com os fatores de Foram realizadas simulações a partir do modelo
segurança acima do permitido por legislação. Para numérico, de modo a garantir que o rebaixamento da
que as estruturas sejam consideradas estáveis, estas superfície freática atinjisse a cota desejada, ou que tal
devem apresentar coeficientes de segurança superfície estivesse abaixo do maciço. O estudo foi
superiores ao mínimo recomendado, atendendo assim executado tomando como base as 6 seções
a ABNT NBR 13.028, de novembro de 2017. instrumentadas da barragem de montante a jusante
Diante do exposto e seguindo as diretrizes comparando-se o nível d’água atual, o nível d’água
preconizadas pela Resolução n° 95/2022, a estrutura simulado e o target para o projeto. Notou-se que o
citada nesse estudo é classificada em nível de nível d’água registrado nos instrumentos
emergência 2 (NE2) em decorrência do Fator de apresentaram um comportamento de rebaixamento
Segurança não drenado de pico estar entre 1,0 e 1,2 de nível d’água sem variações sazonais, indicando a
para algumas seções analisadas. eficiência do avanço das escavações no reservatório
O processo de descaracterização dessa estrutura e da operação dos 4 poços tubulares profundos,
está vinculado as condicionantes de segurança refletindo positivamente na evolução dos fatores de
previstas pela Agência Nacional de Mineração segurança da estrutura.
(ANM). Em razão disso, primeiramente foi
necessário realizar a estabilização dessa estrutura
para que fossem iniciadas as obras de 2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE
descaracterização com a remoção dos alteamentos, ESTUDO
conforme previsto no projeto. O projeto de
estabilização prevê o rebaixamento do nível d’água 2.1 Descrição da estrutura
no reservatório, de forma gradativa, até que os fatores
de segurança em todos os cenários da estrutura A Tabela 1 mostra as principais características
estejam acima dos limites definidos pela norma e construtivas da barragem considerada nesse estudo.
legislação.
Dentro dessa perspectiva e objetivando a
estabilização com vistas a descaracterização, este

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82
Tabela 1. Características construtivas da estrutura semelhantes.
Características da Barragem
O Software MODFLOW 6 resolve as equações de
fluxo saturado subterrâneo através do método de
Construída a montante com
Método Construtivo
alteamento a Montante
diferenças finitas. A escolha pelo programa se deu
Material acumulado no reservatório Rejeito pela sua facilidade de montagem do modelo e
Altura máxima (m) 33,0
geração de malhas avançadas, o que permitiu a
Comprimento da crista (m) 650,0
confecção de um modelo dinâmico, e passível de
alterações contínuas e detalhado.
Largura da crista (m) 4,0 a 5,0
O fluxo d’água subterrâneo pode ser representado
Volume do aterro estimado (m³) 413.675,0
Capacidade do reservatório até o NA
numericamente segundo dois regimes de
6.700.000,0 escoamento: permanente (Steady State) ou transiente
Normal (m³)
Área do reservatório (m²) 251.300,0 (Transient). No regime permanente predomina uma
N.A normal do reservatório (m) 931,76 condição de equilíbrio para o aquífero, não havendo
variações das propriedades hidrodinâmicas e
A Figura 1 apresenta a localização das seções condições de contorno ao longo do tempo. No regime
geotécnicas de interesse para avaliação da estrutura, transiente, simula-se o aquífero em estado de não
que foram utilizadas para subsidiar os estudos equilíbrio, considerando as variações das
hidrogeológicos. propriedades hidrodinâmicas e condições de
contorno em relação ao tempo.
O cenário inicial, representado pela situação onde
não há nenhuma infraestrutura de rebaixamento do
nível freático foi simulado em modo estacionário
(Steady-State).
Esses estudos hidrogeológicos foram realizados
com o intuito de simular o rebaixamento do nível
d’água, em modelo hidrogeológico numérico, do
reservatório de uma barragem a montante alteada a
montante, após a instalação de poços tubulares
profundos no reservatório dessa estrutura. A
princípio foram instalados 3 poços e a medida que
verificou-se o estágio de equilíbrio desse sistema, foi
instalado um 4º poço de maneira a intensificar o
Figura 1. Localização das seções da Barragem.
processo de rebaixamento.
Com o auxílio dos dados da geofísica, foi possível
A barragem considerada nesse estudo apresenta fazer uma recomposição da topografia pelo método
acessos conservados e em condições adequadas de de indução polarizada de forma a mapear o talvegue
operação das obras de estabilização. Inclusive, os e com isso ter uma maior precisão da locação mais
registros da instrumentação indicam uma resposta viável dos poços tubulares profundos visando o
positiva às obras de estabilização que estão em rebaixamento do nível freático na estrutura. Entende-
andamento, visto que os instrumentos estão se que esses poços interceptam o aporte do fluxo
diminuindo a carga piezométrica concomitante as hidráulico interno proveniente da contribuição do
escavações e rebaixamento do nível d’água. córrego Fazenda Velha.

3 MODELO HIDROGEOLÓGICO NUMÉRICO 4 METODOLOGIA DE ESTUDO

O Modelo numérico foi construído em MODFLOW 4.1 Limites e malha numérica


6 (Langevin et al. 2021) utilizando-se das
plataformas ModelMuse e Flopy (Bakker et al., A partir dos dados históricos, do modelo
2016). As referidas plataformas permitem a interface hidrogeológico conceitual e objetivos do modelo
de diversas soluções open-source desenvolvidas em numérico foram definidos os limites do modelo
python ou outras linguagens para interação com o numérico, apresentado na Figura 2.
modelo e permitiram a extração de dados do modelo
nas seções de interesse e demais dados que seriam
obtidos com maior dificuldade em plataformas

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83
A partir da definição do limite do modelo, as células
do grid que se encontravam fora do limite foram
inativadas (Figura 4).

Figura 2. Limite do modelo numérico no entorno da


Barragem. Condições No-Flow representadas pela linha
vermelha e fluxo constante pela linha azul.

Os limites do modelo foram definidos conforme


modelo conceitual da área, e se propõe a representar Figura 4. Células Inativas do modelo numérico.
os limites hidrogeológicos das linhas de fluxo que
interagem próximo da barragem. Os limites superior, 4.2.2 Drenos ou Rivers
inferior e leste, representam divisores de bacias
hidrográficas e foram considerados como limites no- Os córregos e ribeirões que coincidem com a área do
flow. O limite Oeste representa o limite da Formação modelo foram modelados como drenos. Isso está de
Moeda com o filito batatal, uma unidade considerada acordo com o fato de na região, as águas superficiais
aquíclude para o modelo em questão, sendo serem alimentadas pelo fluxo de base subterrâneo.
considerado novamente como no-flow. O limite As estruturas de drenagem interna da barragem
nordeste, é caracterizado pela presença de uma lagoa (tapete de fundo, drenos subsuperficiais nas bermas)
e um córrego e foram simulados como limite de carga foram também representadas por drenos assinalados
constante, representando a saída de água do modelo. de acordo com informações de projeto. A Figura 5
O grid do modelo numérico foi construído com 30 ilustra como as drenagens foram representadas no
linhas e 30 colunas de 50 m e rotacionado para que modelo numérico e a Tabela 2 apresenta os
as faces dos blocos coincidissem com as direções parâmetros adotados para as drenagens como
principais de fluxo, que no caso, são nordeste, condutância.
sudoeste. Na região da barragem, a malha foi refinada
em 4x para uma resolução de blocos de 12,5m
(Figura 3).

Figura 3. Grid do Modelo Numérico.


Figura 5. Representação das drenagens no modelo
4.2 Condições de Contorno numérico.

4.2.1 Células Inativas

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84
quartzito Moeda, onde há maior fraturamento e
Tabela 2. Parâmetros adotados na discretização dos drenos expectativa de maior recarga, nas fraturas
no modelo numérico. interconectadas do xisto Nova Lima, de recarga baixa
a intermediária e na zona do reservatório da
de contorno
Condições

Condutância
Carga
linear ou por
barragem, de baixíssima recarga. A Tabela 4
NOME hidráulica apresenta as taxas de recarga utilizadas no modelo
área
(m)
(m2/dia/m) numérico das unidades hidrogeológicas adotadas e a
Córregos Indiscriminados Figura 7 apresenta sua disposição no modelo
(Incluindo Fazenda Velha e 1160 a 820 0,5
Trovões numérico.
Drenos (Drains)

Drenagem Tapete Direita 901 0,01


Drenagem Tapete Esquerda 903 0,01 Tabela 4. Recargas das unidades hidrogeológicas
Drenagem Subsuperficiais
Topo do definidas.
Modelo – 0,5 1
(canaletas subterrâneas) Taxa de Taxa de
m Unidades de Recarga
Dreno de Fundo – captação de Topo do
Recarga (mm) Recarga (%)
5
nascentes no talude Modelo – 2 m Quartzito 547.5 36
Xisto 292 19
Área da Barragem 36.5 2
4.2.3 CHD (Constant Head)

Valores de carga constante (Tabela 3) foram


assinalados ao reservatório e ao córrego à nordeste da
barragem, que limitam o modelo (Figura 6).

Tabela 3. Parâmetros adotados na condição Constant


Head.
Condições de
Nome Carga hidráulica (m)
contorno
Carga Córrego 830 a 815
Constante Reservatório- Água 850

Figura 7. Recargas discretizadas no modelo numérico.

4.2.5 Propriedades Hidrodinâmicas

Conforme o modelo conceitual, perfis geológicos


geotécnicos e ensaios de permeabilidade disponíveis,
foram definidas as seguintes unidades:
• Quartzito: Região do Quartzito Moeda –
Aquífero
• Xisto Fraturado: Região do Xisto Nova Lima
- Aquífero
• Xisto Alterado - Aquífero
• Rejeito S1/S2: Porção superior do rejeito de
Figura 6. Localização da condição de Constant Head no composição silte-argilosa - Aquitarde
modelo numérico. • Rejeito B1/B2 porção grosseira - Aquitarde
• Rejeito S3 - Aquitarde
• Aterro: Porção do talude da barragem -
4.2.4 Recarga Aquitarde
Os valores de permeabilidade foram definidos
A recarga das unidades hidrogeológicas foram com base em valores da literatura (Mourão, 2005) e
definidas pela calibração e ajuste, partindo-se de médias dos ensaios de permeabilidades realizados na
referências bibliográficas como Mourão (2005). Com barragem.
base na hidrogeologia, três zonas foram definidas, o A Tabela 5 apresenta as unidades hidrogeológicas

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85
discretizadas no modelo numérico, bem como os
valores de condutividade hidráulica encontrados na
calibração do modelo numérico.

Tabela 5. Condutividades hidráulicas das unidades


hidrogeológicas do modelo numérico.
K (m/dia)
UNIDADES
HIDROGEOLÓGICAS Kx Ky Kz
(m/dia) (m/dia) (m/dia)
Quartzito - Moeda 0.3 0.3 0.3
Figura 11. Condutividades Hidráulicas, em planta, camada
Xisto – Nova Lima 0.086 0.086 0.086 01.
Xisto Alterado 0.166 0.166 0.166
Rejeito S3 0.17 0.17 0.17 4.3 Zonas de Balanço
Rejeito S1/S2 0.007 0.007 0.007
Como não era possível de se discriminar a relação de
Rejeito S1/S2 Grosseiro 0.06 0.06 0.06
vertedouros para cada feição de dreno, foi
Aterro 0.0013 0.0013 0.0013 considerada uma única zona de balanço no maciço
representando todas as feições de descarga por
A Figura 8 e a Figura 9 apresentam a visualização drenos no aterro. Posteriormente a soma dos valores
3D e em perfil, respectivamente, da discretização das médios dos vertedouros foi utilizada para
zonas de condutividade hidráulica no modelo comparação.
numérico. A Figura 10 apresenta a discretização das
unidades em perfil com enfoque na área do maciço
da Barragem e a Figura 11 a representação em planta 5 RESULTADOS
do modelo, na camada 01.
5.1 Resultados da calibração em regime permanente

O processo de calibração do modelo numérico,


conforme citado anteriormente, é caracterizado por
ser um progresso contínuo na avaliação dos
resultados gerados pelo modelo (output) frente aos
dados de entrada (input), tais como condutividade
hidráulica, carga nos instrumentos e recarga.
Desta forma, trabalha-se com o ajuste desses
valores e utiliza-se os dados de entrada para balizar
os resultados do modelo. Os valores de condutividade
Figura 8. Visualização 3D das condutividades hidráulicas
hidráulica, taxas de recarga, algumas características
do modelo numérico. estruturais e representação de sistemas de drenagem
foram alterados para alcançar uma configuração final
que fornecesse uma relação próxima aos parâmetros
de referência (piezômetros, indicadores de nível
d’água e vazões aferidas).
A partir da validação da calibração do modelo
numérico, gerou-se a potenciometria a partir do
desenvolvimento do modelo, representado na Figura
12.
Figura 9. Visualização em perfil das condutividades
hidráulicas do modelo numérico.

Figura 10. Perfil condutividades hidráulicas - Enfoque na


região das barragens

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86
Figura 12. Potenciometria gerada na calibração do modelo
numérico. Figura 13. Locação dos poços de rebaixamento e sistemas
de drenagens
5.2 Simulação do modelo numérico
Dos 04 poços instalados no reservatório da
A simulação em regime transiente foi realizada após barragem, 02 poços (PT-02 e PT-04) estão atuando
a calibração do modelo em regime estacionário. na porção central da barragem. Com o auxílio dos
Em regime transiente é necessário adicionar dados dados da geofísica, entende-se que esses poços
de armazenamento do aquífero. Para o modelo em interceptam o aporte do fluxo hidráulico interno
questão foi definido os seguintes valores de proveniente da contribuição do córrego Fazenda
armazenamento específico (Ss) e capacidade Velha.
específica (Sy). Associado ao desempenho dos poços de
Foi adotado o valor de 0,0001 para a capacidade rebaixamento, foram utilizados sistemas de controle
específica. Porém como o interesse do estudo é o de chuva. Esses sistemas são representados por um
rebaixamento do nível freático, esse parâmetro é sump principal, no extremo montante do reservatório
pouco influente à diferença de nível e a alteração na que tem a função de acumular o aporte da água
coluna d’água será principalmente influenciada pelo subsuperficial, que posteriormente é bombeada para
parâmetro capacidade específica. o canal periférico, dessa forma, auxiliando na
Partindo-se de valores de capacidade específica na redução do aporte de água para estrutura,
literatura de 20% para silte e 6 % para argila (Morris minimizando a saturação do rejeito, e
e Johnson, 1967), adotou-se o valor intermediário de consequentemente, no rebaixamento do nível d’água
15% para os rejeitos da barragem. Considerando a do reservatório.
baixa permeabilidade encontrada para o rejeito, Além disso, foram escavados canais drenantes
pode-se considerar esse valor de 15% sendo que promovem a evolução do rebaixamento na região
conservador ao rebaixamento, já que depósitos do reservatório. Esses canais estão localizados na
argilosos tendem a ter uma capacidade específica ombreira esquerda, direcionando as contribuições
baixa. provenientes da pluviometria para o sump principal
A estratégia inicial para rebaixamento da freática interrompendo a alimentação de contribuições da
foi a locação de 3 poços profundos com rendimentos ombreira esquerda devido aos quartzitos fraturados
de bombeamento variando de 4 a 9 m³/h, estando os estando associados ao bombeamento constante do
filtros dos poços instalados no substrato rochoso poço tubular PT-01.
subjacente à estrutura, visando a utilização de
camadas de melhor permeabilidade para 5.3 Síntese dos dados obtidos na simulação
rebaixamento das condições no rejeito. Porém, com
o tempo esses poços criaram uma condição de Levando em consideração os níveis dinâmicos
equilíbrio, tendo-se, portanto, a necessidade de (ND’s) dos poços, pode-se observar que o cone de
implantação de um 4º poço profundo, a seguir segue rebaixamento dos poços PT-02 e PT-04 influenciam
a Figura 13 da locação dos poços existentes. Esse diretamente nas seções BB, CC e DD do maciço da
procedimento está sendo executado com cautela, barragem. Ressalta-se que esse cone de rebaixamento
visto que o rebaixamento rápido poderia desencadear tem influência tanto das vazões de bombeamento
um gatilho de instabilidade na estrutura. quanto do rebaixamento dos sistemas de drenagens
(canais escavados e sumps) implantados no extremo
montante e na ombreira esquerda da barragem.

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87
Observa-se essa evolução do rebaixamento nas instalados no substrato rochoso subjacente à
Figuras 14 e 15, as quais contemplam os cenários da estrutura, visando a utilização de camadas de melhor
linha freática antes da execução dos poços permeabilidade, se mostrou bastante eficiente no que
(09/09/2021), após a instalação dos 03 poços diz respeito ao rebaixamento do nível freático e
(01/06/2022) e após a instalação do poço PT-04 consequentemente no incremento dos fatores de
(06/09/2022). segurança das seções de análise que compõem a
Já para as seções E e F, que estão na borda leste estrutura.
da barragem, a evolução do rebaixamento é A eficiência dos poços tubulares é efetivada ao
proporcionada pelos canais escavados drenantes longo da operação dos mesmos, fato comprovado
localizados na ombreira esquerda da estrutura. com implementação do poço PT-04 que provocou a
Em caráter complementar, temos que a evolução continuidade do rebaixamento do nível de água dada
do rebaixamento da freática dos instrumentos locados a situação de estabilidade de capacidade máxima
no reservatório da barragem (extremo montante) e na obtida com os três primeiros poços e irrefutável o
área de escavação da Fase III, ocorre devido ao rebaixamento da freática nas seções da ombreira
rebaixamento do sump principal. esquerda em decorrência da vala de rebaixamento.
Desta forma é inquestionável que a associação de
remoção de material da barragem e os poços é uma
associação necessária para a estabilização da referida
barragem do estudo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a empresa CSN Mineração


pelo financiamento desse estudo e por conceder essas
Figura 14. Evolução do rebaixamento – Seção BB. informações a fim de divulgar o procedimento de
rebaixamento de uma barragem.

REFERÊNCIAS

ANM (2019). Resolução Nº 13. Agência Nacional de


Mineração, 8 de agosto.
ABNT (2017). NBR 13.028: Mineração – Elaboração e
apresentação de projeto de barragens para disposição
de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de
Figura 15. Evolução do rebaixamento – Seção CC. água – requisitos, Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
ANM (2022). Resolução nº 95, Agência Nacional de
6 CONCLUSÕES Mineração, 07 de fevereiro de 2022, publicada no
Diário Oficial da União nº 35, 18 de fevereiro.
Alkmim, F. (2018). História Geológica de Minas Gerais.
Este artigo mostra um compilado a respeito dos Ouro Preto - MG.
estudos hidrogeológicos, referente à realização de Langevin, C. H. (2021). MODFLOW 6 Modular
simulações de rebaixamento do nível d’água do Hydrologic Model version 6.2.2: U.S. Geological
reservatório da barragem concluindo-se que: Survey Software Release.
Os dados compilados para realização dos M. Bakker, V. P. (2016). Scripting MODFLOW Model
trabalhos se mostraram suficientemente numerosos e Development Using Python and FloPy. Groundwater.
de qualidade para constatar o rebaixamento do NA Mourão, M. A. (2005). Caracterização hidrogeológica do
dentro do rejeito com o uso de poços tubulares Aquífero Cauê, Quadrilátero Ferrífero - MG. Tese de
profundos, no qual os poços PT-02 e PT-04 Doutorado - UFMG.
Morris, D. A. & Johnson, A.I. (1967). Summary of
interceptam os cones de rebaixamento com forte
Hydrologic and Physical Properties of Rock and Soil
atuação no NA das seções BB, CC e DD, bem como Materials, as Analyzed by the Hydrologic Laboratory
é observado o cone do poço PT-04 atingindo o of the U.S. Geological Survey.
reservatório da barragem situada a jusante.
A estratégia geral para o rebaixamento, a partir da
locação de 04 poços profundos (rendimento de
bombeamento variando de 4 a 9 m³/h), com filtros

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88
TEMA 4: ESTÉREIS DE MINERAÇÃO, RESÍDUOS SÓLIDOS
(INDUSTRIAIS, URBANOS E DE CONSTRUÇÃO
DEMOLIÇÃO) E REJEITOS: CARACTERIZAÇÃO
TECNOLÓGICA, REÚSO E DISPOSIÇÃO

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$QDOLVLVGHO&RPSRUWDPLHQWR0HFiQLFRHQOD5HVLVWHQFLD
DO&RUWHGHXQ6XHOR)LQR&RQ$GLFLyQGH)LEUDV3HW

Maria Paula Salazar Susunaga


Docente, Universidad de Ibagué, Ibagué, Colombia, maria.salazar@unibague.edu.co

Erika Lorena Sánchez González


Estudiante, Universidad de Ibagué, Ibagué, Colombia, 2520151055@estudiantesunibague.edu.co

José Francisco Catañeda Delgado


Estudiante, Universidad de Ibagué, Ibagué, Colombia, 2520142073@estudiantesunibague.edu.co

RESUMEN: Desde hace más de medio siglo, han aumentado las investigaciones sobre el comportamiento del
suelo con diferentes tipos de adiciones fibrosas. Tanto sintéticas como naturales para el refuerzo de suelos
finos, los cuales comúnmente poseen baja resistencia al corte. En la actualidad la constante evolución en lo
que concierne a las características químicas de dichas adiciones, ha hecho posible el desarrollo de nuevas fibras
a base de polímeros como técnicas de mejoramiento de suelos aplicadas a la ingeniería geotécnica; teniendo
en cuenta lo anterior, se busca evaluar las propiedades mecánicas y de capacidad portante del suelo a mejorar
por medio de fibras PET obtenidas de botellas y envases ya utilizados. Donde mediante los resultados
experimentales alcanzados, se logre analizar la efectividad de dichas fibras sobre el suelo en estudio por medio
de probetas elaboradas en el material del mismo, con dimensiones de 11 cm de altura y 2” de diámetro. Además
de fundamentar la presente investigación en metodologías que permitan la eficiente obtención de resultados,
tales como, el ensayo de proctor para cada capa de compactación requerida en la elaboración de las probetas.
Según corresponda a los especímenes vírgenes y mejorados por el material a emplear. Así mismo se espera
que la contribución del material reciclado PET, aporte de manera positiva al descenso de residuos plásticos y
fomente el reciclaje de los mismos, por medio de soluciones que contribuyan al desarrollo e innovación en la
industria de la construcción gracias a nuevas mejoras de resistencia geotécnica amables con el medio ambiente.

PALABRAS CLAVES: Refuerzo de suelo, PET, Tereftalato de polietileno, Compresion inconfinada, refuerzo.

ABSTRACT: For more than half a century, research on the behavior of soil with different types of fibrous
additions has increased, both synthetic and natural fibers, for the reinforcement of fine soils, which commonly
have low shear resistance. At present, the constant evolution regarding the chemical characteristics of additions
has made possible the development of new fibers based on polymers as soil improvement techniques applied
to geotechnical engineering. Considering the above, it seeks to evaluate the mechanical properties and bearing
capacity of the to-be improved soil using PET fibers obtained from bottles and containers. Through
experimental results, it would be possible to analyze the effectiveness of fibers on the soil under study by
means of test tubes made of the same material, with dimensions of 11 cm in height and 2 inches in diameter.
In addition, the present investigation is based on methodologies that allow the efficient obtaining of results,
such as the proctor test for each compaction layer required in the preparation of the test tubes. And according
to virgin specimens and improved by the material to be used. Likewise, it is expected that the contribution of
recycled PET material will contribute positively to the decrease in plastic waste and promote their recycling,
through solutions that contribute to development and innovation in the construction industry thanks to new
improvements in Geotechnical resistance friendly to the environment.

KEYWORDS: Soil reinforcement, PET, Polyethylene terephthalate, Unconfined compression, reinforcement.

RESUMO: Por mais de meio século, as pesquisas sobre o comportamento do solo com diferentes tipos de
adições fibrosas aumentaram. Sintético e natural para reforço de solos finos, que geralmente têm baixa
resistência ao cisalhamento. Atualmente, a constante evolução quanto às características químicas das referidas
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adições tem possibilitado o desenvolvimento de novas fibras à base de polímeros como técnicas de
melhoramento de solos aplicadas à engenharia geotécnica; Levando em consideração o exposto, busca-se
avaliar as propriedades mecânicas e a capacidade de carga do solo a ser melhorado por meio de fibras PET
obtidas de garrafas e recipientes já utilizados. Onde, através dos resultados experimentais alcançados, é
possível analisar a eficácia das referidas fibras no solo em estudo por meio de tubos de ensaio confeccionados
no mesmo material, com dimensões de 11 cm de altura e 2" de diâmetro. Além de basear a presente
investigação em metodologias que permitam a obtenção eficiente de resultados, como o teste proctor para cada
camada de compactação necessária na preparação dos tubos de ensaio. Adequado aos espécimes virgens e
melhorado pelo material a ser utilizado. Da mesma forma, espera-se que a contribuição do material reciclado
PET contribua positivamente para a redução dos resíduos plásticos e promova a sua reciclagem, através de
soluções que contribuam para o desenvolvimento e inovação na indústria da construção graças a novas
melhorias na resistência geotécnica amiga do ambiente.
PALAVRAS-CHAVE: Reforço de solo, PET, Tereftalato de polietileno, Compressão não confinada, reforço.

para finales del siglo XIX como componente


1. Introducción fundamental en la realización de materiales de
confección, accesorios, embaces de almacenamiento
Desde la antigüedad se han empleado fibras naturales líquido y demás (Fernández Carlos, Martínez José,
para la mejora de las propiedades de los materiales Thode José).
que intervienen en la construcción, ya sea, de origen En consecuencia de su producción a gran escala,
animal o vegetal y biodegradable, empleadas solo en actualmente el índice de contaminación a causa del
los casos donde se requería dicha cualidad plástico es de 8.300 millones de toneladas a nivel
(Fernández Carlos, Martínez José, Thode José). mundial, de los cuales 5.700 millones del mismo no
Prueba de ello, específicamente del reforzamiento son reciclados (Parker, 2019).
con algún tipo de fibra natural, se encuentran En Colombia son generados 11,6 millones de
estructuras antiguas hechas en paja o raíces de plantas toneladas en residuos plásticos al año, y solo el 17%
como elementos de refuerzo para prevenir la de dicho material es reciclado. Debido a esto surge la
formación de grietas en sus materiales de necesidad de establecer nuevos mecanismos de
mampostería (barro y fibra natural) (Betancourt, reutilización a favor del desarrollo sostenible,
2014). mediante el uso de fibras sintéticas PET. El cual
Donde además por largos años se ha tenido la tarea puede actuar como componente fundamental en la
de mejorar el suelo en el que la humanidad se ha mejora de la resistencia al corte en los suelos finos de
sedimentado; es por ello que los beneficios que tienen baja tenacidad, puesto que, dicho material presenta
las fibras sobre el suelo han sido de gran interés en la propiedades químicas y medioambientales bastantes
ingeniería (Betancourt, 2014). Con el paso de los favorables, como, la resistencia a los ácidos,
años la construcción de nuevas estructuras ha microorganismos, disolventes, tasa de humedad etc.
aumentado y junto con ello su tamaño y complejidad. Las fibras pueden emplearse como inclusiones
De modo que es fundamental disponer del continuas previamente orientadas (geotextiles,
conocimiento adecuado acerca de las propiedades del geomallas, barras, etc.) tanto como inclusiones
suelo sobre el cual se ejecutara algún proceso discretas orientadas aleatoriamente (Betancourt,
constructivo e identificar el tipo de mejoramiento del 2014). Es así como el comité de Geotecnia vial de la
mismo que es necesario implementar; Por lo que, en Asociación Técnica de Carreteras de España ha
las ultimas decadas, se empezaron a realizar desarrollado en los últimos años, un conjunto de
investigaciones del comportamiento del suelo con trabajos con relación a el empleo de fibras en el
diferentes tipos de inclusiones fibrosas, tanto refuerzo de suelos, lo cual básicamente ha consistido
sintéticas como naturales (Paula Vettorelo, Juan en realizar una serie de ensayos de laboratorio con
Clariá, 2014). diferentes muestras de suelos mezclados con
En la actualidad se han desarrollado nuevas fibras distintos tipos de fibras sintéticas. (Fernández Carlos,
sintéticas a base de polímeros como método de Martínez José, Thode José).Entre ellas el Tereftalato
mejora en diferentes materiales, entre otros el suelo. de polietileno.
Dichas fibras son obtenidas como excedentes de Con base a los estudios realizados por otros cuerpos
procesos industriales. Una de ellas el Tereftalato de investigativos, en el uso del Tereftalato de polietileno
polietileno (PET) o común mente conocido como como material de refuerzo en estructuras terreas, se
plástico. El Tereftalato de polietileno (PET) surge establece la realización de la siguiente investigación

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experimental, con el fin de estimar la influencia que fibras, las cuales cuentan con las siguientes
tiene la adición de fibras PET sobre la resistencia al características.
corte en porcentajes de 0.3% al 2% en un suelo fino.
Proceso que consiste principalmente en la
recolección de botellas PET ya desechadas después
de su respectivo uso. Donde además son llevadas a
un proceso de lavado y corte de las fibras (tiras), en
dimensiones de 2 mm de ancho por 5.5 cm de alto.
Posteriormente las fibras serán orientadas
aleatoriamente y distribuidas en todo el volumen del
suelo en estudio, para determinar las características
físicas y mecánicas de la muestra mediante probetas
vírgenes y mejoradas con dimensiones de 11 cm de
alto y 2” de diámetro. Las cuáles serán sometidas a
ensayos de compactación (proctor estándar) y
compresión inconfinada.
Finalmente de esta manera se espera contribuir en el
desarrollo de una alternativa sostenible para el campo
Imagen 1. Fibras PET utilizadas para mejoramiento de suelo.
de la ingeniería civil, con la reutilización y reciclaje
de residuos PET que mitiguen el impacto ambiental Se trabajó con un material fino con las caracteristicas
ocasionado por el desperdicio desenfrenado de este mostradas en la Tabla 1.
material.
Tabla 1. Propiedades del suelo trabajado.

Propiedad Valor
2. Metodología Tipo de suelo SUCS MH
LL (%) 56.48
2.1 Fase I-Selección y Recopilación de materiales LP (%) 41.51
: En primera instancia, se llevó acabo el análisis IP (%) 15.29
previo de las investigaciones ya realizadas sobre el Gravedad especifica 2.431
mejoramiento de suelo con fibras sintéticas de tipo
PET, considerando de esta manera las dimensiones La granulometria del material usado para el
de las fibras (5.5 cm de largo x 2 ,ET, y los resultados mejorameinto es fina y tiene tamaños
a los que se llegara mediante este estudio, donde a su correspondientes a limos y arcillas como se muestra
vez se contrasta la información necesaria para
fortalecer los conceptos que respectan la
investigación a realizar; posteriormente, se procede a
la obtención de tres muestras alteradas,
correspondientes a un suelo ubicado en la vereda
Potrerito de la ciudad de Ibagué. Donde estudios
anteriormente realizados identifican la presencia de
un suelo de tipo limo de alta plasticidad (MH) (Rojas,
2017).
Tras la selección de fibras de Polietileno Tereftalato
(PET) como elemento de refuerzo, es realizado el
Imagen 2. Curva granulometrica del suelo trabajado.
siguiente procedimiento para la obtención de estas,
como primer paso fue fundamental la recolección de 2.2 Fase II-Elaboración de las probetas: En esta
las mismas en materia primera como botellas de fase es realizada la elaboración de las probetas, donde
plástico PET, adquiridas por medio de recolecciones es tomada inicialmente una cantidad de suelo para el
realizadas en diferentes puntos comerciales, tales proceso de secado a la intemperie, teniendo en cuenta
como, tiendas, supermercados y canastas de reciclaje que la muestra debe estar en un medio seco y
plástico. Seguidamente se procedió al lavado y resguardado de cualquier posible humedad externa.
limpieza del envase reciclado, donde posteriormente Se prevé además un 25% como humedad óptima de
se dio lugar a la obtención del producto final en

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la misma; es así como posterior al proceso de secado


se inicia la elaboración de probetas.
Una vez obtenida la humedad de 25% en el suelo, se
proceden a realizar los primeros ejemplares vírgenes,
es decir, sin ningún tipo de mejoramiento. Para la
confirmación de las probetas se empleó un molde
metálico cilíndrico con las siguientes medidas:
diámetro de 2” (5.10 cm) y altura 11 cm, el cual es
llenado con tres capas iguales de la siguiente manera,
tres probetas de 12 golpes por capa, tres de 25 y tres
de 56, para un total de nueve probetas vírgenes, cabe
mencionar que cada capa fue sometida a un proceso Imagen 5 Probetas realizadas.
de compactación mediante una masa estandarizada 2.3 Fase III-Análisis de resultados: Una vez
de 2.5 kg, la cual se deja caer libremente a una altura recopilada la información análoga de las muestras en
de 305 mm (Llano J. J., 1975). estudio, se efectúa el análisis de resultados y la
El proceso anteriormente mencionado es realizado diferenciación en la resistencia tanto de las muestras
nuevamente para las probetas con mejoramiento, una cilíndricas mejoradas como las vírgenes (no
vez obtenido el suelo con su humedad optima, se mejoradas) con el fin de determinar:
procede a realizar la mezcla con las fibras PET para ➢ La mejora en las características portantes del
conformar las dosificaciones correspondientes, a los suelo
siguientes porcentajes: 0.3%, 0.5%, 0.8%, 1%, 1.2% ➢ La aprobación y utilización de los recursos
y 2%, los cuales fueron tomados con respecto a el empleados como fibras sintéticas, actuantes
peso de la muestra de suelo a mezclar, de esta manera como agentes mejoradores.
se logró una mezcla homogénea para la realización ➢ Las diferencias entre las probetas vírgenes y
de las probetas. las mejoradas que puedan generar
conclusiones eficaces en cuanto a la
resistencia del suelo estudiado.
Finalmente con base a la información anterior, se
determina la correcta elaboración de las probetas con
el suelo mejorada bajo los siguientes criterios:
➢ Porcentaje de humedad óptimo (ω).
➢ El porcentaje de fibra PET que garantice
mayor resistencia sobre el suelo.
Uso de material PET (botellas plásticas) requerido
para la elaboración de las fibras sintéticas y que con
qué porcentaje del mismo se genera y aporta
Imagen 3 Molde cilindrico empleado en la elaboración de las positivamente al reciclaje y/o reutilización de este
probetas. material.
2.4 Fase IV: En esta última fase es concluido el
estudio con base a los resultados de cada espécimen,
los cuales permitieron concluir que dosificaciones
son significativas en cada muestras y definen la
mejora obtenida en las propiedades mecánicas del
suelo estudiado.

3. Resultados

A continuación se presenta los resultados de las


pruebas llevadas a cabo en el laboratorio de
Imagen 4 Preparación del suelo en estudio. Las particulas materiales de la Universidad de Ibagué, donde todos
grandes son disminuidas por medio de un maso.
los equipos proporcionados para la realización
experimental de este capítulo fueron brindados por la
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misma institución; Estos resultados son basados en la 900


realización del ensayo de Proctor, el cual permitió
800
conocer la densidad máxima seca del suelo y el
contenido de humedad optimo empleado en la 700
realización de las probetas con dosificaciones

Cu(kN/m2)
600
correspondientes a las establecidas con anterioridad
en la investigación. Además, se permitió conocer el 500
comportamiento del suelo mejorado con respecto al 400
suelo de bajas condiciones resistentes, debido a las
300
cargas axiales aplicadas en el ensayo de Compresión
Inconfinada sobre las compactaciones (12, 25, 56) y 200
diferentes dosificaciones de mejoramiento. 100
Se presenta el comportamiento alcanzado por los
0
especímenes con la adición de fibras PET y sin
0% 0.3% 0.5% 0.8% 1% 1.2% 2%
adición de las mismas, de la siguiente manera.
Porcentaje de adición
900
800 Grafica 2 Resistencia compresión inconfinada para las
compactaciones de 25 golpes con todos los porcentajes de
700 adición de fibras PET.
600
Para las compactaciones de 25 golpes mostradas en
Cu (kN/m2)

500 la gráfica anterior, se logra establecer, que el


400 porcentaje que aun presenta menor resistencia y
nulidad del trabajo que debe emplear la adición de las
300
fibras PET, es igual al 0.3%, el cual como se muestra
200 en la Grafica 26, aún permanece por debajo de la
100
resistencia ejecutada por los especímenes vírgenes
(0%). Sin embargo para los porcentajes 0.5%, 0.8%,
0 1%, 1.2% y 2% la adición porcentual de las fibras
0% 0.3% 0.5% 0.8% 1% 1.2% 2% PET es significativa, puesto que se encuentran sobre
Porcentaje de adición la resistencia de los especímenes virgen.

1000
Grafica 1Resistencia compresión inconfinada para las
compactaciones de 12 golpes con todos los porcentajes de 800
adición de fibras PET.
Cu(kN/m2)

600
Para las compactaciones de 12 golpes mostradas en 400
la gráfica anterior, se logra establecer en esta primera
instancia, que los porcentajes con menor resistencia 200
y nulidad del trabajo que debe emplear la adición de 0
las fibras PET, son aquellos iguales a 0.3%, 0.5% y 0% 0.3% 0.5% 0.8% 1% 1.2% 2%
0.8%, los cuales como se muestra en la Grafica 26,
Porcentaje de adición
están por debajo de la resistencia ejecutada por los
especímenes vírgenes (0%). Sin embargo para los
porcentajes 1%, 1.2% y 2% la adición porcentual de Grafica 3 Resistencia compresión inconfinada para las
las fibras PET es eficiente, puesto que se encuentran compactaciones de 56 golpes con todos los porcentajes de
sobre la resistencia de los especímenes virgen. adición de fibras PET.

Para las compactaciones de 56 golpes mostradas en


la gráfica anterior, se logra establecer, que el
porcentaje que aun presenta menor resistencia y
nulidad del trabajo que debe emplear la adición de las
fibras PET, es igual al 0.3%, el cual como se muestra
en la Grafica 26, aún permanece por debajo de la

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resistencia ejecutada por los especímenes vírgenes añadidas no sobre salgan del espécimen
(0%). Sin embargo para los porcentajes 0.5%, 0.8%, realizado.
1%, 1.2% y 2% la adición porcentual de las fibras
PET es significativa, puesto que se encuentran sobre
la resistencia de los especímenes virgen. 5. Referencias

Es importante resaltar la eficiencia de las probetas del


2% puesto que estos especímenes incrementan su SIAC. (s.f.). Sistema de información ambiental de
resistencia al corte en grandes cantidades, ya que, en Colombia. Obtenido de Sistema de
cada una de las compactaciones su mejoramiento información ambiental de Colombia:
permanece siempre en incremento y aún más para las http://www.siac.gov.co/suelo
compactaciones correspondientes a los 56 golpes. Lujano, M. (8 de Mayo de 2015). SCRIBD. Obtenido
de SCRIBD:
4. Discusión y conclusiones https://es.scribd.com/doc/264656403/Clasifi
cacion-de-Suelos-en-Ingenieria
• La utilización de las fibras de adición PET SCRIBD. (2010). Obtenido de SCRIBD:
para el mejoramiento y estabilización de los https://es.scribd.com/doc/41936518/Mejora
suelos, son una alternativa viable para la miento-Del-Suelo
reutilización de materiales, principalmente Garcia Gomez C., G. M. (12 de Julio de 2011).
de desechos inorgánicos, ya que estas fibras Contaminantes Emergentes: Efectos y
no solo permite reducir significativamente tratamientos de remoción. Obtenido de
los desechos residuales, si no también Contaminantes Emergentes: Efectos y
mejorar el comportamiento mecánico de un tratamientos de remoción:
material determinado, en este caso el suelo. https://www.redalyc.org/html/863/8631914
• En los porcentajes equivalentes al 0.5%, 1004/
0.8%, 1% y 1.2%, la resistencia a la Betancourt, G. F. (2014). Estudio del uso de
compresión inconfinada comienza a Polietileno Tereftalato (PET) como material
presentar aumentos considerables para las de refuerzo en estructuras térreas
compactaciones con 56 golpes, en conformadas por suelo fino. Mexico.
comparación a los resultados obtenidos en Estabilización de suelos para pavimentos. (s.f.).
las compactaciones de 12 y 25 golpes, lo cual Obtenido de Estabilización de suelos para
nos permite concluir que para porcentajes pavimentos:
mayores al 0.3% y menores o iguales al 2% http://laultimaresistencia.weebly.com/uploa
las capas de compactación más eficientes ds/6/8/2/7/6827657/35580425-
para la mejora de las propiedades mecánicas estabilizacion-de-suelos
de un suelo son las de 56 golpes. Raimond B. Seymour, Charles E. Carraher. (2002).
• De acuerdo al comportamiento presentado en Introducción a la química de los polímeros.
las gráficas esfuerzo – deformación, a mayor En C. E. Raimond B. Seymour, ntroducción
adición de fibras PET, mayor incremento en a la química de los polímeros (pág. 466).
la rigidez y capacidad de carga de la probeta. Barcelona: Reverté S.A.
• Para la elaboración de próximos estudios, se González, A. P. (2014 de Junio de 2014). Mecapedia.
plantea partir desde una compactación de 25 Obtenido de Mecapedia:
golpes para porcentajes menores al 2%. http://www.mecapedia.uji.es/deformacion.ht
Puesto que es en esta, donde los esfuerzos de m
cada probeta mejoran su valor resistente un Paula Vettorelo, Juan Clariá. (2014). Suelos
28% respecto a las compactaciones de 12 Reforzados con Fibras: Estado del Arte y
golpes, y un 54% en relación a las de 56 Aplicaciones. FCEF Y N, 27.
golpes. Calvo, C. F. (2006). Estudio experimental de
• Para la elaboración de la probetas se refuerzo de suelos con fibras sinténticas.
recomienda el incremento de las GEOGACETA, 306.
dimensiones de las mismas, puesto que esto INVE. (2013). Compresión inconfinada en muestras
puede ser una de las características que de suelos. Obtenido de Compresión
permita a la hora de compactar cada capa y inconfinada en muestras de suelos:
retirar el molde de la muestra, que las fibras file:///C:/Users/usuario/Documents/Norma
%20INV%20E-152-07.pdf
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
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Análise dos Parâmetros de Resistência de um Solo Residual


Maduro Quando Acrescido de Cinza de Cavaco de Eucalipto
Escura e Compactado em Energia Normal
Bruno Henrique Rocha Queiroz
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, bruno.rocha@engenharia.ufjf.br

Diego Miranda Cardoso


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, diego.miranda@engenharia.ufjf.br

Tatiana Tavares Rodriguez


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez@ufjf.br

Cátia de Paula Martins


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, catia.martins@ufjf.br

Júlia Righi de Almeida


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.br

RESUMO: A correta gestão dos resíduos sólidos é uma necessidade da contemporaneidade, visto que a produção desses
tem aumentado. Em Juiz de Fora (MG), há uma indústria de celulose que gera, em sua produção, a Cinza de Cavaco de
Eucalipto Escura. Esse resíduo sólido industrial é encontrado em filtros de caldeiras e disposto no aterro próprio da
empresa. Buscando uma destinação mais adequada para esse resíduo, misturas de cinza com solo residual maduro da
região têm sido estudadas pelo departamento de Transporte e Geotecnia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Neste
trabalho será avaliado como a adição de 5% de cinza influencia nos parâmetros de resistência do solo. Através dos ensaios
de Caracterização Física, constatou-se que a cinza é uma areia siltosa de comportamento não plástico com teor de matéria
orgânica de 55%. Para o solo, observou-se que se trata de uma argila arenosa com limite de liquidez de 47%, limite de
plasticidade de 35% e 12% de teor de matéria orgânica. As massas específicas aparente secas máximas foram obtidas
através do Ensaio de Compactação em cilindro Proctor na energia normal. Os resultados obtidos para a mistura e para o
solo puro foram 1,611 g/cm³ e 1,628 g/cm³, respectivamente. O Cisalhamento Direto foi realizado na condição embebida
para as tensões que variaram entre 50 e 400 kPa. Conclui-se que a resistência do solo puro é similar à da mistura com 5%
sendo, portanto, possível substituir o solo pela mistura em obras de engenharia.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduo sólido industrial, Cinza de cavaco de eucalipto, Parâmetros de compactação, Parâmetros
de resistência.

ABSTRACT: The correct management of solid waste is a contemporary necessity, since its production has increased. In
Juiz de Fora (MG), there is a cellulose industry that generates Dark Eucalyptus Chip Ash in its production. This industrial
solid waste is found in boiler filters and disposed of in the company's own landfill. Seeking a more suitable destination
for this waste, mixtures of ash with mature residual soil from the region have been studied by the Department of Transport
and Geotechnics of the Federal University of Juiz de Fora. In this research, it will be evaluated how the addition of 5%
ash influences the soil resistance parameters. Through the Physical Characterization tests, it was verified that the ash is a
silty sand of non-plastic behavior with an organic matter content of 55%. For the soil, it was observed that it is a sandy
clay with a liquidity limit of 47%, plasticity limit of 35% and 12% of organic matter content. The maximum apparent dry
specific masses were obtained through the Compaction Test in a Proctor cylinder at normal energy. The results obtained
for mixture and for the pure soil were 1.611 g/cm³ and 1.628 g/cm³, respectively. The Direct Shearing was carried out in
the soaked condition for stresses ranging between 50 and 400 kPa. It is concluded that the resistance of the pure soil is
similar to the mixture. Therefore, the mixture can replace soil in engineering works.

KEY WORDS: Industrial solid waste, Eucalyptus chip ash, Compression parameters, Resistance parameters.

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97
1 INTRODUÇÃO cinzas em aterros, surgiu a proposta de misturá-las
com solo argiloso a fim de se obter um produto final
A norma brasileira ABNT (2004) define Resíduos que possa ter alguma aplicação dentro da engenharia,
Sólidos como todos aqueles que resultam de tais como aterros ou camadas da estrutura rodoviária.
atividades cuja origem é doméstica, industrial, Melo et al. (2019) e Melo (2020) realizaram a
hospitalar, comercial, agrícola ou de serviços de compactação do solo puro, da cinza pura e da mistura
varrição que podem ser encontrados em estado sólido do solo com 5% da cinza escura, sendo utilizada a
ou semissólido. Destes, os Resíduos Sólidos cinza da Amostra 1 apresentada na Tabela 1.
Industriais (RSI) são classificados como aqueles que O solo utilizado apresenta massa específica dos
são resultantes de processos produtivos e de sólidos de 2,82 g/cm³ e classificação de argila
instalações industriais (BRASIL, 2012). arenosa, sendo 62% de argila, 33% de areia, 5% de
Um dos materiais que é objeto deste estudo, a silte e 1% de pedregulho (OLIVEIRA JUNIOR,
Cinza de Cavaco de Eucalipto Escura, é um resíduo 2014).
sólido industrial. Sua produção se dá a partir da A composição mineralógica do solo indicou a
combustão de cavacos de eucalipto para a geração predominância de Al2O3 (23,6%), SiO2 (19,8%) e
energética em caldeiras no processo produtivo de Fe2O3(12,7%) (ROSA; OLIVEIRA, 2015).
celulose da Paraibuna Embalagens, cujas instalações Os resultados dos parâmetros de compactação em
localizam-se no Distrito Industrial de Juiz de Fora - energia normal em cilindro Proctor estão
MG. apresentados na Tabela 2 para o solo, para a cinza
Esta Cinza de Cavaco de Eucalipto Escura já tem escura e para a mistura de solo com 5% de cinza
sido estudada no departamento de Transportes e escura.
Geotecnia da UFJF. Sendo, portanto, algumas de suas
características conhecidas. Tabela 2: Parâmetros de compactação por Melo et al.
De acordo com o trabalho de Melo et al. (2019), a (2019) e Melo (2020)
análise química da cinza indicou o predomínio de Energia Proctor Normal
SiO2 (21,0%), CaO (11,9%), Al2O3 (6,8%) e Fe2O3
(3,8%). O resultado da análise de raio x apontou a Material Teor de Massa esp. seca
presença de Calcita e Quartzo, faltando a umidade ótimo máxima
identificação do teor de matéria orgânica presente. (%) (g/cm³)
Melo et al. (2019) e Melo (2020) realizaram a Solo 23,4 1,624
análise granulométrica para amostras coletadas em
diferentes meses e verificaram variações
Cinza escura 48,0 1,051
granulométricas entre elas (Tabela 1). Em vista dos
resultados obtidos, torna-se importante a
determinação da granulometria a cada nova Mistura com 5%
amostragem dessa cinza bem como dos parâmetros de cinza escura 23,7 1,628
de compactação da mistura desta cinza com o solo.
Os resultados da Tabela 2 mostram que a mistura
Tabela 1: Granulometria da cinza escura por Melo et al. compactada apresenta massa específica seca máxima
(2019) e Melo (2020) similar a do solo puro. Com isso, levanta-se a
Amostra Ped. Areia Silte Argila hipótese de que a resistência ao cisalhamento da
(%) (%) (%) (%) mistura com 5% de cinza escura seja similar a do solo
puro. Portanto, o objetivo do presente trabalho é
1 0 78,8 14,0 8,0 comparar os parâmetros de resistência do solo e da
mistura.
2 0 82,0 10,0 8,0

3 0 69,6 26,8 3,6 2 MATERIAL E MÉTODOS

4 0 54,0 36,0 10,0 2.1 Amostras

A amostra de solo residual maduro foi coletada no


5 0 67,6 30,8 1,6
talude localizado na Pró-Reitoria de Infraestrutura
(PROINFRA) da Universidade Federal de Juiz de
Como alternativa para a disposição clássica de Fora (UFJF), visto que o solo desse local tem sido

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alvo de diversas pesquisas do departamento de física e compactação, as amostras de solo e de cinza
Transportes e Geotecnia dessa instituição. foram preparadas de acordo com a NBR 6457 da
A amostra deformada foi devidamente ABNT (2016). A Figura 3-a ilustra a amostra de solo
identificada e acondicionada em local adequado. A e a Figura 3-b a de cinza, após o preparo.
Figura 1 mostra a cava de onde o solo foi coletado.

Figura 3: Amostras de solo e cinza. Adaptado de Queiroz


(2022)
2.2 Granulometria

O ensaio de granulometria foi realizado conforme


o procedimento prescrito na NBR 7181 da ABNT
(2016). Para esse ensaio foram necessárias algumas
peculiaridades de modo a viabilizar a execução do
ensaio nesse material que possui características
bastante distintas do solo.
Queiroz (2022) estabeleceu a utilização de
amostra total com 400 g. No peneiramento grosso,
realizou-se o corte na peneira de 4,8 mm, pois a partir
Figura 1: Cava de coleta do solo. Queiroz (2022)
desse diâmetro observou-se a presença de partículas
que não eram cinza, mas sim pedras, escórias e
A Cinza de Cavaco de Eucalipto Escura foi
madeiras não queimadas, conforme observado na
coletada nas instalações da Paraibuna Embalagens,
Figura 4.
no Distrito industrial de Juiz de Fora. A Figura 2
mostra a cinza logo após sua coleta.

Figura 4: Objetos encontrados na cinza por Queiroz


(2022)

Figura 2: Cinza coletada. Queiroz (2022) Durante a sedimentação, Queiroz (2022)


estabeleceu o uso de uma amostra de 30 g devido ao
A cinza possuía uma coloração preto intenso com grande volume da cinza. Nesta etapa, constatou-se
algumas partículas grosseiras. O material foi uma dificuldade durante a leitura do densímetro,
devidamente armazenado no Laboratório de Preparo devido ao acúmulo de partículas flutuantes na
de Amostras da Faculdade de Engenharia da UFJF, superfície da proveta (Figura 5).
em recipiente fechado.
Para a realização dos ensaios de caracterização

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99
As curvas de compactação foram geradas com o
uso do software Excel. As coordenadas máximas da
curva (massa específica aparente seca máxima e
umidade ótima) foram obtidas através do métodos
das assíntotas.

2.5 Amostras compactadas

As amostras dos materiais (solo e mistura) foram


compactadas buscando atingir os parâmetros de teor
de umidade ótimo e massa específica seca máxima.
Figura 5: Partículas flutuantes por Queiroz (2022) Sendo assim, após a compactação e determinação de
sua massa úmida, seria necessário aguardar 24h até o
Com relação à Massa específica dos Sólidos,o resultado da determinação do seu teor de umidade
ensaio seguiu a metodologia da ME093 do DNIT para, então, moldar os corpos de prova, caso esses
(1994). Devido às características físicas da cinza, não parâmetros fossem alcançados.
foi possível utilizar o Picnômetro de 50 ml, sendo o De modo a tornar o processo mais célere, seguiu-
de 500 ml utilizado em substituição. Cuidados se o controle do Grau de Compactação estabelecido
específicos foram tomados para evitar o acúmulo de por Cardoso (2022) no qual analisou-se previamente
cinzas na boca do picnômetro causando dificuldade a curva de compactação dos materiais, definiu-se a
no fechamento, geração de bolhas de ar e faixa de variação máxima do teor de umidade em 1
vazamentos. ponto percentual, para mais ou para menos, e definiu-
2.3 Teor de matéria orgânica se o grau de compactação mínimo aceitável de 98%.
A partir daí, utilizou-se o teor de umidade ótimo para
O ensaio para determinação do teor de matéria estimar a massa específica seca máxima da
orgânica da cinza de cavaco de eucalipto foi realizado compactação realizada e calcular o seu grau de
de acordo com a NBR 13600 da ABNT (1996). compactação estimado.
Estando esse valor dentro do limite previamente
2.4 Curva de compactação estabelecido, realizava-se a moldagem dos corpos de
prova que eram armazenados de forma adequada e só
Os ensaios de compactação da mistura de 5% de poderiam ser utilizados após a confirmação posterior
cinza e 95% de solo foram executados conforme a dos resultados. Caso contrário, o material era
NBR 7182 da ABNT (2016). descartado.
Neste caso, a quantidade de água considerada na
compactação foi calculada em função da massa seca. 2.6 Cisalhamento
Considerando a diferença entre o teor de umidade
higroscópica da cinza e do solo, utilizou-se um teor Como não há norma brasileira específica para o
de umidade médio ponderado pelo percentual de cada ensaio de cisalhamento direto, utilizou-se a
material. metodologia descrita na D3080 da ASTM (1998).
A energia de compactação utilizada foi a normal Os anéis de cisalhamento utilizados para a
e o cilindro de tamanho pequeno (Proctor), como obtenção dos corpos de prova a partir das amostras
visto na Figura 6. O ensaio foi executado em três compactadas possuem forma cilíndrica, com
camadas, sendo que cada uma delas recebeu 26 diâmetro e altura de 6,0 cm e 2,3 cm,
golpes com o soquete pequeno de 2500 ± 10 g. respectivamente.
Durante a etapa de saturação, não foi observada
expansão do material monitorado durante 2h por
meio do extensômetro vertical e do software
CDREV. A completa saturação ocorreu após 24h de
repouso.
Já na fase de adensamento, as tensões normais
utilizadas foram 50, 100, 200 e 400 kPa. Com o
intuito de reduzir o tempo desta etapa, optou-se por
não realizar a leitura de 24h, mas observar o tempo
necessário para a ocorrência de estabilidade do
deslocamento vertical em um ensaio de teste,
Figura 6: Compactação por Queiroz (2022) convencionando-se 90 minutos como o tempo

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100
necessário para o adensamento. g/cm³ e a umidade ótima de 24,6%. Observa-se que a
Na fase de ruptura, após os cálculos de velocidade massa específica aparente seca máxima foi inferior e
máxima, esta foi padronizada em 0,1 mm/min. Os o teor de umidade superior.
gráficos de deslocamento horizontal pela tensão
vertical foram gerados através do software Excel.

3 RESULTADOS

3.1 Granulometria

Os resultados obtidos indicam que a cinza se trata


de uma areia siltosa. Sua curva granulométrica é
mediamente uniforme (Cu = 11,7) e bem graduada
(Cc = 3,0), conforme curva apresentada na Figura 7.
O valor de massa específica dos sólidos encontrado
foi de 2,474 g/cm³.
A massa específica dos sólidos encontrada foi
próxima àquela compactada da por Melo et al.
(2019), a Amostra 1, que obteve 2,479 g/cm³. Ambas
Figura 8: Curva de compactação da mistura por Queiroz
se classificam como areia siltosa e possuem
(2022)
percentuais passantes de pedregulho, areia, silte e
A Tabela 3 mostra as amostras compactadas e os
argila similares.
respectivos anéis moldados que atenderam aos
requisitos de desvio da umidade ótima e grau de
compactação mínimo.

Tabela 3: Amostras compactadas e anéis moldados

Anéis
Material Cilindro Desvio GC
Moldados

CP1C100
Mistura 41 -0,22% 99,8% e
com 5% de CP2C200
cinza
CP3C50 e
escura 42 -0,43% 99,3%
CP4C400
Figura 7: Curva Granulométrica Tati 1 e
4 0,14% 96,9%
Tati 2
Solo puro
3.2 Teor de matéria orgânica 1 0,60% 96,3% 2e3

Os resultados para o ensaio de teor de matéria


orgânica indicam que o solo possui 12% de matéria 3.4 Cisalhamento
orgânica enquanto a cinza possui 55%.
É, de fato, esperado que cinza possua um teor de A Figura 9 mostra a curva de deslocamento
matéria orgânica bastante superior ao do solo, visto horizontal versus tensão cisalhante enquanto a Figura
que a cinza é de queima incompleta e, portanto, 10 mostra a curva de deslocamento horizontal versus
possui pedaços de cavaco de eucalipto que não foram deslocamento vertical para a mistura.
inteiramente queimados. É possível observar que houve compressão sem a
presença de um pico de tensão. Ou seja, houve
3.3 Compactação aumento da tensão à medida em que houve
deslocamento.
A Figura 8 mostra a curva de compactação obtida A inexistência de pico impediu a utilização do
para a mistura de 95% de solo residual maduro com critério de tensão máxima para se produzir a
5% de cinza, através da qual é possível observar a envoltória de ruptura. Logo, utilizou-se o critério da
massa específica aparente seca máxima de 1,611 máxima razão τ/σ. A Figura 11 apresenta a envoltória

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101
de ruptura da mistura neste critério. a envoltória de ruptura do solo.

Figura 12: Tensão cisalhante x Deslocamento horizontal


Figura 9: Tensão cisalhante x Deslocamento horizontal

Figura 13: Deslocamento horizontal x Vertical

Figura 10: Deslocamento horizontal x Vertical

Figura 14: Tensão cisalhante x Tensão normal

Os parâmetros de resistência obtidos através do


critério da máxima razão τ/σ são apresentados na
Figura 11: Tensão cisalhante x Tensão normal
Tabela 4 a seguir:
A Figura 12 mostra a curva de deslocamento Tabela 4: Parâmetros de resistência
horizontal versus tensão cisalhante enquanto a Figura Material Intercepto Ângulo de
13 mostra a curva de deslocamento horizontal versus Coesivo atrito
deslocamento vertical para o solo. (kPa) (°)
É possível observar que houve pico de tensão com Mistura 33,3 28,1
comportamento dilatante apenas para a tensão de 50
kPa. Para a envoltória do solo, utilizou-se o mesmo Solo 27,9 32,8
critério de ruptura da mistura. A Figura 14 apresenta

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


102
4 DISCUSSÃO REFERÊNCIAS

A Figura 15 mostra a envoltória de cisalhamento ABNT (1996). NBR 13600: Solo – Determinação do Teor
obtida para o solo puro e para a mistura com 5% de de Matéria Orgânica por Queima a 440°C. Associação
cinza, ambos compactados em energia normal. Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 71.
ABNT (2004). NBR 10004: Resíduos sólidos –
Classificação. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 71.
ABNT (2016). NBR 6457: Amostras de solo - Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 12.
ABNT (2016). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, p. 12.
ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, p. 9.
ASTM (1998). D 3080: Standard Test Method for Direct
Shear Test of Soils Under Consolidated Drained
Conditions. American Society For Testing and
Materials. Estados Unidos, p. 06.
BRASIL (2010). Lei n°12.305, de 2 de agosto de 2010.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil.
Figura 15: Envoltórias do solo e mistura Brasília.
Cardoso, D. M. (2022). Determinação dos parâmetros de
Observa-se que a mistura de solo com 5% de resistência de misturas de solo argiloso com cinza de
cavaco de eucalipto no teor de 5%, Universidade
cinza, compactada em energia normal, apresenta
Federal de Juiz de Fora, p. 68.
resistência similar à do solo puro. DNER (1994). ME 093: Solos – Determinação da
densidade real. Departamento Nacional de Estradas e
Rodagem, Rio de Janeiro, p. 04.
5 CONCLUSÃO Melo, J. A. P.; Silva, I. S.; Martins, C. P.; Rodriguez, T. T.
(2019). Compactação ecaracterização de solo com
Conclui-se que, em termos dos parâmetros de mistura de cinza de eucalipto. In: Congresso de
resistência, há a possibilidade de substituição do solo Engenharia Civil, 6., 2019, Juiz de Fora. Anais
pela mistura nas aplicações em algumas obras na eletrônicos. Juiz de Fora, p. 585 a 596.
forma compactada. Ressalta-se que investigações Melo, J. A. P. (2020). Caracterização e determinação de
parâmetros de compactação de misturas de solo
complementares são necessárias para a avaliação de
argiloso laterítico com cinza de cavaco de Eucalipto,
outras propriedades, tais como permeabilidade, Universidade Federal de Juiz de Fora.
erodibilidade e expansão, com vistas em aplicações Oliveira Junior, M. R. (2014). Estabilidade de Talude do
em aterros sanitários, camadas de pavimentos entre Campus da UFJF. Relatório de Pesquisas.
outras. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, p.
34.
Queiroz, B. H. R. (2022). Análise de misturas de solo
AGRADECIMENTOS residual maduro com cinzas de cavaco de eucalipto em
termos de seus parâmetros de compactação,
À UFJF pela bolsa de Iniciação Científica Universidade Federal de Juiz de Fora, p. 59.
Rosa, J. P. & Oliveira, M. S. (2015). Análise Mineralógica
BIC/UFJF, concedida ao projeto “Resistência ao
de Solos. Relatório de Pesquisa. Universidade Federal
cisalhamento de misturas compactadas de solo de Juiz de Fora, Juiz de Fora, p. 32.
argiloso com cinza de cavaco de eucalipto” sob Silva, I. S.; Melo, J. A. P.; Martins, C. P.; Rodriguez, T. T.
coordenação da professora Tatiana Tavares (2019). Comparação de mistura de solo com cinza de
Rodriguez. cavaco de eucalipto para aplicação em camadas de
À Paraibuna Embalagens, que forneceu a cinza pavimento. Anais IX Congresso Brasileiro de
necessária para a execução dos ensaios. Geotecnia Ambiental (IX Regeo), EESC - USP, São
Ao Técnico Laboratorista Lázaro Lopes, pelo Carlos, p. 199 – 205.
auxílio prestado na execução dos ensaios.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


103
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise estrutural de um projeto de pavimento flexível com


subleito estabilizado com rejeito de espirais
Marcos Paulo Martins
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, marcos.p.martins@ufv.br

Carlos Henrique de Morais Filho


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, carlos.morais@ufv.br

Marcos José Miranda Filho


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, marcos.filho@ufv.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaus@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

RESUMO: Nos métodos mecanístico-empíricos de projeto de pavimentos asfálticos, os critérios de ruptura


geralmente utilizados são o trincamento por fadiga e o afundamento plástico nas trilhas de roda. O objetivo
desta pesquisa foi realizar uma análise estrutural avaliando a influência da estabilização granulométrica de
duas amostras de solos tropicais, denominadas V (vermelho) e A (amarelo), compondo o subleito de um
pavimento flexível. Foram confeccionadas misturas solo-rejeito com as porcentagens de 10%, 20% e 30%
desse último. O índice CBR das misturas solo-rejeito foi determinado e posteriormente foi utilizado para
realizar o dimensionamento empírico de um pavimento flexível. Esse pavimento foi submetido a uma
análise mecanística no software AEMC. Os resultados mostraram que a amostra de solo V, o
dimensionamento pelo método empírico forneceu bons resultados e que a mistura com rejeito de espirais
proporcionou uma melhora nas propriedades mecânicas desse solo. Para a amostra de solo A, o
dimensionamento pelo método empírico forneceu um pavimento que possivelmente teria problemas no
afundamento plástico nas trilhas de rodas devido ao não atendimento do critério referente ao deslocamento
vertical no topo do revestimento, mas que com a adição do rejeito, esse critério seria atendido. Portanto, o
rejeito de espirais se apresentou como um bom material para a estabilização granulométrica dos solos
estudados, sendo uma alternativa à sua disposição no meio físico.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento flexível, Estabilização granulométrica, Rejeito de espirais, Análise


estrutural, AEMC.

ABSTRACT: Mechanistic-empirical design methods for asphalt pavements usually use fatigue cracking
and rutting as failure criteria. The objective of this study was to perform a structural analysis to evaluate
the influence of granulometric stabilization of two samples of tropical soils [V (red) and A (yellow)],
composing the subgrade of a flexible pavement. Soil-waste mixtures containing 10%, 20% and 30% of the
latter were prepared. The CBR index of the soil-waste mixtures was determined and later used for the
empirical design of a flexible pavement. This pavement was subjected to mechanistic analysis in the AEMC
software. The results showed that the soil sample V, the design using the empirical method gave good
results and that mixing with waste spirals improved the mechanical properties of this soil. For soil sample
A, the design using the empirical method envisioned a pavement that would potentially have problems with
rutting because the vertical displacement criterion was not met at the top of the asphalt layer. Therefore,
the waste spirals were presented as a good material for granulometric stabilization of the studied soils,
representing an alternative to their disposal in nature.

KEY WORDS: Asphalt pavement, Granulometric stabilization, waste spirals, Structural Analysis, AEMC.

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104
1 INTRODUÇÃO formação do ATR, o que resulta em um rápido
aumento da necessidade de manutenção (Bildik and
Tradicionalmente, a fim de melhorar o Laman, 2020). Portanto, deve-se analisar a deflexão
desempenho de solos de baixa capacidade de suporte, no topo do revestimento asfáltico e a deformação
cal e cimento tem sido utilizados como agentes vertical visando obter informações detalhadas sobre
estabilizadores (Yaghoubi et al., 2021). Estudos têm a formação do ATR.
sido realizados para desenvolver uma abordagem De acordo com Islam and Tarefder (2020) o
sustentável visando melhorar a resistência desse tipo módulo de resiliência é o parâmetro mais importante
de solo. A estabilização de solos pode ser realizada para o projeto de dimensionamento de um pavimento
através de métodos físicos (alteração da asfáltico através dos métodos mecanístico-empíricos,
granulometria), mecânicos e químicos (Rodrigues, o qual segundo Santos et al. (2020) está diretamente
2022, Tiwari et al., 2021). associado a um dos principais mecanismos de ruptura
O Brasil é um dos maiores produtores de minério recorrentes em pavimentos flexíveis brasileiros: o
de ferro do mundo. Em 2018, aproximadamente 460 trincamento por fadiga.
milhões de toneladas de minério de ferro foram Diante do exposto, este estudo visou analisar a
produzidas no Brasil, representado 18,7% da influência da estabilização granulométrica de dois
produção global (DNPM, 2018, USGS, 2020). solos tropicais com rejeito de espirais no desempenho
Em algumas usinas de beneficiamento de minério de pavimentos flexíveis.
de ferro são utilizadas espirais concentradoras que se
utilizam da força centrífuga para separar materiais
com pesos específicos e granulometria diferentes, 2 MATERIAL E MÉTODOS
com o objetivo de extrair a porção de interesse
(minério de ferro), sendo o material restante 2.1 Materiais
denominado de rejeito de espirais, o qual é
comumente destinado no meio físico em forma de As amostras de solo, denominadas de V (solo
empilhamento drenado (Caetano, 2015, José et al., vermelho) e A (solo amarelo), foram obtidas através
2016). de coleta deformada em campo, no município de Rio
Nos métodos mecanístico-empíricos de projeto de Piracicaba, Minas Gerais, Brasil. A amostra de rejeito
pavimentos asfálticos, os critérios de ruptura (R) de mineração de ferro foi coletada em um
geralmente utilizados são o trincamento por fadiga empilhamento drenado de uma empresa do setor de
(fatigue cracking) e o afundamento plástico nas mineração de Minas Gerais, Brasil. A amostra de solo
trilhas de roda (rutting) (Huang, 2004). foi coletada próxima à empresa. As Figuras 1 e 2
A análise do trincamento por fadiga de apresentam os materiais utilizados na presente
pavimentos asfálticos é baseado na deformação pesquisa.
horizontal de tração na fibra inferior da camada de
revestimento asfáltico (Huang, 2004). O desempenho
em fadiga de misturas asfálticas pode ser afetado por
uma série de fatores, como um projeto estrutural
inadequado, cargas pesadas repetidas, drenagem e
qualidade de construção ruins, flutuações na
temperatura ambiente e rigidez do ligante asfáltico
devido ao envelhecimento em temperaturas baixas e
intermediárias (Abd Duraid and Al-Khalid, 2022).
O afundamento plástico nas trilhas de roda (ATR) Figura 1: Solo vermelho e solo amarelo.
ocorre somente nos pavimentos asfálticos (Huang,
2004), sendo um dos maiores problemas enfrentados
por este tipo de pavimento (Du et al., 2018). Essa
patologia normalmente se estende por todas as
camadas do pavimento (Domingos and Faxina, 2016,
Islam and Tarefder, 2020). A densidade, a velocidade
e a carga dos veículos influenciam na geração do
ATR do pavimento, bem como as condições
climáticas. O desempenho dos pavimentos asfálticos
é fortemente dependente das propriedades do solo do
subleito, sendo que pavimentos construídos sobre
solos de baixa capacidade de suporte potencializam a Figura 2: Rejeito.

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105
natural e suas misturas com imersão em água por 96
2.2 Métodos horas, conforme a norma técnica NBR 9895 (ABNT,
2016g).
Os ensaios realizados para fins de caracterização
geotécnica das amostras de solo e de rejeito de 2.2.3 Pavimento de anteprojeto
espirais foram: i) Análise granulométrica conjunta,
de acordo com a NBR 7181 (ABNT, 2016b); ii) De forma a avaliar os efeitos do processo de
Limite de liquidez (LL), segundo a NBR 6459 estabilização com rejeito de espirais de um solo
(ABNT, 2016c); iii) Limite de plasticidade (LP), compondo o subleito, foi dimensionado,
segundo a NBR 7180 (ABNT, 2016d); iv) Massa empiricamente, um pavimento de anteprojeto, com
específica dos grãos do solo (ρs), segundo a NBR auxílio dos valores de índice de CBR, com as
6458 (ABNT, 2016e); e v) Compactação na energia premissas a seguir, as quais também foram adotadas
Proctor modificada, segundo a NBR 7182 (ABNT, no estudo de Carvalho et al. (2020):
2016f), para fins de determinação do peso específico
aparente seco máximo (γdmáx) e do teor de umidade a) Número de operações do eixo padrão de 80
ótimo (wot) dos materiais compactados. kN: (Nprojeto) de 1,6 x 107, para USACE, e 5,0
As amostras dos materiais foram classificadas x 106, para AASHTO.
segundo a Metodologia MCT (Miniatura, b) Estrutura composta por 10 cm de
Compactado, Tropical), de acordo com a CLA 259 revestimento em concreto asfáltico, função
(DNER, 1996a), e segundo os sistemas de do Nprojeto da USACE (DNIT, 2006), por
classificação de solos TRB (Transportation Research materiais de base e sub-base granulares e
Board), conforme a M 145-91 (AASHTO, 2017), e subleito composto pelo próprio solo
USC (Unified Soil Classification), conforme a D2487 analisado neste estudo. As características das
(ASTM, 2017). camadas estão apresentadas na Tabela 2.
Foram realizadas misturas das amostras de solo
com substituição parcial de rejeito nas proporções Tabela 2: Características dos materiais das camadas do
apresentadas na Tabela 1, sendo as proporções pavimento de anteprojeto.
estabelecidas em relação à massa seca das misturas. Camada
Parâmetro Sub- Subleito Subleito
Base
Tabela 1: Proporção dos materiais nas misturas solo- base solo A solo V
rejeito. CBR (%) ˃ 80 ˃ 20 6 31
Mistura % de solo % de rejeito Expansão (%) < 0,5 <1 0 0,5
V 100 0
Limite de Liquidez (%) < 25 - 51 59
VR90/10 90 10
VR80/20 80 20 Índice de plasticidade
<6 - 31 31
(%)
VR70/30 70 30
A 100 0 Índice de grupo (IG) 0 0
AR90/10 90 10 Equivalente de areia
˃ 30 -
AR80/20 80 20 (%)
AR70/30 70 30 k 1 1

2.2.1 Ensaio de compactação Para obtenção das espessuras das camadas de


pavimento de anteprojeto, utilizou-se o
As amostras de solo no estado natural e suas misturas dimensionamento proposto no manual de
foram submetidas ao ensaio de compactação na pavimentação do DNIT (DNIT, 2006). Foi realizado
energia Proctor intermediária, de acordo com a um dimensionamento utilizando o solo amarelo como
norma técnica NBR 7182 (ABNT, 2016f). solo de subleito além das camadas de sub-base, base
e revestimento, enquanto que um outro
2.2.2 Ensaio de índice CBR dimensionamento foi realizado utilizando o solo
vermelho como subleito, mas a camada de sub-base
Foram confeccionados corpos de prova para a não foi utilizada, pois o solo já se enquadra nos
realização do ensaio de índice CBR (California requisitos técnicos para camada de sub-base. Os
Bearing Ratio), ou ISC (Índice de Suporte resultados das espessuras das camadas do pavimento
Califórnia), no teor de umidade ótimo da energia de para a amostra de solo V no subleito são apresentados
compactação Proctor intermediária. O ensaio foi na Figura 3 e para a amostra de solo A no subleito são
realizado para as amostras dos materiais na condição apresentados na Figura 4.

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106
determinados com base na sua relação com o índice
CBR através da Equação 1, do manual AASHTO
(2020) proposta por Heukelom e Klomp em 1962.

𝑀𝑅(𝑀𝑃𝑎) = 10,34(𝐶𝐵𝑅) (1)


Em que:
MR é o módulo de resiliência;
CBR é o índice de suporte Califórnia das amostras de solo
e suas misturas.
Figura 3: Estrutura do pavimento com solo V como
Os pontos adotados para a análise foram no eixo
subleito.
central das rodas e no eixo de simetria entre as duas
rodas, sendo verificado a situação mais crítica. Para
a análise foram consideradas a deflexão no topo do
revestimento asfáltico (Uz), a deformação horizontal
de tração na fibra inferior dessa mesma camada (εt) e
a deformação vertical no topo do subleito (εv). As
Figuras 5 e 6 apresentam os pontos analisados para
os pavimentos contendo os solos V e A no subleito,
respectivamente. Para cada uma das situações o solo
de subleito foi avaliado considerando tanto a amostra
de solo na condição natural quanto as suas misturas
Figura 4: Estrutura do pavimento com solo A como com rejeito de espirais a fim de avaliar o desempenho
subleito. do solo com a estabilização granulométrica.

2.2.4 Análise estrutural

Após o dimensionamento empírico do pavimento de


anteprojeto, foram realizadas as análises estruturais
pelo software AEMC (Análise Elástica de Múltiplas
Camadas), que é uma sub-rotina do programa
MeDiNa utilizado para o cálculo de tensões,
deformações e deslocamentos, com rotinas para
Figura 5: Pontos para análise tensão-deformação com o
entrada de dados e apresentação de resultados
solo V no subleito.
(Santos et al., 2020).
Foram realizadas três verificações para avaliar
dois dos critérios de ruptura mais utilizados
atualmente em pavimentos asfálticos: i)
deslocamento vertical no topo do revestimento; ii)
deformação horizontal de tração na fibra inferior do
revestimento; iii) deformação vertical no topo do
subleito.
Utilizou-se o eixo padrão rodoviário de 80 kN (8,2
tf), para análise estrutural, utilizado para projeto de
pavimentos asfálticos no Brasil, conforme DNIT
(2006). A distância entre as rodas do semieixo é de Figura 6: Pontos para análise tensão-deformação com o
solo A no subleito.
324 mm, o raio da área de contato entre pneu e
pavimento foi de 10,79 cm e a pressão de inflação dos
Com os resultados obtidos no software AEMC,
pneus considerada foi de 560 kPa. Os valores de
calculou-se o número de solicitações de eixo padrão
módulos de resiliência (MR) e de coeficiente de
que os pavimentos de anteprojeto foram capazes de
Poisson (v) das camadas de revestimento asfáltico,
suportar (Nadm), utilizando as equações da norma
base e sub-base foram definidos utilizando o DER-
técnica DER-SP (2006) apresentadas na Tabela 3. As
SP (2006), apresentados nas Figuras 3 e 4, para os
equações para deflexão no topo do revestimento e
solos V e A como subleito, respectivamente. Os
deformação vertical no topo do subleito fazem
valores de módulo de resiliência adotados para a
referência aos fatores de equivalência de carga (FEC)
realização das análises estruturais foram
da USACE, enquanto a deformação horizontal de

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107
tração na fibra inferior do revestimento faz referência Tabela 4: Resultados obtidos da caracterização
aos FEC da AASHTO. geotécnica dos solos e rejeito.
Solo Solo
Ensaio Rejeito
Tabela 3: Equações e coeficientes utilizados para a amarelo vermelho
realização da previsão do número Nadm. %P #200 12,80 19,20 51,20
Local de %P #40 84,00 86,00 92,00
Equação Fonte %P #10 100,00 99,60 99,60
análise
DNER-PRO %P #4 100,00 100,00 100,00
Topo do 𝑛 10𝑘 LL (%) NL 51,00 59,00
revestimento 𝑁𝑡𝑟 = √( ) 11/1979 apud
𝐷 DER-SP (2006) LP (%) NP 31,00 31,00
Fibra inferior FHWA (1976) IP (%) - 20,00 28,00
1 𝑛 ρs (g/cm³) 3,10 2,64 2,87
do 𝑁𝑖𝑟 = 𝑘. ( ) apud DER-SP
revestimento 𝜀𝑡 (2006) γd,max
19,2 17,2 16,3
1 𝑛 Dormon e Metcalf (kN/m³)
Topo do
𝑁𝑠𝑢𝑏 = 𝑘. ( ) (1965) apud DER- wot (%) 13,00 19,00 23,00
subleito 𝜀𝑣 SP (2006) TRB A-2-4(0) A-2-7(0) A-7-5(9)
Em que: USCS SW SC CH
Ntr é o Nadm para o topo do revestimento; MCT NA NA’ LG’
Nir é o Nadm para a fibra inferior do revestimento asfáltico;
Nsub é o Nadm para o topo do subleito; Observou-se que, segundo o sistema TRB, que o
Nadm é o número de solicitações do eixo padrão admissível;
solo amarelo representa uma areia argilosa, enquanto
D é a deflexão no topo do revestimento (10 -2 mm);
𝜀𝑡 é a deformação específica horizontal de tração na fibra o solo vermelho é caracterizado como solo argiloso.
inferior do revestimento; Para o sistema USC o solo amarelo se encontra na
𝜀𝑣 é a deformação específica vertical no topo do subleito; categoria de areia argilosa, enquanto para o sistema
k e n são os coeficientes determinados por regressões, MCT o mesmo solo é classificado como um solo
particulares para cada tipo de mistura asfáltica, arenoso não laterítico. Já para o solo vermelho, no
modificados para refletir o desempenho do material no sistema USC, ele corresponde a uma argila de alta
campo. plasticidade e no sistema MCT a um solo arenoso
laterítico.
3 Resultados
3.2 Compactação
3.1 Caracterização dos materiais
Nas Figuras 8 e 9 são apresentadas as curvas de
Na Tabela 4 são apresentados os resultados obtidos compactação na energia Proctor intermediária da
na caracterização geotécnica das amostras de solo e amostra de solo A e suas misturas com rejeito e da
de rejeito, os quais também foram classificados pelos amostra de solo V e suas misturas com rejeito,
sistemas de classificação dos solos TRB respectivamente. Os dados dos parâmetros ótimos de
(Transportation Research Board), USC (Unified Soil compactação do rejeito e dos solos e suas misturas
Classification) e MCT (Miniatura, Compactado, são apresentados na Tabela 5.
Tropical). Na figura 7 estão apresentadas as curvas
granulométricas do solo vermelho, amarelo e do 2
rejeito.
Massa esp. aparente seca

1,8
100
Solo amarelo
(g/cm³)

80 Rejeito 1,6
Solo vermelho
% que passa

60
1,4 Vermelho Rejeito
40 VR 90/10 VR 80/20
VR 70/30
1,2
20
5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
0 Teor de umidade
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 Figura 8: Curvas de da amostra de solo A, do rejeito e suas
Diâmetro das partículas (mm) misturas.
Figura 7: Curvas granulométricas dos materiais utilizados.

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108
2 0,60
0,51
Massa esp. aparente seca

0,50

Expansão (%)
1,8 0,40
(g/cm³)

0,30
0,20 0,18
1,6 0,20
Amarelo Rejeito
AR 90/10 AR 80/20 0,10 0,02
0,00
AR 70/30 0,00
1,4
5% 10% 15% 20% 25% 30% R V VR VR VR
Teor de umidade 90/10 80/20 70/30
Figura 9: Curvas de da amostra de solo A, do rejeito e suas Figura 11: Expansão do solo vermelho, rejeito e suas
misturas. misturas.
Tabela 5: Coordenadas dos pontos ótimos de
Observou-se que houve uma tendência de melhora
compactação dos materiais estudados.
Amostra γd,max (kN/m³) wot (%)
da capacidade de carga da amostra de solo V até 20%
R 19,2 13,00 de adição de rejeito de espirais, e que um maior teor
A 17,2 19,00 impactou negativamente no valor de CBR. Já a
AR 90/10 17,7 18,00 expansão apresentou uma tendência de diminuição
AR 80/20 18,0 15,50 com o aumento do teor de rejeito de espirais.
AR 70/30 18,7 15,50 Os resultados de índice CBR e expansão para a
V 16,3 23,00 amostra de solo A e suas misturas com rejeito são
VR 90/10 16,3 23,00 apresentados nas Figuras 12 e 13, respectivamente.
VR 80/10 17,5 21,00
VR 70/30 17,8 19,00
60,00
50,50
Observou-se que a adição de rejeito a ambas as 50,00 44,50
amostras de solo conduziu a um aumento de peso
40,00 33,50
específico aparente seco máximo devido a alteração
CBR (%)

da granulometria do material original e a uma 30,00


diminuição do teor de umidade ótimo. 18,00
20,00

3.4 Índice CBR e expansão CBR 10,00 6,00

0,00
Os resultados do ensaio de índice CBR e expansão da R A AR 90/10AR 80/20AR 70/30
amostra de solo V e suas misturas com rejeito são
apresentados nas Figuras 10 e 11, respectivamente. Figura 12: CBR do solo amarelo, rejeito e suas misturas.
70,00

60,00 55,00
50,50 0,30
50,00 0,25
40,00 0,25
CBR (%)

40,00
Expansão (%)

31,00 0,20
30,00
0,15 0,13
20,00 12,50 0,09
0,10
10,00
0,05
0,00 0,00 0,00
R V VR VR VR 0,00
90/10 80/20 70/30 R A AR AR AR
90/10 80/20 70/30
Figura 10: CBR do solo vermelho, rejeito e suas misturas.
Figura 13: Expansão do solo amarelo, rejeito e suas
misturas.

A mesma tendência de aumento do CBR até os


20% de rejeito de espirais nas misturas para a amostra

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109
de solo V foi observada para as misturas da amostra os valores em negrito aqueles em que o Nadm atende
de solo A, mas com valores de CBR menores. A o Nprojeto.
expansão apresentou um aumento quando da adição
do rejeito de espirais na amostra de solo A, mas com Tabela 8: Resultados da análise tensão-deformação da
o aumento dos teores de rejeito, observou-se uma amostra de solo A e suas misturas.
diminuição. Ressalta-se que os valores de expansão Material Uz (10-2mm) εt (m/m) εv (m/m)
mesmo com 10% de rejeito (maior valor) ainda são A 84,6 7,9E-05 2,7E-04
considerados baixos para qualquer camada estrutural AR90/10 37,0 1,6E-05 7,4E-05
AR80/20 33,9 1,1E-05 5,8E-05
de um pavimento flexível.
AR70/30 47,1 3,2E-05 1,2E-04
3.5 Análise tensão-deformação
Os resultados foram inseridos nas equações
apresentadas na Tabela 3, que forneceram os Nadm
Os resultados obtidos no software AEMC para a
apresentados na Tabela 9.
análise de tensão-deformação com a amostra de solo
V como subleito são apresentados na Tabela 6. Tabela 9: Nadm para a amostra de solo A e suas misturas
com rejeito.
Material Nd Nir Nsub
Tabela 6: Resultados da análise tensão-deformação da A 1,7E+06 2,8E+08 6,0E+07
amostra de solo V e suas misturas. AR90/10 1,9E+08 7,3E+10 2,9E+10
Material Uz (10-2mm) εt (m/m) εv (m/m) AR80/20 3,2E+08 2,9E+11 9,3E+10
V 28,3 1,6E-05 1,2E-04 AR70/30 4,8E+07 6,6E+09 2,5E+09
VR90/10 24,8 2,5E-05 9,5E-05
VR80/20 21,4 3,4E-05 7,2E-05
Observou-se que a amostra de solo A na condição
VR70/30 50,5 3,2E-05 2,3E-04
natural não obteve um valor de Nadm que atendesse o
Os resultados foram inseridos nas equações Nprojeto correspondente ao afundamento nas trilhas de
apresentadas na Tabela 3, que forneceram os rodas considerando o deslocamento vertical no topo
números admissíveis de solicitações do eixo padrão do revestimento asfáltico. Entretanto, com a adição
de 80 kN (8,2 tf) apresentados na Tabela 7, para a do rejeito, em qualquer teor, todos os Nprojeto foram
amostra de solo V e suas misturas, sendo os valores atendidos com destaque para a porcentagem de
em negrito aqueles em que o Nadm atende o Nprojeto. rejeito de 20%, que obteve os melhores resultados.
Essa última análise também mostra que mesmo
Tabela 7: Nadm para a amostra de solo V e suas misturas um pavimento flexível devidamente dimensionado
com rejeito. através do método empírico, baseado no CBR, pode
Material Nd Nir Nsub não suportar adequadamente as cargas reais
V 8,9E+08 8,2E+10 3,2E+09 encontradas no campo quando se estudo o mesmo
VR90/10 1,9E+09 1,6E+10 8,8E+09 através de análises tensão-deformação.
VR80/20 4,5E+09 5,2E+09 3,2E+10
VR70/30 3,2E+07 6,7E+09 1,3E+08
CONCLUSÃO
Observou-se que os valores de Nadm referentes à
amostra de solo na condição natural atende todos os Este estudo teve como objetivo principal analisar a
critérios de Nprojeto estabelecidos, isso mostra que esse influência da estabilização granulométrica de dois
material poderia ser empregado como camada de solos tropicais com rejeito de espirais no desempenho
sub-base de pavimentos tanto considerando o método de pavimentos flexíveis. Foi possível observar uma
de dimensionamento empírico do DNER, quanto a tendência, para ambas as amostras de solo estudadas,
análise mecanística através do AEMC. que o melhor desempenho foi encontrado próximo
Foi possível observar também que as misturas dos 20% de rejeito de espirais. Essa porcentagem
VR90/10 e VR80/20 forneceram valores maiores de melhorou os valores de Nadm para ambos os solos,
Nadm considerando os critérios estabelecidos para possibilitando um pavimento com maior durabilidade
análise do afundamento nas trilhas de rodas e valores no caso da amostra de solo V como subleito e
menores de Nadm considerando o trincamento por possibilitando a adequabilidade da amostra de solo A
fadiga. como subleito, o que não seria possível sem a
Os resultados obtidos no software AEMC para a inserção do rejeito, considerando o critério de
análise de tensão-deformação com a amostra de solo afundamento plástico nas trilhas de rodas em relação
A como subleito são apresentados na Tabela 8, sendo ao deslocamento vertical no topo do revestimento
asfáltico.

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110
Portanto, considera-se que a adição de rejeitos de Geociências, 43, 253-262.
espirais aos solos analisados é benéfica do ponto de DER-SP (2006). Projeto de Pavimentação. IP-DE-
vista técnico devido à melhora das propriedades P00/001. Departamento de Estradas de Rodagem do
mecânicas e do ponto de vista ambiental já que esse Estado de São Paulo. São Paulo, 53 p, 2006.
DNER (1996). CLA 259, Classificação de solos tropicais
resíduo pode minimizar a utilização e o transporte de
para finalidades rodoviárias utilizando corpos-de-
materiais naturais convencionais para a obra. prova compactados em equipamento miniatura. Rio de
Janeiro, RJ: Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem.
AGRADECIMENTOS DNIT (2006). Manual de Pavimentação. Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes. Rio de
Os autores agradecem a Universidade Federal de Janeiro.
Viçosa e ao grupo Infratest pelo apoio nos ensaios DNPM 2018. Sumário Mineral. Departamento Nacional
realizados no Laboratório de Engenharia Civil. de Produção Mineral, 36, 131.
DOMINGOS, M. D. I. & FAXINA, A. L. 2016.
Susceptibility of Asphalt Binders to Rutting: Literature
Review. Journal of Materials in Civil Engineering, 28,
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AASHTO (2020). Mechanistic-Empirical Pavement solutions for improving rutting resistance of asphalt
Design Guide: A Manual of Practice. 3rd ed. pavement and test methods. Construction and Building
[Washington D.C.]: American Association of State Materials, 168, 893-905.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


111
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise mecanicista de um pavimento dimensionado


empiricamente contendo um subleito estabilizado com escória de
aciaria
Laís Brenda Lopes Rezende
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, laisld@yahoo.com.br

Jéssica Mota Souto


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, jemota03@gmail.com

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaushenrique@hotmail.com

RESUMO: O Método do Dimensionamento Nacional (MeDiNa) vem ganhando notoriedade para dimensionamento de
pavimentos asfálticos devido à incorporação de análises tensão-deformação. Entre os parâmetros envolvidos no método,
está o Módulo de Resiliência, obtido através de um ensaio que simula com maior fidelidade as condições de cargas a que
os pavimentos estão submetidos. O MeDiNa tem sido considerado um sucessor para o método empírico adotado pelo
DNER e consolidado na pavimentação nacional, no qual se utiliza o ensaio de índice CBR (California Bearing Ratio),
que caracteriza mecanicamente as camadas do pavimento, mas não consegue representar com fidelidade a situação de
campo por não considerar a deformabilidade recuperável dos materiais. Este estudo teve como objetivo realizar análises
tensão-deformação em um pavimento dimensionado através do método empírico do DNER utilizando o software AEMC
(Análise Elástica de Múltiplas Camadas) e verificar se o método fornecia um pavimento asfáltico capaz de suportar um
determinado número N. Para isso, dois critérios de ruptura foram analisados, o trincamento por fadiga, avaliado através
da deformação horizontal da fibra inferior da camada de revestimento asfáltico e o afundamento plástico nas trilhas de
rodas, avaliado através dos valores de deslocamento vertical no topo da camada de revestimento asfáltico e de deformação
vertical no topo do subleito. Os resultados mostraram que o método de dimensionamento proposto pelo DNER não
fornece, para os materiais utilizados neste estudo, um pavimento asfáltico adequado, mostrando que a espessura da
camada de revestimento asfáltico deveria ser maior que o valor mínimo recomendado pela metodologia do DNER,
sobretudo em relação ao trincamento por fadiga.

PALAVRAS-CHAVE: Projeto de pavimentos, MeDiNa, CBR, Módulo de Resiliência, Vida Útil.

ABSTRACT: The National Design Method (MeDiNa) has been gaining notoriety for designing asphalt pavements due
to the incorporation of stress-strain analyses. Among the parameters involved in the method is the Resilient modulus,
obtained through a test that more faithfully simulates the load conditions to which the pavements are submitted. MeDiNa
has been considered a successor to the empirical method adopted by DNER and consolidated in national paving, in which
the CBR index test (California Bearing Ratio) is used, that mechanically characterizes the layers of the pavement but
cannot faithfully represent the situation of the field because it does not consider the recoverable deformability of the
materials. This study aimed to carry out stress-strain analyzes on a pavement designed using the empirical method of
DNER using the AEMC software (Multiple Layer Elastic Analysis) and verify whether the method provided an asphalt
pavement capable of withstanding a certain number N. In order to do so, two failure criteria were analyzed, fatigue
cracking, evaluated through the horizontal deformation of the lower fiber of the asphalt coating layer and plastic sinking
in the wheel tracks, evaluated through the values of vertical displacement at the top of the asphalt coating layer and of
vertical deformation at the top of the subgrade. The results showed that the dimensioning method proposed by the DNER
does not provide an adequate asphalt pavement for the materials used in this study, showing that the thickness of the
asphalt coating layer should be greater than the minimum value recommended by the DNER methodology, especially in
relation to to fatigue cracking.

KEY WORDS: Paving design, MeDiNa, CBR, Resilient Modulus, Lifespan.

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112
1 INTRODUÇÃO Para a análise de tensão-deformação utiliza-se
uma sub-rotina do MeDiNa, o software AEMC
O aço é um material muito comum no dia a dia (Análise Elástica de Múltiplas Camadas). Neste, é
de todos e pode ser produzido através de um forno possível prever se o pavimento é capaz de suportar
elétrico a arco. Neste processo, a escória de aciaria um determinado número N de solicitações. Alguns
elétrica é produzida na fase do refino primário, tendo critérios de ruptura que podem ser analisados se
composição química variável (EUROSLAG, 2019). relacionam com patologias dos pavimentos, como
A grande quantidade de escória gerada (IAB, 2018) trincamento por fadiga, avaliado pela deformação
impulsionou estudos sobre possíveis aplicações da horizontal de tração na fibra inferior da camada de
mesma, inclusive sua utilização em pavimentação revestimento asfáltico (HUANG, 2004; LIU et al.,
(IPR, 1988), visto que é uma alternativa para a 2020; YAGHOUBI; SUDARSANAN;
reutilização do resíduo e, por ser um estabilizante à ARULRAJAH, 2021) e afundamento por trilha de
base de cal, poderia trazer melhorias das roda (ATR), patologia potencializada pelo uso de
propriedades do solo e para estrutura do pavimento. solos de baixa capacidade de suporte, implicando na
Um pavimento é uma estrutura composta de necessidade de grande manutenção (ALHARBI et
múltiplas camadas que devem trabalhar de forma al., 2022; BILDIK; LAMAN, 2020).
eficiente para suportar as ações do tráfego, além das O objetivo deste trabalho foi realizar uma análise
adversidades ambientais (THEYSE et al, 2007), o mecanicista de um pavimento asfáltico dimensionado
que justifica a necessidade de que se tenha primazia pelo método empírico do DNER, além de avaliar o
na busca de um dimensionamento eficiente. impacto da estabilização do subleito com escória de
O método do dimensionamento Nacional aciaria elétrica primária.
(MeDiNa) é considerado um sucessor para o método
empírico adotado pelo DNER que se utiliza do ensaio 2 MATERIAIS E MÉTODOS
de Índice CBR (California Bearing Ratio), que não
considera a deformabilidade recuperável dos Foi realizada uma análise paramétrica variando o
materiais, motivo pelo qual é conferido menos material do subleito de um pavimento flexível
fidelidade à situação real que ocorre em campo, onde utilizando amostras de solo com adição de EAEP. Os
o carregamento é dinâmico. valores de MR e coeficiente de Poisson das outras
O método MeDiNa é baseado em métodos camadas do pavimento foram provenientes da norma
mecanísticos-empíricos que vêm ganhando ênfase na técnica DER-SP (2006), excetuando-se o subleito,
pavimentação devido à incorporação de análises onde foi utilizado os valores de MR dos ensaios deste
tensão-deformação. Segundo Medina e Motta (2005), estudo e coeficiente de Poisson adotado como 0,45
os métodos mecanísticos-empíricos, como utilizado (JIANG et al. 2021). Primeiramente foi realizado o
no software MeDiNa, necessitam da realização de dimensionamento pelo método empírico do DNIT
ensaios dinâmicos para definição das propriedades (2006) e em seguida realizada uma análise
dos materiais para, em seguida, iniciar a análise mecanicista pelo AEMC, de forma a verificar se o
considerando os parâmetros de projeto e sua dimensionamento empírico seria adequado sob a
variabilidade. A partir disso, é feita a adoção das ótica da análise mecanicista.
espessuras das camadas e cálculo das tensões. Caso a
vida útil estimada do pavimento adotado, através da 2.1 Materiais
porcentagem de área trincada e do afundamento
plástico nas trilhas de roda, seja equivalente à vida de Neste estudo foram utilizadas amostras de solos
projeto, as camadas adotadas inicialmente podem ser residuais provenientes de jazidas de empréstimo
utilizadas no projeto final. localizadas no município de Viçosa, Minas Gerais,
O módulo de resiliência (MR) é um parâmetro Brasil. Foram selecionadas amostras de solos com
utilizado no método MeDiNa e determinado através características físicas destoantes entre si, para
da aplicação de cargas cíclicas em um corpo de prova possibilitar a análise da influência da interação entre
de solo compactado ou de uma amostra indeformada as amostras de solo e a escória de aciaria elétrica
de solo submetido à compressão triaxial. Os pares de primária moída (EAEP).
As amostras foram denominadas (S1), com
tensão confinante (3) e tensão desvio (d), que
característica argilosa e (S2) com característica
simulam a passagem dos eixos, variam de acordo
arenosa. Após a coleta, as amostras foram preparadas
com a camada de pavimento analisada. Na aplicação
e armazenadas conforme a norma técnica NBR 6457
das cargas, obtemos os deslocamentos resiliente e
(ABNT, 2016a) no laboratório de Engenharia Civil
plástico, sendo o MR calculado através do quociente
do Departamento de Engenharia Civil da
da tensão desvio aplicada pela deformação específica
Universidade Federal de Viçosa (UFV).
resiliente.

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113
A amostra de escória de aciaria elétrica primária
foi disponibilizada por uma empresa que atua no
setor metálico no estado de Minas Gerais. O material
foi coletado, ainda no estado bruto, de locais de
estocagem recente, com intervalo de tempo entre sua
produção e estocagem de no máximo 72 horas, para
que não fosse submetido ao processo de cura antes da
realização dos ensaios.

2.2 Métodos
Figura 1: Corpo de Prova (CP) utilizado para ensaios de
2.2.1 Caracterização Módulo de Resiliência (MR).

A EAEP utilizada foi caracterizada usando como Esses Corpos de Prova (CPs) foram confecciona-
referência as metodologias de ensaio em cimento dos para a amostra de solo em seu estado natural e
Portland como segue: (i) Distribuição para a mistura solo-EAEP com 3 teores de umidade
granulométrica, conforme norma técnica ISO 13320 de compactação distintos: 1% abaixo do teor de umi-
(ISO, 2020); (ii) Finura por peneiramento, conforme dade ótimo; no teor de umidade ótimo e 1% acima do
norma técnica NBR 11579 (ABNT, 2012); (iii) teor de umidade ótimo.
Superfície específica, segundo norma técnica NBR Realizada a moldagem, os CPs foram submetidos
16372 (ABNT, 2015); (iv) Massa específica, a 35 dias e 56 dias de cura selada em câmara úmida.
determinada com o emprego do frasco volumétrico
de Le Chatelier, conforme norma técnica NBR 16605 2.2.3 Ensaio de compactação
(ABNT, 2017). A alcalinidade da escória não foi
objeto de análise deste estudo. Para o ensaio de compactação, os corpos de prova
Também foram realizados os ensaios de: (i) foram compactados na energia Proctor Normal
Análise granulométrica, de acordo com a NBR 7181 segundo a NBR 7182 (ABNT, 2016f), visando a
(ABNT, 2016b); (ii) Massa específica dos grãos do determinação do peso específico aparente seco
solo, segundo a NBR 6458 (ABNT, 2016c) e (iii) máximo e do teor de umidade ótimo.
Limites de Atterberg, conforme as normas técnicas
2.2.4 Ensaio de Módulo de Resiliência
NBR 6459 (ABNT, 2016d) e NBR 7180 (ABNT,
2016e).
Para o ensaio de Módulo de Resiliência, os CPs
2.2.2 Mistura e moldagem foram posicionados dentro de uma câmara triaxial e
posteriormente colocados na máquina de MR, Figura
Neste trabalho foram confeccionadas misturas na 2, de modo que foram aplicados pares de tensão nas
proporção de 80% de solo e 20% de EAEP em rela- amostras de solo e suas misturas com EAEP corres-
ção à massa seca das misturas. Essa dosagem foi pro- pondentes a tensões para subleito, de acordo com a
veniente de um planejamento experimental de mistu- norma ME 134 (DNIT, 2018). O pulso de carrega-
ras em rede simplex-centroide com a finalidade de mento possui 0,1 segundo de duração e período de
otimizar as propriedades mecânicas entre uma amos- repouso de 0,9 segundos, completando um ciclo de 1
tra de solo, uma amostra de escória de aciaria elétrica segundo.
primária e uma amostra de cinza volante. A dosagem
que apresentou os maiores valores das propriedades
analisadas foi a adotada neste estudo. Essa dosagem
foi utilizada para a realização do ensaio de módulo de
resiliência com corpos de prova, como o da Figura
1, mostrado próximo a um paquímetro comum, com-
pactados em moldes cilíndricos com diâmetro de 50
mm e altura de 100 mm, dimensões essas que tam-
bém foram utilizadas em outros estudos (DENEELE
et al., 2021; HOSSEN; GALLANT; ASHRAF, 2020;
VITALE et al., 2021; XU et al., 2020).

Figura 2: CP inserido em máquina de MR.

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114
2.2.5 Ensaio de Expansibilidade
Concreto asfáltico MR = 3500 MPa ν = 0,3 z1 = 100 mm
Para verificar a expansão das amostras com es-
Base MR = 225 MPa ν = 0,35 z2 = 150 mm
cória de aciaria, os corpos de prova das misturas fo-
ram submetidos ao ensaio de expansão mini-CBR, de Sub-base MR = 150 MPa ν = 0,35 z3 = 150 mm

acordo com a norma técnica ME 254 (DNER, 1997).


Subleito Materiais deste estudo ν = 0,45 z4 ≥ 600 mm

2.3 Pavimento de anteprojeto Figura 3: Estrutura do pavimento de anteprojeto.


Conforme estudos de Carvalho et al. (2020) e
Rodrigues (2022) foi adotado como dimensiona- Os valores de MR e coeficientes de Poisson (ν)
mento do anteprojeto o método empírico de dimensi- utilizados seguem a norma técnica DER-SP (2006),
onamento do DNIT para vida útil de 10 anos subme- excetuando o subleito, onde foram utilizados os
tido às condições: valores de MR obtidos dos ensaios e coeficiente de
Poisson de 0,45 (JIANG et al. 2021).
• Número de operações do eixo padrão de 80
kN: (Nprojeto) de 1,6 x 107, para USACE (United 2.4 Análise estrutural
States Army Corps of Engineers), e 5,0 x 106,
para AASHTO (American Association of State A análise estrutural foi realizada no software
Highway and Transportation Officials); AEMC com respostas do tipo tensão-deformação.
Neste, foram realizadas três análises em prol de se
• Estrutura composta por 10 cm de revestimento avaliar os dois critérios de ruptura mais utilizados: i)
em concreto asfáltico, função do Nprojeto da deformação vertical do topo do subleito (εv), análise
USACE, por materiais de base e sub-base gra- que demonstra a contribuição desta camada no
nulares, e subleito constituído dos próprios so- afundamento plástico por trilha de roda, assim como
los e suas misturas com EAEP. a capacidade de carga da mesma; ii) deformação
horizontal de tração na fibra inferior da camada de
Para realizar o dimensionamento pelo método em- revestimento asfáltico (εt), o qual tem a capacidade
pírico do DNIT (2006), as características das cama- de indicar a susceptibilidade ao trincamento por
das de base e sub-base utilizadas na estrutura do pa- fadiga; iii) deflexão no topo da camada de
vimento asfáltico de anteprojeto foram adotadas de revestimento asfáltico (Uz), o qual se relaciona com
acordo com os valores mínimos recomendados pelo o afundamento plástico de trilhas de roda decorrente
manual de pavimentação e são apresentadas na Ta- da soma das contribuições de todas as camadas.
bela 1, em que k é o coeficiente de equivalência es- Para as realizações das análises previamente
trutural. As características das amostras de solo utili- apontadas, apenas o subleito de anteprojeto teve
zadas no subleito foram obtidas através de ensaios de alteração de material. Não foi considerada a
laboratório. aderência entre as camadas do pavimento asfáltico,
seguindo recomendações de Franco e Motta (2020).
Tabela 1: Características dos materiais das camadas do Os pontos arbitrados para extrair os valores das
pavimento de anteprojeto. análises de deformação e deflexão supracitadas
Camada foram o eixo central das rodas (ECR) e o eixo de
Parâmetro Sub- Subleito Subleito simetria entre as duas rodas (ESR) do semieixo
Base
base S1 S2 padrão, verificando sempre o mais crítico.
CBR (%) 80 20 11 8 Seguindo as orientações do Manual de
Expansão (%) 0,5 1 0,93 0,26 Pavimentação do DNIT (DNIT, 2006), utilizou-se o
Índice de
0 0 20 1 carregamento do eixo padrão rodoviário (80 kN);
Grupo
k 1 1 - -
distância entre rodas do semieixo de 324 mm; pressão
de inflação dos pneus de 560 kPa e raio da área de
As espessuras das camadas do pavimento de contato entre pneu e pavimento de 10,79 cm.
anteprojeto, resultado do dimensionamento são Por fim, utilizando as equações e valores de k e n
apresentadas na Figura 3. extraídos da norma técnica DER-SP (2006),
analisou-se o número de solicitações de eixo padrão
que o pavimento flexível adotado teria capacidade de
suportar (Nadm). Para a determinação do Nadm para a
deformação horizontal na fibra inferior do
revestimento asfáltico, considerou-se os fatores de

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115
equivalência carga (FEC) da AASHTO; já nas
equações para cálculo do Nadm referente à deflexão no 3.1.2 Solos
topo do revestimento e à deformação vertical no topo
do subleito, utilizou-se os FEC da USACE. As Para as amostras de solos analisadas, obteve-se a
equações e coeficientes k e n utilizados para obtenção caracterização física e geotécnica mostrada na Tabela
dos Nadm são apresentados na Tabela 2. 3, composta por classificação segundo a Metodologia
MCT (Miniatura, Compactado, Tropical), de acordo
Tabela 2: Parâmetros utilizados para a previsão do com a CLA 259 (DNER, 1996a), e segundo os
número Nadm. sistemas de classificação geotécnica tradicional de
Local da Análise Equação Fonte solos TRB (Transportation Research Board),
conforme a M 145-91 (AASHTO, 2017), e USC
DNER- (Unified Soil Classification), conforme a D2487
Topo do 𝑛 10𝑘 PRO11/1979
(ASTM, 2017).
revestimento 𝑁𝑡𝑟 = √ apud DER-SP
𝐷 (2006)
Tabela 3: Caracterização física e classificações
FHWA (1976)
Fibra inferior do 1 𝑛 apud DER-SP
geotécnicas das amostras de solos analisadas.
revestimento 𝑁𝑖𝑟 = 𝑘. ( ) Parâmetro S1 S2
𝜀𝑡 (2006) % argila (φ < 0,002 mm) 61 5
Dormon e % silte (0,002 mm < φ <
14 24
Metcalf (1965) 0,06 mm)
Topo do subleito 1 𝑛 apud DER-SP % areia fina (0,06 mm < φ <
𝑁𝑠𝑢𝑏 = 𝑘. ( ) 12 13
𝜀𝑣 (2006) 0,2 mm)
Em que: % areia média (0,2 mm < φ
Ntr: Nadm para o topo do revestimento; 10 40
< 0,6 mm)
Nir: Nadm para a fibra inferior do revestimento asfáltico; % areia grossa (0,6 mm < φ
Nsub = Nadm para o topo do subleito; 3 15
< 2 mm)
D: deflexão no topo do revestimento (10-2 mm);
% pedregulho (2 mm < φ <
εt: deformação específica horizontal de tração na fibra 0 3
inferior do revestimento; 60 mm)
εv: deformação específica vertical no topo do subleito; LL (%) 78 36
k e n: coeficientes determinados por regressões, LP (%) 43 18
particulares para cada tipo de mistura asfáltica, IP (%) 35 18
modificados para refletir o desempenho do material no ρs (g/cm³) 2,869 2,657
campo. TRB A-7-5 (20) A-2-6 (1)
USC MH SC
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO MCT LA’ NA’

3.1 Caracterização dos materiais Além disso, as curvas de distribuição


granulométricas, apresentadas na Figura 5,
3.1.1 Escória de Aciaria Elétrica Primária permitiram observar que a amostra S1 possui um alto
teor de partículas de tamanho argila (argila areno-
A amostra de EAEP apresentou índice de finura siltosa) e na amostra S2 predominam partículas de
por peneiramento de 24,9%; superfície específica tamanho areia (areia silto-argilosa).
pelo método de Blaine de 0,20 m²/g e massa
específica dos sólidos de 3,7 g/cm³. A curva 100
granulométrica da EAEP moída é apresentada na
% Passante

Figura 4.
50
100
80 Amostra S1
% Passante

0 Amostra S2
60
0,001 0,1 10
40 Diâmetro das partículas (mm)
20 Figura 5: Curva de distribuição granulométrica das
EAEP amostras de solo analisadas.
0
0,001 0,01 0,1 1
Diâmetro das partículas (mm) 3.2 Ensaios de Compactação
Figura 4: Curva de distribuição granulométrica da Escória
de Aciaria Elétrica Primária (EAEP).

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116
Através das curvas de compactação das misturas Tabela 5: Valores de MR médio para as amostras de solo
analisadas e compactadas na energia Proctor Normal e suas misturas com EAEP.
pôde-se obter os parâmetros mostrados na Tabela 4 MR médio (MPa)
eTabela 4: Parâmetros de compactação das amostras de Material Solo 1 Solo 2
solo e das misturas solo-escória de aciaria elétrica moída Natural 54,71 31,77
analisadas. SE-1(35) 95,39 88,6
. SEot(35) 78,21 33,64
SE+1(35) 66,87 55,09
Tabela 4: Parâmetros de compactação das amostras de SE-1(56) 104,62 73,96
solo e das misturas solo-escória de aciaria elétrica moída SEot(56) 87,8 48,63
analisadas. SE+1(56) 74,22 49,63
S1 S2
Misturas wot γdmax wot γdmax Para todas as amostras destaca-se o aumento do
(%) (kN/m³) (%) (kN/m³) MR em relação à amostra de solo natural. Além disso,
Solo é notável em todas as amostras a tendência de
31,0 13,9 15,0 15,6
natural aumento do MR médio com a diminuição do teor de
Solo- umidade de compactação.
28,6 14,9 13,9 18,5
EAEP
3.4 Ensaio de expansibilidade
15,5 S1 natural
S1-EAEP A Tabela 6 apresenta os valores de expansão das
γd (kN/m³)

14,5 amostras de solo natural e de suas misturas com


EAEP. Observou-se que expansão não apresentou
13,5
variações significativas com o acréscimo da EAEP e
todas as situações apresentaram valores muito
12,5
23 25 27 29 31 33 35 37 baixos.
w (%)
(a) Tabela 6: Valores de MR médio para as amostras de solo
e suas misturas com EAEP.
19,0 S2 natural
Solo 1 Solo 2
S2-EAEP Amostra Expansão Amostra Expansão
γd (kN/m³)

18,0
S1 (%) S2 (%)
17,0 Natural 0,07 Natural 0,00
SE-1(35) 0,00 SE-1(35) 0,00
16,0 SEot(35) 0,06 SEot(35) 0,03
8 10 12 14 16 18 20
SE+1(35) 0,12 SE+1(35) 0,00
w (%)
SE-1(56) 0,02 SE-1(56) 0,00
(b)
Figura 6: Curvas de compactação das amostras de solo SEot(56) 0,05 SEot(56) 0,03
natural e das misturas solo-escória; a) Solo S1; b) Solo S2. SE+1(56) 0,04 SE+1(56) 0,03

3.3 Ensaio de Módulo de Resiliência


3.5 Análise estrutural
Para as amostras com umidade abaixo da ótima,
Na Tabela 7 e na Tabela 8 são apresentados os
adotou-se o sufixo -1, para as no ponto ótimo, o
valores de deflexão no topo do revestimento (Uz),
sufixo ot, e para as acima da ótima, +1. Além disso,
deformação horizontal de tração na fibra inferior (εt)
os tempos de cura são representados entre parênteses
da referida camada, além da deformação específica
como (35) dias e (56) dias. Foi designado nessa
vertical no topo do subleito (εv) para o ponto mais
nomenclatura o termo SE para misturas Solo-EAEP.
crítico entre o ESR e o ECR. O pavimento
A Tabela 5 apresenta os valores de MR médio
dimensionado empiricamente pelo método do DNIT
determinados através de ensaios em duplicata para
(2006) é constituído por 10 cm de revestimento
cada amostra de solo estabilizada com EAEP.
asfáltico, 15 cm de base e 15 cm de sub-base (10-15-
15). Na Tabela 9 e na Tabela 10, foram destacados
em negrito os valores de Nadm que ficaram acima dos
valores de Nprojeto, de modo que o solo natural se
apresentou como o pior dos casos.

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117
revestimento asfáltico e a deformação horizontal de
Tabela 7: Resultados obtidos do AEMC para o Solo 1. tração na fibra inferior do revestimento asfáltico, esse
pavimento dimensionado pelo método empírico do
Amostra S1 Uz (mm) t (m/m) v (m/m)
DNER não apresentou resultados satisfatórios, o que
Natural 90,78 4,21E-04 1,88E-04 pode causar danos de ATR e trincamento por fadiga
SE-1(35) 638,54 3,80E-04 1,29E-04 antes do previsto, prejudicando o conforto ao
SEot(35) 721,75 3,94E-04 1,48E-04 rolamento e a segurança dos usuários da via. Isso
SE+1(35) 797,08 4,05E-04 1,65E-04 mostra a deficiência desse tipo de metodologia, e a
necessidade da incorporação de análises mecanicistas
SE-1(56) 604,07 3,74E-04 1,21E-04
no dimensionamento de pavimentos asfálticos.
SEot(56) 671,71 3,86E-04 1,37E-04
SE+1(56) 745,95 3,98E-04 1,54E-04 4 CONCLUSÃO

Tabela 8: Resultados obtidos do AEMC para o Solo 2. Conclui-se, com este estudo, que o valor do
Amostra S2 Uz (mm) t (m/m) v (m/m) Módulo de Resiliência (MR) do solo natural aumenta
Natural 1305,36 4,68E-04 2,60E-04 se este é misturado com EAEP. Diante disso,
observou-se, através de análises de tensão-
SE-1(35) 667,98 3,85E-04 1,36E-04
deformação, que quando o solo aplicado no subleito
SEot(35) 1255,71 4,63E-04 2,51E-04 é estabilizado com EAEP há uma diminuição das
SE+1(35) 903,65 4,20E-04 1,87E-04 deformações sofridas e, por conseguinte, aumento do
SE-1(56) 980,95 4,30E-04 2,02E-04 número de solicitações que o pavimento suporta.
SEot(56) 980,95 4,30E-04 2,02E-04 Ocorreu também diminuição da resistência e
rigidez conforme aumento da umidade de
SE+1(56) 967,85 4,29E-04 1,99E-04
compactação, principalmente no Solo 1, de matriz
argilosa. Assim, os melhores resultados para a
Tabela 9: Previsão do Nadm para a amostra de Solo 1. resistência mecânica, considerando ambos os tempos
Previsão do número Nadm de cura, se deram em umidade abaixo da ótima.
Amostra S1 Ntr Nir Nsub Também foi notável a influência do tempo de cura,
de modo que, quanto maior o tempo de cura, há mais
Natural 1,11E+06 7,85E+05 3,39E+08 tempo para formação de novos compostos
SE-1(35) 8,40E+06 1,12E+06 1,99E+09 cimentícios e, portanto, maior a resistência e maiores
SEot(35) 4,15E+06 9,90E+05 1,03E+09 os valores Nadm obtidos.
SE+1(35) 2,35E+06 8,96E+05 6,28E+08 Além disso, mesmo seguindo o dimensionamento
proposto pelo DNIT, o pavimento não apresentou
SE-1(56) 1,16E+07 1,18E+06 2,72E+09
desempenho satisfatório quando analisado sob a ótica
SEot(56) 6,28E+06 1,06E+06 1,51E+09 mecanicista, o que aponta para uma limitação do
SE+1(56) 3,44E+06 9,58E+05 8,74E+08 método empírico. Em relação à deformação vertical
no topo do subleito, há um atendimento do Nadm para
Tabela 10: Previsão do Nadm para a amostra de Solo 2. todas as amostras. No entanto nenhuma amostra
Previsão do número Nadm atingiu o Nadm para deformação horizontal de tração
Amostra S2 Ntr Nir Nsub na fibra inferior maior que o Nprojeto. Da mesma
Natural 2,47E-01 5,41E+05 7,20E+07
forma, o Nadm para deflexão no topo do revestimento
não alcançou valores maiores que Nprojeto.
SE-1(35) 6,48E+06 1,07E+06 1,56E+09
SEot(35) 1,72E+05 5,63E+05 8,42E+07 AGRADECIMENTOS
SE+1(35) 1,14E+06 7,88E+05 3,46E+08
À UFV pelo conhecimento oferecido e instalações
SE-1(56) 7,12E+05 7,25E+05 2,39E+08
satisfatórias à pesquisa.
SEot(56) 7,12E+05 7,25E+05 2,39E+08
SE+1(56) 7,69E+05 7,35E+05 2,54E+08 REFERÊNCIAS

Todas as misturas, em ambas as amostras de solo, ALHARBI, F.; ALMOSHAIGEH, A.;


mostrando uma melhoria em relação ao solo natural, ALMOSHAOGEH, M.; ELRAGI, A. et al. Effect of
Geo-Grid Depth in Roads Cross-Section on Reducing
apresentaram Nadm para a deformação vertical no topo
Pavement Rutting. 3, n. 1, p. 1-8, 2022.
do subleito acima do requerido originalmente. AMERICAN ASSOCIATION OF STATE HIGHWAY
Entretanto, analisando a deflexão no topo do AND TRANSPORTATION OFFICIALS. AASHTO

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


118
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


120
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação da Resistência à Compressão Simples de Misturas Solo-


Escória de Aciaria Elétrica
Anna Beatriz Barbosa Sobreira
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, anna.sobreira@ufv.br

Débora dos Santos Moreira


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, debora.s.moreira@ufv.br

Philipe Augusto Martins Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, philipe.rodrigues@ufv.br

Raissa Batista Bayer


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil, raissa.bayer@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, heraldopitanga@ufjf.br

RESUMO: A escória de aciaria elétrica compreende um dos resíduos industriais gerados durante o processo de fabricação
do aço em siderúrgicas que utilizam fornos elétricos à arco. A utilização desse tipo de resíduo na engenharia civil tornase
uma alternativa para a sua reutilização sustentável, desviando-o de aterros e otimizando propriedades mecânicas de
matérias-primas da construção civil. Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo analisar a influência da mistura de
finos de escória de aciaria elétrica com uma amostra de solo areno-argiloso, investigando o potencial de melhoria do seu
comportamento mecânico, traduzido pela resistência à compressão simples (RCS). Para a análise, foram utilizados os
resultados dos ensaios de compactação na energia do Proctor Normal e de RCS realizados com as amostras de solo e de
misturas solo-escória. As proporções das misturas dos resíduos foram de 5 e 10% da massa seca dos solos, sendo
analisado também o eventual efeito do tempo de cura sobre a RCS, sendo esse período de 7 e 14 dias. Os resultados
obtidos neste estudo apontam para o incremento da RCS à medida em que foram aumentados o percentual de escória e o
tempo de cura da mistura. Assim, para as particularidades da pesquisa, foi possível evidenciar a viabilidade geotécnica
das misturas solo-escória, apontando para o potencial de sua aplicação em obras de terra em geral. O aproveitamento da
escória também aponta para a perspectiva de viabilidade ambiental da proposta.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solos, Resíduos Siderúrgicos, Sustentabilidade, Mistura Solo-Resíduo, RCS.

ABSTRACT: Electric steel slag comprises one of the industrial wastes generated during the steelmaking process in steel
mills using electric arc furnaces. The use of this type of waste in civil engineering becomes an alternative for its
sustainable reuse, diverting it from landfills, and optimizing mechanical properties of civil construction raw materials. In
this context, this study aimed to analyze the influence of the mixture of electric steel slag fines with a sandy clay soil
sample, investigating the potential for improvement of its mechanical behavior, translated by unconfined compression
strength (UCS). For the analysis, the results of the compaction (Standard Proctor test) and UCS tests performed with soil
samples and soil-slag mixtures were used. The proportions of the mixtures of the wastes were 5 and 10% of the dry mass
of the soils, being also analyzed the eventual effect of the curing time on the UCS, being this period of 7 and 14 days.
The results obtained in this study point to the increase of the UCS as the percentage of slag and the cure time of the

121
mixture were increased. Thus, for the particularities of the research, it was possible to highlight the geotechnical viability
of soil-slag mixtures, pointing to the potential of their application in earth works in general. The use of slag also points
to the perspective of environmental viability of the proposal.

KEYWORDS: Soil Stabilization, Steel Waste, Sustainability, Soil-Waste Mix, Unconfined Compression Strength (UCS).

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1 INTRODUÇÃO Algumas das pesquisas acima citadas analisaram a
utilização deste resíduo como agregado para misturas
Os resíduos são geralmente descritos como de asfaltos (Freitas & Motta, 2008), como agregados
subprodutos provenientes de processos de produção e de vedação (Silva et al., 2019), como aditivos para
consumo em diversas áreas, independente do seu estabilização de bases de rodovias (Boldrini &
valor comercial. A reutilização sustentável de Pacheco, 2022), solos de estradas não pavimentadas
resíduos tornou-se essencial principalmente devido ao (Medeiros, 2019) e estabilização de solos em geral,
cenário não tão distante de escassez de destacando-se o setor de pavimentação como
matériasprimas tradicionais no setor de construção promissor para a sua reutilização (Costa & Santos,
civil, como resultado da alta demanda mundial. Além 2019). No Brasil, os níveis de utilização e o valor
disso, o setor siderúrgico, em especial, produz comercial da escória de aciaria ainda são baixos, visto
anualmente uma enorme quantidade de aço para que entre 56 e 65% da produção são destinados a
suprir as necessidades do mercado, desencadeando depósitos, enquanto que em alguns países esse valor
uma maior atenção também quanto à quantidade de não ultrapassa os 10% (Mancio, 2001), evidenciando
resíduos que eram paralelamente produzidos nesses ainda mais a necessidade de pesquisas que envolvam
processos industriais. O Brasil, por exemplo, o estudo do potencial de seu aproveitamento.
produziu, no ano 2000, aproximadamente 28 milhões Nesse contexto, o presente trabalho tem como
de toneladas de aço, sendo deste total 21% produzidos objetivo principal a realização de ensaios
por siderúrgicas que utilizam fornos elétricos (IBS, laboratoriais para a avaliação do uso da escória de
2001). Esses números cresceram de forma gradativa aciaria elétrica como aditivo para solos arenosos,
ao longo dos anos, e como prova disso, no ano de contribuindo eventualmente para a melhoria de suas
2015, o Brasil produziu 33,3 milhões de toneladas de propriedades mecânicas, traduzidas nesse trabalho
aço bruto (Instituto Aço Brasil, 2018). pela resistência à compressão simples.
Os resíduos referidos estão sujeitos a regulamentos Adicionalmente, busca-se também avaliar os efeitos
legais rigorosos, cujo objetivo é proteger a saúde da quantidade de aditivos e do tempo de cura nesse
humana e o meio ambiente. Contudo, a preocupação processo de eventual melhoria.
com os impactos que a disposição e a produção
descontrolada desses resíduos poderiam causar 2 MATERIAIS E MÉTODOS
fizeram com que surgissem diversas pesquisas com o
intuito de avaliar a reutilização destes em diversos 2.1 Materiais
setores, principalmente o da construção civil (Faria,
2007; Raposo, 2005; Januzzi, 2014; Polisseni, 2005; 2.1.1 Solo
Gonçalves, 2015; Rohde, 2002).
Simultaneamente, frequentemente os solos Trabalhou-se, nessa pesquisa, com um solo residual
precisam de aditivos que contribuam com sua jovem, oriundo de um perfil de intemperismo
estabilização, sendo aplicados, então, certos desenvolvido de gnaisse, que apresenta coloração
materiais, como cimento, cal ou produtos similares, acinzentada e é essencialmente quartzoso, com
para que adquiram as propriedades necessárias para as horizonte C profundo. As amostras utilizadas foram
obras civis. Alguns subprodutos industriais também coletadas em um talude situado próximo à Vila
podem ser utilizados para esse fim, entre os quais Secundino, entre o Departamento de Medicina e
encontra-se a escória de aciaria elétrica, a qual é Enfermagem e o Departamento de Zootecnia, no
gerada na produção do aço em siderúrgicas que
utilizam fornos elétricos a arco.

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122
campus da Universidade Federal de Viçosa, no 2016a), as mesmas foram ensacadas, identificadas,
município de Viçosa-MG (Figura 1). transportadas e posteriormente armazenadas no
Laboratório de Engenharia Civil (LEC) da UFV. As
amostras foram secas ao ar, destorroadas, passadas na
peneira de abertura nominal de 2 mm e guardadas para
uso nos procedimentos experimentais descritos a
seguir, em obediência à NBR 6457 (ABNT, 2016b).
A amostragem dos resíduos sólidos de escória de
aciaria elétrica, dispostos em pilhas na unidade
siderúrgica, foi feita em pelo menos três seções, sendo
uma no topo, uma no meio e uma na base, de acordo
com as exigências da NBR 10007 (ABNT, 2004).
(a) Posteriormente, as amostras coletadas foram
misturadas, homogeneizadas e quarteadas. O material
amostrado foi, então, armazenado em tonéis plásticos
(bombonas) hermeticamente vedados e em
quantidade suficiente para a realização dos ensaios
previstos no programa experimental. Em seguida, foi
feito o transporte do material bruto para o Laboratório
de Engenharia Civil (LEC) da Universidade Federal
de Viçosa (UFV), o qual foi moído em aparelho de
(b)
Abrasão Los Angeles até que todo o material passasse
Figura 1. Solo empregado na pesquisa: (a) localização da na peneira n° 100 (0,15 mm de abertura de malha).
área de coleta (Google Earth, 2022); (b) jazida de
empréstimo.
2.2.2 Caracterização dos materiais
2.1.2 Escória de aciaria elétrica
Para a caracterização tradicional das amostras de
A escória de aciaria elétrica empregada na pesquisa
solo, foram realizados os seguintes ensaios
foi fornecida pela siderúrgica VSB, situada no
geotécnicos: granulometria conjunta (ABNT,
município de Jeceaba-MG. A amostra desse material
2016c), limites de Atterberg (ABNT, 2016d; ABNT,
foi coletada em seu estado bruto (Figura 2a) e
2016e) e peso específico dos grãos sólidos do solo
submetida à moagem em laboratório (Figura 2b) com
(ABNT, 1984).
o objetivo de reduzir a sua granulometria para facilitar
Os ensaios de caracterização física realizados
sua mistura com o solo.
para a amostra de escória de aciaria elétrica foram os
que seguem:
i) finura por peneiramento, conforme a NBR
11579 (ABNT, 2012); ii) superfície específica,
conforme a NBR 16372
(ABNT, 2015); iii) massa específica da escória
moída, conforme
a NBR 16605 (ABNT, 2017).

2.2.3 Ensaio de compactação do solo


(a) (b)
Figura 2. Amostras de escória de aciaria empregadas na O ensaio de compactação do solo, visando a
pesquisa: a) amostra bruta; b) amostra moída. determinação de sua curva de compactação, foi
realizado segundo a norma NBR 7182 (ABNT,
2.2 Métodos 2016f), para amostras de solo no estado natural, na
energia do Proctor Normal, sem reuso de material.
2.2.1 Coleta e preparação dos materiais
2.2.4 Ensaio de resistência à compressão simples
Após a coleta de amostras deformadas representativas
do solo em questão conforme a NBR 9604 (ABNT,

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123
O ensaio de resistência à compressão simples Limite de Limite de Índice de Específico
(RCS), realizado sobre amostras compactadas de dos Grãos
Liquidez Plasticidade Plasticidade
solo e de mistura solo-escória, seguiu o protocolo sólidos
(LL) (LP) (IP) (kN/m³)
prescrito pela norma ME 201 (DNER, 1994). A
umidade de moldagem dos corpos de prova do solo e 28 18 10 26,29
das misturas solo-escória teve como referência a
umidade ótima da curva de compactação Proctor
Normal do solo. Esta decisão técnica foi pautada na Tabela 2 - Classificação geotécnica do solo segundo os
pesquisa de Rodrigues (2022) que, para misturas sistemas tradicionais TRB e USCS.
envolvendo o mesmo solo e a mesma escória desta Sistema de
TRB USCS
classificação
pesquisa, constatou a limitada variação da umidade
ótima (máximo de 0,4%) para a faixa de 0% a 12,5% Classe
de escória adicionada ao solo. A-2-4 (0) SC (areias argilosas)
Utilizando como parâmetro o teor de umidade
ótima do solo natural analisado, a metodologia Tabela 3. Características físicas da escória de aciaria
empregada na fabricação dos corpos de prova foi de pesquisada.
confeccioná-los utilizando 1,5% acima desse teor, Característica física Magnitude
visando aumentar a disponibilidade de água para a Massa específica dos sólidos
2,89
promoção das reações de hidratação da escória. Foi (g/cm3)
realizada a variação das quantidades de escória em Área específica (m2/g) 0,26
relação à massa seca total de solo (5% e 10%). Finura (peneira 200) (%) 13,60
Analisou-se também a influência da variação do
tempo de cura da escória após esta ser adicionada ao Este solo é classificado como arenoso não
solo natural (7 dias e 14 dias). Para a determinação laterítico (NA’) pela metodologia MCT (Miniatura
da RCS de cada um dos materiais investigados, foi Compactado Tropical), segundo Trindade (2006).
considerada a média aritmética de três Pela classificação TRB, o solo pesquisado foi
determinações. estimado como pertencente ao grupo A-2-4, sendo
considerado um material com bom comportamento
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES para uso em subleito, enquanto que, pelo USCS, este
material foi avaliado como uma areia-argilosa (SC),
3.1 Resultados dos ensaios de caracterização do solo sendo considerado um solo com boa trabalhabilidade
como material de construção e que pode apresentar
Na Tabela 1, encontram-se os resultados da análise certo valor para aplicação em fundações de
granulométrica, dos ensaios de limites de consistência pavimentos. Pela metodologia MCT, ele foi
(Limite de Liquidez, Limite de Plasticidade), bem considerado um NA’, que, para Nogami & Villibor
como de peso específico dos grãos sólidos do solo (1995), é um material que pode ser aplicado na
estudado. Segundo os sistemas de classificação execução das camadas estruturais de um pavimento,
geotécnica TRB (Transportation Research Board) e porém, de acordo com Dariva (2016), quando for
USCS (Unified Soil Classification System), o solo composto por areia mal graduada ou contiver, na
estudado é classificado conforme apresentado na fração areia ou silte, mica e/ou microcristais de
Tabela 2. Os resultados dos ensaios de caracterização caulinita e/ou haloisita, são materiais totalmente
física da escória são apresentados na Tabela 3. inapropriados para bases de pavimentos.
A Figura 3 apresenta a curva de compactação do
Tabela 1 - Resultados dos ensaios de caracterização
geotécnica do solo estudado. solo investigado para a energia Proctor Normal. Os
respectivos parâmetros de ótimo (umidade ótima e
peso específico aparente seco máximo) derivados da
Análise Granulométrica (%)
curva de compactação são apresentados na Tabela 4.
Areia
Silte Argila
Grossa Média Fina

13 41 15 24 07
Limites de Consistência (%) Peso

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124
17 natural e das misturas solo-escória com 5% e 10% de
16,8 escória, estes últimos rompidos após 7 dias de cura. É
possível observar o aumento da RCS das misturas
16,6
solo-escória em relação ao solo, provando assim a
16,4 eficácia da aplicação da escória. A melhoria das
16,2
propriedades do solo estudado pode ser justificada
pela mudança na sua estrtutura devida às ações físicas
16 e químicas da escória. O papel físico da escória é
10 12 14 16 18 20
Teor de umidade (%)
representado, preliminarmente, pela finura de suas
partículas, que preenche os vazios presentes na
Figura 3. Curva de compactação para a energia Proctor estrutura dos solos. Segundo Marinho et al. (2017), as
Normal do solo investigado. escórias de aciaria apresentam compostos capazes de
se aglomerar, constituindo um tipo de ligante,
Tabela 4. Parâmetros de ótimo do solo investigado para a
características decorrentes da formação de silicatos e
energia de compactação Proctor Normal.
aluminatos de cálcio, os quais favorecem o
Umidade ótima Peso específico aparente seco
surgimento de propriedades cimentícias.
(%) máximo (kN/m3)
200
14,0 16,85
150

3.2 Resultados dos ensaios de resistência à


compressão simples
0
Após o rompimento dos corpos de prova, foi possível Solo natural Solo-5% de Solo-10% de
obter os resultados de RCS conforme apresentados a escória - 7 dias escória - 7 dias
seguir (Tabelas 5 e 6). 100 50

Tabela 5. Resistência à compressão simples (RCS) das


amostras de solo natural e de solo com 10% de escória

Amostra Natural 10% de escória Figura 4. Comparativo das resistências à compressão


simples (RCS) de corpos de prova compactados de solo
CP* 1 2 3 1 2 3 e de misturas solo-escória: efeito do teor de escória para
Teor de 7
umidade 15,97 15,79 15,69 15,39 15,72 15,43 dias de cura.
(%)
RCS Na Figura 5, é apresentada, graficamente, a
75,1 70,0 71,3 182,1 183,3 180,8
(kPa) comparação entre os valores médios de RCS da
rompidas após 7 dias de cura. mistura de solo com 10% de escória, para as idades de
*CP: Corpo de prova 7 e 14 dias de cura antes do rompimento. Observase
que a resistência à compressão simples aumenta com
Tabela 6. Resistência à compressão simples (RCS) das amostras 250
de solo com 10% de escória rompidas após 14 dias de cura e de
solo com 5% de escória rompidas após 7 dias de cura. 200
150
Amostra 10% de escória 5% de escória 100
CP 1 2 3 1 2 3 50
Teor de
0
umidade 16,22 15,44 15,05 15,34 15,77 15,56
Solo natural Solo-10% de Solo-10% de
(%) escória - 7dias escória - 14 dias
RCS
202,4 213,7 225,4 95,5 94,2 94,7
(kPa) Figura 5. Comparativo das resistências à compressão
o aumento do tempo de cura do resíduo em contato
Na Figura 4, é apresentada, graficamente, a com o solo umedecido. É possível inferir que este
comparação entre os valores médios de RCS do solo aumento se dá devido ao maior tempo de contato entre

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125
os materiais componentes da mistura, favorecendo as ABNT (2012). NBR 11579: Cimento Portland –
reações químicas que geram ligações entre as Determinação do índice de finura por meio da peneira
partículas, induzindo a floculação e preenchendo os 75 μm (nº 200). Associação Brasileira de Normas
vazios do solo (Mosa et al., 2017). Técnicas, Rio de Janeiro, 4p.
simples (RCS) de corpos de prova compactados de solo e ABNT (2015). NBR 16372: Cimento Portland e outros
de misturas solo-escória: efeito do período de cura para materiais em pó - Determinação da finura pelo método
misturas com 10% de escória. de permeabilidade ao ar (método de Blaine).
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, 11p.
Em trabalho de Rodrigues (2022) envolvendo esta ABNT (2016a). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
mesma escória, foi constatada, a partir de sua Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
composição química determinada pela técnica de Janeiro, 12p.
Fluorescência de Raios-X, a elevada hidraulicidade ABNT (2016b). NBR 6459: Solo – Determinação do limite
deste resíduo, propriedade que ressalta sua de liquidez. Associação Brasileira de Normas
capacidade de promover, sob hidratação, a Técnicas, Rio de Janeiro, 5p.
cimentação e a redução da porosidade da estrutura ABNT (2016c). NBR 7180: Solo – Determinação do limite
interna de materiais aos quais é adicionada, como no de plasticidade. Associação Brasileira de Normas
caso da presente pesquisa em que tal escória foi Técnicas, Rio de Janeiro, 3p.
ABNT (2016d). NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos
adicionada ao solo. Presume-se, portanto, que os
na peneira de abertura 4,8 mm – Determinação da
efeitos físicos (densificação por redução da
massa específica, da massa específica aparente e da
porosidade) e físico-químicos (cimentação por absorção de água. Associação Brasileira de Normas
hidratação) desta escória na estrutura do solo Técnicas, Rio de Janeiro, 10p.
investigado também respondam pela resposta ABNT (2016e). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
mecânica traduzida pelos valores de RCS Associação Brasileira de Normas
previamente apresentados, os quais se mostraram Técnicas, Rio de Janeiro, 9p.
superiores ao do solo natural e superiores com a ABNT (2017). NBR 16605: Cimento Portland e outros
evolução do processo de cura. materiais em pó – Determinação da massa específica.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, 4p.
Andrade, R. M. A. (2015). Caracterização laboratorial de
4 CONCLUSÃO misturas betuminosas com incorporação de agregado
siderúrgico inerte para construção (ASIC). Instituto
Analisando os dados obtidos através do ensaio de Superior de Engenharia de Lisboa. Disponível em:
RCS, é possível observar, em decorrência da adição <https://core.ac.uk/download/pdf/47134076.pdf>.
da escória, um aumento na resistência à compressão Acesso em: 29 set. 2022.
simples comparativamente ao solo sem aditivo Boldrini, B.G.; Pacheco, R.F.R. (2022). Estudo do
(natural). Segundo os dados obtidos através do comportamento da escória de aciaria tipo LD em base
ensaio de RCS, com o aumento do tempo de cura da de pavimentos urbanos. Revista Ifes Ciência. Volume 8,
mistura solo-escória, houve também aumento da Número 1, p.1-10.
Costa, S. N.; Santos, R. O. G. (2019). Utilização da escória
resistência à compressão simples desse material.
de aciaria em combinação com solo para uso em
Como os experimentos foram apenas até 14 dias, não
camadas de pavimentação rodoviária. Engineering
foi possível concluir quanto ao comportamento desse Sciences, v.8, n.1, p.57-66.
material para períodos superiores de cura. Dayrel, F. O. (2013). Metodologia geotécnica sustentável
para gerenciamento da escória de aciaria como lastro
AGRADECIMENTOS ferroviário. Escola de Minas UFOP. Programa de
pósgraduação em Geotecnia. Disponível em:
Os autores agradecem à FAPEMIG e à Faculdade de <http://www.nugeo.ufop.br/teses-
Engenharia da UFJF pelo apoio à pesquisa. edissertacoes/111/metodologia-geotecnica-
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de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
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Federal do Espírito Santo, Vitória, 164p. Disponível

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


127
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise Preliminar das Propriedades Mecânicas de Rejeito de


Dragagem Submetido a Processo de Pré-Adensamento
Saymon Porto Servi
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS, Brasil, saymon_servi@hotmail.com

Estefany de Almeida Conceição


Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS, Brasil, estefanyac99@gmail.com

Régis Pinheiro Maria


Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS, Brasil, regis.pinheiro@furg.br

Diego de Freitas Fagundes


Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS, Brasil, dffagundes@furg.br

RESUMO: Em portos e vias navegáveis, comumente são necessários procedimentos de manutenção para mantimento do
gabarito geométricos. Estes processos de dragagem tem como forte característica a geração de rejeitos que acabam por
ser dispostos em alto mar, em zonas nomeadas de bota-fora. O impacto ambiental destes procedimentos destacam a
necessidade de métodos alternativos de disposição, de modo a mitigar os problemas gerados. O presente estudo visa
analisar um rejeito de dragagem do Porto do Rio Grande em condições naturais de disposição em um tanque de contenção
e sobre a aplicação de um pré-carregamento. Os resultados indicam que o material tem composição granulométrica de
uma argila areno-siltosa e com alta plasticidade. Os ensaios oedométricos indicam um material fortemente compressível
e o processo de pré-carregamento com tensão vertical efetiva de 18 kPa resultou em uma elevação da resistência ao
cisalhamento de 3,9 kPa para 20 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: Vias navegáveis, materiais geotécnicos não convencionais, resíduos, ensaio oedométrico,
resistência ao cisalhamento.

ABSTRACT: In ports and navigable waterways, maintenance procedures are commonly required to maintain geometrical
draft. These dredging processes have as a strong characteristic the generation of waste that ends up being disposed of in
the open sea, in areas named dumping grounds. The environmental impact of these procedures highlights the need for
alternative disposal methods, in order to mitigate the problems generated. This study aims to analyze a dredging waste
from the Port of Rio Grande in natural containment tank disposal conditions and the application of preloading. The results
indicate that the material has a granulometric composition of a sand-silt clay and high plasticity. The oedometer tests
indicate a strongly compressible material and the preloading process with effective vertical stress of 18 kPa resulted in an
increase in shear resistance from 3.9 kPa to 20 kPa.

KEY WORDS: Navigable waterways, non-textbook geotechnical materials, waste, oedometer test, shear resistance.

1 INTRODUÇÃO O complexo Portuário do município do Rio


Grande, localizado na parte sul do estado do Rio
A extensa e contínua linha costeira brasileira é Grande do Sul, é tido como o segundo porto mais
base para uma economia fortemente ligada ao fluxo importante para o desenvolvimento do comércio
de cargas através do modal aquaviário. Com base em internacional brasileiro e o terceiro porto público de
dados do Sindicato dos Operadores Portuários do maior movimentação de cargas do país (Agência
Estado de São Paulo – SOPESP (2020), o setor Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ,
portuário é de fundamental importância para o 2019). Como resultado, comumente torna-se
desenvolvimento econômico do país, sendo necessário o uso de processos de manutenção para
responsável por 95% das importações e exportações adequação do canal para recebimento de navios de
provenientes de portos. maior porte.

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128
Processos de dragagem têm como objetivo a controlada de sedimentos, também tem se mostrado
instalação ou manutenção de vias navegáveis, através uma alternativa viável para a gestão de resíduos de
da escavação e remoção de solos, para manter um dragagem. Os mecanismos para disposição de
determinado gabarito geométrico (Alfredini & sedimentos em sistemas de confinamento de resíduos
Arasaki, 2009). Estes procedimentos são necessários são influenciados pelas propriedades do geotêxtil,
em virtude do acúmulo de sedimentos transportados propriedades do material de enchimento e pelas
através de canais de acessos. condições de solicitações do sistema. Sendo assim, é
No porto do Rio Grande, há registros de importante considerar as possibilidades de utilização
dragagens ocorridas desde 1900 (Larrosa, 2021). Nos do material dragado, de forma a minimizar impactos
anos recentes, os processos ocorrem com ambientais e promover benefícios socioeconômicos.
periodicidade de 2 a 3 anos, tendo as últimas O objetivo da presente pesquisa é avaliar o
registrado cerca de 16.000.000 m³ de material. comportamento mecânico de um rejeito de dragagem
Comumente, esses rejeitos acabam sendo dispostos natural e pré-adensado, visando seu uso em bacias de
em regiões no alto mar nomeadas de "bota fora". sedimentação de rejeitos. O estudo está atualmente
O município do Rio Grande apresenta o problema em andamento, sendo assim ao decorrer do trabalho
recorrente de eventos de deposição de lama na praia serão ilustrados e discutidos dados preliminares.
do Cassino, vindos do alto mar através das ondas.
Mirlean et al. (2020) destacam a existência de uma 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
conexão temporal entre os eventos lamacentos
registrados e os procedimentos de dragagem do porto 2.1 Material
registrados dos anos de 1998 à 2020. Tal situação
chama atenção para necessidade de emprego de O rejeito de dragagem (RD) em estudo é originário
métodos alternativos de disposição, levando em da canal de acesso do Porto Novo, localizado no
conta aspectos sociais, econômicos e ambientais. município de Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil.
A gestão de resíduos provenientes de operações O material foi coletado através de uma draga do tipo
de dragagem tem sido objeto de intensa discussão no Backhoe, em setembro de 2019, sendo disposto no
meio acadêmico e na indústria. O material dragado é caís e, posteriormente, sendo transportado até o
considerado um resíduo sólido, o que o torna sujeito Laboratório de Geotecnia e Concreto Prof. Dr.
a rigorosas leis e regulamentações internacionais de Cláudio Renato Rodrigues Dias (LGC) da
disposição final. Além disso, a destinação Universidade do Rio Grande (FURG), através de um
inadequada deste material pode gerar graves caminho da Marinha do Brasil. O processo é ilustrado
impactos ambientais e econômicos. através da Figura 1.
Com isso em mente, pesquisadores têm buscado O rejeito de dragagem contido no tanque de
alternativas de reutilização do material dragado, que armazenagem foi empregado em diversas pesquisas
vão desde sua utilização em obras de engenharia civil ao longo dos anos, podendo destacar os trabalhos de
e construção, passando por melhorias ambientais, até Larrosa (2021), Pimpão et al. (2022), Servi et al.
mesmo em aplicações agrícolas e aquicultura. Uma (2022) e Larrosa et al. (2023).
das alternativas em destaque é a utilização na área de
pavimentação e alvenaria, onde o material dragado é
previamente tratado para melhorar suas propriedades
físicas, químicas e/ou mecânicas.
No caso específico do Porto de Rio Grande, o
material dragado pode ser utilizado na construção de
A
Blocos de Terra Comprimida (BTC) estabilizados
através da técnica de ativação alcalina, reutilizando
resíduos industriais regionais, como cinza de casca de
arroz (CCA) e cal de carbureto (CC). Este material se
mostrou aplicável em obras de engenharia a partir de B

28 dias de cura, em BTCs, atingindo uma resistência


média de 3 MPa e uma absorção de água menor que
22%, atendendo as exigências prescritas pela NBR
10834 (ABNT, 2013). Com isso, é possível estimar C D
uma produção de 38 milhões de BTCs por ano na
Figura 1. Processo de coleta do rejeito de dragagem: (a)
região. draga em produção; (b) caminhão recebendo o material;
Além disso, a utilização de bolsas em geotêxtil, (c) fixação do tanque de armazenamento do LGC; e (d)
que promovem o desaguamento e disposição material contido no tanque.

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129
2.2 Métodos tempos totais cada de 7 dias, enquanto o último durou
até ser completado um período próximo a 4 meses
O rejeito de dragagem obtido a partir de processos de desde a primeira aplicação de cargas.
manutenção de canais de acesso em portos, pode ser Para desenvolvimento do estudo foi necessário
disposto em bacias de contenção. Neste processo, o um preparo prévio do material para realização dos
material dragado é lançado com um elevado teor de ensaios. Sendo assim, foram coletadas amostras
umidade, com o avanço do tempo ocorre o processo deformadas do tanque de contenção, dispondo o
de sedimentação das partículas, até que se forma uma rejeito de dragagem em finas camadas sobre uma
camada de material com características geotécnicas lona, afim de realizar um processo de secagem ao ar
problemáticas (i.e., elevado teor de umidade, alta natural, dentro do laboratório. O material
porosidade, baixa consistência, baixa resistência ao permaneceu disposto até ser verificada a alteração na
cisalhamento). Como solução desta condição é coloração, passando de cinza escura para um cinza
possível a aplicação de aterros sobrepostos, de modo claro, indicando redução da umidade.
que o rejeito de dragagem seja imposto a um processo Posteriormente, foram realizados processos de
de adensamento, reduzindo a porosidade do maciço e peneiramento do material, de modo a ter
melhorando tais propriedades problemáticas granulometria passante na peneira #10 (i.e., tamanho
supracitadas. de grãos menores que 2 mm). O método descrito é
Neste cenário, em laboratório, com uso de tubo de ilustrado na Figura 3.
PVC com 15 cm de diâmetro interno, 17 cm de
diâmetro externo e 45 cm de comprimento, extraiu-
se uma amostra indeformado do tanque de contenção.
Sendo assim, foi montada uma estrutura, nomeada de
consolidômetro, para aplicação de carregamento, de
modo a adensar a amostra retirada até uma tensão
vertical de 18 kPa (equivalente a um aterro de um
metro de altura). A estrutura foi composta por: (a) A B C

duas placas de aço perfuradas com diâmetros Figura 3. Processo de destorroamento: (esquerda)
ligeiramente inferiores ao tubo de PVC e alturas material em lâmina; (centro) solo seco; (direita) solo
próximas a 1 cm; (b) geotêxtil não tecido aplicado as passante na peneira #10.
placas perfuradas, para evitar perda de material; (c)
pórtico e suporte de aço para aplicação de cargas; e É fundamental compreender as propriedades
(d) deflectômetro digital para leituras de deformação. físico-químico do material ao qual será trabalhado.
A amostra retirada e a estrutura descrita são ilustradas Em virtude disto, realizaram-se ensaios de
na Figura 2. caracterização geotécnica (i.e., determinação do teor
de umidade higroscópico, peso específico real dos
grãos, composição granulométrica e limites de
Atterberg) com amostras deformadas retiradas do
tanque de contenção. Para a etapa de estudos
comparativos, foram retirados espécimes
indeformados do tanque de contenção (rejeito de
dragagem in natura – RDN) e do consolidômetro
(rejeito de dragagem adensado – RDA) para
realização de ensaios de adensamento e resistência ao
cisalhamento.
Inicialmente, foram analisados o peso específico
real dos grãos (massa de solo seco por volume dos
grãos de solo) (ABNT NBR 6458, 2016) e a
distribuição granulométrica (ABNT NBR 7181,
Figura 2. Consolidômetro de rejeito de dragagem: 2016) do rejeito de dragagem. Para avaliação da
(esquerda) estrutura montada; e (direita) elementos composição de grãos em largas dimensões de
constituintes da estrutura. diâmetro (0,001 até 10 mm) empregou-se processos
de peneiramento e sedimentação. As frações
De modo a avaliar o nível de deformação do granulométricas (argila, silte, areia fina, areia média,
material em distintas taxas de carregamento, foram areia grossa) em análise tomam como referência a
aplicados estágios de carga de 4,5, 9, 13,5 e 18 kPa. NBR 6502 (ABNT, 1995).
Os três primeiros estágios foram realizados em Os limites de Atterberg foram estudados em

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


130
termos de limite de liquidez (LL) e limite de
plasticidade (LP), seguindo procedimentos das
normativas NBR 6459 (ABNT, 2016) e a NBR 7180
(ABNT, 2016), respectivamente. Tais parâmetros são
de fundamental importância para avaliação dos
índices de plasticidade (IP) e atividade coloidal (IA).
O ensaio de adensamento seguiu prescrições na
NBR 16853 (ABNT, 2020), sendo empregado para
amostras indeformadas do tanque de contenção e do
consolidômetro. Os estágios de carga empregados
foram de 5, 10, 20, 40, 80, 160 e 320 kPa, os estágios
de descarga ocorrem nas mesmas magnitudes. A
aplicação da série de carregamentos dos espécimes
em distintas condições teve como objetiva verificar o
alteração do comportamento tensão-deformação.
Para avaliação da resistência ao cisalhamento foi
utilizada a palheta de laboratório. O ensaio tem como Figura 4. Curva granulométrica do rejeito de dragagem.
finalidade reproduzir o ensaio de campo Vane Test,
em escala reduzida. A análise ocorre avaliando a Tabela 1. Frações granulométricas do rejeito de dragagem.
resistência ao corte, medida através de um Fração Diâmetro Porcentagem
torquímetro, por uma paleta formada por quatro granulométrica (mm) (%)
aletas. Inicialmente, a haste com a paleta é cravada Areia grossa 0,6 < ϕ ≤ 2 0,9
lentamente na amostra até uma profundidade de 6 cm, Areia média 0,2 < ϕ ≤ 0,6 13,0
Areia fina 0,06 < ϕ ≤ 0,2 17,6
posteriormente, é aplicada uma rotação em
Silte 0,002 < ϕ ≤ 0,06 21,8
velocidade constante de 1 giro completo a cada Argila ϕ ≤ 0,002 46,7
segundo. A resistência ao cisalhamento não drenada
(SU) é determinada através da Equação 1. Avaliando os limites de Atterberg, obtiveram-se
valores de limite de liquidez de 77% e limite de
Su = K ∗ θ⁄4,29 (1) plasticidade de 51%. O índice de plasticidade (IP) tem
valor de 26%, indicando material altamente plástico.
Na Equação 1, o parâmetro “K” é uma constante O índice de atividade coloidal (IA) (razão entre o
da mola fornecida pelo fabricante do equipamento, índice de plasticidade e o percentual de fração argila)
enquanto que o parâmetro “θ” é o ângulo máximo de tem valor de 0,56, sendo considerado um material
torção da mola medido no ensaio. inativo (Pinto, 2006).
De acordo com a Transportation Research Board
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO (TRB) (ASTM D3282, 2015), o rejeito de dragagem
pode ser classificado no grupo A-7-5 com índice de
O ensaio de peso específico real dos grãos constatou grupo (IG) de 17. O material é verificado na faixa dos
um valor de 26,3 kN/m³, em consonância com solos argilosos com baixa capacidade de suporte na
resultados observados por Larrosa et al. (2023). composição de camadas de pavimento.
Neves (2016) relata que solos convencionais Com base no Sistema Unificado de Classificação
apresentam valores na ordem de 25 à 28 kN/m³. dos Solos (SUCS) (ASTM D2487, 2017), o rejeito de
A Figura 4 apresenta a curva granulométrica do dragagem é classificado com argila orgânica com
rejeito de dragagem. As frações granulométricas são presença de frações de areia (OH). Larrosa et al.
descritas na Tabela 1. (2023) constata a presença de cerca de 3% de matéria
A distribuição granulométrica do rejeito de orgânica na composição do material.
dragagem verifica elevado percentual de frações de A Figura 5 exibe a deformação vertical (em mm)
argila (46,7%), seguindo de parcelas de areia (31,5%) em função dos diferentes carregamentos (4,5, 9, 13,5
e silte (21,8%). Segundo a NBR 6502 (ABNT, 1995), e 18 kPa) em função do tempo (em dias). As
o material tem composição de argila areno-siltosa. deformações totais para o tempo de 7 dias são
apresentadas na Tabela 2. É observada uma
deformação total de 34,82 mm.

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131
Figura 5. Deformações verticais em distintas condições Figura 7. Curvas de adensamento do rejeito de dragagem
de carregamentos. in natura (RDN) e pré-carregado (RDA).

Tabela 2. Deformações verticais para tempo de 7 dias. A curva tensão-deformação da amostra carregada
Tensão aplicada (kPa) Deformação (mm)
apresenta um trecho inicial de menor inclinação,
4,5 13,77
resultante no processo de aplicação de cargas
9,0 9,59
13,5 7,72 desenvolvidos no consolidômetro, avaliando a tensão
18,0 3,74 vertical de pré-adensamento pelo método de
Casagrande é observado um valor de 18 kPa.
A Figura 6 ilustra a deformação total ocorrida para Ao avaliar as curvas tensão-deformação de ambas
o carregamento de 18 kPa em um período amostras (RDN e RDA) são constados índices de
aproximado de 3 meses (90 dias). É verificada uma compressão (CC) e de descarga (CD) de 1,08 e 0,14,
deformação na ordem de 10,38 mm, somando-se as respectivamente. O índice de recompressão (CR) da
deformações ocorridas nos estágios de carga amostra de rejeito de dragagem pré-adensado é 0,08.
anteriores, têm-se um total de 41,46 mm. A resistência ao cisalhamento não drenada (SU)
Mediante as amostras in natura e carregada, foi para o rejeito de dragagem in natura (RDN) e
realizado o ensaio de adensamento, sendo a curva adensado (RDA) foram desenvolvidos em três
índice de vazios e tensões verticais ilustradas na amostras, sendo os resultados exibidos na Tabela 3.
Figura 7. Observa-se que a amostra in natura exibe Avaliando em termos de resistência não drenada
um trecho de carregamento linear, não sendo média, o processo de adensamento no
verificado histórico de tensão anterior, tal situação é consolidômetro resultou em um material com cerca
esperada em função do processo de deposição no de 5 vezes mais resistente do que na condição natural.
tanque de contenção, sem aplicação de cargas Tabela 3. Resistência não drenada obtida por ensaios de
palheta de laboratório.
sobrepostas.
Resistência não drenada (kPa)
Material Desvio
Individual Média
padrão
3,86
RDN 3,58 3,87 0,29
4,16
21,20
RDA 20,02 20,02 1,18
18,84

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho objetivou descrever dados


preliminares de um rejeito de dragagem em duas
situações: (a) avaliação da composição
granulométrica, do peso específico real dos grãos e
Figura 6. Deformações verticais ao longo de 90 dias.

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132
dos limites de Atterberg; e (b) análise de amostras ensaio. 2016.
indeformadas dispostas sem (RDN) e com (RDA) Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6502
aplicação de carregamento, em ensaios de (1995): Rochas e solos – Terminologia.
adensamento e palheta de laboratório. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181
(2016): Solo – Análise granulométrica.
O material tem composição granulométrica de
Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 7180:
uma argila areno-siltosa altamente plástica. Esta Solo – Determinação do limite de plasticidade. 2016.
condição é confirmada pelos métodos de Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 16853
classificação geotécnicas, sendo o material (2020): Solo – Ensaio de adensamento unidimensional.
caracterizado como argila orgânica com frações de Larrosa, C. (2021). Estabilização de material dragado no
areia (OH) pelo Sistema Unificado de Classificação Porto do Rio Grande por álcali ativação de resíduos
de Solos e como um solo argiloso do grupo A-7-5(17) regionais para confecção de BTC. Dissertação de
de baixa capacidade de suporte pela Transportation Mestrado, PPGEC, UFRGS, 167 p.
Research Board. O peso específico real dos grãos é Larrosa, C. et al. (2023). Stabilization of dredging material
da ordem de 26,3 kN/m³. from Rio Grande harbor with alkali-activated cements
to produce masonry elements. Journal of Materials in
O consolidômetro apresentou efetividade para
Civil Engineering, 12 p.
aplicação de carregamento confinado em uma Mirlean, N. et al. (2020). Dredging in an estuary causes
amostra indeformada, verificando uma deformação contamination by fluid mud on a tourist ocean beach.
vertical total de 41,46 mm ao longo de 4 meses. O Evidence via REE ratios. Marine Pollution Bulletin,
resultado do procedimento é visivelmente ilustrado 159, 111495.
no ensaios oedométricos e na palheta de laboratório. Neves, E. M. (2016). Mecânica dos estados críticos: Solos
A tensão vertical de pré-adensamento é correlata saturados e não saturados. IST Press.
a empregada no consolidômetro. Os índices de Pimpão, C. Y. et al. (2022). Análise preliminar do
compressão (CC) e de descarregamento (CD) são da comportamento mecânico do rejeito de dragagem
ordem de 1,08 e 0,14, respectivamente. cimentado. IX Seminário e Workshop em Engenharia
Oceânica. Anais... 2022.
A resistência não drenada (SU) apresenta um
Pinto, C. S. (2006). Curso básico de mecânica dos solos.
acréscimo próximo a 5 vezes com aplicação da tensão 3° ed. Oficina de Textos, São Paulo.
de pré-carregamento, indo de 3,8 kPa para 20 kPa. Servi, S. P. et al. (2022). Estudo preliminar de parâmetros-
Tal condição verifica um aumento da capacidade de chave do comportamento mecânico de rejeito de
carga do material. dragagem cimentado. In: XI Seminário de Engenharia
É possível concluir a viabilidade de aplicação de Geotécnica do Rio Grande do Sul, Santa Maria/RS.
um carregamento para melhoramento de Anais... 2022.
propriedades mecânicas de um rejeito de dragagem Sindicato dos Operadores Portuários do Estado do São
disposto. No estudo, um carga equivalente a um Paulo (2020). Portos Brasileiros, 175 instalações
aterro de um metro de altura resultou na alteração das portuárias de carga. Disponível em:
https://www.sopesp.com.br/2020/09/24/portos-
características do material.
brasileiros-175-instalacoes-portuarias-de-carga/
REFERÊNCIAS

Agência Nacional de Transportes Aquaviários (2019).


Estatístico aquaviário. Disponível em:
http://web.antaq.gov.br/anuario/ (acesso em
15/12/2022)
Alfredini, P. Arasaki, E. Obras e gestão de portos e costas:
a técnica aliada ao enfoque logístico e ambiental. 2ed.
São Paulo: Edgard Blucher, 2009
American Society for Testing and Materials. D2487
(2017): Standard practice for classification of soils for
engineering purposes.
American Society for Testing and Materials. D3282
(2015): Standard practice for classification of soils and
soil-aggregate mixtures for Highway construction
purposes.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6458
(2016): Grãos de pedregulho retidos na peneira de
abertura 4,8mm – Determinação da massa específica,
massa específica aparente e da absorção de água.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6459:
Solo - Determinação do limite de liquidez - Método de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


133
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação da Resistência Mecânica de Um Coproduto de Rejeito de


Minério de Ferro Estabilizado Com Geopolímero À Base de
Resíduo de Perlita
Gabriella Melo de Deus Vieira, M.Sc
Universidade de Brasília, Brasília, Brazil, gabriellavieiraeng@gmail.com

Roberto Aguiar dos Santos, M.Sc


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, santosr@ufv.br

Michéle Dal Toé Casagrande, D.Sc


Universidade de Brasília, Brasília, Brazil, micheledtc@unb.br

RESUMO: Os recentes casos de ruptura das barragens de rejeito de Fundão em 2015 e de Córrego do Feijão em 2019
despertaram nos profissionais da área e do governo a necessidade de mudanças na legislação sobre os métodos
construtivos das barragens e de novas tecnologias para a disposição dos rejeitos de mineração; dentre elas, tem-se a
técnica de empilhamento de rejeitos de mineração filtrados (dry stacking) e de reprocessamento dos rejeitos na formação
de coprodutos. Embora a técnica de empilhamento seja promissora, ainda é propensa à rupturas e em seus processos de
filtração e disposição utiliza-se principalmente cimento, material que, embora largamente utilizado na construção civil,
exige grandes quantidades de energia e emite grandes quantidades de substâncias tóxicas na atmosfera em sua produção.
Diante disso, visando a reutilização de materiais, propõe-se o uso de resíduo de perlita e coproduto na formação de
geopolímeros para a estabilização de um coproduto de rejeito de minério de ferro. Para tal finalidade, inicialmente, foram
realizados ensaios de caracterização dos materiais, bem como análises químicas e mineralógicas, e, depois, ensaios de
resistência à compressão simples, avaliando o tempo de cura dos corpos de prova estabilizados. Os resultados dos ensaios
de compressão simples se mostraram positivos, sendo, das amostras ensaiadas, a com 30% de geopolímero e 70% do
coproduto com resistência de pico de 4,4 MPa e com 28 dias de cura, a de melhor desempenho. Sendo assim, a pesquisa
mostrou que os geopolímeros fabricados tem potencial como material estabilizante dos coprodutos de rejeitos de minério
de ferro.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeitos de Mineração, Estabilização de Solos, Geopolímeros, Resíduo de Perlita.

ABSTRACT: The recent cases of rupture of the Fundão tailings dam in 2015 and the Córrego do Feijão dam in 2019
have awakened in professionals and the government the need for changes in legislation on the construction methods of
dams and new technologies for the disposal of mining tailings; among them is the technique of stacking filtered mining
tailings (dry stacking) and the reprocessing of tailings in the formation of coproducts. Although the stacking technique is
promising, it is still prone to ruptures and in its filtration and disposal processes cement is mainly used, a material that,
although widely used in construction, requires large amounts of energy and emits large amounts of toxic substances into
the atmosphere in its production. Therefore, aiming at the reuse of materials, we propose the use of perlite waste and
coproduct in the formation of geopolymers for the stabilization of an iron ore tailings coproduct. To this end, initially,
characterization tests of the materials were performed, as well as chemical and mineralogical analyses, and then, simple
compressive strength tests, evaluating the curing time of the stabilized specimens. The results of the simple compression
tests were positive, and, of the samples tested, the one with 30% geopolymer and 70% coproduct had a peak strength of
4.4 MPa and 28 days of curing, with the best performance. Thus, the research showed that the manufactured geopolymers
have potential as stabilizing material for iron ore tailings coproducts.

KEY WORDS: Mining Tailings, Soil Stabilization, Geopolymers, Perlite Waste.

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134
1 INTRODUÇÃO esse material que fazem com que pesquisas voltadas
para o uso de materiais alternativos sejam cada vez
As tragédias envolvendo barragens no Brasil – cita- mais realizadas. A substituição por materiais álcali-
se os casos de ruptura das barragens de rejeitos de ativados na formação de geopolímeros tem
Fundão em 2015 e de Córrego do Feijão em 2019 – apresentado vantagens em relação ao cimento
motivaram questionamentos tanto sobre os métodos Portland: redução das emissões (1/6) de gases do
construtivos dessas obras, quanto às disposições dos efeito estufa por unidade de massa de cimento,
resíduos gerados durante a extração dos minérios. melhores resistências ao fogo e à ácidos e menor
Analisando os eventos com as recentes rupturas consumo de energia (Vance et al., 2009). Castro
das barragens, o governo sancionou a Lei 14.066 de (2015) ainda cita que os geopolímeros são materiais
2020 (BRASIL, 2020) que proíbe a construção de com elevada resistência mecânica, baixa
barragens do tipo montante e desativa todas as condutividade hidráulica e dureza elevada.
barragens brasileiras construídas dessa forma. No Segundo Davidovits (1991) os geopolímeros são
método de construção à montante os rejeitos fazem resultado de um processo de policondensação interna
parte da própria estrutura da barragem, por meio de ou reação hidrotérmica entre uma base de silicato
alteamentos sucessivos sobre o material depositado. (chamado precursor) e um hidróxido alcalino
Embora apresente vantagens como de menor custo, (ativador). Existem uma variedade de precursores
maior velocidade de alteamento e pouca utilização de utilizados na estabilização de solos e de rejeitos de
equipamentos de terraplenagem, é considerado o mineração, sendo os usuais: escórias (Velten et al.,
método menos seguro por apresentar um menor fator 2006; Santos et al., 2018), cinzas volantes (Vizcarra,
de segurança devido à falta de controle da linha 2010; Castro, 2015), cinzas vulcânicas (Ghadir et al.,
freática próxima ao talude de jusante, podendo 2021) e metacaulim (Arcanjo, 2019; Figueiredo et al.,
promover a ruptura do talude em virtude da 2021). Dentre os ativadores, tem-se o hidróxido de
liquefação das massas de rejeito (Soares, 2010). cálcio, hidróxido de potássio, carbonato de sódio e
Uma solução bastante promissora é o de silicato de potássio.
empilhamento de rejeitos de mineração filtrados (dry Apesar de todos os benefícios envoltos da
stacking). Nessa técnica os rejeitos passam por um substituição do uso de cimento aos geopolímeros, a
processo de filtragem, onde há redução significativa técnica ainda não é consolidada, muitas das vezes
dos teores de umidade e são empilhados, reduzindo devido à falta de informação sobre os custos. Na
assim as chances de eventuais problemas de pesquisa de Torgal et al. (2005) foram avaliados os
instabilidade que ocorrem nas barragens. Ainda custos de quatro tipos de concretos, sendo dois
assim, há casos internacionais em que houve ruptura geopoliméricos e dois à base de cimento Portland. Os
dessas estruturas (Merthyr Vale Colliery Mine, no resultados mostraram que os valores dos preços
país de Gales em 1966; Hayden Hill Gold Mine, nos variam muito de acordo com as substâncias
EUA, que sofreu cinco falhas entre 1990 e 2000; utilizadas, por exemplo, o primeiro tipo de
South Field Lignite Mine na Grécia, em 2007; geopolímero apresentou custos superiores aos com
Zortman Mine, nos EUA em 2011). Visando isso, cimento em valores de 28% e 77%. Já o segundo
uma das propostas de Consoli et al. (2022) é geopolímero apresentou um valor 22% inferior e
introduzir misturas de cimento Portland nas pilhas de outro apenas 7% superior quando comparado aos
rejeito para aumentar a resistência desses materiais e concretos com cimento.
consequentemente, melhorar a estabilidade dessas Nesse contexto, busca-se fazer pesquisas com
estruturas. resíduos que sejam potencialmente utilizáveis na
O concreto é o segundo produto mais consumido produção de geopolímeros. A perlita é um mineral de
na economia global, depois da água, e origem vulcânica que, quando submetido a altas
consequentemente, o cimento Portland, que é a temperaturas (de aproximadamente 900ºC), sofre um
principal matéria-prima, está entre os mais amolecimento, fazendo com que a água em sua
consumidos (Cimento Itambé, 2019). O cimento estrutura passe para o estado de vapor, expandindo as
Portland comum é um dos materiais mais comumente partículas em até 20 vezes do seu volume inicial
utilizados na fabricação de concretos e argamassas (Buntech, 2021); a fração de perlita que não sofreu a
por ser um material relativamente barato, não expansão é o resíduo. Segundo Chanta & Palazzi
envolver tecnologias muito elaboradas em sua (2017) esse material não é um aglomerante
manipulação e, por moldar-se com facilidade a hidráulico, mas contém uma porcentagem de sílica e
qualquer tipo de cofragem, permitindo a obtenção de alumina, considerados minerais amorfos ou
níveis significativos de resistência mecânica e de fracamente cristalizados que constituem a fração
durabilidade (Pinto, 2006). pozolânica capaz de reagir com cal na presença de
Contudo, existem algumas limitações envolvendo água para formar compostos cimentícios.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


135
Apesar da perlita ser um material muito utilizado
tanto na parte de filtração de substâncias, como
produtos farmacêuticos, quanto em plantas, pouco se
fala sobre seus resíduos de produção. Foram poucas
as pesquisas atuais encontradas envolvendo a
utilização de resíduo de perlita na área geotécnica,
que em sua maioria, visam a estabilização de solos
(Chanta & Palazzi, 2017) e na substituição ou adição
ao cimento (Vance et al., 2009; Sokolowska et al.,
2015; Kotwica et al., 2017).
Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a
resistência à compressão não confinada de amostras
de coprodutos de rejeitos de mineração estabilizados Figura 2. Mineralogia do Resíduo de Perlita.
com geopolímeros fabricados com resíduos de perlita
e o próprio coproduto de rejeito de minério de ferro. 2.2 Ativador Alcalino
Foram avaliadas três amostras com diferentes tempos
de cura e teores dos materiais constituintes do O ativador escolhido para a ativação alcalina foi o
geopolímero. Hidróxido de Sódio (NaOH), visando a relação Na/Al
e o custo dos geopolímeros. O Hidróxido de Sódio
2 MATERIAL E MÉTODOS sólido, em microesferas, foi diluído em água
destilada para obter diferentes concentrações: 2 e 5M.
2.1 Resíduo de Perlita
2.3 Coproduto de minério de ferro
O resíduo de perlita (ver Figura 1) utilizado na
pesquisa foi obtido da empresa Buntech, é granular e O material estabilizado com os geopolímeros foi um
passou por moagem até atingir o tamanho de coproduto à base de minério de ferro obtido pela
partícula de material passante pela peneira #200, de empresa Vale S.A. (ver Figura 3), conhecido como
0,0075 mm, a fim de reagir melhor com o ativador “Areia Sustentável”. A empresa desenvolveu uma
escolhido. A densidade real dos grãos é de 2,16 técnica para produzir areia utilizando o mesmo
g/cm³. processo de produção de minério de ferro,
acrescentando apenas novas etapas de concentração,
classificação e filtração, reduzindo assim o volume
de rejeitos descartados em pilhas e barragens (Vale
S.A., 2021). A densidade real dos grãos coprodutos é
de 2,69 g/cm³.

Figura 1. Resíduo de Perlita.

Na mineralogia do material (ver Figura 2), é


possível perceber uma grande quantidade de Quartzo
(representado por Q na figura), Anortita (A) e, em
menor grau, Biotita (B).
Figura 3. Coproduto de Rejeito de Minério de Ferro.

Na mineralogia do material (ver Figura 4), é


possível perceber uma grande quantidade de Quartzo

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


136
(Q) e Hematita (H) e, em menor grau, Chamosita (C)
e Biotita (B).
razão de 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura e
foram obtidas por meio de compactação com
energia normal. A velocidade de ensaio foi de 1,27
mm/min, dada a limitação do equipamento. Para
uma melhor comparação entre os compósitos e
para obter a curva completa, o teste foi realizado
em até 3 min, mesmo que já tivesse ocorrido a
ruptura. Procurou-se continuar o teste para avaliar
o pós-pico e assim compreender o comportamento
das amostras após a ruptura. A resistência à
compressão simples foi calculada de acordo com
Equação (1):
P
Figura 4. Mineralogia do Coproduto de Rejeito de RCS = 100∗Ai (1)
Minério de Ferro. 100−𝜀

Na Tabela 1 tem-se os resultados das análises Onde: P é a carga aplicada; Ai é a área da seção
químicas dos materiais. transversal média; ε é a deformação axial específica
correspondente à carga.
Tabela 1. Resultados das Análises Químicas dos Materiais.
Não foi possível realizar o teste somente com o
SiO2 Al2O3 K2O Na2O Fe2O3 coproduto porque é um material não plástico, sem
Amostra
(%) (%) (%) (%) (%) coesão.
Resíduo Neste estudo foram avaliados os tempos de cura
de 76,59 12,11 2,26 3,98 2,88 de 7 e 28 dias de três amostras do coproduto de
Perlita rejeito de minério de ferro estabilizados com
Co diferentes teores de resíduo de perlita e coproduto
90,38 0,42 0,21 0,02 14,12
Produto (adicionado como fonte adicional de sílica e
alumina). Em todas as amostras foi utilizada uma
2.4 Metodologia relação líquido/sólido de 0,8 e adicionado 30% do
geopolímero e 70% do coproduto.
Inicialmente, foram realizadas análises químicas e de
difração de raios X para se conhecer as composições 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
químicas e mineralógicas dos materiais utilizados.
Em seguida, a pasta geopolimérica foi fabricada por Os resultados dos ensaios de resistência à
meio do método two-parts, que consiste em compressão simples podem ser observados nas
adicionar água em duas etapas do processo de Figuras 5 e 6 a seguir, em que tem-se as tensões e
fabricação do geopolímero. No caso dessa pesquisa, deformações axiais das três amostras utilizadas e a
o ativador (NaOH), em micropérolas, foi dissolvido comparação das tensões de pico com os tempos de
em água, obtendo-se uma concentração de 8 cura, respectivamente.
mols/L, depois a solução foi misturada ao resíduo
de perlita, formando assim a pasta geopolimérica.
Por fim, a pasta, então, foi introduzida na massa do
coproduto de rejeito de minério de ferro para
estabilização do material. Neste caso não foi
necessário adicionar mais água numa segunda
etapa, observada a relação líquido-sólido utilizada,
de 0,8. Depois de misturados, os materiais foram
moldados no formato de corpos de prova cilíndros,
compactados e testados por meio dos ensaios para
determinação da resistência à compressão não
confinada ou também chamada compressão simples.
Para determinar a Resistência à Compressão
Simples (RCS), foi utilizada a norma NBR 12770
(ABNT, 2022), que consiste em aplicar uma carga
Figura 5. Resultados dos ensaios de resistência à
axial sobre as amostras. As amostras utilizadas têm a compressão simples.
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.
137
AGRADECIMENTOS
É possível observar um aumento significativo na
resistência com aumento do tempo de cura ao Os autores agradecem o apoio financeiro do
comparar as amostras AM1_7d (388 kPa) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
AM1_28d (4231 kPa), as amostras AM2_7d (390 e Tecnológico (CNPq) e o material de estudo
kPa) e AM1_28d (3800 kPa) e AM3_7d (142 kPa) e obtido por meio da cooperação entre a
AM3_28d (4394 kPa). Isso indica que o a cura ao ar Universidade deBrasília e a empresa Vale S.A.
está ligada diretamente às reações que ocorrem nos
geopolímeros quanto à estabilização, quando da REFERÊNCIAS
formação dos géis que garantem coesão ao material,
secando-o de fora para dentro e conferindo-lhes ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
resistência. (2022). NBR 12770: Solo coesivo – Determinação
Em termos de comportamento do material, da resistência à compressão não confinada.
Arcanjo, D. M. O. (2019). Estudo da Aplicação de
verificou-se melhor com o aumento do tempo de cura,
Aglomerante álcali-ativado na estabilização de
que as curvas das amostras ficaram mais fechadas, solos para Pavimentações. Dissertação de
revelando uma maior fragilidade do material, pois Mestrado, Universidade Federal da Bahia, Escola
apresentaram uma maior resistência de pico com 28 Politécnica,Salvador, BA,159 p.
dias de cura, mas que não se manteve com maiores BRASIL (2020). Lei nº 14.006, de 28 de maio de 2020.
deformações. Altera a Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010,
que estabelece a Política Nacional de Segurança de
Barragens (PNSB), a Lei nº 7.797, de 10 de julho de
1989, que cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente
(FNMA), a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997,
que institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos, e o Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro
de 1967 (Código de Mineração).
BUNTECH (2022). Filtrantes e Clarificantes.
Disponívelem: <
https://www.buntech.com.br/areanegocio.jsp?id=4D
O 2L596PCOP718LF1IC1J>. Acesso em: 02 de mar
de 2022.
Castro, J. F. A. (2015). Melhoramento de Um Solo
Arenoso Por Ativação Alcalina. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, Porto, Portugal, 91 p.
Chanta, S. & Palazzi, S. B. (2017). Estudio Del
Comportamiento Del Residuo de la Perlita
Figura 6. Resultados de ensão de pico comparados aos Expandida (RPE) En la Estabilización de Suelos.
tempos de cura. XVII Congreso Argentino de Vialidady Tránsito,
Buenos Aires,Argentina, 21 p.
CIMENTO ITAMBÉ (2019). Água, Cimento Portland e
Concreto: por que não se vive sem eles? Disponível
4 CONCLUSÃO em:<https://www.cimentoitambe.com.br/massa-
cinzenta/agua-cimento-portland-e-concreto-por-que-
Os resultados obtidos para a resistência à compressão nao-se-vive-sem-eles/>. Acesso em: 26 de mar de
não confinada indicam que o uso de geopolímeros na 2022.
estabilização de rejeitos de minério de ferro é Consoli, N.C.; Vogt, J.C.; Silva, J.P.S.; Chaves, H.M.;
promissor. Além de proporcionar um destino Scheuermann Filho, H.C.; Moreira, E.B.; Lotero, A.
adequado para os resíduos de perlita e rejeitos (2022). Behaviour of Compacted Filtered Iron Ore
dispostos em barragens, o que seria de grande Tailings–Portland Cement Blends: New Brazilian
benefício em termos de sustentabilidade, tem o Trend for Tailings Disposal by Stacking. Appl. Sci.,
12, 836.
potencial de ser também uma solução econômica.
Davidovits, J. (1991). Geopolymers: Inorganic
Em estudos futuros espera-se avaliar outras Polymeric New Materials. Journal of Thermal
variáveis importantes nas reações geopoliméricas, Analysis, 37: 1633-1656.
tais como diferentes tipos de precursores e Figueiredo, R. A. M., Brandão, P. R. G., Soutsos, M.,
ativadores, diferentes teores de geopolímero, Henriques, A. B., Fourie, A., & Mazzinghy, D. B.
temperatura, relações líquido-sólido e umidades de (2021). Producing sodium silicate powder from iron
moldagem, no caso de estabilização do solo. ore tailings for use as an activator in one-part
geopolymer binders. Materials Letters, 288, 129333.
Também verificar a possível influência da sucção Ghadir, P., Zamanian, M., Mahbubi-Motlagh, N.,
nos resultados de resistência. Saberian, M., Li, J., & Ranjbar, N. (2021). Shear
strength and life cycle assessment of volcanic ash-
based geopolymer and cement stabilized soil: A
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.
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139
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação do Ganho de Vida Útil em uma Célula de um Aterro


Sanitário de Grande Porte durante a Operação com Utilização de
VANT
Caio César de Sousa Mello
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, caiocsmello@gmail.com

Gustavo Ferreira Simões


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, gustavo@desa.ufmg.br

RESUMO: A destinação final de resíduos sólidos em aterros sanitários é uma solução comumente adotada no Brasil.
Diversos são os fatores restritivos de cunho urbanístico, ambiental, socioeconômico e logístico para implantação de
aterros sanitários, sendo desejável e importante o aproveitamento eficiente das áreas de disposição já existentes,
monitorando e prolongando sua vida útil por meio de boas práticas operacionais. Neste estudo foi realizado o
acompanhamento topográfico mensal de uma célula de disposição de resíduos, em um aterro de grande porte, por meio
da aerofotogrametria com VANT para obtenção dos dados geoespaciais. As informações levantadas foram utilizadas
para calcular o volume de resíduos acrescidos periodicamente na área e, ao final de 9 meses, foi avaliada a redução de
volume ocasionada pelos recalques. Os resultados indicaram que durante os primeiros 8 meses de monitoramento,
quando a célula de disposição estava em operação, os recalques acumulados geraram uma redução volumétrica de 10
mil metros cúbicos, representando um ganho de vida útil de 4,8%. Entre o oitavo e o nono mês, tempo em que a célula
permaneceu sem operação, os recalques ocasionaram um redução de 0,8% em relação ao volume inicialmente disposto.
Dessa forma, o ganho em vida útil no aterro em estudo, ao final de 9 meses de operação, foi de 5,6%. Conclui-se que o
monitoramento dos recalques e seu impacto na redução de volume deve ser uma atividade recomendada para aterros
sanitários de grande porte, dada a magnitude do possível ganho em vida útil para esses empreendimentos, podendo ser
um parâmetro a ser considerado nas fases de projeto.

PALAVRAS-CHAVE: aterro sanitário, vida útil, recalque, VANT

ABSTRACT: The final disposal of solid waste in sanitary landfill is a solution commonly adopted in Brazil. There are
several restrictive factors of urban, environmental, socioeconomic and logistical nature for the implementation of
sanitary landfills, so that it is desirable and important to efficiently use the existing disposal areas, monitoring and
extending their lifespan through good operational practices. In this study, monthly topographic monitoring of a waste
disposal cell in a large landfill was carried out using aerial UAV photogrammetry to obtain geospatial data. The
collected information was used to calculate the volume of waste periodically added to the area and, at the end of 9
months, the volume reduction caused by settlements was evaluated. The results indicated that during the first 8 months
of monitoring, when the disposal cell was in operation, the accumulated settlements generated a volumetric reduction of
10 thousand cubic meters, representing a gain in lifespan of 4.8%. Between the eighth and ninth month, when the cell
was not in operation, the settlements generated a reduction of 0.8% in relation to the initially disposed volume. Thus,
the lifespan gain in the landfill, at the end of 9 months of operation, was 5.6%. It is concluded that the monitoring of
settlements and their impact on the volume reduction should be a recommended activity for large landfills, given the
magnitude of the possible gain in lifespan for these projects, and may be a parameter to be taken into account in the
design phases.

KEY WORDS: landfill, lifespan, settlement, UAV

1 INTRODUÇÃO eficiente, buscando melhor aproveitamento de


espaço disponível aliado à mitigação de impactos
Aterro sanitário é um método de engenharia para ambientais e sociais.
disposição de resíduos sólidos de forma A Lei 14.026 (Brasil, 2020), conhecida como o
ambientalmente correta e operacionalmente novo Marco do Saneamento Básico no Brasil,

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140
destaca que a gestão de resíduos sólidos deve da matéria orgânica. Este segundo processo dura
priorizar a redução, reutilização e reciclagem, muitos anos, mas a taxa de recalques geralmente
colocando a disposição final em aterro como diminui com o tempo (Ivanova et al., 2008).
solução em última instância. Em 2018, uma decisão Avanços tecnológicos recentes na área de
do Supremo Tribunal Federal brasileiro determinou geodésia e geoinformação possibilitaram a
que aterros sanitários não são considerados obras de implementação de Veículos Aéreos Não Tripulados
utilidade pública, tornando ilegal a construção (VANT) como ferramentas de aquisição de dados
destes em Áreas de Proteção Permanente (APPs). para realização de levantamentos
Outros fatores restritivos para implantação de aerofotogramétricos.
aterros sanitários podem ser destacados, por Os registros realizados por VANT veem
exemplo parâmetros locacionais, como distâncias apresentando resultados significativos em termos de
para núcleos populacionais, estradas de acesso, precisão e resolução espacial, fornecendo dados
aeródromos e pontos de captação de água para robustos para composição dos monitoramentos em
abastecimento humano. Também existem limitações aterros sanitários. Experimentos realizados por
no que tange ao uso e ocupação do solo, Baiocchi et al. (2019) e Champagne et al. (2020), a
zoneamento ambiental e urbano dos municípios, partir de levantamentos em aterros encerrados para
bem como referentes às características físicas da coleta de dados de recalques utilizando VANT,
área, como declividade do terreno, coeficiente de obtiveram resultados satisfatórios. Mello et al.
permeabilidade do solo, profundidade do lençol (2022) realizaram um acompanhamento topográfico
freático, além da aceitação da população local e volumétrico de um aterro sanitário durante 1 ano
(CONAMA, 1995; CONAMA, 2008; ABNT, 1992; por meio de aerofotogrametria com VANT e
ABNT, 1997). concluíram que a ferramenta, além de confiável e
Dadas as restrições elencadas, é de extrema precisa, agrega valor pelas imagens em alta
importância obter o máximo aproveitamento das resolução que são geradas periodicamente.
áreas de disposição de resíduos sólidos já existentes, Neste trabalho foram realizados
desenvolvendo projetos com geometrias que façam aerolevantamentos com VANT durante 9 meses
o melhor aproveitamento da ocupação da área e uma consecutivos em uma célula de disposição de
operação eficiente para garantir a execução resíduos sólidos com o objetivo de se avaliar os
fidedigna do projeto, prolongando a vida útil dos recalques verticais ocorridos e o impacto desses na
aterros sanitários. redução de volume do maciço e o consequente
Uma vez iniciadas as atividades de disposição de ganho na vida útil de um aterro sanitário de grande
resíduos em um aterro, estas devem ser monitoradas porte.
periodicamente sob aspectos ambientais,
operacionais e geotécnicos (Catapreta, 2008). 2 MATERIAL E MÉTODOS
Dentro do rol de atividades de monitoramento estão
os levantamentos topográficos. A topografia fornece 2.1 Área de Estudo
os dados principais que permitem realizar
acompanhamentos, avaliações e tomada de decisões Para realização deste estudo foi selecionada uma
relacionadas à operação. Devido ao grande volume célula em operação de um aterro sanitário de grande
de resíduos depositados de forma contínua, porte em Minas Gerais, Brasil. O aterro em questão
associado às características de deformabilidade é utilizado como destinação final para resíduos
desses, os maciços estão em constante mudança de industriais e urbanos classificados como não
sua geometria. Para acompanhar essa evolução é perigosos – Classe II, segundo a NBR 10004
necessário fazer uma atualização precisa e regular (ABNT, 2004).
da topografia, registrando as mudanças volumétricas A Figura 1 apresenta uma vista ortogonal, em
e contabilizando os recalques verticais e horizontais planta, da célula do aterro antes do enchimento,
(Mello e Simões, 2019). ainda na etapa de impermeabilização de base.
Durante os primeiros meses após a disposição de
resíduos, os recalques são principalmente causados
por processos físicos e mecânicos, devido às cargas
externas (compactação e alteamentos), peso próprio,
reorientação e acomodação de partículas que
ocupam o espaço vazio inicial e também à drenagem
de líquidos e gases. Após esse período, os recalques
continuam e são controlados por mecanismos físico-
químicos e perda de massa, devido à decomposição

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141
Figura 2. (a) VANT Phantom 4 Pro e (b) Receptos GNSS
ComNav T300 utilizados para aquisição de dados.

Os voos foram realizados a uma altura de 75m


em relação ao nível do solo, com sobreposição
lateral e vertical de 80% no bloco de imagens. Sobre
o rastreamento dos PCs, os receptores trabalharam
no método de levantamento pós processado com
ajuste pelo serviço de Posicionamento por Ponto
Preciso (PPP) do IBGE, resutando em uma precisão
média de 5cm na planimetria e 7cm na altimetria.
Figura 1. Vista aérea da célula de disposição de resíduos Após a aquisição das fotografias aéreas e PCs,
no momento da impermeabilização de base. foi realizado o processamento digital no software
Agisoft Metashape (versão trial gratuita). Nesta
2.2 Levantamentos topográficos etapa, as imagens e os pontos cartesianos de
referência são compilados como um bloco único,
O processo de enchimento da célula do aterro foi gerando uma nuvem de pontos georreferenciada
monitorado por meio de levantamentos topográficos para posterior confecção dos produtos cartográficos
subsequentes. Estes levantamentos foram realizados digitais: ortofoto e MDE.
mensalmente, durante 9 meses, partindo da cota
primitiva da célula. 2.3 Cálculo de volume
Para obtenção dos dados planialtimétricos foram
realizados aerolevantamentos com Veículo Aéreo Com as informações topográficas contidas nos
Não Tripulado (VANT), conforme já explorado por MDEs, referentes ao acompanhamento do
(Mello e Simões, 2019). Este tipo de levantamento enchimento da célula do aterro, foi obtido o
permite a aquisição de dados geométricos, bem incremento volumétrico entre dois levantamentos
como dados visuais, partindo de princípios da subsequentes.
aerofotogrametria e estereoscopia por meio de um O software de geoprocessamento Quantum Gis
algoritmo de alto poder computacional, denominado versão 3.16 foi utilizado para manipulação dos
Structure from Motion (SfM) (Vasuki et al., 2014) e arquivos matriciais, e os volumes foram calculados
gera dois produtos principais: (i) ortofoto, que é utilizando a ferramenta “raster volume” do pacote
uma representação bidimensional com informações de ferramentas SAGA.
visuais em alta resolução; e (ii) modelo digital de
elevação (MDE), que é um tipo de dado matricial 2.4 Avaliação da redução de volume ocupado
com informações georreferenciadas e em alta
resolução sobre a elevação do terreno (Nex e Com o objetivo de avaliar a redução de volume na
Remondino, 2014). célula do aterro durante o processo de enchimento,
devido aos mecanismos de recalque envolvidos na
2.2.1 Coleta e processamento de dados disposição dos resíduos sólidos, fez-se uma
comparação dos levantamentos topográficos e
Utilizou-se um VANT modelo Phantom 4 Pro para volumes calculados, que se deu da seguinte forma:
aquisição das imagens aéreas da área de interesse, e
um receptor GNSS modelo ComNav T300 de dupla (i) Cálculo de volume acumulado mensal: neste
frequência para aquisição dos pontos de controle cálculo foi realizada a soma dos volumes
(PCs), de modo a garantir precisão geométrica e aterrados na célula, mês a mês, durante os 9
cartográfica compatíveis com o detalhamento meses monitorados.
desejado na análise. A Figura 2 apresenta os (ii) Cálculo do volume acumulado final: neste
equipamentos utilizados. cálculo foi realizada a subtração entre a
topografia final (último mês monitorado) e a

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142
topografia primitiva (levantamento de base célula do aterro em estudo.
quando ocorreu a impermeabilização da A Figura 3 apresenta uma sequência de três
célula). ortofotos: a primeira é referente ao levantamento
primitivo, antes do enchimento; a segunda é
No cálculo (ii) é esperado que o efeito dos recalques referente ao mês 4, em um intervalo intermediário
acumulados ao longo dos 9 meses produza um do monitoramento; a terceira é referente ao mês 9,
volume menor do que o calculado em (i), quando na finalização do aterramento na célula.
esse efeito teria menos tempo de se manifestar. Complementarmente, a Figura 3 também apresenta a
Dessa maneira, a diferença volumétrica entre (i) e evolução geométrica do enchimento da célula por
(ii) representa a redução de volume ocupado no meio dos MDEs resultantes, para os mesmos três
aterro durante o tempo monitorado. momentos registrados pelas ortofotos. Ressalta-se
que foram apresentados 3 recortes temporais para
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES permitir melhor visualização dos detalhes
representados pela ortofoto e pelos MDEs, no
3.1 Produtos cartográficos digitais entando o acompanhamento topográfico, conforme
já mencionado, foi realizado mensalmente.
Os aerolevantamentos realizados mensalmente
produziram informações cartográficas digitais que
permitiram o acompanhamento do enchimento da

Figura 3. Ortofotos e MDEs da célula de disposição de resíduos em 3 momentos diferentes.

A alta resolução espacial das ortofotos 3.2 Acompanhamento volumétrico e análise da


produzidas (5 cm/píxel) auxiliaram na delimitação redução de volume
espacial da célula de aterramento por meio de
identificação visual, enquanto os dados matriciais de A Tabela 1 apresenta o volume aterrado
elevação (12 cm/píxel) foram preponderantes para mensalmente na célula de disposição monitorada ao
observar o avanço da frente de aterramento de longo dos 9 meses.
resíduos na célula bem como para possibilitar os
cálculos subsequentes.

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143
Tabela 1. Volume aterrado na célula monitorada Tabela 2. Comparação entre o volume acumulado final e
mensalmente. o volume acumulado mensal para os dois intervalos
Mês Volume (m³) analisados.
1 9.900 Intervalo Volume Diferença Diferença
2 36.300 analisado acumulado (m³) (%)
3 46.028 final
4 14.295 Mês 1 a 8 199.800 10.004 4,8
5 35.298 Mês 1 a 9 198.100 11.704 5,6
6 22.661
7 20.593 3.3 Avaliação dos recalques verticais
8 24.729
9 0 A Figura 4 apresenta as seções topográficas obtidas
Total 209.804
em um mesmo eixo para todos os meses
monitorados. A seção transversal está disposta de
De acordo com o registro, o cômputo mensal de oeste para leste, perpendicular ao dique de partida
acréscimo volumétrico na célula de aterramento no
do aterro. Nas seções é possível observar o
período monitorado foi de 209.804 m³ de resíduos levantamento primitivo da célula, nas cotas
sólidos. Esse valor representa o cálculo de volume inferiores em fase anterior ao prenchimento, e, em
(i) apresentado na etapa metodológica 2.4.
seguida, o incremento das cotas e da geometria de
Observa-se que durante o último mês (9) não
acordo com a sequência de operação no aterro.
houve disposição de resíduos na célula. Devido a Pode-se observar que em alguns meses, como o 3 e
este fato, o cálculo de volume (ii), denominado 4, há irregularidades no perfil da seção, indicando
volume acumulado final, foi realizado para dois que no momento do levantamento os resíduos
momentos. Primeiramente realizou-se a subtração dispostos ainda não haviam sido totalmente
entre os MDEs dos meses 8 e 1, obtendo-se o compactados por máquina. Por outro lado, em
volume acumulado final durante os meses onde
seções como dos meses 6 e 7, a geometria das
houve disposição de resíduos. Em seguida, realizou- seções possui formato mais regular, indicando que a
se a subração entre os MDEs dos meses 9 e 1, compactação já havia ocorrido.
obtendo-se o volume acumulado final considerando
É importante destacar que a qualidade da
também o mês em que a célula não recebeu compactação impacta diretamente nas propriedades
resíduos. A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos
geomecânicas dos resíduos sólidos dispostos, sendo
e a comparação em relação ao cálculo acumulado
um fator que pode influenciar nos recalques e,
mensalmente (igual a 209.804 m³). consequentemente, na redução volumétrica do
Observa-se que na primeira situação, com o maciço. Uma compactação com bom desempenho
acumulado de volume final entre os meses 1 e 8, pode reduzir a migração de gases e líquidos
houve uma diferença de 10.004 m³ em volume,
lixiviados, aumentar a estabilidade geotécnica e
quando comparado aos volumes incrementais porporcinar incremento de vida útil ao aterro
mensais, o que representa uma diferença de 4,8% (Catapreta, 2008). No empreendimento monitorado
para menos. Essa redução, que também pode ser neste estudo, o peso específico médio dos resíduos
interpretada como um ganho de volume útil no aterrados é de 10 kN/m³, valor que corresponde a
aterro, se deve principalmente aos recalques uma boa compactação para os padrões de
imediatos, que são aqueles causados pelo próprio
maquinários contemporâneos e indo ao encontro de
peso dos resíduos e pela construção de novos
valores reportados na literatura.
alteamentos.
Outro fator que influencia diretamente na
Para a segunda situação, ao considerar o mês 9, magnitude dos recalques é a composição
sem operação de aterramento na célula, a Tabela 2 gravimétrica dos resíduos. Aterros sanitários que
mostra que o cálculo resultou em um volume de recebem exclusivamente resíduos sólidos urbanos
198.100 m³, com uma diferença entre os volumes
irão apresentar uma fração relevante de matéria
igual a 11.704 m³, o que representa uma redução de
orgnânica, que irá ser degradada com o tempo, e,
5,6% no volume originalmente aterrado na célula. com isso, parte de sua massa e volume serão
Dessa forma, destaca-se que durante o mês em que o perdidos, sendo essa perda traduzida em recalques e
a célula não recebeu resíduos, essa continuou deformações heterogêneas no maciço. Por outro
apresentando uma redução de volume, da ordem de
lado, aterros industriais podem receber quantidades
1.700 m³, ou 0,8%.
relevantes de resíduos não orgânicos, que tendem a
gerar recalques de menor magnitude. Um estudo
desenvolvido por Jo e Jang (2021) mostrou que um

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144
incremento de 61,2% para 82,2% na composição recebe resíduos urbanos e industriais, e não houve
média de matéria orgânica nos resíduos dispostos análise dos dados de composição gravimétrica dos
em um aterro monitorado, gerou um aumento de materiais dispostos, o que não permite uma análise
50% na magnitude dos recalques inicias. A célula mais detalhada.
monitorada neste trabalho faz parte de um aterro que

Figura 4. Seções transversais da célula de disposição durante os 9 meses de monitoramento.

No intervalo entre os meses 8 e 9, quando não


havia operação na célula, observa-se uma contínua
redução volumétrica. Esse fato era esperado, uma
vez que nos primeiros meses da disposição dos
resíduos os recalques ocasionados pelos processos
físicos e mecânicos apresentam-se mais acentuados,
ocasionados pelo próprio peso dos resíduos e pelo
processo de adensamento, onde ocorre a redução
dos espaços vazios e a drenagem de líquidos e
gases.
Para evidenciar melhor os recalques ocorridos
entre esses dois meses, as diferençsa de cota entre
todos os pixels dos MDEs dos meses 9 e 8 foram
resumidas em um histograma de frequência,
apresentado na Figura 5. Ressalta-se que para
representar geometricamente a célula de disposição
monitorada em alta resolução (12 cm/píxel) foram
gerados quase 5 milhões de píxels. Observando o Figura 5. Histograma de frequência para os recalques
histograma percebe-se que a maior parcela dos ocorridos entre os meses 8 e 9 na célula de disposição.
recalques variaram entre 5 e 10 centímetros. Há
valores mais distoantes (por exemplo 20 centímetros 3.3 Avaliação do ganho em vida útil
negativos e valores positivos) que provavelmente se
devem a alguma operação de maquinário para acerto O trabalho de Silva et al. (2011) apresenta dados do
de geometria na área. monitoramento operacional do aterro sanitário de
Belo Horizonte, Minas Gerais, para uma célula
específica durante 5 anos de operação. Com base
nos registros de recalque superficial medidos por

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145
placas distribuídos pela área monitorada, foi medida gravimétrica dos resíduos e um monitoramento de
uma deformação da geometria projetada em relação longo prazo, durante a operação e após o
à geometria final após o enchimento da célula que encerramento da disposição de resíduos, de modo a
evidenciou uma redução volumétrica de 28% no evidenciar a magnitude e a evolução dos recalques e
maciço. Neste mesmo trabalho, a simulação em da redução volumétrica em diferentes estágios
modelo previu recalques da ordem de 33% para a temporais.
mesma célula, mostrando que a modelagem
numérica pode ser uma ferramenta útil para prever AGRADECIMENTOS
ganho de volume útil em aterros em uma fase
preliminar de projeto. À Essencis MG Soluções Ambientais S/A – UVS
Neste trabalho, o acompanhamento durante 9 Essencis Betim, por apoiar e incentivar esta
meses apontou uma redução volumétrica de 5,6% no pesquisa. À CAPES (Coordenação para o
maciço monitorado em fase de operação, o que, Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); à
apesar de ser um recorte relativamente curto de FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do
tempo, já mostra o potencial de redução de volume Estado de Minas Gerais) e ao CNPq (Conselho
no maciço devido aos recalques e o consequente Nacional de Desenvolvimento Científico e
incremento de vida útil. Tecnológico) pelo contínuo apoio financeiro.
Considerando que a vida útil mínima
recomendada para a construção de aterros, segundo REFERÊNCIAS
a NBR 13896 (ABNT, 1997), é de dez anos, os
5,6% de ganho encontrados nesta pesquisa ABNT (1992). NBR 8419: Apresentação de Projetos de
representariam quase 7 meses a mais de operação. Aterros Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos.
Considerando os 28% reportados por Silva et al. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
(2011), o ganho em vida útil poderia chegar a três Janeiro.
anos. ABNT (1997). NBR 13896: Aterros de resíduos não
perigosos - Critérios para projeto, implantação e
Destaca-se que os valores obtidos retratam os
operação. Associação Brasileira de Normas Técnicas,
procedimentos operacionais dos aterros estudados Rio de Janeiro.
bem como a composição gravimétrica dos resíduos ABNT (2004). NBR 10004: Resíduos sólidos –
sólidos dispostos, devendo ser utilizados apenas Classificação. Associação Brasileira de Normas
como referência em outros locais. Técnicas, Rio de Janeiro.
Baiocchi, V.; Napoleoni, Q.; Tesei, M.; Servodio, G.;
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Alicandro, M.; Costantino, D. (2019). UAV for
monitoring the settlement of a landfill. European J.
Dadas as restrições geográficas, logísticas e Remote Sensing, 52 (sup3), 41–52.
financeiras para a implantação de aterros sanitários, BRASIL. (2020) Lei nº 14.026, de 16 de julho de 2020:
Atualiza o marco legal do saneamento básico o
o monitoramento contínuo de recalques voltado para
saneamento básico e dá outras providências. Diário
avaliação de ganho em vida útil da obra faz-se um Oficial da União, Brasília.
procedimento de relevante importância. Catapreta, C.A.A. (2008). Comportamento de um aterro
O acompanhamento da redução volumétrica dos sanitário experimental: avaliação da influência do
dos aterros sanitários é uma medida de relativa projeto, construção e operação. Tese (Doutorado em
facilidade de implementação, uma vez que as Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) –
atividades topográficas já fazem parte do rol de Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas
monitoramentos periódicos em empreendimentos Gerais, Belo Horizonte, 337p.
desse tipo. A medição topográfica realizada por Champagne, C.L.; Zekkos, D.; Lynch, J.P.; O’Laughlin,
VANT permite a obtenção de dados espacializados S. (2020). Waste Settlement Measurements Using
Unmanned Aerial Vehicles at a Municipal Solid
com alta resolução e precisão satisfatória, sendo
Waste Landfill in Michigan. Proc. Geo-congress
uma ferramenta de avaliação robusta dentro do 2020: Geo-Systems, Sustainability, Geoenvironmental
plano integrado de monitoramento de aterros Engineering, and Unsaturated Soil Mechanics,
sanitários. ASCE, Minnesota- US, p. 249–258.
Este estudo se limitou a avaliar a redução CONAMA (1995). Resolução nº 04, de 09 de outubro de
volumétrica do maciço de resíduos, ou ganho de 1995: Estabelece as Áreas de Segurana
vida útil em um aterro de residuos Classe IIA, Aeroportuárias – ASAs.
durante 9 meses em uma célula em operação. Para CONAMA (2008). Resolução nº 404, de 11 de novembro
análises mais completas do comportamento do de 2008: Estabelece critérios e diretrizes para o
maciço, recomenda-se que sejam realizados estudos licenciamento ambiental de aterro sanitário de
pequeno porte de resíduos sólidos urbanos.
incorporando dados sobre a composição

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação do parâmetro CBR de um solo argiloso melhorado com


resíduos sólidos da construção civil e finos de escória de aciaria
José Roberto Fernandes Galindo
Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Cruz das Almas, Brasil, robertogalindo@ufrb.edu.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, heraldopitanga@ufjf.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

Gustavo Emílio Soares de Lima


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, gustavo.lima@ufv.br

Leonardo Gonçalves Pedroti


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, leonardo.pedroti@ufv.br

RESUMO: Este estudo investigou o comportamento mecânico de um solo argiloso melhorado com agregados reciclados
de resíduos sólidos da construção civil (RCCr) e com finos de escória oxidante de aciaria elétrica (FE) para aplicação em
camadas estruturais de pavimentos. O presente programa experimental compreendeu a realização dos ensaios de
caracterização, compactação e CBR (California Bearing Ratio) do solo, solo+10%FE, solo+20%FE e solo+RCCr. A
adição dos resíduos ao solo e a adoção do tempo de cura de 7 dias proporcionou incremento das propriedades mecânicas
do solo. Alguns destaques são as melhorias do índice CBR do solo de 7% para 37% e 58% nas misturas solo-RCCr e
solo+20%FE, respectivamente.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solos, Solo Argiloso, Reaproveitamento de Resíduos Sólidos Industriais,


Pavimentação.

ABSTRACT: This study investigated the mechanical behavior of a clay soil improved with recycled aggregates of
construction and demolition wastes (CDWr) and fines of electrical arc furnace oxidizing slag (EF) for application in
structural layers of pavements. The present experimental program comprised the performance of soil characterization,
compaction and CBR (California Bearing Ratio) tests, soil+10%FE, soil+20%FE and soil+CDWr. The addition of
residues to the soil and the adoption of a curing time of 7 days provided an increase in the mechanical properties of the
soil. Some highlights are the improvements in the soil CBR index from 7% to 37% and 58% in the soil-CDWr and
soil+20%FE mixtures, respectively.

KEY WORDS: Soil Stabilization, Clay Soil, Reuse of Industrial Solid Waste, Paving.

1 INTRODUÇÃO Em 2050, espera-se que o lixo global cresça para va-


lores próximos de 3,40 bilhões de toneladas, quando
À medida que o mundo avança em direção ao seu fu- a geração per capita/dia em países de alta e mé-
turo urbano, a quantidade de resíduos sólidos urbanos dia/baixa rendas deve aumentar em 19% e 40%, res-
(RSU) cresce mais rapidamente do que a taxa de ur- pectivamente (Kaza et al., 2018). Para países emer-
banização. Segundo dados do World Bank, o mundo gentes e com uma base industrial em franco desen-
gera cerca de 2,01 bilhões de toneladas de RSU por volvimento, à semelhança do Brasil, os resíduos têm
ano, em que, pelo menos, 33% desse montante não se transformado em um grave problema urbano, cujo
são gerenciados de maneira ambientalmente segura. gerenciamento tem se mostrado oneroso e complexo,

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148
considerando-se o volume e a massa acumulados do solo e das misturas solo-resíduos. Pretendendo
(ABRELPE, 2019; PwC, SELURB, 2021). melhorar a capacidade de suporte do solo, a fim de
Entre os problemas que agravam a questão do vo- que possa ser utilizado em camadas de pavimentos
lume de resíduos estão o encarecimento dos proces- rodoviários, avaliou-se o comportamento mecânico
sos de tratamento e destinação final, escassez de áreas de um solo argiloso melhorado com agregados
de deposição em torno de grandes cidades, problemas reciclados de resíduos sólidos da construção civil
de saneamento público, crescentes exigências técni- (RCCr) e com finos de escória oxidante de aciaria
cas para tratamento e deposição e contaminação am- elétrica (FE) para aplicação em camadas estruturais
biental (Kaza et al., 2018; United Nations Environ- de pavimentos.
ment, 2018).
Com o propósito de assegurar a proteção dura-
doura do planeta e de seus recursos naturais, criando 2 MATERIAL E MÉTODOS
condições para um crescimento sustentável, inclusivo
e economicamente sustentado, é importante mobili- 2.1 Coleta e preparação dos materiais
zar esforços para conter substancialmente a geração
de resíduos por meio de prevenção, redução, recicla- No trabalho experimental foi utilizado um solo
gem e reutilização (United Nations, 2015). Nesse tropical, aqui denominado S1, proveniente da Zona
contexto, a construção civil e a indústria do aço, gran- da Mata Mineira, Estado de Minas Gerais, Brasil.
des geradoras de resíduos, apresentam alto potencial Caracteriza-se por ser um solo fino residual maduro
de reciclagem. de gnaisse, coletado na zona rural do Município de
No Brasil, conforme levantamento da Associação Viçosa-MG, às margens da BR-120, no horizonte B
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e de um talude de corte.
Resíduos Especiais (ABRELPE), em 2018, foram O solo foi coletado na condição deformada, em
coletados 45 milhões de toneladas de resíduos sólidos conformidade com as orientações constantes na
da construção civil (RCC) no país, o que corresponde norma DNER (1994) do Departamento Nacional de
a 57% dos RSU. Entretanto, estes valores estão Infraestrutura de Transportes (DNIT). A amostra foi
aquém do real. Via de regra, a maioria dos municípios disposta em sacos plásticos devidamente vedados e
contabiliza as informações sobre a coleta executada transportadas até o Laboratório de Engenharia Civil
pelo serviço público que, normalmente, recolhe os da Universidade Federal de Viçosa, campus Viçosa-
RCC lançados ou abandonados nos logradouros MG (LEC-UFV), onde foi seco ao ar e destorroado.
públicos (ABRELPE, 2019). O RCCr é proveniente da usina de beneficiamento
Já a indústria do aço, no Brasil, gerou, em 2017, Ecovia Reciclagem de Resíduos da Construção Civil,
34,4 milhões de toneladas de aço bruto, o que lhe localizada na cidade de Varginha-MG, Brasil. O
garantiu a posição de nono maior produtor mundial material passou por processo de triagem manual e,
(2,1%) e maior produtor da América Latina (53,5%) após, foi encaminhado para o britador, onde foi
(Brasil, 2019). No Brasil, em 2017, segundo dados do cominuído.
Instituto Aço Brasil (2018), para cada tonelada de aço O RCCr foi coletado segundo as normas DNER
produzida, foram gerados 607 kg de resíduos e (1997) e ABNT (2004). A amostra foi
coprodutos diretos. A geração de escória de aciaria adequadamente acondicionada em tonéis vedados e
representou 164 kg (27%) do total, e a de agregado transportada até o LEC-UFV. Após processo de
siderúrgico de alto-forno, 255 kg (42%). homogeneização, o RCCr foi separado por
O desenvolvimento de tecnologias de reciclagem peneiramento em duas frações granulométricas:
de RCC e finos de escória vêm sendo temas de material retido entre as peneiras de #4,80 mm e de
pesquisas recentes, onde estudos científicos atestam #19,00 mm (RCCr graúdo) e material passante na
a viabilidade do uso desses em camadas de peneira de #4,80 mm (RCCr miúdo). Tal
pavimentos rodoviários (Mujtaba et al., 2018; Silva procedimento se fez necessário devido ao fenômeno
et al., 2019; Pires et al., 2019; Beja et al., 2020; de segregação do RCCr miúdo, quando armazenado
Lukiantchuki et al., 2020; Moreira et al., 2020; conjuntamente ao RCCr graúdo.
Yildirim & Prezzi, 2020; Zhao et al., 2021; Parsaei et A escória de aciaria elétrica utilizada foi cedida
al., 2021). pela unidade siderúrgica da VSB (Vallourec &
Com o intuito de contribuir para o Sumitomo Tubos do Brasil), localizada no município
reaproveitamento de resíduos provenientes das de Jeceaba-MG, Brasil. A escória é proveniente do
indústrias da construção civil e do aço, este estudo forno elétrico a arco (escória oxidante) e foi coletada,
analisou, via ensaio CBR (California Bearing Ratio), no estado bruto, no pátio de estocagem a céu aberto
na energia de compactação do Proctor normal, as da fábrica segundo as exigências da ABNT (2004). A
características de resistência mecânica e de expansão amostra foi acondicionada em tonéis vedados e

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149
transportada até o LEC-UFV. Posteriormente, a fim (2019). Para a mistura S1+RCCr, a condição definida
de aumentar a superfície específica da escória, o foi que a composição S1+RCCr deveria atender à
material foi fragmentado em um moinho de bolas faixa granulométrica “D” especificada na norma
cilíndrico para a redução da granulometria, até que DNIT (2010a), a qual contempla as especificações
passasse integralmente pelas aberturas da peneira de para a execução da camada de base de pavimentos,
#0,15 mm (peneira n.º 100). utilizando solos estabilizados granulometricamente.
Para atender a essa condição, a dosagem do S1 com
2.2 Caracterização dos materiais o RCCr miúdo e RCC graúdo foi de 18%, 48% e
34%, respectivamente.
Os procedimentos de redução e preparo das amostras
para os ensaios seguiram as normas ABNT (2001) e 2.4 Ensaios de caracterização mecânica
ABNT (2016a), para o S1, e DNER (1996), para os
resíduos. 2.4.1 Compactação
Os ensaios de caracterização física dos materiais
foram realizados de acordo com as normas: (i) S1: A determinação dos respectivos pontos de ótimo de
ABNT (2016b) - Análise granulométrica, ABNT compactação das misturas foi realizada segundo as
(2016c) e ABNT (2016d) - Limites de Atterberg e ABNT (2016g) e ABNT (2012b) na energia do
ABNT (2016e) - Massa específica; (ii) RCCr: ABNT Proctor normal. Para todas as misturas, o cilindro
(2016b) - Análise granulométrica, ABNT (2019) - metálico grande (Ø15,24 x 17,78 cm) foi utilizado na
Índice de forma, ABNT (2016e) e ABNT (2016f) - determinação das curvas de compactação. Obtidas as
Massa específica e DNER (1998) - Abrasão Los curvas, os valores dos teores de umidade ótimos
Angeles; (iii) FE: ISO (2020) - Análise (Wot) e dos pesos específicos aparentes secos
granulométrica, ABNT (2012a) - Índice de finura, máximos (γdmáx) foram adotados como referência
ABNT (2015) - Superfície específica e ABNT (2017) na moldagem dos corpos de prova para a realização
- Massa específica. dos ensaios de CBR.
O S1 e o RCCr miúdo também foram classificados
segundo os sistemas TRB (Transportation Research 2.4.2 CBR
Board) (AASHTO, 2021) e USC (Unified Soil
Classification) (ASTM, 2017). O ensaio para obtenção dos parâmetros CBR foi
A granulometria do FE foi realizada por método realizado conforme a norma DNIT (2016). Foram
de difração a laser (ISO, 2020). O equipamento moldados corpos de prova em triplicata para cada
utilizado foi o granulômetro Mastersizer 2000, da uma das misturas investigadas. Após a moldagem, os
Malvern Instruments Ltda, com capacidade de leitura corpos de prova para a cura de 7 dias foram
de 0,02 µm a 2.000 µm. envelopados em plástico filme e acondicionados em
O FE foi analisado quanto a sua composição câmara úmida, para preservar o teor de umidade. Os
química via técnica de fluorescência de raios-X corpos de prova de 0 dia de cura foram submetidos
(FRX). O ensaio de FRX foi realizado no ao ensaio logo após o procedimento de compactação.
equipamento EDX-720 Shimadzu Rayny. A análise Os corpos de prova, imediatamente após o processo
foi realizada em amostras com tamanho de partícula de cura, permaneceram imersos em água por período
inferior a 75 μm, obtidas por cominuição. de 96 horas. Terminado o período de embebição,
foram retirados da imersão, para realização do
ensaio.
2.3 Caracterização das misturas
Para o ensaio, foi utilizada prensa com motor
elétrico (marca SOLOTEST) com velocidade de
Os ensaios de caracterização física das misturas
deformação de 1,27 mm por minuto. A prensa possui
foram realizados de acordo com as normas: ABNT
anel dinamométrico de 5.000 kgf de capacidade,
(2016c) e ABNT (2016d) - Limites de Atterberg e
sensível a 2,5 kgf, extensômetro com resolução de
ABNT (2016e) e ABNT (2016f) - Massa específica.
0,001 mm, para medir as deformações do anel
dinamométrico, e extensômetro com resolução de
2.3.1 Preparação das misturas
0,01 mm, para medir a penetração do pistão no corpo
de prova.
Para realização deste estudo, as misturas investigadas
foram solo puro (S1), S1+10%FE, S1+20%FE e
S1+RCCr. No caso do FE, adotou-se um limite
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
superior de 20%, definido com base nos estudos
desenvolvidos por Silva et al. (2019) e Pires et al.
3.1 Caracterização dos materiais

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150
As características físicas do S1, RCCr e FE (3,5), são indicativos da reatividade potencial do
empregados no programa experimental deste material como um ligante hidráulico (Poh et al.,
trabalho são apresentadas nas Tabelas 1, 2 e 3. 2006).

Tabela 1. Granulometria dos materiais. 3.2 Caracterização das misturas


Material Argila Silte Areia Pedregulho
S1 52% 14% 32% 2% A Tabela 5 apresenta os resultados dos ensaios de ca-
RCCr miúdo 2% 11% 57% 30% racterização física e mecânica (energia do Proctor
RCCr graúdo 0% 1% 2% 97% normal) realizados nas misturas previstas no pro-
FE 16% 71% 13% 0% grama experimental.
A análise granulométrica dos FE apresentou Tabela 5. Características físicas e mecânicas das misturas.
grande presença de partículas finas (Ø < 75 µm). Parâmetros S1+10%FE S1+20%FE S1+RCCr
LL (%) 38 39
Tabela 2. Características físicas dos materiais. Não
LP (%) 35 31
RCCr RCCr Plástico
Parâmetros S1 IP (%) 3 8
miúdo graúdo Peso Específ.
29,17 28,94 27,59
LL (%) 58 - (kN/m3)
Não
LP (%) 40 - Wot (%) 27,2 25,5 15,2
Plastico
IP (%) 18 - γdmáx
14,87 15,58 18,20
Peso Específico (kN/m3) 27,57 28,94 25,90 (kN/m3)
Abrasão Los Angeles (%) - - 42
Índice de Forma - - 3 O S1 apresentou Wot e γdmáx, na energia do
Proctor normal, de 28,3 % e 14,6 kN/m3,
Tabela 3. Características físicas do FE. respectivamente.
Peso Específico Superfície Índice de Finura Nota-se que a adição dos resíduos aos solos
(kN/m3) Específ. (m2/kg) (%) ocasionou incremento do peso específico aparente
37,95 263,0 21,0
seco máximo e redução da umidade ótima. Pode-se,
portanto, presumir que um aumento no peso
No sistema de classificação TRB, S1 foi específico aparente seco ocorre devido à adição dos
classificado como A-7-5(13). Segundo essa resíduos.
classificação, S1 possui previsão de péssimo
comportamento como subleito rodoviário 3.3 CBR
(AASHTO, 2021). Pelo sistema USC, S1 foi
classificado como CH (argilas de alta plasticidade). A Figura 1 apresenta os valores médios do índice
O RCCr miúdo foi caracterizado como um solo CBR obtidos dos três corpos de prova
A-1-b no sistema de classificação TRB e SW-SM confeccionados para cada mistura. Os valores dos
pelo sistema USC. coeficientes de varição (CV) observados, estão
As propriedades físicas observadas nos FE são apresentados na figura como barras de erro vertical.
similares às obtidas por Pires et al. (2019) e Silva et
al. (2019).
A Tabela 4 apresenta os resultados da composição
química do FE obtidos via ensaio de FRX.

Tabela 4. Composição química do FE.


CaO Fe2O3 SiO2 Al2O3 MgO Outros
41% 32% 12% 4% 3% 8%

O FE é composto, basicamente, por CaO, Fe2O3,


SiO2 e, em menores proporções, Al2O3 e MgO.
Importante observar que cal, óxido de ferro e sílica
são elementos usuais da composição química do
cimento Portland. Conforme a NBR 12653 (ABNT,
2014), o teor de SiO2+Al2O3+Fe2O3 (48%) do FE está
próximo do mínimo exigido (50%). A presença de Figura 1. Valores médios do índice CBR das misturas
grandes quantidades de CaO, SiO e, em menores investigadas, compactadas na energia do Proctor normal.
proporções, MgO, e sua elevada relação CaO/SiO2

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151
A mistura S1+RCCr não apresentou ganhos de adição dos resíduos e a adoção do tempo de cura
resistência com o período de cura, evidenciando, para contribuem na redução da expansão CBR.
o período de 7 dias, que os componentes cimentícios De acordo com os critérios do DNIT (2010b), as
do RCCr não reagiram quimicamente após o composições solo-resíduos investigadas atendem às
processo de hidratação. Entretanto, S1+RCCr, condições de expansão ≤ 1% e índice CBR ≥ 20%
dosadas de forma a atender à faixa granulométrica exigíveis para execução de camadas de sub-base de
“D” especificada pela norma DNIT (2010a), pavimentos. Os resultados obtidos comprovam a
apresentou um ganho de 429% no valor do índice capacidade dos componentes RCCr e FE em
CBR, quando comparada ao solo na condição pura. promover ganhos de resistência mecânica ao solo
Esses resultados comprovam que o RCCr, quando investigado.
adicionado em proporções adequadas e promovendo
correções granulométricas satisfatórias aos solos,
acarreta ganhos de resistência mecânica às misturas. 4 CONCLUSÕES
Os resultados indicaram ganhos consideráveis de
resistência mecânica para S1 com a adição de FE. Conforme os resultados obtidos na presente pesquisa,
S1+10%FE apresentou, comparativamente ao solo na é possível concluir que:
condição pura, ganho de CBR de 357%, aos 0 dias, e
414%, aos 7 dias. Para S1+20%FE, comparativa- - comparativamente ao solo in natura, as adições de
mente a S1, os valores de CBR observados apresen- RCCr e FE contribuíram para o ganho de resistência
taram um incremento de 443%, aos 0 dias, e 729%, mecânica das misturas estudadas, sendo que o FE foi
aos 7 dias. O incremento no índice CBR observado já o principal responsável no ganho de resistência com
aos 0 dias de cura, estão associados ao período de 96 o incremento do tempo de cura;
horas de imersão dos corpos de prova antes do ensaio - a insensibilidade à hidratação dos componentes
na prensa. Segundo Mujtaba et al. (2018), os consti- cimentícios presentes no RCCr realçada no ensaio
tuintes cimentícios presentes nos finos de escória, CBR, visto que não houve constatação experimental
quando misturados com solo e na presença de água, de aumento da resitência mecânica com a cura de 7
desencadeiam processos como troca catiônica, flocu- dias da mistura S1+RCCr;
lação e aglomeração e reações pozolânicas, contribu- - a adição de 20% de FE e o processo de cura selada
indo na estabilização e ganho de resistência mecâ- de 7 dias melhorou o comportamento mecânico do
nica. solo, uma vez que um ganho de 729% foi observado
A Figura 2 apresenta os valores médios da no índice CBR.
expansão CBR obtida dos três corpos de prova
confeccionados para cada mistura.
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às empresas Ecovia


Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e
Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil pelo
fornecimento dos resíduos. Agradecem, também, aos
seguintes laboratórios e suas equipes pelo uso dos
equipamentos e colaborações: Laboratório de
Engenharia Civil da UFV e Laboratório de Materiais
de Construção Civil da UFOP.

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Conforme observa-se na Figura 2, todas as Rio de Janeiro, p. 21.
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Segundo os requisitos do DNIT (2010b), os materiais amostra de campo para ensaios de laboratório.
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Caracterização de Resíduos de Construção e Demolição Reciclados


para Aplicação em Estruturas de Contenção em Gabiões
Maria Clara Alves Ferreira Ramos
UFMG, Belo Horizonte, Brasil, clara.alves.amb@gmail.com

Bennie Barreto Pereira de Oliveira


UFMG, Belo Horizonte, Brasil, benniebarreto@gmail.com

Alanna Raíssa Magri Lopes


UFMG, Belo Horizonte, Brasil, alannarml@gmail.com

Gustavo Ferreira Simões


UFMG, Belo Horizonte, Brasil, gustavo@desa.ufmg.br

RESUMO: O setor da construção civil apresenta importância econômica nacional, mas possui como principal passivo
ambiental a geração dos Resíduos de Construção e Demolição (RCD). Considerando que a fração inerte dos RCD é a que
constitui a maior massa e se aproxima das características dos agregados naturais, observa-se um grande potencial de sua
utilização em substituição total ou parcial dos agregados naturais. O trabalho visa avaliar as características físicas e
mecânicas da fração inerte dos RCD, objetivando analisar seu desempenho como material de enchimento em estruturas
de contenção utilizando gabiões. Foram estudadas as frações cinza, vermelha e mista dos agregados reciclados (AR)
oriundos da usina de reciclagem de RCD da SLU-PBH. O programa experimental envolveu a realização de ensaios de
caracterização e de desempenho mecânico. A composição gravimétrica indicou predominância da fração cinza (77%),
seguido de agregados mistos (13,2%) e da fração vermelha (8,5%). A massa unitária variou entre 1213 a 1097 kg/m3 e a
Abrasão Los Angeles entre 57 e 62% para as amostras da fração cinza e mista. Os resultados de absorção de água variaram
entre 8,8 a 18%, para as frações cinza e vermelha, respectivamente. Os índices de resistência à compressão pontual
variaram entre 10,11 (rochas) a 0,012 MPa (cerâmicos). Quanto à durabilidade, a fração vermelha obteve desgaste de
95,0%, a fração cinza de 95,5% e a fração mista de 96,3%, considerando dois ciclos. Os resultados sugerem que a fração
cinza dos RCD reciclados apresentam maior potencial para a utilização pretendida.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos de construção e demolição, valorização de resíduos, estruturas de contenção, gabião.

ABSTRACT: The civil construction sector has national economic importance, but its main environmental liability is the
generation of Construction and Demolition Waste (CDW). Considering that the inert fraction of CDW constitutes the
largest mass and is close to the characteristics of natural aggregates, there is a great potential for its use in total or partial
replacement of natural aggregates. The work aims to evaluate the physical and mechanical characteristics of the inert
fraction of CDW, aiming to analyze its performance as filling material in retaining structures using gabions. The gray,
red and mixed fractions of recycled aggregates from the SLU-PBH RCD recycling plant were studied. The experimental
program involved characterization and mechanical performance tests. The gravimetric composition indicated
predominance of the gray fraction (77%), followed by mixed aggregates (13.2%) and red fraction (8.5%). The unit mass
varied between 1213 to 1097 kg/m3 and the Los Angeles Abrasion between 57 and 62% for the gray and mixed samples.
The water absorption results ranged from 8.8 to 18% for the gray and red fractions, respectively. The punctual
compressive strength indices ranged from 10.11 (rocks) to 0.012 MPa (ceramics). As for durability, the red fraction
obtained wear of 95.0%, the gray fraction of 95.5% and the mixed fraction of 96.3%, considering two cycles. The results
suggest that the gray fraction of the recycled CDW has a greater potential for the intended use.

KEY WORDS: Construction and demolition waste, waste valorization, earth retaining structures, gabion

1 INTRODUÇÃO importante da indústria, visto que está associada com


o crescimento econômico-social. Contudo, essa
No Brasil, a construção civil é um segmento atividade também causa impactos ambientais (IPEA,

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155
2012). Dentre os setores produtivos, a construção reciclagem/recuperação e Classe D - resíduos
civil é o maior consumidor de recursos naturais, pois perigosos (BRASIL, 2002). Dentre as classes acima,
à medida em que os materiais são extraídos, há a foram objetos deste estudo os RCC Classe A, mais
alteração da paisagem e também a geração de especificamente as frações que corrrespondem a
resíduos (Agopyan, 2011). tijolos, azulejos, telhas, argamassas, rochas
A disposição inadequada de resíduos sólidos ornamentais e concretos variados.
acarreta passivos ambientais e problemas de saúde Antes mesmo desse marco regulatório, diversos
pública. Dessa forma, a destinação adequada dos estudos foram desenvolvidos no Brasil a fim de
resíduos sólidos minimiza os impactos ambientais e encontrar formas alternativas de destinação final dos
também evita a disseminação de doenças (Fonseca & RCD, visto que a fração inerte desses resíduos se
Namen, 2021). aproxima das características dos agregados naturais
Segundo o último levantamento do IPEA (Matias, 2020).
realizado em 2012, os Resíduos de Construção e Na literatura internacional há vários estudos que
Demolição (RCD) correspondiam a cerca de 50% a comprovam a segurança da utilização dos RCD como
70% de toda a massa dos resíduos sólidos urbanos base e sub-base para pavimentação e como agregados
gerados no Brasil. Tradicionalmente, a gestão dos reciclados (AR) na produção de concreto. Tais
RCD esteve sob responsabilidade do poder público, aplicações são utilizadas em larga escala em países
visto que a sua coleta, transporte e destinação, que europeus, inclusive possuem Normas Técnicas que
deveria ser responsabilidade dos geradores, acaba definem o limite de substituição dos agregados para
ficando a cargo do poder público quando estes são alguns usos (Silva et al., 2019). Atualmente, são
depositados em locais inadequados como áreas encontradas linhas de pesquisas que objetivam
públicas, canteiros, ruas, praças e margens de rios, demonstrar a viabilidade do uso dos RCD na
acarretando numa sobrecarga do sistema de limpeza confecção de compósitos, placas e blocos de
urbana (Cordoba, 2014). isolamento térmicos e acústico, assim como
No Brasil, não há dados oficiais com quantitativos adsorventes de contaminentes, dentre outras
de geração de RCD, apenas sobre a quantidade aplicações (Reis et al., 2019; Massouinejad et al.,
coletada pelos serviços públicos de limpeza urbana 2019; Hyvärinen et al., 2019).
de alguns municípios (Matias, 2020). De acordo com No final da década de 1990, iniciaram estudos no
as estimativas realizadas pela Associação Brasileira Brasil sobre a utilização de RCD em obras
de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos geotécnicas, com a utilização de AR na pavimentação
Especiais em 2020, foram coletados pelos sistemas e na confeção de blocos de concreto (Lima, 1999).
de limpeza pública dos municípios 47 milhões de Nos anos seguintes outros estudos com a aplicação
toneladas de RCD. Apesar de alguns municípios do RCD foram realizados. Pereira et al. (2015) fez
realizarem a limpeza dos locais popularmente uma síntese em seu trabalho sobre as aplicações de
conhecidos como “bota-fora”, a disposição RCD em Obras Geotécnicas no Brasil. As linhas de
inadequada de RCD ainda é uma realidade presente pesquisa mais relevantes foram na utilização do RCD
nos municípios brasileiros (Cordoba et. al, 2019). como camadas drenantes de aterros sanitários,
Objetivando empregar diretrizes e mecanismos material alternativo para sistema de cobertura de
para a redução, reciclagem e reaproveitamento dos aterros sanitários, material de preenchimento de
RCD, em 2002 o Conselho Nacional do Meio estruturas de solos reforçado e estabilização do solo.
Ambiente (CONAMA) aprovou a Resolução nº Estruturas de contenção do tipo gabião são
307/02, que “estabelece diretrizes, critérios e utilizadas para solucionar problemas geotécnicos,
procedimentos para a gestão dos resíduos da hidráulicos e no controle de erosão. De forma geral,
construção civil”. Essa Resolução correspondeu a um o gabião pode ser definido como um muro de
avanço técnico, estabelecendo que o gerador é o gravidade flexível, formado por elementos metálicos,
responsável pelo gerenciamento desses resíduos, preenchidos por material pétreo de granulometria e
além de determinar a segregação dos resíduos em propriedades adequadas. A sua principal vantagem é
diferentes classes e sua disposição adequada a simplicidade de execução, além de não necessitar
(BRASIL, 2002). obrigatoriamente de mão-de-obra especializada
A Resolução também propõe a classificação dos (Barros, 2005).
resíduos de construção civil, com a subdivisão: Diante do volume de RCD gerado anualmente,
Classe A - resíduos reutilizáveis ou recicláveis como dos impactos das disposição inadequada, dos gastos
agregados; Classe B -resíduos recicláveis para outras públicos com a limpeza corretiva de áreas
destinações; Classe C - resíduos para os quais não clandestinas, bem como da semelhança dos RCD
foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações Classe A com os agregados naturais, o presente
economicamente viáveis que permitam a sua trabalho propõe a caracterização física e mecânica

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156
dos AR de RCD, a fim de investigar a viabilidade e usadas pedras limpas, compactas, não friáveis e não
limitações do seu uso como material de enchimento solúveis em água, para que tais elementos sejam
de estruturas de contenção do tipo gabião, capazes de garantir a resistência requerida nas obras
fundamentando-se na comparação das propriedades as quais se destinam. Usualmente as dimensões
físicas e mecânicas desse material alternativo com os destas pedras deverão ser limitadas entre uma a duas
materiais naturais normalmente utilizados. vezes e meia a distância entre os trechos de torção da
malha.
2 MATERIAL E MÉTODOS Os AR foram divididos em três frações em função
das suas características, contudo, para alguns ensaios,
Os RCD utilizados neste trabalho foram provenientes as rochas ornamentais foram avaliadas
da Estação de Reciclagem de Entulho da BR-040 da separadamente. A fração cinza é composta por
Superintendência de Limpea Urbana da prefeitura de argamassas, concretos e rochas ornamentais; a fração
Belo Horizonte. Atualmente, a unidade recebe RCD vermelha é composta por materiais cerâmicos, como
provenientes das Unidades de Recebimento de azulejos, telhas e tijolos; por fim, a fração mista
Pequenos Volumes, contudo, são recebidos somente corresponde aos agregados que possuem frações
resíduos inertes minimamente segregados, ou seja, cinza e vermelha.
são aceitos os RCC Classe A, conforme classificação Em função de não haver disponível uma norma
da Resolução CONAMA 307/2002. técnica que oriente a caracterização do material de
Assim que são recebidos na Usina, os RCD são enchimento, indicando limites de desempenho
dispostos em leiras para serem segregados desejáveis, o programa experimental apresentado foi
manualmente, etapa que visa remover resquícios de proposto utilizando como base ensaios de
outras classes de RCD. Em seguida, o material é caracterização de agregados para confecção de
encaminhado para o britador, equipamento que brita concretos e pavimentação, além de ensaios de
os RCD em diferentes granulometrias, variando propriedades físicas e mecânicas de rochas (Ramos,
desde a bica corrida - material sem graduação 2022).
definida e sem separação por peneiramento - até a
areia fina. Dentre os AR produzidos pelo britador, o 2.1 Ensaios realizados
escolhido foi o rachão, devido à sua maior dimensão.
As dimensões do rachão variam, como pode ser 2.1.1 Composição Gravimétrica
observado na Figura 1. Para este trabalho foi
utilizado o rachão, com dimensões entre 8 e 20 cm. Objetivando caracterizar os AR utilizados, foram
Essa escolha advém da premissa de que o material de realizadas três composições. Considerando a escala
enchimento deve possuir dimensões superiores à da da pilha de rachão foram coletados, com o auxílio de
malha da tela do gabião. uma pá carregadeira, cerca de 3m³ de amostra foi
disposta em duas leiras. Após o quarteamento, foi
feita a segregação manual por tipologia de material.
As classificações foram: Concretos (concretos e
argamassas); Cerâmicos (tijolos, telhas e tubos
cerâmicos); Misto Cerâmico (agregados que
possuem fração cinza e vermelha); Rochas
ornamentais; Misto cinza (agregados que possuem
fração cinza e rocha ornamental); Azulejos e Rejeitos
(plástico, gesso, telha de amianto, isopor, madeira,
tubos de PVC, compensados e fio de corte).
Após a separação, cada tipologia foi
acondicionada e pesada. De posse da massa total e da
massa de cada fração foi possível calcular a
porcentagem de participação de cada tipologia.

2.1.2 Teor de umidade

A fim de determinar o teor de umidade do rachão, as


amostras, separadas em cinza, vermelho, rocha
Figura 1. Dimensões do rachão ornamental e misto, foram pesadas e submetidas a
estufa a 105ºC por 24 horas. Após a secagem, as
No preenchimento dos gabiões normalmente são amostras permaneceram 1 hora em temperatura

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157
ambiente e foram novamente pesadas. É importante materiais pétreos comumente utilizados como
ressaltar que esse processo foi realizado durante o material de enchimento.
periodo chuvoso e de estiagem. O ensaio foi executado seguindo as proposições
O teor de umidade das amostras foi calculado da NBR 53 ABNT (2003), com a adaptação de que
conforme Equação 1. não foi utilizada a balança hidrostática e o tempo de
imersão em água foi maior que o recomendado.
𝑀𝑤
𝑤= (1) Foram utilizados doze amostras de AR (quatro de
𝑀𝑠
cada tipologia), uma proveta graduada, com
Em que: w é o teor de umidade (%); Mw é a massa de capacidade de 2000 ml e 9 cm de diâmetro.
água (kg); Ms é a massa da amostra seca (kg). Inicialmente, as amostras foram secas por 24
horas em estufa e em seguida, após resfriamento,
2.1.3 Massa unitária foram pesadas. Em seguida, as mesmas amostras
permaneceram 72 horas submersas em água, a fim de
A fim de estimar qual seria a relação entre massa e que os macro e microporos fossem preenchidos com
volume do rachão, incluindo os vazios, de forma que água. Para a determinação do volume de cada
o rachão fosse disposto como é realizado o amostra foi utilizado o princípio da hidrostática. As
enchimento de uma caixa de gabião, a massa unitária amostras, que já estavam submersas foram
foi calculada. A NBR 16972 ABNT (2021) que introduzidas, uma por vez, em uma proveta com um
objetiva determinar a massa unitária e do índice de volume conhecido de água, e a variação do volume
vazios para agregados graúdos e miúdos para da proveta foi medido e assim o volume da amostra
concretos norteou a execução do ensaio. Por questões foi estimado. A massa específica foi calculada
logísticas e de escala, a execução desse ensaio foi conforme Equação 2:
realizada em campo, assim as amostras utilizadas não 𝑀𝑠
puderam ser secas em estufa como preconizado na 𝜌𝑠 = (2)
𝑉𝑑
norma, assim as amostras estavam com seu teor de
umidade natural para o período de estiagem. Em que: s é a massa específica da amostra (g/cm3); Ms é
Foram ensaiadas em triplicata três grupos, quais a massa da amostra seca (g); vd é o volumo deslocado
sejam, apenas fração cinza, 50% em massa de cinza pala amostra (cm3).
e vermelhos e 50% em massa de cinza e mistos.
2.1.6 Abrasão Los Angeles
2.1.4 Absorção de água
É um ensaio que objetiva mensurar a capacidade do
A absorção de água se torna uma propriedade de agregado não se quebrar, desagregar e desintegrar,
interesse pois estruturas de contenção do tipo gabião por meio de simulações de desgaste e abrasão. É
são estruturas drenantes, e pelo fato dos RCD comumente utilizado para classificar os agregados
possuírem uma maior absorção de água em função da para a fabricação de concretos, pavimentação e
sua maior porosidade. Dessa forma, foram utilizadas lastros ferroviários (Ok et al., 2020).
as disposições da NBR 53 ABNT (2003), que O ensaio de Abrasão “Los Angeles” foi realizado
estabelece a determinação de absorção de água. seguindo as recomendações da Norma DNER-ME
Para a execução do ensaio as amostras foram 035/98. Para a execução deste ensaio os RCD foram
divididas em três grupos: Vermelho, Cinza e Misto. divididos em 3 amostras: somente fração cinza
Assim, foi possível determinar a absorção por (concretos, argamassas e rochas ornamentais); 50%
tipologia. Inicialmente foram selecionadas três em massa de fração cinza e fração vermelha
amostras de massa de aproximadamente de 16,6 kg (cerâmicos) e 50% em massa da fração mista com
(peso seco), e foram submersas em água por 24, 48 e fração cinza. O ensaio foi realizado em triplicada para
72 horas, a fim de que a água penetrasse nos cada amostra.
macroporos dos AR e de que não houvesse mais A Norma DNER-ME 035/98 recomenda que a
formação de bolhas de ar na caixa. Por fim, após as fração das massas deve ser obtida por meio do
72 horas, as amostras permaneceram em estufa por peneiramento e separação por frações do agregado,
24 (+-2) horas e, após resfriarem até atingir a contudo a composição granulométrica não foi
temperatura ambiente, foram pesadas. realizada, pois partiu-se do princípio de que o rachão
já possui dimensão pré-definida.
2.1.5 Massa específica do rachão
2.1.7 Resistência à compressão pontual
O ensaio foi realizado a fim de comparar a
propriedade de massa específica dos RCD com os O ensaio de resistência à compressão pontual (PLT =

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158
point load test) é utilizado na determinação do índice
de resistência de rochas, correlacionando o parâmetro
de força com a tensão uniaxial e resistência à
compressão. O ensaio determina o índice de
resistência de amostras à compressão pontual
(Is(50)). O índice é obtido submetendo a amostra a
um carregamento pontual concentrado, aplicado por
um par de placas cônicas esféricas, até que ocorra o
rompimento da amostra. Podem ser utilizadas
amostras na configuração de testemunhos de
sondagem, blocos e lumps (blocos irregulares).
O ensaio é utilizado como um teste índice, para
caracterizar a classificação de resistência à
compressão de uma rocha, o qual é fortemente Figura 2. Resultados da composição gravimétrica média
influenciado pela anisotropia da amostra. O ensaio
foi executado seguindo as recomendações da norma 3.1.2 Teor de umidade
D5731-16 ASTM (2016b) para lumps irregulares.
Conforme esperado, o Teor de Umidade (w) das
2.1.8 Durabilidade amostras coletadas no período chuvoso apresentaram
wmédio de 9,46%, valor superior à coleta executada no
A durabilidade das rochas em relação à abrasão na período de estiagem que foi de 5,85%. Apesar dessa
presença de água e ciclos de secagem pode ser diferença, analisando o teor de umidade para as
mensurada pelo ensaio denominado slake durability diferentes tipologias percebe-se um comportamento
test. O ensaio objetiva prever a deterioração potencial semelhante, como pode ser verificado na Tabela 1.
da durabilidade dos materiais, sob influência dos
processos intempéricos (Silva, 2010). Como as Tabela 1. Tero de umidade médio por tipologia
estruturas de contenção em gabião ficam expostas ao Tipologia w (%) chuva w (%) seco
intemperismo, ou seja, os materiais de enchimento de Concreto e argamassa 7,7 5,3
gabiões ficam sujeitos a exposição constante às Vermelha 18,8 8,4
intempéries, estando sob influência do meio por Misto 10,6 5,5
reações físico-químicas. Diante disso, estudos Rocha Ornamental 1,4 0,15
envolvendo a durabilidade são fundamentais para a
caracterização os RCD, podendo apontar limitações. Considerando que as diferentes tipologias
O ensaio foi realizado conforme a norma D4644- estavam nas mesmas condições climáticas, percebe-
16 ASTM (2016a), contudo houve duas adaptações se que as rochas ornamentais apresentaram um menor
no aparato experimental. A abertura da tela do teor de umidade, resultado que já era esperado tendo
cilindro vazado possuía diâmetro de 4 mm e as bases em vista que as rochas normalmente são menos
do mesmo foram produzidas em acrílico. O ensaio foi porosas que os RCD (Ok et al. 2020). Já os
realizado considerando dois ciclos completos. vermelhos, apresnetaram o maior teor de umidade em
função da maior porosidade dessa tipologia,
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO enquanto os agregados cinzas (concretos e
argamassas) resultaram no menor valor para os RCD
3.1 Composição gravimétrica (Bravo et al., 2015). Por fim, a fração mista obteve
um valor intermediário.
Os resultados da composição gravimétrica média
podem ser observados na Figura 2. 3.1.3 Massa unitária
Dentre as tipologias, a que apresentou a maior
variação nas composições foi o concreto, resultando A média dos resultados de massa unitária foi de 1.211
no maior desvio padrão, de 5,7%, seguida da fração kg/m³ para a amostra contendo apenas fração cinza,
de azulejos com 2,4%, em contrapartida, a fração 1.164 kg/m³ para amostra composta de misto e de
vermelha obteve o menor desvio de 0,03%. Destaca- 1.098 kg/m³ para a mostra composta vermelha.
se que mesmo com um pré-tratamento antes do envio Os resultados obtidos indicaram que a amostra
dos RCD ao britador ainda é registrada uma fração de cinza apresentou a menor variabilidade, com desvio
1% de rejeitos. padrão de 7,2 kg/m³, enquanto que a amostra com
50% de vermelho apresentou desvio de 56,2 kg/m³.
A maior variabilidade da fração vermelha está

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159
relacionada às suas diferentes formas e densidades, avaliação pelo coeficiente de correlação de Spearman
que são função da tipologia dos agregados vermelhos foi realizada com o auxílio do software RStudio.
(fragmentos de telhas, azulejos, tijolos furados, Inicialmente o teste de correlação foi realizado e, em
tijolos maciços e tubulações cerâmicas), que seguida, um teste de hipóteses para o nível de
possuem densidades diferentes, e consequentemente, significância da correlação de 5% (α = 0,05) foi
amostras com maior quantidade de AR vermelhos de aplicado objetivando verificar uma relação entre as
menor densidade resultaram num menor resultado de propriedades já mencionadas. Com a aplicação do
massa unitária. teste, foi encontrado um p-valor de 0,0066,
confirmando a correlação significativa entre massa
3.1.4 Absorção de água específica e absorção de água. Ademais, o rho igual
-0,755, sugere uma correlação negativa de
Quanto aos resultados de absorção de água, foi intensidade forte para as propriedades, , quanto maior
constatado que a fração vermelha obteve a maior o peso específico menor a absorção de água.
média, com 18%, seguido do misto com 13% e, como
esperado, a fração cinza obteve a menor absorção 3.1.6 Abrasão Los Angeles
com 8,8%. Apesar da fração cinza apresentar a menor
absorção, o valor obtido é muito superior, mais de Nenhuma das amostras atingiu as especificações
duas vezes para a fração cinza, ao dos agregados brasileiras para utilização de agregados em camadas
naturais comumente utilizados, que tem absorção de base e sub-base de pavimentos, pois todos os
inferior a 4% (Ok et al., 2020). resultados de abrasão LA foram superiores a 50%.
Como as estruturas de gabião são drenantes e por Contudo, não há recomendações de um limite
isso não acumulam água, a elevada absorção não máximo de abrasão LA para a aplicação em
interfere negativamente no desempenho da estrutura, estruturas de contenção do tipo gabião.
contudo os ensaios de durabilidade podem indicar se Como esperado os resultados obtidos sugerem
o processo de umedecimento e secagem interferem que a resistência a abrasão mecânica dos RCD é
na resistência do material, prejudicando o inferior aos agregados naturais, destacando a menor
desempenho mecânico da estrutura. resistência da amostra vermelha, com perda de
61,4%, seguido da amostra contendo apenas cinza
3.1.5 Massa específica rachão 57,4% e a amostra mista com 56,7%. Um resultado
inesperado foi o de que as amostras mistas
A média de massa específica das amostras vermelhas apresentaram resultado de abrasão menor que as
foi de 1,498 g/cm³, 1,799 g/cm³ para as mistas os amostras contendo apenas a fração cinza.
mistos e 1,999 g/cm³ para a fração cinza, Provavelmente a qualidade dos concretos na amostra
evidenciando que a natureza do material influencia de misto era superior, também há de considerar que
fortemente no valor de massa específica. os azulejos, que compõe os mistos, possuem elevada
Comparando os valores de massa específica resistência mecânica. Entretanto, a amostra de cinza
obtidos para cada tipologia de RCD com as rochas foi a que apresentou o menor desvio padrão (1,06)
usualmente utilizadas como material de enchimento dentre as amostras ensaiadas.
em gabiões (média de 2,7 g/cm³), observa-se que Quando são comparados os resultados obtidos
apesar da fração cinza apresentar os maiores valores com as rochas utilizadas como material de
de massa específica, nota-se uma desigualdade, que enchimento, a disparidade da propriedade de abrasão
se torna ainda maior quando se comparam os é nítida, tendo em vista que a abrasão LA destas
resultados da fração vermelha com as rochas. Essa rochas não ultrapassa 30% (Ok et al., 2020). Remédio
propriedade dos RCD poderá limitar a sua aplicação, (2017) obteve a abrasão para diferentes granitos,
tendo em vista que as estruturas de contenção do tipo sendo a maior perda de abrasão LA de 31,3% e a
gabião são estruturas de gravidade e estão associadas menor perda de 12,2% . As diferenças nos valores
à massa específica do material de enchimento. para uma mesma rocha (granito) segundo o autor
Observa-se que as amostras vermelhas, que estão vinculadas à composição mineralógica, que são
apresentaram menor massa específica como tijolos e diferentes para cada qualidade de granito.
telhas, possuem maior taxa de absorção de água, Paiva (2017) também realizou o ensaio de abrasão
tendo em vista que essa tipologia possui maior para uma pedreira de brita de basalto e chegou a um
porosidade. resultado de perda de 12,5%. Diante dos resultados
Para analisar se há correlação entre a massa obtidos pelos autores supracitados, e dos valores
específica e a absorção de água, foi aplicado o teste obtidos na pesquisa, denota-se que os RCD possuem
de correlação de Spearman, em função da sua maior menor resistência à abrasão mecânica que as rochas
robustez da análise à presença de outliers. A

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160
comumente utilizadas, contudo, as frações cinza e ornamentais, a fração cinza tem resistência suficiente
mista apresentaram menores perdas. para ser tratada como material aplicável em
estruturas de gabião. Objetivando mensurar quais
3.1.7 Resistência à compressão pontual seriam as restrições de uso, ensaios de compressão de
uma célula de gabião são fundamentais para avaliar o
A fração vermelha apresentou os menores valores de comportamento dos RCD quando submetidos a
Is(50), seguida dos RCD mistos, fração cinza e cargas extremas.
rochas ornamentais. Os resultados são mostrados na
Tabela 2. Destaca-se que a desvio padrão foi maior 3.1.8 Durabilidade
para as rochas ornamentais, resultado que difere dos
outros ensaios. Esse maior desvio observado pode Foram realizados doze ensaios de durabilidade com
estar associado ao fato de que as rochas coletadas são 2 ciclos de secagem e umedecimento para cada
de gênese distinta, podendo apresentar diferentes fração. Os resultados são apresentados na Tabela 3.
resistências devido à sua estruturação natural. Além Os resultados de índice de duabilidade (ID) para
disso, a fração vermelha apresentou o menor desvio todas as frações mostraram desempenho próximo, de
padrão. Destaca-se que não foi possível realizar o modo que o desvio padrão para o resultado das três
teste em azulejos, devido ao fato de sua espessura ser frações foi de 0,86.
inferior à aproximação máxima das ponteiras.
Portanto, apenas tijolos e algumas telhas foram Tabela 3. Resultados do ensaio de durabilidade
ensaiadas. Cinza Misto Vermelho
Média 1º ciclo (%) 97,90 97,88 97,60
Tabela 2. Resultados resistência à carga pontual corrigida Média 2º ciclo (%) 95,52 96,26 95,01
Vermelho Misto Cinza Rocha Orn.
Média 0,51 1,17 1,52 6,30 As frações de RCD são classificadas conforme a
Desv. pad. 0,92 1,02 0,99 4,38
norma D4644-16 (ASTM, 2016a) quanto aos graus
de alteração e resistência, com durabilidade muito
alta para a fração vermelha e extremamente alta para
Pela classificação, a fração vermelha possui as frações conza e mista.. Rochas como gnaisse,
resistência baixa, enquanto os RCD cinzas e mistos granito e gabro também são classificados com
possuem alta resistência e as rochas ornamentais com durabilidade extremamente alta, mesmo após a
muito alta resistência. Remédio (2017) executou o execução de 5 ciclos de umedecimento e secagem
ensaio de resistência a carga pontual com lumps (Dias Filho et al., 2013).
irregulares de rochas provenientes de pedreiras da Os resultados obtidos para 2 ciclos indicam que o
região de Campinas e São Paulo. Das nove tipologias índice de durabilidade dos RCD é semelhante ao das
de rochas, a menor resistência foi de 6,24 MPa e o rochas comumente utilizadas, assim, dentre os RCD
maior índice foi de 10,7 MPa, ambos classificados aquele que apresenta o pior desempenho é a fração
como muito alta e extremamente alta resistência. vermelha. Todavia, considerando que uma maior
Galván et al. (2014) apresentam uma diversidade de quantidade de ciclos diminui o ID do material,
rochas ensaiadas em corpos de provas com sugere-se que sejam realizados ensaios com 5 ciclos,
resistências inferiores e semelhantes às obtidas para a fim de expor o material as condições extremas e
as frações de RCD. São rochas sedimentares que avaliar novamente o comportamento deste em
naturalmente possuem resistência menor que rochas relação à abrasão em água.
metamórficas e ígneas, como o gnaisse e o granito.
Entre a alta e extremamente resistente estão o 4 CONCLUSÃO
dolomito, quartzito, rochas vulcânicas e granito junto
do concreto, que ao fim da sua vida útil torna-se RCD O resultado da composição gravimétrica indicou que
cinza, objeto de estudo do trabalho. cerca de 75% dos AR são compostos pela fração
Os resultados obtidos sugerem que a utilização cinza dos RCD, que apresentou características mais
dos RCD, principalmente da fração vermelha, como próximas do material de enchimento pétreo. A maior
material de enchimento pode ser limitada à estruturas porosidade dos RCD vermelhos refletiu nos índices
de gabião de menor complexidade, apesar de não físicos, resultando num maior de teor de umidade que
haver um valor mínimo de Is(50) para o material de variou de 18,8 a 8,4%, maior absorção de água
enchimento, a resistência dos RCD chega a ser seis (18%), e menor massa específica (1,5 g/cm³). Em
vezes menor que a das rochas usualmente utilizadas, contrapartida, a fração cinza apresentou menor teor
mesmo assim atinge padrões de alta resistência. de umidade (7,7 e 5,3%), menor absorção de água
Apesar do contraste entre os RCD e as rochas (8,8%) e maior massa específica (1,8 g/cm³). A

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161
fração mista obteve resultados intermediários. Bravo, M.; Brito, J.; Pontes, J.; Evangelista, L. (2015).
O desempenho mecânico dos AR foi avaliado Mechanical performance of concrete made with
inicialmente pela abrasão Los Angeles, e os aggregates from construction and demolition waste
resultados indicaram que a amostra com 50% em recycling plants. J. Cleaner Production, v.99, p.59-74.
Córdoba, R. E. (2014). Estudo do potencial de
massa de AR misto e apenas fração cinza obtiveram
contaminação de lixiviados gerados em aterros de
a menor perda por abrasão, com 57%. Quanto à resíduos da construção civil por meio de simulações
resistência à compressão pontual, a fração cinza em colunas de lixiviação. Tese de Doutorado, USP.
resultou numa média de 1,5 kPa, 1,2 kPa para a mista Córdoba, R.E.; Neto, J. C. M; Santiago, C.; D Pugliesi, E.;
e 0,5 kPa para a fração vermelha. Por fim, a Schalch, V. (2019). Alternative construction and
durabilidade foi estimada e os resultados para 2 ciclos demolition (C&D) waste characterization method
de umedecimento e secagem não demonstraram proposal. Rev. Eng. Sanit. Amb., v.24, p.199-212.
diferença significativa entre as frações cinza, mista e Dias Filho, J.L.E.; Xavier, G.C.; Maia, P. C. A. (2013).
vermelha. Análise da durabilidade de gnaisse através de ensaio
Dessa forma, evidencia-se o potencial uso dos de desgaste. Vértices, v.15, n. 3, p.7-16.
DNER (1998). DNER-ME 035/98: Agregados -
RCD, principalmente da fração cinza, como material
Determinação da abrasão “Los Angeles”.
de enchimento do gabião. Contudo, estudos em Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, Rio
escala real são essenciais para comprovar a segurança de Janeiro.
de utilização e definir precisamente quais são as Fonseca, F.L.C.; Namen, A.A. (2021). Characteristics and
limitações do uso desse material de enchimento. patterns of inappropriate disposal of construction and
demolition waste in the municipality of Cabo Frio,
AGRADECIMENTOS Brazil. Rev. Bras. Gestão Urbana, v.13, p.1-19.
Galván, M.; Preciado J.; Serón J. (2014). Correlation
Ao Departamento de Engenharia de Minas, between the point load index, Is(50), and the resistance
Departamento de Engenharia de Materiais e da to unconfined compression in limestone from the
comunidad valenciana, Spain. Acta Geotechnica
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realização dos experimentos. À Superintendência de of the use of construction and demolition waste on the
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a amostra de RCD e por ter prestado todo o suporte composite. Composite Structures, v.220, p.321-326.
nos ensaois realizados em campo. Ao Conselho IPEA (2012). Diagnóstico dos Resíduos Sólidos da
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163
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Caracterização física de lodo de ETA pós desaguamento em bolsa


geotêxtil

Guilherme Pagni de Aquino


FEG - UNESP, Guaratinguetá, Brasil, guilherme.aquino@unesp.br

Cleitton Raian Batista Pereira


EP - USP, São Paulo, Brasil, cleitton.pereira@usp.br

Mariana Ferreira Benessiuti Motta


FEG - UNESP, Guaratinguetá, Brasil, mariana.motta@unesp.br

Matheus Müller
Salus Engenharia, São José dos Campos, Brasil, mmuller@salusengenharia.com

RESUMO: Dentre os processos e as etapas do tratamento de água nas estações (ETAs), a geração de resíduos sólidos, ou
simplesmente lodo, é contínua e em grandes volumes. Comumente são empregados métodos de desaguamento
tradicionais, com ou sem adição de coagulantes, para posterior destinação em aterros sanitários. Uma das formas de
disposição é a partir da utilização de sistemas fechados com o uso de fôrmas têxteis tubulares, solução viável para o
aumento do teor de sólidos em resíduos com alto teor de umidade. Para a compreensão e entendimento do comportamento
de desaguamento a partir dessa técnica, foi realizado um mapeamento em uma bolsa geotêxtil através da coleta de
amostras deformadas e indeformadas ao longo da profundidade e da área transversal da bolsa, para caracterização do teor
de sólidos, teor de umidade gravimétrico, massa específica total e seca. A partir dos resultados obtidos, pôde-se comprovar
a eficácia do processo de desaguamento por meio do sistema fechado de geotêxtil, com um aumento do teor de sólidos
do lodo de 1% para um valor médio de aproximadamente 10%. De forma geral os resultados apresentaram convergência
quanto aos princípios da teoria de adensamento radial, no qual as faces (topo e base) e as bordas da bolsa apresentaram
os maiores incrementos de teor de sólidos avaliados.

PALAVRAS-CHAVE: Lodo ETA, Desaguamento, Bolsa geotêxtil, Caracterização física, Teor de sólidos.

ABSTRACT: Among the processes and stages of water treatment plant, the generation of solid waste, or simply sludge,
is continuous and in large volumes. Commonly, traditional dewatering methods are used, with or without the addition of
coagulants, for subsequent deposition in sanitary landfills. One of the ways of disposal is from the use of closed systems
with the use of geotextile tubes, a viable solution for increasing the solid content in waste with high liquid content. In
order to understand the desiccation behavior from this solution, a mapping was carried out in a geotextile tubes with the
sampling of disturbed and undisturbed samples along the depth and cross-sectional area of the bag, to characterize the
solids content, moisture content, total and dry specific mass. From the results obtained, it was possible to prove the
effectiveness of the drying process through the closed geotextile system, with an increase in the solids content of the
sludge from 1% to an average value of approximately 10%. In general, the results showed convergence when the
principles of unidimensional consolidation theory, in which the faces (top and bottom) and the edges of the bag showed
the highest increments of evaluated solids content.

KEY WORDS: Sludge, Dewatering, Geotextile tubes, Physical characterization, Solids content.

1 INTRODUÇÃO convencionais, englobando os processos de


coagulação, floculação, decantação, filtração,
Os resíduos sólidos das estações de tratamento de desinfecção e fluoretação. Ortiz (2022) descreve a
água, ou simplesmente lodo, é proveniente das ETAs produção desse resíduo como contínua e de grande

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164
volume que, somados ao crescimento populacional nacional e internacional, sendo uma técnica
nas grandes áreas urbanas, necessita de tecnologia consolidada que apresenta diversas vantagens, tanto
para a devida disposição de maneira segura, para do ponto de vista operacional como de eficácia.
evitar e/ou minimizar os passivos ambientais. Ardila et al. (2020) apresentam os benefícios do
Segundo Raghu et al. (1987) apud Ferreira uso de sistema fechado de geotêxtil, reconhecendo-o
(2020), os lodos de modo geral, apresentam alta como uma solução eficiente e viável, do ponto de
variabilidade no teor de sólidos, relacionado vista técnico e econômico, para o desaguamento de
diretamente com a qualidade de água, a quantidade resíduos com alto teor de umidade (baixo teor de
de sólidos suspensos, os equipamentos utilizados na sólidos).
planta de agitação, o método de deságue, assim como O processo de confinamento e desaguamento com
o coagulante adicionado. Montalvan (2016) também estas fôrmas acontece em duas etapas principais:
descreve essa variabilidade no processo, primeiramente o resíduo úmido é bombeado para o
apresentando que cerca de 95% do volume dos lodos interior da forma, onde acontecerá um processo de
está praticamente na fase líquida, ou seja, volumes de filtração forçada devido à pressão de bombeamento.
água. Finalizado o bombeamento, o tubo entra na fase de
Atualmente no cenário nacional, muitas são as descanso, em que através da força gravitacional
tecnologias para o desaguamento dos resíduos ocorre a consolidação do material causando a saída
provenientes das ETAs (Estações de Tratamentos de da água através dos poros do tecido. Nesta segunda
Água), desde as mais tradicionais: centrífugas, filtro etapa também é presente o processo de evaporação,
prensa e prensa desaguadoras; a métodos não que contribui para a diminuição dos teores de
mecanizados: leitos de drenagem, lagoas de umidade. Percebe-se que o mecanismo de
sedimentação e filtração em sistemas fechados. desaguamento atráves da drenagem é de ação rápida,
O lodo produzido nas estações é classificado com já através da evaporação têm ação mais lenta e ocorre
resíduo sólido, conforme ABNT (2004) e CONAMA continuamente (MÜLLER et al., 2018). O lodo,
(2011), as quais convergem em direcionar a devida quando passa pelo processo de desaguamento e
destinação ambientalmente adequada desses filtração com geotêxtil, apresenta como resultado a
resíduos. Contudo, Achon e Cordeiro (2016) retenção de partículas sólidas, filtrando a água, esse
observaram que em 22 ETAs das principais sub- processo é denomidado de filter cake¸ o qual aumenta
bacias, localizadas no Estado de São Paulo, 77% a eficiência da filtração, porém diminuí a
destas não davam o devido destino a esses resíduos, permeabilidade. A Figura 1 ilustra esse processo, no
dispondo-os em corpos-d’água, 9 % lançavam no qual têm-se a concentração de umidades mais altas
solo e 14% dispunham em aterros sanitários após o no centro da geoforma, e a diminuição dela ao se
desaguamento. aproximar das bordas.
Com o enrijecimento das leis e com a formulação
do Novo Marco do Saneamento, a destinação correta
desses resíduos aumentou. Atualmente, grande parte
das atividades legalizadas faz a codisposição desses
lodos em aterros sanitários. Entretanto, apesar de
uma solução ambientalmente amigável, Bringhenti et
al. (2018) salientam que a quantidade crescente de
lodo, mesmo após o processo de desaguamento,
causa problemas tanto de instabilidade dos taludes,
quanto à segurança operacional durante a
incorporação, seja pelos baixos parâmetros de
resistência ao cisalhamento, quanto pela grande Figura 1. Distribuição da umidade e formação do filter
quantidade de líquido (devido aos altos teores de cake (Fonte: Lima, 2016).
umidade) introduzida no maciço sanitário. Boscov
(2008) salienta que tais materiais são causadores do As análises de consolidação (adensamento) de
aumento de poropressões (tais características foram materias com granulação fina, assim como a teoria
observados por Roque et al. (2020) em ensaios envolvida, foram estudas por alguns autores (e.g. Yee
triaxiais de mistura solo-lodo), assim como aumento (2012), Brink et al. (2015) e Kim et al. (2018)). De
na geração de gases e incrementos na geração de modo especial, Kim e Dinoy (2021) apresentaram
lixiviados. uma modelagem bidimensional em tubos geotêxteis
No momento atual, a técnica de desaguamento e correlacionando a solução de adensamento
confinamento de resíduos utilizando as fôrmas têxteis bidimensional com experimentos em pequena escala.
tubulares vem ganhando muito espaço no mercado A avaliação da eficiência do processo de

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165
confinamento e deságue do lodo em fôrmas têxteis, é As análises físico-químicas foram realizadas
dada pela drenagem do efluente, configurada em conforme o dispositivo normativo ABNT (2004). Os
duas situações: i. drenagem horizontal e vertical resultados são apresentados na Tabela 1.
simultânea (Figura 2a), ou ii. drenagem vertical
Tabela 1. Classificação Físico-Química do Resíduo Sólido
e horizontal independentes (Figura 2b) (KIM e
(Lodo) da ETA de Nazaré Paulista (SABESP).
DINOY, 2021).
Parâmetro Unidade Resultado

Corrosividade - Não
Corrosivo

Densidade g/cm³ 0,59


Aparente

Óleos e Graxas % 0,67

pH (Suspensão - 6,13
1:1)

Sólidos Fixos % 3,73

Sólidos Totais % 11,22

Sólidos Voláteis % 7,49

Sódio Total mg/L 4,29


Figura 2. Conceito de drenagem em geoformas: (a)
drenagem horizonta e vertical simultaneamente, (b) Cloreto mg/L 32,16
drenagem horizontal e vertical independentes. (Fonte:
Kim e Dinoy, 2021). Sulfato Total mg/L 15,69
Fonte: Relatório Interno.
Dessa forma, esse trabalho apresenta o resultado de
uma caracterização física do lodo após
Portanto, de acordo com as classificações
desaguamento. Esta caracterização preliminar
envolveu a obtenção dos parâmetros de teor de dispostas pela ABNT (2004) e CONAMA (2011), o
umidade gravimétrico, teor de sólidos e massa resíduo é caracterizado como não perigoso, com
classificação Classe II A – Não Inerte para fins de
específica total e seca ao longo de diversos pontos na
bolsa e em diferentes profundidades (do topo à base caracterização e destinação final.
O material foi desaguado em geoformas (como
da bolsa).
apresentado na Figura 3), confeccionadas em
2 MATERIAIS E MÉTODOS geotêxtil tecido de polipropileno de alta tenacidade.
A bolsa têxtil utilizada apresenta gramatura de 440
2.1 Lodo desaguado estudado g/m2, resistência à tração de 105 kN/m (em ambas as
direções), abertura de filtração de 240µm, e
permeabilidade de 2x10-4m/s.
O lodo analisado neste estudo é proveniente do
tratamento de água, desaguado em geoformas (bags
secadoras) pela ETA de Nazaré Paulista (SABESP),
localizada na mesorregião de Campinas.
O material é caracterizado pela baixa
concentração de sólidos (em torno de 1%) e alta
concentração de alumínios. O coagulante adicionado
no processo de tratamento da ETA foi o Al2(SO4)3
(sulfato de alumínio) e, para o condicionamento do
lodo, polimero catiônico a base de poliacrilamida na Figura 3. Exemplo de fôrma têxtil utilizada no
concentração de 17,76 ppm, conferindo a ele o desaguamento de lodo.
comportamento de um fluído não-newtoniano,
extremamente gelatinoso e compressível, conforme 2.2 Coleta de amostras e ensaios realizados
descrito por Pieper (2008) apud Ortiz (2022) e Ortiz
(2022) e observado durante os estudos. Após enchimento completo da fôrma têxtil com o

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166
lodo da ETA, a mesma foi enviada em uma caçamba semelhantes ao D e F, devido à simetria no processo
para a UNESP, Campus de Guaratinguetá, para a de desaguamento. Além disso, neste caso em
realização dos ensaios de caracterização física. Na especial, o local apresentou deformações que podem
Figura 4, é possível observar uma visão geral da bolsa ter ocorrido durante algum momento no transporte.
têxtil utilizada no estudo, onde a mesma permaneceu Em laboratório, os anéis foram pesados e seus
armazenada na caçamba ao longo de toda a coleta de volumes calculados. Os excessos do material
amostras. retirados de cada amostra foram colocados em
cápsulas visando obter o teor de sólidos e o teor de
umidade gravimétrico em estufa. Então, para o
resultado apresentado, foram feitas as médias entre o
excesso retirado do topo e base de cada amostra
indeformada. Os dois parâmetros especificados
foram obtidos a partir das equações (1) e (2).

TS =
( )
× 100 (1)

ω = × 100 (2)

A equação (1) é referente ao cálculo do Teor de


Sólidos (TS), expresso em porcentagem, calculado
entre a razão da massa de sólidos e da massa total. A
equação (2) é referente ao cálculo do Teor de
Umidade Gravimétrico (ω), expresso em
porcentagem, calculado entre a razão de massa de
Figura 4. Visão geral da bolsa têxtil utilizada no estudo, água com a massa do solo seco.
dentro da caçamba. A massa específica seca e total, ρd e ρn,
respectivamente, foram determinadas a partir das
Para a coleta das amostras indeformadas, tomou- equações (3) e (4).
se o cuidado de trabalhar somente em uma metade,
de forma a não desestruturar o material com o acesso. ρd = (3)
Desta forma, a bolsa foi aberta próxima à entrada ( ( / ))

central e, em cada ponto demarcado pela Figura 5,


foram coletadas amostras variando a profundidade de ρn = (4)
20 em 20 cm. Em cada ponto coletado, foram
retiradas 4 amostras (cota 0 cm, 20 cm, 40 cm e 60 Para o cálculo da massa específica total (𝜌n) é
cm de profundidade) através de anéis metálicos, de calculada a razão da massa total com o volume total,
modo a preservar a estrutura para a realização de expresso em g/cm³. A massa específica seca (𝜌d) é
ensaios futuros. calculada pela razão entre a massa específica total
com a soma de 1 mais o teor de umidade
gravimétrico.
A coleta dos dados se deu durante os meses de
novembro e dezembro de 2022 e em janeiro de 2023.
Durante esses meses ocorreram diversas chuvas, o
que acabou prolongando a coleta das amostras. Após
aberto o geotêxtil, para evitar a entrada de água de
chuva na torta, uma lona de cobrimento do contâiner
foi instalada.
A Figura 6 ilustra como foi feita a coleta da
Figura 5. Esquema dos pontos de coleta das amostras e os amostra em um ponto, e assim as demais seguiram o
pontos coletados. mesmo padrão. Já a Figura 7 mostra um exemplo de
amostra indeformada coletada com o material de lodo
Os pontos em que foram coletadas as amostras adensado.
também estão indicados na figura 3. Os dois pontos Evitou-se pisar em volta das partes de coleta e, em
que não foram coletados na região em branco à volta dos pontos, realizou-se uma limpeza para
esquerda do ponto C serão interpretados como facilitar a retirada das amostras mais profundas.

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167
Então, logo após a retirada da amostra na cota zero, os valores obtidos variando de 650% a
cavava-se 20 cm e retirava outra amostra. Esse aproximadamente 2800% do centro para as bordas da
processo ocorreu até chegar na cota 60cm, que se bolsa.
aproximava do fundo do geotêxtil. Em relação ao teor de umidade nas diferentes
profundidades coletadas, de maneira geral, o ponto
mais alto e o mais baixo apresentam os menores
valores. Tal fato pode ser explicado devido ao efeito
de borda (contato com a superfície filtrante) e do
próprio processo de desaguamento de lodo, onde a
eliminação de água da camada mais inferior é
intensificada pela sobrecarga das camadas seguintes
de desaguamento.

Tabela 2. Resultados dos parâmetros obtidos.


Ponto Cota TS 𝜌n 𝜌d 𝜔
(cm) (%) (g/cm³) g/cm³ (%)

A1 0 6,63 1,32 0,06 2046,83


Figura 6. Momento da coleta da amostra A1.
A2 20 7,63 1,11 0,08 1211,24
A3 40 7,89 1,24 0,10 1168,66
A4 60 9,65 1,35 0,09 1449,88
B1 0 8,41 1,30 0,10 1205,84
B2 20 8,30 1,24 0,10 1105,87
B3 40 11,43 1,16 0,13 805,42
B4 60 8,48 1,14 0,10 1080,11
C1 0 11,50 1,34 0,15 771,80
C2 20 9,16 1,32 0,12 994,63
C3 40 8,93 1,33 0,12 1019,67
C4 60 12,41 1,26 0,15 741,79
D1 0 13,49 1,29 0,17 647,20
D2 20 10,12 1,31 0,13 890,45
D3 40 9,50 1,12 0,11 952,69
D4 60 10,18 1,32 0,13 883,41
E1 0 5,75 1,30 0,05 2781,77
E2 20 8,35 1,35 0,11 1097,85
Figura 7. Exemplo das amostras indeformadas. E3 40 9,05 1,21 0,11 1008,89
E4 60 10,08 1,44 0,15 892,14
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO F1 0 13,41 1,19 0,16 659,53
F2 20 14,90 1,38 0,11 1202,21
F3 40 11,02 1,34 0,15 807,47
Os resultados dos parâmetros citados no item 2.2
F4 60 10,97 1,46 0,16 811,67
estão organizados e apresentados na Tabela 2. Nela, G1 0 12,11 1,21 0,15 728,21
é possível observar a variação tanto espacial quanto G2 20 9,84 1,32 0,13 916,54
em profundidade do material desaguado e filtrado G3 40 10,68 1,44 0,15 836,42
pela bolsa têxtil. G4 60 12,51 1,37 0,17 702,37
A partir desta tabela é possível também avaliar o
comportamento físico do lodo filtrado dentro do Se tratando da massa específica total e seca, há de
geotêxtil de forma parcial. se observar que a presença da água é bem elevada no
É evidente que o teor de umidade gravimétrico material, sendo que a massa específica total é em
observado em todas as amostras se mostrou com média 10 vezes maior que a seca.
elevados valores, chegando a níveis de 2000%. Nos A distribuição espacial destes dados mostra, em
pontos A e B, foram observados os valores mais termos de massa específica seca, uma variação de
elevados, podendo estar relacionado ao fato de que 0,06 a 0,17 g/cm³. Pode-se observar que, de um modo
esses dois pontos foram os primeiros a serem geral, os pontos localizados nas bordas, em especial
coletados, antes de se colocar uma lona em cima da C, F e G, apresentaram os maiores valores, também
caçamba. mostrando a tendência de maior massa específica no
A umidade se mostrou alta principalmente na área topo e na base da bolsa têxtil (isto é, nas cotas 0 e 60
central do geotêxtil, referentes aos pontos A, B e E. cm).
Nos demais observou-se diferença significativa entre Vale ressaltar que a simetria esperada nos

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168
parâmetros obtidos para os pontos A e C não foi
encontrada, pois, conforme mencionado
anteriormente, alguns fatores externos podem ter
interferido, tais como: posicionamento da caçamba
em desnível, diferença nos dias das coletas
(influência do clima no período) e colocação da lona
na parte de cima da bolsa após aberta.
Em relação aos teores de sólidos obtidos, pode-se
verificar uma variação de 5,75%, no topo do ponto E,
até 14,90%, na cota de 20 cm do ponto F. Para uma
melhor visualização destes dados obtidos de forma
espacial na bolsa têxtil, foram realizados mapas de
cor, com escalas variando de azul (menor TS) a
vermelho (maior TS), para cada cota analisada. Tais
mapas estão dispostos na Figura 8 a Figura 11.
Ao avaliar os dados, tanto espacialmente quanto Figura 9. Variação do teor de sólidos TS na profundidade
em profundidade, pode-se verificar algumas de 20 cm da bolsa têxtil.
tendências esperadas, mas o comportamento não é
homogêneo em toda a bolsa.
Em todas as imagens geradas, ou seja, em todas as
cotas analisadas, observa-se que o centro da bolsa,
pontos B e E apresentam os menores teores de sólidos
do lodo desaguado. O ponto F, localizado em uma
das bordas da bolsa, e posicionado na parte mais alta
da caçamba, apresentou os maiores valores de TS, de
um modo geral.
A única simetria entre os dados dos pontos A e C
observada está localizada na cota de 40 cm. Nos
outros casos, verifica-se que os teores de sólidos do
ponto A são sempre em uma escala de cor abaixo do
C.
Por fim, é válido destacar que o teor de sólidos
médio obtido nas amostras ensaiadas é de 10%, o que
mostra a eficiência no processo de desaguamento, Figura 10. Variação do teor de sólidos TS na
representando um aumento de 1000% no teor de profundidade de 40 cm da bolsa têxtil.
sólidos e redução volumétrica em comparação com o
lodo inicial a 1,0% de TS da ETA analisada.

Figura 11. Variação do teor de sólidos TS na


profundidade de 60 cm da bolsa têxtil.

Figura 8. Variação do teor de sólidos TS no topo da bolsa A resultados observados e apresentadas da Figura
têxtil (0cm). 8 a Figura 11, são intepretados com uma correlação
direta com a modelagem númerica e experimental

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169
abordada por Kim e Dinoy (2021), em que na direção 12.305/2010 e os desafios no Brasil. In: XXXV
das bordas os valores do teores de umidades menores, Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e
e nas regiões centrais são observados o maiores Ambiental (AIDIS), 2016, Anais. Bogota, Colombia,
valores de umidade. cd, I-Achon-Brasil-1, 2016.

4 CONCLUSÃO Boscov, M. E. G. (2008) Geotecnia ambiental. São Paulo:


Oficina de Texto. 248p.
Este trabalho teve por intuito avaliar e caracterizar
fisicamente um lodo de ETA proveniente do processo Brasil. Resolução CONAMA Nº 430 de 13 de maio de
de confinamento e desaguamento em fôrma geotêxtil. 2011. Dispõe sobre as Nº 357, de 17 de março de 2005,
Para alcançar tal objetivo, foram coletadas amostras do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA.
deformadas e indeformadas em diversos pontos da Ministério do Meio Ambiente, Brasil, 2011.
bolsa e em diferentes profundidades: 0, 20, 40 e 60
cm. Bringhenti et al. (2018) Codisposição de lodos de
Apesar de não apresentar uma tendência muito tratamento de esgotos em aterros sanitários brasileiros:
clara, é possível concluir que o lodo localizado no aspectos técnicos e critérios mínimos de aplicação.
centro da bolsa apresenta maiores teores de umidade Engenharia Sanitária e Ambiental, set. 2018.
gravimétrica, menores teores de sólidos e menores Disponível em: doi.org/10.1590/S1413-
massas específicas secas. As variações encontradas
41522018124980.
nas bordas e na profundidade podem ser justificadas
pelas interferências externas (clima, posicionamento
Brink, N.R. et al. (2015). Numerical Modeling
da caçamba e lona) e pela própria variação do
Procedures for Consolidation of Fine-Grained
material ao ser desaguado em diversas etapas.
Materials in Geotextile Tubes. 2015 Geosynthetics
De um modo geral, pode-se observar um aumento
Conference. February 2015, pp. 332–340. Portland,
do teor de sólidos do centro para as bordas do
material filtrante. Considerando os valores extremos OR, USA.
obtidos, tal aumento chegou a 9% em um dos casos.
Em relação à profundidade, verificou-se na maioria Ferreira, K. S. M. (2020) Comportamento Geotécnico de
dos casos teores de sólidos mais elevados na parte misturas de Argila Lateritica com Lodo de Estação de
superior e inferior da bolsa (0 e 60 cm de Tratamento de Água para Uso em Obras de Terra.
profundidade), devido principalmente aos processos Dissertação de Mestrado, Dept. de Estruturas e
de desaguamento (consolidação) e drenagem já Geotécnica, Escola Politécnica / USP, 90p.
mencionados anteriormente.
Kim, H. J.; Dinoy, P.R. (2021). Two-dimensional
AGRADECIMENTOS consolidation analysis of geotextile tubes filled with
fine-grained material. Geotext. Geomembranes 49,
Os autores agradecem à Salus Engenharia, na 1149-1164.
pessoa do engenheiro Matheus Müller, e a ETA de
Nazaré Paulista (SABESP), pela disponibilização do Kim, H. J. et al. (2016). Numerical and field test
material estudado nesta pesquisa. verifications for the deformation behavior of
geotextile tubes considering 1D and areal strain.
REFERÊNCIAS Geotext. Geomembranes 44 (2), 209–218.

Ardila et al. (2020). Desaguamento de lodo de estação de Lima, R. M. (2016) Desaguamento do lodo da estação de
tratamento de água em sistemas fechados de geotêxtil tratamento de água (ETA) 006 da cidade de Palmas-
não tecido. Anais XX Congresso Brasileiro de TO, por meio de polímeros e filtração de geotêxtil.
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (XX Dissertação de Mestrado Profissional, Programa de
COBRAMSEG), ABMS, Campinas. Disponível em: Pós-Graduação em Engenharia Ambiental,
https://proceedings.science/p/149691?lang=pt-br. Universidade Federal do Tocantins, UFTO, 84p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Montalvan, E.L.T. (2016) Investigação do comportamento
(2004) NBR 10.004: Resíduos Sólidos – Classificação. geotécnico de misturas de solo arenoso com lodo da
Rio de Janeiro: ABNT Estação de Tratamento de Água Cubatão. Dissertação
de Mestrado, Dept. de Estruturas e Geotécnica, Escola
Achon, C.L.; Cordeiro, J.S. Gestão de resíduos dos Politécnica / USP, 133 p.
serviços de saneamento (água e esgoto), a lei

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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sewage treatment plant with geotextile tubes.
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Desaguamento de Lodo de ETA em leito de Drenagem
utilizando diferentes geotêxteis e aplicação de
polímero. Tese de Doutorado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Urbana, Centro de Ciências
Exatas e de Tecnologia, UFSCar, 255p.

Roque et al. (2020) Influência da Adição de Lodo de uma


Estação de Tratamento de Água (ETA) na Resistência
de uma Areia Argilosa Laterítica. Anais XX
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica (XX COBRAMSEG), ABMS,
Campinas. Disponível em:
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Discrete Membrane Elements Method. Proc. 5th
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171
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Caraterização geotécnica de lodo de ETA para aplicação em


cobertura final de aterro sanitário na Amazônia
Jean Lucas de Souza Lima
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Marabá-PA, Brasil, lucasjean1956@gmail.com

Rafaela Nazareth Pinheiro de Oliveira Silveira


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Marabá-PA, Brasil, rafaelasilveira@unifesspa.edu.br

Risete Maria Queiroz Leão Braga


Universidade Federal do Pará, Belém-PA, Brasil, risetebraga@ufpa.br

Carlos Alexandre Quadros da Silva


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Marabá-PA, Brasil, eng.carlosquadros@gmail.com

Marcus Vinicius Ribeiro e Souza


UFT, Palmas, Brasil, marcussouza@uft.edu.br

RESUMO: A construção de aterros sanitários demanda grandes volumes de solo, ocasionando o consumo de jazidas, que
podem estar situadas nas proximidades ou não do local do empreendimento. Materiais alternativos vêm sendo estudados
no intuito de adicionar e/ou substituir solos, que além de diminuir a sua extração melhora o impacto ambiental. Um desses
materiais é o lodo de Estações de Tratamento de Água – ETA, classificado pela a ABNT como um resíduo sólido, que
tem como uma das alternativas de disposição final o aterro sanitário. O objetivo deste estudo foi analisar a viabilidade da
aplicação de lodo de ETA em camadas de cobertura final de aterros sanitários através da sua mistura com solo. O solo
utilizado foi coletado em uma jazida localizada no município de Marabá-PA, enquanto que o lodo foi retirado do filtro de
uma ETA da Companhia de Saneamento do Pará. A metodologia consistiu em caracterizar geotecnicamente o solo e o
lodo e realizar ensaios de compactação de acordo com as normas da ABNT’s. O solo e o lodo foram misturados nas
proporções de 1:1, 1:0,5 e 1:0,25 (solo: lodo ETA), respectivamente na realização dos ensaios caracterização geotécnica
como granulometria e limites de consistência, além do ensaio de compactação. Os resultados apontaram que a mistura
na proporção 1:0,25 (SL0,25) apresentou resultados satisfatórios e com grau de aderência aos parâmetros geotécnicos
similares aos obtidos apenas com o solo, além de minimizar a percolação de água para o maciço de resíduos.

PALAVRAS-CHAVE: Aterros Sanitários, Resíduos Sólidos, Estações de Tratamento, Amazônia Paraense.

ABSTRACT: The construction of sanitary landfills demands large volumes of soil, causing the consumption of deposits,
which may or may not be located close to the project site. Alternative materials have been studied in order to add and/or
replace soils, which in addition to reducing its extraction improves the environmental impact. One of these materials is
the sludge from Water Treatment Stations (ETAs), classified by ABNT as a solid waste, which has a landfill as one of
the final disposal alternatives. The objective of this study was to analyze the feasibility of applying ETA sludge in final
cover layers of sanitary landfills through its mixture with soil. The soil used was collected in a deposit located in the
municipality of Marabá-PA, while the sludge was removed from the filter of an ETA of the Companhia de Saneamento
do Pará. The methodology consisted of geotechnically characterizing the soil and sludge and performing compaction and
permeability tests in accordance with ABNT's standards. The soil and the sludge were mixed in the proportions of 1:1,
1:0.5 and 1:0.25 (soil: ETA sludge), respectively in carrying out the geotechnical characterization tests such as
granulometry and consistency limits, in addition to the compression. The results indicated that the mixture in the
proportion 1:0.25 (SL0.25) presented satisfactory results and with a degree of adhesion to the geotechnical parameters
similar to those obtained with the soil alone, in addition to minimizing water percolation into the waste mass.

KEY WORDS: Sanitary Landfills, Solid Waste, Treatment Stations, Paraense Amazon.

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172
1 INTRODUÇÃO RSU com solo (ROSE et al., 2012; WANG et al.,
2017) e até rejeitos de mineração e industriais estão
A grande quantidade de resíduos gerados em sendo pesquisados para utilização em coberturas final
atividades cotidianas e industriais tem ocasionado de aterros sanitários (GAPAK et al., 2017; SOUZA
problemas ao meio ambiente relacionados a et al., 2019).
disposição inadequada no Brasil e em muitos países Diante disso, surge a necessidade de encontrar
ao redor do mundo (FU et al., 2010; CHEN et al., alternativas viáveis para aplicação do lodo de estação
2015; MA & HIPEL, 2016). Uma proposta de de tratamento de água (ETA) e o seu,
melhoria nesse cenário seria a reciclagem e o reaproveitamento, como por exemplo, em camadas
gerenciamento adequado dos resíduos sólidos de cobertura final de aterro sanitário. Além do
urbanos (RSU) (LOMBARDI et al., 2015; aspecto técnico, a proposta também se atrela às
GONÇALVES et al., 2018; VERGARA & questões de responsabilidade socioambiental a custo
TCHOBANOGLOUS, 2012). benefício, pois a aplicação do lodo como camada de
No gerenciamento dos resíduos sólidos, cobertura final minimiza os impactos causados pela
principalmente em países com economia em exploração de jazidas naturais de solo e proporciona
desenvolvimento, tem-se como última etapa a lucro para as ETA’s devido à redução de gastos com
disposição final em células de aterros sanitários, que armazenagem e tratamento. Gonçalves et al. (2017)
acomodam os resíduos, com ou sem tratamento acredita que a codisposição de lodo de ETA em locais
prévio, (ZHANG et al., 2019). de reuso, reduz a necessidade de se implantar
Segundo a NBR 8419 (ABNT, 1992), o aterro tecnologias mais dispendiosas, principalmente em
sanitário é uma técnica de disposição final de RSU no ETA’s de pequeno porte.
solo, sem causar danos à saúde pública e à sua Entretanto, faz-se necessário analisar suas
segurança, minimizando os impactos ambientais. O propriedades físico-químicas, com o objetivo de
método baseia-se em utilizar princípios de atender os requisitos geotécnicos mínimos,
engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor necessários para garantir sua funcionalidade,
área possível e reduzi-los ao menor volume enquanto componente de um sistema. Sendo assim,
permissível, cobrindo-os com uma camada de terra Boscov (2008) afirma que a seleção dos materiais
na conclusão de cada jornada de trabalho (NBR 8419, para aplicação em camadas impermeabilizantes é
2012). baseada na percentagem de argila ou de finos, nos
No encerramento do ciclo de vida útil de um Limites de Atterberg, na condutividade hidráulica e
aterro é necessária uma atenção criteriosa quanto a nas características da jazida.
sua cobertura final, de modo a minimizar a infiltração Neste sentido, órgãos como a Companhia
proveniente da precipitação pluviométrica e Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB (1993)
direcionar a água para área drenante e para fora do e a Environmental Protection Agency – EPA (1989)
interior da célula com resíduos (HAUSER et al., definem parâmetros geotécnicos para o uso de
2001; BENSON et al., 2002; HAUSER, 2009; materiais como camada de cobertura final. Obedecer
SCALIA IV & BENSON, 2010; YESILLER et al., a estes parâmetros é essencial para garantir o
2019). funcionamento e a durabilidade de um aterro
Portanto, a composição do material de uma sanitário, uma vez que a camada de cobertura final
cobertura do aterro sanitário exerce um papel tem como objetivo principal impedir a entrada de
fundamental para que não haja concentração de águas líquidos para o interior do corpo do aterro e evitar a
próximas aos resíduos e ao mesmo tempo não haja saída de gases para atmosfera (COSTA et al., 2018).
incremento do volume total de percolado gerado, tão Por conseguinte, este trabalho visa avaliar a
quanto o aumento na geração do gás metano (CH4). utilização do lodo gerado em uma ETA da
Em um aterro sanitário convencional, os solos são Companhia de Saneamento do Pará - COSANPA,
geralmente usados como coberturas diária, unidade de Marabá-Pará, como componente da
intermediária e final. Porém, mais recentemente, o camada de cobertura final de um aterro sanitário.
material da camada impermeabilizante é a
geomembrana, ou uma geomembrana sobrejacente à 2 MATERIAL E MÉTODOS
camada de argila compactada (CCL) de baixa
permeabilidade (k ≤ 1 x 10-7 cm/s) ou com 2.1 Área de Estudo
revestimento de geossintético com argila (GCL). Tanto o solo quanto o lodo foram coletados em
Outros materiais alternativos utilizados em locais pertencentes ao município de Marabá
cobertura de aterro podem ser citados como os lodos (microrregião), que se situa na mesorregião Sudeste
de estação de tratamento de esgoto e água (YANG et do Estado do Pará, conforme ilustrado na Figura 1.
al., 2017; GONÇALVES et al., 2017), misturas de

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173
Figura 3. Visão geral do local de coleta do solo na jazida
Figura 1. Localização da área de estudo da pesquisa.
O lodo utilizado no estudo foi o gerado na Estação
de Tratamento de Água da Companhia de
2.2 Solo e misturas com lodo de ETA Saneamento do Pará (COSANPA) – Unidade de
O solo selecionado para esta pesquisa foi coletado Marabá-PA, situada nas proximidades da Rodovia
em uma jazida situada a aproximadamente 2 km de PA 150 e às margens do Rio Tocantins, núcleo Nova
distância, em linha reta, do Aeroporto João Correa da Marabá.
Rocha (Figura 2) em Marabá-PA. As coordenadas do O lodo foi coletado no filtro 1 da ETA da Cosanpa
local de coleta possuem latitude 5,38° S, longitude (Figura 4). Para tal, foi necessária a secagem do filtro.
49,15° W e altitude de 98m, e encontra-se às margens O acesso ao fundo do filtro foi efetuado por meio de
da Rodovia Federal Transamazônica (BR-230), km- uma escada de madeira, de modo que o material fosse
8, sentido Marabá-Itupiranga. coletado com um balde plástico e puxado até a
superfície do filtro por uma corda e armazenado no
tonel plástico com capacidade de 200 litros.

Figura 2. Localização da jazida de solo


Figura 4. Vista do Filtro onde foi coletado o lodo de ETA
Nos mapas geológicos do Estado do Pará
produzidos pelo Serviço Geológico do Brasil Analisando os traços adotados por outros autores
(CPRM, 2001), o local da jazida são depósitos (MONTALVAN & BOSCOV, 2016; GONÇALVES
sedimentares aflorantes em cortes da rodovia BR-230 et al., 2017; COELHO et al., 2015; SANTOS, 2017)
de Marabá, considerados de idade cretácea superior, optou-se por efetuar uma mistura solo e lodo de ETA
pertencentes à Formação Itapecuru. nos traços de 1:1, 1:0,5 e 1:0,25, adotando-se uma
A Formação Itapecuru é caracterizada pela nomenclatura conforme a Tabela 1.
presença de Latossolo Amarelo e Latossolo
Vermelho-Amarelo, textura fina a média, composta
por silte-argila proporcionalmente superior à porção
areia (CPRM, 2001), e corresponde cerca de 80% do
tipo de solo presente na região de Marabá-PA. A
Figura 3 mostra o talude onde foi retirado o solo.

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174
Tabela 1 - Nomenclatura das misturas e composição Tabela 3 - Requisitos geotécnicos mínimos para uso em
camada impermeabilizante de aterro sanitário.
Nomenclatura Composição da mistura
Caracterização Omafra EPA CETESB
SN Solo natural Geotécnica (2003) (2004) (1993)
Mistura entre solo e lodo na
SL1
proporção 1:1 LL (%) 30 ≤ LL ≤ 60 - ≥ 30
Mistura entre solo e lodo na
SL0,5
proporção 1:0,5
Mistura entre solo e lodo na IP (%) 11 ≤ LL ≤30 ≥ 10 ≥ 15
SL0,25
proporção 1:0,25
Finos (%)
≥ 50 ≥ 20 ≥ 30
f ≤ 0,075 mm
2.3 Ensaios Geotécnicos
Fração argila (%)
Os ensaios geotécnicos foram realizados no ≥ 20 - -
f ≤ 0,002 mm
Laboratório de Mecânica dos Solos e Rochas da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - Fração areia (%)
Unifesspa, segundo o recomendado nas normas 0,075 mm < f ≤ ≤ 45 - -
especificadas na Tabela 2. Na Tabela, são 4,8 mm
apresentados os ensaios e as normativas que foram
seguidas para executá-los em laboratório. Fração
pedregulho ≤ 50 ≤ 10 -
f > 4,08 mm (%)
Tabela 2. Normas utilizadas nos ensaios de laboratório.
LL- Limite de Liquidez; IP-Índice de Plasticidade
Descrição Título Fonte: Adaptado de Boscov (2008)

3. RESULTADOS
NBR Amostras de solo – Preparação
6457/2016 para ensaios de compactação 3.1. Granulometria
NBR Solo – Determinação do Limite de Nota-se que houve um aumento de percentual
6459/2016 Liquidez para as frações areia média e argila e silte quando
acrescentado o lodo de ETA as misturas (Tabela 5).
NBR Solo – Determinação do Limite de
7180/2016 Plasticidade Tabela 5-Percentagem das Frações do solo e misturas

NBR Frações do Solo SN SL0,25 SL0,5 SL1


7181/2016 Solo – Análise Granulométrica
Pedregulho 1,18 1,23 1,3 0,9
NBR
7182/2016 Solo – Ensaio de Compactação*
Areia grossa 9,93 11,94 11,90 8,8
*O ensaio de compactação foi com reuso de material,
sobre amostras preparadas com secagem prévia até a Areia média 12,74 33,66 22,50 44,1
umidade higroscópica.

A Tabela 3 apresenta os parâmetros geotécnicos Areia fina 12,16 17 10,20 17,1


necessários aos materiais para aplicação como
camada de cobertura final de acordo com Omafra Argila e Silte 64 36,17 54,13 29,1
(2003), EPA (2004) e CETESB (1993).

3..2. Limites de Consistência

Os resultados apontam que tanto o solo do estudo


como as misturas com lodo apresentaram valores

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175
dentro e/ou próximo aos intervalos definidos para LL 4. DISCUSSÃO
na Tabela 3. Já o valor de IP verifica-se que a mistura
SL0,5 (Tabela 6) apresentou valor muito inferior ao Findados os ensaios de caracterização, construiu-se o
proposto referida tabela. Quadro 1 de aderência dos resultados obtidos aos
parâmetros estabelecidos pela literatura.
Tabela 6 - Resultados de LL e IP das amostras
Quadro 1 - Comparação entre os parâmetros da literatura e
Amostra LL (%) LP (%) IP (%)
os resultados de caracterização geotécnica obtidos
SN 32 22 10

SL0,25 30 21 11

SL0,5 29 23 6

SL1 34 19 15

Gonçalves et al. (2017) observou que tanto o solo


argiloso quanto o arenoso, quando caracterizados
isoladamente, apresentaram valores de LL e IP dentro
da faixa estabelecida na Tabela 3. Já em relação ao
lodo este apresentou característica não plástica, e,
consequentemente, não possui valores para o limite
de liquidez e índice de plasticidade.

3.3. Compactação
A Figura 5 apresenta as curvas de
compactação para SN e SL1, SL0,5 e SL0,25.
De acordo com o Quadro 1, verifica-se que o solo
2,20 natural (SN) e a mistura SL0,25 possuem alto
2,15
2,10 potencial de aceitabilidade como cobertura final de
2,05 aterro com base nos prescritos na literatura e órgão
2,00
legislativo do Brasil e dos Estados Unidos. Com
d (g/cm³)

1,95
1,90
1,85
exceção do IP para a amostra SN que está 1% acima
1,80 do recomendado, e no caso da mistura SL0,25 só não
1,75
1,70
atende percentual de fração areia, pois apresentou
1,65 valor superior ao que Omafra (2003) prescreve para
1,60
8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% 22% 24% 26%
solo de cobertura de aterro sanitário.
Umidade (%) Sobre o aspecto de compactação do solo natural e
SN SL0,25 SL0,5 SL 1
as três misturas solo+lodo de ETA, percebeu-se que
Quanto aos valores de umidade ótima e massa a mistura SL1 apresentou dmáx igual a 2,12 g/cm³,
específica seca máxima pôde-se perceber que a enquanto que a umidade ótima determinada é igual a
mistura SL1 possui maior dmáx devido quantidade 13%. Isso devido principalmente devido a presença
expressiva de lodo de ETA que tem em sua da maior quantidade das partículas de areia na
composição maior percentual de areia, e mistura. Pois, ao avaliar a porcentagens das frações
consequentemente a sua umidade ótima é inferior as dos grãos que formam a amostra SL1, evidencia-se
demais amostras. uma porcentagem de material arenoso igual a
O acréscimo médio de 0,3 g/cm³ em relação aos 70,26%, valor que corrobora a justificativa dada para
valores de massa específica seca máxima de SN, o aumento da massa específica seca máxima.
SL0,25 e SL0,5 pode ser explicado pelo aumento das Quanto a mistura SL0,5 verifica-se um
partículas de areia na mistura, uma vez que essas comportamento não esperado quanto ao resultado do
apresentam valores de massa específica superior aos LL obtido, o que pode refletir um erro na execução
materiais finos, principalmente devido ao fato de do ensaio.
serem formadas por minerais de quartzo.
5. CONCLUSÃO
A partir dos ensaios realizados, conclui-se que
quanto maior a adição de lodo ao solo natural, menor

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


176
a aderência da amostra aos parâmetros geotécnicos Waste Management Association, v. 65, n. 10, p. 1161–
estabelecidos pela literatura. Neste sentido, o uso de 1170.
SL1 e SL0,5 é totalmente inviável, enquanto que Costa, M. D.; Mariano, M. O. H.; Araujo, L. B.; Jucá, J. F.
SL0,25 apresentou resultados promissores. No T. (2018). Estudos laboratoriais para avaliação do
desempenho de camadas de cobertura de aterros
entanto, recomenda-se que seja efetuada a análise do
sanitários em relação à redução de emissões de gases
percentual de argila e da permeabilidade, visto que, e infiltrações. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 23,
não foi possível executá-las neste trabalho. Em n. 1.
termos granulométricos, o teor de areia proveniente CPRM (2001). Programa Levantamentos Geológicos
do filtro da ETA exerceu certa influência na amostra Básicos do Brasil - PLGB. Marabá – Folha SB.22-X-
de lodo, haja vista que, o percentual de areia D, Estado do Pará, Maranhão e Tocantins. Escala
aumentou à medida que se adicionava lodo às 1:250.000, Projeto de mapeamento
misturas. geológico/metalogenético sistemático. Brasília:
Os ensaios de compactação demonstraram que CPRM/DIEDIG/DEPAT, p. 119.
quanto maior a adição de lodo na amostra, mais Fu, H. Z.; Ho, Y. S.; Sui, Y. M. (2010). A bibliometric
analysis of solid waste research during the period
elevada será sua tendência a se comportar como
1993-2008, Waste Management, v. 30, n. 12, p. 2410–
material arenoso, uma vez que, a adição de lodo fez 2417.
com que a umidade ótima se afastasse da faixa Gapak, Y.; Yamsani, S. K.; Sreedeep, S.; Rakesh, R. R.
característica de um material argiloso para o intervalo (2017). Long-term permeability characteristics of soil-
geralmente encontrado em material arenoso. geosynthetic combination used in landfill covers.
Advances in Civil Engineering Materials, v. 6, n. 1, p.
AGRADECIMENTOS 296-309.
Gonçalves, F.; Souza, C. H. U.; Tahira, F. S.; Fernandes,
Agradeço ao incentivo da Faculdade de Engenharia F.; Teixeira, R. S. (2017). Incremento de lodo de ETA
Civil, Instituto de Geociência e Engenharia, da em barreiras impermeabilizantes de aterro sanitário.
Revista Dae, v. 65, n. 205, p. 5-14.
Universidade Federal do Sul e Sudeste Paraense.
Gonçalves, A. T. T.; Moraes, F. T. F.; Marques, G. L.;
Lima, J. P.; Lima, R. D. S. (2018). Urban solid waste
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178
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comportamento Mecânico de Rejeito de Minério de Cobre


Saymon Porto Servi
Docente do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) e
doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rio Grande/RS, Brasil, saymon_servi@hotmail.com

Marcela Correa dos Santos


Discente da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS,
Brasil, marcelacorreasts@gmail.com

Karina Retzlaff Camargo


Docente da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS,
Brasil, karinacamargo@furg.br

Cezar Augusto Burkert Bastos


Docente da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS,
Brasil, cezarbastos@furg.br

Nilo Cesar Consoli


Docente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS, Brasil, consoli@ufrgs.br

RESUMO: No processo de beneficiamento de minérios de interesse, há geração de rejeitos oriundos dos processos físicos
e químicos empregados. Tais materiais são caracterizados como misturas de rochas fragmentadas, agentes químicos e
água. Entendendo-se que a compreensão do comportamento físico-químico é fundamental para uma correta disposição
destes rejeitos, o presente estudo busca a caracterização geotécnica de um rejeito de minério de cobre e a avaliação de
aspectos ligados a granulometria, propriedades de compactação, condutividade hidráulica e resistência ao cisalhamento
para possível disposição do material filtrado e compactado em pilhas de centenas de metros de altura. Os resultados
obtidos mostraram ser este um material com tamanho de grãos análogo a um solo silto-arenoso, com altos valores de peso
específico real dos grãos (34 kN/m³) e de peso específico aparente seco quando compactado (20,6 à 22,4 kN/m³),
condutividade hidráulica compatível com a observada para solos de mesma granulometria (3,2 x 10 -7 m/s) e valores de
ângulo de atrito efetivo de 35,8° e intercepto coesivo nulo, obtidos sob cisalhamento direto.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeitos de mineração, materiais geotécnicos não convencionais, compactação, condutividade


hidráulica, resistência ao cisalhamento.

ABSTRACT: In the mineral processing of interest, tailings generated from the physical and chemical processes is
produced. These materials are defined as a mixture of fragmented rocks, chemical agents and water. Understanding the
physical-chemical behavior is crucial for proper disposal of these waste materials. This study aims to geotechnically
characterize a copper mine tailing and evaluate aspects related to granulometry, compaction properties, hydraulic
conductivity and shear strength for possible disposal of filtered and compacted material in stacks hundreds of meters high.
The results showed that this material has a grain size similar to a silty-sandy soil, with high values grain’s of real specific
weight (34 kN/m³) and dry apparent specific weight when compacted (20.6 to 22.4 kN/m³), hydraulic conductivity
compatible with that observed for soils of the same granulometry (3.2 x 10 -7 m/s) and effective friction angle values of
35.8° and zero cohesive intercept obtained under direct shear.

KEY WORDS: Mining, non-textbook geotechnical materials, compaction, hydraulic conductivity, shear strength.

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179
1 INTRODUÇÃO A Figura 1 exibe os tipos de processos existentes
no alteamento de barragens.
A mineração é definida como uma atividade
econômica e industrial de grande relevância na
economia mundial e é constituída pela pesquisa,
exploração, lavra e beneficiamento de minerais de
interesse presentes na crosta terrestre (Luz & Lins,
2018). O Brasil ganha destaque como um dos
principais beneficadores de minérios, registrando 83
tipos (e.g., ferro, ouro, alumínio, cobre) (Agência
Nacional de Mineração – ANM, 2020).
Rejeitos de mineração, originários da cadeia de
produção de minérios de interesse são constituídos
por uma combinação rochas fragmentadas, agentes
químicos e água utilizada no processo de
beneficiamento (Servi et al., 2022). As propriedades
físico-químicas destes materiais podem variar em
função do tipo de minério extraído, do método de
beneficiamento e do tratamento químico recebido
(Araújo, 2006). A heterogeneidade dos rejeitos
implicam na dificuldade em prever o comportamento
mecânico destes materiais, o que é realizado para
materiais geotécnicos convencionais. Figura 1. Técnicas de alteamento de barragens de
Tais rejeitos necessitam de cuidados quanto à sua contenção de rejeitos (Espósito, 2000).
disposição, devido à comum presença de elementos
tóxicos e nocivos ao meio ambiente (Hua et al., 2017) Fernandez-Iglesias et al. (2013) destacam que,
e à estabilidade geotécnica das estruturas formadas. embora haja atrativos econômicos quanto ao uso de
O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM, 2016) barragens de contenção, este método construtivo e as
destaca diversas técnicas para disposição destes propriedades físico-químicos dos rejeitos alocados
materiais, sendo: (i) minas subterrâneas; (ii) cavas tornam estes reservatórios passíveis de danos
desativadas; (iii) empilhamento a seco; (iv) ambientais, principalmente devido a baixa
disposição em pasta (i.e., material sem fluidez natural recuperação das áreas de disposição. Para
e com baixa drenagem); e (v) barragens de contenção. desenvolvimento desta metodologia são necessários
Carneiro & Fourie (2018) ponderam que a uma vasta investigação acerca do rejeito disposto e
definição do tipo de método de disposição adotado um rigoroso controle geotécnico das etapas
tem dependência direta com a natureza do processo executivas, garantindo a estabilidade da estrutura.
de mineração, das condições geológicas, O World Information Service on Energy Uranium
topográficas e climáticas da região, das Project (WISE, 2021) constata que foram registrados
características mecânicas dos materiais e do impacto mais de 250 incidentes envolvendo barragens de
ambiental dos contaminantes encontrados nos rejeitos entre os anos de 1917 e 2022. Dentre as
resíduos. Os autores destacam ainda que para o rupturas observadas, comumente aponta-se como
melhor custo-benefício é necessário avaliar aspectos causa principal o fenômeno de liquefação.
sociais, ambientais e econômicos envolvidos. O fenômeno de liquefação em materiais
O método comumente utilizado na prática é geotécnicos pode ser caracterizado por uma alteração
constituido pela disposição de rejeitos na da consistência da estrutura, passando do estado
consistência de polpa (i.e., teor volumétrico de sólido para fluído. Isto ocorre em materiais expostos
sólidos entre 10 e 25%) em barragens de contenção a carregamentos não drenados. Com o aumento da
(IBRAM, 2016). Esta técnica é conhecida como poropressão, há redução das tensões efetivas no
método convencional. maciço, tendenciando a resistência ao cisalhamento a
Devido ao elevado volume de rejeitos gerados um valor nulo (Carrera et al., 2011).
periodicamente, são necessários processos de As rupturas de barragens têm forte influência do
elevação da capacidade do reservatório, estes tipo de aspecto construtivo adotado. O International
conhecidos como processos de alteamento. Há Commission On Large Dams (ICOLD, 2001) destaca
diferentes metodologias de alteamento de barragens que o método de alteamento a montante toma
de contenção, sendo estas caracterizadas quanto ao destaque no número de incidentes, sendo 65% dos
tipo de assentamento do dique a ser construído. casos entre os métodos supracitados.

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180
No Brasil, as rupturas ocorridas nas minas de 2.1.1 Métodos
Mariana e do Córrego do Feijão, em 2015 e 2019,
respectivamente, resultaram em um vasto impacto Rejeitos de mineração podem ser classificados como
ambiental, social e econômico, com o despejo de materiais geotécnicos não convencionais, em virtude
cerca de 40 milhões de m³ de rejeitos e registro de de serem gerados a partir da cadeia produtiva de
cerca de 300 óbitos por decorrência (Morgenstern et obtenção de minérios de interesse, diferente de solos
al., 2016; Robertson et al., 2019). Devido a este que têm origem pedológica. Com base nesta
cenário, foram proibidos os desenvolvimentos de consideração, diversos autores (Hu et al., 2017; Servi
novas barragens de contenção de rejeitos alteadas et al., 2022) analisam o comportamento físico destes
pelo método a montante (Consoli et al., 2022). Tal materiais a partir da métodos comumente utilizados
técnica propicia uma condição metaestável para os para solos convencionais.
diques alteados, em virtude da base do alteamento ser Neste cenário, realizaram-se ensaios de
assentada em parte sobre os rejeitos de mineração e caracterização (peso específico real dos grãos,
em parte sobre o dique inferior. análise granulométrica, limites de Atterberg),
Diversos autores (Consoli et al., 2022; Servi et al., classificação geotécnica, ensaios para determinação
2022; Mafessoli et al., 2023; Velten et al., 2023) dos índices de vazios máximo e mínimo e ensaios
ilustram a possibilidade de disposição de rejeitos de Proctor de compactação. Os resultados obtidos nos
mineração em pilhas filtradas, com ou sem adição ensaios supradescritos foram utilizados como base
agentes químicos. De maneira geral, uma lição tirada para o planejamento dos ensaios de permeabilidade e
é de que se torna necessário compreender o de avaliação da resistência ao cisalhamento.
comportamento geomecânico de rejeitos de Primeiramente, foi avaliado o peso específico real
mineração para uma disposição segura. dos grãos (massa de solo seco por volume dos grãos
de solo), seguindo orientações da NBR 6458 (ABNT,
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL 2016). O ensaio foi realizado utilizando um
picnômetro com capacidade de 500 mL.
2.1 Material A composição granulométrica do material foi
avaliada a partir de processos de peneiramento e
O material em estudo é um rejeito de minério de sedimentação, com base na NBR 7181 (ABNT,
cobre (RMC) originário da região do estado do Pará 2016). As frações granulométricas (argila, silte, areia
e cedido por uma empresa que atua na área de fina, areia média, areia grossa) foram pautadas com
exploração e tratamento de minérios. A pesquisa foi referência na NBR 6502 (ABNT, 1995).
desenvolvida no Laboratório de Geotecnia e Na verificação da distribuição granulométrica dos
Concreto Prof. Dr. Claudio Renato Rodrigues Dias grãos inferiores a 75 m, mediante o ensaio de
(LGC) da Universidade do Rio Grande (FURG) em sedimentação, a NBR 7181 (ABNT, 2016) indica o
conjunto com o Programa de Pós-Graduação em uso de hexametafosfato de sódio como agente para
Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade Federal dispersar a agregação de partículas finas de solo. O
do Rio Grande do Sul (UFRGS). emprego do defloculante garente fidelidade na
O rejeito de minério foi enviado da unidade relação entre a velocidade de sedimentação da
geradora até o local de desenvolvimento do estudo parcela fina de material e o verdadeiro tamanho de
em bombonas com capacidade total de 50 L, grão das partículas.
contendo o material em um alto teor de umidade. No Entretanto, Senft et al. (2011) destacam a
laboratório, o rejeito foi colocado em estufa com possibilidade de efeito reverso mediante o uso do
temperatura de 60 °C por um período de tempo agente químico defloculante quando aplicado em
suficiente para verificar constância da massa. rejeitos de mineração, podendo ocorrer o processo de
O processo de secagem teve por objetivo deixar o floculação da parcela fina. Para avaliar tal possível
material preparado para desenvolvimento dos ensaios efeito, foram realizados ensaios com e sem uso de
laboratoriais e em condições mais controladas (i.e., agente dispersor.
teor de umidade baixo ou próximo ao nulo). Ao final Para os limites de Atterberg foram avaliados os
do procedimento, o material foi acondicionado em limites de liquidez (LL) e de plasticidade (LP),
bombonas limpas e fechadas, de modo a evitar ganho tomando como referência as normativas NBR 6459
de umidade e/ou contaminação por outros materiais. (ABNT, 2016) e a NBR 7180 (ABNT, 2016),
Previamente a cada análise, foram retiradas amostras respectivamente. Os resultados objetivaram avaliar o
para verificação da umidade higroscópica e não índice de plasticidade (intervalo entre o limite de
foram observadas alterações ao longo do tempo para liquidez e o limite de plasticidade) e o índice de
os diversos ensaios desenvolvidos. atividade coloidal (razão entre índice de plasticidade
e percentual de grãos menores que 2 m).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


181
A classificação geotécnica do rejeito de minério A resistência ao cisalhamento do rejeito de
de cobre foi obtida com base no Sistema Unificado minério de cobre foi avaliada a partir de ensaios de
de Classificação dos Solos (SUCS) (ASTM D2487, cisalhamento direto, sendo estes realizados a partir de
2017) e no sistema da Transportation Research procedimentos descritos na normativa ASTM D3080
Board (TRB) (ASTM D3282, 2015). (2004). Os corpos de prova em estudo têm formato
Com enfoque em rejeitos de mineração, McLeod cilíndrico com 60 mm de diâmetro de 20 mm de
& Bjelkevik (2017) desenvolveram uma altura e foram obtidos a partir da compactação
classificação comparativa entre tais materiais não estática do material dentro do molde de ensaio. Os
convencionais e solos, tomando como referência ensaios foram realizados em equipamento Wille
unicamente a curva granulométrica como parâmetro Geotecnik com refitting da Owtec Soluções em
de análise. Os autores descrevem cinco classes de Engenharia.
materiais, sendo: (i) resíduos granulares (coarse Na execução do ensaio aplica-se uma tensão
tailings – CT), similares a solos areno-siltosos não vertical na amostra e impõe-se uma deformação
plásticos; (ii) resíduos de rocha dura (hard rock cisalhante a velocidade constante, enquanto obtêm-se
tailings – HRT), análogos à siltes arenosos; (iii) medidas de deslocamentos horizontal e vertical,
resíduos de rochas alteradas (altered rock tailings – através de réguas resistivas e medida de reação a
ART), correlatos a siltes arenosos com presença de aplicação do esforço de cisalhamento com uso de
partículas de argila; (iv) resíduos finos (fine tailings uma célula de carga. Os valores medidos de força
– FT), relacionados a argilas siltosas altamente horizontal (FX) e deslocamentos horizontal (dX) e
plásticas e de condutividade hidráulica baixa; (v) vertical (dZ) são dados pelo equipamento em
resíduos ultrafinos (ultra fine tailings – UFT), quilonewton (kN) e milímetros (mm),
equivalentes a argilas altamente plásticas com respectivamente. A tensão cisalhante aplicada é
condutividade hidráulica muito baixa. definida a partir da razão entre força horizontal e área
Em relação ao estudo de compacidade do rejeito da amostra (A), conforme ilustra a Equação 1.
de minério de cobre, foram avaliados o índice de
vazios (razão entres os volumes de vazios e de FX⁄
τ= A (1)
sólidos) máximo e mínimo, com base na NBR 16840
(ABNT, 2020) e NBR 16843 (ABNT, 2020),
Foi adotado o critério de ruptura de Mohr-
respectivamente. O intuito da análise é verificar os
Coulomb, descrito na Equação 2. Nesta metodologia,
índices físicos no material em distintos estados de
os parâmetros de resistência empregados são ângulo
compacidade.
Os ensaios Proctor de compactação foram de atrito de pico (') e intercepto coesivo (c’). Os
realizados para determinar o peso específico aparente parâmetros de resistência são dados em termos de
tensões efetivas, visto ser garantida condição drenada
seco máximo (d máx) e a umidade ótima (wótima) do
nos ensaios de cisalhamento.
rejeito de minério de cobre em diferentes energias de
compactação (normal, intermediária e modificada).
τ = c' + σ ' tan ϕ' (2)
Os procedimentos de ensaios são fundamentados na
NBR 7182 (ABNT, 2016).
onde: τ é a resistência ao cisalhamento e σ’ é a tensão
A permeabilidade pode ser avaliada a partir de
normal em termos efetivos
métodos distintos, sendo a escolha destes pautadas na
A fim da obtenção dos parâmetros de resistência
granulometria do material em estudo. Comumente,
ao cisalhamento, foram ensaiados quatro espécimes
para solos granulares emprega-se o uso de
em cisalhamento direto sob diferentes tensões
permeâmetro submetido a carga hidráulica constante
verticais, sendo estas de 50, 150, 500 e 1000 kPa. Em
(ABNT NBR 13292, 2021), enquanto que para solos
cada um destes a inundação prévia por no mínimo 12
argilosos adota-se o uso de carregamento hidráulico
horas dos corpos de prova foi proporcionada. A
variável (ABNT NBR 14545, 2021).
condição drenada dos ensaios, sem geração de
De modo a traçar um comparativo dentre os
poropressão, é garantida com o uso de velocidades de
métodos e buscar avaliar o comportamento hidráulico
cisalhamento baixas. Bolton (1986) indica que as
do rejeito de cobre, utilizaram-se as duas técnicas
taxas de carregamento devem ser de 1 mm/min para
(carga constante e carga variável). Este processo foi
areias, 0,01 mm/min para siltes e 0,001 mm/min para
realizado em virtude de o material em estudo tender
argilas, tais imposições resultam em tempos de
a não ter comportamento convencional quando
ensaios aproximados de 1 minuto, 17 horas e 7 dias,
comparado com solos. Os corpos de prova do rejeito
respectivamente, para uma deformação horizontal
de minério de cobre foram compactados de forma
final de 10 mm.
dinâmica, na energia Proctor normal, diretamente no
molde do permeâmetro.

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182
Tomando como referência a curva granulométrica A determinação das frações granulométricas será
do material e a projeção de 8 horas de ensaio, realizada apenas para a curva RMC-C, tendo em vista
empregou-se uma velocidade de ensaio de 0,025 que a curva RMC-S não representa a correta
mm/min. distribuição de grãos do rejeito de mineração. A
Tabela 1 traz as frações granulométricas, tomando
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO como referência a escala adotada pela normativa
NBR 6502 (ABNT, 1995).
A determinação do peso específico real dos grãos,
realizado com uso do picnômetro, foi desenvolvida Tabela 1. Frações granulométricas do rejeito de minério
em três repetições. Como resultado foi obtido um cobre com agente químico dispersor (RMC-C).
valor médio de 34,0 kN/m³ e um desvio padrão Fração Diâmetro Porcentagem
amostral de 0,2 kN/m³. Observa-se um elevado peso granulométrica (mm) (%)
específico real dos grãos, acima do intervalo faixa de Areia grossa 0,6 < ϕ ≤ 2 0,0
Areia média 0,2 < ϕ ≤ 0,6 2,8
25 à 28 kN/m³ verificado para solos convencionais
Areia fina 0,06 < ϕ ≤ 0,2 46,1
(Lambe & Whitman, 1969; Neves, 2016). Entretanto, Silte 0,002 < ϕ ≤ 0,06 33,2
tal valor é da ordem de grandeza comumente Argila ϕ ≤ 0,002 17,9
encontrada em rejeitos de mineração, na faixa de 28
a 36 kN/m³ (Servi, 2022). Diversos autores (Hu et al., Com base na escala adotada, o material tem
2017; Li & Coop, 2019) explicam essa elevada frações granulométricas equivalentes a um solo
densidade dos grãos pelos altos teores remanescentes areno-siltoso com presença de argila. Quanto à
de óxidos oriundos da rocha de origem do material parcela total de finos (soma de silte e argila - grãos
em estudo (e.g., óxidos de ferro, de cobre, de inferiores a 0,06 mm) tem-se 51,1%, enquanto o resto
alumínio, de zinco, de ouro). do material tem distribuição granulométrica na faixa
A Figura 2 ilustra as curvas granulométricas do de areias predominante finas.
rejeito de minério de cobre com (RMC-C) e sem Em relação aos limites de Atterberg, não foi
(RMC-S) uso de agente químico dispersor. Os possível realizar o limite de liquidez e o limite de
resultados obtidos corroboram com o pressuposto plasticidade, seguindo os procedimentos descritos
indicado na NBR 7181 (ABNT, 2016), em que o pela NBR 6459 (ABNT, 2016) e pela NBR 7180
hexametafosfato de sódio promove a dispersão das (ABNT, 2016), sendo assim o rejeito de minério de
partículas finas, pois para a curva RMC-C há uma cobre foi considerado um material não plástico (NP).
maior parcela de finos (frações granulométricas silte Logo, não foi possível quantificar os índices de
e argila) do que observado para a curva RMC-S. O plasticidade e de atividade coloidal.
presente material em estudo não apresenta o De acordo com o Sistema Unificado de
fenômeno inverso verificado por Senft et al. (2011). Classificação dos Solos (SUCS) (ASTM D2487,
2017), o rejeito de minério de cobre pode ser
classificado como silte arenoso (ML). Segundo a
normativa, o material é considerado um silte em
virtude da presença de fração granulométrica
majoritariamente inferior a 0,075 mm (61,6% dos
grãos), enquanto o termo “arenoso” é acrescido
devido à presença de fração arenosa superior a 30%.
Segundo a Transportation Research Board (TRB)
(ASTM D3282, 2015), o rejeito de cobre é
classificado no grupo A-4(5). Em comparação a
solos, o material seria considerado um silte não
plástico, coerente com os resultados obtidos na
caracterização. O índice de grupo de 5 indica que o
material tende à ter bom comportamento mecânico
quando aplicado como uma camada de subleito.
Com base na metodologia de McLeod &
Bjelkevik (2017), o rejeito de cobre é classificado
Figura 2. Curvas granulométricas de rejeito de minério de
como um rejeito de rocha dura (HRT). Na
cobre com (RMC-C) e sem (RMC-S) agente químico
dispersor.
comparação com solos convencionais, os autores
destacam que o material tem comportamento
mecânico similar a um silte arenoso não plástico.

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183
Ao aplicar o ensaio de índice de vazios máximo, A faixa de valores de peso específico aparente
constatou-se um valor médio de 1,12 e desvio padrão seco máximo (20,6 a 22,5 kN/m³) e umidade ótima
de 0,004. Tal resultado constata-se próximo ao (11,2 a 12,4%) observados tomam distancia em
verificado para areias mal graduadas com formato de comparação a solos siltosos convencionais (Massad,
grãos angulares, segundo Massad (2016). Com base 2016). Em relação ao peso específico aparente seco
no peso específico real dos grãos de 34,0 kN/m³, é máximo, os elevados valores têm correlação direta
possível correlacionar os valores de peso específico com o alto peso específico real dos grãos. Logo, para
aparente seco mínimo e porosidade máxima, sendo um comparativo com outros materiais, o ideal seria a
da ordem de 16,0 kN/m³ e 52,8%, respectivamente. adaptação dos termos em índice de vazios para dada
O índice de vazios mínimo não foi possível de ser energia de compactação. A umidade ótima obtida é
executado, pois durante o processo de vibro- fica pouco acima da faixa vista para solos arenosos
compactação, o rejeito de cobre flui através da (entre 9 e 11%) (Pinto, 2006), estando em
interface cilindro-peso. Tal efeito é consonante com consonância com a classificação geotécnica
o indicativo na NBR 16843 (ABNT, 2020) que constatada (material silto-arenoso).
aponta como valor limítrofe para a realização do Blotz et al. (1998) relatam a possibilidade de
ensaio uma porcentagem de partículas menores que correlacionar cada peso específico aparente seco
75 m não inferiores à 12%, sendo que o material em máximo a respectiva energia (E) empregadas, tendo
estudo apresenta quantidades da ordem de 60%. como resultado a seguinte expressão (Equação 3):
A Figura 3 ilustra as curvas de compactação para
as energias normal, intermediária e modificada. γd máx = a + b * log E (3)
Também são descritas as curvas de mesmo grau de
saturação do rejeito de minério de cobre em estudo Sendo, o parâmetro “a” o intecepto de peso
nas faixas de 70 a 100%. específico aparente seco e o parâmetro “b” um
coeficiente de inclinação da reta definida pela
equação. De acordo com as prescrições da NBR 7182
(ABNT, 2016), para as energias de compactação
normal, intermediária e modificada têm-se valores de
58,4 kJ/m³, 128,1 kJ/m³ e 283,5 kJ/m³,
respectivamente. A Figura 4 ilustra a correlação entre
os parâmetros supracitados.

Figura 3. Curvas de compactação do rejeito de minério de


cobre para diferentes energias.

A Tabela 2 exibe os valores de peso específico


aparente seco máximo (d máx) e de teor de umidade
ótimo (wótimo). É observado um aumento no peso
específico seco máximo na ordem de 2 kN/m³ com
elevação da energia normal para energia modificada,
enquanto a umidade ótima reduz cerca de 1%.
Figura 4. Peso específico aparente seco máximo em
Tabela 2. Parâmetros de compactação. função de energia Proctor de compactação.
Energia d máx wótima
(kN/m³) (%)
O parâmetro “a” indica que para uma situação de
Normal 20,6 12,4
energia de compactação tendendo a zero, o peso
Intermediária 21,6 11,9
Modificada 22,5 11,2
específico aparente seco máximo seria da ordem de
16,0 kN/m³, sendo crescente somente mediante a
acréscimos de níveis de energia.

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184
O parâmetro “b” apresenta um coeficiente de
elevação da compacidade do material com acréscimo
da energia de compactação. Pinto (2004) constata que
o coeficiente de inclinação da reta (b) tende a
apresentar valores maiores para solos com mais finos.
O autor destaca que a razão entre peso específico seco
máximo na energia normal e na energia modificada
para solos argilosos é da ordem de 90%, enquanto
para solos arenosos é da ordem de 95%. No presente
estudo, a razão verificada é da ordem de 92%,
indicando uma meio termo entre as duas referências
supracitadas, possivelmente relacionado a
composição granulométrica se situar no mesmo
intervalo entre essas frações extremas (material
geotécnico silto-arenoso). Figura 5. Comportamento tensão-deslocamento de rejeito
O ensaio de permeabilidade com cargas constante de cobre submetido a ensaio de cisalhamento direto.
variável apresentou valores de 3,4 x 10-7 e 3,0 x 10-7
m/s, respectivamente, para um peso específico
aparente seco de 20,6 kN/m³. Mesmo com
procedimentos distintos, o resultado foi semelhante,
com média de 3,2 x 10-7 m/s, desvio padrão de 3,2 x
10-8 m/s e coeficiente de variação (razão entre desvio
padrão e média) de 10%.
Segundo Neves (2016), a média dos valores
observados encontra-se na faixa de dados observados
para solos siltosos (de 10-6 a 10-9 m/s), estando em
consonância com o resultado observado nas
classificações desenvolvidas.
As curvas tensão-deslocamento desenvolvidas a
partir do ensaio de cisalhamento direto são ilustradas
na Figura 5. Inicialmente, é necessário destacar o
Figura 6. Envoltória de ruptura pelo critério de Mohr-
comportamento mecânico definido para as três Coulomb no plano tensão normal-tensão cisalhante.
menores tensões normais aplicadas, em que há um
aumento da tensão cisalhante com elevação do 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
deslocamento horizontal até atingir um ponto
específico (tensão cisalhante de pico), a partir deste Nesse trabalho buscou-se apresentar a caracterização
ponto constata-se uma redução da tensão cisalhante geotécnica e propriedades físicas de um rejeito de
com continua deformação horizontal até a cobre. A investigação de distribuição de
estabilização da resistência em um determinado nível granulométrica identificou que o rejeito têm frações
de tensão (tensão cisalhante residual). análogas a um solo silto-arenoso com presença de
A Figura 6 exibe a relação entre as tensões argilas. Os métodos de classificação tradicionaise a
normais aplicadas e as tensões cisalhantes metodologia desenvolvida por McLeod & Bjelkevik
verificadas. A partir do critério de ruptura de Mohr- (2017) corroboram com esta observação.
Coulomb, ajustada a reta de Coulomb, é constatado Mediante os ensaios Proctor de compactação
que o material apresenta intercepto coesivo (c) nulo e desenvolvidos, observam-se valores mais elevados
ângulo de atrito efetivo de pico (pico’) de 35,8°. Tais de peso específico aparente seco quando comparados
parâmetros corroboram com o estudo desenvolvido a solos de mesma granulometria, sendo este efeito
por Hu et al. (2017) envolvendo rejeitos de cobre. resultante da alta densidade dos grãos. Para um
Com base na tensão cisalhante residual observada comparativo ideal entre distintos materiais indica-se
na Figura 5, tomando como referência a Equação 2, o uso de índice de vazios.
o ângulo de atrito residual efetivo (residual’) é da Por fim, reforça-se a contínua necessidade de
ordem de 34,4°. Nesta condição, devido a elevada estudo de rejeitos de mineração submetido a
deformação imposta, o material está desestruturado, diferentes métodos e técnicas de ensaios que retratem
estando a resistência por atrito não mais situações e modelos de comportamento em campo e,
correlacionada com a compacidade do espécime. com isso, garantir uma maior segurança para obras

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185
geotécnicas de disposição de rejeitos.
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comportamento mecânico em duas direções ortogonais – paralela


e ortogonal à compactação - de misturas de solo fino laterítico da
planície costeira do Rio Grande do Sul e bentonita para uso como
barreira mineral
Karina Retzlaff Camargo
Professora da Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, Brasil, karinacamargo@furg.br

Alexandre Felipe Bruch


Professor da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Brasil, afbruch@gmail.com

RESUMO: A Planície Costeira do Rio Grande do Sul é uma região considerada deficitária em materiais considerados
nobres para uso em obras de terra, especialmente para o uso em barreiras minerais, para as quais o solo precisa apresentar
baixa condutividade hidráulica. Uma série de trabalhos do Grupo de Geotecnia da Universidade Federal do Rio Grande e
pesquisadores parceiros apontou para a viabilidade técnica do uso em barreiras minerais de um solo arenoso fino e
laterítico com acréscimo de 6% de bentonita, compactado na Energia do Proctor Intermediário. Por isto, este trabalho
avalia o comportamento mecânico em duas direções ortogonais – paralela e ortogonal à compactação – deste solo natural
e com o acréscimo de aditivo através de ensaios de cisalhamento direto. Também são apresentados resultados da
caracterização geotécnica tradicional e MCT (Miniatura, Compactado e Tropical) do solo natural e misturas. Em síntese,
os resultados ratificam a possibilidade técnica do uso do solo com 6% de bentonita. Entretanto, a maior contribuição do
trabalho é enfatizar os efeitos ao comportamento mecânico do acréscimo de aditivo ao solo, especialmente na significativa
redução do ângulo de atrito efetivo e na significativa anisotropia apresentada por este parâmetro (na direção de
compactação o solo natural apresenta 32,11° de ângulo de atrito efetivo e ao considerar-se a direção ortogonal a esta e
com a adição de 6% de bentonita, este parâmetro é reduzido para 18,32°).

PALAVRAS-CHAVE: Solo Laterítico, Misturas solo-bentonita, Barreira mineral, Ensaio de cisalhamento direto.

ABSTRACT: The Rio Grande do Sul State Coastal Plain is a region considered deficient in noble materials for
geotechnical projects, especially for use in mineral barriers, for which the soil must present low hydraulic conductivity.
A sequency of researches by the Rio Grande Federal University Geotechnical Group and partners researchers pointed to
the technical feasibility of the use of a fine sandy and lateritic soil with a 6% addition of bentonite for mineral barriers,
compacted in Intermediate Proctor Energy. Therefore, this paper evaluates the mechanical behavior in two orthogonal
directions – parallel and orthogonal to the compactation – of this natural soil and with the addictive through direct shear
tests. Traditional and MCT (Miniature, Compacted, Tropical) geotechnical characterization results are also presented for
natural soil and mixtures. In summary, the results confirm the technical possibility of using the soil with 6% bentonite.
However, the greatest contribution of the paper is to emphasize the effects of mechanical behavior of the bentonite to the
soil, specially in the significant reduction of the effective friction angle and in the significant anisotropy presented by this
parameter (in the compactation direction, the natural soil has 32,11° as effective friction angle and when considered the
orthogonal direction to this and with the addiction of 6% of bentonite, this parameter is reduced to 18,32°).

KEY WORDS: Lateritic soil, Soil-bentonite moistures, Mineral barrier, Direct shear test.

1 INTRODUÇÃO (BASTOS et al., 2008). Neste contexto, o Grupo de


Geotecnia da FURG (Universidade Federal do Rio
Algumas regiões da costa brasileira, dentre as quais a Grande) vem realizando, desde 1993, estudos que
Planície Costeira do Rio Grande do Sul (PCRS), visam o reconhecimento e caracterização geotécnica
apresentada na Figura 1, apresentam deficiência de de solos considerados alternativos para este tipo de
materiais considerados nobres para obras de terra, uso na porção sul da PCRS. Bastos (2003) identificou
tais como agregados pétreos e solos residuais e caracterizou geotecnicamente materiais com

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potencial de uso para obras de terra nesta região e especificações de condutividade hidráulica (k ≤ 1 ×
Bastos et al. (2007) apresentaram o mapeamento 10-9 m/s) para uso como barreira mineral.
geotécnico com a ocorrência destes solos. Por sua
vez, Bastos et al. (2008) avaliaram a condutividade
hidráulica (k) de solos desta região quando
compactados para averiguação do uso como barreira
mineral. Com estes estudos, dois solos foram
indicados como alternativa para uso como barreira
mineral na porção sul da PCRS: (i) um solo arenoso
fino subsuperficial avermelhado da barreira litorânea
(ARMAR); e (ii) um solo argilo-arenoso residual de
rochas graníticas (MBAR). As localizações das
jazidas destes solos estão apresentadas na Figura 2.

Figura 2. Localização das jazidas dos solos ARMAR e


MBAR.

Figura 1. Localização da Planície Costeira do Rio Grande


do Sul.

As pesquisas para a avaliação do uso destes solos


como barreira mineral foram intensificadas pela
decisão, em 2005, da Prefeitura de Rio Grande,
município localizado na porção sul da PCRS, de
realizar a concessão dos serviços de limpeza pública
e, assim, repassar os investimentos da construção de
um aterro sanitário para uma empresa concessionária.
Assim, dois solos locais da área do novo aterro
sanitário de Rio Grande, cuja localização é
apresentada na Figura 3, também passaram a ser
alvos de pesquisas geotécnicas: (i) areia fina
superficial (SOLO LOCAL I); e (ii) solo arenoso
subsuperficial (SOLO LOCAL II).
Em síntese, estes estudos indicaram que, quando
compactados na Energia do Proctor Normal e
ensaiados em permeâmetro de parede flexível à carga
constante, os solos arenosos finos do local do aterro
e da jazida próxima (ARMAR), não atendem as
Figura 3. Localização do novo aterro sanitário de Rio
Grande/RS.

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188
Assim, o solo MBAR foi o único solo que solo ARMAR e bentonita, quando compactadas na
apresentou valores de k abaixo do máximo permitido Energia do Proctor Intermediário, através de ensaios
para uso como liner. Logo, consolidou-se a posição de cisalhamento direto.
da “argila vermelha”, oriunda das saibreiras do
município de Capão de Leão (MBAR), como único 2 MATERIAIS
solo que na condição natural e compactada, atende às
especificações técnicas para a construção de barreiras A jazida de solo granular avaliada localiza-se às
minerais na porção sul da PCRS, dada a baixa margens da BR-392, no trecho Pelotas-Rio Grande,
condutividade hidráulica e boa compactabilidade, na localidade de Domingos Petroline, município de
propriedades características de um solo argiloso de Rio Grande/RS. O solo é encontrado no horizonte de
comportamento laterítico (classificação MCT LG’). evolução pedogenético de uma das barreiras
Entretanto, esta jazida encontra-se no limite superior litorâneas que formam a PCRS, de idade
da porção sul da PCRS, o que pode impactar nos pleistocênica, com idade aproximada de 325 ka,
custos de transporte para obras de terra em regiões denominada Barreira Litorânea II (VILLWOCK et
mais austrais. Assim, novos estudos foram al., 1986).
conduzidos com o objetivo de tornar o solo ARMAR De acordo com Bastos et al. (2008), os sedimentos
apto para o uso como liner e, assim, passou-se a são predominantemente compostos por areias
avaliar comportamento geotécnico de misturas de quartzo-feldspáticas, castanho-amareladas, bem
solo ARMAR e bentonita. arredondadas e estas são envoltas por uma matriz
Silva (2011) avaliou a condutividade hidráulica síltico-argilosa de natureza diagnética. Ainda
por ensaios em permeâmetro de parede flexível do segundo os autores, os processos pedogenéticos
solo ARMAR, na condição natural e misturado à atuais e pretéritos afetaram profundamente estes
bentonita sódica comercial, nos teores de 2, 4, 6, 8, sedimentos e destruíram estrututuras sedimentares
10, 12 e 14% de bentonita, em termos de peso seco. primárias. O perfil avaliado é apresentado na Figura
Os resultados indicaram que a adição de bentonita no 4.
teor de 4% habilita o solo ao uso como barreira
mineral em função do critério de condutividade
hidráulica.
Camargo (2012) ao avaliar o comportamento
hidráulico e mecânico de misturas compactadas na
Energia do Proctor Intermediário de solo ARMAR e
bentonita através de ensaios em equipamento triaxial
identificou que a condutividade hidráulica diminui
tanto com o acréscimo de bentonita quanto com o
aumento das tensões de confinamento. A autora
observou que, quanto à resistência ao cisalhamento,
a coesão efetiva aumentou com o acréscimo de
bentonita e creditou isto ao aumento de material fino
ao solo natural. Entretanto, foi observada uma
diminuição no ângulo de atrito efetivo. Em síntese,
foi observado que a mistura com 6% de bentonita, em
termos de peso seco, foi a que se mostrou
tecnicamente apta para ser utilizada como barreira Figura 4. Perfil de Argissolo Vermelho-Amarelo da área
mineral. de estudo - adaptado de Bastos et al. (2008) por Silva
Silva (2015) avaliou para mistura de solo (2015).
ARMAR e bentonita, no teor de 4%, a anisotropia
inerente produzida pelo processo de compactação, Segundo EMBRAPA (2006), os processos
através de ensaios triaxiais em permeâmetro de pedogenéticos atuantes sobre este pacote de
parede flexível a carga constante. Os resultados sedimentos arenosos, em particular a translocação de
evidenciaram que, quanto à condutividade hidráulica, elementos no perfil e a consequente acumulação de
a mistura se comporta mais próximo da isotropia do argilas e óxidos de ferro e alumínio no horizonte B,
que o solo natural. determinaram a formação de Argissolos Vermelho-
Assim, visando dar continuidade a estas Amarelos distróficos arênicos, identificados como
pesquisas, o objetivo deste trabalho é a análise da pertencentes à unidade de mapeamento de solos Tuia.
anisotropia quanto aos parâmetros de resistência ao Por sua vez, a bentonita utilizada na pesquisa é
cisalhamento em condições drenadas de misturas de comercialmente denominada de Permagel e foi

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fornecida pela empresa Bentonit União Nordeste recomendações da NBR 7181 (ABNT, 2016a) e NBR
S.A. A Tabela 1 apresenta informações de 6508 (ABNT, 2014), respectivamente. O ensaio de
composição química e caracterização geotécnica da compactação foi realizado de acordo com os
bentonita utilizada. procedimentos preconizados pela NBR 7182/86. O
solo natural e as misturas também foram
Tabela 1. Propriedades da bentonita (Fonte: catálogo do classificados pela Metodologia MCT (Miniatura,
fabricante) Compactado, Tropical), conforme recomedações de
Anidro silíco (%) 60,2 Nogami e Villibor (1995).
Óxido de alumínio (%) 18,5 Com o objetivo de garantir a homogeneidade
Óxido férrico (%) 7,2 entre os corpos de prova (CP), todos, para um mesmo
Óxido de magnésio (%) 2,0
Óxido de cálcio (%) 2,4
teor de aditivo, foram extraídos de um único bloco, o
Óxido de titânio (%) 0,9 qual foi compactado em um molde de aço, conforme
Óxido de potássio (%) 0,53 ilustra a Figura 5a. A Figura 5b apresenta a
Peso específicos dos grãos 28-30 moldagem de um CP no bloco.
(kN/m³)
Limite de liquidez (%) 450-490 (a) (b)
Limite de plasticidade (%) 40 - 65
Peso específico aparente seco 9,6
(kN/m³)
Teor de umidade ótimo – 17 – 19
Proctor Normal (%)
Condutividade hidráulica (m/s) 1 × 10-10
pH – 4,5% suspensão 9,5

3 MÉTODOS Figura 5. Preparação das amostras: (a) forma utilizada


para compactar o bloco; e (b) moldagem dos CPs.
Foram utilizadas misturas de solo-bentonita nos
teores de 2, 4 e 6%, em termos de peso seco dos As condições de compactação na Energia do
materiais, denominadas por S02, S04 e S06, Proctor Intermediário foram garantidas utilizando-se
respectivamente. O solo natural, ou seja, sem o da Equação 1.
acréscimo de aditivo é denominado S00. A
preparação das misturas foi realizada adotando os E=
𝑃ℎ𝑁𝑛
(1)
𝑉
seguintes procedimentos:
• Secagem ao ar do solo;
onde E é a energia de compactação (12,9 kg cm/cm³),
• Destorroamento; P é a massa do soquete (foi utilizado o soquete
• Homogeinização do solo sem o acréscimo do pequeno, de 2,5 kg), h é a altura de queda do soquete
aditivo com o auxílio da peneira de 2 mm; (305 mm), N é o número de golpes por camada, n é o
• Adição da bentonita no teor desejado, em número de camadas (foram adotadas 5 camadas) e V
termos de peso seco dos materiais, seguida é o volume total de solo a ser compactado no molde.
da homogeinização manual da mistura; Após a compactação, os CPs foram esculpidos nas
• Adição, na quantidade necessária, da água, direções de compactação e ortonal a esta, conforme
seguida pela completa mistura dos materiais; desenho esquemático da Figura 6. Os CPs foram
• Acondicionamento da mistura em sacos utilizados para a determinação dos parâmetros de
plásticos hermeticamente fechados e deixada resistência em equipamento de cisalhamento direto.
em repouso por um período mínimo de três Os procedimentos foram realizados de acordo com as
dias, com o intuito de ser atingida a completa especificações da ASTM D3080 (2004), utilizando
homogeinização do material. uma prensa de cisalhamento, ilustrada na Figura 7a,
A preparação das amostras do solo e misturas com amostra inserida em caixa bipartida (Figura 7b),
analisados e determinação do teor de umidade foram com velocidade de 0,025 mm/min para garantir a
realizados de acordo com os procedimentos condição drenada das amostras e, assim, determinar
estabelecidos pela NBR 6457 (ABNT, 2016). O os parâmetros de resistência em termos efetivos. Os
limite de liquidez e o limite de plasticidade foram ensaios foram realizados com tensões normais de 25,
determinados de acordo com a NBR 659 (ABNT, 50, 100, 200 e 400 kPa.
2016b) e NBR 7180 (ABNT, 2016c),
respectivamente. A análise granulométrica e a massa
específica dos grãos foram determinadas conforme as

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190
bentonita é maior que o do solo natural (28,3 e 26,3
kN/m³, respectivamente). Também constata-se que
há um aumento no limite de liquidez com o acréscimo
de bentonita. Sabe-se que este era um comportamento
esperado uma vez que o acréscimo de finos a um solo
tende a aumentar o limite de liquidez do mesmo. O
limite de plasticidade manteve-se praticamente
constante com o acréscimo de bentonita e,
consequentemente, o índice de plasticidade das
amostras apresentou um comportamento altamente
influenciado pelo limite de liquidez.
Figura 6. Desenho esquemático com indicação das
direções de moldagem dos CPs ortogonal e paralela à Tabela 2. Caracterização geotécnica.
compactação S00 S02 S04 S06 Bent.
s (kN/m³) 26,3 26,5 26,6 26,7 28,3
(a) (b) wl (%) 32 42 45 48 458
wp (%) 16 16 16 17 55
Ip (%) 16 26 29 31 403
Ia (%) 0,71 1,11 1,24 1,20 5,40
TRB A-6 A-7-6 A-7-6 A-7-6 -
(3) (8) (8) (9)
SUCS SC SC SC SC -

A Tabela 3 apresenta os resultados de


granulometria conjunta para o solo natural, para a
bentonita para as misturas, onde D representa o
diâmetro. Constata-se que a adição de bentonita não
Figura 7. Ensaios de cisalhamento direto: (a) visão geral; alterou significativamente a quantidade de argila das
e (b) caixa bipartida. misturas. Observa-se uma diminuição das frações de
areias média e fina e um leve aumento das frações
argila e silte, o que, provavelmente, é decorrência de
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES uma parte da bentonita ter agregado e/ou floculado à
fração silte.
A Tabela 2 apresenta os resultados dos ensaios de
caracterização geotécnica obtidos para o solo Tabela 3. Frações granulométricas.
ARMAR e as misturas solo-bentonita, onde s é o Fração Diâmetro S00 S02 S04 S06 Bent.
peso específico real dos grãos, wl é o limite de granul. (mm)
liquidez, wp é o limite de plasticidade, Ip é o índice Areia 0,6 < D 0 0 0 0 0
de plasticidade e Ia é o índice de atividade coloidal. grossa ≤2
Segundo a classificação TRB (Transportation Areia 0,2 < D 27 26 25 25 0,5
Research Board), o solo natural é classificado como média ≤ 0,6
A-6 (3). As misturas com 2 e 4% de bentonita são Areia 0,06 < D 45 44 45 44 0,5
fina ≤ 0,2
classificadas como A-7-6 (8) e a com 5% de bentonita Silte 0,002 < 4 6 6 6 24
como A-7-6 (9). Conforme o SUCS (Sistema D ≤ 0,06
Unificado de Classificação de Solos) tanto o solo Argila D≤ 24 24 24 25 75
natural quanto as misturas solo-bentonita são 0,002
classificados como SC (areia argilosa).
Observa-se que a bentonita apresenta um índice As curvas obtidas com os ensaios de compactação
de atividade coloidal de um solo ativo. Desta forma, estão apresentadas na Figura 8, onde a curva de
fica confirmado o tipo de argilomineral expansivo saturação (Sr = 100%) corresponde ao solo natural.
(2:1) da bentonita sódica utilizada nesta pesquisa. O Os parâmetros de compactação obtidos através destas
solo natural, segundo este mesmo critério, é curvas estão apresentados na Tabela 4, onde d máx
classificado como inativo e as misturas são corresponde ao peso específico aparente seco
classificadas como um solo de atividade normal. máximo e wót corresponde à umidade ótima de
Com o acréscimo de bentonita ao solo, o peso compactação.
específico dos grãos aumenta. Este acréscimo era
esperado uma vez que o peso específico dos grãos da

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Figura 9. Ábaco de classificação pela Metodologia MCT.

Figura 8. Curvas de compactação para o solo natural e para A Figura 10 apresenta as envoltórias de ruptura de
as misturas solo-bentonita. Mohr-Coulomb com CPs moldados paralelamente à
direção de compactação e a Figura 11 com CPs
Tabela 4. Parâmetros de compactação correspondentes à moldados ortogalmente à direção de compactação. A
Energia do Proctor Intermediário. Tabela 5 sumariza os parâmetros de resistência, em
d máx wót termos de tensões efetivas, obtidos.
(kN/m³) (%)
S00 18,92 11,09
S02 18,85 12,11
S04 18,61 12,36
S06 18,50 12,61

Através dos parâmetros de compactação obtidos


pode-se observar que o solo natural e as misturas
apresentaram comportamento compatível com o
esperado. O teor de umidade ótimo aumentou com o
acréscimo de bentonita. Isto ocorre, provavelmente,
devido ao fenômeno de absorção de água pela
bentonita durante o processo de homogeinização da Figura 10. Envoltórias de ruptura de Mohr-Coulomb para
mistura. Também foi constatado que o peso plano paralelo à direção de compactação.
específico aparente seco máximo diminuiu com o
acréscimo de bentonita. Estima-se que este fenômeno
ocorra, provavelmente, devido à textura do solo
granular tornar-se gradualmente mais fina com o
aumento do teor de bentonita.
A Metodologia MCT classifica pedologicamente
o solo natural como LA’ (solo arenoso de
comportamento laterítico), a mistura com 2% como
NA’ (areia siltosa ou areia argilosa de
comportamento não-laterítico) e as misturas com 4 e
5% de bentonita como NG’ (argila, argila siltosa ou
argila arenosa de comportamento não-laterítico), Figura 11. Envoltórias de ruptura de Mohr-Coulomb para
conforme mostra a Figura 9. Assim, entende-se que o plano ortogonal à direção de compactação.
acréscimo de bentonita ao solo natural é responsável
por mudar o comportamento laterítico apresentado Tabela 5. Parâmetros de resistência em termos efetivos
pelo mesmo para comportamento não-laterítico. nas direções paralela e ortonal à compactação.
Além disso, na condição sem aditivo, o solo Paralelo Ortogonal
comporta-se como arenoso e apenas 2% do aditivo já c’ (kPa) ’ (°) c’ (kPa) ’ (°)
é o suficiente para mudar o comportamento para areia S00 9,81 32,11 9,69 25,11
siltosa ou argila arenosa e, a partir de 4%, o solo S02 11,52 26,36 15,39 19,89
comporta-se como argila, argila siltosa ou argila S04 11,55 25,00 14,98 18,74
arenosa, ou seja, comportamento de solo fino. S06 14,91 24,49 17,67 18,32

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192
Observa-se que o maior ângulo de atrito efetivo 5 CONCLUSÕES
observado ocorre para o solo natural moldado
paralelamente à direção de compactação e com o Neste trabalho são apresentados resultados de
acréscimo de bentonita o ângulo de atrito diminui. caracterização geotécnica - tradicional e pela
Acredita-se que isso ocorra pela efeito de Metodologia MCT - e de comportamento mecânico
lubrificação entre partículas ocasionado pelo em duas direções ortogonais – uma paralela e outra
acréscimo de finos ao solo natural. Observa-se que ortogonal à direção de compactação de misturas de
em todos os casos, para um mesmo teor de aditivo, o um solo granular fino e laterítico encontrado na
ângulo de atrito dos CPs moldados ortogonalmente Planície Costeira do Rio Grande do Sul e bentonita.
ao plano de compactação é menor do que aqueles Estudos anteriores haviam mostrado a habilitação
moldados paralelamente à direção de compactação. técnica deste solo misturado à 6% de bentonita, em
Este comportamento fica mais evidente na Figura 12. termos de peso seco, para uso como barreira mineral
quando considerados critérios de condutividade
hidráulica. Além disso, havia sido evidenciado que,
em termos deste parâmetro, não era observada
anisotropia significativa. Assim, este trabalho deu
continuidade a estas pesquisas avaliando a
anisotropia e os efeitos do acréscimo do aditivo
quanto aos parâmetros de resistência em termos
efetivos, obtidos através de ensaios de cisalhamento
direto.
Os resultados apontam que há uma redução
significativa (da ordem de 25%) do ângulo de atrito
efetivo, tanto na direção paralela à compactação,
quanto na direção ortogonal, com o aumento do teor
de bentonita. Além disso, destaca-se que o ângulo de
atrito sofre uma redução entre 20 e 25% ao comparar-
Figura 12. Ângulo de atrito efetivo em função do teor de se, para um mesmo teor de bentonita, as condições
bentonita. paralela e ortogonal à compactação. Por sua vez, o
acréscimo de finos ao solo através do uso do aditivo
Também observa-se pelos resultados expressos na no teor de 6% causa aumento do intercepto coesivo
Tabela 5 que o intercepto coesivo aumenta com o efetivo superior a 30% e a condição de ensaio
aumento do teor de aditivo, conforme fica mais (paralela ou ortogonal à direção de compactação) não
evidente pela análise da Figura 13. Assim, acredita- mostrou-se relevante nesta análise.
se que este aumento ocorra pela aumento da fração Assim, o trabalho realizado ratifica a
fina do solo. Entretando, os valores de intercepto possibilidade técnica do uso de um solo arenoso fino
coesivo efeito, para um mesmo teor de bentonita, em laterítico da PCRS, região considerada pobre em
todos os casos é maior para CPs moldados materiais para uso em obras de terra, como barreira
ortogonalmente à direção de compactação do que mineral, desde que com acréscimo de bentonita, de
naqueles moldados paralelamente à direção de forma a diminuir a condutividade hidráulica
compactação. apresentada pelo solo natural. Entende-se que a maior
contribuição do trabalho é enfatizar os efeitos deste
acréscimo de bentonita no comportamento mecânico
do material, especialmente na significativa redução
no ângulo de atrito efetivo e na significativa
anisotropia apresentada por este parâmetro (na
direção de compactação o solo natural apresenta
32,11° de ângulo de atrito efeitivo e ao considera-se
direção ortogonal a esta com a adição de 6% de
bentonita, este parâmetro é reduzido para 18,32°).

REFERÊNCIAS

ASTM (2004). D3080-04: Standard test method for direct


Figura 13. Intercepto coesivo efetivo em função do teor de
shear testo f soils under consolidated drained
bentonita

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193
conditions. ASTM International, West Conshohoken, Silva, C. F. (2015). Estudo do comportamento hidráulico
PA, USA. e mecânico de mistura solo-bentonita visando
ABNT (2016). NBR 6457. Amostras de solos – alternativa de emprego como sistema de proteção para
preparação para ensaios de compactação e aterros sanitários. Dissertação de Mestrado.
caracterização. Associação Brasileira de Normas Universidade de São Paulo. 116 p.
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ABNT (2016). NBR 6459. Solo – determinação do limite A., Horn Filho, N. O., Bachi, F. A. & Denhardt, B. A.
de liquidez. Associação Brasileira de Normas (1986). Geology of the Rio Grande do Sul Coastal
Técnicas. Rio de Janeiro. Province. In: Rabassa, J. (ed). Quaternary of South
ABNT (1984). NBR 6508. Grãos de solos que passam na America and Antartic Peninsula, 4. p. 79 – 97.
peneira 4,8 mm – determinação da massa específica.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de
Janeiro.
ABNT (2016). NBR 7180. Solo – determinação do limite
de plasticidade. Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Rio de Janeiro.
ABNT (2016); NBR 7181. Solo – análise granulométrica.
Rio de Janeiro. Associação Brasileira de Normas
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Bastos, C. A. B. (2003). Estudos recentes conduzidos na
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Rio Grande do Sul – GeoRS 2003. Rio Grande/RS, p.
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Bastos, C. A. B., Miranda, T. C., Schuler, A., Schmitt, L.
A. & Vasconcelos, S. M. (2007). Mapeamento
geotécnico da Planicie Costeira Sul do Rio Grande do
Sul. Anais do 6 Simpósio Brasileiro de Cartografia
Geotécnica e Geoambiental. Uberlândia/MG, CD, p.
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Bastos, C. A. B., Souza, E. W. & Camargo, K. R. (2008).
Avaliação da permeabilidade de solos compactados no
litoral sul do Rio Grande do Sul e adjacências para uso
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Geologia de Engenharia. Recife/PE, UFPE. 11 p.
Camargo, K. R. (2012). Avaliação da condutividade
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sanitário localizado em Rio Grande (RS). Dissertação
de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo. 83 p.
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EMBRAPA (2006). Sistema Brasileiro de
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Silva, C. F. (2011). Estudo sobre a influência do teor de
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arenoso fino laterítico para emprego em barreiras
minerais. Trabalho de Conclusão de Curso, Escola de
Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande. 190
p.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Composição Gravimétrica de Resíduos Sólidos Urbanos


Destinados ao Aterro Sanitário Localizado em Campina Grande
Daniel Epifânio Bezerra
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, dbezerra29@gmail.com

Ana Letícia Ramos Bezerra


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, annaleticiaramos0@gmail.com

Amanda Paiva Farias


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, amandapaiva.farias@gmail.com

Cláudio Luis de Araújo Neto


Universidade Federal do Maranhão, Balsas, Brasil, claudio.neto@ufma.br

William de Paiva
Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, Brasil, w.paiva461@gmail.com

RESUMO: A expressiva geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) é um problema ambiental que necessita de um
gerenciamento adequado. A classificação dos resíduos é uma importante ferramenta e deve ser realizada nas diversas
etapas da gestão dos RSU, inclusive na avaliação dos materiais dispostos em aterros sanitários. Por isso, este trabalho tem
como objetivo determinar a composição dos RSU que chegam no Aterro Sanitário localizado no município de Campina
Grande, Paraíba. Foi realizado um planejamento estatístico para obter uma amostra representativa dos RSU. Os resíduos
foram coletados, quarteados e segregados em 10 categorias. Os resultados mostraram que na composição gravimétrica
dos RSU que chegam ao ASCG, as frações mais representativas da massa dos resíduos está a matéria orgânica (44%),
plásticos (21%) e têxteis sanitários (12%). Em um comparativo feito com outras composições gravimétricas dos RSU
em Campina e dos que chegam ao ASCG foi observado que houve um aumento expressivo para a categoria dos têxteis
sanitários, constatou-se também que os plásticos aumentaram em relação as últimas composições realizadas. Desse modo,
a análise da composição gravimétrica é extremamente relevante para conhecer as características dos resíduos dispostos,
o que é importante para o gerenciamento dos aterros sanitários. Esse estudo fornece dados importantes e básicos que
podem contribuir para implementação de iniciativas que visem melhorias na gestão dos RSU dispostos no ASCG.

PALAVRAS-CHAVE: Gravimetria, Resíduos, Aterro Sanitário.

ABSTRACT: The expressive generation of Urban Solid Waste (MSW) is an environmental problem that needs proper
management. Waste classification is an important tool and must be carried out in the various stages of MSW management,
including the evaluation of materials disposed of in landfills. Therefore, this work aims to determine the composition of
MSW arriving at the Landfill located in the municipality of Campina Grande, Paraíba. Statistical planning was carried
out to obtain a representative sample of the MSW, the residues were collected and the sampling determined, in order to
proceed with the separation and classification. The results showed that in the gravimetric composition of MSW arriving
at the ASCG, the most representative fractions of the mass of waste are organic matter (44%), plastics (21%) and sanitary
textiles (12%). In a comparison made with other gravimetric compositions of the MSW in Campina and those arriving at
the ASCG, it was observed that there was a significant increase for the category of sanitary textiles, it was also verified
that the plastics increased in relation to the last compositions carried out. Thus, the analysis of the gravimetric composition
is extremely relevant to know the characteristics of the disposed waste, which is important for the management of sanitary
landfills. This study provides important and basic data that can contribute to the implementation of initiatives aimed at
improving the management of MSW available in the ASCG.

KEY WORDS: Gravimetry, Waste, Landfill.

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195
1 INTRODUÇÃO A área de estudo para o desenvolvimento desta
pesquisa foi o Aterro Sanitário localizado no
Na sociedade contemporânea, a expressiva município de Campina Grande, Paraíba (ASCG).
geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) é um Com uma população estimada em 413.830
problema ambiental que remete a necessidade de um habitantes, o município está localizado na
gerenciamento adequado. No processo de mesorregião do agreste paraibano (IBGE, 2022). O
gerenciamento desses resíduos, a composição clima da região é classificado como semiárido,
gravimétrica é uma etapa responsável pela apresentando temperatura do ar máxima anual de
determinação das propriedades físicas desses 28,6ºC e mínima de 19,5ºC e pluviosidade média
materiais, representando os percentuais em peso das anual de 802,7 mm/ano (AESA, 2022). Na Figura 1,
diversas frações dos materiais que os integram pode-se visualizar a localização do ASCG.
(Pereira Neto, 2007).
A determinação da composição dos RSU é
importante, pois influencia na dinâmica dos aterros
sanitários, tendo em vista que as características
apresentadas pelo maciço serão mais parecidas com
as do material que apresenta maior percentual na
constituição dos resíduos (Araújo Neto, 2021).
Assim, o planejamento de maneira assertiva das
ações de gerenciamento dos RSU necessita da
identificação cuidadosa da gravimetria da localidade,
além de levar em consideração aspectos como a sua
densidade populacional, hábitos e cultura da
população (Canejo, 2022). A classificação e
quantificação dos resíduos, mostra-se como Figura 1. Mapa de georreferenciamento do ASCG.
importante ferramenta para a gestão dos RSU, uma Fonte: Autores (2022).
vez que permite a identificação das melhores ações e
a viabilização da implantação de tecnologias para o O ASCG recebe RSU provenientes de 71
tratamento e a disposição desse material, com foco na municípios, tem uma área de 64 ha, sendo 40 ha
sustentabilidade ambiental para o desenvolvimento destinados à disposição dos resíduos. Na célula do
socioeconômico municipal (Trentin, 2019) Aterro Sanitário há uma camada de base, sistema de
Além disso, o conhecimento da composição é drenagem de líquidos e gases e camada de cobertura
importante para a escolha de uma tecnologia intermediária e final.
adequada para o tratamento desses resíduos, tendo
em vista que é capaz de fornecer uma investigação 2.2 Planejamento estatístico e amostragem dos
inicial do potencial de degradação, contaminação resíduos sólidos urbanos
ambiental, bem como de alternativas de
aproveitamento, como a reciclagem e aproveitamento O plano de amostragem seguiu as recomendações
para geração de energia (Alcântara, 2007). da NBR 10007 ABNT (2004) – Amostragem de
Desse modo, é importante que os municípios Resíduos Sólidos. Conforme o quantitativo de RSU
tenham sua própria composição gravimétrica, não que o ASCG recebe, determinou-se o tamanho da
sendo recomendado que um determinado local amostra a ser investigada por meio da Equação 1.
considere a gravimetria de outro município como
semelhante, tendo em vista que, esse estudo 𝑍 2 ∗𝜎 2 ∗𝑁
𝑛=
𝑑 2 ∗(𝑁−1)+𝑍 2 ∗𝜎 2
(1)
apresenta variações, conforme características de cada
município, como fatores econômicos, sazonais e
geográficos (Viana et al., 2015). Em que:
n = tamanho da amostra;
O trabalho tem como objetivo determinar a
Z = grau de confiança desejado;
composição dos resíduos sólidos urbanos que σ² = desvio padrão populacional da variável estudada;
chegam no Aterro Sanitário localizado no município N = tamanho da população;
de Campina Grande, Paraíba. d = erro amostral.

2 METODOLOGIA O planejamento estatístico foi realizado utilizando


as médias mensais de RSU depositadas no ASCG. Na
2.1 Descrição da área de estudo Tabela 1 é possível observar os valores usados para o
planejamento e estimativa total para realização da

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196
amostragem dos RSU. resíduos, totalizando 10,1 toneladas.
Os resíduos pesados foram encaminhados para
Tabela 1. Planejamento estatístico para coleta de um galpão (Figura 2a). Para garantir melhor
RSU. homogeneização dos RSU, foi realizada a abertura
Planejamento estatístico manual dos sacos plásticos (Figura 2b). Após esse
Média (N) 657,80 toneladas procedimento, deu-se sequência a homogeneização
Desvio (σ²) 24,91 toneladas (Figura 2c) e ao quarteamento (Figura 2d). O
Grau de confiança (Z) 1,28 processo do quarteamento seguiu conforme a NBR
Erro amostral (d) 10 10007 ABNT (2004) – Amostragem de Resíduos
Tamanho da amostra (n) 10 toneladas Sólidos.

Para obter uma amostra representativa de RSU e


que atendesse a maior quantidade de municípios,
selecionou-se o dia de maior contribuição de
disposição de resíduos no ASCG. Obteve-se um total
de 204 toneladas de resíduos com contribuição de 17
municípios como mostrado na Tabela 2.

Tabela 2 – Relação em massa e em percentual da


contribuição de resíduos no Aterro Sanitário por
municípios no dia da coleta.
Total
Percentual de
de
Municípios contribuição
RSU
municipal (%)
(t)
Areia 2,0 0,98
Aroeiras 1,5 0,73 Figura 2. (a) acomodação dos RSU no galpão; (b) abertura
de sacolas plásticas; (c) homogeneização; (d) resíduos
Baraúna 5,3 2,58
quarteados.
Boa Vista 3,6 1,76
Boqueirão 8,8 4,29 2.4 Coleta e amostragem dos resíduos sólidos
Camalaú 5,4 2,63 urbanos
Campina Grande 100,0 48,90
Os resíduos quarteados foram dispostos em uma
Caturité 2,4 1,16 lona plástica e classificados seguindo uma adaptação
Itatuba 9,7 4,73 da norma alemã Empfehlungen E1-7 (DGGT, 1994),
Orobó 8,9 4,35 nos seguintes grupos: papel, papelão, plástico, vidro,
metal, matéria orgânica, têxteis sanitários, têxteis e
Picuí 7,0 3,42
couro, madeira, compósito e material misto. Foi
Pocinhos 13,8 6,74 necessário criar a categoria outros, correspondente a
Puxinanã 5,9 2,89 compósitos, material misto e material de difícil
Queimadas 12,0 5,87 identificação. Para determinar o percentual em massa
São Vicente do Seridó 5,9 2,88 umida de cada componente presente nos resíduos
utilizou-se a Equação 2.
Serra Redonda 5,5 2,69
Soledade 7,0 3,40 𝑀𝐹𝑆
𝐶𝐹 = 𝑥 100 (2)
𝑀𝑇
Total 204,5
Fonte: Acervo de pesquisa (2022). Em que:
CF = composição física ou gravimétrica (%);
2.3 Coleta e amostragem dos resíduos sólidos MFS = massa da fração segregada (kg);
urbanos MT = massa total dos resíduos (kg).

Os resíduos que chegavam ao aterro foram


acomodados em pilhas em uma área próxima à
operação. O processo de amostragem foi feito com a
coleta de porções proporcionais de cada pilha de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


197
3 RESULTADOS Tabela 4 - Evolução da Composição gravimétrica dos RSU
de Campina Grande e que chegam ao ASCG.
Obteve-se a composição gravimétrica dos RSU CG dos RSU em CG dos RSU
depositados no ASCG com adaptações da norma Campina Grande que chegam ao
alemã Empfehlungen E1-7 (DGGT, 1994). Os - PB ASCG
Categoria de resíduos

20134
20155

20186
2008¹

2009²

2011³
componentes foram divididos em 10 categorias,

2022
conforme apresentado na Figura 3.

Material putrescível 70 66 47 43 47 46 44
Madeira
2% Plástico 11 11 23 22 17 17 22
Outros Papel Papelão Papel e Papelão 6 5 9 12 11 11 7
3% 2% 5%
Têxteis e Couro Têxteis Sanitários 7 4 6 9 8 8 12
6%
Compósitos 1 1 3 - 2 2 -
Têxteis
Sanitários Metal 1 3 2 3 1 1 2
12%
Plásticos
Vidro 1 4 2 2 2 3 2
21%
Outros 3 6 8 9 12 12 10
Total 100
*Onde: CG = Composição Gravimétrica; RSU = Resíduos
Vidro
2% sólidos urbanos; ASCG = Aterro Sanitário de Campina
Matéria Metal
Grande – PB.
Orgânica 4% Fonte: Leite et al. (2008)¹, Pereira et al. (2010)², Farias et
43% al. (2012)³, ECOSAM (2014)4, Araújo Neto (2016)5 e
Almeida (2019)6.

Comparando o estudo gravimétrico dos resíduos


que chegam ao ASCG, apresentado por Almeida
(2019) com a gravimetria obtida nesse estudo, é
Figura 3 – Composição gravimétrica dos RSU que chegam possível verificar que houve um aumento expressivo
ao ASCG. da percentagem da classe referente aos têxteis
sanitários e plásticos, e diminuição da classe
A composição gravimétrica dos RSU que referente ao papel. Isso pode ser atribuído a
chegam ao ASCG, obtida pela análise da amostra, mudanças no padrão de vida da sociedade, como
triagem e separação em classes mostra que entre as aumento no consumo fraldas descartáveis, maior
frações mais representativas da massa dos resíduos utilização de tecnologias e consequente diminuição
está a matéria orgânica (44%), plásticos (21%) e do uso de papel.
têxteis sanitários (12%). Quanto aos plásticos, esse aumento é um
indicativo de que a implementação de incentivos a
4 DISCUSSÃO coleta seletiva e posterior reciclagem dos resíduos
não está ocorrendo de maneira efetiva, sendo que esse
Alguns estudos verificaram a composição material é passível de reciclagem, capaz de gerar
gravimétrica dos RSU do município de Campina renda e preservar o meio ambiente. A difícil
Grande e dos que chegam ao ASCG, como mostrado degradação desse material, bem como suas
na Tabela 4. propriedades mecânicas, ocasiona uma falsa
ocupação em termos de volume de aterro, causando a
diminuição da vida útil e operacional do
empreendimento. Além de que, o percentual de
componentes recicláveis que são destinados aos
aterros, pode causar retardamento no processo de
decomposição dos resíduos, resultando no
prolongamento do tempo para que o recalque final
ocorra no maciço (Araújo Neto, 2016).
Quanto a aterros sanitários com características
similares, pode-se comparar a composição

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198
gravimétrica do ASCG apresentada nesse trabalho 27 de novembro de 2022.
com resultados obtidos por Santana et al. (2022), em Alcântara, P. B. (2007). Avaliação da influência da
que, por meio da caracterização dos RSU de um composição de resíduos sólidos urbanos no
aterro consorciado localizado no agreste alagoano, comportamento de aterros simulados. Tese de
Doutorado, Programa de Pós-graduação em
obteve-se uma média da composição dos RSU que
Engenharia Civil) - Universidade Federal de
considerou a regionalidade, escolhendo as cidades Pernambuco, Recife, 366 p.
com maior representatividade dentro do consórcio. Araújo Neto, C. L. (2016). Análise do comportamento dos
Nesse estudo, entre os componentes que resíduos sólidos urbanos e desenvolvimento de
apresentaram maiores médias ponderadas na modelos estatísticos para previsão das deformações de
composição gravimétrica dos RSU das cidades aterros sanitários. Dissertação de Mestrado, Programa
selecionadas, estão matéria orgânica (47,24%), de Pós Graduação em Engenharia Civil e Ambiental -
plástico flexível (15,80%) e plástico rígido (6,55%) Universidade Federal de Campina Grande, Campina
que juntos correspondem a 22,35%, e resíduos Grande, 163p.
sanitários (11,06%), conforme classificação adotada Araújo Neto, C. L. (2021). Modelagem da resistência ao
cisalhamento de resíduos sólidos urbanos para
pelos autores.
análises da estabilidade de taludes de aterros
Mariano et al., (2007) constataram que a geração sanitários. Tese de Doutorado, Programa de Pós
de resíduos domiciliares no Brasil é composta por Graduação em Engenharia Civil e Ambiental -
umas das taxas mais altas de detritos orgânicos, Universidade Federal de Campina Grande, Campina
quando comparada a de outros países do mundo. Um Grande, 296p.
expressivo teor de matéria orgânica em relação aos Canejo, C. (2022) Gestão Integrada de Resíduos Sólidos:
outros componentes apresenta influência na geração múltiplas perspectivas para um gerenciamento
de lixiviado, biogás, poropressões no interior do sustentável e circular. Rio de Janeiro: Freitas Bastos
maciço e, consequentemente, na resistência, Editora.
compressibilidade, adensamento e recalques. Já os Cezário, J. A. (2022). Previsão da geração de resíduos
sólidos urbanos para o aterro sanitário no município
plásticos comportam-se como uma matriz de reforço
de Campina Grande - PB. Dissertação de Mestrado –
para o maciço sanitário, proporcionando uma maior Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia
resistência ao cisalhamento. O que possibilita a Ambiental, Universidade Estadual da Paraíba,
elevação da altura das células e estabilidade dos Campina Grande, 74p.
taludes (Araújo Neto, 2016). Trentin, A. W. S., Braun, A. Beatriz., Rodríguez, A. L. &
Lopes, D. A. R. (2019). Estudo da composição
5 CONCLUSÃO gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos em Santa
Cruz do Sul, Brasil. Revista de Ciências Ambientais. v.
Dessa forma, por meio da realização desse estudo 13, n. 1, p. 07-14.
foi possível perceber que a quantidade de resíduos DGGT, Deutsche Gesellschaft für Geotechnik. (1994).
Geotechnik der Deponien und Altlasten. GDA -
recicláveis dispostos no ASCG aumentou quando
Empfehlungen, 3 Auflage, Ernst & Sohn, Berlin.
comparado a composição feita em 2018, o que chama IBGE. (2022). IBGE cidades: panorama.
atenção para o fato que de que não há efetivação de https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/campina-
políticas públicas que incentivem a reciclagem e, grande/panorama, acessado em: 27 nov. 2022.
consequentemente, a quantidade de resíduos Mariano, M. O. H., Maciel, F. J., Fucale, S. P., Jucá, J. F.
recicláveis destinados ao aterro diminua. T. & Brito, A. R. (2007). Composição gravimétrica e
Além disso, analisando a evolução das volumétrica dos RSU da célula piloto do aterro de
gravimetrias, verifica-se que a geração de resíduos é resíduos sólidos da Muribeca. In: Congresso Brasileiro
reflexo dos padrões de vida da população e quando De Engenharia Sanitária E Ambiental, 24., Belo
há mudanças nesses padrões, as características dos Horiezonte, MG. Resumo.
Pereira Neto, J. T. (2007). Gerenciamento do lixo urbano:
resíduos gerados também mudam. Sendo assim, esse
aspectos técnicos e operacionais. 1. ed. Viçosa: UFV,
estudo fornece dados importantes e básicos que Rezende, J. H. et al. (2013). Composição gravimétrica e
podem contribuir para implementação de iniciativas peso específico dos resíduos sólidos urbanos em Jaú
que visem estruturação e melhorias na gestão dos (SP). Engenharia Sanitaria e Ambiental, v. 18, n. 1.
resíduos sólidos urbanos dispostos no ASCG. Santana, M. S. A., Jucá, J.. F. T., Callado, N. H., Carvaho,
E. C. & Pontes, L. A. G. B. (2022). Caracterização dos
REFERÊNCIAS resíduos sólidos urbanos de um aterro consorciado no
agreste alagoano: uma abordagem metodológica por
AESA. (2022). Meteorologia – Chuvas. Campina Grande: regionalização. Research, Society and development, v.
AESA. http://www.aesa.pb.gov.br/aesa- 11, n. 13.
website/meteorologia-chuvas/?formdate=2019-08- Silveira, A. L., Berté, Ro. & Pelanda, A. M. (2018). Gestão
30&produto=municipio&periodo=anual, acessado em de Resíduos Sólidos: cenários e mudanças de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


199
paradigmas. Curitiba: Intersaberes.
Viana, E., Silveira, A. I. & Martinho, G. (2015).
Caracterização de resíduos sólidos - Uma abordagem
metodológica e propositiva. 1 ed. São Paulo - SP:
Editora Biblioteca 24horas, Seven System
International Ltda.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


200
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Controle de compactação para bases e coberturas de aterros


sanitários e encerramento de lixões
Guilherme José Correia Gomes
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, guilherme.jcgomes@ufpe.br

José Fernando Thomé Jucá


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

RESUMO: O surgimento de requisitos quanto à disposição de resíduos em aterros sanitários promoveu diversos estudos
no campo de camadas de base e camadas de cobertura. Enquanto as camadas de base funcionam como barreiras
impermeabilizantes de líquidos, as coberturas devem funcionar como barreiras de controle de líquidos e gases. Desse
modo, o estudo de técnicas de compactação dessas camadas mostra-se relevante para aplicação na área da Geotecnia
Ambiental, sobretudo em aterros sanitários e encerramento de lixões. Neste estudo, foram analisados diferentes níveis de
compactação (0,6Ec, Ec, 1,7Ec e 4,6Ec), em que Ec representa a energia de compactação do ensaio Proctor Normal (585
kJ/m³), e plotadas curvas unificadas de compactação — Corttellazzo et al. (2020) e Tatsuoka et al. (2021) — para um
solo de base e um solo de cobertura. Além disso, foram obtidos coeficientes de permeabilidade variando o grau de
saturação e a estrutura associada (ramo seco, umidade ótima e ramo úmido). Verificou-se que os resultados para os
materiais de base e cobertura foram menores ou iguais às ordens de 10 -8 m/s e 10-9 m/s, além de ser constatada a forte
influência da estrutura formada na compactação e das faixas de grau de saturação associadas. Com isso, foram
determinadas formulações para correlação entre as permeabilidades em laboratório e campo, também relatadas por
Corttellazzo et al. (2020) e Tatsuoka et al. (2021), de modo a desenvolver uma solução prática para projeto e execução
de bases e coberturas em depósitos de resíduos sólidos urbanos.

PALAVRAS-CHAVE: Aterros Sanitários, Compactação, Permeabilidade, Base, Cobertura, Lixões.

ABSTRACT: The emergence of requirements regarding the disposal of waste in landfills promoted several studies in the
field of liners and covers. While liners function as liquid impermeable barriers, the cover systems must function as liquid
and gas control barriers. Therefore, the study of compaction techniques for these systems proves to be relevant for
application in the area of Environmental Geotechnics, especially in landfills and dumpsites closure. In this study, different
compaction levels were analyzed (0.6Ec, Ec, 1.7Ec and 4.6Ec), which Ec represents the compaction energy of the
Standard Proctor test (585 kJ/m³), and unified curves of compaction were plotted — Corttellazzo et al. (2020) and
Tatsuoka et al. (2021) — for a base soil and a cover soil. In addition, permeability coefficients were obtained by varying
the degree of saturation and the associated structure (dry side of optimum, optimum moisture content, and wet side of
optimum). It was found that the results for the liner and cover materials were less than or equal to the orders of 10 -8 m/s
and 10-9 m/s, in addition to verifying the strong influence of the structure formed in the compaction and the associated
ranges of saturation degree. As a result, formulations were determined to correlate permeabilities in the field and in the
laboratory, also reported by Corttellazzo et al. (2020) and Tatsuoka et al. (2021), in order to develop a practical solution
for the design and execution of these liners and covers in urban solid waste deposits.

KEY WORDS: Landfills, Compaction, Permeability, Liner, Cover, Dumpsites.

1 INTRODUÇÃO capacidade de escoamento, contribuição das áreas


vizinhas, etc.).
Sabe-se que um dos principais aspectos Por outro lado, o sistema de cobertura tem como
geotécnicos a ser considerado para a implantação de uma de suas funções controlar a geração de lixiviado
um aterro sanitário é a permeabilidade da fundação. na massa interna de resíduos por meio do controle de
Nesse sentido, devem ser considerados, além da infiltração de águas pluviais. Além disso, esse
camada de base, as características do terreno natural controle não se refere apenas à área ambiental com
(tipos de solos, presença do nível de água, etc.) e o redução dos impactos ao meio ambiente, mas
sistema de drenagem de base do aterro (tipo, também diz respeito à parte econômica com redução

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


201
do custo de tratamento dos efluentes gerados.
Para o dimensionamento desses sistemas, há
recomendações para a escolha dos materiais de
acordo com suas características e propriedades
físicas. A NBR 13896 (ABNT, 1997) apenas expõe
que o projeto da cobertura final deve minimizar a
infiltração de água na célula, exigir pouca
manutenção, não estar sujeita a erosão, acomodar Figura 1. Materiais utilizados para a cobertura.
assentamentos sem fratura e possuir um coeficiente
de condutividade hidráulica inferior ao solo natural
da área do aterro e menor que 5x10-7 m/s. Além disso
a mesma norma exige, para o solo de base, um
coeficiente de permeabilidade inferior aos depósitos
naturais, na ordem de 10-8 m/s.
Os diferentes métodos de compactação aplicados
na execução dessas camadas em campo geram
diferentes tipos de estruturas. Assim sendo, é
fundamental o estudo das energias de compactação
para o melhor dimensionamento dessas camadas em
termos de controle de fluxo de água pluvial e
lixiviado.
Nesse sentido, este estudo tem como objetivo Figura 2. Solo de base estudado.
analisar os efeitos, em campo e laboratório, dos
esforços de compactação e dos coeficientes de 2.2 Ensaios de compactação
permeabilidade à água obtidos em um material para
camada de cobertura proveniente da mistura de solo O máximo esforço de compactação utilizado foi o
e composto orgânico estabilizado, além de um solo Proctor Modificado (energia modificada), conforme
para camada de base em aterro sanitário. DNER-ME 162 (DNIT, 1994). Esse esforço foi
aplicado para estudar o efeito da energia de
2 MATERIAIS E MÉTODOS compactação na estrutura dos materiais com alto e
baixo teor de matéria orgânica e por corresponder a
2.1 Materiais utilizados um valor limite em projetos de compactação dos mais
variados tipos de solos.
O material de cobertura (mistura) — o qual possui O menor esforço de compactação utilizado
classificação de areia siltosa (SM), conforme Sistema (energia reduzida) foi baseado no ensaio Proctor
Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) — foi Normal da NBR 7182 (ABNT, 2016), com emprego
obtido por meio de uma combinação entre solo e de uma energia de compactação de aproximadamente
composto orgânico estabilizado nas proporções de 60% da energia normal. Esse ensaio corresponde a
1:1 em massa. O solo utilizado para fazer a mistura uma possível energia a ser alcançada em campo nos
foi extraído da mesma jazida utilizada na cobertura taludes, bermas e platôs de coberturas finais de
do Aterro de resíduos sólidos urbanos da Muribeca, depósitos de resíduos sólidos urbanos, uma vez que o
localizado em Jaboatão dos Guararapes, maquinário utilizado vai depender da inclinação dos
Pernambuco, Brasil (Figura 1). taludes, da resistência e compressibilidade dos
O composto orgânico estabilizado, cuja coleta se resíduos do local e do orçamento disponível para
deu no Centro de Abastecimento e Logística de aquisição.
Pernambuco – CEASA/PE, foi gerado por meio da Além dessas energias, a energia padrão
compostagem de materiais orgânicos com maior correspondeu ao Ensaio Proctor Normal e a energia
parcela de resíduos de FLV (frutas, legumes e intermediária correspondeu a uma adaptação do
verduras) e uma pequena parcela de resíduos ensaio Proctor Normal, com um aumento de
alimentares de comércio (Figura 1). aproximadamente 70% da energia normal.
Por outro lado, o solo de base estudado, A Tabela 1 mostra um resumo das energias
classificado como uma areia silto-argilosa de baixa aplicadas, em que Ec refere-se à energia aplicada no
plasticidade, foi proveniente da jazida do Aterro ensaio Proctor Normal (585 kJ/m³), e “Campo” à
Metropolitano de João Pessoa – PB (Figura 2). energia de campo aplicada no solo de base por meio
de rolo compactador pé de carneiro vibratório (Figura
2) de Peso operacional de 105,55 kN, largura de 2,13

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202
metros e potência de 98 kW.

Tabela 1. Parâmetros obtidos dos ensaios de compactação.


Material Energias Aplicadas (kJ/m³)
Solo base Ec; 4,6Ec; Campo
Solo cobertura 0,6Ec; Ec; 1,7Ec; 4,6Ec
Mistura 0,6Ec; Ec; 1,7Ec; 4,6Ec

2.2 Ensaios de permeabilidade à água Figura 3. Curva de compactação unificada para o solo de
base.
Esses ensaios tiveram como objetivo obter os
coeficientes de permeabilidade saturada à água de
corpos de prova compactados variando os materiais,
a umidade de compactação e a energia de moldagem.
Os parâmetros de compactação foram calculados a
partir das curvas de compactação dos diferentes
materiais submetidos às energias determinadas.
A metodologia utilizada seguiu a ASTM D5084-
16a (2016) - Standard Test Methods for Figura 4. Curva de compactação unificada para o solo de
Measurement of Hydraulic Conductivity of Saturated cobertura.
Porous Materials Using a Flexible Wall
Permeameter. Verifica-se que os pontos normalizados em cada
Foram ensaiados corpos de prova do solo de base gráfico se aproximam a uma mesma curva, o que
e da mistura variando a umidade de compactação de reflete pouca dependência com a energia de
± 4% da umidade ótima para as curvas de energia compactação e com a variabilidade do material
padrão (Ec, Proctor Normal), energia reduzida disponível em jazidas no campo. Além disso, foram
(0,6Ec), energia intermediária (1,7Ec) e energia obtidos graus de saturação nos pontos ótimos de
modificada (4,6Ec), conforme Tabela 1. Um resumo aproximadamente 71% para o solo de base e de 78%
dos ensaios realizados pode ser visto na Tabela 2. para o solo de cobertura (mistura).
Destaca-se também que a análise por meio do grau
Tabela 2. Resumo dos ensaios de permeabilidade à água.
de saturação dos materiais permite obter as condições
de compactação (ramo seco, umidade ótima ou ramo
Material Energia de w (%)
úmido) as quais cada material foi submetido. Nesse
compactação
Solo base Padrão (Ec) wót - 4%
sentido, constata-se que o material de base foi
Solo base Padrão (Ec) wót compactado em campo praticamente no ramo úmido
Solo base Padrão (Ec) wót + 4% da curva de compactação, o qual permite obtenção de
Solo base Modificada (4,6Ec) wót menores valores de coeficientes de condutividade
Solo base Modificada (4,6Ec) wót + 4% hidráulica para atendimento aos requisitos e critérios
Solo cobertura Padrão (Ec) wót - 4% de camadas de base.
Solo cobertura Padrão (Ec) wót Por meio dos gráficos, nota-se também que o
Solo cobertura Padrão (Ec) wót + 4% aumento da energia de compactação (laboratório ou
Solo cobertura Reduzida (0,6Ec) wót - 4% campo) aumenta o desvio dos pontos em relação à
Solo cobertura Reduzida (0,6Ec) wót
curva unificada. Portanto, é importante destacar a
Solo cobertura Reduzida (0,6Ec) wót + 4%
importância do controle de compactação em campo
dos materiais de base e cobertura, sobretudo no que
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
se refere aos equipamentos utilizados, número de
passadas e espessura da camada.
3.1 Ensaios de compactação
3.2 Ensaios de fluxo de água no solo de base
As curvas de compactação unificadas para os
materiais de base e de cobertura são apresentadas na
Os valores dos resultados dos ensaios de
Figuras 3 e na Figura 4, respectivamente.
permeabilidade são mostrados na Tabela 3.

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203
Tabela 3. Resultados dos ensaios de permeabilidade à pelos pontos plotados ao variar a estrutura de
água no solo de base. compactação (ramo seco, umidade ótima e ramo
Material Energias w (%) kw úmido). Isso mostra que praticamente não há
Aplicadas (m/s) dependência da energia de compactação empregada,
(kJ/m³) ao passo que o efeito do grau de saturação é evidente
Solo base Ec wót - 4% 2,7 x 10-7
no controle de compactação.
Solo base Ec wót 5,8 x 10-8
Solo base Ec wót + 4% 2,6 x 10-9
Por intermédio dos resultados de compactação
Solo base 4,6Ec wót 1,8 x 10-9 (campo e laboratório) e das equações obtidas dos
Solo base 4,6Ec wót + 4% 2,0 x 10-10 gráficos (Figura 5), foram plotados os gráficos da
Figura 6.
Os resultados da Tabela 3 mostram que, na
umidade ótima, as permeabilidades resultantes da
energia de compactação normal são, de modo geral,
maiores que as obtidas com energia de compactação
modificada. Esse fato se deve às maiores densidades
obtidas com maior energia de compactação.
Ademais, a permeabilidade vertical obtida no
ramo úmido das curvas (umidade ótima + 4%) é
inferior aos valores das amostras compactadas na
umidade ótima. Isso se deve ao tipo de estrutura
(dispersa) obtida na umidade acima da ótima. Esse
comportamento já havia sido analisado por Lambe
(1958) nos primeiros tratados sobre a estrutura dos
solos compactados, a qual possui grande influência
nos valores de permeabilidade.
Mencione-se também que os critérios da NBR
13896 (ABNT, 1997) estabelecem que a camada de
base deve ter permeabilidade inferior aos depósitos
naturais, na ordem de 10-8 m/s (10-6 cm/s). No Figura 6. Permeabilidade à água para diferentes níveis de
entanto, essa norma não faz menção ao tipo de solo, compactação no solo de base.
características geotécnicas, espessura e manutenção
da camada ao longo do tempo. Nesse sentido, nota-se Pode-se constatar também que as energias
que esse valor de permeabilidade é atingido para a implementadas na compactação de campo do solo de
compactação do solo de base no ramo úmido, base estão muito próximas às máximas obtidas em
conforme Tabela 3. laboratório (Proctor Modificado), com apenas
Em face do exposto, foram plotados gráficos algumas exceções.
(Figura 5) que mostram o efeito da estrutura dos solos Ademais, observa-se que a maioria das umidades
no coeficiente de permeabilidade, em que d é o peso de compactação obtidas em campo tendem a valores
específico seco e w é o peso específico da água no ramo úmido da curva, o que é benéfico para
(considerado 10 kN/m³). Essa análise permite um reduzir as permeabilidades verticais em condições
melhor ajuste dos valores obtidos em laboratório com saturadas.
a compactação no campo, conforme relatado por Desse modo, os menores valores de
Tatsuoka et al. (2021) e Cortellazzo et al. (2020). permeabilidade promovem maior segurança
ambiental da camada de base, a qual pode ser
otimizada quando for executada com alta energia de
compactação e umidades de campo superiores à
umidade ótima da curva Proctor de laboratório.

3.3 Ensaios de fluxo de água no solo de cobertura


(mistura)

Figura 5. Permeabilidade do material de base para Os resultados dos ensaios de permeabilidade


diferentes níveis de energia de compactação. vertical à água são apresentados na Tabela 4, em que
Ec refere-se à energia de compactação do ensaio
De acordo com a Figura 5, verifica-se que os Proctor Normal, ao passo que wót é a umidade ótima.
mesmos valores de inclinação do ajuste linear passam

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


204
Tabela 4. Resultados dos ensaios de permeabilidade à
água no material de cobertura.
Material Energias w (%) kw
Aplicadas (m/s)
(kJ/m³)
Mistura Ec wót - 4% 2,67x10-9
Mistura Ec wót 1,46x10-9
Mistura Ec wót + 4% 5,32x10-10
Mistura 0,6Ec wót - 4% 5,14x10-9
Mistura 0,6Ec wót 2,55x10-9
Mistura 0,6Ec wót + 4% 1,17x10-9

Foram plotados também os gráficos (Figura 7)


que refletem o efeito da estrutura do solo de cobertura
no coeficiente de permeabilidade à água.

Figura 8. Região aceitável para permeabilidade à água


menor ou igual a 10-9 m/s no material de cobertura.

Desse modo, o material de cobertura pode ser


compactado com grau de compactação de 104% em
relação à energia do ensaio Proctor Normal, a qual
Figura 7. Permeabilidade do material de cobertura para encontra-se dentro das faixas de energia de
diferentes níveis de energia de compactação. compactação admissíveis para coberturas em campo,
conforme Mundell e Bailey (1985) e Cortellazzo et
Do ponto de vista mecânico, ao misturar solo com al. (2020).
composto orgânico estabilizado, a maior presença de
partículas de formato anguloso (fibras) do material 4 CONCLUSÕES
orgânico estabilizado aumenta o efeito de
tortuosidade no fluxo à água. Ao utilizar a relação entre umidade de
Além disso, o acréscimo de composto orgânico ao compactação, peso específico aparente seco e
solo aumenta a retenção de água, bem como modifica permeabilidade à água, observou-se que os materiais
a granulometria com maior preenchimento dos vazios de base e cobertura apresentaram permeabilidades
na mistura. Esse efeito é benéfico em se tratando de menores ou iguais às ordens de 10-8 m/s e 10-9 m/s no
biocoberturas, visto que aumenta a capacidade de ramo úmido.
retenção do material e, por conseguinte, reduz o As zonas de permeabilidades obtidas são
efeito de fissuração na camada superficial da consideradas aceitáveis para atendimento às normas
cobertura ocasionados pelos ciclos de umedecimento técnicas da legislação ambiental vigente, permitindo
e secagem do ambiente externo. o uso de camadas de base e cobertura em solos
É importante ressaltar também que os valores de compactados com segurança, desde que haja o devido
permeabilidade do material de cobertura atendem aos monitoramento e manutenção para garantia do
critérios de fluxo de água estabelecidos pela NBR desempenho geotécnico e ambiental.
13896 (ABNT, 1997) mencionados anteriormente. Os ensaios de permeabilidade realizados
Contudo, a literatura internacional — Cossu e mostraram-se iguais ou inferiores aos valores de 10-8
Stegmann (2018) e Müller e Wöhlecke (2019) — m/s e 10-9 m/s preconizados pelas normas da ABNT
relatam valores de permeabilidade na ordem de 10-9 e literatura internacional. Além disso, os valores de
m/s. Assim sendo, pode-se traçar uma região densidade e umidade “in situ” no solo de base
aceitável de compactação para atendimento a esse mostram a alta energia de compactação atingida no
critério (Figura 8). campo e umidades no ramo úmido da ótima,
conferindo à camada de base valores esperados de
permeabilidade.
No que se refere ao material de cobertura (mistura
de solo com composto orgânico), este estudo mostrou
que a incorporação de composto orgânico resultou
em uma menor dependência da energia de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


205
compactação para atingir o peso específico seco of a MSW landfill capping. International Journal of
desejado com densidades similares às obtidas no Geosynthetics and Ground Engineering, v. 6, n. 49, p.
ensaio Proctor Normal. 1-10.
Isso pode ser benéfico para a área de estudo de Cossu, R.; Stegmann, R. (2018). Solid Waste Landfilling:
Concepts, Processes, Technologies. Elsevier, p. 1190.
biocoberturas, visto que promove o uso de
DNER (1994). ME 162: Solo – ensaio de compactação
equipamentos mais leves para a compactação desses utilizando amostras trabalhadas. Departamento
materiais em campo, haja vista eventuais Nacional de Infraestrutura de Transportes, Rio de
dificuldades nesse processo em razão da inclinação Janeiro.
dos taludes e da presença de uma massa de resíduos Lambe, T. W. (1958). The Structure of Compacted Clay.
aterrada com alta compressibilidade e baixa Journal of the Soil Mechanics and Foundations
resistência. Division ASCE, v. 84, p. 1-35.
Destaca-se também que a geração de lixiviado em Müller, W. W; Wöhlecke, A. (2019). Zero leakage?
depósitos de resíduos sólidos urbanos é função da Landfill liner and capping systems in Germany.
quantidade de água que percola através do sistema de Environmental Geotechnics, [s.l.], v. 6, n. 3, p. 162-
170.
cobertura. Ao utilizar a relação entre umidade de
Mundell, J. A.; Bailey, B. (1985). The Design and Testing
compactação, peso específico seco e permeabilidade of a Compacted Clay Barrier Layer to Limit
à água, observou-se que o material de cobertura Percolation Through Landfill Covers. Hydraulic
apresentou permeabilidade menor que 10-9 m/s no Barriers In Soil And Rock, Philadelphia, p. 246-262.
ramo úmido. Tatsuoka, F.; Hashimoto, T.; Tateyama, K. (2021). Soil
Além disso, embora o composto orgânico seja stiffness as a function of dry density and the degree of
utilizado em muitos locais para comércio e saturation for compaction control. Soils and
distribuição como fertilizante, há também a Foundations, v. 61, p. 989-1002.
possibilidade de valorizar esse material ao incorporar
em solos para uso em biocoberturas, quando
disponível, com outros retornos financeiros.
Por fim, o uso da curva unificada de compactação
e o controle de compactação por meio do grau de
saturação pode ser uma alternativa para redução da
dependência dos níveis de energia empregados no
campo e em laboratório, bem como para redução da
variabilidade dos materiais disponíveis em jazidas no
campo.

AGRADECIMENTOS

A todos que fazem parte deste projeto de pesquisa, ao


Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
Universidade Federal de Pernambuco e à Capes pelo
apoio e subsídio ao projeto.

REFERÊNCIAS

ABNT (1997). NBR 13896: Aterros de resíduos não


perigosos - Critérios para projeto, implantação e
operação. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
Rio de Janeiro.
ABNT (2016). NBR 7182: Solo - Ensaio de compactação.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro.
ASTM (2016). D5084 - 16a: Standard Test Methods for
Measurement of Hydraulic Conductivity of Saturated
Porous Materials Using a Flexible Wall Permeameter.
American Society for Testing and Materials, West
Conshohocken.
Cortellazzo, G., Mandaglio, M.C., Busana, S., Favaretti,
M., Moraci, N. (2020). A new approach for the design,
construction and control of compacted mineral liners

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206
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Deformations on a tailings dam embankment due to its heightening


and reservoir filling based on FEM 2D
Sidnei Helder Cardoso Teixeira.
Universidade Federal do Paraná e Geohydrotech, Curitiba, Brasil, sidnteix@outlook.com

Tennison Freire de Souza Junior.


TPF Engenharia, Curitiba, Brasil, tennisongeotec@gmail.com

Paulo Roberto de Paiva


Geohydrotech, São Paulo, Brasil, ppaiva@ghtengenharia.com.br

Cezar Falavigna Silva


Universidade Federal do Paraná e Geohydrotech, Curitiba, Brasil, cezarfalavigna@gmail.com

Eduardo Conte
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, conte.eduardo@outlook.com.

RESUMO: O objetivo deste artigo é avaliar as deformações de uma barragem de aterro compactado, parcialmente apoiada
em rejeitos, através da utilização de modelos de elementos finitos bidimensionais. A modelagem foi desenvolvida para
simular a construção de uma fase completa da barragem, com um aterro compactado, uma plataforma de aterro lançada,
e o enchimento do reservatório da barragem com os rejeitos. Os parâmetros de deformação do material foram calibrados
de modo a que os resultados da modelação numérica sejam consistentes com os dados obtidos a partir da instrumentação
instalada na barragem. Os resultados tornaram possível representar e compreender os mecanismos de deformação que
ocorrem durante a construção de uma fase elevada e o enchimento do reservatório.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem de rejeitos, deformações, tensões, MEF 2D.

ABSTRACT: The purpose of this article is to evaluate the deformations of a compacted embankment dam, partially
supported on tailings, through the use of two-dimensional finite element. The modeling was developed to simulate the
construction of a complete dam stage, with a compacted embankment, a launched embankment platform, and the filling
of the dam reservoir with the tailings. The material deformation parameters were calibrated so that the numerical modeling
results are consistent with the data obtained from the instrumentation installed on the dam. The results made it possible
to represent and understand the deformation mechanisms that occur during the construction of a raised stage and the
filling of the reservoir.

KEY WORDS: Tailings dams, strain, stress, FEM 2D.

1 INTRODUÇÃO contain billions of tonnes of waste material from


mineral processing activity at mine sites.
Tailings dams are artificial embankment structures A number of particular characteristics make
built from the accumulation of tailings from the ore tailings dams more vulnerable to failure than water
beneficiation process. (Albuquerque, 2004; Azam e storage dams, such as: presence of embankments
Li, 2010; Duarte,2008; Souza Junior, et al. 2018). formed by locally derived fills (soil, coarse waste,
Tailings dams are a particular type of dam built to overburden from mining operations and tailings);
store mill and waste tailings from mining activities. multi-stage raising of the dam to cope with the
Currently, thousands of tailings dams worldwide increase in solid material stored and effluent (plus

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207
runoff from precipitation) released; the lack of inclination of 1V:2H, 3 meters wide berms every 6
regulations on specific design criteria; dam stability meters, and the upstream slope is continuous with a
requiring a continuous monitoring and control (Rico 1V:1.8H inclination.
et al., 2008) The dam's first eight heightening stages were built
According to Chrzannowski e Massiéra (2004), with the downstream method, in which the
the study of stress versus deformation behavior on heightening is built with the increase of the dam
dams are very important, once this knowledge allows landfill towards downstream from the previous stage.
to predict possible problems, such as the appearing of After the 8th stage, based on observations of the good
transversal cracks, longitudinal fissures, arching behavior of a landfill dam posted over the tailing’s
effects and stress concentration, hydraulic fracturing, reservoir, has also been used the upstream method.
development of yield zones and instrumentation For this method, a compacted embankment was built
damage, besides allowing to minimize the effects of over a landfill platform posted on the tailings,
these problems. alternately with the downstream method, in such a
This article has the purpose of presenting the way that the dam axis remained, approximately, in
assessment of the stress versus deformation behavior the same position, resulting in what was called a
of a mining tailings dam with the use of two- modified centerline method.
dimensional finite element models. For this, the The advantages of this method consist of the
complete construction of one of the dam’s stages – maintenance of the flux produce from the mineral
stage 13 – was evaluated so that it was possible to processing. In addition to safeguarding the technical
understand the factors that occasioned the rotation criteria for the stability of the structure, as the tailings
and displacement movements. are discharged on the upstream method compacted
landfill region, concomitant, it was built the
2 MATERIAL AND METHODS downstream method compacted embankment. This
reduced the construction time for the dike and allows
2.1 Study data the industrial processes to remain continuous or
suffer minimal interferences on the mineral tailings
The studied dam forms a reservoir to store mining discharge.
tailings. The structure acts as the last environmental
control point for the effluents that flow to a small
stream basin. The dam foundation is predominantly
constituted by metamorphically rock outcrops with a
low degree of weathering, called phyllite, fine rock
grains, basically composed of quartz and sericite, and
characterized by the presence of a penetrative parallel
plane foliation. The phyllite was semi-weathered,
with multiple colors, predominating purplish and
grayish tones.
The foliation is affected by folding, which
conditions the spatial disposition of foliation. It was Figure 1. Dam typical section – stages 12A and 13
detected two folding systems, the first and main one
has NE-SW direction axes and an SW low angle dip In each stage is heightened not only the
that is for upstream of the dam. This system is compacted embankment but also the upstream
predominant on the right embankment and central landfill platform, in addition to raising (filling) the
portion of the dam. The second system has an NW- tailings reservoir. The landfill is a material platform
SE direction and an NNW low angle dip and is created between the tailings and the compacted
predominant in the left embankment. landfill and has the function of stiffening the base
The valley, where the dam is implemented, is an where will be done the dike construction activities,
open kind with smooth abutments, set up by a that is, it facilitates the earthwork. Besides this, it
floodplain of a stream in its central part. The dam consists of a stable support transition layer, once it is
crest is at El. 648,00 m after the construction of stage supported by the tailings deposited in the reservoir
13. and acts as a partial foundation of the compacted
The dam landfill is homogeneous in a compacted embankment, consequently minimizes the settlement
embankment, done with a reddish colluvium clay and in the heightening region.
clayey-silt soil. The dam had until then, 13 In this study, it was assessed the deformations on
heightening stages, and had 77 meters height and a the dam that are caused by its heightening. On the
length of 4890 meters. The downstream slope has an two-dimensional analysesnthe stage 12A and 13,

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208
concomitantly. Figure 1 presents the display of theses Table 1. Adopted geotechnical parameters due to the
heightening calibration
2.2 Instrumentation evaluated  c’ ’ E
Soil 
(kN/m³) (kPa) (°) (MPa)
The model calibration was done using the data Foundation 10 (sub) 200 24 160 0.35
provided by the dam's instrumentation system. to Compacted
assess the vertical displacement, it was considered 19 (nat) 10 30 25 0.30
landfill
the readings of settlement plates MR-1A, MR-1C, Saturated
MR-2A, MR-2C, MR3A, and MR 3C. For the compacted 10 (sub) 33 26 20 0.33
horizontal displacements, it was evaluated landfill
inclinometers IN11-2, IN11-3 and IN13-1 readings. Dumped
19 (nat) 10 31 15 0.35
landfill
Saturated
2.3 Mohr-Coulomb Criteria dumped 9 (sub) 10 31 10 0.37
landfill
The Mohr-Coulomb model was chosen because of Filter 18 (nat) 0 33 50 0.35
the frictional material and its simplicity (Chen and Saturated
Han, 1988; Wood, 2004). The Mohr-Coulomb yield 8 (sub) 0 33 50 0.35
filter
criterion represents a generalization of the Tresca Tailings 7 (sub) 0 12 2 0.40
criteria and describes materials with frictional nature.
According to Lambe and Whitman (1969), in the In the calibration process, initially, the values for
Mohr-Coulomb criteria, Mohr circles represent the the elasticity modulus and the Poisson coefficient
material stress state, and the maximum stress points were adopted from the ranges of values suggested by
are tangent by stress curves, which the rupture only Bardet (1997) database. After this, the calibration and
occurs when the soil shear stress surpasses the shear validation of the deformability parameters of the
stress resistance. In other words, the Mohr circles elastic model (Young’s modulus and Poisson
relate the normal stress (σ) and the shear stress (𝜏). coefficient) were done by the comparison of the
Coulomb (1776) cites that the soil shear resistance vertical and horizontal displacements calculated by
would be controlled by the cohesion intercept and the model and the data from the settlement plates and
friction angle portion, in which the normal stress inclinometers. The parameters values were, through
variation enables the increment or reduction of the the many simulations done, being altered until the
resistive capacity, following the equation (1): behavior of the model was similar to the one observed
on the dam through the instrumentation results. The
𝜏 = 𝑐 + 𝜎 tan 𝜙 (1) calibration process is iterative and needs the
modeler’s sensibility to adjust the parameters until
the behavior is similar to the real one observed on the
Where:
σ: Normal stress;
dam. The procedure is summarized below
c: Cohesion intercept; Regarding calibration of the vertical displacement
φ: Internal frictional angle. data, the readings of six settlement plates were
considered: MR-1A; MR-1C; MR-2A; MR-2C; MR-
2.4 Numerical modelling calibration and 3A and MR 3C. These plates were installed on the
validation launched landfill platform since the previous stages
(8 and 8a) construction. The plates with the “A”
The elastoplastic parameters used in the denomination are located according to the “A”
bidimensional are present in the Table 1. The values alignment, at a distance of 19.5 m upstream of the
are the result of an iterative calibration process of the dam reference line of stage 13, and the plates ending
numerical model, through bidimensional analysis, in "C" are installed according to the “C” alignment,
using the software PLAXIS®. at 39.5 m upstream of this same line. For the
The adopted parameters are from the drained calibration, simulations were done considering the
conditions, once all the deformations on the dam construction of the dam starting from stage 8 to stage
occur slowly for this study analyses. It was used the 13, allowing the comparison between the results of
natural specific weight for the soils above the the numerical model and the settlement plate
phreatic surface and the submerged weight for the readings. Table 2 presents the real settlement values
soils below it. Besides, it was adopted a cohesion registered by the field plates from the installation to
intercept equal to 10 kPa for the compacted landfill the end of the construction of stage 13.
to minimally represent the soil apparent cohesion.

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209
Table 2. Accumulated settlements of Stage 8 until the displacements for all the inclinometers are of the
end of stage 13 construction order of 55 mm downstream.
Settlement Settlement According to the instrumentation reading (see
Plate Plate
(m) (m) Figure 3), done during the seven months of
MR-1A 2.16 MR-1C 2.11 construction of stage 13, the maximum observed
MR-2A 1.96 MR-2C 2.02 horizontal displacements were 150 mm and 200 mm
MR-3A 1.97 MR-3C 3.16 for inclinometers IN11-2 and IN11-3, respectively,
Average 2.03 Average 2.43 towards downstream. For inclinometer IN13-1, it was
observed a downstream maximum displacement of
The numerical simulation results indicated that, in 110 mm, but this inclinometer presented different
the position of the plates installed along the results from the other because it is installed in a depth
alignment "A", the accumulated settlements were of about 30 meters below the bedrock top. The IN13-
about 2.0 m, the plates installed along the alignment 1 inclinometer data indicated that the foundation of
“C”, the settlement were about 2.5 m. So, it is noticed the dam is moving significantly downstream, a fact
that the values measured by the plates and the that is not noticed by the other instruments of the
numerical model have a very good fit. The dam. Considering the restricted period of readings, it
discrepancies between the real and simulated values is possible to affirm that exists compatibility between
are less than 10 cm, which is considered a very good the magnitude order of the recorded and simulated
fit, considering the height of the dam and the values. However, a more adequate comparison
thickness of the embankment and tailings masses. between the inclinometer data and the simulation
Additionally, it was compared the accumulated results will only be possible when there is a minimum
settlements during the construction of stages 12A and period of reading of the inclinometers of two
13. The model results indicated that, for the plates consecutive years. This is because the constructive
along the “A” alignment, the accumulated planning of the dam always considers the
settlements were 0.43 m, and for the plates along the simultaneous construction of two stages, one for
“C” alignment, the settlements were 0.40 m. Table 3 upstream and one for downstream. The downstream
presents the settlement values registered by the plates construction stage takes two years to be completed.
during the construction period of stages 12A and
stage 13. Again, the calculated and observed values
are very close, with differences below 10 cm.

Table 3. Accumulated settlements during the


constructive periods of stages 12A and 13
Settlement Settlement
Plate Plate
(m) (m)
MR-1A 0.33 MR-1C 0.52
MR-2A 0.30 MR-2C 0.41
MR-3A 0.52 MR-3C 0.60
Average 0.38 Average 0.51
Figure 2. Numerical model horizontal displacements
The calibration of the horizontal displacements results for the inclinometers (x Direction)
was based on the readings of three inclinometers
IN11-2, IN11-3 and IN13-1, installed at the highest
section of the dam, and they served as a comparison
base to the values obtained through the numerical
simulations. Due to the short period recorded
(January to August of 2005), the direct comparison of
the calculated and measured values is restricted,
however, it is possible to use the readings to compare
the magnitude order of these values. This way, in this
evaluation, it is considered only stage 13
construction. Figure 2 illustrates the horizontal
displacements profiles along the depths, obtained by
the numerical model, for the stage 13 construction Figure 3. Comparison between simulations and
simulation, in the positions where the inclinometers inclinometer instrument responses
are installed. It is noticed that the maximum

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210
In Figure 3 one can observe a good adhesion between to the proximity of the more deformable materials,
the instrument responses with the proposed such as the tailings and cast landfill, that are
numerical model. upstream, being the maximum value around 21 cm.
These displacements reduce along with the depth. On
2.5 Bidimensional Stress versus deformations the downstream slope surface, the place most far of
Analyses the deformable materials, the maximum vertical
displacements were about 14 cm.
The numerical model development was done As the horizontal displacements (see Figure 4b)
through the staged construction of the dam. This they were directed downstream along the
procedure is important and should be applied to downstream dam slope, in a place close to the top of
geotechnical structures with a compacted the filter, with values around 5.5 cm. However, on the
embankment once the construction of such structures tailings and launched fill, the displacements were
is not done instantly and the soil’s stress history has upstream, with a maximum value of about 8.5 cm. In
effects on the results and behavior of the model. This a general manner, upstream of the filter, the
way, it was developed preliminary stages simulating displacements were directed to upstream, while
the construction until stage 12. downstream of the filter, there is a movement
Next, was developed stage 13, the main objective towards downstream, this indicates that there is a
of this study, in which it was pretended to analyze the horizontal dislocation of these two parts, with
structural behavior during its construction. This stage expansion horizontal deformations.
was modeled in the phases, provided for in the This way, it is possible to observe that when the
executive sequencing in the field: compacted landfill part is being heightened, there is
a) Construction of the compacted embankment; an indication of the occurrence of a rotational
b) Construction of the upstream casted landfill movement of the dam crest (with upstream sinking),
platform; due to the proximity of deformable materials, like
c) Reservoir filling; tailings and launched fill.
d)Global effect.

The results had the objective to evaluate the


construction effect of a heightening stage over the
existing dam embankment, through the horizontal
and vertical displacements and volumetric
deformations. It was assessed separately the effects
caused by each of the three phases and it was also
evaluated the global effect generated by the overlay
of the three phases, that is, by the end of the
heightening of the dam (compacted landfill and
launched landfill platforms) and the reservoir filling.
The appraised section is located in the center of the
valley, in which the tailings layer deposited in the (a)
reservoir have a greater thickness, and, consequently,
the dam has the biggest height.

3 RESULTS AND DISCUSSION

3.1 Phase 1: Compacted embankment construction

In this stage, it was assessed the deformation


behavior of the existing dam when the heightening (b)
embankment is built. The dam was heightened by the Figure 4. Dam displacements caused by the stage 13
modified centerline method, as described before. The compacted embankment construction: a) vertical
stage 13 compacted landfill is partially supported by (m); b) horizontal (x 10³ m).
the already built compacted embankment
(downstream) and partially by the launched landfill Assessing the volumetric deformations (see
platform (upstream). The vertical displacements (see Figure 5), it is noticed that on the major part of the
Figure 4a) have a greater magnitude on the crest due dam embankment there are compression

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211
deformations with low magnitudes, around 0,3%.
Only a small region located over the filter the volume
variation was positive, indicating that on the spot
occurred the soil expansion. The maximum
deformation value was 4,7%. The soil expansion is
believed to be related to the rotational movement of
the dam crest which incurs in the horizontal
expansion deformations in this region, and,
consequently, positive volumetric deformations
(expansion).
(a)

Figure 5. Volumetric deformations on the dam


caused by the construction of the compacted
embankment of stage 13. (b)
Figure 6. Vertical displacements on the dam, caused
3.2 Phase 2: Construction of the upstream by the construction of the stage 13 launched fill: a)
launched landfill platform Vertical; b) Horizontal.

In phase 2, it was evaluated the deformations The compression volumetric deformation (see
behavior on the existing dam when built the upstream Figure 7) was of low magnitude and occurred mainly
launched landfill platform, and after the construction on the tailings, under the launched landfill, and, on a
of the previous phase (compacted embankment). lower scale, on the own casted landfill, with
Stage 13 launched fill platform is partially supported maximum values around 0,7%. On the other hand, on
by the tailings and partially supported by the the dam crest, it was possible to see expansion
compacted embankment, built previously. The volumetric deformations, with values up to 1,6%,
vertical displacements (see Figure 6a) were more which, again, are the result of the dam crest rotation
pronounced, especially under the launched fill, have with sinking to upstream, behavior also noticed
greater magnitude on the surfaces, and present during the launched fill platform construction.
maximum values around 22 cm.
The casted landfill construction promoted a small
lift of the tailings surface located upstream, with
maximum values at 5 cm. As the impact on the
already built compacted embankment, it was
observed that the vertical displacements are greater
upstream of the dam crest (approximately 12 cm)
compared to the downstream (around 8 cm).
The horizontal displacements (see Figure 6b) on
the launched landfill and tailing occurred towards
upstream and reached maximum values around 13
cm on the tailings. The displacements provoked by
the compacted embankment were, in general, to Figure 7. Volumetric deformations on the dam
downstream, with maximum values around 2 cm caused by the stage 13 launched landfill construction.
inside the dam mass. However, near the crest, the 3.3 Phase 3: Filing
displacements were towards upstream, with values
around 9 cm. In phase 3 (see Figure 8), it was assessed the dam
deformations due to the filling of a new layer of

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212
tailings in the reservoir, after the heightening of the is near the stiffer material (compacted embankment).
compacted soil and launched landfill. The vertical
displacements (see Figure 8a) occurred almost
exclusively on the tailings, with maximum values
around 28 cm near the surface. The upstream end of
the launched landfill platform was also affected by
the filling of the reservoir suffering vertical
displacements with values around 12 cm. As the crest
of the dam approaches, the vertical displacements
approach zero, which is indicative of the rotation of
the launched landfill.

Figure 9.Volumetric deformations on the dam caused


by the stage 13 tailings reservoir filling.

3.4 Global effect

Finally, deformations that occurred on the existing


dam after the heightening on the dam and filling of
the reservoir were evaluated, considering the overlay
of effects referred to the end of the dam heightening
and reservoir filling.
The resulting vertical displacements (see Figure
(a) 10a) were more pronounced at the crest of the dam
and on the surface of the launched landfill platform,
with maximum values around 30 cm. The Vertical
displacements decrease with depth and as it
dislocates downstream. Therefore, there is a sinking
of the upstream section of the dam in relation to the
downstream section.
The horizontal displacements of the compacted
embankment (see Figure 10b) were towards
downstream and more pronounced closer to the slope
surface, with maximum values around 5 cm. The
horizontal displacements on the launched landfill and
(b) tailings presented under the launched landfill were
Figure 8. Vertical displacements on the dam upstream, with maximum values of about 13 cm. In
originated by the stage 13 reservoir filling: a) general lines, it can be said that upstream of the filter,
Vertical; b) Horizontal. the horizontal displacements occurred towards
upstream, and downstream of the filter, the
The horizontal displacements on the landfills (see displacements were towards downstream.
Figure 8b) launched and compacted, due to the
reservoir filling, resulted directed exclusively
towards downstream. The major displacements were
on the tailings under the launched landfill, with
maximum values around 5 cm.
The volumetric deformations (see Figure 9)
occurred mainly on the tailings and were
compression ones, with average values of low
magnitude, about 0,3%. However, on the launched
landfill surface there were expansion volumetric
deformation, with values around, 0,2%, and these
seem to be related to the flexion suffered by the
launched landfill massif since one end is over the
tailings (more deformable material) and the other end (a)

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213
(b)
Figure 10. Displacements on the dam due to the stage (b)
13 construction and filling of the reservoir: a) Figure 11. Yield on the dam caused by stage 13
Vertical; b) Horizontal. construction and reservoir filling: a) volumetric
deformations; b) Evaluation of yield concentration
The volumetric deformations of the tailings (see points of the dam.
Figure 11a), under the casted landfill, occurred with
low magnitude, around 1,2% on the maximum and
4 FINAL CONSIDERATIONS
they were compression ones. The deformations over
the filter, near the crest of the dam, were expansion
Based on the presented comments it is possible to
ones with significative magnitude, reaching about
establish, regarding the bidimensional analyses, that:
5%. On the most part of the massif, the volumetric
• The elastic parameters and methodology used on
deformations were small. The sinking of the tailings,
the stress versus deformations analyses led to
launched landfill and the dam’s crest compared to the
results compatible with readings of the dam
rest of the compacted embankment, promotes
instrumentation;
something similar to flexion on the dam, generating
expansion deformations on the crest. For this reason, • The soil of the dam massif is subject to
the volumetric deformations in this region are plasticization. The region near the dam crest,
expansion ones. where tensile stresses occur, would be subject to
At this stage, it was also evaluated the yield the eventual appearance of superficial
occurrence (see Figure 11b), through the Mohr- longitudinal cracks;
Coulomb yield criteria, as cited previously. The main • The difference between vertical displacements of
sites for soil yield were on the vertical filter, close to the compacted embankment surface and
the crest of the dam, and on the slope of the launched launched fill, during the construction stages,
landfill. The yield occurred by tension at some points would be the mechanism that would favor the
and by compression at other points, usually located superficial soil yield. The launched fill surface
below the points where the yield took place by suffers bigger vertical displacements than the soil
traction. On the upstream slope of the launched on the crest of the dam. That can generate
landfill, the yield is related to the pronounced something similar to a bend, with expansion
displacements that occurred due to the proximity of deformations of the surface and compressive
the most deformable material. ones on the interior of the dam;
• During the construction of the compacted
embankment, depending on the installation
position of the inclinometers, upstream
displacements can be registered;
• The construction of the launched fill and the
reservoir filling cause only small magnitude
downstream displacements on the soil
downstream of the vertical filter;
• In the launched landfill, the displacements are
upstream when the compacted embankment and
the launched landfill are built, and, downstream,
when the reservoir is filled with tailings.
(a)

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


214
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estabilização de solo com adição de resíduos da fabricação de


peças pré-moldadas de concreto

Raianderson Wecseley Ferreira Cruz, Eng.


Universidade Federal do Tocantins, Palmas-TO, Brasil, raianderson@gmail.com

Janaina Lima de Araújo, Me.


Universidade Federal do Tocantins, Palmas-TO, Brasil, janaina.araujo@uft.edu.br

Marcus Vinicius Ribeiro e Souza, Dr.


Universidade Federal do Tocantins, Palmas-TO, Brasil, marcussouza@uft.edu.br

Rafaela Nazareth Pinheiro de Oliveira Silveira, Me.


Unifesspa, Marabá-PA, Brasil, rafaelasilveira@unifesspa.edu.br

RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo da estabilização química de um solo com cimento e a avaliação da adição
de pó de resíduo da fabricação de peças pré-moldadas de concreto (RPPC) em substituição da massa de cimento nas
proporções de 30%, 50% e 100%. O estudo consistiu em avaliar as propriedades físicas e mecânicas de um solo típico
da região central do Brasil localizado no município de Palmas, capital do estado de Tocantins. Para a caracterização
física dos materiais foram executados os ensaios de granulometria, limites de consistência e massa específica e para a
caracterização mecânica foram realizados os ensaios para a dosagem do cimento, de compressão simples, CBR e
expansão com a finalidade de avaliar a resistência à compressão e a capacidade de suporte do solo e das misturas quanto
à sua utilização em camadas de reforço de subleito e sub-base. O solo escolhido para a pesquisa apresentou
características inadequadas para o uso em camada de sub-base, apresentando um CBR< 20%. No entanto, após a
estabilização por meio da inclusão do pó de RPPC em substituição de 30% e 50% da massa de cimento, a mistura
apresentou valores de CBR de 126% e 105%, respectivamente. A mistura solo-cimento mostrou resistência à
compressão maior que 2,1MPa para o teor de 11%. Já a mistura solo-cimento mais pó de RPPC apresentou valores de
resistência decrescentes perante o aumento dos teores de pó de RPPC na da mistura.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, solo-cimento, resíduos, peças pré-moldadas de concreto.

ABSTRACT: This work presents a study of the chemical stabilization of a soil with cement and the evaluation of the
addition of waste dust from the manufacture of precast concrete parts (RPPC) to replace the cement mass in the
proportions of 30%, 50% and 100 %. The study consisted in evaluating the physical and mechanical properties of a soil
typical of the central region of Brazil located in the municipality of Palmas, capital of the state of Tocantins. For the
physical characterization of the materials were carried out the tests of granulometry, limits of consistency and specific
mass, and for the mechanical characterization were carried out the tests for the cement dosage, and tests of simple
compression, CBR and expansion, these tests had the purpose to evaluate the compressive strength and the bearing
capacity of the soil and the mixtures for their use in subgrade and subgrade reinforcement layers. The soil selected for
the research had inadequate characteristics for sub-base use, presenting a CBR of <20%, however, after stabilization by
means of the inclusion of RPPC powder in substitution of 30% and 50% of the mass CBR values of 126% and 105%,
respectively. The soil-cement mixture had a compressive strength greater than 2.1 MPa for the 11% content, while the
soil-cement mixture plus RPPC dust presented decreasing resistance values due to the increase of RPPC dust contents in
the mixture.

KEY WORDS: Stabilization, soil-cement, waste, pre-cast concrete parts.

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216
1 INTRODUÇÃO de solo ao meio rodoviário, e ainda viabilizar uma
destinação mais adequada para os resíduos gerados
Conforme Cruz e Jalali (2010) existem várias no próprio processo de fabricação e/ou demolição de
formas de estabilização de solos, sendo que a peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos,
química é a mais indicada para fins rodoviários por meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras e
melhorar a capacidade de carga e a susceptibilidade nas inúmeras fábricas de peças pré-moldadas na
às variações de umidade. cidade de Palmas-TO.
Estudos buscaram alternativas de estabilização
de solos com um maior desempenho a um menor
custo, algumas delas aliadas à sustentabilidade, tais 2 ESTABILIZAÇÃO QUÍMICA DE SOLOS
como o de Pereira (2012) que estudou a
estabilização do solo com adição de cimento e cinza De maneira particular, ao analisar os trabalhos de
de lodo para o uso em base e sub-base de Miceli Júnior (2006), Soliz (2007) e Pacheco (2011)
pavimentos rodoviários. Os resultados das misturas que avaliaram o desempenho de solos estabilizados
apresentaram ganho de resistência e características por emulsões asfálticas, pode-se concluir que a
não expansivas proporcionando o uso em camadas estabilização química se traduz na inserção de um
de pavimentos. Fritzen et al. (2012) estudaram a produto químico (e.g.: cimento Portland, cal ou
estabilização do solo com adição de cinza volante de ligante asfáltico) que gera reações químicas1 de
resíduos sólidos urbanos para pavimentação. aglutinação e resultam no aumento da resistência à
A utilização de resíduos sólido urbano (RSU) e coesão do material.
de resíduos de construção e demolição (RCD) em Cabe ressaltar que a estabilização química não
estabilização de solo, como forma de reciclagem atua de maneira isolada, já que o uso de um agente
destes materiais e obtenção de melhorias no estabilizador conduzirá para alteração em
comportamento do solo, propriciaram a obtenção de comportamentos físicos do material estabilizado.
bons resultados quanto a resistência mecânica. Exemplificando: quando cessadas reações químicas,
Bagatini (2011) utilizou o resíduo de construção e o aglomerante passa a atuar fisicamente, como filler
demolição como RCD reciclado na base e sub-base inerte, ou seja, o material passa a funcionar como
de pavimentos de vias públicas, substituindo as preenchimento, melhorando o empacotamento do
camadas de materiais naturais, como a brita sistema; Isso, por sua vez, conduz para uma melhor
graduada, e obteve resultados em que o pavimento condição de seu esqueleto mineral reduzindo os
suportou um tráfego N da ordem de 1x106. valores de permeabilidade.
Palacio (2014) realizou a estabilização Pensando nesse efeito duplo que o estabilizante
granulométrica com o objetivo de estudar o pode exercer Medina e Motta (2004) colocam que
comportamento mecânico do solo com a adição de ao se utilizar a cal, como agente estabilizador, o
RCD reciclado em porcentagem de 15% em relação efeito químico é mais importante; quando se utiliza
ao peso total do material, para o uso em subleito e o cimento Portland e a emulsão asfáltica existe tanto
sub-base de obras rodoviárias. efeito químico quanto físico.
Souza (2015) utiliza resíduo de construção e Em geral os estabilizantes químicos mais
demolição (RCD) como agregado reciclado (AR) na utilizados, atualmente, são: cal, cimento Portland e
concepção de um modelo físico experimental, em emulsão asfáltica. Todavia, os benefícios de
grande escala, para aproximar as condições de cimentação provenientes do uso desses materiais
campo. Os resultados das análises de deformação e mais tradicionais podem ser atingidos, mesmo em
deslocamento mostraram-se com condições de escala menor, pelo uso de materiais alternativos.
suportar ciclos de cargas sem que atinjam os limites Atualmente há um senso coletivo em fazer o uso de
de intervenção para pavimentos flexíveis. Os materiais alternativos para melhoria de solos.
resultados dos ensaios de módulo de resiliência e Dentro desse assunto surge o uso de Resíduos de
Índice de Suporte Califórnia (CBR), mostraram-se Construção Civil - RCC, pois como se pode
também satisfatórios, atendendo às exigências perceber, a grande maioria desses resíduos são de
mínimas estabelecidas pelo Departamento Nacional origem cimentícia que podem vir a ter ainda, na sua
de Infraestrutura e Transporte – DNIT. composição, minerais que apresentam, também,
A utilização do RCD, como agregado reciclado, ainda algum potencial de cimentação.
é bastante discutida na construção civil, porém ainda
é grande a necessidade de estudos voltados a
1 Segundo Kézdi (1979) apud Pacheco (2011), os efeitos quí-
aplicações mais diversas da utilização desses
resíduos de várias formas. Neste sentido, essa micos estão associados à mudança de temperatura, hidratação,
evaporação e adsorção, já os efeitos químicos estão associados
pesquisa buscou somar seus estudos de estabilização às trocas iônicas, precipitação e oxidação.

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217
Pinto (1999) coloca que os RCC reciclados O resíduo foi o mesmo utilizado por Silva (2014), o
podem ter na sua composição partículas de cimento qual foi fornecido pela Industec, empresa dedicada à
não inertizadas, que ainda irão reagir, partículas de produção de peças pré-moldadas de concreto.
cal, que estarão disponíveis para novas reações, Classificado como resíduos de classe A, segundo de
partículas cristalizadas, que funcionarão como a Resolução CONAMA 307, o resíduo era composto
indicador da cristalização (acelerando a formação da basicamente de concreto britado proveniente do
nova rede cristalina). Aparecem, tambémpartículas beneficiamento realizado pela empresa Industec e
de material cerâmico, com significativo potencial posterior beneficiamento realizado no laboratório da
pozolânico, que irão reagir com a cal hidratada. No UFT, onde foi utilizado o equipamento de abrasão
entanto, como exposto por Vásquez (2001) o “Los Angeles”.
potencial de incremento da resistência está
diretamente ligado àorigem do material, ou seja, em 3.3 Aglomerante
resíduos provenientes de concreto o incremento é
expressivo. Para os resíduos mistos, o incremento é O aglomerante hidráulico utilizado foi o cimento CP
menor e em resíduos cerâmicos quase não se II Z-32 – Cimento Portland composto com adição de
observa incrementos relevantes. pozolana. Conforme menciona Mesquita Filho
Esperando validar a presença desses agentes (2006) suas propriedades são satisfatórias para a
cimentantes e mensurar os incrementos de elaboração do solo-cimento.
resistência diferentes pesquisas, como Motta (2005),
Poon et al. (2006), Leite et al. (2006) e Gómez 3.2 Métodos
(2011), avaliaram o desempenho de resíduos de
construção civil. De maneira particular para as A pesquisa foi desenvolvida em três etapas, como é
pesquisas de Poon et al. (2006) e Leite et al. (2006) apresentado pelo fluxograma na Figura 1. A
foi possível validar que os incrementos de primeira etapa consiste na coleta, aquisição e
resistência tendem a aumentar, a longo prazo, preparação dos materiais. A segunda, é definida
quando esse resíduo passa por um processo de cura. pelos ensaios de caracterização dos materiais e a
Por isso, fazer o uso de RCC como agente terceira e última etapa pela caracterização mecânica
estabilizante traz duas contribuições do ponto de das misturas.
vista técnico, a saber: (i) o RCC pode agir como
agente de estabilização física melhorando o arranjo
estrutural matriz e (ii) com a presença de materiais
cimentícios na sua constituição poderá vir a
apresentar melhorias também no comportamento do
material devido a processos de cimentação.

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

3.1 Solo

O trabalho foi conduzido com o uso de um solo


residual, coletado no entorno do eixo viário do
transporte público Bus Rapid Transit (BRT) do
município de Palmas – TO que está em processo Figura 1. Fluxograma das estapas da pesquisa
licitatório, e se situa próximo a localização
geográfica de 10° 16' 56.80" S e 48° 18' 49" O. Como observado na Figura 1 a primeira etapa
O ponto de coleta situa-se em uma região de consistiu na coleta e preparação dos materiais
geologia caraterizada pela Formação Pimenteiras, a acompanhada posteriormente pela caracterização
qual possui a presença marcante de rochas clásticas dos materiais onde se recorreu a ensaios de rotina
com predominância de fragmentos menores que simples como análise granulométrica e
0,062 mm e constituída por lentes areníticas na base, determinação dos limites de consistência. Esses
gradando para siltitos, argilitos e folhelhos no topo. ensaios permitem a obtenção de parâmetros que
possibilitam a identificação da natureza dos solos e
3.2 Resíduo de peças pré-moldadas de concreto foram executados com base nas seguintes normas
técnicas NBR 6457 (ABNT, 1986a), NBR 7181
(ABNT, 1984a), NBR 7180 (ABNT, 1984b), NBR

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218
6459 (ABNT, 1984c) e DNER-ME 093 (DNER, de 7%, 9% e 11% de cimento adicionado em
1994). substituição ao solo com peso específico aparente
Os ensaios de caracterização mecânica foram seco máximo e umidade ótima obtida por meio da
realizados sobre amostras deformadas curva de compactação do solo.
representativas com preparação prévia, conforme O método empregado para compactação dos
NBR 6457 (ABNT, 1986a). Para a caracterização corpos de prova (CPs) submetidos a compressão
mecânica foram realizados os ensaios de simples foi a compactação estática que consistiu em
compactação do solo, de compressão simples, CBR obter um CP de solo-cimento compactado com as
e expansão seguindo os procedimentos descritos nas mesmas características de compactação do solo na
normas técnicas NBR 7182 (ABNT, 1986b), NBR umidade ótima. Foram então realizados cálculos
12253(ABNT, 1992a), NBR 12024 (ABNT, 1992b), utilizando o valor da peso especifico aparente seco
NBR 12025 (ABNT, 1990), NBR 9895 (ABNT, máximo do solo e o volume interno do molde
1987). cilíndrico, com a finalidade de obter a massa de
Para a comparação entre as amostra com solo, solo-cimento, capaz de ocupar o volume do molde
solo-cimento e solo-cimento-Pó de RPPC optou-se, cilíndrico, necessária para atingir as características
incialmente, em compactar as amostras na Energia de compactação do solo, ou seja, a compactação na
Normal e assim definir a umidade ótima e o peso energia de Proctor Normal.
especifico seco máximo do solo. Em seguida, para a Após realizado o processo de compactação, os
mesma energia definiu-se os teores ótimos de corpos de prova foram levados à câmera úmida,
mistura solo-cimento. Cabe ressaltar que não foram conforme especifica a NBR 12024 (ABNT, 1992b),
realizados ensaio de compactação com solo-cimento e mantidos por um período de 7 dias com a
e solo-cimento-pó de RPPC, pois, conforme a finalidade de realizar a cura dos CPs. Ao final do
pesquisa realizada por KÉZDI (1979) apud NÚÑEZ sétimo dia, os CPs, antes de serem rompidos, foram
(1991), observou-se que a umidade ótima e o peso imersos em água por 4 horas conforme especifica a
específico aparente seco máximo não são muito norma NBR 12025 (ABNT, 1990).
afetados pela adição de cimento. Por fim, a capacidade de suporte e a
Heineck (1998) fez uma comparação entre a expansibilidade do solo e das misturas, solo-
umidade (w), o peso específico aparente seco cimento, solo-cimento-pó de RPPC e solo-pó de
máximo (γdmáx.) e a resistência à compressão simples RPPC, foram avaliadas utilizando o ensaio de CBR,
(qu), e concluiu-se que existe uma correlação direta medindo a resistência à penetração de uma amostra
de 0,9431 entre a umidade ótima, que possibilita a saturada, compactada na energia Proctor normal
obtenção do máximo peso específico aparente seco, dividido em 5 camadas e moldado no cilindro
com aquela associada ao valor máximo de grande, conforme especificado na NBR 9895
resistência a compressão simples. Com isso, foram (ABNT, 1987).
utilizados para os ensaios de resistência à Foi realizado o ensaio de CBR e expansão para o
compressão simples, os dados resultantes da solo, solo-cimento, solo-cimento-pó de RPPC e
compactação do solo na umidade ótima (wótima). solo-pó de RPPC. Devido à pouca quantidade de
O ensaio de resistência à compressão simples foi solo adquirida, decidiu-se pela realização dos
feito primeiro com o solo-cimento, para definir qual ensaios apenas na umidade ótima, sendo
a porcentagem de cimento mínima que atendia às confeccionado 2 CPs para cada amostra, totalizando
especificações da NBR 12253(ABNT, 1992a) para o uma quantidade de 10 CPs, sendo 2 CPs com solo, 2
emprego como camada de pavimento. Após CPs com solo-cimento, 4 CPs com solo-cimento-pó
determinado o teor de cimento a ser utilizado, foi de RPPC e 2 CPs com solo-pó de RPPC.
feita a incorporação do pó de resíduo em
substituição ao cimento nas proporções de 30%,
50% e 100%. Estes valores foram determinados por 4 RESULTADOS E DICUSSÕES
serem representativos para a comparação entre o
efeito do cimento e do resíduo no solo quanto à 4.1 Caracterização física dos materiais
resistência à compressão e resistência à penetração
(CBR). Os materiais coletados e quarteados em laboratório
Foi determinado inicialmente, com base nas foram submetidos a ensaios de caracterização
características granulométrica do solo e na NBR básica. Os resultados dos ensaios realizados para
12253(ABNT, 1992a), um teor inicial de 9% de caracterização do solo estão descritos na Tabela 1.
cimento com relação a massa de solo seco e outros
dois teores com variação de ±2% do teor inicial.
Com isso, foram moldados os traços com os teores

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219
Tabela 1. Caracterização física do solo e do RPPC após o processo de redução realizado com auxílio do
aparelho de Los Angeles. Ao analisar a
Caracterização do solo
granulometria após o uso do equipamento de
Gs 2,7 abrasão Los Angeles, o percentual do material
WL 51 caracterizado como filer foi de 34,1%, que
Limites de Atterberg (%) WP 34 corresponde ao passante na peneira de malha de
IP 17 0,075mm.
Pedregulho 6,1
Areia grossa 1,0 4.2 Comportamento mecânico
Composição Areia média 2,1
granulométrica (%) Areia fina 51,0 4.2.1 Ensaio de compactação
Silte 12,2
Argila 27,6 O resultado da curva de compactação do solo é
Caracterização do RPPC
mostrado na Figura 3. Os valores do teor de
umidade ótimo (ωotima) e peso específico aparente
Gs 2,8
seco máxima (γdmax), foram de 25,5% e 15,32kN/m³
WL -
respectivamente.
Limites de Atterberg (%) WP -
IP -
Pedregulho 13,7
Areia grossa 19,8
Composição Areia média 20,5
granulométrica (%) Areia fina 14,6
Silte 17,0
Argila 14,4

Os valores de Gs do solo são bem condizentes ao


tipo de material que compõem a Formação Figura 3. Curva de compactação do solo
Pimenteira descrita no trabalho de Santos (2000).
Com base nos dados da Tabela 1 e Figura 2 pode-se
Os valores do ωot e da γdmax serviram de base
inferir que o solo é classificado segundo a TRB
para a realização dos ensaios de determinação do
(Transportation Research Board) como um solo A-
teor de cimento. Para tanto, foi realizada uma
7-5 de índice de (IG) igual a 17. Diante da
dosagem tomando como base as especificações da
classificação e das recomendações do DNIT (2006)
NBR 12253, onde para um teor de 89% de solo e
é possível estabelecer que o material teria um
11% de cimento (nomenclatura S89C11) se obteve
desempenho de regular ou mau como subleito.
valores de resistência a compressão simples (RCS)
Porém, como será visto nos itens a seguir o material
de 2,43MPa acima dos 2,1MPa, mínimos,
apresentou desempenho mecânico razoável.
requisitados pela NBR 12253. Cabe ressaltar que
foram avaliados outros traços para chegar ao teor
referência de 11% de cimento. Por questões de
praticidade, optou-se, para a realização dos demais
ensaios, a utilização do teor de 11% de cimento
como melhor teor para a mistura solo-cimento.

4.2.2 Ensaio de compressão simples

Com a determinação do melhor teor de cimento, foi


possível estabelecer os traços das misturas solo-
cimento-pó de RPPC no qual foram executadas três
Figura 2. Curvas granulométricas do solo & RPPC (antes amostras para cada traço, conforme ilustrada a
e após a redução no equipamento de abrasão) Tabela 2.

Como se pode observar na Figura 2 há uma


mudança bem expressiva na granulometria do RPPC

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220
Tabela 2. Traços moldados para o ensaio de compressão procedimento. Portando, para uma melhor
das misturas solo-cimento-pó interpretação, seria necessário realizar o ensaio de
resistência à compressão do traço S89P100
Material (%)
utilizando a NBR12770.
(11% do solo seco)*
En- Tra- Nomenclatu- So- Cimen- Pó de
saio ço ra lo to RPPC
T1 S89C70P30 89 70 30
E1 T2 S89C50P50 89 50 50
T3 S89P100 89 - 100
T1 S89C70P30 89 70 30
E2 T2 S89C50P50 89 50 50
T3 S89P100 89 - 100
T1 S89C70P30 89 70 30
E3 T2 S89C50P50 89 50 50 Figura 4. RCS dos traços em estudo
T3 S89P100 89 - 100
Os traços da mistura solo-cimento-pó de RPPC
*A soma das massas de cimento e de pó de RPPC cor-
responde a 11% da massa de solo seco, sendo que, os
com teores de 30 e 50% de massa de resíduo em
teores de 50%, 70% e 100% utilizados no traço, são substituição a massa de cimento, não alcançaram a
referentes aos 11%, ou seja, o traço S89C50P50 é com- resistência mínima, de 2,1MPa, necessária para o
posto por 89% de massa de solo seco, 5,5% de massa de uso em camadas de pavimento como mistura de
cimento e 5,5% de massa de Pó de RPPC. solo-cimento, estabelecida pela NBR12253. Além
destes traços não terem alcançado a resistência
A Tabela 3 mostra os valores de resistência à mínima para uma mistura solo-cimento, o pó de
compressão em (MPa). Durante a execução do RPPC não aferiu ganhos de resistência quando
ensaio de compressão houve a perda de um corpo de adicionado ao solo, mesmo adicionando proporções
prova com o traço E3-T3(S89P100), e ao realizar o menores de cimento.
tratamento dos dados, optou-se pela exclusão do
resultado do traço E2-T1(S89C70P30) por estar 4.2.3 Ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC) e
abaixo do valor de desvio aceitável, o que a torna expansão
uma amostra não representativa.
O ensaio de ISC seguiu em paralelo ao ensaio de
Tabela 3. Resistência à compressão das misturas com compressão simples do solo com adição de cimento
solo-cimento-pó de RPPC e pó de resíduo. Sendo iniciado após a determinação
do melhor teor de cimento, a compactação foi
Resistência (MPa) realizada na umidade ótima do solo de 25,5%. Os
Traço Mín Desvio
Máx. Média traços produzidos foram os mesmo dos realizados
. aceitável
T1(S89C70P30) 1,73 1,76 1,74 ± 0,17
no ensaio de compressão simples, apresentando um
T2(S89C50P50) 0,87 0,97 0,93 ± 0,09 aumento com relação a quantidade de cimento
T3(S89P100) 0,03 0,03 0,03 ± 0,00 presente na mistura, conforme ilustra a Tabela 4.

A Figura 4 apresenta as resistências à Tabela 4. Valores de ISC e expansão das misturas com
compressão dos traços estudados. Como se pode solo-cimento-pó de RPPC
observar na Figura 4, a resistência à compressão Solo – Energia Normal
simples da mistura solo-pó de RPPC (S89P100) Tra-
S100 S89C70P30 S89C50P50 S89P100 S89C11
apresentou um valor menor que a do solo ço
ISC
compactado na mesma energia. Essa diferença pode (%)
16 126 105 6 153
ter sido influenciada pelo método de execução do Exp.
0,07 0,07 0,08 0,11 0,06
ensaio empregado, pois os cps do traço S100 (100% (%)

de massa de solo seco) não foram submetidos a


imersão em água por um período de 4 horas, Analisando a Tabela 4, verifica-se que o solo,
conforme a NBR12025 específica, pois a norma identificado pelo traço S100, satisfaz as exigências
utilizada no ensaio da resistência à compressão do para o uso em camadas de reforço de subleito,
solo, NBR12770, não específica a realização deste quanto à expansão e ao ISC mínimo exigível. Já

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221
para o uso em sub-base de pavimento as exigências ABNT. (1992a). Associação Brasileira de Normas
quanto à expansão são atendidas, mas não são Técnicas. NBR: 12253: Solo-Cimento – Dosagem
atendidas quanto ao ISC mínimo exigido (≥20%). para Emprego como Camada de Pavimento. Rio de
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construção de camadas de sub-base só é possível
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satisfazem as exigências de expansão máxima e ISC RJ, Brasil.
mínimo para o uso em reforço de subleito. Para o Bagatini, F. (2011). Resíduos de construção civil:
uso em camadas de sub-base, somente os traços aproveitamento como base e sub-base na
S89C70P30, S89C50P50 e S89C11 atenderam às pavimentação de vias urbanas. Porto Alegre, RS,
exigências de ISC mínimo e expansão máxima. Brasil: Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS.
Cruz, M., & Jalali, S. (2010). Melhoramento do
desempenho de misturas de solo-cimento. In 12º
5 CONCLUSÕES
Congresso Nacional de Geotecnia. Guimarães,
Portugal.
O solo escolhido para a pesquisa apresentou DNER. (1993). Departamento Nacional de Estradas de
características inadequadas para o uso em camada Rodagem. DNER - ME 093 . Solos - Determinação
de sub-base, apresentando um CBR< 20%. No da densidade real. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
entanto, apesar da NBR 12253 não recomendar a DNIT. (2006). Departamento Nacional de Infraestrutura
estabilização de solo-cimento com solos de Transportes. Manual de pavimentação 3. ed. . Rio
classificados no grupo A-7 devido à elevada de Janeiro, RJ, Brasil.
quantidade de cimento necessária para atender às Fritzen, M. A., Motta, L. M., & Ubaldo, M. d. (2012).
Estabilização de Solos para Pavimentação com Uso
exigências mínimas de resistências. Quanto à
de Cinza Volante de RSU. In 16º Congresso
resistência à penetração, o solo estabilizado Brasileiro de Mecânica do Solos e Engenharia
apresentou uma capacidade de suporte de 153% na Geotécnica. Porto de Galinhas, PE, Brasil.
compactação de Proctor Normal. Portanto pode-se Gómez, A. M. (2011). Estudo experimental de um
concluir que a estabilização do solo com adição de resíduo de construção e demolição (RCD) para
cimento foi satisfatória. utilização em pavimentação,. Brasília, DF:
A mistura do solo com adições de pó de RPPC Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-196/11,
em substituição à massa de cimento foi realizada Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
com três teores. O resultado da mistura de solo-pó Brasília, Brasília, DF, 123 p.
de RPPC apresentou valores de resistência à Junior, G. M. (2006). Comportamento de solos do estado
do Rio de Janeiro estabilizados com emulsão
compressão decrescentes perante o aumento dos
asfáltica. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Dissertação
teores de pó de RPPC na da mistura. (Mestrado em Ciências em Engenharia de
Por fim, após a estabilização por meio da Transportes) – IME – Instituto Militar de Engenharia,
inclusão do pó de RPPC em substituição de 30% e Rio de Janeiro, 267f.
50% da massa de cimento, a mistura apresentou Leite, F. d., Motta, R. d., Bernucci, L. L., Moura, E. d., &
valores de ISC de 126% e 105%, respectivamente. Abdou, M. R. (5 a 7 de Abril de 2006). Comparação
Mesmo apresentando uma queda no ISC mediante a de valores de índice de suporte califórnia de
substituição parcial do cimento por pó de RPPC as agregados reciclados de resíduo sólido da construção
misturas de 30% e 50% demonstraram valores civil. 13.ª Reunião de Pavimentação Urbana ( 13.ª
toleráveis a serem aplicados em sub-base e base de RPU) - Maceió/AL.
Marques, G. L. (2004). Capítulo 4 – Estabilização dos
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compressão simples de corpos de prova cilíndricos. do Estado do Rio de Janeiro estabilizados com
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


222
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223
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estabilização Polimérica de Rejeito de Minério de Ferro para


Disposição em Pilhas
Giovana Abreu de Oliveira
Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, MG, Brasil, giovana.oliveira@fonntesgeotecnica.com

Michel Fontes
Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, MG, Brasil, michel@fonntesgeotecnica.com

Andrêza Santos
Fonntes Geotécnica, Belo Horizonte, MG, Brasil, andreza.santos@fonntesgeotecnica.com

Gabriella Melo de Deus Vieira, MSc


Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil, gabriellavieiraeng@gmail.com

Giovanna Monique Alelvan, DSc


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, giovannaalelvan@etg.ufmg.br

RESUMO: Busca-se cada vez mais tecnologias a fim de reduzir os impactos ambientais nos processos de
mineração e torná-los mais eficazes e seguros, sendo o empilhamento à seco uma das alternativas à disposição
dos rejeitos de mineração em barragens. Contudo, as etapas de filtração e disposição dos materiais necessitam
de otimização, visto que ainda demandam muitos processos para se alcançar as condições de compactação das
pilhas, utilizando materiais auxiliares, como a cal e o cimento. Por outro lado, tem-se o desenvolvimento de
estudos com novos materiais geotécnicos, que, muita das vezes, além de serem uma alternativa ao uso de
materiais que trazem maiores prejuízos ao meio ambiente, emitindo substâncias tóxicas durante sua produção,
como é o caso do cimento, proporcionam aumento das resistências mecânica, química e hidráulica dos rejeitos.
Visando isso, este artigo propõe a utilização do polímero High Performance Aglomerate (HPA) na
estabilização de um rejeito de minério de ferro. Devido à sua formulação e capacidade de absorção, este
material tem grande potencial para melhorar as propriedades mecânicas do rejeito e agir como solidificante
nos processos de filtração da lama de rejeitos. Para tal finalidade, foram realizados ensaios de caracterização
dos materiais utilizados e testes especiais, como de resistência à compressão simples e de adensamento com
diferentes dosagens de HPA (0,005%, 0,01%, 0,02%, 0,04% e 0,06%). Embora alguns dos resultados tenham
sido inconclusivos, algumas tendências foram observadas quanto ao potencial do material para ser utilizado
nos processos de mineração.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito; Estabilização; Compósitos; Novos Materiais Geotécnicos.

ABSTRACT: More and more technologies are being sought in order to reduce the environmental impacts of
mining processes and make them more efficient and safer, with dry stacking being one of the alternatives
available for mining tailings in dams. However, the steps of filtration and disposal of the materials need to be
optimized, since they still require many processes to reach the compaction conditions of the piles, using
auxiliary materials such as lime and cement. On the other hand, there is the development of studies with new
geotechnical materials, which, many times, in addition to being an alternative to the use of materials that bring
greater damage to the environment, emitting toxic substances during their production, as is the case cement,
increase the mechanical, chemical and hydraulic resistance of the waste. Aiming at this, this article proposes
the use of High Performance Aglomerate (HPA) polymer in the stabilization of an iron ore tailings. Due to its
formulation and absorption capacity, this material has great potential to improve the mechanical properties of

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224
the tailings and act as a solidifier in the tailings slurry filtration processes. For this purpose, tests were carried
out to characterize the materials used and special tests, such as simple compressive strength and consolidation
with different dosages of HPA (0.005%, 0.01%, 0.02%, 0.04% and 0.06%). Although some of the results were
inconclusive, some trends were observed regarding the potential of the material to be used in mining processes.

KEY WORDS: Tailings; Stabilization; Composites; New Geomaterials.

1 INTRODUÇÃO desaguador, que garantiu resultados de uma melhor


capacidade de aglomeração de partículas finas e
O setor de mineração é um dos mais lucrativos no rápida liberação de água presente na polpa de rejeito
Brasil, apresentando um faturamento de 208,9 quando adicionado o polímero desaguador. Já
bilhões de reais em 2020 e de 339,1 bilhões de reais Alelvan (2022) realizou um estudo de estabilização
em 2021 segundo dados do IBRAM (2021), sendo polimérica de rejeito de minério de ouro. O teor de
assim, busca-se cada vez mais tecnologias capazes de polímero utilizado nos estudos variaram entre 6 e 9%
reduzir os impactos ambientais em todos os e o tempo de cura entre 7 e 28 dias. Os resultados dos
processos que o envolvem, bem como para otimizá- estudos mostraram que o polímero garante um ganho
los, tornando-os mais rápidos, eficazes e seguros. de rigidez inicial e um ganho de resistência à
Uma das técnicas mais promissoras concentra-se no compressão simples significativo ao longo da sua
empilhamento a seco dos rejeitos de mineração, em cura, atingindo sua resistência máxima aos 28 dias.
que esses materiais passam por diferentes Nesse contexto, propõe-se a utilização do
procedimentos para retirada de parte da sua umidade, polímero High Performance Aglomerate (HPA) na
e depois são compactados e dispostos em pilhas, estabilização de um rejeito de minério de ferro. Além
evitando assim o armazenamento em barragens e das melhorias das propriedades mecânicas do rejeito,
possíveis problemas como liquefação. Contudo, o HPA, por ser um polímero superabsorvente, possui
muita das vezes, são necessárias técnicas de grande potencial nos processos de filtragem das
estabilização dos rejeitos a fim de melhorar suas lamas dos rejeitos para empilhamento à seco.
propriedades mecânicas, sendo usual a utilização de Segundo Jensen e Hansen (2001), esse tipo de
cimento. polímero têm a capacidade de absorver uma
A problemática envolta do uso do cimento quantidade significativa de líquido (água e soluções
está nos impactos ambientais advindos de seus aquosas) a partir do ambiente e reter este líquido
processos produtivos. A produção de cimento dentro da sua estrutura sem se dissolver,
demanda muita energia e emite grandes quantidades apresentando uma absorção de água de até 5000
de poluentes na atmosfera, sendo responsável por vezes o seu próprio peso, e em soluções salinas
cerca de 7% das emissões globais de CO2 (GCCA, diluídas, de aproximadamente 50 g/g. Pacheco
2021). (2020) explica que isso ocorre pela grande afinidade
Visando isso, estudos voltados para a que têm pela água, absorvendo-a pelo mecanismo de
substituição desse material estão cada vez mais sendo osmose na tentativa de equilibrar a concentração de
desenvolvidos, com novos materiais geotécnicos, que íons sódio dentro e fora do polímero.
têm grande potencial não só para reduzir os impactos Para tal finalidade, foram realizados ensaios
ambientais quando comparados com o uso de de caracterização, de resistência à compressão
cimento, como também melhorar as propriedades do simples e de adensamento do rejeito de minério de
material a ser estabilizado, como as propriedades ferro utilizado e das misturas com 0,005%, 0,01%,
mecânicas, hidráulicas, entre outras, sendo um dos 0,02%, 0,04% e 0,06% de HPA, sendo essas
mais promissores o uso de polímeros. porcentagens definidas em massa, adicionado ao
Estudos como os de Barreda & Valadão rejeito a fim de se verificar a dosagem ótima. As
(2020) e Alelvan (2022) já avaliaram o uso de dosagens adotadas foram, inicialmente,
polímeros em rejeitos de mineração, obtendo experimentais a fim de se conhecer o comportamento
resultados positivos em relação à redução da umidade do polímero em solo. Além do mais, sabe-se que, por
dos rejeitos nos processos de empilhamento à seco e se tratar de um superabsorvente, uma baixa dosagem
à melhoria das propriedades mecânicas dos rejeitos pode ser capaz de trazer resultados significativos, que
estabilizados, respectivamente. Barreda & Valadão serão avaliados no estudo que se segue.
(2020) realiza um estudo de mecanismos de
desaguamento de rejeito com um polímero

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225
2 MATERIAL E MÉTODOS surpreendentemente rápida quando homogeneizado
ou sob aspersão de um rejeito com determinada
2.1 Rejeito de Minério de Ferro umidade.
O produto é composto por um polímero
O rejeito de minério de ferro utilizado nesta pequisa superabsorvente de água, absorve até 800 vezes o seu
é oriundo da Mina de Pau Branco, localizada em peso e por cinzas vulcânicas que ajuda na cimentação
Nova Lima, Minas Gerais. Conforme apresentado no que pode alterar as características mecânicas dos
mapa geológico da Figura 1, os litotipos aflorantes materiais em estudo. Sua composição química é
são constituídos por itabiritos na porção leste e por formada, majoritariamente, por CH2CHCOONa e
filitos na porção oeste pertencente à Formação Cauê outros aditivos.
e Formação Batatal, respectivamente.
2.3 Formação dos Compósitos e Campanha
Experimental

Para uma adequada avaliação do efeito do


estabilizante na matriz foram conduzidos diversos
ensaios de caracterização e mecânicos no rejeito puro
(RP) e no compósito (RP_HPA). Na Tabela 1 estão
sumarizados os ensaios realizados e a descrição das
amostras.

Tabela 1. Campanha Experimental.


Norma de Tipo de
Nome do Ensaio
Referência Amostra
Preparação das ABNT NBR
RP e RP_HPA
Figura 1. Mapa Geológico – Mina de Pau Branco – MG amostras 6457:2016
Ensaio de ABNT NBR
RP
A amostra em polpa foi coletada na etapa final de Granulometria 7181:2018
Ensaio de Limite de ABNT NBR
desaguamento, conforme Figura 2, com um teor de RP e RP_HPA
Liquidez 6459:2016
umidade de campo de 22.93%.
Ensaio de Limite de ABNT NBR
RP e RP_HPA
Plasticidade 7180:2016
Ensaio de Resistência à ABNT NBR
RP e RP_HPA
Compressão Simples 12770: 2022
Ensaio de Adensamento ABNT NBR RP e
Unidimensional 16853:2020 RP_HPA

Os compósitos foram formados por meio da


mistura entre a matriz de rejeito e o estabilizante.
Primeiramente a mistura é feita a seco e
posteriormente é adicionada a água, de acordo com o
Figura 2. Local de coleta das amostras. teor de umidade definido para cada ensaio. Os
ensaios de compressão simples foram conduzidos a
2.2 Estabilizante HPA um teor de umidade de 22% com o objetivo de
simular as condições de campo. Na Figura 3 são
Como estabilizante foi utilizado um tipo de apresentados o RP e o HPA.
solidificante chamado de High Performance
Aglomerate (HPA). Ele é uma mistura de cinzas
vulcânicas, compostas em sua maioria por sílica e
alumina, e um polímero orgânico do tipo polyacrilato
de sódio. Nesta pesquisa os compósitos foram
formados por misturas de 80% de cinzas vulcânicas e
20% de polímero.
A mistura, nesta proporção, é proveniente de
fábrica e não foram feitas alterações em sua
composição. O HPA tem uma solidificação

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226
RP HPA
Figura 3. Materiais da pesquisa.

Apesar de muitos estudos comprovarem a eficácia


dos métodos de estabilização para melhoria das
propriedades dos rejeitos, não foi encontrado na Figura 4. Curva granulométrica.
literatura um método racional para dosagem destes
materiais com polímeros. Consoli et. al (2016) A massa específica dos grãos obtida foi de 3,34
propôs diversos estudos que avaliam a dosagem de g/cm³. Com relação aos limites de consistência
solos estabilizados com cimento e conclui que existe obteve-se um limite de liquidez (LL) de 22% e limite
uma relação entre a porosidade e o teor volumétrico de plasticidade (LP) de 18% para a amostra pura.
do cimento que permite estimar valores de resistência Para o compósito com teor de HPA de 0,06%, o LL
para misturas solo-cimento. Levando em obtido foi de 25% e o LP de 22,5%.
consideração estudos como os de Alelvan (2022), em De acordo com o Índice de Plasticidade (IP), de 4
que estudou-se a dosagem de um polímero para o RP e de 2,5 para o RP_HPA, os materiais
superabsorvente para estabilização de minério de foram classificados como ligeiramente plásticos e
ouro, iniciou-se os ensaios-teste com o compósito não-plástico, respectivamente.
(mistura de rejeito com o HPA) nas diferentes
dosagens. 3.2 Compactação Proctor Normal

3 RESULTADOS O ensaio de compactação foi realizado no rejeito puro


e nos compósitos com os teores de HPA de 0,005%
3.1 Ensaios de Caracterização (RP_HPA0) e 0,01% (RP_HPA1). As curvas são
apresentadas nas Figuras 5, 6 e 7, respectivamente.
A curva granulométrica obtida para o rejeito puro é
apresentada na Figura 4. Observa-se a presença de
16,1% de argila, 75,1% de silte, 8,4% de areia e 0,5%
de pedregulho. Desta forma, o rejeito foi classificado
como silte argiloso com pouca areia.

Figura 5. Curva de compactação – RP.

Figura 6. Curva de compactação – RP_HPA0.

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227
Tabela 3. Ensaio de Compressão Simples.
Tempo de Tensão de Deformação
Amostra Cura (dias) Ruptura de Ruptura
(kPa) (%)
2 50,94 4,5
RP
7 44,09 5
2 38,21 4
RP_HPA1
Figura 7. Curva de compactação – RP_HPA1. 7 66,2 5
2 39,19 3
RP_HPA2
Na Tabela 2 são apresentados os valores de 7 74,60 5
2 58,78 2
umidade e massa específica seca para as três RP_HPA4
7 98,95 5
amostras.
2 165,57 2,5
RP_HPA6
7 131,28 5
Tabela 2. Ensaio de Compactação.
Massa
Teor de umidade específica
Amostra
ótimo (%) seca ótima
(g/cm³)
RP 14,9 2,069
RP_HPA0 15,0 2,058
RP_HPA1 15,2 2,010

Observa-se que houve alteração, tanto no teor de


umidade ótimo, quanto na massa específica seca
ótima. A medida em que se adiciona o polímero
aglomerante, o teor ótimo aumenta. Apesar dos
aumentos não serem em escalas significativas,
entende-se que existe uma relação entre a absorção Figura 8. Curvas tensão-deformação
da água gerada pela ação do HPA com o aumento do
teor de umidade ótimo. Para maiores Os resultados apresentados na Tabela 3 e Figura 8
esclarecimentos, foram feitos ensaios de compressão correspondem à uma média dos ensaios em triplicata
simples apresentados no item a seguir. realizados. A determinação das curvas apresentadas
foi feita eliminando quaisquer curvas que estivessem
fora do comportamento esperado devido a possíveis
3.3 Compressão Simples erros na execução do ensaio. Por esse motivo, e por
melhor representação, os resultados são apresentados
O ensaio de compressão simples foi realizado para o com as médias das duas ou três curvas mais
RP e para o compósito com quatro dosagens de HPA, próximas.
sendo elas: 0,01% (RP_HPA1), 0,02% (RP_HPA2), Conforme pode ser visualizado, o aumento da
0,04% (RP_HPA4), e 0,06% (RP_HPA6). Os tensão de ruptura está diretamente relacionado ao
ensaios foram conduzidos em triplicata, a uma aumento do teor de polímero nas amostras, o que
velocidade de 0,9 mm/min para dois períodos de indica possíveis ganhos de resistência através da
cura: 2 e 7 dias. adição do HPA.
As curvas tensão deformação são apresentadas na A deformação de ruptura da maioria dos
Figura 8. Na Tabela 3 são apresentados os resultados compósitos foi de 5%, por essa razão, os ensaios
de ruptura para todas as amostras. foram realizados até a deformação limite de ruptura.
Devido a isso, não é possível observar todos os
estados de plasticidade da curva, mas infere-se, com
base nos ensaios e nos resultados até então
observados, que o polímero atribui um
comportamento mais elastoplástico ao rejeito.

3.4 Ensaio de Adensamento

O ensaio de adensamento foi conduzido para o rejeito


puro e para a amostra de RP_HPA4 com 7 dias de
cura. Nas Figuras 9 e 10 são apresentadas as curvas

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228
que relacionam o índice de vazio e a tensão de A seguir, tem-se os resultados dos Índices de
adensamento, para as amostras RP e RP_HPA4. Recompressão (Cr), de Compressão (Cc) e de Ex-
pansão (Cs) da amostra tratada com HPA.

(0,887 − 0,841)
Cr = = 0,046000
𝑙𝑜𝑔(130/13)
(0,819 − 0,724)
Cc = = 0,157792
log(800/200)
(0,887 − 0,724)
Cs = = 0,091105
log(800/13)

Comparando-se os resultados do ensaio de


adensamento da amostra virgem e da amostra tratada
com HPA, percebe-se que houve ligeira diminuição
nos valores dos coeficientes de adensamento, o que
Figura 9. Relação índice de vazios e tensão de pode indicar menor susceptibilidade ao adensamento
adensamento – RP. no caso da amostra tratada. Os índices de
recompressão, compressão e expansão denotaram um
A Tensão de Pré Adensamento foi obtido pelo comportamento próximo a este, uma vez que a
método de Pacheco e Silva e resultou em 149 kPa. A diminuição desses coeficientes indica que o rejeito
seguir, tem-se os resultados dos Índices de estabilizado com o polímero é menos suscetível ao
Recompressão (Cr), de Compressão (Cc) e de adensamento, e uma vez adensado, possui menor
Expansão (Cs) da amostra virgem. tendência à expansão.
(0,776 − 0,734)
Cr = = 0,039651 Quanto aos índices de vazios, observou-se houve
𝑙𝑜𝑔(149/13) aumento quando da adição de HPA, o que condiz
(0,719 − 0,616) com a explicação sobre a função do polímero
Cc = = 0,170083 superabsorvente, que absorve as soluções do meio ao
log(800/200)
qual está inserido e as libera gradativamente,
(0,776 − 0,616) deixando, ao final, uma estrutura com maior
Cs = = 0,089428 porosidade.
log(800/13)
3.5 Microscopia Eletrônica de Varredura

O MEV proporciona informações da morfologia e


identifica elementos químicos de uma amostra, sendo
um dos instrumentos mais indicados para análises de
características microestruturais de objetos sólidos.
Outra vantagem desse ensaio é a possibilidade de
obtenção das características tridimensionais das
amostras estudadas (DEDAVID et al. 2007).
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) foi
realizada para as amostras RP, HPA e RP_HPA4,
conforme Figuras 11, 12 e 13, respectivamente.

Figura 10. Relação índice de vazios e tensão de


adensamento – RP_HPA4.

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229
À primeira vista, é possível notar que as partículas
de HPA são consideravelmente maiores do que as
partículas do rejeito estudado, mas, na verdade,
podem ser aglomerações no HPA, que, conforme
observado pelas curvas granulométricas, podem ter-
se aderido à fração fina do rejeito, formando
partículas maiores. Cabe ressaltar que novas imagens
de MEV devem ser obtidas com maiores dosagens do
polímero para se verificar tais comportamentos.
Ademais, a estrutura dos grãos se apresenta em
textura botrioidal, com sua forma externa composta
por vários elementos arredondados. Essa forma está
relacionada ao crescimento do mineral a partir
principalmente de soluções coloidais. Neste sentido,
Figura 11. MEV - Amostra RP. seria interessante realizar ensaios como de perda de
massa por imersão, a fim de se analisar o
comportamento das amostras tratadas quando em
contato com a água.

3.6 Potencial Hidrogeniônico

O potencial hidrogeniônico (pH) foi obtido para a


amostra RP e RP_HPA4, utilizando o equipamento
chamado pHmetro. Para a primeira, obteve-se o valor
de 6,36 enquanto que para a segunda o valor de 6,73.
Observa-se assim que ambos podem ser classificados
como ácido-neutro, sendo que a estabilização não
altera a ionização do meio.
Figura 12. MEV - Amostra HPA.
4 DISCUSSÃO

Inicialmente, foram realizados os ensaios de


compactação na amostra virgem e em misturas com
0,005% e 0,01% de HPA, contudo, acredita-se que
devido às baixas dosagens utilizadas e à capacidade
absorvente do polímero, houve um ligeiro aumento
nos teores de umidade ótimos e uma diminuição da
massa específica seca com o aumento da adição de
polímero. Esse comportamento pode ser explicado
também juntamente com os resultados dos ensaios de
adensamento, que mostraram aumento do índice de
vazios na mistura com polímero, que o material
possui um tempo de hidratação, em que absorve a
Figura 13. MEV - Amostra RP_HPA04. água até sua capacidade total e depois, no processo
Observa-se, pelo imageamento, que as partículas de dessorção, libera essa água para o rejeito,
do rejeito possuem estrutura laminares, que se dispõe deixando vazios em seu interior, conforme fora
segundo um plano horizontal e não tendem a se observado por Mönnig (2009) em seus estudos em
apresentar alta porosidade e esferas arredondadas. meios cimentícios. Esperava-se que esse
Esse comportamento indica que a espessura das comportamento pudesse ser mais bem observado nas
partículas do rejeito de minério de ferro é pequena, o imagens de MEV, contudo, foram inconclusivas,
que é confirmado pela Figura 12, que mostra o ta- mesmo que pudesse ser notada uma redução dos
manho das partículas considerando a escala de vazios nas imagens das amostras com 0,04% de
50 µm. polímero e uma maior quantidade de material aderido

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


230
às superfícies dos grãos, isso pode estar associado ao ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
arranjo no equipamento. Novos ensaios com novas (2018). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas
dosagens serão realizados para avaliar esses
(2020). NBR 16853: Solo – Ensaio de Adensamento
comportamentos, em breve, com maior profundidade Unidimensional.
pelos autores, bem como sobre a capacidade de ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas (2022).
retenção de metais pesados e outras substâncias pelo NBR 12770: Solo – Determinação da Resistência à
polímero no caso dos rejeitos de mineração. Compressão Não Confinada de Solo Coesivo.
Quanto aos parâmetros de resistência, por meio ALELVAN, G. M. (2022). Análise Mecânica e
Microestrutural de Rejeito de Minério de Ouro
dos resultados dos ensaios de resistência à Estabilizado Com Solução Polimérica. Tese
compressão não confinada, foi identificado um (Doutorado em Geotecnia) — Universidade de
padrão de aumento da tensão de ruptura com o tempo Brasília, Brasília, 171p.
de cura e com o aumento do teor de polímero, sendo BARREDA, R. & VALADÃO, G. (2020). Polímeros
o teor de 0,04% selecionado como ótimo entre os Desaguadores Para Disposição de Rejeitos
Adensados. HOLOS. 8. 1-14.
analisados, visto que houve aumento nos dois tempos
10.15628/holos.2020.10884.
de cura quando comparados com a amostra virgem. GCCA, Associação Global de Cimento e Concreto
Sendo assim, nos ensaios de adensamento apenas este (2021). Global Cement dnd Concrete Industry
teor de HPA, juntamente com os dados da amostra Announces Roadmap To Achieve Groundbreaking
virgem, foi avaliado. “Net Zero” CO2 Emissions By 2050. Disponível
em:<https://gccassociation.org/news/global-cement-
and-concrete-industry-announces-roadmap-to-
achieve-groundbreaking-net-zero-co2-emissions-by-
5 CONCLUSÕES 2050/#:~:text=Production%20of%20cement%2C%20t
he%20key,of%20global%20CO2%20emissions>.
Ainda há muito a se avaliar sobre os comportamentos Acesso em 16 jan 2023.
dos rejeitos de mineração estabilizados com HPA, IBRAM, Instituto Brasileiro de Mineração (2021).
contudo, esses ensaios já demonstram certas Infográfico - Mineração Em Números - 2021.
tendências que poderão ser estudadas com maior Disponível em:
<https://ibram.org.br/publicacoes/?txtSearch=&check
profundidade, como o comportamento na resistência box-section%5B%5D=1236>. Acesso em 16 jan 2023.
à compressão simples, e com o que fora observado na JENSEN, O. M. & Hansen, P. F. (2001). Water-entrained
literatura, sobre a possível capacidade de Cement-based Materials I. Principles And Theoretical
encapsulamento de substâncias tóxicas pelo novo Background. Cement and Concrete Research 31,
material geotécnico, além da otimização das técnicas Aalborg, Denmark, 647-654.
MÖNNING, S. (2009). Superabsorbing Additions In
de filtração dos processos de empilhamento à seco, Concrete - Applications, Modelling and Comparison of
quando o polímero age como solidificante. Conforme Different Internal Water Sources. Stuttgart: Doktor
dito anteriormente, a dosagem ótima e tempos de cura thesis, Fakultät Bauund
também serão avaliados em novos ensaios. Umweltingenieurwissenschaften der Universität, 168
p.
AGRADECIMENTOS PACHECO, C. V. (2020). Concreto Aditivado Com
Pseudoboemita e Poliacrilato de Sódio. Tese
À Fonntes Geotécnica pelo total apoio à pesquisa e (Doutorado em Engenharia de Materiais e
Nanotecnologia) – Universidade Presbiteriana
pelo uso do polímero HPA, à Universidade Federal
Mackenzie, São Paulo, 107p.
de Minas Gerais (UFMG) pela disponibilidade dos
equipamentos e à empresa Vallourec pelas amostras
de rejeitos de minério de ferro.

REFERÊNCIAS

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas


(2016). NBR 6457: Amostras de solo – Preparação
para ensaios de compactação e de caracterização.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016).
NBR 6459: Solo – Determinação do limite de liquidez.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016).
NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
plasticidade.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


231
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo da Compactação de Solo Misturado com Resíduo de


Poliéster Reforçado com Fibras de Vidro
Cáio Machado da Silva
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, caio.machado@engenharia.ufjf.br

Cátia de Paula Martins


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, catia.martins@ufjf.br

Erica Machado Peres


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, erica.peres@engenharia.ufjf.br

RESUMO: O reforço de solos com resíduos é uma ação utilizada pela Geotecnia ambiental para contornar o problema da
crescente geração de resíduos. Sua aplicação, além de propor a reutilização, pode melhorar o comportamento de solos
naturais que não atendem às condições de projeto, viabilizando a aplicação em obras geotécnicas. Porém, a adição de
resíduos ao solo pode causar alterações em seu comportamento. O objetivo deste trabalho é analisar e avaliar os
parâmetros de compactação de um solo residual e laterítico argiloso após a adição de resíduo de poliéster reforçado com
fibras de vidro (PRFV). O PRFV é um material rígido de baixa densidade com alta resistência à tração, flexão e ao
impacto. O resíduo estudado foi separado por fibras com comprimento de 17 mm e misturado ao solo nos teores de 0,5%
e 0,75%. Foi realizado, então, o ensaio de compactação no cilindro Proctor pequeno na energia normal. Os resultados
indicaram um aumento do teor de umidade ótima e diminuição da massa específica aparente seca máxima, conforme o
aumento do teor de fibra. Com isso, conclui-se que a adição de fibras aumenta a porosidade do solo. Ainda, ao analisar
visualmente e ao tato, as fibras foram satisfatoriamente aderidas à matriz o que ressalta a importância de avaliar os
parâmetros de resistência do compósito.

PALAVRAS-CHAVE: Reforço de Solo, Resíduo, Solo Argiloso, Poliéster Reforçado com Fibra de Vidro, Compactação.

ABSTRACT: Soil reinforcement with residue is an action used by Environmental Geotechnics to overcome the problem
of increasing residue generation. It’s application, in addition to proposing reuse, can improve the behavior of natural soils
that do not meet the project conditions, enabling the application in geotechnical works. However, the addition of residues
to the soil can cause changes in its behavior. The objective of this work is to analyze and evaluate the compaction
parameters of a clayey residual and lateritic soil after the addition of fiberglass reinforced polyester (GRP) residue. GRP
is a low-density rigid material with high tensile, flexural and impact strength. The residue studied was separated by fibers
with a length of 17 mm and mixed with the soil at the contents of 0.5% and 0.75%. The compaction test was then
performed on the small Proctor cylinder at normal energy. The results indicated an increase in the optimum moisture
content and a decrease in the maximum dry apparent specific mass, as the fiber content increased. With this, it is concluded
that the addition of fibers increases the porosity of the soil. Furthermore, when analyzing visually and at-touch, the fibers
were satisfactorily adhered to the matrix, which emphasizes the importance of evaluating the resistance parameters of the
composite.

KEY WORDS: Soil Reinforcement, Residue, Clayey Soil, Fiberglass Reinforced Polyester, Compaction

responsável por estudar esse material, natural


formado próximo a superfície, é a engenharia
1 INTRODUÇÃO geotécnica. Esse ramo engloba a aplicação dos
conceitos de mecânica dos solos, ou seja,
O solo é um material muito utilizado na conhecimento das propriedades físicas e
Engenharia Civil, por isso, é muito importante que os comportamento, até o desenvolvimento de estruturas
engenheiros estudem suas diversas propriedades, seja que se aproveitam desse material (DAS e SOBHAN,
origem, tamanho dos grãos, resistência ou capacidade 2014).
de carga. A subdisciplina da engenharia civil Na Geotecnia básica, é visada a compreensão dos

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232
aspectos técnicos para a proposta de soluções método de ensaio bastante utilizado para obter
geotécnicas aplicada como: mecânica dos solos e resultados para essa condição é o Ensaio de
rochas, taludes, muros de arrimos, escavações e Compactação.
fundações. Quanto à Geotecnia aplicada, as áreas
presentes são: engenharia de barragens, engenharia 2.2 Reforço de Solos com Fibras
de fundações, engenharia de pavimentação,
engenharia de túneis e a Geotecnia Ambiental O reforço do solo empregando fibras é uma
(PELAQUIM, 2021). técnica utilizada desde a antiguidade com a utilização
Segundo Boscov (2008), a Geotecnia Ambiental é de hastes de bambu e junco no reforço de tijolos de
um segmento da Engenharia Geotécnica que visa barro e solos granulares (CASAGRANDE, 2005).
mitigar os impactos antrópicos gerados sobre o meio Também, Palmeira (1992), aponta a utilização de
ambiente. Ainda, essa área abrange algumas funções, misturas de raízes, toras ou lã ao solo para diversos
tais como: o monitoramento de disposição de tipos de construções civis.
resíduos, prevenção da contaminação do solo e águas A escolha dos elementos fibrosos é em função a
subterrâneas, recuperação de áreas degradadas e sua elevada resistência a tração. A combinação deste
reutilização de resíduos em obras geotécnicas. material a matriz, surge um terceiro produto a agrega
Uma ação utilizada, portanto, no segmento da as propriedades de ambos. Para o caso esse caso, o
Geotecnia ambiental, é a reutilização de resíduos em acréscimo de resistência à tração de compósitos com
obras geotécnicas, por exemplo, reforços de solo. adição de fibras é a propriedade mais importante
Apesar de ser um elemento crítico para vários setores obtida pela estabilização, de acordo com Houben e
da engenharia, muitas vezes as condições dos solos Guillaud (1994, apud GUEDES PINTO, 2008).
naturais não atendem as exigências e especificações Para Bento (2006), a inclusão de fibras ao solo é
de projeto (BRITO e PARANHOS, 2017). Para uma parte integrante da tecnologia dos materiais
contornar este problema é proposta a estabilização, compósitos. A combinação de materiais, constitui um
que basicamente, consistem em um processo para conjunto polifásico de duas fases: as fibras e a matriz.
melhorar as características do solo. Ainda, as propriedades do conjunto são superiores
Na estabilização física, para melhorar as aos elementos separados, sendo a fase descontínua
propriedades do solo é alterada sua textura utilizando (as fibras) responsáveis pela resistência aos esforços
do emprego de um ou mais materiais seja, por externos e o solo, o meio de transferência para esses
exemplo, por correção granulométrica ou adição de esforços.
fibras (GUEDES PINTO, 2008). Também, Barbosa e Ghavami (2007), apresentam
Dessa forma, o presente artigo busca analisar que, além do ganho de resistência à tração, a inserção
aspectos relevantes da bibliografia e avaliar a de fibras de baixo ou alto módulo de elasticidade em
tendência dos parâmetros de compactação de um solo matrizes de solo pode impedir a fissuração durante a
após a inclusão de resíduo de Poliéster Reforçado secagem e oferecer-lhe maior ductibilidade e
com Fibra de Vidro (PRFV) visando despertar para o capacidade de absorção de energia.
potencial uso de misturas solo-fibra em obras de terra Existem diversos tipos de fibras que podem ser
além de promover a reutilização de um resíduo de utilizadas para esse propósito. Para Feuerharmel
difícil descarte. (2000), o comportamento da matriz-reforço está
diretamente relacionado ao material ao qual é
2 REVISÃO BIBIOGRÁFICA composta e seu processo de fabricação. Também,
outros fatores afetam o desempenho do compósito
2.1 Estabilização física e mecânica do solo que “[...] é controlado principalmente pelo teor e pelo
comprimento da fibra, pelas propriedades físicas da
Segundo Van Impe, (1989, apud fibra e da matriz e pela aderência entre as duas fases
CASAGRANDE, 2005), classifica o processo de (Hannant, 1994). Johnston (1994) acrescenta o efeito
estabilização do solo em temporária, permanente e da orientação e distribuição da fibra na matriz.”
permanente com adição de novos materiais. Esta (HEINECK, 2002).
última normalmente combina a compactação com a Outros fatores apresentados acima, são
adição de um novo material como é o caso da adição justificados por Taylor (1994 apud CASGRANDE,
de PRFV. 2005), conforme descrito a seguir:
O processo de estabilização atua, por meios
mecânicos, visando aumentar a densidade do solo
que implica no aumento da resistência. O resultado é
obtido pela redução de vazios, ao submeter o solo a
uma energia imposta (GUEDES PINTO, 2008). Um

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233
O Polímero Reforçado com Fibra de Vidro é um
material compósito de baixa densidade formado por
uma matriz polimérica junto a um reforço (fibra de
vidro) e uma substância catalisadora de
polimerização (ORTH, BALDIN e ZANOTELLI,
2012). A matriz polimérica apresentada neste
trabalho é o poliéster.
Segundo Garcia (2009), o material é leve, rígido e
apresenta resistências mais elevadas à tração, flexão
e ao impacto. O PRFV tornou-se, então, bastante
utilizado na indústria para a fabricação de piscinas,
caixas d’água, carrocerias e hélices.
Figura 1. Formas de distribuição das fibras em uma
matriz. (Fonte: ASKELAND, 1990 apud BENTO, 2006)
2.3.1 Fibras de Poliéster
2.2.1 Teor de fibra
Feuerharmel (2002) sugere que as fibras
poliméricas podem ser as mais promissoras no
Um elevado teor de fibra pode proporcionar maior emprego de reforços de solos. Dentro dessa família,
resistência pós-fissuração e menor dimensão das ainda é possível obter diferentes tipos de fibras com
fissuras, sendo necessário que as fibras possam diferentes comportamentos, devido as suas estruturas
absorver as cargas adicionais causadas pelas fissuras. químicas.
Uma das fibras polimérica é o Poliéster que, de
2.2.2 Comprimento da Fibra acordo com Taylor (1994 apud CASAGRANDE,
2005), possui alta densidade, rigidez e resistência. O
O aumento do comprimento das fibras diminui a alto consumo desse polímero é uma grande
possibilidade de arrancamento das mesmas. Caso o preocupação ambiental, visto ao grande volume
comprimento seja suficiente, para uma dada tensão ocupado durante a disposição final em aterros
cisalhante, permitir que essa tensão seja desenvolva sanitários (BENTO, 2006).
uma tensão trativa igual sua resistência a tração,
mostra uma melhor utilização. 2.3.2 Fibras de Vidro
Além do comprimento, também é evidenciada a
importância do diâmetro da mesma. A relação O processo de fabricação das fibras de vidro é
comprimento/diâmetro (l/d), ou fator de forma, é realizado na forma de fios compostos de centenas de
“[...] proporcional ao quociente entre a resistência a filamentos individuais justapostos. O diâmetro dos
tração e a resistência da aderência da fibra/matriz.” filamentos individuais é de cerca de 10 μm
(TAYLOR, 1999 apud HEINECK, 2002). Portanto, (TAYLOR, 1999 apud FEUERHARMEL, 2000).
caso uma fibra tenha alta resistência a tração é Esse material geralmente é manufaturado em vidro
necessário que a resistência a aderência também seja tipo E que é suscetível ao ataque dos álcalis.
alta a fim de evitar o arrancamento ou então a fibra
deve possuir alta relação l/d. A ideal disposição da 2.4 Solo Residual
fibra em relação a fissura e o equacionamento do
equilibrio de forças pode ser observado a seguir: Muitos maciços rochosos são formados em
condições de pressão e temperatura distintas da
superfície ou próximo a ela. Sua adaptação quando
em contato com a atmosfera conduz o intemperismo
ou meteorização. Quando esses processos de
desintegração física em partículas menores e
decomposição química ocorrem mais rapidamente
que os processos de erosão e transporte de
sedimentos, é formado no local da rocha-mãe,
Figura 2. Disposição da fissura e relação l/d (Fonte: maciços terrosos conhecidos como solos residuais
TAYLOR, 1994 apud HEINECK, 2002) (FERNANDES, 2016).

2.3 Compósito de Poliéster Reforçado com Fibra 2.5 Compactação do solo


de Vidro (PRFV)
De acordo com Queiroz (2016), os solos são

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234
materiais compostos por três fases. A primeira é a
fase sólida que abrange minerais e matéria orgânica,
a segunda fase é a líquida que é composta
principalmente pela água e a terceira é a fase gasosa,
composta por ar e outros gases.

Figura 3. Composição de um solo (Fonte: QUEIROZ, Figura 4. Talude da PROINFRA (Fonte: MELO, 2020)
2016)
Esse solo tem sido utilizado em trabalhos de
A compactação do solo, surge da necessidade de outros autores. Com isso, as características físicas já
estabilizar um solo na obra visando reduzir sua determinadas foram aproveitadas para essa pesquisa.
permeabilidade e aumentar a resistência (CAPUTO, Segundo Oliveira Junior (2014), o solo apresenta
2022). Segundo Bodó e Jones (2017), esse processo massa específica dos grãos de 2,82 g/cm³. A
ocasiona a expulsão de ar em um solo, e quando composição granulométrica obtida por Silva e Leite
parcialmente saturado, causa efeito de aumento da (2015), contendo 63% de argila, 31% de areia, 4% de
massa específica e diminuição da permeabilidade. silte e 2% de pedregulho, conforme Figura 5. A
Ainda, segundo os autores, o rearranjo das partículas Figura 5, também apresenta a curva granulométrica
propicia o aumento da resistência ao cisalhamento. sem uso de defloculante (linha tracejada), que gera
Para os efeitos da inclusão de fibras na uma classificação de areia siltosa.
compactação, AL Wahab e Al-Qurna (1995, apud.
FEUERHARMEL, 2002), avaliaram os efeitos da
inserção de várias quantidades na curva de
compactação de uma argila. Através dos ensaios
apontaram um decréscimo da massa específica
aparente seca máxima (ρd, máx) e aumento da umidade
ótima (ωótimo).
Outros autores como Lopes e Casagrande (2019),
Oliveira Júnior et al. (2019), Feuerharmel (2002)
também obtiveram em seus resultados uma redução
do ρd, máx, enquanto, um pequeno aumento da ωótimo.

3 MATERIAIS E MÉTODOS Figura 5. Curva Granulométrica do solo. (Fonte: SILVA e


LEITE, 2015)
3.1 Materiais
Dessa forma, para o solo utilizado, Melo (2020),
3.1.1 Solo definiu a curva de compactação obtendo os valores
de teor de umidade ótima (ωótimo) igual a 23,4% e uma
O solo utilizado no presente artigo se caracteriza massa específica aparente seca máxima (ρdmáx) de
como um solo residual e laterítico argiloso. As 1,624 g/cm³, na Energia Normal (Figura 6).
amostras foram recolhidas no campus da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em um
talude (Figura 4) próximo a Pró-reitoria de
Infraestrutura de Gestão (PROINFRA).

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235
proposta a realização com a proporção de 0,75% para
verificar se existe um possível aumento das
propriedades.

3.2 Métodos
3.2.1 Ensaio de Compactação

O ensaio de compactação é descrito pela NBR


7182 da ABNT (2016a), onde o objetivo é determinar
a relação entre a massa específica aparente seca (ρd)
e o teor de umidade (ω) de um corpo de prova
compactado a uma determinada energia. Para o
Figura 6. Curva de compactação do solo puro (MELO, ensaio este trabalho, foi realizado o ensaio sem reuso
2020) de material, na energia Normal.
O solo foi previamente preparado, conforme a na
3.1.2 PRFV norma NBR 6457 da ABNT (2016b), e umidade
higroscópica medida, é realizada a mistura com os
O material de estudo presente neste trabalho é o resíduos para os teores determinados. Para a
poliéster reforçado com fibra de vidro (PRFV). Se determinação das quantidades de solo e fibra da
trata de um resíduo (Figura 7) gerado na fabricação mistura, foi utilizada a seguinte relação:
de reservatórios de água.
𝑀 =𝑀 ⋅ 𝑇% (1)

𝑀 =𝑀 −𝑀 (2)

Onde:
𝑀 = Massa total de material seco para realização
do ensaio, prevista na norma
𝑇% = Teor de fibra a ser adicionado
𝑀 = Massa total de fibra
𝑀 = Massa total de solo

Foram determinadas, então, as curvas de


compactação para o solo acrescido de 0,5% de fibras
e com 0,75% de fibras compactados em cilindro
Proctor pequeno, na energia normal em corpos de
prova com aproximadamente 2,0% de teor de
umidade de diferença entre eles.
Figura 7. Resíduo PRFV (Autor, 2022)

As fibras de vidro possuem características de


filamento bastante flexíveis com comprimento
característico de 17 mm. O resíduo é formado pelas
fibras agrupadas em disposição aleatória pelo
polímero de coloração azulada ou esverdeada.

3.1.3 Mistura Solo-Fibra

A mistura entre o solo e a fibra seguiram os


levantamentos realizados por Ildefonso (2021). A
maior parte dos trabalhos levantado pela autora
apresentam que para variados tipos de fibras, a
proporção de 0,5% da massa do material em relação
a massa de solo corresponde a proporção ideal para Figura 8. Corpo de Prova compactado (Fonte: Autor,
maior ganho de resistência. 2022)
Após adotado 0,5% como referência, também foi

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236
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Casagrande (2019), Motta (2018) e Moraes e Silva
(2018) que também utilizaram o teor de 0,5%, em
4.1 Pesquisa Bibliográfica todos os casos, o aumento ωótimo, foi de
aproximadamente 2,0%.
Através da pesquisa bibliográfica foi possível A partir dos resultados é possível inferir que a
associar o aumento do teor de fibras em uma matriz diminuição no ρdmáx após a adição de fibras foi
com a queda da massa específica seca máxima na causada pelo fato do resíduo possuir densidade
compactação e o aumento da resistência ao inferior às partículas sólidas do solo, bem como por
cisalhamento, tanto de pico como a redução da queda contribuir para o aumento da porosidade da mistura.
de tensão pós-pico. Também, o aumento da Quanto ao aumento do ωótimo, constata-se que a
porcentagem de fibra na mistura, provoca um mistura do solo com esse tipo de fibra mostra maior
aumento da resistência à compressão simples. dependência pela água ao ser compactada.
Para a obtenção de melhores parâmetros de
resistência, foi observada a importância do teor de 5 CONCLUSÕES
umidade. Assim como apresentado por Trindade et
al. (2004), a máxima resistência está associada ao De forma geral, os resultados encontrados nesta
teor de umidade ótimo. pesquisa apontam semelhanças com outros estudos
(Lopes e Casagrande, 2019, Noberto, 2019, Motta,
4.2 Compactação 2018, Rocha, 2019 e Oliveira Júnior et al.,2019) de
misturas solo-fibra. A inclusão de fibras ao solo não
Os resultados de ρd,máx e ωótimo obtidos a partir da mostrou ganho de massa específica seca máxima,
curva de compactação foram, respectivamente, para contribuindo ainda para o aumento do teor de
o teor de 0,5% iguais a 1,564 g/cm³ e 25,18%, umidade ótimo.
enquanto que para o teor de 0,75% foram 1,576 Com os resultados obtidos, é possível concluir
g/cm³ e 25,77% (Figura 9). também que o aumento nos teores de fibra não causou
É possível observar que a inserção de fibras influência significativa entre os parâmetros de
ocasionou uma redução do ρd,máx bem como o compactação para as misturas. Entretanto, constata-
aumento da ωótimo ao ser comparado com o solo puro, se uma diferença considerável ao comparar estes
1,624 g/cm³ (ρd, máx) e 23,4% (ωótimo), como mostra a resultados com aqueles do solo puro.
Figura 9. Destaca-se ainda que durante a realização do
Nota-se que os resultados obtidos para as misturas ensaio, a homogeneização da mistura para o teor de
obtiveram características semelhantes observadas por PRFV igual a 0,75%, foi mais difícil. Com isso,
Lopes e Casagrande (2019), Barbosa Silva (2016), desperta-se para a importância da avaliação técnica
Motta (2018), Noberto (2019), Moraes e Silva desta preparação em grande escala.
(2018), Rocha (2019) e Oliveira Júnior et al. (2019), Por outro lado, a análise táctil-visual permitiu
onde existe uma redução do ρdmáx junto de um notar a boa aderência da fibra ao solo, despertando
crescimento do ωótimo quando incluídas fibras ao solo. para o fato de que a mistura solo-fibra possa
apresentar ganho de resistência à ruptura do solo, o
que requer investigação laboratorial.
Ainda se faz importante realizar investigações
laboratoriais adicionais, como os ensaios de
compressão simples, cisalhamento direto e
permeabilidade, com o propósito de verificar a
influência da fibra nos parâmetros de resistência, na
porosidade e índice de vazios. Tais estudos apoiariam
a indicação do uso da fibra como material
reaproveitado para reforço de solos, contribuindo
assim para a disposição sustentável desse resíduo.

Figura . Curvas de compactação (Fonte: Autor, 2022)

O ωótimo sofreu um aumento de 1,78% para o teor


de 0,5% de fibra. Ao comparar com Lopes e

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237
AGRADECIMENTOS como reforço em matrizes de solo. Dissertação de
Mestrado, Programa de Pós-graduação do
Os autores agradecem à Universidade Federal de Juiz Departamento de Engenharia Civil, PUC-Rio, 106p.
de Fora (UFJF) pelo apoio à realização desta Heineck, K. S. (2002). Estudo do comportamento
hidráulico e mecânico de materiais geotécnicos para
pesquisa.
barreiras horizontais impermeáveis. Tese de
Doutorado, Programa de Pós-graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande
REFERÊNCIAS do Sul, Porto Alegre, 2002, 251p.
Ildefonso, R. S. (2021). Estudo da utilização de fibras em
ABNT (2016a). NBR 7182: Solo - Ensaio de misturas com solos para aplicação na geotecnia.
Compactação. Associação Brasileira De Normas Trabalho de Conclusão de Curso, Faculdade de
Técnicas, Rio de Janeiro, 9p. Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de
ABNT (2016b). NBR 6457: Amostras de solo - Fora. 117 p.
Preparação para ensaios de compactação e ensaios de Lopes, M. M., Casagrande, M. D. T. (2019). Estudo do
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239
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo da Resistência de Misturas Solo e Rejeito de Minério de


Ferro
Vivian Bignoto da Rocha Cândido
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, vivian.bignoto@estudante.ufjf.br

Vivian Toledo Lippi


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, vivian.lippi@engenharia.ufjf.br

Rhaffaela Fernandes Silva


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, rhaffaela.fernandes@estudante.ufjf.br

Cátia de Paula Martins


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, catia.martins@ufjf.br

Mário Riccio Filho


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mario.riccio@ufjf.br

RESUMO: A exploração de minério de ferro é algo realizado em grande escala no Brasil e no mundo. Nesse processo,
são gerados resíduos que, destinados de forma inadequada ou sem monitoramento, representam uma ameaça ao meio
ambiente e à vida. As obras geotécnicas exigem grandes quantidades de material, principalmente solo. Sabe-se que, a
depender da finalidade, as propriedades e características do solo podem ser alteradas ao se misturar este material com
outros; o presente estudo buscou compreender a tendência de comportamento dos parâmetros de resistência à compressão
simples (RCS) e de resistência ao cisalhamento direto (RCD) em diferentes proporções de misturas de solo com rejeito
de minério de ferro (RMF), avaliando a influência que esse rejeito tem no solo residual. A caracterização do RMF e os
ensaios de RCS e RCD de solo, rejeito e misturas, foram feitos de acordo com as normas técnicas correspondentes e
compreenderam as etapas de preparação de material, homogeneização, compactação, moldagem de corpos de prova e a
realização do ensaio propriamente dito. Os resultados apontam que adicionar RMF ao solo melhora seus parâmetros de
RCS, módulo de elasticidade inicial e coesão; isso é bastante promissor, indicando melhor desempenho do material em
questões de resistência e elasticidade. Uma vez que o solo é um recurso natural não renovável e que a exploração de
minério de ferro causa impactos ambientais consideráveis, utilizar RMF em mistura com solo contribui para a destinação
útil e adequada deste material, além de reduzir a exploração de jazidas de solo.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia, solo residual, rejeito de minério de ferro, sustentabilidade.

ABSTRACT: The exploration of iron ore is carried out on a large scale in Brazil and in the world. In this process waste
is generated that, if disposed of improperly or without monitoring, pose a threat to the environment and to life.
Geotechnical works require large quantities of material, mainly soil. It is known that, depending on the purpose, the soil
properties and characteristics can be altered by mixing this material with others; The present study sought to understand
the behavior trend of the parameters of simple compressive strength (SCS) and direct shear strength (DSS) in different
proportions of mixtures of soil with iron ore tailings (IOT), evaluating the influence that this tailings has in the residual
soil. The characterization of the IOT and the tests of SCS and DSS of soil, waste and mixtures, were carried out in
accordance with the corresponding technical standards and included the steps of material preparation, homogenization,
compaction, molding of test specimens and carrying out the test itself. The results indicate that adding IOT to the soil
improves its SCS parameters, initial elastic modulus and cohesion; this is quite promising, indicating better material
performance in terms of strength and elasticity. Since soil is a non-renewable natural resource and the exploitation of iron
ore causes considerable environmental impacts, using IOT in a mixture with soil contributes to the useful and proper
disposal of this material, in addition to reducing the exploitation of soil deposits.

KEY WORDS: Geotechnics, residual soil, iron ore waste, sustainability

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240
1 INTRODUÇÃO Em relação às características mecânicas, foi
obtido um Índice de Suporte Califórnia (ISC), para a
A indústria mineradora representa uma parcela Energia Normal de Compactação, de 9% e expansão
importante da economia brasileira, cujo principal de 0,4% (BASTOS et al., 2016) e 23,4% e expansão
metal explorado é o minério de ferro, com cerca de de 0,02% (CAMPANHA, 2011). A resistência à
70% da produção total dos metálicos (ANM, 2021). compressão simples (RCS) apresentou valores de
Entretanto, como produto inerente a esta atividade, 0,03 MPa (OLIVEIRA et al; 2019), 0,37 MPa
há a geração de um grande volume de material com (DANTAS, 2019) e 0,75 MPa (BASTOS et al; 2016).
pouco ou nenhum valor econômico. Estes materiais Por fim, os parâmetros obtidos pelo ensaio de
são chamados de estéreis e rejeitos. O primeiro é Resistência ao Cisalhamento Direto (RCD) dos
composto por minérios pobres que não são rejeitos estudados apresentaram valores de 33,8º e
interessantes de serem explorados economicamente, 8,75 kPa (CARNEIRO, 2020) e 42º e 40 kPa
e o segundo provém da extração e beneficiamento do (FONSECA e VILLAR, 2014).
minério (CAMPANHA, 2011). Neste contexto, a presente pesquisa tem como
Dessa forma, o rejeito de minério de ferro (RMF) objetivo contribuir para a obtenção dos parâmetros
se apresenta em forma de poupa ou lama. Suas físicos e mecânicos de um rejeito de minério de ferro
frações granulométricas são, normalmente, de areias e suas misturas com um solo residual. Para isto,
e silte, e as suas características químicas dependem foram estudadas as granulometrias dos materiais e os
do minério de origem e das substâncias usadas ao parâmetros obtidos da RCS e da RCD.
longo do processo de mineração. Além disso, o
rejeito pode ser produzido por separação magnética, 2 METODOLOGIA
quando há a suscetibilidade magnética para tal
processo, e por flotação, aplicada ao minério com 2.1 Materiais
baixos teores de ferro e granulometria fina, com
possibilidade de recuperação de parte do mineral O RMF foi cedido por uma mineradora de
(CAMPANHA, 2011; ARAÚJO, 2006). Congonhas, MG. De acordo com as informações da
Como o volume de material gerado após o empresa, foi retirado de camadas controladas de
processo de extração e beneficiamento do minério de pilhas de rejeito e o minério de origem era o itabirito.
ferro é na ordem de 2/1 entre produto gerado e rejeito, Este rejeito foi estudado por Cândido et al. (2020)
tem-se havido a preocupação com uma destinação para obtenção das característicias iniciais. Assim, o
mais nobre desse rejeito (ABRÃO, 1987, apud rejeito apresentou granulometria predominante de
BASTOS, 2013). Assim, o conhecimento das silte (59%), seguido de areia (27%) e argila (14%),
propriedades do material é de suma importância para cuja densidade relativa dos grãos foi de 2,924. Sua
a invetigação de possíveis aplicações. Dentro da constituição química é composta por óxidos de ferro
Geotecnia, em especial, há a grande utilização de solo (56,5%) seguidos por óxidos de silício (32,2%),
como material de constução nas obras geotécnicas. óxidos de alumínio (8,86) e demais óxidos, em menor
Este solo, entretanto, pode necessitar de técnicas de proporção. Já os parâmetros ótimos de compactação,
estabilização para que se atinja os parâmetros de na Energia Normal, apresentaram pdmáx = 2,130 g/cm³
interesse, como pelos processos físicos, mecânicos, e wótimo = 10,5%.
químicos e térmicos (WINTERKORN e Já o solo foi extraído de um talude na
PAMUKCU, 1991). O rejeito pode ser, então, Universidade Federal de Juiz de Fora. Esse solo é
utilizado como susbstituto parcial ou total do solo, normalmente utilizado em algumas pesquisas da
como apontado nas pesquisas de Silveira et al. instituição, de onde se conhece alguns parâmetros,
(2018), Rodrigues et al. (2019) e Barati et al. (2020). como os obtidos por Barletta (2021) e que foram
O RMF pode apresentar propriedades utilizados nesse trabalho. A granulometria é
heterogêneas em razão dos diferentes tipos de composta por frações de argila (57,1%), areia
minério explorados, da posição da retirada das (33,6%), silte (8,4%) e pedregulho (0,9%), com
barragens e das pilhas e também do tipo de densidade relativa dos grãos de 2,81. Os parâmetros
beneficiamento (MACHADO, 2007). Em relação às ótimos, na Energia Normal, são de pdmáx = 1,54 g/cm³
características físicas, tem-se visto que as frações e wótimo = 26,8%. A constituição química, por sua vez,
granulométricas compreendem as areias finas e siltes, foi obtida por Cândido et al. (2020), com
cuja massa específica dos graõs está na faixa de 2,92 predominância de óxidos de alumínio (43,8%)
g/cm³ a 3,20 g/cm³. Já os principais óxidos seguido por óxidos de ferro (26,5%), óxidos de silício
encontrados na composição química são os óxidos de (25,2) e demais óxidos, em menor proporção.
ferro e silício (GOMES, 2019; DANTAS, 2019; Por fim, as misturas de solo e rejeito seguiram o
CÂNDIDO et al., 2020). estudado por Cândido et al. (2020) e os seus valores

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241
de porcentagem de rejeito em relação à massa total A moldagem dos CPs para o ensaio de resistência
seca e os parâmetros ótimos de compactação são à compressão simples a partir do CP compactado no
apresentados na Tabela 1. cilindro Proctor se deu por molde em PVC bipartido
(Figura 1), preparado especificamente para esta
Tabela 1. Características das misturas (AUTORES, 2023). finalidade, com dimensões iguais a 10 cm de altura e
% de wótimo 5 cm de diâmetro. A moldagem do CP era feita
Mistura pdmáx
RMF (%) manualmente com o uso de um extrator de amostra
M1 25 1,735 21,4 de solo e de um utensílio cortante. À medida que
M2 50 1,819 18,3 ocorria a cravação do molde no CP compactado de
M3 75 1,991 14,7 solo, este sofria cortes para a moldagem. Finalizada
a moldagem, realizava-se a etapa de rasamento do CP
e de abertura do molde em PVC, com cuidado para
2.2 Métodos não danificá-lo.

2.2.1 Coleta e preparo de materiais

O solo foi coletado de acordo com a NBR 9604


(ABNT, 2016). Solo e rejeito foram dispostos em
bandejas para a secagem até a umidade higroscópica
e foram preparados conforme a NBR 6457 (ABNT,
2016). Já as misturas foram feitas em relação à massa
seca de material total.

2.2.2 Granulometria e índices físicos

A granulometria foi realizada para o solo e para as Figura 1. Molde de PVC usado para moldagem do corpo
misturas conforme a NBR 7181 (ABNT, 2016), que de prova compactado (AUTORES, 2023).
determina os procedimentos para a análise
granulométrica por meio da sedimentação e É importante destacar que este ensaio de RCS foi
peneiramento. Para a densidade dos grãos, foi realizado somente para o solo puro e para as misturas
seguido o preconizado pela DNER ME 093 (DNER, M1 e M2, uma vez que houve diversas tentativas de
1994), com um picnômetro de 500 ml. Esse ensaio moldagem de CPs para M3 e para o rejeito puro, mas
foi realizado apenas para o solo, uma vez que não todas sem sucesso, sempre com o CP apresentando
seria representativo para as misturas. Dessa forma, as fissuras e até mesmo quebrando ao retirar o molde.
densidades dos grãos foram adotadas, de acordo com Além disso, por este método, foi possível moldar dois
a média ponderada, como 2,831 g/cm³, 2,863 g/cm³ e corpos de prova para cada material, sem que
2,894 g/cm³ para, respectivamente, M1, M2 e M3. houvesse trincas aparentes na superfície dos CP’s.
Foi optado por refazer a granulometria do solo a Após a preparação e cura, os CPS foram levados
fim de se comparar com os resultados de Barletta para a prensa e submetidos à uma aplicação de carga
(2021) e confirmar o local e horizonte retirado. com velocidade de 1 mm/min, que corresponde a 1%
da altura do CP. Assim, buscou-se determinar (para o
2.2.3 Resistência à compressão simples solo puro e para M1 e M2) a Resistência à
Compressão Simples Máxima (RCS) e o Módulo de
O ensaio de RCS foi realizado em corpos de prova Elasticidade Inicial (𝐸𝑖 ), obtidos da curva de
(CPs) de solo, rejeito e misturas solo-rejeito, de tensão/deformação.
acordo com o preconizado pela NBR 12270 (ABNT,
2022). As amostras foram moldadas com dimensões 2.2.4 Resistência ao Cisalhamento Direto
pré-definidas, a partir de CPs compactados no
cilindro Proctor, na Energia Normal, para os O ensaio de RCD foi realizado para as misturas de
parâmetros do ensaio de compactação solo com rejeito de minério de ferro (M1, M2 e M3)
correspondentes, cujos valores foram obtidos por e para o rejeito puro, de acordo com a norma ASTM
Cândido et al. (2020). Todas as amostras 3080 (ASTM, 1998). Cada material foi ensaiado uma
permaneceram em cura ao ar durante 48h antes de única vez, sem repetição, para cada tensão. Para o
serem levadas à prensa para o rompimento. O solo, os resultados serão aproveitados de Abrantes
procedimento de compactação foi realizado em (2022).
conformidade com a NBR 7182 (ABNT, 2016). Os corpos de prova foram moldados na Energia

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242
Normal de Compactação, transferidos parcela de grãos utilizada nas amostras e nas
individualmente para a caixa de cisalhamento e limitações dos métodos.
submetidos à etapa de saturação, com registros do
deslocamento vertical. As tensões normais adotadas 3.2 Resistência à compressão simples
e aplicadas sob cada CP foram de 25 kPa, 50 kPa, 100
kPa e 200 kPa. A etapa de adensamento ocorreu para As Figuras 3, 4 e 5 apresentam, respectivamente, a
a tensão normal correspondente ao CP até a curva de tensão x deformação do solo, M1 e M2.
estabilização da deformação vertical específica. A
velocidade utilizada na etapa de cisalhamento foi
fixada em 1 mm/min, com base na etapa de
adensamento. Por fim, cada amostra foi cisalhada até
o curso máximo da prensa e registrados os valores de
deslocamento horizontal e força tangencial.
Com este ensaio obtém-se ângulo de atrito efetivo
e coesão efetiva do material em estudo, através da
envoltória de Coulomb.
Figura 3. Curva de tensão por deformação do solo
(AUTORES, 2023).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Granulometria

A curva granuométrica dos materiais é apresentada


na Figura 2. A curva do RMF foi retirada de Cândido
et al. (2020).

Figura 4. Curva de tensão por deformação de M1


(AUTORES, 2023).

Figura 5. Curva de tensão por deformação de M2


(AUTORES, 2023).
Figura 2. Curvas granulométricas dos materiais
(AUTORES, 2023). Os resultados finais do ensaio de Resistência à
Compressão Simples para todos os materiais foram
O solo é composto predominantemente de argila, compilados na Tabela 2.
enquanto o rejeito, por silte. Desta forma, conforme
o esperado, as misturas apresentaram ganho gradual Tabela 2. Parâmetros de RCS para todos os materiais
da fração silte com diminuição da fração de argila. ensaiados (AUTORES, 2023).
Na mistura M2, em especial, é possivel ver a
porcentagem de 35% de argila, 35% de silte e 30% Amostra RCS (kPa) 𝐸𝑖 (MPa)
de areia. Nota-se que, em relação às frações, o
comportamento é similar ao que seria obtido por Solo CP1 1324,10 50,93
médias ponderadas. Assim, os valores encontrados Solo CP2 1431,20 41,18
estão coerentes. M. Aritmética 1377,65 46,06
Em relação à verificação dos valores obtidos por
Barletta (2021) para o solo, o resultado encontrado M1 CP1 1502,42 48,93
está coerente, cuja pequena variação se justifica pela M1 CP2 1446,40 73,56

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243
M. Aritmética 1474,41 61,25 et al., 2016). Já em relação às misturas, nenhum
M2 CP1 1539,80 62,21 trabalho apresentou proporções ou características
semelhantes para o solo que permitisse comparação
M2 CP2 1527,90 61,42 com os valores obtidos.
M. Aritmética 1533,85 61,815
3.3 Resistência ao Cisalhamento Direto
Já as Figuras 6 e 7 apresentam a tendência dos
resultados de RCS e 𝐸𝑖 dos materiais ensaiados, Com os valores de tensão cisalhante e tensão normal,
respectivamente. no instante da ruptura, é possível gerar as envoltórias
de Coulomb para cada material e, partir delas, obter
os valores de ângulo de atrito efetivo (𝜑′) e da coesão
efetiva (c’). Na Figura 8, tem-se o gráfico com as
envoltórias compiladas. A Tabela 3 apresenta o
resultado dos parâmetros para cada material e
misturas. Por fim, nas Figuras 9 e 10 tem-se as
tendências do ângulo de atrito e coesão de acordo
com as porcentagens de adição de rejeito nas
misturas.

Figura 6. Curva de tendência de valores de RCS de cada


material ensaiado (AUTORES, 2023).

Figura 8. Envoltória de Coulomb para os materiais


(AUTORES, 2023).

Figura 7. Curva de tendência de valores de 𝐸𝑖 de cada Tabela 3. Ângulo de atrito e coesão para cada material
material ensaiado (AUTORES, 2023). (AUTORES, 2023).
Material 𝜑′ (ο) 𝑐 ′ (kPa)
Através dos resultados obtidos e apresentados na Solo (ABRANTES, 2022) 35,2 17,9
Tabela 2, foi possível perceber que, ao adicionar M1 31,2 23
M2 26 25,5
maiores porcentagens de rejeito de minério de ferro M3 40,4 27,2
ao solo, há uma melhora do parâmetro Resistência à Rejeito 32,5 13,1
Compressão Simples Máxima (RCS). Para a mistura
M1, este acréscimo de resistência foi na ordem de 7%
e, para M2, 11%. Também foi observado ganhos no
Módulo de Elasticidade Inicial (𝐸𝑖 ), ainda que os
valores para M1 e M2 sejam próximos. Logo, a
tensão de pico, que ocorre no momento do
rompimento do CP, permitiu concluir que houve
enrijecimento das amostras de solo conforme
adicionadas maiores quantidades de RMF. As
Figuras 5 e 6 ilustram o aumento da resistência de
pico do solo quando misturado ao RMF.
Conforme mencionado, não foi possível obter os
valores de RCS para o rejeito puro, uma vez que não Figura 9.Comportamento do ângulo de atrito de acordo
foi possível moldá-lo de acordo com a técnica com adição de rejeito ao solo (AUTORES, 2023).
adotada. Alguns autores, entretanto, conseguiram
obter este valor, que variou de 0,03 MPa a 0,75 MPa
(OLIVEIRA et al., 2019, DANTAS, 2019; BASTOS

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244
ensaios de RCS e RCD.Novas repetições dos ensaios
tornariam estes resultados ainda mais precisos.
Logo, essa avaliação instiga que existam mais
estudos, pesquisas e que sejam realizados outros
ensaios de laboratório com misturas destes materiais
visando aplicações práticas que contribuem para a
sustentabilidade na Geotecnia, além de demonstrar a
relevância de estudos acerca do tema.

AGRADECIMENTOS
Figura 10. Comportamento do valor da coesão de acordo
com adição de rejeito ao solo (AUTORES, 2023). Agradecemos à Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) pela infraestrutura disponível para o
Em relação aos resultados, vê-se que, de acordo desenvolvimento desta pesquisa.
com adição de rejeito ao solo, tem-se o aumento da
coesão, apesar de a mesma ser menor para o rejeito
puro. Isso pode ser explicado pelo preenchimento dos REFERÊNCIAS
vazios pelos grãos finos dos materiais.
Quanto ao ângulo de atrito, não observa-se uma
tendência nos valores quando relacionado à ABNT (2016). NBR 6457: Amostra de solo: Preparação
porcentagem de rejeito nas misturas. No entanto, para ensaios de compactação e caracterização.
observa-se que eles estão entre 25º e 40º. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
No geral, tem-se que a mistura M3 apresentou os Janeiro, 16 p .
maiores valores de ângulo de atrito e coesão. Por ABNT (2016). NBR 7181: Solo - Análise granulométrica.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
último e conforme encontrado na literatura, os
Janeiro, 12 p.
valores para um rejeito puro estudado por Carneiro ABNT (2016). NBR 7182: Solo - Ensaio de compactação.
(2020), que apresentou 33,8° para ângulo de atrito e Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
8,75 kPa para a coesão, estão próximos dos Janeiro, 13 p.
encontrados para o rejeito do estudo em questão. ABNT (2016). NBR 9604: Abertura de poço e trincheira
Novamente, as misturas de rejeito e solo estudadas de inspeção em solo, com retirada de amostras
por outros autores não apresentam semelhança com deformadas e indeformadas – Procedimento
as misturas apresentadas, o que não permite a Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
comparação. Janeiro, 9 p.
ABNT (2022). NBR 12770: Solo coesivo - Determinação
da resistência à compressão não confinada - Método
de ensaio. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
4 CONCLUSÕES Rio de Janeiro, 9 p.
ABNT (2020). NBR 16853: Solo — Ensaio de
Em relação aos resultados obtidos no ensaio de RCS, adensamento unidimensional. Associação Brasileira
conclui-se que, a adição de RMF ao solo levou-o a De Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 16 p.
um enrijecimento, o que pode ser interessante a ANM (2021). Anuário mineral brasileiro: Principais
depender da finalidade de utilização. Também há substâncias metálicas. Agência Nacional de
uma tendência de comportamento para os valores de Mineração. Disponível em: <
módulo de elasticidade inicial, o que é bastante https://www.gov.br/anm/pt-br/centrais-de-
promissor. Logo, a adição de maiores proporções de conteudo/publicacoes/serie-estatisticas-e-economia-
mineral/anuario-mineral/anuario-mineral-
RMF ao solo melhora seu desempenho em questões
brasileiro/amb-2021-ano-base-2020.pdf >. Acesso em:
de resistência e de elasticidade inicial. 17 out 2022.
Com o ensaio de RCD foi possível notar que a ABRANTES, L. G. (2022) Estudos Geotécnicos de
maior adição de rejeito ao solo fez aumentar sua Misturas Solo-Borracha para Fins de Construção de
coesão. Por outro lado, não foi observada uma Barreiras Sísmicas. Tese de Doutorado, Universidade
tendência de comportamento para o ângulo de atrito. Federal do Rio de Janeiro. NO PRELO.
É interessante destacar que todos esses resultados ARAUJO, C. B (2006). Contribuição ao Estudo do
convergem ao que foi inicialmente pontuado em Comportamento de Barragens de Rejeito de
questões de sustentabilidade na Geotecnia, já que o Mineração de Ferro. 2006. Dissertação de Mestrado,
uso de RMF em misturas com solo mostrou ser Universidade Federal do Rio de Janeiro, 136 p.
Disponível em: <www.coc.ufrj.br›
benéfico, ou ao menos não ser prejudicial, nos
component›docman>. Acesso: 11 out 2022.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo da resistência mecânica de um solo arenoso estabilizado


com finos de escória de aciaria
José Roberto Fernandes Galindo
Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Cruz das Almas, Brasil, robertogalindo@ufrb.edu.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, heraldopitanga@ufjf.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

Mario Sergio de Souza Almeida


Universidade Federal do Recôncavo Baiano, Cruz das Almas, Brasil, mario.almeida@ufrb.edu.br

Leonardo Gonçalves Pedroti


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, leonardo.pedroti@ufv.br

RESUMO: Este estudo investigou o comportamento mecânico de um solo arenoso estabilizado com finos de escória
oxidante de aciaria elétrica (FE) para aplicações geotécnicas. O presente programa experimental compreendeu a
realização dos ensaios de caracterização, compactação e resistência à compressão simples (RCS) do solo, solo com 10%
e 20% de FE. A adição do resíduo ao solo e a adoção dos tempos de cura de 7 e 28 dias proporcionou incremento das
propriedades mecânicas do solo. Entre os resultados obtidos, destaca-se as melhorias da RCS do solo de 190,93 kPa para
834,89 kPa, aos 7 dias, e 1166,77 kPa, aos 28 dias, observadas na mistura de solo com 20% de FE.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solos, Solo Arenoso, Reaproveitamento de Resíduos Sólidos Industriais,


Resistência à Compressão Simples, Escória Oxidante de Aciaria Elétrica.

ABSTRACT: This study investigated the mechanical behavior of a sandy soil stabilized with fines of electrical arc furnace
oxidizing slag (EF) for geotechnical applications. The present experimental program comprised the performance of soil
characterization, compaction and unconfined compressive strength (UCS) tests, soil with 10% and 20% FE. The addition
of residue to the soil and the adoption of curing times of 7 and 28 days provided an increase in the mechanical properties
of the soil. Among the results obtained, the improvements in soil UCS from 190.93 kPa to 834.89 kPa, at 7 days, and
1166.77 kPa, at 28 days, observed in the soil mixture with 20% FE.

KEY WORDS: Soil Stabilization, Sandy Soil, Reuse of Industrial Solid Waste, Unconfined Compressive Strength,
Electrical Arc Furnace Oxidizing Slag.

1 INTRODUÇÃO atualmente essa indústria transformadora, levando-a


a intensificar os seus esforços no sentido de melhorar
A indústria siderúrgica, importante setor da a taxa de reciclagem destes resíduos (Branca et al.,
economia e grande fornecedor de insumos para a 2020).
construção civil, é responsável por expressivos A produção mundial de escória possui números
impactos ambientais relativos ao consumo de expressivos. Segundo a World Steel Association
energia, uso de materiais não renováveis e emissões (2021), em 2020, a produção mundial de aço bruto
de CO2 (Carvalho et al., 2016; Hasanbeigi, 2017), foi de 1,878 bilhões de toneladas, sendo a China o
além da geração de diversos tipos de coprodutos e maior produtor (1,065 bilhões de toneladas) e o
resíduos. Regulamentações cada vez mais rigorosas e Brasil o 9º maior produtor (31 milhões de toneladas)
custos de eliminação cada vez mais elevados afetam de aço do mundo. Concomitantemente com a

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247
produção de aço, resíduos e coprodutos (escórias coordenadas geográficas latitude 20˚46’46,23’’S e
[90% em massa], pós e lamas) são gerados como longitude 42˚49’12,68”WGr.
resultado do processo siderúrgico. Em média, a O solo foi coletado na condição deformada, em
produção de uma tonelada de aço resulta em cerca de conformidade com as orientações constantes na
200 kg de subprodutos para a rota do forno elétrico a norma DNER (1994a) do Departamento Nacional de
arco [Eletric Arc Furnace (EAF)] e 400 kg para a rota Infraestrutura de Transportes (DNIT). A amostra foi
do forno conversor a oxigênio [Basic Oxygen disposta em sacos plásticos devidamente vedados e
Furnace (BOF)] (World Steel Association, 2020). transportadas até o Laboratório de Engenharia Civil
Em vez de serem armazenados em pátios ou da Universidade Federal de Viçosa, campus Viçosa-
descartados em aterros sanitários, os resíduos de MG (LEC-UFV), onde foi seco ao ar e destorroado.
escória podem ser cominuídos e utilizados como A escória de aciaria elétrica utilizada foi cedida
estabilizantes químicos em camadas estruturais de pela unidade siderúrgica da VSB (Vallourec &
pavimentos (Mujtaba et al., 2018; Pires et al., 2019; Sumitomo Tubos do Brasil), localizada no município
Yildirim & Prezzi, 2020). Os benefícios obtidos com de Jeceaba-MG, Brasil. A escória é proveniente do
o reúso da escória incluem a economia de recursos forno elétrico a arco (escória oxidante) e foi coletada,
naturais não renováveis, a redução das emissões de no estado bruto, no pátio de estocagem a céu aberto
CO2 e a agregação de valor aos resíduos por meio da da fábrica segundo as exigências da ABNT (2004). A
sua reinserção na cadeia produtiva (Arioğlu Akan et amostra foi acondicionada em tonéis vedados e
al., 2017; Carvalho et al., 2019). transportada até o LEC-UFV. Posteriormente, a fim
Considerando o grande volume de escória gerado de aumentar a superfície específica da escória, o
e o potencial de uso desses materiais, justifica-se material foi fragmentado em um moinho de bolas
avaliar a viabilidade técnica do emprego do resíduo cilíndrico para a redução da granulometria, até que
industrial escória oxidante de aciaria elétrica em pó, passasse integralmente pelas aberturas da peneira de
dentro do contexto de sua aplicação como agente #0,15 mm (peneira n.º 100).
estabilizante de solos. Algumas pesquisas realizadas
já atestam a viabilidade do uso de finos de escória 2.2 Caracterização dos materiais
oxidante de aciaria elétrica (FE) como agente
estabilizante de solos (Silva et al., 2019; Pires et al., Os procedimentos de redução e preparo das amostras
2019; Yildirim & Prezzi, 2020; Lopes et al., 2021; para os ensaios seguiram as normas ABNT (2001) e
Rodrigues et al., 2021; Parsaei et al., 2021). ABNT (2016a), para o S1, e DNER (1996a), para o
Com o intuito de contribuir para o resíduo.
reaproveitamento de resíduos provenientes da Os ensaios de caracterização física dos materiais
indústria do aço, este estudo analisou, via ensaio de foram realizados de acordo com as normas: (i) S1:
resistência à compressão simples (RCS), na energia ABNT (2016b) - Análise granulométrica, ABNT
de compactação do Proctor normal, as características (2016c) e ABNT (2016d) - Limites de Atterberg e
de resistência mecânica de misturas solo-FE. ABNT (2016e) - Massa específica; (ii) FE: ISO
Pretendendo melhorar a capacidade de suporte de um (2020) - Análise granulométrica, ABNT (2012a) -
solo arenoso típico da Zona da Mata Mineira, Índice de finura, ABNT (2015) - Superfície
avaliou-se o ganho de resistência de composições de específica e ABNT (2017) - Massa específica.
solo com 10% e 20% de FE nos tempos de cura 7 e O S1 foi classificado segundo os sistemas TRB
28 dias. (Transportation Research Board) (AASHTO, 2021),
USC (Unified Soil Classification) (ASTM, 2017) e
MCT (Miniatura, Compactado, Tropical) (DNER,
2 MATERIAL E MÉTODOS 1994b; DNER, 1994c; DNER, 1996b).
A granulometria do FE foi realizada por método
2.1 Coleta e preparação dos materiais de difração a laser (ISO, 2020). O equipamento
utilizado foi o granulômetro Mastersizer 2000, da
No trabalho experimental foi utilizado um solo Malvern Instruments Ltda, com capacidade de leitura
tropical, aqui denominado S1, proveniente da Zona de 0,02 µm a 2.000 µm.
da Mata Mineira, Estado de Minas Gerais, Brasil. O FE foi analisado quanto a sua composição
Caracteriza-se por ser um solo granular residual química via técnica de fluorescência de raios-X
jovem de gnaisse, coletado no horizonte C de um (FRX). O ensaio de FRX foi realizado no
talude de corte na zona rural do Município de Cajuri- equipamento EDX-720 Shimadzu Rayny. A análise
MG. Ele é procedente da jazida de empréstimo foi realizada em amostras com tamanho de partícula
denominada “Nô da Silva”, localizada nas inferior a 75 μm, obtidas por cominuição.

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248
2.3 Caracterização das misturas S de 5.000 kgf de capacidade e LVDT (Linear
Variable Differential Transformer) de 50 mm com
Os ensaios de caracterização física das misturas resolução de 0,01 mm.
foram realizados de acordo com as normas: ABNT
(2016c) e ABNT (2016d) - Limites de Atterberg e
ABNT (2016e) - Massa específica. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

2.3.1 Preparação das misturas 3.1 Caracterização dos materiais

Para realização deste estudo, as misturas As características físicas do S1 e FE empregados no


investigadas foram solo puro (S1), S1 com adição de programa experimental deste trabalho são
10% de FE (S1+10%FE) e S1 com adição de 20% de apresentadas nas Tabelas 1 e 2.
FE (S1+20%FE), calculados em relação a massa seca
dos materiais. No caso do FE, adotou-se o limite Tabela 1. Granulometria dos materiais.
superior de 20%, definido com base nos estudos Material Argila Silte Areia Pedregulho
desenvolvidos por Silva et al. (2019) e Pires et al. S1 10% 17% 62% 11%
(2019). FE 16% 71% 13% 0%

2.4 Ensaios de caracterização mecânica A análise granulométrica do S1 indicou


predomínio da fração areia, caracterizado-se como
2.4.1 Compactação uma areia silto-argilosa. O FE apresentou grande
presença de partículas finas (Ø < 75 µm).
A determinação dos respectivos pontos de ótimo de
compactação das misturas foi realizada segundo as Tabela 2. Características físicas do solo e do FE.
ABNT (2016f) e ABNT (2012b) na energia do Parâmetros S1 FE
Proctor normal. A energia normal de compactação foi LL (%) 40 -
adotada obedecendo o que prescreve a ABNT LP (%) 26 -
IP (%) 14 -
(2012b) para misturas solo-cimento. Para todas as
Peso Específico (kN/m3) 27,27 37,95
misturas, o cilindro metálico grande (Ø15,24 x 17,78 Superfície Específica (m2/kg) - 263
cm) foi utilizado na determinação das curvas de Índice de Finura (%) - 21
compactação. Obtidas as curvas, os valores dos
teores de umidade ótimos (Wot) e dos pesos As propriedades físicas observadas nos FE são
específicos aparentes secos máximos (γdmáx) foram similares às obtidas por Pires et al. (2019) e Silva et
adotados como referência na moldagem dos corpos al. (2019).
de prova para a realização dos ensaios de RCS. No sistema de classificação TRB, S1 foi
classificado como A-2-7(1). Segundo essa
2.4.2 RCS classificação, aos solos granulares do subgrupo A-2-
7 se atribui comportamento excelente a bom como
O ensaio de RCS foi realizado conforme as prescri- camada do subleito de pavimentos rodoviários
ções das normas técnicas DNER (1994d) e DNER (AASHTO, 2021). Pelo sistema USC, S1 foi
(1994e), em corpos de prova compactados em cilin- classificado como SC (areia com finos).
dros de dimensões Ø10 x 12,73 cm. Para cada mis- Quanto à classificação geotécnica MCT, S1 foi
tura investigada foram compactados três corpos de classificado como NA’ (Arenoso Não-Laterítico),
prova (ensaio em triplicata). Após a etapa de molda- possuindo a fração areia bem graduada e a
gem, os corpos de prova foram extraídos dos cilin- porcentagem de finos com menos de 35% passante na
dros de compactação, envelopados em plástico filme peneira n.º 200, pode oferecer condições adequadas
e acondicionados em câmara úmida, para preservar o para uso como bases de pavimentos.
teor de umidade. As amostras ficaram acondiciona- Quanto a caracaterização mecânica, o S1
das nesse ambiente por 7 e 28 dias. Os corpos de apresentou, quando compactado na energia do
prova, previamente à realização do ensaio, não foram Proctor normal, Wot de 14,1% e γdmáx de
submetidos a imersão em água por 4 horas, conforme 18,2 kN/m3.
fixa a norma DNER (1994e). A Tabela 3 apresenta os resultados da composição
Para o ensaio, utilizou-se prensa MARSHALL química do FE obtidos via ensaio de FRX.
automática digital microprocessada (marca
SOLOTEST) com velocidade de deformação de 1,00
mm por minuto. A prensa possui célula de carga tipo

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249
Tabela 3. Composição química do FE. varição (CV), utilizados como critério de aceitação
CaO Fe2O3 SiO2 Al2O3 MgO Outros dos resultados observados, também são apresentados
41% 32% 12% 4% 3% 8% na Tabela 5.

O FE é composto, basicamente, por CaO, Fe2O3, Tabela 5. Valores médios de RCS das misturas
SiO2 e, em menores proporções, Al2O3 e MgO. investigadas, compactadas na energia do Proctor normal.
Importante observar que cal, óxido de ferro e sílica Mistura TR 7d TR 28d CV 7d CV 28d
são elementos usuais da composição química do (kPa) (kPa) (%) (%)
cimento Portland. Conforme a NBR 12653 (ABNT, S1 190,93 1,5
2014), o teor de SiO2+Al2O3+Fe2O3 (48%) do FE está S1+10%FE 411,31 435,71 7,4 3,8
S1+20%FE 834,89 1166,77 3,3 3,3
próximo do mínimo exigido (50%). A presença de
TR: Tensão de ruptura; CV: Coeficiente de variação.
grandes quantidades de CaO, SiO e, em menores
proporções, MgO, e sua elevada relação CaO/SiO2
(3,5), são indicativos da reatividade potencial do
material como um ligante hidráulico (Poh et al.,
2006).

3.2 Caracterização das misturas

A Tabela 4 apresenta os resultados dos ensaios de ca-


racterização física e mecânica (energia do Proctor
normal) realizados nas misturas previstas no pro-
grama experimental.

Tabela 4. Características físicas e mecânicas das misturas.


Parâmetros S1+10%FE S1+20%FE
LL (%) 29 24
LP (%) 20 15
Figura 1. Valores médios de resistência à compressão
IP (%) 9 9
simples das misturas investigadas, compactadas na
Peso Específico (kN/m3) 28,06 28,90
energia do Proctor normal.
Wot (%) 13,0 12,7
γdmáx (kN/m3) 19,06 19,22
A Figura 1 evidencia, para as misturas com adição
do FE, um incremento da resistência em função do
Nota-se que a adição do resíduo ao solo ocasionou tempo. Os maiores valores de RCS, relativamente ao
incremento do peso específico aparente seco máximo solo in natura, foram observados nos CPs com 20%
e redução da umidade ótima. Pode-se, portanto, de resíduo de escória na idade de 7 e 28 dias, com-
presumir que um aumento no peso específico seco provando, conforme relato de outros estudos (Diniz
ocorre devido à adição do resíduo. Isso decorre em et al., 2017; Mujtaba et al., 2018; Silva et al., 2019,
razão do maior peso específico do resíduo e Lopes et al., 2021), o potencial do FE como ligante
preenchimento dos vazios pelas minúsculas hidráulico. Segundo Mujtaba et al. (2018), os consti-
partículas existentes no FE (efeito filler). A tuintes cimentícios presentes nos finos de escória,
distribuição granulométrica do FE indicou que 55% quando misturados com solo e na presença de água,
em massa desse material possuem diâmetros desencadeiam processos como troca catiônica, flocu-
inferiores a 10 μm, o que contribui no melhor lação e aglomeração e reações pozolânicas, contribu-
empacotamento dos grãos. Esse comportamento, indo na estabilização e ganho de resistência mecâ-
normalmente associado a ganhos de resistência nica.
mecânica, já foi observado em estudos envolvendo A mistura S1+20%FE, aos 28 dias de cura,
misturas solo-escória (Mujtaba et al., 2018; Silva et apresentou o maior valor de RCS. Importante
al., 2019; Pires et al., 2019; Lopes et al., 2021). observar que S1+20%FE apresentou,
comparativamente ao solo in natura, após os
3.3 RCS períodos de 7 e 28 dias de cura selada, acréscimos
superiores a 345 kPa nos valores de RCS. De acordo
A Tabela 4 e a Figura 1 apresentam os valores médios com a ASTM D 4609 (2008), um aumento na RCS
de RCS obtidas dos três corpos de prova de 345 kPa ou mais, após o período de cura, deve ser
confeccionados para cada mistura nos períodos de alcançado para que um tratamento com adição de
cura de 7 e 28 dias. Os valores dos coeficientes de aglomerantes na estabilização de solos seja

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


250
considerado eficaz. No geral, os maiores ganhos de - o processo de estabilização de solos é propício ao
resistência foram observados nos primeiros 7 dias de aproveitamento de resíduo de escória de forno
cura selada. elétrico a arco, apresentando uma alternativa viável
A Figura 2 apresenta os valores de ganho de RCS de uso e destinação para esses materiais. De maneira
das misturas investigadas, comparativamente ao solo na geral, os resultados desta pesquisa contribuem no
condição pura. entendimento do potencial de aproveitamento do
resíduo aqui utilizado para melhoria, via processo de
estabilização química, das propriedades de
engenharia de solos tropicais arenosos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à empresa Vallourec &


Sumitomo Tubos do Brasil pelo fornecimento do
resíduo e aos seguintes laboratórios e suas equipes
pelo uso dos equipamentos e colaborações:
Laboratório de Engenharia Civil da UFV e
Laboratório de Materiais de Construção Civil da
UFOP.

Figura 2. Valores de ganho de resistência à compressão


simples das misturas investigadas, comparativamente ao REFERÊNCIAS
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normal.
ABNT (2004). NBR 10007: Amostragem de resíduos
sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas,
Conforme observa-se na Figura 2, a adição de FE Rio de Janeiro, p. 21.
nas proporções de 10% e 20% e o incremento do ABNT (2001). NBR NM 27: Agregados – Redução da
tempo de cura proporcionaram ganhos de resistência amostra de campo para ensaios de laboratório.
mecânica às misturas investigadas, sendo os maiores Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
valores de RCS observados para misturas com 20% Janeiro, p. 7.
de FE. Aos 7 e 28 dias de cura, a mistura S1+10%FE ABNT (2016a). NBR 6457: Amostras de solo –
apresentou, em média, um ganho de 120% no valor preparação para ensaios de compactação e ensaios de
da RCS. Já a mistura S1+20%FE apresentou ganho caracterização. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 8.
de 337%, aos 7 dias, e 511%, aos 28 dias,
ABNT (2016b). NBR 7181: Solo – Análise
comparativamente ao valor de RCS do solo in natura. granulométrica. Associação Brasileira de Normas
Os resultados obtidos comprovam a capacidade Técnicas, Rio de Janeiro, p. 12.
do FE em promover ganhos de resistência mecânica ABNT (2016c). NBR 6459: Solo – Determinação do limite
ao solo investigado. de liquidez. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 5.
ABNT (2016d). NBR 7180: Solo – Determinação do
4 CONCLUSÕES limite de plasticidade. Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 3.
Conforme os resultados obtidos na presente ABNT (2016e). NBR 6508: Solo – Grãos de solo que
passam na peneira de 4,8 mm – Determinação da
pesquisa, é possível concluir que:
massa especifica. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 8.
- comparativamente ao solo in natura, as adições de ABNT (2012a). NBR 11579: Cimento Portland –
FE contribuíram significativamente para o ganho de Determinação do índice de finura por meio da peneira
resistência mecânica das misturas estudadas, sendo 75 μm (n.º 200). Associação Brasileira de Normas
que o FE foi o principal responsável no ganho de Técnicas, Rio de Janeiro, p. 3.
resistência com o incremento do tempo de cura; ABNT (2015). NBR 16372: Cimento Portland e outros
materiais em pó – Determinação da finura pelo método
- a adição de 20% de FE e o processo de cura selada de permeabilidade ao ar (método de Blaine).
de 28 dias melhorou consideravelmente o Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
comportamento mecânico do solo, uma vez que um Janeiro, p. 11.
ganho de 511% foi observado no valor da RCS. ABNT (2017). NBR 16605: Cimento Portland e outros
materiais em pó – Determinação da massa específica.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo da Viabilidade Técnica do Reaproveitamento de Resíduos


Siderúrgicos em Liners para Aterros Sanitários
Juliana de Paula Rezende
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, juliana.rezende@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaus.rodrigues@ufv.br

Taciano Oliveira da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, taciano.silva@ufv.br

RESUMO: Os resíduos siderúrgicos representam um dos principais resíduos sólidos industriais em todo o mundo, sendo,
portanto, propostos muitos métodos e estudos com o intuito de promover a reciclagem e o aproveitamento desses mate-
riais. Nesse contexto, este estudo tem como objetivo pesquisar a viabilidade técnica do reaproveitamento de resíduos
siderúrgicos (escórias de aciaria elétrica) em diferentes proporções, combinados a um solo residual tropical, visando à
composição de barreiras impermeabilizantes (liners) de aterros sanitários. As matérias-primas que irão compor as
misturas foram submetidas às caracterizações física, química, mineralógica e morfológica. A premissa desse trabalho está
relacionada a interação entre os componentes individuais das misturas sob a perspectiva de sua influência sobre as pro-
priedades de engenharia relevantes na construção de uma barreira impermeabilizante. Essas caracterizações ampliam as
interpretações dos resultados no que diz respeito ao desempenho técnico da mistura. Do ponto de vista ambiental, as
escórias de aciaria elétrica apresentaram resultados promissores, sugerindo-se que esses materiais possam permitir uma
boa imobilização dos metais pesados na barreira impermeabilizante. Trata-se, portanto, de uma boa alternativa de
aproveitamento desses resíduos em obras de terra, as quais comumente demandam grandes quantitativos de materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Misturas solo-resíduos siderúrgicos; liners; escória de aciaria elétrica; caracterização.

ABSTRACT: Steel waste represents one of the main industrial solid wastes worldwide, and therefore, many methods and
studies have been proposed with the aim of promoting the recycling and use of these materials. In this context, this study
aims to investigate the technical viability of reusing steel waste (electric melt shop slag) in different proportions, combined
with a tropical residual soil, aiming at the composition of waterproofing barriers (liners) for sanitary landfills. The raw
materials that will compose the mixtures were subjected to physical, chemical, mineralogical and morphological
characterization. The premise of this work is related to the interaction between the individual components of the mixtures
from the perspective of their influence on the relevant engineering properties in the construction of a waterproofing
barrier. These characterizations broaden the interpretation of the results with regard to the technical performance of the
mixture. From an environmental point of view, the electric steel slag showed promising results, suggesting that these
materials can allow a good immobilization of heavy metals in the waterproofing barrier. It is, therefore, a good alternative
for using these residues in earthworks, which commonly demand large quantities of materials.

KEY WORDS: Soil-steel waste mixtures; landfill liners; experimental design; electric steel slag; characterization.

1 INTRODUÇÃO e sua relação custo-benefício (Zhou et al., 2015). Os


resíduos dispostos em aterros sanitários incluem os
Os aterros sanitários representam um dos métodos lixos doméstico, comercial e industrial e os lodos
mais seguros e eficazes para a disposição de resíduos tratado e não tratado, os quais geralmente contêm
sólidos devido à sua relativa simplicidade construtiva muitos tipos de metais pesados com concentrações

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254
variando de microgramas por litro a miligramas por do forno panela) pode ser inferior a 10-11 m/s devido
litro (Li et al., 2017). Esses metais pesados à reação química e cimentação. No entanto, é
encontrados em vários tipos de lixiviados de aterros necessário que a escória de aço seja moída (diâmetro
sanitários são tóxicos para o meio ambiente e para a da partícula d < 0,075 mm), exigindo um esforço
saúde humana (Bove et al., 2015). substancial na moagem ou peneiramento do resíduo
Além da baixa condutividade hidráulica e da siderúrgico.
capacidade de minimizar a migração de lixiviados, a Portanto, o objetivo principal desse estudo é a
barreira final que separará os resíduos enterrados das aplicação de misturas solo-escória de aciaria em
águas subterrâneas também deve barreiras impermeabilizantes (liners) de aterros
apresentar propriedades de engenharia suficientes, sanitários. A premissa desse trabalho está relacionada
como alta flexibilidade, altas resistências à tração e a interação entre os componentes individuais das
à compressão, compatibilidade química e misturas sob a perspectiva de sua influência sobre as
trabalhabilidade. Na maioria dos casos, argilas propriedades de engenharia relevantes na construção
naturais compactadas atendem a tais requisitos de uma barreira impermeabilizante. Para isso, foram
(Wagner, 2013; Yuan et al., 2013). realizadas caracterizações mineralógica,
Pelo fato dos solos argilosos serem recursos morfológica, química e geotécnica das escórias de
naturais não renováveis e o revestimento de um aterro aciaria e do solo residual, de modo a prever
sanitário sempre consumir grande quantidade desses cientificamente a influência da interação entre os
solos para atender aos requisitos de capacidade materiais no comportamento de engenharia da
impermeabilizante e bloqueio de contaminantes, mistura solo-resíduo siderúrgico nessa aplicação.
muitos estudos vêm sendo realizados para analisar as Trata-se, portanto, de uma alternativa interessante de
características de possíveis materiais alternativos aproveitamento desses resíduos em obras de terra, as
(Wu et al., 2017; Devarangadi & Uma Shankar, quais comumente demandam grandes quantitativos
2021). de materiais.
Tendo em vista a necessidade de materiais
alternativos disponíveis, segundo as estatísticas, em
2021 a produção de aço bruto mundial cresceu 3,7%, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
chegando a 1,95 bilhão de toneladas. O Brasil, que
também faz parte do grupo dos maiores produtores de 2.1 Materiais
aço bruto do mundo, produziu, em 2021,
aproximadamente 36 milhões de toneladas deste O solo foi coletado em um talude de corte rodoviário
material, o que representa um aumento de 14,7% em em conformidade com as orientações previstas na
comparação ao ano de 2020. Sabendo-se que para norma PRO 003 (DNER, 1994a). A amostra foi
cada tonelada de aço produzido há a geração de 600 disposta em sacos plásticos devidamente vedados e
kg de coprodutos e resíduos, fica evidente a crescente estocada para uso posterior nos ensaios previstos para
geração de resíduos industriais sólidos em esse estudo, em obediência à NBR 6457 (ABNT,
quantidades significativas (IAB, 2022; Forbes, 2016a).
2022). Os dois tipos de amostras de escória de aciaria
No âmbito da engenharia civil, alguns autores elétrica (primária e secundária) foram coletados em
estudaram o desempenho técnico de camadas conformidade com a NBR 10007 (ABNT, 2004) para
impermeabilizantes de aterros sanitários compostas amostragem em campo de resíduos sólidos. Não
por resíduos siderúrgicos. Esses estudos houve qualquer processo de cura do material antes da
demonstraram que as escórias de aciaria podem ser realização dos ensaios.
utilizadas de forma eficiente nessas camadas, desde Salienta-se que, antes do procedimento de coleta
que dosadas adequadamente. Devarangadi & Uma de campo, as escórias de aciaria elétrica utilizadas
Shankar (2019) avaliaram a viabilidade técnica do foram resfriadas em pátio de estocagem a céu aberto,
uso de uma escória granulada de alto forno (GGBS) sendo em seguida britadas e submetidas ao
misturada com bentonita e cimento Portland em peneiramento.
revestimentos para aterros sanitários a fim de evitar a Sob a perspectiva de aplicação desses resíduos em
contaminação das águas subterrâneas. Com base nos misturas com solos, baseado no fato de que a fração
resultados das investigações experimentais, a mais fina (moída) é, normalmente, a responsável pela
porcentagem ideal de GGBS utilizada deveria situar- mobilização da melhoria de suas propriedades
se entre 15% e 20%. mecânicas e hidráulicas (Devarangadi & Uma
Herrmann et al. (2010) constataram que a Shankar, 2021), escolheu-se trabalhar com o material
permeabilidade saturada da mistura de dois tipos de original reduzido, por peneiramento, a uma
escória de aço (proveniente do forno elétrico à arco e granulometria com partículas de diâmetros menores

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255
que 2,0 mm (material passante na peneira #10). Para Finura pelo método de
a moagem do material original, foi utilizado o permeabilidade ao ar NBR 16372 (ABNT, 2015)
equipamento de abrasão Los Angeles (moinho de (Método de Blaine)
bolas). O tempo médio de moagem empregado foi de Massa específica NBR 16605 (ABNT, 2017)
duas horas. Feito isso, essa amostra foi estocada para
uso posterior nos ensaios previstos para esse estudo.
Os ensaios de caracterização química das escórias
2.1 Métodos de aciaria elétrica moídas analisadas nessa pesquisa
foram realizados seguindo as metodologias indicadas
2.1.1 Solo residual pelos métodos de ensaios utilizados para a
caracterização química de cimento Portland. Na
Na Tabela 1, apresentam-se a identificação dos Tabela 3, apresentam-se a identificação dos ensaios e
ensaios e as correspondentes normas destinadas à as correspondentes normas.
caracterização geotécnica do solo residual
empregado na pesquisa. Tabela 3: Ensaios de caracterização química das escórias
de aciaria elétrica moídas empregadas na pesquisa
Tabela 1: Ensaios de caracterização geotécnica do solo Identificação do ensaio Norma
empregado na pesquisa Perda ao fogo NBR NM 18 (ABNT, 2012b)
Identificação do ensaio Norma
Óxido de cálcio livre NBR NM 13 (ABNT, 2012c)
Análise granulométrica NBR 7181 (ABNT, 2016b)
Resíduo insolúvel NBR NM 15 (ABNT, 2012d)
NBR 6459 (ABNT, 2016c) e Manual de Análises de Solo da
Limites de Atterberg Determinação do pH
NBR 7180 (ABNT, 2016d) EMBRAPA (2017)
Peso específico dos
ME 093 ( DNER, 1994b)
sólidos No que diz respeito ao ensaio de FRX, os testes
Compactação NBR 7182 (ABNT, 2016e)
foram realizados utilizando o equipamento
PANalytical Epsilon3x. Salienta-se que os teores dos
A análise química da amostra de solo foi realizada óxidos nas composições químicas dos materiais são
pela técnica de Fluorescência de Raios-X (FRX), apresentados considerando a normalização em 100%
visando à identificação dos óxidos que compõem as dos resultados.
amostras. A caracterização mineralógica das escórias de
A constituição mineralógica da amostra de solo aciaria elétrica moídas consideradas nesse estudo foi
foi obtida por Difração de Raios-X (DRX). Os obtida por meio da metodologia de Difração de
difratogramas foram obtidos utilizando o Raios-X. Os difratogramas foram obtidos utilizando
difratômetro Bruker D8-Discover (radiação CuKα, o difratômetro Bruker D8-Discover (radiação CuKα,
40kV, 30mA, λ = 1,5418 Å, com medidas -2 na 40kV, 30mA, λ = 1,5418 Å, com medidas -2 na
faixa de 5º a 80º, 0.02°/passo, 1s/passo). faixa de 5º a 80º, 0.02°/passo, 1s/passo).
Para a caracterização morfológica da amostra de Para a caracterização morfológica das amostras de
solo, foi utilizada a técnica de Microscopia Eletrônica escórias primária e secundária, foi utilizada a técnica
de Varredura (MEV). de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).

2.1.2 Escórias de aciaria elétrica


3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Tabela 2, apresentam-se a identificação dos
ensaios e as correspondentes normas destinadas à 3.1 Solo residual
caracterização física das escórias de aciaria elétrica
moídas empregadas na pesquisa. 3.1.1 Caracterização geotécnica

Tabela 2: Ensaios de caracterização física das escórias de A amostra de solo foi classificada segundo os
aciaria elétrica moídas empregadas na pesquisa sistemas Transportation Research Board (TRB) e
Identificação do ensaio Norma Unified Soil Classification System (USCS). Para os
Análise granulométrica ISO 13320 (ISO, 2020) sistemas TRB e USCS, foram seguidas as prescrições
(difração a laser) do Manual de Pavimentação (DNIT, 2006). A Figura
Finura por
peneiramento (peneira NBR 11579 (ABNT, 2012a)
1 apresenta a curva granulométrica da amostra do
nº 200) Solo BR 120, e a Tabela 4 evidencia a classificação

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256
segundo os referidos sistemas de classificação de Os resultados dessa caraterização são apresentados
solos e os valores obtidos na caracterização na Tabela 5. Nessa tabela, encontra-se também o
geotécnica do material. A curva de distribuição valor de perda ao fogo (PF).
granulométrica permitiu concluir que o solo possui
um alto teor de partículas de tamanho argila,
Tabela 5: Composição química obtida por FRX e perda ao
correspondendo texturalmente a uma argila areno-
fogo da amostra de solo
siltosa.
Material Solo BR120
SiO2 (%) 23,32
100 Al2O3 (%) 21,07
90
80 Fe2O3 (%) 12,1
70
% que passa

CaO (%) 0,17


60
50 MgO (%) 0,88
40 K2O (%) 0,02
30
20 Na2O (%) 0,72
10
TiO2 (%) 1,85
0
0,0001 0,01 Areia
1 100 SO3 (%) 0,04
Argila Silte A.F. A.M. A.G. Pedregulho Cl (%) 0,29
Diâmetros (mm)
PF*(%) 10,67
Figura 1: Curva granulométrica da amostra de solo BR 120
*Perda ao fogo
(AF=areia fina, AM=areia média e AG=areia grossa), de
acordo com a NBR 6502 (ABNT, 1995a)
Na constituição química do solo há a
predominância de óxido de silício (SiO2), relacionado
Tabela 4: Caracterização e classificação geotécnica da ao mineral quartzo, o qual é também o mais
amostra de solo analisada. predominante na fração mineral da amostra (Figura
Parâmetro Solo BR 120 2). Logo, aproximadamente 23% da camada mineral
% argila (Փ < 0,002 mm) 63 compactada do liner, em constituição mineralógica,
% silte (0,002 mm < Փ < 0,06 mm) 11 seria composta por quartzo, isto é, fração areia,
% areia (0,06 mm < Փ < 2 mm) 25 corroborando com os resultados da Tabela 4 (Leme
% pedregulho (2 mm < Փ < 60 1 & Miguel, 2014). Contudo, segundo Lepsch (2002),
mm)
embora os minerais primários da fração cascalho e
LL (%) 79
LP (%) 38 areia, como o quartzo, constituam os principais
IP (%) 41 minerais do solo e sejam comumente encontrados,
ρs (g/cm3) 2,789 estes são quimicamente inertes. Isso faz com que
ρd,max (g/cm3) 1,468 esses materiais não sejam de muito interesse em
wot (%) 28,95 relação à importância de atividades de barreiras
TRB A-7-5 (34) impermeabilizantes para aterros sanitários.
USC CH Para as frações de finos (silte e argila), porção de
maior interesse para este estudo por serem bem ativos
Segundo a Companhia de Tecnologia de quimicamente e, portanto, potenciais na retenção de
Saneamento Ambiental (CETESB, 1993), os solos contaminantes contidos no lixiviado, encontrou-se
potencialmente utilizados como liners devem em maior quantidade o óxido de alumínio (Al2O3),
apresentar classificação unificada do tipo CL, CH, correspondendo à 21%. Quando combinado com
SC ou OH, porcentagem de finos maior ou igual a outros elementos, o Al2O3 forma os argilominerais
30%, limite de liquidez maior ou igual a 30% e índice (ilita e caulinita, por exemplo). Segundo Almeida
de plasticidade (IP) maior ou igual 30%. Diante (2009), a presença de argilominerais tende a
disso, percebe-se que esse solo atende a maioria das estimular a diminuição da movimentação de
exigências de projeto estabelecidas para uma barreira contaminantes do lixiviado pelo solo. A presença de
estabilizante. Ressalta-se que os demais parâmetros hematita (Fe2O3), mesmo que em menor quantidade,
presentes na tabela não foram estabelecidos pela foi corroborada pela coloração avermelhada do solo
Companhia de Saneamento. (Liu et al., 2013).

3.1.2 Caracterização química 3.1.3 Caracterização mineralógica

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257
O resultado da análise de DRX está apresentado na
Figura 2 para a amostra de solo BR120.

(b)
Figura 3: Micrografias da amostra de solo BR120 obtidas
por MEV: (a) x100; (b) x650.

As imagens microestruturais da amostra de solo


Figura 2: Difratograma da amostra de solo BR 120 obtido
por DRX
mostraram que o solo apresenta granulação fina com
predominância de grãos com forma lamelar (Figura
Foram identificados picos significativos de 3a e 3b). Partículas lamelares são características de
caulinita e quartzo, corroborando a análise de FRX material argiloso e permitem um maior contato entre
realizada que indicou altos níveis de SiO2 e Al2O3, os grãos do solo, aumentando sua coesão após o
tratando-se, portanto, de um solo caulinítico. processo de compactação. Essa configuração
Também foram apontados picos dos minerais ilita e interfere diretamente na diminuição da
muscovita. A presença dos minerais do grupo da ilita permeabilidade, parâmetro de suma importância em
em solos residuais é um indicativo de que o material projetos de barreiras impermeabilizantes (Silva,
é adequado para ser utilizados como matéria-prima 2015; Batista et. al, 2017). As micrografias da
para a construção de barreiras impermeabilizantes, amostra de solo BR120 indicaram tratar-se de um
uma vez que contribuem com a baixa permeabilidade material com estrutura compacta, dispersa e com os
dessas estruturas (Maritsa et. al, 2016). vazios preenchidos com minerais de menor tamanho

3.2 Escórias de aciaria elétrica


3.1.3 Caracterização morfológica
3.2.1 Caracterização física
A Figura 3 mostra as imagens resultantes das análises
realizadas utilizando o equipamento JEOL JSM- A Tabela 6 evidencia os valores obtidos na
6010LA (resolução de 4 nm, feixe a 20 kV, caracterização física das escórias utilizadas nesse
magnificação de 8X a 300.000X e voltagem de estudo. As curvas granulométricas das amostras das
aceleração de 500 V a 20 kV), com a amostra do solo escórias primária e secundária estão apresentadas na
metalizada em ouro. Figura 4. Essas curvas foram obtidas após o
processamento do material, ou seja, partículas com
diâmetros menores que 2,0 mm (passante na peneira
#10).

Tabela 6: Caracterização física das escórias de aciaria.


Escória Escória
Parâmetro
primária secundária
Finura por peneiramento 18,81 37,82
(peneira nº 200) [%]
Finura pelo método de 1950,83 1612,7
permeabilidade ao ar
(método de Blaine) [cm2/g]
Massa específica [g/cm3] 3,83 2,89
(a)

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258
Porcentagem que passa (%) *Perda ao fogo
100
80 A Tabela 8 evidencia os valores dos demais
60 parâmetros obtidos dos ensaios relacionados à
40
caracterização química das escórias utilizadas nesse
estudo.
20
0 Tabela 8: Ensaios de caracterização química das escórias
0,001 0,010 0,100 1,000
de aciaria elétrica moídas empregadas na pesquisa
Diâmetro das partículas (mm) Parâmetro Escória Escória
(a) primária secundária
Óxido de cálcio livre (%) 1,05 0,41
Resíduo insolúvel (%) 6,98 21,81
pH 11,60 10,53
Porcentagem que passa (%)

100
80
3.2.3 Caracterização mineralógica
60
40 A Figura 5 apresenta o resultado das mineralogias das
20 amostras das escórias (primária e secundária) obtidas
0 por DRX.
0,001 0,010 0,100 1,000
Diâmetro das partículas (mm)

(b)
Figura 4: Curvas granulométricas das amostras de escória
de aciaria elétrica primária (a) e secundária (b).

Por meio das curvas granulométricas das escórias


primária e secundária foi possível perceber que trata-
se de um material que apresenta, em sua maioria,
partículas de fração fina (silte e argila). Isso garante
uma maior superfície específica do material e
consequentemente favorece a formação de
compostos cimentícios.
(a)
3.2.2 Caracterização química

Os compostos químicos e suas respectivas


porcentagens presentes nas amostras de escória estão
mostradas na Tabela 7.

Tabela 7: Composição química e perda ao fogo das


amostras de escória de aciaria
Material Escória Primária Escória Secundária
SiO2 (%) 21,35 22,22
Al2O3 (%) 5,17 11,16
Fe2O3 (%) 24,5 17,41
CaO (%) 33,15 43,65 (b)
MgO (%) 1,01 2,43
K2O (%) 0,3 0,35 Figura 5: Difratogramas das amostras de escória de aciaria
primária (a) e secundária (b).
Na2O (%) 0 0,97
TiO2 (%) 0,64 0,71 A Figura 5(a) apresenta o resultado da
SO3 (%) 0,18 0,71 mineralogia da amostra de escória primária obtida
Cl (%) 0,32 0,3 por DRX. Através do difratograma, observou-se uma
PF* (%) 0,23 0,12 ampla gama de minerais constituintes do material. Os

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259
picos de alta intensidade de belita, alita e wustita
confirmam os resultados da análise por FRX que
apontaram significativa porcentagem de óxido de
cálcio e óxido de ferro. A alita (C3S - Silicato
tricálcico) é responsável pela resistência de materiais
cimentícios (argamassas e concretos, por exemplo)
em todas as idades, mas principalmente nas idades
iniciais, liberando calor após a aplicação. Já a belita
(C2S - Silicato dicálcico) é responsável pela
resistência em idades mais avançadas, como 1 mês,
liberando calor lentamente. A presença de wustite
(FeO - óxido de ferro) garante elevadas dureza e (a)
massa específica para a escória primária (Melo, 2012;
Nelson, 1990).
Para a amostra de escória secundária Figura 5(b),
as principais fases mineralógicas identificadas no
material foram CaO, olivina, calcita, dolomita,
brucita e larnita. Os picos de alta intensidade de óxido
de cálcio e olivina (silicatos de magnésio e ferro)
confirmam os resultados da análise por FRX.
A dissolução incompleta da dolomita durante o
processo de refino do aço resulta na formação do
periclásio, que é a espécie química contribuinte no
processo de expansão. Uma das possíveis alternativas
e recomendações propostas por alguns pesquisadores (b)
Figura 6: Micrografias da amostra de escória primária
para minimizar o problema de expansão do MgO obtidas por MEV: (a) x650; (b) x2500.
seria a redução da dimensão dos grãos para obter o
menor tamanho possível, o que facilita a dissolução e
a reação completa desse óxido (Montgomery &
Wang, 1991; Machado, 2000).

3.2.4 Caracterização morfológica

A Figura 6 mostra as micrografias da escória de


aciaria primária. Pode-se observar a predominância
de partículas angulares (Figura 6a), com presença de
partículas menores, que também apresentam a
configuração angular, preenchendo os vazios (Figura
6b).
Em relação a escória de aciaria secundária (Figura (a)
7), têm-se que as partículas apresentam geometrias
diversas, sendo predominantemente angulares
(Figura 7a). Percebe-se que as partículas apresentam
tamanhos relativamente maiores em relação as
partículas presentes na escória de aciaria primária
(Figura 6a). Além disso, ressalta-se a presença de
partículas com superfície rugosa e aspecto poroso,
tendo uma geometria fibrilar (Figura 7b).

(b)
Figura 7: Micrografias da amostra de escória secundária
obtidas por MEV: (a) x650; (b) x2500.

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260
3.3 Caracterização hidráulica da mistura solo constituintes de aluminatos de cálcio e silicatos
residual/escória de aciaria dicálcio que possuem fortes propriedades de ligação
cimentícia. Esses componentes fazem com que as
Nesse estudo foi utilizada uma dosagem para a escórias reajam com a água e formem estruturas
mistura solo/escória contendo 64% da amostra de semelhantes a cimento duro.
solo, 34,1% de escória primária e 1,9% de escória A utilização da escória de aciaria elétrica como
secundária. material de construção para barreiras
Os resultados obtidos para o ensaio de impermeabilizantes de aterros sanitários ajuda a
permeabilidade (cura de 7 dias) mostraram que as aumentar o ciclo de vida deste material e, ao mesmo
escórias contribuíram positivamente na diminuição tempo, proteger o meio ambiente. Os resultados
do Ksat (Tabela 9). apresentados neste estudo oferecem novas
As escórias de aciaria promoveram uma alteração possibilidades de encontrar aplicações sustentáveis
no arranjo estrutural da mistura, sendo que os efeitos para a escória.
físicos e químicos dos finos provocaram a ligação Sugere-se, do ponto de vista ambiental, que as
entre as partículas e o preenchimento dos vazios entre escórias de aciaria elétrica podem contribuir com
os grãos das misturas, proporcionando um maior uma boa imobilização dos metais pesados que estão
intertravamento e consequentemente um aumento na em contato com as barreiras impermeabilizantes.
rigidez da mistura compactada (Devarangadi & Uma Trata-se, portanto, de uma boa alternativa de
Shankar, 2021). aproveitamento desses resíduos em obras de terra, as
Percebe-se que a mistura atende as exigências de quais comumente demandam grandes quantitativos
projeto estabelecidas para uma barreira estabilizante de materiais.
segundo a CETESB (1993).
Foram confeccionados também corpos de prova
levando-se em consideração amostras sem cura e AGRADECIMENTOS
amostras submetidas à cura de 28 dias, em câmera
úmida. O intuito desse adicional de ensaios consistiu Os autores agradecem a Coordenação de
em evidenciar o comportamento técnico da mistura Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
antes que as reações químicas ocorressem (sem cura) (CAPES) e ao Conselho Nacional de
e verificar se após um período longo de cura (28 dias) Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ)
as reações químicas se intensificariam, garantindo pelo apoio financeiro.
maior ganho na propriedade hidráulica. Os resultados
foram apresentados na Tabela 9.
Acredita-se que ocorreu uma intensificação da REFERÊNCIAS
reação de hidratação aos 7 dias de cura e que a
formação de produtos de gel hidratado tenha sido
gradualmente estabilizada com o passar do tempo ABNT (1995). NBR 13292: Solo - Determinação do
(Liu et al. 2022). coeficiente de permeabilidade de solos granulares à
carga constante. Associação Brasileira De Normas
Tabela 9: Resultados dos ensaios de Ksat para a mistura Técnicas, Rio de Janeiro.
(sem cura e com curas de 7 dias e 28 dias) ABNT (2004). NBR 10007: Amostragem de resíduos
Cura de 7 Cura de 28 sólidos. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
Parâmetro Sem cura Rio de Janeiro.
dias dias
Ksat (cm/s) 2,35 x 10-7 1,83 x 10-7 1,41 x 10-10 ABNT (2012a). NBR 11579: Cimento Portland –
Determinação do índice de finura por meio da peneira
75 μm (no 200). Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
4 CONCLUSÃO ABNT (2012b). NBR NM 18: Cimento Portland - Análise
química - Determinação de perda ao fogo. Associação
Este estudo teve como objetivo apresentar a Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
caracterização de escórias de aciaria elétrica e solo ABNT (2012c). NBR NM 13: Cimento Portland - Análise
residual visando inferir a respeito da influência da química - Determinação de óxido de cálcio livre pelo
incorporação dessas escórias como matérias-primas etileno glicol. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
em liners. A partir das constatações decorrentes desse
ABNT (2012d). NBR NM 15: Cimento Portland - Análise
estudo, chegou-se às seguintes conclusões: química - Determinação de resíduo insolúvel.
As escórias de aciaria utilizadas nessa pesquisa Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
são compostas sobretudo por óxidos de cálcio, silício Janeiro.
e alumínio. Esses óxidos são os principais ABNT (2016a). NBR 6457: Amostras de solo –

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


261
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262
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sanitários, Universidade de São Paulo, São Carlos.
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263
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo de alternativas de projeto para um dique de contenção de


sedimentos de mineração
Antônio Italcy de Oliveira Júnior
UFPE/ TPF Engenharia, Recife, Brasil, antonio.italcy@ufpe.br

Alison de Souza Norberto


UFPE/ TPF Engenharia, Recife, Brasil, alison.norberto@ufpe.br

Isabela das Graças Machado


TPF Engenharia, Belo Horizonte, Brasil, isabela.gracas@hotmail.com

RESUMO: Os diques de contenção de sedimentos são amplamente utilizados no setor de mineração e em virtude dos
últimos acidentes ocorridos com estruturas desse tipo, as legislações se tornaram mais rígidas. O objetivo deste trabalho
é estudar soluções de estabilização de um talude de jusante de um dique de contenção de sedimentos focando em soluções
de drenagem interna de seu aterro. Foi utilizado o projeto de um dique do setor de mineração como estudo de caso. Foram
desenvolvidas análises de estabilidade por meio de equlíbrio limite e de percolação por meio do método dos elementos
finitos. Foram realizadas análises para o projeto em seção de aterro homôgeneo de solo compactado, além de análises
com 3 cenários de drenagem interna do aterro. As análises demonstraram que a seção homogênea sem drenagem interna
não atende aos requisitos de fator de segurança exigidos por norma, devido a elevação dos níveis de poropressão no talude
de jusante. No entanto todas as análises dos três sistemas de drenagem interna estudados demonstraram fatores de
segurança superiores a 1,5 e baixos níveis de poropressão no talude de jusante. Portanto, foi possível verificar que a
análise do sistema de drenagem interna é um item indispensável para compreender as condições de estabilidade de diques
de contenção de sedimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Segurança de Barragens, Drenagem Interna, Controle de percolação.

ABSTRACT: Sediment containment dikes are widely used in the mining sector and due to the latest accidents with
structures of this type, legislation has become stricter. The objective of this work is to study stabilization solutions for a
downstream slope of a sediment containment dike, focusing on internal drainage solutions of its landfill. The design of a
dam in the mining sector was used as a case study. Stability analyzes were carried out using limit equilibrium and
percolation using the finite element method. Analyzes were carried out for the project in a homogeneous landfill section
of compacted soil, in addition to analyzes with 3 scenarios of internal drainage of the landfill. The analyzes showed that
the homogeneous section without internal drainage does not meet the safety factor requirements required by the standard,
due to the increase in pore pressure levels on the downstream slope. However, all analyzes of the three internal drainage
systems studied showed safety factors greater than 1.5 and low levels of pore pressure on the downstream slope.
Therefore, it was possible to verify that the analysis of the internal drainage system is an essential item to understand the
stability conditions of sediment containment dikes.

KEY WORDS: Dam Safety, Internal Drainage, Percolation Control.

1 INTRODUÇÃO essa questão econômica, têm-se todos os aspectos


legais e técnicos associados a extração e
O setor de mineração possui relevante importância beneficiamento desses minérios. E nesse processo
econômica no Brasil. Segundo o balanço apresentado pode-se destacar a geração de rejeitos, que são
pelo Instituto Brasileiro de Mineração - IBRAM definidos como partículas finas e ultrafinas, sem
(2021) no segundo trimestre de 2020, as exportações valor comercial, mas com potencial de contaminação
minerais representaram 13,9% das exportações do do solo e dos lençóis freáticos (EPA, 1994; NBR
país, correspondendo a US$ 7,4 bilhões. Associada a 10.004, 2004; IBRAM, 2016).

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264
Esses rejeitos gerados nas atividades de um dique de contenção de sedimentos de mineração,
mineração devem ser dispostos em locais que com foco no controle de fluxo interno por
apresentem condições técnicas necessárias para não zoneamento da seção crítica avaliada como estudo de
contaminação da área de disposição. Quanto à caso no presente trabalho.
disposição do rejeito, em geral esse processo ocorre
por meio de reservatórios criados por diques de
contenção ou barragens, que é o método mais 2 MATERIAIS E MÉTODOS
comumente utilizado. Tais estruturas podem ser
construídas com solo natural ou com os próprios 2.1 Seção de análise
rejeitos, sendo essas últimas classificadas como
barragens de contenção alteadas com rejeitos O trabalho foi desenvolvido a partir de um dique de
(IBRAM, 2016). contenção de sedimentos utilizado para amortecer o
Segundo Costa (2018) os diques de contenção de transporte de partículas carregadas pelas águas
sedimentos são formas de barramento, que possuem pluviais na área de uma pilha de disposição de rejeito
por finalidade impedir o arraste de sólidos para de mineração. Na Figura 1 é apresentado um esquema
porção à jusante da pilha ou barragem. A correta tridimensional do dique de contenção de sedimentos
operação de diques de contenção de sedimento é de e a topografia que contribui para formação do
grande importância no contexto ambiental, social e reservatório para sedimentação das partículas.
econômico, tendo em vista que estas estruturas em O estudo de caso foi realizado a partir de uma
geral estão instaladas em regiões próximas a áreas seção situada na porção mais central do dique onde a
habitadas e com presença de fauna e flora. espessura do barramento é mais profunda devido
Um exemplo de falha na operação dessas posicionamento da estrutura no eixo do vale. Na
estruturas foi a ruptura de um dique de contenção de Figura 2 a seção analisada foi identificada como
sedimentos oriundos da Tejucana Mineração S/A, seção AA. A crista do dique se encontra na cota
localizado no município de Brumadinho/MG em 862,77 m e o nível máximo de água ou sedimento
26/06/2017. O ocorrido não resultou em danos a aportado é a cota 861,7 m, tendo em vista que essa é
pessoas ou propriedades, entretanto, assoreou parte a cota do vertedouro escavado. Permanecendo apenas
de um córrego vicinal local além de ter ocasionado as partículas sedimentadas no reservatório para
aumento da turbidez do citado córrego e afluente, posteriormente serem removidas após quadra
pouco caudaloso, localizado a jusante (INSTITUTO chuvosa, preparando o dique para o próximo ciclo
MINERE, 2017). chuvoso.
No contexto do processo operacional desses
diques alguns aspectos devem ser avaliados, tais
como, tipo de material, permeabilidade, resistência
ao cisalhamento, estabilidade da estrutura, aspectos
técnicos construtivos, comportamento
hidromecânico e condições de fluxo/percolação de
água pela estrutura.
A posição da linha freática formada pela
percolação de água no interior da estrutura é um fator
principal que influencia na estabilidade dos taludes,
sobretudo o talude jusante. A formação de zonas
saturadas nos taludes reduz o comportamento
geomecânico dos materiais devido a redução da
sucção matricial e desenvolvimento de poropressões
no aterro, gerando consequentemente redução do
fator de segurança da estrutura (Leme et al., 2016).
Portanto, torna-se evidente a importância de Figura 1. Esquema tridimensional do dique de contenção
estudar soluções de drenagens interna para tais de sedimentos projetado.
estruturas como forma de controlar a percolação, as
zonas de saturação e não saturação do aterro dos
taludes, dissipar poropressões e elevar os níveis de
sucção matricial dos materiais como forma de elevar
a estabilidade da estrutura.
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi
avaliar alternativas para o projeto de estabilização de

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265
não circular, procurando-se obter todas aquelas de
maior suscetibilidade de rompimento e buscando
sempre a superfície de menor fator de segurança.

2.3 Parâmetros geotécnicos utilizados nas análises

Para a realização das análises de percolação e


estabilidade foram utilizados parâmetros geotécnicos
dos materiais, tais como peso específico (kN/m³),
ângulo de atrito interno efetivo (°), coesão efetiva
(kPa) e coeficiente de permeabilidade (m/s).
A permeabilidade do aterro compactado e da
fundação foram definidos com o base em ensaios in
situ e em laboratório.
Figura 2. Seção utilizada para desenvolvimento do A anisotropia igual a 1,0 (Kv = Kh) foi utilizada
estudo. para a maioria dos materiais analisados, exceto para
o aterro compactado cujo valor de anisotropia foi
O perfil geológico-geotécnico da fundação do utilizado igual a 0,5 (Kv/Kh) em razão da
dique foi construído a partir de sondagens SPT, compactação do material.
resultando na seção geológico-geotécnica Os parâmetros de resistência do aterro
apresentada na Figura 3. Foi considerado uma compactado e da fundação foram definidos com base
camada máxima de 3,22 m de sedimento no no ensaio de compressão triaxial realizado em
reservatório e para fundação foi considerado uma amostras coletadas indeformadas para fundação e
camada de solo residual maduro com espessura de compactadas na umidade ótima e energia normal de
6,25 m, seguido por uma camada de solo residual compactação para o aterro.
jovem com espessura de 9,41 m e, por fim, uma Na Tabela 1 são apresentados os valores dos
camada de saprolito com espessura de 10,17 m. Para parâmetros geotécnicos dos materiais utilizados nas
o dique, inicialmente, foi projetado a sua construção análises.
em aterro, com seção homogênea e sem drenagem
interna, utilizando solo compactado oriundo de Tabela 1. Parâmetros geotécnicos utilizados nas análises.
escavações realizadas próximos ao local do dique. Material  (kN/m³) c’ (kPa) '(°) KS (m/s) Kv/Kh
-6
Aterro 20,2 11,0 19,0 4,7x 10 0,5
Solo Residual Maduro 17,1 8,0 28,0 7,95x10-6 1,0
Solo Residual Jovem 16,5 9,0 30,0 7,95x10-7 1,0
-8
Saprolito 19,0 11,4 31,7 3,55x10 1,0
Sedimento 20,0 0,0 15,0 1,0x10--4 1,0
Enrocamento 22 LEPS (1970) 1,0x10-2 1,0

Os materiais que serão utilizados nas alternativas


estudadas são materiais drenantes, como areia, brita
0, brita 2 e enrocamento. Os parâmetros de
resistência de todos os materiais drenantes foram
Figura 3. Perfil geológico-geotécnico da seção analisada.
definidos com base nas curvas Leps (Leps, 1970) e
os parâmetros de permeabilidade foram adotados os
2.2 Modelo computacional utilizado
seguintes valores: 1 x 10-4 m/s para areia, 1 x 10-3 m/s
para brita e 1 x 10-2 m/s para o enrocamento. Quanto
Para a realização da modelagem numérica do cenário a anisotropia foi utilizada a relação Kv/Kh igual a 1
atual e das alternativas de intervenções para para todos os materiais drenantes.
estabilização do dique, optou-se por utilizar o
software Slide 2 da Rocscience, versão 9.0.2.6.
2.4 Hipóteses de cálculo
Foram realizadas análises de percolação com base no
método dos elementos finito com malha triangular e
Nas análises de percolação foram definidas as
análises de estabilidade com base no método de
condições de contorno para a elaboração da rede de
equilíbrio-limite utilizando os métodos de Spencer, fluxo. As condições de contorno neste caso
GLE/ Morgenstern e Sarma. Nas análises, foram
corresponderam ao nível de água a montante do dique
verificadas superfícies de ruptura do tipo circular e
e o nível d’água a jusante. Dessa forma, foram

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266
adotadas as seguintes condições de contorno: visualizada na Figura 4.

• Nível d’água do reservatório na cota N.A.


861,7 m;
• Nível de saída de água no mesmo nível do
terreno a jusante (852,44 m).

Nas análises de estabilidade foram simuladas duas


condições de carregamento, sendo estas definidas
pelo nível d’água do reservatório a montante e aporte Figura 4. Alternativa 1 – Dreno de Pé.
de sedimentos no reservatório. Como o objetivo do
trabalho é estudar alternativas para controle do fluxo A alternativa 2 considera a seção típica de análise
do dique visando aumentar a estabilidade do talude do projeto do dique, com a inserção no sentido do seu
de jusante, não foram simuladas as condições de eixo para a jusante de uma sequência de drenos
rebaixamento rápido do reservatório. Dessa forma, o verticais e horizontais formando um grande filtro
talude de jusante será submetido às seguintes invertido. O dreno vertical é iniciado no sentido do
condições: eixo para jusante do dique com uma camada de areia
com espessura de 0,6 m, seguido por uma camada de
• Reservatório operando apenas com água brita 0 com espessura de 0,4 m e por fim uma camada
na cota NA 861,7 m; de brita 2 com espessura também de 0,4 m. Para o
• Reservatório operando com sedimento horizontal a camada de areia possui espessura de
submerso na cota NA 861,7 m; 1,0m, seguido pela camada de brita 0 com espessura
de 0,4 m e por fim a camada de brita 2 com espessura
de 0,4 m, porém ao final da camada a espessura é
2.5 Estudo de alternativas alargada de modo a preencher todo pé do talude de
jusante com o material (aproximadamente 5 m de
As alternativas estudadas no presente trabalho visam base no pé do talude). A seção representativa da
solucionar as principais possíveis anomalias alternativa 2 pode ser visualizada na Figura 5.
identificadas no projeto que podem acometer o talude
de jusante do dique. Para a seleção das alternativas a
serem propostas foi analisado todos os cenários de
estabilidade e a disponibilidade de materiais do
empreendimento, juntamente de levantamentos
geológico-geotécnicos existentes.
As alternativas escolhidas foram focadas no
zoneamento da seção do dique com materiais
drenantes, evitando com isso realizar alterações
geométricas do dique. Tais soluções são eficientes
para o controle da rede de fluxo, evitar formação de Figura 5. Alternativa 2 – Dreno vertical e horizontal com
piping e consequentemente maior estabilidade da filtro invertido.
estrutura.
Foram realizadas para todas as alternativas as A alternativa 3 a inserção dos mesmos drenos
mesmas análises de percolação e estabilidade vertical e horizontal da alternativa 2, porém
executadas na situação conceitual do dique com considerando a completa substituição do aterro em
seção homogênea em aterro para com isso comparar solo compactado do talude de jusante por
a eficiência das alternativas propostas. enrocamento. A seção representativa da alternativa 3
A seguir serão descritos os cenários analisados, pode ser visualizada na Figura 6.
bem como, as alternativas consideradas para cada um
deles.
A alternativa 1 considera a seção típica de análise
do projeto do dique, com a inserção no talude de
jusante de um dreno de pé triangular constituído por
enrocamento e filtro de areia. O dreno possui
aproximadamente 13,9 m de base e inclinação de
1V:2,5H e o filtro de areia possui espessura de 1,0 m.
A seção representativa da alternativa 1 pode ser

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267
Figura 6. Alternativa 3 – Dreno vertical e horizontal com sedimento. Nota-se que em ambos os casos as
filtro invertido e substituição do aterro por enrocamento. análises de estabilidade apresentam fatores de
segurança abaixo de 1,5 que é o mínimo requerido
Destaca-se que o presente trabalho restringiu-se as pelas recomendações da NBR 13028 (ABNT, 2017).
análises das três alternativas apresentadas, mas vale
destacar que outras soluções técnica podem ser
avaliadas em etapas posteriores.

2.5 Seleção da alternativa

Além da comparação entre as análises de percolação


e estabilidade realizadas entre o projeto conceitual e
das alternativas, serão realizadas análises de
percolação e estabilidade considerando colmatação
dos drenos a partir da redução da permeabilidade dos
materiais que os compõem em 100 vezes e assim
avaliar o desempenho das alternativas mediante
cenário de condição crítica de percolação.
A seleção da alternativa mais adequada para o
caso estudado será aquela que alcançar o objetivo de
atender aos critérios de estabilidade com base nos
fatores de segurança mínimos recomendados para as
condições de carregamento impostas e controlar a
rede fluxo para evitar possíveis surgências no talude
de jusante. Dessa forma, será possível diminuir
consideravelmente a susceptibilidade de piping do
dique e elevar a estabilidade do talude de jusante.
Como critério de avaliação para seleção da
alternativa em relação a estabilidade será tomado Figura 7. Análise de estabilidade e percolação na cota NA
como referência a NBR 13028/2017 – Mineração – 861,7 m para o reservatório: (a) sem sedimento; e (b) com
“Elaboração e apresentação de projeto de barragens sedimento.
para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos
e reservação de água – Requisitos” no que se refere Tal concepção adotada não se mostrou adequada
aos coeficientes de segurança mínimos para os tendo em vista que o solo ao ser compactado não
taludes de jusante do dique sendo os valores apresentou fator de segurança adequado para o talude
requeridos assim determinados: de jusante no que se refere as normas vigentes. Além
disso, há uma possível surgência de água no pé do
• 1,50 para a condição normal da superfície talude, sendo necessário o estudo de soluções a partir
freática - drenada; do controle da drenagem interna. Somada aos
• 1,30 para condição crítica da superfície problemas com a rede de fluxo do dique há ainda
freática - drenada; limitações externas para alteração das dimensões
geométricas do dique nas premissas de projeto
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho devido interferência em acessos e ferrovias
foi avaliar alternativas para controle da rede de fluxo existentes. Portanto fica evidente a necessidade de
e solucionar a estabilidade do talude de jusante do controlar a rede de fluxo com um sistema de
dique de contenção de sedimentos. Ressalta-se que drenagem interna do dique.
não foram realizadas análises nas condições de Na Figura 8, 9 e 10 são apresentados os resultados
rebaixamento rápido e operação com sismos. das análises de estabilidade e percolação das
alternativas 1, 2 e 3, respectivamente. Verifica-se que
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES para todas as alternativas propostas de drenagem
interna apresentaram fatores de segurança acima do
Na Figura 7 são apresentadas as análises de mínimo requerido pela da NBR 13028 (ABNT,
estabilidade e percolação do projeto conceitual do 2017). Além disso, verifica-se pelo nível d’água das
dique de contenção de sedimentos com seção análises de percolação que houve redução das cotas
homogênea em aterro com nível de água na cota NA piezométricas, corrigindo a tendência de surgimento
861,7m para o reservatório sem sedimento e com de água no talude de jusante. As alternativas

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268
propostas também auxiliaram nas reduções dos níveis
de poro pressões sendo as maiores reduções
verificadas nas alternativas com drenos verticiais.

Figura 10. Análise de estabilidade e percolação da


alternativa 3 na cota NA 861,7 m para o reservatório : (a)
Figura 8. Análise de estabilidade e percolação da sem sedimento; e (b) com sedimento.
alternativa 1 na cota NA 861,7 m para o reservatório: (a)
sem sedimento; e (b) com sedimento. Na Tabela 2 são apresentados os fatores de
segurança obtidos para as diferentes análises.
Portanto, para condição normal de operação com
reservatório na cota NA 861,7 m sem e com
sedimento, todas as alternativas foram consideradas
adequadas para solucionar a estabilidade do talude de
jusante do dique de contenção de sedimentos.

Tabela 2. Coeficientes dos fatores de segurança obtidos


para as diferentes análises.
FS ob- FS mínimo re-
Análises
tido querido
sem sedi-
1,34 1,5
Seção Homogênea mento
em aterro com sedi-
1,35 1,5
mento
sem sedi-
1,68 1,5
mento
Seção Alternativa 1
com sedi-
1,68 1,5
mento
sem sedi-
1,88 1,5
mento
Seção Alternativa 2
com sedi-
1,88 1,5
mento
sem sedi-
2,10 1,5
mento
Seção Alternativa 3
com sedi-
2,11 1,5
mento
Figura 9. Análise de estabilidade e percolação da
alternativa 2 na cota NA 861,7 m para o reservatório: (a) Nas Figuras 11, 12 e 13 são apresentadas as
sem sedimento; e (b) com sedimento.
análises de estabilidade e percolação sem a presença

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269
de sendimentos e com sedimentos, para as
alternativas 1, 2 e 3, respetivamente.

Figura 13. Análise de estabilidade e percolação da


alternativa 3 na condição de colmatação dos drenos para o
reservatório: (a) sem sedimento; e (b) com sedimento.
Figura 11. Análise de estabilidade e percolação da
alternativa 1 na condição de colmatação dos drenos para o Nota-se que em todos as análises das alternativas
reservatório: (a) sem sedimento; e (b) com sedimento.
propostas o nível de água internamente do dique
elevou em resposta a colmatação dos drenos, porém
ainda assim todos os fatores de seguranças obtidos
nas análises das alternativas ficaram acima de 1,3 que
é o mínimo requerido pela NBR 13028 (ABNT,
2017) para cenários críticos. Outro aspecto relevante
é o surgimento de água no talude de jusante, é
possível observar pelas análises de percolação que há
tendência de ocorrência de surgência caso os drenos
sejam colmatados, sendo tal efeito mais evidente na
Alterativa 1 que não possui dreno vertical.
Na Tabela 3 são apresentados os fatores de
segurança obtidos para as diferentes análises em
condição crítica de colmatação dos drenos. Portanto,
para condição crítica de colmatação dos drenos com
reservatório sem e com sedimento, todas as
alternativas foram consideradas adequadas para
solucionar a estabilidade do talude de jusante do
dique de contenção de sedimentos, muito embora a
alternativa 1 apresenta tendência mais pronunciada
de surgimento de água no talude de jusante.
Ao analisar a estabilidade do estrutura com e sem
aporte de sedimentos no fundo lago do reservatório
formado, nota-se que em ambas as condições de
Figura 12. Análise de estabilidade e percolação da percolação (Normal de operação e crítica) os valores
alternativa 2 na condição de colmatação dos drenos para o dos fatores de segurança permaneceram semelhantes
reservatório: (a) sem sedimento; e (b) com sedimento. ou próximos. Isso demonstram que o processo de
sedimentação não impacta significativamente a

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270
estabailidade da estrutura, sendo a mesma governada AGRADECIMENTOS
de forma mais significativa pela percolação e pela
formação de zonas saturadas no interior do maciço. A TPF Engenharia pelo apoio técnico e de recursos
para o desenvolvimento do trabalho.
Tabela 3. Coeficientes dos fatores de segurança obtidos
para as diferentes análises em condição crítica de
colmatação dos drenos. REFERÊNCIAS
FS ob- FS mínimo re-
Cenários
tido querido
ABNT (2004). NBR 10.004: Resíduos sólidos –
sem sedi-
Seção Alterna- mento
1,39 1,3 Classificação. Associação Brasileira De Normas
tiva 1 com sedi- Técnicas, Rio de Janeiro, p. 71.
1,39 1,3 ABNT (2017). NBR 13.028: Mineração – Elaboração e
mento
sem sedi- apresentação de projeto de barragens para disposição
1,52 1,3
Seção Alterna- mento de rejeito, contenção de sedimentose reservação de
tiva 2 com sedi-
1,46 1,3 água – Requisitos. Associação Brasileira De Normas
mento Técnicas, Rio de Janeiro, p. 16.
sem sedi- Costa, G. W. O. (2018). Critérios operacionais para
1,60 1,3
Seção Alterna- mento
redução da contribuição de sedimentos gerados em
tiva 3 com sedi-
1,62 1,3 pilhas de estéril. Dissertação de Mestrado, Programa
mento
de Pós-Graduação em Engenharia de Barragens e
Gestão Ambiental, Núcleo de Desenvolvimento
Os resultados do presente estudo, corroboram Amazônico em Engenharia, Universidade Federal do
com as considerações de Guimarães e Miranda Neto Pará, 89p.
(2022) que concluiram em seu trabalho que os fatores EPA - Environmental Protection Agency (1994). Desing
da drenagem em barragens e dique de contenção and evaluation of tailings dams. Technical report, U.S.
possuem grande importância no comportamento e Environmental Protection Agency (EPA), Washington,
controle do nivel d’água e assim pode contribuir para USA, 59 p.
a redução do número de acidentes e danos ao meio Guimarães, C. J. de P.; Miranda Neto, M. I. de. (2022).
ambiente ocasionado por falha dessas estruturas. Aspectos da drenagem de barragens de rejeito com
alteamento a montante: caso da barragem I, da Mina
de Córrego do Feijão, em Brumadinho – MG. Revista
Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Educação, v.8, n.3, p. 213-241
IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração Gestão e
Neste trabalho foram estudadas alternativas para Manejo de Rejeitos de Mineração (2016). Relatório
estabilização do talude de jusante de um dique de disponível em:
contenção de sedimentos com foco em drenagem http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00006222.p
interna e estabilidade da estrutura. df, 2016.
As propostas de drenagem interna com dreno de INSTITUTO MINERE. (2017). Acessado em:
pé, dreno vertical e horizontal com filtro invertido e https://institutominere.com.br/blog/dique-de-
contencao-barragem-mineracao-tejucana-rompe-em-
com dreno vertical e horizontal com filtro invertido e
brumadinho-minas-gerais.
substituição do aterro por enrocamento Leme, R. F.; Dantas Neto, S. A.; Silva Filho, F. C. da
demonstraram que foram eficientes na estabilização (2016). Influência da sucção mátrica nas condições de
do talude de jusante, refletindo em elevação dos fluxo e estabilidade de taludes de uma barrafem de
fatores de segurança quando comparados com projeto terra. Revista Conexões Ciência e Tecnologia, v. 10,
conceitual do dique em seção homogênea de aterro n. 2, p. 73-85.
de solo local compactado. Leps, T. M. (1970). Review of shearing strength of
As alternativas propostas para solucionar a rockfill. Journal of the Soil Mechanics and
estabilidade do talude de jusante do dique também se Foundations Division, v.96, n.4, p.1159-1170.
mostraram adequadas em condições críticas de
colmatação dos drenos, sendo mais recomendada a
adoção das alternativas 2 e 3 com dreno vertical e
horizontal por terem apresentado menor
pronunciamento de surgências no talude de jusante
inclusive em situação crítica de colmatação dos
drenos.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


271
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Fabricación de Hormigón en Base a los Áridos Reciclados de Alta


Resistencia
Rubén Medinaceli Tórrez
Escola de Engenharia de São Carlos, Departamento de Geotecnia, USP, São Carlos, SP, Brasil,
ruben.medinaceli@usp.br

Miguel Peñaloza Velásquez


Universidad Tecnológica Boliviana, UTB, La Paz, Bolivia, mik_pe_ve@hotmail.com

Carolina Asunción Villamil Vedia


Universidad Tecnológica Boliviana, UTB, La Paz, Bolivia, carolinavillamil76@gmail.com

Rogério Pinto Ribeiro


Escola de Engenharia de São Carlos, Departamento de Geotecnia, USP, São Carlos, SP, Brasil,
rogerioprx@sc.usp.br

Fernando Luiz Lavoie


Escola de Engenharia de São Carlos, Departamento de Geotecnia, USP, São Carlos, SP, Brasil,
fernando.lavoie@usp.br

RESUMEN: La mala manipulación y gestión inapropiada de residuos de hormigón en Bolivia, pueden ser actividades
susceptibles de generar grandes impactos ambientales y alteración a los ecosistemas y su medio ambiente. La
investigación busca demostrar que la utilización de los áridos reciclados provenientes de hormigones con alta resistencia,
por ejemplo, mayores a 25 MPa son adecuados para la producción de prefabricados de hormigón, mejorando el
aprovechamiento de dichos residuos. Los áridos fueron recolectados del pavimento rígido de la antigua autopista Héroes
del Chaco que conecta las ciudades del La Paz y El Alto. Se utilizaron 500 kg de muestra de áridos los cuales fueron
triturados en tamaños adecuados para el análisis físico y mecánico junto a los áridos naturales, todos estos fueron llevados
al Laboratorio LABOTEC/UMSA, donde se realizaron pruebas de: granulometría, pesos específicos, absorción de agua
y rotura de probetas. En el ensayo de granulometría se obtuvo una muestra gradada para una curva granulométrica estándar
para hormigón de 21 MPa, y en el ensayo de resistencia a compresión a los 7 días de curado el hormigón fabricado con
áridos reciclados alcanzó una resistencia de 19 MPa (76%). Haciendo una proyección, es posible afirmar que a los 28
días de curado el hormigón alcanzará resistencias mayores a 21 MPa, lo que impactaría en la disponibilidad de material
de calidad para otras obras a menor costo y evitando contaminación, de esta manera se pueden alcanzar los objetivos de
la geotecnia ambiental, que busca desenvolver estrategias para disminuir o extinguir los eventuales impactos ambientes
que obras o acciones de extracción de recursos pueden causar.

PALABRAS CLAVE: Hormigón, Áridos, Reciclados, Resistencia a la compresión simple.

RESUMO: O mau manejo e a gestão inadequada dos resíduos de concreto na Bolívia podem ser atividades que podem
gerar grandes impactos ambientais e alterações nos ecossistemas e em seu meio ambiente. A pesquisa busca demonstrar
que o uso de agregados reciclados de concretos com alta resistência, por exemplo, superiores a 25 MPa são adequados
para a produção de concreto pré-moldado, melhorando o uso desses resíduos. Os agregados foram coletados do pavimento
rígido da antiga rodovia Heroes del Chaco, que liga as cidades de La Paz e El Alto. Foram utilizados 500 kg de amostra
agregada que foram triturados em tamanhos adequados para análise física e mecânica juntamente com agregados naturais,
todos estes foram levados para o Laboratório LABOTEC/UMSA, onde foram realizados ensaios: granulometria, pesos
específicos, absorção de água e quebra do espécime. No ensaio de granulometria, obteve-se uma amostra graduada para
uma curva de tamanho de partícula padrão para concreto de 21 MPa, e no ensaio de resistência à compressão 7 dias após
a cura, o concreto feito com agregados reciclados atingiu uma resistência de 19 MPa (76%). Com uma projeção, é possível
afirmar que após 28 dias de cura o concreto atingirá resistências superiores a 21 MPa, o que impactaria na disponibilidade
de material de qualidade para outras obras a um custo menor e evitando a contaminação, dessa forma, os objetivos da

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272
geotecnia ambiental podem ser alcançados, que buscam desenvolver estratégias para reduzir ou extinguir os eventuais
impactos ambientais que obras ou ações de extração de recursos podem causar.

PALAVRAS-CHAVE: Concreto, Agregados, Reciclados, Resistência à compressão simples

1 INTRODUCCIÓN norma (1.03%) cuando se trata de hormigón. Se


resalta que aunque existe una disminución en su
El hormigón es un material fundamental en las resistencia, es viable el uso del árido reciclado en la
construcciones civiles ya sean estos de edificación, fabricación de bloques de hormigón (Vidal, Reyes-
presas, muros y vías de comunicación; pero también Ortiz, & Peñuela, 2011).
es generador de grandes volúmenes de residuos La investigación “Estudio de factibilidad y
asociados a los procesos de demolición. Este tipo de caracterización de áridos para hormigón estructural”,
contaminación ha hecho que los países inicien indica la necesidad de estudios de hormigones
políticas cuyo enfoque es la disminución de estos alternativos que sean amigables con el medio
volúmenes de residuos mediante su reutilización ambiente a partir de propuestas que permitan su
apoyándose en procesos de reciclaje de hormigón. aplicación, con el objetivo de caracterizar las
Bolivia al igual que el resto del mundo crece sobre propiedades de áridos reciclados de desechos de
los cimientos del hormigón, una producción que se demolición (pavimentos) y verificar el
mueve a base de la utilización de cemento y recursos comportamiento mecánico básico de un hormigón
naturales como el agua y los áridos. Identificando que estructural reciclado. Concluyen, los áridos
otra actividad susceptible de generar grandes reciclados que provienen de pavimentos son más
impactos ambientales es la explotación de áridos ligeros, porosos y absorbentes que los áridos
debido a que esta extracción modifica el curso y naturales. A pesar de este decremento en la calidad
caudal de las aguas de los ríos, derrumbes, la pérdida de sus propiedades, pueden ser considerados como
de estabilidad, erosión de suelos incluso afectando el una opción aceptable en su uso como árido para
riego de los cultivos. hormigón estructural (Gámez, Saldaña, Gómez, &
Ante esta situación es necesario dar una mejor Corral, 2017).
utilidad de los residuos de hormigón procedentes de La producción de residuos de construcción y
obras específicas como los que tiene resistencia a demolición en las últimas décadas ha aumentado
compresión mayor a 25 MPa (H-25) debido a su alta empeorando el problema ambiental y el Estudio
calidad, obteniendo áridos reciclados para la comparativo de los áridos reciclados de hormigón y
fabricación de nuevos hormigones, lo cual también mixtos como material para sub – base de carreteras,
puede coadyuvar a reducir la explotación de áridos tuvo como objetivo analizar la viabilidad de utilizar
naturales. estos áridos que provienen de hormigón. Se analizó
Por el impacto ambiental del exceso de los siete áridos reciclados procedentes de tres plantas de
residuos de construcción se realizó el estudio reciclaje. Se utilizó una criba vibrante que separo
“Aplicación de los residuos de hormigón en áridos reciclados y otros se trituraron en un molino
materiales de construcción” con el objetivo de de impacto y separados con cribas vibrantes.
determinar la viabilidad del uso de áridos reciclados Concluyen que los áridos reciclados de hormigón
de residuos de hormigón en la fabricación de cumplen límites establecidos para capas granulares
hormigón y bloques de hormigón en Chile. La estructurales, y los áridos mixtos no cumplen algunas
metodología se realizó en tres etapas: la primera especificaciones de las normas. Al igual que otros
consistió en procesos de recuperación de los residuos estudios es importante el origen del árido reciclado
de hormigón y su caracterización física. La segunda, (Jiménez, Agrela, Ayuso, & López, 2011).
en el diseño de la mezcla de hormigón y sus Una construcción sostenible incluye la
propiedades mecánicas, según el método Faury- minoración, reutilización, reciclaje y revalorización
Joisel. La tercera, en el análisis y viabilidad del uso de los residuos que genera esta actividad. El estudio
del material de residuo en la fabricación del nuevo “Hormigones con áridos reciclados: estudio de
material según especificaciones técnicas. propiedades de los áridos y de las mezclas”.
Entre los resultados se estableció que la Caracterizaron a los áridos reciclados procedentes de
resistencia y densidad promedio del hormigón con hormigón, luego realizaron la fabricación de
áridos reciclados es muy similar al hormigón con hormigones estructurales reciclados con esos áridos.
áridos naturales, y que cumple los requerimientos de Además, estudiaron el proceso de fabricación y
la norma. Sin embargo, en el caso de los bloques de propiedades fundamentales comparados con
hormigón, su resistencia disminuye propiedades de un hormigón convencional. Los
aproximadamente un 13% y su contenido de finos y resultados que obtuvieron demuestran que los áridos
absorción es levemente menor a la estipulada en la reciclados son adecuados para nuevas fabricaciones,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


273
los hormigos reciclados presentaron valores de La investigación de Gámez et al. (2017) nos
densidad en estado fresco y endurecido inferior a los indica que es muy importante la caracterización del
naturales y valores de absorción superiores, su hormigón de origen para obtener los áridos
resistencia de compresión fue similar a los reciclados. Como las propiedades físicas y mecánicas
convencionales (González-Fonteboa & Martínez- del hormigón de origen porque repercuten en las
Abella, 2005). características de los áridos reciclados para
En otras aplicaciones el “Diseño y prestaciones de hormigón, como la porosidad y la absorción, es
morteros de albañilería elaborados con áridos recomendable estudiar nuevos tratamientos y la
reciclados procedentes de escombros de hormigón”. utilización de diferentes trituradoras. Por último, nos
Se utilizó una metodología de comparación de recomiendan analizar y establecer la forma en que
diferentes ensayos con distintas dosificaciones de influyen los áridos reciclados con procedencias de
materiales luego comparados. Los resultados desechos de hormigón de pavimentos en algunas
obtenidos fueron que un mortero aditivo con arena propiedades mecánicas, como el módulo de ruptura
reciclada y un mortero comercial con arena natural, (resistencia a la flexión) y el módulo, ya que el
evidencian que no hay diferencias significativas, tan hormigón de pavimento es diseñado específicamente
solo se relaciona con la absorción de agua, que resulta para cubrir dichas demandas.
de importancia en caso de utilización en exteriores de Los estudios permiten identificar los parámetros
estos morteros (Vegas, Azkarate, Juarrero, & Frías, que permitan obtener un porcentaje máximo
2009). admisible de árido reciclado. Y las posibles
El “Estudio de las propiedades fundamentales de resistencias de compresión que se puedan obtener (de
elementos prefabricados de hormigón estructurales, Guzmán Báez, 2010; Sánchez de Juan, 2004).
con incorporación de áridos reciclados en su La presente investigación se enfoca en analizar el
fabricación grueso y fina”. Este trabajo analiza el uso reciclado de áridos para la fabricación de
de residuos de construcción y demolición como hormigones, ya que debido al reciente crecimiento de
áridos en la producción de elementos de hormigón infraestructuras se generan grandes volúmenes de
prefabricado no estructural, realizando un estudio residuos de demolición, estos tienen una inadecuada
completo de propiedades de los áridos, así como gestión y aprovechamiento. Así el presente trabajo
pruebas de laboratorio para investigar la posibilidad permitirá difundir una alternativa de gestión y
de utilizar diferentes porcentajes dichos áridos en profundizar conocimientos teóricos y prácticos con
sustitución del árido natural y su influencia en las respecto al tema.
propiedades físicas y mecánicas. Considerando la problemática actual en la ciudad
Sus resultados muestran que hasta un 30 % de de La Paz podemos resaltar que las canteras de
sustitución de árido grueso natural por reciclado, extracción de agregados tanto gruesos como finos
tiene efectos menores sobre la resistencia a están a más de 50 km de las zonas en las que se
compresión de las probetas, pero este valor ejecutan la mayor cantidad de obras civiles, esto
disminuye a mayores niveles de remplazo. Y implica alteraciones del medio ambiente por
concluyen que los áridos reciclados presentan mayor extracciones de recursos naturales, el consumo de
capacidad de absorción que los áridos naturales energía en forma de combustible para el traslado de
debido a su alto contenido de impurezas que es desde estos agregados desde las canteras como también el
su origen. Los áridos reciclados mixtos obtenidos de empleo de horas hombre para la puesta en obra de los
una planta de reciclaje tienen potencial suficiente agregados extraídos.
para ser usados como áridos en la fabricación de Analizando la última construcción de impacto que
piezas de hormigón no estructural (de Guzmán Báez, se ejecuta en la ciudad de La Paz como es la
2010). autopista, se cuantificó el volumen de pavimento
De acuerdo con el estudio de Valdés et al. (2011) rígido reemplazado en 61.000 m3 lo cual equivale a
las resistencias del hormigón y los bloques de 145.000 Ton de desecho de hormigón. Si solamente
hormigón fabricados con áridos reciclados (grava y el 50% de este material seria reutilizado estaríamos
arena). Es viable reemplazar el 100% de árido natural hablando de más de 4.000 volquetas de 8m3 de
por material reciclado en la fabricación de bloques de agregado lo mismo que 3.200m3 de agregados que
hormigón, pues solamente se afecta su resistencia en pueden ser reciclados y empleado en la fabricación
una magnitud máxima del 17% sin descuidar el de nuevos hormigones.
cumplimiento de las normas chilenas de resistencia A pesar de que las cantidades de los Residuos de
utilizar este reciclado colabora con problemas medio Construcción y Demolición (RCD) son elevadas,
ambientales provocados por la extracción de áridos estos se han logrado gestionar con un proceder
naturales y la generación de residuos productos de la eficiente en diversas partes del mundo de forma
actividad de la construcción. reglada y con éxito. Suiza y Holanda son ejemplos de

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274
su recuperación (100% y 95% respectivamente); Fracción Fina y Gruesa
otros países con altas tasas de recuperación (más del
80%) son: Taiwán (92%), Alemania (89%), Bélgica Este método de prueba cubre la determinación de la
(86%), Estados Unidos (82%), Irlanda (80%) y Japón densidad de masa (“peso unitario”) de agregado en
(80%); y, por último, Francia y Noruega llegando a una condición compactada o suelta, y calculando
porcentajes de 60%. En el caso de España, la vacios entre partículas en fino, grueso o mezclas de
recuperación de estos se da de forma menos exitosa agregados basados en la misma determinación. Este
(10%). Gámez et al. (2017) método de prueba es aplicable a agregados que no
El uso de materiales reciclados puede contribuir excedan 5in [125mm] en tamaño máximo nominal
notablemente a la reducción del impacto ambiental (ASTM C29).
en este tipo de obras, evita el agotamiento de materias
primas ya que disminuye la actividad extractiva de
materiales primarios al sustituir en un porcentaje el
material de préstamo que suele proceder de canteras,
y reduce el volumen de residuos ocupado en
vertederos, en consecuencia, el avance en dicha
técnica contribuye notablemente a reducir el impacto
ambiental.
A nivel global, el uso de agregados reciclados es
una práctica relevante que tienen como propósito
prevenir la contaminación ambiental y disminuir el
impacto que ocasiona la extracción de agregados
naturales. De tal forma, es necesario el estudio de
hormigones alternativos que sean más amigables con
Figura 1. Muestra tamizada del pavimento rígido de
el medio ambiente a partir de propuestas que
la Autopista Héroes del Chaco. Muestra del 18 de
permitan su aplicación. Gámez et al. (2017)
Mayo de 2016.

2.2.2 Ensayo de Absorción de Agua


2 MATERIALES Y MÉTODOS
Determina el incremento en masa de los áridos,
2.1 Proceso de Obtención de Muestra
debido a la penetración de agua en los poros de las
partículas durante un periodo de tiempo prescrito,
Se colectaron muestras de hormigón provenientes del
pero sin incluir el agua adherida a la superficie de las
pavimento rígido antiguo de la autopista Héroes del
partículas, expresada como un porcentaje de la masa
Chaco que conectan las ciudades de La Paz – El Alto
seca.
consideradas con resistencias mayores a 25 MPa.
Se sumerge una muestra del árido en agua durante
Después, pasaron por dos procesos de trituración, la
24 horas hasta llenar los poros. Luego se retira del
primera empleando un martillo eléctrico donde se
agua, el agua es secada de la superficie de las
obtuvieron tamaños máximos de partículas de 2 cm a
partículas y se determina la masa. Luego, se
2,54 cm, en la segunda trituración se empleó un
determina el volumen de la muestra por el método de
combo para reducir el tamaño de las partículas. A
desplazamiento de agua. Por último, la muestra es
continuación, se procedió a la selección mediante la
secada al horno y se determina la masa. Utilizando
técnica del tamizado de medidas 1/8, ¼, ¾, 1”, se
los valores de las masas obtenidos y las fórmulas en
obtuvo 500 Kg de árido requeridos por el laboratorio
este método de ensayo, es posible calcular la
para la realización de los diferentes ensayos
densidad, la densidad relativa (peso específico) y la
solicitados (Figura 1).
absorción (ASTM C127).
2.2 Trabajos en Laboratorio de Hormigones
2.2.3 Ensayo Granulométrico
Las muestras obtenidas junto al material de origen
El principio básico del análisis granulométrico por el
natural como grava, gravilla y arena fueron
método del tamizado es un proceso mecánico
trasladadas al laboratorio LABOTEC/UMSA, donde
mediante el cual se separan las partículas de un suelo
se realizaron diversos ensayos cumpliendo las
en sus diferentes tamaños, este procedimiento
normas establecidas.
determina el tamaño de partículas utilizando tamices
de abertura especificada (ASTM C136).
2.2.1 Ensayo de Peso Específico de Agregado

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


275
(Tabla 1).
2.2.4 Ensayo de Rotura de Probetas Una vez realizadas las pruebas de consistencia y
armadas las respectivas probetas fueron curadas en
La resistencia a compresión del hormigón, según una cámara de temperatura mayor a los 35°C por el
ASTM C136, refiere a la amasada y se obtiene a tiempo establecido.
partir de los resultados de ensayos de rotura por
compresión, en número igual o superior a dos (2),
realizados sobre probetas normalizadas, fabricadas a
partir de la amasada, conservadas y ensayadas con
arreglo a lo indicado en las normas UNE 7240 y UNE
7242, respectivamente. Se utilizan probetas
cilíndricas, de 15 cm de diámetro y 30 cm de altura,
de 28 días de edad.

Figura 3. Ensayo de consistencia

Tabla 1. Consistencia técnica medida en el cono de


Abrams
Asentamiento Tolerancia
Consistencia
(cm) (cm)
Seca 0-2 0
Plástica 3-5 ±1
Blanda 6–9 ±1
Figura 2. Ensayo de rotura de probeta Fluida 10 - 15 ±2

2.3 Clasificación de los Hormigones, de Acuerdo con


su Resistencia 3 RESULTADOS

Los hormigones se tipifican, de acuerdo con su 3.1 Obtención de las Muestras Recicladas y Naturales
resistencia de proyecto a compresión, a los 28 días,
en probetas cilíndricas normales, según la siguiente Los resultados de la obtención de las muestras tanto
serie: H12,5; H15; H17,5; H20; H25; H30; H35; de los áridos naturales (AN) como también de los
H40; H45; H50; H55 donde las cifras áridos reciclados (AR) se la realizó bajo un criterio
correspondientes a las resistencias de proyecto, fck, general por lo que no se direccionó a obtener los
en MPa. mejores ni los de menor calidad, más bien se realiza
la obtención de material bajo el criterio de que
2.3.1 Consistencia cualquier persona natural pueda obtener el material a
partir de una recolección sin la necesidad de
La consistencia del hormigón será la necesaria para seleccionar de un sector específico de la estructura,
que, con los métodos de puesta en obra y esto para el caso del agregado reciclado que se obtuvo
compactación previstos, el hormigón pueda rodear a partir de los botaderos de escombros provenientes
las armaduras en forma continua y rellenar de la Autopista La Paz – El Alto sin la necesidad de
completamente los encofrados sin que se produzcan seleccionar el sector específico del mismo.
coqueras. La determinación de la consistencia del Para el caso del agregado natural tampoco se
hormigón se realizará utilizando el método del buscó que el mismo sea de un origen especifico o una
ensayo descrito en la norma UNE 7103. cantera preseleccionada, para este caso el material se
Las distintas consistencias y los valores límites de lo obtuvo de un proveedor el cual lleva el material a
los asentamientos correspondientes, medidos en el distintas obras en la Ciudad de El Alto por lo que
cono de Abrams de acuerdo con el método del ensayo podemos dar fe que es un producto de uso común y
indicando en la norma UNE 7103, son los siguientes que se lo encuentra y encontrara sin la necesidad de

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276
preseleccionar y el costo se encuentra dentro el superficialmente seco; peso unitario de áridos
promedio inferior comparado con los distintos reciclados y granulometría de áridos reciclados
proveedores. (GAR).
La sección fina del hormigón vale decir la arena
Nº4 se la obtuvo igualmente de un proveedor elegido 3.2.2 Caracterización de Áridos Naturales (AN)
al azar y sin un previo estudio lo cual garantiza que
su obtención puede ser replicada las veces que sean Se procedió a los siguientes ensayos: peso específico
necesarias. de áridos naturales (PEAN); peso específico de
Tomando en cuenta lo anterior, podemos áridos naturales en condición saturado
garantizar que el presente trabajo puede ser replicado superficialmente seco; peso unitario de áridos
en cualquier momento ya sea a nivel investigativo y/o naturales y granulometría de áridos naturales (GAN).
industrial sin la necesidad de realizar un análisis muy En la Figura 4 se puede observar que tanto áridos
profundo de las rocas de origen del material reciclados y naturales son comparados con los limites
requerido para el hormigón reciclado. estándar de la curva granulométrica.
Lo que en si resaltamos es que el material
reciclado si debe ser de un origen conocido
RCA (Ajustado) 100
(preferible hormigones estructurales mayores a una
RCA (Sin ajuste)
resistencia de H-25) más no es necesario que sea de
NA (Ajustado)
alguna fracción específica de la estructura. NA (Sin ajuste) 80
En el presente trabajo y bajo los comentarios Límite superior
de las personas que transportaban los escombros; el

% que pasa
Límite inferior
60
origen del árido reciclado viene a partir de los muros
de contención, cunetas, plataforma de rodadura y
demás obras de arte de la Autopista La Paz – El Alto. 40

3.2 Caracterización de los Materiales Reciclados y


20
Naturales

Sobre el lugar donde se procedió a los ensayos de 0


0,01 0,1 1 10
Laboratorio, este se dio en la Universidad Mayor de Abertura del tamiz (mm)
San Andrés en el LABOTEC (Laboratorio Técnico
de Construcciones Civiles) se tomó la decisión de Figura 4. Curva granulométrica.
realizar los ensayos en este laboratorio considerando
que el mismo se encuentra avalado académicamente 3.3 Dosificación y Procedimiento de Ensayo en
por el Mercosur y su maquinas se encuentran Laboratorio
certificadas por la institución pertinente de
calibración y metraje (IMETRO) (se adjunta La dosificación del hormigón fue realizada por el
certificación) lo cual avala que las máquinas y Director de Laboratorio Lic. Max Calle quien a su
herramientas fueron previamente calibradas por vez aplicó el método de la FAA para dosificación de
personas especialistas y competentes en el tema. hormigones con parámetros iniciales y mezclas
consideradas para ingresar en una curva
3.2.1 Caracterización de Áridos Reciclados (AR) granulométrica tipo.
Los porcentajes establecidos para el trabajo, las
Se procedió a los siguientes ensayos; peso específico dosificaciones y el resultado de ensayo de rotura de
de áridos reciclados (PEAR); peso específico de probetas a 7 días de curado fueran descrito en las
áridos reciclados en condición saturado Tablas 2, 3 y 4.

Tabla 2. Porcentajes de materiales


Cemento
Hormigón Código Arena nº4 Grava nat. Grava rec.
(kg/m3)
Hº control HC 40% 60% 0 350
Hº reciclado 1 HR1 40% 36% 24% 350
Hº reciclado 2 HR2 40% 30% 30% 350
Hº reciclado 3 HR3 40% 24% 36% 350
Hº sugerido 1 HS1 40% 0% 60% 385

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277
Tabla 3. Dosificaciones de hormigón
Cemento Arena Grava Gravilla Grava reciclada Rebatimiento
Tipo hº
kg. kg. kg. kg. kg. cm
HºC 5,25 13,20 6,90 7,18 - 3-7
HºR1 8,75 21,68 6,86 7,13 9,33 3-7
HºR2 8,75 21,68 5,15 5,36 12,83 3-7
HºR3 8,75 21,68 3,43 3,60 16,33 3-7
HºS1 9,63 21,68 - - 14,08 3-7

Tabla 4. Resultados de ensayo de rotura de probetas a 7 días de curado


Proy. 28
Identificación de muestra Características físicas Resultados
D.

Peso Per. Arena
Muestra Vaciado Ensayo H Kg.F Kgf/cm2 Mpa
Kg. Cm cm2
14-12- 21-12-
1 HC-1 13,305 48,1 184,12 30 25420 138,06 H-18,0
18 18
14-12- 21-12-
2 HC-1 13,487 48,3 185,65 30 29940 161,27 H-22,5
18 18
14-12- 21-12-
3 HR-1 12,934 48,2 184,88 30,2 35660 192,87 H-25,5
18 18
14-12- 21-12-
4 HR-1 13,411 48,3 185,65 30 29680 159,87 H-21,0
18 18
14-12- 21-12-
3 HR-2 13,129 48,3 185,65 30,2 32180 173,33 H-23,0
18 18
14-12- 21-12-
4 HR-2 12,539 48,3 185,65 30,1 33250 179,10 H-24,0
18 18

3.4 Resultado de Ensayo de Rotura de Probetas a 7 investigación se propone plantas especializadas para
Días de Curado el reciclado de áridos de hormigones de distinta
procedencia.
Analizando los resultados proyectados a partir de los En el ensayo de probetas de resistencia a
ensayos de siete días realizados en las probetas de compresión pasado los 7 días de curado el hormigón
hormigón se puede llegar a la conclusión que el elaborado con áridos reciclados alcanzó una
hormigón reciclado tipo 1 y 2 cumplen con lo resistencia de 19 MPa. Proyectando los resultados, se
resistencia mínima proyectada de H-21 MPa. E estima que a los 28 días se podrá aseverar, la hipótesis
incluso en el caso del HR-1 es mayor en un promedio de la presente investigación, que es de obtener nuevos
de 9% con relación al hormigón de control HC. hormigones, con resistencias mayores a 21 MPa. Es
Para el caso del HR-2 la resistencia es mayor en entonces que el hormigón reciclado muestra mayor
un 12% con relación al hormigón de control HC resistencia al hormigón de control la cual obtuvo una
dosificada para una resistencia de 21 MPa. resistencia a los 7 días de rotura de 16 MPa en el
Los resultados finales y que validarán esta mejor de los casos, mientras que en la proyección a
investigación en un 100% serán realizados a los 28 los 28 días muestra 18 MPa.
días. (Edad a la que se ensaya las probetas de Considerando la proyección de la rotura a los 28
hormigón de acuerdo a normas especializadas). días se puede observar que el hormigón reciclado es
factible en cuanto a la fabricación de nuevos
4 DISCUSIÓN hormigones, las cuales pueden ser utilizadas para
losetas y cordones de acera donde la exigencia de
Los resultados obtenidos demuestran que los áridos resistencia es menor, comparadas a uno de carreteras
reciclados son factibles en su uso, para la fabricación donde la exigencia del hormigón en cuanto a la
de nuevos hormigones, si su recolección es de forma resistencia es superior.
adecuada y de resistencia comprobada. Comparando con un estudio en el cual demuestra
Durante el proceso de trituración, las limitaciones una pérdida de resistencia del 17% al remplazar el
fueron la falta de maquinaria para adecuada como la 100% de árido natural por material reciclado (Vidal
trituradora de mandíbulas. Para futuras líneas de et al., 2011).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


278
302. https://doi.org/10.3989/mc.2010.54009
5 CONCLUSIÓN Sánchez de Juan, M. (2004). Estudio sobre la utilización
de árido reciclado para la fabricación de Hormigón
Con los resultados obtenidos a los 7 días, se ha Estructural. Universidad Politécnica de Madrid.
Escuela Técnica Superior de Ingenieros de Caminos,
demostrado que la utilización de áridos reciclados
Canales y Puertos, 514.
provenientes de hormigones con resistencia mayores https://doi.org/10.1016/j.clinph.2005.10.016
a 25 MPa es adecuada para la producción de Vegas, I., Azkarate, I., Juarrero, A., & Frías, M. (2009).
prefabricados de hormigón, obteniendo una pérdida Diseño y prestaciones de morteros de albañilería
en la resistencia del 21% en el caso más desfavorable elaborados con áridos reciclados procedentes de
(100% de árido reciclado), se pudo evidenciar que las escombro de hormigón. Materiales de Construcción,
propiedades de los áridos son favorables para ser 59(295), 5–18. https://doi.org/10.3989/mc.2009.44207
reutilizados. Vidal, G. V., Reyes-ortiz, Ó. J., & Peñuela, G. G. (2011).
La gran cantidad de residuos generados en este Aplicación de los residuos de hormigón en materiales
tipo de obras que son actualmente desechados y de construcción. Ingeniería y Desarrollo, 29(1), 17–33.
UNE 7103:1956. determinación de un índice de
generan contaminación en base a esta investigación
consistencia de los hormigones frescos, por el método
pueden ser reusados para el mismo propositito, esto del cono abrams.
es un gran aporte ya que ayudaría a reducir desechos.

AGRADECIMIENTOS

Los autores agradecen a la Universidad Tecnológica


Boliviana por financiar esta investigación, al
laboratorio LABOTEC/UMSA donde se
desarrollaron los respectivos ensayos.

REFERENCIAS

ASTM C29 (2007). Standard Test Method for Bulk


Density (“Unit Weight”) and Voids in Aggregate.
Recuperado de ASTM International:
http://www.astm.org/Standards/C29.htm.
ASTM C127 (2015). Standard Test Method for Relative
Density (Specific Gravity) and Absorption of Coarse
Aggregate. Recuperado de ASTM International:
http://www.astm.org/Standards/C127.htm
ASTM C136 (2014). Standard Test Method for Sieve
Analysis of Fine and Coarse Aggregates. Recuperado
de ASTM International:
http://www.astm.org/Standards/C136.htm.
Guzmán Báez, A. (2010). Estudio de las propiedades
fundamentales de elementos prefabricados de
hormigón no estructurales, con incorporación de
árido reciclado en su fracción gruesa y fina.
Universidad Politécnica de Madrid. Escuela
Universitaria de Arquitectura Tecnica, (Trabajo fin de
máster), 157.
Gámez, D. C., Saldaña, H., Gómez, J. M., & Corral, R.
(2017). Estudio de factivilidad y caracterización de
áridos para hormigón estructural. Ingeniería y
Desarrollo, 35(2145–9371), 56–60.
https://doi.org/10.1111/vop.12345
González-Fonteboa, B., & Martínez-Abella, F. (2005).
Recycled aggregates concrete: aggregate and mix
properties. Materiales De Construccion, 55(279), 53–
66. https://doi.org/10.3989/mc.2005.v55.i279.198
Jiménez, J. R., Agrela, F., Ayuso, J., & López, M. (2011).
Estudio comparativo de los áridos reciclados de
hormigón y mixtos como material para sub-bases de
carreteras. Materiales de Construcción, 61(302), 289–

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


279
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Geoprocessamento aplicado na seleção de áreas para a implantação


de aterro sanitário no município de Caiapônia (GO)
Lara Morinaga Matida
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, laramatida@gmail.com

Tomás Joviano Leite da Silva


Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, jovianotomas@gmail.com

Laís Roberta Galdino de Oliveira


Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, laisroberta@ufg.br

RESUMO: No Brasil, o déficit do tratamento e disposição final de resíduos sólidos é uma realidade nos municípios de
pequeno e médio porte. Desta forma, a determinação de um local adequado para implantação de aterros sanitários é uma
das etapas centrais do planejamento de uma gestão eficiente dos resíduos sólidos urbanos. Portanto, o presente trabalho
visa aplicar o geoprocessamento no processo de tomada-de-decisão para a implantação de um aterro sanitário no
município de Caiapônia-GO, em substituição ao lixão existente. Para tanto, utilizou-se um software compatível com
Sistemas de Informações Geográficas (SIG), na integração e análise de informações espaciais e descritivas. Inicialmente,
definiu-se uma taxa de geração para definir a área mínima de instalação do aterro sanitário. Posteriormente, foram
utilizados dados oficiais, das áreas de relevância para o estudo e, delineadas as limitantes geográficas, foram impostos os
critérios apresentados nas normas técnicas brasileiras e recomendações das resoluções ambientais. Essa análise
considerou os parâmetros como o uso do solo, as distâncias dos corpos hídricos, o grau de vulnerabilidade ambiental, a
distância da zona urbana e a declividade do terreno, para determinar as áreas capazes de receber e operar um aterro
sanitário. Assim, através dessa análise multicritério tem-se que as áreas adequadas para instalação do aterro sanitário de
Caiapônia-GO correspondem a cerca de 6,52% da superfície do município, e que os modelos de dimensionamento de
aterros podem ser integrados à análise espacial para determinar, de forma preliminar, zonas ótimas para a adequada
implantação de aterros sanitários.

PALAVRAS-CHAVE: Disposição Final, Resíduos Sólidos, SIG, Análise multicritério.

ABSTRACT: In Brazil, the deficit in the treatment and final disposal of solid waste is a reality in small and medium-
sized municipalities. This way, the determination of a suitable place for the implantation of sanitary landfills is one of the
central steps of the planning of an efficient management of the urban solid residues. Therefore, the present work aims to
apply geoprocessing in the decision-making process for the implementation of a sanitary landfill in the municipality of
Caiapônia-GO, replacing the existing dump. For this purpose, software compatible with Geographic Information Systems
(GIS) was used to integrate and analyze spatial and descriptive information. Initially, a generation rate was defined to
define the minimum area for installing the landfill. Subsequently, official data were used, from the areas of relevance for
the study and, delineating the geographic limitations, the criteria presented in the Brazilian technical standards and
recommendations of the environmental resolutions were imposed. This analysis considered parameters such as land use,
distances from water bodies, degree of environmental vulnerability, distance from the urban area and terrain slope, to
determine the areas capable of receiving and operating a sanitary landfill. Thus, through this multi-criteria analysis, the
areas suitable for installing the sanitary landfill in Caiapônia-GO correspond to about 6.52% of the surface of the
municipality, and that the landfill sizing models can be integrated with the spatial analysis to determine, in a preliminary
way, optimal zones for the adequate implantation of landfills.

KEY WORDS: Final Disposal, Solid Waste, GIS, Multi-criteria analysis.

que se agrava continuamente. Isso ocorreu


1 INTRODUÇÃO especialmente nos Governos de Getúlio Vargas e
Juscelino Kubitschek, entre 1930 e 1960. A
A geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no industrialização e urbanização aceleradas causaram
Brasil está ligada à expansão dos centros urbanos, problemas semelhantes aos de outras cidades do

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


280
mundo, como aglomeração da população, falta de adequados representa um risco à saúde humana
saneamento básico e geração excessiva de resíduos. (Silveira et al., 2019). Diante disso, uma das
Essas complicações resultaram na situação atual demandas urgentes do município é estabelecer uma
(Cano, 2017). forma adequada de destinação de seus resíduos. Para
Tal fato, intensificou a produção científica sobre se adequar ao previsto na Política Nacional de
esse assunto no Brasil, a partir da década de 80, e o Resíduos Sólidos (PNRS), é necessário implantar um
Governo brasileiro também começou a atuar na aterro sanitário que atenda às necessidades do
criação de legislação ambiental (ABGE, 2017). Um município. No entanto, a implantação desse tipo de
marco histórico foi sediar a conferência da obra exige um estudo prévio para alocar
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio adequadamente a estrutura e atender aos requisitos
Ambiente e o Desenvolvimento (ECO 92), que mínimos para esse tipo de atividade, visando
culminou na elaboração da ‘Agenda 21 Brasileira’, minimizar o dano possível ao meio ambiente (ABNT,
um instrumento de planejamento para o 1997).
desenvolvimento sustentável nas áreas de meio Assim, a utilização do georreferenciamento
ambiente, econômica e de bem-estar social, inclusive tornou-se uma ferramenta relevante para o estudo de
na gestão dos resíduos sólidos (MMA, 1995; gestão e implantação de aterros sanitários,
Veronez, 2012). destacando-se sua utilização na delimitação de áreas
Apesar das inovações e propostas apresentadas tecnicamente impróprias para localização do aterro
por essa conferência, o cenário brasileiro continuou a sanitário, capaz de reduzir significativamente a área
sofrer com os problemas socioambientais. Nesse do território a ser estudada com mais profundidade
sentido, observou-se um constante aumento do (Carrilho, Candido & Souza, 2018; Cardoso, Blanco
consumo nos centros urbanos e, proporcionalmente, & Friaes, 2021; Dutra et al., 2019). Os estudos nessa
um incremento na geração de resíduos sólidos área empregam Sistemas de Informações
urbanos (ABRELPE, 2021). Com o foco na gestão de Geográficas (SIG), fundamentalmente, na integração
resíduos, foi instituída a Lei Federal nº 12.305 e análise de informações espaciais e descritivas.
(Brasil, 2010), regulamentada pelo Decreto Federal Estas permitem a simulação de várias alternativas de
nº 7.404 (Brasil, 2010), que institui a Política planos de disposição e resultam na avaliação
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Contudo, até integrada de aspectos técnicos, ambientais, legais,
o ano de 2021, vários municípios brasileiros não sociais e econômicos em concordância com leis e
conseguiram atender a PNRS, em relação à decretos governamentais, ou seja, uma análise
disposição adequada dos resíduos em aterros multicritério, como apresentado por Poague et al.
sanitários, uma vez que, os descartes continuaram a (2020). Nesse contexto, o presente trabalho apresenta
ser realizados em aterros controlados ou lixões como objetivo a utilização do geoprocessamento para
(ABRELPE, 2021). Ademais, por meio de uma proposição de regiões aptas para implantação de um
estimativa realizada pela Associação Brasileira de aterro sanitário no município de Caiapônia-GO.
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(ABRELPE), em 2021, o Brasil coletou cerca de 76
milhões de toneladas de RSU, desses, apenas 60,2% 2 MATERIAL E MÉTODOS
foram descartados em aterros sanitários (ABRELPE,
2021). 2.1 Qualificação da área de estudo
Nos 467 municípios da região Centro-Oeste,
aproximadamente 52% destinaram seus resíduos A qualificação da área de estudo baseia-se na
sólidos urbanos (RSU) para aterros sanitários pesquisa e sintetização de dados fornecidos pelo
(Camargos, 2018). No entanto, como a maioria dos Governo do Estado de Goiás e pela Prefeitura de
municípios da região, Caiapônia, em Goiás, Caiapônia, publicados em sites oficiais, decretos e
encaminha seus RSU para um lixão (ABETRE, leis. Esta fase almeja obter dados de localização,
2021). Infelizmente, o lixão de Caiapônia é um dos área, número de habitantes e geometria da malha
maiores problemas em termos ambientais e urbana.
administrativos para o município. O local apresenta O município de Caiapônia pertence à Mesorregião
disposição desordenada dos resíduos, frequentes do Sul Goiano e Microrregião do Sudoeste de Goiás,
ocorrências de incêndio e sinais de contaminação do sendo limitada pelas cidades: Piranhas, Arenópolis,
lençol freático e dos corpos hídricos, já que está Palestina de Goiás, Ivolândia, Montividiu, Rio
localizado sobre um divisor de águas que separa a Verde, Jataí, Perolândia, Portelândia, Doverlândia e
nascente do Córrego do Caixão e o Córrego dos Baliza (IBGE, 2012). Ainda conforme o IBGE
Buritis (Vieira, 2014). Além disso, a presença de (2012), Caiapônia-GO possui uma população
catadores sem os equipamentos de proteção estimada de 19.107 habitantes no ano de 2020,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


281
apresenta densidade demográfica de Diante dos critérios estabelecidos e consoante o
aproximadamente 1,94 hab./km² e uma área corpo normativo, as áreas foram classificadas em
territorial de 8.627,961 km². adequadas e inadequadas para implantação do aterro
sanitário.
2.2 Lixão de Caiapônia
2.4 Geoprocessamento e Software
O lixão do município de Caiapônia–GO está
localizado nas coordenadas geográficas W-16 59' A ferramenta computacional de geoprocessamento
22.81701'', S-51 49' 51.73656', possui uma área de de dados utilizada foi o software QGIS 3.22.4, a qual
47.372 m², e está situado cerca de 2 km do centro constituiu-se como plataforma de trabalho para
urbano, como apresentado por Vieira (2014). realização das interfaces gráficas. Já os dados base
Em uma investigação realizada no ano de 2019 foram obtidos por meio das informações providas
constatou-se que as atividades de disposição final do pelos Governos federal e estadual, estruturadas
RSU tiveram início no ano de 1998, com a execução conforme as normativas do Instituto Brasileiro de
de um aterro sanitário, projetado para atender 25.000 Geografia e Estatística (IBGE. 2022) e o Sistema
habitantes e com a vida útil de 20 anos, para uma Estadual de Geoinformação (SIEG). Assim, com a
produção diária de 0,60 kg/hab./dia (Silveira et al., utilização do geoprocessamento e os dados obtidos
2019). de Caiapônia-GO, foi possível avaliar as áreas aptas
A Prefeitura local disponibilizou documentos à implantação do aterro sanitário, mediante uma
referentes à instalação e projeto de um aterro análise multicritério, considerando critérios
controlado, contudo, o mesmo não apresenta: operacionais, econômicos e ambientais.
revestimento de fundo, tratamento do metano e
percolado, controle tecnológico em relação à 2.5 Cálculo da área mínima do aterro sanitário
compactação e cobrimento do resíduo (Silveira et al.,
2019). No entanto, o projeto de implantação do aterro Para o cálculo da área mínima do aterro sanitário foi
controlado de Caiapônia funcionou apenas nos necessário definir alguns parâmetros de projeto.
primeiros anos, devido a fatores externos à gestão Portanto, neste estudo, foi considerado uma vida útil
técnica, então, o local tornou-se um lixão após lapso de 20 anos, valor superior ao mínimo determinado na
temporal (ABETRE, 2021). NBR 13896 (ABNT, 1997).
Para estimar a população da cidade no ano de
2.3 Critérios para seleção da área 2043, a Equação 1 (Santos e Girard, 2007) foi
utilizada, com valor da taxa de crescimento
Os critérios para a seleção da área de implantação do populacional anual de 1,32%, valor aferido através
aterro sanitário foram embasados na instrução do SIEG para o município de Caiapônia no ano de
normativa Nº 05 (Goiás, 2010), a qual traz em seu 2020.
anexo único os critérios de seleção da área para
implantação do aterro sanitário, e constitui uma etapa 𝑃𝑓 = 𝑃𝑖 + (1 + 𝑖)𝑡 (1)
para a Licença Prévia. Além disso, existem os
aspectos definidos nas normativas brasileiras NBR Na qual:
13896 (ABNT, 1997) e a resolução CONAMA n° Pf: População futura
404/2008 (CONAMA, 2008), as quais trazem: Pi: População inicial/atual
● Topografia: declividade máxima de 15%; i: Taxa de crescimento anual
● Distância de corpos hídricos: distância mínima de t: tempo em anos
0,3 km de corpos hídricos e nascentes;
● Distância das áreas de conservação: distância Ao estimar a população futura, é possível aferir a
mínima de 10 km das unidades de conservação; quantidade e volume de resíduo produzido. Neste
● Distância do perímetro urbano: distância mínima sentido, foi considerado uma produção per capita de
de 3 km e máxima de 25 km (medida em linha resíduo de 0,58 kg.hab-1.dia-1 (GOIÁS, 2017). Assim,
reta do centro geométrico da coleta); a quantidade de resíduos produzida diariamente, foi
● Vias de acesso: devem ser mantidas em bom obtida com a Equação 2.
estado de conservação, permitindo o tráfego de
veículos pesados durante todo o ano; 𝑄𝑓 = 𝑃𝑓 ∗ 𝑎 (2)
● Vida útil: no mínimo de 15 anos;
● Uso do solo: uso de áreas que atendam a Na qual: Qf: Quantidade total de resíduos
legislação municipal de Uso e Ocupação do Solo, produzidos diariamente; a: produção per capita de
com preferências daquelas antropisadas. resíduos.

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282
O cálculo do volume total de resíduos ao longo da
vida útil do aterro é realizado pela multiplicação do
volume diário de resíduos pelos dias de um ano (365)
e pelos anos de vida útil do aterro, conforme
mostrado pela Equação 3. Também se considera que
o volume é a massa dividida pelo peso específico, e
para esse estudo de caso, foi considerado o peso
específico do resíduo compactado de 700 kg.m-3
(Paiva, 2005).
𝑄𝑓
𝑉𝑡 = ∗ 365 ∗ 𝑡 (3)
700

Na qual: Vt: Volume total de resíduos ao longo da


vida útil do aterro.

Assim, para obtenção da área estimada de uma


célula unitária de resíduos, adotou-se que a altura
máxima que a deposição pode atingir é de 6 metros,
a qual é obtida com a Equação 4.
𝑉𝑡
𝐴 = (4) Figura 1. Mapa de uso do solo, no município de
𝐻
Caiapônia - GO.
Na qual: A: Área mínima para implantação do
aterro sanitário; H: Altura O mapa das distâncias dos corpos hídricos (Figura
2) foi elaborado considerando uma distância de 300
metros para rios simples e duplos, nascentes e massas
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO de água. Com essa restrição, apenas 34,38% da área
total foi considerada adequada para a implantação do
Os parâmetros de projeto obtidos com a aplicação das aterro. Esse valor é justificado pelo grande número
equações descritas no tópico Materiais e Métodos de nascentes cadastradas (7.508) e cursos d'água
estão apresentados na Tabela 1. Assim, a área mínima duplos (391) com larguras maiores que 10 m, além de
a ser reservada para a implantação de um aterro 11.540,30 km de cursos de água simples com largura
sanitário, com vida útil de 20 anos, no município de inferior a 10 m no município (Goiás, 2017).
Caiapônia, Goiás, foi de 2,60 ha. Foi realizada uma avaliação das áreas com base na
vulnerabilidade ambiental, que considera a
Tabela 1. Parâmetros de projeto para seleção de área de um declividade, a área legal e a vegetação/uso e
aterro sanitário para Caiapônia-GO. ocupação (Silva, 2009), e está ilustrada na Figura 3.
Pf (hab) Qf (kg) Vt (m3) A (m2) Essa abordagem indica a possibilidade de ocorrerem
problemas ambientais em decorrência da atividade
25833 14983,14 156252,75 26042,12
humana e permite estabelecer recomendações para
Legenda: Pf: população futura, Qf: quantidade total diária
um maior controle e proteção. Por conseguinte, a
de resíduo sólido, Vt: volume total ao longo da vida útil,
e A: área necessária. instalação de aterros sanitários em áreas classificadas
com alta vulnerabilidade ambiental deve ser evitada,
Em relação ao uso do solo (Figura 1) é possível visto que tal prática aumenta o risco de contaminação
verificar que conforme as normativas o uso das áreas do solo e das águas superficiais e subterrâneas.
classificadas como edificada, com águas, e Consequentemente, apenas 65,15% da área total do
silvicultura, são impedidas de serem utilizadas para o município é adequada para a construção do aterro
aterro. Também, recomenda-se a não utilização das sanitário.
áreas com formação florestal, a fim de minimizar os
impactos ambientais. Portanto, por meio da análise
de uso do solo, as áreas adequadas para implantação
do terreno são, preferencialmente, as antropisadas e
de formação não florestal, as quais representam cerca
de 78,67% da área do município.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


283
mínimas (300 metros) e máximas da zona urbana (25
km) são: infraestrutura urbana, disponibilidades de
acesso, aceitação da população e economia
operacional (CONAMA, 2008). Vistos esses
critérios, a porcentagem da área municipal adequada
é de 21,41%.

Figura 2. Mapa das distâncias dos corpos hídricos do


município de Caiapônia - GO.

Figura 4 . Mapa da distância da zona urbana do


município de Caiapônia - GO.

Na última etapa, foi analisado dentro parâmetros


das normativas, as áreas que contemplam as
declividades do terreno recomendadas, que são
menores que 15%. Essa avaliação das inclinações
naturais está representada na Figura 5.
As limitações adotadas para definir a área
apropriada para a construção do aterro sanitário
foram combinadas por meio de superposição dos
mapas. Em etapa posterior, foram retiradas as áreas
de intersecção que apresentavam os parâmetros em
não-conformidade com critérios de projeto. Essa
etapa foi consolidada no mapa de áreas inadequadas,
exibido na Figura 6.
Neste contexto, as áreas adequadas para
Figura 3 . Mapa da vunerabilidade Ambiental do construção do aterro sanitário de Caiapônia-GO
município de Caiapônia - GO. correspondem a cerca de 6,52% da área total
municipal, ou seja, apenas essa porcentagem da área
Outra análise efetuada para avaliação das áreas foi de Caiapônia apresentam todos os requisitos e
a da distância da zona urbana municipal (Figura 4). recomendações normativas, analisados nesse estudo,
Sabe-se que o aterro sanitário não deve ser construído para a determinação do local do aterro sanitário.
próximo à área edificada municipal, entretanto, não é
recomendável, economicamente, grandes distâncias
da zona urbana, já que, a coleta de RSU,
majoritariamente, é realizada nesta área. Outros
aspectos analisados na determinação das distâncias

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


284
recomendadas para implantação de aterros sanitários
em Caiapônia.

4 CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo auxiliar na escolha


da área mais adequada para a construção de um aterro
sanitário no município de Caiapônia-GO, consoante
as normas estaduais e nacionais. Para definir a região
viável, foram considerados critérios, como a
preservação do solo, das águas superficiais e
subterrâneas, além de critérios sociais e econômicos.
Diante das análises realizadas, apenas 6,52% da
área do município foram classificadas como áreas
aceitáveis para a instalação do aterro sanitário. Deve-
se enfatizar que a distância mínima recomendada
para os corpos hídricos foi um dos principais fatores
que influenciaram a redução da área, diminuindo em
cerca de 65,62% a área apta para implantação do
aterro. Portanto, para definir a melhor área entre
aquelas classificadas como adequadas, estudos mais
Figura 5 . Mapa da declividade no município de detalhados devem ser realizados, especialmente em
Caiapônia - GO. relação à geologia, hidrogeologia, geomorfologia e
classificação geotécnica dos solos.
Para esse fim, o geoprocessamento foi
empregado, o qual se mostrou como uma ferramenta
eficaz e de baixo custo na determinação de áreas
adequadas para a implantação de aterros sanitários.
No entanto, a abordagem com o sistema de
informações georreferenciadas é limitada pela
quantidade e qualidade dos dados disponíveis, mas
seu baixo custo e eficiência demonstra sua
importância social e técnica na implantação do aterro
sanitário no município.

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desde que haja suporte técnico adequado. Portanto, 2010. Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de
com base técnica e estudos complementares, é 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos
possível aumentar a porcentagem de áreas Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política
Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador
para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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286
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Influência da Carbonatação no Módulo de Resiliência de


Solos Estabilizados com Escória de Aciaria Elétrica
Primária
Jéssica Mota Souto
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, jemota03@gmail.com

Laís Brenda Lopes Rezende


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, laisld@yahoo.com.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaushenrique@hotmail.com

RESUMO: A carbonatação é uma reação química que ocorre a longo prazo em misturas de solo com
materiais à base de cal, por exemplo em solos estabilizados utilizados na pavimentação, e se dá entre o
hidróxido de cálcio e o dióxido de carbono, formando carbonato de cálcio. Este trabalho teve como objetivo
estudar o efeito da carbonatação de um solo estabilizado com escória de aciaria elétrica primária (EAEP)
através da análise do módulo de resiliência (MR). Para tal, foram realizadas misturas solo-EAEP na
proporção de 80% de solo e 20% de EAEP. Os corpos de prova foram compactados no teor de umidade
ótimo, na energia Proctor normal, e divididos em dois tipos de cura. A Cura 1 foi realizada por 35 dias em
câmara úmida, enquanto a Cura 2 foi realizada por 28 dias em câmara úmida seguida de 7 dias em câmara
de carbonatação acelerada, totalizando 35 dias, visando avaliar o efeito da carbonatação no longo prazo das
misturas solo-EAEP. Os resultados de MR foram de 54,71 MPa para a amostra de solo natural, 78,21 MPa
para a mistura solo-EAEP submetida à Cura 1 e 117,15 MPa para a mistura solo-EAEP submetida à Cura
2. Os resultados apontaram para uma melhoria do comportamento resiliente das misturas em relação ao
solo na condição natural, indicando que a EAEP pode ser utilizada como agente estabilizador de solos de
baixa capacidade de suporte. Adicionalmente, a carbonatação se mostrou benéfica ao comportamento
resiliente das misturas solo-EAEP no longo prazo.

PALAVRAS-CHAVE: Carbonatação Acelerada, Estabilização de Solos, Módulo de Resiliência,


Pavimentação.

ABSTRACT: Carbonation is a long-term chemical reaction in soil mixtures containing lime-based


materials, such as stabilized soils used for paving. It occurs between calcium hydroxide and carbon dioxide,
forming calcium carbonate. The objective of this work was to study the effects of carbonation on a soil
stabilized with electric arc furnace slag (EAFS) by analyzing the resilient modulus (RM). For this purpose,
soil-EAFS mixtures were prepared at a ratio of 80% soil and 20% EAFS. The specimens were compacted
to the optimum moisture content, the normal Proctor energy, and divided into two types of cure. Curing 1
was conducted in a humid chamber for 35 days, while curing 2 was conducted in a humid chamber for 28
followed by 7 days in an accelerated carbonation chamber, for a total of 35 days, to evaluate the effects of
long-term carbonation of soil-EAFS mixtures. The results from RM were 54.71 MPa for the natural soil
sample, 78.21 MPa for the soil-EAFS mixture subjected to curing 1 and 117.15 MPa for the soil-EAFS
mixture subjected to curing 2. The results indicate an improvement in the resilient behavior of the mixtures
compared to the soil in its natural state, suggesting that EAFS can be used as a stabilizing agent for soils
with low bearing capacity. In addition, carbonation was found to be beneficial for the long-term resilient
behavior of soil-EAFS mixtures.

KEY WORDS: Accelerated Carbonation, Soil Stabilization, Resilient Modulus, Paving.

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287
1 INTRODUÇÃO do solo, o que aumenta sua resistência. Foi
constadado também, por Hossen et al. (2020),
No Brasil, os resíduos siderúrgicos diretos, melhoria nas propriedades mecânicas através da
excluindo os de refeitórios, administração, carbonatação de uma mistura de areia siltosa com cal,
construção civil e outros, correspondiam à em que se observou que os valores de resistência à
aproximadamente 20,1 milhões de toneladas em compressão simples aumentaram devido à
2017, dos quais 27% correspondiam à escória de carbonatação do hidróxido de cálcio e que o tempo
aciaria. O Brasil é um dos maiores produtores de aço de carbonatação também promovia melhoria nesta
bruto do mundo, produzindo, em 2018, propriedade.
aproximadamente 35,4 milhões de toneladas, Um dos métodos mais comuns de se avaliar as
correspondendo à 2% da produção mundial e à 53,8% propriedades de um solo, visando seu emprego em
da produção da América Latina. Da produção pavimentação, é o ensaio de ínidice CBR (California
brasileira de aço em 2018, 29,92% foram gerados no Bearing Ratio), utilizado atualmente como um dos
estado de Minas Gerais, o que o torna o maior parâmetros fundamentais no método de
produtor de aço bruto do país (IAB, 2019). dimensionamento empírico do DNER, que
Dentre os resíduos siderúrgicos, está a escória de caracteriza mecanicamente os materiais constituintes
aciaria elétrica primária (EAEP), que é produzida no das camadas estruturais do pavimento.
primeiro processo de refino do aço bruto em um forno Entretanto, esse ensaio envolve uma aplicação
elétrico à arco. Nesse processo, uma corrente elétrica lentam por um período de vários minutos, de uma
é usada para aquecer a cal e/ou a dolomita até o tensão crescente, envolvendo grandes deslocamentos
estado líquido. Ao longo do processo de fusão, a cal e ruptura. Esse estado de tensões não corresponde ao
e a dolomita são combinadas com sucata não metálica efeito da ação de cargas transientes que se repetem
para formar uma escória líquida, que flutua no topo sobre os materiais da estrutura de um pavimento,
do material fundido e posteriormente é separada e aplicadas em geral em frações de segundo, com
resfriada, formando a EAEP. Em geral, o elemento intensidades variadas e com diferentes frequências,
cálcio predomina em sua composição química gerando pequenos deslocamentos, em contradição
(Rodrigues, 2022a). com o ensaio CBR . Visando reproduzir de maneira
Considerando a necessidade de redução do mais realista o comportamento dos materiais em
consumo de recursos naturais empregados como campo, começou-se a ser utilizado o ensaio de
matéria-prima na construção civil e a grande geração Módulo de Resiliência (MR), o qual consegue aplicar
de EAEP alguns estudos têm sido realizados a fim de carregamentos cíclicos considerando diversos
avaliar os aspectos técnicos relacionados ao uso da estados de tensões. Esse ensaio vem sendo cada vez
EAEP como um material alternativo na construção mais utilizado devido à recente implantação do
civil, com destaque para obras de pavimentação que Método de Dimensionamento Nacional (MeDiNa), o
consomem uma grande quantidade de material (Al- qual é baseado em métodos mecanístico-empíricos
Amoudi et al., 2017, Diniz et al., 2017, Penteado et que utilizam como princípio a teoria da elasticidade.
al., 2019, Sebbar et al., 2020, Sosa et al., 2020). O ensaio de MR é realizado através de um
Há duas formas de carbonatação de misturas entre equipamento (Figura 1) que promove a aplicação de
solo e materiais à base de cal: natural e artificial ou cargas repetidas em um corpo de prova, compactado
acelerada. Man Li et al. (2023) resumem a primeira ou indeformado, inserido em uma câmara de
como resultado do processo lento da penetração de compressão triaxial, onde são aplicados diversos
CO2 no solo, que reage com materiais carbonizáveis estados de tensões no material, visando determinar o
sob condições naturais. A segunda é decorrente de seu comportamento resiliente.
um processo artificial, onde sob condições de
temperatura, pressão e umidade controladas, é
possível acelerar a caarbonatação. Esta última,
provou ser capaz de fornecer uma previsão dos
efeitos da carbonatação natural, que ocorre a longo
prazo, de forma precisa e em curto prazo (Younsi et
al., 2022), além de já ter sido utilizada na engenharia
geotécnica para promover melhoria das propriedades
do solo (Rodrigues, 2022a) e remediação de solos
contaminados (Estabragh et al., 2022).
De acordo com Mohammed et al. (2021), os
produtos gerados da carbonatação (carbonatos de
cálcio) de uma mistura solo-cal preenchem os vazios

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288
e moídas por cerca de duas horas em um equipamento
de Abrasão Los Angeles, buscando a redução de sua
granulometria inicial (Figura 2), em partículas de
diâmetros menores que 0,6 mm, para aumentar sua
superfície específica e, consequentemente, aumentar
o seu potencial de reações químicas.

Figura 1: Máquina utilizada para determinação do


Módulo de Resiliência.

Figura 2: Escória armazenada em sacos antes de ser


Alguns fatores que influenciam na variação dos moída.
valores de MR são: condição de carregamento,
composição granulométrica, estado físico, histórico
de tensões e método utilizado na compactação 2.1.2 Solo
(Medina; Preussler, 1980; Svenson, 1980; Lima et
A amostra de solo foi coletada de uma jazida de
al., 2018; Santos et al., 2019).
empréstimo localizada no Município de Viçosa,
Este estudo teve como objetivo analisar o efeito
Estado de Minas Gerais, Brasil. Foi realizada uma
da carbonatação no MR de amostras de solo
amostragem deformada, por meio de escavação com
estabilizadas com EAEP, a fim de melhorar suas
ferramentas manuais. A amostra foi transportada em
propriedades para promover condições de uso na
pavimentação. tonéis vedados para o laboratório de Engenharia Civil
da UFV, seguindo o exigido pela norma técnica PRO
003 (DNER, 1994). Os procedimentos de preparação
2 MATERIAIS E MÉTODOS
da amostra de solo (Figura 3) para os ensaios
2.1 Materiais geotécnicos de laboratório seguiram a norma técnica
NBR 6457 (ABNT, 2016a).
2.1.1 Escória de Aciaria Elétrica Primária

Neste estudo, a coleta da amostra de escória de


aciaria elétrica primária (EAEP) ocorreu de acordo
com as recomendações da norma técnica NBR 10007
(ABNT, 2004), segundo a qual uma amostra é
representada pela soma de frações individuais deste
resíduo, colhidas de uma pilha de estocagem,
variando o ponto e profundidade da coleta, realizando
posteriormente a mistura, homogeneização e
quarteamento.
Essas amostras foram coletadas após de cerca de
72 (setenta e duas) horas da sua geração, transporte
para a planta de britagem, processamento para a
retirada da fração metálica e descarte em pilha de
Figura 3: Amostra de solo sendo peneirada.
estocagem.
As amostras de EAEP foram armazenadas em
tonéis vedados, transferidas para o laboratório de 2.2 Métodos
Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa,

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289
2.2.1 Ensaios de Caracterização

2.2.1.1 Escória de Aciaria Elétrica Primária

A amostra de EAEP foi preparada segundo a


norma técnica NBR NM 27 (ABNT, 2001) e, na
sequência, utilizou-se as metodologias prescritas para
cimento Portland, para realizar os seguintes ensaios:
(i) Distribuição granulométrica, conforme a norma
técnica ISO 13320 (ISO, 2020); (ii) Finura por
peneiramento, conforme a norma técnica NBR 11579
(ABNT, 2012); (iii) Superfície específica, conforme
a norma técnica NBR 16372 (ABNT, 2015); e (iv)
Massa específica real, determinada com o emprego
Figura 4: Corpos de prova compactados.
do frasco volumétrico de Le Chatelier, conforme a
norma técnica NBR 16605 (ABNT, 2017).
Após a moldagem, todos os CPs foram
2.2.1.2 Solo submetidos a 28 dias de cura selada em câmara úmida
e, na sequência, metade passaram mais 7 dias em
Para a realização da caracterização geotécnica da câmara úmida, enquanto a outra metade passou 7 dias
amostra de solo foram realizados os seguintes em câmara de carbonatação acelerada, totalizando 35
ensaios: (i) Granulometria conjunta, conforme norma dias de cura para cada um dos dois tipos de cura,
técnica NBR 7181 (ABNT, 2016b); (ii) Limites de como mostrado no esquema da Figura 5. A câmara de
Atterberg, limite de liquidez e limite de plasticidade, carbonatação acelerada utilizada consistia em um
conforme normas técnicas NBR 6459 (ABNT, ambiente com 95% a 100% de concentração de CO2,
2016c) e NBR 7180 (ABNT, 2016d), umidade relativa do ar entre 65% a 80% e
respectivamente; (iii) Massa específica dos grãos do temperatura de cerca de 20 ºC.
solo, conforme norma técnica NBR 6458 (ABNT,
2016e); e (iv) Compactação na energia do Proctor Cura 1:
normal, conforme norma técnica NBR 7182 (ABNT,
7 dias em
2016f), para fins de determinação do peso específico Câmara
aparente seco máximo (γdmáx) e do teor de umidade 28 dias
Moldagem dos em Úmida
ótimo (wot) do solo compactado.
CPs Câmara Cura 2:
Úmida
2.2.2 Mistura e Moldagem de Corpos de Prova 7 dias em
Carbonatação
A partir de um planejamento experimental de Acelerada
misturas em rede simplex-centroide realizado Figura 5: Esquema de curas dos CPs.
previamente, confeccionou-se os corpos de prova
(CP) com a proporção de 80% de solo e 20% de
EAEP em relação à massa seca da mistura, pois essa 2.2.3 Ensaios de Compactação
dosagem foi a que obteve melhor resultado no
planejamento experimental realizado. Todas as amostras foram preparadas de acordo
Foram confeccionados corpos de prova, como os com a norma técnica NBR 6457 (ABNT, 2016a) e
apresentados na Figura 4, para o ensaio de MR em compactadas conforme NBR 7182 (ABNT, 2016f) na
moldes cilíndricos com diâmetro de 50 mm e altura energia Proctor normal.
de 100 mm, com base em outros trabalhos analisados
previamente (Deneele et al., 2021; Hossen et al., 2.2.4 Ensaio de Módulo de Resiliência
2020; Vitale et al., 2021; Xu et al., 2020).
O ensaio de MR foi executado conforme a norma
técnica ME 134 (DNIT, 2018), utilizando os pares de
tensões sugeridos para amostras de solos a serem
utilizados como camada de subleito em pavimentos
flexíveis. Utilizou-se o pulso de carregamento com
duração de 0,1 segundo e o período de repouso com

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290
duração de 0,9 segundo, totalizando um ciclo de 1 A caracterização geotécnica da amostra de solo
segundo. analisada é mostrada na Tabela 1, a qual também
Na Figura 6 é apresentado um corpo de prova na apresenta a classificação da amostra do solo segundo
câmara triaxial. a Metodologia MCT (Miniatura, Compactado,
Tropical), de acordo com a CLA 259 (DNER,
1996a), e segundo os sistemas de classificação
geotécnica tradicional de solos TRB (Transportation
Research Board), conforme a M 145-91 (AASHTO,
2017), e USC (Unified Soil Classification), conforme
a D2487 (ASTM, 2017).

Tabela 1: Caracterização geotécnica da amostra de solo


analisada.
Parâmetro Solo
% argila (φ < 0,002 mm) 61
% silte (0,002 mm < φ < 0,06 mm) 14
% areia (0,06 mm < φ < 2 mm) 25
% pedregulho (2 mm < φ < 60 mm) 0
LL (%) 78
LP (%) 43
IP (%) 35
ρs (kg/m³) 2869
γd,max (kg/m³) 1422,5
Figura 6: Corpo de prova preparado na câmara triaxial. wot (%) 31,03
TRB A-7-5 (20)
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO USC MH
MCT LA’
3.1 Ensaios de Caracterização
A curva de distribuição granulométrica,
3.1.1 Escória de Aciaria Elétrica Primária apresentada na Figura 8, permitiu observar que a
amostra de solo possui um alto teor de partículas de
A amostra analisada apresentou índice de finura tamanho argila (argila areno-siltosa).
por peneiramento de 24,9%; superfície específica 100
pelo método de Blaine de 0,20 m²/g e massa
específica dos sólidos de 3700 kg/m³. A curva 80
granulométrica da EAEP moída é apresentada na
% Passante

Figura 7. 60

100 40
90
20 Amostra Solo
80
70
0
% Passante

60
0,001 0,01 0,1 1 10 100
50
Diâmetro das partículas (mm)
40
30 Figura 8: Curva de distribuição granulométrica da
20 amostra de solo analisada.
EAEP
10
0 3.2 Ensaios de Compactação
0,001 0,01 0,1 1
Diâmetro das partículas (mm) Através das curvas de compactação da amostra de
Figura 7: Curva de distribuição granulométrica da Escória solo na condição natural e da mistura solo-EAEP,
de Aciaria Elétrica Primária (EAEP). mostradas na Figura 9, obtêve-se os parâmetros
mostrados na Tabela 2.
3.1.2 Solo

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291
Tabela 2: Parâmetros de ótimo da amostra de solo e da da mistura solo-EAEP submetida à cura 1 foi de
mistura solo-EAEP . 42,9% em relação ao solo natural, enquanto o
Mistura wot (%) γdmax (kg/m³) aumento da mistura solo-EAEP submetida à cura 2
Solo natural 31,0 1417,41 foi de 114,12% em relação à amostra de solo natural.
Solo-EAEP 28,6 1519,38 As mesmas tendências de melhora de resistência
e rigidez, considerando os mesmos processos de cura,
Solo natural foram observadas por Rodrigues (2022a), em
1.550,0 misturas solo-EAEP, por Rodrigues (2022b), em
Solo-EAEP
misturas solo-escória de aciaria elétrica secundária e
1.500,0 por Deneele et al. (2021) e Vitale et al. (2021) em
misturas solo-cal.
Conforme os estudos de Al-Amoudi et al., (2017),
γd (kg/m³)

1.450,0
Wu et al., (2019), Amini & Ghasemi, (2019) e
Rodrigues (2022a), o aumento da resistênicia e
1.400,0 rigidez do solo submetido à cura em câmara úmida se
deve à formação de compostos cimentícios [silicato
1.350,0 de cálcio hidratado (C-S-H), alumínio-silicato de
cálcio hidratado (C-A-S-H) e aluminato de cálcio
1.300,0 hidratado (C-A-H)].
23 25 27
29 31 33 35 37 O aumento de MR para a mistura solo-EAEP
w (%) submetida à cura 2 ocorre devido ao preenchimento
Figura 9: Curvas de compactação da amostra de solo dos vazios do material por carbonato de cálcio
natural e da mistura solo-EAEP. (CaCO3) gerado pela carbonatação de hidróxido de
cálcio e de compostos cimentícios durante a cura em
O teor de umidade ótimo da mistura solo-EAEP câmara de carbonatação acelerada (Deneele et al.,
foi inferior ao encontrado para a amostra de solo no 2021; Vitale et al., 2021; Zha et al., 2021; Rodrigues,
estado natural. Além disso, devido à massa específica 2022a). A Figura 10 apresenta a microscopia
da amostra de EAEP moída ser maior do que a massa eletrônica de varredura da mistura analisada neste
específica das partículas de solo, a adição da EAEP trabalho, a qual foi realizada por Rodrigues (2022a),
promoveu acréscimo no valor de peso específico na qual observa-se a formação do carbonato de cálcio
aparente seco máximo. (Calcite).

3.3 Ensaios de Módulo de Resiliência

Foram realizados ensaios de MR em duplicata


para a amostra de solo na condição natural e para a
mistura com EAEP. Os resultados obtidos foram
utilizados para cálculo dos valores de MR médio. A
Tabela 3 apresenta os resultados do ensaio de MR,
em que o material solo-EAEP C1 representa a
mistura solo-EAEP submetida à cura 1 e o material
Solo-EAEP C2 representa a mistura solo-EAEP
submetida à cura 2.

Tabela 3: Valores de Módulo de Resiliência médio para a Figura 10: Microscopia com aumento de 10.000x das
amostra de solo natural e sua mistura com EAEP moída, amostras carbonatadas obtidas por MEV no processo de
para ambas as curas analisadas. Cura 2 após 35 dias.
Material MR médio (N/m²)
Solo natural 5,47 × 107 4 CONCLUSÃO
Solo-EAEP C1 7,82 × 107
Solo-EAEP C2 1,17 × 108
A partir dos resultados obtidos é possível concluir
que a adição de EAEP é benéfica para melhorar o
Os resultados mostraram que as misturas solo- comportamento resiliente da amostra de solo
EAEP, submetidas aos dois tipos de cura, estudada. Ambos os tipos de cura estudados
apresentaram valores de MR superiores ao valor da mostraram um aumento do MR das misturas solo-
amostra de solo no estado natural. O aumento de MR EAEP, com destaque para a mistura submetida ao

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292
tipo de cura 2, cura em câmara úmida seguida por Transportation Officials. (1991). AASHTO M 145-91:
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suma, a carbonatação indicou promover o Soil Aggregate Mixtures for Highway Construction
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


294
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Influência da estabilização de um solo de subleito com EAEP na


redução das espessuras das camadas de um pavimento asfáltico
Júlia Lopes Figueiredo
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, julia.l.figueiredo@ufv.br

Ana Clara da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, ana.silva36@ufv.br

Bruna Martins de Melo


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, bruna.m.melo@ufv.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaus@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

RESUMO: A escória de aciaria elétrica primária (EAEP) é um resíduo prejudicial ao meio ambiente, a qual é formada a
partir da produção do aço em fornos elétricos, onde são acrescentadas substâncias como óxido de cálcio livre, óxido de
magnésio e óxido de ferro. Como forma de reaproveitamento e reciclagem, esse material pode ser empregado como agente
estabilizador de solos de baixa capacidade de suporte. Este trabalho visou avaliar a diminuição das camadas de base e
sub-base de um pavimento asfáltico através da estabilização do solo de subleito com EAEP. Foram estabelecidas 3
misturas de solo com EAEP, sendo os teores desse último 5%, 12,5% e 20%. A amostra de solo natural e suas misturas
com EAEP foram submetidas ao ensaio de compactação para determinação do peso específico aparente seco máximo e
do teor de umidade ótimo. De posse desses valores, foi realizado o ensaio de índice CBR. Posteriormente, com os dados
de CBR das misturas foi realizado o dimensionamento de um pavimento asfáltico e determinadas as espessuras das
camadas de base e sub-base. Observou-se que o acréscimo de escória no solo promoveu uma diminuição das camadas
estruturais, e que as misturas M3 e M4, preenchem os requisitos para a camada de sub-base, não sendo necessário,
portanto, a sua utilização. Portanto, a escória de aciaria elétrica primária mostrou-se um resíduo tecnicamente viável na
estabilização do solo estudado.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solos, Escória de Aciaria Elétrica Primária, Dimensionamento de pavimentos,


Resíduo Siderúrgico.

ABSTRACT: Electric arc furnace slag (EAFS) is an environmentally harmful residue produced during the manufacture
of steel in electric furnaces, where substances such as free calcium oxide, magnesium oxide and iron oxide are added. As
a form of reuse and recycling, this material can be used as a stabilizing agent for soils with low bearing capacity. The
objective of this work was to evaluate the reduction of the base and sub-base layers of an asphalt pavement by stabilizing
the subgrade soil with EAFS. Three mixtures of soil with EAFS containing 5%, 12.5% and 20% of the latter component
were prepared. The natural soil sample and its mixtures with slag were subjected to a compaction test to determine the
maximum dry unit weight and optimum moisture content. With these values in hand, the CBR index test was performed.
Subsequently, the CBR data of the mixes were used to design an asphalt pavement and determine the thickness of the
base and sub-base layers. It was found that the addition of EAFS in the soil leads to a reduction in the structural layers
and that the M3 and M4 mixtures meet the requirements for the sub-base layer, so their use is not necessary. Therefore,
the EAFS proved to be a technically viable residue for the stabilization of the studied soil.

KEY WORDS: Soil Stabilization, Electric Arc Furnace Slag, Design of pavement, Steel Waste.

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295
1 INTRODUÇÃO reutilização da escória de aciaria elétrica em
pavimentos já é difundida no país, reduzindo a sua
1.1. Contextualização do problema disposição em aterros e consequente contaminação
de solos e lençóis de água.
Em virtude da crescente industrialização e, Diante desse contexto, esse trabalho visou avaliar
consequentemente, da emissão de materiais nocivos a diminuição das camadas de base e sub-base de um
ao meio ambiente, a reciclagem de resíduos pavimento asfáltico com a estabilização se um solo
provenientes de indústrias é altamente necessária nos de baixa capacidade de suporte compondo o subleito
dias atuais. Uma das alternativas de uso desses desse pavimento.
resíduos é na construção civil, sobretudo no setor de
pavimentação, onde a substituição dos materiais 1.2. Objetivos
naturais por resíduos promove redução de custo
nessas obras e uma melhoria da qualidade dos O objetivo geral desta pesquisa foi avaliar a
pavimentos. diminuição das espessuras das camadas estruturais de
O modal rodoviário, por ser o mais utilizado no um pavimento flexível quando o solo do subleito é
Brasil, requer pavimentos de boa qualidade, uma vez estabilizado com escória de aciaria elétrica primária
que transporta mais de 60% das cargas e mais de 90% (EAEP).
de passageiros, segundo a Confederação Nacional de O objetivo específico, relacionado ao objetivo
Transportes (CNT, 2021). Dessa forma, com o intuito geral, foi avaliar a influência do teor de EAEP nos
de melhorar as propriedades de engenharia de solos resultados de índice CBR e de expansão CBR.
de baixa capacidade de suporte e garantir a qualidade
da via, esses solos podem ser melhorados com 2 MATERIAIS E MÉTODOS
materiais como cimento Portland, cal, geossintéticos
e aditivos, além de resíduos provenientes de 2.1 Materiais
indústrias (Quariguasi et al., 2018).
A escória de aciaria elétrica é um resíduo Nesta pesquisa, foi utilizada uma amostra de solo
prejudicial ao meio ambiente, a qual é formada a proveniente de uma jazida de empréstimo localizada
partir da produção do aço em fornos elétricos, onde no Município de Viçosa, Estado de Minas Gerais,
são acrescentadas substâncias como óxido de cálcio Brasil. Essa amostra foi coletada conforme o
livre, óxido de magnésio e óxido de ferro. Como procedimento PRO 003 (DNER, 1994a) e preparada
forma de reaproveitamento e reciclagem, esse para os ensaios de caracterização geotécnica
material pode ser empregado como agente conforme a norma técnica NBR 6457 (ABNT,
estabilizador de solos de baixa capacidade de suporte 2016a). A Figura 1 ilustra o local de coleta da amostra
(Lopes et al., 2021, Mahmudi et al., 2021, Rocha et de solo.
al., 2021, Parsaei et al., 2021, Shahsavani et al.,
2021).
Segundo pesquisa feita por Costa e Santos (2020),
a mistura de solo com escória de aciaria pode ser
aplicada em camadas de pavimentos asfálticos
obedecendo critérios técnicos, com menor custo
quando comparados aos materiais naturais e
promovendo sua reutilização. Adicionalmente,
Rohde et al. (2003) concluíram que a escória de
aciaria elétrica pode ser usada em substituição a
materiais granulares, obtendo módulos de resiliência Figura 1: Local de coleta da amostra do solo, em Viçosa
até mesmo superiores que os materiais convencionais (MG).
e durabilidade elevada a ataques de sulfatos.
De acordo com dados de 2013 do Instituto Aço A amostra de escória de aciaria elétrica primária
Brasil (IAB, 2015), cada tonelada de aço produziu (EAEP) foi fornecida por uma empresa que atua no
594 kg de coprodutos e resíduos no referido ano, setor de fabricação de tubos metálicos, localizada na
totalizando 17,7 milhões de toneladas, onde 29% são Região do Alto Paraopeba, Estado de Minas Gerais,
de escórias de aciaria. De acordo com o IAB (2018), Brasil. A coleta das amostras em seu estado original
em 2017, 24% da escória de aciaria das siderúrgicas (escória bruta) foi realizada de acordo com a norma
são reutilizadas, sendo 43% desses destinados à base técnica NBR 10007 (ABNT, 2004). A amostra de
e sub-base de rodovias e 45% a obras de EAEP utilizada foi proveniente de locais de
terraplanagem. Desse modo, nota-se que a estocagem recente, no qual o tempo máximo entre

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


296
sua geração e sua disposição foi de 72 horas, não A caracterização física da amostra de EAEP foi
sendo empregado qualquer processo de cura do realizada conforme normas técnicas adaptadas para
material antes da realização dos ensaios. cimento Portland, a saber: i) finura por peneiramento;
ii) superfície específica pelo método de Blaine; iii)
2.1.1 Caracterização geotécnica massa específica real; e iv) distribuição
granulométrica do material depois de passado na
Os ensaios realizados para fins de caracterização peneira de 0,6 mm (Figura.1), determinada por
geotécnica da amostra de solo foram: i) Análise difração a laser, conforme a norma ISO 13320 (ISO,
granulométrica conjunta (Figura 2); ii) Limite de 2020). Esses resultados são apresentados na Tabela
liquidez (LL); iii) Limite de plasticidade (LP); iv) 2.
Massa específica dos grãos do solo (ρs); v)
Compactação na energia do Proctor normal, para fins Tabela 2: Resultados da caracterização física da amostra
de determinação do peso específico aparente seco de EAEP moída.
máximo (γdmáx) e do teor de umidade ótimo (wot). Os Ensaio Resultado
resultados desses ensaios são apresentados na Tabela Índice de finura por peneiramento 24,88%
1. Superfície específica 0,20 m²/g
Massa específica real 3,7 g/cm³
100

80
% Passante

2.2 Métodos
60

40 2.2.1 Misturas
20 Amostra de solo
EAEP Visando analisar a influência da EAEP na
0 estabilização da amostra de solo, foram definidas três
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
misturas com teores de EAEP crescentes, conforme
apresentado na Tabela 3.
Figura 2: Curva granulométrica da amostra de solo cavalos
e EAEP.
Tabela 3: Misturas de solo-resíduos analisadas.
Misturas Solo (%) EAEP (%)
Tabela 1: Caracterização e classificação geotécnicas da M0 100 0
amostra de solo analisada. M1 95 5
Parâmetro Resultado Norma técnica M2 87,5 12,5
% argila 61 M3 80 20
% silte 14
NBR 7181 (ABNT, 2016b)
% areia 25 2.2.2 Moldagem e cura dos corpos de prova
% pedregulho 0
LL (%) 78 NBR 6459 (ABNT, 2016c) Foram realizados ensaios de compactação, na energia
LP (%) 43 NBR 7180 (ABNT, 2016d)
Proctor normal, conforme a NBR 7182 (ABNT,
IP (%) 35 -
ρs (g/cm³) 2,869 NBR 6458 (ABNT, 2016e)
2016f), para a determinação do peso específico
γd,max (kN/m³) 13,95 aparente seco máximo (γdmáx) e do teor de umidade
NBR 7182 (ABNT, 2016f) ótimo (wot) da amostra de solo natural e de suas
wot (%) 31,03
TRB A-7-5 (20) M 145-91 (AASHTO, 2021) misturas com EAEP.
USC MH D2487 (ASTM, 2020) Utilizando os parâmetros de ótimo obtidos nas
MCT LA’ CLA 259 (DNER, 1996a) curvas de compactação de cada mistura, foram
produzidos corpos de prova para a realização do
A fim de aumentar a superfície específica da ensaio de índice CBR e expansão CBR, conforme as
EAEP, a amostra bruta foi moída em um moinho Los recomendações da norma técnica NBR 9895 (ABNT,
Angeles, utilizado para a determinação da abrasão em 2016g). Para que a capacidade cimentante da EAEP
agregados graúdos, por um período de duas a três pudesse ser avaliada, foi aplicado aos corpos de
horas, sendo utilizada a porção passante na peneira prova das misturas um procedimento de cura selada
de abertura 0,6 mm (peneira #30), tamanho (em filme de PVC) em câmara úmida por 7 dias,
semelhante ao que foi utilizado em estudos prévios conforme recomendação da NBR 12024 (ABNT,
(Akinwumi, 2014; Mahmudi et al., 2021; Manso et 2012) para misturas solo-cimento.
al., 2013; Rodrigues, 2022.).
2.2.3 Índice CBR

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


297
Os ensaios para a determinação dos valores de CBR R.KR + B.KB + h20.KS ≥ HM 3
e da Expansão CBR das amostras de solos na
condição natural e das misturas solo-resíduos Em que h20 é a espessura real da sub-base, KS é o
analisadas foram realizados segundo a norma técnica coeficiente de equivalência estrutural da sub-base e
NBR 9895 (ABNT, 2016g). Após o período de cura, HM é a espessura de material padrão para proteção do
os corpos de prova foram imersos em água por 96 subleito.
horas para avaliação da expansão. Terminado o Considerando um revestimento de CBUQ, base e
período de expansão, os corpos de prova foram sub-base compostas de material granular, os
retirados da imersão, deixados em repouso por 15 coeficientes de equivalência estrutural podem ser
minutos para retirar o excesso de água e submetidos determinados conforme a Tabela 4.
ao carregamento na prensa para a determinação do
seu índice CBR. Tabela 4: Coeficiente de equivalência Estrutural.
Componentes do pavimento Coeficiente K
2.2.4 Dimensionamento do pavimento Revestimento de concreto betuminoso 2,00
Camadas granulares 1,00
Para proceder ao dimensionamento do pavimento Fonte: Adaptado do Manual de Pavimentação DNIT
considerou-se o número de operações do eixo padrão (2006).
de 80 kN de 1,6 x 107 de acordo com o estudo de
Carvalho et al. (2020). Com base na Tabela 4 obteve-se que KR é igual a
Utilizou-se o método de dimensionamento 2,00; KB é igual a 1,00 e KS é igual a 1,00.
empírico do Manual de Pavimentação do DNIT De posse do número de operações do eixo padrão
(DNIT, 2006), considerando um pavimento é possível obter a espessura mínima de revestimento
constituído por revestimento, base, sub-base e betuminoso a ser utilizado, conforme indica a Tabela
subleito conforme indica a Figura 3. 5.

Tabela 5: Espessura mínima de revestimento betuminoso.


Espessura mínima de revestimento
N
betuminoso
Tratamentos superficiais
N ≤ 106 betuminosos (1,5 a 3 cm de
espessura).
106 < N ≤ Revestimentos betuminosos com
5.106 5,0 cm de espessura.
Figura 3: Estrutura do pavimento flexível. Concreto betuminoso com 7,5 cm
5.106 < N ≤ 107
de espessura.
De acordo com este método as espessuras 107 < N ≤ Concreto betuminoso com 10,0 cm
estruturais de um pavimento podem ser obtidas pela 5.107 de espessura.
equação 1 e pelas inequações 2 e 3. Concreto betuminoso com 12,5 cm
N > 5.107
de espessura.
Fonte: Adaptado do Manual de Pavimentação DNIT
Ht = 77,67. N0,0482.CBR-0,598 1
(2006).
Em que Ht é a espessura de material padrão para A espessura adotada de revestimento asfáltico,
proteção contra ruptura de uma determinada camada, considerando o CBUQ como material a ser utilizado,
N é o número de operações do eixo padrão e CBR é foi de 10 cm.
o valor do índice CBR obtido para a camada a ser
protegida.
3 RESULTADOS
R.KR + B.KB ≥ HSB 2
3.1 Ensaio de Compactação
Em que R é a espessura real do revestimento, KR
é o coeficiente de equivalência estrutural para o A Figura 4 apresenta as curvas de compactação
revestimento, B é a espessura real da base, KB é o para o solo puro e suas misturas com EAEP obtidas
coeficiente de equivalência estrutural para a base e pelo ensaio de compactação na energia Proctor
HSB é a espessura de material padrão para proteção da normal.
camada de sub-base.

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298
15,0 sub-base adotado foi de 15 cm.

14,5 3.2.2 Dimensionamento do pavimento para a mistura


M1
γd (kN/m³)

14,0

13,5 Considerando os mesmos valores de KR, KB, R, N,


obtém-se pela equação 1 que HSB = 29 cm, utilizando
13,0 a inequação 2 obtém-se que B deve ser igual a 9 cm
M0 M1
M2 M3
e, considerando que a espessura mínima da camada
12,5 de base é de 15 cm, o valor adotado de B foi igual a
22 24 26 28 30 32 34 36 38
15 cm.
w (%) Sendo o valor de CBR igual a 16,50% para a
Figura 4: Curvas de compactação das misturas solo-EAEP. camada do subleito, obtém-se pela equação 1 HM
igual a 33 cm. Utilizando a inequação 3 e
3.2 Ensaio de CBR considerando KS igual a 1,00, obtém-se h20 igual a -2
cm. O valor negativo indica que a sub-base deixa de
Os resultados do ensaio de CBR e de expansão ser necessária na estrutura do pavimento, ou seja, um
CBR das misturas e da amostra de solo natural são pavimento constituído por revestimento, base e
apresentados na Tabela 4. subleito atenderia às condições de projeto.
Considerando que o CBR do subleito apresentou
Tabela 6: Propriedades mecânicas e expansão CBR das valor igual a 16,50% que é inferior ao valor de
misturas e amostra de solo analisadas. 20,00% necessário para que o subleito opere com
Misturas CBR (%) Exp. CBR (%) propriedades de engenharia compatíveis com a
M0 11,20 0,93 camada de sub-base, foi necessário manter a sub-base
M1 16,50 0,47 e a espessura adotada foi a mínima necessária,
M2 21,50 0,39 portanto, h20 foi de 15 cm.
M3 24,50 0,31 Embora o método de dimensionamento do DNIT
não permita excluir a camada de sub-base, em função
Observou-se que o acréscimo de EAEP ao solo do valor de CBR do subleito, se os cálculos fossem
produziu aumento nos valores de índice CBR e refeitos excluindo a camada de sub-base o valor da
redução de sua expansão. espessura da camada de base encontrada seria de 13
cm, ou seja, valor maior que o encontrado quando o
cálculo foi realizado considerando a existência da
3.2.1 Dimensionamento do pavimento para a mistura camada de sub-base, mas ainda assim abaixo de 15
M0 cm.

Pelo método de dimensionamento do DNIT, o 3.2.3 Dimensionamento do pavimento para a mistura


valor máximo permitido de CBR para a entrada de M2
dados na Equação 1 referente à sub-base é limitado Considerando os mesmos valores de KR, KB, R, N,
em 20%. Considerando o número N igual a 1,6x107 obtém-se pela equação 1 que HSB = 29 cm, utilizando
solicitações e utilizando-se a Equação 1 obteve-se a inequação 2 obtém-se que B deve ser igual a 9 cm
que HSB igual a 29 cm. De posse desse valor e e, considerando que a espessura mínima da camada
considerando R = 10 cm, KR = 2,00, KB = 1,00, HSB de base é de 15 cm, o valor adotado de B foi igual a
= 29 cm, e utilizando a inequação 2 obteve-se que B 15 cm.
deve ser igual a 9 cm. Sendo o valor de CBR igual a 21,50% para a
O método do DNIT determina que a espessura da camada do subleito, obtém-se pela equação 1 HM
camada de base não pode ser inferior a 15 cm, igual a 33 cm. Utilizando a inequação 3 e
portanto, o valor adotado para a espessura da camada considerando KS igual a 1,00, obtém-se h20 igual a -7
de base foi igual a 15 cm. cm. Novamente o valor negativo indica que a camada
Considerando um valor de CBR igual a 11,20% de sub-base pode ser descartada. A mistura M2
para a camada do subleito, obtém-se pela equação 1, apresenta CBR igual a 21,50%, ou seja, valor maior
HM igual a 41 cm. Utilizando a inequação 3 e que o mínimo necessário para que o subleito opere
considerando KS igual a 1,00, obtém-se h20 igual a 6 com propriedades de engenharia compatíveis com a
cm. O dimensionamento pelo método DNIT não camada de sub-base. Neste caso o subleito atende às
permite que a espessura da camada de sub-base seja exigências de projeto e ao contrário do resultado
inferior a 15 cm; portanto o valor da espessura da obtido para a mistura M1, a sub-base pode realmente

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299
ser descartada. misturas M1, M2 e M3 e desconsiderando os critérios
Caso a camada de sub-base seja incluída na impostos pelo dimensionamento do DNIT para a
estrutura do pavimento a espessura a ser adotada espessura mínima das camadas de base e sub-base.
pode ser a mínima necessária, ou seja, 15 cm.
Considerando que a camada de sub-base seja Figura 5: Espessuras das camadas do pavimento
descartada, ao refazer os cálculos encontrou-se que a 18
espessura da camada de base seria de 8 cm, ou seja, 15 15 Revestimento
16

Espessura da camada (cm)


Base
valor menor que o encontrado para a mistura M1 14 13 Sub-base
(13cm). 12
10 10 10 10
10
3.2.4 Dimensionamento do pavimento para a mistura 8
M3 8
6
6
Considerando os mesmos valores de KR, KB, R, N, 4
obtém-se pela equação 1 que HSB = 29 cm, utilizando 2
0 0 0
a inequação 2 obtém-se que B deve ser igual a 9 cm 0
e, considerando que a espessura mínima da camada M0 M1 M2 M3
de base é de 15 cm, o valor adotado de B foi igual a
15 cm. Considerando as misturas M1, M2 e M3 foi possível
Sendo o valor de CBR igual a 24,50% para a perceber que o acréscimo de EAEP melhora as
camada do subleito, obtém-se pela equação 1 HM propriedades de engenharia do solo tornando possível
igual a 26 cm. Utilizando a inequação 3 e que o subleito opere com propriedades compatíveis à
considerando KS igual a 1,00, obtém-se h20 igual a -9 camada de sub-base, sendo possível, portanto, excluir
cm. O valor negativo indica que a camada de sub- essa camada no dimensionamento, o que diminui o
base pode ser descartada. A mistura M3 apresenta custo do pavimento, considerando que a EAEP seja
CBR igual a 24,50%, ou seja, valor maior que o fornecida para a realização da obra.
mínimo necessário para que o subleito opere com
propriedades de engenharia compatíveis com a 4 CONCLUSÃO
camada de sub-base.
Caso a camada de sub-base seja incluída na A eficácia do uso de EAEP, que é um resíduo
estrutura do pavimento a espessura a ser adotada siderúrgico, em diminuir as espessuras da camada do
pode ser a mínima necessária, ou seja, 15 cm. pavimento foi examinada e os resultados mostraram
Considerando que a camada de sub-base seja que o acréscimo de EAEP provocou a diminuição da
descartada, ao refazer os cálculos encontrou-se que a espessura da camada de base e à possibilidade de
espessura da camada de base seria de 6 cm, ou seja, exclusão da camada de sub-base se comparada à
valor menor que o encontrado para a mistura M2 (8 mistura de solo em sua condição natural, mistura M0,
cm). Observou-se que o aumento do teor de EAEP na resultando em uma estrutura com custo
mistura solo-EAEP melhora as propriedades do solo possivelmente menor. Notou-se que os valores
e permite a redução da espessura das camadas; no obtidos no dimensionamento não poderiam ser
entanto, seguindo o critério do método de adotados, considerando os critérios impostos pelo
dimensionamento do DNIT ainda seria necessária DNIT, no entanto, a adição de EAEP às misturas
uma camada de 15 cm, visto que esse é o valor torna possível a construção de um pavimento com
mínimo a ser adotado. melhores propriedades de engenharia.
3.3 Análise do dimensionamento para cada mistura
solo-EAEP AGRADECIMENTOS
Os resultados obtidos indicaram para o subleito Os autores agradecem a Universidade Federal de
composto pela amostra de solo na condição natural Viçosa e ao grupo Infratest pelo apoio nos ensaios
um pavimento asfáltico com 10 cm de espessura de realizados no Laboratório de Engenharia Civil.
revestimento, 15 cm de espessura de camada de base
e 15 cm de espessura de camada de sub-base.
A Figura 5 apresenta os valores da espessura das REFERÊNCIAS
camadas de revestimento, base e sub-base
considerando os valores obtidos pelas inequações AASHTO (2021). M 145-91 (2021), Standard
excluindo-se a sub-base no dimensionamento para as Specification for Classification of Soils and Soil-

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


300
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


301
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Jarosita: Resíduo de Mineração como Instrumento Motivador para


Pesquisas
Cátia de Paula Martins
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, catia.martins@ufjf.br

Vivian Bignoto da Rocha Cândido


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, vivian.bignoto@estudante.ufjf.br

RESUMO: O zinco representa um importante minério que possibilita o revestimento anticorrosivo de metais e a
composição de ligas. As reservas brasileiras representam cerca de 1,2% do total mundial, mas seu impacto econômico é
expressivo. Existem diversas formas de beneficiamento desse minério, sendo o método da jarosita o mais comumente
utilizado. Neste método, é gerado um subproduto de mesmo nome que, embora possibilite a recuperação de alguns
minérios, constitui um passivo ambiental. No Brasil, a jarosita é comumente depositada em barragens de terra. Após os
acidentes ocorridos com o rompimento de barragens em Minas Gerais, a legislação foi revista e novos e mais rigorosos
critérios foram estipulados para a construção, operação e monitoramento de barragens de rejeitos e resíduos de mineração.
Descomissionamento e descaracterização tornaram-se motivos de preocupação e investimento científico por empresas
mineradoras. Diante deste cenário, o presente trabalho buscou realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a exploração do
zinco no mundo e, em especial, no Brasil, a fim de levantar discussões e realizar considerações sobre o potencial de
aproveitamento da jarosita, objetivando ser instrumento motivador para novas pesquisas científicas nas diversas áreas.
Por fim, na pesquisa realizada, foram identificadas poucas publicações de trabalhos científicos sobre o aproveitamento
deste resíduo, configurando motivação para futuros estudos.

PALAVRAS-CHAVE: Zinco, Jarosita, Resíduo, Mineração, Aproveitamento, Sustentabilidade.

ABSTRACT: Zinc represents an important ore that enables the anticorrosive coating of metals and the composition of
alloys. Brazilian reserves represent about 1.2% of the world total, but their economic impact is significant. There are
several ways of processing this ore, the jarosite method being the most commonly used. In this method, a by-product of
the same name is generated which, although it allows the recovery of some ores, constitutes an environmental liability.
In Brazil, jarosite is commonly deposited in dams. After the accidents that occurred with the rupture of dams in Minas
Gerais, the legislation was revised and new and stricter criteria were stipulated for the construction, opera tion and
monitoring of tailings and mining waste dams. Decommissioning and mischaracterization have become reasons for
concern and scientific investment by mining companies. In view of this scenario, the present work sought to carry out a
bibliographical research on the exploitation of zinc in the world and, in particular, in Brazil, in order to raise discussions
and carry out considerations about the potential use of jarosite, aiming to be a motivating instrument for further research.
scientists in different areas. Finally, in the research carried out, few publications of scientific works on the use of this
residue were identified, setting up motivation for future studies.

PALAVRAS-CHAVE: Zinc, Jarosite, Waste, Mining, Use, Sustainability.


.

1 INTRODUÇÃO de reais (ANM, 2021). A Figura 1 apresenta a


distribuição das principais substâncias metálicas em
As substâncias metálicas são exploradas no Brasil relação à sua participação no valor da produção
desde os tempos da colonização. A partir desta época, mineral comercializada em 2020.
passou a representar uma importante parcela da
economia brasileira. Estas substâncias
correspondem, principalmente, ao alumínio, cobre,
cromo, estanho, ferro, manganês, nióbio, níquel,
ouro, vanádio e zinco, cujo percentual em relação a
toda exploração mineral é de 80%. Em 2020, o valor
total explorado correspondeu a cerca de 194 bilhões

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


302
(NEVES, 2009). Por fim, o zinco ainda possui boa
maleabilidade, o que facilita os processos de
moldagem (NETO, 2022).

2.2 Impacto econômico e socioambiental

Em relação à produção mundial, os principais países


que exploram o zinco são a China, Peru, Austrália,
Índia e Estados Unidos (ALBUQUERQUE, 2022).
As maiores reservas, entretanto, estão concentradas
na Austrália, China, Estados Unidos, Cazaquistão e
Figura 1. Proporção da participação das principais
Canadá, compreendendo 70% desse volume. As
substâncias metálicas no valor da produção mineral
comercializada no Brasil (ANM, 2021). reservas brasileiras, por sua vez, representam 1,2%
da reserva mundial. Em 2021, foram produzidas
Dentre as substâncias metálicas, o zinco se cerca de 3 milhões de toneladas brutas desse minério
apresenta como um importante material utilizado na no país (ANM, 2022).
indústria da construção, automobilística e de bens de Assim, no Brasil, as maiores jazidas se encontram
consumo devido à sua facilidade de compor ligas e a nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. Dentre
sua propriedade anticorrosiva (NEVES, 2009). elas, a mais importante se encontra em Vazante
Quando sua extração é realizada por meio (MG). Os minerais explorados nesta região são a
eletrolítico, o ferro precisa ser removido e, para isso, willemita, obtida de forma subterrânea, e a calamina,
é realizada sua precipitação pelo processo da jarosita, obtida pela lavra a céu aberto (NEVES, 2009).
que constitui um passivo ambiental derivado da Atualmente, a empresa Nexa Recursos Minerais S.A
exploração do zinco (ALMEIDA et al., SD). (Nexa Resources) detém quase que a totalidade de
Neste contexto, o presente artigo teve como toda a exploração do zinco no Brasil (ANM, 2021).
objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica e tecer Em Juiz de Fora (MG), a referida empresa está
considerações a respeito dos aspectos relacionados ao localizada na BR-267, no bairro de Igrejinha. Esta
resíduo jarosita. Desta forma, espera-se que haja uma unidade compreende umas das duas smelters (locais
contribuição como instrumento motivador para novas onde se realizam as fundições) de zinco em operação
pesquisas sobre o seu aproveitamento. no Brasil. Em relação à fundição do zinco, a unidade
produziu cerca de 81 mil toneladas disponíveis para
comercialização, o que corresponde a cerca de 30%
2 ZINCO: PANORAMA GERAL da produção total da empresa em 2021. Parte desta
produção foi originada das atividades de mineração
2.1 Características da empresa, enquanto o restante foi adquirido de
terceiros (importação) e de matérias-primas
O zinco é caracterizado como um metal e se insere secundárias. Além disso, 43% das barragens e
dentro do grupo dos minerais não ferrosos. Os depósitos destinados à disposição dos resíduos da
principais minerais que permitem a sua extração são empresa estão localizadas na cidade. Esta
calamina, esfalerita, franklinita, hidrozincita porcentagem compreende quatro estruturas ativas e
smithsonita, willemita, wurtzita e zincita. Porém, sua seis estruturas já inativas. Já em relação ao impacto
principal forma de obtenção é através do sulfato de socioeconômico desta unidade na cidade, além da
zinco (smithsonita), do silicato hidratado (calamina) geração de empregos, a empresa possui um projeto
e do silicato de zinco (willemita) (NEVES, 2009; social no bairro de Igrejinha que estimula a
RUSSO, 2007). reciclagem de resíduos domésticos por meio da
Dentre as suas principais propriedades, destaca-se remuneração dos envolvidos (NEXA RESOURCES,
sua capacidade anticorrosiva e a facilidade de se 2021).
combinar com outros metais. Isto permite, por Ainda que a atividade mineradora seja de grande
exemplo, a sua utilização como revestimento de importância econômica, seus impactos
proteção de estruturas de ferro e aço e a formação de socioambientais também devem ser ressaltados. Em
diversas ligas, como com o alumínio, cobre e Vazante (MG), foi encontrado um percentual de
magnésio. Como óxido de zinco, permite aplicações zinco nos rios da região muito acima do permitido, o
na indústria cerâmica, têxtil, de pilhas e baterias e que foi correlacionado com a mortandade de peixes
como tratamento de solo com deficiência desse e prejuízos à saúde do gado. Além disso, a lavra
óxido. Além disso, o zinco ainda permite sua subterrânea necessitou de rebaixamento do lençol
completa reciclagem sem perda das propriedades freático, o que levantou a hipótese de um possível

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303
desabamento de uma gruta da região (CETEM, quantidade suficiente (BALARINI, 2009).
2014). Em Paracatu (MG), além dos problemas Por fim, na fase de lixiviação da jarosita, o ferro
relatados do uso da água, também foi constatado um é precipitado a partir de uma solução ácida, na
aumento da desigualdade social decorrente da presença de cátions como NH4+ e Na+. Após a
concentração de renda após a instalação das reação química, ocorre a precipitação de jarosita e a
atividades mineradoras (Souza et al., 2013). Já em formação de ácido sulfúrico livre. Este processo,
Juiz de Fora (MG), o principal impacto está embora bastante comum, possui um alto custo dos
relacionado à sensação de insegurança da população reagentes e uma grande geração de volume de
vizinha às barragens e falta de orientação quanto aos resíduos (BALARINI, 2009).
procedimentos em caso de rompimento (BORGES e Em Juiz de Fora (MG), é utilizado a ustulação-
NOCELLI, 2019). lixiviação-eletrólise para o beneficiamento do zinco,
assim como acontece nas demais unidades. O rejeito
2.3 O beneficiamento do minério de zinco e a gerado é proveniente do processo da jarosita. Diante
geração de resíduos e rejeitos disto, será dada mais ênfase a jarosita como rejeito
proveniente do beneficiamento do zinco.
Dessa forma, o zinco é beneficiado através da sua
cominuição e posterior flotação. Outros
procedimentos participam do processo de acordo 3 JAROSITA
com a origem do minério. Dentre eles, a mais comum
e utilizada em 85% das usinas metalúrgicas mundiais 3.1 Definição e origem
é a piro-hidro-eletrometalúrgica, que inclui as fases
de ustulação, lixiviação, e eletrólise (BRASIL, 2010). Neste contexto, a jarosita é um subproduto obtido de
Na ustulação, há a conversão do concentrado de um das fases de lixiviação no beneficiamento do
sulfeto de zinco em um concentrado de óxido de minério de zinco. Assim, a jarosita é um sulfato
zinco impuro. O material passa a ser denominado de básico de ferro, obtida após a precipitação deste em
ustulado e é submetido ao resfriamento e à moagem. meio ácido.
A partir daí, o ustulado passa pelo processo de Conforme exposto por Almeida et al., (SD), a
lixiviação. Na lixiviação neutra, o zinco é etapa de lixiviação ácida auxilia na recuperação do
solubilizado e submetido a primeira purificação. Já zinco e de outros metais presentes e não solubilizados
na lixiviação ácida, é utilizado ácido sulfúrico anteriormente. O ferro é completamente dissolvido e
concentrado para lixiviar o zinco na forma de ferrita eliminado pela jarosita, a uma temperatura de 95 ºC.
e, assim, permitir a remoção das substâncias Na composição da polpa da jarosita, pode haver a
prejudiciais, como o ferro. Por fim, na eletrólise, há presença de metais pesados, substâncias poluentes do
a passagem de uma corrente elétrica contínua de solo e da àgua subterrânea.
anodos e catodos, o que resulta em uma reação de Na pesquisa realizada pela Companhia Paraibuna
oxirredução e, ao final, no zinco puro (RIBEIRO, de Metais (CPM), é estudada uma nova forma de
2015). realização do processo da jarosita, que busca a
Conforme visto, o ferro contido no melhor recuperação do zinco e dos metais
beneficiamento do zinco é tido como uma impureza secundários, o que, por consequência, torna a jarosita
que deve ser removida, o que ocorre na fase de mais pura e inerte. Neste caso, com a remoção dos
lixiviação. A forma como a precipitação do ferro é metais pesados, isto possibilitará uma estocagem
realizada determina o tipo de resíduo que será gerado, mais segura do resíduo jarosita. Assim, é realizada
como no processo da goethita, hematita e jarosita. uma neutralização prévia da solução de lixiviação
No processo de lixiviação da goethita, há a ácida, o que proporciona uma melhor recuperação
redução do ferro e a formação da goethita. Nele, dos metais e redução da massa do resíduo. Além
pode-se utilizar qualquer lixiviante ácido e não há a disso, é permitido o aproveitamento do resíduo
necessidade de utilização de sais de metais alcalinos, jarosita para a extração sulfato de amônio utilizado
porém é necessário utilizar neutralizantes e o seu como fertilizante (ALMEIDA et al., SD).
subproduto é menos valorizado, pois há grandes À vista disso, a jarosita pode apresentar
quantidades de cátions e ânions no precipitado características que variam com a etapa de
(BALARINI, 2009). beneficiamento do zinco. A jarosita obtida pela
Já no processo de lixiviação da hematita, há uma empresa Nexa Resources em Juiz de Fora (MG)
maior geração de produto útil de óxido de ferro. possui classificação ambiental de Classe I (ABNT,
Assim, são realizados alguns lixiviados ácidos a 2004) devido à presença de metais pesados em sua
quente para remoção das impurezas e preservação composição. A sua composição química, de maneira
dos óxidos que podem ser reaproveitados, quando há geral, possui predominância de óxidos de ferro,

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zinco, chumbo, prata e cádmio. Pela classificação por principais tipos de alteamento em barragens de
frações granulométricas, o material se apresenta rejeitos, de acordo com o deslocamento do eixo da
como um silte argiloso, com massa específica dos barragem. No método de alteamento a montante, o
grãos de 3,11 g/cm³ (NEXA RESOURCES, 2022). eixo da barragem se desloca para dentro da estrutura,
e parte dos rejeitos são aproveitados como material
3.2 Estudos preliminares para aproveitamento da de construção. Já no método de jusante, o alteamento
jarosita é realizado para fora (jusante) da barragem. Por fim,
o método de linha de centro se comporta como um
De um modo geral, a jarosita é disposta em forma de método intermediário entre os dois primeiros. Neste,
lama em reservatórios, comumente chamados de o eixo da crista do primeiro dique é coincidente com
barragens. Por permitir a recuperação de alguns os demais diques acrescidos.
metais da sua composição, pode-se dizer que este Dessa forma, cada método apresenta vantagens e
subproduto permite um aproveitamento. Devido a desvantagens. O método de jusante é considerado o
isto, a jarosita pode ser considerada um resíduo, e não mais seguro, porém apresenta maior custo de
necessariamente um rejeito. implantação e maior gasto de material. O método de
Entretanto, mesmo após a retirada dos minerais linha de centro é mais fácil de ser construído, mas
presentes, a lama de jarosita ainda constitui um pode apresentar escorregamento do trecho à
passivo ambiental. O aproveitamento deste montante, o que necessita de maior controle de
subproduto como material de construção pode compactação. O método a montante é um dos mais
representar uma nova utilidade para este resíduo. Nas utilizados, por possuir um menor custo e uma maior
obras geotécnicas, em especial, esse material poderia velocidade de alteamento. Entretanto, este método
ser utilizado em substituição total ou parcial do solo, apresenta O menor coeficiente de segurança devido
como em obras rodoviárias e aterros. Neste tipo de ao nível d'água, a sua superfície crítica de
obra, é utilizado um grande volume de solo, que é um rompimento se localiza em cima do rejeito sem
recurso natural. A utilização da jarosita para este fim controle de compactação e há o risco de liquefação e
pode representar uma nova forma de disposição deste posterior ruptura devido à massa de rejeito.
resíduo.
Mesmo com essa problemática, não foram 4.2 Legislações
identificados trabalhos publicados que indiquem
possíveis usos da jarosita para fins geotécnicos ou Diante dos acidentes envolvendo rompimento das
qualquer outro. Ribeiro (2015) estudou a variação do barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019),
comportamento geomecânico do rejeito de novas legislações foram publicadas para estabelecer
mineração do zinco ao longo do beneficiamento. as diretrizes de segurança de barragens,
Além da obtenção dos parâmetros, a autora concluiu descaracterizar e descomissionar barragens alteadas
que a aplicação desse rejeito como material de a montante e regulamentar as formas de disposição
construção geotécnico encontra dificuldades em de rejeitos e resíduos industriais.
relação à variação decorrente dos distintos processos
industriais e minerais de origem. Assim, novos 4.2.1 Lei n° 12334 - Política Nacional de Segurança
estudos precisam ser realizados para investigar de Barragens (PNSB)
possíveis aplicações e encontrar soluções para
diminuir a quantidade de volume deste material A Lei n° 12334 de 20/09/2010 (BRASIL, 2010)
depositado em barragens. estabelece as diretrizes para segurança de barragens
que acumulem água, rejeitos e resíduos industriais.
De acordo com essa lei, é considerada barragem
4 BARRAGENS: ASPECTOS GERAIS DE qualquer estrutura que sirva para conter ou acumular
TÉCNICAS E LEGISLAÇÕES substâncias líquidas ou líquidas com sólidos.
Desta forma, são contempladas nesta lei as
barragens que tenham altura do maciço superior a
4.1 Aspectos técnico-construtivos quinze metros, capacidade maior ou igual a três
milhões de metros cúbicos, e as que contêm resíduos
As barragens compreendem qualquer estrutura que perigosos e categoria de dano potencial de médio a
seja construída dentro ou fora de um curso de água, alto. Assim, a PNSB busca reduzir a possibilidade de
em talvegue ou em cava exaurida com dique. Sua acidentes através da determinação de padrões de
principal finalidade é a contenção ou acumulação de segurança das barragens, realiza a regulamentação
líquidos ou de misturas de líquidos (BRASIL, 2010). destas ações em todas as fases, promove o seu
De acordo com Soares (2010), existem três monitoramento e, entre outros, estimula a cultura de

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305
segurança de barragens e gestão de risco. segurança da barragem.
Mais ainda, a lei estipula que a responsabilidade Junto a isto, ainda no artigo 13, é obrigatória a
legal sobre a segurança das barragens é do descaracterização das barragens inativas alteadas à
empreendedor. A classificação de risco é apresentada montante. Para aquelas barragens que ainda estão em
no artigo 7º, definida entre alto, médio e baixo risco, operação, o parágrafo segundo especifica um prazo
de acordo com as características técnicas, do estado de até três anos, contados a partir da publicação da
de conservação e do atendimento ao PNSB. Já a lei, para que seja adotado um método com tecnologia
categoria de dano potencial também recebe as alternativa para a acumulação ou disposição desses
mesmas classificações e é atribuída em relação ao materiais, com a conseguinte descaracterização da
potencial de perdas de vidas humanas e dos impactos barragem de acordo com o regulamento.
socioeconômicos e ambientais derivados de um Ademais, caso se opte pela reutilização, em fins
possível rompimento dessa estrutura. industriais, dos rejeitos ou sedimentos após a
descaracterização, deverá ser prosseguido com o
4.3 Lei n° 23291 - Política Estadual de Segurança licenciamento ambiental. Este licenciamento é
de Barragens observado no artigo sexto, que compreende a
apresentação preliminar de Estudo de Impacto
Devido ao risco das barragens alteadas a montante, Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental.
foi promulgada a Lei nº 23291 de 25/02/2019 (MG,
2019), que institui a Política Estadual de Segurança 4.4 Resolução SEMAD/FEAM nº 2784
de Barragens em Minas Gerais. Esta lei abrange as
barragens que tenham como finalidade a acumulação Resolução nº 2784, publicada em 21/03/2019
ou disposição de rejeitos e resíduos industriais ou de (MG, 2019), determina a descaracterização de todas
mineração, além das barragens de água e de líquidos as barragens de rejeito e resíduos de mineração que
destinados às mesmas atividades. Somente são utilizam o método a montante, no estado de Minas
contempladas as barragens que possuam, ao menos, Gerais. Esta resolução age de forma a regulamentar o
altura do maciço igual ou superior a 10 m, capacidade estipulado pela Lei nº 23291, estabelecendo prazos e
igual ou superior a um milhão de metros cúbicos, critérios a serem seguidos. Assim, todas as barragens
resíduos perigosos e/ou potencial de dano ambiental a montante, em operação ou desativadas, devem
médio a alto. passar pelo processo de descaracterização.
Esta lei institui, ainda, que qualquer norma que
seja mais favorável à preservação do meio ambiente 4.5 Resolução ANM nº 95
e das comunidades afetadas terá prevalência, além de
especificar que a responsabilidade pela segurança das Somada a estas leis apresentadas, a Resolução ANM
barragens é do empreendedor. Além disso, são nº 95 de 07/02/22 (ANM, 2022) determina as
instituídos os critérios para o licenciamento medidas regulatórias aplicadas às barragens de
ambiental para a construção ou ampliação de novas mineração inseridas no PNSB. A ANM tem, entre as
barragens. suas atribuições, a função de fiscalizar as atividades
Alguns pontos desta lei merecem destaque. Em de pesquisa e lavra de minérios e das condições de
seu artigo 13, é vedada a concessão de licença segurança das barragens empregadas para estes fins.
ambiental para novas barragens, sua ampliação e Desta forma, a resolução fixa os seus critérios de
operação quando comportam rejeitos e resíduos acordo com o determinado por este órgão
industriais, que utilizem o método de alteamento a regulamentador.
montante. Para este caso, estão delimitadas as formas de
Além disto, a lei institui o descomissionamento e operação das barragens de rejeito. Além disso, são
a descaracterização das barragens alteadas à fixadas as condições de monitoramento dos
montante, de acordo com a definição da Resolução nº empilhamentos drenados para que, em caso de
13 da ANM (ANM, 2022). Dessa forma, é liquefação, seja informado em prazo regular ao
considerada uma barragem de mineração Sistema Integrado de Gestão de Segurança de
descaracterizada aquela estrutura que não recebe, de Barragens de Mineração e fixadas as condições de
forma permanente, a inserção de rejeitos e/ou cadastramento de novas barragens.
sedimentos derivados da atividade de origem. Essa
estrutura deixa, então, de exercer a função de
barragem ou de possuir as suas características. O 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
descomissionamento, por sua vez, é o encerramento
das operações e a remoção da infraestrutura Com base no exposto, vê-se a importância da
associada, com exceção das que são destinadas à exploração do zinco para a economia mundial. A sua

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aplicação é voltada, principalmente, como produto chamadas para Editais a fim de instigar a comunidade
anticorrosivo e para formação de ligas. Embora o científica a estudar e encontrar alternativas para o
Brasil possua apenas 1,2% das reservas mundiais, a aproveitamento da jarosita, através do financiamento
sua exploração contribui para um percentual destas pesquisas (CONEXÃO MINERAL, 2021).
considerável da economia mineral. Tal projeto foi nomeado de Mining Lab Beginnings
O zinco pode ser beneficiado de várias maneiras. e sua última chamada foi em 2021 (ESCALAB,
A mais comum e atualmente empregada no Brasil é 2021). O Núcleo de Geotecnia da Universidade
o método da jarosita. Nele, há a geração de um Federal de Juiz de Fora (NUGEO/UFJF), inclusive,
subproduto de mesmo nome. Ainda que este material tem mobilizado pesquisadores para pleitear
possua potencial de extração de minerais contidos, o oportunidades quando abertos novos editais.
seu maior volume é estocado em barragens e não Iniciativas deste tipo são importantes para a empresa
apresenta nenhuma destinação com aproveitamento e para os centros de pesquisa além de contribuírem
sustentável. Esse resíduo compreende, assim, um significativamente, quando devidamente aplicadas,
grande passivo ambiental. para a preservação do meio ambiente.
A exemplo da jarosita gerada em Juiz de Fora Por fim, foi percebido também que há poucas
(MG), a barragem que a comporta possui, pesquisas publicadas que apresentem algum
atualmente, cerca de 1.700.000 m³ de rejeito, em uma aproveitamento da jarosita como material de
área de 216.063 m². Nesta barragem, o método de construção ou outro. Como exemplo, destaca-se que
alteamento adotado foi de linha de centro, com altura na geotecnia, este uso seria interessante devido ao
final do barramento de 40 m entre a fundação e a grande volume de material natural (solo)utilizado
crista (NEXA RESOURCES, 2022). Vê-se, através para os fins previstos. A substituição total ou parcial
destes números, o grande volume de material deste recurso pela jarosita traria tanto uma nova
inutilizado e a área expressiva utilizada pela forma de acondicionamento quanto a preservação do
estrutura. solo. Ressalta-se, assim, o objetivo inicial deste
Com base nas leis e nas resoluções destacadas artigo de ser instrumento motivador para pesquisas
neste artigo, foi possível perceber que a atual forma sobre o aproveitamento da jarosita como material a
de disposição de resíduos e rejeitos, questão ser aplicado em diversas áreas.
problema por causar impactos ambientais e sensação
de insegurança à população vizinha, tornou-se um
fator agravante para as empresas mineradoras. As AGRADECIMENTOS
barragens foram submetidas às novas
regulamentações, inclusive, à obrigatoriedade do Os autores agradecem à Universidade Federal de Juiz
descomissionamento e descaracterização e, ainda, à de Fora pela infraestrutura e incentivo à pesquisa
proibição do barramento alteada a montante. Isto foi científica.
realizado a favor da segurança técnico-
socioambiental, mas representa um desafio para a
destinação de resíduos e rejeitos de mineração. REFERÊNCIAS
Agora, as empresas mineradoras precisam estudar
e investir recursos financeiros para determinar novas ABNT (2004). NBR 10004: Resíduos sólidos –
formas de disposição dos rejeitos e resíduos Classificação. Associação Brasileira De Normas
industriais, de tal forma que estes materiais se tornem Técnicas, Rio de Janeiro, p. 71.Albuquerque, D. (2022).
menos impactantes ao meio ambiente. A legislação Os dez maiores produtores de zinco no mundo.
Socientífica. Disponível em:
sugere, ainda, a reutilização destes subprodutos para
<https://socientifica.com.br/os-10-maiores-produtores-
que tenham aproveitamento em alguma finalidade. de-zinco-do-mundo/>. Acesso em: 21 jan. 2023.
Surge-se, diante desses aspectos, a possibilidade Almeida, A. L; Filho, W. M; Silva, R. M; Filho, T. T. (SD).
das empresas mineradoras atuarem junto aos centros A precipitação da jarosita na companhia Paraibuna de
de pesquisa científica para o desenvolvimentos Metais. Disponível em:
dessas novas formas de disposição ou de <https://docplayer.com.br/87300002-A-precipitacao-da-
reaproveitamento. O investimento realizado pelas jarosita-na-companhia-paraibuna-de-metais.html>.
empresas compreende também um instrumento Acesso em 22 jan. 2023.
motivador para a realização das pesquisas, que ANM (2021). Anuário Mineral Brasileiro: principais
poderão ter uma contribuição significativa para a substâncias metálicas. Agência Nacional de Mineração;
coordenação técnica de Marina Dalla Costa. – Brasília:
melhoria da infraestrutura dos laboratórios dos
ANM, 23p. Disponível em:
centros de pesquisa. <https://www.gov.br/anm/pt-br/centrais-de-
Nesse contexto, a empresa Nexa Resources, conteudo/publicacoes/serie-estatisticas-e-economia-
geradora do resíduo jarosita, tem divulgado mineral/anuario-mineral/anuario-mineral-

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307
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21 jan. 2023. 21 de mar. de 2019. Determina a descaracterização de
ANM (2022). Anuário Mineral Brasileiro: principais todas as barragens de contenção de rejeitos e resíduos,
matérias metálicas - produção bruta, beneficiada e alteadas pelo método a montante, provenientes de
comercializada. Disponível em: atividades minerárias, existentes em Minas Gerais e dá
<https://www.gov.br/anm/pt-br/centrais-de- outras providências. Diário do Executivo: Belo
conteudo/publicacoes/serie-estatisticas-e-economia- Horizonte, MG, 21 de mar. de 2019.
mineral/anuario-mineral/anuario-mineral- Neto, J. P . P. (2022). Perspectivas para o minério de
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MG. Lei nº 23291, de 25 de fev. de 2019. Institui a política
estadual de segurança de barragens. Diário do Executivo:
Belo Horizonte, MG, 25 de fev. 2019.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


308
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Metodologia de Empilhamento de Rejeito de Mineração Filtrado e


Compactado
Juliana de Paula Rezende
CSN Mineração, Congonhas, Brasil, juliana.rezende@csn.com.br

Liliane Andrade Santos


CSN Mineração, Congonhas, Brasil, liliane.santos@csn.com.br

Henrile Pinheiro Meireles


CSN Mineração, Congonhas, Brasil, henrile.meireles@csn.com.br

RESUMO: Durante muitos anos a disposição de rejeito de mineração foi realizada em barragens. Porém, devido aos
últimos rompimentos que ocorreram no Brasil, bem como a dificuldade de licenciamento para execução de novas
barragens ou alteamento das estruturas já existentes, o setor mineral buscou novas alternativas de disposição desses
rejeitos. Uma dessas alternativas é o empilhamento filtrado compactado. O processo de beneficiamento do minério de
ferro é finalizado tendo como produto o rejeito com uma umidade bastante elevada, sendo isso um obstáculo para o
empilhamento de maneira direta. Diante disso, é necessária a retirada da água excedente desse material até que fossem
atingidos os parâmetros ótimos de compactação (umidade ótima e massa específica seca máxima). Uma maneira de
realizar esse processo de redução de umidade se dá por meio da filtragem do rejeito. Dessa forma, após o processo de
beneficiamento, o rejeito de mineração passa pela planta de filtragem originando um material denominado de “torta seca”.
Apesar de se utilizar o termo “seco”, é importante ressaltar que o rejeito não sai totalmente seco do processo,
impossibilitando o empilhamento direto desse material. Portanto, é necessário um procedimento complementar
padronizado para que a umidade seja reduzida e esteja de acordo com os parâmetros de compactação preestabelecidos
para que esse material seja empilhado. Esse artigo trata de um estudo de caso, podendo-se afirmar que a partir do
procedimento apresentado para esse tipo rejeito, é possível obter pilhas que não apresentem problemas quanto a
instabilidade, bem como ruptura por liquefação da estrutura como um todo, desde que o mesmo seja seguido
rigorosamente.

PALAVRAS-CHAVE: Barragens, Disposição de rejeitos, Empilhamento, Rejeito de Mineração, Filtragem.

ABSTRACT: For many years, the disposal of mining tailings was carried out in dams. However, due to the latest ruptures
that occurred in Brazil, as well as the difficulty of licensing to build new dams or raise existing structures, the mineral
sector sought new alternatives for the disposal of these tailings. One such alternative is compressed filtered stacking. The
iron ore beneficiation process ends with a tailings product with a very high humidity, which is an obstacle to stacking
directly. In view of this, it is necessary to remove excess water from this material until the optimal compaction parameters
are reached (optimal humidity and maximum dry specific mass). One way to carry out this moisture reduction process is
by filtering the waste. In this way, after the beneficiation process, the mining tailings pass through the filtering plant,
originating a material called “dry cake”. Although the term “dry” is used, it is important to note that the waste does not
leave the process completely dry, making it impossible to stack this material directly. Therefore, a standardized
complementary procedure is necessary so that the humidity is reduced and it is in accordance with the pre-established
compaction parameters for this material to be stacked. This article deals with a case study, and it can be stated that from
the procedure presented for this type of waste, it is possible to obtain piles that do not present problems in terms of
instability, as well as rupture due to liquefaction of the structure as a whole, provided that the even if strictly followed.

KEY WORDS: Dams, Tailings Disposal, Stacking, Mining Tailings, Filtering.

1 INTRODUÇÃO sendo “resíduos sólidos que, depois de esgotadas


todas as possibilidades de tratamento e recuperação
A Lei Federal nº 12.305, que institui a Política por processos tecnológicos disponíveis e
Nacional de Resíduos Sólidos, define rejeitos como economicamente viáveis, não apresentem outra

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309
possibilidade que não a disposição final construção das pilhas de rejeito filtrado e desaguado.
ambientalmente adequada”. Esse tipo de resíduo está O objetivo deste procedimento de formação das
presente na maior parte dos empreendimentos pilhas é padronizar os critérios a serem adotados nos
mineiros e representa um volume considerável de processos construtivos para a formação da pilha, de
material gerado, movimentado e reservado. modo a garantir o grau de compactação e teor de
A metodologia tradicional de disposição de umidade adequados para o rejeito. Trata-se de um
rejeitos em forma de polpa, em geral, exige grandes estudo de caso em que é abordada a aplicação de uma
áreas para efetuar a disposição e apresenta grande metodologia de empilhamento de rejeito filtrado,
impacto ambiental e, por isso, as empresas têm lembrando que não configura uma especificação
maiores dificuldades para a realização de novos geral para rejeitos filtrados em geral. Esse
licenciamentos. No processo convencional de procedimento se faz necessário para certificar-se de
disposição de rejeitos a polpa (lama) é lançada que as características geotécnicas do rejeito, como
diretamente nas barragens. resistência, permeabilidade, deformabilidade e
A proximidade de áreas urbanas e a pressão trabalhabilidade estejam dentro dos limites aceitáveis
pública têm despertado a necessidade de se buscarem para segurança da estrutura. Para execução das
alternativas a essa metodologia de forma a reduzir o atividades do empilhamento de rejeitos são
uso de barragens otimizando a disposição desse necessários recursos que envolvem desde
rejeito (Guimarães et al., 2012). equipamentos básicos como caminhões basculantes a
Dentro desse contexto, tem-se a disposição desse recursos mais específicos como estação total para
material em pilhas de rejeito controlado. Para a execução dos controles topográficos à medida que
realização da disposição do rejeito em pilhas, após o ocorre o alteamento dos setores das pilhas.
processo de beneficiamento, os rejeitos passam pela Portanto, esse estudo visa evidenciar os critérios
planta de filtragem (Figura 1) se transformando em adotados para a formação de pilhas de rejeito de
uma “torta seca”. mineração com características específicas, de modo a
Segundo Alves (2020) os filtros são equipamentos garantir pilhas de rejeito filtrado estáveis
que, em geral, permitem um maior desaguamento, se estruturalmente e que não sejam susceptíveis a
comparados aos espessadores. Trata-se de uma ruptura por liquefação.
alternativa mais segura e sustentável, principalmente
se comparada ao método convencional de disposição 2 METODOLOGIA
de rejeitos.
2.1 Características de projeto das pilhas de rejeito
filtrado consideradas nesse estudo

A Tabela 1 mostra as características das pilhas de


rejeito e a Figura 2 evidencia a curva granulométrica
do rejeito filtrado.

Tabela 1. Características de projeto do empilhamento do


rejeito filtrado
Inclinação geral das bermas 1V:3,5H
Inclinação do Talude 1V:2,5H
Altura dos bancos 10m
Figura 1. Planta de filtragem de rejeito Largura das bermas 10m
Largura dos acessos 10m
Apesar de se utilizar o termo “seco”, é importante Grau de compactação* >95%
ressaltar que o rejeito não sai totalmente seco do Desvio de umidade +ou- 2%
processo de filtragem, impossibilitando o Espessura da camada compactada 30cm
empilhamento direto desse material. Portanto, é Umidade ótima 14%
Densidade máxima seca 2,1 g/cm3
necessário um procedimento complementar Areno siltoso sem
padronizado para que a umidade seja reduzida e Classificação
pedregulhos
esteja de acordo com os parâmetros de compactação Tapete drenante
preestabelecidos para que esse material seja com transição de
Drenagem interna
empilhado. materiais
granulares
Esse procedimento complementar para *O grau de compactação e desvio de umidade é obtido a partir da
empilhamento de rejeitos visa estabelecer os realização do ensaio de Hilf
processos construtivos, para que seja garantida a
eficiência e a produtividade necessária para a

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310
escavadeira hidráulica e carregadeira de rodas.

2.3 Etapas do empilhamento adotadas para o


rejeito considerado nesse estudo

Para o empilhamento do rejeito foram padronizadas


as etapas visando obter os resultados esperados,
sendo elas:
Carregamento e transporte: o rejeito ao sair da
filtragem é carregado e encaminhado às praças
intermediárias ou encaminhado diretamente para os
setores de empilhamento, dependendo da umidade
Figura 2. Granulometria do rejeito filtrado em que se encontra. Inicialmente a equipe de campo
realiza a coleta de umidade do material. Para uma
Vale ressaltar que esses valores são característicos maior precisão no controle geotécnico, os locais de
desse estudo e podem sofrer variações de acordo com lançamento do rejeito estão em áreas delimitadas
o rejeito considerado. para execução dos serviços;
O sistema de drenagem interna é composto por Distribuição do material: o rejeito é distribuído
drenos coletores, distribuídos em forma de espinha de em área específica com altura da camada conforme
peixe (Figura 3). Na saída do dreno coletor previsto em projeto;
principal, é instalado um medidor de vazão, para Canto de lâmina: são abertos sulcos na área
controle do fluxo. Os materiais utilizados para os delimitada para agilizar o processo de perda de
umidade. Esse processo é executado uma vez ao dia,
drenos foram areia, brita 0 e brita 3 (sanduiche),
invertendo o sentido dos sulcos;
para conduzir o fluxo da água captada.
Aração do rejeito: tratamento do material com
tratores agrícolas tendo como objetivo homogeneizar
o material superficial com o material de fundo da
camada e reduzir a sua umidade;
Compactação do rejeito: após o material ter sido
distribuído, o mesmo é compactado com rolo do tipo
pé de carneiro (compatível com a granulometria do
rejeito considerado nesse estudo). O equipamento
passa sobre a camada lançada garantindo o grau de
compactação mínimo especificado em projeto.
Durante o processo de empilhamento do material nas
áreas delimitadas, é realizada observação visual,
visando a constatação de eventuais problemas de
laminação, deformação ou trincas;
Liberação da camada: finalizado o processo de
Figura 3. Locação da drenagem interna da pilha de rejeito compactação são realizados os ensaios sobre a
camada lançada a fim de aferir os demais parâmetros
de projeto. Os ensaios são realizados de forma
2.2 Equipamentos utilizados no empilhamento de gradativa à medida que os volumes são alcançados.
rejeito filtrado
2.4 Classificação do rejeito filtrado
Para o empilhamento do rejeito filtrado compactado
considerado nesse estudo foram necessários os O rejeito advindo da planta de filtragem recebe um
seguintes equipamentos: direcionamento de acordo com a umidade de
Proteção individual: capacete, colete refletivo, processo que o material apresenta. O Figura 4
calçado de segurança, óculos de segurança, protetor apresenta as 3 faixas de umidade consideradas. O
auricular e luvas de segurança; material de cada uma delas terá o seu destino e
Recursos áudio visuais: rádio de comunicação, atividades específicas para que sejam empilhados.
placas de sinalização e marcações topográficas;
Equipamentos de campo: trator de esteira, trator
agrícola, rolo compactador pé de carneiro, caminhão
basculante, motoniveladora, retroescavadeira,

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311
O rejeito é distribuído na área especificada em
camadas de, no máximo, 40 centímetros de material
solto, com trator de esteira (Figura 6). Após o
material ter sido distribuído, o rejeito é compactado
utilizando o rolo do tipo pé de carneiro (compatível
com a granulometria do rejeito considerado nesse
estudo). O equipamento passa sobre a camada
lançada garantido o grau de compactação mínimo de
Figura 4. Definições das faixas de umidade. 95% do ensaio de compactação Proctor Normal,
especificado em projeto.
2.4.1 Ações para o rejeito da Faixa 01

O rejeito que se enquadra na Faixa 01 é aquele que o


teor de umidade (processo) é igual ou inferior a 14%
(umidade ótima). Devido às características
específicas desse material, a sequência das ações
sobre ele está descrita a seguir.
O rejeito pertencente à Faixa 01 é carregado e
encaminhado diretamente às pilhas no setor liberado
pela equipe responsável pelo controle tecnológico. O
operador do caminhão bascula o material na
sequência especificada pelo setor de manejo, de
maneira que as próximas etapas de trabalho sejam
otimizadas. Os locais de lançamento do rejeito estão Figura 6. Lançamento do material e tratamento para
localizados em áreas delimitadas para execução dos subsequente compactação do rejeito
serviços, certificando a condição da remoção de
detritos, vegetação, etc., seguido da regularização e As superfícies dos aterros de rejeito, durante a
compactação da camada superficial. É de execução, são mantidas sempre com uma inclinação
responsabilidade da equipe de topografia dividir a transversal tal que permita uma rápida drenagem das
área previamente em setores que atendam à logística águas pluviais, não devendo possuir irregularidades e
da produção com dimensões adequadas para as depressões que possam provocar a formação de poças
operações de distribuição e compactação do material d'água em caso de chuva. Em dias com previsão de
(Figura 5). chuva, são utilizados rolos liso para selar a camada e
Antes de iniciar a distribuição do material, a minimizar a percolação de água no rejeito. A
equipe de topografia, responsável pelo controle das inclinação da praça/setor para escoamento das águas
pilhas, realiza os levantamentos referentes as cotas pluviais é de 1 a 2% no sentido externo ao talude da
iniciais, demarcação dos testemunhos e instalação de pilha.
marcos indicando os níveis corretos para execução As bermas finais têm inclinação de 2% na direção
dos serviços e, com isso, garante os níveis, a transversal e no sentido das canaletas internas da
inclinação mínima transversal das bermas e dos pilha. Essa ação é necessária para que as águas
setores nos quais o rejeito é lançado, a fim de evitar provenientes das chuvas não fiquem acumuladas nas
o acúmulo d’água. praças de empilhamento de rejeito e não causem
erosão nos taludes inferiores.
Após compactado e aferidas as demarcações
topográficas, os técnicos da equipe de controle e
monitoramento conferem os serviços para
prosseguimento das etapas. Feita a análise da
conformidade dos serviços, são realizados ensaios
sobre a camada lançada a fim de aferir os demais
parâmetros de projeto e liberar o lançamento das
próximas camadas.
Liberada a camada, são utilizadas grades de disco
ou outro equipamento apropriado, previamente ao
lançamento de uma nova camada, objetivando criar
Figura 5. Pilha de rejeito subdividada em setores uma perfeita ligação entre as camadas. Este

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312
procedimento é realizado em todas as camadas. Em 2.5 Controle tecnológico
nenhuma hipótese são lançadas camadas em
superfícies lisas. Feita a escarificação, é feito o O controle tecnológico de cada uma das camadas
destorroamento, a correção de umidade (se compactadas é realizado em laboratório de geotecnia
necessária) e a homogeneização do material com equipamentos aptos e calibrados, conforme as
escarificado solto para a melhor ligação de cada exigências da NBR que rege cada uma das atividades.
camada com a camada seguinte. Os ensaios são realizados de forma gradativa à
Caso ocorram camadas laminadas nos locais de medida que os volumes compactados são alcançados.
tráfego concentrado de equipamentos de Os tipos e as quantidades de ensaios que são
terraplenagem, essas são removidas. Serão também realizados seguem as especificações da Tabela 2.
removidas quaisquer camadas em que se apresentem Após a elaboração dos relatórios sobre os ensaios
“borrachudos” (ondulações devido à deformação realizados, a equipe de controle das pilhas afere os
plástica causada pela passagem dos equipamentos de parâmetros obtidos e preenche o Relatório de Ensaio
terraplenagem sobre solos com excesso de umidade). de Compactação das Camadas. Este relatório informa
a qualidade dos serviços executados e o atendimento
2.4.2 Ações para o rejeito da Faixa 02 dos parâmetros de projeto, aprovando ou não a
camada trabalhada.
O rejeito que se enquadra na Faixa 02 é aquele que o Buscando realizar o controle ininterrupto das
teor de umidade de processo varia entre 14 e 16%. pilhas, diariamente são liberados documentos
Devido às características específicas desse material, informando a situação de todos os setores das pilhas.
a sequência das ações está descrita a seguir. Este documento contém informações referentes a
O rejeito pertencente à Faixa 02 possui tratamento liberação ou parada das atividades nas áreas
similiar ao da Faixa 01. A diferença entre essas faixas especificadas.
diz respeito a etapa em que o rejeito pertencente a As depressões, resultantes da realização dos
Faixa 02 é arado com trator agrícola após o ensaios e/ou poços de inspeção, são preenchidas e
lançamento da camada de material solto. O objetivo compactadas com passagens localizadas do
desta ação é homogeneizar as características do equipamento.
material superficial com o material de fundo da
camada e reduzir a sua umidade aproximando-se da Tabela 2. Ensaios a serem realizados no rejeito
umidade ótima de 14%. São realizados controles compactado
diários sobre o material lançado aferindo sua
umidade de processo.
Quando este material, que inicialmente se
enquadrava na Faixa 02, passar a se enquadrar na
Faixa 01, pelo critério de umidade de processo, as
próximas etapas seguem normalmente conforme
citado no item 2.4.1.

2.4.3 Ações para o rejeito da Faixa 03

O rejeito que se enquadra na Faixa 03 é aquele que o


teor de umidade de processo é superior à 16%. O
rejeito pertencente à essa faixa é encaminhados às
praças de secagem/praças intermediárias. O material
é homogeneizado diariamente para que o processo
seja intensificado. Essa ação objetiva a redução da
umidade do material aos parâmetros da Faixa 01 ou
Faixa 02.
São realizados controles diários sobre o material
armazenado aferindo sua umidade de processo.
Certificando-se que o material se enquadra nas outras 2.6 Instrumentos de controle e monitoramento das
faixas de umidade de processo (Faixa 01 ou Faixa pilhas
02), deve-se prosseguir com o procedimento relativo
à faixa que o material liberado pertence. Estas etapas O projeto dessas pilhas de rejeito filtrado compactado
estão descritas nos itens 2.4.1 ou 2.4.2. prevê a instalação de instrumentos que visam
monitorar o comportamento interno e externo delas.

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313
Tais instrumentos estão distribuídos ao longo da A partir dessa caracterização foi possível observar
pilha conforme sequência construtiva especificada que o rejeito considerado nesse estudo está entre o
pelo projetista. É responsabilidade da equipe de intervalo de solos com potencial de liquefação,
controle e monitoramento das pilhas a instalação necessitando, portanto, de um tratamento
destes instrumentos de acordo com as especificações padronizado para que não haja problemas quanto a
de projeto. liquefação ao ser empilhado. Para que isso não ocorra
Os instrumentos a serem instalados são: o procedimento de empilhamento é empregado
1. Indicadores de nível d’água; rigorasamente respeitando todos os parâmetros e
2. Medidores de vazão; premissas inerentes ao projeto.
3. Piezômetros;
4. Placas de deslocamento; 3.2 Análises de estabilidade
5. Sismógrafos.
6. Marcos superficiais. 3.2.1 Condições normais de funcionamento

2.7 Drenagem Superficial e Proteção Vegetal As Figuras 8 e 9 mostram as análises consideradas


nas pilhas de rejeito para a condição normal de
As execuções das drenagens superficiais e proteção funcionamento. Essas figuras mostram que o fator de
vegetal das pilhas são executadas concomitantemente segurança obtido para todos os cenários está de
com a formação das mesmas. A medida que os acordo com as premissas consideradas no projeto
primeiros taludes e bermas são liberados, essas dessas pilhas, de maneira que não haja problemas de
atividades são executadas. instabilidade nessa estrutura. Foram considerados os
As atividades de drenagem superficial seguem as graus de compactação de 93%, 95%, 97% e 100%.
dimensões e locações previstas em projeto, porém as
especificações técnicas poderão sofrer alteração em
trechos onde estão previstas interligações com pilhas
futuras. Para estes casos é recomendado a execução
de drenagens provisórias que atendam as vazões
especificadas em projeto e que possam ser facilmente
removidas quando a pilha for sobreposta/interligada
pelas pilhas futuras.
No caso da proteção vegetal, para os taludes que Figura 8. Análises de estabilidade na condição normal de
serão sobrepostos/interligados com pilhas futuras não funcionamento para os graus de compactação de 93% e
95%.
é realizado o serviço. O revestimento vegetal é
realizado somente nos taludes previstos como
geometria final da pilha.

3 RESULTADOS

3.1 Susceptibilidade à liquefação

A Figura 7 mostra os limites quanto a


susceptibilidade à liquefação do rejeito filtrado.
Figura 9. Análises de estabilidade na condição normal de
funcionamento para os graus de compactação de 97% e
100%.

3.2.2 Cenário considerando uma possível


colmatação do sistema de drenagem

As Figuras 10 e 11 mostram as análises consideradas


nas pilhas de rejeito para uma possível colmatação do
sistema de drenagem. Essas figuras mostram que o
fator de segurança obtido para todos os cenários
ainda assim foi maior que 2,0 para os graus de
Figura 7. Granulometria do rejeito filtrado e limites de compactação de 93%, 95%, 97% e 100%.
susceptibilidade a liquefação do material

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314
3.2.4 Análise com rejeito em condições liquefeitas

As Figuras 14 e 15 mostram as análises consideradas


nas pilhas de rejeito para o rejeito em condições
liquefeitas. Essas figuras mostram que o fator de
segurança obtido para todos os cenários foi superior
a 1,3 para os graus de compactação de 93%, 95%,
Figura 10. Análises de estabilidade considerando uma 97% e 100%. Esse valor de fator de segurança está de
possível colmatação dos sistema de drenagem para os acordo com o mínimo exigido em norma/legislação.
graus de compactação de 93% e 95%.

Figura 14. Análises com rejeito em consições liquefeitas


Figura 11. Análises de estabilidade considerando uma para os graus de compactação de 93% e 95%.
possível colmatação dos sistema de drenagem para os
graus de compactação de 97% e 100%.

3.2.3 Análise pseudoestática não drenada

As Figuras 12 e 13 mostram as análises consideradas


nas pilhas de rejeito para a condição pseudoestática
não drenada. Essas figuras mostram que o fator de
segurança obtido para todos os cenários foi maior que
1,3 para os graus de compactação de 93%, 95%, 97%
e 100%. Esse valor de fator de segurança está de Figura 15. Análises com rejeito em condições liquefeitas
acordo com o mínimo exigido em norma/legislação. para os graus de compactação de 97% e 100%.

3.2.5 Resultados obtidos para as análises de


estabilidade

A Tabela 3 mostra os resultados obtidos para todos


os cenários analisados.

Tabela 3. Resultados obtidos das análises realizadas em


diferentes cenários para as pilhas de rejeito

Figura 12. Análises pseudoestática não drenada para os


graus de compactação de 93% e 95%.

Diante dos resultados obtidos, temos que a


geometria proposta para as pilhas de rejeito está
adequada, com valores dos fatores de seguranca
superiores aos mínimos recomendados para cada
condição de carregamento.
O procedimento de empilhamento de rejeito
executado no campo levando em consideração
Figura 13. Análises pseudoestática não drenada para os camadas de rejeito espalhadas e compactadas em
graus de compactação de 97% e100%. pequenas espessuras, se mostrou bastante eficiente,

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315
de forma a se garantir os graus de compactação
especificados, para que o comportamento dos rejeitos REFERÊNCIAS
seja dilatante (não susceptível a liquefação).
É importante ressaltar que trata-se de um estudo ABNT (1991). NBR 12102: Solo- Controle de
de caso de aplicação de uma metodologia de compactação pelo método de Hilf. Associação
empilhamento de rejeito filtrado, em que foram Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 13.
levadas em consideração as características e ABNT (2016). NBR 7181: Solo- Análise granulométrica.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
parâmetros geotécnicos inerentes ao mesmo.
Janeiro, p. 16.
Portanto, não pode ser considerada uma ABNT (2016). NBR 6457: Amostras de solos –
especificação geral para rejeitos filtrados em geral, Preparação para ensaios de compactação. Associação
uma vez que cada material apresenta suas Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
peculiaridades. ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro.
4 CONCLUSÕES ABNT (2014). NBR 6508: Grãos de solos que passam na
peneira de 4,8mm – Determinação da massa
Com o constante acompanhamento dos trabalhos específica. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
Rio de Janeiro.
através de controle técnico e padronização das
ABNT (2016). NBR 7180: Determinação do Limite de
operações, espera-se um ganho de produtividade, Plasticidade. Associação Brasileira De Normas
melhor trabalhabilidade do material, parâmetros de Técnicas, Rio de Janeiro.
compactação consistentes, diminuição da ABNT (2016). NBR 6459: Determinação do Limite de
permeabilidade nas pilhas, aumento de resistência Liquidez. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
além de diminuir deformabilidade do rejeito Rio de Janeiro.
compactado. ABNT (2000). NBR 14545: Solo – Determinação do
Durante a execução das pilhas de rejeito, é coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a
importante que seja realizado o acompanhamento carga variável. Associação Brasileira De Normas
constante dos trabalhos através de controle visual, da Técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT (2016). NBR 9895: Solo - Índice de suporte
observação das operações de transporte, lançamento,
Califórnia (ISC) – Método de ensaio. Associação
espalhamento, nivelamento e compactação de cada Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
camada, além da verificação técnica dos parâmetros ABNT (2015). NBR 12007: Solo – Ensaio de
de projeto, juntamente com o apoio do laboratório adensamento unidimensional. Associação Brasileira
para o devido controle tecnológico. De Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
A partir do procedimento apresentado para esse ABNT (2022). NBR 12770: Solo – Determinação da
tipo rejeito, conforme suas particularidades, é resistência à compressão não confinada de solo
possível obter pilhas que não apresentem problemas coesivo. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
quanto a instabilidade, bem como ruptura por Rio de Janeiro.
liquefação da estrutura como um todo, desde que o ASTM (2022). D2850: Standard test Method for
Unconsolidated – Undrained Triaxial Compression
mesmo seja seguido rigorosamente.
testo n Cohesive Soils. American Society for Testing
Esse estudo mostrou que o procedimento adotado and Materials, EUA.
no empilhamente de rejeito filtrado é eficiente/viável, Alves, P. I. A (2020). Empilhamento de rejeito filtrado: a
uma vez que o comportamento do rejeito, seguindo expansão de uma alternativa para substituição de
todas as etapas mostradas ao longo desse estudo, é barragens. Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia
dilatante (não susceptível a liquefação), conforme Mineral) - Universidade Federal de Ouro Preto.
evidenciado nas análises de estabilidade. Guimarães, N. C.; Valadao, G. E.S.; Peres, A.E.C. (2012)
Este artigo poderá sofrer revisões conforme Filtragem de rejeitos de minério de ferro visando à sua
análise executiva das condições operacionais das disposição em pilhas. Rem: Rev. Esc. Minas, Ouro
atividades descritas. Preto, v. 65, n. 4, p. 543-548.
K. Ishihara et al. (1980). Cyclic strength characteristics of
tailings materials. Soils Found.
AGRADECIMENTOS Lei Nº 12.305 (2010) Política Nacional de Resíduos
Sólidos.
Os autores agradecem a empresa CSN Mineração Oliveira-Filho, W. L., Abrão, P. (2015) Disposição de
pelo financiamento desse estudo e por conceder essas rejeitos de mineração. In: ZUQUETTE, L. V. (Org.).
informações a fim de divulgar o procedimento Geotecnia Ambiental. Elsevier, Rio de Janeiro.
empregado no empilhamento de rejeito filtrado Tsuchida, H. (1970). Prediction and countermeasure
compactado. against the liquefaction in sand deposits. Seminar in
the Port and Harbor Research Institute, 3.1- 3.33.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Parâmetros Mecânicos de Misturas Asfálticas Formadas por


Agregados Naturais e Por Agregados Artificiais: Análise
Comparativa
Ana Paula Dias Milagres
Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, apdmilagres@aluno.ufsj.edu.br

Camilla Brigolini Tavares


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, camillabrigolini@gmail.com

Hellen Vitória Maia de Moura


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, hellenvitoria11@aluno.ufsj.edu.br

Maria Clara Figueiredo Coelho


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, clarinhafcoelho@gmail.com

Natalia Assunção Brasil Silva


Universidade Federal de São João del-Rei, Ouro Branco, Brasil, natalia.brasil@ufsj.edu.br

RESUMO: As atividades de mineração têm se destacado pelo aumento da sua produtividade, que consequentemente eleva
o acúmulo de resíduos siderúrgicos sem destinação e prejudica o desenvolvimento ambiental e sustentável. Por outro
lado, a crescente demanda por obras de pavimentação rodoviária no Brasil, aliada aos fatores econômico, social e
ambiental que envolvem a realização destas obras, justifica a importância do desenvolvimento de pesquisas que tratam
do aproveitamento desses resíduos, como, por exemplo, a escória de aciaria em misturas asfálticas. Este estudo visa
analisar a viabilidade técnica de substituição parcial de agregados naturais por artificiais (escória de aciaria) em misturas
asfálticas a serem aplicadas na pavimentação rodoviária. No protocolo metodológico valeu-se de duas misturas asfálticas
dosadas pelo método Marshall, uma composta por agregados naturais e outra por agregados naturais e artificais. Para a
análise técnica foram considerados os seguintes parâmetros mecânicos: i) resistência a tração por compressão diametral;
ii) módulo de resiliência; e iii) vida de fadiga, além de uma sucinta análise orçamentária. Notou-se que o teor de ligante
asfáltico nas misturas asfálticas de projeto compostas com escória foi 0,5% superior àquelas compostas apenas por
agregado natural. As misturas asfálticas com escória apresentaram melhores resultados de módulo de resiliência e vida
de fadiga. Estes resultados, associados à análise orçamentária dos materiais, permitiram concluir que mesmo com um
maior consumo de ligante asfáltico, nos municípios próximos a siderúrgicas, com disponibilidade de escória de aciaria,
pode ser viável tecnicamente e economicamente a substituição parcial de agregados naturais por escória em misturas
asfálticas.

PALAVRAS-CHAVE: Misturas Asfálticas, Parâmetros Mecânicos, Vida de Fadiga, Escória de Aciaria, Sustentabilidade.

ABSTRACT: Mining activities have stood out for their increased productivity, which consequently increases the
accumulation of waste from steel without destination and harms environmental and sustainable development. On the other
hand, the growing demand for road paving works in Brazil, allied to the economic, social and environmental factors that
involve the execution of these works, justifies the importance of the development of researches that deal with the use of
these residues, such as, for example, the steel slag in asphalt mixtures. This study aims to analyze the technical feasibility
of partially replacing natural aggregates with artificial ones (melt shop slag) in asphalt mixtures to be applied in road
paving. The methodological protocol used two asphalt mixtures dosed by the Marshall method, one composed of natural
aggregates and the other of natural and artificial aggregates. For the technical analysis, the following mechanical
parameters were considered: i) tensile strength by diametral compression; ii) resilience module; and iii) fatigue life, plus
a succinct budgetary analysis. It was noted that the asphalt binder content in project asphalt mixtures composed with slag

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317
was 0.5% higher than those composed only with natural aggregate. Asphalt mixtures with slag showed better results in
terms of resilience modulus and fatigue life. These results, associated with the budgetary analysis of the materials, led to
the conclusion that even with a higher consumption of asphalt binder, in municipalities close to steel mills, with
availability of steel slag, it may be technically and economically feasible to partially replace natural aggregates with slag
in asphalt mixtures.

KEY WORDS: Asphalt Mixtures, Mechanical Parameters, Fatigue Life, Steel Slag, Sustainability.

1 INTRODUÇÃO relatam que outra vantagem da escória de aciaria está


na sua possibilidade de ser 100% triturada, atingindo
A destinação dos resíduos siderúrgicos e a demanda a composição granulométrica mais adequada,
de materiais para obras de engenharia são temas permitindo maior trabalhabilidade e compacidade,
recorrentes, tanto no âmbito da indústria quanto da favorecendo a durabilidade do pavimento e podendo
construção civil, respectivamente, haja vista que o ser aplicada em grande escala. Assim, além de
acúmulo de resíduos industriais oriundos das proporcionar um destino para o resíduo industrial,
atividades siderúrgicas ressalta a necessidade da essa substituição minimiza um problema constante
promoção de um desenvolvimento econômico relacionado ao esgotamento dos recursos naturais e à
sustentável e da preservação ambiental (Rezende et exploração desses agregados, além de proporcionar
al., 2018; Santos et al., 2018). Dentre esses resíduos, uma vida útil maior ao pavimento.
destaca-se a escória, resíduo siderúrgico gerado pela Outra vantagem da utilização da escória em obras
fabricação do aço. Estima-se que, para a produção de de pavimentação está relacionada ao âmbito
1 tonelada de aço bruto, são gerados entre 450 e 500 econômico, por ser um insumo com baixo custo de
kg de resíduos, e a escória representa 70% desse total aquisição e que pode ser usado alternativamente nas
(Costa et al., 2017). camadas de um pavimento (Rezende et al., 2018). De
De acordo com Bona et al. (2020), o transporte acordo com Santos et al. (2018) e Coelho et al.
rodoviário, responsável pela movimentação de mais (2021), o uso desses resíduos, que são gerados em
de 60% das mercadorias e de 90% dos passageiros no grande escala, em obras rodoviárias é uma alternativa
Brasil, enfrenta graves problemas devido à baixa que tem se mostrado vantajosa para as siderúrgicas
qualidade da infraestrutura. Apenas 213.453km dos por reduzir custos de estocagem e tratamento dos
1.720.700km das rodovias são pavimentadas, rejeitos, agregando valor a eles, redução de danos
representando um percentual de 12,4%, o que ressalta ambientais, de emissão de poluentes e no consumo de
a necessidade de obras de pavimentação (CNT, energia.
2018). Aliado a isto, existe uma grande dependência No entanto, são poucos os estudos que tratam dos
de recursos naturais no setor de obras rodoviárias, parâmetros mecânicos de misturas asfálticas
uma vez que os agregados são os responsáveis por compostas por agregados artificiais resultantes de
resistir à maior parte da carga imposta ao pavimento, resíduos siderúrgicos. Este estudo visa verificar a
sendo de extrema importância na mistura asfáltica viabilidade mecânica da substituição parcial de
(Coelho et al., 2021). Nesse sentido, Rezende et al. agregados naturais por artificias, à base de escória de
(2018) relatam que os tipos de agregados utilizados aciaria, em misturas asfálticas a serem aplicadas na
na construção de um pavimento dependem de sua pavimentação rodoviária. A realização deste estudo
disponibilidade, custo, qualidade e aplicação, por pode promover a sustentabilidade, a melhoria dos
isso o aumento de estudos relacionados à substituição pavimentos rodoviários existentes e viabilizar
de agregados naturais por escória. economicamente a pavimentação de trechos não
Diante de tal problemática, Pedrosa (2010), ao pavimentados, tendo em vista a potencial
comparar misturas asfálticas compostas por escórias substituição de agregados naturais por agregados
de aciaria com aquelas formadas por agregados artificiais.
naturais, verificou que as misturas com escória
apresentaram características superiores em termos de
estabilidade, resistência à tração, vida de fadiga e 2 MATERIAIS E MÉTODOS
deformação permanente. Costa et al. (2017)
ressaltam que a expansibilidade da escória é um fator 2.1 Materiais
que limita sua utilização em obras de pavimentação,
pois proporciona defeitos nos pavimentos em formas Para o desenvolvimento da pesquisa foi
de trincas e/ou “vulcões”. No entanto, tal problema considerado o cimento asfáltico de petróleo (CAP
pode ser corrigido por um processo de cura onde os 50/70) proveniente da empresa Stratura Asfaltos S/A,
óxidos livres são hidratados e a expansão volumétrica localizada na cidade de Betim, Minas Gerais.
é estabilizada. Para a composição das misturas asfálticas também
Nouman et al. (1992) apud Santos et al. (2018) valeu-se de agregados natural de origem mineral

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318
gnáissica (brita 0, brita 1 e pó de pedra) e artificial aditivo melhorador na percentagem de 0,1% em
(escórias de aciaria elétrica redutora). As escórias massa do ligante asfáltico.
foram provenientes da empresa Vallourec, localizada Segundo EM 262 (DNER, 1994b) a escória de
no município de Jeceaba, em Minas Gerais, e estas aciaria para ser aplicada em pavimentos rodoviários
foram denominadas como escória 0 e escória 1, deve apresentar valores de absorção de água de 1% a
devido à semelhança granulométrica com as britas 0 2%. Neste estudo, os resultados de absorção para os
e 1, respectivamente. Os resultados dos ensaios de agregados escórias 0 e 1, apresentados na Tabela 1,
caracterização dos agregados são apresentados na foram superiores aos valores recomendados. No
Tabela 1 e Figura 1. entanto, como outras pesquisas, como a de Rezende
et al. (2018) e até aplicações em campo utilizaram
Tabela 1. Resultados dos ensaios de caracterização dos escórias com valores de absorção maiores do que o
agregados. recomendado em especificações, decidiu-se aplicar a
Ensaios Norma Resultados escória neste estudo.
Abrasão “Los Angeles” Para a avaliação da expansibilidade das escórias
Escória NBR NM 51 19,00% de aciaria, realizou-se em corpos de prova de
Brita 0 (ABNT, 2001) 33,47% misturas asfálticas com diferentes teores de ligante,
Brita 1 27,17% dosadas pelo método Marshall, o ensaio retratado na
ME 078 Insatisfatória
Adesividade norma japonesa JIS A 5015 (JIS, 1992). De acordo
(DNER,1994a)
Absorção
com o ensaio realizado, a escória está apta a ser
Brita 0 0,82% utilizada na construção de estradas.
Brita 1 0,74%
Escória 0 3,45% 2.2 Métodos
Escória 1 2,16%
Massa específica real ME 411 2.2.1 Misturas Asfálticas
Pó de pedra (DNIT, 2021) 2,604 g/cm³
Brita 0 2,648 g/cm³ Nesta pesquisa foram estudadas misturas asfálticas
Brita 1 2,650 g/cm³ com composições granulométricas que se enquadram
Escória 0 3,156 g/cm³ na faixa B da especificação de serviço ES 031 (DNIT,
Escória 1 3,176 g/cm³ 2006). As misturas asfálticas compostas por
NBR NM 248 agregados naturais foram denominadas Mistura 1,
Análise Granulométrica Figura 1
(ABNT, 2003) “M1”, e aquelas compostas por agregados artificiais
Índice de Forma Mistura 2, “M2”. A composição granulométrica de
Brita 0 0,57 “M1” foi 15% de brita 0, 40% de brita 1 e 45% de pó-
Brita 1 ME 424 0,77 de-pedra, e de “M2” foi 15% de escória 0, 40% de
Escória 0 (DNIT, 2020) 0,73
escória 1 e 45% de pó-de-pedra. Na Figura 2, são
Escória 1 0,55
representadas a curva granulométrica da composição
de agregados das misturas “M1” e “M2” e os limites
inferior (LI) e superior (LS) da faixa B da ES 031
(DNIT, 2006).

Figura 1. Análise granulométrica dos agregados.

Observou-se que os agregados atenderam o


especificado pela NBR NM 51 (ABNT, 2001) em Figura 2. Curva granulométrica da composição de
relação ao ensaio de abrasão Los Angeles, cujos agregados das misturas asfálticas e os limites da faixa B
ES 031 (DNIT, 2006).
valores foram inferiores a 55%. Devido ao resultado
insatisfatório da adesividade do ligante ao agregado,
verificada segundo o método de ensaio ME 078 Na análise do desempenho das misturas
(DNER, 1994a), utilizou-se nas misturas asfálticas o betuminosas a quente através do método de dosagem

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319
Marshall, especificado na ME 043 (DNER,1995), obtidas as equações de fadiga correspondentes às
foram utilizados cinco teores de ligante (5%, 5,5%, misturas ”M1” e “M2”.
6%, 6,5% e 7%), três corpos de prova por teor. Os
corpos de prova foram moldados conforme 2.2.3 Orçamento
estabelece a ME 043 (DNER, 1995). Para a
confecção dos corpos de prova, os componentes da Para fins de análise, foi elaborado um orçamento
mistura asfáltica foram aquecidos em um forno, o sucinto considerando os agregados e o cimento
ligante a 160 °C e os agregados a 175 °C. Após o asfáltico de petróleo (CAP 50/70) utilizados nas
aquecimento, eles foram homogeneizados e misturas asfálticas para construção de 1 quilômetro
colocados em molde de compactação. (km) de pavimento. Para tal, considerou-se uma
Posteriormente, a mistura asfáltica foi submetida ao rodovia fictícia enquadrada na classificação de
procedimento de compactação, sendo realizado a 150 Sistema Arterial Principal, destinada a atender
°C para garantir que o CAP 50/70 tivesse a grandes fluxos de tráfego, com elevada capacidade e
viscosidade determinada pela ES 031 (DNIT, 2006). altas velocidades, conforme as considerações do
Após a conclusão do procedimento de compactação, Manual de Projeto Geométrico de Travessias
o conjunto foi resfriado à temperatura ambiente em Urbanas (DNIT, 2010).
uma superfície lisa e plana por 24 horas para posterior Desta forma, adotou-se a velocidade diretriz de 60
extração do corpo de prova. a 80 km/h para a rodovia, cuja seção transversal é
Para os 15 corpos de prova de cada mistura constituída de pista dupla, com duas faixas de tráfego
asfáltica, “M1” e “M2”, foram determinados os de 3,60m de largura em cada sentido, que totaliza
seguintes parâmetros: Massa específica aparente de uma largura de 14,40m de pista de rolamento,
mistura asfáltica compactada (MEA); Densidade considerando um revestimento de 0,10m de
máxima teórica (DMT); Volumes de vazios (Vv); espessura.
Relação betume vazios (RBV) e Estabilidade (E) Optou-se por realizar um orçamento sucinto, pois
(Bernucci et al., 2022; DNER, 1995). este atende o intuito da avaliação dos custos e
A partir da média dos valores dos parâmetros, Vv apresenta as principais informações para o
e RBV, obtidos dos corpos de prova de mesmo teor comparativo entre os pavimentos dimensionados de
de ligante, e os seus limites estabelecidos na ES 031 acordo com os traços definidos nesse estudo.
(DNIT, 2006), foram definidos o teor ótimo de Para o levantamento do preço dos agregados,
ligante para as misturas “M1” e “M2”. Com os tanto natural quando artificial, foi considerada a
respectivos teores ótimo de ligante das misturas tabela do Sistema de Custos Referenciais de Obra
“M1” e “M2”, foram dosados e compactados corpos (SICRO) (DNIT, 2022), e, do cimento asfáltico de
de prova com misturas asfálticas de projeto, visando petróleo, o relatório divulgado pela Agência
a verificação dos parâmetros volumétricos Nacional de Petróleo (ANP, 2022).
estabelecidos em norma e a execução dos ensaios
mecânicos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
2.2.2 Parâmetros Mecânicos
3.1 Resultados Preliminares
Para as misturas asfálticas de projeto, “M1” e “M2”,
foram determinadas as propriedades mecânicas, Os principais parâmetros determinados na dosagem
sendo os ensaios mecânicos de laboratório realizados Marshall (MEA, Vv, RBV e E) das misturas
de acordo com as respectivas normas: betuminosas “M1” e “M2”, de acordo com os teores
- Módulo de resiliência – ME 135 (DNIT, 2018a); de ligante, são apresentados na Figura 3.
- Resistência à tração por compressão diametral – A MEA corresponde à relação entre a massa do
ME 136 (DNIT, 2018b); agregado seco e seu volume, incluindo os poros
- Vida de fadiga – ME 183 (DNIT, 2018c). permeáveis. Nesse sentindo, os valores da MEA da
Para os ensaios de módulo de resiliência (MR) e “M1” são inferiores àqueles apresentados pela “M2”,
resistência à tração por compressão diametral (RT), o que se deve ao fato do agregado artificial apresentar
foram moldados 3 corpos de provas. um maior volume de vazios, assim como uma massa
Na determinação da vida de fadiga, foram específica maior, conforme dados apresentados na
adotados cinco níveis de tensão (10%, 20%, 30%, Tabela 1.
35% e 40%) para “M1”, e quatro níveis de tensão Observa-se, para os teores de ligante asfáltico em
(20%, 30%, 35% e 40%) para “M2” dos valores de estudo, que a mistura betuminosa com agregados
RT´s das misturas asfálticas. A partir dos dados naturais, “M1”, tende a apresentar volume de vazios
experimentais de ensaios de fadiga, também foram inferior àqueles observados na “M2”. Nota-se que a

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320
RBV aumenta à medida que o teor de ligante que a mistura “M2” apresenta valores superiores em
aumenta, e a mistura composta por agregados comparação com os apresentados pela “M1”. Infere-
artificiais “M2” apresenta valores inferiores quando se que tais resultados podem ser relacionados aos
comparada com a “M1”. valores de Abrasão Los Angeles (Tabela 1) dos
agregados presentes nas referidas misturas. Isso
justifica a resistência à compressão diametral maior.

3.2 Mistura Asfáltica de Projeto

A partir dos resultados obtidos para os parâmetros Vv


e RBV pela dosagem Marshall, apresentados na
Figura 3, e dos seus respectivos limites mínimos e
máximos estabelecidos pela ES 031 (DNIT, 2006),
definiu-se 5,7% como teor de ligante ótimo para
“M1” e 6,2% para “M2”. Infere-se que o maior
(a) Massa Específica Aparente percentual de ligante da mistura “M2” se deve ao fato
da escória apresentar maior absorção que a brita que
compõe a “M1”. Os resultados dos parâmetros
determinados pela dosagem Marshall, massa
específica aparente da mistura asfáltica compactada
(MEA), densidade máxima teórica (DMT), volume
vazios (Vv); relação betume vazios (RBV) e
estabilidade (E) das misturas betuminosas para as
misturas asfálticas de projeto são apresentados na
Tabela 2.
(b) Volume de vazios
Tabela 2. Parâmetros das misturas de projeto “M1” e “M2”
determinados pela dosagem Marshall.
Parâmetros M1 M2
MEA (g/cm3) 2,31 2,49
DMT (g/cm3) 2,41 2,59
Vv (%) 4,04 3,98
RBV(%) 76,27 79,30
E(kgf) 545,19 645,94

Verifica-se que o parâmetro Vv das misturas


(c) Relação de Betumes Vazios “M1” e “M2” atendem aos limites determinados pela
ES 031 (DNIT, 2006), 3% a 5 % para a camada de
rolamento. A RBV também apresentou valores
dentro dos limites estabelecidos pela norma
supracitada, 75% a 82% para a camada de rolamento.
Com relação à estabilidade, que é a resistência
máxima à compressão radial apresentada pelo corpo
de prova, ambas as misturas atenderam ao limite
estabelecido na ES 031 (DNIT, 2006), sendo exigida
uma resistência mínima de 500 kgf para a camada de
(d) Estabilidade rolamento. No entanto, cabe ressaltar que a “M2”
Figura 3. Parâmetros determinados na dosagem Marshall. apresentou um valor de estabilidade 18% superior à
apresentada pela “M1”. Com relação à fluência, que
A diferença dos valores dos parâmetros é a deformação total apresentada pelo corpo de prova
supracitados entre as misturas “M1” e “M2” pode quando atingido o valor de estabilidade (DNER,
estar relacionada à absorção dos agregados que as 1995), “M2” apresenta valores inferiores em 21%
compõem, pois, como esperado, os agregados quando comparada com a “M1”.
naturais (britas) apresentaram valores de absorção Tais resultados corroboram os resultados de
inferiores aos apresentados pelos agregados Pedrosa (2010), em que misturas asfálticas
artificiais (escórias). compostas por agregados artificiais apresentam
Ao analisar o parâmetro estabilidade, observou-se

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321
maior estabilidade e menor fluência do que aquelas Como não são especificados em norma os valores
compostas por agregados naturais. limites de módulo de resiliência de misturas
asfálticas, foi feita uma comparação entre os
3.3 Análise dos Parâmetros Mecânicos resultados deste trabalho com os de outras pesquisas
que utilizaram o CAP 50/70, conforme apresentado
A Figuras 4 mostra o resultado do valor médio da na Tabela 3.
resistência à tração por compressão diametral (RT), e
o seu limite mínimo estabelecido pela ES 031 (DNIT, Tabela 3.Comparativo entre os resultados desta pesquisa e
2006), e na Figura 5 é representado o módulo de e os de outras com mesmo tipo de ligante asfaltico (CAP
resiliência (MR) das misturas asfálticas “M1” e 50/70).
“M2”. Pedrosa Bona Coelho
Estudo M1 M2
(2010) (2020) (2021)
Ligante 7,10% 7,50% 4,55% 5,70% 6,20%
1,6 1,49 Escória 100% 97% 40% - 55%
1,4 A.N. - 3% 60% 100% 45%
1,2 F.G. C B C B B
1,07 RT (MPa) 1,30 1,02 0,72 1,49 1,1
1
RT (MPa)

MR (MPa) 5833 5852 6323 5989 6353


0,8 0,65 A.N.: Agregado Natural; F.G: Faixa Granulométrica
0,6
0,4
Apesar das misturas serem de faixas
granulométricas distintas, com percentuais diferentes
0,2
de escória e tendo uma mistura com mais finos que a
0 outra, observou-se nestes estudos que o aumento de
M1 M2 MR não vem acompanhado do aumento de RT.
Limite mínimo ES 031 (DNIT, 2006) Os resultados de vida de fadiga (Nf) para as
Figura 4. Resistência à tração por compressão diametral
misturas “M1” e “M2” são apresentados na Figura 6.
das misturas “M1” e “M2”.

6400 6653
6300
MR (MPa)

6200
6100
6000 5989

5900
5800

M1 M2 Figura 6. Vida de fadiga em função da deformação


específica resiliente.
Figura 5. Módulo de resiliência das misturas “M1” e “M2”.
Observa-se que “M2” apresenta melhores
O valor médio de RT, tanto para “M1” quanto resultados de vida de fadiga quando comparada com
para “M2”, atende à especificação da ES 031 (DNIT, a “M1”, pois, para uma mesma deformação
2006), cujo valor mínimo é igual a 0,65 MPa. O valor específica, “M2” apresentou uma maior vida de
de RT inferior da mistura “M2” pode estar fadiga. Pedrosa (2010) destaca que a sensibilidade à
relacionado ao aumento do teor de ligante. Segundo fadiga é medida pela inclinação da reta no gráfico, ou
Boeira (2018), o aumento de teor de ligante seja, quanto maior for a sua inclinação, maior é a
convencional proporciona a diminuição do valor da sensibilidade à fadiga do material, e vice-versa.
RT. Assim, observa-se que a “M1” é mais sensível à
Com relação aos valores determinados para o fadiga, tendo a substituição de agregados naturais por
parâmetro mecânico MR, nota-se a superioridade de artificiais proporcionado vantagens em relação a esse
“M2”, que apresentou um valor 6% maior que “M1”. parâmetro.
Isso é devido à característica abrasão Los Angeles da Assim, haja vista que para a análise linear elástica
escória ser inferior ao da brita, isto é, o desgaste do pavimento é considerado o valor do módulo de
superficial da escória é menor quando comparado resiliência, um pavimento confeccionado com
com a brita.

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322
agregados artificias tende a apresentar melhores volumétricos e do comportamento mecânico entre
respostas às solicitações. Ele irá se desgastar e misturas asfálticas com agregados naturais e
deformar menos, conforme resultados da abrasão Los agregados artificiais, foi possível concluir e ressaltar
Angeles da escória e fluência de “M2”, o que é uma que os parâmetros mecânicos estão diretamente
característica interessante na área de pavimentação, relacionados com as características físicas dos
devido ao afundamento das trilhas de roda ser um materiais e os parâmetros volumétricos das misturas
defeito comum nos pavimentos. De acordo com asfálticas. Verificou-se, neste estudo, a influência da
Vestena et al. (2018), tal patologia compromete a absorção dos agregados, abrasão Los Angeles e
drenagem do pavimento e aumenta o risco de volume de vazios diretamente na resistência à tração
ocorrência de aquaplanagem. e módulo de resiliência das misturas.
Foi possível observar também que a mistura
3.4 Análise Orçamentária composta por agregados artificiais apresentou
melhores resultados de estabilidade, fluência,
Os orçamentos do revestimento asfáltico para um módulo de resiliência e vida de fadiga, mas não
quilômetro de pavimento foram realizados houve aumento da resistência à tração, devido ao uso
considerando “M1” de projeto com 5,7% de ligante de um teor maior de ligante. Por outro lado, ao
asfáltico e “M2” de projeto com 6,2% de ligante comparar com resultados presentes na literatura,
asfáltico, conforme apresentados nas Tabelas 4 e 5, pode-se concluir que os parâmetros mecânicos
respectivamente. obtidos foram melhores com o traço adotado.
Com relação à vida de fadiga, conclui-se que a
Tabela 4: Comparativo de custo com materiais para “M2” apresentou melhor resultado quando
revestimento asfáltico formado pela “M1” comparada com a “M1”, e a mistura “M1” é mais
Preço un. sensível à fadiga.
Componente Quantidade Total (R$)
(R$) Ao fazer o comparativo econômico de pavimentos
Pó de pedra (m³) 611,06 133,71 81.703,05 confeccionados pelas duas misturas, é viável a
Brita 0 (m³) 203,69 145,75 29.687,14 substituição dos agregados naturais por artificiais,
Brita 1 (m³) 543,17 141,33 76.766,69 pois, mesmo usando um maior teor de ligante, o custo
CAP (kg) 83.557,44 3,59 299.638,11 ficou 14,55% menor.
Total 487.794,99 Em suma, recomenda-se a substituição parcial de
agregados naturais por artificiais para a camada de
revestimento de pavimentos asfálticos.
Tabela 5: Comparativo de custo com materiais para
revestimento asfáltico formado pela “M2”
Preço un. AGRADECIMENTOS
Componente Quantidade Total (R$)
(R$)
Pó de pedra (m³) 607,82 133,71 81.269,84 Agradecemos aos Laboratórios de Pavimentação da
Escória 0 (m³) 202,61 12,96 2.625,15 Universidade Federal de Viçosa e da Universidade
Escória 1 (m³) 540,29 12,96 7.000,40 Federal de Juiz de Fora pela realização dos ensaios
CAP (kg) 90.887,04 3,59 325.922,15 mecânicos dos corpos de prova de mistura asfáltica.
Total 416.817,54

REFERÊNCIAS
Apesar da mistura “M2” ter utilizado maior teor
de ligante, o custo com materiais da mistura asfáltica
ABNT (2001). NBR NM 51. Agregado graúdo – ensaio
“M1” teve um valor superior em 14,55%. Sendo de Abrasão Los Angeles. Associação Brasileira de
assim, ao considerar não somente o custo do Normas Técnicas, Rio de Janeiro/RJ, 2001. 13p.
pavimento, como também o transporte, ABNT (2003). NBR NM 248. Agregados – determinação
disponibilidade, custo e impacto ambiental gerado da composição granulomética. Associação Brasileira
pela exploração dos agregados naturais, pode-se de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2003. 6 p.
concluir que a substituição desses por agregados ANP (2023) Preços de distribuição de produtos asfálticos,
artificiais é viável. https://www.gov.br/anp/pt-br/assuntos/precos-e-
defesa-da-concorrencia/precos/precos-de-distribuicao-
de-produtos-asfalticos, acessado em 10/01/2023.
Bernucci, L. B.; Motta, L. M. G. da; Ceratti, J. A. P.;
4 CONCLUSÃO
Soares, J. B. (2022) Pavimentação Asfáltica: formação
para engenheiros. (2 ed.) Rio de Janeiro: Petrobrás,
Ao realizar a análise comparativa de parâmetros Abeda.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


323
Boeira, F. D. (2018) Estudo da rigidez, da deformação Departamento Nacional de Infraestrutura e
permanente e da fadiga de misturas asfálticas com Transportes, Rio de Janeiro, p. 9.
ligantes convencionais e modificados. Tese de DNIT (2018c). ME 183. Pavimentação asfáltica: ensaio
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em de Fadiga por Ensaio Diametral à Manutenção
Geotecnia, Universidade Federal de Santa Maria, 286 Controlada. Método de ensaio. Departamento
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Bona, A. C. D.; Silveira, V. L.; Guimarães, A. C. R.; Silva, Janeiro, p. 15.
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aciaria em camadas de pavimentos. Revista Ibero densidade relativa e absorção de agregado miúdo para
Americana de Ciências Ambientais, v. 11, n.3, p.167- misturas asfálticas: método de ensaio. Departamento
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Coelho, L. M.; Guimarães, A. C. R.; Ávila, F. G. (2021). 10.
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pavimentada. Agência CNT Transporte Atual, 2018. em concreto betuminoso usinado a quente. Dissertação
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


324
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Particle Size Distribution of Landfilled Plastics, Rubber and


Construction and Demolition Wastes and Their Potential Reuses
Cíntia Minori Takeda
School of Civil Engineering, Architecture and Urban Design, UNICAMP, Campinas, Brazil,
minori0715@hotmail.com

Mariane Alves de Godoy Leme


School of Civil Engineering, Architecture and Urban Design, UNICAMP, Campinas, Brazil,
maryane88@hotmail.com

Diego Costa Romeiro


School of Civil Engineering, Architecture and Urban Design, UNICAMP, Campinas, Brazil,
diegocostaromeiro@hotmail.com

Miriam Gonçalves Miguel


School of Civil Engineering, Architecture and Urban Design, UNICAMP, Campinas, Brazil,
mgmiguel@fec.unicamp.br

ABSTTRACT: Different types of plastics, rubber and construction and demolition waste (CDW) can be mined from
sanitary landfills and reused. Hence, alternative uses for these municipal solid wastes (MSW) need to be defined. In this
context, this study aimed to characterize the particle size distribution, and the tactile and visual aspects of three types of
plastic (hard plastic, soft plastic, and plastic bags), rubber, and CDW landfilled for 24 years in a sanitary landfill located
in the municipality of Campinas/SP. In addition, these characteristics were compared with the same categories of the
landfilled MSW of 8 years. The particle size distribution curve of the plastics of 8 and 24 years were slightly different.
Overall, the three types of plastics of 24 years did not show a tendency of particle size reduction after landfilling, whereas
all the plastics of 8 years were fragmented due to the introduction of oxo-biodegradable plastic in 2007 in the Brazilian
market. However, the plastics of 8 years still can be used to improve soil properties. The tactile and visual characteristics
of landfilled plastics and rubber of 24 years indicated that their physical properties (flexibility, strength, and malleability)
were similar to the non-landfilled MSW, thus, they have a potential to be used to reinforce soils. Differently from the
CDW of 8 years, the Portland cement was not present in the composition of the CDW of 24 years. The oldest CDW was
mainly composed of siltstone fragments, therefore, it should be used for the maintenance of unpaved rural roads.

KEY WORDS: Municipal Solid Waste, Sanitary Landfill, Landfill Mining, Environmental Geotechnics, Soil
Stabilization, Paving.

RESUMO: Diferentes tipos de plásticos, borracha e resíduos de construção civil (RCD) podem ser minerados de aterros
sanitários e reutilizados. Desta forma, encontrar alternativas de reuso desses resíduos sólidos urbanos (RSU) é importante.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar três tipos de plástico (plástico duro, plástico mole e sacos e sacolas),
borracha e RCD aterrados por 24 anos no aterro sanitário localizado no município de Campinas/SP, quanto às suas
distribuições granulométricas e características tátil-visuais, além de compará-las com os resultados obtidos para os
resíduos aterrados por 8 anos. A curva granulométrica dos plásticos de 8 e 24 anos foram ligeiramente diferentes. De um
modo geral, os três tipos de plásticos de 24 anos não tenderam a ter o tamanho de suas partículas reduzidas, contudo,
todos os de 8 anos foram fragmentados devido a introdução do plástico oxo-biodegradável no mercado brasileiro a partir
de 2007. Apesar disso, os plásticos de 8 anos ainda podem ser utilizados para melhorar as propriedades do solo. As
características tátil-visuais dos plásticos e da borracha de 24 anos sinalizaram que as suas propriedades físicas
(flexibilidade, dureza, resistência) foram parecidas com os daqueles não aterrados. Desta forma, há potencial deles serem
aplicados em obras de reforço de solo. O RCD de 24 anos diferentemente do de 8 anos não apresentou em sua composição
cimento Portland, mas era constituído principalmente por fragmentos de siltito, o que viabiliza o seu emprego para a
manutenção de estradas vicinais.

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325
PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos Urbanos, Aterro Sanitário, Mineração de Aterro, Geotecnia Ambiental,
Estabilização do Solo, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO around 26.81% of the total amount of CO2 released


from the global industrial sector (9.40 Gton of CO2).
In developing countries such as Brazil, the Municipal Mishra et al. (2022) indicated that by-products of
Solid Waste (MSW) is commonly disposed of in industries (for example, plastic wastes, cement kiln
sanitary landfills, unsuitable landfills, and open dust) and agriculture wastes (rice husk ash) can be
dumps. The unsuitable landfills are known for not used as a soil reinforcement material, and they are
having an adequate infrastructure to mitigate the cost-effective.
environmental impacts, therefore, in this case, the Thus, considering the above listed facts, this study
MSW is disposed of directly in the ground and aimed to determine the particle-size distribution
covered by daily soil as explained by Nascimento et curves and evaluate the tactile and visual aspects of
al. (2019). According to the Brazilian National three types of plastics, rubber and CDW landfilled for
Sanitation Information System (Brasil, 2022), in 24 years in a Brazilian sanitary landfill. Besides,
2020, there were at least 1545 units of open dumps, based on these characteristics, it was analyzed if these
617 units of unsuitable landfills and 652 units of landfilled MSW could be used for geotechnical
sanitary landfills. Additionally, annually the amount application. In addition, to evaluate the influence of
of MSW disposed of in the ground is increasing. The the biodegradation process in these solid wastes,
Brazilian Public Cleaning and Special Waste these results were also compared with the study of
Companies Association (ABRELPE, 2020) reported Leme et al. (2022), who characterized the landfilled
that in 2010, the amount of MSW disposed of in open MSW of 8 years (MSW-8).
dumps, unsuitable landfills, and sanitary landfills
were 11.35 million tons, 14.04 million tons and 33.40
million tons, respectively. On the other hand, in 2022, 2 MATERIAL AND METHODS
29.71 million tons of MSW were disposed of in open
dumps and unsuitable landfills, whereas 46.41 2.1 Description of the sanitary landfill
million tons were landfilled in sanitary landfills
(ABRELPE, 2022). In addition to these data, the The Delta A Municipal Sanitary Landfill, located in
selected collection system does not cover 62% of the Campinas, southeastern Brazil, was chosen for this
Brazilian urban population (ANCAT, 2020). The study. This sanitary landfill operated from 22 years,
situation described above is worrisome, since a between 1992 and 2014, and during its operation
considerable amount of recyclable MSW is being period, around 5 million tons of MSW were disposed
disposed of in the ground. This is a misuse of of in it (PMC, 2012; 2021). The Delta A Municipal
materials and space. Sanitary Landfill was also projected to receive health
Internationally, many researchers have studied the service solid waste treated with microwaves,
possibility of mining sanitary landfills or open dumps therefore, these wastes became non-inert and non-
in order to recover the landfilled MSW and reinsert hazardous.
them into the production chain as a secondary raw
material (Waste-to-Material) or source of energy 2.2 Sample collection
(Waste-to-Energy) (Quaghebeur et al., 2013; Singh
& Chandel, 2020; Wang et al., 2021). Leme et al. A slope of a cell constructed in 1997 in Delta A
(2022) proposed that plastics and rubbers recovered Municipal Sanitary Landfill was excavated using a
from sanitary landfills should be used in the field of backhoe, and from this sampling point around 3 tons,
geotechnical engineering to stabilize soils and on wet weight, of MSW landfilled for 24 years
landfilled constructions, whereas demolition waste (MSW-24) was recovered. This landfilled MSW-24
(CDW) should be used as a recycled aggregate for the was homogenized and quartered according to NBR
construction of road pavements. 10007 (ABNT, 2004) to obtain a representative
Cement and lime are commonly added to sample of 556.80 kg, on wet weight. The
expansive soils to improve their geotechnical representative sample was transported to the
properties (Amakye et al., 2021). However, recently, laboratory.
the urge for finding alternative materials to reinforce
soils has been increasing, since cement and lime are 2.3 Preparing the samples
not eco-friendly materials, and they are not cost-
effective. The International Energy Agency (IEA, At the laboratory, around 464.94 kg, on wet weight,
2022) reported that cement industries emitted 2.52 of the representative sample was sieved by using a
Gton of dioxide carbon (CO2) in 2021, this represents mesh of 19 mm. The landfilled MSW retained in the

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326
sieve was segregated in the following categories: The sieves used in this study had the following
organic matter, paper/cardboard, pruning/wood, hard mesh sizes: 25.0 mm; 19.0 mm; 9.52 mm; 2.0 mm;
plastic, soft plastic, plastic bags, glass, rubber, soil ( 1.2 mm; 0.6 mm; 0.42 mm; 0.25 mm; 0.15 mm; 0.075
19 mm), metals, CDW, hazardous (hospital waste), mm; 0.062 mm; 0.053 mm; and 0.044 mm. The width
and others (Styrofoam, materials constituted of two and length of the solid waste retained in the first sieve
or more categories, leather, porcelain, foam, fabric, (25.0 mm mesh) were measured using a ruler, and
diaper and absorbent, long-life packaging, and their larger size were defined as the equivalent
materials that are not visually identified were diameter as recommended by Leme et al. (2022).
included in this category). The material smaller than During the sieving activity, the LFSMF
19.0 mm was defined as Landfill-Mined-Soil-Like- impregnated on the surface of the solid waste were
Fraction (LFSMF), which was composed of removed due to the vibration, and this material
fragments of all the categories mentioned above. tended to be retained on the sieves with small mesh
Each of these categories were weighted, and the sizes. Thus, when the sieving activity of landfilled
gravimetric composition, on wet weight, of the plastics and rubbers were carried out, the material
representative sample was obtained as shown in retained in each sieve were visually checked to verify
Table 1. Takeda et al. (2022) presented a more if it was solid wastes or only LFSMF. The sieves with
detailed composition of the landfilled MSW-24, and only LFSMF were not accounted for to analyze the
moisture content. Leme et al. (2021) described the particle size distribution. Leme et al. (2022)
methodology to obtain the gravimetric composition accounted for the LFSMF to describe the particle size
and moisture content of MSW-8 in the same sanitary distribution of the five landfilled MSW categories,
landfill. therefore, a reevaluation of those results was realized
to analyze exclusively the particle size distribution of
Table 1 – Gravimetric composition and moisture content landfilled MSW.
of landfilled MSW-24 and MSW-8, on wet basis Additionally, the curvature coefficient (Cc),
MSW-8a MSW-24b uniformity coefficient (Cu), the granulometric
Category c d
G MC Gc MCd fractions of each of the five landfilled MSW-24 and
Rubber 0.40 17.29 0.05 7.86 MSW-8 categories were determined from the
Organic Matter 5.68 42.23 0.43 58.15 particle-size distribution curve. The granulometric
Hazardous 0.71 6.37 0.50 24.46
fractions were considered according to NBR 6502
Glass 1.87 0.40 1.16 1.64
Wood/Pruning 6.62 45.32 1.32 49.68 (ABNT, 2022). These five landfilled MSW-24
Metal 1.17 24.29 1.68 24.55 categories were also classified based on the Unified
CDW 9.40 8.22 2.27 13.72 Soil Classification System (USCS). In addition, the
Hard Plastic 4.54 15.60 3.82 22.62 particle-size distribution curves of landfilled MSW-
Others 8.19 27.35 4.53 35.99 24 were compared with those determined for MSW-
Paper/Cardboard 10.86 56.49 5.14 61.44 8.
Soft Plastic 1.83 18.53 5.82 26.89
Plastic Bags 11.76 39.15 6.42 42.09
Soil ( 19 mm) 1.32 18.17 29.99 21.28 3 RESULTS AND DISCUSSION
LFSMF (< 19 mm) 35.65 32.90 36.87 27.99
Note: aAdapted from Leme et al. (2021); bAdapted from
3.1 Physical characteristics of landfilled MSW
Takeda et al. (2022); cG: Gravimetric Composition, on wet
basis; dMC: Moisture Content, on wet basis.
Figure 1 shows the comparison of the particle size
2.4 Particle size distribution distribution curve of landfilled rubber, hard plastic,
soft plastic, plastic bags, and CDW of 8 years and 24
In the present study, the following categories: rubber, years. Table 1 presents the detailed result of the
hard plastic, soft plastic, plastic bags, and CDW were particle size distribution curve, the Cc, Cu and the
studied. Thus, they were dried at 60ºC in the USCS classification. The predominant particle size
laboratory oven until constant mass. Note that MSW fraction was boulder for hard plastic (67.21%), soft
are usually dried at low temperatures to prevent the plastic (77.41%) and plastic bags (90.17%); rock for
volatilization of organic solids and the melting of rubber (55.62%); and CDW (54.14%) of 24 years.
plastic materials (Quaghebeur et al., 2013). The Thus, these landfilled MSW categories did not
particle size distribution of these five categories were present a significant particle size reduction over the
determined based on NBR 7181 (ABNT, 2016). The years (Table 2 and Figure 1).
dried samples were sieved by using thirteen stackable
laboratory sieves, which were descending ordered.

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327
Sand
Fines Gravel Rock Boulder
Fine Medium Coarse
0.06 0.2 0.6 2.0 60.0 200.0 1000.0

Figure 1 – Comparison of particle size distribution of five categories of landfilled MSW-8 and MSW-24
Note: *Data obtained from Leme et al. (2022)

Table 2. Detailed comparison of the particle size curve results


Landfilled MSW Categories
Hard Plastic Soft Plastic Plastic Bags Rubber CDW
Age 8* 24 8* 24 8* 24 8* 24 8* 24
Boulder 59.00 67.21 34.28 77.41 77.96 90.17 64.57 19.69 0.00 0.00
Rock 20.82 31.90 48.85 14.17 8.58 8.53 24.15 55.62 46.00 54.14
fraction (%)
Particle size

Gravel 19.92 0.89 8.21 8.42 5.75 1.29 10.91 23.86 51.83 43.77
Coarse sand 0.14 0.00 8.66 0.00 6.31 0.00 0.38 0.73 0.81 0.66
Medium sand 0.10 0.00 0.00 0.00 1.39 0.00 0.00 0.11 0.86 0.54
Fine sand 0.02 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.50 0.43
Fines 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.46
Cc*1 2.21 1.53 22.20 0.95 96.80 1.09 1.23 5.40 0.43 1.70
Parameters

Cu*2 6.77 2.00 61.67 2.07 125.00 2.04 4.11 5.83 3.90 4.12

USCS*3 classification GW*4 GP*5 SW*6 GP*5 SW*6 GP*5 GW*4 GW*4 GP*5 GW*4
Note: *Data obtained from Leme et al. (2022); *1Cc: Curvature Coefficient; *2Cu: Uniformity Coefficient; *3USCS:
Unified Soil Classification System; *4 Well Graduated Gravel; *5 Poorly Graduated Gravel; *6 Well Graduated Sand.

Nevertheless, the particle size distribution of hard al., 2012). According to Zanella et al. (2018), this
plastic, soft plastic and plastic bags landfilled for 8 type of plastic was introduced in Brazil in 2007.
years indicated that these solid wastes were Usually, the oxo-biodegradable plastic does not
fragmented along the years in relation to the deteriorate until disappearing from the environment,
landfilled MSW-24, since materials with a particle but they fragment (Markowicz & Szymańska-
size equivalent to a sand were present. This Pulikowska, 2019; Napper & Thompson, 2019).
difference might be due to the introduction of oxo- During the sieving activity of soft plastic of 8 years
biodegradable plastic in the market, which is known more fragments of plastic were retained in a mesh of
to be a petroleum-based plastic incorporated with an 2.0 mm in relation to the oldest solid waste (Figure
additive that accelerates its degradation (Thomas et 2). This observation reinforces that probably in 2012,

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when the landfilled MSW-8 was disposed of in Delta increasing their degree of crystallinity (Canopoli et
A sanitary landfill, more oxo-biodegradable plastic al., 2020). Hocker et al. (2018) verified that the
was present in relation to the MSW landfilled in 1997 increase in the degree of crystallinity reduced the
(24 years). tenacity of the plastic. However, Custódio & Miguel
(2022) indicated that the addition of soft plastic strips
of 8 years in a sandy soil improved its effective
friction angle, whereas the soft plastic strips of 24
years increased the effective cohesion of the same
soil.
These results indicate that the landfilled plastics
have a potential to be used to reinforce soil.
Nevertheless, a more detailed study in laboratory
scale should be carried out to prove the applicability
of landfilled plastics in the field of geotechnical
engineering. For example, different mixing ratios of
landfilled plastic and expansive soil should be
Figure 2. Soft plastic retained in the mesh of 2.0 mm. (a) 8
submitted to CBR, repeated load triaxial, swelling-
years old; (b) 24 years old.
shrinkage, and scanning electron microscope (SEM)
tests, as carried out by Zhu et al. (2022). These
The hard plastic of 24 years was recovered intact
laboratory tests are important to determine the type
from the Delta A sanitary landfill; therefore, water
and size of plastic particles, the mixing ratio of plastic
and soda plastic bottles, conditioner and shampoo
and soil, the characteristic of the surface of the plastic
bottles, food packages were found, and tactile and
(plain or corrugated) that will provide the best
visually their strength and inflexibility seemed to be
improvement on the soil stabilization (Peddaiah et
as the same as the non-landfilled hard plastic (Figure
al., 2018; Fadhil et al., 2021).
3). The soft plastic and plastic bags of 24 years were
After proving the applicability of landfilled
still flexible and malleable, they did not tear easily.
plastics to reinforce soil, Leme et al. (2022)
However, all the types of plastic of 8 years and 24
suggested that they must be washed due to the
years recovered from the landfill showed a reduction
impregnation of LFSMF on their surface, in addition,
in their gloss (Figure 3). Canopoli et al. (2020) stated
crushing them is recommended to standardize their
that the loss of gloss of landfilled plastic indicated
particle size. Note that it is important to find
that they have aged. Some studies in the literature
alternative recycling routes of landfilled plastics
indicated that even in plastics with no changes in their
because these three types of plastics represented
visual and tactile characteristics, modifications in
16.07% and 18.12%, on wet basis, of the landfilled
their structural and surface cannot be discarded, such
MSW-24 and MSW-8, respectively (Table 1).
as alterations in the plastic texture and presence of
cracks on their surface (Potrykus et al., 2021); and

Figure 3. Landfilled MSW with particle size greater than 25 mm. (a) Hard Plastic of 8 years; (b) Hard Plastic of 24 years;
(c) Soft Plastic of 8 years; (d) Soft Plastic of 24 years; (e) Plastic Bags of 8 years; (f) Plastic Bags of 24 years; (g) Rubber
of 8 years; (h) Rubber of 24 years; (i) CDW of 8 years; (j) CDW of 24 years.

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Rubbers of 8 and 24 years recovered from Delta did not meet these characteristics. Nevertheless, the
A sanitary landfill were also in a good condition, landfilled CDW of 24 years can be used in rural roads
tactile and visually, and their elasticity were of low traffic, which are commonly unpaved, to
preserved (Figure 3). Although, this category account compensate for the loss of coarse aggregates of their
for only 0.05% and 0.4%, on wet weight, of the surface. Unpaved rural roads tend to deteriorate along
landfilled MSW-24 and MSW-8, respectively, still the time due to the loss of gravel, which is influenced
considerable amount of landfilled rubber can be by the rainfall, traffic volume and properties of the
recovered from the Delta A sanitary landfill, since gravel (Uys, 2011). Thus, in Brazil, every year in the
along the years around 5 million tons of MSW were rainy season, the rural roads need maintenance,
disposed of. Leme et al. (2022) suggested that especially to replace the coarse aggregates, because
landfilled rubbers should be used as a fiber to without them the road surface becomes slippery.
stabilize or reinforce soils. However, Liu et al. (2020)
and Akbarimehr & Fakharian (2021) warned that the 3.2. Future perspectives
particle size of the rubber, their format, such as fiber,
granular, chips and powder, and the mixture ratio of This study’s results indicated that plastics, rubbers
the rubber and soil can interfere in the performance and CDW for geotechnical application can be
of the geotechnical improvements of the soil. recovered from Delta A Sanitary Landfill. However,
Therefore, also in this case, laboratory tests should be when planning a landfill mining project in full-scale,
carried out to determine the best physical condition there will be many challenges to be overcome.
of the landfilled rubber to be used to reinforce soils. Firstly, the segregation process of landfilled MSW
The Delta A sanitary landfill was not projected to will be difficult. In this study the sorting process of
receive CDW, however, in this study, they were landfilled MSW-24 was carried out manually,
present in the constitution of the landfilled MSW-24 therefore, differencing the three types of plastic,
and MSW-8 (Table 1). Note that the constitution of rubber and CDW was possible. However, the
the CDW of 8 years and 24 years were different. application of mechanical processes in full-scale,
Leme et al. (2021) reported that the CDW of 8 years which is equipped with different segregation
was constituted mainly by concrete, mortar mechanisms, such as screening, magnetic separation,
fragments, and boulders, which originated from small wind separation, and sensor separation methods (near
repairs in the households done by their owners or by infrared—NIR), will not separate them in 25
a builder. In this situation, throwing small amounts of categories easily. Note that Takeda et al. (2022)
CDW with MSW was a common practice because reported that the landfilled MSW-24 present a higher
renting a debris dumpster was not economically moisture content, which varied from 1.64% to
feasible. On the other hand, siltstone fragments, and 69.66%, on wet basis. Leme et al. (2021) verified that
small pieces of tile were classified as CDW of 24 moisture content of the landfilled MSW-8 years
years. The presence of siltstone fragments was ranged from 0.40% to 59.56%, on wet basis. This
because the daily and interim cover soil of Delta A condition is not favorable to mechanical segregation
sanitary landfill was excavated from a deposit of of landfilled MSW. Kaartinen et al. (2013) stated that
sedimentary rock (siltstone) and residual sandy-clay high moisture content of landfilled MSW can reduce
silt of Itararé Formation, thus, siltstone fragments the mechanical segregation efficiency. Parrodi et al.
was mixed with the soil, and disposed of in the (2018) concluded that the impregnation of LFMSF
sanitary landfill (Takeda et al., 2022). on the surface of landfilled MSW will make it
Although the constitutions of CDW of 8 and 24 difficult to differentiate them by sensor separation
years were different, their particle size distribution methods.
were similar (Figure 1 and Table 2). Overall, Leme et Secondly, the disposal of oxo-biodegradable in
al. (2022) proposed that landfilled CDW of 8 years the sanitary landfills in Brazil may hinder the
should be considered as a recycled aggregate for sub- application of plastic for geotechnical improvements
base material since it was composed of 85% to 90%, of the soils. This type of plastic is produced with an
on mass, of Portland cements and rocks, and 10 to additive that promotes its fragmentation on the
15%, on mass, of ceramics fragments and other environment in a time scale faster than the
components. These characteristics met the conventional plastic. Therefore, this type of plastic
requirement of LTA (2010; 2020) for a recycled may not be suitable to reinforce soil. Besides,
aggregated to be used as a sub-base material, which heterogeneous types of plastic with different
need to be composed of at least 60% of concrete properties and degradation degrees are landfilled. So,
aggregates, less than 40% of masonry or bricks and differentiating them will also be difficult.
10% of contaminants, such as wood, asphalt, glass, Technological developments will be required to
plastic, and metals. The landfilled CDW of 24 years facilitate their segregation. Thirdly, the Brazilian

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330
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Overall, the particle size distribution of the three Review. Geotechnics, MDPI AG, [S. L.], v. 1, p. 307-
types of plastics were slightly different. The plastics 329.
of 8 years presented more materials with a particle ABRELPE (2020). Panorama dos resíduos sólidos no
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to the landfilled MSW-24. Probably, the introduction https://abrelpe.org.br/panorama/, accessed 12/01/2021
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made the plastics more susceptible to fragmentation. ABRELPE (2022). Panorama dos resíduos sólidos no
Brasil 2022. São Paulo, SP, 59 p.,
Aging signs were also verified on the plastics, such
https://abrelpe.org.br/panorama, accessed 19/02/2022.
as loss of gloss, however, the strength and (In Portuguese).
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the non-landfilled hard plastic, in addition, the soft DF, http://anuariodareciclagem.eco.br/, accessed
plastic, plastic bags, and rubber of 24 years were still 26/07/2021. (In Portuguese).
flexible and malleable, they did not tear easily. Brasil (2022). Diagnóstico temático: Manejo de resíduos
Therefore, these landfilled MSW categories have a sólidos urbanos – Infraestrutura, https://arquivos-
potential to be used to reinforce soils. Nevertheless, snis.mdr.gov.br/DIAGNOSTICO_TEMATICO_INFR
more studies need to be carried out to confirm it. The AESTRURA_PARA_OS_SERVICOS_RS_SNIS_20
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CDW of 24 years; thus, it could not be considered a
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recycled aggregate for sub-base material as the CDW polypropylene waste from landfill. Science Of The
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ACKNOWLEDGMENTS Anais XXX Congresso de Iniciação Científica,
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The authors would like to thank FAPESP (São Paulo https://www.prp.unicamp.br/inscricao-
congresso/resumos/2022P20429A37570O3261.pdf,
Research Foundation) for research assistance
accessed 11/12/2022. (In Portuguese).
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332
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Proposta para Reforço Não Convencional de Extravasor de


Barragem de Enrocamento com Seção Central Rebaixada
Lucio Schiavon Yamamoto
VALE / Universidade de São Paulo, Belo Horizonte, Brasil, lucio.yamamoto@usp.br

Maria E. G. Boscov
Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, meboscov@usp.br

Alexandre Cristino C. dos Santos


VALE, Nova Lima, Brasil, alexandre.santos6@vale.com

Victor Oliveira Dias da Rocha


VALE, Belo Horizonte, Brasil, victorodias@gmail.com

Daniel Aiala
Walm Engenharia, Belo Horizonte, Brasil, daniel.batista@walmengenharia.com.br

RESUMO: Uma barragem de enrocamento galgável com a seção central rebaixada, que funciona como extravasor,
apresenta risco de arraste de blocos para o caso de vazões decorrentes da máxima precipitação provável. Na fase de projeto
conceitual verificou-se várias alternativas para reforço do canal do extravasor, porém apenas a alternativa de revestimento
do extravasor com tela metálica mantinha as premissas de não alterar a geometria da seção típica da barragem e não
promover a substituição de materiais. Neste artigo serão apresentadas a metodologia e as considerações adotadas para
dimensionamento da tela metálica para travameto dos blocos de rocha superficiais e seu sistema de acoragem composto
por placas e grampos dispostos em malha 2,0 x 2,0 m.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem, Enrocamento, Galgável, Reforço, Extravasor.

ABSTRACT: An overtopped rockfill dam with a lowered central section, which works as an spillway, presents a risk of
block dragging in case of flows resulting from the probable maximum precipitation (PMP). In the conceptual design
phase, there were several alternatives for strengthening the spillway channel, but only the alternative of lining the spillway
with metallic screen maintained the premises of not changing the geometry of the typical section of the dam and not
promoting the substitution of materials. This article will present the methodology and considerations adopted for
dimensioning the metallic screen for locking the superficial rock blocks and its anchoring system composed of plates and
clamps arranged in a 2.0 x 2.0 m mesh.

KEY WORDS: Dam, Rockfill, Overtopped, Reinforcement, Spillway.

1 INTRODUÇÃO aterro, levando em consideração fatores como, a


resistência ao cisalhamento do maciço, o peso
Barragens de enrocamento são estruturas de aterro específico do enrocamento e poropressão devido ao
nas quais são utilizados diferentes tamanhos de rocha fluxo (Leps, 1973). No caso desta avaliação apontar
para garantir a estabilidade (Bock, 1960), algumas que o enrocamento não resiste às forças de arraste,
destas estruturas não apresentam um extravasor deve-se adotar uma solução de reforço de modo a
convencional e o vertimento ocorre pelo evitar a perda de seção do talude de jusante que pode
enrocamento em si. Nestes casos, é necessário avaliar resultar em uma ruptura global do aterro. Dentre as
o efeito da passagem da cheia na estabilidade do alternativas de reforço, existe a tela metálica

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333
grampeada de alta resistência que tem a capacidade
de conter materiais cobrindo o talude com telas de Figura 01. (a) Barramento e reservatório principal; (b)
arame ou redes de membrana, fixando-as com Seção central e extravasor da barragem.
grampos e ancoragens que impedem a instabilidade
(Castanon-Jano, 2021) A Figura 02 apresenta a estrutura de uma vista de
jusante, a fim de destacar a seção central do maciço,
Uma barragem de enrocamento com seção central que também atua como extravasor do barramento.
galgável (extravasor), sem núcleo argiloso, para
contenção de sedimentos de uma pilha de disposição
de estéril e rejeitos de mineração de ferro, necessita
de reforço devido à possibilidade de arraste de blocos
no caso de um evento de máxima precipitação
provável.
Porém, a área molhada da estrutura não deve ser
alterada, mantendo-se a seção hidráulica geométrica
inicial. Assim, o trânsito de cheias da estrutura fica
inalterado, premissa que deve ser respeitada no
desenvolvimento do projeto. Figura 02. Seção típica do extravasor da barragem.
Diversas alternativas foram estudadas, como a
instalação na face do talude de colchões de O sistema extravasor da barragem de contenção
enrocamento ou preenchidos com argamassa, e até de sedimentos foi implantado no corpo da barragem
mesmo a troca dos blocos. Contudo, essas soluções na porção central do maciço e é constituído por:
alteravam a área molhada transversal do extravasor, • Emboque em vertedouro trapezoidal, com soleira
o que acarretaria a necessidade de alteamento da tipo espessa e taludes 1H:1,3V, em enrocamento com
crista e posterior tratamento das ombreiras. Este vertimento frontal e extensão desenvolvida de 10,0
artigo tem por objetivo apresentar a solução m, implantada na El. 1.235,00 m;
selecionada, qual seja, o reforço dos blocos por meio • Canal em enrocamento de geometria trapezoidal,
de uma tela grampeada na fundação da estrutura. com seção de 10,0 m de base, taludes 1,09H:1,0V, e
2,5 m de altura, e que se desenvolve como um canal
rápido no talude de jusante da barragem de
2 CARACTERÍSTICAS DA ESTRUTURA 2,5H:1,0V;
• Bacia de dissipação com geometria trapezoidal,
A barragem, a qual não terá seu nome revelado, está em enrocamento, com largura de 10,0 m,
localizada no município de Itabirito, no Estado de comprimento total de 4,0 m e paredes com 3,0 m
Minas Gerais. A Figura 01 apresenta a estrutura e seu altura, desaguando em um canal em enrocamento.
reservatório. O revestimento superficial do canal foi realizado
com blocos selecionados de rocha sã, com elevada
resistência a compressão e diâmetro médio D50 igual
a 0,3 m.

3 MÉTODOS

3.1 Cálculos hidráulicos

Por ser uma estrutura de Dano Potencial Associado


Alto (DPA), o cálculo de seu trânsito de cheias deve
ser realizado para uma vazão resultante de uma
precipitação máxima provável (PMP), a qual foi
estatisticamente calculada para a região da barragem.
Em tal evento, verifica-se que a vazão efluente de
28,61 m³/s representa uma velocidade que varia entre
1,30 e 7,70 m/, respectivamente, na entrada e na saída
do extravasor.
Os blocos de enrocamentos estão presentes ao
longo de todo canal rápido do sistema extravasor e na

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334
bacia de dissipação. A verificação dos diâmetros do coeficiente de Manning na faixa de 0,022-0,030,
enrocamento frente às velocidades de escoamento de sendo que o coeficiente aqui adotado foi 0,030.
PMP foi realizada com base na metodologia proposta Considerando esse novo cenário, a maior velocidade
por Isbash, a partir da aplicação da lei de Wilfred encontrada no canal do sistema extravasor para a
Airy (PEREIRA, 2015). A Equação 01 apresenta a vazão de projeto 28,61 m³/s com o coeficiente de
relação utilizada. Manning de 0,030 foi de 8,29 m/s.
Para o dimensionamento do sistema, considerou-
𝛾𝑟 −𝛾𝑎 0,5
v = 𝐶 [2𝑔 ( )] 𝐷0,5 (01) se uma superfície totalmente irregular, composta por
𝛾𝑎
enrocamento, e um fluxo irregular (unsteady flow),
que pode ser caracterizado como um fluxo onde a
Sendo que v é a velocidade admissível (m/s); C é trajetória é irregular e aleatória, devido ao contato
o coeficiente de estabilidade de Isbash; g é a com a superfície do enrocamento. Considerou-se
aceleração da gravidade (m/s²); r é o peso específico também que o enrocamento fica totalmente
da rocha (tf/m³); a é o peso específico da água submerso, uma vez que o estudo hidrológico indicou
(tf/m³); e D o diâmetro do enrocamento. alturas de fluxo da ordem de 25 cm, compatíveis com
O coeficiente de estabilidade de Isbash (C) varia a dimensão característica dos blocos. A direção da
de 0,86 a 1,20, a depender do lançamento dos blocos velocidade média de fluxo é paralela à inclinação do
(bloco solto ou bloco protegido, respectivamente), vertedouro.
sendo adotado para este estudo o valor de 1,20. O As forças atuantes no sistema são:
peso específico da rocha e da água adotados foram de • Força de arraste (Fd): Força gerada pela ação do
2,65 tf/m² e 1,0 tf/m³, respectivamente. A aceleração escoamento da água sobre a face de enrocamento, e
da gravidade adotada foi de 10 m/s². principal agente responsável pela movimentação de
A partir dos parâmetros definidos, chega-se a uma massa;
velocidade máxima admissível de 3,78 m/s para um • Força peso (Fw): Força peso oriunda da massa do
diâmetro médio do bloco (D50) igual a 0,30 m. bloco presente no local;
Considerando a variação das velocidades, pode-se • Componente da força peso subtraída da força de
concluir que em algumas seções do sistema empuxo na direção do fluxo (Fp): projeção da força
extravasor, a velocidade estará bem acima da peso do bloco menos o empuxo sobre o bloco na
velocidade máxima admissível para os blocos de D50 direção do fluxo;
igual a 0,30 m, ocasionando deste modo o arraste dos • Força empuxo (Fe): Força de empuxo atuante
blocos nessas regiões. Deste modo, conclui-se que há sobre o bloco, oriunda da condição de submersão;
a necessidade de uma adequação no sistema • Força de atrito (Ff): Componente da força
extravasor para atuação de cheias de PMP para que resistente que atua no contato do bloco com a
não ocorra arraste dos blocos. superficie na direção do fluxo e que se opõe ao
Para a velocidade máxima encontrada de 7,70 movimento.
m/s, o D50 dos blocos de enrocamento admissível Quando os blocos de rocha estão submetidos ao
para que não ocorra arraste considerando a escoamento irregular, é possível indicar ainda a
metodologia de Isbash seria de 1,30 m. A solução de ocorrência de uma força inercial adicional, que se
troca de blocos foi, contudo, descartada. soma à força de arraste, oriunda da dinâmica do
Optou-se por estudar a utilização de uma tela escoamento e movimento dos blocos. Neste caso em
metálica para revestimento dos blocos já existentes. particular, como os blocos serão contidos pelo
sistema de revestimento, a parcela de força inercial
3.2 Dimensionamento da solução do reforço do adicional do fluxo foi desprezada, pois não haverá
extravasor movimento dos blocos. Assim é possível simplificar
o modelo, e indicar as cargas atuantes no sistema
3.2.1 Verificação do arraste dos blocos conforme o croqui apresentado na Figura 03.
Destaca-se que o modelo ilustrado é simplificado e
Para a determinação das características da tela que devem ser observadas as forças aplicadas aos
metálica para o revestimento dos blocos, realizou-se blocos em um plano inclinado genérico.
a verificação do sistema vertedouro considerando o
cenário futuro, em que os blocos de enrocamento
estejam recobertos pela tela, com o intuito de
encontrar a nova velocidade do escoamento
considerando a vazão de projeto (28,61 m³/s). De
acordo com a fabricante do material, tipicamente os
canais com pedra e revestidos com tela metálica tem

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335
Sendo que: Cd é o coeficiente de arraste; v é a
velocidade; V é o volume dos blocos (m³); A é área
de face de impacto (m²);  é a inclinação da face (º);
 é peso específico (kN/m³); ρ é massa específica
(t/m³); δ é o ângulo de atrito entre blocos.
Utilizou-se a velocidade de 3,78 m/s, indicada no
item 2.2 como crítica para os blocos de D50 = 30 cm.
Espera-se que seja observada uma condição de
equilíbrio limite, ou seja, resultante nula.
Figura 03. Modelo de cálculo considerado
Para o ângulo de atrito entre os blocos, foi
considerado o ângulo da análise de estabilidade do
Baseado nos estudos hidráulicos apresentados “As Built” da estrutura, 38º.
foram definidos os seguintes parâmetros de cálculo Inicialmente adotou-se fator de segurança
para o modelo: unitário, pois era necessário conhecer a condição sem
• Densidade da rocha: Foi considerada uma massa majoração/minoração. Logo, para validação do
específica =2,07 t/m³, e peso específico =2,07 modelo de cálculo a força resultante (Equação 02),
tf/m³, parâmetros que representa os blocos para velocidade admissível (Equação 01) obtida para
individuais; blocos com D = 0,3 m, deveria ser igual a zero, ou
• Diâmetro médio dos blocos: De acordo com visita seja, comprovanto o equilíbrio entre as forças
de campo se estima uma dimensão média de 0,30 m atuantes no sistema (Figura 03).
para os blocos, definida como diâmetro D50; Para a velocidade calculada, que está acima da
• Velocidade do fluxo: O estudo hidrológico admissível para o tamanhos dos blocos de proteção
apresentou o fluxo com velocidade no cenário mais do canal do extravasor, considerou-se um sistema de
crítico de 8,29 m/s; proteção que consiste de uma tela metálica que cobre
• Inclinação da face do talude: A face do talude na os blocos e é ancorada por grampos na fundação da
seção de escoamento tem inclinação de 1V:2,5H, que estrutura. As placas são elementos de solidarização
representa um ângulo da ordem de 23º de inclinação; da tela com os grampos, garantindo o funcionamento
• Fator de segurança do modelo: Foi considerado passivo do sistema após a aplicação das forças de
inicialmente um FS de 1, para verificar se ocorria punção.
arraste de blocos, e a seguir, de 2 aplicado de maneira Verificada a metodologia das cargas, foi
global no modelo de cálculo, visando computar necessário definir o modelo de aplicação da
incertezas nos parâmetros para dimensionamento da resultante no sistema de faceamento. Para isso, foi
solução; considerado que, ao sofrer a força de arraste, os
• Camada com potencial de mobilização: Uma blocos iriam se mover em direção à tela metálica,
consideração importante a ser apresentada é a aplicando um esforço de puncionamento no sistema,
geometria da base do rápido do extravasor. Foi que é absorvido pelas placas de fixação da solução,
adotado no cálculo que esta é composta por três conforme croqui apresentado na Figura 04.
camadas de blocos rochosos, totalizando assim uma
espessura de 0,90 m, distribuída em um comprimento
unitário. Esta consideração representa que é possível
esperar que as primeiras camadas de blocos sofram
mobilização em um único evento;
• Coeficiente de arraste: Foi definido um Cd de 0,90
a partir de estudos prévios. A força resultante a ser
absorvida pelo sistema de tela metálica e blocos pode
ser descrita na Equação 02, onde F é a força
resultante, Fd a força de arraste, Fi a força inercial
adicional que neste caso foi desconsiderada, e Ff a
força de atrito, todas expressas em kN.
𝐹 = 𝐹𝑑 + 𝐹𝑝 + 𝐹𝑖 − 𝐹𝑓 (02)
1
𝐹𝑑 = 2 . 𝐶𝑑 . 𝐴. 𝜌𝑟𝑜𝑐ℎ𝑎 . 𝑣 2 (03)
𝐹𝑝 = 𝑉. (𝛾𝑟𝑜𝑐ℎ𝑎 − 𝛾á𝑔𝑢𝑎 ). 𝑠𝑒𝑛𝛼 (04)
𝐹𝑖=0 (05)
𝐹𝑓 = 𝑉. (𝛾𝑟𝑜𝑐ℎ𝑎 − 𝛾á𝑔𝑢𝑎 ). 𝑐𝑜𝑠𝛼. 𝑡𝑔𝛿 (06)

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336
4.1 Verificação do arraste dos blocos

Com o ângulo de 38º, foi verificado que para as


condições de cálculo, ocorre o arraste dos blocos, Na
Tabela 01 são apresentados os resultados obtidos
para cada parcela, com o ângulo de 38º e a velocidade
3,78 m/s.

Tabela 01. Cálculo das forças atuantes


Força Valor (kN/m)
Força de arraste (Fd) 3,51
Projeção da Força Peso - 3,60
Empuxo (Fp)
Força de atrito (Ff) 6,99
Resultante -0,12

Portanto, pode ser verificado que a abordagem de


força de arraste tem um resultado similar ao indicado
no parecer técnico da barragem baseado na
Figura 04. a) Espaçamento dos grampos; b) Esquema das formulação de Isbash. Para chegar à resultante nula,
placas de ancoragem dos grampos; c) Croqui indicando a a velocidade máxima deveria ser de 3,68 m/s.
aplicação da resultante F como uma carga de
puncionamento P.
4.2 Dimensionamento das placas
Pela geometria do talude, os blocos de enrocamento,
naturalmente, tendem a rolar no sentido da crista para A Figura 05 indica o gráfico que sumariza as
o pé da barragem, fazendo com que os mesmos cargas atuantes em função do espaçamento, bem
tendam a se concentrar na porção superior da placa, como, as resistências do sistema, considerando-se um
mobilizando assim apenas metade da resistência coeficiente de Manning de 0,030 e uma velocidade
disponível do sistema, parâmetro que foi considerado máxima de 8,29 m/s no canal extravasor, para PMP.
no cálculo. Com esta premissa foi investigado o
espaçamento entre telas metálicas para a condição
crítica de velocidade de 8,29 m/s do fluxo sobre os
blocos.
Ainda, foi considerado que o ângulo de atrito
entre os blocos equivale a 2/3 do ângulo de atrito
considerado. Esta redução vai ao encontro das
recomendações técnicas de dimensionamento na
verificação de atrito na base de muros de arrimo.
Aplicou-se um coeficiente de majoração de 2,0
nas cargas atuantes, e um coeficiente de minoração Figura 05. Análise das cargas aplicadas no sistema
de 1,5 na resistência das telas.
Para combater a força resultande calculada para Analisando a Figura 05, é indicado que seja
velocidade crítica de 8,29 m/s, foram avaliados dois executado a solução considerando o sistema G65/3
Sistemas de Acoragem compostos por Tela + Placa associado a placas modelo P33, com um espaçamento
que resultam em diferentes resistências a tração. Foi máximo entre si de 2,25 x 2,25 m, condição na qual
avaliado ainda o espaçamento ideal entre as barras e a carga atuante no sistema é de 60 kN no contato tela
placas de ancoragem. placa. Preferiu-se esta placa porque os espaçamentos
O Sistema 1 (G65/3+P33), com placa de 33 kN, a são menores, garantindo assim maior segurança
resistência disponível é de 90 kN, enquanto que com frente a deslocamentos indesejáveis do sistema.
a placa de 66 kN do Sistema 2 (G65/3+P66), a Não obstante os resultados encontrados, recomenda-
resistência é de 120 kN, que minoradas são definidas se ainda, por questões construtivas, a adoção do
em 60 e 80 kN respectivamente. espaçamento máximo de 2,00 x 2,00 m, situação na
qual a carga aplicada ao sistema é de 53 KN. Assim,
definidos esse espaçamento, deverão ser executados
4. RESULTADOS 104 grampos. A Figura 06 e a Figura 07 apresentam

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337
o arranjo geral e a seção A-A com o espaçamento dos pode resistir (plate capacity). A seguir, são
grampos. calculadas as propriedades do sistema de solo
grampeados que foram dados de entrada para as
análises de estabilidade.

4.2.1 Cálculo da resistência ao arrancamento


solo/grampo (bond strength)

Para obter a resistência ao arrancamento por unidade


de comprimento (Qs) foi necessário estimar a
resistência à tensão de cisalhamento na interface
entre o grampo e solo (qs).
Figura 06. Arranjo geral com o espaçamento dos 104 Essa resistência (qs) foi estimada com base em
grampos implantados. correlações empíricas encontradas na literatura,
relacionadas com o valor do NSPT encontrado no
local. Apesar de estas correlações serem bastante
difundidas no meio técnico, é de extrema importância
a realização de ensaios de arrancamento para uma
obtenção mais precisa deste parâmetro.
A resistência ao arrancamento por unidade de
comprimento (Qs) é calculada por:

Figura 07. Implantação dos Grampos – Seção Central 𝜋×f𝑓𝑢𝑟𝑜 ×𝐿×𝑞𝑠


𝑄𝑠 = (07)
𝐹𝑠𝑝
4.2 Dimensionamento dos grampos
Sendo que os grampos com diâmetro deverão ser
Para o dimensionamento da solução de contenção em instalados em furos previamente executados com
solos grampeados foram empregadas as seguintes diâmetro mínimo (f𝑓𝑢𝑟𝑜 ) de 0,075 m; L é a unidade
referências: de comprimento, no caso em metros; Fsp é o fator de
• NBR 16920, parte 2, (2021). Muros e taludes em segurança aplicado de modo a evitar a ruptura por
solos reforçados parte 2: solos grampeados; arrancamento, sendo utilizado o fator presente na
• Federal Highway Administration (FHWA), norma de tirantes ABNT 5629/2018.
(2015). Soil nail Walls – Reference Manual; Para o dimensionamento dos grampos, utilizou-se
Conforme a norma de “Muros e taludes em solos o NSPT médio (30 golpes) da fundação da estrutura
reforçados parte 2: solos grampeados” NBR 16920 (Saprólito de Filito) e a correção proposta por
de 2021, o dimensionamento dos grampos pode ser Springer (2006):
feito empregado a abordagem dos estados limites ou
das tensões admissíveis. Qs = 45,12ln(Nspt) = 153,46 kN/m² (08)
Neste estudo em particular, foi optado por
trabalhar com o método das tensões admissíveis, Desta forma, a resistência por metro linear do
sendo os critérios de dimensionamento e os fatores de arrancamento solo/grampo (bond strength) é
segurança definidos com base nas indicações da determinada como:
Federal Highway Administration (2015). O método
das tensões admissíveis foi empregado uma vez que 𝜋×0,075×1×153,46 𝑘𝑁
𝑄𝑠 = 1,75
= 20,7 𝑚
(09)
em termos gerais possui uma abordagem mais
conservadora em relação à segurança e uma vez que
no Brasil, atualmente, é a metodologia mais 4.2.2 Cálculo da resistência à tração do grampo
empregada e, portanto, possui um maior número de (tensile capacity)
referências que permitem balizar os estudos.
A tração máxima resistida pela barra é calculada a
No programa Slide2® a força de tração disponível
partir da resistência estrutural do aço da barra,
por grampo é calculada pelo programa como sendo a
menor entre a resistência à tração do aço (tensile portanto:
capacity) e a resistência ao arrancamento ao longo do 𝑅𝑡 𝑓𝑦 .𝐴𝑠
comprimento de ancoragem do grampo (bond 𝑇𝑚𝑎𝑥 = = (10)
𝐹𝑠𝑡 𝐹𝑠𝑡
strength). Ainda, o programa leva em consideração a
carga máxima que o faceamento/paramento do talude Onde fy é a tensão resistente ao escoamento da

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338
barra; As é a área efetiva da seção transversal da avaliação das cargas de puncionamento do sistema de
barra; e Fst é o fator de segurança. tela e placas pré-definidas, foi de 2,00 x 2,00 m com
Salienta-se que, a FHWA (2015) indica uma arranjo final contemplando 104 grampos.
redução de resistência estrutural da barra para Foi apresentado, também, o dimensionamento dos
sistemas de contenção armada de Fst=1,8. Neste grampos, barras de açõ roscadas com diâmetro
caso, estão sendo indicadas barras roscadas cuja efetivo de 25 mm, no qual foi definido um
tensão de escoamento é de fy = 500 MPa e de comprimento ancorado na fundação de 6,0 m, com
diâmetro efetivo de 25 mm (diâmetro total com rosca comprimentos totais variáveis.
29 mm). Como próximo passos, espera-se implantar a
Na definição do diâmetro de cálculo da barra solução projetada e detalhada e assim verificar o
ainda deve ser considerada a diminuição da espessura desempenho do sistema apresentado em escala real.
de sacrifício devido à corrosão, conforme indicado na
NBR 16920 parte 2, (2021). Dessa forma, seria uma REFERÊNCIAS
das medidas contra corrosão, ou aplicar pintura epóxi
de proteção à barra de aço ou usar barra galvanizada. ABNT (2021). NBR 16920-2: Muros e Taludes em solos
No caso, foi definido um meio não agressivo, num reforçados. Parte 2: Solos grampeados. Associação
tipo de solo natural e foi considerada uma vida útil de Brasileira De Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 27.
50 anos, que é o período máximo definido na tabela. ABNT (2018). NBR 5629: Tirantes ancorados no terreno
– Projeto e execução. Associação Brasileira De
Desta forma, o diâmetro de cálculo do grampo fico
Normas Técnicas, Rio de Janeiro, p. 38.
como: Pereira, G. M.; Projeto de usinas hidrelétricas passo a
passo. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.
𝑑𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑒 𝑐á𝑙𝑐𝑢𝑙𝑜 = 𝑑𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑎 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 − 2 ∗ FHWA (2015). Soil nail walls – Reference Manual.
𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 𝑠𝑎𝑐𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑖𝑜 (11) Federal Highway Administration, Washington, p. 425.
Springer, F. O. (2006) Ensaios de arrancamento de
𝑑𝑒𝑓𝑒𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑒 𝑐á𝑙𝑐𝑢𝑙𝑜 = 25 − 2 ∗ 0,6 = 23,8 𝑚𝑚 (12) grampos em solo residual de gnaisse. Tese de
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do
Desta forma, a resistência à tração da barra de aço Rio de Janeiro, 310p.
é: Bock, R.W. (1960) Rockfill Dams - Design of Small
Dams, p. 225.
0,0238²×𝜋 500000 Leps, T.M. (1973) Flow Through Rockfill – Embankment
𝑇𝑚𝑎𝑥 = 4
× 1,8
= 123,6 𝑘𝑁 (13)
Dam Engineering, p.87.
Logo, foi considerado que a barra resiste uma Castanon-Jan, L. (2021) Selection of membranes and
força de tração máxima de 123,6 kN. linking method in slope stabilization systems for the
Os grampos devem ser executados através do reduction on the installation time using multi-criteria
rachão, com uma perfuração de comprimento neste decision analysis – Ain Shams Engineering Journal.
material com 2-8 metros, que deve ser somada ao
comprimento total. O comprimento ancorado das
barras deverá ser em terreno natural, sendo que para
o cálculo foi considerada a equação abaixo:
𝑇 123,6 𝑘𝑁
𝐿 = 𝑄𝑠 = 𝑘𝑁 = 5,97 𝑚 ≅ 6 𝑚 (14)
20,7
𝑚

5 CONCLUSÃO

O presente relatório detalhou e dimensionou a


solução escolhida pela VALE, em nível executivo,
para o reforço do extravasor existente na barragem
citada, sem a necessidade de altração da seção tipo da
barragem ou troca do enrocamento. A solução
escolhida foi uma tela grampeada.
A partir do dimensionamento proposto foi
dimensionada uma tela de 65mm de abertura de
malha (G65/3), cuja resistência à tração é de 150
kN/m associado a placas de engastamento (P33). O
espaçamento definido entre os grampos, a partir da

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339
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Redução das Espessuras das Camadas de um Pavimento Asfáltico


Devido a Estabilização do Solo de Subleito
Bruna Martins de Melo
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, bruna.m.melo@ufv.br

Ariane Martins Gravina


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, ariane.gravina@ufv.br

Klaus Henrique de Paula Rodrigues


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaus@ufv.br

Marcos
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil,

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

RESUMO: Visando atender a demanda contemporânea de reduzir os impactos ambientais, a reutilização de materiais se
apresenta como boa alternativa para a sustentabilidade. O objetivo principal desta pesquisa foi avaliar a redução das
espessuras das camadas estruturais de um pavimento asfáltico considerando a estabilização do solo do subleito com
escória de aciaria elétrica primária (EAEP). Foram confeccionadas misturas solo-EAEP variando-se a porcentagem da
escória em sua composição, sendo utilizados os teores de 5%, 12,5% e 20% de EAEP, em relação à massa seca das
misturas. A fim de determinar o comportamento mecânico das misturas realizadas o ensaio de índice CBR foi realizado
com corpos de prova compactados no teor de umidade ótimo considerando a energia Proctor normal. Os resultados do
CBR das misturas foram utilizados para dimensionar um pavimento asfáltico cujo subleito foi composto por essas
misturas. Para ambas as amostras de solos analisadas, os valores de índice CBR mostraram uma tendência de aumento
com a adição de EAEP, enquanto que a expansão apresentou uma tendência de redução. O dimensionamento mostrou
que a adição da EAEP na amostra de solo estudada promoveu a redução da espessura da camada de sub-base, apesar de
o método de dimensionamento estabelecer o limite mínimo de 15 cm de espessura para as camadas estruturais de um
pavimento asfáltico.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de solos, Escória de aciaria elétrica primária, Pavimentação, Dimensionamento de


pavimentos, Resíduos siderúrgicos.

ABSTRACT: The reuse of materials is a good alternative to sustainability to meet the requirement of reducing
environmental impact. The main objective of this study was to evaluate the reduction of the thickness of the structural
layers of an asphalt pavement considering the stabilization of the subgrade soil with Electric Arc Furnace Slag (EAFS).
Soil-EAFS mixtures were prepared by varying the percentage of EAFS in the composition, at 5%, 12.5%, and 20%, based
on the dry mass of the mixtures. In order to determine the mechanical behavior of the prepared mixes, the CBR index test
was performed with test specimens compacted at optimum moisture content considering the standard Proctor energy. The
CBR results of the mixes were used to design an asphalt pavement whose subgrade consisted of these mixes. In both soil
samples studied, the values of CBR index showed an increasing trend with the addition of EAFS, while the expansion
showed a decreasing trend. The design showed that the addition of EAFS in the studied soil sample reduced the thickness
of the sub-base course, although the design method specifies a minimum thickness of 15 cm for the structural layers of
an asphalt pavement.

KEY WORDS: Soil stabilization, Electric Arc Furnace Slag, Pavement, Design of pavements, Steel waste.

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340
1 INTRODUÇÃO 2017) como base para pavimentação de estradas.
A utilização da escória de aciaria elétrica primária
Segundo Bernucci et al. (2008), no âmbito da na pavimentação torna-se viável devido à sua boa
Engenharia rodoviária, o pavimento corresponde a qualidade, alta resistência mecânica, baixo custo de
uma estrutura de múltiplas camadas de espessuras aquisição e, por ser um subproduto do aço,
finitas, construída sobre a superfície final de geralmente seus estoques localizam-se a pequenas
terraplenagem, destinada técnica e economicamente distâncias dos centros urbanos. Essas escórias podem
a resistir aos esforços oriundos do tráfego de veículos ser utilizadas nas camadas granulares do pavimento
e do clima, além da função de propiciar, aos usuários, como reforço do subleito, sub-base e base, e como
a melhoria nas condições de rolamento dos veículos, agregado nos revestimentos betuminosos,
com conforto, economia e segurança. apresentando boas características físicas e alta
Projetos de infraestrutura de transportes, rugosidade (Rocha et al., 2021, O’Connor et al.,
sobretudo os relacionados à pavimentação de 2021, Maghool et al., 2019, Ibrahim et al., 2022,
estradas, são atividades de construção contínuas nas Lopes et al., 2021, Mahmudi et al., 2021). As escórias
áreas urbanas para atender às necessidades da de aço são vantajosas não só sob o ponto de vista
população em crescimento (Yaghoubi et al., 2021). econômico, mas também pelo ponto de vista
Devido a limitações espaciais e, consequentemente, a ambiental, interferindo diretamente na redução do
alinhamentos de estradas pré-determinados, pode ser volume de extração de matérias primas não
necessário que os pavimentos sejam construídos renováveis como também na redução da emissão de
sobre solos de baixa capacidade de suporte, os quais poluentes e consumo energético.
podem gerar, em longo prazo, patologias no Diante o exposto, faz-se necessário avaliar a
pavimento, como o trincamento por fadiga e o viabilidade técnica do uso da Escória de Aciaria
afundamento plástico nas trilhas de roda (Rodrigues, Elétrica Primária dentro de sua aplicação como
2022). agente estabilizante de solos a serem utilizados em
A estabilização de solos é um método de melhoria pavimentação.
de suas propriedades realizando sua mistura com O objetivo geral deste estudo foi avaliar a redução
outros materiais (Firoozi et al., 2017), além de das espessuras das camadas estruturais de um
otimização do uso dos materiais locais, ajudando, pavimento asfáltico considerando a estabilização do
assim, a construir estruturas confiáveis, minimizando solo do subleito com escória de aciaria elétrica
a distância de transporte (Gajewska et al., 2018). primária (EAEP).
Inúmeros produtos têm sido tradicionalmente usados
para estabilização química de solos, entre os quais o 2 MATERIAIS E MÉTODOS
cimento Portland e a cal são os mais amplamente
utilizados, respaldados por uma longa história e 2.1 Materiais
extensos estudos (Huang et al., 2021).
A escória de aciaria elétrica primária (EAEP) Para a realização deste estudo foi utilizada uma
trata-se do resíduo gerado na etapa de refinamento do amostra de solo arenoso encontrada em uma jazida de
aço. De acordo com a NBR 10004 (ABNT, 2004) empréstimo dentro da Universidade Federal de
esse material é um resíduo sólido classificado como Viçosa. Uma amostra de escória de aciaria elétrica
material não inerte (Classe II) e não apresenta primária (EAEP) foi fornecida por uma empresa de
características de periculosidade. Entretanto, as fabricação de tubos metálicos, localizada na Região
questões ambientais vêm ganhando destaque ao do Alto Paraopeba, Estado de Minas Gerais, Brasil.
longo dos anos e a busca por alternativas sustentáveis A amostra de EAEP utilizada foi proveniente de
de reutilização de resíduos tem se tornado uma locais de estocagem recente, no qual o tempo
prática constante nas diversas áreas de conhecimento, máximo entre sua geração e sua disposição foi de 72
como setores de siderurgia, mineração e também na horas, não sendo empregado qualquer processo de
engenharia civil. cura do material antes da realização dos ensaios. A
De acordo com o relatório de sustentabilidade coleta da amostra de EAEP seguiu as recomendações
realizado pelo IAB (2018), em 2017 a geração de da norma técnica NBR 10007 (ABNT, 2004).
resíduos e coprodutos diretos para cada tonelada de
aço foi em torno de 607 kg produzido pelas 2.2 Caracterização geotécnica e física
empresas, sendo 27% desse valor de escórias de
aciaria. Além disso, como também emitido pelo Os ensaios realizados para fins de
relatório, nos anos de 2016 e 2017 as escórias de caracterização geotécnica da amostra de solo foram:
aciaria foram vendidas e também reutilizadas, sendo i) Análise granulométrica conjunta, de acordo com a
sua principal aplicação (46% em 2016 e 50% em NBR 7181 (ABNT, 2016b); ii) Limite de liquidez

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341
(LL), segundo a NBR 6459 (ABNT, 2016c); iii) A amostra bruta de EAEP foi moída em um
Limite de plasticidade (LP), segundo a NBR 7180 moinho Los Angeles visando aumentar sua superfície
(ABNT, 2016d); iv) Massa específica dos grãos do específica, e consequentemente, aumentar seu
solo (ρs), segundo a NBR 6458 (ABNT, 2016e); e v) potencial de reatividade, por um período de duas a
Compactação na energia Proctor normal, segundo a três horas, sendo utilizada a porção passante na
NBR 7182 (ABNT, 2016f), para fins de peneira de abertura 0,6 mm (peneira #30), tamanho
determinação do peso específico aparente seco semelhante ao que foi utilizado em estudos prévios
máximo (γdmáx) e do teor de umidade ótimo (wot). (Akinwumi, 2014, Mahmudi et al., 2021, Manso et
As amostras dos materiais foram classificadas al., 2013, Rodrigues, 2022).
segundo a Metodologia MCT (Miniatura, A caracterização física da amostra de EAEP foi
Compactado, Tropical), de acordo com a CLA 259 realizada conforme normas técnicas adaptadas para
(DNER, 1996a), e segundo os sistemas de cimento Portland, a saber: i) finura por peneiramento;
classificação de solos TRB (Transportation Research ii) superfície específica pelo método de Blaine; iii)
Board), conforme a M 145-91 (AASHTO, 2021), e massa específica real; e iv) distribuição
USC (Unified Soil Classification), conforme a D2487 granulométrica do material depois de passado na
(ASTM, 2020). peneira de 0,6 mm (Figura.1), determinada por
Os resultados da caracterização geotécnica da difração a laser, conforme a norma ISO 13320 (ISO,
amostra de solo são apresentados na Tabela 1. 2020). Esses resultados são apresentados na Tabela
2.
Tabela 1: Resultados da caracterização geotécncia da
amostra de solo. Tabela 2: Resultados da caracterização física da amostra
Parâmetro Solo de EAEP moída.
% argila (φ < 0,002 mm) 5 Ensaio Resultado
% silte (0,002 mm < φ < 0,06 mm) 24 Índice de finura por peneiramento 24,88%
% areia (0,06 mm < φ < 2 mm) 68 Superfície específica 0,20 m²/g
% pedregulho (2 mm < φ < 60 mm) 3 Massa específica real 3,7 g/cm³
LL (%) 36
LP (%) 18 2.3 Caracterização ambiental
IP (%) 18
ρs (g/cm³) 2,657
Rodrigues (2022) realizou o ensaio de
γd,max (kN/m³) 15,57
wot (%) 15,00 caracterização química da EAEP utilizada nesta
TRB A-2-6 (1) pesquisa através da análise de fluorescência de raios-
USC SC X (FRX). Os resultados da análise por FRX e perda
MCT NA’ ao fogo são apresentados na Tabela 3.

A amostra de solo corresponde a um solo arenoso Tabela 3: Composição química e perda ao fogo de
nos três sistemas de classificação utilizados. amostra de EAEP.
As curvas granulométricas da amostra de solo e Elemento químico Quantidade (%)
de EAEP são apresentadas na Figura 1. SiO2 21,35
Al2O3 5,17
Fe2O3 24,50
100
CaO 33,15
MgO 1,01
80 K2O 0,30
Na2O 0,00
% Passante

60 TiO2 0,64
SO3 0,18
40 Cl 0,32
Amostra Outros 13,38
de solo
Perda ao fogo 0,19
20 EAEP

A amostra de EAEP foi classificada, segundo a


0
classificação de resíduos sólidos como um resíduo da
0,001 0,01 0,1 1 10 100
classe II A - não perigosos e não inertes. Inferiu-se
Diâmetro das partículas (mm)
que esse resíduo é de baixo impacto ambiental, não
Figura 1: Curvas granulométricas da amostra de solo e da
sendo considerado agressivo ao meio ambiente e à
EAEP.
saúde humana quando aplicados em camadas
estruturais de pavimentos como agentes

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342
estabilizadores de solos, exceto nos casos em que há
o contato direto com reservas de água (Rodrigues,
2022).

2.4 Métodos

A fim de realizar a verificação da influência da


EAEP na estabilização da amostra de solo, realizou-
se as misturas solo-EAEP nas proporções Figura 2: Estrutura do pavimento asfáltico analisado.
apresentadas na Tabela 4.
De acordo com este método as espessuras
Tabela 4: Misturas solo-EAEP analisadas. estruturais de um pavimento podem ser obtidas pela
Mistura Solo (%) EAEP (%) equação 1 e pelas inequações 2 e 3.
M0 100 0
M1 95 5 Ht = 77,67. N0,0482.CBR-0,598 (1)
M2 87,5 12,5
M3 80 20 Em que Ht é a espessura de material padrão para
proteção da camada que está sendo protegida, N é o
Essas misturas foram realizadas considerando as número de operações do eixo padrão e CBR é o valor
porcentagens dos materiais secos. do índice CBR obtido para cada mistura solo-EAEP
O ensaio de compactação foi realizado segundo a analisada.
NBR 7182 (ABNT, 2016), na energia Proctor
normal, em cada mistura, visando a determinação do R.KR + B.KB ≥ HSB (2)
peso específico aparente seco máximo (γd,max) e do
teor de umidade ótimo (wot). Em que R é a espessura real do revestimento, KR
O ensaio de índice CBR foi realizado em todas as é o coeficiente de equivalência estrutural para o
misturas, no teor de umidade ótimo, conforme as revestimento, B é a espessura real da base, KB é o
recomendações da NBR 9895 (ABNT, 2016), coeficiente de equivalência estrutural para a base e
considerando o período de imersão de 96 horas HSB é a espessura de material padrão para proteção da
recomendado. camada de sub-base.

2.5 Dimensionamento do pavimento R.KR + B.KB + h20.KS ≥ HM (3)

O dimensionamento do pavimento asfáltico foi Em que h20 é a espessura real da sub-base, KS é o


realizado considerando a amostra de solo natural e coeficiente de equivalência estrutural da sub-base e
suas misturas solo-EAEP no subleito do pavimento. HM é a espessura de material padrão para proteção do
Os resultados foram, então, comparados para avaliar subleito.
a influência da EAEP na estabilização do solo, e seu Considerando um revestimento de concreto
consequente impacto no dimensionamento do asfáltico usinado à quente (CAUQ), base e sub-base
pavimento. compostas de material granular, os coeficientes de
Para proceder ao dimensionamento do pavimento equivalência estrutural podem ser determinados
considerou-se o número de operações do eixo padrão conforme a Tabela 5.
de 80 kN de 1,6 x 107.
Utilizou-se o método de dimensionamento do
DNER, conforme o Manual de Pavimentação do
DNIT, considerando um pavimento constituído por
revestimento, base, sub-base e subleito conforme
indica a Figura 2.

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343
Tabela 5: Coeficientes de equivalência estrutural. 3.2 Ensaio de CBR
Componentes do pavimento Coeficiente K
Base ou revestimento de concreto A Tabela 6 apresenta os resultados do ensaio CBR
2,00
betuminoso. e expansão das misturas solo-EAEP analisadas.
Base ou revestimento pré-misturado
1,70
a quente, de graduação densa. Tabela 6: Resultados de CBR e expansão da amostra de
Base ou revestimento pré-misturado solo e suas misturas com EAEP.
1,40
a frio, de graduação densa.
Misturas CBR (%) Exp. CBR (%)
Base ou revestimento betuminoso
1,20 M0 8,20 0,26
por penetração.
M1 7,50 0,34
Camadas granulares 1,00
M2 10,50 0,17
Solo cimento com resistência à M3 14,00 0,13
compressão a 7 dias, superior a 45 1,70
kg/cm².
Idem, com resistência à compressão Observou-se que o acréscimo de 5% de EAEP
a 7 dias, entre 45 kg/cm² e 28 1,40 reduziu o valor do índice CBR e aumentou o valor de
kg/cm². sua expansão. Com o aumento do teor de EAEP para
Idem, com resistência à compressão 12,5% e 20% a amostra de solo apresentou um
a 7 dias, entre 28 kg/cm² e 21 1,20 aumento nos valores de CBR e uma diminuição nos
kg/cm². valores de expansão. Sudla et al. (2018) verificaram
Fonte: Adaptado Manual de Pavimentação DNIT, que, em amostras de solo de matriz arenosa, há
2006. quebra de grãos durante o processo de compactação,
aumentando o teor de partículas finas, o que gera
Obtém-se que KR é igual a 2,00; KB é igual a 1,00 redução no CBR. Porém, com o acréscimo de EAEP,
e KS é igual a 1,00. há um aumento de resistência à abrasão e, portanto,
menor quebra de partículas e maiores valores de
CBR.
3 RESULTADOS
3.3 Dimensionamento do pavimento
3.1 Ensaio de compactação
De posse do número de operações do eixo padrão
A Figura 3 apresenta as curvas de compactação a ser atendido é possível obter a espessura mínima de
para o solo puro e suas misturas com EAEP obtidas revestimento betuminoso conforme indica a Tabela
pelo ensaio de compactação na energia Proctor 7.
normal.
Tabela 7: Espessura mínima de revestimento betuminoso
18,5 em função do número N.
Espessura mínima de
18,0 N
revestimento betuminoso
γd (kN/m³)

17,5 Tratamentos superficiais


N ≤ 106 betuminosos (1,5 a 3 cm de
17,0 espessura).
Revestimentos betuminosos com
106 < N ≤ 5x106
16,5 M0 M1 5,0 cm de espessura.
M2 M3 Concreto betuminoso com 7,5 cm
16,0
5x106 < N ≤ 107
de espessura.
8 10 12 14 16 18 20 Concreto betuminoso com 10,0
w (%) 107 < N ≤ 5x107
cm de espessura.
Figura 3: Curvas de compactação das misturas solo- Concreto betuminoso com 12,5
EAEP. N > 5x107
cm de espessura.
Fonte: Adaptado Manual de Pavimentação DNIT,
Houve uma tendência de aumento do peso 2006.
específico aparente seco máximo com a adição de
EAEP, o que pode ser explicado pela maior massa A espessura adotada de revestimento
específica das partículas de EAEP em comparação considerando o CAUQ como material a ser utilizado
com a massa específica das partículas do solo (Al- foi de 10 cm.
Amoudi et al., 2017, Sebbar et al., 2020, Aldeeky and
Al Hattamleh, 2017). 3.3.1 Dimensionamento do pavimento para a mistura
M0

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


344
permite espessura de camada de sub-base inferior a
Pelo método de dimensionamento do DNER, o 15 cm; portanto h20 adotado deve ser de 15 cm.
valor máximo permitido de CBR para a sub-base é Para porcentagens maiores de EAEP na mistura
limitado em 20%. Considerando o número N igual a observou-se uma redução no valor da espessura da
1,6x107 solicitações e utilizando-se a equação 1 camada de sub-base. O solo em sua condição natural
obteve-se que HSB igual a 29 cm. De posse desse apresentou h20 igual a 15 cm, a mistura M2
valor e considerando R = 10 cm, KR = 2,00, KB = 1,00 apresentou h20 igual a 8 cm. Em ambos os casos a
e HSB = 29 cm, utilizando a inequação 2 obteve-se espessura a ser adotada deve ser de 15 cm seguindo o
que B deve ser igual a 9 cm. critério imposto pelo método, isso indica que a
Este método não permite que a espessura da mistura M2 possivelmente retardará os danos
camada de base seja inferior a 15 cm; portanto, o provocados pelo tráfego devido a sua melhor resposta
valor de B adotado foi igual a 15 cm. mecânica.
Considerando um valor de CBR igual a 8,20%
para a camada do subleito, obtém-se pela equação 1 3.3.4 Dimensionamento do pavimento para a mistura
que o valor de HM é igual a 50 cm. Utilizando a M3
inequação 3 e considerando KS igual a 1,00, obtém-
se h20 igual a 15 cm, valor igual ao limite mínimo Considerando os mesmos valores de KR, KB, R, N,
imposto pelo método. obteve-se pela equação 1 que HSB = 29 cm.
Utilizando a inequação 2 obtém-se que B deve ser
3.3.2 Dimensionamento do pavimento para a mistura igual a 9 cm e, considerando que a espessura mínima
M1 da camada de base é de 15 cm, o valor adotado de B
foi igual a 15 cm.
Considerando os mesmos valores de KR, KB, R, N, Sendo o valor de CBR igual a 14,00% para a
obteve-se pela equação 1 o valor de HSB = 29 cm, camada do subleito, obteve-se pela equação 1 que HM
utilizando a inequação 2 obteve-se que B deve ser igual a 36 cm. Utilizando a inequação 3 e
igual a 9 cm. Considerando que a espessura mínima considerando KS igual a 1,00, obtém-se h20 igual a 1
da camada de base é de 15 cm, o valor adotado de B cm. Como o valor obtido é menor que o mínimo
foi igual a 15 cm. necessário exigido pelo critério o valor a ser adotado
Sendo o valor de CBR igual a 7,50% para a para h20 deve ser igual a 15 cm.
camada do subleito, obteve-se pela equação 1 que HM Para uma porcentagem ainda mais elevada de
é igual a 54 cm. Utilizando a inequação 3 e EAEP observou-se uma redução ainda mais
considerando KS igual a 1,00, obteve-se h20 igual a 19 significativa na espessura da camada de sub-base se
cm. O valor calculado é maior que o mínimo comparada à mistura M2 e ao solo em sua condição
necessário exigido pelo critério de dimensionamento natural (M0).
do DNER e, portanto, h20 adotado foi igual a 19 cm.
Possivelmente a alteração na granulometria foi 3.4 Análise do dimensionamento para cada mistura
mais significativa do que a formação de compostos solo-EAEP
cimentícios para a porcentagem de 5% de EAEP, o
que promeveu uma redução do índice CBR, e A Figura 4 apresenta os valores da espessura das
consequentemente um aumento na espessura da camadas de revestimento, base e sub-base
camada de sub-base. considerando os valores obtidos pelas inequações e
desconsiderando o critério de espessura mínima
3.3.3 Dimensionamento do pavimento para a mistura imposto pelo manual de pavimentação do DNIT.
M2

Considerando os mesmos valores de KR, KB, R, N,


obteve-se pela equação 1 que HSB = 29 cm.
Utilizando a inequação 2 o valor de B deve ser igual
a 9 cm e, considerando que a espessura mínima da
camada de base é de 15 cm, o valor adotado de B foi
igual a 15 cm.
Sendo o valor de CBR igual a 10,50% para a
camada do subleito, obteve-se pela equação 1 que HM
é igual a 43 cm. Utilizando a inequação 3 e
considerando KS igual a 1,00, obteve-se h20 igual a 8
cm. O dimensionamento pelo método DNER não

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


345
25 utilização desse tipo de resíduo, visando evitar o seu
Espessura da camada (cm) Revestimento descarte no meio físico.
19 Base
20
Sub-base
15 15 15 15
15
15 AGRADECIMENTOS

10 10 10 10 Os autores agradecem a Universidade Federal de


10 8 Viçosa e ao grupo Infratest pelo apoio nos ensaios
realizados no Laboratório de Engenharia Civil.
5
1 REFERÊNCIAS
0
M0 M1 M2 M3 AASHTO (2021). M 145-91 (2021), Standard
Specification for Classification of Soils and Soil-
Figura 4: Espessuras das camadas estruturais de um Aggregate Mixtures for Highway Construction
pavimento asfáltico. Purposes. American Association of State and Highway
Transportation Officials.
Os resultados do dimensionamento indicaram ABNT (2004). NBR 10007 - Amostragem de resíduos
para todas as misturas analisadas um revestimento sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
asfáltico composto de CAUQ de 10 cm de espessura Rio de Janeiro.
e uma camada de base granular de 15 cm de ABNT (2012). NBR 12024 – MB 3361. Solo-cimento –
espessura. A camada de sub-base sofreu alterações na Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos -
espessura, pois sua espessura depende do valor do procedimento. Rio de Janeiro, 2012g, 10p.
índice CBR do subleito. Observou-se que a mistura ABNT (2016a). NBR 6457. Amostras de solo-Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de
M1, com CBR mais baixo que a amostra de solo
caracterização. Associação Brasileira de Normas
natural, houve um aumento da espessura da sub-base Técnicas. Rio de Janeiro.
de 15 cm para 19 cm. Para as misturas M2 e M3 ABNT (2016b). NBR 7181. Solo- Análise granulométrica.
houve uma redução da espessura da camada de sub- Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de
base devido ao aumento dos valores de CBR dessas Janeiro.
misturas que compõem o subleito. ABNT (2016c). NBR 6459. Solo- Determinação do Limite
de Liquidez. Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Rio de Janeiro.
4 CONCLUSÃO ABNT (2016d). NBR 7180. Solo- Determinação do Limite
de Plasticidade. Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Rio de Janeiro.
O objetivo deste estudo foi avaliar a redução das
ABNT (2016e). NBR 6458. Grãos de pedregulho retidos
espessuras das camadas estruturais de um pavimento na peneira de 4,8mm: Determinação da massa
asfáltico simulando a estabilização do solo do específica, da massa específica aparente e da absorção
subleito com escória de aciaria elétrica primária de água. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
(EAEP). Observou-se que o dimensionamento de um Rio de Janeiro.
pavimento asfáltico está diretamente ligado às ABNT (2016f). NBR 7182. Solo- Ensaio de Compactação.
propriedades dos materiais constituintes de suas Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de
camadas, e que quanto melhor as propriedades desses Janeiro.
materiais, mais esbelta será a estrutura do pavimento. ABNT (2016g). NBR 9895. Solo- Índice de Suporte
Observou-se que houve uma tendência de Califórnia. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Rio de Janeiro.
melhoramento das propriedades de engenharia da ABNT (2004). NBR 10007. Amostragem de resíduos
amostra de solos analisada, através da análise de seu sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
índice CBR e expansão CBR, com o aumento do teor Rio de Janeiro, 2004, 21p.
de EAEP, exceto para a mistura com o teor de 5%. ABNT (2012) NBR 12024 – MB 3361. Solo-cimento –
Esse aumento de CBR promoveu uma redução da Moldagem e cura de corpos-de-prova cilíndricos -
espessura da camada de sub-base do pavimento, procedimento. Associação Brasileira de Normas
desconsiderando o critério de espessura mínima Técnicas. Rio de Janeiro, 2012, 10p.
imposto pelo manual de pavimentação do DNIT. ABNT (2012) NBR NM 18. Cimento Portland – Análise
Mesmo que a espessura final adotada seja a mesma química – Determinação de perda ao fogo. Associação
para a amostra de solo natural e as amostras de solo Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, 2012,
4p.
com maiores teores de EAEP, a melhora de suas ASTM (2020). Standard D2487-17e1, "Standard Practice
propriedades proporcionará uma durabilidade maior for Classification of Soils for Engineering Purposes
ao pavimento, sendo, portanto, uma alternativa de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


346
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


347
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Rejeito de mineração utilizado como material estabilizador de um


solo tropical
Klaus Henrique de Paula Rodrigues
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, klaus@ufv.br

Heraldo Nunes Pitanga


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

Bruna Martins de Melo


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, bruna.m.melo@ufv.br

Ana Clara da Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, ana.silva36@ufv.br

Júlia Lopes Figueiredo


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, julia.l.figueiredo@ufv.br

RESUMO: Do ponto de vista da gestão sustentável de resíduos e seu impacto ambiental, os rejeitos provenientes da
extração de minério de ferro ainda constituem um passivo ambiental indesejável gerados pelas empresas de mineração.
Uma alternativa ambientalmente favorável à sua disposição no meio ambiente é a utilização desses rejeitos em obras de
engenharia civil, como em estabilização de solos para uso em pavimentação. Este estudo investigou o potencial
tecnológico de um rejeito de espirais de minério de ferro na estabilização de um solo tropical. Foram confeccionadas
misturas com 0%, 10%, 20% e 30% de rejeito em relação à massa seca da mistura. Ensaios de caracterização geotécnica,
compactação, resistência à compressão simples, índice CBR e expansão CBR foram realizados visando analisar a adição
do rejeito à amostra de solo estabilizada. Observou-se que a adição de rejeito de espirais apresentou um aumento nos
valore de índice CBR até a porcentagem de 20% e caiu quando a porcentagem foi de 30%, o que possivelmente ocorreu
devido à mudança nos parâmetros de granulometria do solo, os quais mostraram que as misturas com 10 e 20% de rejeito
apresentaram valores de Cc e Cu compatíveis com areias bem graduadas e a mistura com 30% de rejeito apresentou
valores de Cc e Cu compatíveis com areias mal graduadas. A adição de rejeito também apresentou uma diminuição da
expansão CBR. Pontanto, a adição de rejeito de espirais pode ser uma alternativa tecnica e ambientalmente favorável para
a estabilização de solos visando sua aplicação em obras de pavimentação.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito de mineração, Rejeito de Espirais, Estabilização de solos, Estabilização Granulométrica,


Pavimentação.

ABSTRACT: From the point of view of sustainable waste management and its impact on the environment, waste from
iron ore mining is still an undesirable environmental impact caused by mining companies. An environmentally friendly
alternative to disposal in the environment is the use of these wastes in civil engineering, such as in soil stabilization for
use in road construction. This study investigated the technological potential of an iron ore spiral waste in stabilizing a
tropical soil. Mixtures were prepared with 0%, 10%, 20%, and 30% waste relative to the dry mass of the mixture.
Geotechnical characterization, compaction, unconfined compressive strength, CBR index, and CBR expansion tests were
conducted to analyze the addition of waste to the stabilized soil sample. It was found that the addition of spiral wastes
resulted in an increase in CBR index values up to a percentage of 20% and decreased at a percentage of 30%, possibly
due to the change in soil granulometry parameters, which showed that the mixtures with 10% and 20% wastes had Cc
and Cu values compatible with well-graded sands, while the mixture with 30% wastes had Cc and Cu values compatible
with poorly graded sands. The addition of waste also resulted in a decrease in CBR expansion. Therefore, the addition of
waste from spirals may be a technically and environmentally favorable alternative for soil stabilization to be used in road
construction.

KEY WORDS: Mining Waste, Spiral Waste, Soil Stabilization, Granulometric Stabilization, Paving.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


348
1 INTRODUÇÃO empilhamento drenado (Caetano, 2015, José et al.,
2016).
O rápido desenvolvimento da urbanização e da Dentro desse contexto, é fundamental a
industrialização geram escassez de terrenos com boas proposição de soluções técnicas que estejam
propriedades para obras de engenharia civil. Solos vinculadas ao aproveitamento adequado desses
expansivos são os mais problemáticos devido à sua resíduos, dada a possibilidade de agregar valor ao
baixa capacidade de suporte (Puppala et al., 2017). A material e de diminuir os gastos com a estocagem, o
presença de solo expansivo no subleito de um tratamento e a destinação final dos mesmos no meio
pavimento rodoviário tem um impacto negativo no ambiente. Uma alternativa de utilização desses
desempenho desse tipo de estrutura (Tiwari et al., resíduos é como material de construção civil, como
2021). por exemplo sendo empregado em obras de
Estudos tem sido realizados para desenvolver uma pavimentação, as quais demandam um grande
abordagem sustentável visando controlar a consumo de materiais naturais.
expansibilidade e melhorar a resistência de solos de A fim de tornar os solos de baixa capacidade de
baixa capacidade de suporte. A estabilização de solos suporte viáveis tecnicamente para aplicação em obras
pode ser realizada por meio de vários processos, de pavimentação, diversos estudos têm sido
como métodos físicos (alteração da granulometria), realizados avaliando a adição, a esses solos, de cal
mecânicos e químicos (Rodrigues, 2022, Tiwari et (Al-Mahbashi et al., 2021, Bhuvaneshwari et al.,
al., 2021). 2019, Han et al., 2021, Ikeagwuani e Nwonu, 2019,
O Brasil é um dos maiores produtores de minério Venkatesh et al., 2021), de cimento (Gajewska et al.,
de ferro do mundo. Em 2018, aproximadamente 460 2018, García e Salamanca, 2020, Lu et al., 2020,
milhões de toneladas de minério de ferro foram Zabielska-Adamska et al., 2021) e de resíduos de
produzidas no Brasil, representado 18,7% da diversos tipos, tais como fibra de vidro reciclado
produção global (DNPM, 2018, USGS, 2020). (Yaghoubi et al., 2021), fibras de plástico (Hafez et
Os dois principais resíduos sólidos gerados no al., 2019, Hassan et al., 2021), resíduos de construção
processo de extração mineral são o estéril e o rejeito. e demolição (Lukiantchuki et al., 2021), resíduo de
O estéril é o material que fica acima da área de pó de mármore (Alnunu e Nalbantoglu, 2021),
mineração desejada. Este material é escavado e resíduo de carbeto de cálcio (Noolu et al., 2021),
disposto no meio ambiente sob a forma de lama de cal (Haluk e Cetin, 2022), pó de forno de
empilhamento drenado, não possuindo valor cimento (Salahudeen et al., 2022) alem de rejeitos de
econômico. Os rejeitos são os materiais resultantes mineração (Schatzmayr Welp Sá et al., 2022, Quadri
após o minério de ferro passar pelo processo de et al., 2022, Tong et al., 2021), entre outros.
beneficiamento, no qual é realizada a separação da Este estudo teve como objetivo principal avaliar o
fração com maior valor econômico (Schatzmayr potencial de aproveitamento do rejeito de espirais de
Welp Sá et al., 2022). minério de ferro em substituição parcial a uma
Segundo Matiolo et al. (2020), no Brasil, estima- amostra de solo tropical visando à sua estabilização
se que a geração de rejeitos de minério de ferro seja através dos ensaios de resistência à compressão
de 20 a 40% em peso do minério de ferro total simples, índice CBR e expansão CBR.
extraído, gerando aproximadamente 204 milhões de
toneladas por ano (Saldanha et al., 2022). Estudos
sobre a atividade mineradora em Minas Gerais em 2 MATERIAIS E MÉTODOS
2008 e 2009 mostram que a proporção de resíduos
sólidos gerados é de cerca de 25% de rejeitos e 75% 2.1 Materiais
de estéril (Silva et al., 2012). A expectativa para os
próximos anos é que a geração brasileira de rejeitos A amostra de solo tropical foi obtida através de
de mineração chegue a 684 milhões de toneladas em coleta deformada em campo, conforme a norma
2030 (Silva et al., 2012). técnica NBR 6457 (ABNT, 2016a), no município de
Em algumas usinas de beneficiamento de minério Rio Piracaba, Minas Gerais, Brasil. A amostra de
de ferro são utilizadas espirais concentradoras que se rejeito de mineração de ferro foi coletada em um
utilizam da força centrífuga para separar materiais empilhamento drenado de uma empresa do setor
com pesos específicos e granulometria diferentes, mineral de Minas Gerais, Brasil de acordo com a
com o objetivo de extrair a porção de interesse norma técnica NBR 10007 (ABNT, 2004). A amostra
(minério de ferro), sendo o material restante de solo foi coletada próxima à região da empresa de
denominado de rejeito de espirais, o qual é mineração visando a obtenção do menor custo de
comumente destinado no meio físico em forma de transporte do rejeito até uma possível obra nas

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


349
proximidades da mesma. As amostras dos materiais no estado natural e suas
misturas foram submetidas ao ensaio de compactação
2.2 Métodos na energia do Proctor modificado, de acordo com a
norma técnica NBR 7182 (ABNT, 2016f).
Os ensaios realizados para fins de caracterização
geotécnica das amostras de solo e de rejeito de 2.2.2 Resistência à compressão simples
espirais foram: i) Análise granulométrica conjunta, Os corpos de prova para a realização do ensaio de
de acordo com a NBR 7181 (ABNT, 2016b); ii) resistência à compressão simples (RCS) foram
Limite de liquidez (LL), segundo a NBR 6459 confeccionados no teor de umidade ótimo da energia
(ABNT, 2016c); iii) Limite de plasticidade (LP), de compactação Proctor modificado. O ensaio de
segundo a NBR 7180 (ABNT, 2016d); iv) Massa RCS foi realizado nas amostras dos materiais naturais
específica dos grãos do solo (ρs), segundo a NBR e suas misturas sem o emprego de procedimentos de
6458 (ABNT, 2016e); e v) Compactação na energia cura, conforme a norma técnica NBR 12025 (ABNT,
do Proctor modificada, segundo a NBR 7182 2012).
(ABNT, 2016f), para fins de determinação do peso
específico aparente seco máximo (γdmáx) e do teor de 2.2.3 Índice CBR
umidade ótimo (wot) dos materais compactados. Os
resultados desses ensaios são apresentados na Tabela Os corpos de prova confeccionados para a
1. As amostras dos materiais foram classificadas realização do ensaio de índice CBR foram
segundo a Metodologia MCT (Miniatura, confeccionados no teor de umidade ótimo da energia
Compactado, Tropical), de acordo com a CLA 259 de compactação Proctor modificado. O ensaio foi
(DNER, 1996a), e segundo os sistemas de realizado para as amostras dos materiais na condição
classificação de solos TRB (Transportation Research natural e suas misturas com imersão em água por 96
Board), conforme a M 145-91 (AASHTO, 2017), e horas, conforme a norma técnica NBR 9895 (ABNT,
USC (Unified Soil Classification), conforme a 2016g).
D2487 (ASTM, 2017).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1: Resultados da caracterização
geotécnica dos materiais. 3.1 Granulometria
Ensaio Rejeito Amostra de solo
As curvas granulométricas das amostras do solo e do
%P #200 12,80 51,20
rejeito de espiral, bem como de suas misturas são
%P #40 84,00 92,00 apresentadas na Figura 1 e seus coeficientes de
%P #10 100,00 99,60 uniformidade e de curvatura são apresentados na
%P #4 100,00 100,00 Tabela 2.
LL (%) NL 59,00
LP (%) NP 31,00
IP (%) - 28,00
ρs (g/cm³) 3,10 2,87
γd,max (kN/m³) 19,2 16,3
wot (%) 13,00 23,00
TRB A-2-4(0) A-7-5(9)
USCS SW CH
MCT NA LG’

As misturas de solo e rejeito de espirais foram


realizadas nas seguintes proporções: 90% de solo e
10% de rejeito (M1), 80% de solo e 20% de rejeito
(M2) e 70% de solo e 30% de rejeito (M3).

2.2.1 Compactação

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


350
100 19
Solo
Solo
Rejeito
90 Rejeito M1
M2
M1 18 M3
80
M2 Inclinação ramo seco

70 M3
17
% que passa

60

γd (kN/m³)
50 16
40
30 15
20
10 14

0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 13
Diâmetro das partículas (mm) 8% 12% 16% 20% 24% 28% 32%
w (%)

Figura 1: Curvas granulométricas da amostra Figura 2: Curvas de compactação dos


de solo, rejeito e suas misturas. materiais e misturas.

A inclinação do ramo seco da curva de


Tabela 2: Coeficientes de uniformidade e de compactação da amostra de solo natural obteve o
curvatura dos materiais estudados. valor de 40 [maior que o valor mínimo (20) de
Material Cc Cu Classificação SUCS referência], o que demonstra seu caráter laterítico,
Solo 3,35 7,69 CH corroborando com os ensaios de compactação mini-
Rejeito 0,99 3,21 SP
MCV e perda de massa por imersão.
Houve uma tendência de aumento do peso
M1 2,50 7,73 SC
específico aparente seco máximo e uma diminuição
M2 2,11 8,31 SC
do teor de umidade ótimo com o acréscimo do teor de
M3 1,03 5,00 SC rejeito de espirais à amostra de solo, o que também
pode ser observado na Tabela 3, que apresenta os
Os valores de Cc e Cu mostraram que as misturas parâmetros de ótimo das amostras de solo e de rejeito
M1 e M2 apresentaram características de areias bem além das misturas solo-rejeito.
graduadas (1<Cc<3 e Cu>6), enquanto que a mistura
M3 apresentou características de areias mal
graduadas (Cc<1 e Cu<6). Com a adição de rejeito de Tabela 3: Parâmetros de ótimo dos materiais e
espirais ao solo, observou-se também a alteração da misturas solo-rejeito.
classificação do mesmo de CH (solo argiloso de alta Material wot (%) γd,max (kN/m³)
plasticidade) para SC (solo areno-argiloso). Solo 23,0 16,3
Rejeito 13,0 19,2
3.2 Compactação
M1 23,0 16,3
As curvas de compactação das amostras de solo, M2 21,0 17,5
rejeito e suas misturas obtidas através do ensaio de M3 19,0 17,8
compactação na energia Proctor modificado são
apresentadas na Figura 2. O aumento do peso específico aparente seco
máximo ocorreu devido à substituição de partículas
de solo por partículas de rejeitos de espirais que
possuem maior valor de massa específica dos grãos
além da alteração da granulometria. A redução do
teor de umidade se deve ao fato da alteração do
tamanho das partículas das misturas, pois com o
aumento do teor de rejeito de espirais, há um aumento
dos tamanhos das partículas e, portanto, torna o

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


351
material mais granular. SR 90/10-CP 1 SR 90/10-CP 2
6 SR 80/20-CP 1 SR 80/20-CP 2
SR 70/30-CP 1 SR 70/30-CP 2
3.3 Resistência à compressão simples
5
Os resultados do ensaio de RCS são apresentados na
Figura 3.
4
6

Tensão (MPa)
5,2
4,93
5 3

4,03
4 3,74
RCS (MPa)

3
1
2

0
1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Penetração (mm)
0
Solo M1 M2 M3 Figura 4: Curvas tensãox penetração - ensaio
CBR.
Figura 3: Resultados do ensaio de RCS.
Os resultados mostraram que a mistura M2 (com
Observou-se que a adição de rejeito de espirais, ao 20% de rejeito) apresentou o melhor comportamento,
contrário do que ocorreu na compactação, promoveu com inclinação da cruva mais elevada e tensões
uma diminuição dos valores de RCS. Já a amostra de maiores quando comparadas às outras duas misturas.
rejeito de espirais não foi possível de ser A mistura M3 foi a mistura que apresentou o pior
confeccionada para o ensaio de RCS, pois os corpos comportamento, o que pode ser explicado pela
de prova se desfizeram no processo de desmolde, alteração dos coeficientes Cc e Cu, que apontam para
devido à falta de coesão. Isso explica a tendência de um material mal graduado.
diminuição da RCS com o aumento do teor de rejeito A Figura 5 apresenta os resultados do ensaio de
de espirais. índice CBR das amostras de solo natural, rejeito de
espirais e das misturas M1, M2 e M3.
3.4 Índice CBR e expansão CBR
70
A Figura 4 apresenta as curvas tensão versus
penetração, obtidas através do ensaio de índice CBR, 60 55
para as misturas solo-rejeito M1, M2 e M3. 51
50
40
CBR (%)

40
31
30

20
13
10

0
Solo Rejeito M1 M2 M3

Figura 5: Resultados do ensaio de índice CBR.

As misturas M1 e M2 apresentaram um aumento


no valor do índice CBR quando comparadas com a
amostra de solo na sua condição natural, sendo o
valor de CBR da mistura M2 maior que o valor de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


352
CBR da amostra de rejeito de espirais na condição A adição de rejeito de espirais se mostrou benéfica na
natural, mostrando que a alteração da granulometria melhora do comportamento mecânico e de
da amostra de solo pode favorecer o comportamento expansibilidade da amostra de solo estudado.
mecânico desde que o material resultante esteja A adição do rejeito de espirais na amostra de solo
confinado. O acréscimo de CBR da mistura M2 em provou-se ser válida do ponto de vista técnico e
comparação com a amostra de solo natural foi de ambiental, considerando que o rejeito seria utilizado
77,42%, chegando quase ao valor de CBR de 60%, como material de construção e não como um material
valor esse, considerado o limite mínimo para a a ser depositado no meio físico.
aceitação de um material para confecção de camadas
de base de pavimentos flexíveis para um número N
de solicitações abaixo de 5.106. REFERÊNCIAS
A Figura 6 apresenta os resultados de expansão
CBR das amostras de solo natural, rejeito de espirais ABNT (2016). NBR 6457. Amostras de solo-Preparação
e das misturas M1, M2 e M3. para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Rio de Janeiro.
0,6
ABNT (2016). NBR 6458. Grãos de pedregulho retidos
0,51
na peneira de 4,8mm: Determinação da massa
0,5
específica, da massa específica aparente e da absorção
Expansão CBR (%)

de água. Associação Brasileira de Normas Técnicas.


0,4
Rio de Janeiro.
ABNT (2012). NBR 12025. Solo-cimento- Ensaio de
0,3
compressão simples de corpos de prova cilíndricos-
0,20 Método de ensaio. Associação Brasileira de Normas
0,18
0,2
Técnicas. Rio de Janeiro.
ABNT (2016). NBR 6459. Solo- Determinação do Limite
0,1
0,02 de Liquidez. Associação Brasileira de Normas
0,00 Técnicas. Rio de Janeiro.
0,0
Solo Rejeito M1 M2 M3
ABNT (2016). NBR 7180. Solo- Determinação do Limite
de Plasticidade. Associação Brasileira de Normas
Figura 6: Resultados do ensaio de expansão Técnicas. Rio de Janeiro.
ABNT (2016). NBR 7181. Solo- Análise granulométrica.
CBR. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de
Janeiro.
Observou-se que a adição de rejeito de espirais ABNT (2016). NBR 7182. Solo- Ensaio de Compactação.
diminui a expansão da amostra de solo, promovendo Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de
Janeiro.
uma estabilização volumétrica do mesmo. Os valores
ABNT (2016). NBR 9895. Solo- Índice de Suporte
das três misturas ficaram abaixo de 0,5%, o qual é o Califórnia. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
limite para que um material possa ser utilizado na Rio de Janeiro.
camada de base de pavimentos flexíveis. DNER (1996). CLA 259, Classificação de solos tropicais
O solo original na condição natural já apresenta para finalidades rodoviárias utilizando corpos-de-
valores de CBR e expansão, adequados tecnicamente prova compactados em equipamento miniatura. Rio de
para compor uma camada de sub-base (CBR > 20% Janeiro, RJ: Departamento Nacional de Estradas de
e expansão < 1%) segundo o Manual de Rodagem.
Pavimentação (DNIT, 2006). Isso se deve ABNT (2004). NBR 10007 - Amostragem de resíduos
principalmente ao comportamento laterítico do solo. sólidos. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Rio de Janeiro.
A classificação dos solos da AASHTO não
DNIT (2006). Manual de Pavimentação. Departamento
caracteriza todos os solos perfeitamente, Nacional de Infraestrutura de Transportes. Rio de
principalmente os provenientes de locais de clima Janeiro.
tropical, nos quais há intenso processo de laterização, DNIT (2010). ES 139. Pavimentação - Sub-base
como é o caso do solo em questão. Esse solo se estabilizada granulometricamente - Especificação de
encontra na exceção referente a IG igual a zero da serviço. Departamento Nacional de Infraestrutura de
norma técnica ES 139 (DNIT, 2010), pois sendo um Transportes. Rio de Janeiro.
solo laterítico, o IG pode ser maior do que zero. ABNT (2016). NBR 6457 - Amostras de solo - Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Rio de Janeiro, RJ: Associação
Brasileira de Normas Técnicas.
4 CONCLUSÃO
ASTM (2020). Standard D2487-17e1, "Standard Practice

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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355
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Resistência e microestrutura de rejeito de mineração de ferro


estabilizado com cimento álcali-ativado oriundo de resíduos
agroindustriais
William Mateus Kubiaki Levandoski
Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, williankubi@gmail.com.

Suéllen Tonatto Ferrazzo


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, suellenferrazzo@hotmail.com.

Maria Alice Piovesan


Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, mariaalicepiovesan@gmail.com.

Eduardo Pavan Korf


Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, eduardo.korf@uffs.edu.br.

RESUMO: A estabilização de rejeito de mineração possui potencial para ser um meio de alcançar o reaproveitamento
deste passivo ambiental. Agentes cimentantes como o cimento Portland podem ser aplicados a esse tipo de processo,
entretanto, sua produção implica em elevado consumo de recursos naturais, eletricidade e emissão de gases de efeito
estufa. Nesse contexto, cimentos álcali-ativados provenientes da ativação alcalina de resíduos industriais apresentam-se
como promissores alternativos ao cimento Portland. Neste sentido, o presente estudo avaliou a estabilização de rejeitos
de minério de ferro (RMF) com um cimento álcali-ativado (LLA) a partir de cinza de bagaço de cana-de-açúcar e cal de
casca de ovo hidratada. Ensaios de resistência à compressão simples (RCS) de misturas RMF-LLA, com diferentes teores
de ligante, peso específico seco e tempo de cura foram realizados. A microestrutura das misturas com melhores
desempenhos também foram investigadas por microscopia eletrônica de varredura. A RCS do RMF-LLA é influenciada
principalmente pelo teor de ligante. Resistências de 3,14 e 3,86 MPa foram alcançadas após 7 e 28 dias respectivamente.
Assim, já com 7 dias, os resultados já permitem a aplicação da mistura como sub-base de pavimentos. A microestrutura
das misturas sugere a formação de géis cimentantes na matriz de RMF-LAA ao longo do tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Cinza de bagaço de cana-de-açúcar; Cal de casca de ovo; Ativação Alcalina; RCS; MEV.

ABSTRACT: The stabilization of mining tailings has the potential to be a means of achieving the reuse of this
environmental liability. Cementing agents such as Portland cement can be applied to this type of process, however, its
production involves a high consumption of natural resources, electricity and emission of greenhouse gases. In this context,
alkali-activated cements from the alkaline activation of industrial waste are promising alternatives to Portland cement. In
this sense, the present work evaluated the stabilization of iron ore tailings (IOT) with an activated alkali cement (AAB)
from sugarcane bagasse ash and hydrated eggshell lime. Unconfined compressive strength (UCS) tests were carried out
on IOT-AAB mixtures, with different binder contents, dry specific weight and curing time. The microstructure of the best
performing mixtures was also investigated by scanning electron microscopy. IOT-AAB UCS is mainly influenced by
binder content. Strengths of 3.14 and 3.86 MPa were achieved after 7 and 28 days, respectively. So, after 7 days, the
results already allow the application of the mixture as a material of pavements sub-base. The microstructure of the
mixtures suggests the formation of cementing gels in the IOT-AAB matrix over time.

KEY WORDS: Sugar cane bagasse ash; Eggshell lime; Alkaline Activation; UCS; SEM.

1 INTRODUÇÃO 2020). O beneficiamento do mineral e o transporte do


produto contribuem expressivamente para emissão
Anualmente o Brasil gera cerca de 184 milhões de de gases do efeito estufa (Gan & Griffin, 2018;
toneladas de rejeito de minério de ferro, sendo Haque & Norgate, 2015) e geram grande volume de
principalmente utilizados como material de aterro e rejeitos, acarretando na contaminação de solos e
armazenados em barragens (Almeida & Schneider, recursos hídricos (Becker et al., 2019; Cordeiro et al.,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


356
2019). potencializar esta estabilização, identificando os
Inúmeras pesquisas estão sendo desenvolvidas fatores que influenciam o desempenho mecânico do
com foco na caracterização de resíduos de mineração, material produzido. Buscando avançar nessa lacuna
compreensão de suas propriedades, bem como no do conhecimento, esta pesquisa visa avaliar a
comportamento e estabilidade, impactos, alternativas resistência e microestrutura de rejeito da mineração
de remediação e de reciclagem. Como uma forma de de ferro estabilizado com um ligante álcali-ativado a
valorização dos rejeitos de mineração e de redução base de cinza de bagaço de cana-de-açúcar e cal de
dos riscos associados ao seu armazenamento, há a casca de ovo hidratada.
estabilização química dos rejeitos pela adição de
agentes cimentantes (Obenaus-Emler et al., 2020). 2 MATERIAIS E MÉTODOS
Cal e cimento Portland são ligantes já amplamente
aplicados para estabilização de solos e também em 2.1 Materiais
alguns estudos com rejeitos de mineração.
Entretanto, o cimento convencional apresenta baixa Os materiais utilizados nesta pesquisa e respectivas
resistência a ácidos, alto custo e consumo energético, abreviações foram: rejeito de mineração de ferro
bem como de emissões de CO2 (Obenaus-Emler et (RMF); cinza de bagaço de cana-de-açúcar (CBCA);
al., 2020). Como alternativa a agentes estabilizadores cal de casca de ovo hidratada (CCOH) e hidróxido de
convencionais, resíduos industriais que apresentam sódio (NaOH). O RMF foi fornecido por uma
conteúdos de óxidos de cálcio e sílica, superior 70%, indústria da mineração de ferro, localizada no estado
e óxido de alumínio, inferior à 20%, podem ser de Minas Gerais (MG) - Brasil. A CBCA foi
utilizados como precursores para produção de fornecida por uma indústria de processamento de
ligantes ou cimentos álcali-ativados (Krivenko, subprodutos de cana-de-açúcar, localizada no estado
2017). do Rio Grande do Sul (RS) Brasil. O RMF foi
O processo de ativação alcalina corresponde a submetido a secagem (50°C por 48h) e CBCA, a
reação entre uma fonte de aluminossilicatos secagem e (50°C por 48h) peneiramento (peneira de
(precursor) em condições alcalinas (ou induzida por malha 200, abertura 75µm).
um ativador alcalino), que resulta em um ligante A CCOH foi produzida em laboratório, a partir de
baseado em uma combinação de alcalino- cascas de ovos coletadas em uma padaria, no
aluminossilicato hidratado e/ou fases alcalino- município de Erechim (RS) - Brasil. A produção da
alcalino-terroso-aluminossilicato (Provis, 2018). cal compreendeu os processos descritos por De
Dentre os subprodutos industriais potenciais a serem Araújo et al. (2021). NaOH foi adquirido de uma
utilizados na álcali-ativação tem-se a cinza do bagaço empresa comercial de reagentes químicos, localizada
de cana-de-açúcar e a cal de casca de ovo. A cinza de no estado de Santa Catarina (SC) - Brasil. O ligante
bagaço de cana é considerada um material álcali-ativado (LAA) foi desenvolvido e
pozolânico, apresentando conteúdos de óxidos de caracterizado por De Araújo et al. (2023), sendo
sílica, alumínio e ferro superiores a 70% (Sultana & composto por uma relação CBCA/CCOH de 80/20,
Rahman, 2013; Berenguer et al., 2020). Já a cal de com concentração molar de solução ativadora
casca de ovo é constituída por elevadas quantidade de (NaOH) de 1M e respectiva concentração de álcalis
óxido de cálcio, podendo variar de 85% a 92% (Na2O) de 2,61%.
(Tshizanga et al., 2017; Bensaifi et al., 2019). A
ativação alcalina vem sendo explorada como uma 2.1.1 Caracterização
metodologia promissora para estabilização de
rejeitos e fixação de metais pesados, e aplicá-la no A caracterização do RMF correspondeu pela
local da mineração é um aspecto positivo para a determinação de determinação de: massa específica
sustentabilidade. Estudos na literatura demonstram das partículas [NBR 6458 (ABNT, 2017)];
que o uso de ativação alcalina em rejeito de distribuição granulométrica [NBR 7181 (ABNT,
mineração de ouro apresenta imobilização eficiente 2018); e composição química por espectrometria de
de metais pesados sob períodos de cura prolongada fluorescência de raios-X, FRX e mineralogia por
em temperatura ambiente (Kiventera et al., 2018), difração de raios-X, DRX. A técnica de FRX foi
bem como altas resistências com mineralogia e a realizada em um espectrômetro de fluorescência de
microestrutura inalteradas (Obenaus-Emler et al., raios-X equipado com tubo de Rh (marca Malvern
2020). Panalytical, modelo Zetium). A DRX foi realizada
Neste contexto, verifica-se que há carência de em em um difratômetro de raios-X [marca Siemens -
estudos para estabilização de rejeito de mineração de BRUKER AXS, modelo D-5000 (θ-2θ)] equipado
ferro com ligantes álcali-ativados Além disso, com tubo de ânodo fixo de Cu (λ = 1.5406 Å),
observa-se a necessidade de explorar como pode-se operando a 40 kV e 25 mA. As amostras em pó foram

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357
analisadas no intervalo angular de 2 a 72° 2θ em (capacidade do macaco hidráulico e do molde
passo de 0.05°/1s. cilíndrico). Portanto, adotou-se um 𝛾𝑑𝑚𝑎𝑥 de
A caracterização da CBCA e CCOH foi trabalho de 15,3 kN.m-3, e também há dois pontos
anteriormente realizada por De Araújo et al. (2023) e abaixo (i.e. 13,3 kN.m-3) a fim de avaliar a influência
por Consoli et al. (2020) respectivamente. As do peso específico na resistência das misturas. Com
principais características dos materiais estão a finalidade de avaliar o melhor desempenho dos
sintetizadas na Tabela 1. tratamentos, optou-se pela aplicação de um ponto
acima da umidade ótima da mistura 25% (𝑤 =
Tabela 1. Principais características dos materiais. 22,8%), acréscimo este considerando a perda de
Características RMF CBCA CCOH umidade no processo de moldagem.
Massa
específica 3,13 2,08 2,24
(g.cm-3) 2.2.2 Resistência à compressão simples
48,95 (areia
Tamanho de fina) 93,01 As misturas rejeito-ligante foram incorporadas a
90,1 (silte)
partículas (%) 30,72 (silte) (silte) umidade alvo, sendo produzidas amostras
20,33 (argila) aparentemente homogêneas. Cada amostra foi
49,3 Fe2O3 60,6 SiO2 submetida a moldagem da seguinte forma: material
Principais
35,1 SiO2 13,9 Fe2O3 72,9 CaO
óxidos (%) 8,48 Al2O3 5,8 Al2O3 compactado estaticamente em três camadas em um
Hematita corpo de prova cilíndrico (50 mm de diâmetro e 100
Quartzo
Principais Goethita
Hematita
Portlandita mm de altura) para cada peso específico seco alvo.
minerais Quartzo Calcita Após a moldagem, os corpos de provas são
Magnetita
Caulinita
removidos dos moldes cilíndricos e tiveram seus
pesos, diâmetros e alturas medidos com precisão de
2.2 Métodos 0,01 e 0,1 mm, correspondentemente. Na sequência,
foram inseridos em saco hermético, e mantidos em
2.2.1 Ensaio de compactação temperatura (23±2°C) e umidade relativa (95%±2%)
controladas (ASTM, 2019), durante os períodos de
Teores de 15 e 25% de LAA foram aplicados ao cura (7 e 28 dias). Restando 24h para o término da
RMF. Estes teores foram escolhidos com base em cura, os corpos de provas são imersos em água para
estudos anteriores referente a estabilização de solos reduzir os efeitos de sucção, conforme proposto por
argilosos e arenosos com ligantes álcali-ativados Consoli et al. (2011). Após a cura, as amostras foram
(Bruschi et al., 2021; Consoli et al., 2021). submetidas ao ensaio de resistência à compressão
As misturas foram submetidas ao ensaio de simples (RCS), seguindo a metodologia da NBR
compactação Proctor para energia modificada, 12025 (ABNT, 2012), sendo executado em uma
conforme D1557 (ASTM, 2012). A partir do ensaio prensa automática de capacidade de 100 t (marca
de compactação das misturas (Tabela 2) com 15% e Engetotus) sob deformação controlada de 1 mm/min.
25% de LAA foi possível definir os valores de peso
específico aparente seco inicial utilizado neste 2.2.3 Análise de microscopia eletrônica de varredura
trabalho. (MEV).
Tabela 2 – Ensaio de compactação das misturas RMF-
A microestrutura das misturas foram avaliadas por
ligante álcali ativado.
meio da técnica de MEV. Após o ensaio de RCS,
Peso específico
Mistura aparente seco
Umidade realizou-se a extração de amostras dos corpos de
ótima (%) prova e subsequente processo de paralisação das
máximo (kN.m-3)
RMF-15% ligante 19,12 15,59 reações químicas, conforme metodologia proposta
RMF-25% ligante 16,85 21,76 por Caicedo (2020). Amostras de dimensões 1 cm por
1 cm foram imersas em acetona (48h) e secas em
O peso específico aparente seco máximo alvo estufa (40°C, 24h) e posteriormente acondicionadas
utilizado inicialmente foi o da mistura de 25% (16,85 em saco hermético até o momento da análise. A
kN.m-3), pois este é abrangido na extensão da curva análise de MEV das misturas foi realizada em um
de compactação da mistura de 15% (19,12 kN.m-3). microscópio eletrônico de varredura (Marca Tescan,
Entretanto, testes preliminares de moldagem de modelo Vega 3).
corpos de prova demonstraram que valores acima de
15,3 kN.m-3 eram impraticáveis devido às limitações 3 RESULTADOS e DISCUSSÃO
técnicas impostas pelas condições do processo
3.1 Resistência à compressão simples

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


358
Nos resultados médios de RCS para RMF-LAA com distintos ligantes álcali-ativados (Bruschi et al.,
(Figura 1) nota-se que, maiores teores de ligante, 2021; Dos Santos et al., 2022).
peso específico e tempo de cura resultaram em
maiores resistências. O melhor tratamento de RMF- 3.2 Microestrutura das misturas RMF-LAA
LAA (25% LAA, 22,8% 𝑤 e 15,3kN.m-3 𝑦𝑑 ) atingiu
uma RCS média de 3,86 MPa em 28 dias, A Figura 2 apresenta as imagens de MEV com
representando um acréscimo de 19% comparado a de magnificação de 6000x das misturas de RMF-LAA
7 dias (3,14 MPa). Nota-se que a resistência de 3,14 com melhor comportamento mecânico (25% LAA,
MPa atinge o valor mínimo de 2,1 MPa (em 7 dias a 22,8% w, 15,3 kN.m-3 e 23°C) nos distintos períodos
23°C) para solo-cimento em sub-bases de de 7 dias (Figura 2a) e 28 dias (Figura 2b).
pavimentos (DNIT, 2010).

Figura 1. Resultados médios de RCS para misturas de


RMF-LAA com temperatura de cura de 23°C e umidade
de 22,8%.

O aumento do teor de ligante nas misturas RMF-


LAA promoveu a precipitação de maior quantidade
de produtos cimentantes, contribuindo diretamente
para a maximização da RCS. Neste sistema, o
desenvolvimento das reações cimentantes são
intensificadas, permitindo presumir que devido ao
processo de ativação alcalina, o teor de ligante exerce
maior influência quando comparado ao peso
específico aparente seco. Tal observação é
corroborada por resultados de outros trabalhos em
estabilização de rejeitos de mineração com uso de
ligantes álcali-ativados (Bruschi et al., 2022; Dos
Santos et al., 2022).
No caso do peso específico aparente seco, os
maiores valores promoveram maiores pontos de
contato entre as partículas das misturas RMF-LAA,
em função da menor porosidade, potencializando
uma maior mobilização de atrito e intertravamento, Figura 2. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
contribuindo assim, para o aumento de resistência. com ampliação de 6000x das amostras RMF-25% LAA e
15,3 kN/m³. (a) a 7 dias e (b) a 28 dias.
Além disso, o tempo de cura também influencia
de forma positiva na RCS das misturas RMF-LAA,
Em geral, observa-se que as misturas apresentam
em que produtos cimentantes continuam a se formar,
matrizes densas, entretanto, é possível observar a
ao longo do tempo, contribuindo para ganhos de
presença de vazios (interpretados como áreas pretas)
resistência. Resultados similares foram também
em ambas figuras. Ainda, nota-se uma concentração
observados em trabalhos de estabilização de solos
de um composto (interpretado como áreas de
coloração mais clara) principalmente nas bordas das

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359
partículas em RMF-LAA a 28 dias, leaching an iron ore tailing. Minerals
comparativamente a aquela de 7 dias. Isto pode ser Engineering, v. 156, n. June, p. 106511.
um indicativo da formação e precipitação de géis
cimentantes ao longo do tempo, corroborando a ASTM (2019). C150/C150M − 19a: Standard
maior resistência apresentada por RMF-LAA após 28 Specification of Portland Cement. American
dias (3,86 MPa). Society for Testing and Materials. Pennsylvania.

4 CONCLUSÕES ASTM (2012). D1557-12e1: Standard Test Methods


for Laboratory Compaction Characteristics of
A partir dos ensaios e análises realizados, elaborou- Soil Using Modified Effort (56,000 ft-lbf/ft3 (2,700
se as seguintes conclusões: kN-m/ m3)). American Society for Testing and
Maiores teores de ligante, peso específico e tempo Materials. Pennsylvania.
de cura resultaram em maiores RCS. A mistura RMF-
LAA após 28 dias atingiu 3,86 MPa e RMF-AA, em Becker, F., Eser, R. A., Hoelzmann, P. & Schutt, B.
7 dias, atingiu 3,14 MPa, possibilitando, já com 7 (2019). The environmental impact of ancient iron
dias, a aplicação da mistura como material de sub- mining and smelting on Elba Island, Italy – A
base de pavimentos. geochemical soil survey of the Magazzini site.
A partir das micrografias feitas por MEV, Journal of Geochemical Exploration, v. 205, p.
observa-se que a mistura curada por 28 dias apresenta 106307.
matriz mais homogênea e com formação de novos
compostos, possivelmente géis cimentantes, Bensaifi, E., Bouteldja, F., Nouaouria, M. S. & Breul,
corroborando com os resultados de RCS. P. (2019). Influence of crushed granulated blast
Para continuidade do estudo, sugere-se a furnace slag and calcined eggshell waste on
realização de técnicas que identifiquem as fases e mechanical properties of a compacted marl.
composição química de géis cimentantes (e.g. DRX Transportation Geotechnics, v. 20, n. May.
e Espectroscopia no infravermelho por transformada
de Fourier - FTIR) nas misturas RMF-LAA. Berenguer, R. A., Capraro, A. P. B., De Medeiros, M.
H. F., Carneiro, A. M. P. & De Oliveira, R. A.
AGRADECIMENTOS (2020). Sugar cane bagasse ash as a partial
substitute of Portland cement: Effect on
Os autores agradecem ao CNPq (Bolsa PIBIC e de mechanical properties and emission of carbon
Produtividade em Pesquisa - Nível II), CAPES dioxide. Journal of Environmental Chemical
(bolsas de mestrado e doutorado) e à UFFS (apoio Engineering, v. 8, n. 2, p. 103655.
concedido em edital de fomento PRO-ICT).
Bruschi, G. J., Santos, C. P. Dos, Araújo, M. T. De,
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361
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Resistência Mecânica de Rejeito de Dragagem Cimentado: Estudo


de Caso em Rio Grande/RS
Caio Yan Pimpão
Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil, caiopimpao@hotmail.com

Saymon Porto Servi


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Rio Grande-RS, Brasil,
saymon_servi@hotmail.com

Diego de Freitas Fagundes


Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil, dffagundes@furg.br

Helena Guerreiro de Almeida


Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil, helenaguealm@gmail.com

RESUMO: Este estudo possui como objetivo analisar de maneira preliminar o comportamento mecânico do rejeito de
dragagem quando submetido ao método de estabilização por mistura com aglomerante. Assim, foi elaborado um programa
experimental com três fatores controláveis e analisados, ao todo, vinte e quatro corpos de prova. Os resultados
demonstraram resistências a compressão simples, atingidas aos 28 dias, variando entre 180 e 690 kPa, evidenciando a
influência dos critérios de dosagem na resistência dos corpos de prova. O consumo de cimento das misturas, o seu teor
de umidade e a razão de areia empregada foram fatores que influenciaram a resistência dos corpos de prova.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-cimento, rejeito de dragagem.

ABSTRACT:The objective of this study is to analyze, in a preliminary way, the mechanical behavior of the dredging
tailings when subjected to the stabilization method by mixing with binder. Thus, an experimental program was
elaborated with three controllable factors and a total of twenty-four specimens were analyzed. The results showed
resistances to simple compression, reached at 28 days, varying between 180 and 690 kPa, evidencing the influence of
the dosage criteria in the resistance of the specimens. The cement consumption of the mixtures, its moisture content and
the ratio of sand used were factors that influenced the resistance of the specimens.

KEY WORDS: Soil-Cement, Dredging tailing.

1 INTRODUÇÃO técnica de dragagem, que consiste da retirada de


material do fundo do Canal de forma a manter ou
O Porto do Rio Grande é notadamente um dos portos mesmo elevar o calado da região (Castro & Almeida,
de maior relevância no país. Isso é comprovado pelo 2012). Posterior a retirada desse material, o mesmo é
Anuário elaborado pela Agência Nacional de disposto em áreas denominadas de “bota-fora”, as
Transportes Aquáviarios (ANTAQ, 2021), no qual quais geralmente se encontram em alto-mar.
Rio Grande aparece como o quinto terminal portuário Entre os diversos tipos de dragagem, em Rio
com maior movimentação no país, o que faz com que Grande tem sido adotado o modelo de dragagens de
a economia da cidade do Rio Grande/RS seja manutenção, que possuem como objetivo
intimamente ligada a movimentação do porto local. restabelecer as características operacionais do Porto,
Devido a esse elevado volume de embarcações, cuja profundidade sofre redução ao longo do tempo
associado a algumas características locais, se faz devido ao acúmulo de sedimentos (Ecossis, 2021).
necessária a realização frequente da manutenção do Ao mesmo tempo em que o Porto do Rio Grande
Canal de Acesso ao Porto do Rio Grande. A possui a sua relevância econômica para a região, a
manutenção realizada faz uso, normalmente, da cidade do Rio Grande é conhecida regionalmente

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


362
também pelo Balneário Cassino, que possui 2 MATERIAIS E MÉTODOS
importância econômica e ambiental para a região. O
turismo é a principal fonte econômica do balneário, 2.1 Materiais
principalmente nos períodos de alta temporada, entre
dezembro e março, período no qual a sua população Foram utilizados três diferentes materiais para a
se multiplica (Silva, 2012). realização do trabalho:
Na última década, houve a ocorrência de lama na
 Rejeito de Dragagem;
orla da praia, gerando discussões acerca de sua
origem. Conforme estudo realizado por Mirlean et al  Cimento Portland Pozolânico CPIV;
(2020), esses eventos poderiam estar relacionados a
realização das dragagens do Canal de Acesso ao  Areia.
Porto do Rio Grande. Tal fato foi constatado a partir O rejeito foi coletado durante procedimento de
de uma análise de relação temporal entre eventos de dragagem realizado no Canal de Acesso ao Porto do
dragagem e de ocorrência de lama na orla da praia do Rio Grande, em 2018. O material se encontra
Cassino entre 1998 e 2020. Após a realização das armazenado no Laboratório de Geotecnia e Concreto
dragagens e a disposição dos rejeitos em alto-mar, o Prof. Cláudio Renato Dias Rodrigues (LGC), da
o material se encaminhava até a orla da praia através Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Foram
das ondas e do vento. desenvolvidos diversos ensaios de caracterização do
Como forma de minimizar os impactos ambientais material. Primeiramente, foi realizado o ensaio de
e, por consequência, econômicos para a região, seria sedimentação e peneiramento, de acordo com os
valiosa a possibilidade de encaminhar outro uso para passos a seguir:
esses resíduos que não a disposição no mar. Uma Preparação da amostra conforme NBR 6457
dessas possibilidades é a sua disposição em áreas (ABNT, 2016a). O material foi seco ao ar livre e
costeiras. Deve-se ressaltar que essa opção se daria destorroado com o auxílio de almofariz.
para as dragagens de manutenção do Canal de Acesso Análise Granulométrica, conforme NBR 7181
ao Porto do Rio Grande, devido a eventos maiores de (ABNT, 2016e). Foram utilizados os procedimentos
dragagem proporcionarem um volume ainda maior de peneiramento e sedimentação e, assim, realizada a
de rejeitos gerados. curva granulométrica do rejeito de dragagem.
No entanto, como entrave para a disposição em Em seguida, foi determinado o peso específico
áreas costeiras, sabe-se que o material presente no real dos grãos através do ensaio do Picnômetro,
fundo do mar possui alto teor de umidade e normatizado pela NBR 6458 (ABNT, 2016b). Por
normalmente encontra-se em condição saturada, fim, foram determinados os Limites de Atterberg,
além de possuir elevada presença de finos, o que por seguindo os procedimentos preconizados pela NBR
si só reflete em baixa capacidade mecânica e, assim, 6459 (ABNT, 2016c) para o limite de liquidez (LL)
se torna um entrave para a execução de obras civis. e pela NBR 7180 (ABNT, 2016d) para o limite de
Ao mesmo tempo, existem na literatura diversos plasticidade (LP).
relatos de procedimentos de estabilização de solos, Os resultados dos ensaios descritos estão
com vistas em incrementar a capacidade mecânica do apresentados na tabela 1.
substrato e reduzir a sua deformabilidade. (Carasca,
2015; Correia, 2011; Locat et al, 1990). Uma destas Tabela 1 – Propriedades Material Dragado/Areia
técnicas é a de Deep Soil Mixing (DSM). Esta técnica Propriedade Material
Areia
consiste da mistura ao solo de algum tipo de dragado
aglomerante, de forma a constituir colunas rígidas e Areia (0,06 < d > 2,00mm) 46,0 88,8
elevar a resistência mecânica do solo local. [%]
Assim, considerando os relatos presentes na Silte (0,002 < d < 0,06mm) 18,0 3,5
literatura, a disposição do rejeito de dragagem em [%]
zona costeira pode ser uma opção viável, desde que Argila (d < 0,002mm) [%] 36,0 7,7
se faça a devida estabilização do rejeito para Limite de Liquidez [%] 47,0 -
viabilizar a execução de obras de Engenharia Civil. Limite de Plasticidade [%] 27,5 -
Portanto, pretende-se desenvolver uma série de Índice de plasticidade [%] 19,5 Não
ensaios para verificar o comportamento mecânico do plástico
rejeito de dragagem quando misturado a um Índice de Atividade – Ia 0,5 -
aglomerante e areia. Assim, será possível avaliar a Peso Específico Real dos 24,0 26,4
viabilidade de aplicação da técnica. Grãos - 𝛾𝑆 (kN/m³)

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363
A composição granulométrica do rejeito de Tabela 2 – Planejamento Experimental
dragagem indica uma areia argilosa (ABNT NBR Fatores Controláveis Níveis
6502, 1995). O índice de plasticidade e o índice de Mínimo Máximo
atividade coloidal indicam um material altamente Massa de Cimento 200 300
plástico com inatividade da fração coloidal. A Portland por volume de
classificação do material, conforme a TRB (ASTM rejeito seco [kg/m³] - Cc
D3282, 2015), é A-7-6 (9). Isso indica que o rejeito Relação do teor de 1,10 1,40
de dragagem está na faixa dos solos argilosos e não é umidade pelo limite de
indicado para fins rodoviários, pois apresenta liquidez - w/wL
comportamento de regular a muito mal. Já pelo Massa de areia seca por 0 10
Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS) massa de cimento
(ASTM D2487, 2017), o solo é considerado como Portland [%] - RA
sendo CL, argila pouco plástica. Fatores Fixos Níveis
Neste trabalho, também foi utilizada areia em
substituição a parte do cimento Portland, de modo a
utilizar o material como filler. Esse incremento tem Material Geotécnico Rejeito de dragagem
como função o aumento dos pontos de contato de Agente Aglomerante Cimento Portland
partículas para que o aglomerante hidráulico possa Pozolânico
unir-se e constituir uma estrutura de suporte melhor Temperatura de cura 23°C
(Janz & Johansson, 2002). [°C]
A areia utilizada é material comum da região, Umidade Relativa [%] ≥ 80
encontrada em todo o litoral do Rio Grande do Sul. A Relação altura por 2
coleta da areia foi realizada no município de Rio diâmetro
Grande, sendo a caracterização desenvolvida por Tempo de cura [dias] 28
Servi & Bastos (2019).
O cimento utilizado, como mencionado, é do tipo Variável Resposta
Portland Pozolânico CP IV. A opção por esse Resistência à compressão simples
aglomerante se dá pela sua disponibilidade comercial
na região de Rio Grande. Além disso, apresenta um O consumo de cimento Portland foi definido a
tempo de cura aceitável para o estudo. As partir da estimativa apresentada por Topolnicki
quantidades empregadas de materiais serão descritas (2008), que sugere faixas de consumo de acordo com
na sequência do trabalho. o material a ser estabilizado. Os valores adotados
foram de 200 kg/m³ (mínimo) e 300kg/m³ (máximo).
2.2 Métodos Os valores de teor de umidade pelo limite de liquidez
foram definidos em 1,10 (mínimo) e 1,40 (máximo).
A metodologia adotada para esta pesquisa consiste Para a massa de areia seca empregada, espera-se
em um planejamento experimental, com o objetivo de um aumento na resistência a compressão simples,
otimizar o tempo e o número de ensaios necessários além de reduzir a dosagem de aglomerante
para encontrar resultados aceitáveis. A seguir será empregado (Machado, 2016). Assim, foram
descrito o planejamento experimental citado e desenvolvidas parte das misturas sem a presença de
apresentadas as premissas dos ensaios. areia e parte com acréscimo de 10%. O tempo de
cura, de 28 dias, tem como objetivo verificar a
2.2.1 Projeto Fatorial 2𝑘 viabilidade das misturas a partir da resistência
encontrada nesse tempo, considerando a referência
Para compreender o comportamento mecânico do de 1MPa a ser encontrada em 28 dias (Machado,
rejeito de dragagem cimentado, inicialmente foi 2016).
desenvolvido um projeto fatorial com “k” fatores A variável resposta do planejamento é a
controláveis em dois níveis de análise. Foram resistência a compressão simples (kPa). Foi utilizado
definidos três fatores controláveis: (a) razão entre número de réplicas igual a 3.
massa de cimento Portland por volume de rejeito seco A cura dos corpos de prova foi feita em câmara
– fator A; (b) relação do teor de umidade pelo limite úmida, com temperatura controlada de 23°C e
de liquidez – fator B (w/wl); (c) razão entre massa de umidade relativa de 80%.
areia seca e massa de cimento Portland – fator C.
Assim, são apresentadas as variáveis controláveis,
variáveis fixas e a variável resposta na tabela 2.

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364
A tabela 3 apresenta os tratamentos propostos separados. A mistura foi feita de maneira manual,
para o estudo. utilizando uma bacia e espátula, com tempo
padronizado de 10 minutos para garantir a
Tabela 3 – Tratamentos Propostos homogeneidade da mistura. Tal tempo se definiu por
Mistura Cc (kg/m³) w/wl Ra (%) ser o mínimo necessário para que a mistura se
1 200 1,10 0 tornasse homogeneizada, já que quanto maior o
2 300 1,10 0 tempo de mistura, menor a resistência final alcançada
3 200 1,40 0 no ensaio de compressão simples (Cancian et al,
4 300 1,40 0 2015).
5 200 1,10 10 Para a execução dos corpos de prova, os moldes
6 300 1,10 10 foram preenchidos com o material proveniente da
7 200 1,40 10 mistura, em três camadas de igual altura. Cada uma
8 300 1,40 10 das camadas foi compactada através de 50 golpes
aplicados na bancada. Finalizada a moldagem, o
Na tabela 3, Cc indica a massa de cimento material restante acima do molde era descartado e era
empregada por volume de rejeito seco, w/wl é a feito o fechamento do corpo de prova novamente com
relação entre o teor de umidade e o limite de liquidez filme de PVC e fita crepe adesiva. Tal procedimento
e Ra é a massa de areia utilizada por massa de se faz necessário para minimizar a perda de umidade
cimento Portland. da mistura.
Os corpos de prova, por fim, eram numerados para
2.2.2 Preparo e moldagem dos corpos de prova que posteriormente fossem colocados em câmara
úmida para o processo de cura durante o período de
Anteriormente a realização das misturas, foi 28 dias.
necessário proceder o preparo do material a ser
utilizado. 2.2.3 Ensaio de resistência à compressão simples
O rejeito de dragagem era retirado do reservatório
em que está armazenado e colocado para secagem ao Decorrido o prazo de 28 dias após a moldagem dos
ar livre. Decorridos no mínimo três dias de secagem, corpos de prova, é feito o seu desmolde para que
o material era então levado a estufa mantida em sejam levados a ruptura, em ensaio de compressão
temperatura igual a 60°C, onde o material ficava por simples. Esse ensaio é comumente utilizado para a
pelo menos dois dias, quando então o processo de verificação do comportamento mecânico de materiais
secagem era concluído. cimentados, como destacado por Servi et al (2022).
O material, após a secagem, era destorroado O desmolde foi feito utilizando um equipamento
conforme o procedimento adotado para os ensaios de extrator. Para a obtenção da resistência mecânica de
caracterização. Após o destorroamento, o material cada corpo de prova, foi utilizada uma prensa com
era acondicionado em sacos plásticos com o objetivo aplicação de carregamento constante de 1 mm/min,
de evitar o ganho de umidade pela amostra até a data conforme preconiza a NBR 12025 (ABNT, 2012).
de realização das misturas. A célula de carga utilizada para medir o
Os corpos de prova foram confeccionados carregamento aplicado possui capacidade de 200kg,
utilizando tubos de PVC com diâmetro externo de e também foi utilizada régua resistiva com
50mm. Para preservar a relação 2:1, todos os tubos capacidade de 25 mm para medir os deslocamentos
foram cortados com altura de 10cm. Antes da verticais. A leitura dos instrumentos foi realizada
moldagem, os moldes foram preparados: o fundo de utilizando sistema de aquisição de dados. Os
cada um desses tubos foi fechado utilizando filme de resultados foram expressos em termos de força
PVC, fixado com o auxílio de fita crepe adesiva. aplicada (kN). Ao final do processo, a tensão é obtida
No dia anterior a realização das misturas, o solo considerando a força aplicada e a área da seção
previamente destorroado e acondicionado em sacos transversal do corpo de prova antes da ruptura.
plásticos foi colocado na estufa por 24h para garantir
que o material estivesse seco no momento da mistura
dos materiais. Além disso, antes da realização das 3 RESULTADOS
misturas, todos os equipamentos, moldes, materiais e
cápsulas para verificação da umidade foram A figura 1 apresenta os resultados de resistência à
dispostos na bancada, de modo que o procedimento compressão simples médios para cada um dos
fosse finalizado de maneira ágil. tratamentos mostrados na tabela 3. Observa-se que a
Assim, após a preparação do ensaio, teve início a tensão média variou entre 180 kPa e 690 kPa. Esses
etapa de mistura dos materiais previamente valores foram obtidos por média simples entre os três

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365
corpos de prova realizados para cada tratamento,
excluindo aquele que apresentava variação superior a
10% em relação a média. Ressalta-se que para todos
os tratamentos foram considerados ao menos dois
corpos de prova para o cálculo da resistência média.

(a) Gráfico de efeitos principais – consumo de cimento

Figura 1 – Resistência à compressão simples para os


tratamentos em estudo.

A figura 2 apresenta o gráfico de Pareto. Nele,


podemos observar a significância de efeitos dos
diversos fatores controláveis. Os fatores de primeira
ordem A (Cc - massa de cimento Portland por volume
de rejeito seco), B (w/wl - teor de umidade pelo limite (b) Gráfico de efeitos principais – teor de umidade
de liquidez) e C (Ra - razão de areia empregada por
massa de cimento Portland) são significantes para o
nível de erro experimental adotado.
Quanto aos fatores de segunda ordem, AB e AC
também são significantes estatísticamente. Já os
fatores BC e ABC são de não significância estatística.

0 5 10 15 20 25 30

A
B
C
AB
(c) Gráfico de efeitos principais – razão de areia
AC Figura 3 – Gráfico de Efeitos Principais
BC
ABC 4 DISCUSSÃO

Efeitos Padronizados A partir da figura 2, verifica-se que o fator


Figura 2 – Gráfico de Pareto controlável que possui a maior influência sobre a
variável resposta é o consumo de cimento empregado
A figura 3 mostra o gráfico de efeitos principais. na mistura. Assim, se mostra relevante para os
Nele, percebe-se que: (a) o aumento no consumo de resultados a correta dosagem de cimento e também o
cimento, (b) o menor teor de umidade da mistura e controle tecnológico durante a execução das obras.
(c) a utilização de areia nas misturas possuem relação Este comportamento decorre da maior quantidade de
diretamente proporcional ao aumento da resistência ligante presente, o que leva a um maior número de
dos corpos de prova. reações químicas, que constitui uma estrutura mais
rígida (Correia, 2011).
Conforme mencionado por Pimpão et al (2022),
esperava-se um aumento da relevância do consumo
de cimento nos resultados de 28 dias, o que se

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366
confirmou. Conforme EuroSoilStab (2002), para As situações descritas são observadas por Correia
misturas de solo-cimento, a cura total ocorre já no (2011), que realizou uma série de ensaios de
primeiro mês. resistência a compressão simples em diversos corpos
O fator controlável B (razão entre o teor de de prova. Os resultados indicaram uma estagnação no
umidade e o limite de liquidez) demonstrou crescimento da resistência a compressão simples a
signficância consideravelmente inferior a do fator partir de determinado valor de consumo de cimento,
controlável A. No entanto, ainda apresenta relevância a qual era linear até então. Ao mesmo tempo, o
para a variável resposta, evidenciando a importância aumento do teor de umidade da mistura levou a uma
das características do solo in natura para a resistência redução proprocional dessa resistência, se
mecânica do solo estabilizado por aglomerante. caracterizando como um comportamento linear.
Considerando que a mistura está saturada, para os Quanto a resistência final encontrada para os
parâmetros que foram definidos, o acréscimo de água diversos tratamentos, observa-se que a maior delas
resulta em um aumento da porosidade, diminuindo o foi de, aproximadamente, 700 kPa. Relatos da
contato entre os grãos e, assim, a resistência literatura indicam valores maiores de resistência a
mecânica da mistura. compressão simples aos 28 dias. Machado (2016)
A taxa de areia, fator controlável C, apresentou encontrou valores variando entre 1,10 a 2,20 MPa em
significância próxima do fator controlável B. Dessa misturas com cimento ou cimento e areia. Já
maneira, se confirmou a expectativa de ganho de Henriques (2014), em misturas envolvendo apenas
resistência aos 28 dias em função da adição de areia cimento, chegou a valores próximos de 1,40 MPa
em relação aos resultados de 7 dias (Pimpão et al, com consumo de cimento igual a 200 kg/m³. O estudo
2022). Nesse período, a adição de areia havia se de Thomas & Budny (2017) atingiu resistência
mostrado não significante para o acréscimo de próxima a 1,80 MPa no mesmo período. Assim,
resistência. Assim, com os resultados de 28 dias, observa-se que era esperado um valor maior de
entende-se que a areia pode ser empregada, em parte, resistência para ruptura aos 28 dias.
no lugar do cimento, com o objetivo de ganho de Na literatura é descrita também a possibilidade de
resistência ao mesmo tempo em que é um realização das misturas e posterior cura em condição
componente de menor custo. saturada. Machado (2016) e Nunez (2022) realizaram
Os fatores controláveis de segunda ordem AB e a cura dos corpos de prova dentro de tanques, com os
AC, ou seja, aquele fatores ligados ao consumo de corpos de prova completamente imersos na água. Tal
cimento (fator A), apresentam significância iniciativa pode influenciar na resistência final dos
estatística, mostrando que há dependência entre esses corpos de prova.
fatores. No entanto, deve-se observar que essa
influência tem magnitude inferior ao dos fatores
controláveis A, B e C. Já os fatores controláveis BC 5 CONCLUSÃO
(segunda ordem) e ABC (terceira ordem) não
possuem significância estatística, sendo os seus O estudo traz um complemento aos resultados
efeitos sobre a resistência mecânica baixos. discutidos em trabalho anterior (Pimpão et al, 2022),
Quanto ao efeito na resistência mecânica das que apresentava os resultados para a resistência
variáveis controláveis principais mostrada na figura mecânica aos 7 dias. Se confirmou a hipótese de que
3, observa-se um comportamento linear entre os dois os resultados aos 28 dias tornariam a adição de areia
valores utilizados para os fatores controláveis A, B e as misturas significante estatisticamente. Além disso,
C. No entanto, espera-se que o incremento ao estudo se mantiveram as conclusões a respeito da influência
de novos valores para a variável controlável A leve a do teor de umidade e do consumo de cimento da
uma mudança nessa situação, ocasionando um mistura: ambos tem significância para a resistência
comportamento não linear, já que a partir de mecânica das misturas, sendo que o tempo de cura de
determinado valor, o acréscimo de cimento não irá 28 dias potencializou o efeito do consumo de
conferir resistência a mistura na mesma proporção. cimento.
Ao mesmo tempo, espera-se uma linearidade se Porém, a resistência final ficou abaixo do valor de
acrescentados novos valores a variável controlável B, 1,00 MPa colocado como objetivo. Assim, a partir
já que a maior quantidade de água disponível leva a das discussões desenvolvidas neste estudo, o
um aumento na porosidade, diminuindo o contato próximo passo será realizar nova campanha de
entre os grãos. Quanto ao terceiro fator controlável misturas e alterar o formato de cura dos corpos de
principal, a razão de areia utilizada nas misturas, prova, com o objetivo de verificar se há ganho de
espera-se uma não linearidade se acrescentados resistência a compressão simples e se a resistência
novos valores, já que isso se refletiria na menor almejada pode ser atingida com os mesmos
quantidade de ligante disponível. parâmetros utilizados no estudo.

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367
AGRADECIMENTOS EuroSoilStab (2002). Design guide: Soft soil stabilization.
In Development of design and construction methods to
O presente trabalho foi realizado com apoio do stabilize soft organic soils. Watford, UK: IHS BRE
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Press,
Henriques, C. R. M. (2014). Deep Soil Mixing: Otimização
Tecnológico (CNPq).
do ligante num solo silto-argiloso. Dissertação de
Mestrado. Universidade de Aveiro.
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Técnicas, Rio de Janeiro. investigations on the lime stabilization of sensitive
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na peneira de abertura 4,8mm – Determinação da Geotechnical Journal, v. 27, n. 3, p. 294-304.
massa específica, da massa específica aparente e da Machado, M.C.B. (2016), Tratamento de Solos Argilosos
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Técnicas, Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de
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limite de liquidez. Associação Brasileira de Normas Mirlean, N., Calliari; L., Johanneson, K. (2020), Dredging
Técnicas, Rio de Janeiro. in an estuary causes contamination by fluid mud on a
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Janeiro. Nunez, V. F. (2022). Estudo Laboratorial de um Solo
ABNT. (2012). NBR 12025. Solo-cimento – Ensaio de Argiloso Orgânico Estabilizado em Massa Utilizando
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limite de plasticidade. Associação Brasileira de Pimpao, C. Y.; Servi, S. P.; Almeida, H. G.; Alves, D.S.;
Normas Técnicas, Rio de Janeiro. Fagundes, D.F. (2022), Análise Preliminar do
ABNT. (2016e). NBR 7181. Solo – Análise Comportamento Mecânico do Rejeito de Dragagem
granulométrica. Associação Brasileira de Normas Cimentado. XXV ENMC, XIII ECTM, 9º MCSul e IX
Técnicas, Rio de Janeiro. SEMENGO
ANTAQ. Estatístico Aquaviário. Ano: 2021. Disponível Servi, S.; Bastos, C. (2019). Estudo sobre o emprego de
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Cancian, V. A.; R. S. Teixeira; H. Fontonele; C. P. S. stacking, Construction and Building Materials,
Junior; C. J. M. C. Branco (2015). Influência do tempo Elsevier BV, 349, 1-14.
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Solution for Energy and Environment, pp 85-92. Tempo de cura na estabilização de solos lateríticos
Castro, S. M.; Almeida, J.R. (2012). Dragagem e conflitos com adição de cal e cimento. Em: XXVIII Congresso
ambientais em portos clássicos e modernos: uma Regional de Iniciação Científica e Tecnológica em
revisão. Em: Soc. & Nat, ano 24, n.3, pp 519-534. Engenharia.
Correia, A. A. S. (2011). Aplicabilidade da técnica de deep Topolnicki, M. (2008), Wet Deep Soil Mixing – Execution
mixing aos solos moles do Baixo Mondego. Tese de and Design Pratice in Poland. German national
Doutorado. Universidade de Coimbra. Geotechnical Conferente, 24, 27.09.2008.
ECOSSIS (2021). Cartilha Dragagem de Manutenção.
Porto De Ilheus-BA. Disponível em:
https://ecossis.com/www1/wp-
content/uploads/2021/08/dragagem_de_manutencao_
codeba_ECOSSIS.pdf, acessado em 28/01/2023.

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368
TEMA 5: INVESTIGAÇÕES E MONITORAMENTO
GEOAMBIENTAIS

369
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Ações de Defesa Civil em Municípios do Rio Grande do Norte


com Auxílio de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento
Melquisedec Medeiros Moreira 1
Pesquisador do INPE/Coordenação Espacial do Nordeste, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI,
Natal-RN, Brasil, melquisedec.moreira@inpe.br

Newton Moreira de Souza 2


Professor Associado 3, Universidade de Brasília - Faculdade de Tecnologia - Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Brasília-DF, Brasil, nmsouza@unb.br

Kátia Alves Arraes 3


Tecnologista Sênior III, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE COENE, Natal-RN, Brasil,
katia.arraes@inpe.br

José Braz Diniz Filho


Professor Titular, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Departamento de Geologia, Natal-RN, Brasil,
brazdf@geologia.ufrn.br

Suzane Dantas Silva


Bolsista INPE/PIBIC/CNPq, COENE, Natal-RN, Brasil, suzane.dantas.085@ufrn.br

RESUMO: Esse estudo foi elaborado a partir dos procedimentos e premissas do Manual para o Zoneamento de
Susceptibilidade de Perigo e Risco do Comitê Técnico Internacional para Deslizamentos (JTC-1) inseridos no programa
Construindo Nosso Mapa Municipal Visto do Espaço, realizado pelo grupo de Geoprocessamento do
MCTI/INPE/COENE. A zona costeira do Estado do Rio Grande do Norte (RN) é constituída por feições
geomorfológicas que representam um atrativo para a ocupação humana e o desenvolvimento de atividades turísticas, a
pesquisa visa identificar e compreender os movimentos de massa mais recorrentes, bem como promover iniciativas
voltadas a gestão de risco e prevenção de acidentes através de geotecnologias. A metodologia adotada consiste na
revisão de informações existentes, levantamento áereo com VANT e atividades de campo. Os resultados apresentados na
Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial sintetiza um suporte técnico para o planejamento das ações
governamentais de controle e proteção da população e infraestruturas urbanas e dos recursos naturais.

PALAVRAS-CHAVE: Cartografia Geotécnica, Defesa Civil, JTC-1, Falésia, Deslizamentos, Cidades Sustentáveis.

ABSTRACT: This paper present was carried out following the methods proposed by the “Guide to Zoning
Susceptibility of Hazard and Risk in the International Technical Committee for Landslides (JTC-1)”. The research is
being developed from the procedures and assumptions in the program "Building Our City Map Seen from Space",
performed by the group of GIS INPE / COENE (Northeast Spatial Coordination). The coastal zone of the State of Rio
Grande do Norte (RN) consists of geomorphological features that represent an attraction for human occupation and the
development of tourist activities, the research aims to identify and understand the most recurrent mass movements, as
well as to promote initiatives aimed at risk management and accident prevention through geotechnologies. The
methodology adopted consists of reviewing existing information, aerial surveying with UAV and field activities . The
results presented in the Geotechnical Map evidence regions where occupation should be preceded by studies more
detailed.

KEYWORDS: Engineering Geological Mapping, Civil Defense, JTC-1, Cliff, Landslides, Sustainable Cities.

1 INTRODUÇÃO costeiras são alguns dos fatores geoambientais que


podem impor situações de risco às comunidades
Movimentos de massa (em encostas e falésias), instaladas nas localidades mais suscetíveis a esses
riscos de alagamentos e processos erosivos nas áreas eventos.

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370
O Programa de Redução de Riscos (Ministério análise e gerenciamento de dados geograficamente
das Cidades, 2007), propõe uma metodologia para referenciados. Dentre elas se destacam os Sistemas
mapeamento de áreas de risco de inundações de Informações Geográficas (SIG’s), Sensoriamento
elaborado pelo Instituto de Pesquisa Tecnológica - Remoto (SR), Cartografia Analógica e Digital,
IPT - que segue os seguintes passos: a) identificação Sistema de Posicionamento Global (GPS), dentre
e delimitação preliminar de área de risco em fotos outros.
aéreas de levantamentos aerofotogramétricos, A zona costeira do Estado do Rio Grande do
imagens de satélite, mapas, guias de ruas, ou outro Norte (RN) apresenta feições morfológicas típicas
material disponível compatível com a escala de como tabuleiros costeiros, dunas, falésias e praias
trabalho; b) identificação de área de risco e de arenosas. Essas áreas são naturalmente dinâmicas,
setores de risco (setorização preliminar) em fotos mas devido a intervenções humanas esse processo
aéreas de baixa altitude (quando existir); c) natural é potencializado gerando uma série de
levantamentos de campo para setorização (ou impactos ambientais.
confirmação, quando existir a pré-setorização), A erosão costeira resulta na movimentação da
preenchimento da ficha de cadastro e uso de fotos linha de costa em direção ao continente. Nas áreas
de campo. de falésias, o principal impacto relacionado a erosão
Há vários enfoques para se chegar a um são os movimentos de massas, resultantes do
mapeamento de riscos de escorregamentos. Cada aumento da carga no topo das falésias, supressão da
país, e, dentro de cada país, cada grupo, adota vegetação e aumento da erosão superficial.
metodologias semelhantes, mas com detalhes que as Em virtude de sua exuberância paisagística o
diferenciam, dando produtos às vezes bastante litoral do RN está em crescente ocupação turístico-
diferentes. Foi com o intuito de padronizar uma imobiliária, intensificada desde a década de 80. A
metodologia que pudesse ser adotada implementação de atividades turísticas na região é
universalmente que o Comitê Técnico Unificado de importantíssima para o desenvolvimento regional e
Escorregamentos de Terra e Taludes de Engenharia local, no entanto, estudos técnicos devem ser
(JTC1 – “Joint Technical Committee 1 – Landslides realizados para promover a segurança da população,
and Engineered Slopes”, da ISSMGE, IAEG e sustentabilidade e proteção da linha de costa.
ISRM) decidiu firmar um documento, com o Este estudo envolve a aplicação de
consenso de especialistas das três entidades geotecnologias associadas à ferramentas de
internacionais – de Mecânica dos Solos, de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento para
Geologia de Engenharia e de Mecânica das Rochas identificação dos processos de movimento de massa.
-, que definisse os passos a serem tomados em um Com o auxílio dessas ferramentas, pretende-se
Mapeamento de Risco. Desta forma, elaborou-se um integrar estudos relacionados às alterações
“Manual para o zoneamento de susceptibilidade de geomorfológicas provocadas por diferentes formas
perigo e risco de deslizamento para o planejamento de ocupação do relevo relacionando com os
de uso do solo”, Fell et al. (2008), que foi publicado conceitos de prevenção e mitigação da Defesa Civil,
em um número especial da revista Engineering sendo selecionados os municípios de Natal/RN e
Geology juntamente com vários outros artigos nesta Nísia Floresta/RN como objetos de estudo do
mesma temática. Esse texto foi traduzido e projeto.
publicado no Brasil pela CPRM/ABGE/ABMS,
Macedo e Bressani (2013).
Este projeto visa executar a análise geoambiental 2 MATERIAL E MÉTODOS
da área de estudo, para tanto, a pesquisa utilizará
dados e informações antigos e atuais, e aplicará Foram empregadas quatro etapas sistemáticas
técnicas modernas e ferramentas de fundamentais: (i) levantamento bibliográfico e
geoprocessamento, detectando e mensurando os seleção da área de estudo; (ii) investigações de
principais problemas ou impactos ambientais campo; (iii) identificação dos movimentos de massa
existentes na área de estudo. (iv) confecção de mapas e elaboração do relatório
Com o surgimento das cidades e seu processo de final.
expansão acelerado, geram-se os naturais conflitos A etapa (i) consistiu no levantamento
por seu uso e a urbanização, via de regra, torna-se bibliográfico para o aprofundamento dos
desordenada. Assim, ocorrem alterações indesejadas conhecimentos relacionados a geotecnia e erosão
no cenário ambiental, com graves consequências aos costeira do litoral do RN. Trabalhos como o de
sistemas naturais cruciais à manutenção da boa Melo (2019) e Amorim & Maia (2021) em Barra de
qualidade da vida terrestre. Tabatinga e Moreira et al. (2019), serviram como
As Geotecnologias ou geoprocessamento, por base para definir a área de estudo desta pesquisa.
outro lado, objetivam principalmente a aquisição, A etapa (ii) consistiu em uma investigação de

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371
campo nas falésias da Praia de Barra de Tabatinga,
em parceria com o projeto Ações de Defesa Civil 2.2 Geologia Regional
em municípios do Rio Grande do Norte - Uma
parceria Geociências/UFRN - COPDEC RN. Nesta A área de mapeamento está inserida na faixa
etapa foi realizado um levantamento aéreo com sedimentar costeira oriental do Estado do Rio
drone, além de descrições detalhadas dos aspectos Grande do Norte, no contexto da sub-bacia Natal,
litológicos, geomorfológicos e estratigráficos da pertencente à Bacia Pernambuco-Paraíba e Potiguar
área. (Barbosa, 2004) (Figura 2). Na região adjacente à
A etapa (iii) consistiu na análise de imagens área de estudo, o embasamento cristalino é
aéreas para identificação dos principais tipos de constituído por três terrenos distintos denominados,
movimentos de massa. de norte para sul, de Terreno São José do
Por fim, na etapa (iv) foram compilados os dados Campestre, Terreno Alto Pajeú e Terreno Alto
da revisão bibliográfica associados as informações Moxotó (Santos, 1996). Esses terrenos são
das investigações de campo e de escritório. delimitados por grandes lineamentos e zonas de
cisalhamento com direção predominantemente leste-
2.1 Área de Estudo oeste. Provavelmente, essas estruturas estendem-se
sob a Formação Barreiras e sob os sedimentos
A área de estudo são as falésias da praia de Barra de cretáceos e paleogênicos das Bacias Pernambuco-
Tabatinga, situada a aproximadamente 36 km ao sul Paraíba e Potiguar, adentrando pela margem
da capital Natal, no município de Nísia Floresta, continental adjacente.
litoral oriental do Rio Grande do Norte (Figura 1).
A morfologia da área compreende falésias ativas
da Formação Barreiras, representadas por paredões
subverticais que variam entre 5 a 40 metros de
altura com 1,2 km de extensão ao longo da praia
(Melo, 2019).
A Praia de Barra de Tabatinga (Figura 1)
apresenta a típica morfologia e dinâmica costeira do
Litoral Oriental do Estado, caracterizada por uma
sequência de baías em forma de zeta, resultantes
dos padrões de refração das ondas associados à
presença de beach rocks. Esses arenitos ferruginosos
estão dispostos praticamente paralelos à linha de
costa, e atuam como barreiras naturais amenizando a
ação das correntes marítimas. Nas áreas em que os
cordões areníticos estão interrompidos as ondas
atingem a costa favorecendo a erosão em locais
específicos.
Figura 2. Localização das Bacias Sedimentares
Costeiras Pernambuco-Paraíba e Potiguar e sua
divisão em sub-bacias. Modificado de Barbosa
(2004).

2.3 Geologia Local

No que diz respeito aos aspectos geológicos, a área


objeto de estudo constitui-se de nove unidades,
sendo oito aflorantes e uma de idade mesozoica,
detectada apenas em perfis de poços de captação de
águas subterrâneas (Moreira, 2002), representada
por arenitos calcíferos e calcários, correlatos à
Formação Guamaré da Bacia Potiguar. A unidade
aflorante mais antiga consiste dos sedimentos da
Formação Barreiras, seguido dos sedimentos da
Formação Potengi e “Beachrocks”. Completando a
estratigrafia da área (Figura 3), têm-se os
Figura 1. Localização da praia de Barra de Tabatinga em sedimentos de mangues e aluvionares, as areias de
Nísia Floresta/RN. dunas descaracterizadas, dunas fixas e móveis, e os

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372
sedimentos praiais; este último juntamente com os campos de dunas e planícies fluviais. Nas áreas em
“beach-rocks” não são mapeáveis na escala do que as águas oceânicas entram em contato com os
presente estudo (Figura 4). tabuleiros, são formadas as feições morfológicas
A Formação Potengi, na região de Natal, ca- conhecidas como falésias, através da ação erosiva
racteriza-se por uma fácies arenítica, de granulome- do mar (Silva et al., 2020).
tria mal selecionada, de cor avermelhada, e caracte- As falésias consistem em cortes abruptos no
riza-se por apresentar materiais residuais com pouca relevo e são classificadas como falésias marinhas
argila devido à lixiviação intensa (Moreira, 1996). ativas (vivas) quando sofrem a influência dos
Os sedimentos de mangues são encontrados processos erosivos marinhos ou falésias marinhas
ao longo da planície de inundação do rio Potengi e inativas (mortas) quando cessa a erosão (Suguio,
consistem de areias finas argilosas e localmente ar- 1998). Ao longo da costa brasileira, as falésias são
gilas de cor cinza clara; observa-se ainda a presença constituídas pelos sedimentos da Formação
de grande quantidade de bioclastos recentes. Sob es- Barreiras, os quais consistem em camadas de
ses sedimentos verificou-se a ocorrência de sedi- arenitos, argilitos e conglomerados de coloração
mentos aluvionares de coloração acinzentado a es- variegada do vermelho ao creme. Também ocorrem
branquiçado, de granulometria areia fina a média. intercalações sílticas, argilosas e cauliníticas, por
vezes com cimentação ferruginosa, formando
camadas lateríticas mais resistentes à erosão do que
as adjacentes (Diniz, 2002).
Para a caracterização geotécnica da área são
avaliados diversos fatores tais como: material
inconsolidado, o substrato geológico, as
características geomorfológicas, a profundidade do
nível d'água do aquífero Dunas-Potengi, a
declividade, o sistema de drenagem e a vegetal
pouco preservada promovem o risco a
deslizamentos no local (Figura 4, 5 e 6; Moreira et
Figura 3. Coluna estratigráfica proposta para a área al., 2019). Portanto, o município de Nísia Floresta
mapeada. Modificada (Duarte, 1995). está situado em uma região de alta suscetibilidade a
movimentos de massa.

Figura 5. Carta de suscetibilidade do setor sul de


Figura 4. Mapa de Materiais Inconsolidados da
Natal evidenciando setores de alta suscetibilidade a
Porção Sul da Capital Potiguar.
movimentos de massa, alagamentos e inundações.
Notar Área 1, que corresponde à localização da
Figura 6a, área 2, que corresponde à localização da
3 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICO-
Figura 6b e área 3, que corresponde à localização da
GEOTÉCNICA
Figura 6c.
No contexto geológico o litoral potiguar
compreende rochas cretáceas recobertas por
unidades siliciclásticas do Neógeno e Quaternário
(Angelim et al., 2006). Estes últimos constituem os
depósitos aluviais e lacustres, dunas fixas e móveis,
recifes de arenitos (beach rocks) e coberturas a b c
arenosas. As unidades morfológicas predominantes Figura 6. Precipitação anômala de chuvas
na região costeira do RN são os tabuleiros costeiros, (13/06/2014). (a) Estragos provocados pela chuva

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373
em Mãe Luiza. (b) Alagamentos no entorno do Are- ocorrência de movimentos de massa e acúmulo de
na das Dunas, (estádio multiuso que recebeu quatro talus na base. Fonte: Silva et al. (2020).
partidas da Copa do Mundo FIFA de 2014, com ar-
quitetura inspirada nas dunas do Rio Grande do A região litorânea apresenta grande potencial
Norte). Classe Médio a Alto Risco Potencial a Ala- econômico, representando um atrativo para a
gamentos. (c) Avenida Hermes da Fonseca, esquina ocupação humana e o desenvolvimento de
com a Rua Açu. Classe Médio Risco Potencial a atividades turísticas. Essa pressão antrópica
Alagamentos. potencializa a ocorrência de movimentos de massa,
resultantes do aumento de carga no topo das
falésias, remoção da vegetal e aumento da erosão
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES superficial (Silva et al., 2020). Os agentes erosivos
antrópicos desestabilizam o equilíbrio ambiental
A erosão costeira é um processo dinâmico natural natural colocando a população e a prática turística
que atua no avanço da linha de costa em direção ao em risco.
continente. Nas falésias ativas esse processo ocorre A praia de Barra de Tabatinga é caracterizada
nas frentes erosivas de base e topo, respectivamente, por 1.070 metros de falésias ativas, com 5 a 30
devido à ação do mar e das precipitações metros de altura e 670 metros de dunas móveis
pluviométricas. Nos setores em que o mar atinge as (Amorim et al., 2021). A porção NW é definida
falésias e sua base não é protegida por beach rocks, como uma praia em forma de zeta, com predomínio
o impacto das ondas acaba gerando incisões basais e de campos de dunas, e a porção SE uma praia
pontos de instabilidade. O recuo costeiro é protegida por tabuleiros da Formação Barreiras.
ocasionado por essas incisões, que normalmente Na área de estudo foram identificados diversos
causam a queda de blocos e tombamentos (Figura processos erosivos ao longo de toda a falésia. Os
7). mais comuns foram os movimentos de massa
A queda de blocos, tombamentos e (Figura 8), como deslizamento e queda de blocos, e
deslizamentos em áreas próximas às incisões basais as fendas de tração. Tais movimentos de massa são
são resultantes do avanço da frente umedecimento associados principalmente a fortes chuvas, que
do maciço, que se intensifica no período de chuvas. acumulam sedimentos na base das falésias. Nos
Deste modo, as encostas se tornam mais instáveis períodos chuvosos ocorre maior incidência de
com o aumento da extensão da incisão basal (Silva processos de desestabilização nas falésias.
et al., 2020).

a b

Figura 8. Movimentos de massa nas falésias de Barra de


Tabatinga/RN em Nísia Floresta/RN ; a) Movimentos de
massa e acumulo de talus na base; b) fendas de tração
no topo da falésia.

Através das imagens aéreas percebe-se que o


recuo da linha do topo da falésia é mais pronunciado
que o recuo da linha de base. Foram identificados
diferentes camadas na face das falésias (Figura 9),
as quais apresentam diferentes níveis de cimentação:
A Porção do Topo (1) da falésia apresenta coloração
Figura 7. Perfis típicos dos processos erosivos em avermelhada e grãos de quartzo de granulometria
falésias. a) Esquema geral do processo de erosão fina a grossa, essa coloração é típica de processos de
basal na falésia e movimentos de massa; b) laterização provocados pelo intemperismo; A
Formação de fendas de tração subverticais, mediante a Porção Intermediária (2) da falésia apresenta
ação das chuvas. No esquema geral, em "c" mostra a coloração esbranquiçada composta por quartzo de
granulometria fina a média; A Porção Basal (3) da

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374
Figura 9. Diferentes níveis de cimentação na face da
falésia diferenciados pela coloração. falésia. Deste modo, para trabalhos futuros serão
necessárias outras vistorias de campo para o
falésia apresenta tons variando de marrom a roxo, monitoramento das áreas de risco de deslizamentos,
possuindo nódulos de cimentação de óxido de ferro; além da conscientização da população. O trecho
em alguns trechos da falésia ocorrem em sua base turístico Mirante dos Golfinhos está interditado
arenitos ferruginosos (4), que protegem a base devido a risco iminente de acidentes. Estudos como
contra a ação direta das ondas. O Mirante dos esta linha de pesquisa devem ser realizados como
Golfinhos (Figura 9) é um dos pontos turísticos da suporte técnico para ações governamentais.
praia de Barra de Tabatinga que foi interditado em
2019 pela Defesa Civil do RN devido a risco de
deslizamentos.
AGRADECIMENTOS

5 CONCLUSÕES Ao INPE (Instituto Nacional de Pesquisas


Espaciais) /COENE (Coordenação Espacial do
O projeto de pesquisa busca conciliar técnicas de Nordeste) pelo suporte logístico oferecido, ao CNPq
sensoriamento remoto e geoprocessamento com os pelo fomento à pesquisa na forma do Programa de
conceitos de gestão de risco e desastres ambientais Capacitação Institucional 2018-2023, Bolsa PCI-DD
nos municípios de Nísia Floresta/RN e Natal/RN. (Projeto 444327/2018-5 PESQUISA E
Para identificar a problemática da área foram DESENVOLVIMENTO EM CIÊNCIAS E
realizados levantamentos bibliográficos, que TECNOLOGIAS ESPACIAIS E SUAS
serviram como embasamento para a atividade de APLICAÇÕES: Construindo Nosso Mapa
campo. Após análise das imagens aéreas é notório Municipal Visto do Espaço) e PIBIC (Projeto:
como a ação antrópica influencia diretamente na Ações de Defesa Civil em Municípios do Rio
dinâmica costeira. Em alguns trechos da falésia, o Grande do Norte com auxílio do Sensoriamento
recuo é mais pronunciado no topo do que na base da Remoto e Geoprocessamento), e também pela

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375
dedicação dos diversos profissionais da iniciativa RN: Subsídios para o Plano Diretor, Tese de
pública e privada, que direta ou indiretamente Doutorado, Publicação G.TD-11A/2002, Depto de
auxiliaram na materialização dos resultados ora Engenharia Civil e Ambiental, UnB, Brasília, DF, 282
alcançados. Dedicamos este trabalho ao Pesquisador p.
Moreira, M. M.; Souza, N. M. de; Arraes, K. A. (2019)
Miguel Dragomir Zanic Cuellar (In Memorian),
Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial
pelas suas valiosas contribuições e parceria no âmbito a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações
do convívio profissional e desenvolvimento pessoal. na Região Urbana de Natal - RN, Brasil. Engenharia
no Século XXI Volume 8. 1ed.Belo Horizonte - MG:
Editora Poisson, v. 1, p. 219-227.
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tectônica acrescionária na Província Borborema, In:
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apontamentos de medidas mitigadoras para o Silva, B.M.F., Santos Júnior, O.F., Freitas Neto, O.,
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Reconhecimento dos Recursos Hídricos e do
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376
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise comparativa do efeito de tração das fibras no Fator de


Segurança (FS) da estabilidade de taludes de aterros de resíduos
sólidos
Alison de Souza Norberto
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, alison.norberto@ufpe.br

Rafaella de Moura Medeiros


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, rafaella.moura@ufpe.br

Christiane Lyra Corrêa


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, christiane.lyra@gmail.com

Maria Odete Holanda Mariano


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, odete.mariano@ufpe.br

José Fernando Thomé Jucá


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

RESUMO: Os aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos (RSU), devido à sua grande heterogeneidade, apresentam
elevados percentuais de fibras (plásticos, madeiras e tecidos) em sua composição, esses elementos fibrosos por sua vez
influenciam diretamente no comportamento geomecânico do aterro. Um destes comportamentos é relativo à estabilidade
de taludes, que nas análises convencionais não acoplam o efeito de tração que estas fibras produzem. Com este contexto,
o presente artigo avaliou a influência da tração, gerada pela fração de fibras, no fator de segurança (FS) da estabilidade
dos taludes de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos, utilizando parâmetros geotécnicos obtidos por meio da
realização de ensaios de laboratório e de geometrias de aterros hipotéticos. Dos resultados da avaliação do efeito de tração
das fibras na estabilidade de taludes hipotéticos, foi verificado que houve um aumento de até 5.07% no FS quando
comparados aos resultados obtidos sem o efeito de tração, o que evidencia que, mesmo não sendo levada em consideração
no momento do cálculo, as fibras acabam por incrementar o FS dos aterros sanitários.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento geomecânico, ensaios de laboratório, gravimetria dos RSU, cisalhamento,


modelagem.

ABSTRACT: Municipal solid waste (MSW) landfills, due to their great heterogeneity, have high percentages of fibers
(plastics, wood and fabrics) in their composition, these fibrous elements in turn directly influence the geomechanical
behavior of the landfill. One of these behaviors is related to slope stability, which in conventional analyzes do not couple
the traction effect that these fibers produce. In this context, this article evaluated the influence of traction, generated by
the fiber fraction, on the safety factor (FS) of the stability of the slopes of municipal solid waste landfills, using
geotechnical parameters obtained through carrying out tests of laboratory and hypothetical landfill geometries. From the
results of the evaluation of the traction effect of the fibers on the stability of hypothetical slopes, it was verified that there
was an increase of up to 5.07% in the FS when compared to the results obtained without the traction effect, which shows
that, even not being carried considered at the time of calculation, the fibers end up increasing the FS of the sanitary
landfills.

KEY WORDS: Geomechanical behavior, laboratory tests, MSW gravimetry, shear, modeling.

1 INTRODUÇÃO a geração até a destinação final, se configura como


um processo complexo que usualmente ocorre por
A gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU), desde meio de tratamento biológico, tratamento térmico e

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377
aterramento (Chen & Wang, 2017). A disposição dos variabilidade das características dos resíduos, as
RSU em aterros sanitários apresenta-se como a quais estão relacionados aos aspectos sociais,
alternativa mais utilizada no mundo, principalmente culturais e econômicos da região produtora do RSU.
por levar em consideração fatores ambientais, Feng et al. (2019) acrescenta ainda como fator de
financeiros, sociais e de desenvolvimento urbano suma importância a baixa resistência ao cisalhamento
(Chen & Wang, 2017; Feng et al., 2018). dos materiais da base dos aterros, ou seja, do solo da
E, como a geração dos RSU está intrinsicamente fundação.
relacionada com o crescimento da população e o A resistência ao cisalhamento da massa de RSU
poder aquisitivo que a mesma possui, as estimativas pode ser obtida por meio de ensaios de cisalhamento,
apontam para maiores quantidades de RSU (Minghua por vezes realizado em pequena escala, podendo-se
et al., 2009). Há uma tendência global crescente da observar que a presença de materiais fibrosos
geração de RSU, onde projeta-se um aumento de (plásticos, madeiras e tecidos) influenciam o
70% em relação a produção atual para o ano de 2050, comportamento da massa ao trabalharem a tração, e,
assim a geração mundial passa de 2.01 bilhões para portanto, há a um incremento de resistência (Zhan et
3.40 bilhões de toneladas anualmente (Kaza et al., al., 2008). Para a interpretação dos parâmetros de
2018). E, consequentemente, há uma procura por resistência comumente utiliza-se o critério de Mohr-
áreas adequadas para a implantação de aterros Coulomb.
sanitários. Tais áreas, no entanto, estão cada vez mais Quanto aos estudos relativos estabilidades de
escassas, seja devido à legislação ou por não taludes de aterros de RSU que incorporam o efeito de
atenderem aos critérios de seleção, resultando em tração das fibras, destacam-se os desenvolvidos por:
alteamentos dos aterros já instalados, aumentando, Fucale (2005), Borgatto (2006), Calle (2007), Motta
portanto, a sua vida útil. (2011). A grande variabilidade nos valores dos
O alteamento do aterro sanitário torna o parâmetros pode ser justificada devido a
empreendimento ainda mais ambientalmente e heterogeneidade da massa, bem como as práticas de
financeiramente viável, pois aproveita-se uma área operação do aterro, destacando ainda o processo de
que já está passando pelo processo de degradação e biodegradação que sofre influência de fatores
há uma economia dos recursos financeiros, já que não ambientais, como o clima e a precipitação (Barlaz et
se necessita da instalação de um novo aterro. No al., 1990).
entanto, os aterros de grande porte apresentam Este artigo teve como a proposta discussão do
grandes desafios para engenharia, especificamente, efeito de tração provocado pelas fibras na
na garantia da estabilidade do talude durante e após estabilidade de taludes de aterros sanitários,
deposição do RSU (Babu et al., 2014; Feng et al., incorporando parâmetros de tração as modelagens de
2019). estabilidade de taludes de aterros de RSU. E, com
Diversos acidentes envolvendo a ruptura de isso adicionar as análises de estabilidade um
aterros sanitários têm sido reportadas ao redor do parâmetro que pode contribuir no aumento do Fator
mundo nas últimas décadas. Essas rupturas podem de Segurança (FS), e, consequentemente,
ser basicamente classificadas como rupturas potencializar o volume de resíduos depositados nas
rotacionais e rupturas translacionais, a depender do células dos aterros, aumentando sua vida útil. O
modo e mecanismo de escorregamento (Qian & diferencial desta pesquisa comparada com outras, tais
Koerner, 2009). Sendo as rupturas rotacionais as quais: Fucale (2005), Borgatto (2006), Calle (2007) e
mais comuns (Huang & Fan, 2016). Motta (2011) é apresentar a influência em conjunto
As rupturas rotacionais são assim caracterizadas da variação do efeito de tração das fibras, mudança
por possuir a superfície deslizante englobando as de geometria e variação do nível de lixiviado.
camadas de resíduos e fundação, subsolo, onde há
uma cunha de ruptura evidente. Já a ruptura 2 MATERIAL E MÉTODOS
translacional ocorre quando o deslizamento se
desenvolve por meio do escorregamento de sistemas Este item descreve o procedimento executado
de cobertura final e falhas ao longo das camadas de para a realização da avaliação da estabilidade de
resíduos (Reddy & Basha, 2014). taludes de aterros de RSU com adição do efeito das
Para Khoshand et al. (2018) e Reddy et al. (2009) fibras no FS. Vale destacar que não foi abordada a
vários aspectos como: composição do material, relação do efeito do biogás na estabilidade de taludes
compactação, geometria, condições climáticas e de aterros de RSU, devido às limitações do software
poropressões influenciam na concepção dos aterros utilizado, assim como a dificuldade de se avaliar a
sanitários, e qualquer alteração destes podem afetar a pressão gerada pelos gases.
estabilidade e, consequentemente, o fator segurança As amostras estudadas foram coletadas na célula
dos taludes. Tal fato decorre principalmente da experimental de aterro da Muribeca, já encerrado, no

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378
município de Jaboatão dos Guararapes. A célula do entre si e não houvesse a formação de superfícies
objeto de estudo foi finalizada no ano de 2008, preferenciais de ruptura (Figura 1(b)).
tratando-se assim de resíduos com 10 anos de
disposição (coleta realizada em novembro de 2018). (a) (b)

2.1 Gravimetria da amostra coletada

A gravimetria dos resíduos coletados foi realizada


em duas etapas: inicialmente, fez-se o peneiramento
das frações, sendo finalizado através da classificação
manual dos resíduos de maior granulometria. Na
primeira etapa, seguindo a metodologia utilizada por
Kaartinen et al. (2013) e Holanda et al. (2016), já na
segunda etapa foi seguida a metodologia de Firmo
Figura 1. Moldagem dos corpos de prova: (a)
(2013).
compactação das camadas; (b) escarificação entre
camadas.
2.2 Ensaios de cisalhamento direto
O processo repetiu-se até que a amostra se
Os percentuais de fibras utilizados nos ensaios apresentasse totalmente compactada na caixa, para a
cisalhamento direto basearam-se nos resultados da padronização do processo realizou-se a compactação
análise gravimétrica. Assim, adotou-se três em 6 (seis) camadas para todos os corpos de prova.
percentuais de misturas: 100% de matriz fina Ao final, levou-se o corpo de prova moldado para
passante na peneira #10; 16.17% de fibras + 83.83% a prensa de cisalhamento. Nas leituras dos
de matriz fina passante na peneira #10 e 32.33% de deslocamentos verticais e horizontais utilizou-se
fibras + 67.67% de matriz fina passante na peneira extensômetros com sensibilidade de 0.01 mm. A
#10. A escolha do uso dos três percentuais justifica- determinação da força horizontal efetuou-se através
se por meio da necessidade de avaliação da influência de um anel dinamométrico com capacidade de 500
da variação do percentual de fibras o comportamento kgf.
da resistência ao cisalhamento. Na Tabela 1 dispõe- A realização dos ensaios deu-se por meio da
se sobre a configuração em peso e em percentual das aplicação de seis tensões normais: 25, 50, 100, 150,
amostras utilizadas no cisalhamento direto. 200 e 250 kPa; as mesmas mantiveram-se até a
estabilização dos deslocamentos. Para a realização do
Tabela 1. Configuração dos percentuais de amostras
cisalhamento dos corpos de prova para cada tensão
moldadas para o ensaio de cisalhamento direto.
normal aplicada empregou-se a velocidade constante
Material passante
na #10
Fibras de 0.483 mm/min. Adotou-se como critério de
Descrição
(%) (g) (%) (g) ruptura os valores de pico da tensão cisalhante ou os
Matriz
valores máximos, quando a curva tensão-
100 512.98 0 0 deslocamento horizontal não indicava valores de pico
Básica
Matriz bem definidos.
Composta 83.83 430.05 16.17 82.93 A estabilização dos corpos de prova no
1 adensamento deu-se para o tempo de 45 minutos para
Matriz as amostras com maiores proporções de fibras, por
Composta 67.67 347.12 32.33 165.86 isto, adotou-se o tempo de adensamento padronizado
2 para todos os corpos de prova, mesmo tempo
utilizado por Corrêa (2013) nos ensaios de sua
Neste trabalho adotou-se uma umidade de 23%, pesquisa. Após o adensamento, executou-se o
valor correspondente a umidade obtida na amostra cisalhamento direto; o ensaio foi realizado por
coletada em campo na célula experimental da deformação controlada, e os corpos de prova
Muribeca. Após a mistura dos materiais, colocou-se submetidos ao processo de ruptura até a deformação
cada uma das amostras de modo gradual na caixa de de 18%.
cisalhamento, e para cada camada inserida realizou-
se a compactação manual com auxílio de um bloco 2.3 Modelagem numérica
de madeira de dimensões compatíveis com a caixa de
cisalhamento (Figura 1(a)). Na transição entre Nas análises de estabilidade de taludes utilizou-se
camadas compactadas realizou-se o processo de o software GGU-Stability, o qual incorpora em suas
escarificação, para que as camadas aderissem melhor

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379
análises o efeito de tração nas fibras descrito por 2.5 Parâmetros geotécnicos
Kölsch (1996) e Calle (2007). Essas análises têm
como resultado o FS que é a representação númerica Os parâmetros geotécnicos necessários para as
de uma superfície potencial de ruptura do aterro. análises de estabilidade do taludes, utilizando o
O GGU-Stability é um software computacional da GGU-Stability, foram: ângulo de atrito interno (ϕ),
GGU-Software para a solução de problemas de coesão (c) e peso específico (γ); os dois primeiros (ϕ
estabilidade de taludes de uma análise bidimensional, e c) determinados por meio do ensaio de
utilizando o método de equilíbrio limite. O software cisalhamento direto, e para o último (γ) adotou-se,
também utiliza o critério de avaliação o proposto por com o intuito de se padronizar as análises, o valor de
Mohr-Coulomb para o comportamento da resistência 11.00 kN/m³, valor comum para aterros de RSU
ao cisalhamento, o cálculo do fator de segurança de envelhecidos segundo: Fucale (2005) e Mota (2011).
um determinado deslizamento é feito através do Para adicionar o efeito dos materiais fibrosos
método das fatias. (plásticos, madeira e tecidos) no GGU-Stability, os
Os métodos de análise disponíveis foram: método parâmetros necessários para estas análises foram:
de Bishop Modificado, aplicado a superfícies de fator de transmissão das fibras (α), ângulo de tração
ruptura de forma circular; e método de Janbu (ζ) e coesão devido a tração (Z).
Simplificado, aplicado a superfícies de ruptura de O fator de transmissão (α) em geral varia de 0.6 a
forma geral. Optou-se o método de Bishop 0.95 para ângulos de atrito (ϕ) entre 15º e 35º, sendo
Simplificado para o presente estudo. está variação dependente do ângulo de atrito do
material (Calle, 2007). Sendo assim, a determinação
2.4 Configurações geométricas do aterro deste parâmetro deu-se por interpolação; a mesma
realizada através da utilização do ângulo de atrito
Quanto à geometria dos aterros, optou-se por encontrado no ensaio de cisalhamento direto.
trabalhar com geometrias mais convencionais Para o ângulo de tração (ζ), sua determinação se
encontradas na prática de projetos de aterros. deu a partir do ponto de encontro entre as envoltórias
Adotou-se para as análises de estabilidade dimensões de Mohr-Coulomb e dos ensaios de cisalhamento
de aterros de médio porte, tendo a célula cerca de 70 direto. Nesta pesquisa utilizou-se o método de Kölsch
m de altura, e para essa altura convencionou-se a (1993; 1995; 1996) para obtenção do ângulo de
disposição de resíduos em três geometria tração.
convencionais de aterros de RSU: 1V:2H, 1V:2.5H e Inicialmente selecionou-se as 3 equações das
1V:3H (Figura 2). Com a utilização de diferentes envoltórias de cisalhamento encontradas por meio do
geometrias hipotéticas têve-se o intuito de se obter software Excel para os 3 percentuais amostrais
um comparativo do FS à medida que a inclinação do utilizados. Tomou-se a equação com amostra sem
talude foi variada. fibras (matriz básica) como referência para o cálculo
do ângulo de tração (ζ). Com esta equação
desenvolveu-se a envoltória a partir das cinco tensões
obtidas no ensaio de cisalhamento (σ1, σ2, σ3, σ4 e
σ5).
As envoltórias para a análise com fibras
desenvolveram-se de forma similar, a diferença é que
estas envoltórias possuem ponto inicial no σ1, pois é
(a)
justamente nesse ponto que surge o efeito
bilineariadade descrito por Kölsch (1993; 1995;
1996). O ângulo de tração é descrito como a
inclinação formada entre a envoltória sem fibras e a
amostra com fibras, na Figura 3 é apresentada a
visualização gráfica desta interpretação.
(b)

(c)
Figura 2. Geometrias utilizadas na análise de estabilidade
de taludes: (a) 1V:2H; (b) 1V:2.5H e (c) 1V:3H.

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380
utilizada para esta variável foi: NA.

2.7 Tratamento estatístico

Efetuou-se as análises de estabilidade de taludes


para duas situações: sem o efeito devido a tração das
fibras e incorporando o efeito de tração das fibras.
Têve-se como intuito além de avaliar a estabilidade
na condição convencional (sem efeito de tração),
verificar também na condição que os parâmetros de
tração são utilizados, para assim avaliar quanto estes
Figura 3. Modelo de cálculo do ângulo de tração segundo parâmetros podem influenciar no valor do FS.
o comportamento bi-linear (Adaptado de Kölsch (1993; As análises estatísticas desenvolveram-se por
1995; 1996)). meio da utilização do método de análise de
componentes principais (PCA), método de projeção
Destaca-se que a tensão inicial σ1, é a menor que ajuda a visualização de toda a informação contida
tensão normal utilizada nos ensaios de cisalhamento em uma tabela de dados. Com a PCA também é
direto ou de tração, que foi assim descrita por Kölsch possível detectar padrões entre as amostras
(1993; 1995; 1996). (agrupamentos) e finalmente quantificar a quantidade
O terceiro e último parâmetro utilizado para de informação.
descrever o efeito da tração, a coesão devido a tração Segundo Pereira (2004), os principais objetivos da
(Z), segundo Calle (2007), pode ser calculado PCA podem ser resumidos em: redução de
utilizando as Equações 1 e 2. dimensionalidade; determinação de combinações
lineares de variáveis; seleção de fatores, isto é,
Z=σz*tanζ para [σv<σcri ] (1) escolha das variáveis mais úteis; visualização de
dados multivariados; e identificação de variáveis
Z=Zmax para [σv>σcri ] (2) ocultas.
A PCA neste trabalho foi implementada
Onde: Z: coesão de tração; σv: tensão normal de utilizando o software Statistica (versão 12.0), que
adensamento do ensaio de cisalhamento direto; σcri: possui um conjunto de softwares de análises
tensão normal de ruptura do ensaio de cisalhamento estatística que provê de um conjunto de ferramentas
direto; σz: tensão vertical do aterro, a qual é expressa para análise, gestão e visualização de bases de dados
por: σz=Hat*γat, sendo Hat a altura do aterro e γat o e data mining. A implementação da análise via PCA
peso específico do aterro; ζ: ângulo de tração das tem como objetivo verificar a correlação influência
fibras; Zmax: máxima diferença entre os pontos de entre o FS da estabilidade de taludes hipotéticos e os
tensão de ruptura das curvas de tensão x deformação parâmetros: geometria, NA, coesão, ângulo de atrito
do ensaio de cisalhamento, das amostras com fibras e e ângulo de tração, para os três percentuais amostrais
sem fibras. estudados.
A determinação das PCs (eixos do plano
2.6 Nível piezométrico cartesiano da análise PCA) desenvolvida por
Hotteling (1933) envolve duas etapas: translação dos
Quanto a avaliação do nível piezométrico, sabe-se dados para a origem e rotação em torno da origem.
que ele está diretamente relacionado a água que Seja a matriz X do tipo N x M, onde N corresponde
percola da camada de cobertura do aterro e do aos objetos (amostras) e M representa as variáveis
lixiviado produzido durante o processo de (propriedades) aleatórias dos objetos. No pré-
biodegradação da matéria orgânica. Tal elemento processamento dos dados antes da extração das PCs,
influência fortemente o comportamento mecânico do onde centrar os dados na média (translação) e o
aterro, e principalmente na sua estabilidade de talude. autoescalonamento são os mais comuns.
A fim de avaliar os efeitos deste parâmetro foram
considerados três níveis piezométricos, sendo eles: 3 RESULTADOS
nível 0, sem a presença de lixiviado uma condição de
drenagem perfeita; com um nível 1/3 da altura total 3.1 Análise gravimétrica
do aterro, considerando essa um condição de
drenagem eficiente; e o último nível que foi avaliado De forma comparativa, foram coletados os dados
foi a 2/3 da altura do aterro, sendo considerada uma de gravimetria da célula experimental da Muribeca
condição de obstrução da drenagem. A nomeclatura no ano de seu fechamento (2008) citado por Maciel

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381
(2009), tais dados são apresentados na Tabela 2. Tabela 4. Resumo dos parâmetros geotécnicos utilizados
na análise de estabilidade de taludes na condição com o
Tabela 2. Comparativo do percentual gravimétrico no efeito de tração das fibras.
intervalo de 10 anos de deposição dos resíduos. γ c ϕ ζ Z
Amostra aζ
Composição Gravimétrica (%) (kN/m³) (kPa) (°) (°) (kPa)
83.83% matriz
Gravimetria Gravimetria
Tipologia fina + 16.17% 40.17 27.59 10.20 0.84 138.46
Pré-Aterro após 10 anos fibras
Maciel (2009) (Presente pesquisa) 67.67% matriz 11.00
Plástico 21.50 25.44 fina + 32.33% 37.99 27.05 5.00 0.83 66.84
Papel/papelão 14.20 2.43 fibras
Vidro 0.70 1.20
Metal 1.80 0.62 3.3 Análise de estabilidade – sem o efeito da tração
Matéria orgânica 42.00 0.58
Madeira/Coco 6.00 3.88 Com os parâmetros geotécnicos (Tabela 3), as
Têxtil 4.20 3.02
geometrias hipotéticas adotadas (1V: 2H; 1V: 2.5H e
Sanitários 4.30 3.95
Borracha/Couro 1.20 1.76 1V: 3H) para um aterro de 70 m, e os 3 níveis
Finos - 34.91 piezométricos (NA = 0, 1/3 e 2/3) foram efetuadas as
Outros Resíduos 4.10 22.22 modelagens de estabilidade no software GGU-
Stability. Os resultados das modelagens de
Se somados os percentuais de plástico e demais estabilidade de taludes na condição sem o efeito de
fibras (madeira/coco + têxtil), o material em estudo tração das fibras são apresentados na sequência na
da célula experimental possui cerca de 32.33% de Tabela 5.
materiais fibrosos, que são elementos de importante
efeito no aumento da resistência ao cisalhamento, Tabela 5. Resultados das análises de estabilidade de
como descrito por Kölsch (1993; 1996) e taludes hipotéticos não considerando o efeito de tração das
comprovado por: Neto (2004), Fucale (2005), Motta fibras.
(2011), Abreu (2015) e Borgatto et al. (2014). FS
Amostra Geometria NA GGU-
3.2 Parâmetros geotécnicos obtidos Stability
0 2.320
1/3 1.930
A partir dos resultados do ensaio de cisalhamento 1V: 2H
2/3 1.570
direto foram obtidos os valores de ângulo de atrito 0 2.620
interno (ϕ), coesão (c) para os três diferentes 100% matriz fina 1/3 2.220
percentuais amostrais utilizados (Tabela 3). 1V: 2.5H
2/3 1.650
0 2.970
Tabela 3. Resumo dos parâmetros geotécnicos utilizados 1/3 2.410
1V: 3H
na análise de estabilidade de taludes na condição sem o 2/3 1.720
efeito de tração das fibras. 0 2.470
1/3 2.060
γ c 1V: 2H
Amostra ϕ (°) 2/3 1.690
(kN/m³) (kPa)
83.83% matriz 0 2.790
100% matriz fina 35.39 26.60
fina + 16.17% 1/3 2.360
83.83% matriz fina + 1V: 2.5H
11.00 40.17 27.59 fibras 2/3 1.780
16.17% fibras
0 3.160
67.67% matriz fina +
37.99 27.05 1/3 2.580
32.33% fibras 1V: 3H
2/3 1.850
0 2.390
Com as envoltórias de resistência foram obtidos 1/3 2.000
os valores dos parâmetros de tração descritos por 1V: 2H
2/3 1.630
Kölsch (1993, 1995, 1996) e Calle (2007) (Tabela 4). 67.67% matriz 0 2.700
fina + 32.33% 1/3 2.290
1V: 2.5H
fibras 2/3 1.720
0 3.060
1/3 2.490
1V: 3H
2/3 1.790

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382
3.4 Análise de estabilidade – com o efeito da
tração

Para análise de estabilidade de taludes


considerando o efeito das fibras foram necessários
além dos parâmetros convencionais de resistência ao
cisalhamento (c e ϕ), também os parâmetros que
representam o feito da tração (ζ, aζ e Z). Vale destacar
que a amostra com 0% de fibras não é considerada
nesta etapa das análises. (a)
Com os parâmetros geotécnicos (Tabela 4), as
geometrias hipotéticas adotadas (1V: 2H; 1V: 2.5H e
1V: 3H) para um aterro de 70 m, e os 3 níveis
piezométricos (NA = 0, 1/3 e 2/3) foram efetuadas as
modelagens de estabilidade apenas no software
GGU-Stability, pois não é possível realizar análise
incorporando o efeito de tração no GeoSlope. Sendo
assim, os resultados para as modelagens
considerando o efeito de tração das fibras é
apresentado na Tabela 6. (b)

Tabela 6. Resultados das análises de estabilidade de


taludes hipotéticos considerando o efeito de tração das
fibras
FS
Amostra Geometria NA GGU-
Stability
0 2.570
1/3 2.170
1V: 2H
2/3 1.750
83.83% matriz 0 2.870 (c)
fina + 16.17% 1/3 2.460 Figura 4. Resultados do comparativo das análises de
1V: 2.5H
fibras 2/3 1.830 estabilidade de taludes com e sem o efeito de tração das
0 3.250 fibras. (a) Geometria 1V:2H; (b) Geometria 1V:2.5H; (c)
1/3 2.640 Geometria 1V:3H.
1V: 3H
2/3 1.900
0 2.440 3.6 Resultado do tratamento estatístico dos dados
1/3 2.040
1V: 2H
2/3 1.660
O tratamento estatístico dos dados pelo método
67.67% matriz 0 2.740
fina + 32.33% 1/3 2.330
PCA teve como finalidade investigar os fatores de
1V: 2.5H influência no FS da estabilidade de taludes com as
fibras 2/3 1.740
0 3.100 variáveis: Geometria do aterro (V:H), Nível de Água
1/3 2.520 (m), Coesão (kPa), Ângulo de Atrito (°) e Ângulo de
1V: 3H
2/3 1.810 Tração (°). Na Figura 5 é apresentada a representação
gráfica dos resultados da PCA do presente trabalho,
3.5 Comparativo das análises com e sem o efeito tendo PC1 e PC2 nos eixos horizontal e vertical,
da tração respectivamente.

Na Figura 4 é apresentado um comparativo dos


valores do FS com efeito tração e sem o efeito de
tração das fibras, para cada geometria e para os
valores de NA.

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383
Quando comparados os valores obtidos para os
ângulos de tração das amostras com 16.17% e
32.33% de fibras, com os valores da GDA E 2-35
(DGGT, 1994) (Tabela 4). Analisando inicialmente a
amostra com 16,17% de fibras, a qual apresentou o
valor ângulo de tração de 10.2°, este valor ficou
dentro da faixa de variação que é de 10º – 14°, essa
faixa de valores é correspondente as amostras de
resíduos tratados mecânico-biológico e com valor
percentual das fibras inferior a 20% do peso da
Figura 5. Resultado da análise PCA da variação do FS amostra. Já para a amostra 32.33% de fibras, a tabela
com os demais parâmetros. não dispõe de valores de ângulo de tração para
amostras de resíduos tratados mecânico-biológico
4 DISCUSSÃO acima de 20% do percentual de fibras.
Fucale (2005) obteve para resíduos sólidos
4.1 Análise gravimétrica degradados, resultantes de pré-tratamento biológico
aeróbio no Aterro de Freiburg localizado na
Analisando comparativamente os resultados da Alemanha, valores de ângulos de tração de 10° e 14°,
Tabela 2, é possível constatar que o percentual de correspondente a percentuais de fibras de 20% e 10%,
materiais fibrosos (plástico + madeira/coco + têxtil) respectivamente. O resultado de Fucale (2005) para o
não sofreu muita variação após os 10 anos, com a percentual de 20% (ζ = 10.0°) foi bem próximo do
gravimetria atual apresentando valor de 32.33% e a valor obtido na presente pesquisa para o percentual
anterior obtida anteriormente por Maciel (2009) com de 16.17% (ζ = 10.2°).
valor de 31.70%. Outros materiais que também não
apresentaram grande oscilação de seu percentual 4.3 Análise de estabilidade – sem o efeito da tração
foram: vidro, metal, sanitários e borracha, materiais
que em geral demoram centenas de anos para se Foi possível verificar que o FS em todas as
decompor. situações se manteve acima do mínimo (FSmin = 1.5)
Os demais materiais analisados apresentaram estabelecido por norma. Dos resultados têm-se dois
grandes variações de seu percentual, a matéria aspectos importantes, o primeiro é relativo o NA, o
orgânica por exemplo, teve uma variação do qual, quando aumentado provoca redução no FS, tal
percentual de iniciais 42.00% para 0.58%, essa alta comportamento foi também verificado por Giri &
redução está relacionada ao processo de Reddy (2014) e Byun et al. (2019) quando analisaram
biodegradação deste material. Esse resultado foi a injeção do lixiviado no comportamento da
similar ao obtido por Gomes et al. (2013), os quais estabilidade de taludes de aterros de RSU.
verificaram uma redução acentuada do percentual de O segundo aspecto verificado dos resultados da
matéria orgânica, nos primeiros quatro anos de um Tabela 5, é referente às geometrias avaliadas, as quais
aterro de RSU, de, aproximadamente, 47%, cujo teor apresentaram valores de FS maiores para geometrias
inicial deste componente atingiu 80% do montante de mais suaves como 1V: 3H, e valores menores para as
resíduos. geometrias mais íngremes como a 1V: 2H. Segundo
Os finos também apresentaram alta oscilação, Zabuski et al. (2017) a suavização da geometria de
partindo de um percentual inicial de 0% no taludes/encostas provocam uma maior estabilização
fechamento da célula, para uma taxa de 34.91%. esse dos mesmos, e consequentemente promovem
fato decorre desde o processo de compactação do maiores valores de FS.
aterro, a qual recoberto por material granular Quanto ao comparativo dos resultados das
(camada de cobertura) que faz com que parte desse modelagens das três amostras, verificou-se que os
material acabe se misturando com os resíduos da valores de FS foram maiores para os parâmetros de
célula. Outro aspecto segundo Holanda et al. (2016), 16.17% de fibras, seguidos dos resultados das
é que em uma célula de aterro, durante anos, resultam amostras com 32.33% e 0% de fibras, esses
na desagregação dos diversos componentes sólidos resultados já eram esperados, tendo em vista que os
existentes, levando, gradualmente, a uma redução valores dos parâmetros de resistência para estas
granulométrica, e elevando, proporcionalmente, o respectivas amostras eram maiores.
percentual de materiais finos existentes na massa de Outro aspecto que é possível verificar, vem da
lixo. análise do FS nas modelagens a 2/3 da altura total do
aterro, a qual apresentou valores FS bem similares
4.2 Parâmetros geotécnicos obtidos para todas as geometrias. Esse comportamento pode

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384
ser explicado pelo fato descrito por Byun et al. foi verificado um aumento de até 2.05% do FS.
(2019), que descrevem em sua pesquisa, que a certos De forma geral, os valores de ganho no FS devido
níveis mais elevados de lixiviado o FS de aterros de à consideração do efeito de tração das fibras,
RSU começa a se estabilizar, no entanto, os autores analisados por meio da metodologia de Kölsch (1993,
não analisaram esse comportamento para diferentes 1995, 1996) para as modelagens no software GGU-
geometrias. Stability, apresentaram resultados similares aos
obtidos por outras pesquisas, como Borgatto (2006) e
4.4 Análise de estabilidade – com o efeito da Motta (2011), que também utilizaram o mesmo
tração software para efetuar avaliações de estabilidade de
taludes.
Quanto a análise dos resultados, assim como no
item anterior os valores de FS apresentaram valores 4.6 Resultado do tratamento estatístico dos dados
maiores que os mínimos definidos por norma. Nas
análises das variações de NA e, também, da A PC1 corresponde a 54,38% da informação
geometria no comportamento do FS, os resultados (variância aplicada) e indica uma tendência de
obtidos foram similares aos discutidos no item formação de grupos com comportamento similares,
anterior. O FS foi maior para NA mínimo (NA = 0) e onde FS, geometria, coesão, ângulo de atrito e de
menor para o NA máximo (NA = 2/3). A geometria tração são inversamente proporcionais ao NA. A PC2
mais suave (1V: 3H) apresentou maiores FS e a mais corresponde a 98.01% da informação (variância
íngreme (1V: 2H) menores valores de FS. aplicada) da análise deste eixo pode-se observar que
No comparativo dos resultados das modelagens FS e NA são inversamente proporcionais.
das amostras, verificou-se que os valores de FS foram De forma geral, pode-se verificar que o NA é o
maiores para os parâmetros da amostra com 16,17% parâmetro que quando elevado é o que mais
de fibras e menores para a amostra com 32.33% de influência na redução do FS, já a coesão e os ângulos
fibras. Tais resultados já eram esperados, tendo em de atrito e de tração são os parâmetros que quando
vista que os valores dos parâmetros de resistência acrescidos, influenciaram em um maior aumento no
convencionais e os de efeito de tração foram maiores FS.
para com 16.17% de fibras. Quanto ao decréscimo
percentual do FS, para a geometria 1V:3H o 5 CONCLUSÃO
percentual de redução média foi de 23.35%; já para a
geometria 1V: 2.5H a redução foi de 20.0%; e por Na análise de estabilidade de taludes hipotéticos,
último a geometria 1V: 2H que apresentou o menor constatou-se mais uma vez que as geometrias menos
percentual de redução do FS, com valor de 17.35%. íngremes, tais quais 1V:3H, dispõem de maiores
O FS nas modelagens com NA a 2/3 da altura do valores de FS em todas as combinações, assim como
aterro, mais uma vez apresentou valores bem níveis piezométricos mais elevados reduzem o valor
próximos nos comparativos das três geometrias do FS. Quanto as análises comparativas do FS com e
utilizadas na presente pesquisa. sem o efeito de tração das fibras, verificou-se a
condição de aumento no FS nos casos em que o efeito
4.5 Comparativo das análises com e sem o efeito de tração proposto por Kölsch (1993) foi utilizado,
da tração detectando aumentos de até 5.07% no FS com o
efeito da tração.
Quando comparado o efeito do ganho no FS Diante destes estudos foi possível verificar que o
devido as fibras nas geometrias, fica evidenciado que alteamento de aterros de sanitários é recomendável,
nas geometrias mais íngremes (1V: 2V) o efeito de visto que a presença de percentuais elevados de fibras
aumento no FS foi maior do que na geometrias mais aumenta os valores dos parâmetros geotécnicos (ζ, ϕ
suaves (1V: 3H). Tal fato difere do que acontece em e c) e consequentemente o FS. É também importante
geral no comportamento FS x Geometria, pois estes salientar que foi verificado que nesta pesquisa o
são parâmetros que se correlacionam de forma parâmetro que mais influenciou no FS foi o NA,
negativa, que significa dizer que quando um aumenta demonstrando assim a importância da manutenção da
o outro diminui. eficiência do sistema de drenagem na redução de
Quanto a análise do comparativo do FS sem e com riscos de rupatura de aterros, além de assim poder
o efeito de tração, para os resultados correspondentes estabelecer condições de alteamento para aterros
a amostra com 16.17% de fibras, foi verificado um sanitários.
aumento de até 5.07% do FS devido a adição do
efeito de tração das fibras. Já para as modelagens de
estabilidade com o percentual de 32.33% de fibras,

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385
AGRADECIMENTOS Firmo, A. L. B. (2013). Estudo Numérico e Experimental
da Geração de Biogás a Partir da Biodegradação de
Os autores agradecem à Coordenação de Resíduos Sólidos Urbanos. Tese (Doutorado em
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Engenharia Civil) - Centro de Tecnologia e
Geociências, Universidade Federal de Pernambuco,
(CAPES) e à Fundação de Amparo a Ciência e
Recife, 286p.
Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) Fucale, S. P. (2005). Influência dos Componentes de
pelo apoio financeiro. Reforço na Resistência de Resíduos Sólidos Urbanos.
Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Centro de
REFERÊNCIAS Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 216p.
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387
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise da Percolação de Lixiviado e sua Influência na Estabilidade


de um Aterro Industrial
Ariádine Henriques da Silva Santana
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ariadine.henriques@engenharia.ufjf.br

Júlia Righi de Almeida


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@engenharia.ufjf.br

Ana Carolina da Silva Araújo


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ana.araujo@engenharia.ufjf.br

Maria Fernanda Medici Ribeiro


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, medici.ribeiro@engenharia.ufjf.br

Cátia de Paula Martins


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, catia.martins@ufjf.br

RESUMO: O aumento da geração de resíduos sólidos e a adoção de políticas públicas voltadas para o controle, tratamento
e deposição destes materiais colaboram para o aumento do número de aterros sanitários no Brasil e no mundo. A
decomposição dos resíduos gera o chorume, e sua infiltração nos solos e águas subterrâneas, além de problemas
relacionados à contaminação, pode contribuir para a instabilidade dos maciços. Tratando-se de aterros industriais, foco
deste trabalho, a cautela quanto ao monitoramento do fluxo do lixiviado deve ser ainda maior, uma vez que o líquido pode
apresentar alta periculosidade, dependendo da origem do material. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a percolação
do lixiviado de um aterro industrial através do software SEEP/W e, ainda, a influência do mesmo na estabilidade do
maciço, com auxílio do SLOPE/W. Após as análises, verificou-se que com a interceptação das chuvas em toda superfície
do aterro, identificou-se uma zona mais afetada quanto ao fluxo de lixiviado nesse local. Ademais, compreendeu-se a
importância da eficácia do sistema de drenagem, visto que o mau funcionamento pode gerar um acúmulo de líquido no
maciço. Em relação a estabilidade de aterros, como esperado, constatou-se que os taludes mais inclinados e que possuem
fluxo de lixiviado mais intenso, tendem a ser mais instáveis, apresentando menores fatores de segurança. Ressalta-se que
os estudos sobre aterros sanitários são complexos e exijem determinadas aproximações, mas que todavia podem ajudar
evitando a contaminação dos solos e águas subterrâneas e contribuindo com projetos mais eficientes e na prevenção de
acidentes.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro Industrial, Estabilidade, Lixiviado, Percolação.

ABSTRACT: The increase in the generation of solid waste and the adoption of public policies aimed at the control,
treatment and disposal of these materials contribute to the increase in the number of landfills in Brazil and in the world.
The decomposition of waste generates leachate, and its infiltration into soil and groundwater, in addition to problems
related to contamination, can contribute to the instability of massifs. In the case of industrial landfills, caution regarding
the monitoring of the leachate flow must be even greater, since the liquid can be highly dangerous, depending on the
origin of the material. Thus, the objective of this work is to analyze the percolation of leachate from an industrial landfill
using the SEEP/W, and also its influence on the stability, with the SLOPE/W. After the analyses, it was verified that with
the interception of the rains in all surface of the landfill, it was identified a zone more affected in terms of the flow of
leachate. In addition, the importance of the effectiveness of the drainage system was understood, since the malfunction
can generate an accumulation of liquid. Regarding the stability of landfills, as expected, it was found that slopes that are
more inclined and have more intense leachate flow tend to be more unstable, presenting lower safety factors. It should be
noted that studies on landfills are complex and require certain approximations, but that they can nevertheless help by
avoiding soil and groundwater contamination and contributing to more efficient projects and accident prevention.

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KEY WORDS: Industrial Landfill, Stability, Leached, Percolation.

1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
Com o avanço da tecnologia e da economia, a
sociedade vem se tornando cada vez mais Para a realização deste trabalho, foi necessária a
consumista, o que, consequentemente, aumenta a obtenção de dados e documentos fornecidos pela
geração de resíduos sólidos. Com isso, de acordo com empresa administradora do aterro industrial “A”,
ABRELPE (2020), a geração de resíduos aumentou foco deste trabalho. Nesse sentido, foi realizada uma
de 67 milhões para 79 milhões toneladas por ano visita técnica ao local em fevereiro de 2021 com o
entre 2010 e 2019. A partir desses números, pode-se objetivo de avaliar a situação da estrutura. Assim,
pensar nas possíveis consequências que este foram observados os métodos construtivos
acréscimo pode gerar, dentre elas o aumento do utilizados, situação da cobertura do aterro, eficiência
volume de chorume no interior do aterro sanitário a dos sistemas de drenagem, existência ou não de
partir da degradação dos resíduos. A mistura do afloramento de chorume e realizado o
chorume com a água proveniente da chuva forma o reconhecimento de feições indicativas de
lixiviado, também chamado de percolado, que probabilidade de escorregamentos.
adentra em meios porosos, como o solo. Assim, tendo Foi efetuada, também, a análise de documentos
em vista a ocorrência de falhas na impermeabilização técnicos. Dessa maneira, foram analisados os
dos aterros, a infiltração deste líquido pode ocasionar históricos dos “as built”, os resultados das leituras
problemas futuros, como a contaminação do solo e do dos marcos superficiais e poços de monitoramento,
lençol freático, bem como instabilidades nos pluviometria registrada e geração de chorume. A
maciços. partir destes dados e informações fornecidas pela
Quando se trata de aterros industriais, que são as equipe de topografia contratada pelo aterro “A” foi
áreas de disposição que recebem majoritariamente possível elaborar os perfis geotécnicos que
resíduos Classe I, a cautela quanto ao seu caracterizassem as células de aterramento.
monitoramento deve ser ainda maior. Os resíduos A Figura 1 retrata o aterro “A” e suas fases de
Classe I, são aqueles que apresentam periculosidade, deposição de resíduos.
ou seja, em função das suas propriedades podem
apresentar risco à saúde pública e ao meio ambiente,
ou apresentam características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade ou
patogenicidade (ABNT NBR 10004, 2004). Portanto,
esses aterros devem seguir à risca as normas que
regulamentam seu estabelecimento, realizando a
operação de forma correta. A falta de monitoramento
nos aterros e a utilização de técnicas incorretas
podem provocar danos ambientais e humanos. É
valido ressaltar que os cuidados com os aterros
sanitários devem existir também no período pós
fechamento, uma vez que os resíduos ali depositados Figura 1. Fases de Operação dentro do Aterro “A” (Uai
ainda continuam gerando chorume e Soil ,2021)
consequentemente causando impactos nessas áreas.
Um fator que impacta diretamente na quantidade
As leituras dos drenos monitorados foram
de lixiviado é a classe do aterro que recebe os
concedidas, a fim de se analisar a altura dos líquidos
resíduos sólidos. Neste trabalho será avaliado um
presente no maciço. A Figura 2 exibe os drenos
aterro industrial, que recebe predominantemente
contidos no aterro “A”.
resíduos de Classe I, o que implica em uma maior
cautela em seguir as normas de regulamentação, já
que os resíduos apresentam periculosidade,
apresentando risco a saúde pública e ao meio
ambiente.
Neste sentido, o presente trabalho tem como
objetivo analisar a percolação do lixiviado em um
aterro industrial e sua influência na estabilidade do
maciço através do uso dos softwares SEEP/W e
SLOPE/W.

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389
segurança (FS). Ambos softwares pertencem ao
pacote GeoStudio, desenvolvido pela GeoSlope.
Para a caracterização dos materiais no SEEP/W
foi considerado os resíduos acima da linha
piezométrica como não saturados. Já os resíduos
abaixo da linha e o solo de fundação foram
considerados como material saturado. Na literatura,
não foram encontrados dados de entradas para o
SEEP/W que caracterizassem os resíduos industriais,
objeto de estudo deste trabalho. Dessa maneira,
Figura 2. Drenos instalados nas Fases 1 e 2 (Uai Soil, utilizou-se o trabalho de RIGHI (2011) como
2021) referência. Em seu trabalho, a autora estuda o resíduo
compostado proveniente da Usina de Tratamento e
Transbordo do Caju. Com essa referência se obteve
Neste trabalho, as análises serão realizadas os dados de entrada da Função de Teor de Umidade
considerando o Perfil 2 que corta o aterro no sentido Volumétrica e da Função de Condutividade
longitudinal. A Figura 3 exibe os perfis do aterro “A”. Hidráulica, para a caracterização dos materiais não
saturados.
De acordo com o material de apoio
disponibilizado pela GeoStudio, a compressibilidade
da estrutura é equivalente ao inverso do módulo de
volume (1/K). O módulo K é expresso pela Equação
1, onde E representa o Módulo de Elasticidade e 𝜈 o
Coeficiente de Poisson.

𝐸
𝐾= (1)
[3 × (1 − 2 × 𝜈)]

COSTA (2013) realizou estudos geomecânicos


em seu trabalho com o mesmo composto já descrito.
Para uma amostra original, a autora apresenta os
valores exibidos na Tabela 2, a serem utilizados neste
Figura 3. Perfis 1,2,3 e 4 (Uai Soil, 2021)
trabalho.

Foram obtidos, por meio de relatório técnico, Tabela 2. Valores de Módulo de Elasticidade e
alguns parâmetros do solo de fundação, caracterizado Coeficiente de Poisson do material (COSTA, 2013)
como solo residual de gnaisse, e dos resíduos Amostra 𝝈𝒄 𝑬𝟎 𝝂
recebidos, como mostra a Tabela 1 a seguir. (kPa) (kPa)
Original 100 25,5 0,048
Tabela 1. Parâmetros dos materiais (Relatório técnico,
2019)
Parâmetros Portanto, o valor de 0,10635 kPa foi encontrado
Material γ (kN/m3) φ (º) c’ (kPa) para a compressibilidade dos resíduos não saturados.
Resíduo Tendo em vista a falta de referências na literatura
9,3 28,5 5
Classe I quanto à compressibilidade dos resíduos, é complexo
Solo de analisar se o valor é representativo. Ao se comparar
18 32 10
fundação com valores de compressibilidade dos solos, entende-
se que o valor encontrado para os resíduos é baixo.
Para a realização das modelagens, foram Entretanto, optou-se por utilizar o valor levando se
utilizados O SEEP/W, software que consegue em consideração que este trabalho é um estudo
modelar o fluxo de águas subterrâneas em meios inicial, onde foram necessárias simplificações.
porosos, e o SLOPE/W, software que utiliza a teoria Além da curva característica, é necessário entrar
do equilíbrio limite para analisar a estabilidade de com dados relativos à Função de Condutividade
taludes de solo e rocha através do cálculo de fator de Hidráulica. IZZO (2008) também realizou ensaios
sobre o composto já descrito e obteve dados relativos

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390
à condutividade hidráulica do material. Dessa utilizada para garantir que o lixiviado não contamine
maneira, foi escolhido como tipo da função a opção o solo de fundação. Foi considerada uma pequena
de entrada de dados e utilizado os valores camada de solo acima da camada impermeabilizante,
encontrados no trabalho do autor. Não foi que atua como proteção mecânica da manta.
considerada poropressão inicial e a anisotropia foi Para que fosse possível analisar o fluxo do
considerada 1, tendo em vista a falta de valores que lixiviado, foi necessário inserir pontos que
representassem a permeabilidade do composto no indicassem um caminho provável de percolação.
sentido horizontal. Apesar da empresa informar a existência de drenos
O próximo material caracterizado foram os horizontais na base do aterro, não foram fornecidos
resíduos que se encontram abaixo da maior linha os locais exatos desses. Dessa maneira, foi
piezométrica. considerado que a cada 10 metros de aterro existisse
Para a condutividade saturada foi utilizado o valor uma forma de captação deste lixiviado. Para simular
encontrado no trabalho de RIGHI (2011) que tal situação, foram inseridos pontos com a condição
corresponde a 1 × 10−8 m/seg. O teor de umidade de contorno “Pressão Zero”. É válido ressaltar que os
volumétrico saturado também foi retirado do trabalho drenos foram modelados com a finalidade de permitir
da autora e representou o valor de 0,63. Para a o caminho de fluxo do lixiviado. Neste caso, eles não
compressibilidade, anisotropia e poropressão inicial possuem função de retirada de volume de líquido do
foram adotados os mesmos parâmetros descritos na maciço, uma vez que esta informação não era
caracterização do material não saturado. conhecida.
Por fim, foi realizada a definição do solo de SOUZA (2011) realizou em seu trabalho
fundação. Este material é caracterizado como solo simulações de fluxo vertical em aterros de resíduos
residual de gnaisse. Para a modelagem, o solo foi sólidos urbanos. A autora cita a dificuldade em se
considerado no regime saturado. aplicar condições de contorno que descrevam a real
CARDOSO JÚNIOR (2006) realizou um estudo situação do aterro. Para simular a pressão do
sobre o comportamento de um solo residual de um lixiviado na base do aterro, Souza (2011) utiliza
gnaisse. Dessa maneira, foram retirados do trabalho diferentes pressões hidráulicas, uma vez que não se
os seguintes dados apresentados na Tabela 3. obtinha informações sobre a altura do lixiviado nos
drenos. Analisando o trabalho da autora para o
Tabela 1. Parâmetros do solo residual de gnaisse entendimento desta condição de contorno, foi
(Cardoso Júnior, 2006) considerada no aterro “A” a pressão hidráulica na
Permeabilidade Permeabilidade 𝜽𝒔 base do maciço devido ao lixiviado. Assim, foi
Horizontal (m/s) Vertical (m/s) atribuída uma carga de pressão de 5 metros d’água.
7,9x10^-8 5,2x10^-8 0,472 O valor foi escolhido com base em uma aproximação
a partir dos dados de leituras dos drenos do aterro.
Para o valor de compressibilidade utilizou-se Como já mencionado anteriormente, os dados
como referência os valores obtidos no trabalho REIS referentes à pluviometria do local foram concedidos
(2004), que são expostos na Tabela 4 a seguir. pela empresa. Assim, para a entrada de pluviometria
foi adotada a maior chuva medida, que correspondeu
Tabela 2. Valores de Módulo de Elasticidade e a 556 mm no mês de dezembro de 2020.
Coeficiente de Poisson do solo (Reis, 2004) Tendo em vista que o perfil contempla uma parte
Solo 𝝈𝒄 𝑬𝟓𝟎 𝝂 de talude natural, foi necessário garantir a percolação
(kPa) (MPa) da água que incide no local. Para isto, foram
Residual considerados pontos com a condição de contorno
100 9,80 0,20 “Pressão Zero” para garantir o caminho de fluxo. A
maduro
Figura 4 representa a modelagem final obtida no
SEEP/W.
Substituindo os valores descritos acima na
Equação 1 e considerando que a compressibilidade é
o inverso do módulo K, encontra-se o valor de 183,67
kPa.
Posteriormente foram inseridas as condições de
contorno do aterro “A” adotando-se algumas
Figura 4. Modelagem final (Autoras, 2022)
hipóteses a fim de se chegar à situação mais próxima
da realidade.
A primeira condição de contorno inserida foi a A integração do SEEP/W e do SLOPE/W torna
camada impermeável, situada na base do aterro e possível analisar a estabilidade de qualquer sistema

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


391
sujeito a mudanças transitórias na pressão da água
nos poros. Dessa maneira, é possível importar os
perfis analisados no SEEP/W para análise do fator de
segurança no SLOPE/W. Para as análises de Figura 7. Legenda do fluxo de lixiviado obtido no
estabilidade no SLOPE/W foi escolhida a análise do
SEEP/W (Autoras, 2022)
tipo Equilíbrio Limite, com método de Bishop.
Ribeiro (2007) ressalta em seu trabalho que dentre os
diversos métodos de análise de estabilidade, o Bishop Os vetores exibidos na Figura 6 indicam o sentido
é amplamente utilizado tendo em vista a sua do fluxo do lixiviado. Dessa forma, observa-se o
aplicação simples e fornecimento de fatores de sentido do líquido, que tende a ir para os drenos
segurança próximos ao de obtidos por métodos localizados na base do aterro sanitário. Como há a
precisos. Para a caracterização dos materiais quanto barreira impermeável, o lixiviado não consegue
aos parâmetros de resistência, foram utilizados os ultrapassar a camada e atingir o solo. No canto
dados da Tabela 1, não havendo distinção entre os direito, observa-se o fluxo da água de chuva seguindo
parâmetros para os materiais saturados e não para o solo de fundação, uma vez que não há
saturados. impermeabilização no local. Através da Figura 7, é
A título de comparação, neste trabalho realizou- possível identificar a vazão de lixiviado em cada m²
se, também, a análise de estabilidade utilizando da seção em questão. Assim, analisa-se um fluxo
somente o software SLOPE/W. Dessa maneira, a mais intenso na parte superior do aterro, onde a chuva
modelagem foi realizada no próprio programa e foi age diretamente, que diminui com o aumento da
utilizado o recurso de linha piezométrica, a partir dos profundidade do aterro. É valido ressaltar, que nesta
dados fornecidos. A Figura 5 exibe a modelagem modelagem não foi considerada a vazão de lixiviado
realizada no SLOPE/W. produzida pelo resíduo industrial, tendo em vista ser
irrelevante neste caso.

3.1 SLOPE/W

A partir da entrada da modelagem realizada no


SEEP/W, foram obtidos fatores de segurança no
SLOPE/W. As Figuras 8, 9, 10 e 11 exibem os
resultados para as Análises 1, 2, 3 e 4
respectivamente.
Figura 5. Modelagem no SLOPE/W (Autoras, 2022)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 SEEP/W

Ao realizar a solução do problema, o resultado


quanto ao fluxo do lixiviado obtido é exibido na Figura 8. FS da Análise 1 (geometria advinda do
Figura 6. Já na Figura 7, é possível visualizar a SEEP/W) em que FS = 2,390 (Autoras, 2022)
legenda do fluxo de lixiviado.

Figura 6. Fluxo de lixiviado obtido no SEEP/W


(Autoras, 2022)

Figura 9. FS da Análise 2 (geometria advinda do


SEEP/W) em que FS = 2,349 (Autoras, 2022)

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392
considerando a linha piezométrica por sua vez, apesar
de considerar a maior altura de lixiviado medida, não
levou em conta a pluviometria do local.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 10. FS da Análise 3 (geometria advinda do Por se tratar de estrutura que recebe resíduos,
material muito heterogêneo, e uma tecnologia
SEEP/W) em que FS = 1,223 (Autoras, 2022)
relativamente recente os estudos na área de aterros
sanitários podem ser de certa complexidade, uma vez
que é difícil prever com exatidão os parâmetros do
material e condições de contorno do local. Ainda com
essas controvérsias, o estudo dessa construção
contribui para uma melhoria contínua das obras e
eficiência dos sistemas.
Neste trabalho, analisou-se a percolação do
Figura 11. FS da Análise 4 (geometria advinda do lixiviado em um aterro industrial. Como esperado,
SEEP/W) em que FS = 1,636 (Autoras, 2022) verificou-se o sentido do fluxo para os locais de
menor pressão, os drenos. Com a interceptação das
chuvas em toda superfície do aterro, identificou-se
Ao analisar os resultados, observa-se que os
uma zona mais afetada neste local, no que diz
fatores de segurança foram menores nos taludes que
respeito ao fluxo de lixiviado da área. No mais,
possuem maior inclinação, como esperado. Além
compreendeu-se a importância da eficácia do sistema
disso, percebe-se que nas áreas críticas quanto ao
de drenagem, uma vez que o mau funcionamento
fluxo de lixiviado, os FS tendem a diminuir.
pode gerar um acúmulo de líquido no maciço.
Como já mencionado, foram realizadas
Ressalta-se que neste trabalho foi realizado um
simulações no SLOPE/W com o recurso de linha
estudo dos softwares em questão, dados de entrada e
piezométrica e sem considerar os resultados advindos
condições de contorno. Percebeu-se que, devido à
do SEEP, a título de comparação.
falta de conhecimento aprofundado sobre os resíduos
A Tabela 5 exibida abaixo relaciona os fatores de
industriais, foram necessárias adaptações durante o
segurança obtido pelos dois métodos.
processo que podem interferir no resultado final das
análises.
Tabela 5. Comparação dos resultados de fatores de Além disso, analisou-se também a relação da
segurança (Autoras, 2022)
percolação do lixiviado com a instabilidade dos
Fator de Fator de maciços. Verificou-se que os taludes mais inclinados
Segurança Segurança
e que possuem fluxo de lixiviado mais intenso,
(parâmetros (utilização do
Análise tendem a ser mais instáveis. Assim, constata-se que o
hidráulicos recurso de linha
advindos do piezométria) aumento do fluxo no interior do maciço contribui
SEEP) efetivamente para a queda nos fatores de segurança.
1 2,390 4,431 No mais, identificou-se uma alteração nos fatores de
2 2,349 2,473 segurança encontrados a partir das duas metodologias
3 1,223 2,149 utilizadas. Para o caso dos FS obtidos a partir da
4 1,636 1,711 importação de dados do SEEP/W, os valores foram
menores dos que os números encontrados utilizando
No geral, percebe-se que os fatores de segurança apenas os recursos do SLOPE/W. Esta divergência
obtidos através da modelagem no SEEP/W foram nos valores pode ser explicada tendo em vista que a
menores. Uma das explicações para isso é que a modelagem no SEEP/W foi mais conservadora.
modelagem realizada no SEEP/W foi considerada Ainda assim, visto que os resultados encontrados a
para a pior situação, ou seja, no momento exato da partir dos parâmetros hidráulicos gerados no
maior chuva já registrada. No mais, foi considerada, SEEP/W foram menores, ratifica-se a importância de
também, a pressão do lixiviado na base do aterro. se analisar criticamente a percolação do lixiviado,
Além disso, não foi considerada drenagem do uma vez que a falta dessa pode gerar resultados não
lixiviado e nem da chuva, o que ocasiona certo representativos de estabilidade dos maciços.
aprisionamento do líquido. A modelagem Dessa maneira, ressalta-se que ainda que os
estudos sobre os aterros sanitários sejam complexos

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


393
e exijam determinadas aproximações, seus resultados em aterros de resíduos. Dissertação de Mestrado. Rio
podem ser de grande importância para a sociedade. de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Além de contribuírem para a prevenção de acidentes, Rio de Janeiro, 2011, 152p.
as análises podem ajudar na precaução da Righi, J. A. Notas de Aula. Projeto e dimensionamento de
aterros sanitários – Unidade 6. Juiz de Fora, MG.
contaminação do lixiviado em solos e águas
2021.
subterrâneas e contribuir para futuros projetos mais Souza, V. O. A. Simulação de fluxo vertical em aterro de
eficientes. resíduos sólidos urbanos. Dissertação de Mestrado.
Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de
Janeiro,2011, 176 p.
AGRADECIMENTOS UaiSoil. Relatório Técnico, 2021. Acervo pessoal.

Os autores agradecem à Universidade Federal de Juiz


de Fora, por toda a estrutura e apoio durante a
pesquisa.

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Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais. São Paulo, 2020. 52 p. Disponível
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394
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise hipotética da estabilidade de taludes de um aterro sanitário


considerando os tempos de disposição dos resíduos
Rafaella de Moura Medeiros
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, rafaella.moura@ufpe.br

Alison de Souza Norberto


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, alison.norberto@ufpe.br

Antônio Italcy de Oliveira Júnior


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, antonio.italcy@ufpe.br

Maria Odete Holanda Mariano


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, odete.mariano@ufpe.br

José Fernando Thomé Jucá


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jucah@ufpe.br

RESUMO: Uma das etapas fundamentais no projeto e operação de aterros sanitários é o estudo da estabilidade dos seus
taludes. O presente trabalho visa avaliar a estabilidade de um talude de um aterro sanitário, hipotético, em fase de projeto.
Os taludes do aterro sanitário foram projetados com inclinações de 1V:2,5H, e as análises foram realizadas no software
da GeoStudio: Slope/W pelo método do equilíbrio limite. Os parâmetros geotécnicos do solo de fundação foram estimados
com base em sondagens SPT e os dos resíduos com base na literatura, que se baseiam em ensaios de campo e laboratório
de resíduos “novos” e “velhos”, classificados em função do tempo de disposição no aterro sanitário. O nível piezométrico
foi projetado considerando duas condições: drenagem ideal com 1/3 da altura do aterro com presença de lixiviado e
drenagem obstruída com 2/3 da altura do aterro com presença de lixiviado. Foram avaliados 14 cenários visando avaliar
a influência da presença de camadas de resíduos novos e velhos e as condições de funcionamento dos drenos internos do
aterro. Verificou-se que todos os cenários avaliados apresentaram fatores de segurança (FS) adequados, porém, os
menores valores (FSMÍN variando entre 1,42 e 1,47) foram observados para as condições de sistema de drenagem obstruído
e o aterro sanitário totalmente preenchido com resíduos velhos. Os resultados obtidos destacam a importância de
monitorar o nível de lixiviado e de envelhecimento dos resíduos a partir de instrumentação geotécnica para aferir a
estabilidade do aterro sanitário projetado.

PALAVRAS-CHAVE: Projeto de Aterro Sanitário, Fator de Segurança, Nível Piezométrico, Geotecnia Ambiental,
Resíduos Sólidos Urbanos.

ABSTRACT: One of the fundamental stages in the design and operation of sanitary landfills is the study of the stability
of their slopes. The present work aims to evaluate the stability of a landfill slope, hypothetical, in the design phase. The
landfill slopes were designed with inclinations of 1V:2.5H, and the analyzes were carried out in the GeoStudio software:
Slope/W by the limit equilibrium method. The geotechnical parameters of the foundation soil were estimated based on
SPT surveys and those of the waste based on the literature, which was based on field and laboratory tests of “new” and
“old” waste classified according to the time of disposal in the landfill Restroom. The piezometric level was designed
considering two conditions: ideal drainage with 1/3 of the height of the landfill with the presence of leachate and
obstructed drainage with 2/3 of the height of the landfill with the presence of leachate. Fourteen scenarios were evaluated
to assess the influence of the presence of new and old waste layers and the operating conditions of the landfill's internal
drains. It was verified that all evaluated scenarios presented adequate safety factors (SF), however, the lowest values
(SFMIN ranging between 1.42 and 1.47) were observed for the conditions of the obstructed drainage system and filled
sanitary landfill with old waste. The results obtained highlight the importance of monitoring the level of leachate and
waste aging using geotechnical instrumentation to assess the stability of the designed landfill.

KEY WORDS: Landfill Design, Safety Factor, Piezometric Level, Environmental Geotechnics, Municipal Solid Waste.

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395
1 INTRODUÇÃO RSU e, consequentemente, no fator de segurança
(FS), a saber: a composição do material, o nível
O aumento da população mundial, e, piezométrico e a geometria. Tal fato é, também,
consequentemente, da geração de resíduos sólidos corroborado por Feng et al. (2019) que reportaram
urbanos (RSU), tem acarretado problemas na gestão que, em geral, as rupturas estão relacionadas a fatores
adequada destes, sendo considerado um dos mais internos como o elevado nível do lixiviado e a baixa
sérios problemas ambientais que restringem o resistência ao cisalhamento.
desenvolvimento econômico e social (Wijekoon et al, Alguns processos de ruptura já foram reportados
2022). na literatura, a exemplo do Aterro Bandeirantes em
A Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei São Paulo no ano de 1991, La Coruña na Espanha em
Federal nº 12.305/2010 – estabelece que a destinação 1994, Sertãozinho em São Paulo no ano de 1995,
deve ser realizada de modo adequado e apenas os Rumpke nos Estados Unidos da América em 1996,
rejeitos dispostos em locais ambientalmente Dona Juana em Bogotá na Colômbia no ano de 1997,
adequados, como os aterros sanitários (Brasil, 2010); Payatas na Filipinas em 2000, Itaquaquecetuba em
o mesmo é ressaltado pelo Plano Nacional de São Paulo no ano de 2000, Canabrava em Salvador
Resíduos Sólidos (Planares) (MMA, 2022). Porém, no ano de 2002, Navarro na Colômbia em 2001, Juiz
na prática, os resíduos passíveis da reciclagem e da de Fora em Minas Gerais no ano de 2004, Guarujá
logística reversa acabam por serem destinados não em São Paulo no ano de 2004, Bandung na Indonésia
somente aos aterros sanitários, como também aos no ano de 2005, dentre outros (IPT, 1991; Oliveira,
aterros controlados e lixões, estes últimos sendo 2002; Benvenuto, 2012; Benvenuto, 2014;
caracterizados como locais inadequados, indo em Benvenuto & Di Credo, 2016).
sentido oposto aos Objetivos do Desenvolvimento Neste sentido a avaliação da estabilidade deve ser
Sustentáveis (ODS) da Agenda 2030 (Nações Unidas realizada não somente como etapa da concepção do
– Brasil, 2022). projeto do aterro sanitário, mas também durante o seu
Machado et al. (2017) ressaltam que os aterros período de operação e de pós-operação. Outro
sanitários se configuram como o método de momento que exige a realização da análise de
disposição mais utilizado, apesar da existência de estabilidade é em caso de alteamento do aterro, para
outros processos de gestão. fins de aumento da sua capacidade, o que pode
Os aterros sanitários recebem uma gama de acarretar o aumento da inclinação dos taludes,
resíduos heterogêneos e com diferentes podendo vir a ocasionar uma ruptura.
comportamentos ao decorrer dos anos. Ressalta-se Assim, é imprescindível que os parâmetros
que faz parte do escopo projetual de um aterro geotécnicos – ângulo de atrito interno (ϕ), coesão (c)
sanitário a avaliação de sua estabilidade geotécnica. e peso específico (γ) – tanto para o solo da fundação
Tal avaliação é uma etapa crucial para a correta com para os RSU sejam adotados (por meio de
construção e operação segura dos aterros sanitários ensaios laboratoriais ou bibliografia) de forma a
(Rong et al., 2011). serem condizentes com as especificidades do
E, para fins da realização da avaliação da empreendimento.
estabilidade deste empreendimento faz-se o uso do Deste modo, o presente trabalho consiste em
método do equilíbrio limite, que compara as forças realizar as análises da estabilidade de um aterro
resistentes e atuantes sobre uma determinada sanitário em fase de projeto para fins de determinação
superfície de deslizamento. das superfícies de ruptura críticas e o fator de
No tangente dos RSU é importante destacar que o segurança mínimo para os diferentes casos e cenários
comportamento tende a mudar conforme avança o investigados, que abordam os resíduos de diferentes
processo de degradação ao longo do tempo. Uma das idades e variação no nível do lixiviado nas células.
diferenças mais relevantes no comportamento dos
RSU quando comparados com os solos é que as 2 MATERIAL E MÉTODOS
partículas de RSU não podem ser consideradas
infinitamente rígidas e, portanto, a deformação do A análise de estabilidade de taludes do aterro
material não é causada apenas pela mudança no sanitário em fase de projeto foi realizada por meio do
volume dos poros como ocorre para os solos. software da GeoStudio: Slope/W (análise de
Outro fator associado a variação dos parâmetros estabilidade pelo método do equilíbrio limite), onde
de resistência nos taludes de aterros sanitários diz se utilizou parâmetros geotécnicos:
respeito ao grau de compactação ao qual os RSU • solo de fundação do aterro: estimado através
foram submetidos. de perfis de sondagens, com determinação de
De acordo com Khoshand et al. (2018) vários SPT, realizados em diferentes pontos da área
aspectos influenciam na estabilidade da massa dos em estudo e com base em dados da literatura

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396
para estes tipos de solos; A Célula 1 possui a altura final variando entre 25
• resíduos sólidos urbanos: estimados por e 30 metros, uma vez que, irá ser necessário o corte
meio de consulta a literatura, a qual se baseia do relevo para fins de acomodação dos resíduos e
em ensaios de campo e laboratório, base com dimensões de 450 m x 180 m. A Célula 2
considerando-os como “novos” e “velhos”, a possui altura de 30 metros e base com dimensões de
depender do tempo de disposição que 600 m x 230 m. O empreendimento hipotético tem
transcorreu. por finalidade receber cerca de 450 t.dia-1 e um
horizonte de funcionamento de 20 anos.
2.1 Descrição do software utilizado
2.3 Nível piezométrico
O SLOPE/W é um dos softwares mais utilizados
no mercado de aplicações voltadas para a análise de O nível piezométrico de um aterro sanitário, nível
estabilidade de taludes, fundamentando-se em da coluna de lixiviado, é resultante do chorume
análises de Equilíbrio Limite e suas formulações, que produzido pelo processo de biodegradação da matéria
se baseiam, principalmente, no método das fatias. orgânica e da água percolada por meio da camada de
Tais análises foram desenvolvidas ainda no início do cobertura.
século XX, e desde então vêm sendo usadas para Neste estudo foram utilizados dois níveis de
avaliar estabilidade de taludes na engenharia lixiviado para fins das análises:
geotécnica. • drenagem ideal (1/3 da altura do aterro);
O software utiliza o critério de avaliação o • drenagem obstruída (2/3 da altura do aterro).
proposto por Mohr-Coulomb para o comportamento
da resistência ao cisalhamento, o cálculo do fator de 2.4 Parâmetros geoténicos adotados
segurança de um determinado deslizamento é feito
através do método das fatias. O método utilizado para Os parâmetros geotécnicos necessários para a
a análise de estabilidade neste estudo foi o de análise de estabilidade do talude, utilizando-se o
Morgenstern-Price. GeoSlope, são: ângulo de atrito interno (ϕ), coesão
(c) e peso específico (γ) para camadas de solos
2.2 Geometria do aterro convencionais.
No que diz respeito ao solo existente na área do
A geometria das células de resíduos sólidos foi aterro hipotético, as sondagens realizadas no aterro
dimensionada segundo a declividade 1V:2.5H, com o verificaram uma camada de argila avermelhada, de
objetivo de proporcionar um risco mínimo de ruptura consistência rija (até 4,00 m); uma camada posterior
da célula de resíduos sólidos, e assim evitar de argila variegada, de consistência dura a muito dura
contaminação das regiões vizinhas. A concepção do (4,00-10,87 m); e após a profundidade de 10,87 m
mesmo se deu por meio de duas células, sendo a não foi possível a continuação do ensaio SPT, uma
Célula 1 e Célula 2 (Figura 1). vez que o amostrador não conseguiu prosseguir com
a perfuração, sendo assim o material considerado
impenetrável à percussão.
A partir dos valores do relatório de sondagem foi
possível realizar a correlação do NSPT obtidos com os
parâmetros geotécnicos dos solos, tendo como
referência Godoy (1972). Em relação ao ângulo de
atrito e a coesão, os valores foram obtidos de acordo
Célula 1 com Terzaghi (1943).
Para as camadas de resíduos foram consideradas
duas idades de acordo com o estágio de degradação
da massa, portanto, foram definidos os parâmetros
geotécnicos para os resíduos “novos” e “velhos”. O
Célula 2 embasamento de tais parâmetros se deu por uma
extensa revisão da literatura.
Para os valores de peso específico dos resíduos,
tomou-se como referência o estudo de Gomes et al.
Figura 1. Disposição das Células 1 e 2 na superfície (1997), onde os valores médios para os RSU
do terreno. compactados, variaram de 7,0 a 9,0 kN/m³; e após os
processos de biodegradação e consolidação dos RSU,
ao decorrer dos anos, o peso específico atingiu a faixa

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397
de 10,0 a 13,0 kN/m³. Tabela 2. Cenário propostos para fins de avaliação da
Já para o ângulo de atrito e a coesão, não se existe estabilidade dos taludes do aterro sanitário
uma convergência por parte dos estudos sobre Espessura da Nível piezométrico,
valores destes, uma vez que além de variarem no camada de relacionado à altura
Cenários
espaço temporal, variam também de acordo com a resíduos (m) da célula (m)
Novo Velho 1/3 2/3
composição gravimétrica dos resíduos. Dito isso, os
1 05 - X
valores adotados na Tabela 1, basearam-se nos 2 05 - X
estudos de Landva & Clark (1990), Carvalho (1999), 3 05 05 X
Nascimento (2007), Kolsch (2009) e Reddy et al. 4 05 05 X
(2011). 5 10 05 X
A Tabela 1 apresenta os parâmetros geotécnicos, 6 10 05 X
utilizados nas análises, para os diferentes materiais 7 10 10 X
existentes, ou seja, os materiais constituintes do 8 10 10 X
subsolo e os resíduos sólidos depositados no aterro. 9 10 15 X
10 10 15 X
Tabela 1. Parâmetros utilizados nas análises de 11 10 20 X
estabilidade dos taludes do aterro sanitário 12 10 20 X
13 - 30 X
Material c (kPa) ϕ (°) γ (kN/m³) 14 - 30 X
Argila rija 40,00 25,00 19,00
Argila dura a muito É importante ressaltar que, embora esteja previsto
50,00 30,00 21,00 um eficiente funcionamento do sistema de drenagem
dura
Resíduos novos 2,50 23,00 9,00 no interior da massa de resíduos, o que representa um
dos requisitos imprescindíveis em um projeto de
Resíduos velhos 3,50 28,00 12,00 construção e operação de aterro sanitário, é relevante,
para efeito de análises de estabilidade de talude,
Vale ainda destacar que foram considerados valores admitir a hipótese de um mal funcionamento da
de coesão conservadores, variando entre 2,50 kPa drenagem provocado, por exemplo, por imprevistos
(resíduos novos) à 3,50 kPa (resíduos velhos); pois acidentais. Assim, nos casos em que se considera tal
de acordo com Pinto et al. (2020), os baixos valores situação, utilizou-se um nível piezométrico de cerca
de coesão em parâmetros geotécnicos de aterros de de 2/3 da altura do talude. Nos demais casos, utilizou-
resíduos sólidos são resultado da complexidade e se um nível piezométrico inferior a 1/3 da altura do
heterogeneidade dos materiais envolvidos na talude, representando um bom funcionamento da
construção do aterro, bem como da presença de drenagem.
líquidos, gases e resíduos orgânicos em Destaca-se que não foi abordada a relação do
decomposição. efeito do biogás na estabilidade do aterro de RSU da
presente pesquisa, devido às limitações do software
Adiciona-se ainda que não foram tomadas para as utilizado, assim como a dificuldade de se avaliar a
presentes análises informações dos níveis de estado pressão gerada pelos gases.
deformacional do aterro, por se tratar de um estudo
hipotético, sem informações da execução e 3 RESULTADOS
monitoramento de campo.
Por meio das análises realizadas foi possível obter
2.5 Cenários analisados os fatores de segurança mínimos (FSMÍN) atrelados a
cada um dos cenários expostos, tanto para a Célula 1
Na análise de estabilidade dos taludes do aterro como para a Célula 2. Tais valores encontram-se
sanitário hipotético foram considerados as situações expostos na Tabela 3.
possíveis de ocorrer durante e após a operação de
disposição dos resíduos. Tabela 3. Fatores de Segurança mínimos (FSMÍN) para as
Deste modo foram simulados para fins de células do aterro sanitário
estabilidade 14 cenários, descritos na Tabela 2, que Célula 1 Célula 2
Cenários 1
mudanças quanto aos parâmetros dos resíduos FSMÍN ∆ (%) FSMÍN ∆ (%)1
sólidos ao decorrer dos anos e variação nos níveis 1 2,05 1,51
19,47 5,83
piezométricos, conforme já exposto. 2 1,65 1,42
3 1,97 1,98
8,53 20,51
4 1,80 1,57
5 1,97 17,53 1,85 15,80

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Célula 1 Célula 2
Cenários
FSMÍN ∆ (%)1 FSMÍN ∆ (%)1
6 1,63 1,56
7 1,97 1,93
13,55 24,33
8 1,70 1,46
9 2,03 1,87
15,93 19,32
10 1,71 1,51
11 1,98 1,84
25,61 22,19
12 1,47 1,43
13 2,02 1,82
29,27 22,25
14 1,43 1,42
1
variação do FS dos cenários com mesma espessura de resíduos e
diferentes níveis de lixiviado.
(a)
Percebe-se que para todos os casos onde ocorreu
o aumento do nível do lixiviado, ou seja, 2/3 da altura
da célula, houve uma diminução nos FSMÍN, tais
variações estão indicadas pelas percentagens
hachuradas na Tabela 3.
Assim, faz-se o destaque para os cenários 11 e 12,
e 13 e 14 da Célula 1, os quais possuem as superfícies
de ruptura apresentadas nas Figuras 2 e 3,
respectivamente. Já no contexto da Célula 2 as
maiores reduções foram encontradas para os cenários (b)
6 e 7, 11 e 12, e 13 e 14, cujas superfícies de ruptura Figura 3. Superficies de ruptura e FSMÍN para a Célula 1:
são apresentadas na Figuras 4, 5 e 6, respectivamente. (a) cenário 13; (b) cenário 14.

(a)
(a)

(b)
Figura 4. Superficies de ruptura e FSMÍN para a Célula 2:
(b) (a) cenário 7; (b) cenário 8.
Figura 2. Superficies de ruptura e FSMÍN para a Célula 1:
(a) cenário 11; (b) cenário 12.

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399
no software Slope/W, apresentaram resultados, em
sua maioria, superiores a 1,50, conforme exposto na
Tabela 3. Tal valor é comumente adotado como
critério de projeto, demonstrando desta forma que os
taludes de resíduos sólidos, conforme concebido
neste projeto, são estáveis, e encontram-se em
conformidade com o exposto na Norma Técnica
Brasileira NBR 11.682/2009 – Estabilidade de
encostas (ABNT, 2009).
As situações que apresentaram FSMÍN menor que
(a) 1,50 (na Tabela 3, com texto em destaque na cor
vermelha) foram os cenários em que as Células 1 e 2
encontravam-se finalizadas, porém apresentavam
problemas no sistema de drenagem, que acarretou
uma altura de lixiviado de 2/3 da altura da célula,
resultando em uma redução do fator de segurança.
Tal fato, comprova a importância que a drenagem
exerce na estabilidade do talude, bem como chama-
se atenção para o processo de compactação da massa
de resíduos, conforme destacado nos relatos de Chen
et al. (2019).
(b) Para o cenário com a camada de resíduos velhos
Figura 5. Superficies de ruptura e FSMÍN para a Célula 2: de 20 m, as reduções foram de cerca de 25% e 22%
(a) cenário 11; (b) cenário 12. quando comparados os cenários com a altura de
lixiviado a 1/3 e 2/3 nas Células 1 e 2,
respectivamente. De maneira similar, as reduções
para os cenários 13 e 14, 30 m de resíduos velhos, as
variações foram de 29% e 22% entre as Células 1 e
2, respectivamente.
Ainda de acordo com as Figuras 2 e 3, percebe-se
que ao se considerar um sistema de drenagem
obstruído na Célula 1, a cunha de ruptura mobiliza
uma maior massa de RSU. Tal comportamento é
também averiguado para a Célula 2 por meio das
Figuras 4, 5 e 6, porém o incremento da massa a ser
(a) mobilizada é inferior quando comparado ao da Célula
1, de acordo com as áreas representadas pelas cores
vermelha, laranja e amarela.
Em adição, um ponto a ser abordado no que se
refere ao nível do lixiviado no talude é a percolação
das águas pluviais por meio da camada de cobertura,
logo é necessário que a mesma seja dimensionada e
executada corretamente. Tal aspecto foi corroborado
por Feng et al. (2019) em seu estudo como uma das
causas que acarretam a ruptura dos aterros sanitários.
É perceptível que o fator de segurança é sensível
(b) ao envelhecimento dos resíduos aterrados,
Figura 6. Superficies de ruptura e FSMÍN para a Célula 2: corroborando com Bahia et al. (2020). Portanto,
(a) cenário 13; (b) cenário 14. ressalta-se ainda que o monitoramento da
composição gravimétrica, e, portanto, a avaliação de
4 DISCUSSÃO materiais biodegradáveis e inertes na massa de RSU
é uma etapa que fornece maiores informações sobre
Após realizar a análise de estabilidade nas seções como o talude do aterro sanitário irá se comportar ao
dos taludes (Células 1 e 2), nos diferentes tipos de avançar do período de operação e encerramento, uma
cenários investigados, foi observado que os fatores de vez que os materiais fibrosos como plásticos, tecidos
segurança mínimos (FSMÍN), obtidos pelos cálculos

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400
e madeiras podem atuar com uma parcela de a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
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401
Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Distrito Federal,
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Pinto, A. L., Carvalho, A. M., & Roque, A. R. (2020).
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challenges. Journal of hazardous materials, v. 421, p.
126627.

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402
O COMITÊ TÉCNICO DE GEOSSINTÉTICOS
A Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (ABINT) congrega empresas e
profissionais cujas atividades estejam ligadas à produção, transformação, comercialização,
fornecimento de insumos e equipamentos e outros, ligados aos nãotecidos e tecidos
técnicos. Um dos objetivos da ABINT é atuar intensamente na divulgação das diversas aplicações dos
Nãotecidos, Tecidos Técnicos e seus atuais e potenciais usos, além de promover, com ética e qualidade,
o desenvolvimento e o crescimento do mercado de aplicações nos mais diversos segmentos da
economia.

Dentro deste conceito, formou-se o Comitê Técnico de Geossintéticos da ABINT (CTG ABINT), grupo de
associadas ABINT composto por empresas fabricantes, distribuidoras e de instalação de
Geossintéticos, universidades, laboratórios e prestadores de serviços independentes de
controle e verificação da qualidade.

O CTG ABINT tem como objetivo divulgar as aplicações dos Geossintéticos em obras dos segmentos
Ambiental, Agronegócio, Construção Civil, Infraestrutura, Mineração, Transporte, entre outros, bem
como difundir os conceitos de qualidade a serem observados por fabricantes e usuários, contribuindo
para o desenvolvimento mercadológico de forma ética e responsável.

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IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise Probabilística de Estabilidade de um Talude Considerando


a Superfície de Ruptura na Interface entre Resíduo Sólido Urbano
e o Geossintético
Leonardo Alberto do Nascimento
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, leo_ladn@yahoo.com.br

Angelo Dotto Ragagnin Prior


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, angelodrprior@hotmail.com

Magnos Baroni
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, magnos.baroni@ufsm.br

Rinaldo José Barbosa Pinheiro


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil, rinaldo@ufsm.br

Ezequiel Andrei Somavilla


Comp. Riograndense de Valorização de Resíduos, Minas do Leão, Brasil, esomavilla@crvr.com.br

RESUMO: O crescimento do poder econômico e populacional da sociedade trouxe consigo o aumento da geração de
resíduos sólidos urbanos, os quais são oriundos de distintas atividades antrópicas e devem ser corretamente dispostos a
fim de apresentar o menor risco possível ao ambiente. A correta disposição de resíduo sólido urbano é realizada em aterros
sanitários, e estes por sua vez, necessitam de constante monitoramento ambiental e geotécnico para seu correto
funcionamento. Através dos dados do monitoramento, foi realizada a análise de estabilidade de uma seção geotécnica,
visando a análise da interface de contato do resíduo sólido urbano com a geomembrana de impermeabilização de fundo
do aterro sanitário através da análise de estabilidade probabilística, utilizando como variáveis os parâmetros de resistência
e a poropressão no maciço de resíduo sólido urbano. Para realização do estudo, foram adotados parâmetros conservadores
da literatura para os RSU, e valores médios para os demais materiais envolvidos, os dados de poropressão medidos foram
tratados estatisticamente a fim de melhor representar a possível variação deste importante parâmetro. Assim, mesmo as
análises determinísticas e probabilísticas (média) tendo apresentados valores bem próximos de FS, foi relatada uma alta
probabilidade de ocorrência do maciço apresentar um fator de segurança menor que o preconizado por norma, concluindo
assim a importância da realização de análises de estabilidade considerando as incertezas dos parâmetros adotados.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Taludes, Análise Probabilística, Aterro Sanitário, RSU, Geomembrana, Interface.

ABSTRACT: The growth of the economic and population power in the society has brought with it the increase in the
production of municipal solid waste, which come from different human activities and must be correctly disposed of to
present the least possible risk to the environment. The correct disposal of municipal soil waste is carried out in sanitary
landfills, and these, in turn, need constant environmental and geotechnical monitoring for their correct functioning.
Through geotechnical monitoring data, a stability analysis of a section of the landfill was carried out, aiming at the analysis
of the contact interface of the municipal soil waste with the bottom impermeabilization geomembrane of the sanitary
landfills through the probability analysis, using the pore pressure in the municipal soil waste as a variable parameter. To
carry out the analysis, conservative parameters from the literature were adopted for municipal soil waste, and average
values for the other materials involved in the analysis. The pore pressure data taken from the environmental monitoring
were treated to better represent the variation in the analysis. In this way, results obtained in the analysis showed very
similar values compared to a deterministic analysis and the average result of the probabilistic analyses, however, in the
probabilistic analysis, a high probability of occurrence of safety factor become lower than the minimum was reported,
thus concluding the importance of carrying out stability analyzes considering the uncertainties of the adopted parameters.

KEY WORDS: Sanitary landfill, Slope Stability, Probabilistic Analysis, Sanitary Landfill, Municipal Soil Waste.
Geomembrane, Interface.

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403
1 INTRODUÇÃO superfície, monitoramento de marcos topográficos,
ensaios de campo e verificação da estabilidade de
Os resíduos sólidos urbanos (RSU) são uma taludes (Catapreta & Simões, 2016).
subcategoria dos resíduos, que consistem em
materiais oriundos de qualquer atividade antrópica,
os quais são classificados como de baixa
periculosidade e inertes (PNRS, 2010). Ainda de
acordo com esta referência, eles são originados de
domicílios, limpeza urbana e certos estabelecimentos
comerciais. A geração de RSU têm seu crescimento
diretamente relacionada ao aumento populacional e
de poder econômico da sociedade (Wilson & Velis,
2015). Salienta-se que eles devem ter sua deposição
final adequada a fim de oferecer a mínima
periculosidade ao meio ambiente.
Os aterros sanitários (AS), conforme prevê a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2010),
são uma alternativa de deposição final de RSU que
fornecem segurança ambiental. Estes, são compostos
de um complexo sistema de funcionamento, com
drenagens, impermeabilização, cobertura dos
resíduos, e outras infraestruturas, que contribuem Figura 1. Seção típica do fundo de um AS.
com menor impacto ambiental ao local (Boscov,
2008). O sistema supracitado constitui-se por O cálculo do FS de um talude geralmente é
distintas etapas de operação, locais de preparo para o realizado pelo Método do Equilíbrio Limite (MEL),
recebimento de resíduos, frentes de deposição do onde a cunha de ruptura é dividida em fatias, a fim de
material, áreas de operação finalizadas, métodos de se realizar o equilíbrio de forças em cada fatia e
contenção e armazenamento dos efluentes e calculando o equilíbrio do conjunto de lamelas
monitoramento de todos os setores do AS (Lange et através do equilíbrio de forças e momentos
al., 2008). (Gerscovich, 2012). Normalmente, as análises de
Parte da contenção dos efluentes gerados pela estabilidade realizadas através do MEL utilizam
biodegradação dos RSU é realizada, na camada de valores médios para os parâmetros geotécnicos
base, a partir da instalação do sistema de considerados nos cálculos. Este fato classifica estas
impermeabilização (geomembrana e geocomposto análises como determinísticas, ou seja, que não
bentonítico), conforme exposto na Figura 1, a fim de levam em conta a variação dos parâmetros
proteger o solo abaixo da área. Além disso, há a ocasionadas pelas incertezas no comportamento dos
camada de proteção mecânica (geotêxtil e pedrisco), solos e ensaios realizados (Assis, 2020).
e drenagens de lixiviado, estas sendo responsáveis Em contrapartida às análises determinísticas, as
por conduzir os efluentes para armazenamento e análises probabilísticas de estabilidades de taludes
tratamento (Palmeira, 2018). Um AS pode ser visam incluir e quantificar as incertezas devido a
classificado como uma obra de terra, porém, além do variação dos parâmetros adotados no cálculo do fator
projeto geotécnico, ele necessita de um controle de segurança, ao chegar também à probabilidade de
constante da estabilidade estrutural, uma vez que, a falha do maciço e índice de confiabilidade. Dentre os
operação é contínua e o comportamento do maciço de métodos de análise probabilística no meio geotécnico
RSU difere do comportamento esperado por obras de está o método estatístico de Monte Carlo (MC), onde,
terra convencionais (Boscov, 2008). Portanto, o conhecida as funções de densidade de probabilidade
monitoramento de um AS conta com um viés dos parâmetros adotados como variável, são
ambiental e outro geotécnico, que estão diretamente realizadas inúmeras análises determinísticas, onde
interligados. Este primeiro visa o monitoramento da cada análise é realizada com valores diferentes para
qualidade do solo, das águas superficiais, das águas os parâmetros variáveis, resultando em uma gama de
subterrâneas, e do ar, além do monitoramento da fatores de segurança (Flores Apaza & Barros, 2014).
pluviometria local e da produção de gases e de Dentro deste contexto, o presente artigo visa a
lixiviado dentro do maciço de RSU. O simulação da análise de estabilidade de uma seção
monitoramento geotécnico contempla a observação típica de um aterro sanitário de grande porte, através
visual do maciço, medição da poropressão de biogás da análise probabilística pelo método de Monte
e de lixiviado, levantamentos topográficos de Carlo, considerando os parâmetros de resistência e a

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404
poropressão do maciço como parâmetros variáveis, sifonado (tipo vector) 101 (PZ101), o qual conta com
com a indução ou não da superfície de ruptura no duas câmaras de monitoramento de poropressão,
contado do RSU com a geomembrana de câmaras 101A e 101B, em diferentes profundidades,
impermeabilização de fundo do AS através do de 10 m e 25 m, respectivamente. Diante do exposto,
software Slide v6.025. a geometria da seção analisada, o posicionamento dos
piezômetros e estratificação dos resíduos por área de
2 MATERIAIS E MÉTODOS influência são apresentados na Figura 5.

2.1 Aterro Sanitário Analisado

O AS que inspirou a realização deste trabalho, faz


parte da Central de Resíduos do Recreio (CRR),
gerido pela Companhia Riograndense de Valorização
de Resíduos (CRVR) e está localizado na cidade de
Minas do Leão, no estado do Rio Grande do Sul. A
Figura 2 apresenta um mapa de localização do AS.

Figura 2. Localização de Minas do Leão, RS.

O AS possui cerca de mil e setecentos metros de


extensão (Figura 3A) e conta com quatro taludes Figura 4. Localização do corte de seção analisado no aterro
sanitário.
principais: norte, sul, leste e oeste (Figura 3B).
2.3 Parâmetro de poropressão (ru) pelo tempo

Os dados piezométricos utilizados para este estudo


foram obtidos do monitoramento geotécnico do AS,
conforme mencionado anteriormente, na seção de
análise está localizado o piezômetro 101, o qual conta
com duas câmaras, A e B, com profundidades de 10
e 25 metros respectivamente, tais dados podem ser
observados mediante a Figura 6. Percebe-se que o
tempo de monitoramento foi de 1000 dias, nessa
perspectiva, pode-se notar que no item A existe uma
tendência de redução dos valores de poropressão ao
Figura 3. (A)Extensão do aterro sanitário e (B)Taludes
longo do período de coleta de dados, já no item B a
principais do aterro sanitário.
faixa de variação mantêm-se entre 0,40 – 0,70.
2.2 Seção analisada do aterro sanitário Dentre os dados, é observado a presença de
outliers, dados de monitoramento discrepantes aos
A seção do AS a ser analisada se encontra no talude demais (Figura 6), portanto, foi realizado um
leste, sendo definida como corte ‘O-O’. Na Figura 4 tratamento estatístico, por meio do software RStudio,
pode ser visualizado a sua abrangência em planta. a fim de remover valores de poropressão (ru) que
Cabe ressaltar que o corte está sob um ponto de destoem do comportamento monitorado. Diante
monitoramento de poropressão, o piezômetro disso, foi possível obter os valores de pressão neutra

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405
Figura 5. Seção 'O-O'.

necessários para a análise probabilística, sendo estes


valores utilizados da câmara A para o RSU-A e da Tabela 1. Parâmetros adotados aos materiais
câmara B para o RSU-B, tendo em vista a Peso Espe- Coesão Ângulo
profundidade das câmaras em relação ao resíduo Material cífico (kPa) de
medido por estas. (kN/m³) Atrito
(º)
RSU A e B 10,00 10,00 18,00
Geomembrana 10,00 0,00 15,00
Fundação 19,00 15,00 25,00

Cabe mencionar que não foi realizado tratamento


estatístico para os parâmetros de resistência em razão
de que não há ensaios disponíveis do RSU em estudo.
Desse modo, foram utilizados parâmetros
encontrados na literatura, entretanto, ressalta-se que
existe uma variabilidade inerente entre esses
parâmetros, como menciona Boscov (2008), que
relata que os parâmetros de RSU podem variar de
acordo com o tempo de deposição e outros fatores.
Nessa perspectiva, credibiliza-se o cálculo de
estabilidade pela abordagem probabilística, já que se
impõe um coeficiente de variação aos parâmetros, e,
consequentemente, como resultado obtêm-se um
índice de confiabilidade.
Os coeficientes de variação utilizados para o RSU,
foram inspirados nas constatações de Norberto
(2020), que preconiza os valores de 28,33% para o
peso específico, 65,79% para a coesão e 33,64% para
Figura 6. (A) Dados piezométricos do PZ101A; (B) Dados o ângulo de atrito, entretanto, se utilizados os
piezométricos do PZ101B. coeficientes listados acima para a coesão e ângulo de
atrito não seria possível a utilização de três desvios
2.4 Parâmetros geotécnicos dos materiais padrão da média, que cobre 99,74% de todas as
variáveis em uma distribuição normal. Por
Os parâmetros geotécnicos de coesão, peso conseguinte, visando essa condição, foi utilizado
específico e ângulo de atrito dos RSU têm como base 33,34% para a coesão e ângulo de atrito. Já para o
os valores compilados e tabelados por Boscov solo de fundação, a variação imposta foi de 5% para
(2008). No presente estudo não foram avaliadas as o peso específico, 30% para a coesão e 15% para o
mudanças de resistência com base na idade de ângulo de atrito, bem como, o adotado por Prior et al.
deposição dos resíduos. Os parâmetros de resistência (2022) e dentro da faixa preconizada por Assis
para a geomembrana lisa, foram obtidos através dos (2020). Considerando que o material de fundação
estudos de Rebelo (2003) e os parâmetros do solo de abaixo da camada de impermeabilização do AS é de
fundação, são característicos da região em estudo baixa permeabilidade, o parâmetro de poropressão
(Chiarello, 2022), como descritos na Tabela 1. foi considerado apenas nos RSU.

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406
No software Slide v6.025 foi configurada a histogramas em conjunto com a densidade dos dados,
superfície de ruptura como do tipo não-circular, referentes aos valores de poropressão da Câmara A e
impondo que a ruptura aconteça na interface de B, respectivamente. A maior amplitude de variação
contato da geomembrana com os RSU, como dos valores de poropressão ocorre para a Câmara A,
também, fez-se a análise global de estabilidade já os maiores valores de poropressão para a B. A
analisando qualquer superfície de ruptura. O método média da Câmara A foi de 0,2669 e da B de 0,5805,
de cálculo de análise de estabilidade utilizado foi o ou seja, há uma diferença de 54% entre os valores
de Morgenstern-Price, o método de amostragem médios. Reitera-se que a única diferença entre as
adotado para a análise probabilística foi o método de Câmaras seria a profundidade de medida, atrelada ao
Monte Carlo e os parâmetros probabilísticos fator tempo de deposição dos RSU, onde em maior
atribuídos a variação dos parâmetros de resistência e profundidade se encontram os resíduos mais antigos.
da poropressão nas camadas de RSU estão descritos Cabe ressaltar que não foi escopo do trabalho avaliar
no item 3.1. a normalidade dos dados, e, portanto os dados foram
avaliados em termos de densidade.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Tratamento estatístico

Ao avaliar os dados oriundos do monitoramento da


poropressão do PZ 101, realizou-se um gráfico em
formato de caixa (box plot), sendo esse apresentado
na Figura 7. Observa-se que os resultados de
poropressão são maiores para a profundidade de 25
m (Câmara B) do que para a profundidade de 10 m
(Câmara A), além disso, foram observadas medidas
discrepantes (outliers), as quais foram excluídas da
análise. Em ambos os casos, os dados apresentam
simetria, já que a linha da média se situa no centro da
caixa. Entretanto, a Câmara A apresenta uma maior
dispersão dos valores de poropressão, já que a caixa
é ligeiramente maior. Salienta-se ainda que a Câmara Figura 8. Histograma dos dados da Câmara A.
A apresenta o menor valor, enquanto a Câmara B o
valor máximo. A Câmara B indica uma menor
variação dos dados, com a média mais elevada.

Média

Mediana

Figura 9. Histograma dos dados de poropressão da Câmara


B.

Outliers Para a análise probabilística frente as variações no


aterro são necessários, como parâmetros de entrada,
o valor médio, o desvio padrão e o tipo de
distribuição dos dados medidos, estes parâmetros
Figura 7. Box Plot de poropressões do PZ-101.
estão descritos na Tabela 2.
Na Figura 8 e na Figura 9 pode-se observar os

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407
Tabela 2. Parâmetros estatísticos de entrada para análise.
Proprie- Distribui- Desvio
Material Média
dade ção padrão
Ru 0,267 0,089
Coesão 10,000 3,333
Ângulo
RSU A Normal 18,000 6,000
de atrito
Peso es-
10,000 2,833
pecífico
Ru 0,580 0,066
Coesão 10,000 3,333
Ângulo
RSU B Normal 18,000 6,000 Figura 11. Resultado da análise determinística e análise de
de atrito
probabilidade.
Peso es-
10,000 2,833
pecífico
Além disso, os valores de índice de confiabilidade
Coesão 15,000 4,500
(RI) obtidos (Figura 11) na análise de probabilidade
Ângulo para as distribuições normal e log-normal de 4,28 e
Funda- 25,000 3,750
de atrito Normal 3,52 são valores que representam boa performance,
ção
Peso es- segundo a relação proposta pela United States Army
19,000 0,950
pecífico Corps Engineers (USACE), onde um valor acima de
5,5 apresenta um bom nível de desempenho.
3.2 Análises de estabilidade A probabilidade de falha (FS<1,0) encontrada
pelo software através da análise de probabilidade foi
A análise de estabilidade no contato entre a igual a 0,00%, uma vez que todos os valores de FS
geomembrana e o resíduo, reteve um fator de encontrados foram superiores a 1,0, como
segurança determinístico igual a 1,519, análise está demonstrado na Figura 12.
considerando os valores fixos dos parâmetros
adotados aos materiais e o valor médio da 1
poropressão adotado para os resíduos influenciados 0,9 FS mínimo por
pelos piezômetros A e B. O método de Monte Carlo
Probailidade acumulada

0,8 norma = 1,5


teve uma convergência aceitável após cerca de 2.500 0,7
iterações (Figura 10), onde foi obtido um valor de FS 0,6
médio de 1,527 (Figura 11). 0,5
0,4
1,54
0,3
0,2
1,5
Fator de segurança médio

0,1

1,46 0
1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 2,4
Fator de segurança
1,42
Figura 12. Gráfico de probabilidade acumulada para
1,38
fatores de segurança na seção O-O do AS

1,34 Por meio do histograma da Figura 13, percebe-se


0 1000 2000 3000 4000 5000 que há uma probabilidade de ocorrência (PO) de
Número de interações 45,4% do FS estar abaixo de 1,5, tal fato, evidencia a
Figura 10. Iterações até convergência do método de Monte necessidade de um monitoramento contínuo do
Carlo. aterro, além de justificar a análise dos resultados de
FS menores que o sugerido pela normativa NBR
11682 (2009) para a segurança contra impactos
ambientais e riscos a vidas humanas de 1,5.

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408
3,00 1,5

PO = 45,4% PO = 54,6%

Fator de segurança médio


2,50 1,4
Frequência relativa

2,00 FS<1,5
1,3
FS>1,5
1,50
1,2
1,00
1,1
0,50
1
0,00 0 1000 2000 3000 4000 5000
1,12 1,24 1,36 1,48 1,60 1,72 1,84 1,96 2,08 2,20
Número de interações
Fator de segurança
Figura 13. Histograma de frequência de fator de segurança. Figura 15. Iterações até convergência do método de Monte
Carlo.
A análise de estabilidade sem induzir a ruptura na
Além disso, a probabilidade de falha gerada pelo
interface pode ser visualizada na Figura 14.
software foi de 10,34% e seus respectivos índices de
confiabilidade normal e lognormal foram de,
respectivamente, 1,35 e 1,48, os quais classificam o
aterro como perigoso de acordo com a USACE.
Ainda, as Figuras 16 e 17 relatam a probabilidade
acumulada do FS e a frequência relativa dos FS,
respectivamente.

1
0,9 FS mínimo por
Probailidade acumulada

0,8 norma = 1,5


0,7
0,6
Figura 14. Resultado da análise determinística e análise de
0,5
probabilidade.
0,4

Diante do exposto, percebe-se que a cunha de 0,3


ruptura apenas tangencia a geomembrana na região 0,2
próxima a base do talude ao contrário da Figura 11, 0,1
na qual a cunha percorre a geomembrana durante 0
quase todo o talude. Tal fato está atrelado ao tipo de 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 2,4

ruptura escolhido no programa, em uma impõem-se a Fator de segurança


ruptura em determinado local, enquanto na outra Figura 16. Gráfico de probabilidade acumulada para
vários locais são testados. Portanto, é notória a fatores de segurança na seção O-O do AS
importância de avaliar diferentes tipos de ruptura, já
1,80
que cada uma conduzirá a um resultado distinto.
Ademais, o FS determinístico atingido foi de 1,44 1,60 PO = 68,3% PO = 31,7%
1,40
e o médio probabilístico de 1,34, ambos inferiores ao
Frequência relativa

FS<1,5
preconizado por norma, o segundo foi estabilizado 1,20
1,00 FS>1,5
após cerca de 2500 interações, como evidenciado na
Figura 15. 0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,34 0,55 0,75 0,95 1,15 1,35 1,56 1,76 1,96 2,16 2,36
Fator de segurança
Figura 17. Histograma de frequência de fator de segurança.

Nota-se, através da Figura 16, que houveram FS


menores que 0,50, fato que ratifica a probabilidade de
falha encontrada, ao contrário do primeiro caso em

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409
que se induziu a ruptura. Em união a isso, através do Assis, A. P. (2020). Risk management for geotechnical
histograma da Figura 17, percebe-se que existe uma structures: consolidating theory into practice. Soils
probabilidade de ocorrência de 68,3% do FS estar and Rocks, 43(3 special issue), 311–336.
abaixo do requerido por norma de 1,50. Nessa Boscov, M. E. G. (2008). Geotecnia Ambiental. São
Paulo, 1o ed, Vol. 1. Oficina de Textos.
perspectiva, ambas as análises, com ou sem indução,
Catapreta, C. A. A., & Simões, G. F. (2016).
exprimem a necessidade de um monitoramento Monitoramento Ambiental e Geotécnico de Aterros
contínuo do aterro, visto que existem nos dois casos Sanitários. VII Congresso Brasileiro de Gestão
uma probabilidade de ocorrência significativa do FS Ambiental.
reter um valor menor que 1,50. Chiarello, G. P. (2022). Interação de Interfaces entre
Solo e Geomembranas por meio de Ensaios de
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Cisalhamento Direto. Universidade Federal de Santa
Maria. Santa Maria, RS.
O presente artigo teve como objetivo a análise de Flores Apaza, M., & Barros, J. M. de C. (2014). Análise
estabilidade de uma seção de um aterro sanitário Probabilística de Estabilidade de Taludes pelo
Método de Monte Carlo. XVII Congresso Brasileiro
através de um método de análise probabilístico,
de Mecânica Dos Solos e Engenharia Geotécnica.
visando a ruptura do maciço induzida ou não na Gerscovich, D. M. S. (2012). Estabilidade de Taludes (2o
interface da geomembrana com o RSU e como ed). Oficina de Textos.
variáveis os parâmetros de resistência e os valores de Gomes, C. R. Notas de Aula - Aula 3 - Método das
poropressão. Fatias das Análises de Estabilidade. Universidade
O modelo adotado de ruptura do maciço na Federal de Ouro Preto - Ouro Preto, MG.
interface do RSU com a geomembrana apresentou Lange, L. C., Cantanhade, Á. L., & Teixeira, E. N.
resultados coerentes com a hipótese proposta, já que (2008). Resíduos sólidos: projeto, operação e
na análise global a cunha de ruptura tangenciou a monitoramento de aterros sanitários: guia do
interface entre os materiais, bem como, o que foi profissional em treinamento (Vol. 2).
Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política
sugerido pelos autores ao impor uma superfície de
Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605,
ruptura na interface. de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Desse modo, foram apresentadas de modo mais Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
realista as rupturas, uma vez que, a interface Poder Executivo, Brasília, DF, 03 ago. 2010.
representa um ponto de heterogeneidade mais Maria, K., & Rebelo, W. (2003). Resistência de Interface
significativo do que os RSU representam por si só. entre Geomembranas e Solos Através do Ensaio de
Assim, com o uso da análise probabilística é possível Ring Shear. Universidade de São Paulo. São Paulo.
observar que existe a possibilidade de o talude Norberto, A.S.; Corrêa, C. L.; Mariano, M. O. H.; Jucá,
apresentar um FS menor que o preconizado por J. F. T. (2020). Statistical analysis of the variability
norma (<1,5) para estruturas deste porte, diante das of shear strength parameters of landfills. Journal of
Environmental Analysis and Progress, 9 p.
probabilidades de ocorrência estudadas no trabalho.
Palmeira, E. M. (2018). Geossintéticos em Geotecnia e
Por fim, destaca-se a necessidade de um Meio Ambiente. Oficina de Textos.
monitoramento contínuo do AS, de forma a ir ao Prior, A. D. R.; Falcão, P.R.; Souza, T. J.; Querelli, A.;
encontro dos princípios da sustentabilidade e da Baroni, M. (2022). Estudo da estabilidade de um
minimização de destruições ambientais. reservatório enterrado sob a luz dos conceitos da
confiabilidade. XI Seminário de Engenharia
AGRADECIMENTOS Geotécnica do Rio Grande do Sul (GEORS), 11 p.
Rebelo, K. M. W. Resistência de Interface entre
Os autores agradecem à Companhia Riograndense Geomembranas e Solos Através do Ensaio de Ring
de Valorização de Resíduos (CRVR) pela Shear. Universidade de São Paulo. São Carlos, SP.
2003. 76-149p. USACE (1997). Distribution
disponibilização dos dados topográficos e
Restriction Statement. Department of the Army,
piezométricos, a Coordenação de Aperfeiçoamento Washington DC 20314-1000, 15p.
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de Vilhena, A. (2018). Lixo Municipal - Manual de
estudos do primeiro autor, a FGS Geotecnia pela Gerenciamento Integrado (4o ed, Vol. 1).
bolsa e estudos do segundo autor e a Universidade Compromisso Empresarial para Reciclagem
Federal de Santa Maria (UFSM). (CEMPRE).
Wilson, D. C., & Velis, C. A. (2015). Waste
REFERÊNCIAS management - Still a global challenge in the 21st
century: An evidence-based call for action. Waste
ABNT (2009). NBR 11682. Estabilidade de Taludes. Management and Research (Vol. 33, Issue 12, p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de 1049–1051). SAGE Publications Ltd.
Janeiro.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


410
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Caracterização físico-química do lixiviado gerado no Aterro


Sanitário em Campina Grande –PB
Jessica Kaori Sasaki
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, jessicakaori@hotmail.com

Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, luisa.muricy12@gmail.com

Ketlyn Jaquelize Lima Sousa


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, eng.ketlynsousa@gmail.com

Rivaildo da Silva Ramos Filho


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, rivaildofilho31@gmail.com

Márcio Camargo de Melo


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, melomc90@gmail.com

RESUMO: O aumento da geração de resíduos sólidos intensifica a preocupação ambiental na gestão dos aterros sanitários.
A disposição de resíduos nesses sistemas, resulta na geração de lixiviado, que apresenta alto poder contaminante.
Considerando a necessidade de se compreender o comportamento físico-químico do lixiviado e sua relação com as
condições meteorológicas, este estudo objetiva caracterizar o lixiviado gerado no aterro sanitário situado em Campina
Grande (ASCG), Paraíba. Para o monitoramento do lixiviado foram coletadas amostras in natura durante o período de
out/21 a out/22, no qual foram realizadas análises dos parâmetros físico-químicos Sólidos totais, Sólidos Voláteis, pH,
Alcalinidade Total, Ácidos Voláteis, Nitrogênio Amoniacal Total e metais (Ferro, Manganês e Cromo), além de coleta
dos dados de precipitação. Para a análise estatística e temporal, utilizou-se o software Excel. Os resultados obtidos,
demonstraram que a maioria dos parâmetros, com exceção de pH e Sólidos Totais, apresentaram alto Coeficiente de
Variação. A partir dos dados do lixiviado, constatou-se que ASCG encontra-se em fase metanogênica e é classificado
como médio, por ter idade entre 5 e 10 anos. Com base nos gráficos e na matriz de correlação, observou-se que a
precipitação não influenciou diretamente os parâmetros físico-químicos, apesar de constatar visualmente que o efeito da
precipitação ocorreu nos meses posteriores à sua ocorrência. A composição do lixiviado é influenciada por diversos
fatores, tornando-se muito variável, Por fim, o conhecimento do comportamento do lixiviado é imprescindível para seu
correto gerenciamento e tratamento.

PALAVRAS-CHAVE: Lixiviado, Precipitação, Contaminação Ambiental, Recirculação.

ABSTRACT: The increase in the generation of solid waste intensifies the environmental concern in the management of
sanitary landfills. The disposal of waste in these systems results in the generation of leachate, which has a high
contaminating power. Considering the need to understand the physical-chemical behavior of the leachate and its
relationship with meteorological conditions, this study aims to characterize the leachate generated at the landfill located
in Campina Grande (ASCG), Paraíba. In order to monitor the leachate, samples were collected in natura during the period
from Oct/21 to Oct/22, in which analyzes of the physical-chemical parameters Total Solids, Volatile Solids, pH, Total
Alkalinity, Volatile Acids, Total Ammoniacal Nitrogen and metals (Iron, Manganese and Chromium),in addition to
collecting precipitation data. For statistical and temporal analysis, Excel software was used. The results obtained showed
that most parameters, with the exception of pH and Total Solids, showed a high Coefficient of Variation. From the leachate
data, it was found that ASCG is in the methanogenic phase and is classified as medium, as it is aged between 5 and 10
years. Based on the graphs and the correlation matrix, it was observed that precipitation did not directly influence the
physicochemical parameters, despite visually verifying that the effect of precipitation occurred in the months after its
occurrence. The composition of the leachate is influenced by several factors, making it very variable. Finally, knowledge
of the behavior of the leachate is essential for its correct management and treatment.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


411
KEYWORDS: Leachate, Precipitation, Environmental Contamination, Recirculation.

1 INTRODUÇÃO disso, esse monitoramento permite auxiliar a escolha


de técnicas de remediação e contenção de plumas de
Com o crescimento populacional associado ao contaminação, caso sejam detectadas, bem como
desenvolvimento econômico e, por consequência, o identificar possíveis tendências no teor de
incremento do consumo de produtos, aumenta-se a contaminantes (Bragagnolo et al., 2018).
geração de resíduos sólidos nas áreas urbanas, o que Portanto, tendo em vista a necessidade de se
intensifica a preocupação ambiental na gestão dos compreender o comportamento físico-químico do
aterros sanitários (Godecke et al., 2012). lixiviado e sua relação com as condições
A disposição de resíduos nesses sistemas, resulta meteorológicas, este estudo objetiva caracterizar o
na geração de lixiviado, conhecido popularmente lixiviado gerado no Aterro Sanitário em Campina
como chorume, que é o subproduto da degradação Grande (ASCG), Paraíba, relacionando os
química e biológica dos resíduos sólidos juntamente parâmetros físico-químicos com a precipitação.
com a percolação das águas de precipitação. Esse
efluente apresenta alto poder contaminante ao
ambiente devido a sua composição complexa e 2 MATERIAL E MÉTODOS
variável, na qual compreende a mistura de produtos
químicos, incluindo matéria orgânica, sais 2.1 Área de estudo
inorgânicos, poluentes orgânicos e metais pesados
(Bragagnolo et al., 2018; Zand & Abyaneh, 2020). O presente trabalho foi desenvolvido no aterro
O lixiviado é considerado o subproduto mais sanitário situado na Fazenda Logradouro II, distrito
ameaçador de um aterro sanitário. Dentre os de Catolé de Boa Vista, no município de Campina
possíveis impactos ambientais decorrentes dessa Grande, Paraíba, nas coordenadas geográficas
atividade, destacam-se a contaminação dos solos e de 07°16’38’’S, 36°00’51’’W (Figura 1). O município
águas subterrâneas e superficiais. Portanto, seu de Campina Grande possui uma população estimada
gerenciamento está entre as questões mais de 413.830 em 2021, uma área de 591,658 km²
importantes a serem levadas em consideração nas (IBGE, 2022), e está localizado na região semiárida,
atividades de concepção de projeto e operação de um com temperatura máxima anual de 27,8ºC, mínima de
aterro sanitário (Abunama et al. 2018). 19,2ºC e média 22,4ºC, com evaporação anual de
Em geral, as características físico-químicas do 1388,00mm/ano e precipitação média anual de 875,4
lixiviado são influenciadas por diversos fatores mm/ano (INMET, 2022).
como, condições climáticas, tipo de resíduo
depositado, questões operacionais e estruturais do
aterro, teor de umidade do resíduo, sistema de
revestimento e parâmetros locais (Abunama et al.,
2018; Nascimento et al., 2022).
Em regiões semiáridas, o fator climático tem
grande influência na geração desse líquido. Com
baixas precipitações e elevadas taxas de evaporação,
estas regiões tendem a produzir lixiviados mais
concentrados, com baixos volumes e com maior
potencial poluidor (Abunama et al., 2021). Ademais,
técnicas de recirculação do lixiviado nas células do
aterro intensificam os processos biodegradativos,
diminuindo o volume de efluente armazenado nas
lagoas de acumulação, podendo elevar as
concentrações de poluentes no efluente gerado
(Calabrò et al., 2018).
Desse modo, faz-se necessário um monitoramento
rigoroso a fim de garantir a qualidade ambiental da
área do aterro e do seu entorno e prevenir maiores
riscos de contaminação, visto que, há comprovação
de que água, solo e plantas do entorno dessas áreas,
são afetadas, principalmente com contaminantes Figura 1. Localização do ASCG.
como metais pesados (Rezapour et al., 2018;
Vongdala et al., 2019; Hussein et al., 2021). Além O ASCG teve sua operação iniciada em julho de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


412
2015, possui área de 64 ha, sendo 40 ha destinados à o que comprometeria a integridade das análises.
construção de células para o aterramento dos As amostras foram coletadas de acordo com a
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Foi projetado para NBR 9898:1987 e armazenadas em temperatura de
receber 350 toneladas de RSU por dia, porém, 4°C e encaminhadas para o Laboratório de Geotecnia
atualmente, recebe 682 ton.resíduo/dia, provenientes Ambiental e Biotecnologia (LGAB), pertencente à
de 70 municípios e 17 empresas privadas. O aterro Unidade Acadêmica de Engenharia Civil da
possui atualmente três Células de resíduos sólidos Universidade Federal de Campina Grande, onde foi
(Figura 2), sendo uma delas com dimensões 210 x realizado as análises e caracterizadas por parâmetros
210 x 40m (comprimento x largura x altura) e físico-químicos, de acordo com APHA, AWWA e
operação finalizada em fevereiro de 2020, outra com WEF (2017). Os parâmetros avaliados e
operação finalizada em 2022, e a Célula 3 que se procedimentos utilizados estão listados na Tabela 1.
encontra em operação. As Células 1 e 2 possuem
camada de base finalizadas e impermeabilizadas com Tabela 1 – Ensaios realizados para o monitoramento da
solo compactado, utilizando a argila bentonítica; já a qualidade dos líquidos no ASCG.
Célula 3, em operação, possui em sua base, manta Ensaio Unidade Método Metodolog
geotêxtil. empregado ia
O sistema de drenagem do lixiviado gerado no
Sólidos mg.L-1 Secagem a 103-
aterro consiste em drenagem horizontal, do tipo Totais (ST) 105 °C
espinha de peixe, que conduz o lixiviado até uma
tubulação presente na Lagoa 1 (L1). Além da L1, o Sólidos mg.L-1 -
lixiviado gerado no aterro é acumulado em outras três Voláteis(SV)
lagoas de tratamentos de lixiviado (L2, L3 e L4)
pH Adimensio Eletrométrico
(Figura 2), tendo como tratamento a evaporação e nal
recirculação para as células de resíduos.
Alcalinidade mgCaCO3. Titulação
Total L-1 potenciométrica APHA,
AWWA e
Ácidos mgH/L - WEF
Voláteis (2017)

NAT1 mg..L-1 Destilação e


titulação

Cloretos mg.L-1 Argentométrico

Metais (Fe, mg.L-1 Espectrometria


Mn, Cr)2 de absorção
atômica
Legenda: 1NAT – Nitrogênio Amoniacal Total, 2Fe- Ferro,
Mn- Manganês, Cr- Cromo,

A análise do comportamento temporal foi feita a


partir da amostragem mensal do lixiviado, durante o
período de outubro de 2021 a outubro de 2022,
totalizando 12 amostras. Para obter uma relação dos
parâmetros analisados com a precipitação, foram
utilizados os dados provenientes da estação do
INMET no período de out/21 a dez/21, e da estação
Figura 2. Células de RSU e lagoas de lixiviado do ASCG. meteorológica automatizada localizada no ASCG, no
período de jan/22 a out/22.
2.2 Monitoramento do Lixiviado Para a análise estatística, os dados foram
analisados quanto à estatística descritiva e matriz de
Para o monitoramento do lixiviado foram coletadas correlação, utilizando o software Excel.
amostras em um ponto: lixiviado in natura que sai na
tubulação da L1 (Tub.L1) (Figura 2), durante o
período de out/21 a out/22. Vale salientar que não foi 3 RESULTADOS
possível realizar o monitoramento no mês de Agosto
de 2022 porque a Tub.L1 estava submersa na lagoa,

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413
3.1 Análise estatística dezembro de 2021, abril e maio de 2022, alcançando
valores em torno de 11000 mgCaCO3.L-1. Em
Os resultados da análise estatística dos parâmetros contrapartida, o menor valor aconteceu no mês de
físico-químicos do lixiviado são apresentados na março de 2022, com valor de 7000 mgCaCO3.L-1.
Tabela 2. Com relação a precipitação, percebe-se que os
maiores volumes de chuvas aconteceram entre os
Tabela 2- Parâmetros físico-químicos do lixiviado meses de março a julho de 2022, por outro lado, os
Parâmetros1 Mín. Máx. Média ± DP2 CV3 menores índices ocorreram entre os meses de outubro
pH 8,01 8,38 8,15 ± 0,11 1,35 de 2021 a janeiro de 2022 e agosto a outubro de 2022,
Alcalinidade 9208,33 ±
Total
7000,00 11125,00
1022,94 11,11 com valores variando de 0,1mm a 223,5mm.
Ácidos 1257,50 ±
600,00 3450,00 Ph Precipitação (mm)
Voláteis 916,26 72,86 250 8,5
6120,60 ±

Precipiação (mm)
Cloretos 4998,45 7097,80 200 8,4
633,68 10,35 8,3
Ferro 1,79 3,76 2,37 ± 0,57 24,17 150 8,2

pH
Manganês 0,29 1,37 0,65 ± 0,34 52,55 100 8,1
Cromo 0,47 1,37 0,69 ± 0,26 37,53 8
1803,08 ± 50 7,9
NAT 938,00 2338,00
523,43 29,03 0 7,8

abr/22

jun/22
nov/21

mar/22

jul/22
out/21

dez/21

set/22
out/22
mai/22

ago/22
jan/22
fev/22
Sólidos 19358,30 ±
15800,00 21700,00
Totais (ST) 1846,11 9,54
Sólidos
7054,17 ± Mês de coleta
Voláteis 4000,00 15300,00
3045,22
(SV) 43,17 Figura 3. Evolução temporal do pH do lixiviado.
Legenda: ¹Os parâmetros Cloreto, Ferro, Manganês,
Cromo, Sólidos Totais e Sólidos Voláteis estão na unidade
mg.L-1, o pH é adimensional, a Alcalinidade Total está na Alcalinidade Precipitação (mm)
unidade mgCaCO3.L-1, os Ácidos voláteis estão na 250 12000
unidade mgH.L-1 e NAT está na unidade de mgN.L-1; pH
Precipatação (mm)

200 10000
– potencial Hidrogeniônico, NAT – Nitrogênio Amoniacal

mgCaCO3/L
8000
150
Total. 2DP- Desvio Padrão ao nível de confiança de 95%; 6000
CV3- Coeficiente de Variação em porcentagem. 100
4000
50 2000
Analisando os valores mostrados na Tabela 2, 0 0
percebe-se que a maioria dos parâmetros, com
jun/22
abr/22
nov/21

mar/22

mai/22

jul/22
ago/22
set/22
out/21

dez/21

fev/22

out/22
jan/22

exceção de pH e Sólidos Totais, apresentaram um


alto CV (Coeficiente de Variação), variando de Mês de coleta
10,35% a 52,55%. Isso demonstra uma grande Figura 4. Alcalinidade do lixiviado.
dispersão dos dados, ao longo do tempo,
características típicas de efluentes como o lixiviado. As Figuras 5, 6 e 7 apresentam, respectivamente,
O pH apresentou coeficiente de variação de a evolução temporal dos parâmetros Ácidos Voláteis,
1,35%, sendo classificado como baixo, seus valores Cloretos e NAT ao longo do tempo em conjunto com
variaram de 8,01 a 8,38, demonstrando que o os volumes de chuvas mensais.
lixiviado tem caraterísticas básicas. Já os Sólidos
Totais apresentarem CV de 9,54%, sendo
Ácidos graxos voláteis Precipitação (mm)
classificado também como baixo, seus valores
variaram de 15.800,00 mg.L-1 a 21.700,00 mg.L-1 250 4000
3500
Precipetação (mm)

200 3000
3.2 Evolução temporal dos parâmetros 150 2500
mgH/L

2000
100 1500
As Figuras 3 e 4 ilustram, respectivamente, a 1000
50
variação do pH e Alcalinidade ao longo do tempo, 500
juntamente com o volume de chuvas. Percebe-se que 0 0
abr/22

jun/22
nov/21

set/22
mar/22

jul/22
out/21

dez/21

fev/22

out/22
mai/22

ago/22
jan/22

os maiores valores de pH ocorreram nos meses de


outubro de 2021 e outubro de 2022, alcançando
Mês de coleta
valores próximos a 8,4. Por sua vez, o menor valor
ocorreu no mês de abril de 2022, atingindo o valor de Figura 5. Ácidos Voláteis do lixiviado.
8,01.
Já a Alcalinidade teve seus picos nos meses de De acordo com o comportamento mostrado na

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414
Figura 5, os Ácidos Voláteis, apresentaram grande
Fe Cr Mn Precipitação (mm)
variabilidade mensal, corroborado pelo alto valor de
CV. Seus maiores índices ocorreram em fevereiro e 250 4
3,5
julho de 2022, atingindo valores em torno de 3000

Precipitação (mm)
200
3
mgH.L-1, por sua vez, o restante dos meses 150 2,5

mg/L
apresentaram valores bem inferiores, não superando 2
1500 mgH.L-1. 100 1,5
1
50
0,5
Cloretos Precipitação (mm) 0 0

abr/22

jun/22
nov/21

mar/22

jul/22
out/21

dez/21

set/22
out/22
fev/22

mai/22
jan/22

ago/22
250 8000
7000
Precipitação (mm)

200 6000 Mês de coleta


150 5000
Figura 8. Metais do lixiviado.

mg/L
4000
100 3000
50 2000 A Figura 9 mostra o comportamento dos Sólidos
1000 Totais (ST) e Voláteis (SV).
0 0
abr/22

jun/22
nov/21

mar/22

jul/22
out/21

dez/21

fev/22

set/22
out/22
mai/22

ago/22
jan/22

Sólidos Totais Sólidos Voláteis Precipitação (mm)


Mês de coleta
Figura 6. Cloretos do lixiviado. 250 25000
Precipitação (mm)
200 20000
Os Cloretos indicaram certa estabilidade ao longo 150 15000

mg/L
dos meses, com baixas variações mensais, com
100 10000
valores variando entre 4998,45 a 7097,80 mg.L-1,
conforme observado na Figura 6. 50 5000
0 0

jun/22
nov/21

abr/22

jul/22
out/21

dez/21

mar/22

out/22
fev/22

mai/22

ago/22
set/22
jan/22

NAT Precipitação (mm)


250 2500
Mês de coleta
Precipitação (mm)

200 2000 Figura 9. Sólidos Totais e Voláteis do lixiviado.


150 1500
mgN/L

100 1000
Os ST apresentaram valores variando entre
15800,00 a 21700,00 mg.L-1, tendo sua menor
50 500 concentração no mês de junho de 2022 e maior
0 0 concentração nos meses de dezembro de 2021 e maio
jun/22
jul/22
abr/22
nov/21

mar/22

mai/22

ago/22
out/21

dez/21

fev/22

set/22
out/22
jan/22

de 2022. Enquanto os SV tiveram resultados variando


entre 4000,00 a 15300,00 mg.L-1, com sua menor e
Mês de coleta maior concentração nos meses de junho de 2022 e
Figura 7. NAT do lixiviado. outubro de 2022, respectivamente.
De maneira geral, a partir dos gráficos e da matriz
O parâmetro NAT apresentou uma diminuição na de correlação feita, não foi observada correlação forte
concentração a partir do mês de maio de 2022, tendo entre a precipitação com os parâmetros analisados,
seu menor índice no mês de setembro de 2022, com com valores variando entre 0 e 0,3, classificados
valor de 938,00 mgN.L-1. como correlação fraca (Callegari-Jacques, 2003).
A Figura 8 apresenta o comportamento dos metais Apesar de constatar visualmente que o efeito da
Fe, Cr, Mn. É possível observar que o Fe é o metal precipitação ocorreu nos meses posteriores de sua
que apresentou maior concentração durante todo o ocorrência, para os parâmetros NAT, Fe e Cr.
período de análise, apresentando maior valor em Ocorrendo diminuição no NAT e aumento de Fe e Cr,
julho de 2022. Enquanto o Mn apresentou a segunda após intensas chuvas.
maior concentração entre outubro de 2021 a março de
2022 e depois em maio de 2022, onde teve sua maior
concentração (1,37 mg.L-1). Já o Cr começou a ter 4 DISCUSSÃO
maiores concentrações a partir de abril de 2022,
chegando até ultrapassar os valores do Mn. As características do lixiviado de aterro sanitário
apresentam diferenças consideráveis devido a
variações na composição do resíduo e teor de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


415
umidade, bem como fatores sazonais, como ASCG seguiram a ordem média de Fe>Cr>Mn (2,37
temperatura e precipitação (Costa et al., 2019). O ± 0,57 > 0,69 ± 0,26 > 0,65 ± 0,34). Valores mais
estudo desse efluente é necessário, pois permite baixos de metais, como o encontrado neste estudo,
avaliar o comportamento do aterro ao longo dos anos, está relacionado com valores mais elevados de pH
além de proporcionar tomadas de decisões de qual (maior que 8), que faz com que a lixiviação de metais
tratamento melhor se adequa ao lixiviado em estudo. pesados seja limitada, diminuindo suas
A idade do aterro é um dos fatores mais importantes. concentrações no lixiviado (Anand & Palani, 2022).
A idade do lixiviado é comumente classificada em Rouidi et al. (2020) e Vaverková et al. (2019),
três estágios, de acordo com Foo & Hameed (2009): analisaram metais em lixiviado dos aterros sanitários
jovem (menos de 5 anos), médio (5 a 10 anos) e na Argélia e na República Tcheca, e encontraram
maduro (mais de 10 anos). A partir dessa valores de Cr de 0,64 e 0,78 ± 0,43 mg.L-1,
classificação, o lixiviado do ASCG, é classificado respectivamente, e que são bem próximos dos valores
como médio. obtidos neste trabalho. Comportamento semelhante
O pH relaciona-se com a degradação dos resíduos também foi encontrado por Abd EL-Salam & Abu-
sólidos e, portanto, indica o grau de estabilização do Zuid (2015) no lixiviado de um aterro no Egito,
lixiviado. Os resultados encontrados neste estudo constatando a presença de Mn na concentração de
demonstram que, em todo o período de análise, o 0,839 ± 0,165 mg.L-1, Cr a 0,62 ± 0,044 mg.L-1 e Fe
lixiviado apresentou-se em condições básicas, com a 6,314 ± 1,827 mg.L-1, estando bem próximos dos
valores tendendo a 8,1. Essa tendência pode indicar valores encontrados no presente estudo. Białowiec
que há uma acelerada degradação dos resíduos (2015) encontraram altos valores de Zn no lixiviado
sólidos urbanos, sugerindo que esse processo do aterro em Zakurzewo, Polônia, com valores de
encontra-se na fase metanogênica (Kjeldsen et al., 45,23 ± 3,62 mg/L, além dos metais Pb (0,23 ± 0,04)
2002). Além disso, a constância dos valores, bem e Cr (0,07 ± 0,03). Os mesmos autores avaliaram o
como as pequenas variações, na faixa de 7,5 a 9, lixiviado de outro aterro situado em Wola
podem apontar que o lixiviado encontra-se Pawłowska, Polônia, encontrando, entre outros, a
estabilizado (Abunama et al., 2021). Comportamento presença de Zn (61,68 ± 4,54 mg/L), Pb (0,41 ± 0,08)
similar a este, também foi encontrado por Amendola e Cr (0,05 ± 0,04). Apesar de não encontrar
et al. (2019) que analisou o lixiviado gerado por um correlação forte da precipitação com os parâmetros
aterro no Rio de Janeiro. analisados, foi observado que, em geral, os maiores
A Alcalinidade do lixiviado tem relação com a valores de metais encontrados coincidem com os
decomposição bioquímica e com o processo de meses de maior precipitação (maio a julho de 2022).
dissolução. Essas reações produzem bicarbonato, que O mesmo comportamento foi observado por
representa o dióxido de carbono dissolvido, principal Vahabian et al. (2019), que no período chuvoso, os
componente da Alcalinidade (Mahapatra, 2011). valores de todos os parâmetros analisados, dentre
Valores próximos de Alcalinidade, aos encontrados eles, Fe, Mn e Cr, foram maiores devido a percolação
neste trabalho, foram vistos por Naveen et al. (2017) das chuvas nos resíduos do aterro (Mavakala et al.,
(faixa de 10.800 a 11.200 mg.L-1), em lixiviado do 2016). O inverso ocorreu nos estudos de Xaypanya et
aterro localizado na Índia. Vale salientar que altos al. (2018) e Salleh e Hamid (2013), em que as
teores de Alcalinidade resultam no tamponamento do menores concentrações de Cr, foram encontradas no
lixiviado, o que impede bruscas variações no pH período chuvoso. Enquanto que o Fe (Salleh &
(Nascimento et al., 2022), como constatado neste Hamid, 2013), não foi afetado pela chuva.
trabalho. Quanto aos valores de NAT, houve diminuição a
Altos teores de Cloretos, como aqueles partir do mês de julho, e não houve influência direta
encontrados neste estudo (4998,45 a 7097,80 mg.L- com a precipitação ocorrida neste mês. Entretanto,
1
), podem indicar a presença de sais solúveis nos pode ter ocorrido influência da intensa chuva
resíduos sólidos, oriundos, principalmente de ocorrida nos meses anteriores, já que o local de coleta
resíduos domésticos (Naveen et al., 2017). Os do lixiviado é uma tubulação submersa, que sai de
resultados obtidos neste estudo, com relação a dentro das Células de resíduos e, por isso, o efeito nas
cloretos e NAT, assemelham-se aos obtidos por mudanças das características do lixiviado não
Abunama et al. (2021) que analisou o lixiviado em ocorram imediatamente.
um aterro no semiárido. Os valores de NAT neste O valor médio de ST, encontrado neste trabalho
estudo variaram de 938 a 2.338 mgN.L-1 e, de acordo (19.358,30 mg.L-1), está próximo ao valor encontrado
com o abordado por Costa et al. (2019), lixiviados de por Rouidi et al. (2020) (18.700 mg.L-1), no lixiviado
aterros sanitários brasileiros podem conter teores do aterro em Argel, Argélia. Os mesmos autores
superiores a 2.000 mgL-1. encontraram valor médio de SV de 5.605 mg.L-1,
Os valores de metais encontrados no lixiviado do abaixo do valor médio aqui encontrado (7.054,17

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


416
mg.L-1). Vale ressaltar que o lixiviado estudo por nas tomadas de decisão, a fim de garantir a qualidade
Rouidi et al. (2020), também encontra-se na fase ambiental da área do aterro sanitário.
metanogênica.
No estudo realizado por Baettker et al. (2020) em
lixiviado do aterro em Curitiba, Brasil, com idade AGRADECIMENTOS
próxima ao lixiviado do presente estudo, algumas
características foram semelhantes. Dentre elas, o pH Ao Grupo de Geotecnia Ambiental (GGA) pela
(7,9 a 8,4), ST (8.275 a 25.985 mg.L-1), SV (2.525 a disponibilização dos dados de monitoramento do
7.505 mg.L-1), Alcalinidade (7.133 a 13.003 mg.L-1) ASCG. À Capes, CNPQ e FAPESQ pelo apoio
e NAT (1.792 a 3.435 mg.L-1). financeiro.
A composição do lixiviado é influenciada por
diversos fatores, tornando sua variabilidade muito
flutuante (Baettker et al., 2020), o que foi observado REFERÊNCIAS
na maioria dos parâmetros abordados neste estudo. O
que torna o conhecimento do comportamento do Abd El-salam, M. M. & Abu-zuid, G. I. (2015). Impact of
lixiviado imprescindível, para seu correto landfill leachate on the groundwater quality: A case
gerenciamento e tratamento. study in Egypt. Journal of advanced research, v. 6, n. 4,
Um fator que pode ter influenciado na baixa p. 579-586.
Abunama, T., Othman, F., Nilam, T.I.T. (2021)
correlação entre os parâmetros e a precipiação, diz
Comparison of landfill leachate generation and
respeito a localização do ponto de amostragem que se pollution potentials in humid and semi-arid climates.
encontra na tubulação que sai de dentro das células International Journal of Environment and Waste
de resíduos, e por isso, o efeito nas mudanças das Management, v. 27, n. 1, p. 79-92.
características do lixiviado não ocorram Abunama, T., Othman, F., Younes, M. K. (2018)
imediatamente após as chuvas. Predicting sanitary landfill leachate generation in
humid regions using ANFIS modeling. Environmental
Monitoring and Assessment, v. 190, n. 597, p. 1-15.
5 CONCLUSÃO Anand, N., Palani, S. G. (2022). A comprehensive
investigation of toxicity and pollution potential of
municipal solid waste landfill leachate. Science of The
Este estudo mostrou que os parâmetros físico-
Total Environment, v. 838, p. 155891.
químicos do lixiviado apresentaram alta Amendola, C. D. E., Viana A. F., Paes, I. T., Freitas, V. S.
variabilidade temporal, demonstrado pelo alto valor Campos, T. M. P. (2019). Caracterização Físico-
do Coeficiente de Variação dos parâmetros, com Química do Chorume do Aterro Metropolitano de
exceção de pH e Sólidos Totais. Jardim Gramacho, Duque de Caxias-RJ, entre 2016 e
Os resultados indicam que o lixiviado do ASCG 2018.Anais IX Congresso Brasileiro de Geotecnia
possui uma acelerada degradação dos resíduos, Ambiental (REGEO 2019) VIII Congresso Brasileiro
sugerindo que o processo de biodegradação encontra- de Geossintéticos (Geossintéticos 2019), São Carlos,
se na fase metanogênica. Além disso, os altos teores São Paulo. p. 757-764.
de Cloretos podem indicar a presença de sais solúveis APHA; AWWA; WEF. (2017). Standard methods for the
examination of water and wastewater. 23 edition.
nos resíduos, que provavelmente são oriundos dos
Washington: APHA. 1496 p.
resíduos domésticos. Com relação aos metais, Baettker, E. C., Kozak, C., Knapik, H. G., Aisse, M. M.
observou-se que, os baixos valores estão (2020). Applicability of conventional and non-
relacionados com valores mais elevados de pH, que conventional parameters for municipal landfill
faz com que a lixiviação de metais pesados seja leachate characterization. Chemosphere, v. 251, p.
limitada. Os demais parâmetros apresentaram valores 126414.
semelhantes a estudos já publicados. Białowiec, A. (2015). Transpiration as landfill leachate
Com relação aos dados meteorológicos, phytotoxicity indicator. Waste Management. v.39, p.
constatou-se que a relação da precipitação com os 189-196.
parâmetros físico-químicos apresentou correlação Bragagnolo, L., Ferrazzo, S. T., Brum, F. M., Korf, E. P.,
Mossi, A. J. (2018). Qualidade do lixiviado e sua
fraca. Portanto, a precipitação não influenciou
interferência na água subterrânea adjacente ao aterro
diretamente os parâmetros físico-químicos. Apesar sanitário de palmeira das missões (RS). Revista de
de observar visualmente que o efeito das chuvas Gestão de Água da América Latina, Porto Alegre, v.
ocorreu nos meses posteriores de sua ocorrência, para 15, e8, p. 1-22.
os parâmetros NAT, Fe e Cr. Calabrò, P.S., Gentili, E., Meoni, C., Orsi, S., Komilis, D.
Entender o comportamento do lixiviado, ao longo (2018). Effect of the recirculation of a reverse osmosis
do tempo, é fundamental para seu correto concentrate on leachate generation: A case study in an
gerenciamento e tratamento, auxiliando os gestores Italian landfill. Waste Management, v. 76, p. 643-65.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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418
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Caracterização geotécnica de solo utilizado em camada de


cobertura de aterro sanitário em Aparecida de Goiânia/GO
Thiago Lopes dos Santos
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, thiago.lopes@discente.ufg.br

Vinícius Naves de Oliveira


Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, viniciusnaves@discente.ufg.br

Laís Roberta Galdino de Oliveira


Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Brasil, laisroberta@ufg.br

RESUMO: Os aterros sanitários são obras de engenharia que visam confinar resíduos sólidos em um determinado espaço,
controlando suas emissões de gases, geração de percolado e diversas outros fatores que podem afetar negativamente o
meio ambiente. Para tanto, são considerados um dos principais meios de disposição final ambientalmente adequada.
Dentre os inúmeros componentes de um aterro, a camada de cobertura é essencial para que os resíduos possam ser isolados
do meio ambiente evitando a propagação de vetores, o aumento da umidade nos resíduos e consequentemente o aumento
da geração de percolado e emissões fugitivas de biogás, necessitando, para tanto, de uma maior campanha de investigação
e/ou adequação. Neste sentido, o presente trabalho visa realizar a caracterização geotécnica de um solo utilizado como
camada de cobertura de um aterro sanitário em Aparecida de Goiânia, por meio de ensaios laboratoriais , com o objetivo
de determinar se algumas das principais características geotécnicas que influenciam na eficiência das camadas de
cobertura atendem à critérios observados em algumas normas regulamentadoras na literatura . Os resultados encontrados
apresentaram uma certa variação em cada normativa utilizada como parâmetro, porém ao analisar como um topo os
parâmetros do solo utilizado no aterro foram favoráveis para o coeficiente de permeabilidade, limite de liquidez e
porcentagem de finos, evidenciando o material como adequado ao uso em camadas de cobertura de aterros.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia ambiental, Parâmetros geotécnicos, Permeabilidade.

ABSTRACT: Sanitary landfills are engineering works that aim to confine solid waste in each space, controlling its gas
emissions, percolate generation and several other factors that can negatively affect the environment. Therefore, they are
considered one of the main means of environmentally sound final disposal. Among the numerous components of a landfill,
the cover layer is essential so that the waste can be isolated from the environment, avoiding the propagation of vectors,
the increase of moisture in the waste and, consequently, the increase in the generation of percolate and fugitive emissions
of biogas, requiring, therefore, a greater campaign of investigation and/or adequacy. In this sense, the present work aims
to carry out the geotechnical characterization of a soil used as a cover layer of a sanitary landfill in Aparecida de Goiania,
through laboratory tests, with the objective of determining whether some of the main geotechnical characteristics that
influence the efficiency of the coverage layers meet the criteria observed in some regulatory standards in the literature.
The results found showed a certain variation in each normative used as a parameter, however when analyzing as a top the
parameters of the soil used in the landfill were favorable for the permeability coefficient, liquidity limit and percentage
of fines, evidencing the material as suitable for use in landfill cover layers.

KEY WORDS: Environmental geotechnics, Geotechnical parameters, Permeability.

1 INTRODUÇÃO ambientalmente adequada (BRASIL, 2010). No


Brasil, as formas mais comuns de destinação final são
Os resíduos sólidos são definidos como materiais os lixões, aterros controlados, aterros sanitários, a
descartados e resultantes de atividades humanas pela incineração e a reciclagem (MADEIRA, BOTELHO
Lei nº 12.305 de 2010, que instituiu a Política E VIEIRA, 2020).
Nacional de Resíduos Sólidos, devendo ser Os aterros sanitários são uma das alternativas
encaminhados a uma destinação final mais adequadas de descarte de resíduos sólidos, pois

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


419
são projetados para que possam comportar e confinar existam algumas normas como a NBR 13896
uma grande quantidade de resíduos em uma pequena (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
área de forma segura, garantindo que os danos à TÉCNICAS, 1997), que dispõe critérios para projeto,
saúde pública e impactos ambientais sejam implantação e operação de aterros de resíduos não
controlados e reduzidos (MARIANO, 2008). Essa perigosos (COSTA, 2015).
forma de disposição final traz algumas características Assim, existem algumas regulamentações
como a possibilidade de drenar e aproveitar o biogás nacionais como o da Companhia Ambiental do
gerado, direcionar todo o percolado gerado para uma Estado de São Paulo (CETESB, 1993) e da
estação de tratamento e também evitar a infiltração Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,
de águas pluviais, quando seu sistema de escoamento 1997), como também internacionais, como o da
superficial é bem dimensionado. Além disso, com o Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
emprego do aterro sanitário, vetores causadores de (United States Environmental Protection Agency -
doenças são melhor controlados (COSTA, 2015). USEPA) (USEPA, 2004), que estabelecem e
No entanto, para evitar a emissão direta do biogás recomendam a adoção de determinados valores para
para a atmosfera, a formação excessiva de lixiviado, parâmetros geotécnicos dos materiais que podem
proliferação de vetores e odores, os aterros sanitários compor a camada de cobertura de um aterro sanitário
possuem os sistemas de cobertura diária, (ARAÚJO, 2008).
intermediária e final (Silva e Tagliaferro, 2021). Araújo (2018), realizou em sua pesquisa a análise
Uma das características principais dos aterros em 12 normativas regulamentadoras sendo elas
sanitários são as camadas de cobertura, por meio do nacionais e internacionais, nesta pesquisa pode-se
emprego de material inerte, geralmente solo, que destacar que o principal parâmetro que está presente
estão presentes na conclusão de cada um de seus em todas as normativas é o critério da permeabilidade
patamares ou etapas de operação (SOUZA et al., da água, sendo os valores sempre variando entre
2019). O solo utilizado como camada de cobertura de 1,0x10-7 e 10-10 m/s, porém algumas destas também
aterros sanitários normalmente é proveniente de apresentam como parâmetros avaliativos o tipo de
jazidas encontradas na área do próprio aterro, pois solo com a porcentagem de finos superior a 30% e
transportar o material de outra localidade pode tornar ensaios de Limites de consistência.
o projeto inviável (Santos, 2021). Nesse sentido, o objeto desse trabalho é, portanto,
Dentre as diversas funções dessas camadas, a partir da coleta de amostra de solo utilizado para
destacam-se: o isolamento do resíduo ao meio compor a camada de cobertura de um aterro sanitário,
externo, a diminuição da infiltração de água no aterro executar ensaios e comparar os parâmetros
(que evita o aumento da umidade e uma maior geotécnicos com valores encontrados na literatura e
geração de percolado) e o controle de entrada e saída também com normas reguladoras, verificando se o
de gases (MARIANO, 2008). Além disso, a baixa solo é adequado para tal finalidade.
permeabilidade que os aterros precisam ter, servem
justamente para reduzir no meio do aterro, a produção 2 MATERIAL E MÉTODOS
de lixiviado e minimizar a entrada de águas de
chuvas. O processo de lixiviação é pode ocorrer em 2.1 Caracterização da área de estudo
diversos materiais, porém, a lixiviação do solo é uma
das mais comuns e, consequentemente, mais A amostra de solo foi coletada nas seguintes
preocupantes, ela está relacionada ao processo de coordenadas geográficas: 16º47’37,84’’S
arraste dos sais minerais presentes no solo, 49º12’11,94’’O, local onde é armazenado o solo
caracterizando uma forma inicial uma erosão oriundo de preparo de áreas para a disposição de
(SOUZA et al., 2019). resíduos, próximo ao Centro de Gerenciamento de
Entretanto, para que as camadas de cobertura do Resíduos – CGR, que se trata de um aterro sanitário
aterro possam proporcionar todas essas vantagens particular que tem como objetivo atender a região
com maior eficiência, esta deve ser bem projetada, metropolitana de Goiânia e municípios próximos.
utilizando-se os materiais mais adequados para que O CGR pertence à Metropolitana Serviços
se possa atender diversos critérios que influenciam na Ambientais, situada na Av. Geraldo Amaro Gouveia,
sua eficiência, como a condutividade hidráulica, Setor Vale do Sol, Aparecida de Goiânia. Até o
granulometria, propriedades índices do solo momento, o CGR já recebeu cerca de 16.000
(umidade, peso específico, índice de vazios), entre toneladas de resíduos. Esse aterro encontra-se em
outros (SOARES, 2011; MARIANO, 1999). operação desde abril de 2019 e recebe resíduos de
Vale ressaltar que atualmente no Brasil o método serviços de saúde, urbanos e industriais
de dimensionamento e construção da camada de (METROPOLITANA SERVIÇOS AMBIENTAIS,
cobertura final ainda não é normatizada, embora 2022).

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


420
2.1.1 Procedimentos experimentais camada de proteção dos aterros sanitários.
A seguir são listadas as normas que foram
Para essa pesquisa foi feita a coleta de uma amostra utilizados para cada etapa do procedimento
deformada de solo (Figura 1), de 50 kg, de acordo experimental deste trabalho:
com a NBR 9604 (ABNT, 2016g). A coleta da
amostra foi realizada com o auxílio de uma pá. A • Determinação da umidade – NBR 6457
mesma foi acondicionada em um recipiente plástico (ABNT, 2016a);
para preservar sua umidade, e em seguida foi levada • Massa específica dos grãos de solo – NBR
para a sede do Grupo GeoBrasil, onde foram 6458 (ABNT, 2016b);
realizados ensaios para a determinação dos • Limite de liquidez (LL) – NBR 6459 (ABNT,
parâmetros geotécnicos. 2016c);
• Limite de plasticidade (LP) – NBR 7180
(ABNT, 2016d);
• Análise granulométrica – NBR 7181 (ABNT,
2016e);
• Compactação – NBR 7182 (ABNT, 2016f);
• Coleta de amostras de solo - NBR 9604
(ABNT, 2016g)
• Permeabilidade saturada à água do solo –
NBR 14545 (ABNT, 2021).

A classificação do solo foi feita pelo Sistema


Unificado de Classificação de Solos (SUCS).
Após a realização de todos esses procedimentos e
ensaios, foi feita uma pesquisa bibliográfica, onde
encontrou-se os principais critérios adotados pelas
normas regulamentadoras nacionais e internacionais.
A pesquisa atual utilizou-se, das normas
reguladoras da CETESB (1993), ABNT (1997) e
USEPA (2004), optando por estas devido aos
resultados dos ensaios obtidos e por elas
apresentarem parâmetros próximos para serem
Figura 1. Coleta do solo estudado. comparados.
A normativa da ABNT (1997), utiliza-se como
Estes parâmetros foram adotados mediante a base somente apenas o parâmetro da permeabilidade
analise das normativas pesquisadas no trabalho de como o critério avaliativo. Já a normativa da USEPA
Araujo (2018), o qual fez um comparativo com mais (2004) além do parâmetro da permeabilidade avalia
de 12 normas regulamentadoras, tanto internacionais também o índice de plasticidade do solo e a
quanto nacionais, e observou-se que em algumas porcentagem de finos que os solos a serem utilizados
dessas normativas eram necessários ensaios básicos devem possuir. Por fim a ultima normativa avaliada
de caracterização do solo: tais como granulometria, foi a da CETESB (1993), q dentre as três é a que
para definição da porcentagem de fino; e limites de apresenta a maior quantidade de parâmetros de
consistência, para determinar a umidade de análise, que além da permeabilidade, índice de
consistência na mudança de variação do solo entre o plasticidade e porcentagem de finos, avalia tbm o
estado líquido e plástico. Além da caracterização, limite de liquidez do solo e a classificação que o solo
também observou-se a necessidade de realizar possui pelo Sistema Unificado de Classificação de
ensaios de compactação dos solos, visto que este Solos (SUCS).
parâmetro é fundamental para consegui moldar uma Por foi observado que o critério de compactação,
amostra para o ensaio de permeabilidade dos solos, em todas as normas reguladoras adotadas não é um
que é o parâmetro base de regulamentação de todos parâmetro definido, porém ainda assim merece
os aterros utilizados. destaque devido a sua importância durante todo o
A permeabilidade por sua vez, torna-se o processo de construção de um aterro e em cada
parâmetro ideal e utilizado nas normativas alteamento do mesmo.
pesquisadas, visto que em sua maioria ele é o único Na Tabela 1, são apresentadas normas reguladoras
parâmetro que define se o solo deve e pode ser e seus respectivos critérios para cada parâmetro
utilizado ou não como um material válido para a geotécnico.

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421
(2004). Para o limite de plasticidade não foi feita uma
Tabela 1. Critérios para parâmetros geotécnicos comparação por não haver regulamentação especifica
estabelecidos por normas reguladoras. para esse parâmetro.
CETESB ABNT USEPA
Parâmetros
(1993) (1997) (2004)
Permeabilidade ≤ 1,0 x 10- 10-8 10-9
9
(m/s)
LL (%) ≥ 30 - -
IP (%) ≥ 15 - Entre 7 e
15
PF (%) > 30 Entre 30
e 50
Classificação CL, CH,
SUCS SC e OH
Nota: LL = Limite de Liquidez; IP = Índice de Plasticidade
e PF = Porcentagem de finos.
FONTE: Araújo (2018) (adaptado). Figura 2. Curva de distribuição granulométrica do solo
estudado.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Gonzaga et al. (2015) encontraram para duas
Na Tabela 2 são apresentados os resultados dos amostras de solos lateríticos da cidade de Uberlândia,
ensaios realizados para cada parâmetro do solo também classificados como ML pela classificação
amostrado. SUCS, limites de consistência de LL = 42%; IP =
O solo apresentou um percentual de grãos 15% e LL = 54%; IP% = 13%, respectivamente, o que
passantes na peneira de n° 200 (abertura de 0,075 indica que o primeiro atendeu aos critérios da
mm) de 50,5%, portanto, o solo se enquadra na CETESB (1993) quanto aos limites de consistência,
recomendação da CETESB (1993). Para a USEPA enquanto que a segunda amostra não apresentou o
(2004) o solo não atende a recomendação por 0,5% valor mínimo para o IP, assim como o solo estudado
acima do valor recomendado. Foi necessário realizar nessa pesquisa.
a análise granulométrica do solo com e sem Possuindo uma porcentagem passante na
defloculante para verificar se existia formação peneira #200 de 50,5% e valore de IP e LL já
considerável de agregados, devido à sua grande mencionados, de acordo com a classificação
porcentagem de finos.
SUCS, o solo é dito como ML, ou silte de baixa
Tabela 2. Critérios para parâmetros geotécnicos compressibilidade. Considerando os tipos de
estabelecidos por normas reguladoras. solos determinados pela CETESB (1993), o solo
Parâmetro Resultado não atende esse critério. Entretanto, a NBR
Permeabilidade 6,44 x 10-9 m/s 13896 (1997) não estabelece qual tipo de solo
Compactação Wótima = 20,8%; deve ser utilizado segundo a sua classificação,
Massa específica: 1.678 kg.m³
LL 39,70%
assim como a norma da USEPA (2004).
LP 30,30% O solo estudado apresentou um coeficiente de
IP 9,36% permeabilidade de 6,44 x 10-9 m/s, sendo assim,
PF 50,5% o material atende aos valores mínimos
Classificação SUCS ML permissíveis de todas as três normas
FONTE: Autoria própria (2023).
referenciadas. Ressalta-se que esse é o único
A Figura 2 mostra as distribuições granulométrica
parâmetro da norma brasileira.
com e sem defloculante, e nota-se que existe pouca O solo apresentou um valor de umidade ótima
diferença entre as duas curvas. de 20,8% e massa específica seca máxima de
Os valores para o limite de liquidez e plasticidade 1,678 g/cm³. A Figura 3 mostra a curva de
foram de 39,7% e 30,3% respectivamente. Para o compactação obtida após a realização do ensaio.
índice de plasticidade, o solo apresentou um valor de Resultados similares foram encontrados por
9,36%. Com isso, o solo apresentou um LL dentro Costa (2015), no solo da camada de cobertura do
das especificações da CETESB (1993), sendo esse Aterro da Muribeca, em Jaboatão do
maior que 30%. O índice de plasticidade não atendeu Guararapes/PE, onde observou-se para uma silte
o valor mínimo da mesma norma, por outro lado, de baixa plasticidade – ML, uma umidade ótima
atendeu aos valores estabelecidos pela USEPA

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422
de 20% e massa específica seca máxima de 1,62 4 CONCLUSÃO
g/cm³.
O solo estudado apresentou valores de coeficiente de
permeabilidade à água, limite de liquidez e
porcentagem de finos dentro dos valores
determinados pela CETESB, entretanto, seu IP
apresentou valor inferior ao determinado pela
regulamentação supracitada. Por outro lado, o solo
atendeu a especificação da NBR 13896/1997, onde é
determinada apenas a permeabilidade mínima para
uma camada de cobertura de um aterro de resíduos
não perigosos.
Ainda foi encontrado um valor de índice de
plasticidade dentro da faixa recomendada pela
USEPA e um valor muito próximo da porcentagem
Figura 3. Curva de compactação do solo estudado. de finos da referida regulamentação, de 50,5%.
Portanto, conclui-se que o solo pode ser usado
Magalhães (2019) realizou a caracterização como material constituinte da camada de cobertura
geotécnica de argilas para a utilização em do aterro sanitário, pois atende o critérios
camada de cobertura em aterros sanitários. Em estabelecido pela norma nacional analisada,
uma das amostras estudadas pelo autor, que apresentando coeficiente de permeabilidade superior
apresentou PF de 70%, foi encontrada uma ao estabelecido pela NBR 13896/1997.
umidade ótima de 20,4% e um peso específico
aparente seco máximo de 1,62 g/cm³. A amostra
REFERÊNCIAS
também apresentou valores de limites de
consistência que atendem aos requisitos da ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
CETESB (1993). 8419: Apresentação de projetos de aterros sanitários de
Almeida et al. (2010) encontraram um valor resíduos sólidos urbanos. ABNT, 1992.
de massa específica seca máxima em torno de ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
1,93 g/cm³ e umidade ótima de 12,4 %. Apesar 13896: Aterros de resíduos não perigosos - Critérios
para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro,
de o solo possuir uma porcentagem de finos 1997. 21p.
maior que 49%, o solo se encontrava em ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
condições que facilitavam a entrada de águas 6457: Amostra de solo: preparação para ensaios de
pluviais e a saída de biogás . Algumas das compactação e ensaios de caracterização. Rio de
possíveis soluções abordadas são o aumento da Janeiro, 2016a.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
espessura da camada de cobertura e a 6458: Grãos de pedregulho retidos na peneira de
aprimoração da compactação do solo, que abertura 4,8 mm - Determinação da massa específica,
resulta em uma redução do índice de vazios do da massa específica aparente e da absorção de água.
solo. Rio de Janeiro, 2016b.
Esse parâmetro, entretanto, não é ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
6459: Determinação do limite de liquidez. Rio de
regulamentado pelas normas estudadas para Janeiro, 2016c.
valores mínimos que devem ser atendidos para a ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
camada de cobertura de aterros. Por outro lado, 7180: Determinação do limite de plasticidade. Rio de
esse é um aspecto importante a ser considerado, Janeiro, 2016d.
pois como citado anteriormente, o grau de ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
7181: Análise granulométrica. Rio de Janeiro, 2016e.
compactação influencia diretamente na ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
capacidade de infiltração de águas pluviais e 7182: Compactação - Procedimento. Rio de Janeiro,
emissão de gases. Então, como uma 2016f.
compactação aprimorada, tais impactos podem ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
ser minimizados consideravelmente. 9604: Abertura de poço e trincheira de inspeção em
solo, com retirada de amostras deformadas e
indeformadas – procedimento. Rio de Janeiro, 2016g.
ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR
14545: Solo – Determinação do coeficiente de

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


423
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


424
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Caracterização geotécnica quanto ao colapso do solo para fins de


elaboração de carta geotécnica de fundações
Jehnifer Stefany Costa
Universidade Federal de Viçosa CRP, Rio Paranaíba, Brasil, jehnifer.costa@ufv.br

Lucas Martins Guimarães


Universidade Federal de Viçosa CRP, Rio Paranaíba, Brasil, guimaraeslm@ufv.br

Fernanda Yamaguchi Matarazo


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, fernanda.matarazo@aluno.ufop.edu.br

Carlos Henrique Rocha dos Santos


BVP Geotecnia e Hidrotecnia, Belo Horizonte, Brasil, carlos.santos@bvp.eng.br

RESUMO: O mapeamento geotécnico é um importante instrumento para o planejamento do uso e ocupação do solo e
contribui no reconhecimento de limitações e potencialidades de uma região. A falta de conhecimento das características
de uma região pode causar impactos indesejáveis para o meio ambiente e para a vida humana, como colapsos de edifícios,
ocorrência de grandes inundações e rompimentos de barragens. O objetivo deste trabalho foi caracterizar o solo da
Universidade Federal de Viçosa no Campus de Rio Paranaíba (UFV-CRP) e avaliar o seu grau de colapso quando
submetido à inundação em diferentes aplicações de sobrecargas. Para esta análise foi usado o equipamento de compressão
edométrica simples, inundando um corpo de prova logo no início do ensaio e outros três corpos de prova quando
submetidos a tensões de 40, 80 e 160 kPa. Através das metodologias de avaliação do grau de colapso propostas por
Jennings e Knight (1975), Reginatto e Ferrero (1973) e Vargas (1978), foi observado que o solo se apresentou colapsível
e obteve maiores deformações quando inundado na tensão de 40 kPa. Os dados obtidos contribuem na apuração de alguns
atributos necessários para futura elaboração de uma carta geotécnica de fundação da região estudada utilizando a
metodologia proposta por Zuquette (1987, 1993). A UFV-CRP apresenta grande potencial de expansão nos próximos
anos, exigindo análises do subsolo para executar planejamentos compatíveis com este crescimento.

PALAVRAS-CHAVE: Adensamento unidimensional, colapsividade do solo, mapeamento geotécnico.

ABSTRACT: Geotechnical mapping is an important tool for planning soil use, occupation and contributes to the
recognition of constraints and potentialities of a region. Lack of knowledge of a region's characteristics can cause
undesirable impacts on the environment and human life, such as building collapses, major flooding and dam break. The
objective of this paper was to characterize the soil of the Federal University of Viçosa at the Rio Paranaíba campus (UFV-
CRP) and to evaluate its degree of collapse when subjected to flooding in different overload applications. For this analysis
the simple oedometric compression equipment was used, flooding a specimen at the beginning of the test and three other
specimens when subjected to tensions of 40, 80 and 160 kPa. Through the collapse assessment methodologies proposed
by Jennings e Knight (1975), Reginatto e Ferrero (1973) e Vargas (1978), it was observed that the soil presented collapse
and obtained large deformations when flooded at 40 kPa. The obtained data contribute to the determination of some
attributes necessary for the future elaboration of a geotechnical chart of foundation of the studied region using the
methodology proposed by Zuquette (1987, 1993). The UFV-CRP has great potential for expansion in the coming years,
requiring subsoil analyzes to carry out plans compatible with this growth.

KEY WORDS: one dimensional consolidation, soil collapsivity, geotechnical mapping.

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425
1 INTRODUÇÃO Para a simulação desses efeitos é realizado alguns
ensaios utilizando equipamentos presentes em
O meio ambiente passa regularmente por intensas laboratórios geotécnicos. Dentre os quais, tem-se o
modificações e impactos, e na maioria das vezes, de compressão edométrica convencional que,
estão relacionados à atividade antrópica. Estas segundo Caputo (1983), consiste na aplicação de
alterações podem acontecer pelo processo de uso e cargas sucessivas em um corpo de prova, realizando
ocupação do solo, que causam consequências o seu umedecimento no início do ensaio, ou em
negativas ao meio ambiente como a ocorrência de alguma sobrecarga desejada ou ainda em situações
fenômenos ambientais. Dentre os quais pode-se citar diferentes de variação do nível do lençol freático que
a ocorrência de inundações, recalques, erosão, o solo esteja submetido no campo. Este ensaio
contaminação de águas superficiais e subterrâneas. E permite analisar a colapsividade de um solo através
isso se deve à falta de informação e conhecimento do dos parâmetros dele obtidos.
homem em relação ao meio físico (Soares, 2011). A região estudada, para a análise das
Para a prevenção e auxílio dos efeitos indesejáveis características do subsolo, localiza-se na cidade de
é necessário a constante atualização de Rio Paranaíba. É uma cidade de pequeno porte,
conhecimentos e procedimentos para as atividades de localizada no estado de Minas Gerais, possuindo uma
planejamento e gestão. A execução de mapeamentos população atualmente estimada pelo IBGE de 12.313
e cartas geotécnicas tem sido uma importante pessoas (IBGE, 2019) e extensão territorial de
ferramenta no auxílio de tais efeitos, permitindo 1.352,35 Km². Após a implantação do Campus da
adequar as formas de ocupação de acordo com as Universidade Federal de Viçosa em julho de 2006 no
limitações e potenciais do meio, mas nem sempre se município de Rio Paranaíba, o mesmo, passou por um
encontram disponíveis e com fácil acesso (Camargo crescimento significativo e muitas vezes sem
& Pires, 2015). planejamento. Tendo como exemplo, a grande
A carta geotécnica tem como objetivo orientar no demanda por moradias pelos professores, estudantes
planejamento, fiscalização e ocupação territorial para e técnicos administrativos, assim como a expansão
formular planos diretores e políticas públicas. Sejam urbana devido à forte agricultura e comércio local. O
elas nas áreas urbanas, em obras de infraestrutura, Campus terá um rápido crescimento nos próximos
meio ambiente, habitação e nas ações de proteção das anos exigindo planejamento e conhecimento prévio
áreas de interesse ambiental. Sendo utilizada também das características geotécnicas do local para o
como auxílio aos cidadãos e organizações em geral possível uso e ocupação de acordo com os potenciais
no conhecimento de limitações, potencialidades e e limitações do meio. Atualmente existem poucas
recomendações sobre o uso de terrenos sem haver a informações que caracterizem a região para possível
degradação ou interferência nas condições de vida do expansão, sejam de construções ou de outros
local (IPT, 2015). empreendimentos.
Ao fazer a coleta de dados de uma região, tem-se Este trabalho teve por objetivo, realizar a
um grande interesse em analisar o comportamento do caracterização do solo da Universidade Federal de
solo quando não saturado e que esteja submetido à Viçosa no Campus de Rio Paranaíba (UFV-CRP)
algumas situações. E segundo Lollo (2008), um solo quanto ao colapso, a fim de complementar os dados
colapsível pode ser determinado como aquele que necessários na elaboração de uma carta geotécnica de
sofre variações no índice de vazios quando adiciona- fundações segundo a metodologia de Zuquette (1987,
se água antes ou após aplicações de cargas, e que 1993). Tem-se como justificativa, contribuir com
reduz o seu volume sem que haja incrementos de melhorias no desenvolvimento da região e auxiliar
sobrecargas. Isto está relacionado com a perda da nas decisões de utilização do meio com informações
estabilidade aparente que o solo apresenta devido a e parâmetros encontrados na caracterização do solo.
diminuição da sucção por umedecimento, havendo a Este trabalho pode direcionar trabalhos futuros como
mudança no estado de tensões, no equilíbrio a elaboração de projeto de fundações, planejamento
eletromagnético e nas ligações cimentantes, urbano e auxiliar na escolha de outras alternativas de
propiciando o colapso do solo. Dentre as situações investigações geotécnicas a serem realizadas.
que o maciço possa estar submetido, pode-se citar a
ocorrência da percolação do maciço presente em 2 METODOLOGIA DE ZUQUETTE (1987)
barragens, na estabilidade de taludes, em PARA CARTA DE FUNDAÇÕES
carregamentos variáveis e em situações que o solo se
apresente colapsível. Para haver a correta simulação A carta de fundações consiste em auxiliar a
das condições do solo, é de grande importância investigação local e, consequentemente, diminuir
utilizar equipamentos que representem a mesma custo, tempo e número de varáveis a se estudar. Em
condição submetida em campo (BOTELHO, 2007). algumas situações, pode-se adotar um tipo de

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426
fundação ideal em regiões que já tenham o Vazamentos de diferentes líquidos no solo podem
mapeamento geotécnico e que não possuem possibilitar contaminação e impacto mecânico na
capacidade para outro tipo de fundação, diminuindo capacidade do solo. Na importância de analisar o
assim os passos da investigação local. A finalidade comportamento mecânico de um solo em Brasília,
principal é obter auxílio na escolha de possíveis Silva (2006), realizou a inundação de amostras na
fundações que podem ser adotadas, dos locais a tensão de 50 kPa utilizando álcool, gasolina e
serem alocadas e na previsão de problemas que chorume para identificar e quantificar a
podem surgir ao realizar a investigação local para a colapsividade com a percolação destes líquidos.
execução de uma obra (ZUQUETTE, 1987). Verifica-se que o solo submetido a inundação com os
É proposto por Zuquette (1987) que o combustíveis apresenta menor colapso quando está
mapeamento seja realizado em escalas entre 1:50.000 na presença de água. Já o chorume causa maior
e 1:10.000, visto que em escalas maiores necessita-se rompimento na estrutura do solo dispersando os seus
de dados parecidos ao de uma investigação local o agentes cimentantes, proporcionando um colapso de
que não caracteriza um mapeamento geotécnico. E as quase 50 % maior que o encontrado com a água.
cartas de fundações, quando em escalas menores, só No comportamento mecânico de um solo para
se enquadram em etapa de exploração, no entanto fundação com inclusão rígida no Distrito Federal, foi
depende do local ou da fase de seleção dos locais para feita uma análise em estado natural e inundado.
uma investigação mais detalhada, da elaboração e das Observou-se o aumento gradativo das tensões
necessidades do projeto. cisalhantes com o incremento de tensões normais.
Segundo Zuquette (1987), as cartas de fundações Notou-se que não há a definição exata das tensões
são elaboradas em diferentes níveis de profundidade, cisalhantes de ruptura de pico para energias de 100 e
como 2, 5, 10 e 15 metros. Em cada nível são feitas 200 kPa. A resistência do material no estado
análises das possibilidades quanto aos tipos de compactado foi menor na condição saturada e o seu
fundações que podem ser adotadas. No nível mais colapso não é muito significativo quando comparado
acima é referido a fundação do tipo rasa e nos outros com os elevados recalques que apresenta o material
níveis aos tipos profundas, mas se atentando as no estado natural (OLIVEIRA, 2018).
considerações do mapeamento geotécnico podem Sobre a expansão devido ao carregamento, um
existir locais que inviabilizem alguns grupos de solo residual de gnaisse analisado para a construção
fundações. de um túnel foi carregado até a tensão de 370 kPa e
Alguns atributos que devem ser considerados na descarregado, no estado natural. Observou-se que, o
elaboração da carta de fundações segundo a mesmo, quando carregado a grandes tensões
metodologia de Zuquette (1987) são: conhecimento apresentou maior expansividade. Isto devido a
dos materiais inconsolidados e suas variações no predominância de partículas de mica nas frações de
perfil; profundidade do substrato rochoso ou silte e argila, que quando comparadas a pequenas
indeformado; característica do substrato rochoso; lajes apoiadas, elas são fletidas com o carregamento
profundidade do nível de água representado por e retornam ao seu estado plano quando descarregadas
faixas; camada possivelmente compressiva ou (JUNIOR, 2009).
materiais potencialmente colapsíveis; camada de Na região de Campinas, analisou-se o
material mais adequado para suporte de fundação; comportamento de um solo diabásio quanto a
dados de SPT (sondagem de simples colapsividade sendo submetido a inundação nas
reconhecimento) ou outros tipos de sondagens; e tensões de 100, 200 e 400 kPa. Houve variações de
outras informações como expansibilidade e deformações consideráveis com a inundação nas três
declividade. tensões citadas anteriormente de acordo com a
profundidade de retirada das amostras indeformadas.
3 COLAPSIVIDADE DO SOLO Os corpos de prova nas profundidades de 1, 4 e 8 m
submetidos a tensão de 100 kPa se mostraram
A engenharia geotécnica possui aspectos de colapsíveis, já na tensão de 200 kPa apenas as
grande interesse na determinação das deformações profundidades de 2 e 3 m não se apresentaram
causadas por carregamentos verticais na superfície de colapsíveis e, por fim, na tensão de 400 kPa apenas
um terreno, dentre os quais estão os recalques. Esse na profundidade de 8 m o solo não se mostrou
fenômeno pode acontecer, por exemplo, em colapsível. De acordo com a metodologia de
edificações com fundações superficiais ou em aterros identificação do colapso adotada pelo autor, foi
construídos sobre os terrenos. As deformações possível afirmar que o solo é altamente colapsível
podem surgir de forma rápida após a construção ou para todo o perfil quando inundado a diferentes
ocorrer lentamente após a aplicação de um tensões (GON, 2011).
carregamento. Estudando o comportamento colapsível de um

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427
solo submetido a crescente variação do nível do Da mesma forma da análise do colapso acima feita
lençol freático em uma região brasileira, inundou-se por Jennings e Knight (1975) na Equação 1, Vargas
alguns corpos de prova submetidos a diferentes (1978) propôs algo parecido na Equação 2. Em que
tensões. É sabido que a resistência ao cisalhamento é para solos que apresentem PC>2%, esses podem ser
reduzida à medida que se inunda o solo, mas considerados colapsíveis.
dependendo da tensão aplicada, a mesma pode ser ∆
resistida após o deslizamento das partículas para uma 𝑃𝐶 = (2)
nova posição. Nota-se que o solo quando possui
maior sucção pode obter maior rigidez, resultando em
menor compressão que o mesmo solo quando em que Δe = variação do índice de vazios antes e
submetido a sucção reduzida. Comparou-se as depois da inundação (adimensional) e 𝑒 = valor do
deformações produzidas nos corpos de prova e o índice de vazios antes da inundação (adimensional).
máximo colapso foi apresentado na inundação à Utilizando outra forma para o cálculo do colapso,
tensão de 100 kPa, visto que nas outras tensões de 50, foi realizado e obtido os dados do ensaio edométrico
200 e 400 kPa obtiveram menor variação do índice inundado e os dados do ensaio no estado natural antes
de vazios quando inundados (VILAR; RODRIGUES, da inundação do corpo de prova na tensão de 160 kPa.
2011). Com esses dados calculou-se o coeficiente de
colapsividade, segundo Reginatto e Ferrero (1973),
3.1 Metodologia para avaliação do colapso pela Equação 3 e o avaliou segundo a Tabela 2 a
seguir.
O ensaio edométrico simples convencional, 𝐶= (3)
permite através de seus resultados o cálculo de
parâmetros utilizando metodologias propostas por
alguns autores. Para este trabalho foram adotadas em que 𝜎 é tensão de pré-adensamento do solo
metodologias que determinam a potencialidade do saturado (kPa), 𝜎 é a tensão de pré-adensamento do
colapso do solo em estudo. As curvas de solo na umidade natural (kPa) e 𝜎 é tensão vertical
adensamento quando determinadas e interpretadas geostática (kPa).
permitem obter diversos parâmetros que
caracterizam o solo de acordo com a sua finalidade. Tabela 2 – Coeficiente de colapsividade (Reginatto e
Jennings e Knight (1975), propuseram formas de Ferrero, 1973).
determinação do grau do colapso e da variação de Coeficiente de
volume de solos colapsíveis de acordo com ensaios Classificação do solo
colapsividade
edométricos laboratoriais. E para o ensaio
edométrico simples, que consiste na aplicação de C<0 Verdadeiramente colapsível
carregamentos em uma amostra em umidade natural 0<C<1 Condicionalmente colapsível
e a inundação do mesmo em uma tensão de escolha, C=1 Não é colapsível
é calculado o grau de colapsividade pela Equação 1 e C=-ꝏ É colapsível e normalmente adensado
sua classificação é feita por meio dos parâmetros da
Tabela 1.
4 RESULTADOS

𝑃𝐶 = (1)
Três amostras indeformadas foram retiradas em
profundidades que variam entre 1 e 1,5 m, em
em que Δe = variação do índice de vazios antes e formato de blocos com dimensões aproximadas de 25
depois da inundação (adimensional) e 𝑒 = valor do cm x 25cm x 25cm, Figura 1, de acordo com as
índice de vazios inicial do ensaio (adimensional). prescrições da norma ABNT NBR 9604/ 16 Na
coleta, foi exigido cuidado no manuseio e vedação
Tabela 1 – Gravidade do colapso (Jennings e Knight, das amostras com materiais adequados, a fim de
1975). impedir a perda de umidade natural com o ambiente
PC Gravidade do Colapso e a desestruturação da amostra. Sendo assim, a
0 – 1% Nenhuma medida que os blocos indeformados eram coletados e
1 – 5% Moderada levados até a superfície fazia-se o seu transporte de
5 – 10% Problemática forma rápida para o laboratório.
10 – 20% Grave
> 20% Muito grave

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428
horas para os ensaios inundados nas diferentes
tensões de 40 kPa, 80 kPa e 160 kPa. Após a
estabilização das deformações devido a inundação,
prosseguiu-se o ensaio até a tensão de escolha e ao
final de cada ensaio procedeu-se ao descarregamento
do corpo de prova.
Para cada curva gerada, apresentadas na Figura 2,
nas tensões de inundação de 40 kPa, 80 kPa e 160
kPa, foi calculado o potencial de colapso pelas
metodologias propostas por Jennings e Knight (1975)
e Vargas (1978), conforme apresenta a Tabela 4, e o
coeficiente de colapsividade para os ensaios no
estado natural e inundado, apresentado na Tabela 5.
Figura 1 – Amostra Indeformada
Tabela 4 – Potencial de colapso (PC) para cada tensão
Os ensaios de caracterização do solo foram feitos de inundação.
para obter informações e parâmetros iniciais, sendo Jennings e Knight
Vargas (1978)
importantes para análises futuras do seu (1975)
comportamento. Os ensaios realizados foram de Tensão Gravidade
Gravidade do
granulometria, peso específico dos sólidos, PC PC do
colapso
compactação, limite de plasticidade e limite de colapso
liquidez. A Tabela 3 apresenta os resultados da Colapso
40 kPa 1,13 1,17 Nenhuma
moderado
caracterização do material.
80 kPa 0,12 Nenhuma 0,12 Nenhuma
Tabela 3 – Índices Físicos 160 kPa 0,20 Nenhuma 0,21 Nenhuma
Índices Físicos
Tabela 5 – Coeficiente de colapsividade para os ensaios
Limite de Liquidez – LL (%) 42,6
no estado natural e inundado.
Limite de Plasticidade – LP (%) 28
Reginatto e Ferrero (1973)
Índice de Plasticidade – IP (%) 14,6 Coeficiente
Ensaio
Massa Específica dos sólidos (kg/m³) 2570 de Análise do solo
Argila (%) 36 colapsividade
Inundado e
Silte (%) 21
no estado -16 Verdadeiramente colapsível
Areia (%) 43 natural
Umidade ótima (%) 32,5
Massa Específica seca máxima Foi observado a variação do índice de vazios em
1380
(kg/m³) cada tensão de inundação e o solo quando inundado
à 40 kPa em comparação com o restante das tensões
Com os índices físicos obtidos classificou-se o aplicadas apresentou maiores deformações,
solo pelo Sistema Unificado de Classificação de conforme apresenta a Figura 2.
Solos (USCS) de acordo com Braja (2014). Foi Pode ser observado, segundo Jennings e Knight
constatado que se trata de uma argila de baixa (1975), que para a inundação do corpo de prova na
plasticidade arenosa (grupo CL). Melo e Silva (2017) tensão de 40 kPa o solo apresentou um colapso
determinaram as propriedades hidráulicas não moderado e, em uma análise comparativa, o colapso
saturadas em uma área próxima à região de estudo e foi pouco significativo nas tensões de inundação de
caracterizaram o solo com uma argila de baixa 80 e 160 kPa. E, segundo a avaliação proposta por
compressibilidade, também do grupo CL, como nas Vargas (1978), o solo não apresentou colapsividade
análises realizadas neste trabalho. maior que 2% para todas as tensões de inundação.
Inicialmente, como metodologia adotada, todos os Utilizando a metodologia de classificação do
corpos de prova submetidos a diferentes tensões de colapso proposta por Reginatto e Ferrero (1973), o
inundação foram moldados na mesma umidade. Um solo se apresentou verdadeiramente colapsível na
corpo de prova foi submetido a inundação desde o profundidade de 1 m da retirada da amostra
início do ensaio. O período de inundação foi de 24 indeformada.

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429
Figura 2 – Ensaio de compressão unidimensional em diferentes tensões

Com a interpretação dos resultados do ensaio de entanto, deve-se analisar o solo em diferentes
adensamento unidimensional inundado na tensão de profundidades para a melhor constatação do colapso
40 kPa, o solo apresentou um grau de colapsividade na região de estudo.
moderado. De acordo com Vilar e Rodrigues (2011) Os resultados obtidos nos ensaios edométricos
que obtiveram resultados semelhantes, isso foi mostram que as deformações dependem da tensão
constatado devido a maior rigidez alcançada pelo aplicada e da redução ou aumento de sucção. E para
solo com maior sucção e a tendência em comprimir a tensão de inundação de 40 kPa o solo apresentou
menos que o solo com menor sucção, ou seja, ocorre maiores deformações e consequentemente maior
grandes deformações quando a sucção é reduzida em colapso.
tensões menores durante o ensaio. Visto que o A caracterização do solo quanto ao colapso
colapso normalmente acontece com a redução da proposta neste trabalho, complementou alguns dos
resistência ao cisalhamento do solo que está atributos necessários para a futura elaboração de uma
relacionada com a diminuição da sucção pelo carta geotécnica de fundação da Universidade
umedecimento. Federal de Viçosa no Campus de Rio Paranaíba
O colapso do solo calculado pelos parâmetros (UFV-CRP).
obtidos dos ensaios no estado natural e inundado Recomenda-se a realização de ensaios à diferentes
permitiu caracterizar o solo como verdadeiramente profundidades para o melhor reconhecimento do
colapsível, de modo geral. Além de apresentar grande maciço e também dos demais parâmetros necessários
variação do índice de vazios, o solo se localiza em para complementar a execução da carta geotécnica de
região que possui problemas com o colapso e que está fundações de acordo com a metodologia proposta por
submetida ao clima tropical e úmido, no qual é Zuquette.
caracterizado por obter grande incidência de solos Recomenda-se também avaliar a influência da curva
colapsíveis (LEMOS, 2016). de sucção do solo associado ao adensamento no
colapso, pois em trabalhos realizados na região pelos
5 CONCLUSÕES autores Maciel (2018), Melo e Silva (2017) e Santos
(2017), foi constatado a presença de macro e micro
Com as características analisadas e interpretadas, poros no solo e notou-se que a curva de retenção de
classificou-se o solo como uma argila de baixa água do material possui comportamento bimodal.
plasticidade arenosa do grupo CL e verificou-se que
o mesmo apresenta características colapsíveis. No

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430
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431
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comparativo de la erodabilidad superficial de un suelo en campo y


en laboratorio a partir del ensayo Inderbitzen
Comparação da erodibilidade superficial de um solo em campo e
em laboratório a partir do ensaio Inderbitzen
Yamile Valencia-González
Universidad Nacional de Colombia, Sede Medellín, Colombia, yvalenc0@unal.edu.co

Melissa Montoya-Ruiz,
Universidad Nacional de Colombia, Sede Medellín, Colombia, memontoyar@unal.edu.co

Ángela Patricia Barreto-Maya


Universidad Nacional de Colombia, Sede Medellín, Colombia, apbarret@unal.edu.co

Oscar Echeverri-Ramírez
Universidad Nacional de Colombia, Sede Medellín, Colombia, oecheve@unal.edu.co

RESUMEN: Durante los últimos años, los procesos erosivos se han incrementado como respuesta a las variaciones am-
bientales y a las acciones antrópicas, generando consecuencias en la estabilidad de los terrenos hasta su degradación. Bajo
este contexto, se hace necesario establecer medidas de mitigación y remediación para zonas susceptibles a la erosión,
implementando ensayos que permitan una medición directa de la erodabilidad en los suelos, como es el caso del ensayo
Inderbitzen. El presente trabajo evalúa la erodabilidad superficial de un suelo utilizando el equipo Inderbitzen, comparado
las medidas en laboratorio con dicho equipo y las medidas en una parcela hidro-erosiva en campo. En la parcela fueron
registradas medidas de caudal y pérdida de suelo, para tres eventos distintos de lluvia sobre la misma área de prueba. De
la batería de ensayos ejecutados en laboratorio se tomaron medidas de pérdida de suelo para tres pendientes, incluyendo
la pendiente de la parcela y tres variaciones de caudal. En este caso, la pérdida de suelo aumentó con el incremento de la
pendiente de la rampa o de los caudales. Se concluye que, el efecto de escala influye en el valor de la erodabilidad (K)
obtenida en laboratorio, siendo la magnitud de Klaboratorio la multiplicación de un escalar y la Kcampo. Esta investigación
apunta entonces, a resaltar el uso del equipo Inderbitzen e incentivar su aplicación, ya que su simplicidad y bajo costo
posibilitan su implementación en zonas que sufren grandes procesos de erosión.

PALABRAS-CLAVE: erosión de suelos, ensayo Inderbitzen, parcela hidro-erosiva, índice de erosividad.

RESUMO: Nos últimos anos, os processos erosivos têm aumentado em função das variações ambientais e das ações
antrópicas, gerando consequências na estabilidade dos solos até sua degradação. Nesse contexto, é necessário estabelecer
medidas de mitigação e remediação de áreas suscetíveis à erosão, implementando ensaios que permitam uma medição
direta da erodibilidade dos solos, como é o caso do ensaio Inderbitzen. O presente trabalho avalia a erodibilidade super-
ficial de um solo usando o equipamento Inderbitzen, comparando as medições em laboratório com o referido equipamento
e as medições em uma parcela hidro-erosiva em campo. Na parcela, foram registradas vazões e perdas de solo para três
eventos de chuva diferentes na mesma área de prova. Nos ensaios de laboratório, foram registradas medidas de perda de
solo para três inclinações, incluindo a inclinação da parcela e três variações de vazão. Neste caso, a perda de solo aumen-
tava com o aumento da inclinação da rampa ou das vazões. Conclui-se que o efeito de escala influencia o valor de erodi-
bilidade (K) obtido em laboratório, sendo a magnitude de Klaboratorio a multiplicação de um escalar e o Kcampo. Esta pesquisa
visa, então, destacar o uso do equipamento Inderbitzen e incentivar sua aplicação, uma vez que sua simplicidade e baixo
custo possibilitam sua implantação em áreas que sofrem grandes processos erosivos.

PALAVRAS-CHAVE: erosão de solos, ensaio Inderbitzen, parcela hidro-erosiva, índice de erodibilidade.

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432
1 INTRODUCCIÓN 2005). De acuerdo con Hermelin (1992), en estas zo-
nas del Oriente Antioqueño es muy probable encon-
La erosión es un proceso que implica el desprendi- trar espesores de ceniza volcánica, proveniente del
miento, transporte y sedimentación de partículas de macizo volcánico Ruiz – Tolima, sobre la cual final-
suelo o roca (Toy et al., 2002). En general, existen mente se forma la capa de materia orgánica (Romaña
dos tipos de erosión: la hídrica y la eólica (Camapum et al., 2009).
de Carvalho et al., 2015). En las zonas de ladera, la
erosión hídrica se da de manera más intensa cuando
el suelo no tiene cobertura vegetal (IDEAM et al;
2015). Países como Colombia, cuentan con regiones
cuyos suelos presenta una alta susceptibilidad a sufrir
procesos erosivos (40% de los suelos del área conti-
nental e insular de Colombia, están afectadas por al-
gún grado de erosión, IDEAM et al; 2015).
Para la evaluación directa de la erodabilidad del
suelo se emplean algunos ensayos de laboratorio
como lo son el ensayo Inderbitzen, Pinhole test, Sla-
king test, cilindros rotatorios, ensayos de dispersión,
entre otros (Montoya, 2022), y dentro de estos, el en-
sayo Inderbitzen es el más empleado en el medio geo-
técnico, por su simplicidad y bajo costo (Chamecki, Figura 1. Área de estudio
2002; Almeida, 2014 y Tomasi, 2015), aunque su uso
en Colombia ha sido escaso (Montoya, 2022). La selección del sitio se realizó de tal manera que
Con la finalidad de medir la escorrentía y la pro- se permitiera inspeccionar de forma constante la par-
ducción de sedimentos en campo, algunas investiga- cela y que existiera abundante régimen de precipita-
ciones han utilizado parcelas hidro-erosiva o parcelas ciones durante todo el año.
de erosión. Estos ensayos de campo permiten adicio-
nalmente, efectuar comparaciones del proceso ero- 2.2 Parcela de prueba - Medida de la erosión en
sivo con los resultados obtenidos mediante equipos campo
de laboratorio y con correlaciones disponibles en la
literatura. La zona de estudio se encuentra sobre una ladera con
Buscando un mayor acercamiento a los procesos un ángulo de inclinación de 50°. Sobre ésta, se realizó
erosivos en Colombia, el siguiente artículo presenta la delimitación de la parcela hidro-erosiva, suscepti-
los resultados de evaluar la erodabilidad en una par- ble a erosión laminar, con sección cuadrada de 2 m
cela hidro-erosiva en campo y mediante el ensayo In- de lado (Figura 2). Se retiró la capa de materia orgá-
derbitzen en laboratorio, comparando los resultados nica hasta dejar al descubierto el suelo a ensayar. Se
y proponiendo una correlación que considere el controló la entrada de material externo a la parcela
efecto escala. recubriendo el contorno con plástico y se dispuso un
canal para conducir y recoger el agua de escorrentía
2 MATERIALES Y MÉTODOS y el material desprendido dentro del área de interés.

2.1 Área de estudio

El área en estudio se ubica en el Municipio de


Guarne, departamento de Antioquia, Colombia
(6°19’22.81”N, 75°27’13.66”O) (Figura 1). El clima,
generalmente es cálido y templado, con temperatura
promedio de 16°C. Se presentan precipitaciones du-
rante todo el año, aún en el mes más seco, con una
precipitación media de 2958mm. (Montoya, 2022).
La principal formación geológica presente en la
zona es de origen metamórfico, de tipo Anfibolita Figura 2. Parcela hidro-erosiva
(Pza). En regiones cercanas se identifican perfiles de
meteorización de rocas ígneas del denominado Bato- El canal se conectó a un recipiente ubicado en la
lito Antioqueño (Ksta), depósitos aluvio torrenciales parte baja. Una vez construido dicho montaje se cu-
recientes y depósitos eólicos (Castaño & Tobón, brió toda el área con material plástico, que se removía

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433
durante la ejecución de los ensayos de campo. La tasa de pérdida de suelo por unidad de área de
la parcela Ps (kg/ha), puede estimarse de acuerdo con
2.3 Extracción de muestras la siguiente expresión (2)

Sobre el costado izquierdo de la parcela, se extraje- 𝑄∗𝐶𝑠 ∗𝑡


𝑃𝑠 = (2)
ron muestras alteradas en bolsas plásticas hermética- 𝐴
mente selladas para ensayos de caracterización física,
y muestras inalteradas empleando cajones metálicos Donde, Q: caudal de lluvia (l/s), producto entre la
de 30cm x 30cm y 10cm de alto y anillos cuadrados intensidad de la lluvia y el área de la parcela A (ha);
de 20cm x 20cm y 5cm de alto para los ensayos In- Cs: concentración de sedimentos (kg/l), el cual se ob-
derbitzen. Estas muestras se recolectaron en tres ex- tiene dividiendo la masa de suelo seco arrastrado
cavaciones diferentes que debieron ser protegidas (Mss) por el volumen de escorrentía (Ve); t: duración
con plástico y expuestas únicamente al agua de cada de la lluvia (s).
evento de lluvia, para controlar las condiciones de hu- La tasa de desagregación del suelo D (kg/m2 s) es-
medad del suelo. taría determinada por la Ecuación (3), la cual, no solo
tiene en cuenta la cantidad de suelo erosionado por
2.4 Ensayos de caracterización unidad de área, sino que también involucra el tiempo
en el que se erosionó dicha cantidad.
Los ensayos de caracterización fueron ejecutados con 𝑀
𝑠𝑠
la finalidad de conocer algunas de las características 𝐷 = 𝐴∗𝑡 (3)
físicas del suelo de estudio. Para ello se realizaron los
siguientes ensayos: Contenido de humedad natural Donde, 𝑀𝑠𝑠 : masa del suelo seco desagregado
(ASTM D2216-10), Granulometría mediante tami- (kg); A: área de la parcela (m2); t: duración de la llu-
zado e hidrómetro, con y sin agente defloculante via (s).
(ASTM D422-63), Límites de Atterberg (ASTM El índice de erodabilidad (I.E) dado en g/cm2/cm
D4318-10) y Gravedad específica de los sólidos de lluvia puede estimarse de la siguiente manera:
(ASTM D854-10).
𝑀𝑠𝑠 /𝐴
2.5 Ensayo de campo en la parcela hidro-erosiva 𝐼. 𝐸 = (4)
𝑃

La parcela hidro-erosiva resulta ser un método prác- Donde, Mss: masa del suelo seco desagregado (g);
tico para medir la escorrentía y la producción de se- A: área de la parcela (cm2); P: precipitación (cm), la
dimentos en campo, y así determinar la cantidad de cual se obtiene como el producto de la intensidad plu-
suelo erosionado posterior a un evento específico de viométrica y la duración del evento.
lluvia (Camapum de Carvalho et al., 2015). Los en-
sayos de campo fueron realizados bajo tres eventos 2.6 Ensayo Inderbitzen
de lluvia ocurridos entre junio y septiembre del año
2021, cuya intensidad generara un desprendimiento Para la ejecución de los ensayos Inderbitzen fue ne-
de material evidente en la parcela bajo un flujo lami- cesario la construcción del equipo a partir del proto-
nar. Para cada evento registrado, se recolectaba en la tipo propuesto por Bastos (1999). El equipo está con-
parte baja de la parcela, el agua producto únicamente formado por una rampa metálica en aluminio con una
de la escorrentía, posteriormente se secaba y se deter- abertura cuadrada para la fijación de las muestras de
minaban los respectivos pesos y cantidad de partícu- suelo a ensayar, apoyado sobre una estructura metá-
las arrastradas por la acción de la lluvia. lica que permite su articulación y variación de su án-
La intensidad de cada lluvia fue determinada me- gulo de inclinación (Figura 3). Para simular la esco-
diante un pluviómetro dispuesto alrededor de la par- rrentía superficial, se empleó un tubo de PVC con ori-
cela, recolectando para cada evento un volumen de ficios de ½” distribuidos cada 0.02m, el cual se ubica
agua durante un tiempo, según la Ecuación (1): a 1m de la muestra de suelo.
El ensayo Inderbitzen establece que el aparato
𝑉𝑝𝑙 /𝐴𝑝𝑙 debe asegurar una condición de flujo uniforme en ré-
𝐼= (1)
gimen supercrítico sobre la superficie del espécimen
𝑡
de suelo, ya que este permite la reproducción de es-
Donde, I: intensidad pluviométrica (mm/h); Vpl: fuerzos cortantes hidráulicos uniformes y controla-
volumen recolectado en el pluviómetro (mL); Apl: dos a lo largo de la superficie del suelo (de Oliveira
área de la sección transversal del pluviómetro (cm2); et al., 2021); así como, una velocidad de flujo cons-
y t: tiempo total de duración del evento (h). tante en cada punto a lo largo del canal, incluyendo

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434
el área sobre la muestra. Durante la ejecución del en- 𝜏ℎ = ϒℎ tan 𝛼 (5)
sayo, el suelo se somete a un flujo laminar contro-
lado, generando la erosión superficial en un determi- Donde: ϒ= peso específico del agua
nado tiempo. Este ensayo permite maniobrar el (10000N/m3); h= altura de lámina de flujo (m); α=
equipo de tal forma que se puedan simular dos situa- ángulo de inclinación de la escorrentía (grados).
ciones: a) variar la pendiente de la rampa a caudal La altura de la lámina obtenida a partir del caudal,
constante, y b) variar caudales a pendiente constante. la velocidad del flujo y el ancho de la rampa hidráu-
En cada caso, las condiciones de humedad inicial en lica se calcula conforme a la ecuación (6):
la muestra se deberán mantener constantes.
𝑄
ℎ = 𝑣∗𝐿 (6)

Donde: h= altura de la lámina de flujo (cm); v=


velocidad del flujo (cm/s); Q= caudal (cm3/s); L= an-
cho de la rampa hidráulica (cm).
La velocidad de flujo se obtiene con la ecuación
(7) como:
2 1
1
𝑣 = 𝑅ℎ3 ∗ 𝐼 2 ∗ (7)
𝜂

Donde: Rh= radio hidráulico (cm), que es igual a


la relación Área mojada/Perímetro mojado; 𝐼 = pen-
diente (cm/cm); η= coeficiente de rugosidad (adi-
mensional). De acuerdo con Tomasi (2015), este va-
lor para acero inoxidable corresponde a 0.011.
Figura 3. Equipo para ensayo Inderbitzen Bastos (1999) propone una gráfica que relaciona
la pérdida de suelo con la tensión de corte hidráulica,
El caudal y la pendiente a emplear se deben veri- la cual se puede ajustar a una recta y que permite es-
ficar, posteriormente se realiza el montaje de la mues- timar los parámetros de erodabilidad, como: tensión
tra en el equipo dentro de la caja de acrílico. La mues- de corte crítica del suelo (τ crítico) donde la erosión es
tra se debe cubrir con una membrana protectora, para nula, y la tasa de erodabilidad K, que se representa
que el agua fluya por la rampa hasta obtener el caudal como el gradiente de pérdida de suelo en relación con
requerido y observar la uniformidad del régimen de las tensiones hidráulicas aplicadas (𝜏ℎ ).
flujo. Cuando se retira la película, se establece el co- Por lo general, la pérdida de suelo, Dc (g
mienzo de la prueba. La duración del ensayo es de /cm2/min), se asume como proporcional a la diferen-
25min, tiempo en el cual se comienzan a formar sur- cia entre la tensión cortante hidráulica actuante y el
cos sobre la muestra de suelo, modificando las con- esfuerzo cortante hidráulico crítico según la ecuación
diciones de flujo laminar y estabilizándose la pérdida (8):
de suelo. Adicionalmente, durante el ensayo, se reco-
lecta el material arrastrado a diferentes tiempos: 𝐷𝑐 = 𝐾(𝜏ℎ − 𝜏𝑐𝑟í𝑡𝑖𝑐𝑜 ) (8)
1min, 3min, 5min, 10min, 15min, 20min y 25min, y
este se lleva a un horno de secado aproximadamente La proporcionalidad entre Dc y (𝜏ℎ − 𝜏𝑐𝑟𝑡𝑖𝑡𝑖𝑐𝑜 ),
a 105°C durante al menos 24h. Finalmente, se regis- ha sido demostrada por numerosos autores como
tra el peso del material seco y su tamaño. Partheniades (1965), Foster (1982), Nearing et al.
Con la información obtenida durante la ejecución (1990), Zhang et al. (1996), Bastos (1999) y Dey
de los ensayos en la parcela y en el laboratorio por (2014); y aunque dicha relación deja de ser lineal a
Inderbitzen, se procede según Bastos (1999), a grafi- partir de cierta magnitud de cortante hidráulico, auto-
car la variación del peso acumulado de suelo seco res como Lane, Foster & Nicks (1987) afirman que
erosionado por unidad de área de la muestra vs la ten- asumir una relación lineal es aceptable para cuantifi-
sión cortante hidráulica (h) en Pa. Bastos indica que, car de manera aproximada la pérdida de suelo (de
la erosión del suelo se da cuando este valor supera la Oliveira et al., 2021). En consecuencia, Bastos
tensión de corte del suelo. Dicha tensión puede ser (1999) sugiere que el valor de K sea calculado em-
calculada mediante la ecuación (5), propuesta por Du pleando la secante a la curva de pérdida de suelo. Co-
Boys (1879): nociendo los valores K, es posible determinar el nivel
de erodabilidad del suelo con base en la Tabla 1:

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435
Tabla 1. Criterios de erodabilidad (Bastos,1999) mayor pérdida de suelo en comparación con los otros
Valores de K (g/cm2/min/Pa) Nivel erodabilidad dos eventos evaluados, pese a que el caudal para la
K<0.001 Bajo lluvia dos fue el mayor registrado. Este comporta-
0.001<K<0.1 Mediano miento puedo haber ocurrido por dos situaciones: a)
K>0.1 Alto La presencia de partículas “sueltas” sobre la superfi-
cie de la parcela, producto de la preparación del área
3 RESULTADOS Y DISCUSIÓN de estudio. b) Las condiciones de humedad de la pri-
mera lluvia, ya que, al iniciar la precipitación, el agua
3.1 Caracterización física del suelo de estudio que entra a los poros del suelo por efecto de la suc-
ción pudo haber interrumpido el flujo de infiltración.
En la Tabla 2, se muestran algunos resultados de la Como los valores de humedad del material superfi-
caracterización física del suelo en estudio, mostrando cial en la parcela antes de cada prueba son próximos
valores acordes con los suelos superficiales de la re- a la saturación, se concluyó que la cantidad de suelo
gión, constituidos en mayor proporción de materiales erosionado incluyó un porcentaje de material suelto
finos correspondientes a limos y arcillas (Castaño & de la superficie de la parcela producto de su adecua-
Tobón, 2005). ción.
Para corregir dicho aspecto en el primer evento,
Tabla 2. Propiedades físicas del suelo. se determinó la proporción de partículas sueltas con
Propiedad física Valores respecto a la totalidad del suelo erosionado mediante
Humedad natural, wnat (%) 14 el Inderbitzen, estableciéndose la pérdida de suelo
Límite líquido LL (%) 65.9 durante el primer minuto del ensayo, simulando un
Índice de plasticidad IP (%) 21.8 caudal de 65cm3/s y una pendiente similar a la parcela
Gravas (%) 6.3 de campo (45° y 50°), obteniéndose porcentaje pro-
Hidrómetro con Arenas (%) 29.6 medio de pérdida del 37.5%. Por lo tanto, su Ps co-
agua Limos (%) 55.4 rregido (Psc) fue de 203 kg/ha.
Arcillas (%) 8.7
Gravas (%) 11.0 Tabla 4. Pérdida de suelo para cada evento de lluvia
Hidrómetro con Arenas (%) 27.6 Evento w Q Ps Psc
3
defloculante Limos (%) 34.8 (lluvia) (%) (cm /s) (kg/ha) (kg/ha)
Arcillas (%) 26.7 1 86.67 11.09 325 203
Gravedad específica, Gs 2.65 2 86.97 16.32 159 159
3 88.79 7.48 175 175
Peso unitario húmedo, ɣℎ (kN/m3) 11.1
Clasificación según USCS MH
Según los resultados consignados en la Tabla 5, la
mayor tasa de desagregación ocurre durante el primer
3.2 Resultados parcela hidro-erosiva evento de lluvia y decrece con los eventos posteriores
desarrollados. Este efecto se genera por los cambios
En la Tabla 3, se presentan las características de los texturales en la superficie del suelo expuesto en cada
eventos de lluvia utilizados para los ensayos en una de las pruebas realizadas.
campo. Con respecto a la intensidad y las precipita-
ciones desarrolladas, puede evidenciarse que, la lá- Tabla 5. Tasa de desagregación e Índice de erodabilidad
mina de agua mayor cayó en el segundo ensayo de Evento D I.E (g/cm2/cm de
2
prueba, mientras que las dos restantes fueron simila- (lluvia) (g/m /s) lluvia)
res. Aunque las intensidades variaron de 6.7mm/h – 1 0.00588 0.00133
14.7 mm/h, la duración de cada lluvia generó que la 2 0.00220 0.00054
lámina de precipitación variara entre 15mm – 29mm. 3 0.00210 0.00113

Tabla 3. Magnitud de intensidad, precipitación y volumen En cuanto al índice de erodabilidad (I.E), fue po-
de escorrentía para eventos de lluvia evaluados. sible evidenciar que la evolución de la erosión del
Evento I Precipitación Ve suelo por unidad de área, en función de la escorrentía
t (h)
(lluvia) (mm/h) (mm) (l)
superficial fue más efectiva durante el primer evento
1 1.53 9.98 15.30 13.94
de lluvia, con una disminución ante el segundo y un
2 2.00 14.69 29.37 5.76
nuevo aumento en el tercero.
3 2.31 6.73 15.54 10.24
De acuerdo con los resultados presentados en la
Figura 4, que muestran la evolución registrada del
De acuerdo con los valores de (Ps) calculados (Ta- material erosionado acumulado por unidad de área y
bla 4), se observa que en el primer evento ocurrió la

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436
su respectiva precipitación acumulada, se aprecia la muestras se encontraba en condiciones similares (hu-
cantidad total de suelo erosionado en la parcela luego medad, composición, y estructura), por lo que la ge-
de los tres eventos de lluvia, resultando un valor de neración de surcos pudo darse en tiempos similares.
erosión igual a 537kg/ha. En ambas, la pérdida de suelo disminuye después de
los 10min de ensayo y esta disminución está influen-
700
Erosión acumulada (kg/ha)

Lluvia 3 ciada por la profundización de la superficie inicial de


600 la muestra, generada por el proceso erosivo, además
500 Lluvia 2
Lluvia 1
de los arcos de tensión producidos en las esquinas de
400
la muestra.
300
37.5% Lluvia
200 corregida
100
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Precipitación acumulada (mm)

Figura 4. Gráfico erosión y precipitación acumulada

Para cada evento de lluvia, se determinó el caudal


de escorrentía como la relación entre el volumen de
agua recolectado en el recipiente dispuesto al final de
la parcela (Ve) y su tiempo de duración (Tabla 3). La
erosión se encuentra relacionada con estas magnitu-
des en la Figura 5, donde se evidencia que el caudal
de agua que terminaba fluyendo sobre el suelo, arras-
traba de manera proporcional las partículas del mate-
rial. También, los factores como la condición de in-
filtración y saturación influyen en la erosión obtenida
en la parcela, ya que el suelo erosionado dependerá
Figura 6. Gráfico del peso total acumulado por unidad de
del tiempo requerido para que este se sature y permita área vs tiempo para todos los ensayos Inderbitzen
el inicio de la escorrentía superficial.
Por otra parte, la pérdida de suelo entre las pen-
dientes de 10° y 30° con respecto a la de 45°, es mu-
cho más marcada, ya que la cortante hidráulica alcan-
zada es de 5.42Pa, valor que consigue vencer la resis-
tencia al cortante de las partículas del suelo, logrando
arrastrar seis veces más cantidad de muestra.
Analizando los resultados que involucran la varia-
ción de los caudales, la pérdida de suelo acumulada
aumenta en el tiempo para caudales mayores, cuando
la pendiente y la humedad de las muestras se deja fija.
Para los dos caudales menores la pérdida de suelo dis-
Figura 5. Gráfico erosión y caudal de escorrentía minuye luego de los 15min. Adicionalmente, se ob-
serva, un cambio en la pérdida de suelo más marcada
3.3 Ensayo Inderbitzen para el caudal mayor, lo que indica que al aplicar una
cortante hidráulica de 8.50Pa, se logra movilizar una
La Figura 6 muestra la totalidad de los ensayos In- mayor cantidad de material. Sin embargo, es posible
derbitzen ejecutados. Se evidencia que, para cada que se requiriera de un tiempo de ensayo más prolon-
combinación de caudal (Q) y pendiente (S) desarro- gado para lograr estabilizarse la pérdida de suelo.
lladas, las magnitudes de cortantes hidráulicas resul-
taron menores y con una mayor pérdida de suelo, para 3.4 Comparación resultados parcela e Inderbitzen
los ensayos de caudal constante en comparación a los
de pendiente constante. Con el fin de determinar el coeficiente de erodabili-
De acuerdo con la situación que simula un ensayo dad del suelo en campo (Kcampo), se debió verificar
bajo caudal constante, las curvas presentadas para la para cada ensayo, un flujo de agua de escorrentía de
pendiente de 10° y de 30° tienden a ser paralelas, tipo laminar y en un régimen supercrítico, lo cual per-
mostrando que el material superficial de ambas

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437
mitiría emplear las expresiones (5), (6) y (7) para es- caudal variable en la condición de humedad próxima
timar el cortante hidráulico del agua y obtener final- a la parcela, estableciéndose finalmente la siguiente
mente los resultados de la Figura 7; donde se observa proporcionalidad:
que, al generarse pequeños caudales de escorrentía, Klaboratorio = 1122Kcampo
se alcanzan unas cortantes hidráulicas del agua que
varían entre 0.20Pa y 0.40Pa, con un valor crítico Tabla 6. Resumen de erodabilidad K
igual a 0.10Pa. Ensayo K (g/cm2/min/Pa) τcrítico (Pa)
Parcela de campo 0.0001 0.10
Inderbitzen Qcte 0.019 0.03
Inderbitzen Scte 0.1075 4.26

4 CONCLUSIONES

Los ensayos ejecutados en el Inderbitzen confirman


las afirmaciones realizadas por Fácio (1991), donde
la pérdida de suelo aumenta con el incremento del
caudal, y de igual modo con la inclinación de la
rampa. En este caso, la pérdida de suelo fue mayor
durante los primeros cinco minutos del ensayo, lo
Figura 7. Gráfico para cálculo de Kcampo cual ha sido igualmente verificado en varias investi-
gaciones como la presentada por el Instituto de Inves-
Por otra parte, en la Figura 8, se incluyen los re- tigación Rodoviárias – IPR (1979). Por otro lado, la
sultados obtenidos de los ensayos Inderbitzen para magnitud de la cortante hidráulica crece en mayor
determinar el coeficiente de erodabilidad del suelo en proporción al aumentar el caudal, con un consecuente
laboratorio (Klaboratorio). Se evidencia que este valor aumento en la pérdida de material.
presenta una mayor magnitud para el caso de pen- Es importante resaltar que la erodabilidad de-
diente constante. Sin embargo, la clasificación cuali- pende en mayor proporción de la naturaleza del suelo
tativa del material con base en los criterios propor- y las propiedades que su formación le imparten. Por
cionados por Bastos (1999) indica en ambos casos esta razón cuando se realiza la medición directa de la
que el suelo en estudio clasifica como de erodabilidad erodabilidad con el ensayo Inderbitzen, cualitativa-
media. Adicionalmente, se observa que se requiere mente se obtiene el mismo resultado aun cuando los
una cortante hidráulica mayor a 4.26Pa para generar ensayos se ejecutan empleando diferentes caudales y
el arrastre de las partículas de suelo e iniciar el pro- pendientes. Esto lo indican también autores como Ca-
ceso erosivo superficial. mapum de Carvalho & Facio (1994), Cavalcante &
Araújo (2005).
En conclusión, se evidencia un efecto de escala
que influye en la erodabilidad (K) obtenida en campo
y en laboratorio, siendo la magnitud de K laboratorio el
resultado de multiplicar el Kcampo por 1122. Sin em-
bargo, es importante anotar como indicó Indebitzen
(1961) en su trabajo inicial, que esta medición directa
de la erodabilidad permite conocer de manera cuali-
tativa esta propiedad del suelo. Por esta razón la mag-
nitud de K varía según el procedimiento llevado a
cabo para su estimación.
La medición directa en campo de la variable K,
indica que el suelo superficial del Oriente Antio-
Figura 8. Gráfico para cálculo de Klaboratorio queño estudiado en esta investigación cuenta con una
erodabilidad media. Esto mismo se determina en la-
En resumen, en la Tabla 6 se muestran los valores boratorio mediante el ensayo Inderbitzen. Y si bien,
de K empleando la metodología propuesta por Bastos actualmente en el contexto colombiano no se cuenta
(1999) en la parcela hidro-erosiva y en los ensayos con investigaciones enfocadas en la utilización del
Inderbitzen. Con el objetivo de comparar la erodabi- equipo Inderbitzen como medida directa de la eroda-
lidad de campo con la de laboratorio, se selecciona la bilidad de un suelo, su simplicidad y bajo costo lo
Klaboratorio para los ensayos de pendiente constante - tornan viable en la prevención de procesos erosivos.

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438
AGRADECIMENTOS Dey, S. (2014). Fluvial Hydrodynamics. Springer, Berlin,
v. 818. p.687.
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terio de Ciencia, Tecnología e innovación (Minicien- affouillable. Annales de Ponts et Chausses, sec. 5. v.
18. p. 141-195.
cias), por el apoyo otorgado en el desarrollo de la pre-
Fácio, J. A. (1991). Proposição de uma metodologia
sente investigación, según la convocatoria 890, para de estudo de erodibilidade dos solos do Distrito
el fortalecimiento de Ciencia Tecnología e Innova- Federal. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil),
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procedure for the study of rill erosion. Water, v. 13. no
21. 2956p.

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439
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo da condutividade hidráulica de um arenito de uma área de


disposição de resíduos sólidos urbanos
Jhaber Dahsan Yacoub
Universidade Estadual Paulista, Bauru, Brasil, j.yacoub@unesp.br

Breno Padovezi Rocha


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Ilha Solteira, Brasil,
breno.rocha@ifsp.edu.br

Roger Augusto Rodrigues


Universidade Estadual Paulista, Bauru, Brasil, roger.rodrigues@unesp.br

Giulliana Mondelli
Universidade Estadual Paulista, Bauru, Brasil, g.mondelli@unesp.br

Heraldo Luiz Giacheti


Universidade Estadual Paulista, Bauru, Brasil, h.giacheti@unesp.br

RESUMO: O comportamento de uma pluma de contaminação em uma área de disposição de resíduos sólidos urbanos
(RSU) depende da condutividade hidráulica do meio, a qual pode ser alterada frente a variação do estado de tensões, uma
vez que essas variações podem modificar a permeabilidade dos solos e rochas. A prática habitual em laboratórios com
permeâmetros tradicionais em parede rígida não permite verificar tal condição, como a que ocorre no aterro sanitário de
Bauru, o qual possui uma cava, cuja a massa de resíduos se encontra sobre horizontes de solo coluvionar, residual de
arenito e arenito. Deste modo, o uso de um permeâmetro de parede flexível se mostra como importante ferramenta na
caracterização dos solos e rochas uma vez que permite aplicar condições de contorno que simulem o estado de tensões
em campo, melhor representando-o. Assim, uma amostra de arenito foi analisada quanto a sua condutividade hidráulica
e sua variação em tensões confinantes a 20, 40, 80, 160 e 320 kPa. Os resultados indicaram a redução da condutividade
hidráulica com o confinamento e elevada correlação entre a condutividade hidráulica e o índice de vazios do arenito.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação do Subsolo, Condutividade Hidráulica, Permeâmetro de Parede Flexível, Aterro


Sanitário.

ABSTRACT: The behavior of a contamination plume in an area of municipal solid waste disposal (MSW) depends on
the hydraulic conductivity of the medium, which can be changed due to the variation of the stress state, since these
variations can change the permeability of soils and rocks. The usual practice in laboratories with traditional rigid wall
permeameter does not allow the verification of such condition, as occurs in the Bauru municipal solid waste landfill which
has a pit, whose mass of waste is over horizons of colluvial soil, residual sandstone and sandstone. Thereby, the use of a
flexible wall permeameter shows itself as an important tool in the characterization of soils and rocks since it allows
applying boundary conditions that simulate the stress state in the field, better representing it. Therefore, a sandstone
sample was analyzed for its hydraulic conductivity and its variation under confining stresses at 20, 40, 80, 160 and 320
kPa. The results indicated the reduction of hydraulic conductivity with confinement and the high correlation between the
hydraulic conductivity and the void ratio of the sandstone.

KEY WORDS: Site Investigation, Hydraulic Conductivity, Flexible Wall Permeameter, Landfill.

1 INTRODUÇÃO com graves problemas sociais, de infraestrutura e


dimensões continentais como o Brasil (Alfaia et al.,
A disposição de resíduos sólidos urbanos é um 2017).
problema em âmbito global, agravado em um país Os desafios envolvendo a operação e disposição

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


440
de resíduos sólidos são muitos, principalmente O perfil geológico-geotécnico consiste das
devido ao contínuo aumento na geração dos mesmos formações Marília e Adamantina com horizontes de
em conjunto com a ausência de planejamento em solo aluvionar, coluvionar, residual de arenito e
áreas que sofreram rápida urbanização, a arenito (De Mio, 2005; Silva et al., 2019). A Figura 3
consequência são graves problemas ambientais de exemplifica um perfil geológico-geotécnico típico do
contaminação dos solos, rochas, ar e recursos aterro sanitário de Bauru.
hídricos (Ayomoh et al., 2008; Liikanen et al., 2018).
Bauru destinava seus resíduos sólidos urbanos a 2.2 Determinação da Condutividade Hidráulica
um aterro sanitário cujas atividades foram encerradas
em 2016. Todavia, o aterro sanitário de Bauru Preconizado pela ASTM (2016) o ensaio foi
apresenta uma pluma de contaminação identificada e conduzido em um permeâmtro de parede flexível
indicativos de que a mesma tenha contaminado o solo (Figura 4) a partir da moldagem de um corpo de
e futuras fontes de abastecimento de água subterrânea prova cilíndrico com dimensões de 70 mm de
e superficial (Jesus et al., 2013; Mondelli, 2004, diâmetro por 70 mm de altura (relação
2008). diâmetro/altura unitária). Pressões confinantes de 20,
Sendo a água para abastecimento cada vez mais 40, 80, 160 e 320 kPa foram aplicadas e diferentes
escassa, compreender o comportamento da pluma de gradientes hidráulicos utilizados visando minimizar o
contaminação é de grande importância para evitar tempo de ensaio, ou seja, gradiente igual a 10 para as
maiores danos e gastos com remediação. tensões confinantes de 20, 40 e 80 kPa, gradiente de
Neste contexto o principal parâmetro a ser 20 para 160 kPa de confinamento e finalmente 25
determinado é a condutividade hidráulica, e entender como gradiente para 320 kPa de tensão confinante.
seu comportamento frente a variação de tensões
confinantes se faz fundamental, dado que tal variação
ocorre in situ ao longo do perfil geológico-
geotécnico.
No entanto, sua determinação em laboratório
baseada na Lei de Darcy normalmente não é
acompanhada da variação de tensões aplicadas ao
corpo de prova comumente ensaiados em
permeâmetros de parede rígida.
Em tal situação é recomendável o uso de um
permeâmetro de parede flexível, capaz de controlar
melhor as condições de contorno do ensaio como
pressão confinante e gradiente hidráulico.
Além do exposto, a maioria dos trabalhos
envolvendo rochas, permeabilidade, variações de
tensões e aterros sanitários se concentram em países
desenvolvidos, logo, em regiões temperadas,
divergindo das condições a que está submetido o
meio físico em locais tropicais (Leite et al., 2003;
Morandini & Leite, 2015). Figura 1. Arenito aflorante nos arredores do aterro
Deste modo, este trabalho tem por objetivo sanitário de Bauru.
estudar a condutividade hidráulica de um arenito
coletado aos arredores do aterro sanitário de Bauru, O processo de moldagem, indicado pela Figura 5,
representativo do mesmo subjacente a cava de consistiu em extrair um corpo de prova com uma
resíduos do aterro sanitário de Bauru. broca diamantada de 70 mm de diâmetro por 200 mm
de comprimento.
Para manter o paralelismo entre topo e base, foi
2 Material e Métodos utilizada a retífica ilustrada pela Figura 6 e, após a
retificação do corpo de prova, o mesmo foi
2.1 Amostragem posicionamento na câmera de ensaio indicada pela
Figura 7.
Amostras de arenito foram coletadas a partir do Inicialmente a amostra foi saturada por
afloramento rochoso mostrado pela Figura 1 nos contrapressão, com o grau de saturação verificado
arredores do aterro sanitário de Bauru (22°15’S pelo parâmetro B de Skempton, o qual relaciona a
49°08’W), cuja localização é ilustrada pela Figura 2. resposta da pressão neutra (u) pelo acréscimo de

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441
pressão confinante (σ3), como exemplificado pela 5.0 m

Equação 1 (Skempton, 1954). Resíduos 5.0 m

Colúvio Nível D'Água


Δu
B= (1)
Δσ3 Residual de Arenito
35.0 m
Arenito
Com os dados de variação de volume (V) pelo tempo
(t) e conhecidos o gradiente hidráulico (i) e a área da
seção transversal (A) do corpo de prova, a
condutividade hidráulica (k) expressa pela Lei de Figura 3. Perfil simplificado típico do aterro sanitário de
Darcy foi calculada conforme a Equação 2. Bauru (adaptado de Mondelli, 2008).

V
k= (2)
t×i×A

Adotou-se como critério de parada a determinação de


pelo menos 4 valores consecutivos de condutividade
hidráulica que não destoavam 25% da média, como
recomendado pela ASTM (2016).
O processo de consolidação isotrópica dos corpos de
prova se deu pela aplicação de uma tensão confinante
de interesse e a consequente redução de volume pela
expulsão da água dos vazios do corpo de prova
previamente saturado. Ao término da etapa de
consolidação a condutividade hidráulica foi
determinada novamente, como previamente descrito.
Figura 4. Permeâmetro de parede flexível com ensaios em
andamento.

Figura 5. Processo de moldagem dos corpos de prova.

Figura 2. Local de amostragem.

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442
Figura 6. Finalização de topo e base da amostra.
Figura 8. Condutividade hidráulica e variação de volume
em função da tensão confinante.

4 Discussões

Pode-se observar a redução de 2,0 % no volume do


corpo de prova em virtude do decréscimo do índice
de vazios de 0,321 do estado não consolidado para
0,294 com 320 kPa de confinamento, com
consequente redução na condutividade hidráulica em
virtude do aumento da tensão confinante. Esta se
tornou mais importante para tensões superiores a 100
kPa, com redução da condutividade hidráulica de
8,29×10-9m/s para 7,88×10-10 m/s com 320 kPa de
tensão confinante, ou seja, de aproximadamente uma
ordem de grandeza. Similarmente à condutividade
hidráulica, observou-se uma redução mais
pronunciada do volume da amostra em tensões acima
Figura 7. Preparação do corpo de prova na câmara de de 100 kPa, tal fato pode estar relacionado com a
ensaio. tensão de cedência do arenito.
Em relação a condutividade hidráulica, os valores
estão em conformidade com os dados experimentais
3 Resultados de Chen et al. (2009) e Gong et al. (2019). O primeiro
com permeabilidade intrínseca entre 10-14 e 10-18 m2,
Os índices físicos obtidos da moldagem da amostra já o segundo entre 10-16 e 10-17 m2.
de arenito são exibidos pela Tabela 1. Partindo dos dados de laboratório, ajustes de curva da
condutividade hidráulica e da variação de volume do
Tabela 1. Índices físicos. corpo de prova com o confinamento puderam ser
ρd (g/cm³) W (%) e
respectivamente observados : k=7×10-9 exp(-0,01σ3 )
2,01 2,32 0,321
e ΔV=-0,0068σ3 -0,0231, ambos apresentaram
Em que, ρd é a massa específica seca, W umidade, e índice
de vazios. elevada correlação com R2 de 0,9107 para o primeiro
e 0,9504 par o último, endossando a interdependência
A Figura 8 mostra a variação da condutividade entre condutividade hidráulica, índice de vazios e
hidráulica, bem como a variação de volume do corpo confinamento.
de prova com a tensão confinante. O sinal negativo Dado o baixo valor de condutividade hidráulica do
na variação volumétrica indica redução de volume. arenito em condição não confinada, o mesmo pode
ser considerado uma barreira natural ao lixiviado,
sendo um indicativo de que as condições no aterro
sanitário de Bauru seriam agravadas não fosse a
proximidade da cava do aterro com o arenito. No

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443
entanto, os dados foram coletados em uma condição 35(12), p. 1195–1209.
controlada, em laboratório e podem divergir daqueles ASTM D5084. (2016). Standard test methods for
encontrados in situ, uma vez que há a variabilidade measurement of hydraulic conductivity of
do arenito, além eventuais fraturas da rocha, sendo saturated porous materials using a flexible
recomendado ensaios in situ complementares aos wall permeameter. ASTM International, West
dados laboratoriais, bem como análises numéricas Conshohocken, PA, p. 1–24.
devem ser consideradas para tomada de decisões que Ayomoh, M. K. O., Oke, S. A., Adedeji, W. O., &
tangem o aterro sanitário de Bauru. Charles-Owaba, O. E. (2008). An approach to
tackling the environmental and health impacts
5 Conclusões of municipal solid waste disposal in
developing countries. Journal of
O estudo conduzido apresentou e discorreu sobre o Environmental Management, v. 88(1), p. 108–
comportamento hidráulico de um arenito proveniente 114.
de um local de disposição de resíduos sólidos Chen, T.-M. N., Zhu, W., Wong, T., & Song, S.-R.
urbanos, possibilitando concluir : (2009). Laboratory characterization of
 O permeâmetro de parede flexível permeability and its anisotropy of Chelungpu
possibilitou coletar dados em um fault rocks. Pure and Applied Geophysics, v.
geomaterial pouco permeável de difícil 166(5–7), p. 1011–1036.
ensaio em condições e equipamentos De Jesus, L. S., Fernandes, J. B., & Giacheti, H. L.
recorrentes de laboratório como (2013). Investigation of the hydraulic
permeâmetro de parede rígida. conductivity of soils in an area of municipal
 Tensões confinantes acima de 100 kPa solid waste landfill through field and
incidiram reduções mais evidentes de laboratory tests. Ciencia y Engenharia/
volume da amostra e por consequência da Science and Engineering Journal, v. 22(1), p.
condutividade hidráulica, sendo um 21–28.
indicativo da amostra estar em compressão De Mio, G. (2005). Condicionantes geológicos na
virgem, com um estado de tensões acima da interpretação de ensaios de piezocone para
tensão de cedência. identificação estratigráfica na investigação
 A relação entre condutividade hidráulica e geotécnica e geoambiental. Tese de
variação de volume com a tensão confinante Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
demonstra a interdependência entre os Geotecnia, Escola de Engenharia de São
mesmos exemplificada pelo ajuste de curvas, Carlos, Universidade de São Paulo, 348p.
com R2 para ambas as correlações acima de Gong, P., Ni, X., Chen, Z., Wu, Y., & Wu, J.
0,90. (2019). Experimental investigation on
 Ainda que os valores de condutividade sandstone permeability under plastic flow:
hidráulica indiquem um possível uso do permeability evolution law with stress
arenito como barreira natural ao lixiviado, increment. Geofluids, v. 2019, p. 1–19.
ensaios em campo e análises numéricas Leite, A. do L., Paraguassú, A. B., & Rowe, R. K.
complementares aos dados experimentais (2003). Sorption of Cd 2+ , K + , F – , and Cl
são recomendadas para o melhor – on some tropical soils. Canadian
entendimento do comportamento da pluma Geotechnical Journal, v. 40(3), p. 629–642.
de contaminação sob a massa de resíduos Liikanen, M., Havukainen, J., Viana, E., &
sólidos urbanos do aterro sanitário de Bauru. Horttanainen, M. (2018). Steps towards more
environmentally sustainable municipal solid
waste management – A life cycle assessment
AGRADECIMENTOS study of São Paulo, Brazil. Journal of Cleaner
Production, v. 196, p. 150–162.
À CAPES e à FAPESP (2017/23174-5). Mondelli, G. (2004). Investigação geoambiental em
áreas de disposição de resíduos sólidos
urbanos utilizando a tecnologia do piezocone.
REFERÊNCIAS Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Geotécnica, Escola
Alfaia, R. G. de S. M., Costa, A. M., & Campos, J. Politécina, Universidade de São Paulo, 264p.
C. (2017). Municipal solid waste in Brazil: a Mondelli, G. (2008). Integração de diferentes
review. Waste Management & Research: The técnicas de investigação para avaliação da
Journal for a Sustainable Circular Economy, v. poluição e contaminação de uma área de

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444
disposição de resíduos sólidos urbanos. Tese
de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, 362p.
Morandini, T. L. C., & Leite, A. do L. (2015).
Characterization and hydraulic conductivity of
tropical soils and bentonite mixtures for CCL
purposes. Engineering Geology, v. 196, p.
251–267.
Silva, M. L., Batezelli, A., & Ladeira, F. S. B.
(2019). Genesis and evolution of paleosols of
the Marília Formation, Maastrichtian of the
Bauru Basin, Brazil. CATENA, 182 v.
(October 2018), p. 104108.
Skempton, A. W. (1954). The pore-pressure
coefficients A and B. Geotechnique, v. 4(4), p.
143–147.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


445
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Expansividade de Misturas de Solos em Liners de Aterro Sanitário:


Estudo de Caso no Semiárido Paraibano
Auciane Dyrllen da Silva
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, auciane.dyrllen@ufpe.br

Daniela Lima Machado


Universidade Federal do Ceará, Russas, Brasil, danielalms@ufc.br

Maria Isabel Ferreira dos Santos


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, mariaisabel.santos@ufpe.br

Bruno Diego de Morais


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, brunodiegodemorais@hotmail.com

Mateus Evangelista da Silva


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, 95.mateusevangelista@gmail.com

RESUMO: Misturas de solos utilizando bentonita são amplamente utilizadas na confecção das camadas de base de aterros
sanitário, quando o solo da região não fornece características suficientes que assegurem o correto funcionamento das
liners. No entanto, é indicado analisar a expansividade destas misturas, devido a característica expansiva desse solo.
Diante disso, este trabalho propõe uma avaliação do potencial expansivo de três misturas de solos nas proporções de 5%,
15% e 25% de bentonita, para utilização em liners, tendo como campo experimental o Aterro Sanitário de Campina
Grande – PB. Pela análise dos resultados inferiu-se que o índice de expansão das misturas foi baixo, tendo contribuído o
fato da bentonita em seu estado natural ser do tipo cálcica. No mais, têm-se que a proporção de 25% é a mais indicada
para utilização em liners de aterros sanitários com características semelhantes, pois além das análises de expansão
aceitáveis, apresenta-se como o teor mais próximo dos recomendados em outros trabalhos na mesma área de estudo, para
atender o parâmetro da permeabilidade do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Bentonita, Índice de expansão, Liners.

ABSTRACT: Key Words. Soil mixtures using bentonite are widely used in making the base layers of sanitary landfills,
when the soil in the region does not provide sufficient characteristics to ensure the correct functioning of the liners.
However, it is indicated to analyze the expansiveness of these mixtures due to the expansive characteristic of this soil.
Therefore, this work proposes an evaluation of the expansive potential of three mixtures of soils in the proportions of 5%,
15% and 25% of bentonite, for use in liners, having as an experimental field the Sanitary Landfill of Campina Grande -
PB. By analyzing the results, it was inferred that the expansion index of the mixtures was low, with the fact that bentonite
in its natural state is of the calcic type contributed. Moreover, the proportion of 25% is the most indicated for use in
landfill liners with similar characteristics, since in addition to the acceptable expansion analysis, it is presented as the
closest content to those recommended in other works in the same study area, to meet the soil permeability parameter.

KEY WORDS: Bentonite, Expansion Index, Liners.

1 INTRODUÇÃO gases. Essas camadas geralmente são compostas por


solos argilosos compactados, no entanto, o uso de
Os aterros sanitários são construídos sobre camadas misturas de solos é uma técnica comumente
de base, que possuem a função de inibir a migração empregada nesses elementos, principalmente quando
de poluentes ao subsolo e ao meio ambiente, o solo da região de implantação do aterro não fornece
provocada pela percolação de líquidos e emanação de propriedades adequadas.

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446
Solos com argilominerais são bastante utilizados sanitários, contendo bentonita, de modo a avaliar o
para compor misturas de solos, isso se deve ao fato potencial de expansão que esse material pode agregar
destes apresentarem características que se adequam ao solo.
às exigências e necessidades para a utilização nos
aterros sanitários. Como exemplo deste material, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
pode-se citar a bentonita que, além de apresentar o
argilomineral montmorilonita e possuir 2.1 Campo experimental
características que favorecem seu emprego, tem
grande predominância de produção na região foco O campo experimental de realização deste estudo é o
deste estudo. Para a impermeabilização eficiente de Aterro Sanitário de Campina Grande (ASCG). O
camadas de base em Aterros Sanitários, Silva (2017), referido aterro, se localiza no distrito de Catolé de
apontou que para um solo com em média 90% de Boa Vista, na Fazenda Logradouro II, a uma distância
materiais granulares em sua composição, de 10 km da zona urbana do município de Campina
recomendasse utilizar como mistura 30% em massa Grande - PB. A Figura 1, ilustra uma visão aérea da
de porcentagem de um solo com alto potencial de localização do ASCG.
argilominerais, como é o caso da bentonita. Desde o início de sua operação (julho de 2015 ),
O uso da bentonita, no entanto deve ser já foram implantadas no aterro 4 células,
empregado com cautela, pois embora esta apresente denominadas de Células 1 (C1), 2 (C2), 3 (C3) e 4
propriedades que auxiliam nos critérios de (C4). Atualmente, essas quatro células encontram-se
impermeabilização, este material se caracteriza por finalizadas, e conjuntas formam a macrocélula, que é
manifestar potencial de expansão. Boscov et al. a junção das Células 1, 2, 3 e 4 e as junções entre as
(2009), ao estudarem as propriedades geotécnicas de células de resíduos, apresentando dimensões de base
misturas com bentonita concluíram que o processo de de 210 x 210 m, e uma altura média de 25 m. Em
expansão do solo avaliado, com adição de 5% deste janeiro de 2020, se iniciou a operação de uma 5°
material sujeito a tensão nos valores médios de 20 célula, a mesma será no decorrer deste estudo
kPa e 34 kPa se relacionava respectivamente, ao solo denominada de Célula 5 (C5). (COSTA, 2019 &
e à mistura. SILVA, 2018).
A expansividade de solos tem provocado Neste empreendimento, as camadas de base
inúmeros imprevistos em obras de engenharia. O executadas, possuem em sua composição uma
processo de modificação volumétrica que estes proporção de solos de 80% de solo natural da área de
apresentam causam deformações diferenciais em implantação do aterro e 20% de um solo bentonítico,
fundações, desmoronamento em túneis, oriundo de uma jazida localizada no município de
desagregação em lastros de ferrovias, enrocamento Boa Vista - PB. Com relação a permeabilidade, esta
de barragens e tantos outros danos causados pela proporção é adequada, pois apresenta condutividade
alteração de outras propriedades do solo por hidráulica de 10-9 m/s, como preconiza a NBR 13.896
consequência da expansão (COSTA, 2005). (1997) (COSTA, 2019 & SILVA, 2017). Diante do
Analisar o comportamento expansivo dos solos exposto, o foco de análise deste trabalho são os
utilizados nessas camadas, viabiliza a melhoria dos materiais que compõem a camada de base da C5 do
parâmetros de segurança impostos na construção dos ASCG.
aterros sanitários, assim como no desempenho destas
estruturas. Além disso, conhecer a capacidade de
expansão do solo torna possível antecipar-se aos
problemas que o mesmo ocasiona, seja no processo
de execução, utilização ou desempenho,
possibilitando evitar problemas de contaminação do
solo e do meio ambiente. Um exemplo que se pode Figura 1. Aterro Sanitário de Campina Grande – PB,
citar é a fissuração das camadas que tende a facilitar Grupo de Geotecnia Ambiental - GGA (2021).
a percolação do lixiviado, ocasionando a
contaminação do solo e do meio ambiente. 2.2 Materiais
Diante do exposto, sabendo que a região foco
deste estudo possui um grande potencial na produção Os materiais que compõem esta pesquisa são o solo
de bentonita no país, objetiva-se analisar a expansão natural (Snt) e o solo bentonítico (Sbt). Estes
de misturas de solos em camada de base em um aterro integram a mistura de solos que é utilizada na
sanitário no semiárido paraibano, bem como esperas- execução da camada de base da C5 do ASCG. Foram
se determinar o índice de expansão de misturas de realizadas as coleta das amostras indeformadas do
solos utilizadas nas camadas de base de aterros Snt, este solo é originário do terreno onde se localiza

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447
o ASCG, e encontrava-se acumulado à céu aberto, na ensaios de caracterização geotécnica. Inicialmente
área próxima ao local de compactação da camada de foi feita a preparação das amostras de acordo com a
base, seguindo as recomendações da NBR 9604 NBR 6457 (2016a), para realização dos ensaios com
(ABNT, 2016), com o intuito de assegurar a as misturas dos materiais nas proporções de 5, 15 e
representatividade deste nos ensaios de laboratório. 25% de Sbt. Para obtenção do resultado dos índices
Neste estudo foram feitas as coletas das amostras de consistência se executou os ensaios de limite de
do Sbt, esta argila bentonítica é originária de uma liquidez (NBR 6459/2016b) e limite de plasticidade
jazida localizada no município de Catolé da Boa (NBR 7180/2016c). Além disso, seguindo seus
Vista - PB, tal região é caracterizada por abundante respectivos procedimentos normativos foram feitos
presença desse tipo de material. As amostras estavam os ensaios de compactação regido pela NBR 7182
dispostas a céu aberto no ASCG, próximas ao local (ABNT, 2016d) e o ensaio de análise granulométrica,
de execução dos serviços de preparação do terreno com peneiramento e sedimentação com adição de
para camada de base, onde foram coletadas seguindo defloculante hexametafosfato de sódio, em
os procedimentos da norma NBR 10007 (ABNT, conformidade com o disposto na NBR 7181 (2016f).
2004) adaptada. Em seguida, as amostras foram Já o ensaio de massa específica dos grãos segui os
enviadas aos laboratórios para realização dos ensaios procedimentos de execução presentes na NBR 6458
de caracterização. (ABNT, 2016 e).
Durante este estudo será analisada a influência da
variação de adição de solo bentonítico no 2.3.2 Ensaio Edométrico
comportamento expansivo dos solos utilizados na
camada de base da C5 do aterro sanitário. As O ensaio edométrico foi executado seguindo as
proporções de uso da bentonita variam em torno de preconizações da NBR 16853 (2020). Esta norma,
20% que é o valor utilizado na prática. Assim determina o processo de preparação de uma amostra
decidiu-se realizar este estudo com misturas nas indeformada para o anel do ensaio edométrico
proporções de 5%Sbt + 95%Snt, 15%Sbt + 85%Snt e simples. No entanto, como este estudo é realizado
25%Sbt + 75%Snt. com mistura de solos (amostras deformadas), a
As misturas de solos nos teores de 5%, 15% e 25% norma não regulamenta um método específico para a
de bentonita durante este trabalho serão nomeadas moldagem do corpo de prova (CP) essa, no entanto,
M5, M15 e M25 respectivamente. As proporções de exige que se explique o processo adotado. Desta
solo e bentonita foram calculadas em termo de massa forma, foi seguido o processo semelhante ao ensaio
seca de materiais, sendo a preparação dessas de compactação Proctor Normal, utilizando a massa
realizada adotando os seguintes procedimentos: 1) específica seca máxima e umidade ótima. O anel
Homogeneização dos solos puros com auxílio da utilizado possui diâmetro de 5 cm, através disso, foi
peneira de malha 2 mm; 2) Adição da bentonita no possível calcular a quantidade de massa necessária
teor desejado, e posterior homogeneização manual da para o preenchimento do volume total do mesmo, por
mistura; 3) Adição da água na quantidade prevista meio da equação (1), onde v é o volume do anel e 𝜌
para cada ensaio em que este processo foi necessário, é massa específica aparente seca máxima:
seguida pela completa mistura dos materiais; 4) ρ𝑠 = vxρ (1)
Acondicionamento e identificação das misturas em Após a determinação da quantidade de massa
sacos plásticos mantendo em repouso por um ou dois, necessária para moldagem do CP, foi pesada a
antes da realização dos ensaios. quantia de solo calculada para abranger o volume do
A escolha em analisar os teores citados, se baseou cilindro de adensamento. Em seguida, se calculou a
nos 20% usados na prática e nos estudos realizados proporção de Snt e Sbt em gramas para preparar M5,
por Costa (2019) e Silva (2017). Outros autores como M15 e M25, e seguiu-se homogeneizando a mistura,
Sivapullaiah et al. (1998) realizaram ensaios de com a quantidade de água previamente calculada. A
expansão, contração, adensamento e condutividade quantidade de água adotada no ensaio foi calculada a
hidráulica variando porcentagem de bentonita para partir da Equação (2), sendo 𝛥𝑊 a diferença entre
avaliar as misturas em sistemas basais de selagem, e umidade ótima e a umidade higroscópica e 𝜌𝑠 a massa
concluíram que as melhores proporções estavam necessária para preencher o volume do solo:
entre 20 e 30%. 𝑃𝑎= 𝛥𝑊𝑥𝜌s (2)
Além disso, se separou e levou à estufa uma
2.3 Ensaios quantidade extra desse material para verificação
posterior da umidade de acordo com o valor
2.3.1 Caracterização Geotécnica calculado. Com o material homogeneizado, sabendo
a quantidade de solo necessária para o volume do
Realizada a coleta dos materiais foi executado os cilindro utilizado, foi feita uma divisão desse volume

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448
em três camadas de altura semelhantes, para garantir 3.1.1 Umidade e peso específico dos grãos
uma maior qualidade na moldagem do CP, no
cilindro de adensamento. Ao final da moldagem das A faixa de umidade higroscópica (Tabela 1), se
duas primeiras camadas, foram feitas pequenas apresentou como esperado, visto que à medida que se
ranhuras em suas superfícies, com o intuito de adicionou bentonita (10,9 %) ao solo natural (0,48%),
melhorar a aderência entre esta e a camada superior. aumentou-se o valor da umidade destas nas misturas,
Além disso, ao finalizar cada camada se realizava a sendo tais valores similares aos encontrados por
medição da altura da mesma, com o auxílio de um Costa (2019). O elevado teor de umidade
paquímetro, para garantir que estas estavam sendo higroscópica da bentonita sinaliza a alta capacidade
executadas com alturas semelhantes. Ao final, foi de retenção de água que esta possui. A capacidade de
feita a verificação visual desse processo, e a pesagem absorção de água de uma argila relaciona-se ao seu
do conjunto CP + Cilindro. potencial de expansão, ou seja, quanto maior esta
Seguindo as recomendações da NBR 16853 capacidade, maior a possibilidade deste solo
(2020) foi realizada a montagem da célula de apresentar-se como expansivo, sendo assim, infere-se
adensamento e com o nivelamento do conjunto, se que o solo da M15 apresenta uma capacidade de
adicionou uma carga de acomodação das partículas expandir-se menor que o da M25.
de 7 kPa, na prensa de adensamento. Tendo o CP O peso específico dos grãos (ρdmáx (kN/m³),
estabilizado, a amostra foi inundada, e se verificou a obtido (Tabela 1) através do método do picnômetro,
expansão pelas variações no extensômetro nos foi de 27,8 kN/m³ para o Snt e 22,6 kN/m³ para Sbt.
tempos preconizados em norma ou após a Com o incremento de solo bentonítico nas misturas,
estabilização do CP. A estabilização foi conferida pôde-se perceber uma pequena diminuição nos
após cada leitura, verificando-se a diferença da valores dos pesos específicos destas, no entanto esta
leitura do tempo final (Lt) observado pelo tempo variação, principalmente para M5 e M15 giraram em
inicial (Lt0) multiplicado por 0,05 era maior ou igual torno do peso específico dos grãos em maior
a diferença do tempo final (Lt) pelo tempo anterior porcentagem. Já M25, por apresentar uma maior
(Lt-1) observado, se isso acontecesse o ensaio era porcentagem de finos do que as outras misturas,
finalizado. Este procedimento foi repetido para as apresentou o valor de 24,0 kN/m³, valor que, segundo
amostras de M5, M15, M25 e para Sbt. Em seguida Costa (2019), é o mesmo encontrado na literatura
foi realizada a plotagem e análise dos gráficos e para a montmorilonita.
resultados, para verificação do índice de expansão de
cada amostra. 3.1.2 Limites de consistência

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com Frazão (1981), a expansividade pode


ser analisada baseando-se nos limites de consistência
3.1 Caracterização geotécnica através dos valores de LL, LP e IP. Pela análise destes
na Tabela 1, pôde-se avaliar o grau de expansão dos
A Tabela 1, dispõe dos resultados obtidos para os solos e das misturas de acordo com os critérios
ensaios de caracterização geotécnica do Snt, Sbt, M5, apresentado por Vilar&Ferreira (2015) no recopilado
M15 e M25. de critérios de classificação do grau de expansão
relacionada ao Limite de Liquidez (LL) e ao Índice
Tabela 1. Caracterização Geotécnica de Plasticidade (IP) demonstrando que quanto
maiores os valores de LL e IP maior o grau de
expansividade.Tal análise é mostrada na Tabela 2,
abaixo.
Tabela 2. Critérios de classificação da expansividade pelos
limites de consistência
Critério Snt Sbt M5 M15 M25
Chen(1965) N.A M.A N.A B M
Seed et al.
(1962) N.A M.A N.A B M
Daksanamur
thy&Raman
(1973) N.A M.A N.A N.A M
N. A - Parâmetro não se aplica aos dados analisados nos estudos dos
respectivos autores; M.A – Muito Alto; B – Baixo e M – médio.

A análise dos dados mostra que o acréscimo de

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449
5% de Sbt não acarretou nenhuma alteração nos 3.1.3 Análise granulométrica
limites das misturas, e por consequência, esta
permanece com potencial de expansão baixo. Esse Através do ensaio de granulometria por sedimentação
comportamento decorre da presença majoritária de foram obtidos os resultados de análise
areia na composição granulométrica do solo. Já o granulométrica das misturas (Tabela 1), sendo estes
incremento de 15 e 25% deste solo ocasionou ilustrado na Figura 2.
aumento nos valores de LL, no entanto como
demonstra os critérios tanto de Chen (1965) quanto
de Daksanamurthy e Raman (1973) o potencial de
expansão do solo para 25% caracteriza o solo com
potencial maior que o de 15%, tendo este classificado
com médio.
Tal classificação corrobora com o uso destas
misturas em camadas de base, visto que o potencial
expansivo não é alto. Karakan e Demir (2020)
identificaram uma tendência linear de crescimento do
LL de solos arenosos com adição de bentonitas. No
entanto, como relata os estudos Pandiam et al. (1995) Figura 2. Curvas granulométricas
a adição do Sbt acarreta aumento no LL de misturas
de forma linear até o teor de 20%. Após a obtenção O Snt é constituído de 20,5% de pedregulho,
dos valores de LP e LL, pôde-se obter os valores para 64% de areia (3,5% de areia grossa, 8,2% de areia
o IP de cada mistura, sendo possível realizar a média e 52,3% de areia fina), 8,3% de silte e 7,2% de
classificação do solo quanto a sua plasticidade. argila. Já o Sbt é composto por 20,9% de areia, 28,2%
A avaliação da plasticidade do solo tem de silte, 50,9% de argila e não possui pedregulho.
relevância significativa na análise da expansividade Assim, analisando estes dados, infere-se que o Sbt
do solo, visto que quanto maior a plasticidade do apresenta maior possibilidade de expansão que o Snt
solo, maior é a probabilidade deste ser expansivo (maior fração arenosa). Como justifica Chen (1988),
(Diógenes, 2021). Tal perspectiva é válida pela na maioria dos solos expansivos predomina um alto
análise do critério de Seed et al. (1962), que relaciona percentual de partículas com dimensão inferior a
o aumento no IP ao grau de expansão do solo. Como 0,074 mm.
exemplifica a Tabela 2, a mistura de 5% e o Snt não Conforme o Sistema Unificado de
podem ser analisadas pelos critérios dispostos por Classificação de Solos (ASTM, 2017), o Snt e Sbt
apresentar-se como não-plásticas (Tabela 1). Bem tratam-se de uma areia-siltosa (SM) e uma argila de
como nenhuma das misturas adapta-se ao critério de alta compressibilidade (CH), respectivamente. De
Daksanamurthy e Raman (1973), por este ser acordo com esse critério de classificação segundo a
proposto a valores acima dos que essas apresentam. CETESB (1993), o solo bentonítico é o único
Já pelo critério de Seed et al. (1962), a amostra recomendado para utilização em camada de base em
M15 apresentou grau de expansão baixo, com valores aterros sanitários.
de IP menores que 10. Já M15 é considerada com A adição dos teores (5%,15% e 25%) de solo
grau de expansão médio, pois tem seu IP entre os bentonítico nas misturas, como era de se esperar,
intervalos de 10 e 20. Assim, nota-se que a medida provocou mudanças na composição granulométrica,
que se aumenta a proporção de bentonita, aumenta-se principalmente redução das frações de areia e
o potencial de grau de expansão das misturas. Esse aumento na fração de finos das misturas (Tabela 1) .
aumento se justifica pelo comportamento expansivo De acordo com a classificação da SUCS, M5 e M15
que este material (Sbt) possui, sendo classificado são uma areia siltosa (SM), assim como o Snt, e M15
como muito alto por ambos os critérios (Tabela 2), é SC (areia argilosa), sendo a categoria de solo nesta
bem como apresenta valores altos de LL e IP, última mistura a única, dentre as citadas, que se
característica de solos expansivos. adequa para uso em camadas de base, de acordo com
O Sbt, M15 e M25 atendem às exigências de Rocca et al. (1993).
Rowe et al. (1995), possuindo IP superior a 7% sendo De acordo com Rowe et al. (1995) as barreiras
recomendados para utilização como barreira de aterro selantes devem apresentar quantidade mínima de 15
sanitário, estes também estão dentro das a 20% de partículas menores que 2𝛍m (argila) e
prerrogativas expostas por Daniel (1993) do IP ser seguindo estes critérios nenhuma destas misturas
maior ou igual a 7%. No entanto, tanto o Snt como estariam indicadas para utilização em camadas de
M5, não se encontram em conformidade com estas base. Mas como ressaltam os autores, estes dados
indicações literárias representam características gerais da camada de

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450
argila, sendo necessário a análise de outras direita, apresenta uma umidade maior, no entanto,
características, visto o projeto de liners ser específico quando a curva de compactação apresenta
para cada local. Estas misturas também não se comportamento para baixo, a massa específica do
adequaram às sugestões da CETESB, para uso em solo é menor. Durante a execução da moldagem dos
camada de base, com relação à classificação da SUCS CPs no ensaio, à medida que se aumentava o teor de
e porcentagem de finos. bentonita mais trabalhoso e de difícil
homogeneização se tornava a mistura. Isso se
3.1.4 Compactação justifica principalmente pela alta capacidade da
bentonita de reter água, sendo que este
O ensaio de compactação possibilitou a obtenção da comportamento pode estar diretamente ligado à
umidade ótima e a massa específica aparente seca sucção do solo.
máxima do solo natural e das misturas, dados Além disso, ao se analisar a massa específica
primordiais para a moldagem do CP no ensaio aparente seca máxima, influi-se que a medida que se
edométrico. Assim da Tabela 1, nota-se que o Snt aumenta a proporção de bentonita, maior a
apresenta umidade ótima de 10,1% e massa possibilidade do solo se apresentar como expansivo.
específica aparente seca máxima de 19,9 kN/m³ (1,99 Segundo Ataide (2017), solos com elevados teores de
g/cm³). massa específica aparente seca possuem relação
Devido a alta plasticidade da bentonita pura, direta com o baixo potencial expansivo, porque os
não se conseguiu executar o ensaio de compactação, argilominerais existentes em um solo expansivo
utilizando-se assim dos valores encontrados por possuem baixa densidade. Ou seja, um solo com a
Costa (2019), umidade ótima de 33% e massa presença de minerais como o quartzo por exemplo,
específica aparente seca máxima de 13,70 kN/m³ denota uma baixa capacidade de reter água.
(1,37 g/cm³), o mesmo ainda relatou que a bentonita De acordo com o critério de Kabir&Taha
utilizada estava na forma hidratada, sódica (2004), todas as misturas atenderam ao requisito do
evidenciando características expansivas e de alta ensaio de compactação, pois apresentaram massa
capacidade de retenção de água. específica aparente seca máxima superior a 1,45
A massa específica aparente seca máxima do g/cm³, podendo ser utilizadas como barreiras
Snt é significativamente superior à da bentonita. impermeabilizantes em aterros sanitários. Todas as
Assim, nas misturas se percebe que com o aumento misturas analisadas também atenderam ao critério de
da proporção de bentonita, há uma redução neste Onorms (1990), citado por estes autores, possuindo
fator variando de 1,87 g/cm³ à 1,71 g/cm³. No massa específica aparente seca máxima maior ou
entanto, analisando a umidade ótima, ocorreu o igual a 1,71 g/cm³, tendo a amostra M25 ficado no
oposto, os valores variaram de 10,5% a 15,9%. Com limite deste método.
a adição de argila no solo arenoso, as misturas
passam a ter uma maior proporção de grãos de 3.2 Ensaio edométrico - Índice de Expansão
menores dimensões, o que provoca diminuição da
massa específica seca máxima e aumento da umidade A determinação do índice de expansão foi feita
ótima. As curvas resultantes do ensaio de através do ensaio edométrico com uso de uma carga
compactação (Proctor Normal) para as misturas estão de 7 kPa inundada, a partir do qual se verificou a
ilustradas na Figura 3, abaixo. variação do CP. A Tabela 3 dispõe dos valores de
índice de expansão para as misturas e o solo
bentonítico calculado por meio da equação (3), onde
o termo El refere-se a expansão “livre”, em
porcentagem; ΔH a altura da expansão devido à
saturação e H é a altura do CP antes da inundação:
∆H
El = ( ) ∗ 100 (3)
H
O solo natural por ser arenoso, não apresenta
expansão, não havendo assim necessidade de realizar
o ensaio com esse material em estado puro.

Figura 3. Curvas de compactação Tabela 3. Resultados do índice de expansão com carga de


7 kPa para bentonita e as misturas
Pelo gráfico, percebe-se que com o aumento de Material Sbt M5 M15 M25
bentonita as curvas de compactação apresentaram El (%) 18,29 0,00 1,09 1,33
deslocamento para a direita e para baixo. Pinto (2006) N. A - Parâmetro não se aplica aos dados analisados nos estudos dos
explica que um gráfico com deslocamento para a

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451
respectivos autores; M.A – Muito Alto; B – Baixo e M – médio. Portanto, diante dos índices de expansão
encontrados para as misturas estudadas, inferese que
Por meio do compilado de critérios descritos estas não acarretariam problemas relacionados a
nos critério de classificação de solos expansivos com variações de umidade, podendo ser utilizadas em
base na expansão livre e tensão de expansão de Vilar liners. No entanto, M25 é a mais indicada dentre as
&Ferreira (2015) para uma carga de 7 kPa pelo misturas analisadas para utilização em liners, diante
critério de Seed et al. (1962), a bentonita tem grau de do exposto no estudo de Silva (2017), principalmente
expansividade considerado alto (El variando entre 5 e para o critério de permeabilidade, sendo a proporção
25%). Com relação às misturas, de acordo com o mais aproximada do valor de 29,68% indicado pelo
disposto na Tabela 3 o incremento de 5% de autor.
bentonita, não provocou nenhuma alteração no
comportamento expansivo do solo, sendo 4 CONCLUSÃO
considerada com grau de expansividade baixa.
Seguindo este critério M15, apresentou potencial Este estudo concluiu que o comportamento
expansivo médio (El variando entre 1 e 4%), no expansivo do solo natural da região onde se localiza
entanto o valor obtido de 1,09 é muito próximo dos o ASCG com a adição de 5%, 15% e 25% de forma
valores considerados baixos. Já a M25 continuou geral, não apresentou valores de expansividade altos,
assim como a M15, com expansividade média. característica que fundamenta a utilização de tais
Embora no compilado de Vilar&Ferreira misturas como alternativa em camadas de base em
(2015) o critério de Vijayvergiya&Ghazzaly (1973) aterros sanitários. No entanto, é válido ressaltar que a
seja apresentado com uma carga de 10 kPa, a análise proporção de 25% se apresenta como a mais indicada
pode ser estendida aos dados deste estudo, porque a a se utilizar principalmente com relação a
carga para o ensaio de expansão livre geralmente se permeabilidade, como indicam outros estudos da
comporta mais como uma carga de alocação, não literatura.
modificando significativamente a análise geral da Além disso, outros fatores devem ser analisados
expansão. Assim, a bentonita foi considerada com antes da implementação destas misturas nos aterros,
expansividade muito alta (El > 10%), M5 continuou visto que os solos possuem inúmeras propriedades
como baixa (El<1%) e M15 e M25 seguem sendo que devem ser levadas em consideração para garantir
médias (El variando entre 1 e 4%). o funcionamento eficiente das liners. Para mais, as
A incorporação de bentonita ao Snt segue a características do solo da região onde está implantado
tendência de aumento do grau de expansão, no o aterro sanitário devem ser avaliadas,
entanto este aumento não é muito significativo nas principalmente na área estudada, que se destaca por
variáveis estudadas, sendo os valores baixos uma maior ocorrência de solos bentoníticos, que
comparando aos encontrados por Thakur&Yadav apresentam potencial expansivo.
(2018). Assim, o baixo potencial expansivo A caracterização geotécnica demonstrou que a
observado nas misturas, torna viável a utilização do adição de Sbt ao Snt acarreta aumento na plasticidade
uso da bentonita como material complementar para e porcentagem de finos do solo. A umidade
utilização em camadas de base em aterros sanitários. higroscópica das misturas, assim como os resultados
A Figura 4 ilustra o comportamento da do ensaio de compactação evidenciaram que a
variação de altura dos CPs destes materiais com carga bentonita possui uma alta capacidade de retenção de
de 7 kPa ao longo do tempo. água, característica esta que aumenta conforme se
eleva o percentual desta nas misturas.
Os valores de índice de expansão foram baixos, o
que demonstra que as proporções analisadas quando
submetidas a variações de umidade, característica do
clima regional paraibano, não apresentam excessiva
expansão. Assim, a utilização da bentonita como
material alternativo nas camadas de base dos aterros
é considerada eficiente, sendo de acordo com as
análises gerais deste estudo a proporção de 25% a que
mais se aproxima das determinações expostas em
diferentes conteúdos literários.

Figura 4. Representação gráfica da expansão livre da AGRADECIMENTOS


bentonita e das misturas ao longo do tempo (7 kPa)

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452
Ao Grupo de Geotecnia Ambiental (GGA) da UFCG Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB.
(Universidade Federal de Campina Grande), o qual Daniel, D. E. (1993) Geotechnical practice for waste
possui convênio com a empresa Ecosolo Gestão disposal. London: Chapman & Hall, 1993.
Ambiental de Resíduos Ltda, responsável pela Diógenes, R. A.(2021). Estudo da expansividade de solos:
Um estudo de caso na UFC campus Russas. 85 fls.
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ABNT (2004). NBR 10007: Amostragem de resíduos GRUPO DE GEOTECNIA AMBIENTAL. Departamento
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ABNT (2016e). NBR 6458:Grãos de pedregulhos retidos Permeability and compressibility behavior of
na peneira de abertura 4,8mm – Determinação da bentonite-sand/soil mixes. Geotechnical Testing
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deformadas e indeformadas – procedimento. Rio de Barrier Systems for Waste Disposal Facilities.
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Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Silva, D. L. M.(2018) Adsorção de metais tóxicos em
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produzidas com solo laterítico estabilizado expansivos. In: Carvalho, J. C. et al. (orgs.). Solos não
quimicamente, 107 p. Dissertação (Mestrado em saturados no contexto geotécnico. São Paulo:
Recursos Hídricos e Tecnologias Ambientais) – Associação Brasileira de Mecânica dos solos e
Universidade Estadual Paulista/Faculdade de Engenharia Geotécnica, cap. 15, p. 415-440.
Engenharia de Ilha Solteira. Ilha Solteira.
Costa, W. W. M. L.(2019). Estudo da permeabilidade em
solos utilizados em camada de base de aterro sanitário
no semiárido Paraibano. 85 fls. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Civil e Ambiental) – Universidade

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


453
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Influência de Parâmetros Físico-químicos na Fitotoxicidade do


Lixiviado Gerado no Aterro Sanitário em Campina Grande –PB.
Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, luisa.muricy12@gmail.com

Ana Letícia Ramos Bezerra


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, annaleticiaramos0@gmail.com

Ketlyn Jaquelize Lima Sousa


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, eng.ketlynsousa@gmail.com

Jessica Kaori Sasaki


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, jessicakaori@hotmail.com

Veruschka Escarião Dessoles Monteiro


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil,
veruschkamonteiro@hotmail.com

RESUMO: O lixiviado, gerado em aterros sanitários, apresenta composição complexa, e o estudo da sua fitotoxicidade é
necessário para garantir o correto gerenciamento. Este trabalho objetiva determinar a toxicidade do lixiviado gerado no
Aterro Sanitário em Campina Grande (ASCG), Paraíba, por testes de fitotoxicidade em repolho, relacionando com
parâmetros físico-químicos. Amostras do lixiviado in natura foram caracterizadas, durante o período fev-out/2022, quanto
ao pH, NAT e metais pesados. Além de testes de fitotoxicidade em diferentes diluições e classificação do Índice de
Germinação (IG). Foi feita estatística descritiva, matriz de correlação e Análise dos Componentes Principais (ACP),
verificando a relação dos parâmetros com o IG. Verificou-se baixa variação dos valores, no período analisado, para pH,
Fe, Mn, Zn, Pb, IG7,6% e IG11,39%. Os resultados da caracterização do lixiviado, constatou altos valores de NAT, e
pH>8, sendo lixiviado característico da fase avançada de degradação da matéria orgânica. Os valores de metais
encontrados no lixiviado do ASCG seguiram a ordem de Fe>Mn>Cr>Zn>Pb
(2,62±0,55>0,82±0,30>0,74±0,31>0,20±0,05>0,04±0,04). Pelos valores de IG, o lixiviado foi classificado como
estimulante para o repolho, nas menores concentrações e por apresentar alta fitotoxicidade nas concentrações mais
elevadas. A ACP e matriz de correlação demonstraram que os parâmetros que mais influenciaram positivamente no IG
foram Fe, Mn, Zn e Pb. Cr e NAT apresentaram correlação negativa para algumas concentrações. Sendo NAT, um dos
principais componentes tóxicos do lixiviado. Diante disso, é importante a análise das características e efeitos tóxicos do
lixiviado, para melhor auxiliar em tomadas de decisões e correto monitoramento do aterro sanitário.

PALAVRAS-CHAVE: Toxicidade, Metais pesados, NAT, pH, Índice de Germinação.

ABSTRACT: The leachate generated in landfills presents a complex composition and the study of its phytotoxicity is
necessary to ensure the correct management. This work aims to determine the toxicity of the leachate generated at the
Campina Grande Landfill (ASCG), Paraíba, by phytotoxicity tests on cabbage, relating it to physicochemical parameters.
Samples of the in natura leachate were characterized, during the period Feb-Oct/2022, for pH, NAT and heavy metals.
Besides phytotoxicity tests in different dilutions and classification of the Germination Index (GI). Descriptive statistics,
correlation matrix and Principal Component Analysis (PCA) were performed, verifying the relationship between
parameters and GI. It was verified low variation of values, in the analyzed period, for pH, Fe, Mn, Zn, Pb, GI7.6% and
GI11.39%.The characterization results of the leachate, found high values of NAT, and pH>8, being leachate characteristic
of the advanced phase of organic matter degradation. The values of metals found in the leachate from ASCG followed
the order of Fe>Mn>Cr>Zn>Pb (2.62±0.55>0.82±0.30>0.74±0.31>0.20±0.05>0.04±0.04). From the GI values, the
leachate was classified as stimulant for cabbage at the lowest concentrations and for showing high phytotoxicity at the
highest concentrations. The PCA and correlation matrix showed that the parameters that most positively influenced the
GI were Fe, Mn, Zn and Pb. Cr and NAT showed negative correlation for some concentrations. NAT being one of the

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main toxic components of the leachate. Therefore, it is important to analyze the characteristics and toxic effects of the
leachate, to better assist in decision making and correct monitoring of the landfill.

KEY WORDS: Toxicidade, Metais Pesados, NAT, pH, Índice de Germinação.

1 INTRODUÇÃO oleracea var capitata), relacionando com parâmetros


físico-químicos, incluindo metais pesados, pH e
Nos aterros sanitários ocorrem várias reações físicas, Nitrogênio Amoniacal Total (NAT).
químicas e biológicas durante o processo de
degradação dos resíduos, na qual gera subprodutos, 2 MATERIAL E MÉTODOS
dentre eles, o lixiviado (Abunama et al., 2018). Esse
efluente apresenta elevada heterogeneidade por 2.1 Área de estudo
conter substâncias orgânicas e inorgânicas
complexas em sua composição, incluindo metais Este estudo foi realizado no Aterro Sanitário em
pesados, sais, matéria orgânica natural e Campina Grande (ASCG), situado na na Fazenda
contaminantes xenobióticos, o que lhe confere alto Logradouro II, distrito de Catolé de Boa Vista,
poder contaminante ao ambiente (Abd El-salam; município de Campina Grande, Paraíba, mais
Abu-Zuid, 2015; Costa et al., 2019). especificamente nas coordenadas geográficas
O lixiviado pode afetar consumidores primários e 7°16’38’’S, 36°00’51’’W (Figura 1).
humanos por meio da contaminação do solo e de
corpos hídricos (Masoner et al., 2016; Vaccari et al.,
2018), especialmente pela elevada concentração de
metais que pode conter. Por isso, caracterizar esse
líquido é de grande importância para analisar o seu
efeito ao meio ambiente. Como afirma Jani et al.
(2019), a combinação de testes de fitotoxicidade e da
caracterização físico-química do lixiviado, é
essencial para analisar a periculosidade desse
efluente. Por ter composição complexa, os ensaios
físico-químicos tradicionais podem ser insuficientes,
pois essas análises não indicam o impacto ambiental
causado e as consequências para o ecossistema
(Zagatto, 2014; Enuneku et al., 2017).
Os testes de fitotoxicidade surgem como
alternativa para a identificação da toxicidade do
Figura 1. Localização do ASCG.
lixiviado de aterro sanitário ao meio ambiente. Por
Fonte: Autores (2022).
meio da análise da germinação e do crescimento das
espécies, esses testes são indicadores do efeito que as
A operação do ASCG teve início no mês de julho
substâncias químicas causam em sementes e plantas
de 2015, sob responsabilidade privada. Possui uma
(Silva, 2016). Estudos que realizaram esse tipo de
extensão territorial de 64 ha, sendo 40 ha destinados
teste em lixiviado evidenciaram que o lixiviado é
ao aterramento dos resíduos sólidos urbanos, e foi
tóxico para diversas culturas, como a canábis
projetado para ter uma vida útil de 25 anos,
(Cannabis sativa L). (Vaverková et al., 2019), alface
recebendo diariamente 350 toneladas de de Resíduos
(L. sativa) e pepino (Cucumis sativus) (Hoss et al.,
Sólidos Urbanos (RSU) por dia (tRSU.d-1).
2019), agrião (L. sativum) e tomate (L. esculentum)
Entretanto, atualmente, recebe em média 682
(Anand & Palani, 2022). Os trabalhos abordam o
ton.residuo/dia, provenientes de 70 municípios e 17
Índice de Germinação (IG) como um indicador usual
empresas privadas, distribuídos entre os estados de
para avaliação da fitotoxicidade, já que leva em
Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
consideração tanto a germinação das sementes
Atualmente, o aterro possui três Células de resíduos,
quanto o crescimento das raízes (VENEGAS et al.,
duas finalizadas e uma em operação, que contam com
2018).
um sistema de drenagem horizontal, do tipo espinha
Como a toxicidade do lixiviado de aterro sanitário
de peixe, que conduz o lixiviado até uma Tubulação
é altamente variável e depende das espécies de
presente na Lagoa 1 (Tub.L1) (Figura 2). Na Figura
plantas e do tipo de lixiviado (Białowiec, 2015), o
2, também é observado outras três lagoas de
presente trabalho objetiva determinar a toxicidade do
lixiviado, que servem para o acúmulo e tratamento do
lixiviado gerado no Aterro Sanitário em Campina
lixiviado por meio de evaporação e recirculação para
Grande (ASCG), Paraíba, a partir de testes de
as células. Nesse trabalho, o lixiviado analisado será
fitotoxicidade em sementes de repolho (Brassica

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455
proveniente da Tub.L1, que corresponde ao lixiviado todos os ensaios em triplicata. Em seguida, as placas
in natura, gerado por todas as Células do aterro. foram envolvidas com plástico filme, para se
manterem úmidas durante o ensaio, e então incubadas
em ausência de luz, em incubadora tipo B.O.D, marca
Lab1000, modelo LM-700.275.2, por um período de
cinco dias, à temperatura de 20±2 ºC. Ao final do
período foi realizada a medição do comprimento das
raízes por meio de régua graduada.
A toxicidade do repolho foi determinada a partir
do Crescimento Relativo da Raiz (CRR),
Germinação Relativa das Sementes (GRS), e Índice
de Germinação (IG), obtidos a partir das Equações 1,
2, e 3, respectivamente. Sendo os parâmetros,
correspondentes aos valores médios das triplicatas.
𝐶𝑅𝐴𝑚
𝐶𝑅𝑅 (%) = × 100 (1)
𝐶𝑅𝐶

Sendo: CCR - Crescimento Relativo da Raiz;


CRAm - Comprimento da Raiz da Amostra; e CRC -
Comprimento da Raiz do Controle.
Figura 2. Células de RSU e lagoas de lixiviado do ASCG.
Fonte: Autores (2022). 𝐺𝑅𝑆 (%) =
𝑆𝐺𝐴
× 100 (2)
𝑆𝐺𝐶

2.2 Caracterização do lixiviado


Sendo: GRS – Germinação Relativa das
A caracterização do lixiviado será feita a partir da Sementes; SGA – Número de Sementes germinadas
coleta mensal de amostras da Tub.L1, durante o nas Amostras; SGC – Número de Semente
período de fevereiro a outubro de 2022. As amostras Germinadas no Controle.
foram coletadas e encaminhadas para o Laboratório 𝐺𝑅𝑆×𝐶𝑅𝑅
de Geotecnia Ambiental e Biotecnologia (LGAB), 𝐼𝐺 (%) = (3)
100
pertencente à Unidade Acadêmica de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Campina Grande. 2.3 Análise estatística
Foram caracterizadas, de acordo com APHA,
AWWA e WEF (2017), quanto aos parâmetros pH, Para a análise estatística dos dados, foram feitas
NAT e metais pesados (Fe, Mn, Cr, Pb e Zn), por estatística descritiva dos parâmetros analisados, a
meio dos métodos Eletrométrico, Destilação e matriz de correlação e a Análise dos Componentes
titulação, e Espectrometria de Absorção Atômica, Principais (ACP), para verificar a relação dos
respectivamente. Testes de fitotoxicidade foram parâmetros pH, NAT e metais com o IG. Para
realizados para analisar a influência desses proceder a execução da ACP foram utilizados os
parâmetros na toxicidade do lixiviado. softwares Excel 2016 e Statistica (versão 10.0).

2.3 Teste de fitotoxicidade


3 RESULTADOS
Os ensaios de fitotoxicidade foram realizados com
semente de repolho (Brassica oleracea var capitata), 3.1 Caracterização do lixiviado e fitotoxicidade
espécie recomendada pela USEPA (1996), por
apresentar alta taxa de germinação e elevada Na Tabela 1 é apresentada a estatística descritiva dos
sensibilidade à toxicidade. Os testes seguiram parâmetros analisados. É possível observar, a partir
procedimentos de Tiquia et al. (1996), adaptada por do Coeficiente de variação (CV), que os valores de
Melo (2003), Silva (2022), que em resumo consistiu IG, para as diluições de 1 a 5,06%, obtiveram altas
em distribuir vinte sementes de repolho em placas de variações, enquanto que, as diluições de 7,6 e 11,39%
petri, contendo duas camadas de papel filtro como apresentaram baixa variação entre os valores.
base, adicionou-se 9 ml da amostra do lixiviado, Com relação ao parâmetro pH, houve variação
diluído em água destilada, nas concentrações de 1,00; considerada muito baixa entre os valores. Quanto aos
1,50; 2,25; 3,38; 5,06, 7,60 e 11,39%, além da valores de metais o Fe, Mn, Zn e o Pb houve
amostra controle, apenas com água destilada, sendo variações consideradas baixas, e o Cr muito alta.

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456
tendência de queda. Os valores mais altos nos
Tabela 1. Estatística descritiva dos parâmetros analisados. primeiros quatro meses, coincidiram com valores
Parâmetros1 Mín. Máx. Média ± DP2 CV3 mais baixos do IG e à medida que os valores de NAT
pH 8,01 8,34 8,15 ± 0,09 1,19 diminuíram, nos meses finais, os valores de IG foram
NAT 938 2324 1667,75 ± 584 mais elevados. Os valores de NAT, durante esses
35,0
meses, variaram de 938 a 2.324 mg.L-1.
Fe 1,86 3,76 2,62 ± 0,55 0,01
Mn 0,41 1,37 0,82 ± 0,30 0,00
Cr 0,47 1,37 0,74 ± 0,31 41,8
Zn 0,13 0,28 0,20 ± 0,05 0,00
Pb 0,00 0,12 0,04 ± 0,04 0,01
IG1 42,57 620,2 170,55 ± 196,81 335,7
IG1,5 70,16 340,1 164,44 ± 102,93 169,3
IG2,25 56,00 211,5 111,56 ± 56,34 62,8
IG3,375 50,56 210,7 94,87 ± 55,30 Figura 4. Variação do Índice de Germinação e do NAT no
52,5
lixiviado .
IG5,06 25,88 169,0 65,47 ± 48,06 31,5
IG7,6 0,00 16,38 7,47 ± 6,30 0,47 Quanto aos metais, na Figura 5 é observado que
IG11,39 0,00 15,07 2,08 ± 5,28 0,11 os maiores valores foram encontrados para o Fe, que
Legenda. ¹Os parâmetros NAT, Fe, Mn, Cr, Zn e Pb estão variou de 1,86 a 3,76 mg.L-1. Valores próximos
na unidade mg.L-1, o IG em porcentagem, e o pH é foram encontrados para os metais Mn e Cr, com
adimensional; pH – potencial Hidrogeniônico, NAT – valores variando de 0,41 a 1,37 e 0,47 a 1,37 mg.L-
Nitrogênio Amoniacal Total, Fe - Ferro, Mn - Manganês, 1
, respectivamente. E menores valores foram
Cr - Cromo, Zn - zinco, Pb - Chumbo, IG - Índice de encontrados para Zn e Pb (Figura 6). Ainda nas
Germinação. 2DP- Desvio Padrão ao nível de confiança de
Figuras 5 e 6, não é visto uma relação direta entre a
95%; 3CV- Coeficiente de Variação em porcentagem.
maioria dos metais e o IG, com exceção de Fe e Mn.
As variações do IG com os parâmetros pH, NAT
e metais, ao longo do tempo, são observadas nas
Figuras 3, 4 e 5, respectivamente. Com base nas
figuras, o IG, na maioria das diluições, apresentou
maiores valores nos meses de jun e jul/22, seguidos
dos meses de set e out/22, e apresentando menores
valores nos meses de fev a maio/22. Com relação ao
pH (Figura 3 e Tabela 1), foram encontrados, valores
entre 8,01 e 8,34. Esse parâmetro não variou muito
com o tempo e não apresentou tendência de aumento
ou diminuição com os valores de IG. Figura 5. Variação do Índice de Germinação e dos metais
Fe, Mn e Cr no lixiviado.

Figura 3. Variação do Índice de Germinação e do pH no


lixiviado . Figura 6. Variação do Índice de Germinação e dos metais
Zn e Pb no lixiviado.
Para o parâmetro NAT, observado na Figura 4, os
3.2 Relação entre os parâmetros físico-químicos e
maiores valores apresentam-se entre os meses de
a fitotoxicidade do lixiviado
fevereiro a maio de 2022, após esse mês ocorreu uma

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457
Na figura 7 é possível visualizar, por meio da faixa de pH indica que o lixiviado é característico da
projeção das variáveis principais, os índices de fase avançada de degradação da matéria orgânica.
germinação, respectivos às diluições de lixiviado Esse autor encontrou pH variando entre 8 e 9, no
utilizadas, relacionados aos parâmetros Fe, Mn, Cr, aterro sanitário em São Carlos, São Paulo.
Pb, Zn, NAT e pH. Como visto nos resultados, o pH no período
analisado, apresentou pouca variação, enquanto
Vaverková et al. (2019) encontraram em lixiviado do
aterro sanitário na República Tcheca, valores mais
variados de pH entre 8,03土2,33, com média bem
próxima do encontrado pelo presente estudo. Os
valores de NAT encontrados neste trabalho variaram
de 938 a 2.324 mg.L-1, durante os meses analisados.
Esses valores estão próximos aos valores encontrados
por Naveen et al. (2017) no aterro em em
Mavallipura, na Índia. Lixiviados de aterros
sanitários brasileiros podem conter teores altos de
NAT, superiores a 2.000 mg.L-1 (Costa et al., 2019).
O nível de elementos inorgânicos presentes no
lixiviado depende, principalmente, da sua facilidade
de lixiviação nos resíduos sólidos urbanos e do
processo de estabilização no aterro (Naveen et al.,
Figura 7. Análise de Componentes Principais.
2017). Os valores de metais encontrados no lixiviado
do ASCG seguiram a ordem média de
A projeção das variáveis nos dois eixos principais Fe>Mn>Cr>Zn>Pb (2,62 ± 0,55>0,82 ± 0,30>0,74 ±
explicam 72,53% da variabilidade total das variáveis 0,31>0,20 ± 0,05>0,04 ± 0,04). Os valores de Cr, Zn
originais, ecplicando bem o processo (somatório e Pb estão dentro da faixa encontrada por Vaverková
>70% (Paiva, 2009). Quanto à ACP, a figura 7 et al. (2019) em lixiviado do aterro sanitário na
permite observar que os dados foram agrupados pela
República Tcheca (Cr - 0,78 土 0,43; Pb - 0,03 土
formação de grupos compostos por parâmetros de
comportamentos semelhantes entre si. Os metais Mn, 0,03; Zn - 0,04土0,26 mg.L-1). Valores mais baixos
Pb, Fe e os IG 2,25% e IG 5,06% estão próximos, de metais, como o encontrado neste estudo, está
indicando forte correlação positiva entre esses relacionado com valores mais elevados de pH (maior
indicadores, isso quer dizer que os indicadores que 8), que faz com que a lixiviação de metais
variam proporcionalmente e esses metais apresentam pesados seja limitada, diminuindo suas
influência na fitotoxicidade do lixiviado, o que pôde concentrações no lixiviado (Anand & Palani, 2022).
ser observado também pelo comportamento temporal Abd EL-Salam & Abu-Zuid (2015), identificaram
apresentado nas Figura 5 e 6. a presença de Pb (0,019土0,004 mg.L-1), Mn (0,839
Já os indicadores IG 3,38%, IG 11,39%, IG 7,60% 土0,165 mg.L-1), Cr (0,062土0,044 mg.L-1), Zn
e Zn apresentam correlação entre si, porém em menor (0,749土0,235 mg.L-1) e Fe (6,314土1,827 mg.L-1)
grau e proporção. Pode-se visualizar também que o no lixiviado de um aterro no Egito, estando bem
pH não mostra correlação próxima e forte com os próximos dos valores encontrados no presente
índices de germinação. Cromo e NAT apresentam estudo. Białowiec (2015) encontraram altos valores
correlação negativa com estes, ou seja, esses de Zn em lixiviado (45,23土3,62 e 61,68土4,54
parâmetros interferem de forma inversa no processo mg.L-1), além dos metais Pb (0,23土0,04 e 0,41土
de germinação das sementes, pois quanto maior os 0,08 mg.L-1) e Cr (0,07土0,03 e 0,05土0,04 mg.L-1).
valores de NAT menor o IG e vice-versa. Outrossim, a caracterização de lixiviado pode ser
melhorada com testes de fitotoxicidade, para analisar
seu potencial tóxico (Ghosh et al., 2017). A
4 DISCUSSÕES toxicidade do lixiviado de aterro sanitário é altamente
variável e depende das espécies de plantas e do tipo
4.1 Caracterização do lixiviado e fitotoxicidade de lixiviado (Białowiec, 2015). Diversos estudos
foram realizados avaliando o IG de diferentes tipos
O lixiviado do presente estudo foi caracterizado de sementes, dentre eles, Hoss et al. (2019),
quanto aos parâmetros pH, NAT, Fe, Mn, Cr, Zn e encontraram IG médio de 13,28% e 49,61% para as
Pb. Com base nos resultados de pH de 8,15 ± 0,09 do sementes de alface (Lactuca sativa) e pepino
lixiviado do ASCG, Ferreira (2010) afirma que essa (Cucumis sativus), respectivamente. Os valores

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458
médios de Hoss et al. (2019) estão abaixo do presente influenciaram positivamente no IG foram Fe, Mn, Zn
estudo, que encontrou IG médio maior para todas as e Pb. Segundo Callegari-Jacques (2003) valores de
diluições, com exceção das duas diluições de maior correlações entre 0 e 0,3, são correlações fracas, entre
concentração de lixiviado. 0,3 e 0,6, correlação regular, entre 0,6 e 0,9,
De acordo com a classificação de Zucconi et al., correlação forte, e entre 0,9 e 1,0, muito forte.
(1985), o lixiviado apresenta alta fitotoxicidade Neste estudo, de acordo com Callegari-Jacques
quando o IG<50%, fitotoxicidade moderada com IG (2003), o Fe apresentou correlação forte para
entre 50-80%, sem fitotoxicidade quando IG>80%, e IG2,25%, IG3,37%, IG5,06% e IG11,39% (valores
apresenta efeito estimulante para as plantas quando o de correlação entre 0,73 e 0,88). O Mn apresentou
IG> 100%. A partir dos valores médios de IG correlação muito forte para IG5,06% (correlação de
apresentados neste trabalho, o lixiviado do ASCG é 0,93) e forte correlação para o IG de 1,5 a 3,37% e
classificado por ter efeito estimulante para o repolho, IG11,39% (valores entre 0,79 e 0,88). E o Zn
nas concentrações de 1; 1,5; 2,25; 3,38; 5,06%; e por apresentou forte correlação para IG3,37% e
apresentar alta fitotoxicidade para o repolho nas IG11,39% (0,61 e 0,65, respectivamente). De acordo
concentrações mais elevadas de 7,6 e 11,39%. No com Pellenz et al. (2020), Fe, Mn, e Zn estão entre os
estudo de Zegzouti et al. (2020), o lixiviado também metais benéficos para as plantas, em menores
apresentou efeito estimulante na germinação. concentrações, o que explica que, baixas
Vaverková et al. (2020) verificaram, também, o concentrações no lixiviado do ASCG tenham
efeito inibitório que, concentrações mais elevadas do apresentado efeito positivo no IG do repolho.
lixiviado causam no crescimento das raízes de Ainda analisando os resultados da Figura 6 e da
Mostarda branca (Sinapis alba L.) e Lentilha (Lemna matriz de correlação, com relação ao Cr, não houve
minor L.) Assim como Pellenz et al. (2020), que forte influência no IG, apenas apresentou correlação
relatam que diluições menores causaram grande regular negativa para os IGs de 1 a 2,25% (com
redução no índice de germinação e crescimento das valores entre -0,34 e -0,39), indicando que em
raízes de sementes de Lactuca sativa. Arunbabu et al. maiores concentrações esse metal pode afetar
(2017) verificaram um aumento na germinação das negativamente o crescimento de repolho, e de outras
sementes de feijão-fradinho (Vigna unguiculata) para sementes, como abordado por Kalčíková et al.
as menores concentrações do lixiviado de um aterro (2012). Outro parâmetro que afeta negativamente o
sanitário localizado na Índia. Os autores atribuíram IG1,5% e o IG2,25% (com correlação forte negativa
isso, possivelmente, ao fato de que para essas de -0,63 e -0,74), é o NAT. A relação negativa que
concentrações os poluentes tóxicos estão diluídos, NAT provocou no IG das sementes de repolho,
além de haver um aproveitamento melhor dos também foi observada no estudo de Białowiec
nutrientes do lixiviado. Fato também encontrado por (2015), que relataram que o principal componente
Vaverková et al. (2019) e Šourková et al. (2020). tóxico do lixiviado foi o nitrogênio amoniacal.
Analisando os valores de IG ao longo dos meses Lin et al. (2007) também verificaram essa relação
deste estudo, e com base no que foi mencionado nos negativa, por meio de ensaios de fitotoxicidade do
resultados, o IG apresentou maiores valores a partir lixiviado de um aterro na China em Brassica
do mês de junho 2022, que coincide com o período chinensis. Os autores verificaram que o NAT é um
em que houve chuvas intensas no local (com potencial inibidor de germinação. Vale salientar que
precipitação total de 223,5; 88,2; e 114,3 mm, nos os valores de NAT encontrados no presente estudo
meses de maio, junho e julho, respectivamente). estão bem acima do encontrado por Lin et al. (2007).
Corroborando com os resultados apresentados por Para Ramírez et al.(2008), a germinação e
Vaverková et al. (2018), que nos meses com maior crescimento das plantas pode ser estimulado pelos
precipitação o crescimento de Sinapis alba L. foi compostos nitrogenados presentes no lixiviado, até
favorecido. Apesar do mês de maio apresentar maior um limite em que concentração ótima desse
precipitação no período analisado, este não composto é excedida (Ramírez et al., 2008).
apresentou efeito imediato no IG do repolho, pois a Para Anand e Palani (2022), os principais
tubulação de retirada da amostra é submersa, e não componentes fitotóxicos presentes no lixiviado de
ocorre a diluição imediata do lixiviado. aterro incluem metais pesados, nitrogênio amoniacal,
cloretos e matéria orgânica. Os autores observaram
4.2 Relação entre os parâmetros físico-químicos e que, no lixiviado que apresentava menores
a fitotoxicidade do lixiviado concentrações de metais pesados, a sua fitotoxicidade
foi menor, quando comparado ao lixiviado mais
Por meio da matriz de correlação feita para avaliar a concentrado, ocorrendo menor germinação das
relação entre o IG e os parâmetros físico-químicos, sementes na amostra com maior presença de metais,
foi possível observar que os parâmetros que mais indicando o efeito negativo na germinação das

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459
sementes. Corroborando com os resultados menor proporção. O pH não apresentou influência no
encontrados nesse estudo, que as amostras com IG das sementes de repolho, o que pode ser atribuído
maiores concentrações de lixiviado (7,6 e 11,39%), à sua baixa variação ao longo do período analisado.
foram as que apresentaram maior toxicidade. O presente estudo indica importantes resultados
Quanto ao pH, como observado na Figura 6 e nos para tomada de decisões para fitorremediação de
resultados da matriz de correlação, esse parâmetro lixiviado, por exemplo, e que testes com mais
não apresentou nenhum efeito no IG, em nenhuma parâmetros são necessários, para analisar quais
das concentrações, o que pode ser explicado pela sua exercem mais influência na toxicidade de lixiviado
baixa variação ao longo dos meses, que praticamente de aterro sanitário.
se manteve constante durante o período analisado.
Outros estudos afirmam que a toxicidade do AGRADECIMENTOS
lixiviado do aterro aumenta com o aumento do pH
(Białowiec, 2015). Loffredo e Castellana (2015) Ao Grupo de Geotecnia Ambiental (GGA), pela
realizaram ensaios de germinação para um lixiviado disponibilização dos dados de monitoramento do
de um aterro sanitário da Itália com pH 8,3 ± 0,2, os ASCG. À Capes, CNPQ e Fapesq pelo apoio
autores analisaram a germinação de três sementes e financeiro.
observaram que, após aplicação de tratamento ao
lixiviado, dentre os fatores responsáveis pela
germinação das sementes está a diminuição do pH. REFERÊNCIAS
Nesse mesmo estudo foi realizada uma análise
estatística em que o pH apresentou correlação Abd El-salam, M. M. & Abu-zuid, G. I. (2015). Impact of
negativa com a germinação. Quando comparado ao landfill leachate on the groundwater quality: A case
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ACSG apresentou uma menor variação durante o p. 579-586.
Abunama, T., Othman, F., & Younes, M. K. (2018).
período de análise considerado. Assim,
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Leachate pollution index as an effective tool in
fitotoxicidade são uma alternativa para determining the phytotoxicity of municipal solid waste
complementar essa caracterização e verificar quais leachate. Waste Management, v. 68, p. 329-336.
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A partir dos valores médios de IG apresentados phytotoxicity indicator. Waste management, v. 39, p.
neste trabalho, o lixiviado do ASCG é classificado 189-196.
por ter efeito estimulante para o repolho, nas Callegari-Jacques, S.M. (2003). Bioestatística: princípios
concentrações de 1; 1,5; 2,25; 3,38; 5,06; e por e aplicações. Porto Alegre, Artmed. 255 p.
apresentar alta fitotoxicidade para o repolho nas Costa, A. M., Alfaia, R. G. D. S. M., & Campos, J. C.
concentrações mais elevadas de 7,6 e 11,39%. (2019). Landfill leachate treatment in Brazil–An
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Quanto ao estudo da correlação dos parâmetros
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analisados (pH, NAT, Fe, Mn, Cr, Zn e Pb) foi Enuneku, A., Biose, E., & Ezemonye, L. (2017). Levels,
constatado que, os metais Fe, Mn, Zn e Pb, distribution, characterization and ecological risk
apresentaram efeito positivo no IG, em algumas assessment of heavy metals in road side soils and
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apresentaram maior efeito positivo foram Fe, Mn e metropolis, Southern Nigeria. Journal of
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Quanto ao parâmetro NAT, foi observada forte 2773–2781.
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caracterização físico-química. Dissertação de
regular negativo no índice de germinação do repolho,
indicando que esses parâmetros podem afetar em

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Interpretação de Ensaios de Dissipação de Excessos de Poropressão


Gerados em Ensaios do Tipo CPTu
Thiago Nunes Malaco
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, thiagomalacco@gmail.com

Lúcio Flávio de Souza Villar


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, lvillar@etg.ufmg.br

Giovani Cecatto Lopes Ribeiro da Costa


Chammas Engenharia, Belo Horizonte, Brasil, giovanicrlcosta@gmail.com

RESUMO: Este artigo apresenta uma análise de ensaios de dissipação dos excessos de poropressão gerados durante a
penetração de piezocone em solo de comportamento argiloso em um maciço de barragem de rejeitos de mineração de
ferro. Duas metodologias foram utilizadas para definir o tempo necessário para dissipar 50% do excesso de poropressão
(t50), informação necessária para calcular o coeficiente de adensamento horizontal (c h). A primeira metodologia necessita
da estabilização da poropressão, que pode resultar em um ensaio demorado. Estes dados foram plotados em duas escalas
diferentes. A primeira escala usa um gráfico da poropressão versus a raiz quadrada do tempo, em que seu trecho retilíneo
pode ser prolongado para obter a leitura da poropressão no tempo zero. E a outra, tendo a poropressão versus o tempo em
escala logarítmica, sendo feita uma translação dos dados iniciais para determinar a poropressão no tempo zero. A segunda
metodologia utiliza apenas parte das leituras dos ensaios de dissipação, que define o t50 sem necessidade de esperar a
estabilização da poropressão, possibilitando, assim, uma significativa diminuição na duração do ensaio. Os valores do
coeficiente de adensamento horizontal calculados para o material analisado através da segunda metodologia tenderam a
ser 15% maiores que os valores calculados pela primeira metodologia, quando se obtém o t50 do gráfico de poropressão
em função da raiz do tempo. E tenderam a ser 25% menores que os valores também calculados pela primeira metodologia,
mas quando se obtém o t50 do gráfico de poropressão em função do tempo na escala logarítmica.

PALAVRAS-CHAVE: Poropressão, Piezocone, Argilas, Dissipação.

ABSTRACT: This paper presents an analysis of the dissipation of pore pressure excess during piezocone penetration tests
of clayey soils from an iron mining tailings dam. Two different methodologies were used to determine the time needed
to dissipate 50% of pore pressure excess (t50), necessary parameter to calculate the coefficient of horizontal consolidation
(ch). The first methodology requires the pore pressure stabilization, which can be time consuming. The data was plotted
in two different scales. The first scale relates pore pressure versus the square root of time, which the rectilinear section
can be extended to determine the pore pressure value at time zero. In the second one, pore pressure data was plotted versus
time in logarithmic scale and the initial data was shifted to determine the pore pressure at time zero. The second
methodology uses only part of the dissipation test readings, which the definition of t50 is done without requiring pore
pressure stabilization and, therefore, making it possible to decrease the duration of the tests. The values of horizontal
consolidation coefficient calculated for the analyzed material using the second methodology tended to be 15% greater
than the values calculated using the first methodology, when the t 50 of the pore pressure graph is obtained as a function
of the square root of time. Furthermore, they tended to be 25% lower than the values also calculated using the first
methodology, but when the t50 of the pore pressure graph as a function of time is obtained on the logarithmic scale.

KEY WORDS: Pore pressure, Piezocone, Clay, Dissipation

1 INTRODUÇÃO relatam a dificuldade na interpretação dos dados


devido ao não conhecimento da dissipação completa
Rosa e Marques (2019), ao estudarem a estimativa de dos excessos de poropressão (definição da
coeficiente de adensamento a partir de resultados de poropressão de estabilização). Baroni (2010) expõe
ensaios de dissipação dos excessos de poropressão dificuldades de se alcançar 70% de dissipação,
realizados durante ensaios do tipo CPTu (ensaio de mesmo com tempos de espera na ordem de três horas.
penetração de cone com medição de poropressão), De acordo com Krage et al (2015), argilas de baixa

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462
permeabilidade podem exigir um tempo de ensaio de quadrilátero ferrífero. A campanha de investigação
6 a 24 horas para obtenção do valor de t50 (tempo contou com três verticais de ensaios e, em cada uma
necessário para 50% da dissipação do excesso de delas, foram realizados ensaios de dissipação em
poropressão gerado devido à cravação do CPTu), variadas profundidades, conforme Tabela 1.
tornando caro e difícil completar um ensaio deste tipo
em um dia. E estes tempos são necessários para o Tabela 1. Resumo dos ensaios CPTu estudados.
cálculo do coeficiente de adensamento horizontal e N° do Profundidade Comportamento
da permeabilidade do meio onde o ensaio CPTu está Furo
ensaio (m) previsto
sendo executado.
1 4 Argila
Pensando nesta problemática, Pereira (2017)
propôs uma metodologia para determinação do valor CPTu-1 2 6 Argila
de t50 realizando um ajuste polinomial na curva de Silte argiloso a
3 15,5
dissipação dos excessos de poropressão obtida argila siltosa
durante os ensaios CPTu. Este ajuste permite que o 4 5 Argila
ensaio de dissipação seja realizado em tempo Areia siltosa a silte
5 6
arenoso
reduzido. CPTu-2
6 7 Argila
Dessa forma, este artigo se propõe avaliar a
metodologia proposta por Pereira (2017), Argila a argila
7 8
siltosa
comparando os resultados fornecidos por ela e pela
8 5 Argila
metodologia proposta por Houlsby e Teh (1991) que,
de acordo com Bihs et al. (2021), vem sendo a mais 9 11,5 Argila
utilizada para interpretação dos ensaios de dissipação CPTu-3
10 13,5 Argila
dos excessos de poropressão gerados devido a 11 14,5
Argila a argila
execução de ensaios do tipo em condições não siltosa
drenadas em solos. Essa comparação é realizada Silte argiloso a
12 15,5
argila siltosa
utilizando os resultados de ensaios executados em
barragem de rejeitos e permite verificar se as duas A condição não drenada da cravação do piezocone
metodologias conduzem a valores de t50 e ch foi garantida pela confirmação de que, ao longo de
(coeficiente de adensamento horizontal) toda ela, foram geradas variações positivas de
semelhantes, indicando que o ganho no tempo de poropressão.
execução do ensaio não compromete a interpretação
dos resultados. 2.2 Cálculo do Coeficiente de Adensamento
Horizontal Segundo o Método de Houlsby e Teh
(1991)
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O coeficiente de adensamento horizontal (ch) foi
2.1 Área Estudada calculado por meio da Equação (1) conforme o
método proposto por Houlsby e Teh (1991) que, de
Para a interpretação de ensaios de dissipação de acordo com Mayne (2007) e Bihs et al. (2021), se
excessos de poropressão gerados durante o ensaio trata do método mais popular para se avaliar este
CPTu foi selecionada uma área onde os mesmos coeficiente a partir do ensaio de dissipação.
ensaios foram realizados e tiveram duração superior
a três horas para atingir a estabilização da T∗ ∙r²∙√Ir
poropressão. Esta escolha possibilitou uma ch = t50
(1)
comparação direta entre os resultados calculados
considerando os ensaios completos, ou seja, todas as Onde ch (m²/s) é o coeficiente de adensamento
leituras até a estabilização, pela metodologia de horizontal; T* é o fator do tempo modificado; r (m) é
Houlsby e Teh (1991), e considerando os resultados o raio do piezocone; Ir é o Índice de Rigidez; t50 (s) é
como se os ensaios fossem incompletos, ou seja, sem o tempo de dissipação de 50% do excesso de
atingir a estabilização da poropressão e, poropressão.
consequentemente, como se tivessem terminado com
um menor tempo de duração, pela metodologia de 2.2.1 Cálculo do t50
Pereira (2017).
Estes ensaios foram realizados ao longo do A poropressão de estabilização u0 foi considerada
maciço de uma barragem de rejeitos de minério de igual ao último valor observado na curva dos dados
ferro, construída em etapa única, localizada no de valores de poropressão registrados plotados em

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463
relação ao tempo, desde que esta curva apresentasse
a tendência a ficar horizontal. Esta estabilização da
poropressão foi assumida após confirmar leituras
repetidas ao final do ensaio.
Para o cálculo da poropressão inicial ui é
necessário ajustar a curva de dissipação, uma vez que
pode haver efeito de descarga e redistribuição local
da poropressão antes do início da dissipação o que
segundo Sully et al., (1999) pode ser caracterizado
pelo aumento inicial da poropressão antes do seu
decaimento. Estes autores discutem dois possíveis
procedimentos para este ajuste. O primeiro
procedimento considera um prolongamento do trecho
retilíneo da curva de dissipação de excessos de
poropressão versus raiz quadrada do tempo até o
Figura 2. Cálculo de ui,transl e t50.
tempo zero. Desse modo, os valores de t50 são
calculados como sendo iguais à metade da diferença
2.2.2 Definição do Fator de Tempo Modificado (T*)
entre ui,ext e u0, conforme ilustrado na Figura 1.
e Índice de Rigidez (Ir)

Uma vez que o piezocone utilizado dispõe do sensor


de poropressão posicionado logo após a ponteira
cônica e o cálculo em questão se refere aos 50% de
dissipação, foi utilizado um fator de tempo
modificado que, de acordo com Houlsby e Teh
(1991), é igual a 0,245. O índice de rigidez foi
considerado igual a 250, valor próximo aos
encontrados por Agaiby e Mayne (2018) ao avaliar o
índice de rigidez em argilas em condições de
carregamento não drenado, uma vez que os
resultados dos ensaios CPTu foram não drenados e
indicaram comportamento do perfil como sendo
argiloso.

Figura 1. Cálculo de ui,ext e t50. 2.3 Cálculo do Coeficiente de Adensamento


Horizontal Segundo a Metodologia Polinomial
O segundo procedimento translada a curva Proposta por Pereira (2017)
dissipação de excessos de poropressão versus tempo
na escala logarítmica para que o ponto de máxima A metodologia polinomial proposta por Pereira
poropressão lida esteja no tempo zero, (2017) requer, segundo o próprio autor, um mínimo
desconsiderando o aumento inicial da poropressão e de 40% de dissipação do excesso de poropressão para
deslocando toda a curva. Desse modo, foram que os cálculos possam ser realizados com precisão
calculados os valores de t50 iguais à metade da aceitável. Contudo, partindo do pressuposto da
diferença entre utransl e u0, conforme ilustrado na possibilidade da poropressão de equilíbrio não ser
Figura 2. conhecida, foram considerados os dados de ensaio até
o primeiro ponto, no trecho descendente, com valor
imediatamente inferior a 60% da poropressão
máxima (umáx) lida durante o ensaio. Dessa forma,
considera-se que o mínimo de 40% de dissipação do
excesso de poropressão é garantido e a operação do
ensaio passa a não depender do conhecimento da
poropressão de equilíbrio, que nem sempre pode ser
facilmente obtida e ter medidas confiáveis (Mantaras
et al., 2015).
Assim, traçou-se uma nova curva de dissipação
em função do logaritmo do tempo, em que o ensaio

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464
completo fora reduzido de 7 horas e 10 minutos para extrapolada (poropressão versus raiz quadrada do
apenas 5 minutos (Figura 3). O valor máximo de tempo) e da curva transladada (poropressão versus
poropressão lido, neste ensaio, foi igual a 286,1 kPa tempo na escala logarítmica), e a metodologia
e o último ponto considerado, com 300 segundos de polinomial proposta por Pereira (2017).
duração, tem valor de poropressão igual a 165,8 kPa,
valor este igual a 58% do valor máximo. Conforme
proposto por Pereira (2017), o trecho linear
descendente da curva deve ser extrapolado até se
atingir um grau de dissipação igual a 70% de
dissipação. Contudo, conforme ilustrado na Figura 3,
considerando a possibilidade de não se conhecer o
valor da poropressão de equilíbrio para a definição
destes 70%, considerou-se a extrapolação do trecho
linear até 30% do valor de umáx registrado, o que, no
caso em questão, corresponde ao valor de 85,8kPa.

Figura 4. Curva de dissipação e t50 calculados pela


metodologia proposta por Pereira (2017).

Figura 3. Curva extrapolada a partir de 5 minutos de


ensaio. 3 RESULTADOS

2.3.1 Ajuste Polinomial, Derivada 1ª e 2ª, e Cálculos As metodologias descritas neste trabalho, conforme
de u50 e t50 dispostas na seção anterior, foram aplicadas
exatamente da mesma forma para cada um dos
A partir da nova curva de dissipação encontrada com ensaios selecionados. Como resultados, foram
a extrapolação realizada do trecho retilíneo obtidos os coeficientes de adensamento horizontal
exemplificado na Figura 3, utilizou-se a função calculados a partir das curvas completas de
PROJ.LIN do software Excel para cálculo da função dissipação e das suas aproximações polinomiais, com
polinomial de 8º grau que rege a regressão da curva. os respectivos valores encontrados de t50 e ch,
Em seguida, calcularam-se as derivadas primeira e utilizando os mesmos valores de T* e Ir considerados
segunda da função polinomial encontrada, onde, no no item 2.2.2.
tempo em que a derivada primeira é mínima e a
derivada segunda é igual à zero, tem-se o ponto de 3.1 Duração dos Ensaios
inflexão que, segundo Pereira (2017), se refere à
dissipação de 50% do excesso de poropressão gerado A Tabela 2 mostra a duração dos ensaios realizados
na cravação. Assim, os valores da curva encontrada até a estabilização da curva de dissipação do excesso
pela função polinomial, as derivadas e a curva de poropressão gerada na cravação do CPTu,
original são plotadas em um mesmo gráfico, com os estabilização esta que é necessária para os cálculos
seus respectivos resultados encontrados para t50. do t50 segundo Houlsby e Teh (1991), comparando
A Figura 4 ilustra o resultado deste gráfico para o com o tempo de ensaio necessário para aplicação da
ensaio exemplo, que permite comparar os resultados metodologia proposta por Pereira (2017). Pode ser
finais entre as metodologias de Houlsby e Teh notado o enorme ganho de tempo que a segunda
(1991), considerando o t50 obtido da curva metodologia proporciona na realização do ensaio.

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Tabela 2. Duração necessária dos ensaios 9 855 1446 1287 51% -11% 69%
Para os cál- Para os cál-
10 281 432 246 -12% -43% 54%
n° do en- Prof. culos por culos por
Furo
saio (m) Houlsby e Pereira 11 1242 1678 1979 59% 18% 35%
Teh (1991) (2017)
12 1059 1943 1119 6% -42% 83%
1 4,0 04:20 00:15

CPTu-1 2 6,0 04:10 00:20 Tabela 4. Diferença entre os resultados de c h obtidos por
3 15,5 07:10 00:25 diferentes metodologias
Difer Diferen Diferen
4 5,0 06:20 00:15
n° do ch ch ch ença ça ça
ensaio Ext transl Pol Pol- Pol- Ext-
5 6,0 06:40 00:03 (m²/s) (m²/s) (m²/s)
CPTu-2 Ext Transl Transl
6 7,0 07:00 00:06
3,03E 2,13E- 1,65E-
1 -46% -23% -30%
7 8,0 07:30 00:04 -06 06 06
2,08E 1,39E- 1,41E-
2 -32% 2% -33%
8 5,0 07:30 00:03 -06 06 06
1,01E 5,91E- 1,08E-
9 11,5 04:20 00:25 3 7% 83% -42%
-06 07 06
2,05E 1,17E- 1,33E-
CPTu-3 10 13,5 07:10 00:05 4 -35% 14% -43%
-06 06 06
11 14,5 07:40 00:30 1,20E 8,19E- 1,06E-
5 -11% 30% -32%
-05 06 05
12 15,5 03:20 00:20 5,43E 3,50E- 4,55E-
6 -16% 30% -35%
-06 06 06
6,93E 4,76E- 5,43E-
7 -22% 14% -31%
3.2 Tempo para Dissipação de 50% do Excesso de -06 06 06
1,28E 8,50E- 1,12E-
Poropressão (t50) 8
-05 06 05
-12% 31% -33%
1,58E 9,35E- 1,05E-
9 -34% 12% -41%
A Tabela 3 e Tabela 4 apresentam os resultados de t50 -06 07 06
4,81E 3,13E- 5,50E-
e ch, respectivamente, tanto para o cálculo conforme 10
-06 06 06
14% 76% -35%
Houlsby e Teh (1991), utilizando a extrapolação da 1,09E 8,06E- 6,83E-
11 -37% -15% -26%
curva de poropressão versus a raiz quadrada do -06 07 07
1,28E 6,96E- 1,21E-
tempo, quando o t50 daí obtido foi chamado de T50Ext, 12
-06 07 06
-5% 74% -45%
e a curva de poropressão versus o tempo na escala
logarítmica, chama de transladada e onde o t50 daí
obtido foi chamado de T50Transl, quanto para o cálculo 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
seguindo a proposta de Pereira (2017), quando o t50
daí obtido foi chamado de T50Pol, com suas devidas Foram comparados os resultados entre todas as três
adequações para este estudo, já discutidas diferentes abordagens, considerando a curva
anteriormente no item 2.3. Para comparar os polinomial (Pereira, 2017), a curva extrapolada (u
resultados utilizando as diferentes aproximações de versus raiz quadrada do tempo) e a curva transladada
valores de poropressão inicial, as diferenças relativas (u versus tempo na escala logarítmica) (Houlsby e
entre os resultados foram calculadas. Teh, 1991). Nos gráficos, ilustrados pela Figura 5,
Figura 6 e Figura 7, a linha pontilhada representa
Tabela 3. Diferença entre os resultados de t50 obtidos por
valores equivalentes entre as abordagens, ou seja,
diferentes metodologias
Difer Diferen Diferen
valores ideais com diferença zero. Já as linhas
n° do T50 T50 T50 ença ça ça contínuas são utilizadas como referência e foram
Ext Transl Pol
ensaio
(s) (s) (s)
Pol- Pol- Ext- traçadas representando uma diferença igual a 30%
Ext Transl Transl
para facilitar a comparação visual das diferenças
1 446 634 820 84% 29% 42% entre os resultados. Os 12 pontos nos gráficos de
2 649 975 956 47% -2% 50% dispersão representam os resultados de ch obtidos dos
3 1337 2287 1249 -7% -45% 71%
12 ensaios de dissipação realizados. Adicionalmente,
foi realizada uma regressão linear em cada gráfico
4 658 1158 1019 55% -12% 76% para que fosse possível verificar como se comportam
5 113 165 127 12% -23% 46% os valores obtidos a partir de cada comparação. Além
6 249 386 297 19% -23% 55%
disso, foram calculados os seus respectivos
coeficientes de determinação (R²) com o intuito de
7 195 284 249 28% -12% 46%
verificar se as linhas de tendência, obtidas das
8 106 159 121 14% -24% 50% regressões, são adequadas ou não para descrever o

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466
comportamento das comparações. Quanto mais 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
próximo de um é o valor de R², melhor a linha de
tendência descreve o fenômeno (Peternelli, 2004). Ao todo, foram analisados 12 ensaios de dissipação,
todos realizados até a dissipação completa do excesso
de poropressão, ou seja, até a estabilização da curva
poropressão versus tempo. O fato de se trabalhar
apenas com as curvas completas de dissipação foi
uma vantagem, uma vez que os resultados obtidos a
partir destas não dependem de estimativas da
poropressão de estabilização e, portanto, são mais
confiáveis para serem comparadas utilizando as
diferentes metodologias. Devido às condições da
estrutura e do comportamento do solo ser
majoritariamente argiloso e sobreadensado, todas as
curvas dos ensaios de dissipação considerados neste
trabalho apresentaram decaimento não monotônico e
valores apenas positivos. Portanto, não foram
consideradas curvas de dissipação que começassem
Figura 5. Comparação entre os valores calculados de com valores negativos de poropressão, ou que não
ch,pol e ch,ext. tivessem uma redistribuição inicial da poropressão,
resultando em um acréscimo inicial dos valores
durante o ensaio, conforme indicado por Sully et al.,
(1999).
A metodologia de Houlsby e Teh (1991) foi
aplicada aos ensaios completos, ou seja, com a
poropressão de estabilização bem determinada, com
a determinação do t50 tanto sendo feita por um
prolongamento do trecho linear inicial da curva de
poropressão versus raiz do tempo quanto por uma
translação das curvas de poropressão versus o tempo
na escala logarítmica dos ensaios de dissipação para
definição da poropressão inicial ui. Já a metodologia
proposta por Pereira (2017), aplicada à curva de
dissipação dos excessos de poropressão incompleta,
Figura 6. Comparação entre os valores calculados de ou seja, sem atingir a poropressão de estabilização,
ch,pol e ch,transl. considera uma regressão polinomial de 8º grau e
calcula o ponto de inflexão da curva em seu
decaimento.
Durante os cálculos pelo método proposto por
Houlsby e Teh (1991) utilizando a metodologia
extrapolada (u versus raiz quadrada do tempo),
notou-se que o cuidado na escolha do trecho retilíneo
a ser prolongado para estimativa da poropressão
inicial é muito importante, uma vez que qualquer
desvio pode resultar em diferenças significativas nos
valores de t50.
Os ensaios de dissipação considerados para este
estudo tiveram duração de 3h20min até 7h40min para
atingir a estabilização da poropressão, o que dificulta
sua execução prática no dia a dia das investigações
geotécnicas. Estes mesmos ensaios, se analisados por
Figura 7. Comparação entre os valores calculados de meio da metodologia polinomial proposta por Pereira
ch,transl e ch,ext. (2017), precisariam de 3 a 30 minutos para serem
concluídos em campo.
Comparando os resultados finais de coeficiente de
adensamento horizontal (ch), é possível perceber que

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467
as tendências dos resultados encontrados através da 08 de fevereiro, 2022.
abordagem polinomial proposta por Pereira (2017), BARONI, M. Investigação geotécnica em argilas
apresentam menores diferenças se comparados com orgânicas muito compressíveis em depósitos da Barra
os resultados entre as duas abordagens da Tijuca. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
tradicionalmente utilizadas, calculadas por Houlsby e
de Janeiro. Disponível em:
Teh (1991), tanto a partir da curva extrapolada (u <https://minerva.ufrj.br/F/?func=direct&doc_number
versus raiz quadrada do tempo) e transladada (u =000742835&local_base=UFR01#.YgeiOVXML3g>
versus tempo na escala logarítmica) para adequação Acesso em 06 de fevereiro, 2022.
de uma curva de caimento não monotônico. BIHS, A.; LONG, M.; NORDAL, S.; PANIAGUA, P.
Por outro lado, o coeficiente de determinação Consolidation parameters in silts from varied rate
obtido a partir da comparação entre os valores CPTU tests. AIMS Geosciences, v. 7, n. 4, p. 637-688,
calculados de ch,pol e ch,transl, ou da comparação entre 2021. Disponível em
os valores calculados de ch,pol e ch,ext, é menor que o <https://www.researchgate.net/publication/356811700
coeficiente de determinação obtido a partir da _Consolidation_parameters_in_silts_from_varied_rat
e_CPTU_tests> Acesso em 26 de janeiro, 2022.
comparação entre os valores calculados de ch,transl e
HOULSBY, G. T.; TEH, C. I. An analytical study of the
ch,ext. cone penetration test in clay. Géotechnique, v. 41, n. 1,
Assim como Pereira (2017) concluiu, ao se p. 17-34, 1991. Disponível em:
comparar os resultados encontrados neste trabalho <https://www.cambridge-
para os coeficientes de adensamento horizontal, insitu.com/system/files/files_trackable/TEH%20HOU
notou-se que estes valores se distanciaram menos que LSBY%201991%20An%20analytical%20study%20o
20% de sua ordem de grandeza se comparados aos f%20the%20cone%20penetration%20test%20in%20c
valores obtidos por Housby e Teh (1991) com a lay.pdf> Acesso em 26 de janeiro, 2022.
utilização do t50 obtido da curva extrapolada (u versus KRAGE, C.; DEJONG, J. T.; SCHNAID, F. Estimation of
raiz quadrada do tempo). the Coefficient of Consolidation from Incomplete Cone
Penetration Test Dissipation Tests. Journal of
Ao final, pode ser observado que os valores
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering. v.
encontrados para o coeficiente de adensamento 141, n. 2, 2015. Disponível em:
horizontal calculados para o material analisado <https://www.researchgate.net/publication/273311635
através da metodologia proposta por de Pereira _Estimation_of_the_Coefficient_of_Consolidation_fr
(2017), tendem a ser aproximadamente 15% maiores om_Incomplete_Cone_Penetration_Test_Dissipation_
que os valores encontrados pela abordagem Tests> Acesso em 06 de fevereiro, 2022.
extrapolada (u versus raiz quadrada do tempo), MANTARAS, F. M.; ODEBRECHT, E.; SCHNAID, F.
calculados por Houlsby e Teh (1991); e tendem a ser Using piezocone dissipation test to estimate the
aproximadamente 25% menores que os valores undrained shear strength in cohesive soil. Canadian
encontrados pela abordagem transladada (u versus Geotechnical Journal. v. 52, 318-325, 2015. Disponível
em:
tempo na escala logarítimica), calculados por Housby
<https://fernandoschnaid.com.br/admin/uploads/pesqu
e Teh (1991). isas/22.PDF> Acesso em 26 de janeiro, 2022.
MAYNE, P.W. Cone Penetration Testing. National
Cooperative Highway Research Program, 368. 20-05,
AGRADECIMENTOS s. 37-14, 162 p., National Academy Press, Washington,
D.C, 2007. Disponível em <
Especialmente à Universidade Federal de Minas http://www.mcipin.com/publications/CPT/nchrp_syn_
Gerais, onde este trabalho se deu início. 368.pdf> Acesso em 16 de fevereiro, 2022.
À Chammas Engenharia e ao Sr. Riad Chammas, PEREIRA, F.S. Nova metodologia para interpretação de
por fornecerem os dados utilizados neste artigo e me ensaios de dissipação do piezocone. Dissertação
(Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-
darem a oportunidade de trabalhar com o tema.
Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, p. 148. 2017.
PETERNELLI, L. A. Regressão linear e correlação.
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Agaiby_Mayne_2018_Evaluating_rigidity_index_of_ de Engenharia Geotécnica da Região Sul - GEOSUL.
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http://damascopenna.com.br/wp-
content/uploads/2020/11/Evaluation-of-CPTu-
Dissipation-Tests-1999.pdf> Acesso em 26 de janeiro,
2022.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


469
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Monitoramento de Águas Superficiais e Subterrâneas de um


Lixão Desativado
Layla Ferraz Aquino
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, laylaferrazaquino@hotmail.com

Camille Ferreira Mannarino


Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, camille.mannarino@gmail.com

Elisabeth Ritter
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de janeiro, Brasil, ritter@eng.uerj.br

A disposição inadequada de resíduos sólidos em lixões pode trazer prejuízos à saúde pública por contaminar os lençóis
freáticos por meio da infiltração de lixiviados pelo solo. O objetivo deste trabalho foi analisar a contaminação de um lixão
através de três lagoas de lixiviado não revestidas que operaram por aproximadamente 25 anos. Águas superficiais de três
lagoas de lixiviado e amostras de águas subterrâneas foram coletadas. Foram realizadas análises químicas como cloreto,
condutividade, nitrogênio amoniacal e pH. O subsolo local é predominantemente argiloso, com dominância de areia em
algumas regiões e variação de profundidade dos afloramentos rochosos. Os valores de pH obtidos foram alcalinos nas
lagoas e ácidos nas águas subterrâneas. A condutividade elétrica sugeriu maior quantidade de íons com valores entre
1799,0 mS.cm-1 e 12480,0 mS.cm-1 nas lagoas de lixiviado e 250 mS.cm-1 e 6345,0 mS.cm-1 nas águas subterrâneas. Os
resultados mostraram altos valores de cloreto entre 38,04 mg.L -1 e 1835,6 mg.L-1 em águas subterrâneas e 360,37 mg.L-1
e 2805,0 mg.L-1 em lagoas de lixiviado. As amostras apresentaram baixos teores de nitrogênio amoniacal. A água
subterrânea apresentou alta concentração de compostos químicos em relação às amostras controle.

PALAVRAS-CHAVE: Lixão, lixiviado de aterro, transporte de contaminantes, resíduos sólidos, contaminação


ambiental.

ABSTRACT: The inadequate disposal of solid waste in dumpsites can damage public health by contaminating
groundwater through infiltration of leachate through the soil. The purpose of this manuscript was to analyze the
contamination of a dumpsite along with three unlined leachate ponds that operated for approximately 25 years. Surface
water from three leachate lagoons and groundwater samples were collected. Chemical analyses such as chloride, ammonia
nitrogen, conductivity and pH were performed. The local subsoil mostly clayey, with sand predominance in some regions
and variation of depth of rocky outcrops. The pH values obtained were alkaline in the ponds and acid in groundwater.
The electrical conductivity suggested a higher amount of ions with values between 1799,0 mS.cm -1 and 12480,0 mS.cm-
1
in leachate lagoons and 250 mS.cm-1 and 6345,0 mS.cm-1 in the groundwater. Results showed high values of chloride
between 38,04 mg.L-1 and 1835,6 mg.L-1 in groundwater and 360,37 mg.L-1 and 2805,0 mg.L-1 in leachate lagoons. Metals
analyses showed that Ca, K, Mg, Na were present in high concentrations. The samples showed low levels of ammonia
nitrogen, nitrate and nitrite. Groundwater showed a high concentration of chemical compounds compared to control
samples.

KEY WORDS: Dumpsites, Landfill leachate, Contaminants transport, Solid waste, Environmental pollution.

1 INTRODUÇÃO geração de resíduos, se faz necessário o maior


controle dos aterros e lixões (VACCARI, 2019). No
A disposição de resíduos sólidos urbanos tem Brasil, após a implementação da Política Nacional
ganhado grande visibilidade com o enrijecimento das dos Resíduos Sólidos em 2010 e do Novo Marco do
legislações e o aumento da conscientização ambiental Saneamento de 2020 ficou estabelecido que tanto
da população (ALZAMORA,2020). Com o acelerado aterros controlados, quanto lixões tenham suas
desenvolvimento da sociedade, que acarreta a maior operações encerradas (BRASIL, P. 2010; BRASIL,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


470
2020). Todavia, encerrar esses locais de forma 2 MATERIAIS E MÉTODOS
adequada, com a inclusão de processos de
remediação, é um processo dispendioso. 2.1 Área de Estudo
Em estudo publicado por Morita et. Al (2021), foi
realizada uma revisão bibliográfica de todos os O trabalho foi realizado em um lixão encerrado
trabalhos publicados no Brasil a respeito de lixões e situado na zona rural, localizado na região
aterros controlados. Os 162 trabalhos encontrados metropolitana do Rio de Janeiro. Na Figura 1
equivalem a somente 4% do total de áreas espalhadas (ressalta que somente nas áreas mais altas é possivel
pelo território nacional. Em um estudo publicado por identificar a presença de lixo, a maioria do terreno
Aquino (2022) a partir de 111 trabalhos realizados esta preenhido de vegetação)está apresentada uma
em lixões e aterros brasileiros, foram selecionadas as visão do lixão em operação (ano de 2010) e fora de
pesquisas que efetuaram analises em mais de um atividade (ano de 2019).
compartimento ambiental (água, solo e lixiviado), a O município tem uma área de 363,81 km² e
grande maioria dos parâmetros analisados se 161.207 hab. A operação do lixão ocorreu
encontrava fora dos limites impostos pela Legislação formalmente no período de 1985-2009, após esse
brasileira. período o lixão funcionou de forma clandestina até
Em Del Rey (2020) um estudo realizado em uma 2013 quando encerrou suas atividades. A operação
área de lixão encerrado, a condutividade medida na realizava o espalhamento e compactação dos resíduos
água subterrânea variou de 135,3 – 2.630 µS.cm -1. No com trator de esteira.
trabalho realizado por Silva (2019) também em uma
área de lixão desativada, a condutividade da água
subterrânea apresentou valores na faixa de 660,0 -
7.110,0 µS.cm -1; já o cloreto apresentou
concentrações entre 63.980,0 – 534.800,0 mg.L-1; o
nitrogênio amoniacal nessas amostras apresentou a
concentração máxima de 396,7 mg.L-1 . Em Borba
(2019) um estudo realizado em uma área de aterro
controlado ativa, a condutividade apresentou valores
entre 63,6 – 2.288,0 µS.cm -1, enquanto que a
concentração mais elevada de cloreto foi de 424,2
mg.L-1.
Os valores orientadores da portaria 518 do
Ministério da Saúde indicam como limite máximo de
concentração de cloreto 250,0 mg.L-1 e de nitrogênio
amoniacal 1,5 mg.L-1. Valores acima de 100 µS.cm -1
para condutividade de água subterrânea são
indicativos de área possivelmente impactada
(CETESB, 2019).
Em uma pesquisa realizada por Jesus (2020), em
uma área de lixão desativado foi avaliada. A
identificação da direção do fluxo de água subterrânea
local e os ensaios preliminares identificando os
contaminantes no solo e referente as primeiras
coletas de águas subterrânea, superficial e de
afloramentos de lixiviado existentes foram realizados
JESUS (2022). Foram encontrados elevados valores Figura 1. Histórico da área 2010-2019 (Google Earth).
de cloreto em amostras de solo até 3m de
profundidade e altas concentrações condutividde nas O lixão é contituídos por duas áreas de deposição
amostras de água subterrânea e superficial. de resíduos: o maciço 1 e o maciço 2, que recebiam
O objetivo deste estudo foi dar continuidade a por dia cerca de 100ton de resíduos. O maciço 1, mais
avaliação da contaminação das águas subterrâneas e antigo, operou até meados de 2011. O maciço 2
superficiais no mesmo lixão encerrado, por meio da operou até o encerramento da área em 2013. Durante
análise de pH, condutividade, cloreto e nitrogênio os 24 anos de operação a área acumulou cerca de
amoniacal. 558.000 m3de material sólido, que se estende por
mais de 47.000 m2.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


471
Na Figura 1 é possivel notar o avanço da ocupação Os níveis das águas subterrâneas identificados va-
da zona residencial rural a jusante do depósito de riaram entre 2 e 3 metros de profundidade na data da
resíduos, . perfuração dos poços.
O solo local em geral varia entre uma argila siltosa O PM1 está localizado em uma cota mais elevada
ou arenosa até a profundidade de 2 a 4 m, onde dos demais poços. Já o PM3 se encontra na cota infe-
encontra o perfil rochoso. rior, podendo sofrer influência em sua recarga dos de-
mais poços. O terreno não tem cursos de água.
2.1 Estudos Preliminares Na Figura 3 foi apresentado o mapa
potenciométrico realizado para a determinação do
Em JESUS (2022) nos ensaios realizados na área, fluxo de água subterrânea e consequentemente da
cinco poços de água subterrânea foram instalados direção da pluma de contaminação por lixiviado
seguindo as diretrizes (ABNT 2007). Na Figura 2 provocada pela presença do lixão encerrado. O
está representada a localização dos poços e das lagoas estudo utilizou a posição planimétrica dos poços de
de acúmulo de lixiviado. água subterrânea, levando em conta a diferença de
Na ocasião foram coletadas amostras de solo a nível de elevação e de nível de água.
cada 50cm de perfuração dos poços para
caracterização do solo local. O primeiro poço (PM1) 2.2 Coleta e Análise das Amostras
está localizado fora da área de influência do aterro,
servindo como padrão de referência para a qualidade Nos meses de maio, agosto e novembro de 2021,
das águas subterrâneas. Os demais poços foram foram coletadas amostras de água subterrânea nos
perfurados próximos às lagoas de acumulação de poços de monitoramento. Os poços foram
lixiviado e na direção que se acreditava ser o fluxo da previamente drenados com amostradores de água
pluma de contaminação. subterrânea descartáveis. No dia seguinte, após a
O PM5 exibe um solo predominantemente are- recarga, as amostras foram coletadas e colocadas em
noso até 2,5 m. frascos de polipropileno. Na mesma ocasião, também

Figura 2. Mapa de localização dos poços de


monitoramento e das lagoas de lixiviado (JESUS,2020).

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472
Na Figura 3: Mapa potenciométrico da área (JESUS, 2020,
foram coletadas amostras de águas superficiais das 3 JESUS, 2022).
lagoas de lixiviados existentes L1, L2 e L3.
Análises de cloreto, nitrogênio amoniacal,
condutividade e pH foram realizadas nas amostras de 3 RESULTADOS
águas subterrâneas e superficiais. As análises de
condutividade e pH foram realizadas in-situ por Na Tabela 1 estão apresentados os resultados das
sonda multiparâmetro. As análises de concentração análises realizadas nas amostras coletadas nas lagoas
de cloreto em solução foram realizadas através do e nos poços de monitoramento.
método argentométrico (SM 4500-Cl-B), já as análi- O pH das amostras analisadas variou entre 7,3-8,6
ses para identificação da concentração de nitrogênio nas lagoas de monitoramento, enquanto nos poços de
amoniacal foram executadas por eletrodo seletivo de monitoramento esse valor ficou entre 5,5-7,49.
amônia Thermo Orion. A condutividade nas lagoas, apresentadas na
O estudo indicou o sentido preferencial do fluxo Tabela 1, variou entre 1.799,0 mS.cm-1 e 12.480,0
de água suberrânea dos maciços 1 e 2 na direção das mS.cm-1, enquanto nos poços de monitoramento
lagoas de acúmulo de lixiviado e da área residencial. esses valores foram de 250,0 mS.cm-1 e 6.345,0 mS
A principal questão em relação a isso é a utilização .cm-1.
de poços de água subterrânea para o abastecimento As concentrações de nitrogênio amoniacal,
local. analisadas nas amostras coletadas foram baixas. Com
exceção de L01, todas as análises realizadas
obtiveram resultados de concentração abaixo de 5,0

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


473
mg.L-1, a concentração em L01 variou entre 53,7- amostras coletadas no PM1 (poço controle) ficaram
38,5 mg.L-1. abaixo do limite determinado pela norma.
As concentrações de cloreto encontradas nas
lagoas de chorume variaram entre 360,4-2804,5
mg.L-1. Esses valores ficaram entre 41,2-1835,55 5 CONCLUSÃO
mg.L-1 em amostras de águas subterrâneas.
Os valores medidos dos parâmetros físico-químicos
Tabela 1. Resultado das análises físico-quimicas das analisados divergiram do ponto de controle (PM1), à
lagoas de lixiviado e água subterrânea. montante e utilizado como referência, indicando que
Ponto Condutividade (mS.cm-1) pH a presença do lixão está afetando a qualidade das
L01 7.482,0-12.480,0 8,16-8,7 águas subterrâneas mesmo após nove anos de
L02 1.799,0-2.380,0 7,3-8,6 encerramento do lixão.
L03 2.960,0-3.711,0 7,38-7,6 Os elevados valores de condutividade estão
PM1 250,0-295,0 5,50-5,91
PM2 3.681,0-4.760,0 6,04-6,3 atribuídos a presença de íons em solução, o que é
PM4 4.901,0-6.345,0 5,9-6,7 típico da composição do lixiviado.
PM5 1.905,0-2.883,0 6,26-7,26 As lagoas 1 e 2 apresentaram valores de
Nitrogênio amoniacal nitrogênio amoniacal mais elevados, o que pode estar
Ponto Cloreto (mg.L-1)
(mg.L-1) relacionado a maior concentração de lixiviado bruto.
L01 2.078,75-2.804,5 38,557-53,7
L02 360,374-510,20 0,131-4,6 A maior concentração de cloreto encontrado nas
L03 550,00-608,18 <0,5-2,3 lagoas foi de 2.804,5 mg.L-1.
PM1 38,04-45,4 <0,5-0,7 A baixa concentração de nitrogênio amoniacal nas
PM2 1026,3-1096,9 1,41-2,27 amostras de água subterrânea coletadas pode ser
PM4 1.467,3-1.835,55 <0,5
PM5 338,71-501,90 <0,5
atribuída a diluição sofrida ao longo do tempo. Todas
as amostras de água subterrânea, com exceção do
PM1, apresentaram concentração de cloreto acima do
3 DISCUSSÃO padrão de qualidade de água subterrânea. A maior
concentração de cloreto encontrado nos poços de
As amostras coletadas nas lagoas de monitoramento água subterrânea de 1.835,5 mg.L-1.
A avaliação realizada por este estudo corrobora
apresentaram valores de pH mais elevados, o que
que a contaminação ambiental provocada pela
pode ser explicado pela maior concentração de
lixiviado bruto no local. Os valores de pH são um in- presença de depósitos de resíduos pode modificar a
dicativo a respeito da fase de degradação dos natureza dos solos e da qualidade da água subterrânea
resíduos, quanto mais alcalinos mais próximo esse com possíveis impactos aos ecossistemas locais e a
saúde pública.
maciço se aproxima da fase de maturação.
Em grandes depósitos de resíduos, onde não existe
a captação direta do lixiviado como neste caso,
emissões de maciços mais recentes acabam se AGRADECIMENTOS
misturando a dos maciços mais antigos. Além disso,
vale ressaltar à ocorrência da diluição desse lixiviado Os autores agradecem a Fundação Nacional de Saúde
em contato com a água da chuva. Todos esses aspec- pela viabilização do projeto (Processo
tos influenciam nas interpretações dos resultados en- 25380.100537/2018-18; TED14/2018) e Fundação
Oswaldo Cruz pelo suporte e infraestrutura para
contrados.
A condutividade indica a concentração de íons realização do trabalho. Agradecemos à CAPES pela
presentes na solução, o que a torna um dos bolsa da primeira autora.
parâmetros fundamentais na identificação de uma
possível área impactada por lixiviado. Valores acima
REFERÊNCIAS
de 100 mS.cm-1 indicam área possilvemente
impactada (CETESB, 2019). ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
As concentrações de nitrogênio amoniacal no TÉCNICA. NBR 15495-1: Poços de monitoramento de
presente estudo não foram elevadas, isso pode estar águas subterrâneas de aquíferos granulares. Parte 1 –
relacionado a características do solo local e sua Projetos e construção. Rio de Janeiro: ABNT, 2007.
capacitade de retenção desse componente. 25p.
De acordo com a Portaria 518 do Ministério da ALZAMORA, Bruno Ribas; BARROS, Raphael Tobias
Saúde, a concentração máxima permitida de cloreto é de V. Review of municipal waste management
de 250 mg.L-1 para águas subterrâneas. Somente as charging methods in different countries. Waste
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IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Qualidade das Águas Superficiais e Subterrâneas na Área de


Influência de um Aterro Sanitário no Semiárido Brasileiro
Rivaildo da Silva Ramos Filho
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, rivaildofilho31@gmail.com

Ketlyn Jaquelize Lima Sousa


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, eng.ketlynsousa@gmail.com

Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, luisa.muricy12@gmail.com

Jessica Kaori Sasaki


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, jessicakaori@hotmail.com

Libânia da Silva Ribeiro


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Brasil, lybyribeiro@yahoo.com.br

RESUMO: A inadequada disposição dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) em aterros sanitários pode ocasionar
contaminação hídrica, gerando consequências para o meio ambiente e a saúde pública. Neste sentido, este trabalho teve
como objetivo avaliar a qualidade das águas no entorno de um Aterro Sanitário de RSU no semiárido brasileiro. Foram
analisados os parâmetros físico-químicos: pH, Turbidez, Oxigênio dissolvido (OD), Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO5), Nitrogênio Amoniacal Total (NAT), Fósforo total, Sulfato, Cloreto e os metais: Ferro (Fe), Zinco (Zn),
Manganês (Mn), Cromo (Cr) e Chumbo (Pb), em quatro pontos de água, dois superficiais (Montante e Jusante,
denominados PM e PJ, respectivamente) e dois subterrâneos (denominados PS1 e PS2). Os parâmetros físico-químicos
DBO e Cloreto apresentaram valores elevados nas águas superficiais e subterrâneas. Esses indicadores sofrem muita
influência de matéria orgânica decorrente do despejo de efluentes domésticos e dejetos de animais. Na análise da
concentração de metais pesados, Fe (apenas em água subterrânea), Mn e Pb estiveram acima dos valores recomendados
para o consumo humano. Destaca-se as maiores concentrações de metais em PS2, mais próximo às lagoas de
armazenamento e evaporação de lixiviado, quando comparadas a PS1. Existe a possibilidade de influência do Aterro
Sanitário. Contudo, as altas concentrações podem estar associadas à causas naturais, como interação solo-rocha-água. As
contribuições deste estudo podem auxiliar gestores na identificação de problemas de contaminação das águas, sabendo
que o monitoramento é uma ferramenta indispensável para boa operação de um Aterro Sanitário e a garantia de uma
correta gestão.

PALAVRAS-CHAVE: Lixiviado, Contaminação de águas, Parâmetros físico-químicos, Metais pesados.

ABSTRACT: The inadequate disposal of Urban Solid Waste (MSW) in landfills can cause water contamination, causing
consequences for the environment and public health. In this sense, this work aimed to evaluate the water quality around
a MSW landfill in the Brazilian semi-arid region. The physical-chemical parameters were analyzed: pH, Turbidity,
Dissolved Oxygen (DO), Biochemical Oxygen Demand (BOD5), Total Ammoniacal Nitrogen (NAT), Total Phosphorus,
Sulfate, Chloride, and the metals Iron (Fe), Zinc (Zn ), Manganese (Mn), Chromium (Cr) and Lead (Pb), in four water
points, two surface (Upstream and Downstream, called PM and PJ, respectively) and two underground (named PS1 and
PS2). BOD5 and Chloride's physical-chemical parameters showed high values in surface and underground waters. These
indicators are heavily influenced by organic matter resulting from the disposal of domestic effluents and animal waste. In
the analysis of the concentration of heavy metals, Fe (only in groundwater), Mn and Pb were above the recommended
values for human consumption. The highest concentrations of metals stand out in PS2, closer to the leachate ponds when
compared to PS1. There is a possibility of landfill influence. However, the high concentrations may be associated with
natural causes, such as soil-rock-water interaction. This study's contributions can help managers identify water
contamination problems, knowing that monitoring is an indispensable tool for the good operation of a sanitary landfill
and the guarantee of correct management.

KEY WORDS: Leachate, Water contamination, Physical-chemical parameters, Heavy metals.

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476
1 INTRODUÇÃO geográficas 7°16’38” S e 36°00’51” O.
O Aterro Sanitário é de iniciativa privada e atende
Os aterros sanitários constituem na principal prática a 70 municípios. Atualmente, dispõe da integração
de disposição final de RSU em todo o mundo das Células 1 e 2 (finalizadas) e a Célula 3 (em
(Kazuva et al., 2021). Embora, a evolução de lixões operação). A camada de base das Células finalizadas
para essas estruturas projetadas tenha reduzido de é impermeabilizada com solo compactado (argila
forma considerável os riscos de contaminação, ainda bentonítica), já a Célula em operação possui
sim, esses empreendimentos representam uma fonte Geomembrana de Polietileno de Alta Densidade
potencial de perigo para as áreas vizinhas (Pantini et (PEAD). O lixiviado gerado em todas as Células é
al., 2015). A produção de lixiviado e a emissão de coletado pelo sistema de drenagem, tipo “espinha de
gases nocivos podem causar a poluição do ar, do solo peixe”, e direcionado para quatro lagoas de
e das águas superficiais e subterrâneas (Pantini et al., acumulação e evaporação.
2015b).
Dessa forma, o lixiviado, subproduto da 2.2 Metodologia
degradação da matéria orgânica, é um dos riscos
ambientais mais sérios associados aos aterros Foram coletados 02 (dois) pontos de água superficial
sanitários (Hussein et al., 2019). Uma vez que, possui no riacho Logradouro, situado na área de influência
em sua composição poluentes tóxicos que em contato do Aterro, sendo um ponto a Montante (PM), situado
com corpos hídricos e aquíferos podem provocar nas coordenadas geográficas 07°16'29.71"S
impactos na biota aquática (Aharoni et al., 2020), 36°01'13.74"O e outro ponto a Jusante (PJ)
alterando os parâmetros físico-químicos da água e localizado nas coordenadas geográficas 07°17'2.52"S
liberando metais pesados, que estão entre os 36°01'10.56"O (Figura 2). Também foram coletados
principais contaminantes do lixiviado devido ao alto 02 (dois) pontos de água subterrânea na área de
grau de toxicidade (Naminata et al., 2018). Todas influência do Aterro: PS1 e PS2, localizados nas
essas mudanças afetam consideravelmente as coordenadas geográficas 07°16'36.94"S
propriedades dos recursos hídricos, ameaçando a sua 36°01'6.88"O e 07°16'51.40"S 36°00'52.27"O,
qualidade. respectivamente, ambos a Jusante do Aterro (Figura
De acordo com Laskar et al. (2022), a qualidade 1).
da água está associada às suas características físicas,
químicas e biológicas, e seu estado é função das
diversas práticas a que se destina (Abreu & Cunha,
2015). As alterações que ocorrem na bacia
hidrográfica e que provocam instabilidade no
dinamismo dos corpos d’água estão relacionadas à
poluição que ocorre no próprio território (Tavares,
2014; Centeno et al., 2016).
Nos últimos anos, muitos trabalhos vêm avaliando
o impacto dos aterros sanitários na qualidade da água
(Kapelewska et al., 2019; Alam et al., 2021; Laskar
et al., 2022). Esta crescente de estudos na área é de
grande valia, pois para a garantia de boa operação e
gestão dos aterros sanitários, o monitoramento
periódico dos parâmetros físico-químicos, incluindo
concentração de metais, é muito importante.
Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar a
qualidade das águas superficiais e subterrâneas na
área de influência de um Aterro Sanitário de RSU no
semiárido brasileiro. Figura 1. Mapa de localização dos pontos de coleta de
água.

2 MATERIAIS E MÉTODOS O riacho Logradouro é de domínio estadual,


enquadrado como Classe 3 pela Resolução
2.1 Área de estudo CONAMA n° 357/05 (BRASIL, 2005), sendo
pertencente a Bacia do Rio Paraíba, na Região do
O estudo foi desenvolvido em um Aterro Sanitário Médio Curso do Rio Paraíba.
localizado no semiárido, sob coordenadas As coletas das amostras foram realizadas de

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477
acordo com a NBR 9.898/87 (ABNT, 1997). Os Zn – Zinco; Mn – Manganês; Cr – Cromo; Pb – Chumbo.
parâmetros físico-químicos analisados foram: pH,
Turbidez, OD, DBO5, NAT, Fósforo Total, Sulfato, Ao final foi aplicado estatística descritiva para
Cloreto e Metais: Fe, Zn, Mn, Cr e Pb. garantir a integridade e interpretação dos resultados.
As coletas foram realizadas com frascos de um Após a retirada dos outliers, foi gerada a média
litro e armazenadas em temperatura de 4°C e as aritmética e o desvio padrão para cada parâmetro.
análises realizadas nos laboratórios do Grupo de
Geotecnia Ambiental (GGA), no período de outubro
de 2021 a dezembro de 2022. 3 RESULTADOS
As análises físico-químicas e as concentrações de
metais das águas superficiais e subterrâneas foram 3.1 Parâmetros físico-químicos
realizadas baseadas nas recomendações APHA,
AWWA e WEF (2017) (Tabela 1) e os resultados Nas Tabelas 2 e 3 são apresentados os parâmetros
comparados com o valores máximos permitidos físico-químicos, além dos valores de referência
(VMP) previstos na Resolução CONAMA n° 357/05 previstos na Resolução CONAMA n° 357/05
(BRASIL, 2005), para águas superficiais de Classe 3, (BRASIL, 2005) para águas superficiais e Resolução
Resolução CONAMA n° 396/08 (BRASIL, 2008) CONAMA n° 396/08 (BRASIL, 2008) para águas
para águas subterrâneas e Portaria n° 2.914/2011 subterrâneas.
(BRASIL, 2011).
Tabela 2. Parâmetros físico-químicos avaliados para água
Tabela 1. Metodologia dos ensaios realizados. superficial.

Método Parâmetros¹ PM PJ VMP


Parâmetro Un. Método
empregado
8,77 8,81
pH 6,0 a 9,0
±0,96 ±0,75
Adime-
pH Eletrométrico
nsional 25,01 28,38
Turbidez 100
±30,39 ±28,42
Turbidez NTU Nefelométrico
6,21 6,82
OD >4
Eletrodo de ±1,77 ±0,84
OD mg.L-1
membrana
76,50 99,11
DBO 10
±12,32 ±40,61
Diluição em
frascos padrões 1,87 2,45
com medidas de NAT *
-1 APHA, ±1,05 ±1,45
DBO mg.L oxigênio
AWWA
dissolvido pelo Fósforo 0,42 0,32
e WEF 0,15
método de total ±0,3 ±0,3
(2017)
Winkler
158,60 30,93
Sulfato 250
±167,38 ±15,35
-1
NAT mg.L Destilação e
titulação 2782,47 3492,67
Cloreto 250
±2381,63 ±2199,55
Fósforo
mg.L-1 Ácido ascórbico Legenda: ¹Todos os indicadores estão na unidade mg.L-1,
total
exceto o pH que é adimensional e Turbidez que foi
mensurada em NTU (Unidade Nefelométrica de
Sulfato mg.L-1 Turbidimétrico Turbidez); pH – potencial Hidrogeniônico; DBO5 –
Demanda Biológica de Oxigênio; NAT – Nitrogênio
Cloreto mg.L-1 Argentométrico
Amoniacal Total; VMP – Valor Máximo Permissível de
acordo com a Resolução CONAMA nº 357/05 (BRASIL,
Metais (Fe,
Espectrometria de 2005).
Zn, Mn, Cr mg.L-1
e Pb)
absorção atômica * 5,6 para 7,5 <pH≤ 8,0; 2,2 para 8,0 <pH≤ 8,5; 1,0 para
pH>8,5
Legenda: pH – potencial Hidrogeniônico; NTU – Unidade
Nefelométrica de Turbidez; OD – Oxigênio Dissolvido; Com relação a água superficial (Tabela 2), os
DBO5 – Demanda Biológica de Oxigênio; NAT – valores médios de pH para PM e PJ estão dentro da
Nitrogênio Amoniacal Total; Un – Unidade; Fe – Ferro;

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faixa aceitável para potabilidade, isto é, entre 6,0 e monitoramento, também apresentaram valores
9,0. Contudo, a variação do desvio padrão, demonstra aceitáveis para ambos os pontos.
que em alguns momentos, ao longo do período de Em sulfato, o ponto PM apresenta uma
monitoramento, a água apresentou qualidade considerável maior concentração. O valor médio
imprópria para consumo humano, ultrapassando o pH atendeu ao limite de 250 mg.L-1, mas em alguns
de 9,0. Outros parâmetros, como Turbidez e OD, momentos excedeu. Situação diferente é encontrada
estiveram dentro da normalidade e, em nenhum em PJ, na qual o VMP foi atendido em todo o
momento, excederam os valores de referência. período.
Os parâmetros DBO e Cloreto em nenhuma Com relação à água subterrânea (Tabela 3), os
ocasião estiveram em concordância com o VMP, valores de pH estiveram em todo o tempo dentro da
apresentando-se sempre muito superiores. faixa aceitável para consumo humano (entre 6,0 e
A análise de NAT, por depender do valor pontual 9,0). Para Sulfato, observou-se que PS1 atendeu ao
de pH no dia da coleta, torna-se mais complexa. VMP; já PS2 excedeu. Cloreto em nenhuma ocasião
Entretanto, tendo como base o valor médio mais o atendeu ao VMP, apresentando-se sempre muito
desvio padrão, observa-se que os valores estiveram superior. Contudo, destaca-se que os altos níveis de
aquém do aceitável em certa parte do tempo. Para Cloreto possuem influência da hidrogeologia local e
valores de pH superiores a 8,5 o valor de referência é dos aquíferos cristalinos, como consequência do
de 1,0 mg.L-1; todavia, os valores médios para PM e intemperismo das rochas em contato com a água
PJ se apresentaram superiores. (Silva et al., 2004).
Para os outros parâmetros não há valores de
Tabela 3. Parâmetros físico-químicos avaliados para água referência, segundo a Resolução CONAMA nº
subterrânea. 396/08 (BRASIL, 2008). Todavia, é perceptível
Parâmetros¹ PS1 PS2 VMP como os valores de PS2 são sempre superiores a PS1,
evidenciado o impacto de influência da proximidade
7,9 7,44 com as Células do Aterro Sanitário.
pH 6,0 a 9,0
±0,08 ±0,07
3.2 Concentração de metais pesados
0,69 29,92
Turbidez NR
±0,23 ±22,76
Nas Tabelas 4 e 5 são apresentadas as concentrações
5,75 6,36 de metais, além dos valores de referência impostos
OD NR
±1,08 ±2,32 pela Resolução CONAMA n° 357/05 (BRASIL,
2005) para águas superficiais e Resolução CONAMA
115,71 135,94 n°396/08 (BRASIL, 2008) para águas subterrâneas.
DBO NR
±45,59 ±79,32 Após a retirada dos outliers, foi gerada a média
2,26 4,25 aritmética e o desvio padrão para cada metal.
NAT NR
±1,81 ±2,76
Tabela 4. Concentração de metais avaliados para água
Fósforo 0,18 0,48 superficial.
NR
total ±0,19 ±0,38 Metais¹ PM PJ VMP
69,0 386,93 1,38 0,31
Sulfato 250 Fe 5,0
±35,80 ±105,48 ±1,55 ±0,3
3506,05 9008,32 0,02 0,02
Cloreto 250 Zn 5,0
±97,56 ±578,49 ±0,02 ±0,002
Legenda: ¹Todos os indicadores estão na unidade mg.L-1,
exceto o pH que é adimensional e Turbidez que foi 0,99 0,29
Mn 0,5
mensurada em NTU; pH – potencial Hidrogeniônico; ±1,04 ±0,12
DBO5 – Demanda Biológica de Oxigênio; NAT –
Nitrogênio Amoniacal Total; VMP – Valor Máximo 0,01 0,031
Cr 0,05
Permissível de acordo com a Resolução CONAMA nº ±0,003 ±0,0
396/08 (BRASIL, 2008) e a Portaria nᵒ 2.914/2011
0,03
(BRASIL, 2011). Pb ND 0,033
±0,0
Para o Fósforo total, ainda que os valores médios Legenda: ¹Todos os indicadores estão na unidade mg/L; Fe
estejam acima do limite; a variação para mais ou – Ferro; Zn – Zinco; Mn – Manganês; Cr – Cromo; Pb –
menos nos mostra que, ao longo do período de Chumbo; ND – Não detectável; VMP – Valor Máximo
Permissível de acordo com a Resolução CONAMA nº

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357/05 (BRASIL, 2005). A alta concentração de Fósforo total possui
relação com a concentração de oxigênio e o regime
Com relação aos pontos de água superficial de estratificação térmica (principalmente em regiões
(Tabela 4), os parâmetros Fe, Zn e Cr estiveram em de altas temperaturas). Além desses fatores, a
concordância com os VMPs. Para Mn, apenas PJ quantidade de vegetação inundada também exerce
atendeu ao valor de referência de 0,5 mg.L-1. Quanto influência.
a Pb, PM atendeu ao valor de referência de 0,033 Os limites de DBO5 determinados para as águas
mg/L-1 e, em PJ não foi detectado. superficiais poderão ser elevados, caso o corpo
receptor tenha a suficiente capacidade de
Tabela 5. Concentração de metais avaliados para água autodepuração (BRASIL, 2011). A DBO5 elevada
subterrânea. indica que há uma influência antrópica na qualidade
Metais¹ PSI PS2 VMP das águas superficiais do Riacho Logradouro. Os
valores já são altos em PM e aumentam em direção a
0,08 0,38 PJ. Estes altos valores e sua tendência de crescimento
Fe 0,3
±0,05 ±0,21 ao longo do riacho podem estar associados a causas
0,04 0,09
naturais como excretas de animais (Figura 2) e
Zn 5,0 despejo de efluentes domésticos (haja vista a
±0,03 ±0,07
presença de residências, conforme apresenta a Figura
0,13 0,61 3).
Mn 0,1
±0,08 ±0,3

0,03 0,03
Cr 0,05
±0,02 ±0,04

0,04 0,07
Pb 0,01
±0,01 ±0,07
Legenda: ¹Todos os indicadores estão na unidade mg/L; Fe
– Ferro; Zn – Zinco; Mn – Manganês; Cr – Cromo; Pb –
Chumbo; VMP – Valor Máximo Permissível de acordo
com a Resolução CONAMA nº 396/2008 (BRASIL, 2008)
e a Portaria nᵒ2.914/2011 (BRASIL, 2011).
Figura 2. Presença de dejetos de animais ao longo do
Para os pontos de água subterrânea (Tabela 5), os Riacho Logradouro.
valores médios de Fe (exceto PS2), Zn e Cr estiveram
em concordância com os VMPs. Para Mn e Pb, tanto
PS1 como PS2 excederam os VMPs. Contudo,
destaca-se que, em Pb, o valor médio é
correspondente apenas aos meses de junho/2022 e
outubro/2022. Nos demais meses, o valor encontrado
foi abaixo do limite de detecção.
A partir do desvio padrão é perceptível que alguns
parâmetros, mesmo com o valor médio abaixo do
valor de referência, ainda apresentaram variações
fora do adequado para consumo humano.

Figura 3. Localização de residências ao longo do Riacho


4 DISCUSSÃO Logradouro.

4.1 Parâmetros físico-químicos As análises de Cloreto em todos os pontos se


apresentaram bastante elevados. Altos valores
Os resultados mostraram, para água superficial, que médios de teor de cloreto (4685 e 6890 mg.L-1)
Turbidez, OD e Sulfato (apenas PJ) estiveram de também são observados para os dois pontos de
acordo com os VMPs durante o monitoramento. Os monitoramento de água subterrânea nos estudos de
parâmetros pH, NAT, Fósforo total e Sulfato (apenas Abd El-salam & Abu-Zuid (2015).
PM) ora atenderam, ora excederam os valores de Neste trabalho, observou-se uma tendência de
referência. Por fim, DBO5 e Cloreto ultrapassaram os aumento de PM para PJ. Sabe-se que as
valores limites em todas as ocasiões. concentrações de Cloreto podem ser consequência do

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480
próprio solo local por dissolução do sal-gema. Além deveriam ter influência do Aterro Sanitário, se
disso, esse indicador sofre muita influência de encontram nesta zona de influência. Baseado nisso, o
matéria orgância. Desta forma, a presença de dejetos empreendimento está realizando um estudo para
de animais (Figura 2) e descarga de esgoto doméstico realocar os poços de monitoramento.
(Figura 3) podem possuir contribuição nos altos
teores. 4.2 Concentração de metais pesados
Como consequência das elevadas cargas de
matéria orgânica no corpo hídrico, das altas Para a situação das águas superficiais, o ponto PM,
temperaturas e pouca chuva, características da região para Mn, apresentou nível acima do recomendado.
semiárida, também há uma tendência de aumento de Em média, a quantidade de Mn foi aproximadamente
NAT pelo processo de decomposição. o dobro do VMP. Esse valor é superior ao encontrado
Para água subterrânea, o pH esteve em condições por Santos et al. (2008) que obtiveram um valor
aceitáveis de potabilidade, assim como Sulfato médio de 0,055 mg.L-1 para Mn em fontes de águas
(apenas PS1) também esteve de acordo com o VMP. superficiais próximas ao aterro sanitário de Cuiabá.
O ponto PS2 de Sulfato ora atendeu, ora excedeu. Já Em outro estudo, Engelmann et al. (2017), analisando
Cloreto, ultrapassou o valor limite em todas as águas superficiais próximas a um aterro sanitário em
ocasiões. O altos valores de Cloreto, Sulfato e DBO Porto Alegre, obtiveram 0,055 mg.L-1 para Mn.
pode estar associado à presença de dejetos de animais Referente às águas subterrâneas, observa-se que
e efluentes domésticos. as maiores concentrações de metais foram
Ainda sobre as águas subterrâneas (Figura 4), a observadas em PS2, com exceção de Cr em que
região do Aterro possui baixo potencial hídrico, com houve igualdade para ambos os pontos. Para Fe, PS2
pouca oferta de água subterrânea devido à formação é levemente superior ao VMP; para Mn, PS2 é seis
rochosa do local, formadas por rochas de idade vezes superior ao VMP; para Pb, PS2 é sete vezes
mesoproterozóica (ECOTERRA AMBIENTAL, superior ao VMP.
2010). Durante a implantação do empreendimento, Comparando com o que Engelmann et al. (2017)
foi realizado uma sondagem rotativa e sondagem à observaram em poços próximos a um aterro sanitário
percussão (SPT), no qual executou-se 02 furos de em Porto Alegre, o valor médio de Fe obtido neste
sondagem rotativa e 21 furos de SPT, em que o nível trabalho foi inferior, mas Mn e Pb foram maiores. Os
d’água não foi identificado na profundidade resultados médios foram 0,47 mg.L-1 de Fe, 0,26 mg.L-
1
prospectada de 10 metros. de Mn e 0,015 mg.L-1 de Pb.
A ingestão desses metais, em altas concentrações,
pode gerar problemas para a saúde humana. O Pb é
um composto cumulativo capaz de provocar
saturnismo. Além do mais, pode causar efeitos renais,
cardiovasculares, neurológicos, nos músculos e
ossos, entre outros (CETESB, 2018). O Mn pode
causar dificuldades de coordenação motora e
problemas de memória (Nascimento & Gonzalez,
2018). O Fe aumenta os riscos de doenças cardíacas
e desempenha um papel vital na causa da diabetes
(Hasan et al., 2019).
Observando a Figura 1, é possível averiguar a
proximidade entre o poço PS2 e as lagoas de
lixiviado, diferente de PS1 que é mais distante. Desta
forma, é possível que haja a influência do Aterro
Figura 4. Drenagem no aterro sanitário Sanitário sobre essas águas. Contudo, os altos valores
de Fe e Mn, por exemplo, podem estar presentes
Na Figura 4 é possível observar o mapa de como um constituinte natural devido ao
drenagem do empreendimento baseado nas setas que intemperismo de minerais e rochas (Abd El-Salam &
orientam o escoamento das águas. Também foram Abu-Zuid, 2015).
gerados os caminhos com menos custo, em ambiente
SIG (Sistema de Informações Geográficas), a partir
das Células, em direção aos pontos de água 5 CONCLUSÃO
superficial e subterrânea, tendo como prerrogativa a
direção do fluxo. Observa-se que os pontos PM e Boa parte dos resultados dos parâmetros físico-
PS1, que a priori, por serem de Montante, não químicos e dos metais pesados se apresentaram

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481
dentro do VPM das resoluções, com exceção de Aharoni, I., Siebner, H., Yogev, U., & Dahan, O. (2020).
alguns. Para os que ultrapassam os valores limites, Holistic approach for evaluation of landfill leachate
destaca-se a forte influência natural, principalmente pollution potential–From the waste to the aquifer.
sobre o Riacho Logradouro. Além do mais, o Science of The Total Environment, v. 741, p. 140367.
aumento de concentração de alguns parâmetros ao Alam, R., Ahmed, Z., Seefat, S. M., & Nahin, K. T. K.
longo do percurso do riacho pode possuir influência (2021). Assessment of surface water quality around a
do tipo de solo, da interação solo-rocha-água, baixo landfill using multivariate statistical method, Sylhet,
índice pluviométrico, altas temperaturas, presença de Bangladesh. Environmental Nanotechnology,
excretas de animais e descarga de efluentes Monitoring & Management, v. 15, p. 100422.
domésticos. Ainda há o fato de que alguns APHA, AWWA, WEF (2017). Standard methods for the
parâmetros se relacionam entre si. Neste caso, o examination of water and wastewater. American
aumento de um, pode desencadeiar no crescimento Public Health Association. American Water Works
do outro ou o contrário. Contudo, é um tema para Association. Water Environment Federation. 23th ed.
pesquisas futuras. Washington: APHA, AWWA, WEF. 1496 p.
O fato dos pontos PM e PS1 estarem na área de BRASIL (2005). Resolução n° 357, de 17 de março de
influência do empreendimento, não indica 2005. Conselho Nacional de Meio Ambiente –
efetivamente a contaminação dessas águas. É CONAMA. Dispõe sobre a classificação dos corpos de
necessária a realocação, pois, por definição, pontos água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento,
bem como estabelece as condições e padrões de
de análise a Montante não podem receber influência.
lançamento de efluentes e dá outras providencias.
Este trabalho teve como foco avaliar a influência
BRASIL (2008). Resolução n° 396, de 03 de abril de 2008.
de um Aterro Sanitário nas águas superficiais e
Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA.
subterrâneas mais próximas. Com essa contribuição,
Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais
os gestores podem identificar problemas de
para o enquadramento das águas subterrâneas e dá
contaminação das águas, sabendo que o
outras providências.
monitoramento é uma ferramenta indispensável para
BRASIL. Ministério da Saúde. (2011). Portaria nº 2.914,
boa operação de um Aterro Sanitário e a garantia de de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os
uma correta gestão. procedimentos de controle e de vigilância da qualidade
da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade.
AGRADECIMENTOS Centeno, L. N., Cecconello, S. T., Moraes, P. B., Guedes,
H. A. S., Centeno, A. N., & Cecconello, S. T. (2016).
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


483
TEMA 6: SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO EM
GEOTECNIA AMBIENTAL

484
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Agregado Reciclado para Preenchimento de Blocos Segmentais em


Sistemas de Contenção por Muros de Solo Reforçado
Pablo Augusto dos Santos Rocha
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, pablo-
rocha@hotmail.com

Denise de Carvalho Urashima


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
urashima@cefetmg.br

Mag Geisielly Alves Guimarães


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, mag@cefetmg.br

Marcus Vinicius Mendes Pereira


Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil,
mvmendes@live.com

RESUMO: A necessidade da humanidade de adaptar a superfície terrestre para atender às suas necessidades,
gradualmente fez daquela um agente capaz de interferir na dinâmica do Planeta. Dentre os impactos gerados pela atuação
antrópica, está o maior consumo de recursos naturais, com implicação relevante na geração de gases de efeito estufa
(GEE) que tem fomentado mudanças climáticas extremas. A Indústria da Construção Civil (ICC) promove outros
impactos, como o aumento do volume de resíduos. O emprego de muros de contenções de solo reforçado tem crescido
nos últimos anos, por serem uma das alternativas para projetos mais complexos, com custos competitivos em relação às
estruturas de contenção convencionais, com a vantagem de viabilizar uma solução com menor quantidade de emissões de
GEE. O artigo apresenta a alternativa de substituição dos agregados naturais (AN) como material de preenchimento de
paramento de blocos segmentais por agregados reciclados de concreto (ARCO). Foram empregados agregados graúdos
de ARCO e AN na zona granulométrica 9,5/25 mm, que passaram por ensaios de caracterização física e posteriormente
ensaios de resistência de conexão sob tensões normais de 40 kN/m², 50 kN/m², 60 kN/m², 80 kN/m² e 100 kN/m², a fim
de avaliar o desempenho dos elementos de interface. Os resultados de resistência de conexão foram mais representativos
pelo emprego do ARCO em comparação com os testes realizados com os AN, exceto para a tensão normal de 100 kN/m².
Este trabalho amplia as possibilidades de materiais reciclados em sistemas construtivos não convencionais e,
assim,contribui com os pilares de desenvolvimento sustentável.

PALAVRAS-CHAVE: Agregados Reciclados, Resistência de Conexão, Muros de Contenção, Desenvolvimento


Sustentável.

ABSTRACT: Humanity's need to adapt the Earth's surface to meet its needs gradually made it an agent capable of
interfering in the dynamics of the Planet. Among the impacts generated by anthropic actions is the greater consumption
of natural resources, with relevant implication in the generation of greenhouse gases (GHG) that has been fomenting
extreme climate changes. The Civil Construction Industry (CCI) promotes other impacts, such as an increase in the
volume of waste. The use of reinforced soil retaining walls has grown in recent years. They are one of the alternatives for
more complex projects, with competitive costs compared to conventional retaining structures, with the advantage of
enabling a solution with less GHG emissions. The paper presents the alternative of replacing natural aggregates (NA) as
filling material for the face of segmental blocks with recycled concrete aggregates (RCA). Coarse aggregates of RCA and
NA were used in the 9.5/25 mm granulometric zone, which underwent physical characterization tests and later connection
strength tests under normal stresses of 40 kN/m², 50 kN/m², 60 kN/m², 80 kN/m², and 100 kN/m², to evaluate the
performance of the interface elements. The connection strength results were more representative using the RCA than the
tests carried out with the NA, except for the normal stress of 100 kN/m². This research expands the possibilities of recycled
materials in non-conventional building systems and, thus, contributes to the pillars of sustainable development.

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485
KEY WORDS: Recycled Aggregates, Connection Strength, Retaining Walls, Sustainable Development.

1 INTRODUÇÃO civil (RCC). No Brasil, entre os anos de 2010 e 2019,


o setor da construção civil apresentou um aumento da
A intensificação da ação humana no Planeta Terra, produção de resíduos de 12 milhões de toneladas,
devido ao aumento da população, concomitante ao com produção per capita de 213,5 kg/hab/ano (Abre-
fenômeno da urbanização e de formas de consumo, lpe, 2021).
uso e hábitos culturais, tem tido como consequência A ABNT (2021a) define os agregados reciclados
o maior consumo de recursos naturais. Soma-se a isso como materiais granulares oriundos de beneficia-
o aumento significativo do volume de resíduos, de mento de resíduos de construção gerados por ativida-
forma a gerar uma crise múltipla, responsável por des triviais da ICC e os dividem em três subcatego-
relevantes impactos socioambientais, tais rias: agregado reciclado cimentício (ARCI), agre-
como: assoreamento e/ou perda de corpos hídricos, gado reciclado de concreto (ARCO) e agregado misto
destruição de ecossistemas, poluição da atmosfera e (ARM).
do solo, aumento da geração de gases de efeito estufa A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
(GEE), especificamente o CO2, que corrobora para o é composta por um conjunto de atributos jurídicos e
aquecimento global e suas implicações, como administrativos que busca conferir à unidade gestora
acontecimentos de eventos climáticos extremos e de a responsabilidade da gestão integrada dos resíduos
significantes repercussões globais (Blank, 2015; sólidos de modo ambientalmente correto. O Art.7º
Langer & Nagalli, 2017; Mondini et al., 2018). (BRASIL, 2010) apresenta os objetivos, a reciclagem
O agravamento das mudanças climáticas, e o incentivo à indústria de reciclagem, com intenção
percebidas por meio de eventos extremos na de fomentar o uso de matérias-primas e insumos de-
dinâmica da atmosfera, compõe uma parte das rivados de materiais recicláveis e reciclados, atitudes
questões que colocam a humanidade frente à relevantes para mitigar problemas relacionados à es-
problemática ambiental contemporânea, ou seja, cassez de recursos naturais e à geração de resíduos.
impasses sistêmicos e complexos no sentido das O não cumprimento das legislações vigentes im-
interações entre os sistemas naturais e antrópicos, plica práticas contrárias à redução dos impactos ge-
com consequências cumulativas que vão para além rados pela extração de agregados naturais concomi-
das fronteiras nacionais (COP27, 2022). tante ao descarte inapropriado dos RCC, fatores que
Ainda referente ao aumento populacional e da afrontam o desenvolvimento sustentável e a gestão
urbanização, tem-se observado nas últimas décadas o eficiente da ICC (Liu et al., 2022).
crescimento exponencial da Indústria da Construção Diante da breve contextualização, a ICC tem
Civil (ICC), principalmente nos países em buscado meios de inserir os RCC a partir de práticas
desenvolvimento, sobretudo em razão da grande como a reciclagem ou a reutilização em suas distintas
demanda apresentada pelo mercado imobiliário e de atividades, tal como o uso de resíduos em argamassas
infraestrutura. Neste contexto, pode-se inferir que a e concretos, ou até mesmo como material de base
construção civil é um dos segmentos industriais que para obras de infraestrutura de pavimentação e em
atua como indutor de desenvolvimento econômico e algumas aplicações de obras de engenharia
social em distintos países (Aslam et al., 2020; Vieira geotécnica. O uso de agregados reciclados de RCC
& Nogueira, 2018). Entretanto, constitui uma tem sido investigado em diversos estudos (Santos &
atividade geradora de significativos impactos Palmeira, 2011), inclusive como material de
ambientais, visto que a ICC é responsável pelo preenchimento em elementos de paramento em obras
consumo de 20% a 50% dos recursos naturais no geotécnicas (Wen et al., 2016).
planeta (Paz & Lafayette, 2016). As estruturas de contenção de solo reforçado com
Reporta-se que a extração de recursos naturais geossintéticos compõem um conjunto bastante
resulta na geração de GEE, com os processos cíclicos diversificado de obras de infraestrutura, de forma que
de extração da matéria prima, beneficiamento, e seu emprego é corrente em encostas de rodovia e
ainda se estende ao transporte com consumos cabeceiras de viaduto, entre outras obras. Dessas
energéticos e inúmeros outros processos, até a estruturas, os muros de solo reforçado com
finalização de uma obra. Desta forma, o setor da paramento de blocos segmentais têm sido
construção civil contribui com cerca de um terço das empregados como uma das soluções de problemas
emissões de GEE, ou seja, constitui um setor que de engenharia geotécnica que demandam aspectos
apresenta uma eminente necessidade de empregar estruturais, estéticos, adequação geométrica,
tecnologias no sentido de mitigar esta situação facilidade construtiva, prazo e economia, além de
(Maciel, 2018; COP 27, 2022). serem soluções mais sustentáveis quando
Concomitante ao alto consumo de recursos natu- comparadas a estruturas convencionais executadas
rais, há também a geração de resíduos da construção com concreto. Neste contexto, o emprego destes

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


486
sistemas aumentou nos últimos anos (Bathurst & solo de preenchimento e elementos de reforço
Simac, 1994; Goulart et al., 2017). geossintéticos ou tiras metálicas utilizados para
A versatilidade dessas estruturas de contenção melhorar o desempenho mecânico e assegurar a
permite os mais diversos arranjos de projeto, bem segurança das estruturas de contenção (Ehrlich &
como a aplicação em obras de dimensões Becker, 2009).
diversificadas, seja em relação ao comprimento ou à As estruturas de contenção de solo reforçado
altura. Além disso, o emprego de geossintéticos incluem os muros e taludes de solo reforçado.
como solução de reforço é apresentada por Koerner Conceitualmente, os muros reforçados se
& Soong (2001) como a menos onerosa em vista das assemelham em alguns aspectos aos taludes
demais e por Damians et al. (2017) como a solução reforçados. Contudo, apresentam aspectos
menos impactante nas categorias de potencial intrínsecos, tais como a geometria da estrutura, o
aquecimento global e demanda cumulativa de paramento com inclinação vertical ou muito próximo
energia. à vertical, os parâmetros de projeto, as superfícies de
Diante do exposto, pesquisas buscam ruptura dentro da massa de solo reforçado podem
metodologias ou processos que promovam o apresentar geometria distinta em relação às
emprego de soluções de engenharia, de forma que superfícies de ruptura em taludes íngremes em
estas atendam requisitos técnicos de projetos e que virtude da inclinação da face e aspectos construtivos.
incorporem técnicas construtivas sustentáveis, tanto (Palmeira, 2018).
na tipologia, como no emprego de materiais não De acordo com a ABNT (2021b), os muros de
convencionais, de forma a mitigar impactos causados solo reforçado compreendem as estruturas, nas quais
pela ICC (Silva et al., 2017). Assim o artigo apresenta são aplicados elementos de reforço resistentes a
a hipótese de expandir as possibilidades de aplicação esforços de tração, o que constitui uma estrutura
dos RCC, ou seja, o uso destes como material de semelhante a de um material compósito, com melhor
preenchimento blocos segmentais empregados como desempenho mecânico frente aos mecanismos de
paramentos de muros de solo reforçado. desestabilização do maciço. Quanto aos elementos de
O artigo apresenta a avaliação do potencial de reforço, a referida norma cita dois tipos, os metálicos
aplicação de agregados reciclados de concreto e os geossintéticos. Para os metálicos, são
(ARCO) por meio da análise da resistência de cone- exemplificadas as tiras, grelhas soldadas, barras e
xão da interface do sistema (bloco, agregado e geos- malhas, enquanto que, para os geossintéticos, são
sintético) frente aos agregados naturais (AN), que exemplificados, os geotêxteis, geogrelhas, geotiras e
usualmente são empregados no preenchimento de geobarras. Ressalta-se que esses elementos de
blocos segmentais utilizados no paramento de muros reforço devem atender aos requisitos de projeto
de solo reforçado. fundamentais à garantia da segurança e desempenho
dessas estruturas durante sua vida de serviço de
projeto, tais como comportamento tensão versus
2 EMBASAMENTO TEÓRICO deformação, resistência aos esforços de tração e
durabilidade.
Nas últimas décadas, a ICC tem adotado práticas que Entre os métodos construtivos de sistemas de
contribuem para o desenvolvimento sustentável, tal contenção que utilizam os geossintéticos como
como o emprego de produtos geossintéticos como inclusões para melhoramento das propriedades dos
solução de problemas de engenharia em uma ampla solos, Ehrlich & Azambuja (2003) destacam dois
gama de setores. A engenharia com geossintéticos tipos, o sistema de autoenvelopamento e o sistema
pode contribuir para a mitigação das emissões de CO2 com paramento constituído por blocos segmentais.
da construção e infraestrutura operacional, bem como No sistema de blocos segmentais, objeto de estudo
na adaptação de cidades resilientes contra desastres neste artigo, os elementos de reforço são ancorados
climáticos extremos, inundações, deslizamentos de pela sobreposição de blocos de encaixe a seco, que
terra, seca, dentre outras aplicações. Este conjunto garantem a verticalidade da estrutura, servem de
assegura o desenvolvimento sustentável e o acesso a forma durante a etapa de compactação e como
serviços fundamentais para uma vida com dignidade ancoragem dos geossintéticos (Gonçalves, 2016).
(Dixon et al., 2017; Touze, 2021). A aderência entre o solo e o reforço é um
Estruturas de contenção tradicionais fazem uso de parâmetro fundamental para garantir que o
concreto armado ou ciclópico, com ou sem inserções geossintético desempenhe a função à qual foi
de tirantes. No entanto, o custo dessas estruturas submetido (Han et al., 2018), de tal modo que, a
convencionais se torna mais oneroso à medida que formação de uma superfície de ruptura na região
aspectos de projeto, tais como a altura e capacidade posterior ao paramento é indício que a resistência de
de suporte da fundação, demandam maior cisalhamento do solo foi excedida.
complexidade. Em face dessas dificuldades, foram Assim, é esperado que o elemento de reforço
desenvolvidos muros de gravidade construídos com

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


487
inserido entre as camadas de solo compactado por meio de agulhagem, com matriz polimérica de
absorva as cargas provenientes da ruptura do maciço, Polietileno Tereftalato (PET), com massa por uni-
cargas essas compensadas pela resistência à tração do dade de área de 600 g/m², resistência à tração faixa
reforço (Abu-Farsakh et al., 2007). larga de 31 kN/m e puncionamento CBR de 5,2 kN/m
Contudo, os mecanismos de interação entre o solo (dados fornecidos pelo fabricante).
e reforço dependerão, principalmente, do tipo de
geossintético utilizado para tal finalidade. Em
situações em que ocorre o emprego de geotêxteis e
geobarras, as cargas são transferidas por meio de
tensões oriundas do atrito, em decorrência do formato
do geossintético. Nas geogrelhas, em razão do seu
formato, os mecanismos de interação entre solo e
geossintético ocorrem pelo embricamento do solo
confinado no interior dos espaços vazios, pelo atrito
lateral dos membros longitudinais e pela resistência Figura 1. Ilustração do bloco segmental empregado.
passiva nas barras transversais do reforço (Ehrlich &
Becker, 2009). Os agregados naturais (AN) utilizados nos ensaios
Além da interação entre solo e reforço, alguns de resistência de conexão são oriundos do
autores relatam a relação entre blocos segmentais e o beneficiamento de rochas de gnaisse na zona
reforço, por meio de ensaios que avaliam a interface granulométrica de 9,5/25 mm (agregados graúdos)
comercializados como brita do tipo 1, obtidos em
de conexão (Urashima & Martins, 2004; Urashima et
al., 2006; Bernardes et al, 2008). Bathurst & Simac comércio varejista local. Os agregados reciclados de
(1994) e Vieira (2008) citam ainda que a interação concreto (ARCO) foram obtidos na mesma dimensão
bloco e reforço deve ser analisada para o da brita tipo 1 em usina de reciclagem de resíduos de
construção, situada na cidade de Varginha, na região
dimensionamento das tensões do reforço, de forma a
evitar patologias na estrutura. sul do estado de Minas Gerais. A Figura 2 ilustra
amostras dos agregados empregados na campanha
experimental.
3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Materiais

Para a realização dos ensaios de resistência de cone-


xão, foram empregados blocos segmentais de con-
creto para a montagem de duas linhas de blocos, ma-
teriais geossintéticos, na função de reforço (geogre-
lha) e de proteção (geotêxtil não tecido), além de
agregados naturais e reciclados, para o preenchi- (a) (b)
mento dos vazios dos blocos. Figura 2. Amostra dos agregados empregados no
Os blocos segmentais de concreto apresentam di- preenchimento dos blocos segmentais: a) natural e b)
mensões nominais de 40 cm, 30 cm e 20 cm, largura, reciclado de concreto.
comprimento e altura, respectivamente, autoportan-
tes, com encaixes do tipo macho-fêmea, com dois va- 3.2 Procedimentos
zios e massa de 27 kg (Figura 1).
A geogrelha (GG) empregada para extração das Os agregados AN e ARCO foram submetidos aos
amostras é do tipo flexível unidirecional de matriz procedimentos de amostragem preconizados na
polimérica de Poliacetato de Vinila (PVA), com ABNT (2021c). As amostras reduzidas de ambos os
resistência nominal à tração de 110 kN/m na direção agregados foram submetidas a ensaios de
principal (longitudinal) e de 30 kN/m na direção caracterização física, tais como: composição
transversal, com abertura nominal da malha de 20 granulométrica (ABNT, 2022a), massa específica e
mm e 30 mm, na direção transversal e longitudinal, absorção de água (ABNT, 2021d), massa unitária
respectivamente (dados fornecidos pelo fabricante). (ABNT, 2021e), teor de material fino (ABNT,
Os corpos de prova de geogrelha foram preparados 2021f), índice de forma (ABNT, 2019) e perda por
com dimensões de 1,30 m x 0,75 m, comprimento e resistência à abrasão Los Angeles (ABNT, 2022b).
largura, respectivamente, na função reforço. O equipamento para ensaio de conexão do sistema
O geotêxtil não tecido (GTX-NW), é formado de bloco-geogrelha (Figura 3) foi calibrado para as con-
filamentos contínuos interligados mecanicamente, dições de contorno preconizadas na ASTM (2018)
por meio da realização de ensaio teste.

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488
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 4 apresenta as curvas granulométricas de-


terminadas por meio do ensaio de granulometria para
os agregados naturais e reciclados de concreto se-
gundo ABNT (2022b). Ambos os materiais granula-
res (AN e ARCO) atenderam aos limites superior
(LS) e inferior (LI) de agregados graúdos situados na
zona granulométrica de 9,5/25 mm.

100

Porcentagem retida acumulada (%)


90
Figura 3. Equipamento de ensaio de resistência de 80
conexão. 70
60
50
Para os ensaios de resistência de conexão, foram 40 ARCO
avaliadas, de forma preliminar, a magnitude das ten- 30 AN
sões normais a serem empregadas e o número mí- 20 LS
10 LI
nimo de ensaios para cada nível de tensão. Para am- 0
bos agregados empregados na pesquisa (AN e 1,0 10,0
Diâmetro (mm)
100,0

ARCO) foram estabelecidos requisitos para coleta de


amostra representativa. Após estas adequações inici- Figura 4. Curvas granulométricas do AN e ARCO.
ais, deu-se início aos ensaios de resistência de cone-
xão da campanha experimental. Os valores médios obtidos para as propriedades
Quanto à configuração da montagem do ensaio, físicas dos agregados (AN e ARCO são apresentados
foram estabelecidas duas linhas de blocos segmen- na Tabela 1. Destaca-se que a perda por abrasão Los
tais, a primeira, no sentido de baixo para cima, com- Angeles é próxima entre os agregados analisados, pa-
posta por um bloco inteiro ao centro e duas meias par- râmetro relevante em aplicações que envolvem des-
tes do bloco nas laterais, e a segunda montada com gastes superficiais e material granular que desempe-
dois blocos inteiros que sobrepunham a primeira li- nha a função drenante. Quanto ao teor de material
nha e a amostra de geogrelha em camada única. As fino observado no ARCO, este deve ser avaliado com
tensões normais foram aplicadas por meio da bolsa cautela, visto que pode ocasionar efeitos indesejáveis
preenchida com fluido (água e ar) e pressurizada com ao sistema drenante, como colmatação e variação da
emprego de compressor. permeabilidade (Araújo et al., 2019).
As tensões sobre as linhas de blocos segmentais
foram nos valores de 40 kN/m², 50 kN/m², 60 kN/m², Tabela 1. Valores médios de propriedades físicas dos
80 kN/m² e 100 kN/m², as quais simulam diferentes agregados naturais e reciclados de concreto.
alturas do muro de contenção avaliado neste artigo. Parâmetros Norma AN ARCO
Ressalta-se que as tensões foram definidas em função Massa ABNT 2890 kg/m³ 2370kg/m3
da capacidade de carga do modelo de blocos segmen- específica (2021d)
tais empregados na pesquisa e de recomendações da Absorção de ABNT 0,6% 7,2%
norma ASTM (2018). Foram realizados três testes água (2021d)
para cada tensão normal. Massa unitária ABNT 1518 kg/m³ 1163kg/m3
(2021e)
O tratamento dos dados consistiu na análise dos
Teor de ABNT 0,3% 4,0%
valores de resistência de conexão obtidos e dos parâ- material fino (2021f)
metros físicos determinados por meio dos ensaios de Índice de ABNT 2,1 2,5
caracterização normatizados. Os resultados de resis- forma (2019)
tência de conexão foram tratados por média amostral Abrasão Los ABNT 43,3% 41,3%
e respectivos desvio padrão, além da obtenção de um Angeles (2022b)
modelo matemático entre tensão normal (kN/m²) e as
resistências de conexão (kN/m). Tais análises possi- A Figura 5 apresenta os valores de resistência de
bilitam inferir sobre o desempenho de ambos os agre- conexão obtidos para ambos os agregados e as
gados, quando aplicados como material de preenchi- respectivas barras de desvio padrão. Foram obtidos
mento de blocos segmentais em muros de solo refor- resultados de resistência de conexão médios
çado com esse tipo de paramento, bem como avaliar superiores para o ARCO em comparação aos valores
a interação entre os elementos de interface, bloco, obtidos para o AN. A maior diferença obtida foi na
agregados e geogrelhas. tensão normal de 60 kN/m². Para a tensão de 80
kN/m², observa-se a menor diferença, bem como uma

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489
tendência de diminuição da resistência de conexão para cada série de ensaios em razão da tensão normal
observada pelo uso do ARCO como material de aplicada sob o conjunto.
preenchimento.
60

Resistência de conexão (kN/m)


60 50,5 y = 0,5005x - 0,9685
AN ARCO 50 R² = 0,9856
Resistência de conexão (kN/m)

50
44,0 40
40 37,1 37,7 39,8
31,5 30
30 27,4 Mínimo
24,8 24,2 20
20,4 Médio
20
10
Máximo
10
0
30 40 50 60 70 80 90 100 110
0
40 50 60 80 100 Tensão normal (kN/m²)
Tensão normal (kN/m²)
(a) Preenchimento com AN.
60
Figura 5. Resultados médios de resistência de conexão

Resistência de conexão (kN/m)


y = 0,2946x + 15,979
50
obtidos nos ensaios experimentais. R² = 0,8959
40

Para a tensão normal de 100 kN/m², o AN obteve 30


resistência de conexão média de 50,5 kN/m e maior
20 Mínimo
desvio padrão amostral (4,7 kN/m), o qual ainda
Médio
caracteriza a resistência de conexão para o AN 10
Máximo
superior ao observado para o ARCO, com valor 0
médio de 44,0 kN/m e desvio padrão amostral de 1,0 30 40 50 60 70 80 90 100 110

kN/m. Tensão normal (kN/m²)

Quanto à falha local observada durante os ensaios (b) Preenchimento com ARCO.
de resistência de conexão, foram observados
rompimentos do tipo interno-externo das geogrelhas. Figura 6. Relação linear de resistência de conexão em
função da tensão normal aplicada.
Contudo, verificou-se um escorregamento sutil da
geogrelha para os ensaios de resistência de conexão
que empregaram o ARCO como material de
preenchimento, principalmente para os ensaios com 5 CONCLUSÃO
a tensão normal inferior a 80 kN/m².
Como recomendado em norma (ASTM, 2018), é Os muros de contenção que empregam geossintéticos
necessário ponderar a relação linear entre a tensão como reforço têm ganhado mercado nos últimos
normal aplicada (kN/m²) e os resultados de anos, inclusive no Brasil. O sucesso disso vai ao en-
resistência de conexão (kN/m). Verifica-se na Figura contro com a obtenção de estruturas cada vez mais
6 que a campanha experimental obteve resultados verticalizadas e com vantagens técnicas, econômicas
com aderência ao modelo linear. Também está e ambientais, desde que obedecidos os critérios de
indicada a dispersão (resultados mínimo e máximo) projetos, qualidade de execução e realização de ma-
dos valores de resistência de conexão em relação às nutenções periódicas.
tensões normais aplicadas. Os ensaios de caracterização física realizados para
Nos ensaios de resistência de conexão que ambos os agregados graúdos, normalmente são
empregaram AN, foi observado que o coeficiente de utilizados para fins de dosagens de concretos
determinação (R²) obtido é mais representativo em estruturais ou não estruturais. A princípio, para a
relação aos ensaios de resistência de conexão que pesquisa, a similaridade e a consistência entre os
empregaram o ARCO, com valores em torno de 99% índices físicos obtidos denotam o potencial emprego
e 90%, respectivamente. Este último é observado do ARCO como material de preenchimento de blocos
(Figura 6b) devido a diminuição da resistência de segmentais em muros de solo reforçado. As
conexão para tensão normal de 100 kN/m, com valor características físicas relacionadas às propriedades e
médio de 44,0 kN/m (Figura 5). à geometria do ARCO, em relação aos AN, são
Os valores de resistência de conexão obtidos nos parâmetros que promovem a sua aplicação em
ensaios atenderam aos limites preconizados na funções que não estabelecem rigorosos controles de
ASTM (2018) quanto aos requisitos de qualidade. Isto pode ser questionável quando se tratar
repetibilidade, que recomenda a repetição dos de emprego de agregados reciclados em aplicações
ensaios quando os valores de resistência de conexão mais nobres, como na execução de concretos.
obtidos extrapolarem em ± 10% do valor médio dos A princípio, a presença de argamassa aderida aos
valores de resistência de conexão de todos os ensaios agregados reciclados é um fator que pode alterar as

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490
características físicas das partículas e, ABNT (2021e), NBR 16972: Agregados: Determinação
consequentemente, no desempenho mecânico da massa unitária e do índice de vazios. Associação
quando empregado como material de preenchimento Brasileira de Normas técnicas, Rio de Janeiro.
de blocos segmentais. Contudo, é recomendado que ABNT (2021f), NBR 16973: Agregados: Determinação
do material fino que passa pela peneira de 75 μm por
sejam avaliados outros parâmetros, tais como
lavagem. Associação Brasileira de Normas técnicas,
resistência ao esmagamento, teor de argamassa Rio de Janeiro.
aderida, entre outros. Tais ensaios visam a ponderar ABNT (2022a), NBR 17054: Agregados: Determinação
a relação entre os agregados reciclados e as da composição granulométrica: Método de ensaio.
resistências de conexão obtidas nesta campanha Associação Brasileira de Normas técnicas, Rio de
experimental, bem como ensaios que avaliam a Janeiro.
influência das características físicas no desempenho ABNT (2022b), NBR 16974: Agregado graúdo: Ensaio de
quanto às propriedades de condutividade hidráulica, abrasão Los Angeles. Associação Brasileira de Normas
como a permeabilidade. técnicas, Rio de Janeiro.
Os resultados podem contribuir para instigar ASTM (2018), D 6638-18: Standard Test Method for
Determining Connection Strength Between
políticas públicas no que tange ao incentivo às
Geosynthetic Reinforcement and Segmental Concret
atividades de reciclagem e outras práticas de manejo Units (Modular Concrete Blocks). American Society
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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Aplicação de Robótica em Aterro Sanitário: Revisão Sistemática


Wilson Ramos Aragão Júnior
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, wilsonramosaragao@hotmail.com

Laura Esmeraldo Arraes de Lavor


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, lauraarraes@hotmail.com

Wesley Chaves Martins Ribeiro


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, wesleywpv@hotmail.com

Erika Jayrane Alves da Silva


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, jayraneerika@gmail.com

RESUMO: A aplicação da robótica torna possível a maximização da eficiência dos aterros, auxiliando na manutenção e
no funcionamento, como por exemplo: robôs que realizam a separação dos resíduos, que fazem a detecção de gases, entre
outros. Assim, este artigo realizou uma revisão sistemática com análise bibliométrica, buscando compreender a relação e
a aplicação da robótica dentro dos aterros sanitários. A realização do trabalho se deu em 4 etapas: Busca de artigos em
base de dados, Meta-análise, Análises Bibliométrica e Sistemática. A base de dados utilizada foi a da Scopus,
selecionando os artigos usando o método PRISMA. Na meta-análise foram extraídos os dados bibliométricos e específicos
das publicações. A etapa de análise bibliométrica foi realizada quantitativamente e qualitativamente usando os softwares
Bibliometrix (RStudio) e Microsoft Excel. Na análise sistemática, as informações contidas nos estudos foram sintetizadas.
Os nove artigos analisados foram publicados entre 1996 e 2022. A maioria dos autores e das instituições é originária de
países da Europa e da Ásia, e esse dado aponta para necessidade do desenvolvimento de estudos globais sobre o tema.
Dentre as principais motivações foi possível concluir que existe uma grande preocupação com a saúde dos trabalhadores
que atuam nos locais onde há descarte dos resíduos, assim como ficou evidente o desejo de otimizar os processos dentro
dos aterros, tendo em vista que a robótica possibilita uma maior segurança para tratar com os resíduos.

PALAVRAS-CHAVE: Robótica, Aterros sanitários, monitoramento remoto.

ABSTRACT: The application of robotics makes it possible to maximize the efficiency of landfills, helping in the
maintenance and operation, such as: robots that perform the separation of waste, that make the detection of gases, among
others. Thus, this paper carried out a systematic review with bibliometric analysis, seeking to understand the relationship
and application of robotics in landfills. The work was carried out in 4 stages: search for articles in databases, meta-
analysis, bibliometric and systematic analysis. The database used was Scopus, selecting the articles using the PRISMA
method. In the meta-analysis the bibliometric and publication-specific data were extracted. The bibliometric analysis step
was carried out quantitatively and qualitatively using the Bibliometrix (RStudio) and Microsoft Excel software. In the
systematic analysis, the information contained in the studies was synthesized. The nine articles analyzed were published
between 1996 and 2022. Most of the authors and institutions originated from European and Asian countries, and this fact
points to the need to develop global studies on the subject. Among the main motivations it was possible to conclude that
there is a great concern with the health of the workers who work in the places where there is waste disposal, as well as it
was evident the desire to optimize the processes within the landfills, considering that robotics enables greater safety when
dealing with waste.

KEY WORDS: Robotics, Landfills, remote monitoring,

1 INTRODUÇÃO esse processo aconteceu a partir da década de 70 com


o avanço da industrialização e a modernização da
O crescimento dos centros urbanos foi iniciada com produção agrícola. A rapidez com que esse processo
a primeira Revolução Industrial na Europa. No Brasil ocorreu gerou graves consequências para o meio

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493
ambiente, pois havia carência de saneamento básico metodologia adotada na presente revisão. A pesquisa
e descarte incorreto dos resíduos sólidos (VIEIRA, metódica foi distribuída por quatro etapas: busca na
2009). O desenvolvimento da sociedade é pautado na base de dados, meta-análise, análise bibliométrica e
inovação e na criação de novas tecnologias. Os centro análise sistemática (ARAGÃO JÚNIOR &
urbanos tornam possíveis as interações humanas, OLIVEIRA JÚNIOR, 2021), as quais estão descritas
essa interação aumenta a quantidade de pessoas a seguir.
inteligentes se comunicando, possibilitando a criação
de inovação para a resolução de problemas dentro da
sociedade.
Junto com a modernização, veio a necessidade de
políticas e práticas de causas sustentáveis para um
destino correto dos Resíduos Sólidos Urbanos
(RSU), mantendo um equilíbrio entre a urbanização,
o desenvolvimento socioeconômico e a mitigação de
problemas gerados ao meio ambiente (ARAGÃO
JÚNIOR & OLIVEIRA JÚNIOR, 2021).
Esses esforços são significativos e modificam aos
poucos a realidade do descarte irregular dos resíduos.
Um resultado advindo dessas estratégias consolidou-
se em 2010, quando mais de 70% dos resíduos
sólidos gerados tiveram como destino os aterros
sanitários (IBGE, 2010).
Por conta do alto volume gerado pelo RSU e do
risco que alguns resíduos causam a saúde humana,
são desenvolvidos estudos e produções científicas
com finalidade de aumentar a eficiência do depósito.
A utilização da robótica em aterros como forma de
otimização, tem sido estudada e testada ao longo do Figura 1. Fluxograma referente à metodologia aplicada na
tempo, em algumas produções científicas espalhadas pesquisa. Fonte: Adaptado de Aragão Júnior & Oliveira
por todo o mundo, podendo contribuir na Júnior (2021).
instrumentação, monitoramento, disposição e
compactação do aterro sanitário. Assim, torna-se 2.1 Busca na base de dados
imprescindível a análise do nível de conhecimento
atual sobre a temática de robótica sendo aplicada em Essa pesquisa foi realizada a partir da base de dados
aterros sanitários, através de revisões literárias, Scopus, por meio do portal da Coordenação da
utilizando estudos bibliométricos e revisões Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
sistemáticas, para apontar as controvérsias e o (CAPES). A intenção associada consistiu em
avanços científicos e tecnológicos dentro do tema em identificar os conhecimentos publicados acerca da
estudo (GALVÃO & PEREIRA, 2014; ARAGÃO contribuição da robótica em aterros sanitários.
JÚNIOR & OLIVEIRA JÚNIOR, 2021). Assim, a metodologia utilizada para buscar os
Diante desse contexto, o objetivo desse presente artigos, conhecida como PRISMA (Principais Itens
estudo foi realizar uma investigação bibliográfica para Relatar Revisões Sistemáticas e MetaAnálises),
relacionado a aplicação da robótica em aterros é mostrada no fluxograma da Figura 2. Moher et al.
sanitários, partindo de um modelo híbrido para as (2010) subdivide a etapa de busca por produções
análises da literatura, utilizando parâmetros científicas em quatro fases, as quais foram adotadas
bibliométricos e revisão bibliográfica para no presente estudo: Identificação, Seleção,
argumentação qualitativa e quantitativa do artigo e Elegibilidade e Inclusão.
compilação dos dados, respectivamente. É importante ressaltar que a primeira fase, procura
por artigos nesse âmbito por meio da plataforma, foi
realizada no mês de janeiro de 2023, e que foram
2 MATERIAL E MÉTODOS pesquisadas as palavras “robotics” e “landfill” (em
português, robótica e aterro, respectivamente). Com
Para o presente estudo, foi adotado o modelo híbrido essa busca, encontrou-se na fase de identificação 53
de investigação das aplicações e resultados dos documentos. Na fase posterior, a qual consistiu na
conhecimentos da robótica em aterros sanitários. A seleção dos artigos, foram aplicados filtros,
Figura 1 exibe esquema representativo acerca da restrigindo para as produções científicas publicadas

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494
em versões finais e em periódicos. A partir dessa configurar gráficos e quadros com os indicadores
seleção, foram excluídos 34 documentos. coletados.
Por conseguinte, a fase de elegibilidade constou
na leitura dos títulos e dos resumos dos artigos, para 2.4 Análise sistemática
que fossem descartados aqueles cujos temas não se
referiam às investigações de interesse. Após essa A última etapa consiste em resumir, por meio de texto
fase, oito produções foram excluídas, o que resultou e de quadro, as principais informações encontradas
em uma amostra de 12 artigos científicos na plataforma Scopus acerca da aplicação atual da
selecionados. Por fim, a leitura na íntegra possibilitou robótica em aterros sanitários. Nesse sentido, a
a análise crítica de maior acurácia dos artigos os quais síntese explora os principais objetivos e
competiam ao tema tratado. Dessa maneira, foram contribuições dessa vertente para o otimizado
aceitas na etapa de inclusão nove produções acerca funcionamento dos aterros. Além disso, é possível
do escopo pesquisado. compreender e nortear o avanço das tecnologias,
assim como identificar as melhorias e descobertas
ainda apontadas como remanescentes para a
implantação dos sistemas automatizados a partir dos
conhecimentos da área da robótica. Portanto, frisa-se
as vantagens da adoção da análise sistemática, as
quais incluem a identificação das tendências das
produções, a partir da atribuição de método científico
para catalogar as descobertas da comunidade
acadêmica e científica.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Análise bibliométrica

Os artigos científicos no âmbito mundial, abordando


Figura 2. Fluxograma da etapa “Busca na Base de o tema “Aplicação de Robótica em Aterro Sanitário”
Dados”.
apresentam, até o momento da busca na base de
dados Scopus, um total de nove artigos (Figura 3). O
2.2 Meta-análise ano de 2022 teve dois artigos publicados na temática
e os demais, apenas uma publicação. Foi observado a
Após a fase de inclusão dos artigos selecionados, existência de lacunas temporais entre algumas
estes tiveram os seus conteúdos subdivididos em publicações, sendo a maior delas entre 1998 e 2006
duas tipologias: o acervo bibliométrico e o acervo (nove anos).
específico da publicação. Dessa maneira, foi possível O artigo seminal (estudo mais antigo que compõe
realizar uma Análise Bibliométrica, a qual contempla a base de dados) dessa pesquisa, publicado por
dados como os autores responsáveis pela produção Tserng et al. (1996) aplicou um sistema de
dos artigos, os respectivos países e instituições planejamento de operações integrado por
associadas e o ano da publicação. Já os dados computador para compactação autônoma de aterros
resgatados para a Análise Sistemática consistem no sanitários.
objetivo e metodologia empregada naquela
tecnologia para aplicação em aterros. Eventualmente,
podem conter outros dados de interesse, como a
tecnologia, a contribuição da robótica no cenário em
contexto, entre outros.

2.3 Análise bibliométrica

A Análise Bibliométrica consistiu em uma avaliação


quantitativa e qualitativa dos dados presentes nos
artigos selecionados. Nesse cenário, foram
explorados para a configuração quantitativa as
ferramentas Microsoft Office Excel e Bibliometrix,
pertencente à R Studio, uma vez que são capazes de Figura 3. Evolução do número de publicações.

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495
Os 29 autores dos nove escritos estão distribuídos
em dez instituições (Tabela 1). Pode-se observar que
as instituições com maiores números de publicações
são King Saud University, Örebro University e
University of Wisconsin-Madison, situados,
respectivamente, na Arábia Saudita, Suécia e Estados
Unidos. As afiliações dos autores reiteram a elevada (a) (b)
produção do continente asiático e europeu, uma vez
que dentre as dez instituições, três são da Ásia e Figura 4. Análise das citações dos artigos: (a) Quantidade
quatro da Europa. É importante salientar o continente total de citações; (b) Média de citações por tempo de
africano, que possuem países subdesenvolvidos ou publicação.
emergentes, consequentemente, tem problemas
urbanos relacionados com a gestão de resíduos No que se refere as palavras mais identificadas no
sólidos, não apareceu na lista. Isso aponta para título, resumo, palavras-chave dos autores e palavras-
caminhos de possíveis parcerias entre os grupos chave da base de dados, tem-se as nuvens de palavras
consolidados com a temática e os grupos da África. apresentadas na
Figura 5. Percebe-se que aplicação de robótica em
Tabela 1. Instituições dos autores das publicações. aterro sanitário está relacionado com o planejamento
Número de ações como compactação de camada de cobertura
Instituições País de e o tratamento de lixiviados, o controle remoto de
Artigos emissão de gases por meio de robôs e a utilização de
Arábia
King Saud University 2 robô móvel com inspiração biológica para detecção
Saudita
Örebro University Suécia 2
pelo olfato de possíveis vazamentos de gás,
University of Wisconsin- Estados auxiliando na gestão de resíduos.
2
Madison Unidos
Bam Federal Institute for
Materials Research and Alemanha 1
Testing
Arábia
King Saud University 1
Saudita
ENEA - Italian National
Itália 1
Agency for New Technologies (a) (b)
Lviv Polytechnic National
Ucrânia 1
University
University of Florence Itália 1
University of Genova Itália 1
Wenzhou-Kean University China 1

Em relação à utilização dos nove artigos como (c) (d)


base para outros trabalhos, têm-se a quantidade total
de citações das publicações na base de dados da Figura 5. Nuvem de palavras formadas a partir: (a) dos
Scopus ( títulos; (b) dos resumos; (c) das palavras-chave dos
autores; (d) das palavras-chave da base de dados.
Figura 4a) e a média de citações por tempo de
publicação (
3.2 Análise Sistemática
Figura 4b). Os estudos de Spagni et al. (2009) e
Bennetts et al. (2012) apresentaram os maiores
Em linhas gerais, a robótica em aterros estão
números de citações, concomitantemente, 96 e 82,
atrelados a novas perspectivas marcadas pela
apontando para uma provável relevância e/ou
transição da 3ª Revolução Industrial para a 4ª
embasamento desses artigos para a comunidade
Revolução Industrial, dando origem a Indústria 4.0.
técnica-científica. Na análise de média de citações
Aplicando com o intuito de otimizar os processos
por tempo de publicação, os trabalhos de Spagni et
buscando mais econômia, de monitorar as áreas dos
al. (2009) e Bennetts et al. (2012) também
aterros e de diminuir o uso de trabalhadores em áreas
apareceram como os maiores, correspondendo a,
inóspitas. Para alcançar esse objetivo está sendo
respectivamente; 6,86 e 7,45. Comprovando, assim,
utilizado diversas tecnologias, dentre elas o
a importância desses artigos e dos seus
monitoramento remoto e a automação.
correspondentes autores para o tema abordado nesse
estudo.

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496
No que diz respeito à utilização de robôs móveis e foi monitorado e acionado com sucesso pelo
para a detecção de gás presentes em aterros sistema distribuído descrito. A aplicação originada
sanitários, Arains et al. (2015) efetuou a busca por do presente sistema de medição e controle distribuído
um melhor planejamento do posicionamento de é o primeiro passo, neste campo, para a migração do
sensores, assim como as melhores rotas para cobrir mundo eletromecânico para o mundo da realidade
um ambiente a ser inspecionado a um custo mista.
otimizado. A solução encontrada foi a utilização de Trabalhadores que atuam em zonas de aterro
algoritmos baseados na relaxação convexa iterativa, sanitário estão expostos a sólidos e gases nocivos,
isto é, na redução do número de variáveis para a assim, Tserng et al. (1996) usa a automação para
resolução de problemas complexos de descrever um sistema de planejamento de operações
sensoriamento. Porém, para além da detecção de gás, integrado por computador que facilita o projeto de
incidem ainda obstáculos como o local em que está a células de aterro e a geração de planos de caminho de
fonte do gás e o caminho a ser trilhado para seu cobertura de área para espalhamento e compactação
acesso, além de entraves relacionados à sobreposição processos pelo compactador autônomo. Esse sistema
de campos de detecção. mostra-se muito eficiente, pois além de diminuir o
Bennetts et al. (2012) concluiu, ao tentar utilizar número de trabalhadores em áreas inóspitas, gera
robôs de inspiração biológica, que uma das maiores uma economia expressiva no tempo de compactação
dificuldades para a detecção do gás está relacionada do aterro, por meio do plano de caminho de cobertura
à dispersão destes em ambientes abertos. Ademais, de área.
destaca que os algoritmos de inspiração biológica Conway; Aas (1995) também utiliza a robótica
existentes ainda possuem limitações olfativas ou em híbrida para manipular remotamente conteúdo do
relação à velocidade de atuação quando comparado aterro e conduzir pesquisas, em locais onde a
aos animais, apesar de tecnologias não biológicas presença do ser humano causaria danos à saúde,
como sensores a laser de metano e de câmeras através de uma escavadeira com braço remotamente
infravermelhas serem interessantes alternativas para modificado, operando em área exposta a radiação,
detecções próximas ao robô. garantindo uma distância segura entre o material de
Outra tecnologia empregada é a utilização de estudo e os operadores da máquina. Outro fator
procedimentos de controle e automação para relevante é o aumento da produtividade após a
controlar Reatores de Batelada Sequencial (SBRs), introdução desse mecanismo.
os quais podem tratar o chorume lixiviado de aterros Volodymyr et al. (2020) utilizou aeronaves não
sanitários. Spagni e Marsili-Libelli (2008) apontam tripulaveis para analisar o aterro sanitário de Lviv
que é possível alcançar economia efetiva, de cerca de após o deslizamento de resíduos, obtendo como
35%, da DQO externa (Demanda Química de resultado do levantamento aéreo uma ortofoto e o
Oxigênio) no processo de desnitrificação. Além MDT (Modelo Digital do Terreno) do aterro, com
disso, é possível alcançar resultados ótimos, com esses dados foi possível realizar um estudo
eficiência geralmente superior a 95% na nitrificação comparativo com dados existentes do ano anterior e
e remoção de nitrogênio no tratamento do chorume estimar quantitativamente a área e o volume do
com o emprego da tecnologia. deslizamento.
O sensoriamento remoto, implementado por meio A contribuição de Batoo et al. (2021) se deu no
de instrumentação virtual, é uma tecnologia muito desenvolvimento de um algoritmo que torna a coleta
importante para medições. Para isso Belotti et al. de lixo eletrônico mais eficiente, de forma roteirizada
(2005) analisou o projeto de um protótipo de um robô e pontual, evitando a cotaminação dos aterros com
de perfuração, capaz de trabalhar de forma remota substâncias provenientes dos lixos eletrônicos.
através da transmissão de dados utilizando O Quadro 1 apresenta um resumo com a
linguagens computacionais. O protótipo construído metodologia empregada por cada autor, assim como
foi instrumentado com as instrumentações projetadas o objetivo do trabalho realizado.

Quadro 1. Metodologia empregada e objetivo dos estudos analisados.


Publicação Metodologia Empregada Objetivo
Foi utilizado algoritmo inspirado nos princípios da
Arain et al. (2015) – Resolver problemas de planejamento
relaxação convexa para que se encontre um plano de
Estratégias de como o posicionamento de sensores ou
exploração do robô de maneira que este consiga cobrir
planejamento de medição a área que um robô móvel com sensor
o ambiente necessário. Esse algoritmo permite medir
de cobertura global para remoto de gás pode explorar de forma
as distâncias máximas e ótimas para que o
dispositivos móveis eficiente, em prol de reduzir variáveis
planejamneto da exploração do robô em busca da
Robôs equipados com um como o tempo de viagem e o tempo de
detecção de gás seja efetivo, o que pode vir a ser útil
sensor de gás remoto detecção do gás.
em ambientes como aterros sanitários.

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497
Foram realizados experimentos em quatro locais
Bennetts et al. (2012) – Investigar o potencial da medição de
diferentes e por três robôs distintos. Todos os robôs
Robôs móveis para vazamento de gás por robôs com rodas
utilizados cobriram a área de interesse em sua
localização de fontes de e de drone os quais imitam o
integridade, com percurso pré-definido (em que eram
emissão de gás em aterros comportamento de animais (a partir da
realizadas pausas regulares para a coleta de
sanitários: a bioinspiração inspiração biológica), em ambientes
medições). Com os dados obtidos, foram feitos
é o caminho a seguir? como aterros sanitários.
mapeamentos de distribuição de gás.
Utilizar ferramentas da automação
para controlar reatores de batelada
Spagni; Marsili-Libelli O SBR pôde ser operado tanto localmente quanto por
sequencial (SBRs) em prol do
(2008) – Remoção de meio da internet. Inicialmente, funcionou com ciclos
tratamento de chorume gerado em
nitrogênio via nitrito em definidos entre fases anóxica e aeróbia. Após 80 dias,
aterros sanitários antigos. Essa
reator batelada sequencial um sistema de controle realizou o ajuste da duração
estratégia foi assertiva para a obtenção
tratando lixiviado de das fases, de maneira que as bombas, o soprador e o
de economias como a redução da
aterro sanitário agitador fossem acionados conforme necessidade.
Demanda Química de Oxigênio
(DQO) no processo de desnitrificação.
Foi construído protótipo de máquina, instrumentado e
Belotti et al. (2005) – controlado com um processador integrado capaz de se Capacidade de trabalhar em zonas
Detecção remota e comunicar via conexões TCP/IP: uma transmissão de perigosas de forma remota com
controle com cliente- dados baseada em string ASCII foi criada para deixar autonomia de trabalho, além do uso da
servidor arquitetura com livre a linguagem de desenvolvimento e o sistema percepção humana de operações
aplicação a um robô para operacional para a interface homem-máquina (IHM). remotas, gerenciamento autônomo de
remediação definitiva de Permitindo medição e controle remoto com uma rede falhas, com o mais alto nível de
aterros. de comunicação, como redes locais com ou sem fio, confiabilidade.
onde não seja permitida a presença humana.
Oferece vantagens substanciais
benefícios não só em termos de
Sistema de planejamento de operações integrado por
Tserng et al. (1996) – Um segurança do trabalhador, mas também
computador desenvolvido para auxiliar no projeto de
sistema de planejamento economia. Em particular, a
células de aterros sanitários e planejamento de
de operações integrado disponibilidade de automação métodos
caminho para um compactador autônomo. O sistema
por computador para de deposição em aterro podem reduzir
integrado por computador é implementado usando o
compactação autônoma os gastos associados a altos salários e
padrão gráfico PRIGS e kit de ferramentas MOTIF
de aterros sanitários prêmios de seguro resultantes da
com ligação de programa C.
exposição dos trabalhadores a
substâncias tóxicas ambientes.
A robótica híbrida incluiu a modificação de uma
Conway; Aas (1995) –
retroescavadeira escavadeira com um manipulador de
Remediação do
braço robótico hidráulico Schilling Titan T-3 A tecnologia de manipulação robótica
Radioativo Aterros de
montado na lança da escavadeira. O braço robótico foi remota teve um esforço para aumentar
Resíduos e Poços de
implantado para manipular remotamente conteúdo do a produtividade, diminuir custos e
Descarte de Produtos
aterro e conduzir pesquisas químicas e radiológicas do minimizar a exposição do pessoal
Químicos nos
solo e detritos de resíduos, mantendo assim a durante escavações.
Laboratórios Nacionais de
exposição do trabalhador do local à contaminação
Sandia
radiológica tão baixa possível.
O processo do monitoramento teve inicio em junho de
Volodymyr et al. (2020) – 2016, com um levantamento aéreo UAV Trimble UX-
Aplicação de métodos 5 para obter informações reais da condição do aterro Monitorar a área de deslizamento de
geodésicos para monitorar após o deslizamento dos resíduos, com isso foi resíduos no aterro de Lviv MSW
os efeitos do deslizamento possível a criação da ortofoto e o MDT do Aterro de utilizando medições por métodos
de resíduos em aterros de Lviv e foram comparados com os dados já existentes remotos, utilizando uma estação total
resíduos sólidos datados de outubro de 2015. A comparação entres a robótica no modo reflex-free.
municipais de Lviv ortofoto e o MDT possibilitou um levantamento
quantitativo da área de deslizamento dos resíduos.
Aprimoramento da coleta de lixo eletrônico tornando
Batoo et al. (2021) –
uma coleta móvel, onde foi proposto um modelo de Fornecer um sistema online que
Modelo de enxame
enxame baseado em comportamento usando um permita que as pessoas solicitem a
baseado em
controlador fuzzy (BSFC) onde o algoritmo roteiriza coleta do seu lixo eletrônico de forma
comportamento usando
a coleta desse lixo em um sistema online, que permite pontual em sua residência, esse
controlador fuzzy para
que as pessoas solicitem a coleta dos componentes sistema possui um algoritmo que
planejamento de rota e
com horário previamente estabelecido, onde a coleta roteiriza a coleta, reduzindo os custos.
coleta de lixo eletrônico
irá ocorrer de forma pontual.

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498
4 CONCLUSÃO Science and Pollution Research. DOI:10.1007/s11356-
021-12824-x
A adoção da revisão sistemática para compreender a Belotti, V., Crenna, F., Michelini, R. C., & Rossi, G. B.
evolução das produções científicas resultou em uma (2007). A client–server architecture for the remote
sensing and control of a drilling robot. Measurement,
maneira eficiente de analisar as contribuições para o
40(2), 109–122.
tema da utilização dos conceitos e técnicas da DOI:10.1016/j.measurement.2006.10.007
robótica, no intuito de prover a otimização de aterros Conway, R., & Aas, C. (1997). Remediation of the
sanitários. Apesar do número restrito de artigos Radioactive Waste Landfill and Chemical Disposal
relacionados ao tema na plataforma de pesquisa, é Pits Sites at Sandia National Laboratories. Remediation
possível constatar que existe uma quantidade Journal, 8(1), 107–114.
considerável de citações da maioria dos autores dos DOI:10.1002/rem.3440080110
trabalhos, o que atribui relevância às suas pesquisas Galvão, T. F.; Pereira, M. G. 2014. Revisões sistemáticas
para a comunidade científica. da literatura: passos para sua elaboração. Epidemiol.
Ademais, é possível observar uma linha de Serv. Saude, 23, 1, 183-184. DOI: 10.5123/S1679-
49742014000100018
tendência de crescimento no ritmo de produções a
Hernandez Bennetts, V., Lilienthal, A. J., Neumann, P. P.,
partir de 2007, mesmo que as produções anuais as & Trincavelli, M. (2012). Mobile Robots for
quais abordam o tema ainda não sejam numerosas. Localizing Gas Emission Sources on Landfill Sites: Is
Outrossim, nota-se a preocupação de alguns estudos Bio-Inspiration the Way to Go? Frontiers in
com a saúde dos trabalhadores que atuam em locais Neuroengineering, 4. DOI:10.3389/fneng.2011.00020
de descarte de resíduos, ou seja, além de garantir a Moher, D.; Liberati, A.; Tetzlaff, J.; Altman, D. G. 2010.
otimização, a robótica contribui para que as pessoas Preferred reporting items for systematic reviews and
que trabalhem nesses locais tenham maior segurança meta-analyses: The PRISMA statement. International
durante a operação com resíduos. Journal of Surgery, 8, 5, 336-341. DOI:
É importante ressaltar, também, que existem 10.1016/j.ijsu.2010.02.007
Nikulishyn, V., Savchyn, I., Lompas, O., & Lozynskyi, V.
outros métodos de aplicação da robótica em aterros
(2020). Applying of geodetic methods for monitoring
sanitários, não identificados nos artigos revisados, the effects of waste-slide at Lviv municipal solid waste
como por exemplo, a utilização de VANT (Veículo landfill. Environmental Nanotechnology, Monitoring
Aéreo não Tripulado) para a realização de & Management, 13, 100291.
aerofotogrametrias, buscando detectar e monitorar a DOI:10.1016/j.enmm.2020.100291
emissão de gás metano em aterros sanitários, através Spagni, A., & Marsili-Libelli, S. (2009). Nitrogen removal
de robô remotamente controlados por um aplicativo via nitrite in a sequencing batch reactor treating
Android (SOUZA et al., 2014). sanitary landfill leachate. Bioresource Technology,
Considerando esses aspectos, é de suma 100(2), 609–614. DOI:10.1016/j.biortech.2008.06.064
importância o desenvolvimento de novas pesquisas Tserng, H.-P., Veeramani, D., Kunigahalli, R., & Russell,
J. S. (1996). OPSALC: A computer-integrated
que visem o emprego de tecnologias com uso de
operations planning system for autonomous landfill
robótica, para contribuir veementemente com a compaction. Automation in Construction, 5(1), 39–50.
eficiência dos aterros sanitários. DOI: 10.1016/0926-5805(95)00016-x
Vieira, E. T. (2009). Industrialização e políticas de
desenvolvimento regional: o vale do Paraíba paulista
REFERÊNCIAS na segunda metade do século XX. DOI:
10.11606/T.8.2009.tde-03022010-143611
Aragão Júnior, W. R.; Oliveira Júnior, A. I. de. Internet das Weissman, D. & Weissman, D. (2020). Landfill urbanism:
coisas na gestão de resíduos sólidos: revisão opportunistic ecologies, wasted landscapes. Detritus.
sistemática com análise bibliométrica da literatura: p. 19-34. DOI: 10.31025/2611-4135/2020.13968.
systematic review with bibliometric analysis of the
literature. Journal of Environmental Analysis and
Progress, [S. l.], v. 6, n. 3, p. 194–209, 2021. DOI:
10.24221/jeap.6.3.2021.4245.194-209
Arain, M., Trincavelli, M., Cirillo, M., Schaffernicht, E.,
& Lilienthal, A. (2015). Global Coverage
Measurement Planning Strategies for Mobile Robots
Equipped with a Remote Gas Sensor. Sensors, 15(3),
6845–6871. doi:10.3390/s150306845
Batoo, K. M., Pandiaraj, S., Muthuramamoorthy, M.,
Raslan, E. H., & Krishnamoorthy, S. (2021). Behavior-
based swarm model using fuzzy controller for route
planning and E-waste collection. Environmental

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


499
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação da resistência de solo alcalino com adição de fibra de


polietileno tereftalato aleatoriamente distribuída
Fernanda Simoni Schuch
Eng. Civil, Dra. Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, fernandass@ifsc.edu.br

Ana Karolyna Silveira da Silva


Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, anajovitta@gmail.com

João Victor Machado da Palma


Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, joaovictor.mpalma@gmail.com

Fábio Krueger da Silva


Eng. Civil, Dr. Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, fabio.krueger@ifsc.edu.br

RESUMO: Emerge, da volumosa produção anual de resíduos poliméricos, a preocupação pelo impacto
ambiental que as atividade industriais causam, sobretudo, quanto a sua iminente irreversibilidade. Métodos
de reutilização desses resíduos são o primeiro passo para a mudança desse paradigma. Dessa forma, a
reciclagem e reutilização de PET como aditivo em materiais da construção ganha espaço, não só pelo viés
ambiental, mas pelo alto impacto mecânico em sistemas resistentes a esforços. Inspirados em pesquisas
científicas semelhantes, neste trabalho, foram estudados compósitos de Solo+Fibra PET+Cal e avaliada a
influência desse material nas resistências à compressão uniaxial e diametral, bem como um provável efeito
de uma possível degradação da fibra, ao longo de 174 dias. Ao final, após analisar as curvas obtidas com os
ensaios, constatou-se um aumento de 13% na resistência uniaxial e de 17% no valor da resistência à tração
diametral para o compósito de Solo+Fibra PET+Cal após 174 dias quando comparado ao Solo+Fibra PET de
zero dias. Não se constatou influência de uma provável degradação da Fibra PET no solo alcalino ao longo
do período analisado, com base nos parâmetros analisados.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Alcalino, Fibra PET, Compressão Uniaxial, Compressão Diametral, Tensão
Máxima de Ruptura.

ABSTRACT: From the voluminous annual production of polymeric residues, the concern for the
environmental impact that industrial activities cause, above all, regarding its imminent irreversibility,
emerges. Methods for reusing these residues are the first step towards changing this paradigm. In this way,
the recycling and reuse of PET as an additive in construction materials is gaining ground, not only due to the
environmental bias, but also due to the high mechanical impact on stress-resistant systems. Inspired by the
cited authors, in this work, composites of Soil+PET+Lime were studied and the influence of this material on
uniaxial and diametral compression strengths was evaluated, as well as the possible degradation of the fiber,
over 174 days. At the end, after analyzing the curves obtained from the tests, an increase of 13% in the
uniaxial resistance and of 17% in the value of the diametral tensile strength was verified for the
Soil+PET+Lime composite after 174 days when compared to the Zero-day Soil+PET Fiber. There is no
influence of a probable degradation of the PET Fiber in the alkaline soil over time based on the analyzed
parameters

KEY WORDS: Alkaline Soil, PET Fiber, Uniaxial Compression, Diametric Compression, Tensile Rupture.

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500
1 INTRODUÇÃO alterações nas propriedades mecânicas da mistura,
quando comparado às sem adição.
Conforme aponta Caixeta (2005), cerca de 30% A cal, conforme aponta Meliande (2014) é um
do volume de resíduos sólidos plásticos produzidos estabilizante químico amplamente conhecido e
anualmente são descartados de forma incorreta, utilizado para estabilização de solos, quando
aproximadamente 75 milhões de toneladas/ano. adicionado com água tende a aumentar o pH do
Aliado à excessiva dependência por materiais solo, melhorando propriedades como a resistência
poliméricos e petroquímicos, o dado atenta-nos para ao cisalhamento, a permeabilidade e a
o impacto ambiental causado pelos mercados compressibilidade (NEVES, 2009).
mundiais, bem como para a importância de políticas Dessa forma, o principal objetivo deste estudo é
de gestão de resíduos mais conscientes, e mais compreender as características mecânicas de
amparadas na economia circular. Nesse viés, a Lei compósitos alcalinos com adição de Cal e Fibra
Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, instituiu a PET, bem com seu prosseguimento ao longo de 174
Política Nacional de Resíduos Sólidos e atribuiu aos dias. Para isso, serão apresentados neste trabalho os
geradores e ao poder público as responsabilidades dados obtidos no estudo do compósito alcalino
sobre o gerenciamento do próprio descarte, solo+fibra+cal, em concentrações de 1% e 1%,
acentuando-se a busca por alternativas de sua respectivamente, com ênfase na avaliação do
destinação. Motivados por essas iniciativas, estudos impacto da degradação da fibra PET na variação da
viabilizam a reintegração dos resíduos descartados resistência mecânica do solo, ao longo de 174 dias.
no processo produtivo e remontam a importância Sobre a utilização de adições fibrosas em solo,
dessas políticas. Mishra e Gupta (2018) observaram o
A utilização de fibras poliméricas, como adições intertravamento dos grãos de solo, quando em
de mistura, para ampliação de eficiência dos compósito com fibra PET e cinza-volante, em
materiais da construção é uma técnica muito concentrações de 1,2% e 15%, respectivamente, e
ensaiada, sobretudo, pelo potencial de ganho de constataram um aumento na resistência à
resistência a esforços deformantes, tanto para o solo compressão não confinada de 3,5 vezes. A
de uma implantação construtiva, por exemplo, contraponto, porém, Silva et al (2005), ao estudarem
quanto para elementos estruturais de uma um compósito de argamassa, cal e fibra PET, com
edificação. idade de 164 dias, não observaram alteração nos
Embora a utilização de aditivos fibrosos seja dados de resistência, apenas a diminuição da
uma estratégia consolidada na construção, seja para tenacidade, pelas reações químicas que corroem a
fins econômicos e técnicos, ou em razão da fibra.
diminuição do impacto ambiental, a variedade de
aplicações e resultados, bem como a incompreensão 3 MATERIAIS E MÉTODOS
da validade do método, em função da possível
degradação das fibras, quando em meio alcalino Esta pesquisa experimental foi desenvolvida
como apontado por Ribeiro et al. (2004), são os através de uma sequência de etapas metodológicas:
principais motivadores para a exploração constante coleta do solo, preparação da fibra PET;
deste tópico e, em especial, para o presente estudo. caracterização dos materiais (solo e fibra); ensaios
De acordo com Dal Pont, Martinez e Arns (2018) de resistência à compressão uniaxial não confinada e
o reforço do solo pela adição de fibra PET é dado resistência à tração por compressão diametral. Os
pela contribuição das fibras em aumentar a ensaios laboratoriais foram realizados com as
resistência à tração do solo no estado pós-fissuração, misturas solo natural (0%F), solo + 1% de fibra PET
diminuindo a propagação das fissuras quando a (1%F) e solo + 1% de fibra PET + 1% de cal
matriz é submetida a um esforço mecânico, o que (1%F+1%C) ao longo de 174 dias.
proporciona um aumento na capacidade de absorção Na intenção de potencializar o alcance dos
de energia do solo ao acrescer na sua ductilidade e resultados e, ainda, embasar possíveis discussões
tenacidade. sobre o tema, utilizou-se uma metodologia de
Quanto ao ambiente de utilização de adições revisão sistemática de literatura.
como essas, porém, há a expectativa de que, ao A metodologia proposta por Barbara Kitchenham
longo do tempo, com a adição de um material mais (2004), consiste num método rigoroso para
alcalino, como constatado por Silva et al (2005), identificar, avaliar e sintetizar a evidência disponível
ocorra a degradação da fibra PET e variações nos em uma determinada área de pesquisa. O método
parâmetros de resistência obtidos. Essa simulação de envolve a definição clara da pergunta de pesquisa, a
um ambiente alcalino, portanto, deve provocar busca de fontes relevantes, a seleção dos estudos
mais pertinentes, a avaliação da qualidade

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


501
metodológica dos estudos incluídos, a extração dos intempéries. Através dos ensaios das ABNT NBR
dados relevantes e a síntese dos resultados. O 6458:2016, NBR 6457:2016, NBR 7181:2016, NBR
objetivo do método é fornecer uma visão geral da 6459:2016 e NBR 7180:2016, determinou-se as
evidência disponível (Figura 1). características do solo: massa específica,
granulometria e limites de Atterberg.

3.1.3 Fibra PET

Obteve-se a fibra PET pela reciclagem de


garrafas plásticas, através da empresa Cordoaria
Brasil, da cidade de Itajaí/SC e o processo de
produção, conforme descreve Nichele (2020),
acontece conforme o fluxograma (Figura 3).

Figura 1. Fluxograma metodológico da revisão.


Adaptado de KITCHENHAM, 2004.

Para atender aos objetivos citados foram feitas 2


perguntas principais.

1) Qual é o efeito da adição de Fibras


Poliméricas ao solo nas resistências à
compressão uniaxial e diametral?
2) Qual é o efeito da adição de Cal ao solo nas
resistências à compressão uniaxial e
diametral?

3.1 Materiais

Os materiais utilizados para pesquisa foram:


fibra PET obtida pela reciclagem de garrafas
plásticas, cedidos pela empresa Cordoaria Brasil,
amostra deformada de solo coletado em campo e cal
dolomítica hidratada CH-III da marca Cal Cem.
Figura 3. Fluxograma metodológico de produção.
3.1.2 Solo
Adaptado de Nichele, 2020.
Coletou-se o solo num talude localizado em
3.1.2 Cal Hidratada
Biguaçu/SC, às margens da estrada (Figura 2).
Para realizar-se as misturas de Solo + Fibra PET
+ Cal e posterior ensaios utilizou-se a cal dolomítica
hidratada CH-III, da marca Cal Cem Indústria de
Minérios LTDA vendida em sacos de 20kg de
Colombo – PR.

3.2 Métodos

Figura 2. Talude onde realizou-se a coleta do solo em A partir da caracterização dos materiais a serem
Biguaçu/SC. Autores: 2022. utilizados, estabeleceu-se o programa experimental
a ser realizado (Figura 4).
Em seguida, armazenou-se o material em caixas
plásticas vedadas, para isolar de quaisquer

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502
Figura 5. Moldagem de CPs com cilíndro Harvard.
Autores, 2022.

Para o ensaio de compressão simples (uniaxial),


conforme a NBR 12770:1992, obteve-se a tensão
máxima de ruptura (qu) em prensa universal com
velocidade controlada (Figura 6).
Obteve-se também valores da resistência à tração
por compressão diametral, ou tração indireta (qt),
conforme a NBR 7222:2011 (Figuras 7). Após,
utilizando-se planilha eletrônica (excel), analisou-se
e comparou-se os dados obtidos.

Figura 4. Fluxograma metodológico da pesquisa.


Autores: 2022.

Como o auxílio de uma balança de precisão,


dosaram-se os materiais, conforme os traços: solo
natural (0%F), solo + 1% de fibra PET (1%F) e
solo + 1% de fibra PET +1% Cal Hidratada
(1%F+1%C) para 54 e 174 dias. Realizaram-se as
adições ao solo calculando-as em relação ao peso
seco do solo. Primeiramente adicionou-se a cal,
depois a água homogeneizando-se a amostra e, por
fim a fibra PET, tomando-se o cuidado de não
Figura 6 (esq.) e 7 (dir.). Ensaio de compressão uniaxial e
misturar em excesso provocando a aglutinação das
compressão diametral, respectivamente.
fibras. Autores, 2022.
Determinou-se 3 curvas de compactação (NBR
7182:2016), na energia normal, com cilindro grande, Tanto no ensaio à compressão quanto à tração, as
de modo a se determinar a massa específica aparente misturas que levaram cal foram ensaiadas em duas
seca máxima e o teor de umidade ótimo, utilizados idades distintas: 54 e 174 dias.
como parâmetros para a moldagem dos corpos de
prova (CPs), a serem submetidos aos demais ensaios
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
de resistência. Uma vez obtidos os resultados das
curvas de compactação, procedeu-se com a
moldagem dos CPs no cilindro Harvard (Figura 5), Com base na caracterização dos materiais e nos
de 10 cm de altura por 5 cm de diâmetro, com 7 dados obtidos nos ensaios, analisou-se os dados
camadas compactadas com o auxílio de um tarugo. através de planilha eletrônica e gráficos.
As misturas com cal ficaram armazenadas em sacos Pelo ensaio de granulometria o solo foi
dispostos em tonéis por 24 horas antes de serem classificado como residual de granito de
moldados (cura hermética). Realizou-se o controle granulometria silte arenosa, desuniforme e mal
da moldagem pela averiguação das densidades dos graduada, com limite de liquidez de 35% e
CPs os quais não diferiram mais do que 8%. plasticidade de 21%. O índice de plasticidade (IP)
teve valor igual a 14 (LL-LP), o que representa um
solo medianamente plástico.
O valor da massa específica dos grãos do solo é
igual a 2,57 g/cm³, enquanto a massa específica da
fibra PET foi determinada anteriormente por

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


503
SCHUCH, et al. (2022) pelo método do picnômetro, apenas aos 174 dias. Silva (2010) apontou em seu
tendo como resultado 1,34 g/cm³. A massa estudo que, em situações específicas, o dióxido de
específica da cal varia de 2,3 a 2,9 g/cm3 de acordo carbono pode reagir com os produtos de hidratação
com a fabricante. dos solos estabilizados com cal, causando uma
Os valores de massa específica aparente seca redução na resistência. Embora este aspecto não seja
máxima e o teor de umidade ótimo obtidos a partir geralmente relevante, teria origem na decomposição
das curvas de compactação, para os 3 diferentes da matéria orgânica presente no solo. Lovato (2004)
teores estudados, são apresentados na Tabela 1: também observou em sua pesquisa um decréscimo
na resistência à compressão de solo laterítico
Tabela 1. Resultados das curvas de compactação. melhorado com 3% de cal cálcica após 168 dias, na
Teor da mistura 0%F 1%F 1%F+1%C ordem de 14%, e atribuiu ao retardamento entre o
Massa específica 1,594 1,539 1,425 momento de mistura e da compactação do solo
aparente seca (maior o intervalo, maior a diminuição). O segundo
máxima (g/cm³) fato mostra-se relevante, visto que, para esse estudo,
Umidade ótima (%) 22,5 25,1 28,5
as misturas tiveram a compactação retardada em
cerca de 24 horas.
Observou-se que as adições provocaram uma Ao mesmo tempo, obteve-se melhor desempenho
diminuição da massa específica aparente seca com o compósito solo + 1% de fibra PET + 1% de
máxima a partir da inserção dos materiais. Ao Cal, aos 174 dias, no parâmetro resistência, quando
mesmo tempo, nota-se um aumento na umidade comparado com o 0%F (Figura 8). Baldovino
ótima na medida em que se aumentam as adições. (2018), ao comparar os tempos de cura para
amostras, de até 180 dias, observou ganho de até
4.1 Resistência à compressão uniaxial 112% na resistência a deformações. Esse
desempenho também pode ser explicado pelo
Os valores de tensão máxima de ruptura (qu) e melhor intertravamento dos grãos do solo e pela
deformação específica (ε) médios, observados ação da fibra. Enquanto o solo puro apresenta uma
através do ensaio de compressão uniaxial não tensão característica de ruptura (curva em azul na
confinada, e obtidos a partir de 3 CPs para de solo figura 8), o solo com fibra e cal mantém a
natural (0%F), 3 CPs para a mistura solo + 1% de deformação com maior tensão aplicada, sem romper,
fibra PET (1%F) em zero dias, 3 CPs para a mistura aos 174 dias.
solo + 1% de fibra PET + 1% Cal Hidratada
(1%F+1%C) com rompimento após 54 da
moldagem e 4 CPs para a mistura solo + 1% de fibra
PET +1% Cal Hidratada (1%F+1%C) com
rompimento após 174 dias da moldagem são
apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Resultados dos ensaios de compressão


uniaxial
Amostra 0%F 1%F 1%F+ 1%F+
1%C 1%C
Idade (dias) 0 0 54 174
Figura 8. Gráfico do ensaio de compressão uniaxial.
qu médio 0,088 0,150 0,054 0,170 Fonte: Autores, 2022.
(MPa)
ε médio (%) 3,0 18,0 12,0 15,0 Segundo Lovato (2004), ainda, as alterações
Fonte: Autores, 2022. provocadas pela inserção da cal no solo se devem a
alguns fatores como: características do solo, tipo e
Ao comparar os valores de tensão máxima média teor de cal, energia de compactação e o período e
de ruptura do solo natural (0%F) com o valor da condições da cura. Schweiss (2023) estudou a
mistura solo + 1% de fibra PET (1%F) em zero dias, incorporação de RCD e cal em solo e observou que
constata-se um acréscimo de 70.45% na resistência, a cura hermética, procedimento padrão para cura de
provavelmente devida à distribuição de tensões CPs de solo para diminuir a perda de umidade e
provocadas pelas fibras PET. variações de temperatura, não permite a correta
Ao adicionar-se cal na mistura, no entanto, cimentação da cal e influência na resistência à
verificou-se um decréscimo aos 54 dias de cura compressão simples reduzindo-a (esta pesquisa fez a
quando compara-se aos valores 0%F e um aumento cura de 28 dias).

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504
Por outro lado, Gutierrez et al (1998) observou comparando-se o S% e o solo 1%F+1%C com idade
que a resistência à compressão simples de um de 174 dias. Este incremento se deve às reações ao
latossolo melhorado com cal não evoluiu longo do tempo, pela adição da cal ao solo e
significativamente com o tempo de cura, só parcialmente pela adição das fibras PET.
apresentando queda para teores menores de cal. Já
Teixeira (2019) verificou um aumento na resistência 5 CONCLUSÕES
à compressão uniaxial para diferentes teores de
adição num solo classificado como silte arenoso. Constatou-se que as características mecânicas de
Quanto aos resultados obtidos para o solo 1% F e compósitos alcalinos de solo, bem com sua
1%F+1%C com idade de 174 dias, observa-se um constância, ao longo de 174 dias, é diretamente
aumento de 13,33% no valor do qu médio e uma afetada com adição de Cal e Fibra PET.
diminuição na deformação específica média, ou seja Verificou-se que, ao adicionar fibra PET no solo
há um efeito da cal no aumento da resistência e ocorre maior distribuição de tensões, provocando
diminuição da deformação nos CPs. um ganho de resistência na maioria das misturas
quando se compara os valores obtidos ao solo
4.2 Resistência à tração indireta natural, tanto na compressão quanto na tração.
Ao se adicionar cal à mistura, no entanto,
Os valores da resistência à tração, ou tração indireta percebeu-se diminuição inicial, aos 54 dias, na
(qt) foram determinados através do ensaio de resistência à tração e à compressão, posteriormente,
determinação da resistência à tração por compressão um aumento aos 174 dias superando os valores de
diametral de corpos de prova cilíndricos. Obteve-se resistência em relação ao solo puro. A literatura dá
resultados através dos valores médios de 2 CPs das algumas explicações para tal fato, uma delas sugere
misturas S% e 1%F, 4 CPs para 1%F+1%C 54 dias e que isto ocorra seja porque as amostras não foram
4 CPs 1%F+1%C após 174 dias da moldagem, cujos moldadas logo após a mistura, quanto os compostos
valores são apresentados na tabela 3 . cimentantes que se formam neste período ainda não
contribuíram para o ganho de resistência. É possível
Tabela 3. Resultados dos ensaios de tração por constatar um incremento nos valores de resistência à
compressão diametral. compressão média, comparando-se o solo 1% F em
Amostra S% 1%F 1%F+ 1%F+ zero dias e o solo 1%F+1%C com idade de 174 dias,
1%C 1%C o que se deve pelo prolongamento do tempo de cura,
que poderia ser ainda ampliado por maiores adições
Idade (dias) 0 0 54 174
qt médio 0,019 0,033 0,013 0,022 de cal.
(MPa) Mesmo havendo modificado os valores de
resistência da mistura, infere-se que a degradação
Verificou-se ao adicionar fibra PET um aumento da fibra não é consistente para as perdas de
na resistência à tração, o que é provocado pela resistência observadas em 54 dias. Havendo ao
distribuição de tensões provocada pelas fibras, assim longo do tempo total de análise desta pesquisa (174
como ocorreu na compressão uniaxial. dias) um incremento tanto nas resistências à
Ao se adicionar cal à mistura, no entanto, compressão simples quanto na tração indireta ao
percebe-se aos 54 dias uma diminuição na adicionar-se fibra PET às misturas mesmo
resistência à tração e posteriormente um aumento provocando-se com a adição de cal um ambiente
aos 174 dias comparando-se ao valor de S%. Tal mais alcalino em relação ao solo natural.
fato pode ter se dado pela demora em ocorrerem as Faz-se necessário, em estudos futuros, avaliar
reações entre a cal e o solo, seja pelo tipo de solo misturas com maior percentual de adição de cal para
envolvido na mistura ou pelo tempo entre a mistura averiguar se esta afirmação se mantém.
solo+fibra+cal e a moldagem (24 horas). Lovato
(2004) explica que alguns pesquisadores observaram AGRADECIMENTOS
uma diminuição na resistência solo+cal em amostras
não moldadas logo após a mistura, em até Os autores agradecem ao CNPq pelo fomento à
aproximadamente 48% e isto devido principalmente pesquisa e às bolsas de pesquisa e ao IFSC pela
ao fato de que, os compostos cimentantes que se infraestrutura oferecida.
formam neste período, não contribuíram para o
ganho de resistência. REFERÊNCIAS
Constatou-se um incremento de 14% no valor de
resistência à tração diametral (qt) média, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação de Ciclo de Vida com Foco nas Etapas de Execução e


Uso em Estruturas Geotécnicas Reforçadas com G eotêxtil Tecido
Geotêxtil
Luiz Paulo Vieira de Araújo Júnior
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, São Carlos, Brasil, luizpaulovajr@gmail.com

Cristiane Bueno
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, São Carlos, Brasil, cbueno@ufscar.br

RESUMO: A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma das metodologias mais utilizadas para análise dos potenciais
impactos ambientais do setor da Engenharia Civil. Apesar do número de pesquisas de ACV em engenharia civil ter
crescido nos últimos anos, nota-se que, na área de geossintéticos existem lacunas a serem preenchidas. Assim, esta
pesquisa objetivou analisar, com o auxílio da metodologia de ACV, estruturas de solos reforçados com geossintéticos e
compará-las com uma estrutura tradicional construída em concreto armado, a fim de quantificar e qualificar os
potenciais impactos ambientais. A metodologia compreendeu em uma breve revisão sobre ACV e estruturas de solos
reforçados com geossitéticos; aplicação das fases de ACV. A pesquisa propôs a realização de um estudo de ACV para o
processos de execução e uso e manutenção através do método ReCiPe. Foram consideradas relevantes as categorias de
impacto de Eutrofização de água doce, Mudanças climáticas, Destruição do ozônio e Acidificação. Os resultados
mostraram que, na maioria das categorias analisadas, a estrutura de solos reforçados revelou menor constribuição se
comparada com uma estrutura em concreto; e as categorias de impacto que tiveram maiores emissões foram as
categorias de acidificação terrestre seguida pela categoria de mudanças climáticas. Portanto, concluiu-se que a
metodologia de ACV é um instrumento eficaz para avaliar qualitativa e quantitativamente os potenciais impactos de
estruturas de solos reforçados com geossintéticos quando comparadas com uma estrutura tradicional.

PALAVRAS-CHAVE: Avaliação de Ciclo de Vida, Estruturas de Solos, Geossintéticos, Sustentabilidade, Impactos


ambientais.

ABSTRACT: The Life Cycle Assessment (LCA) is one of the most used methodol methodologies
ogies for analyzing the potential
environmental impacts of the Civil Engineering sector. Although the number of LCA research in civil engineering has
grown in recent years, it is noted that, in the area of geosynthetics, there are gaps to be filled. Thus, this research aimed
to analyze, with the help of the LCA methodology, soil structures reinforced with geosynthetics and compare them with
a traditional structure built in reinforced concrete, in order to quantify and qualify the potential environmental impacts.
The methodology comprised a brief review of LCA and soil structures reinforced with geosynthetics; application of
LCA phases. The research proposed the realization of an LCA study for the processes of execution and use and
maintenance through the ReCiPe method. The impact categories Freshwater Eutrophication, Climate Change, Ozone
Depletion and Acidification were considered relevant. The results showed that, in most of the analyzed categories, the
structure of reinforced soils revealed less contributi
contribution
on when compared to a concrete structure; and the impact categories
that had the highest emissions were the terrestrial acidification categories followed by the climate change category.
Therefore, it was concluded that the LCA methodology is an effective iinstrument
nstrument to qualitatively and quantitatively
evaluate the potential impacts of soil structures reinforced with geosynthetics when compared to a traditional structure.

KEY WORDS: Life Cycle Assessment, Soil Structures, Geosynthetics, Sustainability, Environmental Impacts.

1 INTRODUÇÃO construção, com soluções que possam reduzir os


potenciais impactos ao setor da construção civil.
O setor da construção civil é um dos maiores Vários países, a exemplo da China, vêm
contribuintes das emissões de gases de efeito estufa, lançando, por décadas, com a rápida urbanização,
além de ser responsável por aproximadamente 36% uma quantidade significativa de emissões de gases
do consumo global de energia (IEA, 2019). Chen causadores das mudanças climáticas (GUO et al.,
(2022), afirma que tornou-se cada vez mais crucial 2017).
reduzir o impacto ambiental associado ao setor da Ao longo das últimas décadas a demanda por

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508
recursos naturais tem aumentado de forma Nos últimos anos, a pesquisa no campo da ACV
significativa e, atualmente, a indústria da construção de materiais de engenharia civil acelerou
responde por cerca de mais da metade de todos os (STRAUSS et al., 2012). No entanto, existem várias
recursos extraídos globalmente (REIS, 2020). lacunas de pesquisas a serem preenchidas quando se
Este aumento pode estar relacionado com o observam estudos de ACV sobre estruturas de solos
modo dos padrões de produção, estilo de vida reforçados com geossintéticos.
contemporâneo, consumo de mercadorias e a própria Com o foco em contribuir para essas lacunas de
cultura de grande parte da população mundial, o que pesquisa, esse trabalho foi desenvolvido com a
pode acarretar em passivos ambientais (SAADE, finalidade para que que se possa compreender os
2017). potenciais impactos através da metologia de ACV
De acordo com Bento (2016), a exploração de de estruturas de contenção de solos quando
recursos para a manutenção de níveis de consumo comparadas comparadas com estruturas tradicionais,
vem exercendo uma pressão crescente sobre os pois o no contexto brasileiro existem poucos dados
sistemas do planeta. Este processo vem destruindo sobre essa temática.
com grandes impactos os sistemas ecológicos, dos
quais todos os seres viventes dependem.
Nesse sentido, Seol et al., (2021), destacam que a 2 BREVE REVISÃO DA LITERATURA
Engenharia Civil está na linha de frente para
alcançar as metas do desenvolvimento sustentável, Segundo a norma ABNT NBR 14040 (2009), a
pois o setor pode transformar comunidades e ACV é definida como uma “compilação e avaliação
proporcionar melhorias transformadoras para a das entradas, saídas e dos impactos ambientais
qualidade de vida das pessoas. Uma das possíveis potenciais de um sistema de produto ao longo do
soluções que podem ser adotadas é a aplicação de ciclo seu ciclo de vida” e ainda com base na mesma
estruturas alternativas em relação às estrututuras norma um estudo de ACV é dividida em quatro
tradionais, o que pode ser alcançado com emprego fases, que são:
de estruturas de solos reforçados e com a utilização
do conjunto de geossintéticos ou outros materiais. I - definição dos objetivos e do escopo;
Os geossintéticos podem ser importantes para o II - análise do inventário;
desenvolvimento sustentável porque, como III - avaliação de impactos; e
observado por Bueno e Vilar (2015) : IV - interpretação dos resultados, conforme
ilustrado na Figura 1, a seguir:
 geralmente, podem substituir recursos de matéria-
prima muitas vezes escassos;
 podem substituir projetos difíceis usando solo e
outros materiais;
 são, invariavelmente, competitivos em termos de
custo em relação a soluções tradicionais;
 podem ter potenciais de impactos muito inferiores
às soluções comumente empregadas.

Apesar das vantagens ambientais e econômicas


Figura 1. Estrutura de uma ACV - ABNT NBR 14040
destacadas, além de proporcionar empregos e
(ABNT, 2009)
geração de renda, contribuir para a criação de novas
tecnologias e auxiliar na manutenção de qualidade 2.1 Definição dos objetivo e escopo
de vida, tais vantagens e qualidades mencionadas
não estão sendo observadas na mitigação dos A definição do objetivo e escopo é primeira etapa de
impactos gerados pelas atividades de construção uma avaliação de ciclo de vida e é nesta fase que
(JONSSON et al., 1998). muitas particularidades são definidas. De acordo
Portanto, é necessário utilizar instrumentos que com Kloppfer e Grahl (2014), a definição do
possam quantificar e qualificar os potenciais objetivo é uma declaração feita pela organização
impactos. Para tanto, a Avaliação de Ciclo de Vida que comissiona a ACV de maneira a fornecer uma
(ACV) provou ser um método eficaz para avaliar os explicação para as seguintes questões: O que se
potenciais impactos ambientais de produtos ou espera alcançar com o estudo? Qual o interesse para
serviços ao longo de todo o seu ciclo de vida, do a realização da pesquisa? Para quais grupos serão o
berço ao túmulo (NBR ABNT 14040, 2009; NBR estudo?
ABNT 14044, 2009).

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509
Para Saade (2017), o esclarecimento desses quantificados na fase de inventário. Na avaliação de
pontos citados garantem que a análise seja bem impacto, os dados de inventário são associados com
direcionada evitando-se, com isso, resultados categorias de impacto específicas e indicadores de
irrelevantes e um consumo desnecessário de tempo e categoria, tentando dessa forma quantificar e
de recursos. qualificar tais impactos (SAADE, 2017).
Ainda na primeira fase de um estudo de ACV,
com relação ao escopo, é necessáio conter os 2.4 Interpretação
seguintes principais tópicos: o sistema de produto a
ser estudado e sua função, as fronteiras do sistema A interpretação do ciclo de vida é a fase da ACV
do produto, a unidade funcional, limitações do onde os resultados das outras fases são, portanto,
estudo (ABNT NBR 14044, 2009). considerados coletivamente e analisados à luz da
Já com relação à unidade funcional, é o precisão alcançada, das definições e análises que
desempenho a ser quantificado de um sistema de que foram feitas ao longo do estudo ICV/ACV
produto para ser utilizado como unidade de (ILCD HANDBOOK, 2010).
referência em um estudo de ACV. A aplicabilidade
de uma unidade funcional é a de proporcionar 2.5 Principais definições de estruturas de solos
referências para que as entradas e saídas que estejam reforçados
relacionadas, essas referências são necessárias para
assegurar a comparabilidade dos resultados (ABNT Os solos possuem baixa resistência à tração. Ao
NBR 14044, 2009). adicionar os reforços, materiais metálicos ou
Outro ponto a ser definido na fase de escopo é a poliméricos com elevada resistência à tração, eles
etapa referente às fronteiras do sistema. De acordo trabalham juntamente ao solo, dessa forma, a massa
com a ABNT NBR 14044 (ABNT, 2009), o ciclo de de solo e reforços tende a agir como um corpo
vida de um produto é constituído por uma cadeia de coeso, ao suportar o seu próprio peso e as cargas
processos, quer ao longo do ciclo de vida ou em em externas para as quais foi projetado (GONÇALVES,
processo específico. Assim, definir as fronteiras do 2016).
sistema é delimitar quais processos irão fazer parte Um desses materiais que podem ser adicionados
do estudo analisado. são os geossintéticos, a Sociedade Internacional de
Para uma melhor qualidade dos dados devem ser Geossintéticos – IGS (2018), explica que
definidos os escopos tecnológicos, geográfico e geossintéticos são materiais industrializados em que,
temporal de uma ACV. O escopo tecnológico de um ao menos, um dos seus componentes é fabricado
processo ou produto representam técnicas reais do com polímeros sintéticos ou naturais.
estudo; o escopo geográfico de processo ou produto Os muros de solo reforçado são soluções
descreve os parâmetros sobre sua localização econômicas, que apresentam grande tolerância a
(local(is), região, país, etc.); o escopo temporal é recalques de fundação, além de serem de facilidade
representado por um conjunto para os quais os construtiva e possuírem prazo de execução reduzido
dados devem ser determinados, examinando as (EHRLICH & BECKER, 2009).
diferentes idades dos principais dados contribuintes. Sendo este o objeto de estudo desta a fim de
avaliar os seus potenciais impactos ambientais.
2.2 Análise do inventário de Ciclo de Vida (ICV)

Nesta segunda fase de uma Avaliação de Ciclo de 3 METODOLOGIA


Vida, inclui-se a análise de uma série etapas e,
posteriormente, realizam-se cálculos das entradas e A metodologia deste presente trabalho baseou-se
saídas para de cada uma dessas etapas. nas seguintes etapas:

2.3 Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida I – Breve revisão da literatura;


(AICV) II – Definição da estruturas que foram aplicadas a
metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida;
Trata-se da fase da ACV que visa ao entendimento e III – Aplicação das fases de Avaliação de Ciclo de
à avaliação da magnitude e significância dos Vida;
potenciais impactos ambientais de um sistema de
produto ao longo do ciclo de vida do produto. Os 3.1 Breve revisão da literatura técnica
impactos ambientais ao longo do ciclo de vida do
produto ou serviço estão relacionados com os A primeira etapa desta pesquisa, a revisão da
parâmetros do sistema de produto levantados e literatura, consistiu em descrever as definições

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510
principais relacionadas à metodologia de Avaliação composição dos inventários de ciclo de vida para
de Ciclo de Vida (ACV). Além de explicitar os estrutura em concreto armado e, para a estrutura de
principais relacionados à estrutura de solos solo reforçado foram coletados dados das empresas
reforçados com geossintéticos, demonstando suas e a falta desses dados recorreu-se à literatura
aplicações no contexto de potenciais ambientais técnica.
para as estruturas de contenção de terra. Este trabalho comparativo de ACV com
aplicação em estruturas de conteção de solos, é
3.2 Definição da estruturas que foram aplicadas a destinado a servir como apoio à tomada de decisão
metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida de profissionais da área do projeto e à área de
execução deste tipo de estrutura, no momento da
A presente pesquisa propôs a realizar uma aplicação escolha entre as diferentes ecolhas de estrututuras.
comparativa da metodologia de ACV em uma Portanto, para a realização do estudo foi necessário
estrutura de solo (Figura 2), sendo esta reforçada total equivalência das estruturas comparadas, a fim
com geotêxtil tecido (Figura 3) e compará-la com de não ocorrer resultados inapropriados.
uma estrutura tradicional em concreto armado A ferramenta utilizada para tratar os dados de
(Figura 4), ambas as estruturas foram consideradas inventário foi o software OpeLCA
com 6 metros de altura. (openLCA_win64_1.11.0_2022-02-09.exe). Todos
os dados coletados (primários) e da literatiura
técnica (secundários), foram caracterizados pelo
método ReCiPe (2016) e os resultados alcançados
foram analisados, posteriormente tratados, e
transformados em gráficos, de forma a facilitar o
entendimento da relevância dos pontenciais
impactos ambientais.

3.3 Aplicação das fases de Avaliação de Ciclo de


Vida
Figura 2. Estrutura de solo reforçada com geossintéticos
(VERTEMATTI, 2015).
A seguir serão descritas a aplicação das fases de um
estudo de ACV.

3.3.1 Definição de Objetivo e Escopo

Com relação à definição de objetivo, este estudo de


ACV propõe-se a realizar a comparação de
estruturas de contenção de solos, sendo estruturas de
solos reforçados com geossintéticos comparando
Figura 3. Geotêxtil tecido (OLIVEIRA et al., 2016).
com uma estrutura tradicional em concreto armado,
quantificando e qualificando os potenciais impactos
ambientais de cada uma das estruturas.
Já com relação à definição de escopo, a pesquisa
foi desenvolvida a fim de analisar as etapas de:
execução das obras com geossintéticos e, uso e
manutenção da estrutura, com a finalidade de
avaliar o desempenho ambiental destes processos,
abrangendo as fases de Inventário de Ciclo de Vida
Figura 4. Estrutura em concreto armado (VERTEMATTI,
2015) das estrututuras analisadas, bem como a Avaliação
de Impacto de Ciclo de Vida a partir dos dados do
A aplicação da metodologia de ACV nas inventário, e Interpretação.
estruturas de contenção descritas acima teve como A função avaliada pelo estudo foi a contenção de
fundamentação as recomendações estabelecidas deslizamento de solos através da construção de
pelas normas NBR 14040 (ABNT, 2009) e NBR estrutura.
14044 (ABNT, 2009). A unidade funcional adotada é de 1,00 m3 de
A pesquisa baseou-se em fontes de dados em estruturas de conteção solos tanto para estrutura
fonte de dados da literatura técnica para a tradicional quanto para as estruturas de solos
reforçados com geossitéticos, referente à cidade de

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Carlos, pelo período de 50 anos. Transportes 100.00 tonelada*km
A pesquisa terá como escopo geográfico a cidade
de São Carlos – SP, cidade da região do centro-oeste Tabela 2. Saídas da estrutura em concreto armado para o
do interior do estado de São Paulo, com processo de Execução.
aproximadamente 255.000 habitantes (IBGE, 2020). Entradas Quantidade Unidade
Os materiais das estruturas para transporte foram Muro em concreto 1.00 m3
todos considerados em relação à localização desta Armado
cidade. Descarte concreto 1.30 kg
Já sobre o escopo temporal, os sistemas
construtivos de solos reforçados com geossintéticos De acordo com os dados referente ao processo de
se enquadram de estruturas de contenção. Segundo a execução, houve como produto um 1m3 da estrutura
norma ABNT NBR 6118 (ABNT, 2014) estruturas e 1,30kg de concreto a ser descartado. A seguir são
em concreto possuem uma vida útil de 50. Portanto, apresentados os parâmetros referentes ao processo
este o escopo temporal foi o definido, a fim de de uso e manutenção (Tabelas 3 e 4) de entradas e
serem possíveis de serem comparadas. saídas.
O escopo tecnológico é considerado atual e
estático, pois foram consideradas as tecnologias Tabela 3. Entradas estrutura em concreto armado para o
processo de Uso e manutenção.
atualmente utilizadas, sem previsões de
Entradas Quantidade Unidade
desenvolvimento de novas tecnologias.
Eletricidade 0.80 kWh
Muro em Concreto 1.00 m3
3.3.2 Análise de Inventário de Ciclo de Vida (ICV) Produção do concreto 20.00 kg
Água 7.00 kg
Foi conduzida uma sequência de tentativas, Transportes 80.00 tonelada*km
hierarquizadas, para obtenção dos dados de ciclo de
vida. A princípio, nesta pesquisa, foram realizadas Tabela 4. Saídas da estrutura em concreto armado para o
coletas de dados nas empresas que executam obras processo de Uso e manutenção.
com geossintéticos e, caso existisssem lacunas de Entradas Quantidade Unidade
informação, recorria-se à literatura técnica. Para as Resíduos do muro 1.00 kg
estruturas em concreto armadotodos os dados foram Descarte do concreto 0.10 kg
utilizados da literatura técnica da
Os principais tipos de dados coletados no estudo Para o processo de uso e manutenção, foram
de ICV integrante deste trabalho foram aqueles gerados 1kg de resíduos do muro e 0,1 kg de
ligados as entradas e saídas de massa, água e concreto a ser descartado. A seguir são
energia. A seguir, foram descritos os dados de apresentados para o processo de execução (Tabelas
entrada (informações coletaddas ou da literatura 5 e 6) as entradas e saídas da estrutura de solos.
técnica) e de saída (produtos e/ou co-produtos
gerados, resíduos e materiais a serem descartados), Tabela 5. Entradas da estrutura de solo reforçado com
de ambas as estruturas para os processos de geotêxtil tecido para o processo de Execução.
execução e, uso e manutenção. A seguir são Entradas Quantidade Unidade
apresentados os dados (Tabelas 1 e 2) para o Diesel 1.50 kg
processo de execução com informações de entradas Eletricidade 0.30 kWh
e saídas. Geotêxtil tecido 35.00 kg
Pedra 1300.00 kg
Tabela 1. Entradas da estrutura em concreto armado para Tubo de plástico 0.55 kg
o processo de Execução. Polipropileno 0.85 kg
Entradas Quantidade Unidade Compactação de solos 4.00 h
Betume 0.90 kg Água 0.20 kg
(Impermeabilização) Formas de madeira 7.20 kg
Diesel 0.90 kg Transportes 300.00 t*km
Pedra 1300.00 kg
Tubo de plástico 0.60 kg Tabela 6. Saídas da estrutura de solo reforçado com
Polipropileno, HDPE 0.65 kg geotêxtil tecido para o processo de Execução.
Produção de concreto 100.00 kg Entradas Quantidade Unidade
Ferro 20.00 kg Estrutura de solos 1.00 m3
Água 15.00 kg Descarte do concreto 1.20 kg
Forma de madeira 10.00 kg Descarte de madeira 1.60 kg

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512
Descarte do geotêxtil 2.10 kg Mudanças climáticas, Destruição de ozônio,
Acidificação terrestre e Eutrofização de água doce.
Referente ao processo de uso e manutenção, Estas categorias foram consideradas de maior
foram obtidos 1 m3 de resíduos do muro, foram relevância para a modalidade de estudos atual de
descatados 1,2 kg de concreto, 1,60 de madeira e ACV em nível global, regional e escalas locais.
2,10 kg de geotêxtil tecido. A seguir os referentes Portanto, a efeito de comparação da estrutura
ao processo de uso e manutenção (Tabelas 7 e 8) as tradicional de concreto e a estrutura de solo
entradas e saídas da estrutura de solos. reforçado foram utilizadas estas mesmas categorias
de impacto.
Tabela 7. Entradas estrutura em concreto armado para o
processo de Uso e manutenção. 3.3.4 Interpretação
Entradas Quantidade Unidade
Eletricidade 0,8 kWh A interpretação foi realizada juntamente com a
Muro em Concreto 1 m2 apresentação dos resultados, de forma que, para
Produção do concreto 20 kg cada categoria de impacto foi identificada a
Água 7 kg estrutura de contenção de solos de maior
Transportes 80 tonelada*km contribuição e então, dentro do ciclo de vida de tal
alternativa, foi identificado os processos
Tabela 8. Saídas da estrutura em concreto armado para o elementares de maior contribuição para tal
processo de Uso e manutenção.
resultado.
Entradas Quantidade Unidade
Resíduos do muro 1 kg
Descarte do concreto 0,1 kg
4 RESULTADOS
Os dados para a modelagem da estrutura de A seguir são apresentados os resultados dos
concreto foram baseados na literatura dos autores potenciais impactos ambientais para as categorias
Damians et al. (2015) e Bizjak e Lenart (2018) tanto analisadas.
para o processo de execução quanto o processo de
uso e manutenção. Já os dados referente `a estrutura
Eutrofização de água doce
de solos foram extraídos de empresas de 1,00E-02
geossintéticos e na ausência destes dados recorreu- 8,00E-03

se à literatura técnica, sendo coletadas as 6,00E-03


4,00E-03
informações dos mesmos autores Damians et al.
2,00E-03
(2015) e Bizjak e Lenart (2018) para os dois
0,00E+00
processos em análise.
Execução Uso e manutenção

Estrutura em concreto Estrutura de solos


3.3.3 Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida
(AICV) Figura 5. Categoria de Eutrofização de água doce.

A partir da realização de Inventário de Ciclo de Os resultados obtidos pela categoria de


Vida, foi possível a realização da Avaliação do eutrofização de água doce (Figura 5) demonstraram
Impacto do Ciclo de vida. Para isso, foi realizada a que para os dois processos analidasados, a estrutura
classificação dos impactos e sua posterior em concreto teve o maior potencial de impacto.
caracterização. Foram calculadas, analisadas e
verificadas quais categorias foram mais relevantes Mudanças climáticas
6,00E+03
para este estudo científico. 5,00E+03
Para a AICV deste trabalho de pesquisa foi usado 4,00E+03
3,00E+03
o método ReCiPe (2016). A escolha deste método 2,00E+03
ocorreu, pois o mesmo contempla as mais variadas 1,00E+03
categorias de impacto, sendo o mais utilizao pelos 0,00E+00

autores na etapa de revisão da literatura. Foi Execução Uso e manutenção

aplicado pelos autores Damians et al. (2015) e o Estrutura em concreto Estrutura de solos

Balasbaneh et al. (2021). Figura 6. Categoria de Mudanças climáticas.


E, apesar do método ReCiPe contemplarar 18
categorias em nível intermediário, para Damians Os resultados obtidos pela categoria de
(2015), as quatro categorias mais relevantes foram: mudanças climáticas (Figura 6) demonstraram, de

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513
forma semelhante à categoria de eutrofização de categoria com maior contribuição foi a acidificação
água doce, que para os dois processos analisados, a terrestre seguida pela categoria de mudanças
estrutura em concreto teve o maior potencial de climáticas.
impacto.
Estrutura de solos
8,00E+03
Destruição do ozônio 7,00E+03
5,00E-06
4,00E-06 6,00E+03
5,00E+03
3,00E-06
4,00E+03
2,00E-06 3,00E+03
1,00E-06 2,00E+03
1,90E-20 1,00E+03
0,00E+00
-1,00E-06 Execução Uso e manutenção
Execução Uso e manutenção
Estrutura em concreto Estrutura de solos Eutrofização de água doce Mudanças climáticas
Figura 7. Categoria de destruição do ozônio. Figura 10. Estrutura de solos com todas as categorias.

Os resultados obtidos pela categoria de Já quando se analisou todas as quatro categoria


destruição de ozônio (Figura 7) diferem das outras para a estrutura em solo (Figura 10), no processo de
duas categorias analisadas, para o processo de execução, a categoria com maior contribuição foi a
execução as duas tiveram potenciais de impactos acidificação terrestre seguida pela categoria de
semelhantes e para o processo de uso e manutenção mudanças climáticas e no processo de uso e
a estrutura em solo teve o maior potencial de manutenção, a categoria que teve o maior potencial
impacto. de impacto foi a de acidificação terrestre. As demais
categorias não tiveram potenciais impactos
Acidificação terrestre relevantes.
1,80E+04
1,60E+04
Os resultados apresentados para estrutura
1,40E+04 tradicional e para estrutura de solos reforçados com
1,20E+04
1,00E+04 geotêxtil tecido para as categorias principais
8,00E+03
6,00E+03 analisadas, Mudanças climáticas, Destruição de
4,00E+03 ozônio, Acidificação terrestre e Eutrofização de
2,00E+03
0,00E+00 água doce, pois, em sua maioria, os analisados a
Execução Uso e manutenção estrutura de solos reforçados apresentaram os
Estrutura em concreto Estrutura de solos menores potenciais de impacto, esses resultados
Figura 8. Categoria de Acidificação terrestre. corroboram com os observados por Bizjak e Lenart
(2018) e Damians et al., (2015).
Os resultados obtidos pela categoria de Quando se analisaram as estruturas de contenção
acidificação terrrestre (Figura 8) demonstraram que em separado, para entender qual a categoria com
para o processo de execução, a estrutura estrutura maior potencial, para as ambas as estruturas para o
em concretto armado teve o maior potencial de processo de execução, as categorias de impacto
impacto, já o processo de uso e manutenção a com maiores potenciais foram as de acidificação
estrutura de solos teve o maior potencial de impacto. terrestre, seguida pela categoria de mudança
climática. Para os demais processos de uso e
Estrutura de Concreto manutenção, a categoria com maior potencial de
1,80E+04 impacto foi de acidificação terrestre seguida pela de
1,60E+04
1,40E+04 mudanças para a estrutura em concreto. Já para
1,20E+04
1,00E+04 estrutura para esse mesmo processo a categoria com
8,00E+03
6,00E+03 maior emissão de potencial impacto foi a de
4,00E+03
2,00E+03
acidificação terrestre, demonstrando semelhanças
0,00E+00 com os resultados observados por Bizjak e Lenart
Execução Uso e manutenção (2018).
Eutrofização de água doce Mudanças Climáticas
Destruição do ozônio estratosférico Acidificação terrestre
Figura 9. Estrutura de concreto com todas as categorias.
5 CONCLUSÃO
Quando se analisou todas as quatro categoria Buscou-se com este trabalho compreender, dentre as
para a estrutura em concreto (Figura 9), nos estruturas que foram analisadas, quais foram os
processos de execução e uso e manutenção a

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514
processos que possuíam maiores potenciais de assessment of earth retaining wall structures.
impactar para o meio ambiente, para os processos de Environmental Geotechnics, 4(6), 415–431.
execução, e uso e manutenção. doi:10.1680/jenge.15.00040, 2015.
De maneira geral, menores potenciais de EC (European Comission) JRC (Joint Research Centre)
IES (Institute for Environment and Sustainability).
impactos para as estruturas de solos reforçados com
ILCD International Reference Life Cycle Data
geossintéticos na maioria dos processos e System. General Guide for Life cycle Assessment –
categorias. Uma das possíveis razões para o ganho Detailed guidance. 2010.
ambiental das estruturas alternativas é que as EHRLICH, M. & BECKER, L. (2009). Muros e Taludes
mesmas utilizam o próprio solo local como material de Solo Reforçado: projeto e execução. Oficina de
principal ao invés do concreto. Textos.
Portanto, metodologia de ACV foi capaz de GONÇALVES, J. F. (2016). Estudo Numérico do
diferenciar quantitativamente e qualitativamente Comportamento de Muros de Solo Reforçado com
entre os potenciais impactos das estruturas Geossintético. São Paulo: Tese de mestrado Escola
analisadas, mostrando ser uma ferramenta eficaz Politécnica da Universidade de São Paulo.
GUO, H.; LIU, Y.; MENG, Y.; HUANG, H.; SUN, C.;
para os tomados decisão da área verificar quais são
SHAO, Y. A Comparison of the Energy Saving and
as melhores soluções a serem adotadas. Carbon Reduction Performance between Reinforced
Concrete and Cross-Laminated Timber Structures in
Residential Buildings in the Severe Cold Region of
REFERÊNCIAS China. Sustainability 2017.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de
NBR 14040: Gestão ambiental - Avaliação do ciclo Domicílios: Censo Demográfico, 2020.
de vida - Princípios e estrutura. Rio de Janeiro. JONSSON, A.; BJORKLUND, T.; TILLMAN, A. M.
2009a. LCA of Concrete and Steel Building Frames.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. International Journal of Life Cycle Assessment, v. 3,
NBR ISO 14044: Gestão Ambiental: Avaliação do n. 4, pp. 216-224, 1998.
Ciclo de Vida: Requisitos e Orientações, 46. Rio de KLÖPFFER, W.; GRAHL, B. Life Cycle Assessment
Janeiro, 2009b (LCA): A guide to best practice. Weinheim: Wiley-
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. VCH, 2014, 391 p.
SSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS OLIVEIRA, L.A., VIANA, P.M.F., SANTOS, D.C.R., et
TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118. Projeto de al., “Uso de geossintéticos como reforço em estradas
estruturas de concreto - Procedimento. Rio de não pavimentadas”, Engenharia Agrícola, v. 36, n. 3,
Janeiro, 2014. pp. 546-557, 2016.
BALASBANEH, A. T., YEOH, D., JUKI, M. I., Relatório de Status Global para Edifícios e Construção
IBRAHIM, M. H. W., & ABIDIN, A. R. Z. Assessing 2019. AIE: Paris, França (2019).
the life cycle study of alternative earth-retaining walls REIS, D. Fluxo de materiais e eficiência no uso de
from an environmental and economic viewpoint. recursos na indústria da construção. Tese
Environmental Science and Pollution Research, (Doutorado) Escola Politécnica da Universidade de
28(28), 37387–37399, 2021. São Paulo. Departamento de Engenharia de
BENTO, R. R. Análise do desempenho ambiental de Construção Civil, 2020.
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Ciclo de Vida (ACV) no processo decisório do aplicada a ACV de cimentos e concretos. Tese de
dimensionamento. Tese de Doutorado. Programa de Doutorado em Engenharia Civil. – Campinas, SP,
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Universidade de São Paulo, 2016. SEOL, Y., LEE, S., LEE, J. Y., HAN, J. G., & HONG, G.
BIZJAK, K. F., & LENART, S. Life cycle assessment of Excavation Method Determination of Earth-Retaining
a geosynthetic-reinforced soil bridge system – A case Wall for Sustainable Environment and Economy: Life
study. Geotextiles and Geomembranes, 46(5), 543– Cycle Assessment Based on Construction Cases in
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BUENO, B. S. & VILAR, O. M. (2015). Propriedades, SOCIEDADE INTERNACIONAL DE
ensaios e normas. In: VERTEMATTI, J. C. (coord.). GEOSSINTÉTICOS (International Geosynthetics
Manual Brasileiro de Geossintéticos. Blucher, São Society – IGS, 2018) disponível em: .Acesso em 10
Paulo, SP, 2 Ed. Julho. 2021.
CHEN, C.X.; PIEROBON, F.; JONES, S.; MAPLES, I.; STRAUSS, D.M. FRANGOPOL, K. BERGMEISTER
GONG, Y.; GANGULY, I. Comparative Life Cycle (Eds.), Life-cycle and Sustainability of Civil
Assessment of Mass Timber and Concrete Residential InfrastructureSystems, CRC Press, Taylor & Francis
Buildings: A Case Study in Group, A. A. Balkema, Boca Raton, London (2012).
China. Sustainability 2022. VERTEMATTI, J. C. (2015). Manual brasileiro de
DAMIANS, I. P., BATHURST, R. J., ADROGUER, E. geossintéticos. São Paulo.
G., JOSA, A., & LLORET, A. Environmental

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


515
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação Técnica do Material Residual Oriundo de uma Usina


Asfáltica Visando o Reaproveitamento em Obras de Infraestrutura
Enio Fernandes Amorim
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil,
enio.amorim@ifrn.edu.br

Jose Jonailson de Oliveira Penha


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil,
jonailson.penha@escolar.ifrn.edu.br

Neilson Sidney Farias de Moura


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil,
farias.moura@escolar.ifrn.edu.br

Natália Lacerda dos Santos


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil,
natalia.lacerda@escolar.ifrn.edu.br

Tais Moreira de Lisboa


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Brasil,
tais.lisboa@escolar.ifrn.edu.br

RESUMO: O crescimento da população mundial eleva o consumo de recursos naturais e contribui para o aumento dos
impactos ambientais decorrentes da construção de infraestruturas civis. Neste cenário, a utilização de materiais
alternativos vem se tornando uma prática frequente para minimizar a exploração de recursos naturais. No caso das usinas
de asfalto, o resíduo gerado representa um volume significativo a ser disposto nos centros urbanos, sendo necessário que
uma destinação adequada seja realizada para mitigar os impactos ambientais. Neste contexto, esta pesquisa tem por
objetivo analisar o uso de resíduos oriundos de uma usina asfáltica, localizada no município de Macaíba/RN, Brasil, como
forma de incorporar esses materiais a novos traços de concretos asfálticos. Os métodos empregados nesta pesquisa foram
baseados em ensaios de caracterização física, química e mineralógica e nos estudos de dosagens Marshal. Realizou-se
ensaios em amostras de concretos asfálticos contendo 0%, 2%, 4%, 6% e 8% de frações de resíduos, em massa, verificando
o seu desempenho nas misturas propostas. Os procedimentos de ensaios basearam-se nas normas da Associação Brasileira
de Normas Técnicas e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Como conclusão, pode-se constatar
que os parâmetros técnicos de volume de vazios, relação betume de vazios, massa específica aparente e estabilidade
Marshall atenderam os requisitos impostos pelas normas brasileiras, de modo que o resíduo em estudo possui potencial
de aplicação em obras viárias. Além disso, quanto a sustentabilidade ambiental, o material residual além de não ocupar
espaços em aterros, propociona a economia dos agregados naturais, quando da sua reutilização.

Palavras-Chave: Recursos Naturais, Misturas Asfálticas, Métodos, Concretos Asfálticos, Resíduo Asfáltico.

ABSTRACT: The growth of the world population increases the consumption of natural resources and contributes to the
increase of the environmental impacts resulting from the construction of civil infrastructures. In this scenario, the use of
alternative materials has become a common practice to minimize the exploitation of natural resources. In the case of
asphalt plants, the waste generated represents a significant volume to be disposed of in urban centers, requiring proper
disposal to mitigate environmental impacts. In this context, this research aims to analyze the use of waste from an asphalt
plant, located in the city of Macaíba/RN, Brazil, as a way of incorporating these materials into new mixes of asphalt
concrete. The methods employed in this research were based on physical, chemical and mineralogical characterization
tests and Marshal dosage studies. Tests were carried out on asphalt concrete samples containing 0%, 2%, 4%, 6% and 8%
of waste fractions, by mass, verifying their performance in the proposed mixtures. The test procedures were based on the

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516
standards of the Brazilian Association of Technical Standards and the National Department of Transport Infrastructure.
In conclusion, it can be seen that the technical parameters of void volume, bitumen void ratio, apparent specific mass and
Marshall stability met the requirements imposed by Brazilian standards, so that the residue under study has potential for
application in road works. In addition, regarding environmental sustainability, the residual material, in addition to not
occupying space in landfills, provides the economy of natural aggregates when reused.

KEYWORDS: Natural Resources, Asphalt Mixtures, Methods, Asphalt Concrete, Asphalt Residue.

1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAL E MÉTODOS

O avanço em obras de infraestrutura viária e o Este estudo consiste na análise de composições de


crescimento populacional, fez aumentar o consumo concretos asfálticos a partir do uso de agregados
de recursos naturais e, consequentemente, esse graúdos e miúdos, do material de enchimento (fíler),
fenômeno contribui para o aumento dos impactos cimento asfáltico de petróleo e o oriundo de uma
ambientais orundos da manutenção e construção de usina de asfalto. Para a análise técnica desse estudo,
infraestruturas civis. Neste aspecto, a utilização de o objetivo pleiteado encontra-se fundamentado na
materiais alternativos na construção de rodovias e avaliação de uma série de ensaios físicos, químicos e
subprodutos provenientes de misturas asfálticas vem mineralógicos a partir do uso de agregados para a
se tornando uma prática frequente para minimizar a preparação de concretos asfálticos nas frações de
exploração de recursos naturais (agregados minerais, brita 1, cascalho, brita graduada com asfalto (BGA),
ligantes) e mitigar os problemas ambientais. pó de pedra, pó de calcário e areia para cada traço
As atividades de construção e manutenção definido adiante. Os materiais foram disponibilizados
dos pavimentos rodoviários, além de exigir uma pela empresa de Tecnologia em Construções e
elevada quantidade de materiais naturais exigem o Pavimentação Ltda (TCPAV), localizada na cidade
consumo de quantidades consideráveis de recursos de Macaíba/RN. As Figuras de 1 a 3 ilustram detalhes
energéticos. Com isso, os impactos ambientais estão da usina e do local de coleta dos materiais.
associados às diferentes fases do ciclo de vida do
pavimento como a construção, o uso, a manutenção e
o fim da vida útil (BRESSI et. al., 2022). O aspecto
econômico é outro fator a ser considerado em
projetos de estruturas rodoviárias, pois são obras de
elevados custos operacionais de execução e aquisição
de recursos minerais. O material residual da usina de
asfalto constitui-se outro resíduo importante desse
setor de pavimentação. Esse material residual é
gerado devido à produção de misturas asfálticas fora
das especificações de serviço, geralmente ocorrendo
no início e no final do processo de produção das
misturas.
A usina de asfalto geralmente não é utilizado Figura 1. Detalhe da Usina de Asfalto
para finalidades de construção civil. O seu descarte
em locais inadequados e de forma irregular podem
gerar impactos ambientais. Em sua composição
contém ligante asfáltico e por meio da lixiviação
causam contaminação do solo, lençóis freáticos e
corpos hídricos.
Diante deste cenário, o objetivo deste
trabalho é fazer uma análise técnica do material
residual oriundo de uma usina asfáltica, visando o seu
emprego em obras de infraestrutura viária no
processo de produção de concreto asfáltico usinado a
quente, por meio de uma abordagem metodológica de
maneira que resulte uma análise do ponto des vista
técnico, ambiental e econômico (economia de
agregados virgem na produção). Figura 2. Materiais Coletados na Usina de Asfalto

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517
Figura 3. Pilha de Resíduo da Usina Figura 4. BGA

O programa experimental foi baseado na O ligante utilizado neste projeto de pesquisa


realização de ensaios divididos em duas fases, onde, foi o cimento asfáltico de petróleo (CAP) 50/70,
na primeira fase, foi feita a caracterização física proveniente de refinarias do estado do Ceará, Brasil,
(granulometria, massa específica, abrasão Los fornecido pelo o Instituto Federal de Educação do
Angeles e índice de forma), onde todos os ensaios Rio Grande do Norte (IFRN). É oportuno destacar
foram realizados de acordo com as normas do que o concreto asfáltico é a mistura asfáltica mais
Departamento Nacional de Infraestrutura de empregada no Brasil, em termos de execução de
Transportes (DNIT). Para a caracterização química e pavimentos de rodovias, tratando-se de uma mistura
mineralógica foram realizados os ensaios de usinada, composta de agregados com diversos
espectrometria por fluorescência de raios X (FRX) e tamanhos (graúdo, miúdo e material de enchimento)
a Difração de Raios X (DRX) com a brita graduada e cimento asfáltico de petróleo. Quanto à
com asfalto (BGA). Na segunda fase, foi realizada a granulometria dos agregados, as dosagens foram
preparação dos traços de concreto asfáltico, onde enquadradas na faixa “C” padrão do DNIT e dosada
foram feitas a adição da BGA em cada traço para a aplicação na camada de rolamento, em atenção
investigado. O percentual de BGA nos traços à norma técnica DNIT 031- ES (DNIT, 2006). A
variaram em 0%, 2%, 4%, 6% e 8%. Na Fígura 4, Tabela a seguir apresenta o programa experimetal
pode-se ver a BGA, homogeneizada, para fazer a proposto nesta pesquisa e a relação das normas
mistura junto com os agregados. aplicadas na etapa de caracterização (Tabela 1), às
quais os métodos e as especificações estão
submetido.

Tabela 1 - Normas aplicadas na pesquisa


Material Ensaio Norma
Classificação dos resíduos Resolução nº 307 (CONAMA, 2002)
Coleta dos agregados (procedimentos) DNER-PRO 120 (DNIT, 1997)
Granulometria por peneiramento DNER-ME 083 (DNIT, 1998)
Agregados graúdo e Densidade e absorção por água DNER-ME 081 (DNIT, 1998)
miúdo (natural e Abrasão Los Angeles DNER-ME 035 (DNER, 1998)
reciclado) e fíler Massa específica da areia (frasco de DNER-ME 194 (DNIT, 1998)
Chapman
Massa específica do Cimento Portland DNER-ME 085 (DNIT, 1994)
(frasco de Le Chatelier)
Extração de ligante - Método Rotarex DNER – ME 56 (DNER, 1994)
Cimento Asfáltico de ANP Resolução nº 19 (ANP, 2005)
Petróleo Especificação de material Densidade de DNIT 095-EM (DNIT, 2006) DNER-ME
(CAP) 50/70 materiais betuminosos 193 (DNIT, 1996)

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Na execução das dosagens de concreto para corrigir a estabilidade medida a um cilindro de
asfáltico, realizou-se o estudo com base nas dosagens referência com 6,35 cm de altura. Os corpos de prova
Marshall, a partir da imposição de limites a serem foram então imersos em um banho-maria a 60 °C por
atendidos para o volume de vazios de ar e a 30 minutos, de onde foram retirados para execução
resistência da mistura a deformações plásticas sob do ensaio de ruptura semi-confinada em uma prensa
altas temperaturas, neste caso, através dos parâmetros à velocidade de 2”/min. A estabilidade Marshall e o
da estabilidade e fluência. Foram confeccionados deslocamento vertical total sofrido (fluência) foram
sessenta corpos de prova de concreto asfáltico, obtidos. É oportuno destacar que esse procedimento
compactados por impacto dentro de um cilindro de é o mais utilizado para projeto de mistura asfáltica,
paredes rígidas, com 75 golpes por face. Todos os segundo o critério inicial do método Marshall para
equipamentos utilizados para a moldagem dos corpos uma mistura satisfatória que inclui requisitos míninos
de prova foram aquecidos previamente. Discos de de uma estabilidade, fluência, densidade e índice de
papel foram colocados no topo e na base do corpo de vazios (RÉGIS MARTINS, 2020). Na Figura 7
prova, antes da compactação, para evitar sua apresenta-se detalhes da Prensa Marshall empregada
aderência ao molde. A Figura 6 mostra a exposição neste estudo e na Tabela 2, relaciona- se as normas
de corpos de provas, após serem desmoldados e trabalhadas na etapa das dosagens.
parafinados.

Figura 6. Detalhes dos corpos de prova estudado

Cada corpo de prova foi retirado por


extrusão do molde, depois de resfriado ao ar. A
altura, o peso ao ar e o peso submerso de cada corpo
de prova foram medidos para calcular a densidade da
mistura. A altura de cada corpo de prova foi realizada
Figura 7. Prensa Marshal

Tabela 2. Normas empregadas no estudo das dosagens


Processo Descrição Norma
Dosagem Marshall Método de Ensaio DNER-ME 043 (DNIT, 1995)
Enquadramento de faixa e análise dos
Especificação de serviço DNIT 031-ES (DNIT, 2006)
parâmetros

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES O procedimento foi realizado com a brita 1, o


cascalho, a BGA, o pó de pedra, o pó de calcário e
De acordo com os procedimentos mencionados, a areia. A seguir, a Figura 8 ilustra as curvas
anteriormente, o ensaio de granulometria foi granulométricas de cada um dos materiais. É
realizado com base no peneiramento do material em oportuno destacar, que os materiais apresentaram
diferentes malhas, para que fosse analisada a um comportamento uniforme, de modo que a
variação de partículas no agregado conforme a graduação de forma decrescente se deu da brita 1
norma DNER - ME 083 (DNIT, 1998). para a areia, conforme a sequência descrita.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


519
escala. Analisando a viabilidade da utilização da
fração do resíduo em estudo pela estabilidade,
observou-se que todos os traços atingiram valores de
estabilidade acima do recomendado pelo DNIT, 500
kgf (DNIT, 2006); isto, para todas as dosagens
avaliadas, conforme a Figura 9.

Figura 8. Curvas Granulométricas dos Agregados

No que diz respeito as massas específicas, a


Tabela 3 apresenta os resultados obtidos. Para os
valores encontrados, infere-se que todos os materiais
enquadram-se nas normas e nos requisitos
estabelecidos na região, pois a massa específica Figura 9. Estabilidade Marshal
desses materiais variam de 2,62 g/cm³ à 2,70g/cm³.
Referente ao Índice de forma, a brita 1 obteve f = Outro parâmetro importante a analisar em
0,726, o que significa que esse tipo de brita possui uma mistura betuminosa é o volume de vazios - Vv,
aproximadamente 73% de suas partículas com poisatravés da aferição de sua porcentagem, pode-se
formato cúbico, que auxilia na rigidez, em casos de prever alguns comportamentos que o pavimento
cargas aplicadas no material. Além disso, a brita 1 flexível terá quando for solicitado. A Figura 10
passou pelo ensaio de Los Angeles, obtendo-se o mostra as curvas referentes a %Vv versus a %CAP
resultado de 33,63% de abrasividade, colaborando dos cinco traços executados neste estudo.
para o estudo da pesquisa e mostrando que o Analisando-se as curvas geradas pelos
material, mesmo sendo submetido a cargas de corpos deprovas sem a colocação dos resíduos
abrasão, possui uma baixa taxa de abrasividade. oriundos da usina asfáltica nas porcentagens de 4,5%
e 5,0% deCAP, é perceptível que esses dois traços
Tabela 3. Massa específica dos materiais ultrapassaram os limites das normas brasileiras queé
no máximo de 5%. Contudo, é oportuno destacar que
Agregados Resultados
analisando a Figura 10, todos os traços possuem
Brita 1 2,62 g/cm³ valores de volume de vazios dentro dos limites
Cascalho 2,76 g/cm³ impostos pelas normas brasileiras de 3% a 5%.
Pó de Pedra 2,62 g/cm³
BGA – Limpo 2,63 g/cm³
Areia 2,62 g/cm³
Pó de Calcário 2,66 g/cm³

Os resultados obtidos após o ensaio de


resistência à compactação e submissão de carga dos
corpos de prova são descritos para as dosagens com
os agregados naturais e com o material alternativo
em estudo.
Na estabilidade Marshall, analisando-se a Figura 10. Volume de Vazios
Figura 9, observa-se que em todos os traços de
concreto asfáltico, em seu ponto de pico, foram A Figura 11, a seguir, mostra as curvas
obtidos valores de estabilidade acima de 500 kgf, referentes a relação de betume de vazios versus a
atendendo ao requisito recomendado pela norma %CAP dos cinco traços executados neste estudo.
031/2006 do DNIT (2006a) para camadas de Neste sentido, diante dos resultados obtidos pela
rolamento de pavimentos asfálticos. Figura 11, observa-se que as dosagens contendo 2%
Para os traços constituídos com a fração de de resíduo da usina asfáltica não atende aos
resíduos oriundos da produção de concreto asfáltico requisitos das normas brasileiras que devem ser de
na usina, nas dosagens de 4%, 6% e 8% observa-se 75% a 82% para camadas de rolamento em obras
pela Figura 9 que as curvas de estabilidade versus viárias. Contudo, destaca-se que todos os outros
porcentagem de CAP atingem o seu valor de pico traços possuem valores dentro desses limites
para o teor de 4,5% de CAP, o que representa uma aceitáveis, o que constitui uma solução viável do
economia para a produção de concretos em grande ponto de vista técnico para obras de pavimentação.
REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.
520
asfálticas (pó de pedra, areia, pó de calcário,
cascalho, brita 1), apresentou os elementos
conforme detalhes da Tabela 4. É importante
destacar que essa análise fornece informações da
composição elementar da amostra por meio do
espectrometria por fluorescência de raios X (FRX).
Para essa verificação, forneceu-se o material
passante na peneira 0,075mm.

Tabela 4. Composição química do BGA


Componentes Porcentagem (%)
Figura 11. Relação Betume/Vazios
SiO2 67,69 %
Al2O3 14,08 %
A seguir, pode-se verificar os resultados
K2O 6,54%
obtidospor meio da Figura 12 ilustrando as curvas CaO 3,22%
referentes a massa específica aparente das misturas Fe2O3 2,97%
versus a %CAP dos cinco traços executados neste Na2O 2,30%
estudo. MgO 1,40%
Analisando a Figura 12 observa-se que as
ordens de grandezas para a massas específicas Realizou-se a análise por FRX na condição
aparentes das amostras variaram de 2,29 g/cm³ a em pó da BGA, (material passante na peneira de
2,36 g/cm³,o que se encontra em total acordo com os 0,075 mm) quanto a análise mineralógica do material
concretosusualmente empregados para fins viários. da BGA, obteve-se o difratograma ilustrado por
Dessa forma, pode-se dizer que todas as misturas em meio da Figura 13, a seguir. Diante dessa análise,
análises encontram-se aceitáveis para o uso em obras obteve-se informações pertinentes à composição
de pavimentação. mineralógica de uma amostra de BGA onde o
resultado forneceu picos cristalinos com maior teor
de quartzo, albita, calcita e leucita.
Constatou que a análise de DRX foi coerente
com o teste de FRX, a qual identificou características
mineralógicas composta por quartzo, minerais do
grupo dos feldspatos (albita, orthoclase), mineral
pertencente ao grupo dos carbonatos (calcita)
justificável a sua presença devido a composição do
pó de calcário no resíduo e, por serem materiais
provenientes de rochas graníticas foi detectado o
mineral cordierita, que possui o magnésio na sua
composição química (Mg2Si5Al4O18) (Figura
Figura 12. Massa Específica Aparente da Mistura 13). Além disso, ao observar a Figura 13, percebe-
(GMB) se que o resíduo possui trechos que possivelmente
indicam características amorfas. A análise da
No que diz respeito a análise química do composição mineralógica da BGA foi complexa por
material residual da usina de asfalto, a BGA é ser constituída de diferentes materiais, assim
formada por materiais constituintes de misturas dificultou a identificação das fases cristalinas.

Figura 13. Análise por DRX da BGA na condição em pó

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521
4 CONCLUSÃO

Ao término da pesquisa verificou-se que os de Base de Pavimentos Urbanos. Estudo de Caso:


resultados encontrados serviram de base para Município de Campo Verde - MT.
efeitos comparativos junto aos parâmetros ANP - Agência Nacional do Petróleo. (2005).
especificados pelas normas brasileiras, culminando ResoluçãoRANP no 19 - 2005: Especificações do
Cimento Asfáltico de Petróleo. Rio de Janeiro.
valores dentro dos padrões aceitáveis de modo que
DENER - Departamento Nacional de Estradas de
o resíduo em análise apresenta um potencial de uso Rodagem. (1997). DNER-PRO 120: Coleta de
no âmbito da pavimentação viária. Os parâmetros amostras de agregados. Rio de Janeiro.
de volume de vazios, relação betume de vazios, DENER - Departamento Nacional de Estradas de
massa específica aparente e estabilidade Marshall Rodagem. (2000). DNER-TER 403: Peneiras de
atenderam os limites normativos brasileiros para ensaio e ensaio de peneiramento - terminologia.
fins viários. Além disso, do ponto de vista Riode Janeiro
ambiental, pode-se concluir que o aproveitamento DNER-ME 035/98: Agregados - determinação da
do material residual da usina resulta em uma abrasão “Los Angeles”. Rio de Janeiro, 1998. 06 p.
redução no consumo de agregados virgens e DNER-ME 081/98: Agregados - determinação da
absorção e da densidade de agregado graúdo. Rio
cimento asfáltico de petróleo, proporcionando uma
deJaneiro, 1998. 06 p
viabilidade do ponto de vista ambiental e DNER-ME 083/98: Agregados - análise
econômico, em virtude do aproveitamento desse granulométrica. Rio de Janeiro, 1998. 05 p.
resíduo. Desse modo, conclui-se que o emprego do DNER-ME 194/98: Agregados - determinação da
material residual em estudo em novos traços de massaespecífica de agregados miúdos por meio do
concreto asfáltico, pode ser reaproveitado para fins frasco Chapman. Rio de Janeiro, 1998. 04 p.
de obras viárias aplicado para trechos novos e de DNER-ME 085/94: Material finamente pulverizado -
manutenção da camada de rolamento. Determinação da massa específica real. Rio de
Janeiro, 1994. 04 p.
AGRADECIMENTOS DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE –
DNIT.Manual de Pavimentação. 3 ed. Rio de
A empresa TCPAV - Tecnologia em Construções e Janeiro, 2006.
Pavimentação, e o Núcleo de Estudos de DNIT-ME 043/95: Misturas betuminosas a quente
Tecnologia e Gestão na Indústria e Serviços - TGIS –Ensaio Marshall. Rio de Janeiro, 1995. 11 p.
pela confiança e apoio para desenvolver essa DNIT-ES 031/06: Pavimentos flexíveis – Concreto
pesquisa. asfáltico. Rio de Janeiro, 2006. 14 p.
A equipe de técnicos do laboratório de DNIT-ME 424/2020: Pavimentação – Agregado –
pavimentação do IFRN - Campus Natal-Central: Determinação do índice de forma com crivos –
Gian Melo, Nathana Luiza, Ricardo Coelho e os Método de ensaio. Brasília, 2020. 06 p.
bolsistas: Anderson e Rosália, pela ajuda e DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte. (2006). DNIT 095 - EM: Cimentos
disponibilidade constante, no qual, sem eles, não
asfálticos de petróleo - Especificação de material.
teria sido possível atingir com êxito os resultados Rio de Janeiro, 2006.
dos ensaios. RODRIGUES , RÉGIS MARTINS. ENGENHARIA
Ao mestrando Alex e a graduanda Débora DE PAVIMENTOS: PARTE 1 projetos de
por todo apoio e auxílio fornecido na elaboração pavimentos. Pavesys. Porto Alegre, 2020. 82.
desta pesquisa, por estarem presentes nos
momentos difíceis ao longo de toda a pesquisa.
Aos demais amigos: pela atenção e
disponibilidade. E a todos aqueles que, mesmo não
tendo sido citados, colaboraram de alguma forma,
direta ou indiretamente, para a realização deste
trabalho.

REFERÊNCIAS

AMORIM, E. F. (2013). Viabilidade Técnica


Econômica de Misturas de Solo-RCD em Camadas

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


522
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Biocimentação de um Solo Argiloso com Diferentes Meios


Nutritivos para fins de Pavimentação

Andre Luis Burin


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Erechim, Brasil.
andre.burin15@outlook.com

Vinicius Luiz Pacheco


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Erechim, Brasil
vinimanfroipacheco@gmail.com

Deise Trevisan Pelissaro


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Erechim, Brasil
deisetrevizan@uricer.edu.br

Suelen Cristina Vanzetto


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Erechim, Brasil
suelen@uricer.edu.br

RESUMO: Tendo em vista a procura por métodos sustentáveis de reforços de solos, foi desenvolvida a técnica da
biocimentação. Esse processo consiste na formação de partículas de cristais de carbonato de cálcio (CaCO3), tendo como
processo bioquímico formador a hidrólise de ureia que é gerada pelas bactérias. Isso faz com que ocorra a ligação das
partículas do solo e garante uma melhoria nas propriedades desse solo. O presente estudo teve como objetivo avaliar a
técnica de biocimentação comparando compostos nutritivos afim de melhorar as características de um solo da cidade de
Erechim/RS, visando sua posterior utilização para fins de pavimentação. O solo argiloso foi submetido ao processo de
biocimentação, dispondo da comparação de dois meios nutritivos, B4 e solução cimentante, além do corpo de prova de
controle. Foi avaliado também dois tipos de cura: controlada e ambiente e dois tempos de cura: 7 e 28 dias. Após os
ensaios de resistência mecânica através da compressão simples e tração por compressão diametral, a solução cimentante
demonstrou-se como a melhor opção de escolha, sendo mais resistente a esforços de compressão (1.200 kPa) e tração
(900 kPa), em um período menor de cura e na cura controlada. Porém, foi verificado um decréscimo da resistência dessa
solução com o passar do tempo. As análises de DRX constataram a presença de cálcio em ambas soluções nutritivas, o
que pode ser indicador da eficiência do processo.

PALAVRAS-CHAVE: Biocimentação, solo, nutrientes, pavimentação.

ABSTRACT: In view of the search for sustainable soil reinforcement methods, the biocementation technique was
developed. This process consists of the formation of particles of calcium carbonate crystals (CaCO 3), with the biochemical
process forming the hydrolysis of urea that is generated by bacteria. This causes the binding of soil particles to occur and
ensures an improvement in soil properties. The present study aimed to evaluate the biocementation technique by
comparing nutritional compounds in order to improve the characteristics of a soil in the city of Erechim/RS, aiming at its
subsequent use for paving purposes. The soil clayish was subjected to the biocementation process, with the comparison
of two nutrient media, B4 and cementing solution, in addition to the control specimen. Two types of cure were also
evaluated: controlled and ambient and two curing times: 7 and 28 days. After the mechanical strength tests through simple
compression and traction by diametral compression, the cementing solution proved to be the best option of choice, being
more resistant to compressive (1,200 kPa) and traction (900 kPa) efforts, in a period Minor Healing and Controlled
Healing. However, a decrease in the strength of this solution was observed over time. The XRD analyzes confirmed the
presence of calcium in both nutrient solutions, which may be an indicator of the efficiency of the process.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


523
KEY WORDS: Biocementation, soil, nutrients, paving.

1 INTRODUÇÃO Nesse sentido, a proposta do trabalho é abordar a


técnica da biocimentação, buscando o
Todo projeto de engenharia civil é realizado na aperfeiçoamento geotécnico desse processo, bem
superfície terrestre, estando diretamente relacionado como as características do solo e sua microbiologia,
aos solos. As fundações são o suporte para uma comparando a utilização de meios nutritivos
construção, transferindo todas as cargas estruturais diferentes, com a finalidade da melhor escolha para
para o terreno onde elas estão apoiadas (QUEIROZ, posterior utilização em pavimentos.
2016). Face a isso, a procura por métodos para fins
de estabilização dos solos é um dos objetivos 2 MATERIAL E MÉTODOS
fundamentais da Geotecnia. Determinar a interação
terreno-fundação-estrutura é um dos propósitos da A metodologia utilizada neste trabalho foi
construção civil, visando prever e adotar medidas que baseada no referencial teórico experimental, assim
evitem recalques ou rupturas do terreno, afim de como normativas, trabalhos acadêmicos, artigos e
garantir uma relação maior entre estabilidade e o informações disponíveis na internet. Os ensaios
menor custo da obra (CAPUTO, 1988). foram realizados no Laboratório de Solos e
Algumas técnicas para melhorar as propriedades Pavimentação de Engenharia Civil da Universidade
mecânicas dos solos já são utilizadas, porém a Regional e Integrada do Alto Uruguai e das Missões
maioria delas geram grandes deslocamentos de terra, – URI Campus Erechim/RS, seguindo os
alto custo, além de alterar os níveis de pH e demais procedimentos estabelecidos pela Associação
propriedades do solo (DEJONG et al., 2006). Além Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A Figura 1
disso, a utilização e produção de cimento Portland é apresenta um fluxograma das etapas do trabalho
estimada por contribuir em 7% com as emissões desenvolvidas na metodologia
globais de CO2 (JONKERS et al., 2010). Diante a
isso, uma técnica inovadora vem sendo utilizada,
com o auxílio de microorganismos, nutrientes e
processos biológicos naturalmente presentes nos
solos para melhorar as suas propriedades de
engenharia (DEJONG et al., 2006). A biotecnologia
é um ramo novo na engenharia, sendo que essa
tecnologia tem como principais vantagens o baixo
custo de investimento e manutenção (KAROL,
2003).
Uma dessas tecnologias que vem sendo estudada
nos últimos anos e ganhando cada vez mais
visibilidade é o processo de biocimentação. A
biocimentação, também conhecida como técnica
MICP (Microbiologically Induced Calcite
Precipitation), é um processo menos evasivo e
sustentável, que consiste em alimentar as bactérias Figura 1 – Fluxograma metodologia
Bacillus pasteurii com compostos nutritivos que as
estimulam a precipitar carbonato de cálcio (CaCO3), 2.1 Caracterização do Solo
unindo as partículas do solo e fazendo assim
obstruírem seus poros. Ao final do processo esse solo No que diz respeito às variáveis controláveis,
acaba melhorando suas características de rigidez, nota-se uma grande quantidade de fatores que podem
resistência e permeabilidade (PEDREIRA, 2014). influenciar no processo de biocimentação. Com a
Em pavimentos geralmente são utilizadas finalidade de investigar algumas das variáveis que
técnicas de estabilização do solo in situ no subleito mais exercem influência, foram definidas as
com a adição de cimento e aditivos químicos a base seguintes variáveis de controle: (a) Meios nutritivos
de zeólitos (GERSONUIS; EGYED, 2012). Em - B4 e solução cimentante (SC); (b) Tipo de cura -
virtude aos benefícios que a técnica pode trazer, o seu controlada e ambiente e, (c) Tempo de cura – 7 e 28
uso em obras de infraestrutura rodoviária, tornam-se dias.
uma grande vantagem sustentável para estabilizar Foram coletadas amostras deformadas em
solos que não estejam com as propriedades naturais condição natural, na cidade de Erechim/RS. O solo
apropriadas para suportar a estrutura de pavimentos. coletado é denominado laterítico, comumente

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


524
encontrado no estado do Rio Grande do Sul. Dias Extrato de levedura 1
(1989), explica que esse tipo de solo aparece em Bicarbonato sódio 2,12
aproximadamente 20% do Estado, oriundos de Cloreto de amônio 10
basalto e arenito. Para caracterização desse solo foi Fonte: Garbin (2016)
feito ensaio de massa específica dos grãos, análise 2.3 Inserção de nutrientes e Moldagem dos
granulométrica, limites de Atterberg e compactação. Coorpos de Prova
A atividade microbiológica do solo não foi avaliada,
porém diversos estudos demonstraram a presença de Nesse trabalho, optou-se pela inserção dos
microorganismos produtores desse processo em solos nutrientes através do processo de compactação. O
lateríticos, além de outros estudos que evidenciarem meio nutritivo foi adicionado ao solo antes da
diversas colônias de bactérias que auxiliam no compactação, até chegar na umidade ótima. Como
desenvolvimento da técnica. não será utilizado a injeção por percolação, a
aplicação foi feita apenas uma vez, sem intervalos de
2.2 Nutrientes injeção, já que o intuito é viabilizar a aplicação.
Nesse sistema de compactação, o solo foi
Os microorganismos precisam ser alimentados compactado em um cilindro nas dimensões de 50mm
para que eles continuem o processo de produção da de diâmetro e 100mm de altura, pois facilita a
urease. A solução de nutrientes utilizadas é uma etapa desmoldagem por conta da sua abertura lateral.
imprescindível, pois é ela que vai fornecer os devidos Inicialmente a amostra de solo foi seca em uma estufa
compostos necessários para que as bactérias à uma temperatura de 40 °C. Para separar as
precipitem o carbonato de cálcio. (PEDREIRA, partículas de solo por tamanho e reter os grãos
2014). Como o uso da técnica de biocimentação maiores, foi utilizado uma peneira de malha
ainda é recente, a literatura demonstra várias #4,75mm. A solução de nutrientes foi adicionada no
combinações e quantidades diferentes de nutrientes a solo antes da compactação ser iniciada conforme
serem utilizados. Essa etapa é fundamental quanto a especificado anteriormente. Para cada corpo de prova
proposta desse trabalho, e para isso as soluções foram moldado em ambos meios nutritivos, foi adicionado
baseadas a partir das pesquisas de Muñeton (2013) e 262,5 g de solo seco para 43,75 g de nutriente,
Garbin (2016). totalizando 306,25 g para cada corpo de prova (CP).
A primeira solução avaliada foi o meio nutritivo Os CPs de controle receberam a mesma quantidade,
B4. Essa solução foi proposta por Lee (2003) e após porém o nutriente foi substituído por água destilada.
empregada por Valencia (2009), Gómez (2009), Após a inserção, o solo com o devido nutriente foi
Valencia (2010) e Muñeton (2013), e segundo os homogeneizado.
autores esse meio proporcionou bons resultados No total foram avaliados 72 corpos de prova para
quanto ao objetivo de precipitar CaCO3. A Tabela 1 as variáveis de controle e de resposta apresentadas,
apresenta a composição a ser utilizada nesse meio sendo 24 corpos de prova com o solo tratado com o
nutritivo. meio B4, 24 corpos de prova com a solução
cimentante (SC) e outros 24 corpos de prova
Tabela 1 – Composição da solução nutritiva B4 denominados de controle. Após tratamento e
REAGENTE CONCENTRAÇÃO (g/L) condições de cura, metade dos CPs foram levados ao
Acetato de cálcio 15 ensaio de compressão simples e outra metade ao
Extrato de levedura 4 ensaio de tração por compressão diametral.
Glicose 5
Fonte: Muñeton (2013) 2.4 Avaliação do tempo de cura em temperatura
controlada e ambiente
A segunda solução utilizada como alimento dos
microorganismos, foi proposta por Garbin (2016) e Após a moldagem, os corpos de prova
adaptada dos estudos de Mortensen et al., (2011) e confeccionados foram armazenados em uma câmara
Amarakoon e Kawasaki (2016). A Tabela 2 apresenta para manterem uma temperatura constante das
a composição utilizada para a solução cimentante. amostras durante o tempo de cura estabelecido (7 e
28 dias). A única exceção, foi a cura ambiente de
Tabela 2 – Composição da solução cimentante doze (12) CPs de cada solução nutritiva e a de
REAGENTE CONCENTRAÇÃO(g/L) controle, que foram levados a um ambiente natural.
Ureia 30 Com o objetivo de avaliar o comportamento do
Cloreto de cálcio 56 solo sob os efeitos naturais de temperatura, os corpos
Peptona 2 de prova foram levados a um ambiente exterior,
próximo as dependências do laboratório, e foram

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525
Resistência (kPa)
800

600

enterrados em uma trincheira escavada de controle, além da avaliação em relação aos tempos de
profundidade de 0,50 m e coberto
400 com uma lona para cura (Figura 3).
proteger de possíveis intempéries climáticas. Os
períodos estabelecidos para 200
ambos os tempos de cura
foram definidos em 7 e 28 dias. Na Figura 2 é (a) Ensaio de compressão simples
demonstrado como foi feito 0 o sistema da cura Cura ambiente
7 dias
ambiente. Após a cura, os corpos
1400
de28prova
dias 7 dias
de ambas28 dias 7 dias 28 dias
Cura controlada
B4 SC Controle
condições de cura foram levados para a execução dos
ensaios de caracterização das propriedades
1200
mecânicas e químicas.

1000
Resistência (kPa)

800

600

400

(a) 200
(b)
(b) Ensaio de tração por compressão diametral
Figura 2 – Tempo de cura ambiente (a) CPs enterrados
0 Cura ambiente
(b) Proteção da trincheira
7 dias 28 dias 7 dias 28 dias 7 dias 28 dias
Cura controlada
B4 SC Controle
2.5 Avaliação das propriedades mecânicas e
quimicas.

Foram avaliados os resultados para as duas


soluções propostas e o corpo de prova de controle
através do ensaio de compressão simples e tração por
compressão diametral, também conhecido como
Brazilian Test. Os ensaios foram executados na
prensa hidráulica do laboratório de Engenharia
Mecânica da Universidade Regional Integrada (URI).
Após isso, foi comparado e analisado os efeitos de
resistência em ambos os solos através das análises
estatísticas ANOVA.
Figura 3 – Resultados dos ensaios mecânicos
Com o intuito de verificar a formação do
carbonato de cálcio e a evolução das propriedades A avaliação do ensaio de compressão simples e
químicas nos solos durante o processo de
tração por compressão diametral demonstraram que
biocimentação, foi avaliado as propriedades do solo para a solução B4 o tempo e o tipo de cura não
através do ensaio de Difração de Raio X (DRX), é interferiram significativamente no seu ganho de
utilizada para determinar a mineralogia do solo, com resistência. Isso vai em concordância com as
o objetivo de definir um entendimento sobre o considerações apresentadas por Muñeton (2013),
comportamento que o mesmo apresenta em relação a
onde conclui que mesmo não representando a
situações em que é submetido (MUÑETON, 2013). efetividade do tratamento, o nutriente B4 não
apresentou melhorias relevantes do comportamento
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES mecânico.
Para a solução cimentante (SC), as variáveis de
A partir da execução do ensaio e ruptura dos tempo e condição de cura foram fundamentais para o
corpos de prova, foram obtidos os resultados de ensaio, sendo a cura controlada a melhor opção e em
resistência à compressão simples e tração por um tempo de cura menor (7 dias). Uma hipótese para
compressão diametral e dispostos em um gráfico que essa ocorrência, seria pelo fato dos microorganismos
avalia a cura ambiente e a cura controlada, para os consumirem todos os nutrientes nos períodos de
meios nutritivos B4, solução cimentante (SC) e

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526
tempo menores, e após atingir a resistência, eles
decaem por não conseguirem manter-se por falta de
substrato, como se eles necessitassem estar
consumindo o nutriente continuamente para manter a
resistência. Hogg (2005), afirma que o crescimento
dos microorganismos e sua efetividade vai ficando
mais lento conforme o suprimento se esgota, sendo
dependente desse meio para atingir os resultados
satisfatórios. Nesse sentido, no estudo de Oliveira e
Rosa (2020), os autores verificaram que os corpos de
prova biocimentados tenderam a aumentar os
resultados de resistência das propriedades mecânicas
principalmente nos primeiros 7 dias de cura. Este
fator indica que a maioria das reações químicas
tendem a ocorrer em curto prazo de tempo.
Já para os corpos de prova de controle
novamente a cura controlada em laboratório e um
período de cura menor foram as melhores opções. Em
comparação, a solução cimentante demonstrou as
melhores respostas em relação a solução B4,
dispondo um aumento acerca de 80% na compressão
simples e significativos 150% na tração por
compressão diametral. Isso demostra que se o solo
estiver sendo submetido a esforços tanto de tração
quanto compressão, a solução cimentante (SC) seria
a melhor opção de escolha. Além disso, o ensaio de
tração por compressão diametral demonstrou menor
resistência nos valores em relação à compressão
simples.
Com as análises de DRX realizadas, foram
obtidos os gráficos para as amostras (Figura 4),
contendo as soluções nutrientes SC, B4 e controle
Figura 4 – Gráficos das analises de DRX
analisadas aos 28 dias para as curas ambiente e
climatizada. A única exceção foi a cura ambiente da
Os minerais mais predominantes no solo foram a
solução SC que acabou não sendo realizada por
hematita, quartzo e caulinita, o que coincide com a
problemas laboratoriais.
composição apontada por Muñeton (2013), para um
solo laterítico. Na solução cimentante (SC) foi
possível verificar a presença do carbono (C) que
constitui a fórmula da Moissanita (SiC) e a presença
do cálcio (Ca), constituinte do Diopsídio
(CaMgSi2O6), ilustrado na Figura 4A. Além disso, foi
encontrado a presença de cálcio em outros pontos
com menor amplitude do gráfico. O mesmo ocorreu
nas Figuras 4B e 4C da solução B4, onde foi
encontrado novamente o carbono (Moissanita) no
corpo de prova curado no ambiente, e o cálcio
evidenciado no mineral Monticellita (CaMgSiO4)
encontrado nos mesmos picos em ambas as curas
ambiente e climatizada. Além disso, novamente
foram encontrados outros picos menores de cálcio. Já
os corpos de prova de controle (Figuras 4D e 4E)
apresentaram os mesmos minerais encontrados nas
amostras anteriores, sendo basicamente constituído
por hematita, quartzo e caulinita, sem nenhuma
evidência da formação de cálcio.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


527
Os resultados encontrados podem não ser uma mais satisfatórios e servindo como a melhor opção de
afirmação direta que comprove a precipitação de escolha para solos em que se deseja aplicar a técnica
carbonato de cálcio no solo, no entanto, a presença de da biocimentação. Todavia, houve um decréscimo da
carbono e principalmente cálcio sugerem que a resistência da solução com o passar do tempo.
biocimentação de fato ocorreu. De acordo com Algumas sugestões de estudos seriam verificar as
Muñeton (2013), mesmo tendo a presença desses quantidades de nutrientes utilizadas, bem como a
minerais, a técnica de DRX não é muito apropriada, quantificação da porcentagem de CaCO3, além de
já que a pouca presença de CaCO3 nesse ensaio pode avaliar idades de cura maiores, com o objetivo de
ser causado por conta de uma sobreposição de picos analisar se a tendência de queda da resistência se
dos minerais que estão numa quantidade maior que a mantém ou não com o passar do tempo. Em relação à
quantidade de carbonato de cálcio, e isso faz com que pavimentação, ainda é necessário avaliar, estudar e
seja difícil identificar sua presença. Além disso, foi compreender outras variáveis além dos fatores
possível observar na análise visual para a solução B4 químicos e geotécnicos, como a interação do
com cura ambiente, a presença de materiais processo em situações reais e em grande escala, bem
precitados, podendo também ser um fator que como os efeitos ambientais que possam ser gerados
demonstre a presença da precipitação de carbonato de após a aplicação da técnica. Contudo, foi possível
cálcio. A Figura 5 ilustra a formação mencionada. verificar através dos ensaios realizados, que a
biocimentação alterou e melhorou as características e
propriedades do solo e mesmo ainda necessitando de
mais estudos e testes, apresenta-se como uma boa
substituta às técnicas convencionais.

REFERÊNCIAS

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Fundamentos. LTC 6ª Edição, Volume 1, Rio de
Janeiro, 1988.
Dejong, J.T.; Fritzges, M.B.; Nusslein, K. Microbially
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Undrained Shear. J. Geotech. Geoenviron. 132, 1381–
1392, 2006.
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Brasil. In: II colóquio de solos tropicais e subtropicais
e suas aplicações em engenharia civil. Porto Alegre, p.
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enterrados da solução B4 Garbin, G. R. Estudo de Biocimentação em solo arenoso.
Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo, Brasil,
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Gersonuis, B.; Egyed, C. Macro-economic Effects of
Com base na matriz experimental e análise dos Using the PowerCem Technology on Road
resultados obtidos no decorrer do presente trabalho, é Infrastructure in flood risk Areas. 2012.
Hogg, S. Essential Microbiology. Wiley. Inglaterra. p.
válido ressaltar que houve um ganho de resistência
468, 2005.
nos corpos de prova submetidos ao processo de Jonkers, H. M., Thijssen, A., Muyzer, G., Copuroglu, O.;
biocimentação. Mesmo a atividade microbiológica Schlangen, E. Application of bacteria as self-healing
não sendo uma variável avaliada, foi possível agent for the development of sustainable concrete.
verificar a presença de microorganismos, já que foi Ecological Engineering, 36(2010), p. 230-235, 2010.
identificado a formação de cálcio em alguns picos Karol, R. H. Chemical grouting and soil stabilization.
desse solo. As análises de resistência do ensaio de Marcel Dekker, New York, 2003.
compressão simples e tração por compressão Muñeton, C. M. G. Avaliação geotécnica de um perfil de
diametral demonstraram que a cura controlada e um solo tratado biotecnologicamente para fins de
tempo menor foram as varáveis mais eficientes. As pavimentação. Programa de Pós Graduação em
Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de
análises de DRX, constataram a presença de minerais
Brasília. Tese. Brasília, 2013.
que continham elementos de carbono e cálcio nos Oliveira, P. J. V. e Rosa, J. A. O. Confined and unconfined
dois meios nutritivos, o que pode indicar a eficiência behavior of a silty sand improved by the enzymatic
do processo de biocimentação. biocementation method. Journal Pre-proofs.
A solução cimentante (SC) apresentou-se como Transportation Geotechnics, 2020.
o melhor bioestimulante, possuindo os resultados Pedreira, R. R. Biocimentação de solos arenosos para

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


528
melhoramento das suas características
hidromecânicas. Lisboa, Portugal, 2014.
Queiroz, R. C. Geologia e Geotecnia Básica para
Engenharia Civil. Editora Edgar Blucher Ltda, p. 19.
São Paulo, 2016.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


529
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comportamento Mecânico a Longo Prazo de um Solo Areno-


Siltoso Reforçado com Fibras de Coco Tratadas
Thaís Mota Freitas
Universidade Federal da Bahia, Salvador-Ba, Brasil, thaismfreitas1@gmail.com

Antonio Felipe de Souza Machado Reis


Universidade Federal da Bahia, Salvador-Ba, Brasil, felipe.m.reis2@gmail.com

Miriam de Fátima Carvalho


Universidade Federal da Bahia, Salvador-Ba, Brasil, miriam.machado@ufba.br

Sandro Lemos Machado


Universidade Federal da Bahia, Salvador-Ba, Brasil, smachado@ufba.br

RESUMO: A adição de fibras ao solo é uma técnica de reforço que possui reconhecido efeito de melhoria das suas
propriedades mecânicas. Por outro lado, o emprego de fibras vegetais ainda é objeto de diversos estudos, uma vez que
estas se degradam ao longo do tempo. Diante disso, o presente artigo avalia por meio de ensaios triaxiais consolidados
drenados (CD), o comportamento mecânico de um solo areno-siltoso reforçado com fibras de coco sem tratamento e
com o tratamento de hornificação após submetidas ao processo de envelhecimento natural. O solo sem reforço e os
compósitos contendo o teor de 1% de fibras não tratadas e hornificadas foram compactados em caixas de madeira, as
quais ficaram expostas às intempéries por um período de cinco meses. Ao final desse período, foram talhados os corpos
de prova e realizados os ensaios triaxiais nas tensões confinantes de 50, 100 e 200 kPa. Os resultados obtidos foram
comparados às análises sem envelhecimento realizadas por Reis (2022). Tal comparação mostrou que a resistência do
solo sem reforço e dos compósitos foi afetada de forma sútil pelo envelhecimento. Notou-se que os compósitos de fibras
tratadas com hornificação apresentou tensão desviadora maior que aos das fibras não tratadas a curto e a longo prazos.

PALAVRAS-CHAVE: Solo reforçado, Fibra de coco, Ensaios Triaxiais, Envelhecimento Natural .

ABSTRACT: The addition of fibers to the soil is a reinforcement technique that has a recognized effect of improving its
mechanical properties. On the other hand, the use of vegetable fibers is still the subject of several studies, since they
degrade over time. In view of this, this article evaluates, by means of drained consolidated triaxial tests (CD), the
mechanical behavior of a sandy-silty soil reinforced with untreated coconut fibers and with hornification treatment after
being subjected to the natural aging process. The soil without reinforcement and the composites containing 1% of
untreated and hornified fibers were compacted in wooden boxes, which were exposed to the weather for a period of five
months. At the end of this period, the specimens were cut and triaxial tests were carried out at confining stresses of 50,
100 and 200 kPa. The results obtained were compared to the analyzes without aging carried out by Reis (2022). This
comparison showed that the strength of the unreinforced soil and composites was subtly affected by aging. It was noted
that the fiber composites treated with hornification showed higher deviation stress than the untreated fibers in the short
and long term.

KEY WORDS: Fibre-reinforced soil, Coir fiber, Triaxial test, Natural Aging.

1 INTRODUÇÃO impostos à engenharia geotécnica é garantir que


determinado solo consiga resistir mecanicamente às
Embora o solo seja um material de construção de solicitações estimadas. Frequentemente, a
origem natural empregado nas mais diversas capacidade de suporte do solo sobre o qual se deseja
aplicações de engenharia civil devido a sua construir está aquém destas solicitações e, por isso,
abundância e baixo custo, um dos maiores desafios é necessário que ocorra algum tipo de intervenção.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


530
A adição de fibras ao solo possui reconhecido fibrocelulares (FIDELIS, 2014). A diferença entre a
efeito de melhoria das suas propriedades mecânicas, hornificação e os ciclos de umedecimento e
principalmente na sua capacidade de resistir aos secagem que ocorrem naturalmente e são
esforços de tração que surgem com o tempo. O prejudiciais é o fato do tratamento ser realizado de
reforço do solo com as fibras é uma alternativa para forma controlada em laboratório, em ciclos
melhorar a resposta mecânica deste material sempre sequenciais, enquanto que os ciclos naturais
que a compactação por si só não fornecer o ocorrem de forma desordenada, sujeitando as fibras
comportamento mecânico desejado. Em virtude à ação dos agentes climáticos que lhe causam rápida
disso, o solo reforçado com fibras tem ganhado degradação.
notoriedade em diversas aplicações, tais como As fibras vegetais de coco, objeto de estudo
composição de camadas de cobertura de aterros desta pesquisa, destacam-se por sua maior
sanitários, maciços barragens de terra, pavimentos durabilidade em comparação às outras fibras de
flexíveis e outras obras de terra. origem vegetal, devido ao alto percentual de lignina
A introdução de um elemento de reforço (fibras) presente em sua composição, podendo levar mais de
em uma matriz (solo) resulta em um material oito anos para sua completa decomposição
chamado de compósito, ou seja, a união de dois (CARRIJO, 2002). Outra justificativa para a
materiais diferentes dá origem a um novo material utilização desta fibra reside na tentativa de dar uma
com propriedades distintas das propriedades de seus destinação mais adequada para a casca de coco, que
materiais constituintes (CASAGRANDE, 2005). As é um resíduo descartado em abundância,
fibras empregadas como reforço são divididas em principalmente nas praias do nordeste brasileiro
dois grandes grupos: fibras sintéticas e fibras onde o consumo do coco é bastante elevado, e
naturais. As fibras sintéticas são compostas por possui baixo valor comercial.
materiais artificiais e possuem vantagens como as Nesse contexto, este artigo apresenta os
propriedades constantes e bem definidas e a não resultados de um abrangente programa experimental
deterioração. Já as fibras naturais, em sua grande realizado para avaliar o comportamento mecânico a
maioria de origem vegetal, não apresentam longo prazo de compósitos solo/fibra de coco. Para
uniformidade em suas propriedades mecânicas tais isso, foram realizados ensaios triaxiais em amostras
como as fibras sintéticas. No entanto, comparadas às do solo sem reforço e do solo reforçado com fibras
fibras sintéticas, possuem baixo custo, após a exposição às condições climáticas. Foram
reciclabilidade, baixo consumo de energia para sua utilizadas fibras sem tratamento e fibras tratadas
produção e emprego de tecnologias relativamente com o processo de hornificação. Os resultados
simples, além de serem advindas fontes renováveis. obtidos foram comparados com as análises a curto
Em contrapartida, um fator que limita o uso de prazo realizadas por Reis (2022).
fibras naturais como material de reforço é o fato
destas sofrerem processos de decomposição ao
longo do tempo. Devido à sua natureza orgânica, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
suscetibilidade à ação de microrganismos e a
elevada capacidade de absorção de água, o material 2.1 Solo
compósito pode ter sua vida útil reduzida.
Tem sido comum o emprego de tratamentos nas O solo utilizado é um solo residual, areno-siltoso,
fibras visando a melhoria na durabilidade e na recorrente na cidade de Salvador e Região
adesão fibra/matriz, conforme retratado por Aguilar Metropolitana, conhecido como solo barreiras. Este
(2015), Anggraini et al. (2016) e Silveira (2018). A solo foi coletado na área de bota fora do Aterro
escolha do tratamento adequado deve ser pautada Sanitário Metropolitano Centro.
nas propriedades adesivas da substância a ser O solo coletado foi conduzido ao Laboratório de
utilizada e sua capacidade de repelir água, na Geotecnia Ambiental (GEOAMB) da Universidade
exequibilidade do processo, na disponibilidade local Federal da Bahia (UFBA), onde foi submetido aos
e na acessibilidade econômica. A hornificação é um ensaios de caracterização geotécnica, que foram
tipo de tratamento que tem ganhado destaque, realizados em quadruplicata, seguindo as normas
baseia-se na aplicação de ciclos de molhagem e vigentes: Solo - Análise granulométrica - Método de
secagem nas fibras, causando-lhes redução na ensaio (NBR 7181/2016); Grãos que passam na
capacidade de retenção de água, além de peneira 4,8mm - Determinação da Massa específica
modificações no comportamento mecânico. Após os - Método de ensaio (NBR 6508/2017); Solo -
ciclos de molhagem e secagem, as paredes celulares Determinação do Limite de liquidez - Método de
da fibra entram em colapso, resultando em Ensaio (NBR 6459/2016); Solo - Determinação do
modificações de sua estrutura, como redução do Limite de plasticidade - Método de Ensaio (NBR
diâmetro do lúmen e deformações nas paredes 7180/2016). Além disso, foram realizados ensaios

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


531
de compactação, na Energia do Proctor Normal, fibras (FREITAS, 2022). Convencionou-se,
seguindo as diretrizes da NBR 7182/2016. portanto, 10 ciclos de molhagem e secagem como
suficientes para a obtenção da estabilização
2.2 Fibras de coco dimensional da fibra e 4 horas como o tempo de
imersão suficiente para promover a saturação.
As fibras vegetais de coco utilizadas como reforço Ensaios de tração simples foram realizados nas
do solo foram obtidas a partir dos resíduos das fibras naturais e nas fibras hornificadas com o
cascas do fruto e adquiridas já beneficiadas da objetivo de determinar a resistência à tração, o
empresa Saturno Fibras, situada na cidade de Conde módulo de elasticidade e o alongamento na ruptura,
– BA, cerca de 150 km de Salvador. Este material é além de averiguar se o tratamento superficial
comercializado de três formas diferentes: fibras afetaria de alguma maneira o comportamento
longas, fibroso e granulado. Nesta pesquisa, foi mecânico do material. Os procedimentos deste
utilizado o material fibroso, que não possui ensaio foram definidos seguindo as recomendações
comprimentos pré definidos. de Motta e Agopyan (2007). Os ensaios foram
O material fibroso foi submetido a secagem ao ar realizados em uma máquina de ensaios universal
para evitar deterioração e amostras de cerca de 10 g, (Materialprüfung 1445, Zwick, Alemanha) do
selecionadas aleatoriamente, foram classificadas em Laboratório de Geotecnia da UFBA. A célula de
faixas de comprimentos. As medidas foram carga utilizada foi de 10 kgf e a velocidade de
realizadas manualmente utilizando um paquímetro. ensaio de 2,0 mm/min.
As fibras apresentaram comprimento variável (L), As fibras separadas para este ensaio, de
sendo 16% correspondente a faixa de comprimento comprimento aproximado de 30 mm, foram coladas
pó e fibras curtas (L < 1 cm); 80% de fibras médias num molde de papel de gramatura de
(1 ≤ L < 5 cm) e 4% de fibras longas (L ≥ 5 cm). aproximadamente 180 g/m². Os moldes possuíam
Para a determinação da massa específica das dimensões de 65 mm x 25 mm e eram dotados de
fibras de coco foi utilizado um picnômetro de gás uma janela de dimensões de 5 x 15 mm no centro,
hélio (AccuPyc II 1340, Micrometrics, Estados conforme apresentado na Figura 2 (a). As fibras
Unidos). Três amostras de 10g foram previamente foram fixadas no molde utilizando cola instantânea
secas em estufa a 70° por 24 horas e em seguida da marca SuperBonder. Nas extremidades de cada
resfriadas à temperatura ambiente em dessecador molde foi colocada uma proteção de borracha para
com sílica gel. Foram inseridas no picnômetro a gás evitar que a garra da máquina causasse o
hélio, o qual determinou o volume verdadeiro das esmagamento e ruptura da fibra. Antes de serem
fibras por variação da pressão do gás, numa câmara ensaiados os CP instalados nos moldes eram
de volume conhecido. O aparelho realizou dez observados em microscópico óptico para determinar
medições e entregou a média dos resultados obtidos. as suas dimensões (Figura 2 (b)). Após a fixação na
máquina, cortes laterais no molde foram feitos para
permitir o livre trabalho da fibra (Figura 2 (c)).

Figura 1. Solo Barreiras e fibras de coco utilizadas.

O programa experimental envolveu a realização


do tratamento superficial de hornificação nas fibras
com o objetivo de reduzir a absorção de água e
diminuir a degradação das fibras.
A hornificação das fibras consistiu na realização Figura 2. Procedimento para ensaio de tração direta na
de ciclos de molhagem até a saturação das fibras e fibra. a) Fibra no molde; b)Vista da fibra no
secagem até a constância de massa. A definição da microscópico; c) Ensaio de ruptura.
quantidade de ciclos de molhagem e secagem e a
duração da imersão das fibras em água deionizada 2.3 Compósitos
foi realizada a partir de ensaios de determinação da
capacidade de absorção de água por imersão das As misturas solo-fibra de coco foram calculadas em

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


532
função da massa total de solo seco. O percentual de
fibra definido para os compósitos foi de 1%. Este
teor foi selecionado baseado nos resultados de curto
prazo realizadas por Reis (2022), para o mesmo solo
reforçado com fibras de coco.
Os compósitos foram compactados considerando
o mesmo índice de vazios do solo, obtido no ensaio
de compactação na Energia do Proctor Normal (e =
0,383). Assim, as fibras foram consideradas como
parte dos sólidos, sendo o peso específico das
partículas sólidas do compósito calculado conforme
a Equação 1.
Figura 3. Ensaio de envelhecimento natural. (a)
( 1+%f ) . γ s .γ sf Compactação das amostras; (b) Exposição.
γ sc = (1)
γ sf +( γ sf . % f )
2.4 Comportamento mecânico
onde: ℽsc: peso específico dos sólidos do compósito
(kN/m³); ℽs: peso específico dos grãos do solo Os ensaios triaxiais realizados foram do tipo
(kN/m³); ℽsf : peso específico da fibra (kN/m³); % f : Consolidado Isotropicamente Drenado (CD), usando
teor de fibras (%). um sistema servo-controlado com aquisição de
Os corpos de prova das análises de curto prazo dados. Os corpos de prova (CPs) com diâmetro de
realizada por Reis (2022) foram compactados num 100 mm e altura de 200 mm, eram talhados das
molde bipartido e posteriormente submetidos aos caixas após o período de envelhecimento e
ensaios triaxiais. saturados por fluxo e por contrapressão (parâmetro
Para a análise do comportamento mecânico após B de Skempton superior a 0,90), em seguida
a longo prazo foram confecionadas caixas de submetidos a tensões confinantes efetivas de 50, 100
madeira com dimensões de 35 cm (largura), 100 cm e 200 kPa e cisalhados com velocidade de 0,33
(comprimento) e 35 cm (profundidade), dotadas de mm/min até atingirem deformação axial de 20%.
orifícios na base sobrepostos por uma tela para
facilitar a drenagem da água de chuva (Figura 3 (a)).
A preparação das misturas consistiu na 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
molhagem do solo em sua umidade ótima e secagem
das fibras em estufa à 70 °C por 24 horas para 3.1 Características do solo e das fibras
eliminar a umidade higroscópica. Estes materiais
eram então pesados e separados em seis partes O resultados médios (n=4) dos ensaios de
iguais, sendo que cada uma correspondia a uma caracterização geotécnica do solo são apresentados
camada de solo a ser compactada. As misturas para na Tabela 1. O solo Barreiras tem aproximadamente
obtenção dos compósitos solo/fibra foram feitas em 70% de areia em sua composição, sendo classificado
uma bandeja metálica, sendo as fibras revolvidas pela pela ABNT como areia argilosa com pouco
aleatoriamente no solo utilizando uma espátula. O silte, pela USCS como SM e pela HRB como A-2-4.
solo foi compactado utilizando um compactador A massa específica dos grãos foi de 2,676 g/cm³. O
manual, controlando a altura de cada camada de material é considerado pouco plástico (IP = 4%),
solo de modo a garantir que todas possuíssem a possuindo umidade ótima de 11,05% e massa
mesma densidade. específica seca máxima de 1,936 g/cm³ na Energia
O envelhecimento natural foi realizado expondo do Proctor Normal (EPN).
as caixas compactadas contendo o solo sem reforço,
os compósitos solo fibra sem tratamento e solo fibra Tabela 1. Resultados dos ensaios de caracterização
hornificadas às intempéries em um prédio anexo da do solo Barreiras.
Valor Coeficiente
Escola Politécnica da UFBA, conforme pode ser
Parâmetros do solo Médio de Variação
observado na Figura 3 (b), por um intervalo de cinco (%)
meses. Durante esse período, as caixas foram Areia 6 0,1
sujeitas à ação de agentes climáticos diversos, como Grossa
variações de temperatura e umidade do solo, frutos Composição Areia 34 0,03
da transição do dia para a noite, da ocorrência de (%) Média
precipitações e incidência de radiação solar, fatores Areia 30 0,03
influenciam na propensão das fibras à degradação. Fina

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533
Silte 8 0,07 As fibras hornificadas apresentaram resistência à
tração da ordem de 123,08 MPa, módulo de
Argila 23 0,03
elasticidade de 13,96 GPa e deformação na ruptura
ρs (g/cm³) 2,676 0,01 de 9,15%. Comportamento semelhante foi
Limite de Liquidez (%) 21 0,05 observado por Santos (2020), ao verificar melhora
da resposta mecânica na tração direta em fibras
Limite de Plasticidade (%) 17 0,03
vegetais de sisal hornificadas, proporcionando um
Índice de Plasticidade (%) 4 0,48 aumento da resistência à tração em torno de 11% em
Atividade de Skempton 0,16 0,35 comparação com fibra in natura.
Além disso, a capacidade de absorção de água
ρdmáx (g/cm³) 1,936 0,01
pelas fibras reduziu em 23% após a realização dos
Wótima 11,05 0,01 10 ciclos de hornificação nas fibras, conforme pode
ser observado na Figura 4 que relaciona o percentual
Quanto às fibras de coco, a maior parte (cerca de de ganho de massa pelas fibras e o número de ciclos
85%) têm comprimento entre 1 e 5 cm, de umedecimento e secagem. Resultados
aproximadamente 13% com comprimentos semelhantes de redução na absorção de água após o
inferiores a 1 cm e apenas 1% com comprimento tratamento de hornificação foram encontrados por
superior a 5 cm. Esses resultados foram similares Claramunt (2010), após tratar fibras de polpa de
aos obtidos por Oliveira Júnior (2018), que também celulose, a absorção de água reduziu de 126% para
utilizou um material fibroso de coco e constatou que 90%.
cerca de 80% das suas fibras possuíam comprimento
entre 1 e 5 cm.
A Tabela 2 apresenta resultados médios obtidos
de ensaios realizados nas fibras de coco em estudo.
A massa específica obtida para a fibra foi de 1,492
g/cm³, sendo levemente superior as apontadas na
literatura (variando de 1,20 e 1,30 g/cm³), (Motta e
Agopyan, 2007 e Oliveira Júnior, 2018), e de acordo
com a reportada por Anggraini et al. (2015) e
Anggraini et al. (2016). A fibra usada apresentou
resistência à tração de aproximadamente de 76 MPa
com 14% de alongamento na ruptura e 7,4 GPa para
o módulo de elasticidade. Estes resultados estão Figura 4. Ciclos do tratamento de hornificação.
próximos aos encontrados por Anggraini et al.
(2016), Toledo et al. (2005) e Li, Wang e Wang O monitoramento das caixas contendo o solo
(2007). A variação encontrada na literatura pode ser puro e os compósitos estudados ao longo do tempo
explicada pela variabilidade e irregularidade da de exposição de 5 meses (setembro de 2021 a
seção transversal da fibra natural, da idade do fruto fevereiro de 2022) não permitiu a visualização de
e região onde foi cultivada, além dos parâmetros do fissuras a olho nu nas amostras, embora estas
ensaio de resistência à tração, como a distância entre tenham sido sujeitas às variações de temperatura,
as garras do equipamento, formas de fixação e variações de umidade do solo e incidência solar. As
precisão da célula de carga empregada. variáveis meteorológicas (precipitação, temperatura
e umidade relativa do ar) obtidas para o período do
Tabela 2. Resultados dos ensaios de caracterização das Instituto Nacional de Meteorologia, Estação Ondina,
fibras de coco. Salvador – Ba evideciaram que embora seja comum
Parâmetro Nº Média Coeficiente chover com frequência durante o verão na cidade de
amostras de Variação Salvador-Ba, o volume de chuvas para o período
(%) analisado foi atípico e superior quando comparado
Massa específica 3 1,492 0,001 aos anos anteriores, atingindo valores próximos a
(g/cm³) 400 mm de precipitação mensal, enquanto que a
Resistência à 6 75,98 0,09 temperatura média mensal não sofreu grandes
tração (MPa)
variações, situando-se em torno de 26 °C e a
Módulo de 6 7,41 0,57
Elasticidade (GPa)
umidade relativa variou entre 76 e 81%.
Alongamento na 6 14,16 0,39
ruptura (%) 3.2 Comportamento mecânico dos compósitos

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534
A Figura 5 compara a resistência ao
cisalhamento das amostras não reforçadas (solo A Tabela 3 apresenta os valores dos parâmetros
puro) nos dois tempos de exposição analisados de resistência para o solo antes e após o processo de
(curto prazo, t=0 e longo prazo t=5 meses). Das envelhecimento. No que diz respeito aos parâmetros
curvas tensão-deformação obtidas, observa-se que, de resistência do solo puro nas condições de curto e
após o período de cinco meses de exposição às longo prazo, observa que o envelhecimento natural
intempéries, as amostras apresentaram maior causou a diminuição do valor de coesão do solo em
diminuição da resistência pós-pico, além de cerca de 50%. O ângulo de atrito não sofreu
demonstrarem maior dilatância. Tal comportamento alteração significativa, o que mostra que a perda de
já era esperado, uma vez que os ciclos de resistência do solo está creditada ao intercepto
umedecimento e secagem tendem a aumentar a coesivo do solo.
tensão de pré-adensamento do solo devido à ação da
sucção matricial. A ausência de incrementos no pico Tabela 3. Parâmetros de resistência do solo sem reforço.
de tensão, no entando, podem estar relacionadas aos Análise c’ (kPa) ’ (°)
efeitos deletérios das microfissuras formadas no Curto prazo 20,6 31,4
solo durante estes ciclos, contrabalanceando os Longo prazo 10,5 31,9
efeitos do pré-adensamento.
O comportamento volumétrico apresentado pelo A Figura 6 compara as curvas tensão-deformação
solo foi predominantemente dilatante, e o comportamento volumétrico obtido para os
experimentando uma leve compressão ao início, compósitos solo fibras sem tratamento ensaiadas
seguido do fenômeno de dilatação. A redução inicial logo após a compactação (curto prazo) e para as
do volume ocorre até, aproximadamente, o amostras expostas ao envelhecimento natural (longo
momento em que o solo atinge sua resistência de prazo).
pico e, a partir de então, ocorre a dilatação.
Em termos de tensão desviadora máxima, o solo
envelhecido apresentou perda na resistência da
ordem de 17%, 5% e 4% para as tensões confinantes
de 50, 100 e 200 kPa, respectivamente.

Figura 6. Comportamento tensão-deformação e


deformação volumétrica para os compósitos com fibras
sem tratamento.

Para os compósitos de fibras sem tratamento


notou-se diminuição da resistência pós-pico de
Figura 5. Comportamento tensão-deformação e
deformação volumétrica para o solo sem reforço. forma mais acentuada para as confinantes de 50 e

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


535
100 kPa, o que pode ser explicado pela provável hornificadas.
ocorrência de degradação destas fibras que não
passaram por nenhum tipo de tratamento, tornando- Os compósitos envelhecidos de fibras
as mais fragilizadas. As amostras envelhecidas hornificadas também demonstraram menor
demonstraram maior dilatância do que as amostras resistência pós-pico, especialmente para as
de curto prazo, exceto para a confinante de 200 kPa. confinantes de 50 e 100 kPa. Já para a tensão
Em termos de tensão desviadora máxima, para a confinante de 200 kPa, a resistência de pico foi
confinante de 50 kPa, os compósitos envelhecidos superior, apresentando queda na resistência pós-
de fibras sem tratamento apresentaram perda de pico. Os compósitos com as fibras envelhecidas
resistência de cerca de 12% em comparação com a apresentaram perda na tensão desviadora máxima
mesma análise realizada a curto prazo. Para as cerca de 11% e 12% para as confinantes de 50 e 100
tensões confinantes de 100 e 200 kPa, o decréscimo kPa, respectivamente. Para a tensão confinante de
na tensão desviadora foi de cerca de 12% e 3%, 200 kPa, houve um acréscimo na tensão desviadora
respectivamente. máxima da ordem de 3% em comparação com os
A Figura 7 compara as curvas tensão-deformação compósitos de curto prazo.
e o comportamento volumétrico obtido para os Por fim, na Tabela 4 são apresentados os valores
compósitos solo fibras hornificadas ensaiadas a dos parâmetros de resistência para os compósitos
curto e longo prazos. Em geral, observa-se que as antes e após o processo de envelhecimento
amostras com fibras sem tratamento e de fibras
hornificadas conduziram a picos de resistência Tabela 4. Parâmetros de resistência dos compósitos.
semelhantes, mesmo após os cinco meses de Curto prazo Longo prazo
exposição às intempéries. Os compósitos de fibras Compósito c’ ’ (°) c’ (kPa) ’ (°)
hornificadas demonstraram maior resistência ao (kPa)
cisalhamento do que os de fibras sem tratamento nos Sem 46 36 31 37
dois tempos analisados. No entanto, notou-se que tratamento
maiores deformações axiais são necessárias para a Hornificação 56 36 35 39
mobilização das fibras nas amostras envelhecidas.
O comportamento observado mostra que o
tratamento de hornificação proporcionaram a
proteção das fibras contra o processo de degradação
e, consequentemente, promoveram ganho de
resistência para o compósito, o que pode ser
explicado pela melhoria da resistência à tração das
fibras hornificadas verificada ainda nos ensaios de
tração direta. Os ciclos de hornificação nas fibras
causaram a redução da seção transversal das fibras
e, consequentemente melhorou a interação
fibra/matriz, conforme relatado por Machado
(2022), a redução do diâmetro das fibras parece ter
um efeito direto na interação fibras/partículas
sólidas, pois, principalmente no caso de solos
grossos, a fibra deve ser capaz de curvar-se até certo
ponto ao redor da partícula de solo para adquirir
melhores condições de ancoragem.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo principal


verificar como o comportamento mecânico de um
solo areno-siltoso reforçado com fibras de coco
distribuídas aleatoriamente é afetado pelo processo
de envelhecimento natural e os eventuais benefícios
do tratamento de hornificação contra a degradação
das fibras. A exposição do solo sem reforço aos
Figura 7. Comportamento tensão-deformação e agentes climáticos afetou a resistência ao
deformação volumétrica para os compósitos com fibras cisalhamento deste, já que o valor de coesão do solo

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536
diminuiu aproximadamente 50% em comparação ABNT (2016) NBR 6459. Solo - Determinação do limite
com o solo sem envelhecimento. Os compósitos de liquidez. Rio de Janeiro.
envelhecidos de fibras sem tratamento, para a tensão ABNT (2016) NBR 7182. Solo - Ensaio de
confinante de 50 kPa, apresentaram perda de Compactação. Rio de Janeiro.
resistência de cerca de 12% em comparação com a
ABNT (1995) NBR 6502. Solos e Rochas. Rio de
mesma análise realizada a curto prazo. Para as
Janeiro.
tensões confinantes de 100 e 200 kPa, o decréscimo Carrijo, O.A.; Liz R.S.D.; Makishima, N. (2002) Fibra de
na tensão desviadora foi de cerca de 12% e 3%, casca do coco verde como substrato agrícola.
respectivamente. Os compósitos com fibras Horticultura Brasileira, v. 20, n.4, p. 533-535.
hornificadas apresentaram diminuição no intercepto Casagrande, M.D.T.(2005) Comportamento de solos
coesivo da ordem de 21 kPa após o envelhecimento. reforçados com fibras submetidos a grandes
O tratamento de hornificação, além de reduzir a deformações. Tese de doutorado. Programa de Pos
capacidade de absorção de água, diminuiu o Graduacao em Engenharia Civil, Universidade
diâmetro das fibras, aumentando seu índice de Federal do Rio Grande do Sul, 219 p.
aspecto e a resistência à tração. Tais aspectos Fidelis, M. E. A. (2014). Desenvolvimento e
caracterização mecânica de mecânica de compósitos
propiciaram a melhoria da interação entre solo/fibra,
cimentícios têxteis reforçados com fibras de juta. Tese
já que fibras com diâmetros menores conseguem de Doutorado. Universidade Federal do Rio de
curvar-se ao redor das partículas de solo. Desse Janeiro, 290 p.
modo, é possível afirmar que o uso das fibras de Freitas, T.M. (2022). Comportamento mecânico a longo
coco e do tratamento de hornificação tem grande prazo de um solo reforçado com fibras de coco.
potencial para aplicação em obras geotécnicas, por Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
ser uma alternativa de baixo custo e que alia a Graduação em Engenharia Civil. Universidade
demanda ambiental com soluções de engenharia. Federal da Bahia.
Li, Z.; Wang, L.; Wang, X.(2007) Cement composites
reinforced with surface modied coir fibers. Journal of
AGRADECIMENTOS Composite Materials, v. 41, n. 12, p. 1445-1457.
Machado, S. L. et al.(2022) Development of an Empirical
Model to Capture Fiber Reinforcement Eect on Shear
Os autores agradecem à CAPES e FAPESB pelas Strength of Soils. Arabian Journal for Science and
bolsas de pesquisa concedidas e a Saturno Fibras Engineering, v. 1, p. 1-12.
pelas fibras cedidas. Motta, L.C.M.; Agopyan, V. (2007) Caracterização de
fibras curtas empregadas na construção civil. Boletim
Técnico da Escola Politecnica da USP. Departamento
REFERÊNCIAS de Engenharia de Construção Civil. 23 p.
Oliveira Junior, A.I. (2018) Influência de ciclos de
secagem-molhagem no comportamento hidráulico-
Aguilar, J.R.T (2015). Análise do comportamento mecânico de misturas compactadas de solo argiloso
mecânico de um solo arenoso reforçado com com fibras de coco verde. Dissertação de Mestrado.
fibras de coco. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil,
Programa de Pós Graduação em Engenharia Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade
Civil, Departamento de Informática da PUC-Rio, Federal de Pernambuco, 112 p.
114 p. Reis, A. F. S. M (2022). Análise do comportamento
mecânico de um solo reforçado com fibras de coco.
Anggraini, V.; Asadi, A.; Huat, B.J.K,; Nahazanan, A. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação
(2016). Effects of coir fibres modified with Ca(OH2) em Engenharia Civil. Universidade Federal da Bahia.
and Mg(OH2) nanoparticles on machanical Santos, D. (2020). Desenvolvimento de painéis sanduíche
properties of lime-treted marine clay. Geosynthetics leves com faces em compósitos cimentícios reforçados
International, v 23, p. 206-218. com fibras curtas de sisal e núcleo em bioconcreto de
Anggraini, V. et al. (2015) Performance of Chemically casca de arroz. Tese (Doutorado). Universidade
Treated Natural Fibres and Lime in Soft Soil for the Federal do Rio de Janeiro.
Utilisation as Pile-Supported Earth Platform. Silveira, M. V. (2018). Análise do comportamento
International Journal of Geosynthetics and Ground mecânico e da durabilidade em compósitos de areia
Engineering, v. 1, n. 3, p. 114. reforçada com fibras naturais de curauá e sisal. Tese
de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio
ABNT (2016). NBR 7181. Solo – Analise de Janeiro, 148 p.
granulométrica. Rio de Janeiro. Toledo, R. D. et al.(2005). Free, restrained and drying
ABNT (2016) NBR 7180. Solo - Determinação do shrinkage of cement mortar composites reinforced with
limite de plasticidade. vegetable fibres. Cement and Concrete Composites, v.
27,n. 5, p. 537-546.
ABNT (2017) NBR 6508. Solo - Determinação da
massa específica. Rio de Janeiro.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


537
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comportamento mecânico de um latossolo melhorado com resíduos


sólidos da construção civil para uso em pavimentos
Márcio Emannuel Bomfim Oliveira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, engmarciofsa@gmail.com

José Roberto Fernandes Galindo


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, robertogalindo@ufrb.edu.br

RESUMO: Este estudo investigou o uso de resíduos sólidos da construção civil (RCC) para estabilização de um latossolo
amarelo proveniente da região do Recôncavo Baiano, especificamente do município de Cruz das Almas, Bahia. Contribui
para o estado da arte atual, avaliando os efeitos da adição de diferentes teores de RCC nas propriedades geotécnicas de
um solo argiloso. O presente programa experimental abrange a realização dos ensaios de caracterização, compactação,
resistência à compressão não confinada e CBR (California Bearing Ratio) do solo, do RCC e das misturas solo-RCC. A
adição do RCC proporcionou incremento das propriedades mecânicas do solo. Alguns destaques são as melhorias da
resistência à compressão não confinada e no índice CBR do solo de 143 kPa para 206 kPa e 16 % para 45 %,
respectivamente.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento mecânico, Resíduos sólidos da construção civil, Estabilização de solos.

ABSTRACT: This study investigated the use of solid waste from civil construction (RCC) to stabilize a yellow latosoil
from the region of Recôncavo Baiano, specifically from the municipality of Cruz das Almas, Bahia. Contributes to the
current state of the art, evaluating the effects of adding different RCC theories on the geotechnical properties of a clayey
soil. The present experimental program covers the performance of characterization, compaction, unconfined compressive
strength and CBR (California Bearing Ratio) tests of soil, RCC and soil-RCC mixtures. The addition of RCC provided
an increase in the mechanical properties of the soil. Some highlights are improvements in unconfined compressive
strength and soil CBR index from 143 kPa to 206 kPa and 22% to 45%, respectively.

KEY WORDS: Mechanical behavior, Solid waste from civil construction, Soil stabilization.

1 INTRODUÇÃO dedicam a desenvolver métodos para reutilização e


reciclagem, visto que, os mesmos são gerados em
Segundo Costa e Ribeiro (2021), a degradação quantidades significativas em todo o mundo e essa é
ambiental com o uso descontrolado dos recursos uma forma de compensar a poluição ambiental
naturais exige que haja uma mudança nas políticas preservando os recursos naturais da terra (Akhtar &
globais e o estabelecimento de um novo paradigma Sarmah, 2018).
tecnológico e econômico, onde as preocupações mais Os resíduos sólidos da construção civil (RCC), no
urgentes da modernidade dizem respeito à finitude e Brasil, representam cerca de 60 % dos resíduos
necessidade de preservação. sólidos urbanos (Costa & Ribeiro, 2021) onde são
Segundo Kianimehr et al. (2019), a necessidade comumente descartados em aterros. Mediante isso,
do desenvolvimento sustentável é sentida mais do compreende-se que os métodos tradicionais de
que nunca diante de fenômenos inevitáveis como as construções precisam ser reformulados, visto que
mudanças climáticas e o aquecimento global não se atingem resultados que atenuem a geração de
causados por problemas como a produção contínua, RCC, permitindo a reutilização na totalidade
o consumo de materiais de construção e a poluição (DELONGUI et al., 2010).
eco-ambiental. Segundo Moreira (2018), em meio as construções,
Os resíduos produzidos por meio da construção e as obras rodoviárias são uma das que mais utilizam
demolição (RCD) são considerados incômodos de se matérias-primas para as camadas abaixo do
trabalhar por conter tipos diferentes de materiais, revestimento, tais como materiais granulares, solo
porém, é crescente o número de pesquisadores que se selecionado, brita, seixo e quando esse material não

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


538
atinge a resistência necessária pode-se adotar laboratório de mecânica dos solos da UFRB onde
técnicas para estabilização do mesmo. foram secas ao ar e destorroadas.
De acordo com Teixeira (2019), para que a
aplicabilidade de um resíduo seja aceito na
estabilização de um solo, o mesmo precisa ser
submetido a diversos ensaios mecânicos, visando o
atendimento das exigências mínimas estabelecidas
pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte - DNIT.
O Brasil pode melhorar a gestão de resíduos
sólidos reaproveitando o RCC e o utilizando nas
camadas de solo, proporcionando assim uma redução
do consumo de matérias-primas e possível redução Figura 1. Resíduos sólidos da construção civil utilizados
econômica. O estudo vem avaliar a viabilidade do na pesquisa.
uso de misturas de solo estabilizado com RCC para
Para coleta do resíduo utilizou-se as prerogativas
melhoria da capacidade de suporte do mesmo via
das normas DNER-PRO-120 (DNER, 1997) e NBR
ensaio California Bearing Ratio (CBR) e da
10007 (ABNT, 2004). Posterior à etapa de secagem,
resistência à compressão simples (RCS), utilizando a
o RCC foi reduzido em um moinho de bolas
compactação na energia Proctor intermediária, a fim
cilíndrico até que passasse integralmente pelas
de que possa ser utilizado em camadas de pavimentos
aberturas da peneira de abertura 4,80 mm (peneira n.º
rodoviários.
4).
Após a coleta e secagem, os materiais foram
2 MATERIAIS E MÉTODOS
homogeneizados, quarteados, armazenados em
bombonas onde seguiram para os processos de
2.1 Coleta e preparação dos materiais
caracterização.
O solo analisado foi coletado na Comunidade da
Sapucaia, no Campus da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB), no município de Cruz
das Almas, Bahia. A escolha em trabalhar com esse
solo deu-se por conta de uma avaliação prévia de
descrição tátil-visual, onde se constatou um possível
comportamento característico de um solo
essencialmente fino, com predominância de argila, o
que tornaria a necessidade de tratá-lo antes de sua
utilização bem como, a quantidade desse tipo de solo
no município, que traria a comunidade uma
Figura 2. Secagem do solo ao ar livre.
informação acerca das problemáticas associadas ao
uso indiscriminado do mesmo. 2.2 Caracterização dos materiais
O RCC utilizado para o trabalho foi adquirido
próxima à reitoria da Universidade Federal do Na caracterização granulométrica dos materiais,
Recôncavo da Bahia (UFRB) em Cruz das Almas – adotou-se os procedimentos normativos da NBR
BA e é proveniente de uma obra de reformas/reparos 7181 (ABNT, 2016) onde, para a granulometria
de um prédio localizado no campus. Segundo a grossa (retida da #10) utilizou-se o ensaio de
resolução n° 307/2002 do Conama (BRASIL, 2002), granulometria por peneiramento e para a
o mesmo se refere a resíduos de construção classe A, granulometria fina (passante na #10) o ensaio de
proveniente da construção, demolição, reformas e/ou sedimentação.
reparos. Posteriormente, foram feitos os Limites de
O material possui forte coloração cinza (maior Atterberg onde se definiu o Limite de Liquidez (LL)
parte são resíduos de concreto), e média presença de e o Limite de Plasticidade (LP) além do Índice de
material vermelho, por conta dos resíduos cerâmicos Plasticidade conforme as normas NBR 7180 (ABNT,
nele encontrados. 1984) e NBR 6459 (ABNT, 1984).
Coletados na condição deformada e conforme as Por fim, realizaram-se os ensaios de Densidade
orientações da norma DNER-PRO-003 (DNER, Real dos Grãos (γs) segundo as instruções da norma
1994) as amostras foram dispostas em sacos de ráfia, DNER ME 93 (DNER, 1994) e Equivalente de Areia
devidamente vedados, e transportados até o

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


539
(EA) da DNER ME 54 (DNER, 1997). conforme fixa a norma DNER-ME 201 (DNER,
1994).
Para o ensaio, utilizou-se prensa da empresa
TIME GROUP INC. Modelo WDW automática
digital microprocessada com velocidade de
deformação de 1,00 mm por minuto. A prensa possui
célula de carga tipo S de 2.000 kgf de capacidade e
LVDT (Linear Variable Differential Transformer) de
50 mm com resolução de 0,5 mm.

2.4.3 CBR (CALIFORNIA BEARING RATIO)


Figura 3. Conjunto de peneiras e Sedimentação.
O ensaio para obtenção dos parâmetros CBR foi
Com isso, pode-se determinar os principais realizado conforme a norma DNIT 172-ME (DNIT,
parâmetros para classificar os materiais perante a 2016). Após a moldagem, os corpos de prova
Transportation Research Board (TRB), o Sistema permaneceram imersos em água por período de 96
Unificado de Classificação de Solos (SUCS) e a horas (quatro dias) e, a cada dia, haviam medições da
própria ABNT. sua expansão. Terminado o período de embebição,
foram retirados da imersão, para realização do
2.3 Definição das misturas ensaio.
Para o ensaio, foi utilizada uma prensa manual
Com base no trabalho de Moreira (2018), que utilizando a velocidade de 1,27 mm por minuto. A
obteve seu melhor resultado para uma proporção de prensa possui anel dinamométrico de 5.000 kgf de
30 % de RCC, definiu-se três misturas para os capacidade, sensível a 2,5 kgf, extensômetro com
ensaios: mistura 1 – 10 % de RCC e 90 % de Solo; resolução de 0,001 mm, para medir as deformações
mistura 2 – 30 % de RCC e 70 % de Solo; mistura 3 do anel dinamométrico, e extensômetro com
– 50 % de RCC e 50 % de Solo. resolução de 0,01 mm, para medir a penetração do
pistão nos corpos de prova.
2.4 Ensaio das propriedades mecânicas
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
2.4.1 Compactação
3.1 Definição das misturas
A determinação dos respectivos pontos de ótimo
de compactação do solo, RCC e misturas foi Os resultados da granulometria por peneiramento
realizada segundo a NBR 7182 (ABNT, 2016) na e sedimentação do solo, do resíduo e das misturas
energia do Proctor intermediária. Nos ensaios, o serão apresentados a seguir.
cilindro metálico pequeno (Ø10 x 12,73 cm) foi
utilizado na determinação das curvas de
compactação. Obtidas as curvas, os valores de Wot e
γdmáx foram adotados como referência na moldagem
dos corpos de prova para a realização dos ensaios de
RCS e CBR.

2.4.2 Resistência à compressão simples

O ensaio de RCS foi realizado conforme as


prescrições das normas técnicas DNER-ME 202
(DNER, 1994) e DNER-ME 201 (DNER, 1994), em
corpos de prova compactados em cilindros de
dimensões Ø10 x 20 cm. Para o solo, RCC e misturas Figura 4. Curva Granulométrica dos materiais.
investigadas foram compactados três corpos de prova
(ensaio em triplicata). Após a etapa de moldagem, os Analisando o comportamento das curvas pode-se
corpos de prova foram extraídos dos cilindros de perceber a mudança à medida em que se aumenta o
compactação e submetidas ao ensaio de RCS. Os teor de RCC. Constata-se que, inicialmente, o solo
corpos de prova, previamente à realização do ensaio, possui uma granulometria mais fina que o RCC e,
não foram submetidos à imersão em água por 4 horas,

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540
conforme o acréscimo de RCC, o diâmetro D601 das Não foram realizados os ensaios de massa
misturas vai se tornando maior e as curvas vão se específica dos sólidos (γs) e equivalente de areia
compensando, deixando as misturas cada vez mais (EA) paras as misturas, visto que, esses parâmetros
granulares. variam proporcionalmente à junção dos materiais.
Abaixo, os dados referentes aos resultados da
granulometria dos materiais bem como seus teores de 3.3 Classificação dos materiais
areia, silte e argila conforme classificação da ABNT
7181 (NBR, 2016). Tais resultados estão ao encontro Com os resultados da granulometria (tabela 1) e
da curva granulométrica encontrada por Almeida et dos ensaios de caracterização (tabela 2) pode-se
al. (2021) para o latossolo estudado, sendo este, classificar os materiais segundo a TRB, ABNT e
classificado pedologicamente como um latossolo SUCS, conforme mostrado na tabela 3. Tais
amarelo distrocoeso, laterítico, com presença resultados demonstram que, o solo em questão trata-
significativa de óxidos férricos, caracterizado pelo se de uma argila de baixa compressibilidade (CL)
seu aspecto visual de coloração avermelhada. segundo a SUCS, uma argila plástica (A-6) conforme
a TRB e, uma argila arenosa (CS) pela ABNT. Com
Tabela 1. Porcentagem passante em cada peneira. isso, demonstra-se a importância de realizar uma
Peneira Solo Resíduo M1 M2 M3 melhoria no material antes da sua utilização em obras
2’’ 100 100 100 100 100 de pavimentação visto a problemática associada a
1 ½’’ 100 100 100 100 100 essas classificações como grandes variações
1’’ 100 100 100 100 100 volumétricas e pouca capacidade de suporte.
3/4’’ 100 100 100 100 100
3/8’’ 98,48 100 98,63 98,94 99,24
Tabela 3. Classificação dos materiais.
4 97,98 100 98,18 98,58 98,99
Critério Solo Resíduo M1 M2 M3
10 97,98 95,11 95,25 95,22 95,19
14 95,27 90,31 92,36 91,90 91,45 ABNT CS SM CS SC SC
30 92,59 68,35 81,61 78,67 75,72 SUCS CL SM CL SC SM
40 83,09 56,02 76,54 71,98 67,42 TRB A-6 A-2-4 A-6 A-4 A-4
60 78,82 45,69 72,74 66,73 60,72
100 75,75 27,44 63,97 55,85 47,73 Conforme aumento de RCC nas misturas, pode-se
200 68,03 16,53 58,14 48,90 39,65 alcançar uma mudança das classificações, chegando
%Areia 62,77 93,90 41,34 53,02 64,70 a uma areia siltosa (SM) segundo a SUCS, a um solo
%Silte 35,50 4,70 12,08 10,44 8,80 siltoso conforme a TRB e a uma areia siltosa
%Argila 12,90 1,40 46,58 36,54 26,50 conforme a ABNT, resultados esses que demonstram
o potencial de melhoria ao se utilizar RCCs em
3.2 Ensaios de Caracterização estabilizações granulométricas.

Os resultados da caracterização realizada no 3.4 Compactação e propriedades mecânicas


ensaio para os materiais é apresentado na tabela 2
onde, notou-se que, conforme o teor de RCC A tabela abaixo apresenta os valores obtidos das
aumenta, existe um decréscimo do limite de liquidez massas específicas naturais (γnat) e aparentes secas
e isso pode ter sido ocasionado pelo aumento da máximas (γd) com suas respectivas umidades ótimas
quantidade de material granular na mistura. Foi (Wot.), resultados da compactação proctor
observado também, a perca da capacidade plástica do intermediário, além dos resultados do ensaio de
material, verificado no índice de plasticidade, que resistência à compressão. Os resultados foram
diminuiu conforme o aumento de RCC nas misturas, considerados equivalentes aos encontrados por
bem como a diminuição do índice de grupo (IG) nas Carvalho et al. (2020).
mesmas.
Tabela 4. Resumo dos ensaios de propriedades mecânicas.
Tabela 2. Resultados dos ensaios de caracterização. - Solo Resíduo M1 M2 M3
Ensaio Solo Resíduo M1 M2 M3 γnat(g/cm³) 2,09 1,97 2,113 2,13 2,16
LL(%) 40 0 39 33 24 γd(g/cm³) 1,79 1,75 1,82 1,85 1,91
LP(%) 25 0 24 23 21 Wot.(%) 16,7 12,8 16,1 14,6 12,6
IP(%) 15 0 15 10 3 CBR(%) 16,0 32,0 22,0 29,0 45,0
IG 6 0 5 3 1 EXP(%) 6,0 0,0 3,5 0,9 0,0
γs(g/cm³) 2,597 2,426 - - - RCS(kPa) 143 0,0 123 172 206
EA(%) 3,03 63,72 - - -

1
Diâmetro que 60% do material passa no peneiramento (mm).

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541
O acréscimo de RCC às misturas proporcionou resistência à compressão não confinada de solo
um aumento nos valores de CBR, RCS, das massas coesivo. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
específicas naturais e secas e também diminuiu a Rio de Janeiro, p. 10.
expansão do material, fato este, justificado por Almeida, V.; Almeida, M.; Maciel, F.; Moura, L.; Costa,
W. & São Mateus, M. (2021). Diferentes metodologias
Moreira (2020) como uma diminuição da
de dosagem de misturas solo-RAP para uso em
porcentagem de argila disponível para expansão e pavimentação. Anuário do Instituto de Geociências. v.
aumento do material granular. 44.
Akhtar, A. & Sarmah, A. (2018). Construction and
4 CONCLUSÃO demolition waste generation and properties of recycled
aggregate concrete. A global perspective. Journal od
Os resultados apresentaram ganho de resistência Cleaner Production, v. 186, p. 262-281.
mecânica e decréscimo na expansão para as misturas BRASIL (2002). Resolução n° 307: Conselho Nacional do
quando comparados aos valores obtidos para o solo Meio Ambiente estabelece diretrizes, critérios e
natural. Segundo a norma ES 139 (DNIT, 2010b), o procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil. Ministério do Meio Ambiente,
resíduo, a mistura 2 e a mistura 3 atendem aos
Brasília.
requisitos para serem utilizados em camadas de sub- Costa, F. & Ribeiro, D. (2021). Evaluation of phase
base estabilizada granulometricamente visto que, os formation and physical-mechanical properties of
mesmos apresentam valores de CBR > 20% e Portland cements produced with civil construction
expansão < 1%. Esses materiais também atendem a waste. Cement, v. 6, p. 100012.
utilização em corpos de aterro e camadas finais de Delongui, L.; Pinheiro, R.; Pereira, D. & Piovezan, G.
terraplanagem. A mistura 1 não apresentou (2010). Caracterização dos resíduos da construção
resultados satisfatórios para uso em pavimentos civil em Santa Maria e sua aplicação em
rodoviário por conta da sua expansão elevada. pavimentação. Anais XV Congresso Brasileiro de
O trabalho desenvolvido serviu para analisar a Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (XV
COBRAMSEG), Gramado. p. 1-7.
viabilidade de se utilizar resíduos para melhorar
DNER (1994). 093 ME: Solo – Determinação da
parâmetros geotécnicos dos solos bem como a Densidade Real. Departamento Nacional de Estradas
capacidade de utilizá-los nos pavimentos rodoviários, de Rodagem, Rio de Janeiro, p. 4.
dando um uso sustentável e satisfatório aos RCC. No DNER (1994). 201 ME: Solo – Cimento – Compressão
entanto, deve-se ter uma avaliação econômica e axial de corpos de prova cilíndricos. Departamento
logística em relação a outras soluções de Nacional de Estradas de Rodagem, Rio de Janeiro, p.
estabilização, principalmente em relação à execução. 4.
DNER (1994). 202 ME: Solo – Cimento – Moldagem e
AGRADECIMENTOS cura de corpos de prova cilíndricos. Departamento
Nacional de Estradas de Rodagem, Rio de Janeiro, p.
7.
Quero agradecer a UFRB por disponibilizar a
DNER (1997). 054 ME: Equivalente de areia.
estrutura necessária para realização desta pesquisa e Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, Rio
ao meu orientador José Galindo pela orientação, de Janeiro, p. 10.
apoio e confiança. DNER (2004). 003 PRO: Coleta de amostras deformadas
de solos. Departamento Nacional de Estradas de
REFERÊNCIAS Rodagem, Rio de Janeiro, p. 4.
DNER (2007). 120 PRO: Coleta de amostras de
ABNT (2004). NBR 10007: Amostragem de resíduos agregados. Departamento Nacional de Estradas de
sólidos. Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rodagem, Rio de Janeiro, p. 5.
Rio de Janeiro, p. 21. DNIT (2010). 139 ES: Pavimentação – Sub-base
ABNT (2016). NBR 6459: Solo – Determinação do limite estabilizada granulométricamente. Departamento
de liquidez. Associação Brasileira De Normas Nacional de Infraestrutura de Transportes, Rio de
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 6. Janeiro, p. 8.
ABNT (2016). NBR 7180: Solo – Determinação do limite DNIT (2016). 172 ME: Solos – Determinação do índice de
de plasticidade. Associação Brasileira De Normas Suporte Califórnia utilizando amostras não
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 3. trabalhadas – método de ensaio. Departamento
ABNT (2016). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica Nacional de Infraestrutura de Transportes, Rio de
- procedimentos. Associação Brasileira De Normas Janeiro, p. 17.
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 6. Kianimehr, M.; Arulrajah, A.; Binesh, S.; Mohammadinia,
ABNT (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação. A. & Shourijeh, P. (2019). Utilization of recycled
Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de concrete aggregates for light-stabilization of clay soils.
Janeiro, p. 11. Construction and Building Materials, v. 227.
ABNT (2022). NBR 12770: Solo – Determinação da Moreira, E. B. (2018). Comportamento mecânica de um

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


542
solo argiloso misturado com resíduos de construção e
demolição para utilização em pavimentação. Tese de
Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, Universidade de Tecnológica do Paraná
(UTFPR), Curitíba.
Moreira, E.; Baldovino, J. & Izzo, R. (2020). Impact of
Sustainable Granular Materials on the Behavior
Sedimentary Silt for Road Application. Geotechnical
and Geological Engineering, v. 138, p. 917-933.
Texeira, W. (2019). Comportamento Mecânico de
Misturas Solo, Cal e RCD para Uso em Pavimentos.
Tese de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade de Tecnológica do
Paraná (UTFPR), Curitíba.
Vieira, C. & Pereira, P. (2015). Use of recycled
construction and demolition materials in geotechnical
applications: A review. Conservation and Recycling, v.
103, p. 192-204.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


543
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

DESSECAGEM DE REJEITOS DE DRAGAGEM COM


GEOFORMAS TÊXTEIS.

Larissa Macedo Aguiar Irala


Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil,
larissaaguiar2011@hotmail.com

Eduarda Giovana Schnorenberger


Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil,
eduardagiovana.s@hotmail.com

Andressa Maria Lora Giovelli


Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil,
andressaloragiovelli@hotmail.com

Lucas Déo Costa


Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil, lucasdeocosta97@gmail.com

Diego de Freitas Fagundes


Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande-RS, Brasil, dffagundes@furg.br

RESUMO: A cidade do Rio Grande tem sua economia ligada às atividades costeiras e portuárias e conta com um
complexo portuário de elevada importância econômica para a região. Para fins de manutenção da profundidade dos canais
portuários são realizadas operações periódicas de dragagem, como ocorreu no Porto de Rio Grande entre 2018 e 2020.
Aproximadamente 16 milhões de m³ de sedimentos foram retirados do canal e depositados em zonas de bota fora. Têm-
se buscado desenvolver técnicas que realizem a reutilização e deposição dos rejeitos de dragagem de forma mais
adequada, buscando minimizar os impactos ambientais evitando descartes inadequados em alto mar ou em terra. Dentro
desse contexto, esse trabalho objetiva avaliar o potencial de utilização desses rejeitos, após um processo de desaguamento
e retenção em geoformas têxteis (Geobags). Essa técnica reduz o volume da lama dragada através da dessecagem e permite
que as geoformas têxteis possam ser instaladas em terra ou utilizadas como estruturas de contenção costeira. Assim, o
presente estudo avaliou a eficiência de desague e de filtração desses sistemas através de ensaios de desaguamento rápido
de cone e de bolsas de pequena dimensão. Foram avaliadas as vantagens da adição de polímero floculante e suas dosagens
ótimas.

PALAVRAS-CHAVE: Dragagem, Geossintéticos, Dessecagem, Sistema de confinamento de resíduos, Ensaio de


desaguamento em bolsa de pequena dimensão.

ABSTRACT: The city of Rio Grande has its economy linked to coastal and port activities and has a port complex of high
economic importance for the region. In order to maintain the depth of the port channels, periodic dredging operations are
carried out, as occurred in the Port of Rio Grande between 2018 and 2020. Approximately 16 million m³ of sediments
were removed from the channel and deposited in dump areas. Efforts have been made to develop techniques that more
adequately reuse and dispose of dredging waste, seeking to minimize environmental impacts by avoiding inappropriate
disposal on the high seas or on land. Within this context, this work aims to evaluate the potential use of these wastes, after
a process of dewatering and retention in textile geoforms (Geobags). This technique reduces the volume of dredged mud
through desiccation and allows the textile geoforms to be installed on land or used as coastal containment structures.
Thus, the present study evaluated the drainage and filtration efficiency of these systems through rapid cone and small bag
drainage tests. The advantages of adding a flocculant polymer and its optimum dosages were evaluated.

KEY WORDS: Dredging, Geosynthetics, Desiccation, Waste containment system, Dewatering test in a small bag.

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544
1 INTRODUÇÃO

Dragagem é o processo remoção de solo, sedimentos


ou rochas do fundo de rios, lagos e outros corpos
d’água. As dragas geralmente são embarcações
próprias para estes fins ou uma plataforma flutuante
equipada com mecanismos necessários para se
efetuar a remoção do solo (BRANT, 2012). Esses
equipamentos podem ser divididas em três tipos:
mecânicas, hidráulicas e pneumáticas. Os principais
objetivos da dragagem são o aprofundamento e
alargamento de canais, rios, portos, baías e a
construção e manutenção de vias aquáticas, de
infraestrutura de transporte, de aterros e de
recuperação de solos ou de mineração.
Os rejeitos da dragagem resultantes dessas
obras de engenharia são despejados de forma
aleatória, muitas vezes causando problemas
ambientais. O potencial de impacto ambiental ocorre
resultante da disposição de material dragado e do
aumento de sedimentos suspensos durante o processo
de dragagem. A técnica que frequentemente é
utilizada é a disposição desses despejos nas áreas de
bota-fora em mar aberto. Figura 1. Ocorrências de lama na praia do Cassino na
O complexo portuário da cidade do Rio
cidade do Rio Grande – RS.
Grande – RS, conta com dragagens de manutenção
periódicas para o aumento do calado do canal de
acesso, tendo a zona de despejo desse resíduo em mar Os geossintéticos tecidos, majoritariamente
aberto. Na literatura existem diversas discussões de polímeros de polipropileno (Koffler et al., 2008),
acerca das incidências de lama nas praias próximas a são utilizados para confinar os solos com aplicações
essas regiões (FIGURA 1). Segundo Ferreira & diversas, em particular em proteção costeira, essas
Freitas (2019), desde 1901 são registradas obras podem substituir espigões, molhes e utilizadas
incidências lamíticas na praia do Cassino em Rio como proteção costeira de margens.
Grande - RS, sendo que no ano de 1998 essa questão A Geoforma têxtil possui diversos formatos.
emerge como um fator ambiental, e o caso mais Geralmente é uma estrutura tubular constituída por
recente ocorreu em dezembro de 2018, período em um involucro de geossintético resistente que pode ser
que se realizou uma operação de dragagem junto ao preenchido por bombagem hidráulica de sedimentos.
canal de acesso portuário. A areia é o material de preenchimento preferido,
Nesse sentido é importante o estudo das principalmente pela sua incompressibilidade (Koffler
características do material dragado e de novas formas et al., 2008). Os materiais argilosos também podem
de destino, alternativas à disposição em zonas de bota ser utilizados, porém muitas vezes exigem a adição
fora. Uma solução que pode ser viável é a utilização de polímeros para facilitar o desague do rejeito
do desague do material em bolsas de geotêxtil. confinado. Morais (2010) considera que a aplicação
Conforme Yee et al. (2012) o processo de desague destes sistemas é ideal à superfície ou em casos de
aumenta a concentração de sólidos dos sedimentos submersão até um máximo de 5 m de profundidade.
dragados, alterando sua consistência para uma forma Adianta ainda, que a capacidade de solo por metro
sólida ou semissólida, o que facilita seu manuseio e linear das geoformas varia entre 2 e 10 m³.
descarte. O presente estudo visa analisar o
As geoformas têxteis preenchidas com desempenho de geoformas têxteis na retenção de
material de rejeito dragado podem ser utilizadas em rejeitos oriundos da dragagem. Foram analisadas
obras de contenção costeira. Os geossistemas características relacionadas a eficiência de filtração,
utilizados em hidráulica marítima consistem em de desaguamento e infiltração.
sedimentos confinados por geossintéticos, que
podem ser utilizados como substitutos de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
enrocamento e/ou blocos artificiais de betão
convencionalmente utilizados (Morais, 2010). O sedimento em estudo é proveniente de uma
dragagem realizada nas áreas do Porto Novo,

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545
Superporto e saída do canal de acesso aos molhes. A índice de atividade coloidal (Ia) obtido foi de 0,386,
dragagem teve início em 2018 e foi concluída em indicando a presença de argilominerais 1:1 e
2020, contando com a retirada de cerca de 16 milhões classificando como solo inativo.
de metros cúbicos de sedimento. Segundo Araújo
(2021), a disposição desse material foi feita em alto 2.2 Geossintéticos
mar em uma área previamente licenciada e distante
30 km da costa. Esse material foi levado ao A NBR 12.553 (2002) traz a definição de
Laboratório de Geotecnia e Concreto da FURG e geossintéticos como sendo produtos poliméricos
permanece armazenado em um reservatório fechado (sintéticos ou naturais). As geoformas têxteis são
mantendo o estado de preservação do sedimento com compostas de materiais geotexteis e tem como
grande quantidade de água do mar, conforme ilustra principal função: Reforço, filtração, drenagem,
a Figura 2. proteção, separação, impermeabilização e controle de
erosão. De acordo com Saadet & Bulut (2015)
quando tubos geotêxteis são utilizados para dessecar
materiais com alto teor de água, a capacidade de
desague é a principal preocupação incluindo dois
aspectos: eficiência de desaguamento (quão alto o
percentual final de sólidos pode ser obtido) e taxa de
desaguamento (quanto tempo levará o desague).
Além das características mencionadas acima,
os geotêxteis que compõe as geoformas devem
atender uma série de requisitos relacionados a
durabilidade e alterabilidade desses materiais (Maia,
2001; Valinho et al., 2004; Pinheiro & Maia, 2004;
Salles & Maia, 2004). Destacam-se por exemplo, os
Figura 2. (a) Local de coleta do material; (b) Draga danos relacionados a radiação ultravioleta
Hopper (Araújo, 2021); (c) Transporte do rejeito em
proveniente da luz solar, considerada o mais
tonéis (Araújo, 2021); (d) Estocagem da amostra em
reservatório no laboratório. importante agente de degradação para os materiais
poliméricos (Koerner, 1994). A degradação dos
2.1 Caracterização geotécnica do sedimento polímeros devido à radiação solar combinada com a
presença de oxigênio pode ocorrer através da
fotodegradação, devido à radiação ultravioleta, e/ou
Para a caracterização geotécnica do solo do
através de radiações de alta intensidade ou radiações
sedimento foram executados a curva granulométrica,
ionizantes (Matheus, 2002).
através do peneiramento e sedimentação conforme
A ruptura por pulsão é outro aspecto
descrito na NBR 7181 (ABNT, 2016), e do ensaio do
relevante, ocorre quando submetidos a esforços de
Picnômetro para determinação do peso específico
compressão causados pelo contato com grãos
real dos grãos (ɣs) descrito pela NBR 6458 (ABNT,
isolados gerando perfurações. Essa é uma importante
2016). Foram feitos também os Limites de Atterberg,
propriedade em relação à instalação do geossintético
conforme descritos nas normas NBR 7180 e NBR
em contenções marinhas, uma vez que esse material
6459 (ABNT, 2016).
deve resistir ao processo de aplicação intacto. Já o
Os percentuais de cada fração
comportamento relacionado a tração do geossintético
granulométrica de acordo com a classificação da
vai depender do tipo de polímero, da estrutura e do
NBR 6502 (ABNT, 1995) encontrados na amostra
respectivo processo de fabricação.
foram de 6% de areia grossa, 12% de areia média,
Devem ser observados também problemas
10% de areia fina, 28% de silte e 44% de argila. O
relacionados a colmatação, pois os mesmos impedem
teor de matéria orgânica encontrado nos sedimentos
a filtração adequada devido ao acumulo de finos em
foi de 1,45%.
suas paredes. Por fim, as costuras em sacos de
A densidade do sedimento, aproximada a
geotêxtil é um ponto especialmente crítico, a medida
densidade da amostra retirada da draga, é de 1,1 kg/L.
em que deve resistir a elevados esforços de tração.
Os resultados obtidos na determinação dos índices
O presente estudo baseou-se nos geotêxteis
físicos foram o valor de índice de plasticidade (IP) >
testados anteriormente por Araújo (2021), para o
5, definido a partir dos limites de Atterberg o material
mesmo sedimento analisado nesta pesquisa. Para
do sedimento foi caracterizado como um solo
avaliação do sistema de geoformas têxteis optou-se
altamente plástico, com limite de liquidez (wl) de
pela utilização do tipo GTX – 3, cujas características
52%, limite de plasticidade (wp) de 35% e IP 17%. O
estão descritas na Tabela 1.

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546
Tabela 1. Características do Geotêxtil utilizado. sedimento, foram realizados testes de desaguamento
Método de Teste Propriedades GTX – 3 rápido em cones de geotêxtil com mais duas dosagens
(ABNT, 2013) SoilTain PP - em torno da dosagem ótima, todos em triplicata, a fim
55/55DW de determinar qual seria o teor de polímero a ser
NBR ISO 9.864 Matéria prima Polipropileno aplicado no sedimento para o ensaio de bolsa de
Massa por unidade 270g/m²
pequena dimensão, e qual a influência dessa variação
de área Densidade 0,92
nas eficiências do sistema.
NBR ISO Velocidade de 15x10-3 m/s
11.058 fluxo nominal O teste de desaguamento rápido foi realizado
NBR ISO Abertura de 0,20mm com auxílio de um funil de vidro para apoiar os cones
12.956 filtração Preto do geotêxtil, uma proveta graduada para coletar o
Cor efluente no momento da drenagem, uma balança e um
NBR ISO 10319 Resistência a 55 kN/m anel cilíndrico para fixar o cone, conforme
tração nominal demonstrado na Figura 3(a), bem como, demonstra-
Direção 55 kN/m se o material retido no cone a ser seco em estufa para
Transversal determinação do teor de sólidos retidos na Figura
3(b).
2.3 Polímeros

Os polímeros são substâncias químicas conhecidas


como aditivos ou floculantes que por meio de reações
químicas combinam-se aos componentes do material
a ser misturado, no caso dos sedimentos de
dragagem, formando flocos.
Koerner et al. (2016) afirmam que a maioria
dos sedimentos de rios e portos são compostos por
argilas e sedimentos de granulação fina que são
facilmente adaptáveis à suspensão aquosa na forma
de lama dragada. Sendo assim, a parcela de material
fino dos sedimentos representa uma preocupação nos
processos de desaguamento através de tubos Figura 3. (a) Ensaio de desaguamento rápido. (b) Material
geotexteis, uma vez que costuras são normalmente os retido no cone. Fonte: Autor.
pontos fracos, além de formarem a chamada torta de
filtro na parte inferior da bolsa. Para minimizar esses 2.5 Ensaio de desague em bolsa de pequena
efeitos, produtos químicos são adicionados à lama dimensão
dragada durante o bombeamento, realizando a
floculação de materiais finos e contaminantes. Para avaliação do sistema de geotêxtil fechado é
Foram testadas as dosagens ótimas em nove realizado o ensaio de desague em bolsa de pequena
polímeros diferentes, entre eles catiônicos, que dimensão. O ensaio consiste em realizar a filtração do
neutralizam as cargas elétricas superficiais que sedimento na bolsa de em geoforma têxtil de
envolvem os sólidos suspensos e ampliam o tamanho dimensões reduzidas, a fim de executar o ensaio em
dos flocos (Novais, 2012), e aniônicos, que formam nível de laboratório, e avaliar a capacidade do sistema
uma espécie de “ponte” entre a sua cadeia e as (sedimento x polímero x geotêxtil) de desague da
partículas já coaguladas formando flocos de parcela líquida e retenção de solo. A norma ASTM
diâmetros maiores (Novais, 2012). Essas dosagens D7880 (2013) descreve os procedimentos do presente
foram estimadas através da mistura manual de ensaio. Para realização do ensaio foi montada uma
sedimento com as soluções de polímeros e avaliação estrutura onde ocorreu o despejo do material para o
visual da floculação do mesmo. Entre os polímeros interior da bolsa geoforma através de tubos de PVC.
testados foi adotado para os demais ensaios o A bolsa geoforma têxtil foi horizontalmente apoiada
polímero SUPERFLOC A-137 HMW, do tipo em um estrado com uma tela drenante e o material
aniônico, com densidade aparente de 650-850 kg/m³, efluente foi coletado em um recipiente posicionado
cuja dosagem ótima encontrada foi de 200 ppm. abaixo da geoforma, conforme demonstrado na
Figura 4.
2.4 Ensaio de desaguamento rápido
O sedimento foi homogeneizado e
Após a determinação do polímero a ser posteriormente despejado para o interior da
utilizado, que melhor apresentou floculação do geoforma, a estrutura conta com um registro que

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547
permaneceu aberto a 45° para que a vazão de entrada Onde ED é Eficiência de Desague [%];
ficasse controlada. O início do controle do tempo se PSfinal é a porcentagem sólida final [%]; e PSinicial
deu com a abertura do registro e com o auxílio do é a porcentagem sólida inicial [%].
cronômetro foram realizadas as leituras do volume De forma semelhante analisando a umidade
despejado nos minutos 1, 5, 15, 30, 60, 120 e por fim inicial e a umidade final da amostra após a abertura
nas 24 horas. Foram realizados 6 ciclos de da bolsa foi realizado o cálculo da eficiência de
enchimento com intervalo de tempo entre eles de 48 infiltração, descrito na Eq. (3).
horas, para cada um dos sistemas com e sem adição
de floculante. O efluente desaguado de cada ciclo 𝐸𝐼 = × 100% (3)
permaneceu ao ar livre para que ocorresse sua
secagem parcial naturalmente, após isso ele foi Onde EI é a Eficiência a Infiltração [%]; winicial é a
levado a estufa à 60ºC para secagem completa e umidade inicial [%]; e wfinal é a umidade final [%].
verificação de material fino passante. Por fim, para a análise de eficiência do
polímero foram comparados os resultados dos
efluentes obtidos do ensaio de desaguamento com o
polímero e sem o mesmo. A eficiência do polímero é
obtida com a Eq. (4).

, í
𝐸𝑃 = × 100% (4)

Onde EP é a Eficiência do Polímero [%]; Plodo é o


peso seco do percolado sem polímero [g] e
Plodo,polímero é o peso seco do percolado usando o
polímero [g].

3 RESULTADOS

Figura 4. Ensaio de desague em bolsa de pequena Foram realizados ensaios de desaguamento


dimensão. Fonte: Autor. rápido em cone de geotêxtil, com e sem adição de
polímero, avaliando as eficiências do desague e
2.5.1 Índices de avaliação do sistema variando a dosagem de polímero em torno da ótima
determinada.
Foram realizados ensaios de desaguamento
Para análise da capacidade de filtração do sistema,
em bolsa de pequena dimensão, com e sem adição de
Moo-Young et al. (2002), sugerem que a eficiência a
polímero ao sedimento. Cada um deles contou com 6
filtração é obtida utilizando a comparação dos sólidos
ciclos de enchimento espaçados de 48 horas. Dessa
totais finais do efluente (STfinal) com os sólidos
forma, obteve-se os resultados de eficiências
totais iniciais (STinicial), conforme apresentado na
dispostos na Tabela 3.
Eq. (1)
Com os resultados obtidos é possível
observar que, a eficiência de filtração (EF), ou seja, a
𝐸𝐹 = × 100% (1) capacidade do geotêxtil realizar retenção de sólidos
na bolsa, apresenta um aumento com a adição de
Onde EF é Eficiência de filtração [%]; polímero, tal comportamento é mais acentuado no
STfinal são os sólidos totais final [mg/L]; e STinicial sexto ciclo em que houve a maior diferença relativa.
são os sólidos totais inicial, [mg/L]. Pode-se observar que a média da EF sem adição de
A eficiência de desague é calculada através polímero é de 75,36% enquanto à média da EF com
de comparações entre a porcentagem de sólidos adição de polímero é de 86,87%, aumentando em
inicial e a porcentagem de sólidos final, conforme Eq. 11,51%.
(2).

𝐸𝐷 = × 100% (2)

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548
Tabela 4 - Índices de avaliações do sistema
Ciclo 1 Ciclo 2 Ciclo 3 Ciclo 4 Ciclo 5 Ciclo 6
EF (%) Sem 79,37 70,50 61,73
84,11 70,82 85,66
Polímero
Com 87,15 86,75 88,34
87,05 86,59 85,34
Polímero
ED (%) Sem 83,12 68,97 73,13
83,94 69,09 84,59
Polímero
Com 97,47 97,39 97,70
97,50 97,36 97,11
Polímero
EI (%) Sem - - 81,79
- - -
Polímero
Com - - 83,66
- - -
Polímero
EP (%) - 55,63 63,74 32,13 58,30 70,93 81,72

A eficiência de desague (ED), que avalia a Fig. 6 e Fig. 7, pode-se observar as curvas mássicas
porcentagem sólida final com relação a inicial, teve resultantes de cada ciclo de enchimento para ambos
um aumento médio de 20,28% no ensaio com os ensaios, com e sem adição de polímero.
polímero em comparação com sem polímero, como
já seria esperado. Outra consideração importante é 35
que a ED praticamente não sofre variação entre os 30
ciclos de enchimento do sistema com adição de
25
polímero, apresentando um comportamento
praticamente constante da capacidade de desague do 20
Volume (L)

sistema entre os ciclos, como pode ser observado na 15


Fig. 5.
10
5
100,00% Sem polímero Com polímero
0
80,00% Tempo (1 Min à 48 Hrs)
1° ciclo 2° ciclo 3° ciclo
4° ciclo 5° ciclo 6° ciclo
60,00%
Figura 6. Curva mássica sem polímero. Fonte: Autor.
40,00%
35
20,00%
30
0,00%
Ciclo 1 Ciclo 2 Ciclo 3 Ciclo 4 Ciclo 5 Ciclo 6 25

Figura 5. Eficiência de desague. Fonte: Autor. 20


Volume (L)

15
A eficiência de infiltração (EI), que 10
considera a variação de umidade do sistema, sofreu
pouca variação com a adição de polímero ao 5
sedimento. Em todos os ciclos de enchimento a 0
eficiência do polímero (EP) é considerável, sendo em Tempo (1 Min à 48 Hrs)
1° ciclo 2° ciclo 3° ciclo
média de 60,41%, com maior percentual obtido para
4° ciclo 5° ciclo 6° ciclo
o sexto ciclo de enchimento com 81,72%, e o menor
percentual de EP no terceiro ciclo de enchimento com Figura 7. Curva mássica com polímero. Fonte: Autor.
32,13%. É possível observar no gráfico acima que a
ED é superior no sistema com a adição do polímero Pode-se perceber que as curvas mássicas no
floculante para todos os ciclos de enchimento. ensaio com adição de polímero têm menor variação
Outra característica importante avaliada no de volume desaguado ao longo do tempo, o que
sistema é a taxa do desague com o tempo, ou seja, o demonstra que o desague ocorre de forma mais rápida
volume passante de efluente acumulado com o tempo em comparação ao ensaio sem adição de polímero.
do ensaio, resultante na curva mássica. Abaixo, nas O comportamento das curvas mássicas dos
ciclos 5 e 6 do sistema sem adição de polímero se

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549
deve ao total enchimento da bolsa, fazendo com que REFERÊNCIAS
ocorra percolação de efluente pela parte superior da
mesma de forma mais rápida, quando comparada aos ABNT (1989). NBR 10905: Solo – Ensaios de palheta in
outros ciclos em que a maior parte do efluente percola situ – Método de ensaio.
a torta de sedimento. ABNT (1995). NBR 6502: Solo – Solos e Rochas -
Terminologia.
ABNT (2013). NBR 9864: Geossintéticos - Método de
4 CONCLUSÃO
ensaio para determinação da massa por unidade de
área de geotêxteis e produtos correlatos.
O sedimento em estudo, oriundo da dragagem do
canal de acesso ao porto de Rio Grande, apresentou ABNT (2013). NBR 10319: Geossintéticos - Ensaio de
uma grande quantidade de material fino, sendo tração faixa larga.
caracterizado como uma argila arenosa cuja curva ABNT (2013). NBR 11058: Geotextiles And Geotextiles-
granulométrica apresentou um comportamento Related Products - Determination Of Water
uniforme, e também um comportamento altamente Permeability Characteristics Normal To The Plane,
plástico. Without Load.
O ensaio de desague em bolsa de pequenas ABNT (2013). NBR 12956: Geotêxteis e produtos
dimensões é imprescindível para avaliação do correlatos - Determinação da abertura de filtração
comportamento de diferentes sistemas de desague em
característica.
geotêxteis fechados. De modo geral, observou-se um
ganho considerável nas eficiências do sistema ABNT (2016). NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos
adicionando o polímero ao sedimento, chegando na peneira de abertura 4,8 mm – Determinação da
aumentar a eficiência de desague (ED) em média massa específica, da massa aparente e da absorção de
20%, atingindo o valor máximo de 97,70%, sendo água. Rio de Janeiro, 10p.
satisfatório para efeitos desse estudo. Quanto a ABNT (2016). NBR 6459: Solo – Determinação do Limite
eficiência de filtração foi possível observar uma de Liquidez. Rio de Janeiro, 6p, 2016.
melhora de aproximadamente 11%. Portanto, ABNT (2016). NBR 7180: Solo – Determinação do Limite
analisando os resultados obtidos é possível concluir de Plasticidade. Rio de Janeiro, 3p.
que para se otimizar a utilização de um sistema de
ABNT (2016). NBR 7181: Solo – Análise
desague em bolsa de geotêxtil se torna necessária a
Granulométrica. Rio de Janeiro, 13p.
utilização de um polímero floculante.
Dessa forma, se considera válido o estudo de ABNT (2002). NBR 12553: Solo – Geossintéticos
desague de sedimentos de dragagem em sistemas Terminologia.
geotêxteis fechados, bem como, o aprofundamento Araujo, M. M. F., (2021). “Potencial de retenção dos
da técnica do ensaio em bolsas pequenas dimensões. sedimentos de dragagem do Porto de Rio Grande
Os resultados aqui apresentados são utilizando sistemas de confinamento de resíduos
preliminares e fazem parte de um amplo programa de (SCR)”. Tese de Mestrado em Engenharia Oceanica.
ensaios visando o melhor entendimento do Programa de pós-graduação e, Engenharia Oceânica –
desempenho desses sistemas, através da análise de Universidade Federal do Rio Grande, 2021.
diferentes geotêxteis e polímeros.
Astm D7880 / D7880m-13, Determining Flow Rate Of
Water And Suspended Solids Retention From A Closed
AGRADECIMENTOS Geosynthetic Bag, Astm International, West
Conshohocken, Pa, 2013, Www.Astm.Org.
Os autores agradecem à equipe da empresa Huesker Brant, P. G. C., (2012). “Modelagem Hidrodinâmica
pelo material geotêxtil cedido para o estudo, a equipe Ambiental de Dragagem no Canal de Acesso ao porto
da Kerima Chemicals pelo fornecimento dos de Tubarão e na região de Bota Fora – ES”.
polímeros analisados. Agradecemos também o apoio Dissertação de Mestrado em Engenharia Oceânica,
do Comando do 5° Distrito Naval da Marinha do Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Brasil e a Superintendência do Portos RS pelo
Ferreira, F.N. & Freitas, J.V. (2019). O caso do barro no
fornecimento e transporte do sedimento dragado.
Agradecemos também o apoio no desenvolvimento Balneário Cassino: incidências e interpretações
dos ensaios laboratoriais do MSc. Régis Maria. acerca dos depósitos lamíticos na zona costeira da
cidade de Rio Grande/RS. In: ROQUE, A.C.; PAULA,
D.P.; DIAS, J.A.; CANCELA DA FONSECA, L.;
RODRIGUES, M.A.C.; ALBUQUERQUE, M.G. &

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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551
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estabilização de Pavimento Asfáltico Reciclado com Ligante


Álcali-Ativado
Rafaela Pollon
Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, rafaelapollon17@hotmail.com

Eliandra Salete Lipniarski Dos Santos


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Erechim, Brasil,
eliandralipniarski@hotmail.com

Deise Trevizan Pelissaro


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Erechim, Brasil,
deisetrevizan@uricer.edu.br

Eduardo Pavan Korf


Universidade Federal da Fronteira Sul, Erechim, Brasil, eduardokorf@gmail.com

RESUMO: No Brasil, 61 % do transporte de mercadorias e 95 % do transporte de passageiros é realizado através do


modal rodoviário, o que diminui sua vida útil e aumenta os gastos com manutenção. Visando a redução na exploração de
recursos naturais, no gasto energético e nas emissões de CO2, faz-se o uso do pavimento asfáltico reciclado na própria
implementação de novos pavimentos. Para isso, o material precisa de estabilização, realizada geralmente com cimento
Portland, outro material com grande emissão de CO 2 e consumo energético na sua produção. Assim sendo, os ligantes
álcali-ativados, produzidos através da ativação alcalina de um aluminossilicato, se apresentam como uma alternativa ao
cimento tradicional. Este trabalho objetiva em estabilizar 30 % e 50 % de pavimento asfáltico reciclado com 20 %, 30 %
e 40 % de ligante álcali-ativado com Cinza de Casca de Arroz, metacaulim e hidróxido de sódio, os corpos de prova foram
submetidos ao ensaio de compactação, RCS e Difratometria de Raios X (DRX). Os resultados apontam que maiores teores
de ligante fazem com que a RCS atinja o exigido pelas normativas brasileiras, podendo atingir 12,2 MPa para 50 % de
material fresado e 40 % de ligante alternativo. Conclui-se que sua aplicação em base e sub base de pavimentos pode ser
viável com base na análise de RCS.

PALAVRAS-CHAVE: RAP, Álcali-Ativação, Cinza de Casca de Arroz, Resistência.

ABSTRACT: In Brazil, 61% of freight transport and 95% of passenger transport is carried out by road, which shortens
its useful life and increases maintenance costs. Aiming to reduce the exploration of natural resources, energy expenditure
and CO2 emissions, recycled asphalt pavement (RAP) is used in the implementation of new pavements. For this, the
material needs stabilization, usually carried out with Portland cement, another material with high CO 2 emissions and
energy consumption in its production. Therefore, alkali-activated binders, produced through the alkaline activation of an
aluminosilicate, are presented as an alternative to traditional cement. This work aims at stabilizing 30% and 50% of
recycled asphalt pavement with 20%, 30% and 40% of alkali-activated binder with Rice Husk Ash, metakaolin and
sodium hydroxide, the specimens were submitted to the test of compaction, UCS and X-Ray Diffraction (XRD). The
results indicate that higher binder contents make the UCS reach the required by Brazilian regulations, reaching 12.2 MPa
for 50% of milled material and 40% of alternative binder. It is concluded that its application in the base and subbase of
pavements may be feasible based on the UCS analysis.

KEY WORDS: RAP, Alkaline-Activation, Rice Husk Ash, Resistance.

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552
1 INTRODUÇÃO de açúcar, entre outros (HOY et al, 2016).
Faz-se necessário, portanto, buscar soluções
A indústria da construção vem aumentando a plausíveis, por parte das obras civis, que corroborem
geração de resíduos a cada ano, já atingindo 3 bilhões para o uso adequado dos recursos naturais, buscando
de toneladas por ano, de resíduos de construção e a diminuição do uso de cimento e emissões de gases
demolição. O uso adequado destes materiais, fazendo poluentes, cautela com o uso de jazidas de matérias-
com que os resíduos retornem para as construções, primas, destinação correta dos resíduos e buscando
cria aspectos positivos tanto do ponto de vista sempre seu reaproveitamento e valorização.
ambiental como econômico (JALLU et al, 2020). Torna-se oportuno, portanto, desenvolver uma
Na construção civil, algumas atividades muitas pesquisa relacionada à novas substituições para o
vezes alteram algumas condições ambientais, seja na cimento Portland e que reusem materiais
extração dos materiais ou na beneficiação deles considerados descartáveis.
(ROTH; GARCIAS, 2009). As perdas na construção Desta forma, o presente trabalho possui como
e geração de resíduos fazem com que o consumo de objetivo usar um ligante álcali-ativado com CCA e
materiais e consequentemente de recursos naturais metacaulim, para estabilização de material fresado,
seja maior que o essencial. visando sua aplicação em base e sub-base de
Os impactos causados pelas obras de engenharia, pavimentos.
em especial obras de pavimentação, trazem
cobranças em relação à preservação ambiental, pois 2 MATERIAIS E MÉTODOS
os pavimentos asfálticos têm curta durabilidade e
grande frequência de manutenção. Uma solução 2.1 Materiais
possível é o reuso do material fresado através da sua
reincorporação em novos pavimentos e manutenção Os materiais utilizados foram a CCA, hidróxido
dos mesmos (LEIVA; VARGAS, 2017). de sódio, metacaulim, material asfáltico fresado e
No ano de 2021, ainda, foi publicada a Resolução agregados virgens (britas e pó de brita).
nº 14, de 8 de julho de 2021, do DNIT, que dispõe Na sua geração, a CCA utilizada é queimada na
sobre a obrigatoriedade do reaproveitamento do faixa de temperatura entre 800 e 900ºC, por várias
Pavimento Asfáltico Reciclado (do inglês Reclaimed horas, sem recalcinação, devido a heterogeneidade da
Asphalt Pavement - RAP) nas obras de restauração, granulometria. A CCA foi sujeita à moagem em
adequação de capacidade e ampliação do DNIT, o moinho de bolas por 1 hora e peneirada com peneira
que aumenta a necessidade de estudos que possam de malha 150 mm.
mostrar a eficiência de estabilização de RAP para
aplicação em obras. 2.2 Dosagens
Usualmente o pavimento asfáltico reciclado é
estabilizado com cimento Portland, mas esse 2.2.1 Ligante álcali-ativado
processo não deve ser considerado como uma boa
solução para pavimentos sustentáveis com vida As dosagens do ligante álcali-ativado foram
longa, pois a indústria cimenteira é uma fonte baseadas no estudo de Pollon (2022), onde foi
expressiva de emissão de dióxido de carbono (CO2), utilizado Cinza da Casca de Arroz, metacaulim e
que no ano de 2015 representou uma grande emissão hidróxido de sódio para produção do ligante álcali-
de CO2 da ordem de 23.767 Gg (MINISTÉRIO DA ativado. A molaridade do hidróxido de sódio foi
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÕES, 2017). fixada em 10 M. A relação SiO2/Al2O3 foi de 4,0, a
A produção de cimento contribui com cerca de 5% cura em estufa a 60º C e tempo de cura de 7 e 28 dias.
das emissões globais de CO2 (JALLU et al, 2020),
além disso, existe a emissão de material particulado 2.2.2 Ligante álcali-ativado com material fresado
(poeira) e gases vinculados à chuva ácida (BANCO
NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO Estas misturas basearam-se no trabalho de Hoy
ECONÔMICO E SOCIAL, 2016). Com isso, os Horpibulsuk e Arulrajah (2016), substituindo o
ligantes álcali-ativados são referidos como emissores material granulométrico tradicional por material
de menores quantidades de CO2 e menor consumo de fresado, em 30 % e 50 %. Adicionou-se o ligante
energia (HOY et al, 2016). Os cimentos álcali álcali-ativado em quantidades de 0 % (corpos de
ativados podem ser produzidos através da utilização prova de referência), 20 %, 30 % e 40 %, em massa,
de pozolanas como matéria-prima (ALLAHVERDI em relação à quantidade de pavimento asfáltico
et al, 2010), as quais devem, obrigatoriamente, ter fresado.
aluminossilicatos em suas composições. Alguns
exemplos que podem ser citados são escórias, Cinza 2.3 Métodos
de Casca de Arroz (CCA), Cinza de Bagaço de cana
A CCA e o metacaulim foram submetidos ao

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553
ensaio de massa específica, com base na NBR Tabela 2. Caracteristicas dos materiais agregados.
6474/2001. Constatou-se que a massa específica da Agregado Peneira passante (mm)
CCA é de 2 g/cm³ e para o metacaulim, 2,64 g/cm³, RAP 25,4
o qual está conforme o valor exigido pela NBR Brita 3/4 19
15894-1/2010. Brita 3/8 9,5
Para o material fresado usou-se a normativa Pó de brita 0,075
DNER-ME 195/1997, para determinar a massa
específica e absorção do material. Obteve-se uma
massa específica na condição seca de 2,21 g/cm³ e
uma absorção total de 2,03%. O teor de umidade foi
realizado utilizando a normativa DNER-ME
196/1998. Para a determinação da porcentagem de
betume, a referência foi a norma DNER-ME
053/1994, sendo o percentual obtido de 5,76%.
A granulometria foi determinada sob orientações
da DNER-ME 083/1998, sendo realizado através do
peneiramento, o material fresado apresenta uma
granulometria deficiente em finos.
Verificou-se o enquadramento da curva
granulométrica do material fresado nas curvas
granulométricas do DNIT, sendo o melhor ajuste foi
obtido utilizando o intervalo “B”, mas como o Figura 1: Curva granulométrica com 30 % de
material fresado é deficiente de finos, parte da curva material fresado, 10 % de brita 3/4, 10 % de brita 3/8
não respeita o mínimo exigido, assim, foi necessária e 50 % de pó de brita, juntamente com o limite da
a correção da curva granulométrica com material curva “B” do DNIT.
fino.
Para as misturas, inicialmente realizou-se ensaio
de compactação de acordo com a NBR 7182/2020
para obtenção da umidade ótima e peso específico
seco máximo (γmáx) através do ensaio de Proctor
com energia intermediária e após estas definições os
corpos de prova foram moldados e submetidas à
ensaios de resistência a compressão simples de
acordo com a NBR 5739/2007, posteriormente, as
misturas de interesse, foram avaliadas por
Difratometria de raios-x (DRX) para composição
mineralógica.
Efetuou-se uma composição de valores fixando o
percentual de material fresado primeiro em 30% e
após em 50%, alterando apenas os valores
Figura 2: Curva granulométrica com 50 % de
respectivos de brita 3/4, brita 3/8 e pó de brita. As
material fresado, 4 % de brita 3/4, 6 % de brita 3/8 e
composições obtidas se apresentam na Tabela 1 e as
40 % de pó de brita, juntamente com o limite da curva
características dos materiais agregados se encontram
“B” do DNIT.
na Tabela 2. As curvas granulométricas se
apresentam nas Figuras 1 e 2. Os materiais foram testados nos intervalos
granulométricos do DNIT e apesar das curvas não se
Tabela 1. Composição das misturas com 30 % e 50 encaixarem perfeitamente nos limites máximos e
% de RAP. mínimos na curva “B” do DNIT, esta foi a que mais
RAP Brita 3/4 Brita 3/8 Pó de brita se aproximou. Os agregados se encaixam nos limites
30 % 10 % 10 % 50 % da Wirtgen.
50 % 4% 6% 40 % Foi realizada análise de DRX para as amostras de
metacaulim, CCA e material fresado e nos corpos de
prova das misturas do ligante com o material fresado,
assim, tornou-se possível fazer o levantamento da
composição mineralógica e analisar se são
considerados amorfos ou cristalinos.
Na DRX do metacaulim observou-se vários picos

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554
de quartzo (SiO2), Caulinita (Al2Si2O5(OH4)), mas de ligante, maiores são os valores de RCS para todas
grande parte desses minerais se encontram em estado misturas avaliadas. Para maiores resistência já em 7
amorfo. Para o DRX da Cinza de casca de arroz, dias, é indicada maior quantidade de ligante (40 %).
observou-se que a fase mais cristalina foi de quartzo Em contrapartida, mesmo que os maiores valores de
(SiO2), ainda assim, a maior parte dos picos RCS são encontrados para maiores teores de ligante,
encontrados são amorfos, possuindo reatividade. a RCS diminui com o passar do tempo para 50 % de
Para o material fresado, o DRX apresentou Quartzo e material fresado.
Labradorita, com maior quantidade de picos, A explicação para a redução da RCS pode ser
indicando um material menos amorfo que o pois os produtos de hidratação de cinzas álcali
metacaulim e a CCA. ativadas são geralmente amorfos, no entanto,
Realizou-se ainda análises de Fluorescência de temperaturas mais altas levam a formação de
Raios X (FRX) para o metacaulim, CCA e hidróxido produtos de hidratação cristalinos (WANG et al,
de sódio. O metacaulim apresenta majoritariamente 2005). O ligante também pode sofrer alterações
sílica, presente na forma SiO2, com 57,00 % e microestruturais do gel formado em tempos maiores
alumina, na forma de (Al2O3), com 34,00 %. Para a de cura, continuando a ocorrer a reorganização e
CCA, a FRX apresentou 88,69 % de SiO2 e o polimerização do gel aluminossilicato, que pode estar
hidróxido de sódio apresentou pureza de 98,40 %. causando encolhimento autógeno, e a diminuição de
RCS (LONGHI et al, 2016).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Com 30 % de ligante, comparando-se com a
normativa DNIT 143/2010-ES, que estabelece que
A Figura 3 apresenta o resultados de resistência à aos 7 dias o valor mínimo que uma estabilização de
compressão simples de misturas com 30 e 50 % de solo-cimento pode atingir é de 2,1 MPa, perecebe-se
material fresado. que apenas a amostra com 40 % de ligante atinge esse
requisito.
Já as com 50% de material fresado com adição
a) 30 % de RAP atendem o mínimo de 2,1 MPa, porém, aos 28 dias
apresentam queda de resistência, que pode ser
6 explicada pois de a adição de água tende a diminuir a
7 dias 28 dias 4,9
Resistência à compressão

5 resistência de materiais cimentícios, por causa dos


4 vazios gerados após sua evaporação.
2,8
simples (MPa)

3 Buscou, através de análises de DRX, entender os


2 1,1 1,1 processos mineralógicos envolvidos na estabilização
0,9 0,9 0,8
1 0,4 proporcionada pelo ligante, correlacionando-os com
0 as resistências geradas no ensaio de RCS. Para isso,
0 20 30 40 determinou-se que os procedimentos seriam
efetuados para as amostras com 30 % de RAP e 40%
Quantidade de ligante álcali ativado de adição de ligante álcali-ativado, o DRX se
(%) apresenta na Figura 4 (a) para 7 dias de cura e (b) para
28 dias de cura.
b) 50 % de RAP
15
7 dias 28 dias
Resistência à compressão

12,1
9,3
10
simples (MPa)

6,6
5
5 3,13,1
0,60,4
0
0 20 30 40
Quantidade de ligante álcali ativado
(%)
Figura 3 – Resistências à Compressão Simples, (a)
misturas com 30% de material fresado e (b) misturas
com 50% de material fresado.

A Figura 3 mostra que para maiores quantidades

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555
de jazidas e de descartes.
(a) Com a aplicação de DRX no metacaulim e na
CCA foi possível identificar boa reatividade química
e formação de géis cimentantes, o que se confirmou
após as misturas.
A RCS das misturas reduziu-se em grande parte
das amostras aos 28 dias, o que pode ter ocorrido
devido aos produtos de hidratação de cinzas álcali
ativadas serem geralmente amorfos, os quais formam
produtos de hidratação cristalinos sob temperaturas
elevadas. Além disso, a contínua reorganização e
polimerização do gel aluminossilicato pode estar
causando encolhimento autógeno e a diminuição de
RCS.
A exceção da diminuição da resistência foi para a
(b) amostra com 30 % de material fresado e 40 % de
ligante, onde ocorreu um aumento significativo, este
fenômeno pode ser explicado pela relação de
ligante/agregado estar bastante similar a do concreto
tradicional, onde a progressão das reações e o arranjo
dos grãos aumenta a resistência ao longo do tempo.
Isto permitiu que a dosagem se tornasse a opção
mais indicada para uma possível aplicação, fato que
é reforçado ao atender o mínimo de resistência à
compressão axial imposta pelo DNIT (2,1 MPa) e
apresentar uma dosagem menor de ligante (menores
custos).
Com essas conclusões parciais fica evidente que
para garantir uma futura aplicação e para melhor
entendimento do comportamento da estabilização do
Figura 4 - DRX para (a) 7 dias de cura e (b) para 28 material fresado com o ligante, se faz necessário uma
dias de cura continuidade nos estudos realizando um estudo
exploratório com diferentes níveis das variáveis
Com relação à amostra com 30 % de RAP e 40 % estudadas e também com sistemas álcali ativados
de ligante álcali ativado observa-se a presença de com diferentes teores de cálcio.
minerais que contém sílica e alumina, como a Para melhorias no estudo e pesquisas futuras,
Labradorita e Bentonita, indicando assim, que recomenda-se realizar alguns ensaios de
ocorreu a álcali ativação. Já o Diopsídio, possui caracterização dos materiais, como a composição
apenas sílica, não contribuindo para a mesma. química, composição mineralógica, análise
A presença de Bentonita aos 7 dias (Figura 4 (a)) microestrutural, classificação ambiental dos
indica que aos 7 dias de cura já havia iniciado a resíduos, granulometria, lixiviação, entre outros, para
ocorrência de álcali ativação. Aos 7 dias de cura os as misturas também aconselha-se a realização de
picos mineralógicos são maiores que aos 28 dias, análise da composição química, análise
significando que o material apresentava-se em estado microestrutural, classificação ambiental e lixiviação,
mais cristalino aos 7 dias de cura. Com 28 dias, os para melhor compreensão dos materiais e misturas,
elementos se rearranjam e formam minerais bem como compreensão e interpretação dos
diferentes, no entanto, possuem forma mais amorfa resultados obtidos.
em relação aos 7 dias, o que indica que a reatividade
aumentou e justifica o aumento de RCS no gráfico de AGRADECIMENTOS
resistências da Figura 3 (a).
Os agradecimentos vão para a bolsa de
produtividade em pesquisa concedida pelo Conselho
4 CONCLUSÕES Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) ao quarto autor (processo
A produção de um ligante álcali-ativado 310805/2020-1) e pela bolsa de Demanda Social,
utilizando um material alternativo, como é o caso da fornecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
CCA impacta diretamente na redução de CO2 na Pessoal de Nível Superior (CAPES) à primeira autora
produção do ligante, bem como diminui a exploração

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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557
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo do Comportamento de um Solo Tropical Reforçado com


Fibras Naturais de Coco
Mayara Luana de Jesus Santos
Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil, mayaraluana.ml@gmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande, D.Sc.


Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

RESUMO: A sustentabilidade ambiental é uma questão almejada nas tecnologias aplicadas às obras de engenharia
geotécnica. Dessa maneira, o uso de materiais renováveis, naturais, não poluentes e sem destinação adequada guiou o
estudo realizado nesta pesquisa experimental. Optou-se por estudar a aplicabilidade das fibras de coco como reforço de
um solo tropical, pois são subprodutos derivados do processo de produção de compostos do coco. Essas fibras podem se
tornar um resíduo sólido, afinal, são tradicionalmente descartadas em locais não adequados, chegando a poluir praias e
cidades, tornando-se um passivo ambiental. Sendo assim, a linha de pesquisa e de desenvolvimento de novos materiais
geotécnicos, por meio de técnicas de reforço, viabiliza, além do aumento dos parâmetros de resistência obtidos para os
compósitos solo-fibra, dar um destino mais nobre às fibras de coco, com melhorias técnicas, ambientais, financeiras e
sociais. Investigou-se o comportamento físico-mecânico de um solo tropical argiloso reforçado com 1,0% e 2,0% de fibras
de coco, distribuídas aleatoriamente e quantificadas sobre a massa seca do solo. Foram realizados ensaios de
caracterização, compactação e compressão não confinada, nos quais os resultados demonstraram que os compósitos solo-
fibras de coco apresentaram maior resistência de pico e diminuição da queda pós-pico, quando comparados ao solo não
reforçado, sendo, portanto, uma alternativa de utilização desse material em obras geotécnicas, como estabilidade de
taludes, reforço de fundações rasas e aterros sobre solos moles.

PALAVRAS-CHAVE: Fibras Naturais de Coco, Novos Materiais Geotécnicos, Reforço de Solo.

ABSTRACT: Environmental sustainability is also an issue sought in the technologies applied to geotechnical engineering
works. In this way, using renewable, natural, non-polluting materials without adequate disposal guided the study
conducted in this experimental research. We chose to study the applicability of natural coir fibers as soil reinforcement,
as they are a by-product derived from the coir fruit production process. These fibers can become a waste product. After
all, they are traditionally discarded in inadequate locations, polluting beaches and cities and becoming an environmental
liability. Thus, the research and development of new geotechnical materials make it possible to give a nobler destination
of coir fibers, besides increasing the strength parameters obtained for soil-fiber composites, with technical, environmental,
financial, and social improvements. In the present study, the physical-mechanical behavior of tropical clay soil reinforced
with 1.0% and 2.0% of natural coir fibers, randomly distributed and quantified on the dry mass of the soil, was
investigated. Tests of characterization, compaction, and unconfined compression were performed, in which the results
showed that the soil-fiber composites showed higher peak and post-peak strength than the soil unreinforced, and therefore
an alternative use of this material in geotechnical works such as sidewalk bases, slope stability, reinforcement of shallow
foundations and embankments on soft soils.

KEYWORDS: Natural Coir Fibers, New Geotechnical Materials, Soil Reinforcement.

1 INTRODUÇÃO engenharia geotécnica enfrenta obstáculos de


natureza econômica e ambiental.
Promover a sustentabilidade em todas as áreas do Para melhorar as propriedades dos solos, tem sido
conhecimento é fundamental. Dessa maneira, aplicada a técnica de inclusão de fibras. Elas atuam
incorporar materiais mais sustentáveis, diminuir o como elementos de reforço que não impedem a
consumo e reaproveitar resíduos é uma alternativa formação de fissuras, mas controlam a propagação
almejada e que deve ser viabilizada nos processos destas, melhorando as propriedades mecânicas do
geotécnicos. Constantemente, a utilização das material compósito em questão (CASAGRANDE,
tradicionais e clássicas técnicas propostas pela 2002).

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558
Sabe-se que o comportamento mecânico dos solos aplicação dessas fibras como reforço de solos ainda é
reforçados com fibras depende das características das recente. Nesse cenário, o presente trabalho busca
fibras, do solo, da tensão de confinamento e do modo minimizar o despejo inapropriado das fibras da casca
de carregamento. O maior potencial dos materiais do coco, a fim de promover a estabilidade de taludes,
compósitos fibrosos está no estado pós-pico, onde as o reforço de fundações rasas e aterros sobre solos
fibras contribuem de forma mais efetiva na moles. Sendo assim, o estudo objetiva avaliar as
resistência do material, aumentando assim sua propriedades físico-mecânicas de um solo tropical
capacidade de absorção de energia (SILVEIRA, argiloso reforçado com fibras de coco aleatoriamente
2018). Esse método, segundo Casagrande (2005), distribuídas, com o objetivo de potencializar o uso de
pode aumentar a resistência, a ductilidade e a misturas solo-fibra vegetal em obras de terra.
tenacidade dos solos, além de reduzir a queda de
resistência pós-pico. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
No entanto, as fibras sintéticas ainda são de alto
custo, pois não são materiais renováveis e não 2.1 Solos Reforçados com Fibras Naturais
contribuem para a conservação ambiental. Dessa
forma, fibras de material alternativo são uma solução Opta-se pelo uso do processo de reforço quando o
pertinente. solo do local da obra não apresenta as propriedades
As fibras naturais, por exemplo, quando geotécnicas exigidas pelo projeto, possibilitando
comparadas às fibras sintéticas, possuem uma série melhorar determinadas características. Isso dispensa
de vantagens, como baixo custo, boas propriedades os custos provenientes do transporte de material
mecânicas, uso de tecnologias relativamente simples, adequado de jazidas distantes e evita o descarte
requerem menos energia para produção e provêm de inadequado (Pessoa, 2004).
fontes renováveis (GHAVAMI et al., 1999; A adição de fibras nos solos para formar um
DITTENBERG e GANGARAO, 2012). material compósito sempre foi executada, mas seu
Pesquisas utilizando fibras naturais, estudo só foi amplamente discutido nas últimas três
especialmente as vegetais, têm sido desenvolvidas décadas. Elas são empregadas em soluções
devido à sua grande disponibilidade e boa resistência geotécnicas para problemas envolvendo reforço de
à tração, incluindo sisal, curauá, açaí e coco (LOPES, solos moles, estruturas de contenção, estabilidade de
2019; SILVEIRA, 2021; SOTOMAYOR et al., 2021; taludes, aterros, entre outros casos.
VELA et al., 2022). Dessa maneira, classificam-se as fibras em dois
Sendo assim, as fibras de coco verde são uma grupos: naturais e artificiais. Cada uma tem suas
alternativa muito promissora, já que são um insumo particularidades, que podem ser vantagens ou
de bom desempenho, têm baixo custo e representam desvantagens dependendo da aplicação.
uma possibilidade de aproveitamento do resíduo, que Em particular, as fibras naturais têm sido cada vez
é subproduto do consumo da água de coco. Destinar mais estudadas devido ao baixo custo da matéria-
esse resíduo é de suma relevância, já que muitas prima, facilidade de obtenção, abundância, facilidade
vezes são depositados em lixões, às margens de de manuseio, boas propriedades mecânicas, baixa
estradas e nas praias. geração de resíduos, uso de tecnologias simples e
Segundo Rocha et al. (2015), a casca do coco necessidade menor de energia no processo de
corresponde a 85% da massa do fruto do coqueiro e produção, além de serem fontes renováveis
é considerado lixo. As fibras presentes na casca (DITTENBER and GANGARAO 2012).
possuem vida útil em campo entre 2 e 10 anos, o que No Brasil, o uso de fibras de coco já foi objeto de
indica sua aplicação em obras geotécnicas, pesquisa em relação à sua aplicabilidade como
especialmente em obras temporárias (BABU e reforço de solo. Bernadina (2019) avaliou o
VASUDEVAN, 2008; HEJAZI et al., 2012). comportamento mecânico e a durabilidade de
Além disso, de acordo com Faustino (2022), o alto compósitos de solo arenoso reforçado com fibras de
teor de lignina, em torno de 40%, presente nas fibras coco, com o objetivo de estudar sua aplicação em
de coco confere durabilidade ao material. Sendo obras geotécnicas. Nesse estudo, foi possível
assim, o aproveitamento da casca de coco verde é observar que mesmo após 8 meses de
viável, pois suas fibras são quase inertes e têm alta envelhecimento natural, as fibras ainda contribuíram
porosidade. A facilidade de produção e obtenção, como reforço do solo e apresentaram baixa
aliada ao baixo custo e alta disponibilidade, são degradação.
outras vantagens adicionais apresentadas por este
tipo de substrato. 2.2 Fibras de Coco
Estudos já mostraram interesse em usar fibra de
coco como reforço de concreto; no entanto, a As fibras do coco verde são originárias do fruto

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559
do coqueiro, abundante nos trópicos. No Brasil, encontrados demonstraram um decréscimo da massa
segundo dados da FAO (2019), a produção aumentou específica aparente seca máxima e um acréscimo na
de 477 mil para 2,65 milhões de toneladas de 1990 a umidade ótima para a adição de 2% de fibra, porém
2016. Silva (2014) aponta que, devido ao baixo custo, considerados não muito significativos.
abundância e disponibilidade, o coco é amplamente Pelos resultados das curvas de compactação,
comercializado. Dados de 2015 do IBGE mostram Lopes (2019) também conseguiu perceber e
que a Bahia, Sergipe, Pará, Ceará e Espírito Santo, comprovar que a inserção das fibras no solo leva a
juntos, correspondem a 72,8% do plantio de coco, uma redução progressiva do peso específico seco
com 29,4%, 12,5%, 11,2%, 10,7% e 9,0%, aparente do solo puro para os compósitos, enquanto
respectivamente. há um aumento, também progressivo, da umidade
Após o consumo da água de coco, a casca é ótima.
considerada um subproduto e corresponde a 85% da
massa do fruto do coqueiro (ROCHA et al., 2015). 2.3.2 Resistência à Compressão Simples
Apenas 10% é reaproveitado pela indústria no
processamento do coco, sendo a maior parte rejeitada Kar e Pradhan (2011) estudaram a resistência à
sem o devido beneficiamento. Como resultado, as compressão simples e ao cisalhamento direto de um
fibras extraídas das cascas de coco, em sua maioria, solo argiloso localizado em Burla, na Índia,
são classificadas apenas como rejeitos. No entanto, misturado com fibras de coco e de polipropileno, nos
elas possuem um grande potencial ainda pouco teores de 0,2%, 0,4%, 0,6%, 0,8% e 1%. Para o
explorado. ensaio de compressão simples, os melhores
As fibras de coco podem ser utilizadas como resultados foram obtidos com 0,6% de fibra,
reforço de solo, embora sejam biodegradáveis. Elas alcançando uma resistência à compressão simples de
possuem alta durabilidade e resistência, que variam aproximadamente 160 kPa, com uma diminuição
dependendo do comprimento da fibra, diâmetro e dessa resistência a partir do teor de 0,8% para 140
grau de defeito (SINGH e BAGRA, 2013). kPa.
O comportamento do solo natural é
2.3 Influência da Inclusão de Fibras nas completamente alterado com a inclusão de fibras de
Propriedades do Solo coco, uma vez que elas aumentam a resistência pós-
pico e induzem um comportamento de amolecimento
Os aspectos que influenciam na interação solo- por deformação na mistura, controlando e mitigando
fibra são estudados na literatura por diferentes a tensão por meio da transferência de tensão pelas
autores, que avaliam o comportamento desses solos fissuras para as fibras (Bentur e Mindess, 2007).
reforçados por meio dos parâmetros de resistência e Em resumo, os estudos observados na literatura
deformabilidade. Lopes (2019) afirma que para cada apontam que a adição de fibras não só aumentou
combinação de variáveis, o resultado obtido pode ser consideravelmente os parâmetros de resistência ao
o desejado para uma dada aplicação do compósito. cisalhamento, como também conferiu ao solo uma
As características desejadas com a inclusão de fibras resistência adicional pós-pico que o solo não possuía,
vão depender do tipo de aplicação do compósito e não observável nos ensaios de compressão simples.
necessariamente serão ganho de resistência.
Maior capacidade de absorção de energia (maior 2.3.3 Modo de Ruptura
resistência ao impacto), queda na redução de
resistência pós-pico (para o caso de materiais mais O aumento da ductilidade do solo com a adição de
frágeis) e maior capacidade de absorção de fibras é uma observação feita de forma unânime por
deformações até atingir a resistência última são vários autores que avaliaram esse parâmetro
alguns dos fatores que são influenciados pela (CONSOLI et al., 1999; GHAVAMI et al., 1999;
inclusão de fibras (Casagrande, 2002). CASAGRANDE, 2005; LOPES, 2019), sendo este
A seguir, apresentam-se algumas mudanças no aumento mais pronunciado quanto maior for a
comportamento mecânico dos solos reforçados com quantidade de fibras.
fibras na compactação, resistência à compressão Ao analisar os corpos de prova do seu estudo após
simples e modo de ruptura. a ruptura, Faustino (2022) percebeu que o solo puro
teve seu plano de cisalhamento aproximadamente a
2.3.1 Compactação 45° e a amostra se despedaçou. O autor também
notou que, nos corpos com adição de fibra, não foi
Al Wahab & Al-Qurna (1995) estudaram os evidente um plano de ruptura e essas fibras presentes
efeitos da inclusão de vários teores de fibra na curva contiveram o estilhaçamento do solo.
de compactação de uma argila. Os resultados

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


560
3 MATERIAIS E MÉTODOS regular a mau.

3.1 O solo 3.2 As fibras naturais de coco

Do Campo Experimental do Programa de Pós- As fibras de coco utilizadas nesta pesquisa são
Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília provenientes da empresa Hobby Verde que
foi coletado um solo argiloso laterítico (Figura 1). comercializa vários tipos de fibras naturais.
Dessa forma, foi realizado ensaio de granulometria Para a preparação das misturas, as fibras foram
(Figura 2) onde foi possivel verificar que se tratava cortadas em comprimentos de 15 mm,
de um solo composto em sua maior parte por fração aproximadamente (figura 3), e foram distribuídas de
de argila, representando 47,4%, seguido por 30,5% forma aleatória no solo.
de areia e 22,1% de silte.

Figura 3. Preparo da fibras de coco em comprimento de 15


Figura 1. Solo Argiloso Laterítico. mm.

É importante ressaltar que os diâmetros das fibras


são variáveis por serem um material natural. Na
tabela 1 abaixo, é apresentado um resumo das
propriedades físicas das fibras, conforme Faustino
(2022).

Tabela 1. Propriedades físicas de fibras de coco utilizadas


como reforço.
Propriedades Valores
Diâmetro (mm) 0,1 – 0,45
Densidade (g/cm³) 1,4 – 1,52
Resistência à tração (MPa) 100 – 225
Figura 2. Curva Granulométrica do Solo Argiloso Módulo de Elasticidade (GPa) 3–6
Laterítico. Alongamento (%) 12 – 51,4
Absorção Máxima (%) 414
O peso específico real dos grãos do solo puro,
obtido no pentapycnometro, foi de 2,69 g/cm³. As fibras de coco possuem alta durabilidade e
Quanto aos limites de consistência, foi encontrado resistência, que variam dependendo do comprimento
um valor de Limite de Liquidez de 42% e um valor da fibra, diâmetro e grau do defeito (SINGH and
de Limite de Plasticidade de 27%, resultando em um BAGRA, 2013). O alto teor de lignina e o baixo teor
Índice de Plasticidade de 15%. A partir dos de celulose fazem com que a degradação da fibra de
resultados dos ensaios de granulometria e limites de coco seja mais lenta que a de outras fibras vegetais
Atterberg, foi possível classificar o solo de acordo (HEJAZI et. al., 2012).
com a Classificação TRB, em um material argiloso,
pertencente ao grupo A-7-6 e com Índice de grupo 3.3 Métodos de ensaios
igual a 10. Para aplicação em pavimentos, o
comportamento deste material é considerado de O programa de ensaios estabelecido tem como

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561
objetivo principal investigar e identificar o efeito da ser explicado pelo fato de que as fibras de coco são
adição de fibras de coco nas propriedades mecânicas mais leves do que o solo, o que reduziu a densidade
de um solo tropical laterítico argiloso. A seguir serão da mistura. Conforme relatado por Shukla et al.
apresentados os métodos de ensaio e demais (2017), as fibras evitam a boa ligação dos grãos do
procedimentos empregados durante o programa solo.
experimental. Por meio do ensaio de compressão simples, foi
possível observar que a adição das fibras aumentou
3.3.1 Ensaio de Compactação consideravelmente os parâmetros de resistência à
compressão simples e conferiu ao solo uma
A norma DNER-ME 228/94 (DNER, 1994) resistência adicional pós-pico que o solo não possuía.
descreve os procedimentos para correlacionar o teor Além disso, o aumento progressivo da adição de
de umidade do solo e sua massa específica aparente fibras tende a aumentar o módulo de elasticidade,
seca (curva de compactação), quando a fração do solo tornando a mistura mais rígida e apresentando uma
que passa na peneira de 2 mm de abertura é ruptura mais plástica, provavelmente devido à
compactada no aparelho de compactação em flexibilidade das fibras em comparação ao solo.
miniatura (moldes cilíndricos com 50 mm de
diâmetro) com energia intermediária (procedimento
B) e amostras não trabalhadas.
Foram determinadas as curvas de compactação
para o solo puro, com 1,0% de fibras e com 2,0% de
fibras, compactando 6 corpos de prova com uma
diferença de cerca de 2,0% no teor de umidade entre
eles. Dessa maneira, obteve-se a umidade ótima para
cada curva com o correspondente peso específico
seco máximo.

3.3.2 Ensaio de Compressão Simples

Os ensaios de compressão simples foram


realizados de acordo com os métodos descritos na Figura 4. Curvas de Compactação.
norma NBR 12770 (ABNT, 1992). Nesse ensaio, um
corpo de prova não confinado é rompido por meio do A resistência de pico observada para o solo puro
uso de um pistão, que permite o controle da foi de 345 kPa. Já para o solo com adição de 1,0% de
velocidade do deslocamento vertical e a medição da fibra, foi de 534 kPa, ou seja, 54,8% maior que a do
força aplicada. A velocidade adotada foi de 1,27 solo puro. Para o solo com adição de 2,0% de fibra, o
mm/min, situada entre 0,5% e 2,0% da deformação valor de resistência de pico foi de 601 kPa, o que
axial específica (ε) por minuto, conforme representa um valor 74,2% maior que o do solo puro.
estabelecido pela norma (ABNT, 1992). O resultado Em relação ao pós-pico, o solo com adição de
do ensaio é apresentado em um gráfico que relaciona 1,0% de fibra conseguiu manter uma resistência
a Tensão versus Deformação Axial Específica aproximadamente 4 vezes maior que a do solo puro,
(ABNT, 1992). e o com adição de 2,0% de fibra, 5 vezes maior.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Pelos resultados das curvas de compactação


(Figura 4), é possível perceber que à medida que se
aumenta a porcentagem de fibras de coco, ocorre um
aumento da umidade ótima. Isso pode ser explicado
pela adsorção de água pelas fibras, conforme relatado
por Abbaspour et al. (2019). Além disso, a formação
de uma fina película de água na periferia entre o solo
e as fibras pode ter contribuído para o aumento da
umidade ótima.
Também é notável uma redução progressiva do
peso específico seco aparente da mistura. Isso pode

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562
Figura 5. Curvas de Tensão vs. Deformação. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
(1992). Solo Coesivo – Determinação da resistência à
Analisando os corpos de prova após a ruptura, compressão não cofinada: NBR 12770. Rio de Janeiro,
também foi possível perceber que o solo puro teve 4p.
seu plano de cisalhamento aproximadamente a 45º e AL WAHAB, R.; AL-QURNA, H. (1995). Fiber
o corpo de prova se despedaçou. Já nos corpos de reinforced cohesive soils for application in compacted
prova com adição de fibra, não é evidente um plano earth structures. In: Proceedings of the
de ruptura e nota-se que as fibras contiveram o GEOSSYNTHETICS’95 CONFERENCE. [S.l.: s.n.],
estilhaçamento do solo (Figura 6). v. 2, p. 433–466.
BABU, G. L. S.; VASUDEVAN, A. K. Strenght and
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Fibras no Comportamento Mecânico de Solos
Reforçados. Rio de Janeiro, 2019. 123 p. Dissertação
de Mestrado - Departamento de Engenharia Civil e
Figura 6. Plano de Ruptura: (a) Solo Puro; (b) Solo + 1,0% Ambiental, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Fibra de Coco; (c) Solo + 2,0% Fibra de Coco. Janeiro.

5 CONCLUSÕES CASAGRANDE, M. D. T. (2005). Comportamento de


solos reforçados com fibras submetidos a grandes
deformações. Tese (Doutorado) - Universidade Federal
Por meio dos resultados obtidos, pode-se concluir do Rio Grande do Sul. Escola de Engenharia. Programa
que o uso das fibras de coco nas porcentagens de de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Rio Grande do
1,0% e 2,0% como reforço de um solo tropical Sul.
argiloso se apresenta satisfatório do ponto de vista
geotécnico. CASAGRANDE, M. D. T.; CONSOLI, N. C. (2002).
Estudo do comportamento de um solo residual areno-
As fibras aumentaram consideravelmente os
siltoso reforçado com fibras de polipropileno. Solos e
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conferiram ao solo uma resistência adicional pós- 25, n. 3, p. 223–230.
pico, o que viabiliza seu uso em diversas aplicações
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vantagens ambientais e baixo custo, constituindo DITTEMBER, D. B., GANGARAO, H. V. S. (2012).
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AGRADECIMENTOS 1429.

A todos que fizeram parte desse projeto, ao Programa DNER – Departamento Nacional de Estradas e Rodagem
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564
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Influência do Resíduo de Pneu Triturado no Comportamento


Mecânico de um Solo Siltoso
Fernando Luiz Lavoie
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (EESC/USP), São Carlos, Brasil,
fernando.lavoie@usp.br

Stephanie Pires Nardi


Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), São Caetano do Sul, Brasil, stephaniepnardi@gmail.com

Rafael Ribeiro Plácido


Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), São Caetano do Sul, Brasil, rafael.placido@maua.br

Rogério Pinto Ribeiro


Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (EESC/USP), São Carlos, Brasil,
rogerioprx@sc.usp.br

RESUMO: O esgotamento de recursos naturais próximos as obras de infraestrutura fez com que a procura de inclusões
de materiais para melhoria das propriedades geotécnicas dos solos existentes fosse intensificado. O uso de resíduo de
borracha de pneus inservíveis misturados com o solo vem sendo estudado de forma a gerar melhorias nas propriedades
geotécnicas do material terroso. Este trabalho avaliou a influência da adição de 5, 10 e 15% de resíduo de pneu,
com diâmetro da partícula variando entre 2,0 a 3,2 mm, no comportamento mecânico de um solo siltoso areno
argiloso por meio de ensaios de compactação (5, 10 e 15% de resíduo) e triaxiais adensados drenados (5 e 10%
de resíduo). No ensaio de compactação, para os teores de pneu de 5% e 10%, pode-se perceber uma mudança
de comportamento do solo siltoso para uma tendência de comportamento mais arenoso na curva de
compactação, ou seja, maior massa específica seca máxima e menor umidade ótima. No entanto, o teor de
resíduo de pneu de 15% apresentou uma diminuição na massa específica seca máxima. Os resultados dos
ensaios triaxiais mostraram um aumento representativo da coesão na mistura solo-borracha com o aumento da
adição de resíduo de pneu e uma diminuição do ângulo de atrito. Porém, os ganhos obtidos na coesão da
mistura para a adição de resíduo de pneu foram muito superiores as diminuições no ângulo de atrito,
apresentado assim um incremento interessante na resistência mecânica do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Mistura Solo e Resíduo de Pneu Triturado; Propriedades Mecânicas do Solo; Compactação;
Ensaio Triaxial.

ABSTRACT: The depletion of natural resources close to the infrastructure construction works has intensified the search
for the inclusion of materials to improve the geotechnical properties of existing soils. The use of tire waste rubber from
unserviceable tires mixed with the soil has been studied to generate improvements in the geotechnical properties of the
soils. This work evaluated the influence of the addition of 5, 10 and 15% of tire waste rubber, with particle diameter about
from 2.0 to 3.2 mm, on the mechanical behavior of a silty sandy clayey soil through of compaction tests (5, 10 and 15%
of residue) and drained compacted triaxial (5 and 10% of residue). In the compaction test, for tire waste rubber contents
of 5% and 10%, a change in the behavior of the silty soil to a trend of more sandy behavior in the compaction curve can
be seen, that is, a higher maximum dry unit mass and lower optimum moisture content. However, the tire waste content
of 15% decreased in the maximum dry unit mass. The results of the triaxial tests showed a representative increase in
cohesion in the soil-rubber mixture with an increase in the addition of tire waste and a decrease in the angle of friction.
However, the gains obtained in the mixture’s cohesion for the addition of tire waste were much higher than the decreases
in the angle of friction, thus presenting an interesting increase in the mechanical resistance of the soil.

KEY WORDS: Soil Mixed with Tire Waste; Soil Mechanical Properties; Compaction; Triaxial Compression Test.

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565
1 INTRODUÇÃO Porém, de acordo com os autores, houve diminuição
do valor do ângulo de atrito da mistura,
O descarte de pneus ao ar livre é um problema de impossibilitando assim a troca do GCL (Geosynthetic
saúde ambiental e social, pois além de potencializar Clay Liner) pela bentonita misturada com borracha
a poluição do solo e a contaminação das águas, e se triturada de pneus para uso como barreira de fluxos.
realizado em terrenos baldios, acaba retendo a água Barreto et al. (2019) misturaram um copolímero
da chuva e criando um ambiente favorável a de butadieno e estireno modificado com um solo
proliferação de vetores. Quando sujeito a queima arenoso. Este copolímero é um elastômero utilizado
acidental ou provocada, ocorre a liberação de fumaça na fabricação de pneus. Os autores utilizaram uma
que contém alto teor de substâncias tóxicas, afetando proporção de água/polímero de 1:4 e variaram as
de forma agressiva a qualidade do ar. De acordo com análises de comportamento mecânico do
o Art. 33º da Lei nº 12.305/10 da Política Nacional geopolímero para tempos de cura de 3 a 33 dias. Os
de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), todo resultados mostraram um incremento considerável
fabricante e distribuidor de pneus deve implementar nos parâmetros de resistência do geopolímero
sistemas de logística reversa mediante o retorno do comparado com o solo puro. Além disto, verificou-se
produto depois do seu consumo, entretanto, a uma tendência de melhora na resistência da mistura
reciclagem deste resíduo é um desafio, pois é um com o aumento no tempo de cura.
material de alta resistência química e física e ainda Akbarimehr et al. (2020) avaliaram a resistência
não é economicamente atraente para a indústria. ao cisalhamento do solo argiloso misturado com
Por outro lado, obras de construção de rodovias, resíduos de pneus para três formas diferentes de
ferrovias, aeroportos, aterros e barragens de terra tem borracha, incluindo granular fino (0,1 a 0,5 mm) e
tido um aumento significativo de forma a cumprir o grosso (1 a 5 mm), em fibra (dimensões de 3 e 35
necessidade social e econômica da crescente mm) e em lascas (10 mm de comprimento). Foram
população em todo o mundo. Este súbito aumento da estudadas dosagens de até 30% de resíduos
população acompanhado da elevação no padrão de adicionados ao solo. Diferentes ensaios foram
vida, consequentemente, resultou no esgotamento de realizados para a obtenção dos parâmetros
terrenos aptos para atividades de construção, geotécnicos, tais como compactação, compressão
particularmente nas regiões metropolitanas. Uma uniaxial, cisalhamento direto e ensaios triaxiais. Os
solução viável para este grave problema é a melhoria resultados sugerem que há aumento na resistência do
das propriedades geotécnicas dos solos existentes material com o aumento no tamanho do resíduo de
(Yadav & Tiwari, 2018). pneu. Houve um aumento na resistência da mistura
No passado, muitos esforços de engenharia foram entre 10 a 25% para o resíduo de pneu grosso em
feitos para um descarte seguro e lucrativo de resíduos comparação com a mistura contendo material
de pneus de borracha em concreto, na substituição de granular fino de borracha sob várias tensões
cimento, de agregados finos e graúdos, do pavimento confinantes. Além disso, descobriu-se que as fibras
asfáltico e de sistemas de impermeabilização (Yadav de borracha mostraram uma maior resistência do que
& Tiwari, 2018). as outras formas de resíduos de pneu estudadas.
Diversos pesquisadores notaram melhorias nas Ramirez et al. (2015) avaliaram a viabilidade de
propriedades geotécnicas de solos arenosos com a aplicação de resíduos de pneu (com diâmetro médio
inclusão das várias formas de resíduos de pneus de de 1,0 mm) adicionados a um solo residual tropical
borracha, triturados, em lascas, esfarelados e em argiloso nas proporções de 5, 10 e 20% para uso em
fibras (Zornberg et al., 2004; Rao & Dutta, 2006; muros de solo reforçado. Foram realizados ensaios
Karabash & Cabalar, 2015). Yadav & Tiwari (2018) triaxiais drenados para a determinação dos
relatam que há pouca literatura voltada para o parâmetros de projeto. De acordo com os autores,
potencial de utilização de resíduos de pneus de com a adição de resíduos de pneu ao solo houve uma
borracha como reforço para solos argilosos. melhora nos parâmetros de resistência. Além disso,
Ribeiro & Casagrande (2019) estudaram a os autores realizaram uma simulação numérica de um
possibilidade de utilização da borracha triturada em muro de solo reforçado por geogrelhas de 6,0 m de
pó provinda de pneus em formato esférico (1 mm) e altura com adição de resíduos de pneu no solo. Para
em formato de fibra (comprimento de 2mm), em grandes deformações da estrutura verificou-se que a
diferentes teores (5% e 10%) para reforço de uma resistência ao cisalhamento da mistura é maior do que
bentonita, visando a melhoria das características o solo argiloso e o desenvolvimento da resistência
mecânicas deste solo. Os resultados dos ensaios de tem um melhor comportamento do que o solo
cisalhamento direto mostraram para a mistura com argiloso.
10% de pneus aumentos na coesão maiores que 100 No presente trabalho avaliou-se a influência da
%, tanto para o pico, quanto para a coesão residual. adição de 5, 10 e 15% de resíduo de pneu, com

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566
diâmetro da partícula variando entre 2,0 a 3,2 mm, no
comportamento mecânico de um solo siltoso areno
argiloso por meio de ensaios de compactação e
triaxiais adensados drenados.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Solo Utilizado

O solo estudado apresentado na Figura 1 é um solo


siltoso areno argiloso coletado de uma obra na região
do Parque Continental III, no município de
Guarulhos /SP.
Figura 2. Resíduo de borracha de pneus utilizado na
pesquisa.

2.3 Ensaios Realizados

Foram realizados ensaios de caracterização do solo


utilizado no presente estudo, de acordo com a Tabela
1.

Tabela 1. Ensaios de caracterização realizados no solo de


referência.
Ensaio Norma
Peso específico dos ABNT NBR 6458 (2016)
Grãos
Granulometria ABNT NBR 7181(2016)
Limite de Liquidez ABNT NBR 6459 (2016)
Figura 1. Solo siltoso areno argiloso utilizado na Limite de Plasticidade ABNT NBR 7180 (2016)
pesquisa.
Para o estudo comparativo entre o solo de
2.2 Resíduo de Pneu Utilizado referência e o solo misturado com resíduo de pneu no
solo, foram realizados ensaios de compactação
Os resíduos de pneu usados neste trabalho são Proctor normal para as porcentagens de adição de
provenientes da trituração de peças inservíveis como resíduos de pneu de 5, 10 e 15% e ensaios triaxiais
raspas de pneus, rebarbas e sobras do processo de adensados drenados (CD) para as porcentagens de 5
fabricação de peças de borrachas em geral. Este e 10%, de acordo com a Tabela 2. As Figura 3 e 4
material foi adquirido diretamente da empresa de mostram, respectivamente, corpos de prova do solo
reciclagem de pneus Utep do Brasil Ltda localizada misturado com 5% de resíduo de pneu do ensaio de
R. Panambi, 210 - Cidade Industrial Satélite de São compactação e do ensaio triaxial.
Paulo, Guarulhos/SP.
A borracha dos pneus foi coletada e através de um Tabela 2. Ensaios realizados para o estudo comparativo
processo industrial passou por uma etapa de entre o solo de referência e o solo com resíduo de pneu.
classificação, onde inicialmente foi retirada toda a Ensaio Norma Amostra
impureza oriunda da própria coleta, como arame, Compactação ABNT NBR 7182 5, 10 e 15%
nylon e outros afins, deixando a borracha pronta para Proctor Normal (2016)
Ensaio Triaxial ASTM D7181 5 e 10%
a segunda etapa, em que ela foi moída e triturada,
Adens. Drenado (2020)
chegando ao seu resultado final como mostrado na
Figura 2.
A seleção do tamanho das partículas de pneu foi
realizada de acordo com a classificação estabelecida
pela ASTM D6270 (2020), a partir da qual escolheu-
se usar partículas com diâmetros de 2,0 mm a 3,2
mm.

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567
Figura 5. Curva granulométrica do solo de referência.

Figura 3. Corpo de prova do solo misturado com 5% de 3 RESULTADOS


resíduo de pneu moldado no ensaio de compactação de
Proctor Normal. 3.1 Ensaios de Compactação

Os resultados dos pontos ótimos (umidade ótima - wot


e massa específica seca máxima - ρdmax) dos ensaios
de compactação são mostrados na Tabela 4. As
curvas de compactação comparativas estão
apresentadas na Figura 6.

Tabela 4. Resultados dos pontos ótimos obtidos nos


ensaios de compactação.
Amostra wot (%) ρdmax (g/cm3)
Solo puro 19,0 1,642
Solo – 5% 15,6 1,662
Solo – 10% 12,9 1,664
Solo – 15% 15,7 1,558

Figura 4. Corpo de prova do solo misturado com 5% de


resíduo de pneu moldado para o ensaio triaxial.

2.4 Ensaios de Caracterização do Solo

A Tabela 3 apresenta os resultados dos ensaios de


caracterização do solo de referência. O
comportamento não plástico (NP) foi detectado nos
ensaios de limites de consistência. A Figura 5 mostra
a curva granulométrica do solo de estudo. Este solo
pode ser descrito como um solo siltoso areno
argiloso.

Tabela 3. Resultados dos ensaios de caracterização


realizados com o solo de referência. Figura 6. Curvas de compactação do solo puro comparada
com as curvas dos solos misturados com resíduo de pneu.
Ensaio Resultado
Peso Específico dos Grãos (ρs) 2,841 g/cm3
Granulometria 85,2% Silte; 7,8% Observou-se que a adição de 5% e 10% de resíduo
Areia; 7,0% Argila de pneu provocou acréscimos de 1,22% e 1,34% no
Limite de Liquidez NP valor máximo da massa específica seca máxima em
Limite de Plasticidade NP relação ao solo puro, respectivamente. No entanto, o

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568
teor de 15% mostrou uma queda de 5,12% no valor
da massa específica seca máxima. Os valores de
umidade ótima também sofreram redução com a
adição do resíduo de pneu, destacando-se a mistura
de 10% que mostrou queda de 32,1%.
Os pontos ótimos obtidos nas curvas de
compactação apresentaram padrão de
comportamento distinto do observado por Chrusciak
& Araújo (2015) e Morais, Bandeira & Menegotto
(2018), uma vez que estes autores evidenciaram em
suas pesquisa que a massa específica seca máxima
das misturas diminuiu em relação ao peso específico
máximo do solo puro. Comparando com as curvas de
compactação obtidas na presente pesquisa, apenas o
teor de 15% de resíduo de pneu apresentou redução Figura 7. Tensão axial vs deformação axial para a tensão
confinante de 50 kPa.
do peso específico máximo em relação ao solo puro.
O comportamento do ponto ótimo para os teores
de 5% e 10% no presente estudo foi semelhante ao
comportamento observado no estudo de Jaramillo
(2016), posto que a inserção de 5%, tanto de fibra
como dos chips de pneu, provocou um pequeno
aumento no valor da massa específica seca máxima.
Acredita-se que esse incremento na massa específica
seca das misturas de 5% e 10% ocorreram durante o
processo de compactação, no qual as mudanças na
orientação e organização dos grãos de pneu dentro da
camada de solo provocaram um aumento no índice de
vazios, permitindo posteriormente que uma maior
massa de mistura, composta na sua maioria por solo
siltoso areno argiloso, passasse a ocupar os vazios Figura 8. Variação de volume vs deformação axial para a
formados no entorno dos grãos de pneu. A umidade tensão confinante de 50 kPa.
ótima das misturas também apresentou
comportamento semelhante, uma vez que todas as É possível perceber a partir das curvas tensão vs
umidades apresentaram diminuição quando deformação um aumento da resistência ao
comparadas ao solo puro, ao passo que a mistura que cisalhamento das misturas de 5% e 10% de pneu em
apresentou maior redução foi a de 10% de borracha relação ao solo puro quando submetidas a tensão
de pneu. O desempenho da curva de compactação da confinante de 50 kPa. O valor máximo de tensão é
mistura de 10% foi semelhante a uma curva de solo 8,9% superior ao solo puro para o teor de 5% e 46,6%
arenoso, visto que apresentou um peso específico superior ao solo puro para o teor de 10%. As curvas
maior e teor de umidade menor comparada a curva do de variação de volume vs deformação mostram que
solo siltoso. as misturas de borracha apresentaram
O estudo de Gemelli et al. (2019) também comportamento distinto do solo puro, com aumento
apresentou o comportamento do ponto ótimo dos inicial de volume, seguido por uma diminuição de
teores de 5% e 15% semelhante a este trabalho, dado volume.
que para a mistura de 5% houve um aumento de As Figuras 9 e 10 apresentam os resultados dos
massa específica seca máxima e para a mistura de ensaios triaxiais CD realizados para o solo puro e
15% houve diminuição. As umidades ótimas das para as misturas de 5% e 10% de resíduo de pneu
misturas também sofreram redução. submetidas a tensão confinante de 100 kPa.

3.2 Ensaios Triaxiais Adensados Drenados

As Figuras 7 e 8 apresentam os resultados dos ensaios


triaxiais CD realizados para o solo puro e para as
misturas de 5% e 10% de resíduo de pneu submetidas
a tensão confinante de 50 kPa.

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569
Figura 9. Tensão axial vs deformação axial para a tensão Figura 11. Tensão axial vs deformação axial para a tensão
confinante de 100 kPa. confinante de 200 kPa.

Figura 10. Variação de volume vs deformação axial para Figura 12. Variação de volume vs deformação axial para
a tensão confinante de 100 kPa. a tensão confinante de 200 kPa.

O maior valor de tensão axial foi verificado na Para a tensão confinante de 200 kPa, a inserção de
curva da mistura de 5% de resíduo de pneu, sendo resíduo de pneu não provocou aumento da
21% superior a máxima tensão do solo puro. O teor resistência. Observa-se nas curvas de variação de
de 10% de resíduo de pneu também apresentou volume vs deformação que o solo puro apresentou a
máxima tensão 8,4% superior ao do solo puro, maior variação de volume comparado a seu volume
entretanto é inferior a mistura de 5%. As curvas de inicial (6,66 cm³).
variação de volume vs deformação mostram que as A Tabela 5 apresenta os parâmetros de resistência
curvas das misturas de 5% e 10% são semelhantes e (ângulo de atrito efetivo – ø' e intercepto de coesão
apresentaram maior variação de volume quando efetivo – c’) obtidos por meio das envoltórias de
comparadas ao do solo puro. resistência drenada. A Figura 13 mostra as
As Figuras 11 e 12 apresentam os resultados dos envoltórias de resistência drenada obtidas para cada
ensaios triaxiais CD realizados para o solo puro e material.
para as misturas de 5% e 10% de resíduo de pneu
submetidas a tensão confinante de 200 kPa. Tabela 5. Parâmetros de resistência drenada obtidos neste
estudo.
Amostra ø' (°) c’ (kPa)
Solo puro 23,09 3,92
Solo – 5% 20,04 13,73
Solo – 10% 12,41 36,29

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570
Solo puro Solo – 5 % Solo – 10 %
100

80

60
t (kN/m2)

40

20

0
0 50 100 150 200
s (kN/m2)

Figura 13. Envoltórias de resistência drenada obtidas para


cada material. Figura 15. Relação entre o intercepto de coesão efetivo e
o teor de resíduo de borracha pneu adicionado ao solo
puro.
Nota-se que houve uma redução no ângulo de
atrito da mistura de solo com resíduo de pneu com a O comportamento dos parâmetros de resistência da
aumento do percentual de borracha. A tendência
mistura solo-borracha de 5% foi semelhante ao
oposta pode ser observada para o intercepto de estudo de Jaramillo (2016) que usou esse mesmo teor
coesão drenada da mistura de solo com resíduo de em um solo argiloso, ocorrendo redução do ângulo de
pneu. atrito e aumento da coesão. Todavia, o teor de 10%
Analisando os parâmetros de resistência obtidos de resíduo de pneu apresentou um comportamento
nos ensaios, nota-se que o incremento de resíduo de diferente, dado que no estudo citado ocorreu um
borracha de pneu no solo siltoso gerou um aumento do ângulo de atrito. As diferenças em
comportamento linear, conforme visto nas Figuras 14 relação à referência eram esperadas, pois o solo
e 15. O acréscimo de resíduo de pneu provocou siltoso utilizado neste trabalho foi diferente do estudo
aumento da coesão efetiva da mistura, sendo que o citado que utilizou solo argiloso e solo arenoso.
maior aumento ocorreu para a mistura de 10% de Ademais, o formato e tamanho dos resíduos de
resíduos, apresentando 825,8% de aumento em borracha de pneu também sã diferentes, o que
relação ao solo puro. Porém, a adição de resíduos de também pode ter impacto no comportamento
borracha ao solo siltoso ocasionou redução no ângulo
mecânico da mistura solo-borracha.
de atrito efetivo. Esta redução pode ter ocorrido
devido ao aumento da massa de grãos de pneu
misturados ao solo puro, o que pode ter reduzido a 4 CONCLUSÃO
interação entre os dois materiais, dificultando o efeito
de reforço esperado. A redução do ângulo de atrito Este trabalho propôs a análise das características
efetivo chegou a 46,3% para o teor de 10% em mecânicas de um solo siltoso areno argiloso
relação ao solo siltoso puro. adicionado com resíduo de pneu triturado em grãos
com diâmetros de 2,0 mm a 3,2 mm. A partir dos
resultados apresentados e das análises realizadas no
presente estudo, é possível concluir que:

Ao realizar a compactação da mistura nos teores de


resíduo de pneu de 5% e 10%, verificou-se um
aumento da massa específica seca máxima com
relação ao solo em estado natural, provavelmente
devido as mudanças na orientação e organização dos
grãos de pneu dentro da camada de solo, provocando
um aumento no índice de vazios e permitindo
Figura 14. Relação entre o ângulo de atrito efetivo e o posteriormente que uma maior massa de mistura,
teor de resíduo de borracha pneu adicionado ao solo puro.
composta na sua maioria por solo siltoso areno
argiloso, passasse a ocupar os vazios formados no
entorno dos grãos de pneu. No entanto, o teor de
resíduo de pneu de 15% mostrou uma queda no
mesmo parâmetro analisado devido, provavelmente,
a massa específica menor da borracha quando
comparada aos grãos de solo. Os valores de umidade

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571
ótima também sofreram redução com a adição da ASTM (2020). D7181: Standard Test Method for
borracha de pneu. Para os teores de pneu de 5% e Consolidated Drained Triaxial Compression Test for
10%, pode-se perceber uma mudança de Soils. American Society for Testing and Materials,
comportamento do solo siltoso para uma tendência de West Conshohocken, p. 12.
Barreto, T. M.; Repsold, L. M. & Casagrande, M. D. T.
comportamento mais arenoso na curva de
(2019). Análise de Resistência ao Cisalhamento de um
compactação, ou seja, maior massa específica seca Geopolímero. Anais IX Congresso Brasileiro de
máxima e menor umidade ótima. Geotecnia Ambiental (IX Regeo), ABMS, São Carlos,
Os resultados dos ensaios de compressão triaxiais p. 401 – 408.
adensados drenados mostraram um aumento do BRASIL (2010). Lei nº 12.305, Diário Oficial da União,
intercepto de coesão efetivo com o aumento da 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos,
inserção de resíduo de borracha de pneu (teores de Presidência da República, Casa Civil.
5% e 10%) ao solo siltoso. Em contrapartida, com a Chrusciak, M. & Araújo, G. L. S. (2015). Estudo da
adição de resíduo ao solo, ocorreu uma diminuição Compactação de Misturas de Pedaços de Pneu com
do ângulo de atrito efetivo da mistura solo-borracha. Solos Finos. Anais VII Congresso Brasileiro de
Geossintéticos (VII Geossintéticos), ABMS, Brasília,
Porém, os ganhos obtidos na coesão da mistura para
p. 95 – 101.
a adição de resíduo de pneu foram muito superiores Gemelli, E. F. B. S.; Lopes, M. B.; Kronbauer, B. K. &
as diminuições no ângulo de atrito. Desta forma, o Bertella, J. A. (2019). Utilização de Rejeito de Pneu de
uso de resíduo de pneu adicionado ao solo mostra Borracha em Reforço de Solos para Aterros
vantagens interessantes que devem ser estudadas para Rodoviários no Município de Chapecó/SC. Anais X
os diferentes tipos de solos e diferentes configurações Seminário de Engenharia Geotécnica do Rio Grande do
de resíduos de borracha provindos do descarte de Sul (GEORS 2019), UFSM, Santa Maria, p. 1 – 10.
pneus. Jaramillo, N. A. D. (2016) Comportamento Mecânico de
Solos Reforçados com Borracha de Pneus. Dissertação
de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, PUC-Rio, 112p.
AGRADECIMENTOS
Karabash, Z. & Calabar, A. F. (2015). Effect of tire crumb
and cement addition on triaxial shear behaviour of
O primeiro autor agradece à Pró-Reitoria de Pesquisa sandy soils. Geomechanics and Engineering, v. 8
e Inovação (PRPI) da Universidade de São Paulo (1), p. 1-15.
(USP) pelo auxílio financeiro concedido por meio do Morais, M.; Bandeira, F. O. & Menegotto, M. L. (2018).
Programa de Apoio aos Novos Docentes USP. Propriedades geotécnicas de misturas de solo residual
de basalto com resíduos de borracha de
pneus. Geotecnia, v. 144, p. 35 - 50.
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


572
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Investigação de solo modificado com biocarvão de fibra de coco


como um potencial material leve para aterros
Letícia Santos Bezerra
Escola de Engenharia de Lorena (EEL) – Universidade de São Paulo (USP), Lorena, Brasil,
le.bezerra.santos@usp.br

Amanda Saraiva Tavares


Escola de Engenharia de Lorena (EEL) – Universidade de São Paulo (USP), Lorena, Brasil,
amanda.s.tavares12@usp.br

Mariana Consiglio Kasemodel


Escola de Engenharia de Lorena (EEL) – Universidade de São Paulo (USP), Lorena, Brasil,,
mariana.kasemodel@usp.br

RESUMO: Diversas atividades antrópicas podem acelerar a ocorrência de movimentos gravitacionais de massa e erosões,
causando diversos riscos ambientais. Neste contexto, a investigação de materiais alternativos para melhorar parâmetros
geotécnicos tem se destacado visando a mitigação de escorregamentos de solos. Desta forma, o objetivo deste estudo foi
a caracterização físico-química e geotécnica de solo com e sem biocarvão de fibra de coco (BFC). Para isso, foram feitas
coletas em três pontos de um talude localizado em Guaratinguetá, na Rodovia SP-171. As amostras foram misturadas
com 10% de BFC comercial e submetidas a ensaios de pH, condutividade elétrica (CE), granulometria, limite de
plasticidade (LP) e limite de liquidez (LL). Como resultado observou-se que os solos são constituídos predominantemente
de areia (79,5 a 97,0%). Nas análises de pH e CE foi observado que o solo possui característica ácida (pH = 4,8), ΔpH
médio de -0,6 e CE de 41,7 µS cm -1. Ao adicionar o BFC, houve um aumento nos valores de pH ( média de 6,3 e ΔpH -
1,3), CE (80,7 µS cm -1) e LL (de 4% a 16% solo natural para 9% e 18% solo modificado). O aumento do valor de LP
implica na melhoria da absorção de água pelo solo, minimizando a possibilidade de ocorrência de movimentos
gravitacionais de massa e erosão. Conclui-se que o BFC é um material alternativo que pode ser empregado para a melhoria
de solos de aterros, no entanto, as alterações físico-químicas devem ser mais investigadas.

PALAVRAS-CHAVE: Movimentos gravitacionais de massa, Erosão, Limite de plasticidade, Biocarvão.

ABSTRACT: Several anthropic activities can accelerate the occurrence of gravitational mass movements and erosion,
causing several environmental risks. In this context, the investigation of alternative materials to improve geotechnical
parameters has been highlighted aiming at the mitigation of soil sliding. Thus, the objective of this study was the physical-
chemical and geotechnical characterization of soil with and without coconut fiber biochar (CFB). For this, samples were
collected from three points on a slope located in Guaratinguetá, on the SP-171 highway. The samples were mixed with
10% commercial CFB and submitted to pH, electrical conductivity (EC), granulometry, plasticity limit (PL) and liquidity
limit (LL) tests. As result it was observed that the soils are predominantly composed of sand (79.5 to 97.0%). In the pH
and EC analyzes it was observed that the soil has an acidic characteristic (average of 4.8), ΔpH of -0.6, and EC of 41.7
µS cm -1. When adding CFB, there was an increase in pH values (average 6.3 and ΔpH -1.3), EC (80.7 µS cm -1) and PL
(from 4% - 16% natural soil to 9% - 18% modified soil). The increase in PL value implies an improvement in water
absorption by the soil, minimizing the possibility of gravitational mass movement and erosion occurrence. It is concluded
that the CFB is an alternative material that can be employed for the improvement of landfill soils, however, the physico-
chemical changes should be further investigated.

KEY WORDS: Gravitational mass movements, Erosion, Plastic limit, Biochar.

1 INTRODUÇÃO

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Um dos maiores problemas sociais do país é a a enchentes e movimentos gravitacionais de massa.
habitação irregular. Com o crescimento desenfreado Outro que merece destaque foi o desastre em
das cidades no decorrer dos anos, a população menos Caraguatatuba (SP), ocorrido em 1967, onde teve-se
favorecida economicamente recorreu para locais um total de 436 vítimas fatais (SBT Brasil, 2022;
irregulares e mais suscetíveis a riscos ambientais, Salatiel, 2011 ). E o mais recente deslizamento foi o
como inundações e deslizamentos (Freire, 2006). ocorrido no final de novembro deste ano, na BR-376,
Com isso, o problema habitacional do país se tornou principal estrada que conecta o Paraná aos outros dois
um problema de saúde e segurança pública, além de estados do sul, na altura do km 669, região de
ser uma questão ambiental desde a era colonial, Guaratuba (PR), onde a queda de terra deixou 6
quando as primeiras mortes por deslizamentos foram feridos e 2 mortos, além de interromper totalmente o
registradas (Perez, 2004). Vale ressaltar que muitas tráfego de veículos durante 9 dias (Calsavara, 2022).
dessas construções são feitas sem a autorização do Esses fenômenos são mais frequentes em períodos
governo, já que as pessoas em seu desespero por uma de chuvas intensas devido ao elevado volume pluvial
moradia buscam regiões, geralmente de encosta, para em um curto período de tempo. A água infiltra mais
construção. Só em 2019 já havia mais de 5 milhões conforme o ângulo da encosta diminui, e com isso a
de moradias nessas condições aqui no Brasil água vai diminuindo a coesividade do solo e a sucção
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - matricial, e isso desencadeia o aumento do peso do
IBGE, 2020). solo e consequentemente o aumento da poro pressão,
A ocupação irregular de encostas pode deflagrar com isso o solo fica mais vulnerável e suscetível a
movimentos gravitacionais de massa, que são deslizar (Vallin et al., 2016). Além da chuva há
processos geológicos naturais que podem ser outros fatores que condicionam a ocorrência deste
acelerados pela ocupação urbana. As ocorrências tipo de movimento de solo, como o tipo de solo, a
destes movimentos se dão quando as forças declividade, o uso e cobertura dos solos (Silveira et
cisalhantes de um talude superam as forças de al., 2014; Carvalho & Galvão, 2016).
resistência, fazendo com que os materiais terrestres Para minimizar esses deslizamentos, uma das
sejam transportados pela ação da gravidade no possíveis soluções seria a alteração dos parâmetros
sentido da base do talude. Um tipo de movimento geotécnicos dos solos, aumentando sua capacidade
gravitacional de massa muito comum em acidentes de absorção de água sem que haja mudança de seu
habitacionais são os escorregamentos, que ocorrem estado físico. Além disso, é importante melhorar a
nas superfície das encostas e vertentes no sentido da dinâmica hídrica do solo para aumentar a
base, além disso se desenvolvem em regiões produtividade das culturas e reduzir os riscos de
montanhosas e serranas, principalmente onde se degradação do solo e da água (Santos et al., 2022;
predominam climas úmidos (Tominaga, 2009). Hussain & Ravi, 2022).
A ocorrência de morte devido aos movimentos Nessa situação o biocarvão surge como um
gravitacionais de massa, em especial, aos material alternativo que pode ser empregado em
escorregamentos, se dá principalmente em épocas solos, com a justificativa de fomentar a economia
mais chuvosas e em áreas de ocupação de encostas. circular, possibilitando o uso de resíduos orgânicos e
Só nos últimos 34 anos quase 4 mil pessoas faleceram devido ao seu maior tempo de permanência no solo
devido a escorregamentos de terra no Brasil (Estadão, (Santos et al., 2022). O biocarvão é um material com
2022). Um dos maiores desastres ocorridos no Brasil alta concentração de carbono estável, obtido por meio
este ano foi o de Pernambuco, onde as chuvas da pirólise de resíduos orgânicos, como resíduos de
intensas da região começaram em 25 de maio de 2022 poda e agroindustriais.
e num período de oito dias já deixaram 127 mortos e Muitos estudos relataram que, devido a
9.302 pessoas desabrigadas por causa dos características como alta porosidade, grande área de
escorregamentos (Peduzzi, 2022; Marinho et al., superfície específica, presença de domínios
2022) . Entretanto o nordeste está sofrendo com hidrofílicos e muitos grupos funcionais, a aplicação
chuvas há mais de seis meses, desde dezembro de de biocarvão no solo pode influenciar positivamente
2021, e já foram mais de 1,2 milhões de pessoas a retenção de água (Chang et al., 2021; Santos et al.,
afetadas só nessa região do país, agora quando se 2022; Hussain & Ravi, 2022), especialmente em
analisa o país inteiro somam-se mais de 7,9 milhões solos de textura arenosa. No solo, o biocarvão altera
de pessoas afetadas e 410 mortos por causa de as condições de retenção do solo, condutividade
enchentes e escorregamentos de terras somente nesse hidráulica e estrutura dos poros, além de aumentar o
período (BBC, 2022). Outro grande desastre que ângulo de atrito interno (𝛗), diminuir a coesão entre
ocorreu foi o do Rio de Janeiro, onde, em janeiro de os grãos e melhorar a resistência ao cisalhamento
2011, morreram 918 pessoas, 99 ficaram (Hussain & Ravi, 2022). Além disso, a aplicação de
desaparecidas e mais de 35 mil desabrigados, devido biocarvão no solo também influencia parâmetros

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574
químicos como pH, CE, matéria orgânica, entre caracterizando solo do tipo Cambissolos. A região
outros (Santos et al., 2022). das amostras é caracterizada por dois grupos
Dentre as diversas opções de biocarvão, uma das litológicos: rochas migmatíticas e graníticas, além da
mais viáveis economicamente, devido a seu alto presença de quaternários. E a presença desses grupos
potencial de carbonização e seu grande volume de justifica a predominância de solos do tipo argissolo,
resíduo, é o derivado da fibra de coco Babaçu. Esse latossolos e cambissolos (Ramos, 2020). As amostras
fruto é composto por 12,6% epicarpo, 20,4% coletadas possuíam coloração esbranquiçada com
mesocarpo, 58,4% endocarpo e, por fim, as alguns pontos vermelhos, além de ser altamente
amêndoas correspondem a 8,7% do seu peso (Silva et fragmentável.
al., 2020). Sendo que na indústria, a parte mais
utilizada são as amêndoas para produção de óleo
alimentício, gerando assim grandes possibilidades
para a utilização das demais partes do coco (Silva et
al., 2020). Com isso, o presente trabalho teve como
objetivo a caracterização geotécnica do solo de um
talude constituído de solo arenoso, localizado no
município de Guaratinguetá (SP), próximo a Rodovia
Paulo Virgínio, com e sem biocarvão de fibra de coco
(BFC) comercial, de modo a observar as alterações
nesse solo visando uma alternativa para a mitigação
da aceleração de processos da dinâmica superficial.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 1. Local de coleta das amostras de solo.
2.1 Biocarvão de fibra de coco
A rodovia em estudo corta a Serra do Quebra
O BFC com particula 2.40 – 2.90 mm foi adquirido Cangalha que é composta por sete litologias distintas,
diretamente com fornecedor. A caracterização do se destacando os granitos leucocráticos, que são ricos
material está disponível no Quadro 1 (Kasemodel et em quartzo e feldspato potássico e, a presença desses
al., 2022) minerais dá ao solo uma coloração mais
esbranquiçada, além de possuir uma granulometria
Quadro 1. Caracterização físico-química do carvão de areno-argilosa, com minerais mais grosseiros,
mesocarpo coco babaçu caracterizando solo do tipo Cambissolos. A região
Parâmetro Valor das amostras é caracterizada por dois grupos
pH (H2O) 9,7 litológicos: rochas migmatíticas e graníticas, além da
CE (µS cm -1) 3970 presença de quaternários. E a presença desses grupos
Teor de umidade (%) 11,3 justifica a predominância de solos do tipo argissolo,
Teor de cinzas (%) 6,6 latossolos e cambissolos (Ramos, 2020). As amostras
Material volátil (%) 9,3
coletadas possuíam coloração esbranquiçada com
Carbono fixo (%) 84,1
Área superficial específica (m2 g-1) 484,94 alguns pontos vermelhos, além de ser altamente
Fonte: Kasemodel et al. (2022) fragmentável.
As amostras foram coletadas em três pontos na
2.2 Coleta e preparo das amostras de solo solo nat 1, solo nat 2, e solo nat 3. As amostras foram
alojadas em sacos de polietileno. Para os ensaios
As amostras de solo foram coletadas no município de laboratoriais, as amostras foram secas ao ar e
Guaratinguetá (estado de São Paulo), próximo ao destorroadas com almofariz de cerâmica.
quilômetro 1 da rodovia Paulo Virgínio (SP-171), em O solo foi modificado a partir da adição de
talude com feições erosivas, conforme a Figura 1. 10% de BFC comercial, conforme descrito em
A rodovia em estudo corta a Serra do Quebra Hussain & Ravi (2022). As amostras modificadas
Cangalha que é composta por sete litologias distintas, foram denominadas de solo bio 1, solo bio 2 e solo
se destacando os granitos leucocráticos, que são ricos bio 3 e a mudança visual do solo pode ser vista na
em quartzo e feldspato potássico e, a presença desses Figura 2.
minerais dá ao solo uma coloração mais
esbranquiçada, além de possuir uma granulometria
areno-argilosa, com minerais mais grosseiros,

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575
(a) (b)

Figura 2. Amostra natural x modificada.

2.3 Caracterização físico-química

Os ensaios de caracterização físico-química Figura 4. Ensaio de determinação do (a) limite de plasticidade e


realizados com o solo in natura e modificado estão (b) limite de liquidez.
descritos na Tabela 1, a seguir.
Tabela 2. Descrição dos ensaios de caracterização
Tabela 1. Descrição dos ensaios de caracterização geotécnica.
físico-química Ensaio Descrição do ensaio Referência
Ensaio Descrição do ensaio Referência
O material granular foi
Solução de água peneirado durante
aproximadamente 5
destilada/1M KCl e solo Análise
(1:2,5) mantidos a agitação granulométrica
minutos. Após separado USCS
pH e EMBRAPA as peneiras foram limpas
constante por 5 min e
ΔpH (1997) com um pincel fino e
descanso de 60 min até organizadas novamente.
determinação de pH em
eletrodo de vidro Ensaio realizado
utilizando o equipamento
Limite de
Solução de água destilada Casagrande. Nesse ensaio NBR 6459
liquidez o objetivo era atingir 25
e solo (1:1) mantidos a
agitação constante por 5 golpes (Figura 4a).
CE IAC (1991)
min e descanso de 60 min
Ensaio realizado com o
até determinação de CE auxílio de uma placa de
com célula condutivimetria Limite de
vidro com face NBR 7180
plasticidade esmerilhada e um cilindro
(gabarito) (Figura 4 b).
2.4 Caracterização geotécnica

Os ensaios de caracterização geotécnica estão 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO


descritos na Tabela 2, a seguir. O material ensaiado
foi previamente peneirado utilizando a peneira Tyler 3.1 Caracterização físico-química
Mesh #10 .
A análise granulométrica foi realizada apenas com o Os resultados das análises de caracterização físico-
solo in natura. As demais análises foram realizadas química estão descritos na Tabela 3.
para cada amostra de solo in natura e modificado.
Todos os valores foram tabelados e graficados Tabela 3. Resultados da caracterização físico-química das
utilizando os softwares Excel e Origin. amostras de solo natural e modificado.
Amostra pH ΔpH CE (µS cm-1)
Solo nat 1 4,9 -0,7 38
Solo bio 1 5,9 -1,3 64
Solo nat 2 4,9 -0,7 53
Solo bio 2 6,9 -1,2 130
Solo nat 3 4,5 -0,4 34
Solo bio 3 6,1 -1,4 48

O solo possui característica predominantemente


ácida, com uma média de pH de 4,8, ΔpH médio

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576
equivalente a -0,6, característica de solos pouco Latossolos é o que possui mais variações, com uma
intemperizados, e CE média de 41,7 µS cm-1. textura que pode variar de 15% até mais de 80% de
Quando foi acrescentado o BFC, verificou-se um argila, sendo encontrado tanto em regiões planas
aumento em todos os parâmetros físico-químicos como em relevos montanhosos (Ker, 1997). Além
analisados. O solo modificado ficou com disso, também é caracterizado por ser altamente
característica ácida a neutra, com uma média de pH ácido, com uma média concentração de hematitas,
de 6,3, ΔpH de -1,3 e, CE média de 80,7 µS cm-1. baixa saturação de bases e grande quantidade de
Portanto, o acréscimo do BFC afetou o pH do solo, o alumínio trocável, sendo um desafio para o cultivo
que pode implicar em mudanças na capacidade de devido a sua alta acidez e baixa fertilidade química
troca catiônica, favorecendo sua capacidade de reter (Alves, 2020). Com essas informações, percebe-se
água e outros nutrientes. Com uma maior retenção da que os resultados obtidos estão dentro do esperado e
água e outros nutrientes entre os grãos há também um também que é possível estimar o comportamento do
aumento na CE, já que há uma forte relação entre CE solo ao passar pelos processos erosivos.
e concentração de sais e íons nas fases sólidas e O talude estudado apresenta feições erosivas de
líquidas do solo (Carmo & Silva, 2016). médio a grande porte (Figura 1), com presença de
Além disso, o biocarvão possui tipicamente pH e saprolitos de granito/gnaisse. Possível causa da alta
CE elevados. No caso do BFC utilizado neste estudo, erodibilidade é a grande quantidade de areia em sua
possui pH 9,7 e CE 3970 µS cm -1 (Kasemodel et al., composição, característica do solo local.
2022). Desta forma, a elevação destes parâmetros no E, por fim, os últimos resultados foram os das
solo modificado com 10% de BFC é esperada. A análises do LL, LP e o cálculo do índice de
alteração destes parâmetros pode afetar a fertilidade plasticidade (IP), obtido através da subtração dos
do solo, que deve ser investigada. limites, conforme a NBR 7180/2016. Os resultados
obtidos estão descritos na Tabela 5.
3.2 Caracterização geotécnica
Tabela 5. Resultados da caracterização geotécnica das
Para a classificação granulométrica foi utilizada a amostras de solo natural e modificado.
norma internacional USCS. Desta forma, o material Amostra LL (%) LP (%) IP
com diâmetro menor que 0,075 mm é classificado Solo nat 1 15 3 12
Solo bio 1 18 15 3
como fino (argila e silte) e, entre 0,075 e 4,75 mm, é
Solo nat 2 4 - NP
classificado como areia. Os resultados obtidos no Solo bio 2 9 - NP
ensaio de granulometria estão descritos na Tabela 4. Solo nat 3 16 3 13
Solo bio 3 17 3 14
Tabela 4. Granulometria das amostras de solo coletadas na
base do talude. Os resultados de modo geral variaram entre as
Silte e
Amostra Areia (%) amostras, sendo que na amostra 2 não foi possível
argila(%)
Solo nat 1 81,5 17,6
realizar o ensaio de limite de plasticidade devido à
Solo nat 2 97,0 2,0 alta predominância de areia em sua composição.
Solo nat 3 79,5 20,3 Analisando o solo natural nota-se que o LL mais
baixo foi obtido na amostra com maior teor de areia
A partir da análise granulométrica, verificou-se (amostra 2).
que apesar de as amostras serem do mesmo talude, a Ao acrescentar o biocarvão nas amostras
fração granulométrica foi ligeiramente diferente em observou-se alterações significativas, principalmente
cada ponto amostrado, sendo que o segundo ponto no limite de liquidez, aumentando a capacidade do
(solo nat 2) é quase inteiramente composto por grãos solo de reter água sem alterar para o estado liquido.
de areia e, por isso, não foi possível determinar o LL O solo 2 apresentou menores valores LL devido ao
e LP desta amostra. Enquanto que a terceira amostra seu elevado teor de areia. Os solos 1 e 3 apresentaram
(solo nat 3) foi a que obteve maior teor de finos, mais valores similares de LL, provavelmente devido a
de 20%, sendo, dentre as três amostras, a mais fácil granulometria similar. A adição de BFC, de uma
de manipular para a determinação do LL e LP. forma geral, aumentou os indicadores geotécnicos,
Entretanto, apesar da variação no teor de finos (2,0 a possibilitando maior retenção de água sem alteração
20,3%), a fração granulométrica predominante foi de do estado fisico do solo.
areia.
Segundo Rossi (2017), a região em estudo é 4 CONCLUSÃO
formada por latossolo vermelho-amarelo. É um tipo
de solo muito particular, dentro do grupo dos O solo do talude estudado apresentou variações
significativas de acordo com o local da coleta,

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577
mesmo sendo locais próximos, a sua composição https://www.istoedinheiro.com.br/desde-1988-
predominantemente é areia e, devido a isso, possui brasil-soma-quase-4-mil-mortes-
pouco ou nenhuma plasticidade, além de ter caráter emdeslizamentos/#:~:text=Conforme%20o%20Atla
ácido. Com a adição do BFC, o solo responde de s%20Digital%20de,67%2C516%20milh%C3%B5es
%20de%20pessoas%20afetadas. Acesso em:
maneira positiva, já que esse composto impactou as
02/06/2022.
características físico-químicas de modo que Freire, L.M. (2006). Encostas e favelas: deficiências,
melhorasse a adesão da água, mesmo com o grande conflitos e potencialidades no espaço urbano da
percentual de areia. Desse modo, pode-se concluir favela Nova Jaguaré. Faculdade de Arquitetura e
que o BFC é um composto interessante para a Urbanismo - Universidade de São Paulo,
melhora das condições físico-químicas do solo, https://teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-
melhorando a fertilidade e capacidade de retenção de 26052010-
água nele, e consequentemente, as condições de 100056/publico/Mestrado_Luis_Mauro_Freire.pdf.
estabilidade do solo. Entretanto vale salientar que Acesso em 01/06/2022.
ainda são necessários outros testes para verificar a Hussain, R.; Ravi, K. (2022). Investigating biochar-
amended soil as a potential lightweight material for
eficiência do BFC em solos de aterro.
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As autoras agradecem à Universidade de São Paulo Classificação preliminar e informações de saude para
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REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


579
Fazer as políticas públicas chegarem a quem mais precisa. É isso o que a FLEM tem feito na Bahia. São 25 anos de história desta
fundação que fomenta e desenvolve projetos visando a transformação social.

E os geossintéticos estão presentes nos projetos da FLEM que vem transformado a vida de milhares de baianos e baianas da zona
rural.

A criação de um programa de apoio • Solução sustentável para o saneamento de unidades


ao aproveitamento eficiente da água familiares e coletivas;
pluvial comunga com os Objetivos de • Funcionamento sustentável sem necessidade de água, de
Desenvolvimento Sustentáveis energia elétrica e de qualquer tipo de aditivo químico e material
(ODS) para acabar com a pobreza, de secagem (como pó de serra, cal ou similar);
proteger o meio ambiente e o clima e • Não contaminação de solo ou aqüíferos;
garantir que as pessoas, em todos os
• Redução significativa de massa do resíduo fecal e
lugares, possam desfrutar de paz e de
destinação adequada da urina;
prosperidade.
• Ausência de odores e poluição (no solo, ar ou água);
Nesta perspectiva, o Programa Mais Água Boa nasce como um • Geração de adubo higiênico e armazenável, para posterior
arcabouço importante para validar algumas estratégias no meio utilização em cultivos agrícolas;
rural (revitalização de cisternas, desinfecção solar de água e • Manutenção fácil, podendo ser realizada pelo usuário sem
instalação de filtros) e outras no meio urbano (instalação de necessidade de conhecimentos especiais e sem risco sanitário,
equipamento para aproveitamento e tratamento de águas sem necessidade de equipamento de proteção especial;
pluviais nos centros urbanos e instalação de sistemas de • Compartimento para lavagem das mãos;
infiltração - tanques subterrâneos). • Conforto térmico, com sistema de ventilação adequada.
Além destas, destacam-se outras características:
• Unidade pré-moldada com instalação rápida e fácil com
Instalação de 200 unidades da geomembrana (bolsão de PVC)
sistema de encaixe, sem necessidade de obra civil;
especializada para retenção de água em 8 municípios baianos.
• Fácil transporte em paletes;
Municípios: Caetité, Caculé, Ibiassucê, Palmas de Monte Alto, Pilão Arcado, Sento Sé, Campo Alegre de
Lourdes e Remanso.

Curaçá (25 Módulos instalados)


Umburanas ( 10 Módulos instalados)
Mirangaba (20 Módulos instalados)
Itambé (10 Módulos instalados)
Itapetininga (25 Módulos instalados)

A iniciativa irá realizar a instalação de filtros em casas do


semiárido baiano.

desenvolvido para ser instalado em tubos


de descida das calhas, totalmente viável
para sistemas que necessitam de uma
filtragem mais fina e que utilizam pequenos
reservatórios, como as cisternas de placa.

anos
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Investigação numérica de movimentação de massa de um aterro


sanitário
André Querelli, M.Sc.
Solotechnique, Jundiai (SP), Brasil, andre.querelli@solotechnique.com.br

Tiago de Jesus Souza, Ph.D.


Solotechnique, Jundiai (SP), Brasil, tiago.souza@solotechnique.com.br

RESUMO:
Os movimentos de massa em aterro sanitário, catalisam diversos danos financeiros e ambientais. Esses
movimentos possuem sempre um elemento deflagrador, que em geral, são: terremoto, chuva, degelo, mudança
no lençol freático, erosões ou alguma sobrecarga não determinada. Existem diversas maneiras de mitigar os
riscos em eventos de movimento de massa, e uma delas é a previsão e a quantificação das consequências.
Porquanto, de posse dessas determinações, é possível antever medidas de contenção para o evento. Dessa
forma, este artigo buscou avaliar, por intermédio do Método dos Elementos Finitos, o fenômeno do movimento
de massa e do impacto em barreiras de contenção para um caso em Santa Catarina. A modelagem executada
mostrou ser muito eficiente em análises dinâmicas e nas que envolvem impactos. Destaca-se também que há
pouca publicação local no assunto que gira em torno de modelagens de aterro submetidos a grandes
deformações

PALAVRAS-CHAVE: Aterro sanitário, Movimento de Massa, Modelagem Numérica, Elementos Finitos,


Grandes Deformações.

ABSTRACT:
Mass movements in landfills catalyse various financial and environmental damages. These movements always
have a trigger element, which in general are earthquake, rain, thawing, change in the water table, erosion, or
some undetermined overload. There are several ways to mitigate the risks in mass movement events, and one
of them is the prediction and quantification of the consequences. Because, in possession of these
determinations, it is possible to foresee containment measures for the event. Thus, this paper sought to evaluate,
by means of the FEM, the phenomenon of mass movement and impact on containment barriers for a case in
Santa Catarina. The modelling performed proved to be very efficient in dynamic analyses and in those
involving impacts. It is also noteworthy that there is little publication on the subject that revolves around
modeling embankments subjected to large deformations.

KEYWORDS: Landfill, Mass Movement, Numerical Modelling, Finite Elements, Large Deformations.

1 INTRODUÇÃO esta considerada uma solução viável quando


relacionada ao seu custo-benefício (Wong et al, 2013;
Uma tendência de crescimento da população e da Feng et al., 2019).
economia pode ser observada nas últimas décadas, Em termos de caracterização, o RSU constitui-se de
acarretando a aceleração da produção global de um material poroso, anisotrópico e heterogêneo
resíduos sólidos urbanos (RSU). Em síntese, a (Gourc et al., 2010; Reddy et al., 2017). Estudos
deposição do RSU ocorre em aterros sanitários, sendo destacam a necessidade da estimativa da capacidade

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580
do aterro, do sistema de recolhimento de lixiviados e
gás, como também da previsão precisa do tipo de
RSU durante seu período de funcionamento (Hunt et
al., 2007; Sivakumar Babu et al., 2011). Além disso,
os aterros sanitários são estruturas de grande porte,
cuja ruptura pode impactar negativamente o ambiente
(Stark et al. 2000; Blight & Fourie et al. 2005; Rapti-
Caputo et al., 2006).
O comportamento não linear dos resíduos resulta em
incertezas quanto a avaliação da resposta dinâmica e
estabilidade de aterros sanitários (Zania et al., 2008).
Consequentemente, o fenômeno da sismicidade em
um talude pode induzir tensões cisalhantes
significativas ao maciço. Em outros termos, a Figura 1. Localização da área de Estudo.
vibração pode conduzir a instabilidade global do
aterro sanitário. Considera-se outro fator de suma importância o
Em geral, a análise de estabilidade de um talude comportamento geomecânico do RSU associado as
ocorre mediante a aplicação do método do equilíbrio propriedades de resistência ao cisalhamento e
limite, obtendo-se assim um fator de segurança para deformabilidade. Já que há uma heterogeneidade
a superfície crítica. Entretanto, tal metodologia não devido a composição do material.
representa a análise de todos os fatores intervenientes Tendo em vista os diversos fatores intervenientes no
no cálculo. O presente estudo visa a análise da sistema, o presente artigo visa apresentar a
movimentação de massa, pelo método dos elementos importância da avaliação da movimentação de massa
finitos, de um aterro sanitário localizado no em aterros sanitários.
município de Biguaçu, Santa Catarina.
O estudo de caso refere-se a avaliação do impacto da 2.2. Descrição do subsolo do local
detonação de um maciço rochoso próximo ao aterro.
Tal desmonte pode acarretar sismos no corpo e O subsolo foi avaliado por intermédio de 12 furos de
subsolo do aterro, gerando a instabilidade do mesmo. sondagens mista, 71 sondagens a percussão e 35
Nestas situações, a ruptura pode acarretar inúmeros sondagens atrado. Em síntese, a luz das campanhas
danos ao meio ambiente e até mesmo a vidas de sondagem, observou-se a presença de um solo
humanas. Posto isto, foi realizado, mediante a residual de depósitos colúvio-aluvionares, com
aplicação do método dos elementos finitos, a compacidade variando de compacta a muito
avaliação da possível movimentação de massa. compacta. Esse material caracteriza-se por ser uma
Sendo esse simulado através da aplicação do Método areia grossa com fragmentos de quartzo, além de
do dano. O dano é um modelo constitutivo que reduz poder conter fragmentos de rocha sã. Identificou-se a
a rigidez em consequência do estado de tensões As presença de um solo residual de Depósitos Planície
análises foram realizadas com o auxílio da de Maré, ou seja, uma argila orgânica, muito mole a
ferramenta computacional ABAQUS. mole, por vezes argilo-arenosa (compacidade de
mole a média). Também foi observado o Solo
2 MATERIAIS E MÉTODOS Residual Complexo Águas Mornas, sendo
caracterizado como um silte arenoso, com areia de
Nesse item será apresentado os materiais e métodos granulometria entre média a grossa, pouco argiloso,
utilizados nas análises numéricas, bem como o cor brando esverdeado. Com aspecto geotécnico
escopo do estudo. variando entre medianamente compacto a muito
compacto.
2.1. Escopo do estudo Foi observado a presença do saprólito Granito Ilha.
Em outras palavras, um granito saprólito médio a
Na Figura 1 pode ser observado o mapa da grosso, de coloração variando de creme a róseo
localização da área em estudo. Objetiva-se avaliar a avermelhado, pouco alterado e fragmentado. Esse
possível movimentação de massa do Aterro Sanitário material apresentou RQD (designação da qualidade
de Biguaçu, caso haja a detonação do maciço rochoso da rocha) variando entre 8 e 18%, cuja classificação
para a implementação de uma rodovia no km indica um material muito pobre.
177+100. Tal técnica de desmonte pode acarretar Na campanha de sondagem foi identificado a
sismos no corpo do aterro e em seu subsolo, dessa presença do Saprólito Granito São Pedro de
forma podendo gerar a instabilidade do mesmo. Alcântara. Sendo este um granito saprolítico fino a

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581
médio, caolinitizado, de coloração branco amarelado apresentando RQD variando entre 8 e 12%, sendo
(creme) e extremamente alterado, fragmentado e classificado como muito pobre.
friável. Apresentando RQD variando entre 6 e 13%,
classificado como muito pobre. 2.3. Descrição do modelo numérico
Ainda, foram identificados dois tipos de Saprólitos,
sendo eles: Saprólito Granodiorito Alto da Varginha A seção analisada numericamente, do aterro sanitário
e Saprólito Complexo Águas Mornas. O primeiro em questão, pode ser visualiza mediante a Figura 2.
caracteriza-se por ser um granito saprolítico grosso a Para a modelagem, foi utilizado o programa comercial
muito grosso, de coloração branco acinzentado, rocha ABAQUS, que contém a interface visual de entrada
sã, fraturada e muito coerente. Apresentando RQD de ABAQUS/CAE e processamento dos dados ABAQUS
91%, sendo classificado como excelente. O segundo Standard/Explicit. Em suma, o aterro é composto por
caracteriza-se por ser um granito saprolÍtico resíduos depositados antes de 2004, após essa data e
fanerítico com textura fina a média e de coloração por resíduos novos. No pé do talude encontra-se um
rósea levemente acinzentada. Este, apresenta-se, muro de contenção em gabião, cuja fundação
medianamente alterado, extremamente fraturado e constitui-se por de DSM (Deep Soil Mixing).
pouco coerente. Com aspecto geotécnico

Gabião
DSM

Legenda:
Resíduos antigos
Rocha Argila siltosa Silte argiloso Resíduos novos
antes de 2004
Solo de transição Resíduos recentes
Areia argilo-siltosa Gabião
depois de 2004
Figura 2. Seção avaliada do aterro sanitário pelo método dos elementos finitos.

Com o objetivo de gerar o desprendimento da massa


rompida da intacta, em função da vibração utilizou-
se as Propriedades do Mecanismo de Dano.

2.4. Malha e Condições de Contorno


(b)
A discretização do modelo numérico pode ser Figura 3. Modelo numérico: (a) discretização da malha;
visualizada mediante a Figura 3 (a). Para a malha, foi (b) condições de contorno.
utilizado elementos triangulares de deformação
plana. Sendo considerado um maior refinamento 2.5. Parâmetros do Materiais
próximo a região estimada para a movimentação de
massa. Ao total o programa computacional gerou Foi adotado o modelo de Drucker-Prager para quase
20723 elementos e malha triangular com três nós. todos os materiais. os materiais e parâmetros
Quanto as condições de contorno do modelo, na utilizados do modelo de Drucker-Prager são
lateral direita e esquerda foi fixado o movimento apresentados na Tabela 1. Salienta-se que, nessa
apenas na direção horizontal, enquanto na base houve condição, não foi considerada o mecanismo do dano.
a restrição em ambos os sentidos, conforme a Figura
3 (b).

Tabela 1. Parâmetros adotados para modelagem na


condição atual.
 E d
Material Cor v (°) (kPa)
(kN/m³) (kPa)
(a) Rocha 27,52 28000 0,30 - -

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582
Solo de Tabela 2. Parâmetros adotados para modelagem com o
16,31 18000 0,35 37,70 11,00
Transição mecanismo de dano.
Argila
16,31 18000 0,35 2,00 32,00
Siltosa β d Taxa
Areia Material ks εpl 0 uplf α
(°) (kPa) (*)
argilo- 18,35 18000 0,35 50,20 10,00
siltosa Rocha - - - - - - -
Silte Solo de
15,29 18000 0,35 2,00 36,00 29,8 7,90 0,90 2 0,001 0,10 5
argiloso Transição
Gabião 20,39 18000 0,30 52,20 50,00 Argila
RSU antes 1,5 23,80 0,90 2 0,001 0,10 5
12,23 9000 0,45 30,50 22,50 Siltosa
de 2004 Areia
RSU pós argilo- 41,6 7,70 0,10 2 0,001 0,10 5
11,21 9000 0,45 33,80 22,30
2004 siltosa
RSU novo 10,19 9000 0,45 33,80 22,30 Silte
1,5 26,80 0,10 2 0,001 0,10 5
DSM 18,35 18000 0,35 50,20 10,00 argiloso
Gabião 43,6 37,00 0,10 2 0,001 0,10 5
RSU
Sendo que equivale ao ângulo de atrito, E ao antes de 23,5 16,60 0,02 2 0,001 0,10 5
módulo de elasticidade, v Coeficiente de Poisson,  2004
RSU pós
ângulo de atrito e d a coesão. O mecanismo de dano 26,4 16,50 0,02 2 0,001 0,10 5
2004
considera a não linearidade, por conseguinte um RSU
material encontra-se danificado quando começa a 26,4 16,50 0,02 2 0,001 0,10 5
novos
ocorrer a redução da capacidade de resistência ao DSM 63,1 34,20 0,10 2 0,00 0,10 5
carregamento já aplicado (Alelvan, 2017).Os
parâmetros foram adotados com base nas sondagens Nota: (*) Equivale as taxas de deformação plástica
realizadas no local alinhado a experiência prática dos adotadas.
autores. O módulo que relaciona a tensão e
deformação encontra-se reduzido. Para essas análises
foram reduzidos os valores de ângulo de atrito e 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
coesão para todos os materiais, sendo aplicado um
fator redutor de 1,35 e a porcentagem de dano Esse item possui como finalidade apresentar os
permitida foi de 99%. principais resultados obtidos com o emprego da
Dentre os parâmetros necessários para o cálculo, modelagem numérica. Bem como uma comparação
Alelvan (2017) realizou um estudo paramétrico para entre as metodologias supracitadas com o Método do
solos e concluiu que a variação do ks (constante do Equilíbrio Limite (MEL).
material) não acarreta a alterabilidade da tensão Na Figura 4 apresenta-se as deformações plásticas
cisalhante pelo deslocamento. O α corresponde a taxa cisalhantes (PE), sem a consideração quanto ao dano.
em que os deslocamentos no domínio plástico Pode ser observado que há a formação de um
gerarão dano ao elemento. mecanismo de ruptura oriundo da concentração de
De acordo com Alelvan (2017), o efeito de α, está deformações do tipo plásticas.
relacionado com o dano, quanto maior o seu valor
menor será a tensão cisalhante na ruptura. O uplf
adotado foi de 0,10, conforme expõe o autor
supracitado, o aumento desse parâmetro gera a
necessidade de grandes deslocamentos para acarretar
o dano. Com isso, objetiva-se a inserção do
mecanismo de dano visando a movimentação de
massa, justificando o valor escolhido. Os demais Figura 4. Formação dos mecanismos de ruptura.
parâmetros necessários para os cálculos em conjunto
com seus respectivos valores são apresentados na A variação dos deslocamentos totais com o tempo
Tabela 2. pode ser observada na Figura 5, bem como o ponto
utilizado no seu monitoramento. Os deslocamentos
apresentaram uma tendência de crescimento com o
tempo, sendo atingido aos 11,5 segundos o valor de
130 m.

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583
140
Ponto de monitoramento
t= 2,5 s
120
Deslocamento total (m)

100
80
60 t= 5,0 s

40
20
0
6 0 8 2 10 4
12 t= 7,5 s
Tempo (s)
Figura 5. Variação do deslocamento total com o tempo.

Observa-se na Figura 6 (a) que o comprimento entre t= 10 s


a coroa do movimento e o nó de monitoramento foi
de 343 m. Já o comprimento entre o pé do talude e o
nó de monitoramento foi de 112 m, conforme
ilustrado na Figura 6 (b).
t= 11,5 s
345 m

Figura 7. Evolução do dano com o tempo.


Ponto de monitoramento
Na Figura 8 observa-se que apenas há deslocamento
(a)
na massa rompida, já que a massa intacta não possui
112 m
velocidade. Sendo que a velocidade é mais acentuada
no pé do talude.
Ponto de monitoramento

(b)
Figura 6. Deposição da massa rompida.

Avaliando a Figura 7, a partir de 5 segundos


claramente a superfície de ruptura principal começa Figura 8. Evolução do dano com o tempo.
a ser formada, desde a crista até o pé do talude. Com
7 segundos começa ocorrer a movimentação de 3.1. Comparação do mecanismo de dano com o MEL
massa que se intensifica até atingir o seu pico em 11,5
segundos. Querelli et al. (2022) avaliou a estabilidade do aterro
sanitário em estudo por intermédio do método do
equilíbrio limite (MEL). Nesta análise foi utilizado
programa computacional Slide v.6 e o método de
Morgenstern e Price. Tal simulação foi reproduzida
com as mesmas condições de contorno apresentada
pelos autores e pode ser visualizada na Figura 9.

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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apresentam diferenças quando comparadas, Management, Elsevier, v. 98, p. 81-91
entretanto, as superfícies de ruptura apresentam uma
proximidade. Em outras palavras o resultado foi
satisfatório. Gourc, J. P., Staub, M. J., Conte, M., (2010). Decoupling
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pode-se concluir que a cunha de ruptura começa a ser
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formada a partir de 5 segundos. Com 7,5 segundos
começa a ocorrer a movimentação de massa que se
intensifica até a ocorrência nítida da ruptura com 11,5 Reddy, K. R., Kumar, G., Rajiv, G. K., (2017). Influence
segundos. of dynamic coupled hydro-bio-mechanical processes
Ao comparar os resultados do mecanismo de dano on response of municipal solid waste and liner system
com o obtido com a aplicação do MEL, conclui-se in bioreactor landfills. Waste Management, Elsevier,
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Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Propriedades Mecânicas e Hidráulica de um Solo Residual com


Adição de Fibra de PET e RCD
Fernanda Simoni Schuch
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fernandass@ifsc.edu.br

Thais Moreira dos Santos


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
thaaaism05@gmail.com

Fábio Krueger da Silva


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
fabio.krueger@ifsc.edu.br

Elivete Carmen Clemente Prim


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
elivetecarmen.prim@ifsc.edu.br

Ana Karolyna Silveira da Silva


Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil,
anajovitta@gmail.com

RESUMO: Considerando o cenário atual da alta produção de garrafas PET e também a grande geração de resíduos de
demolição da construção civil (RCD), sabe-se que ambos, muitas vezes sem uma destinação adequada, acabam sendo
descartados de forma imprudente, poluindo o meio ambiente, e tornando-se muito prejudiciais à saúde dos
ecossistemas. A consciência sobre as questões ambientais que envolvem esta problemática leva muitos pesquisadores a
refletir sobre como se pode auxiliar a minimizar o avanço da poluição ambiental. Desta forma neste trabalho
objetivou-se estudar propriedades mecânicas e hidráulicas de um solo melhorado com fibra PET e RCD. Para tanto,
realizou-se ensaios de caracterização, compactação, permeabilidade, PH, resistência à compressão uniaxial e resistência
à compressão diametral. Pesquisou-se 4 composições: solo natural, solo + 1,0% de fibra de PET, solo + 15,0% de RCD
e solo + 1,0% de fibra de PET + 15,0% de RCD. Analisando-se as características agregadas a partir da adição de fibra
de PET e RCD concluiu-se haver boa resistência a tração e compressão, sendo estas até 3 vezes maiores quando
comparadas com solo puro. Quanto à permeabilidade, a mistura solo + RCD apresentou um coeficiente na casa de 10-6
cm/s possibilitando que esta mistura seja utilizada, por exemplo, em camadas impermeabilizantes em aterros sanitários
de cidades de pequeno porte. As demais misturas mostraram-se mais permeáveis.

PALAVRAS-CHAVE: coeficiente de permeabilidade de solos, polietileno de tereftalato, resíduo de construção civil,


resistência à compressão uniaxial.

ABSTRACT: Considering the current scenario of high production of PET bottles and also the large generation of
Construction and Demolition Waste (CDW), it is known that, both often without proper disposal, they end up being
disposed of recklessly, polluting the environment, and becoming very harmful to the health of all ecosystems.
Awareness of the environmental issues surrounding this theme, many researchers have reflected on how to help
minimize the advance of environmental pollution. Looking forward to that, this research studies the properties of a soil
mixtured with PET fiber and CDW, performing characterization tests, densification, permeability, PH, uniaxial
compression resistance and diametral compression resistance (indirect traction). Those tests were performed for 4
compositions: natural soil, soil + 1.0% PET fiber, soil + 15.0% RCD and soil + 1.0% PET fiber + 15.0% RCD.
Analyzing the aggregate characteristics from the addition of PET fiber and RCD, it was concluded that there was good
resistance to traction and compression, which are up to 3 times greater when compared to pure soil. As for permeability,

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the mixture soil + RCD presented a coefficient around 10-6 cm/s, allowing this mixture to be used, for example, in
waterproofing layers of sanitary deposits in small cities. Other mixtures were more permeable.

KEY WORDS: Soil permeability coefficient, polyethylene terephthalate, construction waste, uniaxial compressive
strength.

1 INTRODUÇÃO volumétrica.
O RCD também é produzido em grande escala e
Com o crescente uso e produção de garrafas PET muitas vezes sua destinação final é inadequada. No
(politereftalato de etila) busca-se a reciclagem e Brasil são gerados anualmente cerca de 31 mil
reutilização desse material que se caracteriza por ter toneladas deste resíduo, representando
lenta decomposição no ambiente. Isso também se aproximadamente 50% da produção total de
aplica para os resíduos da construção civil e resíduos sólidos urbanos (IPEA, 2012). Tais
demolição (RCD), os quais são gerados em grande resíduos podem ser fonte alternativa de
escala em todo o mundo e, na maioria das vezes, matéria-prima para pelo setor da construção civil,
têm uma destinação inadequada. Assim, é mudando da produção industrial para um sistema
necessário que sejam estudados novos meios de fechado de produção, onde os resíduos são
amenizar os impactos do descarte de PET e RCD no reciclados, incorporando-o ao processo produtivo
meio ambiente procurando a reutilização e (Silva, 2014). Segundo a resolução 307 de 2002 do
destinação consciente e sustentável. CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente)
Segundo Valt (2004) as embalagens de PET são ou resíduos de construção civil se classificam em A,
as que mais contribuem para a degradação do meio B, C e D sendo que, o material cerâmico, argamassa
ambiente comparativamente com embalagens de e concreto se enquadram como classe A e são tidos
metal e vidro. Como é notório, viabilizar a como recicláveis ou reutilizáveis.
reutilização desses materiais acaba por diminuir o Pesquisas utilizando RCD em solo têm se
consumo de matéria-prima, energia e emissão de mostrado promissoras. Santos (2007) incluiu RCD a
resíduos. um solo arenoso o qual apresentou pouca variação
De acordo com a associação brasileira da em suas propriedades físicas e mostrou um ótimo
indústria do plástico (ABIPLAST, 2020), em 2018 resultado em sua resistência mecânica, tornando seu
foram produzidas 757,6 mil toneladas de plástico no uso viável para solos reforçados. Pessanha et al
Brasil. Já em 2019 esse número passou a ser 838,5 (2019) estudou a caracterização e compactação de
mil toneladas, sendo reciclado apenas 24% de todo o um solo argiloso com adição de RCD, com teores de
plástico produzido. 10%, 15% e 25%, e observou que: os valores de
A situação nacional e mundial está crítica ao absorção de água e porosidade foram superiores aos
ponto de se encontrar a presença de microplásticos de brita e, houve um aumento na massa específica
em rochas sedimentares na região da Ilha da aparente seca máxima conforme aumentava a
Trindade, ou seja, já se verifica no ciclo geológico a porcentagem de RCD, ou seja tornando o solo
incorporação de resíduos plásticos (Santos et al., melhorado mais permeável e mais denso.
2022). Schweiss (2023) incorporou 45% de RCD em
Na construção civil existem pesquisas em solo e observou uma perda nos valores de
diversas áreas para a implantação, em forma de resistência à compressão simples porém, verificou
reciclagem e reutilização das garrafas PET. Canellas que, adicionando-se cal na mistura a resistência à
e D’Abreu (2005), por exemplo, estudaram a compressão simples aumenta na medida em que se
substituição de areia por flocos de PET nas aumenta o teor de cal. Este resultado se mostra
argamassas usadas na construção civil e observaram promissor para utilização de RCD em obras
que a argamassa mantém suas características de geotécnicas.
plasticidade e resistência à compressão, ao se Observando-se o sucesso em pesquisas acerca do
substituir 30% de areia pelos flocos de PET. tema, aliado ao interesse em impulsionar a
Cândido et al (2014) avaliaram que é possível reciclagem direcionada para a construção civil,
substituir 15% da areia natural, em blocos de investigou-se a possibilidade de utilização de fibras
concreto de vedação, por PET triturado, essa PET, obtidas a partir de um processo de reciclagem
porcentagem resultou em uma maior resistência a de garrafas, e RCD, obtidos de rasgos de paredes de
compressão e uma menor absorção, em relação aos blocos cerâmicos misturados ao solo (classe A
teores de 30% e 45%, os quais também foram segundo o CONAMA).
testados. De acordo com Costa et al. (2019) a Assim, buscou-se avaliar as variações e
resistência mecânica de um solo areno-argiloso com prováveis melhorias nas propriedades mecânicas e
adição de 2% de PET triturado tem um aumento hidráulicas com as incorporações destes resíduos ao
significativo e provocou uma redução da expansão solo.

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Compactação
2 MÉTODO
Coletou-se o solo usado nesta pesquisa num talude O ensaio de massa específica dos grãos que passam
de solo residual de granito na cidade de Biguaçu/SC. na peneira de 4,8mm obedeceu a NBR6457:2016.
Anteriormente a este trabalho o material foi Determinou-se as massas específicas do solo, da
devidamente caracterizado na pesquisa de Broering fibra PET, do RCD e do solo+RCD.
e Silva (2018) e, portanto, estes dados de O ensaio de granulometria do solo obedeceu a NBR
caracterização são provenientes da referida 7181:2016 (Figura 1).
pesquisa.
Conduziu-se os ensaios laboratoriais mecânicos e
de condutibilidade hidráulica partindo-se para as
misturas de solo com fibras PET e RCD. Definiu-se
como teores a serem incorporados: 1% para fibra
PET e 15% para RCD. O teor de 1% de PET fornece
os melhores resultados em termos de compressão e
tração para este solo conforme pesquisa anterior de
Nichele (2020). Portanto, adotou-se as seguintes
nomenclaturas para as misturas:solo natural (S); Figura 1: Instrumentos utilizados em ensaios de
solo + 1% de fibra PET (S+PET); solo + 15% RCD caracterização.
(Solo+RCD) e; solo + 1% de fibra PET + 15% RCD
(S+PET+RCD). Os limites de consistência do solo foram
A fibra PET é proveniente de um processo de definidos utilizando-se as NBRs 6459:2016 e
reciclagem de garrafas PET de uma empresa a qual 7180:2016. Estes ensaios foram realizados para o S
doou o material para pesquisa. Possuem 15mm de e para a mistura S+RCD.
comprimento e massa específica de 1,34 g/cm3 As curvas de compactação foram obtidas para o
(NICHELE, 2020). S, S+PET, S+RCD e S+PET+RCD. Utilizou-se o
Obteve-se o RCD em obra da região da Grande cilindro pequeno e a energia normal conforme prevê
Florianópolis/SC sendo proveniente de rasgos de a NBR 7182:2016, resultando nas curvas de
paredes de vedação com blocos cerâmicos. Este compactação as quais apontam a hot e a ɣsmáx. Para
material foi moído em laboratório num moinho de compreender a variação de índice de vazios (e) nas
discos de pedras. Este processo de moagem deixou a densidades secas máximas, determinou-se seu valor
granulometria dos RCD muito variada com grãos de utilizando-se os resultados das respectivas curvas de
aproximadamente 60 mm a menores. Então, para se compactação..
evitar a quebra de grãos durante o processo de
moldagem dos corpos de prova (CPs) bem como em 2.2 Ensaios de Resistência
ensaios de resistência, optou-se por peneira-lo na
peneira de 0,42mm para, depois somente, serem Para a realização deste ensaio seguiu-se as
misturados ao solo. especificações da norma NBR 12770:2022. O
Após estas definições realizou-se as adições de equipamento utilizado é uma prensa universal de
PET e RCD ao solo, iniciando-se com o RCD e ensaios EMIC, automatizada, com célula de carga
água, homogeneizando-se e, por último de 1.000 N, com velocidade constante de 1mm/s.
adicionando-se a fibra PET tomando-se cuidado Neste ensaio moldou-se amostras para os 4
para não promover a aglutinação das fibras. A seguir teores sendo para cada um deles 3 corpos de prova,
procedeu-se com os ensaios de compactação a fim resultando nos gráficos de tensão x deformação
de se obter a densidade seca máxima (ɣsmáx ) e a axial específica na compressão simples e a tensão
umidade ótima (hot ). Moldou-se então os CPs a máxima de ruptura para a compressão diametral
serem utilizados nos ensaios de resistência e (tração indireta).
permeabilidade na umidade ótima e massa Os CPs foram moldados na umidade ótima e
específica aparente seca. massa específica seca máxima obtidos no ensaio de
Os detalhes de todos os procedimentos compactação, no cilindro Harvard (Figura 2) com
metodológicos desta pesquisa podem ser dimensões aproximadas de 5 cm de diâmetro e 10
encontrados em Santos (2022). A seguir são cm de altura, compactados com tarugo.
destacados algumas etapas dos ensaios laboratoriais
realizados.

2.1 Ensaios de Caracterização e Curvas de

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F = carga de ruptura em N;
D = diâmetro do corpo de provas em mm;
H = altura do corpo de prova em mm.

Foram considerados satisfatórios os resultados


obtidos dentro de uma tolerância de ± 10% em
relação a média.

2.3 Ensaios de Permeabilidade

Ensaio realizado seguindo as especificações da NBR


Figura 2: Cilindro de Harvard com tarugo (esq.) e corpo
14545:2021.
de prova na prensa universal (dir.)
Foram preparados corpos de prova nos 4
diferentes teores estudados (S, S+PET, S+RCD e
Para cada CP determinou-se a deformação axial
S+PET+RCD). A moldagem realizou-se em um
específica, a seção transversal média e a tensão de
cilindro de PROCTOR tamanho pequeno, energia
compressão (qu) (equação 1).
normal (com 3 camadas e 26 golpes em cada uma),
𝑃 de modo a se obter as mesmas condições da curva
𝑞𝑢 = 𝐴
(1) de compactação (umidade ótima e densidade seca
máxima). Após a moldagem os CP foram
Onde P é carga aplicada (KN) e A é a seção armazenados em sacos plásticos e contidos num
transversal média (m2). Considerou-se aceitável os recipiente tampado para cura.
valores que não diferiam em ± 10% da média. Para este ensaio preparou-se a argila plástica
O ensaio de compressão diametral (tração (bentonita), um material impermeável para realizar a
indireta) deu-se seguindo as orientações da NBR vedação do fundo, topo e paredes do permeâmetro,
7222:2011, na qual especifica os materiais a serem deixando-a descansar por 48 horas acondicionadas
utilizados são máquina de ensaios (nesta pesquisa em sacos plásticos contidos num tambor.
utilizou-se a mesma prensa universal citada no Após, iniciou-se a montagem do equipamento
ensaio de compressão simples), dotada de pratos de em laboratório com a colocação da bentonita nas
compressão superior e inferior com célula de carga paredes de fundo do permeâmetro, seguida da
de 1.000N. Utilizou-se paquímetro para conferir as colocação de uma camada drenante (pedrisco) no
medidas dos CPs, balança com 0,01 grama de fundo e uma camada de geotêxtil para evitar o
resolução para medir a massa e dispositivos carreamento de finos da amostra durante a execução
auxiliares para o melhor posicionamento do corpo do ensaio. Então, posicionou- se o corpo de prova
de prova na prensa, chamado de pórtico de Lottman no centro do permeâmetro envolvendo-o com
(Figura 3). bentonita cuidadosamente de modo a não danificar o
CP, deixando o topo deste, livre (Figura 4). Assim,
garante-se que o fluxo de água atravesse apenas a
amostra de solo. Em seguida colocou-se mais uma
camada de geotêxtil e uma de pedrisco, fechando-se
o permeâmetro.

Figura 3: Pórtico de Lottman utilizado no ensaio de


tração.

A resistência à tração indireta foi calculada com


a fórmula 2:

2*𝐹
𝑞𝑡 = π*𝐷*𝐻
(2)

Figura 4: Corpo de prova posicionado no permeâmetro


Onde:
envolto em bentonita.
qt = resistência a tração em MPa;

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O solo utilizado classifica-se como um silte arenoso
Os corpos de prova foram saturados com um quando se observa sua composição granulométrica.
fluxo de água ascendente e, após a saturação, o O limite de liquidez para o solo natural ficou em
fluxo foi invertido para dar início às medições. 35% e para o solo+RCD em 31%. O limite de
Definiu-se então o nível da água na bureta e, com o plasticidade para o solo puro ficou em 23% e para o
auxílio de um cronômetro, determinou-se o tempo solo +RCD ficou classificado como NP. S possui um
necessário para variar a carga de água permeando no valor de índice de plasticidade (IP) igual a 13%
solo (equação 3). sendo considerado medianamente plástico.
As curvas de compactação forneceram valores de
𝑎*𝐻 ℎ1
𝑘 = * 𝑙𝑛 (3) hot e a ɣsmáx como mostrados nas Tabela 1:
𝐴*∆ 𝑡 ℎ2

Tabela 1: Resultados obtidos


Sendo:
S+PET+
K = Coeficiente de permeabilidade Dados S S+PET S+RCD
RCD
a = Área interna da bureta (cm²)
γs máxs 1,590 1,540 1,740 1,770
H = Altura inicial do corpo de prova (cm)
A = Área inicial do corpo de prova (cm²)
hot (%) 22,4 25,2 18,2 18,8
Δt = Diferença entre tempo final e inicial (s)
h1 = Carga hidráulica inicial (cm)
e 0,61 0,66 0,47 0,45
h2 = Carga hidráulica final (cm)
qu (MPa) 0,088 0,150 0,091 0,365

3 RESULTADOS E ANÁLISES qt (MPa) 0,019 0,033 0,016 0,050

A seguir no quadro 1 são apresentados as massas Kp(cm/s) 2,1x10-3 1,0x10-3 4,3x10-6 3,1x10-6
específicas obtidas nos ensaios. O valor obtido na
amostra de RCD indica um valor inferior devido ao
tamanho residual das partículas resultantes do Comparando-se os valores obtidos para os teores
processo de moagem do resíduo. analisados com os valores obtidos para a amostra S,
percebe-se que para S+PET há um aumento da hot e
Quadro 1: massas específicas diminuição da ɣsmáx, ou seja, para se atingir uma
maior densificação é necessária uma maior
quantidade de água e, este fenômeno provavelmente
é decorrente da ação da fibra na estrutura do solo
compactado, aumentando a quantidade de vazios e
promovendo um caminho preferencial para a água
ao longo das fibras.
A granulometria obtida por Broering & Silva Já para a composição com S+RCD ocorreu uma
(2018) com defloculante segue representada no diminuição da hot e aumento na ɣsmáx em
gráfico abaixo (Figura 5): comparação à S, provavelmente ocasionado pelo
aumento na quantidade de finos no solo e
consequente diminuição dos vazios.
Na mistura S+PET+RCD observou-se que as
características agregadas do RCD se sobrepõem às
da fibra de PET, deixando a mistura com uma hot
menor, ɣsmáx maior e índice de vazios menor em
relação à mistura S, mostrando um comportamento
mais próximo à mistura S+RCD do que da S+PET.
Há que se considerar também que os teores de
adição influenciaram neste resultado, pois
adicionou-se 1% de PET e 15% de RCD em relação
à massa seca de solo.
Os valores das resistência à compressão uniaxial
Figura 5: Curva granulométrica do solo analisado não confinada para as amostras desta pesquisa são
Fonte: Broering & Silva (2018)
apresentados na Tabela 1. A seguir na Figura 06 são
mostradas as curvas tensão de compressão x
deformação axial das misturas do trabalho sem

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adição de fibras: constam na Tabela 1. Comparando-se a resistência a
tração de S com S+RCD verificou-se uma queda na
de 20%, ou seja, a incorporação das partículas
menores que 0,42mm de RCD não provocam
ganhos da resistência à tração da mistura.
Os teores S+PET e S+PET+RCD mostram
valores resistência à tração superiores a S, na ordem
de 80% e 180% respectivamente. Sendo que, dentre
os teores analisados a composição S+PET+RCD foi
a que apresentou valores mais elevados de
resistência à tração. Este resultado está relacionado
à forma como a fibra interage com as partículas de
solo que, assim, como na análise realizada para
resistência à compressão simples, provoca um
Figura 06: Curvas do ensaios de resistência à compressão
entrelaçamento nos grãos distribuindo as tensões no
uniaxial sem fibra
solo e tendo como consequência um aumento no
Para S, verificou-se um comportamento, valor de qt.
mostrado na curva da Figura 6, onde há um valor de Da mesma forma que na moldagem dos CPs para
pico como tensão máxima de compressão de 0,088 compressão direta realizou-se o controle de
MPa. A mistura S+RCD também apresenta pico de qualidade da densidade daqueles moldados e
ruptura, com uma tensão de compressão média de submetidos ao ensaio de tração e, a variabilidade
0,091 MPa. máxima entre os CPs também foi de 6%.
Nas curvas da mistura S+PET não pode ser Nos ensaios de permeabilidade definiram-se para
observado um pico, ou seja, não se tem um ponto de as misturas deste trabalho as cargas hidráulicas
ruptura máxima, os CP’s se deformam de forma iniciais, h1 = 119,5 cm, e a final, h2 = 59 cm. Para a
constante sem que haja um rompimento (Figura 07). amostra de S+PET e S+RCD, preferiu-se delimitar o
Para estes tipo de comportamento adotou-se a tensão tempo de ensaio, sendo 40 minutos e 1 hora
máxima como sendo a equivalente a 10% de respectivamente. Mediu-se o diâmetro interno da
deformação. O valor de tensão de máxima de bureta utilizada, sendo igual a 2,9 cm. Para cada
compressão média é de 0,150 MPa. corpo de prova fez-se 3 medições, obtendo assim o
volume e a variação de tempo para determinação da
condutividade hidráulica conforme a Tabela 1.
Os resultados indicaram um comportamento
drenante nas misturas de S+PET e S. Os valores de
permeabilidade 10-3 indicam comportamento similar
a areias finas. Enquanto, os coeficientes de
permeabilidade das amostras S+RCD e
S+PET+RCD atingiram valores de 10-6,
mostrando-se misturas mais impermeáveis com o
comportamento hidráulico de percolação similar às
argilas siltosas. Estes valores podem ser analisados
também sob a ótica da redução dos vazios (e) e
assim compreende-se que há maior dificuldade para
o fluido circular nas misturas mais impermeáveis,
Figura 07: Curvas do ensaios de resistência das misturas cujos valores de e também são menores.
com fibra PET
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para S+PET+RCD também não se pôde observar
o pico de ruptura e a média da tensão de compressão Nos parâmetros de compactação a adição de RCD
resultou em 0,365 MPa (Figura 07). provocou uma diminuição dos vazios e um aumento
Vale salientar que se realizou um controle de na ɣsmáx da mistura, tornando-a mais densa,
qualidade dos corpos de prova moldados, enquanto a adição de fibra PET provocou um
comparando-se a densidade de cada um deles à aumento na umidade ótima e diminuição na massa
densidade média dos corpos de prova, e estes específica aparente seca da mistura, tornando-a mais
apresentaram uma variabilidade máxima de 6%. leve. considera-se portanto que a adição de um
A resistência à tração indireta das misturas material mais leve (PET) influencia na densidade da

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mistura tornando-a mais leve. Para a mistura de de caracterização. Brasil. 2016
S+PET+RCD houve uma queda na hot e um ________ NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos na
aumento ɣsmáx tornando-a mais densa. peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da massa
Todas as misturas mostraram ganho em termos específica, da massa específica aparente e da
absorção de água. Brasil. 2016.
de resistência à compressão uniaxial, sendo que o
________NBR 6459: Solo – Determinação do limite de
maior ganho ocorreu para S+PET+RCD ficando liquidez. Brasil. 2016.
3,15 vezes maior do que S. ________ NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
Em relação à resistência à tração, a mistura plasticidade. Brasil. 2016.
S+PET+RCD apresentou o maior valor ficando 1,8 ________ NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
vezes maior que S, enquanto S+PET apresentou um Brasil. 2016.
resultado 0,8 vezes maior que S. Tornando-se assim ________ NBR 7222: Concreto e argamassa –
uma boa opção em relação a compressão, pois é um Determinação da resistência à tração por compressão
material com deformação constante e sem ruptura diametral de corpos de prova cilíndricos. Brasil. 2011.
abrupta, apesar da carga aplicada. Ou seja, as ________ NBR 12770: Solo – Determinação da
resistência a compressão não confinada de solo
misturas com adição de PET mostram aumento na
coesivo. Brasil. 2022.
resistência à tração. A mistura S+RCD apresentou ________ NBR 14545: Solo – Determinação do
uma resistência à tração menor que S, não coeficiente de permeabilidade de solos argilosos à
mostrando vantagem na sua aplicação para este solo, carga variável. Brasil. 2021.
nos parâmetros analisados. Salienta-se também que ________NBR 15849: Resíduos sólidos urbanos – aterros
o RCD é um material passível de quebra quando sanitários de pequeno porte – diretrizes para
solicitado mecanicamente, porém, utilizou-se localização, projeto, implantação, operação e
partículas de tamanho inferior a 0,42mm para encerramento. Brasil. 2010.
minimizar este efeito. Contudo, ainda assim, é BROERING, Wellington B; SILVA, Patrícia O.
possível que este fator tenha contribuído para uma Caracterização geotécnica e dimensionamento de
pavimentos semirrígidos em solos residuais de
menor resistência da mistura S+RCD.
Biguaçu/SC. 2018. Dissertação (Engenharia Civil) –
O valor do coeficiente de permeabilidade das Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
misturas com RCD mostraram-se menores que as 2018.
demais ficando na ordem de 10-6, as quais possuem CÂNDIDO, Felipe L; et al. Avaliação de blocos de
também menor valor de e. Esta ordem de coeficiente concreto produzidos com PET reciclado. 2014. XV
de permeabilidade permite que as misturas possam Encontro nacional de tecnologia do ambiente
ser aplicadas em algumas áreas da geotecnia. Como construído (ENTAC), Maceió – AL, 2014.
exemplo, pode-se citar a mistura S+RCD que, sob a CANELLAS, Susan S; D’ABREU, José C. Reciclagem
ótica da NBR 15849:2010, apresentou o coeficiente de PET, visando a substituição de agregado miúdo em
de condutibilidade hidráulica adequado para que argamassas. 2005. XXI ENTMME, Natal – RN,
2005.
este material seja utilizado como camada
CONAMA. Resolução 307 de de 5 de julho de 2002:
impermeabilizante de aterro de pequeno porte. Estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para
gestão dos resíduos da construção civil, disciplinando
AGRADECIMENTOS as ações necessárias de forma a minimizar os
impactos ambientais. Disponível em:
Os autores deste artigo agradecem a Cordoaria https://www.ibama.gov.br/component/legislacao/?vie
Brasil que gentilmente cedeu as fibras utilizadas na w=legislacao&legislacao=108894#:~:text=No%20pra
pesquisa. Agradecem também aos servidores do zo%20m%C3%A1ximo%20de%20dezoito,2%20de%
IFSC Campus Florianópolis, em especial àqueles do 20janeiro%20de%202003. Acessado em 23/03/2023.
LSTM (Laboratório de Solos e Tecnologia dos COSTA, Lívia I; et al. Efeito da adição do politereftalato
de etileno (PET) e cal no comportamento mecânico de
Materiais) pelo auxílio concedido.
um solo areno-argiloso para aplicação em rodovia.
2019. Jornada de educação, ciência e tecnologia 2019,
Instituto Federal do Ceará.
REFERÊNCIAS IPEA. Diagnóstico dos resíduos sólidos da construção
civil. 2021.
ABIPLAST. Perfil 2020, a indústria de transformação e NICHELE, C. D. Adição de Fibras de Polímero de
reciclagem de plástico no Brasil. 2020. Disponível Polietileno Tereftalato a um Solo Silte Argiloso com
em: Vistas à Melhoria de Suas Propriedades Físicas e
http://www.abiplast.org.br/publicacoes/perfil-2020/, Mecânicas. Trabalho de Conclusão de Curso.
acessado em 28/07/2022. Bacharelado em Engenharia Civil do IFSC. 2020.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS PESSANHA, Victor H M.; MARTINS C. P.;
TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo – RODRIGUEZ T. T.; Caracterização e compactação
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594
TEMA 7: TRANSPORTE DE CONTAMINANTES E
MODELAGEM FÍSICA E NUMÉRICA EM GEOTECNIA
AMBIENTAL

595
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Análise do Comportamento Expansivo de Liners de Solo-Bentonita


em Aterro Sanitário com Uso do Planejamento Fatorial
Vitor Braga de Azevedo
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB, Brasil, vitorba.eng@gmail.com

Alisson do Nascimento Lima


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB, Brasil, alissonnascimentolim@gmail.com

Thiago Fernandes da Silva


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB, Brasil, engthiagofernandes1989@gmail.com

Daniela Lima Machado da Silva


Universidade Federal do Ceará, Russas-CE, Brasil, danielalms@ufc.br

Veruschka Escarião Dessoles Monteiro


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB, Brasil, veruschkamonteiro@hotmail.com

RESUMO: As camadas de base (liners) de solo compactado em aterros sanitários são essenciais para proteger o subsolo
de contaminação de lixiviado. Muitas vezes, os solos da região não conseguem uma permeabilidade adequada para
promover tal proteção. Então, alguns materiais podem ser adicionados nesse solo da região para reduzir essa
permeabilidade. Porém, incrementos excessivos podem ocasionar expansão descontrolada dessa camada e,
consequentemente, possibilitando aumentar sua permeabilidade. Para isso, é essencial estudar o comportamento
expansivo dessas camadas. Este trabalho tem como objetivo verificar o comportamento da expansão em camadas de base
de Aterro Sanitário com uso do planejamento fatorial. Para tal, os solos e suas respectivas misturas foram caracterizadas.
Essas misturas foram definidas com uso desse planejamento, variando teores de bentonita, umidade de moldagem e massa
específica do solo. As respostas do planejamento são os respectivos coeficientes de expansão livre para cada camada
experimental. Os dados foram modelados e analisados com uso de parâmetros estatísticos. Foram obtidas as superfícies
de resposta e uma equação para modelar o comportamento expansivo do solo. Percebeu-se que, com incremento de
bentonita na mistura, o solo local passou de uma areia siltosa para uma areia argilosa. Foi possível verificar zonas em que
a expansão do solo teria seus fatores controlados para minimizar danos à camada por expansividade excessiva. Com isso,
é possível garantir segurança ambiental e promover a seleção de novas jazidas adequadas para uso em Aterros Sanitários.

PALAVRAS-CHAVE: camada de base, expansão, planejamento fatorial.

ABSTRACT: Compacted Clay Liners in landfills are essential to protect the subsoil from leachate contamination. Often,
the soils in the region do not achieve adequate permeability to promote such protection. So, some materials can be added
to the soil in the region to reduce this permeability. However, excessive increments can cause uncontrolled expansion of
this liner and, consequently, increase its permeability. For this, it is essential to study the expansive behavior of these
layers. The objective of this work is to verify the behavior of expansion in base layers of Landfill using factorial planning.
For this, the soils and their respective mixtures were characterized. These mixtures were defined using this planning,
varying bentonite contents, molding moisture and specific mass of the soil. The design responses are the respective free
expansion coefficients for each experimental layer. Data were modeled and analyzed using statistical parameters.
Response surfaces and an equation to model soil expansive behavior were obtained. It was noticed that, with an increase
of bentonite in the mixture, the local soil changed from a silty sand to a clayey sand. It was possible to verify zones where
soil expansion would have its factors controlled to minimize damage to the layer due to excessive expansivity. With this,
it is possible to guarantee environmental safety and promote the selection of new deposits suitable for use in Sanitary
Landfills.

KEY WORDS: compacted clay liners, expansion, factorial design.

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596
1 INTRODUÇÃO Além do mais, segundo Abbey et al. (2020), o teor
de bentonita adicionado às misturas tem papel
As camadas de argila compactada (Compacted Clay fundamental no mecanismo de expansão. O aumento
Liners - CCL) de aterros sanitários têm como função excessivo desse teor em misturas de solos pode gerar
principal impermeabilizar as células sanitárias e elevação nos níveis de expansão, associados à
prevenir a infiltração de lixiviado para o subsolo. presença de uma maior quantidade de argilominerais,
Essas camadas são utilizadas em locais com grande como a montmorilonita. Desta forma, estudos que
disponibilidade de jazidas de solos que atendam às buscam simular modelos preditivos dos níveis de
características técnicas para impermeabilização da expansão dessas camadas de solo compactado têm
área. Neste sentido, em muitos locais, torna-se sido escassos, sobretudo, levando-se em
frequente o uso de misturas de solo local e materiais consideração uma aceitável confiabilidade estatística
alternativos, como a bentonita, promovendo reduções dos resultados.
do coeficiente de permeabilidade dessas camadas. O Portanto, esse estudo tem como objetivo verificar
incremento de bentonita aumenta o percentual de o comportamento da expansão em camadas de base de
finos e permite um melhor arranjo entre as partículas, Aterro Sanitário com uso do planejamento fatorial de
reduzindo a porosidade e, consequentemente, experimentos. Tal conhecimento se torna útil em
aumentando a capacidade de retenção de líquidos no virtude da possibilidade de auxiliar no entendimento
solo (Ojuri & Oluwatuyi, 2017; Silva, 2017). do comportamento expansivo dessa camada e,
Estudos de Karakan & Demir (2020) e Jin et al. consequentemente, no seu dimensionamento,
(2021) confirmam que misturas solo-bentonita reduzindo a possibilidade de eventuais acidentes
podem desenvolver comportamentos expansivos, ambientais pela infiltração de lixiviado para o
levando à redução da permeabilidade à água e ao subsolo.
aumento dos índices de plasticidade em relação ao
solo puro. No entanto, incrementos excessivos desse
solo bentonítico podem afetar, de forma significativa, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
as características expansivas da mistura, podendo
surgir instabilidade volumétricas à umidade e tensões 2.1 Coleta e caracterização geotécnica dos solos
de expansão consideráveis (Fattah et al., 2017). Esse
comportamento pode trazer problemas, como trincas Os solos descritos neste trabalho são utilizados nas
e rachaduras em ciclos de umedecimento e secagem camadas de base do Aterro Sanitário em Campina
nessa camada de solo, possibilitando a formação de Grande (ASCG) no Estado da Paraíba. O solo
caminhos preferenciais de fluxo e reduzindo suas encontrado próximo ao ASCG não possui
características de impermeabilização (Abbey et al., caracteristicas adequadas para ser adotado
2020; Baldev et al., 2020; Yin et al., 2021). diretamente como camada de base, devido a sua não-
Gupt et al. (2021) afirma que, para se superar a plasticidade e alta permeabilidade (Silva et al., 2022),
possibilidade de falha da camada, as misturas de Por isso, a camada é executada a partir da
solo-bentonita devem garantir estabilidade estrutural. compactação de uma mistura de solo local e
Quando se trata do comportamento expansivo da bentonita, na qual, 20% do volume final é composto
camada, algumas variáveis geotécnicas podem por bentonita A bentonita é proveniente do município
apresentar maior influência. A primeira variável, de Boa Vista - Paraíba.
citada por Amadi & Eberemu (2012), é a massa Os materiais foram coletados, secos ao ar livre,
específica seca mínima, que é muito utilizada na destorroados e homogeneizados, conforme
prática como garantia da estabilidade da camada, recomendações da NBR 6457 (ABNT, 2016a).
para fatores que controlam o desempenho de Foram determinadas a massa específica dos grãos de
revestimentos de solo compactado. A umidade inicial solo (ABNT, 2016b), limite de liquidez (ABNT,
ou umidade de compactação, segundo Yin et al. 2016c) e limite de plasticidade (ABNT, 2016d),
(2021), exerce influência significativa nas análise granulométrica (ABNT, 2016e) e
deformações de expansão de bentonitas. Segundo compactação Proctor Normal (ABNT, 2016f) para
estes autores, a bentonita com menor umidade inicial, cada solo individualmente e cada mistura estudada.
pode absorver mais água e, portanto, desenvolver Com os dados de caracterização, os materiais serão
maiores expansões. Enquanto que, em amostras com classificados pelo Sistema Unificado de
maior umidade inicial, tem-se uma maior quantidade Classificação dos Solos (SUCS).
de argilominerais já hidratados, portanto,
desenvolvem uma expansão em menor grau. Além 2.2 Planejamento experimental de modelagem da
disso, a umidade de compactação também apresenta expansão em camadas de solo compactado
papel fundamental em delinear a estrutura do solo.

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597
Para definir o comportamento expansivo das misturas
dos solos, foi realizado um planejamento dos 𝑛 = 2𝑘 + 𝑃𝑐 (1)
experimentos fatorial do tipo Delineamento
Composto Central (DCC), que teve como variável Onde: n é o número de ensaios do planejamento, k é
dependente a expansão livre da camada de solo a quantidade de fatores definidos e Pc é a quantidade
compactado. As variáveis independentes de pontos centrais.
(controláveis) foram: teor de bentonita na mistura
(B), umidade de compactação da amostra (w) e massa 2.3 Comportamento da expansão
específica aparente seca (ρs), apresentando, assim, 3
fatores e 3 níveis (inferior, central e superior), Os ensaios de expansão foram realizados conforme
conforme mostrados na Tabela 1. as recomendações da D4546 (ASTM, 2021). As
misturas de solo ensaiadas foram preparadas
Tabela 1 – Definição dos fatores e níveis estudados. passando o solo na peneira de abertura 2 mm, para
Níveis que as maiores partículas presentes na amostra sejam,
Fatores
-1 0 +1 pelo menos, 6 vezes menores que a altura do molde.
Teor de Posteriormente, foram moldados corpos de prova,
5 15 25
bentonita (%)
com compactação estática e formato cilíndrico de
Umidade de
Compactação w-5 w w+5 dimensões 2,52 cm de altura e 11,40 cm de diâmetro.
(%) A compactação foi realizada de forma estática,
Massa realizada em duas camadas, sendo a primeira
específica escarificada para posterior execução da segunda. Os
0,9 x 𝜌𝑑 0,95 x 𝜌𝑑 𝜌𝑑
aparente seca corpos de prova foram inseridos na prensa de
(g/cm³) compressão edométrica automatizada (Figura 1) e
submetidos a carga de 1 kPa para assentamento do
A fim de replicar as condições de campo, todas as sistema e após 5 min foi realizada a inundação das
misturas de solo-bentonita foram feitas sob a razão de amostras, que foi permitida expandir unilateralmente
volume de bentonita/volume final da mistura. O sob tensão de 1 kPa.
limite superior (+1) para o teor de bentonita foi
definido com base na quantidade utilizada em campo
(20%) acrescido 5%, totalizando 25%, para
contemplar possíveis áreas com má homogeneização
dos solos e inferências acerca de valores superiores
ao limite estabelecido na execução. O limite inferior
(-1) foi definido como 5%, para abranger uma faixa
de possível utilização em aterros sanitários, conforme
pesquisas de Mahler e Huse (2015), sendo o ponto
central (0) a média dos limites inferior e superior.
Para a umidade de compactação e a massa específica
aparente seca, é necessário padroniza-las para todas
as misturas de solos (Silva, 2017). Assim, o ponto
central foi definido como sendo a umidade ótima da
mistura com 15% de bentonita (mistura
intermediária) e para os limites superiores e
inferiores variou-se esse parâmetro em ± 5%. Os
limites para a massa específica aparente seca foram
definidos para verificar o impacto que uma Figura 1 – Prensa de compressão edométrica automatizada
compactação insuficiente pode gerar no
comportamento expansivo, portanto, adotou-se como Essa prensa edométrica realiza aquisição de dados
limites 90% e 100% do ρd (da mistura com 15% de da altura do corpo de prova em intervalos de 10
bentonita), e o ponto central como sendo a média segundos. As leituras foram finalizadas após 24 horas
desses. ininterruptas. O parâmetro expansão livre foi obtido
Devido ao tipo de delineamento experimental, foi a partir da deformação (em porcentagem) sofrida pela
utilizada a Equação 1, que juntamente com a adoção amostra durante o ensaio, conforme a Equação 2.
de repetibilidade dos pontos centrais em triplicata,
totalizou-se 11 ensaios a serem realizados. Então ∆𝐻
ε𝑙 = ∗ 100 (2)
pode-se definir a matriz de ensaios 𝐻𝑖

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598
acordo com a SUCS como sendo uma argila
Onde: εl é a expansão livre, ∆H é a variação de inorgânica de alta plasticidade (CH).
altura do corpo de prova e Hi é a altura inicial.
3.2 Caracterização de misturas de Solo Local-
2.4 Análise Estatística Bentonita

Com os resultados dos ensaios realizados com uso do A Tabela 2 apresenta os limites de Atterberg obtidos
planejamento fatorial, foi possível obter uma equação para as misturas solo-bentonita, bem como, seus
linear múltipla para o modelo de expansão. Os valores de massa específica dos grãos e classificação
resultados serão demonstrados por meio de pelo SUCS. Foi observado nas misturas estudadas
superfícies de respostas e pela equação geral do que o incremento de bentonita aumenta
modelo expansivo. Foi avaliada a significância das discretamente o índice de plasticidade. Nos estudos
variáveis de entrada do modelo por meio do gráfico de Karakan e Demir (2020) e Srikanth e Mishra
de Pareto e o modelo obtido foi analisado quanto a (2016), que trabalharam com misturas de areia-
qualidade de seu ajuste, por meio do coeficiente de bentonita, o incremento de bentonita elevou os
determinação – R² (Equação 3) e a raiz do erro limites de consistência de forma linear, porém, com
quadrático médio – RMSE (Equação 4). variações mais expressivas, com acréscimos de cerca
de 20% no LL, para condições semelhantes ao do
2
∑𝑛𝑖=1(𝑂𝑖 − 𝑃𝑖 ) presente trabalho. Aspecto que aqui pode ser
𝑅 =1− 𝑛 (3) explicado devido a bentonita ter menor pureza e
∑𝑖=1(𝑂𝑖 − 𝑃̅𝑖 )2
tratar-se de uma bentonita cálcica.
∑𝑛 (𝑂𝑖 − 𝑃𝑖 )2 Tabela 2 – Caracterização de misturas solo local-bentonita
𝑅𝐸𝑄𝑀 = √ 𝑖=1 (4) utilizados em camadas de base de Aterro Sanitário
𝑛
Solo Mistura Mistura Mistura
local 5% 15% 25%
Onde: n é o número de variáveis, Pi é a variável Limite de
18 22 26 28
estimada pelo modelo, Oi é a variável observada Liquidez (%)
̅𝑖 é a média da variável Limite de
experimentalmente e 𝑃 Plasticidade (%)
NP 18 19 20
estimada. Índice de
- 4 7 8
Plasticidade (%)
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Massa
específica dos 2,67 2,76 2,75 2,74
3.1 Caracterização do Solo local e da Bentonita grãos (g/cm3)
Classificação
SM SM SC SC
O solo local utilizado na mistura para camada de base SUCS
foi, conforme a Tabela 2, classificado como uma
areia siltosa (SM), e com característica de material Apesar da variação nos limites de consistência do
não-plástico. As características granulométricas, solo serem discretos, percebeu-se que houve uma
Tabela 1, e demais ensaios de caracterização mudança na classificação do solo a partir do
geotécnica, Tabela 2, corroboram com observado por percentual de 15% de acréscimo de bentonita. Como
Silva et al. (2022) que avalia que solo local do ASCG pode ser visto na Tabela 3, isso se deve ao fato de que
não possui caracteristicas adequadas para ser o incremento de bentonita elevou consideravelmente
utilizado diretamente como camada de base, devido a as porcentagens de material fino na mistura,
seu caráter arenoso. sobretudo areia fina, silte e argila.
A bentonita utilizada na mistura para camada de A Figura 2 mostra as curvas de compactação
base apresentou Limite de liquidez de 178%, limite obtidas para as misturas de solo local-bentonita. As
de plasticidade de 60% e, portanto, um índice de umidades ótimas das curvas de compactação
plasticidade de 118%. Neste sentido, Mitchell e Soga correspondem a 11,9, 14,2 e 16,6% para os
(2005) sugerem uma alta presença do argilomineral acréscimos de 5, 15 e 25% de bentonita,
montmorilonita para solos com LL variando de 100% respectivamente. Percebe-se que, conforme se
a 900% e LP variando de 50% a 100%. A massa aumenta o teor de bentonita, as curvas são deslocadas
específica dos grãos para esta mesma bentonita foi para baixo e para a direita, implicando em menor a
obtida por Silva et al. (2022), que corresponde ao massa específica seca máxima e maior a umidade
valor de 3,05 g/cm³. Este solo foi classificada de ótima. Srikanth e Mishra (2016), Baldev et al. (2020)
e e Varaprasad et al. (2020) observaram esse

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599
comportamento para as misturas areia-bentonita, pois (1973), percebe-se que as misturas podem atingir um
verificaram que, conforme se aumenta o teor de finos, grau de expansividade muito alto.
maior é a superfície específica do solo. A partir da Figura 3 percebe-se que a umidade da
mistura, o teor de bentonita e as interações entre o
Tabela 3 – Distribuição granulométricas das misturas solo teor de bentonita com a umidade e com a massa
local-bentonita específica aparente seca apresentaram influência
Fração significativa na obtenção do modelo de expansão
Solo Mistur Mistur Mistur
Granulomét livre. Essas variáveis são importantes para explicar
Puro a 5% a 15% a 25%
rica matematicamente e estatisticamente a obtenção do
Pedregulho 6,74% 14,49% 7,45% 6,87%
modelo de regressão múltipla de expansão. Por outro
Areia Grossa 8,26% 8,48% 5,55% 4,13%
Areia Média 25,00% 20,03% 22,0% 19,00% lado, os parâmetros massa específica aparente seca e
Areia Fina 31,89% 30,79% 35,00% 36,50% a interação entre a massa específica aparente seca e a
Silte 15,96% 12,41% 12,46% 10,67% umidade não exercem influência significativa na
Argila 12,15% 13,80% 17,54% 22,8% geração do modelo.

2,00 Mistura 5%
1,95 Mistura 15%
1,90 Mistura 25%
1,85
1,80
ρd

1,75
1,70
1,65
1,60 Figura 3 – Gráfico de Pareto utilizado para verificação da
6 8
10 12 14 16 18 20 influência das variáveis do modelo
Umidade (%)
Figura 2 – Curvas de compactação para misturas de solo Em análise complementar, verifica-se na Figura 3
local-bentonita. que o teor de bentonita e a massa específica aparente
seca exerceram efeito positivo na expansão livre das
3.3 Comportamento da expansão misturas solo-bentonita, ou seja, quando aumentados
os valores desses parâmetros, tende-se a aumentar a
Em função do planejamento fatorial adotado, os expansão do solo. Enquanto isso, a umidade de
resultados dos ensaios de expansão livre das misturas moldagem das misturas exerce efeito negativo no
solo local-bentonita são apresentados na Tabela 4. Os processo expansivo.
valores obtidos para expansão livre variam de -0,06% O efeito corroborativo que a adição de bentonita
a 27,13%. exerce sobre a expansão livre de misturas de solos
observado, também é mencionado por Abbey, Eyo e
Ensaios B (%) U (%) ρd E (%) Ng’ambi (2020), que trabalharam com misturas de
(g/cm3) argila-bentonita com teores de 0% a 75% de
1 5 9,17 1,68 8,65 bentonita e a expansão livre variou de 12% a 39%.
2 5 19,17 1,68 1,13 Assim como Amadi (2013) observou que, para
3 25 9,17 1,68 16,62 misturas de argila-bentonita, uma alteração do teor de
4 25 19,17 1,68 5,55 bentonita de 0% para 10% a expansão livre varia de
5 5 9,17 1,87 4,86
17% para 31%.
6 5 19,17 1,87 -0,06
7 25 9,17 1,87 27,13 A redução da expansão livre dado o aumento da
8 25 19,17 1,87 5,78 umidade inicial, também é relatada por Widomski et
9 15 14,17 1,78 3,54 al. (2018), que relaciona este comportamento a baixa
10 15 14,17 1,78 4,57 plasticidade e ao teor de argila expansiva no material,
11 15 14,17 1,78 5,93 mas indicando que este material pode sofrer retração,
Legenda: B = Teor de Bentonita, U = Umidade de Compactação, configurando fissuras e caminhos preferenciais em
ρd = Massa Específica Aparente Seca, E = Expansão Livre. liners. Yin et al., (2021) obtiveram para uma argila
De acordo com os parâmetros estabelecidos por bentonítica, que, conforme se eleva a umidade inicial
Seed et al. (1962) e por Vijayvergiya & Ghazzaly de 126% a 300%, ocorre uma redução expressiva da
expansão livre da amostra, de 43% para 6%. Esse

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600
comportamento era esperado, pois, o processo de ser menor, pois uma parte dos argilominerais
expansão depende da hidratação dos argilominerais. adicionados já estavam hidratados no momento
Então, quando se aumenta a umidade inicial, a inicial.
expansão desenvolvida pela amostra tende a ser
menor, pois uma parte dos argilominerais
adicionados já estavam hidratados.
O efeito aumentativo da massa específica aparente
seca da mistura de solos sobre a expansão livre, no
presente estudo não se mostrou estatisticamente
significativo, frente às outras variáveis.
Comportamento oposto ao estudado por Tenório
(2019), que trabalhou com um solo expansivo de
Pernambuco. No entanto destas análises, conclui-se
que os efeitos dos três parâmetros estudados estão em
conformidade com as observações feitas na literatura
para misturas solo-bentonita e solos expansivos em
geral (RAO et al., 2004; TENÓRIO, 2019; ABBEY,
EYO, NG’AMBI, 2020; YIN et al., 2021; DĄBSKA,
LÉTHEL, 2021).
A Figura 4 mostra graficamente os valores
Figura 5 – Superfície de resposta do teor de bentonita x
observados experimentalmente e os valores previstos
umidade de compactação na obtenção da expansão da
pelo modelo para o parâmetro expansão livre. camada de solo compactado.
Observa-se uma boa concordância entre os valores,
estando os dados experimentais muito próximos da A Figura 6 mostra que o aumento na massa
linha de modelagem. Quanto maior a dispersão dos específica aparente seca eleva a influência que o teor
dados em relação a linha de referência, menos de bentonita exerce sobre a expansão livre. Uma
preditivo é o modelo estatístico. possível explicação para esse comportamento é que,
maiores valores de ρd implicam em menor índice de
vazios, aumentando a quantidade de sólidos
(argilominerais), em um mesmo volume.

Figura 4 – Valores observados versus valores preditos pelo


modelo para a expansão livre

Como se utilizou 3 fatores no planejamento


experimental, foram geradas 3 superfícies respostas
do modelo. Com isso, a Figura 5, 6 e 7 contemplam Figura 6 – Superfície de resposta da massa específica
as combinações das superfícies de respostas em pares aparente seca x teor de bentonita na obtenção da expansão
das variáveis estudadas. da camada de solo compactado.
Com base na Figura 5, pode-se observar que,
quanto maior a umidade inicial, menos influência o A partir da Figura 7, visualiza-se sobre a expansão
incremento de bentonita exerce sobre a expansão livre que, existe um aumento da influência da massa
livre. Esse comportamento já era esperado, pois, o específica, conforme se reduz a umidade da amostra.
processo de expansão depende da hidratação dos Uma possível explicação para esse comportamento é
argilominerais. Então, quando se aumenta a umidade que, a redução da umidade inicial da amostra
inicial, a expansão desenvolvida pela amostra tende a aumenta a capacidade expansiva total sofrido pelos

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601
argilominerais, quando inundados. Então, quanto Portanto, diante do exposto, a modelagem foi
maior a massa específica da amostra, mais próximas considerada satisfatória, para o material e condições
as partículas estarão e maior será as tensões internas de estudo delimitadas, podendo ainda este ser
que causaram a expansão da amostra. aplicado para previsão de comportamento expansivo
de misturas solo-bentonita com características
similares.

4 CONCLUSÃO

Os solos incrementados com bentonita, utilizados na


confecção das camadas de base, se mostraram viáveis
do ponto de vista do comportamento geotécnico. A
partir dessa viabilidade, foi possível proceder com
ensaios de expansão, seguindo um planejamento de
experimentos. Esse planejamento, com uso de
delineamento fatorial, reduziu a quantidade de
ensaios necessários para modelar o comportamento
expansivo das camadas de solo, apresentando
confiabilidade estatística de 95%. Com isso, obteve-
se um modelo, com uso de regressão linear múltipla,
Figura 7 – Superfície de resposta da umidade de para predizer o comportamento da expansão desses
compactação x massa específica aparente seca na obtenção solos utilizados em aterros sanitários e possibilitando
da expansão da camada de solo compactado.
a verificação antecipada de possíveis expansões
excessivas nessas camadas, garantindo segurança
Na análise de acurácia do modelo obtido, os
ambiental na confecção de CCL em aterros
valores de R² e REQM foram 0,90 e 2,49%,
sanitários. Neste estudo, buscou-se adaptar as
respectivamente. Desta forma é comprovada a
condições de campo nas análises laboratoriais e no
significância e repetibilidade do modelo, para o nível
planejamento dos experimentos. Apesar dos
de significância adotado de 5%, assim como para
resultados positivos verificados para a mistura solo-
valores de entrada dentro dos intervalos considerados
bentonita utilizada em camadas de base, este estudo
neste estudo. O valor de R² demonstra que
apresenta limitações no sentido de que o solo local
aproximadamente 90% do processo de expansão do
tem quantidade significativa de grãos grossos,
solo compactado utilizado na camada de base em
possibilitando uma investigação maior acerca de
estudo consegue ser explicado pelo modelo obtido.
jazidas com características melhores do ponto de
No parâmetro REQM, que expressa a variabilidade
vista impermeabilizante.
dos dados com relação à média, os resultados
oriundos do modelo podem apresentar um desvio da
ordem 2,49% da expansão livre observada.
AGRADECIMENTOS
O uso do planejamento fatorial forneceu uma a
Equação 5, que representa o modelo de expansão
Ao Grupo de Geotecnia Ambiental da Universidade
livre para diversas combinações das variáveis
Federal de Campina Grande (UFCG).
independentes, em misturas de solo-bentonita, dentro
dos níveis das variáveis estudadas.
REFERÊNCIAS
𝐸 = −4,08 − 2,52 × 𝐵 + 3,28 × 𝑈 + 5,27 × 𝛾𝑑 −
0,05 × 𝐵 × 𝑈 + 2,10 × 𝛾𝑑 × 𝐵 − 2,05 × 𝛾𝑑 × 𝑈 (5) ABBEY, S. J.; EYO, Eyo Umo; NG’AMBI, Samson.
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significantes a umidade inicial e a atividade da argila, p. 2119-2130, 2020.
que se relaciona diretamente com a quantidade e AMADI, A. A. Swelling characteristics of compacted
qualidade dos finos. Seu modelo apresentou R² de lateritic soil–bentonite mixtures subjected to municipal
0,995 e foram observadas expansões entre 2% e 12%, waste leachate contamination. Environmental earth
semelhante ao comportamento verificado no modelo sciences, v. 70, n. 6, p. 2437-2442, 2013.
obtido para este estudo. AMADI, A. A.; EBEREMU, A. O. Delineation of
compaction criteria for acceptable hydraulic
conductivity of lateritic soil-bentonite mixtures

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


602
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603
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Aplicação de Modelos Constitutivos na Solução Analítica do


Adensamento a Grandes Deformações
Matheus Marques Martins
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mmarquesmartins@hotmail.com

Jaqueline Costa de Souza


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, jaquelinecosta.eng@hotmail.com

Moisés Antônio da Costa Lemos


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, moisesaclemos@gmail.com

André Luís Brasil Cavalcante


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, abrasil@unb.br

Marta Pereira da Luz


Eletrobras Furnas, Aparecida de Goiânia, Brasil, martaluz@furnas.com.br
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, marta.eng@pucgoias.edu.br

RESUMO: O aporte de sedimentos reduz gradualmente o volume útil dos reservatórios de água. No longo prazo, o
adensamento a grandes deformações rege o comportamento dos sedimentos depositados. Dada a importância dos
reservatórios de água dentro da matriz energética brasileira, o adensamento a grandes deformações é um fenômeno ainda
pouco estudado com o intuito de quantificar a perda de volume útil. A teoria do adensamento de Gibson incorpora o efeito
da variação do índice de vazios, sendo aplicável a solos finos e altamente compressíveis em condição saturada. Como o
modelo de Gibson requer o uso de modelos constitutivos relacionando o índice de vazios com a condutividade hidráulica
saturada e com a tensão efetiva vertical, os modelos constitutivos Single Power Function e Extended Power Function
foram testados com parâmetros experimentais encontrados na literatura. A solução analítica do modelo de Gibson também
foi empregada para simular a evolução temporal do índice de vazios, da permeabilidade e da tensão efetiva vertical. Os
resultados demonstraram como a permeabilidade é reduzida quando o índice de vazios diminui e como a tensão efetiva
vertical aplicada deve ser aumentada à medida que o índice de vazios é reduzido. Foi verificado que o processo de
adensamento de argilas fosfáticas ocorre na escala de dias, enquanto nos siltes argilosos ocorre na escala de horas.

PALAVRAS-CHAVE: Adensamento a grandes deformações, Modelo de Gibson, Reservatórios de água, Solução


analítica, Modelos constitutivos.

ABSTRACT: Sediment transport gradually reduces the storage capacity of water reservoirs. In the long term, large strain
consolidation controls the behavior of sediment deposits. Given the importance of water reservoirs on the Brazilian energy
matrix, large strain consolidation is a phenomenon that has been little studied with the aim of quantifying the loss of
usable volume stored. Gibson’s theory of consolidation incorporates the effect of variation of the void ratio and is
applicable to fine-grained highly compressible soils under saturated conditions. Since Gibson’s model requires the use of
constitutive models representing the relationship between void ratio and saturated hydraulic conductivity, and the
relationship between void ratio and vertical effective stress, the constitutive models Single Power Function and Extended
Power Function were tested with experimental data found in the literature. The analytical solution of Gibson’s model was
also employed to simulate the evolution with time of the void ratio, permeability and vertical effective stress. The results
demonstrated how permeability is reduced as void ratio decreases and how vertical effective stress under loading should
be increased as void ratio is reduced. It was found that the consolidation process of phosphatic clays occurs on a scale of
days, while in clayey silts it occurs on a scale of hours.

KEY WORDS: Large strain consolidation, Gibson’s model, Water reservoirs, Analytical solution, Constitutive models.

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604
1 INTRODUÇÃO 2 MATERIAL E MÉTODOS

Reservatórios de água são projetados para garantia do A equação governadora do processo de adensamento
abastecimento público de água e para implantação de foi descrita por Gibson et al. (1967) como:
usinas hidrelétricas, ou seja, possuem importância
estratégica dentro do planejamento econômico e e   e  e
= g(e)   f (e) (1)
social de um país. O transporte de sedimentos nas t z  z  z
bacias de contribuição e nas margens do reservatório
ocasiona na formação de um depósito de sedimentos onde: e = índice de vazios; t = tempo (s); z = distância
no fundo do reservatório, o que reduz o volume útil na direção vertical (m).
e, consequentemente, sua capacidade hidráulica, As funções g(e) e f(e) são dependentes do índice
diminuindo gradualmente a geração de energia de vazios e agrupam os seguintes parâmetros:
elétrica (Eletrobras, 2003). O acúmulo de partículas
transportadas no leito de fluxo e a autocompactação k z (e)
g(e) = − (2)
do depósito resultante sob efeito do peso próprio e da  w (1 + e ) a v (e)
pressão hidrostática compõem o fenômeno do
d  k z (e) 
adensamento (Bordas e Semmelmann, 2007). f (e) = − ( G s − 1) (3)
de  1 + e 
Gibson et al. (1967) desenvolveram a teoria do
adensamento com deformações finitas, também
conhecida como teoria do adensamento a grandes onde: kz = condutividade hidráulica vertical saturada
deformações, a qual baseia-se nas hipóteses de que o (m/s); γw = peso específico da água (kN/m3); av =
solo está saturado, a lei de Darcy é válida e o coeficiente de compressibilidade (kPa-1); Gs =
princípio das tensões efetivas é aplicável. O modelo densidade relativa dos sólidos.
de Gibson considera forças de peso próprio e não A relação entre condutividade hidráulica saturada
linearidades física e geométrica (Cavalcante, 2004), e índice de vazios está incorporada na Eq. 2 e na
por conseguinte descreve de forma adequada a Eq. 3. Esta relação pode ser descrita pelo modelo
magnitude e a evolução de deformações e recalques constitutivo Single Power Function:
de materiais finos e altamente compressíveis
(Pereira, 2006), como os sedimentos depositados no k(e) = CeD (4)
fundo de reservatórios.
A dependência da variação do índice de vazios é onde: C, D = parâmetro constitutivo do adensamento.
incorporada no modelo de Gibson por meio de dois A relação entre a tensão efetiva vertical e o índice
modelos constitutivos: a condutividade hidráulica de vazios também está incorporada na Eq. 2 por meio
saturada e a tensão efetiva vertical são funções do do coeficiente de compressibilidade (Terzaghi e
índice de vazios. Samogyi (1979) e Ren et al. (2016) Peck, 1948). Esta relação pode ser descrita pelo
desenvolveram formulações para descrever a relação modelo constitutivo Extended Power Function:
entre a condutividade hidráulica saturada e o índice
de vazios. O primeiro, também conhecido como e(v' ) = A(z ' + Z)B (5)
Single Power Function, dispõe de dois parâmetros
constitutivos: C e D. A função de distribuição de onde: σz’ = tensão efetiva vertical (kPa); A, B, Z =
probabilidade de Weibull (1951) e o modelo de Liu e parâmetro constitutivo do adensamento.
Znidarcic (1991) são usados para descrever a relação Reescrevendo a Eq. 5, é obtida a função inversa
entre o índice de vazios e a tensão efetiva. O segundo, da Extended Power Function:
também conhecido como Extended Power Function,
possui três parâmetros constitutivos: A, B e Z. 1
−Z
 e B
Neste artigo, o modelo constitutivo Single Power  z ' (e) =   (6)
Function e a função inversa do modelo constitutivo A
Extended Power Function foram testados. Dados
experimentais dos parâmetros constitutivos obtidos Abu-Hejleh et al. (1996) obtiveram os dados dos
por Abu-Hejleh et al. (1996) e Pinho (2018) foram parâmetros constitutivos do adensamento de
empregados para reproduzir o comportamento da amostras de argila fosfática por meio do ensaio de
permeabilidade e da tensão efetiva vertical a partir da adensamento por percolação induzida. Os dados de
variação do índice de vazios. A distribuição do índice entrada empregados e os resultados atingidos são
de vazios ao longo do tempo foi descrita pela solução apresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.
analítica da teoria de Gibson et al. (1967) conforme
Cavalcante (2004).

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605
Tabela 1. Dados de entrada dos resultados experimentais Tabela 4. Parâmetros de ajuste do adensamento de siltes
obtidos por Abu-Hejleh et al. (1996). argilosos obtidos por Pinho (2018).
A-1 A-9 C-1 S-1 Lama 01 Lama 02
γs A 1,60487 1,21078
2,60 2,82 2,92 2,71
(N/m³) B -0,09521 -0,06908
e0 25,93 18,39 13,07 32,50 Z
H0 0,06563 0,03380
0,046 0,034 0,051 0,049 (kPa)
(m)
v C
1,47E-07 2,94E-07 1,64E-07 1,47E-07 1,93E-08 1,6352E-07
(m/s) (m/s)
ef 4,68 4,17 4,07 3,11 D 3,63138 3,17127
Hf
0,0230 0,0275 0,0307 0,0302 Os dados experimentais de Abu-Hejleh et al.
(m)
σ z’ (1996) e Pinho (2018) foram empregados na Eq. 4 e
50,00 50,00 29,20 99,47
(kPa) na Eq. 6 para descrever como a permeabilidade e a
kz tensão efetiva variam de acordo com o índice de
7,98E-10 6,48E-10 1,69E-10 2,03E-10
(m/s) vazios, respectivamente.
Admitindo que a função f(e) é nula e que a função
Tabela 2. Parâmetros de ajuste do adensamento de argilas g(e) é uma constante ge, a solução analítica da Eq. 1
fosfáticas obtidos por Abu-Hejleh et al. (1996). foi construída em etapas por Cavalcante (2004):
A-1 A-9 C-1 S-1
A 11,50 12,74 7,75 13,49 e( z , t ) =
B -0,230 -0,285 -0,191 -0,319
4 
(−1) n (7)
Z
0,029 0,277 0,065 0,064 ef + (e0 − e f ) 
(kPa)  n = 0 2n + 1
C  gt  (2n + 1) 
6,25E-12 3,61E-12 4,29E-12 3,84E-12 exp  −(2n + 1) 2  2 e 2  cos  z
(m/s)
D 3,14 3,64 4,26 3,50  H 0   H0 

onde γs = peso específico dos sólidos (N/m3); v = onde: ef = índice de vazios final; e0 = índice de vazios
velocidade de Darcy (m/s); Hf = altura final da inicial; H0 = altura inicial da camada de solo (m).
amostra (m). Além de descrever a distribuição do índice de
Pinho (2018) obteve os dados dos parâmetros vazios no tempo e no espaço, a Eq. 7 pode ser
constitutivos do adensamento de amostras de silte introduzida na Eq. 4 e na Eq. 6, de modo a representar
argiloso por meio do ensaio HCT (Hydraulic a evolução temporal da condutividade hidráulica
Consolidation Test). Os dados de entrada usados e os saturada e da tensão efetiva vertical, respectivamente.
resultados obtidos são apresentados nas Tabela 3 e 4, Para isso, o coeficiente de compressibilidade foi
respectivamente. admitido como 0,06 kPa-1.
O modelo constitutivo Single Power Function
Tabela 3. Dados de entrada dos resultados experimentais (Eq. 4), a função inversa do modelo constitutivo
obtidos por Pinho (2018). Extended Power Function (Eq. 6) e a solução
Lama 01 Lama 02 analítica da teoria do adensamento de Gibson (Eq. 7)
γs foram implementados em um código aberto no
38,01 34,49
(kN/m³) software Wolfram Mathematica 12.3, onde foram
e0 2,08 1,53 gerados os gráficos permeabilidade x índice de
H0 vazios, tensão efetiva x índice de vazios, índice de
0,035354 0,02988
(m)
vazios x tempo, permeabilidade x tempo e tensão
v
(m/s)
9,49E-07 9,49E-07 efetiva x tempo.
ef 1,05 0,89
Hf
0,02994 0,02710 3 RESULTADOS
(m)
σ z’
86,06 86,06
(kPa) Primeiramente, os modelos constitutivos estudados
kz são aplicados aos dados experimentais de Abu-
2,30E-08 1,13E-07
(m/s) Hejleh et al. (1996) e Pinho (2018). Em seguida, é
apresentada a distribuição do índice de vazios ao
longo do tempo conforme a solução analítica da
teoria do adensamento de Gibson. Por fim, os

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606
modelos constitutivos estudados são introduzidos na
solução analítica da teoria do adensamento de
Gibson.
Nas Figuras 1 e 2, o modelo Single Power
Function e a função inversa do modelo Extended
Power Function são aplicados aos parâmetros
constitutivos do adensamento obtidos por Abu-
Hejleh et al. (1996).

Figura 3. Variação da permeabilidade de acordo com o


índice de vazios aplicando o modelo Single Power
Function aos dados de Pinho (2018).

Figura 1. Variação da permeabilidade de acordo com o


índice de vazios aplicando o modelo Single Power
Function aos dados de Abu-Hejleh et al. (1996).

Figura 4. Variação da tensão efetiva de acordo com o


índice de vazios aplicando a função inversa do modelo
Extended Power Function aos dados de Pinho (2018).

As Figuras 5 e 6 apresentam a variação do índice


de vazios ao longo do tempo usando a solução
analítica da teoria do adensamento de Gibson.

Figura 2. Variação da tensão efetiva de acordo com o


índice de vazios aplicando a função inversa do modelo
Extended Power Function aos dados de Abu-Hejleh et al.
(1996).

Nas Figuras 3 e 4, o modelo Single Power


Function e a função inversa do modelo Extended
Power Function são aplicados aos parâmetros
constitutivos do adensamento obtidos por Pinho
(2018).

Figura 5. Variação do índice de vazios ao longo do tempo


aplicando a solução analítica do modelo de Gibson aos
dados de Abu-Hejleh et al. (1996).

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607
Nas Figuras 9 e 10, o modelo Single Power
Function e a função inversa do modelo Extended
Power Function foram acoplados à solução analítica
da teoria do adensamento de Gibson e aplicados aos
parâmetros constitutivos do adensamento obtidos por
Pinho (2018).

Figura 6. Variação do índice de vazios ao longo do tempo


aplicando a solução analítica do modelo de Gibson aos
dados de Pinho (2018).

Nas Figuras 7 e 8, o modelo Single Power


Function e a função inversa do modelo Extended
Power Function foram acoplados à solução analítica Figura 9. Variação da permeabilidade ao longo do tempo
da teoria do adensamento de Gibson e aplicados aos aplicando o modelo Single Power Function e a solução
parâmetros constitutivos do adensamento obtidos por analítica do modelo de Gibson aos dados de Pinho (2018).
Abu-Hejleh et al. (1996).

Figura 7. Variação da permeabilidade ao longo do tempo Figura 10. Variação da tensão efetiva ao longo do tempo
aplicando o modelo Single Power Function e a solução aplicando a função inversa do modelo Extended Power
analítica do modelo de Gibson aos dados de Abu-Hejleh et Function e a solução analítica do modelo de Gibson aos
al. (1996). dados de Pinho (2018).

4 DISCUSSÃO

Conforme as Tabelas 1 e 3, as argilas fosfáticas


usadas por Abu-Hejleh et al. (1996) são menos
permeáveis e apresentam maiores índices de vazios
que os siltes argilosos usados por Pinho (2018). Os
parâmetros constitutivos do adensamento obtidos
pelos autores, listados nas Tabelas 2 e 4, possuem
ordens de grandeza semelhantes, com exceção do
parâmetro C, que variou quatro casas decimais entre
os trabalhos. Esta diferença observada no parâmetro
Figura 8. Variação da tensão efetiva ao longo do tempo C retrata justamente a diferença de permeabilidade
aplicando a função inversa do modelo Extended Power entre as amostras, uma vez que maiores parâmetros
Function e a solução analítica do modelo de Gibson aos C e D amplificam o intervalo de condutividade
dados de Abu-Hejleh et al. (1996). hidráulica saturada contemplado por uma mesma
variação no índice de vazios.

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608
As Figuras 1 e 3 retratam como o modelo Single função inversa do Extended Power Function. A
Power Function descreve como a inclinação da curva solução analítica da teoria do adensamento de Gibson
de condutividade hidráulica saturada aumenta à também foi introduzida para verificação da evolução
medida que o índice de vazios diminui. Como o temporal destes modelos constitutivos.
intervalo de índice de vazios contemplado pela As simulações mostraram como a permeabilidade
Figura 1 é maior que na Figura 3, as curvas de argila é reduzida à medida que o índice de vazios diminui e
fosfática abrangem mais ordens de grandeza de que a redução do índice de vazios implica em uma
condutividade hidráulica saturada, especialmente a maior tensão efetiva aplicada pelo carregamento para
amostra C-1, que apresenta o maior parâmetro D que o processo de adensamento ocorra. Além disso,
entre as quatro amostras. Entretanto, a ordem de verificou-se que o processo de adensamento de
grandeza de condutividade hidráulica saturada é argilas fosfáticas ocorre na escala de dias, enquanto
maior nos siltes argilosos quando se observa apenas o adensamento de siltes argilosos ocorre na escala de
o intervalo de índice de vazios definido pela Figura 3. horas.
Nas Figuras 2 e 4, é apresentado como a função Para trabalhos futuros, sugere-se a aplicação do
inversa do modelo Extended Power Function retrata modelo constitutivo de Ren et al. (2016) e da função
como a redução do índice de vazios implica em uma de distribuição de probabilidade de Weibull (1951) a
maior tensão efetiva aplicada pelo carregamento para dados experimentais, e a implementação da solução
que o processo de adensamento aconteça. À medida numérica do adensamento a grandes deformações, de
que o índice de vazios diminui, as curvas de tensão modo que o modelo Extended Power Function seja
efetiva começam a convergir e se cruzam em algum incorporado diretamente dentro do modelo Single
momento devido à diferença de inclinações imposta Power Function, ou seja, a condutividade hidráulica
pelo parâmetro B. saturada seria função direta da tensão efetiva vertical.
Comparando as Figuras 5 e 6, constata-se que o
processo de adensamento de argilas fosfáticas é mais
demorado e possui escala temporal de dias, enquanto AGRADECIMENTOS
o adensamento de siltes argilosos ocorre na escala de
horas. Como as quatro amostras de argila fosfática Este estudo foi financiado pela Coordenação de
apresentam índices de vazios finais semelhantes, o Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
início do adensamento demora mais à medida que o (Bolsa CAPES 88887.696804/2022-00) e pelo
índice de vazios inicial é maior e o processo completo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
varia de aproximadamente 60 dias (C-1) a mais de Tecnológico (Bolsas CNPq 140923/2020-9,
1000 dias (S-1). Já nas amostras de silte argiloso, o 140966/2021-8, 305484/2020-6 e 309841/2021-6).
adensamento varia de 2 horas (Lama 02) a 20 horas Os autores também agradecem à Eletrobras Furnas e
(Lama 01). à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL
As Figuras 7 e 9 mostram como a condutividade PD.0394-1705/2017).
hidráulica saturada diminui ao longo do tempo até
sua estabilização. A estabilização da permeabilidade
segue o mesmo período de tempo descrito acima para REFERÊNCIAS
a variação do índice de vazios. O decaimento da
condutividade hidráulica saturada também segue a Abu-Hejleh, A. N.; Znidarčić, D. & Barnes, B. L. (1996).
ordem do menor para o maior índice de vazios inicial. Consolidation Characteristics of Phosphatic Clays.
Por fim, as Figuras 8 e 10 ilustram o momento no Journal of Geotechnical Engineering, 122(4), p. 295-
qual o carregamento aplicado começa a surtir efeito e 301.
Bordas, M. P. & Semmelmann, F. R. (2007). Elementos de
o momento no qual é atingida a tensão efetiva medida
engenharia de sedimentos. Hidrologia: ciência e
no ensaio de adensamento. Nas argilas fosfáticas, o aplicação, 24, p. 915-943.
processo de adensamento pode iniciar após 10 dias Cavalcante, A. L. B. (2004). Modelagem e Simulação do
(C-1 e A-9) ou até superar um ano (S-1). Já nos siltes Transporte por Arraste de Sedimentos Heterogêneos
argilosos, o adensamento começa entre 12 minutos Acoplado ao Mecanismo de Tensão-deformação-
(Lama 02) e 1 hora (Lama 01). poropressão Aplicado a Barragens de Rejeitos. Tese
de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil,
5 CONCLUSÃO Universidade de Brasília, 258p.
ELETROBRAS (2003). Critérios de projeto civil de
usinas hidrelétricas. Centrais Elétricas Brasileiras
Neste artigo, dados experimentais foram empregados
S.A., Rio de Janeiro, p. 278.
para observar o comportamento apresentado pelos Gibson, R. E.; England, G. L. & Hussey, M. J. L. (1967).
modelos constitutivos Single Power Function e The theory of one-dimensional consolidation of

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


609
saturated clays, 1. Finite non-linear consolidation of
thin homogeneous layers. Géotechnique, 17(3), p.
261-273.
Liu, J. C. & Znidarčić, D. (1991). Modeling one-
dimensional compression characteristics of soils.
Journal of Geotechnical Engineering, 117(1), p. 162-
169.
Pereira, B. A. (2006). Adensamento e simulação do
processo de enchimento do reservatório de uma
barragem para contenção de rejeitos de ouro.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Escola de Minas, Universidade
Federal de Ouro Preto, 115p.
Pinho, M. Q. (2018). Aplicação de análises
tridimensionais de adensamento a grandes
deformações na disposição de rejeitos em cava de
mineração. Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Mineral, Escola de
Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, 102p.
Ren, X.; Zhao, Y.; Deng, Q.; Kang, J.; Li, D. & Wang, D.
(2016). A relation of hydraulic conductivity-void ratio
for soils based on Kozeny-Carman equation.
Engineering Geology, 213, p. 89-97.
Samogyi, F. (1979). Analysis and prediction of phosphatic
clay consolidation: implementation package.
Lakeland: Florida Phosphatic Clay Research Project
(Technical Report).
Terzaghi, K.; Peck, R. B. (1948). Soil Mechanics in
Engineering Practice. John Wiley and Sons, USA. p.
566.
Weibull, W. (1951). A Statistical Distribution Function of
Wide Applicability. Journal of Applied Mechanics, 18,
p. 293-297.

LISTA DE SÍMBOLOS

A, B, Z, C, D = parâmetros constitutivos do adensamento;


av = coeficiente de compressibilidade;
e = índice de vazios;
e0 = índice de vazios inicial;
ef = índice de vazios final;
Gs = densidade relativa dos sólidos;
H0 = altura inicial da amostra;
Hf = altura final da amostra;
k = condutividade hidráulica saturada;
t = tempo;
v = velocidade de Darcy;
z = distância na direção vertical;
γs = peso específicos dos sólidos;
γw = peso específico da água;
σz’ = tensão efetiva vertical.

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610
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Avaliação numérica do impacto de escavação para implantação de


coletor tronco
Tiago de Jesus Souza, Ph.D.
Solotechnique, Jundiai (SP), Brasil, tiago.souza@solotechnique.com.br

André Querelli, M.Sc.


Solotechnique, Jundiai (SP), Brasil, andre.querelli@solotechnique.com.br

Rafael Plácido, Ph.D.


Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano (SP), Brasil,
rafael.placido@maua.br

RESUMO:
O presente artigo apresenta um estudo de caso a respeito da escavação do pé de uma encosta natural para a
implementação de um coletor tronco para a condução de efluentes em Santana de Parnaíba. Destaca-se que a
crista do talude se encontra densamente habitada e há o escoamento de águas servidas na sua face, posto isto
a análise de estabilidade tornou-se primordial. Além deste condicionante, foi observado a foliação do solo
residual de filito que apresenta como característica zonas de cisalhamento de regime rúptil-dúctil a dúctil. Em
outras palavras, a realização do corte pode potencializar a instabilização do material. Face ao panorama
apresentado, foi realizado análises de estabilidade pelas abordagens determinística, probabilística e pelo
Método dos Elementos Finitos visando abranger as incertezas inerentes no sistema. Todos os métodos
resultaram em fatores de segurança inferiores a 1,50 preconizado pela normativa vigente no Brasil quando há
um risco alto quanto a vidas humanas e ambiental. O método FOSM apresentou a maior probabilidade de
falha, caracterizando um risco alto. Já a Simulação de Monte Carlo e o Método Hipercubo Latino apresentaram
probabilidades de ruptura divergentes em 20,59%, quando comparadas, entretanto, o nível de desempenho
esperado enquadrou-se de pobre a abaixo da média para ambos. O método dos Elementos Finitos resultou em
um fator de segurança semelhante as demais metodologias aplicadas. Por fim, constatou-se que para a execução
da solução seria necessário a aplicação de técnicas de contenção, bem como medidas paliativas para evitar a
contaminação do solo natural devido ao escoamento de efluentes.

PALAVRAS-CHAVE: Zonas de Cisalhamento, Confiabilidade, Risco, Contaminação Ambiental.

ABSTRACT: This paper presents a case study of the excavation of the foot of a natural slope for the implementation of
a trunk collector to conduct effluents in Santana de Parnaiba. The slope's crest is densely inhabited and there is sewage
runoff on its face; therefore, the stability analysis has become essential. In addition to this condition, the foliation of the
residual phyllite soil was observed, which presents as characteristic shear zones from a ductile-ruptile to a ductile regime.
In other words, the execution of the cut can potentialize the instability of the material. Given the panorama presented,
stability analyses were performed by deterministic, probabilistic, and Finite Element Method approaches aiming to cover
the uncertainties inherent in the system. All methods resulted in safety factors lower than the 1.50 recommended by the
regulations in force in Brazil when there is a high risk to human lives and the environment. The FOSM method presented
the highest probability of failure, characterizing a high risk. The Monte Carlo Simulation and the Latin Hypercube Method
presented divergent failure probabilities in 20.59%, when compared, however, the expected performance level was poor
to below average for both. The Finite Element Method resulted in a factor of safety like the other methodologies applied.
Finally, it was found that the implementation of the solution would require the application of containment techniques, as
well as palliative measures to avoid contamination of the natural soil due to effluent runoff.

KEY WORDS: Shear Zones, Reliability, Risk, Environmental Contamination.

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611
2. MATERIAIS E MÉTODOS
1. INTRODUÇÃO
Nesse item será apresentado os materiais e métodos
A crescente expansão demográfica resultou utilizados nas análises de estabilidade pelos métodos
diretamente em uma tendencia de crescimento do probabilísticos e elementos finitos, bem como o
consumo de água e do volume de efluentes escopo do estudo.
produzidos (Mendonça, 2010). Nesse viés, houve a
necessidade da implantação de novas instalações 2.1. Escopo do estudo
hidrosanitárias em todo o país. Ademais, há uma
propensão de evolução das políticas de manejo dos O viés do presente artigo consiste na análise de
resíduos, visando minimizar os efeitos negativos estabilidade de uma encosta natural quando escavada
destes no meio ambiente. para a execução de um coletor tronco.

Dentre as soluções utilizadas para a condução dos A instabilidade deste talude pode resultar não
efluentes, cita-se o dispositivo denominado coletor apenas na sua ruptura, como também em um desastre
tronco. Em síntese, a sua definição consiste em uma ambiental e de perda de vidas humanas. Tal
tubulação que recolhe o esgoto de coletores circunstância está atrelada no fato que sua crista se
convergentes a ele. Em muitos casos, a declividade encontra habitada. Conforme pode ser visualizado na
acentuada do terreno faz com que escavações sejam Figura 1, a área estudada situa-se em Santana de
necessárias para a implantação desses coletores. Parnaíba no estado de São Paulo.
A complexidade dos projetos de engenharia vem
trazendo inúmeros desafios no âmbito geotécnico.
Posto isto, o presente artigo visa avaliar a
estabilidade da abertura de uma plataforma para a
instalação do coletor tronco no pendente de uma
encosta natural existente no município de Santana de
Parnaíba, no estado de São Paulo. Ressalta-se que na
crista do talude há inúmeras edificações. Em outras
palavras, neste caso, a instabilidade pode resultar em
uma ruptura com danos a vida humana e ambientais.
Nos projetos geotécnicos, a análise da
estabilidade torna-se crucial devido às consequências
negativas associadas as rupturas de taludes.
Entretanto, a maioria das análises são frequentemente
avaliadas utilizando os métodos determinísticos. Tal
metodologia não engloba as incertezas oriundas da
determinação dos parâmetros do perfil geológico-
geotécnico.
Duncan (2000) traz como reflexão que a
estipulação dos fatores de segurança (FS) condizem Figura 1. Localização da área de Estudo.
com experiência em diversos tipos de obras. No
entanto, o autor ressalta que devido as normativas, 2.2. Contexto Geológico- Geotécnico
tradicionalmente aplica-se o mesmo valor base em
condições que evolvem diferentes graus de incerteza. Com base nas informações disponibilizadas pelo
Neste viés, as variações são ignoradas quando se Serviço Geológico do Brasil (CPRM), foi
estabelece um valor absoluto para determinado desenvolvido um mapa a respeito da geologia do
parâmetro, o que implica que um elevado FS pode local no software QGIS 3.26.3, sendo esse
mascarar um baixo índice de confiabilidade (β). Tal apresentado na Figura 2.
premissa justifica rupturas de obras consideradas
estáveis pelos métodos determinísticos. Face a este O município de Santana de Parnaíba encontra-se
panorama, este artigo visa avaliar a estabilidade da sobre o Sistema de Dobramentos São Roque
escavação para a execução da obra do coletor tronco pertencente ao conjunto de rochas Pré-Cambrianas
pelos métodos de Monte Carlo (MMC), Latin do Escudo Atlântico (Pereira, 2015). Avaliando a
Hypercube (MHL), e First Order Second Moment unidade geológica do Grupo São Roque, a litologia
(FOSM). Além de uma análise de tensão deformação principal encontra-se subdividida em: (i)
pelo método dos elementos finitos (MEF). Granodiorito, (ii) Metarenito, Rocha metapelítica,

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612
(iii) Metarenito (iv) Rocha metavulcânica, (v) altura da encosta de aproximadamente 17 metros, a
Sienogranito, (vi) Xisto. presença de inúmeras residências na crista e o fluxo
intermitente de águas servidas na face do talude
(Figura 3; c). Este escoamento culminou na presença
de bananeiras (Figura 3; b) e na elevada umidade do
terreno.
O filito do local exibe foliamentos, e por
conseguinte, o solo resultante de sua intemperização
apresenta planos preferenciais de ruptura. Além deste
condicionante o fluxo de águas servidas no talude
implica em uma redução ainda maior da resistência
ao cisalhamento. Esses fatores combinados
evidenciam a necessidade do estudo da encosta em
questão.

2.3. Descrição do sistema em análise

Na Figura 4 pode ser observado a seção típica


utilizada na análise. Ressalta-se a localização da
Figura 2. Mapa Geológico realizado com as informações escavação. Foi considerado um perfil homogêneo de
disponibilizadas em: http://www.cprm.gov.br/. solo residual de filito nas análises.

Na área em estudo foi observada a presença de


foliação do solo residual de filito, oriundo da rocha
matriz (Figura 3a). Em Santana de Parnaíba, esse tipo Escavação para
de rocha apresenta-se fortemente laminada, com implantação do
aspecto foliado, de granulação muito fina composta coletor tronco
principalmente por silte (Pereira, 2015). Ainda de
acordo com a autora, os depósitos de filito ocorrem
por intermédio de corpos interligados, sendo o Cotas em metros

contato marcado por zonas de cisalhamento com


regime de rúptil-dúctil a dúctil. Destaca-se que esse Figura 4. Seção analisada.
tipo de material apresenta um comportamento
geotécnico do tipo heterogêneo. Em virtude desta Na Tabela 1 pode ser observados os parâmetros
indicação, ao ser realizado cortes nos taludes, esses geotécnicos utilizados nas análises de estabilidade.
ficam vulneráveis a instabilização do material. Tais parâmetros foram baseados em estudos em solo
residual de filito, tais como Silva (2006), Pozzebon
(2017) e Silva et al. (2020). Reitera-se que foi
considerado o plano de foliação do material
(perpendicular e paralelo).

Tabela 1. Parâmetros Geotécnicos.


γ Plano de c 
Material
(kN/m³) Foliação (kPa) ( )
Solo Perpendicular 40,00 26,00
Residual 19,00
de Filito Paralelo 15,00 26,00
Nota: γ equivale ao peso específico natural, c a
coesão do material e ϕ ao ângulo de atrito.

2.4. Análises de Estabilidade


Figura 3. Aspectos da área em estudo: (a) foliação do solo
residual de filito; (b) presença de bananeiras; (c) fluxo de As análises de estabilidade foram realizadas com o
águas servidas no talude.
auxílio das ferramentas computacionais Slide® e
Plaxis 2D®. Neste item será abordado as
Além do condicionante geológico, destaca-se a
metodologias utilizadas em cada uma das análises

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613
realizadas.
c= 𝜑1 𝑐𝑜𝑠 2 𝛼 + 𝜑2 𝑠𝑒𝑛2 𝛼 (2)

Tradicionalmente analisa-se a estabilidade de um Sendo que α corresponde ao ângulo


talude por intermédio dos métodos determinísticos. tridimensional mínimo entre o Plano 1 e o Plano de
Gercovich (2016) infere que este método se resume Cisalhamento.
na determinação de um FS mínimo para dada
superfície de ruptura. Dessa maneira, esse valor 2.6. Consideração a respeito da aplicação do modelo
depende do método escolhido e, consequentemente no software PLAXIS 2D®
da forma da superfície de ruptura (exemplo: planar e
circular). Mediante a uma caracterização mais ampla A análise numérica foi realizada com o auxílio do
do local, a abordagem probabilística permite a software Plaxis 2D® (Brinkgreve et al., 2018). Nesse
incorporação de incertezas subjacentes no cálculo. estudo, foi considerado o modelo de deformação
Com isso, a principal vantagem de avaliar a plana.
confiabilidade consiste em associar o FS ao  de
modo a gerenciar o risco que determinada obra pode O comportamento do material foi avaliado
estar exposta. No presente estudo, será avaliado o utilizando o modelo Mohr-Coulomb. Os parâmetros
índice de confiabilidade pelo MMC, MHL e FOSM. utilizados na análise podem ser observados na Tabela
Além da obtenção do FS pelo MEF. 2. Foi adotado um coeficiente de Poisson igual a 0,30.
De acordo com Assis (2019), o MCM pode ser
considerado exato na obtenção da função de Tabela 2. Parâmetros Geotécnicos utilizados no MEF.
distribuição de probabilidade da variável dependente.
Ainda de acordo com o autor, o cálculo consiste na γ c ϕ
Modelo E (kPa)
interação de N vezes da variável dependente, gerando (kN/m³) (kPa) ( )
assim uma amostra de resultados, e quando o N for Mohr-
Columb 19,00 20000000 15,00 26,00
suficientemente grande, as estatísticas da amostra
resultante não se alteram. O MLH possui resultados
semelhantes ao MMC, no entanto ele necessita de Elementos triangulares de 15 nós foram utilizados
menos interações. O FOSM foi desenvolvido nas análises. Tendo em vista o tempo computacional,
mediante a expansão da Série de Taylor. A principal foi realizado um estudo da malha para verificar sua
vantagem deste método consiste nos poucos eficácia. Conforme pode ser observado na Figura 5 a
parâmetros de entrada (média e desvio padrão) da máxima diferença entre os valores de FS foi de 1,53%
variável dependente.
entre os nós 489 e 883. Nas demais situações a
diferença foi inferior a 1% conforme o acréscimo no
2.5. Consideração a respeito da aplicação do modelo
número de elementos. Para os modelos foi utilizado
no software Slide® o maior refino que equivale a um total de 1511 nós.
Para as análises de estabilidade no software Slide® foi
1,35
FS

utilizado o Modelo de Força Anisotrópica. Tal


metodologia possibilita a inserção das propriedades
1,3
de força anisotrópica para um maciço rochoso ou
terroso, já que se define a coesão e o ângulo de atrito
em dois planos ortogonais. 1,25

Inicialmente define-se a Coesão 1 (C1) e o Ângulo 1,2


de Atrito 1 (1) que correspondem ao ângulo e a
direção de imersão dele no Plano 1. Tipicamente esse 1,15
será um plano de fraqueza. Posteriormente adiciona-
se os valores de Coesão 2 (C2) e o Ângulo de Atrito 1,1
2 (2) que equivalem os parâmetros perpendicular ao 0 1000 20003000 4000
Número de Nós
Plano 1. Por fim, é definido o ângulo do Plano 1 e o
ângulo de sua direção. Os parâmetros de resistência c Figura 5. Estudo da malha do modelo numérico.
e ϕ para qualquer plano arbitrário podem ser obtidos
através das Equação 1 e 2, respectivamente. Quanto as condições de contorno na parte inferior do
modelo, foi restringido o deslocamento (u) em x e y
c= 𝐶1 𝑐𝑜𝑠 2 𝛼 + 𝐶2 𝑠𝑒𝑛2𝛼 (1) (exemplo: ux=0; uy=0). Já nas laterais direita e

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614
esquerda permitiu-se o deslocamento apenas em y referência para o CoV os valores propostos por Assis
(exemplo: ux=0; uy≠0) (2019). Pelo método FOSM, foi imposto um
incremento de 10% nos parâmetros avaliados na
3. RESULTADOS análise de estabilidade para a obtenção do FS, tal
valor foi recomendado por Sandroni e Sayão (1993).
Reitera-se que as análises foram realizadas pelos A Tabela 3 apresenta os parâmetros de entrada
métodos determinístico, probabilístico e elementos para a realização dos cálculos. Em todas as análises
finitos. Em todos os métodos probabilísticos foi de estabilidade foi utilizado o método de
utilizada a distribuição normal. Morgenstern e Price. De acordo com Gerscovich
(2009) esse método satisfaz todas as equações de
No MMC foi utilizado três desvios padrão da equilíbrio estático e resolve o equilíbrio geral do
média, o que corresponde a 99,70% da amostragem. sistema. Por conseguinte, trata-se de uma
Os valores dos coeficientes de variação (CoV) são metodologia rigorosa. Em todas as análises foi
análogos para os métodos de Monte Carlo e utilizado o parâmetro de poropressão (Ru) igual a 0,1.
Hipercubo Latino. Nestas análises, foi utilizado como

Tabela 3. Dados de entrada utilizados nas análises.

Método de Monte Carlo/ Método


Hipercubo Latino FOSM
Parâmetro Média Cov (%) Desvio Padrão
Relativo Relativo Média
Mínimo Máximo +10%
Peso específico (kN/m³) 19 0,095 0,285 18,72 19,29 20,90
Coesão 1 (kPa) 40 30 12 4,00 76,00 44,00
Coesão 2 (kPa) 15 30 4,5 1,50 28,50 16,50
Ângulo de atrito 1 (°) 26 10 2,6 18,20 33,80 28,60
Ângulo de atrito 2 (°) 26 10 2,6 18,20 33,80 28,60

3.1. Aplicação do Método FOSM

O método FOSM permite inferir a respeito da


relevância dos parâmetros geotécnicos em uma
análise de estabilidade.
Para essa análise foi utilizado o software Slide®
em conjunto com a planilha eletrônica realizada com
o auxílio do Microsoft Excel. Aplicando as
formulações do método supracitado, foi possível
identificar que ocorre um forte domínio da C2 na
análise (Figura 6). Este parâmetro está fortemente
relacionado com a resistência do material e apresenta
uma sensibilidade de 75,74% no sistema. Destaca-se Figura 6. Análise da influência dos parâmetros geotécnicos
no cálculo da estabilidade da escavação.
também a variância de 21,31% resultante do 2.
Uma distribuição probabilística do tipo normal foi
adotada para a variável dependente do FS no cálculo
da Probabilidade de Falha (PF) pelo método FOSM.
Sendo obtido uma PF de 7,67% e consequentemente
o β de 1,510.

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615
3.2 Análises de estabilidade pelo método de Monte análises se enquadra na zona instável do gráfico.
Carlo e Hipercubo Latino
1,4

Probabilidade acumulada
Foi utilizado o critério observacional para verificar a
estabilização das iterações pelos métodos de MMC e 1,2 Instável Estável
HCL. Os resultados oriundos da análise podem ser 1
observados nas Figura 7 e Figura 8.
0,8
1,34 0,6
FS

MMC
1,32 0,4 MMC
HCL
0,2 HCL
1,3
0
1,28 0,7 0,9 1,1
2,1 1,3 1,5 1,7 1,9
FS
1,26
Figura 9. Probabilidade acumulada dos valores de FS.
1,24
Na Figura 10 pode ser observado um gráfico de
1,22 comparação entre os valores de FS e PF. Ambos os
0 1000 2000 3000 4000 5000 métodos apresentam o mesmo valor de FS médio de
Número de iterações 1,276, no entanto, o método MMC apresenta uma PF
Figura 7. Número de iterações pelos métodos MMC e 20,59% menor que o método HCL.
HCL, considerando o FS. 2,5 2,5
14
PF

MMC 2 2
12
HCL

PF (%)
10 1,5 1,5
FS

8 1 1
6
0,5 0,5
4
2 0 0
MMC HCL
0
0 1000 2000 3000 4000 5000 FS PF
Número de iterações Figura 10. Comparação entre os valores de FS e PF.
Figura 8. Número de iterações pelos métodos MMC e
HCL, considerando a PF. 3.2 Estudo de Sensibilidade do Ru

Na Figura 7 pode ser visualizado o número de O Ru é responsável pela saturação no terreno.


iterações em conjunto com a oscilação do FS. Neste Salienta-se que nas demais análises foi utilizado o
caso, um total de 5000 iterações foi suficiente para valor de 0,10. Nesse item este parâmetro foi oscilado
estabilizar a variação estatística resultante dos de 0,00 a 0,50, e os resultados provenientes das
métodos MMC e HCL. Comparando as análises podem ser visualizados na Figura 11.
metodologias, o MMC apresenta valores superiores Quanto menor o Ru maior o FS, para os valores
de FS até 3000 iterações, a partir deste ponto ocorre de 0,40 e 0,50 há um indicativo que as tensões
a convergência dos valores. Já pela Figura 8 mobilizadas foram superiores as cisalhantes
determina-se que a PF se encontra superior no HCL resistentes, sendo que nessa situação ocorrerá a
para todas as simulações. Na Figura 9 pode ser instabilização do talude (FS<1,00). Com isso, além
visualizado a probabilidade acumulada do FS pelos do impacto ambiental que ocorre com o escoamento
métodos MMC e HCL. Observa-se que os valores de de águas servidas no talude, esse condicionante pode
FS são análogos. Entretanto, a NBR 11682 (2009) culminar no acréscimo da umidade do solo,
preconiza um FS de 1,50, quando considerado um acarretando um decréscimo do FS.
risco quanto a vidas humanas e ambiental alto. Diante
do Exposto, verifica-se que grande porcentagem das

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616
1,5 1,35

ΣM FS
FS
1,4
y = -1,1866x + 1,3911 1,30
1,3 R² = 0,9998
1,2 1,25
1,1 1,20
1
0,9 1,15
0,8 1,10
0,7
1,05
0,6
0,5 1,00
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,00 0,10 0,20 0,30
0,40 0,50 0,60
Ru Deslocamento (m)
Figura 11. Variação do Ru na análise. Figura 13. Variação do FS em função do módulo de
deslocamento.
3.3 Análise pelo MEF
3.4 Análise de Risco
Na Figura 12 (a) pode ser observada a massa de solo
onde ocorre as maiores deformações, cerca de 0,63 A metodologia adotada nesse trabalho classifica o
metros. Na Figura 12 (b) pode ser visualizado há uma índice de confiabilidade em diversas classes, sendo
similaridade entre as cunhas de ruptura obtidas pelo elas: (i) perigoso; (ii) insatisfatório; (iii) pobre; (iv)
MEL e pelo MEF. abaixo da média; (v) acima da média; (vi) Bom; (vii)
alto. Na Figura 14 pode ser avaliado o nível de
desempenho esperado pela metodologia supracitada.
Em suma, o FOSM resultou em um β insatisfatório,
entre 1,50 e 2,00. Já o MMC e HCL indicaram um
comportamento pobre para o estudo de caso em
questão.

(a)

(b)
Figura 12. Comparação entre as cunhas de ruptura. (a)
MEF; (b) MEL.
Figura 14. Análise do nível de desempenho.
Na Figura 13 pode ser avaliada o FS obtidos pelo
MEF de acordo com o módulo do deslocamento. O
FS para essa situação foi de 1,287. Na análise pelo
MEL o FS obtido foi de 1,269. Por conseguinte, a
diferença entre o MEF e o MEL foi de apenas 1,39%.

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617
4. CONCLUSÕES município de Santana de Parnaíba, São Paulo.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
A encosta encontra-se vulnerável quando a em Geografia Física, Departamento de Geografia,
estabilidade, tendo em vista o escoamento de águas Universidade de São Paulo, 311p.
Pozzebon, B. H. (2017) Parâmetros de solos residuais
servidas em sua face e a fragilidade do material que a
compactados da Região Metropolitana de, São Paulo-
compõe. Comparação com dados de outras localidades do
Brasil. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Em síntese, o FS ficou abaixo de 1,50, Graduação em Ciências, Universidade de São Paulo,
recomendado pela NBR 11682 (2009). Em termos de 310p.
nível de desempenho, o método FOSM acarretou um Silva, E. M. (2006) Análise de estabilidade de taludes em
comportamento insatisfatório, enquanto o MMC e o solos de alteração de rochas metamórficas do
HCL em pobre. Há uma similaridade entre as cunhas Quadrilátero Ferrífero, São Paulo. Dissertação de
de ruptura obtidas pelo método MEL e MEF, tal fato Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia
justifica os FS pouco discrepantes. Civil, Universidade de Viçosa, 143p.
Silva, R. C.; Gomes, T. B. G.; Ehrlich, M.; Costa, D. P.
Tendo em vista a variabilidade dos parâmetros
(2020). Comportamento de um Maciço em Solo
geotécnicos e sua influência no FS, torna-se Residual de Filito adjacente a uma Cava de Mineração
indispensável a execução de uma ilha de no Quadrilátero Ferrífero. Anais XX Congresso
investigação. Em outras palavras, os ensaios de Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
campo e de laboratório são de suma importância para Geotécnica (XX COBRAMSEG), ABMS, Campinas.
a previsão congruente dos resultados. Ademais, outro p. 960-967
fator que merece a atenção seria a instrumentação do
talude em um período anterior, durante e posterior a
obra visando buscar indícios de movimentação, e
minimizando assim os riscos associados a uma
ruptura de talude.
Face ao cenário apresentado, conclui-se que a
solução seria a implantação do Coletor Tronco pelo
Método Não Destrutivo, por intermédio de
Perfuração Horizontal Direcional. Sendo essa a
melhor alternativa, em casos como este,
especificamente pela redução de danos ambientais,
custos sociais, e eliminação de riscos adicionais.

REFERÊNCIAS

Assis, A. P. (2020). Risk management for geotechnical


structures: consolidating theory into practice. Soils
and Rocks, 43(special issue), 311–336.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR
11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
Brinkgreve, R. B. J., Kumarswamy, S. & Swolfs, W. M.
(2018). Reference manual and material models manual
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Duncan, J. M. (2000). Factors Of Safety and Reliability in
Geotechnical Engineering. Journal of Geotechnical
and Geoenviromental Engineering, ASCE, New York,
v. 126, p. 307-316.
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ed). Oficina de Textos.
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tratamento de esgoto industrial em solo vegetado com
Bambu. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação de Engenharia do Meio Ambiente,
Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Goiânia,
Universidade Federal de Goiás, 63p.
Pereira, M. F. (2015) Carta de risco a movimentos de
massa associado às condições atuais de uso e
ocupação da terra na Bacia Hidrográfica das Furnas,

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


618
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Comparação da Eficiência de Adsorção Multiespécie de Pb, Ni e


Zn em Misturas de Solo Granular com Argila Bentonítica
Danilo Brito da Costa
UFCG, Campina Grande, Brasil, danilo.bcosta@gmail.com

Luisa Thaynara Muricy de Souza Silva


UFCG, Campina Grande, Brasil, luisa.muricy12@gmail.com

Gabriel Araújo Paes Freire


UFCG, Campina Grande, Brasil, gabrielfreire.eng@outlook.com

Wlysses Wagner Medeiros Lins Costa


UFCG, Campina Grande, Brasil, wlysses06@hotmail.com

Márcio Camargo de Melo


UFCG, Campina Grande, Brasil, melomc90@gmail.com

RESUMO: A contaminação do solo por metais pesados torna-se cada vez mais preocupante devido ao seu potencial de
impactar a saúde humana por meio da cadeia alimentar. O objetivo deste trabalho foi determinar o comportamento
adsortivo do Ni, Pb e Zn, em solução multiespécie, em misturas de solos arenoso e bentonítico empregados na liner de
base do Aterro Sanitário em Campina Grande-PB (ASCG). Os solos e misturas empregadas foram caracterizadas por
ensaios geotécnicos e físico-químicos e posteriormente submetidos à ensaios de equilíbrio em lote nas seguintes
proporções dos solos: solo local, 10% do solo bentonítico+90% do solo local (M 1) e 20% do solo bentonítico+80% do
solo local (M2). As isotermas de adsorção foram plotadas e obteve-se a eficiência de adsorção e o coeficiente de
distribuição (Kd) para cada metal no respectivo solo. Foi observado que o solo M 2 apresentou maior capacidade de
adsorção dos metais comparado com o solo local e a mistura M 1. Os valores obtidos do Kd indicaram que a sequência de
seletividade dos metais seguiu a ordem de Pb>Ni>Zn, constatando que tanto o solo local como as misturas apresentaram
maior capacidade de retenção ao Pb, enquanto o Ni e o Zn foram os metais mais móveis e, portanto, mais suscetíveis de
atingir os solos subjacentes e as águas superficiais e subterrâneas.

PALAVRAS-CHAVE: Metais Pesados, Aterro Sanitário, Isotermas, Transporte de contaminantes.

ABSTRACT: Soil contamination by heavy metals is becoming increasingly worrying due to its potential to impact human
health through the food chain. The objective of this work was to determine the adsorptive behavior of Ni, Pb and Zn, in
multispecies solution, in mixtures of sandy and bentonite soils used in the making of the base liner of the Landfill in
Campina Grande-PB (ASCG). The soils and mixtures employed were characterized by geotechnical and physical-
chemical tests and subsequently subjected to batch balance tests in the following soil proportions: local soil, 10% of
bentonite soil + 90% of local soil (M1) and 20% of bentonite soil+80% of the local soil (M 2). The adsorption isotherms
were plotted and the adsorption efficiency and distribution coefficient (K d) were obtained for each metal in the respective
soil. It was observed that the M2 soil had a greater capacity for adsorption of metals compared to the local soil and the M 1
mixture. The values obtained for Kd indicated that the selectivity sequence of the metals followed the order of Pb>Ni>Zn,
noting that both the local soil and the mixtures had a greater capacity to retain Pb, while Ni and Zn were the most common
metals. mobile and therefore more likely to reach underlying soils and surface and groundwater.

KEY WORDS: Heavy Metals, Landfill, Isotherms, Transport of contaminants.

1 INTRODUÇÃO variedade de fontes, dentre as quais estão as


atividades metalúrgicas, de mineração e fundição e
Estudos apontam que a contaminação do solo por o fluxo de lixiviado de aterro sanitário (Anning &
metais pesados normalmente está associada a uma Akoto, 2018; Mavimbela et al., 2019). A poluição

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619
do solo por metais pesados torna-se cada vez mais dos íons como número de valência, massa atômica,
preocupante devido ao seu potencial de impactar a eletronegatividade, potencial iônico e constante de
saúde humana por meio da cadeia alimentar hidrólise são determinantes para a definição da
(Rezapour et al., 2018). afinidade química entre os solutos contaminantes e a
A disponibilidade dos metais pesados nos solos superfície dos solos. Logo, a adsorção poderá ser
é controlada por diversos processos de interação, maior ou menor para determinado soluto,
tais como a adsorção/dessorção, possibilitando estabelecer uma sequência de
precipitação/dissolução, complexação/dissociação, afinidade química entre os elementos (Moreira &
reações de troca iônica e óxido-redução (Kim et al., Alleoni, 2010).
2015). Esses processos dependem da natureza dos A valorização de solos regionais com
solos e estão relacionados como a quantidade de características geotécnicas e de fluxo propícias para
matéria orgânica, o pH do solo, os argilominerais, a aplicação em liners de base de aterros sanitários é
os óxidos, o teor de carbono orgânico e o tempo de uma alternativa já praticada na região semiárida
contato com os íons metálicos em solução brasileira. Exemplo disso são os recentes estudos
(Bavaresco et al., 2017; Elbana et al., 2018; Piri et desenvolvidos por Silva (2018) e Costa (2019) em
al., 2019). misturas envolvendo solo bentonítico e solo arenoso
As condições de pH alcalino contribuem para uma constituintes das liners de base do Aterro Sanitário
maior retenção de íons metálicos na estrutura do solo em Campina Grande-PB (ASCG). Embora o
e, portanto, para uma menor mobilidade desses íons desempenho impermeabilizante dessas liners seja
no meio líquido do solo. Solos que não apresentam conhecido, existe uma carência de estudos
características adequadas para a retenção de cátions investigativos nesses solos quanto ao
metálicos são mais propensos a permitirem a comportamento adsortivo de metais pesados.
lixiviação desses quando ocorrem infiltrações de Considerando a problemática dos metais pesados
águas pluviais (Mitchell & Soga, 2005). Por na saúde humana, bem como a incidência desses
consequência, os íons de metais pesados, quando não metais na composição do lixiviado proveniente do
retidos pelo solo, podem sofrer lixiviação e atingir a ASCG, o objetivo deste trabalho foi determinar o
zona saturada do solo. comportamento adsortivo dos metais níquel (Ni),
A sorção do solo engloba os fenômenos de chumbo (Pb) e zinco (Zn) em solução multiespécie,
adsorção, absorção e troca iônica (Fetter et al., em misturas de solos arenoso e bentonítico
2018). Segundo Boscov (2008), a adsorção é um dos empregados na liner de base do Aterro Sanitário em
processos mais estudados em problemas Campina Grande.
geotécnicos que envolvam a confecção de barreiras
de solos para a contenção de resíduos. Essas
barreiras normalmente estão associadas a solos de 2 MATERIAIS E MÉTODOS
natureza argilosa, nos quais a predominância de
cargas negativas na superfície dos argilominerais 2.1 Área de estudo
tendem a atrair os cátions disponíveis em solução,
de modo que os íons adsorvidos na superfície do Este estudo foi desenvolvido com solos empregados
solo constituem a chamada dupla camada elétrica. na liner de base do Aterro Sanitário em Campina
Informações importantes do comportamento Grande (ASCG), situado no distrito de Catolé de Boa
adsortivo de metais no solo, podem ser obtidas a Vista, município de Campina Grande-PB, nas
partir das isotermas de sorção. coordenadas 7°16’38’’S, 36°00’51’’W (Figura 1).
Em situações reais de contaminação nos solos, a O ASCG está em operação desde julho de 2015 e
exemplo do avanço de lixiviado nas liners de base tem vida útil prevista em projeto de até 25 anos.
de aterros sanitários, vários cátions metálicos estão Atualmente, recebe em média 682 ton.residuo/dia,
dissolvidos na pluma contaminante (Vongdala et provenientes de 70 municípios e 17 empresas
al., 2019). Estudos envolvendo soluções privadas, e possui três células de resíduos.
multiespécies, isto é, com a presença de mais de um As células já finalizadas possuem liners de base
metal dissolvido, representam de maneira mais formadas por uma mistura compactada de solo
realística a competição de cátions no processo granular e bentonítico na proporção de 4:1 (Araújo
sortivo dos solos (Selim, 2014). Neto, 2021). O solo granular é proveniente de jazidas
A consideração dos efeitos da competição iônica, no entorno do aterro, enquanto o solo bentonítico é
ou seja, a presença de mais de um tipo de íon em oriundo do município de Boa Vista-PB, cerca de 20
solução, reflete mais realisticamente o km do aterro. A base da célula em operação é
comportamento do processo de adsorção nos solos composta por solo granular compactado sem adição
por ação de plumas contaminantes. Características de bentonita, com geomembrana e outra camada de

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620
solo compactado. Foi feita, ainda, a análise mineralógica para os
Neste trabalho serão feitas misturas de solo solos local e bentonítico por meio das técnicas de
utilizadas nas liners de base das células já finalizadas, fluorescência de raios-X (EDX) e difração de raios-
além de mais proporções para efeito comparativo. X (DRX).
Para os ensaios de caracterização e de equilíbrio
em lote foram utilizadas três proporções de solo: a
primeira apenas com o solo local, a segunda a partir
da mistura de 10% do solo bentonítico + 90% do solo
local (M1), e a terceira na mistura de 20% do solo
bentonítico + 80% do solo local (M2). Considerou-se
a massa total seca dos solos para a realização das
misturas em laboratório.

2.3 Ensaio de equilíbrio em lote (batch test)

O ensaio de equilíbrio em lote tem o objetivo de


determinar a capacidade adsortiva do solo a
determinados contaminantes em um ambiente de
intensa agitação solo-solução, sendo importante para
avaliar a aplicabilidade do solo como barreira
Figura 1. Localização do ASCG. mitigadora de plumas contaminantes.
Fonte: Autores (2022). Os ensaios de equilíbrio em lote foram
desenvolvidos a fim de determinar a adsorção de
2.2 Caracterização dos solos metais pesados no solo local e nas misturas M1 e M2,
possibilitando a comparação dos efeitos que a adição
Os solos foram coletados em área do próprio ASCG do solo bentonítico promoveu no comportamento
e transportados para o Laboratório de Geotecnia adsortivo das misturas. Para a realização desses
Ambiental (LGA) da UFCG, conforme as ensaios foram separadas pequenas amostras do solo
recomendações da NBR 6457 (ABNT, 2016a), local e das misturas, as quais foram destorroadas e
obtendo amostras representativas dos solos. passadas na peneira de abertura de malha de 2 mm. O
Procedeu-se com a caracterização dos solos a ensaio foi realizado seguindo as diretrizes da norma
partir de ensaios geotécnicos e análises físico- D4646 (ASTM, 2016).
químicas, conforme apresentado na Tabela 1.
2.3.1 Preparo das soluções contaminantes
Tabela 1: Ensaios realizados e respectivas
metodologias empregadas. As soluções contaminantes multiespécie foram
Análise Ensaio Normativa preparadas com os metais pesados níquel (Ni),
Massa chumbo (Pb) e zinco (Zn) como solutos. Utilizou-se
NBR 6458
Específica dos
(ABNT, 2016b)
como reagente os sais de nitrato de níquel
grãos (Ni(NO3)2), de chumbo (Pb(NO3)2) e de zinco
NBR 7181 (Zn(NO3)2) e, como solvente, a água destilada. Foram
Granulometria
Geotécnica (ABNT, 2016c) consideradas cinco faixas de concentrações para os
NBR 6459
LL1 ensaios de equilíbrio em lote, conforme os valores
(ABNT, 2016d)
NBR 7180
mostrados na Tabela 2. Essas concentrações foram
LP2 majoradas, em relação aos valores observados em
(ABNT, 2016e)
CTC3 aterros brasileiros (Souto & Povinelli, 2007), para
Complexo garantir melhor precisão na leitura no
sortivo espectrofotômetro de absorção atômica. Além disso,
Embrapa permite analisar uma faixa ampla do comportamento
Matéria
Físico-química (2017) adsortivo dos metais nos solos.
Orgânica
pH em H2O As soluções contaminantes foram preparadas a
pH em KCl partir dos sais de nitratos e as respectivas massas de
1
Limite de Liquidez; 2Limite de Plasticidade; 3Capacidade cada metal foram obtidas por meio de cálculos
de Troca Catiônica; *Proctor Normal; **Carga variável - estequiométricos. Em seguida as amostras foram
direção vertical. inseridas em tubos Falcon com capacidade de 50 mL
para a realização dos ensaios de equilíbrio em lote.

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621
Equação 2.
Tabela 2: Concentrações dos metais nos ensaios de
equilíbrio em lote. 𝐶𝑒
𝐸𝐴 = (1 − 𝐶0) ∗ 100 (2)
Faixas de Ni, Pb e Zn Ni Pb Zn
concentração (mmol.L-1) (mg.L-1)
1º 0,17 10 36 11 A sequência de seletividade dos metais no solo
2º 0,85 50 177 56 local e das respectivas misturas foi analisada
3º considerando o coeficiente de distribuição (Kd) e o
2,55 150 530 167
coeficiente de distribuição médio (Kd,médio), obtidos
4º 4,25 250 882 278
pelas Equações 3 e 4, respectivamente. O valor de n
5º 5,96 350 1235 390 representa o número de pontos experimentais.

2.3.2 Isoterma de adsorção 𝑞


𝑘𝑑 = (3)
𝐶𝑒

A isoterma de sorção faz parte do ensaio de equilíbrio 𝑛


𝛴𝑖=1 𝑘𝑑,𝑖
em lote, e consiste em agitar a mistura de um material 𝑘𝑑,𝑚é𝑑𝑖𝑜 = 𝑛
(4)
com a solução contaminante em diferentes
concentrações, por determinado tempo. A proporção
solo-solução, utilizada neste trabalho, foi de 1:25, ou 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
seja, 1 g de solo seco para 25 mL de solução
contaminante. 3.1 Caracterização dos solos
O solo local e as misturas M1 e M2 foram pesados
considerando a massa do material úmido equivalente A Tabela 3 apresenta os resultados da caracterização
a 1g de material seco e, em seguida, inseridos em geotécnica dos solos local e bentonítico, assim como
tubos Falcon junto com a solução contaminante de 25 das misturas M1 e M2. Nota-se que, conforme o
mL referente a cada ponto experimental. As SUCS, descrito pela norma D2487 (ASTM, 2000), o
suspensões solo-solução foram submetidas à agitação solo local e as misturas M1 e M2 foram classificados
de 100 rpm na mesa agitadora Orbital, modelo SL como areia siltosa (SM), enquanto que o solo
180 da Solab. A agitação procedeu até atingir a bentonítico foi classificado como argila de baixa
concentração de equilíbrio do soluto em um período compressibilidade (CL).
estipulado de 24 horas, com temperatura ambiente
controlada em 23 ± 2°C. Após a agitação, as misturas Tabela 3: Resultado da caracterização geotécnica dos solos
foram centrifugadas em centrífuga modelo NT 815 e misturas.
da Novatecnica, com raio de 9,5 cm, a 3000 rpm Solo
Solo
durante 15 min. Em seguida a alíquota foi separada Características bentonític M1 M2
local
do material sedimentado, conservada a 5ºC, para o
posterior quantificação de cada metal no Peso específico
26,6
espectrofotômetro de absorção atômica à chama dos grãos 27,74 26,80 27,38
0
modelo AA 240FS da Agilent. (kN/m³)
Limite de
A partir das concentrações finais obtidas, foram NL 82 22 24
Liquidez (%)
calculadas as concentrações adsorvidas (q) de cada Limite de
metal ao solo em função de cada concentração de NP 38 17 18
Plasticidade(%)
equilíbrio (Ce), de acordo com a Equação 1. As Índice de
isotermas de adsorção foram, então, plotadas com o – 44 5 6
Plasticidade(%)
auxílio do software Excel, versão 2013. Pedregulho (%) 4 0 3 2
Areia (%) 68 43 58 54
(𝐶0−𝐶𝑒)𝑉 Silte (%) 10 21 12 17
𝑞= 𝑀
(1)
Argila (%) 18 36 27 27
Onde, C0 é a concentração do metal, em (mmol.L-
1) disponível para o ensaio; V é o volume da solução Observa-se, pelos dados da Tabela 3, que houve
contaminante, em L; e M é a massa de solo seco um maior aumento na fração fina (silte + argila) e
utilizada, em Kg. no Índice de Plasticidade (IP) para a mistura M2,
Para investigar o potencial do solo local e das quando comparada com a mistura M1. Esse aumento
misturas M1 e M2, em adsorver os íons metálicos em sugere uma maior superfície específica das
solução, foi determinada a Eficiência de Adsorção partículas do solo, o que é favorável para elevar a
(EA), em porcentagem, calculada por meio da

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622
superfície de contato do solo com cátions metálicos
de soluções contaminantes. 3.2 Isotermas de adsorção
Alguns dos principais atributos físico-químicos
dos solos foram determinados e os resultados estão As isotermas dos pontos experimentais referentes à
mostrados na Tabela 4. adsorção de Ni, Pb e Zn no solo local e nas misturas
M1 e M2 estão ilustradas nas Figuras 2, 3 e 4. Foi
Tabela 4: Resultado dos atributos físico-químicos dos observado comportamento favorável ao processo
solos e misturas. adsortivo devido ao traçado dos pontos delimitando
Solo uma concavidade para baixo, de acordo com a
Solo
Características bentonític M1 M2 classificação proposta por McCabe et al. (1993).
local
o
CTC 12,2 13,5 14,8
35,91
(cmolc/kg) 8 1 2
Matéria
11,0 10,8
orgânica 3,99 9,03
0 2
(g/kg)
Carbono
ogânico 6,38 2,31 6,28 5,24
(g/kg)
pH H2O (1:2,5) 5,63 9,40 7,40 8,30
pH KCl (1:2,5) 4,71 7,68 6,27 6,63
PCZ 3,79 5,96 5,14 4,96
Figura 2. Isotermas de adsorção dos metais Pb, Ni e Zn
O valor de CTC do solo bentonítico é quase três para o solo local.
vezes maior que o do solo local, conforme mostrado
na Tabela 4. Isso reflete a grande capacidade que o As isotermas obtidas para as misturas M1 e M2
solo bentonítico apresenta para promover a troca de (Figuras 3 e 4, respectivamente), mostram
cátions livres em solução. Alleoni et al. (2005) e comportamento semelhante ao estudo realizado por
Elbana et al (2018) relatam a CTC como uma das Silva et al. (2020), que encontrou bom desempenho
propriedades que mais contribuem para elevar a adsortivo de metais em misturas de solos com
capacidade adsortiva dos solos a metais pesados. bentonita.
Com relação ao pH, obteve-se valores de pHH2O Com base na classificação de Giles et al. (1974),
maiores que pHKCl tanto nos solos individualmente as isotermas de sorção dos metais nos solos,
como nas misturas M1 e M2, de modo que a variação apresentadas nas Figuras 2, 3 e 4, seguiram as
pHKCl - pHH2O foi negativa, enquanto que os valores características do tipo L, com curva de inclinação
de PCZ foram todos inferiores aos de pH. Segundo decrescente à medida em que a concentração do
Apeel et al. (2003) e Albuquerque et al. (2005), essa contaminante aumenta, devido a diminuição dos
condição reflete no predomínio de carga líquida sítios de adsorção disponíveis (Sparks, 2003).
negativa nos colóides do solo, favorecendo a Demais estudos relacionados com a adsorção de
adsorção de cátions metálicos. metais pesados em solos também apontaram para a
A análise química dos solos local e bentonítico isoterma do tipo L como a mais frequentemente
apresentaram alguma similaridade, com a sílica observada (Linhares et al., 2010; Piri et al., 2019).
(SiO2) como constituinte predominante, seguido dos Nas isotermas do tipo L é comum a presença de
óxidos de alumínio (Al2O3) e ferro (Fe2O3) e, em um patamar, isto é, uma reta praticamente horizontal
menores percentuais, dos óxidos de potássio (K2O) e para altas concentrações de equilíbrio, indicando uma
de cálcio (CaO). De particular importância na saturação dos sítios de adsorção do solo. Para o
adsorção de íons metálicos pelo solo são os óxidos de intervalo de concentrações empregados nesta
ferro e alumínio, especialmente em se tratando da pesquisa, esse patamar não ficou bem definido, mas
adsorção de íons de chumbo (Linhares et al., 2009; nota-se indícios de uma possível saturação dos locais
Sipos et al., 2018). de adsorção dos solos com base no comportamento
Na mineralogia dos solos foi constatada maior das isotermas de Ni e Zn, principalmente com relação
incidência do mineral quartzo, ocorrendo também à mistura M2.
picos de feldspato e caulinita para o solo local e, para
o bentonítico, picos de feldspato e montmorilonita. O
aumento de minerais montmorilonita em misturas de
solos contribui para elevar a capacidade de retenção
a metais pesados (Xu et al., 2021).

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623
Figura 3. Isotermas de adsorção dos metais Pb, Ni e Zn Figura 5. Eficiência de adsorção dos metais Ni, Pb e Zn e
para M1. da solução contaminante (Ni+Pb+Zn) no solo local e nas
misturas M1 e M2.

Comportamento semelhante relacionado à


eficiência de adsorção foi observado por Pierangeli et
al (2007) na adsorção de íons de Pb em solos, tanto
individualmente como em soluções multiespécies
com cádmio e cobre, com intervalo de concentração
de 0,01 a 0,75 mmol.L-1. Glastein e Francisca (2015)
também constaram a mesma tendência na adsorção
de Pb em bentonita sódica para concentrações de até
365 mg.L-1 do metal em solução uniespécie.
Ainda, com relação a Figura 5, observa-se uma
Figura 4. Isotermas de adsorção dos metais Pb, Ni e Zn eficiência de adsorção dos metais no solo na ordem
para M1.
de M2>M1>solo local. A melhor afinidade da mistura
M2 aos metais analisados pode ser entendida como
Com relação ao metal Pb, constata-se que o último
reflexo dos valores de percentuais de finos, CTC e
ponto das isotermas não apresenta tendência de
pH superiores aos demais, uma vez que essas
consolidação de um patamar, e sim sugere que houve
características contribuem positivamente para uma
uma provável adsorção do metal em uma nova
maior disponibilidade de sítios de adsorção no solo
camada adsortiva. Esse comportamento do Pb
(Bavaresco et al., 2017; Elbana et al., 2018).
também foi identificado em estudos de adsorção com
Com relação às eficiências de adsorção aos
solos no estudo de Linhares et al. (2009).
metais, os maiores valores foram obtidos para o Pb,
Comparando as isotermas experimentais dos três
quando comparado com os metais Ni e Zn, tanto no
metais em estudo, observa-se que o Pb foi mais
solo local como nas misturas M1 e M2. A maior
adsorvido tanto no solo local como nas misturas,
eficiência de adsorção do Pb ocorreu para a mistura
enquanto que o Ni e o Zn apresentaram isotermas
M2, que removeu mais de 90% do metal na solução
com comportamentos semelhantes entre si. Esse
do 1º ponto experimental. O Ni, por sua vez, foi mais
comportamento de maior adsorção do Pb pode
adsorvido do que o Zn nos 1º e 2º pontos
também ser observado nos valores de EA, observados
experimentais. É possível, portanto, estabelecer a
na Figura 5.
seguinte ordem de afinidade dos metais, válida para
Na Figura 5 são apresentadas as EAs dos íons de
o solo local e para as misturas M1 e M2: Zn<Ni<Pb.
Pb+2, Ni+2 e Zn+2 e da solução contaminante como um
Os resultados dos coeficientes de distribuição
todo (Pb+2 + Ni+2 + Zn+2) no solo local e nas misturas
médio são apresentados na Tabela 5. Maiores valores
M1 e M2 em função dos cinco pontos experimentais
dos coeficientes Kd indicam maior sorção do metal
do ensaio de equilíbrio em lote. Nota-se, pelo gráfico
no solo (Mattos et al., 2016), ou seja, maior retenção
da Figura 5, que a eficiência de adsorção dos metais
do metal pelo solo. Isso se mostra importante em
diminui à medida em que houve o aumento da
liners confeccionadas por solos compactados, pois
concentração inicial de metais nas soluções
contribui para dificultar a lixiviação do metal em
contaminantes. Isso está relacionado com uma
direção aos solos subjacentes e águas subterrâneas
provável saturação dos sítios de adsorção à medida
próximas (Silva et al., 2020).
em que há aumento da concentração. Fato também
encontrado por Rwiza et al. (2018).
Tabela 5: Valores do coeficiente de distribuição médio
(Kd,médio) de cada metal para o solo local e misturas e

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


624
sequência de seletividade obtida. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Kd,médio [L.kg-1] Sequência (2016c). NBR 7.181: Solo – Análise granulométrica.
Solo/mistura de Rio de Janeiro.
Pb Ni Zn ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
seletividade
Solo Local 44,25 21,81 13,99 Pb>Ni>Zn (2016d). NBR 6.459: Solo – Determinação do limite de
M1 66,12 36,36 21,45 Pb>Ni>Zn liquidez. Rio de Janeiro.
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
M2 208,5 68,11 54,43 Pb>Ni>Zn
(2016e). NBR 7.180: Solo – Determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro.
Para cada solo/mistura, os maiores valores de ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Kd,médio foram para o Pb, seguido do Ni e do Zn, nesta (2016f). NBR 7.182: Solo – Ensaio de compactação.
sequência. Esses resultados estão na mesma ordem de Rio de Janeiro.
grandeza de estudos realizados por Usman (2008) ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
com seis diferentes tipos de solo no Egito, assim (2021). NBR 14545: Solo - Determinação do
como a preferência de seletividade observada para o coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a
carga variável. Rio de Janeiro.
Pb. Baghnejad et al. (2016), também considerando o
Albuquerque, J. A., Argenton, J., Bayer, C., Wildner,
Kd,médio, identificaram o Pb como metal de maior L. D. P., & Kuntze, M. A. G. (2005). Relação de
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acima de 1.000 L.kg-1. Vermelho sob sistemas de preparo e plantas de verão
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do Solo, v. 29, p. 415-424.
4 CONCLUSÕES Alleoni, L. R. F., Iglesias, C. S. M., de Castro Mello,
S., de Camargo, O. A., Casagrande, J. C., & Lavorenti,
O solo M2 apresentou maior capacidade de adsorção N. A. (2005). Atributos do solo relacionados à
dos metais (M2 > M1 > solo local), fato indicado pelas adsorção de cádmio e cobre em solos tropicais. Acta
Scientiarum. Agronomy, v. 27, n. 4, p. 729-737.
características físico-químicas favoráveis dessa
Anning, A. K., & Akoto, R. (2018). Assisted
mistura em relação às demais. phytoremediation of heavy metal contaminated soil
A partir do Kd, foi constatado que a sequência de from a mined site with Typha latifolia and
seletividade seguiu a ordem de Pb>Ni>Zn, indicando Chrysopogon zizanioides. Ecotoxicology and
que, tanto o solo local como as misturas, environmental safety, v. 148, p. 97-104.
apresentaram maior capacidade de retenção ao Pb, Appel, C., Ma, L. Q., Rhue, R. D., & Kennelley, E.
enquanto que o Ni e o Zn foram os metais mais (2003). Point of zero charge determination in soils and
móveis e, portanto, mais suscetíveis de atingir os minerals via traditional methods and detection of
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626
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Contribuições de Modelos DDA para Avaliação do Risco


Ambiental de Subsidência
Paulo Gustavo Cavalcante Lins
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil, plins@ufba.br

Roberto Bastos Guimarães


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil, guimaraes.rb@gmail.com

Leonardo Bonfim Reis


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil, leonardobdreis@gmail.com

RESUMO: A subsidência associada à instabilização de aberturas subterrâneas é um importante problema ambiental, que
pode ser natural ou associada com a ação do ser humano. Os modelos DDA (Discontinuous Deformation Analysis)
permitem simular sistemas formados por blocos de rocha separados por por descontinuidades. Modelos DDA foram
elaborados para simular o padrão de movimentos acima de aberturas subterrâneas. No modelo de bacia de recalque
tomado como referência nos limites laterais da escavação se identifica um plano de influência externo, que intersecta na
superfície o limite da bacia de recalques verticais. Um plano de influência interno delimita na superfície o valor do
recalque máximo da bacia de subsidência na superfície. Os modelos DDA permitiram associar a instabilização do teto
da abertura com a formação de uma bacia de recalque na superfície. Curvas Gaussianas e Yield-Density foram ajustadas
aos dados das bacias de recalque na superfície. Os parâmetros das curvas ajustadas indicam que para as situações
simuladas os recalques diferenciais não são aceitáveis para regiões onde existam edificações. As curvas Yield-Density
apresentaram resultados mais consistentes.

PALAVRAS-CHAVE: Subsidência, Bacias de Recalque, Instabilidade de Teto, Viga “Voussoir”, DDA.

ABSTRACT: Subsidence associated with with the instabilization of underground openings is an important environmental
problem, which can be natural or associated with human action. The DDA (Discontinuous Deformation Analysis)
models allow simulating systems formed by rock blocks separated by discontinuities. DDA models were designed to
simulate the movements patterns above underground openings. In the model of the settlement basin taken as a reference
in the lateral limits of the excavation an external influence plane is identified, which intersects the boundary of the
vertical settlement basin on the surface. An internal influence plane delimits on the surface the maximum settlement
value of the subsidence basin on the surface. The DDA models make possible to associate the stabilization of the
underground opening with the formation of a surface settlement troughs. Gaussian and Yield-Density curves were fitted
to the surface settlement troughs data. The parameters of the adjusted curves indicate that for the simulated situations
the differential settlements are not acceptable for regions where there are buildings. Yield-Density curves showed more
consistent results.

KEY WORDS: Subsidence, Settlement Troughs, Roof Instability, “Voussoir” Beam, DDA.

1 INTRODUÇÃO associados ao terreno cárstico, ver Lins et al. (2015)


e Lins et al. (2016).
A instabilidade do teto de aberturas subterrâneas O fenômeno de subsidência pode estar associado
pode gerar uma bacia de subsidência na superfície. com escavações para mineração, ver Denkhaus
O fenômeno pode ser de cunho natural, quando a (1964) e Whittaker & Reddish (1989). A forma da
instabilidade ocorre no teto de cavernas, em terrenos bacia de recalque devido a escavações de túneis é
cársticos. Em um caso extremo a instabilidade pode discutida, por exemplo, em Peck (1969) e Celestino
atingir a superfície, formando uma dolina. & Ruiz (1998).
O município de Lapão, localizado no interior da A instabilização do teto das aberturas
Bahia, sofre com os efeitos dos movimentos subterrâneas pode se iniciar com o desprendimento

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627
de camadas imediatamente superiores a abertura. estrutura do arco se mantinha estável.
Modelos de viga “voussoir” auxiliam a O termo viga “voussoir” (“aduela” em uma
compreensão dos processos. Uma zona solta pode se tradução direta do francês) se refere a uma linha de
formar acima do teto. As dimensões desta zona solta blocos de rocha que está sob um esforço de um arco
dependem das características geomecânicas do de compressão no corpo da viga. A compressão
maciço. Acima da zona solta ocorre um processo de mobiliza a resistência ao cisalhamento entre os
arqueamento das tensões para as laterais da abertura. blocos, fazendo que o conjunto dos blocos trabalhe
O modelo de zona de arqueamento de Terzaghi de forma similar a uma viga contínua.
(1946) é uma forma de representar este processo. Hatzor & Benary (1998), Diederichs & Kaiser
No presente trabalho modelos DDA (1999), Diederichs (2003) e Tsesarsky & Hatzor
(Discontinuous Deformation Analysis) serão (2006) discutem o conceito de viga “voussoir” no
utilizados para relacionar o processo de contexto da estabilidade de aberturas subterrâneas
instabilidade do teto de uma abertura subterrânea em rocha.
com a formação de uma bacia de subsidência na A Figura 2 ilustra o arco de compressão que faz
superfície do terreno. Hatzor & Benary (1998) uma viga composta por dois blocos permanecer em
estudaram o processo de colapso de uma abertura uma condição de equilíbrio estático. Segundo
subterrânea com modelos DDA e utilizando o Diederichs & Kaiser (1999) a viga “voussoir” pode
conceito de viga “voussoir”. Tsesarsky & Hatzor se instabilizar por (a) perda de contato dos blocos,
(2006) realizaram análises paramétricas com DDA (b) esmagamento nas pontas, (c) deslizamento
para estudar a influência de espaçamento e atrito na vertical dos blocos; ou (d) fraturamento diagonal.
deflexão do teto de aberturas subterrâneas. He & Em um maciço fraturado, com estratificação
Zhang (2015) utilizaram modelos DDA para horizontal marcante, um conjunto de vigas
investigar o mecanismo de arqueamento em “voussoir” pode ser formado e manter a estabilidade
escavações subterrâneas. Lins & Guimarães (2021) do teto da abertura. A deflexão de uma linha ou
reproduziram o comportamento de modelos conjunto de linhas de vigas “voussoir” cria uma
reduzidos de instabilização de teto de aberturas zona solta acima do teto da abertura.
utilizando simulações DDA.

2 INSTABILIDADE DE TETO

O processo de formação de cavernas em domínios


cársticos está associado à dissolução das rochas pela
água. Os padrões de movimento são mais amplos
que apenas a dissolução.
O comportamento de cavernas em meios
cársticos pode oferecer meios de compreensão dos
processos de instabilização do teto de aberturas
subterrâneas. Waltham & Fookes (2003) descrevem
a ruptura progressiva do teto de uma caverna. Os
processos de quebra das camadas de rocha no teto
da caverna fazem a abertura ascender, com acumulo
de detritos no piso da caverna. A Figura 1 ilustra
uma caverna resultante da dissolução de rocha
cárstica, que estava 12 metros abaixo do patamar
registrado na foto. O processo se deu em cerca de Figura 1. Ruptura progressiva do teto de uma abertura
100 mil anos. subterrânea (Waltham & Fookes, 2003).

3 VIGA “VOUSSOIR”

A noção do uso de um arco como aduela de um


portal existe desde a Roma antiga. Os construtores
daquela época colocavam blocos de rocha em tal
forma de arco que os esforços verticais eram Figura 2. Modelo análogo de viga “voussoir” (Diederichs
retransmitidos lateralmente, de maneira que a & Kaiser, 1999).

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628
4 SUBSIDÊNCIA ocorrer. Em princípio o máximo recalque deveria
ser de uma altura da escavação. O terceiro estágio é
Uma discussão ampla sobre o movimento dos chamado de supercrítico (Figura 4c).
estratos de rocha acima de aberturas subterrâneas é Deve ser destacado que não é o recalque máximo
apresentada por Denkhaus (1964). Um destaque que provoca mais danos na região da superfície. Os
deve ser dado para as teorias de formação de bacias recalques diferenciais são o principal problema
de subsidência ou bacias de recalques. relacionado com estes fenômenos.
Na Figura 3 está representado um padrão de
movimentos acima de uma escavação horizontal.
Nos limites laterais da escavação se identifica um
plano de influência externo, que intersecta na
superfície o limite da bacia de recalques verticais.
Um plano de influência interno delimita na
superfície o valor do recalque máximo da bacia de
subsidência na superfície. Na Figura 3 pode ser
identificado um plano de ruptura sobre o qual o
maciço desliza para baixo.
No presente trabalho o plano de influência
interno será relacionado como delimitador da zona
solta acima da escavação.

Figura 4. Três estágios de subsidência (Denkhaus, 1964).

5 MODELAGEM DDA

Figura 3. Padrão de movimentos e bacias de subsidência Os modelos DDA (Discontinuous Deformation


(modificado de Denkhaus, 1964). Analysis) permitem simular sistemas formados por
blocos de rocha separados por descontinuidades. Na
Três estágios de subsidência são identificados sua formulação clássica os blocos de rocha são
por Denkhaus (1964). No primeiro estágio a relação considerados com comportamento elástico linear e
entre a dimensão da escavação e sua cobertura é de as descontinuidades obedecendo ao critério de
tal magnitude que o encontro dos planos de ruptura de Mohr-Coulomb. Uma descrição
influência internos ocorre abaixo da superfície. detalhada do histórico e formulação do DDA pode
Como existe uma possibilidade da existência de ser encontrada em Hatzor et al. (2018).
uma zona de arqueamento acima da zona solta, se A formulação tradicional do DDA assume que
espera uma bacia de recalque mais suave. Este cada bloco individual possui seis variáveis no total,
primeiro estágio é chamado de subcrítico (Figura sendo três variáveis de deslocamento (deslocamento
4a). horizontal, deslocamento vertical e rotação) e três
No segundo estágio a relação entre a dimensão variáveis de deformação (deformação axial na
da escavação e sua cobertura é de dimensões que os horizontal, deformação axial na vertical e distorção
planos de influência internos se encontram angular).
exatamente na superfície. A zona de arqueamento Um processo iterativo é realizado ao longo de
acima da zona solta praticamente não existiria. O passos no domínio do tempo. Os contatos entre os
segundo estágio é chamado de crítico (Figura 4b). blocos são identificados e atualizados ao longo do
No terceiro estágio a cobertura é tão pequena que processo de análise.
o encontro entre os planos de influência internos se A partir da minimização da energia potencial,
projeta acima da superfície. Uma parcela da bacia de pode ser encontrado um sistema de equações que
subsidência possui um recalque homogêneo. Esta representa o sistema com forma:
condição é tal que a formação de uma dolina poderia

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629
∙ + ∙ + ∙ = (1) 6 PROCESSO DE MODELAGEM

Onde K é a matriz de rigidez, d é o vetor de Os modelos DDA construídos para este trabalho
deslocamentos, C é a matriz de viscosidade, é o buscam estabelecer relações entre o processo de
vetor de velocidades, M é a matriz de massa, é o instabilização do teto da abertura com a formação da
vetor de acelerações e F é o vetor de forças. bacia de recalque na superfície.
A Equação (1) é resolvida por um esquema tipo A Figura 5 mostra a configuração inicial de um
Newmark-β. modelo de referência. Apenas a região do teto e as
As submatrizes de cada bloco e as submatrizes paredes da abertura estão representadas no modelo.
dos contatos entre blocos são montadas em uma A região abaixo do piso da abertura não foi
matriz global de acordo com os graus de liberdade considerada. A configuração da região do teto segue
de cada bloco. As equações globais de equilíbrio um padrão similar ao utilizado nas análises de Lins
podem ser escritas na seguinte forma: & Guimarães (2021).


A análise realizada é do tipo “ligar a gravidade”


(“gravity turn-on”). Na configuração geométrica já
=
⋮ ⋮ ⋱ ⋮ ⋮ ⋮
com a abertura as forças gravitacionais são ativadas.
(2)

Os blocos nas laterais e base do modelo são
fixos, se constituindo em condições de contorno.
Nas simulações a resistência entre os blocos foi
As submatrizes Kii dependem das propriedades definida por um ângulo de atrito de 30º e coesão
do material do bloco i. As submatrizes Kij são nula.
definidas pelos contatos entre os blocos i e j. Os
vetores coluna di se referem as seis incógnitas dos
blocos i. Os vetores coluna fi se referem ao
carregamento nos blocos i.
Na formulação tradicional do DDA o campo de
deslocamentos é aproximado como linear dentro dos
blocos. Os blocos podem possuir um formato
poligonal qualquer.
Cada bloco individual interage com os outros nos
seus contornos. Para blocos bidimensionais três
tipos de contatos existem: vértice-vértice, vértice-
aresta, e aresta-aresta. Dentre estes contatos, o
contato vértice-aresta e o contato vértice-vértice são
os dois tipos básicos. O contato aresta-aresta pode
ser convertido em uma combinação dos dois tipos
básicos, existindo em quatro formas básicas.
Detalhes sobre a detecção de contatos podem ser
encontrados Hatzor et al. (2018).

5.1 Programa Utilizado

No presente trabalho foi utilizado o programa DDA


2D de Shi (2012). O programa possui quatro
módulos. O DDA LINES (DL) que produz as linhas
do modelo incluindo descontinuidades e linhas de Figura 5. Configuração inicial do modelo de referência.
contorno. O DDA CUT (DC) que computa os
blocos a partir de linhas individuais. O DDA A Figura 6 mostra a configuração final da análise
FORWARD (DF) que realiza a análise estática ou do modelo de referência. Os blocos acima da
dinâmica do sistema de blocos. Por fim, o DDA abertura se desprenderam e se depositaram no piso
GRAPH (DG) que é um pós processador gráfico e da abertura. A zona solta acima da escavação quase
produz arquivos no formato postscript. por completo se desprendeu. No limite da zona solta
Para automatizar a geração das linhas dos um bloco ficou estável por efeito “voussoir”.
modelos utilizados no presente trabalho, pequenos As cruzetas nos centróides dos blocos
programas em Fortran foram desenvolvidos para representam a magnitude e orientação das tensões
criar os arquivos de entrada do programa DL. principais. Deve ser notado que quanto mais longe

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630
da projeção da abertura as tensões principais são abertura. Entretanto, a instabilização não alcançou a
mais próximas da vertical e horizontal, situação superfície, como era inicialmente esperado.
coerente com a condição de tensões naturais. Na Ocorreu no topo da zona instabilizada a
região acima da abertura existe uma rotação da formação de vigas “voussoir”. Uma linha de cinco
direção das tensões naturais, indicando uma blocos sofrendo alguma deflexão pode ser
transmissão de carga para as laterais e a existência identificada. As tensões nestes blocos são
de um processo de arqueamento. horizontalizadas.
As cruzetas indicando as tensões principais nos
centróides dos blocos indicam um padrão de
arqueamento. Este padrão de arqueamento é mais
nítido no entorno da zona instabilizada. A
magnitude e orientação das tensões principais
indicam uma forma de arco.
A Figura 7 mostra a forma hipotética do domo
com sistema intradorsal “voussoir”, conforme
Denkhaus (1964). O padrão de arqueamento lateral
das linhas de empuxo da forma hipotética é similar
ao padrão das direções das tensões principais do
modelo de estágio crítico DDA na Figura 8.

8 MODELO DE ESTÁGIO SUBCRÍTICO

As condições de uma situação em estágio subcrítico


são ilustradas na Figura 4a. Considerando o padrão
de fraturamento do teto da escavação era esperado
inicialmente que o ângulo de influência interno
fosse de 45º. Assim as dimensões escolhidas para o
modelo assumiram uma cobertura duas vezes a
dimensão da zona solta esperada.
A Figura 9 mostra a configuração final da
Figura 6. Configuração final do modelo de referência. simulação da condição de estágio subcrítico. A zona
instável acima da abertura foi menor que a esperada
No DDA as análises do tipo “ligar a gravidade” inicialmente. Porém, a zona instável foi maior que a
apresentam alguns problemas. A aplicação súbita do obtida na simulação do estágio crítico, o que não era
carregamento gera a propagação de ondas de esperado.
deslocamento que se dissipam ao longo dos passos Na Figura 9, nas laterais da zona instável, existe
da análise. Estes problemas são discutidos com uma tendência de movimento horizontal dos blocos.
maior detalhe em MacLaughlin & Sitar (1999) e Entretanto, os mesmos blocos se estabilizaram em
Hatzor et al. (2018). No presente trabalho um uma nova configuração.
número grande de passos de tempo foi utilizado Acima da zona instável existe formação de vigas
como estratégia para superar a dificuldade. “voussoir”. Uma linha de quatro blocos com
deflexão pode ser identificada no modelo na Figura
9. Na região imediatamente superior a zona instável
7 MODELO DE ESTÁGIO CRÍTICO as tensões principais estão bastante horizontalizadas.
Com relação ao padrão das linhas de empuxo da
No chamado modelo de estágio crítico as dimensões forma hipotética do domo com sistema intradorsal
da abertura e da cobertura foram escolhidas para “voussoir” (Figura 7), o padrão de arqueamento do
atender a condição de estágio crítico, ilustrada na modelo DDA também se mostrou consistente.
Figura 4b. Dado o padrão de fraturamento da região Como no modelo da Figura 9 existe uma região
do teto da escavação, se esperava inicialmente que o maior para se processar o arqueamento acima da
ângulo de influência interno fosse de 45º. abertura, a região de arqueamento também é maior.
A Figura 8 mostra a configuração final da Tanto verticalmente quanto horizontalmente.
simulação do modelo de estágio crítico. A maior Na Figura 9 a forma da região de arqueamento é
parte dos blocos da região que era esperada como mais elíptica do que a observada na Figura 8.
zona solta se desprendeu e se depositou no piso da

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631
Figura 7. Forma hipotética do domo com sistema intradorsal “voussoir” (Denkhaus, 1964).

Figura 8. Configuração final do modelo de estágio crítico.

Figura 9. Configuração final do modelo de estágio subcrítico.

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632
9 ANÁLISE DOS RESULTADOS dados das simulações. O recalque máximo
observado é de aproximadamente 0,67 metros. A
Nos modelos DDA apresentados nas Figuras 8 e 9, distorção angular máxima do ajuste da curva
pontos de monitoramento foram colocados na Gaussiana foi de 1:28; para o ajuste da curva Yield-
primeira linha de blocos. Estes pontos permitem Density foi de 1:10. Deve ser lembrado que
conhecer o deslocamento vertical (recalque) na distorções de 1:300 indicam o início de dano
superfície. estrutural e distorções de 1:150 indicam dano
Como a análise realizada foi do tipo “ligar a estrutural severo. A simulação é referida a uma
gravidade”, os deslocamentos verticais incluem a situação de campo que não é aceitável.
compressão do maciço sob peso próprio. Dois A curva Gaussiana e a curva Yield-Density
modelos base foram elaborados sem a existência das também foram ajustadas aos dados do recalque da
aberturas. O recalque considerado foi o do modelo simulação do modelo subcrítico. A Figura 11
com abertura com a subtração do recalque no também mostra uma melhor adequação da curva
modelo base. Assim as curvas de recalque Yield-Density. O recalque máximo observado é de
longitudinal (bacias de recalque) foram obtidas. A aproximadamente 0,36 metros. A distorção angular
Figura 10 apresenta os resultados para o modelo de máxima do ajuste da curva Gaussiana foi de 1:84;
estágio crítico. A Figura 11 apresenta os resultados para o ajusta da curva Yield-Density foi de 1:92.
para o modelo de estágio subcrítico. Para a simulação de estágio subcrítico, embora os
valores de distorção angular sejam menores também
não são aceitáveis.
No presente trabalho as simulações permitiram
definir metodologia de modelagem que representem
situações similares as que ocorrem em Lapão.
Também foi possível definir o custo computacional
deste tipo de análise.
Em trabalhos futuros serão realizadas retro-
análises das bacias de recalques encontradas em
Lapão. Desta forma se espera realizar estimativas
das configurações das aberturas subterrâneas
associadas os movimentos naquele local.

Figura 10. Ajuste de curvas à bacia de recalque, modelo 10 CONCLUSÃO


de estágio crítico.
Os modelos DDA permitiram representar o processo
de instabilização do teto de aberturas subterrâneas e
sua associação com a formação de uma bacia de
recalque na superfície.
O modelo de estágio crítico apresentou uma
bacia com recalque máximo maior que o modelo de
estágio subcrítico. As zonas soltas acima da abertura
foram menores que as estimativas iniciais. Este fato
é explicado pela formação de vigas “voussoir”, que
representam um importante mecanismo de
estabilização.
A orientação das tensões principais nos
centróides dos blocos permitiu identificar um
processo de arqueamento acima e nas laterais da
Figura 11. Ajuste de curvas à bacia de recalque, modelo zona solta. As características do arqueamento são
de estágio subcrítico. diferentes nos modelos de estágio crítico e
subcrítico. No modelo de estágio subcrítico a região
Aos dados da bacia de recalque do modelo de da cobertura estável acima da abertura é maior,
estágio crítico foi ajustada a curva Gaussiana (Peck, permitindo mais espaço para o arqueamento.
1969) e a curva Yield-Density (Celestino & Ruiz, As curvas Yield-Density apresentaram um ajuste
1998). Pode ser observado na Figura 10 que a curva melhor aos dados das bacias de recalque na
Yield-Density representa de forma muito melhor os superfície em ambos os modelos.

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633
Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e
Ambiental, Bento Gonçalves, RS.
AGRADECIMENTOS MacLaughlin, M.M. & Sitar, N. (1999). A gravity turn-on
routine for DDA. Proceedings III International
Os autores agradecem ao Professor Tarcísio B.
Conference on Analysis of Discontinuous
Celestino (EESC/USP e THEMAG Engenharia) por
compartilhar arquivos com exemplos de problemas Deformation, Vail, Colorado. p. 65-74.
DDA. Peck, R.B. (1969). Deep excavations and tunneling in
soft ground. Proceedings VII International
Conference on Soil Mechanics and Foundation
REFERÊNCIAS Engineering, Mexico City, State of the Art Volume, p.
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Denkhaus, H.G. (1964). Critical review of strata Terzaghi, K. (1946). Rock defects and loads on tunnel
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modelo geomecânico para análise de risco do relevo
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634
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Estudo da adsorção do elemento Cromo (Cr) por meio de


experimento, em escala reduzida, da camada de base do aterro
sanitário em Campina Grande – PB
Marcela de Almeida Costa 1;
Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil, marcela.costa@aluno.upeb.edu.br

Laércio Leal dos Santos2;


Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande-PB, Brasil, laercioleal@servidor.uepb.edu.br

Daniela Lima Machado da Silva3


Universidade Federal do Ceará, Russas-CE, Brasil, danielalms@ufc.br

Jessica Kaori Sasaki4


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB, Brasil, jessicakaori@hotmail.com

RESUMO: A migração de uma solução contaminante através dos interstícios do sistema solo-água-ar é influenciada por
diversos mecanismos de transporte, os quais definem as interações solo-contaminante. Misturas de solo natural local
com solo bentonítico podem se configurar como um material constituinte das camadas de base de aterros sanitários,
acarretando na redução de custos por substituir as geomembranas, mantendo a segurança ambiental. Nesse sentido, o
objetivo deste trabalho foi realizar o ensaio de equilíbrio em lote (batch test), buscando-se entender o comportamento
adsortivo do Cromo (Cr) . A pesquisa teve como área de estudo o aterro sanitário, localizado no município de Campina
Grande, Paraíba. Para tanto, foi realizado os ensaios de equilíbrio em Lote (Batch Test) em escala reduzida, com solos de
mesmas características da camada de base desse aterro, seguindo a proporção de 20% de bentonita e 80% de solo. De
acordo com os resultados obtidos pode-se concluir que a adsorção do Cromo aumenta ao se adicionar a camada de base
uma mistura de solo bentonítico, em decorrência de suas características físicas e químicas, principalmente pela sua
granulometria e capacidade de troca catiônica devido o pH.

PALAVRAS-CHAVE: Metais Pesados, Resíduos Sólidos, Saúde Pública.

ABSTRACT: The migration of a contaminant solution through the interstices of the soil-water-air system is influenced
by several transport switches, which define as comfortable soil-contaminant. Mixtures of local natural soil with bentonite
soil can be configured as a constituent material of the base layers of sanitary landfills, resulting in cost reduction by
replacing geomembranes, maintaining environmental safety. In this sense, the objective of this work was to carry out a
batch test, seeking to understand the adsorptive behavior of Chromium (Cr). The research had as study area the sanitary
landfill, located in the city of Campina Grande, Paraíba. For this purpose, Batch Test was carried out on a reduced scale,
with soils with the same characteristics as the base layer of this landfill, following the proportion of 20% bentonite and
80% soil. According to the results obtained, it can be concluded that the adsorption of Chromium increases when a
mixture of bentonite soil is added to the base layer, due to its physical and chemical characteristics, mainly due to its
granulometry
and cation exchange capacity due to the pH . KEY O meio ambiente recebe diariamente inúmeras
WORDS: Heavy metals, Solid Waste, Public health. interferências humanas, seja em pequena ou grande
escala, essas alterações vêm ocorrendo ao longo dos
anos, com o advento da Revolução Industrial, que
1 INTRODUÇÃO trouxe como marca o consumismo exacerbado, o que
evidenciou e intensificou a dificuldade em gerir a
grande quantidade dos resíduos sólidos urbanos, que

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635
na atualidade passa a ser foco de uma preocupação De acordo com Chaves (2008), os resíduos que
mundial, estando presente na realidade da população apresentam metais pesados resultam, em boa parte
dos mais diversos lugares do planeta. das vezes, de atividades antrópicas, podendo ser
A disposição final de Resíduos Sólidos Urbanos encontrados na forma sólida, semissólida, líquida ou
(RSU) ambientalmente adequada é exigida pela gasosa.
Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei nº De acordo com Baran (2019), grupo de elementos de
12.305/2010). A partir dessa lei, a destinação alto risco à saúde humana presente em baixas
inadequada em lixões deverá ser extinta, já que essa concentrações nos lixiviados.
prática acarreta em degradação do meio ambiente - Nos aterros sanitários podem ser encontrados
o solo, a água, ar – e causa danos à saúde pública diversos metais, dentre eles o níquel (Ni), cobre (Cu)
(MARTINS; RIBEIRO, 2021). e Cromo (Cr), sendo o último bastante nocivo quando
Conforme o Panorama dos Resíduos Sólidos em grandes quantidades.
2018/2019, direcionado pela Associação Brasileira Conforme Ghosh et al. (2015), as concentrações de
das Empresas de Limpeza Pública (ABRELPE), em metais em lixiviados, podem variar e depender de
2018, o Brasil teve uma produção de resíduos vários fatores, entre os quais citam-se: o tipo de
correspondente a 79 milhões de toneladas, no qual resíduo aterrado, as condições climáticas da região, as
92% dos resíduos sólidos foram coletados. Apesar de precipitações, a idade de disposição dos resíduos e
ter apresentado melhora na cobertura de coleta, ainda fatores hidrológicos. De acordo com Kjeldsen et al.
assim, é possível detectar que 1 em cada 12 brasileiros (1984) e Baun e Christensen (2004), as faixas de
ainda não conta com coleta regular de lixo metais pesados frequentemente encontradas em
(ABRELPE, 2018). aterros sanitários, encontram-se dispostas na Tabela
Com a criação da lei nº 12.305 de 12 de agosto de 1:
2010, caracterizada com a lei que institui a Política Tabela 1: Teores de metais pesados em lixiviados de
Nacional de Resíduos Sólidos no país que determina aterros de resíduos de RSU.
a desativação dos lixões a céu aberto, fornecendo as
informações para que todos os rejeitos do país
tenham uma disposição final ambientalmente
adequada e tornando obrigatória a todos os
municipios brasileiros o manejo correto.
De tal modo, podemos observar os aterros sanitários
como solução para se adequar a legislação vigente, Conforme Franguelli (2018), o cromo pode ser
sendo este uma forma eficiente e que oferece uma encontrado em diversos estados de oxidação no meio
destinação adequada para os resíduos sólidos, ambiente, sendo um dos mais encontrados o
trazendo riscos menores ao meio ambiente, no hexavalente Cr (VI) as mais abundantes. Devido à alta
entanto, para a instalação dos aterros se faz necessário mobilidade que esse metal apresenta em meio aquoso,
o cumprimento de rigorosos critérios, como a área a sua presença, principalmente em altas
adequada, sistemas de impermeabilização, drenagem concentrações, pode desencadear em diversos
e tratamento de líquidos e gases por exemplo. problemas de saúde (FRANGUELLI, 2018). De
De acordo com Locastro e Angelis (2016) os acordo com a Resolução 357/2005 do CONAMA, o
elementos de proteção dos aterros sanitários são padrão de emissão estabelecido para o elemento é de
definidos como estruturas que compõem os aterros, 0,5 mg/L. Os níveis de cromo admissíveis para as
com o objetivo de permitir a disposição de RSU com águas são de 0,05 mg/L. Considerando o acima
garantia de segurança ao meio ambiente e à saúde exposto, torna-se indispensável um estudo adequado
pública. quanto ao transporte difusivo deste metal na camada
As camadas de base tem importância fundamental, de base do ASCG, pondo a teste a capacidade
nessas obras de engenharia, contudo, nem sempre o absortiva ao solo, de modo que seja assegurado a
solo natural da localidade do aterro fornece uma qualidade das águas subterrâneas e do solo daquela
impermeabilização eficiente (COSTA, 2019). Sendo região.
assim, podemos observar a utilização de diversos
componentes que ajudam na impermeabilização Neste trabalho foi realizado o ensaio de equilíbrio em
deste, como por exemplo depósitos naturais de solos lote, buscando-se entender o comportamento
argilosos; liners de argila compactada, entre diversos adsortivo do Cromo (Cr), em um solo com as mesmas
outros. características da camada de base do Aterro Sanitário
de Campina Grande-PB (ASCG).

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636
NBR 14545/00 (2000)
Variável Vertical)
2 MATERIAIS E MÉTODOS Índice de Expansão ASTN D4546-14 (2014)
Fluorescência de Raio-X
Composição Química
2.1 Análise dos solos (FRX)
Difração de Raios-X
Foram estudados o solo natural e solo bentônico, Mineralogia
sendo estes utilizados na camada de base do Aterro (DRX)
Sanitário de Campina Grande (ASCG), localizado no Capacidade de Troca
Distrito de Catolé de Boa Vista, Campina GrandePB, Embrapa (2011)
nas coordenadas UTM 829172 e 9194834. O ASCG Catiônica
compreende uma área de 64 ha, recebendo cerca de Complexo Sortivo Embrapa (2011)
670 toneladas/dia de 70 municípios, sendo 2 do estado Ponto de Carga Zero
de Pernambuco (PE), 1 do Rio Grande do Norte (RN) Embrapa (2011)
e 67 da Paraíba (Figura 1). (PCZ) pH (em H2O e em KCL) Embrapa
(2011)

Cabe salientar que a realização dos ensaios de


Figura 1. Mapa da localização do Aterro Sanitário de
Campina Grande-PB (ASCG) e dos municípios que composição química (FRX) e mineralógica (DRX)
depositam seus resíduos. foi realizado a partir de uma amostra passante na
Fonte: Grupo de Geotecnia Ambiental, UFCG peneira nº 200. A análise de DRX foi desenvolvida
(2022). com equipamento da marca Shimadzu, modelo
XRD-6000. A análise de EDX foi realizada no
A camada de base do ASCG é composta por uma equipamento da marca Shimadzu, modelo
mistura de dois solos, a areia argilosa e argila EDX720.
bentonita, seguindo a proporção de 80 e 20%,
respectivamente. A dosagem da mistura solobentonita 2.2 Ensaio de Equilíbrio em Lote (batch test)
foi realizada em termos de massa seca. A areia
argilosa é retirada do próprio local, e a argila A quantificação das concentrações do metal
bentonita é oriunda de uma jazida localizada no estudado foi realizado a partir do ensaio de
município de Boa Vista-PB. equilíbrio em lote. A medição das concentrações de
As amostras coletadas no ASCG, foram armazenadas condutividade elétrica e do pH foram realizadas
em sacos de nylon e encaminhadas para o Laboratório através do medidor modelo LUCA-210, sendo
de Geotecnia Ambiental da Universidade Federal de corrigido quando necessário com ácido sulfúrico
Campina Grande, onde foram secas ao ar, (H2SO4) a 0,1N para garantir que o pH < 6,0,
destorroadas e passadas em peneira com abertura de conforme recomendações da ASTM D4646/16. O
malha de 2,0 mm de diâmetro, seguindo a norma NBR ensaio de equilíbrio em lote seguiu adaptações da
6457/ 16a (2016), posteriormente foram realizadas as ASTM D4646/16, utilizando soluções com
análises químicas, físicas e mineralógicas dos solos proporção solo-solução 1:10 (5 g de solo seco para
(Tabela 2). 50 mL de solução). Foi utilizada uma solução-mãe
de Cloreto de Cromo III (CrCl3.6H2O), a partir
Tabela 2. Procedimentos utilizados para a dela, foram realizadas as diluições de 1:10, 1:20,
caracterização do solo. 1:40, 1:80 e 1:160, obtendo as concentrações de 50,
Ensaio Método 100, 200, 400 e 800, respectivamente. As
Preparação de amostras NBR 6547/16ª (2016) suspensões foram colocadas dentro de frascos
Massa Específica dos inertes de 50 mL e agitadas em shaker em mesa
NBR 6508/16c (2016)
Grãos agitadora orbital digital com timer, modelo NT145,
Granulometria NBR 7187/16e (2016) em um período durante 24 horas a 100 rpm no
Limite de Liquidez NBR 6459/16b (2016) Laboratório de Alimentos-UFCG. Após 24 horas, as
Limite de Plasticidade NBR 7180/16d (2016) amostras foram levadas ao Laboratório de Pesquisa
Compactação NBR 7182/16f (2016) em Ciências Ambientais- UEPB, onde passaram
posteriormente pelo processo de centrifugação a
Permeabilidade (Carga 3.000 rpm durante 15 minutos na centrifuga, modelo
CT-4000. Sendo filtradas, e analisadas as

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637
concentrações dos metais por meio da técnica da Fonte: Elaborada pelo Autor (2022).
espectrometria de absorção atômica no LGA-
UFCG, modelo Agilent/AA240 (Figura 2). O solo natural apresentou uma quantidade de
finos (argila silte) inferior a 10%, já o solo bentônico
apresenta pouco mais de 50% de sua composição, de
modo que a mistura apresenta cerca de 22% de argila,
sendo classificados pelo Sistema Unificado de
Classificação dos Solos (SUCS) como areia siltosa
(SM), argila de alta compressibilidade (CH) e areia
com argila (SC), respectivamente.
A matéria fina confere ao solo um coeficiente de
permeabilidade baixo, ou seja , o fluído irá fluir
lentamente devido ao pequeno tamanho dos poros,
sendo este um fator importante que auxilia a
impermeabilização dos aterros e a retenção de metais.
Figura 2: Análise das concentrações dos metais no O ensaio de compactação indica uma massa específica
Agilent/AA240. seca máxima em torno de 11, 80 kg.m-3 com uma
umidade ótima de 10,10% para o solo do bentonítico
e de 19,10 kN.m-3 com umidade ótima de 19,10 %
para o solo natural do aterro, já a mistura apresentou
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO peso específico de 17,6 kN.m-3 e umidade ótima de
14,8%, obtendo bons resultados para compactação.
3.1 Caracterização do solo
3.2 Composição Mineralógica A partir
As propriedades geotécnicas do Solo Natural do dos resultados obtidos no DRX, a
Aterro (SNA) e Solo Bentonitico (SB) analisados mineralogia do SB indicou para a
estão detalhadas na Tabela 3. presença de quartzo, caulinita
(Al2(Si2O5)(OH)4),
Tabela 3: Resultados da caracterização geotécnica do solo montmorilonita
natural do aterro, solo bentonítico e mistura de 20%. (Al2Si4O10(OH)2.nH2O), nacrita
Resultados (Al2Si2O5(OH)4) e goetita (FeO
Propriedades SB Mistura (OH)) (Figura 3). No solo natural,
SNA 20% observou-se a presença quartzo
Gran Pedregulho 20,51 0,0 8,62 (Figura 4).
ulom Areia fina etria 63,98 41,9 68,97
Silte+ Argila
8,31 50,9 22,41
(%)
Umidade Higroscópica
0,48 10,90 1,8
(%)
Massa específica dos
27,80 22,60 26,0
grãos (kg.m-3)
Limite de Liquidez (%) NP 178,0 26,3

Limite de plasticidade
NP 60,0 19,7
(%)
Índice de plasticidade
-- 118,0 9,0
(%)
Figura 3. Resultados obtidos no ensaio de DRX para o SB
Índice de atividade -- 2,32 0,9

Classificação SUCS SM CH SC

Teor de umidade Ótimo


19,10 10,10 14,8
(%)
Peso específico aparente
19,90 11,80 17,76
seca dos grãos (kN.m-3)

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638
O percentual de matéria Organica é baixo, o ponto de
carga zero-PCZ (Tabela 6), foi estimado em 6,6 e 6,1,
sendo inferior aos valores do pH dos solos analisados,
o que indica que o solo esta carregado negativamente,
influenciando positivamente na adsorção dos metais.

Tabela 6: Resultados obtidos para PCZ e matéria Orgânica


dos solos estudados.
Parâmetro Matéria
PCZ Ψ0 Orgânica
/Solo
Figura 4. Resultados obtidos no ensaio de DRX para o Unidades Adimensonal mV (%)
SNA. SNA 6,6 - 0,4

3.3 Caracterização química SB 6,1 0,7

Quanto a composição química (Tabela 4), tanto o solo 3.4 Isotermas de Sorção – Cromo
natural do aterro quanto o solo bentonítico tiveram
predominância de Dióxido de Silício (SiO2), sendo As isotermas de sorção experimentais do Cr em
este um mineral associado ao quartzo (SiO2), de soluções mono e multiespécie nos solos analisados
modo que o resultado foi coerente com a (SNA, SB e Mistura 20%) estão dispostas nas Figuras
caracterização mineralógica, tendo em vista a sua 5, 6 e 7. Os sistemas multiespécie estudados foram
predominância. Cr+Cu, Cr+Ni e Cr+Ni+Cu.
Também foi possível observar a presença de outros
elementos químicos em quantidades menores.
Cr Cr + Ni Cr + Cu + Ni
Tabela 4. Composição Química dos solos.
Compostos 5,00E-03
SNA SB
Químicos 4,00E-03
SiO2 63 62 3,00E-03
Al2O2 20 20
2,00E-03
Fe2O3 5 10
1,00E-03
K2O 5 3
CaO 2 1 0,00E+00
0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1000,00
MgO 2 1
Ce (mg/L)
TiO2 1 1
Na2O 1 1
Outros 1 1 Figura 5. Resultados obtidos no ensaio de batelada para o
SNA.
Os solos são considerados alcalinos, apresentando Cr Cr + Cu Cr + Cu + Ni
pH 7,9 para SNA e pH 10,1 para o SB (Tabela 5), com
4,00E-03
média capacidade de troca catiônica (CTC), o que
favorece o acumulo de íons e elétrons na superfície 3,00E-03
das partículas, ou seja, auxilia o processo de adsorção. 2,00E-03

1,00E-03
Tabela 5: Resultados de pH e CTC para o SNA e SB.
Parâmetro pH a H2O CTC 0,00E+00
0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1000,00
Ce (mg/L)
Unidades cmolc.dm-3

SNA 7,9 17,3


Figura 6. Resultados obtidos no ensaio de batelada para o
SB 10,1 36,3
Solo 20% Bentonita.

Fonte: Elaborada pelo Autor (2022).

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639
auxílio financeiro para a idealização e execução da
Cr Cr + Cu Cr + Cu + Ni
pesquisa, bem como ao Grupo de Pesquisas em
1,00E-02 Geotecnologia Ambiental (GPTecA/UEPB) e Grupo
8,00E-03 de Geotecnia Ambiental (GGA/UFCG) por todo o
6,00E-03 apoio durante o período da coleta de dados.
4,00E-03
2,00E-03 REFERÊNCIAS
0,00E+00
0,00 200,00 400,00 600,00 Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Ce (mg/L) Resíduos Especiais. ABRELPE. Panorama dos resíduos
sólidos no Brasil. São Paulo: 2018.
Figura 7. Resultados obtidos no ensaio de DRX para o Solo ABNT (2016). NBR 6457: Amostra de solo: preparação
Bentonitico. para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 8.
O solo bentonítico apresentou um alto índice de
ABNT (2016). NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos na
adsorção do cromo, o que pode ser explicado pela sua peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da massa
granulometria fina, que implica em um menor número específica, da massa específica aparente e da absorção
de vazios, reduzindo o volume de água presente no de água. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
solo, sendo este um fator necessário para lixiviar o Rio de Janeiro, p. 10.
metal no solo. ABNT (2016). NBR 6459: Determinação do limite de
A mistura de solo com 20 % bentonita possui boa liquidez. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
adsorção para os metais cromo, cobre e níquel o que Rio de Janeiro, p 5.
a torna um bom impermeabilizante natural. ABNT (2016). NBR 7180: Determinação do limite de
plasticidade. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro. p. 3.
ABNT (2016). NBR 7181: Análise granulométrica.
3 CONCLUSÕES Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
Janeiro, 2016. p. 12.
Os resultados obtidos demonstram que a argila ABNT (2016). NBR 7182: Compactação – Procedimento.
bentonitica apresenta uma maior capacidade absortiva Associação Brasileira De Normas Técnicas, Rio de
dos metais. Janeiro, p. 9.
Da mesma forma, a mistura de solo natural com 20% ABNT (2000). NBR 14545: Solo: determinação do
de argila bentonitica apresentou melhores resultados coeficiente de permeabilidade de solos argilosos a
carga variável. Associação Brasileira De Normas
adsortivos indicando ser uma barreira na retenção de
Técnicas, Rio de Janeiro, p. 12p.
metais pesados.
ABNT (1997). NBR 13896: Aterros de resíduos não
A utilização da mistura de solo natural com 20% de perigosos - Critérios para projeto, implantação e
bentonita apresenta condições normativas de operação. Associação Brasileira De Normas Técnicas,
permeabilidade evitando a contaminação do solo e do Rio de Janeiro, p. 12.
lençol subterrâneo, promovendo a contenção de Baran, C. T. (2019). Avaliação da Eficiência da Camada de
metais pesados, além de proporcionar um enorme Impermeabilização de Aterros Sanitários. Monografia
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camadas de impermeabilização de bases de aterros Ambiental, Universidade de
sanitários. Brasília, Brasília, DF, 86 p.
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influenciadores na adsorção dos metais pesados, pois
Management & Research, v. 22, n. 1, p. 3-23.
são fatores que exercem grande influência na troca
catiônica e processo adsortivo.
Oliveira, F, B. Alves; M, G; Oliveira. C. H. R (2012).
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AGRADECIMENTOS controlados no município de campos dos goytacazes/RJ
utilizando sistema de informação geográfica. Revista
O presente trabalho foi realizado com apoio do Brasileira de Cartografia (2012). V.64/1 p. 33-34.
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Científico e Tecnológico – Brasil”, que através da Chaves, V. (2008) Absorção De Metais Pesados De Solos
bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Contaminados Do Aterro Sanitário E Pólo Industrial
Iniciação Científica PIBIC/CNPq-UEPB, viabilizou o De Manaus Pelas Espécies De Plantas Senna

REGEO/Geossintéticos 2023, Salvador/Ba, Brasil.


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641
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Modelagem da difusão de íons monovalentes reativos no solo do


Aterro Metropolitano de Gramacho, RJ

Arthur Fernandes Gonçalves


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, arthurfernandesgon@gmail.com

Elisabeth Ritter
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, ritter@eng.uerj.br

RESUMO: O Aterro Metropolitano de Gramacho esteve em operação durante 34 anos, sendo encerrado em 2012. Ele
está assente sobre argila salina com alta plasticidade, um substrato de baixa permeabilidade. Durante sua operação, se
supunha que a altura da lâmina de lixiviado na região era de 1 m e foi simulado cenário futuro para o transporte de íons
na fundação do Aterro. Atualmente, é estimado que esta altura chegue até 30 m. No entanto, não há conhecimento sobre
a distribuição desses íons na massa de solo. Processando os dados experimentais de Ritter (1998), os parâmetros de sorção
e difusão do solo de Gramacho foram definidos. Para isto, aplicou-se metodologia não linear para a definição das
isotermas de sorção. A escolha dos coeficientes de difusão efetiva foi feita através de metodologia que utiliza regressão
linear do tipo “Major axis” para a avaliação de modelo. Por fim, foi realizada modelagem da difusão de dois íons reativos
monovalentes presentes no lixiviado (K+ e NH4+) para diferentes cenários de altura do lixiviado utilizando o software
POLLUTE. Foi observado que a abordagem não linear resultou em parâmetros de isoterma de sorção mais bem ajustados
aos dados experimentais. O método de avaliação do modelo aplicado para a seleção do coeficiente de difusão aproximou
os resultados dos dados experimentais. Contemporaneamente, o perfil do solo de Gramacho pode apresentar
concentrações acima do background de NH4+ em toda a extensão modelada. No caso do potássio, a concentração deste
composto se aproximou do background nas camadas mais profundas do solo.

PALAVRAS-CHAVE: transporte de contaminantes, POLLUTE, íon amonio, potássio, argila, solo salino

ABSTRACT: The Metropolitan Landfill of Gramacho was in operation for 34 years, closing in 2012. Its foundation
composition is a saline clay with high plasticity, which is a low permeability substrate. During its operation, it was
believed that the height of the leachate was 1 meter, and a future scenario for ion transport in the landfill foundation was
simulated. Currently, it is estimated that this height reaches up to 30 meters. However, there is no knowledge about the
distribution of these ions in the soil profile. By processing the experimental data from Ritter (1998), the sorption and
diffusion parameters of the Gramacho soil were defined. To do this, a non-linear methodology was applied to define the
sorption isotherms. The selection of effective diffusion coefficients was made through a methodology that uses linear
regression “Major axis" to evaluate the model. Finally, the diffusion modeling of two reactive monovalent ions present
in the leachate (K+ and NH4+) was performed for different leachate height scenarios using the POLLUTE software. It was
observed that the non-linear approach resulted in sorption isotherm parameters better adjusted to the experimental data.
The model evaluation method applied to select the diffusion coefficient approximated the results to the experimental data.
Currently, the Gramacho soil profile may show concentrations above the NH 4+ background throughout the modeled
extent. In the case of potassium, the concentration of this component approached the background in the deeper soil layers.

KEY WORDS: contaminant transport, POLLUTE, ammonium ion, potassium, clay, saline soil

1 INTRODUÇÃO (RSU) (ABRELPE, 2021).


Somente na região sudeste do país, 10,7 bilhões
A Política Nacional dos Resíduos Sólidos de 2012 de quilos de resíduos sólidos urbanos foram dispostos
instituiu que fossem estabelecidas metas para a de maneira inadequada no ano de 2021 (ABRELPE,
eliminação e recuperação dos lixões do Brasil. 2021). No estado do Rio de Janeiro, estima-se a
Apesar dos avanços, 2.868 municípios ainda realizam presença de 98 áreas de disposição irregular de
disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos resíduos sólidos (FIOCRUZ, 2018).

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642
Além dos atuais desafios para a gestão dos metro de lixiviado. No entanto, há indícios que essa
resíduos sólidos gerados, ainda há a presença de dimensão pode atingir 30 m neste local (comunicação
diversos vazadouros abandonados. Apesar de, muitas pessoal).
vezes, apresentarem restituição da vegetação e Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi
poucos indícios da prévia disposição de resíduos, o simular o atual cenário de contaminação causada
passivo ambiental ainda está presente. pelos íons nitrogênio amoniacal e potássio sob o
Manguezais são ecossistemas localizados entre as Aterro Metropolitano de Gramacho a partir dos
latitudes tropicais e subtropicais, e entre os ambientes dados experimentais obtidos por Ritter (1998) e
terrestre e aquático. Mangues são locais que sofrem novas metodologias de ajuste dos ensaios de sorção e
com a disposição inadequada de resíduos sólidos difusão.
urbanos, principalmente em países em
desenvolvimento (Canty et al., 2018; Pereira & 2 MATERIAIS E MÉTODOS
Fernandino, 2019; Sewak et al., 2021).
Neste contexto, foi inaugurado o Aterro de 2.1 Área de estudo
Resíduos Sólidos de Gramacho no dia 23 de setembro
de 1978 (Jornal do Brasil, 1978). O Aterro é O Aterro Metropolitano de Gramacho é uma área de
localizado no município de Duque de Caxias, Rio de 3,6 × 106 m² localizada na região metropolitana do
Janeiro, entre os rios Sarapuí, Iguaçu e a Baía de Rio de Janeiro, que foi utilizada como um local
Guanabara. O projeto elaborado para a construção central para o despejo de resíduos provenientes de
deste aterro sanitário nunca foi seguido, tornando-se diversos vazadouros distribuídos pela região (Jornal
um vazadouro de resíduos e fonte de contaminação do Brasil, 1978). Ele foi implantado diretamente
(Barbosa, 1994). sobre uma camada de argila de mangue, formada
Ritter (1998) realizou ensaios de sorção e difusão como resultado do depósito de sedimentos finos
em solos reconstituídos salinos e não salinos flúvio-marinhos (Barbosa, 1994).
simulando as condições de Gramacho. A partir dos O solo do Aterro Metropolitano de Gramacho é
ensaios, Ritter (1998) estabeleceu parâmetros de estratificado, contendo camadas de argila orgânica
sorção e o coeficiente de difusão efetiva do solo de muito mole, argila inorgânica de consistência média
Gramacho. e solo arenoso de diferentes características. Além
As isotermas de sorção são modelos matemáticos disso, o solo de Gramacho possui uma alta
utilizados para descrever a relação entre a porcentagem de argila, cerca de 60%, com destaque
concentração de um contaminante na solução e a para os argilominerais esmectita (32%), ilita e
quantidade de contaminante adsorvido pelo solo. caulinita. Ademais, apresenta salinidade.
Existem diferentes tipos de isotermas, como as O projeto original para a construção do Aterro
isotermas lineares, Langmuir e Freundlich. Metropolitano de Gramacho nunca foi devidamente
Historicamente, essas isotermas eram aplicadas após implementado, o que resultou em graves problemas
a linearização das curvas, como realizado por Ritter de contaminação na região. De acordo com Barbosa
(1998). No entanto, com o avanço da tecnologia (1994), a falta de execução das medidas previstas no
computacional, é possível realizar o ajuste desses projeto original contribuiu significativamente para a
dados sem a necessidade de linearização. Estudos degradação ambiental na área.
recentes compararam a precisão dos resultados No entanto, no início dos anos 90, o Aterro de
obtidos com as duas abordagens, concluindo que o Gramacho passou por uma reestruturação
tratamento não linear pode ser tão preciso quanto a significativa, com a implementação de sistemas para
abordagem linear, e até mesmo superior em alguns coleta e tratamento de águas pluviais e lixiviado, bem
casos (Shahmohammadi-Kalalagh et al., 2013; como a queima do biogás gerado (IETS, 2012). Essas
Subramanyam & Das, 2009; Subramanyam & Das, medidas o tornaram um aterro controlado, embora
2014). ainda apresente indícios de contaminação (Lucena,
O software POLLUTE aplica uma solução em 2021; Peixoto, 2019).
uma dimensão e meia para a equação de advecção-
dispersão (GAEA Ltda, 2023). Para isto, é aplicada 2.2 Ensaios realizados por Ritter (1998)
metodologia semi-analítica, permitindo estudar e
prever o transporte de contaminantes em diversas 2.2.1 Transporte de contaminantes
condições de contorno (Rowe, 1990).
Através dessa ferramenta, Ritter (1998) simulou o Os principais fenômenos que regem o transporte de
transporte dos íons cloreto (Cl-), nitrogênio um soluto por um meio poroso são: convecção,
amoniacal (NH4+) e potássio (K+) sob o solo do usualmente denominada advecção, dispersão
Aterro de Gramacho, considerando a altura de 1 mecânica, difusão molecular, interações sólidos-

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643
soluto e reações química, incluindo de decaimento efetiva no solo simulado de Gramacho, Ritter (1998)
(Bear, 1979; Freeze & Cherry, 1979). variou os coeficientes de cada modelo de isoterma e
Enfim, para um solo saturado com fluxo os coeficientes de difusão inseridos no POLLUTE,
estacionário, em uma dimensão, a equação de selecionando visualmente o par que melhor se
difusão-advecção, juntamente com a sorção está ajustava aos dados experimentais.
expressa na Equação 1 (Fetter, 1992).
2.3 Modelagem
𝜕𝐶 𝜕²𝐶 𝜕𝐶 𝜌𝑛 𝜕𝑆
= 𝐷𝑒 − 𝑣𝑥 − (1)
𝜕𝑡 𝜕𝑥² 𝜕𝑥 𝑛 𝜕𝑡
2.3.1 Isotermas de sorção
onde C é a concentração do soluto, t é o tempo, x é a
distância, De é o coeficiente de difusão efetiva, vx é a As isotermas formadas podem ser lineares, côncavas
velocidade média na direção x, ρn é a densidade do não lineares e convexas não lineares (Shackelford &
meio poroso, n é a porosidade e S é a massa do soluto Daniel, 1991). Dentre as principais modelagens
adsorvida. disponíveis na literatura, destacam-se as isotermas de
Langmuir, Freundlich e Linear (Boast, 1973;
2.2.2 Ensaios de sorção Nascimento et al., 2014; Shackelford; Daniel, 1991).
Foi utilizado o software MATLAB 2015a para o
cálculo dos coeficientes das isotermas de Langmuir,
Os “batch tests” realizados por Ritter (1998)
avaliaram a sorção ocorrida no solo reconstituído de Freundlich e Linear de forma linear e não linear. Para
Gramacho a partir de monossoluções de NaCl, KCl, o cálculo dos coeficientes dessas isotermas, foi
NH4Cl, a mistura delas e lixiviado obtido na área de utilizado o software MATLAB 2015a, com as
estudo. Para isto utilizou-se a proporção solo:solução linearizações propostas na norma EPA/530/SW-
de 1:10, sendo 0,005 kg de solo para 5 × 10-5 m³ de 87/006-F. Essas linearizações são apresentadas nas
Equações 2 e 3, respectivamente.
solução. Os frascos contendo os analitos foram
posicionados em agitador de 2,5 Hz e mantidos 𝐶 𝐶 1
durante 86400 segundos em temperatura constante. = 𝑆 + 𝑏𝑆 (2)
𝑆 𝑚
Ao fim do tempo de ensaio, a solução
sobrenadante teve seus teores de K+ e NH4+ aferidos. log 𝑆 = log 𝐾𝑓 + 𝜀 log 𝐶 (3)
Sódio e potássio foram analisados por método de
fotometria de chama, enquanto, o cloreto foi por
Para a construção das isotermas não lineares, foi
titulação potenciométrica com AgNO3, e nitrogênio
aplicada a função “lsqcurvefit” empregando o
amoniacal por colorimetria por reagente de Nessler
método de Levenberg-Marquardt como proposto por
(Ritter,1998).
Nascimento et al. (2014).
O método de Levenberg-Marquardt é um
2.2.3 Ensaios de difusão
algoritmo de otimização empregado com o objetivo
de ajustar parâmetros de um modelo a dados. Ele
Ritter (1998) detalhou o equipamento empregado nos
combina o método de gradiente com o método de
ensaios, assim como a metodologia. Resumidamente,
Gauss-Newton, sendo usado em problemas de ajuste
a célula utilizada apresentava reservatório simples e
de curvas e regressão (Benatti, 2017).
diâmetro interno de 0,12 m e altura de 0,13 m
Também o coeficiente de determinação (r²) foi
composta por material inerte (acrílico) e com um
calculado aplicando a Equação 4.
dreno de saída, permitindo que o adensamento do
solo fosse feito na própria célula. ∑(𝑞 −𝑞𝑐𝑎𝑙𝑐 )
Após adensado nas células, a altura do solo 𝑟 2 = 1 − ∑(𝑞𝑒𝑥𝑝 (4)
𝑒𝑥𝑝 −𝑞𝑚é𝑑 )
variava em torno de 0,05 m. O reservatório tinha
volume de 0,0005 m³ também mantendo 2.3.2 Coeficientes de difusão
aproximadamente 0,05 m de altura. O conjunto foi
selado, impedindo a evaporação, e mantido em local A avaliação do coeficiente de difusão que melhor
em temperatura ambiente entre 298 e 301 K durante representa a condição do solo foi feita baseando-se na
345600 segundos. metodologia proposta por Mesplé et al. (1996) para
Enfim, a amostra de solo fora seccionada em análise de um modelo. Neste caso, são plotadas as
quatro partes, e o líquido intersticial de cada uma concentrações em gráficos com os dados observados
delas removido para a análise dos solutos de interesse (Xobservado) no eixo y e os dados simulados (Xsimulado)
por pressão de 8 MPa. no eixo x. É feita, então, uma regressão linear do tipo
Com o intuito de definir o coeficiente de difusão “Major Axis” (MA), onde é produzida uma equação

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644
da reta do tipo Xobservado = a. Xsimulado + b. Em um caso Tabela 1. Parâmetros aplicados nas simulações
hipotético onde há a simulação perfeita, portanto, Parâmetro Valor Referência
espera-se que b seja igual a 0 e a seja igual a 1.
Na prática, é calculado um intervalo de confiança Porosidade (%) 81 Barbosa (1994)
de 95% para estes parâmetros, e averiguado se há
neles as condições esperadas (b = 0 e a = 1). Para isto Massa específica 520 Barbosa (1994)
foi utilizado o script desenvolvido por Trujillo-Ortiz seca (kg/m³)
& Hernandez-Walls (2010). Em caso de mais de um Background K 0,45 Barbosa (1994)
coeficiente respeite essas condições, Mesplé et al. (kg/m³)
(1996) propõe analisar o coeficiente de determinação
(r²) das retas. No entanto, Piñeiro et al. (2008) Background NH4 0,11 Ritter e Campos
argumentam que esta não é a melhor abordagem, (kg/m³) (2006)
sugerindo usar a raiz do erro médio quadrado
(RMSD) que é calculado de acordo com a Equação K no lixiviado 2,1 Barbosa (1994), Ritter
(kg/m³) (1998) e Lima (2016)
5.
NH4 no lixiviado 2,48 Barbosa (1994), Ritter
1 (kg/m³) (1998) e Lima (2016)
𝑅𝑀𝑆𝐷 = √ ∑𝑛 (𝑦 ′ − 𝑦𝑖 )² (5)
𝑛−1 1=1 𝑖

onde y’i é o dado experimental, yi é o dado simulado 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO


e n o número de observações.
Portanto, foi analisado no presente trabalho se os 3.1 Isotermas de sorção
dados simulados com cada coeficiente de difusão se
enquadram na metodologia supracitada. Em seguida, As isotermas foram traçadas e apresentadas nas
a modelagem que apresentou o menor RMSD foi Figuras 1 e 2.
considerada a mais apropriada.

2.3.3 Simulação no software POLLUTE

Com os coeficientes de difusão obtidos no presente


trabalho, foram simulados cenários para inferir a
atual situação do solo de Gramacho. Portanto, foram
aplicados os parâmetros de sorção e coeficiente de
difusão de melhor ajuste ao teste de modelo proposto
anteriormente, considerando os dados experimentais
de Ritter (1998) para solo salino com lixiviado.
Foram consideradas alturas de 10 até 30 metros,
além de 1 m de altura como realizado por Ritter
(1998) como parâmetro de comparação.
Dado o início do trabalho no Aterro no final dos
anos 70, foram analisados dois momentos: 6,31 × 108
segundos (20 anos) e 1,26 × 109 segundos (40 anos) Figura 1. Isotermas para K+
depois. As simulações de 6,31 × 108 segundos foram
realizadas para a concentração de contaminantes
variável e a de 1,26 × 109 segundos foram
consideradas tanto concentrações variáveis quanto
concentração constante. Além disso, as simulações
foram feitas considerando 5,3 m de profundidade de
solo.
As simulações foram realizadas no software
POLLUTE considerando as características naturais
do solo sob o aterro de Gramacho obtidas em
diferentes trabalhos como apresentado na Tabela 1.

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645
ponto “outlier”, reduzindo a quantidade de dados
experimentais implementados. Outro fator é o fato da
mais alta concentração não ter atingido o
recomendado pela EPA/530/SW-87/006-F de entre
10 e 30% de adsorção, obtendo 6,3% de adsorção.
Shahmohammadi-Kalalagh et al. (2013)
observaram que a metodologia não linear apresentou
menor erro nos testes de adsorção de cobre e zinco
em caulinita. Os autores utilizaram a extensão
"solver" numa planilha Microsoft Excel, e
constataram que ao utilizar essa metodologia, houve
aumento do valor de R² para o ensaio com zinco de
0,9700 para 0,9790 e com cobre de 0,9780 para
0,9877 para a isoterma de Freundlich.
Os parâmetros de sorção aplicados no POLLUTE
Figura 2. Isotermas para NH4+ para definir os coeficientes de difusão no solo foram
Sm = 0,00308 kg/kg e b = 0,00163 m³/kg para o K+ e
Após calculados os coeficientes das isotermas, os Sm = 0,00084 kg/kg e b = 0,051 m³/kg para o NH4+,
dados modelados por elas foram comparados com os ambos pelo modelo de Langmuir.
experimentais. Os parâmetros das isotermas e os
coeficientes de ajuste estão apresentados nas Tabelas 3.2 Ensaios de difusão
2 e 3.
Os parâmetros do solo e as condições do ensaio de
Tabela 2. Constantes de sorção para o K+ e os difusão foram introduzidos no software POLLUTE
coeficientes de correlação juntamente com os dados de sorção supracitados. Os
Ritter Linear Não coeficientes de difusão foram lançados e os
(1998) linear resultados das modelagens comparados com os dados
Langmuir Sm 0,003 0,0030 0,0030 experimentais como apresentado nas Tabelas 4 e 5.
(kg/kg) 3 8
b 0,0016 0,0016 0,0016 Tabela 4. Teste de modelo para ensaio de difusão de K+
(m³/kg) 3 De (×10 -9 m²/s) 1,11 1,27 1,43
r² 0,9565 0,9604 0,9609 RMSD (kg/m³) 0,01126 0,00715 0,02219
a 0,98 1 1,02
Freundlich Kf 24,5 24,85 42,53 0,86 a
ε 0,63 0,63 0,55 Intervalo de a 0,92 a 1,05 0,95 a 1,05 1,17
r² 0,9186 0,9183 0,9326 b 10.77 -3.6 -17.84
-6,12 a -17,92 a -62,08 a
Intervalo de b 27,67 10,71 26,40
Tabela 3. Constantes de sorção para o NH4+ e os
coeficientes de correlação Tabela 5. Teste de modelo para ensaio de difusão de NH4+
Langmuir Ritter Linear Não
(1998) linear De (×10 -9 m²/s) 1,58 1,74 1,90
Sm 0,0007 0,0007 0,0008 RMSD (kg/m³) 0,08994 0,08962 0,09014
(kg/kg) 5 5 4 a 1,52 1,58 1,64
b (m³/kg) 0,033 0,052 0,051 0,36 a 0,47 a
r² -0,1158 -0,024 0,0689 Intervalo de a 2,67 0,42 a 2,73 2,81
Freundlich Kf 585,53 609,10 b -30.88 -45.81 -61.41
-202,50 a -222,14 a -243,14 a
ε - 0,04 0,04 Intervalo de b 140,73 130,52 121,09
r² - 0,0067 0,0198
Desta forma, foram escolhidos os coeficientes
Foi possível observar melhor ajuste pelo método 1,27 × 10-9 m²/s para o potássio e 1,74 × 10-9 m²/s
não linear se comparado com o método pós para o nitrogênio amoniacal, pelo menor RMSD, pois
linearização das curvas. nota-se que todos os coeficientes de difusão
Especificamente o nitrogênio amoniacal obteve apresentados estão nos intervalos desejáveis de a e b.
baixa qualidade de ajuste sendo o melhor r² de O gráfico construído com os coeficientes de
0,0689. Isso pode ser explicado pela remoção de um difusão selecionados juntamente com os aplicados

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646
por Ritter (1998) estão apresentados na Figura 3.

Figura 4. - Resultado da simulação de K+ com o


Figura 3. Gráfico de perfil do solo no ensaio com solo
coeficiente do presente trabalho
salino de com análises e modelagem de K+ e NH4+
É notável a discrepância entre a modelagem
Além da diminuição do erro, os parâmetros
realizada considerando o lixiviado com 1 m de altura
desenvolvidos neste trabalho aprimoraram a
e as outras alturas. No entanto, a partir de 10 m, há
aproximação do modelo aos dados experimentais
certa equivalência. Porém, a poro pressão gerada pelo
quando se tratando do íon potássio. Em contrapartida,
lixiviado é importante sobre outros aspectos como
o ajuste aos dados experimentais não foi tão
para a instabilidade de aterros, por exemplo (Koerner
adequado para o nitrogênio amoniacal.
& Soong, 2000).
Observa-se que dois dos pontos experimentais são
Na profundidade de 2,05 metros após
aproximados pelo modelo de Ritter (1998). No
1262304000 segundos, por exemplo, a concentração
entanto, ao aplicar a metodologia de Mesplé et al.
de K+ foi de 0,5832, 0,5889, 0,5909 e 0,595 kg/m³
(1996) e a tentativa de buscar o menor RMSD, há a
para alturas de 10 m, 20 m, 30 m e concentração
prioridade de encontrar uma modelagem que se
constante, respectivamente. Demonstrando pouca
aproxime dos dois grupos de pontos experimentais.
variabilidade também quando considerada a
Com isto, o modelo se localiza entre eles.
concentração constante. Já com a altura de 1 m, a
Portanto, a metodologia empregada aprimorou o
concentração seria de 0,5249 kg/m³.
tratamento dos dados obtidos por Ritter (1998) para
Mesmo com a esperada variabilidade na
o K+ . No entanto, o resultado não foi igualmente
composição do lixiviado com o tempo, considerando
positivo para o NH4+.
as altas concentrações de íons no chorume, é razoável
Isto pode estar relacionado ao ajuste limitado dos
pressupor que estas se mantêm constantes com o
dados de sorção aos modelos de isoterma para o íon
intuito de simplificar o modelo. Isto converge para a
amônio.
abordagem adotada por Zhan et al. (2014).
A pouca congruência entre dados experimentais e
De acordo com a simulação para o momento atual,
modelo no caso do nitrogênio também pode ter
o solo apresentaria concentração próxima ao do
ocorrido pela existência de uma “interface efetiva”
“background” na parte mais profunda do perfil,
causada pela colmatação dos vazios do solo por ação
mesmo no pior cenário ocorrendo com a altura de
bacteriana ou precipitação de metais (Zhan et al.,
30m de lixiviado.
2014).
Na Figura 5, está apresentada a simulação para o
íon amônio.
3.3 Simulações no POLLUTE

Na Figura 4, está apresentado gráfico com as


modelagens da distribuição do íon potássio no solo
sob o aterro de Gramacho.

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647
Independentemente do cenário simulado, a
concentração de potássio, a partir de 4 metros de
profundidade do solo, manteve-se próxima ao
background. Isso pode ser explicado pela alta
concentração de K+ intrínseca do solo de Gramacho.
Em contrapartida, a concentração de nitrogênio
amoniacal no líquido intersticial pode estar acima do
background ao longo do perfil do substrato de
Gramacho.
A altura do lixiviado a partir de 10 metros não
influenciou de forma significativa no aumento da
concentração dos compostos no perfil do solo.
Indicando, portanto, que, nas circunstâncias
supracitadas, a difusão molecular não é alterada
prioritariamente por este parâmetro. Porém, são
Figura 5. Resultado da simulação de NH4+ com o necessários mais estudos para avaliar a extrapolação
coeficiente do presente trabalho desta conclusão para outros cenários e dados de
campo que sejam condizentes com as simulações
Quanto ao NH4+, foi observado comportamento propostas.
semelhante, onde a influência da altura do lixiviado é
importante entre a modelagem com 1 metro e as
outras. Em contrapartida, a concentração do íon AGRADECIMENTOS
amônio no líquido intersticial do solo (0,11 kg/m³) de
Gramacho é bem inferior ao do potássio (0,45 kg/m³). Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do
Além da salinidade no solo, feldspato e ilita estão Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) pelo apoio
entre os minerais com maior capacidade de conter financeiro.
potássio (Kome et al., 2019).
A partir da modelagem realizada, é possível REFERÊNCIAS
observar que a concentração de nitrogênio amoniacal
por todo o perfil do solo manteve-se acima do ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil
background. Entre as alturas avaliadas, o pior cenário 2021. Associação Brasileira das Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos, https://abrelpe.org.br/panorama/,
é encontrado no caso de altura de 30 m. Neste caso, a acessado em 02/12/2022.
concentração de NH4+ na profundidade de 5,3 m é de Barbosa, M. C. (1994) Investigação Geoambiental do
0,1188 kg/m³. Depósito de Argila sob o Aterro de Gramacho, RJ.
Destaca-se ainda que o modelo não considera que Tese de Doutorado, COPPE, Universidade Federal do
há interação entre NH4+ e a matéria orgânica do solo, Rio de Janeiro, 328p.
o que pode causar uma atenuação desta contaminação Bear, J. (1979). Hydraulics of groundwater. McGraw-Hill,
nas camadas mais superficiais (Zhan et al., 2014). New York, p.567.
Benatti, K. A. (2017) O Método de Levenberg-Marquardt
4 CONCLUSÃO para o Problema de Quadrados Mínimos não Linear.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do
Paraná, 106p.
Ao comparar metodologia não linear e linear na Boast, C. W. (1973). Modeling the movement of chemicals
construção de isotermas de sorção em ensaios de in soils by water. Soil Science, v. 115, n. 3, p. 224–230.
equilibrio em lote, foi possível concluir que a Canty, S. W. J.; Preziosi, R. F.; Rowntree, J. K. (2018).
aplicação do método não linear aprimora o ajuste das Dichotomy of mangrove management: A review of
curvas aos dados experimentais. research and policy in the Mesoamerican reef region.
O método implementado por Mesplé et al. (1996) Ocean and Coastal Management, v. 157, n. February,
para a seleção de modelo aprimora os resultados ao p. 40–49.
definir o coeficiente de difusão que mais se adequa Faria Lima inaugura hoje primeiro aterro sanitário
aos dados experimentais. Os novos coeficientes de metropolitano do Brasil. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 28 set. 1978. p. 15.
difusão variaram de 1,27 para 1,74 × 10-9 m²/s para o
FIOCRUZ. Moradores do entorno de lixões sofrem com
NH4+ e de 1,58 para 1,27 × 10-9 m²/s para o K+. O problemas ambientais e de saúde pública.
resultado, contudo, foi melhor ajustado para o K+ do https://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/conflito/rj-
que para o NH4+ , provavelmente pela não adequação moradores-do-entorno-de-lixoes-sofrem-com-
dos dados experimentais dos ensaios de sorção problemas-ambientais-e-de-saude-publica/, acessado
realizados para o segundo composto. em 02/12/2022.

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X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Modelagem Numérica do Fenômeno do Adensamento a Grandes


Deformações
Matheus Marques Martins
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mmarquesmartins@hotmail.com

Moisés Antônio da Costa Lemos


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, moisesaclemos@gmail.com

Jaqueline Costa de Souza


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, jaquelinecosta.eng@hotmail.com

André Luís Brasil Cavalcante


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, abrasil@unb.br

Marta Pereira da Luz


Eletrobras Furnas, Aparecida de Goiânia, Brasil, martaluz@furnas.com.br
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, marta.eng@pucgoias.edu.br

RESUMO: A deposição de sedimentos no fundo de reservatórios de água reduz gradualmente o volume útil armazenado.
No longo prazo, o comportamento do depósito de sedimentos é regido pelo adensamento a grandes deformações. A
solução analítica da teoria de Gibson para o adensamento unidimensional de argilas saturadas adota hipóteses
simplificadoras que limitam sua aplicação. Alternativamente, a modelagem numérica do adensamento a grandes
deformações por meio do método dos elementos finitos permite que as não linearidades física e geométrica sejam
incorporadas na análise do fenômeno, alcançando soluções aproximadas com precisão da distribuição do índice de vazios
ao longo do tempo. Simulações numéricas incorporando os modelos constitutivos Single Power Function e Extended
Power Function foram realizadas com dados experimentais encontrados na literatura. Análises foram realizadas para um
maior entendimento da distribuição do índice de vazios ao longo da profundidade devido à dupla drenagem da camada.
Comparando a solução numérica apresentada neste artigo com a solução analítica proposta por Gibson, pode-se concluir
que o adensamento ocorre mais rapidamente na solução numérica.

PALAVRAS-CHAVE: Adensamento a grandes deformações, Modelo de Gibson, Reservatórios de água, Modelagem


numérica, Modelos constitutivos.

ABSTRACT: Sediment deposition gradually reduces the usable volume stored in water reservoirs. In the long term, the
behavior of sediment deposits is controlled by large strain consolidation. The analytical solution of Gibson’s theory of
one-dimensional consolidation of saturated clays is based on simplifying assumptions that limit its application.
Alternatively, numerical modeling of large strain consolidation using the finite element method brings physical and
geometric nonlinearities into the analysis of the phenomenon, achieving accurate approximate solutions of the void ratio
distribution with time. Numerical simulations incorporating the Single Power Function and the Extended Power Function
constitutive models were performed with experimental data found in the literature. Analyses were performed for a better
understanding of the void ratio distribution along the depth of the layer due to double drainage condition. Comparing the
numerical solution presented in this paper with Gibson’s analytical solution, it can be concluded that consolidation occurs
faster in the numerical solution.

KEY WORDS: Large strain consolidation, Gibson’s model, Water reservoirs, Numerical modeling, Constitutive models.

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650
1 INTRODUÇÃO Neste artigo, a teoria do adensamento a grandes
deformações foi resolvida numericamente aplicando
A formação de depósito de sedimentos no fundo de o método dos elementos finitos. As simulações
um reservatório de água, oriundo do transporte de numéricas proporcionaram o acompanhamento da
sedimentos nas bacias de contribuição e nas margens distribuição do índice de vazios ao longo da camada
do reservatório, reduz gradualmente o volume útil durante o processo de adensamento. Parâmetros
armazenado e a geração de energia elétrica, além de constitutivos obtidos experimentalmente por Pinho
causar dificuldades operacionais (Eletrobras, 2003). (2018) para uma amostra de silte argiloso foram
A deposição ocorre quando a taxa de carreamento de empregados na modelagem numérica. Os modelos
sedimentos supera a capacidade de transporte do constitutivos Single Power Function e Extended
escoamento (Aksoy e Kavvas, 2005). O adensamento Power Function foram usados para relacionar a
compreende o acúmulo de partículas transportadas no condutividade hidráulica saturada e a tensão efetiva
leito de fluxo e a autocompactação do depósito com o índice de vazios, respectivamente.
resultante pelo peso próprio e por solicitação externa
(Bordas e Semmelmann, 2007).
A teoria do adensamento a grandes deformações 2 MATERIAL E MÉTODOS
ou teoria do adensamento com deformações finitas
(Gibson et al., 1967) descreve adequadamente a O adensamento unidimensional de uma camada de
magnitude e a evolução das deformações e dos argila saturada é governado por (Gibson et al., 1967):
recalques de materiais de granulometria fina e
altamente compressíveis (Pereira, 2006), como os e   e  e
f (e) + g(e)  + = 0 (1)
sedimentos depositados no fundo de reservatórios. O z z  z  t
modelo de Gibson baseia-se nas seguintes hipóteses:
o esqueleto sólido é homogêneo e não possui efeitos onde: e = índice de vazios; z = distância na direção
temporais intrínsecos; a fase fluida e a fase sólida são vertical (m); t = tempo (s).
incompressíveis. Nestas condições, tanto a lei de Para efeito de simplificação, as funções f(e) e g(e)
Darcy quanto o princípio das tensões efetivas são englobam os seguintes parâmetros:
válidos. O modelo de Gibson também considera
forças de peso próprio e não linearidades física e d  k z (e) 
f (e) = − ( G s − 1) (2)
geométrica (Cavalcante, 2004). de  1 + e 
A solução analítica do modelo de Gibson adota k z (e) dz '
hipóteses simplificadoras para que a equação possa g(e) = − (3)
 w (1 + e ) de
ser linearizada. Primeiro, admite-se a equivalência
entre densidade do fluido e densidade dos sólidos,
desprezando a influência do peso próprio no processo onde: Gs = densidade relativa dos sólidos;
de adensamento de camadas finas quando comparado kz = condutividade hidráulica vertical saturada (m/s);
à tensão efetiva aplicada. Segundo, admite-se que a γw = peso específico da água (kN/m3); σz’ = tensão
função g(e) é independente do índice de vazios inicial efetiva vertical (kPa).
e pode ser tratada como constante, o que não ocorre A dependência da variação do índice de vazios é
se o incremento de carregamento for expressivo. incorporada no modelo de Gibson por meio de dois
Portanto, as hipóteses simplificadoras constituem modelos constitutivos.
limitações da solução analítica. A relação entre condutividade hidráulica saturada
Neste contexto, a modelagem numérica pode ser e índice de vazios pode ser representada pelo modelo
empregada para solucionar equações diferenciais Single Power Function (Somogyi, 1979):
parciais. No método dos elementos finitos (MEF), a
camada contínua é discretizada em elementos finitos k(e) = CeD (4)
conectados por pontos nodais, formando uma malha.
As condições inicial e de contorno estabelecem onde: C, D = parâmetros constitutivos.
comportamentos conhecidos dos elementos no tempo Enquanto a relação entre índice de vazios e tensão
inicial e nas fronteiras do domínio, respectivamente. efetiva vertical pode ser representada pelo modelo
A aplicação de métodos numéricos é fundamental na Extended Power Function (Liu e Znidarčić, 1991):
análise do adensamento a grandes deformações, pois
possibilita que as não linearidades física e geométrica e(z ' ) = A(z ' + Z)B (5)
sejam incluídas no problema, resultando em soluções
aproximadas com precisão (Azevedo et al., 1999). onde: A, B, Z = parâmetros constitutivos.

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651
Substituindo a Eq. 4 na Eq. 2, a função f(e) passa Como condição inicial, o índice de vazios foi
a ser descrita em termos dos parâmetros constitutivos considerado uniforme ao longo de toda a camada. As
C e D: condições de contorno estabelecem a dupla drenagem
da camada, como ilustrado na Figura 1.
 CDeD −1 CeD 
f (e) = − ( G s − 1)  −  (6)
 1+ e (1 + e) 2 

Substituindo a Eq. 4 e a Eq. 5 na Eq. 3, a função


g(e) passa a ser descrita em termos dos parâmetros
constitutivos A, B, Z, C e D:
1
+ D −1
C eB (7)
g(e) = − 1
B
 w (1 + e)
A B

Por fim, substituindo a Eq. 6 e a Eq. 7 na Eq. 1, o


modelo de Gibson é reescrito em função dos
parâmetros constitutivos A, B, C e D:

e  CDe D −1 Ce D  e
− (G s − 1)  − 
t  1+ e (1 + e) 2  z Figura 1. Condições inicial e de contorno da modelagem
(8) numérica do adensamento a grandes deformações.
 1
+ D −1 
  C eB e 
− =0
z  B1  w (1 + e) z  Nas fronteiras superior (z = 0) e inferior (z = L), a
 A B 
tensão efetiva vertical é calculada, respectivamente,
por:
A Eq. 8 é não linear e foi resolvida empregando o
método dos elementos finitos por meio do software 0' = q + Hw  w (10)
COMSOL Multiphysics 5.5. No programa, há uma L

equação diferencial parcial genérica com coeficientes f ' = q + H w  w +   w (G s − 1)dz (11)


que multiplicam derivadas de até segunda ordem no 0

tempo e no espaço (Coefficient form PDE):


onde: σ0’ = tensão efetiva no topo da camada (kPa);
 u2
u q = carregamento no topo da camada (kPa);
ea + da (9) Hw = altura de água acima da camada (m);
t 2 t
+  ( −cu − u +  ) +   u + au = f σf’ = tensão efetiva final na base da camada (kPa).
O índice de vazios na fronteira superior e(0,t) é
calculado ao substituir a Eq. 10 na Eq. 5 e o índice de
onde: ea = coeficiente de massa (s); u = variável vazios na fronteira inferior e(L,t) é calculado ao
dependente; da = coeficiente de amortecimento; substituir a Eq. 11 na Eq. 5:
c = coeficiente difusivo (m2/s); α = coeficiente
convectivo de fluxo conservativo (m/s); γ = termo
e(0' ) = A(q + Hw  w + Z)B (12)
fonte de fluxo conservativo (m/s); β = coeficiente
e(f ) = A q + H w  w +  w (G s − 1)L + Z
' B
convectivo (m/s); a = coeficiente de absorção (1/s); (13)
f = termo fonte (1/s).
Nota-se que os coeficientes α e c são análogos às O recalque produzido pelo adensamento primário
funções f(e) e g(e), respectivamente. Portanto, se unidimensional pode ser relacionado com a
considerarmos a variável dependente como o índice distribuição do índice de vazios pela Eq. 14.
de vazios, o coeficiente da como um e os coeficientes
ea, γ, β, a, f como nulos, a Eq. 9 reproduz exatamente e ( z, t ) − e0
S(z, t) = H0 (14)
a Eq. 1. 1 + e0
Escolhida a equação (Eq. 9) a ser resolvida
numericamente pelo programa, o próximo passo onde: S = recalque (m); H0 = altura inicial da amostra
consiste na definição das condições inicial e de (m); e0 = índice de vazios inicial.
contorno do problema do adensamento a grandes
deformações.

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652
A geometria da camada foi representada em um 3 RESULTADOS
plano 2D axissimétrico no programa. As simulações
numéricas foram realizadas utilizando malha de Primeiramente, é apresentada a representação da
elementos triangulares. geometria da camada de silte argiloso no modelo
O modelo numérico do adensamento a grandes numérico. Em seguida, é demonstrado como o índice
deformações foi retroanalisado com dados de de vazios se distribui ao longo da camada durante o
parâmetros constitutivos obtidos por Pinho (2018), processo de adensamento. A distribuição do índice de
que realizou o ensaio HCT (Hydraulic Consolidation vazios também é apresentada em formato de gráficos,
Test) com amostras de silte argiloso. Os dados de variando ao longo do tempo e do espaço. A variação
entrada e os parâmetros de saída são apresentados na da condutividade hidráulica saturada e da tensão
Tabela 1 e Tabela 2, respectivamente. efetiva ao longo do tempo são representadas em
gráficos seguindo os modelos constitutivos Single
Tabela 1. Dados de entrada dos resultados experimentais Power Function e Extended Power Function. Por
obtidos por Pinho (2018). fim, a variação do recalque ao longo do tempo é
Dados de Entrada Lama 01 Unidade representada em gráfico a partir da distribuição do
γs 38,01 kN/m³ índice de vazios.
Gs 3,8746 - Na Figura 2, é apresentada a camada de silte
e0 2,08 -
argiloso saturado e homogêneo em um plano 2D
H0 0,035354 m
ef 1,05 - axissimétrico, bem como a malha triangular utilizada.
Hf 0,02994 m
q 86,06 kPa
kz 2,30E-08 m/s

onde: γs = peso específico dos sólidos (kN/m3);


ef = índice de vazios final; Hf = altura final da
amostra (m).
A altura de água acima da camada foi considerada
como nula, pois a influência do peso próprio dos
sólidos e da poropressão no processo de adensamento
de camadas finas é insignificante quando comparado
à tensão efetiva aplicada (Gibson et al., 1967).

Tabela 2. Parâmetros constitutivos do adensamento de Figura 2. Geometria da camada de silte argiloso em plano
uma amostra de silte argiloso obtidos por Pinho (2018). 2D axissimétrico com malha triangular.
Parâmetros de Saída Lama 01 Unidade
A 1,60487 - As simulações numéricas foram realizadas ao
B -0,09521 - longo do eixo de simetria da camada de silte argiloso,
Z 0,06563 kPa como mostra a Figura 3.
C 1,93E-08 m/s
D 3,63138 -

Portanto, o software COMSOL Multiphysics 5.5


foi empregado para resolver numericamente a Eq. 9
utilizando os dados experimentais de Pinho (2018).
A simulação numérica foi realizada computando
pontos a cada 30 segundos durante a primeira hora e
a cada cinco minutos entre uma hora e cinco horas de
adensamento. Como resultado, foram produzidos
modelos 2D de índice de vazios x tempo, assim como
gráficos de índice de vazios x tempo, índice de vazios
x profundidade, condutividade hidráulica saturada x
tempo, tensão efetiva x tempo e recalque x tempo. Figura 3. Eixo de simetria da camada no plano 2D
axissimétrico.

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653
A Figura 4 apresenta a evolução temporal da
distribuição do índice de vazios ao longo da camada e)
de silte argiloso.

a)

f)

b)

g)

c)

h)

d)

Figura 4. Distribuição do índice de vazios: a) inicial;


b) a 1 minuto; c) aos 3 minutos; d) aos 5 minutos; e) aos
10 minutos; f) aos 15 minutos; g) aos 20 minutos; h) aos
25 minutos.

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654
A distribuição do índice de vazios também foi A variação da condutividade hidráulica saturada
simulada ao longo do eixo de simetria da camada para ao longo do tempo é apresentada a 25%, 50% e 75%
diferentes períodos de tempo na Figura 5. da profundidade da camada na Figura 8, usando o
modelo Single Power Function.

Figura 5. Distribuição do índice de vazios no espaço.


Figura 8. Variação da permeabilidade ao longo do tempo
A variação do índice de vazios ao longo do tempo aplicando o modelo Single Power Function.
é apresentada a 25%, 50% e 75% da profundidade da
camada na Figura 6. A variação da tensão efetiva ao longo do tempo é
apresentada a 25%, 50% e 75% da profundidade da
camada na Figura 9, usando o modelo Extended
Power Function.

Figura 6. Distribuição do índice de vazios no tempo.

De modo a validar a solução numérica, a solução


analítica (Gibson et al., 1967) também foi plotada Figura 9. Variação da tensão efetiva ao longo do tempo
para o centro da camada na Figura 7. Na solução aplicando o modelo Extended Power Function.
analítica, a variação da tensão efetiva vertical de
acordo com o índice de vazios é representada por uma A variação do recalque ao longo do tempo é
constante chamada coeficiente de compressibilidade, apresentada a 25%, 50% e 75% da profundidade da
que foi admitido como 0,006 kPa-1 neste estudo. camada na Figura 10.

Figura 7. Comparativo entre soluções numérica e analítica. Figura 10. Variação do recalque ao longo do tempo.

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655
4 DISCUSSÃO O carregamento aplicado é aumentado em etapas
ao longo do adensamento (Figura 9). A tensão efetiva
A Figura 4 apresenta a evolução temporal da começa a aumentar entre três e quatro minutos a 25%
distribuição do índice de vazios ao longo da camada e 75% de profundidade, e entre 10 e 20 minutos no
de silte argiloso. Inicialmente, o índice de vazios centro da camada. Ao contrário do que acontece com
inicial é mantido em toda a extensão da camada as curvas de índice de vazios, permeabilidade e
(item a). De um minuto a dez minutos (do item b ao recalque, a convergência das curvas de tensão efetiva
item e), é observado o avanço da dupla drenagem na é estabelecida durante o processo de adensamento,
camada: as extremidades atingem primeiro o índice aos 20 minutos, e não apenas quando a estabilização
de vazios final enquanto o centro mantém o índice de é atingida.
vazios inicial. Gradualmente, o índice de vazios final
é atingido pelos dois lados em direção ao centro da
camada. Aos 15 minutos (item f), o processo de 5 CONCLUSÃO
adensamento está em estágio avançado. Neste
momento, o índice de vazios no centro da camada se Neste artigo, dados experimentais foram empregados
encontra entre 1,4 e 1,5. Aos 20 minutos (item g), a para simular numericamente a distribuição do índice
camada está quase uniforme de novo. Aos 25 minutos de vazios ao longo de uma camada de silte argiloso
(item h), o processo de adensamento está conforme a teoria do adensamento de Gibson. Os
praticamente concluído e a camada inteira apresenta modelos constitutivos Single Power Function e
o índice de vazios final. Extended Power Function foram utilizados para
A distribuição do índice de vazios ao longo do estabelecer a relação da condutividade hidráulica
eixo de simetria foi apresentada na Figura 5. À saturada e da tensão efetiva com o índice de vazios.
medida que o tempo passa, as curvas de índice de As simulações numéricas demonstraram o efeito
vazios formam um pico no centro da camada, que da dupla drenagem da camada: as extremidades
ainda mantém o índice de vazios inicial; depois este atingem o índice de vazios final antes do centro, que
pico é amortecido em direção ao índice de vazios mantém o índice de vazios inicial por mais tempo. O
final. Nota-se uma pequena instabilidade nas índice de vazios e a permeabilidade são reduzidos
extremidades da curva referente ao tempo inicial, que durante o adensamento, enquanto a tensão efetiva e o
pode ter sido gerada pela descontinuidade de recalque são aumentados. A redução do índice de
elementos nas fronteiras do domínio. vazios pelo adensamento é mais acelerado no modelo
Em relação à variação do índice de vazios ao numérico do que no modelo analítico.
longo do tempo, o adensamento ocorre na mesma Para trabalhos futuros, sugere-se que os efeitos na
velocidade nas fronteiras superior e inferior, ou seja, direção horizontal também sejam considerados nas
não há um caminho preferencial de drenagem, como simulações numéricas da teoria do adensamento de
pode ser verificado na Figura 6. A redução do índice Gibson.
de vazios é iniciada entre dois e três minutos a 25% e
75% de profundidade, e só após 10 minutos no centro
da camada. O índice de vazios final é atingido nas AGRADECIMENTOS
três profundidades estudadas simultaneamente antes
dos 30 minutos. Comparando com o modelo analítico Este estudo foi financiado pela Coordenação de
(Figura 7), o índice de vazios inicial é mantido por Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
mais tempo no modelo numérico, porém o índice de (Bolsa CAPES 88887.696804/2022-00) e pelo
vazios apresenta uma inclinação mais acentuada Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
durante o decaimento, o que significa que a redução Tecnológico (Bolsas CNPq 140923/2020-9,
do índice de vazios ocorre mais rapidamente no 140966/2021-8, 305484/2020-6 e 309841/2021-6).
modelo numérico, o que pode ser atribuído às Os autores também agradecem à Eletrobras Furnas e
limitações que o modelo analítico apresenta. à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL
A redução da permeabilidade ao longo do tempo PD.0394-1705/2017).
(Figura 8) segue um padrão semelhante ao exibido
pelo índice de vazios: a permeabilidade começa a ser
reduzida primeiro a 25% e 75% de profundidade, e REFERÊNCIAS
depois no centro da camada. No final do processo de
adensamento, as três curvas convergem para a Aksoy, H. & Kavvas, M. L. (2005). A review of hillslope
condutividade hidráulica saturada final. O mesmo and watershed scale erosion and sediment transport
comportamento também foi observado para o models. Catena, 64(2-3), p. 247-271.
aumento do recalque ao longo do tempo (Figura 10). Azevedo, R. F.; Silva, W. S. & Santos, D. C. D. (1999).

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656
Disposição de Resíduos na Forma de Lama: Modelos H0 = altura inicial da camada;
e Parâmetros. Anais IV Congresso Brasileiro de Hw = altura de água acima da camada;
Geotecnia Ambiental (IV REGEO), ABMS, São José k = condutividade hidráulica saturada;
dos Campos, p. 217-224. q = carregamento no topo da camada;
Bordas, M. P. & Semmelmann, F. R. (2007). Elementos de S = recalque;
engenharia de sedimentos. Hidrologia: ciência e t = tempo;
aplicação, 24, p. 915-943. u = variável dependente;
Cavalcante, A. L. B. (2004). Modelagem e Simulação do z = distância na direção vertical;
Transporte por Arraste de Sedimentos Heterogêneos α = coeficiente convectivo de fluxo conservativo;
Acoplado ao Mecanismo de Tensão-deformação- β = coeficiente convectivo;
poropressão Aplicado a Barragens de Rejeitos. Tese γ = termo fonte de fluxo conservativo;
de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em γs = peso específicos dos sólidos;
Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil, γw = peso específico da água;
Universidade de Brasília, 258p. σ’ = tensão efetiva;
COMSOL The Coefficient Form PDE, σf’ = tensão efetiva final na base da camada;
https://doc.comsol.com/5.5/doc/com.comsol.help.com σ0’ = tensão efetiva no topo da camada.
sol/comsol_ref_equationbased.23.008.html, acessado
em 16/12/2022.
ELETROBRAS (2003). Critérios de projeto civil de
usinas hidrelétricas. Centrais Elétricas Brasileiras
S.A., Rio de Janeiro, p. 278.
Gibson, R. E.; England, G. L. & Hussey, M. J. L. (1967).
The theory of one-dimensional consolidation of
saturated clays, 1. Finite non-linear consolidation of
thin homogeneous layers. Géotechnique, 17(3), p.
261-273.
Liu, J. C. & Znidarčić, D. (1991). Modeling one-
dimensional compression characteristics of soils.
Journal of Geotechnical Engineering, 117(1), p. 162-
169.
Pereira, B. A. (2006). Adensamento e simulação do
processo de enchimento do reservatório de uma
barragem para contenção de rejeitos de ouro.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Escola de Minas, Universidade
Federal de Ouro Preto, 115p.
Pinho, M. Q. (2018). Aplicação de análises
tridimensionais de adensamento a grandes
deformações na disposição de rejeitos em cava de
mineração. Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Mineral, Escola de
Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, 102p.
Somogyi, F. (1979). Analysis and prediction of phosphatic
clay consolidation: implementation package.
Lakeland: Florida Phosphatic Clay Research Project
(Technical Report).

LISTA DE SÍMBOLOS

A, B, Z, C, D = parâmetros constitutivos do adensamento;


a = coeficiente de absorção;
c = coeficiente difusivo;
da = coeficiente de amortecimento;
e = índice de vazios;
ea = coeficiente de massa;
ef = índice de vazios final;
e0 = índice de vazios inicial;
f = termo fonte;
Gs = densidade relativa dos sólidos;
Hf = altura final da camada;

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657
X Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2023)
IX Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2023)
Salvador, Ba, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2023

Transporte de Metais Pesados no Solo: uma Revisão Bibliográfica


Tainara Terezinha Reis de Oliveira
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tainara.oliveira@engenharia.ufjf.br

Monique Guerra Fernandes


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, monique.guerra@engenharia.ufjf.br

Cátia de Paula Martins


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, catia.martins@ufjf.br

Júlia Righi de Almeida


Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.br

RESUMO: O estudo e compreensão do transporte de metais pesados faz-se necessário pelo potencial
contaminador do solo e águas subterrâneas. Os processos de sorção, advecção e dispersão hidrodinâmica,
representados por parâmetros obtidos em laboratório e/ou campo, governam o comportamento da pluma de
contaminação em subsuperfície. Neste artigo, objetivou-se realizar uma pesquisa de informações para
contribuir com a construção inicial de um banco de dados a respeito do assunto. Para isso, foi realizada uma
revisão bibliográfica e levantadas pesquisas relevantes a respeito do tema. Foi notável uma maior tendência
de realização de estudos nas regiões Sul e Sudeste e preferência por análises dos metais zinco, cobre e
cromo. Percebeu-se que o solo majoritariamente citado nos estudos é comumente encontrado na região
Sudeste e que a maioria das amostras não foram mantidas em seu estado natural durante a realização dos
ensaios de interesse. Os dados obtidos na pesquisa foram compilados em tabelas e gráficos para melhor
visualização e análise, sendo possível comparar resultados a respeito de informações similares.

PALAVRAS-CHAVE: Contaminação, Solo, Metais Pesados, Zinco.

ABSTRACT: The study and understanding of the transport of heavy metals is necessary due to the
contaminating potential of soil and groundwater. The processes of sorption, advection and hydrodynamic
dispersion, represented by parameters obtained in the laboratory and/or field, govern the behavior of the
subsurface contamination plume. In this article, the objective was to carry out an information search to
contribute to the initial construction of a database on the subject. For this, a bibliographic review was carried
out and relevant research on the subject was raised. There was a notable tendency to carry out studies in the
South and Southeast regions and a preference for analysis of zinc, copper and chromium metals. It was
noticed that the soil that was cited the most in the studies is commonly found in the tests of interest. The data
obtained in the search were compiled in tables and graphs for better visualization and analysis, making it
possible to compare results regarding similar information.

KEY WORDS: Contamination, Soil, Heavy Metals, Zinc.

1 INTRODUÇÃO solo como, por exemplo, processos de


contaminação. Desta forma, estudar e compreender
A aplicação de métodos científicos e princípios estes processos torna possível evitar danos tanto
de engenharia ao comportamento de solos e rochas é para a saúde quanto para o meio ambiente, seja para
uma ferramenta fundamental para a solução de atuais ou futuras gerações. Diante desta perspectiva,
problemas da área. No caso da Geotecnia muitos trabalhos têm sido desenvolvidos a fim de
Ambiental, mais especificamente, é concebido detectar tais alterações utilizando um tipo ou grupo
grande potencial para solução de diferentes mais específico de contaminantes como, por
problemas ambientais que envolvem a temática do

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658
exemplo, metais pesados que são o propósito deste Além disso, procedeu-se o planilhamento com
artigo. uso do software Microsoft Excel para compilar os
Em relação aos mecanismos de contaminantes no dados obtidos para os parâmetros representativos
solo, é possível pontuar, segundo Zuquette (2015), dos processos de transporte de metais pesados, para
que o transporte de contaminantes no solo é regido as diferentes condições de estudo consideradas por
por uma equação geral, sendo as componentes dessa cada autor. Por fim, com o intuito de facilitar a
equação processos importantes como a advecção, realização de uma análise geral, gráficos foram
dispersão hidrodinâmica e sorção. Cada um desses construídos com as informações sobre os diversos
processos é quantificado por meio dos parâmetros aspectos comuns às pesquisas selecionadas.
de transportes correspondentes. Como exemplo,
tem-se o coeficiente de permeabilidade do solo 3 O TRANSPORTE DE METAIS PESADOS
utilizado no cálculo da velocidade de deslocamento NO SOLO: PESQUISAS SELECIONADAS
da pluma de contaminação, quantificando assim o
processo advectivo (Zuquette, 2015). Boff (1999) realizou um estudo com a formação
Por serem frequentes os casos de contaminação Serra Geral e com a formação Botucatu, compostas
por metais pesados decorrentes de vazamentos, por solos lateríticos para avaliar a potencialidade
arraste de contaminantes atmosféricos pela chuva e dos materiais para serem utilizados como barreiras
escoamento das águas pluviais sobre as superfícies protetoras.
urbanas, torna-se ainda mais relevante os estudos a Leite (2000) desenvolveu um estudo experimental
respeito. Destaca-se, ainda, que a contaminação dos com percolação de soluções químicas iônicas em
solos e das águas subterrâneas ocorre a muitos anos colunas de solos também lateríticos compactados e
em todo o mundo. Cidades como Recife, Goiânia e da formação Serra Geral e Botucatu.
Juiz de Fora são alguns dos locais onde foram Miranda e Duarte (2002) desenvolveram e
identificadas contaminações por estas substâncias avaliaram um modelo computacional com o objetivo
contaminantes e que possuem estudo acerca do de aplicá-lo na simulação da dinâmica de solutos no
ocorrido. solo. O modelo apresentou bom ajuste das
Diante dos fatores apontados, este artigo tem concentrações de nitrato e dos perfis de umidade.
como objetivo realizar uma revisão bibliográfica Basso (2003) avaliou o transporte e retenção de
sobre a contaminação de solos por metais pesados, a íons por percolação, visando o desenvolvimento de
fim de buscar avaliar a disponibilidade de dados uma barreira natural composta de solos lateríticos
entregues por pesquisas da área, compreender o das formações Botucatu e Serra Geral. A mistura
contexto de contaminação atual e o destes solos mostrou-se satisfatória para o uso em
desenvolvimento de pesquisas científicas, com barreiras.
destaque para o Brasil. Também buscou-se compilar, Nascentes (2003) determinou parâmetros de
em tabelas e gráficos, os dados dos parâmetros de transporte de alguns metais pesados em solo residual
transporte de contaminantes dos materiais compactado. Obteve-se a sequência de mobilidade
científicos pesquisados, para facilitar a interpretação dos metais estudados e observou-se uma relação
dos mesmos e inspirar a realização de entre a alteração do valor do fator de retardamento
considerações entre as diversas informações, diante das diferentes situações propostas..
contribuindo assim para um banco de dados a Oliveira et al. (2004) comparou os fatores de
respeito do tema. retardamento e os coeficientes de dispersão-difusão
dos contaminantes fosfato, potássio e amônio em
2 MATERIAL E MÉTODOS determinados solos de Minas Gerais. Porém, não foi
possível evidenciar relação nítida entre suas
A metodologia para construção deste artigo concentrações e seus respectivos coeficientes
consistiu, primeiramente, na realização de pesquisas dispersivos/difusivos.
e leituras de artigos, livros, teses e dissertações Demuelenaere (2004) buscou caracterizar
entre outros, que envolvem a temática de propriedades de transporte dos metais pesados em
contaminação do solo por metais pesados. solos residuais de Duque de Caxias e Mirante do
Os materiais pesquisados foram encontrados em Leblon. Observou-se mudança de comportamento
bibliotecas digitais de universidades nacionais, tanto do chumbo quanto do cádmio diante da
plataformas como CAPES, Scielo e Google alteração de pH do ambiente.
Acadêmico e, indiretamente, na plataforma Lattes. Demuelenaere (2010) estudou a análise
Posteriormente, foi realizada a seleção e estudo geoquímica do transporte dos principais
de alguns destes trabalhos, apontadas assim vinte e constituintes do chorume em meios porosos.
uma pesquisas consideradas relevantes. Observou-se que cada solo parecia reagir de maneira

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659
diferente frente os contaminantes, mas foi possível Candiota. Os resultados demonstraram as áreas de
estabelecer sequências de adsorção para cada solo maior vulnerabilidade para a contaminação do
em questão. aquífero.
Miranda et al. (2005) realizou um estudo Fandiño (2020) modelou a dispersão de lixiviados
experimental com o objetivo de avaliar a simulação de resíduos sólidos urbanos através de solo saturado
do deslocamento do íon potássio em colunas de solo de argila arenosa. Os resultados indicaram o tempo
não-saturado utilizando o modelo MIDI. O modelo em que os poluentes podem atingir o corpo hídrico
foi capaz de simular de maneira satisfatória o perfil mais próximo e seu afluente em um período de 1
de umidade e o deslocamento do íon potássio. ano da geração inicial de chorume.
Azevedo et al. (2005) comparou os valores de Silva (2020) realizou um estudo com intuito de
coeficiente de dispersão hidrodinâmica e de fator de avaliar a retenção e mobilidade de zinco e cromo em
retardamento de metais de um Latossolo um depósito aluvionar do leito seco do Rio
compactado. A metodologia indicou não haver Capibaribe. Concluiu-se que solos com
necessidade de coleta frequente e contínua de características semelhantes às das camadas em
efluentes para fornecer estimativas precisas destes questão tendem a ficar suscetíveis à lixiviação de
parâmetros. metais, podendo contaminar águas subterrâneas.
Nascentes (2009) realizou um estudo no qual Ferreira (2020) realizou um estudo para obter a
buscou determinar os parâmetros de transporte doe capacidade de retenção de Cu2+ em um solo
metais em solo residual compactado, utilizando o estabilizado com fosfogesso e bentonita. Os ensaios
método da massa acumulada que mostrou-se demonstram que o uso dos estabilizantes
adequado para avaliar o transporte de solutos melhoraram a capacidade de atenuação do
reativos nos casos de taxas de escoamento baixas, transporte de Cu2+.
além de reduzir o tempo e o custo das análises. Assis (2020) estudou o comportamento de metais
Conciani (2011) avaliou a utilização de solo em solos de um Sistema Compensatório de
compactado como barreira de retenção de Infiltração de Águas Pluviais em Recife - PE. Os
contaminantes. De maneira geral, observou-se que o resultados mostraram que a chegada de misturas de
modelo de Freundlich se adequou melhor aos dados metais em solução em solos urbanos pode ter
experimentais. comportamentos muito diferentes, dependendo do
Tímbola (2011) buscou determinar os parâmetros tipo de poluente envolvido, provando que há a
de transporte de metais em solo argiloso do possibilidade de se observar mecanismos de
município de Passo Fundo - RS. Observou-se que o competição que têm o efeito de aumentar a
retardamento do contaminante foi favorecido de mobilidade de outros metais.
acordo com o aumento do pH. A partir da revisão bibliográfica, foi dado início
Li et al. (2011) investigaram o estado da poluição à compilação das informações gerais e específicas,
do solo por metais pesados na cidade de Shenyang. por meio de gráficos e tabelas, bem como tecidas
Altos valores de metais revelaram o impacto das algumas considerações a respeito dos diversos
atividades industriais e antrópicas no acúmulo de aspectos e tendências observadas. O conteúdo em
metais pesados no solo. questão está apresentado no tópico 4.
Basso (2016) determinou o fator de retardamento
e os valores de dispersão hidrodinâmica para o 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
cobre, o potássio e o cloreto em solos residuais em
São Paulo. Os resultados sugeriram que a adsorção 4.1 Pesquisas por ano de publicação
dos cátions foi controlada, sobretudo, pela
velocidade de fluxo, e não somente pela quantidade O Gráfico 1 mostra o número de pesquisas
de argila na coluna, apenas não se aplicando para o utilizadas de acordo com o ano de publicação. O
cloreto. maior número de pesquisas foi publicado em 2020,
Godoy (2017) realizou um estudo para determinar sendo estas, 4 das 21 selecionadas. Observou-se
o coeficiente hidrodinâmico de sódio. A análise do também que as pesquisas referentes aos últimos 10
modelo levou a observações sobre as limitações de anos (2010 a 2020) correspondem a 53% do total,
cada um deles e uma análise criteriosa dos valores indicando a ocorrência similar de número de
obtidos. pesquisas entre as duas décadas, mas sendo mais
Regginato (2018) elaborou um modelo expressivas em período mais recente.
matemático de simulação da trajetória e do tempo de
chegada dos contaminantes na condição hipotética
de contaminação de chorume sobre a superfície do
aquífero situado no local do Aterro Sanitário

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660
Gráfico 2. Regiões das pesquisas (Martins et al., 2022, no
prelo).

4.3 Tipos de solos

Os autores das pesquisas escolheram diferentes


tipos de solo para estudo. Para ilustrar os tipos de
solos estudados, foi construído o Gráfico 3. Nele é
possível observar um número expressivo (33,33%)
dos trabalhos em que os autores não citaram o tipo
de solo estudado. Dentre aqueles que foram
especificados, pôde-se observar a predominância do
Latossolo Vermelho-Amarelo (33,33%).
Gráfico 1. Número de pesquisas por ano de
publicação (Martins et. al., 2022, no prelo).

4.2 Estados brasileiros e regiões das pesquisas

A Figura 1 mostra a distribuição das pesquisas no


território nacional brasileiro por estado em que
foram desenvolvidas. Observa-se que a
predominância dos trabalhos ocorre para o estado de
São Paulo/SP, seguido pelo estado do Rio de
Janeiro/RJ.

Gráfico 3. Tipos de solos (Martins et al., 2022, no prelo).

4.4 Estado estrutural das amostras de solo

Em relação ao estado estrutural das amostras de


solos estudadas pelos autores das pesquisas, foi
perceptível a compactação das amostras,
representando 43,48% do total (Gráfico 4).

Figura 1. Estados brasileiros das pesquisas (Martins et.


al., 2022, no prelo).

É possível observar no Gráfico 2 que, levando em


consideração as pesquisas selecionadas, a região
Sudeste contempla a maior parte dos estudos, Gráfico 4. Estado estrutural das amostras de solo (Martins
seguida pela região Sul. É justificável a liderança do et al., 2022, no prelo).
Sudeste por ter sido observada na Figura 1 a
apreciável contribuição dos estados de SP e RJ. No 4.5 Profundidade de coleta das amostras de solo
Gráfico 2 é apontado, ainda, a contribuição de uma
pesquisa internacional. A respeito da profundidade em que as amostras
de solo foram coletadas, desconsiderando os
trabalhos que não as especificaram, observou-se
uma variação de 0,0m a 4,0m abaixo do nível
superficial de solo.
No Gráfico 5 observa-se que mais de 40% dos
trabalhos não informaram a profundidade de coleta
das amostras. Porém, analisando somente os dados
fornecidos pelos demais, conclui-se a preferência
por coletas mais superficiais. Visto que mais de 40%

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661
foram feitas entre 0,0 - 2,0 m e, destas, cerca de contaminantes no solo, foi notável a obtenção pelos
60% entre 0,0 - 1,0 m. Para ensaios laboratoriais autores.
em coluna de percolação, geralmente as amostras
utilizadas são superficiais ou compactadas, o que 4.8 Tabulação dos parâmetros de transporte de
pode ser uma justificativa para a frequente escolha metais pesados no solo
das pesquisas.
A partir das pesquisas selecionadas e expostas de
forma geral no tópico 3, foi realizada a tabulação
dos valores obtidos para alguns parâmetros de
transporte de metais pesados no solo. A seguir são
apresentadas as tabelas correspondentes a cada
processo de transporte.

4.8.1 Sorção

Gráfico 5. Profundidade de coleta das amostras de solo Para a avaliação do processo de sorção, torna-se
(Martins et al., 2022, no prelo). necessário o conhecimento de parâmetros como o
fator de retardamento (Rd) e o coeficiente de
4.6 Frequência do tipo de metal pesado nas distribuição (Kd) que são os parâmetros
pesquisas fundamentais que descrevem este processo.

As pesquisas selecionadas mostraram que em dez


dos vinte e um trabalhos os autores especificaram os
contaminantes utilizados, sendo que, alguns deles,
realizaram testes para mais de um contaminante.
Ao relacionar as frequências de consideração dos
metais pesados citados nos trabalhos, por meio do
Gráfico 6, foi possível visualizar aqueles
frequentemente estudados. Dentre eles, destacam-se
o zinco, seguido do cobre e do cromo.

Gráfico 6. Tipo de metais pesados (Martins et al., 2022,


no prelo).

4.7 Caracterização mineralógica e físico – química

Em relação à mineralogia, os autores Boff (1999),


Leite (2000), Nascentes (2003), Oliveira et al.
(2004), Demuelenaere (2010), Conciani (2011),
Tímbola (2011), Basso (2016), Ferreira (2020) e
Assis (2020), para os solos estudados, observaram a
predominância do mineral caulinita, indicando
assim o maior número de estudos em solos
argilosos. Por outro lado, Basso (2003) e Godoy
(2017) estudaram solos arenosos, cujo mineral
predominante é o quartzo.
No que confere aos parâmetros físico-químicos
pH e CTC, fatores importantes para a retenção dos

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662
Figura 3.Parâmetro de dispersão hidrodinâmica.

3.2.6 Advecção

E, por fim, compilou-se os dados dos parâmetros


que regem o processo de advecção.

Figura 2. Parâmetros de sorção (Martins et. al., 2022, no


prelo).

3.2.5 Dispersão hidrodinâmica

Para a compreensão do processo de dispersão


hidrodinâmica são necessários dados de parâmetros
que a influenciam diretamente como o coeficiente
dispersivos-difusivos ou dispersão hidrodinâmica.

Figura 6. Parâmetro de advecção – coeficiente de


permeabilidade (Martins et. al., 2022, no prelo).

5 CONCLUSÃO

Foi possível compilar os dados obtidos pelos


autores estudados, porém, nem todos apresentaram
todas as informações desejadas descritas nas tabelas.
Isso pode se dar pela dificuldade em realizar ensaios
e/ou testes para definir determinados parâmetros.
Entende-se que os dados representados nos gráficos
poderiam apresentar melhor descrição caso

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663
houvesse um número maior de informações. https://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/articl
Ressalta-se também que, mesmo com as lacunas, foi e/view/28638/18692, acessado em: 02/03/2022.
possível comparar os resultados dos trabalhos que BOFF, F. E. (1999). Avaliação do comportamento de uma
apresentaram os dados de interesse. mistura compactada de solos Lateríticos frente a
soluções de Cu++, K+ e Cr em colunas de
Inferiu-se uma maior tendência de realização de
percolação,
estudos nas regiões Sul e Sudeste e preferência https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18132/t
pelos metais zinco, cobre e cromo. Percebe-se que o de-15062018-205535/publico/Dissert_Boff_Fernando
solo majoritariamente citado nos estudos é um solo E.pdf., acessado em: 17/02/2022.
comumente encontrado na região Sudeste e que a CONCIANI, R. (2011). Estudo de barreiras de solo
maioria das amostras não foram mantidas em seu compactado para retenção de contaminantes,
estado natural durante a realização dos testes. https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/34349/1/20
Observou-se também a preocupação de muitos 11_RenataConciani.pdf, acessado em: 17/11/2021.
autores em estabelecer os valores dos parâmetros de DEMUELENAERE, R. G. A. (2004). Caracterização de
transporte para as devidas análises de seus estudos. propriedades de transporte de metais pesados em
solos residuais do Rio de Janeiro,
Por fim, espera-se com esse artigo contribuir com a
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/colecao.php?str
construção inicial de um banco de dados a respeito Secao=resultado&nrSeq=5462@1, acessado em:
do assunto. De posse de tais dados, almeja-se a 08/11/2021.
possibilidade de realizar uma modelagem e DEMUELENAERE, R. G. A. (2010). Análise
simulação computacional do processo de transporte geoquímica do transporte dos principais elementos
de contaminantes de modo a prever seu constituintes do chorume em meios porosos,
comportamento em área com receptores sensíveis. https://app.uff.br/riuff/handle/1/6132, acessado em:
08/11/2021.
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AGRADECIMENTOS poluentes em meios porosos: caso do aterro de
resíduos sólidos urbanos de Jacarezinho (PR),
https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4825/
Os autores agradecem à Universidade Federal de 3/CT_PPGCTA_M_%20Fandino%2c%20Jonathan%2
Juiz de Fora (UFJF) pelo apoio à realização desta 0Steven%20Murcia_2020.pdf, acessado em:
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sporte-de-metais-sob-diferentes-ph-em-solo-argiloso-
de-passo-fundo-rs.html, acessado em: 17/12/2021.

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